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F ASCÍCULOS / h a r m ô n i c o s

“Este texto foi preparado como um curso de extensão “Influência harmônica, iniciando com correções passivas, passando para as ativas,
dos Harmônicos nas Instalações Elétricas Industriais”. Trata-se de como os pré-reguladores de fator de potência e os filtros ativos”.
um curso voltado para profissionais atuantes no setor elétrico e
interessados em acompanhar as inovações tecnológicas decorrentes da José Antenor Pomilio – Engenheiro Eletricista, Mestre e Doutor
evolução da Eletrônica de Potência, especialmente as possibilidades do em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas –
condicionamento de energia elétrica visando aprimorar a qualidade do UNICAMP (1983, 1986 e 1991, respectivamente). É professor junto à
produto Energia Elétrica. Inicialmente, no capítulo 1, que será publicado Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP desde
em duas partes (Parte I e II), faz-se uma discussão sobre Fator de Potência 1984. Participou do Grupo de Eletrônica de Potência do Laboratório
e Harmônicas, vinculando-os em termos da influência das harmônicas Nacional de Luz Síncrotron (CNPq) entre 1988 e 1993, sendo chefe do
sobre o fator de potência de um sistema. A seguir, no capítulo 2, Grupo entre 1988 e 1991. Realizou estágios de pós –doutoramento
são apresentadas algumas normas e regulamentações que limitam a junto ao Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de
contaminação harmônica de um sistema ou a emissão de uma carga. Pádua (1993/1994) e ao Departamento de Engenharia Industrial da
No capítulo 3 são apresentados os componentes semicondutores de Terceira Universidade de Roma (2003), ambas na Itália. Foi “Liaison”
potência que são utilizados em conversores estáticos que, em última da IEEE Power Electronics Society para a Região 9 (América Latina)
instância, são os responsáveis pelo aumento da distorção presente na em 1998/1999. Foi membro do Comitê de Administração da IEEE
rede. Paradoxalmente, são estes mesmos conversores que permitem Power Electronics Society no triênio 2000/2002. Foi editor da Revista
a compensação das distorções quando adequadamente empregados. Eletrônica de Potência e editor associado das revistas IEEE Trans. on
No capítulo 4 são apontados os efeitos sobre os componentes de um Power Electronics e Controle & Automação (SBA). Foi presidente
sistema elétrico e as causas da distorção harmônica. Nos capítulos da Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência (2000 –2002) e é
5, 6 e 7 são apresentadas soluções para a minimização da distorção membro de sua diretoria e Conselho Deliberativo.

FATOR DE POTÊNCIA E DISTORÇÃO HARMÔNICA


PARTE I

1.1 - Energia Elétrica como É sob esta perspectiva que serão abordados conceitos estabelecidos desde o início do
“bem comum” os diversos tópicos desta apostila. século. Novos conceitos foram criados, os quais
A energia distribuída aos usuários do sistema servem a melhor explicitar o comportamento
elétrico interligado é um “bem comum”. Ou 1.2 - Teorias de Potência Elétrica da rede na situação atual em que não mais se
seja, todos que estão conectados a um dado Nos últimos 20 anos tem havido uma podem considerar senoidais as formas de onda
sistema compartilham de suas vantagens e de intensa discussão sobre as teorias de potência de tensão e, principalmente, de corrente.
seus problemas. Mais do que isso, os problemas elétrica, substituindo ou reinterpretando Poucos conceitos se mantêm consensuais
criados por um único usuário têm reflexo em
todos os demais.
Desta forma, a preservação da qualidade
da energia elétrica é responsabilidade coletiva,
de fornecedor e de consumidores. Esta noção
de “bem comum” é muito importante pois é a
base para a imposição de normas que garantam
a preservação da qualidade da energia, de modo
a proteger o adequado funcionamento de todos
Figura 1.1 - Circuito genérico utilizado nas definições de FP e triângulo de potência.
os processos e equipamentos alimentados.
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Fevereiro 2006
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mas, dentre estes, quando se tem um A figura 1.2 mostra sinais deste tipo,
sistema simétrico e equilibrado, estão o com defasagem nula. O produto das
de potência ativa média e o de potência senóides dá como resultado o valor
aparente, o que permite definir o Fator de instantâneo da potência. O valor médio
Potência. Já em situações desbalanceadas deste produto é a potência ativa (de
ou desequilibradas pode haver discordância acordo com a eq. 1.1), e também está
até mesmo nestas definições. indicada na figura. Em torno deste
Nas Referências Bibliográficas, no final valor médio flutua o sinal da potência
deste capítulo, estão indicadas recentes instantânea. O valor de pico deste
publicações que abordam estas definições Figura 1.2 - Potência com sinais senoidais sinal é numericamente igual à potência
e mostram a atualidade do debate. No em fase. aparente. Quando a defasagem é nula,
entanto, o objetivo deste capítulo é apenas o produto (potência instantânea) será
o de realçar a importância das distorções sempre maior ou igual a zero.
harmônicas no cômputo do fator de Considerando os valores utilizados
potência e são usados, como exemplo, na figura, os valores de pico das ondas
circuitos monofásicos. senoidais são de 200 V e 100 A, o que
conduz a valores eficazes de 141,4
1.3 - Fator de Potência V e 70,7 A, respectivamente. O valor
Fator de potência é uma propriedade calculado da potência aparente é de 10
de uma carga elétrica (ou de um conjunto kW. Estes resultados são consistentes
de cargas). Consideremos, para efeito com os obtidos pela figura 1.2.
das definições posteriores o esquema da A figura 1.3 mostra situação
figura 1.1. Figura 1.3 - Potência em sinais senoidais semelhante mas com uma defasagem
defasados de 90 graus. de 90 graus entre os sinais. A potência
1.3.1 - Definição de Fator de instantânea apresenta –se com
Potência um valor médio (correspondente à
Fator de Potência (FP) é definido potência ativa) nulo, como é de se
como a relação entre a potência ativa esperar. A amplitude da onda de
e a potência aparente consumidas potência é numericamente igual à
por um dispositivo ou equipamento, potência aparente.
independentemente das formas que as Na figura 1.4 tem –se uma situação
ondas de tensão e corrente apresentem. intermediária, com uma defasagem
Os sinais variantes no tempo devem ser de 45 graus. Neste caso a potência
periódicos e de mesma freqüência. instantânea assume valores positivos
e negativos, mas seu valor médio (que
1
P T� çvi (t ) ii (t ) dt
Figura 1.4 - Potência em sinais senoidais. corresponde à potência ativa) é positivo.
F
P   Utilizando a equação (1.2), a potência
S VRMS I RMS ativa será de 7,07 kW, o que eqüivale ao
valor indicado na figura.
1.3.2 - Caso 1 - Tensão e
corrente senoidais 1.3.3 - Caso 2 - Tensão
Em um sistema com formas de onda senoidal e corrente distorcida
senoidais, a equação 1.1 torna –se igual Quando apenas a tensão de entrada for
ao cosseno da defasagem entre as ondas senoidal, o FP é expresso por -
de tensão e de corrente (). Analisando
I1
em termos das componentes ativa, reativa FPV = ⋅ cos φ1
e aparente da potência pode –se, a partir
sen o
I RMS
de uma descrição geométrica destas Figura 1.5 - Potência em sistema com A figura 1.5 mostra uma situação em que
componentes, mostrada na figura 1.1, tensão senoidal e corrente não –senoidal se tem uma corrente quadrada (típica,
determinar o fator de potência como - por exemplo, de retificador monofásico
com filtro indutivo no lado CC). Observe
kW   kVAr  
FPsen o = = cos arctg   = cos φ
kVA   kW  
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que a potência instantânea não é mais uma


onda senoidal com o dobro da freqüência da
senóide. Neste caso específico ela aparece
como uma senóide retificada.
Neste caso, a potência ativa de entrada
é dada pelo produto da tensão (senoidal)
por todas as componentes harmônicas da
corrente (não –senoidal). Este produto é
nulo para todas as harmônicas exceto para
a fundamental, devendo –se ponderar
tal produto pelo cosseno da defasagem Figura 1.6 Decomposição harmônica (série de Fourier) de onda quadrada

entre a tensão e a primeira harmônica da


corrente. Desta forma, o fator de potência é
expresso como a relação entre o valor RMS No entanto, a potência média é de 12,7 A figura 1.6 mostra uma decomposição da
da componente fundamental da corrente e a kW. Este valor corresponde ao produto onda quadrada, indicando as componentes
corrente RMS de entrada, multiplicado pelo do valor eficaz da tensão pelo valor eficaz harmônicas (até a de sétima ordem).
cosseno da defasagem entre a tensão e a da componente fundamental da onda de Note que se for feito o produto da onda
primeira harmônica da corrente. corrente, já que a defasagem é nula. O fundamental por qualquer das harmônicas,
Os valores eficazes de tensão e de corrente valor de pico da componente fundamental o valor médio será nulo, uma vez que se
são, respectivamente, 141,4 V e 100 A. é de 127,3 A, correspondendo a um valor alternarão intervalos positivos e negativos de
Logo, a potência aparente é de 14,14 kW. eficaz de 90 A. mesma área.
(continua no próximo número)

SE1 100

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Fevereiro 2005
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“Este texto foi preparado como um curso de extensão “Influência harmônica, iniciando com correções passivas, passando para as ativas,
dos Harmônicos nas Instalações Elétricas Industriais”. Trata-se de como os pré-reguladores de fator de potência e os filtros ativos”.
um curso voltado para profissionais atuantes no setor elétrico e
interessados em acompanhar as inovações tecnológicas decorrentes da José Antenor Pomilio – Engenheiro Eletricista, Mestre e Doutor
evolução da Eletrônica de Potência, especialmente as possibilidades do em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas –
condicionamento de energia elétrica visando aprimorar a qualidade do UNICAMP (1983, 1986 e 1991, respectivamente). É professor junto à
produto Energia Elétrica. Inicialmente, no capítulo 1, que será publicado Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP desde
em duas partes (Parte I e II), faz-se uma discussão sobre Fator de Potência 1984. Participou do Grupo de Eletrônica de Potência do Laboratório
e Harmônicas, vinculando-os em termos da influência das harmônicas Nacional de Luz Síncrotron (CNPq) entre 1988 e 1993, sendo chefe do
sobre o fator de potência de um sistema. A seguir, no capítulo 2, Grupo entre 1988 e 1991. Realizou estágios de pós –doutoramento
são apresentadas algumas normas e regulamentações que limitam a junto ao Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de
contaminação harmônica de um sistema ou a emissão de uma carga. Pádua (1993/1994) e ao Departamento de Engenharia Industrial da
No capítulo 3 são apresentados os componentes semicondutores de Terceira Universidade de Roma (2003), ambas na Itália. Foi “Liaison”
potência que são utilizados em conversores estáticos que, em última da IEEE Power Electronics Society para a Região 9 (América Latina)
instância, são os responsáveis pelo aumento da distorção presente na em 1998/1999. Foi membro do Comitê de Administração da IEEE
rede. Paradoxalmente, são estes mesmos conversores que permitem Power Electronics Society no triênio 2000/2002. Foi editor da Revista
a compensação das distorções quando adequadamente empregados. Eletrônica de Potência e editor associado das revistas IEEE Trans. on
No capítulo 4 são apontados os efeitos sobre os componentes de um Power Electronics e Controle & Automação (SBA). Foi presidente
sistema elétrico e as causas da distorção harmônica. Nos capítulos da Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência (2000 –2002) e é
5, 6 e 7 são apresentadas soluções para a minimização da distorção membro de sua diretoria e Conselho Deliberativo.

FATOR DE POTÊNCIA E DISTORÇÃO HARMÔNICA


PARTE ii
A figura 1.7 mostra uma situação em que a corrente está Por sua vez, o valor RMS da corrente de entrada também pode
“defasada” da tensão. Esta forma de onda é típica, por exemplo, ser expresso em função das componentes harmônicas:
de retificadores controlados (tiristores), com filtro indutivo no lado �

cc. Nesta situação, a componente fundamental da corrente (que
I RMS  I ⇓ ‡
” I n2 1
2
(1.4)
está “em fase” com a onda quadrada) apresenta uma defasagem n2
de 36 graus em relação ao sinal de tensão. Fazendo o cálculo do FP Define-se a Taxa de Distorção Harmônica (TDH) como sendo a
pela equação (1.3) chega-se ao valor de 10,3 kW, que corresponde relação entre o valor RMS das componentes harmônicas da corrente
ao valor obtido da figura. Note que não há alteração no valor da e a fundamental: ∞
potência aparente.
A relação entre as correntes é chamada de fator de forma e o
∑I 2
n
n=2
TDH = (1.5)
termo em co-seno é chamado de fator de deslocamento. I1

200V 20k
Tensão

Corrente SEL>> P=10,3kW


-20k
-200V
V(V1:+) V(V3:+) Potência instantânea e média 300ms 320ms 340ms 360ms 380ms 400ms
Tempo
V(V1:+)* V(V3:+) avg(#1) 0

Figura 1.7 - Potência com onda de corrente não-senoidal

O SETOR ELÉTRICO
22 Março 2006
Ha r m ô n i cos
250V 25k
Tensão
P=11,9kW
P

Corrente SEL>>
-25k
-250V 340ms 350ms 360ms 370ms 380ms 390ms 400ms
V(V8:+) V(V3:+) Potência instantânea e média
Tempo
V(V8:+)* V(V3:+) avg(#1) 0

Figura 1.8 Potência para formas de onda quaisquer

Assim, o FP pode ser reescrito como: Podem ser citadas como desvantagens de um baixo FP e elevada
distorção, dentre outros, os seguintes fatos:
cosφ1
FP = (1.6)
• A máxima potência ativa absorvível da rede é fortemente limitada pelo
1 + TDH 2 FP;
É evidente a relação entre o FP e a distorção da corrente absorvida da • As harmônicas de corrente exigem um sobredimensionamento da
linha. Neste sentido, existem normas internacionais que regulamentam instalação elétrica e dos transformadores, além de aumentar as perdas
os valores máximos das harmônicas de corrente que um dispositivo ou (efeito pelicular);
equipamento pode injetar na linha de alimentação. • A componente de 3a harmônica da corrente, em sistema trifásico com
neutro, pode ser muito maior do que o normal;
1.1.1 Caso 3: Tensão e corrente não-senoidais, mas • O achatamento da onda de tensão, devido ao pico da corrente, além
de mesma freqüência. da distorção da forma de onda, pode causar mau-funcionamento de
outros equipamentos conectados à mesma rede;
O cálculo do FP, neste caso, deve seguir a equação (1.1), ou seja, é • As componentes harmônicas podem excitar ressonâncias no sistema
necessário obter o valor médio do produto dos sinais a fim de se conhecer de potência, levando a picos de tensão e de corrente, podendo danificar
a potência ativa. Num caso genérico, tanto a componente fundamental dispositivos conectados à linha.
quanto as harmônicas podem produzir potência, desde que existam
as mesmas componentes espectrais na tensão e na corrente e que sua 1.2.1 Perdas
defasagem não seja 90 graus.
A figura 1.8 mostra sinais de tensão e de corrente quadrados e As perdas de transmissão de energia elétrica são proporcionais ao
“defasados”. Os valores eficazes são, respectivamente, 200 V e 100 A. O quadrado da corrente eficaz que circula pelos condutores. Assim, para
que leva a uma potência aparente de 20kW. uma dada potência ativa, quanto menor for o FP, maior será a potência
Os valores eficazes das componentes fundamentais são, reativa e, conseqüentemente, a corrente pelos condutores. A figura 1.9
respectivamente, 180 V e 90 A. A defasagem entre elas é de 36 graus. mostra o aumento das perdas em função da redução do FP.
Se o cálculo da potência ativa for feito considerando apenas estes A tabela I.1 mostra um exemplo de redução de perdas devido à elevação
componentes, o valor obtido será de 13,1 kW. No entanto, a potência do FP. Toma-se como exemplo uma instalação com consumo anual de
média obtida da figura, e que corresponde à potência ativa, é de 11,9
kW. O motivo da discrepância é devido ao valor médio a ser produzido Aumento de perdas (%)
15
por cada componente harmônica presente tanto na tensão quanto na
12
corrente. Valores médios negativos são possíveis desde que a defasagem
9
entre os sinais seja superior a 90 graus. É o que ocorre neste exemplo,
levando a uma potência ativa menor do que aquela que seria produzida 6

se apenas as componentes fundamentais estivessem presentes. 3

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
1.2 Desvantagens do baixo fator de potência (FP) e da
FP
alta distorção da corrente Figura 1.9 Aumento das perdas devido à redução do FP
(com potência ativa constante)
Esta análise é feita partindo-se de duas situações. Na primeira supõe-
se constante a potência ativa, ou seja, parte-se de uma instalação ou carga 200MWh, na qual supõe-se uma perda de 5%. e se eleva o FP de 0,78
dada, a qual precisa ser alimentada. Verificam-se algumas conseqüências para 0,92. Observa-se uma redução nas perdas de 28,1%.
do baixo FP. Na segunda situação, analisando a partir dos limites de uma Uma outra questão relevante, que será discutida mais detalhadamente
linha de transmissão, verifica-se o ganho na disponibilização de energia em outros capítulos deste texto, refere-se a se fazer a correção do FP
para o consumo. em cada equipamento individualmente ou apenas na entrada de uma

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Março 2006 23
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Tabela 1.1 Análise comparativa da redução de perdas devido 850kW 920kW


ao aumento do FP

392kVAr
527kVAr
Situação 1 Situação 2
Fator de potência 0,78 0,92 1000kVA 1000kVA
Perdas globais (%) 5 3,59
Perdas globais (MWh/ano) 10 7,18 FP= 0,85 FP= 0,92
Redução das perdas 28,1%
Figura 1.10 Efeito do aumento do FP na ampliação da
disponibilidade de potência ativa
instalação. Key (1995) estuda o caso de um edifício comercial com uma
instalação de 60 kVA. Verifica o efeito de uma compensação em quatro maior potência, ou para uma quantidade maior de cargas.
situações (em termos do posicionamento do compensador): no primário Consideremos aqui aspectos relacionados com o estágio de entrada
do transformador; no secundário do transformador de entrada (o que de fontes de alimentação. As tomadas da rede elétrica doméstica ou
elimina as perdas adicionais neste elemento); em centrais de cargas industrial possuem uma corrente (RMS) máxima que pode ser absorvida
(subpainéis) e em cada carga. (tipicamente 15A nas tomadas domésticas).
A compensação em cada carga faz com que a corrente que circula A figura 1.11 mostra uma forma de onda típica de um circuito
em todo o sistema seja praticamente senoidal (FP~1). Fazendo-se a retificador alimentando um filtro capacitivo. Nota-se os picos de corrente
compensação de um grupo de cargas, as harmônicas circularão por e a distorção provocada na tensão de entrada, devido à impedância da
trechos reduzidos de cabos. Com a compensação no secundário do linha de alimentação. O espectro da corrente mostra o elevado conteúdo
transformador, a corrente será distorcida em toda a instalação, mas harmônico.
não no transformador. Com uma compensação na entrada, apenas o Nota-se que o baixo fator de potência da solução convencional (filtro
fornecedor de energia será beneficiado. capacitivo) é o grande responsável pela reduzida potência ativa disponível
A tabela I.2 mostra resultados deste estudo. para a carga alimentada.

1.2.2 Capacidade de transmissão 1.3 Comentários Finais

Analisemos agora o caso do sistema de transmissão, para o qual a O conceito mais importante deste capítulo inicial é que, nos dias de
grandeza constante é a potência aparente, uma vez que é ela que define hoje, principalmente nas redes de baixa tensão, é um erro importante
a capacidade térmica das linhas. desconsiderar a presença das distorções harmônicas, principalmente da
Uma análise fasorial só pode ser aplicada para grandezas senoidais e corrente, no cálculo do Fator de Potência. Por conseqüência, como se
de mesma freqüência, hipótese simplificadora assumida na análise que verá em outros capítulos, a compensação do FP por meio de capacitores
se segue. deve ser feito com extremo cuidado, uma vez que pode provocar
Um baixo FP significa que grande parte da capacidade de condução situações de piora da distorção, inclusive com riscos para a operação
de corrente dos condutores utilizados na instalação está sendo usada para segura do sistema.
transmitir uma corrente que não produzirá trabalho na carga alimentada. A melhoria do fator de potência tem como conseqüência um
Mantida a potência aparente (para a qual é dimensionada a instalação), melhor aproveitamento do sistema elétrico, com minimização de perdas
um aumento do FP significa uma maior disponibilidade de potência ativa, e aumento de capacidade de trabalho. É, portanto, um objetivo a ser
como indicam os diagramas da figura 1.10. buscado. Situações mais gerais, que incluem desequilíbrio e desbalanço
Uma análise análoga pode ser feita em termos de uma instalação devem ser analisadas com um cuidado maior, para o que se sugere a
existente, a qual poderia ser utilizada para alimentação de uma carga de leitura das referências citadas.

Tabela I.2 Economia de energia com compensação de harmônicos e FP em diferentes alocações


Posicionamento da compensação Primário trafo de entrada Secundário trafo de entrada Central de cargas Equipamento
Perdas totais sem compensação (W) 8148 8148 8148 8148
Perdas totais com compensação (W) 8125 5378 4666 3346
% total de perdas com compensação 13,54 8,96 7,78 5,58
Redução de perdas para carga de 60kVA (W) 23 2770 3482 4802
% de redução de perdas / 60kVA 0,04 4,62 5,8 8,0
Economia por ano (US$) 10 1213 1523 2101

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24 Março 2006
Harmônicos
Nonsinusoidal, Balanced or Unbalanced Conditions”, IEEE Transaction
Tabela 1.3 Comparação da potência ativa de saída
On Industry Applications, May/June 2004.
Convencional PF corrigido
L. S. Czarnecki, “On some misinterpretations of the instantaneous
Potência disponível 1440 VA 1440 VA
reactive power pq theory”, IEEE Transaction on Power Electronics,
Fator de potência 0,65 0,99
19(3), pp. 828-836, May 2004.
Eficiência do corretor de FP 100% 95%
M. Depenbrock, V. Staudt, and H. Wrede, “A theoretical investigation
Eficiência da fonte 75% 75%
of original and modified instantaneous power theory applied to four-
Potência disponível 702 W 1015 W
wire systems”, IEEE Transaction on Industry Applications, 39(4), pp.
1160-1167, July/August 2003.
1.4 Referências bibliográficas H. Akagi, S. Ogasawara and H. Kim, “The Theory of Instantaneous
Power in Three-Phase Four-Wire Systems: A Comprehensive
F. P. Marafão, “Análise e Controle da Energia Elétrica Através de Approach”, IEEE Industry Application Society Annual Meeting, pp.
Técnicas de Processamento Digital de Sinais”, Tese de Doutorado, 431-439, 1999.
Departamento de Sistemas e Controle de Energia, FEEC/Unicamp, “Manual de orientação aos consumidores sobre a nova legislação
Campinas, Brasil, 2004. para o faturamento de energia reativa excedente”. Secretaria
S. Fryze, “Active, reactive and apparent power in circuits with executiva do Comitê de Distribuição de Energia Elétrica - CODI, Rio
nonsinusoidal voltage and current”, Przegl.Elektrotech, 1932. de Janeiro, 1995.
J.L. Willems, “Reflections on Apparent Power and Power Factor in T. Key and J-S. Lai: “Costs and Benefits of Harmonic Current Reduction
Nonsinusoidal and Polyphase Situations”, IEEE Transaction On Power for Switch-Mode Power Supplies in a Commercial Office Building”.
Delivery, Abril de 2004. Anais do IEEE Industry Application Society Annual Meeting - IAS’95.
L.S. Czarnecki, “What is wrong with the Budeanu concept of reactive Orlando, USA, Outubro de 1995, pp. 1101-1108.
and distortion power and why it should be abandoned?,” IEEE J. Klein and M. K. Nalbant: “Power Factor Correction - Incentives.
Transaction on Instrumentation and Measurement, IM-36(3), pp. 834- Standards and Techniques”. PCIM Magazine, June 1990, pp. 26-31.
837, 1987.
IEEE Std 1459-2000. “IEEE Trial-Use Standard Definitions for the CORREÇÃO:
Measurement of Electric Power Quantities Under Sinusoidal, Na primeira parte deste fascículo, na edição anterior
Nonsinusoidal, Balanced or Unbalanced Conditions”. 2000. da revista, a indicação de valores de potência aparente
A. Emanuel, “Summary of IEEE Standard 1459: Definitions for em W (Watts) está errada. A unidade para potência
the Measurement of Electric Power Quantities Under Sinusoidal, aparente é VA (Volt-Ampère)

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“Este texto foi preparado como um curso de extensão: Influência dos passivas e passando para as ativas, como os pré-reguladores de fator de
Harmônicos nas Instalações Elétricas Industriais. Trata-se de um curso potência e os filtros ativos.”
voltado para profissionais atuantes no setor elétrico e interessados
em acompanhar as inovações tecnológicas decorrentes da evolução José Antenor Pomilio – engenheiro eletricista, mestre e doutor
da eletrônica de potência, especialmente as possibilidades do em engenharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas
condicionamento de energia elétrica visando aprimorar a qualidade do – Unicamp (1983, 1986 e 1991, respectivamente). É professor da
produto energia elétrica. Inicialmente, no capítulo 1, que foi publicado em Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp desde
duas partes, fez-se uma discussão sobre fator de potência e harmônicas, 1984. Participou do grupo de eletrônica de potência do Laboratório
vinculando-os em termos da influência das harmônicas sobre o fator Nacional de Luz Sincrotron (CNPq) entre 1988 e 1993, sendo chefe
de potência de um sistema. Neste capítulo, são apresentadas algumas do grupo entre 1988 e 1991. Realizou estágios de pós-doutoramento
normas e regulamentações que limitam a contaminação harmônica no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Pádua
de um sistema ou a emissão de uma carga. No capítulo 3 serão (1993 e 1994) e no Departamento de Engenharia Industrial da
apresentados os componentes semicondutores de potência utilizados Terceira Universidade de Roma (2003), ambas na Itália. Foi liaison
em conversores estáticos que, em última instância, são os responsáveis da IEEE Power Electronics Society para a região 9 (América Latina)
pelo aumento da distorção presente na rede. Paradoxalmente, são esses em 1998 e 1999. Foi membro do Comitê de Administração da IEEE
mesmos conversores que permitem a compensação das distorções Power Electronics Society no triênio 2000/2002. Foi editor da Revista
quando adequadamente empregados. No capítulo 4 serão apontados Eletrônica de Potência e editor associado das revistas IEEE Trans. on
os efeitos sobre os componentes de um sistema elétrico e as causas da Power Electronics e Controle & Automação (SBA). Foi presidente
distorção harmônica. Nos capítulos 5, 6 e 7 serão apresentadas soluções da Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência (2000-2002) e é
para a minimização da distorção harmônica, iniciando com correções membro de sua diretoria e do Conselho Deliberativo.

CAPÍTULO 2
2 - NORMAS RELATIVAS A FATOR DE POTÊNCIA
E DISTORÇÃO HARMÔNICA
2.1 - Fator de potência de energia que absorve.
A atual regulamentação brasileira do fator de potência estabelece “Nos sistemas senoidais, tanto os monofásicos quanto os
que o mínimo fator de potência (FP) das unidades consumidoras trifásicos equilibrados e simétricos, a noção do fator de potência é
alimentadas em baixa tensão é de 0,92. A Agência Nacional de Energia aceita consensualmente. Hoje em dia a proliferação de cargas não
Elétrica (Aneel), em seu documento “Procedimentos de distribuição lineares e/ou não balanceadas, assim como de cargas com dispositivos
de energia elétrica no sistema elétrico nacional – Prodist módulo 8 – chaveados de eletrônica de potência, determina um aprimoramento
qualidade da energia elétrica”, de 24 de agosto de 2005 traz o seguinte das disposições contidas nas regulamentações vigentes. Tal melhoria
texto: encontra sustentação na tecnologia de amostragem digital hoje
“A presença da energia e/ou potência reativas faz com que o disponível no mercado brasileiro, o qual dispõe de instrumentos de
transporte de potência ativa demande maior capacidade do sistema medição que permitem incorporar conceitos de potência e fator de
de transporte pelo qual ela flui. Por este motivo, a responsabilidade potência mais atuais”.
de um cliente marginal nos investimentos destinados à expansão da O referido documento, no entanto, ainda estabelece para o cálculo
rede será tanto maior quanto mais elevada for sua potência reativa do FP procedimentos que consideram formas de onda senoidais:
ou, de modo equivalente, quanto menor for seu fator de potência.
f= P EA
“Muitas cargas tradicionais, como é o caso dos motores elétricos, ou
P2 + Q2 EA2 + ER2 (2.1)
têm um princípio de operação que exige um consumo de potência
reativa. Assim, parece adequado que o regulador admita uma certa
EA: Energia ativa; ER: Energia reativa
tolerância para o fator de potência das unidades consumidoras.
O valor desta tolerância é expresso através do chamado fator de Permite-se, no entanto, que cada concessionária adote outros
potência de referência que está hoje fixado no valor de 0,92, o que procedimentos que contemplem a realidade local, ou seja, abre a
equivale a permitir ao cliente um consumo de 0,426 kVArh por kWh possibilidade do uso do conceito mais geral de FP. O cálculo do FP

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18 Abril 2006
Ha r m ô n i cos
deve ser feito por média horária. O consumo de reativos além do i/i pico
permitido (0,426 kVArh por kWh) é cobrado do consumidor. No p/3 p/3 p/3
intervalo entre 6 e 24 horas isso ocorre se a energia reativa absorvida 1
for indutiva e das 0 às 6 horas se for capacitiva (Crestani, 1994).
Conforme foi visto anteriormente, as componentes harmônicas
da corrente também contribuem para o aumento da corrente eficaz, 0,35
de modo que elevam a potência aparente sem produzir potência ativa
(supondo a tensão senoidal). Assim, uma correta medição do FP deve 0 p/2 p
levar em conta a distorção da corrente, e não apenas a componente Figura 2.1 Envelope da corrente de entrada que define um
reativa (na freqüência fundamental), o que não ocorre em grande equipamento como classe D.

parte dos medidores, embora os aparelhos digitais tenham condição


de fazê-lo, mesmo com algum grau de erro. A inclusão apenas desses aparelhos como classe D deve-se
ao fato de seu uso se dar em larga escala e ser difundido por
2.2. Norma IEC 61000-3-2: limites para emissão de todo o sistema. Outros equipamentos poderão ser incluídos nessa
harmônicas de corrente (<16 A por fase) categoria caso passem a apresentar tais características.
A IEC (International Electrotechnical Commission) é uma entidade Os valores de cada harmônica são obtidos após a passagem
internacional, mas com abrangência essencialmente européia, do sinal por um filtro passa-baixos de primeira ordem com
que gera recomendações técnicas na área de eletricidade. Com a constante de tempo de 1,5 s. Aplica-se a transformada discreta
aprovação da Comunidade Européia, ou de países individualmente, de Fourier (DFT), com uma janela de medição entre 4 e 30 ciclos
são geradas as EN – European Norm –, que reproduzem o conteúdo da fundamental, com um número inteiro de ciclos. Calcula-se
estabelecido nas respectivas IEC. a média aritmética dos valores da DFT durante todo o período
Essa norma (IEC, 2001) incluindo as alterações feitas pela emenda de observação. Esse período varia de acordo com o tipo de
14, de janeiro de 2001, refere-se às limitações das harmônicas equipamento, tendo como regra geral um valor que permita a
de corrente injetadas na rede pública de alimentação. Aplica-se a repetibilidade dos resultados.
equipamentos elétricos e eletrônicos que tenham uma corrente de A medição da potência ativa é feita de maneira análoga,
entrada de até 16 A por fase, conectado a uma rede pública de devendo-se, no entanto, tomar o máximo valor que ocorrer
baixa tensão alternada, de 50 ou 60 Hz, com tensão fase–neutro dentro do período de observação. Esse é o valor que um fabricante
entre 220 e 240 V. Para tensões inferiores, os limites não foram deve indicar em seu produto (com uma tolerância de +/- 10%),
estabelecidos, pois essa norma tem aplicação principalmente na conjuntamente como fator de potência (para classe C). Caso
Comunidade Européia, onde as tensões fase–neutro encontram-se o valor medido seja superior ao indicado, deve-se usar o valor
na faixa especificada. medido.
Os equipamentos são classificados em quatro classes: Para cada harmônica medida da forma descrita, o valor deve
Classe A: Equipamentos com alimentação trifásica equilibrada; ser inferior a 150% do limite da tabela I, em qualquer situação de
aparelhos de uso doméstico, excluindo os classe D; ferramentas, exceto operação do aparelho.
as portáteis; “dimmers” para lâmpadas incandescentes; equipamentos As correntes harmônicas com valor inferior a 0,6% da corrente
de áudio; e todos os demais não incluídos nas classes seguintes. de entrada (medida dentro das condições de ensaio) ou inferiores
Classe B: Ferramentas portáteis. a 5 mA não são consideradas. Foi definida a corrente harmônica
Classe C: Dispositivos de iluminação. parcial de ordem ímpar, para componentes entre a 21ª e a 39ª
Classe D: Computadores pessoais, monitores de vídeo e aparelhos como sendo:
de televisão, caso a corrente de entrada apresente a forma mostrada
39
na figura 1.2. A potência ativa de entrada deve ser igual ou inferior
I 21 −39 = ∑ I2n
a 600 W, medida esta feita obedecendo às condições de ensaio n = 21 , 23 ... (2.2)
estabelecidas na norma (que variam de acordo com o tipo de
equipamento). Para a componente de ordem 21 ou superior (ímpar), o valor
Antes da emenda 14, a definição de classe D era feita a partir de um individual para cada uma delas pode exceder o limite em mais 50%
envelope dentro do qual estaria a corrente de entrada, atingindo desde que a corrente harmônica parcial de ordem ímpar medida
qualquer equipamento monofásico, como mostra a figura 2.1. Tal não exceda o valor teórico (obtido com os valores da tabela), nem
definição mostrou-se inadequada devido ao fato de que os problemas exceda o limite individual de 150% do valor da tabela.
mais relevantes referem-se aos equipamentos agora incluídos na A Tabela 2.I indica os valores máximos para os harmônicos de
classe D e na classe C (reatores eletrônicos), permitindo retirar dos corrente, no fio de fase (não no de neutro).
demais aparelhos essas restrições. Os valores limites para a classe B são os mesmos da classe A,
acrescidos de 50%.
O SETOR ELÉTRICO
Abril 2006 19
F ASCÍCU LO / harmôni cos

Tabela 2.I Limites para os Harmônicos de Corrente


Ordem do Harmônico Classe A Classe B Classe C (>25W) Classe D
n Máxima corrente [A] Máxima corrente [A] % da fundamenal (>75W, <600W) [mA/W]
Harmônicas Ímpares
3 2,30 3,45 30.FP 3,4
5 1,14 1,71 10 1,9
7 0,77 1,115 7 1,0
9 0,40 0,60 5 0,5
11 0,33 0,495 3 0,35
13 0,21 0,315 3 0,296
15≤ n ≤39 0.15 = 15 0.225 = 15 3 3,85/n
n n
Harmônicos Pares
2 1,08 1,62 2
4 0,43 0,645
6 0,3 0,45
8≤ n ≤40 0.23 = 8 0.35 = 8
n n FP: fator de potência

2.3. IEC 61000-3-4 ser aplicados. Se este for monofásico ou trifásico desbalanceado,
Esse relatório técnico (IEC, 1998) pode ser aplicado a qualquer pode-se utilizar os limites da tabela 2.III. Podemos observar na
equipamento elétrico ou eletrônico, cuja corrente de entrada seja referida tabela que, quanto maiores forem os valores de potência
maior que 16 A. Sua tensão de alimentação deve ser menor que de curto-circuito, maiores serão os limites de distorção tolerados.
240 V para equipamentos monofásicos ou menor que 600 V para Nesse caso, algumas recomendações devem ser seguidas. O
equipamentos trifásicos. A freqüência nominal da rede pode ser 50 valor relativo de cada harmônico não deve exceder o limite de
Hz ou 60 Hz. 16/n%. Para valores intermediários de potência de curto-circuito,
No referido relatório são apresentados os limites para distorção pode-se aplicar interpolação linear para obter os limites de
harmônica em equipamentos cuja potência aparente seja menor distorção. No caso de equipamentos trifásicos desbalanceados, a
ou igual a 33 vezes a potência de curto-circuito da instalação. A corrente de cada uma das fases deve estar dentro desses limites.
tabela 2.II apresenta os limites individuais de corrente para cada Caso o equipamento seja trifásico equilibrado pode-se ainda
harmônico que estão normalizados em relação à fundamental. utilizar a tabela 2.IV. Algumas recomendações também devem ser
Define-se potência de curto-circuito (Rsce) como a relação entre seguidas. O valor relativo de cada harmônico não deve exceder
a tensão nominal ao quadrado e a impedância de curto-circuito. Se o limite de 16/n%. Para valores intermediários de potência de
o equipamento a ser analisado exceder os limites dessa primeira curto-circuito, pode-se aplicar interpolação linear para obter os
tabela, e a potência de curto-circuito permitir, outros limites podem limites de distorção.

Tabela 2.2 - Limites individuais de harmônicos de corrente Tabela 2.3 - Limites individuais de harmônicos de corrente em
em % da fundamental % da fundamental

Componente Harmônico Componente Harmônico Mínimo Fator de distorção Limites individuais de


Harmônico Admissível Harmônico Admissível Rsce harmônica admissível harmônico admissível
n In/I1% n In/I1% % In/I1 %
3 21,6 21 ≤0,6 THD PWHD I3 I5 I7 I9 I11 I13
5 10,7 23 0,9 66 25 25 23 11 8 6 5 4
7 7,2 25 0,8
120 29 29 25 12 10 7 6 5
9 3,8 27 ≤0,6
175 33 33 29 14 11 8 7 6
11 3,1 29 0,7
250 39 39 34 18 12 10 8 7
13 2 31 0,7
15 0,7 ≤33 ≤0,6 350 46 46 40 24 15 12 9 8
17 1,2 450 51 51 40 30 20 14 12 10
19 1,1 Sempre ≤8/n ou ≤0,6 600 57 57 40 30 20 14 12 10

O SETOR ELÉTRICO
20 Abril 2006
Harmônicos
no PAC. À medida que se eleva o nível de tensão, menores são
Tabela 2.4 - Limites individuais de harmônicos de corrente
os limites aceitáveis.
para equipamentos trifásicos em % da fundamental
A grandeza TDD – Total Demand Distortion – é definida como
Mínimo Fator de distorção Limites individuais de
harmônico admissível a distorção harmônica da corrente, em porcentagem, da máxima
Rsce harmônica admissível
% In/I1 % demanda da corrente de carga (demanda de 15 ou 30 min). Isso
significa que a medição da TDD deve ser feita no pico de consumo.
THD PWHD I5 I7 I11 I13
Harmônicas pares são limitadas a 25% dos valores acima. Distorções
66 16 25 14 11 10 8
de corrente que resultem em nível CC não são admissíveis.
120 18 29 16 12 11 8
175 25 33 20 14 12 8
250 35 39 30 18 13 8 Tabela 2.5 - Limites de Distorção da Corrente para Sistemas

48 46 de Distribuição (120V a 69kV)


350 40 25 15 10
450 58 51 50 35 20 15 Máxima corrente harmônica em % da corrente de carga
(Io - valor da componente fundamental)
600 70 57 60 40 25 18
Harmônicas ímpares:
Icc/Io <11 11≤ n <17 17≤ n <23 23≤ n <35 35<n TDD(%)
2.4. Recomendação IEEE para práticas e requisitos <20 4 2 1,5 0,6 0,3 5
para controle de harmônicas no sistema elétrico de 20<50 7 3,5 2,5 1 0,5 8
potência: IEEE-519 50<100 10 4,5 4 1,5 0,7 12
Essa recomendação produzida pelo IEEE (1991) descreve os 100<1000 12 5,5 5 2 1 15
principais fenômenos causadores de distorção harmônica, indica >1000 15 7 6 2,5 1,4 20
métodos de medição e limites de distorção. Seu enfoque é diverso
daquele da IEC 61000-3-2, uma vez que os limites estabelecidos Tabela 2.6 - Limites de Distorção da Corrente para Sistemas
referem-se aos valores medidos no ponto de acoplamento comum de Subdistribuição (69001V a 161kV)
(PAC), e não em cada equipamento individual. A filosofia é que Limites para harmônicas de corrente de cargas
não interessa ao sistema o que ocorre dentro de uma instalação, não-lineares no PAC com outras cargas
mas sim o que ela reflete para o exterior, ou seja, para os outros Harmônicas ímpares:
Icc/Io <11 11≤ n <17 17≤ n <23 23≤ n <35 35<n TDD(%)
consumidores conectados à mesma alimentação.
<20 2 1 0,75 0,3 0,15 2,5
Os limites diferem de acordo com o nível de tensão e com
20<50 3,5 1,75 1,25 0,5 0,25 4
o nível de curto-circuito do PAC. Obviamente, quanto maior
50<100 5 2,25 2 0,75 0,35 6
for a corrente de curto-circuito (Icc) em relação à corrente de
100<1000 6 2,75 2,5 1 0,5 7,5
carga, maiores serão as distorções de corrente admissíveis,
>1000 4,5 3,5 3 1,25 0,7 10
uma vez que elas distorcerão em menor intensidade a tensão

SE 460

O SETOR ELÉTRICO
Abril 2006 21
F ASCÍCU LO / harmôni cos

Tabela 2.7 - Limites de distorção de corrente para sistemas de alta Tabela 2.10 - Níveis de referência para distorções
tensão (>161kV) e sistemas de geração e co-geração isolados. harmônicas individuais de tensão (expressos como
Harmônicas ímpares: percentagem da tensão fundamental).
Icc/Io <11 11≤ n <17 17≤ n <23 23≤ n <35 35<n TDD(%)
Ordem Distorção Harmônica Individual de Tensão [%]
<50 2 1 0,75 0,3 0,15 2,5 Harmônica Vn ≤ 1kV 1kV < Vn ≤ 13,8kV 13,8kV < Vn ≤ 69kV 69kV < Vn ≤ 138kV
≥50 3 1,5 1,15 0,45 0,22 3,75 5 7,5 6 4,5 2,5
7 6,5 5 4 2
Para os limites de tensão, os valores mais severos são para 11 4,5 3,5 3 1,5
Impares
as tensões menores (nível de distribuição). Estabelece-se um 13 4 3 2,5 1,5
não
limite individual por componente e um limite para a distorção 17 2,5 2 1,5 1
múltiplas
harmônica total. 19 2 1,5 1,5 1
de 3
23 2 1,5 1,5 1
Tabela 2.8 - Limites de distorção de tensão 25 2 1,5 1,5 1
Distorção individual THD >25 1,5 1 1 0,5
69kV e abaixo 3% 5%
3 6,5 5 4 2
69001V até 161kV 1,5% 2,5%
Impares 9 2 1,5 1,5 1
Acima de 161kV 1% 1,5%
múltiplas 15 1 0,5 0,5 0,5
de 3 21 1 0,5 0,5 0,5
2.5. Regulamentação brasileira >21 1 0,5 0,5 0,5
Para a rede básica de energia, o Operador Nacional do Sistema 2 2,5 2 1,5 1
(ONS) estabelece desde 2002 parâmetros de qualidade para a 4 1,5 1 1 0,5
tensão suprida. Mas, do ponto de vista do consumidor, as restrições 6 1 0,5 0,5 0,5
a serem consideradas são, na imensa maioria, as do sistema de Pares 8 1 0,5 0,5 0,5
distribuição, as quais ainda estão em discussão. 10 1 0,5 0,5 0,5
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no já citado 12 1 0,5 0,5 0,5
documento “Procedimentos de distribuição de energia elétrica no >12 1 0,5 0,5 0,5
sistema elétrico nacional – Prodist módulo 8 – qualidade da energia
elétrica”, propõe valores para a distorção harmônica da tensão Figura 2.2 Tensão com DTT de 10%, em conformidade com os limites.
no sistema de distribuição. Tal regulamentação ainda não está
200V
definida.

0V
Tabela 2.9 - Valores de referência globais das distorções harmô­
nicas totais expressos em porcentagem da tensão fundamental
-200V
Tensão nominal Distorção Harmônica 0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms
TEMPO
60ms 70ms 80ms 90ms 100ms

do Barramento Total de Tensão (DTT) [%] 200V

VN ≤ 1kV 10
1kV < VN ≤ 13,8kV 8
13,8kV < VN ≤ 69kV 6
69kV < VN ≤ 138kV 3 SEL>>
0V
0Hz 0.1Khz 0.2Khz 0.3Khz 0.4Khz 0.5Khz 0.6Khz 0.7Khz 0.8Khz 0.9Khz 1.0Khz
Frequency

Hmáx
ΣV
h=2
h
2

DTT = x 100
V1 (2.3) 2.6. Comentários finais
Estão em andamento conversações entre o IEEE e a IEC para
A figura 2.2 mostra uma forma de onda de tensão que consolidarem as normas geradas pelas instituições. Tais processos, no
segue as restrições para tensão inferior a 1 kV. A DTT é de 10% entanto, são demorados, devido aos grandes interesses econômicos
e cada componente está abaixo do limite da tabela. Note-se que envolvidos.
essa distorção é, visualmente, significativa. Para ambientes industriais, o enfoque do IEEE parece mais
O SETOR ELÉTRICO
22 Abril 2006
Harmônicos
consistente do que o do IEC. No entanto, parece pouco adequado para módulo 8 – qualidade da energia elétrica”, de 24/8/2005.
uma situação mais atual na qual registra-se um grande aumento nas M. Crestani (1994), “Com uma terceira portaria, o novo fator de potência
cargas não lineares de uso doméstico (TV, computadores, lâmpadas já vale em abril”. Eletricidade moderna, ano XXII, n° 239, fev. 1994.
fluorescentes etc.). Ou seja, a distorção da tensão é ser causada, International Electrotechnical Commission (2001): IEC 61000-3-2:
crescentemente, por consumidores domésticos, e não industriais. “Electromagnetic Compatibility (EMC) – Part 3: Limits – Section 2: Limits
O ponto da IEC é garantir que cada equipamento apresente for Harmonic Current Emissions (Equipment input current < 16 A per
uma reduzida distorção, o que garantirá um bom comportamento phase)”, 1998 e Emenda A14 (2001)
no conjunto de cargas. No que se refere à regulamentação brasileira, International Electrotechnical Commission (1998): IEC 61000-3-4:
muito mais tolerante do que a do IEEE, deve-se perguntar sobre o “Limitation of emission of harmonic currents in low-voltage power
possível impacto de distorções significativas em diversos processos que supply systems for equipment with rated current greater than 16A”,
dependem de uma baixa distorção da forma de onda da tensão. first edition, 1998.
A ausência de uma definição de distorção da corrente é um problema IEEE (1991) Recommended Practices and Requirements for Harmonic
importante para a identificação de responsabilidades. Adicione-se a isso Control in Electric Power System. Project IEEE-519, out. 1991.
o fato de que a distorção da corrente é, para muitas cargas eletrônicas, ONS (2002), Submódulo 3.8 – Requisitos mínimos para a conexão à
dependente da distorção da tensão. Ou seja, se a rede se encontra com rede básica.
elevada distorção pode induzir ao aumento da distorção da corrente, ONS (2002), Submódulo 2.2 – Padrões de desempenho da rede básica.
o que seria, assim, responsabilidade da concessionária, e não do
consumidor.
Correção
Na segunda parte deste fascículo, na edição anterior
(nº2, Março de 2006) , a formula 1.4 correta é:
2.7. Referências bibliográficas

Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel (2005), “Procedimentos
de distribuição de energia elétrica no sistema elétrico nacional – Prodist
I RMS = I12 + ∑ I 2n
n=2

SE 465

O SETOR ELÉTRICO
Abril 2006 23
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, Mestre
e Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Esta-
dual de Campinas – UNICAMP, professor junto à Faculdade
de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP
antenor@dsce.fee.unicamp.br

Capítulo III – Parte 1


COMPONENTES SEMICONDUTORES DE POTÊNCIA
A figura 3.1 mostra uma distribuição dos componentes vizinhos (ligação covalente), tem-se um arranjo com 8 elétrons na
semicondutores, indicando limites aproximados (2004) para camada de valência, como ilustra a figura 3.2
valores de tensão de bloqueio, corrente de condução e freqüência
de comutação. Obviamente estes limites evoluem com o
desenvolvimento tecnológico e servem como uma ilustração para a Elétrons
Compartilhados
verificação, numa primeira aproximação, das faixas de potência em
que cada componente pode ser utilizado.
Núcleos Atômicos
TENSÃO

TIRISTORES

IGCT Figura 3.2 – Estrutura cristalina de material semicondutor

5kV
GTO e IGCT Em qualquer temperatura acima do zero absoluto (-273oC),
4kV
algumas destas ligações são rompidas (ionização térmica),
3kV CORRENTE produzindo elétrons livres. O átomo que perde tal elétron se torna
IGTB positivo. Eventualmente um outro elétron também escapa de outra
2kV TBP 1kHz
ligação e, atraído pela carga positiva do átomo, preenche a ligação
10kHz
1kV MOSFET covalente. Desta maneira tem-se uma movimentação relativa da
100kHz

2kA 6kA
1MHz “carga positiva”, chamada de lacuna, que, na verdade, é devida ao
4kA
Freqüência deslocamento dos elétrons que saem de suas ligações covalentes e
Figura 3.1 Limites de operação de componentes semicondutores de vão ocupar outras, como mostra a figura 3.3.
potência.
Átomo
ionizado
3.1 Breve Revisão da Física de Semicondutores
A passagem de corrente elétrica em um meio depende da
aplicação de um campo elétrico e da existência de portadores livres Elétron

(usualmente elétrons) neste meio. Em metais, como o cobre ou a


Ligação rompida
prata, a densidade de portadores livres (elétrons) é da ordem de
1023/cm3, enquanto nos materiais isolantes, como o quartzo ou o
óxido de alumínio, o valor é da ordem de 103/cm3. Os chamados
semicondutores, como o silício, têm densidades intermediárias,
na faixa de 108 a 1019/cm3. Nos condutores e nos isolantes,
Movimento
tais densidades são propriedades dos materiais, enquanto nos da Lacuna

semicondutores estas podem ser variadas, seja pela adição de


“impurezas” de outros materiais, seja pela aplicação de campos
elétricos em algumas estruturas de semicondutores.

3.1.1 Os portadores: elétrons e lacunas


Átomos de materias com 4 elétrons em sua camada mais externa
(C, Ge, Si, etc.), ou ainda moléculas com a mesma propriedade,
permitem o estabelecimento de ligações muito estáveis, uma vez
Figura 3.3 – Movimento de elétrons e lacunas em semicondutor
que, pelo compartilhamento dos elétrons externos pelos átomos

O SETOR ELÉTRICO
18 Maio 2006
Ha r m ô n i cos
A ionização térmica gera o mesmo número de elétrons e Neste caso não se tem mais o equilíbrio entre elétrons e
lacunas. Em um material puro, a densidade de portadores é lacunas, passando a existir um número maior de elétrons livres
aproximadamente dada por: nos materiais dopados com elementos da quinta coluna da tabela
periódica, ou de lacunas, caso a dopagem seja com elementos
-qEg da terceira coluna. Respectivamente, produzem-se os chamados
materiais semicondutores tipo N e tipo P. Observe-se, no entanto,
ni ≈ C·e kT
que o material permanece eletricamente neutro, uma vez que a
(3.1)
quantidade total de elétrons e prótons é a mesma.
Onde C é uma constante de proporcionalidade, q é a carga do Quando a lacuna introduzida pelo boro captura um elétron
elétron (valor absoluto), Eg é a banda de energia do semicondutor livre, tem-se a movimentação da lacuna. Neste caso diz-se que
(1,1 eV para o Si), k é a constante de Boltzmann, T é a temperatura as lacunas são os portadores majoritários, sendo os elétrons os
em Kelvin. Para o Si, à temperatura ambiente (300K), ni 1010/cm3. portadores minoritários.
Já no material tipo N, a movimentação do elétron excedente
3.1.2 Semicondutores dopados deixa o átomo ionizado, o que o faz capturar outro elétron livre.
Quando se faz a adição de átomos de materiais que possuam Neste caso os portadores majoritários são os elétrons, enquanto os
3 (como o alumínio ou o boro) ou 5 elétrons (como o fósforo) em minoritários são as lacunas.
sua camada de valência à estrutura dos semicondutores, os átomos As dopagens das impurezas (1019/cm3 ou menos), tipicamente
vizinhos a tal impureza terão suas ligações covalentes incompletas são feitas em níveis muito menores que a densidade de átomos do
ou com excesso de elétrons, como mostra a figura 3.4. material semicondutor (1023/cm3), de modo que as propriedades
de ionização térmica não são afetadas.
Mesmo em um material dopado, o produto das densidades de
Si Si Si
lacunas e de elétrons (po e no, respectivamente) é igual ao valor ni2
Ligação
incompleta dado pela equação (3.1), embora aqui po no .
Si Bo Si Além da ionização térmica, tem-se uma quantidade adicional
de cargas “livres”, relativas às próprias impurezas. Pelos valores
indicados anteriormente, pode-se verificar que a concentração
Si Si Si
de átomos de impurezas é muitas ordens de grandeza superior à
Si Si Si densidade de portadores gerados por efeito térmico, de modo que,
Elétron num material tipo P, po  Na, onde Na é a densidade de impurezas
em excesso
“aceitadoras” de elétrons. Já no material tipo N, no  Nd, onde Nd
Si P Si
é a densidade de impurezas “doadoras” de elétrons.
Figura 3.4 – Em qualquer dos materiais, a densidade dos portadores minoritários
Semicondutores dopados
Si Si Si é proporcional ao quadrado da densidade “intrínseca”, ni, e é
fortemente dependente da temperatura.

SE 770

O SETOR ELÉTRICO
Maio 2006 19
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos

varia com o material e do tipo de portador. A mobilidade dos elétrons


2
ni é aproximadamente 3 vezes maior do que a das lacunas para o Si em
n0 ≈ , P0 ≈ Na temperatura ambiente. A mobilidade diminui aproximadamente com
P0
o quadrado do aumento da temperatura.
(3.2)
Outro fator de movimentação de portadores é por “difusão”,
2
ni quando existem regiões adjacentes em que há diferentes concentrações
n0 ≈ , n0 ≈ Nd de portadores. O movimento aleatório dos portadores tende a equalizar
n0
sua dispersão pelo meio, de modo que tende a haver uma migração
(3.3)
de portadores das regiões mais concentradas para as mais dispersas.

3.1.3 - Recombinação 3.2 - Diodos de Potência


Uma vez que a quantidade ni é determinada apenas por Um diodo semicondutor é uma estrutura P-N que, dentro de seus
propriedades do material e pela temperatura, é necessário que exista limites de tensão e de corrente, permite a passagem de corrente em
algum mecanismo que faça a recombinação do excesso de portadores um único sentido. Detalhes de funcionamento, em geral desprezados
à medida que novos portadores são criados pela ionização térmica. para diodos de sinal, podem ser significativos para componentes de
Tal mecanismo inclui tanto a recombinação propriamente dita de um maior potência, caracterizados por uma maior área (para permitir
elétron com uma lacuna em um átomo de Si, quanto a captura dos maiores correntes) e maior comprimento (a fim de suportar tensões
elétrons pela impureza ionizada ou, adicionalmente, por imperfeições mais elevadas). A figura 3.5 mostra, simplificadamente, a estrutura
na estrutura cristalina. Tais imperfeições fazem com que os átomos interna de um diodo.
adjacentes não necessitem realizar 4 ligações covalentes. Aplicando-se uma tensão entre as regiões P e N, a diferença de
Pode-se definir o “tempo de vida” de um portador como o tempo potencial aparecerá na região de transição, uma vez que a resistência
médio necessário para que o elétron ou a lacuna sejam “neutralizados” desta parte do semicondutor é muito maior que a do restante do
pela consecussão de uma ligação covalente. Em muitos casos pode-se componente (devido à concentração de portadores). Quando se
considerar o “tempo de vida” de um portador como uma constante do polariza reversamente um diodo, ou seja, se aplica uma tensão
material. No entanto, especialmente nos semicondutores de potência, negativa no anodo (região P) e positiva no catodo (região N), mais
esta não é uma boa simplificação. portadores positivos (lacunas) migram para o lado N, e vice-versa,
Quando ocorre um significativo aumento na temperatura do de modo que a largura da região de transição aumenta, elevando a
semicondutor, tem-se um aumento no tempo de recombinação do barreira de potencial.
excesso de portadores, o que leva a um aumento nos tempos de
comutação dos dispositivos de tipo “portadores minoritários”, como o Junção Metalúrgica

transistor bipolar e os tiristores. Uma vez que este “tempo de vida” dos P + + + + + + + _ _ + + _ _ _ _ _ _ N_
portadores afeta significantemente o comportamento dos dispositivos ++++++++ _ _ + + _ _ _ _ _ _ _
++++++++ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Anodo Catodo
de potência, a obtenção de métodos que possam controlá-lo é + +
++++++++ _ _ + + _ _ _ _ _ _ _
importante. Um dos métodos que possibilita o “ajuste” deste tempo ++++++++ _ _ + + _ _ _ _ _ _ _

é a dopagem com ouro, uma vez que este elemento funciona como + Difusão
_
um “centro” de recombinação, uma vez que realiza tal operação com
grande facilidade. Outro método é o da irradiação de elétrons de alta
energia, bombardeando a estrutura cristalina de modo a deformá-la e, Potencial
0
assim, criar “centros de recombinação”. Este último método tem sido
1u
preferido devido à sua maior controlabilidade (a energia dos elétrons é
facilmente controlável, permitindo estabelecer a que profundidade do Figura 3.5 Estrutura básica de um diodo semicondutor.
cristal se quer realizar as deformações) e por ser aplicado no final do
processo de construção do componente. Por difusão ou efeito térmico, uma certa quantidade de portadores
minoritários penetra na região de transição. São, então, acelerados
3.1.4 - Correntes de deriva e de difusão pelo campo elétrico, indo até a outra região neutra do dispositivo.
Quando um campo elétrico for aplicado a um material Esta corrente reversa independe da tensão reversa aplicada, variando,
semicondutor, as lacunas se movimentarão no sentido do campo basicamente, com a temperatura.
decrescente, enquanto os elétrons seguirão em sentido oposto. Esta Se o campo elétrico na região de transição for muito intenso, os
corrente depende de um parâmetro denominado “mobilidade”, a qual portadores em trânsito obterão grande velocidade e, ao se chocarem

O SETOR ELÉTRICO
20 Maio 2006
Harmônicos
com átomos da estrutura, produzirão novos portadores, os quais, muito diferente do de uma chave ideal, como se pode observar na figura
também acelerados, produzirão um efeito de avalanche. Dado o 3.6. Suponha-se que se aplica uma tensão vi ao diodo, alimentando
aumento na corrente, sem redução significativa na tensão na junção, uma carga resistiva (cargas diferentes poderão alterar alguns aspectos
produz-se um pico de potência que destrói o componente. da forma de onda). Durante t1, remove-se a carga acumulada na
Uma polarização direta leva ao estreitamento da região de transição região de transição. Como ainda não houve significativa injeção de
e à redução da barreira de potencial. Quando a tensão aplicada superar portadores, a resistência da região N- é elevada, produzindo um pico de
o valor natural da barreira, cerca de 0,7V para diodos de Si, os portadores tensão. Indutâncias parasitas do componente e das conexões também
negativos do lado N serão atraídos pelo potencial positivo do anodo e colaboram com a sobre-tensão. Durante t2 tem-se a chegada dos
vice-versa, levando o componente à condução. portadores e a redução da tensão para cerca de 1V. Estes tempos são,
Na verdade, a estrutura interna de um diodo de potência é um pouco tipicamente, da ordem de centenas de ns.
diferente desta apresentada. Existe uma região N intermediária, com No desligamento, a carga espacial presente na região N- deve
baixa dopagem. O papel desta região é permitir ao componente suportar ser removida antes que se possa reiniciar a formação da barreira de
tensões mais elevadas, pois tornará menor o campo elétrico na região de potencial na junção. Enquanto houver portadores transitando, o diodo
transição (que será mais larga, para manter o equilíbrio de carga). se mantém em condução. A redução em Von se deve à diminuição
Esta região de pequena densidade de dopante dará ao diodo uma da queda ôhmica. Quando a corrente atinge seu pico negativo é que
significativa característica resistiva quando em condução, a qual se torna foi retirado o excesso de portadores, iniciando-se, então, o bloqueio
mais significativa quanto maior for a tensão suportável pelo componente. do diodo. A taxa de variação da corrente, associada às indutâncias do
As camadas que fazem os contatos externos são altamente dopadas, a circuito, provoca uma sobre-tensão negativa.
fim de fazer com que se obtenha um contato com característica ôhmica
e não semicondutor. t3
trr
t1 dir/dt
O contorno arredondado entre as regiões de anodo e catodo tem dif/dt
Qrr
i=Vr/R
como função criar campos elétricos mais suaves (evitando o efeito de iD

Anodo
pontas). No estado bloqueado, pode-se analisar a região de transição
P+ 10 e 19 cm - 3 Vfp Von t4 t5
como um capacitor, cuja carga é aquela presente na própria região de vD
Vrp
transição. Na condução não existe tal carga, no entanto, devido à alta N– 10 e 14 cm - 3 Depende -Vr t2
da tensão
+Vr
dopagem da camada P+, por difusão, existe uma penetração de lacunas
vi
na região N-. Além disso, à medida que cresce a corrente, mais lacunas 250 u vD -Vr
N+ 10 e 14 cm - 3 substrato
são injetadas na região N-, fazendo com que elétrons venham da região iD
vi R
N+ para manter a neutralidade de carga. Desta forma, cria-se uma carga Catodo

espacial no catodo, a qual terá que ser removida (ou se recombinar) para
permitir a passagem para o estado bloqueado do diodo. Figura 3.6 - Estrutura típica de diodo de potência e formas de onda
típicas de comutação de diodo de potência.
O comportamento dinâmico de um diodo de potência é, na verdade,

SE 775

O SETOR ELÉTRICO
Maio 2006 21
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos

A figura 3.7 mostra resultados experimentais de um diodo de 3.3 - Diodos Schottky


potência “lento” (retificador) em um circuito como o da figura Quando é feita uma junção entre um terminal metálico e um material
3.6, no qual a indutância é desprezível, como se nota na figura semicondutor, o contato tem, tipicamente, um comportamento ôhmico,
(a), pela inversão quase imediata da polaridade da corrente. A ou seja, a resistência do contato governa o fluxo da corrente. Quando
corrente reversa é limitada pela resistência presente no circuito. Já este contato é feito entre um metal e uma região semicondutora com
na entrada em condução, a tensão aplicada ao circuito aparece densidade de dopante relativamente baixa, o efeito dominante deixa de
instantaneamente sobre o próprio diodo, o que contribui para ser o resistivo, passando a haver também um efeito retificador.
limitar o crescimento da corrente. Quando esta tensão cai, a Um diodo Schottky é formado colocando-se um filme metálico em
corrente vai assumindo seu valor de regime. contato direto com um semicondutor, como indicado na figura 3.8. O
11 Acqs metal é usualmente depositado sobre um material tipo N, por causa
Tek STOP 10MS/s {.................................T..................................}
da maior mobilidade dos portadores neste tipo de material. A parte
metálica será o anodo e o semicondutor, o catodo.
Numa deposição de Al (3 elétrons na última camada), os elétrons
do semicondutor tipo N migrarão para o metal, criando uma região
(a) 1

de transição na junção. Note-se que apenas elétrons (portadores


majoritários em ambos materiais) estão em trânsito. O seu chaveamento
2
é muito mais rápido do que o dos diodos bipolares, uma vez que não
existe carga espacial armazenada no material tipo N, sendo necessário
apenas refazer a barreira de potencial (tipicamente de 0,3V). A região
N+ tem uma dopagem relativamente alta, a fim de reduzir as perdas de
Ch1 500mV Ch2 10V M 10μs Ch1 120mV

condução, com isso, a máxima tensão suportável por estes diodos é de


Tek Run: 10MS/s
Trig’d cerca de 100V.
{.................................T..................................}
A aplicação deste tipo de diodos ocorre principalmente em fontes de
baixa tensão, nas quais as quedas sobre os retificadores são significativas.
Na figura 3.4.(b) tem-se uma forma de onda típica no desligamento
1
do componente. Note que, diferentemente dos diodos convencionais,
(b) assim que a corrente se inverte a tensão começa a crescer, indicando a
não existência dos portadores minoritários no dispositivo.
2

contato
contato contato
contato
retificador
ôhmico
Al
A1 Al
A1 ôhmico
ôhmico

SSiO2
iO2

N+
N+
Ch1 500mV Ch2 10V M 1μs Ch2 10,6V

TTipo
ipo NN
Figura 3.7 - Resultados experimentais das comutações de diodo: (a)
desligamento; (b) entrada em condução. Canal 1: Corrente; Canal 2:
tensão vak S
Substrato tipoPP
ubstrato tipo

Tek Run: 10MS/s


Average

Diodos rápidos possuem trr da ordem de, no máximo, poucos


micro-segundos, enquanto nos diodos normais é de dezenas ou
1
centenas de micro-segundos. O retorno da corrente a zero, após
o bloqueio, devido à sua elevada derivada e ao fato de, neste
momento, o diodo já estar desligado, é uma fonte importante de
sobre-tensões produzidas por indutâncias parasitas associadas aos
componentes por onde circula tal corrente. A fim de minimizar este 2

fenômeno foram desenvolvidos os diodos “soft-recovery”, nos quais


esta variação de corrente é suavizada, reduzindo os picos de tensão
Ch1 200mV Ch2 10V M 100μs Ch1 -200mV

gerados. Em aplicações nas quais o diodo comuta sob tensão nula,


como é o caso dos retificadores com filtro capacitivo, praticamente Figura 3.8 - (a) Estrutura de diodo Schottky; (b) Forma de onda típica no
desligamento. Canal 1: Corrente; Canal 2: tensão Vak
não se observa o fenômeno da recombinação reversa.

O SETOR ELÉTRICO
22 Maio 2006
Harmônicos
3.4 Tiristor Desta forma, a junção reversamente polarizada tem
O nome tiristor engloba uma família de dispositivos sua diferença de potencial diminuída e estabelece-se uma
semicondutores que operam em regime chaveado, tendo em corrente entre anodo e catodo, que poderá persistir mesmo
comum uma estrutura de 4 camadas semicondutoras numa na ausência da corrente de porta. Quando a tensão Vak for
seqüência p-n-p-n, apresentando um funcionamento biestável. negativa, J1 e J3 estarão reversamente polarizadas, enquanto
O tiristor de uso mais difundido é o SCR (Retificador Controlado J2 estará diretamente polarizada. Uma vez que a junção J3
de Silício), usualmente chamado simplesmente de tiristor. é intermediária a regiões de alta dopagem, ela não é capaz
Outros componentes, no entanto, possuem basicamente de bloquear tensões elevadas, de modo que cabe à junção
uma mesma estrutura: LASCR (SCR ativado por luz), também J1 manter o estado de bloqueio do componente.
chamado de LTT (Light Triggered Thyristor), TRIAC (tiristor É comum fazer-se uma analogia entre o funcionamento
triodo bidirecional), DIAC (tiristor diodo bidirecional), GTO do tiristor e o de uma associação de dois transistores,
(tiristor comutável pela porta), MCT (Tiristor controlado por conforme mostrado na figura 3.10. Quando uma corrente
MOS). Ig positiva é aplicada, Ic2 e Ik crescerão. Como Ic2 = Ib1,
T1 conduzirá e teremos Ib2=Ic1 + Ig, que aumentará Ic2 e
3.4.1 - Princípio de funcionamento assim o dispositivo evoluirá até a saturação, mesmo que Ig
O tiristor é formado por quatro camadas semicondutoras, seja retirada. Tal efeito cumulativo ocorre se os ganhos dos
alternadamente p-n-p-n, possuindo 3 terminais: anodo e transistores forem maior que 3. O componente se manterá
catodo, pelos quais flui a corrente, e a porta (ou gate) que, a em condução desde que, após o processo dinâmico de
uma injeção de corrente, faz com que se estabeleça a corrente entrada em condução, a corrente de anodo tenha atingido
anódica. A figura 3.9 ilustra uma estrutura simplificada do um valor superior ao limite IL, chamado de corrente de
dispositivo. “latching”.
Se entre anodo e catodo tivermos uma tensão positiva, as Para que o tiristor deixe de conduzir é necessário que a
junções J1 e J3 estarão diretamente polarizadas, enquanto a corrente por ele caia abaixo do valor mínimo de manutenção
junção J2 estará reversamente polarizada. Não haverá condução (IH), permitindo que se restabeleça a barreira de potencial
de corrente até que a tensão Vak se eleve a um valor que em J2. Para a comutação do dispositivo não basta, pois, a
provoque a ruptura da barreira de potencial em J2. aplicação de uma tensão negativa entre anodo e catodo.
Se houver uma tensão Vgk positiva, circulará uma corrente Tal tensão reversa apressa o processo de desligamento por
através de J3, com portadores negativos indo do catodo deslocar nos sentidos adequados os portadores na estrutura
para a porta. Por construção, a camada P ligada à porta é cristalina, mas não garante, sozinha, o desligamento.
suficientemente estreita para que parte destes elétrons que Devido a características construtivas do dispositivo, a
cruzam J3 possua energia cinética suficiente para vencer a aplicação de uma polarização reversa do terminal de gate não
barreira de potencial existente em J2, sendo então atraídos permite a comutação do SCR. Este será um comportamento
pelo anodo. dos GTOs, como se verá adiante.

Vcc Rc (carga)
A A Ia
J1 J2 J3 Ib1
A P N- P N+ K Catodo P T1
N Ic2
N Ic1
Anodo
Vg CH G
Gate G Rg
P P G
T2
Vcc Rc
N Ig Ib2
Ik
A K K
G K
Rg
Vg

Figura 3.9 - Funcionamento básico do tiristor e seu símbolo Figura 3.10 - Analogia entre tiristor e transistores bipolares

(continua na próxima edição)


O SETOR ELÉTRICO
Maio 2006 23
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e
doutor em engenharia elétrica pela Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp, professor da Faculdade de Enge-
nharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br

Capítulo III – Parte 2


COMPONENTES SEMICONDUTORES DE POTÊNCIA

3.1.1. Maneiras de disparar um tiristor c) Taxa de crescimento da tensão direta


Quando reversamente polarizadas, a área de transição de uma
Podemos considerar cinco maneiras distintas de fazer com que junção comporta-se de maneira similar a um capacitor, devido ao
um tiristor entre em condução: campo criado pela carga espacial. Considerando que praticamente
a) Tensão toda a tensão está aplicada sobre a junção J2 (quando o SCR estiver
Quando polarizado diretamente, no estado desligado, a tensão desligado e polarizado diretamente), a corrente que atravessa tal
de polarização é aplicada sobre a junção J2. O aumento da tensão junção é dada por:
Vak leva a uma expansão da região de transição tanto para o
interior da camada do gate quanto para a camada N adjacente.
Mesmo na ausência de corrente de gate, por efeito térmico, sempre Ij =
(
d C j ⋅ Vak ) = C ⋅ dVak + V ⋅
dC j
(3.4)
j ak
existirão cargas livres que penetram na região de transição (no caso, dt dt dt
elétrons), as quais são aceleradas pelo campo elétrico presente em
Onde Cj é a capacitância da junção.
J2. Para valores elevados de tensão (e, conseqüentemente, de campo
elétrico), é possível iniciar um processo de avalanche, no qual as Ia
cargas aceleradas, ao chocarem-se com átomos vizinhos, provoquem Von
a expulsão de novos portadores, os quais reproduzem o processo. Tal
fenômeno, do ponto de vista do comportamento do fluxo de cargas
pela junção J2, tem efeito similar ao de uma injeção de corrente IL
Ig2 > Ig1 > Ig=0
pelo gate, de modo que, se ao se iniciar a passagem de corrente Vbr IH
Vak
for atingido o limiar de IL, o dispositivo se manterá em condução. A Vbo
figura 3.11 mostra a característica estática de um SCR.
b) Ação da corrente positiva de porta
Sendo o disparo através da corrente de porta a maneira mais
Figura 3.11 – Característica estática do tiristor
usual de ser ligado o tiristor, é importante o conhecimento dos
limites máximos e mínimos para a tensão Vgk e a corrente Ig, como
Vgk
mostrados na figura 3.12. Máxima tensão de gate
O valor Vgm indica a mínima tensão de gate que garante a
condução de todos os componentes de um dado tipo, na mínima Limite de
baixa corrente
temperatura especificada. Máxima potência
Instantânea de gate
O valor Vgo é a máxima tensão de gate que garante que 6V
nenhum componente de um dado tipo entrará em condução, na
máxima temperatura de operação.
A corrente Igm é a mínima corrente necessária para garantir a Vgm Limite de
alta corrente
entrada em condução de qualquer dispositivo de um certo tipo, na Vgo
mínima temperatura. Reta de carga
do circuito de acionamento
Para garantir a operação correta do componente, a reta de 0
0 Igm 0,5A Ig
carga do circuito de acionamento deve garantir a passagem além
dos limites Vgm e Igm, sem exceder os demais limites (tensão,
Figura 3.12 – Condições para disparo de tiristor através de
corrente e potências máximas). controle pela porta

O SETOR ELÉTRICO
16 Junho 2006
Ha r m ô n i cos
Quando Vak cresce, a capacitância diminui, uma vez que a 3.1.2. Parâmetros básicos de tiristores
região de transição aumenta de largura. Entretanto, se a taxa
de variação da tensão for suficientemente elevada, a corrente Apresentaremos a seguir alguns parâmetros típicos de tiristores
que atravessará a junção pode ser suficiente para levar o tiristor e que caracterizam condições limites para sua operação. Alguns
à condução. já foram apresentados e comentados anteriormente e serão, pois,
Uma vez que a capacitância cresce com o aumento da apenas citados aqui.
área do semicondutor, os componentes para correntes mais • Tensão direta de ruptura (VBO)
elevadas tendem a ter um limite de dv/dt menor. Observe-se • Máxima tensão reversa (VBR)
que a limitação diz respeito apenas ao crescimento da tensão • Máxima corrente de anodo (Iamax): pode ser dada como valor
direta (Vak > 0). A taxa de crescimento da tensão reversa não RMS, médio, de pico e/ou instantâneo.
é importante, uma vez que as correntes que circulam pelas • Máxima temperatura de operação (Tjmax): temperatura acima
junções J1 e J3, em tal situação, não têm a capacidade de levar da qual, devido a um possível processo de avalanche, pode haver
o tiristor a um estado de condução. destruição do cristal.
Como se verá adiante, utilizam-se circuitos RC em paralelo • Resistência térmica (Rth): é a diferença de temperatura entre dois
com os tiristores com o objetivo de limitar a velocidade de pontos especificados ou regiões, divididos pela potência dissipada
crescimento da tensão direta sobre eles. sob condições de equilíbrio térmico. É uma medida das condições
d) Temperatura de fluxo de calor do cristal para o meio externo.
A altas temperaturas, a corrente de fuga numa junção • Característica I2t: é o resultado da integral do quadrado da
p–n reversamente polarizada dobra aproximadamente com o corrente de anodo num determinado intervalo de tempo, sendo
aumento de 8 oC. Assim, a elevação da temperatura pode levar uma medida da máxima potência dissipável pelo dispositivo. É dado
a uma corrente através de J2 suficiente para levar o tiristor à básico para o projeto dos circuitos de proteção.
condução. • Máxima taxa de crescimento da tensão direta Vak (dv/dt).
e) Energia radiante • Máxima taxa de crescimento da corrente de anodo (di/dt):
Energia radiante dentro da banda espectral do silício, fisicamente, o início do processo de condução de corrente pelo
incidindo e penetrando no cristal, produz considerável tiristor ocorre no centro da pastilha de silício, ao redor da região
quantidade de pares elétrons–lacunas, aumentando a onde foi construída a porta, espalhando-se radialmente até ocupar
corrente de fuga reversa, possibilitando a condução do toda a superfície do catodo, à medida que cresce a corrente.
tiristor. Esse tipo de acionamento é o utilizado nos LASCR, Mas se a corrente crescer muito rapidamente, antes que haja a
cuja aplicação principal é em sistemas que operam em elevado expansão necessária na superfície condutora, haverá um excesso
potencial, onde a isolação necessária só é obtida por meio de de dissipação de potência na área de condução, danificando a
acoplamentos óticos. estrutura semicondutora. Esse limite é ampliado para tiristores de

SE 1055

O SETOR ELÉTRICO
Junho 2006 17
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos

tecnologia mais avançada fazendo-se a interface entre gate e catodo que permita à corrente atingir IL quando, então, pode ser retirada.
com uma maior área de contato, por exemplo, “interdigitando” o Observamos ser bastante simples o circuito de disparo de um
gate. A figura 3.13 ilustra esse fenômeno. SCR e, dado o alto ganho do dispositivo, as exigências quando do
• Corrente de manutenção de condução (IH): a mínima corrente de acionamento são mínimas.
anodo necessária para manter o tiristor em condução. b) Comutação
• Corrente de disparo (IL): mínima corrente de anodo requerida Se, por um lado, é fácil a entrada em condução de um tiristor,
para manter o SCR ligado imediatamente após ocorrer a passagem o mesmo não se pode dizer de sua comutação. Lembramos que
do estado desligado para o ligado e ser removida a corrente de a condição de desligamento é que a corrente de anodo fique
porta. abaixo do valor IH. Se isso ocorrer juntamente com a aplicação de
• Tempo de disparo (ton): é o tempo necessário para o tiristor sair uma tensão reversa, o bloqueio se dará mais rapidamente. Não
do estado desligado e atingir a plena condução. existe uma maneira de desligar o tiristor através de seu terminal de
• Tempo de desligamento (toff): é o tempo necessário para a controle, sendo necessário algum arranjo no nível do circuito de
transição entre o estado de condução e o de bloqueio. É devido anodo para reduzir a corrente principal.
a fenômenos de recombinação de portadores no material 1b) Comutação natural
semicondutor. É utilizada em sistemas de CA nos quais, em função do caráter
• Corrente de recombinação reversa (Irqm): valor de pico da ondulatório da tensão de entrada, em algum instante a corrente
corrente reversa que ocorre durante o intervalo de recombinação tenderá a se inverter e terá, assim, seu valor diminuído abaixo de
dos portadores na junção. IH, desligando o tiristor. Isso ocorrerá desde que, num intervalo
inferior a toff, não cresça a tensão direta Vak, o que poderia levá-lo
K
novamente à condução.
G
A figura 3.15 mostra um circuito de um controlador de tensão
N N
P CA, alimentando uma carga RL, bem como as respectivas formas
G P G
de onda. Observe que quando a corrente se anula a tensão sobre
N- P
N
a carga se torna zero, indicando que nenhum dos SCRs está em
N
P Catodo condução.
Gate circular Gate interdigitado
A Contato metálico
S1
Figura 3.13 – Expansão da área de condução do tiristor a partir i(t)
das vizinhanças da região de gate L
vi(t) S2 vL R
dv/dt
di/dt
Tensão direta de bloqueio

200V

vi(t)
Von
Corrente de fuga direta
-200V
Corrente de fuga reversa
40A
Irqm
i(t)
ton
Tensão reversa de bloqueio -40A
200V
toff vL(t)

A figura 3.14 ilustra algumas dessas características


-200V
5ms 10ms 15ms 20ms 25ms 30ms 35ms 40ms

3.1.3. Circuitos de excitação do gate Figura 3.15 – Controlador de tensão CA com carga RL e formas
de onda típicas

a) Condução
Conforme foi visto, a entrada em condução de um tiristor é 2b) Comutação por ressonância da carga
controlada pela injeção de uma corrente no terminal da porta, Em algumas aplicações específicas, é possível que a carga, pela
devendo esse impulso estar dentro da área delimitada pela figura sua dinâmica própria, faça com que a corrente tenda a se inverter,
3.12. Por exemplo, para um dispositivo que deve conduzir 100 A, fazendo o tiristor desligar. Isso ocorre, por exemplo, quando
um acionador que forneça uma tensão Vgk de 6 V com impedância existem capacitâncias na carga que, ressoando com as indutâncias
de saída 12  é adequado. A duração do sinal de disparo deve ser tal do circuito, produzem um aumento na tensão ao mesmo tempo
O SETOR ELÉTRICO
18 Junho 2006
Harmônicos
em que reduzem a corrente. Caso a corrente se torne menor do D1 desliga (pois a corrente se anula). O capacitor está preparado para
que a corrente de manutenção e o tiristor permaneça reversamente realizar a comutação de Sp.
polarizado pelo tempo suficiente, haverá o seu desligamento. A Quando o tiristor auxiliar, Sa, é disparado, em t2, a corrente da
tensão de entrada pode ser tanto CA quanto CC. A figura 3.16 carga passa a ser fornecida através do caminho formado por Lr, Sa e Cr,
ilustra tal comportamento. Observe que, enquanto o tiristor conduz, levando a corrente por Sp a zero, ao mesmo tempo em que se aplica
a tensão de saída, vo(t), é igual à tensão de entrada. Quando a uma tensão reversa sobre ele, de modo a desligá-lo.
corrente se anula e S1 desliga, o que se observa é a tensão imposta
pela carga ressonante. D2
3b) Comutação forçada Sp
É utilizada em circuitos com alimentação CC e nos quais não Lo
i +
ocorre reversão no sentido da corrente de anodo. A idéia básica T Cr
Vc
deste tipo de comutação é oferecer à corrente de carga um caminho +
Lr
alternativo ao tiristor, enquanto se aplica uma tensão reversa sobre Df Ro
Sa i
ele, desligando-o. Antes do surgimento dos GTOs, este foi um c Vo
Vcc
assunto muito discutido, buscando-se topologias eficientes. Com
o advento dos dispositivos com comutação pelo gate, os SCRs
tiveram sua aplicação concentrada nas aplicações nas quais ocorre D1
comutação natural ou pela carga.
60A
iT

S1 io(t) L 0

Vcc Carga iC
vo(t)
Ressonante -6 0 A
200V

vo
vo 0

Vcc vC
-2 0 0 V
io
0 Figura 3.18 – Topologia com comutação forçada de SCR e
formas de onda típicas
Continua a haver corrente por Cr, a qual, em t3, se torna igual à
corrente da carga, fazendo com que a variação de sua tensão assuma
uma forma linear. Essa tensão cresce (no sentido negativo) até levar o
diodo de circulação à condução, em t4. Como ainda existe corrente
Figura 3.17 – Circuito e formas de onda de comutação por
pelo indutor Lr, ocorre uma pequena oscilação na malha Lr, Sa, Cr e
ressonância da carga
D2 e, quando a corrente por Sa se anula, o capacitor se descarrega
A figura 3.18 mostra um circuito para comutação forçada de SCR até a tensão Vcc na malha formada por Cr, D1, Lr, fonte e Df.
e as formas de onda típicas. A figura 3.19 mostra detalhes de operação 60A
iT
do circuito auxiliar de comutação. Em um tempo anterior a to, a
corrente da carga (suposta quase constante, devido à elevada constante
de tempo do circuito RL) passa pelo diodo de circulação. A tensão sobre
-60A ic
o capacitor é negativa, com valor igual ao da tensão de entrada.
200V
Em t1 o tiristor principal, Sp, é disparado, conectando a fonte à vo
carga, levando o diodo Df ao desligamento. Ao mesmo tempo surge
uma malha formada por Sp, Cr, D1 e Lr, a qual permite a ocorrência vc
de uma ressonância entre Cr e Lr, levando à inversão na polaridade -200V
to t1 t2 t3 t4 t5
da tensão do capacitor. Em t1 a tensão atinge seu máximo e o diodo
Figura 3.19 – Detalhes das formas de onda durante comutação
Continua na próxima edição

O SETOR ELÉTRICO
Junho 2006 19
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e
doutor em engenharia elétrica pela Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp, professor da Faculdade de Enge-
nharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br

Capítulo III – Parte 3


COMPONENTES SEMICONDUTORES DE POTÊNCIA
3.1.4 Redes amaciadoras 3.1.5. Associação em paralelo de tiristores

O objetivo dessas redes é evitar problemas advindos de excessivos Desde o início da utilização do tiristor, em 1958, têm crescido
valores para dv/dt e di/dt, conforme descritos anteriormente. constantemente os limites de tensão e corrente suportáveis,
a) O problema di/dt atingindo hoje faixas de 5000 V e 4000 A. Há, no entanto, diversas
Uma primeira medida capaz de limitar possíveis danos causados aplicações nas quais é necessária a associação de mais de um
pelo crescimento excessivamente rápido da corrente de anodo é desses componentes, seja pela elevada tensão de trabalho, seja
construir um circuito acionador de gate adequado, que tenha alta pela corrente exigida pela carga.
derivada de corrente de disparo para que seja também rápida a Quando a corrente de carga, ou a margem de sobrecorrente
expansão da área condutora. Um reator saturável em série com o necessária, não pode ser suportada por um único tiristor, é
tiristor também limitará o crescimento da corrente de anodo durante essencial a ligação em paralelo. A principal preocupação nesse
a entrada em condução do dispositivo. Além desse fato tem-se caso é a equalização da corrente entre os dispositivos, tanto em
outra vantagem adicional que é a redução da potência dissipada regime como durante a comutação. Diversos fatores influem na
no chaveamento, pois, quando a corrente de anodo crescer, a distribuição homogênea da corrente, desde aspectos relacionados
tensão Vak será reduzida pela queda sobre a indutância. O atraso à tecnologia construtiva do dispositivo até o arranjo mecânico da
no crescimento da corrente de anodo pode levar à necessidade montagem final.
de um pulso mais longo de disparo, ou ainda a uma seqüência de Existem duas tecnologias básicas de construção de tiristores,
pulsos, para que seja assegurada a condução do tiristor. diferindo basicamente no que se refere à região do catodo e sua
b) O problema do dv/dt junção com a região da porta. A tecnologia de difusão cria uma
A limitação do crescimento da tensão direta Vak, usualmente região de fronteira entre catodo e gate pouco definida, formando
é feita pelo uso de circuitos RC, RCD, RLCD em paralelo com o uma junção não uniforme, que leva a uma característica de disparo
dispositivo, como mostrado na figura 3.20. (especialmente quanto ao tempo de atraso e à sensibilidade ao
No caso mais simples (a), quando o tiristor é comutado, a disparo) não homogênea. A tecnologia epitaxial permite fronteiras
tensão Vak segue a dinâmica dada por RC que, além disso, desvia bastante definidas, implicando uma maior uniformidade nas
a corrente de anodo facilitando a comutação. Quando o SCR é características do tiristor. Conclui-se assim que, quando se faz
ligado o capacitor descarrega-se, ocasionando um pico de corrente uma associação (série ou paralela) desses dispositivos, é preferível
no tiristor, limitado pelo valor de R. empregar componentes de construção epitaxial.
No caso (b) esse pico pode ser reduzido pelo uso de diferentes Em ligações paralelas de elementos de baixa resistência, um
resistores para os processos de carga e descarga de C. No terceiro fator crítico para a distribuição de corrente são variações no fluxo
caso, o pico é limitado por L, o que não traz eventuais problemas concatenado pelas malhas do circuito, dependendo, pois, das
de alto di/dt. A corrente de descarga de C auxilia a entrada em indutâncias das ligações. Outro fator importante relaciona-se
condução do tiristor para obter um Ia>IL, uma vez que se soma à com a característica do coeficiente negativo de temperatura do
corrente de anodo proveniente da carga. dispositivo, ou seja, um eventual desequilíbrio de corrente provoca
A energia acumulada no capacitor é praticamente toda uma elevação de temperatura no SCR que, por sua vez, melhora as
dissipada sobre o resistor de descarga. condições de condutividade do componente, aumentando ainda
mais o desequilíbrio, podendo levá-lo à destruição.
Uma primeira precaução para reduzir esses desbalanceamentos
D
D L é realizar uma montagem de tal maneira que todos os tiristores
R R2
R1 estejam a uma mesma temperatura, o que pode ser feito, por

R
exemplo, pela montagem em um único dissipador. No que
C
C se refere à indutância das ligações, a própria disposição dos
C
componentes em relação ao barramento afeta significativamente
essa distribuição de corrente. Arranjos cilíndricos tendem a
Figura 3.20 – Circuitos amaciadores para dv/dt apresentar um menor desequilíbrio.
O SETOR ELÉTRICO
12
12 Julho 2006
Harmônicos
3.1.5.1. Estado estacionário 3.1.5.2. Disparo

Além das considerações já feitas quanto à montagem mecânica, Há duas características do tiristor bastante importantes para
algumas outras providências podem ser tomadas para melhorar o boa divisão de corrente entre os componentes no momento em
equilíbrio de corrente nos tiristores: que se deve dar o início da condução: o tempo de atraso (td) e
a) Impedância série a mínima tensão de disparo (Vonmin). O tempo de atraso pode
A idéia é adicionar impedâncias em série com cada componente a ser interpretado como o intervalo entre a aplicação do sinal de
fim de limitar o eventual desequilíbrio. Se a corrente crescer num ramo, gate e a real condução do tiristor. A mínima tensão de disparo
haverá aumento da tensão, o que fará com que a corrente se distribua é o valor mínimo da tensão direta entre anodo e catodo com a
entre os demais ramos. O uso de resistores implica o aumento das qual o tiristor pode ser ligado por um sinal adequado de porta.
perdas, uma vez que, dado o nível elevado da corrente, a dissipação Recorde-se, da característica estática do tiristor, que quanto
pode atingir centenas de watts, criando problemas de dissipação e menor a tensão Vak maior deve ser a corrente de gate para levar
eficiência. Outra alternativa é o uso de indutores lineares. o dispositivo à condução.
b) Reatores acoplados Diferenças em td podem fazer com que um componente
Conforme ilustrado na figura 3.21, se a corrente por SCR1 entre em condução antes do outro. Com carga indutiva esse fato
tende a se tornar maior que por SCR2, uma força contra- não é tão crítico pela inerente limitação de di/dt da carga, o que
eletromotriz aparecerá sobre a indutância, proporcionalmente ao não ocorre com cargas capacitivas e resistivas. Além disso, como
desbalanceamento, tendendo a reduzir a corrente por SCR3. Ao Vonmin é maior que a queda de tensão direta sobre o tiristor em
mesmo tempo uma tensão é induzida do outro lado do enrolamento, condução, é possível que outro dispositivo não consiga entrar em
aumentando a corrente por SCR2. As mais importantes características condução.
do reator são alto valor da saturação e baixo fluxo residual, para Essa situação é crítica quando se acoplam diretamente os tiristores,
permitir uma grande excursão do fluxo a cada ciclo. sendo minimizada através dos dispositivos de equalização já
. descritos e ainda por sinais de porta de duração maiores que o
. tempo de atraso.
.
.
. 3.1.5.3. Desligamento
(a)
.

(c) Especialmente com carga indutiva, deve-se prever algum tipo


SCR1
de arranjo que consiga manter o equilíbrio de corrente mesmo que
. . .
. . . haja diferentes características entre os tiristores (especialmente
SCR2 relacionadas com os tempos de desligamento). A capacitância
(b) . . do circuito amaciador limita o desbalanceamento, uma vez que
. .
(d) absorve a corrente do tiristor que começa a desligar.

SE 1240

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Julho 2006 1
13
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos

3.1.5.4. Circuito de disparo


I II III IV V VI
Recuperação
Bloqueio Condução Condução Condução Bloqueio
reversa
1200V direto parcial direta reversa reverso
A corrente de gate deve ser alvo de atenções. O uso de + + + +
parcial

um único circuito de comando para acionar todos os tiristores


1000V 1200V 1.0V 0.9V 0.7V 100V
T1
minimiza os problemas de tempos de atraso. Além disso, deve-se
procurar usar níveis iguais de corrente e tensão de gate, uma vez
50V 6V 1.1V 1.0V 0.7V 900V
que influem significativamente no desempenho do disparo. Para T2

minimizar os efeitos das diferenças nas junções gate–catodo de


cada componente pode-se fazer uso de um resistor ou indutor em 150V 5V 0.9V 0.8V 1200V 200V
T3
série com o gate, para procurar equalizar os sinais. É importante + +
que se tenha atingido a corrente de disparo (IL) antes da retirada
do pulso de gate, o que pode levar à necessidade de circuitos mais 5mA 10mA 50A 10A 10mA 10mA
elaborados para fornecer a energia necessária. Uma seqüência de
pulsos também pode ser empregada. Figura 3.22 – Tensões em associação de tiristores sem rede de
equalização
3.1.6 Associação em série de tiristores
3.1.6.2. Disparo
Quando o circuito opera com tensão superior àquela
suportável por um único tiristor, é preciso associar esses Um método que pode ser usado para minimizar o
componentes em série, com precauções para garantir a desequilíbrio do estado II é fornecer uma corrente de porta com
distribuição equilibrada de tensão entre eles. Devido a potência suficiente e de rápido crescimento, para minimizar as
diferenças nas correntes de bloqueio, capacitâncias de junção, diferenças relativas ao tempo de atraso. A largura do pulso deve
tempos de atraso, quedas de tensão direta e recombinação ser tal que garanta a continuidade da condução de todos os
reversa, redes de equalização externa são necessárias, bem tiristores.
como cuidados quanto ao circuito de disparo. A figura 3.22
3.1.6.3. Desligamento
indica uma possível distribuição de tensão numa associação de
três tiristores, nas várias situações de operação.
Para equalizar a tensão no estado V, um capacitor é ligado
Durante os estados de bloqueio direto e reverso (I e
entre anodo e catodo de cada tiristor. Se a impedância do
VI), diferenças nas características de bloqueio resultam em
capacitor é suficientemente baixa e/ou se utiliza a constante
desigual distribuição de tensão em regime. Ou seja, o tiristor
de tempo necessária, o crescimento da tensão no dispositivo
com menor condutância quando bloqueado terá de suportar
mais rápido será limitado até que todos se recombinem. Essa
a maior tensão. É interessante, então, usar dispositivos com
implementação também alivia a situação no disparo, uma vez
características o mais próximas possível. Os estados de condução
que realiza uma injeção de corrente no tiristor, facilitando a
(III e IV) não apresentam problema de distribuição de tensão.
entrada em condução de todos os dispositivos.
Estados II e V representam um desbalanceamento indesejado
Mas, se o capacitor providencia excelente equalização de
durante os transientes de disparo e comutação. No estado II o
tensão, o pico de corrente injetado no componente no disparo
tempo de atraso do SCR1 é consideravelmente mais longo que
pode ser excessivo, devendo ser limitado por meio de um resistor
o dos outros e, assim, terá que, momentaneamente, suportar
em série com o capacitor. É interessante um alto valor de R e
toda a tensão. O estado V resulta dos diferentes tempos de
baixo valor de C para, com o mesmo RC, obter pouca dissipação
recombinação dos componentes. O primeiro a se recombinar
de energia. Mas se o resistor for de valor muito elevado será
suportará toda a tensão.
imposta uma tensão de rápido crescimento sobre o tiristor,
3.1.6.1. Estado estacionário
podendo ocasionar disparo por dv/dt. Usa-se então um diodo
O método usual de equalizar tensões nas situações I e VI é colocar
em paralelo com o resistor, garantindo um caminho de carga
uma rede resistiva com cada resistor conectado entre anodo e
para o capacitor, enquanto a descarga se faz por R. O diodo
catodo de cada tiristor. Esses resistores representam consumo de
deve ter uma característica suave de recombinação para evitar
potência, sendo desejável usar os de maior valor possível. O projeto
efeitos indesejáveis associados às indutâncias parasitas das
do valor da resistência deve considerar a diferença nos valores das
ligações. Recomenda-se o uso de capacitores de baixa indutância
correntes de bloqueio direta e reversa.
parasita. A figura 3.23 ilustra tais circuitos de equalização.

O SETOR ELÉTRICO
14 Julho 2006
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+Vcc +V
+
..

Equalização
Dinâmica
C R C R C R Req
D D D Pulsos
Pulsos Req

Rs Rs Rs
Equalização estática
Figura 3.24 – Circuitos de acionamento de pulso

Figura 3.23 – Circuito de equalização de tensão em 3.1.7. Sobretensão


associação série de tiristores
As funções gerais da proteção contra sobretensão são: assegurar,
3.1.6.4. Circuito de disparo
tão rápido quanto possível, que qualquer falha em algum componente
afete apenas aquele tiristor diretamente associado ao componente;
Em muitas aplicações, devido à necessidade de isolamento elétrico
aumentar a confiabilidade do sistema; evitar reações na rede (como
entre o circuito de comando e o de potência, o sinal de disparo
excitação de ressonâncias). Essas sobretensões podem ser causadas
deve ser isolado por meio de algum dispositivo como, por exemplo,
tanto por ações externas como por distribuição não homogênea das
transformadores de pulso ou acopladores óticos, como mostra a figura
tensões entre os dispositivos.
3.24.
Em aplicações onde as perdas provocadas pelos resistores de
a) Transformador de pulso
equalização devem ser evitadas, a distribuição de tensão pode ser realizada
Neste caso, têm-se transformadores capazes de responder apenas
pelo uso de retificadores de avalanche controlada, que também atuam
em alta freqüência, mas que possibilitam a transferência de pulsos no caso de sobretensões. Uma possível restrição ao uso de supressores
de curta duração (até centenas de microssegundos), após o que o de sobretensão (geralmente de óxido metálico, os varistores), é que a
transformador satura. Caso seja necessário um pulso mais largo, ele falha em um certo componente (um curto em um tiristor) pode levar a
poderá ser obtido por meio de um trem de pulsos, colocando-se um uma sobrecarga nos demais supressores, provocando uma destruição em
filtro passa-baixos no lado de saída. Com tais dispositivos deve-se prever cascata de todos.
algum tipo de limitação de tensão no secundário (onde está conectado A fim de evitar disparos indesejados dos tiristores em virtude do
o gate), a fim de evitar sobretensões. aumento repentino da tensão, superando o limite de dv/dt ou o valor
Quando se usar transformador de pulso é preciso garantir que ele da máxima tensão direta de bloqueio, deve-se manter uma polarização
suporte pelo menos a tensão de pico da alimentação. Como as condições negativa no terminal da porta, aumentado o nível de tensão suportável.
de disparo podem diferir consideravelmente entre os tiristores, é comum
inserir uma impedância em série com o gate para evitar que um tiristor 3.1.8. Resfriamento
com menor impedância de gate drene o sinal de disparo, impedindo
que os demais dispositivos entrem em condução. Essa impedância em As características do tiristor são sempre fornecidas a uma certa
temperatura da junção. O calor produzido na pastilha deve ser dissipado,
série pode ser um resistor ou um capacitor, que tornaria mais rápido o
devendo transferir-se da pastilha para o encapsulamento, deste para o
crescimento do pulso de corrente.
dissipador e daí para o meio de refrigeração (ar ou líquido).
b) Acoplamento luminoso
Esse conjunto possui uma capacidade de armazenamento de calor,
O acoplamento ótico apresenta como principal vantagem imunidade
ou seja, uma constante de tempo térmica que permite sobrecargas de
a interferências eletromagnéticas, além da alta isolação de potencial.
corrente por períodos curtos. Tipicamente essa constante é da ordem de
Dois tipos básicos de acopladores são usados: os optoacopladores e as
três minutos para refrigeração a ar.
fibras óticas. No primeiro caso tem-se um dispositivo no qual o emissor e
A temperatura de operação da junção deve ser muito menor que
o receptor estão integrados, apresentando uma isolação típica de 2500
o máximo especificado. Ao aumento da temperatura corresponde uma
V. Já para as fibras óticas, o isolamento pode ser de centenas de kV.
diminuição na capacidade de suportar tensões no estado de bloqueio.
A potência necessária para o disparo é provida por duas fontes: Tipicamente essa temperatura não deve exceder 120oC.
uma para alimentar o emissor (em geral a própria fonte do circuito de O sistema de refrigeração deve possuir redundância, ou seja, uma
controle) e outra para o lado do receptor. Eventualmente, a própria falha no sistema deve pôr em operação um outro, garantindo a troca
carga armazenada no capacitor do circuito amaciador (ou rede de de calor necessária. Existem várias maneiras de implementar as trocas:
equalização), através de um transformador de corrente, pode fornecer circulação externa de ar filtrado, circulação interna de ar (com trocador de
a energia para o lado do receptor, a partir da corrente que circula pelo calor), refrigeração com líquido etc. A escolha do tipo de resfriamento é
tiristor, assegurando potência durante todo o período de condução. influenciada pelas condições ambientais e preferências do usuário.
Continua na próxima edição

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Capítulo III – Parte 4


COMPONENTES SEMICONDUTORES DE POTÊNCIA

3.5 – GTO - Gate Turn-Off Thyristor Aparentemente seria possível tal comportamento também no SCR. As
O GTO, embora tenha sido criado no início da década de 60, por diferenças, no entanto, estão no nível da construção do componente. O
problemas de fraco desempenho foi pouco utilizado. Com o avanço funcionamento como GTO depende, por exemplo, de fatores como:
da tecnologia de construção de dispositivos semicondutores, novas • facilidade de extração de portadores pelo terminal de gate - isto é
soluções foram encontradas para aprimorar tais componentes, que possibilitado pelo uso de dopantes com alta mobilidade
hoje ocupam significativa faixa de aplicação, especialmente naquelas • desaparecimento rápido de portadores nas camadas centrais - uso de
de elevada potência, uma vez que estão disponíveis dispositivos para dopante com baixo tempo de recombinação. Isto implica que um GTO
5000V, 4000A. tem uma maior queda de tensão quando em condução, comparado a
um SCR de mesmas dimensões.
3.5.1 – Princípio de funcionamento • suportar tensão reversa na junção porta-catodo, sem entrar em
O GTO possui uma estrutura de quatro camadas, típica dos avalanche - menor dopagem na camada de catodo
componentes da família dos tiristores. Sua característica principal • absorção de portadores de toda superfície condutora - região de gate e
é sua capacidade de entrar em condução e bloquear através de catodo muito interdigitada, com grande área de contato.
comandos adequados no terminal de gate. Diferentemente do SCR, um GTO pode não ter capacidade de
O mecanismo de disparo é semelhante ao do SCR: supondo-o bloquear tensões reversas.
diretamente polarizado, quando a corrente de gate é injetada, circula Existem duas possibilidades de construir a região de anodo: uma
corrente entre gate e catodo. Grande parte de tais portadores, como delas é utilizando apenas uma camada p+, como nos SCR. Neste caso o
a camada de gate é suficientemente fina, desloca-se até a camada GTO apresentará uma característica lenta de comutação, devido à maior
N adjacente, atravessando a barreira de potencial e sendo atraídos dificuldade de extração dos portadores, mas suportará tensões reversas
pelo potencial do anodo, dando início à corrente anódica. Se esta na junção J2.
corrente se mantiver acima da corrente de manutenção, o dispositivo A alternativa, mostrada na figura 3.26, é introduzir regiões n+
não necessita do sinal de gate para manter-se conduzindo. que penetrem na região p+ do anodo, fazendo contato entre a região
A figura 3.25 mostra o símbolo do GTO e uma representação intermediária n- e o terminal de anodo. Isto, virtualmente, curto-circuita a
simplificada dos processos de entrada e saída de condução do junção J1 quando o GTO é polarizado reversamente. No entanto, torna-
componente. o muito mais rápido no desligamento (com polarização direta). Como
A aplicação de uma polarização reversa na junção gate-catodo pode a junção J3 é formada por regiões muito dopadas, ela não consegue
levar ao desligamento do GTO. Portadores livres (lacunas) presentes nas suportar tensões reversas elevadas. Caso um GTO deste tipo deva ser
camadas centrais do dispositivo são atraídos pelo gate, fazendo com que utilizado em circuitos nos quais fique sujeito à tensão reversa, ele deve
seja possível o restabelecimento da barreira de potencial na junção J2. ser associado em série com um diodo, o qual bloqueará a tensão.
A figura do GTO foi obtida na AN-315, International Rectifier, 04/82

Rg Metalização do catodo
Cathode Placa de
Vcc J2 J3 Electrodes contato
P+ N- P N+
do catodo Metalização do gate
Entrada em condução
J1
Vg
Região em
A K
Transição
Rg
G n+ n+ n+
J3
Rg
Vcc P
P+ N- P N+
J2
Desligamento
n-

J1
P+ n+ P+ n+ P+

Rg
Vg Anodo

Figura 3.25 - Símbolo, processos de comutação e estrutura interna de GTO. Figura 3.26 - Estrutura interna de GTO rápido (sem bloqueio reverso)

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20 Agosto 2006
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3.5.2 – Parâmetros básicos do GTO negativo e o início da queda (90%) da corrente de anodo. Quanto
Os símbolos utilizados pelos diversos fabricantes diferem, embora maior for a derivada, menor o tempo.
as grandezas representadas sejam, quase sempre, as mesmas. Quando a corrente drenada começa a cair, a tensão reversa na
• Vdrxm - Tensão de pico, repetitiva, de estado desligado: sob condições junção gate-catodo cresce rapidamente, ocorrendo um processo de
dadas, é a máxima tensão instantânea permissível, em estado desligado, avalanche. A tensão negativa de gate deve ser mantida próxima ao
que não ultrapasse o dv/dt máximo, aplicável repetidamente ao GTO. valor da tensão de avalanche. A potência dissipada neste processo é
• It - Corrente (RMS) de condução: máxima corrente (valor RMS) que controlada (pela própria construção do dispositivo). Nesta situação a
pode circular continuamente pelo GTO. tensão Vak cresce e o GTO desliga.
• Itcm - Corrente de condução repetitiva controlável: máxima corrente Para evitar o disparo do GTO por efeito dv/dt, uma tensão
repetitiva, cujo valor instantâneo ainda permite o desligamento do reversa de porta pode ser mantida durante o intervalo de bloqueio
GTO, sob determinadas condições. do dispositivo.
• I2t: escala para expressar a capacidade de sobrecorrente não- O ganho de corrente típico, no desligamento, é baixo (de 5
repetitiva, com respeito a um pulso de curta duração. É utilizado no a 10), o que significa que, especialmente para os GTOs de alta
dimensionamento dos fusíveis de proteção. corrente, o circuito de acionamento, por si só, envolve a manobra
• di/dt: taxa de crescimento máxima da corrente de anodo. de elevadas correntes.
• Vgrm - Tensão reversa de pico de gate repetitiva: máxima tensão tgq

instantânea permissível aplicável à junção gate-catodo. Ifgm


t
s
• dv/dt: máxima taxa de crescimento da tensão direta de anodo Ifg

para catodo.
Vr
• IH - corrente de manutenção: Corrente de anodo que mantém o GTO
dIrg Vrg (tensão negativa
em condução mesmo na ausência de corrente de porta. dt do circuito de comando)
• IL - corrente de disparo: corrente de anodo necessária para que o GTO t w1
avalanche
entre em condução com o desligamento da corrente de gate.
• tgt - tempo de disparo: tempo entre a aplicação da corrente de gate Vgk

e a queda da tensão Vak. Ig


Irg
• tgq - tempo de desligamento: tempo entre a aplicação de uma
corrente negativa de gate e a queda da corrente de anodo (tgq=ts+tf) Figura 3.27 - Formas de onda típicas do circuito de comando de porta de GTO

• ts - tempo de armazenamento
3.5.4 – Circuitos amaciadores (snubber)
3.5.3 – Condições do sinal de porta para chaveamento
Desde que, geralmente, o GTO está submetido a condições de 3.5.4.1 – Desligamento
alto di/dt, é necessário que o sinal de porta também tenha rápido Durante o desligamento, com o progressivo restabelecimento
crescimento, tendo um valor de pico relativamente elevado. Deve da barreira de potencial na junção reversamente polarizada, a
ser mantido neste nível por um tempo suficiente (tw1) para que corrente de anodo vai se concentrando em áreas cada vez menores,
a tensão Vak caia a seu valor de condução direta. É conveniente concentrando também os pontos de dissipação de potência. Uma
que se mantenha a corrente de gate durante todo o período de limitação da taxa de crescimento da tensão, além de impedir o
condução, especialmente se a corrente de anodo for pequena, de gatilhamento por efeito dv/dt, implicará numa redução da potência
modo a garantir o estado “ligado”. A figura 3.27 ilustra as formas dissipada nesta transição.
de corrente recomendadas para a entrada em condução e também O circuito mais simples utilizado para esta função é uma rede
para o desligamento. RCD, como mostrado na figura 3.28.
Durante o intervalo “ligado” existe uma grande quantidade de Supondo uma corrente de carga constante, ao ser desligado o
portadores nas camadas centrais do semicondutor. A comutação GTO, o capacitor se carrega com a passagem da corrente da carga,
do GTO ocorrerá pela retirada destes portadores e, ainda, pela com sua tensão variando de forma praticamente linear. Assim, o
impossibilidade da vinda de outros das camadas ligadas ao anodo dv/dt é determinado pela capacitância. Quando o GTO entrar
e ao catodo, de modo que a barreira de potencial da junção J2 em condução, este capacitor se descarrega através do resistor. A
possa se restabelecer. descarga deve ocorrer dentro do mínimo tempo em condução
O grande pico reverso de corrente apressa a retirada dos portadores. previsto para o GTO, a fim de assegurar tensão nula inicial no
A taxa de crescimento desta corrente relaciona-se com o tempo de próximo desligamento. A resistência não pode ser muito baixa, a
armazenamento, ou seja, o tempo decorrido entre a aplicação do pulso fim de limitar a impulso de corrente injetado no GTO.
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Para reduzir este efeito, um circuito amaciador para o disparo pode


D ser necessário, com o objetivo de reduzir a tensão sobre o GTO em
R C sua entrada em condução, pode-se utilizar um circuito amaciador
formado, basicamente, por um indutor com núcleo saturável, que
atue de maneira significativa apenas durante o início do crescimento
da corrente, mas sem armazenar uma quantidade significativa de
energia.

Figura 3.28 Circuito amaciador de desligamento tipo RCD 3.5.5 – Associações em série e em paralelo
A energia armazenada no capacitor será praticamente toda Nas situações em que um componente único não suporte
dissipada em R. Especialmente em aplicações de alta tensão e alta a tensão ou a corrente de uma dada aplicação, faz-se necessário
freqüência, esta potência pode assumir valores excessivos. Em tais associar componentes em série ou em paralelo. Nestes casos
casos deve-se buscar soluções ativas, nas quais a energia acumulada os procedimentos são similares àqueles empregados, descritos
no capacitor seja devolvida à fonte ou à carga . anteriormente, para os SCRs.
A potência a ser retirada do capacitor é dada por:
C • V2
3.6 – Transistor Bipolar de Potência (TBP)
Pcap = • fs (3.5)
2
3.6.1 – Princípio de funcionamento
Onde V é a tensão de alimentação e fs é a freqüência de
A figura 3.30 mostra a estrutura básica de um transistor
chaveamento.
bipolar.
Como exemplo, suponhamos um circuito alimentado em
1000V, operando a 1kHz com um capacitor de 1mF. Isto significa
Rc
uma potência de 500W! Vcc
J2 J1

N+ N- P N+
3.5.4.2 – Entrada em condução -
C - E
A limitação de di/dt nos GTOs é muito menos crítica do que para - -
os SCR. Isto se deve à interdigitação entre gate e catodo, o que leva Vb

a uma expansão muito mais rápida da superfície em condução, não B


Rb
havendo significativa concentração de corrente em áreas restritas.
O problema relacionado ao crescimento da corrente refere-se,
Figura 3.30 - Estrutura básica de transistor bipolar
para um GTO, principalmente, à potência dissipada na entrada em
condução do dispositivo. Com carga indutiva, dada a necessária A operação normal de um transistor é feita com a junção J1 (B-E)
existência de um diodo de livre-circulação (e o seu inevitável tempo diretamente polarizada, e com J2 (B-C) reversamente polarizada.
de desligamento), durante alguns instantes em que o GTO já se No caso NPN, os elétrons são atraídos do emissor pelo potencial
encontra conduzindo, sobre ele também existe uma tensão elevada, positivo da base. Esta camada central é suficientemente fina para
produzindo um pico de potência sobre o componente. Este fato é que a maior parte dos portadores tenha energia cinética suficiente
agravado pela corrente reversa do diodo e ainda pela descarga do para atravessá-la, chegando à região de transição de J2, sendo,
capacitor do snubber de desligamento (caso exista). A figura 3.29 então, atraídos pelo potencial positivo do coletor.
ilustra este comportamento. O controle de Vbe determina a corrente de base, Ib, que, por
V sua vez, se relaciona com Ic pelo ganho de corrente do dispositivo.
Io
Na realidade, a estrutura interna dos TBPs é diferente. Para
carga Df
Lcarga Df suportar tensões elevadas, existe uma camada intermediária do
coletor, com baixa dopagem, a qual define a tensão de bloqueio do
Ia
Io Ds
R
carga Ls
componente.
Rs
A figura 3.31 mostra uma estrutura típica de um transistor
V
Vak
bipolar de potência. As bordas arredondadas da região de emissor
Ia V
Vak permitem uma homogeneização do campo elétrico, necessária à
Vak manutenção de ligeiras polarizações reversas entre base e emissor. O
TBP não sustenta tensão no sentido oposto porque a alta dopagem

Figura 3.29 - GTO acionando carga indutiva e amaciador para desligamento. do emissor provoca a ruptura de J1 em baixas tensões (5 a 20V).

O SETOR ELÉTRICO
22 Agosto 2006
Harmônicos
O uso preferencial de TBP tipo NPN se deve às menores perdas Com o transistor conduzindo (Ib>0) e operando na região ativa,
em relação aos PNP, o que ocorre por causa da maior mobilidade o limite de tensão Vce é Vces o qual, se atingido, leva o dispositivo
dos elétrons em relação às lacunas, reduzindo, principalmente, os a um fenômeno chamado de primeira ruptura.
tempos de comutação do componente. O processo de primeira ruptura ocorre quando, ao se elevar a
tensão Vce, provoca-se um fenômeno de avalanche em J2. Este
B E
acontecimento não danifica, necessariamente, o dispositivo. Se,
N+ 10e19 cm-3 10 u no entanto, a corrente Ic se concentrar em pequenas áreas, o
P 10e16 cm-3 5 a 20 u sobreaquecimento produzirá ainda mais portadores e destruirá o
C componente (segunda ruptura).
10e14 cm-3 50 a 200 u Com o transistor desligado (Ib=0) a tensão que provoca a ruptura
N-
B da junção J2 é maior, elevando-se ainda mais quando a corrente de base
E for negativa. Isto é uma indicação interessante que, para transistores
N+ 10e19 cm-3 submetidos a valores elevados de tensão, o estado desligado deve ser
250 u (substrato)
acompanhado de uma polarização negativa da base.
C

Figura 3.31 Estrutura interna de TPB e seu símbolo Ic Ic Vcbo Ic


Ib>0 Ib=0
3.6.2 – Limites de tensão
A tensão aplicada ao transistor encontra-se praticamente toda Vces Vceo Ib<0
sobre a junção J2 a qual, tipicamente, está reversamente polarizada.
Existem limites suportáveis por esta junção, que dependem
principalmente da forma como o comando de base está operando,
conforme se vê nas figuras 3.32 e 3.33. Figura 3.32 - Tipos de conexão do circuito de base e máximas tensões Vce

SE 1580

O SETOR ELÉTRICO
Agosto 2006 23
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos

3.6.3 – Área de Operação Segura (AOS)


log Ic
A AOS representa a região do plano Vce x Ic dentro da qual Ic max 1 us
10 us
o TBP pode operar sem se danificar. A figura 3.34 mostra uma
forma típica de AOS. 100 us
A
À medida que a corrente se apresenta em pulsos (não-
Ic DC B
repetitivos) a área se expande.
Para pulsos repetitivos deve-se analisar o comportamento
térmico do componente para se saber se é possível utilizá-lo C
numa dada aplicação, uma vez que a AOS, por ser definida D
para um único pulso, é uma restrição mais branda. Esta análise
térmica é feita com base no ciclo de trabalho a que o dispositivo log Vce
está sujeito, aos valores de tensão e corrente e à impedância
Figura 3.34 - Aspecto típico de AOS de TBP
térmica do transistor, a qual é fornecida pelo fabricante.

Ic segunda ruptura
A: Máxima corrente contínua de coletor
primeira ruptura
B: Máxima potência dissipável (relacionada à temperatura na
junção)
Ib4 C: Limite de segunda ruptura
D: Máxima tensão Vce
Ib3

Ib2 Ib<0

Ib1 3.6.4 – Região de quase-saturação


Ib=0 Vce Consideremos o circuito mostrado na figura 3.35, e as
curvas estáticas do TBP ali indicadas. Quando Ic cresce, Vce
Vces Vceo Vcbo
diminui, dada a maior queda de tensão sobre R. À medida que
Ib4>Ib3>Ib2>Ib1>0
Vce se reduz, caminha-se no sentido da saturação.

Figura 3.33 - Característica estática de transistor bipolar.


SE 1590

O SETOR ELÉTRICO
24 Agosto 2006
Harmônicos
Os TBP apresentam uma região chamada de quase-
saturação quase-saturação
saturação gerada, principalmente, pela presença da camada
Ic
N- do coletor.
R
À semelhança da carga espacial armazenada nos diodos, Vcc/R
Ib
nos transistores bipolares também ocorre estocagem de carga.
região ativa Vcc
A figura 3.36 mostra a distribuição de carga estática no interior Vce

do transistor para as diferentes regiões de operação.


Na região ativa, J2 está reversamente polarizada e ocorre uma
acumulação de elétrons na região da base. Quando se aproxima corte

da saturação, J2 fica diretamente polarizada, atraindo lacunas Vcc Vce


da base para o coletor. Tais lacunas associam-se a elétrons vindos
Figura 3.35 - Região de quase-saturação do TBP
do emissor e que estão migrando pelo componente, criando
uma carga espacial que penetra a região N-. Isto representa um
“alargamento” da região da base, implicando na redução do
Coletor Base Emissor
ganho do transistor. Tal situação caracteriza a chamada quase-
saturação. Quando esta distribuição de carga espacial ocupa
N+ N- P N+
toda a região N- chega-se, efetivamente, à saturação.
quase-
É claro que no desligamento toda esta carga terá que ser
saturação e-
removida antes do efetivo bloqueio do TBP, o que sinaliza a
importância do ótimo circuito de acionamento de base para
região ativa
que o TBP possa operar numa situação que minimize a tempo saturação
base virtual
de desligamento e a dissipação de potência (associada ao
Figura 3.36 - Distribuição da carga estática acumulada no TBP
valor de Vce).

Continua na próxima edição

SE 1595

O SETOR ELÉTRICO
Agosto 2006 25
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e
doutor em engenharia elétrica pela Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp, professor da Faculdade de Enge-
nharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br

Capítulo III – Parte 5


COMPONENTES SEMICONDUTORES DE POTÊNCIA

3.6.5 – Ganho de corrente tri: tempo de crescimento da corrente de coletor – Este intervalo
O ganho de corrente dos TBP varia com diversos parâmetros se relaciona com a velocidade de aumento da carga estocada e
(Vce, Ic, temperatura), sendo necessário, no projeto, definir adequa­ depende da corrente de base. Como a carga é resistiva, uma variação
damente o ponto de operação. A figura 3.37 mostra uma variação de Ic provoca uma mudança em Vce.
típica do ganho. ts: tempo de armazenamento – Intervalo necessário para retirar
Em baixas correntes, a recombinação dos portadores em trânsito (Ib<0) e/ou neutralizar os portadores estocados no coletor e na base
leva a uma redução no ganho, enquanto para altas correntes tem-se tfi: tempo de queda da corrente de coletor – Corresponde ao
o fenômeno da quase-saturação reduzindo o ganho, como explicado processo de bloqueio do TBP, com a travessia da região ativa, da
anteriormente. saturação para o corte. A redução de Ic depende de fatores internos
Para uma tensão Vce elevada, a largura da região de transição ao componente, como o tempo de recombinação, e de fatores
de J2 que penetra na camada de base é maior, de modo a reduzir a externos, como o valor de Ib (negativo).
espessura efetiva da base, o que leva a um aumento do ganho. Para obter um desligamento rápido deve-se evitar operar com
o componente além da quase-saturação, de modo a tornar breve o
Ganho de corrente tempo de armazenamento.

Vce = 2 V (125 C)
b) Carga indutiva
Vce = 400 V (25 C)
Seja Io>0 e constante durante a comutação. A figura 3.39 mostra
formas de onda típicas com este tipo de carga.

Vce = 2 V (25 C) b.1) Entrada em condução – Com o TBP cortado, Io circula pelo
diodo (=> Vce=Vcc). Após td, Ic começa a crescer, reduzindo Id (pois Io
é constante). Quando Ic=Io, o diodo desliga e Vce começa a diminuir.
Além disso, pelo transistor circula a corrente reversa do diodo.
log Ic b.2) Bloqueio – Com a inversão da tensão Vbe (e de Ib), inicia-se o
processo de desligamento do TBP. Após tsv começa a crescer Vce. Para
Figura 3.37 - Comportamento típico do ganho de corrente em
que o diodo conduza é preciso que Vce>Vcc. Enquanto isto não ocorre,
função da tensão Vce, da temperatura e da corrente de coletor.
Ic=Io. Com a entrada em condução do diodo, Ic diminui, à medida que
Id cresce (tfi).
3.6.6 – Características de chaveamento
Além destes tempos definem-se outros para carga indutiva: tti:
As características de chaveamento são importantes, pois
(tail time): Queda de Ic de 10% a 2%; tc ou txo: intervalo entre 10%
definem a velocidade de mudança de estado e ainda determinam as
de Vce e 10% de Ic.
perdas no dispositivo relativas às comutações, que são dominantes
100%
nos conversores de alta freqüência. Definem-se diversos intervalos 90%
considerando operação com carga resistiva ou indutiva. O sinal de Sinal de base
10%
base, para o desligamento é, geralmente, negativo, a fim de acelerar ton=ton(i) toff=toffi
ts=tsi tfi
o bloqueio do TBP. td=tdi
tri
90%
a) Carga resistiva - A figura 3.38 mostra formas de onda
Corrente do
típicas para este tipo de carga. O índice “r” se refere aos tempos 10% coletor

de subida (de 10% a 90% dos valores máximos), enquanto “f” ton (v) toff (v)

relaciona-se aos tempos de descida. O índice “s” refere-se ao tempo tdv


tfv
tsv
trv
+Vcc
de armazenamento e “d” ao tempo de atraso. 90%
td: tempo de atraso – Corresponde a tempo de descarregamento Tensão Vce
10%
da capacitância da junção b-e. Pode ser reduzido pelo uso de uma Vce (sat) CARGA RESISTIVA
maior corrente de base com elevado dib/dt. Figura 3.38 - Característica típica de chaveamento de carga resistiva
O SETOR ELÉTRICO
20 Setembro 2006
Harmônicos
Vb
Io Io
log Ic
Lcarga Df Lcarga Df
td sem amaciador
Io
Ic
Io
R Cs
carga R
carga
tti Vcc
Vcc tsv
Vce

Ic Vcc Ic
Cs Vcs Vcc log Vce

Vce Vce
Ds Rs

Figura 3.39 - Formas de onda com carga indutiva Figura 3.40 - Circuito amaciador de desligamento e trajetórias na AOS

Vcc
Ic Vcc
Ic
3.6.7 – Circuitos amaciadores
(ou de ajuda à comutação) - “snubber” Vce Vce
O papel dos circuitos amaciadores é garantir a operação do Ic.Vcc
P P
TBP dentro da AOS, especialmente durante o chaveamento de
cargas indutivas.
a) Desligamento - Objetivo: atrasar o crescimento de V ce
(figura 3.40)
Quando V ce começa a crescer, o capacitor Cs começa a se
tf
carregar (via Ds), desviando parcialmente a corrente, reduzindo
Ic. Df só conduzirá quando V ce>Vcc. Figura 3.41 - Formas de onda no desligamento sem e com o circuito
Quando o transistor ligar o capacitor se descarregará por amaciador.

ele, com a corrente limitada por Rs. A energia acumulada em Cs


b) Entrada em condução: Objetivo: reduzir Vce e atrasar o
será, então, dissipada sobre Rs.
aumento de Ic (figura 3.42)
Sejam as formas de onda mostradas na figura 3.43.
No circuito sem amaciador, após o disparo do TBP, Ic cresce, mas
Consideremos que Ic caia linearmente e que Io é aproximadamente
Vce só se reduz quando Df deixar de conduzir. A colocação de Ls
constante. Sem o circuito amaciador, supondo desprezível a
provoca uma redução de Vce, além de reduzir a taxa de crescimento
capacitância entre coletor e emissor, assim que o transistor inicia
de Ic.
seu desligamento, a corrente de coletor que vinha crescendo
Normalmente não se utiliza este tipo de circuito, considerando
(ou estava constante), muda sua derivada tendendo a diminuir.
que os tempos associados à entrada em condução são menores do
Isto produz uma tensão sobre a carga que leva o diodo de
que os de desligamento e que Ls, por ser de baixo valor, pode ser
livre-circulação à condução, de modo que a tensão Vce cresce
substituído pela própria indutância parasita do circuito.
praticamente para o valor da tensão de alimentação. Com a
inclusão do circuito amaciador, o diodo Df só conduzirá quando carga
Vcc
a tensão no capacitor Cs atingir Vcc. Assim, considerando que
Ls
Ic decai linearmente, a corrente por Cs cresce linearmente e a
tensão sobre ele tem uma forma quadrática. Fazendo-se com Rs Ds Df
que Cs complete sua carga quando Ic=0, o pico de potência se Figura 3.42 - Circuito amaciador para entrada em condução.
reduzirá a menos de 1/4 do seu valor sem circuito amaciador
(supondo t rv=0)
3.6.8 – Conexão Darlington
O valor de Rs deve ser tal que permita toda a descarga de
Como o ganho dos TBP é relativamente baixo, usualmente são
Cs durante o mínimo tempo ligado do TBP e, por outro lado,
utilizadas conexões Darlington (figura 3.43), que apresentam como
limite o pico de corrente em um valor inferior à máxima corrente
principais características:
de pico repetitiva do componente. Deve-se usar o maior Rs
– ganho de corrente b= b1(b2+1)+b2
possível.
O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2006 21
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos

– T2 não satura, pois sua junção B-C está sempre reversamente


polarizada
– tanto o disparo quanto o desligamento são seqüenciais. No
disparo, T1 liga primeiro, fornecendo corrente de base para T2. No
desligamento, T1 deve comutar antes, interrompendo a corrente de
base de T2.

T1 Figura 3.45 - Conexão Darlington com componentes auxiliares

T2 3.6.9 – Métodos de redução dos


tempos de chaveamento
Um ponto básico é utilizar uma corrente de base adequada, como
mostra a figura 3.46. As transições devem ser rápidas, para reduzir
Figura 3.43 - Conexão Darlington
o tempo de atraso. Um valor elevado Ib1 permite uma redução de tri.
Os tempos totais dependem, assim, de ambos os transistores, Quando em condução, Ib2 deve ter tal valor que faça o TBP operar na
elevando, a princípio, as perdas de chaveamento. região de quase-saturação. No desligamento, deve-se prover uma corrente
Considerando o caso de uma topologia em ponte (ou meia negativa, acelerando assim a retirada dos portadores armazenados.
ponte), como mostrado na figura 3.44, quando o conjunto superior Para o acionamento de um transistor único, pode-se utilizar
conduz, o inferior deve estar desligado. Deve-se lembrar aqui que um arranjo de diodos para evitar a saturação, como mostrado
existem capacitâncias associadas às junções dos transistores. na figura 3.47.
Quando o potencial do ponto A se eleva (pela condução de T2) Neste arranjo, a tensão mínima na junção B-C é zero. Excesso na
a junção B-C terá aumentada sua largura, produzindo uma corrente corrente Ib é desviado por D3. D3 permite a circulação de corrente
a qual, se a base de T3 estiver aberta, circulará pelo emissor, negativa na base.
transformando-se em corrente de base de T4, o qual poderá
Ib1
conduzir, provocando um curto-circuito (momentâneo) na fonte.
A solução adotada é criar caminhos alternativos para esta Ib2
dib/dt
corrente, por meio de resistores, de modo que T4 não conduza. dib/dt
Além destes resistores, é usual a inclusão de um diodo reverso,
de emissor para coletor, para facilitar o escoamento das cargas no
processo de desligamento. Além disso, tal diodo tem fundamental Ibr

importância no acionamento de cargas indutivas, uma vez que faz a Figura 3.46 - Forma de onda de corrente de base recomendada para
função do diodo de circulação. acionamento de TBP.

D1
D2

T1 T2
D3
capacitâncias parasitas
A Figura 3.47 - Arranjo de diodos para evitar saturação

i i carga 3.7 – MOSFET


Enquanto o TBP foi inventado no final dos anos 1940, já em 1925
T3 foi registrada uma patente (concedida em 1930 a Julius Edgard Lilienfeld,
T4
reproduzida na figura 3.48) que se referia a “um método e um dispositivo
para controlar o fluxo de uma corrente elétrica entre dois terminais de
Figura 3.44 - Conexão Darlington num circuito em ponte um sólido condutor”. Tal patente, que pode ser considerada a precursora
Usualmente associam-se aos transistores em conexão Darlington, dos Transistores de Efeito de Campo, no entanto, não redundou em um
outros componentes, cujo papel é garantir seu bom desempenho componente prático, uma vez que não havia, então, tecnologia que
em condições adversas, como se vê na figura 3.45 permitisse a construção dos dispositivos. Isto se modificou nos anos 60,
O SETOR ELÉTRICO
22 Setembro 2006
Harmônicos
quando surgiram os primeiros FETs, mas ainda com limitações importantes
em termos de características de chaveamento. Nos anos 1980, com a
tecnologia MOS, foi possível construir dispositivos capazes de comutar
valores significativos de corrente e tensão, em velocidade superior ao que
se obtinha com os TBP.

3.7.1 – Princípio de funcionamento (canal N)


O terminal de gate é isolado do semicondutor por SiO2. A junção
PN- define um diodo entre Source e Drain, o qual conduz quando Vds<0.
A operação como transistor ocorre quando Vds>0. A figura 3.49 mostra
a estrutura básica do transistor.
Quando uma tensão Vgs>0 é aplicada, o potencial positivo no
gate repele as lacunas na região P, deixando uma carga negativa, mas
sem portadores livres. Quando esta tensão atinge um certo limiar (Vth),
elétrons livres (gerados principalmente por efeito térmico) presentes na
região P são atraídos e formam um canal N dentro da região P, pelo qual
se torna possível a passagem de corrente entre D e S. Elevando Vgs, mais
portadores são atraídos, ampliando o canal, reduzindo sua resistência
(Rds), permitindo o aumento de Id. Este comportamento caracteriza a
chamada “região resistiva”.
A passagem de Id pelo canal produz uma queda de tensão que leva
ao seu afunilamento, ou seja, o canal é mais largo na fronteira com a
região N+ do que quando se liga à região N-. Um aumento de Id leva
a uma maior queda de tensão no canal e a um maior afunilamento, o
que conduziria ao seu colapso e à extinção da corrente! Obviamente
o fenômeno tende a um ponto de equilíbrio, no qual a corrente Id se
mantém constante para qualquer Vds, caracterizando a região ativa do
Fig. 3.48 - Pedido de patente de transistor FET
MOSFET. A figura 3.50 mostra a característica estática do MOSFET, Reproduzida de Arthur D. Evans, “Designing with Field-Effect
Transistors”, McGraw-Hill, New York, 1983.
Uma pequena corrente de gate é necessária apenas para carregar
e descarregar as capacitâncias de entrada do transistor. A resistência de
entrada é da ordem de 1012 ohms. A máxima tensão Vds é determinada pela ruptura do diodo
Estes transistores, em geral, são de canal N por apresentarem menores reverso. Os MOSFETs não apresentam segunda ruptura uma vez que
perdas e maior velocidade de comutação, devido à maior mobilidade dos a resistência do canal aumenta com o crescimento de Id. Este fato
elétrons em relação às lacunas. facilita a associação em paralelo destes componentes.
A tensão Vgs é limitada a algumas dezenas de Volts, por causa da
Vdd capacidade de isolação da camada de SiO2.
Vgs
G Id
S +++++++++++++++
região
N+
- - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - -- - - - - -
----------------
resistiva Vgs3
-Id - - - - - - - -- - - -- -Id D

P região ativa
Vgs2
N- G

N+
Vgs1
S

Símbolo
D
Vdso
SiO2 Vds
metal
vgs3>Vgs2>Vgs1
Figura 3.49 - Estrutura básica de transistor MOSFET. Figura 3.50 - Característica estática do MOSFET

O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2006 23
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos

3.7.2 – Área de Operação Segura 3.7.3 – Característica de chaveamento -


A figura 3.51 mostra a AOS dos MOSFET. Para tensões carga indutiva
elevadas ela é mais ampla que para um TBP equivalente, uma a) Entrada em condução (figura 3.52)
vez que não existe o fenômeno de segunda ruptura. Para Ao ser aplicada a tensão de acionamento (Vgg), a capacitância
baixas tensões, entretanto, tem-se a limitação da resistência de de entrada começa a se carregar, com a corrente limitada por Rg.
condução. Quando se atinge a tensão limiar de condução (Vth), após td, começa
a crescer a corrente de dreno. Enquanto Id<Io, Df se mantém em
A: Máxima corrente de dreno contínua condução e Vds=Vdd. Quando Id=Io, Df desliga e Vds cai. Durante a
B: Limite da região de resistência constante redução de Vds ocorre um aparente aumento da capacitância
C: Máxima potência (relacionada à máxima temperatura de junção) de entrada (Ciss) do transistor (efeito Miller), fazendo com que a
D: Máxima tensão Vds variação de Vgs se torne muito mais lenta (em virtude do “aumento”
da capacitância). Isto se mantém até que Vds caia, quando, então, a
tensão Vgs volta a aumentar, até atingir Vgg.

Vgg
V+
log Id
Io
Id pico
Vgs Df
V+
Id cont A Vth
Cgd
B C Id Id=Io Vdd

D Vds
Rg
Cds
Vds
Vds on Vgs
Vgg
Cgs Id
Vdso log Vds td

CARGA INDUTIVA

Figura 3.52 - Formas de onda na entrada em condução de MOSFET com


Figura 3.51 - AOS para MOSFET carga indutiva.
SE 1870

O SETOR ELÉTRICO
24 Setembro 2006
Harmônicos
Na verdade, o que ocorre é que, enquanto Vds se mantém elevado, a ordem inversa. O uso de uma tensão Vgg negativa apressa o desligamento,
capacitância que drena corrente do circuito de acionamento é apenas Cgs. pois acelera a descarga da capacitância de entrada.
Quando Vds diminui, a capacitância entre dreno e source se descarrega, Como os MOSFETs não apresentam cargas estocadas, não existe o
o mesmo ocorrendo com a capacitância entre gate e dreno. A descarga tempo de armazenamento, por isso são muito mais rápidos que os TBP.
desta última capacitância se dá desviando a corrente do circuito de
acionamento, reduzindo a velocidade do processo de carga de Cgs, o que
ocorre até que Cgd esteja descarregado.
C (nF)
Os manuais fornecem informações sobre as capacitâncias C (nF)

operacionais do transistor (Ciss, Coss e Crss), mostradas na figura 3.53, as


4
Ciss 4
quais se relacionam com as capacitâncias do componente por: Cgs
3
3
Ciss = Cgs + Cgd , com Cds curto-circuitada Coss
2 Cds
Crs = Cgd 2
1
Coss ≅ Cds + Cgd Crss 1 Cgd
0
0
0 10 20 30 40 Vds (V) 0 10 20 30 40 Vds (V)
b) Desligamento
O processo de desligamento é semelhante ao apresentado, mas na Figura 3.53 - Capacitâncias de transistor MOSFET

Continua na próxima edição

SE 1875

O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2006 25
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e
doutor em engenharia elétrica pela Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp, professor da Faculdade de Enge-
nharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br

Capítulo III – Parte 6


COMPONENTES SEMICONDUTORES DE POTÊNCIA

3.8 – IGBT (Insulated Gate Bipolar Transistor) 3.8.2 – Características de chaveamento


A entrada em condução é similar ao MOSFET, sendo um pouco
O IGBT alia a facilidade de acionamento dos MOSFET com mais lenta a queda da tensão Vce, uma vez que isto depende da
as pequenas perdas em condução dos TBP. Sua velocidade de chegada dos portadores vindos da região P+.
chaveamento, em princípio semelhante à dos transistores bipolares, Para o desligamento, no entanto, tais portadores devem ser
tem crescido nos últimos anos, permitindo operação em dezenas de retirados. Nos TBPs isso se dá pela drenagem dos portadores via
kHz, nos componentes para correntes na faixa de algumas dezenas base, o que não é possível nos IGBTs, devido ao acionamento isolado.
de Ampéres. A solução encontrada foi a inclusão de uma camada N+, na qual a
3.8.1 – Princípio de funcionamento taxa de recombinação é bastante mais elevada do que na região
A estrutura do IGBT é similar à do MOSFET, mas com a inclusão de N-. Desta forma, as lacunas presentes em N+ recombinam-se com
uma camada P+ que forma o coletor do IGBT, como se vê na figura 3.54. muita rapidez, fazendo com que, por difusão, as lacunas existentes
Em termos simplificados pode-se analisar o IGBT como um MOSFET na região N- refluam, apressando a extinção da carga acumulada na
no qual a região N- tem sua condutividade modulada pela injeção de região N-, possibilitando o restabelecimento da barreira de potencial
portadores minoritários (lacunas), a partir da região P+, uma vez que e o bloqueio do componente.
J1 está diretamente polarizada. Esta maior condutividade produz uma
menor queda de tensão em comparação a um MOSFET similar. 3.9 – Alguns critérios de seleção entre transistores
O controle de componente é análogo ao do MOSFET, ou seja, Pode-se desconsiderar o uso de TBP em novos projetos.
pela aplicação de uma polarização entre gate e emissor. Também Um primeiro critério é o dos limites de tensão e de corrente.
para o IGBT o acionamento é feito por tensão. Os MOSFET possuem uma faixa mais reduzida de valores, ficando,
A máxima tensão suportável é determinada pela junção J2 tipicamente entre: 100V/200A e 1000V/20A.
(polarização direta) e por J1 (polarização reversa). Como J1 divide 2 Já IGBT atingem potências mais elevadas, indo até 3kV/3kA.
regiões muito dopadas, conclui-se que um IGBT não suporta tensões Estes componentes de maior potência comutam apenas em baixa
elevadas quando polarizado reversamente. freqüência, e não são adequados para a realização de fontes
Os IGBTs apresentam um tiristor parasita. A construção do dispositivo chaveadas. Os componentes de menor potência (centenas de Voltes
deve ser tal que evite o acionamento deste tiristor, especialmente devido e dezenas de Ampéres) podem comutar na faixa de dezenas de
às capacitâncias associadas à região P, que se relaciona à região do kHz.
gate do tiristor parasita. Os modernos componentes não apresentam Outro importante critério para a seleção refere-se às perdas de
problemas relativos a este elemento indesejado. potência no componente. Assim, em aplicações em alta freqüência
(acima de 50kHz) devem ser utilizados MOSFETs. Em freqüências
mais baixas, quaisquer dos dois componentes podem responder
Gate (porta)
Emissor satisfatoriamente.
No entanto, as perdas em condução dos IGBTs são sensivelmente
N+ N+
J3
C menores que as dos MOSFET.
P Como regra básica:
B
J2
em baixa tensão e alta freqüência: MOSFET
N- em alta tensão e baixa freqüência: IGBT
E

N+
3.10 – IGCT
J1 O IGCT é um dispositivo surgido no final da década de 1990,
P+
capaz de comutação comandada para ligar e desligar, com aplicações
Coletor em média e alta potência.
SiO2 metal Em termos de aplicações, é um elemento que pode substituir os

Figura 3.54 - Estrutura básica de IGBT GTOs.

O SETOR ELÉTRICO
26 Outubro 2006
Harmônicos
Além de algumas melhorias no projeto do dispositivo, a principal
Anode Anode
característica do IGCT, que lhe dá o nome, é a integração do circuito
de comando junto ao dispositivo de potência, como mostrado na
figura 3.55. Tal implementação permite minimizar indutâncias neste P VAK P

circuito, o que resulta na capacidade de desligamento muito rápida N N


gate IAK
(da ordem de 1 ms), e praticamente eliminando problemas de dv/dt P gate P

típicos dos GTOs. Com isso, a ligação série destes componentes é N N

muito facilitada.
Esta unidade de comando necessita apenas da informação -VCK
Cathode Cathode
lógica para o liga-desliga (normalmente fornecida por meio de fibra
ótica) e de uma fonte de alimentação para o circuito. O consumo do
circuito de comando é entre 10 e 100W.
Como um tiristor, as perdas em condução são muito baixas.
Vcl (kV) ia (kA)
A freqüência típica de comutação está na faixa de 500 Hz. No
entanto, diferentemente do GTO, que necessita de capacitores 4 4
para limitar o dv/dt no desligamento, o limite superior de
3 3
freqüência de comutação é dado apenas pela temperatura
2 2
do dispositivo (dependente das perdas de condução), o que
1 1
permite, a princípio, seu uso em freqüências da ordem de
0 0
dezenas de kHz.
Na entrada em condução é preciso um indutor que limite o di/dt. -10

A operação do IGCT no desligamento se deve ao fato de que, -20

pela ação do circuito de comando, a estrutura pnpn do tiristor é Vg (V) 15 20 25 30 35 time ( mS)

convertida em uma estrutura de transistor pnp, imediatamente


Figura 3.56. IGCT conduzindo, IGCT bloqueando e formas de
antes do desligamento. Isso é feito com o desvio da totalidade
onda no desligamento.
da corrente de catodo pelo circuito de gate, enquanto aplica uma (Figuras extraídas da referência Steimer, 2001)
tensão negativa de gate. Disso resulta um dispositivo que dinâmica
e estaticamente se desliga como um IGBT, mas que conduz como 3.11 – Materiais Emergentes
um tiristor, como mostra a figura 3.56. Embora existam alguns diodos realizados com outros materiais
São possíveis dispositivos com condução assimétrica ou com (Arseneto de Gálio e Carbeto de Silício), o silício é atualmente
diodo reverso integrado. praticamente o único material utilizado para a fabricação de
componentes semicondutores de potência. Isso se deve ao fato de
que se tem tecnologia para fazer o crescimento de monocristais de
silício com pureza e em diâmetro suficientes, o que ainda não é
possível para outros materiais.
Existem, no entanto, outros materiais com propriedades
superiores, em relação ao silício, mas que ainda não são produzidos
em dimensões e grau de pureza necessários à fabricação de
componentes de potência.
L
R S1 S3 S5 Arseneto de Gálio (GaAs) é um desses materiais. Por possuir
um maior gap de energia, sempre em relação ao silício, dispositivos
Dclamp
construídos a partir deste material apresentam menor corrente
Vcc de fuga e, assim, poderiam operar em temperaturas mais elevadas.
S2 S4 S6
Uma vez que a mobilidade dos portadores é muito maior no GaAs,
Cclamp
tem-se um componente com menor resistência de condução,
especialmente nos dispositivos com condução por portadores
majoritários (MOSFET). Além disso, por apresentar uma maior
Figura 3.55 IGCT e seu circuito de comando integrado ao dispositivo
de potência e circuito de inversor com IGCT. intensidade de campo elétrico de ruptura, ele poderia suportar
(Figuras extraídas da referência Steimer, 2001) maiores tensões.

O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2006 27
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos

A tabela 3.1 mostra propriedades de diversos materiais a região de deriva e num comprimento de apenas 2mm, ou seja, 50
partir dos quais se pode, potencialmente, produzir dispositivos vezes menos que um componente equivalente de Si.
semicondutores de potência. Na tabela 3.IV tem-se expressa a redução no tempo de vida
Carbetos de Silício são materiais com os quais são feitas dos portadores no interior da região de deriva. Este parâmetro tem
intensas pesquisas. O gap de energia é maior que o dobro implicações sobre a velocidade de comutação dos dispositivos, sendo,
do Si, permitindo operação em temperaturas elevadas. assim, esperável que componentes de diamante, sejam algumas
Adicionalmente apresenta elevada condutividade térmica (que ordens de grandeza mais rápidos que os atuais componentes de Si.
é baixa para GaAs), facilitando a dissipação do calor produzido
no interior do semicondutor. Sua principal vantagem em relação Tabela 3.II Resistência ôhmica da região de deriva
tanto ao Si quanto ao GaAs é a intensidade de campo elétrico Material Si GaAs SiC Diamante

de ruptura, que é aumentada em uma ordem de grandeza. Resistência relativa 1 6,4.10-2 9,6.10-3 3,7.10-5

Outro material de interesse potencial é o diamante.


Tabela 3.III Dopagem e comprimento da região de deriva
Apresenta, dentre todos estes materiais, o maior gap de energia,
necessário para uma junção abrupta suportar 1kV
a maior condutividade térmica e a maior intensidade de campo
Material Si GaAs SiC Diamante
elétrico, além de elevada mobilidade de portadores.
Dopagem (cm-3) 1,3.1014 5,7.1014 1,3.1016 1,5.1017
Uma outra análise pode ser feita comparando o impacto dos
Comprimento (mm) 100 50 10 2
parâmetros mostrados na tabela 3.I sobre algumas características
de componentes (hipotéticos) construídos com os novos Tabela 3.IV Tempo de vida de portador (na região de deriva)
materiais. As tabelas 3.II a 3.IV mostram as variações de alguns para uma junção pn com ruptura de 1000V
parâmetros. Tomem-se os valores do Si como referência. Estas Material Si GaAs SiC Diamante
informações foram obtidas em Mohan, Undeland e Robbins Tempo de vida 1,2 ms 0,11 ms 40 ns 7 ns
(1995).
Muitos problemas tecnológicos ainda devem ser solucionados
para que estes materiais se constituam, efetivamente, em alternativas
Tabela 3.I Propriedades de materiais semicondutores para o Si. Silício é um material que vem sendo estudado há quase
Propriedade Si GaAs 3C-SiC 6H-SiC Diamante
meio século e com enormes investimentos. O mesmo não ocorre
Gap de energia a 300K (eV) 1,12 1,43 2,2 2,9 5,5
com os demais materiais.
Condutividade térmica (W/cm.C) 1,5 0,5 5,0 5,0 20
O GaAs vem sendo estudado nas últimas duas décadas, mas
Mobilidade a 300K (cm2/V.s) 1400 8500 1000 600 2200
com uma ênfase em dispositivos rápidos, seja para aplicações
Campo elétrico máximo (V/cm) 3.105 4.105 4.106 4.106 3.107
computacionais, seja em comunicações óticas. Não existe ainda
Temperatura de fusão (ºC) 1415 1238 Sublima Sublima Muda de fase
tecnologia para produzir pastilhas com o grau de pureza e dimensão
>>1800 >>1800 2200*
necessárias à construção de componentes de potência. Além disso,
* Diamante  grafite
em relação ao Si, este material não possui um óxido natural (como é
Nota-se (tabela 3.II) que as resistências da região de deriva o SiO2), dificultando a formação de camadas isolantes e de máscaras
são fortemente influenciadas pelos materiais. Estes valores são para os processos litográficos. Em 1994 a Motorola anunciou o
determinados considerando as grandezas indicadas na tabela lançamento comercial de diodo schottky de 600V. No entanto,
3.I. A resistência de um componente de diamante teria, assim, embora para este componente específico o aumento da tensão seja
um valor cerca de 30000 vezes menor do que se tem hoje num significativo, as vantagens do GaAs sobre o Si são incrementais,
componente de Si. O impacto sobre a redução das perdas de quando comparadas com os outros materiais.
condução é óbvio. O estágio de desenvolvimento dos SiC é ainda mais primitivo
Na tabela 3.III tem-se, para um dispositivo que deve nos aspectos do processamento do material para obter-se a pureza
suportar 1kV, as necessidades de dopagem e o comprimento necessária, nas dimensões requeridas para estas aplicações de
da região de deriva. Nota-se também aqui que os novos potência.
materiais permitirão uma redução drástica no comprimento dos Quanto ao diamante, não existe ainda uma tecnologia para
dispositivos, implicando numa menor quantidade de material, construção de “waffers” de monocristal de diamante. Os métodos
embora isso não necessariamente tenha impacto sobro o custo. existentes para produção de filmes finos levam a estruturas
Um dispositivo de diamante seria, a princípio, capaz de suportar policristalinas. A difusão seletiva de dopantes e a realização de
1kV com uma dopagem elevada na contatos ôhmicos ainda devem ser objeto de profundas pesquisas.

O SETOR ELÉTRICO
28 Outubro 2006
Harmônicos
3.12 – Referências Bibliográficas Applications, 1985.
Hausles, M. e outros: Firing System and Overvoltage Protection for
Grafham, D.R. e Golden, F.b., editors: SCR Manual. General Electric, Thyristor Valves in Static VAR Compensators. Brown Boveri Review, 4-
6o ed., 1979, USA. 1987, pp. 206-212
Rice, L.R., editor: SCR Designers Handbook. Westinghouse Electric Miller, T.J.E.: Reactive Power Control in Electric Systems. J o h n
Co., 1970, USA Wiley & Sons, 1982, USA
Hoft, R.G., editor: SCR Applications Handbook. International E. Duane Wolley: Gate Turn-off in p-n-p-n devices. I E E E
Rectifiers, 1977, USA Trans. On Electron Devices, vol. ED-13, no.7, pp. 590-597, July 1966
Tsuneto Sekiya, S. Furuhata, H. Shigekane, S. Kobayashi e S. Yasuhiko Ikeda: Gate Turn-Off Thyristors. Hitachi Review, vol 31, no.
Kobayashi: “Advancing Power Transistors and Their Applications to 4, pp 169-172, Agosto 1982
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International, Junho/Julho/Agosto/Setembro 1982, Artigo Técnico 159166, Julho 1981
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B. Jayant Baliga: “Evolution of MOS-Bipolar Power Semiconductos Snubbers for Power Electronics Switches. I European Conference on
Technology”, Proceedings of the IEEE, vol 76, no. 4, Abril 1988, pp. Power Electronics and Applications, 1985.
409-418 Edwin S. Oxner: Power Conversion International, Junho/Julho/
V. A. K. Temple: “Advances in MOS-Controlled Thyristor Technology”, Agosto/Setembro 1982. Artigo Técnico Siliconix TA82-2 MOSPOWER
PCIM, Novembro 1989, pp. 12-15. Semiconductor
N. Mohan, T. M. Undeland and W. P. Robbins: “Power Electronics V. A. K. Temple: Advances in MOS-Controlled Thyristor Technology.
- Converters, Applications and Design”, John Wiley & Sons, Inc., Second PCIM, Novembro 1989, pp. 12-15.
Ed., 1995 Arthur D. Evans, “Designing with Field-Effect Transistors”, McGraw-
Bimal K. Bose “Power Electronics - A Technology Review”, Hill, New York, 1983.
Proceedings of the IEEE, vol 80, no. 8, August 1992, pp. 1303-1334. P. Steimer, O. Apeldoorn, E. Carroll e A.Nagel: “IGCT Technology
Detemmerman, B.: Parallel and Serie Connection of GTOs in baseline and future opportunities”, IEEE PES Summer Meeting, Atlanta,
Traction Applications. I European Conference on Power Electronics and USA, October 2003.

Continua na próxima edição

SE 2185

O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2006 29
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e
doutor em engenharia elétrica pela Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp, professor da Faculdade de Enge-
nharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br

CAPÍTULO IV -
EFEITOS E CAUSAS DE HARMÔNICAS
NO SISTEMA DE ENERGIA ELÉTRICA
PARTE 1

A análise aqui feita baseia-se no texto da recomendação IEEE- eficiência é indicada na literatura como de 5 a 10% dos valores
519 (1991) que trata de práticas e requisitos para o controle de obtidos com uma alimentação senoidal. Este fato não se aplica a
harmônicas no sistema elétrico de potência. No referido texto são máquinas projetadas para alimentação a partir de inversores, mas
identificadas diversas referências específicas sobre os diferentes apenas àquelas de uso em alimentação direta da rede.
fenômenos abordados. Algumas componentes harmônicas, ou pares de componentes
(por exemplo, 5a e 7a, produzindo uma resultante de 6a harmônica)
4.1 – Efeitos de harmônicas em podem estimular oscilações mecânicas em sistemas turbina-gerador
componentes do sistema elétrico ou motor-carga, devido a uma eventual excitação de ressonâncias
O grau com que harmônicas podem ser toleradas em um sistema mecânicas. Isto pode levar a problemas de industrias como, por
de alimentação depende da susceptibilidade da carga (ou da fonte exemplo, na produção de fios, em que a precisão no acionamento é
de potência). Os equipamentos menos sensíveis, geralmente, são os elemento fundamental para a qualidade do produto.
de aquecimento (carga resistiva), para os quais a forma de onda não
é relevante, mas sim seu valor eficaz. Os mais sensíveis são aqueles
que, em seu projeto, assumem a existência de uma alimentação 4.1.24.1 – Transformadores
senoidal como, por exemplo, equipamentos de comunicação e Também neste caso tem-se um aumento nas perdas. Harmônicos na
processamento de dados. No entanto, mesmo para as cargas de tensão aumentam as perdas ferro, enquanto harmônicos na corrente elevam
baixa susceptibilidade, a presença de harmônicas (de tensão ou de as perdas cobre. A elevação das perdas cobre deve-se principalmente ao
corrente) podem ser prejudiciais, produzindo maiores esforços nos efeito pelicular, que implica numa redução da área efetivamente condutora
componentes e isolantes. à medida que se eleva a freqüência da corrente.
Normalmente as componentes harmônicas possuem amplitude
4.1.14.1 – Motores e geradores reduzida, o que colabora para não tornar esses aumentos de
O maior efeito dos harmônicos em máquinas rotativas (indução perdas excessivos. No entanto, podem surgir situações específicas
e síncrona) é o aumento do aquecimento devido ao aumento das (ressonâncias, por exemplo) em que surjam componentes de alta
perdas no ferro e no cobre. Afeta-se, assim, sua eficiência e o freqüência e amplitude elevada.
torque disponível. Além disso, tem-se um possível aumento do ruído Além disso o efeito das reatâncias de dispersão fica ampliado, uma
audível, quando comparado com alimentação senoidal. vez que seu valor aumenta com a freqüência.
Outro fenômeno é a presença de harmônicos no fluxo, Associada à dispersão existe ainda outro fator de perdas
produzindo alterações no acionamento, como componentes de que se refere às correntes induzidas pelo fluxo disperso. Esta
torque que atuam no sentido oposto ao da fundamental, como corrente manifesta-se nos enrolamentos, no núcleo e nas peças
ocorre com o 5o , 11o, 17o, etc. harmônicos. Isto significa que metálicas adjacentes aos enrolamentos. Estas perdas crescem
tanto o quinto componente, quanto o sétimo induzem uma proporcionalmente ao quadrado da freqüência e da corrente.
sexta harmônica no rotor. O mesmo ocorre com outros pares de Tem-se ainda uma maior influência das capacitâncias parasitas (entre
componentes. espiras e entre enrolamento) que podem realizar acoplamentos não
O sobre-aquecimento que pode ser tolerado depende do tipo desejados e, eventualmente, produzir ressonâncias no próprio dispositivo.
de rotor utilizado. Rotores bobinados são mais seriamente afetados
do que os de gaiola. Os de gaiola profunda, por causa do efeito 4.1.34.1 – Cabos de alimentação
pelicular que leva a condução da corrente para a superfície do Em razão do efeito pelicular, que restringe a secção condutora
condutor em freqüências elevadas, produzem maior elevação de para componentes de freqüência elevada, também os cabos de
temperatura do que os de gaiola convencional. alimentação têm um aumento de perdas devido às harmônicas de
O efeito cumulativo do aumento das perdas reflete-se numa corrente. Além disso tem-se o chamado “efeito de proximidade”, o
diminuição da eficiência e da vida útil da máquina. A redução na qual relaciona um aumento na resistência do condutor em função do
O SETOR ELÉTRICO
22 Novembro 2006
Harmônicos
efeito dos campos magnéticos produzidos pelos demais condutores
Vo/Vi
colocados nas adjacências. 10
sem efeito pelicular
A figura 4.1 mostra curvas que indicam a seção transversal e o
diâmetro de condutores de cobre que devem ser utilizados para que
o efeito pelicular não seja significativo (aumento menor que 1% na 5

resistência). Note que para 3kHz o máximo diâmetro aconselhável


com efeito pelicular
é aproximadamente 1 ordem de grandeza menor do que para
50Hz. Ou seja, para freqüências acima de 3 kHz um condutor com 0
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
diâmetro maior do que 2,5 mm já começa a ser significativo em
termos de eleito pelicular. Figura 4.2 Resposta em freqüência de cabo trifásico (10 km)

Além disso, caso os cabos sejam longos e os sistemas conectados


tenham suas ressonâncias excitadas pelas componentes harmônicas, Vx/Vi
10
podem aparecer elevadas sobre-tensões ao longo da linha, podendo sem efeito pelicular

danificar o cabo.
Na figura 4.2 tem-se a resposta em freqüência, para uma entrada
em tensão, de um cabo de 10 km de comprimento, com parâmetros com efeito pelicular
5
obtidos de um cabo trifásico 2 AWG, 6 kV. As curvas mostram o
módulo da tensão no final do cabo, ou seja, sobre a carga (do
tipo RL). Dada a característica indutiva da carga, esta se comporta
praticamente como um circuito aberto em freqüências elevadas. 0
0 2 4 6 8 10
Quando o comprimento do cabo for igual a ¼ do comprimento
x (km)
de onda do sinal injetado, este “circuito aberto” no final da linha
Figura 4.3 Perfil de tensão ao longo do cabo na freqüência de ressonância
reflete-se como um curto-circuito na fonte. Isto se repete para todos
os múltiplos ímpares desta freqüência. As duas curvas mostradas
Na figura 4.4 tem-se a resposta no tempo de uma linha de 40
referem-se à resposta em freqüência sem e com o efeito pelicular.
km (não incluindo o efeito pelicular), para uma entrada senoidal
Nota-se que considerando este efeito tem-se uma redução na
(50Hz), na qual existe uma componente de 1% da harmônica que
amplitude das ressonâncias, devido ao maior amortecimento
coincide com a freqüência de ressonância do sistema (11a). Observe
apresentado pelo cabo por causa do aumento de sua resistência.
como esta componente aparece amplificada sobre a carga.
Na figura 4.3 tem-se a perfil do módulo da tensão ao longo
À medida que aumenta o comprimento do cabo a ressonância
do cabo quando o sinal de entrada apresentar-se na primeira
se dá em freqüência mais baixa, aumentando a possibilidade de
freqüência de ressonância. Observe que a sobre-tensão na carga
amplificar os harmônicos mais comuns do sistema.
atinge quase 4 vezes a tensão de entrada (já considerando a ação
do efeito pelicular). O valor máximo não ocorre exatamente sobre
1.0V
a carga porque ela não é, efetivamente, um circuito aberto nesta
freqüência de aproximadamente 2,3 kHz.

1000
0V

100
-1.0V
0S 10ms 20ms 30ms 40ms
time
V (L4:2) V (T1:B+) V (V1:+)
10
Figura 4.4 Resposta no tempo de cabo de transmissão a uma entrada com
componente na freqüência de ressonância.

1
10 100 1000 1•10
4 4.1.4 – Capacitores
f (Hz) O maior problema é a possibilidade de ocorrência de ressonâncias
Área Condutora (mm2) Diâmetro do Condutor (mm)
(excitadas pelas harmônicas), podendo produzir níveis excessivos de
corrente e/ou de tensão. Além disso, como a reatância capacitiva
Figura 4.1 Área de seção e diâmetro de fio de cobre que deve ser usado em
função da freqüência da corrente para que o aumento da resistência seja
diminui com a freqüência, tem-se um aumento nas correntes
menor que 1%. relativas às harmônicas presentes na tensão.

O SETOR ELÉTRICO
Novembro 2006 23
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos

As correntes de alta freqüência, que encontrarão um caminho


de menor impedância pelos capacitores, elevarão as suas perdas
ôhmicas. O decorrente aumento no aquecimento do dispositivo
encurta a vida útil do capacitor.
A figura 4.5 mostra um exemplo de correção do fator de
potência de uma carga e que leva à ocorrência de ressonância no
sistema. Na figura 4.6 são mostradas as figuras relativas à tensão e
às correntes da fonte nos diferentes circuitos.
Considere o circuito (a), no qual é alimentada uma carga do
tipo RL, apresentando um baixo fator de potência. No circuito
(b), é inserido um capacitor que corrige o fator de potência,
como se observa pela forma da corrente mostrada na figura Figura 4.6 Formas de onda relativas aos circuitos da figura 4.5:
4.6 (intermediária). Suponhamos que o sistema de alimentação (a) - superior; (b) - intermediário; (c) - inferior.

possua uma reatância indutiva, a qual interage com o capacitor e


4.1.5 – Equipamentos eletrônicos
produz uma ressonância série (que conduz a um curto-circuito na
Alguns equipamentos podem ser muito sensíveis a distorções
freqüência de sintonia). Caso a tensão de alimentação possua uma na forma de onda de tensão. Por exemplo, se um aparelho utiliza
componente nesta freqüência, esta harmônica será amplificada. Isto os cruzamentos com o zero (ou outros aspectos da onda de tensão)
é observado na figura 4.6 (inferior), considerando a presença de uma para realizar alguma ação, distorções na forma de onda podem
componente de tensão de 5a harmônica, com 3% de amplitude. alterar, ou mesmo inviabilizar, seu funcionamento.
Observe a notável amplificação na corrente, o que poderia produzir Caso as harmônicas penetrem na alimentação do equipamento
importantes efeitos sobre o sistema. por meio de acoplamentos indutivos e capacitivos (que se tornam
Lo mais efetivos com o aumento da freqüência), eles podem também
alterar o bom funcionamento do aparelho.

4.1.6 – Aparelhos de medição


Ro
A Vi Aparelhos de medição e instrumentação em geral são afetados
por harmônicas, especialmente se ocorrerem ressonâncias que
afetam a grandeza medida.
Dispositivos com discos de indução, como os medidores de energia, são
sensíveis a componentes harmônicas, podendo apresentar erros positivos ou
Lo negativos, dependendo do tipo de medidor e da harmônica presente. Em
geral a distorção deve ser elevada (>20%) para produzir erro significativo.

4.1.7 – Relés de proteção e fusíveis


Ro
B Vi Um aumento da corrente eficaz devida a harmônicas sempre
Co
provocará um maior aquecimento dos dispositivos pelos quais
circula a corrente, podendo ocasionar uma redução em sua vida útil
e, eventualmente, sua operação inadequada.
Em termos dos relés de proteção não é possível definir
Li Lo completamente as respostas devido à variedade de distorções
possíveis e aos diferentes tipos de dispositivos existentes.
IEEE (1982) apresenta um estudo no qual se afirma que os relés
de proteção geralmente não respondem a qualquer parâmetro
Ro
C Vi identificável, tais como valores eficazes da grandeza de interesse
Co
ou a amplitude de sua componente fundamental. O desempenho
de um relé considerando uma faixa de freqüências de entrada não
é uma indicação de como aquele componente responderá a uma
onda distorcida contendo aquelas mesmas componentes espectrais.
Figura 4.5 Circuitos equivalentes para análise de ressonância da linha com Relés com múltiplas entradas são ainda mais imprevisíveis.
capacitor de correção do fator de potência
Continua na próxima edição
O SETOR ELÉTRICO
24 Novembro 2006
F ASC Í CULO 1 / harmôni cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e
doutor em engenharia elétrica pela Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp, professor da Faculdade de Enge-
nharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br

CAPÍTULO IV -
EFEITOS E CAUSAS DE HARMÔNICAS
NO SISTEMA DE ENERGIA ELÉTRICA
PARTE 2

4.2 – Causas de distorção harmônica 300

Serão apresentados a seguir equipamentos e fenômenos que vr1( t )

produzem contaminação harmônica no sistema elétrico. Quando


200
se fizer referência ao termo ideal, significa que estão sendo va( t )

desconsiderados os efeitos indutivos do sistema de alimentação, ou vc( t )


vb( t )
seja, considera-se a alimentação feita a partir de uma fonte ideal. 100

4.2.1 – Conversores
0
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0.018 0.02
Serão vistos aqui alguns casos típicos de componentes t

harmônicas produzidas por conversores eletrônicos de potência, tais Figura 4.8 – Tensão de saída de retificador ideal

como retificadores e controladores CA. 400


v a( t ) v c( t )
4.2.1.1 – Formas de onda em conversores ideais v b( t )

A figura 4.7 mostra um retificador a diodos alimentando uma


200 Ia
carga do tipo RL, ou seja, que tende a consumir uma corrente
constante, caso sua constante de tempo seja muito maior do que o 0

período da rede.
Na figuras 4.8 tem-se a forma de tensão de saída do retificador, 200
numa situação ideal. Supondo uma corrente constante, sem
ondulação sendo consumida pela carga, a forma de onda da 400
corrente na entrada do retificador é mostrada na figura 4.9. 0 0 .0 0 5 0 .0 1 0 .0 1 5 0 .0 2

As amplitudes das componentes harmônicas deste sinal seguem 1.0A t

a equação (4.1):

1
Ih =
h
h = k q±1 0.5A

onde:
h é a ordem harmônica;
k é qualquer inteiro positivo;
q é o número de pulsos do circuito retificador (6, no exemplo) 0A
0Hz 0.5KHz 1.0KHz 1.5KHz 2.0KHz 2.5KHz 3.0KHz
Frequency
Figura 4.9 – Tensões e corrente de entrada com carga indutiva
Lo + ideal e espectro da corrente
va Ro
vb Vo
vc 4.2.1.2 – A comutação
Uma forma de corrente retangular como a suposta na figura
Id - 4.9 pressupõe a não existência de indutâncias em seu caminho,
ou então uma fonte de tensão infinita, que garante a presença de
Figura 4.7 Circuito retificador trifásico, com carga RL tensão qualquer que seja a derivada da corrente.

O SETOR ELÉTRICO
22 Dezembro 2006
Harmônicos
Na presença de indutâncias, como mostrado na figura 4.10, no 4.2.1.3 – Reator controlado a tiristores (RCT)
entanto, a transferência de corrente de uma fase para outra não A figura 4.12 mostra o circuito de um RCT, elemento utilizado
pode ser instantânea. Ao invés disso, existe um intervalo no qual para fazer controle de tensão no sistema elétrico. Isto é feito pela
estarão em condução o diodo que está entrando e aquele que está síntese de uma reatância equivalente, que varia entre 0 e L, em
em processo de desligamento. Isto configura um curto-circuito na função do intervalo de condução do par de tiristores. A forma de
entrada do retificador. A duração deste curto-circuito depende de onda da corrente, bem como seu espectro está mostrado na figura
quão rapidamente se dá o crescimento da corrente pela fase que 4.13. Observe a presença de harmônicos ímpares. À medida que o
está entrando em condução, ou seja, da diferença de tensão entre intervalo de condução se reduz aumenta a THD da corrente.
as fases que estão envolvidas na comutação.

Vi
Lo S1
Li +
Vp.sin(wt) S2
vi(t)
i(t)
Vo

Figura 4.12 Diagrama elétrico de RCT.


Corrente de fase

200V

v i(t)
Tensão de fase
-2 0 0 V
40A
intervalo de comutação i(t)
Figura 4.10 Topologia de retificador trifásico, não-controlado, com carga
indutiva . Formas de onda típicas, indicando o fenômeno da comutação.
-4 0 A
A figura 4.11 mostra um resultado experimental relativo a
um retificador deste tipo. Neste caso a corrente não é plana, mas
apresenta uma ondulação determinada pelo filtro indutivo do lado
CC. Mesmo neste caso pode-se notar que as transições da corrente
de entrada não são instantâneas e que durante as transições, nota-
se uma perturbação na tensão na entrada do retificador. O valor
instantâneo desta tensão é a média das tensões das fases que
estão comutando, supondo iguais às indutâncias da linha. Este
“afundamento” da tensão é chamado de “notching”. 0Hz 0.5KHz 1.0KHz 1.5KHz
Frequency
2.0KHz 2.5KHz 3.0KHz

Como se nota, a distorção na tensão ocorre devido à distorção


Figura 4.13 Formas de onda e espectro da corrente em RCT
na corrente associada à reatância da linha.
A corrente obedece à seguinte expressão:
Vi
i (t ) = ⋅ [cos(a ) − cos(ωt )] (4.2)
ωL
1

a é o ângulo de disparo do SCR, medido a partir do cruzamento da


tensão com o zero. Vi é o valor de pico da tensão.
As componentes harmônicas (valor eficaz) são dadas pela
equação (4.3), existindo para todas as componentes ímpares. A
2

figura 4.14 mostra o comportamento de algumas harmônicas em


função do ângulo a. Note que a terceira componente pode atingir
Figura 4.11 Distorção na tensão devido ao fenômeno de comutação
quase 14% do valor da fundamental.
O SETOR ELÉTRICO
Dezembro 2006 23
F A SC Í CU LO 1 / harmôni cos

4 Vi  sin(( h + 1) ⋅ a ) sin(( h − 1) ⋅ a ) sin ( h ⋅ a ) 


Ih =  + − cos(a ) ⋅ 
π 2ωL  2( h + 1) 2( h − 1) h 

(4.3)

0.15
I( 3 , a )
0

0.1

I( 5 , a )
0.05 -

I( 7 , a )

0
2 2.5 3
-
α 0
Figura 4.14 Variação do valor eficaz de cada componente harmônica de
10A
corrente em relação à fundamental

4.2.1.4 – Forno de arco


1 .0 A
As harmônicas produzidas por um forno de arco, usado na produção
de aço, são imprevisíveis devida à variação aleatória do arco. A corrente do
arco é não-periódica e sua análise revela um espectro contínuo, incluindo 100m A
harmônicos de ordem inteira e fracionária. Entretanto, medições indicam
que harmônicos inteiros entre o 2o e a 7o predominam sobre os demais,
10m A
sendo que sua amplitude decai com a ordem.
Quando o forno atua no refino do material, a forma de onda se
torna simétrica, desaparecendo as harmônicas pares. Na fase de fusão, 1 .0 m A
0Hz 0 .2 K H z 0 .4 K H z 0 .6 K H z 0 .8 K H z 1 .0 K H z 1 .2 K H z 1 .4 K H 1z .6 K H z
tipicamente, as componentes harmônicas apresentam amplitude de até 8%
da fundamental, enquanto no refino valores típicos são em torno de 2%. Figura 4.16 (a) Corrente de entrada e tensão de alimentação de retificador
alimentando filtro capacitivo. (b) Espectro da corrente

4.2.1.5 – Retificadores com filtro capacitivo


Conforme já foi visto, a grande parte dos equipamentos eletrônicos
possuem um estágio de entrada constituído por um retificador
monofásico com filtro capacitivo. Este tipo de circuito produz na rede
correntes de forma impulsiva, centrados aproximadamente no pico da 1

onda senoidal. O circuito está mostrado na figura 4.15. Na figura 4.16


têm-se formas de onda da tensão e da corrente, obtidas por simulação,
bem como o espectro da corrente. Nota-se a grande amplitude das
2

harmônicas, produzindo, certamente, uma elevada THD.


Situação semelhante ocorre com entrada trifásica, quando são
observados 2 impulsos de corrente em cada semiciclo, como mostra a
figura 4.17. Nota-se, mais uma vez, a significativa distorção que pode Figura 4.17 Tensão na entrada (superior) e corrente de linha (inferior) em
ocorrer na forma da tensão devido à queda de tensão que ocorre na retificador trifásico com filtro capacitivo.

reatância da linha.
4.3 – Referências bibliográficas
“IEEE Recommended Practices and Requirements for
+ Harmonic Control in Electric Power Systems.” Project IEEE-519.
October 1991.
“Sine-wave Distortions in Power Systems and the Impact
Vp.sin(wt) Vo
on Protective Relaying.” Report prepared by the Power System
Relaying Committee of the IEEE Power Engineering Society.
Novembro 1982.
Figura 4.15 Retificador monofásico com filtro capacitivo Continua na próxima edição
O SETOR ELÉTRICO
24 Dezembro 2006
F ASCÍCULO 1 / HARMÔN I C O S
Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e doutor em enge-
nharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, professor
da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br

CAPÍTULO V -
COMPENSAÇÃO CAPACITIVA E
FILTROS PASSIVOS EM REDES SECUNDÁRIAS
PARTE 1
A solução clássica para a redução da contaminação harmônica Os filtros usados nas simulações que se seguem tiveram a
de corrente em sistemas elétricos é o uso de filtros sintonizados, capacitância total distribuída igualmente entre os três ramos
conectados em derivação no alimentador. sintonizados e uma parcela menor incluída no ramo passa-altas.
A estrutura típica de um filtro passivo de harmônicos de corrente O fator de qualidade de cada ramo é de 20, o que é um valor
é mostrada na figura 5.1. As várias células LC série são sintonizadas típico para indutores com núcleo ferromagnético. Dispositivos com
nas proximidades das freqüências que se deseja eliminar, o que, via núcleo de ar têm fator de qualidade superior. O ramo passa-altas
de regra, são os componentes de ordem inferior. Para as freqüências possui uma resistência de amortecimento. O ramo da 5ª harmônica
mais elevadas é usado, em geral, um simples capacitor funcionando foi sintonizado em 290Hz enquanto os demais ramos foram
como filtro passa-altas. A carga considerada neste exemplo é do dessintonizados em 20Hz abaixo da harmônica.
tipo fonte de corrente e é similar à que se obtém com o uso de um O alimentador apresenta um nível de curto-circuito de 20 p.u.
retificador tiristorizado trifásico, alimentando uma carga indutiva, A impedância em série com a fonte tem um papel essencial na
como um motor de CC. eficácia do filtro. Observe que, se for considerada uma fonte ideal,
Na freqüência da rede, os diferentes filtros apresentam uma qualquer filtro é indiferente, posto que, por definição, a impedância
reatância capacitiva, de modo que contribuem para a correção de uma fonte de tensão é nula. Ou seja, o caminho preferencial
do fator de potência (na freqüência fundamental), supondo que a para os componentes harmônicos da corrente da carga sempre
carga alimentada seja de característica indutiva. seria a fonte.
A distribuição da capacitância total entre os diferentes A carga apresenta fator de deslocamento de 0,866 e fator
ramos pode ser feita de diversas maneiras. Steeper e Stratford. de deformação de 0,95, configurando um fator de potência
(1976) indicam que a distribuição é indiferente, não afetando o de 0,82. Dada a simetria da forma de onda, não estão
comportamento do filtro. Em Bonner e outros (1995) a indicação presentes as componentes pares, assim como as múltiplas de
é que a alocação seja proporcional à corrente total que deve fluir ordem três.
por cada ramo, ou seja, depende do conteúdo espectral de uma
determinada carga. Esta solução tenderia a equalizar as perdas .1 .25m

pelos capacitores. Peeran e outros (1995) e Almonte e Ashley 2.15m 1.05m 440u I1
+- 20u +- -
+
(1995) indicam divisões da capacitância total em função da ordem I3
0.19 .13 .085
harmônica do ramo do filtro, cabendo uma parcela maior ao filtro 2

de 5ª harmônica em relação aos demais. Czarnecki e Ginn (2005) 150u 150u 150u

no entanto, mostram que a distribuição da capacitância afeta a


capacidade global do filtro, embora não seja possível generalizar
Figura 5.1 Filtragem passiva de corrente em carga não-linear
uma solução, pois os diferentes métodos produzem resultados
melhores ou piores, dependendo de vários fatores, como o nível de A figura 5.2 mostra a resposta em freqüência da tensão
curto-circuito local, da distorção presente na tensão ou da existência sobre a carga. A carga, dado seu comportamento de fonte de
de harmônicos não característicos. corrente, é considerada um circuito aberto neste teste. Nota-se
Um outro aspecto relevante é que os filtros não devem ser que nas ressonâncias dos filtros, dado que a impedância vai ao
sintonizados exatamente nas freqüências harmônicas, pois na mínimo, tem-se uma redução da tensão. Há ainda outras três
eventualidade de que a tensão apresente-se com distorção, poderiam ressonâncias série que surgem da combinação entre a reatância
surgir componentes muito elevadas de corrente. Também para a do alimentador e cada um dos quatro ramos do filtro. Em tais
“dessintonia” existem diferentes indicações. Peeran (1995) sugere freqüências observa-se uma amplificação da tensão sobre o
que a sintonia seja feita 5% abaixo da harmônica. Já Almonte (1995) filtro. Caso existam componentes espectrais de tensão nestas
indica um deslocamento absoluto de 18Hz para todos os ramos. freqüências, estas serão amplificadas.

O SETOR ELÉTRICO
20 Janeiro 2007
HARMÔNICOS
10

1.0

100m

10m
10Hz 30Hz 100Hz 300Hz 1.0Hz 3.0Hz 10Hz
Fraquency
Figura 5.4 Corrente da carga e corrente na fonte com filtragem passiva
Figura 5.2 Ganho (em dB) de tensão do filtro, em relação à tensão da fonte CA

Na figura 5.3 tem-se a impedância vista pela carga. Neste teste


a fonte de tensão é curto-circuitada. Em baixa freqüência, pode-se
esperar que a corrente flua pela rede. Nas ressonâncias do filtro, as
respectivas componentes presentes na corrente da carga fluirão pelo
filtro. No entanto, nas freqüências em que a impedância se eleva,
eventuais componentes presentes na corrente da carga produzirão
distorções na tensão no barramento de instalação do filtro. Assim,
do ponto de vista da carga, o que se tem são ressonâncias paralelas
entre os ramos do filtro e a reatância da rede.
Assim, pode-se concluir que a presença de vários filtros numa
mesma rede produz interferências mútuas. O comportamento de Figura 5.5 Espectro da corrente na carga (superior) e na rede (inferior)

cada filtro pode ser influenciado pela presença dos outros filtros e
A figura 5.6 mostra a tensão no ponto de conexão da carga e seu
outras cargas.
espectro. Observe-se os afundamentos na tensão quando há a variação
acentuada da corrente da carga. Sem os filtros, a distorção harmônica
10 total da tensão no ponto de conexão da carga é de 13%. Com o filtro,
o afundamento não é compensado plenamente, mas a DHT se reduz
para 8%. Mesmo com a atenuação introduzida neste ramo passa-altas,
1.0
tem-se alguma oscilação em torno de 3 kHz, conforme se poderia
antever pelo resultado da figura 5.2. Verifica-se assim que o uso do
filtro melhora não só a corrente como a tensão, que é, na verdade, a
100m
grandeza elétrica que é compartilhada pelos usuários.

10m
10Hz 30Hz 100Hz 300Hz 1.0Hz 3.0Hz 10Hz
Fraquency

Figura 5.3 Impedância vista pela carga A

A figura 5.4 mostra o sistema simulado, com uma carga não-


linear, que absorve uma corrente retangular (como ocorreria em um
retificador controlado, alimentando uma carga altamente indutiva).
A ação do filtro permite compensar o fator de deslocamento (desde
que seja constante), assim como reduzir o conteúdo harmônico da
B
corrente da rede em relação à da carga. A distorção harmônica total
(DHT) da corrente da carga é de 29%, enquanto na rede tem-se
15%. Os espectros destas correntes são mostrados na figura 5.5. A
redução na componente fundamental deve-se à melhoria do fator
de deslocamento. Figura 5.6 Tensão no barramento da carga e seu espectro: antes da conexão do
filtro (a) e depois da conexão do filtro (b)

O SETOR ELÉTRICO
Janeiro 2007 21
F ASCÍCU LO 1 / HARMÔN I C O S

5.1.1 Efeito de componentes não Por outro lado, se considerados os retificadores com filtro
característicos da carga capacitivo, normalmente utilizados no estágio de entrada em
equipamentos eletrônicos, como aparelhos de TV, computadores,
Czarnecki (1997) denomina como “harmônicos menores” todas monitores de vídeo etc., a tensão na entrada do retificador é imposta
componentes espectrais presentes na tensão, assim como aquelas pelo capacitor do lado CC durante o intervalo de tempo em que os
devidas à carga e que não possuem um ramo sintonizado no filtro diodos estiverem em condução Nesta situação, estes dispositivos
passivo. Neste exemplo incluem-se todas componentes que não as são mais bem representados por fontes de tensão harmônica [Peng
de 5ª, 7ª e 11ª ordem. e Farquharson, 1999]. Esta mudança de enfoque traz profundas
A presença de uma distorção na tensão pode ter um efeito alterações na concepção de filtros passivos. Tal situação é ilustrada
muito danoso, uma vez que pode encontrar no filtro sintonizado um pela figura 5.8.
caminho de mínima impedância, contribuindo para o surgimento É claro que para qualquer valor de Zo diferente de zero é possível
de uma elevada corrente naquela freqüência que circula entre a passar do equivalente Norton para o equivalente Thevenin que
fonte e o filtro, e que não é proveniente da carga. Este efeito pode representa a carga. No entanto, quando o valor de Zo é muito baixo,
sobrecarregar o filtro. A figura 5.7 mostra o efeito de uma distorção o modelo simplificado (sem Zo) mais próximo da realidade é o de
de 3% na 7ª harmônica na tensão da fonte. Observe-se que, além fonte de tensão.
da distorção ser visível na tensão sobre o filtro, se reduz para 1%,
Ii Zi Ic Ii Zi Ic Zo
ocorre uma amplificação na corrente da fonte, a qual assume um
valor de 16% da componente fundamental, elevando a THD da
Vi Zf Zo Io Vi Zf Vo
corrente de 8% para 22%.
If If

Figura 5.8 Filtro passivo em derivação para cargas tipo fonte de corrente e
fonte de tensão

Da figura 5.8.a pode-se verificar que a relação entre a corrente


da carga, Ic e a corrente da fonte CA, Ii é dada por um divisor de
corrente. Fica clara a afirmação já apresentada de que a eficácia da
filtragem depende da impedância da rede. Para uma fonte ideal em
que Zi seja zero, não ocorre filtragem alguma.

5.7 Efeito de 3% de 7ª harmônica na tensão da rede Ii Zf


= (5.1)
I c Zf + Zi
Uma maneira de reduzir a interação entre filtros e a rede é fazer
o acoplamento dos filtros com o barramento através de uma Já no caso de uma carga com comportamento de fonte de tensão

indutância, procurando isolar eletricamente (em alta freqüência) os (figura 5.8.b), a eficácia do filtro LC, que define Zf, conectado em

diversos sistemas. Esta solução, no entanto, é custosa e aumenta as paralelo com a carga, em desviar da fonte componentes harmônicas

perdas e a queda de tensão para a carga. Além disso, tal indutância produzidas na carga, é ser expressa por:

deve ser incluída no cálculo dos filtros, uma vez que ela altera as
Ii Zf
ressonâncias do sistema. = (5.2)
Vo Z o Z i + Z o Z f + Z i Z f
5.1.2 Filtragem passiva em
cargas tipo fonte de tensão É claro que a compensação depende tanto da impedância
Os casos estudados anteriormente consideravam cargas com da carga quanto da fonte. No entanto, se Zo for nula (a carga se
comportamento de fonte de corrente, que são típicas quando comporta como uma fonte de tensão ideal), o filtro conectado em
se considera o efeito de harmônicas no nível de distribuição de paralelo é inútil. De maneira análoga, se a impedância da rede for
energia, no lado de alta tensão. Quando se considera a presença de nula, o efeito é o mesmo.
cargas não-lineares no lado de baixa tensão, o comportamento do Em tais situações torna-se mais efetivo o uso de filtros conectados
tipo fonte de corrente é característico de motores e de conversores em série com a alimentação, numa associação LC paralela, de modo
eletrônicos com indutâncias de alisamento, por exemplo. a bloquear a passagem das parcelas das correntes indesejadas,
como mostra a figura 5.9. Nesta figura tem-se indicado um filtro
O SETOR ELÉTRICO
22 Janeiro 2007
sintonizado na terceira harmônica e outro na quinta, incluindo um
resistor de amortecimento. Tal resistor, embora reduza a eficácia de
filtro da quinta harmônica, garante o amortecimento necessário
para as possíveis ressonâncias série que podem ocorrer no circuito.
Resultados de simulação de um sistema alimentando um
retificador monofásico com filtro capacitivo estão indicados nas
figura 5.10 e 5.11. No primeiro caso tem-se as formas de onda da
corrente da rede com um filtro em derivação e com filtro série, como
o da figura 5.9.
Nota-se que o filtro derivação não é eficaz na filtragem (a
reatância da rede e da carga é 10 vezes menor que a do filtro na
freqüência fundamental), enquanto na conexão em série tem-se
Figura 5.10 Formas de onda da corrente de entrada com carga tipo fonte
uma efetiva melhoria na forma de onda da corrente de entrada. de tensão para filtro em derivação (superior) e filtro série (inferior).
Obviamente a inserção de filtros em série é um problema
em equipamentos já instalados, pois exigiria a interrupção do
alimentador. No entanto, a inclusão destes filtros na carga não-
linear poderia ser uma solução mais adequada, embora sempre seja
necessário verificar o impacto deste procedimento no funcionamento
do equipamento.

L3 Lf Zo
Ii Zi Ic

C3 Cf Rf
Vi Vo

Figura 5.11 Espectro da corrente de entrada para as correntes mostradas


Figura 5.9. Filtro passivo tipo série na figura anterior.

Continua na próxima edição

SE 3070

O SETOR ELÉTRICO
Janeiro 2007 23
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos
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CAPÍTULO V
COMPENSAÇÃO CAPACITIVA E
FILTROS PASSIVOS EM REDES SECUNDÁRIAS
PARTE 2

5.2 - Caracterização e compensação de harmônicos este problema seria a inclusão de um reator em série com o capacitor que
e reativos e cargas não-lineares residenciais e possibilitaria a compensação dos reativos (na freqüência fundamental)
comerciais sem ampliar demais a distorção da corrente [Phipps, 1994].

O uso de filtros sintonizados e de capacitores na rede secundária 5.2.1 - Análise de cargas típicas de redes de
tem como objetivo realizar a compensação da potência reativa, melhorar distribuição – baixa tensão
o perfil das tensões ao longo do alimentador, reduzir o carregamento
dos transformadores e reduzir as perdas ôhmicas na rede. Para efeito da análise que se segue, as cargas domésticas podem
Diferentemente do que ocorre, em geral, com cargas não- ser divididas em três grupos: cargas resistivas, cargas indutivas e
lineares industriais, que apresentam um comportamento de “fontes cargas eletrônicas. Do ponto de vista de reativos e de harmônicos
harmônicas de corrente”, as cargas não-lineares de uso doméstico e são as duas últimas categorias que devem ser consideradas.
comercial têm um comportamento predominantemente de “fontes
harmônicas de tensão” [Peng e Farquharson, 1999; Deckmann e 5.2.1.1 - Refrigeradores: carga tipo fonte de corrente
outros, 2005, 2005b; Pomilio e Deckmann, 2006]. Tais cargas são
constituídas, essencialmente, de aparelhos eletroeletrônicos que O comportamento de um refrigerador, que é a carga indutiva mais
possuem em sua entrada um retificador monofásico com filtro presente em ambientes residenciais, além de implicar na demanda
capacitivo (computadores, reatores eletrônicos sem correção de de potência reativa, também produz harmônicos pela distorção da
fator de potência, lâmpadas fluorescentes compactas, aparelhos corrente, como se pode observar na figura 5.12. Outros aparelhos,
de TV, som etc.). Por outro lado, a potência reativa em redes que possuam motores ou transformadores em sua entrada, como
domésticas sofre pequena variação ao longo de uma jornada diária máquinas de lavar, aparelhos de ar condicionado, ventiladores,
e está, preponderantemente, relacionada com os refrigeradores, e, bombas etc., podem ser incluídos neste grupo.
eventualmente, com máquinas de lavar. As curvas mostradas na Figura 5.12 referem-se a um refrigerador
No entanto, na presença de cargas tipo “fontes harmônicas de baixo consumo (26,6 kWh), com potência aparente de 170VA e
de tensão”, a conexão de compensadores ou filtros em derivação fator de potência de 0,64 (131VAr e 108,5W). A Figura 5.13 mostra
não é capaz de alterar significativamente a corrente que as mesmas o espectro da corrente, cujas principais componentes são: 3a (6,2%),
produzem no restante no circuito. Na prática, o que ocorre é um 5a (5%) e 7a (1,5%). A Distorção Harmônica Total da tensão é nula,
aumento das componentes harmônicas da carga, o que confirma o pois neste teste, foi utilizada uma fonte programável.
seu funcionamento como fonte de tensão. De fato, estas “fontes de
tensão” não são ideais, apresentando uma certa impedância série, Tensão
de sorte que pode ocorrer algum efeito de atuação do componente Corrente

em derivação, mas com eficácia muito menor do que o que se


verifica com uma carga não-linear do tipo “fonte de corrente”.
Por outro lado, a compensação da energia reativa pode ser feita por Potência

meio da instalação local de capacitores. No entanto, dada a presença


de cargas não-lineares, e ainda a existência de distorções na tensão de
alimentação, verifica-se também uma amplificação da circulação de
Fig. 5.12. Tensão (100V/div), corrente (2A/div) e potência instantânea (250W/
correntes harmônicas na presença desses capacitores. Uma solução para div) em refrigerador

O SETOR ELÉTRICO
18 Fevereiro 2007
Harmônicos
ao longo da manhã e decréscimo após o meio-dia. O valor mínimo
é perfeitamente consistente com as estimativas de consumo dos
refrigeradores domésticos. Ao longo da manhã há um aumento na
potência reativa, justificável pelo uso de máquinas de lavar e outros
eletrodomésticos contendo motores. A partir do meio-dia, observa-
se uma redução sistemática da potência reativa, na direção oposta à
da potência ativa, mostrada na Figura 5.15. Ou seja, as novas cargas
adicionadas, especialmente no final da tarde e início da noite, devem
possuir fator de deslocamento próximo da unidade. Poderiam ser cargas
resistivas (lâmpadas incandescentes e chuveiros) ou cargas eletrônicas,
como se verá na seqüência.

Fig. 5.13. Espectro da corrente do refrigerador. (0,2A/div., 125Hz/div.) Potência Reativa [kVA]

12.0

11.0

Esta distorção na corrente pode ser bem modelada por fontes de 10.0

9.0
correntes harmônicas, ou seja, a inclusão de um filtro em derivação
8.0
no ponto de acoplamento da carga consegue minimizar a propagação 7.0

destes harmônicos pelo restante do circuito, como se verá na seqüência 6.0

5.0
deste estudo.
4.0
Um refrigerador de duas portas tem um consumo médio maior que 3.0

o dobro do valor anterior. Considerando um ciclo de trabalho de 1/3, 2.0


23.00 24.00 25.00 26.00 27.00 28.00 29.00
Dia . Hora
tem-se um consumo médio, por domicílio, de 130VA (83W, 100VAr).
Considerem-se agora os resultados de uma medição de campo em uma Fig. 5.14. Potência reativa medida na saída do transformador de distribuição.

rede secundária, com 141 consumidores residenciais (70% da demanda), Potência Ativa [kW]

oito consumidores comerciais (25% da demanda) e um consumidor 40.0

35.0
industrial (5% da demanda). Trata-se de um bairro de classe média, o que
30.0
tem implicações sobre o padrão de consumo de energia elétrica.
25.0
A Figura 5.14 mostra, para cada fase, o comportamento da
20.0
potência reativa durante o período de uma semana de medição. O 15.0

desequilíbrio entre as fases é pequeno, de modo que não é importante 10.0

identificar cada uma das três fases. Esta consideração é também válida 5.0

para os outros resultados de medições apresentados. 0.0


23.00 24.00 25.00 26.00 27.00 28.00 29.00
Na figura 5.14 nota-se um valor base (mínimo) de potência reativa Dia . Hora

em torno das seis horas da manhã, que apresenta um crescimento Fig. 5.15. Potência ativa medida na saída do transformador de distribuição.

O SETOR ELÉTRICO
Fevereiro 2007 19
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
5.2.1.2 - Cargas eletrônicas domésticas: possuir alto fator de potência. Para os de potência inferior, em geral
fontes de tensões harmônicas a corrente absorvida da rede é como a mostrada na Figura 5. Pode-
se considerar uma potência média de 30W por reator.
As cargas eletrônicas domésticas, tipicamente, possuem um A Figura 5.17 mostra o espectro da corrente (valor eficaz das
estágio retificador a diodos, com filtro capacitivo na saída. Como componentes harmônicas). Como esperado, tem-se expressiva
resultado, tem-se uma corrente de entrada muito distorcida, com presença de componentes ímpares. A componente fundamental da
baixo fator de potência. O fator de deslocamento da fundamental corrente resultou adiantada de 14,4° em relação à tensão.
pode resultar levemente capacitivo. A forma de onda da corrente
é influenciada pela impedância do alimentador, de modo que um
mesmo retificador apresentará diferentes espectros de corrente para
fontes com impedâncias distintas.
Cargas eletrônicas residenciais e comerciais típicas são televisores,
lâmpadas fluorescentes compactas, reatores eletrônicos para
lâmpadas fluorescentes tubulares (sem correção de fator de potência),
computadores, aparelhos de som etc. Em termos de consumo, a
análise pode se limitar a televisores e lâmpadas compactas. Em regiões
de maior poder aquisitivo, deve-se considerar também a presença de Fig. 5.17. Espectro de corrente da TV valor eficaz das componentes (100mA/div).

computadores e reatores eletrônicos. A. Cargas tipo fonte de corrente


Outros eletrodomésticos são de potência muito pequena (como Se a carga efetivamente apresentar um comportamento de fonte
rádio-relógio, aparelhos de segurança, carregadores de baterias), de corrente, conforme a eq. (5.1) um filtro sintonizado, conectado em
ou de uso não contínuo (forno de microondas, aparelhos de som, derivação, pode ser usado para desviar da fonte CA os componentes
dimmers etc.). harmônicos de corrente gerados pela carga.
Para verificar este fato, um filtro de 5ª harmônica foi inserido junto
A Figura 5.16 mostra a corrente de entrada de um aparelho de
à entrada da alimentação do refrigerador estudado anteriormente. A
TV de 21’, operando normalmente. Nota-se a distorção típica da
freqüência de ressonância do filtro foi ajustada um pouco abaixo da
corrente associada a um retificador com filtro capacitivo. Na mesma
freqüência harmônica para evitar a amplificação desta componente caso
figura tem-se as medidas dos valores eficazes da tensão, da corrente
a mesma se encontre presente na tensão da rede.
e da potência ativa. A potência aparente vale S=85,54VA.
O resultado é mostrado na Figura 5.18. O alimentador tem uma
Com tais grandezas, pode-se determinar o fator de potência, que
impedância série de 2%, que é sete vezes maior do que a impedância
é de 0,63. A potência consumida, 54W, pode ser considerada típica
do filtro na freqüência de sintonia (285 Hz). Em 300 Hz a relação é de
para televisores deste porte. Este valor se altera, principalmente em
aproximadamente 3:1. A capacitância foi calculada para compensar o
função da área da tela. Pode-se supor que um aparelho de 29’, tendo
fator de deslocamento (20 mF), resultando em um indutor de 15,6 mH.
uma área de tela com o dobro daquela do aparelho de 21’, consuma Com este filtro, a componente de 5ª harmônica na rede foi reduzida
cerca de 100W. Uma TV de 14’ deve consumir cerca de 30W. em 3,6 vezes. A 7ª harmônica permaneceu praticamente inalterada,
enquanto a 3ª harmônica teve um aumento para 9% devido ao efeito
Tensão Corrente de anti-ressonância entre o filtro e a impedância do alimentador. Para
este tipo de carga (refrigerador), considerando os resultados da aplicação
do filtro, pode-se considerar que o modelo tipo “fonte de corrente” é
adequado, pois os resultados são consistentes com a expectativa.

Potência

Tensão
Corrente

Fig. 5.16 Tensão (100V/div), corrente (1A/div) e potência instantânea (200W/div)


de aparelho de TV Potência

Para uma lâmpada compacta, pode-se considerar uma potência


média de 10W. Um computador, incluindo o monitor, apresenta um
consumo médio em torno de 100W.
Fig. 5.18. Tensão (100V/div), corrente (2A/div) e potência instantânea (250W/div)
Reatores eletrônicos para lâmpadas tubulares apresentam-se na rede com uso de filtro em derivação (carga: refrigerador).
em variada faixa de potência. A partir de 60W, por norma, devem Continua na próxima edição
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20 Fevereiro 2007
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COMPENSAÇÃO CAPACITIVA E
FILTROS PASSIVOS EM REDES SECUNDÁRIAS
PARTE 3

5.2.1.3 Cargas tipo fonte de tensão Carga


Filtro
Em um retificador com filtro capacitivo, como mostrado na
0
Figura 5.19, a tensão na entrada do retificador é imposta pelo
capacitor do lado CC durante o intervalo de tempo em que os
Tensão e corrente na fonte
diodos estiverem em condução. Isto implica que a carga não linear
é mais bem modelada como uma fonte de tensão e não como uma
fonte corrente.
A eficácia de um filtro LC, com impedância Zf, conectado em
0
paralelo com a carga, pode ser expressa pela admitância equivalente,
dada pela eq. (5.2).
Esta equação mostra o quanto uma componente harmônica
de tensão imposta pela carga produz de corrente na rede. A
Fig. 5.20. Formas de onda da corrente com e sem compensação por filtro
compensação depende tanto da impedância da carga, Zo, quanto sintonizado. Traços superiores: Corrente no filtro de 5º harmônico e na carga (TV)
da fonte CA (Zi). Se Zo for nula (a carga se comporta como uma (4A/div). Traços inferiores: Tensão (100V/div.) e corrente na fonte (4A/div.).

fonte de tensão ideal), o filtro em paralelo é inútil. O mesmo ocorre Tabela 5.I
se a impedância da rede for nula. Corrente na carga (TV)
Ordem Harmônica Sem filtro no Com filtro de 5º harm.
Ii Zi Ic Ii Zi I c Zo
PCC PAC [mA] no PAC [mA]
Vi V 1 808 830
o
Vi Z I Z II 3 687 732
f f
5 488 563
If If 7 275 368
9 114 192
Fig. 5.19. Retificador com filtro capacitivo e modelo de carga como fonte de tensão
11 60 78
DHT(%) 111% 123%
O comportamento tipo fonte de tensão deste tipo de carga
pode ser verificado por simulação ou experimentalmente.
A Figura 5.20 mostra resultados simulados em que a carga é A Tabela 5.II mostra componentes harmônicos da tensão no
composta por uma parte linear (RL, equivalente ao refrigerador) PAC. Como esperado, há uma redução no 5º (e também no 7º)
e uma parcela não linear (equivalente a um aparelho de TV). harmônico, mas há um aumento no 3º e 9º componentes. A
Inicialmente o filtro de 5ª harmônica está conectado no ponto de distorção harmônica total (DHT) está dentro de limites de normas
acoplamento comum (PAC), compensando o fator de deslocamento. como a IEEE-519 (1991). A redução da DHT deve-se ao pequeno
Nota-se uma maior distorção da corrente. A Figura 5.21 mostra um valor resultante, na tensão, para o 5º harmônico.
resultado experimental nas mesmas condições. A Tabela 5.III mostra o feito sobre a corrente na fonte. O filtro
Conforme mostra a Tabela 5.I, a corrente da carga é menos leva a uma redução no 5º harmônico (embora proporcionalmente
distorcida sem o filtro. O aumento dos componentes harmônicos menor do que no caso do refrigerador). Há um aumento no 3o e
da corrente da carga (TV) mostra a natureza de fonte de tensão 9o harmônicos. A fundamental se reduz devido à compensação da
da mesma. potência reativa.
O SETOR ELÉTRICO
38 Março 2007
Harmônicos
A presença do filtro sintonizado pode produzir um efeito
Tabela 5.II
adverso em termos de melhoria na forma de onda, principalmente
Corrente no PAC
no caso de existir uma componente de tensão do alimentador
Ordem Harmônica Sem filtro Com filtro de 5º harm.
nesta freqüência de sintonia. A baixa impedância do filtro levará a
[%] [%]
3 2,2 2,92 um aumento na distorção da corrente e da tensão. A Figura 5.22
5 2,58 0,83 mostra o resultado com o mesmo filtro, incluindo apenas 2% de
7 2,03 1,73 5º harmônico na tensão da fonte. Mesmo dessintonizado, o filtro
9 1,08 1,27 amplifica essa corrente para 23% da fundamental!
11 0,69 0,66
DHT(%) 4,46 4,05 Tensão e corrente na fonte

Tensão e corrente na fonte

Fig. 5.22. Tensão da fonte (2% de 5º harmônico) (100V/div) e corrente da fonte


Fig. 5.21. Tensão (50V/div) e corrente (2A/div) na fonte, alimentando refrigerador
(1A/div) com filtro sintonizado junto à carga.
e TV, com uso de filtro de 5º harmônico.
5.2.2 - Efeito de cargas tipo fonte de tensão em
rede de distribuição
Tabela 5.III
Corrente na fonte (valor de pico)
A. Carga em rede com consumidores residenciais
Ordem Harmônica Sem filtro [A] Com filtro de 5º harm.
A seguir será analisado o comportamento da terceira
[A]
harmônica ao longo de um período de medição. Foi visto que
1 2,68 2,2
a corrente medida de um refrigerador apresentou cerca de 6%
3 0,671 0,904
5 0,477 0,157 de 3ª harmônica, ou seja, um valor de aproximadamente 70
7 0,268 0,232 mA. Considerando refrigeradores com consumo maior do que o
9 0,11 0,132 ensaiado, este valor pode se elevar para 180 mA. Com ciclo de
11 0,058 0,056 trabalho de 1/3, a participação média por refrigerador é de 60mA.
DHT(%) 32,8% 43,7% Havendo 141 domicílios na rede considerada, igualmente divididos

SE 3920

O SETOR ELÉTRICO
Março 2007 39
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
entre as três fases, isto deve representar perto de 3 A por fase de comerciais (80% da carga) e industriais (11% da carga). Quase
terceira harmônica. Durante as madrugadas tais componentes são 65% das cargas comerciais estão conectadas em uma mesma
dominantes, como se vê na Figura 5.23. barra. Trata-se de um alimentador urbano, com alta presença de
cargas não-lineares típicas de escritórios de serviços (iluminação
22.0
20.0 com reatores eletromagnéticos e eletrônicos, computadores,
18.0
impressoras, condicionadores de ar etc.).
16.0
14.0 Das medições, foram extraídos alguns resultados significativos
12.0
para a análise do tipo de carga conectada. Por exemplo, a carga
10.0
8.0 total está razoavelmente bem balanceada (Figura 5.24). No entanto,
6.0
as cargas não- lineares estão concentradas em duas fases, como se
4.0
2.0 pode concluir da análise da Figura 5.25.
23.00 24.00 25.00 26.00 27.00 28.00 29.00
Dia . Hora
30.0
Fig. 5.23. Terceiro harmônico da corrente, medido em rede secundária, ao
longo de sete dias 25.0

Caso 65% dos aparelhos estejam ligados (valor consistente com 20.0

medições de índice de audiência de TV em horário noturno, em 15.0

finais de semana), isto indica que deve haver 15 A (por fase), além
10.0
do relacionado à geladeira. Tais valores também são consistentes
5.0
com as medições observadas.
Isto mostra que a distorção da corrente é majoritariamente 0.0
28.00 28.00 30.00 31.00 01.00 02.00
determinada pelas cargas tipo retificador, e apenas mar­ginalmente Dia . Hora

(10 a 20%) pelos refrigeradores e outras cargas deste tipo (motores). Fig. 5.24. Potência aparente no secundário do trafo???? na rede comercial, ao
Também explica a redução da potência reativa total (figura 5.14), já que longo de seis dias.

as cargas não-lineares do tipo retificador apresentam leve característica O 3º harmônico aumenta durante o horário comercial apenas
capacitiva em termos da fundamental. O crescimento relativo da 3ª em duas fases, sugerindo cargas bifásicas não lineares (reatores
harmônica é menor que o da potência ativa, o que indica o aumento sem correção de fator de potência). Comportamento análogo se
das cargas resistivas no final da tarde e começo da noite. nota também nas demais componentes harmônicas da corrente. Tal
desequilíbrio leva a uma propagação de componentes harmônicas
B. Carga em rede com consumidores comerciais da corrente para o lado de alta tensão do transformador, o que
Neste caso as medições se referem a uma rede secundária resultará na distorção da tensão no sistema de distribuição para
radial, relativamente curta, porém com concentração de cargas outras cargas.
SE 4400

O SETOR ELÉTRICO
40 Março 2007
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
parcela “base” de potência reativa (como indicado na Figura 3).
Como benefícios econômicos, tem-se a redução de perdas no
transformador e na rede, mas, principalmente, uma elevação da
demanda por conta do aumento da tensão para os consumidores.
A Figura 5.26 mostra a alteração na potência reativa medida no
transformador (rede residencial) com compensação com um banco
capacitivo (17,5 kVAr), enquanto a Figura 5.27 mostra o efeito sobre
a tensão na saída do transformador.
A Figura 5.28 mostra que se tem um aumento na DHT da tensão
com a instalação do banco capacitivo. A DHT média de tensão se
elevou de 2% para 2,5%, enquanto a de corrente aumentou de
Fig. 5.25. Terceiro harmônico da corrente da carga comercial ao longo de seis dias 8,5% para 10%, como mostra a Figura 5.29.

5.2.3 – Compensação capacitiva em redes


residenciais e comerciais
As empresas de distribuição de energia elétrica ou mesmo
grandes consumidores estão interessados na aplicação de filtros
passivos ou de compensação capacitiva nas redes com o objetivo
de, ao melhorar o perfil de tensão, postergar investimentos nestas
redes [Oliveira e outros, 2003; Macedo Jr, e outros, 2003; Tanaka e
outros, 2004, ANEEL, 2001].
Dado que o uso de filtros sintonizados, na presença de distorções na
rede, pode significar uma situação de risco, uma alternativa a ser analisada
é a compensação apenas da potência reativa por meio de capacitores.
Em ambos os tipos de compensação, o montante de reativos Fig. 5.26. Efeito da compensação de reativos em rede predominantemente
capacitivos pode ser dimensionado de modo a compensar a residencial.
SE 3930

O SETOR ELÉTRICO
42 Março 2007
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
carga represente uma parcela relativamente pequena da demanda,
o que é o caso da rede residencial.
Assumindo que a carga tem um comportamento de fonte
de tensão, para a explicação deste comportamento é necessário
considerar a ressonância paralela entre o banco capacitivo e a
impedância da fonte, que pode levar a uma amplificação de algumas
harmônicas presentes na carga. O componente harmônico da tensão
no PAC, para um dado valor presente na carga (Voh) é dado por:
VhPAC Z i // Z f
= (5.3)
Voh Z o + Z i // Z f

Fig. 5.25. Aumento na tensão junto ao transformador com compensação


capacitiva a partir do dia 30

Fig. 5.28. DHT da tensão antes e após a instalação do banco capacitivo.

Após feita a análise da rede e do alimentador, o aumento da


distorção (especialmente a 7a harmônica) somente é explicado pela
presença de cargas não lineares do tipo fonte de tensão, conforme
já foi discutido. Isto significa que este tipo de solução (colocação de
compensação capacitiva na rede secundária) deve ser usada com Fig. 5.29. Espectro da corrente no transformador antes (alto) e depois (baixo)
cuidado e apenas em situações em que a presença deste tipo de da instalação do banco de capacitores
SE 3940

O SETOR ELÉTRICO
44 Março 2007
Harmônicos
5.2.4 – Conclusões Applications, v. 144, no. 5, Sept. 1997. p. 349-356.
Os equipamentos eletroeletrônicos de uso dominante em Czarnecki, L. S.; Ginn III, H. L. (2005) “The Effect of The Design Method on

áreas residenciais e comerciais possuem, em sua interface com a Efficiency of Resonant Harmonic Filters”, IEEE Trans. on Power Delivery, v. 20.
n.. 1. p. 286-271. Jan. 2005.
rede, retificadores a diodos com filtro capacitivo. Tais dispositivos
Deckmann S. M.; J.A. Pomilio; E.A.Mertens, L.F.S.Dias, A.R.Aoki, M.D.Teixeira
comportam-se como cargas não-lineares do tipo fonte de tensão
e F.R.Garcia (2005b), “Compensação Capacitiva em Redes de Baixa Tensão
harmônica, o que implica na baixa eficiência de dispositivos em
com Consumidores Domésticos: impactos no nível de Tensão e na Distorção
derivação para a filtragem das correntes harmônicas.
Harmônica”, Anais do VI SBQEE Belém, PA. ago. 2005.
O estudo de redes com cargas deste tipo por meio de modelos Deckmann, S. M.; Pomilio, J. A. (2005) “Characterization and compensation
com fonte de corrente é inadequado e pode conduzir a resultados for harmonics and reactive power of residential and commercial loads”, Anais
errados, a menos que o modelo permita a inclusão do equivalente do 8º Congresso Brasileiro de Eletrônica de Potência, COBEP 2005, Recife, 14
Norton da carga. -17 de junho de 2005.
Nas condições anteriores, a colocação de bancos capacitivos IEEE (1991), “IEEE Recommended Practices and Requirements for Harmonic
para a compensação de reativos, e conseqüente melhoria no perfil Control in Electric Power Systems.” Project IEEE-519, 1991.
de tensão ao longo da rede de baixa tensão, leva a uma ampliação Macedo Jr., J. R. “et al” (2003) “Aplicação de Filtros Harmônicos Passivos em
da distorção harmônica da tensão e da corrente, de modo que deve Circuitos Secundários”, Anais do II CITENEL, Salvador, nov. 2003. p.845 - 852.
Oliveira A. M “et al” (2003) “Energy Quality x Capacitor Bank”, Anais do 7ºCongresso
ser usada com muito cuidado.
Brasileiro de Eletrônica de Potência – COBEP 2003, Fortaleza, Ceará.
Em redes secundárias que já possuam uma elevada DHT de
Peeran, S.M., “et al” (1995) “Application, design and specification of
corrente, como é o caso de consumidores comerciais, a simples inclusão
harmonic filters for variable frequency drives”, IEEE Trans. on IA, v. 31. n.
de bancos capacitivos pode levar a níveis inaceitáveis de harmônicos.
4. p. 841- 847.
Nestes casos deve--se utilizar reatores em série com o banco capacitivo
Peng, F. Z., Su, G-J.; Farquharson, G. (1999): “A series LC filter for harmonic
de modo a minimizar a ampliação dos harmônicos de corrente, compensation of AC Drives”. CD-ROM of IEEE PESC’99, Charleston, USA, Jun. 1999.
tomando-se o cuidado para evitar ressonâncias com os harmônicos Phipps, J. K.; Nelson, J. P.; Sen, P. K. (1994): “Power Quality and Harmonic
impostos pela tensão no lado AT (primário) do transformador. Distortion on Distribution Systems”, IEEE Trans. on Industry Applications, v. 30.
n. 2. March/April 1994. p. 476 - 484.
5.3 – Referências Bibliográficas Pomilio, J.A.; Deckmann, S. M. (2006): “Caracterização e Compensação de
Almonte, R.L.; Asheley, A.W. (1995) “Harmonics at the utility industrial Harmônicos e Reativos de Cargas não-lineares Residenciais e Comerciais”,
interface: a real world example”, IEEE Trans. on IA, v. 31. n. 6, Nov. Dec. p. Eletrônica de Potência, v. 11. n. 1. p. 9 -16, março de 2006.
1419 -1426. Steeper, D. E. and Stratford, R. P. (1976): “Reactive compensation and
ANEEL (2001), Resolução Normativa n. 505 de 26/11/2001. harmonic suppression for industrial power systems using thyristor converters”,
Bonner, J.A. “et al” (1995) “Selecting ratings for capacitors and reactors in IEEE Trans. on Industry Applications, v. 12. n. 3. 1976, p. 232-254.
applications involving multiple single-tuned filters”, IEEE Trans. on Power Tanaka, T., Nishida, Y., Funabike, S., (2004) “A Method of Compensating
Del., v.10. January, p.547-555. Harmonic Currents Generated by Consumer Electronic Equipment Using the
Czarnecki, L. S., (1997) “Effect of minor harmonics on the performance of Correlation Function”, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 19. n.1. Jan.
resonant harmonic filters in distribution systems”, IEE Proc. Of Electric Power 2004. p. 266 - 271.

Continua na próxima edição

SE 3945

O SETOR ELÉTRICO
Março 2007 45
Apoio
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos
Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e doutor em enge-
nharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, professor
da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br

CAPÍTULO VI
CONDICIONAMENTO DA CORRENTE ABSORVIDA:
PRÉ-REGULADORES DE FATOR DE POTÊNCIA – PFP

Do ponto de vista da minimização das distorções da corrente um estágio de entrada composto por um retificador a diodos e filtro
que alimenta uma carga qualquer e da maximização de seu fator de capacitivo, com pequenos (ou mesmo sem) reatores de conexão
potência, a melhor solução é que a carga tenha um comportamento com a rede.
puramente resistivo, ou seja, que a corrente siga a mesma forma da Veremos neste capítulo alguns métodos de condicionar o estágio de
tensão que a alimenta. entrada de um conversor, de modo a fazê-lo absorver uma corrente
As cargas responsáveis pela maior parte da distorção harmônica com forma de onda que maximize o fator de potência, ou seja, que
são as cargas eletrônicas. Principalmente em ambientes doméstico tenha a mesma forma da tensão da rede à qual está conectado.
e comercial, tais cargas normalmente são de baixa potência e Inúmeras outras soluções existem, mas não serão abordadas aqui.
utilizadas em grande quantidade. Referem-se, em sua maioria, a O uso ou não de soluções deste tipo depende muito mais de
reatores para lâmpadas fluorescentes (compactas ou tubulares), imposições normativas do que de outros aspectos, uma vez que o
aparelhos de TV, monitores de vídeo e computadores, sempre com custo de tal implementação é relativamente baixo e existem diversas
alimentação monofásica. soluções tecnológicas.
Nas soluções para estes aparelhos sem correção do fator de
potência, o estágio de interface com a rede é um retificador com 6.1 – Retificadores monofásicos: estudo do conversor
filtro capacitivo e, eventualmente, algum filtro de Interferência elevador de tensão (boost)
Eletromagnética – IEM - . Note-se que, conforme já discutido em
capítulos anteriores, tais conversores apresentam um fator de Este tipo de conversor tem sido o mais utilizado como PFP em
deslocamento da fundamental próximo da unidade, o que significa função de suas vantagens estruturais como [2]:
que não é possível melhorar o fator de potência por meio de filtros • a presença do indutor na entrada bloqueia variações bruscas na
passivos em derivação sem deteriorar o fator de deslocamento. tensão de rede (“spikes”), além de facilitar a obtenção da forma
Nas soluções para estes aparelhos sem correção do fator de desejada da corrente (senoidal).
potência, o estágio de interface com a rede é um retificador com • Energia é armazenada mais eficientemente no capacitor de saída, o
filtro capacitivo e, eventualmente, algum filtro de Interferência qual opera em alta tensão (Vo>E), permitindo valores relativamente
Eletromagnética – IEM - . Note-se que, conforme já discutido em menores de capacitância.
capítulos anteriores, tais conversores apresentam um fator de • O controle da forma de onda é mantido para todo valor instantâneo
deslocamento da fundamental próximo da unidade, o que significa da tensão de entrada, inclusive o zero.
que não é possível melhorar o fator de potência por meio de filtros • Como a corrente de entrada não é interrompida (no modo
passivos em derivação sem deteriorar o fator de deslocamento. de condução contínuo), as exigências de filtros de IEM são
De acordo com as indicações da norma européia, baseada na minimizadas.
IEC61000-3-2 [1], tais aparelhos (exceto as lâmpadas compactas) • O transistor deve suportar uma tensão igual à tensão de saída e
devem apresentar uma corrente com reduzida distorção. seu acionamento é simples, uma vez que pode ser feito por um sinal
Quando se trata de cargas industriais, além dos dispositivos já de baixa tensão referenciado ao terra.
citados (reatores, computadores e acessórios) há grande quantidade Como desvantagens tem-se:
de conversores para alimentação de máquinas elétricas. Para estes, • O conversor posterior deve operar com uma tensão de entrada
a alimentação é tipicamente trifásica e o fator de potência e a relativamente elevada.
distorção harmônica dependem muito de como é feita a conexão • A posição do interruptor não permite proteção contra curto-
com a rede. Não é raro encontrar, no entanto, situações com elevada circuito na carga ou sobre-corrente.
distorção da corrente, especialmente se o conversor eletrônico tem • Não é possível isolação entre entrada e saída.
Outras topologias também podem ser utilizadas como PFP,

O SETOR ELÉTRICO
18 Abril 2007
Harmônicos
mas não serão discutidas neste capítulo, o qual tem como objetivo
indicar algumas possibilidades gerais de melhoria na forma de onda
fornecida pela rede a um retificador a diodos.

6.1.1 – Conversor boost operando como PFP em


condução descontínua
Consideremos o circuito da figura 6.1, a qual mostra um conversor
elevador de tensão funcionando como PFP monofásico [3].
Consideremos que o conversor opera em condução descontínua, ou
seja, a cada período de chaveamento a corrente pelo indutor vai a zero. Figura 6.2 Formas de onda de conversor boost, operando como PFP no modo
de condução descontínua.
Com freqüência constante e modulação por largura de pulso, com
o tempo de condução determinado diretamente pelo erro da tensão de Para se ter condução descontínua durante todo semiperíodo
saída, o valor do pico da corrente no indutor de entrada é diretamente de rede deve-se estabelecer o máximo ciclo de trabalho, o qual
proporcional à tensão de alimentação. A figura 6.2 mostra formas de é determinado quando a tensão de entrada é máxima (Vp). O
onda típicas, indicando a tensão de entrada (senoidal) e a corrente pelo intervalo de diminuição da corrente é:
indutor (que é a corrente absorvida da rede), a qual apresenta uma
variação, em baixa freqüência, também senoidal. (6.3)

Existe um máximo ciclo de trabalho que permite ainda condução


descontínua, o qual é determinado no pico da tensão de entrada, e vale:

(6.4)

Seja:
Figura 6.1 Conversor elevador de tensão operando como pré-regulador de
fator de potência (6.5)

Seja a tensão de entrada dada por:


(6.6)
(6.1)
A corrente de entrada tem uma forma triangular. O valor médio,
A corrente de pico em cada período de chaveamento é: calculado em cada ciclo de chaveamento, é dado por:

(6.2) (6.7)

SE 4470

O SETOR ELÉTRICO
Abril 2007 19
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos

Note-se que a corrente média de entrada não é senoidal! sobre o fator de potência. Em outras palavras, estes valores para o
Isto ocorre porque no intervalo t2 a redução da corrente depende Fator de Potência são os obtidos com a inclusão de um filtro passa-
também da tensão de saída, que é constante, e não apenas da baixas na entrada do conversor, de modo que a corrente absorvida
tensão senoidal de entrada. Quanto maior for Vo, menor será t2. da rede seja apenas a sua componente média, com as componentes
Assim, a corrente média dependerá mais efetivamente apenas de de alta freqüência circulando pela capacitância deste filtro. Na figura
Îi(t), tendendo a uma forma senoidal. 6.4, os resultados de simulação, mostrando a corrente no indutor
O fator de potência é dado por: (do lado CC do retificador) e na rede (após a filtragem).

(6.8)

Onde

(6.9)

A figura 6.3 mostra a variação do FP e da TDH com a tensão


Figura 6.4 Corrente no indutor (superior) e na rede (inferior), após filtragem.
de saída.
O valor de pico instantâneo é sempre maior do que o dobro do
valor médio da corrente (calculado em cada período de chaveamento).
Isto implica em um esforço maior de condução de corrente tanto para o
diodo quanto para o transistor. Além disso os diodos do retificador devem
ser rápidos, pois retificadores normais não teriam condição de comutar
na freqüência de chaveamento. Por estas razões, soluções deste tipo só
são aconselháveis em aplicações de potências relativamente baixas.
A vantagem deste método é que o circuito de controle pode ser
feito de modo muito simples, utilizando um controle por largura de
pulso de valor fixo durante todo o semiciclo da rede.

6.1.2 – Conversor boost operando como PFP em


condução contínua
O conversor elevador de tensão operando no modo contínuo tem
sido a topologia mais utilizada como PFP devido às suas vantagens,
especialmente o reduzido ripple presente na corrente de entrada. Além
disso os componentes ficam sujeitos a menores valores de corrente (em
relação à solução anterior). Por outro lado, exige, além da realimentação
da tensão de saída (variável a ser controlada), uma medida do valor
Figura 6.3 Variação do fator de potência e da taxa de distorção harmônica instantâneo da tensão de entrada, a fim de permitir o adequado controle
da corrente absorvida da rede. Problemas de estabilidade também são
O FP é menor do que a unidade porque a corrente de entrada é característicos, devido à não-linearidade do sistema [4,5]
não-senoidal. Quando a tende a zero (o que significa que a tensão
de saída é muito maior do que a tensão de pico da entrada), a 6.1.2.1 – Princípio de operação
corrente média (ou seja, depois de eliminadas as componentes de Consideremos com exemplo o funcionamento da topologia
alta freqüência) tende a ser senoidal e, assim, o fator de potência utilizando um circuito integrado típico, o qual opera a freqüência
tende à unidade. constante, com controle tipo MLP.
Como estes resultados são obtidos a partir da expressão da Um circuito integrado comercial (existem diversos modelos e
corrente média de entrada, eles ignoram o efeito advindo do fabricantes) produz uma corrente de referência que acompanha a forma
chaveamento em alta freqüência sobre o valor eficaz da corrente e da tensão de entrada. Esta referência é formada pela multiplicação de

O SETOR ELÉTRICO
20 Abril 2007
Harmônicos
um sinal de sincronismo (que define a forma e a freqüência da corrente
de referência) e de um sinal da realimentação da tensão de saída (o qual
determina a amplitude da referência de corrente).
Mede-se a corrente de entrada, a qual será regulada de acordo com
a referência. Gera-se um sinal que determina a largura de pulso a ser
utilizada para dar à corrente a forma desejada. A figura 6.5 mostra o
diagrama geral do circuito e do controle.

Figura 6.6 Formas de onda típicas da corrente pelo indutor e no interruptor.

A figura 6.7 mostra um resultado experimental no qual se obtém um


fator de potência unitário em um equipamento com carga de 600W.
Note que, do ponto de vista da rede, poder-se-ia concluir que se
trata de uma carga resistiva (do tipo potência constante). No entanto
é um conversor boost atuando como retificador de alto fator de
potência. Neste modo de operação os diodos do retificador podem ser
lentos, pois não necessitam comutar a todo ciclo de chaveamento.

V
Figura 6.5 Diagrama de blocos do conversor elevador de tensão, com circuito
de controle por corrente média.

A largura do pulso que comando o transistor varia com o valor i


instantâneo da tensão de entrada. O valor da largura de pulso, ao
longo de cada semiciclo da rede, é obtido de:
p

(6.11)

A figura 6.6 mostra uma forma de onda típica da corrente no Figura 6.7 Tensão, corrente de entrada e potência instantânea em conversor
conversor. boost PFP no modo de condução contínua (100V/div; 5A/div; 1kW/div.)

SE 4475

O SETOR ELÉTRICO
Abril 2007 21
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos

6.2 – Retificador trifásico a diodos


 Também neste caso há inúmeras possibilidades de circuitos para
melhoria do fator de potência em retificadores a diodos com entrada
trifásica. No entanto, neste caso só é possível operar no modo de
condução descontínua.

6.2.1 – Conversor trifásico com entrada indutiva


como PFP Figura 6.8 Conversor boost com entrada trifásica
A figura 6.8 mostra a topologia de um conversor boost com uma
entrada trifásica e retificador a diodos [6]. A indutância de entrada é
colocada no lado alternado, dividida entre as três fases.
O funcionamento como PFP ocorre com o circuito operando em
e1
freqüência e ciclo de trabalho constantes e com a corrente de entrada,
em cada indutância de entrada, descontínua. O tempo de condução do
transistor é determinado diretamente pelo erro da tensão de saída (a
0
qual é regulada). O valor do pico da corrente no indutor de entrada é i1
diretamente proporcional à tensão de alimentação. A figura 6.9 mostra
0s
uma situação deste tipo.
Fig. 6.9 Tensão e corrente de entrada em condução descontínua (na indutância de entrada)
A corrente média (calculada a cada ciclo de chaveamento do
transistor e com a devida filtragem das componentes de alta freqüência)
apresentará uma variação aproximadamente senoidal. No entanto, se a
e1
corrente de entrada não se anular a cada período de comutação (figura
6.10), o circuito não mais emulará uma carga praticamente resistiva.
O elevado conteúdo harmônico, na freqüência de chaveamento, 0

pode ser minimizado pela inclusão de filtros capacitivos a montante i1


das indutâncias de entrada, de modo que da rede absorva-se apenas
a corrente filtrada, como mostra a figura 6.11, em um resultado
experimental (componente em 60Hz). Assim como no caso monofásico,
0s
a operação no modo descontínuo não garante fator de potência Time

unitário, no entanto seu valor é bastante elevado (maior que 0,98) e a Figura 6.10 Tensão e corrente de entrada com condução contínua (na
indutância de entrada
distorção harmônica tranqüilamente dentro dos limites das normas.
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Harmônicos
da tensão de linha na entrada. Neste caso consegue-se operar
e1
no modo de condução contínua, pois além dos diodos é possível
ter condução pelos transistores. Isto garante um elevado fator
i1 de potência, com reduzida ondulação de alta freqüência na
corrente, o que minimiza a necessidade de filtros de IEM.

Saída
Figura 6.11 Tensão (50V/div) e corrente de fase (1A/div), após filtragem da alta vca Vcc
freqüência. Horiz.: 4ms/div

Figura 6.12 Retificador PWM do tipo elevador de tensão

6.3 – Retificadores PWM


Nas aplicações trifásicas de maior potência não é adequado
utilizar a solução anterior, dado que o valor de pico da corrente
de entrada (sem filtragem) e no transistor pode se tornar 6.4 – Referências Bibliográficas
excessivo. [1] EN61000-3-2 “Limits for harmonic current emissions (equipment input
Nestes casos a solução usual é utilizar um retificador PWM que current up to and including 16A per phase)”. European Committee for
é, na verdade, um inversor operando com fluxo de potência do Electrotechnical Standardization, Março de 1995.
lado CA para o lado CC. [2] B. Mammano and L. Dixon: “Choose the Optimum Topology for High
A figura 6.12 mostra um retificador trifásico na configuração Power Factor Supplies”. PCIM, March 1991, pp. 8-18.
boost. É também possível realizar outras configurações, mas [3] I. Barbi e A. F. de Souza: Curso de “Correção de Fator de Potência de
que não serão apresentadas neste capítulo. O controle dos Fontes de Alimentação”. Florianópolis, Julho de 1993.
transistores é feito de modo a que se sintetizem correntes de [4] J. H. Alberkrack and S. M. Barrow: “Power Factor Controller IC Minimizes
entrada que sigam a forma da tensão vca. Normalmente se usa External Components”. PCIM, Jan. 1993, pp. 42-48.
modulação por largura de pulso (PWM), embora seja possível [5] J. M. Bourgeois: “Circuits for Power Factor Correction with Regards to
utilizar outras técnicas. O comando gerado para os transistores Mains Filtering”. Application Note SGS-Thomson, April 1993.
é semelhante ao utilizado nos circuitos inversores (conversores [6] L. Malesani, L. Rossetto, G. Spiazzi, P. Tenti, I. Toigo and F. del Lago: “Single-
CC-CA) utilizados largamente para o acionamento de motores Switch Three-Phase AC/DC Converter with High Power Factor and Wide Regulation
de corrente alternada. Capability”. Proc. of INTELEC ‘92, Washington, USA, 1992, pp. 279-285.
A tensão de saída será sempre maior do que o valor de pico Continua na próxima edição

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Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e doutor em enge-
nharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, professor
da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br

CAPÍTULO VIi
FILTROS ATIVOS
Filtragem ativa de uma carga única, ou um conjunto delas, é sintetizar diferentes formas de corrente (ou tensão) em seus terminais.
uma opção à correção do fator de potência no estágio de entrada Se, em regime permanente, tais conversores não fornecem potência
de cada equipamento, assunto que foi visto no capítulo anterior, ativa, não necessitam de uma fonte de potência em sua alimentação. O
utilizado os chamados pré-reguladores de fator de potência. circuito deve operar de maneira a manter sob controle o valor da variável
O objetivo da filtragem da corrente é obter uma forma de onda elétrica no lado CC do conversor (corrente no indutor ou da tensão do
com baixa distorção harmônica que siga, por exemplo, a forma capacitor de armazenamento de energia). Devido às menores perdas
da tensão do barramento. Nesse caso, o conjunto (carga + filtro) de potência produzidas pelos capacitores, seu uso é mais difundido.
representaria uma carga resistiva, maximizando o fator de potência, Uma descrição do método de controle será feita posteriormente.
o que vale dizer, minimizando a corrente eficaz absorvida da fonte, Note-se que para o inversor fonte de corrente (figura 7.1.a), as
mantida a potência ativa da carga. chaves semicondutoras devem ser unidirecionais em corrente.. O diodo
É também possível realizar a filtragem ativa da tensão, quando em série protege o transistor (indicado como uma chave aberta) em
um conversor eletrônico é empregado diretamente para minimizar situações de polarização reversa. Uma vez que a rede CA, à qual o
as distorções da tensão. No entanto, o uso destes filtros é ainda mais conversor está conectado, apresenta uma característica indutiva, deve-
restrito do que os de filtragem de corrente, até porque os problemas se inserir elementos capacitivos, capazes de absorver as diferenças
de distorção de tensão são significativamente menores do que os instantâneas das correntes, a fim de evitar surtos de tensão na saída
devidos à distorção da corrente. Adicionalmente, a melhoria da (lado CA) quando o conversor injetar na rede pulsos de corrente de
forma de onda ca corrente leva, naturalmente, a uma melhoria na valor Io. Além disso, tais capacitores realizam uma filtragem de alta
forma de onda da tensão. freqüência, de modo que a corrente que flui para a rede seja apenas o
Embora seja uma tecnologia bastante consolidada, o uso de valor médio da corrente sintetizada pelo inversor. A presença do filtro
filtros ativos para melhoria da qualidade de energia é muito restrito. capacitivo pode levar ao surgimento de ressonâncias entre a linha e o
Uma razão fundamental é seu custo relativamente elevado. Outro filtro, as quais devem ser evitadas e/ou amortecidas adequadamente.
aspecto é a faixa de potência das aplicações, limitada a poucos
MVA e, geralmente, em baixa tensão. Aliem-se ainda as falhas de
regulamentação da qualidade de energia
(especialmente no caso do Brasil) que tolera distorções relativamente
elevadas de corrente, exatamente com o argumento da dificuldade
de sua compensação.
A seguir será mostrado como um conversor eletrônico de
potência pode produzir formas de onda de corrente (e também
de tensão) de forma arbitrária, o que permite seu uso para a
Figura 7.1. Topologias de inversores trifásicos: a) Inversor fonte de corrente; b)
compensação de distorções na rede elétrica. Inversor fonte de tensão

7.1 - Síntese de formas de onda utilizando inversores


De maneira análoga, em um inversor fonte de tensão (acúmulo
Abordaremos diferentes maneiras de sintetizar correntes ou
capacitivo), o acoplamento com a rede exige a presença de
tensões, com forma, freqüência e amplitude arbitrárias, de maneira a
elementos indutivos, uma vez que as tensões do barramento CC
ser possível a utilização de topologias inversoras (conversores CC-CA)
(capacitor) e da rede não são iguais. As chaves semicondutoras
no condicionamento da energia elétrica.
devem ser bidirecionais em corrente e unidirecionais em tensão.
Tais circuitos podem operar como Filtros Ativos, para os quais
A operação correta do circuito exige que nunca conduzam duas
deve-se produzir uma forma de corrente (ou tensão) que compense as
chaves de um mesmo ramo do inversor, pois isso colocaria o
distorções presentes na rede.
capacitor em curto.
A figura 7.1 mostra estruturas de inversores trifásicos que podem
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18 Maio 2007
Apoio

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Para que seja possível o controle das formas de onda (seja de A figura 7.2 mostra a modulação de uma onda senoidal,
corrente ou de tensão), os valores de Io ou de Vo devem ser maiores produzindo na saída uma tensão com dois níveis, na freqüência da
do que os valores de pico máximos, respectivamente de corrente e onda triangular. A informação da referência está contida na variação
de tensão, presentes no sistema. da largura dos pulsos.

7.1.1 - Modulação por Largura de Pulso - MLP


Nas aplicações de potência, as chaves semicondutoras sempre
atuam como interruptores, ou seja: bloqueadas (corrente zero) ou
em plena condução (tensão mínima em seus terminais). O objetivo é
minimizar as perdas de potência nestes dispositivos.
A maneira mais comum de obter um sinal alternado de baixa
freqüência, mas de alta potência, é através de uma modulação em
alta freqüência e a posterior demodulação ou filtragem. Diferentes
técnicas de modulação podem ser empregadas para gerar os sinais de
comando dos transistores. As mais usuais são a MLP e a por histerese Figura 7.2 Sinal MLP de 2 níveis.

(quando se trata de controle de corrente).


De forma analógica, é possível realizar uma modulação por largura Em termos do conversor como o mostrado na figura 7.1b, o
de pulso ao comparar um sinal de referência (que seja imagem da saída sinal de comando enviado a cada ramo do inversor é do tipo dois
de maior potência buscada), com um sinal triangular simétrico cuja níveis (quando um transistor liga, o complementar desliga). Assim, a
freqüência determine a freqüência de chaveamento dos transistores tensão de linha (entre duas fases) apresenta-se de três níveis, como
e diodos. A freqüência da onda triangular (chamada portadora) se observa na figura 7.3. Tal tipo de saída apresenta um menor
deve, se possível, ser 20 vezes superior à máxima freqüência da conteúdo harmônico em relação à modulação de dois níveis.
onda de referência, para que se obtenha uma reprodução aceitável A obtenção de uma onda que recupere o sinal de referência
da forma de onda desejada, após efetuada a filtragem (que elimina é facilitada pela forma do espectro do sinal MLP. Note-se no
os componentes espectrais de alta freqüência). A largura do pulso espectro da 7.3 (inferior) que, após a componente espectral
de saída do modulador varia de acordo com a amplitude relativa da relativa à referência (baixa freqüência), aparecem componentes nas
referência em comparação com a portadora (triangular). Tem-se, vizinhanças da freqüência de chaveamento. Ou seja, o filtro passa-
assim, uma Modulação por Largura de Pulso. O mesmo resultado baixas deve permitir passar componentes espectrais na faixa de
pode também ser obtido por meio de dispositivos digitais, como harmônicas em que se deseja compensação e deve ser capaz de
microcontroladores ou processador digital de sinais – DSPs. produzir uma atenuação bastante efetiva nas componentes devido
Na saída do inversor tem-se uma sucessão de ondas retangulares à comutação em alta freqüência, normalmente na faixa dos kHz. Na
(de corrente ou tensão) de amplitude igual à corrente ou tensão de figura 7.3 (superior) tem-se também a forma de onda recuperada
alimentação CC e duração variável. após a filtragem.

SE 4865

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O uso de um filtro não amortecido pode levar ao surgimento de suas saída, valendo aqui as mesmas observações relativas ao tipo de
componentes oscilatórias na freqüência de ressonância, que podem elemento de armazenamento de energia, isto é, caso o inversor forneça
ser excitadas na ocorrência de transitórios na rede ou na carga. Em apenas energia reativa, ele não precisa de uma fonte de potência,
regime elas não se manifestam, uma vez que o espectro da onda podendo operar a partir apenas de elementos de armazenamento de
MLP não as excita. O uso de filtros amortecidos ou o controle da energia.
variável elétrica de saída devem ser utilizados em situações em que O estágio de saída deve ser adaptado de modo a ser obtida uma
tais transitórios possam ser problemáticos. tensão filtrada dos componentes relativos à freqüência de chaveamento,
reproduzindo apenas a tensão de referência sintetizada pelo inversor.

7.2 - Filtros Ativos de Potência (FAP)
A ação de filtros em derivação não muda a corrente na carga,
pois praticamente não modifica a tensão no ponto de acoplamento
comum (PAC). A ação do FAP permite suprir à carga toda a potência
não ativa, incluindo componentes harmônicos e potência reativa. Da
rede se consome apenas a corrente associada à potência ativa. Este fato
maximiza o Fator de Potência (FP), já que implica no mínimo valor de
corrente pelo sistema, liberando a capacidade de transmissão para as
Figura 7.3 Formas de onda da tensão de linha em inversor trifásico, sinais MLP linhas, mantida constante a potência ativa na carga.
filtrado e espectro do sinal MLP de três níveis
No enfoque da aplicação de um filtro ativo, ou seja, quando se buscam
medidas de variáveis elétricas para identificar componentes nas correntes
7.1.2 - Síntese de correntes em inversor com
que devam ser compensadas, deve-se levar em conta qual o objetivo da
acúmulo capacitivo
compensação.
A síntese de uma corrente CA utilizando um inversor fonte de
Os métodos de medida de potência baseados no domínio da
corrente pode ser feita em malha aberta, aplicando diretamente os
freqüência, ou que apenas tratem comportamentos médios (e não
comandos gerados pelo modulador (MLP, por exemplo) diretamente nos
instantâneos), não possibilitam a identificação de grandezas temporais,
transistores. No caso de inversores fonte de tensão, a corrente média de
de modo que não se aplicam no caso de compensação de componentes
saída é determinada pela diferença entre as tensões médias da rede e
harmônicas.
da saída do inversor. Tal diferença é aplicada sobre os indutores de filtro,
Pode-se considerar que o objetivo da filtragem da corrente seja
definindo, assim, a corrente. As diferenças instantâneas determinam a
obter uma forma de onda que siga a forma da tensão, ou seja, que o
ondulação da corrente na freqüência de chaveamento.
conjunto (carga + filtro) represente uma carga resistiva, maximizando
Como não se faz uma síntese direta da corrente, a correta
o fator de potência, o que vale dizer, minimizando a corrente eficaz
operação desta topologia como um filtro ativo de corrente necessita da
absorvida da fonte, mantida a potência ativa da carga.
realimentação da corrente, a ser comparada com a referência, gerando
Uma outra possibilidade é sintetizar uma corrente senoidal, mesmo
um sinal de erro que, se necessário, corrige a largura de pulso. Esta
na presença de distorções na tensão.
realimentação permite a síntese de qualquer forma de corrente, dentro
Caso o sistema apresente uma tensão senoidal e nenhuma não-
da faixa de passagem do filtro passivo de saída.
linearidade, ambos os métodos seriam idênticos. Como, normalmente,

7.1.2.1 - Controle da tensão CC o sistema de alimentação apresenta distorções e a tensão nunca é

Numa situação de regime permanente, na qual o inversor forneça perfeitamente senoidal, sempre existirão elementos harmônicos capazes

apenas energia não ativa ao sistema e à carga, a tensão média no de excitar ressonâncias. Os elementos que introduzem amortecimento

capacitor é constante. Transitoriamente, no entanto, é possível que esta no sistema são, essencialmente, as cargas, uma vez que as perdas

tensão varie em função de mudanças na carga ou na rede. próprias das linhas e transformadores são baixas. Assim, um sistema

A correção do erro de tensão é feita controlando-se a amplitude do sem carga tende a ver amplificadas as possíveis ressonâncias presentes.

sinal de referência de corrente. Por exemplo, caso a tensão CC diminua, Quando um filtro ativo leva à absorção apenas de uma corrente

o circuito de controle deve produzir um ajuste na amplitude da corrente senoidal, isto significa que a rede vê uma carga aberta para as outras

em relação à tensão da rede de modo a absorver potência ativa, freqüências, ou seja, a carga deixa de atuar como fator de amortecimento

acumulando carga no capacitor e elevando novamente sua tensão. para as eventuais ressonâncias do sistema.
A defesa desta técnica (corrente senoidal) é feita com o argumento
7.1.3 - Síntese de tensões de que a absorção de correntes senoidais melhoraria a forma da tensão
As mesmas topologias que são capazes de produzir formas arbitrárias da rede, mas isto nem sempre é verdade.
de corrente podem também fazê-lo em relação à tensão sintetizada em É bastante comum a presença de capacitores em uma rede de

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distribuição de energia, no lado de baixa tensão, para a compensação senoidal, há dispositivos de controle que monitoram o aparecimento
do fator de deslocamento. Em tal situação há uma ressonância entre a das oscilações e alteram a corrente de modo que sejam adicionadas
capacitância e a reatância indutiva do alimentador. Para valores típicos, componentes de corrente de modo a amortecer a oscilação. Ou seja,
com a elevação do fator de potência de 0,85 para 0,95, a ressonância ao invés de sintetizar uma resistência em todo espectro de freqüências,
se dá em torno da 11ª harmônica, mas cada caso deve ser analisado em as resistências são vistas pelo alimentador apenas na componente
particular. fundamental e nas freqüências em que ocorrem ressonâncias.
A figura 7.4 mostra resultados de simulação com ambos os métodos A recomendação IEEE-519 estabelece para redes de baixa tensão
aplicados. A fonte de entrada possui uma 11UaU harmônica com 1% uma Distorção Harmônica Total aceitável de (DHT) 5%, limitando
de amplitude da fundamental. O indutor e o capacitor produzem uma cada harmônica a 3% do valor da componente fundamental. Este
ressonância nesta harmônica. Quando se tem uma carga resistiva, devido valor pode facilmente ser superado, especialmente se a corrente da
ao amortecimento introduzido, praticamente não se observa o efeito rede estiver altamente distorcida como, por exemplo, na presença
desta harmônica, pois ela continua afetando as tensões em um nível de cargas não lineares.
muito baixo. Quando se força a carga a absorver uma corrente apenas
na freqüência fundamental, nota-se a ressonância e a conseqüente 7.2.1 - Estrutura de controle do filtro
distorção na tensão (circuito à direita e formas de onda inferiores). Filtros ativos monofásicos podem ser utilizados na correção
do fator de potência de cargas de pequena e média potência. As
aplicações restringem-se tipicamente a potências de 4kVA (para
alimentação em 220V), dado que cargas maiores normalmente
possuem entrada trifásica.
A figura 7.5 mostra uma possível estrutura do sistema de
controle para um filtro monofásico, de acúmulo capacitivo,
operando em MLP. A forma da referência da corrente é obtida da
própria tensão. A amplitude desta referência é modulada de modo
a manter a tensão CC no valor desejado. O sinal do erro da tensão
CC, passado por um compensador tipo proporcional-integral (que
anula o erro em regime para uma entrada constante) é uma das
entradas do bloco multiplicador. Sendo um valor contínuo (que varia
muito mais lentamente do que a referência de corrente, que varia
na freqüência da rede), funciona como fator de escalonamento da
forma da corrente. A corrente da rede é realimentada, produzindo,
Figura 7.4 Circuitos simulados e formas de onda para carga resistiva e “senoidal”
em relação à referência de corrente, um erro o qual, passando por um
O amortecimento de tais oscilações pode e deve ser realizado compensador, produz a tensão de controle, que é comparada com a
pelo FAP. Mesmo nos sistemas que utilizam a imposição de corrente portadora MLP, gerando os pulsos para o comando dos transistores.

O SETOR ELÉTRICO
Maio 2007 21
F ASC Í CULO 1 / harmôni cos

Figura 7.7 Formas


de onda do FAP
no transitório de
partida: Corrente
no FAP (acima) e
corrente da rede
(abaixo).

b) Caso trifásico
A Figura 7.8 mostra o caso de uma carga não-linear balanceada
(retificador a diodos). Depois da compensação, as correntes na rede
Figura 7.5 Diagrama de controle de filtro ativo de corrente para sintetizar
carga resistiva. são similares às respectivas tensões, incluindo as distorções. As
transições rápidas não são completamente compensadas devido à
Para o emprego da técnica de síntese de carga resistiva, a limitação da resposta em freqüência da malha de corrente.
estrutura trifásica é em tudo análoga à monofásica. Devendo-se A DHT da corrente da carga é 25%. Depois da atuação do FAP, a
medir duas ou três correntes (dependendo se o sistema for a três ou distorção na corrente da rede diminui significativamente produzindo
a quatro fios) e determinando a referência a partir de multiplicações uma DHT de 5,2%.
entre um sinal proporcional à tensão e outro derivado da malha de
controle da tensão CC. Para um sistema a quatro fios deve haver
alguma modificação na topologia do inversor, por exemplo, com a
adição de um quarto ramo de chaves. Figura 7.8 Carga
7.2.2 - Resultados experimentais trifásica não linear
a) Caso monofásico balanceada: Acima :
Tensão (500V/div.);
Os resultados a seguir foram obtidos em um protótipo Meio : Corrente
monofásico. A carga não-linear é um retificador a diodos com filtro de linha após
compensação (5
capacitivo.
A/div.); Abaixo :
Na figura 7.6 têm-se os resultado da operação do filtro Corrente de carga
ativo. Nota-se que as distorções presentes na tensão também são (5 A/div).

observadas na corrente, indicando que a rede “vê” o conjunto


A Figura 7.9 mostra a resposta do FAP trabalhando com uma
carga e FAP como uma carga resistiva.
carga não-linear desbalanceada (retificador monofásico conectado
A figura 7.7 mostra um resultado transitório, onde se vê a
a uma das tensões de linha). Também neste caso o FAP é capaz de
corrente produzida pelo filtro que, somada à da carga, resulta na
compensar a carga, refletindo na rede uma carga linear (resistiva)
corrente filtrada na rede.
balanceada, ou seja, mesmo na fase na qual não há carga conectada,
surge uma corrente, imposta pelo FAP.

Figura 7.6 Tensão da rede (superior - 150V/div.), corrente na rede após Figura 7.9 Carga não-linear monofásica: Acima: Tensão (500V/div.); Meio: Correntes
compensação (intermediário - 5A/div.) e corrente na carga (inferior - 5A/div.) de linha após compensação (1 A/div.); Abaixo: Correntes de carga (1 A/div)

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22 Maio 2007
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Na Figura 7.10 mostra-se a resposta dinâmica do FAP a uma variação As limitações de potência estão ligadas à tecnologia dos
em degrau na carga. Observe que, ao ser aumentada a corrente da carga, semicondutores, o que torna difícil a construção de tais equipamentos,
ocorre uma redução na tensão do barramento CC, uma vez que a energia exceto para uso em baixa tensão.
consumida vem, inicialmente, do capacitor que alimenta o inversor. Uma vez
detectada essa redução, o circuito de controle atua no sentido de aumentar 7.4 - Referências Bibliográficas
Fabiana Pöttker de Souza: “Correção de fator de potência de instalações de baixa
a corrente absorvida da rede visando recuperar o valor de referência.
potência empregando filtros ativos” Tese de doutorado, UFSC, 2000.
Y. Komatsu, T. Kawabata, “A Control Method of Active Power Filter in Unsymmetrical
an Distorted Voltage System”, Proceedings of the Power Conversion Conference, Nagaoka,
Japan, vol.1, august 1997, pp. 161-168
T. E. N. Zuniga and J. A. Pomilio: “Shunt Active Power Filter Synthesizing Resistive Load”.
IEEE Trans. on Power Electronics, vol. 16, no. 2, march 2002, pp. 273-278.
F. P. Marafão, S. M. Deckmann, J. A. Pomilio, R. Q. Machado: “Selective Disturbance
Compensation and Comparison of Active Filtering Strategies“, IEEE – International Conference
on Harmonics and Quality of Power, ICHQP 2002, Rio de Janeiro, Brazil, October 2002.
S. M. Deckmann and F. P. Marafão, “Time based decompositions of Voltage, Current and
Power Functions,” in Proc. 2000 IEEE International Conference on Harmonics and Quality of
Power, pp. 289-294.
F. P. Marafão and S. M. Deckmann, “Basic Decompositions for Instantaneous Power
Components Calculation,” in Proc. 2000 IEEE Industry Applications Conf. (Induscon), pp. 750-
755.
L. Malesani, P. Mattavelli and P. Tomasin: “High-Performance Hysteresis Modulation
Technique for Active Filters”. Proc. of APEC ‘96, March 3-7, 1996, San Jose, USA, pp. 939-947.
H.-L. Jou, J.-C. Wu and H.-Y. Chu: “New Single-Phase Active Power Filter”. IEE Proc. -
Figura 7.10 Resposta do FAP a variações da carga: Tensão no barramento CC
(superior -50 V/div.) e corrente de linha (inferior - 5 A/div.).
Electric Power Applications, vol. 141, no. 3, May 1994, pp. 129-134.
F. Pöttker and I. Barbi: “Power Factor Correction of Non-Linear Loads Employing a Single
Phase Active Power Filter: Control Strategy, Design Methodology and Experimentation”. Proc.
7.3 - Conclusões
of the IEEE Power Electronics Specialists Conference - PESC’97, St. Louis, USA, June 1997, pp.
Os filtros ativos de potência são dispositivos muito eficazes na 412-417.
melhoria das formas de onda da rede elétrica. Seu uso como filtro de M. V. Ataíde e J. A. Pomilio: “Single-Phase Shunt Active Filter: a Design Procedure
corrente permite compensar as componentes harmônicas da carga (ou Considering EMI and Harmonics Standards”. Proc. of IEEE International Symposium on
Industrial Electronics, ISIE’97, Guimarães, Portugal, June 1997.
conjunto de cargas), também fornecer localmente a demanda de reativos
Project IEEE-519, IEEE Recommended Practices and Requirements for Harmonic Control
e, adicionalmente, criar caminhos para a corrente de modo que a rede in Electric Power System.
elétrica “enxergue” uma carga resistiva e equilibrada (no caso trifásico). S. P. Pimentel: “Aplicação de Inversor Multinível como Filtro Ativo de Potência”,
Embora tão poderoso, do ponto de vista funcional, o Dissertação de Mestrado, FEEC – Unicamp, 2006.
principal obstáculo para um uso mais generalizado é o custo do N. Baldo, D. Sella, P. Penzo, G. Bisiach, D. Cappellieri, L. Malesani and A. Zuccato: “Hybrid
Active Filter for Parallel Harmonic Compensation”. European Power Electronics Conference,
equipamento, que o faz conveniente, nos tempos atuais, apenas
EPE’93, Brighton, England, vol. 8, pp. 133-137
em situações muito críticas.

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da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp
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Encerramento e índice remissivo

Desde seu número inaugural, a revista O Setor Elétrico apresentado. Foi mostrado, inclusive com resultados de
publicou uma série de artigos com uma visão moderna do campo, que o uso destes filtros em redes dominantemente
problema da distorção harmônica e do fator de potência em de consumidores residenciais e comerciais pode ampliar a
instalações elétricas. distorção na tensão, devendo ser utilizados com muito critério.
Foram apresentados e discutidos aspectos normativos e A razão deste comportamento é que as cargas não-lineares
definições de grandezas elétricas importantes para o correto de uso residencial e comercial têm um comportamento que
entendimento do problema em um sistema elétrico, para o mais se aproxima de uma fonte de tensão, ao invés do modelo
qual não são mais suficientes as antigas definições associadas tradicional de fonte de corrente harmônica, mais adequado às
a grandezas puramente senoidais. cargas industriais.
Para que se tornasse possível o entendimento do que se Pode-se dizer que o principal objetivo desta seqüência de
pode fazer e quais as limitações da tecnologia atual na área artigos foi despertar o leitor para o fato de que o atual estágio
de eletrônica de potência, com vistas a mitigar os problemas de disseminação de cargas não-lineares pela rede elétrica não
de distorção harmônica, foram apresentados os principais mais permite supor que as formas de onda sejam senoidais. Em
componentes semicondutores de potência utilizados na alguns casos mais críticos, nem mesmo a tensão pode ser assim
construção de filtros ativos e outros conversores. considerada. E nesse mundo não-senoidal, novos conceitos
Tais conversores foram também discutidos, sendo precisam ser adotados para que se tenha um adequado
mostrada sua capacidade efetiva de melhorar a qualidade da entendimento do comportamento de uma instalação elétrica e
energia, embora também tenham sido realçadas as limitações, das cargas a ela conectadas.
especialmente em termos de potência. Para facilitar a busca e o download através do site da
Um capítulo sobre as técnicas convencionais de revista, confira abaixo o índice remissivo dos 16 fascículos e
compensação, através de filtros passivos, também foi seus principais tópicos.

O SETOR ELÉTRICO
22 Junho 2007
Apoio

Harmônicos
Edição 1 – fevereiro/2006 Edição 11 – dezembro/2006
Capítulo I - Fator de potência e distorção harmônica – parte 1 Capítulo IV – Efeitos e causas de harmônicas no sistema de energia
Edição 2 – março/2006 elétrica – parte 2
Capítulo I - Fator de potência e distorção harmônica – parte 2 Foram tratados os exemplos de motores e geradores,
Aspectos normativos e definições de grandezas elétricas importantes transformadores, cabos de alimentação, equipamentos
para o correto entendimento do problema em um sistema elétrico eletrônicos. Além disso, os efeitos nos aparelhos de medição,
nos relés de proteção e nos fusíveis

Edição 3– abril/2006
Edição 12 – janeiro/2007
Capítulo II – Normas relativas a fator de potência e distorção
Capítulo V – Compensação capacitiva e filtros passivos em redes
harmônica
secundárias – parte 1
Norma IEC 6100-3-2; Norma IEC 6100-3-4; Recomendações do
Edição 13 - fevereiro/2007
IEEE (IEEE-519); Regulamentação brasileira Capítulo V – Compensação capacitiva e filtros passivos em redes
secundárias – parte 2
Edição 4 – maio/2006 Edição 14 – março/2007
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 1 Capítulo V – Compensação capacitiva e filtros passivos em redes
Edição 5 – junho/2006 secundárias – parte 3
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 2 Técnicas convencionais de compensação, através de filtros passivos,
Edição 6 – julho/2006 com resultados de campo, mostram que o uso destes filtros em
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 3 redes dominantemente de consumidores residenciais e comerciais
Edição 7 – agosto/2006 pode ampliar a distorção na tensão. Análise do comportamento de
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 4 cargas não-lineares de uso residencial e comercial
Edição 8 – setembro/2006
Edição 15 – abril/2007
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 5
Capítulo VI – Condicionamento da corrente absorvida: pré-reguladores
Edição 9 – outubro/2006
de fator de potência – PFP
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 6
Métodos de condicionar o estágio de entrada de um conversor,
Breve revisão da física dos semicondutores, com a descrição
de modo a fazê-lo absorver uma corrente com forma de onda
dos vários tipos de componentes normalmente utilizados nos
que maximize o fator de potência
sistemas de potência.

Edição 16 – maio/2007
Edição 10 – novembro/2006 Capítulo VII – Filtros Ativos
Capítulo IV – Efeitos e causas de harmônicas no sistema de energia Descrição do uso dos filtros ativos para melhoria da qualidade
elétrica – parte 1 de energia

O SETOR ELÉTRICO
Junho 2007 23
F ASCÍCU LO 4 / MEDIÇÃO F A S O R I A L Gabriel Benmouyal
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Longueuil, Pq Canadá
E. O. Schweitzer, A. Guzmán
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Pullman, WA USA
Artigo publicado na 29ª versão do WPRC
( Western Protective Relay Seminar) em
Spokane-WA que se realizou entre 22 e 24

CAPÍTULO I
de outubro de 2002

MEDIÇÃO FASORIAL SINCRONIZADA DOS


RELÉS DE PROTEÇÃO PARA CONTROLE,
PROTEÇÃO E ANÁLISE DE SISTEMAS
ELÉTRICOS DE POTÊNCIA
RESUMO pois também são relativamente caros e, portanto, são aplicados somente
nos sistemas críticos. Atualmente, os relés de distância são disponibilizados
A facilidade de acesso aos sistemas de sincronização de tempo incluindo os recursos de medição fasorial sincronizada. À medida que esses
baseados nos satélites e os avanços na tecnologia dos computadores relés começam a ser amplamente usados, principalmente nos sistemas de
tornaram possível a sincronização de amostras dos relés de proteção extra-alta tensão, a função de medição fasorial está se propagando. Não
dentro da faixa de 1 s. Dessa forma, esses relés podem fornecer medições é mais necessário justificar o recurso de medição fasorial uma vez que ele
fasoriais sincronizadas, o que elimina a necessidade de ter diferentes vem “sem custos” com a proteção de linhas.
dispositivos para proteção, controle e análise do sistema elétrico de Assim como ocorreu com o caso da função de localização de faltas,
potência nas aplicações ao longo do sistema e nas aplicações tradicionais precisamos entender como funciona a medição fasorial e o que ela pode
de proteção. As aplicações ao longo do sistema têm diferentes requisitos de fazer por nós. Este é o objetivo deste paper.
amostragem e processamento de sinais quando comparadas às aplicações Inicialmente, vamos definir cuidadosamente fasores e fasores
tradicionais de proteção. Esses diferentes requisitos são normalmente sincronizados. Uma norma IEEE define a referência de tempo absoluto
atendidos por diferentes dispositivos, sendo um dispositivo para cada para fasores como sendo o início do segundo. A precisão de tempo desses
função específica. Este paper propõe a combinação das aplicações acima pontos é conhecida como estando dentro da faixa de um microssegundo
mencionadas em um único equipamento através de um sistema flexível se houver receptores do relógio do satélite disponíveis. A norma não
de processamento de sinais. A adição da medição sincronizada de fasores define a fase para grandezas fora de freqüência (“off-frequency”), tal
em um relé de proteção tem como resultado o aumento da confiabilidade como num sistema operando a 59,8 Hz. Este paper define com clareza
do sistema de potência e fornece recursos mais simples para proteção, a fase absoluta, mesmo para as freqüências diferentes da nominal (“off-
controle e análise de perturbações do que os fornecidos pelos métodos nominal frequency”).
que usam diferentes fontes de informação. Analisaremos a fase como um indicador do comportamento dinâmico
Palavras-chave: freqüência, relés de proteção, amostragem, de um sistema de potência, uma vez que ela é bastante considerada nas
medição fasorial sincronizada, sincronização de tempo. equações da dinâmica da oscilação.
O artigo técnico tem o cuidado de reconhecer que os fasores
INTRODUÇÃO representam sistemas operando no estado de regime. Se um sistema
está oscilando, ou se ocorre uma falta, existem transitórios elétricos e
Existe, provavelmente, um paralelo histórico entre a localização mecânicos, e temos de ser muito cuidadosos para calcular magnitude
de faltas e a medição fasorial dos relés digitais. Duas décadas atrás, os e fase, assim como temos também de ser igualmente cuidadosos na
localizadores de falta independentes (“stand-alone”) eram raramente forma de usar ou interpretar essas grandezas durante transitórios. Vamos
usados. Eles eram relativamente caros e eram usados somente nas linhas mostrar um método que usa um valor médio de operação de três ciclos, o
mais críticas e problemáticas. Surgiram, então, os relés de distância que significa atualizações da medição de fases de 20 vezes por segundo,
que incluíam a função de localização de faltas, os quais foram aceitos ou aproximadamente a cada 50 ms. Isso é rápido o suficiente para
rapidamente. Após uma década, tornou-se impossível imaginar um relé acompanhar a ação eletromecânica do sistema, e lento o suficiente para
de distância sem os recursos de localização de faltas. filtrar o comportamento do transitório elétrico.
Hoje, os dispositivos de medição fasorial sincronizada “stand-alone” Analisaremos diversos métodos de amostragem e processamento de
já estão disponíveis há algum tempo. Eles não são amplamente usados, sinais e mostraremos que a forma preferida para medição fasorial é a de
O SETOR ELÉTRICO
24
24 Julho 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
amostrar inicialmente os sinais usando um relógio de amostragem que mensagens não solicitadas são geradas automaticamente, a uma taxa
está em sincronia absoluta de tempo. Cada amostra é então obtida a um especificada, e podem ser comparadas com a saída do transdutor. As
tempo absoluto preciso e conhecido. A fase é calculada a partir dessas mensagens solicitadas fornecem visualizações instantâneas (“snapshots”)
amostras. A magnitude é calculada após uma reamostragem, a uma em instantes especificados pelo usuário.
freqüência múltipla da freqüência real do sistema, usando filtros Fourier. Finalmente, vamos abordar as fontes de erros e concluir que valores
Dessa forma, o relé mede a fase absoluta, assim como a tensão, de precisão menores do que um grau elétrico podem ser obtidos de
corrente, potência e potência reativa. Logo, o relé é também um transdutor. forma rotineira. A maior fonte de erro é a do erro causado pelo CCVT
Esse transdutor mede as variáveis de estado e outras informações (“Coupling Capacitor Voltage Transformer”).
relacionadas ao relé de proteção. Agora que a medição fasorial começa a ser distribuída “sem custos”,
Os recursos citados acima, mais os avanços referentes à acessibilidade, será fascinante observar as diversas aplicações criativas resultantes e os
disponibilidade, rapidez e confiabilidade dos sistemas de comunicação de inúmeros problemas graves que serão solucionados.
longo alcance, tornam práticos os novos métodos de controle e monitoração
da estabilidade do sistema. Pode ser observado, por exemplo, um sistema FORMAS DE ONDA DE TENSÃO E CORRENTE
com uma área abrangente em que os relés medem e transmitem as VS. TEMPO E DEFINIÇÃO FASORIAL
variáveis de estado para um ou mais elementos de processamento a
cada décimo de segundo. Os elementos de processamento, por sua vez, A Origem dos Fasores
avaliam o estado do sistema como um todo e efetuam o controle de toda Originalmente, os fasores foram introduzidos com o propósito de
a área e outras decisões. transformar as equações diferenciais de circuitos elétricos em equações
O problema relacionado aos dez minutos de estimação do estado algébricas comuns. Como exemplo, considere o circuito da Figura 1.
é reduzido para uma prática de 0,1 segundo de medição do estado! O
aparecimento e a ampla disponibilização de relés incorporando recursos R R
V • cos ( w • t + f )

de medição fasorial é uma grande oportunidade para os fornecedores de V 0


jw• L
i(t) l q
estimadores de estado simplificarem seus cálculos para obter estimativas
de estado mais precisas, de forma mais rápida, possivelmente através de
sistemas computacionais menores e mais confiáveis.
As medições sincronizadas também facilitam a análise dos registros
A B
oscilográficos, pois todos os registros podem ser imediatamente
A) Circuito no domínio do tempo
comparados.
B) Circuito no domínio da freqüência
O artigo técnico também descreve dois tipos de saída das informações:
Figura 1 Circuito elétrico RL nos domínios de tempo e
mensagens binárias não solicitadas e mensagens ASCII solicitadas. As
freqüência

SE 1270

O SETOR ELÉTRICO
Julho 2006 225
F ASCÍCU LO 4 / MEDIÇÃO F A S O R I A L
A solução da seguinte equação diferencial fornece a solução os fabricantes de equipamentos criarem suas próprias definições; a norma
para a corrente do circuito não possui requisitos relativos à precisão da medição da magnitude dos
fasores para valores diferentes dos da freqüência nominal do sistema (50
di (t)
V • cos ( w • t + f ) = R • i(t) + L (1) Hz ou 60 Hz).
dt
Para as formas de onda em tempo real, é necessário definir uma refe­
Sendo o circuito linear, a solução para a corrente tem a rência de tempo para medir os ângulos de fase de forma sincronizada [3].
seguinte forma: A Norma IEEE 1344-1995 [2] define o início do segundo como a referência
de tempo para estabelecer o valor do ângulo de fase do fasor. A convenção
i (t) = I • cos( w • t + q ) (2)
para medição fasorial sincronizada está demonstrada na Figura 2.
Podemos representar os fasores de tensão e corrente como
números complexos na forma exponencial:
V = V • cos ( w • t + f )
V
(3) Início do segundo
V = V • e jj e I = I • e jq f = 0°
V V
V 0°
O Apêndice mostra que podemos expressar a Equação 1 na
forma algébrica, conforme mostrado a seguir: t

V
V • e jj = (R + j w • L) I • e jq (4) Início do segundo
f = -90°
V
A solução para a corrente é:
V -90° V
t
I • e jq = V•e jj
(5)
R + jw • L
Figura 2 Convenção para medição fasorial sincronizada em
A partir desse exemplo, podemos concluir o seguinte: relação ao tempo
1) Um fasor é um número complexo associado a uma onda senoidal. A
A medição do ângulo de fase instantânea permanece constante
magnitude do fasor é a mesma que a magnitude da onda senoidal. O
para freqüência nominal se estiver usando a referência do início
ângulo de fase do fasor é a fase da onda para t = 0.
do segundo para a fase. Se o sinal estiver fora da freqüência
2) Os fasores são normalmente associados a uma única freqüência.
nominal (“off-nominal frequency”), a fase instantânea varia com
3) Para ser possível remover a dimensão de tempo da solução quando
o tempo. Veremos posteriormente que a escolha dessa referência
da aplicação da transformação fasorial, todos os parâmetros do sistema
tem influência sobre a medição do ângulo de fase do fasor para
têm de ser constantes.
freqüência “off-nominal”.
4) Não é necessário definir uma escala de tempo ou uma referência de
A Norma IEEE 1344-1995 [2] define a forma de onda para o
tempo nos estudos teóricos do estado de regime, pois a dimen­são de
estado de regime onde a magnitude, a freqüência e o ângulo de
tempo foi removida das equações finais baseadas em fasores.
fase da forma de onda não variam. Essa norma não inclui requisitos
5) Nos estudos de sistemas de potência, a aplicação de fasores ocorre
relativos à performance da medição dos fasores para uma forma de
em todas as situações em que os parâmetros são constantes, e nós
onda no estado transitório.
temos uma freqüência única. Os programas de fluxo de carga ou de
curto-circuito são exemplos de tais estudos. Para análise de transitórios
Medição de Fase para Freqüências Diferentes da Nominal
eletromagnéticos, as equações diferenciais do sistema são normalmente
Vamos considerar a função seguinte representando a tensão na
resolvidas no domínio do tempo. Ferramentas tais como o EMTP
barra de um diagrama do sistema de potência:
(“Electromagnetic Transient Program”) ou “Power System Blockset”
são exemplos deste método. Teoricamente, nos sistemas de potência V (t) = V • cos (2 • p • f • t+ f ) (6)
reais, somente podemos aplicar os fasores para as condições de regime.
Entretanto, conforme veremos posteriormente, podemos ainda aplicar o O argumento da função coseno na Equação 6 é:

conceito fasorial para as condições transitórias e obter bons resultados. q (t) = 2 • p • f • t+ f ) (7)

Definição de Fasores Sincronizados Para freqüências diferentes da nominal, podemos representar o


A definição de um fasor sincronizado ou em tempo real fornecida argumento, q , da função coseno, como sendo:
pela Norma IEEE 1344-1995 corresponde à definição convencional
q (t) = 2 • p • fNOM • t + 2 • p • Df • t + f (8)
descrita anteriormente, pelo menos para a freqüência nominal. Para
valores diferentes da freqüência nominal, a norma abre o caminho para Onde: Df = f – fNOM
O SETOR ELÉTRICO
26
26 Julho 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
Se subtrairmos de q a medição do ângulo resultante da fre­ Se compararmos a medição do ângulo, b, em dois pontos
qüência nominal, 2 • p • fNOM • t, obtemos a medição do ângulo que com f constante, a diferença angular, Db, é constante e igual a fD,
inclui a medição do ângulo gerado pelo desvio de freqüência em conforme mostrado na Figura 4, considerando que a comparação
relação à freqüência nominal, 2 • p • Df • t , mais o ângulo de fase do ângulo de fase ocorre exatamente ao mesmo tempo.
para t = 0, f. A seguir, temos a equação representando a nova Db(t) = bD (t) – bb (t) = fD (10)
medição do ângulo:
XL
b(t) = 2 • p• Df • t + f (9)

Para freqüência nominal, Df = 0, b(t) = f. Para freqüência “off- b A B


bA
nominal”, b vai variar com o tempo. A Figura 3 mostra b para Df > 0.

fD

bB

fA

f fB
t t

Figura 3 Medição de fase para freqüência diferente da Figura 4 Medição de fase em dois pontos para
nominal (“off-nominal”) e Df > 0 freqüência“off-nominal”
Continua na próxima edição

SE 1275

O SETOR ELÉTRICO
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F ASCÍCU LO 4 / MEDIÇÃO F A S O R I A L Gabriel Benmouyal
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Longueuil, Pq Canadá
E. O. Schweitzer, A. Guzmán
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Pullman, WA USA
Artigo publicado na 29ª versão do WPRC
( Western Protective Relay Seminar) em
Spokane-WA que se realizou entre 22 e 24
de outubro de 2002

CAPÍTULO I Parte 2
Introdução e Formas de Onda de
Tensão e Corrente vs. Tempo e
Definição Fasorial
Fase como Indicador do Comportamento M = J • w (15)

Dinâmico de um Sistema de Potência Através da Equação 16, podemos representar a potência de


aceleração, Pa, como uma função da aceleração angular, a, e como
As máquinas síncronas devem se adaptar às diferentes condições uma função da posição angular do rotor, q.
de operação quando estiverem trocando potência ativa ao longo do d2q
sistema de potência [4]. As máquinas aceleram ou desaceleram para P a = Ta • w = M • a = M •
dt2 (16)

se adaptar às mudanças nos requisitos de transferência de potência Podemos expressar a posição angular do rotor em relação a
que ocorrem durante perturbações no sistema. A dinâmica do uma referência síncrona que gira na velocidade síncrona, wsyn.
sistema de potência envolve as propriedades elétricas, assim como A posição angular do rotor q é igual ao ângulo de fase devido
as propriedades mecânicas, das máquinas elétricas do sistema. Para à referência de rotação síncrona, wsyn • t, mais o defasamento
o propósito desta discussão, considere uma máquina síncrona com angular da referência de rotação síncrona, d, conforme mostrado
dois pólos em que os graus elétricos e mecânicos sejam iguais. na Equação 17.
A diferença entre o torque no eixo, Tm, e o torque eletromecânico, q(t) = wsyn • t + d (17)

Te, de uma máquina, determina o torque de aceleração, Ta, A velocidade angular, w, é:


conforme mostrado pela Equação 11. Nos geradores, Ta > 0 acelera
w = dq = wsyn + dd
a máquina. dt dt (18)

Ta = Tm - Te (11) Obtendo a derivada da velocidade angular, podemos reescrever


Podemos representar a potência, P, como uma função do torque, a Equação 16 como uma função de d:
T, de acordo com a Equação 12. d2d
P = T • w Pa = M •
(12) dt2 (19)

onde: Podemos expressar a Equação 19 como uma função da constante


T é o torque, N•m de inércia, H, com a potência expressa em pu, conforme:
w é a velocidade angular, rad/s 2
P a = Pm -Pe = 2 • H • d d2 = 2 • H • d w2
2
Conforme pode ser visto na Equação 13, a variação da posição wsyn dt wsyn dt (20)

angular do rotor, q, em relação ao tempo, determina a velocidade onde:


angular, w. Pm é a potência mecânica fornecida para o gerador, pu
w = dq
dt (13) Pc é a potência elétrica fornecida para o sistema, pu
O torque, T é uma função do momento de inércia, J, e da H é a constante de inércia, s
aceleração angular, a, de acordo com a Equação 14. A Equação 20 é conhecida como a equação da oscilação; uma
T = J • a (14) equação de oscilação por máquina é necessária para modelar a
onde: dinâmica do sistema. Se a equação carga-geração for equilibrada
J é o momento de inércia, kg•m2 (carga total igual à geração total), as velocidades das máquinas são
a é a variação da velocidade angular em relação ao tempo, rad/s2 praticamente iguais à velocidade síncrona.
Conforme pode ser visto na Equação 15, o momento angular M Os defasamentos angulares d, das máquinas de um sistema,
é uma função do momento de inércia, J, e da velocidade angular, w. fornecem informações sobre a dinâmica do sistema. Esse

O SETOR ELÉTRICO
32 Agosto 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
defasamento angular não pode ser medido mecanicamente. No estado de regime, os fasores medidos em tempo-real, de
As variações do ângulo de fase podem ser estudadas através da acordo com a definição original, constituem a solução de qualquer
computação do fasor de tensão atrás da reatância transitória da conjunto de equações do sistema que está sendo considerado.
máquina, visando obter uma imagem do defasamento angular da Como exemplo, considere os fasores sincronizados da tensão
máquina. Na prática, os modos de oscilação da máquina podem ser de seqüência-positiva (“positive-sequence voltage” – PSV) nas
determinados pela medição do ângulo de fase do fasor de tensão de extremidades de uma linha tal qual a modelada na Figura 5.
seqüência-positiva nos terminais da máquina. Isto será demonstrado
Pij
posteriormente no texto.
Qij
Yij vj 0
Tensão, Freqüência e Ângulo de Fase vi dij

A freqüência tem um significado especial quando se trata


da medição dos fasores em tempo real. Os fasores representam,
Ysh
basicamente, um conceito aplicado considerando uma única
freqüência. Em um sistema real, podem ocorrer situações em que a
freqüência seja diferente daquela de valor nominal.
As Equações 18 e 20 determinam a velocidade do gerador, e a Figura 5: O fluxo de potência da linha depende dos ângulos e
magnitudes da tensão do terminal
velocidade do gerador determina a freqüência na saída do gerador.
Quando cada equação de oscilação do gerador atinge o equilíbrio,
a freqüência de operação é a mesma em todos os pontos do
A relação entre os fluxos de potência ativa e reativa da linha e os
sistema, e nós podemos representar a tensão na barra, o ângulo
fasores de PSV das barras da linha é fornecida pelas duas equações
de fase e a velocidade angular através das Equações 6, 17 e 18,
seguintes:
respectivamente.

Durante uma perturbação no sistema (falta, perda de geração ou
dij + imag(Y
Pij = Vi2 • real( Ysh + Yij )– Vi • V j [real(Yij)cos )sind ] (22)

uma variação de carga de grande vulto), tanto a velocidade angular ij

quanto o ângulo de fase são submetidos às alterações de carga.


Podemos reescrever a Equação 18 como uma função da freqüência Q ij = Vi2 • imag(
Ysh + Yij )– Vi • V j [real(Yij)sind

ij

– imag(Yij
)cosd
ij
] (23)
e ângulo de fase, conforme mostrado a seguir:
O cálculo dos fasores sincronizados em tempo real ocorre através

f = fsyn + 1 • dd do uso dos sistemas de filtragem [5, 6, 7, 8]. No estado de regime,
2 • p dt (21)
o valor do fasor é independente do sistema de filtragem; sistemas
onde:
diferentes de filtragem fornecem a mesma saída.
fsyn é a freqüência à velocidade síncrona, Hz
Podemos definir o estado transitório de um sistema de potência
A Equação 21 indica que, durante uma perturbação de
como a condição em que a magnitude, o ângulo de fase ou
grande vulto, a freqüência local e o ângulo de fase local variam
a freqüência de uma ou mais tensões da barra passa a ser uma
simultaneamente. Veremos, mais tarde, que esse comportamento
função do tempo. Uma outra definição do estado transitório pode
tem algumas conseqüências diretas na forma que a medição fasorial
ser a condição do sistema existente entre dois estados estáveis.
é processada em relação à freqüência de amostragem do sinal: fixa
Isso significa que uma condição de estado transitório vai existir
ou adaptativa.
em seguida a toda mudança que ocorrer no sistema. Fasores,
Representação Fasorial dos por definição, não podem representar o valor exato das variáveis
Estados de Regime e Transitório correspondentes no estado transitório. A quantidade de erro no
estado transitório vai depender enormemente da capacidade de
Em um sistema de potência, podemos definir o estado de regime rastreamento da freqüência do sistema de filtragem, a qual, por sua
como a situação em que a geração e a carga estão praticamente vez, depende da resposta da freqüência e do tempo de resposta.
(dentro de uma margem de erro aceitável) equilibradas e a relação No estado transitório, deve-se esperar que dois sistemas
carga-freqüência atingiu um ponto de equilíbrio (isto é, a freqüência diferentes de filtragem forneçam saídas diferentes. Embora os fasores
do sistema é igual à freqüência nominal). No estado de regime, sincronizados apresentem os mesmos erros no estado transitório, o
portanto, as formas de onda de tensão e corrente em relação ao nível dos erros é normalmente aceitável; as aplicações no estado
tempo têm ângulo de fase, freqüência e amplitude constantes. transitório devem ser consideradas viáveis e confiáveis. A situação
Apesar de normalmente considerarmos a freqüência constante no é similar à da aplicação de fasores nos relés de proteção: fasores de
estado de regime como sendo a freqüência nominal do sistema, tensão e corrente, embora calculados no estado transitório, ainda
essa suposição nem sempre é verdadeira. podem executar a tarefa de detecção de faltas.
Continua na próxima edição

O SETOR ELÉTRICO
Agosto 2006 33
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de outubro de 2002

CAPÍTULO II
MÉTODOS ATUAIS DE AMOSTRAGEM E
PROCESSAMENTO DE SINAIS

A seguir, uma descrição sucinta dos métodos atuais de


Relógio
amostragem e processamento de sinais para medição fasorial
Local
sincronizada, oscilografia, análise de harmônicos e proteção de
distância de linhas. Primeiro, vamos descrever a amostragem Intervalo de
em intervalos fixos de tempo (número constante de amostras Amostragem

por segundo) com e sem uma referência de tempo absoluto. fs


Em seguida, vamos discutir a amostragem em múltiplos da
freqüência de operação do sistema de potência (número Canal Analógico LPF via Oscilografia e Análise
A/D
V ou I Hardware de Harmônicos
constante de amostras por ciclo do sistema de potência).
Figura 6: Amostragem em intervalos fixos de tempo com um relógio
Amostragem em Intervalos de Tempo Fixos local para análise de harmônicos e oscilografia

A principal vantagem deste sistema de aquisição é que os dados


Tradicionalmente, os registradores digitais de perturbações preservam as informações de freqüência do sistema de potência. Por
(RDPs) efetuam a aquisição de dados em intervalos fixos de exemplo, você pode analisar as excursões da freqüência no sistema de
tempo para propiciar a análise de harmônicos e oscilografia potência durante perturbações no mesmo. Esse sistema de aquisição
das tensões e correntes. Por exemplo, os RDPs usam taxas de dados é também adequado para medição fasorial sincronizada
de amostragem (fs) de 1 quiloamostra/segundo (“kilosample/ (Figura 7) quando uma fonte de tempo externa com referência de
second” – kSPS) ou mais rápidas. As amostras são sincronizadas tempo absoluto estiver determinando o intervalo de amostragem [9].
através de uma fonte de tempo interna ou uma fonte de tempo
externa. Em algumas aplicações, a fonte de tempo externa é Recpetor
de GPS
uma referência de tempo absoluto proveniente de um receptor
do sistema de posicionamento global (“global positioning
Sincronismo
system” – GPS). A Figura 6 mostra um diagrama de blocos de tempo
típico de aquisição de dados do RDP com aplicações tradicionais
fs
do RDP (tal como oscilografia e análise de harmônicos) usando
uma fonte de tempo interna. A figura inclui um filtro passa- Canal Analógico LPF via
Medição Fasorial
A/D Sincronizada, Oscilografica
baixa (“low-pass filter” – LPF) via hardware anti-aliasing e um V ou I Hardware
e Análise de Harmônicos
conversor analógico-digital (A/D) para conversão analógica para Figura 7: Amostragem em intervalos fixos de tempo com referência
digital. de tempo absoluto para medição fasorial sincronizada, análise de
harmônicos e oscilografia

O SETOR ELÉTRICO
30 Setembro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
Uma pequena variação deste método é o sistema de amostragem outros métodos de estimação da freqüência executam a mesma
que usa uma taxa de amostragem fixa (fs), que é um valor múltiplo da tarefa [11]. Os dados amostrados passam por um filtro digital passa-
freqüência nominal do sistema (fNOM). Por exemplo, 960 amostras/ banda (“digital band-pass filter” – DBPF), após o que o sinal filtrado
segundo (SPS) pode ser a taxa de amostragem. Essa taxa é 16 vezes a está pronto para aplicações da proteção de distância de linhas. Esse
freqüência nominal (fNOM) num sistema de potência de 60 Hz. método reduz os erros dos cálculos fasoriais; o erro remanescente
A amostragem em intervalos de tempo constantes é adequada depende somente do erro de estimação da freqüência, normalmente
para aplicações múltiplas de proteção tal como a proteção diferencial menor do que 0,01 Hz. Uma desvantagem desse método é que a
de corrente [10], porém ela introduz erros não desejados em aplicações medição fasorial não usa o tempo absoluto como referência para
de proteção tal como a proteção de distância de linhas. Uma forma aplicações da medição fasorial sincronizada. O método necessita de
comum de obter as informações dos fasores para as aplicações de uma referência de tempo absoluto para tais aplicações.
proteção é a de calcular a Transformação Discreta de Fourier (“Discrete
fsys
Fourier Transform” – DFT) do sinal amostrado. Está bem documentado
no artigo da referência [11] que esse cálculo fasorial não é exato quando fsys Xk
o sistema de potência estiver operando com freqüências diferentes da
nominal. A Figura 8 mostra o desvio em relação ao ideal do cálculo Estimativa da
Freqüência do
fasorial para ângulos entre 0º e 360º. Esses erros nos cálculos podem sistema
causar atuação incorreta do elemento de distância [12]. O sistema de fs

aquisição de dados requer informações sobre a freqüência de operação


do sistema de potência para minimizar os erros do cálculo fasorial, Canal Analógico LPF via
A/D DBPF
Proteção de
V ou I Hardware distância da Linha
conforme poderá ser visto posteriormente.
Figura 9: Amostragem em múltiplos da freqüência de operação do
10 sistema de potência para proteção de distância de linhas

8
Fasores Amostragem em Intervalos Fixos de
Ideais
6 Tempo com Filtragem Adaptativa

4
Podemos usar amostras obtidas em intervalos de tempo fixos para
2 calcular fasores com um mínimo de erro. Neste método (ver Figura
Imaginário

10), o sistema de aquisição de dados estima a freqüência de operação


0
Fasores do sistema de potência e usa essas informações da freqüência para
Calculados
-2 modificar os coeficientes do filtro referentes ao filtro digital passa-
banda. Esse método é interessante, pois minimiza os erros dos cálculos
-4
fasoriais sem precisar de um número constante de amostras por ciclo.
-6 Uma desvantagem desse método é que ele não fornece uma referência
de tempo comum para diversos dispositivos conectados em diferentes
-8
pontos do sistema de potência e também não é adequado para medições
-10 fasoriais sincronizadas. A Patente US Número 6,141,196 [14] descreve
-10 -5 0 5 10
Real um método que usa uma filosofia similar.
Figura 8: Erros do cálculo fasorial para freqüências “off-nominal” Estimativa da
Freqüência do fsys
sistema
Amostragem em Múltiplos da Freqüência de
Operação do Sistema de Potência
Canal Analógico LPF via Proteção de
A/D DBPF
A amostragem em múltiplos da freqüência de operação do sistema V ou I Hardware distância da Linha

de potência minimiza os erros dos cálculos fasoriais quando o sistema


estiver operando com freqüências diferentes da nominal. A Figura 9 fs Oscilografia e Análise
Figura 10: Amostragem de Harmônicos
mostra este tipo de sistema de aquisição de dados. O sistema calcula em intervalos fixos de Intervalo de
Amostragem
a freqüência de operação do sistema de potência (fSYS) e usa essas tempo com filtragem
adaptativa para
informações da freqüência para obter a freqüência de amostragem
oscilografia, análise de Relógio
(fS) como um múltiplo da freqüência de operação do sistema. A harmônicos e proteção Local
Referência [13] descreve um método de estimação da freqüência; de distância de linhas

Continua na próxima edição

O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2006 31
F ASCÍCU LO 4 / MEDIÇÃO F A S O R I A L Gabriel Benmouyal
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Longueuil, Pq Canadá
E. O. Schweitzer, A. Guzmán
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Pullman, WA USA
Artigo publicado na 29ª versão do WPRC
( Western Protective Relay Seminar) em
Spokane-WA que se realizou entre 22 e 24
de outubro de 2002

CAPÍTULO III
Amostragem e Processamento de Sinais para
Medição Fasorial Sincronizada e Proteção de
Distância de Linhas (Patente Pendente)
Os métodos de aquisição de dados discutidos anteriormente as aplicações de medição fasorial sincronizada, oscilografia e análise de
fornecem soluções apropriadas para as aplicações de medição fasorial harmônicos. Os dados com alta taxa de amostragem passam através
sincronizada que requerem amostragem com referência de tempo de um filtro digital passa-baixa (“digital low-pass filter” – DLPF) antes
absoluto, ou aplicações da proteção de distância de linhas que requerem que a amostragem e a reamostragem sejam efetuadas. O amostrador
amostragem em múltiplos da freqüência de operação do sistema de fornece os dados a uma taxa menor para estimação da freqüência.
potência. A Figura 11 mostra a aquisição de dados e o processamento Uma das entradas do reamostrador (“resampler” – RSMP) é o sinal
de dados adequados aos dois tipos de aplicação. Este sistema de filtrado . A segunda entrada para o reamostrador é a freqüência de
aquisição e processamento de dados é parte de um dispositivo para operação do sistema de potência (fSYS) . O reamostrador fornece os
múltiplas aplicações no sistema de potência, o qual será descrito nas dados a uma taxa que é um valor múltiplo da freqüência de operação
seções seguintes. (fSYS), por exemplo, 32 • fSYS. Os dados reamostrados passam através
de um filtro digital passa-banda (DBPF). O DBPF tem coeficientes fixos
Amostragem e Processamento de Sinais para que não dependem da freqüência de operação do sistema de potência
Aplicações Múltiplas no Sistema de Potência (fSYS). Os dados filtrados estão prontos para as aplicações da proteção
de distância tal como a Referência [15] descreve. Os dados filtrados
O dispositivo para múltiplas aplicações coleta os dados em intervalos são também disponibilizados para calcular a magnitude do fasor
fixos de tempo; a freqüência de amostragem (fS) depende do sinal do sincronizado, conforme será visto posteriormente.
relógio externo (receptor de GPS) com referência de tempo absoluto. A Figura 12 mostra uma variação deste sistema de amostragem e
Para as aplicações de medição fasorial sincronizada, o dispositivo usa a processamento de sinais, no qual a amostragem é baseada no relógio
referência de tempo do GPS. Após o conversor A/D ter obtido os dados, local. A reamostragem nessa variação usa a referência de tempo
esses dados são calibrados para compensar os erros da aquisição de absoluto do receptor de GPS e a freqüência de operação do sistema
dados do hardware. Os dados calibrados são disponibilizados a uma para reamostrar os dados em uma freqüência específica dependendo
taxa de amostragem alta (ex., 8 kSPS); esses dados são adequados para dos requisitos da aplicação.

LPF = Filtro Passa-Baixa via hardware


A/D = Conversor Analógico-Digital 3 4
CAL = Calibração Receptor Estimativa de
de GPS Freqüência
DLPF = Filtro Passa-Baixa Digital
RSMP = Reamostrador
DBPF = Filtro Passa-Banda Digital
Sincronismo fsys
Amostragem
de Tempo

fs

1 2 5 6
Canal Analógico LPF via Proteção de
A/D CAL DLPF RSMP DBPF
V ou I Hardware Distância da Linha

Medição Fasorial Sincronizada,


Oscilografica e Análise de Harmônicos

Figura 11 - Amostragem com referência de tempo absoluto para aplicações de medição fasorial sincronizada e reamostragem em múltiplos da
freqüência de operação do sistema de potência para as aplicações da proteção de distância de linhas

O SETOR ELÉTRICO
38 Outubro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
Média de LPF Butterworth
Relógio Receptor *-sen(2•p•60•t) Operação de de 4ª Ordem 1 f
Local de GPS 3 ciclos fe = 18 HZ Fasor
X Cálculo
+ do Ângulo X V f
j
Intervalo de Sincronismo V
Amostragem de Tempo X Média de LPF Butterworth Magnitude a
Operação de de 4ª Ordem partir de um
fs *-sen(2•p•60•t) 3 ciclos fe = 18 HZ Filtro Cosseno
Proteção de com FreqUência
Distância da Linha de Amostragem
Canal
LPF via * Sinais de referência com tempo sincronizado Adaptativa
Analógico A/D RSMP
Hardware
V ou I
Proteção de Figura 13 Princípio da medição com fasores desacoplados
distância da Linha
Estimativa da Performance do Algoritmo de Desacoplamento
Freqüência do fsys
sistema
Figura 12 - Amostragem em intervalos fixos de tempo com um Avaliamos, inicialmente, a capacidade de o algoritmo de
relógio local e reamostragem de acordo com a referência de tempo desacoplamento executar a medição do ângulo de fase para
absoluto e freqüência de operação do sistema de potência freqüências diferentes da freqüência nominal. A Equação 28 e a
Equação 29 definem duas formas de onda v1(t) e v2(t):
Um Algoritmo para Desacoplamento das Medições da
Magnitude do Fasor e do Ângulo de Fase (
V1(t)= cos 2•p•59.5•t+
p
) (28)
4

Considerando que um sistema com amostragem adaptativa


permite a medição da magnitude fasorial ao longo de um intervalo
V2(t)= cos 2•p•59.5•t( ) (29)

amplo de freqüência e que um sistema com freqüência de Essas formas de onda são processadas através do algoritmo de
amostragem fixa possibilita impedir a medição da freqüência local, desacoplamento, e os ângulos de fase resultantes estão mostrados
a combinação desses dois sistemas vai otimizar a performance da na Figura 14.
medição fasorial. Tal sistema está mostrado na Figura 13. Considere Pode ser visto que, em ambos os casos, a taxa de variação dos
a forma de onda de tensão da Equação 6 e efetue a multiplicação ângulos de fase é constante e é igual a –180º/s:
dessa forma de onda pelo fasor da unidade com tempo sincronizado,
df1 df2
de acordo com a seguinte equação: = = prad / s = -180º / s (30)
dt dt

V = V • cos(2•p•fNOM•t+f)e-j2pfNOMt (24) Após a resposta transitória ter sido desconsiderada, a Equação

a qual pode ser expressa, de outra forma, através da Equação 25: 31 fornece a diferença do ângulo de fase no estado de regime entre
os dois fasores para qualquer tempo síncrono:
V = V [ej2pfNOMt • ejf + e-j2pfNOMt • e-jf ] e-j2pfNOMt (25) f1 - f2 =
p
rad= 45°
2 (31)
4

ou através da Equação 26: 60

V = V [ ejf + e-j4pfNOMt • e-jf ] (26) 40


2 Ângulo V1
20
Ângulo em Graus

Ângulo da relação V1 / V2
Se filtrarmos a componente de freqüência dupla, obtemos
0
Ângulo V2
finalmente a Equação 27
-20
V = V • ejf (27) -40
2
-60
O fasor calculado é o fasor da forma de onda original com a
magnitude dividida pela metade. Uma vez que usamos um sinal na -80
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4
velocidade síncrona para demodular o sinal de entrada, a magnitude do Tempo (s)
fasor calculado não vai representar corretamente a magnitude do sinal Figura 14 Diferença do ângulo de fase entre dois fasores para
freqüência “off-nominal”
de chegada para freqüência “off-nominal”. Para obter uma estimativa da
magnitude do fasor independente da freqüência, usamos a magnitude do Para avaliar o comportamento dinâmico do algoritmo de desaco­
cálculo fasorial para funções de proteção que tenham sido processadas plamento, vamos relembrar o problema clássico de um gerador conectado
através de um sistema com freqüência de amostragem adaptativa. O fasor a uma barra infinita, através de uma linha de transmissão, para diferentes
final combina as duas saídas: magnitude em um lado e ângulo de fase no condições de falta e de operação. A Figura 15 mostra o sistema que
outro. A função exponencial da unidade que multiplica o sinal tem uma foi modelado através do “Power System Blockset” [1]. Ambos os loops
freqüência de amostragem fixa de 1 kHz e é sincronizada em tempo. de potência-freqüência e alimentação de campo-regulação foram mode­
O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2006 39
F ASCÍCU LO 4 / MEDIÇÃO F A S O R I A L

lados conforme mostrado na Figura 16. A característica da queda da velo­ A Figura 21 e a Figura 22 mostram a velocidade da máquina e
cidade (alteração porcentual da freqüência que vai provocar a mudança a diferença do ângulo de fase entre os fasores de PSV medidos na
da potência de saída da unidade em 100%) foi definida em 5%. Barra 1 e Barra 3, respectivamente, para uma falta de 300 ms. Esta
Faltas trifásicas com tempos de duração diferentes aplicadas na duração da falta é maior do que o tempo crítico para eliminação da
saída de um gerador induzem oscilações de freqüência na máquina. As mesma. Neste caso, o sistema se torna instável; a diferença de fases
oscilações de freqüência resultantes de uma diferença entre a potência corresponde a uma exponencial crescente com uma constante de
mecânica e a elétrica (Equação 20) são conhecidas por serem estáveis tempo positiva. O gráfico da velocidade da máquina mostra uma
(a freqüência retorna a um valor estável e constante) ou instáveis (a velocidade angular linearmente crescente que indica a perda do
freqüência aumenta ou diminui consistentemente). Poderíamos usar o sincronismo da máquina em relação à freqüência da barra infinita.
algoritmo de áreas iguais [4] para analisar, de forma teórica, este exemplo. A equação de oscilação do rotor do gerador para este sistema
Entretanto, ao invés disso, vamos demonstrar que, efetuando a medição em particular é fornecida pela Equação 20, a qual pode ser expressa,
da diferença do ângulo de fase entre o fasor de PSV na saída do gerador de outra forma, através da Equação 32:
(Barra 1) e o mesmo fasor da barra infinita (Barra 3), é possível detectar
2H d2d
condições de instabilidade ou estabilidade transitória. Observe que = Pm – Pmax • sind (32)
wsyn td2
apesar dessa aplicação de fasores sincronizados ser no estado transitório
(a freqüência próxima ao gerador é uma função do tempo), ela todavia
onde a equação seguinte fornece a potência máxima Pmax:
atinge o objetivo principal de efetuar a medição do ângulo de fase entre
duas tensões da barra. E’1 • E3
Pmax = (33)
Um curto-circuito trifásico é aplicado na Barra 2 por 50 ms, com X13

a velocidade resultante da máquina mostrada na Figura 17. No fim, a


onde:
velocidade da máquina retorna ao seu valor síncrono. O distúrbio da
E’1 é a magnitude da tensão do gerador atrás da reatância
freqüência é refletido no ângulo de fase da tensão próxima à máquina.
transitória X’d
A Figura 18 mostra a diferença do ângulo de fase entre os dois fasores
E 3 é a magnitude da fonte de tensão da barra infinita
sincronizados de PSV medidos nas Barras 1 e 3 através do algoritmo de
X13 é a magnitude da impedância reativa entre as duas fontes
desacoplamento dos fasores. Obviamente, o distúrbio do ângulo de fase
de tensão
é também estável.
Podemos usar a Equação 34 para calcular a impedância reativa
A Figura 19 e a Figura 20 mostram os resultados da mesma simulação
entre as duas fontes:
de uma falta trifásica aplicada por 200 ms. A velocidade e as formas de
onda da diferença do ângulo de fase do fasor de PSV em relação ao X13 = X’d + XT + XL + XS (34)
tempo refletem uma perturbação estável para um segundo instante,
embora as amplitudes das excursões sejam muito maiores do que as do onde:
exemplo anterior. X’d é a reatância transitória do gerador
Gerador X T é a reatância do transformador
Hidráulico Barra 1 Barra 2 Barra 3
X L é a reatância da linha
XS é a reatância da fonte da barra infinita
com os seguintes valores do circuito: 
200 MVA 210 MVA
Z1 =17.61 87.9° ohms
13.8 kV 13.8/230 kV
Z0 =80.14 76° ohms
H = 3.2s D –Y
X”d = 0.296 pu ZT = 0.152 pu X13 = 0.296 + 0.152 + 0.006 + 0.02 = 0.536pu (35)

Figura 15 - Gerador e modelo do sistema com barra infinita


Considerando que a potência mecânica fornecida para o
gerador é de 0,75 pu, e com a magnitude das duas fontes igual a
Sistema de 1, podemos usar a Equação 36 para calcular a equação de oscilação
Excitação
Vref=1.0pu
Ef
no ponto de equilíbrio:

Vt
wref Turbina 2H d2d
Pref=0.75pu Hidráulica e Gerador Rede = 0.75 – 1.866 • sin 23.70° (36)
Regulador wsyn td2
Pe
Durante uma perturbação, a freqüência de oscilação do rotor do
Figura 16 - Modelo dos reguladores/turbina hidráulica e tensão no gerador gerador é fornecida por [4]:
O SETOR ELÉTRICO
40 Outubro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
62
1 ws • Sp 1 377 1 1.707
fn = = = 1.597Hz  (37)
2p 2•H 2p 2 • 3.2 61

onde Sp é o coeficiente da potência de sincronização calculado pela 60


Equação 38:
59

dPe 58
Sp = = Pmax • cosd0 = 1.866 • cos 23.70° = 1.707pu
dt d=d0 57
(38) 0 5 10 15
Tempo (s)

Figura 19 Velocidade da máquina ou freqüência para uma falta de 200 ms


O período teórico, 1/fn, da oscilação é de 0,626 segundo. O
período medido da oscilação para a falta de 50 ms é de 0,633 30
segundo, enquanto o período para a falta de 200 ms é de 0,643 20
segundo. Em ambos os casos, o erro é menor do que 3%.
10
Este exemplo demonstra o seguinte:

Ângulo em Graus
0
1. Embora o exemplo possa ser considerado como uma
-10
condição do estado transitório, a medição fasorial sincronizada
-20
fornece uma precisão razoavelmente boa para medição dos
-30
ângulos de fase.
2. A precisão obtida no cálculo do ângulo de fase dos -40

fasores mostra que a freqüência de amostragem fixa (1 kHz) é -50


0 5 Tempo (s) 10 15
particularmente eficiente para solução da diferença do ângulo de Figura 20 - Diferença dos ângulos de fase dos fasores de PSV entre
fase entre sinais que não estão sob a freqüência nominal. barras para uma falta de 200 ms

60.4 70

60.3
68
60,2
66
60.1

60 64

59.9
62
59.8
60
59.7

59.6 58
0 5 10 15 0 0.5 1 1.5 2
Tempo (s) Tempo (s)
Figura 17 Velocidade da máquina ou freqüência para uma falta de 50 ms
Figura 21 - Velocidade da máquina ou freqüência para uma falta de 300 ms

-10 2000

-12

-14 1500
Ângulo em Graus

Ângulo em Graus

-16
1000
-18

-20
500
-22

-24
0
-26
0 5 10 15 0 0.5 1 1.5 2
Tempo (s) Tempo (s)
Figura 18 Diferença dos ângulos de fase dos fasores de PSV entre Figura 22 - Diferença dos ângulos de fase dos fasores de PSV entre
barras para uma falta de 50 ms barras para uma falta de 300 ms

Continua na próxima edição

O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2006 41
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Artigo publicado na 29ª versão do WPRC
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CAPÍTULO IV
APLICAÇÕES DOS FASORES
SINCRONIZADOS


Monitoração em Tempo Real das Variáveis de Estado Podemos expressar a tensão remota, V2, em pu para V1 = 1∠0º,
conforme indicado a seguir
V1 d12 jX12 V2 0

1 – X12 • Q12
V2 = (42)
cosd12

P12
Q12 A monitoração das variáveis de estado do sistema permite
Figura 23: Diagrama unifilar elementar também a verificação e a calibração dos estudos do sistema.

A implementação dos fasores sincronizados em tempo real Transdutor de Fase e Registro Dinâmico das Fases
possibilita a medição rápida dos fasores de PSV nas barras do Qualquer alteração que ocorra no sistema elétrico (isto é, falta no
sistema. Os ângulos de fase dessas grandezas constituem as mais sistema), mudança topológica tal como a abertura ou fechamento de
importantes variáveis de estado do sistema pois esses ângulos estão uma linha, alterações nos níveis de equilíbrio geração-carga (perda
relacionados à margem de estabilidade transitória do sistema, fluxos de um bloco de geração ou adição de uma carga de grande vulto),
de potência da linha e estabilidade das tensões [16, 17]. oscilações de potência instáveis ou estáveis na linha de interligação
Para o diagrama representado na Figura 23, a equação do fluxo ou na área de interligação, etc., vão refletir na medição da magnitude
de potência ativa na barra da esquerda é dada pela equação do e do ângulo de fase das variáveis de estado do sistema.
fluxo de potência ativa convencional: O registro das variáveis de estado dos ângulos de fase de
pontos estratégicos, antes e depois da perturbação, fornece
V1 • V2
P12 = sind12 (39) informações de grande utilidade sobre a resposta do sistema de
X12
potência e a capacidade de o sistema de potência responder a
e pela equação do fluxo de potência reativa convencional: eventos adversos.

V12 V1 V2
Q12 = – sind12
(40) Esquemas Especiais de Proteção e Relés de Proteção
X12 X12 Contra Perda de Sincronismo do Sistema
Diversas concessionárias de energia elétrica possuem projetos em
As Equações 39 e 40 são idênticas às Equações 22 e 23, com
andamento ou já usaram os princípios de fasores sincronizados para
a exceção de que a admitância shunt e a resistência da linha são
monitorar a estabilidade transitória do sistema ou para implementar
consideradas desprezíveis. Para estabelecer a relação entre a
esquemas especiais de proteção baseados na proteção contra perda
regulação de tensão (expressa como a relação das duas magnitudes
de sincronismo.
de tensão nas extremidades da linha), a potência reativa fornecida
Quando diversos geradores do sistema começam a operar em
para a linha e o ângulo de fase entre os fasores de tensão, a Equação
diferentes velocidades, pode ocorrer perda de sincronismo. Se uma
40 adquire a forma da Equação 41:
parte do sistema perde o sincronismo em relação a uma outra parte,
V2 V12 – X12 • Q12 a tensão de fase nas barras próximas aos geradores que estão
=
V1 V12 • cosd12 (41) provocando o distúrbio reflete as variações na velocidade de rotação.
Quando um sistema de proteção detecta a instabilidade, esquemas

O SETOR ELÉTRICO
32 Novembro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
com ações corretivas podem incluir a separação do sistema ou a
X1 d12
rejeição de cargas. X = X2 = V1
Dois métodos são descritos para implementar a aplicação da X3 V2 (44)
perda de sincronismo do sistema [18, 19, 20, 21]:
1. Uma vez que o equivalente de um sistema com duas máquinas
pode representar um sistema, um método consiste da medição Em seguida, o vetor z das medições é definido. As medições
síncrona do ângulo de fase entre as reatâncias transitórias das duas incluem a magnitude dos dois fasores de PSV e dos fluxos de
máquinas. Quando ocorre uma perturbação, o novo ângulo de fase potência da linha, P12 e Q12. Assumindo que os fasores síncronos
entre as duas máquinas é calculado e o algoritmo das áreas iguais é estão disponíveis neste sistema, o ângulo de fase entre as tensões
implementado em tempo real para determinar se o novo ponto de na barra, d12, está agora disponível e o vetor de medição é como
operação é estável [19, 20]. está mostrado na Equação 45:
2. Um segundo método consiste da medição dos fasores de PSV
em duas ou mais barras localizadas estrategicamente. Durante uma
perturbação, o ângulo de fase entre os pares de sinal é calculado em d12 e1
tempo real e um algoritmo preditivo é usado para estabelecer se a V1 e2
Z = V2 = e3 (45)
perturbação será estável. Uma aplicação usa um modelo da forma
P12 e4
de onda do ângulo de fase em relação ao tempo na forma de uma Q12 e5
onda senoidal amortecida exponencialmente [21]:

d( t ) = d 0 + A • e at • sin (wt + β) (43) O vetor e representa um erro assumido entre a medição e o


valor real. A relação entre a medição e as variáveis de estado é
Onde d0 é a diferença de fases inicial, a é a constante de
fornecida por um conjunto de equações não lineares h(x), como na
amortecimento, w é a freqüência angular da diferença de fases
Equação 46 (após a aplicação das Equações 39 e 40):
e A é a amplitude de oscilação. Um algoritmo preditivo é usado
para identificar os parâmetros de variação do ângulo de fase e para
determinar condições de estabilidade ou instabilidade. X1
X2
X3 e1
Estimação de Estado
X2 • X3 • sinx1
e2
O objetivo de um programa de estimação de estado [22, 23] de Z = h(x) + e = + e3
X12 (46)
um Centro de Gerenciamento do Sistema é o de fornecer uma e4
estatística da estimativa em tempo real das variáveis de estado do X2 – X2 • X3 • cosx1
2
e5
sistema na forma dos ângulos de fase e magnitudes das tensões X12
na barra. Um estimador de estado pode detectar e corrigir erros
grosseiros de medição. A estimação de estado é uma aplicação no Está fora do escopo deste paper discutir a solução (minimizar e)
estado de regime e é um processo lento, com uma janela de tempo para este tipo de conjunto de equações não lineares. Vamos apenas
da ordem de alguns minutos. mencionar que uma solução possível é a técnica do Método dos
Diversas medições síncronas são efetuadas em tempo real no Quadrados Mínimos Ponderados (“Weighted Least Squares” – WLS)
sistema. As variáveis de estado são calculadas a partir de um que, após assumir um vetor da variável de estado inicial, usa a
conjunto de equações não lineares relacionando as medições às seguinte fórmula recursiva para calcular repetitivamente o resultado
variáveis de estado. O processo é estatístico pois normalmente final [24]:
existem mais medições do que variáveis de estado, e um número
maior de medições aumenta a precisão do resultado.
Xk+1 = Xk +[ H(Xk)T • R–1 • H(Xk) ]-1 H(Xk) • R-1[Z – h (Xk)] (47)
Como exemplo, considere o diagrama da Figura 23. É evidente que
sistemas reais e a extensão dos cálculos serão muito maiores do que
o exemplo mostra. Nesta equação, R é a matriz de co-variação diagonal de medição,
Inicialmente, um vetor da variável de estado é definido como a e H(xk) é a matriz Jacobiana de medição. Após a inicialização do
magnitude do fasor de PSV de duas barras e do ângulo de fase vetor da variável de estado, o cálculo usa os valores medidos dos
entre essas barras [23]: ângulos de fase como valores de partida.
O SETOR ELÉTRICO
Novembro 2006 33
F AS C ÍCULO 4 / MEDIÇÃO FAS OR IA L

Considerações do Sistema do sistema de potência através de amostras coletadas simultaneamente,


Os registros de eventos amostrados de forma síncrona simplificam a conforme mostrado na Figura 25. Podemos usar esses registros de eventos
análise de perturbações ao longo do sistema. Esses registros incluem as amostrados de forma síncrona para analisar perturbações ao longo do
informações da dinâmica do sistema que podem ser usadas para avaliar sistema mais rápido do que se tentássemos sincronizar manualmente os
as condições do sistema e comparar essas condições com os modelos registros dos eventos.
do sistema. Os relatórios da medição fasorial sincronizada que incluem COM¨TRADE
via portas de
as informações dos fasores em instantes de tempo específicos permitem comunicação
Canal Amplitude Geração do
LPF via
que o computador anfitrião (“host”) analise as medições de diferentes Analógico
Hardware
A/D relatório
V ou I COMTRADE
pontos do sistema para efetuar automaticamente as aplicações de
controle e proteção ao longo do sistema. Relógio de Amostragem
f sys Tempo

Registros de Dados Amostrados de Forma Síncrona


Receptor 1kPPS Geração da
para Análise de Perturbações ao Longo do Sistema de GPS xm Estampa de
Tempo
Para fornecer registros de eventos com amostragem síncrona, o
dispositivo para múltiplas aplicações gera uma estampa de tempo para
IRIG-B
cada amostra aquisitada. O dispositivo requer dois sinais do receptor de Demodulado
GPS: o sinal de um quilo-pulso por segundo (“one kilo-pulse per second” Figura 24 Geração do relatório e estampa de tempo de um registro de
evento amostrado de forma síncrona
– 1kPPS) e o sinal IRIG-B [25]. O sinal 1kPPS é um trem de pulso periódico
a uma taxa de um pulso por milissegundo (1 kHz) e o sinal IRIG-B é
um trem de pulso periódico a uma taxa de uma marca de tempo por
segundo que inclui o valor de tempo referente ao início do segundo. O
sinal 1kPPS determina quando se deve efetuar a aquisição da amostra
do sinal de corrente ou tensão, e o sinal IRIG-B fornece a estampa de
tempo para a amostra aquisitada. O dispositivo usa o sinal do relógio
de amostragem (um sinal com uma freqüência que é um múltiplo da
freqüência do sinal 1kPPS) e o sinal IRIG-B para gerar a estampa de
tempo da amostra (ver Figura 24). As amostras e as estampas de tempo
correspondentes são disponibilizadas a partir das portas de comunicação Figura 25 Amostragem síncrona em diferentes localizações do sistema de
no formato COMTRADE [26]. Com esses dispositivos para múltiplas potência simplifica a análise de perturbações no sistema de potência
aplicações, podemos aquisitar relatórios de eventos de diferentes pontos
Continua na próxima edição
SE 2485

O SETORELÉTRICO
34 Novembro 2006
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Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Pullman, WA USA
Artigo publicado na 29ª versão do WPRC
( Western Protective Relay Seminar) em
Spokane-WA que se realizou entre 22 e 24

CAPÍTULO IV
de outubro de 2002

APLICAÇÕES DOS FASORES


SINCRONIZADOS

Relatórios de Dados para Aplicações da seguintes dados [27]:


Medição Fasorial Sincronizada 1. Endereço dos dados da medição fasorial sincronizada. O
O dispositivo de aplicações múltiplas reporta os dados da computador anfitrião usa esse endereço para determinar a
medição fasorial sincronizada de duas formas: mensagens fonte dos dados.
binárias não solicitadas em intervalos de tempo específicos e 2. Número da amostra de acordo com [2].
relatórios ASCII solicitados em instantes específicos de tempo. 3. Estampa de tempo da aquisição dos dados em Segundos-
do-Século [2].
Mensagens Binárias Não Solicitadas
4. Freqüência estimada do sistema de potência.
A Figura 26 mostra dois relés com recursos de medição
5. Tensões de fase e seqüência-positiva (Número de pontos de
fasorial sincronizada, localizados em diferentes pontos do
flutuação com 32 bits - IEEE).
sistema de potência e conectados a um computador anfitrião
6. Correntes de fase e seqüência-positiva (Número de pontos
remoto através de canais de comunicação. O computador
de flutuação com 32 bits - IEEE).
anfitrião habilita, desabilita e aceita mensagens binárias não
7. Indicação de que a sincronização de tempo está OK.
solicitadas provenientes dos relés. Ele determina a taxa de
8. Indicação de que o pacote de dados está OK.
transferência de dados que depende da faixa de banda do
9. Quatorze bits para propósitos gerais.
sistema de comunicação e da quantidade de dados transmitidos
10. Código de detecção de erros CRC-16 para validar a
pelo relé. A mensagem binária não solicitada contém os
mensagem.

Figura 26 Conexões dos relés e do computador “host” para aplicações da medição fasorial sincronizada

O SETOR ELÉTRICO
30 Dezembro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
O computador anfitrião (“host”) analisa os dados recebidos dos CONCLUSÕES
diferentes relés do sistema de acordo com a estampa de tempo e o 1. Os fasores foram introduzidos para transformar as equações diferenciais
número da amostra do pacote de dados. de circuitos elétricos de modelagem em equações algébricas comuns e
acelerar a solução para o estado de regime.
Mensagens ASCII Solicitadas
2. Os registradores digitais de faltas coletam os dados em intervalos fixos
Os relés respondem ao comando METER PM TIME efetuando um
de tempo. Esses dados contêm as informações da freqüência do sistema
relatório da medição fasorial sincronizada em tempos específicos.
de potência durante operações do sistema de potência com freqüências
Podemos usar esse comando para obter registros instantâneos
diferentes da nominal (“off-nominal”) que podem ocorrer durante
(“snapshots”) do fasor em instantes específicos ao longo do sistema
perturbações no sistema.
de potência. A Figura 27 mostra um exemplo do relatório.
3. Os dispositivos de medição fasorial sincronizada requerem uma
referência de tempo absoluto para aplicações ao longo do sistema
de potência. Tradicionalmente, este recurso é parte de um dispositivo
dedicado para essas aplicações. Esses equipamentos não são adequados
para aplicações de proteção tal como a proteção de distância de linhas.
4. O sinal 1kPPS fornece uma referência de tempo absoluto para
amos­tragem de freqüência fixa. Nas aplicações da medição fasorial
sincronizada, todas as formas de onda do sistema são comparadas a
uma referência de fase baseada em tempo.
5. Os cálculos fasoriais através de DFT introduzem erros quando o sistema
de potência opera para freqüências diferentes da nominal. Esses erros de
Figura 27 - Relatório de medição fasorial sincronizada no formato de cálculo podem provocar atuações incorretas do elemento de distância.
mensagem ASCII solicitada
6. Tradicionalmente, os relés numéricos para aplicações da proteção de
distância de linhas amostram os sinais de tensão e corrente em múltiplos

FONTES DE ERROS NA ESTIMAÇÃO FASORIAL da freqüência de operação do sistema de potência (fSYS) para minimizar

As aplicações da medição fasorial sincronizada, tais como os erros do cálculo fasorial.

a estimação de estado e o sistema de proteção contra perda de 7. Os sistemas de aquisição de dados que coletam dados em intervalos de

sincronismo, requerem erros na estimação fasorial da ordem de tempo fixos e usam filtragem adaptativa minimizam os erros dos cálculos

décimos de um grau [9]. As fontes típicas desses erros incluem fasoriais, porém esses sistemas não amostram com uma referência de

os transmissores e receptores de GPS, transformadores de tempo ao longo do sistema.

instrumento e dispositivos de estimação fasorial. Podemos dividir 8. Um método de aquisição e processamento dos sinais de corrente

os erros provenientes dessas fontes em duas categorias: erros e tensão para aplicações tais como registro de faltas, medição fasorial

de sincronização de tempo e erros de aquisição de dados. Os sincronizada e proteção de distância de linhas amostra os sinais em

transmissores de GPS, os receptores de GPS e os dispositivos de intervalos fixos de tempo em relação a uma referência de tempo absoluto e

estimação fasorial determinam os erros de sincronização de tempo; reamostra esses sinais em múltiplos da freqüência de operação do sistema

os transformadores de instrumento e os dispositivos de estimação de potência. Um filtro digital passa-banda simples com coeficientes

fasorial determinam os erros de aquisição de dados. A Tabela 1 fixos fornece a filtragem dos dados reamostrados. A medição fasorial

sumariza esses erros e inclui os valores correspondentes típicos que sincronizada usa os dados amostrados com uma referência de tempo

temos de considerar nessas aplicações. absoluto. A proteção de distância usa os dados reamostrados filtrados, o
que minimiza os erros dos cálculos fasoriais.
9. Numa variação do método da Conclusão 8, a amostragem é baseada
Tabela 1: Erros na Estimação Fasorial Sincronizada e Valores Correspondentes Típicos
no relógio local. A reamostragem usa a referência de tempo absoluto
Causa do Erro Erro em Graus Erro em ms proveniente do receptor de GPS e a freqüência de operação do sistema
Sincronização de Tempo ± 0.0216 ±1 para reamostrar os dados a uma freqüência específica dependendo dos
Transformadores de Instrumento ± 0.3 ±14 requisitos da aplicação.
(Classe 0.3) [28] 10. O desacoplamento da medição da magnitude e do ângulo de fase
Dispositivo de Estimação Fasorial ± 0.1 ±5 fornece uma magnitude fasorial precisa para um intervalo amplo de
freqüência.
11. O cálculo minucioso dos fasores em tempo real obtém uma precisão
Na Tabela 1, podemos observar que os transformadores de
viável, mesmo nos estados transitórios.
instrumento são os que mais contribuem para o erro de estimação
12. O dispositivo para múltiplas aplicações usa mensagens binárias não
fasorial sincronizada. Num futuro próximo, veremos avanços na
solicitadas e mensagens ASCII solicitadas para reportar os dados da
tecnologia que vão minimizar esses erros.
medição fasorial sincronizada.
O SETOR ELÉTRICO
Dezembro 2006 31
FASCÍCULO 4 / MEDIÇÃO FA S O R I A L

REFERÊNCIAS APÊNDICE
[1] Power System Blockset, The MathWorks, Inc., Release 12, setembro de 2000.
Fasores como uma Solução para uma Equação Diferencial
[2] IEEE Standard 1344-1995. “IEEE Standard for Synchrophasors for Power
Systems”. Começando com a Equação 1, a solução da corrente em relação
[3] R. E. Wilson, “Methods and Uses of Precise Time in Power Systems”, IEEE/PES
ao tempo tem a mesma forma que a forma de onda de tensão, uma
Summer Meeting 1991, San Diego, CA.
[4] W. D. Stevenson, Jr., Elements of Power System Analysis, 4th Ed., McGraw-Hill vez que o circuito é linear:
Book Company, 1986.
[5] A. G. Phadke e J. S. Thorp, “Computer Relaying for Power Systems”, Research
Studies Press Ltd. ISBN 0 86380 074 2. i( t ) = I �cos(
� � t + �) (A.1)
[6] J.Z. Yang e C. W. Liu, “A Precise Calculation of Power System Frequency and
Phasor”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 15, Nº 2, abril de 2000.
[7] E. O. Schweitzer III e Daqing Hou, “Filtering for Protective Relays”, 19thAnnual Ambas a solução da tensão e da corrente podem ser expressas
Western Protective Relay Conference, Spokane, WA, 20 a 22 de outubro, 1992.
[8] G. Benmouyal, “Removal of DC-Offset in Current Waveform Using Digital na forma exponencial:
Mimic Filtering”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 2, No. 2, pp. 621-30,
abril de 1995.
[9] A. G. Phadke e outros, “Synchronized Sampling and Phasor Measurements for �e j(
� t + �)
+ e � j(
� t + �)

Relaying and Control”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 9, Nº 1, janeiro i( t ) = I � � (A.2)
de 1994. � 2 �
[10] US Patent Number: 6,236,949. “Digital Sensor Apparatus and System for
Protection, Control, and Management of Electricity Distribution Systems”.
e
[11] A. G. Phadke, J. S. Thorp e M. G. Adamiak, “A New Measurement Technique
�e j(
� t + �)
+ e � j(
� t + �)

for Tracking Voltage Phasors, Local System Frequency, and Rate of Change of i( t ) = I � � (A.3)
Frequency”, IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, Vol. PAS-102, Nº � 2 �
5, maio de 1983.
[12] D. Hou, A. Guzman e J. Roberts, “Innovative Solutions Improve Transmission
Line Protection”, 24th Annual Western Protective Relay Conference, Spokane, WA, Após a substituição das Equações A.2 e A.3 na Equação 1,
21 a 23 de outubro, 1997.
[13] A. Guzman, J. B. Mooney, G. Benmouyal, N. Fischer, “Transmission Line obtemos a Equação A.4:
Protection System for Increasing Power System Requirements”, 55th Annual
Conference for Protective Relay Engineers, College Station, Texas, 8 a 11 de
abril, 2002. � �e j(
� t + �) + e � j(
� t + �)
��
d �I � ��
[14] US Patent Number: 6,141,196. “Method and Apparatus for Compensation of �e j(
� t +�)
+ e � j(
� t +�)
� �e j(
� t + �)
+ e � j(
� t + �)
� � � 2 ��
Phasor Estimations”. V� � = R �I � � +L
� 2 � � 2 � dt
[15] E. O. Schweitzer III e J. Roberts, “Distance Relay Element Design”, 19th Annual
Western Protective Relay Conference, Spokane, WA, 20 a 22 de outubro, 1992. (A.4)
[16] P. Bonanomi “Phase Angle Measurements With Synchronized Clocks–Principle
Devido ao princípio da superposição aplicado a um sistema
and Applications”, IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, Vol. PAS-
100, Nº 12, dezembro de 1981. linear, esta equação pode ser separada em duas equações:
[17] G. Missout, J. Beland, G. Bedard, “Dynamic Measurement of the Absolute
Voltage Angle on Long Transmission Lines”, IEEE Transactions on Power Apparatus
and Systems, Vol. PAS-100, Nº 11, novembro de 1981. d[
I �e j( ] (A.5)
� t + �)
[18] Ph. Denys, C. Counan, L. Hossenlopp, C. Holweck, “Measurement of Voltage V �e j(
� t +�)= R �I �e j(
� t + �)
+L
Phase for the French Future Defence Plan Against Losses of Synchronism”, IEEE dt
Transactions on Power Delivery, Vol. 7, Nº 1, janeiro de 1992. e
[19] J. S. Thorp, A. G. Phadke, S. H. Horowitz, M. M. Begovic, “Some Applications
of Phasor Measurements to Adaptive Protection”, IEEE Transactions on Power d[
I �e � j( ](A.6)
� t + �)
Systems, Vol. 3, Nº 2, maio de 1988. V �e � j(
� t +�)= R �I �e � j(
� t + �)
+L
[20] V. Centeno, J. De La Ree, A. G. Phadke, G. Mitchell, J. Murphy, R. Burnett, dt
“Adaptive Out-of-Step Relaying Using Phasor Measurement Techniques”, IEEE
Computer Applications in Power, outubro de 1993.
[21] Y. Ohura, M. Suzuki, K. Yanagihashi, M. Yamaura, K. Omata, T. Nakamura, Da Equação A.5, após a diferenciação, obtemos o seguinte:
“A Predictive Out-of-Step Protection System Based on Observation of the Phase
Difference Between Substations”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 5, Nº
4, novembro de 1990. e j� �t V �e j� = e j� t [
R �I �e j� + j� �L �I �e j� ] (A.7)
[22] A. G. Phadke, J. S. Thorp, K. J. Karimi, “State Estimation with Phasor
Measurements”, IEEE Transactions on Power Systems, Vol. PWRS-1, Nº 1,
fevereiro de 1986. O termo exponencial contendo a dimensão do tempo pode
[23] Shweppe, F. C., Wildes, J., Rom, D. B., “Power System Static State
Estimation I, II, III”, IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, Vol.
ser cancelado pois temos uma única freqüência. Ficamos com a
PAS-89, janeiro de 1970. Equação A.8:
[24] L. L. Grigsby, ed., Electric Power Engineering Handbook, CRC-IEEE Press, 2001.
[25] IRIG Standard 200-95. “IRIG Standard Time Formats”. Telecommunications
Working Group, Inter-Range Instrumentation Group, Range Commanders Council. V �e j� = [
R �I �e j� + j� �L �I �e j� ] (A.8)
[26] IEEE Standard C37.111-1999. “IEEE Standard Common Format for Transient
Data Exchange (COMTRADE) for Power Systems”.
[27] Schweitzer Engineering Laboratories, Inc., Application Guide AG2002.08, “Using Resolva a Equação A.8 para determinar a magnitude e o ângulo
SEL-421 Synchrophasor Measurements in Basic Applications”, outubro de 2002.
[28] IEEE Standard C57.13-1993. “Standard Requirements for Instrument de fase da onda senoidal de corrente.
Transformers”.

O SETOR ELÉTRICO
32 Dezembro 2006
BIOGRAFIAS
Gabriel Benmouyal, P.E. recebeu seu B.A.Sc. em
Engenharia Elétrica e seu M.A.Sc em Engenharia de
Controle pela Ecole Polytechnique, Université de
Montreál, Canadá, em 1968 e 1970, respectivamente.
Em 1969, ele começou a trabalhar da Hydro-Québec
como Especialista em Instrumentação e Controle.
Trabalhou em diferentes projetos na área de sistemas
de controle de subestações e centros de despacho.
Em 1978, foi para a IREQ, onde sua principal área
de trabalho foi em aplicação de técnicas digitais e
microprocessadores para sistemas de proteção e
controle de subestações de linhas e de usinas. Em
1997, ele ingressou na Schweitzer Engineering
Laboratories na posição de Engenheiro de Pesquisas.
É um engenheiro profissional com registro na
Province of Québec, é membro do IEEE e atende
ao Power System Relaying Committee desde maio
de 1989. Ele é autor e co-autor de diversos papers
na área de processamento de sinais e proteção de
sistemas de potência. Ele detém uma patente e tem
diversas patentes pendentes.
Dr. Edmund O. Schweitzer, III é reconhecido
como o pioneiro da proteção digital e detém o
título de Fellow do IEEE, o qual é concedido a
menos de 1% dos membros do IEEE. Ele escreveu
diversos papers técnicos nas áreas de projeto e
confiabilidade de relés digitais e detém mais de 20
patentes relativas à proteção, medição, monitoração
e controle de sistemas elétricos de potência. Dr.
Schweitzer recebeu o título de Bacharel e de Master
em engenharia elétrica da Purdue University, e o
certificado de Ph.D. da Washington State University.
Ele fez parte do corpo docente da faculdade de
engenharia elétrica da Ohio University e Washington
State University; em 1982, ele fundou a Schweitzer
Engineering Laboratories para desenvolver e
fabricar relés de proteção digitais e produtos e
serviços associados.
Armando Gusmán, P.E. recebeu seu BSEE com
louvor da Guadalajara Autonomous University
(UAG), México, em 1979. Ele recebeu um diploma em
Engenharia de Fibra Óptica do Monterrey Institute of
Technology and Advanced Studies (ITESM), México,
em 1990. Trabalhou como Supervisor Regional do
Departamento de Proteção na Região de Transmissão
Oeste da Federal Electricity Commission (a empresa
concessionária de energia elétrica do México) por 13
anos. Realizou conferências na área de proteção de
sistemas de potência na Guadalajara Autonomous
University (UAG). Desde 1993, ele integra a equipe
da Schweitzer Engineering Laboratories, Inc., em
Pullman, Washington, onde atualmente é um
Fellow Research Engineer. Ele detém diversas
patentes em proteção de sistemas de potência. É
um engenheiro profissional registrado no México,
é membro sênior do IEEE, e é autor e co-autor de
diversos papers técnicos.

O SETOR ELÉTRICO O SETOR ELÉTRICO


Dezembro 2006 33 Dezembro 2006 33
Apoio

Qualidade de energia por Nelson Kagan e Silvio Xavier Duarte

CAPÍTULO I
Indicador de
qualidade de energia
Proposta de indicador de qualidade de tensão a partir do impacto de
distorções harmônicas e desequilíbrios sobre motores de indução

Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema possibilidade de se obter um indicador que reflita os efeitos
“qualidade de energia” sempre desperta o interesse dos térmicos sofridos por motores trifásicos de indução quando
profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas submetidos a distúrbios de desequilíbrios de freqüência
do dia-a-dia das instalações. fundamental e distorções harmônicas na tensão, agindo
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento simultaneamente.
e da qualidade da energia a ser consumida, especialistas
encontram-se periodicamente em um dos mais importantes Aspectos relevantes e justificativos
eventos sobre qualidade de energia no País, a Conferência Há um grande número de trabalhos desenvolvidos
Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), na área de qualidade de energia elétrica dedicados
para discutir, entre outros assuntos, novas tecnologias, exclusivamente para criar indicadores e definir os seus
aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica limites adequados. Adequadamente, a Agência Nacional
e eletromagnética, conservação de energia, normas e de Energia Elétrica (Aneel), em conjunto com suas agências
recomendações e eficiência energética. estaduais, primeiro definiu a criação de indicadores e
Considerando a importância do tema e ratificando o limites relativos à continuidade do serviço. Em seguida,
compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de contribuir estabeleceu indicadores e limites para os níveis da tensão
para a formação técnica dos seus leitores, iniciamos nesta eficazes de fornecimento, contemplando efeitos térmicos
edição o fascículo “Qualidade de energia”, organizado pelo de longa duração sobre equipamentos. Ainda falta
diretor do departamento de Engenharia, de Energia e de estabelecer indicadores e limites para outros fenômenos,
Automação Elétricas da Universidade de São Paulo (USP), o como variações de tensão de curta duração e desequilíbrios
professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos e distorções harmônicas de tensão, contemplando também
na CBQEE, realizada em meados do ano passado. efeitos térmicos de longa duração.
Os artigos da série, que são assinados por especialistas A Aneel, por meio da resolução 505/2001,
no assunto, sofrerão atualizações quando necessário regulamentou e definiu limites que estabelecem faixas de
e constituirão uma verdadeira aula sobre qualidade de valores, nas quais as tensões das fases são consideradas
energia. adequadas, precárias e críticas, em valores inferiores e
superiores.
Introdução No nível de baixa tensão, os valores eficazes das tensões
Neste artigo, discutiremos a necessidade de monitoração nas fases são considerados adequados se estiverem dentro
de indicadores de desequilíbrios de tensão de freqüência da faixa limite entre +5% e -8,5% da tensão nominal de
fundamental agindo simultaneamente com harmônicas referência. Essa é uma faixa bastante ampla, de 13,5%,
e a possibilidade de se obter um indicador que combine de valores admissíveis das tensões nas fases. Desvios entre
desequilíbrios de freqüência fundamental e distorções os valores das tensões das fases superiores a 5% são
harmônicas de tensão. O objetivo principal é mostrar a considerados elevados e intoleráveis por períodos longos

O SETOR ELÉTRICO
44 Março 2008
Apoio
de tempo, isso porque causariam desequilíbrios de seqüência negativa O fato de a impedância de seqüência negativa para a freqüência
superiores aos limites recomendados pelas normas [3] e [7], se estiverem fundamental ser muito inferior à impedância de seqüência positiva
presentes cargas monofásicas e trifásicas. explica o porquê de os motores de indução trifásicos ser tão
suscetíveis a tensões de seqüência negativa, ou seja, ao grau de
Efeitos e distúrbios na tensão em motores de indução desequilíbrio de freqüência fundamental da tensão de entrada.
A partir das análises e expressões apresentadas sobre motores de Em relação aos efeitos de distorções harmônicas de tensão sobre os
indução trifásicos foram feitas outras análises. Concluiu-se que o parâmetro motores de indução, pode-se citar também a norma Nema, que sugere
do circuito equivalente representativo das perdas no ferro é pouco a aplicação de um fator de redução da capacidade de potência de
influenciado pela presença de harmônicas nas tensões de alimentação um motor em função da distorção de tensão ao qual está submetido.
dos motores de indução trifásicos. Já a reatância de magnetização (Xm) Segundo essa norma, um motor de indução trifásico submetido a
colocada em paralelo no circuito equivalente é diretamente proporcional uma distorção de tensão de 5% deve ter sua capacidade reduzida a
à freqüência. Nesse caso, quanto maior a freqüência harmônica presente aproximadamente 95% a fim de preservar sua vida útil.
nas tensões, maior será a reatância de magnetização. Para efeitos de desequilíbrio de tensão de seqüência negativa
No circuito equivalente, os ramos colocados em série são de freqüência fundamental, a norma recomenda que um motor
influenciados pelas freqüências harmônicas, assim como pela de indução trifásico submetido a um desequilíbrio de tensão
presença de desequilíbrios de seqüência negativa nas tensões. de seqüência negativa de 5% tenha sua capacidade reduzida a
Tanto as resistências como as reatâncias se alteram com o aumento aproximadamente 75% a fim de preservar sua vida útil.
da freqüência. Os resultados obtidos relativos às impedâncias
equivalentes para as seqüências positiva e negativa do motor, Testes de elevação de temperatura
vistas dos seus terminais de entrada, para cada ordem harmônica, em motor de indução
mostraram que, apenas para a freqüência fundamental, a
impedância de seqüência negativa é bastante inferior à impedância A. Montagens para realização dos testes
de seqüência positiva. Entretanto, para ordens harmônicas a partir Para melhor caracterizar a necessidade de apuração de
da segunda ordem harmônica, praticamente já não existe diferença indicadores de desequilíbrio e também de distorção harmônica de
entre os valores das impedâncias de seqüências positiva e negativa. tensão, fez-se uma seqüência de testes em um pequeno motor

O SETOR ELÉTRICO
Março 2008 45
Apoio

de indução trifásico. Foram instalados nesse motor três sensores


Qualidade de energia
12
de temperatura (termopares do tipo k) alojados dentro dos canais
10
do estator em contato direto com os condutores das espiras do 2h

enrolamento do estator. 8 4h
5h

[ºC]
O valor obtido para a constante de tempo térmica do motor 6
7h
foi de 12 minutos. Após a obtenção da constante de tempo, foram 4 11h
feitas dez seqüências de testes, dez ensaios, alterando os distúrbios 2 5-7--11

impostos à tensão entre desequilíbrio de fundamental, distorções 0


harmônicas e a combinação de desequilíbrios e harmônicas. 5 10 15 20
Amplitude Harmônica [%]

B. Análise dos resultados dos testes Figura 1 – Elevação de temperatura obtida para aplicação de tensão de
A seguir, há uma breve avaliação dos resultados obtidos para as freqüência fundamental e harmônica equilibradas.

curvas de elevação de temperatura dos enrolamentos do estator do


Esse resultado era esperado, já que, para freqüências
motor em função dos distúrbios aplicados, considerando, inclusive,
harmônicas superiores à fundamental as impedâncias de
as avaliações apresentadas pelas referências pesquisadas.
seqüência positiva e negativa são praticamente iguais, conforme
verificação da variação das impedâncias de entrada de um motor
1) Caso de aplicação de desequilíbrio
de indução trifásico para as seqüências positiva e negativa em
de freqüência fundamental
função da ordem harmônica. A Figura 1 mostra as elevações
Ficou evidente que o desequilíbrio de seqüência negativa
de temperatura resultantes para os testes com aplicação de
de freqüência fundamental é bastante influente na elevação de
tensão com freqüência fundamental equilibrada e harmônicas
temperatura do motor e, portanto, nocivo à vida útil do motor.
equilibradas.
Os valores de elevação de temperatura observados foram de
aproximadamente 0,9 ºC para cada 1% de desequilíbrio de
3) Caso de aplicação de tensão de freqüência
tensão de freqüência fundamental. Esses resultados ficaram
fundamental equilibrada e harmônicas
bastante próximos aos obtidos e indicados pelo EPRI (PEAC)
desequilibradas
na referência [3]. Também, seguindo a linha apresentada na
Quando foi aplicada ao motor uma tensão com freqüência
referência [1], a vida útil do motor ficaria bem próxima à indicada
fundamental equilibrada e freqüências harmônicas desequilibradas,
nessa referência.
ou seja, harmônicas que apresentam componentes de seqüências
positiva e negativa, as componentes de seqüências tinham
2) Caso de aplicação de tensão de freqüência fundamental
as mesmas amplitudes, as elevações de temperatura foram
equilibrada e harmônicas equilibradas
menores que nos casos de aplicação de harmônicas equilibradas.
Quando foi aplicada ao motor uma tensão com freqüência
Por exemplo, a elevação de temperatura para 10% de quinta
fundamental e freqüências harmônicas superiores à terceira
ordem harmônica equilibrada foi da ordem de 4 ºC, enquanto
ordem, equilibradas, houve influência significativa na elevação de
para o teste com essa mesma ordem harmônica desequilibrada
temperatura dos enrolamentos do estator do motor de indução. Isso
a elevação de temperatura foi da ordem de 0,6 ºC. A Figura 2
implica dizer que os resultados obtidos nesses ensaios comparados
mostra as elevações de temperatura resultantes para os testes
aos obtidos no estudo apresentado em [1] eram perfeitamente
com aplicação de tensão de freqüência fundamental equilibrada
esperados. Então, cabe ressaltar que, para cargas com essas
e harmônicas desequilibradas.
características de torque em função da velocidade, a presença
na tensão de harmônicas superiores à terceira ordem harmônica
12
equilibradas apresenta influência significativa na elevação de
10
temperatura dos enrolamentos do motor. Além disso, observa-se
8 3h
também que as elevações de temperaturas são menores quanto
8 5h
[ºC]

maiores são as ordens harmônicas aplicadas. Nesse teste, foi possível 7h


6
verificar ainda que harmônicas de seqüência negativa pura (segunda, 4
9h

quinta e 11ª ordens harmônicas) não causam maior elevação de 2


11h

temperatura que harmônicas de seqüência positiva pura (quarta e 0


sétima ordens harmônicas). Isso pode ser constatado comparando 5 10 15 20
Amplitude Harmônica [%]
as elevações de temperatura obtidas quando foram aplicadas 5%
de amplitude de quarta e quinta ordens harmônicas, ou sétima e Figura 2 – Elevação de temperatura obtida para aplicação de tensão de
11ª ordens harmônicas. freqüência fundamental equilibrada e harmônicas desequilibradas.

O SETOR ELÉTRICO
46 Março 2008
Apoio
4) Caso de aplicação de tensão com desequilíbrio de simultânea de quinta, sétima e 11ª ordens harmônicas e com 3%
freqüência fundamental e harmônicas equilibradas de desequilíbrio de freqüência fundamental, houve o aumento da
Quando foram aplicadas ao motor, simultaneamente, tensão elevação de temperatura superior a três vezes ao obtido apenas
com desequilíbrio de freqüência fundamental de 3% e harmônicas com a aplicação de desequilíbrio de freqüência fundamental.
equilibradas com amplitudes de 5% e 15%, as elevações de A Figura 3 mostra as elevações de temperatura resultantes
temperatura foram muito maiores que quando aplicada tensão dos testes de aplicação de tensão com 3% de desequilíbrio
apenas com desequilíbrio de freqüência fundamental de 3%. de freqüência fundamental e harmônicas equilibradas com
Nesse caso, o aumento na elevação de temperatura em amplitudes de 5% e 15%.
relação ao teste de tensão apenas com desequilíbrio de freqüência
fundamental foi da ordem de 2/3 superior ao obtido quando foi 5) Caso de aplicação de tensão com desequilíbrio de
aplicado apenas harmônicas equilibradas. No caso de aplicação freqüência fundamental e harmônicas desequilibradas
Quando foram aplicadas ao motor, simultaneamente,
tensão com desequilíbrios de freqüência fundamental de 3% e
12 harmônicas desequilibradas com amplitudes de 5% e 10%, as
10
5h
elevações de temperatura foram maiores que quando aplicadas
8 7h tensão apenas com desequilíbrios de freqüência fundamental
11h de 3%. O aumento na elevação de temperatura em relação ao
[ºC]

6
5-7-11
4 teste apenas com desequilíbrio de freqüência fundamental foi da
ordem de duas vezes a elevação de temperatura obtida quando
2
foram aplicadas apenas harmônicas desequilibradas. A Figura
0
5 15 4 mostra as elevações de temperatura resultantes dos testes
Amplitude Harmônica [%] de aplicação de tensão com 3% de desequilíbrio de freqüência
Figura 3 – Elevação de temperatura obtida para aplicação de tensão de fundamental e harmônicas desequilibradas com 5% e 10% de
freqüência fundamental com desequilíbrio de 3% e harmônicas equilibradas amplitude.
com 5% e 15% de amplitude.

O SETOR ELÉTRICO
Março 2008 47
Apoio

distorções harmônicas em qualquer das tensões das fases. Com essas


Qualidade de energia
7
representações, propõem-se obter parâmetros de qualidade relativos
6
3h a distúrbios devido a desequilíbrios de freqüência fundamental e
5
5h devido às distorções harmônicas. Além dos parâmetros referidos
4 7h
[ºC]

3
anteriormente, propõe-se um outro parâmetro que combine os
9h
11h outros dois parâmetros anteriores ponderados por algum fator de
2
1 ajuste (peso) que seja considerado adequado. O problema principal
0 é obter, além dos parâmetros individuais relativos a cada distúrbio,
5 10 um terceiro parâmetro, que reflita a elevação de temperatura dos
Amplitude Harmônica [%]
enrolamentos dos motores de indução devido aos efeitos individuais
Figura 4 – Elevação de temperatura obtida para aplicação de tensão e efeitos combinados de cada distúrbio.
de freqüência fundamental com desequilíbrio de 3% e harmônicas
desequilibradas com 5% e 10% de amplitude.
B. Algoritmo para obter parâmetros de qualidade de
tensão a partir das representações no sistema DQ ou
Norma Euclidiana Instantânea
6) Caso de aplicação de tensão com desequilíbrio de
Admitindo sinais da grandeza tensão, constituída por distúrbios
freqüência fundamental e harmônicas desequilibradas
de desequilíbrio de freqüência fundamental e harmônica, é possível,
Quando foram aplicadas ao motor, simultaneamente, tensão
a partir de técnicas para tratamentos de sinais, obter separadamente
com desequilíbrios de freqüência fundamental de 5% e harmônicas
as componentes referentes a cada distúrbio [4].
desequilibradas com amplitudes de 5% as elevações de temperatura
Adquirida a componente de freqüência fundamental no
foram maiores que quando aplicados apenas desequilíbrios de
sistema (DQ) ou NEI, pode-se obter o parâmetro de qualidade de
fundamental de 5%.
desequilíbrio de tensão (FDu). Para um período completo do sinal
de freqüência fundamental, define-se o fator de qualidade de
12 desequilíbrio de tensão como o parâmetro FDu. Esse parâmetro

10
corresponde à amplitude de ondulação do sinal, do eixo (d) ou da
3h
NEI, dividido pelo seu valor médio. No caso do sinal do eixo (d),
8 5h
7h a amplitude da ondulação do sinal corresponde à componente
[ºC]

6
9h de seqüência negativa e o valor médio desse sinal corresponde à
4
11h amplitude da componente de seqüência positiva.
2
As componentes harmônicas dos sinais de tensão que aparecem
0
nas duas formas de representação (DQ) ou NEI correspondem ao
5
Amplitude Harmônica [%]
efeito combinado das harmônicas que estão presentes em qualquer
das fases dos sinais de entrada. A partir dessas componentes, pode-se
Figura 5 – Elevação de temperatura obtida para aplicação de tensão de obter um parâmetro que corresponde à distorção harmônica total
freqüência fundamental com desequilíbrio de 5% harmônicas desequilibradas
(FHu) do sinal no eixo (d) ou (q) ou NEI. Essa distorção é o efeito da
com 5% de amplitude.
presença de tensões de freqüências harmônicas em qualquer das
fases ou linhas do sistema de fornecimento.
O aumento na elevação de temperatura em relação ao teste Para um período completo do sinal de freqüência fundamental,
apenas com desequilíbrio de freqüência fundamental foi da ordem define-se o fator de qualidade de distorção harmônica total de tensão
de cinco vezes a elevação de temperatura obtida quando foram obtida da componente de eixo (d), (q) ou NEI, como o parâmetro
aplicadas apenas harmônicas desequilibradas. A Figura 5 mostra FHu. Esse parâmetro corresponde à raiz da média quadrática do
as elevações de temperatura resultantes dos testes de aplicação sinal dividido pelo seu valor médio.
de tensão com 5% de desequilíbrio de freqüência fundamental e
harmônicas desequilibradas com 5% de amplitude. C. Parâmetro combinado de qualidade de tensão
A partir de qualquer um dos métodos usados para o cálculo dos
Proposta para avaliação de distúrbios na tensão parâmetros de qualidade (FDu) e (FHu), propõe-se aqui um parâmetro
de qualidade (FQu). Esse parâmetro deve ser obtido da combinação
A. Parâmetro de qualidade de tensão dos parâmetros FDu e FHu. Uma das dificuldades é estabelecer como
A partir das representações das tensões nos sistemas DQ ou a deve ser feita a combinação dos valores dos parâmetros individuais
partir da Norma Euclidiana Instantânea (NEI), é possível identificar a obtidos. A proposta inicial feita aqui parte da avaliação dos fatores
ocorrência de desequilíbrios de tensão, assim como a presença de de qualidade obtidos em cada um dos testes realizados, assim como

O SETOR ELÉTRICO
48 Março 2008
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das elevações de temperaturas observadas de cada teste aplicado. harmônicas desequilibradas, equilibradas e de todos os resultados de
Qualidade de energia

A proposta para obter um parâmetro de qualidade de tensão que testes de harmônicas juntos. A constante que deve ser considerada
combina os efeitos dos distúrbios analisados está indicada na mais representativa neste caso é a que resultou da regressão linear
equação: FQu k FDu k FHu h 1 = +, em que: FQu é o parâmetro de obtida de todos os testes juntos, já que essa deve ser possivelmente a
qualidade de tensão obtido a partir da combinação dos parâmetros regra encontrada nos sistemas de distribuição em baixa tensão. Então,
de qualidade de desequilíbrio de freqüência fundamental e de para cada 1% de distorção harmônica de tensão ocorre uma elevação
distorção harmônica total; k1 é uma constante de ponderação que de temperatura de 0,28 ºC dos enrolamentos do motor de indução.
atribui o peso com que o desequilíbrio de freqüência fundamental Utilizando a equação (1) com os valores das constantes
deve contribuir na formação do parâmetro FQu; e kh é uma de ponderação obtidas das regressões lineares apresentadas
constante de ponderação que atribui o peso com que as distorções anteriormente, calculou-se os parâmetros de qualidade de tensão
harmônicas devem contribuir na formação do parâmetro FQu. FQu a fim de representar os efeitos combinados dos distúrbios
No item VI, são apresentados valores para as constantes k1 e kh estudados. O parâmetro de qualidade de tensão FQu mostra que a
obtidas de regressões lineares feitas a partir dos valores de elevação elevação de temperatura devido ao efeito combinado dos distúrbios
de temperatura dos enrolamentos em função dos parâmetros FDu e de desequilíbrio de freqüência fundamental e distorção harmônica
FHu obtidos dos testes realizados neste trabalho. de tensão é maior. Esse efeito já foi observado nos resultados
dos testes realizados. Apesar disso, ainda não é possível afirmar
Parâmetros de qualidade de tensão obtidos que esse valor é representativo de qualquer condição genérica de
funcionamento, embora já seja um bom indicativo.
A. Constantes de ponderação Obter os coeficientes de ponderação dos parâmetros de
Considerando os registros dos testes realizados por qualidade de cada distúrbio deve ser objeto de estudos futuros
aproximadamente 60 horas, que identificaram, além das temperaturas, que dependem da realização de mais ensaios, além de medições
os valores instantâneos das tensões de linha aplicadas ao motor e as das composições espectrais características das tensões nos sistemas
correntes instantâneas de fase absorvidas pelo motor, pode-se calcular de distribuição em vários níveis de tensão. Não há pretensão de
os valores dos parâmetros de qualidade referentes ao desequilíbrio encerrar o assunto, aqui neste trabalho, devido à limitação dos
de freqüência fundamental, assim como os parâmetros relacionados testes realizados e a necessidade de se investigar outras questões
às freqüências harmônicas. A partir dos valores das elevações de relacionadas aos aumentos de perdas devido aos distúrbios e seu
temperaturas registradas e dos valores dos parâmetros de qualidade reflexo sobre o parâmetro de qualidade proposto.
calculados para cada distúrbio, para cada teste, foram feitas regressões Apesar de não ser objetivo final deste trabalho encerrar a questão
lineares, relacionando a elevação de temperatura em função do sobre os fatores de ponderação a ser utilizados, foram feitas algumas
parâmetro de qualidade. Dessas regressões obtiveram-se os valores mudanças nos valores dos coeficientes de peso dos parâmetros de
das constantes de ponderação procuradas. Além disso, foi possível qualidade avaliados. A Figura 6 mostra três curvas A, B e C. A curva A
comparar os resultados dos parâmetros de qualidade obtidos para cada foi obtida com os coeficientes k1 = 0,88 e kh = 0,28; a curva B com os
um dos métodos de cálculo sugeridos, a partir das componentes nos coeficientes k1 = 1,0 e kh = 0,28; e a curva C com os coeficientes k1 =
eixos (DQ) e da NEI. 1,0 e kh = 0,35. A curva B admite que os desequilíbrios de freqüência
A partir dos pares ordenados do parâmetro de qualidade fundamental devam entrar com peso máximo no cálculo do parâmetro
FDu calculado e da elevação de temperatura dos enrolamentos, combinado, devido ao seu potencial de degradação ser muito elevado.
a regressão linear indica uma constante de ponderação desse Na curva C, além de considerar que o desequilíbrio de freqüência
parâmetro de valor aproximadamente igual a 0,9. Essa constante fundamental é muito importante, considera um aumento da influência
mostra que, para cada 1% de desequilíbrio de tensão de freqüência das harmônicas, já que os testes com harmônicas múltiplas indicaram
fundamental, ocorreu uma elevação de temperatura de 0,9 ºC dos maior influência na elevação de temperatura que a ação de harmônicas
enrolamentos do motor de indução. individuais (o valor 0,35 para o coeficiente das harmônicas foi usado a
Para harmônicas foram obtidas três constantes de ponderação. fim de ajustar a curva de elevação de temperatura resultante para o
Foram feitas regressões lineares da elevação de temperatura dos caso de desequilíbrio de freqüência fundamental e distorção harmônica
enrolamentos do motor de indução em função do parâmetro de equilibrada agindo simultaneamente).
distorção harmônica. Essas regressões foram calculadas a partir Mais uma vez, ressalta-se que os valores dos coeficientes a
dos testes realizados para os casos com harmônicas equilibradas serem usados na equação (1) devem ser obtidos a partir de estudos
(trifásicas), desequilibradas (monofásicas) e todos os resultados dos futuros com a realização de mais testes e medições de harmônicas
testes juntos. Dos pares ordenados do parâmetro de qualidade FHu e em campo. A partir da Figura 6 pode-se comparar o parâmetro de
elevação de temperatura dos enrolamentos, obteve-se das regressões qualidade de tensão obtido da curva C com o obtido da curva A.
lineares as constantes de ponderação desse parâmetro de valores Nota-se que para uma mesma elevação de temperatura o fator de
aproximadamente iguais a 0,21, 0,30 e 0,28 correspondentes a qualidade de tensão obtido pela curva C é maior.

O SETOR ELÉTRICO
50 Março 2008
Apoio

Qualidade de energia

apresentados para demonstrar que os parâmetros obtidos


12.00
pelos dois métodos sugeridos permitem obter resultados iguais
9.00
para os parâmetros de qualidade estudados. Além dos valores
ºC dos fatores de qualidade de tensão calculados em cada teste,
6.00 também são mostrados na Tabela 1 os valores das elevações de
temperatura dos enrolamentos do motor de indução obtidas em
3.00 cada teste aplicado no ensaio 1.

0.00
0.00 5.00 10.00 Conclusões e recomendações
Figura 6 – Elevação de temperatura em função dos parâmetros O desenvolvimento deste trabalho contribuiu propondo um
FQu para diferentes coeficientes de ponderação. indicador de qualidade de tensão capaz de refletir os efeitos
térmicos sofridos por motores trifásicos de indução devido
Essa curva é proposta porque apresenta melhor aderência a distúrbios de desequilíbrio de freqüência fundamental e
em relação aos efeitos de elevações de temperatura que distorções harmônicas na tensão de fornecimento. Também
ocorrem nos motores de indução trifásicos devido aos distúrbios contribuiu mostrando que o indicador proposto, além de
de desequilíbrios de freqüência fundamental combinados a representativo, pode reduzir a quantidade de indicadores
distúrbios de mais de uma ordem harmônica na tensão (que de qualidade de fornecimento de energia elétrica a serem
deve ser o caso mais geral). Por exemplo, para uma elevação de monitorados pelos órgãos reguladores.
temperatura de 3 ºC, o fator de qualidade de tensão indicado A indicação de que as impedâncias de seqüência positiva e
na curva C é de 3%, enquanto na curva A esse fator é de 2,5%. negativa dos motores de indução para harmônicas superiores à
Considerando um limite de compatibilidade para o fator de freqüência fundamental são praticamente iguais é também uma
qualidade de tensão de 2%, o fator obtido pela curva C é muito contribuição apresentada, assim como a recomendação de que
mais severo que o indicado pela curva A. as normas não devem restringir a aplicação de qualquer que
seja o algoritmo de cálculo usado para obter um parâmetro de
B. Comparações de resultados de parâmetros de qualidade de energia, desde que esse algoritmo obtenha valores
qualidade de tensão equivalentes aos obtidos pelos algoritmos recomendados. Além
A Tabela 1 traz valores dos parâmetros de qualidade de dessas contribuições, este trabalho apresentou uma série de
tensão calculados pelos dois métodos citados acima, no item resultados práticos sobre como distúrbios na tensão afetam os
“Proposta para avaliação de distúrbios na tensão”. Esses cálculos motores trifásicos de indução.
foram feitos para todos os 60 testes realizados, porém foram Esses resultados apresentados aqui e a metodologia utilizada
mostrados aqui apenas os resultados dos parâmetros calculados podem servir de referência para outros estudos posteriores.
para um dos ensaios referidos. O fator de qualidade de tensão Finalmente, pode-se avaliar que o desenvolvimento deste
FQu foi calculado com os valores dos coeficientes de ponderação trabalho possibilitou aumentar o conhecimento de como os
usados para obter a curva C da Figura 6. Estes resultados são indicadores de qualidade de energia elétrica, no caso, tensão,

Desequilibrio de Freqüência Distorção Parâmetro de Elevação de


Ensaios Fundamental (FDu) [%] Harmônica Qualidade de tensão Temperatura

Metodo (FHu) [%] (FQu) [%] [0C]

Clássico Eixos (DQ) NEI Eixos (DQ) NEI Eixos (DQ) NEI
NEI
A 0,22 0,22 0,22 0,15 0,15 0,27 0,27 0,00
B 3,27 3,27 3,27 0,16 0,16 3,33 3,33 2,78
C 5,31 5,31 5,30 0,12 0,11 5,35 5,34 4,78
1
D 0,19 0,19 0,19 4,96 4,96 1,93 1,93 2,18
E 0,19 0,19 0,19 9,80 9,79 3,62 3,61 3,78
F 1,19 1,19 1,19 19,93 19,85 8,17 8,14 10,58

Tabela 1 – Parâmetros de qualidade de tensão

O SETOR ELÉTRICO
52 Março 2008
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são capazes de representar bem as condições não adequadas instantâneas e aplicações em qualidade de energia.
a que podem estar submetidos equipamentos conectados às Dissertação, Unicamp, São Paulo, 2000.
redes de energia elétrica, devido a distúrbios na tensão. [6] Normas NEMA – MG1 – Section IV – Performance
Standars Applying to All Machines, Part 30, 1993.
Bibliografia [7] Normas NEMA – MG1 – Section II – Performance
[1] ABREU, J. Policarpo G. de; EIGELES, Emanuel, A. Standars Applying to All Machines, Part 14, 1993.
Induction Motors Loss of Life to Voltage Imbalance and [8] Resolução da ANEEL nº 505 de 26 de novembro de
Harmonics: In: Proceedings 9th International Conference 2001.
on Harmonics and Quality of Power, Oct. 2000. Anais [9] WAKILEH, G. J., Power Systems Harmonics:
eletrônicos. V. 1. p. 75-80. Fundamentals, Analysis and Filter Design. New York:
[2] CIGRÉ, A. New Simple and Effective Approximate Springer, 2001.
Formulation for the Determination of Three-phase
Unbalances by the Voltmeter Method. Belgiques: CIGRÉ,
1986. Continua na próxima edição
[3] Hydro-Québec, CEA (Canadian Electricity Association)
por Nelson Kagan
220 D 711 - Power Quality Measurement Protocol CEA Mestre e PhD pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e pela
Guide to Performing Power Quality Surveys, Prepared by Universidade de Londres, respectivamente. É professor na Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo desde 1983, na qual é professor associado.
Hidro-Québec, May 1996.
[4] MAFARÃO, F. P., DECKMANN E PAIVA, E. P. por Silvio Xavier Duarte
Instantaneous Evaluation of Power Quality Indexes, 5º Doutor pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, participa do
grupo de pesquisadores do Centro de Qualidade de Energia (Enerq/USP),
Congresso Brasileiro de Eletrônica de Potência (COBEP'99) é professor-assistente na Escola de Engenharia da Fundação Educacional
1, 1999, p. 117-122. Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros (FEI) e coordenador do curso de
[5] Mafarão, F. P. Contribuição para a teoria de potências engenharia elétrica da Faculdade de Ciências da FITO, em Osasco.

O SETOR ELÉTRICO
Março 2008 53
Apoio

por José Policarpo Gonçalves de Abreu, Héctor Arango e Fernando N. Belchior


Qualidade de energia

CAPÍTULO II
Análise Harmônica em
Sistemas Elétricos
Ideais e Não-Ideais
Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse dos
profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida, especialistas
encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no País, a Conferência
Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos, novas tecnologias, aspectos
legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de energia, normas e recomendações e
eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de contribuir
para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”, organizado pelo
coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de São Paulo (Enerq/USP), o
professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em meados do ano passado.
Os artigos da série, que são assinados por especialistas no assunto, sofrerão atualizações quando necessário e
constituirão uma verdadeira aula sobre qualidade de energia.
Nesta edição, os professores José Policarpo Gonçalves de Abreu, Héctor Arango e Fernando N. Belchior buscam
agregar informações importantes e essenciais relacionadas a sistemas elétricos ideais e não-ideais.

Introdução Fundamentos teóricos


Teoria das Coordenadas Simétricas viabiliza a Em ondas trifásicas periódicas, é possível usar o
discriminação de grandezas trifásicas senoidais em Teorema de Fourier, expressando o vetor dos valores
componentes associadas às três seqüências de fase: instantâneos ( v (b)) em função da senóide fundamental
positiva, negativa e nula (Fig. 1). Estas componentes (h=1) e dos harmônicos (h > 1), podendo ser repre­
são ortogonais e permitem simplificar muito a solução sentada por:
de sinais senoidais não equilibradas.
Com o advento de equipamentos de eletrônica
de potência, que são inerentemente não lineares, as
formas de onda senoidais tornam-se distorcidas e
Os vetores fasoriais h ( ) são, no caso geral,
passam a conter harmônico em adição à fundamental.
desequilibrados, logo podem ser decompostos em
Ora, toda vez que um harmônico trifásico se apresenta
componentes de seqüência ( ) segundo:
desequilibrado, cabe analisá-lo por meio de suas
componentes simétricas com benefícios semelhantes
aos que se obtêm na senóide fundamental [1]-[3].
Onde é a matriz de transformação para coorde­
Este trabalho pretende enfocar essa forma de
nadas simétricas (positiva, negativa e zero) devida a
tratamento de um modo orgânico, enfatizando
Kennelly e Fortescue. [4], [5].
as propriedades gerais, mas sem perder de vista
a interpretação física e a aplicação em problemas Simetria
concretos e relevantes da engenharia elétrica. A idéia de simetria no caso senoidal está expressa
nas seqüências de fase positiva, negativa e nula. Se o
tipo de seqüência for indicado pelo índice σ = (1, 2, 0),
a simetria de cada seqüência pode exprimir-se como
um “padrão repetitivo σ ” representado em:

Fig. 1. Componentes de seqüência de fase.

O SETOR ELÉTRICO
48 Abril 2008
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Essas igualdades independem do caráter senoidal das ondas Caso aconteça alguma disfunção, como assimetrias nos
(va vb v c ) e podem ser usadas para definir a simetria no caso mais pulsos de disparo, o retificador deixa de agir como carga
geral de ondas distorcidas. Quando se tratam de grandezas balanceada e sua corrente perde a simetria. Isto pode ser
distorcidas e, portanto, com harmônicos, não é possível detectado pelo aparecimento de componentes harmônicas
identificar a simetria com apenas uma particular seqüência de de seqüência que não correspondem à última fórmula citada.
fases. Um exemplo disso é um 5º harmônico contendo seqüência
Entretanto, surge uma interessante questão: como se positiva.
relaciona a simetria de uma onda distorcida com as seqüências É natural que a essência da fundamental seja a seqüência
de fase dos seus harmônicos? positiva da 2ª harmônica à negativa, da 3ª à zero e assim por
Mostra-se que, se uma grandeza trifásica não senoidal tiver diante.
simetria positiva, o seu harmônico h deverá ser de seqüência.
Agregação de harmônicos
Dado um conjunto, ou cluster, de cargas poluidoras, os
harmônicos resultantes dependem da distribuição dos ângulos
Onde (h – Módulo 3) é o resto de dividir o produto h por
de fase nos harmônicos individuais. Estes ângulos diferem tanto
3.
pela distinção entre as cargas quanto dos pontos de conexão.
Assim, o quinto harmônico terá seqüência 5 3
= 2, isto é,
Adotando o ângulo médio como referência, tal como está
negativa.
apresentado na Fig. 2, as cargas a um lado resultam “opostas”,
A questão da simetria de ondas distorcidas tem relação com
em certa proporção, àquelas no outro lado. À imagem dos
muitas situações práticas. Por exemplo, uma boa parte das cargas
compostos químicos, alguns harmônicos são básicos e outros
não-lineares é balanceada, ou seja, quando se aplica uma tensão
ácidos, havendo uma neutralização mútua tanto maior quanto
com simetria positiva, as mesmas reagem absorvendo corrente
mais extremas sejam a basicidade e a acidez, pH=14 e pH=0,
também simétrica positiva. Por exemplo, retificadores trifásicos
consumem-se mutuamente e equivalem a 180° em diferença
de 6 pulsos, quando operando corretamente, comportam-se
angular.
como cargas balanceadas.

O SETOR ELÉTRICO
Abril 2008 49
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de pulsos e k=1, 2, 3, .... O uso de um múltiplo (n) de 6 pulsos


Qualidade de energia

convenientemente sincronizados restringe ainda mais a distorção: h


=6nk±1, sendo n=1, 2, 3, .... Note-se que os harmônicos são ímpares
e aparecem em duplas centradas nas freqüências 6nk. Os harmônicos
de cada dupla, apesar de originar-se na mesma freqüência, são de
ordens diferentes e exibem seqüências distintas. Em uma analogia
biológica, podem ser enxergados como bivitelinos.
Sobre suas características de funcionamento, é importante
destacar que, sob condições idealizadas do sistema alimentador, bem
como a existência de uma indutância infinita nos terminais de saída, a
corrente média no lado CC é constante de valor Id. Nestas condições,
Fig. 2: Distribuição da fase angular as correntes de alimentação do lado CA serão formadas por blocos
retangulares de amplitude ±Id. A Fig. 4 evidencia a forma de onda
A título de ilustração, a Fig. 3 apresenta os resultados obtidos típica e idealizada da corrente de linha de alimentação (IRet) e a
a partir da análise de um circuito paralelo composto de um reator respectiva tensão de alimentação (V) para um retificador de 6 pulsos.
saturado e um retificador trifásico de 6 pulsos nãocontrolado, ambos
geradores de harmônicos [6]. É possível verificar a eliminação da 5ª
harmônica, podendo, dessa maneira, dizer que a 5ª ordem do reator
saturado se comportou como harmônico ácido (ou básico), enquanto
que a 5ª ordem do retificador como harmônico básico (ou ácido).

h IRet (%) Φ (graus)


1 1,10 100,0 -0,2
3 0 0 0
5 0,22 19,8 178,9
7 0,16 14,4 178,5
9 0 0 0
11 0,10 8,9 -2,4
13 0,09 7,8 -2,8
Fig. 4. Corrente de linha no retificador de 6 pulsos.
(b) DHT=27,2 %
Tomando-se a tensão fase A – neutro (V) como referência
h IReator (%) Φ (graus)
para o cálculo das componentes harmônicas da corrente de linha,
1 0,27 100 -72,0
verifica-se que:
3 0,25 92,2 -36,0
5 0,21 77,8 0,0 • IRet(t) é uma função ímpar, portanto, ah são nulos e os ângulos de
7 0,16 59,2 36,0 fase serão 0º ou 180º, dependendo do sinal de bh.
9 0,10 39,4 72,0 A Fig. 5 fornece o espectro de amplitudes (%) e de ângulos de
11 0,06 21,0 108,0
fase das correntes harmônicas associadas.
(d) DHT=141,7%

h IAlim (%) Φ (graus)


1 1,22 100 -12,8
3 0,26 21,3 -35,6
5 0,00 0,4 0,0
7 0,10 8,6 103,8
9 0,11 8,9 73,6 (a) amplitudes (% I1)
11 0,10 7,8 32,8
(f) DHT=26,5%

Fig. 3. Formas de onda e características de um resultado obtido visando a


eliminação da 5ª harmônica (harmônico ácido e base).

Harmônicos univitelinos e harmônicos bivitelinos


Considerando-se, novamente o caso dos retificadores trifásicos
(b) Ângulos de fase (graus)
não-controlados de ‘p’ pulsos, verifica-se que os harmônicos de
corrente ficam limitados às ordens da forma pk±1, sendo p o número

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50 Abril 2008
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Harmônicos estatóricos e harmônicos rotóricos
Um gerador síncrono alimentando um desses retificadores
• Tn,1 (T1,n) torque resultante no eixo produzido pela interação entre
é afetado pela circulação desses harmônicos pelo estator da
vn com i1 (ou v1 com in);
máquina, dando origem a campos magnéticos rotativos. O campo
do harmônico h=7, com seqüência positiva, gira com freqüência
mecânica Ω7 = +7ω1 e o h=7, com negativa, o faz com Ω5 =-5ω1.
Os campos refletem-se no rotor, que gira com ΩR = ω1 com os
harmônicos Ω7 - ΩR = 7ω1 - ω1 = 6ω e Ω5 - ΩR = -5ω1 - ω1 = -6ω.
Onde:
Trata-se de uma dupla com a mesma ordem h=6, mas não formam
o mesmo átomo, pois são de seqüências opostas. Os dois átomos As análises de torque podem ser visualizadas na Fig. 7, onde se
seriam, na notação adotada, univitelinos. observa que:
Os motores de Indução podem ter sua operação afetada pela • Utiliza-se o sinal ‘-’ para harmônicos de seqüência negativa;
presença destes harmônicos, que resultaria em uma operação • Utiliza-se o sinal ‘+’ para harmônicos de seqüência positiva;
indevida na forma de: [7]-[9] • Freqüência do torque de 5º harmônico = 360 Hz (6º harmônico);
• Partida do motor; • O torque fundamental é o dominante e se apresenta com um valor
• Ponto de operação de regime permanente; constante para cada carga acionada;
• Torque médio; • O torque harmônico Tn,n, embora se apresente com um nível
• Torque oscilatório (vibração). constante, devido a φn << φ1 e IRn < IR1, tem-se que seu valor é muito
Sendo: pequeno;
• T1,1 torque fundamental no eixo produzido pela interação • O torque de oscilação T1,n tem amplitude determinada por φ1 e IRn
entre v1 com i1; e oscila em uma freqüência definida por (n±1).ω1. Adicionalmente a
amplitude do torque de oscilação é independente do carregamento
mecânico do motor. Este fato resulta que o efeito de T1,n é mais
• Tn,n torque harmônico no eixo produzido pela interação entre vn pronunciado sobre condições de carga leve.
com in;

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Abril 2008 51
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Qualidade de energia

Fig. 9b. Espectro harmônico da tensão de linha (vab) na armadura da máquina


síncrona.

Por outro lado, as Figs. 10a e 10b trazem as formas de onda das
correntes na armadura, alimentando, da mesma forma, o retificador
e a carga desequilibrada. É possível observar o desequilíbrio das
correntes, que se apresentam, também, distorcidas. Analisando o
espectro harmônico constante na Fig. 9b, nota-se a presença da
3ª harmônica, característica do desequilíbrio e também os efeitos
provocados pela ação em conjunto de cargas desequilibradas
e cargas não-lineares, onde se observa além dos harmônicos
Fig. 7. Representação da influência dos torques harmônicos na rotação nominal
característicos, a presença de harmônicos não-característicos.
de uma máquina elétrica.

Como forma de verificar computacionalmente a influência dos


torques harmônicos no funcionamento das máquinas elétricas, um
gerador síncrono foi submetido a uma carga nãolinear (retificador
de 6 pulsos) e uma carga desequilibrada, a qual provoca um fator de
desequilíbrio de tensão de 5%. A Fig. 8 ilustra tal situação [10]:

Fig. 10a. Correntes de linha na armadura da máquina síncrona.

Fig. 8. Circuito elétrico montado para a análise harmônica em geradores


síncronos.

Obteve-se, da simulação computacional, as formas de onda Fig. 10b. Espectro harmônico da corrente de linha na
das tensões e correntes na saída do gerador, da excitação e das armadura da máquina síncrona.

correntes nos enrolamentos amortecedores de eixo d e q. B. Resultados obtidos na excitação


A - Resultados obtidos na armadura Similarmente, com a presença do retificador e também da
As Figs. 9a e 9b apresentam as formas de ondas das tensões de carga desequilibrada, as análises seguintes envolvem a excitação do
linha e os respectivos espectros harmônicos referentes à armadura do gerador síncrono. Dessa forma, a Fig. 11 ilustra a forma de onda de
gerador síncrono. tensão no mesmo.

Fig. 9a. Tensões de linha na armadura da máquina síncrona. Fig. 11. Tensão no enrolamento de campo da máquina síncrona

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52 Abril 2008
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Associadas às respostas de corrente de excitação, as Figs.


Qualidade de energia

12a e 12b ilustram a forma de onda e o seu espectro harmônico


respectivamente.
Com o desequilíbrio surge uma componente de 2ª
harmônica que, embora de pequena magnitude para o
desequilíbrio provocado, faz com que o valor contínuo da
corrente de excitação seja acrescido de uma oscilação. Nesta
situação, surge uma componente de seqüência negativa
provocada pela existência de um campo magnético girante Fig. 12a. Corrente no enrolamento de campo da máquina síncrona.

com velocidade igual à do rotor, mas em sentido contrário ao


de rotação definido pela seqüência positiva. Sua freqüência
será igual a duas vezes à da rede, ou seja, de 120 Hz para
o nosso caso, que corresponde à harmônica de segunda
ordem. No caso anterior, observou-se que a presença
de distorções harmônicas nos terminais da máquina, em
particular, a de ordem 5 provoca uma componente de 6ª
ordem. Verifica-se assim que embora de valores e ordens
diferentes, ambos os casos baseiam-se no mesmo princípio Fig. 12b. Espectro harmônico da corrente no
enrolamento de campo da máquina síncrona.
físico de funcionamento. Dessa forma, observa-se uma certa
“semelhança” entre as operações desequilibradas e aquelas C. Resultados obtidos nos enrolamentos amortecedores
encontradas quando da operação do alternador na presença A Fig. 13a apresenta a forma de onda da corrente no enrolamento
de distorções harmônicas. amortecedor de eixo direto quando o gerador alimenta a carga
Nesse caso, aparecerão harmônicos superpostos ao seu não-linear (retificador) e carga desequilibrada. A Fig. 13b mostra
valor contínuo devido ao desequilíbrio e a característica do o respectivo espectro harmônico. A justificativa das distorções é a
retificador. mesma apresentada para a corrente de excitação.

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54 Abril 2008
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Conclusões
Qualidade de energia

Este artigo, voltado a agregar informações importantes e


essenciais relacionadas a sistemas elétricos ideais e não-ideais, busca
analisar, de forma analítica e prática, situações reais tipicamente
encontradas em medições de campo. São enfocadas situações onde
se tem assimetria das grandezas trifásicas, associadas a tensões ou
correntes. Diante destas circunstâncias, verifica-se, por exemplo, o
aparecimento de harmônicos não-característicos, que por vezes são
Fig. 13a. Corrente no enrolamento amortecedor de eixo d da máquina minimizados ou até cancelados. São apresentados os conceitos de
síncrona. harmônicos ácidos e harmônicos básicos, analogamente à química,
harmônicos univitelinos e harmônicos bivitelinos, analogamente
Cabe destacar que o enrolamento amortecedor é bastante à biologia e, bem como, harmônicos estatóricos e harmônicos
sensível à circulação de harmônicas. rotóricos, associados às máquinas elétricas.

Referências bibliográficas
[1] J. P. G. Abreu, A. E. Emanuel, Induction motor thermal aging caused by voltage
distortion and imbalance: loss of useful life and its estimated cost, IEEE Transations on
Industry Applications, Vol. 38, Nº1, Jan/Feb 2002, pp. 12-20 and in IEEE Industrial and
Commercial Power Systems Technical Conference, May 2001, pp: 105-114.
[2] J. P. G. Abreu, A. E. Emanuel, “Induction motors loss of life due to voltage imbalance
and harmonics: a preliminary study”, Proceedings of 9th International Conference on
Harmonics and Quality of Power (ICHQP), Vol. 1, Oct. 2000, pp: 75-80.
[3] J. P. G. Abreu, A. E. Emanuel, “The need to limit subharmonics injection”, Proceedings
of 9th International Conference on Harmonics and Quality of Power (ICHQP), Vol. 1, Oct.
Fig. 13b. Espectro harmônico da corrente no enrolamento amortecedor de
2000, pp:251-253.
eixo d da máquina síncrona.
[4] F. A. Furfari, J. Brittain, Charles LeGeyt Fortescue and the method of symmetrical
components, IEEE Industry Applications Magazine, Vol. 8, Issue 3, May-June 2002, pp: 7-9.
Para o enrolamento amortecedor de eixo em quadratura, as [5] R. C. Dugan, M. F. McGranaghan, S. Santoso, H. W. Beaty, Electrical Power Systems

formas de onda da corrente e seu espectro harmônico são dados pelas Quality, McGraw-Hill, 2nd Edition, USA, 2003.
[6] F. N. Belchior, J. C. Oliveira, L. C. O. Oliveira, “Uma estratégia eletromagnética
Figs. 14a e 14b, respectivamente. Neste enrolamento irá ocorrer o
para redução da injeção de correntes harmônicas através da auto-compensação”, XVI
mesmo efeito que para o enrolamento amortecedor de eixo direto. Congresso Brasileiro de Automática (CBA), Out. 2006.
Os comentários e as análises para o enrolamento amortecedor [7] A. Rocco, “Máquinas síncronas e cargas não lineares, efeitos da distorção harmônica,

são análogos aos já realizados para a excitação da máquina. uma análise numérico-experimental”, Tese de Doutorado, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
[8] Battistelli, L., Caramia, P., Carpinelli, G., Proto, D., Power quality disturbances due
to interaction between AC and DC traction systems, IEE Conference Publication, vol. 2,
2nd International Conference on Power Electronics, Machines and Drives, PEMD 2004,
pp. 492-497.
[9] S. X. Duarte, “Proposta de indicador de qualidade de tensão a partir do impacto de
distorções harmônicas e desequilíbrios sobre motores de indução”, Tese de doutorado,
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
[10] C. A. L. Rocha, “Comportamento de geradores síncronos trifásicos alimentando
cargas desequilibradas, uma abordagem analítica e experimental”, Dissertação de
Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2002.
Fig. 14a. Corrente no enrolamento amortecedor de eixo q da máquina síncrona.

Continua na próxima edição

José Policarpo Gonçalves de Abreu é engenheiro eletricista, doutor em


Ciências pela Universidade de Campinas, professor coordenador do GQEE,
consultor de órgãos, como ONS, CSPE e Aneel, e professor da Universidade
Federal de Itajubá.

Héctor Arango é engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Elétrica pela


Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal de
Itajubá.

Fernando N. Belchior é engenheiro eletricista e doutor pela Universidade


Federal de Uberlândia. Atualmente é professor adjunto no Instituto de
Fig. 14b. Espectro harmônico da corrente no enrolamento amortecedor de
Sistemas Elétricos e Energia da Universidade Federal de Itajubá.
eixo q da máquina síncrona.

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56 Abril 2008
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Por José Francisco M. Pessanha, Luciano A. D. Cheberle e Paulo Henrique S. Lopes

CAPÍTULO III
Qualidade de energia

Aspectos da regulação da continuidade


dos serviços de distribuição de
energia elétrica e revisão tarifária
uma proposta de integração
Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse dos
profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida, especialistas
encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no País, a Conferência
Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos, novas tecnologias,
aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de energia, normas e
recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de contribuir
para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”, organizado pelo
coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de São Paulo (Enerq/USP), o
professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em meados do ano passado.
Os artigos da série, que são assinados por especialistas no assunto, sofrerão atualizações quando necessário e
constituirão uma verdadeira aula sobre qualidade de energia.
Nesta edição, os especialistas José Francisco M. Pessanha, Luciano A. D. Cheberle e Paulo Henrique S. Lopes apresentam
uma metodologia que define um índice capaz de compatibilizar a regulação da qualidade (continuidade) e da economia, de
modo a inserir as exigências do cumprimento dos padrões de qualidade no processo de revisão tarifária.

Introdução à medida que eles representem custos adicionais.


A reforma do setor elétrico brasileiro, iniciada Portanto, o regime de regulação pelo preço-
nos anos 1990, foi baseada na experiência do Reino teto não garante o aprimoramento da qualidade do
Unido e caracterizada pela privatização do setor e pela fornecimento de eletricidade e torna necessária a
introdução de mecanismos competitivos na geração e regulação direta da qualidade por meio de um aparato
comercialização de eletricidade, mantendo o regime regulatório complementar que fixe padrões mínimos
de monopólio regulado nos segmentos de transmissão a serem atendidos pelas concessionárias, sob risco de
e distribuição. A Lei 8.631/93 eliminou a regulação sanções e penalidades, conforme evidenciado pela
tarifária pelo custo do serviço e, seguindo a experiência experiência norte-americana.
britânica, os novos contratos de concessão passaram A qualidade do fornecimento de energia elétrica é
a adotar, na regulação das tarifas, o controle pelo avaliada sob três aspectos: conformidade, atendimento
preço-teto (price cap), um regime tarifário proposto comercial e continuidade do fornecimento. A
por Littlechild e adotado pela primeira vez em 1984 na conformidade é caracterizada pelo grau de perfeição
regulação dos serviços de telecomunicações do Reino com que a onda de tensão é disponibilizada aos
Unido. consumidores. No atendimento comercial, são
Neste regime, o regulador define um teto inicial para considerados os aspectos referentes à relação comercial
a tarifa da concessionária, cujo valor é periodicamente entre a empresa e seus consumidores, em particular, o
reajustado com base em um índice de preços ao tempo de resposta às solicitações dos consumidores,
consumidor. No caso brasileiro é o IGP-M, descontado a cortesia do atendimento e o grau de presteza nos
de um fator de produtividade X. serviços demandados pelos consumidores. Por fim, a
A fixação de um preço teto incentiva a concessionária continuidade representa o grau de disponibilidade do
a obter ganhos de produtividade por meio da redução serviço prestado pela concessionária associado à duração
dos custos, pois seu lucro será tanto maior quanto e à freqüência das interrupções do fornecimento de
mais ela reduzir as suas despesas. No entanto, esses energia elétrica.
incentivos para a redução dos custos podem inibir os Os indicadores relacionados à freqüência e à
investimentos para a melhoria da qualidade do serviço duração das interrupções são facilmente mensuráveis

O SETOR ELÉTRICO
48 Maio 2008
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e, por esta razão, constituem os principais parâmetros usados por Desenvolvimento
órgãos reguladores e por empresas de distribuição para avaliar a
qualidade do serviço e medir o desempenho. Esses indicadores, 1. Análise envoltória de dados
quando comparados com níveis máximos preestabelecidos, Uma unidade produtiva ou Decision Making Unit (DMU), por
denominados por metas ou padrões de continuidade, possibilitam exemplo, uma distribuidora, transforma um vetor de insumos
um controle da qualidade por meio de normas e multas em função X={x1 ,..., x s} ∈R+S em um vetor de produtos Y ={y 1 ,..., y m}∈
do desempenho verificado. R+m. A união de todas as transformações viáveis de X em Y
Em 2000, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) emitiu forma o Conjunto de Possibilidades de Produção (CPP):
a Resolução n° 024, aprimorando a regulação da continuidade do CPP={(X,Y)|viável transformar X em Y} (1)
fornecimento no sistema elétrico brasileiro. A resolução introduziu Sob a orientação ao produto, define-se a eficiência como a
a análise comparativa (yardstick competition) dos desempenhos das máxima expansão radial da produção para uma quantidade fixa
concessionárias como meio para definição das metas para Duração de insumos:
Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC) e Eficiência = Max{ θ | (X,θY)∈CPP } (2)
Freqüência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora Neste caso, a variável θ assume um valor maior ou igual
(FEC), as quais são fixadas para cada conjunto de unidades à unidade. Um valor unitário indica que a DMU localiza-se na
consumidoras do sistema (cerca de 6.000 conjuntos). fronteira eficiente e que o aumento da produção só é possível
Com base em estatísticas agregadas por concessionária, este mediante um aumento na quantidade dos insumos. Caso
trabalho propõe um modelo de Análise Envoltória de Dados ou Data contrário, a DMU é ineficiente, pois sua produção situa-se
Envelopment Analysis (DEA) para identificar uma função fronteira abaixo do nível definido pela fronteira, podendo ser expandida
da qual emergem índices que expressam o grau de eficiência das até este nível, mantendo fixas as quantidades dos insumos. Com
concessionárias no cumprimento das metas globais de continuidade base nesses resultados e admitindo as hipóteses de rendimentos
estabelecidas pela Aneel. constantes de escala e tecnologia convexa e monótona, Charnes
A partir de uma classificação desses índices de eficiência, o trabalho et al formulam o primeiro modelo DEA, conhecido como
propõe a inclusão de uma componente Xq nos índices de reajustes Constant Return of Scale (CRS), cuja formulação envelope com
tarifários anuais das tarifas de cada concessionária de distribuição. orientação ao produto é apresentada a seguir:

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Maio 2008 49
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Para atender às metas de continuidade definidas pelo regulador,


Qualidade de energia
(3)
as concessionárias implantam diferentes estratégias em função das
características do mercado atendido. Comparando-se os valores
apurados de DEC e FEC com as metas globais, o regulador pode
identificar quais concessionárias instalaram estratégias eficazes
(valores apurados inferiores as metas) e também quais foram as
mais eficientes no cumprimento das metas (magnitude dos desvios
em que N é o total de DMUs analisadas e o par Xj,Yj representa os entre valores apurados e metas).
insumos e os produtos da j-ésima DMU, j=1,N. Para avaliar a eficiência no cumprimento das metas, propõe-se
No modelo DEA, a avaliação da eficiência é formulada como uma análise comparativa dos desempenhos das concessionárias,
um problema de programação linear, em que a função objetivo é a realizada com base em um modelo DEA aplicado em cada cluster.
máxima expansão da produção e as restrições representam o CPP. O modelo DEA proposto tem orientação ao produto. Os insumos
Denotando a solução ótima do problema em (3) por (θ*,λ*1,..., são as características do mercado atendido não gerenciáveis pelas
λ*N), a DMU j0 é eficiente se e somente se θ*=1 e todas as folgas concessionárias. Inicialmente, tomam-se os desvios entre os valores
nas restrições são nulas. Quando uma DMU transforma x unidades apurados de DEC e FEC e as respectivas metas de continuidade
de um tipo de insumo em y unidades de um tipo de produto, a sua (meta – apurado) como os produtos a serem maximizados.
eficiência pode ser avaliada pelo quociente de produtividade total Em algumas concessionárias analisadas, os valores apurados
y/x. A generalização, para o caso com múltiplos insumos e múltiplos são superiores às metas, resultando em desvios negativos. Para
produtos, consiste em calcular o seguinte quociente: evitar a inclusão de variáveis com valores negativos no modelo DEA,
(4) preferiu-se definir os dois produtos como sendo as razões entre as
metas e os valores apurados, conforme a seguir:
em que u e v denotam, respectivamente, os pesos das quantidades
(6) (7)
de produtos e insumos. Para determiná-los e avaliar a eficiência da
DMUj0, Charnes et al propõem o seguinte modelo DEA/CRS na Quanto maior o valor destas razões melhor o desempenho da
formulação dos multiplicadores, obtido como o dual da formulação concessionária.
envelope (Problema 3): Atendendo a recomendação de que a quantidade de DMUs seja
(5) pelo menos o triplo do número de variáveis, foram selecionados
três indicadores de mercado como insumos: participação da classe
industrial no mercado da concessionária (%ind), razão kVA/km de
rede aérea primária (um indicador de concentração do mercado) e
consumo médio por unidade consumidora da classe residencial (CPC).
Estes três indicadores têm correlações positivas com os dois produtos
e, portanto, satisfazem a hipótese de tecnologia monótona.
Considerando que a duração e a freqüência das interrupções sejam
igualmente importantes, adicionou-se a seguinte restrição ao produto
Denotando a solução ótima do problema em (5) por θ*, u*,v*, a DMUj0 virtual, de tal forma que o modelo DEA, na versão dos multiplicadores,
é considerada eficiente, se e somente se θ*=1 e todos os elementos de u* não valorize demais apenas um dos aspectos da continuidade:
e v* são positivos. Caso contrário, quando θ*>1 ou quando θ*=1, porém
com elementos nulos em u* e v*, considera-se a DMUj0 ineficiente. (8)

2. Formulação do modelo DEA


A especificação de um modelo DEA envolve a seleção das DMUs em que N é o no de concessionárias em cada cluster.
a serem comparadas, a escolha das variáveis insumos e produtos Com o objetivo de evitar a atribuição de peso nulo para alguma variável
e o tipo de modelo. Em virtude da heterogeneidade entre as insumo, adicionaram-se restrições aos insumos virtuais semelhantes à
distribuidoras, preferiu-se segmentar o conjunto de concessionárias apresentada a seguir para a participação da classe industrial:
em agrupamentos homogêneos (clusters) e restringir a comparação
de desempenho ao grupo de concessionárias em um mesmo cluster.
Representando cada concessionária por um vetor com oito (9)

atributos referentes às características do mercado atendido, utilizou-se


uma rede neural auto-organizável para classificar as 51 distribuidoras Todas as variáveis foram calculadas com base em valores
analisadas em três clusters: pequenas (P), médias (M) e grandes (G). apurados em 2004.

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50 Maio 2008
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Qualidade de energia
3. Resultados das medidas de eficiência determinação do Fator X; o reposicionamento tarifário da
Na Tabela I, apresentam-se as medidas de eficiência concessionária visa a proporcionar receita necessária para a
(1/θ), obtidas pelo modelo DEA, para os três clusters de cobertura de custos operacionais eficientes e remuneração
concessionárias. adequada de investimentos prudentes, em nível compatível
com a preservação do equilíbrio econômico-financeiro
Tabela I – Eficiências do contrato de concessão; o fator X calculado na revisão
tarifária periódica da concessionária do serviço público de
DMUs 1/θ DMUs 1/θ DMUs 1/θ
distribuição de energia elétrica é o instrumento regulatório
G1 1 M1 0,4078 P1 1
G2 1 M2 0,6064 P2 0,9906
de estímulo à eficiência e à modicidade das tarifas de
G3 1 M3 0,4273 P3 0,5665 fornecimento.
G4 0,7395 M4 1 P4 0,4049 A proposta metodológica da Aneel para cálculo do Fator
G5 0,8443 M5 0,8374 P5 0,6644 X considera os ganhos de produtividade da concessionária
G6 1 M6 0,8581 P6 0,8868
previstos para o próximo período tarifário (Xe), decorrentes
G7 0,6833 M7 0,6356 P7 0,6413
G8 1 M8 0,3925 P8 1 do crescimento do mercado atendido, a avaliação do grau de
G9 0,8523 M9 1 P9 0,2448 satisfação na percepção do consumidor (Xc, dado pelo IASC),
G10 0,7119 M10 0,9888 P10 0,3301 bem como a manutenção da condição de equilíbrio econômico-
G11 ,9570 M11 1 P11 0,4511
financeiro definida na revisão tarifária periódica (Xa).
G12 0,8753 M12 1 P12 0,9717
O valor do Fator X, tal que (IGPM – X), é aplicado à Parcela
G13 0,5714 M13 0,7608 P13 1
G14 0,8508 M14 1 P14 0,2925 B da receita da concessionária em cada reajuste tarifário
G15 0,9437 M15 0,7810 P15 0,4013 anual, resultante dos componentes Xe, Xc e Xa, é obtido pela
P16 0,6776 fórmula:

P, M e G denotam, respectivamente, P17 0,7663
X = (Xe + Xc) × (IGPM − Xa) + Xa (10)

os clusters com as distribuidoras de P18 0,5752
P19 0,7980 Como se pode notar, a metodologia do fator X não
pequeno, médio e grande porte
P20 0,4857 abordou a questão da qualidade técnica do fornecimento,
P21 1 somente a visão da satisfação do consumidor, por meio da
componente Xc.
De posse desses resultados, pode-se estabelecer um ranking O índice IASC não foi concebido com essa finalidade e não
das empresas do sistema elétrico brasileiro, no que diz respeito tem a precisão necessária à aplicação utilizada. O índice IASC
à eficiência no cumprimento das metas de continuidade do perde qualidade como instrumento de avaliação em função do
fornecimento de energia elétrica estabelecidas pelo regulador chamado “risco moral” que estimularia avaliações negativas em
(Aneel). função de potenciais efeitos tarifários.
O que o trabalho propõe é a inserção de uma componente
4. Proposta de interação com o Xq na fórmula de cálculo do fator X, trazendo para o processo
processo de reajuste tarifário anual de reajuste tarifário aquilo que a empresa de referência também
Pelo regime de regulação por incentivos adotado no sistema, não contempla: a eficiência das concessionárias distribuidoras
incluiu-se a definição e a efetiva implantação de um regime da no cumprimento das metas de continuidade estabelecidas pelo
qualidade do serviço técnico e atendimento comercial recebidos regulador (Aneel).
pelos clientes, compreendido em:
a) Determinação de metas para os parâmetros de qualidade que 5. Definição da componente Xq
refletem um nível de qualidade mínimo; Da mesma forma que a componente Xc, a componente Xq
b) Efetiva medição desses parâmetros para cada cliente também é limitada a um intervalo:
individual; -1,0000 ≤ Xq ≤ +1,0000 (11)

c) Aplicação de penalidades para os casos em que o serviço De posse do ranking já citado em 3.3, baseado
não alcance níveis mínimos de qualidade exigidos, com valores na modelagem DEA, distribui-se as concessionárias
determinados com base no custo da energia não fornecida. uniformemente no intervalo [-1,1], partindo de 1/ θ =1
A revisão tarifária periódica das concessionárias de (concessionárias mais eficientes) decrescentemente até as
distribuição do sistema compreende o reposicionamento menos eficientes. No estudo, obtiveram-se os seguintes
das tarifas de fornecimento de energia elétrica e a resultados:

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52 Maio 2008
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Para as concessionárias com índice de eficiência 1/θ ≥ 0,7,
Tabela 2
atribui-se um Xq ≥ 0.
DMUs 1/θ Xq DMUs 1/θ Xq
Como proposta de revisão do fator X, este trabalho enfoca
G1 1 1,0000 M5 0,8374 0,3514
G2 1 1,0000 P19 0,798 0,2973 a necessidade da inclusão da componente Xq na fórmula (10),
G3 1 1,0000 M15 0,781 0,2432 obtendo-se a nova fórmula proposta a seguir:
G6 1 1,0000 P17 0,7663 0,1892 X = (Xe + Xc - Xq) × (IGPM − Xa) + Xa (12)
G8 1 1,0000 M13 0,7608 0,1351 Como ilustração, aplicando (10) e (12), considerando a
M4 1 1,0000 G4 0,7395 0,0811
concessionária G8, demonstra-se a seguir o cálculo realizado pela
M9 1 1,0000 G10 0,7119 0,0270
ANEEL para o Fator X do ano de 2004 e, logo após, o cálculo do
M11 1 1,0000 G7 0,6833 -0,0270
M12 1 1,0000 P16 0,6776 -0,0811 fator X, considerando a inserção da componente Xq, proposta por
M14 1 1,0000 P5 0,6644 -0,1351 este trabalho.
P1 1 1,0000 P7 0,6413 -0,1892
P8 1 1,0000 M7 0,6356 -0,2432 (13)
P13 1 1,0000 M2 0,6064 -0,2973
P21 1 1,0000 P18 0,5752 -0,3514
P2 0,9906 0,9459 G13 0,5714 -0,4054
M10 0,9888 0,8919 P3 0,5665 -0,4595 (14)

P12 0,9717 0,8378 P20 0,4857 -0,5135


G11 0,957 0,7838 P11 0,4511 -0,5676 Da análise de (13) e (14), percebe-se que a eficiência da empresa
G15 0,9437 0,7297 M3 0,4273 -0,6216 foi traduzida em redução do fator X e, conseqüentemente, em um
P6 0,8868 0,6757 M1 0,4078 -0,6757
Índice de Reajuste Tarifário (IRT) maior. É o incentivo pela busca da
G12 0,8753 0,6216 P4 0,4049 -0,7297
M6 0,8581 0,5676 P15 0,4013 -0,7838
eficiência, já que a empresa G8 foi classificada como eficiente (1/
G9 0,8523 0,5135 M8 0,3925 -0,8378 θ=1,0000).
G14 0,8508 0,4595 P10 0,3301 -0,8919 Em síntese, quando Xq>0 (eficiência 1/θ maior que 70%), os
G5 0,8443 0,4054 P14 0,2925 -0,9459 custos da melhoria da prestação do serviço devem ser refletidos na
P9 0,2448 -1,0000 tarifa, representando um incentivo tarifário para a concessionária,

O SETOR ELÉTRICO
Maio 2008 53
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já que o sistema elétrico comportou-se melhor que o requerido. No o período anterior mediante uma gestão eficiente, vinculada
Qualidade de energia

entanto, quando Xq<0 (eficiência 1/θ menor que 70%), a ineficiência diretamente ao desempenho efetivo da concessionária na
da concessionária deve ser compensada aos consumidores, continuidade da prestação do serviço de distribuição de energia
beneficiando-os com uma redução na tarifa. elétrica.
Eventuais melhorias para uma próxima modelagem incluem
Conclusões a possibilidade da análise de outras variáveis, como número de
O trabalho apresenta resultados significativos no que concerne consumidores e número de conjuntos da concessionária, DEC/FEC
a análises que podem ser feitas pelo Regulador, quais sejam: (horas médias por interrupção), investimentos, MWh/Km rede aérea
- do ponto de vista da fiscalização, o ranking apresentado permite primária e custo operacional.
avaliar o desempenho de concessionárias com padrão técnico Em síntese, o trabalho sugere o aprofundamento da questão,
de atendimentos semelhantes, que deveriam, pelos mesmos com vistas a um possível aperfeiçoamento do processo regulatório,
insumos, alcançar níveis de eficiência equiparados. E ainda permite em particular quanto à necessidade de compatibilização dos
uma avaliação da acurácia dos procedimentos de apuração dos processos de regulação da qualidade e de regulação econômica.
indicadores de continuidade DEC e FEC; Esse processo seria realizado de modo a cotejar as exigências de DEC
- do ponto de vista da regulação técnica, é possível se identificar e FEC para todas as concessionárias com os padrões da empresa de
aquelas concessionárias que tiveram metas definidas com excessiva referência utilizada em cada caso, bem como a oportunidade de
tolerância ou, ao contrário, aquelas que tiveram metas definidas verificar se um eventual aumento de custos, derivado da evolução
muito apertadas em relação ao que a concessionária pode realizar. da qualidade cobrada pela regulação, poderia afetar a expectativa
Sob a análise da regulação econômica e alinhada às abordagens de captura dos ganhos de eficiência por parte das concessionárias
já adotadas pela ação regulatória, a proposta visa a incrementar a de distribuição.
competitividade das empresas distribuidoras, estimulando a busca
pela eficiência na prestação do serviço de distribuição de energia Referências bibliográficas
ARAÚJO, J.L., A questão do investimento no setor elétrico brasileiro: reforma e crise, Nova
elétrica, bem como a redução de custos e a alocação correta de
Economia, Belo Horizonte, v.11, n.1, julho 2001.
recursos financeiros. Nessa análise, seria considerada no reajuste ARMSTRONG, M., COWAN, S. and VICKERS, J., Regulatory reform, economic analysis and the
British experience, Cambridge MIT, 1997.
tarifário anual a eficiência que a concessionária alcançou durante

O SETOR ELÉTRICO
54 Maio 2008
Apoio

CHARNES, A., COOPER, W.W. and RHODES, E., Measuring the Efficiency of Decision Making SOLLERO, M.K.V. and LINS, M.P.E., Avaliação de eficiência de distribuidoras de energia elétrica
Qualidade de energia
Units, in European Journal of Operational Research 2. 1978. através da análise envoltória de dados com restrições aos pesos, XXXVI Simpósio Brasileiro de
COOPER, W.W., SEIFORD, L.M. and TONE, K., Data Envelopment Analysis, A Comprehensive Text Pesquisa Operacional, São João del Rei, 2004.
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1998. VIDAL, D.N.A. and TÁVORA JÚNIOR, J.L., Avaliação da eficiência técnica das empresas de
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Continua na próxima edição
2004a.
PESSANHA, J.F.M., CASTELLANI, V.L.O , HASSIN, E.S. and CHEBERLE, L.A.D., ANABENCH
Luciano Augusto Duarte Cheberle é engenheiro eletricista e especialista em
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José Francisco Moreira Pessanha é engenheiro eletricista, doutor em
RUDNICK, H. and DONOSO, J.A., Integration of Price Cap and Yardstick Competition Schemes
in Electrical Distribution Regulation, IEEE Transactions on Power Systems, vol 15, no 4, Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e
November, 2000. pesquisador do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel/Eletrobrás).

O SETOR ELÉTRICO
56 Maio 2008
Apoio

Por José Antonio Jardini, Se Un Ahn, Lourenço Matakas Jr., Wilson Komatsu, Edison Bormio Jr., Josué de
Camargo, Antonio Ricardo Giaretta, Maurício Galassi, Thiago Costa Monteiro e Marco Antônio de Oliveira
Qualidade de energia

CAPÍTULO IV
Micro DVR – Uma plataforma de
desenvolvimento para DVR e FACDS

Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o


interesse dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de
energia no País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir,
entre outros assuntos, novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e
eletromagnética, conservação de energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de
contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de
energia”, organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da
Universidade de São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos
na CBQEE, realizada em meados do ano passado.
Os artigos da série, que são assinados por especialistas no assunto, sofrerão atualizações quando
necessário e constituirão uma verdadeira aula sobre qualidade de energia.
Neste capítulo, confira o trabalho de especialistas da Universidade de São Paulo (USP), da Pontifícia
Universidade Católica (PUC-SP), da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e Expertise Engenharia.
O objetivo é apresentar uma plataforma de desenvolvimento para o Restaurador Dinâmico de Tensão
(DVR).

O objetivo deste trabalho é apresentar uma O equipamento em escala reduzida pode diminuir
plataforma de desenvolvimento para o Restaurador drasticamente os custos de desenvolvimento. Em
Dinâmico de Tensão (RDT ou DVR – Dynamic Voltage um laboratório pequeno e com uma rede CA com
Restorer) e para Sistemas Flexíveis de Distribuição capacidade de corrente limitada, é possível realizar
de Corrente Alternada (FACDS, em inglês, Flexible os mesmos tipos de ensaios de um equipamento
Alternating Current Distribution Systems), que de dimensões reais, os quais só seriam possíveis
permita testar os algoritmos de controle, o em instalações especiais. Há também economia de
comportamento do hardware e validar as estratégias recursos, pois menos pessoas são envolvidas e são
de dimensionamento dos circuitos sem a presença utilizados equipamentos com nível de isolação básica
dos inconvenientes da operação com tensões e menor para medição e proteção individual. Com a
correntes elevadas. redução de tamanho, este equipamento pode ser
Esta plataforma opera com tensões e correntes facilmente transportado para oferecer treinamento e
CA trifásicos com valores reduzidos (31 V eficazes capacitação de pessoal em equipamentos de eletrônica
de fase e 3 A nominais). Dessa forma, o sistema de potência aplicados a sistemas de distribuição.
fica com o tamanho reduzido, possibilitando um
manuseio mais simples se comparado a um sistema Topologia do Micro DVR
em escala real. Trabalhando com correntes e O diagrama unifilar simplificado do Micro DVR é
tensões reduzidas, além da redução dos riscos de mostrado na Figura 1. O sistema é ligado à rede CA
acidentes graves durante o desenvolvimento, os por meio de dois bancos de três transformadores
efeitos da interferência eletromagnética gerada monofásicos ligados em estrela-estrela com um
pelo chaveamento dos conversores também são terciário em delta. Com isso, o sistema opera sem
minimizados. defasagem da rede CA e galvanicamente isolado.

O SETOR ELÉTRICO
40 Junho 2008
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Figura 1 - Diagrama unifilar simplificado do Micro DVR. Fase A.

O ramo série é implantado com três inversores monofásicos da entrada CA, realiza o afundamento momentâneo da tensão
em ponte completa, chaveados com PWM em três níveis, de fase (Sag) para 50% da tensão nominal.
conectados a filtros LC (Linv, Cinv) e ligados em série entre a O ramo paralelo é composto pelo segundo banco de
rede CA (isolada) e a carga por meio de três transformadores transformadores abaixadores e por um retificador PWM trifásico,
monofásicos, permitindo a injeção de corrente de seqüência que absorve corrente CA praticamente senoidal com alto fator
zero. A presença dos indutores chaveados Lfacds permite simular de potência e mantém a tensão no banco de capacitores C do
a impedância de uma linha de distribuição concentrada metade barramento CC com tensão Vcc constante igual a 50 V. Em um
à montante e metade à jusante. O resistor Rsag, com o mesmo evento de rejeição de carga que gere uma elevação momentânea de
valor ôhmico da impedância série do banco de transformadores tensão (Swell), os inversores monofásicos do ramo série devolvem

O SETOR ELÉTRICO
Junho 2008 41
Apoio

energia ao banco C e o retificador PWM devolve esta energia à em fase com a componente fundamental da seqüência positiva da
Qualidade de energia

rede CA. Na energização inicial do conjunto, com o retificador PWM rede. Além disso, é possível desenvolver um PLL preciso e rápido com
desativado, a corrente de carga do banco C é limitada temporariamente tempo mínimo de processamento, o que facilita a sua introdução em
pelos resistores Rret. Quando a tensão Vcc atinge um valor mínimo, os sistemas de controle baseados em DSPs.
resistores Rret são “curto-circuitados” pelo controle e o retificador PWM
e os inversores do ramo série entram em operação. Em regime, a tensão
Vcc é maior que o valor de pico de linha do secundário do banco de
transformadores do ramo paralelo, permitindo ao retificador PWM impor
corrente com derivada positiva ou negativa sobre os indutores Lret.
O DVR implantado pode compensar Voltage Sags trifásicos
Figura 3 – Estrutura básica do PLL utilizado com um sistema de controle em malha fechada
máximos para vSag3φ = 0,5 pu e Voltage Swells máximos para vSwell =
1,2 pu com máxima duração de Δt = 300 ms. b) Geração de referência para compensação de Sags e Swells
e harmônicas de tensão
Controle do Micro DVR Este método tem como vantagem o fato de corrigir a amplitude
da seqüência positiva em regime e durante Sags e Swells, assim
Controle do ramo série como eliminar as distorções harmônicas de tensão na carga.
O sistema de controle do ramo série do Micro DVR é representado
pelos blocos de geração de referência, Phase-Locked-Loop (PLL), e
pelo controle do inversor da Figura 2. O bloco de geração de referência
tem por objetivo fornecer ao controlador de tensão a referência de
tensão a ser injetada pelo DVR. O controle do inversor (por fase)
rastreia a tensão de referência por fase, garantindo a injeção correta
de tensão em série de cada fase. Informações sobre ângulo de fase
e freqüência da tensão CA utilizada, fornecidas pelo bloco de PLL,
são críticas para o funcionamento de DVRs. Algumas estratégias de Figura 4 - Geração de referência na operação como DVR baseada na extração da
controle de tensão e do PLL são apresentadas em [6], [7], [8] e [9]. As seqüência positiva da tensão

estratégias de PLL e de geração de referência série instaladas nessa Na Figura 4, os valores instantâneos gerados pelo PLL (vPLL//A(t),
plataforma são apresentadas nos itens a) e b) a seguir. vPLL//B(t) e vPLL//C(t)), em fase com a seqüência positiva da rede, são
multiplicados, um a um, com as correspondentes tensões medidas
da rede vA(t), vB(t) e vC(t). A soma dos três produtos passa por um
filtro passa-baixas (FPB) e é multiplicada por uma constante (K =
2/3), resultando no valor de pico da seqüência positiva extraída
da rede |v+1(t)|. Multiplicando-se individualmente esse valor por
vPLL//A(t), vPLL//B(t) e vPLL//C(t), obtêm-se v+1A(t), v+1B(t) e v+1C(t) (valores
desejados para a carga), de onde, subtraídas as tensões medidas
da rede, resultam as tensões de referência vREFA(t), vREFB(t) e vREFC(t)
para o controle de cada um dos três inversores série do DVR.
O valor |v+1(t)| (valor real de pico da componente fundamental
de seqüência positiva) varia lentamente durante o dia devido às
variações no carregamento do sistema de distribuição. Portanto, a
Figura 2 - Diagrama de blocos de controle do ramo série na operação como DVR. dinâmica do gerador de referência deve ser lenta o suficiente para
a) PLL de seqüência positiva [8] acompanhar apenas a pequena variação, normal e aceitável, em
É implantado um detector de fase baseado no produto escalar torno do valor nominal da tensão da rede, mas deve-se manter
das tensões de rede CA VA,B,C com as tensões de sincronismo VPLLA,B,C praticamente inalterada durante os Sags e Swells para que estes
e uma posterior filtragem desse resultado (Figura 3). Se as tensões sejam compensados. Com isso, distorções harmônicas de tensão
estiverem sincronizadas e com defasagem de 90 graus entre si, a na carga também são compensadas em regime e nos transitórios,
componente contínua do produto escalar tem valor nulo. Caso elas pois as referências v+1A(t), v+1B(t) e v+1C(t) têm valor de pico |v+1(t)|.
estejam em alguma outra situação, um controlador PI faz o ajuste na
freqüência do PLL, corrigindo fase e freqüência. A partir de VPLLA,B,C, Controle do ramo paralelo
são geradas tensões (VPLL//A,B,C) em fase com a rede. Este método O sistema de controle do ramo paralelo do Micro DVR,
apresenta a vantagem de obter um conjunto trifásico de referências operando como DVR, é representado pelos blocos de controle

O SETOR ELÉTRICO
42 Junho 2008
Apoio
de tensão CC (Figura 5) e controle da corrente CA, ambos do
retificador PWM (Figura 6).

em que TA é o período de amostragem, KP é o ganho proporcional, KI


é o ganho integral, IPAR é a saída do bloco PI, resultante do erro em
sua entrada (diferença entre a tensão de referência VCCREF e a tensão
medida Vcc), e k é a k-ésima amostra em um sistema discretizado.
Especialmente durante transientes ou devido a saturações
internas das malhas de controle, a parte integral do controlador PI
pode ser levada à saturação, fazendo o controle não ser efetivo. Esse
problema, conhecido como windup, pode ser evitado, prevendo-se
Figura 5: Diagrama de blocos de controle da tensão CC do ramo paralelo um bloco anti-windup no controlador que restringe a ação integral
durante transientes. O algoritmo proposto consiste em variar o
limite L da ação integral dinamicamente. Fixando-se um limite fixo
(valor máximo) para a ação proporcional, o limite variável da ação
integral é dado por:

b) Controle de corrente CA
Figura 6: Diagrama de blocos de controle da corrente CA do ramo paralelo
O controlador de corrente CA, baseado em um algoritmo
a) Controle de tensão CC deadbeat ([3], [4], [5], [6], [7], [9]), rastreia a corrente de referência,
O bloco de controle da tensão CC é implantado com um garantindo a geração de correntes senoidais em fase com as tensões
controlador PI com anti-windup e tem por objetivo manter a de entrada do retificador PWM. Para uma dada fase, a diferença
tensão no barramento CC em um valor predeterminado VCCREF. A entre a tensão da rede vA(t), vB(t) ou vC(t) e a tensão sintetizada
expressão do controlador PI discretizado do plano s para o plano z, vRETA(t), vRETB(t) ou vRETC(t) na saída do retificador PWM recai sobre
por transformação bilinear, é: o indutor Lret em série, gerando uma corrente iL, que é a corrente

O SETOR ELÉTRICO
Junho 2008 43
Apoio

absorvida pelo retificador PWM. A tensão sintetizada vRET, que Para o ramo paralelo (retificador PWM), inicialmente regulou-se
Qualidade de energia

assegura a resposta deadbeat, é dada pela seguinte expressão: o controlador PI de tensão do barramento CC para um tempo de
acomodação de 1s e um erro máximo de 5% em relação à tensão
de referência. Com isto após a aplicação de um degrau de carga de
50% da potência nominal pode-se verificar a atuação do controlador
de tensão na Figura. 9.
Simulações
O algoritmo de PLL da Figura 3 foi simulado com o software
Matlab para a freqüência da rede de 60 Hz, afundamento
trifásico de 50% da fundamental e presença da 5ª harmônica
(20%). Os resultados estão na Figura 7, mostrando a ocorrência
de sincronização, evidenciados pela presença das três tensões de
seqüência positiva VPLL//. O controlador PI (controlador GC(s) na

Figura 3 foi ajustado com e .

A máxima variação da freqüência angular é . A freqüên­

cia de amostragem desta simulação foi fs = 10 kHz.

Figura 9 - Simulação do controle da tensão do barramento CC

Resultados experimentais

O Micro DVR foi instalado em um gabinete industrial padrão,


Figura 7 - Tensões de fase: verde, ciano, amarelo / Tensões VPLL//: azul, vermelho, púrpura conforme mostram as Figuras 10, 11 e 12. Para instituição do
controle, foram utilizados dois Processadores Digitais de Sinais (DSP)
O gerador de referência da Figura 4 foi simulado com o software Analog Devices ADSP-21992, um para o ramo série e outro para o
PSIMCAD (Figura 8). Na simulação, foi aplicada tensão eficaz (da ramo paralelo, operando independentemente e sem comunicação
fase A) VA_rms = 31 V (1 p.u.) sem harmônicas e referência de tensão entre si. Para as medições dos sinais, foram utilizados sensores de
gerada pelo PLL (também para a fase A) inicialmente como VAref_rms efeito Hall LEM LA25 para os sinais de corrente e LEM LV20 para os
= 31 V (1 p.u.). Um Sag trifásico de 65% com duração de tSAG = sinais de tensão. Os conversores foram empregados com transistores
0,5s foi aplicado. Podemos observar na Figura 8 que a referência de IGBT IRG4PC50UD (VCES = 600 V, IC = 27 A) e disparadores Agilent
tensão é mantida acima de 95% do valor inicial (nominal), seguindo HCPL-316J. Os conversores operam com freqüência de chaveamento
o critério de projeto adotado e seu comportamento não apresenta de fchav= 10 kHz e a freqüência de amostragem dos DSPs é o dobro,
sobre-sinal. no caso, fs = 20 kHz.
A referência de seqüência positiva não pode se alterar
consideravelmente durante o curto intervalo do evento de Sag ou Figura 10 - Vista do Micro DVR

Swell. Para o Micro DVR, a máxima duração de um Sag/Swell foi


definida como tSAG_max = 0,3 s e o filtro passa-baixas (FPB) do gerador
de referência (Figura 5) deve ter um tempo de acomodação tsettling
maior que tSAG_max. Isto assegura que, durante o distúrbio, a referência
de seqüência positiva mantenha-se praticamente constante e que o
Micro DVR consiga restaurar a tensão na carga a valores nominais Figura 11 - Vista frontal do Micro DVR

de antes do afundamento. Na simulação e na instalação, o tempo


de acomodação é de cerca de tsettling = 5 s.

Figura 8.
Comportamento
da referência de
tensão (vermelho)
durante um Sag
trifásico (azul).
Formas de onda
referidas à fase A. Figura 12 - Vista lateral do Micro DVR

O SETOR ELÉTRICO
44 Junho 2008
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Foram efetuadas medidas de desempenho, operando como correntes elevadas. Com isso, reduzem-se os riscos de acidentes
Qualidade de energia

DVR, comprovando a compensação de harmônicas de tensão (Figura elétricos, há redução de interferência eletromagnética, abre-se
13) e de afundamentos de tensão trifásicos para 50% com carga R a possibilidade de instalação em locais com potência disponível
(Figura 14) e RL (Figura 15). limitada e se ganha portabilidade para o equipamento, que pode ser
usado para treinamento e capacitação de pessoal em equipamentos
de eletrônica de potência aplicados a sistemas de distribuição.
Simulações computacionais e resultados experimentais foram
apresentados para validar as premissas de projeto e aplicação.

Referências bibliográficas
[1] MOHAN, N.; UNDELAND, T. M.; ROBBINS, W. Single-phase inverters. In: Power
electronics: converters, applications and design. 3. ed. Hoboken, NJ: John Wiley &
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electronics: converters, applications and design. 3. ed. Hoboken, NJ: John Wiley &
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[3] AHN, S. U. et al. Dispositivo restaurador da tensão com funções de compensação
Figura 13 - Compensação de harmônicas de tensão (fase A) na carga de reativos e filtro ativo de harmônicos. In: II Congresso de Inovação Tecnológica
em Energia Elétrica (CITENEL), v. 2, 2003, p.885-890.
[4] MATAKAS JR., L. et al. Mini-DVR – dynamic voltage restorer with functions of
reactive compensation and active harmonic filter. In: IEEE/PES Transmission and
Distribution Conference and Exposition Latin America, nov. 2004.
[5] AHN, S. U. et al. Mini-DVR – dynamic voltage restorer with active harmonic
filter (tests of prototype). In: 11th ICHQP Conference, set. 2004.
[6] MATAKAS JR., L. et al. A low power dynamic voltage restorer with voltage
harmonic compensation. In: International Power Eletronics Conference, 2005.
[7] AHN, S. U. et al. Implementação e testes alfa da geração de referencia e
controle em um protótipo de restaurador dinâmico de tensão. In: VI Seminário
Brasileiro sobre Qualidade de Energia Elétrica, 2005, p.205-212.
[8] MATAKAS JR., L. et al. Uma abordagem gráfica para um algoritmo de PLL
baseado em seqüência positiva. In: CBA 2006 Congresso Brasileiro de Automática.
Curitiba, 2006, p.2.081-2.086.
[9] GALASSI, M. et al. Reference generation and PLL in a dynamic voltage restorer
Figura 14 - Compensação de afundamento de tensão trifásico para prototype: implementation and tests. In:n XII ICHQP International Conference On
50% (mostrando somente fases A e B) com carga R = 22 ohms Harmonics and Quality of Power. Cascais, 2006.

Continua na próxima edição

José Antonio Jardini é engenheiro eletricista, professor da Escola Politécnica


da USP, membro da CIGRÉ, Fellow Member do IEEE e Distinguished Lecturer
do IAS/IEEE.
Se Un Ahn é engenheiro eletricista e engenheiro de pesquisas de sistemas de
distribuição da CPFL Piratininga.
Lourenço Matakas é engenheiro eletricista, professor da EPUSP, da PUC-SP e
da Universidade São Judas.
Wilson Komatsu é engenheiro eletricista, professor da EPUSP e atua nas áreas
de qualidade de energia, controle e modelamento de conversores.
Edison Bormio Jr. é engenheiro eletricista e engenheiro de planejamento de
sistemas de distribuição da CPFL Paulista.
Josué de Camargo é engenheiro eletricista e atua na área de pesquisa aplicada
a sistemas de distribuição de energia elétrica na Expertise Engenharia.
Antonio Ricardo Giaretta é engenheiro eletricista e pesquisador do
Figura 15 - Compensação de afundamento de tensão trifásico para 50% Laboratório de Eletrônica de Potência (LEP) da Escola Politécnica da
(mostrando somente fases A e B) com carga R = 22 ohms, L = 10 mH Universidade de São Paulo.
Maurício Galassi graduou-se em Engenharia de Energia e Automação
Conclusões Elétricas da Escola Politécnica na Universidade de São Paulo e atua como
Este trabalho apresentou uma plataforma de desenvolvimento pesquisador do Laboratório de Eletrônica de Potência (LEP) na mesma
para DVR e FACDS com valores de tensão e corrente reduzidos, instituição.
Thiago Costa Monteiro é engenheiro eletricista e atualmente desenvolve
que permite testar os algoritmos de controle, o comportamento do projetos de P&D pela Expertise Engenharia.
hardware e validar as estratégias de dimensionamento dos circuitos, Marco Antônio de Oliveira é engenheiro eletricista e desenvolve projetos de
P&D pela Expertise Engenharia.
sem a presença dos inconvenientes da operação com tensões e

O SETOR ELÉTRICO
46 Junho 2008
Apoio

Por José Wilson Resende e Rogério Pinto do Nascimento


Qualidade de energia

CAPÍTULO V
Procedimentos para determinação
de filtros harmônicos sintonizados,
incluindo análises de desempenho e
de suportabilidade

Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o


interesse dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de
energia no País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir,
entre outros assuntos, novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e
eletromagnética, conservação de energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de
contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de
energia”, organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da
Universidade de São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos
na CBQEE, realizada em meados do ano passado.
Os artigos da série, que são assinados por especialistas no assunto, sofrerão atualizações quando
necessário e constituirão uma verdadeira aula sobre qualidade de energia.
Os engenheiros eletricistas José Wilson Resende e Rogério Pinto do Nascimento, ambos da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), apresentam, neste artigo, uma proposta de procedimentos
sistemáticos voltados à determinação de filtros harmônicos sintonizados.

Este artigo apresenta uma seqüência de ao longo do tempo, um aspecto importante na fase
procedimentos que visam à determinação de de projeto é o conhecimento do comportamento
filtros harmônicos sintonizados, priorizando a das impedâncias harmônicas da barra em que
minimização das potências reativas e sua garantia se pretende instalar o filtro. Neste sentido, para
de suportabilidade. sistemas elétricos industriais ou de distribuição,
Os procedimentos a serem apresentados costuma-se obter as impedâncias harmônicas a
compreendem a execução de diversas etapas partir do nível de curto-circuito da barra. Isso pode
de cálculos, os quais culminarão em análises do ser assumido porque estes sistemas, em geral,
desempenho e da suportabilidade do filtro e nos não sofrem grandes variações em sua topologia e
valores nominais dos componentes R, L e C. possuem uma grande quantidade de alimentadores
De maneira geral, a presença de um ou mais curtos, os quais apresentam características indutivas
filtros harmônicos em uma barra certamente ao longo de todas as freqüências harmônicas. Para
promoverá: sistemas de transmissão, porém, será necessário
• Redução dos índices de distorção harmônica do conhecer com mais detalhes o comportamento da
sistema; rede.
• Geração de reativos para o sistema (visando à Devido à exigüidade de espaço, nos
melhoria do fator de potência). procedimentos propostos neste artigo, o sistema
Entretanto, no que concerne à questão de elétrico será considerado apenas a partir do
dimensionamento de filtros, devido às eventuais nível de curto-circuito da barra em que os filtros
mudanças que podem ocorrer na topologia das redes serão instalados. No entanto, para sistemas de

O SETOR ELÉTRICO
42 Julho 2008
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transmissão, os procedimentos gerais não serão diferentes A partir das informações anteriores, cada filtro sintonizado
do que aqui apresentamos. Após a escolha do tipo de será dimensionado separadamente, ordem por ordem, de
representação a ser adotado para o sistema elétrico, o próximo modo iterativo. Este processo iterativo será iniciado para o
passo será determinar qual dos dois objetivos será priorizado filtro sintonizado da menor ordem harmônica “n” escolhida.
com a inserção dos filtros sintonizados: redução dos índices de Para iniciar o processo iterativo, outros três dados devem ser
distorção harmônica do sistema a níveis prefixados ou correção fornecidos, a saber:
do fator de potência para um valor também predeterminado. • O fator de qualidade inicial do filtro (Q(0)) (o índice “(0)“ significa
que o dado informado é uma estimativa inicial, pois trata-se de
Procedimentos gerais para a determinação um cálculo iterativo);
de filtro sintonizado mínimo • A potência reativa fundamental inicial do capacitor do filtro (Q(0) CAP).
Neste artigo, os procedimentos que levarão à obtenção • A dessintonia máxima permitida ao filtro (d).
de filtros de menor potência possível (ou filtro mínimo) serão Com relação à dessintonia máxima, é oportuno
ilustrados a partir da condição acima mencionada, que visa, mencionar que, se um filtro sintonizado é dimensionado
prioritariamente, à redução de distorções harmônicas de tensão para uma dada freqüência, três fatores independentes
a níveis prefixados. contribuem para dessintonizar o circuito para a harmônica
Além das escolhas da forma de representação do sistema elétrico correspondente:
e do objetivo prioritário a ser atingido com a inserção dos filtros, a) variação da freqüência do sistema c.a;
também será necessário o conhecimento dos seguintes dados: b) erro de sintonia inicial, devido ao reator do filtro (dada à sua
• Escolha da barra em que será(ão) instalado(s) o(s) filtro(s) própria característica de fabricação);
sintonizado(s); c) variação da capacitância total, devido à variação da temperatura,
• Escolha da(s) ordem(ns) harmônica(s) para a(s) qual(is) se deseja ou devido à falha de um ou mais elementos de capacitor.
projetar filtro(s) sintonizado(s); A pior hipótese de dessintonização acontecerá quando
• Determinação do(s) valor(es) da(s) máxima(s) distorção(ões) todos os fatores descritos forem cumulativos. Os valores que
harmônica(s) individual(is) de tensão possível(eis) de ocorrer com a ocorrem na prática situam-se, normalmente, na faixa de 1,5%
inserção do(s) filtro(s) sintonizado(s) na(s) ordem(ns) escolhida(s). a 3%.

O SETOR ELÉTRICO
Julho 2008 43
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Cálculo da potência reativa fundamental mínima do filtro Cabe aqui ressaltar que, em geral, é recomendável que o valor
Qualidade de energia

Com essas informações, determinam-se, para a iésima iteração da freqüência de ressonância do filtro, adotado nas equações (1)
da potência reativa do capacitor, os componentes C , L e R do filtro e (2), não seja exatamente “n”, mas sim a diferença entre o valor
(equações (1), (2) e (3)). dessa freqüência de sintonia e o valor da dessintonia máxima à
qual o filtro poderá ser submetido, ou seja, n−d. Este procedimento
fará o valor adotado para a freqüência de ressonância do filtro ser
sempre um pouco menor que a ordem harmônica de filtragem para
a qual o filtro destina-se. Pretende-se, assim, evitar que um filtro
sintonizado, ao perder algumas de suas unidades capacitivas, passe
a ter uma impedância de característica capacitiva na freqüência de
sintonia “n“. Nestas condições, (filtro com impedância capacitiva)
Em que: poderá ocorrer uma ressonância paralela do filtro com o sistema
Q(i) = potência reativa fundamental do capacitor do filtro sintonizado na elétrico (o qual para sistemas de distribuição e sistemas industriais
iteração “i” é indutivo). Desta forma, este filtro, que possui sua maior eficiência
n = freqüência harmônica de sintonia do filtro para a harmônica de ordem “n−d”, deverá ser projetado para ter
d = dessintonia máxima do filtro sintonizado na ordem “n” grande eficiência também para a harmônica de ordem “n”.
C = capacitância, em pu, do filtro sintonizado na iteração “i”
(i) No próximo passo, será feita a correção harmônica dos valores
L = indutância, em pu, do filtro sintonizado na iteração “i”
(i) da resistência do filtro e o cálculo das reatâncias para a referida
Q(0) = fator de qualidade inicial do filtro sintonizado freqüência de sintonia “n“ do filtro. Pode-se definir os valores
R = resistência, em pu, do filtro sintonizado na iteração “i”
(i) corrigidos e calculados como sendo:
A partir dessas estimativas, inicia-se o cálculo iterativo. O objetivo desta R(i)(n) = Resistência do filtro sintonizado corrigida para a ordem “n“
etapa dos procedimentos é encontrar a potência reativa fundamental e na iteração “i”
mínima do capacitor do filtro que atenda à meta de distorção harmônica X(i)C(n) = Reatância capacitiva do filtro sintonizado calculada para a
individual de tensão preestabelecida para a primeira ordem harmônica ordem “n“ e na iteração “i”
“n” escolhida. X(i)L(n) = Reatância indutiva do filtro sintonizado calculada para a
Neste processo iterativo, a variável que terá seu valor alterado a cada ordem “n“ e na iteração “i”
iteração (na prática, aumentado) será a potência reativa do capacitor (veja Deste modo, o valor da impedância do filtro, na freqüência de
Figura 2). Na etapa dos cálculos, este fator de qualidade será modificado. sintonia “n“, para a iteração “i“ será:
Assim que o dimensionamento do filtro sintonizado desta
ordem estiver concluído, passa-se para o dimensionamento do
filtro da próxima ordem escolhida até chegar ao último filtro ou ao Prosseguindo, calcula-se o correspondente valor da admitância
filtro da maior ordem escolhida. do filtro ( ) para a freqüência de sintonia “n“ na iteração “i“. Esta
Ressalte-se que a freqüência de sintonia “n” do filtro é aquela na admitância, por sua vez, é inserida na Matriz Admitância do sistema
qual os valores das impedâncias dos componentes do filtro (capacitor e (ainda sem filtros) na freqüência de sintonia “n“. Esta matriz é
reator) são iguais. Esta também é denominada freqüência de ressonância obtida na etapa do estudo de Penetração Harmônica, realizada antes
do filtro e, quando é expressa em pu, esta freqüência assume um valor da determinação dos filtros e que também está indicada na Figura
inteiro múltiplo da freqüência fundamental (por exemplo, a freqüência de 2. Obtém-se, assim, a Matriz Admitância resultante para a
sintonia n = 300 Hz, em pu será n = 5). iteração “i“.
Se os valores de n, d e Q(i)CAP forem dados em pu de suas respectivas Na seqüência, determina-se a Matriz Impedância total ,
grandezas base, então os resultados das equações (1), (2) e (3) serão resultante do sistema com o filtro para a freqüência de sintonia “n“
fornecidos em pu. A partir desses valores, podem ser calculadas as na iteração “i“.
reatâncias fundamentais dos componentes para a iteração “i” (equações Sendo conhecida a Matriz das Correntes harmônicas (cujas
(4) e (5)) em pu. correntes são inseridas no sistema pelas fontes harmônicas, também
na correspondente freqüência de sintonia “n“), determina-se a
Matriz das Tensões harmônicas individuais resultantes (equa­
ção (7), para esta freqüência, na iteração “i“.

Em que:
XC(i) = Reatância capacitiva fundamental do capacitor do filtro
sintonizado na iteração “i”
XL(i) = Reatância indutiva fundamental do indutor do filtro sintonizado
na iteração “i”

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44 Julho 2008
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A determinação da Matriz das Correntes harmônicas Assim, para a i-ésima iteração da potência reativa
Qualidade de energia

também é oriunda da etapa do estudo de penetração harmônica, repetem-se, sucessivamente, todas as etapas do cálculo do filtro
a qual deve ser realizada antes do início do projeto dos filtros. Na sintonizado (descritos desde a equação (1) até a equação (7)), com
Matriz das Tensões harmônicas, obtida na equação (7), cada linha o valor agora recalculado de potência reativa fundamental. Ao final
corresponde ao valor da tensão harmônica (na correspondente de cada iteração, compara-se o valor da distorção de tensão obtido
freqüência de sintonia “n“) de cada barra do sistema. com o valor estipulado.
O passo final deste processo iterativo (que, recorde-se, procura obter Repete-se o processo iterativo até se conseguir o atendimento
a potência reativa fundamental mínima do filtro que consiga reduzir do nível especificado de tensão harmônica na freqüência de sintonia
a distorção harmônica de tensão individual relativa a este filtro) será “n“ do filtro. Os procedimentos descritos neste item estão indicados
comparar o módulo do valor da tensão resultante (na barra em que o no fluxograma básico da Figura 2 (a).
filtro foi inserido), com o valor prefixado da tensão harmônica máxima
permitida após a inserção do filtro sintonizado na referida freqüência de Cálculo do fator de qualidade final do filtro
sintonia “n“. Caso este valor estipulado da tensão harmônica, para esta Uma vez determinada a potência reativa fundamental QCAP do
ordem, seja ultrapassado, será dado prosseguimento ao cálculo iterativo, filtro sintonizado, com o fator de qualidade Q(0), capaz de atender ao
aumentando-se a potência reativa fundamental do capacitor do filtro limite de tensão harmônica especificado, parte-se para a obtenção
sintonizado. Neste caso, na próxima iteração “i“ a potência reativa ganhará do fator de qualidade final. A determinação deste é recomendada
um pequeno incremento conhecido, e o seu valor será o seguinte: visando a melhorar a eficiência do filtro, conforme poderá ser
percebido com o auxilio da Figura 2.

Em que: Nesta figura, tem-se a variação da distorção harmônica individual

= Potência reativa fundamental do capacitor do filtro (DHI) de tensão versus o fator de qualidade para um filtro sintonizado

sintonizado para a próxima iteração “i” que já possua uma determinada capacitância e sua correspondente

= Potência reativa fundamental do capacitor do filtro indutância.

sintonizado para a iteração “i” anterior Observa-se que a DHI de tensão pode ser reduzida ainda mais

= Incremento conhecido da potência reativa fundamental com o aumento do fator de qualidade. Na prática, este aumento

do capacitor do filtro sintonizado é conseguido com o decréscimo da resistência ôhmica do filtro.

O SETOR ELÉTRICO
46 Julho 2008
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Entretanto, a partir de um determinado valor do fator de qualidade repete-se todo o processo de cálculo iterativo até que esta condição
Qualidade de energia

e se prosseguir aumentado, como resultado, ter-se-ão em melhorias seja satisfeita. Desta forma, ao final da última iteração “k”, tem-se
muito pequenas em sua eficiência de filtragem. O fator de qualidade o fator de qualidade calculado, a partir do qual se conseguiu uma
final será obtido por método iterativo, semelhante ao descrito para variação da tensão harmônica de ordem “n” (na barra do filtro)
a obtenção do filtro mínimo. Para isso, será mantida a potência menor que o valor de referência mínimo . Este será consi­
reativa fundamental do filtro QCAP (obtida na etapa anterior) e, na derado como o fator de qualidade final do filtro (item b).
primeira iteração “k”, adotar-se-á um novo valor inicial para o fator Os procedimentos descritos neste item estão indicados no fluxograma
de qualidade do filtro, Q(k), o qual poderá ser um valor baixo (por básico da Figura 2, como “Item C”. Ao final da busca deste fator de
exemplo, 1). A partir deste valor, obtém-se a nova resistência do qualidade final, a DHIV obtida na barra do filtro deve ter decrescido para
filtro (porém, mantendo-se os valores de C e L). um valor abaixo daquele originalmente desejado. Assim, caso se deseje
Em seguida, calcula-se o novo valor da distorção harmônica individual retornar ao DHIV original, deve-se reduzir a potência reativa do capacitor
de tensão de ordem “n” na barra em que o filtro está inserido. (em um processo iterativo), mantendo-se sempre o fator de qualidade

Figura 1 – Curva da variação da distorção harmônica individual de tensão


versus o fator de qualidade do filtro.

Na seqüência, para a nova iteração “k”, o fator de qualidade Q(k)


receberá um incremento ΔQ, (equação (9)).

Em que:
= Fator de qualidade do filtro para a próxima iteração “k”
= Fator de qualidade do filtro para a iteração “k” anterior
= Incremento conhecido do fator de qualidade do filtro
Ao final desta segunda iteração “k”, calcula-se o valor da
variação da máxima distorção harmônica individual de tensão de
ordem “n” ( ) na barra escolhida para inserção do filtro.
Esta variação é obtida de acordo com a equação (10).

Em que:
= Variação da distorção harmônica individual de tensão de
ordem “n” na barra do filtro
= Distorção harmônica individual de tensão de ordem “n”
na barra do filtro para a iteração “k” anterior
= Distorção harmônica individual de tensão de ordem “n”
na barra do filtro para a iteração “k” seguinte
Na seqüência, compara-se o valor calculado da variação
com um valor mínimo de variação tomado como refe­rên­
cia. Esta variação mínima de referência é igual a 0,01%. Enquanto o
valor calculado da variação for maior que esta referência, Figura 2 – Fluxograma básico referente ao projeto de filtros sintonizados
incrementa-se o fator de qualidade Q(k) do filtro (equação (9)) e pelo método convencional objetivando reduzir distorções harmônicas a níveis
prefixados.

O SETOR ELÉTRICO
48 Julho 2008
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final, de maneira similar ao que já foi descrito anteriormente (porém, Cálculo das grandezas
Qualidade de energia

lembrando que, agora, a potência reativa será reduzida). fundamentais sobre o capacitor
A primeira das etapas relativas à verificação de suportabilidade
Cálculo do filtro final do capacitor consiste no cálculo das grandezas corrente e tensão
A associação das duas últimas etapas ilustra os procedimentos do cálculo (na freqüência fundamental) às quais ele será submetido. Essas
iterativo de obtenção do filtro mínimo com um fator de qualidade final para grandezas são determinadas pelas equações (11) e (12):
a freqüência de sintonia “n”. Nestes procedimentos, os cálculos referentes
ao filtro sintonizado são feitos somente para a ordem de sintonia “n” e
não para todas as ordens harmônicas. Isso porque, nos cálculos iterativos,
a preocupação se concentra apenas na busca do dimensionamento dos Em que:
elementos do filtro que atenda às exigências individuais de tensão na = Corrente fundamental no capacitor
freqüência de ordem “n”. Assim, para que este filtro possa ser inserido = Tensão fundamental na barra do filtro
nas matrizes harmônicas do sistema (equações (6) e (7)), os cálculos serão = Impedância total fundamental do filtro
realizados para todas as ordens harmônicas consideradas no estudo. = Tensão fundamental sobre o capacitor
Desta forma, serão obtidas as matrizes das impedâncias harmônicas = Reatância fundamental do capacitor
totais [ZT] (resultantes da associação das impedâncias do sistema com a
impedância do filtro para todas as ordens harmônicas), bem como as Cálculo das grandezas
matrizes das tensões harmônicas resultantes [VH]. Estes resultados são harmônicas sobre o capacitor
armazenados e passam a ser os novos valores harmônicos do sistema De forma semelhante, as grandezas harmônicas, às quais o

elétrico sob estudo e vale o mesmo para o filtro, isto é, os dados capacitor será submetido, serão determinadas pelas equações (13) e

calculados do filtro final de ordem “n” também são armazenados. (14). No entanto, o cálculo ora desenvolvido difere do anterior pelo

O armazenamento destes novos resultados é importante porque fato de as grandezas não serem calculadas apenas para uma ordem

os cálculos subseqüentes dos filtros harmônicos das próximas ordens e sim para cada ordem harmônica “h” existente no sistema.

escolhidas (se houverem) serão feitos considerando os dados do sistema


contendo o filtro sintonizado já calculado e não apenas os dados do
sistema original sem filtro algum. Os procedimentos descritos no presente
item estão indicados no fluxograma básico da Figura 2 como “Item c”. Em que:
= Corrente harmônica de ordem “h” no capacitor
Testes de suportabilidade do banco de capacitores do filtro = Tensão harmônica de ordem “h” na barra do filtro
Esta etapa justifica-se porque os capacitores são os componentes mais = Impedância total de ordem “h” do filtro
sensíveis do filtro, o que os tornam mais suscetíveis a danos e perda da vida = Tensão harmônica de ordem “h” no capacitor
útil, principalmente quando operando sob tensões acima da nominal. = Reatância de ordem “h” do capacitor

Aplicação dos testes de suportabilidade Cálculo das grandezas


Esta etapa também é iterativa. O capacitor será submetido a cinco testes eficazes e de pico sobre o capacitor
de suportabilidade diferentes e independentes. Portanto, serão adotados Estas grandezas são resultantes de todos os valores individuais já
cinco valores limites (ver Tabela I) e, ao final de cada iteração, serão cinco calculados, tanto para a freqüência fundamental quanto para as
comparações a serem realizadas. Caso os limites máximos estipulados sejam demais freqüências harmônicas. Os seus cálculos estão indicados
ultrapassados, é feita então uma nova iteração, na qual são alterados os nas equações (15) a (19):
valores de uma ou mais grandezas dos componentes do filtro. Na seqüência,
é feita uma nova comparação até que o objetivo seja alcançado.

TABELA I
LIMITES DOS TESTES DE SUPORTABILIDADE DO CAPACITOR

Limite de corrente eficaz no capacitor

Limite de corrente de pico no capacitor

Limite de tensão eficaz sobre o capacitor

Limite de tensão de pico sobre o capacitor

Limite de potência reativa do capacitor

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50 Julho 2008
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em produção industrial. Dessa forma, o cálculo do filtro será totalmente
refeito, partindo-se da nova reatância capacitiva do filtro:

Em que:
= Nova reatância capacitiva fundamental do capacitor
= Nova tensão fundamental nominal do capacitor
Cálculo das grandezas nominais do capacitor = Nova potência reativa fundamental nominal do capacitor
A tensão fundamental nominal do capacitor do filtro, , é a
Como todos os dados são operados em pu, tem-se:
pró­pria tensão fundamental da barra ( ) no qual está ligado o filtro:

Em que:
A potência reativa fundamental nominal do capacitor é a
C(Novo) = Nova capacitância do capacitor
potência fundamental ( ), que foi determinada durante o
A partir desse ponto, seguindo-se os mesmos passos da
cálculo do filtro ótimo. Assim, o cálculo da corrente fundamental
determinação do filtro mínimo, o cálculo dos demais componentes
nominal do capacitor do filtro, , será dado por:
do filtro será feito reutilizando-se as equações (2) até a (5). Da mesma
forma, nas equações (6) e (7), os cálculos serão realizados para todas
as ordens harmônicas. As novas matrizes obtidas das impedâncias
Caso algum dos cinco limites mostrados na Tabela I não seja satisfatório,
harmônicas totais [ZT] e também as matrizes das tensões harmônicas
o capacitor, assim como todos os demais componentes do filtro, precisarão
resultantes [VH] (para cada uma das ordens harmônicas) serão, então,
ser redimensionados. Para isso, a próxima etapa consistirá na determinação
os novos resultados finais do sistema elétrico sob estudo.
de novos valores nominais fundamentais de tensão e potência reativa
Na seqüência, todos os testes de suportabilidade serão novamente
do capacitor. Estes valores devem ser fornecidos a cada iteração (ou a
aplicados. Em caso de reprovação em algum deles, uma nova iteração
cada reprovação nos testes) até que todos os testes de suportabilidade
será processada a partir de novos valores nominais de entrada para o
sejam satisfatórios e devem ser compatíveis com capacitores disponíveis

O SETOR ELÉTRICO
Julho 2008 51
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capacitor. Quando todos os testes forem satisfeitos, o filtro sintonizado Portanto, nestas condições, caso algum dos limites de distorção
Qualidade de energia

calculado será o filtro definitivo para esta ordem harmônica e seus harmônica seja ultrapassado, recomenda-se que se redimensionem
dados armazenados. Caso existam mais filtros sintonizados a serem os filtros sintonizados daquelas ordens que estiverem apresentando
projetados (para outras ordens harmônicas superiores), eles serão problemas quanto a este desempenho final de filtragem.
dimensionados de acordo com todas as etapas descritas até aqui. Os
procedimentos descritos nos últimos cinco subitens estão indicados no Conclusões
fluxograma básico da Figura 2, como “Itens d”. Este artigo apresentou uma proposta de procedimentos sistemáticos
voltados à determinação de filtros harmônicos sintonizados. Seguindo-se
Cálculo de desempenho de
as etapas propostas, os autores esperam ter contribuído para que
filtragem final dos filtros sintonizados
projetos de filtros sintonizados possam ser realizados com melhor
Após a determinação de todos os filtros sintonizados definitivos
aproveitamento da potência dos bancos de capacitores adotados e,
para todas as ordens harmônicas de sintonia escolhidas, finalmente se
muito provavelmente, a custos mais baixos.
poderá calcular o desempenho de filtragem global de todos os filtros
sintonizados juntos. Esta etapa consistirá de um teste final em relação ao
Referências bibliográficas
desempenho individual de filtragem de cada um dos filtros, atuando no ALVES, A. C. B. Análise de problemas e procedimentos na determinação de filtros
conjunto de filtros sintonizados inseridos na barra. harmônicos. Dissertação de Mestrado – UFU – Uberlândia, 1991.
DUGAN, R. C.; MCGRANAGHAN, M. C. Electrical power system quality, 2. ed. Estados
Por meio de testes comparativos idênticos àqueles realizados
Unidos: McGraw-Hill, 2002.
ao final da etapa iterativa, já descrita aqui, os limites das distorções IEEE Standard 1531-2003, IEEE Guide for application and specification of harmonic filters.
harmônicas máximas prefixados são novamente comparados com as IEEE Standard 18-2002, IEEE Standard for shunt power capacitors.
WAKILEH, G. Power systems harmonics: fundamentals, analysis and filter design.
distorções harmônicas calculadas do sistema. A aplicação desta etapa
Alemanha: Springer-Verlag, 2001.
final de desempenho de filtragem individual dos filtros é necessária Continua na próxima edição
para que se observem possíveis inadequações dos filtros sintonizados
José Wilson Resende é engenheiro eletricista, Ph.D. pela University of
quando atuando em conjunto (um filtro pode provocar ressonâncias Aberdeen (Escócia/1986) e professor da Faculdade de Engenharia Elétrica
paralelas com o sistema elétrico em outras freqüências bem diferentes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Rogério Pinto do Nascimento é engenheiro eletricista e professor da
da freqüência de sintonia). Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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52 Julho 2008
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Qualidade de energia Por Guilherme Alfredo D. Dias, Darcy Casa e Marcos Telló

Capítulo VI
Aspectos legais e contratuais
referentes ao impacto da qualidade da
energia elétrica no sistema elétrico

Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o


interesse dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de
energia no País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir,
entre outros assuntos, novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e
eletromagnética, conservação de energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de
contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de
energia”, organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da
Universidade de São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos
na CBQEE, realizada em meados do ano passado.
Os artigos da série, que são assinados por especialistas no assunto, sofrerão atualizações quando
necessário e constituirão uma verdadeira aula sobre qualidade de energia. Este artigo objetiva descrever
a relação existente entre concessionária e consumidor no que tange aos aspectos legais e contratuais
quanto à qualidade de energia elétrica para os demais consumidores ligados ao sistema elétrico.

Na atualidade, quando há perda de qualidade da Nesse sentido, a concessionária pode fornecer


energia elétrica nos sistemas elétricos das concessionárias informação básica sobre tal assunto, apresentado os
de energia elétrica, seja pelo motivo que for, os clientes de seguintes tópicos principais:
tal concessionária têm apresentado reclamações formais • Histórico sobre harmônicas
à concessionária, às agências reguladoras estaduais e, • Conceituação teórica
não raras vezes, apresentado demandas judiciais. Para • Surgimento das harmônicas
evitar/minimizar tais problemas, as concessionárias têm • Quantificação das harmônicas
editado normas e orientações técnicas que devem ser • Componentes harmônicas no sistema trifásico
observadas pelos consumidores para que nenhum dos • Ressonância série e paralela
intervenientes produza problema para os outros. • Equipamentos não lineares
• Modelagem dos componentes
Visão e postura da concessionária • Efeito das harmônicas
A visão e a postura da concessionária na ligação de • Fator de potência real e de deslocamento
cargas no seu sistema elétrico, sejam novas cargas ou • Medição das componentes harmônicas
expansões industriais, devem evitar que os consumidores • Medidas corretivas
introduzam cargas não lineares de forma descontrolada. • Legislação e normalização nacional e internacional
É sabido que, muitas vezes, o consumidor não dispõe de • Procedimentos para atendimento de cargas não
corpo técnico de engenharia, devido ao alto custo diante lineares
do porte da empresa, com conhecimento adequado dos Tal informação visa esclarecer o consumidor sobre
aspectos que envolvem a qualidade da energia elétrica, a necessidade de evitar a poluição do sistema elétrico,
notadamente as harmônicas em sistemas industriais. atitude nociva para os demais consumidores e, quando

O SETOR ELÉTRICO
30 Agosto 2008
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produzida por terceiros, nociva ao próprio consumidor. Apesar da • Conceitos básicos
precaução das concessionárias em esclarecer os consumidores, estes, • Requisitos gerais
usualmente, não dão o devido valor a tais informações, assim sendo, • Procedimentos específicos
são solicitadas, preliminarmente, antes da ligação das novas cargas • Limites especificados
ou da implantação de empresa com cargas não lineares, informações - Tensão em regime permanente
com o maior detalhamento possível. Tais informações, resumidamente, - Cintilação (flicker)
são as seguintes: - Distorção harmônica
• Informações de ordem geral sobre o consumidor (tipo de ligação, - Interferência telefônica
razão social, endereço, regime de trabalho, geração própria, demanda - Desequilíbrios
contratada, previsão de demanda, etc.). - Cargas potencialmente perturbadoras
• Informações técnicas sobre equipamentos (motores, fornos, Os principais aspectos deste documento correspondem ao
máquinas de solda, etc.). regramento das ações a serem desenvolvidas pelo consumidor, de
Observe-se que tal fornecimento de informações é relativamente subtransmissão ou distribuição. O interessado na conexão deverá
simples para instalações novas, em que os equipamentos estão em elaborar às suas expensas e apresentar à concessionária um relatório
fase de aquisição e, usualmente, estão disponíveis em Especificações de impacto das harmônicas e outras perturbações. Em tal relatório
Técnicas para aquisição ou Folhas de Dados fornecidas pelos deverão ser demonstrados quais serão os impactos causados no ponto
fabricantes, em que constam todas ou quase todas as informações de conexão pelas cargas previstas no processo produtivo, qualquer
desejadas pela concessionária. que seja o regime operativo utilizado, bem como demonstrando
Um documento considerado muito importante para a quais serão as medidas de compensação adotadas para prevenir o
concessionária é aquele que define os requisitos de acesso ao seu surgimento de tais perturbações. Deve conter, também, de forma
sistema elétrico, o qual apresenta, em linhas gerais, os seguintes tabelada e perfeitamente compreensível, um conjunto de resultados
aspectos: da operação em regime da instalação do acessante, medindo ou
• Finalidade simulando a inexistência de qualquer medida compensatória (filtros
• Âmbito de aplicação de harmônicas, etc.), apresentando a magnitude e a extensão da
• Documentos complementares perturbação que ocorreria no ponto de conexão com a concessionária.

O SETOR ELÉTRICO
Agosto 2008 31
Apoio

Deverá conter, ainda, consecutivamente, um segundo conjunto de IEC, entre outros.


Qualidade de energia

resultados da operação em regime, medindo ou simulando, agora, a Considerando-se o que é apresentado no relatório para instalações
introdução dos dispositivos e equipamentos de compensação (filtros ainda não existentes, são solicitadas simulações das cargas não lineares
de harmônicas, etc.). integradas ao sistema elétrico da concessionária, com o emprego de
Tal relatório deverá conter um diagrama unifilar que ilustre as duas softwares e das características presumidas das cargas para avaliação
situações de simulação acima requeridas com todas as referências da concessionária, sendo realizadas após medições para avaliação e
para sua perfeita compreensão. A concessionária procederá a análise confirmação das simulações.
do relatório e a qualquer tempo poderá solicitar esclarecimentos ou Já para instalações existentes, que usualmente são expandidas
a introdução de detalhes que elucidem possíveis dúvidas quanto de acordo com a necessidade de aumento da produção, o controle
à eficácia, o desempenho do sistema ou metodologia proposta dos equipamentos, no detalhamento desejado pela concessionária,
para a compensação ou eliminação das perturbações no ponto de é precário. Normalmente, será necessário realizar um “pente fino”
conexão do acesso. A estrutura sugerida (sumário) para o relatório é na instalação, o que, em geral, depende de paradas de máquinas ou
a seguinte: mesmo de toda a instalação, o que no setor industrial apresenta, não
• Objetivos raras vezes, valores expressivos com a respectiva má vontade para
• Informações básicas (diagrama unifilar, etc.) realizar os desligamentos necessários para a inspeção.
• Critérios de cálculo ou medição adotados Para contornar tais problemas, a concessionária permite que
• Metodologia de cálculo ou medição (particularização do memorial) sejam utilizadas outras formas para solucionar o problema envolvendo
• Conclusões e recomendações medições de qualidade da energia elétrica. As medições de qualidade
• Referências (bibliografia) da energia elétrica são usualmente conduzidas da seguinte forma:
• Anexos • Previamente, a introdução de novas cargas não lineares para verificar
Para definição dos valores máximos permitidos para as o sistema elétrico sem a nova carga, realizando medições de tensão
perturbações ao seu sistema elétrico, a concessionária utilizou, em com a carga desligada e medições de corrente e tensão com a carga
nível nacional, os critérios do Operador Nacional do Sistema Elétrico existente ligada;
(ONS) para a subtransmissão, da Agência Nacional de Energia Elétrica • Posteriormente, com a nova carga não linear ligada são realizadas
(Aneel) para a distribuição e os limites internacionais da ANSI/IEEE e outras medições de corrente e tensão.

O SETOR ELÉTRICO
32 Agosto 2008
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No interregno entre as duas medições e com as harmônicas O processo acima descrito repetir-se-á até que não restem mais
características presumidas da nova carga, fornecidas por seu dúvidas sobre a eficácia das medidas compensatórias. Quando isso
fabricante, são realizadas simulações de seu impacto sobre o sistema ocorrer, o acessante poderá, então, receber a autorização definitiva
elétrico da concessionária, expressas no relatório. para operação de suas instalações, o que não exime o acessante
Após a análise do correspondente relatório, é permitida a de cumprir outras obrigações previstas em outros procedimentos
operação da instalação e é solicitado que seja apurado o impacto estabelecidos pela concessionária ou outro organismo legalmente
no sistema elétrico por meio de medições. A execução dessas constituído com vistas ao uso da energia elétrica.
medições no campo objetiva comprovar o acerto das medidas
compensatórias propostas pelo acessante e, em princípio, aprovadas Visão e postura do consumidor
pela concessionária, ao demonstrar que as magnitudes das eventuais No Brasil, na maioria dos casos, as indústrias são de pequeno
perturbações que surgirem ficarão dentro dos limites estabelecidos e médio porte, alimentadas em tensão de distribuição. Da mesma
por esta concessionária e/ou pelos órgãos normativos do poder forma, estas dificilmente dispõem de equipes de manutenção e de
concedente. engenheiro eletricista dedicadas, que, quando são necessárias, são
Se ficar constatada a inadequação ou insuficiência do esquema convocadas com urgência para resolver os problemas que surgem
de compensação, mesmo que a concessionária tenha aprovado na unidade fabril. Por esses motivos, o consumidor não é advertido
o correspondente relatório, o acessante estará obrigado, sob sobre o que pode acontecer em termos da qualidade de energia
sua total responsabilidade e ônus, a rever a solução proposta e no seu processo de fabricação, desconhecendo e necessitando de
adotada, devendo imediatamente modificar, substituir ou tomar orientação segura, o que é obtido por meio de contratação de experts
qualquer outra providência necessária à readequação das medidas (consultores) para solucionar tais problemas.
compensatórias. O acessante deverá, ainda, providenciar a revisão O consumidor, em geral, está preocupado com o seu sistema
do relatório e submetê-lo novamente à aprovação da concessionária produtivo, sendo a energia elétrica considerada unicamente um
e a nova vistoria das instalações para comprovar a execução das insumo necessário à produção. Assim sendo, “exige” da concessionária
modificações adotadas. A concessionária poderá, ainda, interromper um insumo de excelente qualidade e que não perturbe o seu sistema
o fornecimento de energia caso o nível de perturbação apurado possa produtivo. Hoje em dia, com a massificação das cargas não lineares,
prejudicar outras unidades consumidoras e/ou o seu sistema elétrico. não raras vezes o próprio consumidor reclamante é o causador dos

O SETOR ELÉTRICO
Agosto 2008 33
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problemas, mormente em se considerando as harmônicas produzidas • Solicitar visita inicial do consultor à empresa para elucidar dúvidas
Qualidade de energia

nos sistemas industriais. do consumidor e do próprio consultor;


Outro aspecto importante se refere ao tratamento das cargas • Solicitar que as medições sejam representativas de um ciclo de
não lineares pelos consumidores que “por economia” não adquirem operação da planta industrial;
os equipamentos com os dispositivos (filtros, etc.) que minimizem ou • Solicitar relatório das medições contendo, no mínimo:
mesmo eliminem a perturbação da rede elétrica. Assim sendo, quando - Mídia eletrônica com todos os dados medidos;
a concessionária requisita do consumidor um relatório, este encara a - Síntese dos valores medidos: máximo, médio, mínimo;
elaboração deste estudo/documento como mais um custo a ser diluído - Representação gráfica e formas de onda dos dados medidos;
no seu processo produtivo, não se colocando no “lugar dos outros - Análise;
consumidores” que poderão ser prejudicados pelas suas ações. - Constatações;
Consumidores industriais de maior porte dispõem de um corpo de - Conclusões;
engenheiros de todas as formações, inclusive engenheiros eletricistas, - Recomendações;
o que facilita e, muitas vezes, contribui para a realização de um • Solicitar visita final do consultor à empresa para elucidar dúvidas do
relatório com todas as informações e esclarecimentos necessários. consumidor sobre as medições e apresentação das recomendações
sobre os procedimentos a serem adotados pelo consumidor.
Visão e postura do consultor Aspectos similares servem para a contratação de estudos de
Neste item, serão apresentados os resultados de anos de harmônicas antes da instalação de uma unidade fabril, devendo o
vivência na área da qualidade de energia elétrica, sendo relatados consultor se responsabilizar pela emissão do relatório, orientando
fatos corriqueiros para quem labuta em tal área e procedimentos o consumidor e municiando a concessionária para a tomada de
adequados que levem a bom termo as ações da pessoa que realiza decisão correta.
consultoria na área.
Tem se verificado que, muitas vezes, pessoas ou empresas têm Estudo de caso
encontrado problemas de qualidade de energia sem o mínimo Para ilustrar as etapas que envolvem o relatório, será
conhecimento do assunto, realizando procedimentos usuais para a apresentado, a seguir, um estudo de caso real realizado na área de
compensação de cargas lineares e, desta forma, aumentando ainda mais concessão da concessionária. Tal caso é referente a uma empresa
o problema. Há diversos exemplos disso, situações em que a aplicação já existente, alimentada em 13,8 kV, corrente de curto-circuito de
de bancos de capacitores tem sido realizada baseada unicamente no 5.430 A, cujo processo produtivo envolve fundição e mecânica de
fator de potência de deslocamento, desconsiderando as harmônicas precisão, empregando equipamentos industriais do tipo CNC, CLPs e
com conseqüências desastrosas (explosões, incêndios, etc.). PCs industriais, fornos de indução, fornos de tempera, retificadores,
soldas, conforme resumo a seguir.

Total da carga ------------------------------------------------ 10.650 kVA


Fator de potência (aproximadamente) ------------------ 96%
Fornos de indução (total) ---------------------------------- 67%
Motores acionados por inversores/retificadores ------- 30%
Outras cargas não lineares (aproximadamente) ------- 1%
Cargas lineares (aproximadamente) --------------------- 2%
O esquema unifilar simplificado da indústria, com indicação do
Figura 1 – Aplicação incorreta de equipamentos ponto de medição (TC e TPs indicados) está apresentado na Figura 2.

Outro aspecto de importância refere-se às medições contratadas


pelo consumidor, sem especificação técnica adequada, o que resulta
na entrega pelo “consultor” de listagens de valores medidos, sem
interesse prático ou relatórios não conclusivos e que não tem
utilidade. O consumidor, ao contratar as medições, deverá expor as
suas necessidades de forma clara ao consultor e não simplesmente
requisitar “medições de harmônicas”.
Uma forma adequada de requisitar tais medições de harmônicas,
e que pode ser cobrada a posteriori, é a seguinte:
• Fornecimento de diagrama unifilar da planta industrial com Figura 2 – Esquema unifilar
indicação da localização do ponto de medição; simplificado da indústria

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A nova carga a ser introduzida no sistema é a correspondente a


Qualidade de energia

um forno de indução, conforme Tabela 1 que apresenta também o


forno de aquecimento existente.

Tabela 1 – Dados do retificador AC/DC do forno


Forno U (V) P (kW) Pulsos
Aquecimento 480 3.750 6
Indução 550 3.000 12
Potência total 6.750

Apresentar-se-á um resumo do primeiro relatório, antes


da instalação do forno de indução e do segundo relatório,
após a instalação do forno de indução. Figura 5 – Forma de onda da corrente e espectro de freqüência correspondente

Da mesma forma, foi medida a máxima distorção e forma de


A. Primeiro relatório
onda da tensão (Figura 6), a qual também está acompanhada do
Antes de instalado o forno de indução, foi realizada uma
respectivo espectro de freqüência.
avaliação da forma de onda de corrente e sua distorção (Figura 3), a
qual está acompanhada do respectivo espectro de freqüência.

Figura 6 – Forma de onda da tensão e espectro de freqüência correspondente

Figura 3 – Forma de onda da corrente e espectro de freqüência correspondente


Da análise das piores distorções de corrente e tensão (Figuras
Da mesma forma, foi medida a máxima distorção e a forma de 5 e 6), verifica-se que houve melhora do desempenho do sistema
onda da tensão (Figura 4), a qual também está acompanhada do após a instalação do forno de indução, o que pode ser avaliado nas
respectivo espectro de freqüência. Tabelas 2 e 3.

C. Recomendações do primeiro e segundo relatório


Para consolidar os resultados do primeiro e segundo relatório,
foram elaboradas as Tabelas 2 e 3, sendo a Tabela 2 referente
aos resultados das harmônicas e distorção da tensão, em que M1
significa primeira medição, sem o forno novo e M2 significa segunda
medição, com o forno novo.
Tabela 2 – Harmônicas e distorção da tensão
Harmônicas ímpares (%)
Harm 5h 7h 11h 13h 17h 19h 23h 25h 29h DHT
M1 1,39 1,15 0,23 0,18 0,05 0,02 0,01 0,02 0,01 1,84
M2 1,09 0,74 0,39 0,30 0,01 0,02 0,07 0,07 0,03 1,59
Figura 4 – Forma de onda da tensão e espectro de freqüência correspondente A Tabela 3 refere-se aos resultados das harmônicas e distorção da corrente
Tabela 3 – Harmônicas e distorção da corrente
B. Segundo relatório
Harmônicas ímpares (%)
Após instalado o forno de indução, foi realizada a avaliação da Harm 5h 7h 11h 13h 17h 19h 23h 25h 29h DHT
forma de onda de corrente e sua distorção (Figura 5), a qual está M1 11,76 6,81 4,44 2,60 1,48 1,21 0,50 0,34 0,23 14,69
acompanhada do respectivo espectro de freqüência. M2 6,00 3,22 4,48 2,43 0,56 0,26 0,87 0,49 0,14 8,68
IEEE 519 7 7 3,5 3,5 2,5 2,5 1 1 1 8,00

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A partir dos resultados das medições realizadas, foram realizadas
as seguintes conclusões do relatório:
1. Após a energização do forno, continua normal o desempenho da
planta elétrica, com o fator de potência de aproximadamente 0,96;
2. Não foi constatada nenhuma irregularidade no funcionamento
dos demais equipamentos industriais;
3. Houve uma queda dos níveis de distorção harmônica.
4. Com base no resultado das medições, deve-se apresentar o
segundo relatório à concessionária e solicitar a operação da indústria
por tempo indeterminado.
Observe-se que, se fossem necessárias quaisquer medidas
compensatórias (filtros de harmônicas, etc.), estas deveriam estar
claramente apresentadas no relatório para conhecimento da
concessionária e do consumidor. Isto acontecendo, um terceiro
relatório deveria ser apresentado evidenciando os resultados Figura 7 – Exemplo de filtro de harmônicas dessintonizado em baixa tensão
adequados da aplicação das medidas compensatórias.
Continua na próxima edição

Conclusões Guilherme Alfredo Dentzien Dias é engenheiro eletricista, mestre e


Neste artigo foram apresentados os requisitos das concessionárias, doutor em engenharia. Foi professor da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul de 1976 até 2006 e, atualmente, é responsável
a visão dos consumidores e o que os consultores podem fazer no
técnico da Impulse Engenharia.
sentido de apoiar tanto a concessionária como os consumidores.
Darcy Casa é engenheiro eletricista, professor da Pontificia Universidade
No estudo de caso apresentado, não foi necessário o emprego de Católica do Rio Grande do Sul e diretor da Dicel Engenharia.
soluções adicionais para resolver eventuais problemas de qualidade
Marcos Telló é engenheiro eletricista, mestre e doutor em engenharia,
da energia elétrica, como o emprego de filtros de harmônicas, seja professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
sintonizado ou dessintonizado, como o apresentado na Figura 7. (PUCRS) e engenheiro da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE)

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Agosto 2008 37
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Qualidade de energia Por Mateus Duarte Teixeira, Rodrigo Antônio Peniche e Alexandre Rasi Aoki

Capítulo VIi
Avaliação do impacto da interconexão
de microturbinas no contexto da
qualidade de energia elétrica

Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse dos
profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida, especialistas
encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no País, a
Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos, novas
tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de energia,
normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de contribuir
para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”, organizado pelo
coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de São Paulo (Enerq/USP),
o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em meados do ano passado.
A proliferação de equipamentos de geração distribuída (GD) e seus impactos sobre o sistema de energia
elétrica tornaram-se temas de extrema relevância para o setor elétrico. Atualmente, existem inúmeras tecnologias
voltadas à geração de energia próxima aos consumidores finais, citando-se como as mais relevantes as células
a combustível, os sistemas fotovoltaicos e as microturbinas. Este artigo focará a microturbina, por se tratar de
uma das mais promissoras tecnologias de GD. Desse modo, este trabalho se propõe a investigar tanto o efeito de
distúrbios gerados pelo sistema quanto o impacto da operação da microturbina sobre o sistema elétrico, por meio da
monitoração e da análise dos indicadores associados à qualidade da energia elétrica.

A proliferação de equipamentos de geração quando unidades de GD são conectadas ao sistema


distribuída (GD) e seus impactos sobre o sistema elétrico de uma dada concessionária, dentre as quais
de energia elétrica tornaram-se temas de extrema incluem os aspectos relacionados com os distúrbios de
relevância para o setor de eletricidade, em face qualidade da energia, os quais podem, por um lado,
da atratividade proporcionada pelo atual cenário serem agentes da degradação e, por outro, serem
energético nacional. Após a reformulação do modelo vítimas de alguns distúrbios gerados pelo sistema
setorial de energia elétrica, em que se promoveu a livre elétrico de potência.
competição entre os agentes produtores e distribuidores Nesse sentido, este artigo focará a elaboração e
de energia, associada às restrições de caráter ambiental a execução de testes laboratoriais concebidos para a
para a implantação de grandes parques geradores, o avaliação das funções de proteção de uma microturbina
investimento em equipamentos de geração dispersa e da verificação do impacto para a qualidade da
ganhou impulso significativo pelas características energia elétrica no momento da sua conexão com
técnicas e econômicas advindas de sua utilização. o sistema elétrico de distribuição. A concepção dos
Entretanto, diferentemente dos sistemas tradicionais ensaios foi respaldada, principalmente, pelo Padrão
de produção de energia elétrica compostos por grandes IEEE 1547.1 – IEEE Standard for Conformance Test
geradores síncronos, cuja dinâmica operacional vem sendo Procedures for Equipment Interconnecting Distributed
fruto de investigações desde os primórdios da eletricidade, Resources with Electric Power Systems, pelo Módulo 8
as tecnologias de GD ainda carecem de aprofundamentos dos Procedimentos de Distribuição da Agência Nacional
técnicos que orientem os atores do setor sobre os reais de Energia Elétrica (Aneel) e pelo submódulo 2.2 dos
impactos da sua conexão nas redes de energia elétrica. padrões de desempenho da rede básica do Operador
Dessa forma, um grande número de questões surge Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

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34 Setembro 2008
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É importante ressaltar que, devido a restrições laboratoriais, Com o intuito de evitar riscos ao sistema da concessionária e aos
não foi possível seguir, fidedignamente, todos os procedimentos seus consumidores, os estudos foram realizados em um sistema
técnicos para a estruturação dos ensaios estabelecidos pelas normas elétrico hipotético representativo da rede de distribuição de energia.
consultadas. No entanto, os resultados que serão apresentados O sistema foi composto por um grupo motor-gerador a diesel,
poderão ser utilizados como premissa para subsidiar análises sobre cargas elétricas lineares e a microturbina. A seguir, apresenta-se um
o impacto da conexão de equipamentos de GD à rede, bem como resumo dos testes realizados com a microturbina:
avaliar a eficácia do sistema de proteção de tais equipamentos
submetidos a situações anormais de operação do sistema elétrico Módulo I – Validação do sistema elétrico hipotético

de distribuição. O principal objetivo deste módulo de testes fundamentou-se


em verificar se a estrutura laboratorial montada representava com
Metodologia para testes de impacto da fidelidade o sistema elétrico de distribuição. Para tanto, foram feitas
interconexão de microturbinas à rede elétrica medições do grupo gerador diesel operando em vazio e os resultados
A interconexão de novos equipamentos e seus impactos para foram comparados com monitorações oriundas do sistema elétrico
a rede elétrica de distribuição sempre mereceu grande atenção da concessionária. As características do ensaio se encontram na
para que tal conexão possa ser concluída com segurança para o tabela a seguir.
consumidor, o equipamento e a concessionária. No caso dos
Tabela 1 – Módulo I – Validação do sistema elétrico hipotético
equipamentos de GD, esta avaliação deve ser ainda mais criteriosa,
Ensaio Características
diante dos impactos e riscos advindos da interconexão de um
1.1 • Grupo motor-gerador a diesel operando a vazio;
equipamento de geração ao sistema elétrico.
• Microturbina fora de operação;
Assim, o documento normativo IEEE 1547.1 foi moldado com
• Tensão de operação 220/127 V, 60 Hz.
vistas a apresentar os procedimentos técnicos necessários para a
estruturação de ensaios laboratoriais em equipamentos de GD, Módulo II – Ilhamento
objetivando averiguar se o sistema testado está em consonância A situação de ilhamento acontece quando uma parte da rede
com as diretrizes estabelecidas pela IEEE 1547 – IEEE Standard for elétrica permanece suprida por um equipamento de geração
Interconnecting Distributed Resources with Electric Power Systems. distribuída enquanto o restante do circuito elétrico, em face de um

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Setembro 2008 35
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determinado evento (curto-circuito, por exemplo), encontra-se fora de de energia em um período de tempo determinado. Em face da
Qualidade de energia

operação. Tal situação representa uma condição de extremo perigo impossibilidade de alterar os parâmetros do grupo gerador, foram
tanto para a operação dos equipamentos do sistema elétrico como feitos ensaios de rejeição de parcelas da carga (abertura do disjuntor
para as equipes de manutenção da concessionária que atuam na rede. D3) para provocar variações na freqüência da tensão fornecida
Para simular tal situação, a rede elétrica simulada (grupo motor- conforme Tabela 3.
gerador) foi desconectada do restante da montagem laboratorial
Tabela 3 – Módulo III – Oscilação de freqüência
(microturbina e cargas) por meio de um disjuntor (D1). A Tabela 2
Ensaio Características
caracteriza os ensaios.
• Grupo motor-gerador a diesel operando normalmente;
Tabela 2 – Módulo II – Ilhamento • Microturbina fornecendo 5,5 kW ao sistema;
3.1
• Banco de resistência de 38 kW;
Ensaio Características
• Tensão de operação 220/127 V, 60 Hz.
• Grupo motor-gerador a diesel operando normalmente;
2.1 • Microturbina fornecendo 5,5 kW ao sistema; • Idem ao ensaio 3.1;
3.2
• Banco de resistência de 38 kW; • Microturbina fornecendo 15 kW ao sistema.
• Tensão de operação 220/127 V, 60 Hz.
• Idem ao ensaio 3.1;
3.3
• Idem ao ensaio 2.1; • Microturbina fornecendo 30 kW ao sistema.
2.2
• Microturbina fornecendo 15 kW ao sistema.

• Idem ao ensaio 2.1; Módulo IV – Qualidade da energia elétrica


2.3
• Microturbina fornecendo 30 kW ao sistema. Um dos aspectos mais importantes que precisa ser analisado
quando há a inserção de equipamentos de GD à rede de distribuição
Módulo III – Oscilações da freqüência da rede diz respeito à degradação da qualidade da energia elétrica no
(rejeição de carga) sistema elétrico da concessionária. Os fenômenos de qualidade da
Conforme estabelecido pelo padrão IEEE 1547, quando ocorrer energia elétrica (QEE) avaliados nos presentes ensaios associaram-se
uma variação na freqüência do sistema no qual o equipamento de às distorções harmônicas de tensão e de corrente, aos desequilíbrios
GD estiver inserido, o mesmo deverá interromper o seu fornecimento de tensão, aos transitórios, às injeções de sinais cc, às variações

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de tensão de curta duração e às variações de tensão em regime Módulo IV – Variação de tensão em regime
Qualidade de energia

(regulação de tensão). A Tabela 4 fornece os detalhes associados aos A interconexão de equipamentos de geração distribuída com a rede
ensaios de qualidade de energia. elétrica não pode provocar variações dos níveis de tensão no ponto de
acoplamento comum, de forma a causar violações de limites proibitivos
Tabela 4 – Módulo IV – Qualidade de energia
preestabelecidos. Os níveis de tensão eficazes nos sistemas em baixa
Ensaio Características
tensão devem permanecer dentro de certos patamares que garantam o
• Grupo motor-gerador a diesel operando normalmente;
correto funcionamento de equipamentos elétricos. No Brasil, os níveis de
4.1 • Banco de resistência de 38 kW;
tensão em regime permanente são regulamentados pela Resolução n.
•Tensão de operação 220/127 V, 60 Hz.
505 da Aneel e, posteriormente, pelos procedimentos de distribuição.
4.2 • Microturbina operando a vazio;
• Tensão de operação 280/220 V, 60 Hz. Módulo V – Harmônicos
• Idem ao ensaio 4.1; Os limites de distorção harmônica de tensão, no cenário nacional,
4.3 serão estabelecidos pelo PRODIST, cuja abrangência contemplará,
• Microturbina fornecendo 5,5 kW ao sistema.
principalmente, as redes de distribuição de energia elétrica. Nesse
4.4 • Idem ao ensaio 4.1;
contexto, a tensão gerada pelos equipamentos de GD conectados à rede
• Microturbina fornecendo 15 kW ao sistema.
de distribuição deverá atender aos requisitos estabelecidos na presente
• Idem ao ensaio 4.1; norma. A Tabela 6 apresenta os limites estabelecidos pelo Prodist no
4.5
• Microturbina fornecendo 30 kW ao sistema. tocante às distorções harmônicas de tensão.
Para complementar as informações sobre o fenômeno harmônico, o
IEEE 1547 estabelece que, quando o equipamento de GD estiver suprindo
Limites normativos admissíveis utilizados na análise
dos resultados dos testes cargas lineares e equilibradas, o conteúdo harmônico de corrente deve

Para avaliar o impacto da conexão de equipamentos de GD sobre permanecer dentro de 5,5%.

o sistema elétrico e a eficácia das suas funções de proteção diante


Tabela 6 – NÍVEIS DE REFERÊNCIA PARA
de situações de risco operacional, foram utilizados documentos DISTORÇÕES HARMÔNICAS DE TENSÃO
normativos para nortear tais análises. Assim, os resultados dos ensaios Ordem Harmônicas
Ordem Harmônicas
nos equipamentos de geração distribuída devem estar em consonância 5 7.5
com os limites estabelecidos de transgressão em cada módulo de teste. 7 6.5
Estes limites encontram-se definidos na seqüência do texto. 11 4.5
Ímpares não 13 4
múltiplas de 17 2.5
Módulo II – Ilhamento
3 19 2
Segundo a IEEE 1547, o sistema de interconexão do equipamento
23 2
de GD deve detectar a situação de ilhamento e interromper o
25 2
fornecimento da energia gerada pela GD à rede elétrica dentro de >25 1.5
um período de tempo inferior a 2 segundos. 3 6.5
Ímpares
9 2
múltiplas de
Módulo III – Distúrbios da freqüência 15 1
3 21 1
Diante de uma variação na freqüência do sistema em que o
>21 1
equipamento de GD estiver inserido, o mesmo deverá interromper o
2 2.5
seu fornecimento de energia em um período de tempo determinado.
4 1.5
Os limites estabelecidos pelo padrão IEEE 1547 encontram-se
6 1
detalhados na Tabela 5. 8 1
Pares
10 1
12 1
Tabela 5 – Tempo de atuação diante de distúrbios de freqüência
>12 1
Capacidade do GD Variação da Tempo de atuação
Total 10
freqüência (Hz) (s)
> 60,5 0,16 Módulo VI – Desequilíbrios
≤ 30 kW
< 59,3 0,16 A Tabela 7, elaborada com base nos documentos consultados,
quantifica os índices de conformidade referentes aos desequilíbrios
> 60,5 0,16
de tensão. No entanto, para o índice de conformidade relativo aos
> 30 kW < {59,8 – 57,0} 0,16 a 300
desequilíbrios, algumas recomendações/normas são lacônicas, fato
< 57,0 0,16
este que determina alguns quadros vazios na referida tabela.

O SETOR ELÉTRICO
38 Setembro 2008
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Qualidade de energia
Tabela 7 – Índices de conformidade para desequilíbrios de tensão
Recomendação/norma Limite
IEEE 519 –
EM 50160 2%
ANSI C84.1 3%
NRS 048 2%
NTCSE –
IEC 2%
ONS – Submódulo 2.2 2%
Prodist 2%
Figura 1 – Sistema microturbina utilizado nos ensaios
Estrutura laboratorial e equipamentos
utilizados nos ensaios Essencialmente, a microturbina é composta por uma turbina a
Conforme relatado anteriormente, a conexão de geradores combustão e por um gerador elétrico, conectados ao mesmo eixo,
modulares de energia na rede de distribuição em baixa tensão deve produzindo tensão alternada em alta freqüência. A tensão terminal com­
ser respaldada por uma série de exigências de segurança, tanto patível com a rede é obtida mediante o uso de conversores eletrônicos.
para os recursos técnicos da rede elétrica quanto para os recursos A microturbina empregada nos ensaios possui o sistema de
humanos que acessam o sistema da concessionária. proteção integrado ao próprio equipamento. Assim, conforme
Devido a essas restrições e diante da necessidade da realização contido no manual de informações técnicas, não há necessidade
de ensaios laboratoriais, optou-se por estruturar um sistema elétrico de adicionar outros aparatos de proteção para sua conexão com o
hipotético que representasse, com certa margem de fidelidade, sistema elétrico de distribuição. As funções de proteção integradas
o sistema real da concessionária. Para se atingir tal propósito, foi à microturbina obedecem à nomenclatura da IEEE C37.90-1989.
utilizado um grupo motor-gerador a diesel, cuja capacidade de O diagrama esquemático da microturbina, enfatizando o seu
fornecimento gira em torno de 150 kVA, em 220 V. A seleção do princípio de funcionamento e os componentes que a compreendem,
grupo motor-gerador a diesel obedeceu aos requisitos estabelecidos é apresentado na Figura 2.
pela norma IEEE 1547.1. Complementarmente ao gerador,
utilizou-se nos ensaios um grupo de cargas elétricas ativas 38 kW.
Na seqüência, os detalhes técnicos de cada equipamento utilizado
nos ensaios serão pormenorizados.

Grupo motor-gerador a diesel

Conforme foi relatado anteriormente, foi estruturado um sistema


elétrico representativo, em que a concessionária foi representada
por um grupo motor-gerador a diesel, o qual foi convenientemente
montado, dotado dos componentes de supervisão e controle
necessários ao seu funcionamento autônomo e destinado ao
suprimento de energia elétrica.
Figura 2 – Diagrama esquemático da microturbina

Cargas elétricas
Montagem experimental
O conjunto de cargas utilizado para a realização dos testes foi constituído
O esquema unifilar do sistema elétrico estruturado para a
de um banco de resistências trifásico (38 kW), um transformador trifásico
realização dos ensaios encontra-se ilustrado na Figura 3.
(45 kVA) e um equipamento de eletrólise (10 kW, bifásico). O banco resistivo
foi constituído por três conjuntos de resistências de, aproximadamente,
12,6 kW cada, comandadas por três disjuntores.

Microturbina
Os testes de conexão foram aplicados na microturbina ilustrada
na Figura 1. Como a tensão gerada pela microturbina é incompatível
com a tensão da rede elétrica de distribuição, foi necessário utilizar
um transformador de ajuste para possibilitar a operação do
equipamento em paralelo com o sistema de energia.
Figura 3 – Esquema unifilar do sistema elétrico utilizado nos testes

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40 Setembro 2008
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Deve-se ressaltar que a aquisição dos sinais de tensão e de corrente, Diante dos resultados apresentados, ressalta-se que a utilização
durante a aplicação dos ensaios, foi feita nos terminais de saída da microturbina do grupo gerador a diesel atende perfeitamente aos anseios dos
e nos terminais do grupo motor-gerador a diesel (barramento 220 V). Para ensaios ora propostos, representando, com certa fidelidade, o
algumas situações de operação da microturbina, os registros foram realizados sistema elétrico da concessionária. As discrepâncias apresentadas se
nos terminais do próprio equipamento (barramento 380 V). justificam no fato de que o sistema de distribuição da concessionária,
assim como qualquer outro sistema de distribuição, possui muitas
Resultados variáveis externas que afetam seu comportamento.
A seguir são apresentados os resultados oriundos dos testes
nos equipamentos de Geração Distribuída, os quais se encontram Ilhamento
divididos por módulos, conforme apresentado em tabelas anteriores. Para simular uma situação de ilhamento, o disjuntor D1,
responsável pela interconexão entre o gerador a diesel e os demais
Validação do sistema elétrico hipotético componentes do sistema, conforme ilustrado na Figura 3, foi aberto
As tabelas a seguir apresentam, de forma resumida, os valores intencionalmente. A partir desse instante, parte do sistema elétrico
mais relevantes obtidos com as medições efetuadas tanto no hipotético passa a ser alimentado pela fonte GD. Os resultados
sistema da concessionária como no grupo gerador. Nesse sentido, obtidos dos ensaios experimentais, para cada um dos itens descritos,
tais grandezas podem ser comparadas, com a finalidade de validar são analisados na seqüência.
o sistema elétrico hipotético.

Tabela 8 – Validação do sistema elétrico – Resultados da


concessionária e do gerador a diesel
Grandeza Concessionária Gerador a diesel
Valor eficaz (V) 131,81 127,51
Harmônicas mais 5ª 2,90 2,32
significativas (%) 7ª 1,30 0,73
Tensão

THD (%) 3,10 2,70


Desequilíbrio (%) 0,19 0,51
Figura 4 – Perfis das tensões fase neutro do sistema de distribuição durante o ilhamento

O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2008 41
Apoio

Em todas as situações analisadas, o tempo de atuação do sistema


Qualidade de energia

de proteção da microturbina foi inferior ao limite estabelecido pelo


Padrão IEEE 1547, independentemente das situações operativas dos
equipamentos de geração distribuída.

Qualidade da energia elétrica

Os fenômenos da qualidade da energia elétrica que foram


considerados para as investigações deste módulo foram: distorções
harmônicas totais e individuais de tensão e corrente, variação de tensão

Figura 5 – Resposta da microturbina diante da situação de ilhamento


em regime permanente e desequilíbrios de tensão. Os resultados
obtidos dos ensaios experimentais são analisados na seqüência.

Figura 6 – Tempo de detecção e de desconexão da proteção

Em todas as situações analisadas, o tempo de atuação do sistema Figura 9 – Análise comparativa entre as distorções harmônicas de tensão

de proteção da microturbina foi inferior ao limite estabelecido pelo


Padrão IEEE 1547.

Oscilações da freqüência da rede

Para simular o distúrbio de freqüência, foram feitos cortes e


energizações de parcelas da carga, dada a sensibilidade do gerador
a diesel. Os resultados obtidos dos ensaios experimentais, para cada
um dos itens descritos, são analisados na seqüência.

Figura 10 – Análise comparativa entre as distorções totais de demanda

Figura 7 – Oscilografias das tensões e das correntes na microturbina durante a


oscilação da freqüência – Microturbina fornecendo 30 kW
Figura 11 – Análise comparativa entre os desequilíbrios de tensão
Para todos os ensaios afetos à qualidade da energia elétrica, não
houve aumento significativos das distorções harmônicas de tensão,
conforme ficou evidenciado pelo gráfico da Figura 9. Os maiores
patamares de distorção harmônica foram registrados para o caso da
microturbina operando em plena carga. Com relação aos desequilíbrios
de tensão, ficou evidenciado que não houve transgressão dos limites
proibitivos impostos pela norma vigente.
Em suma, a operação da microturbina em paralelo com a rede elétrica

Figura 8 – Tempo de detecção e desconexão – Referência IEEE versus microturbina


não provocou quaisquer violações dos limites associados à qualidade da
operando a 30 KW (pior situação) energia, analisados no presente documento.

O SETOR ELÉTRICO
42 Setembro 2008
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Conclusão Todavia, não obstante a bateria de testes realizados, novas
Neste artigo foram apresentados os resultados de ensaios investigações devem ser conduzidas de forma a se contemplar outras
experimentais em uma microturbina, com o intuito de avaliar a conexão condições de não conformidade não identificadas neste trabalho.
destes equipamentos com a rede elétrica. Os ensaios foram conduzidos
de forma a atender aos requisitos estabelecidos pelo procedimento Referências bibliográficas
Grisham, J. L. “A Guidebook to Evaluate the Use of Distributed Generation in
normativo IEEE 1547. Os estudos compreenderam análises das funções Distribution Systems”, A Thesis Submitted to the Faculty of Mississippi State
Universit. Mississippi, May 2004.
de proteção, bem como a avaliação da degradação dos níveis de Dugan, R.; McGranaghan, M. F.; Beaty, H. W. “Electrical Power System Quality”,
conformidade da tensão de suprimento da rede elétrica quando da McGraw-Hill, Second Edition, USA, 2002.
IEEE 1547 – 2003 – “IEEE Standard for Interconnecting Distributed Resouces with
operação das fontes GD. Electric Power Systems”, 2003.
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica: Prodist – Procedimentos de
Com relação aos ensaios para a avaliação da confiabilidade do Distribuição.
IEEE 519-1992 – “IEEE Recomended Practices and Requirements for Harmonic
sistema de proteção do equipamento de GD, ficou evidenciado que a
Control in Electrical Power Systems”, 1992.
resposta de atuação dos equipamentos, com a presença de distúrbios Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, Resolução Nº 505, de 26 de
novembro de 2001.
anormais na rede elétrica, atendeu plenamente aos limites estabelecidos IEC 61000-4-30 Ed. 1: Electromagnetic Compatibility (EMC) – Part 4-30: Testing
and Measurement Techniques – Power Quality Measurement Methods.
pelo IEEE 1547. Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, “Submódulo 2.2, Padrões de
No que concerne aos ensaios relacionados à qualidade da energia Desempenho da Rede Básica”, de 22 de agosto de 2002.

elétrica, os fenômenos que foram contemplados nesta avaliação Continua na próxima edição
atenderam às recomendações normativas utilizadas como referência
Mateus Duarte Teixeira é engenheiro eletricista, mestre em Ciências
nas análises do impacto. Ressalva deve ser feita para o caso do indicador pela Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de
DDT (Distorção Total de Demanda), cujos patamares para alguns ensaios Uberlândia (UFU) e gerente de desenvolvimento de negócios na área de
extrapolaram os limites máximos de injeção de correntes harmônicas. qualidade de energia da Arteche EDC.

Contudo, conforme ficou evidenciado, as distorções de correntes Rodrigo Antônio Peniche é engenheiro eletricista, mestre em
Ciências pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e trabalha com
registradas não comprometeram a conformidade da tensão do sistema
planejamento da distribuição em sistemas de 69 kV e 138 KV na Copel.
elétrico. Desse modo, ficou comprovado que a microturbina levada aos
Alexandre Rasi Aoki é engenheiro eletricista, mestre e doutor pela Escola
ensaios pode ser interconectada ao sistema elétrico de distribuição sem Federal de Engenharia de Itajubá (Unifei) e gerente da Divisão de Sistemas
comprometer o seu desempenho. Elétricos do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (Lactec).

O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2008 43
Apoio

Qualidade de energia Por I. T. Domingues, A. J. Monteiro, N.M. Matsuo, N. Kagan, S.X. Duarte, E. L. Ferrari

Capítulo VIII
Danos em equipamentos de baixa
tensão causados por surtos
atmosféricos e seu impacto nos
pedidos de indenização

Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse
dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no
País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos,
novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de
energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de
contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”,
organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de
São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em
meados do ano passado.
Este artigo enfoca os estudos realizados para o desenvolvimento de uma metodologia de análise quanto
à possibilidade de ocorrência de danos em equipamentos de consumidores de baixa tensão em decorrência de
descargas atmosféricas, com o objetivo de inclusão dessa metodologia no sistema informatizado de análise de
pedidos de indenização existente na AES Eletropaulo.

Trabalhos têm sido publicados recentemente causados por anomalia no sistema alimentador. Esse sistema
relativamente à questão de danos em equipamentos de visa tornar o processo de atendimento mais eficiente,
consumidores de energia elétrica e ressarcimentos por ágil, uniforme e apoiado em resultados de estudos dos
parte da empresa concessionária, atestando a importância fenômenos da rede elétrica, que podem causar danos
do assunto e a preocupação que isso suscita. A questão é em equipamentos e em informações de suscetibilidade
originada pelo uso crescente de aparelhos eletroeletrônicos de equipamentos levantadas por meio de ensaios em
em todas as camadas sociais, aparelhos esses que são laboratório.
suscetíveis a solicitações decorrentes de condições anormais O sistema atualmente em funcionamento contempla
nas tensões de alimentação, bem como a exigência crescente ocorrências de curta e longa duração (curto-circuito,
dos consumidores em relação aos padrões de atendimento abertura do neutro, abertura de fase, etc.) e alguns
de serviços públicos, que, hoje em dia, dispõem de canais fenômenos transitórios (chaveamento de capacitores e
para reivindicar os seus direitos e órgãos reguladores atentos restabelecimento de circuito).
à questão. Em conseqüência, as empresas de energia têm Entre novos estudos e desenvolvimentos realizados
sofrido aumento nos gastos para ressarcimento de prejuízos destaca-se a análise quanto à possibilidade de danos
por danos em equipamentos de consumidores. de equipamentos por descargas atmosféricas a partir
A Universidade de São Paulo vem desenvolvendo, de informações do sistema de detecção de raios hoje
em conjunto com algumas empresas de distribuição de disponíveis. Esta questão assume importância, tendo
energia elétrica, um sistema informatizado de análise e em vista que a regulamentação vigente não isenta as
suporte técnico para atendimento dos casos de pedidos de concessionárias de energia de responsabilidade por danos
indenização por danos em equipamentos de consumidores em equipamentos de consumidores relacionados a raios.

O SETOR ELÉTRICO
32 Outubro 2008
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Este artigo enfoca os estudos desenvolvidos sobre a potencialidade por meio de ensaios em laboratório, os níveis de suportabilidade de
destrutiva das sobretensões atmosféricas em relação aos equipamentos equipamentos às sobretensões e, assim, indiretamente, a possibilidade
de consumidores de baixa tensão. ou não de dano.
Entretanto, devido às incertezas associadas aos diversos fatores
Sobretensões atmosféricas em envolvidos na propagação de surtos atmosféricos na rede de distribuição
instalações de baixa tensão e ao processo de “queima” de equipamentos, não é possível dizer de uma
Tendo em vista que a regulamentação vigente (Resolução 61, de 29 maneira determinística e precisa o efeito que uma descarga atmosférica
de abril de 2004, da Aneel) não isenta as concessionárias de energia teria sobre um determinado equipamento ligado à rede. Por esse motivo,
elétrica de responsabilidade nos casos de danos em equipamentos de parece razoável adotar, como princípio, um procedimento de análise
consumidores relacionados ao fenômeno mencionado, levantou-se a que forneça resultados no geral pessimistas, dentro do razoável, de
possibilidade de inclusão da análise quanto a danos de equipamentos por forma a evitar prejudicar consumidores que tenham seus equipamentos
descargas atmosféricas a partir de informações do sistema de detecção danificados por descargas atmosféricas. Esse posicionamento considera
de raios hoje disponíveis. a necessidade de estabelecer critérios de análise que, embora sujeitos
A inclusão da análise de descargas atmosféricas, no sistema a imprecisões, permitam classificar os pedidos de indenização em
informatizado de suporte ao atendimento de pedidos de indenização, procedentes ou não, por meio de procedimento que venha a ter o aval
visa criar, nesse sistema, uma ferramenta que forneça um diagnóstico de órgãos reguladores de energia elétrica.
quanto à possibilidade de “queima” de equipamentos por descargas, Na prática, devido à margem de incerteza na localização do
em função da localização da instalação do consumidor em relação ao ponto de queda de raio, em grande parte das situações não é possível
local. Além de fornecer os parâmetros da descarga, considerando a determinar se a descarga atingiu a rede de distribuição ou apenas um
rede de suprimento de energia, na qual o consumidor encontra-se, bem ponto próximo à rede, principalmente em redes urbanas. Por isso, os
como as características de suportabilidade do equipamento a surtos estudos de simulação consideraram a situação mais pessimista, que é
atmosféricos. a descarga direta, que engloba casos em que o raio atinge a linha de
Uma metodologia mais viável para essa análise consiste em avaliar distribuição primária e secundária, incluindo ramais de ligação. Engloba,
por meio de simulações computacionais as possíveis sobretensões nas também, os casos em que o raio atinge instalações, edificações e
instalações elétricas provocadas por descargas atmosféricas e avaliar, estruturas alimentadas pela rede de distribuição, pois, nesses casos, é

O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2008 33
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possível a propagação das sobretensões à rede de distribuição por meio Rede simulada
Qualidade de energia

de ligações existentes na instalação atingida ou por caminhos abertos A rede elétrica básica considerada para as simulações é
pelas disrupções que ocorrem em conseqüência da descarga. representada na Figura 1 e consiste em:
• uma linha de distribuição primária de 10 km, com condutores de
Simulações fase de 3x336,4 MCM – Al e condutor de neutro de 1x1/0 AWG –
Para realizar as simulações, foi utilizado o programa ATP (Alternative Al, com neutro aterrado a cada 300 m;
Transients Program). Essas simulações foram fundamentais para um melhor • transformador de distribuição, que supre o circuito secundário
entendimento do processo de propagação de surtos de tensão e de corrente analisado localizado no ponto médio do circuito primário;
resultantes de descargas diretas em redes de distribuição. Diferentemente • circuito secundário com extensão de 150 m em cada lado do
do que ocorre normalmente com linhas de transmissão de alta tensão, as transformador, acoplado à linha primária, com condutor de fase 1/0
descargas diretas em linhas de distribuição provocam múltiplas disrupções AWG – Al; neutro comum com a linha primária;
em isoladores, tornando difícil realizar uma análise ou mesmo obter um • derivações de consumidores secundários no circuito estudado a
entendimento qualitativo da questão sem recorrer a uma simulação cada 30 m;
detalhada, pois as ondas de tensão e de corrente são resultantes de inúmeras • neutro aterrado nas entradas de consumidores;
interações e reflexões em muitos pontos de descontinuidade. • transformador de distribuição protegido por pára-raios no lado do primário;

Figura 1 - Configuração da rede utilizada para as simulações

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34 Outubro 2008
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• existência de pára-raios ao longo da linha primária, tendo sido foi utilizado o modelo de Rajotte/Fortin/Cyr e para transformador
considerados pára-raios nas 3 fases a cada 300 m e nas extremidades trifásico foi utilizado o modelo de Kanashiro. Os pára-raios foram
do alimentador; representados por um modelo disponível no programa ATP.
• ramais de ligação de consumidores do circuito secundário analisado Utilizou-se uma curva típica VxI de um pára-raios de ZnO.
de 10 m (admitido cabo multiplexado de 10 mm2) Os isoladores foram modelados por meio de chaves normalmente
• não considerada existência de qualquer dispositivo de proteção de abertas que se fecham quando determinadas condições de tensão
baixa tensão (BT); são alcançadas, simulando a ocorrência de disrupção. Foi utilizado o
• considerada a possibilidade de ocorrência de disrupção em modelo, em que é definida uma grandeza chamada efeito disruptivo
isoladores da rede primária e do circuito secundário estudado, (DE), dada pela expressão:
mas não nas instalações de consumidores de BT e nos ramais de
ligação.
Redes reais geralmente apresentam ramificações e interligações dos
neutros de diferentes alimentadores, que contribuem para uma maior Em que U(t) é a tensão aplicada; t0 é o instante de tempo em que
efetividade do aterramento do sistema. Esse efeito pode ser levando U(t)>U0; U0 é a tensão de início de atuação e k é uma constante.
em consideração, caso seja desejado obter resultados mais realísticos, Na literatura, existem menções de diferentes modelos de
principalmente em redes com neutro contínuo interligado. representação de carga, como resistência, indutância, capacitância e
composições de elementos. Nas simulações básicas realizadas neste
Modelos de representação dos componentes da rede trabalho, foram considerados 5 diferentes modelos de representação
As linhas primária e secundária foram representadas utilizando de cargas de consumidores: resistência (R = 30 Ω), indutância (L =
o modelo disponível no ATP, que leva em consideração a variação 3,5 μH [9]), capacitância (C = 4 ηF).
dos parâmetros com a freqüência. As linhas foram representadas O ramal de derivação do circuito secundário para o consumidor
em trechos de 30 m cada, sendo esse espaçamento aumentado a (cabo multiplexado) foi representado utilizando o modelo de linha
partir de 900 m do transformador. com parâmetros distribuídos. Os aterramentos foram representados
Nos estudos, foram considerados transformadores monofásico por resistências em série com indutâncias que representam as
e trifásico. Para a representação do transformador monofásico, descidas de aterramento. Foram utilizados alguns diferentes valores

O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2008 35
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de resistências de aterramento para análise paramétrica. Com as simulações, foram avaliadas as tensões nos pontos de
Qualidade de energia

A descarga atmosférica foi representada como uma fonte de conexão de consumidores do circuito secundário da rede estudada
corrente conectada à linha. Foi utilizada a forma de onda triangular em função da amplitude da corrente de descarga e da distância do
(crescimento constante até a crista e decaimento constante após a ponto de descarga na linha primária em relação ao transformador.
mesma). O tempo de frente até a crista, considerado nas simulações Foram obtidos, assim, os valores de crista das tensões fase-
básicas, é de 2,25 μs e o tempo de cauda até o meio valor de crista neutro e neutro-terra em função da distância, para diferentes
é 80 μs (Figura 2). valores de corrente de descarga. A Figura 4 apresenta gráficos com
esses valores, obtidos para a rede da Figura 1, com os valores das
resistências de aterramento RT = RC = RS = 100Ω.

Suportabilidade de equipamentos
a surtos atmosféricos
Solicitações em equipamentos de BT
As sobretensões podem aparecer nos equipamentos de
dois modos: comum e diferencial. As sobretensões de modo
Figura 2 - Corrente de descarga. Descarga a 600 m do transformador
diferencial aparecem em função das diferenças nas tensões
Sobretensões nas entradas de consumidores de baixa tensão
transitórias das diferentes fases ou entre fase e neutro. As
– Resultados das simulações
sobretensões de modo comum aparecem em função das
A Figura 3 mostra exemplos de resultados obtidos em uma
elevações de potencial nos condutores (fase e neutro) da rede
simulação em que foram admitidos os valores de resistências de
de alimentação em relação à terra.
aterramento RT, RS, RC = 100 Ω e RP = 200 Ω e descarga a 600 m
É necessário considerar o fato de que em muitos equipamentos
do transformador.
não há conexão da sua massa ou do seu referencial de “terra” ao
As simulações mostraram que as formas de onda e as amplitudes
condutor de proteção da instalação, seja por não haver terminal de
das sobretensões variam consideravelmente em função do modelo
aterramento, seja pelo fato de não ter sido realizada a conexão apesar
de representação das cargas de consumidores. Dentre diferentes
de existir esse terminal. Por esse motivo, dependendo do local em
modelos utilizados nas simulações, para a representação das cargas,
que estão instalados, esses equipamentos podem ficar sujeitos às
foi considerado como particularmente apropriados, para este estudo,
solicitações de ambos os modos, comum e diferencial, em instalações
os modelos Bassi (apresentados na VIII International Symposium on
com esquema de aterramento TN ou TT.
Lightining Protection, realizado em novembro de 2005, em São
Paulo), que foram baseados em ensaios de laboratório.

Figura 4 - Exemplos de resultados de tensões fase-neutro e neutro-terra no consumidor


Figura 3 – Tensões em pontos de ligação de consumidores (exemplos)
localizado no ponto mais desfavorável (ponto D5), obtidas de simulações, para a rede da Fig. 1

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36 Outubro 2008
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Normas relativas à imunidade de equipamento a) Formas de onda e níveis de tensão aplicados
As normas da série IEC 61000 (Compatibilidade As seguintes ondas foram utilizadas nos ensaios: onda
Eletromagnética) tratam da questão de imunidade de combinada (tensão de 1,2 x 50 ms e corrente de 8/20 us) e
equipamentos a perturbações do ponto de vista do seu “ring wave”.
desempenho operativo/funcional e servem como uma referência O gerador combinado (IEC 61000-4-5) apresenta uma
aos estudos e objetivos enfocados neste artigo. tensão de saída em vazio com tempo de frente de 1,2 μs e
A IEC 61000-6-1 especifica os seguintes níveis de imunidade, tempo até o meio valor de 50 μs e corrente de curto-circuito
relativos a surtos, para entradas de alimentação em CA de com tempo de frente de 8 μs e tempo até o meio valor de 20 μs.
equipamentos para ambientes residencial, comercial e industrial O gerador de impulsos de onda “ring wave” (IEC 61000-4-12)
leve: linha–terra: ± 2 kV e linha–linha: ± 1 kV. apresenta características de saída oscilatória.
Embora não haja nenhuma exigência para os equipamentos
existentes no mercado nacional quanto ao atendimento aos b) Formas de aplicação das ondas
valores especificados na IEC 61000-6-1, os níveis de imunidade Os aparelhos foram ensaiados com os terminais de
especificados nesta norma podem servir como referência para alimentação conectados à fonte e contemplando os estados:
a definição dos níveis de suportabilidade a serem utilizados nas ligado (em funcionamento), em estado “stand-by” (aparelho
análises, junto com os níveis obtidos nos testes em laboratório. conectado à alimentação, mas em estado desligado, nos casos
As normas IEC 61000-4-5 e IEC 61000-4-12, que tratam de com essa possibilidade, como: TV, DVD, etc.) e desligado (por
métodos de ensaios de imunidade de equipamentos relativos um interruptor mecânico, quando existente no aparelho). Nos
a surtos atmosféricos, serviram, neste estudo, para a definição ensaios de modo diferencial, as tensões são aplicadas entre os
dos testes realizados em laboratório. condutores de alimentação do aparelho.

Ensaios de suportabilidade Nos ensaios de modo comum, as tensões são aplicadas entre
Foram realizados ensaios com vários equipamentos os condutores de alimentação do aparelho e o seu terminal
eletroeletrônicos com a finalidade de levantar os níveis de de aterramento, quando existir. Em aparelhos sem terminal de
suportabilidade. aterramento, foram realizados ensaios aplicando tensão entre

O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2008 37
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os condutores de alimentação e uma placa condutora colocada Dessa forma, dado um nível de suportabilidade haveria
Qualidade de energia

sob o equipamento, em contato com a carcaça do equipamento. uma distância crítica para certa corrente de descarga. A rigor,
Para aparelhos de uso em mesa, foram também considerados a amplitude de uma sobretensão poderia ser comparada com o
ensaios com o plano de terra colocado sob um dos pés da mesa valor da tensão de suportabilidade de um equipamento somente
na qual fica o aparelho. se as formas de onda forem iguais. No entanto, tendo em vista
Os testes foram aplicados aumentando gradualmente a que pode ocorrer uma grande variedade de formas de onda
severidade dos impulsos a fim de se obter o valor de impulso diferentes, propõe-se que os valores de pico das sobretensões
até o qual o equipamento suporta. A severidade foi aumentada obtidos nas simulações sejam comparados diretamente com os
até que o equipamento fosse danificado. valores de suportabilidade obtidos em ensaios.

c) Resultados de ensaios a) Determinação da distância crítica do ponto de queda do raio


A Tabela I apresenta os resultados dos testes realizados até em função da suportabilidade de equipamento
o momento. O procedimento proposto busca determinar a distância
mínima (distância crítica) do ponto de queda do raio até o
TABELA I – Suportabilidade a surtos de alguns aparelhos de acordo com testes
transformador de distribuição que alimenta o consumidor
Tensão suportável de surto (kV) reclamante, abaixo da qual pode haver dano em equipamento,
Modo com base nos resultados de simulações. Essa distância crítica é
Modo comum diferencial obtida em função da amplitude de corrente de descarga e da
Aparelho (linha-linha) (linha-terra)
tensão de suportabilidade do equipamento analisado.
Video-cassete (1) 2(4) 1
DVD (2) ≥6 (4) 2
b) Elipse de confiança
TV (2) ≥6 (4) 2
PC (1) 2 2 3.5 No sistema de detecção de descargas atmosféricas, a
Impressora Multifunctional (2) ≥6 2 localização de uma descarga é dada por uma elipse de confiança
Forno micro-ondas (1) 4 que circunscreve uma região, centrada na posição calculada,
Aparelho de som micro system (1) ≥6 (4) 2 na qual existe certa probabilidade de que a descarga tenha
Fax (1) 2 4 ocorrido em seu interior. Normalmente, a elipse é dada para
Ar condicionado (1) ≥6 2
a probabilidade de 50%, mas elipses de outras probabilidades
Refrigerador (3) ≥6 ≥6
podem ser utilizadas.
UPS (no-break) (1) 2 ≥6

(1) entrada com tensão fixa c) Critério para diagnóstico quanto à queima ou não de
(2) entrada regulada automaticamente equipamento
(3) refrigerador sem controle eletrônico
(4) equipamento sem terminal terra (tensão aplicada entre condutores ativos e Tendo-se a distância crítica e a elipse de segurança para
uma placa sob o aparelho) um caso sob análise, o diagnóstico é obtido em função da
localização do transformador em relação à elipse considerada e
Os ensaios indicaram que, de uma maneira geral, a onda a distância crítica obtida. Se a probabilidade de que a descarga
combinada é mais severa para os equipamentos do que a “ring tenha ocorrido dentro da distância crítica for significativa,
wave” de mesma amplitude. Assim, as suportabilidades obtidas nos considera-se que o equipamento em questão pode sofrer dano
ensaios foram determinadas pela onda combinada. em conseqüência da descarga.
Nos ensaios realizados, os equipamentos apresentaram, Na aplicação desse método, pode-se medir a distância
em geral, suportabilidades superiores aos valores de imunidade crítica pelo caminho elétrico (linha), ou, caso seja desejado
especificados na norma IEC-61000-6-1 (linha-terra: ±2 kV, e linha- uma aplicação mais conservativa, pode-se medir essa distância
linha: ±1kV). geograficamente. Neste caso, a área situada dentro da
circunferência com centro no transformador e raio igual à
Procedimento de análise quanto distância crítica pode ser chamada de área de vulnerabilidade.
à possibilidade de queima O critério proposto é que, se houver intersecção entre a
Para a análise dos casos de pedidos de indenização por elipse de confiança e essa circunferência seja considerada, o
queimas de equipamentos relacionados com as descargas equipamento pode sofrer dano (Figura 5). Utilizando a elipse
atmosféricas, buscou-se estabelecer procedimentos que de probabilidade de 50%, a condição de não haver intersecção
permitam realizar a análise das sobretensões em função da com a circunferência resulta em probabilidade em geral
distância do ponto de queda do raio em relação ao consumidor bastante baixa de que a descarga tenha ocorrido dentro da área
e do nível de suportabilidade do equipamento em questão. de vulnerabilidade.

O SETOR ELÉTRICO
38 Outubro 2008
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na rede de suprimento ou informações colhidas nas instalações
do consumidor reclamante e na sua vizinhança, pois esses dados
podem auxiliar para diagnósticos mais apurados.
Evidentemente, as análises de pedidos de indenização
não se restringem às questões técnicas, envolvendo aspectos
jurídicos e regulatórios que devem ser considerados, mas os
procedimentos aqui propostos permitem uma melhor avaliação
do problema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo apresentou os estudos realizados para avaliação
da possibilidade de danos em equipamentos em conseqüência
Figura 5 - Ilustração da posição relativa entre a elipse de probabilidade (50%) e a
circunferência da área crítica
de descargas atmosféricas. Os critérios propostos estão sendo
incorporados no sistema informatizado de auxílio à análise
d) Aplicação do critério proposto
Embora o critério proposto permita distinguir situações com maior Existem trabalhos de continuidade a esses estudos visando
probabilidade de ocorrência de dano em equipamentos de outras novos desenvolvimentos, em que estão previstos estudos
situações de menores probabilidades, não se trata de um indicador incluindo realização de medições de eventos de surtos no
absoluto da possibilidade de dano, tendo em vista as incertezas sistema de distribuição, pesquisas de medidas para redução
envolvidas. Por esse motivo, nas análises de pedidos de indenização, de casos de pedidos de indenização, incluindo instalações de
não deve ser descartada a utilização de dados adicionais, tais dispositivos de proteção e novos ensaios de laboratório relativos
como aqueles referentes às ocorrências de manutenção/operação à suportabilidade de equipamentos.

Continua na próxima edição

O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2008 39
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Qualidade de energia Por Acácio Silva Neto e Alexandre Piantini

Capítulo IX
Sobretensões induzidas por
descargas atmosféricas em redes
secundárias
Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse
dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no
País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos,
novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de
energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de
contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”,
organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de
São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em
meados do ano passado.
Neste artigo, serão apresentados os resultados de um estudo sobre as características das sobretensões
ocasionadas por descargas atmosféricas próximas a linhas de distribuição de baixa tensão. As tensões induzidas
foram calculadas pelo ERM (“Extended Rusck Model”) – modelo de validade comprovada por centenas de
comparações entre resultados teóricos e experimentais.

As descargas atmosféricas são responsáveis por parcela atuação de dispositivos de proteção. Por sua vez, as tensões
significativa dos distúrbios nas redes elétricas, podendo induzidas na rede secundária ainda não foram estudadas
ocasionar desligamentos ou queima de equipamentos, em grande profundidade. Esses transitórios ocorrem com
tanto das concessionárias quanto dos consumidores. Os freqüência e podem atingir amplitudes elevadas.
distúrbios nas redes de distribuição causados por descargas A adoção de novos critérios para a avaliação da
atmosféricas podem ser causados tanto por descargas qualidade da energia fornecida tem incentivado a realização
diretas como indiretas (próximas à rede). As descargas de pesquisas com o objetivo de se obter informações a
diretas na rede de baixa tensão são raras pelo fato de os respeito das características das sobretensões em redes
condutores estarem posicionados em alturas inferiores à de baixa tensão. A busca de um melhor entendimento
dos condutores da rede primária e pelo fato desta última do comportamento das tensões induzidas em relação
normalmente estar presente, blindando a rede secundária. a diversos parâmetros é de fundamental importância.
Os surtos ocasionados por descargas diretas na rede As formas de onda das tensões induzidas em redes de
primária são transferidos para a rede de baixa tensão baixa tensão típicas brasileiras são caracterizadas por
por meio do transformador e também pela atuação oscilações amortecidas de alta freqüência em função das
dos pára-raios de média tensão. Vários estudos vêm simulações terem sido realizadas considerando linhas com
sendo desenvolvidos a respeito das tensões induzidas espaçamentos da ordem de 250 m a 400 m entre pontos
na rede primária devido a descargas indiretas e sobre as de aterramento do neutro.
tensões transferidas para a rede secundária por meio dos Entretanto, como no Brasil em geral as distâncias entre
transformadores de distribuição. No caso de uma descarga os pontos de aterramento são menores, as características
direta em uma edificação, ocorre um aumento do potencial das tensões induzidas são diferentes. Deve-se considerar
de terra próximo à instalação, o qual pode ocasionar também que as redes de baixa tensão apresentam ainda
a transferência de surtos à rede de baixa tensão em grande diversidade de configurações.
decorrência de descargas disruptivas na instalação ou da Nesse trabalho, são apresentados resultados referentes

O SETOR ELÉTRICO
30 Novembro 2008
Apoio
às características das sobretensões nas redes de baixa tensão, causadas das tensões induzidas apresentadas neste trabalho, as cargas foram
por descargas atmosféricas indiretas. O estudo considera diferentes representadas pelo circuito mostrado na Figura 1.
configurações de rede e discute a influência de parâmetros, como a
altura do condutor fase, o comprimento do ramal de ligação, a distância
entre pontos de aterramento do condutor neutro e a posição ao longo
da linha.
As simulações foram realizadas por meio do modelo matemático
ERM (“Extended Rusck Model”), cuja validade foi comprovada por meio
de centenas de comparações entre resultados teóricos e experimentais.
O trabalho discute também a modelagem das cargas dos consumidores Figura 1 – Aproximação da impedância de entrada de uma instalação de baixa
tensão típica (sistema TN)
e do transformador de distribuição diante de surtos atmosféricos.

O transformador utilizado neste trabalho é típico de distribuição:


Tensões induzidas na rede secundária
30 kVA, 13,8 kV – 220/127 V Δ/Y (aterrado). Por meio de simulações
A representação adequada das cargas dos consumidores e do
preliminares, foi mostrado que este transformador pode ser razoavelmente
transformador de distribuição é fundamental quando se realizam
bem representado para o cálculo de tensões induzidas por meio de um
cálculos de tensões induzidas. O circuito apresentado na Figura 1 é
indutor de 50 μH em série com o circuito mostrado na Figura 1.
uma boa aproximação da impedância de entrada de uma instalação
consumidora típica na faixa de 5 kHz a 2 MHz. Ele foi obtido a partir de
Caso base
medições realizadas em um apartamento de 127 m², com sete circuitos
As simulações foram realizadas, inicialmente, considerando a
e alimentado por um sistema de 400 V – 230 V (TN). Uma simplificação,
configuração mostrada na Figura 2, correspondente ao caso base. A linha
considerada razoável, é ignorar o comportamento da carga em baixa
simulada é monofásica, com 300 m de comprimento e casada em ambas
freqüência e representá-la por uma indutância de 3,5 μH.
as extremidades. O ponto de instalação do transformador é eqüidistante
Como essa indutância decai com o número de circuitos da instalação,
às extremidades da linha. As cargas foram conectadas à rede de baixa
concluiu-se que, como primeira aproximação, sistemas TN podem ser
tensão por meio de ramais de ligação representados por indutâncias de 50
modelados por uma indutância na faixa de 2 μH a 20 μH. Nos cálculos

O SETOR ELÉTRICO
Novembro 2008 31
Apoio

μH, correspondendo a um ramal com 40 m de comprimento. As alturas As formas de onda e as amplitudes das tensões induzidas
Qualidade de energia

dos condutores fase (h) e neutro são 6,8 m e 7,0 m, respectivamente. A dependem dos parâmetros da linha, das cargas consumidoras e dos
resistência de terra é igual a 20 Ω, a indutância do condutor de descida parâmetros das descargas atmosféricas. Como podemos observar, as
do aterramento do neutro é igual a 17,5 μH, sendo o condutor neutro tensões induzidas (fase-terra, fase-neutro, neutro-terra) apresentam
aterrado com o transformador e nos locais de instalação de cargas. A amplitudes elevadas, variando entre 6 kV e aproximadamente 17
descarga atmosférica ocorre em frente ao transformador, a uma distância kV, e podem acarretar descargas disruptivas em um ou mais pontos
d = 50 m da linha. A amplitude da corrente de descarga (I) é 45 kA e da rede. A tensão induzida fase-terra atinge o seu valor máximo em
sua velocidade de propagação é igual a 30% da velocidade da luz no instante próximo ao instante em que a corrente da descarga atinge
vácuo. A forma de onda da corrente é triangular, com tempos de frente a sua máxima amplitude (3 μs). No entanto, o valor de crista da
e até zero, respectivamente iguais a 3,0 μs e 150 μs. O modelo de linha tensão fase-neutro ocorre em instante inferior ao da tensão induzida
de transmissão (TL) foi usado para determinar a distribuição da corrente fase-terra. Isso se deve à natureza predominantemente indutiva das
ao longo do canal de descarga, suposto com 3 km de comprimento. cargas e do transformador. Observam-se também oscilações nas
A menos que indicado em contrário, todas as simulações apresentadas tensões induzidas na linha devido às diversas reflexões das ondas
no trabalho foram realizadas com as condições e parâmetros indicados de tensão e corrente ocasionadas pela presença do transformador e
anteriormente. As tensões induzidas calculadas no ponto P indicado na das cargas consumidoras.
Figura 2 são mostradas na Figura 3.
Altura do condutor fase
Com o objetivo de avaliar a influência da altura do condutor
fase, foram realizadas duas simulações da configuração de rede,
apresentada na Figura 2, uma com h = 6,8 m e outra com h = 6,4
m. O único parâmetro alterado nas simulações foi a altura h do
condutor fase, mantendo os restantes iguais aos do caso base. As
tensões induzidas nesses dois casos são mostradas na Figura 4.

Figura 2 – Configuração da linha e condições relativas ao caso base. P: ponto, em


que são calculadas as tensões induzidas.
∇: transformador de distribuição
• cargas das unidades consumidoras
a) vista superior b) vista lateral

Figura 4 – Comportamento da tensão induzida em função da altura h do condutor


fase.
Configuração da linha mostrada na Figura 2.
Figura 3 – Tensões induzidas no ponto P indicado na Figura 2. Caso base. 1 - h = 6,4 m 2 - h = 6,8 m (Caso base)
1 – tensão fase-terra 2 – tensão neutro-terra 3 – tensão fase-neutro a) tensões fase-terra b) tensões fase-neutro

O SETOR ELÉTRICO
32 Novembro 2008
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A tensão induzida é diretamente proporcional à altura do condutor. atmosférica. As tensões induzidas fase-terra e fase-neutro no ponto P da
Quando um condutor não aterrado (fase) está localizado nas proximidades Figura 5, assim como aquelas obtidas para o caso base (x = 0 m e xd = 0
de um condutor aterrado (neutro), a tensão induzida no condutor fase m), são mostradas na Figura 6.
diminui com a redução da distância entre eles (mantendo-se os demais
parâmetros inalterados), devido ao acoplamento entre os condutores.
Como na rede secundária convencional, os condutores são instalados
verticalmente, a mudança do afastamento dos condutores fase em
relação ao neutro provoca a alteração da altura h do condutor fase.
Assim, a redução na altura do condutor fase de 6,8 m (caso base) para
6,4 m pode diminuir ou aumentar a tensão fase-terra, dependendo
de qual dos efeitos é predominante. Embora as diferenças não sejam
significativas, observa-se nessas simulações que para a menor altura do
condutor (h = 6,4 m) a tensão induzida é maior, o que leva à conclusão
que, para essa configuração de linha, o efeito do acoplamento entre
os condutores fase e neutro é predominante em relação ao efeito de
redução da altura do condutor fase.

Posição ao longo da linha


Para essa análise, foram realizadas simulações das configurações de
linha apresentadas na Figura 5, em que o ponto de cálculo da tensão
induzida e o ponto de incidência da descarga atmosférica foram variados.
O termo xd representa a distância entre o ponto de cálculo da tensão Figura 5 – Configuração da linha: análise das tensões induzidas ao longo na linha.
induzida na linha e o ponto de aterramento do neutro mais próximo, ∇: transformador
enquanto x indica a distância entre o ponto de cálculo da tensão induzida • carga
a) x = 0 m e xd = 30 m (vista superior)
e o ponto da linha mais próximo ao local de incidência da descarga b) x = 30 m e xd = 0 m (vista superior)

O SETOR ELÉTRICO
Novembro 2008 33
Apoio

Comparando as tensões induzidas fase-terra nas três influência na tensão induzida. As distâncias utilizadas foram 30 m,
Qualidade de energia

configurações, verifica-se que a maior amplitude ocorre quando xd 60 m e 90 m.


= 30 m e x = 0 m (curva 1 na Figura 6-a). Nesse caso, a amplitude é As tensões induzidas relativas a essas configurações são
maior devido à maior distância entre o ponto de cálculo das tensões mostradas na Figura 8.
induzidas ao ponto de aterramento do condutor neutro (xd = 30
m). A menor amplitude da tensão induzida fase-terra ocorre para a
situação representada na Figura 5-b, em que xd =0 m e x = 30 m.
Isso ocorre porque o ponto de cálculo das tensões induzidas está
junto a um ponto de aterramento do condutor neutro e o ponto de
incidência da descarga atmosférica está mais afastado (x = 30 m)
que no caso base, em que x = 0 m. O comportamento das tensões
induzidas neutro-terra (não mostradas) é análogo ao das tensões
fase-terra. Por esse motivo, as diferenças entre as tensões fase- Figura 7 – Configurações de linha para análise da influência da distância entre
neutro para as situações analisadas não são tão significativas, como pontos de aterramento do condutor neutro.
∇: transformador
pode ser observado na Figura 6-b. • carga

Figura 6 – Comportamento da tensão induzida em função das distâncias xd e x.


1) xd = 30 m e x = 0 m (Figura 5-a) Figura 8 – Variação das tensões induzidas em função do intervalo de aterramento
2) xd = 0 m e x = 0 m (Figura 2) – Caso base do condutor neutro.
3) xd = 0 m e x = 30 m (Figura 5-b) 1) xat = 30 m 2) xat = 60 m 3) xat = 90 m
a) tensões fase-terra b) tensões fase-neutro a) tensões fase-terra b) tensões fase-neutro

Distância entre pontos de aterramento do neutro Pode-se observar que, para o caso em que xat é igual a 30
Nesse caso, a análise é feita com base na Figura 7, sendo o m, a amplitude de tensão induzida é menor se comparada às das
comprimento da linha igual a 450 m, com distância xat entre pontos tensões correspondentes às outras distâncias. A diferença entre as
de aterramento do condutor neutro. Variou-se então a distância tensões fase-terra é de aproximadamente 44% em relação ao caso
entre os pontos de aterramentos com o objetivo de estudar sua de xat = 60 m e de aproximadamente 56% em relação ao caso

O SETOR ELÉTRICO
34 Novembro 2008
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de xat = 90 m. Para as tensões fase-neutro, as diferenças são de,


Qualidade de energia

aproximadamente, 56% e 96% em relação aos casos xat = 60 m e


xat = 90 m, respectivamente. Fica evidente assim que quanto menor
o espaçamento entre os pontos de aterramento do condutor neutro,
menor a amplitude da tensão induzida, podendo essa variação ser
significativa dependendo dos valores dos demais parâmetros.

Comprimento do ramal de ligação


Nas simulações anteriores, a impedância do ramal de ligação
foi considerada igual a 50 μH, que corresponde à indutância de um
condutor de 10 mm² de seção transversal com, aproximadamente,
40 m de comprimento. Com o objetivo de avaliar o efeito do
comprimento lr do ramal de ligação nas tensões induzidas na linha de
BT, foram consideradas as duas configurações indicadas na Figura 5, Figura 10 – Variação das tensões induzidas fase-neutro em função do comprimento
do ramal de ligação em diferentes pontos da linha.
adotando, porém, o comprimento de 20 m para os ramais de ligação,
Onda 1- lr = 40 m; onda 2- lr = 20 m
o que equivale a uma indutância de 25 μH. a) x = 0 m e xd = 30 m (Figura 5-a)
As tensões induzidas (fase-terra e fase neutro) no ponto P das b) x = 30 m e xd = 0 m (Figura 5-b)

duas configurações, mostradas na Figura 5 para os comprimentos de


Conclusões
40 m e 20 m, são comparadas nas Figuras 9 e 10. Como observado,
Nesse trabalho, foram apresentados e discutidos alguns
as tensões induzidas não apresentam diferenças significativas nessas
resultados referentes às sobretensões induzidas na rede de baixa
duas situações, tanto para o caso em que as tensões foram calculadas
tensão por descargas atmosféricas indiretas. As tensões induzidas
entre o ramal e o transformador (x = 0 m e xd = 30 m, Figura 6-a)
podem atingir amplitudes elevadas, da ordem de 20 kV e 7 kV para
quanto para o caso em que foram calculadas junto ao transformador
as tensões fase-terra e fase-neutro respectivamente, valores estes
(x = 30 m e xd = 0 m, Figura 6-b).
que podem causar disrupções na rede ou queima de equipamentos
dos consumidores ou do próprio transformador de distribuição.
Foram consideradas correntes de descarga com amplitude de 45 kA
e tempo de frente de 3 μs.
No caso de descargas com amplitudes maiores e/ou tempos de
frentes mais curtos, as tensões induzidas apresentarão amplitudes
mais elevadas. Dos parâmetros considerados, observa-se que o
comprimento do ramal de ligação e a altura do condutor fase não
influenciam muito as amplitudes das tensões induzidas, embora
possam provocar alterações nas formas de onda. As amplitudes
das tensões induzidas são afetadas significativamente pela distância
entre pontos de aterramento do neutro e pelo ponto de cálculo.
Figura 9 – Tensões induzidas (fase-terra) em diferentes pontos da linha em função
Em geral, as tensões induzidas fase-terra apresentam tempos de
do comprimento lr do ramal de ligação
1) lr = 40 m (x = 0 m e xd = 30 m, Figura 5-a) frente próximos ao tempo de frente da corrente de descarga, bem
2) lr = 20 m (x = 0 m e xd = 30 m, Figura 5-a) como oscilações provocadas pelas reflexões das ondas de tensão
3) lr = 40 m (x = 30 m e xd = 0 m, Figura 5-b)
e corrente nos locais de instalação das cargas. Já as tensões fase-
4) lr = 20 m (x = 30 m e xd = 0 m, Figura 5-b)
neutro atingem os seus valores máximos antes das tensões fase-
terra devido à natureza predominantemente indutiva da carga.

Continua na próxima edição

ACÁCIO SILVA NETO é engenheiro eletricista, mestre em Engenharia


Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e
pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de
São Paulo (IEE/USP).

ALEXANDRE PIANTINI é engenheiro eletricista, mestre e doutor em


Engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
pesquisador do IEE/USP, professor dos programas de pós-graduação em
energia (PIPGE/USP) e da Escola Politécnica (PEA/EPUSP) e coordenador do
Centro de Estudos em Descargas Atmosféricas & Alta Tensão (Cendat).

O SETOR ELÉTRICO
36 Novembro 2008
Apoio

Qualidade de energia Por Juan Carlos Cebrian Amasifen, Luciano Camilo, Nelson Kagan e Nelson Matsuo

Capítulo X
Análise de áreas de risco
considerando os afundamentos de
tensão em estudos de planejamento

Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse
dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no
País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos,
novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de
energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de
contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”,
organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de
São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em
meados do ano passado.
Este trabalho permite avaliar os índices de qualidade de energia em uma rede de distribuição, permitindo
representar de forma gráfica, considerando a topologia da rede e áreas de risco para consumidores próximos.
Esta metodologia aplica o método de Monte Carlo, que permite obter os índices de maneira estatística.

Os novos processos industriais baseados em possível calcular a média dos indicadores esperados
equipamentos eletrônicos e a necessidade de um nível de para cada alimentador e subestação. Esta média indica
qualidade de energia compatível nos pontos de conexão o número esperado de disrupções levando em conta as
dos consumidores produzem mudanças nos modelos de curvas de sensibilidade dos consumidores.
planejamento de distribuição tradicionais. Ao invés de Entretanto, os objetivos a serem considerados no
considerar apenas os custos de equipamentos utilizados estudo de planejamento incluem a minimização do
para reforçar ou expandir a rede de distribuição e os número de ocorrências de afundamentos de tensão,
custos de perdas obtidos por meio de cálculos de fluxo especialmente aqueles que podem afetar os processos
de potência, este artigo apresenta na sua metodologia industriais.
uma análise do planejamento da distribuição que Uma tabela comparativa pode ser analisada
considera os indicadores de qualidade de energia. posteriormente, mostrando um número médio de
A modernização de companhias de distribuição disrupções encontradas para todos os barramentos em
requer a redução do número de interrupções. Devido cada alimentador e subestação. Deste modo, o estudo
à sensibilidade dos novos processos industriais, desenvolvido permite ao planejamento do sistema de
afundamentos de tensão podem ser tão severos quanto distribuição a estimação dos custos de cada disrupção
interrupções, considerando o lado do consumidor. Uma prevenida, permitindo a escolha de reforços baseados
disrupção (falha de equipamento) pode interromper na melhor opção de planejamento.
um processo ou resultar em perdas na produção, o que
pode levar horas para o restabelecimento. Metodologia
Para monitorar a qualidade de energia considerando Cálculo de indicadores relativos à variação de
o número de disrupções, este artigo apresenta uma tensão de curta duração
estimação de indicadores de disrupção, resultados Este artigo utiliza um modelo de curto-circuito
de simulação de Monte Carlo. Considerando estes convencional para avaliar correntes e tensões ao longo
indicadores, calculados para toda a rede elétrica, é da rede devido a uma dada falta. Além disso, ele utiliza

O SETOR ELÉTRICO
26 Dezembro de 2008
Apoio
o método da simulação de Monte Carlo para estimar afundamentos com a distribuição de probabilidade de ocorrência de falta.
e elevações de tensão nos diferentes pontos da rede, utilizando Diferentes distribuições de probabilidades podem ser consideradas,
dados estatísticos relacionados às taxas de falhas dos componentes e a diversidade de áreas pode ser representada assumindo-se
da rede. diferentes taxas de falhas associadas a cada ramal. Quando a taxa de
O método de Monte Carlo permite uma avaliação de indicadores falhas (falhas/km/ano) é igual para todos os ramais, uma distribuição
relacionados a variações de tensão de curta duração (VTCD), além uniforme é assumida.
de interrupções de curta e longa duração. As magnitudes das b) Tipo de falta: o método considera as seguintes faltas: fase-
VTCDs podem ser determinadas por cálculos de curto-circuito, terra, dupla-fase, dupla-fase terra e trifásico. Diferentes valores

desde que conhecidos dados específicos, como a topologia da rede probabilísticos são associados a cada tipo de falta, como na Figura 1.

e parâmetros da linha, parâmetros de transformadores, tipos de


proteção e sua configuração.
As durações das VTCDs são estimadas pelos tempos naturais

probabilidade
de extinção da falta e tempos operacionais dos dispositivos de
proteção, que são normalmente relacionados à corrente de falta.
O método de Monte Carlo permite a elaboração de relatórios,
relacionados com dados estatísticos de ocorrências de VTCDs, Tipos de curtos-circuitos
originados de faltas por todo o sistema de distribuição.
fase-terra dupla-fase terra dupla-fase trifásico
Pela determinação do número de eventos de VTCDs, organizados
pela sua duração e magnitude, os alimentadores podem ser Figura 1 – Distribuição probabilística do tipo de falta
mostrados com informação dos riscos de VTCDs e interrupções. c) Impedância de falta: o método considera intervalo de impedâncias
de falta para faltas fase-fase e fase-terra. O intervalo de impedância
Simulação de faltas vai de 0 a um valor máximo, de acordo com o tipo de falta, como
Utilizando o método de Monte Carlo, os seguintes parâmetros mostrado na Tabela 1.
serão determinados em uma única simulação: O desenvolvimento dessa metodologia é iniciado com cadastro,
a) Local da falta no alimentador: o local é determinado de acordo identificação e características de um dos disjuntores dados pelo

O SETOR ELÉTRICO
Dezembro de 2008 27
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fabricante: ampolas de vácuo e respectiva vida útil (energia máxima distribuição é determinado por meio dessa simulação. Como as
Qualidade de energia

dissipada), informações armazenadas no banco de dados da condições de pré-falta não são consideradas neste estudo, os efeitos
concessionária. nas correntes destes barramentos nos demais alimentadores desta
Tabela 1 – Valor máximo de impedância de falta subestação são facilmente calculados.
As VTCDs originárias de sistemas de transmissão não são
Trifásico 10 Ω
incluídas neste trabalho. Entretanto, sabe-se que VTCDs nos sistemas
Dupla-fase 20 Ω
de distribuição são normalmente devido a faltas no próprio sistema
Dupla-fase terra (impedância terra) 20 Ω
distribuição.
Dupla-fase terra (impedância por fase) 10 Ω
Fase-terra 30 Ω
Planejamento para melhoria de indicadores de VTCDs
d) Tempo de extinção natural: é uma variável aleatória representada Fenômenos de VTCDs são basicamente relacionados ao
pela sua duração e distribuição probabilística como mostrado na mau funcionamento de equipamentos de consumidores, o que
Figura 2. geralmente causa interrupção em processos produtivos [4]. Este
conceito é referenciado como disrupção do consumidor. Processos
contínuos, quando interrompidos devido a afundamentos ou
elevações de tensão, normalmente demandam um longe período
para o restabelecimento dos procedimentos de produção.
Disrupções ocorrem quando a variação de tensão é mais severa
que a suportada pelo equipamento ou processo. Cada parte do
processo pode ser caracterizada por uma curva de sensibilidade,
como mostrada na Figura 3.

Figura 2 – Distribuição probabilística para extinção natural da falta

A simulação do método de Monte Carlo deve ser executada


algumas vezes. Este número pode ser fixado quando o resultado
final não sofrer mais alteração significante para cada simulação
adicional.
Quando o tempo natural de extinção da falta for maior que o
tempo de proteção, o maior deverá ser utilizado para determinar a
duração do evento. A avaliação do tempo de proteção operacional
é baseada nos dispositivos envolvidos, que são equipamentos de
Figura 3 – Curva de sensibilidade de um dispositivo eletrônico
proteção existentes no caminho percorrido pelas correntes de
falta. Além disso, a configuração desses equipamentos também Deste modo, a redução do número de eventos de VTCDs irá
é considerada, isto é, para se determinar a duração do evento, o diminuir o número de disrupções de equipamentos. Este artigo
modelo considera a proteção que atua no menor tempo. considera a minimização de disrupções nos consumidores como um
Quando o equipamento de proteção atua, ocorre uma importante objetivo de planejamento. Por isso, novas subestações
interrupção parcial ou global no alimentador. Isto é cuidadosamente e reforços na rede não só melhorariam o carregamento, perdas ou
checado pelo modelo, verificando o status de cada barramento da níveis de tensão, mas também melhorariam indicadores importantes
rede diantes dos equipamentos de proteção que atuaram. de qualidade de energia.
Os indicadores de VTCDs são calculados e registrados para Este artigo não pretende considerar um modelo geral de
cada ponto de avaliação, considerando múltiplas falhas na rede. planejamento, mas sim mostrar como ações de planejamento podem
O procedimento soma uma interrupção quando um dispositivo de ser priorizadas para a melhoria dos indicadores de VTCDs. Assim,
proteção a montante atua, assim mesmo registra uma VTCD de a “melhor ação de planejamento”, dentre um número de opções
acordo com sua magnitude e duração da falha. candidatas, pode ser definida por uma análise técnica e econômica
que considera o custo de cada ação de planejamento e seu benefício
Contribuição de VTCDs de outros alimentadores próximos correspondente, que pode ser calculado desta maneira:
Consumidores são afetados por VTCDs causados por faltas não
apenas no alimentador que estão conectados, mas também por faltas (1)
em alimentadores próximos supridos pela mesma subestação. em que:
A contribuição desses alimentadores aos indicadores de VTCDs i: ação de planejamento.
é calculada por simulações de Monte Carlo independentes. O efeito Vi: custo de VTCD considerando a ação de planejamento i.
das VTCDs no barramento de média tensão das subestações de Cd: custo individual de disrupção.

O SETOR ELÉTRICO
28 Dezembro de 2008
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Nd: número de disrupções causadas por VTCDs quando a ação de
planejamento i é considerada. (4)
NI: número de interrupções de longa duração quando a ação de
planejamento i é considerada. em que:
Os custos de disrupção individuais não são geralmente RCBi: relação custo-benefício da ação de planejamento i
conhecidos. Neste caso, pode se considerar apenas o número de Ci: custo da ação de planejamento i
disrupção no processo devido a VTCDs ou devido a interrupções de V0: custo de VTCD sem a ação de planejamento considerada.
longa duração, que é: Em alguns estudos específicos, a melhor ação de planejamento
i*, dentre as n possíveis, será a melhor para maximizar o benefício,
(2) isto é, minimizará os custos de disrupções.

(5)
em que:
Di: Número de disrupções de processos considerando a ação de Quando a análise custo-benefício é considerada, deve-se
planejamento i. selecionar a melhor ação de planejamento de acordo com:
Para se determinar o benefício associado a cada ação de
(6)
planejamento i, deve-se compará-la ao sistema inicial (sem nenhuma
ação de planejamento). O benefício devido à ação de planejamento Estudo de caso
i é determinado por: A metodologia proposta é aplicada a um sistema real de
distribuição. Os indicadores de qualidade de energia (disrupções
(3)
devido a VTCDs e interrupções de longa duração) são determinados
em que: pelo método da simulação de Monte Carlo, utilizando um total de
D0: Número de disrupções de processos sem nenhuma ação de 5.000 simulações.
planejamento (sistema original) A rede selecionada, mostrada na Figura 4, para este estudo
Bi: Benefício da ação de planejamento i de caso engloba 4.185 barramentos, 350 dispositivos de proteção
Também é relevante considerar uma análise de custo-benefício. e chaveamento, além de 172 km de rede distribuídos por 8
Neste caso, a seguinte relação deve ser apresentada: alimentadores.

O SETOR ELÉTRICO
Dezembro de 2008 29
Apoio

número de eventos de VTCDs e interrupções para o sistema com cada


Qualidade de energia

ação de planejamento considerada, como mostrado na Tabela 1.

Tabela 1 – Resultado para as três ações de planejamento

A Tabela 1 mostra o resultado das três ações de planejamento


(Caso 1, Caso 2 e Caso 3) e as diferenças do número de eventos

Figura 4 – Configuração da rede para este estudo de caso


relativos ao caso base (rede existente sem nenhuma ação de

As Figuras 5 e 6 mostram uma saída gráfica relacionadas a planejamento). A tabela mostra os piores valores, que consistem

afundamentos de tensão e interrupções (cada cor representa um nos barramentos no sistema que apresentam os maiores indicadores

intervalo de eventos de VTCDs e interrupções). Nessas figuras, o referentes a eventos de VTCDs e interrupções. A coluna “Differ”

método de Monte Carlo foi executado para o sistema de distribuição refere-se à diferença do número de eventos diante da rede base.

existente (sem ação de planejamento). Experimentos mostram que 30% dos afundamentos de tensão
geram interrupções em processos produtivos. Assumindo este
cenário, os benefícios referentes às ações de planejamento podem
ser calculados como mostrado na Tabela 2.
Tabela 2 – Número esperado de disrupções e interrupções de VTCDs

Pela utilização da equação (5), o engenheiro de planejamento


deverá escolher a ação de planejamento #2.

CONCLUSÕES
Figura 5 – Mapeamento de afundamentos de tensão
Os resultados utilizando o método da simulação de Monte
Carlo mostraram-se aderentes e consistentes, mostrando que sua
implantação conduz a uma forma eficiente para obter indicadores de
qualidade de energia relacionados com variações de tensão de curta
duração e interrupções de longa duração. Este estudo de caso indica
que a escolha da ação de planejamento #2 é a que resulta nos melhores
cinco indicadores considerando melhoria nos indicadores de disrupção
e de interrupção. Além disso, todas as ações de planejamento levaram
a uma melhoria nos indicadores de qualidade de energia.
A ação de planejamento #2 foi a melhor, pois ela reduz o número
de eventos devido aos alimentadores próximos. A redução no
indicador de VTCD foi de aproximadamente 20%. Deve-se destacar
que se apenas interrupções de longa duração fossem consideradas
Figura 6 – Mapeamento de interrupções de longa duração
(no Brasil, apenas este indicador é regulado), a melhor opção seria a
Para se demonstrar a metodologia, foram consideradas três
ação de planejamento #3.
ações de planejamento:
Ação 1: substituição do transformador de 30 MVA da subestação Continua na próxima edição

por uma unidade de 40 MVA, ambos com a mesma reatância de JUAN CARLOS CEBRIAN AMASIFEN é engenheiro eletricista, doutor em
curto-circuito (9,55%). Engenharia Elétrica e pesquisador do Departamento de Engenharia de
Energia e Automação Elétrica da Universidade de São Paulo.
Ação 2: abertura do barramento de alta e média tensão na LUCIANO CAMILO é engenheiro eletricista, pós-graduando da Escola
subestação. Cada barramento de média tensão será suprido por um Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
transformador de 30 MVA. NELSON KAGAN é engenheiro eletricista, Ph. D. pela Universidade de
Londres e professor da Universidade de São Paulo.
Ação 3: adição de fusíveis em ramais específicos dos três
NELSON MATSUO é engenheiro eletricista e pesquisador do Centro
alimentadores. (verificar) Tecnológico de Qualidade de Energia do Departamento de Engenharia de
O método da simulação de Monte Carlo permite a estimação do Energia e Automação Elétricas (Enerq-CT/USP).

O SETOR ELÉTRICO
30 Dezembro de 2008
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20
O Setor Elétrico / Janeiro de 2009
Qualidade de energia

Capítulo XI
Fatores de influência no desempenho
de filtros eletromagnéticos de
sequências positiva e negativa
Por Fernando N. Belchior, José C. Oliveira e Luis C. O. Oliveira*

Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o


interesse dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qual idade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia
no País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros
assuntos, novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética,
conservação de energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO
de contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de
energia”, organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da
Universidade de São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na
CBQEE, realizada em meados do ano passado.
Este artigo apresenta o princípio de funcionamento, modelagem e análise computacional de desempenho
de uma proposta de filtro eletromagnético para a compensação de componentes harmônicas de sequências
positiva e negativa. O artigo ressalta a importância de uma correta especificação do nível de saturação
(geração de harmônicos) e a necessidade da inserção de um dispositivo defasador para a otimização do
processo da redução do conteúdo harmônico de corrente proporcionado pelo conjunto formado pela carga
não-linear e o filtro.

No contexto dos indicadores de qualidade da certamente, continua atraindo os pesquisadores. Os


energia elétrica, as questões associadas com as recursos disponibilizados e em desenvolvimento, de
distorções harmônicas, há tempos, têm motivado os modo geral, podem ser agrupados em três grandes
pesquisadores a viabilizar soluções para a minimização conjuntos, conforme seu princípio operacional. São
dos problemas. O assunto, na atualidade, cresce eles:
em importância à medida que os órgãos públicos, a • Filtros passivos
exemplo da Agência Nacional de Energia Elétrica • Filtros ativos
(Aneel), por meio do PRODIST, buscam mecanismos • Filtros eletromagnéticos
para o controle e manutenção dos padrões de qualidade Destes, as duas primeiras estratégias, amplamente
dos fornecimentos no nível da distribuição. conhecidas e há tempos empregadas na engenharia
Para a preservação da qualidade do suprimento elétrica, possuem princípios muito bem estabelecidos
de forma confiável, segura e dentro de padrões e, por tais motivos, não serão consideradas em maiores
almejados, faz-se, portanto, necessário, entre outras detalhes neste artigo.
atividades, a utilização de técnicas para eliminação No que tange aos últimos tipos de equipamentos,
ou redução das correntes harmônicas nos sistemas estes se baseiam exclusivamente no uso de arranjos
elétricos. Os procedimentos para atingir tais propósitos eletromagnéticos, dispensando, portanto, o emprego de
são clássicos, porém, a busca de novas tecnologias, capacitores ou outros recursos adicionais ao processo
por meio de novas concepções de equipamentos, da compensação. Esta tecnologia tem sido explorada
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O Setor Elétrico / Janeiro de 2009

e difundida para a atenuação de componentes harmônicas


de sequência zero. Trata-se do conceito físico de um filtro de
sequência zero, com um núcleo trifásico, direcionando para o
princípio fundamental, modelagem e simulação computacional do
dispositivo.
Avançando na direção do desenvolvimento de dispositivos
eletromagnéticos voltados para a compensação de outras componentes
harmônicas, que não as de seqüência zero, destaca-se a tecnologia
da compensação de harmônicos, que contempla um dispositivo Figura 1 – Arranjo elétrico para a compensação harmônica

eletromagnético, à base de saturação, destinado à atenuação das A operação de um retificador de 6 pulsos é bastante difundida e
componentes harmônicas de sequências positiva e negativa. dispensa maiores detalhes. Não obstante, é importante destacar que, sob
Considerando, pois, a tecnologia da compensação de condições idealizadas do sistema alimentador, bem como a existência de
harmônicos de corrente via dispositivos eletromagnéticos saturados, uma indutância infinita nos terminais de saída, a corrente média no lado CC
este trabalho encontra-se direcionado para a apresentação do é constante de valor Id. Nessas condições, as correntes de alimentação do
princípio físico que norteia a solução aqui contemplada, sua lado CA serão formadas por blocos retangulares de amplitude ±Id. A Figura
implantação na forma de modelos computacionais e a influência de 2 evidencia a forma de onda típica e idealizada da corrente de linha de
parâmetros reais de um sistema elétrico na eficiência do dispositivo alimentação (IRet) e a respectiva tensão de alimentação (V) (fase A).
em questão.

Princípio físico do processo de


compensação de harmônicos
Para fins de entendimento do princípio associado à estratégia
de compensação focada neste artigo, a Figura 1 sintetiza, de modo
bastante simplificado, um arranjo típico constituído pela fonte,
carga e dispositivo para compensação das correntes harmônicas. Figura 2 – Corrente de linha no retificador de 6 pulsos não-controlado (fase A)
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O Setor Elétrico / Janeiro de 2009

Tomando-se a tensão fase A – neutro (V) como referência para Avançando na direção de se atingir uma compensação
Qualidade de energia

o cálculo das componentes harmônicas da corrente de linha, é harmônica mais efetiva, observa-se que a inserção de um elemento
possível observar que o retificador produz apenas as chamadas resistivo entre o barramento e o reator resulta numa mudança do
ordens harmônicas características, dadas por 6k±1, sendo k ЄI+, ângulo de fase de suas correspondentes correntes harmônicas. A
como mostra a Figura 3. título de exemplificação, com a presença de um resistor devidamente
ajustado, fica evidenciado que o espectro de frequências das
correntes produzidas pelo compensador assume novas propriedades
angulares. Consequentemente, a nova composição angular, dada
na Figura 7 (b), ressalta uma situação mais favorável ao processo de
atenuação das componentes harmônicas de correntes advindas da
operação conjunta do retificador e do dispositivo eletromagnético.

Figura 3 – Análise harmônica da corrente do retificador

O dispositivo para a compensação consiste em um reator


trifásico saturado. Este é um dispositivo inerentemente não linear,
sendo, consequentemente, visto pelo sistema elétrico como uma
fonte geradora de correntes harmônicas. O arranjo completo
é apresentado na Figura 4(a), enquanto a Figura 4(b) ilustra a Figura 5 – Corrente de linha no reator saturado monofásico (fase A)
característica não-linear do núcleo magnético.

Figura 6 – Análise harmônica da corrente do reator saturado


ΦxI
Figura 4 – Arranjo típico de um reator saturável e sua característica

Tomando-se por referência a tensão de fase A em relação ao


neutro (V) e observando a característica não linear do núcleo,
constata-se que a correspondente corrente de linha tem a forma
indicada na Figura 5. Esta se caracteriza por correntes harmônicas de
ordens 2k±1, sendo k Є I+. A forma de onda destacada corresponde
a uma das fases do equipamento, com o neutro conectado à
referência Terra. Vale ressaltar que o produto final de interesse ao
processo da compensação apresenta-se com o neutro isolado. A
Figura 6 mostra, tal como realizado para o caso do retificador, os Figura 7 – Diagrama fasorial da corrente (fase A) na carga não linear e
reator saturado
espectros de magnitude e de fase da corrente atrelada à operação
do reator saturado. Tomando por base as componentes harmônicas
A partir das considerações anteriores, é possível constatar que
de ordem 5 produzidas pelo retificador e reator, estas se encontram,
o reator saturável age como um dispositivo gerador de harmônicos
originalmente, dispostas como mostrado na Figura 7 (a). É possível
com possibilidade de proporcionar a compensação de algumas das
observar também nessa imagem que a operação conjunta desses
componentes associadas com o funcionamento do retificador. Entretanto,
dispositivos, tal qual foi apresentada, não conduz ao almejado
para que esta propriedade seja obtida, torna-se necessário:
cancelamento da ordem harmônica. Nestas condições, os ângulos
• Ajuste do nível de saturação baseado nos parâmetros geométricos e
de fase para uma mesma componente harmônica observada no
na curva BxH, visando estabelecer a amplitude desejada para uma
retificador e no reator estão em quadratura.
determinada componente harmônica. Nesse contexto, é importante
Ainda que seja possível a modulação da magnitude da
destacar que o ponto ótimo de operação será definido pela maior relação
componente harmônica da corrente absorvida pelo reator saturável,
porcentual entre a componente harmônica que está sendo ajustada e a
mediante um ajuste adequado do nível de saturação, os ângulos de
componente fundamental. Isso garantirá a melhor solução para o fator de
fases permanecem os mesmos.
deslocamento final do conjunto;
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O Setor Elétrico / Janeiro de 2009

• Incorporação de um mecanismo defasador que introduza um


Qualidade de energia

deslocamento angular no fluxo concatenado e, por conseguinte, na


corrente de alimentação do reator. Um ajuste adequado da defasagem
pode, portanto, produzir o ângulo de fase oposto àquela ordem harmônica
que se deseja atenuar.

Fatores de influência no processo de filtragem


No que tange às possibilidades reais com que se pode operar o filtro Figura 8 – Forma de onda (a) e respectivo espectro harmônico (b) da
eletromagnético, e que se constituem em desvios das condições operativas corrente (fase A) na carga não linear – Caso 01
postuladas quando do estabelecimento dos princípios operativos do
dispositivo, destacam-se:
• Tensão de alimentação senoidal com um fator de desequilíbrio de 3%;
• Tensão equilibrada senoidal com magnitude inferior ao valor nominal;
• Carga não linear trifásica desequilibrada.
Considerando os impactos que as mencionadas variáveis possam
trazer para a operação do dispositivo, considera-se fundamental
avaliar seus efeitos para um correto dimensionamento do filtro Figura 9 – Forma de onda (a) e respectivo espectro harmônico (b) da
corrente (fase A) na alimentação – Caso 01
eletromagnético, o que é feito a seguir.

Estudos computacionais
Os estudos computacionais foram realizados utilizando o arranjo
físico identificado na Figura 1.
As situações selecionadas e representativas das distintas condições
operacionais estudadas estão resumidas na Tabela I.

Caso 01 – Situação ideal Figura 10 – Forma de onda (a) e respectivo espectro harmônico (b) da
corrente (fase A) absorvida pelo filtro harmônico – Caso 01
Tabela I
Situação Características
Objetivando fornecer maiores esclarecimentos sobre a
operacionalidade do filtro, as Figuras 11 (a) e (b) apresentam, na forma
de diagramas fasoriais, as correntes harmônicas, em valor de pico, para
a 5ª e 7ª ordens correspondentes ao filtro e a carga não linear (fase A).

Como caso base para as análises da eficiência do filtro, o


sistema foi alimentado por tensões equilibradas e senoidais, de
valor eficaz fase-neutro igual a 117 V. A carga não linear suprida
também foi assumida como equilibrada, com potência de 1,4 kVA.
O sistema de suprimento foi considerado ideal.
Figura 11 – Diagramas fasoriais das correntes harmônicas de pico (fase A) da carga
A Figura 8 mostra a corrente na carga (fase A) e o respectivo não linear e filtro harmônico – Caso 01 (a) 5ª ordem (b) 7ª ordem
espectro de frequências. De modo similar, a Figura 9 evidencia
a corrente no sistema supridor, enquanto a Figura 10 destaca a
Caso 02 – Alimentação com tensão senoidal
corrente no filtro.
desequilibrada
Como forma de avaliar o desempenho do filtro em questão diante
Os resultados obtidos evidenciam a significativa redução do
de tensões desequilibradas, adotou-se uma assimetria responsável por
DHT, diminuindo de 26% para 10%, mostrando assim a eficiência
um fator de desequilíbrio de 3% (- + VA VA), mantendo-se as demais
do procedimento proposto. De forma complementar, constata-se
características idênticas às condições ideais de funcionamento.
que, mediante o ajuste adequado do nível de saturação do reator,
As Figuras 12, 13 e 14 apresentam, respectivamente, a comparação
foi possível manter o fator de deslocamento em níveis aceitáveis
entre os espectros harmônicos, quando da situação ideal (caso 01) e
(0,95), garantindo-se, consequentemente, um bom fator de potência
esta sob enfoque, associados às correntes de linha na carga não linear,
para o conjunto.
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O Setor Elétrico / Janeiro de 2009

na alimentação e, por fim, no filtro eletromagnético de sequências


positiva e negativa (fase A).

Figura 14 – Comparação entre os espectros harmônicos das


correntes de linha no filtro – Caso 01 e Caso 02
Figura 12 – Comparação entre os espectros harmônicos das
correntes de linha na carga não linear – Caso 01 e Caso 02
Objetivando um melhor entendimento sobre o desempenho
do filtro eletromagnético, diante de condições de um suprimento
desequilibrado, nos termos investigados, as Figuras 15 (a) e
(b) oferecem um mecanismo simples e eficiente para uma
visualização do desempenho do processo de compensação.
Para simplificar a análise, apenas os fasores correspondentes
às componentes harmônicas de 5ª e 7ª ordens, fase A, foram
considerados. Nestes diagramas, tal como aconteceu para o
caso ideal de suprimento, ficam evidenciadas as compensações
harmônicas destas ordens.
Figura 13 – Comparação entre os espectros harmônicos das A comparação desses diagramas com aqueles constantes
correntes de linha na alimentação – Caso 01 e Caso 02
nas Figuras 11 (a) e (b), relativos ao suprimento de tensão ideal,
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O Setor Elétrico / Janeiro de 2009

evidenciam a vulnerabilidade dessa metodologia com relação Novamente, com o objetivo de prover meios para maior
Qualidade de energia

ao desvio do padrão ideal da tensão de suprimento (3% de entendimento do processo de filtragem e dos impactos
desequilíbrio). Nesta situação, verifica-se um valor de 14% para associados ao funcionamento sob condições reduzidas das
o DHT total na alimentação, contra os 10% obtidos quando em tensões de suprimento, as Figuras 19 (a) e (b) apresentam os
situação ideal de funcionamento. diagramas fasoriais para as correntes de 5ª e 7ª ordens para as
Desse modo, verifica-se que, quando o filtro eletromagnético correntes do filtro e da carga não linear. Tal como aconteceu
é alimentado com uma tensão diferente daquela especificada para o caso anterior, observa-se uma forte influência do valor
para o seu funcionamento, os fasores das componentes da tensão de suprimento senoidal no desempenho do filtro ora
harmônicas de 5ª e 7ª ordens são modificados, afetando, por sob enfoque.
conseguinte, o processo como um todo. Isto é uma decorrência Neste particular, é possível constatar as suas baixas correntes
normal relacionada ao ponto de saturação atingido e definido harmônicas, justificadas pela baixa saturação, em decorrência
pela característica da curva BxH do material magnético. Este da baixa tensão de suprimento. Como consequência,
desvio promove uma menor compensação harmônica das verifica-se um valor de 18% para o DHT total no sistema de
correntes oriundas da carga não linear. suprimento. Novamente, a comparação desses diagramas com
aqueles oriundos das Figuras 11 (a) e (b) permitem ratificar as
afirmativas anteriores.

Figura 15 – Diagramas fasoriais das correntes harmônicas de pico (fase A)


da carga não linear e filtro harmônico – Caso 02 (a) 5ª ordem (b) 7ª ordem

Figura 17 – Comparação entre os espectros harmônicos das


correntes de linha na alimentação – Caso 01 e Caso 03

Caso 03 – Tensão de alimentação equilibrada


com valor eficaz inferior ao nominal
Outra condição operacional não ideal capaz de modificar a
eficácia da metodologia proposta encontra-se atrelada ao valor
eficaz da tensão de alimentação equilibrada. Nesse sentido,
uma tensão senoidal equilibrada com valor eficaz de 110 V
fase-neutro foi aplicada ao conjunto formado pelo filtro e
pela carga não-linear, mantendo-se as demais características
idênticas às condições ideais de funcionamento.
Os resultados para as correntes registradas na carga não
linear, no alimentador e no filtro sob enfoque, são mostrados Figura 18 – Comparação entre os espectros harmônicos das
nas Figuras 16 a 18. correntes de linha no filtro – Caso 01 e Caso 03

Figura 19 – Diagramas fasoriais das correntes harmônicas de pico


Figura 16 – Comparação entre os espectros harmônicos das (fase A) da carga não linear e filtro harmônico – Caso 03 (a) 5ª
correntes de linha na carga não linear – Caso 01 e Caso 03 ordem (b) 7ª ordem
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O Setor Elétrico / Janeiro de 2009

Caso 04 – Carga não linear desequilibrada


Qualidade de energia

Esta situação não ideal adotou uma nova composição para


a carga, a qual passou a ser constituída por três unidades
retificadoras distintas, cujas potências são:
SA = 370 VA, SB = 470 VA e SC = 580 VA. Quanto às demais
grandezas, elas foram restauradas aos valores empregados nas
investigações sob condições ideais de funcionamento do filtro.
As Figuras 20 a 22 apresentam os resultados para as correntes
de linha registradas na carga não linear, na alimentação e, por
fim, no filtro de sequências positiva e negativa. Figura 22 – Comparação entre os espectros harmônicos das
correntes de linha no filtro – Caso 01 e Caso 04
As Figuras 23 (a) e (b) apresentam os diagramas fasoriais
das componentes de 5ª e 7ª ordens para a carga e filtro
eletromagnético, relativos à situação sob análise. Os diagramas
evidenciam que a operação da carga não linear, de forma
desequilibrada, tal como especificada, apresenta-se com um
conteúdo harmônico de 5ª e 7ª ordens com valores bastante
distintos daqueles observados quando da carga equilibrada
(Figuras 11 (a) e (b)). Esta situação, como se constata, prejudica
o processo de filtragem dessas componentes harmônicas.
De fato, verifica-se um DHT de aproximadamente 50%,
valor bem acima do observado no Caso 01. Assim, fica Figura 23 – Diagramas fasoriais das correntes harmônicas de pico (fase A)
constatado que o conhecimento das condições operativas da carga não linear e filtro harmônico – Caso 04 (a) 5ª ordem (b) 7ª ordem

do filtro sob a ação de uma carga desequilibrada também se


constitui em fator relevante ao processo de compensação, CONCLUSÕES
visto que afeta substancialmente a eficácia dessa metodologia Este artigo, voltado para o desempenho operacional dos filtros
de filtragem. eletromagnéticos de sequências positiva e negativa, abordou aspectos
relacionados ao funcionamento do dispositivo sob situações não
ideais de operação. O processo de filtragem consiste da utilização de
um dispositivo eletromagnético saturado devidamente ajustado para
a redução e/ou cancelamento do conteúdo harmônico gerado por
uma carga não linear, geradora de harmônicos de sequências positiva
e negativa. A incorporação de um mecanismo defasador para o fluxo
concatenado e um ajuste adequado do nível de saturação do projeto
do dispositivo garante a eficiência desta metodologia. Por meio de
uma exemplificação associada à operação sob condições ideais,
constatou-se a eficiência do dispositivo no processo da compensação.
Figura 20 – Comparação entre os espectros harmônicos das correntes de De fato, distorções da ordem de 26% foram reduzidas a 10% com
linha na carga não linear – Caso 01 e Caso 04 a presença do filtro. Todavia, o artigo evidenciou que situações não
ideais de operação podem afetar de forma significativa a eficácia do
processo. Os estudos realizados foram de cunho computacional e
almejaram esclarecer a relevância da avaliação do desempenho do
filtro eletromagnético e sua operação sob condições frequentemente
encontradas nas redes elétricas reais.

* FERNANDO NUNES BELCHIOR é docente da Universidade Federal


de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da Energia Elétrica (e-mail:
fnbelchior@unifei.edu.br).
JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA é docente da Universidade Federal de
Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica (e-mail: jcoliveira@ufu.br).
LUIS CARLOS ORIGA DE OLIVEIRA é docente na Faculdade de
Figura 21 – Comparação entre os espectros harmônicos das correntes de Engenharia da Universidade Estadual Paulista – Unesp – Ilha Solteira,
linha na alimentação – Caso 01 e Caso 04 SP (e-mail: origa@dee.feis.unesp.br).
Apoio
18
Qualidade de energia O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009

Capítulo XII (final)


Verificação do impacto da qualidade
de energia e das instalações elétricas
nos equipamentos eletromédicos
Por Mário César Giacco Ramos e Aderbal de Arruda Penteado Júnior*

Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o


interesse dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qual idade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia
no País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros
assuntos, novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética,
conservação de energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO
de contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de
energia”, organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da
Universidade de São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na
CBQEE, realizada em meados do ano passado.
O sucesso do perfeito funcionamento e atuação dos equipamentos eletromédicos depende, sobretudo, da
qualidade das instalações elétricas nesses ambientes, bem como a qualidade de energia elétrica fornecida a
esses equipamentos. Este trabalho tem o objetivo de comprovar, por meio de pesquisa em laboratório, o risco
de diagnósticos médicos baseados em informações fornecidas por equipamentos eletromédicos alimentados
em redes elétricas que não atendam às normas vigentes ou pertur badas por outros equipamentos típicos dos
ambientes médico-hospitalares.

O avanço da tecnologia e o desenvolvimento da nos ambientes médico-hospitalares, bem como a qualidade


medicina nos dias atuais vêm trazendo grandes benefícios de energia elétrica fornecida a esses equipamentos.
à saúde humana em todo o mundo. Novos processos Este trabalho tem como objetivo comprovar, por
de diagnóstico médico e modernas técnicas cirúrgicas meio de pesquisa em laboratório, o risco de diagnósticos
utilizam-se cada vez mais de equipamentos de última médicos tomados em base a informações fornecidas
geração, projetados e construídos com avançadas por equipamentos eletromédicos alimentados em
tecnologias eletrônicas e totalmente informatizados. redes elétricas que não atendam à norma vigente ou
Para que seja autorizada sua comercialização, esses totalmente perturbadas por outros equipamentos típicos
equipamentos deverão ser registrados na Secretaria dos ambientes médico-hospitalares. Trata-se, portanto, de
de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde após uma contribuição à área de saúde, pois, com os resultados,
comprovação do atendimento às especificações das os fabricantes poderão melhorar seus equipamentos.
normas técnicas nacionais e internacionais pertinentes. Da mesma forma, os projetistas e mantenedores das
Outro fator que deve ser considerado para garantir a instalações elétricas em estabelecimentos assistenciais
segurança dos pacientes e a confiabilidade dos resultados de saúde perceberão a necessidade do cumprimento
é a qualificação técnica dos usuários de equipamentos das normas pertinentes, evitando improvisações que
eletromédicos, bem como da equipe responsável por ocasionam riscos aos pacientes submetidos a tratamento
sua assistência técnica. No entanto, o sucesso global do ou a intervenção cirúrgica.
processo deverá incluir a qualidade das instalações elétricas No caso da energia elétrica, pode-se definir a sua
Apoio
O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009
19

qualidade em função de quatro perturbações elétricas básicas em um das condições mínimas de segurança e desempenho dos equipamentos
sinal de tensão ou corrente, presentes em uma instalação elétrica: eletromédicos.
amplitude da tensão, frequência do sinal, desequilíbrios de tensão e Quanto às instalações elétricas, internacionalmente encontra-se a
corrente nos sistemas trifásicos e distorções na forma de onda do sinal. norma IEC 60364 –Electrical Instalations of Buildings, como norma geral
Sob o ponto de vista do nível de qualidade de energia elétrica fornecida que trata, em sua parte 7-710, dos requisitos para as instalações elétricas
pelo sistema da concessionária, é muito importante a ausência relativa em locais médicos e áreas associadas. No Brasil, de forma semelhante,
de variações de tensão, particularmente a ausência de desligamentos. existem as normas NBR 5410 – Instalações Elétricas de Baixa Tensão e
No entanto, para o consumidor, o termo “qualidade de energia elétrica” a NBR 13534 – Instalações Elétricas em Estabelecimentos Assistenciais
está, na maioria das vezes, relacionado à ausência relativa de variações de Saúde. A última edição da NBR 5410 entrou em vigor em março de
de tensão medidas no ponto de entrega de energia. 2005. A NBR 13534 tornou-se válida em dezembro de 1995 com o
Na maioria dos casos, as perturbações são provocadas pelos objetivo de estabelecer um conjunto de requisitos mínimos de segurança
próprios consumidores ou em instalações próximas pela utilização de para as instalações elétricas em estabelecimentos assistenciais de saúde,
equipamentos denominados de “tecnologia moderna” implantados como hospitais, ambulatórios, unidades sanitárias, clínicas médicas e
com componentes não lineares. A partir da década de 1990, a crescente odontológicas, veterinárias, etc.
utilização desses equipamentos em todos os segmentos da sociedade Os hospitais e ambientes similares devem dispor de fonte de
agravou a situação sob o ponto de vista de qualidade de energia segurança para o caso de falha no sistema de alimentação normal, capaz
elétrica. Em geral, esses equipamentos exigem uma rede elétrica de alta de alimentar por um período de tempo especificado, considerando
qualidade para seu correto funcionamento, mas sendo os principais ainda o tempo necessário à transferência. As instalações de segurança
causadores das perturbações acabam sendo as próprias vítimas. têm como objetivo garantir a continuidade dos serviços essenciais
à preservação da vida e da segurança ou destinadas a funcionar em
Normas técnicas situações de emergência. Muitos dos problemas relativos à qualidade
Com relação aos equipamentos eletromédicos, é encontrada de energia elétrica são provocados internamente às instalações do
uma série de normas internacionais IEC 60601, que serviram como consumidor, devido à comutação de cargas com elevada potência ou o
base para elaboração das normas nacionais NBR IEC 60601. Esse uso generalizado de variadores de velocidade para motores de indução.
conjunto de normas tem como objetivo principal o estabelecimento Diversas organizações internacionais possuem normas sobre o assunto,
Apoio
20 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009

mas não se conseguiu atingir um nível de consenso entre elas. Portanto, a segurança nas instalações normalmente está ligada a elevados
Qualidade de energia

ocorre a necessidade do desenvolvimento de pesquisas envolvendo investimentos. Este artigo técnico não tem como objetivo ensinar a
equipamentos sensíveis e sua interação com os sistemas de suprimento projetar e manter as instalações elétricas dentro dos padrões aceitáveis,
de energia. Infelizmente no Brasil, ainda não dispomos de normas sobre mas apresentar fatores que poderão contribuir para a sua degradação,
o assunto e nem legislação apropriada. por meio da apresentação de casos reais observados pelo próprio autor
durante sua pesquisa de campo.
A qualidade de energia elétrica nos estabelecimentos A maioria das instalações elétricas dos estabelecimentos
assistenciais de saúde assistenciais de saúde é tratada com o mesmo descaso que se observa
Os estabelecimentos assistenciais de saúde vêm cada vez mais em outras atividades, sejam industriais, comerciais ou de serviços. A
aumentando a utilização de equipamentos eletromédicos, que falta de diagramas elétricos atualizados, identificação nos dispositivos
desempenham importantes funções, como sistemas de informação de comando e proteção contidos nos painéis, localização em planta dos
sobre o paciente, equipamentos de diagnóstico e tratamento, além de pontos de aterramento, entre outros, também são algumas das causas
outros. Observa-se, portanto, que a eletricidade no ambiente hospitalar que comprometem o funcionamento seguro das instalações e provocam
é fonte de vida, podendo interferir na sobrevivência ou não do paciente, acidentes, muitas vezes de elevada gravidade.
pela utilização de equipamentos de ventilação pulmonar, bombas de
infusão de medicamentos, lâmpadas para iluminação cirúrgica, energia METODOLOGIA
de emergência, ar comprimido, oxigênio, entre outros. A metodologia aplicada consistiu em medições dos parâmetros
Embora não estejam ligados à sobrevivência dos pacientes, outros referentes à qualidade de energia elétrica e nos estabelecimentos
equipamentos utilizam energia elétrica para fornecer importantes assistenciais de saúde.Atenção especial foi dada ao conteúdo harmônico
informações sobre o tratamento terapêutico, como equipamentos de tensão e às variações de tensão de curta duração, principalmente os
de laboratório, de imagem, de fisioterapia ou outros que possam afundamentos.
comprometer a saúde do paciente. Em seguida, perturbações típicas desses ambientes foram
Além disso, grande quantidade de informações é armazenada reproduzidas em fontes de tensão específicas para essa finalidade,
em sistemas computadorizados, muitas vezes interligados por meio instaladas no Laboratório do Centro Tecnológico de Qualidade de
de redes, de forma que aspectos relacionados à qualidade de energia Energia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, conhecido
elétrica se tornam extremamente importantes. como Enerq-ct. Equipamentos eletromédicos portáteis, gentilmente
cedidos por diversos fabricantes nacionais, foram submetidos a essas
As instalações elétricas nos ambientes assistenciais de perturbações para verificação do seu desempenho. Alguns ensaios,
saúde como os de afundamento de tensão, foram complementados pelas
Embora a norma brasileira NBR 13534 especifique as condições recomendações da norma IEC 61000-4-11. O equipamento principal
exigíveis às instalações elétricas de estabelecimentos assistenciais e responsável pela reprodução das perturbações de tensão idênticas às
de saúde, a fim de garantir a segurança pessoal, principalmente dos medidas em campo é uma fonte com potência de saída igual a 9 kVA.
pacientes, observa-se, em muitos casos, exatamente o oposto. No Está equipada com um controlador UMC-31 trifásico, capaz de gerar
Brasil, a questão da saúde se agrava cada vez mais, principalmente frequências entre 45 Hz e 500 Hz. Uma vez fixada as grandezas, possui
pela falta de investimentos, demonstrando o descaso total com o ser operação estável, com precisão de 0,5% dos valores estabelecidos. As
humano. Impostos cobrados aos cidadãos, destinados à área médica, medições em campo foram efetuadas com um analisador de qualidade
são desviados para outras finalidades, como é o caso da Contribuição de energia adquirido especialmente para essa finalidade. Foram ainda
Provisória de Movimentação Financeira (CPMF). Muitas vezes, utilizados outros instrumentos de precisão, como osciloscópio, entre
equipamentos com tecnologia de ponta, instalados em hospitais e outros.
locais semelhantes, são alimentados por instalações elétricas deficientes
e isentas de manutenção, podendo fornecer dados incorretos. O PRINCIPAIS CARGAS POLUIDORAS NOS
maior prejudicado nestes casos é o paciente, cuja sobrevivência pode ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE
depender dessas informações. Dentro do ambiente médico-hospitalar, O avanço tecnológico está provocando maior utilização de
a falha de um equipamento, seja pela qualidade de energia elétrica de equipamentos sensíveis em todos os segmentos da sociedade, mas,
suprimento, instalações elétricas deficientes, ausência de manutenção infelizmente, prejudiciais ao aspecto relativo à qualidade de energia
nos equipamentos e nas instalações, pode provocar a perda de vidas elétrica. No caso dos equipamentos eletromédicos, sejam conectados
humanas. ao paciente sejam fornecendo informações sobre seu estado de saúde, o
Infelizmente não se encontram dados estatísticos relacionados resultado pode ser comprometedor. Nesta última situação, em função de
a estas situações, mas pode-se perguntar, qual seria a taxa de falhas informações incorretas, procedimentos médicos inadequados poderão
aceitável quando se trata com vidas humanas? ser aplicados, comprometendo a vida do paciente. Equipamentos de
Observa-se, portanto, a criticidade do problema, uma vez que sustentação da vida poderão apresentar travamentos ou funcionamento
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22 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009

totalmente incorreto, provocando o óbito do paciente. Como já de seções fatiadas que serão posteriormente montadas para formar
Qualidade de energia

mencionado, a maioria das perturbações é gerada internamente ao uma imagem completa. Possui, portanto, um comportamento
estabelecimento assistencial de saúde pela comutação de cargas com semelhante ao aparelho de raios X, solicitando elevados picos de
elevada potência, variadores de velocidade para motores de indução corrente de curta duração conforme se apresenta na Figura 2:
e, principalmente, por equipamentos específicos desses ambientes,
como raios X, tomografia computadorizada, ressonância magnética e
equipamentos para mamografia.

Raios X
Em 1995 comemorou-se 100 anos do descobrimento dos raios X
pelo físico alemão Wilhelm Konrad Roentgen (1845-1923). Seu uso
possibilitou grande impulso nas técnicas de diagnóstico pela elevada
capacidade de penetração, permitindo, na biologia e na medicina, a
observação de órgãos internos sem necessidade de cirurgia. Na indústria
mecânica e metalúrgica, permite a identificação de trincas internas em
estruturas metálicas e, na indústria alimentícia, no prolongamento do
Figura 2 – Picos de corrente produzidos por um equipamento de
período de conservação de produtos perecíveis. Pertencem ao espectro
tomografia computadorizada
de radiações eletromagnéticas, que diferem entre si pela frequência e
pelo comprimento de onda. A produção de raios X é obtida por uma Ressonância magnética
fonte fornecedora de elétrons, os quais são acelerados em trajetória Atualmente, a medicina pode contar com uma ferramenta moderna
livre até chocarem-se com os átomos de um anteparo, provocando e precisa, com a finalidade de obtenção de uma imagem seccional
o deslocamento de elétrons e a consequente emissão de energia. Os do interior do corpo. A imagem, obtida por meio de propriedades
equipamentos de raios X possuem dois modos de operação: contínuo e magnéticas, fornece aos médicos uma quantidade de informações
momentâneo. detalhadas sobre a localização, tamanho e composição do tecido
Durante a operação no modo momentâneo no instante da corporal a ser examinado, permitindo um diagnóstico rápido e preciso.
radiografia, a potência elétrica necessária é elevada, podendo produzir A ressonância magnética não utiliza raios X, mas sim as
afundamentos de tensão. Para obtenção de uma boa radiografia, o propriedades magnéticas dos átomos que constituem todas as
radiologista seleciona a potência necessária, o tempo de duração substâncias, incluindo, obviamente, o corpo humano. Por meio de
e outras variáveis, não existindo, portanto, um padrão típico de um potente campo magnético gerado no scanner do equipamento,
operação. A Figura 1 apresenta o comportamento da corrente elétrica sinais elétricos são emitidos pelo núcleo atômico do tecido
e os afundamentos de tensão produzidos durante o funcionamento do corporal. Esses sinais são interceptados por uma antena circular
equipamento: ao redor do paciente. A intensidade do sinal varia de acordo com
o tipo do tecido. Um computador designa os sinais aos pontos
correspondentes das áreas corporais em exame e transforma-as em
imagem na tela. Da mesma forma que os equipamentos anteriores,
a ressonância magnética também produz elevados picos de corrente
durante seu funcionamento, conforme se apresenta na Figura 3.

Figura 1 – Picos de corrente produzidos por um equipamento de raios X

Tomografia computadorizada
É um dos métodos de exame mais confiável e seguro disponível
na medicina moderna. Constitui-se por um equipamento de raios
X que gira em torno do corpo do paciente, fazendo radiografias
transversais. Em seguida, estas radiografias são convertidas por um
Figura 3 – Picos de corrente produzidos por um equipamento de
computador, nos chamados cortes tomográficos, ou seja, uma série ressonância magnética
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O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009
23

EQUIPAMENTOS ENSAIADOS ensaiados, cinco apresentaram funcionamento incorreto. Este


Em função da facilidade de transporte, foram ensaiados artigo apresenta os resultados de três equipamentos.
equipamentos eletromédicos portáteis de fabricação nacional,
geralmente utilizados em Unidades de Terapia Intensiva ou Monitor cardíaco
Centros Cirúrgicos, tais como: monitor cardíaco, ventiladores É utilizado para a monitoração contínua do eletrocar -
pulmonares, monitor multiparamétrico e oxímetros de pulso. diograma, em centros cirúrgicos e unidades de terapia
Verificou-se o comportamento de tais equipamentos quando intensiva, juntamente com a monitoração da temperatura,
submetidos a uma tensão de alimentação com elevado conteúdo respiração e outras informações. Além da forma de onda do
harmônico e quando estão sob a influência de afundamentos eletrocardiograma, pode indicar a frequência cardíaca além
de tensão. A grande quantidade de medições realizadas de fornecer informações importantes como nível de saturação
permitiu o conhecimento das perturbações existentes nos de oxigênio no sangue arterial (SpO2) e pressão arterial. O
estabelecimentos assistenciais de saúde. Por serem fenômenos equipamento utilizado nos ensaios que serão apresentados
totalmente aleatórios, não foi possível a aplicação de ensaios efetua todas essas medições de forma não invasiva. O primeiro
padronizados para todos os tipos de equipamentos. grupo de ensaios teve como objetivo verificar o funcionamento
Situações bem mais críticas que as medidas foram do monitor quando alimentado em rede elétrica contendo
utilizadas com a finalidade de se conhecer o comportamento harmônicos de tensão, conforme se apresenta na Tabela I.
dos equipamentos. Os fabricantes acompanharam os ensaios e Para evitar que o instrumento permanecesse conectado ao
se interessaram pelos resultados com a finalidade de tornarem corpo humano durante os testes, utilizou-se um simulador
seus equipamentos mais seguros e confiáveis às perturbações de paciente, que gera pulsos de tensão semelhantes aos do
existentes. Este artigo não tem a finalidade de servir como modelo coração de forma estável e regular.
ou definir parâmetros para ensaios, mas chamar a atenção para O equipamento testado possui bateria interna para
falhas que podem ocorrer nos equipamentos eletromédicos manutenção de seu funcionamento em casos de interrupção de
em função das perturbações existentes nos próprios ambientes energia. Em todos os ensaios, a tensão de alimentação foi de
em que se encontram instalados. Dos seis equipamentos 110 V.
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24 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009

Tabela I Da mesma forma que no teste anterior, o monitor cardíaco


Qualidade de energia

Ensaios com harmônicos de tensão


não apresentou interferências no sinal gerado em sua tela. Nos
Harmônica afundamentos para 10 V e 0 V (interrupção) com duração de 1s,
Ensaio nº Fundamental 3ª 5ª 7ª THDf
ocorreu transferência para a bateria, mas, mesmo assim, o sinal na
(%) (%) (%) (%) (%)
tela se manteve constante e estável.
1 100 3 - - 3
No terceiro grupo de ensaios, foram aplicados afundamentos
2 100 10 - - 10
de tensão conforme as recomendações contidas no item 5.1 da
3 100 20 - - 20
norma IEC 61000-4-11, cujos valores estão na Tabela III:
4 100 50 - - 50
5 100 - - 100 Tabela III
6 100 50 30 20 61,8 Afundamentos de tensão recomendados pela norma IEC 61000-4-11
7 100 70 50 30 91,5
Nível de tensão Tensão de afundamento Duração [ciclos]
remanescente - %Un ou interrupção - % Un
O máximo valor da distorção harmônica total de tensão
80 20 0,5
encontrado durante as medições em vários hospitais foi de 6%,
70 30 1
portanto, os valores ensaiados foram bem superiores, exatamente
40 60 5
para verificar o comportamento do equipamento sob condições 20 80 10
bem mais críticas. 25
Para todos os casos ensaiados, o monitor cardíaco não 0 100 50
apresentou interferências na forma de onda do eletrocardiograma, 180
o que atesta a qualidade do equipamento a esse tipo de perturbação
elétrica. Foram aplicadas todas as combinações de afundamentos e

O segundo grupo de ensaios foi referente a afundamentos de tempos de duração recomendados pela referida norma. Em todos

tensão, semelhantes aos produzidos por equipamentos de raios X, eles o sinal do eletrocardiograma se manteve estável e sem alterações

ressonância magnética e outros, cujos valores estão apresentados em sua forma de onda. Nos ensaios de tensão remanescente de 20%,

na Tabela II. com duração de 180 ciclos e interrupções com durações de 25, 50 e

Tabela II 180 ciclos, ocorreu a transferência para a bateria interna, mas não se
Ensaios de afundamentos de tensão percebeu alteração na forma de onda apresentada na tela.
Tensão de Tensão Trata-se, portanto, de equipamento que mantém seu
Afundamento afundamento remanescente Tempo de Espaçamento funcionamento estável mesmo quando submetido a perturbações
nº (V) (V) duração (s) (s) críticas.
1, 2 e 3 60 50 0,5 20
4 90 20 0,5 - Ventilador pulmonar
5e6 100 10 0,5 20 O ventilador testado é um equipamento totalmente
7e8 110 0 1 20 microprocessado e projetado para aplicações de insuficiência
9 60 50 1 20 respiratória em pacientes pediátricos e adultos, com massa corporal
10 80 30 1 20 entre 6 kg e 150 kg. É bastante prático, possuindo controles digitais
11 100 10 1 20 diretos para os principais parâmetros ventilatórios. O disparo
12 110 0 1 20 dos ciclos é por pressão e, por possuir um monitor de ventilação
Os afundamentos produzidos e aplicados ao equipamento incorporado, permite um amplo acompanhamento das condições
podem ser visualizados na Figura 4: do paciente, aumentando a segurança. Além disso, um completo
sistema de alarmes audiovisuais com mensagem escrita na tela de
controles faz uma pronta identificação da condição de alarme.
Simulou-se a presença dos pulmões por meio de um balão de
borracha cedido pelo fabricante e utilizado para essa finalidade.
No primeiro grupo de testes, o equipamento foi alimentado
com tensão nominal de 110 V, mas contendo os componentes
harmônicos já apresentados da Tabela I. Embora se tenha notado
uma grande alteração na forma de onda da corrente entre a
alimentação senoidal e a alimentação com tensão totalmente
distorcida, não se observou qualquer alteração na regularidade

Figura 4 – Afundamentos de tensão aplicados ao monitor cardíaco


dos ciclos de ventilação do equipamento. O manômetro digital,
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26 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009

instalado na parte frontal, indicou os mesmos valores em todos um medidor de fluxo ligado ao duto de saída do equipamento
Qualidade de energia

os ensaios. Dessa forma, comprovou-se sua imunidade quando (circuito de inspiração). O equipamento suportou sem alterações os
submetido a tensões fortemente distorcidas. afundamentos de 20%, 30% e 60% para todas as durações, ou seja,
No segundo grupo de ensaios, o equipamento foi submetido a de 0,5 a 180 ciclos. O mesmo ocorreu para afundamentos de 80% e
afundamentos de tensão repetitivos mais críticos que os aplicados interrupção com tempos de duração de 0,5, 1 e 5 ciclos. No entanto,
ao monitor cardíaco por tratar-se de equipamento de sustentação para afundamentos de 80%, quanto para interrupções com tempos de
de vida. Os ensaios estão apresentados na Tabela IV: duração iguais ou superiores a 10 ciclos, o equipamento apresentou
vários problemas, que poderão colocar sob risco o paciente a ele
Tabela IV
Ensaios de afundamentos de tensão ligado:
Tensão de Tensão Tempo de 1) o funcionamento foi interrompido embora a bateria estivesse
Ensaio Quant. de afundamento remanescente duração Espaça- carregada. Os parâmetros ajustados não se perderam, mas o alarme
nº afundamentos (V) (V) (s) mento (s) não foi acionado;
1 10 11 99 3 1 2) em alguns ensaios, dependendo do instante da aplicação dos
2 10 22 88 3 1 afundamentos ou interrupções, a válvula expiratória se manteve
3 10 33 77 3 1 permanentemente aberta, lançando para o ambiente todo ar/
4 10 44 66 3 1 oxigênio injetado nos pulmões. O sistema de alarme também não
5 10 55 55 3 1 foi acionado e o equipamento teve que ser desligado da rede de
6 10 11 a 110 99 a 0 3 60
alimentação e reprogramado para retornar à operação;
3) da mesma forma que no caso 2, em alguns ensaios, o
As Figuras 5 e 6 apresentam os afundamentos de tensão
equipamento se travou continuando a injetar ar/oxigênio com a
referentes aos ensaios 5 e 6 aplicados ao equipamento.
válvula expiratória permanentemente fechada. O alarme não foi
acionado e o equipamento também necessitou ser desligado da rede
e reprogramado. O medidor conectado ao equipamento indicou
um valor de pressão provavelmente prejudicial aos pulmões do
paciente.

Oxímetro de pulso
É um equipamento utilizado na determinação do nível de
saturação de oxigênio (SpO2) no sangue arterial, sendo esta
quantificação executada de forma não invasiva, por sensores óticos
posicionados externamente ao paciente. A utilização do oxímetro
Figura 5 – Afundamentos de tensão do ensaio nº 5
de pulso é considerada procedimento padrão no monitoramento do
nível de saturação de oxigênio sanguíneo em unidades de terapia
intensiva, centros cirúrgicos, áreas de recuperação, unidades de
pacientes com queimaduras graves, de cateterismo e em ambulâncias.
Sua característica não invasiva torna desnecessária a retirada de
sangue do paciente para sua análise em laboratório.
Outra característica favorável é a possibilidade de monitoramento
contínuo e em tempo real dos níveis de oxigenação no sangue,
detectando, de forma rápida, eventuais reduções desses valores que
possam resultar em riscos ao paciente. A coloração do sangue varia em
função dos diferentes níveis de oxigenação, apresentando o sangue
Figura 6 – Afundamentos de tensão do ensaio nº 6
com alta concentração de oxigênio, a coloração vermelha brilhante.
No ensaio nº 6, o equipamento apresentou funcionamento A presença do gás carbônico no sangue altera a cor tendendo para
irregular para os afundamentos de 77 V, 88 V, 99 V e interrupção. Os um tom ligeiramente azulado. Seu princípio de funcionamento se
problemas apresentados incluem travamentos, bloqueios de válvula apóia na espectrofotometria sanguínea que mede a luz transmitida
expiratória e ausência de atuação do sistema de alarme. ou refletida dos capilares do corpo humano, sincronizados com os
No terceiro grupo de ensaios, foram aplicados afundamentos de batimentos cardíacos. O equipamento testado não possui bateria
tensão conforme as recomendações contidas no item 5.1 da norma para garantia de seu funcionamento durante interrupções de energia
IEC 61000-4-11, cujos valores já foram apresentados na Tabela III. elétrica. É microprocessado e contém um sistema de alarme para o
Os valores de pressão e vazão de ar foram monitorados com caso de alteração dos parâmetros pré-estabelecidos.
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28 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009

No primeiro grupo de testes, o equipamento foi alimentado com Nível de tensão Tensão de
Qualidade de energia

tensão nominal de 110 V, mas contendo os componentes harmônicos remanescente - afundamento ou Duração [ciclos] / ocorrência
já apresentados na Tabela 1. Durante os ensaios, o comportamento % Un interrupção - % Un
do aparelho foi alterado, passando por um ponto bastante crítico. ≥ 10 ciclos / travou e a tela apresentou

Observou-se a grande influência da 3ª harmônica, pois valores 20 80 caracteres aleatórios. Necessitou ser

de até 50% da fundamental produzem interferências no visor do desligado para retornar a funcionar.

equipamento. Para valores acima de 70%, o aparelho voltou a ≥ 10 ciclos / travou e a tela apresentou

funcionar normalmente. A 5ª e 7ª harmônicas influenciam pouco no 0 100 caracteres aleatórios. Necessitou ser
desligado para retornar a funcionar.
resultado final, sendo predominante a presença da 3ª.
O segundo grupo de ensaios foi referente a afundamentos
CONCLUSÕES
de tensão, semelhantes aos produzidos nos ambientes médicos
O referido estudo mostrou a importância da qualidade de energia
hospitalares, mas sempre procurando uma situação crítica que
elétrica nos estabelecimentos assistenciais de saúde. As perturbações
pudesse provocar uma falha no equipamento. Os valores aplicados
a que foram submetidos os equipamentos eletromédicos ensaiados
estão apresentados na Tabela V:
poderão ter origem nas próprias instalações desses estabelecimentos
Tabela V
Ensaios de afundamentos de tensão como também nos sistemas de distribuição das concessionárias de
Tensão de Tensão Tempo de fornecimento de energia elétrica.
Ensaio Quant. de afundamento remanescente duração Espaça- Outras vezes, a má qualidade dos projetos e serviços de manutenção
nº afundamentos (V) (V) (s) mento (s) poderá também, contribuir para o funcionamento incorreto dos
1 10 3,3 106,7 1 1 equipamentos eletromédicos. No entanto, conhecendo os resultados dos
2 10 5,5 104,5 1 1 ensaios, os fabricantes deverão concentrar esforços para melhorar seus
3 10 8,8 101,2 1 1 equipamentos com objetivo da redução da sensibilidade a tais perturbações.
4 10 11 109 1 1 Da mesma forma, as concessionárias de energia elétrica terão um melhor
5 10 22 88 1 1 conhecimento dos problemas ocasionados pela má qualidade de energia
No primeiro grupo de testes, o equipamento foi alimentado com elétrica fornecida aos consumidores da área de saúde.
tensão nominal de 110 V, mas contendo os componentes harmônicos Grandes dificuldades foram encontradas durante a realização deste
já apresentados na Tabela 1. Durante os ensaios, o comportamento do trabalho, podendo-se mencionar entre elas:
aparelho foi alterado, passando por um ponto bastante crítico. -inexistência de normas específicas sobre o comportamento de
Observou-se a grande influência da 3ª harmônica, pois valores equipamentos eletromédicos quando submetidos às perturbações
de até 50% da fundamental produzem interferências no visor do existentes nos próprios ambientes em que se encontram instalados;
equipamento. Para valores acima de 70%, o aparelho voltou a -comportamento diversificado em função da tecnologia de fabricação,
funcionar normalmente. A 5ª e 7ª harmônicas influenciam pouco no o que dificulta a aplicação de ensaios padronizados para todos os tipos
resultado final, sendo predominante a presença da 3ª. de equipamentos eletromédicos;
O segundo grupo de ensaios foi referente a afundamentos de tensão, -muitos fabricantes se negaram a ceder seus equipamentos para testes, com
semelhantes aos produzidos nos ambientes médicos hospitalares, mas receio de que se encontrassem problemas sujeitos a implicações legais,
sempre procurando uma situação crítica que pudesse provocar uma falha devido a erros médicos ocasionados pelo mau funcionamento deles ;
no equipamento. Os valores aplicados estão apresentados na Tabela V: -autorização para se efetuar medições em estabelecimentos assistenciais
de saúde com o objetivo da determinação de cargas poluidoras que
Tabela VI
degradam a qualidade de energia elétrica;
Ensaios de afundamentos de tensão conforme a norma IEC 61000-4-11
Nível de tensão Tensão de -permissão para realização de vistorias nas instalações elétricas nos
remanescente - afundamento ou Duração [ciclos] / ocorrência mesmos ambientes, como forma de verificação do atendimento às
% Un interrupção - % Un normas pertinentes.
800 20 ≥ 5 ciclos / o visor reduz o brilho,
*MÁRIO CÉSAR GIACCO RAMOS é engenheiro eletricista, mestre em
mas não perde as informações
Sistemas de Potência, professor da Universidade de Mogi das Cruzes
70 30 ≥ 5 ciclos / o visor reduz o brilho, (UMC) e da Universidade de São Paulo (USP).
mas não perde as informações ADERBAL DE ARRUDA PENTEADO JÚNIOR é engenheiro eletricista,
10 ciclos / travou e a tela apresentou mestre e doutor em Sistemas de Potência, professor no Departamento
caracteres aleatórios. Necessitou ser de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da USP.
40 60 desligado para retornar a funcionar.
Encerramos, com este artigo, a série “Qualidade de energia”. Confira este
25, 50 e 80 ciclos / apagou, mas
e os outros artigos deste fascículo no site www.osetoreletrico.com.br.
retornou à tela principal. Voltou a Dúvidas e sugestões podem ser encaminhadas para o e-mail
funcionar normalmente. redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
44
O Setor Elétrico / Janeiro de 2009
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

Capítulo I
Implantação de sistemas eletrônicos
em ambientes de alta tensão
Por Roberto Menna Barreto*

Esta série de artigos abordará diversas técnicas para EMC, as quais abordam tanto o aspecto de emissão
o controle de interferências no projeto, na instalação e (o equipamento se constituindo em uma fonte de
na manutenção de sistemas eletrônicos em ambientes perturbação EM) como de imunidade (o equipamento
de alta tensão. A seguir, os temas propostos para os 12 não sendo afetado por perturbações EM no ambiente).
capítulos deste fascículo: Estas normas EMC permitem certa liberdade na
• Influência de sistemas de alta tensão em sistemas instalação dos equipamentos, evitando a ocorrência
eletrônicos de problemas de EMI causados por fontes internas
• Requisitos EMC para equipamentos eletrônicos (unidades de equipamento) e mesmo para a maior
• Acoplamento de campos elétricos parte das fontes externas.
• Acoplamento de campos magnéticos Nesse contexto, poderíamos pensar que equipamentos
• Aspectos EMC para cabeamento eletrônicos que cumpram com requisitos EMC comerciais,
• Aspectos EMC para o sistema de aterramento – instalados mesmo próximos a linhas de transmissão/
Malha de terra distribuição, deveriam estar naturalmente protegidos
• Aspectos EMC para o sistema de aterramento – contra perturbações eletromagnéticas originadas em
Referência para equipamentos sensíveis situações normais de operação das LT/LD (sistemas de
• Blindagem de salas telecomunicações via rádio constituem um aspecto
• Proteção (interna) contra descargas atmosféricas particular). Isso em parte é verdade. Quando equipamentos
• Radiação não-ionizante (exposição humana a são interconectados compondo um sistema eletrônico, essa
campos eletromagnéticos) situação pode ser drasticamente alterada uma vez que o
• Procedimentos EMC para projeto e instalação de nível de imunidade do sistema é normalmente menor que
sistemas eletrônicos o nível de imunidade de cada equipamento isolado, devido,
• Procedimentos EMC para manutenção de sistemas principalmente, aos cabos de interconexão. Assim, sistemas
eletrônicos eletrônicos são passíveis de serem afetados por LT/LD,
Os fascículos serão divididos e publicados nomeadamente, se estiverem localizados próximos destas.
conforme cronograma anterior, podendo, entretanto,
sofrer alterações de acordo com os critérios do autor. Influência de sistemas de alta tensão
Existem diversos aspectos no âmbito EMC que
Compatibilidade eletromagnética devem ser considerados na implantação de sistemas
Compatibilidade Eletromagnética (EMC) pode eletrônicos (automação, telecomunicações, proteção,
ser definida como a capacidade de um dispositivo, controle) em ambientes de alta tensão, como o de
unidade de equipamento ou sistema, que funcione subestações elétricas, entre eles:
satisfatoriamente no seu ambiente eletromagnético sem
Tensões induzidas em sistemas de telecomunicações
introduzir, ele próprio, perturbações eletromagnéticas
(automação, controle, sinalização, etc.) com
intoleráveis naquele ambiente.
linhas metálicas
Uma configuração EMC é assegurada com certa
facilidade em uma instalação, exigindo-se que Representa a influência, nomeadamente na faixa de
cada unidade de equipamento cumpra as normas frequência de DC a 9 kHz, resultante de acoplamento
Apoio
45
O Setor Elétrico / Janeiro de 2009

indutivo, capacitivo ou condutivo em situação de operação normal sistemas de alta tensão na faixa de 0,15 MHz a 300 MHz na
ou de falta, que poderia acarretar perigo para pessoas, estragos ou recepção de rádio, nomeadamente radiodifusão sonora AM
funcionamento incorreto de sistema de telecomunicações com (0,15 MHz a 30 MHz) e radiodifusão sonora FM e TV (30 MHz
linhas metálicas. a 300 MHz).
Para a segurança de pessoas, deverá existir uma separação O ruído em radiofrequência gerado por LT/LD (acima de 1 kV) é
mínima entre os cabos de telecomunicações com partes metálicas causado principalmente pelo efeito corona, isoladores defeituosos
aterradas e partes metálicas conectadas diretamente ao sistema de ou contatos frouxos (permitindo a existência de descargas elétricas)
alta tensão, função da localização e da resistividade do solo, entre e variam conforme as condições atmosféricas.
outros aspectos, podendo variar de 2 metros a 200 metros. Para a recepção de sinais de rádio e televisão livre de
Para os cálculos das tensões induzidas que poderiam afetar a interferência, é necessária uma elevada relação sinal/ruído
segurança ou o funcionamento dos sistemas de telecomunicações, na entrada do receptor, que pode ficar comprometida caso
os cálculos são mais complexos, uma vez que diversos fatores o nível de recepção dos sinais de rádio/TV sejam baixos e as
deverão ser considerados, assim como o paralelismo entre a LT/ condições atmosféricas sejam propícias à geração de ruído
LD e a linha de telecomunicações, entre outros. Estes cálculos em RF por LT/LD.
objetivam o atendimento de um valor máximo de tensão acoplada De forma a garantir que os níveis dos diferentes tipos de
para situações de operação normal da LT/LD (tensão típica de 150 ruído gerados por uma LT/LD e equipamentos associados sejam
Vrms entre partes metálicas para segurança; e 60 Vrms, ou 200 mantidos abaixo dos limites aceitáveis, são desenvolvidas
mV medidos psofometricamente para interferência) e em caso técnicas de medição e predição baseadas no conceito de nível
de faltas (por exemplo, 2000 V para cabos coaxiais ou fibras de referência de uma LT/LD, que é a intensidade de campo
óticas com partes metálicas). Caso estes limites sejam excedidos medida na frequência de 500 kHz a 20 metros do condutor mais
(por cálculo ou medição), deverá ser estudada a necessidade de próximo. O ruído gerado em outras frequências pode ser obtido
medidas corretivas. por meio do espectro (padrão) de frequência associado – efeito
corona. O nível de referência de uma LT/LD é determinado pelo
Interferência com sistemas de rádio seu projeto, instalação e manutenção.
Representa a influência das perturbações geradas por Sistemas de transmissão DC também são passíveis de gerar
Apoio
46
O Setor Elétrico / Janeiro de 2009

ruído em alta frequência, nomeadamente pelos conversores a


Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

válvula que, por estarem acoplados às linhas de energia, permitem


Perturbações conduzidas
que o ruído gerado na comutação seja conduzido por elas e, a
partir daí, radiado, além da radiação direta.
Compete aos órgãos reguladores a determinação dos limites
mínimos do sinal a ser protegido (necessário para se sobrepor ao
ruído ambiente como atmosférico, cósmico, etc. – por exemplo,
para banda de TV de 47 MHz a 68 MHz o CCIR recomenda 48
dBuV/m) e a relação sinal/ruído que permita a recepção de sinais
Perturbações conduzidas
de radiodifusão satisfatória (por exemplo, para a Europa é aceito
um padrão de 40 dB, com BW de medida de 120 kHz). Estes fatores Descargas atmosféricas
determinam então a “distância protegida”, qual seja, a distância Outro aspecto de grande relevância diz respeito à influência
mínima da linha de forma a proteger o sinal de radiodifusão para dos surtos decorrentes de descargas atmosféricas, incidindo
certa percentagem do tempo. diretamente nas LT/LD ou próximas a estas, em equipamentos
Assim, os quatro principais fatores a serem considerados na conectados à rede de baixa tensão.
especificação do limite de ruído de RF são: o nível mínimo de Existindo instalações elétricas corretas e os equipamentos
sinal a ser protegido; a relação sinal/ruído mínima aceitável; eletroeletrônicos cumprindo com normas EMC, no que concerne ao
o nível de referência da linha, medido a 20 m de distância do nível de resistibilidade, não deverão existir problemas de avarias.
condutor mais próximo com as condições atmosféricas definidas; Determinadas situações – como no caso de subestações
e a distância protegida, qual seja, a distância mínima da linha elétricas quando torres de LT/LD são instaladas em terrenos
em que o sinal possa ser recebido satisfatoriamente. Três destes compartilhando instalações elétricas com os sistemas eletrônicos
fatores determinam o quarto. – podem ser alteradas diante dos problemas de ddp decorrentes,
consoante as características do local e das LT/LD, indicando a
Perturbações eletromagnéticas conduzidas eventual necessidade de instalações elétricas que favoreçam uma
Representa a influência das perturbações conduzidas pelo melhor proteção, incluindo o uso de Dispositivos de Proteção
sistema de energia para os sistemas eletrônicos instalados. contra Surtos (DPS).
De forma abrangente, os diferentes tipos de perturbações
eletromagnéticas que poderiam estar presentes nas LT/LD e Perturbações eletromagnéticas radiadas
que poderiam afetar instalações dos sistemas eletrônicos Representa a influência de perturbações radiadas por sistemas
instalados nas casas dos consumidores, assim como de alta tensão em sistemas eletrônicos. Esta influência irá depender,
harmônicos de corrente/tensão, variações do valor eficaz naturalmente, das características dos sistemas de alta tensão e
da tensão fornecida, “flicker”, surtos, etc., representam a do sistema eletrônico em consideração (níveis de imunidade
referência para definição dos níveis de imunidade a serem dos equipamentos, configuração de suas instalações, distâncias
apresentados pelos equipamentos eletroeletrônicos para envolvidas, etc.).
ligação à rede de baixa tensão.
Dessa maneira, um equipamento eletroeletrônico para Perturbações radiadas
ligação à rede de baixa tensão teria o seu funcionamento correto
garantido, uma vez que estaria apto a suportar os diferentes tipos
de perturbações eletromagnéticas provenientes da rede.
Entretanto, a qualidade de energia se constitui em um aspecto
bastante amplo, visto que todos os intervenientes na geração,
transmissão e distribuição são responsáveis e, sendo a relação
rede-cliente interativa, os próprios consumidores são também
co-responsáveis (razão pela qual a emissão de harmônicos de Perturbações radiadas
corrente por equipamentos eletroeletrônicos deve ser controlada,
por exemplo). Elevação do Potencial de Terra (GPR – Ground Potential Rise)
Em diversas situações, o funcionamento de equipamentos Ambientes de sistemas eletrônicos estão sujeitos ao
eletroeletrônicos não poderá ser garantido sem que haja um fenômeno de elevação de Potencial de Terra (normalmente
eventual condicionamento da energia elétrica fornecida, conhecido como Ground Potential Rise – GPR), representando
nomeadamente para equipamentos sensíveis, e sem que os níveis a elevação do potencial de referência em relação a outra
de imunidade dos equipamentos possam ser especificados. localidade.
Apoio
48
O Setor Elétrico / Janeiro de 2009

A elevação do Potencial de Terra se dá quando há uma são então determinados os níveis de imunidade a serem
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

falta à Terra, acarretando um elevado potencial da malha de observados pelos diversos equipamentos, consoante suas
Terra (normalmente da ordem de 1 kV a 20 kV, mas podendo localizações, a fim de atenderem aos critérios definidos.
atingir 100 kV). Dentro do sistema eletrônico, o problema é Caso os equipamentos não satisfaçam a estes requisitos,
contornado, favorecendo um mesmo potencial dentro dele, ou se o nível de perturbação eletromagnética for superior,
garantindo a segurança das pessoas e dos equipamentos deverão ser então implantadas medidas corretivas
instalados, com a implantação de uma ampla configuração de complementares.
aterramento. Para se eliminar problemas de interferência eletromagnética
Este fenômeno representa um sério risco (segurança e obter uma configuração EMC, temos inicialmente que
das pessoas, proteção dos equipamentos e continuidade identificar a fonte de perturbação eletromagnética (o que está
de serviço) para sistemas de telecomunicações com linhas gerando as perturbações eletromagnéticas, que podem ser
metálicas que entram no ambiente da SE, como é o caso de internas ou externas ao sistema), o mecanismo de acoplamento
linhas telefônicas. (como as perturbações eletromagnéticas geradas são acopladas
ao circuito) e o receptor (o circuito que está sendo afetado).
Controle de interferência Então é possível solucionar o problema trabalhando-se em um
Para entendermos a natureza dos problemas de interferência ou mais desses componentes para se reduzir o ruído.
eletromagnética em sistemas de automação/instrumentação, é Na instalação de sistemas eletrônicos, podemos
conveniente considerarmos a era da modernidade, que ainda considerar que não é usual trabalhar no receptor ou na fonte
vivemos, como a efetivação da Lógica da Dupla Diferença, de perturbação eletromagnética. Não é conveniente trabalhar
qual seja, que são feitas duas partições da realidade (duas no receptor, pois o equipamento já estaria definido pelo
diferenças) de forma a permitir a sistematização do mundo. Em fabricante e pode não ser conveniente trabalhar nas fontes
outras palavras, a realidade é empobrecida para um universo de perturbações eletromagnéticas, principalmente se estas já
menor (primeira diferença), em que podemos então estudar estiverem sido implantadas.
as entidades (segunda diferença) neste universo menor num Em suma, é necessário identificar os níveis de perturbações
contexto mais simplificado, permitindo assim a elaboração eletromagnéticas gerados e de imunidade apresentados pelos
das leis da física. equipamentos, mas não necessariamente modificá-los. Resta-
A maioria dos problemas de interferência acontece nos então trabalhar no acoplamento.
exatamente pela não observância dessa simplificação da Perturbações EM são acopladas em circuitos eletrônicos
realidade. por meio de três mecanismos básicos: acoplamento capacitivo
Quando é possível uma aproximação para baixas (campos elétricos), acoplamento indutivo (campos magnéticos)
frequências, um circuito pode ser descrito em termos e acoplamento por impedância comum (de aterramento).
de componentes “normais”, assim como resistências, Praticamente todas as técnicas que se aplicam para a
capacitâncias e indutâncias, e é então possível o eliminação destes mecanismos de acoplamento, assim como
desenvolvimento de cálculos “normais”. Entretanto, quando filtragem, blindagem, balanceamento, etc., estão diretamente
as dimensões do circuito não podem mais ser consideradas relacionadas ao sistema de aterramento. Por exemplo, para
como pequenas em relação ao comprimento de onda, as evitar o acoplamento de campos magnéticos em cabos de sinal,
propriedades de radiação do circuito já não podem mais ser a técnica básica é a eliminação da área do “loop” definida
ignoradas (ou seja, o universo empobrecido por esta primeira pelo fluxo de corrente – uma blindagem pode ser usada nesse
diferença não atende às necessidades do estudo). Quando são sentido, porém seu uso é orientado para a redução da área do
ignoradas surgem “os problemas misteriosos”. “loop”, isto é, como a blindagem é “aterrada”.
Nesse contexto, torna-se imprescindível a implantação Assim, a essência da compatibilidade eletromagnética de
de um tratamento sistemático na área da Compatibilidade um sistema eletrônico, como caracterizado acima, é o seu
Eletromagnética, mesmo porque o ambiente eletromagnético próprio sistema de aterramento. Muitas vezes, o sistema de
é constantemente alterado com a instalação de novos aterramento é confundido inadvertidamente com o conceito
equipamentos ou modificações das instalações existentes. de “malha de terra” – um baixo valor de resistência de terra
Os efeitos e as consequências das diferentes classes de não é fundamental para EMC.
fenômenos eletromagnéticos em sistemas eletrônicos estão
diretamente relacionados às funções desempenhadas por um * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
sistema de controle específico e os processos envolvidos. Para gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
cada função deverá ser definido um critério específico quanto Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
à influência de perturbações eletromagnéticas. Nesse cenário, eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
Apoio
42
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009

Capítulo II
Requisitos emc para
equipamentos eletroeletrônicos
Por Roberto Menna Barreto*

Normalização internacional - campos magnéticos (contínuos ou transitórios)


Uma configuração EMC pode ser assegurada com - campos elétricos
certa facilidade na instalação de um sistema eletrônico, ⇒ fenômenos conduzidos de alta frequência
exigindo-se que cada unidade de equipamento cumpra - tensões ou correntes induzidas (CW)
as respectivas normas EMC, as quais abordam tanto o - transitórios unidirecionais
aspecto de emissão (o equipamento como uma fonte de - transitórios oscilatórios
perturbação EM) quanto de imunidade (o equipamento ⇒ fenômenos de campos radiados de alta frequência
não sendo afetado por perturbações EM no ambiente). - campos magnéticos
Nesse sentido, vários organismos de normalização - campos elétricos
têm elaborado especificações técnicas no âmbito EMC - campos eletromagnéticos (CW, transitórios)
em diferentes domínios: IEC/CISPR em nível internacional; ⇒ fenômenos de descargas eletrostáticas
FCC/USA, VDE-FTZ/Alemanha e BSI/Inglaterra em nível
nacional; MIL-STD/USA (normas militares), SAE (normas De modo geral, nos domínios da EMC comercial são
para veículos automotivos), em níveis específicos; entre englobados todos os fenômenos elétricos, magnéticos e
outros. eletromagnéticos, de frequências desde 0 Hz a 400 GHz
Mais recentemente, a Comissão Européia tornou para avaliação do comportamento de equipamentos
obrigatório desde janeiro de 1996 o cumprimento da Diretiva eletroeletrônicos, tanto no aspecto de emissão como de
89/336/EEC (Diretiva Européia sobre Compatibilidade imunidade, radiada e conduzida.
Eletromagnética – Diretiva EMC) para a comercialização e/ As especificações técnicas inerentes à Diretiva
ou entrada em serviço de equipamentos eletroeletrônicos. Européia sobre EMC (referenciadas pelo IEC e também
Essa “legislação EMC” constitui a mais ampla e moderna adotadas no Brasil) caracterizam os procedimentos de teste
abordagem em vigor e as especificações técnicas definidas e limites para cada fenômeno eletromagnético referenciado
nesse contexto pelo Comitê Europeu de Normalização/ anteriormente, definindo assim a qualidade intrínseca dos
Comitê Europeu de Normalização Eletrotécnica (CEN/ equipamentos eletroeletrônicos.
Cenelec) constituem a referência mundial para EMC. Em 15 de dezembro de 2004, o Parlamento Europeu
Os fenômenos eletromagnéticos, contra os quais a e o Conselho da União Européia aprovaram a Diretiva
Diretiva EMC vem exigir um nível de proteção adequado, 2004/108/CE que revoga a anterior, a Diretiva 89/336/CEE,
são identificados pelo IEC, adotados pelo Cenelec e que dizia respeito à Compatibilidade Eletromagnética (os
compreendem: equipamentos de rádio e os terminais de telecomunicação
⇒ fenômenos conduzidos de baixa frequência já estão regulamentados pela Diretiva 1999/5/CE).
- harmônicas, inter-harmônicas Essa nova Diretiva EMC passa a exigir que os requisitos
- sistemas de sinalização na rede essenciais de EMC sejam aplicados também em instalações
- flutuações de tensão fixas, além de já serem exigidos para aparelhos, estipulando
- variação da frequência da rede que os fabricantes de equipamentos destinados a serem
- tensões induzidas de baixa frequência ligados em redes devem construí-los de forma a evitar
- DC no sistema AC que as redes sofram uma degradação de serviço quando
⇒ fenômenos de campos radiados de baixa frequência utilizadas em condições normais de funcionamento. Da
Apoio
O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009
43

mesma maneira, os operadores das redes devem construir as redes de

Flavio Santos
modo que os equipamentos não sofram uma carga desproporcionada,
prejudicando as redes.

No Brasil
No Brasil, não existe propriamente uma imposição para o
cumprimento de normas EMC no que se refere a produtos eletroeletrônicos
de uso geral, embora as recomendações apresentadas pela IEC sirvam
de referência. No entanto, a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel), por meio da Resolução nº 237 – Regulamento para certificação
de equipamentos de telecomunicações quanto aos aspectos de
compatibilidade eletromagnética, de 9 de novembro de 2000, passou
a exigir de todos os fabricantes nacionais de equipamentos para uso Subestação Carapina Escelsa
em telecomunicações o cumprimento de requisitos específicos em EMC
(que refletem as especificações técnicas da Diretiva EMC). Também que não estavam habituadas ao cumprimento de normas específicas na
já estão sendo adotados no Brasil requisitos EMC para equipamentos área EMC, uma mudança significativa nos seus próprios procedimentos
eletromédicos, os quais (novamente) refletem as especificações técnicas internos, de forma a vencer certa “inércia EMC” dentro de sua própria
da Diretiva EMC. empresa, além de investimentos em equipamentos e pessoal para
Embora existam outros procedimentos para qualificação de produtos ensaios e projetos EMC.
eletroeletrônicos em outros países, a Diretiva Européia sobre EMC está A questão que se coloca então é: por que uma empresa brasileira
referenciada neste estudo como um desafio para a indústria brasileira, deveria fazer, em maior ou menor escala, investimentos nesse sentido?
principalmente, por definir um contexto internacional, moderno e Obviamente, essa pergunta deveria ser respondida de acordo com
abrangente, em que são exigidos requisitos técnicos para emissão e a estratégia de desenvolvimento e o mercado-alvo pretendidos, pois
imunidade, tanto de produtos como de suas próprias instalações. não existem atualmente restrições oficiais similares nesse âmbito para o
A qualificação para a Diretiva EMC vem, assim, requerer às empresas mercado brasileiro. Entretanto, os seguintes aspectos devem também ser
Apoio
44 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009

considerados na busca de uma resposta para essa questão:


Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

Flavio Santos
a) EMC x eletroeletrônica: a área da compatibilidade eletromagnética
não representa somente uma “reserva de mercado” de alguns países, mas
principalmente uma consequência do desenvolvimento eletroeletrônico,
em que os problemas de interferência surgem como consequência
natural do uso de um maior número de circuitos operando em maior
proximidade, utilizando maiores bandas de frequência, menores níveis de
sinal, etc.. EMC é, assim, uma necessidade inerente à própria eletrônica;
b) padrão internacional: embora o ponto de partida para aplicação
da Diretiva EMC tenha sido as normas internacionais existentes (IEC), o
processo de normalização europeu representa cada vez mais o padrão
internacional que está sendo implementado, que abordam tanto os
aspectos de emissão como imunidade; Subestação Bento Ferreira, Escelsa
c) exigências de mercado: é natural, como já está acontecendo, que
mesmo em mercados onde não é necessário o cumprimento oficial de inferior àquele que seria adequado a esse ambiente de subestações.
requisitos, haja uma maior aceitação por produtos europeus diante de Os efeitos e as consequências das diferentes classes de fenômenos
uma maior garantia de funcionamento desses produtos; eletromagnéticos em sistemas eletrônicos, por exemplo, de automação,
d) competitividade: a abordagem implicitamente pretendida para o estão diretamente relacionados com as funções desempenhadas por
cumprimento da Diretiva EMC – em que os problemas de interferência um sistema de controle específico e com os processos envolvidos. Essas
são analisados e solucionados desde a fase de projeto – é a forma que funções incluem proteção/teleproteção, regulação e processamento
tem se mostrado mais rentável para o desenvolvimento de equipamentos em tempo real, contadores, controle e comando, supervisão, alarme,
eletroeletrônicos. É nesse sentido que está sendo desenvolvida uma aquisição de dados e armazenamento, medição, entre outros.
tecnologia avançada, contra a qual qualquer empresa brasileira da área Dependendo dos tipos de fenômenos eletromagnéticos (conduzidos
eletroeletrônica terá que competir. ou radiados, alta ou baixa frequência) e das portas de entrada do
Dessa forma, a indústria eletroeletrônica brasileira terá que, num equipamento envolvidas (porta AC de entrada/saída; porta DC de
futuro próximo, cumprir muitas das exigências especificadas atualmente entrada/saída; gabinete; porta de sinal para conexões locais, conexões
para o mercado europeu para se tornar competitiva em um mercado de campo, para equipamento de alta tensão e telecomunicações; e
cada vez mais globalizado e, consequentemente, terá de se adaptar porta de aterramento), o efeito de perturbações eletromagnéticas pode
aos procedimentos de projeto e fabricação inerentes ao campo da ser limitado a uma única função ou a um grande número delas.
Compatibilidade Eletromagnética. Para cada função deverá ser definido um critério específico quanto
à influência de perturbações eletromagnéticas. Assim, por exemplo,
Consequências para ambientes de subestações elétricas para a medição poderá ser assumido o critério de que o sistema
Quando consideramos a instalação de equipamentos eletroele­ tenha garantido o desempenho correto quando sujeito a fenômenos
trônicos compondo um sistema eletrônico no Brasil, a situação que se eletromagnéticos contínuos, porém sendo tolerável uma degradação
apresenta é: temporária com recuperação automática quando sujeito a fenômenos
• o nível de emissão/imunidade de cada equipamento não está eletromagnéticos transitórios. Para a regulação e processamento em
claramente definido, a menos que haja a comprovação de cumprimento tempo real, poderá ser especificado que nenhuma degradação de
com normas EMC específicas; desempenho é tolerada quando sujeita a fenômenos eletromagnéticos
• o nível de emissão/imunidade do sistema eletrônico não é contínuos ou esporádicos.
necessariamente o mesmo nível dos equipamentos que o compõe De forma a se obter uma configuração EMC adequada à operação de
devido, por exemplo, aos cabos de interconexão que tornam o sistema um sistema eletrônico em um ambiente de subestação elétrica, torna-se
mais vulnerável à influência de perturbações radiadas; necessário o desenvolvimento de um “plano de trabalho”, especificando
• os níveis de perturbações eletromagnéticas em um determinado as ações e seus tempos de execução ao longo de toda a instalação do
ambiente podem diferir drasticamente daqueles normalmente usados sistema eletrônico (proteção, automação, telecomunicações) para que
como referência na elaboração das normas EMC (ambientes residenciais as diversas situações possíveis para a ocorrência de problemas de EMI
e industriais). possam ser identificadas e solucionadas. Este “plano de trabalho” é
Para instalações específicas, como no caso de subestações elétricas, chamado “Plano de Controle de Interferência”.
é de se esperar a necessidade de implantação de medidas de proteção
complementares, especialmente, quando os equipamentos a serem * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
instalados cumprem especificações técnicas EMC para uso em ambientes
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
comerciais/residenciais, que espelham um nível de imunidade muito
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
Apoio
30
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Março de 2009

Capítulo III
Acoplamento de campos elétricos
Por Roberto Menna Barreto*

O ambiente eletromagnético em que um ou magnético, representando a interação de campos


equipamento é colocado para operar está, naturalmente, magnéticos entre dois circuitos; e acoplamento
cada vez mais poluído devido aos diversos equipamentos eletromagnético ou radiação, representando a interação
eletroeletrônicos disponibilizados no mercado. Um de campos eletromagnéticos na região de campos
exemplo das intensidades de campo presentes no dia- distantes. As técnicas para solução de problemas de
a-dia está apresentado na tabela a seguir: interferência devido ao acoplamento capacitivo e
ao acoplamento indutivo, quando aplicadas juntas,
EMISSOR FREQUÊNCIA CAMPO
são normalmente adequadas para a solução do
Raio 30 kHz a 3 MHz 10 A/m a 500 m
acoplamento eletromagnético.
Manobras na MT 75 MHz 5 kV/m a 1 m
Rádio FM 100 MHz 1 V/m a 500 m
Acoplamento capacitivo
Walkie-talkie 450 MHz 10 V/m a 1 m
De forma a simplificarmos a análise do acoplamento
Celular 900 MHz 20 V/m a 1 m
capacitivo, a interação dos campos elétricos entre dois
Radar 1 GHz 40 V/m a 500 m
circuitos será representada por meio de capacitâncias
Forno MOO 2,45 GHz 1,5 V/m a 1 m
parasitas (como se todos os campos entre os elementos
Sistemas eletrônicos podem ser sensíveis à influência estivessem confinados no interior de pequenos
do ruído acoplado por campos eletromagnéticos, capacitores), permitindo assim trabalharmos somente
função da amplitude e da faixa de frequência. Por com uma variável (tempo) na teoria normal de circuitos,
exemplo, com a substituição de relés eletromecânicos conforme ilustrado a seguir:
por circuitos eletrônicos para o controle e proteção em
subestações elétricas, a ocorrência de problemas de
interferência é um fato comum associado a manobras
nas subestações.
Os dois mecanismos básicos para se evitar o
acoplamento de ruído devido aos campos presentes no
ambiente (elétricos, magnéticos e eletromagnéticos) são
o “aterramento”, analisado em capítulos subsequentes,
e a “blindagem”.
Para o estudo da “blindagem”, existem três tipos
de acoplamento a considerar: acoplamento capacitivo, Em que:
C12 é a capacitância entre os condutores 1 e 2
representando a interação de campos elétricos entre
C1G representa a capacitância entre o condutor 1 e o
dois circuitos (muitas vezes chamado de acoplamento “terra” (Ground)
eletrostático, o que não é apropriado, uma vez que C2G é a capacitância total entre o condutor 2 e o “terra”
os campos não são estáticos); acoplamento indutivo, R é a resistência do condutor 2 para “terra”
Apoio
31

Sendo V1 a tensão no condutor 1, a fonte de


interferência, podemos então calcular a tensão
de ruído acoplada no circuito 2, que estaria
sofrendo a influência do ruído acoplado.
O cálculo desta tensão de ruído acoplada
pode ser ainda mais simplificado para o caso
quando R é menor que a impedância da
capacitância parasita C12 mais a impedância
de C2 (que acontece para frequências mais
baixas), resultando na seguinte expressão:

Vruído = j w R C12 V1

Esta expressão mostra claramente como


os parâmetros influenciam o acoplamento de
ruído e, em particular, como o acoplamento
capacitivo aumenta com a frequência.
Assumindo que a tensão (V1) e a frequência
(w) da fonte não podem ser alteradas,
temos então dois parâmetros para reduzir o
acoplamento capacitivo: R e C12.
C12 pode ser reduzida com uma
orientação apropriada dos condutores, com
a separação entre eles ou com a utilização
de uma blindagem aterrada (redução de C12
pelo desvio das linhas de campo elétrico
aterrando-se a blindagem).
Caso a resistência R não seja menor
que a impedância capacitiva (C12 + C2G),
a expressão para o acoplamento de ruído,
representando uma faixa de maiores
frequências, é:

Vruído = [C12 / (C12 + C2G) ] V1

Estas equações descrevem assim o


acoplamento capacitivo, em que podemos
observar que a situação crítica está relacionada
a frequências maiores, nomeadamente
quando existe uma transição abrupta da
tensão no condutor 1, isto é, uma transição
rápida irá produzir um maior acoplamento de
ruído.
Por exemplo, se considerarmos um cabo
AC 220 V/60 Hz correndo junto com um
cabo de sinal por 10 metros em uma canaleta,
a tensão acoplada seria da ordem de 10 V/60
Hz, o que não é problema. Entretanto, se a
corrente no cabo AC inclui transições rápidas
(por exemplo, geradas por conversores de
Apoio
32 O Setor Elétrico / Março de 2009

frequência ou outros circuitos não lineares, assim como dimmers), Essas transições dV/dt extremamente rápidas ocasionam a
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

a tensão acoplada pode atingir níveis de 90 V, o que pode ocasionar circulação de correntes espúrias entre um condutor de fase e
problemas de interferência. o “terra” de referência, devido a altas frequências que vêem a
capacitância parasita entre o condutor e o “terra” como uma baixa
Ruído no modo comum (instrumentação) impedância, um “curto circuito”. A circulação de corrente (IG) com
Ao considerarmos os dois condutores em um circuito (fonte, carga componentes de alta frequência (decorrente do tempo de subida/
e condutores de ida e retorno), devemos distinguir duas formas de descida dos pulsos de tensão da ordem de 200 ns) no sistema “terra
circulação de corrente: modo diferencial, o sinal desejado, significando de referência” ocasiona uma ddp entre as extremidades do circuito
que a corrente flui da fonte para a carga por um condutor e retorna pelo eletrônico e o resultado é a circulação de correntes no modo
outro; e modo comum, o sinal indesejado (ruído), significando que a comum (Imc) pelos condutores de instrumentação, favorecendo
corrente flui na mesma direção em ambos os condutores do circuito, a ocorrência de problemas de interferência, conforme ilustrado a
retornando por um terceiro condutor, em geral uma “Massa/ground” seguir:
(daí o termo largamente utilizado de “loop de terra”).
O circuito de modo comum pode ter uma “existência material”,
como no caso em que a fonte de sinal e a carga estão conectadas
diretamente a uma referência (“Terra/Massa/ground”) em diferentes
pontos. Neste caso, a fonte de corrente em modo comum pode ser
uma diferença de potencial entre estes dois pontos de referência (“Terra/
Massa/ground”), que força o fluxo de corrente em ambos os condutores
em um mesmo sentido.
Muitas vezes, os circuitos por onde fluem correntes em modo
comum não têm uma conexão “material” para fechar o “loop” para uma
referência. Isto pode ser entendido, considerando-se que capacitâncias
parasitas fecham o “loop” para a referência (“Terra/Massa/ground”) em
um dos extremos do circuito.
A figura a seguir ilustra esta situação, em que a circulação das
correntes de modo diferencial (Imd) e de modo comum (Imc, devido à
A solução para este problema poderá estar pautada na
capacitância fechar o “loop” com a Fonte (Vs)) caracterizam na carga ZL
redução de IG pelo “terra de referência”, de forma a evitar a
duas tensões: a tensão desejada, de sinal (Vs), e a tensão indesejada, de
ddp decorrente entre os extremos do circuito, o que pode ser
ruído (V’mc).
obtido com a utilização de reatâncias para amenizar o dV/dt
(diminuição das componentes de alta frequência de IG) e com
a diminuição do comprimento dos cabos ou a utilização de
blindagem (redução do valor da capacitância C), por exemplo.
Entretanto, as soluções a serem implantadas deverão responder
também a outras formas de acoplamento de ruído.
A proteção de equipamentos eletrônicos contra perturbações
eletromagnéticas, incluindo a proteção contra descargas
atmosféricas e seus efeitos, requer a coordenação de diferentes
aspectos, assim como características dos equipamentos, suas
instalações, cabos de interconexão, sistema de proteção contra
descargas atmosféricas (SPDA – proteção externa), topologia
Circulação das correntes de modo diferencial e modo comum: tensão
desejada, de sinal, e tensão indesejada, de ruído. (malha) de aterramento, qualidade da energia elétrica etc. sob
o enfoque da Compatibilidade Eletromagnética (EMC).
As correntes em modo comum são responsáveis pela maior Dessa forma, somente um estudo abrangente, levando
parte dos problemas de interferência que aparecem em sistemas em consideração estes diversos fatores, poderá indicar uma
eletrônicos. Um exemplo é a utilização de inversores de frequência, solução apropriada.
os quais traduzem diversas situações para a ocorrência de
problemas de interferência. Uma destas situações está relacionada
* ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
à tecnologia atual IGBT (Insulated Gate Bipolar Transistors) em que
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
são obtidos tempos de comutação menores que 200 ns. Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
Apoio
28
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Abril de 2009

Capítulo IV
Acoplamento de campos magnéticos
Por Roberto Menna Barreto*

Campos magnéticos existem onde houver necessariamente a ocorrência de interferência


circulação de corrente elétrica, seja na geração, eletromagnética em equipamentos sensíveis. O
transmissão e distribuição de energia elétrica, seja objetivo das normas EMC é garantir que não haja
em ambientes industriais e residenciais. interferência eletromagnética em diversos tipos de
Perto de linhas de transmissão, os campos ambiente.
magnéticos podem ir, geralmente, até cerca de 20 A norma internacional que define a imunidade
µT, enquanto estes valores estão entre 0,025 µT a a campos magnéticos dos equipamentos é a “IEC
0,07 µT em ambiente residenciais e industriais para 1000-4-8: Testing and Measuring Techniques –
a Europa e entre 0,055 a 0,11 µT para os Estados Magnetic Field Immunity Test”, a qual objetiva
Unidos. Na vizinhança de certos equipamentos garantir a operação correta de equipamentos
eletrodomésticos, os campos magnéticos instan­ eletroeletrônicos em diferentes ambientes. Nela
tâneos podem atingir algumas centenas de µT. são definidas cinco classes de ambiente em que
A intensidade de campo depende naturalmente um equipamento pode ser instalado, com os níveis
da corrente elétrica e da distância em que o campo para a realização dos testes em cada classe de 12,6
é observado. Alguns exemplos de valores típicos mG (aplicado a equipamentos sensíveis que usam
são apresentados a seguir: feixe de elétrons, por exemplo, monitores); 30
mG (aplicado a equipamentos para uso em áreas
Aparelho de ar condicionado – 0,4 µT a 120 cm protegidas, não sujeitas à influência de barramentos
Monitor de computador – 0,25 µT a 30 cm de alta tensão ou próximas a transformadores); 100
Telefone sem fio – 0,2 a 0,4 µT a 30 cm mG (aplicado a equipamentos que podem estar
Geladeira – 0,01 a 0,25 µT a 30 cm próximos de circuitos de média tensão, tais como
Cobertor elétrico – 30 µT a 1 cm plantas industriais de pequeno e médio porte);
Forno de microondas – 4 a 8 µT a 30 cm 300 mG (aplicado a equipamentos que operam
Aparelho de televisão – 0,01 a 0,15 µT a 1 metro em ambientes industriais típicos, como indústrias
Secador de cabelo – 2 µT a 10 cm pesadas); e 1.000 mG (aplicado a equipamentos
Ferro de passar – 3 a 30 µT a 3 cm que operam em ambientes severos, próximos a
linhas de alta tensão transportando dezenas de
O fato de existirem perturbações kiloamperes (kA)).
eletromagnéticas no ambiente, como no caso dos
Nota: A unidade “Tesla” ou “microTesla” (µT) pode ser
campos magnéticos referenciados, não implica facilmente convertida para Gauss por 0,1 µT = 1 mG
Apoio
O Setor Elétrico / Abril de 2009 29

Medição da intensidade do campo magnético

Em instalações em que há uma maior necessidade de se garantir


a operação correta de equipamentos eletrônicos, como no caso de
instalações hospitalares, data centers, sistemas de instrumentação,
entre outras, é fortemente recomendada a medição da intensidade
de campo magnético (no caso, também campos elétricos e
eletromagnéticos de alta frequência) no local, como exemplificado
na figura anterior.

Acoplamento indutivo
Quando os campos magnéticos presentes no ambiente
atravessam um loop formado por dois cabos quaisquer que se
interligam a um mesmo equipamento, ocorre a indução de uma
força eletromotriz (resultando numa tensão de ruído). Assim, para
instalações com um grande número de equipamentos eletrônicos,
é muito importante o planejamento das rotas dos cabos (elétricos,
sinais, etc.) que atendem aos diversos equipamentos interligados.
De modo a simplificarmos a análise do acoplamento indutivo,
a interação dos campos magnéticos entre dois circuitos será
representada por meio de indutâncias mútuas (como se todos os
campos entre os elementos estivessem confinados no interior de um
transformador de uma espira só), permitindo então trabalharmos
somente com uma variável (tempo) na teoria normal de circuitos.
A expressão para o cálculo da tensão induzida, Vruído, pode
assim ser escrita na forma da indutância mútua entre os dois
circuitos (M), a qual depende da geometria e das propriedades
magnéticas do meio entre os dois circuitos, como:

Vruído = jwMI1

Assumindo que a densidade de fluxo varia senoidalmente com


o tempo, mas continua constante em toda a área A do circuito
afetado (a qual é constante), teríamos para tensão induzida, que
representa a tensão de ruído, o valor simplificado indicado na
figura a seguir, em que α é o ângulo em que o fluxo corta o vetor
área.
Apoio
30
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Abril de 2009

A questão é então por que a corrente iria preferir retornar


à fonte Vs pela blindagem (com indutância e resistência) e não
pelo plano de terra, assumindo este de baixíssima resistência
Proteção de circuitos eletrônicos ôhmica? E a resposta a esta questão prende-se ao fato de que o
Ao analisarmos a expressão que descreve o acoplamento
que está em jogo não é a resistência ôhmica do percurso, mas
indutivo, vemos que nem sempre podemos mexer na fonte
sim o caminho de menor indutância total para frequências
(frequência e densidade de fluxo – termo wB), eventualmente,
maiores (jwL), ou seja, a partir da frequência de corte do cabo
podemos mexer na orientação entre os circuitos (termo cos α) e,
(da ordem de alguns kHz para cabos coaxiais comerciais),
principalmente, na área do circuito afetado (termo A).
a corrente encontra um percurso de menor impedância por
Em suma, a redução da área do circuito afetado é o mecanismo
meio da blindagem do que pelo plano de terra, fazendo a área
básico para a proteção contra campos magnéticos, sendo o caso
do circuito afetado (área A) ser reduzida, diminuindo assim o
para a utilização de par trançado em instrumentação industrial.
ruído captado.
Também a blindagem de cabos pode e deve ser usada com este
Para o estudo da “blindagem de cabos”, como uma
propósito, nomeadamente para frequências mais altas.
das formas para se evitar o acoplamento de campos
Para este efeito, vamos considerar um circuito “aterrado” em
magnéticos, devemos considerar a existência de três tipos de
ambos os extremos, em que é colocada uma blindagem, também
acoplamento:
aterrada em ambos os extremos, como ilustrado na figura a seguir.
- Acoplamento capacitivo, representando a interação de
A corrente Is, proveniente da fonte de sinal, deve naturalmente
campos elétricos entre dois circuitos (muitas vezes chamado
retornar à fonte para as duas possibilidades a partir do ponto “A”
de acoplamento eletrostático, o que, entretanto, não é
para o ponto “B”: pelo plano de terra, definindo-se como Isg, ou
apropriado uma vez que os campos não são estáticos);
pela blindagem, definindo-se como Isb.
- Acoplamento indutivo, ou magnético, representando a
interação de campos magnéticos entre dois circuitos;
- Acoplamento eletromagnético ou radiação, representando a
interação de campos eletromagnéticos na região de campos
distantes.
As técnicas para solução de problemas de interferência
devido ao acoplamento capacitivo e ao acoplamento indutivo,
quando aplicadas juntas, são normalmente adequadas para a
solução do acoplamento eletromagnético.
Outro caso de maior relevância é referente à proteção de
equipamentos eletrônicos contra raios, sendo as descargas
Se a corrente Is retornar pelo plano de terra (Isg), teríamos atmosféricas naturalmente caracterizadas por grandes
uma área grande de circulação de corrente (basicamente o correntes. Se tomarmos por referência uma descarga direta,
espaçamento entre o cabo e o plano de terra, representado em isto é, que incide no pararraios da edificação – poderíamos
amarelo na figura a seguir), e esta área grande seria propícia à igualmente considerar uma descarga indireta, que incide
captação de campos magnéticos. De outra forma, se a corrente próxima à edificação –, teríamos uma grande circulação de
Is retornar pela blindagem (Isb), teríamos uma área pequena corrente pelo cabo de descida do Sistema de Proteção contra
de circulação de corrente (restrita basicamente às terminações Descarga Atmosférica (SPDA), uma melhor definição para
do cabo, representada em azul na figura a seguir), e esta pararraios. Esta corrente (impulsiva) estaria então gerando
área pequena seria menos propícia à captação de campos campos capazes de induzir tensões elevadas em circuitos nas
magnéticos. imediações, conforme ilustrado a seguir:
Apoio
O Setor Elétrico / Abril de 2009
31

na alteração do percurso dos cabos, de forma que os condutores de


cada interface (elétrico, sinal, etc.) percorram uma mesma rota da
fonte até o destino, o que certamente irá requerer, porém, a adoção
de medidas complementares de modo a contornar os problemas
de interferência em potencial ocasionados por acoplamento
capacitivo, circulação de correntes no modo comum, etc.
A proteção de equipamentos eletrônicos contra perturbações
eletromagnéticas, incluindo a proteção contra descargas
atmosféricas e seus efeitos, requer a coordenação de diferentes
aspectos, assim como características dos equipamentos, suas
instalações, cabos de interconexão, sistema de proteção contra
descargas atmosféricas (SPDA – proteção externa), topologia
(malha) de aterramento, qualidade da energia elétrica, etc., sob o
Não podemos controlar a corrente do raio, assim, os enfoque da Compatibilidade Eletromagnética (EMC).
procedimentos para diminuição do ruído acoplado (nestes casos, Nesse sentido, somente um estudo abrangente, tendo em
com intensidade suficiente para causar a queima da eletrônica e consideração estes diversos fatores, poderá indicar uma solução
não somente interferência) incluem diminuição da intensidade de apropriada.
campo que estaria cortando a área do circuito, pelo afastamento
dos cabos interligados ao equipamento, ao cabo de descida do * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
SPDA, trabalhando-se com “B”; orientação dos circuitos, evitando gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
o paralelismo, trabalhando-se com cos α; e, principalmente, Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
trabalhando-se com diminuição da área “A” do circuito afetado,
aproximando-se os cabos conectados ao equipamento. CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Assim, o procedimento (principal) para diminuição do Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
acoplamento indutivo devido a descargas atmosféricas baseia-se redacao@atitudeeditorial.com.br
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36
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Abril de 2009

Capítulo V
Aspectos emc para a cabeação
Por Roberto Menna Barreto*

Os cabos que interligam os diversos equipamentos


representam “boas” antenas, radiando e captando I

perturbações eletromagnéticas radiadas no ambiente, Vs


Ib
como também interligando diferentes fontes de
perturbações eletromagnéticas em locais distintos. 3 Ig 3
Dessa forma, a cabeação de sistemas eletrônicos !
!

(automação, telecomunicações, controle, etc.) constitui


um dos principais aspectos a serem trabalhados para Deseja-se, evidentemente, que toda corrente de
o controle de interferências e proteção contra raios/ terra retorne pela blindagem de forma a não perturbar
surtos, em que devemos considerar: o ambiente, o que, entretanto, irá depender das
• os sinais a serem transportados {banda estreita ou características elétricas da conexão, do sistema de
CW, pulsados (duração, frequência, tempo de subida, aterramento e do espectro de frequências do sinal. E,
etc.), níveis (m V – termoacopladores; < 24 v; até 100 pelo princípio da reciprocidade, se a fonte de sinal é
V AC), etc.}; os tipos de perturbações esperadas (CW, capaz de gerar uma corrente de terra, uma fonte de
“burst”, pulsos, raios, faltas AC, etc.); ruído no modo comum é capaz de gerar uma corrente
• os tipos de equipamentos a serem interligados no circuito de sinal.
(Zmd, Zmc, Zc para HF, perturbações dentro/fora da Por definição, a Razão da Rejeição ao Modo
banda, etc.); e Comum (RRMC) é a razão da função de transferência
• os critérios a serem atendidos (instalações do sinal recebido na carga devido ao sinal transmitido
críticas: sem interrupção, instalações menos críticas: e devido ao ruído. Quanto maior a RRMC, maior a
interrupção com reiniciação, etc.). imunidade a ruído.
Equipamentos com sinais de banda larga são Poderia se mostrar que, para o esquema
suscetíveis a perturbações eletromagnéticas em uma generalizado da figura a seguir, a RRMC é dada por:
faixa de 10 kHz a 100 MHz, provenientes de fontes de
ruído em modo comum. De outra forma, as correntes
injetadas no sistema de aterramento constituirão fontes
de ruído no modo comum para outros sistemas.
Entre os métodos para melhorar a rejeição a ruído,
será analisada a blindagem da ligação.

Blindagem de condutores
RRMC = [Zb + Zc + Zg] / Rb + jw (Lb – M)
diante do ruído em modo comum
Em que:
Está representada na figura a seguir uma conexão
Zb – impedância da blindagem (Rb + jwLb)
blindada entre dois equipamentos. A corrente de
Zc – impedância da conexão para terminação da
sinal (I – fonte de sinal Vs) irá retornar em parte
blindagem
pela blindagem (Ib) e em parte pelo sistema de terra
Zg – impedância de terra entre os dois extremos do circuito
(“Terra/Massa/ground”), estrutura mecânica ou outros
Lb – indutância da blindagem
condutores de retorno (Ig).
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O Setor Elétrico / Abril de 2009 37

M – indutância mútua entre blindagem e condutor (teoricamente seriam


iguais)
(Lb – M) – indutância de fuga do cabo
Vs – fonte de sinal
Vg – tensão de modo comum (devido a campos ou ddp)
Para o caso mais desfavorável, quando a impedância de terra Zg
é nula, a RRMC toma a seguinte forma para uma conexão “perfeita”
(Zc = 0):
RRMC = [Rb + jwLb] / [Rb + jw (Lb – M)]
Assim, para frequências baixas, o limite da RRMC ~ Rb / Rb = 1
(0 dB), ou seja, não há rejeição ao modo comum (a tensão na carga é
igualmente afetada tanto pelo sinal transmitido como pelo ruído).
Para frequências altas, o limite da RRMC ~ Lb / (Lb – M), ou
seja, a proteção para frequências altas é limitada pelas fugas da
blindagem. Em uma situação ideal, teríamos Lb = M, acarretando
que a RRMC tenderia a crescer indefinidamente, ou seja, uma
imunidade infinita ao ruído.
Ao terminarmos a blindagem de um cabo coaxial por meio de um
chicote com alguns centímetros, uma conexão não “perfeita” em que Zc
não é mais considerada nula, estaremos introduzindo uma indutância de
alguns nH em série com a blindagem, resultando na seguinte expressão
para a RMMC, em que L1 e L2 representam as indutâncias das ligações
à terra da blindagem:
RRRMC = [Rb + jw (Lb + L1 + L2)] / [Rb + jw (Lb + L1 + L2 – M)]
Para frequências altas, as indutâncias tornam-se preponderantes e o
limite da RRMC tende a RRMC = [(Lb + L1 + L2)] / [(Lb + L1 + L2 – M)],
o que daria o limite para altas frequências de RRMC ~ Lb / (Lb – M) já
que (L1 + L2) é pequena em relação à indutância da blindagem Zb e
grande em relação à indutância de fuga (Lb – M), ou, supondo a hipótese
simplificada de que a indutância é proporcional ao comprimento do
cabo, limite para altas frequências da RRMC = (comprimento do cabo) /
(comprimento das ligações à terra).
Uma ilustração destes aspectos é apresentada a seguir (cabo
RG58CU – Rb ~ 20 mohms e Lb ~ 2 uH, sendo o comprimento das
conexões de 5 cm, o que corresponde a uma indutância da ordem de
50 nH):

1,99 �H

Vs 20 mohm, 2�
50 nH 3 3 50 nH

RRMC (dB)

80

60

40 Efeito das fugas

Efeito de L = 50 nH
20
F (MHz)

0,01 0,1 1 10 100


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38
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Maio de 2009

De outra forma, mantendo-se a blindagem aterrada somente (dezenas de kHz), a blindagem ser aterrada somente em uma
em um dos extremos (servindo para blindagem contra campos extremidade. Em altas frequências (centenas de kHz ou faixa de
elétricos) e utilizando-se o terra comum para retorno de sinal, a MHz), é recomendável o aterramento nas duas extremidades,
expressão da RRMC torna-se: devendo a blindagem ser protegida por um condutor externo
ao cabo, lançado junto a este e aterrado também nas duas
RRMC = [Rb + jw Lb + 1/jwC] / [Rb + jw (Lb – M) + 1/jwC] extremidades, de modo a evitar que a blindagem seja danificada
por correntes transitórias, favorecendo a redução da “área de loop”
Em que “C” é capacitância parasita na extremidade flutuante da para captação de ruído em modo comum.
blindagem, sendo esta impedância capacitiva o fator preponderante Uma situação importante e bastante comum a ser analisada é
para frequências baixas, já que o valor de C é bastante baixo a interconexão de equipamentos situados em prédios ou em locais
(assumindo-se da ordem 50 PF na figura a seguir), implicando uma distantes entre si. Embora em cada prédio ou edifício possa existir
RRMC ~ 1. Ou seja, não há proteção contra ruído em modo comum. uma malha de referência, se elas forem interconectadas por meio
Para frequências altas, a impedância capacitiva 1/jwC tende a zero, de condutores longos, não se conseguirá “equalizá-las” para altas
significando que a RRMC se comporta como o circuito aterrado em frequências. Assim, podem surgir diferenças de potencial entre as
ambos os extremos como visto anteriormente. malhas e, em uma situação pior, podem ser induzidos surtos de
tensão elevados nos cabos que fazem a conexão dos equipamentos
remotos.
Estes surtos, causados geralmente por descargas atmosféricas
incidentes nos edifícios ou nas suas proximidades, penetram nos
cartões de interface por intermédio dos cabos, seja na forma de sinal
de modo comum (condutores e terra), seja no modo normal (entre
condutores). Em alguns casos, os valores dos surtos são tão elevados
que os componentes eletrônicos dos cartões são literalmente
carbonizados. Embora esses surtos de tensão possam ser atenuados
por técnicas de instalação corretas (blindagem dos condutores por
meio de eletrodutos metálicos, por exemplo), a experiência tem
mostrado que essas técnicas são insuficientes ou, em alguns casos,
impossíveis de serem aplicadas, pelo seu custo excessivo.
Nestes casos, a situação pode ser contornada, preferencialmente,
pelo emprego da fibra ótica e alternativamente, pelo o uso de
Roteamento e segregação de cabos protetores de surtos adequados, cujo dimensionamento requer um
No que diz respeito à passagem dos cabos, estes deverão estudo específico.
estar agrupados e separados por classes, a exemplo da norma IEC Vale lembrar que a proteção de equipamentos eletrônicos
61000-5-2:1997 "Electromagnetic Compatibility (EMC) – Part 5: contra perturbações eletromagnéticas, incluindo a proteção contra
Installation and Mitigation Guidelines – Section 2: Earthing and descargas atmosféricas e seus efeitos, requer a coordenação de
Cabling", que considera cinco classes principais: diferentes aspectos, assim como características dos equipamentos,
Classe 1 – cabos portando sinais muito sensíveis (que devem ser, suas instalações, cabos de interconexão, sistema de proteção
preferencialmente, blindados) – sinais analógicos, com milivolts, contra descargas atmosféricas (SPDA – proteção externa), topologia
cabos de antenas receptoras, Ethernet de alta velocidade, etc.; (malha) de aterramento, qualidade da energia elétrica, etc., sob o
Classe 2 – cabos portando sinais sensíveis - analógicos 4-20 mA, enfoque da Compatibilidade Eletromagnética (EMC).
0-10 V, abaixo de 1 MHz, sinais digitais de baixa velocidade Nesse sentido, somente um estudo abrangente, tendo em
(RS422, RS485); consideração estes diversos fatores, poderá indicar uma solução
Classe 3 – cabos portando sinais que podem criar interferência – apropriada.
CA abaixo de
1 kV, CC, circuitos de controle com cargas indutivas, etc.; * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
Classe 4 – cabos portando sinais que podem criar muita interferência gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
(que devem ser, preferencialmente, blindados) – conversores,
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
antenas transmissoras de RF; e
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Classes 5 e 6 – cabos de média e alta tensão, respectivamente.
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
O aterramento das blindagens dos cabos é parte do projeto Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
do sistema de aterramento, sendo possível, em baixas frequências redacao@atitudeeditorial.com.br
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26
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Junho de 2009

Capítulo VI
Aspectos emc para sistemas de
aterramento – malha de terra
Por Roberto Menna Barreto*

O sistema de aterramento tem como objetivo a E para fazer as coisas ainda piores, existe o
realização de diferentes funções fundamentais para dilema: quem fica encarregado desses “sistemas de
a correta operação dos equipamentos instalados, terra”?
nomeadamente: – Os profissionais da área de engenharia elétrica
– O estabelecimento de uma tensão de referência costumam ser os responsáveis pelos “sistemas de
para o sistema de energia; terra” devido a razões históricas, porém eles estão
– O funcionamento dos dispositivos de proteção de preparados para trabalhar essencialmente com
pessoas contra choques elétricos; dezenas/centenas de Ampeèes e 50/60 Hertz,
– O controle da quantidade de energia que possa o que, de certa forma, lhes conferem alguma
ser conduzida para os equipamentos, a fim de dificuldade para tratar o ruído nestes “sistemas
protegê-los; de terra”, nomeadamente, os sinais de mA/Mhz
– O favorecimento de percursos de baixa presentes nas configurações dos cabos em que
impedância para a circulação de correntes, para a trabalham;
redução do ruído elétrico; e – Entretanto, os profissionais da área de engenharia
– A dissipação da energia dos raios. eletrônica estão direcionados para trabalhar com
Estas funções são normalmente implantadas por sinais de mA/MHz, porém evitam, ao máximo,
meio dos seguintes “sistemas de terra”: deixar as fronteiras dos seus equipamentos
– “sistema de terra” da distribuição de energia AC; sofisticados para lidar com as instalações de
– “sistema de terra” da distribuição de energia DC; potência com dezenas/centenas de Ampères e
– “sistema de terra” para RF; 50/60 Hertz.
– “sistema de terra” local para isolamento de Como consequência, o sistema de aterramento
equipamentos; é um tipo de “terra de ninguém” no que se refere
– “sistema de terra” para referência de sinal; à maioria dos problemas de interferência, uma
– “sistema de terra” do para-raios. vez que as perturbações eletromagnéticas em mA/
Assim, as diferentes tecnologias existentes MHz são livres para existir, já que ninguém está
em um sistema eletrônico (instrumentação, muito direcionado para definir uma configuração
automação, telecomunicações, incluindo redes apropriada que permita evitar esses tipos de
de comunicações, sistemas de energia AC e DC, perturbações.
sistemas de RF, etc.) têm de estar necessariamente
interligadas pelo sistema de aterramento que, por Sistema de eletrodos de terra
sua vez, é a base para uma proteção adequada Malha de terra
contra descargas atmosféricas e seus efeitos. Basicamente, a função da conexão à terra
Como consequência, os sistemas de aterramento realizada por um sistema de eletrodos de terra
apresentam um cenário propício à ocorrência de (inerente aos “Sistemas de Terra”) é fornecer
problemas de Interferência Eletromagnética (EMI), um caminho de baixa impedância para a terra,
uma vez que sinais (níveis baixos) fluem junto com permitindo a drenagem de correntes para a
perturbações eletromagnéticas de níveis elevados (surtos proteção contra raios, proteção de faltas e sistema
de corrente/tensão em AC, correntes de raios, etc.). de referência para sinais.
Apoio
O Setor Elétrico / Junho de 2009
27

Uma conexão à terra apresenta resistência, capacitância e d (cm) – diâmetro da haste (necessidades mecânicas de
indutância, cada qual influindo na capacidade de condução cravamento);
de corrente para o solo. No entanto, para frequências baixas, ρ (ohm.cm) – resistividade do solo.
correntes baixas e valores não muito elevados de resistividade Normalmente, uma única haste não é suficiente para se
do solo, este se comporta praticamente como uma resistência obter um valor apropriado de Rat. Por exemplo, para o caso de
linear. Para correntes impulsivas (raios) de elevada amplitude, um solo constituído de terra de jardim, ρ = 200 ohm.m, uma
temos o efeito de ionização do solo, em que a área do eletrodo haste com as dimensões: L = 3 m; d = 16 mm (5/8) apresentaria
é “aumentada” devido aos canais de descargas formados em um valor de resistência de aterramento de Rat = (0,366 x 20000
torno do eletrodo, favorecendo a redução da impedância / 300) log (3 x 300 / 1.6) = 67,1 ohm.
de aterramento. Usualmente, podemos desprezar os efeitos Para analisarmos o efeito da colocação de hastes em
capacitivos e indutivos para o dimensionamento de sistemas paralelo, de forma a reduzir o valor da resistência de
de eletrodos de terra. aterramento, devemos inicialmente determinar a zona de
A resistência de aterramento de um eletrodo pode ser influência de uma haste.
traduzida como a relação entre a tensão resultante no eletrodo O potencial de uma concha em torno da haste a uma
e a corrente injetada no solo por meio dele: distância “x” pode ser dado por:

Rat = (Vt / I) ohms Ex. = (0,366 ρ I / L) log [(L/x) + SQR (1 + (L/x)²]

Para um eletrodo na forma de uma haste vertical, o valor Então, a parte da resistência de aterramento, compreendida
da resistência de aterramento (existem diversas fórmulas para entre o ponto “x” e o infinito, é dada por:
determinação da Rat) pode ser dado por:
Ex. / I = Rx = (0,366 ρ / L) log [ (L/x) + SQR (1 + (L/x)²]
Rat (haste) = (0,366 r / L) log (3 L / d) ohm
Logo, sendo Rhaste a resistência total de uma haste (da haste
L (cm) – comprimento da haste (usual ser inferior a 3m); até o infinito, como visto anteriormente), temos a porcentagem
Apoio
28 O Setor Elétrico / Junho de 2009

da resistência de aterramento entre o ponto “x” e o infinito: o potencial V do sistema de eletrodos em relação ao tal ponto
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

“infinitamente distante”. A resistência de aterramento é dada


Rx/Rhaste = [log [ (L/x) + SQR (1 + (L/x)²]] / log (3 L / d) por:

Ao colocarmos hastes em paralelo, irá haver uma Rat = (V / I) ohms


sobreposição de suas zonas de influência, fazendo duas hastes
não apresentarem a metade do valor de Rat de cada haste, ou O eletrodo de potencial é feito para variar entre o sistema
seja, se comportem como simples resistências em paralelo. Por de eletrodos que se quer medir e o eletrodo de corrente,
exemplo: caracterizando a curva de resistência (V / I), conforme
X = L, então Rx/Rhaste = 0,15, significando que 85% da apresentado na figura a seguir. A medida realizada a 62% da
resistência total de aterramento está compreendida em um distância ao sistema de eletrodos é a medida de Rat.
entorno da haste igual a seu comprimento; Se o eletrodo de corrente estiver muito perto do sistema
X = 2L, então Rx/Rhaste = 0,08, significando que 92% da de eletrodos, a curva fica muito inclinada e não apresenta o
resistência total de aterramento está compreendida em um patamar.
entorno da haste igual a seu comprimento.
MEDIÇÃO DA RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO
Resistência de hastes em paralelo

R = (ρ / n.2.π.L) (ln (4L/a) - 1 + (2L/S) ln (2.n / π))


L - comprimento (cm);
a - raio (cm);
S - espaçamento entre n hastes, S » L.

Dessa forma, o espaçamento usual entre hastes é feito


da ordem de duas vezes o comprimento das hastes (por
exemplo, 5 m para hastes de 2,5 m) a fim de se otimizar o EMC em sistemas de aterramento
aproveitamento das hastes, colocando as hastes fora de suas Além dos diferentes “sistemas de terra” mencionados (Terra
zonas de influência. AC; Terra DC; Terra de RF; Terra de proteção; Terra de sinal;
Diferentes configurações de eletrodos interconectados irão Terra do para-raios; etc.), que na verdade deverão constituir
apresentar diferentes fórmulas para o cálculo da resistência de um único sistema de eletrodos, existem diferentes pontos
aterramento total do conjunto, sendo apresentada na figura (“ground points”) para serem “aterrados” nestes diferentes
a fórmula para o cálculo de ”n” hastes em paralelo. Outros “sistemas de terra”, assim como “terra (Massa) lógico”, terra
aspectos, assim como a não uniformidade do solo para a (Massa) da carcaça, terra (Massa) da blindagem, entre outros.
expressão da resistividade, a umidade do solo, a corrosão, o A razão destes diferentes pontos para serem “aterrados”
tratamento químico, entre outros, completam o quadro para o é a necessidade de se fornecer diferentes referências para a
dimensionamento de um sistema de eletrodos de terra. operação dos circuitos considerados.
A quantificação da Rat de um sistema de eletrodos é Infelizmente, não existe uma metodologia definida que
realizada por meio da razão entre o potencial do sistema de possa ser seguida ao longo da implantação de sistemas de
eletrodos em relação a um ponto infinitamente afastado e a aterramento de forma a garantir a implementação dessas
corrente que se faz fluir entre o sistema de eletrodos e o tal diferentes funções e assegurar a solução dos problemas de
ponto. Este ponto “infinitamente afastado”, na verdade, não interferência considerados.
se localiza muito longe (cerca de 98% do potencial está a O que pode ser feito é o desenvolvimento do sistema de
uma distância de aproximadamente de 3 ou 4 vezes a maior aterramento pautado em algumas diretrizes EMC, sendo a
dimensão do sistema de eletrodos). área EMC entendida como a “arte de integração de diferentes
Assim, o MÉTODO DA QUEDA DE POTENCIAL para a circuitos sob o ponto de vista da fidelidade do sinal”.
medição da Rat é feito injetando-se uma corrente I no solo (pelo Sob este enfoque da área EMC, podemos considerar cinco
sistema de eletrodos) e retirando-a mais distante e medindo-se princípios fundamentais:
Apoio
30 O Setor Elétrico / Junho de 2009

Controle de ruído desenvolvimento de cálculos “normais”. Entretanto, quando


Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

Na área da compatibilidade eletromagnética, a lógica as dimensões do circuito não podem mais ser consideradas
clássica (0 ou 1, ou melhor 1 ou –1, existe ou não existe, etc.) como pequenas em relação ao comprimento de onda, as
nem sempre se aplica. propriedades de radiação do circuito já não podem mais ser
De uma forma geral, o que se procura não é a eliminação ignoradas.
do ruído! O que se procura é um compromisso entre diferentes Por exemplo, um pedaço de um fio é um pedaço de fio, mas
fontes de perturbação eletromagnética de forma a que o ruído existem resistências, capacitâncias e indutâncias associadas
total acoplado no circuito não cause interferência. a ele que, de acordo com as dimensões e frequências
Como este acoplamento de ruído é função de diversas consideradas, poderão ter uma influência significativa no
variáveis (assim como largura de banda dos sinais, nível desempenho do circuito.
das perturbações eletromagnéticas presentes no ambiente, Na verdade, a maior parte dos problemas de interferência
disposição física do circuito, etc.), não existe uma “solução ocorre por não se considerar que uma corrente é sempre
padrão”. Em muitos casos, o que se faz é permitir o acompanhada por campo magnético e uma tensão por campo
acoplamento de ruído originado por uma determinada fonte elétrico.
de forma a proteger o circuito contra o ruído proveniente de
outra fonte mais severa. Correntes em modo comum
Quando consideramos dois condutores em um circuito
Eletrodos de terra (fonte, carga e condutores de ida e retorno), podemos
Muitos fornecedores de sistemas eletrônicos exigem um distinguir duas formas de circulação de corrente: o modo
valor máximo de resistência de aterramento, por exemplo, diferencial, o sinal desejado, significando que a corrente flui
de 1 ohms ou 5 ohms. Embora seja extremamente raro da fonte para a carga por um condutor e retorna pelo outro;
se encontrar uma justificativa teórica para suportar esta e o modo comum, o sinal indesejado, significando que a
exigência, isto tende a ser um critério geral. Mas o fato é corrente flui na mesma direção em ambos os condutores do
que a resistência de aterramento do subsistema de eletrodos circuito, retornando por um terceiro condutor, em geral uma
de terra não é fundamental para a operação adequada de “massa/ground”.
sistemas eletrônicos. Muitas vezes, os circuitos por onde fluem correntes em
Na verdade, é muito mais importante uma topologia modo comum não têm uma conexão “material” para fechar o
capaz de “dissolver” as perturbações eletromagnéticas (como “loop” para uma referência (“terra/massa/ground”). Isto pode
as correntes originadas por raios no solo), sem a criação de ser entendido considerando-se que capacitâncias parasitas
diferenças elevadas de potencial, do que um baixo valor de fecham o “loop” para a referência (“Terra/Massa/ground”) em
resistência de aterramento, muito embora um baixo valor um dos extremos do circuito.
deva ser o objetivo básico sempre que possível. As correntes em modo comum são responsáveis por
muitos dos problemas de interferência que aparecem em
Potencial de referência instalações de sistemas eletrônicos. Este tipo de fenômeno é
O termo “Massa/ground” significa uma “referência” para também referido como “loop de terra” porque “terra” (massa/
a transmissão/processamento de sinal e, como consequência, ground) é usado como caminho de retorno para as correntes,
deve existir somente uma única referência para um circuito mas este não é um termo muito apropriado porque a análise
– duas referências indicam que existirá uma diferença de de circulação de correntes é normalmente o aspecto principal
potencial (dois pontos nunca estão num mesmo potencial), a para a solução de problemas de interferência.
qual poderá ser adicionada como ruído para o circuito. Desta forma, somente um estudo abrangente, considerando
Se dois circuitos são considerados, eles podem ter duas estes aspectos, poderá indicar uma solução apropriada para o
referências quando visto por cada um, mas o circuito total sistema de aterramento.
englobado pelos dois só deverá ter uma única referência.
Nesse sentido, deverá existir somente um único (fisicamente)
* ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
sistema de aterramento.
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
Campos eletromagnéticos eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
Quando é possível uma aproximação para baixas
frequências, um circuito pode ser descrito em termos CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
de componentes “normais”, assim como resistências,
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
capacitâncias e indutâncias, e é então possível o redacao@atitudeeditorial.com.br
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32
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Julho de 2009

Capítulo VII
Aspectos EMC para o sistema de
aterramento – referência para
equipamentos sensíveis
Por Roberto Menna Barreto*

No Brasil, não existe propriamente uma imposição A título de exemplo da importância de


para o cumprimento de normas EMC no que se refere normalização em EMC, existem diferentes tipos de
a produtos eletroeletrônicos de uso geral, embora perturbação eletromagnética passíveis de ocorrer
as recomendações apresentadas pelo IEC sirvam na rede elétrica de baixa tensão, podendo causar
de referência. No entanto, a Anatel, por intermédio interferência eletromagnética, assim como harmônicos
da resolução nº 237, de 9 de novembro de 2000 de corrente/tensão, variações do valor eficaz de tensão,
– Regulamento para certificação de equipamentos surtos, etc.
de telecomunicações quanto aos aspectos de Dentro do enfoque da diretiva européia sobre
compatibilidade eletromagnética, passou a exigir de EMC, os níveis de perturbações eletromagnéticas
todos os fabricantes nacionais de equipamentos para aceitáveis na rede elétrica são definidos pela
uso em telecomunicações o cumprimento de requisitos norma EN 50160 e os níveis de imunidade dos
específicos em EMC (que refletem as especificações equipamentos pelas normas harmonizadas – Diretiva
técnicas da Diretiva EMC). Também já estão sendo EMC, sendo estes sensivelmente superiores aos
adotados no Brasil requisitos EMC para equipamentos das perturbações esperadas na rede elétrica. Dessa
de eletromedicina, os quais (novamente) refletem as forma, um equipamento eletroeletrônico para ligação
especificações técnicas da Diretiva EMC. à rede de baixa tensão terá o seu funcionamento
Dessa forma, quando consideramos a instalação de correto garantido, uma vez que está apto a suportar
equipamentos eletroeletrônicos compondo um sistema os diferentes tipos de perturbações eletromagnéticas
eletrônico (instrumentação, telecomunicações, etc.) no provenientes da rede elétrica.
Brasil, a situação que se apresenta é: Esta garantia de um funcionamento correto é
– O nível de emissão/imunidade de cada equipa­ assegurada por normalização também na instalação,
mento não está claramente definido, a menos que haja em que as diferentes tecnologias existentes em um
a comprovação de cumprimento com normas EMC sistema eletrônico (instrumentação, automação,
específicas; telecomunicações, etc., incluindo redes de
– O nível de emissão/imunidade do sistema comunicações, sistemas de energia AC e DC, sistemas
eletrônico não é necessariamente o mesmo nível dos de RF, etc.) têm de estar necessariamente interligadas
equipamentos que o compõe devido, por exemplo, pelo sistema de aterramento. Além disso, é também a
aos cabos de interconexão que tornam o sistema mais base para uma proteção adequada contra descargas
vulnerável à influência de perturbações radiadas; atmosféricas e seus efeitos, favorecendo, assim, a
– Os níveis de perturbações eletromagnéticas em um ocorrência de problemas de interferência, conforme
determinado ambiente podem diferir drasticamente caracterizado anteriormente.
daqueles normalmente usados como referência na Em outras palavras, a essência da compatibilidade
elaboração das normas EMC (ambientes residenciais e eletromagnética de um sistema eletrônico é o seu próprio
industriais). “sistema de aterramento”, sendo a sua importância
Apoio
O Setor Elétrico / Julho de 2009
33

ainda maior no Brasil, uma vez que terá de compensar o tratamento


não sistemático da área EMC pela falta de uma normalização
abrangente. Muitas vezes o “sistema de aterramento” é confundido
inadvertidamente com o conceito de “malha de terra” – um baixo
valor de resistência de terra não é fundamental para EMC.
O sistema de aterramento, que deve ser visto não como um
circuito para a “equalização de potencial”, mas sim como um
circuito para favorecer o fluxo de corrente sob a menor indutância
possível, assume, assim, o principal papel em sistemas eletrônicos
e deve ser projetado no nível da instalação e do equipamento para,
em conjunto com as técnicas EMC aplicadas (blindagem, filtragem,
etc.), evitar que:
– perturbações eletromagnéticas sejam acopladas nos circuitos;
– perturbações eletromagnéticas acopladas nos circuitos possam
ocasionar avarias ou erros de funcionamento.

Aterramento ao nível da instalação


O sistema de aterramento, que é único, tem de atender a
diferentes compromissos:
– Controle de interferência eletromagnética, tanto interno
ao sistema eletrônico (acoplamento capacitivo, indutivo e por
impedância comum) como externo ao sistema (ambiente);
– Segurança, sendo a carcaça dos equipamentos ligadas ao terra
de proteção (fio verde) e, dessa forma, qualquer sinal aterrado ou
referenciado à carcaça ou ao gabinete, direta ou indiretamente, fica
automaticamente referenciado ao terra de distribuição de energia;
– Proteção contra raios, sendo os condutores de descida do
Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA)
conectados às estruturas metálicas (para evitar centelhamento)
e sistemas de eletrodos de terra interconectados com o terra de
energia, encanamentos metálicos, etc., ficando o “terra dos
circuitos” ligados ao “terra do para-raios” (via estrutura ou sistema
de eletrodos).
A consequência é que equipamentos com carcaças metálicas
ficam expostos a ruído nos circuitos de aterramento (energia e raios).
Para atender aos compromissos de segurança, proteção
contra raios e controle EMI, o sistema de aterramento ideal
seria um plano com impedância zero, no qual poderíamos
misturar os diferentes níveis de corrente destes sistemas sem
que houvesse interferência. Entretanto, o ideal não é real e
o que fazemos é simular este sistema de aterramento ideal
com os materiais disponíveis (condutores com indutâncias
e capacitâncias) por meio das configurações de aterramento
flutuante (pouco usado devido a outros fatores), por um único
ponto ou multiponto, cada uma destas apresentando vantagens
e dificuldades.
O sistema de aterramento por um único ponto caracteriza-se
por uma única tomada de terra, a partir da qual se distribui em
toda a instalação, em uma concepção de “árvore ou estrela”, isto é,
sempre abrindo, conforme ilustrado na Figura 1.
Apoio
34 O Setor Elétrico / Julho de 2009

Para equipamentos críticos (típico de data center) ou em


Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

ambientes com maior nível de perturbações eletromagnéticas,


o sistema de aterramento multiponto é implementado por meio
de um plano de terra equipotencial (grade de cobre embutida
concreto, piso falso, chapa metálica sob carpete). Ele, por sua vez,
é conectado ao sistema de eletrodos de terra e os gabinetes dos
equipamentos são conectados a este plano.
A vantagem do sistema multiponto é que qualquer cabo, ou
condutor com ruído, conectado a um receptor por meio ou ao
longo deste cabo, terá o seu campo contido entre o cabo e o plano,
favorecendo que o ruído possa ser filtrado.
Para sistemas distribuídos (inclusive como de controle de
processos industriais), com unidades fisicamente distantes e
com alimentação de diferentes fontes (tomadas, fases de linha,
Figura 1 – Aterramento por um único ponto
transformador), faz-se o sistema de aterramento em cada local e
Esta configuração é mais apropriada para frequências baixas aplicam-se as técnicas pertinentes para o controle de EMI radiada
e muitas vezes atende perfeitamente a sistemas eletrônicos de ou conduzida para cada percurso de sinal, formando-se “ilhas”
alta frequência instalados em áreas reduzidas, como é o caso de conforme representado na Figura 3.
estações de telecomunicações (shelters). Nesses ambientes, existe
um barramento de terra principal para o qual convergem todas as
referências de aterramento dos equipamentos de telecomunicações
e demais equipamentos instalados no local.
O sistema de aterramento por um único ponto deve ser isolado
de outros circuitos e não deve servir de retorno para as correntes
de sinal, as quais devem circular por condutores de sinal, por
exemplo, com par balanceado.
Vale ressaltar que, para esta simulação do aterramento ideal
com impedância zero, devemos considerar a faixa de frequência
em uso. Por exemplo, um cabo terra de 53 mm² com 30,5 m
apresenta uma impedância de 0,01 ohms em 60 Hz e cerca de 330
ohms em 1 MHz. Ou seja, às vezes empregamos expressões, assim
como “equipotencialização”, que teriam sentido somente dentro
Figura 3 – Planos “equipotenciais”
de certos limites.
Para frequências altas, o sistema multiponto é o mais adequado, Este é o procedimento utilizado também para a proteção
conforme caracterizado na Figura 2, inclusive simplificando a contra raios (Lightning Protection Zone – LPZ), no qual um
instalação, uma vez que, por exemplo, para os cabos coaxiais a ambiente eletromagnético compatível com o nível de imunidade
blindagem não teria que flutuar em relação ao gabinete. dos equipamentos instalados é favorecido. A entrada ou saída de
cada zona assim delimitada é feita por uma única porta, na qual
estariam instalados os dispositivos de proteção contra surtos, filtros,
aterramento da blindagem de cabos, etc.

Aterramento ao nível do equipamento


O sistema de aterramento naturalmente continua ao nível dos
equipamentos, indo do gabinete às placas de circuito impresso em
um único circuito.
Como o condutor de proteção (fio verde) apresenta centenas de
milivolts entre dois pontos, não serve como uma referência para a
operação de circuitos eletrônicos, que trabalham com níveis muito
baixos de sinal, sendo então necessária a criação de uma referência
(também chamada de aterramento) apropriada à operação destes
circuitos.
Figura 2 – Aterramento multiponto
Apoio
36 O Setor Elétrico / Julho de 2009

Este sistema de aterramento inerente a um equipamento aplica, objetivando também o atendimento às normas EMC, sendo
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

eletrônico para referência de sinais poderá ser classificado as trilhas de “terra” (e Vcc) as mais importantes, que é por onde
como um aterramento por um único ponto, o qual poderá ter a fluem as correntes de sinal de todos os circuitos além do ruído em
configuração em série ou em paralelo, ou como um aterramento alta frequência gerado na placa. Daí a grande vantagem das placas
multiponto, conforme apresentado na Figura 4. multilayer, por apresentarem uma menor impedância característica.

Conclusão
Conforme apresentado, o sistema de aterramento constitui
um único circuito, que vai desde o subsistema de eletrodos
de terra até aos componentes em placas de circuito impresso.
O dimensionamento deste circuito (sistema de aterramento)
irá depender de diversos fatores, como as características dos
equipamentos, as faixas de frequência utilizadas, as dimensões e
topologia do sistema, as perturbações eletromagnéticas (radiadas e
conduzidas) presentes no ambiente, etc. Fatores estes que poderão
indicar a necessidade de medidas de proteção adicionais (filtragem,
blindagem, isolação, etc.) conforme a situação para este circuito
que é o sistema de aterramento.
Ou seja, não existe um “pré-projeto” para a implantação de
Figura 4 – Classes de aterramento para sinais sistemas de aterramento. Cada instalação de sistema eletrônico
(instrumentação, telecomunicações, hospitalar, automação, etc.)
A configuração da conexão em série, por ser a mais simples,
tem as suas próprias particularidades inerentes ao próprio sistema
acaba sendo a mais utilizada e funciona corretamente desde que
e ao local de instalação, e requer um projeto específico do
os níveis de sinais dos vários circuitos sejam semelhantes. Quando
sistema de aterramento que possa garantir a operação correta dos
a tensão Vfio desenvolvida em um pedaço da fiação entre dois
equipamentos instalados.
estágios [Vfio = Zfio x (somatório das correntes que fluem neste
Muitas vezes o que é feito é a implantação do sistema de
pedaço de fio, originárias dos vários circuitos anteriores #1, #2, #3,
aterramento baseada em somente dois ou três critérios, em lugar
etc.)] se torna significativa para a operação dos circuitos anteriores.
de um projeto específico, tais como: a resistência de terra deve ser
Estes circuitos vêem a referência de “terra” modulada por estes Vfio
inferior a 5 ohms; a configuração em estrela deve ser implementada;
que se apresentam em série, então esta configuração não é mais
deve-se evitar os “loops de terra”; deve-se fazer uma equalização
apropriada e a configuração da conexão em paralelo irá solucionar
de potencial; etc. Mas, em geral, estes critérios são falhos, não são
este aspecto.
suficientes e nem mesmo necessários.
Na configuração da conexão em paralelo cada condutor de
A consequência então é um número bastante elevado de
retorno tem agora a exclusividade do circuito para o qual está
problemas sempre que ocorre uma situação de risco, assim como
referenciando, ou seja, que não existem mais correntes de outros
aquelas originadas por raios, por exemplo. Então se inicia uma
circuitos fluindo por eles, ou seja, uma impedância comum de
busca por produtos especiais, tal como um “super” Dispositivo de
aterramento a diferentes circuitos (Zfio) como no caso anterior.
Proteção contra Surtos (DPS) que possa resolver o problema. Na
Esta configuração é apropriada desde que a faixa de frequência
verdade, o problema é de outra categoria, porque é no sistema de
seja suficientemente baixa para desprezarmos os efeitos indutivos
aterramento que o problema precisa ser solucionado.
e capacitivos destes condutores de aterramento, quando então
Dessa forma, somente um estudo abrangente, tendo em
estaríamos alterando a configuração para o sistema multiponto,
consideração estes aspectos, poderá indicar uma solução
fazendo o comprimento dos condutores ser o menor possível.
apropriada para o sistema de aterramento.
Na prática, o que fazemos é uma “configuração mista”,
alternando as diferentes classes conforme a necessidade de
operação dos circuitos e segregando quanto ao nível de ruído: * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
“terra de sinais” para o aterramento de circuitos mais sensíveis;
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
“terra de ruído” para o aterramento de relés, circuitos de alta
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
potência; e “terra de equipamento” para o aterramento de racks,
gabinetes, etc., sendo estes três circuitos conectados ao condutor CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
de proteção. Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
Para a placa de circuito impresso, esta mesma metodologia se
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O Setor Elétrico / Agosto de 2009 O Setor Elétrico / Agosto de 2009
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

Capítulo VIII
Blindagem de salas
Por Roberto Menna Barreto*

Considerando, por um lado, a complexidade


inerente às instalações de sistemas eletrônicos
(automação, instrumentação, telecomunicações,
etc.) e, por outro, a natureza sofisticada dos
problemas de interferência eletromagnética e
suas soluções, em que não é possível, a priori, o
equacionamento de todas as variáveis envolvidas,
é recomendado que o controle de interferência se
faça por “fases de projeto” e que seja focado em
diferentes “áreas da instalação”. Este procedimento
permitirá o desenvolvimento dos trabalhos EMC
Figura 1 – Medição de campos magnéticos em frequência
com a profundidade necessária em cada situação. industrial
Com a utilização crescente do espectro
eletromagnético por diferentes sistemas de dos equipamentos/sistemas a serem instalados.
comunicações (telefones móveis, pagers, laptops É muito importante que esta definição aconteça
com um misto de tecnologias de celular, Wi-Fi antes das obras civis, quando o custo para
e Bluetooth, teclados e mouses sem fios, redes implantação de uma blindagem é significantemente
sem fios, walkie-talkie digital, Wi-Max/UWB, reduzido. Existem diversos relatos de instalações
etc.), além das perturbações eletromagnéticas “prontas” que tiveram que ser refeitas para a
radiadas por diferentes sistemas eletroeletrônicos implantação de blindagem.
instalados nas imediações, torna-se imprescindível
avaliar eventuais situações em potencial para Eficiência de uma blindagem
o aparecimento de problemas de interferência Uma blindagem é, essencialmente, uma placa
devido a campos eletromagnéticos. Nesse sentido, metálica colocada no espaço para controlar a
é fortemente recomendado um levantamento propagação de campos eletromagnéticos de uma
preliminar da situação existente por meio da região para outra. Dessa maneira, uma blindagem
medição de campos EM no local em que o sistema pode ser utilizada tanto no sentido de conter uma
eletrônico virá a ser instalado. fonte de perturbação eletromagnética, evitando a
Este levantamento pode ser feito como uma poluição do ambiente, como no sentido de proteger
medição exploratória do ambiente eletromagnético um circuito contra campos eletromagnéticos
em 60 Hz (campos elétrico e magnético) e em alta presentes no ambiente.
frequência (utilizando-se medidores de faixa larga, O efeito de uma blindagem na atenuação dos
por exemplo, cobrindo uma faixa desde dezenas campos incidentes (shielding effectiveness) irá
de kHz até alguns GHz), de forma a identificar depender de diversos fatores, como a natureza
situações críticas tanto internas como externas ao do campo incidente, o ângulo de incidência, a
prédio. frequência, o material da blindagem, etc., sendo
O resultado dessas medições poderá indicar possível a obtenção de valores superiores a 100
a necessidade de uma blindagem para alojar os dB de atenuação em uma larga faixa do espectro
equipamentos sensíveis, em função da intensidade (dezenas de GHz).
dos campos presentes no ambiente e da imunidade Este efeito de blindagem é definido como
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28 O Setor Elétrico / Agosto de 2009

Eficiência de uma Blindagem (EB) e é expresso por: A perda por reflexão diz respeito a quanto a onda perde ao
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

encontrar a blindagem, o que, em termos práticos, será ditado


EB = 10 log (P1/P2) = 20 log (F1/F2) dB pela impedância de onda e pela condutividade do material da
blindagem:
Em que F1 e F2 são as intensidades do campo ao encontrar a
superfície da blindagem (onda incidente) e ao sair da superfície
(onda transmitida).
R = 20 log [ |Zw| / 4 |Zs| ] dB
A eficiência de uma blindagem é composta basicamente por dois
mecanismos principais: perda por reflexão – R; e perda por absorção
Em que:
– A (o efeito de reflexões múltiplas dentro da parede da blindagem,
Zw é a impedância de onda
que é bastante reduzido, não está considerado neste estudo).
Zs é a impedância da blindagem
|Zs| = 3,68 x 10E-7 x √ (µ x f / T)
f é a frequência do campo em Hz
µ é a permeabilidade magnética relativa do material
T é a condutividade relativa do material

Assim que campos elétricos e ondas planas, por


apresentarem uma impedância de onda elevada, encontram
na reflexão o principal mecanismo de blindagem, sendo
Figura 2 – Eficiência de uma blindagem = A dB + R dB aconselhável o uso de materiais condutivos (menor |Zs|) para
este fim.
Para estudarmos estes mecanismos, é necessário primeiro
A perda por absorção diz respeito a quanto a onda perde ao
identificar a natureza do campo que queremos atenuar. Este campo
atravessar a blindagem, o que, em termos práticos, será ditado
depende da fonte que está gerando o campo e da distância à fonte em
pelas características do material usado na blindagem:
que é observado: uma fonte de alta tensão e baixa corrente irá gerar
um campo predominantemente elétrico; uma fonte de baixa tensão e
alta corrente irá gerar um campo predominantemente magnético.
A = 0,131 x t x √(f (MHz) x µ x T ) dB
Entretanto, a criação de um campo magnético não estático implica
a geração de um campo elétrico, e vice-versa, e é desta forma que a
Em que:
energia eletromagnética é radiada pela fonte. Junto à fonte, a relação
t é espessura de chapa metálica em mm
entre campo elétrico e magnético é complexa e, embora ambos
f (MHz) é a frequência do campo em MHz
existam, um deles será preponderante e as características do campo
µ é a permeabilidade magnética relativa do material
serão elétricas ou magnéticas. Esta região é referida como “campos
T é a condutividade relativa do material
próximos”.
Longe da fonte, a relação entre campo elétrico e magnético se
Campos magnéticos de baixa frequência representam a
torna constante, e é igual a 120π (377 ohms), sendo a relação E/H
situação mais difícil para obtenção de uma atenuação razoável
definida como Impedância de Onda (Zw). O campo nesta região
da blindagem, uma vez que são campos de baixa impedância,
distante, a partir de cerca de λ/2π da fonte considerando-se uma fonte
fazendo a perda por reflexão ser baixa, e também apresentando
pontual, é referido como “ondas planas”.
uma baixa perda por absorção, sendo necessário, em
algumas aplicações, o uso de materiais magnéticos, de maior
permeabilidade, para se conseguir uma perda por absorção um
pouco maior.

Requisitos para projeto e instalação de uma blindagem


A construção das paredes de uma sala blindada é feita
preferencialmente por solda ou por módulos, neste caso,
permitindo maior facilidade para um eventual translado
no futuro, por meio de chapa metálica ou de tela metálica,
ambas atendendo perfeitamente aos requisitos de atenuação.
As figuras a seguir exemplificam a construção de uma sala
blindada modular de grandes proporções:
Figura 3 – Impedância de onda
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30
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Agosto de 2009

Figura 5 – Malha de referência para sinal no piso

Figura 6 – Tela metálica na parede e malha no teto


Figura 4 – Construção de sala blindada modular
Para uma tela metálica com abertura de malha de 25 mm,
Um aspecto de maior relevância é o cuidado necessário podemos prever uma atenuação da ordem de 30 dB para campos
para que não haja vazamentos pelas aberturas, como o espaço com freqüência de até cerca de 30 MHz. E nomeadamente quanto à
entre módulos, entrada de cabos, ventilação, portas, etc. possível influência dos campos gerados por descargas atmosféricas
O projeto executivo da blindagem deverá ser incorporado que ocorram nas imediações, que poderiam interferir com os
às obras civis e incluir a instalação de filtros (AC e sinal), equipamentos instalados, a atenuação proporcionada pela tela
continuidade elétrica nas portas e janelas, na entrada de ar metálica, adicionada à atenuação do próprio prédio, favorece uma
condicionado, etc. É comum a utilização de portas especiais e atenuação de cerca de 100 dB na faixa mais baixa do espectro,
filtros já disponibilizados no mercado de modo a se garantir o onde se situam as frequências mais significativas dos raios.
nível de atenuação pretendido. Finalizando, a necessidade da blindagem de salas para proteger
Em algumas situações, a intensidade de campos equipamentos sensíveis contra campos eletromagnéticos presentes
eletromagnéticos no ambiente pode não justificar a no ambiente, ou possibilidades futuras, é cada vez maior, e é sempre
implantação de uma sala blindada com melhor desempenho, recomendado que seja feita uma medição do ruído eletromagnético
nomeadamente para frequências mais altas. Entretanto, mesmo no ambiente de instalação de um sistema eletrônico antes da
assim é recomendada a utilização de uma blindagem preventiva conclusão das obras civis. Isso porque os custos necessários à
de menor custo, considerando situações de risco que possam se adequação de uma instalação sobem exponencialmente quando os
apresentar nas imediações, tais como a utilização de sistemas problemas são identificados posteriormente.
radiantes móveis (exemplo Walkie Talkie) ou a instalação de * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
sistemas de rádio no futuro. gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
Uma tela metálica embutida na parede, completada com a Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
malha de referência no piso e no teto (como recomendado para
o sistema de aterramento), pode oferecer uma boa proteção
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
a baixo custo contra campos eletromagnéticos. As figuras a Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
seguir exemplificam a construção de uma blindagem de baixo Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
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custo para sala de equipamentos sensíveis:
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26
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Setembro de 2009

Capítulo IX
Proteção contra descargas
atmosféricas
Por Roberto Menna Barreto*

Entre as diferentes fontes de perturbação Para a proteção de sistemas eletrônicos contra


eletromagnética (EM) que podem afetar a operação de descargas atmosféricas e seus efeitos, deverão
sistemas eletrônicos (automação, telecomunicações, ser consideradas todas as possíveis entradas de
instrumentação, etc.), uma das mais importantes é a energia eletromagnética, incluindo:
descarga atmosférica (raio). Isso porque, por um lado,
as consequências das descargas atmosféricas para Proteção das estruturas contra descargas diretas
sistemas eletrônicos representam, muitas vezes, custos – em que deve ser implantado um Sistema de
bastante elevados, incluindo a própria segurança das Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA),
pessoas e dos equipamentos instalados; e, por outro tendo em vista as diferentes estruturas (prédios,
lado, as características dessas instalações, muitas torres de antenas, depósitos, etc.) instaladas em
vezes localizadas em locais remotos e espalhadas por um determinado local (resistividade do solo,
uma grande área, fazem os sistemas eletrônicos se índice ceráunico, etc.). A eficiência do SPDA
tornarem vulneráveis a qualquer raio que ocorra na implantado deve estar de acordo com a análise
região, nomeadamente em um país como o nosso, com de risco a ser desenvolvida tendo por referência
altíssima incidência de raios. a Norma Brasileira sobre Proteção de Estruturas
Um estudo do Grupo de Eletricidade Atmosférica contra Descargas Atmosféricas (NBR 5419).
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Elat/ A figura a seguir exemplifica a concepção
INPE), realizado com empresas dos setores elétrico, de um SPDA para uma edificação simples, tendo
eletroeletrônico, de telecomunicações, de seguro, de como captores uma malha (Gaiola de Faraday).
construção civil, de aviação, entre outras, concluiu
que os raios causam prejuízos anuais da ordem de um
bilhão de dólares ao país. O prejuízo total que os raios
causam nos Estados Unidos é de cerca de dois bilhões
de dólares. E estes valores tendem a crescer com a
maior utilização da eletrônica.

Exemplo ilustrativo de Sistema de Proteção contra Descargas


Atmosféricas (SPDA) | Fonte:Termotécnica
Apoio
O Setor Elétrico / Setembro de 2009
27

Proteção contra pulsos EM – a proteção contra pulsos EM as necessidades (EMC) para operação dos vários equipamentos
(LEMP – Lightning Electromagnetic Pulse) também deve ser instalados. É importante observar que a ideia de uma baixa
objetivada pelo projeto do SPDA, embora a maior parte das resistência de terra não significa proteção contra descargas
medidas de proteção possa ser realizada pela própria topologia atmosféricas – é fundamental uma configuração apropriada
do sistema. para “dissolver” homogeneamente as correntes oriundas de
Perturbações EM nos cabos de comunicação – deve-se descargas atmosféricas, evitando a ocorrência de potenciais de
estimar o risco de avarias, considerando as características do risco, que um baixo valor de resistência para a terra, embora
cabo (aéreo ou enterrado, blindado ou não, comprimento, um baixo valor deva ser objetivado sempre que for técnico-
tipo de isolamento, etc.) e o ambiente em que está instalado economicamente viável. O sistema de aterramento é também
(resistividade do solo, estruturas adjacentes, etc.). Uma vez o principal mecanismo de proteção contra os campos EM
identificados o cabo e a sua instalação, é possível calcular originados pelas correntes das descargas atmosféricas.
a necessidade de medidas de proteção, que podem incluir o Sistema de energia – a rede de distribuição de energia AC
uso de Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS) ou outras deve ser considerada como uma ligação do sistema eletrônico
opções, de forma a garantir que o cabo e os equipamentos a várias fontes de perturbação EM, além da própria fonte de
interligados se apresentem dentro dos limites para o risco energia. Devem ser levados em conta tanto as variações de
de avarias tolerado, a ser definido pelo operador do sistema. tensão (sobretensão, “fickers”, harmónicos, etc.) como os
Surtos de tensão e corrente induzidos por descargas indiretas surtos de tensão/corrente (gerados por descargas atmosféricas
(aquelas que não atingem diretamente as edificações em que ou chaveamento de cargas indutivas).
estão instalados os equipamentos do sistema eletrônico, mas
que, por acoplamento resistivo ou indutivo, ocasionam o
aparecimento de tensões/correntes no sistema) são a principal EMC e proteção contra raios
causa de avarias em equipamentos. (proteção interna – eletrônica)
Sistema de aterramento – devem ser levados em consideração A proteção de sistemas eletrônicos contra descargas
os requisitos indicados pelo projeto do SPDA como também atmosféricas e seus efeitos é, normalmente, considerada
Apoio
28
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Setembro de 2009

fora do âmbito da Compatibilidade Eletromagnética por Os níveis de imunidade a serem observados pelos
razões históricas, nomeadamente por envolver não somente diversos equipamentos, consoante suas localizações, são
interferências eletromagnéticas (EMI) como, principalmente, determinados com o objetivo de garantir a operação correta
danos na instalação. dos equipamentos instalados. Por exemplo, para as portas AC
No entanto, se colocarmos a proteção de sistemas de entrada/saída, pode ser exigido um nível de imunidade
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos a transitórios rápidos/salvos de acordo com a norma EN
dentro do âmbito da Compatibilidade Eletromagnética, uma 61000-4-4, com amplitude de 2 kV para equipamentos a
vez que as descargas atmosféricas e seus efeitos constituem serem instalados no campo, ou com amplitude de 4 kV, para
também perturbações eletromagnéticas, uma nova situação se equipamentos a serem instalados em subestações de alta
apresenta, deixando claro tanto a natureza do problema como tensão.
os procedimentos a serem seguidos. Caso os equipamentos não satisfaçam estes requisitos ou
E esta situação se aplica naturalmente a todos os sistemas o nível de perturbação eletromagnética seja superior, deverão
eletroeletrônicos, incluindo instalações de telecomunicações, ser então instaladas medidas complementares de proteção.
instalações em ambientes de alta tensão (a seguir é exemplificada Para a implantação de medidas complementares de
utilização cada vez maior da eletrônica em sistemas de alta proteção, temos inicialmente que identificar a fonte
tensão), sistemas de instrumentação em plantas industriais, de perturbação eletromagnética (o que está gerando as
sistemas hospitalares, etc. perturbações eletromagnéticas, que tanto pode ser interna
como externa ao sistema), o mecanismo de acoplamento
(como que as perturbações eletromagnéticas geradas são
acopladas ao circuito) e o receptor (o circuito que está sendo
afetado). Então é possível solucionar o problema trabalhando
um ou mais destes componentes para se reduzir o ruído
acoplado.
Na instalação de um sistema eletrônico, podemos
considerar que normalmente não é conveniente, nem mesmo
possível, se trabalhar no receptor e, muitas vezes, nem na
fonte de perturbação eletromagnética. Não é conveniente
trabalhar no receptor, uma vez que o equipamento já estaria
definido pelo fabricante e pode não ser conveniente trabalhar
nas fontes de perturbações eletromagnéticas, principalmente
se estas já estiverem sido instaladas. Resta-nos, então,
trabalhar no acoplamento.
Perturbações EM são acopladas em circuitos eletrônicos
Exemplo ilustrativo de Sistema de Proteção contra Descargas
Atmosféricas (SPDA) | Fonte:Termotécnica por meio de três mecanismos básicos: acoplamento
capacitivo (campos elétricos), acoplamento indutivo (campos
Compatibilidade Eletromagnética (EMC – Electromagnetic magnéticos) e acoplamento por impedância comum (de
Compatibility) pode ser definida então como a capacidade aterramento).
de um dispositivo, unidade de equipamento ou sistema de Entretanto, deve-se ressaltar que praticamente todas as
funcionar satisfatoriamente no seu ambiente eletromagnético técnicas que se aplicam para a eliminação destes mecanismos
sem introduzir, ele próprio, perturbações eletromagnéticas de acoplamento, assim como filtragem, blindagem,
intoleráveis naquele ambiente. balanceamento, etc., estão diretamente relacionadas ao
Uma configuração EMC é assegurada com certa facilidade sistema de aterramento. Por exemplo, para se evitar o
numa instalação exigindo-se que cada unidade de equipamento acoplamento de campos magnéticos em cabos de sinal, a
cumpra com normas EMC, as quais abordam tanto o aspecto técnica básica é a eliminação da área do “loop” definida
de emissão (o equipamento se constituindo numa fonte de pelo fluxo de corrente – uma blindagem pode ser usada neste
perturbação EM) como de imunidade (o equipamento não sentido, porém seu uso é orientado para a redução da área do
sendo afetado por perturbações EM no ambiente). “loop”, isto é, como a blindagem é “aterrada”.
Estas normas EMC permitem, assim, certa liberdade na Desse modo, a essência da compatibilidade eletromagnética
instalação dos vários equipamentos, evitando a ocorrência de em um sistema eletrônico, como caracterizado anteriormente,
problemas de EMI causados por fontes internas (unidades de é o seu próprio “sistema de aterramento”.
equipamento), mesmo para a maior parte das fontes externas. Assim, ao colocarmos a proteção da instalação de um
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O Setor Elétrico / Setembro de 2009
29

sistema eletrônico contra descargas atmosféricas e seus efeitos por produtos especiais, tal como um “super DPS” que possa
dentro do âmbito da Compatibilidade Eletromagnética, o resolver o problema, quando na verdade o problema é de
sistema de aterramento assume também o papel preponderante outra categoria.
na proteção dos equipamentos instalados, o qual deve ser
projetado para: Dispositivos de proteção contra surtos (DPS)
• Evitar que perturbações EM de grande intensidade sejam O uso de Dispositivos de Proteção contra Surtos é, na
acopladas nos circuitos; verdade, um recurso de aterramento a ser usado quando,
• Evitar que as perturbações EM acopladas nos circuitos devido às características da instalação, é passível a ocorrência
possam ocasionar surtos de tensão e corrente perigosos para surtos de tensão/corrente com amplitude superior aos níveis
os circuitos. de resistibilidade dos equipamentos.
Muitas vezes, o “sistema de aterramento” é confundido Embora todas as normas nacionais e internacionais
inadvertidamente com o conceito de “malha de terra” – um apontem outra direção, o nome correto para este tipo de
baixo valor de resistência de terra não é relevante para EMC e dispositivo deveria ser Dispositivo de Aterramento Transitório
nem para a proteção contra raios. (DAT) porque esta é a função dele e não simplesmente um
O que é feito muitas vezes é a implantação do sistema Dispositivo de Proteção contra Surtos, pois esta é a finalidade
de aterramento baseada em somente dois ou três critérios com a qual é usado, deixando-se talvez até “maliciosamente”
genéricos como: a resistência de terra deve ser inferior a 5 uma margem para se imaginar que o emprego de um DPS
ohms; a configuração em estrela deve ser implementada; basta.
deve-se evitar os “loops de terra”; deve-se fazer uma Um exemplo desta confusão, em que somente a utilização
equalização de potencial; etc. Via de regra, estes critérios não de DPS apropriados não é suficiente à proteção contra
são suficientes e nem mesmo necessários. descargas atmosféricas é caracterizado na figura a seguir, de
A consequência então é um número bastante elevado de um caso de proteção de um portão eletrônico, em que foram
problemas sempre que ocorre uma situação de risco, assim usados DPS adequados, mas instalados de forma inadequada,
como aquelas originadas por raios. Então se inicia uma busca resultando em uma proteção inexistente.
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30 O Setor Elétrico / Setembro de 2009

pela forma de onda 8/20us (In), mínimo 5 kA por polo, para a


Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

passagem da zona de proteção 1 para 2;


DPS Classe III – forma de onda combinada (1.2/50 us; 8/20 us),
normalmente a tensão de circuito aberto do gerador (2.5 kV),
para a passagem da zona de proteção 2 para 3.
Existem diferentes componentes que são usados nos
circuitos de proteção, assim como dispositivos de tubos de
gás, spark gaps, varistores e diodos avalanche, além de filtros,
enlaces ópticos e transformadores. Cada tipo de dispositivo
tem vantagens e desvantagens de aplicação.
Para a especificação adequada do DPS, as seguintes
questões devem ser respondidas:
• Qual a frequência das perturbações (raios)?
• Quais os parâmetros esperados dessas perturbações?
Exemplo do uso de DPSs adequados, mas instalados de forma • Qual a máxima tensão residual para cada forma de onda que
inadequada o equipamento protegido pode suportar?
No tocante à instalação desses componentes, deve-se
Para responder aos objetivos apresentados anteriormente, lembrar que as correntes de surto desviadas sempre vão para
quanto à proteção de uma instalação de um sistema eletrônico algum lugar no circuito – elas não desaparecem. O sistema de
contra descargas atmosféricas e seus efeitos, é conveniente a aterramento é o destino dessas correntes. Consequentemente,
aplicação do conceito de zonas de proteção para o projeto e é extremamente importante que sejam fornecidos caminhos
implementação do sistema de aterramento. de baixa impedância para as correntes de surto desviadas,
Nesta abordagem, ambientes eletromagnéticos (em que os evitando-se, assim, o desenvolvimento de tensões elevadas no
equipamentos irão operar) são sucessivamente aprimorados, sistema de aterramento.
controlando a propagação das perturbações EM geradas A título de ilustração, na figura apresentada a seguir a
por raios de uma zona para outra, por meio de blindagem corrente parcial do raio (digamos, Isurto = 10 kA, 8/20 us) é
eletromagnética. O efeito de blindagem é obtido em cada desviada do equipamento “amarelo” pela utilização de um
zona de proteção pela configuração apropriada do sistema de DPS. No entanto, a circulação desta corrente no sistema de
aterramento. aterramento (fio + malha ou referência de terra) irá causar
O dispositivo de proteção contra surtos (DPS) é um uma elevação de potencial de VR + VL a ser sentida pelo
componente usado para limitar tensões transitórias e desviar equipamento “azul”, podendo ocasionar sua queima. Para
as correntes de surto para fora dos equipamentos protegidos. eliminação de VR, deveríamos ter uma única malha de terra
Esse tipo de dispositivo pode ser usado em todos os cabos que (conexão #1); para eliminação de VL, deveríamos ter uma
entram nas edificações (zonas de proteção), como cabos de “equalização de potencial” (conexão #2).
energia, linhas de telefone e cabos de antenas, com o objetivo
de garantir que o nível das sobretensões/sobrecorrentes,
como aquelas acopladas por raios, seja menor que o nível de
resistibilidade dos equipamentos.
Entretanto, a especificação e a instalação do DPS são dois
fatores fundamentais a serem considerados na proteção de
sistemas eletrônicos.
Para as linhas de energia, a norma ABNT NBR 5410 define
três classes para os DPS de acordo com a capacidade de
descarga (valor máximo de corrente que o DPS é capaz de
escoar sem comprometer sua função protetora):
DPS Classe I – corrente de impulso, caracterizada, tipicamente,
pela forma de onda 10/350us (Iimp), com amplitude de acordo
com o nível de proteção do SPDA (por exemplo, 12,5 kA F-PE
num esquema TN-C de 4 condutores, com nível de proteção III
ou IV do SPDA) para a passagem da zona de proteção 0 para 1;
Corrente parcial do raio desviada do equipamento “amarelo”
DPS Classe II – corrente de descarga nominal, caracterizada pela utilização de um DPS
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O Setor Elétrico / Setembro de 2009
31

Nota-se que o valor da resistência de terra (R) não é importante atmosféricas e seus efeitos (raios) é normalmente considerada
no que se refere à tensão a ser sentida pelo equipamento “azul”, fora da área de EMC (EMC – Electromagnetic Compatibility),
uma vez implantadas as conexões #1 e #2. E mais: o que está uma vez que, em EMC, objetivamos evitar interferências,
em jogo não são valores ôhmicos – um fio de escoamento da enquanto na proteção contra raios objetivamos evitar avarias de
corrente desviada pelo DPS com 1,5 metros acarreta uma tensão circuitos.
ôhmica da ordem de somente Vr = 4,5 v [Vr = 10 kA x Rfio (Rfio Todavia, técnicas EMC são necessárias à proteção contra
= 1,5 m x 0,3 mohm/m)] enquanto acarreta uma tensão indutiva raios e as medidas de proteção contra raios têm, necessariamente,
da ordem de VL = 1.875 [VL = L dI/dt = (1,5 m x 1 uH/m) x 10 que estar integradas com as demais técnicas EMC usadas para a
kA/8 us]. instalação do sistema eletrônico.
Este valor de 1.875 v, que estaria sendo somando à tensão Sob esta perspectiva, torna-se evidente a importância do
residual do DPS, é crítico, ou seja, os requisitos exigidos ou sistema de aterramento na proteção de sistemas eletrônicos
sugeridos pelas normas sobre DPS são necessários e suficientes (automação, instrumentação, telecomunicações, etc.) contra
a uma proteção adequada de sistemas eletrônicos, desde que descargas atmosféricas e seus efeitos. A proteção de sistemas
os DPS sejam instalados corretamente de forma a compor um eletrônicos contra raios é, basicamente, um sinônimo para
sistema de aterramento adequado. EMC, e EMC é, essencialmente, um sistema de aterramento
Os dispositivos de proteção contra surtos são normalmente adequado.
instalados com os equipamentos que estariam sendo protegidos,
mas esta não é necessariamente a condição para todas as * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
instalações. Em muitas aplicações, os DPS são instalados ao longo gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
dos cabos de comunicação de forma a dividir o comprimento do Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
cabo e, assim, reduzir a amplitude das sobretensões acopladas.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO


Conclusão Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
A proteção de sistemas eletrônicos contra descargas Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
redacao@atitudeeditorial.com.br
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Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Outubro de 2009

Capítulo X
Radiação não-ionizante (exposição
humana a campos eletromagnéticos)
Por Roberto Menna Barreto*

Com a efetivação da Lei nº 11.934, de 5 de maio imediato, dos trabalhadores. Esses padrões incluem
de 2009, que dispõe sobre limites à exposição humana as normas elaboradas pela International Commission
a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos, on Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP) e a
devemos incluir também as exigências de norma de segurança IEEE C95.6-2002, Standard for
segurança para os trabalhadores expostos a campos Safety Levels with respect to Human Exposure to
eletromagnéticos, no que diz respeito à segurança dos Eletromagnetic Fields 0-3 kHz (Padrões para Níveis
empregados que trabalham em instalações elétricas. de Segurança com Respeito à Exposição Humana
Com a alta exposição dos empregados a Campos Eletromagnéticos). Estes padrões, junto
que trabalham em instalações elétricas, pela com a norma IEEE C95.1-1999” Standard for Safety
proximidade de condutores de alta voltagem Levels with Respect to Human Exposure to Radio
e alta corrente, é importante estar ciente dos Frequency Eletromagnetic Fields 3kHz-300 GHz
efeitos da exposição a estes campos e dos níveis (Padrões para Níveis de segurança com Respeito à
recomendados de segurança. Exposição Humana a Campos Eletromagnéticos de
Existem vários mecanismos estabelecidos para Radio Frequência) cobrem a parte não ionizante do
descrever os efeitos biológicos de campos elétricos e espectro eletromagnético.
magnéticos de baixa frequência em seres humanos. Os limites de segurança descritos têm a intenção
Os padrões atuais de segurança dizem respeito, de evitar os seguintes efeitos biológicos (do IEEE
principalmente, a efeitos agudos e de curto prazo. C95.6 Safety Standard):
Atualmente, não existem evidências • Estimulação dolorosa ou aversiva dos neurônios
suficientemente confiáveis sobre os malefícios à motores ou sensoriais;
saúde ou doenças, incluindo o câncer, resultantes da • Excitação muscular capaz de conduzir a dano
baixa exposição a campos elétricos e magnéticos de ou ferimento durante a execução de atividades
longo prazo. Não existe mecanismo capaz de oferecer potencialmente perigosas;
um fundamento para se prever os efeitos da exposição • Excitação de neurônios ou alteração direta de
de longo prazo. As associações entre exposição de atividade no cérebro;
longo prazo e doenças, inclusive leucemia infantil, • Excitação cardíaca;
são incertas neste momento. • Efeitos adversos associados com potenciais ou
forças sobre a movimentação rápida de cargas dentro
Limites de segurança do corpo, tais como no fluxo sanguíneo.
Enquanto ainda existe uma grande discussão Nos locais de trabalho, monitoramos as
sobre os possíveis efeitos da baixa exposição a intensidades dos campos elétricos e magnéticos,
campos elétricos e magnéticos em frequências porém estes não são os mecanismos importantes
industriais, já existem inúmeros padrões de segurança dentro dos nossos corpos que podem causar
que foram adotados para a alta exposição, de caráter problemas de saúde. As medições mais importantes
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O Setor Elétrico / Outubro de 2009
29

de possíveis danos à saúde de trabalhadores são chamadas de expressa em unidades de Volts/metro (V/m). A intensidade de
“restrições básicas”. Usamos medições de campos externos campos magnéticos é expressa em unidades de Ampères/metro
(intensidades dos campos elétrico e magnético) para prever as (A/m) e as densidades de fluxo magnético em unidades de Tesla.
restrições básicas internas. Em frequências de até 100 kHz, a A unidade Tesla é muito grande, em geral limitada à descrição
restrição básica de segurança é o campo elétrico interno ou a de campos magnéticos de alta intensidade como de campos DC
densidade de corrente interna induzida no corpo. Acima dos (estático) em magnetos. A exposição a campos magnéticos de
100 kHz e até cerca de 6 GHz, o fator dominante de segurança frequência industrial, relacionada à segurança e saúde humana, é
é a Taxa de Absorção Específica (SAR-Specific Absortion Rate). geralmente expressa em unidades de millitesla [mT], equivalente
Acima de 6 GHz, o fator passa a ser mais a absorção superficial à 1/1000 tesla, ou em unidades de microtesla [μT] igual a
de energia (um efeito sobre a pele). 1/1.000.000 Tesla.
Trabalhadores de instalações elétricas podem estar expostos As diretrizes do ICNIRP, adotadas no Brasil, recomendam os
a campos eletromagnéticos de maior frequência (RF), resultantes seguintes limites de exposição:
das antenas de rádio-transmissão próximas às linhas de energia,
assim como dos equipamentos de rádio utilizados no seu trabalho. Entre 25 Hz e 820 Hz, o limite do campo elétrico é calculado
Também tem se tornado mais frequente a instalação de estações como 500/f [V/m], em que a frequência é expressa em unidades de
rádio-base de telefonia móvel em torres de linhas de transmissão, kilohertz (kHz). Em 60 Hz, a exposição máxima a campos elétricos
o que pode expor o trabalhador a campos eletromagnéticos de passa a ser 500/0,060 = 8.333 V/m. O limite de exposição para o
radiofrequência. público em geral é de 250/f e a exposição em 60 Hz passa a ser
Limitaremos nossa discussão ao âmbito da segurança que 4.170 V/m.
pode existir em face dos campos elétricos e magnéticos em O limite de intensidade de campo magnético (H) da ICNIRP é
frequências industriais (50 Hz e 60 Hz). Em frequências industriais, definido como 25000/f [μT], que resulta em um valor a 60 Hz de
as diretrizes do ICNIRP são elaboradas para limitar as correntes 417 μT. O limite de exposição para o público em geral é igual a
induzidas no corpo, de 10 mA/m2 para o trabalhador e de 2 mA/ 5000/f [μT], que equivale a 83 μT.
m2 para o público em geral. As diretrizes do ICNIRP não fazem diferenciação das exposições na
Para estas discussões, a intensidade de campos elétricos é cabeça, tronco e membros (braços e pernas).
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30 O Setor Elétrico / Outubro de 2009

Estes valores limites ou valores de Exposição Máxima Permitida Ao se medir campos elétricos de baixa frequência é importante
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

(EMP) são resumidos da seguinte maneira: lembrar que qualquer material não condutor (dielétrico) próximo
afetará a indicação do campo medido. Isso inclui árvores, plantas
60 Hz – Limites Campo magnético Campo elétrico e pessoas. Para a realização de medições precisas de campos
de exposição (μT) (V/m) elétricos, o sensor deve estar orientado perpendicularmente às
humana Trabalhador Público Trabalhador Público linhas do campo incidente para a obtenção da leitura máxima.
ICNIRP 417 83 8.333 4.170 Campos magnéticos de baixa frequência variando no tempo
(AC) são normalmente medidos usando-se “loops” (espiras)
Na faixa ELF do espectro eletromagnético (extremely low indutivos de núcleo de ar alinhados com o campo magnético a ser
frequency), a exposição a campos se dá sempre na região de campo medido. A saída do “loop” é calibrada para indicar a intensidade
próximo (menos de um comprimento de onda, que em 60 Hz é de do campo magnético, em Ampères por metro, ou a densidade de
5.000 km). Por causa disso, é sempre necessário se considerar o fluxo de campo magnético, em unidades de Gauss ou Tesla.
monitoramento de ambos os campos elétrico e magnético porque Um campo magnético variando no tempo induzirá uma
estes campos não estão acoplados, como é o caso da faixa de corrente em uma espira (“loop”) condutora proporcional à
radiofrequência. amplitude da densidade de fluxo de campo magnético e também
à frequência do campo magnético. A compensação da saída da
Medições espira pela integração do sinal ou outros meios produz uma saída
A realização de uma medição exploratória espacial (survey) já proporcional ao valor médio da amplitude do campo magnético
poderá indicar situações de risco para a saúde, como nos casos das através da espira. As características elétricas da espira e dos seus
medições apresentadas a seguir, realizadas em duas subestações circuitos associados determinam a faixa de frequência utilizável
elétricas (os valores mais altos correspondem naturalmente a locais da espira. Uma faixa de frequência efetiva estendendo a partir
no pátio, e os mais baixos são referentes à casa de comando): da fundamental (50/60 Hz) até 2.000 Hz permitirá a medição da
maioria dos componentes harmônicos.
Subestação #1 Subestação #2 Campos com forte conteúdo de harmônicas e de altas
Pontos de Campo Campo Pontos de Campo Campo intensidades poderão necessitar de investigações complementares
medição elétrico magnético medição elétrico magnético
(V/m) (mG) (V/m) (mG) para se assegurar que as intensidades de campo das harmônicas
1 7,7 k 57,4 1 3,2 k 22,3 não excedam os seus respectivos limites. Essa é a situação geral
2 4,9 k 15,5 2 9,1 k 61,2 quando as diretrizes de segurança são dependentes da frequência.
3 3,0 k 15,2 3 5,5 k 28,0 Por exemplo, as diretrizes do ICNIRP para exposição ocupacional é
4 1,3 k 7,0 4 0,5 k 17,5 25.000/f [μT]. Na frequência fundamental de 60 Hz, o valor limite
5 39,1 24,8 5 5,3 k 30,4 é 417 μT. O valor limite na terceira harmônica (180 Hz) é 139 μT
6 59,9 23,1 6 3,2 10,3 ou 33% do valor limite da frequência fundamental.
7 42,3 23,9 7 0,9 8,7 A corrente resultante do “loop” é mostrada em um dispositivo
8 6,2 14,4 8 1,4 10,9 de leitura adequado, calibrado para indicar as unidades desejadas.
9 10,9 16,0 9 2,7 9,2 Um sensor de espira (“loop”, bobina) não funciona para medição
de campos magnéticos DC (estático ou 0 Hz).
Exemplo de valores de intensidade de campo medidos em Na configuração mais simples, uma única espira é usada para
duas subestações o acoplamento do campo magnético. Como campos elétricos e
Campos elétricos de frequência extremamente baixa (ELF, magnéticos são quantidades vetoriais, com amplitude tanto quanto
como no caso de frequências industriais) são medidos usando-se direção, a orientação da bobina em relação à direção do campo
medidores de corrente de deslocamento. Um sensor de corrente afetará o resultado medido. O sinal resultante será máximo quando
de deslocamento usa o princípio de que quando duas placas o eixo das espiras estiver alinhado com a direção do campo
condutores planas paralelas são interconectadas, irá existir magnético.
uma corrente de deslocamento fluindo entre elas quando as À medida que se faz rotação da bobina (o ângulo entre a bobina
placas estiverem localizadas num campo elétrico. Isso pode ser e o campo aumenta de 0 a 90 graus), a saída da bobina mostrará
exemplificado lembrando que o campo elétrico entre as duas uma relação senoidal com o ângulo (co-seno).
placas deve ser zero quando estão interconectadas (elas estão no Quando se usa um sensor com bobina de eixo único é necessário
mesmo potencial e não pode haver campo elétrico entre elas). Ao se alinhar a bobina com o campo (obtendo leitura máxima) ou então
se colocar tal sensor num campo elétrico conhecido, a corrente de obter três leituras ortogonais – cada leitura ortogonal (normal) às outras
deslocamento pode ser relacionada diretamente com a amplitude duas. As componentes dos três campos podem então ser combinadas
do campo que a causa, permitindo sua calibração. em uma soma vetorial para obtenção do “valor do campo resultante”.
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32 O Setor Elétrico / Outubro de 2009

R2 = X2 + Y2 + Z2 campos elétricos bem acima daqueles recomendados pelas diretrizes de


Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

segurança do ICNIRP.
Alternativamente, três bobinas podem ser ordenadas em um Quando necessário, é possível blindar campos elétricos. Como
único sensor, com as bobinas arranjadas de maneira ortogonal foi dito anteriormente, árvores e até um capim alto perturbam
concêntrica. Os resultados individuais são então combinados para os campos elétricos. Diferentes materiais para a implantação
fornecer o resultado da soma vetorial ou medição isotrópica. da blindagem e muitos tipos de construções de prédios também
Em um campo magnético monofásico (todas as correntes oferecem o efeito de blindagem.
geradoras de campo têm a mesma fase), o vetor campo magnético Campos magnéticos resultam do fluxo de correntes. Sem fluxo
tem uma direção constante e muda a amplitude na frequência do de corrente não há campo magnético. Como podemos associar altas
campo. Quando os campos são resultantes do fluxo de correntes correntes a circuitos de tensão relativamente baixa (240-600VAC), é
em um sistema trifásico, o campo magnético resultante pode possível ficar bem próximo a um condutor elétrico em uma área em
parecer em rotação no espaço. que o campo magnético é relativamente alto. Grande proximidade e
Enquanto sensores de bobinas com núcleo de ar são utilizados altos níveis de corrente são necessários para se encontrar campos da
tipicamente para medições de campos magnéticos no ambiente, ordem dos níveis máximos de exposição permitida.
a sensibilidade das medições pode ser aumentada usando-se Diferentemente dos campos elétricos, campos magnéticos são
um núcleo de ferro ou ferrite. Deve-se notar que tais sensores muito mais difíceis de se blindar. Para muitas aplicações, é impraticável a
interagirão mais com os campos e, dependendo das variações nos tentativa de se obter uma redução significativa nos níveis de intensidade
campos, afetarão as leituras observadas. de campo magnético, embora existam empresas de consultoria que
Diferente das medições de campos elétricos, medições afirmam ter sucesso em projetos de blindagem em larga escala.
magnéticas são menos afetadas pelos instrumentos de medição ou Uma maior preocupação prática é a exposição a campos elétricos e
pelo inspetor. Somente material ferroso terá efeito substancial na magnéticos de pessoas com aparelhos médicos eletrônicos implantados,
distribuição do campo magnético e na precisão das leituras. Não é ou externos. Marca-passos, desfibriladores e cardioversores implantáveis
necessário isolar o sensor de campo magnético da leitura. estão entre os aparelhos que podem ser mais suscetíveis a este tipo de
interferência devido ao campo presente. Um grande fabricante de
aparelhos médicos recomenda que a exposição de marca passos ou
aparelhos eletrônicos implantáveis a campo elétrico de 60 Hz deve se
limitar a não mais do que 6.000 V/m e a exposição a campo magnético a
não mais do que 100 μT. Níveis de campo magnético de 60 μT – 80 μT
podem ser medidos na superfície de um transformador de 480 V /120 V
encontrado em muitos locais acessíveis de fábricas.
Este fabricante recomenda que pessoas com implantes de
equipamentos médicos mantenham uma distância de pelo menos dois
metros de condutores de alta corrente e uma distância de 8 m de linhas
de transmissão que excedam 100 kV. Mais informações sobre estes
tópicos estão disponíveis nos fabricantes de equipamentos médicos.
Normas de segurança relacionadas a campos elétricos e
Figura 1 – Medição de campo magnético em 60 Hz magnéticos na frequência industrial estão atualmente disponíveis
para avaliação da segurança em ambientes de trabalho. Medições
Ambientes típicos de exposição e monitoramento criteriosos geralmente demonstram que a maioria
Pela presença de duas áreas condutoras com potenciais dos ambientes de trabalho está dentro dos limites de valores
diferentes (tensões diferentes), campos elétricos são gerados. recomendados por estas diretrizes.
Isso pode ocorrer entre dois condutores elétricos com potenciais
diferentes ou, mais provavelmente, entre um condutor elétrico e o Este artigo é baseado em um trabalho de Dave Baron para QEMC e
traduzido por Susan Berger.
aterramento (malha de terra).
Campos elétricos com intensidades próximas dos limites de * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
exposição máxima permitida (EMP) raramente são encontrados em um gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
ambiente público comum. Campos elétricos desta intensidade estão Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
geralmente limitados àqueles embaixo de linhas de transmissão de alta
tensão e dentro de subestações elétricas. Note que o público em geral CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
pode ter acesso às áreas embaixo das linhas de transmissão. Dependendo Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
dos padrões de segurança adotados, é possível o público ficar exposto a e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Novembro de 2009

Capítulo XI
Técnicas para o controle de interferências no
projeto, instalação e manutenção de sistemas
eletrônicos em ambientes de alta tensão
Por Roberto Menna Barreto*

Quando abordamos a operação de sistemas perturbações eletromagnéticas intoleráveis naquele local.


eletrônicos, somos induzidos a pensar na Lógica Clássica, No que se refere às características EMC dos
caracterizada por dois valores exclusivos (verdadeiro ou equipamentos isoladamente, podemos considerar que
falso), ou Lógica do Terceiro Excluído (nem verdadeiro nem hoje em dia existe um amplo suporte tecnológico para o
falso, ou falso e verdadeiro). controle de interferência eletromagnética. Isto permite a
Ao considerarmos a instalação de sistemas eletrônicos, qualificação dos equipamentos para o cumprimento de
naturalmente transportamos esta forma extremamente normas EMC, assim como aquelas inerentes à Diretiva
simplificada de pensamento para o mundo e somos EMC (referenciadas pelo IEC), as quais objetivam garantir a
impelidos a colocar na categoria de “magia negra” tudo operação correta destes equipamentos nos seus ambientes
o que contraria uma determinada estrutura lógica pré- de operação.
concebida de funcionamento como, às vezes, são referidos
os problemas de interferência eletromagnética. Teste Descrição Nível de teste

A colocação dos problemas de interferência


IEC 61000-4-2 Descarga +/- 6 kV contato; +/- 8
eletromagnética na categoria de “magia negra” representa, eletrostática kV ar
na verdade, a maior dificuldade para o tratamento objetivo
IEC 61000-4-3 Imunidade 10 V/m
deste aspecto, sempre presente em qualquer sistema
radiada
eletrônico, fazendo:
• as consequências destes fenômenos não serem +/- 4 kV L-T e +/- 2 kV
IEC 61000-4-5 Surtos L-L para sinais e AC;
devidamente quantificadas, nomeadamente em termos
+/- 2 kV L-T e +/- 1 kV
dos custos associados; L-L para DC
• os problemas serem tratados isoladamente e somente
IEC 61000-4-6 Tensões
quando aparecem, nunca de forma sistemática. induzidas 10 V
A melhoria do nível de proteção eletromagnética
das instalações de sistemas eletrônicos garante uma Alguns dos requisitos de imunidade para
redução significativa dos custos associados a problemas equipamentos de automação em subestações
de interferência. Tanto dos custos diretos, com a reposição elétricas (sem ser em áreas controladas)
de equipamentos danificados e ocupação excessiva das Entretanto, quando consideramos a instalação de
equipes de manutenção, como – e principalmente – dos equipamentos eletroeletrônicos, em particular no Brasil
custos indiretos relacionados com a paralisação ou o mau onde ainda não existe uma normalização abrangente
funcionamento de setores automatizados, justificando em EMC, compondo um sistema eletrônico (automação,
plenamente os investimentos neste sentido. telecomunicações, instrumentação, etc.) uma nova
situação se apresenta, qual seja:
Como os problemas de interferência são 1) o nível de emissão/imunidade de cada equipamento
agravados e perpetuados (sistemas de não está claramente definido, a menos que haja a
aterramento) comprovação de cumprimento com normas EMC
Compatibilidade Eletromagnética (EMC) pode ser específicas;
definida como a capacidade de um dispositivo, unidade de 2) o nível de emissão/imunidade do sistema eletrônico
equipamento ou sistema de funcionar satisfatoriamente no não é necessariamente o mesmo nível dos equipamentos
seu ambiente eletromagnético sem introduzir, ele próprio, que o compõe devido, por exemplo, aos cabos de
Apoio
30 O Setor Elétrico / Novembro de 2009

interconexão que tornam o sistema mais vulnerável à influência de mesmo porque o ambiente eletromagnético é constantemente alterado
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

perturbações radiadas; com a instalação de novos equipamentos ou modificações das


3) os níveis de perturbações eletromagnéticas podem diferir instalações existentes.
drasticamente daqueles normalmente usados como referência na Uma configuração EMC pode ser favorecida na implantação de
elaboração das normas EMC. um sistema eletrônico, exigindo-se que cada unidade de equipamento
Desta forma, sistemas eletrônicos são passíveis de sofrerem cumpra com normas EMC, que abordam tanto o aspecto de emissão (o
problemas de interferência, mesmo quando os equipamentos instalados equipamento se constituindo em uma fonte de perturbação EM) como
cumprem com normas EMC. de imunidade (o equipamento não sendo afetado por perturbações EM
Como as diversas tecnologias usadas em uma dada instalação no ambiente).
ficam necessariamente interligadas pelo sistema de aterramento, o qual Entretanto, deve-se ter em mente que quando equipamentos
também é a base de praticamente todas as medidas de proteção EMC são interconectados, compondo um sistema eletrônico (automação,
que podem ser implementadas (filtragem, blindagem, proteção contra telecomunicações, proteção, controle, etc.), o nível de imunidade
tensões transitórias, etc.), o sistema de aterramento representa, assim, do sistema é normalmente menor que o nível de imunidade de
o aspecto de maior importância a ser considerado para assegurar a cada equipamento isolado, devido, principalmente, aos cabos de
operação correta de sistemas eletrônicos. interconexão.
Em uma instalação podem existir diferentes “sistemas de terra”, E que, para instalações específicas, por exemplo, em subestações
como são normalmente chamados, assim como: terra AC; terra DC; elétricas, é de se esperar a necessidade de implementação de medidas
terra de RF; terra de proteção; terra de sinal; terra do pára-raios; etc. de proteção complementares face às diferentes influências presentes
Além disso, existem diversos pontos (“ground points”) para serem nestes ambientes, conforme abordado no Capítulo I – Influência de
“aterrados” nestes diferentes “sistemas de terra”, assim como o “terra sistemas de alta tensão em sistemas eletrônicos, entre elas:
(massa) lógico”, o terra (massa) da carcaça, o terra (massa) da blindagem, • Tensões induzidas em sistemas de telecomunicações (sistemas
etc. eletrônicos, de automação, controle, sinalização, etc.) com linhas
O circuito interligando todos estes diferentes “terras”, “massas”, metálicas;
“grounds” é chamado de sistema de aterramento, que requer um projeto • Interferência com sistemas de rádio;
específico e muito preciso para atender às necessidades de segurança • Perturbações eletromagnéticas conduzidas;
e proteção contra raios e, ao mesmo tempo, garantir o controle de • Descargas atmosféricas;
interferência em uma instalação. Não existe um “pré-projeto” para a • Perturbações eletromagnéticas radiadas;
implementação de sistemas de aterramento, pois cada instalação de • Elevação do Potencial de Terra (GPR – Ground Potential Rise).
sistema eletrônico tem as suas próprias particularidades.
Entretanto, em lugar de um projeto específico, o que é feito muitas Survey EMC Normas EMC Projeto EMC
vezes é a implementação do sistema de aterramento baseada em
somente dois ou três critérios, tais como: a resistência de terra deve ser Campos EM Níveis EMC dos Aterramento
inferior a 5 ohms; a configuração em estrela deve ser implementada; • E e H (60 Hz) equipamentos Blindagem
deve-se evitar os “loops de terra”; deve-se fazer uma equalização de • RF Nível EMC do Cabeação
potencial; etc. Mas estes critérios não são suficientes e nem mesmo Elétrica sistema diferente dos DPS
necessários. Raios equipamentos Topologia
A consequência é um número bastante elevado de problemas Ambiente não comercial Filtros
sempre que ocorre uma situação de risco, assim como aquelas ou industrial etc.
originadas por raios, por exemplo. Assim se inicia uma busca por
produtos especiais, tal como um “super DPS” (Dispositivo de Proteção
Instalação de sistemas eletrônicos
contra Surtos) que possa resolver o problema, quando, na verdade, o
A forma mais eficaz (custo-benefício) para se responder
problema é de outra categoria.
objetivamente às diversas possibilidades para o surgimento de
problemas de interferência (EMI – Electromagnetic Interference) na
Procedimentos EMC necessários à instalação de
instalação de sistemas eletrônicos é por meio da implantação de um
sistemas eletrônicos
plano de controle de interferência.
No controle de interferência, o que se procura não é a eliminação
Este plano é, essencialmente, um cronograma de trabalho específico
do ruído, mas um compromisso entre diferentes fontes de perturbação
para a área EMC, definindo as ações e seus tempos de execução que
eletromagnética de forma que o ruído total acoplado no circuito não
deverão ser levadas em consideração ao longo da instalação do sistema
cause interferência.
eletrônico, de forma a se identificar e solucionar todas as situações em
Neste contexto se torna imprescindível a implantação de um
potencial para a ocorrência de problemas de EMI.
tratamento sistemático na área da Compatibilidade Eletromagnética,
Apoio
32 O Setor Elétrico / Novembro de 2009

Um plano de controle de interferência deve incluir as seguintes


fases:
Planejamento EMC – nesta parte é caracterizada a descrição geral do
sistema eletrônico a ser instalado, o seu cronograma de instalação e as
pessoas envolvidas com as respectivas funções e responsabilidades na
área EMC.
Análise EMC – nesta parte é desenvolvida uma visão crítica das situações
de EMI:
• Caracterização do ambiente eletromagnético, onde os objetivos são
a identificação das diferentes fontes de perturbações eletromagnéticas
que poderiam ocasionar problemas de EMI e a determinação dos níveis
destas perturbações identificadas por meio de medições e/ou previsões;
• Situações em potencial para EMI, onde o objetivo é a identificação
das situações críticas para ocorrência de EMI, as quais incluem tanto
os problemas de EMI internos ao sistema, como aqueles externos ao
sistema.
Projeto EMC – nesta parte as diversas medidas de proteção são
projetadas e implementadas de acordo com as situações em potencial
para EMI identificadas anteriormente, naturalmente dando uma maior
ênfase ao sistema de aterramento.

Conclusão

Medição de Campos EM
Para se garantir o desempenho adequado e um menor custo
associado na instalação de um sistema eletrônico – em particular no
Brasil onde ainda não existe uma normalização abrangente em EMC
para os equipamentos – é extremamente importante o levantamento do
ambiente eletromagnético em que o sistema irá operar, permitindo, assim,
a sua consequente adaptação a este ambiente. Desta forma, a topologia
do sistema, seus cabos de interconexão, a configuração do sistema de
aterramento, entre outros aspectos, podem facilmente comprometer o
atendimento da compatibilidade eletromagnética pretendida.

* ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-


gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO


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Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
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26
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Dezembro de 2009

Capítulo XII
Procedimentos EMC para a manutenção de
sistemas eletrônicos
Por Roberto Menna Barreto*

Estudo de casos e propostas de procedimentos para a garantia da


compatibilidade eletromagnética, incluindo a criação de um grupo de
trabalho com o objetivo de implantar a metodologia EMC

Sistemas eletrônicos, nomeadamente aqueles de lógica, equipamentos, terminação dos cabos, etc.), foi
maior complexidade como os sistemas de automação/ assegurado que o PLC estava corretamente instalado.
instrumentação em plantas industriais, são passíveis Os problemas observados estariam sendo causados
de serem afetados por perturbações eletromagnéticas pelos inversores de frequência, cuja emissão de
no ambiente onde estão instalados, mesmo depois de perturbações eletromagnéticas variava conforme a
operar corretamente por um longo tempo. condição de trabalho.
Instalação de novos equipamentos, conexões Entre outros aspectos, para a análise EMC da
acidentais, deterioração das instalações existentes, situação existente, foi observado que a taxa elevada
entre outros, fazem o sistema ficar vulnerável a de “retries” acontecia esporadicamente e não existia
interferências ou mesmo a danos nos equipamentos correlação da taxa com tempestades. Às vezes
que o compõe. ficava um mês ou mais sem acontecer situações
Os dois exemplos apresentados a seguir ilustram de desligamento. Somente uma área da fábrica
esta situação: apresentava este problema, e dentro desta área somente
a comunicação com dois racks eram afetadas, os quais
“Retries”: em uma planta industrial, a rede RIO tinham percursos diferentes, ou seja, não seguiam no
(remote I/O) referente a um determinado prédio mesmo leito de cabos.
apresentava, esporadicamente, uma taxa elevada de Dentre as medidas corretivas para solução dos
“retries”. Quando esta taxa ultrapassa um determinado problemas foi recomendado que a blindagem do cabo
valor, o sistema considera que o rack está “em falha” e RIO devesse ser aterrada somente no rack principal,
o desliga, interrompendo vários processos, o que pode e que os transformadores de isolamento blindados
vir a interromper a operação. instalados nos painéis deveriam ter o secundário
Após uma análise exaustiva do problema pelo (neutro) conectado ao terra interno, bem como
fornecedor (todas as instalações foram verificadas e a blindagem deveria ser conectada neste mesmo
aprimoradas no que se refere às conexões, cabos, barramento (terra interno).
Apoio
O Setor Elétrico / Dezembro de 2009
27

Angiografia: um equipamento de angiografia instalado em um A causa desta situação era um contato “chamuscado” no
hospital passou a se desligar automaticamente (várias vezes) sistema de distribuição AC do prédio, representando uma alta
durante o exame, quando o paciente estava submetido a uma impedância no percurso de alimentação do equipamento.
condição de risco elevado. Análise exaustiva do software não Quando o equipamento de angiografia era acionado, a corrente
indicava existência de problemas, mesmo porque o equipamento solicitada fazia com que houvesse um afundamento da tensão
já estava em operação havia quatro meses. nesta fase, e este afundamento era identificado pelo equipamento
Para a análise EMC da situação existente foi medida a qualidade que se desligava.
da rede elétrica, onde foi constatado um afundamento da tensão Diversos outros exemplos poderão ser citados neste
numa das fases e uma elevada tensão no modo comum (entre mesmo contexto, uma vez que a possibilidade de problemas
neutro e terra). de interferência ou dano nos equipamentos instalados é uma
realidade cada vez mais presente em qualquer sistema eletrônico.
Entretanto, o aspecto principal a ser observado é que o
procedimento usualmente aplicado de se exaurir todas as
possibilidades disponíveis (experiência dos intervenientes,
informações acessíveis na internet, etc.) para então ser chamado
um especialista em EMC para fazer “o milagre”, certamente não
é a forma mais eficiente para lidar com a situação.
Milagres acontecem, mas não são acontecimentos isolados:
milagres são decorrentes de esforços empreendidos por pessoas
apropriadas no tempo e lugar adequados, no sentido de se
aprimorar a qualidade das partes envolvidas.
É neste contexto que os “milagres” para solução de
problemas de interferência precisam vir a ser desenvolvidos de
forma sistemática.
Exemplo do hospital – afundamento da tensão em uma fase
Apoio
28 O Setor Elétrico / Dezembro de 2009

Da necessidade de um tratamento sistemático em manutenção ou de expansão dos sistemas, pela degradação de


Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

Compatibilidade Eletromagnética (EMC) conexões, etc.;


Compatibilidade Eletromagnética (EMC) pode ser definida • Dificuldade para verificação das instalações existentes ou
como a capacidade de um dispositivo, unidade de equipamento ensaios que venham requerer interrupção/paralisação de
ou sistema, para funcionar satisfatoriamente no seu ambiente serviços;
eletromagnético sem introduzir, ele próprio, perturbações • Dificuldade para identificação de eventuais problemas alea­
eletromagnéticas intoleráveis naquele ambiente. tórios, como aqueles originados por descargas atmosféricas, e
Sistemas de instrumentação são dependentes da eletrônica nos da eficácia das soluções implementadas;
diversos processos utilizados para atender às suas necessidades. • Dificuldade na utilização da tecnologia EMC para ampliação
Quando os equipamentos inerentes a estes processos são e/ou modernização dos sistemas implantados e/ou de novos
danificados ou apresentam funcionamento incorreto devido a sistemas;
perturbações eletromagnéticas, incluindo aquelas geradas por • Entre outros aspectos, incluindo a dificuldade para o registro
raios, as consequências econômicas podem ser rapidamente do histórico de outras ocorrências de queima ou funcionamento
avaliadas. incorreto de equipamentos.
Toda disfunção aleatória leva a perdas financeiras não
desprezíveis em curto ou longo prazo, sem falar dos riscos relativos Proposta para criação de um grupo de trabalho,
à segurança. denominado “Setor EMC”
A compatibilidade eletromagnética constitui, assim, o Para a implantação de uma metodologia que favoreça
fundamento da segurança e da economia dentro da área de o tratamento sistemático dos problemas de interferência, é
instrumentação e deve ser avaliada e desenvolvida dentro deste sugerida a criação de um grupo de trabalho dentro da instituição,
enfoque para garantir a redução dos riscos e custos associados. denominado “Setor EMC”.
O “Setor EMC” proposto se caracteriza como um grupo
de trabalho que irá participar, em tempo parcial, dos
desenvolvimentos na área EMC e, assim, ficará responsável pela
absorção da tecnologia em EMC e a sua aplicação.
Este grupo de trabalho deverá incluir colaboradores de
diferentes áreas de forma a favorecer a implantação das medidas
preconizadas, bem como poderá incluir a participação de
especialistas em EMC, para acompanhamento e/ou estudos
específicos, de forma a otimizar o desenvolvimento dos estudos
EMC.
Dentre os objetivos a serem concretizados pelo “Setor EMC”
destacam-se:
• Conhecimento das técnicas e materiais usados para EMC e
para a proteção contra surtos;
Compatibilidade eletromagnética • Identificação das situações mais críticas por meio do levan­
tamento do histórico de avarias e da elaboração de procedimentos
De forma a melhorar o nível de proteção de instalações de para o registro de avarias nas diversas áreas;
instrumentação contra perturbações eletromagnéticas, incluindo • Análise EMC das instalações que permita o desenvolvimento
aquelas originadas por descargas atmosféricas, é sugerido um de um estudo objetivo para a identificação dos mecanismos
tratamento sistemático da área EMC. envolvidos na ocorrência de avarias;
Os seguintes aspectos justificam a necessidade deste • Projeto e implantação de medidas corretivas para os problemas
tratamento sistemático da área EMC: de interferência identificados e verificação dos resultados
• Dificuldade de coordenação na instalação de novos sistemas obtidos;
devido à existência de diferentes áreas (pessoas) envolvidas nos • Coordenação deste tema, incluindo a elaboração de proce­
vários processos, o que pode, inclusive, alterar/comprometer os dimentos internos.
sistemas já instalados; A proposta de um grupo de trabalho, com ocupação parcial,
• Dificuldade para identificação da situação realmente existente poderá responder satisfatoriamente aos objetivos identificados
em uma emergência, pela possibilidade de alteração do projeto acima, conciliando a necessidade cada vez maior de um
inicial por eventual erro quando de sua implementação, pelo tratamento sistemático para os problemas de interferência com a
aparecimento de conexões acidentais quando dos trabalhos de eventual limitação de recursos humanos para este fim.
Apoio
30 O Setor Elétrico / Dezembro de 2009

verificação dos resultados obtidos.


Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos

Novos projetos - Compreende a inclusão dos requisitos EMC,


definidos pelo “Setor EMC”, nos projetos a serem desenvolvidos,
como os requisitos para o sistema de aterramento, normas EMC
dos equipamentos, especificações de protetores contra surtos, etc.
Fiscalização - Engloba a verificação na implantação dos requisitos
especificados e do desempenho obtido.
Manutenção periódica - Compreende o conjunto de medições e
registros a serem realizados ao longo do ano, incluindo verificação
Quadro do trafo auxiliar em casa de comando de sistemas eletrônicos das continuidades elétricas, registro de danos, qualidade de
(inclusive sem DPS)
energia, etc.
Documentação EMC - Compreende a elaboração de documentos
relativos à área EMC, aplicáveis ao projeto, instalação, manutenção
e operação dos sistemas de instrumentação, os quais poderão se
classificar como:
• Procedimentos EMC, caracterizando-se pela definição das meto­
dologias a serem adotadas;
• Especificações EMC, caracterizando-se pela definição dos
re­qui­sitos de projeto e/ou produtos a serem obrigatoriamente
Quadro do trafo auxiliar em casa de comando de sistemas eletrônicos observados; e
(inclusive sem DPS)
• Relatórios técnicos, caracterizando-se pela definição das técnicas
a serem usadas.

Conclusão
A operação correta de sistemas eletrônicos, e em particular no
Brasil onde ainda não existe uma normalização abrangente em EMC, é
bastante vulnerável a problemas de interferência eletromagnética pela
própria topologia do sistema instalado, seus cabos de interconexão,
configuração do sistema de aterramento, etc., podendo ser facilmente
Quadro do trafo auxiliar em casa de comando de sistemas eletrônicos
comprometida pela instalação de novos equipamentos nas imediações,
(inclusive sem DPS)
pelo aparecimento de conexões acidentais, pela deterioração das
instalações existentes, entre outros fatores.
Para se garantir o desempenho adequado e um menor custo
associado à operação de sistemas eletrônicos ao longo do tempo,
nomeadamente àqueles de maior complexidade, como os de
instrumentação, torna-se cada vez mais imprescindível a implantação
de um tratamento sistemático da área da compatibilidade
eletromagnética nos procedimentos de manutenção.
Este estudo propõe um conjunto de procedimentos para a
Quadro do trafo auxiliar em casa de comando de sistemas eletrônicos
(inclusive sem DPS)
garantia da compatibilidade eletromagnética, procedimentos estes
Este grupo de trabalho denominado “Setor EMC” se reuniria que tem se mostrado necessários e suficientes, e sugere a criação de
periodicamente (por exemplo, uma ou duas vezes por mês) um grupo de trabalho, denominado “Setor EMC”, com o objetivo
para análise dos resultados obtidos nas atividades executadas e de implantar a metodologia EMC.
planejamento das próximas atividades, incluindo:
* ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
Análise das situações críticas - Compreende o levantamento
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
das diversas instalações existentes (identificação do sistema de
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
aterramento, características elétricas dos equipamentos e cabos eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
associados, medidas de proteção instaladas, etc.), o histórico de
FIM
avarias e a análise EMC para identificação das causas destas avarias.
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Engloba o projeto de medidas corretivas para as situações críticas, Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
a instalação de produtos e materiais para este fim, bem como a e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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40
Filtros harmônicos eletromagnéticos O Setor Elétrico / Março de 2009

Capítulo I
Uma abordagem à filtragem
de harmônicos por meio de
dispositivos eletromagnéticos
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira
e Luis C. Origa de Oliveira

O termo “Qualidade da Energia Elétrica” está padrões da qualidade do fornecimento, de forma a


relacionado a uma série de fatores que podem afetar assegurar o bom funcionamento dos sistemas elétricos.
e/ou comprometer a qualidade do projeto e do Reconhecendo que os distúrbios que determinam
serviço de suprimento elétrico. Dessa forma, qualquer os desvios da qualidade da energia ou, mais
desvio que possa ocorrer na magnitude, forma de especificamente, da tensão, são amplamente
onda ou frequência da tensão e/ou da corrente conhecidos em todos os setores especializados,
elétrica caracteriza uma rede elétrica com qualidade principalmente no meio acadêmico, considera-se
comprometida. desnecessário tecer maiores comentários sobre os
A má qualidade da energia elétrica pode acarretar distintos indicadores de qualidade neste fascículo. Por
grandes impactos nos mais distintos grupos de tais motivos, as discussões posteriores serão orientadas
consumidores, a saber, o residencial, o comercial e o diretamente ao tema principal do presente tema, a
industrial. Estes, à luz de maiores conhecimentos de questão das distorções harmônicas.
seus direitos previstos pela legislação e também diante
do emprego, cada dia maior, de dispositivos altamente CONTEXTUALIZAÇÃO
sensíveis aos padrões do suprimento elétrico, já Dentre os itens que definem uma rede elétrica
não ignoram que o fornecimento da energia deva, com má qualidade, as distorções harmônicas presentes
necessariamente, ocorrer na forma de um serviço ou na tensão de suprimento e seus efeitos nos diversos
produto que reúna propriedades, como segurança, equipamentos eletrônicos, têm constituído, nos últimos
continuidade, qualidade e outros. tempos, assunto que domina os interesses de pesquisas
As concessionárias de eletricidade estão, da mesma e publicações.
forma, preocupadas com os problemas envolvendo É comum reconhecer que, partindo da barra
a qualidade da energia. Atender às expectativas do geradora e caminhando em direção à carga, constata-se
consumidor e manter sua confiança, por vários motivos, um aumento dos níveis de distorção da tensão. Isto se
tem gerado grandes motivações com empresas. Dentre deve, sobremaneira, ao fato que os pontos centrais de
outros fatores, com os movimentos atuais em direção à geração dos harmônicos se localizam com as cargas
competitividade entre as concessionárias, a qualidade supridas e, muitas vezes, estas são responsáveis por
do fornecimento da energia torna-se, de fato, muito formas de onda de corrente bastante distorcidas. A
importante. maioria destes fenômenos ocorre de forma periódica,
Aliado a estes fatores, a existência de uma legislação produzindo componentes múltiplas inteiras da
própria, a qual prevê sanções aos supridores que não frequência fundamental do sistema. Daí o termo
adequarem seus serviços aos índices estabelecidos, “harmônicos” para descrever a distorção da forma de
contribui para o estudo e pesquisa da qualidade da onda. Complementarmente, quando as componentes
energia com o intuito de conferir uma melhoria nos de frequência, em tensão ou corrente, não são múltiplos
Apoio
O Setor Elétrico / Março de 2009
41

inteiros da frequência fundamental, têm-se as chamadas inter- É também amplamente conhecido que uma onda não-senoidal
harmônicas, que podem se apresentar com frequências discretas pode ser representada como uma somatória de ondas senoidais puras,
ou como larga faixa espectral. cada qual constituída por uma frequência múltipla inteira da frequência
Embora haja grande divulgação dos conceitos básicos atrelados fundamental da onda original. Esta interpretação advém da conhecida
a esta área de conhecimento, não é demais lembrar que a distorção Série de Fourier, a qual é graficamente ilustrada na Figura 2.
harmônica é causada por dispositivos não-lineares localizados
no sistema de potência. A Figura 1 ilustra o caso de uma tensão
senoidal aplicada a um simples resistor não-linear, no qual a tensão
e a corrente variam de acordo com a curva apresentada. Enquanto
a tensão aplicada é puramente senoidal, a corrente resultante
é distorcida. Esta situação ilustra o surgimento das distorções
harmônicas nos sistemas elétricos.

Figura 2 – Decomposição de uma forma de onda por meio da


série de Fourier

Tradicionalmente, a literatura trata esse assunto considerando tão-


somente arranjos monofásicos, fato este não consoante com a realidade
operacional da maioria das redes elétricas. De fato, quando o assunto
Figura 1 – Comportamento tensão versus corrente de um
dispositivo não-linear envolve sistemas trifásicos, a não ser para os casos em que estes se
Apoio
42 O Setor Elétrico / Março de 2009

apresentam totalmente equilibrados e a modelagem monofásica pode recomendados, surge a necessidade de medidas preventivas ou corretivas
Filtros harmônicos eletromagnéticos

ser utilizada, os demais sistemas trifásicos, apresentando-se de forma para a redução dos níveis de harmônicos presentes nos barramentos e
desequilibrada, exigem procedimentos distintos. Neste particular, o linhas de um complexo elétrico. Dentro desse contexto, este fascículo
método das componentes simétricas se apresenta como uma excelente enfocará métodos para a filtragem de correntes harmônicas de sequência
ferramenta para a descrição do comportamento de tais arranjos. Este zero, positiva e negativa, descritos, com mais detalhes, no decorrer de 6
procedimento, também bastante útil nos estudos voltados para a fascículos.
análise de redes, consiste no tratamento de um conjunto de correntes
de fase (ou tensões) desbalanceadas em três sistemas balanceados, Estado da arte
dispostos como a seguir: Várias pesquisas e publicações têm sido encontradas com relação
• Componentes de sequência positiva: conjunto de 3 fasores ao assunto filtros harmônicos e, portanto, neste momento, torna-se
defasados de 120º, com rotação de fase ABC; necessário relatar os resultados dos trabalhos de levantamentos
• Componentes de sequência negativa: conjunto de 3 fasores bibliográficos executados.
defasados de 120º, porém com rotação de fase ACB; Nesse sentido, é possível encontrar diversas técnicas para reduzir os
• Componentes de sequência zero: conjunto de 3 fasores em fase. sinais harmônicos de tensão e/ou corrente. Estas, de um modo global,
A Figura 3 ilustra o exposto: podem ser agrupadas nas estratégias a seguir caracterizadas:
• uso de filtros passivos conectados em paralelo e/ou em série;
• inserção de reator em série na linha c.a.;
• aumento da quantidade de pulsos em unidades conversoras, com o
uso de transformadores defasadores;
• técnicas de compensação de fluxo magnético;
Figura 3 – Decomposição em componentes simétricas • filtros ativos de potência conectados em paralelo e/ou em série;
• uso de dispositivos eletromagnéticos.
Como forma de quantificar a presença de distorções harmônicas
A escolha de um ou outro procedimento, ou mesmo a associação
nos sinais de tensões e/ou correntes, utiliza-se a denominada
de soluções, deve levar em conta a análise dos seguintes aspectos:
“Distorção Harmônica Total”, uma das designações mais utilizadas
• conhecimento do sistema de alimentação do ponto de vista da
no meio técnico/científico. Utilizando de propostas de convenção
concessionária: impedância de curto-circuito, nível de tensão e
adotadas nos Padrões de Desempenho da Rede Básica, do Operador
legislação quanto aos níveis de distorções harmônicas permitidos;
Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as equações (1) e (2) sintetizam
• conhecimento do sistema consumidor: tipos de cargas instaladas,
tais definições:
potência envolvida, problemas que ocorrem devido aos harmônicos,
hm· x 2 perda de energia, diminuição do fator de potência real;
DTT = ∑ (Vh % ) (1)
h> 2 • local da instalação do dispositivo para redução de harmônicos;
• desempenho e capacidade nominal de tensão/corrente do
hm· x 2
dispositivo;
DTI = ∑ ( I h% ) (2)
h> 2 • custo inicial de compra e custo da energia consumida no próprio
dispositivo;
Em que:
• efeitos colaterais prejudiciais sobre o sistema de alimentação: o
• DTT – distorção de tensão harmônica total [%];
fator de potência em situações de carga nominal pode se alterar
• DTI – distorção de corrente harmônica total [%];
inconvenientemente em condições de carga baixa, modificação do
Vh nível e da distorção de tensão ou de corrente, alteração do nível de
V h % = 100
• V 1 – tensão harmônica de ordem h em porcentagem da
curto-circuito para a terra, mudança ou possibilidade de ressonância
fundamental [%];
em outras frequências harmônicas. Em decorrência desses, pode haver
• V h – tensão harmônica de ordem h [V];
possíveis efeitos nocivos sobre outras cargas consumidoras adjacentes;
• V 1 – tensão fundamental [V];
• efeitos colaterais prejudiciais ao funcionamento das cargas elétricas
Ih
I h % = 100 envolvidas: aumento da distorção de tensão de alimentação da carga,
• I1 – corrente harmônica de ordem h em porcentagem
sua queda ou sua elevação;
da fundamental [%];
• influências nocivas das variações do sistema sobre o dispositivo
• I h – corrente harmônica de ordem h [A];
utilizado: alterações da impedância do sistema, correntes harmônicas
• I 1 – corrente fundamental [A].
de cargas consumidoras adjacentes podem entrar pela alimentação, o
Reconhecendo os efeitos negativos causados pelas componentes sistema pode desequilibrar-se em tensão, a distorção de tensão e o seu
harmônicas de tensão e/ou corrente na rede elétrica e seus componentes, nível na barra de alimentação podem variar devido a fatores externos;
bem como objetivando manter os níveis de distorção dentro dos limites • influência da carga sobre a técnica utilizada: a variação da potência
Apoio
44 O Setor Elétrico / Março de 2009

solicitada pela carga e a presença de desequilíbrios podem alterar no sentido de reduzir o custo inicial da instalação e obtenção de
Filtros harmônicos eletromagnéticos

o funcionamento do dispositivo empregado para a redução de maior eficiência na diminuição do conteúdo harmônico.
harmônicos. De maneira geral, a utilização de filtros ativos para o controle de
Entre as alternativas relatadas como possíveis estratégias para a distorções harmônicas de tensão e/ou corrente se apresenta como
eliminação/redução das correntes harmônicas, aquelas associadas opção eficiente para tal fim, apresentando, porém, altos custos de
aos filtros ativos, passivos e eletromagnéticos são, comumente, as implantação e manutenção, inviabilizando, em algumas situações,
mais empregadas. Devido a este fato, estas três metodologias serão o seu uso.
consideradas com mais detalhes na sequência. Na sequência, apresentam-se alternativas para a filtragem
Os filtros passivos são formados a partir de várias combinações de harmônicos por meio de dispositivos eletromagnéticos. Serão
dos elementos tipo R, L e C, podendo ser conectados em paralelo contemplados os princípios físicos, a modelagem computacional,
ou em série ao sistema elétrico. Aqueles conectados em paralelo a análise de desempenho e outros aspectos relacionados com dois
(derivação ou shunt) têm sido amplamente estudados e aplicados equipamentos compensadores, um voltado para as componentes
em sistemas elétricos. Ao longo de vários anos, devido a fatores harmônicas de sequência zero e outro para o controle das distorções
científicos, tecnológicos e econômicos, esta última opção tem atreladas com as componentes de sequência positiva e negativa.
se firmado como a solução mais tradicional para a redução de
harmônicos. Estes dispositivos podem ser classificados em dois Filtros harmônicos eletromagnéticos
grupos: sintonizados e amortecidos. Os filtros em derivação Inicialmente, será focada a filtragem das correntes harmônicas
sintonizados são baseados no fenômeno da ressonância, que de sequência zero, que consiste no uso de enrolamentos
deve ocorrer para uma ou mais frequências harmônicas a serem eletromagnéticos interligados em zigue-zague, com os quais se
eliminadas, apresentando, nesta situação, uma baixa impedância consegue um dispositivo capaz de oferecer um caminho de baixa
resistiva. Os filtros em derivação amortecidos são constituídos impedância para as correntes harmônicas de sequência zero.
por circuitos que oferecem uma baixa impedância ao longo No entanto, a filtragem das componentes de sequência positiva
de uma larga faixa de frequência. Na prática, são encontradas e negativa tem como fundamentação o uso de um reator a núcleo
configurações que combinam o uso de filtros sintonizados saturado. Este, uma vez levado a níveis de saturação capazes de produzir
para ordens harmônicas individuais (até a 13a, por exemplo) e correntes harmônicas de mesma amplitude e ângulos de fase opostos
amortecidos para as frequências superiores. Outra função dos àquelas geradas por uma determinada carga não-linear já instalada,
filtros sintonizados e amortecidos é que, para as frequências abaixo oferecerá a propriedade almejada. Neste capítulo abordaremos:
da frequência de ressonância, apresentam-se como circuitos • o princípio físico de funcionamento dos filtros eletromagnéticos
capacitivos, sendo, portanto, compensadores de energia reativa na de sequência zero, positiva e negativa, com destaque aos seus
frequência fundamental. aspectos da concepção física construtiva;
Uma alternativa para diminuir a distorção harmônica de correntes • as bases matemáticas que mostram a operacionalidade dos filtros
consiste na utilização de filtros ativos, constituídos por componentes harmônicos supramencionados;
eletrônicos de potência e de controle analógico e/ou digital. Esta • a operacionalidade do filtro de sequências positiva e negativa
proposta tem evoluído notavelmente, sobretudo a partir de 1980. dentro do contexto da adequação da magnitude e do defasamento
Os tipos básicos de filtros ativos são: paralelo, série, série/paralelo angular das componentes harmônicas de correntes produzidas.
combinados e híbridos (que combinam técnicas ativas e passivas).
Os métodos de operação dos filtros ativos atuais são fundamentados Filtro de sequência zero
na teoria das potências ativa e reativa instantâneas. A Figura 4 ilustra uma instalação típica constituída por
Os filtros ativos paralelos atuam por meio de um processo uma rede elétrica genérica, possuindo uma carga geradora de
de detecção, sintetização e aplicação de correntes harmônicas harmônicas e a presença de um filtro de sequência zero. Este
contrárias àquelas produzidas pela carga não-linear, podendo ainda arranjo permite visualizar o princípio do mecanismo da eliminação
atuar sobre a corrente na frequência fundamental, promovendo a das componentes harmônicas de corrente de sequência zero.
compensação reativa. Um filtro ativo paralelo típico é composto Como se vê, o propósito maior do filtro está em prover meios para
basicamente por um inversor de tensão ou de corrente, acionado que as mencionadas componentes harmônicas fiquem restritas ao
por técnicas específicas de controle. circuito composto pela carga e o filtro propriamente dito. Em outras
Como mencionado, a combinação de filtros ativos série/paralelo palavras, assim como para o caso dos filtros passivos convencionais,
também se apresenta como um procedimento para o controle de não ocorre a alteração do conteúdo harmônico produzido pela
harmônicos. Por fim, tem-se a associação dos filtros passivos com carga, mas sim, um desvio em seu caminho de circulação inibindo,
os filtros ativos, chamados de filtros híbridos. Esta solução ocorre ao máximo, sua injeção na rede de suprimento.
Apoio
O Setor Elétrico / Março de 2009
45

A partir do divisor de corrente identificado na Figura


5, constata-se que a corrente que se estabelece pelo filtro
eletromagnético de sequência zero é dada por:
Z0 _ S
i0 _ F (t ) = .i0 _ C (t ) (3)
Z0 _ S + Z0 _ F

Sendo:
i0_C (t) – Corrente de sequência zero gerada pela carga não–linear;
i0_F (t) – Corrente de sequência zero pelo filtro de sequência zero;
Figura 4 – Instalação típica do filtro eletromagnético de sequência zero
Z 0_S – Impedância de sequência zero do sistema de suprimento
A partir da Figura 4, é possível observar que o desempenho (R0_S, L0_S);
do filtro possui forte dependência com a relação entre a sua Z 0_F – Impedância de sequência zero do filtro de sequência zero
impedância e a impedância do sistema, como sugere o circuito (R0_F, L0_F).
equivalente simplificado de sequência zero ilustrado na Figura 5.
A equação (3) revela que, quanto menor a impedância de
sequência zero do filtro, em relação à mesma impedância do
sistema de alimentação, maior será sua eficiência em drenar as
correntes harmônicas de sequência zero.
Já a corrente injetada na rede de suprimento, com a inserção do
filtro em paralelo, pode ser calculada por:

Z0 _ F
i 0 _ S (t ) = .i0 _ C (t ) (4)
Z0 _ F + Z0 _ S

Figura 5 – Circuito equivalente: alimentação, carga e filtro de Sendo:


sequência zero i0_S (t) – Corrente de sequência zero injetada no sistema.
Apoio
46 O Setor Elétrico / Março de 2009

Mais uma vez, a equação (4) evidencia que a corrente de transversais nas três colunas;
Filtros harmônicos eletromagnéticos

sequência zero que se estabelece no sistema de suprimento será Ф I,A ; Ф I,B ; Ф I,C – Fluxo referente ao enrolamento I das colunas 1, 2 e
tão menor quanto maior a impedância de sequência zero do 3, respectivamente;
sistema quando comparada com a impedância de sequência zero Ф II,A ; Ф II,B ; Ф II,C – Fluxo referente ao enrolamento II das colunas 1, 2
do filtro. Esta situação nem sempre pode ser encontrada na prática, e 3, respectivamente.
pois dependerá fortemente do local em que o filtro é instalado no Sob o ponto de vista magnético, a composição física anterior
sistema elétrico. pode ser ilustrada na forma indicada na Figura 7.
No que tange ao arranjo trifásico para o filtro em questão,
este é constituído por um núcleo trifásico de três colunas junto
aos quais são inseridos, por fase, dois conjuntos de bobinas com
polaridades opostas. Conectando-se tais enrolamentos de acordo
com a clássica designação zigue-zague, obtém-se a composição
ilustrada na Figura 6.

Figura 7 – Distribuição magnética de fluxos para o filtro de sequência zero

Em que:
Φ D – fluxo de dispersão entre o enrolamento I e II;
Φ AR – fluxo pelo caminho de ar entre o núcleo e o enrolamento I;
Φ EX – fluxo entre a culatra superior e a culatra inferior pelo ar
e/ou tanque;
Φ NU – fluxo que circula pelo material ferromagnético.
(a) Arranjo didático Como pode ser visto, cada coluna é enlaçada por dois
enrolamentos, denominados por I e II, construídos com o mesmo
número de espiras e ligados em zigue–zague. Desta forma, cada
coluna magnética apresentará uma força magnetomotriz (FMM)
resultante de duas fontes, as quais combinam os correspondentes
efeitos da corrente de linha. Esta interação, aliada às considerações
construtivas e operacionais do sistema elétrico, deve conduzir a um
caminho de baixa impedância para as componentes de sequência
zero. O motivo disto está atrelado ao fato de que esta impedância irá
concorrer com a impedância do sistema de fornecimento, servindo
como caminho alternativo às correntes enfocadas. Nessas condições,
as tensões nas bobinas I das fases A, B e C são dadas por:
(a) Arranjo real . 1 . . .
Figura 6 – Arranjo físico trifásico do filtro eletromagnético de V An = jω h( L + M ).( 2 I A − I B − I C ) (5)
sequência zero 3
. 1 . . .
Sendo: V Bn = jω h( L + M ).( 2 I B − I C − I A ) (6)
3
LI,A ; L I,B ; L I,C – Indutância própria do enrolamento I das colunas 1, 2
. 1 . . .
e 3, respectivamente; V Cn = jω h( L + M ).( 2 I C − I A − I B ) (7)
3
LII,A ; L II,B ; L II,C – Indutância própria do enrolamento II das colunas 1,
Aplicando as expressões anteriores (5 a 7) para uma componente
2 e 3, respectivamente;
particular de sequência zero, no caso h=3, obtém-se:
LM – Indutância mútua entre os enrolamentos I e II de mesma
.
coluna; (
V An ( 3) = jω (L + M ) 2I 3< 0o − I 3< − 360o − I 3< 360o ) (8)
M I,I – Indutâncias mútuas entre os enrolamentos I nas três colunas;
.
M II,II – Indutâncias mútuas entre os enrolamentos II nas três
(
V Bn ( 3) = jω ( L + M ) 2 I 3< − 360o − I 3< 360o − I 3< 0o ) (9)
colunas;
.
M I,II e M II,I – Indutâncias mútuas entre os enrolamentos I e II
(
V C n ( 3) = jω ( L + M ) 2 I 3< 360o − I 3< 0o − I 3< − 360o ) (10)
Apoio
48 O Setor Elétrico / Março de 2009

Novamente, as equações (8), (9) e (10) evidenciam que as


Filtros harmônicos eletromagnéticos

composições fasoriais das correntes harmônicas de ordem 3 resultam em


tensões de terceiro harmônico nulas. Como apresentado, a interpretação
física para o resultado anterior é que, para a frequência em questão,
a impedância de sequência zero é igual à zero. Se esta situação ideal
ocorrer, toda a corrente harmônica de sequência zero originada a partir
de uma carga linear será desviada para o filtro em questão.

Figura 9 – Arranjo elétrico para a redução/cancelamento das correntes


Filtro de sequência positiva e negativa harmônicas de sequência positiva e negativa
O dispositivo eletromagnético utilizado como filtro harmônico
de sequência positiva e negativa fundamenta-se em um reator a Em que:
núcleo saturado trifásico. Este dispositivo, uma vez saturado, R S, L S – Impedância do sistema de suprimento;
produz componentes harmônicas de correntes que serão utilizadas iS (t) – Corrente harmônica resultante injetada no sistema de
para o processo de compensação a ser discutido nesta seção. Este suprimento;
equipamento, construtivamente, tem seu núcleo trifásico como iF (t) – Corrente harmônica injetada pelo filtro de sequência positiva
o de um transformador, sem, no entanto, possuir o enrolamento e negativa;
de potência no secundário. Outra diferença em relação aos iC (t) – Corrente harmônica gerada pela carga não-linear.
transformadores está na definição de seu ponto de operação no As correntes harmônicas geradas pela carga não-linear e filtro
que se refere à saturação. Nestes termos, reconhece-se que a não- podem ser escritas, genericamente, pelas equações (11) e (12).
linearidade da curva B x H do material magnético do reator se iC ( t ) = iC 1 ( t ) + iC 5 ( t ) + iC 7 ( t )
(11)
constitui em fator determinante para a sua operação. De fato, a + i C 1 1 ( t ) + i C 1 3 ( t ) + ...
isto se deve o expressivo conteúdo harmônico das suas correntes
de alimentação e, neste ponto, concentra-se o princípio da iF ( t ) = iF 1 ( t ) + iF 5 ( t ) + iF 7 ( t ) (12)
compensação harmônica aqui focada. +i F 11 ( t ) + i F 13 ( t ) + ...
Para viabilizar a citada compensação, de um modo ideal,
Tomando por base que as componentes a serem compensadas
a geração harmônica por parte do dispositivo sob análise deve
sejam as harmônicas de quinta e sétima ordem, fato este que se
apresentar a mesma magnitude, porém ângulos de fase opostos
baseia na busca da atenuação daquelas mais relevantes para a
ao conteúdo harmônico produzido pela carga não-linear a ser
grande maioria dos sistemas, tem-se:
compensada. A Figura 8 ilustra a mencionada concepção física,
.
evidenciando a carga geradora de harmônicos, o compensador ou I C5 = I C 5 θC 5 (13)
filtro e a rede de suprimento.
.
I F 5 = IF 5 θF 5 (14)

.
I C7 = I C 7 θC 7 (15)

.
I F7 = I F 7 θF 7 (16)

Em consonância aos princípios físicos estabelecidos para


o processo de compensação, para proporcionar, idealmente, o
cancelamento das componentes anteriormente definidas, torna-se
Figura 8 – Instalação típica do filtro eletromagnético de sequência necessário o atendimento das seguintes condições:
positiva e negativa
IC5 = IF 5 (17)
Para fins de entendimento do princípio da compensação das
(18)
correntes de sequência positiva e negativa, a Figura 9 sintetiza um θ C 5 = (θ F 5 ± π )
arranjo equivalente que auxilia o entendimento do mecanismo aqui
IC7 = I F 7 (19)
empregado. Este é constituído, basicamente, pela associação de
uma carga não-linear, do dispositivo eletromagnético em questão e
θ C 7 = (θ F 7 ± π ) (20)
da rede de suprimento.
Apoio
O Setor Elétrico / Março de 2009
49

As Figuras 10 (a) e (b) ilustram tais situações:

Figura 10 – Compensação harmônica das correntes de ordem 5 e 7 por


meio do filtro de sequência positiva e negativa

Objetivando caracterizar o arranjo físico eletromagnético a ser


empregado para os fins aqui delineados, o qual possui similaridade
com aqueles empregados na tecnologia dos reatores a núcleo
saturado para a compensação de reativos, é apresentado o arranjo
da Figura 11 como ponto inicial para as discussões.

Figura 11 – Arranjo físico trifásico do filtro eletromagnético de sequência


positiva e negativa

Voltando o foco para a questão da modelagem matemática do


dispositivo, como objetivo de, entre outros aspectos, obter a corrente de
alimentação do reator e a respectiva avaliação de seu conteúdo harmônico,
ressalta-se que, diferentemente do produto anteriormente discutido, o
reator saturado já possui uma base de modelagem bem estabelecida.
Iniciando pela consideração de um arranjo monofásico,
no qual um reator se encontra suprido por uma fonte de tensão
senoidal, tem-se a Figura 12 (a), que é indicativa do circuito elétrico
equivalente a tal arranjo. Entretanto, a Figura 12 (b) representa, de
modo bastante simplificado, a relação entre o fluxo e a corrente
no reator. Finalmente, a Figura 12 (c) ilustra as correlações entre as
grandezas elétricas e magnéticas envolvidas no processo.
Apoio
50
Filtros harmônicos eletromagnéticos O Setor Elétrico / Março de 2009

(b) Ponto comum-estrela isolado


Figura 13 – Configurações para os reatores trifásicos

De forma a propiciar a defasagem necessária entre os


harmônicos produzidos pelo reator saturado e aqueles gerados
pelas cargas não-lineares, torna-se imperativo a incorporação
de um mecanismo defasador que venha introduzir um
deslocamento angular no fluxo concatenado e, por conseguinte,
na corrente de alimentação do reator. Um ajuste adequado
da defasagem pode, portanto, produzir o ângulo de fase
oposto àquela harmônica que se deseja atenuar, como sugere
o diagrama fasorial ilustrado na Figura 14, o qual enfoca o `

deslocamento necessário para o cancelamento da quinta ordem j

harmônica.
v

`j

jv

`v

`jv

Figura 12 – Características de operação do reator saturado


(a) Circuito equivalente; (b) Relação fluxo versus corrente; (c) Formas de
ondas da tensão, corrente e fluxo

Avançando agora na direção da topologia eletromagnética mais Figura 14 – Diagrama fasorial da compensação harmônica

diretamente afeita ao filtro para compensação das componentes harmônicas


Com vistas a adequar os valores das correntes harmônicas ao
de sequência positiva e negativa, as Figuras 13 (a) e (b) destacam duas
processo de compensação, torna-se também essencial o ajuste
possibilidades. Na primeira, a conexão é em estrela aterrada, fato este
do nível de saturação baseado nos parâmetros geométricos e na
que viabiliza a produção de componentes harmônicas de sequência zero
curva BxH. É importante destacar que o ponto ótimo de operação
em adição às demais. Na segunda, com a eliminação do aterramento do
será definido pela maior relação porcentual entre a componente
neutro, apenas as componentes de sequência positiva e negativa passam a
harmônica que está sendo ajustada e a componente fundamental.
existir. Observa-se que as propostas ilustradas utilizam núcleos magnéticos
Isto garantirá a melhor solução para o fator de deslocamento final
trifásicos similares àqueles empregados para os filtros de sequência zero.
do conjunto.
O próximo capítulo abordará as análises computacionais e
experimental do funcionamento do filtro de sequência zero diante
de situações ideais de funcionamento.

FERNANDO NUNES BELCHIOR é engenheiro eletricista e docente da


Universidade Federal de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da
Energia Elétrica.
Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, PhD é docente da Universidade
Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica.
LUIS C. ORIGA DE OLIVEIRA é docente da Universidade Estadual
(a) Ponto comum-estrela aterrado
Paulista (Unesp), campus Ilha Solteira (SP).
Apoio
40
Filtros harmônicos eletromagnéticos O Setor Elétrico / Abril de 2009

Capítulo II
Modelagem computacional
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira
e Luis C. Origa de Oliveira*

Seguindo a prática usual empregada nas mais • Seleciona a estratégia de modelagem a ser
diversas áreas de conhecimento, a obtenção de empregada para os filtros eletromagnéticos;
meios computacionais voltados para a avaliação de • Estabelece os modelos em consonância com a base
desempenho de dispositivos e sistemas constitui-se, computacional escolhida;
indubitavelmente, em mecanismos que permitem • Promove estudos avaliativos sobre a eficácia e a
antever e corrigir situações passíveis de ocorrência qualidade da modelagem, para fins da reprodução de
com a implantação prática de soluções e métodos. fenômenos em regime permanente relacionados com a
Neste particular, em face da inovação das propostas operação dos filtros eletromagnéticos.
feitas nesta pesquisa e a inexistência de maiores
experiências nacionais e internacionais sobre filtros Estratégias de simulação
eletromagnéticos, o desenvolvimento de modelos Durante as últimas décadas, diversas abor­
e respectivas implementações computacionais dos dagens têm sido usadas para a modelagem de
produtos aqui contemplados constitui-se em tema transformadores, reatores e outros dispositivos
bastante original. eletromagnéticos. Essas podem ser classificadas em
Para se atingir uma base computacional que estratégias fundamentadas em:
permita avaliar o desempenho transitório e de regime • Equações elétricas;
permanente dos filtros, dentre os passos a serem • Equações elétricas e magnéticas;
seguidos, ressaltam-se: • Relutâncias magnéticas e forças magnetomotrizes.
• Identificação das partes físicas constituintes dos Segue uma breve discussão sobre os princípios que
filtros; norteiam as metodologias mencionadas anteriormente.
• Suas modelagens matemáticas e, finalmente;
• Suas implementações em uma base computacional Equações elétricas
própria aos objetivos dos estudos. O circuito elétrico equivalente fundamenta-se,
Tendo em vista a natureza dos fenômenos focados como é classicamente conhecido, nos seguintes
neste conjunto de fascículos, considera-se fundamental elementos: indutâncias não-lineares para representar
que os processos de simulação façam uso de técnicas os circuitos magnéticos saturáveis; indutâncias lineares
de análise no domínio do tempo. Nesse sentido, este representando os fluxos de dispersão e resistências
artigo contempla os seguintes pontos básicos: para a inclusão das perdas no cobre. Dessa forma, os
• Apresenta, de forma sucinta, as principais fenômenos magnéticos são traduzidos em componentes
formas atualmente utilizadas para a modelagem de elétricos e as tradicionais equações de equilíbrio entre
dispositivos eletromagnéticos utilizando, para tanto, as tensões constituem a base da modelagem.
técnicas no domínio do tempo;
• Destaca os recursos pré-existentes, destinados à Equações elétricas e magnéticas
modelagem de componentes elétricos e magnéticos, A sistemática, nesse caso, consiste na
conforme requerido pelos equipamentos aqui focados; representação do equipamento ou do sistema por meio
Apoio
O Setor Elétrico / Abril de 2009
41

de equações diferenciais e algébricas. O procedimento faz uso da circule uma corrente elétrica, uma força magnetomotriz é gerada
analogia clássica entre circuitos elétricos e circuitos magnéticos, no núcleo magnético. Entretanto, a variação do fluxo magnético
o que permite derivar as equações nodais que relacionam as em um núcleo pode gerar uma força eletromotriz em uma bobina
forças magnetomotrizes nodais no núcleo dos filtros às forças enrolada sobre este núcleo.
magnetomotrizes produzidas pelos enrolamentos. Esta estratégia O simulador computacional utilizado possui uma variedade
origina uma matriz de relutâncias (ou de permeâncias) relacionando de blocos de dispositivos (modelos representados por templates)
as grandezas: fluxo e força magnetomotriz. incorporados e disponibilizados em sua biblioteca, capazes de
A utilização dessa abordagem para a modelagem de dispositivos simular os fenômenos elétricos e magnéticos concomitantemente.
eletromagnéticos determina a necessidade de se obter equações Esta última opção foi a adotada para fins deste trabalho, recaindo
diferenciais e algébricas envolvendo os enrolamentos e os fluxos sobre um simulador computacional que utiliza técnicas de
magnéticos que os acoplam e, qualquer alteração na conexão modelagem no domínio do tempo. Isso permitirá estudos
dos enrolamentos, requer que as equações sejam reescritas. avaliativos dos produtos contemplados nessa tese, tanto em regime
Sem dúvida, haverá grande demanda de tempo e de esforço de permanente como também sob condições transitórias.
programação, contrariando a tendência crescente do uso de
uma plataforma computacional voltada especificamente para a Técnica de modelagem selecionada
simulação de sistemas elétricos, na qual os usuários atêm-se na O primeiro passo para a realização de um estudo computacional
observação dos fenômenos e na análise dos resultados. no simulador utilizado consiste na criação de uma netlist, a qual
corresponde a uma lista de chamadas de modelos elétricos e
Uso de relutâncias e forças magnetomotrizes magnéticos, especificando os modelos (templates) a serem usados
A modelagem do dispositivo, nos termos aqui mencionados, no sistema ora simulado e como eles estão conectados entre si. Esta
baseia-se em sua representação por meio de seus circuitos etapa define um arquivo texto de entrada para o simulador.
magnéticos equivalentes, nos quais as relutâncias representam os Quando o sistema elétrico a ser simulado contém um
caminhos do fluxo magnético e os enrolamentos representam as enrolamento de um transformador, na netlist aparecerá,
forças magnetomotrizes. Assim, quando uma tensão é aplicada em necessariamente, em uma das linhas, uma referência ao template
uma bobina enrolada sobre um núcleo magnético, tal que por ela wind.sin, o qual é esquematicamente ilustrado na Figura 1.
Apoio
42 O Setor Elétrico / Abril de 2009

Sendo:
Filtros harmônicos eletromagnéticos

l - Comprimento médio do núcleo magnético [m];


A - Área transversal do núcleo magnético [m2].
A relutância magnética, de modo geral, pode ser expressa pela
equação (4):

(4)

Figura 1 – Diagrama esquemático equivalente do template wind.sin


No simulador utilizado, a relutância não-linear de um núcleo de
material ferromagnético é representada pelo template corenl.sin. Este
Os parâmetros principais do template wind.sin, destacados na
template se comporta segundo a igualdade M=dB/dH. Como acontece
figura anterior, são:
para o núcleo linear, este possui duas conexões (p, m), declaradas
• ep, em – Terminais elétricos (positivo e negativo);
como pinos magnéticos. Além do comprimento e da área do núcleo,
• mp, mm – Terminais magnéticos (positivo e negativo);
outros parâmetros são requeridos pelo template corenl.sin: Estes são:
• n – Número de espiras da bobina;
• r – Resistência elétrica da bobina [Ω]. • matl - material do núcleo. Para cada material na biblioteca do programa
existe um dado que caracteriza a curva B-H do material;
As equações (1) e (2) descrevem o template wind.sin:
• sf - fator de empilhamento;
dϕ • ui - permeabilidade inicial;
v = r .i + n . (1)
dt • uhc - permeabilidade coerciva;
• bmax - maior valor de B disponível para o material;
F = n.i (2) • hmax - maior valor de H disponível para o material;
• bsat - valor de B na curva B-H que corresponde ao H de saturação;
Sendo: • hsat - ponto na curva B-H em que as curvas inferior e superior se
F - Força magnetomotriz [A-espira]; encontram e se tornam quase que indistinguíveis;
€ φ - Fluxo magnético [Wb]; • br - valor de B quando h retorna a zero. Este é o ponto no qual a
i - Corrente elétrica [A]; curva superior B-H corta o eixo y;

v - Tensão aplicada [V]. • hc - força coerciva, valor de H necessário para mover B = Bres para B =
0. É o ponto no qual a curva superior B-H passa pelo eixo x;
A corrente elétrica (i) circulando no enrolamento da bobina • ptemp - especifica a temperatura em que todos os parâmetros anteriores
produz uma força magnetomotriz (F) entre os terminais magnéticos estão definidos;
do enrolamento, os quais podem ser ligados aos terminais magnéticos • tau - especifica o tempo de atraso entre o campo aplicado e o campo

do núcleo. A força magnetomotriz produzida na bobina é aplicada efetivo;


• b0 - valor do B inicial de offset;
ao núcleo, produzindo um fluxo magnético (φ), cuja intensidade e
• tempc - especifica a temperatura de operação do template corenl;
natureza dependerão das características magnéticas do material e
• units - seleciona o sistema de unidades (Gaussiano ou SI).
da geometria do núcleo, isto é, da relutância magnética do núcleo
(R). A relação entre F e R é dada pela expressão (3): Os modelos completos dos filtros eletromagnéticos podem ser
estabelecidos pelas combinações adequadas dos três tipos básicos
F = R.ϕ (3) de templates (wind.sin, core.sin e corenl.sin). Assim agindo, torna-se
Caso a relutância do núcleo seja linear, ela será representada possível a obtenção dos templates específicos destinados à representação
pelo template core.sin. Os principais parâmetros requeridos pelo de vários tipos de filtros, dentre eles os aqui enfocados. Para tanto, basta
referido template são: área da secção transversal, comprimento e contemplar as diferentes ligações dos enrolamentos e configurações
€ dos núcleos magnéticos. A facilidade de se conectar os templates torna
permeabilidade do material do núcleo, como mostrado na Figura 2.
a implementação de modelos de filtros eletromagnéticos uma tarefa
relativamente simples e direta.

Modelagem do filtro de sequência zero


Reportando ao arranjo físico do filtro de sequência zero, pode-se
derivar o circuito magnético equivalente formado pela combinação
das relutâncias e das forças magnetomotrizes. O resultado deste
procedimento encontra-se mostrado na Figura 3. É possível observar,
nesta figura, a substituição dos enrolamentos por fontes de forças
Figura 2 – Diagrama esquemático equivalente do template core.sin
magnetomotrizes e das seções magnéticas por relutâncias. Ainda,
Apoio
O Setor Elétrico / Abril de 2009
43

objetivando uma modelagem mais exata, é possível identificar a A Figura 4, por sua vez, mostra o modelo eletromagnético
inserção de caminhos magnéticos pelo ar, os quais são indicativos das obtido em consonância com os recursos disponibilizados pelo
indutâncias de dispersão. As relutâncias em negrito estão associadas simulador utilizado.
às partes magnéticas sujeitas à saturação, enquanto as demais são
representativas das partes não-saturáveis (ar).

Figura 4 – Modelo eletromagnético equivalente do filtro de


sequência zero para o simulador utilizado
Figura 3 – Modelo magnético equivalente do filtro de sequência zero Na Figura 4:
Na Figura 3: • NC1 até NC7 – núcleos magnéticos não-lineares, utilizando o
F(I,i); F(II,i) - Força magnetomotriz do enrolamento I e II,
template corenl.sin;
respectivamente, para cada coluna i; • m1a, m1b, m1c, m2a, m2b, m2c, m2d, m3a, m3b, m3c e m3d
Rnu(i), Rcse, Rcsd, Rcie - Relutâncias não-lineares correspondentes ao núcleo – pontos de conexão das partes do núcleo que representam todo o
e Rcid ferromagnético e culatras; espaço do núcleo, com enrolamento e sem enrolamento;
Rex(i) - Relutâncias lineares representando o fluxo de dispersão • ia e a1, ib e b1, ic e c1 – pinos elétricos que representam a
entre as culatras superior e inferior para cada coluna;
alimentação das bobinas do filtro de sequência zero, sendo ia, ib
Rd(i) - Relutâncias lineares representando o fluxo de dispersão
e ic utilizando o template fonte.sin e os demais são interligações
equivalente entre as bobinas e o núcleo para cada coluna;
Rar entre bobinas;
- Relutâncias lineares representando o fluxo de dispersão
entre as bobinas e o ar para cada coluna.
• LC1 até LC12 – núcleos magnéticos lineares que representam os
Apoio
44 O Setor Elétrico / Abril de 2009

fluxos de dispersão pelo ar.


Filtros harmônicos eletromagnéticos

Na Figura 4, constata-se ainda que os terminais dos enrolamentos


(templates wind) ficam acessíveis para os arranjos elétricos em
zigue-zague exigidos na montagem do filtro eletromagnético.
Para a representação da não-linearidade, como já mencionado,
utilizaremos o template corenl, representando, assim, com
fidelidade, o comportamento do núcleo não-linear. Os dados
necessários para essa modelagem são: μi, μhc, bmax, hmax, bsat,
hsat, br e hc, além da escolha do tipo de material que compõe
o núcleo. Estes dados foram colhidos a partir de ensaios no filtro
eletromagnético de sequência zero, conforme apresentado na
referência [2].
De modo a oferecer uma visão construtiva mais simplificada,
a Figura 5 indica a estrutura física para o filtro de sequência zero
empregado nos estudos.

Figura 7 – Formas de onda das tensões distorcidas aplicadas no filtro de


sequência zero e espectro harmônico da tensão Van

Como pode ser verificado pelos resultados


computacionais, sob a ação de um suprimento contendo
uma tensão fundamental de sequência positiva e outra de
terceira harmônica de sequência zero, a corrente no filtro
encontra-se predominantemente caracterizada por uma
corrente de ordem 3 e de amplitude da ordem de 22 A. Isto
Figura 5 – Modelo físico do filtro de sequência zero implantado ratifica as expectativas feitas até então e evidencia a eficácia
computacionalmente do dispositivo em absorver a sequência zero por meio de uma
baixa impedância a esta sequência e, por outro lado, uma alta
Como forma de verificar o caminho de baixa impedância
impedância à sequência positiva.
criado pelo filtro eletromagnético para as correntes de sequência
zero, apresentamos, a seguir, resultados de simulação utilizando
o template mostrado anteriormente. Para tanto, aplicou-se um
conjunto trifásico de tensões de alimentação contendo 127 V (fase-
neutro) RMS, sobre a qual se encontra superposta uma tensão de
sequência zero de 10% (12,7 V) na frequência de 180 Hz. Assim
procedendo, torna-se viável a visualização do desempenho teórico
do filtro no que tange à absorção das componentes de sequência
zero. A Figura 6 ilustra o diagrama fasorial utilizado para este estudo.
O funcionamento do filtro pode ser apreciado pelas Figuras 7 e 8.
Primeiro, são apresentadas as tensões fase-neutro aplicadas ao filtro,
com o espectro harmônico da tensão na fase A. Na sequência, as
formas de onda das correntes de linha que se estabelecem pelo filtro,
seguidas dos respectivos espectros harmônicos.

Figura 8 – Formas de ondas e respectivos espectros harmônicos das correntes


Figura 6 – Diagrama unifilar utilizado para a visualização da eficácia do filtro
de linha do filtro harmônico de sequência zero
de sequência zero
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O Setor Elétrico / Abril de 2009
45

Não obstante o desempenho satisfatório obtido, é importante sequência zero, torna-se dispensável, neste momento, repetir seu
ressaltar que outras investigações serão conduzidas oportunamente significado. A distinção maior se faz na forma da existência, para
para uma melhor certificação de suas propriedades. os novos filtros, de apenas uma única fonte de força magnetomotriz
por coluna magnética. Estas são:
Modelagem do filtro de sequência positiva e negativa • F(1), F(2), F(3) – Força magnetomotriz no enrolamento para cada
Voltando agora as atenções para o arranjo físico do filtro coluna.
de sequência positiva e negativa, pode-se, de modo similar A Figura 10, também similar ao caso anterior, ilustra o modelo
aos procedimentos anteriores, derivar o circuito magnético eletromagnético em consonância com os recursos disponibilizados
equivalente formado pela combinação das relutâncias e forças pelo simulador utilizado.
magnetomotrizes. O circuito equivalente indicado na Figura 9
evidencia a já mencionada similaridade entre os processos.

Figura 10 – Diagramas de blocos do filtro harmônico de sequência positiva e


negativa implantado computacionalmente

Na Figura 10:
Figura 9 – Modelo magnético equivalente do filtro de sequência positiva e
negativa
• NC1 até NC7 – núcleos magnéticos não-lineares, utilizando o
template corenl.sin;
Tendo em vista que os elementos componentes do circuito • m1a, m1b, m2a, m2b, m2c, m3a, m3b e m3c – pontos de conexão
equivalente são semelhantes àqueles já comentados para o filtro de das partes do núcleo que representam o espaço do núcleo com
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46 O Setor Elétrico / Abril de 2009

enrolamento e sem enrolamento;


Filtros harmônicos eletromagnéticos

• ia e a1, ib e b1, ic e c1 – pinos elétricos que representam a alimentação


das bobinas do filtro harmônico em questão, sendo ia, ib e ic utilizando
o template fonte.sin e os demais são interligações entre bobinas;
• LC1 até LC9 – núcleos magnéticos lineares que representam os fluxos
de dispersão pelo ar.
Da mesma forma que para o filtro de sequência zero, a representação
da não-linearidade é realizada pelo template corenl. A partir do exposto,
é possível a elaboração do template destinado à modelagem de um filtro
eletromagnético de sequência positiva e negativa.
A Figura 11 indica a estrutura física para o filtro de sequência
positiva e negativa empregado nos estudos. Objetivando uma avaliação
preliminar do desempenho da modelagem estabelecida, tal como
realizado anteriormente com o filtro de sequência zero, realiza-se, a
seguir, um estudo voltado para a identificação da eficácia do dispositivo.

Figura 11 – Modelo físico do filtro harmônico de sequência positiva e


negativa implantado computacionalmente Figura 14 – Formas de onda e respectivos espectros harmônicos das correntes
de linha na entrada do filtro harmônico de sequência positiva e negativa
Para tanto, procede-se a uma simulação que consiste,
Como se percebe, as fases A e C apresentam-se com formas de onda
basicamente, da aplicação de uma tensão fase-neutro de 120 V –
semelhantes, enquanto a fase B possui formato distinto. O motivo para tal
RMS, objetivando, assim, conduzir o reator a um estado apropriado
se prende à construção planar das colunas magnéticas, como ocorre para
de saturação. A Figura 12 ilustra o arranjo utilizado.
qualquer outro dispositivo magnético trifásico. Em consequência dessa
forma de montagem física e do fato de o dispositivo não estar conectado
ao terra do sistema, as componentes de 3ª ordem observadas nas correntes
de fase são de sequência positiva e negativa, e não de sequência zero.
Referências bibliográficas
FERREIRA, J. F. V. Uma nova abordagem à filtragem de harmônicos de sequência zero através de
dispositivos eletromagnéticos. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, 2006.
BELCHIOR, F. N. Uma nova abordagem à filtragem de harmônicos através de dispositivos
Figura 12 – Diagrama unifilar utilizado para a verificação preliminar da eletromagnéticos. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Uberlândia, 2006.
eficácia do filtro de sequência positiva e negativa VASCONCELLOS, A. B. Modelagem e análise de desempenho de compensadores
estáticos a reator à núcleo saturado no contexto da qualidade da energia. Uberlândia:
A Figura 13 apresenta as formas de onda das tensões fase- UFU, 2004 (Tese de Doutorado em Engenharia Elétrica).
neutro, enquanto a Figura 14 ilustra as correntes e correspondentes APOLÔNIO, R. Modelagem e chaveamento controlado de transformadores: análise computacional
e validação experimental. Uberlândia: UFU, 2004 (Tese de Doutorado em Engenharia Elétrica).
espectros harmônicos na entrada do filtro sob enfoque.
APOLÔNIO, R.; OLIVEIRA, J. C. et al. Filtro eletromagnético para harmônicos de
sequência zero. V Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica, ago. 2003.

FERNANDO NUNES BELCHIOR é engenheiro eletricista e docente da


Universidade Federal de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da
Energia Elétrica.
Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, PhD é docente da Universidade
Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica.
LUIS C. ORIGA DE OLIVEIRA é docente da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), campus Ilha Solteira (SP).
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Figura 13 – Formas de onda das tensões na entrada do filtro de sequência Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
positiva e negativa redacao@atitudeeditorial.com.br
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50
Filtros harmônicos eletromagnéticos O Setor Elétrico / Maio de 2009

Capítulo III
Validação experimental
do filtro de sequência zero
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira e Luis C. Origa de Oliveira*

A ausência de termos de referência na literatura


para fins comprobatórios das estratégias de modelagem
computacionais anteriormente apresentadas,
conciliada à necessidade do estabelecimento de um
processo consistente de validação dos resultados
obtidos, consistem na essência deste capítulo.
Nesse sentido, este artigo sintetiza os trabalhos
laboratoriais e computacionais feitos para o
estabelecimento de termos comparativos entre os
resultados indicativos de situações operacionais
típicas. Para tanto, foram construídos protótipos dos
dispositivos enfocados neste capítulo e no anterior. Figura 1 – Protótipo do filtro eletromagnético de sequência zero
Assim, procedendo e estabelecendo a correlação entre
Tabela 1 – Características construtivas e elétricas do protótipo do
as formas de onda e espectros harmônicos obtidos filtro de sequência zero
pelas duas estratégias estabelecidas, pode-se concluir
Grandeza Valor
a eficácia e a precisão dos modelos em relação aos Tensão fase-fase (V) 220 V
desempenhos dos equipamentos reais. Este artigo está Potência trifásica (S) 2000 VA
organizado, então, sob a seguinte estrutura: Número de espiras dos 133
enrolamentos I e II (n)
• Definição dos padrões para o suprimento trifásico
Seção transversal do núcleo (A) 26,49 cm2
dos equipamentos; Fator de empilhamento 0,95
• Caracterização do protótipo do filtro eletromagnético Comprimento médio 18,1 cm
de sequência zero; da coluna magnética (l)
Comprimento médio das culatras (lcul) 3,2 cm
• Detalhes do arranjo laboratorial utilizado;
Impedância de dispersão 0,1704 Ω
• Apresentação de resultados experimentais e
para 60 Hz (Zdisp)
computacionais para as correntes de linha e respectivos
espectros harmônicos; Embora a operação do filtro de sequência zero
• Análise dos resultados obtidos computacional e ocorra na região linear, é importante a extração
experimentalmente. de informações relacionadas à sua corrente de
magnetização quando da alimentação nominal. Isto se
Protótipo do filtro de sequência zero faz necessário para a obtenção da curva de histerese
O protótipo construído para fins de filtragem de magnética real do produto, a partir da qual torna-se
correntes de sequência zero é mostrado na Figura 1 viável a extração dos parâmetros exigidos pelo modelo
e suas características construtivas são apresentadas na do laço de histerese utilizado.
Tabela 1. Em valores instantâneos, a relação entre a corrente
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O Setor Elétrico / Maio de 2009
51

de magnetização do reator (i) e o campo magnético do núcleo (h) é


dada pela Lei de Ampère:

(1)

Em que:
n – Número de espiras do enrolamento do filtro;
l0 – Comprimento médio do caminho magnético [m], dado por: l0 =2.l+2.lcul ;
i – Corrente instantânea de magnetização do reator [A];
h – Intensidade do campo magnético instantâneo [A/m]. (a) Forma de onda da tensão aplicada e da corrente de magnetização do
filtro de sequência zero

(1)

(1)

Em que:
Φ(t) – Fluxo magnético instantâneo;
V(t) – Tensão instantânea aplicada ao filtro.

Utilizando uma excitação magnética associada com a


aplicação da tensão nominal do dispositivo, é possível a obtenção
do laço de histerese. O fluxo magnético foi obtido pela integração
numérica da tensão a partir de um software de processamento de
sinais. A Figura 2 apresenta os resultados experimentais obtidos
(b) Laço de histerese
para a tensão aplicada ao dispositivo e à corrente de magnetização
requerida pelo mesmo (a) e o laço de histerese resultante da Figura 2 – Formas de onda da tensão, corrente e laço de histerese obtidos no
combinação destas duas grandezas (b). filtro eletromagnético de sequência zero
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52 O Setor Elétrico / Maio de 2009

Em consonância com os requisitos impostos pelo modelo do Os pontos de monitoração selecionados, as grandezas
Filtros harmônicos eletromagnéticos

laço de histerese empregado pelo programa, a partir das informações registradas e as correspondentes figuras ilustrativas são sintetizados
anteriores, é viável a extração das grandezas sintetizadas na Tabela 2. na Tabela 3.
Tabela 2 – Características obtidas a partir da curva de Tabela 3 – Síntese das medições utilizadas para validação do modelo
histerese do filtro de sequência zero computacional do filtro de sequência zero

Grandeza Valor Local da medição Resultado apresentado Figura


Permeabilidade inicial relativa (ui) 1800 (a) Carga não-linear Correntes de fase A, B e C 7
Permeabilidade coerciva relativa (uhc) 15120 Espectro harmônico A, B e C 8
Densidade de fluxo residual (br) 0,9 [T] (b) Alimentador Correntes de fase A, B e C 9
Força coerciva (hc) 35 [Ae/m] Espectro harmônico A, B e C 10
bmax 1,64 [T] (c) Filtro de sequência zero Correntes de fase A, B e C 11
hmax 422 [Ae/m] Espectro harmônico A. B e C 12
bsat 1,35 [T]
hsat 250 [Ae/m] O registro dessas grandezas foi realizado por meio do sistema
de aquisição de dados identificado na Figura 6 e constituído por:
Validação da modelagem computacional • Sensores e canais de entrada: 3 ponteiras de tensão e 9 clamps de
Esta seção apresenta e discute os resultados laboratoriais corrente (total de 12 canais) destinados a enviar os sinais elétricos
e computacionais voltados para o processo de validação do externos à placa de aquisição;
filtro de sequência zero, operando sob condições ideais de • Placa de aquisição: recebe os sinais provenientes dos sensores
funcionamento. Para tanto, foi montado um arranjo laboratorial e canais de entrada e realiza a digitalização dos sinais (conversão
constituído, fundamentalmente, por uma fonte de suprimento A/D). O cartão, do fabricante Quatech, modelo DAQP-12, é uma
trifásica controlada HP6834 de 4,5 kVA, uma carga não-linear placa de controle e aquisição de dados para computadores e
e pelo filtro eletromagnético. A carga é constituída por três notebooks, com taxa de amostragem de 100 kHz. A foto do cartão
retificadores monofásicos, formando uma unidade trifásica, com o utilizado é mostrada na Figura 5.
neutro interligado ao neutro do sistema, permitindo a circulação
dos harmônicos de sequência zero. A Figura 3 mostra o arranjo
laboratorial utilizado para o ensaio do protótipo, enquanto a Figura
4 é indicativa do correspondente esquema unifilar.

Figura 5 – Foto ilustrativa do cartão de aquisição de dados DAQP-12

• Notebook: após a obtenção dos dados digitais que representam


os sinais amostrados, o microcomputador armazena em memória
os sinais na forma de janelas. Durante o processo de medição,
estes dados são armazenados em disco rígido por meio do software
de controle e processamento de sinais Dasylab 4.0 - IOtec. As
janelas de sinais se referem à aquisição digital de acordo com
a taxa de amostragem selecionada. Neste caso, utilizou-se 128
pontos representando 1 ciclo de medição.
Figura 3 – Arranjo experimental para os ensaios do filtro eletromagnético de
sequência zero

Figura 4 – Esquema unifilar correspondente à Figura 3 Figura 6 – Diagrama trifásico utilizado para o registro das grandezas elétricas
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O Setor Elétrico / Maio de 2009
53

(a) Corrente na carga não-linear Complementarmente, a Figura 8 fornece os correspondentes


A Figura 7 apresenta, respectivamente, as correntes de linha espectros de frequência para as correntes de pico anteriores.
A, B e C na entrada da carga não-linear. Ambos os resultados,
experimental e computacional, são adicionados para fins de
inspeção visual e estabelecimento dos termos comparativos.

Figura 7 – Formas de onda das correntes de linha na carga não-linear – Figura 8 – Espectros harmônicos das correntes de linha na carga não-linear –
experimental e computacional experimental e computacional
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54 O Setor Elétrico / Maio de 2009

(b) Corrente de linha no alimentador (c) Corrente de linha no filtro de sequência zero
Filtros harmônicos eletromagnéticos

A Figura 9 apresenta, respectivamente, as correntes nas linhas Por fim, a Figura 11 apresenta as correntes de linha A, B
A, B e C no alimentador. Novamente, os resultados experimental e e C no filtro eletromagnético. Objetivando, mais uma vez, o
computacional são destacados para os fins aqui almejados. estabelecimento de termos comparativos, ambos os resultados,
experimental e computacional, são evidenciados.

Figura 9 – Formas de onda das correntes de linha no alimentador –


experimental e computacional Figura 11 – Formas de onda das correntes de linha no filtro – experimental e
computacional

Complementarmente, a Figura 10 é indicativa dos espectros Ainda, a Figura 12 indica os correspondentes espectros

harmônicos das correntes de pico na alimentação, obtidos de harmônicos.

forma experimental e computacional, respectivamente.

Figura 10 – Espectros harmônicos das correntes de linha no alimentador – Figura 12 – Espectros harmônicos das correntes de linha no filtro –
experimental e computacional experimental e computacional
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56 O Setor Elétrico / Maio de 2009

(d) Síntese das correntes de linha de acordo com as suas (e) Corrente no neutro da carga não-linear,
Filtros harmônicos eletromagnéticos

sequências de fase alimentador e filtro


Com o intuito de fornecer mais detalhes sobre o desempenho De modo a proporcionar meios para uma melhor
do filtro, a Figura 13 apresenta os espectros harmônicos com a visualização da eficácia do filtro e, ainda, constatar sua
distribuição de sequências positivas, negativas e zero das correntes operacionalidade no que tange à absorção das componentes
de pico nos mesmos pontos analisados anteriormente. Apenas os de sequência zero, apresenta-se, a seguir, os resultados
resultados experimentais são considerados e as cores destacam a associados com as correntes no neutro para as três partes
sequência de fases da componente harmônica sob foco. envolvidas no processo: carga, alimentador e filtro. A Figura
14 ressalta que a corrente de neutro ficou praticamente
confinada à malha de circulação formada pela carga e filtro.

Figura 14 – Formas de onda das correntes de neutro na carga, no alimentador


e no filtro

Análise dos resultados


A Tabela 4 resume os principais resultados anteriores e
permite uma análise do processo de validação como um todo.
Focando os resultados mostrados anteriormente para uma
das linhas do sistema trifásico, constata-se que:
• As correntes harmônicas injetadas pela carga não-linear
Figura 13 – Espectros harmônicos com distribuição sequencial de fases para as se apresentam com conteúdos harmônicos responsáveis por
correntes de linha na carga não-linear, no alimentador e no filtro distorções totais em torno de 38,3%;

Tabela 4 – Análise dos resultados


Local Grandeza Simulação Experimental Diferença (%)
A B C A B C A B C
Valor eficaz (A) 7,7 7,6 7,6 7,8 7,8 7,8 1,3 2,6 2,6
Corrente na carga Harmônicas mais 3ª 26,3 24,7 24,9 26,7 23,4 22,9 1,5 5,5 8,7
não-linear significativas(%) 5ª 23,3 21,9 22,6 24,4 22,6 23,4 4,5 3,1 3,4
7ª 3,6 4,2 3,5 3,4 3,9 3,1 5,9 7,7 12,9
DTI (%) 36,1 33,8 34,4 38,3 33,4 33,1 5,7 1,2 3,9
Valor eficaz (A) 7,5 7,4 7,4 7,6 7,6 7,6 1,3 2,6 2,6
Corrente no Harmônicas mais 3ª 5,1 4,0 4,1 5,6 4,2 4,2 8,9 4,8 2,4
alimentador significativas (%) 5ª 23,1 22,4 22 26,1 23,3 22,9 11,5 3,9 3,9
7ª 3,3 4,1 3,0 2,9 3,7 2,9 13,8 10,8 3,4
DTI (%) 25 23,1 23,1 26,9 23,9 23,5 7,1 3,3 1,7
Valor eficaz (A) 1,7 1,7 1,7 1,6 1,6 1,6 6,3 6,3 6,3
Corrente no filtro Harmônicas mais 3ª 2,3 2,3 2,3 2,2 2,2 2,2 4,5 4,5 4,5
eletromagnético significativas 5ª 0,13 0,13 0,13 0,13 0,12 0,12 0 8,3 8,3
pico (A) 7ª 0,47 0,47 0,47 0,46 0,46 0,47 2,2 2,2 0
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O Setor Elétrico / Maio de 2009
57

• Quando da inserção do filtro de sequência zero, a nova esperar alguns desvios que possam justificar diferenças de
distorção total da corrente de linha do lado do supridor passou resultados. Estes são, dentre outros motivos: imprecisões
para 26,9%. Vale ressaltar que esta proporção corresponde, paramétricas, negligências de componentes parasitas, erros
praticamente, ao conteúdo de 5º harmônico, a qual, como se do sistema de medição e aquisição de dados, modelagem de
sabe, não se constitui numa frequência factível de filtragem alguns dispositivos como ideais, etc. Todavia, de modo geral,
pelo dispositivo aqui considerado. Todavia, a redução de não foram constatadas grandes discrepâncias que viessem a
cerca de 30% da distorção harmônica total de corrente já comprometer o processo de validação efetivado.
evidencia um substancial ganho advindo da filtragem ora O próximo capítulo deste fascículo abordará as análises de
considerada; desempenho do filtro de sequência zero quando da inserção
• No que tange às correntes encontradas nas linhas do de um dispositivo chamado bloqueador de sequência zero, o
filtro, constatou-se, como seria esperado, que o dispositivo qual, como será visto, melhorará significadamente a eficácia
demonstrou sua eficácia no sentido de absorver as deste filtro eletromagnético.
componentes harmônicas de sequência zero, promovendo,
assim, a atenuação da injeção harmônica no alimentador;
• Os resultados computacionais e experimentais, de um *FERNANDO NUNES BELCHIOR é engenheiro eletricista e docente da
modo geral, evidenciaram uma boa correlação quantitativa e Universidade Federal de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da
qualitativa, como observado pelas formas de onda e valores Energia Elétrica.
obtidos. Desta forma, fica evidenciado que o processo de Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, PhD é docente da Universidade
Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica.
validação da modelagem computacional apresentou um
LUIS C. ORIGA DE OLIVEIRA é docente da Universidade Estadual
bom desempenho no sentido de representar a operação do
Paulista (Unesp), campus Ilha Solteira (SP).
dispositivo focado nesta fase da pesquisa, qual seja, o filtro
de sequência zero. CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Deve-se ressaltar que, embora os resultados computacionais
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
e experimentais apresentem boa concordância, é de se redacao@atitudeeditorial.com.br
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Filtros harmônicos eletromagnéticos O Setor Elétrico / Junho de 2009

Capítulo IV
Operação conjunta: filtro e bloqueador
eletromagnético para correntes
harmônicas de sequência zero
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira e Luis C. Origa de Oliveira*

Como mencionado nos capítulos anteriores, A equação (2) mostra que a corrente no neutro do
diferentes técnicas têm sido utilizadas para a eliminação sistema de suprimento será tão menor quanto maior for
ou redução das correntes harmônicas de sequência zero a impedância de sequência zero do sistema, quando
nos sistemas elétricos de distribuição. Foi mostrado no comparada com a impedância de sequência zero do filtro.
capítulo anterior a utilização do filtro eletromagnético de Esta situação nem sempre pode ser encontrada na
baixa impedância de sequência zero, ligado em paralelo prática, pois dependerá fortemente do local em que
com a carga não-linear. Como visto, a eficiência do filtro o filtro é instalado no sistema elétrico. Objetivando
paralelo depende da impedância de sequência zero do avançar nesta direção, este capítulo propõe uma
filtro, a qual, por sua vez, está relacionada à reatância combinação do filtro de sequência zero paralelo com
de dispersão entre os enrolamentos pertencentes à um dispositivo bloqueador de sequência zero em série.
mesma coluna do núcleo e da impedância de sequência Assim procedendo, como será mostrado, obtém-se
zero do sistema de suprimento no local de instalação do uma substancial melhoria do desempenho da proposta
dispositivo. A corrente que se estabelece por meio do eletromagnética para filtragem.
filtro é dada por:
Filtro eletromagnético e
(1) bloqueador de sequência zero
A equação (1) permite constatar que a eficiência
Sendo: do filtro de sequência zero depende fortemente da
i0_C (t) - Corrente de sequência zero gerada
relação entre a impedância de sequência zero do filtro
pela carga não-linear;
e a impedância de sequência zero do sistema.
i0_F (t) - Corrente de sequência zero por meio
do filtro de sequência zero; Em instalações comerciais ou industriais de baixa
Z0_S - Impedância de sequência zero do tensão é comum encontrar a unidade abaixadora
sistema de suprimento (R0_S , L0_S );
de tensão formada por um ou mais transformadores
Z0_F - Impedância de sequência zero do
trifásicos ligados em delta no lado de média tensão (13,8
filtro de sequência zero (R0_F , L0_F ).
kV e 34,5 kV) e em estrela aterrada no lado da baixa
Como observado, a corrente de sequência zero tensão. Estes equipamentos, normalmente apresentam
gerada pela carga não-linear será drenada totalmente uma impedância de sequência zero dada por:
pelo filtro se a impedância de sequência zero do filtro
(3)
for bem menor que a impedância de sequência zero
do sistema de suprimento. A corrente resultante no Sendo:
neutro da fonte, depois da inserção do filtro, pode ser Z0_T - Impedância de sequência zero do
transformador ligado em delta-estrela aterrada;
calculada por:
ZP_T - Impedância de sequência positiva do
transformador ligado em delta-estrela aterrada.
(2)
A Figura 1 mostra um sistema de distribuição
Sendo:
INSS - Corrente de sequência zero pelo trifásico a quatro fios com o filtro de sequência zero
neutro do sistema de suprimento. ligado em paralelo com a carga não-linear.
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O Setor Elétrico / Junho de 2009
37

Figura 1 – Sistema de distribuição trifásico a quatro fios com o filtro de


sequência zero.

Temos:

IAS, IBS, ICS e INSS - Corrente na linha A, B, C e neutro


do sistema de suprimento;
IAC, IBC, ICC e INC - Corrente na linha A, B, C e neutro
da carga não linear;
IAF, IBF, ICF e INF - Corrente na linha A, B, C e neutro
do filtro de sequência zero.

A Figura 2 mostra o circuito equivalente monofásico da Figura


1, levando-se em consideração a impedância equivalente de
sequência zero do sistema de suprimento.

Figura 2 – Circuito monofásico equivalente.

A Tabela 1 fornece valores típicos para a impedância de


sequência positiva para diferentes potências de transformadores
trifásicos abaixadores, referidas ao lado de baixa tensão e com
tensão primária máxima de 15 kV, usados nas subestações de
consumidores comerciais ou industriais. Considerando a existência
somente do transformador abaixador, ou mesmo que o filtro
esteja localizado próximo ao transformador, a impedância de
sequência zero equivalente do sistema de suprimento será definida
por 0,85.ZTR. Tendo em mente que o filtro deverá competir com
tal impedância, este dispositivo deverá ser dimensionado para
apresentar uma impedância de sequência zero bem menor que a
correspondente impedância do transformador. Como a obtenção
de tal propriedade não se constitui em tarefa facial, surge a idéia
da inserção de outra unidade, esta em série, a qual foi denominada
por bloqueador de sequência zero.
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38 O Setor Elétrico / Junho de 2009

Tabela 1 – Impedância, resistência e reatância máxima para


Filtros harmônicos eletromagnéticos

transformadores de 13,8 kV/220 V-127 V


Potência do Impedância ZTR Resistência Reatância
transformador (Ω) (Ω) de dispersão
(kVA) (Ω)
15 0,11294 0,07314 0,07313
30 0,09780 0,03065 0,09287
45 0,06520 0,01864 0,06247
75 0,03912 0,00981 0,03787
112,5 0,02608 0,00593 0,02539
150 0,01956 0,00411 0,01912
225 0,01676 0,00258 0,01656
300 0,01257 0,00180 0,01244
500 0,00922 0,00193 0,00901
Figura 5 – Distribuição dos fluxos magnéticos.
O bloqueador de sequência zero se caracteriza por um dispositivo
Na Figura 5:
ligado em série com o sistema de suprimento conforme indicado na
φNU - Fluxo magnético no núcleo;
Figura 3. A ideia está na inserção de dispositivo que ofereça uma φAR - Fluxo no caminho de ar entre o núcleo e os
impedância relativamente alta à sequência zero e comparativamente enrolamentos;
baixa para a impedância de sequência positiva ou negativa. φDISP - Fluxo de dispersão de cada um dos
enrolamentos;
φEX - Fluxo através do caminho de ar entre a
culatra superior e inferior.
Ao se admitir uma construção física alternativa para os
enrolamentos, conforme indicado na Figura 6, o fluxo de dispersão de
cada bobina pode ser bastante minimizado, ou mesmo desprezado.
Nestas circunstâncias, chega-se a uma estrutura magnética equivalente
simplificada, formada pela combinação das relutâncias do núcleo e
FMMs. Esta situação é indicada na Figura 7, em que:
F(A), F(B) - Forças magnetomotrizes dos enrolamentos das fases A, B e C,
E F(C) respectivamente;

RNU1 - Relutância da coluna central do núcleo;


Figura 3 – Filtro de sequência zero e bloqueador de sequência zero (série).

RNU2 - Relutância equivalente das colunas laterais e culatras.


A Figura 4 mostra o aspecto físico construtivo do bloqueador, o qual
deverá ser dimensionado para conduzir a corrente nominal da carga
não-linear e operar na região linear da curva BH do núcleo magnético.

Modelagem do bloqueador
e filtro de sequência zero
Os modelos computacionais dos arranjos magnéticos para o
filtro paralelo foram devidamente explorados nos capítulo anteriores.
Fundamentando na mesma estratégia, a Figura 5 mostra o modelo
físico dos enrolamentos e do núcleo equivalente da Figura 4, em que
Figura 6 – Bloqueador de sequência zero com minimização da dispersão.
se observa a distribuição dos principais fluxos magnéticos.

Figura 7 – Modelo magnético equivalente do núcleo e enrolamentos da Figura 6.


Figura 4 – Aspecto físico do bloqueador.
Apoio
40 O Setor Elétrico / Junho de 2009

Características dos protótipos não-linear empregou-se um reator trifásico a núcleo saturado (RNS)
Filtros harmônicos eletromagnéticos

A Tabela 2 fornece as características elétricas e geométricas com o ponto comum dos enrolamentos ligados ao neutro do sistema.
do protótipo do filtro eletromagnético de sequência zero a ser
ligado em paralelo com a carga não-linear. A Figura 8 mostra o
equipamento propriamente dito.
Tabela 2 – Características elétricas e físicas do
protótipo do filtro eletromagnético
Tensão fase-fase 220 V
Potência trifásica 9 kVA
Número de espiras da BP e BA 88 espiras
Área bruta do núcleo 41,19 cm2
Fator de empilhamento 0,95
Altura da janela 13,6 cm Figura 10 – Diagrama esquemático da configuração nas simulações
computacionais e nos testes em laboratório.
Altura do núcleo 27,6 cm
Resistência das bobinas (BP + BA) 0,145 Ω Os trabalhos de simulação compreenderam duas situações.
Reatância dispersão (BP e BA) 0,0895 Ω A primeira com o filtro ligado à carga (chave S1 fechada), sem a
Impedância de dispersão entre BP e BA 0,1704 Ω presença do bloqueador de sequência zero (chave S2 fechada).
Posteriormente, a chave S2 foi aberta (t = 0,3 s), colocando-se o
No entanto, as principais as características elétricas e geométricas
bloqueador em série com o alimentador L1.
do protótipo do bloqueador de sequência zero, cujos parâmetros
foram utilizados nas simulações computacionais, encontram-se na
Correntes de linha
Tabela 3. A Figura 9 ilustra o equipamento em questão.
A Figura 11 mostra as correntes resultantes na linha A do
Tabela 3 – Características elétricas e físicas do protótipo do bloqueador série
alimentador L1 e do filtro (L3) decorrentes das situações já
Número de espiras por enrolamento 8 espiras
mencionadas. As tensões de suprimento foram consideradas
Área bruta do núcleo 64,0 cm2
equilibradas, bem como também a carga não-linear.
Fator de empilhamento 0,96
Altura da janela 13,6 cm
Altura do núcleo 27,6 cm
Resistência dos enrolamentos 0,01 Ω

Figura 8 – Foto do protótipo de filtro eletromagnético.

Figura 9 – Foto do protótipo do bloqueador de sequência zero


Figura 11 – (a) Corrente no alimentador L1 (fase A); (b) corrente no filtro
Avaliação computacional (L3) (fase A); (c) Tensão nos terminais do reator (fase A); (tINSERÇÃO DO
Com o objetivo de investigar a operação conjunta do filtro BLOQUEADOR = 0,3 s).
eletromagnético de sequência zero e do bloqueador de sequência A Tabela 4 fornece os valores da decomposição harmônica da
zero, utilizou-se a configuração apresentada na Figura 10. Como carga corrente do alimentador L1 (linha A), antes e após a inserção do
Apoio
42 O Setor Elétrico / Junho de 2009

bloqueador série. Observa-se uma significativa diminuição da 3a


Filtros harmônicos eletromagnéticos
Tabela 5 – Correntes em L1 sem o filtro, com a carga não-linear (RNS)
e sem o bloqueador série (valores eficazes)
e 9a harmônicas com a inserção do bloqueador, além daquela já
anteriormente provocada pela inserção do filtro eletromagnético. Fund. 3a 5a 7a 9a 15a Irms (A)
I(A) 10,917 5,017 3,967 1,583 0,367 0,150 12,760
Tabela 4 – Decomposição harmônica da corrente na linha A do alimentador L1
I(B) 10,100 3,540 3,563 1,278 0,352 0,058 11,359
t (s) Fund. 3a 5a 7a 9a 15a I(C) 10,800 5,017 4,217 1,700 0,433 0,200 12,760
<0,3 9,61 4,12 6,85 5,19 1,70 0,14
>0,3 9,05 0,20 6,38 4,82 0,07 0,00 A Tabela 6, por sua vez, mostra as componentes harmônicas
das correntes de linha após a inserção do filtro. Os resultados
A corrente fundamental suprida para a carga não-linear (RNS)
evidenciam uma expressiva diminuição significativa na 3a, 9a e
permanece praticamente inalterada.
15a harmônicas da corrente.
Corrente de neutro
Tabela 6 – Correntes em L1 com o filtro paralelo, com a carga não linear
A Figura 12 mostra as formas de onda da corrente no neutro do
(RNS) e sem o bloqueador série (valores eficazes)
sistema de suprimento e a corrente no neutro do filtro. Elas foram obtidas
Fund. 3a 5a 7a 9a 15a Irms (A)
com e sem a inserção do bloqueador série, que ocorreu em t = 0,3 s.
I(A) 11,637 0,827 4,230 1,785 0,100 0,075 12,541
I(B) 10,428 0,788 4,038 1,522 0,077 0,000 11,317
I(C) 11,667 0,900 4,680 1,917 0,110 0,107 12,753

Com a inserção do filtro bloqueador, o desempenho do filtro fica


melhorado, como mostram os resultados da Tabela 7. Nesta tabela,
a 9a e a 15a harmônicas são praticamente eliminadas, restando
somente um nível muito pequeno da 3a harmônica de corrente.
Tabela 7 – Correntes em L1 com o filtro, com a carga não-linear (RNS)
e com o bloqueador série (valores eficazes)

Fund. 3a 5a 7a 9a 15a Irms (A)


I(A) 11,637 0,160 4,332 1,800 0,042 0,000 12,548
I(B) 10,862 0,221 4,212 1,567 0,000 0,000 11,757
Figura 12 – Corrente no neutro do sistema de suprimento – I(NSS) e corrente no I(C) 11,684 0,151 4,570 1,885 0,097 0,077 12,689
neutro do filtro – I(NF) após a inserção do bloqueador em t = 0,3 s.

A Figura 14 mostra as formas de onda das correntes de linha


O efeito da inserção do bloqueador, como se percebe, é o de
com o filtro e o bloqueador operando conjuntamente.
desviar as correntes de sequência zero para o filtro de sequência zero.
Isto é decorrente do fato que tais componentes de corrente passam a
enfrentar uma maior impedância na direção da alimentação geral.

Avaliação laboratorial
Empregando desta vez um arranjo laboratorial no qual se faz
presente um protótipo de reator saturado como fonte de harmônicos,
procedeu-se uma série de experimentos objetivando a validação
experimental das constatações anteriores quanto à eficácia do
desempenho físico da proposta deste artigo. Figura 14 – Formas de onda das correntes de linha com o filtro paralelo e o
bloqueador série.
Correntes de linha
A Figura 13 mostra as formas de onda das correntes em L1 sem o filtro Corrente de neutro
paralelo e sem o bloqueador série e a Tabela 5 quantifica os resultados. A Tabela 8 fornece a decomposição harmônica para a corrente
no neutro do sistema (INSS) e no neutro da carga não-linear (INC)
sem a presença do filtro e sem o bloqueador série.
Tabela 8 – Correntes de neutro sem o filtro e sem o bloqueador série

Fund. 3a 5a 7a 9a 15a Irms (A)


INSS 0,808 14,404 0,368 0,126 1,202 0,374 14,487
INC 0,814 14,402 0,37 0,124 1,198 0,372 14,485

Uma vez conectado o filtro paralelo, a Tabela 9 apresenta os

Figura 13 – Correntes no alimentador L1 sem o filtro e sem o bloqueador série.


resultados das medições das correntes INSS, INC e INF, com a inserção
Fator de multiplicação de escala (FME) = 0,1. do filtro somente.
Apoio
O Setor Elétrico / Junho de 2009
43

Tabela 9 – Correntes de neutro com o filtro e sem o bloqueador série


grande relevância quanto às dificuldades advindas da correlação entre
Fund. 3a 5a 7a 9a 15a Irms (A) a impedância de sequência zero do filtro paralelo e a correspondente
INSS 0,857 2,358 0,518 0,156 0,278 0,138 2,586 grandeza do lado do suprimento. Além deste aspecto, a inserção do
INC 1,473 14,610 0,432 0,008 1,503 0,512 14,784 filtro série auxilia o controle de um efeito indesejável por meio do
INF 2,315 11,901 0,132 0,130 1,317 0,387 12,202
qual os dispositivos paralelos passam a absorver componentes de
Finalmente, os resultados constantes da Tabela 10 apresentam sequência zero de outros que não aqueles do alimentador focado.
as mesmas correntes considerando a operação conjunta do filtro e O próximo capítulo abordará as variáveis de influência que
do bloqueador. podem afetar o desempenho do filtro eletromagnético de sequência
Tabela 10 – Correntes de neutro com o filtro paralelo e com o bloqueador série zero. As variáveis consideradas são comumentes encontradas nos
Fund. 3 a
5a
7a
9 a
15a
Irms (A) sistemas elétricos atuais, como: desequilíbrio de tensão, distorção
INSS 0,069 0,136 0,0 0,0 0,0 0,0 0,152 harmônica de tensão e cargas desequilibradas.
INC 1,553 14,633 0,390 0,0 1,480 0,520 14,804
*FERNANDO NUNES BELCHIOR é engenheiro eletricista e docente da
INF 1,610 14,367 0,363 0,0 1,463 0,506 14,545 Universidade Federal de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da
Energia Elétrica.
Os trabalhos experimentais também mostraram que, com a
Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, PhD é docente da Universidade
inserção do bloqueador, não há alterações na distorção harmônica Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica.
da tensão nos terminais da carga não-linear. LUIS C. ORIGA DE OLIVEIRA é docente da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), campus Ilha Solteira (SP).
CONCLUSÕES
Colaboraram os engenheiros Drs. ROBERTO APOLÔNIO e ARNULFO
O enfoque principal deste capítulo foi analisar computacional e BARROSO DE VASCONCELLOS, ambos da Universidade Federal de
experimentalmente o comportamento da operação conjunta do filtro Mato Grosso (UFMT).
de sequência zero com o bloqueador de sequência zero, conectado Este trabalho foi publicado originalmente no VI Seminário Brasileiro
em série. Os resultados das simulações e das medições em laboratório sobre Qualidade de Energia Elétrica (SBQEE), em Belém (PA).
mostraram que o uso desta unidade bloqueadora série melhora CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
consideravelmente o desempenho do sistema de filtragem. Como Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
destacado, o emprego deste dispositivo complementar torna-se de redacao@atitudeeditorial.com.br
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46
Filtros harmônicos eletromagnéticos O Setor Elétrico / Julho de 2009

Capítulo V
Variáveis de influência na
eficácia dos filtros de sequência zero
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira e Luis C. Origa de Oliveira*

Nos capítulos precedentes foram abordados encontrados nas redes e equipamentos elétricos;
aspectos diversos referentes aos equipamentos • Apresentação dos resultados obtidos e respectivas
eletromagnéticos abordados neste fascículo. As análises comparações com as situações idealizadas;
envolveram desde o princípio de funcionamento dos • Caracterização do nível de relevância do tipo de
dispositivos até a validação computacional por meio de desvio analisado.
ensaios laboratoriais. Estas contemplaram tão apenas
situações ideais de funcionamento. Sob tais condições, Fatores de influência nos
devem ser compreendidas: redes de alimentação processos de filtragem
com tensões senoidais e equilibradas, impedâncias Com o intuito de contemplar os itens anteriormente
simétricas para todas as partes envolvidas, carga não- mencionados, a Tabela 1 sintetiza as situações
linear equilibrada, etc. selecionadas para os estudos de desempenho dos
Em vista do fato de que as redes elétricas não filtros eletromagnéticos de sequência zero sob
atendem às premissas anteriores, torna-se imperativa distintos desvios das condições ideais. Para cada
a realização de trabalhos adicionais investigativos caso considerado, são caracterizadas as situações e
voltados para os estudos de desempenho dos os valores adotados para quantificar os desvios. Estas
produtos focados sob distintas condições que aquelas situações expressam condições operacionais reais,
postuladas. Este assunto constitui-se na essência deste frequentemente encontradas nos sistemas elétricos.
capítulo, o qual realiza estudos comparativos dos Tendo em vista dos impactos que as mencionadas
filtros de sequencia zero, de modo experimental e variáveis podem trazer para a operação do dispositivo
computacional, quando estes se encontram operando eletromagnético, considera-se fundamental avaliar
sob condições não-ideais de funcionamento. seus efeitos para o seu correto dimensionamento.
Para atender aos objetivos aqui propostos, este Vale lembrar que, à exceção dos parâmetros alterados
capítulo encontra-se estruturado da seguinte forma: e destacados na Tabela 1, os demais dados obedecem
• Definição dos casos considerados nas investigações integralmente àqueles já empregados no Capítulo III,
experimentais e computacionais, os quais contemplam publicado nesta revista em maio de 2009. Por tais motivos,
os desvios das condições ideais mais comumente considera-se dispensável repeti-los neste capítulo.

Tabela 1 – Casos analisados para as situações operacionais não-ideais


Filtro eletromagnético Caso Situação Características Tipo de estudo
Tensão senoidal desequilibrada = 1,35V / 162º
1 ( ) e carga não-linear = 126,5V / 0º Computacional / experimental
equilibrada (2,7 kVA) = 3,85V / -6,4º
Sequência Tensão distorcida equilibrada (DTHT = = 5%
zero 2 7,1% e V1 = 127 V) e carga não-linear = 4% Computacional / experimental
equilibrada (2,7 kVA) = 3%
Carga não-linear desequilibrada SA = 908 V
3 e tensão senoidal equilibrada SB = 633 VA Computacional / experimental
de 127 V SC = 441 VA
Apoio
O Setor Elétrico / Julho de 2009
47

Objetivando avaliar o desempenho do filtro de sequência zero um fator de desequilíbrio de 3% ( ), mantendo-se as demais
a partir das situações enfocadas na Tabela 1, o arranjo físico da características idênticas às condições ideais de funcionamento.
Figura 1 foi utilizado para os trabalhos subsequentes. Vale ainda ressaltar que a tensão utilizada, além da componente
de sequência negativa responsável pelo indicador anterior, ainda
possui uma componente de sequência zero ( ) de 1,35 V.

(a) Corrente na carga não-linear


A Figura 2 apresenta a forma de onda da corrente e respectivo
espectro harmônico na linha A, registrada na carga não-linear, de
forma experimental e computacional.

Figura 1 – Arranjo físico utilizado para os estudos computacionais e experimentais

Em todos os três casos a seguir, por questões de espaço, somente


os resultados oriundos da corrente de linha da fase A na carga
não-linear, na alimentação e, por fim, no filtro eletromagnético de
sequência zero serão mostrados. É válido destacar que as correntes
nas outras fases apresentaram comportamento similar, variando,
naturalmente, suas magnitudes e/ou formas de onda, dependendo
do caso analisado.

Caso 1 – Alimentação com tensão desequilibrada


Como forma de analisar o desempenho do filtro diante de Figura 2 – Forma de onda e espectro harmônico da corrente de linha A na
tensões desequilibradas, adotou-se uma assimetria responsável por carga não-linear – experimental e computacional – tensão desequilibrada
Apoio
48 O Setor Elétrico / Julho de 2009

(b) Corrente de linha no alimentador


Filtros harmônicos eletromagnéticos

A Figura 3 apresenta a corrente e respectivo espectro harmônico


do alimentador, na linha A, focando os resultados experimental e
computacional.

Figura 3 – Forma de onda e espectro harmônico da corrente de linha na fase A


no alimentador – experimental e computacional – tensão desequilibrada

(c) Corrente de linha no filtro de sequência zero


Por fim, a Figura 4 apresenta, respectivamente, a corrente Figura 5 – Distribuição sequencial para as correntes de linha na carga não-
linear, no alimentador e no filtro – senoidal e tensão desequilibrada
e espectro harmônico de linha A do filtro eletromagnético.
Novamente, os resultados experimentais e computacionais são A análise da Figura 5 enfatiza que o desequilíbrio na tensão
mostrados. de suprimento, como seria esperado, é responsável pela geração
de componentes harmônicas de sequência zero na frequência
de 60 Hz, que fluem do barramento de suprimento para o filtro.
Tomando por base apenas a componente de sequência zero,
esta somada às componentes harmônicas de sequência zero
advindas da carga não-linear determinam o aumento do valor
da corrente fundamental de sequência zero absorvida pelo
filtro eletromagnético. Este fato determina a necessidade de
cuidados especiais quanto ao dimensionamento dos condutores
dos enrolamentos do filtro sob análise, que podem aquecer e,
consequentemente, trazer implicações para o dispositivo, caso
esta situação não seja prevista no projeto do equipamento.

Caso 2 – Alimentação com tensão distorcida


Outra condição operacional não-ideal comumente encontrada
Figura 4 – Forma de onda e espectro harmônico da corrente de linha A no filtro
em sistemas reais está atrelada a um suprimento via sistema
– experimental e computacional – tensão desequilibrada
trifásico balanceado, porém distorcido. Para tal fim, como definido
(d) Síntese das correntes de linha de acordo com as suas anteriormente, adotou-se, a título de ilustração, uma composição
sequências de fase tal que a tensão de alimentação contenha: 5% de 3ª harmônica
Para comparar o desempenho do filtro quando com (sequência zero), 4% de 5ª harmônica (sequência negativa) e 3%
suprimento ideal e sob suprimento desequilibrado, nos termos de 7ª harmônica (sequência positiva).
investigados, a Figura 5 apresenta os espectros harmônicos com
a distribuição de sequências positivas, negativas e zero das (a) Corrente na carga não-linear
correntes de pico nos mesmos pontos analisados anteriormente, Reportando à carga não-linear, a Figura 6 apresenta a corrente
tal como aconteceu para o caso senoidal, mostrado no Capítulo de linha na fase A e respectivo espectro harmônico, de forma
III deste fascículo. experimental e computacional.
Apoio
O Setor Elétrico / Julho de 2009
49

Figura 6 – Forma de onda e espectro harmônico da corrente de linha A na


carga não-linear – experimental e computacional – tensão distorcida

(b) Corrente de linha no alimentador


A Figura 7 apresenta a corrente na linha A e respectivo
espectro harmônico do alimentador, contemplando os resultados
experimentais e computacionais.

Figura 7 – Forma de onda e espectro harmônico da corrente de linha A no


alimentador – experimental e computacional – tensão distorcida

(c) Corrente de linha no filtro de sequência zero


Por fim, a Figura 8 apresenta a corrente de linha A e respectivo
espectro harmônico do filtro eletromagnético, novamente, de
forma experimental e computacional.

Figura 8 – Forma de onda e espectro harmônico da corrente de linha A no filtro


– experimental e computacional – tensão distorcida
Apoio
50 O Setor Elétrico / Julho de 2009

A diferença encontrada entre o espectro harmônico da corrente aquecer e, consequentemente, trazer restrições para a utilização
Filtros harmônicos eletromagnéticos

do filtro experimental e computacionalmente pode ser atribuída, do dispositivo, caso esta situação não seja prevista no projeto do
dentre outros aspectos, às imperfeições frequentemente detectadas equipamento.
nos ensaios laboratoriais. De fato, muito embora os esforços
para a reprodução de situações impostas, pequenos desvios são Caso 3 – Carga não-linear desequilibrada
inerentes ao processo de geração das ondas de tensão, justificando, De modo a contemplar esta situação não-ideal, adotou-se uma
assim, os erros detectados entre os resultados experimentais e nova composição para a carga, a qual passa a ser constituída por
computacionais. três unidades retificadoras distintas, cujas potências são: SA = 908
VA, SB = 633 VA e SC = 441 VA. Quanto às demais grandezas, estas
(d) Síntese das correntes de linha de acordo com as suas voltam a ser as mesmas empregadas para as condições ideais de
sequências de fase funcionamento do filtro.
Mais uma vez, objetivando comparar o desempenho do
filtro de sequência zero quando no suprimento ideal e diante (a) Corrente na carga não-linear
do suprimento distorcido aqui enfocado, a Figura 9 apresenta os A Figura 10 apresenta os resultados para a corrente de linha
espectros harmônicos com a distribuição de sequências positivas, e respectivo espectro harmônico na fase A registrada na carga
negativas e zero para as correntes de pico nos mesmos pontos não-linear, na alimentação e, por fim, no filtro de sequência zero.
analisados anteriormente. Apenas os resultados experimentais Como para os demais casos, ambos os desempenhos, experimental
são considerados e as cores destacam a sequência de fases da e computacional, são destacados.
componente harmônica sob foco.

Figura 10 – Formas de onda e espectro harmônico da corrente fase A na carga


não-linear – experimental e computacional – carga não-linear desequilibrada

(b) Corrente de linha do alimentador


A Figura 11 mostra a corrente na linha A e respectivo harmônico
no alimentador, obtidas dos ensaios laboratoriais e simulações
computacionais.

Figura 9 – Distribuição sequencial para as correntes de linha na carga não-


linear, no alimentador e no filtro – senoidal e tensão distorcida

Os resultados para este caso evidenciam que a aplicação de


uma tensão distorcida provoca alterações nas correntes de linha da
carga para a frequência fundamental e para cada ordem harmônica.
Este fato, tal como aconteceu para o caso anterior, determina a
necessidade de cuidados especiais quanto ao dimensionamento
Figura 11 – Forma de onda e espectro harmônico da corrente de linha A no
dos condutores dos enrolamentos do filtro sob análise, que podem alimentador – experimental e computacional – carga não-linear desequilibrada
Apoio
52 O Setor Elétrico / Julho de 2009

(c) Corrente de linha no filtro de sequência zero Os resultados evidenciam que a operação da carga não-
Filtros harmônicos eletromagnéticos

Por fim, a Figura 12 fornece a corrente de linha A e espectro linear desequilibrada contribuiu significativamente para o
harmônico do filtro eletromagnético, de forma experimental e aumento da componente fundamental de corrente de sequência
computacional. zero. Também se observa que as componentes harmônicas
são afetadas e o conjunto incrementa a corrente no filtro.
Mais uma vez, fica constatado que o prévio conhecimento
das condições operativas do filtro sob a ação de uma carga
desequilibrada também se constitui em fator relevante ao
correto dimensionamento e construção do filtro.

Considerações finais
Finalmente, para este capítulo, vale enfatizar que
os resultados evidenciaram que, sob tais condições de
funcionamento, os filtros harmônicos eletromagnéticos de
sequência zero podem apresentar expressivas perdas de
eficiência. Por tais motivos, torna-se essencial que a sua
aplicação seja sempre precedida de estudos avaliativos para
Figura 12 – Forma de onda e espectro harmônico da corrente de linha A no
filtro – experimental e computacional – carga não-linear desequilibrada
se evitar, por exemplo, aquecimentos excessivos e queda da
eficiência acima de níveis permitidos.
(d) Síntese das correntes de linha de acordo com as suas O último capítulo deste fascículo abordará a validação
sequências de fase experimental dos filtros harmônicos eletromagnéticos de
A Figura 13 apresenta os espectros harmônicos, com a sequência positiva e negativa.
distribuição de sequências positivas, negativas e zero das correntes
de linha nos mesmos pontos analisados anteriormente. Apenas os
resultados experimentais são considerados.

*FERNANDO NUNES BELCHIOR é engenheiro eletricista e docente da


Universidade Federal de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da
Energia Elétrica.
Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, PhD é docente da Universidade
Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica.
LUIS C. ORIGA DE OLIVEIRA é docente da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), campus Ilha Solteira (SP).

Colaboraram os engenheiros Drs. ROBERTO APOLÔNIO e ARNULFO


BARROSO DE VASCONCELLOS, ambos da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT).
Este trabalho foi publicado originalmente no VI Seminário Brasileiro
sobre Qualidade de Energia Elétrica (SBQEE), em Belém (PA).

Todos os capítulos deste fascículo contaram com o suporte da Fundação


de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig)
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Figura 13 – Espectros harmônicos com distribuição sequencial de fases para as Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
correntes de linha na carga não-linear, alimentador e filtro de sequência zero – Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
redacao@atitudeeditorial.com.br
senoidal e carga não-linear desequilibrada
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42 O Setor Elétrico / Agosto de 2009

Capítulo VI - final
Filtros harmônicos eletromagnéticos

Validação experimental do
filtro harmônico de sequência
positiva e negativa
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira e Luis C. Origa de Oliveira*

As análises que seguem estão imbuídas do propósito Para prosseguir com as análises, o primeiro passo
de se avaliar as características elétricas e magnéticas do consiste na obtenção das informações relacionadas com
filtro de sequência positiva e negativa, assim como dos a corrente de magnetização do filtro de sequência positiva
estudos de seu desempenho operacional. Objetivando e negativa, quando o dispositivo encontra-se suprido por
o atendimento a tais metas, são apresentados a seguir: uma tensão nominal e ideal. Esta medida é relevante ao
• O protótipo do filtro harmônico; processo de obtenção da curva de histerese magnética real
• O arranjo laboratorial utilizado para os testes; do produto, visto que o seu funcionamento como filtro
• Os resultados comparativos de desempenho. harmônico se fundamenta justamente na sua operação
sob condições saturadas. A partir da curva de histerese,
Protótipo do filtro de torna-se viável a extração dos parâmetros exigidos pelo
sequência positiva e negativa modelo do laço de histerese utilizado.
O protótipo construído para fins de filtragem de Em valores instantâneos, a relação entre a corrente
correntes de sequência positiva e negativa é mostrado de magnetização do reator (i) e o campo magnético do
na Figura 1. Suas características construtivas são núcleo (h) é dada pela Lei de Ampère (1):
apresentadas na Tabela 1.

Em que:
N - Número de espiras do enrolamento do filtro;
l0 - Comprimento médio do caminho magnético [m], dado
por: ;
I - Corrente instantânea de magnetização do reator [A];
H - Intensidade do campo magnético instantâneo [A/m].

Das leis de Faraday e Lenz podem-se escrever as


equações (2) e (3):

Figura 1 - Protótipo do filtro eletromagnético de sequência


positiva e negativa
t

Tabela1 - Características construtivas e elétricas do (t) = - 1


n
v(t)
protótipo do filtro de sequência positiva e negativa
0
Grandeza Valor
Em que:
Tensão fase-fase (V) 190 V
φ(t) - Fluxo magnético instantâneo;
Potência trifásica (S) 3000 VA v(t) - Tensão instantânea aplicada ao filtro.
Número de espiras 116 O sinal negativo na equação (3) está em
Seção transversal do núcleo (A) 19,488 cm2 concordância com a lei de Lenz. Para fins deste
Fator de empilhamento 0,95 trabalho, o sinal pode ser desconsiderado, uma vez
Comprimento médio da coluna magnética (l) 19,5 cm que os desenvolvimentos empregam apenas os valores
Comprimento médio das culatras (lcul) 8,0 cm absolutos.
Apoio
O Setor Elétrico / Agosto de 2009
43

Utilizando uma excitação magnética associada com a aplicação Com base nos requisitos impostos pelo modelo do laço de
da tensão nominal do dispositivo, obtêm-se as formas de onda do histerese empregado pelo programa e a partir das informações da
processo de excitação e o laço de histerese, indicados nas Figuras Tabela 1, torna-se possível a extração das grandezas sintetizadas na
2(a) e (b). Tabela 2.

Tabela 2 - Características obtidas a partir da curva de


histerese do filtro de sequência positiva e negativa

Grandeza Valor
Permeabilidade inicial relativa (ui) 2500
Permeabilidade coerciva relativa (uhc) 60000
Densidade de fluxo residual (br) 1,2 [T]
Força coerciva (hc) 79 [Ae/m]
(a) Forma de onda da tensão aplicada e da corrente de magnetização
bmax 1,8 [T]
do filtro de sequência positiva e negativa
hmax 1700 [Ae/m]
bsat 1,7 [T]
hsat 1000 [Ae/m]

Validação da modelagem computacional


Prosseguindo com os estudos, as análises a seguir avaliam os
resultados laboratoriais e computacionais, objetivando, principalmente, o
processo de validação do filtro de sequência positiva e negativa, operando
sob condições ideais. Para tanto, foi montado um arranjo laboratorial
(b) Laço de histerese
constituído, fundamentalmente, por:
Figura 2 - Formas de onda da tensão, corrente e laço de histerese obtidos no • Uma fonte de suprimento trifásica controlada HP6834 de 4,5 kVA
filtro eletromagnético de sequência positiva e negativa
(mesma utilizada nos estudos anteriores);
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44
44 O Setor Elétrico / Agosto de 2009
Filtros harmônicos eletromagnéticos

• Uma carga não-linear; Os pontos de monitoração selecionados, as grandezas registradas


• O filtro eletromagnético sob enfoque com o dispositivo defasador e as correspondentes figuras ilustrativas são sintetizados na Tabela 3.
conectado em série com o mesmo.
Tabela 3 - Síntese das medições utilizadas para validação do modelo
A carga não-linear é constituída por um retificador trifásico não- computacional do filtro de sequência positiva e negativa

controlado, cujo conteúdo harmônico presente nas correntes é dado por Local da medição Resultado apresentado Figura
6k±1, sendo k∈I+. Desta forma, as principais componentes harmônicas (a) Carga não-linear Correntes de fase A, B e C 6
são de 5ª e 7ª ordens, conforme requerido pela metodologia aqui Espectro harmônico A, B e C 7
contemplada. (b) Alimentador Correntes de fase A, B e C 8
A Figura 3 mostra o arranjo laboratorial utilizado para o ensaio Espectro harmônico A, B e C 9

do protótipo, enquanto que a Figura 4 é indicativa do correspondente (c) Filtro de sequência Correntes de fase A, B e C 10

esquema unifilar. positiva e negativa Espectro harmônico A. B e C 11

O registro destas grandezas foi realizado pelo sistema de aquisição de


dados identificado na Figura 5 e constituído por:
• Sensores e canais de entrada: três ponteiras de tensão e nove clamp’s de
corrente (total de 12 canais) destinados a enviar os sinais elétricos externos
à placa de aquisição;
• Placa de aquisição: recebe os sinais provenientes dos sensores e canais
de entrada e realiza a digitalização dos sinais (conversão A/D). O cartão, do
fabricante Quatech, modelo DAQP-12, é uma placa de controle e aquisição
de dados para computadores e notebooks, com taxa de amostragem de 100
Figura 3 - Arranjo experimental para os ensaios do filtro eletromagnético de
sequência positiva e negativa kHz. A foto do cartão utilizado é mostrada na Figura 5.

Figura 5 - Foto ilustrativa do cartão de aquisição de dados DAQP-12

• Notebook: após a obtenção dos dados digitais que representam os


sinais amostrados, o microcomputador armazena em memória os sinais
na forma de janelas. Durante o processo de medição, estes dados são
armazenados em disco rígido, pelo software de controle e processamento
Figura 4 - Esquema unifilar correspondente à Figura 3 de sinais Dasylab 4.0 - IOtec. As janelas de sinais se referem à aquisição
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46 O Setor Elétrico / Agosto de 2009

digital de acordo com a taxa de amostragem selecionada. Neste caso, (b) Corrente de linha no alimentador
Filtros harmônicos eletromagnéticos

utilizou-se 128 pontos representando 1 ciclo de medição. As correntes de linha no alimentador, fornecidas pela Figura 8,
mostram os resultados experimentais e computacionais.
(a) Corrente na carga não-linear
A Figura 6 apresenta, respectivamente, as correntes de linha A, B
e C na carga não-linear. Tal como foram apresentados para a estratégia
de filtragem de sequência zero, ambos os resultados, experimental
e computacional, são adicionados para fins de inspeção visual e
estabelecimento dos termos comparativos.
Complementarmente, a Figura 7 fornece os correspondentes
espectros de frequência para as correntes de pico anteriores.

Figura 8 - Formas de onda das correntes de linha no alimentador -


experimental e computacional - filtro de sequência positiva e negativa

Complementarmente, a Figura 9 é indicativa dos espectros


harmônicos das correntes de pico no alimentador, obtidos de forma
experimental e computacional, respectivamente.

Figura 6 - Formas de onda das correntes de linha na carga não-linear -


experimental e computacional - filtro de sequência positiva e negativa

Figura 9 - Espectros harmônicos das correntes de linha no alimentador -


experimental e computacional - filtro de sequência positiva e negativa

(c) Corrente de linha no filtro de sequência positiva e


negativa
Figura 7 - Espectros harmônicos das correntes de linha na carga não-linear -
experimental e computacional - filtro de sequência positiva e negativa Por fim, a Figura 10 é indicativa das correntes de linha A, B
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O Setor Elétrico / Agosto de 2009
47

e C no filtro eletromagnético. Objetivando, mais uma vez, o Ainda, a Figura 11 indica os correspondentes espectros
estabelecimento de termos comparativos, ambos os resultados, harmônicos para as correntes de pico.
experimental e computacional, são evidenciados.

Figura 11 - Espectros harmônicos das correntes de linha no filtro - experimental


e computacional - filtro de sequência positiva e negativa

(d) Síntese dos resultados


Figura 10 - Formas de onda das correntes de linha no filtro - experimental e Objetivando fornecer maiores esclarecimentos sobre a
computacional - filtro de sequência positiva e negativa
operacionalidade do filtro as Figuras 12 e 13 apresentam, na forma
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48 O Setor Elétrico / Agosto de 2009

de diagramas fasoriais, as correntes harmônicas de pico de 5ª e


Filtros harmônicos eletromagnéticos

7ª ordem, correspondentes ao filtro e à carga não-linear, para as


três fases monitoradas. As análises compreendem os resultados
computacionais e experimentais.

Figura 13 - Diagramas fasoriais das correntes de linha na carga e no


filtro - experimental e computacional - 7ª ordem

Análise dos resultados


A Tabela 4 resume os principais resultados anteriores e permite
constatar a eficácia do dispositivo e a validação da modelagem do
filtro de sequência positiva e negativa.
Tabela 4 - Síntese comparativa dos resultados da operação do
filtro eletromagnético de sequência positiva e negativa sob
condições ideais de suprimento

Local Grandeza Simulação Experimental Diferença (%)


A B C A B C A B C

Valor eficaz (A) 3,89 3,9 3,89 3,89 4,01 3,9 0 2,7 0,2

Corrente na Harmônicas mais 5ª 1,2 1,19 1,2 1,22 1,24 1,21 1,6 4,0 0,8

carga não-linear significativas pico (A) 7ª 0,54 0,55 0,55 0,58 0,61 0,59 6,9 9,8 6,7

DIHT (%) 26,6 26,5 26,6 28,9 28,9 28,9 7,9 8,3 7,9

Valor eficaz (A) 5,22 4,79 5,26 5,26 5,03 5,24 0,7 4,7 0,4

Corrente no Harmônicas mais 3ª 0,32 0,28 0,05 0,3 0,26 0,04 6,6 7,7 25

alimentador significativas 5ª 0,18 0,37 0,29 0,2 0,37 0,29 10 0 0

pico (A) 7ª 0,4 0,3 0,4 0,36 0,32 0,4 11,1 6,6 0

DIHT (%) 10,4 11,3 10,6 11,3 12,8 11,6 7,9 2,6 8,6
Figura 12 - Diagramas fasoriais das correntes de linha na carga e no
Corrente no Valor eficaz (A) 2,75 2,42 2,52 2,8 2,6 2,7 1,8 6,9 6,6
filtro - experimental e computacional - 5ª ordem - filtro de sequência
positiva e negativa filtro de Harmônicas Mais 3ª 0,3 0,32 0,03 0,28 0,29 0,01 7,1 10,3 -

sequência significativas 5ª 1,02 0,84 1,03 1,0 0,9 1,11 1,9 6,6 7,2
É importante observar que as referências para os fasores das
Positiva e negativa pico (A) 7ª 0,34 0,34 0,3 0,37 0,34 0,34 8,1 0 11,7
correntes de carga e do filtro, obtidos de forma computacional 30,5 31,3 32,7 29,2 29,7 32,1 4,4 5,4 1,8
DIHT (%)
e experimental, não são iguais. Não obstante a este fato, a
compensação das ordens harmônicas fica clara quando se observam Observando os resultados da Tabela 4, pode-se constatar que:
as magnitudes e as diferenças entre os fasores apresentados para As correntes harmônicas injetadas pela carga não-linear se apresentam
um mesmo procedimento (experimental ou computacional). com conteúdos harmônicos responsáveis por distorções totais em torno
de 28%;
Quando da inserção do filtro de sequência positiva e negativa, a nova
distorção total da corrente de linha, do lado do supridor, passou para um
valor nas imediações de 10%. Tal redução, bastante significativa, tem
sustentação na forte eliminação da componente harmônica de ordem 5
e parte da componente de ordem 7. Disto desprende que ocorreu uma
redução da distorção harmônica total de cerca de 65%.
No que tange às correntes encontradas nas linhas do filtro,
constatou-se, como seria esperado, que o dispositivo, operando de
forma saturada e com neutro isolado, apresenta-se como uma carga
não-linear com geração de harmônicas de sequência positiva e negativa,
sendo a 5ª e 7ª ordens as que se manifestam com maiores amplitudes. O
aparecimento da 3ª ordem se justifica pela geometria planar do reator,
como já mencionado anteriormente.
Os resultados computacionais e experimentais, de um modo geral,
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O Setor Elétrico / Agosto de 2009
49

evidenciaram uma boa correlação. Isto ocorreu tanto para as formas de comparados aos respectivos resultados laboratoriais constituíram-se na
onda quanto para os valores obtidos. Desta forma, fica esclarecido que base do processo utilizado.
o processo de validação da modelagem computacional apresentou um Ratificação da eficácia da metodologia proposta para o processo de
bom desempenho no sentido de representar a operação do dispositivo filtragem de harmônicos de sequência positiva e negativa, fundamentadas
focado nesta fase da pesquisa, qual seja, o filtro de sequência positiva e em dispositivos eletromagnéticos.
negativa.
Como observação final, é importante ressaltar que, muito embora Referência bibliográfica
se tenha constatado o bom desempenho do filtro de sequência positiva - BELCHIOR, F. N. Uma nova abordagem à filtragem de harmônicos através de dispositivos
eletromagnéticos. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Uberlândia, 2006.
e negativa, outras influências operacionais não podem ser ignoradas.
- BELCHIOR, F. N.; OLIVEIRA, J. C.; OLIVEIRA, L. C. O. Fatores de influência no
Dentre elas destaca-se o aumento do valor RMS da corrente de suprimento desempenho de filtros eletromagnéticos de sequências positiva e negativa. Revista “O
do conjunto carga e filtro, visto a parcela de corrente fundamental Setor Elétrico”, São Paulo, p. 20-28, 01 jan. 2009.
necessária ao funcionamento da unidade eletromagnética. Associada a
mesma corrente, há ainda a ser destacado as implicações sobre o fator de
potência do conjunto, o qual sofre redução diante do aumento da parcela *FERNANDO NUNES BELCHIOR é engenheiro eletricista e docente da
indutiva da corrente total. Com o aumento da corrente fundamental e Universidade Federal de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da
Energia Elétrica.
sua influência sobre os cálculos dos DIHT, vale também observar que,
Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, PhD é docente da Universidade
somado ao efetivo processo de atenuação das componentes harmônicas,
Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica.
isto também contribui para uma redução maior dos níveis de distorção. LUIS C. ORIGA DE OLIVEIRA é docente da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), campus Ilha Solteira (SP).
Considerações finais
Todos os capítulos deste fascículo contaram com o suporte da Fundação
Atendendo aos objetivos supramencionados, o presente capítulo
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG.
ofereceu as seguintes contribuições: validação do modelo computacional
FIM
do filtro eletromagnético de sequência positiva e negativa, sob condições Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
operacionais também consideradas ideais. Os estudos computacionais
redacao@atitudeeditorial.com.br
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32
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Janeiro de 2010

Capítulo I
Conceitos iniciais: qualidade de
energia e harmônicos
Por Igor Amariz Pires*

Nos últimos anos, o desenvolvimento da indústria consumo elétrico nacional, sendo, assim, o setor que
eletroeletrônica tem propiciado um maior conforto mais consumiu, entre todos os analisados (residencial,
para a vida dos usuários ao mesmo tempo em que tem comercial, industrial, transporte, agropecuário e
fornecido equipamentos mais eficientes do ponto de público).
vista do consumo de energia. Além disso, programas de Entretanto, os percentuais de consumo de energia
conservação de energia passaram a ter maior enfoque elétrica residencial e comercial foram, respectivamente,
nas concessionárias, a partir do racionamento de 21,9% e 13,9%, totalizando 35,8%. Por estes dados,
energia elétrica ocorrido em 2001. um estudo dos cenários destes consumidores,
Estes cenários propiciaram uma maior entrada de enfocando a questão da qualidade de energia em seu
cargas eficientes e não-lineares nos lares brasileiros aspecto relativo aos harmônicos, se faz necessário.
e também em estabelecimentos comerciais. Este Para discutir a questão harmônica de cargas não
trabalho estuda o impacto que as cargas presentes em lineares residenciais e comerciais, este fascículo
consumidores residenciais e comerciais provocam no está dividido em capítulos, que abordarão os
sistema de distribuição no enfoque da qualidade de seguintes temas:
energia elétrica, especificamente harmônicos, tendo • A relação entre a conservação de energia e a
como objetivo caracterizar estas cargas quanto à qualidade de energia, mostrando estudos realizados
produção de correntes harmônicas. na temática envolvida neste trabalho;
Na literatura técnica são encontradas muitas • Efeitos de harmônicos no sistema de distribuição
informações sobre o impacto de cargas associadas e limites segundo as principais normas nacionais e
a consumidores industriais e poucas informações internacionais;
acerca de consumidores residenciais e comerciais. • Caracterização de aparelhos eletrodomésticos;
Isto poderia ser justificado anos atrás quando a maior • Cenários harmônicos em cargas residenciais e
parte das cargas presentes em residências e comércios comerciais;
eram lineares. Outra justificativa pertinente poderia • Simulação de sistemas de distribuição em áreas
ser o fato de o setor industrial ser o maior consumidor residenciais e comerciais;
de energia. • Conclusões e propostas para trabalhos futuros.
Porém, segundo o Boletim Energético Nacional Os fascículos serão divididos e publicados
(BEN) de 2005, no ano de 2004, quando foi feito o conforme cronograma anterior, podendo, entretanto,
balanço, o consumo da indústria representou 47,9% do sofrer alterações de acordo com os critérios do autor.

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O Setor Elétrico / Janeiro de 2010
33

Qualidade de energia desligamentos, flutuações de tensão, surtos e harmônicos (este


A qualidade de energia elétrica pode ser conceituada como último pelo lado do cliente), medidos no ponto de entrega de
o fornecimento de energia e aterramento adequados, visando a energia (fronteira entre as instalações da concessionária sob o
operação correta de um equipamento, conforme a norma IEEE ponto de vista do consumidor).
1159-1995. A qualidade de energia, por sua vez, pode ser dividida Há ainda alguns autores que também conceituam a
em cinco conceitos: qualidade de energia elétrica como sendo qualquer problema
1. Qualidade de tensão: focada nos desvios de tensão de um manifestado na tensão, corrente ou frequência que resultará
padrão ideal. Este padrão seria uma onda de tensão senoidal com em falha ou operação inadequada em equipamento de
amplitude e frequência constantes. consumidores. Sendo estes os principais problemas associados
2. Qualidade de corrente: termo complementar à qualidade de à qualidade de energia elétrica:
tensão; focada nos desvios de corrente de um padrão ideal. Este
padrão ideal, conforme a tensão, seria uma onda de corrente Transitórios
senoidal com amplitude e frequência constantes. Impulsivo: impulso sem alteração na frequência de estado
3. Qualidade de potência: combinação entre a qualidade de permanente da tensão e corrente, sendo unidirecional.
tensão e a qualidade de corrente. Oscilação: oscilações sem alteração na frequência de estado
4. Qualidade de fornecimento: combinação da qualidade de permanente da tensão e corrente, ocorrendo em valores positivos
tensão com aspectos não-técnicos de interação (atendimento, e negativos.
satisfação do cliente, etc.) entre a rede de fornecimento elétrico e
seus consumidores. Variações de tensão de longa duração
5. Qualidade de consumo: termo complementar da qualidade Sobretensão: aumento no valor eficaz da tensão em 10% ou mais
de fornecimento, enfocando as responsabilidades do consumidor para uma duração mínima de um minuto.
quanto à correta utilização da energia elétrica. Subtensão: diminuição no valor eficaz da tensão em 10% ou mais
A qualidade de energia elétrica pode ser definida como para uma duração mínima de um minuto.
a ausência relativa de variações de tensão provocadas pelo Interrupção sustentada: quando a tensão de alimentação
sistema da concessionária, particularmente a ausência de permanece em zero por um período maior que um minuto.
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34 O Setor Elétrico / Janeiro de 2010

Variações de curta duração ano de 2001, com o advento do racionamento de energia, quando
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Interrupções: tensão de alimentação ou corrente de carga esteja o programa de selos que classifica os produtos conforme sua
abaixo de 0,1 pu por um período menor que um minuto. eficiência começou a ter maior importância para o povo brasileiro
Sags: diminuição para valores entre 0,1 e 0,9 pu da tensão ou como um todo, mesmo após o racionamento. Dessa forma, a cultura
corrente eficaz para durações entre 0,5 ciclo e um minuto. de conservação de energia tem adentrado nos lares brasileiros.
Swell: aumento para valores entre 1,1 e 1,8 pu da tensão ou
corrente eficaz para durações entre 0,5 ciclo e um minuto. Harmônicos
Pata introduzir os principais temas a respeito de harmônicos,
Desbalanceamento serão citados estudos e pesquisas de diversos autores, mencionados
Desvio máximo da média das três tensões ou correntes de fase ao final do fascículo, nas referências bibliográficas. Os harmônicos
dividido pela média das três tensões ou correntes de fase, expresso são ondas senoidais de frequências múltiplas inteiras a uma
em porcentagem. A melhor análise seria através de componentes frequência de referência, chamada fundamental. No caso do
simétricas, pois a taxa de componentes de sequência negativa e sistema elétrico brasileiro, a fundamental é a frequência padrão de
positiva em relação à sequência positiva daria o desbalanceamento 60 Hz, tendo como 2º harmônico uma onda senoidal de 120 Hz,
para um dado sistema. 3º harmônico uma onda senoidal de 180 Hz e assim por diante.
Os harmônicos são uma forma matemática de analisar a
Distorção da forma de onda distorção de uma forma de onda, seja ela de tensão ou de corrente.
DC offset: presença de tensão ou corrente contínua no sistema Esta análise é feita por meio da decomposição de uma onda,
elétrico. utilizando a série de Fourier.
Harmônicos: tensões ou correntes de frequências múltiplas à O índice utilizado para contabilizar a quantidade de
fundamental presentes na forma de onda de tensão ou corrente. harmônicos presentes em uma onda, ou, em outras palavras, quão
Inter-harmônicos: tensões ou correntes em frequências não inteiras distorcida uma onda está em relação a uma onda senoidal é o THD
à fundamental presentes na forma de onda de tensão ou corrente. (Total Harmonic Distortion). Para uma onda puramente senoidal,
Notching: distúrbio periódico de tensão causado pela operação de livre de distorções, o THD é de 0%. Já para algumas ondas
componentes eletrônicos de potência quando ocorre comutação muito distorcidas, como exemplo correntes de alguns aparelhos
de uma fase para outra. eletrônicos, o THD pode chegar a 100%. A definição do THD é
Ruído: sinais indesejáveis em grandes frequências, abaixo de 200 apresentada na Equação 1:
kHz, superpostas a tensão ou corrente nos condutores de fase.

Flutuação de tensão
Variações sistemáticas na tensão cuja amplitude não exceda a Equação 1
faixa de 0,9 a 1,1 pu do valor eficaz de tensão. Em que:
f1 – módulo da grandeza na frequência fundamental
n – ordem harmônica
Variações na frequência da rede
k – último harmônico considerado
São desvios na frequência fundamental da rede. Flicker seria um fn – módulo da grandeza na frequência harmônica
fenômeno associado a este problema, sendo caracterizado como
uma flutuação na iluminação. Outro índice que também indica a distorção de uma onda
em relação a uma senoide é o fator de crista, chamado FC. Este é
Conservação de energia definido matematicamente como a divisão entre o valor de pico e
O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica o valor eficaz de uma onda. Para uma onda puramente senoidal,
(Procel), criado em dezembro de 1985 e instituído no ano seguinte, livre de distorções, o fator de crista é igual a 1,41. Alguns aparelhos
é um projeto do governo federal coordenado pelo Ministério de eletrônicos apresentam fatores de crista em suas correntes de
Minas e Energia e cujo controle de execução cabe à Eletrobrás. valores iguais a 2,00. A definição do fator de crista é apresentada
O objetivo deste programa é promover a racionalização da na Equação 2:
produção e do consumo de energia elétrica para que seja eliminado
o desperdício e sejam reduzidos os custos e investimentos setoriais.
A atuação do Procel é focada em áreas como: elaboração de planos
de ação para programas de combate ao desperdício; projetos de Equação 2

gerenciamento pelo lado da demanda; atuação no uso final Alguns autores apresentam informações sobre a relação entre
(residencial, comercial, industrial, outros); etc. a distorção de corrente e o acréscimo na corrente e decréscimo no
Este projeto se tornou mais evidente para o povo brasileiro no fator de potência, tendo como base uma corrente fundamental de

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36 O Setor Elétrico / Janeiro de 2010

1 A. Ou seja, com uma corrente fundamental fixada em 1 A, foram harmônico.


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

acrescentando harmônicos que chegavam a uma certa distorção Outro estudo parecido, mas com foco na interferência causada
de corrente, tendo por consequência um acréscimo de corrente no pelo uso de LFCs em residências, também constatou um ganho
valor eficaz e uma diminuição no fator de potência. A Tabela 1 na demanda ativa da residência, porém com um aumento da
transcreve estas informações mencionadas. potência reativa e uma diminuição do fator de potência. A corrente

Tabela 1
circulante na instalação elétrica também ficou mais distorcida.
Influência dos harmônicos no acréscimo da corrente Um terceiro estudo analisou a poluição na rede elétrica
e na redução do fator de potência causada por sistemas de controle de iluminação, os dimmers, para
Distorção de corrente Acréscimo de Fator de potência controle de lâmpadas incandescentes, fluorescentes com reatores
– THDi (%) corrente (%) total 1 eletromagnéticos e eletrônicos. Nessa situação, duas variáveis
0 0,00 1 foram estudadas para efeitos de comparação: fator de potência e 3º
10 0,50 0,995 harmônico na corrente.
30 4,40 0,958 Variando a potência de iluminação, o fator de potência
50 11,80 0,894 diminuía com a diminuição da potência para as lâmpadas
70 22,07 0,819 incandescente e fluorescente com reator eletromagnético. Para a
90 34,54 0,743 lâmpada fluorescente com reator eletrônico, o fator de potência se
100 41,42 0,707 mantinha constante.
120 56,20 0,640 Em relação ao 3º harmônico da corrente, o percentual deste
150 80,28 0,555 em relação à fundamental aumentava com a diminuição da
potência de iluminação, também para as lâmpadas incandescente
1
Fator de potência total: divisão entre a potência ativa e a potência aparente
e fluorescente com reator eletromagnético. Mais uma vez, para a
Analisando as medidas adotadas pelo Procel na gerência, pelo lâmpada fluorescente com reator eletrônico, o percentual de 3º
lado da demanda, e na atuação do uso final, bem como o impacto harmônico em relação à fundamental se manteve constante com a
na distorção harmônica, pode-se destacar quatro itens: diminuição da potência de iluminação.
1. Controladores de velocidade variável. Com a possibilidade de Quando foram realizaram ensaios em reatores eletrônicos de
economia de energia e gerência do controle dos fluxos de potência, lâmpadas fluorescentes comparando com reatores eletromagnéticos,
apresentam, em alguns casos, harmônicos bastantes significativos. em outro estudo, foi percebido que o reator eletrônico, apesar de
2. Lâmpadas fluorescentes compactas. A substituição de lâmpadas ser vantajoso no aspecto da conservação de energia, gera mais
incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas, visando harmônicos de corrente, tendo uma forma de onda bastante
economia, injeta níveis substanciais de harmônicos nos sistemas distorcida se comparado com o reator eletromagnético. O principal
de distribuição secundária, além de contribuir para a diminuição problema na utilização dos reatores eletrônicos é o aumento da
do fator de potência. corrente de neutro em sistemas trifásicos, comumente percebido
3. Instalação de bancos de capacitores. Visando a melhoria do em prédios comerciais que utilizem lâmpadas fluorescentes com
fator de potência, uma instalação mal executada, sem uma análise reator eletrônico na base de sua iluminação.
crítica acerca dos harmônicos circulantes no sistema, provoca Alguns pesquisadores, como Tostes, apresentaram medições
problemas de qualidade de energia, tais como: amplificação de correntes de lâmpadas de descarga utilizadas em iluminação
do conteúdo harmônico presente no sistema; estabelecimento pública, mostrando a corrente e seus harmônicos de lâmpadas
de condições de ressonância harmônica; e queima prematura de vapor de mercúrio, vapor de sódio e metálico. Das lâmpadas
dos bancos de capacitores devido ao aquecimento de unidades analisadas, por exemplo, as que apresentavam maior distorção
capacitivas sob condições harmônicas. harmônica de corrente foram as lâmpadas de vapor de sódio com
4. Controladores de intensidade luminosa. Também em busca de uma média de 35% de distorção harmônica de corrente, sendo 20%
economia, este dispositivo piora o fator de potência e aumenta a e 25% para as lâmpadas de vapor de mercúrio e vapor metálico,
injeção de harmônicos no sistema elétrico. respectivamente.
Vários estudos realizaram uma análise entre a qualidade Nessas medições, foram mostradas ainda a realizada em um
de energia elétrica e a conservação de energia elétrica. Um transformador de 30 kVA que alimentava, exclusivamente, um
desses mostra um estudo acerca da substituição de lâmpadas conjunto de iluminação pública, contendo 15 postes com quatro
incandescentes por lâmpadas fluorescente compactas (LFCs) em lâmpadas de vapor de sódio de 400 W cada um. A distorção
ambientes residenciais que concluiu que, nessa situação, há um de corrente encontrada foi de 59,37%, sendo que o espectro
ganho em conservação de energia e uma perda na qualidade de harmônico desta corrente apresentou um 3º harmônico de 53,2%,
energia elétrica, sobretudo na corrente circulante na instalação 2% de 5º harmônico e 7,6% de 7º harmônico. A distorção de
e um aumento na corrente pelo neutro, principalmente de 3º tensão medida estava em 6%.

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O Setor Elétrico / Janeiro de 2010
37

Gómez e Morcos analisaram o impacto de carregadores de com medições em 1996 e 1997. Perceberam que o crescimento
baterias de carros elétricos na qualidade de energia de sistemas da distorção de tensão foi de 0,1% por ano. Este crescimento se
de distribuição, apresentado em um estudo do estado da arte de deve, no ambiente industrial, pelo crescente uso de inversores
carregadores de bateria de carros elétricos. Como efeito, um grande de frequência e, nos ambientes comerciais, pela inserção de
número de carregadores resultará em uma tensão distorcida. computadores.
Foi apresentado também um algoritmo para pesquisar o Além desses estudos, outros pesquisadores, como Penna,
impacto dos carregadores mencionados em transformadores, analisaram alguns impactos dos programas de eficiência energética
levando em conta fatores como temperatura ambiente, duração na qualidade de energia elétrica no Brasil. Foram investigados
do carregamento de baterias, hora de início e THD de corrente dois consumidores residenciais, os quais tinham, em suas casas,
dos carregadores. Como conclusões, foi percebida uma relação iluminação preponderantemente feita por lâmpadas incandescentes,
quadrática entre o THD de corrente dos carregadores e a redução sendo estas substituídas por lâmpadas fluorescentes compactas,
de vida útil do transformador, indicando que o THD de corrente visando a mesma luminosidade.
deveria ser limitado a 30%. Depois de medirem a potência ativa, aparente, corrente e
Além desses, foi realizado por outros pesquisadores um estudo tensão, antes e depois da substituição, percebeu-se que, com a
sobre a tendência harmônica em uma região dos Estados Unidos, troca das lâmpadas, houve uma queda da potência ativa e reativa
citando estudos realizados no Japão e na Europa ocidental. No em uma casa, enquanto na segunda residência houve queda na
Japão, até o ano 2000, a distorção de tensão alcançaria níveis potência ativa, mas um aumento na potência reativa. Isto se explica
entre 6% e 7% em ambientes industriais, e 4% e 5% em ambientes pelo baixo fator de potência que as LFCs apresentam.
residenciais. Já, na Europa ocidental, o 5º harmônico cresceu, entre O fator de potência foi reduzido em 5,6% e 33,3% na primeira
1979 e 1991, de 3% para 5%, tendo um crescimento de 1,67% por e segunda residência, respectivamente, tendo ainda um aumento
década. percentual na distorção da corrente de 89,3% e 208,0%.
Os autores desse trabalho compararam medições realizadas Nesse estudo, os autores fizeram ainda uma perspectiva da
em indústrias, universidade, supermercado, hospital, prédio economia de consumo de energia ativa que se alcançaria com
residencial e alimentadores de subestações nos anos 1986 e 1987 a substituição efetivada em consumidores residenciais no Brasil.
Apoio
38 O Setor Elétrico / Janeiro de 2010

Tabela 2
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Resultados experimentais

Carga Tensão (V) THDv (%) ∆V (%) Ia (A) In (A)


Incandescente 122,4 1,7 4,0 2,37 0,07
Compacta 113,0 5,6 11,2 2,35 4,17

Como estes representavam, à época, 28% do consumo total da com a qualidade de energia elétrica. XV SNPTEE – Seminário Nacional de
energia consumida no país e a iluminação era responsável por Produção e Transmissão de Energia Elétrica (1999), Brasil.
7% neste setor, se 40% da iluminação fosse substituída por LFCs, DUGAN, R.C. et al. Electrical Power Systems Quality, second edition,

a redução no consumo total seria de 2,24%. Porém, os aspectos McGraw- Hill.

negativos desta troca fariam com que o número apresentado PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia elétrica.

sofresse uma alteração. Disponível em: <http://www.eletrobras.gov.br/procel/site/home/index.


asp>. Acesso em: 04/11/05.
Estendendo a análise dos impactos, os autores simularam um
PIRES, I. A.; GONZALEZ, M. L. Avaliação dos ganhos em demanda e perdas
alimentador trifásico em um barramento de iluminação contendo
elétricas de instalações elétricas residenciais utilizando equipamentos
três lâmpadas incandescentes de 100 W em uma situação e três
eficientes. I Congresso Brasileiro de Eficiência Energética, 12-14 de setembro
lâmpadas fluorescentes compactas de 22 W. Em cada situação,
de 2005, Belo Horizonte – MG.
foi colocada uma lâmpada por fase. Elas foram ligadas por
Conservação de Energia – Eficiência Energética de Instalações e
impedância, que simulavam condutores de seção de 4 mm² e 100
Equipamentos, 2ª edição, Eletrobrás/Procel, Editora da EFEI, 2001.
m de comprimento. Os resultados obtidos na fase A e no neutro
ASTORGA, O. A. M. et al. Um estudo da substituição das lâmpadas
nestas duas situações estão apresentados na Tabela 2.
incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas em instalações
Os resultados da Tabela 2 mostram que os benefícios alardeados
elétricas residenciais e o compromisso entre conservação e qualidade de
pelos programas de eficiência energética devem ser melhor
energia. XVI SNPTEE – Seminário Nacional de Produção e Transmissão de
estudados e feito paralelos com o tema qualidade de energia Energia Elétrica, 2001, Brasil.
elétrica. FUJIWARA, J. K. et al. Interferência causada pelo uso de fluorescentes
compactas em residências, Eletricidade Moderna, p. 134-142, setembro
Conclusões 1998.
Este primeiro capítulo apresentou uma introdução do que será DATTA, S. Power Pollution Caused By Lighting Control Systems, IEEE Industry
apresentado nos próximos fascículos desse tema. Este trabalho Applications Society Annual Meeting, 1991.
tem como objetivo caracterizar os equipamentos eletroeletrônicos LUZ, J. M.; FELBERBAUM, M. I. Ensaios em reatores eletrônicos e o impacto
presentes em consumidores residenciais e comerciais, além de na conservação de energia elétrica. III SBQEE – Seminário Brasileiro de
verificar o impacto que estas cargas, presentes nos consumidores Qualidade de Energia Elétrica, ST 8 – IT 61, 8-12 de agosto de 1999, Brasília
mencionados, provocam no sistema de distribuição elétrica. – DF.
Foram apresentadas definições de qualidade de energia, TOSTES, M. E. L. et al. Impactos harmônicos em redes de distribuição
conservação de energia e a interligação existente entre as duas. de energia da Iluminação Pública. XV SENDI – Seminário Nacional de
Também foram mostrados alguns exemplos de trabalhos que deram Distribuição de Energia Elétrica, 2002, Brasil.

subsídios à realização desta dissertação. Confira os próximos GÓMEZ, J. C.; MORCOS, M. M. Impact of EV Battery Chargers on the Power

capítulos deste fascículo. Quality of Distribution Systems, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 18,
n. 3, jul. 2003.
NEJDAWI, I. M. et al. Harmonics Trend in NE USA: a preliminary survey, IEEE
Referências
Transactions on Power Delivery, v. 14, n. 4, out. 1999.
GONZALEZ, M. L.; PIRES, I. A. et al. Correntes harmônicas em aparelhos
PENNA, C. et al. O impacto dos programas de eficiência energética na
eletrodomésticos, VI SBQEE – Seminário Brasileiro sobre Qualidade de
Qualidade de Energia Elétrica, I Congresso de Inovação Tecnológica em
Energia Elétrica, 21 a 24 de agosto de 2005, Belém – PA.
Energia Elétrica, 6 e 7 de nov. 2001, Brasília – DF.
BEN 2005, Boletim Energético Nacional 2005. Disponível em:
< h t t p : / / w w w. m m e . g ov. b r / s i t e / m e n u / s e l e c t _ m a i n _ m e n u _ i t e m .
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e
do?channelId=1432&pageId=4060>. Acesso em: 19/01/06.
doutorando em engenharia elétrica pela Universidade Federal
IEEE std 1159-1995, IEEE Recommended Practice for Monitoring Electric
de Minas Gerais (UFMG), com ênfase em qualidade da energia
Power Quality.
elétrica.
BOLLEN, M. H. J. What is power quality? Eletric Power Systems Reasearch,
Continua na próxima edição
66, 2003, p. 5-14. Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
GAMA, P. H. R. P.; OLIVEIRA, A. Conservação de energia e sua relação Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
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Apoio
34
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Fevereiro de 2010

Capítulo II

Efeitos de harmônicos no sistema de


distribuição e limites segundo as principais
normas nacionais e internacionais – Parte I
Igor Amariz Pires*

Os harmônicos estão associados a perdas. um sistema elétrico, os harmônicos podem excitar


Desta forma, quais são seus efeitos para o sistema ressonâncias entre seus componentes, tais como
elétrico e seus componentes? Quais seriam os níveis capacitores e cabos ou transformadores.
“suportáveis” de harmônicos e o que recomendam
as normas relacionadas ao tema? Este e os próximos Medidores de energia
capítulos pretendem responder estas perguntas. Medidores indutivos de energia elétrica apresentam
O capítulo está dividido em três partes, uma erros quando instalados em um ambiente com grande
apresentada a seguir e as outras que serão publicadas presença de harmônicos, tanto de tensão quanto de
nas próximas edições. Além disso, ele está separado corrente. Os erros podem ser positivos ou negativos,
em subitens, que irão abordar diferentes dispositivos dependendo do espectro harmônico que o instrumento
do sistema elétrico quanto aos efeitos provocados por pertencesse.
harmônicos. Logo após, será apresentado um subitem Alguns pesquisadores da Universidade de Brasília
resumindo estes efeitos e os níveis permissíveis de e da Companhia Energética de Brasília desenvolveram
harmônicos. Por fim, serão mostrados os limites um trabalho de campo visando comparar a leitura de
de harmônicos das principais normas nacionais e medidores de energia eletromecânicos e eletrônicos.
internacionais. Para tal, foram escolhidos cinco consumidores,
Conforme a norma IEEE Std 519-1992, o grau representando diferentes segmentos e distorções
de tolerância dos harmônicos é determinado pela harmônicas distintas. Estes consumidores estão descritos
susceptibilidade da cargas à influência desses. Cargas na Tabela 1 com seus respectivos THD de tensão, THD de
pouco susceptíveis são as que utilizam a energia corrente e erros de medição encontrados, comparando
harmônica no processo, sendo então tolerável à os medidores eletromagnéticos e eletrônicos.
existência de harmônicos para si mesmas. Exemplos Cada consumidor teve as medições da energia
destas cargas são cargas de aquecimento, como fornos elétrica realizadas pelo seu próprio medidor
ou chuveiros elétricos. eletromecânico e por um outro medidor eletrônico
Cargas muito susceptíveis a harmônicos são instalado em paralelo ao eletromecânico. Dos resultados
aquelas que seus projetos assumiam a forma de onda obtidos, as diferenças na tarifação de energia ativa
de alimentação como sendo perfeitamente senoidal. Os foram bastante pequenas, sendo bem menores do que
equipamentos que frequentemente se encaixam nesta as classes de exatidão dos instrumentos. Das grandezas
categoria são processadores de dados e dispositivos de medidas e apresentadas (energia ativa, demanda ativa
comunicação. em ponta e fora de ponta, energia reativa, esta medida
Um meio termo entre estas duas categorias seria, indiretamente por meio de um algoritmo específico),
por exemplo, as máquinas rotativas. A maior parte dos a única que teve diferença foi a energia reativa, sendo
motores é relativamente tolerável aos harmônicos. Em que o medidor eletrônico apresentou valores maiores.
Apoio
O Setor Elétrico / Fevereiro de 2010
35

Tabela 1
Consumidores selecionados para avaliação de medidores de energia
(1)
Consumidor THD – THD – Erros (%)*
tensão corrente kWh kW kW kVArh
(%) (%) (ponta) (fp)**
Indústria de cimento 1,77 15,90 -0,03 -0,76 -0,08 -27,65
(2)
Autarquia militar 2,70 15,40 -0,27 0,89 0,18 -18,48
Universidade 3,00 5,60 -0,37 -1,17 -0,42 -17,28
Edifício Inteligente 8,1 72,4 0,05 0,40 0,12 -15,85
Serviço de informática 12,50 14,00 -0,17 -0,10 -0,09 11,29
* Erros do medidor eletromagnético em relação às medições realizadas
(3)
em medidor eletrônico que considera as harmônicas
** fp = fora de ponta

Estas diferenças ocorrem, pois as definições de potência


(4)
ativa, reativa e aparente em ambientes com distorções de tensão
e corrente são diferentes das definições utilizadas, admitindo
formas de onda senoidal, tanto para tensão quanto para a corrente.
Alguns estudos mostram os resultados de calibração de medidores
As potências ativa e reativa, neste novo cenário, serão as somas
de energia elétrica ativa submetidos às condições senoidais e não-
dos produtos das tensões e correntes na mesma frequência, mais
senoidais. Em um desses, os pesquisadores calibraram 30 medidores
os cossenos e senos do ângulo diferença das variáveis citadas.
eletromagnéticos monofásicos, classe 2 (2% de erro de medição),
Uma terceira potência, que contabiliza a interação entre tensões
trabalhando com os seguintes parâmetros: fator de potência, variação
e correntes de frequências distintas, é chamada de potência
simultânea da frequência da tensão e corrente, tensões e correntes
harmônica. A interação entre essas três potências será a potência
distorcidas com diferentes THDs e, por fim, tensões e correntes
aparente. A definição matemática das potências ativa, reativa,
distorcidas e variação do atraso da corrente em relação à tensão.
harmônica e aparente são apresentadas nas equações (1), (2), (3)
Diminuindo o fator de potência, é mostrada uma pequena tendência
e (4), respectivamente.
Apoio
36 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2010

de diminuição da energia ativa medida, sendo, porém, não muito Tabela 2


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Erros experimentais e simulados em medidores eletromagnéticos


expressiva. Para um fator de potência 0,2 indutivo sem harmônicos, no
THD tensão (%) – THD corrente (%) Erro Erro
pior caso, houve uma diminuição na contabilização de energia ativa de experimental – experimental e experimental simulação
apenas 0,8%, sendo que para um fator de potência igual a 0,5 indutivo, e simulação simulação (%) (%)
3,6 117,0 -1,86 -1,97
houve um aumento de 0,1%. Em relação à variação simultânea da
5,0 30,0 0,56 0,61
frequência da tensão e corrente, observa-se uma tendência de aumento
9,0 26,0 1,45 1,37
do desvio, em relação ao padrão, com o aumento da frequência.
11,0 113,0 -4,31 -4,56
Este comportamento pode ser explicado pelo fato de que o torque, 11,9 11,9 1,10 1,08
que provoca o movimento do disco do medidor eletromecânico, é 21,0 32,0 3,97 4,10
proporcional ao produto das correntes que passam pelas duas bobinas, 22,0 22,0 4,10 3,95
e estas diminuem com o aumento da frequência. 37,1 37,1 9,54 9,61

Avaliando o ensaio de tensão e corrente distorcidas com diferentes que a tensão também esteja bastante distorcida. Assim, a referência
THDs, a tensão foi distorcida em 5,82%, sendo que a primeira cita apenas o valor de distorção de tensão, pois, havendo uma grande
componente harmônica era de 5% e a segunda 3%. A corrente teve uma distorção de tensão, por consequência, haverá uma grande distorção de
distorção de 24,25%, sendo que a primeira componente harmônica corrente, provocando assim um significativo erro de medição.
era de 20% e a segunda 15%, com os seguintes perfis de composição Em relação aos medidores eletrônicos, devido às suas modernas
harmônica foram: 1º, 3º e 5º; 1º, 5º e 7º; 1º, 7º e 9º; 1º, 9º e 11º. Ou técnicas de medição, consegue-se incluir as energias dos harmônicos,
seja, para o segundo perfil mencionado (1º, 5º e 7º harmônicos), o 5º apresentando erros muito pequenos.
harmônico teve um módulo igual a 20% e o 7º harmônico módulo igual
a 15%, porcentagem em relação à fundamental. Concluiu-se que o Condutores
valor da energia ativa varia com a alteração da composição harmônica, As correntes harmônicas em condutores poderão provocar
comprovando a tendência do ensaio anterior. sobreaquecimento, se comparadas com o aquecimento provocado
O ensaio final de tensão e corrente distorcidas, variando o atraso apenas pela fundamental da corrente. Há dois mecanismos para analisar
da corrente em relação à tensão, foi basicamente a junção dos ensaios este aquecimento.
anteriormente realizados. As discrepâncias observadas na medição O primeiro mecanismo é devido à redistribuição de corrente no
variam de acordo com o atraso da corrente em relação à tensão condutor, incluindo os efeitos pelicular e de proximidade. O efeito
e à composição harmônica, tendo como resultados tanto valores pelicular é devido à blindagem da porção mais interna do condutor para
positivos quanto negativos de discrepância. Como exemplo, para uma a camada mais externa em função da frequência da rede. O efeito de
composição harmônica com fundamental, 5º e 7º harmônicos e um proximidade é devido ao campo magnético dos condutores próximos
fator de potência igual a 0,2 indutivo, a discrepância observada foi de distorcendo a distribuição de corrente nos condutores adjacentes. Em
-1,5%. Já para uma composição harmônica de 1º, 9º e 11º e fator de cabos com condutores circulares, o efeito de proximidade é menos
potência igual a 0,5 indutivo, a discrepância foi de +1%. Desta forma, pronunciado que o efeito pelicular.
os valores encontrados de diferença não são muito significativos. O segundo mecanismo é o aumento da corrente de neutro em
Outros autores apresentam ainda o desenvolvimento de um sistemas trifásicos a quatro condutores alimentando cargas não-
modelo matemático de um medidor de watt-hora indutivo para avaliar lineares. Várias cargas, como as eletrônicas, produzem correntes de 3º
a influência deste em condições não senoidais. As características do harmônico significativas. Sistemas trifásicos equilibrados e sem tensões
medidor indutivo de um desses trabalhos eram: 1 elemento, 2 fios, 1 harmônicas não terão corrente de neutro. Porém, 3º harmônicos e
fase, classe 2, 60 Hz, 220 V, 15-100 A e Kd = 3,6 Wh/r. Os testes, em seus múltiplos inteiros irão se somar ao neutro, ao invés de subtrair,
medidores reais para validação do modelo desenvolvido, apontaram podendo a corrente de neutro chegar a ser 1,7 vezes a corrente de fase
que, para se ter uma diferença na tarifação da energia elétrica, seria para cargas conversoras estáticas. Assim, como os cabos de neutro são
necessário grandes THDs de tensão e corrente, na ordem de 20%. A dimensionados para serem do mesmo tamanho dos cabos de fase, ou,
Tabela 2 mostra os resultados obtidos tanto no experimento de medição até mesmo, menores, eles estarão sobrecarregados.
quanto em simulações. Os erros são relativos aos valores medidos para Este problema é mais provável de ocorrer em edifícios comerciais
tensão e corrente com THDs iguais a zero. que têm um sistema trifásico que alimenta várias cargas comerciais
Enfim, para os níveis de distorção normalmente encontrados na rede monofásicas eletrônicas. Para situações como esta, é comum
elétrica, ou seja, tensões com distorções menores que 5%, não haverá dimensionar o condutor de neutro para duas vezes o condutor de fase.
erros significativos na tarifação de energia, sendo estes erros normalmente Cabos de potência, usados em transmissão e distribuição, quando
localizados na faixa de precisão dos medidores de energia (2%). submetidos a uma ressonância provocada por algum harmônico, podem
Para haver um grande erro de medição, o THD de tensão deve ser ser submetidos a um estresse de tensão e um efeito corona, que podem
bastante severo, acima de 20%. Não são citados os valores de THDs de levar à disrupção dielétrica. Deve-se considerar, ainda, o cálculo da
corrente que dariam significativos erros de medição, pois é necessário ampacidade dos cabos incluindo os efeitos dos harmônicos. Este cálculo
Apoio
O Setor Elétrico / Fevereiro de 2010
37

é resumido em um fator de depreciação harmônico, chamado HDF, do Com este conteúdo harmônico, o HDF para os condutores
inglês Harmonic Derating Factor, como mostrado na Equação 5. fase será de 0,96, ou seja, uma redução na ampacidade dos cabos
para 96% da ampacidade utilizando somente a fundamental. Já no
cabo de neutro, neste sistema equilibrado, a corrente de neutro
(5) terá apenas o 3º harmônico, porém esta será três vezes o valor da
corrente de fase.
Em que: Portanto, a corrente de 3º harmônico será igual a 3 x 0,2285
HDF = fator de depreciação harmônico = 0,6855 pu. Desta forma, utilizando a Equação 5, o HDF será
αh = corrente harmônica, em pu, tendo como base a fundamental de 0,80, ou seja, redução na ampacidade do neutro para 80% da
βh = resistência harmônica normalizada, em pu, tendo como base ampacidade em consideração a um regime sem harmônicos.
a resistência da frequência fundamental Já a imunidade prática de condutores aos efeitos de harmônicos
é dado por < 10%, em que h > 1 e Uh é dado em porcentagem.
Como exemplo para um sistema trifásico a quatro condutores Em suma, o maior problema que se verifica em cabos é em
com cabos de alumínio de 500 kcm e diâmetro de 0,999 sua configuração de cabo neutro em ambientes com grandes
polegadas, a Tabela 3 apresenta o conteúdo harmônico aplicado concentrações de cargas não lineares. O mais comum é fixar a
nestes condutores, bem como seus valores de resistência para cada seção do neutro para, pelos menos, duas vezes a ampacidade dos
harmônico. cabos fase, em um sistema trifásico.
Tabela 3
Exemplo de cálculo do HDF
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
Fundamental + Frequência Resistência Corrente αh (pu) βh (pu)
Harmônico (Hz) (ohm/m) (A) engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
1 60 0,000106 350 1 1 com ênfase em qualidade da energia elétrica.
* em relação à rotação do campo girante fundamental CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
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40
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Março de 2010

Capítulo III

Efeitos de harmônicos no sistema de


distribuição e limites segundo as principais
normas nacionais e internacionais – Parte II
Igor Amariz Pires*

Iluminação harmônicos, levando a uma grande distorção de


A lâmpada incandescente poderá ter uma tensão.
diminuição na sua vida útil quando alimentada por Um problema que surge na presença de
tensões distorcidas, pois estas lâmpadas são sensíveis harmônicos é um grande ruído audível se comparado
aos níveis de tensão a elas aplicados. Se a tensão de a uma excitação puramente senoidal. Os harmônicos
alimentação for maior que a tensão nominal devido também produzem um fluxo de distribuição resultante
aos harmônicos, a elevação da temperatura no no entreferro que pode causar ou contribuir para dois
filamento reduzirá a vida útil. fenômenos: cogging, que é a recusa da partida suave,
Para lâmpadas de descarga, o fenômeno mais e crawling, um grande escorregamento.
conhecido devido aos harmônicos é um ruído Analisando um inversor de seis pulsos aplicado a
audível. Os capacitores agregados a reatores um motor de indução, os harmônicos que este produz
eletromagnéticos, corrigindo o fator de potência, podem ser caracterizados pela Equação 1.
geram uma ressonância. Esta ressonância é comum
na faixa de 75 Hz a 80 Hz, não interagindo, portanto, h = 6i ±1 (1)
com o sistema de alimentação.
Alguns trabalhos fizeram estudos com lâmpadas Em que:
fluorescentes alimentadas por reatores magnéticos h = ordem harmônica
com ondas de tensão distorcida. Em um desses, os i = inteiro positivo maior que zero
resultados apresentados concluíram que lâmpadas com
reatores eletrônicos são mais imunes aos harmônicos Estes harmônicos que aparecem em pares, como
que sistemas com reatores eletromagnéticos nos exemplo o 5º e o 7º, podem causar oscilações
aspectos de potência, fator de potência, eficiência mecânicas em uma combinação turbina-gerador ou
e luminosidade. Porém, mantendo os níveis de sistema carga-motor, que, por sua vez, são frutos
distorção de tensão recomendados (THDv < 5%), a dos torques oscilantes quando estes, causados pela
influência de harmônicos em lâmpadas fluorescentes interação entre correntes harmônicas e campo
não é significativa, independentemente do reator magnético da frequência fundamental, excitam uma
utilizado. ressonância mecânica.
Detalhando este fenômeno, o fluxo de cada
Máquinas rotativas corrente harmônica no estator produzirá uma força
Tensões não senoidais aplicadas às máquinas magnética no entreferro que irá induzir um fluxo
elétricas podem causar sobreaquecimento, torques de corrente no rotor da máquina rotativa. Como os
pulsantes ou ruídos. Além dos harmônicos vindos harmônicos característicos podem ser definidos
da rede elétrica, controladores de velocidade são como sequências positiva e negativa, a rotação destes
alimentados por inversores que podem produzir harmônicos será na direção contrária (sequência
Apoio
O Setor Elétrico / Março de 2010
41

negativa) ou a favor (sequência positiva) da rotação do rotor. Tabela 1


Harmônicos de um motor trifásico alimentado por inversor de seis pulsos
O 5º harmônico irá girar em uma direção contrária (sequência
Ordem Frequência Sequência Harmônico Rotação Harmônico
negativa), sendo, então, a corrente harmônica induzida no rotor harmônica (Hz) de fases no estator harmônica* no rotor
consequência da diferença entre a frequência da fundamental 1 60 + 1 A favor -
induzida no entreferro e o 5º harmônico. Assim, o harmônico será 5 300 - 5 Contrária 6

5 + 1 (fundamental), 6º harmônico. 7 420 + 7 A favor 6


11 660 - 11 Contrária 12
Já o 7º harmônico terá a mesma interação no entreferro com a
13 480 + 13 A favor 12
frequência fundamental. Porém, como o 7º harmônico irá girar na
17 1020 - 17 Contrária 18
direção a favor (sequência positiva) da rotação da fundamental, o
19 1140 + 19 A favor 18
resultado da interação será 7 - 1, 6º harmônico. Logo, do ponto 23 1380 - 23 Contrária 24
de vista de aquecimento no rotor, o 5º e 7º harmônico no estator 25 1500 + 25 A favor 24
se combinam para produção de um 6º harmônico no rotor. * Em relação à rotação do campo girante fundamental

O 11º e o 13º harmônicos terão, da mesma maneira, esta


interação, tendo como resultado uma indução no rotor de uma
Tabela 2
corrente de 12º harmônico. A Tabela 1 apresenta um resumo Direção de rotação dos harmônicos em motores monofásicos

dos harmônicos característicos em um motor trifásico quando Ordem harmônica Direção*

alimentado por um inversor de seis pulsos, que resume estas 3 Contra


5 A favor
interações e outras características.
7 Contra
Assim, estes harmônicos no rotor levarão a um
9 A favor
sobreaquecimento no rotor, uma redução de torque ou a torques
11 Contra
pulsantes. 13 A favor
A Tabela 2 apresenta as rotações provocadas por harmônicos 15 Contra
em motores monofásicos. Neste caso, haverá harmônicos 17 A favor
triplos, pois há caminho de circulação de sequência zero, que é 19 Contra

característica dos harmônicos triplos. * Em relação à rotação do campo girante fundamental


Apoio
42
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Março de 2010

Tabela 3
Perdas no motor

Perdas Associadas a Formulação


Enrolamentos do estator Resistência do enrolamento

Enrolamento do rotor Torque provocado pela sequência negativa

Perdas no núcleo As perdas no núcleo do estator é função da densidade de fluxo no mesmo. O aumento nas perdas devido aos
harmônicos se constitui em uma pequena fração da perda total, podendo então ser desprezado
Perdas por atrito e ventilação Estas perdas não dependem da forma de onda da tensão aplicada
Perdas harmônicas no rotor Correntes harmônicas induzidas no rotor

Perdas complementares

Perdas “zig-zag” no rotor Associado ao fluxo pulsante nas ranhuras do rotor

Perdas finas no estator Correntes parasitas devido ao fluxo de dispersão


axial nas laminações do estator

Perdas finais no rotor Correntes parasitas devido ao fluxo de dispersão Igual a do estator
axial nas laminações do rotor
Outras perdas As outras perdas não mencionadas provavelmente aumentarão na presença de harmônicos. Entretanto, usualmente
são pequenas, sendo consideradas as mesmas que quando excitado por uma onda puramente senoidal
Legenda:
Wk = perdas em Watts, sendo k índice que identifica cada perda T = torque
C0, C1,CL e Cdb = constantes empíricas rks, rkr = resistência no estator e rotor, respectivamente, para cada
m = número de polos harmônico de ordem k
k = ordem harmônica Iks, Ikr = Correntes no estator e rotor, respectivamente para o harmônico
Ihar = valor rms das correntes harmônicas excluída a fundamental de ordem k
f1 = frequência fundamental I0 = corrente fundamental a vazio
nsl = escorregamento, em r/min (fundamental) I = corrente total no estator

Outras perdas causadas por harmônicos nos enrolamentos, Tabela 4


Formas de onda aplicada no exemplo
tanto no rotor quanto no estator, serão perdas por efeito pelicular e
aumento nas correntes parasitas. Harmônico Percentual de tensão em relação à fundamental
Existe ainda uma formulação matemática para cada perda existente A B C D

no motor, incluindo os harmônicos. Um resumo destas é apresentado na 5 20,0 20,0 21,3 26,0
7 14,3 14,8 16,2 25,3
Tabela 6. Para avaliá-las, foram escolhidas cinco formas de onda de tensão,
11 9,1 10,0 12,7 86,8
sendo uma puramente senoidal em 60 Hz e quatro com harmônicos
13 7,7 8,6 12,5 81,8
característicos. Estas formas de onda, chamadas de A a D, estão descritas
17 5,9 7,0 15,1 18,8
na Tabela 7. Estas ondas foram, então, aplicadas em dois motores trifásicos 19 5,3 6,6 19,2 17,0
idênticos de 20 hp, 220 V e 60 Hz. Os resultados das perdas obtidas em 23 4,4 6,3 85,3 49,6
plena carga, tanto experimentalmente quanto computacionalmente, 25 4,0 6,4 82,7 42,3
(utilizando as fórmulas da Tabela 6) são apresentados na Tabela 8. 29 3,4 6,5 16,5 7,5

Os resultados apresentados utilizaram frequências fundamentais de 31 3,2 6,6 12,2 5,6


35 2,9 7,8 8,9 8,2
15 Hz e 60 Hz. Analisando os resultados apresentados, somente com
37 2,7 9,7 8,5 2,4
distorções de tensão acima de 140% (situação C e D), as perdas serão
41 2,4 13,2 9,5 2,0
o dobro em relação às perdas na situação em que a tensão é senoidal.
43 2,3 17,6 11,6 3,1
Na situação A, com a tensão distorcida de 30,2%, que é uma situação 47 2,1 84,5 46,8 17,6
muito difícil de ocorrer, as perdas ficaram 20% acima da situação com 49 2,0 83,4 43,2 19,6
tensão senoidal. Desta forma, com as distorções de tensão normalmente 53 1,9 16,3 7,7 5,8
encontradas na rede elétrica (em torno de 5%), o motor não terá grandes 55 1,8 11,7 5,3 5,8

perdas devido aos harmônicos de tensão. THDv (%) 30,2 127,3 143,8 146,1
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44 O Setor Elétrico / Março de 2010

Resultados do exemplo de aplicação de ondas de tensão Os componentes concentrados são derivados das informações
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

distorcidas em motores de indução trifásicos dimensionais do motor, propriedades térmicas, material utilizado na
Tabela 5 construção e coeficientes de transferência térmica. Em vários resultados
Resultados do exemplo de aplicação de ondas de tensão distorcidas em motores
de indução trifásicos mostrados, como exemplo, para um desbalanceamento de tensão de
3%, um espectro harmônico de V3 = 4%, V5 = 3%, V7 = 5%, V9 = 2% e
Motor Forma de Frequência Medida Simuladas
onda Fundamental (Hz) (W) (W) V11 = 1%, tendo então um THDv = 7,4% e o motor operando em carga
1 Senoidal 15 902 712 nominal, a redução de vida útil do isolamento seria de 24,3%.
2 A 15 1070 1015 Em um estudo probabilístico do impacto destas variações na
B 15 1440 1272,6 temperatura final do motor, baseando na média, variância e distribuição
C 15 1680 1680,9 de probabilidade de cada harmônica, um pesquisador percebeu que as
D 15 2900 2791 harmônicas de tensão variam no tempo. Por isso, ele estimou os efeitos
Senoidal 60 1303 1122 das flutuações de tensões harmônicas no aumento da temperatura de
A 60 1600 1437,7 motores de indução com rotor em gaiola. Como resultado do trabalho,
Senoidal 15 912 741
para motores com constantes térmicas no rotor maior que 60 minutos,
B 15 1400 1229,5
essas máquinas toleram distorções de tensão com uma média de 4%
C 15 1950 1613
e um máximo de 10%, desde que este máximo não ultrapasse 36
D 15 1935 2664
segundos, causando um aumento admissível de temperatura de 3%.
O grau de imunidade aos harmônicos para máquinas síncronas é
O ângulo de fase dos harmônicos é analisado para se descobrir
dado por
seu efeito na performance de motores de indução trifásico. Para chegar
a tanto, os autores que desenvolveram tal trabalho executaram alguns
testes em motores, apresentando resultados da influência de mudança < 1,3% a 2,4%.

angular no 2º harmônico: quando em fase, a eficiência do motor era


de 72,46% passando para 71,88%, quando a defasagem for de 180º Para máquinas assíncronas, o grau de imunidade é
para um THD de tensão de 20%. Percebe-se que a influência do ângulo
de fase não é muito pronunciada, sendo confirmada por meio da < 1,5% a 3,5%, onde uh é dado em
afirmação de que as perdas nos motores de indução são independentes porcentagem
do ângulo de fase dos harmônicos.
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
Alguns outros pesquisadores fizeram estudos de estimação de vida
engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
útil do isolamento de motores quando submetidos a desbalanceamentos
com ênfase em qualidade da energia elétrica.
e harmônicos. Em um desses, foi construído um modelo térmico do CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
motor em que se avaliam as anomalias mencionadas. Este modelo Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
proposto dividiu o motor geometricamente em componentes Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
concentrados, com interconexões por meio de impedâncias térmicas.
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36
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Abril de 2010

Capítulo IV

Efeitos de harmônicos no sistema de


distribuição e limites segundo as principais
normas nacionais e internacionais – Parte III
Igor Amariz Pires*

Capacitores que 1,41*√2, incluindo harmônicos.


A maior preocupação a respeito do tema que • 180% da corrente nominal, incluindo a fundamental
tem sido abordado nesses fascículos em relação a e harmônicos.
capacitores é o possível surgimento de ressonâncias Outro dado que apresenta a imunidade de
com o sistema elétrico. Este efeito causa sobretensões capacitores a tensões harmônicas é dado por:
e sobrecorrentes que afetam tanto o sistema elétrico
como os capacitores. A reatância de um capacitor ∑ h.Uh2 ≤ 44%
diminui com o crescimento da frequência, fazendo
o capacitor ser um caminho preferencial de correntes Foi descrito, por um grupo de pesquisadores, um
harmônicas. Este fenômeno aumenta o aquecimento caso real de capacitores em um prédio comercial. A
e o estresse do seu dielétrico. O resultado do aumento quantidade de cargas não-lineares presentes neste
do aquecimento e do estresse no dielétrico é a ambiente fez um dos bancos que estavam em paralelo
diminuição da vida útil do capacitor. a um dos transformadores do sistema elétrico do
Algumas diretrizes para instalações de capacitores prédio sofrer uma queima. Por meio de medições,
podem ser aplicadas em caso de instalações elétricas foram constatados sobrecorrentes nos capacitores e
em baixa tensão: transformadores devido aos harmônicos. Os capacitores
• Se a potência harmônica das cargas não-lineares, tinham uma potência de 20% da potência nominal
em kVA, for menor que 10% da potência nominal do do transformador. A solução proposta foi a instalação
transformador, capacitores podem ser utilizados sem de filtros de harmônicos ou sobredimensionamento
preocupação de ressonância; dos componentes da instalação, visando minimizar o
• Se a potência harmônica das cargas não-lineares, problema de harmônicos.
em kVA, for menor que 30% da potência nominal do
transformador e a potência reativa dos capacitores Relés de proteção
for menor que 20% da potência nominal do Formas de onda distorcidas afetam o desempenho
transformador, capacitores podem ser utilizados sem de relés de proteção, causando uma operação indevida
preocupação de ressonância. ou mesmo a não operação deles quando necessário.
• Se a potência harmônica das cargas não-lineares for Uma onda senoidal acrescida de harmônicos altera o
maior que 30% da potência nominal do transformador, pico de corrente, diferenciando do que o relé esperaria
devem ser empregados filtros nos capacitores. por presumir que trabalhará com uma onda senoidal.
Conforme a norma ANSI/IEEE st. 18-2002, os O ângulo das harmônicas em relação à fundamental
capacitores de potência devem suportar os seguintes influencia também no desempenho do relé, que é algo
valores de sobretensão e sobrecorrente: difícil de definir, devido a uma onda distorcida, pois
• 110% da tensão nominal, e fator de crista menor cada relé tem uma resposta diferente a este fenômeno.
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O Setor Elétrico / Abril de 2010
37

Relés de diferentes fabricantes têm respostas diferentes, assim Tabela 1


Efeito de harmônicos em componentes do sistema elétrico e graus de imunidade
como, em algumas vezes, relés do mesmo fabricante e modelo. Equipamento Efeitos devido à presença Grau de imunidade
Em um ambiente distorcido, os relés podem falhar quando de harmônicos
Máquinas rotativas Torque pulsante ∑(UhI h)2 ≤ 1,3 a 2,4%
ocorrer uma falta no sistema elétrico ou, mesmo, podem operar
Ruído audível (máquinas síncronas)
quando não houver nenhuma falta. Relés dependentes de pico de Sobreaquecimento
corrente ou passagem por zero não irão operar adequadamente Perda de vida útil ∑(UhI h)2 ≤ 1,5 a 3,5%
no isolamento (máquinas assíncronas)
com uma onda distorcida. A presença de 3º harmônico, por
Condutores Sobreaquecimento
corresponder às correntes e tensões de sequência zero, pode causar Diminuição na capacidade de ∑Uh 2 ≤ 10%
operação indevida das proteções de terra. condução de corrente
Medidores de energia Erro na tarifação THDv ≤ 20%
Os relés tendem a operar mais lentamente ou com valores de
corrente mais altos na presença de harmônicos. Em geral, o nível Relés de proteção Operação indevida THDi ≤ 10%
de harmônicos requeridos para causar os problemas anteriormente Inoperância
Capacitores Ressonância ∑h.Uh 2 ≤ 44%
citados está entre 10% a 20% de THD de corrente. Como Perda de vida útil do dielétrico Vh ≤ 115%
alternativa aos relés eletromecânicos e eletromagnéticos, que Vh ≤ 180%
são mais susceptíveis a estes problemas, utilizam-se relés digitais Transformadores Aumento nas perdas nos
enrolamentos, ferro e componentes ∑Uh 2 ≤ 5% carga plena
que computem valores RMS em ondas com grande conteúdo Sobreaquecimento ≤ 10% a vazio
harmônico. Maior susceptibilidade a sags
Equipamentos Perda de sincronismo em ∑Uh 2 ≤ 5%
eletrônicos contadores digitais (para computadores)
Síntese dos efeitos dos harmônicos Imagens distorcidas nos tubos
e grau de imunidade catódicos
Diminuição da vida útil em
A Tabela 1 traz uma síntese dos efeitos que os harmônicos
lâmpadas incandescentes
causam nos elementos anteriormente citados, bem como o grau Iluminação Ruídos audíveis em lâmpadas
de imunidade que cada um tolera. Estes foram baseados nas fluorescentes
Flicker
referências bibliográficas para cada elemento apresentado nas três
Sistemas de telefonia Ruídos audíveis IT ≤ 10000
partes que compõem esse tema.
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38
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Abril de 2010

Tabela 2
Limites globais de harmônicos expressos em porcentagem da tensão fundamental

V < 69 kV V ≥ 69 kV
Ímpares Pares Ímpares Pares
Ordem Valor por harm. (%) Ordem Valor por harm. (%) Ordem Valor por harm. (%) Ordem Valor por harm. (%)
3, 5, 7 5 2, 4, 6 2 3, 5, 7 2 2, 4, 6 1
9, 11, 13 9, 11, 13 1,5
15 a 25 ≥ 8 1 15 a 25 1 ≥8 0,5
≥ 27 ≥ 27 0,5
THDV = 6% THDV = 3%

Limites de harmônicos segundo normas nacionais e matemática que o THD, diferenciando no termo do dividendo que,
internacionais enquanto no THD será a fundamental da tensão ou corrente do
Segundo padrões do Operador Nacional do Sistema Elétrico sinal analisado, o TDD usará a tensão ou corrente de demanda
(ONS), os limites de harmônicos para faixas acima e abaixo de 69 nominal no barramento analisado. Em outras palavras, o TDD seria
kV são descritos na Tabela 2. O THDv para tensões abaixo de 69 kV é o THD na situação em que a fundamental da tensão ou corrente
limitado em 6% enquanto para tensões acima de 69 kV está em 3%. estivessem em seus valores nominais de demanda.
Os valores recomendados segundo a norma IEEE std. 519/1992
Tabela 5
são apresentados na Tabela 3. Limites de distorção de corrente para sistemas de distribuição (V ≤ 69 kV)
Distorção de corrente em percentuais de Icarga
Tabela 3
Limites de distorção de tensão Harmônicos individuais
Faixa de tensão Distorção individual por Distorção total de tensão – ICC/Icarga < 11 11 ≤ h < 17 17 ≤ h < 23 23 ≤ h < 35 H ≤ 35 TDD
harmônico (%) THDV (%)
< 20 4,0 2,0 1,5 0,6 0,3 5,0
V ≤ 69 kV 3,0 5,0
20 < 50 7,0 3,5 2,5 1,0 0,5 8,0
69 kV < V < 161 kV 1,5 2,0
V ≥ 161 kV 1,0 1,5 50 < 100 10,0 4,5 4,0 1,5 0,7 12,0
100 < 1000 12,0 5,5 5,0 2,0 1,0 15,0
Nas Tabelas 2 e 3, os limites estabelecidos são bem próximos, > 1000 15,0 7,0 6,0 2,5 1,4 20,0
sendo a tabela do ONS mais detalhada em relação aos limites Harmônicos pares são limitados a 25% dos limites dos harmônicos impares
ICC = corrente máxima de curto-circuito
estabelecidos para cada harmônico.
Icarga =demanda máxima de corrente de carga (somente fundamental)
Alguns pesquisadores transcreveram os limites das tensões
harmônicas sugeridas pela norma IEC 61000-2-2 para sistemas
Tabela 6
públicos de baixa tensão (240 V e 415 V). A Tabela 4 apresenta Limites de distorção de corrente para sistemas de subtransmissão
(69 kV < V ≤ 161 kV)
estes limites. Distorção de corrente em percentuais de Icarga
Tabela 4 Harmônicos individuais
Limites de harmônicos individuais em sistemas públicos de baixa tensão
(240 V e 415 V) conforme norma IEC 61000-2-2 ICC/Icarga < 11 11 ≤ h < 17 17 ≤ h < 23 23 ≤ h < 35 h ≥ 35 TDD
Ordem Tensão Ordem ímpar Tensão Ordem Tensão < 20 2,0 1,0 1,75 0,3 0,2 2,5
ímpar harmônica – múltiplo harmônica par harmônica
(%)* de 3 (%)* (%)* 20 < 50 3,5 1,75 1,25 0,5 0,25 4,0
5 6,0 3 5,0 2 2 50 < 100 5,0 2,25 2,0 0,75 0,35 6,0
7 5,0 9 1,5 4 1 100 < 1000 6,0 2,75 2,5 1,0 0,5 7,5
11 3,5 15 0,3 6 0,5 > 1000 7,5 3,5 3,0 1,25 0,5 10,0
13 3,0 21 0,2 8 0,5
Harmônicos pares são limitados a 25% dos limites dos harmônicos impares
17 2,0 > 21 0,2 10 0,2
ICC = corrente máxima de curto-circuito
19 1,5 > 12 0,2 Icarga =demanda máxima de corrente de carga (somente fundamental)
23 1,5
25 1,5
> 25 0,2 + 1,3 Tabela 7
Limites de distorção de corrente para sistemas de transmissão (V > 161 kV)
x 25/h
Distorção de corrente em percentuais de Icarga
THDV (até o 40º harmônico) < 8% Harmônicos individuais
* Valores em relação à tensão fundamental ICC/Icarga < 11 11 ≤ h < 17 17 ≤ h < 23 23 ≤ h < 35 h ≥ 35 TDD
< 50 2,0 1,0 0,75 0,3 0,15 2,5
Na Tabela 4, percebe-se que a norma IEC é menos rígida para
≥ 50 3,0 1,5 1,15 0,45 0,22 3,75
sistemas de baixa tensão (THDv = 8%). A norma IEEE std. 519/1992
Harmônicos pares são limitados a 25% dos limites dos harmônicos impares
define limites de distorção de corrente em um ponto do sistema ICC = corrente máxima de curto-circuito
elétrico conforme sua corrente de curto-circuito e níveis de tensão. Icarga =demanda máxima de corrente de carga (somente fundamental)
Já as Tabelas 5, 6 e 7 trazem estas recomendações, diferenciadas
pelo nível de tensão. Há um termo utilizado nesta norma que é A IEC 61000-3-2 define limites de correntes harmônicas que
o TDD (Total Demand Distortion). Tendo a mesma formulação podem ser emitidos por aparelhos que trabalham com uma corrente
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40 O Setor Elétrico / Abril de 2010

eficaz menor que 16 A por fase. Os aparelhos são divididos em


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 11
Limites de correntes harmônicas para equipamentos com
quatro classes: correntes entre 16 A e 75 A conforme norma IEC 61000-3-4

• Classe A: Equipamentos com alimentação trifásica equilibrada e Ordem Máxima Ordem Máxima
todos os demais que não se enquadram nas outras classes. harmônica (h) corrente (%)* harmônica (h) corrente (A)
3 21,6 19 1,1
• Classe B: Equipamentos portáteis.
5 10,7 21 0,6
• Classe C: Equipamentos para iluminação incluindo dispositivos
7 7,2 23 0,9
dimmer.
9 3,8 25 0,8
• Classe D: Equipamentos contendo uma forma de onda de 11 3,1 27 0,6
corrente de entrada “especial” com uma potência ativa de entrada 13 2 29 0,7
menor que 600 W. 15 0,7 31 0,7
Os limites para os equipamentos classe A estão expostos na 17 1,2 33 0,6
Tabela 8. Para os equipamentos de classe B, basta utilizar os índices * Em relação à corrente fundamental

da Tabela 8 e multiplicá-los por 1,5. A Tabela 9 apresenta os limites


Conclusões gerais
para equipamentos classe C enquanto a Tabela 10 mostra os limites
Nestes três últimos capítulos (do II ao IV), procurou-se
para os equipamentos classe D.
mostrar os principais efeitos que os harmônicos causam nos
Tabela 8 seguintes componentes do sistema elétrico: medidores de energia,
Limites de correntes harmônicas para equipamentos classe A
conforme norma IEC 61000-3-2 condutores, iluminação, máquinas rotativas, equipamentos
Ordem harmônica Máxima corrente C Máxima corrente eletrônicos, interferência telefônica, transformadores, capacitores,
(h) (A) (A)
relés de proteção. Além destes efeitos, foram mostrados os
3 2,3 2 1,08
limites de harmônicos segundo as principais normas nacionais e
5 1,14 4 0,43
internacionais.
7 0,77 6 0,3
9 0,4 0,23 x 8/h Os harmônicos causam perdas para o consumidor e para a
01/08/40
11 0,33 concessionária de energia. Apesar destas perdas, os equipamentos
13 0,21 mencionados têm um nível de susceptibilidade a harmônicos. Nos
15-39 0,15 x 15/h limites relacionados pelas normas, a norma brasileira estabelece
6% de THD de tensão para o sistema de baixa tensão. Já o IEEE

Tabela 9
limita em 5% enquanto a IEC admite 8% de THD de tensão.
Limites de correntes harmônicas para equipamentos classe C
conforme norma IEC 61000-3-2 Para correntes harmônicas, o IEEE apresenta limites da distorção
Ordem harmônica (h) Máxima corrente (%)* que a corrente poderá ter de acordo com a relação (divisão)
2 2 corrente de curto-circuito e corrente nominal. Quanto mais alta
3 30% x fator de potência esta relação, o limite de distorção de corrente também será mais
5 10 alto, tendo um limite de 20% de distorção de corrente nominal
7 7 (TDD de 20%).
9 5
A IEC tem várias normas que limitam a produção de
01/11/39 3
harmônicos por parte de equipamentos eletrônicos, dependendo
* Em relação à corrente fundamental de sua finalidade e potência. Os efeitos de harmônicos no sistema
de distribuição, em conjunto com os limites determinados
Tabela 10 por normas nacionais e internacionais, mostram que se pode
Limites de correntes harmônicas para equipamentos classe D
conforme norma IEC 61000-3-2
conviver com harmônicos, desde que eles estejam devidamente
Ordem harmônica (h) Máxima corrente (%)*
controlados.
Por watt (mA/W) (A)
2 3,4 2,3
5 1,9 1,14 Referências
(Para os capítulos II, III e IV)
7 1,0 0,77
IEEE std. 519-1992, IEEE Recommended Practices and Requirements for
9 0,50 0,40
Harmonic Control in Electrical Power Systems.
11 0,35 0,33
OLIVEIRA, M. et al. Efeito das distorções harmônicas nas medições de energia
13 0,3 0,21
elétrica. III SBQEE – Seminário Brasileiro de Qualidade de Energia Elétrica, ST 1 –
15-39 3,86/h 2,25/h
IT 7, 8-12 de agosto de 1999, Brasília – DF.
GALHARDO, M. A. B.; PINHO, J. T. Conceitos de distorção e não-linearidades. V
Para equipamentos com correntes acima de 16 A e abaixo de
SBQEE – Seminário Brasileiro de Qualidade de Energia Elétrica, 17-20 de agosto
75 A por fase, a norma IEC 61000-3-4 fixa os limites de correntes de 2003, Aracaju – SE.
harmônicas para estes equipamentos. Os limites estão na Tabela 11. VASCONCELOS, F. H. et al. Calibração de medidores de energia elétrica
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O Setor Elétrico / Abril de 2010
41

ativa em condições não senoidais. Metrologia 2003, Sociedade Brasileira de 38th Midwest Symposium on Circuits and System. Rio de Janeiro, 1995, v. 1, p.
Metrologia, 01 a 05 de setembro de 2003, Recife – PE. 933-936.
SILVA, R.V. R. et al. Análise de desempenho de medidores de watt-hora sob IEEE std C57.12.00-2000 IEEE Standard General Requirements for Liquid-
condições não senoidais. III SBQEE – Seminário Brasileiro de Qualidade de Immersed Distribution, Power and Regulating Transformers.
Energia Elétrica, ST 8 – IT 61, 8-12 de agosto de 1999, Brasília – DF. CAVALLINI A. et al. A Parametric Investigation on the Effect of Harmonic
IEEE Task Force on the Effects of Harmonics on Equipment, Effects of Harmonics Distortion on Life Expectancy of Power Capacitors. 8th Mediterranean
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CHEN, M. T.; FU, C. H. Characteristics of Fluorescent Lamps under abnormal Campinas – SP.
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KLINGSHIRN, E. A.; JORDAN, H. E. Polyphase Induction Motor Performance SIQUEIRA, F. J. B.; SILVA, E. P. de. Harmônicos e capacitores em prédios
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ORAEE, H. A Quantative Approach to Estimate the Life Expectancy of Motor *IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
Insulation Systems. IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, v. 7, engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
n. 16, December 2000. com ênfase em qualidade da energia elétrica.
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
BARROS, J. DIEGO, R. I. Effects of Nonsinusoidal Supply on Voltage Tolerance of
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Equipment. IEEE Power Engineering Review, July 2002.
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
DELAIBA A. C. et al. The Effect of Harmonics on Power Transformers Loss of Life. e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Maio de 2010

Capítulo V

Caracterização de aparelhos
eletrodomésticos
Igor Amariz Pires*

Este capítulo apresenta a avaliação de medições 1. Iluminação: lâmpadas incandescentes e


realizadas para caracterizar a produção de harmônicos dimerizadas, fluorescentes compactas, fluorescentes
em eletrodomésticos de consumidores residenciais e convencionais, vapor de mercúrio, vapor de sódio e
comerciais no sistema de distribuição, além de mostrar mista.
quais foram os principais resultados obtidos nestas 2. Eletrônicos: televisões, videocassetes, videogames,
medições. O instrumento de medição utilizado foi o computadores, aparelhos de fax, aparelhos de som,
ION 7650, desenvolvido pela Power Measurement©, laptop, telefone sem fio.
que apresenta as principais grandezas elétricas, como 3. Refrigeradores: geladeiras, freezers, frigobar,
tensão, corrente, potência ativa, reativa e aparente, bebe­douros.
etc., com o objetivo de monitoração da qualidade de 4. Condicionadores de ar: ares-condicionados de
energia. vá­rias potências.
No caso das medições realizadas nos aparelhos 5. Aquecimento: chuveiro, cafeteira, ferro de pas­
eletrodomésticos, foram medidas de minuto a minuto sar roupas, torradeira, micro-ondas.
a tensão, a corrente, o THD de tensão e corrente, o 6. Motores: batedeiras, circulador de ar, venti­
fator de potência e a potência ativa, reativa e aparente. ladores, enceradeira, espremedor de laranja,
Como o enfoque deste trabalho são os harmônicos, exaustor, lavadora de roupas, liquidificador,
os resultados apresentados serão de corrente, tanquinho.
harmônicos, valor eficaz, fator de crista e o THD de Com exceção do primeiro grupo que apresenta
tensão no instante de medição. A forma de onda era diferenças na forma de onda de corrente de um
guardada no instrumento não de forma automática e aparelho medido para o outro, os outros grupos
sim por intervenção do usuário. O tempo de coleta têm a forma de onda de corrente comum se forem
total variava de aparelho para aparelho, conforme sua comparados um eletrodoméstico a outro.
funcionalidade.
Iluminação
Aparelhos eletrodomésticos Lâmpadas incandescentes
Foram medidos mais de 100 aparelhos As lâmpadas incandescentes são cargas
eletrodomésticos em 33 diferentes tipos. Para melhor puramente resistivas, tendo um comportamento
visualização destes resultados, agruparam-se estas linear, que também é confirmado quando
medições em seis categorias: comparado o conteúdo harmônico da tensão
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O Setor Elétrico / Maio de 2010
39

e corrente. A Tabela 1 mostra os THDs de tensão e corrente Tabela 2


THDs de lâmpadas (100 W) incandescentes dimerizadas
em medições realizadas em cinco lâmpadas incandescentes.
Iluminamento Iluminamento
Pode-se notar que, descontando os eventuais erros do em 75% em 25%
Nº Fabricante/tipo THD (%) THD (%)
instrumento de medição, os dois THDs são iguais, mostrando
V I V I
que estas lâmpadas não geram correntes harmônicas. Enfim, os 1 Fabricante 1 – tipo rotativo 3,40 26,62 3,29 78,03
harmônicos de corrente serão iguais aos harmônicos de tensão, 2 Fabricante 2 – tipo deslizante 3,87 37,86 4,10 16,72
3 Fabricante 2 – tipo rotativo 4,24 33,74 3,94 74,86
por serem as lâmpadas incandescentes cargas lineares.

Lâmpadas fluorescentes compactas (LFCs)


As fluorescentes compactas são lâmpadas com elevada
Tabela 1
THDs de tensão e corrente em lâmpadas incandescentes eficiência luminosa, apesar de serem cargas não-lineares, com
Nº Potência THD (%) alta distorção de corrente, da ordem de 100%. A Tabela 3 traz
(W) V I
1 Fabricante 1 – tipo clara 40 4,01 3,67 o resultado de medições realizadas em sete amostras de LFCs
2 Fabricante 2 – tipo clara 40 3,91 3,95 e a Figura 1 mostra a forma de onda de corrente tipicamente
3 Fabricante 3 – tipo bulbo translúcido 60 3,76 3,64
4 Fabricante 4 – tipo cristal 100
encontrado nelas.
3,22 3,15
5 Fabricante 1 – tipo bulbo translúcido 100 3,76 3,66
Tabela 3
THDs de Lâmpadas Fluorescentes Compactas
Nº Fabricante/tipo Potência (W) THD (%)
Entretanto, quando dimerizadas, o conjunto “lâmpada V I
1 Fabricante 1 – tipo 1 5 3,91 103,05
incandescente + dimmer” passa a ter um comportamento de carga
2 Fabricante 2 – tipo 1 11 4,11 89,58
não linear, como mostrado na Tabela 2, na qual são mostrados os 3 Fabricante 3 – tipo 1 15 4,36 105,09
THDs, tanto de tensão quanto de corrente, para os mesmos níveis 4 Fabricante 4 – tipo 1 15 4,21 111,21
5 Fabricante 5 – tipo 1 15 4,30 133,30
de iluminamento e para três dimmers analisados. Quando se
6 Fabricante 6 – tipo 1 18 4,40 126,94
reduz o iluminamento, percebe-se um aumento dos harmônicos, 7 Fabricante 5 – tipo 2 25 4,21 114,96
uma vez que a forma de onda de corrente fica cada vez mais
distante de uma forma de onda senoidal.
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40
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Maio de 2010

Tabela 6
Conteúdo harmônico de lâmpadas fluorescentes convencionais com reatores
eletromagnéticos e com reatores eletrônicos

Reator eletromagnético Reator eletrônico


Irms = 0,945 A Irms = 0,565 A
Harmônicos THDi = 12,20% THDi = 103,88%
Fator de crista = 1,05 Fator de crista = 1,76
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 -64,40 100,00 33,37
3 11,89 -51,00 65,98 -70,65
5 1,28 -94,18 42,40 -144,53
7 0,80 27,15 40,10 135,49
9 0,39 -24,25 28,29 47,01
11 0,35 -163,32 19,55 -21,39
Figura 1 – Forma de onda de corrente típica de uma LFC 13 - - 15,32 -91,57
15 - - 10,95 -149,73

Lâmpadas fluorescentes convencionais Lâmpadas de vapor de mercúrio, sódio e mista


As lâmpadas fluorescentes convencionais podem trabalhar Em sistemas de iluminação externos, industrial e pública, as
tanto com reatores eletromagnéticos quanto com reatores lâmpadas mais utilizadas são as lâmpadas de vapor de mercúrio,
eletrônicos. Estes últimos são mais econômicos, do ponto vapor de sódio e vapor misto. A substituição de lâmpadas de vapor
de vista energético, porém apresentam uma maior produção de mercúrio para lâmpadas de vapor de sódio foi uma das medidas
de harmônicos. As tabelas 4 e 5 trazem os THDs de tensão indicadas pelo Procel, em seu programa de Gerenciamento pelo Lado
e corrente de medições realizadas em lâmpadas fluorescentes da Demanda (GLD). As lâmpadas de vapor de sódio são mais eficientes,
convencionais com reatores eletromagnéticos e eletrônicos, porém, como em outros casos, com um conteúdo harmônico maior
respectivamente. que as outras duas lâmpadas mencionadas. A Tabela 7 apresenta os
Comparando as Tabelas 4 e 5, percebe-se que a produção THDs destas lâmpadas e a Tabela 8 os seus conteúdos harmônicos.
de harmônicos em reatores eletrônicos é bem superior do que
os reatores eletromagnéticos. Destaque para a última medição Tabela 7
THDs de lâmpadas de vapor de mercúrio, sódio e mista
na Tabela 5, na qual o THD de corrente é baixo pois atende à THD (%)
Nº Lâmpada Potência (W) V I
portaria do Inmetro nº. 188, de 9 de novembro de 2004, que
1 Mista 160 3,68 30,42
determina que reatores que alimentem lâmpadas fluorescentes 2 Vapor de mercúrio 80 4,41 38,04
convencionais, em que o conjunto reator-lâmpada tenha 3 Vapor de sódio 70 4,52 59,46

potência superior a 56 W, devem ser fabricados na versão com


Tabela 8
alto fator de potência. Conteúdo harmônico de lâmpadas de vapor de mercúrio, sódio e mista
Mista Vapor de mercúrio Vapor de sódio
Irms = 0,760 A Irms = 0477 A Irms = 0,474 A
Tabela 4 THDi = 30,42% THDi = 38,04% THDi = 59,46%
THDs de lâmpadas fluorescentes convencionais com reatores eletromagnéticos Harmônicos
Fator de crista = 1,31 Fator de crista = 1,65 Fator de crista = 1,83
Nº Fabricante/tipo Lâmpadas THD (%) Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
V I (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 Fabricante 1 – tipo 1 1 x 20W 4,09 5,45 1 100,00 -7,57 100,00 -7,97 100,00 -9,18
2 Fabricante 2 – tipo 1 1 x 40W 4,30 11,25 3 28,87 166,57 19,27 -43,84 29,72 -49,14
3 Fabricante 1 – tipo 2 1 x 40W 4,00 12,30 5 9,25 77,32 30,61 111,17 45,14 102,86
4 Fabricante 1 – tipo 3 1 x 40W 4,19 12,20 7 2,13 -50,34 3,64 3,57 7,16 -0,72
5 Fabricante 2 – tipo 2 2 x 20W 4,01 11,70 9 2,90 -140,00 1,15 4,21 1,47 -111,08
11 1,98 141,10 6,96 -93,97 7,79 -69,86
13 1,25 19,84 3,13 112,44 4,93 79,99
15 1,03 -101,87 0,40 31,11 1,23 -56,60
Tabela 5
THDs de lâmpadas fluorescentes convencionais com reatores eletrônicos

Nº Fabricante/tipo Lâmpadas THD (%) Eletrônicos


V I Os aparelhos eletrônicos apresentam altos THDs de corrente.
1 Fabricante 1 – tipo 1 1 x 20W 4,16 4,16
Isso se explica por sua forma de conversão CA-CC utilizada na fonte
2 Fabricante 1 – tipo 2 1 x 40W 4,31 4,31
3 Fabricante 2 – tipo 1 1 x 40W 4,23 4,23 de alimentação: ponte de diodos com filtro capacitivo. Esta categoria
4 Fabricante 2 – tipo 2 2 x 40W 4,37 4,37 de eletrodomésticos é a principal carga não-linear de consumidores
residenciais e comerciais e, consequentemente, da rede de distribuição
Há uma diferença nos harmônicos das correntes que os abastece. A Tabela 9 traz os aparelhos eletrônicos medidos com
apresentados nos dois reatores mencionados, destacando o seus respectivos THDs. Os fabricantes estão numerados conforme o
alto índice de harmônicos no reator eletrônico. No caso do tipo de aparelho, ou seja, o fabricante 1 de televisão não é o mesmo
reator eletromagnético, o conteúdo harmônico acima do 11º fabricante 1 do aparelho de som e a Tabela 10 apresenta os harmônicos
harmônico já não é mais representativo (≤ 0,35%). das formas de onda de corrente.
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42 O Setor Elétrico / Maio de 2010

possuíam uma geladeira. Neste fascículo, os refrigeradores estão sendo


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 9
THDs de aparelhos eletrônicos
chamados de geladeiras, freezers, frigobares e bebedouros, sendo
Nº Aparelho/fabricante THD (%)
V I estes dois últimos comuns em consumidores comerciais. A Tabela 11
Computador
apresenta as medições realizadas e a Figura 2 mostra a forma de onda
1 Athlon 1.8 GHz 3,81 89,27
2 Pentium 166 MHz – monitor 14’’ 4,07 98,47 de corrente típica deste grupo de eletrodomésticos.
3 Pentium 300 MHz – monitor 14’’ 3,10 98,10 Mais uma vez, os fabricantes são divididos por aparelho. Estas cargas
4 Pentium 3 – 1 GHz – monitor 15’’ 3,66 114,32
não podem ser consideradas não-lineares, apesar da sua distorção de
5 Pentium 3 – 1 GHz – monitor 17’’ 3,75 94,06
6 Pentium 4 – 2,7 GHz – monitor 17’’ 3,78 119,96 corrente, pois apresentam baixos THDs de corrente. A tensão na qual
7 Pentium 4 – 3 GHz – monitor 17’’ 5,28 94,42 elas foram medidas não era estritamente senoidal. Segundo a definição
Televisão
de carga não-linear, para se caracterizar uma carga como não-linear, sua
1 Fabricante 1 - 14’’ 1,07 111,63
2 Fabricante 2 - 14’’ 3,03 95,96 corrente deve ser diferente de uma senoide quando a carga é submetida
3 Fabricante 3 - 14’’ 2,98 103,29 a uma onda de tensão puramente senoidal. As formas de onda de
4 Fabricante 4 - 20’’ 2,90 103,00
corrente destes eletrodomésticos são muito semelhantes e lembram
5 Fabricante 5 - 20’’ 1,69 136,17
Aparelho de som uma senoide.
1 Fabricante 1 2,40 43,20
2 Fabricante 2 1,27 61,18
Tabela 11
3 Fabricante 3 3,29 42,80 THDs de aparelhos refrigeradores
4 Fabricante 4 4,50 35,97
Nº Aparelho/fabricante THD (%)
Impressora a laser V I
1 Fabricante 1 3,47 111,6 Geladeira
Laptop 1 Fabricante 1 – tipo 1 (1 porta) 1,13 4,74
1 Pentium 4 – 3 GHz - 15’’ 3,04 10,00 2 Fabricante 1 – tipo 2 (1 porta) 3,84 8,01
Rádio relógio 3 Fabricante 1 – tipo 3 (1 porta) 4,10 15,80
1 Fabricante 1 3,37 51,03 4 Fabricante 1 – tipo 4 (1 porta) 3,10 8,50
Telefone sem fio 5 Fabricante 2 – tipo 1 (2 porta) 2,60 8,30
1 Fabricante 1 3,45 26,18 Freezer
2 Fabricante 2 4,19 29,15 1 Fabricante 1 2,55 7,49
3 Fabricante 3 1,61 37,84 2 Fabricante 2 2,61 14,47
Videocassete Frigobar
1 Fabricante 1 3,28 135,23 1 Fabricante 1 1,28 7,20
2 Fabricante 2 3,45 56,28 Bebedouro
Videogame 1 Fabricante 1 3,96 4,19
1 Fabricante 1 3,30 45,30 2 Fabricante 2 1,25 7,99
2 Fabricante 2 4,01 56,92

Tabela 10
Conteúdo harmônico de um computador, uma televisão e um aparelho de som
Computador 7 Televisão 3 Aparelho de som 3
Irms = 1,408 A Irms = 0,621 A Irms =0,127 A
THDi = 94,42% THDi = 103,29% THDi = 42,80%
Harmônicos Fator de crista = 2,15 Fator de crista = 1,67 Fator de crista = 1,89
Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 2,46 100,00 2,49 100,00 -26,19
3 78,46 -174,73 82,29 175,41 37,40 -179,22
5 45,08 9,40 54,84 -7,64 17,31 -48,47
7 13,74 -161,18 25,15 173,21 6,04 -17,81
9 6,11 169,64 3,41 43,13 5,91 132,88
11 10,42 11,77 10,51 -33,28 1,97 -128,06
13 5,55 -154,47 11,82 146,07 2,59 -46,53
15 2,09 139,21 6,27 -42,45 0,98 76,64 Figura 2 - Forma de onda de corrente típica de aparelhos refrigeradores.
17 4,50 7,39 0,84 -1,12 1,20 137,23
19 3,00 -160,01 0,38 61,72 0,67 -108,95
21 0,60 82,59 4,86 -53,31 0,69 -53,26 Uma distorção típica nesta categoria de aparelhos é um THD de
23 1,91 14,14 2,00 95,39 0,59 58,81
25 1,23 -151,58 1,68 154,01 0,44 137,31
8% (valor médio). Analisada a corrente eficaz da geladeira, durante
27 0,57 153,49 3,31 -57,23 0,43 -119,81 um período de 15 horas, percebe-se que há um comportamento mais
29 1,55 28,31 2,74 102,59 0,35 -38,46 espaçado durante a madrugada, que se deve ao número reduzido ou
31 1,18 -134,33 0,89 -147,4 0,33 63,18
nenhuma abertura da porta da geladeira, o que faz seu compressor
Refrigeradores ficar mais tempo desligado, além da baixa temperatura ambiente.
Os refrigeradores são importantes eletrodomésticos que estão Esta alternância é menos pronunciada no freezer, por trabalhar com
presentes na maioria dos lares brasileiros. Segundo o Instituto Brasileiro temperaturas menores. Os bebedouros medidos não apresentam o
de Geografia e Estatística (IBGE), em 2003, 86,8% dos lares brasileiros controle mencionado, ou seja, tem-se compressor ligado a todo instante.
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O Setor Elétrico / Maio de 2010
43

Condicionadores de ar
Os aparelhos de ar-condicionado medidos foram do tipo janela,
comuns tanto em ambientes residenciais quanto em consumidores
comerciais. Eles contêm um controle de temperatura na qual desligam o
seu compressor de resfriamento quando a temperatura ambiente chega
a um certo nível. Além disso, os aparelhos medidos tinham vários níveis
de resfriamento e um ou dois níveis de ventilação.
No modo de resfriamento, a distorção de corrente é maior que
no modo de ventilação. Aqui vale a mesma observação feita para
os refrigeradores: não há como classificá-los como não-lineares,
pois as medições foram realizadas em ambientes com níveis de Figura 3 - Forma de onda de corrente de um condicionador de ar (modo
tensão distorcidos. A Tabela 12 mostra os THDs de tensão e corrente resfriar).
medidos para diversos condicionadores de ar, enquanto as Figuras 3 e
4 mostram a forma de onda de corrente nos modos resfriar e ventilar,
respectivamente.
Tabela 12
THDs de condicionadores de ar
Nº Fabricante/tipo BTU Resfriar Ventilar
THD (%) THD (%)
V I V I
1 Fabricante 1 – tipo 1 7500 3,20 12,70 3,40 5,40
2 Fabricante 2 – tipo 1 7500 1,21 11,26 1,37 1,89
3 Fabricante 2 – tipo 2 7500 1,60 13,08 1,59 5,21
4 Fabricante 2 – tipo 3 10500 3,90 12,20 - -
5 Fabricante 2 – tipo 4 10500 3,10 15,40 - -
6 Fabricante 2 – tipo 5 15000 3,80 16,30 3,50 4,90
7 Fabricante 2 – tipo 6 18000 1,54 10,65 1,63 2,07
8 Fabricante 1 – tipo 2 18000 0,85 15,38 0,76 6,05
Figura 4 - Forma de onda de corrente de um condicionador de ar (modo
9 Fabricante 1 – tipo 3 21000 1,15 17,31 1,10 7,87
ventilar).
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Maio de 2010

Tabela 15
Tabela 13 THDs de eletrodomésticos baseados em motores
Conteúdo harmônico do condicionador de ar nos modos resfriar e ventilar
Nº Aparelho/fabricante THD (%)
Resfriar Ventilar V I
Irms = 9,856 A Irms = 0,967 A Aspirador de pó
Harmônicos THDi = 17,31% THDi = 7,87% 1 Fabricante 1 4,07 22,68
Fator de crista = 1,43 Fator de crista = 1,04
Batedeira
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) 1 Fabricante 1 4,16 5,62
1 100,00 -2,38 100,00 15,80 Circulador de ar
2 12,50 125,33 0,14 51,20 1 Fabricante 1 2,80 3,80
3 12,00 104,03 7,50 116,20 Enceradeira
5 1,61 -163,86 2,90 -147,02 1 Fabricante 1 3,11 11,26
7 0,73 138,83 0,82 -75,43 Espremedor de laranja
9 0,83 113,51 0,25 65,31 1 Fabricante 1 3,76 10,16
Exaustor de fogão
Aquecimento 1 Fabricante 1 3,32 7,8
Liquidificador
Normalmente, os eletrodomésticos, que envolvem algum 1 Fabricante 1 3,40 13,51
aquecimento, têm esta funcionalidade associada a uma resistência Fabricante 2 2,51 16,85
Lavadora de roupas
que provoca este fenômeno. Assim, são aparelhos lineares sendo que a
1 Fabricante 1 2,63 5,56
distorção da corrente acompanha a distorção de tensão. Uma exceção 2 Fabricante 2 3,26 17,06
neste grupo seria o aparelho de micro-ondas. Sua distorção de corrente Tanquinho
1 Fabricante 1 1,75 8,98
é facilmente explicada por não utilizar uma resistência, mas sim um
Ventilador de teto
propulsor de micro-ondas para aquecer os alimentos. O conteúdo 1 Fabricante 1 4,20 4,21
harmônico desse equipamento de aquecimento é mostrado na Tabela Ventilador pequeno
1 Fabricante 1 3,38 2,24
14, que tem como último harmônico o 11º, devido ao fato dos outros
2 Fabricante 2 2,90 3,90
terem tido valores menores que 1%. 3 Fabricante 3 5,32 5,49

THD de corrente médio de 30%. Há também aqueles que


Tabela 14
Conteúdo harmônico de um aparelho de micro-ondas produzem grande quantidade de harmônicos, como as LFCs e
Irms = 13,459 A as lâmpadas fluorescentes com reatores eletrônicos, possuindo
Harmônicos THDi = 29,24%
Fator de crista = 1,64 THDs de corrente da ordem de 100%.
Módulo (%) Ângulo (graus) Já o grupo de eletrônicos, devido ao processo de conversão
1 100,00 -0,32
CA-CC empregado em suas fontes de alimentação, irá apresentar
2 6,60 -97,20
3 27,14 -145,31 em sua grande maioria uma grande produção de harmônicos,
5 4,79 -47,26 sobretudo os computadores e televisores, com THD médio
7 4,84 -54,95
de corrente de 100%. Enquanto isso, os refrigeradores,
9 1,75 28,47
11 1,68 93,70 condicionadores de ar e motores não apresentam níveis
substanciais de harmônicos, tendo um THD de corrente médio
de 10%. Por fim, cargas de aquecimento, por serem lineares
Motores em sua grande maioria, irão apresentar correntes com espectro
Esta última categoria de eletrodomésticos, na qual harmônico e distorção iguais aos verificados para a tensão, no
se efetuaram medições, emprega algum motor para seu instante de medição.
funcionamento. A distorção de corrente nesta categoria
é geralmente baixa. A Tabela 15 traz os THDs dos vários Referências
eletrodomésticos medidos. Novamente, o fabricante 1 de um GONZALEZ, M. L.; PIRES, I. A. et al. Correntes harmônicas em
aparelho é diferente do fabricante 1 de outro aparelho. aparelhos eletrodomésticos. VI SBQEE – Seminário Brasileiro
sobre Qualidade de Energia Elétrica, 21 a 24 de agosto de
Conclusões 2005, Belém – PA.
Neste capítulo, foram apresentadas as medições realizadas DUGAN, R. C. et al. Electrical Power Systems Quality, second
em diversos aparelhos eletrodomésticos presentes em edition, McGraw-Hill.
consumidores residenciais e comerciais a fim de caracterizar a ASTORGA, O. A. M. et al. Um estudo da substituição
produção de correntes harmônicas de cada aparelho. Foi possível das lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes
concluir que o grupo de iluminação possui elementos lineares compactas em instalações elétricas residenciais e o
e também produzem uma quantidade média de harmônicos compromisso entre conservação e qualidade de energia. XVI
(lâmpadas de descarga com reatores eletromagnéticos), com SNPTEE – Seminário Nacional de Produção e Transmissão de
Apoio
O Setor Elétrico / Maio de 2010
45

Energia Elétrica, Brasil, 2001. Applications, v. 25, n. 2, abril 1989.


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fluorescentes compactas em residências. Eletricidade Moderna, elétrica: análise comparativa entre os “reatores” eletrônicos
p. 134-142, setembro 1998. e eletromagnéticos usados em sistemas de iluminação
DATTA, S. Power Pollution Caused By Lighting Control Systems. fluorescente. III SBQEE – Seminário Brasileiro de Qualidade de
IEEE Industry Applications Society Annual Meeting, 1991. Energia Elétrica, ST 8 – IT 62, 8-12 de agosto de 1999, Brasília
LUZ, J. M.; FELBERBAUM, M. I. Ensaios em reatores eletrônicos – DF.
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Seminário Brasileiro de Qualidade de Energia Elétrica, ST 8 – IT in City Street Gas Discharge Lamps. IEEE Transactions on Power
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2, abril 1990. com ênfase em qualidade da energia elétrica.
KALINOWSKY, S. A.; MARTELLO, J. J. Electrical and Illumination CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Characteristics of Energy-Saving Fluorescent Lighting as Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Capítulo VI

Cenários harmônicos em cargas


residenciais
Igor Amariz Pires*

Além dos eletrodomésticos apresentados no capítulo A medição foi realizada no ramal que alimenta
anterior, consumidores residenciais e comerciais também o padrão do consumidor. Para tal, utilizou-se um TC
foram medidos para estabelecer um perfil do consumo e de janela junto ao instrumento de medição. O tempo
qual é o conteúdo harmônico que cada um destes produz. total de coleta de dados foi de 24 horas, sendo possível
No caso de consumidores residenciais, tema que será caracterizar a curva de consumo e de distorção de
abordado neste capítulo, serão apresentados os resultados corrente do consumidor. As formas de onda foram
de quatro medições, sendo um resultado para o perfil de adquiridas de hora em hora.
consumo baixo, dois para médio e um para o alto. Um trabalho semelhante às medições realizadas
Já para consumidores comerciais, que serão é apresentado no trabalho Curva de Carga de
apresentados no próximo capítulo, serão mostradas as Consumidores Comerciais e Industriais em Baixa
medições realizadas em um centro comercial. Este local Tensão, que consta nas referências bibliográficas. As
foi escolhido, pois permitiu medir vários consumidores curvas de corrente e distorção de corrente ao longo
comerciais. É também mostrada a medição global realizada do tempo de consumidores residenciais deste atual
neste centro comercial. Além disso, resultados de medições trabalho são muito semelhantes às divulgadas naquele.
em transformadores que alimentam consumidores A Tabela 1 traz a corrente eficaz média, os THDs de
residenciais e comerciais também são apresentados. corrente e tensão médios durante a coleta de dados nas
residências mencionadas no tempo coletado (24 horas),
Consumidores residenciais além do consumo médio mensal de cada uma (dado
As medições em consumidores residenciais fornecido pela concessionária de energia elétrica).
foram realizadas na cidade sede da concessionária
de energia elétrica. A partir do circuito secundário de Residência de consumo baixo
um certo transformador, escolheu-se quatro amostras Este consumidor, com um consumo médio mensal
de consumidores residenciais de um universo de 39. de 89 kWh/mês, é atendido apenas por uma fase. Na
A escolha foi baseada no consumo mensal de cada pesquisa, foi constatado que há um baixo número
residência, escolhendo, portanto, um consumidor com de eletrodomésticos nesta residência, havendo
consumo baixo, dois consumidores com consumos apenas uma televisão e um rádio como aparelhos
médios e um consumidor com consumo alto. A definição eletrônicos. A iluminação era essencialmente feita por
destes patamares foi realizada da seguinte forma: lâmpadas incandescentes. Outros eletrodomésticos
que merecem destaque são a geladeira e o chuveiro.
• Consumo abaixo de 200 kWh/mês – A Figura 1 apresenta a curva de corrente eficaz da fase
consumo baixo que alimenta este consumidor ao longo do tempo,
• Consumo entre 200 e 500 kWh/mês – enquanto a Figura 2 mostra o THDs desta curva de
consumo médio corrente. A Figura 3 apresenta o THD de tensão no
• Consumo acima de 500 kWh/mês – período de coleta de dados.
consumo alto Analisando as Figuras 1 e 2, pode-se inferir quais
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Tabela 1 onda apresentadas estão na Tabela 2. Apenas no horário das 13h


Consumidores residenciais
houve harmônicos significativos até o 31º. Nos outros horários, o
Nº Consumo médio Ieficaz médio (A) THDI-médio (%) THDV – médio (%) último harmônico apresentado do espectro foi aquele que tinha seu
(kWh/mês) Ia Ia Va módulo maior que 1%.
1 Baixo - 89 1,28 7,62 1,61 Uma importante conclusão da comparação realizada entre as
3 Médio 1 - 212 1,93 23,54 1,32 Figuras 1 e 2 é que o THD de corrente é inversamente proporcional
3 Médio 2 - 296 2,61 11,92 1,46
4 Alto - 690 Ia Ib Ic Ia Ib Ic Va Vb Vc ao valor eficaz da corrente. Ou seja, pela configuração de cargas
3,17 3,35 1,04 5,52 13,70 61,51 1,24 1,42 1,66 existentes no consumidor residencial, à medida que a corrente
eficaz aumenta, o índice THD de corrente diminui. Diminuindo
cargas eram utilizadas em cada momento. Os picos que ocorrem a corrente eficaz, o THD de corrente aumenta. Isso se explica por
na Figura 1 denotam a utilização de chuveiro elétrico (às 17h35, serem ainda lineares as cargas mais significativas neste ambiente
20h10 e 21h). No início das curvas, quando o nível de corrente residencial.
é baixo e o nível de THD é alto, conclui-se que, neste instante,
algum aparelho eletrônico estaria sendo utilizado, provavelmente
uma televisão. Este fato é confirmado pela curva de corrente às
13h que é visualizado na Figura 4. Em vários momentos no gráfico,
percebe-se o ciclo da geladeira.
Por exemplo, em dois horários: às 2h06 e às 11h50. As
Figuras 5 e 6 confirmam esta suposição. Às 21h, hora de ponta
do sistema, a residência apresenta uma curva com baixo THD
visualizado na Figura 7. Isto pode ser explicado por um número de
lâmpadas incandescentes ligadas em paralelo com outro aparelho
eletrônico, admitindo que seus moradores estivessem vendo Figura 1 - Corrente eficaz ao longo do tempo para a residência com
televisão nesse instante. Os conteúdos harmônicos das formas de consumo baixo.
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Figura 2 - THD de corrente ao longo do tempo para a residência com consumo baixo. Figura 5 - Forma de onda de corrente às 2h – consumo baixo.

Figura 3 - THD de tensão ao longo do tempo para a residência com Figura 6 - Forma de onda de corrente às 12h – consumo baixo.
consumo baixo.

Figura 4 - Forma de onda de corrente às 13h – consumo baixo. Figura 7 - Forma de onda de corrente às 21h – consumo baixo.

Tabela 2 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente da residência de consumo baixo
12h 13h 21h 2h
Irms = 1,337 Irms = 0,857 Irms = 2,189 Irms = 1,355
THDi = 9,02 THDi =105,15 THDi = 2,87 THDi = 7,68
Harmônicos F. crista = 1,26 F. crisra = 2,34 F. crista = 1,37 F. crista = 1,33

Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 -59,99 100,00 0,22 100,00 -2,92 100,00 -53,82
3 7,96 69,99 79,83 -169,31 2,65 163,70 6,75 83,22
5 3,50 28,42 56,76 16,04 0,51 -151,24 3,74 0,09
7 1,20 -145,36 31,61 -158,61 - - - -
9 - - 10,62 22,66 - - - -
11 - - 3,00 106,33 - - - -
13 - - 6,55 -122,02 - - - -
15 - - 4,79 58,37 - - - -
17 - - 0,46 -124,27 - - - -
19 - - 2,38 -102,81 - - - -
21 - - 2,95 78,94 - - - -
21 - - 1,39 -105,43 - - - -
25 - - 0,54 17,92 - - - -
27 - - 1,55 134,46 - - - -
29 - - 1,42 -57,20 - - - -
31 - - 0,45 127,73 - - - -
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Residências de consumo médio


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Neste padrão de consumo, foram medidas duas residências: uma com


o consumo médio mensal de 212 kWh e outra de 296 kWh. O perfil de
eletrodomésticos existentes nas duas residências é parecido e também
se assemelha ao consumidor com consumo baixo. Entretanto, há mais
alguns eletrodomésticos: utensílios de cozinha (batedeira, liquidificador,
etc.), computador, ventilador, entre outros. Em relação à iluminação,
havia algumas lâmpadas fluorescentes compactas.
Os dois consumidores eram atendidos apenas por uma fase. As
Figuras 8, 9 e 10 apresentam as curvas de corrente, THD de corrente Figura 10 - THD de tensão ao longo do tempo para residência com
consumo médio 1.
e tensão ao longo do tempo, respectivamente para o consumidor com
consumo médio de 212 kWh (chamado, nos gráficos, consumo médio 1).
A maior parte da Figura 8 evidencia o ciclo de funcionamento de uma
geladeira. Novamente, os picos de corrente representam o funcionamento
do chuveiro elétrico. Os valores altos de THD de corrente da Figura
9 ocorrem nos instantes em que o valor eficaz da corrente diminui
consideravelmente, representando o desligamento do compressor da
geladeira. Nestes momentos, pelo valor de THD de corrente (em torno de
100%) algum equipamento eletrônico estava ligado.
Como exemplo, a Figura 11 mostra a forma de onda de corrente às Figura 11 - Forma de onda de corrente às 21h – consumo médio 1.
21h. A curva apresentada poderia ser definida como uma senoide com
um pico de corrente superposto. Pode-se configurar como um ambiente
iluminado por uma lâmpada incandescente e uma televisão. A Figura
12 traz a forma de onda de corrente às 13h, sendo esta também como
sendo um aparelho eletrônico ligado neste momento. Nos horários de
12h e 2h, o compressor da geladeira estava ligado, o que pode ser vistos
nas Figuras 13 e 14. A Tabela 3 traz o conteúdo harmônico das formas
de onda apresentadas.
A correlação inversa entre as curvas das Figuras 8 e 9 (corrente
eficaz e THD de corrente), percebida na residência de consumo baixo,
também pode ser visualizada aqui. Figura 12 - Forma de onda de corrente às 13h – consumo médio 1.

Figura 8 - Corrente eficaz ao longo do tempo para residência com consumo médio 1. Figura 13 - Forma de onda de corrente às 12h – consumo médio 1.

Figura 9 - THD de corrente ao longo do tempo para residência com consumo médio 1. Figura 14 - Forma de onda de corrente às 2h – consumo médio 1.
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Tabela 3
Conteúdos harmônicos das formas de onda de corrente da residência de consumo médio 1
12h 13h 21h 2h
Irms = 2,396 Irms = 1,259 Irms = 2,705 Irms = 2,387
THDi = 9,01 THDi = 105,27 THDi = 65,90 THDi = 7,13
Harmônicos F. crista = 1,49 F. crista = 3,00 F. crista = 2,18 F. crista = 1,26

Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 -60,10 100,00 0,45 100,00 1,89 100,00 -57,51
3 7,87 111,15 80,03 10,78 51,34 -162,78 3,27 79,34
5 3,55 29,93 57,48 16,47 34,93 26,90 3,44 31,43
7 1,26 31,67 33,03 21,89 19,37 -143,80 1,37 -23,46
9 - - 12,03 22,75 8,09 49,92 1,11 -47,06
11 - - 2,29 87,31 2,74 -69,54 1,61 -165,45
13 - - 6,37 121,33 3,74 176,59 1,71 58,88
15 - - 5,06 119,58 3,85 18,72 1,14 -80,86
17 - - 1,33 116,86 1,74 -132,10 - -
19 - - 1,97 75,89 1,05 178,60 - -
21 - - 2,83 78,99 1,44 43,66 - -
23 - - 1,85 77,37 0,81 -94,41 - -
25 - - 0,48 0,23 0,65 -128,11 - -
27 - - 1,25 53,21 0,89 99,59 - -
29 - - 1,42 52,06 0,36 -13,35 - -
31 - - 0,53 38,32 0,75 -84,77 - -

O segundo consumidor medido neste padrão de consumo (Figura 15) é reconhecida como um ciclo de funcionamento da
tinha um consumo médio de 296 kWh/mês (nos gráficos é geladeira. O interessante é que, durante a madrugada, além do
chamado consumo médio 2). As Figuras 15, 16 e 17 apresentam compressor da geladeira algo mais em paralelo está ligado. Esta
a corrente eficaz, o THD de corrente e tensão ao longo do tempo, conclusão é tirada dos instantes em que o compressor se desliga e
respectivamente para este consumidor. a corrente eficaz não vai a zero. Pelo valor de corrente e seu THD,
Como na residência anterior, a maior parte da fuga de corrente além do horário, pode-se inferir que há uma lâmpada fluorescente
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com reator eletromagnético. O consumidor, quando entrevistado


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

sobre eletrodomésticos que possuía, confirmou a presença de


lâmpadas fluorescentes convencionais. Esta suposição se confirma
pela forma de onda às 2h da manhã (Figura 18), com seus valores
de THD e eficaz representados na Tabela 4, que, além destes dois
valores, traz o conteúdo harmônico desta forma de onda. Os picos
de corrente da Figura 15 representam chuveiros enquanto os picos
menores (de 10 A a 15 A) devem-se à utilização de secadores de
cabelo.
A forma de onda às 12h (Figura 19) representa um compressor
de geladeira de modelo antigo. Esta última informação também foi
Figura 18 - Forma de onda de corrente às 2h – consumo médio 2.
confirmada com o consumidor. Ao invés de apresentar a forma de
onda às 13h, que, nas outras residências, representou um momento
em que havia apenas um aparelho eletrônico, esta situação ocorreu
às 15h para a residência de consumo médio 2. A Figura 20 apresenta
a forma de onda de corrente às 15h enquanto a Figura 21 traz a
forma de onda da corrente às 21h. Neste último horário, a curva de
corrente não é distorcida, representando algum dispositivo resistivo
sendo utilizado na residência.
Novamente se confirma a correlação inversa da curva de
corrente eficaz com a curva de THD de corrente (Figuras 15 e 16),
vista nas residências anteriores.

Figura 19 - Forma de onda de corrente às 12h – consumo médio 2.

Figura 15 - Corrente eficaz ao longo do tempo para residência com consumo médio 2.

Figura 20 - Forma de onda de corrente às 15h – consumo médio 2.

Figura 16 - THD de corrente ao longo do tempo para residência com consumo médio 2.

Figura 17 - THD de tensão ao longo do tempo para residência com consumo médio 2. Figura 21 - Forma de onda de corrente às 21h – consumo médio 2.
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Tabela 4
Conteúdos harmônicos das formas de onda de corrente da residência de consumo médio 2
12h 15h 21h 2h
Irms = 2,602 Irms = 0,510 Irms = 2,234 Irms = 0,946
THDi = 15,74 THDi = 19,5 THDi = 3,75 THDi = 8,911
Harmônicos F. crista = 1,38 F. crista = 1,82 F. crista = 1,45 F. crista = 1,68

Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 -42,13 100,00 -6,31 100,00 -16,48 100,00 -10,25
3 10,36 174,09 82,73 -169,04 3,48 -19,45 8,51 163,94
5 9,69 27,27 66,41 16,19 1,20 130,98 1,12 -172,74
7 5,77 -149,32 48,34 -155,97 0,69 64,47 1,86 146,68
9 3,33 33,65 28,24 33,49 - - 1,41 131,02
11 1,46 -133,03 12,48 -130,33 - - 1,10 117,51
13 - - 3,12 134,16 - - - -
15 - - 6,96 19,03 - - - -
17 - - 8,77 -144,18 - - - -
19 - - 6,57 48,35 - - - -
21 - - 3,15 -127,25 - - - -
23 - - 1,07 -163,19 - - - -
25 - - 2,52 55,44 - - - -
27 - - 3,29 -114,64 - - - -
29 - - 2,32 83,17 - - - -
31 - - 0,89 -89,40 - - - -

Residência de consumo alto


Este consumidor, com um consumo médio mensal de 690
kWh/mês, representou o maior padrão de consumo entre as
medições de consumidores residenciais realizadas. Com uma
variedade enorme de eletrodomésticos, além dos citados
pelos outros consumidores, havia dois freezers, uma banheira
de hidromassagem (ainda que declarado que a utilizava
raramente), videocassete, DVDs, computador e outros.
Atendida a residência por três fases, a medição foi feita
nestas e também no cabo de neutro. A Figura 22 apresenta a
Figura 23 - Corrente eficaz em 24h – Consumo alto – Fase C e neutro.
corrente eficaz ao longo do tempo nas fases A e B, enquanto
a Figura 23 mostra a corrente eficaz na fase C e no neutro. As
Figuras 24, 25 e 26 mostram os THDs de corrente nas fases, na
corrente de neutro e nas tensões, respectivamente. Na Figura
25, o THD de corrente de neutro em 24h estará sem alguns
pontos. Isso se deve à corrente de neutro não ter atingido um
valor mínimo para o processamento da FFT no instrumento
de medição. Assim, nestes pontos, o instrumento não grava
nenhuma informação.

Figura 24 - THD de corrente em 24h – Consumo alto – Fases A, B e C.

Figura 22 - Corrente eficaz em 24h – Consumo alto – Fases A e B. Figura 25 - THD de corrente em 24h – Consumo alto – Neutro.
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Isso também ocorre às 2h da manhã, mas ligado a ela havia outra carga
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

que provavelmente seria um conjunto de lâmpadas fluorescentes com


reatores eletromagnéticos, devido ao THD apresentado.

Figura 26 - THD de tensão em 24h – Consumo alto – Fases A, B e C.

Analisando as figuras apresentadas, percebe-se que a fase A é a fase


em que se encontra uma geladeira a ela conectada. Confirma-se esta
suposição pela clara visualização do ciclo do compressor nas Figuras
22 e 24. A fase C fica mais com cargas eletrônicas, pois seu valor rms é Figura 28 - Formas de onda de corrente às 18h – consumo alto.
baixo na maior parte do tempo com um THD alto. Na fase B, fica difícil
supor quais cargas estariam a ela ligadas. Uma é facilmente identificável:
um chuveiro elétrico por volta de 20h40, sendo este monofásico. A
medição do THD de neutro indica que os horários com maior produção
de harmônicos nesta residência são entre às 17h e às 23h.
As Figuras 27, 28, 29 e 30 apresentam as formas de onda de
corrente das fases e do neutro nos horários de 12h, 18h, 21h e 2h,
respectivamente. Estas formas de onda confirmam as percepções
ditas acerca das correntes nas fases. As Tabelas 5, 6, 7 e 8 trazem os
conteúdos harmônicos das formas de onda apresentadas. É interessante Figura 29 - Formas de onda de corrente às 21h – consumo alto.
notar que, às 21h, o compressor de geladeira estava desligado (Fase A).

Figura 27 - Formas de onda de corrente às 12h – consumo alto. Figura 30 - Formas de onda de corrente às 2h – consumo alto.

Tabela 5
Conteúdo harmônico da forma de onda de corrente da residência de consumo alto às 12h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 7,607 Irms = 1,962 Irms = 0,312 Irms = 6,322
THDi = 4,17 THDi = 6,08 THDi = 75,89 THDi = 8,31
Harmônicos F. crista = 1,44 F. crista = 1,39 F. crista = 2,85 F. crista = 1,44

Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 5,37 100,00 -130,78 100,00 89,94 100,00 -3,99
3 3,64 83,43 4,49 68,21 43,30 27,53 7,02 71,45
5 1,49 -18,78 3,83 -73,43 40,33 -116,97 3,47 -62,71
7 - - - - 33,92 134,72 1,60 166,89
9 - - - - 24,06 18,18 1,39 49,74
11 - - - - 17,40 -99,08 - -
13 - - - - 12,03 148,18 - -
15 - - - - 6,70 35,80 - -
17 - - - - 3,50 -77,71 - -
19 - - - - 2,14 -168,33 - -
21 - - - - 0,80 140,04 - -
23 - - - - 0,98 64,15
25 - - - - 0,92 -25,44
27 - - - - 1,50 -127,59
29 - - - - 1,31 115,70
31 - - - - 1,32 0,28
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 6
Conteúdo harmônico da forma de onda de corrente da residência de consumo alto às 18h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 7,650 Irms = 5,393 Irms = 1,719 Irms = 4,317
THDi = 4,27 THDi = 22,83 THDi = 92,95 THDi = 45,06
Harmônicos F. crista = 1,45 F. crista = 1,43 F. crista = 2,78 F. crista = 1,63

Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 6,95 100,00 -132,67 100,00 114,37 100,00 -26,07
3 3,37 68,51 16,94 114,90 73,73 -2,35 30,45 60,48
5 2,28 -39,09 13,98 -53,88 47,36 -132,37 29,34 -76,51
7 - - 5,29 143,06 24,64 92,36 13,46 127,40
9 - - 1,12 -38,01 12,67 -62,88 5,49 -42,07
11 - - 0,82 -1,7 8,13 141,47 1,52 120,53
13 - - 1,45 173,04 3,78 -25,70 1,26 -142,24
15 - - 1,12 22,14 4,09 142,09 1,53 91,25
17 - - 0,66 -87,9 4,24 5,71 1,69 -12,04
19 - - 1,15 177,07 1,94 -92,25 1,32 -140,99
21 - - 1,24 38,54 1,98 -108,83 1,13 48,32
23 - - - - 3,28 156,51 1,16 -134,58
25 - - - - 2,29 54,31 - -
27 - - - - 0,68 -15,49 - -
29 - - - - 1,31 -27,65 - -
31 - - - - 1,47 -133,60 - -

Tabela 7
Conteúdo harmônico da forma de onda de corrente da residência de consumo alto às 21h
Fase A* Fase B Fase C Neutro
Irms = 0 Irms = 2,749 Irms = 4,303 Irms = 2,202
THDi = - THDi = 30,86 THDi = 47,47 THDi = 83,32
Harmônicos F. crista = - F. crista = 1,80 F. crista = 2,05 F. crista = 1,72

Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 - - 100,00 -122,96 100,00 96,03 100,00 -171,50
3 - - 23,43 114,59 39,21 20,76 58,29 62,74
5 - - 16,98 -70,43 20,54 -99,39 49,98 -79,28
7 - - 8,63 110,83 4,73 93,79 19,09 113,03
9 - - 1,12 -38,01 12,67 -62,88 5,49 -42,07
11 - - 1,66 -145,88 9,83 167,81 13,86 -173,19
13 - - 2,74 106,81 4,60 74,43 9,47 101,8
15 - - 1,65 -40,86 2,05 95,60 1,88 40,3
17 - - 0,43 -44,19 4,59 22,93 5,80 34,38
19 - - 1,31 166,93 4,00 -64,15 3,89 -69,11
21 - - 1,00 -37,57 2,28 -121,40 3,23 -72,46
23 - - 1,43 118,95 2,36 -167,97 4,01 -175,84
25 - - 1,00 -46,00 2,21 116,29 1,32 121,93
27 - - 0,31 -46,01 1,10 46,65 1,35 54,53
29 - - 1,12 172,88 0,89 28,17 1,03 166,4
31 - - 0,61 16,61 0,99 -38,13 1,83 18,28

* Compressor da geladeira desligado, apresentando baixos valores de corrente, fazendo o instrumento de medição não medir o conteúdo harmônico.

Tabela 8
Conteúdo harmônico da forma de onda de corrente da residência de consumo alto às 2h da manhã
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 1,590 Irms = 0,505 Irms = 1,140 Irms = 1,392
THDi = 12,04 THDi = 21,57 THDi = 24,00 THDi = 27,91
Harmônicos F. crista = 1,41 F. crista = 1,60 F. crista = 1,97 F. crista = 1,54

Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 9,81 100,00 -113,15 100,00 107,94 100,00 41,50
3 10,94 100,73 18,08 127,78 19,49 6,19 21,82 67,21
5 4,57 -58,04 11,27 -98,43 7,54 -115,07 14,31 -86,43
7 0,97 -115,07 1,69 93,80 8,86 109,18 7,12 121,57
9 - - 1,59 108,69 5,98 23,66 4,84 43,99
11 - - 2,12 -93,27 3,15 -123,66 3,13 -103,92
13 - - - - 3,09 143,61 2,60 151,85
15 - - - - 1,03 49,67 - -

*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com ênfase em qualidade da energia elétrica.
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O Setor Elétrico / Julho de 2010
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Capítulo VII

Cenários harmônicos em cargas


comerciais
Igor Amariz Pires*

Dando continuidade à apresentação das medições causavam isso (refrigeradores e outros).


em consumidores residenciais e comerciais, a fim As cargas presentes nesses consumidores eram
de se estabelecer um perfil do consumo e qual é o cargas de iluminação, e a maior parte utilizava
conteúdo harmônico que cada um desses produz, lâmpadas fluorescentes convencionais e compactas,
nesse capítulo serão apresentados os consumidores além de computadores e cargas específicas para o
comerciais e as conclusões alcançadas a partir das ramo de atuação. O trabalho Curva de Carga de
medições realizadas nesses consumidores. Consumidores Comerciais e Industriais em Baixa
Tensão traz uma caracterização das curvas de
Consumidores comerciais demanda de vários consumidores comerciais. Ainda
Em um centro foram medidos 13 diferentes que não seja o objetivo do presente trabalho, essas
consumidores comerciais. O tempo médio de curvas de demanda foram ao encontro das curvas
medição por consumidor foi de duas horas. As apresentadas na referência citada.
medições, como nos consumidores residenciais, A Tabela 1 apresenta os consumidores comerciais
foram feitas no ramal do padrão de medição dos medidos com a corrente média e os THDs médios de
clientes. A maior parte dos consumidores tinha um tensão e corrente. Os consumidores são atendidos
perfil de demanda fixo ao longo do tempo. Quando por duas fases, com exceção de dois, que são
havia alguma variação, era porque ou tinha um atendidos por três fases: uma agência de turismo e
ar-condicionado ligado ou, nas instalações elétricas um escritório de advogados. A diferença é devido
do consumidor, havia cargas específicas que ao grande número de cargas instaladas nesses

Tabela 1
Consumidores comerciais

Ieficaz médio (A) THDI-médio (%) THDV - médio (%)

N° Ramo de atuação Ia Ib Ia Ib Va Vb
1 Escritório administrativo 15,30 1,89 10,69 6,04 3,01 2,51
2 Bar 9,42 7,44 6,91 4,84 1,52 2,35
3 Contabilidade 15,17 20,17 6,47 15,05 2,68 2,67
4 Curso de informática 7,57 8,47 84,17 79,09 1,52 1,45
5 Escritório de jornalismo 4,52 4,54 30,39 28,27 1,50 1,17
6 Salão de beleza 15,14 13,81 9,81 26,03 1,97 2,36
7 Seguradora 15,14 13,81 9,81 26,03 1,97 2,36
8 Venda de bijuterias 14,36 25,54 28,90 28,23 1,96 1,83
10 Venda de cosméticos 7,23 11,13 27,78 44,12 2,08 1,55
11 Venda de roupas 4,02 0,89 8,75 67,14 1,35 1,97
Ieficaz média (A) THDI-médio (%) THDV - médio (%)
Ia Ib Ic Ia Ib Ic Ia Ia Ia
12 Agência de turismo 13,60 13,90 10,70 5,72 10,62 53,31 1,47 2,35 2,00
13 Escritório de advogados 13,79 14,53 19,38 31,34 7,76 17,14 3,36 3,10 2,89
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locais, predominantemente computadores e aparelhos de apresentadas. As fases no padrão de medição do consumidor


ar-condicionado. eram as fases A e C. A corrente, na fase C, apresenta uma visível
Não serão apresentadas todas as formas de onda dos 13 diferença entre o semiciclo positivo e o semiciclo negativo.
consumidores comerciais, mesmo porque há algumas curvas de Assim, seu conteúdo harmônico irá apresentar dois harmônicos
demanda que são parecidas entre si. Assim, serão mostradas as pares: o 2º e o 4º.
curvas dos seguintes consumidores:

• Venda de roupas
• Venda de computadores
• Curso de informática
• Agência de turismo

Venda de roupas
Esse consumidor apresentava uma curva de demanda
invariável no tempo de medição coletado. As cargas presentes Figura 1 – Corrente eficaz ao longo do tempo – Venda de roupas.

eram apenas lâmpadas fluorescentes convencionais e


compactas, sendo essas últimas utilizadas na vitrine da loja. Essa
invariabilidade na corrente demandada também foi constatada
para o escritório administrativo, contabilidade, venda de
bijuterias (muito parecida com a loja em análise) e venda de
cosméticos. A Figura 1 traz a curva de corrente ao longo do
tempo de medição. As Figuras 2 e 3 trazem o THD de corrente e
tensão, respectivamente.
A Figura 4 traz a forma de onda das correntes de fases. A
Tabela 2 revela o conteúdo harmônico das formas de onda Figura 2 – THD de corrente ao longo do tempo – Venda de roupas.
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42
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apresenta a corrente eficaz ao longo do tempo de medição enquanto


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

as Figuras 6 e 7 apresenta os THDs de corrente e tensão.

Figura 3 – THD de tensão ao longo do tempo – Venda de roupas.

Figura 6 – THD de corrente ao longo do tempo – Venda de computadores.

Figura 4 – Formas de onda de corrente – Venda de roupas.

Tabela 2
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Venda de roupas
Fase A Fase C Figura 7 – THD de corrente ao longo do tempo – Venda de computadores.
Irms = 4,055 A Irms = 0,891 A
THDi = 8,62% THDi = 67,23% Comparando as curvas das Figuras 5 e 6, chega-se à conclusão
Harmônicos Fator de crista = 1,48 Fator de crista = 1,12
de que há uma correlação inversa entre a curva de valor eficaz
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) de corrente e seu THD, conclusão essa também conseguida nos
1 100,00 -54,04 100,00 101,73
2 – – 61,26 -40,80 consumidores residenciais.
3 8,54 -30,42 21,63 -158,70 O ciclo de funcionamento visualizado na Figura 5 acontece
4 – – 4,04 20,59
simultaneamente nas duas fases, indicando que o ar-condicionado
5 1,54 -155,75 5,23 -112,53
7 1,00 109,56 4,62 120,18 era bifásico. Como na curva de corrente há dois momentos distintos,
9 0,45 41,08 0,78 66,30 um de menor valor eficaz de corrente e outro de maior valor, as
Figuras 8 e 9 apresentam formas de ondas nesses dois instantes.
Venda de computadores
A Tabela 3 traz o conteúdo harmônico de corrente nos instantes
Esse consumidor apresenta uma curva de carga variável em
mencionados.
um ciclo determinado (Figura 5). Isso se deve à presença de
ar-condicionado com termostato que desliga o compressor do ar
quando atinge o nível de temperatura determinado. A curva de
corrente desse consumidor se assemelha às curvas de corrente do
escritório de jornalismo, agência de turismo, escritório de advogados,
bar e salão de beleza.
A variabilidade de carga do bar se deve a dois refrigeradores
enquanto no salão de beleza seria a utilização de secadores de
cabelo, além do ar-condicionado também ali presente. A Figura 5 Figura 8 – Forma de onda de corrente – Venda de computadores – Menor
valor eficaz de corrente.

Figura 9 – Forma de onda de corrente – Venda de computadores – Maior


Figura 5 – Corrente eficaz ao longo do tempo – Venda de computadores. valor eficaz de corrente.
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 3
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Venda de computadores
Fase A Fase B Fase A Fase B
Irms = 8,480 Irms = 19,883 Irms = 20,314 Irms = 27,786
THDi = 39,51 THDi = 35,95 THDi = 19,42 THDi = 15,09
Harmônicos F. crista = 1,87 F. crista = 1,91 F. crista = 1,67 F. crista = 1,62
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 23,38 100,00 -128,13 100,00 -21,20 100,00 -141,60
3 30,70 -167,43 32,10 -170,68 16,76 -156,34 13,71 -170,12
5 18,32 10,80 15,43 107,90 7,46 9,52 7,25 112,14
7 7,81 -173,67 6,77 25,71 2,15 -161,93 2,05 44,05
9 3,14 -22,22 3,68 -60,20 1,39 -5,34 2,17 -45,50
11 1,86 58,76 1,61 108,33 0,50 32,28 0,53 153,53
13 2,51 -135,94 3,57 31,18 1,07 -140,51 1,63 49,76
15 1,53 23,49 2,25 -31,89 0,82 30,24 1,27 -10,72
17 0,65 110,00 0,74 -176,29 – – – –
19 1,10 -108,30 1,09 74,14 – – – –

Curso de informática
O curso de informática foi escolhido para aqui ser exposto o seu
alto THD de corrente nas fases medidas. Várias referências descrevem
os problemas relativos a Centros de Processamento de Dados (CPDs)
devido aos harmônicos gerados pelos computadores desses locais.
O curso de informática medido continha 15 computadores.
Alimentado por duas fases, tinha como iluminação lâmpadas
fluorescentes convencionais. As Figuras 10 e 11 apresentam a curva
Figura 12 – THD de tensão ao longo do tempo – Curso de informática.
de corrente eficaz e THD de corrente ao longo do tempo e a Figura
12 mostra o THD de tensão durante a medição.
A medição iniciou-se por volta das 13h20. O treinamento iniciava
às 14h e terminava às 17h, momento em que a medição foi concluída.
A Figura 10 mostra o alto nível de distorção harmônica durante o
funcionamento do treinamento. Isso, em alguns casos, pode se tornar
crítico devido, principalmente, ao nível de potência demandada.

Figura 13 – Forma de onda de corrente – Curso de informática.

Tabela 4
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Curso de informática
Fase A Fase C
Irms = 9116 A Irms = 11,100 A
THDi = 81,63% THDi = 71,70%
Harmônicos Fator de crista = 2,30 Fator de crista = 2,34

Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)


1 100,00 -6,21 100,00 128,66
3 66,89 -178,62 61,58 -160,04
5 42,12 -2,92 30,64 -107,33
Figura 10 – Corrente eficaz ao longo do tempo – Curso de informática. 7 16,68 172,32 17,09 -63,64
9 2,20 -95,07 4,90 6,66
11 6,54 11,11 5,57 -106,77
13 5,38 -179,63 5,79 -13,06
15 2,13 -22,05 1,49 173,40
17 0,93 60,27 3,72 -43,64
19 1,01 -167,36 1,22 53,72

Agência de turismo
A agência de turismo era uma loja com um grande número de cargas
instaladas, predominantemente computadores, sendo então alimentada
por três fases. O escritório de advogados também era atendido por três
fases, tendo um comportamento semelhante à agência de turismo. A
Figura 11 – THD de corrente ao longo do tempo – Curso de informática. Figura 14 traz a curva de corrente eficaz ao longo do tempo. As fases
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A e B têm comportamento e valores muito parecidos. Isso se explica


por haver um ar-condicionado bifásico instalado nesse consumidor.
As Figuras 15 e 16 trazem os THDs de corrente e tensão enquanto a
Figura 17 apresenta as suas formas típicas de onda de corrente. O THD
de corrente da fase C, juntamente com sua forma de onda, indica a
predominância de cargas eletrônicas nessa fase.

Figura 16 – THD de tensão ao longo do tempo – Agência de turismo.

Figura 14 – Corrente eficaz ao longo do tempo – Agência de turismo.

Figura 17 – Forma de onda de corrente – Agência de turismo.

A Tabela 5 apresenta o conteúdo harmônico das formas de onda de


corrente apresentadas na Figura 17.

Prédio comercial
Na mesma cidade em que foram realizadas as medições dos
consumidores residenciais e comerciais, mediu-se o Prédio Administrativo
da Concessionária de Energia Elétrica (Pacee). Várias referências tratam da
Figura 15 – THD de corrente ao longo do tempo – Agência de turismo. temática de harmônicos em prédios comerciais.
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Tabela 5
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Fase A Fase B Fase C


Irms = 13,632 Irms = 14,490 Irms = 10,564
THDi = 6,05 THDi = 10,37 THDi = 52,95
F. crista = 1,46 F. crista = 2,10 F. crista = 1,45
Harmônicos Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 0,46 100,00 -120,13 100,00 109,16
3 5,50 167,07 10,29 -142,17 42,87 191,88
5 0,68 78,22 0,61 139,17 28,45 249,12 Figura 18 – Corrente eficaz ao longo do tempo – Prédio comercial.
7 2,16 -130,01 1,29 -113,69 11,91 314,27
9 1,05 -176,57 – – 2,22 297,36
11 – – – – 3,84 293,67
13 – – – – 1,58 350,61
15 – – – – 0,66 318,72
17 – – – – 1,77 345,62
19 – – – – 1,33 54,93

O trabalho Diagnóstico, análise e sugestões relativas à qualidade de


energia elétrica em centro de processamento de dados contempla dois
casos de corrente de neutro em circuitos trifásicos que alimentam lâmpadas Figura 19 – THD de corrente ao longo do tempo – Prédio comercial.
fluorescentes. O autor apresenta um prédio comercial e uma indústria,
contendo 75% e 157% de distorção da corrente de neutro, respectivamente.
Já no trabalho The harmonic currents of commercial office buildings
due to non-linear eletronic equipment é apresentado uma investigação
realizada em um prédio administrativo de uma escola para caracterização
dos harmônicos presentes em sua rede elétrica. Foram realizadas
medições em uma sala que continha 22 computadores, constatando um
Figura 20 – THD de tensão ao longo do tempo – Prédio comercial.
alto fator de distorção na corrente de fase e neutro. Em seguida, fez-se
Os três momentos de funcionamento (expediente, almoço e madrugada)
uma medição geral no prédio. Constatou-se uma menor distorção na
têm suas formas de onda apresentadas nas Figuras 21, 22 e 23. Os conteúdos
corrente devido à interação entre diversas cargas.
harmônicos dessas formas de onda são mostrados nas Tabelas 7, 8 e 9.
A referência Harmonic distortion in commercial establishments
mostra um estudo teórico sobre harmônicos em estabelecimentos
comerciais, atribuindo ao computador e aos motores de condicionadores
de ar a maior responsabilidade pela geração de harmônicos em prédios
comerciais. Há, ainda, o problema da ressonância entre capacitores e
transformadores, excitado pelos harmônicos presentes no sistema elétrico.
A medição no Pacee foi realizada em um período de 24h. Foram
utilizados para tal os TCs de medição do prédio. Dessa forma, apenas as
Figura 21 – Forma de onda de corrente – Prédio comercial – Horário de
fases foram medidas. O prédio tinha como cargas vários computadores, expediente.
aparelhos de ar-condicionado (havendo três de 30.000 BTUs e tantos
outros de janela de menor potência), iluminação a base de lâmpadas
fluorescentes. Havia um banco de capacitores para correção do fator de
potência. A Tabela 6 traz os valores médios coletados no prédio comercial.
Tabela 6 - Prédio comercial
Eficaz-medio (A) THDI – médio (%) THDV – médio (%)
Ia Ib Ic Ia Ib Ic Va Vb Vc
96,19 120,83 125,52 35,31 10,64 20,85 2,12 2,23 2,10
Figura 22 – Forma de onda de corrente – Prédio comercial – Horário de almoço.
As Figuras 18, 19 e 20 trazem a corrente eficaz, os THDs de corrente
e tensão ao longo do tempo. Na Figura 18, é percebido o horário de
expediente, almoço e madrugada quando a maioria das cargas está
desligada. No período da madrugada, além de alguma iluminação,
somente o CPD fica ligado, caracterizando um conteúdo harmônico alto.
As oscilações vistas na Figura 18 e 19 se devem aos condicionadores de
ar. A correlação inversa na curva de corrente eficaz e o THD de corrente,
verificada nos consumidores residenciais, aqui também é encontrada. Figura 23 – Forma de onda de corrente – Prédio comercial – Madrugada.
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Tabela 7 Tabela 9
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Horário de expediente Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Madrugada
Fase A Fase B Fase C
Irms = 208,52 Irms = 276,29 Irms = 260,92 Fase A Fase B Fase C
THDi = 8,39 THDi = 5,52 THDi = 9,43 Irms = 9,856 Irms = 9,693 Irms = 12,643
F. crista = 1,56 F. crista = 1,53 F. crista = 1,55 THDi = 63,74 THDi = 13,11 THDi = 46,97
Harmônicos Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo F. crista = 2,36 F. crista = 1,66 F. crista = 2,06
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) Harmônicos Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
1 100,00 -2,30 100,00 -127,12 100,00 108,88 (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
2 1,40 -21,66 0,47 -98,96 1,29 112,23 1 100,00 17,69 100,00 -117,24 100,00 101,67
3 6,81 -168,88 5,30 -174,20 8,28 -155,31 3 47,39 -157,09 9,33 -154,50 39,78 -147,39
5 2,29 -32,07 1,87 79,54 2,73 -150,22 5 32,32 5,58 5,12 96,06 21,16 -97,45
7 1,44 149,20 1,41 31,50 1,74 -138,14 7 22,91 -168,27 3,85 55,96 8,84 -43,98
9 11,41 0,73 3,19 -1,24 6,25 -34,37
Tabela 8 11 5,26 138,63 1,91 -67,83 4,75 18,25
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Horário de almoço
13 4,71 -88,72 1,65 -152,48 1,12 69,01
Fase A Fase B Fase C
Irms = 126,70 Irms = 144,02 Irms = 150,21 15 4,88 70,28 1,02 102,60 2,24 2,23
THDi = 9,19 THDi = 5,20 THDi = 7,96 17 2,40 -136,56 1,23 68,87 2,82 82,67
F. crista = 1,56 F. crista = 1,50 F. crista = 1,50 19 1,93 -8,49 0,94 -7,73 1,05 179,45
Harmônicos Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo 21 2,66 117,15 1,20 20,16 1,01 46,74
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) 23 1,99 -29,29 0,42 36,20 1,36 133,96
1 100,00 -2,42 100,00 -126,61 100,00 105,21 25 1,37 54,12 1,25 118,72 0,35 -107,67
2 1,18 -30,10 1,60 178,74 1,75 65,28 27 0,97 153,90 3,86 -31,12 0,45 120,16
3 7,95 -175,12 4,75 -177,29 7,46 -152,37 29 2,35 11,77 1,44 153,29 0,71 -171,31
5 2,18 -22,26 1,18 63,47 1,48 -140,76
7 1,21 151,11 0,83 14,97 0,92 -117,18

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O Setor Elétrico / Agosto de 2010
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Capítulo VIII

Cenários harmônicos em cargas


residenciais e comerciais –
Transformadores
Igor Amariz Pires*

Enquanto os consumidores residenciais,


apresentados no Capítulo VI, eram todos conectados
a um transformador de 45 kVA, os consumidores
comerciais, apresentados no Capítulo VII, estavam
ligados a um transformador de 225 kVA do centro
comercial. Dois iguais transformadores de potência
de 75 kVA e de 112,5 kVA, que alimentavam
consumidores residenciais e comerciais, também
foram medidos. Todos os transformadores foram
medidos em um período de 24h. A Tabela 1 traz os
valores médios adquiridos nos tempos de medição. Figura 1 – Corrente eficaz ao longo do tempo –
Transformador de consumidores residenciais – Fases A e B.
Da Tabela 1, percebe-se uma grande distorção
de corrente no neutro de transformadores
de consumidores comerciais, problema
frequentemente encontrado em transformadores
que alimentam consumidores comerciais.

Transformador de consumidores
residenciais
As Figuras 1 e 2 trazem as correntes eficazes
das fases e neutro ao longo do tempo enquanto as
Figuras 3, 4 e 5 mostram os THDs de corrente e
tensão no mesmo tempo.
Figura 2 – Corrente eficaz ao longo do tempo – Transformador
de consumidores residenciais – Fase C e neutro.

Tabela 1 Transformadores
Nº. Ieficaz médio (A) THDI-médio (%) THDI-médio (%)

Ia Ib Ic In Ia Ib Ic In Va Vb Vc
1 38,58 43,08 45,88 17,60 7,48 8,33 8,24 26,90 1,21 1,07 1,33
2 76,81 100,41 82,41 35,89 9,65 8,35 8,34 51,63 1,84 1,75 1,83
3 103,65 128,49 97,69 35,59 10,14 6,48 6,00 55,22 1,85 1,82 1,77
4 169,32 138,50 193,71 55,73 14,20 13,69 20,35 165,35 1,67 1,51 1,54
1. Transformador de consumidores residenciais (45 kVA)
2. Transformador de consumidores residenciais e comerciais (75 kVA)
3. Transformador de consumidores residenciais e comerciais (112,5 kVA)
4. Transformador de consumidores comerciais (225 kVA)
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O Setor Elétrico / Agosto de 2010

Figura 3 – THD de corrente ao longo do tempo – Transformador de


consumidores residenciais – Fases A e B. Figura 5 – THD de tensão ao longo do tempo – Transformador de
consumidores residenciais.
As Figuras 6, 7 e 8 trazem as formas de onda às 12h, às
21h e às 2h da manhã (horário comumente mostrado nos
consumidores residenciais). As Tabelas 2, 3 e 4 mostram o
conteúdo harmônico de cada forma de onda de corrente
apresentada nas Figuras 6, 7 e 8.
Analisando as Figuras 6, 7 e 8 e as Tabelas 2, 3 e 4,
percebe-se o desequilíbrio nas fases em todos os horários.
Este desequilíbrio pode ser atribuído à natureza probabilística
das cargas conectadas ao circuito do transformador. Outro
ponto importante é o significativo valor de 3º harmônico no

Figura 4 – THD de corrente ao longo do tempo – Transformador de


neutro, sendo 47% às 12 horas, 27% às 21 horas e 39% às 2
consumidores residenciais – Fase C e neutro. horas.
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 3 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –
Transformador de consumidores residenciais – 21h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 51,06 Irms = 95,30 Irms = 54,49 Irms = 48,12
THDi = 11,37 THDi = 5,82 THDi = 11,15 THDi = 27,52
Harm. F. crista = 1,57 F. crista = 1,39 F. crista = 1,45 F. crista = 2,11
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 -29,34 100,00 -140,64 100,00 95,29 100,00 -135,49
3 8,56 -166,51 3,84 152,09 9,70 -157,99 26,98 -174,26
5 6,33 23,69 4,02 160,16 4,46 -91,85 1,80 162,55
7 3,44 -159,47 1,48 93,20 2,71 -66,99 2,98 -158,66
9 1,86 36,54 0,74 8,78 1,18 -49,09 4,12 -2,0892
11 0,80 179,09 0,39 -99,37 1,34 21,25 0,45 -29,692

Tabela 4 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –


Transformador de consumidores residenciais – 2h
Figura 6 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores Fase A Fase B Fase C Neutro
residenciais – 12h. Irms = 36,11 Irms = 34,55 Irms = 46,42 Irms = 8,422
THDi = 5,37 THDi = 5,17 THDi = 7,85 THDi = 42,05
Harm. F. crista = 1,36 F. crista = 1,44 F. crista = 1,40 F. crista = 1,55
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 -37,51 100,00 -150,22 100,00 85,13 100,00 74,099
3 4,18 -147,69 4,98 90,51 3,83 -175,12 39,07 165,08
5 2,59 42,91 5,52 -179,41 2,89 -39,61 4,23 -146,09
7 1,76 -162,73 2,24 123,31 1,51 -50,85 7,21 176,7
9 1,28 23,86 1,08 83,59 0,63 8,70 12,26 26,077
11 1,79 179,12 0,92 137,81 1,63 -7,36 2,27 112,77

Transformador de consumidores comerciais


Este transformador alimentava os consumidores comerciais
anteriormente apresentados. Era um transformador de 225 kVA
(centro comercial) ocorrendo a medição em seu secundário. A Figura
9 apresenta as curvas de corrente ao longo do período de medição,
Figura 7 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores
residenciais – 21h. enquanto as Figuras 10, 11 e 12 mostram os THDs de corrente e tensão.
A Figura 9 é muito parecida com a figura da curva de corrente eficaz
ao longo do tempo de medição do prédio comercial. Também na Figura
9, podemos identificar os três horários de funcionamento: expediente,
almoço e madrugada. As formas de onda de corrente de cada horário e
o conteúdo harmônico destas estão nas Figuras 13, 14 e 15 e nas Tabelas
5, 6 e 7.

Figura 8 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores


residenciais – 2h.

Tabela 2 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –


Transformador de consumidores residenciais – 12h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 14,61 Irms = 22,79 Irms = 28,55 Irms = 14,74 Figura 9 – Corrente eficaz ao longo do tempo de medição – Transformador
THDi = 10,52 THDi = 12,97 THDi = 16,15 THDi = 50,50 de consumidores comerciais.
Harm.
F. crista = 1,29 F. crista = 1,32 F. crista = 1,40 F. crista = 2,11
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. A Figura 11 mostra os altos valores de THD de corrente no neutro
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 -50,11 100,00 -165,22 100,00 79,22 100,00 126,34 (média de 100% no horário da madrugada e 200% nos horários de
3 6,61 -157,10 9,03 177,05 12,15 175,12 47,87 179,02 expediente e almoço). Esta distorção se dá principalmente pelo 3º
5 6,26 34,98 7,98 139,78 9,72 -98,77 10,53 -144,89
harmônico, que como pode ser visualizado nas Tabelas 5, 6 e 7,
7 3,77 -133,79 3,65 99,23 4,99 -34,75 5,75 -38,433
9 2,34 59,76 1,84 37,24 2,56 24,24 11,49 28,338 sendo que para um THD de corrente de neutro de 192,89% durante
11 0,85 -102,99 0,63 -19,30 0,84 89,93 1,38 22,683 o horário de expediente, o 3º harmônico foi de 192,03%. Este valor
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de 3º harmônico se deve à utilização de cargas não lineares nas


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

fases, tais como lâmpadas fluorescentes compactas, computadores,


dentre outras.

Figura 14 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores


comerciais – horário de almoço.

Figura 10 – THD de corrente ao longo do tempo de medição –


Transformador de consumidores comerciais – Fases A, B e C.

Figura 15 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores


comerciais – horário de madrugada.
Tabela 5 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –
Transformador de consumidores comerciais – expediente
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 307,71 Irms = 273,73 Irms = 356,42 Irms = 105,10
THDi = 14,61 THDi = 13,56 THDi = 11,06 THDi = 192,89
Harm.
F. crista = 1,64 F. crista = 1,62 F. crista = 1,60 F. crista = 1,66
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
Figura 11 – THD de corrente ao longo do tempo de medição – 1 100,00 -9,91 100,00 -126,91 100,00 110,96 100,00 -108,590
Transformador de consumidores comerciais – Neutro. 3 13,51 -165,64 13,01 -168,07 8,01 -179,58 192,03 10,00
5 4,26 3,43 2,65 89,54 1,87 -142,30 7,99 -165,05
7 1,99 128,74 1,69 -8,50 1,46 -108,93 5,79 15,9
9 1,41 -87,47 1,28 -34,22 1,15 -64,86 16,97 107,040
11 0,63 47,96 0,37 45,39 0,26 -126,62 1,16 -95,32

Tabela 6 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –


Transformador de consumidores comerciais – almoço
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 197,72 Irms = 144,10 Irms = 211,23 Irms = 81,91
THDi = 16,88 THDi = 19,27 THDi = 16,49 THDi = 187,25
Harm.
F. crista = 1,65 F. crista = 1,74 F. crista = 1,70 F. crista = 1,79
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 -10,93 100,00 -133,06 100,00 117,89 100,00 -100,33
3 15,72 -158,13 17,89 -178,75 14,80 -179,63 183,32 8,6362
Figura 12 – THD de tensão ao longo do tempo de medição – Transformador 5 4,67 13,97 5,66 106,91 6,00 -138,44 5,97 -59,703
de consumidores comerciais. 7 1,34 159,53 2,14 27,35 2,93 -110,64 7,37 50,8
9 1,81 -77,91 2,09 -10,43 1,11 -85,53 16,23 117,32
11 0,85 77,81 0,77 -25,69 1,20 -139,25 0,76 10,12

Tabela 7 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –


Transformador de consumidores comerciais – madrugada
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 75,81 Irms = 50,66 Irms = 88,64 Irms = 23,67
THDi = 13,44 THDi = 13,87 THDi = 10,39 THDi = 64,15
Harm.
F. crista = 1,45 F. crista = 1,68 F. crista = 1,61 F. crista = 1,76
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 -13,29 100,00 -136,00 100,00 116,14 100,00 -100,72
3 12,23 -119,91 11,58 111,58 8,04 171,278 61,68 15,68
5 3,88 111,52 4,19 -28,25 6,15 -112,15 14,37 102,52
7 2,43 7,17 3,84 179,82 2,21 -71,183 5,21 178,25
Figura 13 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores 9 2,23 -93,24 4,29 47,21 0,62 -58,031 5,71 154,27
comerciais – horário de expediente. 11 1,37 126,85 2,73 -59,71 0,53 -37,73 4,71 133,93
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Transformador de consumidores residenciais e


comerciais
Dois transformadores que tinham consumidores residenciais
e comerciais conectados ao seu secundário foram medidos. A
potência destes dois foi de 75 kVA e 112,5 kVA. A porcentagem
de consumidores nos dois transformadores era de 65% para
consumidores residenciais e de 35% para consumidores
comerciais, conforme informação da concessionária de energia
elétrica.
Primeiro, será apresentado o transformador de 75 kVA. As

Figura 16 – Corrente eficaz ao longo do tempo de medição – Transformador


de consumidores residenciais e comerciais de 75 kVA – Fase C e neutro.

Figuras 16 e 17 mostram suas curvas de corrente ao longo do


período de medição, enquanto as Figuras 18, 19 e 20 mostram
os THDs de corrente e tensão. As formas de onda de corrente
de cada horário e o conteúdo harmônico destas estão nas
Figuras 21, 22 e 23 e nas Tabelas 8, 9 e 10.
Mais uma vez, a corrente de neutro apresenta um valor
significativo de THD (média de 75%), sendo o 3º harmônico
o maior responsável por tais distorções. Como exemplo, no
horário de 21h, com o THD de corrente de neutro igual a
70,53%, o 3º harmônico foi igual a 69,70%.

Figura 17–- THD de corrente ao longo do tempo de medição – Transformador


de consumidores residenciais e comerciais de 75 kVA – Fases A, B e C.
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Figura 22 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores


residenciais e comerciais de 75 kVA – 12h.

Figura 18–- THD de corrente ao longo do tempo de medição – Transformador


de consumidores residenciais e comerciais de 75 kVA – Fases A, B e C.

Figura 23 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores


residenciais e comerciais de 75 kVA – 21h.

Tabela 8 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –


Transformador de consumidores residenciais e comerciais de 75 kVA – 2h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 75,81 Irms = 50,66 Irms = 88,64 Irms = 23,67
THDi = 13,44 THDi = 13,87 THDi = 10,39 THDi = 64,15
Harm.
F. crista = 1,45 F. crista = 1,68 F. crista = 1,61 F. crista = 1,76
Figura 19 – THD de Corrente ao longo do tempo de medição – Transformador Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
de consumidores residenciais e comerciais de 75 kVA – Neutro. (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 -36,20 100,00 -164,10 100,00 83,06 100,00 30,08
3 6,64 140,09 3,14 -110,70 7,54 131,57 55,21 -29,01
5 5,44 26,82 3,55 -166,52 1,78 -102,80 2,89 -161,38
7 1,86 -142,37 0,69 -62,34 1,81 36,470 4,72 86,43
9 1,21 22,51 1,72 -30,77 2,83 89,170 15,35 -154,76
11 0,76 -166,44 1,93 -46,18 2,58 118,29 0,91 -16,66

Tabela 9 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –


Transformador de consumidores residenciais e comerciais de 75 kVA – 12h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 78,12 Irms = 118,60 Irms = 80,87 Irms = 35,49
THDi = 12,66 THDi = 11,35 THDi = 9,33 THDi = 103,40
Harm.
F. crista = 1,52 F. crista = 1,30 F. crista = 1,27 F. crista = 1,72
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 -30,96 100,00 -152,64 100,00 78,90 100,00 38,57
Figura 20 – THD de Tensão ao longo do tempo medição – Transformador 3 10,77 168,17 9,74 -130,28 8,01 163,46 91,53 12,16
de consumidores residenciais e comerciais de 75 kVA. 5 6,45 15,65 5,66 -145,27 4,09 -89,52 23,39 83,03
7 2,16 -170,42 1,27 -133,33 0,85 -2,750 9,22 33,34
9 0,56 -33,20 1,02 -51,65 0,94 178,790 5,21 105,70
11 0,62 26,26 0,33 -58,45 0,82 -143,17 2,59 88,26

Tabela 10 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –


Transformador de consumidores residenciais e comerciais de 75 kVA – 21h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 90,26 Irms = 95,78 Irms = 101,2 Irms = 36,61
THDi = 10,74 THDi = 10,94 THDi = 8,65 THDi = 70,53
Harm.
F. crista = 1,50 F. crista = 1,32 F. crista = 1,39 F. crista = 1,92
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 -21,30 100,00 -154,63 100,00 93,05 100,00 -70,69
3 7,84 -165,18 8,09 -123,27 6,81 -165,08 69,70 26,04
5 5,56 54,71 5,82 -160,43 4,09 -54,29 4,07 89,77
7 1,44 -150,28 0,24 154,49 0,86 52,630 2,83 -19,92
9 1,32 -9,14 1,44 -21,46 0,26 117,000 7,18 -24,25
Figura 21 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores
11 0,78 176,67 1,42 -48,76 0,85 113,39 1,03 89,70
residenciais e comerciais de 75 kVA – 2h.
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O segundo transformador medido foi o de 112,5 kVA. As


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Figuras 24 e 25 exibem suas curvas de corrente ao longo do


período de medição, enquanto as Figuras 26, 27 e 28 mostram
os THDs de corrente e tensão. As formas de onda de corrente de
cada horário e o conteúdo harmônico destas estão nas Figuras
29, 30 e 31 e nas Tabelas 11, 12 e 13. Mais uma vez, o THD
de corrente de neutro apresenta valores significativos (média
de 55%), porém, com valores menores que os apresentados no
transformador de 75 kVA (média de 75%). O harmônico mais
representativo foi, de novo, o 3º harmônico. Como exemplo,
no horário das 21 horas, momento que apresentava um THD
Figura 27 – THD de corrente ao longo do tempo de medição – Transformador
de corrente de neutro de 66,22%, o 3º harmônico tinha um de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA – Neutro.
módulo de 65,06%.

Figura 28 – THD de tensão ao longo do tempo de medição – Transformador


Figura 24 – Corrente eficaz ao longo do tempo de medição – Transformador de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA.
de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA – Fases A e B.

Figura 25 – Corrente eficaz ao longo do tempo de medição – Transformador Figura 29 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores
de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA – Fase C e Neutro. residenciais e comerciais de 112,5 kVA – 2h.

Figura 26 – THD de corrente ao longo do tempo de medição – Transformador Figura 30 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores
de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA – Fases A, B e C. residenciais e comerciais de 112,5 kVA – 12h.
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Tabela 12 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –


Transformador de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA – 12h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 81,28 Irms = 136,80 Irms = 77,00 Irms = 61,12
THDi = 12,09 THDi = 7,97 THDi = 11,47 THDi = 38,86
Harm.
F. crista = 1,36 F. crista = 1,37 F. crista = 1,35 F. crista = 1,56
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 -36,50 100,00 -160,99 100,00 83,09 100,00 19,68
3 9,41 -174,22 5,74 -174,80 7,57 -175,05 38,26 -114,03
5 6,37 37,97 4,24 163,70 5,81 -75,54 0,61 89,77
7 3,25 -140,04 1,94 87,18 2,88 -34,910 0,62 75,92
9 1,13 28,02 0,86 20,88 1,65 6,860 5,53 78,62
11 0,05 125,01 0,26 119,74 0,38 160,23 1,17 70,62

Tabela 13 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente –


Transformador de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA – 21h
Figura 31 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 114,90 Irms = 164,22 Irms = 110,14 Irms = 47,31
residenciais e comerciais de 112,5 kVA –21h. THDi = 11,76 THDi = 7,62 THDi = 8,37 THDi = 66,22
Harm.
F. crista = 1,52 F. crista = 1,42 F. crista = 1,34 F. crista = 1,92
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang.
Tabela 11 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
Transformador de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA – 2h
1 100,00 -20,06 100,00 -145,45 100,00 92,69 100,00 36,62
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 96,52 Irms = 96,52 Irms = 93,50 Irms = 17,55 3 10,15 -164,00 6,19 -172,14 5,92 -135,96 65,06 -99,47
THDi = 8,70 THDi = 8,70 THDi = 3,72 THDi = 61,86 5 6,93 51,16 4,89 173,28 5,92 -43,14 7,83 4,34
Harm.
F. crista = 1,42 F. crista = 1,42 F. crista = 1,43 F. crista = 1,81 7 2,46 -123,78 1,68 94,45 1,69 21,090 2,86 -90,55
Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. Mod. Ang. 9 0,45 6,28 0,57 21,86 0,61 14,390 5,87 77,39
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
11 0,41 121,50 0,17 -105,61 0,51 88,34 2,24 51,52
1 100,00 -29,49 100,00 -148,35 100,00 84,40 100,00 78,81
3 6,26 164,87 1,97 136,35 2,08 88,74 58,10 26,42 Conclusões
5 5,37 46,54 3,84 164,44 2,68 -58,61 18,58 20,00
Os capítulos VI, VII e VIII apresentaram as medições
7 1,98 -104,21 0,83 150,16 0,44 69,070 10,00 38,82
9 0,90 73,18 0,61 59,99 0,47 9,500 11,82 124,86 realizadas no ponto de entrega de consumidores residenciais
11 0,36 -149,40 0,31 -5,29 0,59 84,61 2,00 16,27 e comerciais a fim de caracterizar a produção de correntes
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O Setor Elétrico / Agosto de 2010

harmônicas, além da medição de um prédio comercial. Também corrente distorcida no horário de ponta e grande nível
Harmônicos provocados
por eletroeletrônicos

foram mostradas medições realizadas nos transformadores que de 3º harmônico no neutro, maior que o encontrado em
alimentavam estes e outros consumidores. transformadores puramente residenciais.
Nas medições, foram apresentadas curvas de corrente, THD
de corrente e tensão ao longo do tempo. Além dessas curvas, as Referências (para os capítulos VI, VII e VIII)
formas de onda em alguns instantes também foram mostradas. - SIQUEIRA F. J. B.; SILVA, E. P. de. Harmônicos e capacitores em prédios
comerciais: análise de um caso real. Eletricidade Moderna, fevereiro 1998.
Consumidores residenciais com consumo baixo, médio e alto - JARDINI, J. A. et al. Curva de carga de consumidores comerciais e industriais
e também consumidores comerciais de diferentes ramos foram em baixa tensão. Eletricidade Moderna, abril 1998.
- MOORE, P. J.; PORTUGUÉS, I. E. The Influence of Personal Computer
medidos.
Processing Modes on Line Current Harmonics. IEEE Transactions on Power
Das curvas apresentadas, notou-se uma correlação inversa Delivery, v. 18, n. 4, october 2003.
entre a corrente demanda e sua distorção, ou seja, quanto - AZEVEDO, A. C. et al. Diagnóstico, análise e sugestões relativa à qualidade
de energia elétrica em centro de processamento de dados – CPD´s´. III
maior o valor da corrente eficaz menor o seu THD e vice-versa.
SBQEE – Seminário Brasileiro de Qualidade de Energia Elétrica, ST 8 – IT
O transformador que alimentava os consumidores residenciais 61, Brasília, 8 a 12 de agosto de 1999.- LIEW, A. Excessive Neutral Currents
tem a corrente mais distorcida no horário de ponta. Isso se in Three-Phase Fluorescent Ligthing Circuits. IEEE Transactions on Industry
Applications, v. 25, n. 4, agosto 1989.
deve pela maior utilização de aparelhos nesse horário, sendo
- AINTABLIAN, H. The Harmonic Currents of Commercial Office Buildings
ainda estes aparelhos produtores de harmônicos (televisores, due to Non-Linear Eletronic Equipment, SouthCom/96, Conference Record,
LFCs, etc.). 25-27 June 1996, p. 610-613.
- MORRISON, R. E. Harmonic Distortion in Commercial Establishments. IEE
Já no transformador que alimentava os consumidores
Colloquium on Sources and Effect of Harmonic Distortion in Power Systems,
comerciais pudemos notar os momentos de funcionamento do 1997.
comércio. Destaque para o nível de 3º harmônico no neutro,
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
devido ao grande número de cargas não lineares presente:
engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com
computadores, LFCs, etc. ênfase em qualidade da energia elétrica.
Por fim, nos transformadores que alimentavam tanto
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
consumidores residenciais quanto comerciais, nota-se a Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail redacao@
convergência da análise dos transformadores anteriores: atitudeeditorial.com.br
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O Setor Elétrico / Setembro de 2010
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Capítulo IX

Simulação de um sistema de
distribuição em áreas residenciais
e comerciais - Parte I
Igor Amariz Pires*

Este capítulo tem como objetivo avaliar o Como o ATP é um simulador baseado em
estado atual de um sistema de distribuição em áreas modelos temporais e não no domínio da frequência,
residenciais e comerciais, no que diz respeito ao seu uma vantagem na sua utilização é a capacidade
nível de distorção de tensão, a partir da interação das de interação entre os ângulos de fase das correntes
correntes harmônicas dos aparelhos eletrodomésticos harmônicas produzidas por várias cargas não lineares.
e dos consumidores residenciais e comerciais. Para Além disso, os modelos de elementos do sistema de
tal, várias simulações foram conduzidas a partir das distribuição e fontes de tensão e corrente já existem no
medições apresentadas nos capítulos anteriores. ATP. Bastava, então, modelar as cargas não lineares e
As simulações iniciaram com cenários harmônicos seus conjuntos. Estas foram modeladas como fonte de
encontrados em residências e estabelecimentos correntes harmônicas.
comerciais, devido à interação de suas cargas. Ou Esta modelagem é precisa desde que as distorções
seja, foram simuladas as interações das correntes de tensão nas fontes de harmônicos sejam menores que
harmônicas de vários eletrodomésticos presentes nos 10%. Na referência Modeling and Simulation of the
consumidores residenciais e comerciais, avaliando seu Propagation of Harmonics in Electric Power Networks,
resultado no padrão de medição. Depois, simulou-se esta modelagem é apresentada principalmente
uma rede secundária do sistema de distribuição que para cargas eletrônicas. Várias referências utilizam
alimentava os consumidores residenciais apresentados esta modelagem tendo um ramo paralelo R-L para
no Capítulo VI, em três situações de carga: baixa, média representar o conteúdo de potência do ambiente e
e alta. Por fim, estes resultados foram extrapolados para fontes de correntes harmônicas para o conteúdo não
o circuito primário e, assim, simulou-se o sistema de linear.
distribuição de média tensão, também nas situações de Na modelagem das cargas, o ramo paralelo R-L
cargas descritas. foi utilizado para representar a corrente fundamental.
As simulações foram realizadas com o programa Isso permitiu suprimir algumas oscilações que estavam
computacional ATP (do inglês, Alternative Transient ocorrendo quando se utilizavam apenas fontes de
Program). O trabalho Power Quality Analysis using corrente em simulações no ATP. Em algumas cargas,
Electromagnetic Transient Programs, que consta nas principalmente nas cargas eletrônicas, a corrente
Referências, as possibilidades de simulação que o ATP/ fundamental teve de ser representada por um ramo
EMTP fornece para a temática de qualidade de energia paralelo R-C devido ao ângulo da fundamental. Nos
elétrica, tais como avaliação de sag/swell, harmônicos, harmônicos, as fontes de correntes harmônicas tiveram
dentre outros. Já o trabalho Simulation of Power Quality seus módulos e ângulos inseridos. Os resultados,
Problems on a University Distribution System, também somente com fontes de harmônicos ou fontes e paralelo
utilizado como referência para este capítulo, apresenta R-L, eram exatamente os mesmos.
um estudo de caso de um sistema de distribuição de As fontes harmônicas eram reproduzidas até
uma universidade utilizando o ATP. o harmônico que apresentava módulo acima de
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41
O Setor Elétrico / Setembro de 2010

1% em relação à corrente fundamental, no máximo até o 31º, lineares, principalmente aquelas responsáveis por algum tipo de
devido a este ser o limite de medição. Esta escolha foi feita (1% aquecimento, foram modeladas com um simples resistor.
sendo o limite mínimo de representação de fontes harmônicas) Para a simulação, com cada eletrodoméstico representado por
para reproduzir o mais fielmente possível as ondas de corrente, um “bloco”, estes foram postos em um barramento de uma fase
conforme as medições apresentadas nos capítulos anteriores. A com uma fonte de tensão ideal. A corrente demandada deste grupo
Figura 1 apresenta a modelagem realizada, no caso de uma carga de eletrodomésticos foi o foco nestas simulações. A Tabela 1 traz
com até o 11º harmônico. as situações simuladas com seus respectivos resultados: corrente
eficaz e THD de corrente. A tabela está organizada pela distorção
de corrente, iniciando pela menor.
As simulações executadas não serão todas aqui detalhadas.
Todos os resultados das simulações (formas de onda e seus
conteúdos harmônicos) serão apresentados no Capítulo XI.
Algumas merecem destaque, como a simulação de número 23, em
Figura 1 – Modelagem de cargas por fonte de correntes harmônicos e
ramo paralelo R-L. que havia um aparelho de televisão em um ambiente iluminado
por uma lâmpada incandescente de 100 W, tem sua forma de onda
Formas de ondas de conjunto de eletrodomésticos de corrente apresentada na Figura 2.
em consumidores residenciais e comerciais Esta figura é bem parecida com a Figura 11 do Capítulo VI, que
O objetivo desta simulação era encontrar as correntes nos retrava a situação no consumidor residencial de consumo médio 1
padrões de medição destes consumidores, analisando a não às 21 horas. A diferença na Figura 11 do Capítulo IV para a Figura
linearidade que estes consumidores produzem na rede de 2 deste é que a porção não linear era muito maior que na simulada
distribuição. Assim, cada eletrodoméstico foi modelado conforme aqui, o que explica a maior distorção de corrente (65,90% na Figura
a Figura 1, produzindo um “bloco” de fontes de correntes 11 do Capítulo VI contra 49,67% na Figura 2 deste capítulo). Outra
harmônicas. A modelagem dos eletrodomésticos foi realizada simulação que merece destaque é a de número 20 (computador, com
a partir das medições apresentadas anteriormente. Cargas ambiente iluminado por LFC de 25 W e televisão, com mais um
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 1
Simulações de cenários harmônicos em consumidores residenciais e comerciais
Nº Situação Irms THDi
1 Chuveiro (4400 W) com ambiente iluminado por lâmpada fluorescente com reator eletromagnético de 1x40 W, secador 42,92 0,45
de cabelo (1000 W) com ambiente iluminado por LFC de 25 W.
2 Chuveiro com lâmpada fluorescente com reator eletrônico 47,06 0,58
1x40 W, freezer, geladeira, aparelho de som e secador de cabelos com LFC 25 W
3 Chuveiro, freezer e geladeira 38,53 1,18
4 Ferro de passar (1000 W), tanquinho, geladeira e televisão 11,38 4,86
5 Telefone sem fio, geladeira e freezer 6,48 7,00
6 Freezer, geladeira e televisão 6,70 7,14
7 Telefone sem fio e geladeira 1,89 7,29
8 Freezer, geladeira, micro-ondas e lavadora de roupas 20,84 8,24
9 Ar condicionado 10500 BTU, televisão e videocassete com LFC de 25 W, geladeira 10,74 11,60
10 Ar condicionado, televisão e LFC de 25 W 7,868 12,55
11 Lavadora de roupas, liquidificador, micro-ondas e televisão 17,83 13,06
12 Tanquinho, compressor da geladeira ligado e televisão 4,223 13,18
13 Televisão, em ambiente iluminado por LFC de 25 W, compressor da geladeira ligado e cozinha utilizando iluminação 2,729 13,51
fluorescente de reator eletromagnético 1x40 W.
14 Ar-condicionado 10500 BTU, televisão e videocassete com LFC de 25W 9,05 13,66
15 Freezer, geladeira e micro-ondas 14,91
16 Televisão, com o ambiente iluminado por LFC de 25 W, compressor da geladeira ligado e alguém jantando na cozinha 2,420 16,88
utilizando iluminação fluorescente de reator eletrônico 1x40 W.
17 Freezer, geladeira, micro-ondas e fluorescente de reator eletrônico 2 (1x40 W) e televisão com LFC 25 W 15,63 17,52
18 Micro-ondas com iluminação fluorescente de reator eletrônico 1x40 W e compressor da geladeira ligado 12,06 18,74
19 Micro-ondas com iluminação fluorescente de reator eletrônico 1x40 W 10,75 23,69
20 Computador, em ambiente iluminado por LFC de 25 W e televisão, com mais um ambiente iluminadopor LFC de 25 W 2,993 28,07
e compressor da geladeira ligado 33,70
21 Ventilador de teto, televisão e videocassete com LFC de 25 W 1,780 35,86
22 Computador, com ambiente iluminado por lâmpada incandescente de 60 W e televisão, com ambiente iluminado por 2,501 43,90
lâmpada incandescente de 100 W
23 Televisão em ambiente iluminado por lâmpada incandescente de 100 W 1,319 49,67
24 Televisão e videocassete com LFC de 25 W e aparelho de som com LFC de 25 W 1,484 71,12
25 Computador, com ambiente iluminado por LFC de 25 W 0,906 79,95
26 Computador, com ambiente iluminado por LFC de 25 W e televisão, com ambiente iluminado por LFC de 25 W 1,646 80,19
27 Televisão, com o ambiente iluminado por LFC de 25 W 0,744 81,36
28 Televisão e videocassete com LFC de 25 W e computador com LFC de 25 W, telefone sem fio 1,843 81,97
29 Televisão e videocassete com LFC de 25 W e computador com LFC de 25 W 1,826 82,75
30 Televisão e videocassete com LFC de 25 W, televisão e vídeo game com LFC de 25 W 1,656 91,38

ambiente iluminado por LFC de 25 W e compressor da geladeira


ligado). A Figura 3 apresenta a forma de onda obtida na simulação
que é compatível com a Figura 29 do Capítulo VI (consumidor

Figura 3 – Forma de onda de corrente da simulação 20 (computador


em ambiente iluminado por LFC de 25 W mais televisão, com mais
Figura 2 – Forma de onda de corrente da simulação 23 (televisão em um ambiente iluminado por LFC de 25 W e compressor da geladeira
ambiente iluminado por lâmpada de 100 W). ligado).
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residencial de alto consumo às 21h). Na Figura 29 do Capítulo VI, Sistema de um alimentador de distribuição
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

as fases B e C têm as formas de onda bastante parecidas com a secundário


apresentada na Figura 3. O alimentador de distribuição secundário (220 V),
Outra forma de onda que foi bastante encontrada na medição que alimenta os consumidores residenciais, foi modelado
de consumidores residenciais foi a da simulação de número 13 e simulado para se identificar as distorções de tensão na
(televisão, em ambiente iluminado por LFC de 25 W, compressor rede secundária devido ao fluxo de correntes harmônicas
da geladeira ligado e cozinha utilizando iluminação fluorescente provocadas por estes consumidores. Este alimentador é
de reator eletromagnético 1x40 W). atendido por um transformador trifásico de 45 kVA 11,4
A Figura 4 mostra a forma de onda obtida na simulação. Esta kV/220 V alimentando 39 consumidores residenciais. Cada vão
senoide distorcida com dois picos aparece tanto na Figura 19 do de linha do alimentador foi modelado na configuração PI.
Capítulo VI (consumidor residencial de consumo médio 2 às 12h) Os condutores da linha têm condutores de fase em bitola
quanto na Figura 28 do Capítulo VI (consumidor residencial de 2/0 AWG e neutro 4/0 AWG em uma configuração vertical e
consumo alto às 18h, fase B). espaçamento de 20 cm por condutor, tendo o condutor mais
próximo do solo uma distância de 8 m. O condutor mais alto
é o condutor neutro, seguido das fases A, B e C. A modelagem
do sistema foi realizada em três fases, sendo apresentado seu
esquema unifilar na Figura 5. A fonte de tensão utilizada foi
uma fonte ideal.
Três situações de carga (leve, média e pesada) foram
simuladas duas vezes: a primeira vez sem uma distorção
harmônica de rede primária que alimenta o transformador
(pré-distorção) e uma segunda vez com essa distorção
de tensão. Esta pré-distorção foi feita por meio de fontes
harmônicas de tensão.
Pela medição realizada no transformador dos consumidores
Figura 4 – Forma de onda de corrente da simulação 13 (televisão, em
ambiente iluminado por LFC de 25 W, compressor da geladeira ligado e
residenciais (Capítulo VI), os horários para carga leve, média
cozinha utilizando iluminação fluorescente de reator eletromagnético e pesada foram identificados como às 12h, 2h da madrugada
1x40 W). e 21h. A explicação de ser às 12h o horário de carga leve é
As comparações dos resultados simulados de devido à ausência de iluminação, TV e chuveiro.
eletrodomésticos com as medições indicam a ideia de As residências foram divididas em casas com consumo
configuração de eletrodomésticos ligados no instante de baixo, médio 1, médio 2 e alto. No caso para o sistema
medição, podendo esta ideia ser mais generalizada. Como estudado, foram registradas 14 residências com consumo
exemplo desta generalização, a Figura 2 foi o resultado da baixo, 13 com consumo médio 1, oito com consumo médio

Figura 5 – Sistema de distribuição secundário.

interação entre uma televisão e uma lâmpada incandescente. 2 e quatro de consumo alto. Os consumos das residências,
Porém, esta forma de onda é encontrada na interação de uma fornecidos pela concessionária, estão listados na Tabela 2,
carga resistiva com um aparelho eletrônico. ordenados pelo consumo mensal.
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uma de consumo médio 1 (medio1_C) e duas de consumo médio


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 2
Consumo residencial
Índice Casa Consumo Divisão
2 (medio2_A, medio2_B). Este conjunto é representado no bloco 2
(referência Figura 5) (kWh/mês) por consumo da Figura 5. Assim, cada bloco de Figura 5 continha um elemento
1 11 41 Baixo chamado “splitter” que expandia o ramal unifilar em três fases, em que
2 17 54
eram conectados às residências.
3 5 64
4 13 65
5 14 74
6 3 86
7 1 89
8 38 100
9 33 101
10 30 105
11 2 120
12 16 120
13 29 125 Figura 6 – Bloco número 2 da Figura 5 “splitter” com os blocos de casas
14 6 127 monofásicas representadas.
15 24 136 Médio 1
Primeiro serão apresentadas as correntes totais por fase deste
16 22 144
17 21 161 sistema de distribuição. Tanto no caso sem ou com pré-distorção a
18 32 162 corrente resultante no transformador é a mesma, pois a modelagem
19 26 166 foi feita por fontes de correntes harmônicas. As Figuras 7, 8 e 9
20 9 171
trazem as correntes resultantes às 12h (carga leve), 2h (carga média)
21 8 174
e 21h (carga pesada).
22 34 177
23 15 182
24 28 215
25 10 223
26 31 236
27 20 250
28 25 253 Médio 2
29 36 271
30 4 278
31 18 278
32 27 293
33 35 296
Figura 7 – Correntes resultantes de simulação no transformador – 12h.
34 12 303
35 23 349
36 19 529 Alto
37 37 680
38 7 943
39 39 1315

Com a localização de cada residência na topografia do alimentador


secundário e o tipo de residência (consumo baixo, médio 1, médio 2
ou alto), modelou-se as residências conforme as medições realizadas
(Capítulo VI) e distribuiu-se, uniformemente, suas cargas pelas fases. A
modelagem seguiu o indicado pela Figura 1.
Figura 8 – Correntes resultantes de simulação no transformador – 2h.
Com todas as casas representadas, às 21h não se conseguia
atingir a potência indicada no transformador. Para completar esta
potência, acrescentaram-se chuveiros de 4400 W. Ainda às 21h e 2h
também foram incluídas lâmpadas de vapor de sódio de 70 W como
iluminação pública.
Na Figura 5, há três indicativos de onde foram feitas as medições
de tensão nas simulações: um próximo ao transformador (medição de
tensão 1), um em cada uma das duas extremidades do alimentador
(medições de tensão 2 e 3).
A Figura 6 mostra o exemplo de um bloco com quatro
residências de consumo baixo (baixo_A, 2 baixo_B e 2 baixo_C), Figura 9 – Correntes resultantes de simulação no transformador – 21h.
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47
O Setor Elétrico / Setembro de 2010

Das Figuras 7, 8 e 9, apenas as correntes de fase às conjunto de residenciais com a mesma corrente harmônica
12h ficaram fortemente desbalanceadas. Isso se explica na e mais chuveiros para completar a potência medida no
modelagem das residências. A carga da residência de consumo transformador, as diferenças podem ter ocorrido devido a esse
alto estava fortemente desequilibrada nas três fases, com uma tipo de modelagem.
corrente de valor alto na fase A, fazendo a resultante ser alta
Tabela 4
nesta fase. Os conteúdos harmônicos das formas de onda estão Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente da Figura 8 (2h)
Fase A Fase B Fase C
apresentados nas Tabelas 3, 4 e 5. Irms = 38,13 A Irms = 36,34 A Irms = 37,28 A
Harm. THDi = 8,90% THDi = 11,51% THDi = 7,66%
Tabela 3 Fator de crista = 1,38 Fator de crista = 1,38 Fator de crista = 1,41
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente da Figura 7 (12h)
Fase A Fase B Fase C Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
Irms = 43,47 A Irms = 17,72 A Irms = 25,02 A
THDi = 4,05% THDi = 8,34% THDi = 6,74% 1 100,00 -14,28 100,00 -136,25 100,00 94,92
Harm.
Fator de crista = 1,47 Fator de crista = 1,52 Fator de crista = 1,46 3 4,00 -48,13 6,54 -53,12 5,09 9,08
Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo 5 7,68 92,33 9,16 -143,81 5,27 -43,38
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) 7 1,33 -5,04 1,02 -94,44 1,39 95,13
1 100,00 -15,62 100,00 -168,84 100,00 82,42 9 0,26 -126,63 0,49 142,73 0,45 -51,72
3 1,85 -145,58 6,24 61,15 4,87 64,56 11 1,32 -88,59 1,17 41,90 1,50 144,52
5 3,32 17,67 4,49 147,75 4,27 -98,47
7 0,87 -151,52 2,88 124,09 1,07 -23,93
Tabela 5
9 0,94 26,83 0,52 -146,37 1,20 10,57 Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente da Figura 9 (21h)
11 0,59 -166,19 1,39 -57,83 0,94 85,32 Fase A Fase B Fase C
Irms = 70,23 A Irms = 67,99 A Irms = 73,01 A
Harm. THDi = 5,50% THDi = 10,05% THDi = 9,22%
Comparando os valores simulados com os valores medidos Fator de crista = 1,48 Fator de crista = 1,57 Fator de crista = 1,67
de corrente no transformador (Tabelas 2, 3 e 4 do Capítulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
VIII), os valores resultantes da simulação ficaram mais 1 100,00 -1,33 100,00 -119,12 100,00 117,61
equilibrados do que os encontrados nas medições. Os valores 3 2,34 -39,95 3,21 164,59 6,69 -154,02
5 4,19 67,07 9,04 -154,53 6,19 -60,66
de THD de corrente também apresentaram diferença, que
7 1,17 -114,20 0,28 -28,30 1,42 -26,50
pode ser explicada pela diferença de correntes harmônicas de 9 0,27 -151,42 1,49 1,59 0,89 32,32
cada residência. Como para a simulação foi considerado um 11 1,12 -93,51 1,77 70,20 0,88 154,85
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48
O Setor Elétrico / Setembro de 2010

As distorções de tensão nos três pontos indicados na Figura


Harmônicos provocados
por eletroeletrônicos
Tabela 7
Conteúdo harmônico das tensões às 2h (carga média) utilizado nas simulações
5 foram determinados com duas suposições: sem e com pré-
Fase A Fase B Fase C
distorção. No caso com uma pré-distorção as tensões utilizadas Vrms = 6,58 kV Vrms = 6,58 kV Vrms = 6,58 kV
Harm. THDv = 1,31% THDv = 1,43% THDv = 1,20%
foram aquelas medidas na saída do alimentador da subestação Fator de crista = 1,41 Fator de crista = 1,42 Fator de crista = 1,40
nos horários de carga leve, média e pesada. Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
As distorções de tensão, em todos os casos, tinham o 5º 1 0,00 100,00
100,00 -119,93 100,00 120,23
harmônico como o maior harmônico do espectro. Como a 3 0,49 69,64 0,72 130,80 0,14 -152,90
distorção é baixa em todos os casos, representá-las até o 7º 5 1,16 -91,61 1,17 27,27 1,14 149,24
7 0,36 -143,18 0,38 101,16 0,35 -16,50
harmônico retrata bem a forma de onda de tensão naqueles
instantes. Os conteúdos harmônicos das tensões nos momentos
Tabela 8
mencionados são mostrados nas Tabelas 6, 7 e 8. Conteúdo harmônico das tensões às 21h (carga pesada) utilizado nas simulações
Fase A Fase B Fase C
Vrms = 6,58 kV Vrms = 6,58 kV Vrms = 6,58 kV
Tabela 6
Conteúdo harmônico das tensões às 12h (carga leve) utilizado nas simulações Harm. THDv = 1,19% THDv = 1,27% THDv = 1,11%
Fase A Fase B Fase C Fator de crista = 1,40 Fator de crista = 1,42 Fator de crista = 1,40
Vrms = 6,58 kV Vrms = 6,58 kV Vrms = 6,58 kV Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
THDv = 1,08% THDv = 0,99% THDv = 0,95% (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
Harm.
Fator de crista = 1,43 Fator de crista = 1,43 Fator de crista = 1,43 1 100,00 0,00 100,00 -119,95 100,00 120,34
Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo 3 0,34 84,36 0,58 96,00 0,22 -151,85
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) 5 1,07 -49,56 1,05 1,02 -169,04
71,85
1 100,00 0,00 100,00 -119,74 100,00 120,36 7 0,41 -169,51 0,42 0,39 -43,39
74,06
3 0,40 111,34 0,45 95,89 0,18 -144,76
5 0,87 -38,48 0,73 91,47 0,80 -155,99 simulação é a localização do circuito de entrada da residência de
7 0,47 -143,75 0,47 97,98 0,42 -14,93 consumo alto.
Os resultados das distorções de tensão são apresentados Os valores de simulação que se aproximam com os valores
na Tabela 9. medidos estão na situação com pré-distorção (diferença média
Estes resultados de simulações podem ser comparados com na ordem de 10%). A tendência de variabilidade do THD
os THDs de tensão medidos nas residências e apresentados no conforme o horário, encontrada na simulação, pode também ser
Capítulo VI (Figuras 3, 10, 17 e 26). O ponto de medição 3 na constatada na medição.
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O Setor Elétrico / Setembro de 2010

Tabela 9 UMEH, K. C et al. Determining Harmonic Characteristics of


Distorções de tensão no sistema de distribuição secundário
Ponto de medição 1 – próximo ao transformador Typical Single Phase Non-Linear Loads, Proceeding of Student
Carga/horário Sem pré-distorção Com pré-distorção Conference on Research and Development (Scored), 2003,
Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%)
Putrajaya, Malaysia.
Leve / 12h 0,33 0,26 0,27 1,28 1,15 1,07
Média / 2h 0,57 0,70 0,45 1,05 1,10 1,35 Task Force on Harmonics Modeling and Simulation, Modeling
Pesada / 21h 0,69 1,48 1,11 1,57 2,04 2,00 and Simulation of the Propagation of Harmonics in Electric
Ponto de medição 2 – ponta do sistema de distribuição secundário
Carga/horário Sem pré-distorção Com pré-distorção Power Networks – Part I: Concepts, Models and Simulation
Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%) Techniques, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 11, n. 1,
Leve / 12h 0,42 0,34 0,33 1,35 1,20 1,08
Jan. 1996.
Média / 2h 0,60 0,80 0,51 1,05 1,12 1,42
Pesada / 21h 0,76 1,76 1,44 1,61 2,24 2,29 Task Force on Harmonics Modeling and Simulation, Test Systems
Ponto de medição 3 – ponta do sistema de distribuição secundário
for Harmonic Modeling and Simulation, IEEE Transaction on
Carga/horário Sem pré-distorção Com pré-distorção
Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%) Power Delivery, v. 14, n. 2, Apr. 1999.
Leve / 12h 0,33 0,20 0,33 1,25 1,10 1,18 WANG, Y. et al. Modeling and Prediction of Distribution System
Média / 2h 0,79 0,95 0,67 1,35 1,20 1,08
Voltage Distortion Caused by Nonlinear Residential Loads, IEEE
Pesada / 21h 0,89 1,67 1,16 1,67 2,11 2,06
Transactions on Power Delivery, v. 16, n. 4, Oct. 2001.
Referências BASS, R. et al. Residential Harmonic Loads and EV Charging,
IEEE std. 519-1992, IEEE Recommended Practices and IEEE Transactions, 2001.
Requirements for Harmonic Control in Electrical Power Systems. NBR-5440 – Transformadores para Redes Aéreas de Distribuição.
MARTINEZ, J. A. Power Quality Analysis Using Electromagnetic Padronização, ABNT, Jul. 1999.
Transient Programs, 8th International Conference on Harmonics
and Quality of Power, ICHQP ‘98, Oct. 14-16 1998, Athens, *IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com
Greece.
ênfase em qualidade da energia elétrica.
JUN, W.; SAHA, T. K. Simulation of Power Quality Problems on a
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
University Distribution System, IEEE Power Engineering Society Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
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General Meeting 16-20 July 2000 Page(s): 2326 – 2331, v. 4. atitudeeditorial.com.br
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Capítulo X

Simulação de um sistema de
distribuição em áreas residenciais
e comerciais - Parte II
Igor Amariz Pires*

Simulação de distribuição primária de tensão. Este alimentador primário pode ser


O sistema de distribuição de média tensão (rede visualizado na Figura 1.
primária – 11,4 kV), que alimentava o sistema de Para se atingir este objetivo, primeiro era preciso
distribuição secundário, foi modelado e simulado saber quais eram as correntes harmônicas circulantes
para também se ter uma noção de como as correntes na média tensão, já que haviam apenas simulações e
harmônicas circulantes distorcem a forma de onda medições destas correntes no sistema de baixa tensão.
A rede primária tinha um comprimento de 11
km, com condutores típicos 3/0 AWG. Dispostos
horizontalmente, o espaçamento entre condutores era
de um metro. A maior parte dos transformadores era de
45 kVA (15 unidades), 75 kVA (35 unidades) e 112,5
kVA (13 unidades). O transformador que alimentava a
rede primária era de 30 MVA, 69/11,4 kV.
De consumidores residenciais, havia 3.519
unidades que consumiam 546.817 kWh/mês, o
que dava uma média por consumidor de 155 kWh/
mês. Já de consumidores comerciais havia 341 com
um consumo mensal de 272.757 kWh, dando uma
média por consumidor de 800 kWh/mês. O número
de consumidores industriais era de 184, com um
consumo de 569.949 kWh/mês, sendo que a média
por consumidor era de 3.098 kWh/mês.
No que diz respeito ao nível de curto circuito
na subestação, para uma falta trifásica simétrica, a
potência de curto-circuito era de 224,9 MVA, sendo
a corrente da falta simétrica igual a 8,66 kA. A relação
X/R nesta falta era de 3,73. Por fim, havia um banco de
capacitores de 600 kVAr que se localizava no meio da
rede, conectado em estrela.
Os transformadores de distribuição tinham
a configuração triângulo-estrela aterrada. Esta
configuração de transformador, em um sistema
equilibrado, eliminaria os harmônicos de ordem tripla,
Figura 1 - Mapa mostrando o percurso do quando seus valores forem iguais nas três fases.
alimentador primário – 11,4 kV
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Entretanto, as correntes e seus harmônicos não eram Tabela 2


THDs das correntes no secundário e no primário após um transformador delta-estrela
equilibrados. Assim, para saber quais harmônicos haveria na
Resultado das residências uniformemente distribuídas
média tensão, o transformador delta-estrela foi simulado com as
Secundário (%) Primário (%)
correntes do secundário. Para se determinar os parâmetros (R,X) Horário A B C A B C
dos transformadores, foram usados os valores de correntes de 12h 3,45 6,72 5,34 4,41 3,98 3,90
excitação e perdas estabelecidos pela norma NBR 5440. 21h 5,50 10,05 9,19 6,26 7,45 6,05
A Tabela 1 mostra os valores retirados da norma que representam 2h 8,90 11,51 7,66 6,60 7,19 6,09

os valores máximos permitidos em transformadores de distribuição.


Transformador de 45 kVA
Utilizaram-se tanto os resultados de simulação das residências Secundário (%) Primário (%)
uniformemente distribuídas quanto a medição de corrente no transformador. Horário A B C A B C
12h 10,52 12,97 16,15 9,42 6,50 8,51
21h 11,51 5,84 11,19 5,17 5,43 4,78
Tabela 1
Características dos transformadores simulados 2h 5,56 7,92 5,35 2,89 5,59 5,12
Potência (kVA) Corrente de excitação (%) Perdas máximas (W)
45 3,7 884 Transformador de 75 kVA
75 3,1 1300 Secundário (%) Primário (%)
Horário A B C A B C
112,5 2,8 1759
12h 12,66 11,35 9,33 5,09 8,08 6,21
21h 10,74 10,94 8,65 5,75 8,66 5,32
As simulações mostraram que o transformador na configuração
2h 8,79 5,79 9,15 4,27 5,99 5,79
triângulo-estrela aterrado promove uma diminuição na distorção de
corrente, pois serve como um bloqueio para alguns harmônicos. Algumas Transformador de 112,5 kVA
Secundário (%) Primário (%)
correntes secundárias que tinham uma distorção média de 10%, iam para
Horário A B C A B C
5% no lado de média tensão (transformadores de 75 kVA e 112,5 kVA).
12h 12,09 7,97 11,47 5,37 4,96 9,42
A Tabela 2 apresenta os THDs das correntes resultantes de 21h 11,76 7,62 8,37 6,23 5,42 5,76
medição no secundário e seus respectivos THDs no primário dos 2h 8,70 4,52 3,72 4,94 4,59 3,21
transformadores delta-estrela.
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Com os resultados das correntes nos primários nas 3). Dos resultados encontrados, calculou-se o THD de tensão
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

situações das residências uniformemente distribuídas e nestes pontos, que são apresentados nas Tabelas 3 e 4.
dos transformadores, os horários de 12h, 21h e 2h foram Analisando os resultados apresentados nas Tabelas 3 e
simulados. Estes resultados foram modelados e distribuídos ao 4, os maiores valores de THDs de tensão são encontrados às
longo do alimentador, sendo o alimentador também modelado 21h. Este instante é também o instante de maior carregamento
conforme as suas características físicas anteriormente nos transformadores e, por consequência, no alimentador dos
apresentadas. três horários analisados nos resultados obtidos por meio de
Houve duas simulações: uma simulação realizada com simulações.
transformadores de 45 kVA, 75 kVA e 112,5 kVA, e uma Os momentos de maior carregamento no alimentador
segunda simulação com transformadores modelados a partir terão maior distorção na forma de onda. Isso é explicado
dos resultados da simulação das residências uniformemente por não haver uma variação muito brusca na distorção de
distribuídas, ou seja, da simulação do sistema secundário de corrente nos instantes analisados. Assim, quanto maior o
distribuição. Neste último caso, como o resultado da simulação valor de corrente, tão maior serão os valores absolutos dos
do conjunto de residências era para um transformador de 45 harmônicos e da fundamental. Assim, as quedas de tensão
kVA, este resultado foi extrapolado para os transformadores de devido aos harmônicos serão maiores e, por consequência,
75 kVA e 112,5 kVA, por meio de uma regra de três simples. levarão a uma maior distorção na tensão.
Avaliou-se a tensão nas simulações em três pontos Na Tabela 3, os THDs de tensão às 12h são menores do
distintos (Figura 1): próximo à subestação (medição 1), meio que às 2h. Já na Tabela 4 ocorre o inverso. Isso só acontece na
do alimentador (medição 2) e no fim do alimentador (medição Tabela 3 porque o alimentador tem somente as características
Tabela 3 dos transformadores de consumidores residenciais. Já na
THDs de tensão ao longo do alimentador – simulação a partir de
transformadores com residências uniformemente distribuídas Tabela 3, os transformadores levaram em conta a contribuição
Próximo à subestação dos consumidores comerciais, o que em um transformador
Fase A Fase B Fase C que alimenta estes consumidores em conjunto com
12h 0,08 0,08 0,07 consumidores residenciais às 12h há uma maior carga que às
21h 0,23 0,57 0,23
2h de madrugada, por isso, a distorção, às 12h, será maior.
2h 0,15 0,16 0,13
Meio do alimentador
Conclusões gerais
Fase A Fase B Fase C
Algumas simulações foram apresentadas neste e no
12h 0,39 0,4 0,32
capítulo anterior, que tiveram como objetivo mostrar como
21h 1,13 1,7 1,17
2h 0,74 0,82 0,67 a corrente demandada em uma residência ou comércio
Fim do alimentador fica alterada com a interação de vários eletrodomésticos.
Fase A Fase B Fase C Além disto, também foram investigadas como as correntes
12h 0,64 0,65 0,53 harmônicas distorcem a tensão ao longo de um alimentador
21h 1,85 2,62 1,93 secundário e também ao longo de um alimentador primário.
2h 1,21 1,36 1,11 Trinta simulações da interação de vários eletrodomésticos

Tabela 4
foram conduzidas. Os eletrodomésticos foram modelados e,
THDs de tensão ao longo do alimentador – simulação a partir a partir dessas simulações, percebeu-se também a correlação
das medições em transformadores

Próximo à subestação inversa entre a corrente eficaz e seu THD. Esta correlação
Fase A Fase B Fase C é explicada por serem ainda as cargas lineares as cargas de
12h 0,64 0,77 0,58 maior potência em consumidores residenciais e comerciais,
21h 0,50 1,06 0,71 nos casos investigados.
2h 0,42 0,56 0,45
A partir das medições de consumidores residenciais e
Meio do alimentador
comerciais e transformadores, foram realizadas simulações
Fase A Fase B Fase C
em um circuito de baixa tensão (220 V) e outra simulação em
12h 1,06 1,3 0,98
um circuito de média tensão (11,4 kV). A simulação de baixa
21h 0,82 1,65 1,17
2h 0,71 0,93 0,76 tensão foi realizada sem e com uma pré-distorção na fonte de
Fim do alimentador tensão.
Fase A Fase B Fase C Das simulações dos circuitos, pode-se perceber que a
12h 0,64 0,65 0,53 tensão vai ficando mais distorcida à medida que o circuito
21h 1,85 2,62 1,93 se distancia do transformador da subestação que atende o
2h 1,21 1,36 1,11 alimentador. Isso se deve às quedas de tensão harmônicas
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que vão ocorrendo no alimentador conforme se distancia da Conference on Research and Development (Scored), 2003,
subestação. Apesar das distorções de tensão encontradas na Putrajaya, Malaysia.
simulação, em nenhum caso foram encontradas distorções Task Force on Harmonics Modeling and Simulation, Modeling
que estivessem acima das normas. and Simulation of the Propagation of Harmonics in Electric
Nos próximos capítulos, serão apresentadas informações Power Networks - Part I: Concepts, Models and Simulation
adicionais desse trabalho, que, originalmente, eram apêndices Techniques, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 11, n. 1,
da dissertação de mestrado que deu origem a esse fascículo. January 1996.
No final, serão feitas proposições para trabalhos futuros, Task Force on Harmonics Modeling and Simulation, Test
dando continuidade ao tema. Systems for Harmonic Modeling and Simulation, IEEE
Transaction on Power Delivery, v. 14, n. 2, April 1999.
Referências WANG, Y. et al. Modeling and Prediction of Distribution
IEEE std. 519-1992, IEEE Recommended Practices and System Voltage Distortion Caused by Nonlinear Residential
Requirements for Harmonic Control in Electrical Power Loads, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 16, n. 4,
Systems. October 2001.
MARTINEZ, J. A. Power Quality Analysis using Electromagnetic BASS, R. et al. Residential Harmonic Loads and EV Charging,
Transient Programs, 8th International Conference on IEEE Transactions, 2001.
Harmonics and Quality of Power, ICHQP ‘98, October 14-16, NBR-5440 - Transformadores para Redes Aéreas de
1998, Athens, Greece. Distribuição. Padronização, ABNT, Jul. 1999.
JUN, W.; SAHA, T. K. Simulation of Power Quality Problems
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
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engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Capítulo XI

Formas de onda e espectro


harmônico das simulações de
cenários residenciais e comerciais
Igor Amariz Pires*

Este capítulo, originalmente um apêndice do presente trabalho, destina-se a apresentar as formas de onda
e espectro harmônico das simulações de cenários residenciais e comerciais. Essas simulações executadas e
descritas na Tabela 1 do Capítulo IX já foram comentadas anteriormente e agora serão apresentadas com todos
os resultados das simulações, desde as formas de onda a seus conteúdos harmônicos.

Cenário 1 Cenário 2
Chuveiro (4400 W) com ambiente iluminado Chuveiro com lâmpada fluorescente com reator
por fluorescente com reator eletromagnético de eletrônico 1x40 W, freezer, geladeira, aparelho de
1x40 W, secador de cabelo (1000 W) com ambiente som e secador de cabelos com LFC 25 W.
iluminado por LFC de 25 W.

Cenário 1 Cenário 2
Harmônico Irms = 42,49 Harmônico Irms = 47,06
THDi = 0,58 THDi = 0,45
F. crista = 1,41 F. crista = 1,41
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 -0,49 1 100,00 -6,37
3 0,33 -81,97 3 0,15 11,25
5 0,15 159,15 5 0,41 134,30
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Cenário 3 Cenário 4 Cenário 5


Chuveiro, freezer e geladeira. Ferro de passar (1000 W), tanquinho, Telefone sem fio, geladeira e freezer.
geladeira e televisão.

Cenário 3 Cenário 4 Cenário 5


Harmônico Irms = 38,53 Harmônico Irms = 11,38 Harmônico Irms = 6,48
THDi = 1,18 THDi = 4,86 THDi = 7,00
F. crista = 1,42 F. crista = 1,47 F. crista = 1,51
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 -8,10 1 100,00 -14,13 1 100,00 -57,39
3 1,12 57,40 3 3,90 158,74 3 6,57 57,95
5 0,41 102,61 5 2,64 32,97 5 2,39 102,65
7 0,83 -158,45 7 0,22 -30,91
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Cenário 6 Cenário 7 Cenário 8


Freezer, geladeira e televisão. Telefone sem fio e geladeira. Freezer, geladeira, micro-ondas e
lavadora de roupas.

Cenário 6 Cenário 7 Cenário 8


Harmônico Irms = 6,70 Harmônico Irms = 1,89 Harmônico Irms = 20,84
THDi = 7,14 THDi = 7,29 THDi = 8,24
F. crista = 1,37 F. crista = 1,53 F. crista = 1,43
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 -54,18 1 100,00 -45,55 1 100,00 -26,11
3 5,53 111,07 3 6,35 49,84 2 3,15 -97,09
5 4,04 42,09 5 3,36 110,96 3 7,06 -159,35
7 1,53 -157,32 7 1,11 5,18 5 1,02 115,86
7 2,33 -61,41

Cenário 9 Cenário 10 Cenário 11


Ar condicionado 10500 BTU, Ar condicionado, televisão e LFC Lavadora de roupas, liquidificador,
televisão e vídeo-cassete com LFC de de 25 W. micro-ondas e televisão.
25 W, geladeira.

Cenário 9 Cenário 10 Cenário 11


Harmônico Irms = 10,74 Harmônico Irms = 7,686 Harmônico Irms = 17,83
THDi = 11,60 THDi = 12,55 THDi = 13,06
F. crista = 1,52 F. crista = 1,72 F. crista = 1,57
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 -23,49 1 100,00 -4,75 1 100,00 -13,72
2 5,12 118,17 2 8,56 -51,16 2 3,70 -97,09
3 6,85 152,08 3 7,36 168,00 3 12,08 -162,05
5 7,62 142,95 5 4,76 0,51 5 0,85 23,17
7 1,00 -102,86 7 2,35 149,73 7 2,68 -75,93
9 1,16 45,28
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43
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Cenário 12 Cenário 13 Cenário 14


Tanquinho, compressor da geladeira Televisão, em ambiente iluminado por LFC Ar condicionado 10500 BTU, televisão e
ligado e televisão. de 25 W, compressor da geladeira ligado e vídeo-cassete com LFC de 25 W.
cozinha utilizando iluminação fluorescente
de reator eletromagnético 1x40 W.

Cenário 12 Cenário 13 Cenário 14


Harmônico Irms = 4,233 Harmônico Irms = 2,729 Harmônico Irms = 9,05
THDi = 13,18 THDi = 13,51 THDi = 13,66
F. crista = 1,57 F. crista = 1,55 F. crista = 1,52
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 -41,52 1 100,00 -38,84 1 100,00 -18,98
2 10,61 158,75 3 10,00 -166,13 2 6,09 118,17
3 7,17 32,99 5 6,94 36,95 3 8,58 161,18
5 2,26 -158,47 7 2,67 160,34 5 8,44 145,65
9 2,21 15,20 7 1,28 -111,82
11 2,39 -84,23 9 1,06 19,15
13 2,91 145,53
15 1,77 12,19
17 1,36 -73,04
19 1,45 169,27
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Cenário 15 Cenário 16 Cenário 17


Freezer, geladeira e micro-ondas. Televisão, com o ambiente iluminado por Freezer, geladeira, micro-ondas e
LFC de 25 W, compressor da geladeira fluorescente de reator eletrônico 2
ligado e alguém jantando na cozinha (1x40 W) e televisão com LFC 25 W.
utilizando iluminação fluorescente de
reator eletrônico 1x40 W.

Cenário 16
Harmônico Irms = 2,420
Cenário 15 Cenário 17
THDi = 17,52
Harmônico Irms = 14,91 Harmônico Irms = 15,63
F. crista = 1,49
THDi = 16,88 THDi = 18,74
Mod. (%) Ang. (graus)
F. crista = 1,52 F. crista = 1,60
1 100,00 -27,81
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
3 12,95 -140,38
1 100,00 -22,43 1 100,00 -20,52
5 3,16 37,20
2 4,45 -97,11 2 4,26 -97,10
7 7,39 146,25
3 15,65 -149,08 3 17,75 -147,29
9 5,52 34,04
5 2,36 -34,17 5 2,78 -29,75
11 4,24 -55,09
7 3,35 -54,32 7 2,13 -68,23
13 2,76 178,75
9 1,14 28,53 9 1,90 29,85
15 0,89 -14,35
11 1,11 99,25
17 1,06 -123,19
19 2,20 135,12
21 2,08 22,36
23 1,56 -47,57
Cenário 18 25 1,58 -138,24 Cenário 20
Micro-ondas com iluminação Computador, em ambiente iluminado
fluorescente de reator eletrônico 1x40 Cenário 19 por LFC de 25 W e televisão, com mais
W e compressor da geladeira ligado. Micro-ondas com iluminação fluorescente um ambiente iluminado por LFC de 25
de reator eletrônico 1x40 W. W e compressor da geladeira ligado.

Cenário 18 Cenário 19 Cenário 20


Harmônico Irms = 12,06 Harmônico Irms = 10,75 Harmônico Irms = 2,993
THDi = 23,69 THDi = 28,07 THDi = 33,07
F. crista = 1,72 F. crista = 1,80 F. crista = 1,82
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 -6,65 1 100,00 -0,12 1 100,00 -24,76
2 5,57 -97,12 2 6,32 -97,13 3 27,62 -165,27
3 22,36 -141,77 3 26,54 -141,30 5 15,27 30,51
5 3,48 -60,21 5 4,59 -61,46 7 5,11 176,24
7 3,24 -55,31 7 3,59 -57,94 9 2,68 11,68
9 2,18 35,44 9 2,41 34,26 11 3,38 -66,10
11 1,24 76,37 11 1,47 74,81 13 5,00 155,92
15 3,09 21,29
17 2,40 -58,58
19 2,78 -177,96
21 1,20 56,60
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Cenário 21 Cenário 22 Cenário 23


Ventilador de teto, televisão e vídeo- Computador, com ambiente iluminado Televisão em ambiente iluminado por
cassete com LFC de 25 W. por lâmpada incandescente de 60 W e lâmpada incandescente de 100 W.
televisão, com ambiente iluminado por
lâmpada incandescente de 100 W.

Cenário 21 Cenário 22 Cenário 23


Harmônico Irms = 1,780 Harmônico Irms = 2,501 Harmônico Irms = 1,319
THDi = 35,86 THDi = 43,90 THDi = 49,67
F. crista = 2,08 F. crista = 2,14 F. crista = 2,12
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 2,96 1 100,00 0,74 1 100,00 0,83
3 30,07 -163,33 3 35,44 -173,42 3 39,58 -177,18
5 15,76 18,89 5 22,75 12,12 5 25,75 6,54
7 7,36 -172,19 7 9,67 -154,85 7 11,91 -162,46
9 4,08 28,88 9 3,13 100,58 9 4,46 75,28
11 4,38 -71,31 11 4,99 -16,55 11 6,07 -35,91
13 3,69 149,02 13 4,02 177,16 13 5,30 159,29
15 3,64 14,12 15 1,28 10,78 15 2,23 -8,68
17 2,43 -81,49 17 1,07 -29,65 17 1,38 -73,44
19 2,46 166,59 19 1,82 168,94 19 2,54 146,94
21 1,25 31,24 21 1,09 -14,76 21 1,92 -26,15
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Cenário 24 Cenário 25 Cenário 26


Televisão e vídeo-cassete com LFC de 25 W Computador, com ambiente iluminado Computador, com ambiente iluminado
e aparelho de som com LFC de 25 W. por LFC de 25 W. por LFC de 25 W e televisão, com
ambiente iluminado por LFC de 25 W.

Cenário 24 Cenário 25 Cenário 26


Harmônico Irms = 1,484 Harmônico Irms = 0,906 Harmônico Irms = 1,646
THDi = 71,12 THDi = 79,95 THDi = 80,19
F. crista = 2,29 F. crista = 2,32 F. crista = 2,38
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 6,71 1 100,00 6,05 1 100,00 6,54
3 64,51 -155,64 3 69,59 -159,15 3 69,39 -160,77
5 23,34 29,48 5 34,33 26,01 5 33,32 21,61
7 6,86 150,94 7 11,07 -172,23 7 12,75 177,61
9 6,80 -9,30 9 2,68 -2,21 9 5,30 5,79
11 8,16 -95,71 11 5,69 -37,89 11 7,30 -61,64
13 7,75 135,07 13 9,37 167,75 13 11,01 155,75
15 7,40 18,81 15 5,83 31,87 15 6,84 21,29
17 5,70 -79,25 17 4,77 -42,75 17 5,30 -58,57
19 5,02 175,37 19 5,89 -165,93 19 6,16 -177,96
21 2,87 63,85 21 2,78 73,30 21 2,66 56,60
23 1,71 -3,69 23 2,75 15,30 23 2,35 12,93
25 1,28 -99,24 25 2,70 -113,42 25 2,01 -120,21
27 1,09 -141,94 27 0,66 164,88 27 0,68 -134,26
29 1,71 116,23 29 1,80 92,60 29 1,95 102,80
31 1,56 13,25 31 0,90 -42,38 31 1,11 -13,36

Cenário 27 Cenário 28 Cenário 29


Televisão, com o ambiente iluminado Televisão e vídeo-cassete com LFC de 25 W e Televisão e vídeo-cassete com LFC de
por LFC de 25 W. computador com LFC de 25 W, telefone sem fio 25 W e computador com LFC de 25 W.

Cenário 27 Cenário 28 Cenário 29


Harmônico Irms = 0,744 Harmônico Irms = 1,843 Harmônico Irms = 0,744
THDi = 81,36 THDi = 81,97 THDi = 81,36
F. crista = 2,45 F. crista = 2,43 F. crista = 2,45
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 7,14 1 100,00 5,94 1 100,00 7,14
3 69,21 -162,78 3 70,38 -161,24 3 69,21 -162,78
5 32,35 15,88 5 35,60 21,89 5 32,35 15,88
7 15,22 168,55 7 14,06 -171,91 7 15,22 168,55
9 9,29 8,62 9 6,02 22,74 9 9,29 8,62
11 10,25 -77,59 11 7,65 -59,90 11 10,25 -77,59
13 13,48 145,53 13 8,87 159,00 13 13,48 145,53
15 8,31 12,19 15 7,11 21,25 15 8,31 12,19
17 6,37 -73,06 17 4,94 -64,06 17 6,37 -73,06
19 6,81 169,27 19 5,66 -179,62 19 6,81 169,27
21 2,83 36,33 21 2,67 51,57 21 2,83 36,33
23 1,87 8,63 23 1,83 7,66 23 1,87 8,63
25 1,24 -138,60 25 1,61 -121,57 25 1,24 -138,60
27 1,32 -102,05 27 0,59 -125,06 27 1,32 -102,05
29 2,21 113,00 29 1,70 109,12 29 2,21 113,00
31 1,59 6,40 31 1,08 -3,41 31 1,59 6,40
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Cenário 30
Televisão e vídeo-cassete com LFC de 25 W, televisão e vídeo-game com LFC de 25 W.

Cenário 30
Harmônico Irms = 1,656
THDi = 91,38
F. crista = 2,51
Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 3,05
3 78,42 -162,47
5 37,99 16,98
7 16,10 179,84
9 8,98 21,91
11 10,90 -74,20
13 11,02 145,46
15 8,66 13,91
17 6,37 -79,05
19 6,37 167,48
21 3,04 34,54
23 1,55 -1,67
25 0,92 -139,32
27 1,23 -95,74
29 2,08 120,86
31 1,65 10,63

*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com ênfase
em qualidade da energia elétrica.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO


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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

Capítulo XII

Medidas de mitigação de
harmônicos
Igor Amariz Pires*

A maneira mais comum de mitigar harmônicos é por objetivo é evitar que uma determinada frequência (ou
meio da utilização de filtros. O principal objetivo dos uma faixa de frequências) tenha acesso a uma parte
filtros de harmônicos é reduzir a amplitude de tensões e do sistema. Com ação semelhante a uma bobina de
correntes de uma ou mais frequências harmônicas. bloqueio, este filtro é composto por um capacitor
Quando o objetivo é impedir que uma determinada e um indutor em paralelo. Esta é uma solução cara
corrente harmônica entre em uma planta elétrica ou e raramente utilizada, tendo como principal fator
em partes do sistema elétrico, é possível utilizar um negativo o fato de o filtro ter de transportar toda a
filtro série que consiste no paralelo de um indutor com corrente passante no ponto do sistema em que ele
um capacitor, representando uma alta impedância para foi instalado.
o harmônico que se deseja impedir. A solução mais usual para se evitar que
Entretanto, esta solução não elimina o surgimento correntes harmônicas penetrem em determinadas
de harmônicos por parte da fonte geradora. Outra partes do sistema elétrico consiste na utilização dos
forma de evitar a penetração de harmônicos no sistema chamados filtros em derivação (paralelo ou shunt),
elétrico, a partir de uma fonte geradora, seria fornecer que oferecem um caminho de baixa impedância
um caminho de derivação de baixa impedância para as para as correntes harmônicas de interesse. Desse
correntes harmônicas. filtro, há dois tipos:
Evitar circulação de correntes harmônicas, além
de beneficiar aqueles dispositivos que sofrem danos • filtro sintonizado
por sua circulação, tais como cabos, transformadores • filtro amortecido
e capacitores, significa também diminuir a distorção
de onda de tensão. Isso será possível pela diminuição Antes de definir os dois filtros, é necessário falar
das correntes harmônicas nas impedâncias dos cabos sobre o fator de qualidade (Q) de um filtro. O fator
presentes no sistema elétrico, causando, assim, uma de qualidade de um filtro determina seu grau de
menor queda de tensão harmônica. seletividade e é expresso pela divisão da frequência de
Além dessas diferenças entre filtro série e paralelo ressonância do filtro (ωn) por sua banda de passagem
(shunt), os filtros ainda podem ser classificados como (BP), como mostrado na Equação 1.
passivos e ativos. Os primeiros são assim chamados
porque utilizam elementos passivos (resistores, Q = ωn/BP (1)
indutores e capacitores), enquanto os filtros ativos
utilizam a eletrônica embarcada em um conjunto com Filtro sintonizado
elementos passivos para realizar a mitigação. O filtro sintonizado é um circuito série RLC, como
mostrado na Figura 1, sintonizado em uma frequência
Filtros passivos de um harmônico. Sua impedância é dada pela
Os filtros passivos-série são utilizados quando o Equação 2.
Apoio
39
O Setor Elétrico / Dezembro de 2010

Figura 1 - Filtro sintonizado RLC.

Figura 2 - Módulo da impedância versus frequência em um filtro


sintonizado.
(2)
Neste tipo de filtro, o fator de qualidade Q do filtro sintonizado
RLC é expresso pela Equação 4.
A frequência de ressonância (ou sintonia) deste filtro é definida
na Equação 3. A Figura 2 mostra uma curva qualitativa do módulo
da impedância de um filtro RLC ao longo de um espectro de (4)
frequência. Na frequência de ressonância, a impedância do filtro é
a menor de todo o espectro.

O filtro sintonizado tem um fator de qualidade elevado,


(3) variando entre 30 e 80. Na Figura 2, o fator de qualidade foi 40.
Uma importante característica deste filtro é que ele se comporta
Apoio
40
O Setor Elétrico / Dezembro de 2010

capacitivamente abaixo de sua frequência de ressonância, A filosofia de desenvolvimento deste filtro não é muito
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos

contribuindo para a compensação da potência reativa em relação diferente do exposto no filtro sintonizado. Ou seja, basta
à frequência da rede. Acima da frequência de ressonância o escolher a frequência de ressonância, a quantidade de potência
comportamento do filtro será indutivo. reativa que será entregue na frequência fundamental e o fator
Assim, para o desenvolvimento de um filtro sintonizado basta de qualidade.
escolher a frequência de ressonância, a quantidade de potência reativa
que será entregue na frequência fundamental (podendo ser próximo de Aplicações
zero, ficando o filtro com a exclusiva função de filtrar os harmônicos) e Os filtros sintonizado e amortecido, muitas vezes, são
o fator de qualidade. A partir dessas escolhas, os elementos R, L e C são aplicados em conjunto para mitigar correntes harmônicas de uma
facilmente fornecidos pelas Equações 1, 2, 3 e 4. fonte poluidora. Como exemplo, podemos citar um conversor
estático de seis pulsos, haverá quatro filtros sintonizados,
Filtro amortecido sendo estes nas frequências do 5º, 7º, 11º e 13º harmônico e
São filtros passa-alta que apresentam uma baixa impedância um filtro amortecido com frequência de ressonância no 17º
a partir da frequência de ressonância. Esta é sintonizada, harmônico. Esse último filtro será responsável por amortecer os
normalmente, em um harmônico de baixa ordem. É constituído harmônicos de ordens superiores.
por um capacitor em série com um RL paralelo, como mostrado na No trabalho Reduction of Harmonics Currents in Fluorescent
Figura 3. O fator de qualidade deste filtro é baixo, sendo da ordem Lighting Systems: Design and Realisation, os autores apresentam
de 1 a 10. um filtro passivo para minimizar a corrente harmônica no
neutro em sistemas de iluminação por lâmpadas fluorescentes.
Ele consiste em um filtro duplamente sintonizado, como
mostrado na Figura 5, que nada mais é do que uma extensão do
filtro sintonizado, contendo duas frequências de ressonância.
O filtro é instalado em série com o neutro.
Nas frequências de ressonância, a impedância do filtro é
baixa, sendo alta nas demais frequências. Uma das frequências
de ressonância escolhidas é a fundamental, sendo que a
segunda é em uma frequência diferente de um harmônico. Esta
configuração série tem por objetivo “barrar” as correntes de
sequência zero, o que, em um sistema equilibrado, representa
Figura 3 - Filtro amortecido. os harmônicos triplos (3º, 9º, 15º, etc.).
No artigo, os autores apresentam um exemplo de dimen­
A frequência de ressonância e o fator de qualidade têm as
sionamento desse filtro. Os valores por eles utilizados foram:
mesmas fórmulas do filtro sintonizado (Equações de 1 a 4). A Figura
4 mostra um gráfico qualitativo do módulo da impedância do filtro
Ramo série – C1 = 1250 uF, L 1 = 4,4 mH, R1=0,1 Ω
amortecido ao longo da frequência. O R escolhido na Figura 4 é
Ramo paralelo – C1 = 340 uF, L 1 = 3,3 mH, R1=0,1 Ω.
igual a 1. Nas altas frequências, a tendência do filtro é ter uma
impedância igual a R.
Vale lembrar que a frequência fundamental, para esses
autores, era 50 Hz. A Figura 6 apresenta o gráfico de impedância
para diversos harmônicos para este filtro. As frequências de
ressonância se dão na frequência fundamental e em torno do
4º harmônico.

Figura 4 - Módulo da impedância versus frequência do filtro amortecido. Figura 5 - Filtro duplo sintonizado.
41
O Setor Elétrico / Dezembro de 2010

Figura 6 - Módulo da impedância versus harmônicos – filtro duplamente


sintonizado.

A alta impedância no 3º harmônico (Figura 6) se deve ao ramo


paralelo. O ramo série fica responsável por fornecer uma baixa
impedância na fundamental. A Figura 7 apresenta o módulo da
impedância de cada ramo (série e paralelo) por harmônico.

Figura 7 - Módulo da impedância versus harmônico – filtro duplamente


sintonizado – ramos série e paralelo.

Por volta do 4º harmônico, o módulo da impedância do ramo


paralelo é igual ao do ramo série, mas em valores complexos. A
parte imaginária é o oposto da outra, sendo o ramo série positiva e o
ramo paralelo negativa. Assim, o resultado final é uma impedância
de baixo valor, constituindo, dessa forma, a 2ª frequência de
ressonância.
Analisando novamente a Figura 6, as impedâncias que o
filtro oferece para os harmônicos triplos (3º, 9º e 15º) são
bastante elevadas. Os autores implementaram este filtro
partindo de duas possibilidades: somente o ramo paralelo
e o filtro duplo sintonizado (FDS). Ele foi colocado em um
sistema de iluminação trifásico a quatro condutores e os
autores mediram as correntes de fase e neutro nas situações
de simetria e assimetria. Os resultados encontrados estão nas
Tabelas 1 e 2.
Apoio
42
O Setor Elétrico / Dezembro de 2010

em um harmônico específico devido à inconstância das


Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 1
Resultados da implementação do filtro de corrente de neutro – características de topologia dos circuitos secundários de
Correntes simétricas
Corrente eficaz Sem filtro (A) Somente filtro paralelo (A) FDS (A)
baixa tensão.
Fase A 21 19,9 19,8 Conforme explicitado na descrição dos filtros sintonizados,
Fase B 20,3 19,7 19,5
Fase C 20,7 19,6 19,6
abaixo da frequência de ressonância, o filtro se comporta
Neutro 20 1,38 1,39 como um capacitor. Acima desta frequência, ele se comporta
como um indutor. A Figura 9 mostra o ângulo da impedância
Tabela 2 do filtro em questão, comprovando seu comportamento
Resultados da implementação do filtro de corrente de neutro –
Correntes assimétricas
capacitivo e indutivo.
Corrente eficaz Sem filtro (A) Somente filtro paralelo (A) FDS (A)
Fase A 35,6 31,6 32,8
Fase B 29,4 28,2 29,2
Fase C 21 20,4 20,4
Neutro 21 6,32 8,38

Em um projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) entre


a Universidade de Uberlândia e as concessionárias de energia
Escelsa e Enersul, em meados de 2000, foi desenvolvido um filtro
harmônico passivo para utilização em circuitos secundários aéreos
de distribuição. O filtro harmônico passivo é um filtro sintonizado
com a configuração apresentada na Figura 8.

Figura 9 - Ângulo da impedância do filtro.

No desenvolvimento de um dimensionamento do filtro para um


ramo monofásico, considerando um transformador de 45 kVA, o
capacitor é determinado por:

(5)
Figura 8 - Diagrama trifilar do filtro passivo de redes secundárias.

Inicialmente, determinou-se a quantidade de potência reativa


que os capacitores forneceriam na frequência fundamental para Escolhida a frequência de 288 Hz e utilizando a Equação
compensação de reativos. A Tabela 3 traz a potência dos capacitores 3, encontra-se uma indutância de 557 μH. É possível
para diferentes transformadores. incluir, ainda, para efeito de simulação, uma resistência de
0,4 Ω para computar as resistências intrínsecas do reator
Tabela 3
Potência de capacitores para diferentes transformadores e condutores. Desta forma, o filtro fica com os seguintes
Potência do transformador (kVA) Tensão (V) Potência do capacitor (kVAr) parâmetros (Tabela 4).
30 220 7,5
45 220 10
75 220 15 Tabela 4
112,5 220 20 Parâmetros do filtro de circuitos secundários
R (Ω) L (μH) C (μF)
Nos sistemas secundários de distribuição, tipicamente o 0,4 557 548

5º harmônico é o mais presente. Nas medições mostradas nos


Capítulos VI, VII e VIII, este fato é comprovado. A frequência O módulo da impedância do filtro resultante em função da
de sintonia do filtro foi escolhida como 4,8 vezes a frequência frequência é apresentado na Figura 10, enquanto na Figura 9,
fundamental ou 288 Hz. Esta escolha foi realizada, conforme usada como exemplo anteriormente, é mostrado o ângulo desta
os autores, por motivos de segurança e não foi escolhido impedância.
Apoio
43
O Setor Elétrico / Dezembro de 2010

Tabela 5
Distorções de tensão no sistema de distribuição secundário – sem pré-distorção
no transformador

Ponto de medição 1 – próximo ao transformador


Sem filtro Com filtro
Carga / Horário Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%)
Leve / 12h 0,33 0,26 0,27 0,29 0,23 0,23
Média / 2h 0,57 0,70 0,45 0,43 0,59 0,40
Pesada / 21h 0,69 1,48 1,11 0,58 1,21 1,02

Ponto de medição 2 – ponta do sistema de distribuição secundário


Sem filtro Com filtro
Carga / Horário Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%)
Leve / 12h 0,42 0,34 0,33 0,36 0,31 0,29
Média / 2h 0,60 0,80 0,51 0,47 0,69 0,47
Pesada / 21h 0,76 1,76 1,44 0,68 1,48 1,35
Figura 10 - Módulo da impedância do filtro implementado.

Como resultados, obtém-se uma redução média de 50% Ponto de medição 3 – ponta do sistema de distribuição secundário
de THD de tensão no transformador de 45 kVA instalado Sem filtro Com filtro
Carga / Horário Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%)
(THDv médio de 4% para 2%). Neste presente trabalho,
Leve / 12h 0,33 0,20 0,33 0,29 0,17 0,28
este filtro foi implementado no ATP e posto nas simulações
Média / 2h 0,79 0,95 0,67 0,66 0,83 0,60
do sistema de distribuição secundário em todos os casos Pesada / 21h 0,89 1,67 1,16 0,77 1,37 1,05
simulados nos Capítulos IX e X. O filtro foi ligado diretamente
nos terminais do secundário do transformador. As Tabelas 5 e
6 apresentam os resultados em três pontos de medição sem
e com pré-distorção de tensão no transformador.
Apoio
44
O Setor Elétrico / Dezembro de 2010

apresentaram os parâmetros R, L e C para transformadores de


Harmônicos provocados
por eletroeletrônicos
Tabela 6
Distorções de tensão no sistema de distribuição secundário –
com pré-distorção no transformador 30 kVA, 75 kVA e 112,5 kVA (Tabela 7), além do já previamente
Ponto de medição 1 – próximo ao transformador
apresentado para o transformador de 45 kVA (Tabela 4). Todos os
Sem filtro Com filtro
Carga / Horário Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%)
filtros foram projetados na frequência de ressonância de 288 Hz. As
Leve / 12h 1,28 1,15 1,07 1,07 0,95 0,88 potências capacitivas dos filtros seguem a Tabela 3.
Média / 2h 1,05 1,10 1,35 0,88 0,90 1,20 Tabela 7
Pesada / 21h 1,57 2,04 2,00 1,31 1,67 1,77 Parâmetros finais dos filtros
Potência do transformador (kVA) R (Ω) L (μH) C (μF)
Ponto de medição 2 – ponta do sistema de distribuição secundário 30 0,30 411,04 742,97
Sem filtro Com filtro 75 0,30 685,07 445,78
Carga / Horário Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%) 112,5 0,30 822,08 371,48
Leve / 12h 1,35 1,20 1,08 1,15 0,96 0,88
Filtro ativo
Média / 2h 1,05 1,12 1,42 0,87 0,89 1,25
O filtro ativo é composto por elementos ativos que fornecem o
Pesada / 21h 1,61 2,24 2,29 1,38 1,81 2,06
conteúdo harmônico necessário a uma carga não linear, limpando
Ponto de medição 3 – ponta do sistema de distribuição secundário a rede da circulação desses harmônicos. Há dois tipos: paralelo e
Sem filtro Com filtro
série. Esses filtros foram inicialmente propostos por Akagi, sendo
Carga / Horário Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%)
Leve / 12h 1,25 1,10 1,18 1,06 0,89 0,98
o filtro paralelo de 1984 e o filtro série de 1988. Este último em
Média / 2h 1,35 1,20 1,08 1,15 1,02 0,89 conjunto com filtro paralelo.
Pesada / 21h 1,67 2,11 2,06 1,40 1,66 1,81
• Filtro ativo paralelo
Nas Tabelas 5 e 6, quando inserido o filtro no secundário De acordo com a Figura 11, o filtro ativo paralelo é representado
do sistema de distribuição, foi apresentada melhoria em todas pelo inversor fonte de tensão e seu controle. Este inversor funciona como
situações. Dessa forma, o filtro se mostrou eficiente com uma malha de controle e tem a função básica de “curto-circuitar” as correntes
média de melhoria no THD de tensão de 20%. indesejadas, geradas pela carga. Analisando de outra perspectiva, o filtro
No trabalho Análise da Instalação de Filtros Harmônicos paralelo (ou shunt) irá fornecer as correntes harmônicas desejadas para
Passivos em Circuitos Secundários de Distribuição, os autores o correto funcionamento da carga não linear.
Apoio
45
O Setor Elétrico / Dezembro de 2010

Figura 11 - Filtro ativo paralelo. Figura 12 - Filtro ativo série.

Vale dizer que as correntes não desejadas, na maioria • Filtro ativo série/paralelo
dos casos, são harmônicos, mas podem, em alguns casos, ser Para a compensação simultânea da tensão e da corrente, há
correntes na frequência fundamental (como exemplo podemos uma combinação de filtros ativos série/paralelo, a qual foi
citar a corrente reativa ou de desequilíbrio). Assim, o grande convencionada como um UPQC (do inglês, Unified Power
desafio no projeto de um filtro ativo paralelo baseado em Quality Conditioner).
conversores desse tipo está na determinação instantânea da A Figura 13 mostra uma situação típica para o emprego
referência de corrente a ser sintetizada. do UPQC. Este é um cenário em que se tem um grupo de
cargas críticas muitos sensíveis às distorções harmônicas e
• Filtro ativo série que requerem um suprimento de energia de boa qualidade.
O filtro série é mostrado na Figura 12. Nessa figura, a fonte Porém, estas cargas estão conectadas a um barramento em que
de tensão está representada por uma fonte de tensão distorcida. se encontram outras cargas (i L) não lineares, que são geradores
O filtro ativo em série, entre a carga e a fonte, impede, dessa de alto conteúdo de correntes harmônicas desbalanceadas.
forma, que as parcelas não desejáveis de tensão sejam aplicadas Além disso, admite-se que a tensão de suprimento (vs)
na carga. deste barramento também seja desbalanceada e distorcida,
Vale lembrar que o filtro ativo série não é capaz de eliminar independentemente dessas cargas não lineares. O UPQC está
harmônicos de correntes geradas pela carga uma vez que este inserido em paralelo, próximo à carga não linear e em série
filtro está inserido em série com esta carga. Este consiste no com a tensão de suprimento, de tal forma que a tensão do
conceito dual do que o ocorre com o filtro paralelo. Para se filtro série vc compense a tensão vs e torne a tensão v senoidal
ter essa compensação, tanto de tensão quanto de corrente, é e balanceada.
necessário utilizar um filtro ativo série/paralelo. Entretanto, a corrente i c do filtro paralelo compensa os
Apoio
46
O Setor Elétrico / Dezembro de 2010

harmônicos e desbalanços da corrente i L, impedindo que essas


Harmônicos provocados
por eletroeletrônicos
componentes indesejadas da corrente fluam pelo sistema,
distorcendo ainda mais a tensão de suprimento. Há ainda a
possibilidade de haver filtros híbridos ativos e passivos. Duas
possibilidades são existentes: ativo série/passivo paralelo e
ativo paralelo/passivo paralelo.

Filtro passivo versus Filtro ativo


Nas duas configurações de filtro apresentadas (passivo e
ativo) cada uma apresenta vantagens e desvantagens. A principal
vantagem do filtro passivo é o seu custo. Porém, podem ocorrer
ressonâncias com elementos do sistema elétrico. Para seu bom
desempenho, é necessária uma grande compensação capacitiva Figura 13 - UPQC - Filtros ativos série/paralelo.

na frequência fundamental. A variabilidade da carga em que o de 54 kVAR e um filtro ativo de 50 kVAr para diminuir os
filtro está conectado influencia o seu rendimento. harmônicos de corrente injetados na rede de um retificador
O filtro ativo deve ter uma potência igual ou maior que a trifásico de 110 kVA. O circuito elétrico do retificador é
carga não linear a ser filtrada, o que o torna economicamente mostrado na Figura 14. Dois casos de carga do retificador foram
inviável em alguns casos. Mais caro que o filtro passivo, o considerados. No primeiro caso, retirou-se o indutor L d (Figura
filtro ativo tem seu rendimento constante independente da 14) e, no segundo caso, o indutor foi novamente inserido no
variabilidade da carga. retificador.
Na referência Influence of Load Characteristics on the A corrente do sistema elétrico que alimentava o retificador
Applications of Passive and Active Harmonic Filters, os autores tinha uma distorção de 25,58% para o primeiro caso (sem
apresentam um trabalho em que se comparou um filtro passivo indutor) e 50,48% no segundo caso (com indutor). Quando o
Apoio
47
O Setor Elétrico / Dezembro de 2010

componentes são passivos (resistores, capacitores e indutores).


Por sua vez, filtros ativos são aqueles compostos por elementos
ativos que fornecem o conteúdo harmônico necessário a
uma carga não linear, limpando a rede da circulação destes
harmônicos.
Os filtros ainda podem ser utilizados na configuração em
série, que tem o objetivo de barrar os harmônicos de tensão
Figura 14 - Retificador trifásico.
provenientes da rede elétrica para o consumidor, ou na
filtro passivo foi inserido ao sistema, a distorção de corrente
configuração paralela, que objetiva limpar a rede elétrica de
no primeiro caso foi de 7,84% e no segundo caso, 12,32%.
correntes harmônicas, estas provenientes do consumidor de
Trocado o filtro passivo pelo filtro ativo, a distorção de corrente
energia elétrica, pela utilização de cargas não lineares.
foi de 4,94%, no primeiro caso, e 11,15%, para o segundo
Filtros passivos são mais baratos que filtros ativos. Para a
caso.
boa performance do filtro passivo é necessário um capacitor
O filtro ativo apresentou uma melhora nos níveis de
em condições de fornecer uma grande compensação capacitiva
distorção. Entretanto, paga-se um preço, por ser esta uma
na frequência fundamental. Um inconveniente deste filtro será
alternativa mais cara do que a utilização do filtro passivo.
a variabilidade de seu desempenho devido à variabilidade
da carga, na qual o filtro está submetido. Pode ainda ocorrer
Conclusões
ressonâncias com o sistema elétrico.
Este capítulo apresentou algumas formas de mitigação de
Filtros ativos, para terem uma boa performance, necessitam
harmônicos. O principal elemento que fez chegarmos a esse
ter uma potência igual ou superior à carga não linear a ser
resultado foi a utilização do filtro. Por sua vez, duas formas de
filtrada, tornando-se, em alguns casos, economicamente
filtro foram utilizadas: filtros passivos e filtros ativos.
inviáveis. Entretanto, têm seu desempenho constante
Resumidamente, filtros passivos são aqueles em que os seus
Apoio
28
Qualidade de energia

Capítulo I

Conceitos gerais sobre


qualidade da energia
Por Gilson Paulilo*

O termo “qualidade da energia” inclui uma pelos motivos a seguir:


gama de fenômenos, abrangendo áreas de interesse • Os equipamentos e maquinários atuais estão
de sistemas da energia elétrica até problemas mais sensíveis às variações da qualidade da
relacionados com a comunicação em redes de energia em relação aos utilizados no passado.
transmissão de dados. Dessa forma, devem ser Muitos dos aparelhos modernos contêm controles
divulgados e reconhecidos por todos os setores microprocessados e/ou unidades eletrônicas de
envolvidos com o consumo, transmissão e potência, tornando-os muito sensíveis a certos tipos
geração de energia elétrica. A interpretação destes de distúrbios, que por décadas podem ter ocorrido
fenômenos, principalmente as distorções de tensões sem causar efeitos adversos e, atualmente, resultam
e correntes, localizadas tanto nos PACs (ponto de em má operação e, sobretudo, redução da vida útil;
acoplamento comum) como também dentro das • O crescente interesse na racionalização de
instalações dos próprios consumidores de energia, energia para o aumento da eficiência dos sistemas
está associada diretamente à correção do fator de elétricos resultou em uma crescente aplicação de
potência, racionalização da energia e aumento equipamentos de alta eficiência, acionamentos
da produtividade. A ocorrência destes problemas eletrônicos e bancos de capacitores para a correção
determina a necessidade de uma busca mútua de do fator de potência. Estas atitudes levaram ao
soluções, entre ambas as partes, para a realização de incremento das amplitudes das componentes
medidas práticas e econômicas. harmônicas nas redes elétricas e na preocupação
De forma geral, a conceituação da perda da generalizada com o impacto destes níveis em um
qualidade da energia é adotada pelos especialistas futuro próximo;
da área, como sendo: “qualquer desvio que possa • O aumento do interesse dos consumidores pelo
ocorrer na magnitude, forma de onda ou frequência assunto “qualidade da energia”. Os consumidores
da tensão e/ou corrente elétrica, que resulte em falha estão tornando-se mais bem informados sobre os
ou operação indevida de equipamentos elétricos”. efeitos de alguns fenômenos como: interrupções,
Independentemente da definição e da descargas elétricas e transitórios de chaveamentos.
conceituação, a preocupação tanto por parte Além disso, estão pressionando as concessionárias
das concessionárias quanto pelos consumidores para a melhora da qualidade da energia fornecida;
é considerada um assunto técnico emergencial, • É crescente a utilização de linhas de
encontrando respaldo internacional e justificado comunicações de dados em todos os setores da
29

sociedade, tornando-se necessárias as operações


ininterruptas das transações comerciais e dos
processos de controle industriais, associado
às tendências futuras com os projetos de redes
elétricas inteligentes (smart grids).
Define-se, então, que um serviço de
fornecimento de energia elétrica é de boa qualidade
quando garante, a custos viáveis, o funcionamento
seguro e confiável de equipamentos e processos,
sem afetar o meio ambiente e o bem-estar das
pessoas.
Observa-se que o conceito apresentado
integra os aspectos sociais, ambientais, técnicos e
econômicos.
A qualidade do atendimento aborda o aspecto
comercial, que trata das relações do cotidiano
entre o cliente e o fornecedor de energia; e o
atendimento de emergência, que contempla
as solicitações do consumidor, quando da
ocorrência de contingências na rede elétrica. De
um modo geral, a qualidade do atendimento diz
respeito à presteza e à eficiência do atendimento
da concessionária.
A qualidade do serviço é medida segundo a
continuidade do fornecimento da energia elétrica.
Assim sendo, do ponto de vista ideal, a qualidade
de serviço deveria oferecer continuidade plena e
oferta ilimitada de energia elétrica.
Finalmente, a qualidade do produto diz
respeito à conformidade do produto “energia
elétrica”, que pode ser interpretada como a
capacidade do sistema elétrico de fornecer energia
com tensões equilibradas e sem deformações de
forma de onda. Do ponto de vista ideal, seria a
disponibilidade de energia elétrica com tensões
senoidais, equilibradas e com amplitude e
frequência constantes.
Os desvios do conceito ideal do produto
“energia elétrica” apresentados são tratados, em
nível internacional, sob o título de Power Quality
e Voltage Quality, sendo este último tratado
assim no âmbito do Cigré. No Brasil, embora
sem uma terminologia totalmente consolidada, o
assunto vem sendo tratado sob a denominação de
Qualidade da Energia Elétrica (QEE).
A questão da qualidade, associada ao produto
energia elétrica, apresenta características bastante
específicas, uma vez que o processo de produção,
transporte, distribuição e consumo ocorrem
simultaneamente em um sistema físico cada vez
mais complexo, sendo que cada fase do processo
Apoio
30

pode afetar e ser afetada pelos demais. As variações de tensão de longa duração são fenômenos
Qualidade de energia

O estabelecimento de indicadores para o controle e avaliação semelhantes aos fenômenos de curta duração, porém, com a
do produto “energia elétrica” é bastante complexo e apresenta característica de se manterem no sistema elétrico por tempos
peculiaridades técnicas que dificultam seu tratamento de forma superiores a três minutos. São causadas por saídas de grandes
simples. Dentre as particularidades mencionadas podem-se blocos de carga, perdas de fase, dentre outras.
destacar:
4. Desequilíbrios
• Caráter aleatório nas ocorrências de distúrbios de QEE; Os desequilíbrios podem ser definidos como o desvio
• Inevitabilidade técnica de ocorrências destes distúrbios; máximo da média das correntes ou tensões trifásicas, divididos
• Variado nível de sensibilidade dos consumidores, uma vez pela média das correntes ou tensões trifásicas, expressados em
que cada consumidor percebe a qualidade da energia de forma percentual. As origens destes desequilíbrios estão geralmente nos
diferenciada; sistemas de distribuição, os quais possuem cargas monofásicas
• Dificuldade de executar controle prévio da QEE, como ocorre distribuídas inadequadamente, fazendo surgir no circuito
com outros produtos, visto que geração, transmissão, distribuição tensões de sequência negativa. Este problema se agrava quando
e consumo da energia ocorrem simultaneamente; consumidores alimentados de forma trifásica possuem uma
• Extensa área de vulnerabilidade do sistema elétrico, má distribuição de carga em seus circuitos internos, impondo
representado por milhares de quilômetros de linhas de correntes desequilibradas no circuito da concessionária.
transmissão, subtransmissão e distribuições aéreas.
5. Distorções da forma de onda: harmônicos, cortes de
Principais distúrbios associados à qualidade da tensão, ruídos, etc.
energia A distorção da forma de onda é definida como um desvio,
O termo qualidade da energia elétrica refere-se a uma ampla em regime permanente, da forma de onda puramente senoidal,
variedade de fenômenos eletromagnéticos conduzidos que na frequência fundamental, e é caracterizada principalmente
caracterizam a tensão e a corrente em um dado tempo e local pelo seu conteúdo espectral. Existem cinco tipos principais de
do sistema elétrico. distorções da forma de onda:
A qualidade da energia em uma determinada barra do sistema • Harmônicos: tensões ou correntes senoidais de frequências
elétrico é adversamente afetada por uma ampla variedade de múltiplas inteiras da frequência fundamental (50 Hz ou 60 Hz)
distúrbios: na qual opera o sistema de energia elétrica. Estes harmônicos
distorcem as formas de onda da tensão e corrente e são oriundos
1. Transitórios de equipamentos e cargas com características não lineares
Os transitórios são fenômenos eletromagnéticos oriundos instalados no sistema de energia.
de alterações súbitas nas condições operacionais de um sistema • Inter-harmônicos: componentes de frequência, em tensão
de energia elétrica. Geralmente, a duração de um transitório ou corrente, que não são múltiplos inteiros da frequência
é muito pequena, mas de grande importância, uma vez que fundamental do sistema supridor (50 Hz ou 60 Hz). Elas podem
submetem equipamentos a grandes solicitações de tensão e/ aparecer como frequências discretas ou como uma larga faixa
ou corrente. Existem dois tipos de transitórios: os impulsivos, espectral. Os inter-harmônicos podem ser encontrados em redes
causados por descargas atmosféricas, e os oscilatórios, causados de diferentes classes de tensão. As suas principais fontes são
por chaveamentos. conversores estáticos de potência, ciclo-conversores, motores
de indução e equipamentos a arco. Sinais "carrier" em linhas
2. Variações de tensão de curta duração de potência também podem ser considerados como inter-
As variações de tensão de curta duração podem ser harmônicos. Os efeitos deste fenômeno não são bem conhecidos,
caracterizadas por alterações instantâneas, momentâneas ou mas admite-se que podem afetar a transmissão de sinais "carrier"
temporárias. Tais variações de tensão são, geralmente, causadas e induzir "flicker" visual no display de equipamentos como tubos
pela energização de grandes cargas que requerem altas correntes de raios catódicos.
de partida, ou por intermitentes falhas nas conexões dos cabos • Nível CC: a presença de tensão ou corrente CC em um sistema
de sistema. Dependendo do local da falha e das condições do elétrico CA é denominado "DC offset". Este fenômeno pode
sistema, o resultado pode ser um afundamento momentâneo de ocorrer como o resultado da operação ideal de retificadores de
tensão (“sag”), uma elevação momentânea de tensão (“swell”), meia-onda. O nível CC em redes de corrente alternada pode
ou mesmo uma interrupção completa do sistema elétrico. levar à saturação de transformadores, resultando em perdas
adicionais e redução da vida útil.
3. Variações de tensão de longa duração • "Notching": distúrbio de tensão causado pela operação normal
Apoio
32
Qualidade de energia
de equipamentos de eletrônica de potência quando a corrente rendimento dos equipamentos elétricos, interferência nos sistemas de
é comutada de uma fase para outra. Este fenômeno pode ser proteção, e efeito "flicker" ou cintilação luminosa.
detectado pelo conteúdo harmônico da tensão afetada. As
componentes de frequência associadas com os "notchings" 7. Variações de frequência
são de alto valor e, desta forma, não podem ser medidas pelos Variações na frequência de um sistema elétrico são definidas
equipamentos normalmente utilizados para análise harmônica. como sendo desvios no valor da frequência fundamental deste
• Ruído: definido como um sinal elétrico indesejado, contendo sistema (50 Hz ou 60 Hz). A frequência do sistema de potência
uma larga faixa espectral com frequências menores que 200 está diretamente associada à velocidade de rotação dos geradores
KHz, as quais são superpostas às tensões ou correntes de que suprem o sistema. Pequenas variações de frequência podem
fase, ou encontradas em condutores de neutro. Os ruídos em ser observadas como resultado do balanço dinâmico entre carga
sistemas de potência podem ser causados por equipamentos e geração no caso de alguma alteração (variações na faixa de 60
eletrônicos de potência, circuitos de controle, equipamentos ± 0,5Hz). Variações de frequência que ultrapassam os limites para
a arco, retificadores a estado sólido e fontes chaveadas que, operação normal em regime permanente podem ser causadas por
normalmente, estão relacionados com aterramentos impróprios. faltas em sistemas de transmissão, saída de um grande bloco de
carga ou pela saída de operação de uma grande fonte de geração.
6. Flutuações de tensão Em sistemas isolados, entretanto, como é o caso da geração
As flutuações de tensão correspondem a variações própria nas indústrias, na eventualidade de um distúrbio, a
sistemáticas dos valores eficazes da tensão de suprimento dentro magnitude e o tempo de permanência das máquinas operando
da faixa compreendida entre 0,95 pu e 1,05 pu. Tais flutuações fora da velocidade, resultam em desvios da frequência em
são geralmente causadas por cargas industriais e manifestam-se proporções mais significativas.
de diferentes formas, a destacar: A título de ilustração, a Figura 1 mostra os principais
• Flutuações aleatórias: causadas por fornos a arco, onde as distúrbios envolvendo a qualidade da energia.
amplitudes das oscilações dependem do estado de fusão do
material e do nível de curto-circuito da instalação. Em que:
• Flutuações repetitivas: causadas por máquinas de solda, a - tensão senoidal f - salto de tensão
laminadores, elevadores de minas e ferrovias. b - transitório impulsivo g - harmônico
• Flutuações esporádicas: causadas pela partida direta de c - transitório oscilatório h - corte de tensão
grandes motores. d - afundamento de tensão i - ruídos
e - interrupção j – inter-harmônicos
Os principais efeitos nos sistemas elétricos, resultados das
oscilações causadas pelos equipamentos mencionados anteriormente, A Tabela 1 apresenta as categorias mais comuns dos
são oscilações de potência e torque das máquinas elétricas, queda de distúrbios, suas causas e algumas soluções práticas.

Figura 1 – Principais distúrbios da qualidade da energia elétrica.


Apoio
33

Tabela 1 – Categorias de classificação dos distúrbios associados à qualidade da energia

Distúrbios Causas Efeitos Soluções


Transitórios impulsivos • Descargas atmosféricas; • Excitação de circuitos ressonantes; • Filtros;
• Chaveamentos de cargas e/ou dispositivos • Redução da vida útil de motores, geradores, • Supressores de surtos;
de proteção. transformadores, etc.; • Transformadores isoladores;
• Erros de processamento e perdas de sinais.

Transitórios oscilatórios • Descargas atmosféricas; • Mau funcionamento de equipamentos • Filtros;


• Chaveamentos de capacitores, linhas, controlados eletronicamente, conversores de • Supressores de surtos;
cargas e transformadores; potência, etc.; • Transformadores isoladores;
• Transitórios impulsivos. • Redução da vida útil de motores, geradores,
etc.

Sub e sobretensões • Partidas de motores; • Pequena redução na velocidade dos • Reguladores de tensão;
• Variações de cargas; motores de indução e no reativo dos bancos • Fontes de energia de reserva;
• Chaveamento de capacitores; de capacitores; • Chaves estáticas;
• TAPs de transformadores ajustados • Falhas em equipamentos eletrônicos; • Geradores de energia.
incorretamente. • Redução da vida útil de máquinas rotativas,
transformadores, cabos, disjuntores, TPs e
TCs;
• Operação indevida de relés de proteção,
motores, geradores, etc.

Interrupções • Curto-circuito; • Falha de equipamentos eletrônicos e de • Fontes de energia sobressalentes;


• Operação de disjuntores; iluminação; • Sistemas “no-break”;
• Manutenção. • Desligamento de equipamentos; • Geradores de energia.
• Interrupção do processo produtivo (altos
custos).

Desequilíbrios • Fornos a arco; • Redução da vida útil de motores de • Operação simétrica;


• Cargas monofásicas e bifásicas; indução e máquinas síncronas; • Dispositivos de compensação.
• Assimetrias entre as impedâncias; • Geração, pelos retificadores, de 3º
• Falta de transposição de linhas de harmônico e seus múltiplos.
transmissão.

Nível CC • Operação ideal de retificadores de meia • Saturação de transformadores;


onda, etc. • Corrosão eletrolítica de eletrodos de
aterramento e de outros conectores.

Harmônicos • Cargas não lineares. • Sobreaquecimento de cabos, • Filtros;


transformadores e motores de indução; • Transformadores isoladores;
• Danificação de capacitores, etc.; • Reatores de linhas.
• Operação indevida de disjuntores, relés,
fusíveis, etc.

Inter-harmônicos • Conversores estáticos de potência; • Interferência na transmissão de sinais


• Cicloconversores; Carrier;
• Motores de indução; • Indução de flicker visual no display de
• Equipamentos a arco, etc. equipamentos.

Notching • Equipamentos eletrônicos de potência. • Operação indevida de dispositivos de


medição e proteção.

Ruídos • Chaveamento de equipamentos eletrônicos • Distúrbios em equipamentos eletrônicos • Aterramento das instalações;
de potência; (computadores e controladores programáveis). • Filtros.
• Radiações eletromagnéticas.

Flutuações de tensão • Cargas intermitentes; • Flicker; • Sistemas estáticos de compensação de


• Fornos a arco; • Oscilação de potência e torque nas reativos;
• Partidas de motores. máquinas elétricas;
• Queda de rendimento de equipamentos • Capacitores em série.
elétricos;
• Interferência nos sistemas de proteção.

Variação de frequência • Perda de geração, perda de linhas de • Danos severos nos geradores e nas palhetas
transmissão, etc. das turbinas, etc. podem ocorrer.
Apoio
34
Qualidade de energia

A Tabela 2 mostra as categorias e as características típicas sua duração. Assim tem-se:


de fenômenos eletromagnéticos que contribuem para a perda • Fenômenos transitórios: são fenômenos de curtíssima
da qualidade da energia em um determinado sistema elétrico. duração, podendo ser do tipo impulsivo ou oscilatório;
Grande parte destes fenômenos já recebeu comentários iniciais • Fenômenos temporários: são fenômenos que envolvem a
quando da apresentação da Tabela 1. A Tabela 2 é uma síntese variação da tensão eficaz da rede durante algum período de
de todos os distúrbios que eventualmente possam ocorrer tempo. Dependendo deste período são denominados variações
sobre determinado sistema elétrico, trazendo as principais de curta duração, compreendendo as instantâneas (0,5 – 30
características pelas quais os fenômenos são definidos. No que ciclos), as momentâneas (30 ciclos – 3 s) e as temporárias (3
segue, a maioria destes distúrbios será novamente apresentada, s – 1 min) ou variações de longa duração, para períodos acima
procurando-se melhor caracterizá-los conforme o seu efeito, de 1 minuto;
duração e intensidade sobre determinado sistema elétrico. • Fenômenos a regime permanente: correspondem aos
Conforme se verifica com a tabela anterior, a proposta fenômenos de regime permanente e que ficam superpostos
básica para agrupar os fenômenos de qualidade é baseada em à frequência fundamental da rede, compreendendo os

Tabela 2 – Características dos principais distúrbios da qualidade da energia

Categorias Conteúdo Espectral Durações Magnitudes


Transitórios
Impulsivos
ns Frente de 5 ns < 50 ns
µs Frente de 1 µs 50 ns – 1 ms
ms Frente de 0,1 ms > 1 ms
Oscilatórios
Baixa frequência < 5 kHz 0,3 – 50 ms 0 – 4 pu
Média frequência 5 – 500 kHz 20 µs 0 – 8 pu
Alta frequência 0,5 – 5 MHz 5µ 0 – 4 pu

Variações de tensão de curta


duração
Instantânea
Interrupção 0,5 – 30 ciclos < 0,1 pu
Afundamento 0,5 – 30 ciclos 0,1 – 0,9 pu
Elevação 0,5 – 30 ciclos 1,1 – 1,8 pu
Momentânea
Interrupção 30 ciclos – 3 s < 0,1 pu
Afundamento 30 ciclos – 3 s 0,1 – 0,9 pu
Elevação 30 ciclos – 3 s 1,1 – 1,4 pu
Temporária
Interrupção 3 s – 1 min < 0,1 pu
Afundamento 3 s – 1 min 0,1 – 0,9 pu
Elevação 3 s – 1 min 1,1 – 1,2 pu

Variações de tensão de longa


duração
Interrupção sustentada > 1 min 0,0 pu
Subtensão sustentada > 1 min 0,8 – 0,9 pu
Sobretensão sustentada > 1 min 1,1 – 1,2 pu

Desequilíbrio de tensão Regime permanente 0,5 – 2%

Distorção da forma de onda


Nível CC Regime permanente 0 – 0,1%
Harmônicos 0 – 100 H Regime permanente 0 – 20%
Inter-harmônicos 0 – 6 kHz Regime permanente 0 – 2%
Notching Regime permanente
Ruído Regime permanente 0 – 1%

Flutuação de tensão < 25 kHz Intermitente 0,1 – 7%

Variações de frequência < 10 s


Apoio
35

desequilíbrios de tensão, as distorções na onda e as flutuações forma de onda e simetria;


de tensão, este último de caráter intermitente. • NORMA IEEE – 519: concentra-se na divisão de
responsabilidades do problema de harmônicos entre os
Instituições internacionais e normas consumidores e a concessionária. É aplicada de forma mais
As principais instituições internacionais que buscam apropriada aos grandes sistemas industriais;
analisar os problemas associados à qualidade da energia são: • NORMA IEC – 555: documento voltado ao estabelecimento
• IEEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers; de limites para os harmônicos gerados pelos equipamentos
• IEC – International Electrotechnical Commission; eletrônicos de baixa potência;
• CIGRE – Grand Réseaux Électriques a Haute Tension; • NORMA IEC – 61000: referência mundial para as medições
• ANSI – American National Standards Institute. do nível de harmônicos em sistemas de distribuição.

Estas instituições, além de outras, elaboraram uma série


de normas e recomendações para analisar os problemas da
qualidade da energia: * Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com
mestrado e doutorado em Qualidade de Energia Elétrica

• ANEEL: Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no pela Universidade Federal de Itajubá. Atualmente,

Sistema Elétrico Nacional – Módulo 8 – Qualidade da Energia é consultor tecnológico em energia no Instituto de

Elétrica; Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Atuação voltada

• ONS: Padrões de Desempenho da Rede Básica – Submódulo para áreas de qualidade de energia elétrica, geração

2.2; distribuída, eficiência energética e distribuição.

• CURVA CBEMA (ITIC): documento recomendado aos


Continua na próxima edição
fabricantes de equipamentos eletrônicos; Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
• NORMA EUROPEIA – EN50160: define e descreve as Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
redação@atitudeeditorial.com.br
características da tensão com relação à frequência, amplitude
Apoio
34
Qualidade de energia

Capítulo II

Harmônicos – conceitos
Por Gilson Paulilo e Mateus Duarte Teixeira*

Harmônicos e equilibradas. No entanto, verifica-se que, na


Os primeiros relatos relacionados a harmônicos prática, os sinais de tensão e corrente encontram-se
em sistemas elétricos remontam à década de 1920, distorcidos. Este desvio é usualmente expresso
com a instalação de conversores em refinarias em termos das distorções harmônicas de tensão e
de cobre nos Estados Unidos, que provocaram a corrente, e normalmente causadas pela operação
interrupção dos sistemas telefônicos. Este e outro de cargas com características não lineares, como
similar, ocorrido em uma mineração no Canadá, ilustrado na Figura 1.
são dois casos históricos registrados sobre este A magnitude da distorção de tensão depende,
importante e atual fenômeno presente no sistema basicamente, da impedância equivalente vista pela
elétrico atual, principalmente em instalações carga não linear ou fonte de corrente harmônica
industriais. e da corrente suprida por ela. Deve-se reconhecer
que a carga não exerce controle sobre os níveis
Conceitos gerais de distorção de tensão. Consequentemente, uma
Em se tratando de um sistema elétrico ideal, mesma carga poderá resultar em distorções de
as tensões de suprimento devem ser, conforme o tensão diferentes, dependendo da sua localização
contrato de fornecimento, perfeitamente senoidais no sistema elétrico.

Figura 1 – Carga elétrica não linear e sua consequência na corrente do sistema.


Apoio
35

Tecnicamente, um harmônico é um componente de uma onda 1) Os harmônicos que causam problemas geralmente são os
periódica cuja frequência é um múltiplo inteiro da frequência componentes de números ímpares;
fundamental (no caso da energia elétrica brasileira, de 60 Hz). 2) A magnitude da corrente harmônica diminui com o aumento da
Harmônicos são fenômenos contínuos e não devem ser frequência.
confundidos com fenômenos de curta duração, os quais duram
apenas alguns ciclos. Distorção harmônica é um tipo específico de Como comentado, altos níveis de distorções harmônicas em
energia suja, que é normalmente associada à crescente quantidade uma instalação elétrica podem causar problemas para as redes
de acionamentos estáticos, fontes chaveadas e outros dispositivos de distribuição das concessionárias, para a própria instalação e
eletrônicos nas plantas industriais, isto é, associado com cargas para os equipamentos ali instalados. As consequências podem
não lineares. Estas perturbações no sistema podem normalmente chegar até a parada total de importantes equipamentos na linha
ser eliminadas com a aplicação de filtros de linha (supressores de produção, acarretando prejuízos econômicos. Dentre eles, de
de transitórios). Um filtro de harmônicos é essencialmente um maior importância estão a perda de produtividade e de vendas
capacitor para correção do fator de potência, combinado em série devido a paradas de produção, causadas por inesperadas falhas em
com um reator (indutor). motores, acionamentos, fontes ou simplesmente pelo "repicar" de
A distorção harmônica vem contra os objetivos da qualidade do disjuntores.
suprimento promovido por uma concessionária de energia elétrica, As componentes harmônicas geradas por estas cargas não
a qual deve fornecer aos seus consumidores uma tensão puramente lineares propagam-se pela rede elétrica, resultando em sérios danos
senoidal, com amplitude e frequência constantes. Entretanto, aos equipamentos elétricos e/ou eletrônicos. Dentre os principais
o fornecimento de energia a determinados consumidores que efeitos causados, em termos gerais, podem ser citados:
causam deformações no sistema supridor prejudica não apenas
o consumidor responsável pelo distúrbio, mas também outros • Má operação de equipamentos eletrônicos, de controle, de
conectados à mesma rede elétrica. proteção, de medição e outros;
A natureza e a magnitude das distorções harmônicas geradas • Sobretensões gerando comprometimento da isolação e da vida
por cargas não lineares dependem de cada carga em específico, útil do equipamento;
mas duas generalizações podem ser assumidas: • Sobrecorrentes ocasionando efeitos térmicos nocivos aos
Apoio
36

equipamentos;
Qualidade de energia

• Interferências em sistemas de comunicação (principalmente


sinais de rádio);
• Efeitos sobre a resistência dos condutores elétricos.

Série de Fourier
Para a quantificação do grau de distorção presente na tensão
e/ou corrente, lança-se mão da ferramenta matemática conhecida
por série de Fourier. As vantagens de se usar a série de Fourier para Figura 3 – Sinal distorcido e seu espectro harmônico.
representar formas de onda distorcidas é que cada componente
Distorções harmônicas
harmônica pode ser analisada separadamente e a distorção
A distorção harmônica de tensão é o resultado da corrente
final é determinada pela superposição das várias componentes
harmônica circulando através da impedância série (linear) do
constituintes do sinal distorcido. A série de Fourier é calculada pela
sistema elétrico. Para cada frequência harmônica, há uma queda de
seguinte expressão:
tensão de mesma frequência, resultando, desta forma, na distorção
da tensão na barra, conforme a Figura 4.

Assim, os sinais distorcidos podem ser decompostos por meio


da série de Fourier em sinais distintos que possuem frequência
múltipla da frequência fundamental, conforme mostrado na Figura Figura 4 – Sistema elétrico submetido a uma distorção harmônica.
2. Esta apresenta a decomposição de um sinal distorcido nas várias A magnitude da distorção de tensão depende, basicamente,
componentes harmônicas que compõem esse sinal. Nessa ilustração, da impedância equivalente vista pela carga não linear ou fonte
a frequência fundamental é 60 Hz e significa a ordem harmônica. de corrente harmônica e da corrente suprida por ela. Deve-se
Outra forma de visualizar o conteúdo harmônico do sinal reconhecer que a carga não exerce controle sobre os níveis de
distorcido é por meio do seu espectro harmônico, conforme distorção de tensão. Consequentemente, uma mesma carga poderá
mostra a Figura 3, em que se pode identificar a componente resultar em distorções de tensão diferentes, dependendo da sua
fundamental e as componentes harmônicas de ordem 3, 5 e 7 do localização no sistema elétrico.
sinal de tensão. Um dispositivo não linear é equipamento que não produz uma
corrente senoidal quando lhe é aplicada uma tensão senoidal.
Esses equipamentos são classificados em três importantes
categorias, a saber:

• Dispositivos a arco: fornos a arco, máquinas de solda, etc.;


• Dispositivos saturados: transformadores, reatores, etc.;
• Equipamentos de eletrônica de potência: conversores, retificadores, etc.

Distorção harmônica total e individual


Matematicamente, um sinal distorcido pode ser
adequadamente representado em termos de sua frequência
fundamental e suas harmônicas. A frequência fundamental
é usualmente assumida como sendo igual à frequência de
suprimento do sistema e seus múltiplos inteiros são chamados
de harmônicas. Comumente, as componentes harmônicas
são medidas na forma de “distorções” e quantificadas como
Distorção Harmônica Total (DHT) ou Total Harmonic Distortion
(THD), que pode ser usada para as formas de onda de tensão e
Figura 2 – Composição harmônica de um sinal distorcido. de corrente, com a seguinte expressão:
Apoio
38

Tabela 1 – Características harmônicas do sinal analisado


Qualidade de energia

Tensão Harmônica Valor rms Tensão Harmônica Valor rms


V1 100 V7 20
V3 10 V11 10
Em que: V5 30 V13 5
Mh e M1 são, respectivamente, os valores eficazes da componente
harmônica e da componente fundamental nominal da grandeza .
Reescrevendo a expressão anterior, em percentual e
português temos que a distorção harmônica total de tensão e de
corrente serão:

Em que:
DHTv% - Distorção harmônica total de tensão em percentagem;
DHTI% - Distorção harmônica total de corrente em percentagem;
h - Número de ordem harmônica;
Vh - Tensão harmônica de ordem ‘h’, [V];
V1 - Tensão fundamental, [V];
Ih - Corrente harmônica de ordem ‘h’, [V];
I1 - Corrente fundamental, [V]. Figura 5 – Forma de onda do sinal analisado.

Para expressar a distorção individual provocada pelas


componentes harmônicos, ou índices de Distorção Harmônica
Individual, definidos pela relação do valor da componente
harmônica pelo valor da componente fundamental, utilizam-se
as seguintes expressões para a tensão e corrente:

Em que: Figura 6 – Espectro harmônico do sinal analisado.


DHIv% - Distorção harmônica individual de tensão em
De uma forma geral, as concessionárias de energia elétrica
percentagem;
fornecem uma tensão cuja forma de onda é muito próxima da senoidal.
DHIi% - Distorção harmônica individual de corrente em
A conexão de uma carga não linear à rede elétrica, por exemplo, um
percentagem;
forno de indução, ocasionará a circulação de uma corrente, que se
O valor eficaz da onda total não é a soma das componentes
apresentará sob uma forma de onda não senoidal e, por conseguinte,
individuais, mas sim a raiz quadrada da soma dos quadrados,
correntes harmônicas serão produzidas.
conforme mostrado a seguir.
Dentre as cargas comumente encontradas e que produzem
tais correntes, destacam-se os fornos de indução, acionamentos de
velocidade variável, controladores estáticos, retificadores em geral, tipos
de iluminação fluorescente e diversas cargas domésticas.
Como exemplo, considere um sinal distorcido com as Para fins práticos, geralmente, os componentes harmônicos
características apresentadas na Tabela 1. Esta forma de onda de ordens elevadas (acima da 50ª ordem, dependendo do sistema)
desse sinal é mostrada na Figura 5 e seu respectivo conteúdo são desprezíveis para análises de sistemas de potência. Apesar
harmônico é mostrado na Figura 6. Para esse sinal tem-se a de poderem causar interferência em dispositivos eletrônicos de
seguinte situação: baixa potência, elas usualmente não representam perigo aos
Apoio
39

sistemas de potência. Efeitos das distorções harmônicas


Quanto aos limites estabelecidos para tensões harmônicas, As distorções harmônicas causam alguns efeitos indesejáveis ao
existem algumas normas internacionais (IEEE 519, IEC, NRS 048, sistema elétrico. Pode-se destacar:
NTCSE) que estabelecem limites tanto para tensão quanto para
a emissão de correntes harmônicas. No Brasil, o ONS, por meio • Variação da resistência com a frequência, acréscimo das perdas,
do submódulo 2.2 (padrões de desempenho da rede básica), aumento da temperatura e diminuição da vida útil em cabos elétricos.
oferece níveis tanto para as ordens ímpares como também para
as componentes pares. Como podem ser visualizados na Tabela Transformadores
2, estes são considerados para dois níveis distintos da tensão • Aumento de perdas joulicas nos enrolamentos;
de operação. Todavia, vale mencionar que este documento • Perdas devido a correntes parasitas nos enrolamentos. Essas perdas
nacional não tem caráter normativo, com estabelecimento de aumentam com o quadrado da frequência da corrente;
punições aos infratores, sendo apenas uma recomendação aos • Perdas no núcleo;
diversos agentes conectados à rede básica. • Possíveis ressonâncias entre os enrolamentos do transformador e as
Tabela 2 – Limites globais da tensão fundamental expressos em porcentagem
V < 69 kV V ≥ 69 kV
Ímpares Pares Ímpares Pares

Ordem Valor(%) Ordem Valor(%) Ordem Valor(%) Ordem Valor(%)


3, 5, 7 5 3, 5, 7 2
2, 4, 6 2 2, 4, 6 1
9, 11, 3 9, 11, 1,5
13 ≥8 1 13 ≥8 0,5
1
15 a 25 15 a 25
≥ 27 ≥ 27
Apoio
40

capacitâncias das linhas ou bancos de capacitores; Estudo de caso


Qualidade de energia

• Existência de componente contínua de corrente levará o transformador Um sistema elétrico industrial apresenta as seguintes características:
a se sobreaquecer e, também, a saturar o seu núcleo rapidamente; uma linha de distribuição de 13,8 kV com 18 km de extensão desde
• Em geral, um transformador que esteja submetido a uma distorção a subestação até o PAC com o consumidor. As cargas do consumidor
de corrente superior a 5% deverá ser operado abaixo da sua potência são distribuídas em nove cabines com transformadores abaixadores
nominal, operação conhecida como derating. para as tensões de 380/220 V e 220/127 V, assim denominadas: Cabine
01 – Acabamento; Cabine 02 – Onduladeiras; Cabine 03 – Máquina
Motores de indução de papel I; Cabine 04 – Desagregação; Cabine 05 – Caldeira; Cabine
• Sobreaquecimento de seus enrolamentos e diminuição de vida útil. 06 –Máquina de Papel II; Cabine 07 – Picador; Cabine 08 – TAR; Cabine
09 – Administração/Portaria.
Máquinas síncronas Uma grande parte das cargas existentes na instalação tem características
• Sobreaquecimento das sapatas polares, causado pela circulação não lineares e gera componentes harmônicos que estão causando
de correntes harmônicas nos enrolamentos amortecedores, torques problemas de queima dos bancos de capacitores instalados para a correção
pulsantes no eixo da máquina e indução de tensões harmônicas no do fator de potência da instalação, bem como gerando níveis de distorção
circuito de campo, que comprometem a qualidade das tensões geradas. harmônica elevada na barra de 13,8 kV. Problemas na operação das cargas
também foram relatados pelos técnicos da empresa em estudo.
Bancos de capacitores A concessionária realizou medições no PAC junto ao seu
• Fadiga (“stress”) do isolamento, sobreaquecimento e redução da vida útil. alimentador (13,8 kV - Scc 21 MVA), com os seguintes resultados em
termos de distorção harmônica total de tensão e distorção harmônica
Mitigação de harmônicos total de corrente, conforme as Figuras 7 e 8 a seguir.
Diante de tantos problemas causados por harmônicos, torna-se As medições mostradas anteriormente demonstram níveis elevados
necessário tomar medidas preventivas ou corretivas, no sentido de de distorção harmônica total de tensão (Figura 7), acima dos limites
reduzir ou eliminar os níveis harmônicos presentes nos barramentos e recomendados pela IEEE-519/1992 e pela Aneel/ONS, apesar de injeção
linhas de um sistema elétrico. harmônica de corrente no 13,8 kV não apresentar valores elevados.
Dentre as diversas técnicas utilizadas destacam-se: Tal fato justificou a realização de estudos e medições de harmônicos
visando à redução de tais níveis de distorção.
• Filtros passivos: são constituídos basicamente de componentes
R, L e C por meio dos quais se obtêm os filtros sintonizados e
amortecidos. Estes filtros são instalados geralmente em paralelo
com o sistema supridor, proporcionando um caminho de baixa
impedância para as correntes harmônicas. Podem ser utilizados para
a melhoria do fator de potência, fornecendo o reativo necessário
ao sistema. Entretanto, existem alguns problemas relacionados à
utilização destes filtros, dentre os quais se destacam o alto custo, a
complexidade de sintonia e a possibilidade de ressonância paralela
com a impedância do sistema elétrico.
• Filtros ativos: um circuito ativo gera e injeta correntes harmônicas
com defasagem oposta àquelas produzidas pela carga não linear. Assim,
há um cancelamento das ordens harmônicas que se deseja eliminar. Figura 7 – Distorção harmônica total de tensão – 13,8 kV.

Embora bastante eficiente, este dispositivo apresenta custos elevados


(superiores aos filtros passivos), o que tem limitado sua utilização nos
sistemas elétricos.
• Compensadores eletromagnéticos.
• Moduladores CC.

Técnicas tais como eliminação por injeção de um componente de


corrente alternada ou pulsante, produzidas por um retificador e aumento
do número de pulsos dos conversores estáticos também podem ser
utilizados. Dentre estas, a última tem sido mais usada e se enquadra
dentro do contexto de equipamentos designados por compensadores
eletromagnéticos de harmônicos.
Figura 8 – Distorção harmônica total de corrente – 13,8 kV.
Apoio
42
Qualidade de energia

Figura 9 – Diagrama unifiliar para os estudos de fluxo de carga e de distorção harmônica.

OLESKOVICZ, M. Qualidade da Energia Elétrica LSEE – Laboratório de Sistemas de


Energia Elétrica, USP – Universidade de São Paulo, 2007.
CANESIN, C. A. Qualidade da Energia Elétrica nos Sistemas Elétricos. Unesp – Ilha
Solteira.
MARTINS, J.; COUTO, C., AFONSO, J. L. Qualidade da Energia Elétrica. CLME
2003. 3º Congresso Luso-Moçambicano de Engenharia, Maputo, Moçambique,
2003.
ROBERT, A.; JAEGER, E.; HOEFFELMAN, J. Power Quality & EMC, CIRED – 18th
International Conference on Electricity Distribution, Turin, 2005.
VELASCO, J. M. Computer Analysis of Voltage Variations in Power Systems:
Application on Over voltages and Voltage Sags. Universitat Politècnica DAE
Catalunya, Barcelona, Espanha.
ORTMANN, P. Understanding Power Quality. University of Idaho.

* Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com


mestrado e doutorado em Qualidade de Energia Elétrica
pela Universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
é consultor tecnológico em energia no Instituto de
Figura 10 – Espectro harmônico dos estudos de fluxo de carga e Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Atuação voltada
distorção harmônica.
para áreas de qualidade de energia elétrica, geração
distribuída, eficiência energética e distribuição.
O estudo foi realizado com base na configuração do sistema
Mateus Duarte Teixeira é engenheiro industrial
elétrico da indústria mostrada na Figura 9, cujo espectro harmônico
e eletricista, mestre em engenharia elétrica e
é mostrado na Figura 10.
doutorando na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Atualmente, é pesquisador do Instituto de Tecnologia
Referências
DUGAN, R. C.; MCGRANAGHAN, M. F.; SANTOSO, S.; BEATY, H. W. Electrical para o Desenvolvimento (Lactec), professor efetivo
Power Systems Quality. McGraw-Hill, Second Edition. do curso de engenharia elétrica da UFPR e secretário
BOLLEN, M. H. J. Understanding Power Quality Problems: Voltage Sags em
Interruptions, Wiley-IEEE Press, October 1999. executivo da Sociedade Brasileira de Qualidade da
ARRILAGA, J.; WATSON, N. R. Power System Harmonics. Wiley-IEEE Press, Energia Elétrica (SBQEE).
November 2004, Second Edition.
OLIVEIRA, J. C.; DELAIBA, A. C.; CHAVES, M. L.; SAMESIMA, M. I.; RESENDE, Continua na próxima edição
J. W.; RODRIGUES, K. D. Qualidade da Energia Elétrica – Apostilas. NQREE – Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Núcleo de Qualidade e Racionalização da Energia, UFU – Universidade Federal Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
de Uberlândia, 2007. redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
42
Qualidade de energia

Capítulo III

Desequilíbrios de tensão
Por Gilson Paulilo*

O desequilíbrio em um sistema elétrico trifásico analisado com base no fator de desequilíbrio,


é uma condição na qual as três fases apresentam que exprime a relação entre as componentes de
diferentes valores de tensão em módulo ou defasagem sequência negativa e sequência positiva da tensão
angular entre fases diferentes de 120º elétricos ou, expressa em termos percentuais da componente de
ainda, as duas condições simultaneamente. sequência positiva.
O desequilíbrio de tensão também é muitas vezes
definido como o desvio máximo dos valores médios Conceitos sobre desequilíbrios
das tensões ou das correntes trifásicas, dividido pela O conceito de desequilíbrio de tensão em um
média dos mesmos valores, expresso em porcentagem. sistema elétrico é uma condição na qual as três fases
O desequilíbrio pode ser definido usando-se a apresentam diferentes valores de tensão em módulo
teoria das componentes simétricas. A razão entre os ou defasagem angular entre fases diferente de 120°
componentes de sequência negativa ou zero, com a elétricos ou, ainda, as duas condições.
componente de sequência positiva, pode ser usado Em um sistema trifásico ideal, livre de desequilíbrios,
para especificar a porcentagem do desequilíbrio. considerando a fase “a” na referência e sequência de
As origens destes desequilíbrios geralmente são fases positiva, tem-se em pu:
nos sistemas de distribuição, os quais possuem cargas
monofásicas distribuídas inadequadamente, fazendo
surgir no circuito tensões de sequência negativa. Este
problema se agrava quando consumidores alimentados
de forma trifásica possuem uma má distribuição de
carga em seus circuitos internos, impondo correntes Na realidade, porém, as tensões não são perfeitamente
desequilibradas no circuito da concessionária. Tensões equilibradas. Isso se deve a desequilíbrios que aparecem
desequilibradas podem também ser resultados da internamente às instalações das concessionárias e dos
queima de fusíveis em uma fase de um banco de consumidores, estando diretamente relacionado com as
capacitores trifásicos. cargas instaladas.
Segundo os Procedimentos de Distribuição No caso específico de as amplitudes das tensões
(Prodist), da Aneel, o desequilíbrio de tensão é apresentarem valores em módulo diferentes de 1,0 pu,
43

porém, mantendo-se o defasamento angular de 120° entre fases,


esta situação é definida como um problema de queda de tensão.
Verifica-se, dessa maneira, que este problema, extensivamente
estudado ao longo dos anos e que recebeu um sem-número de
proposições para a mitigação dos seus efeitos, constitui-se em um
caso particular no universo dos desequilíbrios de tensão.
Considerando-se cargas trifásicas e monofásicas em um
sistema elétrico, ele é equilibrado quando circulam correntes
equilibradas. No caso de cargas monofásicas, ele é considerado
equilibrado quando estas forem cuidadosamente distribuídas ao
longo das fases, de forma que, no ponto comum, a corrente seja,
idealmente, igual a zero. Por este motivo é importante se fazer,
com cautela, a distribuição de cargas monofásicas nas fases do
sistema. Entretanto, no sistema elétrico, não existem conectadas
somente cargas monofásicas totalmente dissociadas das cargas
trifásicas ou vice-versa. O que se tem é a associação dessas cargas
no sistema, tornando-se impossível prever quais cargas e em que
instante estarão em operação.
Isso demonstra o grau de complexidade que o sistema pode
apresentar e a dificuldade no trabalho de balanceamento destas ao
longo das três fases do sistema.
Este fato fez com que, durante muito tempo, toda a atenção
fosse concentrada em solucionar os problemas de quedas de tensão,
convivendo-se, então, conscientemente, com os desequilíbrios do
sistema. Isso pode ser comprovado pelo fato de os próprios engenheiros
de planejamento das concessionárias trabalharem com um limite
de até 2% de desequilíbrio de tensão nos níveis de transmissão e
de subtransmissão (tensões iguais ou superiores a 13,8 kV) em seus
estudos. Soma-se a isso o fato de os equipamentos trifásicos não
possuírem, na realidade, impedâncias iguais em cada fase. Estes,
por consequência, absorvem correntes desequilibradas que, por sua
vez, provocam o aparecimento de tensões desequilibradas. Dessa
forma, no ponto de acoplamento comum entre a concessionária e
os consumidores, já se considera certo grau de desequilíbrio, com
origem nos equipamentos instalados – geradores, transformadores
e linhas de transmissão – respectivamente, nos setores de geração,
transmissão e distribuição.
De acordo com a literatura clássica e com vários trabalhos
apresentados ao longo dos anos, o grau ou fator de desequilíbrio de
tensão de um sistema elétrico pode ser definido de diversas maneiras.
Dentre elas, destacam-se:

• O grau de desequilíbrio é definido pela relação entre os módulos


da tensão de sequência negativa e da tensão de sequência
positiva. Esta definição está baseada no fato de que um conjunto
trifásico de tensões equilibradas possui apenas componentes
de sequência positiva. O surgimento, por alguma razão, de
componentes de sequência zero, provoca apenas a assimetria
das tensões de fase. As tensões de linha, cujas componentes de
sequência zero são sempre nulas, permanecem equilibradas.
Entretanto, a presença de componentes de sequência negativa
Apoio
44

também introduz uma assimetria nas tensões de linha. Este fator, e recomendações de várias instituições para calcular o
Qualidade de energia

em porcentagem, é dado por: desequilíbrio de tensão.


Tabela 1 – Principais recomendações sobre desequilíbrios

Recomendações/Normas Expressões

IEC
Em que:
FD% - Fator de desequilíbrio de tensão em porcentagem;
V- - Módulo da tensão de sequência negativa; ONS / PRODIST
,em que
V + - Módulo da tensão de sequência positiva.

• A operação de motores de indução trifásica com tensões CENELEC

desequilibradas causa sérios danos ao mesmo, como será


apresentado no item seguinte. A fim de quantificar este efeito,
,em que
a norma NEMA – MG1 – 14.34 define o fator desequilíbrio de NRS 048
tensão como a relação entre o máximo desvio da tensão média
e a tensão média, tomando-se como referência as tensões de
linha. Este fator, em percentagem, é dado por:
ANSI

IEEE

Em que:
Origens dos desequilíbrios
ΔU - máximo desvio da tensão média [V];
Os desequilíbrios de tensão afetam fortemente o nível de
UAV - tensão média [V].
distribuição de energia elétrica se comparado com os demais
níveis. Por este motivo, as fontes destes estão diretamente
• Alternativamente, pode-se usar a expressão conhecida como
associadas com as cargas elétricas e com os arranjos utilizados
CIGRÉ-C04, que é dada por:
para sua alimentação neste nível de tensão.
De uma maneira geral, salvas as características exclusivas
de alguns sistemas isolados, como no caso de sistemas
ferroviários eletrificados, as fontes dos desequilíbrios de tensão
Em que: são as seguintes:

• A combinação de cargas monofásicas e trifásicas desequilibradas,


principalmente cargas especiais como fornos a arco e máquinas
de solda, no mesmo sistema de distribuição, sendo as cargas
monofásicas desigualmente distribuídas ao longo das três fases
• Por fim, o IEEE recomenda que o desequilíbrio trifásico possa
do sistema;
ser obtido pela seguinte relação:
• Em sistemas de transmissão de energia elétrica, devido
às características das impedâncias das linhas, aparecem
desequilíbrios de tensão. Uma das maneiras de se minimizar
os seus efeitos é fazer a transposição das fases nas torres de
As definições anteriores indicam maneiras diferentes de transmissão de energia elétrica. Em sistemas de distribuição,
avaliação dos desequilíbrios de tensão no sistema elétrico porém, isso é uma prática não usual, o que contribui para que o
apresentadas na normalização internacional. Elas constituem-se sistema permaneça desequilibrado.
nas definições mais utilizadas. Todavia, novos métodos e
definições de como se avaliar desequilíbrios de tensão, bem Estas causas são as mais frequentes. Contudo, ainda são
como de outras grandezas elétricas – como potência ativa, relatados transformadores conectados em delta aberto, abertura
potência reativa, potência aparente, potência de distorção, de fusíveis em bancos de capacitores, dentre outras causas.
dentre outras – considerando-se condições não senoidais dos Em sistemas específicos, como sistemas ferroviários, a
sinais de tensão e corrente, estão sendo propostos atualmente. influência das cargas monofásicas na rede de alimentação se torna
A Tabela 6.1 apresenta um resumo das principais normas mais evidente. Neste sistema, a carga característica, locomotivas
Apoio
46

elétricas, são cargas puramente monofásicas controladas girante é resultado da composição dos campos de sequência positiva
Qualidade de energia

atualmente por semicondutores de potência. Na rede de e negativa: a de sequência positiva executando as mesmas funções
alimentação são utilizadas topologias especiais de transformadores caso o campo fosse normal e o de sequência negativa opondo-se ao
como, por exemplo, as conexões Scott e conexões Woodbridge. anterior e produzindo o desequilíbrio magnético do motor. Outro efeito
Essas conexões permitem minimizar, em parte, o desequilíbrio importante é o fato das impedâncias de sequência negativa possuir
gerado pelas cargas de tração devido à brusca variação de carga valores muito pequenos, resultando em um desequilíbrio de corrente
de acordo com os períodos de aceleração e frenagem. bastante elevado. Consequentemente, a elevação de temperatura do
motor operando com uma determinada carga e sob determinado
Consequências dos desequilíbrios desequilíbrio será maior que o mesmo operando sob as mesmas
Tensões desequilibradas provocam consequências condições e com tensões equilibradas. Isso causa o sobreaquecimento
danosas no funcionamento de alguns equipamentos elétricos, do motor e a diminuição da sua vida útil. Um exemplo destes efeitos
comprometendo, na maioria dos casos, o seu desempenho está apresentado na Tabela 2, para um motor de 5 Hp.
e a sua vida útil. Entretanto, por mais paradoxal que possa Tabela 2 – Efeitos dos desequilíbrios de tensão em motores elétricos
parecer, as cargas elétricas se constituem na principal fonte de – Motor de indução trifásico: 5 Hp, 1725 rpm, 230 V, 60 Hz
desequilíbrio, como visto anteriormente. A fim de esclarecer esta
Característica Desempenho
relação de causa/efeito, o comportamento de cargas lineares, do
tipo motores de indução trifásicos, e de cargas não lineares, do Tensão Média [V] 230 230 230
tipo conversores estáticos CA-CC, operando sob esta condição é Desequilíbrio de Tensão [%] 0,3 2,3 2,3
apresentado a seguir. Desequilíbrio de Corrente [%] 0,4 40 17,7

Elevação Temperatura [ºC] 0 40 30


Cargas lineares – motores de indução
As características de desempenho de um motor de indução A importância desta tabela está nos seguintes fatos:
trifásico são um conjunto de grandezas eletromecânicas e térmicas
que definem o comportamento operacional deste sob determinadas • Aproximadamente 60% da energia produzida é consumida na
condições. Desta forma, em função da potência exigida pela alimentação de motores elétricos nos sistemas industriais;
carga em um determinado instante e das condições da rede de • Um pequeno desequilíbrio de tensão – da ordem de 2,3% – é
alimentação, o motor apresenta valores definidos de rendimento, responsável por um desequilíbrio de corrente – da ordem de 17%
fator de potência, corrente absorvida, velocidade, conjugado – juntamente com uma elevação de temperatura de 30 °C;
(torque) desenvolvido, perdas e elevação de temperatura. • Sabe-se que a cada 10 °C de elevação de temperatura, a vida
Dessa maneira, quando as tensões de alimentação útil da isolação de um motor elétrico diminui pela metade.
apresentam desequilíbrios, seja em módulo ou em ângulo,
ocorrem alterações nas características térmicas, elétricas e
mecânicas dos motores de indução, afetando o seu desempenho
Desequilíbrio de tensão (%)
e comprometendo a sua vida útil.
100
Vários estudos foram efetuados desde a década de 1950 no 80

sentido de explicar os efeitos que ocorrem internamente aos


60
motores de indução. Em 1959, Williams provou que o motor
apresenta redução de rendimento. Em 1959, Gafford avaliou
40
a sobrelevação da temperatura e a diminuição da vida útil do
motor. Em 1963, Berndt apresentou um método de avaliação do 20
motor e em 1985 Cummings estudou métodos de proteção do
motor contra desequilíbrios de tensão. 0
0 2 3,5 5
Quando as tensões de linha aplicadas aos motores de indução
Desequilíbrio de corrente (%)
apresentam variações tanto no módulo quanto no ângulo de fase, a Elevação de temperatura (0C)
primeira consequência é a deformação do campo magnético girante, Figura 1– Exemplo gráfico do uso das componentes simétricas.
originando uma operação semelhante àquela existente quando o
entreferro não é uniforme. Neste caso, é inevitável a produção de Estes dados demonstram o impacto econômico decorrente dos
esforços mecânicos axiais e radiais sobre o eixo, com o aparecimento de efeitos dos desequilíbrios de tensão nos motores de indução, uma
vibrações, ruídos, batimento, desgaste e o aquecimento excessivo dos vez que se agregam às deficiências impostas na operação os custos
mancais em consequência de correntes parasitas que podem aparecer de manutenção preventiva e corretiva. Um estudo mais recente,
no sistema eixo-mancais-terra. A deformação do campo magnético conduzido por Lee em 1998 investigou os efeitos de diferentes
Apoio
47

desequilíbrios de tensão com o mesmo VUF no desempenho • Corrente de rotor bloqueado: o desequilíbrio desta corrente será da
de um motor de indução e a influência destes no sistema de mesma ordem que o desequilíbrio das tensões;
potência. A partir de oito diferentes situações, monofásicas, • Ruído e vibração: como já citado anteriormente, estes efeitos
bifásicas e trifásicas, considerando elevação e diminuição das aparecerão, sendo mais severos em motores de dois polos.
tensões, resultando em desequilíbrios da ordem de 4% e 6%,
foram investigados o rendimento e o fator de potência. Além das Cargas não lineares – sistemas multiconversores
conclusões já apresentadas, o estudo mostrou: CA – CC
A utilização de sistemas multiconversores CA-CC foi largamente
• A importância de se considerar o valor da tensão de sequência difundida nas aplicações industriais nos últimos 20 anos. Isso
positiva que, quando muito elevada, provoca um baixo fator de ocorreu devido ao estágio de desenvolvimento adquirido pela
potência e alto rendimento; eletrônica de potência e pela eletrônica de controle que permitiram a
• As piores situações em relação à sobrelevação de temperatura ocorrem disponibilidade de componentes cada vez mais potentes associados
para desequilíbrios trifásicos considerando diminuição das tensões; a esquemas de controle cada vez mais eficazes.
• Uma vez que os desequilíbrios causam perdas excessivas e Podem-se citar como exemplos práticos de dispositivos
aumento no consumo, estes também influenciam a estabilidade desenvolvidos a partir desta tecnologia os sistemas de
do sistema de potência, sendo necessária a sua incorporação a acionamento para motores de corrente contínua e para motores
estudos desta natureza. de corrente alternada. Apesar de serem sistemas que competem
entre si em nível de aplicações, ainda hoje é possível se
De uma maneira geral, os efeitos em outras características encontrar nichos específicos de mercado em que um sistema
elétricas podem ser resumidos da seguinte maneira: se sobrepõe ao outro. Vale lembrar, porém, que a tendência do
mercado, em um futuro próximo, é a utilização em larga escala
• Torque: os torques de rotor bloqueado e de frenagem diminuem. de acionamentos para motores de corrente alternada.
Em condições extremamente severas, o torque pode não ser o Os conversores estáticos de potência são dispositivos que
adequado para a aplicação; possuem, por natureza, uma característica não linear gerando
• Velocidade nominal: a velocidade nominal diminui ligeiramente; harmônicos no sistema de fornecimento de energia. Como resultado
Apoio
48

direto, estes sistemas apresentam normalmente fatores de potência 4) Limite global de desequilíbrio de tensão e limite de desequilíbrio
Qualidade de energia

ruins e que variam com a carga. Estes sistemas, da mesma forma que de tensão por consumidor na conexão a redes de transmissão e
qualquer outro, foram projetados para trabalharem sob condições subtransmissão.
equilibradas de fornecimento na frequência fundamental. Na prática,
porém, os sistemas de alimentação são desequilibrados dentro de Apesar dos diferentes valores encontrados na tabela anterior,
certa faixa, tornando complexo o problema de geração harmônica, adota-se, de maneira geral, o limite de 2% para desequilíbrios de
degradando as características e a qualidade da corrente de entrada tensão, sem qualquer tipo de prejuízo à operação de cargas lineares
do conversor e interferindo significativamente na tensão de saída. e não lineares.
Vários trabalhos estão disponíveis na literatura investigando estes
problemas, abordando a modelagem do conversor através de diferentes Referências
métodos. Contudo, dois métodos podem ser, basicamente, distinguidos: DUGAN, R. C.; McGRANAGHAN, M. F.; SANTOSO, S.; BEATY,
o método no domínio do tempo e o método no domínio da frequência. H. W. Electrical power systems quality. New York: McGraw–Hill,
A análise temporal tem a vantagem de prever o comportamento do 2ª Edição.
conversor em regimes transitórios. Um sistema de equações diferenciais BOLLEN, M. H. J. Understanding power quality problems: voltage
descreve o funcionamento do conversor e sua solução é encontrada por sags in interruptions. Wiley-IEEE Press, Oct. 1999.
meio de técnicas de análise numérica. Os harmônicos são avaliados pela ARRILAGA, J.; WATSON, N. R. Power system harmonics. New York:
Transformada Rápida de Fourier (FFT). Como inconveniente, tem-se o Wiley-Ieee Press, November 2004, Second Edition.
longo tempo de simulação para se atingir o regime permanente, ou seja, PAULILLO, G. Proposta de um mitigador de harmônicos não
característicos através da compensação de desequilíbrios de tensão.
despende-se um grande esforço computacional. Alguns dos simuladores
Tese de Doutorado (Universidade Federal de Itajubá), Itajubá-MG,
que utilizam este método: EMTP, EMTPDC, ATP, SABER, etc. Por sua
2001.
vez, o método frequencial consiste em descrever o conversor por um
PAULILLO, G. Um compensador de desequilíbrios de tensão.
sistema de equações em regime permanente e sua resolução é obtida
Dissertação de Mestrado (Universidade Federal de Itajubá),
por um método interativo. Em alguns casos, são relatados problemas de
Itajubá-MG, 1996.
convergência na aplicação deste método.
PAULILLO, G.; ABREU, J. P. G. Development of a voltage imbalance
electromagnetic compensator. Computational Methods in Circuits
Limites dos desequilíbrios and Systems Applications, WSEAS Press, 2003, p. 253-257.
Antes de serem apresentadas as soluções para desequilíbrios de
ABREU, J. P. G.; ARANGO, H.; PAULILLO, G. Proposal for a line
tensão, serão apresentados os limites permissíveis dos desequilíbrios drop and unbalance compensator. Proceedings of the 7th IEEE PES
de tensão em sistemas elétricos definidos por diversas normas, International Conference on Harmonics and Quality of Power –
tanto em nível nacional como em nível internacional. Estes valores ICHQP, Las Vegas, p. 276-279, Oct. 1996.
constituem-se como indicadores da necessidade ou não de se adotar ABREU, J. P. G.; ARANGO, H.; PAULILLO, G. A novel electromagnetic
medidas de mitigação, de modo a se respeitar a normalização compensator. Proceedings of the 14t h International Conference on
vigente. Estes limites estão apresentados na Tabela 3 a seguir. Electricity Distribution – CIRED’97, Birmingham, 1997;
Tabela 3 – Limites permissíveis para desequilíbrios de tensão ABREU, J. P. G.; GUIMARÃES, C. A. M.; PAULILLO, G. Reducing
harmonics in multiconverter systems under unbalanced voltage
Norma L imite
supply – a novel transformer topology. Proceedings of the IEEE PES
2% Summer Meeting 2000, Seattle, Jul. 2000.
NEMA MG1 14-34 (1)
ABREU, J. P. G.; ARANGO, H.; PAULILLO, G. Compensador de
ANSI C.84.1-1989 (2) 3%
Desequilíbrios e de Quedas de Tensão. Anais do XI CBA – Congresso
IEEE Orange Book – 446/1995 (3) 2,5%
Brasileiro de Automática, USP – São Paulo, p. 1.661-1.665, 1996.
GTCP/CTST/GCPS – ELETROBRÁS (4) 1,5% e 2%

ONS e ANEEL 2% * Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com


mestrado e doutorado em Qualidade de Energia Elétrica
pela Universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
Observações: é consultor tecnológico em energia no Instituto de
1) Reconhecendo o efeito prejudicial dos desequilíbrios sobre Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Atuação voltada
o desempenho do motor, a norma Nema recomenda ainda para áreas de qualidade de energia elétrica, geração

fatores a serem aplicados ao motor operando sob condições de distribuída, eficiência energética e distribuição.

desequilíbrio. Além disso, estuda-se a possibilidade da redução Continua na próxima edição


deste limite para 1%; Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
2) Máximo valor medido sem carga no sistema; Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
redacao@atitudeeditorial.com.br
3) Desequilíbrio trifásico permissível;
Apoio
38
Qualidade de energia

Capítulo IV

Variações de tensão de
longa duração
Por Gilson Paulilo e Mateus Duarte Teixeira*

Dos problemas relacionados às variações na dos transformadores incorretamente conectados


tensão, citamos os efeitos de longa duração por também podem resultar em sobretensões no
um período superior a um minuto, sendo, portanto, sistema.
consideradas como distúrbios de regime permanente Variações de tensão de longa duração incluem
que podem ser caracterizados como desvios que as variações normais de tensão do dia a dia, como
ocorrem no valor eficaz da tensão, na frequência as variações causadas pela variação da carga e
do sistema. Estas variações podem estar associadas pelos equipamentos de regulação (mudanças de
a sobre ou subtensão e a faltas sustentadas. No caso taps, reguladores de tensão, banco de capacitores,
de sobre ou subtensão, geralmente, não resultam de etc.). Estas variações são tipicamente caracterizadas
falhas do sistema, mas são causadas por variações pela plotagem dos perfis de tensões em relação a
na carga e/ou operações de chaveamento sobre longos períodos de tempo, como 24 horas (veja a
ele. Tais variações são tipicamente apresentadas e Figura 1).
analisadas como gráficos do sinal de tensão (RMS – Geralmente, são instalados nas indústrias
root meansquare) versus o tempo. bancos de capacitores, normalmente fixos, para
As variações de tensão de longa duração são correção do fator de potência ou mesmo para
causadas por variações de carga ou por perda de elevação da tensão nos circuitos internos da
interligações no sistema elétrico e são classificadas instalação. Nos horários de ponta, quando há
em sobretensão, subtensão e interrupção sustentada. grandes solicitações de carga, o reativo fornecido
A seguir será analisado cada um destes eventos. por estes bancos é desejável. Entretanto, no horário
fora de ponta, principalmente no período noturno,
Sobretensões tem-se um excesso de reativo injetado no sistema,
Podemos designar uma sobretensão como o qual se manifesta por uma elevação da tensão.
sendo um aumento no valor eficaz da tensão CA, Com relação às consequências das sobretensões
maior do que 110% (valores típicos entre 1,1 pu e de longa duração, estas podem resultar em falha dos
1,2 pu) na frequência do sistema, por uma duração equipamentos. Os dispositivos eletrônicos podem
maior do que 1 minuto. Sobretensões usualmente sofrer danos durante condições de sobretensões,
resultam do desligamento de grandes cargas ou embora transformadores, cabos, disjuntores,
da energização de um banco de capacitores. Taps TCs, TPs e máquinas rotativas, geralmente, não
Apoio
39

automáticos, tanto em sistemas das concessionárias como


em sistemas industriais, possibilitando um maior controle do
nível da tensão e a instalação de compensadores estáticos de
reativos.

Subtensões
Já a subtensão apresenta características opostas, sendo que
agora um decréscimo no valor eficaz da tensão AC para menos de
90% na frequência do sistema é caracterizado também com uma
duração superior a 1 min.
As subtensões são decorrentes, principalmente, do
carregamento excessivo de circuitos alimentadores, os quais são
submetidos a determinados níveis de corrente que, interagindo com
a impedância da rede, dão origem a quedas de tensão acentuadas.
Figura 1 – Exemplo ilustrando o perfil da tensão para uma variação de Outros fatores que contribuem para as subtensões são: a conexão
longa duração.
de cargas à rede elétrica, o desligamento de bancos de capacitores
apresentem falhas imediatas. Entretanto, tais equipamentos, e, consequentemente, o excesso de reativo transportado pelos
quando submetidos a repetidas sobretensões, poderão ter a circuitos de distribuição, o que limita a capacidade do sistema no
sua vida útil reduzida. Relés de proteção também poderão fornecimento de potência ativa e, ao mesmo tempo, eleva a queda
apresentar falhas de operação durante as sobretensões. Uma de tensão.
observação importante diz respeito à potência reativa fornecida A queda de tensão por fase é função da corrente de carga, do
pelos bancos de capacitores, que aumentará com o quadrado fator de potência e dos parâmetros R e X da rede. Dessa forma,
da tensão, durante uma condição de sobretensão. pode-se concluir que aqueles consumidores mais distantes da
Dentre algumas opções para a solução de tais problemas, subestação estarão submetidos a menores níveis de tensão. Além
destaca-se a troca de bancos de capacitores fixos por bancos disso, quanto menor for o fator de potência, maiores serão as
Apoio
40

perdas reativas na distribuição, aumentando a queda de tensão no • Transformadores de tap variável: Existem transformadores de
Qualidade de energia

sistema. tap variável com acionamento mecânico ou eletrônico. A maioria


Para evidenciar a influência do fator de potência na tensão, a destes é do tipo autotransformador, embora existam numerosas
Figura 2 ilustra o perfil de tensão ao longo de um alimentador. aplicações de transformadores de dois e três enrolamentos com
Dentre os problemas causados por subtensões de longa comutadores de tap. Os do tipo mecânico são para cargas que
duração, destacam-se: variam lentamente, enquanto os eletrônicos podem responder
rapidamente às mudanças de tensão;
• Redução da potência reativa fornecida por bancos de capacitores • Dispositivos de isolação com reguladores de tensão
ao sistema; independentes: dispositivos de isolação incluem sistemas UPS
• Possível interrupção da operação de equipamentos eletrônicos, (Uninterruptible Power Supply), transformadores ferroressonantes
tais como computadores e controladores eletrônicos; (tensão constante), etc. Estes são equipamentos que isolam a carga
• Redução de índice de iluminamento para os circuitos de da fonte de suprimento por algum método de conversão de energia.
iluminação incandescente; Assim, a saída do dispositivo pode ser separadamente regulada e
• Elevação do tempo de partida das máquinas de indução, o que manter constante a tensão, desprezando as variações provenientes
contribui para a elevação de temperatura dos enrolamentos; e da fonte principal;
• Aumento nos valores das correntes do estator de um motor de • Dispositivos de compensação de impedância: Capacitores
indução quando alimentado por uma tensão inferior à nominal. shunt ajudam a manter a tensão pela redução da corrente
Desta forma, tem-se um sobreaquecimento da máquina, o que de linha ou pela compensação de circuitos indutivos. Estes
certamente reduzirá a sua expectativa de vida útil. capacitores podem ser fixos ou chaveados dependendo do
tipo e da necessidade do sistema. Capacitores em série são
relativamente raros, mas são muito úteis em algumas cargas
impulsivas como britadeiras, etc. Estes capacitores compensam
grande parte da indutância dos sistemas. Se o sistema é
altamente indutivo, a impedância é significativamente
reduzida. Se o sistema não é altamente indutivo, mas tem uma
alta proporção de resistência, os capacitores série não serão
muito efetivos. Compensadores estáticos de reativos podem
ser aplicados tanto em sistemas das concessionárias como
industriais. Eles ajudam a regular a tensão pela rápida resposta
ao suprir ou consumir energia reativa. Existem três tipos
principais de compensadores estáticos de reativos: o reator
controlado a tiristor, o capacitor chaveado a tiristor e o reator
Figura 2 – Perfil de tensão ao longo de um alimentador em função do a núcleo saturado. Estes equipamentos são muito usados em
fator de potência
cargas geradoras de flutuações (flicker), tais como fornos a arco
Como solucionar problemas de VTLDS e em outras cargas que variam randomicamente.
Para minimizar estes problemas, as medidas corretivas
geralmente envolvem uma compensação da impedância Z ou a
compensação da queda de tensão causada pela impedância.
As opções para o melhoramento da regulação de tensão são:

• Instalar reguladores de tensão para elevar o nível da tensão;


• Instalar capacitores shunt para reduzir a corrente do circuito;
• Instalar capacitores série para cancelar a queda de tensão indutiva;
• Instalar cabos com bitolas maiores para reduzir a impedância Z;
• Mudar o transformador de serviço para um de capacidade maior,
reduzindo, assim, a impedância Z; e
• Instalar compensadores estáticos de reativos, os quais têm os mesmos
objetivos que os capacitores, para mudanças bruscas de cargas.

Existe uma variedade de dispositivos usados para regulação de


tensão. Tais dispositivos são tipicamente divididos em três classes: Figura 3 – Reator a núcleo saturado.
Apoio
42

Interrupções sustentadas vários minutos a horas (em média 2 horas), dependendo do local da
Qualidade de energia

Quando o fornecimento de tensão permanece em zero por um falta, do tipo de defeito na rede e também da operacionalidade da
período de tempo que excede um minuto, a variação de tensão de equipe de manutenção. Em redes aéreas, a localização do defeito
longa duração é considerada como uma interrupção sustentada. não demora muito tempo, ao passo que em redes subterrâneas
As interrupções maiores do que um minuto são geralmente necessita-se de um tempo considerável, o que contribui para o
permanentes e requerem intervenção humana para reparar e comprometimento da qualidade do fornecimento. Entretanto, a
retornar o sistema à operação normal no fornecimento de energia. probabilidade de ocorrer uma falta em redes subterrâneas é muito
As interrupções sustentadas podem ocorrer de forma inesperada menor do que em redes aéreas.
ou de forma planejada. A maioria delas ocorre inesperadamente e as
*Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com
principais causas são falhas nos disjuntores, queima de fusíveis, falha de mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica
componentes de circuito alimentador, etc. Já as interrupções planejadas pela Universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
são feitas geralmente para executar manutenção na rede, ou seja, serviço é consultor tecnológico em energia no Instituto de
como troca de cabos e postes, mudança do tap do transformador, Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação
é voltada para áreas de qualidade de energia
alteração dos ajustes de equipamentos de proteção, etc.
elétrica, geração distribuída, eficiência energética e
Seja a interrupção de natureza inesperada e/ou sustentada, o distribuição.
sistema elétrico deve ser projetado e operado de forma a garantir que: Mateus Duarte Teixeira é engenheiro eletricista e
mestre em sistemas de potência – qualidade de energia
elétrica. Atua há mais de dez anos em projetos de
• O número de interrupções seja mínimo possível;
tecnologia aplicada ao setor elétrico nas áreas de
• Uma interrupção dure o mínimo possível; e qualidade da energia, geração distribuída, eficiência
• O número de consumidores afetados seja pequeno. energética e proteção de sistemas elétricos para
empresas do setor.
Ao ocorrer uma falta de caráter permanente, o dispositivo de Continua na próxima edição
proteção do alimentador principal executa três ou quatro operações Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
na tentativa de se restabelecer o sistema, até que o bloqueio
redacao@atitudeeditorial.com.br
definitivo seja efetuado. A duração desta interrupção pode atingir de
Apoio
36
Qualidade de energia

Capítulo V

Variações de tensão de curta


duração - Parte I
Por Gilson Paulillo, Mateus Teixeira, Ivandro Bacca e José Maria de Carvalho Filho*

Entre os fenômenos que contribuem para a elétrica, definem-se as Variações de Tensão de


perda de qualidade de um determinado suprimento Curta Duração (VTCD), englobando os fenômenos
elétrico, aqueles associados às variações dos de elevação de tensão, afundamento e interrupção.
valores RMS das tensões ocupam posição de De acordo com esses procedimentos,
destaque. Neste sentido, as Variações de Tensão de entende-se por Variação de Tensão de Curta
Curta Duração (VTCDs) têm mobilizado esforços Duração: “um desvio significativo da amplitude da
de pesquisadores de todo o mundo na busca de tensão por um curto intervalo de tempo.”
soluções tanto para suas causas quanto para os A amplitude dos VTCDs é definida pelo valor
efeitos sobre o sistema. extremo do valor eficaz (média quadrática) da
Estas variações podem ser designadas como tensão em relação à tensão de referência do sistema
instantâneas (0,5 a 30 ciclos), momentâneas (30 no ponto considerado, enquanto perdurar o evento.
ciclos a 3 s) ou temporárias (3 s a 1 min). Variações Por sua vez, a duração dos VTCDs é definida
de tensão de curta duração são causadas por pelo intervalo de tempo decorrido entre o instante
condições de faltas, energização de grandes em que o valor eficaz da tensão, em relação
cargas que requerem altas correntes de partida, à tensão de referência do sistema no ponto
ou a perda intermitente de conexões nos cabos considerado, ultrapassa determinado limite e o
do sistema. Dependendo da localização da falta instante em que a mesma variável volta a cruzar
e das condições do sistema, a falta pode causar esse limite.
um decréscimo da tensão (afundamento) ou um As variações de curta duração são classificadas
aumento da tensão (elevação), ou ainda, a completa em elevação de tensão, afundamento de tensão,
perda da tensão (interrupção). A condição de falta e interrupção de curta duração. A seguir será
pode estar próxima ou longe do ponto de interesse. detalhado cada um destes eventos.
Em ambos os casos, o impacto da tensão, durante a
condição de falta é uma variação de curta duração Elevação momentânea de tensão
até que os dispositivos de proteção operem para Elevação momentânea de tensão, também
limpar a falta. conhecida como Voltage Swell, são distúrbios
No Brasil, nos Procedimentos de Rede, que podem ser caracterizados por um aumento
elaborado pelo Operador Nacional do Sistema da tensão eficaz do sistema (aumento este entre
Elétrico (ONS), item Padrões de Desempenho da 10% e 80% da tensão, na frequência da rede,
Rede Básica (Prodist), Submódulo 2.2, dentre os com duração de meio ciclo a 1 min), ocorrendo
indicadores de avaliação da qualidade de energia frequentemente nas diferentes fases de um circuito
Apoio
37

trifásico, quando da ocorrência de um curto-circuito. O termo de grandes cargas ou energização de grandes bancos de
sobretensão momentânea é empregado por vários autores capacitores, o tempo de duração das elevações depende do
como sinônimo para o termo “elevação de tensão”. tempo de resposta dos dispositivos reguladores de tensão das
Como para o item anterior, elevações são usualmente unidades geradoras. Tem-se ainda o tempo de resposta dos
associadas às condições de faltas no sistema, mas não são tão transformadores de tap variável e da atuação dos dispositivos
comuns como afundamentos de tensão. compensadores de reativos e síncronos em sistemas de
As elevações são caracterizadas pela sua magnitude (valor potência e compensadores síncronos que porventura existam.
eficaz) e duração. A severidade deste distúrbio durante uma
condição de falta é uma função da localização da falta,
impedância do sistema e do aterramento. Em um sistema
não aterrado com impedância de sequência zero infinita,
as tensões fase-terra das fases não aterradas serão 1,73 por
unidade durante uma condição de falta envolvendo uma fase
com conexão a terra. Próxima à subestação em um sistema
aterrado, haverá um pequeno ou nenhum aumento nas
fases não faltosas porque o transformador da subestação é
usualmente conectado em delta-estrela, provendo um baixo
caminho de impedância de sequência zero para a corrente
de falta. Na Figura 1, está ilustrada uma elevação de tensão
proveniente de uma falta monofásica.
A duração da elevação também está intimamente ligada
aos ajustes dos dispositivos de proteção, à natureza da
falta (permanente ou temporária) e à sua localização na
rede elétrica. Em situações de elevações oriundas de saídas Figura 1 - Elevação de tensão devido a uma falta fase-terra.
Apoio
38

Este fenômeno pode também estar associado à saída depende apenas da magnitude da elevação, mas também
Qualidade de energia

de grandes blocos de cargas ou à energização de grandes do seu período de duração.


bancos de capacitores, porém, com uma incidência pequena
se comparada com as sobretensões provenientes de faltas Afundamento momentâneo de tensão
monofásicas nas redes de transmissão e distribuição. Os afundamentos momentâneos de tensão, também
A Figura 2 apresenta um sistema elétrico composto por conhecidos como Voltage Sag ou Voltage Dip, destacam-se
uma concessionária, uma carga equivalente e um banco de como os mais significantes distúrbios da qualidade da
capacitores. Neste sistema, o banco de capacitores é energizado energia que se manifestam nas redes elétricas. Tal destaque
200 ms antes da conexão da carga ao barramento. se justifica pelo fato de que os afundamentos de tensão,
quer sejam de curta ou de longa duração, são os que
mais notadamente se fazem presentes na operação dos
complexos elétricos.
Um afundamento de tensão consiste numa redução no valor
eficaz da tensão por um curto período de tempo, causada por
curtos-circuitos, sobrecargas, energização de transformadores
de grande porte ou partidas de grandes motores.
O interesse no estudo deste fenômeno reside
principalmente nos problemas que podem causar em vários
tipos de equipamentos, tais como: ASDs, CLPs, computadores,
etc., cargas estas bastante sensíveis a estas variações de tensão.
Alguns componentes falham quando a tensão decresce para
um valor abaixo de 85% por um ou dois ciclos, com eventual
Figura 2 – Elevação de tensão devido à energização de um banco de
capacitores.

Nas Figuras 3 e 4, estão mostradas, respectivamente, as


formas de onda das tensões fase-fase medidas no barramento
da concessionária e os valores eficazes dessas tensões.
Como consequência das elevações de curta duração
em equipamentos, podem-se citar falhas dos componentes,
dependendo da frequência de ocorrência do distúrbio.
Dispositivos eletrônicos, incluindo ASDs (Adjustable
Speed Drivers), computadores e controladores eletrônicos,
podem apresentar falhas imediatas durante estas condições.
Contudo, transformadores, cabos, barramentos, dispositivos
de chaveamento, TPs, TCs e máquinas rotativas podem ter a
vida útil reduzida. Um aumento de curta duração na tensão
Figura 3 – Oscilogramas das tensões fase-fase no barramento da
em alguns relés pode resultar em má operação enquanto concessionária.
outros podem não ser afetados. Uma elevação de tensão
em um banco de capacitores pode, frequentemente, causar
danos no equipamento. Aparelhos de iluminação podem
ter um aumento da luminosidade durante uma elevação.
Dispositivos de proteção contra surto como um circuito de
fixação da amplitude (clamping circuit) podem ser destruídos
quando submetidos a elevações que excedam suas taxas de
MCOV (Maximum Continuous Operating Voltage).
Dentro do exposto, a preocupação principal recai
sobre os equipamentos eletrônicos, uma vez que estas
elevações podem vir a danificar os componentes internos
destes equipamentos, conduzindo-os à má operação ou, em
casos extremos, à completa inutilização. Vale ressaltar mais
uma vez que, a suportabilidade de um equipamento não
Figura 4 – Tensões fase-fase eficazes no barramento da concessionária.
Apoio
40

comprometimento do processo produtivo. sendo propostos para melhor caracterizar os fenômenos aqui
Qualidade de energia

Um parâmetro relevante para determinar os impactos enfocados. Dentre eles, destacam-se a evolução da forma de
dos afundamentos em um subsistema é a frequência de onda, o ponto de início e término do afundamento na onda e a
ocorrência, que corresponde à quantidade de vezes que variação súbita do defasamento angular (phase angle jumps).
cada combinação dos parâmetros de duração e amplitude Em afundamentos trifásicos, as três tensões de fase
ocorrem em determinado período de tempo ao longo do poderão ter e, na maioria dos casos, têm magnitude e duração
qual um barramento tenha sido monitorado (três meses, um diferentes para cada uma das fases. Algumas propostas têm
ano, etc.). sido formuladas para caracterizar esses parâmetros nesses
A Figura 5 registra a alteração da forma de onda de afundamentos. A mais comumente aceita considera a
tensão na ocorrência de um afundamento de tensão. magnitude e a duração da fase mais afetada como referência
A magnitude pode ser definida como o menor valor da para caracterizar o fenômeno trifásico.
tensão RMS e a duração reflete o tempo em que a magnitude Conhecendo-se a magnitude e a duração de um voltage sag,
da tensão está abaixo de 90% da tensão eficaz nominal. este pode ser apresentado em um ponto no plano: magnitude
versus duração. Um exemplo dessa plotagem é mostrado
na Figura 7, onde os números referem-se a voltage sags
provenientes de:

1. Faltas em sistema de transmissão;


2. Faltas em sistemas de distribuição remotos;
3. Faltas em sistemas de distribuição local;
4. Partida de grandes motores;
5. Interrupções curtas;
6. Fusíveis.

Figura 5 – Afundamento de tensão ocorrido num sistema elétrico.

A ocorrência de eventos sequenciais, denominados


multiestágios, é bastante comum devido à atuação dos
religadores do sistema elétrico e, neste caso, um exemplo
da forma de onda correspondente é mostrado na Figura 6.

Figura 7 – Sags de diferentes origens nas plotagens de magnitude


versus duração

Os afundamentos de tensão nos sistemas elétricos, de um


modo geral, podem ser oriundos de várias causas, entre elas
pode-se destacar: partidas de grandes motores e ocorrência de
curtos-circuitos.

Partida de grandes motores


Durante a partida, os motores absorvem do sistema elétrico
correntes da ordem de cinco a oito vezes a corrente nominal.
Figura 6 – Forma de onda da tensão em afundamentos sequenciais. A circulação dessa alta corrente de partida pela impedância do
sistema, sobretudo em redes de baixo nível de curto-circuito,
Como já mencionado, os principais parâmetros que poderá resultar em afundamentos de tensão bastante severos.
caracterizam um afundamento de tensão são a amplitude A Figura 8 ilustra um sistema elétrico para análise da partida
e a duração. No entanto, outros parâmetros também estão de um grande motor.
Apoio
41

Figura 8 – Partida de um grande motor.

Figura 9 – Oscilogramas das tensões fase-fase no barramento da


Nas Figuras 9 e 10, estão ilustradas, respectivamente,
concessionária.
as formas de onda da tensão fase-fase e os seus valores
eficazes o afundamento de tensão no barramento da
concessionária. Como pode ser verificado, houve um
afundamento para aproximadamente 65% da tensão
nominal do barramento.
Deve-se ressaltar, no entanto, que, em geral, os consumidores
industriais adotam medidas para reduzir a tensão na partida dos
motores, de forma a minimizar os impactos das altas correntes. Isso
torna os efeitos das partidas de motores menos relevantes quando
comparada com a ocorrência de curtos-circuitos no sistema.
Verifica-se ainda, na figura mostrada, que os afundamentos
causados por partidas de motores têm restauração gradual. Figura 10 – Tensões fase-fase eficazes no barramento da concessionária.
Apoio
42

Faltas elétricas As faltas bifásicas, bifásicas à terra e, particularmente


Qualidade de energia

As faltas no sistema elétrico consistem, normalmente, nas as fase-terra, apresentam maiores taxas de ocorrência e
principais causas dos afundamentos temporários de tensão, geram afundamentos de tensão menos severos, porém
sobretudo as originadas no sistema da concessionária, desequilibrados e assimétricos.
devido à existência de milhares de quilômetros de linhas Na Figura 1.11, está representado um sistema composto por
aéreas de transmissão e distribuição, sujeitas a vários tipos uma concessionária e por uma carga equivalente. Neste sistema
de fenômenos naturais. serão aplicados os quatro tipos de faltas, descritos anteriormente.
Curtos-circuitos também ocorrem em subestações Nas Figuras 12 a 15, estão representadas, respectivamente,
terminais de linha e nos sistemas industriais, porém, com as formas de onda das tensões fase-fase no barramento da
menor taxa de ocorrência. Geralmente, nos sistemas concessionária devido a uma falta trifásica, monofásica,
industriais, a distribuição primária e secundária é feita por bifásica a terra e bifásica.
cabos isolados, que possuem uma menor taxa de falta quando
comparados às linhas aéreas.
As faltas nas linhas aéreas são quase que exclusivamente
devido a descargas atmosféricas, porém, queimadas, vendavais,
contatos acidentais, falhas nos isoladores, acidentes, também
são causadores de curtos-circuitos.
As faltas podem ser de natureza temporária ou permanente.
As temporárias são, em sua grande maioria, devido à
ocorrência de descargas atmosféricas, temporais e ventanias,
que, em geral, não provocam danos permanentes ao sistema de
isolação. O sistema pode ser prontamente restabelecido pelos
religamentos automáticos. As faltas permanentes são causadas
Figura 12 – Tensões fase-fase no barramento da concessionária para
por danos físicos em algum elemento de isolação do sistema,
uma falta trifásica.
sendo necessária a intervenção da equipe de manutenção.
Na ocorrência de um curto circuito, o afundamento de
tensão tem a duração do tempo de permanência da falta,
ou seja, desde o instante inicial do defeito, até a completa
eliminação do mesmo.
As faltas no sistema elétrico podem ser: trifásicas,
bifásicas, bifásicas à terra e monofásicas. As faltas trifásicas
são simétricas e geram, portanto, afundamentos de tensão
também simétricos. Embora produzam afundamentos mais
severos, ocorrem com menor frequência.

Figura 13 – Tensões fase-fase no barramento da concessionária para


uma falta monofásica.

Figura 14 – Tensões fase-fase no barramento da concessionária para


Figura 11 – Afundamentos de tensão devido a faltas elétricas. uma falta bifásica a terra.
Apoio
43

Tabela 1 – Classificação dos afundamentos de tensão

Tipo de falta conexão de carga Tipo de afundamento

Estrela E strela
E quilibrada trifásica
Triângulo T riângulo
Estrela E strela
Monofásica
Triângulo T riângulo
Estrela E strela
Bifásicas
Triângulo T riângulo
B ifásicas à terra
Estrela E strela
Triângulo T riângulo

Após tais observações, pode-se concluir que seis tipos de


afundamentos de tensão, classificados como tipos A, B, C, D, E e F,
Figura 15 – Tensões fase-fase no barramento da concessionária para resultam da associação entre os diferentes tipos de faltas (trifásica,
uma falta bifásica.
bifásica, bifásica à terra e monofásica) e as duas formas tradicionais
Classificação dos afundamentos de tensão de se conectar uma carga trifásica, bem como, conforme se verá
Neste item, será analisada a influência das formas de adiante, do tipo de conexão dos transformadores. Além dos
conexão das cargas trifásicas (estrela ou triângulo), bem seis tipos de afundamentos, descritos acima, existe mais um,
como dos diversos tipos de ligação dos transformadores, denominado de tipo G, como será visto a seguir.
normalmente presentes entre o ponto onde ocorre a falta Para uma melhor compreensão dos tipos de afundamentos
e os terminais dos equipamentos, na ocorrência de faltas descritos, a seguir serão abordadas de forma resumida as
equilibradas e desequilibradas. principais características desses afundamentos.
Para tanto, será apresentada, na Tabela 1, uma classificação
dos afundamentos de tensão de acordo com o tipo de falta e • Voltage Sag Tipo A
conexão da carga. Essa classificação é baseada nas proposições Na Tabela 2, são apresentados os diagramas e as equações
estabelecidas por Math H. J. Bollen. no domínio da fase e do tempo para este tipo de afundamento.
Apoio
44

Tabela 2 – Principais características do Voltage Sag do tipo A


Qualidade de energia

Representação fasorial Representação temporal

Em que:
h - Magnitude do afundamento de tensão;
V - Magnitude da tensão nominal do sistema;

• Voltage Sag Tipo B


Na Tabela 3 são apresentados os diagramas e as equações no domínio da fase e do tempo para o afundamento do tipo B.
Tabela 3 - Principais características do Voltage Sag do tipo B
Representação fasorial Representação temporal

• Voltage Sag Tipo C


Na Tabela 4 são apresentados os diagramas e as equações no domínio da fase e do tempo para o afundamento do tipo C.
Tabela 4 - Principais características do Voltage Sag do tipo C
Representação fasorial Representação temporal

• Voltage Sag Tipo D


Na Tabela 5 são apresentados os diagramas e as equações no domínio da fase e do tempo para o afundamento do tipo D.
Apoio
46

Tabela 5 - Principais características do Voltage Sag do tipo D


Qualidade de energia

Representação fasorial Representação temporal

• Voltage Sag Tipo E


Na Tabela 6 são apresentados os diagramas e as equações no domínio da fase e do tempo para o afundamento do tipo E.
Tabela 6 - Principais características do Voltage Sag do tipo E
Representação fasorial Representação temporal

• Voltage Sag Tipo F


Na Tabela 7 são apresentados os diagramas e as equações no domínio da fase e do tempo para o afundamento do tipo F.
Tabela 7 - Principais características do Voltage Sag do tipo F
Representação fasorial Representação temporal

• Voltage Sag Tipo G


Na Tabela 8 são apresentados os diagramas e as equações no domínio da fase e do tempo para o afundamento do tipo G.
Apoio
47

Tabela 8 - Principais características do Voltage Sag do tipo G


Representação fasorial Representação temporal

*Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com Ivandro Bacca é engenheiro eletricista e mestre pela
mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica Universidade Fé engenheiro eletricista e mestre pela
pela universidade Federal de Itajubá. Atualmente, Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em Qualidade da
é consultor tecnológico em energia no Instituto de Energia. É engenheiro da Copel Distribuição com atuação
Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação na área de manutenção de equipamentos eletromecânicos.
é voltada para áreas de qualidade de energia
elétrica, geração distribuída, eficiência energética e José Maria de Carvalho Filho é engenheiro eletricista
distribuição. pela UFMG, com mestrado e doutorado pela Unifei.
Atualmente, é professor da Unifei e membro do Grupo de
Mateus Duarte Teixeira é engenheiro eletricista e Estudos em Qualidade da Energia (GQEE), com atuação em
mestre em sistemas de potência – qualidade de energia Qualidade e Proteção de Sistemas Elétricos.
elétrica. Atua há mais de dez anos em projetos de
tecnologia aplicada ao setor elétrico nas áreas de Continua na próxima edição
qualidade da energia, geração distribuída, eficiência Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
energética e proteção de sistemas elétricos para Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
empresas do setor. redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
34
Qualidade de energia

Capítulo V

Variações de tensão de curta


duração - Parte II
Por Gilson Paulillo, Mateus Teixeira, Ivandro Bacca e José Maria de Carvalho Filho*

Este capítulo continuará a abordar as Variações para explicar a transferência dos afundamentos de
de Tensão de Curta Duração (VTCDs), que têm um nível de tensão para outro:
mobilizado esforços de pesquisadores de todo o
mundo na busca de soluções tanto para suas causas 1. Transformadores que não introduzem
quanto para os efeitos sobre o sistema. defasamento angular e nem filtram as componentes
A maioria dos afundamentos de tensão tem de sequência zero: fazem parte desta categoria os
origem em pontos físicos dos sistemas elétricos transformadores com as conexões Y N Y N (estrela-
com níveis de tensão diferentes daqueles estrela, aterrado em ambos os lados);
onde os equipamentos estão conectados. 2. São aqueles que somente filtram as componentes
Portanto, nem sempre as características dos de sequência zero: exemplos destes tipos são os
afundamentos trifásicos monitorados nos pontos transformadores com conexões YY (estrela - estrela),
de acoplamento comum, ou em outras partes do ΔΔ (delta-delta), YN Y (estrela-estrela, aterrado
sistema, correspondem às experimentadas pelos no primário), Y YN (estrela-estrela, aterrado no
equipamentos. Tal fato se deve, principalmente, à secundário) e ΔΖ (delta – zig-zag);
existência de transformadores entre o sistema da 3. Transformadores em que cada tensão em um
concessionária (e do próprio complexo industrial) dos enrolamentos (primário ou secundário) é
e os terminais dos equipamentos. função da diferença fasorial entre duas tensões
Sabendo-se que a maioria dos transformadores aplicadas ao outro enrolamento: além de filtrarem
empregados comercialmente é, por exemplo, a componente de sequência zero da tensão, estes
do tipo estrela-delta e como tais conexões introduzem ainda defasamentos angulares entre as
exercem forte influência sobre as propagações tensões primária e secundária. Tais equipamentos
de fenômenos desequilibrados, é de se esperar são aqueles com conexões YΔ (estrela-delta),
que os afundamentos percebidos pelas cargas, (delta-estrela), (estrela-delta, aterrado no primário),
tanto no que tange às magnitudes como seus ΔY (delta-estrela, aterrado no secundário) e YN Ζ
correspondentes ângulos de fase, venham a ser (estrela – zig-zag).
afetados por tais equipamentos.
Apesar da existência de várias formas de A transferência dos afundamentos de tensão
conexão dos enrolamentos dos transformadores, pelos transformadores agrupados nas três categorias
agrupá-los em apenas três categorias é suficiente acima descritas pode ser sintetizada na Tabela 1.
Apoio
35

Tabela 1 – Transferência do tipo de afundamento por curtos-circuitos em alimentadores de uma SE de distribuição


meio de transformadores
causam impacto apenas nos consumidores alimentados pelos
C onexão do T ipo A T ipo B T ipo C T ipo D Tipo E Tipo F T ipo G
T ransformador
ramais adjacentes.
YN YN A B C D E F G A Figura 1 ilustra este fato: quando ocorre uma falta
YY, ΔΔ, ΔΖ A D* C D G F G na concessionária 1, todo sistema irá sentir os efeitos do
YΔ, ΔY, YΖ A C* D C F G F
afundamento de tensão (distribuição e transmissão); já uma falta
*Significa que a magnitude não é igual a V, mas igual a 1/3 + 2/3 V.
no lado de baixa da Subestação 2, apenas as cargas conectadas
Outros fatores que influenciam os afundamentos
a esse alimentador irão percebê-la.
de tensão
Além dos fatores já descritos acima, os afundamentos de
tensão podem ser influenciados por outras características como:

• Localização da falta
A localização da falta no sistema elétrico influencia,
significativamente, o impacto do afundamento de tensão
sobre os consumidores. As faltas, quando ocorrem no
sistema de transmissão e subtransmissão, afetam certamente
um número maior de consumidores do que as faltas no
sistema de distribuição. Este fato deve-se, principalmente, às
Figura 1 – Influência da localização das faltas em um sistema elétrico.
características dos sistemas de transmissão e subtransmissão
que são normalmente malhados. A título de exemplo, há registros nos Estados Unidos que uma
Já os sistemas de distribuição possuem, geralmente, falta, sobre um sistema de transmissão de 230 kV, foi percebida
configuração radial, sendo que curtos-circuitos nos ramais de sob a forma de afundamento de tensão por equipamentos
uma subestação (SE) de distribuição dificilmente provocarão instalados a aproximadamente 160 km, enquanto, para um
afundamentos de tensão significativos em outra. Normalmente, sistema de 100 kV, o raio de ação é da ordem de 80 km.
Apoio
36

• Impedância de falta Normalmente, o perfil de tensão do sistema segue a


Qualidade de energia

Raramente, os curtos-circuitos no sistema elétrico são variação da curva de carga diária, observando-se elevações
metálicos, ou seja, com impedância de falta nula. Normalmente, de tensão durante períodos de carga leve, de um modo geral,
ocorrem por impedância de falta que é constituída da associação de madrugada, sábados, domingos e feriados e reduções de
dos seguintes elementos: tensão nos períodos de carga pesada.
Geralmente, nos estudos do sistema elétrico, assume-se
• Resistência do arco elétrico entre o condutor e a terra, ou que a tensão, no instante anterior à falta (tensão pré-falta), é
entre dois ou mais condutores, para defeitos envolvendo mais de 1pu. No entanto, em função da curva de carga do sistema,
de uma fase; esta premissa, na maioria das vezes, não é verdadeira,
• Resistência de contato devido à oxidação no local da falta; incorrendo-se em erros, quando do cálculo da magnitude do
• Resistência de terra para defeitos englobando a terra. afundamento de tensão.

O aparecimento do arco elétrico é devido ao aquecimento • Desempenho do sistema de proteção


provocado pela corrente de curto-circuito, que propicia O sistema de proteção possui como objetivo principal
a ionização do ar no local de defeito. A resistência do arco remover ou retirar de serviço todo e qualquer equipamento ou
elétrico pode ser empiricamente calculada pela fórmula de componente do sistema que estiver operando sob condições
Warrington indicada pela Equação 1. anormais (sobrecarga, curto-circuito, etc.).
A duração do afundamento de tensão é dependente
do desempenho do sistema de proteção da rede elétrica,
Rarco elétrico = 2870 x L [Ω]
I1,4 caracterizado pelo tempo de sensibilização e de atuação dos
relés, somado ao tempo de abertura e extinção de arco dos
Em que: disjuntores. De fato, quanto mais rápido a falta for eliminada,
L - Comprimento do arco elétrico em metros (m); menor será a duração do afundamento de tensão.
I - Valor eficaz da corrente de arco em ampères (A). Vale ressaltar que o tempo de atuação dos relés é função
de suas características de resposta tempo versus corrente, bem
Os defeitos fase-terra, os mais comuns, são, normalmente, como da filosofia e dos ajustes implantados para se obter a
resultantes de arcos por meio de isoladores. Sendo assim, a seletividade desejada. Já o tempo de abertura e de extinção
impedância entre a fase e a terra (impedância de falta) é a da corrente de curto-circuito dos disjuntores é função das
função dos seguintes fatores: características construtivas destes equipamentos.

• Resistência de arco; Efeitos sobre equipamentos eletroeletrônicos


• Resistência da torre; Atualmente, quem se envolve com a operação de sistemas
• Resistência da base da torre, caso não haja cabos para aterramento. computadorizados, eletroeletrônicos ou congêneres pode,
frequentemente, se deparar com problemas relacionados
Deve-se ressaltar que a resistência da base da torre com a qualidade da energia elétrica (QEE). Muitas pesquisas
constitui, normalmente, a parte preponderante da impedância e estudos têm sido realizados com o objetivo de obter um
de falta, isso por depender das condições locais do solo. banco de dados sobre a sensibilidade destes equipamentos.
Finalmente, conclui-se que desprezar a impedância de falta Nesse sentido, nos itens subsequentes será apresentada a
significa obter valores mais severos de afundamento de tensão. sensibilidade dos principais equipamentos eletroeletrônicos
obtidas de artigos técnicos.
• Tensão pré-falta
Em condições normais de operação, as concessionárias • Computadores
de energia buscam suprir seus consumidores com tensões A sensibilidade dos computadores frente aos distúrbios
de operação entre os limites 0,93-1,05 pu estabelecidos pelo de QEE é retratada pela Curva CBEMA (Computer Business
Módulo 8 dos Procedimentos de Distribuição (Prodist), da Equipment Manufacturers Association), publicada na norma
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). IEEE-446, representada pela Figura 2.
Basicamente, o perfil de tensão, em regime permanente, Apesar de a Curva CBEMA ter sido originalmente proposta
é função da curva de carga do sistema elétrico e também da para caracterizar a sensibilidade de computadores mainframe,
disponibilidade de equipamentos destinados à regulação de atualmente ela também tem sido aplicada para outros
tensão, como compensadores síncronos, banco de capacitores, componentes eletrônicos como: microcomputadores, aparelhos
reatores de linha, etc. de fax, impressoras e demais equipamentos correlatos.
Apoio
38

A Figura 3 apresenta a curva de sensibilidade obtida


Qualidade de energia

para vídeos cassetes (VCR’s), fornos de micro-ondas e


relógios digitais.

Sensibilidade dos Equipamentos Domésticos

Porcentagem da Tensão Nominal


Microondas
CBEMA
Vídeos

Relógios

Duração (ciclos)
Figura 2 – Curva CBEMA.

Figura 3 – Sensibilidade dos equipamentos de uso doméstico.

A Figura 2 mostra três regiões distintas de operação, onde


• Microprocessadores
estão associadas às letras A, B e C, que representam:
Atualmente, as indústrias buscam aumentar a produção,
com objetivos de obter melhores índices de produtividade
• Região A – Região normal de trabalho;
e, nesse sentido, os microprocessadores têm adquirido o seu
• Região B – Região inadequada de trabalho, com possibilidade
espaço no mercado. Eles oferecem aos processos industriais
de ruptura da isolação dos equipamentos (perda de hardware).
a possibilidade de realização das mais variadas operações,
Nesta região, situam-se as sobretensões transitórias e os saltos
seja no controle da produção e da qualidade dos produtos,
de tensão;
seja no monitoramento de operações de processos, com alta
• Região C – Região também inadequada de trabalho, com
velocidade e com excepcional desempenho.
possibilidade de parada de operação dos equipamentos
A ocorrência do afundamento poderá ocasionar a perda
(disfunções). Estão representados nesta região o afundamento
de programação destes equipamentos; como consequência,
de tensão juntamente com as interrupções transitórias.
ocorrerá a interrupção de processos. A Figura 4 mostra a faixa
de sensibilidade destes dispositivos.
Da curva CBEMA, destacam-se dois pontos principais:
o primeiro é 0,5 ciclo (8,3 ms), indicando que durante este
período o equipamento tem de ser capaz de absorver uma
Faixa de Sensibilidade dos Microprocessadores
interrupção de energia; o segundo é o ponto de 2 s, a partir do
qual todos os equipamentos desta categoria devem suportar,
continuamente, quedas de tensão de até 13% ou acréscimos CBEMA
Porcentagem da Tensão

de tensão de até 6%.

• Equipamentos de uso doméstico


Região de
Inicialmente, relatos de problemas associados à Disrupção
ocorrência dos distúrbios da QEE ocorriam apenas
para os equipamentos de uso industrial e comercial,
como computadores. Contudo, devido ao uso cada vez Duração (ciclos)

mais frequente de equipamentos eletroeletrônicos, os


consumidores residenciais também começaram a perceber Figura 4 – Sensibilidade dos microprocessadores.
os problemas ligados à qualidade da energia.
Vale ressaltar que os efeitos causados pela ocorrência do • Controladores Lógicos Programáveis (CLPs)
afundamento de tensão em equipamentos de uso doméstico Os controladores lógicos programáveis são considerados um
são percebidos pela perda de memória e perda de programação dos equipamentos mais importantes dentro da indústria, uma vez
de relógios digitais, fornos de microondas, etc. Normalmente, que, independentemente de tamanho, custo e complexidade, eles
estes problemas não estão associados a prejuízos financeiros, são responsáveis pelo controle de equipamentos eletroeletrônicos
mas sim à satisfação dos consumidores e à imagem das e também dos processos industriais.
empresas de energia elétrica. De um modo geral, quando da ocorrência do
Apoio
39

afundamento de tensão, os CLPs apresentam disfunções e Independentemente de sua aplicação, os contatores e relés
perda de programação, que causam interrupção de parte auxiliares têm sido identificados como um dos pontos fracos
ou de todo o processo produtivo. A Figura 5 apresenta a dos sistemas elétricos, principalmente, quando associados a
curva de sensibilidade dos CLPs, quando submetidos à processos industriais automatizados. Os problemas geralmente
afundamentos de tensão. surgem quando da ocorrência de afundamento de tensão no
sistema, ocasião em que estes dispositivos, indevidamente,
Faixa de de sensibilidade dos CLPs
provocam a abertura de circuitos de força e/ou comando.
A literatura especializada mostra que o desempenho
Porcentagem da Tensão Nominal

dos contatores e relés auxiliares, durante a incidência


CBEMA
do afundamento de tensão, depende de um conjunto de
parâmetros que caracterizam o distúrbio, destacando-se
Região de
Disrupção a magnitude e a duração. No entanto, sabe-se que
estudos mais recentes indicam que o desempenho destes
dispositivos também depende do ângulo de fase da corrente
na bobina do contator no momento anterior à ocorrência
Duração (ciclos)
do afundamento de tensão.
Figura 5 – Sensibilidade dos CLPs.
O fato é que, quando da ocorrência do afundamento de
• Contatores e relés auxiliares tensão, as bobinas dos contatores e/ou relés auxiliares poderão
Os contatores e os relés auxiliares, embora sejam desatracar, abrindo seus contatos principais e auxiliares, causando
equipamentos eletromecânicos, continuam tendo vasta a parada e a desconexão de várias cargas e equipamentos.
aplicação nas indústrias seja no controle, de forma integrada A título de ilustração, as Figuras 6 e 7 representam,
com os sistemas de automação (CLPs), seja no chaveamento de respectivamente, as faixas de sensibilidade dos contatores e
circuitos de força (alimentação de motores e demais cargas). relés auxiliares.
Apoio
40

• Acionamentos de Velocidade Variável (ASDs)


Qualidade de energia

Faixa de Sensibilidade dos Contatores


Os ASDs, a exemplo da maioria dos equipamentos
industriais, são constituídos de dispositivos de eletrônica de
Porcentagem da Tensão

CBEMA potência, componentes estes que podem ser danificados,


quando submetidos a surtos de corrente ou de tensão.
Normalmente, os ASDs são equipados com dispositivos
Região de Disrupção de proteção adequados (fusíveis ultrarrápidos, relés
de proteção, etc.), além dos sistemas de controle que
reconhecem situações operacionais de risco e que
promovem o bloqueio do disparo de tiristores ou até mesmo
Duração (ciclos)
o desligamento imediato da fonte de suprimento.
Figura 6 – Sensibilidade dos contatores. Nas Figuras 8 e 9, estão ilustradas as topologias típicas
dos acionamentos CA e CC, respectivamente.
Faixa de Sensibilidade dos Relés Auxiliares
Os acionamentos CA são constituídos normalmente de
três estágios: ponte retificadora, barramento DC (filtragem)
Porcentagem da Tensão

CBEMA
e sistema inversor (normalmente PWM). Estes equipamentos
têm dispositivos de armazenamento de energia (capacitor e
indutor) no barramento DC e os de menor potência utilizam
ponte retificadora não controlada (a diodos) no primeiro
Região de Disrupção
estágio. Estes acionamentos fornecem tensão e frequência
variável para motores de indução trifásicos.
Já os acionamentos CC são constituídos basicamente
Duração (ciclos)
de uma ponte retificadora, que fornece tensão CC variável
Figura 7 – Sensibilidade dos relés auxiliares.
para o motor de corrente contínua. Os acionamentos CC

Figura 8 – Acionamento típico CA.

Figura 9 – Acionamento típico CC.


Apoio
42
Qualidade de energia

utilizam pontes controladas ou semi-controladas, cujos poderão promover a parada destes equipamentos.
tiristores são gatilhados de forma sincronizada com a fonte Constata-se que os ASDs, a exemplo dos demais
de suprimento. Normalmente, estes acionamentos são equipamentos industriais, têm a sensibilidade caracterizada
desprovidos de capacitor (filtragem) no lado CC. por uma faixa dentro do plano: magnitude versus duração
Ambos os tipos de acionamentos (CA e CC) são do afundamento de tensão. Isso ocorre geralmente devido
vulneráveis à ocorrência de afundamento de tensão, aos seguintes fatores:
principalmente, no que se refere à intensidade e duração • Diferenças entre as tecnologias de fabricação dos
deste distúrbio. fornecedores;
No entanto, estudos técnicos recentes relatam que, • Diferenças entre as condições operacionais e de ciclo de
dependendo do tipo de acionamento e sistema de controle carga dos equipamentos quando em operação;
utilizado, o desequilíbrio e a assimetria angular presentes • Fatores ambientais do local em que o equipamento está
no afundamento de tensão também poderão promover o instalado;
desligamento dos acionamentos ou até mesmo provocar • Desaceleração do acionamento (motor e carga mecânica).
danos permanentes nestes equipamentos. Portanto, os Dependendo do processo, isso poderá comprometer a
ASDs poderão estar sendo desligados devido à combinação qualidade do produto;
de, pelo menos, três fatores normalmente presentes no • Flutuação do torque do motor (AC e DC) com as mesmas
afundamento de tensão (magnitude, duração e assimetria implicações citadas anteriormente;
angular). • Desligamento do acionamento devido à atuação de
Devido às características construtivas, os acionamentos dispositivos de controle e proteção (subtensão, sobretensão,
CC são mais sensíveis aos afundamentos de tensão que os perda de fase, sequência de fase, etc.);
acionamentos CA. Isso ocorre devido aos seguintes fatores: • Queima de fusíveis e componentes, principalmente, nos
acionamentos DC operando no modo regenerativo.
• Os acionamentos CC são normalmente desprovidos de
dispositivos de armazenamento de energia (capacitor no Conclui-se que, para conhecer profundamente
lado CC); o comportamento dos ASDs, quando submetidos a
• Os sistemas de comando destes equipamentos bloqueiam afundamentos de tensão, ainda será necessário o
o sistema de disparo da ponte controlada devido ao desenvolvimento de muitas pesquisas, envolvendo
desequilíbrio e assimetria presentes nos três fasores do principalmente universidades e fabricantes.
afundamento de tensão.
Ações mitigadoras
O fato é que muitos dos acionamentos, sejam eles Os processos de mitigação dos afundamentos de tensão
CA ou CC, deixarão de operar quando da ocorrência de podem ser realizados em várias partes do sistema elétrico,
afundamento de tensão, o que inevitavelmente conduzirá a contudo, os custos envolvidos aumentam à medida que
perdas de produção. aumenta a tensão do sistema conforme verificado na Figura
A Figura 10 apresenta a curva de sensibilidade dos ASDs 11.
diante do afundamento de tensão, representada por apenas
dois parâmetros (magnitude e duração). Observa-se que
afundamentos de tensão com valores abaixo de 0,90 pu

Faixa de Sensibilidade dos ASDs


Porcentagem da Tensão Nominal

CBEMA

Região de
Disrupção

Duração (ciclos)
Figura 11 – Custos envolvendo os processos de mitigação dos
Figura 10 – Sensibilidade dos ASDs. afundamentos.
Apoio
43

Para se reduzir os efeitos de VTCDs, pode-se, em da eficiência da técnica de controle de chaveamento dos
princípio, adotar uma das seguintes medidas básicas: inversores. Os inversores são geralmente elementos do tipo
“Space Vector Pulse With Modulation pulses (SVPWM)”
1. Agir nas suas causas; que maximizam a utilização da tensão do elo CC.
2. Atuar na sensibilidade dos equipamentos. O segundo tipo de ação seria mais abrangente, evitando
a propagação dos afundamentos pelo sistema, evitando que
No que diz respeito às ações de compensação e/ou ele atinja as cargas. Normalmente, este tipo de solução
eliminação dos afundamentos momentâneos de tensão, está diretamente ligado à tomada de ações de coordenação
pode-se visualizar duas possibilidades distintas. A primeira da proteção dos sistemas de potência, como atuação de
corresponde à compensação visando reduzir os impactos religadores automáticos, instalação de fusíveis limitadores;
destes fenômenos sobre as cargas. Dessa forma, busca-se implantação de estratégias “fuse saving”. Outras formas
uma solução momentânea e localizada. Como exemplo de compensação podem ser ajustadas de maneira a contribuir
de soluções na eliminação das
pode-se citar a variações de ten -
instalação de alguns são como o apro vei-
equipamentos, tais tamento ou in stalação
como: de com pensadores
de tensão, tais como
• Transformadores STATCOM, DVR,
ferrorresonantes RCT, CCT, dentre
(CVT) – Também outros. No entanto,
conhecidos por todas estas estratégias
transformadores de demandam grande
tensão constante.
Constituem-se em
unidades altamente Interrupções de
excitadas em relação curta duração
a sua curva de Uma inter rup-
saturação. Aplicável ção ocorre quando
a pequenas cargas; o fornecimento de
• UPS – Formadas tensão ou corrente
por um retificador, de carga decresce
um conjunto de para um valor menor
baterias/capacitores do que 0,1 pu por
conectados ao intervalos típicos
barramento CC, um não superiores a 2
inversor estático e ou 5 segundos.
um dispositivo para As interrupções
transferência automática da carga; podem ser resultantes de faltas no sistema de energia,
• Grupo motor-gerador – Formado por máquinas rotativas falhas nos equipamentos e mau funcionamento de sistemas
e dispositivos mecânicos apropriados para o bloqueio das de controle. As interrupções são medidas pela sua duração
transferências das variações de tensão; desde que a magnitude da tensão é sempre menor do que
• Flywheel – São equipamentos mecânicos instalados nos 10% da nominal. A duração de uma interrupção, devido a
eixos de motores elétricos com intuito de fornecer a inércia uma falta sobre o sistema da concessionária, é determinada
necessária à carga mecânica instalada no referido eixo; pelo tempo de operação dos dispositivos de proteção
• DVR – Os “Dynamic Voltage Restorer” (VSI) são empregados.
equipamentos que consistem de um uma fonte inversora Religadores programados para operar instantaneamente,
de tensão (VSI), transformadores de injeção, filtros passivos geralmente, limitam a interrupção a tempos inferiores a 30
e fontes armazenadoras de energia como baterias e ciclos.
capacitores. A eficiência do DVR depende principalmente Religadores temporizados podem originar interrupções
Apoio
44

momentâneas ou temporárias, dependendo da escolha equipamentos, na eventualidade de uma interrupção de


Qualidade de energia

das curvas de operação do equipamento. A duração curta duração.


de uma interrupção devido ao mau funcionamento de
equipamentos é irregular. Algumas interrupções podem ser 30 5 15 30
Isc
precedidas por um afundamento de tensão quando estas Ciclos Segundos Segundos Segundos

são devidas a faltas no sistema supridor. O afundamento


ocorre no período de tempo entre o início de uma falta
e a operação do dispositivo de proteção do sistema. A
Figura 12 mostra uma interrupção momentânea devido a
um curto-circuito, sendo precedida por um afundamento.
Observa-se que a tensão cai para um valor de 20%, com
duração de 3 ciclos e, logo após, ocorre a perda total
do suprimento por um período de 1,8 s até a atuação do
Figura 13 – Sequência de manobras efetuadas por dispositivos
religador. automáticos de proteção.

Tensão na Fase B - Alguns dados estatísticos revelam que 75% das faltas em
Variação rms redes aéreas são de natureza temporária. No passado, este
Duração percentual não era considerado preocupante. Entretanto, com
2300s o crescente emprego de cargas eletrônicas, como inversores,
Min. 0.257 computadores, videocassetes, etc., este número passou
Méd. 22.43 a ser relevante nos estudos de otimização do sistema, pois
Máx. 100.4 é, agora, tido como responsável pela saída de operação de
Tempo (s)
diversos equipamentos, interrompendo o processo produtivo
e causando enormes prejuízos às indústrias.
Para corrigir este problema, algumas concessionárias têm
mudado a filosofia de proteção com o objetivo de diminuir
o número de consumidores afetados pelas interrupções. Na
Tempo (ms) filosofia de proteção coordenada, o dispositivo de proteção do
Figura 12 – Interrupção momentânea devido a um curto-circuito e alimentador principal, seja o religador ou o disjuntor, sempre
subsequente religamento. opera uma ou duas vezes antes da operação do dispositivo à
Seja, por exemplo, o caso de um curto-circuito no jusante, geralmente um fusível.
sistema supridor da concessionária. Logo que o dispositivo
de proteção detecta a corrente de curto-circuito, ele
*Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com
comanda a desenergização da linha com vistas a eliminar mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica
pela universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
a corrente de falta. Somente após um curto intervalo de é consultor tecnológico em energia no Instituto de
Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação
tempo, o religamento automático do disjuntor ou religador é é voltada para áreas de qualidade de energia
elétrica, geração distribuída, eficiência energética e
efetuado. Entretanto, pode ocorrer que, após o religamento, distribuição.
o curto persista e uma sequência de religamentos pode Mateus Duarte Teixeira é engenheiro eletricista e
mestre em sistemas de potência – qualidade de energia
ser efetuada com o intuito deeliminar a falta. A Figura 13 elétrica. Atua há mais de dez anos em projetos de
tecnologia aplicada ao setor elétrico nas áreas de
mostra uma sequência de religamentos com valores típicos qualidade da energia, geração distribuída, eficiência
de ajustes do atraso. energética e proteção de sistemas elétricos para
empresas do setor.
Sendo a falta de caráter temporário, o equipamento Ivandro Bacca é engenheiro eletricista e mestre pela
de proteção não completará a sequência de operações Universidade Fé engenheiro eletricista e mestre pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em Qualidade da
programadas e o fornecimento de energia não é Energia. É engenheiro da Copel Distribuição com atuação
na área de manutenção de equipamentos eletromecânicos.
interrompido. Assim, grande parte dos consumidores,
José Maria de Carvalho Filho é engenheiro eletricista
principalmente em áreas residenciais, não sentirá os efeitos pela UFMG, com mestrado e doutorado pela Unifei.
Atualmente, é professor da Unifei e membro do Grupo de
da interrupção. Porém, algumas cargas mais sensíveis do Estudos em Qualidade da Energia (GQEE), com atuação em
Qualidade e Proteção de Sistemas Elétricos.
tipo computadores e outras cargas eletrônicas estarão
sujeitas a tais efeitos, a menos que a instalação seja dotada Continua na próxima edição
de unidades UPS (Uninterruptible Power Supply), as Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
quais evitarão maiores consequências na operação destes redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
38
Qualidade de energia

Capítulo VII

Flutuações de tensão
Por Gilson Paulillo e Mateus Teixeira*

Flutuações na tensão são variações sistemáticas Flutuações aleatórias:


dos valores eficazes de tensão, ou uma série de
mudanças aleatórias, cujas magnitudes normalmente • A principal fonte destas flutuações são os fornos
não excedem faixas de valores preestabelecidos a arco, em que as amplitudes das oscilações
(faixa compreendida entre 0,95 pu e 1,05 pu). Estas dependem do estado de fusão do material, bem
variações, repetitivas, esporádicas ou aleatórias como do nível de curto-circuito da instalação.
são em geral provocadas pelas alterações rápidas
nas potências ativas e reativas das cargas elétricas, Flutuações repetitivas:
como em fornos a arco.
Cargas industriais que exibem variações • Máquinas de solda;
contínuas e rápidas na magnitude da corrente • Laminadores;
de carga podem causar variações na tensão que • Elevadores de minas;
são frequentemente referidas como flicker ou • Ferrovias, etc.
oscilação. Dos itens de avaliação da qualidade
da tensão, o efeito flicker apresenta destacada Flutuações esporádicas:
importância, uma vez que pesquisas mostram A principal fonte causadora destas oscilações é
que seus principais efeitos se manifestam sobre as a partida direta de grandes motores. Os principais
pessoas na forma de incômodo visual, irritação, efeitos nos sistemas elétricos, resultados das
perda de concentração e, nos casos extremos, sob oscilações causadas pelo equipamento mencionado
a forma de problemas neurológicos. anteriormente, são:

Aspectos gerais da flutuação de tensão • Oscilações de potência e torque das máquinas


As flutuações são geralmente causadas por cargas elétricas;
industriais e manifestam-se de diferentes formas: • Queda de rendimento dos equipamentos elétricos;
39

• Interferência nos sistemas de proteção;


• Efeito flicker ou cintilação luminosa.

Como exemplo da geração de flutuação de tensão, considere


o sistema apresentado na Figura 1. Este sistema é composto por
uma concessionária e um grande motor, cujo conjugado de
carga varia repetitivamente com o tempo, ou seja, este motor
pode representar, por exemplo, um laminador.

Figura 1 – Flutuação de tensão.

As Figuras 2 e 3 apresentam, respectivamente, as formas de


onda das tensões fase-fase no barramento da concessionária e
os seus valores eficazes.

Figura 2 – Formas de ondas das tensões fase-fase no barramento da


concessionária.

Figura 3 – Tensões eficazes fase-fase no barramento da concessionária.


Apoio
40

Tipos de flutuações de tensão 6. É resultante da combinação de diversos tipos de cargas, tais


Qualidade de energia

A Norma IEC 60555-3 define quatro tipos distintos de como motores, prensas, compressores, etc.
flutuação de tensão de forma a facilitar a aplicação de
métodos de análise e de ensaios de conformidade em
equipamentos elétricos.

• Tipo A:
Representa uma série repetitiva de variações retangulares
em torno de um nível de tensão de referência. Esta flutuação
apresenta um padrão (retangular) bem definido, tendo como
variáveis importantes a amplitude e a frequência, conforme
mostra a Figura 4.

Figura 6 – Flutuação de tensão tipo C.

• Tipo D:
Compostas por variações contínuas e aleatórias, em
geral provocadas por cargas com operação intermitentes,
tais como fornos a arco elétrico (veja a Figura 7). Em função
da potência das cargas, esta pode se propagar pelo sistema
de transmissão e distribuição.

Figura 4 – Flutuação de tensão tipo A.

• Tipo B:
Resultado da composição de uma série irregular de
variações bruscas, não apresentando um período ou ciclo
definido. Este tipo pode representar sucessivos degraus
de tensão, crescentes ou decrescentes, caracterizada pela
entrada ou saída de cargas que operam por etapas, tais
como elevadores, laminadores, prensas, etc. e é mostrada
na Figura 5.

Figura 7 – Flutuação de tensão tipo D.

Principais cargas geradoras de flutuações de tensão

Forno a arco
Um forno elétrico a arco é uma máquina elétrica que
transforma energia elétrica em energia térmica. Os principais
tipos de forno a arco estão apresentados na Figura 8.

Figura 5 – Flutuação de tensão tipo B.

• Tipo C:
Resultado da composição de uma série irregular de formas
diversas, as quais podem ser por degraus (retangular), em rampa
(triangular) ou oscilatórias (senoidais), conforme mostra a Figura Figura 8 – Principais tipos de fornos a arco.
Apoio
42

O comportamento típico da tensão de suprimento de um Máquinas elétricas de solda


Qualidade de energia

forno a arco, em um barramento de 14,4 kV, é apresentado na Este tipo de equipamento, utilizado nas mais diversas
Figura 9. indústrias, trabalha com o princípio do arco elétrico. A Figura
12 apresenta o esquema elétrico básico desses equipamentos.

Figura 9 – Oscilações de tensão oriundas da operação de um forno a arco. Figura 12 – Esquema elétrico de uma máquina de solda.

Laminadores O comportamento da corrente de uma máquina elétrica


Os laminadores são usados largamente em processos de solda é apresentado na Figura 13.
siderúrgicos para moldar chapas de ferro e aço. A Figura 10
mostra o esquema típico de operação de um laminador.

Figura 13 – Comportamento da corrente de uma máquina de solda.

Figura 10 – Princípio de construção de um laminador. Efeitos da flutuação de tensão


Os efeitos das flutuações de tensão basicamente são:
O comportamento da tensão de suprimento de um
laminador em um barramento de 13,8 kV está mostrado na
• Oscilações de potência e torque de motores elétricos;
Figura 11.
• Interferência na instrumentação eletrônica, equipamentos de
processamento de dados e de controle de processos industriais;
• Interferência em aparelhos residenciais, tais como: vídeos,
relógios digitais e TVs;
• Redução da velocidade de fusão e da produtividade de fornos
a arco;
• Falhas ou comprometimento do processo de soldagem;
• Desconforto visual provocado pela cintilação luminosa
das lâmpadas, principalmente das incandescentes, também
conhecido como efeito flicker.

Entretanto, o fenômeno flicker consiste no efeito mais


comum provocado pelas oscilações de tensão. Este tema merece
Figura 11 – Oscilograma de tensão do funcionamento de um laminador. especial atenção, uma vez que o desconforto visual associado
43

à perceptibilidade do olho humano às


variações da intensidade luminosa é, em
toda sua extensão, indesejável.

Métodos para a avaliação do


flicker
Os métodos de medição mais
difundidos, em nível internacional,
para a avaliação do efeito flicker são os
seguintes:

• Método britânico: proposto pela


Electrical Research Association (ERA);
• Método francês: apresentado pela
“Electricité de France”;
• Método padrão: proposto pela União
Internacional de Eletrotermia (UIE).

Cada um dos métodos de avaliação


do efeito flicker possui filosofias distintas,
no entanto, alguns fundamentos comuns
podem ser destacados:

• A lâmpada incandescente é adotada


como referência para a quantificação do
efeito flicker;
• Os procedimentos baseiam-se no
princípio de modulação de sinais;
• Os métodos britânico e padrão
utilizam teorias estatísticas considerando
o caráter aleatório das flutuações de
tensão;
• Os métodos francês e padrão valorizam
as frequências críticas existentes no
sinal modulante, causadoras de maior
incômodo ao olho humano.

A seguir, uma descrição detalhada


do método padrão empregado na
quantificação do fenômeno de cintilação
luminosa.

Método padrão UIE


O método padrão foi idealizado
com o objetivo de unificar, em nível
internacional, os critérios de medição
mais difundidos. Como resultado, este
método reúne as principais vantagens
dos métodos francês e britânico e, por
consequência, tornou-se mais flexível e
abrangente do que os outros dois.
Apoio
44

A uniformização foi proposta no âmbito da União


Qualidade de energia

Internacional de Eletrotermia (UIE), que propôs uma


metodologia estatística para a avaliação da severidade de Em que:
flicker, reconhecendo a característica aleatória do fenômeno. PST – Valor correspondente ao índice de severidade de
Desta forma, o método avalia, não somente o valor máximo “Flicker” de curta duração;
num dado período, como também a porcentagem do tempo no K1, K2,.....Kn – Coeficiente de ponderação;
qual um determinado nível de flicker foi excedido. P1, P2,.....Pn – Probabilidade de determinados níveis de
Para a realização da análise estatística, devem-se correlacionar flicker serem excedidos.
os níveis de flicker e as correspondentes porcentagens de tempo
de duração. Deste modo, os níveis instantâneos de flicker Para a obtenção de um número adequado de pontos e de
são classificados, ou seja, são organizados de forma a obter a coeficientes, houve a necessidade de se resolver equações
distribuição de frequências da amostra e, por conseguinte, a múltiplas, relacionando a severidade de flicker com as várias
correspondente Curva Função de Probabilidade Acumulada curvas FPCs. Analisados os resultados, verificou-se que uma
(FPC), em pu. Esta construção pode ser também designada por solução equilibrada foi alcançada com a aplicação de cinco
porcentagem de tempo não excedido para os níveis instantâneos níveis probabilísticos, conforme o que segue:
de flicker. Logo, pode-se dizer que o procedimento adotado para
a obtenção dos níveis instantâneos de flicker e sua distribuição • P0,1 – Nível excedido por 0,1% do período de observação;
de frequências engloba, respectivamente, o método francês e o • P1 – Nível excedido por 1% do período de observação;
método britânico. Pelo método francês, pelo cálculo das doses, • P3 – Nível excedido por 3% do período de observação;
tem-se o nível de flicker instantâneo e pelo método britânico, com • P10 – Nível excedido por 10% do período de observação;
levantamento das Curvas de Função de Probabilidade Acumulada • P50 – Nível excedido por 50% do período de observação.
(FPC) e sua complementar, obtém-se, respectivamente, os níveis
que não foram ultrapassados e aqueles que foram excedidos O ponto de avaliação correspondente a 50% reflete o nível
durante uma determinada porcentagem de tempo do período de médio de flicker, fornecendo uma indicação geral da magnitude
observação. do distúrbio. Os demais pontos de avaliação caminham em
Se todas as curvas FPCs seguissem o mesmo tipo de direção ao final da escala de probabilidade (FPCC), objetivando
distribuição, como a Gaussiana, por exemplo, a severidade do ponderar de maneira apropriada os níveis mais elevados de
efeito flicker seria perfeitamente caracterizada por meio dos flutuação, causadores de maior incômodo ao olho humano.
parâmetros média e desvio padrão. Entretanto, esta situação Observa-se que o máximo nível de flicker constatado durante
não corresponde à realidade. Verificou-se que, dependendo o intervalo analisado, não é incluído nos níveis probabilísticos
do tipo de distúrbio, as curvas FPCs obtidas apresentam-se utilizados, descartando-se, assim, eventuais picos esporádicos.
sensivelmente diferentes. A escolha do ponto de avaliação correspondente a 0,1%
Pelo que foi apresentado em relação às FPCs, no fornece uma resposta adequada na análise deste tipo de evento.
tocante às diferenças entre os resultados para cada tipo de Uma vez estabelecidos os pontos de avaliação, o próximo
distúrbio, constata-se a necessidade do estabelecimento de passo consiste na determinação do tempo dispensado para a
um único critério que quantifique a severidade de flicker, avaliação do índice de severidade de flicker de curta duração.
independentemente da forma do distúrbio. Esse critério, de Embora as cargas perturbadoras possuam diferentes ciclos de
acordo com o Método Padrão UIE, baseia-se na conversão operação, o tempo de análise deve ser independente da fonte
da curva FPC em um índice representativo da severidade de distúrbio considerada. Desta maneira, faz-se necessário
de flicker. Para tal, o procedimento adotado pela UIE, foi o considerar, novamente, o fenômeno fisiológico induzido no
desenvolvimento de um algoritmo que avaliasse a curva FPC olho humano, na determinação do intervalo médio de tempo
em múltiplos pontos. Assim, este processo requer o cálculo de que melhor caracterize o efeito flicker. Por meio de testes de
duas variáveis, a saber: percepção realizados em seres humanos e suas reações ao
fenômeno de cintilação luminosa, estipulou-se o período de
• PST – Índice de severidade de “Flicker” pelo método de curta dez minutos que, embora possa ser considerado longo para a
duração ou “Short-TermProbability”; pessoa exposta ao distúrbio, evita a supervalorização de picos
• PLT – Índice de severidade de “Flicker” pelo método de longa esporádicos e ainda permite caracterizar, detalhadamente,
duração ou “Long-TermProbability”. distúrbios procedentes de equipamentos com ciclos de carga
distintos.
O nível de severidade de flicker de curta duração, PST, é Os valores P0,1, P1, P3, P10 e P50 são obtidos da curva
definido pela Equação 1. complementar da FPC, ou seja, da curva 1-FPC no período de
Apoio
46

dez minutos, consistindo dos níveis que foram excedidos em A expressão resultante para o índice de severidade
Qualidade de energia

0,1%, 1%, 3%, 10% e 50%, respectivamente. de flicker de curta duração, incluindo os valores dos
Com relação aos valores obtidos para os coeficientes Ki, coeficientes Ki, é dada pela Equação 2.
estes foram determinados a partir da curva recomendada pelo
(2)
documento IEC 555-3, a qual, baseada em investigações de
sensibilidade do olho humano, correlaciona a variação de A avaliação da severidade no nível flicker pelo método
tensão com variações retangulares de tensão, por minuto, para de curta duração é empregada, adequadamente, quando
a obtenção de PST igual a 1. se realiza a análise de distúrbio causada por fontes
Simplificadamente, a conversão da curva FPC, em um individuais. Quando da existência de várias fontes de
índice representativo da severidade do incômodo visual para distúrbio ou cargas com longos e variáveis ciclos, torna-se
um período de dez minutos, é determinada de modo que o necessária e conveniente uma análise criteriosa pelo índice
valor de PST seja igual a 1 para todos os valores de variação de de severidade de flicker de longa duração (PLT).
tensão expressos pela curva IEC 60555-3. O estabelecimento de O índice de severidade de flicker de longa a duração –
um valor limite para PST foi resultante de testes em laboratório; PLT – mais utilizado é derivado do parâmetro PST a partir do
verificou-se que uma proporção substancial de observadores cálculo da raiz cúbica dos valores de PST cúbicos, expresso
mostrou-se sensível ao flicker para PST igual a 1. pela Equação 3.
Os valores determinados para os coeficientes Ki são
apresentados na Tabela 1.
(3)

Tabela 1 – Valores dos coeficientes Ki


Coeficientes de ponderação Valor Conforme já citado, este método é empregado quando
k 0,1 0.0314 o distúrbio é provocado por várias fontes como máquinas
k1 0.0525
k3 0.0657 de solda e motores, assim como quando as fontes possuem
k10 0.28 longos e variáveis ciclos de carga, como os fornos a arco.
k 50 0.08
O tempo requerido para a quantificação do nível de
47

“flicker”, segundo a avaliação pelo PLT, foi estipulado para


cada duas horas de operação de carga.
Quanto aos limites aceitáveis do método padrão UIE,
têm duas referências importantes no Brasil, as quais são
representadas pelos valores indicados pelo Módulo 8, dos
Procedimentos de Distribuição (Prodist), definidos pela
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), bem como
pelo submódulo 2.8, do Procedimento de Rede, definido
pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
No caso do Prodist, consideram-se três faixas para
classificação dos indicadores PST e PLT: adequado, precário
e crítico. Os valores de referência para cada uma das faixas
é mostrado na Tabela 2 e o valor a ser considerado para o
fator de transferência na Tabela 3:
Tabela 2 – Valores de referência – Prodist
Valor de referência PstD95% PltD95%
Adequado <1 p.u. / FT <0,8 p.u. / FT
Precário 1p.u. – 2 p.u. / FT 0,8 p.u. – 1,6 p.u. / FT
Crítico >2 p.u./ FT >1,6 p.u./ FT

Tabela 3 – Fatores de Transferência – FT


Tensão nominal do barramento FT
Tensão do barramento ≥ 230 kV 0.65
69 kV ≤ Tensão do barramento < 230 kV 0.8
Tensão do barramento < 69 kV 1,0

Para o caso do procedimento de rede, consideram-se dois


limites globais para avaliação de desempenho da qualidade da
tensão: global inferior e superior, cujos valores são mostrados
nas Tabelas 4 e 5:
Tabela 4 – Valores de referência – Procedimento de Rede
Limite PstD95% PltD95%
Global inferior 1p.u. / FT 0,8p.u. / FT
Global superior 2p.u. / FT 1,6p.u. / FT

Tabela 5 – Fatores de transferência - FT


Tensão nominal do barramento FT
Tensão do barramento ≥ 230 kV 0.65
69 kV ≤ Tensão do barramento < 230 kV 0.8
Tensão do barramento < 69 kV 1,0

*Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com


mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica
pela universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
é consultor tecnológico em energia no Instituto de
Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação
é voltada para áreas de qualidade de energia
elétrica, geração distribuída, eficiência energética e
distribuição.

Mateus Duarte Teixeira é engenheiro eletricista e


mestre em sistemas de potência – qualidade de energia
elétrica. Atua há mais de dez anos em projetos de
tecnologia aplicada ao setor elétrico nas áreas de
qualidade da energia, geração distribuída, eficiência
energética e proteção de sistemas elétricos para
empresas do setor.

Continua na próxima edição


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36
Qualidade de energia

Capítulo VIII

Compensação reativa e
qualidade da energia elétrica
Por Flávio Resende e Gilson Paulillo*

No contexto da qualidade da energia elétrica nestes equipamentos, liberam sua capacidade e,


(QEE), um dos temas mais importantes envolve o portanto, permitem um maior aproveitamento dos
equacionamento da demanda de reativos na rede mesmos.
elétrica, classicamente abordado para a correção 3 – Melhoria das condições de tensão: Pelas
do fator de potência em instalações, e os aspectos reduções das quedas de tensão, os capacitores
relacionados aos fenômenos de QEE, principalmente ajudam a manter o sistema de tensão sustentado ao
harmônicos. Neste aspecto, se por um lado a longo dos alimentadores. Esta melhoria na tensão
adoção de filtros – passivos e ativos – permite a significa melhor rendimento dos motores e aumento
compensação da demanda de reativos da rede e de de eficiência do sistema.
uma instalação, por outro lado, este também deve 4 – Redução de perdas: Pelo fornecimento de KVAr
ser adotado com cuidado em virtude dos potenciais no ponto onde há a necessidade, os capacitores
efeitos negativos advindos das ressonâncias aliviam o sistema de transmitir corrente reativa.
harmônicas. Estas, dependendo da configuração da Desde que a corrente elétrica na linha é reduzida,
rede e da instalação, podem aparecer na adoção as perdas (I2R) e (I2X) também diminuem e reduzem
de soluções simples – instalação de um banco o kWh consumido.
de capacitores não chaveado – e complexas – 5 – Redução e/ou postergação de investimentos
instalação de filtros ativos – para a compensação de em instalações elétricas, justamente em função dos
reativos em uma instalação. item 2, 3 e 4 citados anteriormente.
Vale lembrar que os principais efeitos
decorrentes da aplicação de capacitores em Estes aspectos, os principais conceitos e os
derivação (compensação reativa) junto à carga: potenciais impactos na QEE da instalação serão
1 – Redução nas contas de energia: Em função abordados neste artigo.
das penalidades impostas pela legislação pelo
baixo fator de potência, os capacitores reduzem Redução de perdas
as contas de energia evitando o pagamento de tais As perdas elétricas estão associadas à
penalidades. corrente elétrica em uma instalação. Estas são
2 – Liberação da capacidade do sistema: Em proporcionais ao quadrado da corrente, sendo
equipamentos limitados termicamente, como é o e estando diretamente associadas à melhoria do
caso dos geradores, transformadores, cabos, chaves, fator de potência de uma instalação. Isto pode ser
etc., os capacitores diminuem a corrente circulante demonstrado pela relação (1) e pela Figura 1:
Apoio
37

Analisando-se a Figura 1, verifica-se que uma carga com F.P.


original igual a 0,7, se corrigida para um F.P. de 0,9, gera uma
redução das perdas de 39,5%.
Em que: cos Ø1 = F.P. original
(1)
cos Ø2 = F.P. corrigido Redução das quedas de tensão
A melhoria da tensão após a aplicação de capacitores deve
ser considerada como mais um benefício. Para tanto, considere
a Figura 2, que representa a aplicação típica de um banco de
capacitores em uma instalação.

Figura 2 – Aplicação de compensação de reativos em uma instalação

Com base na Figura 2, a queda de tensão desta instalação é


determinada pelas seguintes relações:

(2)
Figura 1 – Relação entre perdas e fator de potência corrigido de uma
instalação.
Apoio
38

Logo, a redução do valor de Ix, que pode ser viabilizada por Clientes com medição do tipo média mensal:
Qualidade de energia

meio da aplicação, por exemplo, de um banco de capacitores Considera-se, neste caso, a correção do fator de potência de
tipo shunt, permitirá a melhoria do perfil de tensão da instalação. consumidores do tipo “B”, que, via de regra, estão submetidos
Vale lembrar que cuidados especiais devem ser tomados à medição mensal do fator de potência.
quando da operação do banco de capacitores sob condições O valor atualmente mais indicado para correção do
de carga leve, pois, nesta situação, a tensão tende a se elevar fator de potência é de 0.95, recomendando-se que ele não
bastante, podendo atingir valores acima dos permitidos. Nestes apresente fatores médios abaixo de 0.93 ou acima de 0.98.
casos, é aconselhável a adoção do chaveamento manual ou No primeiro caso, conforme a característica da instalação,
automático dos capacitores, de acordo com as necessidades da adotar a estratégia de correção para valores abaixo de
instalação. Esta condição pode ser observada na Figura 3, que 0.93 pode ocasionar multas em determinados períodos do
mostra que a instalação apropriada de capacitores pode manter ano devido à estreita margem de erro. No segundo caso, a
a tensão no fim da linha dentro de limites bem próximos do correção para valores acima de 0.98 pode levar a problemas
valor da tensão no início da linha. na instalação do consumidor.
Assim, recomenda-se a realização de um estudo detalhado
das diversas alternativas de compensação como, por exemplo,
a aplicação de bancos automáticos, correção localizada, filtros
ativos, dentre outros.
A identificação mais prática e segura dos problemas de
multa por baixo fator de potência e, consequente, a necessidade
de se adotar um mecanismo de compensação de reativos é a
análise das contas de energia da instalação.

Dados das contas de energia:


Em geral, as contas de energia dos quatro meses antecedentes
ao estudo, normalmente, são suficientes para avaliar as
necessidades da instalação no tocante ao fator de potência.
Todavia, deve-se considerar o tipo de atividade do cliente e,
conforme o caso, esta análise deve considerar as últimas 12
contas de energia. Por meio desta análise serão identificados os
seguintes parâmetros:

• Demanda máxima: é a máxima demanda registrada pela


instalação, expressa em kW;
• FP registrado;
Figura 3 – Variação da queda de tensão em linhas com carga distribuída.
• Consumo (kWh): é importante considerar as variações de
Eliminação das multas por baixo fator de potência consumo do cliente. Quando o consumo é razoavelmente
A regulamentação definida no Módulo 8, dos Procedimentos estável, pode-se utilizar o valor médio das contas disponíveis.
de Distribuição (Prodist), da Aneel, indica os seguinte limites Sabendo se a quantidade de horas que o cliente trabalha por
para o fator de potência da instalações elétricas conectadas às mês, pode-se calcular a demanda média em kW (kilowatt).
redes de distribuição, com tensão inferior a 230 kV: Utilizando se da demanda média, obtêm-se a quantidade
mínima de capacitores a serem instalados.
MEDIÇÃO MEDIÇÃO
• Horário de trabalho do cliente: este dado é importante para
TRADICIONAL HORÁRIA
calcular a demanda média do cliente. Devemos ser atentos
Fator de Potência Mensal Horária
Limite FP Indutivo F.P > 0,92 0:00-06:00 HS com falsas informações (muito comum).
Sem limite
6:00-24:00 HS Para clientes com medição horária:
FPind > 0,92 Os valores indicados para correção do fator de potência (na
Limite FP Capacitivo Sem limite 0:00-06:00 HS
média horária) são:
FPcap > 0,92
6:00-24:00 HS
Sem limite • Das 0h00 – 6h00 - de 0,00 ind a 0,92 cap
Demanda Max Reativa Não mede Mede • Das 6h00 – 24h00 - de 0,00 cap a 0,92 ind
Apoio
40

Dados adicionais do cliente: Cliente com medição do tipo média horária:


Qualidade de energia

Estas informações são indispensáveis para a determinação No caso da utilização da demanda registrada em cada
do local mais indicado para instalação dos capacitores, assim hora como referência para (3) e (4), o resultado é a definição
como o modelo e tipo de capacitor mais apropriado. Em geral, da compensação a ser inserida na rede em cada hora em
estão disponíveis no diagrama unifilar da instalação e deve função do perfil de carregamento do consumidor. Logo,
apresentar as seguintes informações: tem-se que:

(6)
• Todos os transformadores (com tensões e potência definidas);
• Todos os capacitores fixos (com potência definida);
Aplicação de capacitores em circuitos com
• Todos os bancos automáticos de capacitores (com potência
harmônicos
definida);
Pelas considerações estabelecidas nas normas
• Todos os capacitores não fixos, em geral instalados junto a
mundialmente reconhecidas de especificação de capacitores
máquinas especiais, motores, etc. (com potência definida);
de potência, existem restrições quanto à sua utilização em
• Cargas especiais, fundamental para os circuítos onde pode
circuitos com condições anormais de operação (transitórios,
haver a circulação de correntes harmônicas. Nestes casos,
sobretensões, harmônicos, etc.).
recomenda-se efetuar o estudo de penetração harmônica da
Tais restrições são decorrentes do fato de que o
instalação. Neste caso, o unifilar deve ser completo, constando
fabricante, ao projetar e fabricar um determinado tipo
os seguintes dados:
de capacitor, leva em consideração os valores normais
 Impedância de todos os equipamentos;
de tensão e corrente a que ele estará submetido (valores
 Características das fontes geradoras de harmônicas;
nominais), não podendo prever de modo generalizadoas
 Potência de curto circuíto da concessionária;
possíveis condições adversas. Tais condições adversas,
 Outros.
em muitos casos, ultrapassam os valores normalizados de
suportabilidade do equipamento, sacrificando desta forma
Definição do valor da compensação de reativos
sua vida operacional.
O montante de compensação pode ser definido por meio
Todo circuito que opera com dispositivos que alteram
dos dados disponibilizados pela fatura de energia elétrica ou
a forma de onda da corrente e da tensão fundamental de
ainda pelos dados disponibilizados pela concessionária de
alimentação possui componentes harmônicos. A amplitude
energia a partir da memória do medidor de energia (hora a
e a frequência destes harmônicos dependerão do tipo
hora). Dessa forma, pode-se obter o valor da compensação por
de equipamento utilizado, de sua potência e dos valores
meio da seguinte relação:
intrínsecos do circuito e equipamentos a ele conectados.
(3) A impedância de qualquer tipo de capacitor (reatância
Em que: capacitiva) é definida pela seguinte expressão:

tg(φ)r = tangente para fator de potência real;


tg(φ)d = tangente para fator de potência desejado;
kW = Potência ativa em kilowatts. Em que: w - frequência angular da rede em radianos
Cliente com medição do tipo média mensal: f - frequência da rede em Hz.
A utilização da demanda máxima registrada como potência
Dessa forma pode-se concluir que a impedância dos
ativa em (3) resulta no limite máximo de compensação que o
mesmos será tanto menor quanto maior for a frequência da
cliente pode instalar. Logo:
rede, uma vez tal impedância é inversamente proporcional
(4) à frequência. Tal efeito fará do capacitor um “caminho” de
baixo impedância para a circulação de harmônicos, fazendo
Por outro lado, caso seja utilizada a demanda média como
com que uma grande parte das correntes harmônicas geradas
potência ativa em (4), a resposta será o limite mínimo de
passem pelo capacitor.
compensação, definido em (5).
Cabe salientar que os capacitores “não geram”
(5) harmônicas, mas, como outras cargas elétrica, sofrem seus
efeitos. Observa-se também que determinados circuitos
No caso dos consumidores que trabalham no regime
poderão ter seus valores de harmônicos amplificados em
horosazonal, os cálculos anteriores devem considerar os
intensidade após a instalação de capacitores nos mesmos,
consumos na ponta e fora da ponta.
Apoio
41

uma vez que estes tendem a diminuir a impedância geral do Logicamente, o equipamento utilizado para tal proposição
circuito para frequências acima da fundamental. é dimensionado para suportar as adversidades de funciona­
mento (sobrecorrentes e sobretensões harmônicas), sendo
Ressonância série aproveitada a sua potência de serviço na tensão fundamental
Em relação à circulação de componentes harmônicos sobre para a correção do fator de potência no ponto de instalação
os capacitores, ressalta-se que a condição mais severa ocorrerá do mesmo.
quando for estabelecida uma sintonia em série entre os valores
da impedância equivalente do sistema com o capacitor Resssonância paralela
(ressonância série). Neste caso, a atenuação da amplitude do Esta ressonância apresenta um elevado valor de
harmônico considerado é praticamente nenhuma, transferindo impedância pela combinação em paralelo da reatância
para o capacitor toda (ou quase toda) a energia corresponde à capacitiva com a reatância indutiva, na frequência em
harmônica sintonizada. Neste caso, considera-se: que ambas se equivalem. Isto pode representar um sério
problema quando esta impedância for percorrida por uma
corrente, mesmo que pequena, de mesma frequência,
fazendo com que se elevem drasticamente as tensões em
Em que: Zr = Impedância Resultante
seus terminais e as correntes harmônicas desta ordem
existentes no sistema, levando a danos aos equipamentos
do sistema, principalmente aos bancos de capacitores
instalados no ponto de ocorrência de tal ressonância.
Em que: fr = Frequência de Ressonância
Em sistemas de potência, a utilização de capacitores
Contudo, uma estratégia comum é a utilização do para correção do fator de potência pode caracterizar uma
efeito de ressonância em questão para a “filtragem” das ressonância paralela no ponto de instalação àafrequências
harmônicas existentes em sistemas elétricos. Cria-se, harmônicas que estejam presentes no sistema. Desta forma,
dessa forma, o conceito de “Filtro de Harmônicos”. em sistemas onde existem cargas geradoras de harmônicas
Apoio
42

significativas, é imprescindível a realização de estudos harmônicas, tais ligações deverão ser reforçadas, evitando
Qualidade de energia

harmônicos para garantir a instalação segura dos bancos sobrecarga nos condutores e placas.
de capacitores para correção do fator de potência, evitando
com isto danos a estes bancos e ao próprio sistema. c) Na prática, pode-se considerar que a média quadrática
Para determinação da frequência de ressonância quando dos valores das correntes existentes, nos dará a noção
da instalação de bancos de capacitores, pode-se utilizar a apropriada da corrente resultante, para o dimensionamento
seguinte equação: dos condutores a placas associados ao capacitor.

Eventuais sobrecorrentes de frequência e intensidades


Em que: não previstas geram sobrecarga nos condutores e
N - Ordem harmônica da ressonância; placas com consequente aumento das perdas devido a
KVAcc - Potência de curto-circuito no ponto de instalação aquecimento. Este processo leva ao sobreaquecimento dos
do banco de capacitores em KVA; materiais isolantes, o que resulta na diminuição da vida útil
KVAr - Potência do banco de capacitores em KVAr. do capacitor.

Efeitos das componentes harmônicas sobre capacitores d) Efeito combinado: tensão X corrente: este efeito, gerado
Os valores nominais de tensão de potência de operação a partir da presença de tensões e correntes harmônicas,
são utilizados para o dimensionamento dos capacitores leva à necessidade de estabelecer, com critérios, o
em sua utilização mais genérica, ous seja, funcionamento adequado dimensionamento dos capacitores da instalação.
na frequência fundamental. Entretanto, em circuitos com Além disso, devem ser consideradas as variações bruscas
presença de harmônicos os valores de suportabilidade dos na forma de onda distorcida da tensão sobre o capacitor,
capacitores ficarão prejudicados em função do acréscimo resultante das componentes harmônicas.
de corrente, tensão e potência introduzidos por este Neste caso, considere-se a que a corrente no capacitor
fenômeno. é dada, em função de sua tensão, pela seguinte relação:
Basicamente, os efeitos prejudiciais causados pelas
componentes harmônicas podem ser explicados da seguinte
forma:

a) Tensão: O isolamento entre placas, além de suportar Em que: C = capacitância


a tensão fundamental, terá que suportar também as V(t) = tensão no capacitor
sobretensões causadas pelos harmônicos drenados pelo
capacitor. Tal efeito é significativo em frequência de 120 Hz Observa-se que as bruscas variações de tensão provocam
a 720 Hz, quando o produto da impedância do capacitor variações na corrente demandada pelo capacitor, e, por
pela intensidade (amplitude) da corrente na frequênca conseguinte, variações no campo elétrico existente entre as
considerada tendem a assumir valores representativos. suas placas, resultando em danos ao dielétrico do mesmo.
Para a determinação do valor máximo de sobretensão,
é necessário que se faça a computação instantânea dos Conclusão
valores de tensão de cada harmônica, em amplitude e fase. Devido à severidade que os efeitos comentados
Esta degradação também pode ser resultante das poderão assumir, é inadmissível conceber que um
descargas parciais no dielétrico do capacitor. Quando o capacitor dimensionado para funcionamento em circuitos
nível de descargas parciais atinge valores elevados, a vida convencionais possa suportar as condições adversas
útil do capacitor degrada-se rapidamente. impostas pelas harmônicas.
Entretanto, conhecendo os níveis e ordem das harmônicas
b) Corrente: Uma vez que os capacitores são associação em que o capacitor deverá suportar, é possível estabelecer um
série e/ou paralelo de unidades capacitivas em (elementos estudo para o seu correto dimensionamento. Tal capacitor
capacitivos = bobina capacitiva = menor parte formadora tenderá a ter seu projeto sobredimensionamento, a fim de
do capacitor), existe a necessidade de fazer conexões suportar, além da contingência normal de funcionamento da
elétricas com cabos/terminais/cordoalhas/soldas, etc. Com frequência fundamental, todos os esforços eletromecânicos
o acréscimo de corrente implementado pelas correntes adicionais causados pelas harmônicas.
Apoio
43

Invarialvemente, o “reforço” dos capacitores leva a um Sinusoidal Voltage on Intrinsic Aging of Cable and Capacitor
aumento no seu tamanho com a reavalição de todas as Insulating Materials”, IEEE Transactions on Dielectrics and
suas características de projeto, repercutindo em acréscimos Electrical Insulation, pp. 798-802, Dec. 1999.
de custos e, possivelmente, prazos de entrega. Porém, [5] Life Expectance Test Procedures – General Electric –
paralelamente, tais inconvenientes são justificáveis em Reactive Compensation Business.
função dos benefícios obtidos com o aumento de vida útil [6] GARCIA, F.R. “Procedimentos de Projeto de Capacitores
alcançado, se comparados com capacitores convencionais. e Bancos de Capacitores em Sistema com Harmônicos”,
Aconselha-se, em função da problemática que circuitos Inepar.
com harmônicos podem assumir, fazer um criterioso estudo
de características, dando ao fabricante de capacitores os *Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com
subsídios necessários para o correto dimensionamento de mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica
pela universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
seu equipamento. é consultor tecnológico em energia no Instituto de
Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação
é voltada para áreas de qualidade de energia
Referências
elétrica, geração distribuída, eficiência energética e
[1] ARRILAGA, J., “Harmonic Elimination”, in International distribuição.
Conference on Harmonics in Power Systems Proceedings,
Flávio Resende Garcia é consultor técnico da empresa
September 1981, Manchester, England, pp. 37-75.
INEPAR S/A desde 1992. É engenheiro eletricista, com
[2] ARRILAGA, J., BRADLEY, P. S., BOGDER, P. S., “Power mestrado em Cargas Elétricas Especiais e Harmônicos
Systems Harmonics”, John Wiley and Sons, New York, 1985. em Sistemas Elétricos de Potência e especialização em
“Power Quality Management” pela Westinghouse-USA.
[3] DUGAN, R. C., McGRANAGHAN, M. F., BEATY, H. W.,
“Electrical Power Systems Quality”, McGraw-Hill, USA,
Continua na próxima edição
1996. Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
[4] MONTANARI, G.C. and FABIANI, D. “The Effect of Non- redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
44
Qualidade de energia

Capítulo IX

Estudo de caso – diagnóstico


da QEE
Por Fernando Nunes Belchior, José Maria de Carvalho Filho e Gilson Paulillo*

Consideremos o complexo industrial do A linha de produção é constituída de um


consumidor X, alimentado por meio de uma linha conjunto de máquinas associadas em série,
de distribuição em 13,8 kV, circuito protegido utilizadas na produção de fios e cabos óticos.
(rede compacta), originária da subestação de 138 Todas as fases do processo necessitam de
kV/13,8 kV, semi-exclusivo e compartilhado com as controle preciso de velocidade, implicando na
indústrias S e T. instalação de sofisticados sistemas de controle
Internamente, a linha de produção da fábrica (cartões de controle, PLCs, etc.) associados
é alimentada por um transformador de 750 kVA a inversores de frequência e conversores
13,8/0,38 kV, conexão delta-estrela, solidamente de corrente contínua. Estes equipamentos
aterrado. O diagrama unifilar deste consumidor é (inversores e conversores) são considerados
apresentado na Figura 1. tanto como cargas especiais, devido à
geração de harmônicos, tanto como cargas
sensíveis, por sofrerem o impacto de distúrbios
eletromagnéticos originários da rede elétrica,
sob a forma de queima de componentes e/ou
parada de funcionamento.
Ao contrário da linha de produção, a área
de utilidades da fábrica é constituída por
cargas convencionais, ou seja, sistema de ar
comprimido, compressores, bombas, torres de
resfriamento de água etc., acionados por motores
de indução.
Devido à alta sensibilidade dos equipamentos
utilizados nas linhas de produção, o consumidor
X vem enfrentado diversos problemas, tais como,
paradas de produção, perdas de matéria-prima etc.
Neste sentido, a principal suspeita é a ocorrência
de distúrbios na rede elétrica, relacionados à
Qualidade da Energia Elétrica (QEE).
Dentro deste contexto, este trabalho
Figura 1 – Diagrama unifilar. tem como objetivo apresentar a análise e o
Apoio
45

diagnóstico da QEE, visando identificar o(s) distúrbio(s) • Harmônicos:


associados às paradas de produção e potenciais soluções. – Duração: uma semana;
– Equipamento utilizado: AR4 – Circutor;
Metodologia – Locais de medição:
A metodologia adotada para a elaboração do diagnóstico • Ponto de acoplamento comum: 13,8 kV;
dos problemas consistiu das seguintes etapas: Secundário do transformador de 1 (produção):

3,8/0,38 kV;
• Levantamento de dados dos equipamentos e das • Painel de alimentação linha de produção CB-I:
instalações da unidade consumidora;
• Variações de tensão de longa duração (sub e
• Registro das ocorrências; sobretensão):
– Duração: uma semana;
• Monitoramento dos principais fenômenos de QEE, – Equipamento utilizado: EL0 63 1;
com o objetivo de identificar e quantificar os distúrbios – Locais de medição (medição simultânea):
potencialmente associados às paradas de produção, • Ponto de acoplamento comum: 13,8 kV;
utilizando-se equipamentos específicos para cada um dos Secundário do transformador de 1 (produção):

principais fenômenos, a saber: 3,8/0,38 kV;
• Variações de tensão de longa duração;
• Harmônicos; • VTCD e Transitórios:
• Desequilíbrios de tensão; o Duração: 50 dias;
• Transitórios; o Equipamento utilizado: PQ Node 7100;
• Variações de tensão de curta duração (VTCD). o Local de medição:

Secundário do transformador de 1 (produção):
• Procedimento de medição associado a cada fenômeno: 3,8/0,38 kV.
Apoio
46

Características dos dados coletados distúrbios de QEE, destacando-se:


Qualidade de energia

Foram coletadas informações referentes ao sistema


de suprimento de energia (concessionária Y), sistema de − Sub e sobretensões;
alimentação interno (consumidor X) e dos equipamentos − Harmônicos;
envolvidos diretamente nas linhas de produção, conforme − Transitórios;
a seguinte descrição: − VTCDs: afundamentos e elevações de tensão.

− Sistema de suprimento: Uma vez identificados e quantificados os distúrbios,


• Diagrama unifilar do sistema da concessionária, o próximo passo consistiu na comparação dos resultados
englobando a região geográfica e adjacências, nas obtidos com os limites estabelecidos em normas técnicas e/
tensões de 13,8 kV e 138 kV; ou recomendações internacionais.
• Características do sistema de proteção das linhas de
transmissão e distribuição, bem como ajustes dos relés Resultados das medições
de proteção; Os resultados das medições para os principais distúrbios
• Práticas de religamento utilizadas pela concessionária; associados à QEE são mostrados a seguir:
• Nível de curto-circuito no barramento da subestação
de suprimento de 138 kV/13,8 kV; - Sub e sobretensões
• Quilometragem total das linhas de transmissão e de O tratamento estatístico executado para estes dois
distribuição; itens está sintetizado nas figuras 2 e 3, considerando o
• Relatórios de ocorrências no sistema da concessionária primário e o secundário do transformador de 750 kVA,
nos instantes em que foram registradas paradas de respectivamente.
produção.
Histograma Média: 8127.77V
• Banco de dados de curto-circuito da rede transmissão
e distribuição.
25000 120,00%
20000 100,00%
Frequência

− Sistema de distribuição do consumidor: 80,00%


15000 Frequência
60,00%
• Diagrama unifilar do sistema de distribuição da 10000
40,00% %cumulativo
fábrica; 5000 20,00%
0 ,00%
• Dados sobre o sistema de aterramento;
• Filosofia de chaveamento dos bancos de capacitores
2 6
8 1
4 6
0 1
65 6
1
77 9,0
78 8,4
80 7,7
82 7,7
83 6,4
,8

existentes.
6
75

Bloco

− Cargas sensíveis do processo industrial:


Figura 2 – Tensão de regime permanente – Primário do transformador.
• Tipos de equipamentos utilizados no processo
industrial; Média: 224.61V
Histograma
• Diagrama unifilar, indicando a forma de alimentação
destes equipamentos (circuitos de força e de controle); 25000 120,00%
20000 100,00%
Frequência

• Sensibilidade destes equipamentos diante dos


80,00%
15000 Frequência
distúrbios de QEE, por meio de consultas diretas aos 60,00%
10000 %cumulativo
fabricantes; 40,00%
5000 20,00%
• Obtenção dos ajustes e das parametrizações das 0 ,00%
proteções e controles inerentes aos acionamentos;
21 09
21 ,4
22 ,8
22 ,2
6
1
6,
23

• Relatórios de produção e de manutenção.


3
7
2
2

Bloco
Diagnóstico da QEE
Inicialmente, foram analisados os dados obtidos nas Figura 3 – Tensão de regime permanente – Secundário do transformador.

medições de campo, de forma a quantificar e correlacionar - Harmônicos


os distúrbios de QEE com as ocorrências de paradas de O tratamento estatístico dos harmônicos de tensão, consolidado
produção. Foram investigadas a presença dos principais por meio do indicador associado à distorção harmônica total de
Apoio
48

tensão (VTHD – Voltage Total Harmonic Distortion) é mostrado tensão (VTHD – Voltage Total Harmonic Distortion) é mostrado
Qualidade de energia

na Figura 4 e a forma de onda representativa desta distorção é na Figura 4 e a forma de onda representativa desta distorção é
mostrada na Figura 5. mostrada na Figura 5.

Model 7100 Waveshape Disturbance Three Phase Wye


450.0V 10.0A
VTDm: 2,20 Va
Vb
60 1 20,00%
Vc
50 100,00%
Frequência

40 80,00%
Frequência
30 60,00%
%cumulativo 0.0V 0.0A
20 40,00%
10 20,00%
0 ,00%
5
5

s
1,
0,

2,

3,

4,

ai
M

Bloco -450.0V -10.0A


0.00ns 1.67ms/div 33.33ms
Figura 4 – Distorção harmônica total de tensão – Painel de entrada. 19:34:13.26

Model 7100 Snapshot Waveform Three Phase Wye Figura 6 – Transitório de chaveamento de banco de capacitores
350.0V 10.0A
Distortion: THD=2.31% Odd=2.30% Even=0.25% Va
- VTCDs – Afundamentos e elevações de tensão
Os eventos registrados no período de monitoramento (50
dias) estão sintetizados na Tabela 1 e na Figura 7. Observa-se,
0.0V 0.0A
quantitativamente, que os afundamentos de tensão foram os
distúrbios que estiveram mais presentes nas instalações do
consumidor X.

Tabela 1 – Afundamentos de tensão


Intensidade (%)
90-85 85-80 80-75 75-70 70-65 65-60 60-55 55-50
-350.0V -10.0A Duração (ms)
0.00ns 833.33us/dv 16.67ms/div
01:49:22.18 PM 0-50 3 3 3 3 3 3 3 3
50-100 1 3 3 3 3 1 3 3
2.0%
100-150 5 2 2 2 2 3 2 2
150-200 2 1 1 1 1
1.0%
200-250
300-350 3 2 1 2 1
0.0%
60Hz 2940Hz 350-400 3 1 1 1
Figura 5 – Forma de onda de tensão e respectivo espectro harmônico.
400-450 3 1 1 1
450-500 1
Observando-se os resultados obtidos, conclui-se que 500-550 1 1
a distorção harmônica total de tensão em todos os pontos 550-600 1 1
monitorados ficou abaixo do menor limite recomendado
pelas normas internacionais, ou seja, 5% (IEEE). Além disso, o A f u n d a m e n t o d e Te n s ã o
espectro de frequência mostrado na Figura 5 confirma os valores
esperados, com predominância dos harmônicos de quinta e
sétima ordem, devido à presença de conversores de seis pulsos
utilizados nos diversos acionamentos utilizados na planta.
Frequência

- Transitórios
A Figura 6 mostra um transitório típico associado ao
chaveamento de banco de capacitores, comandado pelo
Intensidade(%)
controlador de fator de potência. Como não houve registro de
Duração (ms)
paradas de produção nestes instantes, não se pode, neste caso,
correlacionar os transitórios medidos e as paradas de processo. Figura 7 – Características dos afundamentos de tensão.
Apoio
50

Em função da característica dos desligamentos dos Estes eventos culminaram em diversas paradas de produção na
Qualidade de energia

equipamentos associados ao processo produtivo, bem unidade consumidora, com os seguintes impactos:
como aos resultados mostrados anteriormente, concluiu-se
que as ocorrências de afundamentos de tensão de tensão − Desligamento de acionamentos CA e CC e efeitos associados
constituíram-se na principal suspeita da causa das paradas ao processo;
de produção do consumidor X. − Paradas de produção em processos contínuos devido às
A fim de confirmar esta hipótese, correlacionaram-se os disfunções ocorridas em CLPs e cartões de controle;
eventos registrados (paradas de processo) com as ocorrências − Desligamento de motores na área de serviços auxiliares
dos afundamentos de tensão e suas características intrínsecas devido ao desligamento de contatores e relés auxiliares.
(intensidade e duração). Neste caso, a combinação do
grau de severidade dos afundamentos e a sensibilidade Para minimizar os problemas identificados, recomendou-se
dos equipamentos (acionamentos CA e CC e sistemas de a execução de estudos de viabilidade e projeto de instalação,
controle) tiveram impacto direto no desligamento dos visando as seguintes ações:
equipamentos e na interrupção dos processos produtivos
associados. Como exemplo, a Figura 8 mostra um registro − Estabilizar as tensões de comando para alimentação de CLPs
de afundamento de tensão com elevado grau de severidade. e cartões de controle por meio de no-break (solução local);
A correlação de todos os registros de afundamentos de − Estabilizar as tensões de comando para a alimentação de
tensão com o relatório de produção indicou a ocorrência bobinas de contatores e relés auxiliares;
de seis eventos. − Implantar um sistema de alarmes, visando notificar a equipe
Assim, com base nestas informações concluiu-se que a de manutenção elétrica dos desligamentos de equipamentos
causa principal das paradas de produção do consumidor auxiliares;
X foram os afundamentos de tensão, provocando o mau − Avaliar, juntamente com todos os fabricantes, a possibilidade
funcionamento e desligamento de Controladores Lógico de dessensibilização dos acionamentos CA e CC por meio de
Programáveis (CLPs) e acionamentos CA e CC. uma nova parametrização dos acionamentos. Neste particular,
faz-se necessário a obtenção, junto aos fornecedores, das
parametrizações em uso nos equipamentos;
Model 7100 RMS Sag Disturbance Three Phase Wye
300.0V 20.0A
− Estabilizar as tensões de alimentação das demais cargas
Va
sensíveis por meio de nobreaks (solução local).
Vb
Vc

150.0V 10.0A *Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com


mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica
pela universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
é consultor tecnológico em energia no Instituto de
Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação
é voltada para áreas de qualidade de energia
0.0V 0.0A elétrica, geração distribuída, eficiência energética e
0.00ns 29.17ms/div 583.33ms
5:18:02.78PM distribuição.

Figura 8 – Afundamento de tensão de grande severidade. Fernando Nunes Belchior é engenheiro eletricista,
mestre e doutor em Engenharia Elétrica pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU-MG). Desde
Conclusões fev/2007 é professor adjunto no Grupo de Estudos da
Qualidade da Energia Elétrica (GQEE) no Instituto de
Considerando as condições de carga, as medições realizadas
Sistemas Elétricos e Energia (ISEE) da Universidade
indicaram que o sistema de distribuição do consumidor X tem Federal de Itajubá, UNIFEI-MG, Brasil. Atualmente é
boa qualidade da energia no que se refere às tensões de regime presidente da SBQEE, Gestão 2013-2015.

permanente, distorção harmônica e transitórios. José Maria de Carvalho Filho é engenheiro eletricista
Contudo, verificou-se um número substancial de pela UFMG, com mestrado e doutorado pela Unifei.
Atualmente, é professor da Unifei e membro do Grupo de
ocorrências de afundamentos de tensão. Considerando que a
Estudos em Qualidade da Energia (GQEE), com atuação em
instalação do consumidor não registrou e ocorrência de curtos- Qualidade e Proteção de Sistemas Elétricos.
circuitos internos, bem como não dispõe de motores de elevada Continua na próxima edição
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
potência, principais causas deste tipo de fenômeno, os eventos Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
registrados foram originados fora da instalação do consumidor. redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
40
Qualidade de energia

Capítulo X

Aspectos da qualidade da
energia elétrica no contexto
das redes inteligentes
Por Gilson Paulillo e Paulo Ribeiro*

A Qualidade da Energia Elétrica (QEE) dos sistemas de medição e de distribuição de


envolve aspectos relacionados ao fornecimento energia elétrica, a integração em larga escala
e à disponibilidade da energia, bem como a de diferentes tecnologias de geração distribuída
conformidade do produto, o qual inclui uma e de armazenamento de energia elétrica –
gama de fenômenos com diferentes origens, incluindo a integração dos veículos elétricos
características, impactos na rede elétrica. Estes –, a implantação de uma ampla camada de
envolvem setores distintos nos diversos segmentos comunicação para monitoramento e controle de
de geração, transmissão e distribuição. Logo, é dispositivos e equipamentos, etc. O resultado
de fundamental importância a interpretação de final é a integração de todos os agentes e a
todos os fenômenos, os quais são embasados na produção e consumo de energia de forma plena,
disponibilização para processamento dos sinais eficiente, segura, confiável, ambientalmente
de tensão e corrente nos pontos de interesse, sustentável e viável economicamente.
principalmente nos PAC’s (Ponto de Acoplamento Questões operacionais e de segurança,
Comum), como também dentro das instalações associadas à sustentabilidade, desenvolvimento
dos próprios consumidores de energia elétrica. e expansão da rede elétrica estarão presentes na
Neste contexto, a implantação em larga ordem do dia do setor elétrico nos próximos 30
escala das redes elétricas inteligentes (REIs) anos. Estimativas globais indicam que até o ano de
– uma agregação da rede elétrica com a rede 2030, o setor elétrico demandará investimentos
de comunicações e controle de informações – da ordem de 16 trilhões de dólares, conforme
apresenta uma oportunidade ímpar para a gestão estatísticas da International Energy Agency.
em alto nível da Qualidade do Fornecimento Destes, somente na Europa serão necessários 500
e da Qualidade do Produto Energia Elétrica. bilhões de euros na expansão e modernização
Isto se deve aos benefícios proporcionados da infraestrutura de distribuição e transmissão. O
pela implantação de uma infraestrutura de objetivo é tornar as redes elétricas mais seguras,
tecnologias de informação e comunicação confiáveis e ambientalmente compatíveis.
(TICs) à rede elétrica, que proporciona, entre Este desafio é consubstanciado pelas
outros benefícios, elevado nível de automação tendências de consumo de energia para o futuro,
41

em que a consciência ambiental traz a dependência de maior


consumo de fontes renováveis e por tecnologias verdes,
associados a um aumento da posse de eletrodomésticos e,
consequentemente, da energia elétrica na matriz. Ademais,
o consumidor demandará uma maior interação com os
agentes setoriais e de mercado, fará a gestão do seu consumo
e buscará maior eficiência energética no seu ambiente, nas
suas edificações, na sua locomoção e na sociedade em
geral. Isso provocará uma demanda por indicadores de
monitoramento e automatização dos sistemas.
Este artigo apresenta por meio de exemplos uma análise
dos principais impactos e desafios para a Qualidade da
Energia Elétrica no contexto da implantação das redes
inteligentes no setor elétrico. Nesse sentido, destacam-se
os seguintes aspectos:

• Análise das variações de magnitude de tensão, de


emissão harmônica e ressonância harmônica em função
da introdução em larga escala de novas fontes de geração
distribuída, principalmente solar, eólica, térmica a biogás,
microturbinas e células a combustível;
• Desenvolvimento de indicadores de desempenho
estatísticos e limites associados à capacidade de
hospedagem do sistema elétrico para fontes renováveis, que
inclui todas as fontes de energia;
• Desenvolvimento de métodos de análise automática para
tratar e gerar informação a partir do grande volume de dados
gerados pelas REIs. Estes devem incluir o desenvolvimento
de ferramentas avançadas de processamento digital de sinais;
• Adoção de técnicas para identificar a emissão,
propagação e mitigação de sinais de tensão e corrente
em alta frequência, geradas a partir de equipamentos com
interface eletrônica. Outros equipamentos que contribuem
com emissões nessa faixa de potência incluem certos
tipos de geradores eólicos, painéis solar fotovoltaicos,
microturbinas, conversores tipo fonte de tensão e outros
dispositivos DFACTS. O crescimento deste tipo de
equipamento na rede demanda conhecer detalhadamente a
emissão e a propagação da forma de onda de distorção em
frequências superiores a 2 kHz;
• Adoção de técnicas de agregação de sinais variantes no
tempo no PAC produzidos por múltiplas fontes de sinais
não lineares;
• Consideração da utilização de técnicas de análise de
harmônicos com condições de variação no tempo, de forma
a proporcionar mais conhecimento e exatidão quanto aos
níveis de distorção, suas fontes e especificação de soluções
para mitigação dos problemas associados, principalmente
ressonâncias em harmônicas de ordem superior;
Apoio
42

• Análise da Qualidade do Produto em Sistemas CC, de arquitetura de telecomunicação e TI, bem como softwares
Qualidade de energia

principalmente alterações na qualidade da tensão devido a e capacidade de processamento de dados que são a essência
transitórios e oscilações. Isto é de muita importância especialmente da rede inteligente. Estes, associados a aplicativos de Business
para cargas de centros de processamento de dados. Inteligence, são direcionados para atender prioritariamente os
seguintes objetivos:
Conceitos de redes elétricas inteligentes
Usado pela primeira vez em 2005, o termo “smart grid”, • Reduzir as perdas técnicas e comerciais (fraudes);
doravante Redes Elétricas Inteligentes (REIs), contempla • Melhorar a qualidade do serviço prestado pelas distribuidoras;
a convergência da aplicação de elementos digitais e de • Reduzir os custos operacionais;
comunicações nas redes de transporte de energia elétrica, • Melhorar o planejamento da expansão da rede;
proporcionando a efetiva digitalização do sistema elétrico. • Melhorar a gestão dos ativos;
Neste caso, esta convergência proporciona a disponibilização • Promover a eficiência energética;
de um grande volume de dados, gerados a partir de “n” • Fomentar a inovação e a indústria tecnológica.
dispositivos instalados na rede elétrica e que se referem a
diversas grandezas de interesse. Estes, devidamente tratados e Não obstante, este novo ambiente apresenta os seguintes
processados em centros de monitoramento e controle, geram desafios:
informação estratégica sobre a rede elétrica, auxiliando na
operação e controle do sistema como um todo. • Desenvolver um modelo de mercado;
Trata-se de um tema amplamente debatido no mundo atual • Estabelecer padrões de interoperabilidade e de segurança de
e envolve um conceito de relativa complexidade conceitual, equipamentos e sistemas;
formado por relações dinâmicas, envolvendo não somente • Desenvolver novos equipamentos, sistemas de comunicação
a infraestrutura elétrica, de tecnologia da informação e de e aplicações de software para suporte das funcionalidades
telecomunicação, como os agentes de governo, mercado, requeridas;
consumidores em geral e demais entidades. Este ambiente • Desenvolver e priorizar mecanismos, procedimentos e
considera uma vasta diversidade de tecnologias, de soluções associadas a cibersegurança;
equipamentos e de fabricantes, com uma gama de benefícios • Estabelecer politicas e regulamentação;
associados como inovação tecnológica, desenvolvimento de • Integrar todos os agentes do setor e mostrar a importância
novos produtos e serviços e novas oportunidades de mercado, das REIs;
atrelados a toda cadeia de provimento e consumo da energia • Promover uma politica de CT&I de forma a gerar tecnologias
elétrica. nacionais, infraestrutura de pesquisa e disponibilidade de
Esta junção entre os dois tipos de infraestrutura – redes profissionais qualificados nos diversos níveis e temas;
elétricas e redes de TI e Telecom – e sua evolução é mostrada • Promover uma politica industrial que garanta a sustentabilidade
na Figura 1. da cadeia produtiva;
A mudança de paradigma proporcionada por esta • Prover uma energia com qualidade compatível para uma
tecnologia demanda uma série de transformações que passam economia digital.
pela modernização da infraestrutura, definição e instalação Um exemplo prático deste desafio é a evolução dos atuais

Figura 1 – Estrutura de uma REI.


Apoio
44

sistemas de medição para sistemas de medição inteligentes, Qualidade da energia e redes elétricas inteligentes
Qualidade de energia

que devem ser regulamentados e definidos, somente no tocante No contexto das REIs, diversas possibilidades podem
à continuidade da questão os seguintes aspectos: ser relacionadas a partir da disponibilização de uma grande
quantidade de dados de uma determinada rede elétrica,
• Medição da tensão, energia ativa e energia reativa instantâneas; destacando-se, por exemplo:
• Registro de frequência e duração das interrupções, bem como
dos indicadores de nível de tensão (DRP, DRC); − Análise de contingências e simulações em tempo real;
• Capacidade de aplicação de quatro postos tarifários; − Integração de fontes renováveis e de geração distribuída em
• Corte, religamento, parametrização e leitura realizados larga escala na rede, proporcionando o autoabastecimento total
remotamente; ou parcial de uma residência, comércio ou indústria a partir
• Protocolo de comunicação aberto. do aproveitamento da geração de energia solar fotovoltaica,
eólica, biogás, etc.;
Qualidade da energia elétrica − Monitoramento, controle e proteção da geração distribuída,
A Qualidade da Energia Elétrica (QEE) refere-se a qualquer incluindo a adoção de mecanismos de antiilhamento;
desvio que possa ocorrer na magnitude, forma de onda ou − Monitoramento em tempo real de ativos e do estado
frequência da tensão e/ou corrente elétrica, que resulte em falha operacional de equipamentos da rede elétrica, possibilitando a
ou operação indevida de equipamentos elétricos. Este conceito otimização dos procedimentos de operação e manutenção;
inclui uma ampla gama de fenômenos, com características
e particularidades intrínsecas que abrangem diversas áreas No tocante à qualidade da energia, esta configuração
de interesse de sistemas de energia elétrica, incluindo até apresenta as seguintes preocupações e desafios:
problemas relacionados com a comunicação em redes de
transmissão de dados. − Monitorar, diagnosticar e responder a todas as demandas
Este conceito envolve aspectos relacionados à continuidade de QEE, independentemente da origem dos problemas e da
do fornecimento de energia elétrica, bem como com a complexidade da solução;
conformidade dos sinais de tensão e de corrente presentes no − Proporcionar diferentes níveis de qualidade, com preços
sistema. A interpretação destes fenômenos, principalmente diferenciados, no entendimento pleno de que energia elétrica
as distorções de tensões e correntes, localizadas tanto nos é, sobretudo, um produto;
PACs (ponto de acoplamento comum) como também dentro − Encontrar um equilíbrio entre os indicadores e limites
das instalações dos próprios consumidores de energia, preconizados pelas diferentes normas, ponderando-se o nível de
estão associadas diretamente a diversos fatores, dentre os sensibilidade dos equipamentos elétricos e o custo associado à
quais pode-se mencionar a correção do fator de potência, tarifa. No caso de uma economia digital em larga escala, níveis
racionalização do consumo de energia elétrica e o aumento diferenciados de qualidade em função de requisitos de alimentação
da produtividade em processos industriais que demandam das cargas elétricas, demanda níveis diferenciados de tarifas;
a aplicação em larga escala de dispositivos baseados em − Prover soluções para os problemas de QEE devem ser
eletrônica de potência, microleletrônica e controle. adotadas tanto para as instalações dos clientes quanto a
Os principais fenômenos associados são mostrados na nível de sistema elétrica. Isso se deve ao fato de que o grau
Figura 2. de complexidade dos problemas associados a QEE no futuro
tendem a aumentar e a busca de soluções mais próximas das
fontes perturbadoras deve ser prioritária;
− Desenvolver sistemas inteligentes de monitoramento da
QEE a partir da potencialidade proporcionada pela implantação
em larga escala de medidores inteligentes na rede elétrica,
que agregam funcionalidades importantes em termos de
processamento, armazenamento de dados e comunicação com
Figura 2 – Fenômenos associados à QEE. centros de medição, de forma a:
Em que:  Otimizar o investimento na prevenção e mitigação dos
a - tensão senoidal f - salto de tensão
problemas de QEE;
b - transitório impulsivo g - harmônico
c - transitório oscilatório h - corte de tensão  Estabelecer um benchmark no tocante ao desempenho
d - afundamento de tensão i - ruídos da rede e das instalações;
e – interrupção j – interharmônicos
Apoio
45

 Definir níveis adequados para a QEE; escala de geração distribuída à rede é a distorção harmônica
 Atender as necessidades das cargas elétricas no tocante dos sinais de tensão e de corrente e tem relação direta com
aos diferentes fenômenos; a interface de conexão com a rede. No caso de máquinas
 Antecipar eventuais demandas regulatórias. rotativas, normalmente a emissão de harmônicos é pequena.
No caso de conexões baseadas em dispositivos de eletrônica
− Minimizar o impacto da integração em larga escala de de potência, a situação é diferente. Muitos inversores utilizados
geração distribuída à rede elétrica, principalmente a geração na conexão de painéis solares fotovoltaicos são baratos e de
solar fotovoltaica, eólica, microturbinas e células a combustível. baixa qualidade, resutando em um invasão significativa de
harmônicos de baixa ordem na rede de distribuição.
Neste contexto, os principais aspectos impactos associados Esta situação depende de diversos fatores, principalmente,
à QEE no contexto das REIs são: da mudança dos parâmetros da impedância da rede, dos níveis
de tensão de rede da distribuidora, da potência de curto-circuito
• Controle bidirecional de fluxo de potência ativa e reativa na no ponto de conexão e, especialmente, da quantidade de
rede elétrica; capacitância adicionada à rede. Neste caso, esta capacitância
• Regulação de tensão; acionará novas frequências ressonantes e modificarão as
• Controle antiilhamento em geração distribuída; ressonânicas dominantes para baixas frequências, provocando
• Sobretensões indesejáveis na rede elétrica; a necessidade de estudos adicionais. Esta situação pode ocorrer
• Coordenação e seletividade da proteção; particularmente em redes de transmissão vinculadas a parques
• Harmônicos. eólicos. Para minimizar este problema, o inversor deve ser
capaz de reduzir os níveis de distorção harmônica de tensão,
Integração de geração distribuída à rede elétrica mesmo nos casos em que a potência de curto-circuito se reduz.
A Figura 3 mostra a geração harmônica resultante da simulação
Um dos principais efeitos decorrentes da integração em larga de diversas fontes de GD a uma rede elétrica.
Apoio
46
Qualidade de energia

Figura 3 – Geração harmônica de GD na rede.

Controle bidirecional de fluxo de potência ativa e reativa Regulação de tensão


na rede elétrica Painéis fotovoltaicos e geração eólica podem apresentar
As práticas utilizadas em sistemas de distribuição assumem consideráveis flutuações na potência gerada e provocar variações
que não existem outras fontes senão a subestação. Isso significa na magnitude de tensão. A injeção de potência ativa resultará
que o fluxo de potência é da subestação para os alimentadores. em sobretensões normalmente aceitáveis, conforme mostra a
A regulação nesta condição é feita tipicamente com o uso Figura 5. Nesta figura, a injeção de GD provoca elevação dos
de transformadores com comutadores de tap do tipo LTC, níveis de tensão, o que indica a necessidade de se adicionar um
instalados na subestação, em conjunto com reguladores de controle de tensão mais robusto e complexo. Ademais, torna-se
tensão e bancos de capacitores ao longo dos alimentadores. necessário um estudo para se avaliar estas sobretensões e seu
Estes equipamentos são dotados de funções de controle impacto nos equipamentos dos consumidores a fim de se
coordenadas para manter a tensão dentro de limites adequados, balancear a integração destes tipos de fontes (renováveis) e o
normalmente em torno de ±5% (conhecido como “ANSI Range impacto associado.
A”). Quando a GD é adicionada ao sistema, todas as premissas
anteriores entram em colapso, principalmente se a capacidade
adicionada ao alimentador for significante.
Esta situação pode provocar interações indesejáveis com
os compensadores de queda de tensão. Se uma GD de grande
porte for adicionada ao sistema, por exemplo, logo após o
regulador de tensão, esta poderá mascarar o total de corrente
visto pelo regulador. Esta situação é mostrada na Figura 4.

Figura 5 – Perfil de tensão de um alimentador de distribuição com GD.

As variações na magnitude das tensões ocorrem em um


período típico entre um segundo e dez minutos. O desafio
associado a esta situação é desenvolver modelos estocásticos
associados à integração destas fontes, incluindo a correlação
em diferentes escalas de tempo e entre geradores em locais
distintos.
Esta situação é exemplificada na Figura 6. Nesta, uma
medição de 1 segundo das tensões rms é usada como
ponto de partida. Considera-se a injeção de potência
ativa decorrente da integração de uma geração eólica
a um alimentador de 10 kV. A função de distribuição de
Figura 4 – Variação de tensão em um alimentador devido a integração de GD. probabilidade da geração eólica foi calculada para uma
Apoio
48

turbina de 600 kW para diferentes faixas de potência (neste e faltas para terra são mais prováveis durante ilhamentos não
Qualidade de energia

caso, 1 MW, 2 MW ou 3 MW). Uma simulação de Monte intencionais, como um equipamento pode ser isolado com um
Carlo foi usada para obter a distribuição de probabilidade grande banco de condensadores que podem provocar uma
da soma de duas variáveis estocásticas (tensão pré-vento e ressonância com as fontes de energia do sistema ilhado.
elevação da tensão). Os resultados são mostrados na Figura
7, com a potência da geração eólica crescendo da esquerda Esta situação indesejável é mostrada na Figura 7, em que
para a direita. A elevação da magnitude da tensão devido ao o ramal onde está instalada a GD deve ser desconectado para
crescimento da geração eólica é visível. impedir que esta assuma outras cargas da rede. Para tanto, os
ajustes de proteção devem estar coordenados com as demais
proteções dos alimentadores.

Figura 7 – Ilhamento e GD na rede de distribuição.


Figura 6 – Função de distribuição de probabilidade da magnitude da
tensão – esquerda para direita: sem gerção eólica; 1 MW de geração
Agregação no PAC de múltiplas fontes não lineares
eólica; 2 MW de geração eólica; 3 MW de geração eólica.
variantes no tempo
A agregação de sinais variantes no templo produzidas
Ilhamento
por múltiplas fontes não linares no ponto de acoplamento
A ocorrência de ilhamento em redes com forte penetração
comum (PAC) demandará esforços significativos no futuro. Os
de GD é indesejável pelas concessionárias de energia devido
métodos para agragação da GD, como sítios eólicos, definidos
aos seguintes aspectos:
na IEC 61400-21, necessitam melhor entendimento, validação
e generalização em função dos diferentes tipos de fontes e
• Segurança de pessoas e instalações – concessionária e
topologias do sistema elétrico. Esta situação é demonstrada
consumidor;
pela Figura 8
• Danos em equipamentos elétricos, tais como chaves,
geradores e cargas, em decorrência de religamento de redes em
uma condição de falta de fase;
• Equipes manutenção podem encontrar subsistemas
energizados não intencionais, tornando o trabalho mais
perigoso e retardo no processo de recuperação de energia;
• Ilhamentos não intencionais não costumam ter seus geradores
configurados com os controles adequados para manter a tensão
e frequência para superimento às cargas dos clientes;
• Considerando que os inversores fotovoltaicos são programados
para seguir a tensão do sistema, eles não ajudam a controlar
a tensão durante as condições de ilhamento. Em cenários
futuros onde o ilhamento fará parte da operação do sistema, os
conversores serão programados para controlar a tensão dentro
de valores aceitáveis;
• As sobretensões transitórias provocadas por ferrorressonância Figura 8 – Exemplo de agregação da geração eólica.
49

Como um exemplo de agregação de harmônicos no PAC, a


norma IEC 61400-21 propõe a seguinte expressão:

Em que:

Nwt é o número de geradores conectados à rede;


IhΣ é o termo hth da componente harmônica no PAC;
ni é a relação de transformação do gerador ith;
Ih,i é o termo hth da distorção harmônica do gerador ith;
β é a constante que depende da ordem harmônica.

Procedimentos e expressões de agregação que determinem


as características no PAC e o impacto nas características do
sistema, as condições das fontes não lineares, bem como a
interação entre estas fontes, são necessárias. Esta situação
apresenta desafios de modelagem analítica e computacional,
principalmente pelo fato destas múltiplas fontes estarem
conectadas eletricamente muito próximas umas das outras.

Processamento de sinais e qualidade da energia


No contexto das REIs, os requisitos de análise de
desempenho da QEE da rede elétrica são viabilizados
pela utilização de métodos e técnicas de processamento
de sinais. Estes serão utilizados para explorar todas as
condições proporcionadas pela complexa interação entre
as fontes de suprimento, os consumidores e os operadores
das redes. Neste ambiente de interação entre múltiplos
agentes, os sinais resultantes são complexos e devem ser
monitorados e processados a fim de se determinar o estado
e os desenvolvimentos dos dispositivos e sistemas, conforme
mostra a Figura 9.

Figura 9 – Sinais, tecnologias e interações da REI e a qualidade de


energia elétrica.
Apoio
50
Qualidade de energia

Figura 10 – Conceito básico dos sinais e parâmetros que podem ser processados e derivados para a QEE no âmbito das REIs.

Por meio da medição e análise dos sinais em diferentes pontos, o Redes Elétricas Inteligentes, 2011.
• PAULILLO, G.; TEIXEIRA, M. D.; BACCA, I. Qualidade da energia elétrica, 2010.
estado da rede pode ser avaliado. Este conceito é mostrado na Figura
• BOLLEN, M. H. J. et. al. Power quality aspects of smar grid. International Conference
10, que mostra como os sinais e os parâmetros de avaliação podem on Renewable Energies and Power Quality – ICREPQ´10. Granada, spain, mar. 2010.
ser processados em etapas sucessivas. O resultado proporcionará ao • PAULILLO, G.; DREHER, J. H.; TOYAMA, J. Conexão e proteção de geração distribuída
engenheiro visualizar a natureza das condições variantes no tempo no sistema de distribuição. XXI SNPTEE, Florianópolis, out. 2011.
• RIBEIRO, P. F.; DUQUE, C. A.; Silveira, P. M.; CERQUEIRA, A. S. Signal processing for
das REIs no tocante aos diferentes aspectos da QEE.
smart grids. Wiley (to be published in 2013).
• BOLLEN, M. H. J.; RIBEIRO, P. F.; GU, I. Y. H.; DUQUE, C. A. Trends, challenges
Conclusão and opportunities in power quality research. European Transactions on Electrical Power,
2009.
O interesse e problemas associados com a qualidade de
• DUQUE, C. A.; SILVEIRA, P. M.; Riberio, P. F.; BOLLEN, M. H. J. Future trends and
energia tedem a aumentar com o aumento da complexidade e research opportunities in power quality: an integrated perspective. VIII CBQEE VIII
desenvolvimento das redes inteligentes. Este artigo apresenta CBQEE. Blumenau, p. 100-106, Blumenau, 2009.
as principais preocupações e as possíveis soluções para garantir
*Gilson Paulillo é engenheiro eletricista, com mestrado e
uma qualidade de energia compatível com a complexidade e doutorado em qualidade de energia elétrica pela universidade
as características das cargas, a integração em larga escala da Federal de Itajubá. Atualmente, é consultor executivo em
energia no Instituto de Pesquisas Eldorado, em Campinas
geração distribuída e as tecnologias de TI e Telecom associadas (SP). Sua atuação é voltada para áreas de qualidade de
às REIs. Dessa forma, abrem-se alternativas para, a partir da energia elétrica, geração distribuída, eficiência energética
e distribuição.
alta observabilidade do sistema elétrico, mitigar os problemas
associados e dispor de amplo sistema de monitoramento, Paulo F. Ribeiro é engenheiro, pesquisador e professor
controle e gestão da qualidade da energia elétrica. de engenharia com experiência nos Estados Unidos, Europa
e Brasil, nas áreas de eletrônica de potência, qualidade
de energia, redes inteligentes e processamento de sinais
Referências bibliográficas em sistemas de potência. Atualmente, é professor na
• BREUER, W. et al. Prospects of smart grid technologies for a sustainable and secure Universidade de Eindhoven na Holanda e registrado com
power supply. 20th World Energy Congress, Rome, Italy, nov. 2007. Engenheiro Profissional (PE) no estado de Iowa, USA.
• AMIM, S. M.; WOLLEMBER, B. F. Toward a smart grid: power delivery for the 21st É membro do IEEE e do IET.
century. IEEE Power and Energy Magazine, v. 3, Issue 5, p. 34-41, set.-out. 2005. Continua na próxima edição
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
• INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. Technology roadmap – smart grid, 2011.
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
• MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Smart grid. Relatório do Grupo de Trabalho de redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
42
Qualidade de energia

Capítulo XI

Transitórios
Por Gilson Paulillo, Mateus Duarte Teixeira e Ivandro Bacca*

O termo transitório tem sido aplicado à análise da tensão e/ou corrente, sendo unidirecional na sua
das variações do sistema de energia para denotar um polaridade (primeiramente positivo ou negativo).
evento que é momentâneo e indesejável. De outra Em razão da alta frequência, os transitórios
forma, entende-se por transitórios eletromagnéticos impulsivos são amortecidos rapidamente devido à
as manifestações ou respostas elétricas locais ou resistência dos componentes do sistema. Geralmente,
nas adjacências, oriundas de alterações súbitas nas não são conduzidos para muito longe do ponto
condições operacionais de um sistema de energia onde foram gerados. Estes transitórios podem excitar
elétrica. ressonâncias naturais do sistema elétrico e provocar
Os sistemas elétricos estão sujeitos a inúmeros outros tipos de transitórios, como os transitórios
fenômenos transitórios, variando desde as oscilações oscilatórios.
eletromecânicas (baixas frequências) até as rápidas Normalmente são causados por descargas
variações de tensões e correntes causadas por atmosféricas com frequências bastante diferentes
chaveamentos ou mudanças bruscas de estado. daquela da rede elétrica. A Figura 1 ilustra a aplicação
Geralmente, a duração de um transitório é de uma descarga atmosférica na fase A de um
muito pequena, mas de grande importância, uma determinado sistema elétrico.
vez que os equipamentos presentes nos sistemas A Figura 2 apresenta a forma de onda da corrente da
elétricos estarão submetidos a grandes solicitações descarga atmosférica aplicada ao sistema em análise.
de tensão e/ou corrente. Como resposta do sistema à aplicação dessa descarga,
Os fenômenos transitórios podem ser classificados a Figura 3 apresenta as formas de onda das tensões
em dois grupos, os chamados transitórios impulsivos e fase-fase no receptor. Pode-se observar que a aplicação
os transitórios oscilatórios. de um transitório impulsivo, isto é, uma descarga
atmosférica, ocasionou transitórios oscilatórios.
Transitórios impulsivos Os transitórios impulsivos são normalmente
Um transitório impulsivo é uma súbita alteração caracterizados pelo seu tempo de aumento e
não desejável no sistema, que se encontra em condição decaimento, os quais podem ser revelados pelo
de regime permanente, refletido nas formas de ondas conteúdo espectral do sinal em análise. Como exemplo,

Figura 1 – Aplicação de uma descarga atmosférica em um determinado sistema elétrico.


Apoio
43

um transitório impulsivo 1,2 μs x 50 μs com 2.000 V nominalmente as descargas atmosféricas é por meio de um condutor fase, no
aumenta de zero até seu valor de pico de 2.000 V em 1,2 μs e decai primário ou no secundário, causando altas sobretensões no
a um valor médio do seu pico em 50 μs. sistema. Uma descarga diretamente na fase geralmente causa
Como anteriormente citado, a causa mais comum de transitórios flashover na linha próxima ao ponto de incidência e pode
impulsivos são as descargas atmosféricas. Devido à alta frequência gerar não somente um transitório impulsivo, mas também
do sinal resultante, a forma dos transitórios impulsivos pode ser uma falta acompanhada de afundamentos de curta duração e
alterada rapidamente pelos componentes do circuito e apresentar interrupções. Altas sobretensões transitórias podem também ser
características significantes quando observadas de diferentes partes geradas por descargas que fluem ao longo do condutor terra.
do sistema de energia. Existem numerosos caminhos através dos quais as correntes de
Em sistemas de distribuição, o caminho mais provável para descarga podem fluir pelo sistema de aterramento, tais como

Figura 2 – Corrente proveniente da descarga atmosférica. Figura 3 – Tensão fase-fase no receptor do sistema analisado.
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o terra do primário, o terra do secundário e as estruturas do


Qualidade de energia
composto por uma concessionária e um banco de capacitores.
sistema de distribuição. A tensão no barramento e a corrente do banco de capacitores
Os principais problemas de qualidade da energia causados por encontram-se ilustradas nas Figuras 5 e 6, respectivamente.
estas correntes no sistema de aterramento são os seguintes: Considerando o crescente emprego de capacitores pelas
concessionárias para a manutenção dos níveis de tensão, e
• Elevação do potencial do terra local, em relação a outros terras, em pelas indústrias com vistas à correção do fator de potência,
vários kV. Equipamentos eletrônicos sensíveis que são conectados têm-se verificado uma preocupação especial no que se refere à
entre duas referências de terra, tal como um computador conectado possibilidade de se estabelecer uma condição de ressonância,
ao telefone por meio de um modem, podem falhar quando devido às oscilações de altas frequências, entre o sistema da
submetidos aos altos níveis de tensão; concessionária e a indústria, e assim ocorrer uma amplificação das
• Indução de altas tensões nos condutores fase, quando as correntes tensões transitórias, bem superiores às citadas anteriormente, que
passam pelos cabos a caminho do terra. podem atingir níveis de 3 pu a 4 pu.
Um procedimento comum para limitar a magnitude da
Em se tratando de descargas em pontos de extra alta tensão, o tensão transitória é transformar os bancos de capacitores do
surto se propaga ao longo da linha em direção aos seus terminais, consumidor, utilizados para corrigir o fator de potência, em filtros
podendo atingir os equipamentos instalados em subestações de
manobra ou abaixadoras. Entretanto, a onda de tensão, ao percorrer
a linha, desde o ponto de incidência até as subestações abaixadoras
para a tensão de distribuição, tem o seu valor de máximo
consideravelmente atenuado, e assim, consumidores ligados na baixa
tensão não sentirão os efeitos advindos de descargas atmosféricas
ocorridas em nível de transmissão. Contudo, os consumidores
atendidos em tensão de transmissão e supostamente localizados nas
proximidades do ponto de descarga estarão sujeitos a tais efeitos,
podendo ocorrer a danificação de alguns equipamentos de suas
Figura 4 – Energização de um banco de capacitores.
respectivas instalações. Como principais medidas para mitigar os
efeitos desses transitórios destacam-se o uso de filtros, supressores
de surtos (para-raios) e transformadores isoladores.

Transitórios oscilatórios
Também como para o caso anterior, um transitório oscilatório
é uma súbita alteração não desejável da condição de regime
permanente da tensão, corrente ou ambas, em que as mesmas
incluem valores de polaridade positivos ou negativos. É caracterizado
pelo seu conteúdo espectral (frequência predominante), duração e
magnitude da tensão.
Figura 5 – Tensão fase-fase no barramento do de conexão do banco de
Transitórios oscilatórios de baixa frequência capacitores.

Um transitório com uma componente de frequência primária


menor do que 5 kHz, e uma duração de 0,3 ms a 50 ms, é considerado
um transitório oscilatório de baixa frequência. Estes transitórios são
frequentemente encontrados nos sistemas de subtransmissão e de
distribuição das concessionárias e são causados por vários tipos
de eventos. O mais comum provem da energização de bancos
de capacitores, que tipicamente resulta em uma tensão transitória
oscilatória com uma frequência primária entre 300 Hz e 900 Hz.
O pico da magnitude pode alcançar 2,0 pu, mas são tipicamente
1,3 pu a 1,5 pu com uma duração entre 0,5 e 3 ciclos dependendo
do amortecimento do sistema. A Figura 4 apresenta um sistema
Figura 6 – Corrente do banco de capacitores.
Apoio
46

harmônicos. Uma indutância em série com o capacitor reduzirá


Qualidade de energia

a tensão transitória na barra do consumidor a níveis aceitáveis.


No sistema da concessionária, utiliza-se o chaveamento dos
bancos com resistores de pré-inserção. Com a entrada destes
resistores no circuito, o primeiro pico do transitório, o qual causa
maiores prejuízos, é significativamente amortecido.
Transitórios oscilatórios com frequências primárias menores
do que 300 Hz também podem ser encontrados em sistemas de
distribuição. Estes são geralmente associados com a ferroressonância
e a energização de transformadores. Transitórios envolvendo Figura 8 – Tensão sobre o indutor não linear.
capacitores em série podem também ser incluídos nesta categoria.
Estes ocorrem quando o sistema responde pela ressonância com
componentes de baixa frequência na corrente de magnetização do
transformador (segunda e terceira harmônica) ou quando condições
não usuais resultem em ferroressonância. A ferroressonância é um
fenômeno caracterizado por sobretensões formas de ondas irregulares
e está associado com a excitação de uma ou mais indutâncias através
de uma capacitância série [ANSI/IEEE Std 100-1984].
Oscilações de ferroressonância podem aparecer nos TPCs
devido à possibilidade de uma capacitância entrar em ressonância
Figura 9 – Corrente do sistema.
com algum valor particular de indutância dos componentes que
contém núcleo de ferro. Esta situação não é desejável no caso
dos TPCs, uma vez que informações indesejáveis poderiam ser
transferidas aos relés e aos instrumentos de medição.
A Figura 7 ilustra um sistema elétrico onde ocorre o fenômeno
da ferroressonância. Nesse sistema o indutor não linear representa
o equivalente de um transformador e a capacitância em série
representa as capacitâncias do sistema.
Figura 10 – Energização de uma linha de transmissão.
As Figuras 8 e 9 apresentam, respectivamente, a tensão e
corrente obtida nesse sistema.

Transitórios oscilatórios de média frequência


Um transitório com componentes de frequência entre
5 kHz e 500 kHz, com uma duração média de dezenas de
microssegundos (ou vários ciclos da frequência principal), é
referenciado como transitório oscilatório de média frequência.
Estes podem ser causados pelo chaveamento de disjuntores para
a eliminação de faltas e podem também ser o resultado de uma
Figura 11 – Tensão fase-fase no transmissor do sistema.
resposta do sistema a um transitório impulsivo, que também
podem ser causados pela energização de linhas de transmissão.
Transitórios oscilatórios de alta frequência
A Figura 10 apresenta um sistema onde será realizada a
Transitórios oscilatórios com uma componente de frequência
energização de uma linha de transmissão. As tensões fase-fase
maior do que 500 kHz e com uma duração típica medida em
no receptor desse sistema estão ilustradas na Figura 11.
microssegundos (ou vários ciclos da frequência principal) são
considerados transitórios oscilatórios de alta frequência. Estes
transitórios são frequentemente resultados de uma resposta local do
sistema a um transitório impulsivo. Também podem ser causados
por chaveamento de circuitos indutivos.
A desenergização de cargas indutivas pode gerar impulsos de
Figura 7 – Sistema elétrico em que ocorre uma ferroressonância. alta frequência. Apesar de serem de curta duração, estes transitórios
Apoio
47

amplificação deste tipo de transitório não utilizando capacitores em


baixa tensão nas instalações dos consumidores finais. Como forma
de proteção de equipamentos sensíveis dos consumidores seria a
utilização de filtros de linha, bem como o uso de para-raios.
Muitos problemas de transitórios em consumidores envolvem
o sistema de aterramento das instalações elétricas e sua interação
com os sistemas de comunicação, sejam as redes de comunicação
local ou sistemas de proteção de equipamentos e controle de
processos. Na maioria das vezes, os transitórios são drenados pelos
Figura 12 – Desenergização de uma carga indutiva.
equipamentos, como para-raios, varistores, capacitores de surto
etc., para o sistema de aterramento. Tais sobretensões podem gerar
acoplamentos com os sistemas de comunicação, em que mesmo
transitórios de baixa magnitude podem causar má operação ou
falhas de componentes. Para estes casos, devem-se utilizar tipos
especiais de proteção específicos.
Dentre os principais equipamentos de proteção contra
sobretensões transitórias podemos citar:

• Supressores de surto, como varistores, centelhadores, capacitores


de surto, diodos tipo Zener, etc.;
Figura 13 – Tensões fase-fase no barramento da carga indutiva.
• Transformadores isoladores;
• Filtros passa baixa;
• Para-raios (ZnO).

Figura 15 – Equipamentos Supressores de surto: (a) Varistor; (b) Para-


Figura 14 – Corrente do sistema. Raio; (c) Centelhador.

*Gilson Paulillo é engenheiro eletricista, com mestrado


podem interferir na operação de cargas eletrônicas. Filtros de e doutorado em Qualidade de Energia Elétrica pela
Universidade Federal de Itajubá. Atualmente, é consultor
alta-frequência e transformadores isoladores podem ser usados tecnológico em energia no Instituto de Pesquisas
para proteger as cargas contra este tipo de transitório. A Figura 12 Eldorado, em Campinas (SP). Atuação voltada para áreas
de qualidade de energia elétrica, geração distribuída,
apresenta um sistema onde será desenergizado uma carga indutiva. eficiência energética e distribuição.
As Figuras 13 e 14 apresentam, respectivamente, as tensões fase- Mateus Duarte Teixeira é engenheiro industrial e
eletricista, mestre em engenharia elétrica e doutorando
fase no barramento de conexão da carga e a corrente do sistema. na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente,
é pesquisador do Instituto de Tecnologia para o
Desenvolvimento (Lactec), professor efetivo do curso de
Princípios de proteção contra sobretensões transitórias engenharia elétrica da UFPR e secretário executivo da
Sociedade Brasileira de Qualidade da Energia Elétrica
Os problemas de sobretensão transitória devem ser controlados (SBQEE).
pela fonte geradora, alterando-se as características do sistema afetado Ivandro Bacca é engenheiro eletricista e mestre pela
pelos transitórios ou pela utilização de equipamentos de proteção Universidade Fé engenheiro eletricista e mestre pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em Qualidade da
junto à carga. Como exemplo, podemos tomar os transitórios Energia. É engenheiro da Copel Distribuição com atuação
na área de manutenção de equipamentos eletromecânicos.
gerados pelo chaveamento de capacitores nos sistema elétricos das
concessionárias de energia. Estes podem ser controlados na fonte Continua na próxima edição
geradora, realizando o chaveamento no momento da passagem Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
por zero da onda de tensão. Da mesma forma, pode-se evitar a redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
28
Qualidade de energia

Capítulo XII

Tópicos avançados e desafios


futuros associados à QEE
Por Paulo Ribeiro, Carlos Duque e Gilson Paulillo*

No período compreendido entre 1990 e 2007, Neste contexto, este artigo introduz alguns
o número de contribuições técnicas apresentadas dos desafios futuros na área de QEE até o presente
pelos diversos segmentos da sociedade – academia, momento, o que inclui aspectos relacionados
institutos de pesquisa, indústrias, fabricantes às novas fontes de geração de energia elétrica,
de equipamentos, consultorias e empresas de equipamentos com front end ativos, links HVDC,
engenharia e órgãos governamentais – cresceu a necessidade de métodos de análise automática
quase que linearmente, conforme mostra a Figura de grande volume de dados de medição, dentre
1, sendo que, somente em 2007, mais de 800 outros aspectos. Assim este artigo indica algumas
artigos técnicos foram publicados sobre o tema potenciais direções para o futuro da pesquisa em
Qualidade da Energia Elétrica (QEE). QEE.
Muitas das questões técnicas foram
equacionadas e um relevante progresso tem Diferentes tipos de distúrbios
sido alcançado em alguns temas não totalmente Existem diferentes formas de se definir um
equacionados. Isso mostra que ainda existem problema ou distúrbio associado à QEE. Para tanto,
muitos temas a serem tratados e muita pesquisa deve-se lembrar da definição de QEE: “Qualquer
a ser realizada na área, principalmente com a desvio que possa ocorrer na magnitude, forma
inserção de novas tecnologias em equipamentos e de onda ou frequência da tensão e/ou corrente
suas aplicações em sistemas elétricos de potência. elétrica, que resulte em falha ou operação indevida

Figura 1 – Número de artigos publicados, por ano, com o termo Power Quality no título, resumo ou palavras-chave – Fonte:
Banco de dados INSPEC.
29

de equipamentos elétricos”. Outras definições importantes,


como as normas IEEE 1100 e IEC 61000-1-1, relacionam este
conceito com o nível de compatibilidade e de interferência
entre o funcionamento satisfatório de um equipamento
ou sistema com os distúrbios e interferências intoleráveis
que provocam o seu mau funcionamento. Estes níveis de
interferência referem-se à falha ou danos no equipamento e
que provocam a redução de sua vida útil ou má operação
e limitações nas funcionalidades do equipamento e que
estão diretamente relacionadas à inadequada qualidade da
energia elétrica. Como exemplo, uma variação de tensão de
curta duração – afundamento de tensão – é um distúrbio que
pode ou não resultar em uma interferência na operação de
um equipamento elétrico, bem como provocar ou não uma
parada de produção de um processo continuo ao qual este
mesmo equipamento é utilizado.
Um aspecto importante associado a esta questão são os
estudos relacionados aos impactos econômicos associados à
qualidade da energia elétrica, o qual tem sido objeto de estudos
por diversos grupos de trabalho e de discussão internacionais,
como o JWG CIGRE –CIRED C4.107 – Economic Framewok
for Voltage Quality. Partindo das características técnicas
intrínsecas a cada um dos fenômenos associados à QEE, o
trabalho avalia o impacto econômico sob o ponto de vista
dos diversos agentes e propõe uma metodologia de avaliação
econômica para ponderar os custos para a indústria e as
concessionárias associadas a um fenômeno de QEE não
mitigado, bem como dos custos para a prevenção e mitigação
deste mesmo fenômeno.
O entendimento das diferentes tipos de distúrbios de QEE
é fundamental para proporcionar um bom entendimento
dos impactos associados, o que tem sido objeto de diversas
normas e recomendações relacionadas ao tema QEE. Contudo,
pesquisas devem ser contínuas no sentido de ampliar o
entendimento de cada um dos diversos fenômenos e seus
diversos aspectos e aprimorar estas referências normativas.
Podem ser considerados os seguintes exemplos:

• Normas relacionadas a harmônicos cobrem uma faixa


de frequência típica de 2 kHz a 2.4 kHz. Contudo, existem
estudos que apontam que esta faixa deve ser ampliada para
avaliar o impacto de harmônicos de ordens elevadas;
• A distorção de forma de onda é quantificada por de um
espectro que envolve uma janela de até 200 ms, o que não deve
limitar novas pesquisas no sentido de desenvolver e ampliar
métodos alternativos com elevadas resolução de tempo, o que
será muito útil no estudos de interharmônicos individuais, o
que seguramente é um objeto de estudos avançados;
• A quantificação da cintilação luminosa deve considerar as
Apoio
30

novas tecnologias de iluminação e os novos tipos de lâmpadas, Variações na magnitude de tensão


Qualidade de energia

o que indica a necessidade de novos conceitos associados a As variações na magnitude da tensão em redes de
essa quantificação. distribuição têm impacto significativo na geração distribuição.
A injeção de potência ativa resultará em sobretensões
Um exemplo de como este aprimoramento deve ser consideradas aceitáveis, conforme mostra a Figura 2. Nesta,
contínuo pode ser tomado a partir do risco de sobrecarga a introdução da geração em um alimentador de distribuição
de um transformador de distribuição, o qual é impactado eleva o nível de tensão. Por sua vez, isso demanda a adoção de
pelas potências ativa e reativa, pela corrente desequilibrada um controle de tensão mais complexo na rede de distribuição
e seu conteúdo harmônico, pelos transitórios de chaveamento devido ao inesperado impacto que estas sobretensões podem
das cargas, dentre outros aspectos. O desafio, neste caso, acarretar nos equipamentos.
é combinar todos os tipos de distúrbios de uma forma que Além disso, a geração distribuída pode ocasionar
resulte em indicadores que estimem a perda de vida ou o risco transitórios, aumento do nível de curto-circuito e demandará
de sobrecarga devido às características da corrente de carga. ajustes na proteção do circuito. Para evitar transtornos,
devem-se equilibrar os limites de sobretensões e demais
Novos tipos de geração parâmetros de desempenho com os riscos nos inerentes nas
A penetração de novas fontes de geração nos sistemas de cargas. Isso inclui considerar os equipamentos de baixa tensão
distribuição e transmissão é uma realidade nos dias atuais utilizados em residências e no comércio em geral, tais como
no Brasil e em diversas partes do mundo. As vantagens e TVs, computadores, lâmpadas e refrigeradores, etc., os quais
desvantagens associadas a estes desenvolvimentos têm sido muitas vezes não são considerados nos estudos associados à
apontadas e discutidas em diversos fóruns de discussão. QEE.
Todavia, existem muitos desafios associados a este Outro aspecto importante trata das variações na magnitude
desenvolvimento no âmbito da QEE. da tensão ao longo do tempo, que podem ocorrer desde
um segundo a 10 minutos ou varações ainda maiores. Isso
Indicadores de desempenho ocorre em fontes de geração que sofrem influência climática,
Um dos primeiros desafios está associado à conexão da como a geração solar e a fotovoltaica. Nestes casos, o desafio
geração em baixa e média tensão, o que tem muita similaridade consiste em desenvolver modelos estocásticos da potência a
com as conexões utilizadas em plantas industriais. Isso implica ser gerada, incluindo a correlação com diferentes escalas de
que o nível de QEE no ponto de conexão deve ser adequado tempo e entre os geradores instalados em diferentes locais.
para a conexão da geração distribuída.
O termo "capacidade de hospedagem" recentemente Emissões harmônicas e ressonâncias
desenvolvido no âmbito de um projeto de investigação A emissão de harmônicos devido à integração de fontes
europeu combina indicadores de desempenho adequados renováveis depende da interface com a rede. Quando máquinas
com um limite de suprimento que resulta em desempenho rotativas (indução ou síncronas) são utilizadas, o nível de
aceitável do sistema. O principal desafio é definir este conjunto emissão é geralmente pequeno. Essa situação se modifica
de indicadores e limites que cobrem todas os parâmetros quando são utilizadas interfaces baseadas em eletrônica de
elétricos de qualidade do suprimento de energia. potência. Como exemplo, alguns conversores de baixo custo

Figura 2 – Perfil de tensão de um sistema de distribuição com geração distribuída (GD).


Apoio
32

utilizados na conexão de painéis solares injetam um elevado


Qualidade de energia
desenvolvimento de métodos similares para análise de dados
nível de harmônicos de baixa ordem na rede elétrica. de transitório de tensão e corrente. Esta situação é mostrada
Ademais, a introdução da GD está associada à introdução na Figura 3.
de capacitâncias à rede. Como exemplos podemos citar os
filtros de interferência eletromagnética de painéis solares,
os capacitores para correção do fator de potência para os
geradores de indução e a rede de conexão de parques eólicos
os sistema de transmissão. Esta capacitância adicional pode
adicionar frequências de ressonância e alterar as ressonâncias
dominantes em baixa frequência. Em redes de baixa tensão,
frequências de ressonância abaixo do 10º harmônico não
são comuns, porém, análises devem ser conduzidas para
eliminar qualquer dúvida. No caso de redes de transmissão,
frequências de ressonância de baixa ordem podem ocorrer no
futuro. Como exemplo, uma frequência de ressonância de 140
kHz foi encontrada na conexão de um parque eólico marítimo
a uma rede de 150 kV.
Vale destacar que as principais emissões devido às novas
Figura 3 – Exemplo de segmentação de evento aplicado a uma forma de
fontes de geração ocorrerão em frequência acima das quais
onda de tensão.
são normalmente consideradas, tendo como origem, por
exemplo, os conversores baseados em eletrônica de potência Neste exemplo, a segmentação resultou em um intervalo
usados em turbinas eólicas, painéis solares e microturbinas, de tempo de 4.8 a 25 ciclos, consistindo de quatro
que utilizam elementos de chaveamento como transistores, “segmentos de transição” (marcados em amarelo) e três
IGBTs e GTOs. “segmentos de eventos” entre cada um dos segmentos de
transição. Nestes casos, o segmento anterior ao primeiro
Análise automática de registros de distúrbios segmento de transição (segmento “pré-evento”) e o segmento
A disponibilização de um grande volume de dados de posterior ao último segmento de transição (segmento “pós-
medições torna impossível que a análise e a manipulação dos evento”) são relacionados aos estados normais.
mesmos ocorra de forma manual. Logo, métodos que possam Este método resulta em diversas características associadas à
automatizar e extrair informações úteis e necessárias para QEE e é apenas um primeiro passo para uma análise automática
a análise de distúrbios e ocorrências associadas à QEE são de um grande volume de dados associados a afundamentos
necessárias para a gestão e a definição de soluções. de tensão e interrupções. Os próximos passos incluem a
Um primeiro nível de extração da informação já está associação de métodos automáticos de classificação, os quais
disponibilizado e implantado na maioria dos monitores de podem ser um sistema especialista, uma rede neural ou um
QEE disponíveis no mercado. Estes tratam da classificação método de processamento avançado de sinais, juntamente
do evento (transitório, afundamento de tensão, interrupção, com a aplicação de métodos estatísticos.
etc.) e do cálculo das características padrão intrínsecas a cada
evento associado (magnitude, duração, etc.) e suas variações Distúrbios de alta frequência
(THD, rms, etc.). A introdução de equipamentos com front end ativos resulta
Além disso, devem-se aprofundar estudos de forma a na injeção de novos componentes de frequência no sistema
proporcionar a extração automática de informação associada elétrico. Um exemplo é mostrado na Figura 4, em que a parte
a um grande volume de dados. Como exemplo, a definição superior mostra a corrente medida nos terminais de uma
e a extração automática de características pode proporcionar lâmpada fluorescente compacta. A forma de onda é senoidal
informações adicionais sobre a origem dos eventos. O e a distorção harmônica é claramente inferior em comparação
método de segmentação introduzido em “Expert system com os tipos mais comuns desta lâmpada. Apesar da ausência
for classification and analysis of power system events” (ver de harmônicos de baixa ordem (3, 5 e 7), esta carga apresenta
referências) mostrou ser uma base adequada para a análise distorções em frequências de alta ordem, conforme mostra a
automática de interrupções e afundamentos de tensão. Embora parte inferior da Figura 4. Neste, observam-se oscilações em
o método possa ser aprimorado, um grande desafio futuro é o alta frequência e com diversas amplitudes.
Apoio
33

mas outros métodos de processamento de sinais avançados


podem ser aplicados para extrair mais informação.

Figura 4 – Medições de corrente em uma lâmpada fluorescente compacta.

A fim de descrever os níveis de emissão destes equipamentos


e estudar o impacto de sua disseminação no sistema elétrico Figura 5 – Espectograma da corrente de uma lâmpada fluorescente
compacta.
é fundamental a adoção de novas ferramentas de análise. O
espectograma, desenvolvido para analisar estes sinais, têm se Vale destacar que outros equipamentos provocam emissões
mostrado uma ferramenta útil. Um exemplo de espectograma nestas faixas de frequência, tais como turbinas eólicas,
é mostrado na Figura 5, resultante da aplicação de um filtro painéis solares, microturbinas, conversores de fonte de tensão
passa alta sobre uma janela de 20 ms. Este espectograma foi para HVDC e outros dispositivos FACTS. O crescimento da
resultante da utilização da transformada discreta de Fourier, penetração deste tipo de equipamento no sistema elétrico
Apoio
34

demandará novos estudos para avaliar estas emissões em


Qualidade de energia

frequências superiores a 2 kHz.

Harmônicos variantes no tempo


O conceito associado a harmônicos os associa a condições
periódicas e de regime permanente. A técnica mais comum
para análise harmônica aplica a Transformada Rápida de
Fourier (FFT), em geral implementada computacionalmente
de forma eficaz por meio da Transformada Discreta de
Fourier (DFT). Este algoritmo apresenta resultados satisfatórios
nas seguintes condições: sinal estacionário; frequência de
amostragem duas vezes maior que a frequência do sinal;
número de períodos de amostragem inteiros; e a forma de
onda não contém frequências que não sejam múltiplas inteiras
da frequência fundamental.
Caso as condições mencionadas sejam atendidas, a FFT Figura 6 – Corrente de inrush – Fase A.

fornece resultados com boa exatidão, sendo, neste caso,


necessária apenas uma amostragem do sinal. Por outro
lado, caso estejam presentes interharmônicos, múltiplos
períodos devem ser amostrados a fim de se obter magnitudes
harmônicas precisas.
No entanto, em condições reais, os níveis de distorção de
tensão e corrente, bem como suas componentes fundamentais,
estão constantemente variando no tempo. As variações no
tempo dos harmônicos individuais são, nesse caso, analisadas
por meio das transformações de Fourier de curto período (em
janelas de tempo) e cada espectro harmônico corresponde a
cada janela de tempo aplicada em um sinal contínuo. Mas,
devidos aos existentes em cada menor janela de tempo
possível, diferentes tamanhos de janela resultam em diferentes
espectros harmônicos e a seleção da menor janela de tempo
mais adequada é uma questão complexa que ainda carece de
Figura 7 – Decomposição da corrente de inrush.
discussões e consenso.
Muitas abordagens vêm sendo propostas nos últimos Processamento de sinais e qualidade da energia
anos para equacionar esta questão e melhorar a exatidão das Conforme mencionado anteriormente, os requisitos de
magnitudes dos harmônicos em condições variáveis no tempo. análise de desempenho da rede elétrica no tocante aos
Isso incluem os analisadores baseados em filtros de Kalman, aspectos relacionados à QEE são viabilizados pela utilização
filtros adaptativos e PLL, uma combinação usando redes de métodos e técnicas de processamento de sinais,
neurais adaptativas e uma abordagem por decomposição de especialmente o processamento de grande quantidade de
bancos de filtragem. Cada um dos métodos possuem vantagens dados gerada por meio das redes elétricas inteligentes, ao
e desvantagens e a busca pelo melhor método continua qual deverão ser aplicadas técnicas de processamento de
com uma das mais ativas e promissoras áreas no âmbito do dados em larga escala (Big Data). Estas serão utilizadas para
processamento de sinais. Como ilustração, considere uma explorar todas as condições proporcionadas pela complexa
corrente de energização típica de um transformador, mostrada interação entre as fontes de suprimento, consumidores e
na Figura 6. A Figura 7 apresenta a decomposição harmônica operadores das redes. Neste ambiente de interação entre
variando no tempo de alguns harmônicos utilizando um múltiplos agentes, os sinais resultantes são complexos e
método de composição por bancos de filtros. Este método de devem ser monitorados e processados a fim de se determinar
analise pode levar ao desenvolvimento de uma nova filosofia o estado e os desenvolvimentos dos dispositivos e sistemas,
para proteção e controle de redes elétricas. conforme mostra a Figura 8.
Apoio
36

Figura 8 – Sinais, tecnologias e interações da REI e a qualidade da energia elétrica.

Figura 9 – Conceito básico dos sinais e parâmetros que podem ser processados e derivados para a QEE no âmbito das REIs.
Apoio
37

Por meio da medição e da análise dos sinais em • WIECHOWSKi, W.; BØRRE ERIKSEN, P. Selected Studies
diferentes pontos, o estado da rede pode ser avaliado. Este on Offshore Wind Farm Cable Connections – Challenges and
conceito é mostrado na Figura 9, que mostra como os sinais Experience of the Danish TSO. IEEE PES General Meeting,
e os parâmetros de avaliação podem ser processados em Pittsburgh, jul. 2008.
etapas sucessivas. O resultado proporcionará ao engenheiro • STYVAKTAKIS, E.; BOLLEN, M. H. J.; GU, I. Y. H. Expert
system for classification and analysis of power system events.
visualizar a natureza das condições variantes no tempo das
IEEE Transactions on Power Delivery, v. 17, n. 2, abr. 2002,
REIs no tocante aos diferentes aspectos da QEE.
p. 423-428.
• BOLLEN, M. H. J.; GU, I. Y. H., SANTOSO, S.;
Conclusões MCGRANAGHAN, M. F.; CROSSLEY, P. A.; RIBEIRO, P. F.
Este trabalho apresentou as principais tendências e desafios Bridging the gap between signal and power – state of the art
em termos de áreas de interesse e de pesquisa na área de and remaining challenges for signal-processing applications to
QEE para os próximos anos. Devido ao impacto técnico e power system quality. IEEE Signal Processing Magazine, in print.
econômico associado, a área de QEE continuará sendo foco de • DJOKIĆ, S. Ž.; BOLLEN, M. H. J. Dip Segmentation Method.
grande interesse por parte de todos os agentes do setor elétrico IEEE Int Conf on Harmonics and Quality of Power (ICHQP),
– concessionárias, consumidores, fabricantes de equipamentos Wollongong, Australia, set. 2008.
e órgãos reguladores. Para tanto, contribui fortemente a • LARSSON, A. High frequency distortion in power grids due
proliferação de novas fontes de energia na rede, estimulada to electronic equipment. Licentiate thesis, Luleå University of
pelo crescimento da geração distribuída, a intensificação Technology, Luleå, Sweden, 2006.
• LARSSON, E. O. A.; LUNDMARK, C. M.; BOLLEN, M. H.
do uso da eletrônica de potência em conjunto com novas
J. Distortion of Fluorescent Lamps in the Frequency Range
tecnologias, principalmente as abordagens que demandam
2-150 kHz. IEEE Int Conf on Harmonics and Quality of Power
grande frequência de chaveamento, a adoção de dispositivos
(ICHQP). Cascais, Portugal, out. 2006.
FACTS, os novos investimentos em HVDC, a ampliação dos
• RÖNNBERG, S.; WAHLBERG, M.; BOLLEN, M. H. J.;
investimentos em redes elétricas inteligentes, dentre outros LARSSON, A.; LUNDMARK, M. Measurements of interaction
aspectos. Este contexto caracteriza um ambiente complexo between equipment in the frequency range 9 to 95 kHz. IEEE
para as redes de transmissão e distribuição e proporciona novos Int. Conf. on Electricity Distribution, Prague, jun. 2009.
desafios para estudos e pesquisas no contexto da Qualidade da • GU, I. Y. H.; GU, BOLLEN, M. H. J. Estimating interharmonics
Energia Elétrica. by using sliding-window esprit. IEEE Transactions on Power
Delivery, v. 23, n. 1, jan. 2008.
Referências • VARANDAN, S.; MAKRAM, E. B. Harmonic load identification
• BOLLEN, M. H. J.; GU, I. Y. H. Signal processing of power- and determination of load composition using a least square
quality disturbances. Wiley – IEEE Press, 2006. method. Electric Power Systems Research, v. 37,
• ARRILLAGA, J., Watson, N. R. Power system harmonics. Wiley. p. 203-208, 1996.
2nd Edition. Chichester, 2003.
• PAULILLO, G. et. al. Conceitos associados a QEE. Revista O *Gilson Paulillo é engenheiro eletricista, com mestrado
e doutorado em qualidade de energia elétrica pela
Setor Elétrico, jan. 2013. universidade Federal de Itajubá. Atualmente, é consultor
• Economic Framework for Power Quality, CIGRE Technical executivo em energia no Instituto de Pesquisas Eldorado,
em Campinas (SP). Sua atuação é voltada para áreas de
Brochure JWG CIGRE-CIRED C4.107, 2011. qualidade de energia elétrica, geração distribuída,
• BOLLEN, M. H. J.; RIBEIRO, P. F.; LARSSON, E. O. A.; eficiência energética e distribuição.

LUNDMARK, C. M. Limits for voltage distortion in the frequency Paulo F. Ribeiro é engenheiro, pesquisador e professor
de engenharia com experiência nos Estados Unidos, Europa
range 2-9 kHz”. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 23, n. 3, e Brasil, nas áreas de eletrônica de potência, qualidade
July 2008, p. 1.481-1.487. de energia, redes inteligentes e processamento de sinais
em sistemas de potência. Atualmente, é professor na
• GU, I. Y. H.; BOLLEN, M. H. J. Estimating interharmonics Universidade de Eindhoven na Holanda e registrado com
Engenheiro Profissional (PE) no estado de Iowa, USA. É
by using sliding-window esprit. IEEE Transactions on Power membro do IEEE e do IET.
Delivery, v. 23, n. 1, jan. 2008.
Carlos A. Duque possui graduação pela Universidade
• RONG, C. et al. New flicker weighting curves for different lamp Federal de Juiz de Fora (1986), mestrado e doutorado em
types based on the lamp light spectrum. Int Conf Harmonics Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro e Pós-doutorado pela Florida State
and Quality of Power (ICHQP), set. 2008. University, FL – USA. Atualmente é Professor Associado
da Universidade Federal de Juiz de Fora.
• BOLLEN, M. H. J.; YANG, Y.; HASSAN, F. Integration of
distributed generation in the power system – a power quality Fim
approach. IEEE Int Conf on Harmonics and Quality of Power Acesse todos os capítulos deste fascículo em
www.osetoreletrico.com.br.
(ICHQP). Wollongong, Australia, set. 2008.

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