Você está na página 1de 25

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

INDUSTRIAIS –
ELETROTÉCNICA
AULA 4

Prof. Samuel Polato Ribas


CONVERSA INICIAL

Esta aula trata do fator de potência em instalações elétricas industriais.


O fator de potência é um dos principais aspectos que devem ser observados na
instalação, daí a importância deste estudo.
Começamos com uma análise sobre o fator de potência em instalações
industriais, sobre o que contribui para um baixo fator de potência e quais as
suas consequências.
Em seguida, serão estudadas as formas de correção de fator de
potência e o dimensionamento de bancos de capacitores para este fim.
Depois, serão abordados os sistemas de manobra e proteção utilizados
em banco de capacitores, levando em consideração as suas particularidades.
Para finalizar, será realizado um estudo sobre o dimensionamento de
condutores e sobre dispositivos para monitoração e acionamento de bancos de
capacitores.

TEMA 1 – FATOR DE POTÊNCIA EM INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS

O fator de potência está entre os fatores que mais precisam de atenção


em instalações elétricas industriais. É preciso respeitar os critérios
estabelecidos pela Resolução n. 414/2010, da Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL), de 9 de setembro de 2010, que estabelece condições para o
fornecimento de energia elétrica. Para a situação abordada nesta aula, os mais
relevantes são os arts. 95, 96 e 97. Esses artigos dissertam sobre as condições
do fator de potência para consumidores do Grupo A, que são os consumidores
industriais.
A Resolução n. 414/2010, da ANEEL, estabelece que para
consumidores do Grupo A, o fator de potência (FP) não pode ser menor que
0,92, seja ele indutivo ou capacitivo. É sempre válido ressaltar que essa
resolução não se aplica aos consumidores do Grupo B, do qual fazem parte os
consumidores residenciais.
O fator de potência está diretamente relacionado aos três tipos de
potência: aparente, ativa e reativa. A potência ativa é aquela que será
efetivamente utilizada pelas máquinas e equipamentos da instalação elétrica.
Já a potência reativa é aquela que as máquinas e equipamentos utilizam em
seus elementos reativos como, por exemplo, motores e transformadores – que

2
utilizam potência reativa para a magnetização de seu núcleo. Conceitualmente,
o fator de potência é dito como sendo a relação entre a potência ativa e a
potência aparente. Matematicamente, pode ser dado por

P
FP  (1)
S

em que FP é o fator de potência, P representa a potência ativa (em W) e


S representa a potência aparente (em VA). Essas duas potências, juntamente
com a potência aparente, podem ser relacionadas no triângulo de potências,
conforme mostrado na Figura 1.

Figura 1 – Triângulo de potências com fator de potência capacitivo (a) e com


fator de potência indutivo (b)

Fonte: Adaptado de Creder, 2018.

Note que, nos triângulos retângulos da Figura 1, é destacado o ângulo


formado entre as potências ativa, em kW, e potência aparente, em kVA,
denominado θ. A partir desse ângulo, é possível obter as relações
trigonométricas de seno, cosseno e tangente, sendo que a relação de cosseno
é dada, matematicamente, pela relação entre cateto adjacente e hipotenusa.
Portanto, é correto escrever que

P
cos   (2)
S

Perceba que as relações na equação (1) e na equação (2) são as


mesmas. O fator de potência é igual ao cosseno do ângulo formado entre a
potência ativa e a potência aparente.
O fator de potência de uma instalação – ou de uma máquina, ou de um
equipamento – pode ser mensurado a partir do cosseno do ângulo de

3
defasagem entre tensão e corrente. Caso o fator de potência seja indutivo, a
corrente estará atrasada em relação à tensão. Se o fator de potência possuir
característica capacitiva, então a defasagem entre tensão e corrente será com
a corrente adiantada em relação à tensão. No que diz respeito ao fasor, essas
relações são representadas na Figura 2.

Figura 2 – Representação fasorial do fator de potência medido entre tensão e


corrente, (a) indutivo e (b) capacitivo

Fonte: Creder, 2018.

A partir da Figura 2, em que I representa a corrente em A, e V a tensão


em V, o produto dado por

I  cos  (3)

representa a parcela da corrente que está em fase com a tensão. Nessa


situação, significa que potência resultante dessa corrente é totalmente ativa.
Na Figura 2, existe também a relação dada por

I  sen (4)

que representa a parcela puramente reativa e que, portanto, está


defasada de 90º em relação à tensão. Somando essas duas parcelas
vetorialmente, será obtido o valor total da corrente, e sua defasagem em
relação à tensão, sendo possível descobrir o fator de potência total da
instalação.
Quase todas as instalações elétricas industriais são sistemas trifásicos.
Sendo assim, é muito conveniente saber como determinar o fator de potência
para sistemas trifásicos. Para qualquer sistema trifásico, as potências podem
ser calculadas em função de seus valores de fase, ou de linhas. A equação (5)

4
mostra o cálculo das potências aparente, ativa e reativa a partir dos valores de
tensão e corrente de fase.

S 3 F  3  VF  I F

P3F  3  VF  I F  cos  (5)

Q3F  3  VF  I F  sen

Já a equação (6) apresenta as equações para o cálculo das potências


para sistemas trifásicos a partir dos valores de fase.

S 3 F  3  VL  I L

P3F  3  VL  I L  cos  (6)

Q3F  3  VL  I L  sen

Após a obtenção das potências trifásicas, o método de cálculo do fator


de potência é idêntico ao que foi visto até aqui.
Quando se trata de uma carga trifásica equilibrada, como motores
elétricos, por exemplo, o fator de potência é o mesmo para as três fases,
considerando que as tensões estejam com o mesmo valor. Já para cargas
equilibradas, o fator de potência pode variar de uma fase para outra, sendo que
nenhuma delas deverá apresentar o fator de potência menor que 0,92.
Para se determinar o fator de potência de uma instalação como um todo,
deve ser feita a soma das potências ativa, reativa e aparente, e a partir delas é
possível obter o fator de potência de toda a instalação. É válido ressaltar,
nesse caso, a diferença entre as potências reativa indutiva e capacitiva. Ao
serem realizadas as somas das potências reativas, a potência capacitiva será
subtraída da potência indutiva, ou de uma forma mais direta, a potência reativa
indutiva é positiva e a potência reativa capacitiva é negativa.
Tão importante quanto entender o fator de potência, é entender como
ele é causado. O fator de potência é algo que pode gerar custos adicionais à
fatura de energia. Como é preciso um investimento financeiro para corrigir o
fator de potência – quando for necessária uma correção –, nada mais prudente
do que conhecer a causa do baixo fator de potência para que seja possível
realizar a correção da melhor maneira possível.

5
Uma das causas que mais contribuem para a redução do fator de
potência de uma instalação são os motores elétricos. De maneira geral,
motores elétricos são responsáveis por cerca de 50% das cargas de uma
instalação. O ideal é que eles operem fornecendo a potência ativa que foram
projetados para fornecer. A potência ativa do motor depende da carga que está
acoplada a ele, já a potência reativa depende apenas da tensão que é aplicada
a ele, pois é dela que dependerá a corrente necessária para o funcionamento
interno do motor.
Considerando que o motor opere a vazio ou com pouca carga acoplada
ao eixo, significa que ele absorverá da rede pouca potência ativa. Se a carga
no seu eixo for aumentando, a potência ativa que ele absorve vai aumentando
também. Como a potência reativa depende da tensão, se ela não for alterada,
então a potência reativa continuará a mesma. Sendo assim a parcela de
potência ativa se torna muito maior que a potência reativa, resultando no fator
de potência que estará especificado na sua placa de identificação.
Com transformadores, a situação é a mesma. A parcela de potência
reativa que um transformador absorve da rede de alimentação é a mesma,
independente da potência que está sendo enviada para a carga. Portanto, se o
transformador estiver sobredimensionado, significa que ele não vai fornecer
toda a potência ativa que foi projetado para fornecer e que, consequentemente,
vai operar com fator de potência baixo. Vale ressaltar também que os
transformadores de grande porte são projetados para fornecer o valor de
potência aparente para o qual foram projetados, independentemente do fator
de potência da carga. Por isso, além de ter o transformador fornecendo a
máxima potência a que foi projetado, é importante que o fator de potência da
carga que ele alimenta não seja baixo.
Outro tipo de carga que influencia negativamente no fator de potência
são cargas eletrônicas. Os retificadores, que são o estágio de entrada de
grande parte das cargas eletrônicas, são cargas não lineares, que tendem a
distorcer a forma de onda da tensão de entrada e normalmente possuem um
fator de potência que varia de 0,6 a 0,7. Equipamentos eletrônicos com melhor
desempenho possuem sistemas de controle que fazem a correção do fator de
potência, fazendo com que a rede enxergue o dispositivo como uma carga
puramente resistiva. Portanto, é uma técnica que pode ajudar a elevar o fator
de potência da instalação, quando se tratar de uma carga eletrônica.

6
TEMA 2 – TIPOS DE CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA

Existem diversas possibilidades para a correção do fator de potência.


Dependendo da situação e da característica da carga, pode ser escolhido de
que forma será feita a correção do fator de potência. Os capacitores podem ser
instalados no lado de alta tensão de transformadores, nos barramentos
secundários dos transformadores, nos barramentos secundários de
transformadores com acúmulo de cargas indutivas, e junto a grandes cargas
indutivas. Em todos os casos, é importante mencionar que os capacitores
devem ser instalados o mais próximo possível das cargas, para que se tenha a
máxima eficiência na correção.
Além dos capacitores, a correção do fator de potência pode ser feita com
a utilização de motores síncronos. Esse tipo de correção é mais viável em
tensões elevadas, mas os motores síncronos também podem ser instalados
diretamente nas barras onde o fator de potência necessita de correção.
A seguir, vamos estudar alguns dos tipos de correção de fator de
potência.

2.1 Correção de fator de potência de grandes cargas indutivas

Quando há grandes motores de indução que necessitam de correção de


fator de potência, é comum conectar o banco de capacitores diretamente aos
terminais do motor. Essa técnica reduz o custo de instalação, pois não requer
dispositivos de acionamento e proteções específicas.
Para esse tipo de correção, são utilizados capacitores de corrente
alternada próprios para correção de fator de potência. Deve-se ficar atento à
potência reativa dos capacitores e ao nível de tensão que suportam. A Figura 3
mostra o exemplo de um banco de capacitores de baixa tensão destinado à
correção do fator de potência.

7
Figura 3 – Exemplo de banco de capacitores de baixa tensão

Crédito: Hinloy/Shutterstock.

Quando se trata de uma instalação nova, é recomendável que os


capacitores sejam instalados diretamente nos terminais do motor. Porém,
quando se trata de uma instalação já existente, a ligação mais recomendável é
entre o capacitor e o relé de sobrecarga. Outros aspectos que devem ser
observados:

 A potência reativa do banco de capacitores não pode ser maior que a


potência reativa consumida pelo motor a vazio, a fim de não ocasionar
sobretensões após o desligamento do motor.
 A corrente dos capacitores não pode ser maior que 90% da corrente de
magnetização do motor.
 Deve ser verificado se o relé de sobrecarga não necessita ser
redimensionado, devido à inclusão do banco de capacitores.

2.2 Correção de fator de potência no barramento secundário de


transformadores

Neste exemplo, os capacitores são ligados no barramento secundário


dos transformadores que alimentam pequenas cargas individuais. Para esse
tipo de instalação, é comum utilizar dispositivos de manobra e proteção
separados dos dispositivos das cargas. Isso se deve ao fato de que as cargas
podem não operar todas simultaneamente. Assim, é interessante que a

8
potência reativa dos capacitores possa ser regulada de acordo com a carga
que está sendo alimentada. Nesse caso, os bancos de capacitores automáticos
podem ser uma solução bastante viável. A Figura 4 apresenta um exemplo de
banco de capacitores automáticos.

Figura 4 – Exemplo de banco de capacitores automáticos

Crédito: Vietnam Stock Photos/Shutterstock.

Observe que, na Figura 4, existem dispositivos de manobra e proteção


somente para os capacitores, portanto eles podem ser ligados e desligados
conforme a necessidade da carga que está sendo acionada.
É importante também mencionar que a instalação de banco de
capacitores junto ao secundário do transformador eleva a tensão de saída. A
variação de tensão é função da potência nominal do transformador, da potência
reativa do banco de capacitores e também da impedância percentual do
transformador. Matematicamente, essa variação de tensão pode ser dada por

9
QC
V %   Z % (7)
S NOM

em que QC representa a potência reativa do banco de capacitores, em kvar,


SNOM é a potência nominal do transformador e Z(%) é a sua impedância
percentual.
A relação da equação (6) é importante porque a potência gerada pelos
capacitores varia com o quadrado da tensão, ou seja

Qvar  QC  V 2 (8)

em que Qvar é a potência reativa gerada pelos capacitores, Q C é potência


reativa instalada do banco de capacitores e V é a tensão aplicada ao banco.

2.3 Correção de fator de potência no lado de alta tensão de


transformadores

A correção do fator de potência de instalações industriais pode ser feita


de maneira centralizada, diretamente no lado de alta tensão do transformador
de uma subestação de consumidor, por exemplo. A vantagem desse método é
que não importa quais serão as cargas que estarão conectadas ao secundário
do transformador, sempre haverá a correção do fator de potência diretamente
na entrada da instalação. Entretanto, isso não impede que essa técnica seja
combinada com as outras, de correção diretamente junto à carga ou no
secundário do transformador.
Isso porque capacitores de alta tensão são mais caros que os
capacitores de baixa tensão, fazendo com que o custo do banco de capacitores
seja inviável. Sendo assim, a prévia correção do fator de potência diretamente
em um conjunto de cargas, ou em uma grande carga específica, faria com que
a potência reativa do lado de alta tensão fosse reduzida. Um exemplo de banco
de capacitores de alta tensão é mostrado na Figura 5.
Perceba que o formato dos capacitores é diferente dos capacitores de
baixa tensão. Assim como no caso de capacitores ligados no secundário de
transformadores, a tensão é elevada, por isso deve-se levar em consideração
esse aumento da tensão e verificar quais serão as consequências disso no
secundário do transformador e, consequentemente, no restante da instalação.

10
Figura 5 – Exemplo de capacitores de alta tensão

Crédito: Jakit17/Shutterstock.

TEMA 3 – DIMENSIONAMENTO DE BANCO DE CAPACITORES PARA


CORREÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA

Entender o fator de potência é indispensável, mas de nada adianta se


não soubermos como resolver o problema do baixo fator de potência. A maioria
dos casos de baixo fator de potência na indústria é resolvido por meio da
instalação de banco de capacitores. O objetivo é reduzir o ângulo entre a
potência ativa e a potência aparente no triângulo de potências até um valor
cujo cosseno seja maior ou igual a 0,92. Entretanto, como as cargas
normalmente variam, é sempre uma ideia interessante fazer com que o fator de
potência fique acima desse valor. Assim, caso haja alguma situação que
ocasione a queda do fator de potência, há tempo hábil para a atuação dos
sistemas que controlam o fator de potência.
Para uma melhor compreensão sobre o que deve ocorrer no triângulo de
potências para que o fator de potência seja corrigido, vamos analisar a Figura
6. Originalmente, a Figura 6 era composta pelas potências em kW, em kvar 1 e
em kVA1. Perceba que, com essas potências, o ângulo entre as potências ativa
e aparente é θ1. Considerando que o cosseno desse ângulo seja menor que
0,92, então é necessário reduzir o ângulo entre a potência aparente e a
potência ativa. Como na maioria das situações industriais reais, vamos

11
considerar que trata-se de uma carga indutiva, até porque o triângulo
representado na Figura 6 é característico de uma carga desse tipo.

Figura 6 – Exemplo de triângulo de potências antes da correção do fator de


potência

Fonte: Adaptado de Creder, 2018.

Se a carga tem característica indutiva, então possui potência reativa


indutiva. Sendo assim, para se contrapor a ela, é necessário que seja inserida
potência reativa capacitiva, que é a potência que se encontra em capacitores.
Como o capacitor é uma carga puramente resistiva, então a inserção
deles acarretará em potência reativa capacitiva no sistema, que se opõem à
carga indutiva, conforme mostrado na Figura 7.

Figura 7 – Exemplo de triângulo de potências com inserção da potência reativa


capacitiva

Fonte: Adaptado de Creder, 2018.

Note, na Figura 7, que a potência reativa indutiva kvar 1 agora possui


uma potência reativa capacitiva kvar c que se opõe a ela. Perceba que essas
duas potências são como dois vetores em sentidos opostos, portanto, o
resultado será a subtração deles. Após a anulação de parte da potência reativa

12
indutiva pela potência reativa capacitiva, o triângulo de potências ficará como
mostrado na Figura 8.

Figura 8 – Exemplo de triângulo de potências após a correção do fator de


potência

Fonte: Adaptado de Creder, 2018.

Comparando a Figura 6 com a Figura 8, fica clara a redução do ângulo


formado entre a potência ativa e a potência aparente. Portanto, o cosseno do
ângulo formado entre elas diminui, elevando o fator de potência. Para
evidenciar mais ainda a diferença do fator de potências antes e depois da
correção, vamos analisar a Figura 9.

Figura 9 – Comparação entre os triângulos de potência antes e depois da


instalação de banco de capacitores

Fonte: Adaptado de Creder, 2018.

Perceba que, ao inserir o banco de capacitores, a potência reativa antes


representada por kvar1 passou a ser kvar2. Perceba também que essa redução
na potência reativa faz com que a potência aparente também sofra uma
redução, passando de kVA1 para kVA2. Perceba também que a potência ativa
representada por kW não se altera, portanto a correção do fator de potência
não afeta a potência ativa absorvida da rede elétrica.
Outro fator que vale a pena mencionar é que a concessionária de
energia sempre terá de ter estrutura para fornecer a potência referente à
potência aparente do consumidor. Como ao corrigir o fator de potência, há uma
diminuição da potência aparente total, isso significa que a estrutura concedida

13
pela concessionária não precisará ser tão robusta como precisaria ser caso
não houvesse a instalação dos bancos de capacitores.
Com base no que foi visto até agora vamos realizar um exemplo de
dimensionamento de banco de capacitores. Considere duas cargas, sendo a
primeira delas com uma potência ativa de 100 kW e a com potência reativa de
50 kvar, e a segunda com potência ativa de 75 kW e potência reativa de 40
kvar, ambas com característica indutiva. Deseja-se que o fator de potência
dessas duas cargas seja de 0,96 após a correção. A potência ativa total é dada
por

PT  P1  P2  100  75  175 kW (9)

A potência reativa total, por sua vez é dada por

QT  Q1  Q2  50  40  90 k var (10)

Com base nas equações (9) e (10), chega-se ao valor da potência


aparente dada por

ST  PT  QT  175 2  90 2  197 kVA


2 2
(11)

Utilizando a definição do fator de potência, chega-se ao valor de

PT 175
cos     0,88    27,33º (12)
S T 195

Pela equação (12), verifica-se que o fator de potência das duas cargas é
de 0,88 indutivo, o que leva a um ângulo de 27,33º conforme mostrado na
Figura 10.

Figura 10 – Triângulo de potências atual das cargas

Fonte: Adaptado de Creder, 2018.

14
Considerando que o fator de potência desejado é de 0,96 indutivo, o
ângulo formado entre a potência ativa e a potência aparente deve ser de
16,26º. Sendo assim, o triângulo de potências desejado após a instalação do
banco de capacitores é o que está representado na Figura 11.

Figura 11 – Triângulo de potências esperado das cargas

Fonte: Adaptado de Creder, 2018.

Agora é necessário determinar o valor da potência reativa, Q novo, que se


espera obter após a instalação do banco de capacitores. Esse cálculo pode ser
realizado a partir de qualquer relação trigonométrica aplicada ao triângulo da
Figura 11. Uma dessas relações pode ser dada por

Qnovo
tg novo   Qnovo  PT  tg novo  175  tg16,26º   51,04 k var (13)
PT

O valor de 51,04 kvar na equação (13) é o valor que deve ter a potência
reativa para que o fator de potência seja de 0,96 indutivo. Como a potência
reativa das cargas antes da correção é de 90 kvar, a potência reativa do banco
de capacitores é dada por

QC  QT  Qnovo  90  51,04  38,96 k var (14)

Assim, chega-se à conclusão de que a potência do banco de capacitores


necessário é de 38,96 kvar.
A partir desse ponto, vamos analisar um segundo exemplo, mas
considerando que são conhecidos os valores de tensão e corrente de linha das
cargas. Considere duas cargas, sendo que a tensão de linha delas é de 220 V,
e que a corrente de linha da primeira carga é de 16 A, com fator de potência de
0,92 indutivo, e a corrente de linha da segunda carga é de 39 A, com um fator
de potência de 0,81 indutivo. Com base nessas informações, o primeiro passo

15
é determinar a potência ativa de cada uma das potências. Esse cálculo pode
ser feito como mostrado nas equações (15) e (16):

P1  3  V L1  I L1  cos  1  3  220  16  0,92  5609 W (15)

P2  3  V L 2  I L 2  cos  2  3  220  39  0,81  12073 W (16)

Com base nas equações (15) e (16), pode ser calculada a potência ativa
total, que é dada pela soma das potências dessas equações.

(17)

Utilizando o mesmo raciocínio, é possível determinar a potência


aparente total, calculando primeiramente a potência aparente de cada uma das
cargas. Essas equações nos levam a

S1  3  V L1  I L1  3  220  16  6097 VA (18)

S 2  3  V L 2  I L 2  3  220  39  14861 VA (19)

Com base nas equações (18) e (19), obtém-se a potência aparente total
que será

ST  S1  S 2  6097  14861  20958 VA (20)

Conhecendo a potência ativa total e a potência aparente total, é possível


determinar o fator de potência utilizando a relação de cosseno, o que resulta
em
PT 17682
cos     0,84    32,46º (21)
S T 20958

Utilizando uma relação de tangente, a potência reativa atual é

QT
tg   QT  PT  tg  17682  tg32,46º   QT  11247 var (22)
PT

Com base nos cálculos de potência ativa, reativa, aparente e do fator de


potência, obtém-se o triângulo de potências conforme mostrado na Figura 12.

Figura 12 – Triângulo de potências atual das cargas

16
Fonte: Adaptado de Creder, 2018.

Considerando que o fator de potência desejado é de 0,93 indutivo, o


ângulo formado entre a potência ativa e a potência aparente deve ser de
21,56º. Sendo assim, o triângulo de potências desejado após a instalação do
banco de capacitores é o que está representado na Figura 13.

Figura 13 – Triângulo de potências esperado das cargas

Fonte: Adaptado de Creder, 2018.

Assim como no exemplo anterior, agora é necessário determinar o valor


da potência reativa, Qnovo, que se espera obter após a instalação do banco de
capacitores. Aplicando a relação de tangente ao triângulo de potências da
Figura 13, tem-se

Qnovo
tg novo   Qnovo  PT  tg novo  17682  tg21,56º   6986 var (23)
PT

O valor de 6986 var na equação (23) é o valor que deve ter a potência
reativa para que o fator de potência seja de 0,93 indutivo. Como a potência
reativa das cargas antes da correção é de 11247 var, a potência reativa do
banco de capacitores é dada por

QC  QT  Qnovo  11247  6986  4261 var (24)

Assim, chega-se à conclusão de que a potência do banco de capacitores


necessário é de 4261 var.

17
Importante ressaltar que, ao corrigir o fator de potência, a potência
aparente também se reduz, reduzindo a carga da rede de alimentação da
concessionária. Essa comprovação pode ser feita determinando a potência
aparente após a instalação do banco de capacitores calculado. A potência
aparente Snovo será

S novo  PT  Qnovo  17682 2  6986 2  19012 VA


2 2
(25)

Portanto, além de corrigir o fator de potência da instalação, os bancos de


capacitores também reduzem a potência total fornecida pela concessionária de
energia.

TEMA 4 – DIMENSIONAMENTO DE DISPOSITIVOS DE MANOBRA E


PROTEÇÃO PARA BANCOS DE CAPACITORES

Para o dimensionamento de dispositivos de acionamento e proteção de


bancos de capacitores deve ser tomado um cuidado especial em relação à
corrente do banco. Os dispositivos de manobra mais utilizados para o
acionamento de banco de capacitores são contatores. Além dos contatores,
disjuntores e chaves seccionadoras também são utilizados como dispositivos
de manobra.
Não importa o tipo de dispositivo acionado, o dispositivo não deve ser
dimensionado apenas com base na corrente nominal do banco de capacitores,
devido à variação que a capacitância pode ter. De acordo com a norma
IEC8631-1, para capacitores com tensão de até 1000 V, pode haver uma
variação de -5% a +15% para bancos de capacitores de até 100 kvar, e de 0%
a 110% para bancos de capacitores acima de 100 kvar.
Considerando que os capacitores operam com uma corrente eficaz de
1,3 vezes a corrente nominal, e considerando uma variação de 115% na
capacitância, a corrente máxima do banco de capacitores deverá ser

I CMAX  1,3  1,15  1,5 (26)

ou seja, levando em consideração a tolerância estabelecida pela norma,


e colocando 5% a mais como margem de segurança, os dispositivos de
manobra devem ser dimensionados para suportar 1,5 vezes a corrente nominal
do banco. Mesmo em baixas potências, onde a norma estabelece uma faixa de

18
tolerância menor em relação à capacitância, é prudente considerar que a
corrente será de 1,5 vezes a corrente nominal.
Como exemplo, considere um banco de capacitores de 50 kvar, em uma
tensão de 380 V, em um sistema trifásico. A corrente dos capacitores é
calculada pela equação

QC
IC  (27)
3  V  sen

onde IC é a corrente de linha do banco de capacitores, Q C é a potência


reativa, e V a tensão de linha. Substituindo os valores dados no exemplo tem-
se

50000
IC   76 A (28)
3  380  1

Portanto, a corrente máxima será

I CMAX  1,5  I C  1,5  76  114 A (29)

Perceba que senθ na equação (27) foi substituído por 1 na equação


(28). Isso porque o capacitor é uma carga puramente capacitiva, o que faz com
que o ângulo de defasagem entre a tensão e a corrente seja de 90º. Fazendo
sen(90º), o resultado será igual a 1.
Sendo assim, o contator utilizado deverá suportar uma corrente mínima
de 114 A, na categoria AC3, a mesma utilizada para motores de indução.
Muitas vezes são utilizados como dispositivos de manobra chaves
seccionadoras com fusíveis. Nessa situação, o recomendável é que a corrente
considerada seja de 1,65 vezes a corrente nominal do banco de capacitores.
Sendo assim, para o mesmo exemplo acima, a corrente calculada seria de
125,4 A, resultado de 1,65 multiplicado por 76 A. Portanto, os fusíveis devem
suportar uma corrente de pelo menos 125,4 A.
Como os bancos de capacitores são instalados para corrigir um conjunto
de cargas, quando se trata de várias cargas de baixa potência, ou instalados
individualmente para grandes cargas, normalmente a corrente deles é mais
propícia para a utilização de fusíveis do tipo NH, que são destinados a
correntes mais elevadas, em relação aos fusíveis do tipo D.

19
A proteção do banco de capacitores também pode ser feita por meio de
disjuntores em caixa moldada, que são destinados a correntes superiores. Um
exemplo de disjuntor em caixa moldada é mostrado na Figura 14.

Figura 14 – Exemplo de disjuntor em caixa moldada

Crédito: Andypositive/Shutterstock.

Como mencionado, os disjuntores em caixa moldada são destinados à


aplicação de altas correntes como as de banco de capacitores, principalmente
de altas potências.

TEMA 5 – DIMENSIONAMENTO DE ALIMENTADORES E


MONITORAMENTO DO FATOR DE POTÊNCIA

Como estudado no Tema 4, a corrente a ser considerada para


dimensionamento de dispositivos de manobra e proteção de banco de
capacitores deve ser de 1,5 vezes a corrente nominal. Esse mesmo raciocínio
deve ser levado em consideração para o dimensionamento dos alimentadores.
Vimos, anteriormente, os critérios para a escolha do condutor adequado para
alimentar as cargas em função de sua potência. Para os bancos de
capacitores, o raciocínio e os critérios são os mesmos dos que foram descritos
antes, com exceção do cálculo da corrente de projeto. Aqui, a corrente de
projeto será a corrente nominal multiplicada por 1,5. Relembrando os critérios
para determinação de condutores, primeiramente deve ser determinada a
maneira de instalação e, em seguida, calcular a corrente de projeto. Aqui, a

20
corrente se calcula conforme as equações (27), (28) e (29). Na sequência,
escolhe-se o tipo de condutor, se será com isolação em PVC, XLPE, ou EPR, e
verifica-se o número de condutores carregados. Depois, aplica-se os fatores de
correção de temperatura e de agrupamento. Com base nesses dados,
determina-se a corrente corrigida e, finalmente, a seção transversal dos
condutores.
As tabelas utilizadas para o dimensionamento são as mesmas que a da
norma NBR 5410/2004, caso a instalação do banco de capacitores seja feita
em baixa tensão.
Além do método da capacidade de corrente, deve ser verificada também
a queda de tensão nos condutores, para que a tensão aplicada ao banco de
capacitores seja adequada para seu funcionamento normal.
Mesmo que os condutores estejam preparados para suportar a corrente
nominal do banco de capacitores, os bancos automáticos são os mais
recomendados para as aplicações industriais. Em função dos critérios de
demanda de potência reativa, a sua utilização é praticamente obrigatória. O
fracionamento de banco de capacitores com controle automático é o mais
utilizado.
Esse controle automático é muito utilizado em grandes indústrias, para
que seja o fator de potência adequado aos valores estabelecidos pela ANEEL,
em qualquer período do dia e da noite. Para que isso seja possível, é
indispensável a utilização de medidores de fator de potência, os cossifímetros.
Os cossifímetros são dispositivos destinados à medição em tempo real do fator
de potência de uma carga ou instalação. A Figura 15 apresenta um exemplo de
cossifímetro.
O medidor de fator de potência da Figura 15 tem a finalidade de apenas
monitorar o fator de potência em tempo real. Entretanto, o mesmo princípio
pode ser utilizado nos controladores automáticos de fator de potência.

21
Figura 15 – Medidor de fator de potência analógico

Crédito: CC BY-SA 4.0/GustavoAlderete.

Nos controladores automáticos, sensores medem a defasagem entre a


tensão e a corrente do sistema, que é comparada à defasagem aceitável para
a qual o controlador automático foi ajustado. Em função da defasagem medida,
o controlador calcula o fator de potência e verifica se é necessário aumentar ou
diminuir o número de capacitores do banco para que o fator de potência
permaneça dentro da faixa de operação que foi ajustada.
Esse monitoramento contínuo é necessário devido ao fato de que a
carga de uma indústria é variável ao longo do dia, em função de equipamentos
e motores que são acionados e desligados durante a operação normal da
indústria.
Os controladores automáticos de fator de potência são constituídos de
estruturas muito semelhantes a painéis elétricos. Nessas estruturas encontram-
se todos os dispositivos de controle, manobra e proteção dos capacitores que
irão realizar a regulagem do fator de potência. Um exemplo de módulo para
correção automática do fator de potência é mostrado na Figura 16.
Todos os elementos internos são devidamente dimensionados para
evitar que as correntes danifiquem os equipamentos de manobra nos instantes
de atuação, e também para que a proteção atue de maneira correta quando – e
se – houver necessidade.

22
Figura 16 – Painel para correção automática do fator de potência

Crédito: Vietnam Stock Photos/Shutterstock.

No lado superior esquerdo da Figura 16, está a parte de trás do


controlador automático que irá realizar a medição do fator de potência e enviar
os comandos para o acionamento dos capacitores. Um exemplo desse medidor
é mostrado na Figura 17.

23
Figura 17 – Controlador automático de fator de potência

Crédito: Andy Positive/Shutterstock.

FINALIZANDO

Apresentamos aqui as principais características do fator de potência em


instalações elétricas industriais, levou em consideração os aspectos que
ocasionam o baixo fator de potência e mostrou como é possível realizar a
correção de diferentes formas. Tendo em vista a importância do fator de
potência em instalações elétricas, tratou de como deve ser realizado o
dimensionamento de bancos de capacitores para correção do fator de potência
e falou do dimensionamento dos dispositivos de acionamento, proteção e de
seus alimentadores.

24
REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5410: Instalações


elétricas de baixa tensão I: proteção e segurança. Rio de Janeiro, 2004.

BRASIL. ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução normativa


n. 414, de 9 de setembro de 2010. Poder Legislativo, Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 15 set. 2010. Disponível em:
<http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2010414.pdf>. Acesso em: 8 out. 2019.

CREDER, H. Instalações elétricas. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.

MAMEDE FILHO, J. Instalações elétricas industriais: de acordo com a


norma brasileira NBR 5419/2015. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.

NISKIER, J., MACINTYRE, A. J. Instalações elétricas. 6. ed. Rio de Janeiro:


LTC, 2013.

25

Você também pode gostar