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“Este texto foi preparado como um curso de extensão “Influência harmônica, iniciando com correções passivas, passando para as ativas,
dos Harmônicos nas Instalações Elétricas Industriais”. Trata-se de como os pré-reguladores de fator de potência e os filtros ativos”.
um curso voltado para profissionais atuantes no setor elétrico e
interessados em acompanhar as inovações tecnológicas decorrentes da José Antenor Pomilio – Engenheiro Eletricista, Mestre e Doutor
evolução da Eletrônica de Potência, especialmente as possibilidades do em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas –
condicionamento de energia elétrica visando aprimorar a qualidade do UNICAMP (1983, 1986 e 1991, respectivamente). É professor junto à
produto Energia Elétrica. Inicialmente, no capítulo 1, que será publicado Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP desde
em duas partes (Parte I e II), faz-se uma discussão sobre Fator de Potência 1984. Participou do Grupo de Eletrônica de Potência do Laboratório
e Harmônicas, vinculando-os em termos da influência das harmônicas Nacional de Luz Síncrotron (CNPq) entre 1988 e 1993, sendo chefe do
sobre o fator de potência de um sistema. A seguir, no capítulo 2, Grupo entre 1988 e 1991. Realizou estágios de pós –doutoramento
são apresentadas algumas normas e regulamentações que limitam a junto ao Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de
contaminação harmônica de um sistema ou a emissão de uma carga. Pádua (1993/1994) e ao Departamento de Engenharia Industrial da
No capítulo 3 são apresentados os componentes semicondutores de Terceira Universidade de Roma (2003), ambas na Itália. Foi “Liaison”
potência que são utilizados em conversores estáticos que, em última da IEEE Power Electronics Society para a Região 9 (América Latina)
instância, são os responsáveis pelo aumento da distorção presente na em 1998/1999. Foi membro do Comitê de Administração da IEEE
rede. Paradoxalmente, são estes mesmos conversores que permitem Power Electronics Society no triênio 2000/2002. Foi editor da Revista
a compensação das distorções quando adequadamente empregados. Eletrônica de Potência e editor associado das revistas IEEE Trans. on
No capítulo 4 são apontados os efeitos sobre os componentes de um Power Electronics e Controle & Automação (SBA). Foi presidente
sistema elétrico e as causas da distorção harmônica. Nos capítulos da Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência (2000 –2002) e é
5, 6 e 7 são apresentadas soluções para a minimização da distorção membro de sua diretoria e Conselho Deliberativo.
1.1 - Energia Elétrica como É sob esta perspectiva que serão abordados conceitos estabelecidos desde o início do
“bem comum” os diversos tópicos desta apostila. século. Novos conceitos foram criados, os quais
A energia distribuída aos usuários do sistema servem a melhor explicitar o comportamento
elétrico interligado é um “bem comum”. Ou 1.2 - Teorias de Potência Elétrica da rede na situação atual em que não mais se
seja, todos que estão conectados a um dado Nos últimos 20 anos tem havido uma podem considerar senoidais as formas de onda
sistema compartilham de suas vantagens e de intensa discussão sobre as teorias de potência de tensão e, principalmente, de corrente.
seus problemas. Mais do que isso, os problemas elétrica, substituindo ou reinterpretando Poucos conceitos se mantêm consensuais
criados por um único usuário têm reflexo em
todos os demais.
Desta forma, a preservação da qualidade
da energia elétrica é responsabilidade coletiva,
de fornecedor e de consumidores. Esta noção
de “bem comum” é muito importante pois é a
base para a imposição de normas que garantam
a preservação da qualidade da energia, de modo
a proteger o adequado funcionamento de todos
Figura 1.1 - Circuito genérico utilizado nas definições de FP e triângulo de potência.
os processos e equipamentos alimentados.
O SETOR ELÉTRICO
Fevereiro 2006
H a r m ô n i cos
mas, dentre estes, quando se tem um A figura 1.2 mostra sinais deste tipo,
sistema simétrico e equilibrado, estão o com defasagem nula. O produto das
de potência ativa média e o de potência senóides dá como resultado o valor
aparente, o que permite definir o Fator de instantâneo da potência. O valor médio
Potência. Já em situações desbalanceadas deste produto é a potência ativa (de
ou desequilibradas pode haver discordância acordo com a eq. 1.1), e também está
até mesmo nestas definições. indicada na figura. Em torno deste
Nas Referências Bibliográficas, no final valor médio flutua o sinal da potência
deste capítulo, estão indicadas recentes instantânea. O valor de pico deste
publicações que abordam estas definições Figura 1.2 - Potência com sinais senoidais sinal é numericamente igual à potência
e mostram a atualidade do debate. No em fase. aparente. Quando a defasagem é nula,
entanto, o objetivo deste capítulo é apenas o produto (potência instantânea) será
o de realçar a importância das distorções sempre maior ou igual a zero.
harmônicas no cômputo do fator de Considerando os valores utilizados
potência e são usados, como exemplo, na figura, os valores de pico das ondas
circuitos monofásicos. senoidais são de 200 V e 100 A, o que
conduz a valores eficazes de 141,4
1.3 - Fator de Potência V e 70,7 A, respectivamente. O valor
Fator de potência é uma propriedade calculado da potência aparente é de 10
de uma carga elétrica (ou de um conjunto kW. Estes resultados são consistentes
de cargas). Consideremos, para efeito com os obtidos pela figura 1.2.
das definições posteriores o esquema da A figura 1.3 mostra situação
figura 1.1. Figura 1.3 - Potência em sinais senoidais semelhante mas com uma defasagem
defasados de 90 graus. de 90 graus entre os sinais. A potência
1.3.1 - Definição de Fator de instantânea apresenta –se com
Potência um valor médio (correspondente à
Fator de Potência (FP) é definido potência ativa) nulo, como é de se
como a relação entre a potência ativa esperar. A amplitude da onda de
e a potência aparente consumidas potência é numericamente igual à
por um dispositivo ou equipamento, potência aparente.
independentemente das formas que as Na figura 1.4 tem –se uma situação
ondas de tensão e corrente apresentem. intermediária, com uma defasagem
Os sinais variantes no tempo devem ser de 45 graus. Neste caso a potência
periódicos e de mesma freqüência. instantânea assume valores positivos
e negativos, mas seu valor médio (que
1
P T� çvi (t ) ii (t ) dt
Figura 1.4 - Potência em sinais senoidais. corresponde à potência ativa) é positivo.
F
P Utilizando a equação (1.2), a potência
S VRMS I RMS ativa será de 7,07 kW, o que eqüivale ao
valor indicado na figura.
1.3.2 - Caso 1 - Tensão e
corrente senoidais 1.3.3 - Caso 2 - Tensão
Em um sistema com formas de onda senoidal e corrente distorcida
senoidais, a equação 1.1 torna –se igual Quando apenas a tensão de entrada for
ao cosseno da defasagem entre as ondas senoidal, o FP é expresso por -
de tensão e de corrente (). Analisando
I1
em termos das componentes ativa, reativa FPV = ⋅ cos φ1
e aparente da potência pode –se, a partir
sen o
I RMS
de uma descrição geométrica destas Figura 1.5 - Potência em sistema com A figura 1.5 mostra uma situação em que
componentes, mostrada na figura 1.1, tensão senoidal e corrente não –senoidal se tem uma corrente quadrada (típica,
determinar o fator de potência como - por exemplo, de retificador monofásico
com filtro indutivo no lado CC). Observe
kW kVAr
FPsen o = = cos arctg = cos φ
kVA kW
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Fevereiro 2006
F ASCÍCULOS / h a r m ô n i c o s
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O SETOR ELÉTRICO
Fevereiro 2005
F ASCÍCU LO / harmôni cos
“Este texto foi preparado como um curso de extensão “Influência harmônica, iniciando com correções passivas, passando para as ativas,
dos Harmônicos nas Instalações Elétricas Industriais”. Trata-se de como os pré-reguladores de fator de potência e os filtros ativos”.
um curso voltado para profissionais atuantes no setor elétrico e
interessados em acompanhar as inovações tecnológicas decorrentes da José Antenor Pomilio – Engenheiro Eletricista, Mestre e Doutor
evolução da Eletrônica de Potência, especialmente as possibilidades do em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas –
condicionamento de energia elétrica visando aprimorar a qualidade do UNICAMP (1983, 1986 e 1991, respectivamente). É professor junto à
produto Energia Elétrica. Inicialmente, no capítulo 1, que será publicado Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP desde
em duas partes (Parte I e II), faz-se uma discussão sobre Fator de Potência 1984. Participou do Grupo de Eletrônica de Potência do Laboratório
e Harmônicas, vinculando-os em termos da influência das harmônicas Nacional de Luz Síncrotron (CNPq) entre 1988 e 1993, sendo chefe do
sobre o fator de potência de um sistema. A seguir, no capítulo 2, Grupo entre 1988 e 1991. Realizou estágios de pós –doutoramento
são apresentadas algumas normas e regulamentações que limitam a junto ao Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de
contaminação harmônica de um sistema ou a emissão de uma carga. Pádua (1993/1994) e ao Departamento de Engenharia Industrial da
No capítulo 3 são apresentados os componentes semicondutores de Terceira Universidade de Roma (2003), ambas na Itália. Foi “Liaison”
potência que são utilizados em conversores estáticos que, em última da IEEE Power Electronics Society para a Região 9 (América Latina)
instância, são os responsáveis pelo aumento da distorção presente na em 1998/1999. Foi membro do Comitê de Administração da IEEE
rede. Paradoxalmente, são estes mesmos conversores que permitem Power Electronics Society no triênio 2000/2002. Foi editor da Revista
a compensação das distorções quando adequadamente empregados. Eletrônica de Potência e editor associado das revistas IEEE Trans. on
No capítulo 4 são apontados os efeitos sobre os componentes de um Power Electronics e Controle & Automação (SBA). Foi presidente
sistema elétrico e as causas da distorção harmônica. Nos capítulos da Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência (2000 –2002) e é
5, 6 e 7 são apresentadas soluções para a minimização da distorção membro de sua diretoria e Conselho Deliberativo.
200V 20k
Tensão
O SETOR ELÉTRICO
22 Março 2006
Ha r m ô n i cos
250V 25k
Tensão
P=11,9kW
P
Corrente SEL>>
-25k
-250V 340ms 350ms 360ms 370ms 380ms 390ms 400ms
V(V8:+) V(V3:+) Potência instantânea e média
Tempo
V(V8:+)* V(V3:+) avg(#1) 0
Assim, o FP pode ser reescrito como: Podem ser citadas como desvantagens de um baixo FP e elevada
distorção, dentre outros, os seguintes fatos:
cosφ1
FP = (1.6)
• A máxima potência ativa absorvível da rede é fortemente limitada pelo
1 + TDH 2 FP;
É evidente a relação entre o FP e a distorção da corrente absorvida da • As harmônicas de corrente exigem um sobredimensionamento da
linha. Neste sentido, existem normas internacionais que regulamentam instalação elétrica e dos transformadores, além de aumentar as perdas
os valores máximos das harmônicas de corrente que um dispositivo ou (efeito pelicular);
equipamento pode injetar na linha de alimentação. • A componente de 3a harmônica da corrente, em sistema trifásico com
neutro, pode ser muito maior do que o normal;
1.1.1 Caso 3: Tensão e corrente não-senoidais, mas • O achatamento da onda de tensão, devido ao pico da corrente, além
de mesma freqüência. da distorção da forma de onda, pode causar mau-funcionamento de
outros equipamentos conectados à mesma rede;
O cálculo do FP, neste caso, deve seguir a equação (1.1), ou seja, é • As componentes harmônicas podem excitar ressonâncias no sistema
necessário obter o valor médio do produto dos sinais a fim de se conhecer de potência, levando a picos de tensão e de corrente, podendo danificar
a potência ativa. Num caso genérico, tanto a componente fundamental dispositivos conectados à linha.
quanto as harmônicas podem produzir potência, desde que existam
as mesmas componentes espectrais na tensão e na corrente e que sua 1.2.1 Perdas
defasagem não seja 90 graus.
A figura 1.8 mostra sinais de tensão e de corrente quadrados e As perdas de transmissão de energia elétrica são proporcionais ao
“defasados”. Os valores eficazes são, respectivamente, 200 V e 100 A. O quadrado da corrente eficaz que circula pelos condutores. Assim, para
que leva a uma potência aparente de 20kW. uma dada potência ativa, quanto menor for o FP, maior será a potência
Os valores eficazes das componentes fundamentais são, reativa e, conseqüentemente, a corrente pelos condutores. A figura 1.9
respectivamente, 180 V e 90 A. A defasagem entre elas é de 36 graus. mostra o aumento das perdas em função da redução do FP.
Se o cálculo da potência ativa for feito considerando apenas estes A tabela I.1 mostra um exemplo de redução de perdas devido à elevação
componentes, o valor obtido será de 13,1 kW. No entanto, a potência do FP. Toma-se como exemplo uma instalação com consumo anual de
média obtida da figura, e que corresponde à potência ativa, é de 11,9
kW. O motivo da discrepância é devido ao valor médio a ser produzido Aumento de perdas (%)
15
por cada componente harmônica presente tanto na tensão quanto na
12
corrente. Valores médios negativos são possíveis desde que a defasagem
9
entre os sinais seja superior a 90 graus. É o que ocorre neste exemplo,
levando a uma potência ativa menor do que aquela que seria produzida 6
0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
1.2 Desvantagens do baixo fator de potência (FP) e da
FP
alta distorção da corrente Figura 1.9 Aumento das perdas devido à redução do FP
(com potência ativa constante)
Esta análise é feita partindo-se de duas situações. Na primeira supõe-
se constante a potência ativa, ou seja, parte-se de uma instalação ou carga 200MWh, na qual supõe-se uma perda de 5%. e se eleva o FP de 0,78
dada, a qual precisa ser alimentada. Verificam-se algumas conseqüências para 0,92. Observa-se uma redução nas perdas de 28,1%.
do baixo FP. Na segunda situação, analisando a partir dos limites de uma Uma outra questão relevante, que será discutida mais detalhadamente
linha de transmissão, verifica-se o ganho na disponibilização de energia em outros capítulos deste texto, refere-se a se fazer a correção do FP
para o consumo. em cada equipamento individualmente ou apenas na entrada de uma
O SETOR ELÉTRICO
Março 2006 23
F ASCÍCU LO / harmôni cos
392kVAr
527kVAr
Situação 1 Situação 2
Fator de potência 0,78 0,92 1000kVA 1000kVA
Perdas globais (%) 5 3,59
Perdas globais (MWh/ano) 10 7,18 FP= 0,85 FP= 0,92
Redução das perdas 28,1%
Figura 1.10 Efeito do aumento do FP na ampliação da
disponibilidade de potência ativa
instalação. Key (1995) estuda o caso de um edifício comercial com uma
instalação de 60 kVA. Verifica o efeito de uma compensação em quatro maior potência, ou para uma quantidade maior de cargas.
situações (em termos do posicionamento do compensador): no primário Consideremos aqui aspectos relacionados com o estágio de entrada
do transformador; no secundário do transformador de entrada (o que de fontes de alimentação. As tomadas da rede elétrica doméstica ou
elimina as perdas adicionais neste elemento); em centrais de cargas industrial possuem uma corrente (RMS) máxima que pode ser absorvida
(subpainéis) e em cada carga. (tipicamente 15A nas tomadas domésticas).
A compensação em cada carga faz com que a corrente que circula A figura 1.11 mostra uma forma de onda típica de um circuito
em todo o sistema seja praticamente senoidal (FP~1). Fazendo-se a retificador alimentando um filtro capacitivo. Nota-se os picos de corrente
compensação de um grupo de cargas, as harmônicas circularão por e a distorção provocada na tensão de entrada, devido à impedância da
trechos reduzidos de cabos. Com a compensação no secundário do linha de alimentação. O espectro da corrente mostra o elevado conteúdo
transformador, a corrente será distorcida em toda a instalação, mas harmônico.
não no transformador. Com uma compensação na entrada, apenas o Nota-se que o baixo fator de potência da solução convencional (filtro
fornecedor de energia será beneficiado. capacitivo) é o grande responsável pela reduzida potência ativa disponível
A tabela I.2 mostra resultados deste estudo. para a carga alimentada.
Analisemos agora o caso do sistema de transmissão, para o qual a O conceito mais importante deste capítulo inicial é que, nos dias de
grandeza constante é a potência aparente, uma vez que é ela que define hoje, principalmente nas redes de baixa tensão, é um erro importante
a capacidade térmica das linhas. desconsiderar a presença das distorções harmônicas, principalmente da
Uma análise fasorial só pode ser aplicada para grandezas senoidais e corrente, no cálculo do Fator de Potência. Por conseqüência, como se
de mesma freqüência, hipótese simplificadora assumida na análise que verá em outros capítulos, a compensação do FP por meio de capacitores
se segue. deve ser feito com extremo cuidado, uma vez que pode provocar
Um baixo FP significa que grande parte da capacidade de condução situações de piora da distorção, inclusive com riscos para a operação
de corrente dos condutores utilizados na instalação está sendo usada para segura do sistema.
transmitir uma corrente que não produzirá trabalho na carga alimentada. A melhoria do fator de potência tem como conseqüência um
Mantida a potência aparente (para a qual é dimensionada a instalação), melhor aproveitamento do sistema elétrico, com minimização de perdas
um aumento do FP significa uma maior disponibilidade de potência ativa, e aumento de capacidade de trabalho. É, portanto, um objetivo a ser
como indicam os diagramas da figura 1.10. buscado. Situações mais gerais, que incluem desequilíbrio e desbalanço
Uma análise análoga pode ser feita em termos de uma instalação devem ser analisadas com um cuidado maior, para o que se sugere a
existente, a qual poderia ser utilizada para alimentação de uma carga de leitura das referências citadas.
O SETOR ELÉTRICO
24 Março 2006
Harmônicos
Nonsinusoidal, Balanced or Unbalanced Conditions”, IEEE Transaction
Tabela 1.3 Comparação da potência ativa de saída
On Industry Applications, May/June 2004.
Convencional PF corrigido
L. S. Czarnecki, “On some misinterpretations of the instantaneous
Potência disponível 1440 VA 1440 VA
reactive power pq theory”, IEEE Transaction on Power Electronics,
Fator de potência 0,65 0,99
19(3), pp. 828-836, May 2004.
Eficiência do corretor de FP 100% 95%
M. Depenbrock, V. Staudt, and H. Wrede, “A theoretical investigation
Eficiência da fonte 75% 75%
of original and modified instantaneous power theory applied to four-
Potência disponível 702 W 1015 W
wire systems”, IEEE Transaction on Industry Applications, 39(4), pp.
1160-1167, July/August 2003.
1.4 Referências bibliográficas H. Akagi, S. Ogasawara and H. Kim, “The Theory of Instantaneous
Power in Three-Phase Four-Wire Systems: A Comprehensive
F. P. Marafão, “Análise e Controle da Energia Elétrica Através de Approach”, IEEE Industry Application Society Annual Meeting, pp.
Técnicas de Processamento Digital de Sinais”, Tese de Doutorado, 431-439, 1999.
Departamento de Sistemas e Controle de Energia, FEEC/Unicamp, “Manual de orientação aos consumidores sobre a nova legislação
Campinas, Brasil, 2004. para o faturamento de energia reativa excedente”. Secretaria
S. Fryze, “Active, reactive and apparent power in circuits with executiva do Comitê de Distribuição de Energia Elétrica - CODI, Rio
nonsinusoidal voltage and current”, Przegl.Elektrotech, 1932. de Janeiro, 1995.
J.L. Willems, “Reflections on Apparent Power and Power Factor in T. Key and J-S. Lai: “Costs and Benefits of Harmonic Current Reduction
Nonsinusoidal and Polyphase Situations”, IEEE Transaction On Power for Switch-Mode Power Supplies in a Commercial Office Building”.
Delivery, Abril de 2004. Anais do IEEE Industry Application Society Annual Meeting - IAS’95.
L.S. Czarnecki, “What is wrong with the Budeanu concept of reactive Orlando, USA, Outubro de 1995, pp. 1101-1108.
and distortion power and why it should be abandoned?,” IEEE J. Klein and M. K. Nalbant: “Power Factor Correction - Incentives.
Transaction on Instrumentation and Measurement, IM-36(3), pp. 834- Standards and Techniques”. PCIM Magazine, June 1990, pp. 26-31.
837, 1987.
IEEE Std 1459-2000. “IEEE Trial-Use Standard Definitions for the CORREÇÃO:
Measurement of Electric Power Quantities Under Sinusoidal, Na primeira parte deste fascículo, na edição anterior
Nonsinusoidal, Balanced or Unbalanced Conditions”. 2000. da revista, a indicação de valores de potência aparente
A. Emanuel, “Summary of IEEE Standard 1459: Definitions for em W (Watts) está errada. A unidade para potência
the Measurement of Electric Power Quantities Under Sinusoidal, aparente é VA (Volt-Ampère)
O SETOR ELÉTRICO
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F ASCÍCU LO / harmôni cos
“Este texto foi preparado como um curso de extensão: Influência dos passivas e passando para as ativas, como os pré-reguladores de fator de
Harmônicos nas Instalações Elétricas Industriais. Trata-se de um curso potência e os filtros ativos.”
voltado para profissionais atuantes no setor elétrico e interessados
em acompanhar as inovações tecnológicas decorrentes da evolução José Antenor Pomilio – engenheiro eletricista, mestre e doutor
da eletrônica de potência, especialmente as possibilidades do em engenharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas
condicionamento de energia elétrica visando aprimorar a qualidade do – Unicamp (1983, 1986 e 1991, respectivamente). É professor da
produto energia elétrica. Inicialmente, no capítulo 1, que foi publicado em Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp desde
duas partes, fez-se uma discussão sobre fator de potência e harmônicas, 1984. Participou do grupo de eletrônica de potência do Laboratório
vinculando-os em termos da influência das harmônicas sobre o fator Nacional de Luz Sincrotron (CNPq) entre 1988 e 1993, sendo chefe
de potência de um sistema. Neste capítulo, são apresentadas algumas do grupo entre 1988 e 1991. Realizou estágios de pós-doutoramento
normas e regulamentações que limitam a contaminação harmônica no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Pádua
de um sistema ou a emissão de uma carga. No capítulo 3 serão (1993 e 1994) e no Departamento de Engenharia Industrial da
apresentados os componentes semicondutores de potência utilizados Terceira Universidade de Roma (2003), ambas na Itália. Foi liaison
em conversores estáticos que, em última instância, são os responsáveis da IEEE Power Electronics Society para a região 9 (América Latina)
pelo aumento da distorção presente na rede. Paradoxalmente, são esses em 1998 e 1999. Foi membro do Comitê de Administração da IEEE
mesmos conversores que permitem a compensação das distorções Power Electronics Society no triênio 2000/2002. Foi editor da Revista
quando adequadamente empregados. No capítulo 4 serão apontados Eletrônica de Potência e editor associado das revistas IEEE Trans. on
os efeitos sobre os componentes de um sistema elétrico e as causas da Power Electronics e Controle & Automação (SBA). Foi presidente
distorção harmônica. Nos capítulos 5, 6 e 7 serão apresentadas soluções da Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência (2000-2002) e é
para a minimização da distorção harmônica, iniciando com correções membro de sua diretoria e do Conselho Deliberativo.
CAPÍTULO 2
2 - NORMAS RELATIVAS A FATOR DE POTÊNCIA
E DISTORÇÃO HARMÔNICA
2.1 - Fator de potência de energia que absorve.
A atual regulamentação brasileira do fator de potência estabelece “Nos sistemas senoidais, tanto os monofásicos quanto os
que o mínimo fator de potência (FP) das unidades consumidoras trifásicos equilibrados e simétricos, a noção do fator de potência é
alimentadas em baixa tensão é de 0,92. A Agência Nacional de Energia aceita consensualmente. Hoje em dia a proliferação de cargas não
Elétrica (Aneel), em seu documento “Procedimentos de distribuição lineares e/ou não balanceadas, assim como de cargas com dispositivos
de energia elétrica no sistema elétrico nacional – Prodist módulo 8 – chaveados de eletrônica de potência, determina um aprimoramento
qualidade da energia elétrica”, de 24 de agosto de 2005 traz o seguinte das disposições contidas nas regulamentações vigentes. Tal melhoria
texto: encontra sustentação na tecnologia de amostragem digital hoje
“A presença da energia e/ou potência reativas faz com que o disponível no mercado brasileiro, o qual dispõe de instrumentos de
transporte de potência ativa demande maior capacidade do sistema medição que permitem incorporar conceitos de potência e fator de
de transporte pelo qual ela flui. Por este motivo, a responsabilidade potência mais atuais”.
de um cliente marginal nos investimentos destinados à expansão da O referido documento, no entanto, ainda estabelece para o cálculo
rede será tanto maior quanto mais elevada for sua potência reativa do FP procedimentos que consideram formas de onda senoidais:
ou, de modo equivalente, quanto menor for seu fator de potência.
f= P EA
“Muitas cargas tradicionais, como é o caso dos motores elétricos, ou
P2 + Q2 EA2 + ER2 (2.1)
têm um princípio de operação que exige um consumo de potência
reativa. Assim, parece adequado que o regulador admita uma certa
EA: Energia ativa; ER: Energia reativa
tolerância para o fator de potência das unidades consumidoras.
O valor desta tolerância é expresso através do chamado fator de Permite-se, no entanto, que cada concessionária adote outros
potência de referência que está hoje fixado no valor de 0,92, o que procedimentos que contemplem a realidade local, ou seja, abre a
equivale a permitir ao cliente um consumo de 0,426 kVArh por kWh possibilidade do uso do conceito mais geral de FP. O cálculo do FP
O SETOR ELÉTRICO
18 Abril 2006
Ha r m ô n i cos
deve ser feito por média horária. O consumo de reativos além do i/i pico
permitido (0,426 kVArh por kWh) é cobrado do consumidor. No p/3 p/3 p/3
intervalo entre 6 e 24 horas isso ocorre se a energia reativa absorvida 1
for indutiva e das 0 às 6 horas se for capacitiva (Crestani, 1994).
Conforme foi visto anteriormente, as componentes harmônicas
da corrente também contribuem para o aumento da corrente eficaz, 0,35
de modo que elevam a potência aparente sem produzir potência ativa
(supondo a tensão senoidal). Assim, uma correta medição do FP deve 0 p/2 p
levar em conta a distorção da corrente, e não apenas a componente Figura 2.1 Envelope da corrente de entrada que define um
reativa (na freqüência fundamental), o que não ocorre em grande equipamento como classe D.
2.3. IEC 61000-3-4 ser aplicados. Se este for monofásico ou trifásico desbalanceado,
Esse relatório técnico (IEC, 1998) pode ser aplicado a qualquer pode-se utilizar os limites da tabela 2.III. Podemos observar na
equipamento elétrico ou eletrônico, cuja corrente de entrada seja referida tabela que, quanto maiores forem os valores de potência
maior que 16 A. Sua tensão de alimentação deve ser menor que de curto-circuito, maiores serão os limites de distorção tolerados.
240 V para equipamentos monofásicos ou menor que 600 V para Nesse caso, algumas recomendações devem ser seguidas. O
equipamentos trifásicos. A freqüência nominal da rede pode ser 50 valor relativo de cada harmônico não deve exceder o limite de
Hz ou 60 Hz. 16/n%. Para valores intermediários de potência de curto-circuito,
No referido relatório são apresentados os limites para distorção pode-se aplicar interpolação linear para obter os limites de
harmônica em equipamentos cuja potência aparente seja menor distorção. No caso de equipamentos trifásicos desbalanceados, a
ou igual a 33 vezes a potência de curto-circuito da instalação. A corrente de cada uma das fases deve estar dentro desses limites.
tabela 2.II apresenta os limites individuais de corrente para cada Caso o equipamento seja trifásico equilibrado pode-se ainda
harmônico que estão normalizados em relação à fundamental. utilizar a tabela 2.IV. Algumas recomendações também devem ser
Define-se potência de curto-circuito (Rsce) como a relação entre seguidas. O valor relativo de cada harmônico não deve exceder
a tensão nominal ao quadrado e a impedância de curto-circuito. Se o limite de 16/n%. Para valores intermediários de potência de
o equipamento a ser analisado exceder os limites dessa primeira curto-circuito, pode-se aplicar interpolação linear para obter os
tabela, e a potência de curto-circuito permitir, outros limites podem limites de distorção.
Tabela 2.2 - Limites individuais de harmônicos de corrente Tabela 2.3 - Limites individuais de harmônicos de corrente em
em % da fundamental % da fundamental
O SETOR ELÉTRICO
20 Abril 2006
Harmônicos
no PAC. À medida que se eleva o nível de tensão, menores são
Tabela 2.4 - Limites individuais de harmônicos de corrente
os limites aceitáveis.
para equipamentos trifásicos em % da fundamental
A grandeza TDD – Total Demand Distortion – é definida como
Mínimo Fator de distorção Limites individuais de
harmônico admissível a distorção harmônica da corrente, em porcentagem, da máxima
Rsce harmônica admissível
% In/I1 % demanda da corrente de carga (demanda de 15 ou 30 min). Isso
significa que a medição da TDD deve ser feita no pico de consumo.
THD PWHD I5 I7 I11 I13
Harmônicas pares são limitadas a 25% dos valores acima. Distorções
66 16 25 14 11 10 8
de corrente que resultem em nível CC não são admissíveis.
120 18 29 16 12 11 8
175 25 33 20 14 12 8
250 35 39 30 18 13 8 Tabela 2.5 - Limites de Distorção da Corrente para Sistemas
SE 460
O SETOR ELÉTRICO
Abril 2006 21
F ASCÍCU LO / harmôni cos
Tabela 2.7 - Limites de distorção de corrente para sistemas de alta Tabela 2.10 - Níveis de referência para distorções
tensão (>161kV) e sistemas de geração e co-geração isolados. harmônicas individuais de tensão (expressos como
Harmônicas ímpares: percentagem da tensão fundamental).
Icc/Io <11 11≤ n <17 17≤ n <23 23≤ n <35 35<n TDD(%)
Ordem Distorção Harmônica Individual de Tensão [%]
<50 2 1 0,75 0,3 0,15 2,5 Harmônica Vn ≤ 1kV 1kV < Vn ≤ 13,8kV 13,8kV < Vn ≤ 69kV 69kV < Vn ≤ 138kV
≥50 3 1,5 1,15 0,45 0,22 3,75 5 7,5 6 4,5 2,5
7 6,5 5 4 2
Para os limites de tensão, os valores mais severos são para 11 4,5 3,5 3 1,5
Impares
as tensões menores (nível de distribuição). Estabelece-se um 13 4 3 2,5 1,5
não
limite individual por componente e um limite para a distorção 17 2,5 2 1,5 1
múltiplas
harmônica total. 19 2 1,5 1,5 1
de 3
23 2 1,5 1,5 1
Tabela 2.8 - Limites de distorção de tensão 25 2 1,5 1,5 1
Distorção individual THD >25 1,5 1 1 0,5
69kV e abaixo 3% 5%
3 6,5 5 4 2
69001V até 161kV 1,5% 2,5%
Impares 9 2 1,5 1,5 1
Acima de 161kV 1% 1,5%
múltiplas 15 1 0,5 0,5 0,5
de 3 21 1 0,5 0,5 0,5
2.5. Regulamentação brasileira >21 1 0,5 0,5 0,5
Para a rede básica de energia, o Operador Nacional do Sistema 2 2,5 2 1,5 1
(ONS) estabelece desde 2002 parâmetros de qualidade para a 4 1,5 1 1 0,5
tensão suprida. Mas, do ponto de vista do consumidor, as restrições 6 1 0,5 0,5 0,5
a serem consideradas são, na imensa maioria, as do sistema de Pares 8 1 0,5 0,5 0,5
distribuição, as quais ainda estão em discussão. 10 1 0,5 0,5 0,5
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no já citado 12 1 0,5 0,5 0,5
documento “Procedimentos de distribuição de energia elétrica no >12 1 0,5 0,5 0,5
sistema elétrico nacional – Prodist módulo 8 – qualidade da energia
elétrica”, propõe valores para a distorção harmônica da tensão Figura 2.2 Tensão com DTT de 10%, em conformidade com os limites.
no sistema de distribuição. Tal regulamentação ainda não está
200V
definida.
0V
Tabela 2.9 - Valores de referência globais das distorções harmô
nicas totais expressos em porcentagem da tensão fundamental
-200V
Tensão nominal Distorção Harmônica 0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms
TEMPO
60ms 70ms 80ms 90ms 100ms
VN ≤ 1kV 10
1kV < VN ≤ 13,8kV 8
13,8kV < VN ≤ 69kV 6
69kV < VN ≤ 138kV 3 SEL>>
0V
0Hz 0.1Khz 0.2Khz 0.3Khz 0.4Khz 0.5Khz 0.6Khz 0.7Khz 0.8Khz 0.9Khz 1.0Khz
Frequency
Hmáx
ΣV
h=2
h
2
DTT = x 100
V1 (2.3) 2.6. Comentários finais
Estão em andamento conversações entre o IEEE e a IEC para
A figura 2.2 mostra uma forma de onda de tensão que consolidarem as normas geradas pelas instituições. Tais processos, no
segue as restrições para tensão inferior a 1 kV. A DTT é de 10% entanto, são demorados, devido aos grandes interesses econômicos
e cada componente está abaixo do limite da tabela. Note-se que envolvidos.
essa distorção é, visualmente, significativa. Para ambientes industriais, o enfoque do IEEE parece mais
O SETOR ELÉTRICO
22 Abril 2006
Harmônicos
consistente do que o do IEC. No entanto, parece pouco adequado para módulo 8 – qualidade da energia elétrica”, de 24/8/2005.
uma situação mais atual na qual registra-se um grande aumento nas M. Crestani (1994), “Com uma terceira portaria, o novo fator de potência
cargas não lineares de uso doméstico (TV, computadores, lâmpadas já vale em abril”. Eletricidade moderna, ano XXII, n° 239, fev. 1994.
fluorescentes etc.). Ou seja, a distorção da tensão é ser causada, International Electrotechnical Commission (2001): IEC 61000-3-2:
crescentemente, por consumidores domésticos, e não industriais. “Electromagnetic Compatibility (EMC) – Part 3: Limits – Section 2: Limits
O ponto da IEC é garantir que cada equipamento apresente for Harmonic Current Emissions (Equipment input current < 16 A per
uma reduzida distorção, o que garantirá um bom comportamento phase)”, 1998 e Emenda A14 (2001)
no conjunto de cargas. No que se refere à regulamentação brasileira, International Electrotechnical Commission (1998): IEC 61000-3-4:
muito mais tolerante do que a do IEEE, deve-se perguntar sobre o “Limitation of emission of harmonic currents in low-voltage power
possível impacto de distorções significativas em diversos processos que supply systems for equipment with rated current greater than 16A”,
dependem de uma baixa distorção da forma de onda da tensão. first edition, 1998.
A ausência de uma definição de distorção da corrente é um problema IEEE (1991) Recommended Practices and Requirements for Harmonic
importante para a identificação de responsabilidades. Adicione-se a isso Control in Electric Power System. Project IEEE-519, out. 1991.
o fato de que a distorção da corrente é, para muitas cargas eletrônicas, ONS (2002), Submódulo 3.8 – Requisitos mínimos para a conexão à
dependente da distorção da tensão. Ou seja, se a rede se encontra com rede básica.
elevada distorção pode induzir ao aumento da distorção da corrente, ONS (2002), Submódulo 2.2 – Padrões de desempenho da rede básica.
o que seria, assim, responsabilidade da concessionária, e não do
consumidor.
Correção
Na segunda parte deste fascículo, na edição anterior
(nº2, Março de 2006) , a formula 1.4 correta é:
2.7. Referências bibliográficas
∞
Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel (2005), “Procedimentos
de distribuição de energia elétrica no sistema elétrico nacional – Prodist
I RMS = I12 + ∑ I 2n
n=2
SE 465
O SETOR ELÉTRICO
Abril 2006 23
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, Mestre
e Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Esta-
dual de Campinas – UNICAMP, professor junto à Faculdade
de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP
antenor@dsce.fee.unicamp.br
TIRISTORES
5kV
GTO e IGCT Em qualquer temperatura acima do zero absoluto (-273oC),
4kV
algumas destas ligações são rompidas (ionização térmica),
3kV CORRENTE produzindo elétrons livres. O átomo que perde tal elétron se torna
IGTB positivo. Eventualmente um outro elétron também escapa de outra
2kV TBP 1kHz
ligação e, atraído pela carga positiva do átomo, preenche a ligação
10kHz
1kV MOSFET covalente. Desta maneira tem-se uma movimentação relativa da
100kHz
2kA 6kA
1MHz “carga positiva”, chamada de lacuna, que, na verdade, é devida ao
4kA
Freqüência deslocamento dos elétrons que saem de suas ligações covalentes e
Figura 3.1 Limites de operação de componentes semicondutores de vão ocupar outras, como mostra a figura 3.3.
potência.
Átomo
ionizado
3.1 Breve Revisão da Física de Semicondutores
A passagem de corrente elétrica em um meio depende da
aplicação de um campo elétrico e da existência de portadores livres Elétron
O SETOR ELÉTRICO
18 Maio 2006
Ha r m ô n i cos
A ionização térmica gera o mesmo número de elétrons e Neste caso não se tem mais o equilíbrio entre elétrons e
lacunas. Em um material puro, a densidade de portadores é lacunas, passando a existir um número maior de elétrons livres
aproximadamente dada por: nos materiais dopados com elementos da quinta coluna da tabela
periódica, ou de lacunas, caso a dopagem seja com elementos
-qEg da terceira coluna. Respectivamente, produzem-se os chamados
materiais semicondutores tipo N e tipo P. Observe-se, no entanto,
ni ≈ C·e kT
que o material permanece eletricamente neutro, uma vez que a
(3.1)
quantidade total de elétrons e prótons é a mesma.
Onde C é uma constante de proporcionalidade, q é a carga do Quando a lacuna introduzida pelo boro captura um elétron
elétron (valor absoluto), Eg é a banda de energia do semicondutor livre, tem-se a movimentação da lacuna. Neste caso diz-se que
(1,1 eV para o Si), k é a constante de Boltzmann, T é a temperatura as lacunas são os portadores majoritários, sendo os elétrons os
em Kelvin. Para o Si, à temperatura ambiente (300K), ni 1010/cm3. portadores minoritários.
Já no material tipo N, a movimentação do elétron excedente
3.1.2 Semicondutores dopados deixa o átomo ionizado, o que o faz capturar outro elétron livre.
Quando se faz a adição de átomos de materiais que possuam Neste caso os portadores majoritários são os elétrons, enquanto os
3 (como o alumínio ou o boro) ou 5 elétrons (como o fósforo) em minoritários são as lacunas.
sua camada de valência à estrutura dos semicondutores, os átomos As dopagens das impurezas (1019/cm3 ou menos), tipicamente
vizinhos a tal impureza terão suas ligações covalentes incompletas são feitas em níveis muito menores que a densidade de átomos do
ou com excesso de elétrons, como mostra a figura 3.4. material semicondutor (1023/cm3), de modo que as propriedades
de ionização térmica não são afetadas.
Mesmo em um material dopado, o produto das densidades de
Si Si Si
lacunas e de elétrons (po e no, respectivamente) é igual ao valor ni2
Ligação
incompleta dado pela equação (3.1), embora aqui po no .
Si Bo Si Além da ionização térmica, tem-se uma quantidade adicional
de cargas “livres”, relativas às próprias impurezas. Pelos valores
indicados anteriormente, pode-se verificar que a concentração
Si Si Si
de átomos de impurezas é muitas ordens de grandeza superior à
Si Si Si densidade de portadores gerados por efeito térmico, de modo que,
Elétron num material tipo P, po Na, onde Na é a densidade de impurezas
em excesso
“aceitadoras” de elétrons. Já no material tipo N, no Nd, onde Nd
Si P Si
é a densidade de impurezas “doadoras” de elétrons.
Figura 3.4 – Em qualquer dos materiais, a densidade dos portadores minoritários
Semicondutores dopados
Si Si Si é proporcional ao quadrado da densidade “intrínseca”, ni, e é
fortemente dependente da temperatura.
SE 770
O SETOR ELÉTRICO
Maio 2006 19
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
transistor bipolar e os tiristores. Uma vez que este “tempo de vida” dos P + + + + + + + _ _ + + _ _ _ _ _ _ N_
portadores afeta significantemente o comportamento dos dispositivos ++++++++ _ _ + + _ _ _ _ _ _ _
++++++++ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Anodo Catodo
de potência, a obtenção de métodos que possam controlá-lo é + +
++++++++ _ _ + + _ _ _ _ _ _ _
importante. Um dos métodos que possibilita o “ajuste” deste tempo ++++++++ _ _ + + _ _ _ _ _ _ _
é a dopagem com ouro, uma vez que este elemento funciona como + Difusão
_
um “centro” de recombinação, uma vez que realiza tal operação com
grande facilidade. Outro método é o da irradiação de elétrons de alta
energia, bombardeando a estrutura cristalina de modo a deformá-la e, Potencial
0
assim, criar “centros de recombinação”. Este último método tem sido
1u
preferido devido à sua maior controlabilidade (a energia dos elétrons é
facilmente controlável, permitindo estabelecer a que profundidade do Figura 3.5 Estrutura básica de um diodo semicondutor.
cristal se quer realizar as deformações) e por ser aplicado no final do
processo de construção do componente. Por difusão ou efeito térmico, uma certa quantidade de portadores
minoritários penetra na região de transição. São, então, acelerados
3.1.4 - Correntes de deriva e de difusão pelo campo elétrico, indo até a outra região neutra do dispositivo.
Quando um campo elétrico for aplicado a um material Esta corrente reversa independe da tensão reversa aplicada, variando,
semicondutor, as lacunas se movimentarão no sentido do campo basicamente, com a temperatura.
decrescente, enquanto os elétrons seguirão em sentido oposto. Esta Se o campo elétrico na região de transição for muito intenso, os
corrente depende de um parâmetro denominado “mobilidade”, a qual portadores em trânsito obterão grande velocidade e, ao se chocarem
O SETOR ELÉTRICO
20 Maio 2006
Harmônicos
com átomos da estrutura, produzirão novos portadores, os quais, muito diferente do de uma chave ideal, como se pode observar na figura
também acelerados, produzirão um efeito de avalanche. Dado o 3.6. Suponha-se que se aplica uma tensão vi ao diodo, alimentando
aumento na corrente, sem redução significativa na tensão na junção, uma carga resistiva (cargas diferentes poderão alterar alguns aspectos
produz-se um pico de potência que destrói o componente. da forma de onda). Durante t1, remove-se a carga acumulada na
Uma polarização direta leva ao estreitamento da região de transição região de transição. Como ainda não houve significativa injeção de
e à redução da barreira de potencial. Quando a tensão aplicada superar portadores, a resistência da região N- é elevada, produzindo um pico de
o valor natural da barreira, cerca de 0,7V para diodos de Si, os portadores tensão. Indutâncias parasitas do componente e das conexões também
negativos do lado N serão atraídos pelo potencial positivo do anodo e colaboram com a sobre-tensão. Durante t2 tem-se a chegada dos
vice-versa, levando o componente à condução. portadores e a redução da tensão para cerca de 1V. Estes tempos são,
Na verdade, a estrutura interna de um diodo de potência é um pouco tipicamente, da ordem de centenas de ns.
diferente desta apresentada. Existe uma região N intermediária, com No desligamento, a carga espacial presente na região N- deve
baixa dopagem. O papel desta região é permitir ao componente suportar ser removida antes que se possa reiniciar a formação da barreira de
tensões mais elevadas, pois tornará menor o campo elétrico na região de potencial na junção. Enquanto houver portadores transitando, o diodo
transição (que será mais larga, para manter o equilíbrio de carga). se mantém em condução. A redução em Von se deve à diminuição
Esta região de pequena densidade de dopante dará ao diodo uma da queda ôhmica. Quando a corrente atinge seu pico negativo é que
significativa característica resistiva quando em condução, a qual se torna foi retirado o excesso de portadores, iniciando-se, então, o bloqueio
mais significativa quanto maior for a tensão suportável pelo componente. do diodo. A taxa de variação da corrente, associada às indutâncias do
As camadas que fazem os contatos externos são altamente dopadas, a circuito, provoca uma sobre-tensão negativa.
fim de fazer com que se obtenha um contato com característica ôhmica
e não semicondutor. t3
trr
t1 dir/dt
O contorno arredondado entre as regiões de anodo e catodo tem dif/dt
Qrr
i=Vr/R
como função criar campos elétricos mais suaves (evitando o efeito de iD
Anodo
pontas). No estado bloqueado, pode-se analisar a região de transição
P+ 10 e 19 cm - 3 Vfp Von t4 t5
como um capacitor, cuja carga é aquela presente na própria região de vD
Vrp
transição. Na condução não existe tal carga, no entanto, devido à alta N– 10 e 14 cm - 3 Depende -Vr t2
da tensão
+Vr
dopagem da camada P+, por difusão, existe uma penetração de lacunas
vi
na região N-. Além disso, à medida que cresce a corrente, mais lacunas 250 u vD -Vr
N+ 10 e 14 cm - 3 substrato
são injetadas na região N-, fazendo com que elétrons venham da região iD
vi R
N+ para manter a neutralidade de carga. Desta forma, cria-se uma carga Catodo
espacial no catodo, a qual terá que ser removida (ou se recombinar) para
permitir a passagem para o estado bloqueado do diodo. Figura 3.6 - Estrutura típica de diodo de potência e formas de onda
típicas de comutação de diodo de potência.
O comportamento dinâmico de um diodo de potência é, na verdade,
SE 775
O SETOR ELÉTRICO
Maio 2006 21
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
contato
contato contato
contato
retificador
ôhmico
Al
A1 Al
A1 ôhmico
ôhmico
SSiO2
iO2
N+
N+
Ch1 500mV Ch2 10V M 1μs Ch2 10,6V
TTipo
ipo NN
Figura 3.7 - Resultados experimentais das comutações de diodo: (a)
desligamento; (b) entrada em condução. Canal 1: Corrente; Canal 2:
tensão vak S
Substrato tipoPP
ubstrato tipo
O SETOR ELÉTRICO
22 Maio 2006
Harmônicos
3.4 Tiristor Desta forma, a junção reversamente polarizada tem
O nome tiristor engloba uma família de dispositivos sua diferença de potencial diminuída e estabelece-se uma
semicondutores que operam em regime chaveado, tendo em corrente entre anodo e catodo, que poderá persistir mesmo
comum uma estrutura de 4 camadas semicondutoras numa na ausência da corrente de porta. Quando a tensão Vak for
seqüência p-n-p-n, apresentando um funcionamento biestável. negativa, J1 e J3 estarão reversamente polarizadas, enquanto
O tiristor de uso mais difundido é o SCR (Retificador Controlado J2 estará diretamente polarizada. Uma vez que a junção J3
de Silício), usualmente chamado simplesmente de tiristor. é intermediária a regiões de alta dopagem, ela não é capaz
Outros componentes, no entanto, possuem basicamente de bloquear tensões elevadas, de modo que cabe à junção
uma mesma estrutura: LASCR (SCR ativado por luz), também J1 manter o estado de bloqueio do componente.
chamado de LTT (Light Triggered Thyristor), TRIAC (tiristor É comum fazer-se uma analogia entre o funcionamento
triodo bidirecional), DIAC (tiristor diodo bidirecional), GTO do tiristor e o de uma associação de dois transistores,
(tiristor comutável pela porta), MCT (Tiristor controlado por conforme mostrado na figura 3.10. Quando uma corrente
MOS). Ig positiva é aplicada, Ic2 e Ik crescerão. Como Ic2 = Ib1,
T1 conduzirá e teremos Ib2=Ic1 + Ig, que aumentará Ic2 e
3.4.1 - Princípio de funcionamento assim o dispositivo evoluirá até a saturação, mesmo que Ig
O tiristor é formado por quatro camadas semicondutoras, seja retirada. Tal efeito cumulativo ocorre se os ganhos dos
alternadamente p-n-p-n, possuindo 3 terminais: anodo e transistores forem maior que 3. O componente se manterá
catodo, pelos quais flui a corrente, e a porta (ou gate) que, a em condução desde que, após o processo dinâmico de
uma injeção de corrente, faz com que se estabeleça a corrente entrada em condução, a corrente de anodo tenha atingido
anódica. A figura 3.9 ilustra uma estrutura simplificada do um valor superior ao limite IL, chamado de corrente de
dispositivo. “latching”.
Se entre anodo e catodo tivermos uma tensão positiva, as Para que o tiristor deixe de conduzir é necessário que a
junções J1 e J3 estarão diretamente polarizadas, enquanto a corrente por ele caia abaixo do valor mínimo de manutenção
junção J2 estará reversamente polarizada. Não haverá condução (IH), permitindo que se restabeleça a barreira de potencial
de corrente até que a tensão Vak se eleve a um valor que em J2. Para a comutação do dispositivo não basta, pois, a
provoque a ruptura da barreira de potencial em J2. aplicação de uma tensão negativa entre anodo e catodo.
Se houver uma tensão Vgk positiva, circulará uma corrente Tal tensão reversa apressa o processo de desligamento por
através de J3, com portadores negativos indo do catodo deslocar nos sentidos adequados os portadores na estrutura
para a porta. Por construção, a camada P ligada à porta é cristalina, mas não garante, sozinha, o desligamento.
suficientemente estreita para que parte destes elétrons que Devido a características construtivas do dispositivo, a
cruzam J3 possua energia cinética suficiente para vencer a aplicação de uma polarização reversa do terminal de gate não
barreira de potencial existente em J2, sendo então atraídos permite a comutação do SCR. Este será um comportamento
pelo anodo. dos GTOs, como se verá adiante.
Vcc Rc (carga)
A A Ia
J1 J2 J3 Ib1
A P N- P N+ K Catodo P T1
N Ic2
N Ic1
Anodo
Vg CH G
Gate G Rg
P P G
T2
Vcc Rc
N Ig Ib2
Ik
A K K
G K
Rg
Vg
Figura 3.9 - Funcionamento básico do tiristor e seu símbolo Figura 3.10 - Analogia entre tiristor e transistores bipolares
O SETOR ELÉTRICO
16 Junho 2006
Ha r m ô n i cos
Quando Vak cresce, a capacitância diminui, uma vez que a 3.1.2. Parâmetros básicos de tiristores
região de transição aumenta de largura. Entretanto, se a taxa
de variação da tensão for suficientemente elevada, a corrente Apresentaremos a seguir alguns parâmetros típicos de tiristores
que atravessará a junção pode ser suficiente para levar o tiristor e que caracterizam condições limites para sua operação. Alguns
à condução. já foram apresentados e comentados anteriormente e serão, pois,
Uma vez que a capacitância cresce com o aumento da apenas citados aqui.
área do semicondutor, os componentes para correntes mais • Tensão direta de ruptura (VBO)
elevadas tendem a ter um limite de dv/dt menor. Observe-se • Máxima tensão reversa (VBR)
que a limitação diz respeito apenas ao crescimento da tensão • Máxima corrente de anodo (Iamax): pode ser dada como valor
direta (Vak > 0). A taxa de crescimento da tensão reversa não RMS, médio, de pico e/ou instantâneo.
é importante, uma vez que as correntes que circulam pelas • Máxima temperatura de operação (Tjmax): temperatura acima
junções J1 e J3, em tal situação, não têm a capacidade de levar da qual, devido a um possível processo de avalanche, pode haver
o tiristor a um estado de condução. destruição do cristal.
Como se verá adiante, utilizam-se circuitos RC em paralelo • Resistência térmica (Rth): é a diferença de temperatura entre dois
com os tiristores com o objetivo de limitar a velocidade de pontos especificados ou regiões, divididos pela potência dissipada
crescimento da tensão direta sobre eles. sob condições de equilíbrio térmico. É uma medida das condições
d) Temperatura de fluxo de calor do cristal para o meio externo.
A altas temperaturas, a corrente de fuga numa junção • Característica I2t: é o resultado da integral do quadrado da
p–n reversamente polarizada dobra aproximadamente com o corrente de anodo num determinado intervalo de tempo, sendo
aumento de 8 oC. Assim, a elevação da temperatura pode levar uma medida da máxima potência dissipável pelo dispositivo. É dado
a uma corrente através de J2 suficiente para levar o tiristor à básico para o projeto dos circuitos de proteção.
condução. • Máxima taxa de crescimento da tensão direta Vak (dv/dt).
e) Energia radiante • Máxima taxa de crescimento da corrente de anodo (di/dt):
Energia radiante dentro da banda espectral do silício, fisicamente, o início do processo de condução de corrente pelo
incidindo e penetrando no cristal, produz considerável tiristor ocorre no centro da pastilha de silício, ao redor da região
quantidade de pares elétrons–lacunas, aumentando a onde foi construída a porta, espalhando-se radialmente até ocupar
corrente de fuga reversa, possibilitando a condução do toda a superfície do catodo, à medida que cresce a corrente.
tiristor. Esse tipo de acionamento é o utilizado nos LASCR, Mas se a corrente crescer muito rapidamente, antes que haja a
cuja aplicação principal é em sistemas que operam em elevado expansão necessária na superfície condutora, haverá um excesso
potencial, onde a isolação necessária só é obtida por meio de de dissipação de potência na área de condução, danificando a
acoplamentos óticos. estrutura semicondutora. Esse limite é ampliado para tiristores de
SE 1055
O SETOR ELÉTRICO
Junho 2006 17
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
tecnologia mais avançada fazendo-se a interface entre gate e catodo que permita à corrente atingir IL quando, então, pode ser retirada.
com uma maior área de contato, por exemplo, “interdigitando” o Observamos ser bastante simples o circuito de disparo de um
gate. A figura 3.13 ilustra esse fenômeno. SCR e, dado o alto ganho do dispositivo, as exigências quando do
• Corrente de manutenção de condução (IH): a mínima corrente de acionamento são mínimas.
anodo necessária para manter o tiristor em condução. b) Comutação
• Corrente de disparo (IL): mínima corrente de anodo requerida Se, por um lado, é fácil a entrada em condução de um tiristor,
para manter o SCR ligado imediatamente após ocorrer a passagem o mesmo não se pode dizer de sua comutação. Lembramos que
do estado desligado para o ligado e ser removida a corrente de a condição de desligamento é que a corrente de anodo fique
porta. abaixo do valor IH. Se isso ocorrer juntamente com a aplicação de
• Tempo de disparo (ton): é o tempo necessário para o tiristor sair uma tensão reversa, o bloqueio se dará mais rapidamente. Não
do estado desligado e atingir a plena condução. existe uma maneira de desligar o tiristor através de seu terminal de
• Tempo de desligamento (toff): é o tempo necessário para a controle, sendo necessário algum arranjo no nível do circuito de
transição entre o estado de condução e o de bloqueio. É devido anodo para reduzir a corrente principal.
a fenômenos de recombinação de portadores no material 1b) Comutação natural
semicondutor. É utilizada em sistemas de CA nos quais, em função do caráter
• Corrente de recombinação reversa (Irqm): valor de pico da ondulatório da tensão de entrada, em algum instante a corrente
corrente reversa que ocorre durante o intervalo de recombinação tenderá a se inverter e terá, assim, seu valor diminuído abaixo de
dos portadores na junção. IH, desligando o tiristor. Isso ocorrerá desde que, num intervalo
inferior a toff, não cresça a tensão direta Vak, o que poderia levá-lo
K
novamente à condução.
G
A figura 3.15 mostra um circuito de um controlador de tensão
N N
P CA, alimentando uma carga RL, bem como as respectivas formas
G P G
de onda. Observe que quando a corrente se anula a tensão sobre
N- P
N
a carga se torna zero, indicando que nenhum dos SCRs está em
N
P Catodo condução.
Gate circular Gate interdigitado
A Contato metálico
S1
Figura 3.13 – Expansão da área de condução do tiristor a partir i(t)
das vizinhanças da região de gate L
vi(t) S2 vL R
dv/dt
di/dt
Tensão direta de bloqueio
200V
vi(t)
Von
Corrente de fuga direta
-200V
Corrente de fuga reversa
40A
Irqm
i(t)
ton
Tensão reversa de bloqueio -40A
200V
toff vL(t)
3.1.3. Circuitos de excitação do gate Figura 3.15 – Controlador de tensão CA com carga RL e formas
de onda típicas
a) Condução
Conforme foi visto, a entrada em condução de um tiristor é 2b) Comutação por ressonância da carga
controlada pela injeção de uma corrente no terminal da porta, Em algumas aplicações específicas, é possível que a carga, pela
devendo esse impulso estar dentro da área delimitada pela figura sua dinâmica própria, faça com que a corrente tenda a se inverter,
3.12. Por exemplo, para um dispositivo que deve conduzir 100 A, fazendo o tiristor desligar. Isso ocorre, por exemplo, quando
um acionador que forneça uma tensão Vgk de 6 V com impedância existem capacitâncias na carga que, ressoando com as indutâncias
de saída 12 é adequado. A duração do sinal de disparo deve ser tal do circuito, produzem um aumento na tensão ao mesmo tempo
O SETOR ELÉTRICO
18 Junho 2006
Harmônicos
em que reduzem a corrente. Caso a corrente se torne menor do D1 desliga (pois a corrente se anula). O capacitor está preparado para
que a corrente de manutenção e o tiristor permaneça reversamente realizar a comutação de Sp.
polarizado pelo tempo suficiente, haverá o seu desligamento. A Quando o tiristor auxiliar, Sa, é disparado, em t2, a corrente da
tensão de entrada pode ser tanto CA quanto CC. A figura 3.16 carga passa a ser fornecida através do caminho formado por Lr, Sa e Cr,
ilustra tal comportamento. Observe que, enquanto o tiristor conduz, levando a corrente por Sp a zero, ao mesmo tempo em que se aplica
a tensão de saída, vo(t), é igual à tensão de entrada. Quando a uma tensão reversa sobre ele, de modo a desligá-lo.
corrente se anula e S1 desliga, o que se observa é a tensão imposta
pela carga ressonante. D2
3b) Comutação forçada Sp
É utilizada em circuitos com alimentação CC e nos quais não Lo
i +
ocorre reversão no sentido da corrente de anodo. A idéia básica T Cr
Vc
deste tipo de comutação é oferecer à corrente de carga um caminho +
Lr
alternativo ao tiristor, enquanto se aplica uma tensão reversa sobre Df Ro
Sa i
ele, desligando-o. Antes do surgimento dos GTOs, este foi um c Vo
Vcc
assunto muito discutido, buscando-se topologias eficientes. Com
o advento dos dispositivos com comutação pelo gate, os SCRs
tiveram sua aplicação concentrada nas aplicações nas quais ocorre D1
comutação natural ou pela carga.
60A
iT
S1 io(t) L 0
Vcc Carga iC
vo(t)
Ressonante -6 0 A
200V
vo
vo 0
Vcc vC
-2 0 0 V
io
0 Figura 3.18 – Topologia com comutação forçada de SCR e
formas de onda típicas
Continua a haver corrente por Cr, a qual, em t3, se torna igual à
corrente da carga, fazendo com que a variação de sua tensão assuma
uma forma linear. Essa tensão cresce (no sentido negativo) até levar o
diodo de circulação à condução, em t4. Como ainda existe corrente
Figura 3.17 – Circuito e formas de onda de comutação por
pelo indutor Lr, ocorre uma pequena oscilação na malha Lr, Sa, Cr e
ressonância da carga
D2 e, quando a corrente por Sa se anula, o capacitor se descarrega
A figura 3.18 mostra um circuito para comutação forçada de SCR até a tensão Vcc na malha formada por Cr, D1, Lr, fonte e Df.
e as formas de onda típicas. A figura 3.19 mostra detalhes de operação 60A
iT
do circuito auxiliar de comutação. Em um tempo anterior a to, a
corrente da carga (suposta quase constante, devido à elevada constante
de tempo do circuito RL) passa pelo diodo de circulação. A tensão sobre
-60A ic
o capacitor é negativa, com valor igual ao da tensão de entrada.
200V
Em t1 o tiristor principal, Sp, é disparado, conectando a fonte à vo
carga, levando o diodo Df ao desligamento. Ao mesmo tempo surge
uma malha formada por Sp, Cr, D1 e Lr, a qual permite a ocorrência vc
de uma ressonância entre Cr e Lr, levando à inversão na polaridade -200V
to t1 t2 t3 t4 t5
da tensão do capacitor. Em t1 a tensão atinge seu máximo e o diodo
Figura 3.19 – Detalhes das formas de onda durante comutação
Continua na próxima edição
O SETOR ELÉTRICO
Junho 2006 19
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e
doutor em engenharia elétrica pela Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp, professor da Faculdade de Enge-
nharia Elétrica e de Computação da Unicamp
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O objetivo dessas redes é evitar problemas advindos de excessivos Desde o início da utilização do tiristor, em 1958, têm crescido
valores para dv/dt e di/dt, conforme descritos anteriormente. constantemente os limites de tensão e corrente suportáveis,
a) O problema di/dt atingindo hoje faixas de 5000 V e 4000 A. Há, no entanto, diversas
Uma primeira medida capaz de limitar possíveis danos causados aplicações nas quais é necessária a associação de mais de um
pelo crescimento excessivamente rápido da corrente de anodo é desses componentes, seja pela elevada tensão de trabalho, seja
construir um circuito acionador de gate adequado, que tenha alta pela corrente exigida pela carga.
derivada de corrente de disparo para que seja também rápida a Quando a corrente de carga, ou a margem de sobrecorrente
expansão da área condutora. Um reator saturável em série com o necessária, não pode ser suportada por um único tiristor, é
tiristor também limitará o crescimento da corrente de anodo durante essencial a ligação em paralelo. A principal preocupação nesse
a entrada em condução do dispositivo. Além desse fato tem-se caso é a equalização da corrente entre os dispositivos, tanto em
outra vantagem adicional que é a redução da potência dissipada regime como durante a comutação. Diversos fatores influem na
no chaveamento, pois, quando a corrente de anodo crescer, a distribuição homogênea da corrente, desde aspectos relacionados
tensão Vak será reduzida pela queda sobre a indutância. O atraso à tecnologia construtiva do dispositivo até o arranjo mecânico da
no crescimento da corrente de anodo pode levar à necessidade montagem final.
de um pulso mais longo de disparo, ou ainda a uma seqüência de Existem duas tecnologias básicas de construção de tiristores,
pulsos, para que seja assegurada a condução do tiristor. diferindo basicamente no que se refere à região do catodo e sua
b) O problema do dv/dt junção com a região da porta. A tecnologia de difusão cria uma
A limitação do crescimento da tensão direta Vak, usualmente região de fronteira entre catodo e gate pouco definida, formando
é feita pelo uso de circuitos RC, RCD, RLCD em paralelo com o uma junção não uniforme, que leva a uma característica de disparo
dispositivo, como mostrado na figura 3.20. (especialmente quanto ao tempo de atraso e à sensibilidade ao
No caso mais simples (a), quando o tiristor é comutado, a disparo) não homogênea. A tecnologia epitaxial permite fronteiras
tensão Vak segue a dinâmica dada por RC que, além disso, desvia bastante definidas, implicando uma maior uniformidade nas
a corrente de anodo facilitando a comutação. Quando o SCR é características do tiristor. Conclui-se assim que, quando se faz
ligado o capacitor descarrega-se, ocasionando um pico de corrente uma associação (série ou paralela) desses dispositivos, é preferível
no tiristor, limitado pelo valor de R. empregar componentes de construção epitaxial.
No caso (b) esse pico pode ser reduzido pelo uso de diferentes Em ligações paralelas de elementos de baixa resistência, um
resistores para os processos de carga e descarga de C. No terceiro fator crítico para a distribuição de corrente são variações no fluxo
caso, o pico é limitado por L, o que não traz eventuais problemas concatenado pelas malhas do circuito, dependendo, pois, das
de alto di/dt. A corrente de descarga de C auxilia a entrada em indutâncias das ligações. Outro fator importante relaciona-se
condução do tiristor para obter um Ia>IL, uma vez que se soma à com a característica do coeficiente negativo de temperatura do
corrente de anodo proveniente da carga. dispositivo, ou seja, um eventual desequilíbrio de corrente provoca
A energia acumulada no capacitor é praticamente toda uma elevação de temperatura no SCR que, por sua vez, melhora as
dissipada sobre o resistor de descarga. condições de condutividade do componente, aumentando ainda
mais o desequilíbrio, podendo levá-lo à destruição.
Uma primeira precaução para reduzir esses desbalanceamentos
D
D L é realizar uma montagem de tal maneira que todos os tiristores
R R2
R1 estejam a uma mesma temperatura, o que pode ser feito, por
R
exemplo, pela montagem em um único dissipador. No que
C
C se refere à indutância das ligações, a própria disposição dos
C
componentes em relação ao barramento afeta significativamente
essa distribuição de corrente. Arranjos cilíndricos tendem a
Figura 3.20 – Circuitos amaciadores para dv/dt apresentar um menor desequilíbrio.
O SETOR ELÉTRICO
12
12 Julho 2006
Harmônicos
3.1.5.1. Estado estacionário 3.1.5.2. Disparo
Além das considerações já feitas quanto à montagem mecânica, Há duas características do tiristor bastante importantes para
algumas outras providências podem ser tomadas para melhorar o boa divisão de corrente entre os componentes no momento em
equilíbrio de corrente nos tiristores: que se deve dar o início da condução: o tempo de atraso (td) e
a) Impedância série a mínima tensão de disparo (Vonmin). O tempo de atraso pode
A idéia é adicionar impedâncias em série com cada componente a ser interpretado como o intervalo entre a aplicação do sinal de
fim de limitar o eventual desequilíbrio. Se a corrente crescer num ramo, gate e a real condução do tiristor. A mínima tensão de disparo
haverá aumento da tensão, o que fará com que a corrente se distribua é o valor mínimo da tensão direta entre anodo e catodo com a
entre os demais ramos. O uso de resistores implica o aumento das qual o tiristor pode ser ligado por um sinal adequado de porta.
perdas, uma vez que, dado o nível elevado da corrente, a dissipação Recorde-se, da característica estática do tiristor, que quanto
pode atingir centenas de watts, criando problemas de dissipação e menor a tensão Vak maior deve ser a corrente de gate para levar
eficiência. Outra alternativa é o uso de indutores lineares. o dispositivo à condução.
b) Reatores acoplados Diferenças em td podem fazer com que um componente
Conforme ilustrado na figura 3.21, se a corrente por SCR1 entre em condução antes do outro. Com carga indutiva esse fato
tende a se tornar maior que por SCR2, uma força contra- não é tão crítico pela inerente limitação de di/dt da carga, o que
eletromotriz aparecerá sobre a indutância, proporcionalmente ao não ocorre com cargas capacitivas e resistivas. Além disso, como
desbalanceamento, tendendo a reduzir a corrente por SCR3. Ao Vonmin é maior que a queda de tensão direta sobre o tiristor em
mesmo tempo uma tensão é induzida do outro lado do enrolamento, condução, é possível que outro dispositivo não consiga entrar em
aumentando a corrente por SCR2. As mais importantes características condução.
do reator são alto valor da saturação e baixo fluxo residual, para Essa situação é crítica quando se acoplam diretamente os tiristores,
permitir uma grande excursão do fluxo a cada ciclo. sendo minimizada através dos dispositivos de equalização já
. descritos e ainda por sinais de porta de duração maiores que o
. tempo de atraso.
.
.
. 3.1.5.3. Desligamento
(a)
.
SE 1240
O SETOR ELÉTRICO
Julho 2006 1
13
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
O SETOR ELÉTRICO
14 Julho 2006
Harmônicos
+Vcc +V
+
..
Equalização
Dinâmica
C R C R C R Req
D D D Pulsos
Pulsos Req
Rs Rs Rs
Equalização estática
Figura 3.24 – Circuitos de acionamento de pulso
O SETOR ELÉTRICO
Julho 2006 1
15
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e
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3.5 – GTO - Gate Turn-Off Thyristor Aparentemente seria possível tal comportamento também no SCR. As
O GTO, embora tenha sido criado no início da década de 60, por diferenças, no entanto, estão no nível da construção do componente. O
problemas de fraco desempenho foi pouco utilizado. Com o avanço funcionamento como GTO depende, por exemplo, de fatores como:
da tecnologia de construção de dispositivos semicondutores, novas • facilidade de extração de portadores pelo terminal de gate - isto é
soluções foram encontradas para aprimorar tais componentes, que possibilitado pelo uso de dopantes com alta mobilidade
hoje ocupam significativa faixa de aplicação, especialmente naquelas • desaparecimento rápido de portadores nas camadas centrais - uso de
de elevada potência, uma vez que estão disponíveis dispositivos para dopante com baixo tempo de recombinação. Isto implica que um GTO
5000V, 4000A. tem uma maior queda de tensão quando em condução, comparado a
um SCR de mesmas dimensões.
3.5.1 – Princípio de funcionamento • suportar tensão reversa na junção porta-catodo, sem entrar em
O GTO possui uma estrutura de quatro camadas, típica dos avalanche - menor dopagem na camada de catodo
componentes da família dos tiristores. Sua característica principal • absorção de portadores de toda superfície condutora - região de gate e
é sua capacidade de entrar em condução e bloquear através de catodo muito interdigitada, com grande área de contato.
comandos adequados no terminal de gate. Diferentemente do SCR, um GTO pode não ter capacidade de
O mecanismo de disparo é semelhante ao do SCR: supondo-o bloquear tensões reversas.
diretamente polarizado, quando a corrente de gate é injetada, circula Existem duas possibilidades de construir a região de anodo: uma
corrente entre gate e catodo. Grande parte de tais portadores, como delas é utilizando apenas uma camada p+, como nos SCR. Neste caso o
a camada de gate é suficientemente fina, desloca-se até a camada GTO apresentará uma característica lenta de comutação, devido à maior
N adjacente, atravessando a barreira de potencial e sendo atraídos dificuldade de extração dos portadores, mas suportará tensões reversas
pelo potencial do anodo, dando início à corrente anódica. Se esta na junção J2.
corrente se mantiver acima da corrente de manutenção, o dispositivo A alternativa, mostrada na figura 3.26, é introduzir regiões n+
não necessita do sinal de gate para manter-se conduzindo. que penetrem na região p+ do anodo, fazendo contato entre a região
A figura 3.25 mostra o símbolo do GTO e uma representação intermediária n- e o terminal de anodo. Isto, virtualmente, curto-circuita a
simplificada dos processos de entrada e saída de condução do junção J1 quando o GTO é polarizado reversamente. No entanto, torna-
componente. o muito mais rápido no desligamento (com polarização direta). Como
A aplicação de uma polarização reversa na junção gate-catodo pode a junção J3 é formada por regiões muito dopadas, ela não consegue
levar ao desligamento do GTO. Portadores livres (lacunas) presentes nas suportar tensões reversas elevadas. Caso um GTO deste tipo deva ser
camadas centrais do dispositivo são atraídos pelo gate, fazendo com que utilizado em circuitos nos quais fique sujeito à tensão reversa, ele deve
seja possível o restabelecimento da barreira de potencial na junção J2. ser associado em série com um diodo, o qual bloqueará a tensão.
A figura do GTO foi obtida na AN-315, International Rectifier, 04/82
Rg Metalização do catodo
Cathode Placa de
Vcc J2 J3 Electrodes contato
P+ N- P N+
do catodo Metalização do gate
Entrada em condução
J1
Vg
Região em
A K
Transição
Rg
G n+ n+ n+
J3
Rg
Vcc P
P+ N- P N+
J2
Desligamento
n-
J1
P+ n+ P+ n+ P+
Rg
Vg Anodo
Figura 3.25 - Símbolo, processos de comutação e estrutura interna de GTO. Figura 3.26 - Estrutura interna de GTO rápido (sem bloqueio reverso)
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20 Agosto 2006
Harmônicos
3.5.2 – Parâmetros básicos do GTO negativo e o início da queda (90%) da corrente de anodo. Quanto
Os símbolos utilizados pelos diversos fabricantes diferem, embora maior for a derivada, menor o tempo.
as grandezas representadas sejam, quase sempre, as mesmas. Quando a corrente drenada começa a cair, a tensão reversa na
• Vdrxm - Tensão de pico, repetitiva, de estado desligado: sob condições junção gate-catodo cresce rapidamente, ocorrendo um processo de
dadas, é a máxima tensão instantânea permissível, em estado desligado, avalanche. A tensão negativa de gate deve ser mantida próxima ao
que não ultrapasse o dv/dt máximo, aplicável repetidamente ao GTO. valor da tensão de avalanche. A potência dissipada neste processo é
• It - Corrente (RMS) de condução: máxima corrente (valor RMS) que controlada (pela própria construção do dispositivo). Nesta situação a
pode circular continuamente pelo GTO. tensão Vak cresce e o GTO desliga.
• Itcm - Corrente de condução repetitiva controlável: máxima corrente Para evitar o disparo do GTO por efeito dv/dt, uma tensão
repetitiva, cujo valor instantâneo ainda permite o desligamento do reversa de porta pode ser mantida durante o intervalo de bloqueio
GTO, sob determinadas condições. do dispositivo.
• I2t: escala para expressar a capacidade de sobrecorrente não- O ganho de corrente típico, no desligamento, é baixo (de 5
repetitiva, com respeito a um pulso de curta duração. É utilizado no a 10), o que significa que, especialmente para os GTOs de alta
dimensionamento dos fusíveis de proteção. corrente, o circuito de acionamento, por si só, envolve a manobra
• di/dt: taxa de crescimento máxima da corrente de anodo. de elevadas correntes.
• Vgrm - Tensão reversa de pico de gate repetitiva: máxima tensão tgq
para catodo.
Vr
• IH - corrente de manutenção: Corrente de anodo que mantém o GTO
dIrg Vrg (tensão negativa
em condução mesmo na ausência de corrente de porta. dt do circuito de comando)
• IL - corrente de disparo: corrente de anodo necessária para que o GTO t w1
avalanche
entre em condução com o desligamento da corrente de gate.
• tgt - tempo de disparo: tempo entre a aplicação da corrente de gate Vgk
• ts - tempo de armazenamento
3.5.4 – Circuitos amaciadores (snubber)
3.5.3 – Condições do sinal de porta para chaveamento
Desde que, geralmente, o GTO está submetido a condições de 3.5.4.1 – Desligamento
alto di/dt, é necessário que o sinal de porta também tenha rápido Durante o desligamento, com o progressivo restabelecimento
crescimento, tendo um valor de pico relativamente elevado. Deve da barreira de potencial na junção reversamente polarizada, a
ser mantido neste nível por um tempo suficiente (tw1) para que corrente de anodo vai se concentrando em áreas cada vez menores,
a tensão Vak caia a seu valor de condução direta. É conveniente concentrando também os pontos de dissipação de potência. Uma
que se mantenha a corrente de gate durante todo o período de limitação da taxa de crescimento da tensão, além de impedir o
condução, especialmente se a corrente de anodo for pequena, de gatilhamento por efeito dv/dt, implicará numa redução da potência
modo a garantir o estado “ligado”. A figura 3.27 ilustra as formas dissipada nesta transição.
de corrente recomendadas para a entrada em condução e também O circuito mais simples utilizado para esta função é uma rede
para o desligamento. RCD, como mostrado na figura 3.28.
Durante o intervalo “ligado” existe uma grande quantidade de Supondo uma corrente de carga constante, ao ser desligado o
portadores nas camadas centrais do semicondutor. A comutação GTO, o capacitor se carrega com a passagem da corrente da carga,
do GTO ocorrerá pela retirada destes portadores e, ainda, pela com sua tensão variando de forma praticamente linear. Assim, o
impossibilidade da vinda de outros das camadas ligadas ao anodo dv/dt é determinado pela capacitância. Quando o GTO entrar
e ao catodo, de modo que a barreira de potencial da junção J2 em condução, este capacitor se descarrega através do resistor. A
possa se restabelecer. descarga deve ocorrer dentro do mínimo tempo em condução
O grande pico reverso de corrente apressa a retirada dos portadores. previsto para o GTO, a fim de assegurar tensão nula inicial no
A taxa de crescimento desta corrente relaciona-se com o tempo de próximo desligamento. A resistência não pode ser muito baixa, a
armazenamento, ou seja, o tempo decorrido entre a aplicação do pulso fim de limitar a impulso de corrente injetado no GTO.
O SETOR ELÉTRICO
Agosto 2006 21
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
Figura 3.28 Circuito amaciador de desligamento tipo RCD 3.5.5 – Associações em série e em paralelo
A energia armazenada no capacitor será praticamente toda Nas situações em que um componente único não suporte
dissipada em R. Especialmente em aplicações de alta tensão e alta a tensão ou a corrente de uma dada aplicação, faz-se necessário
freqüência, esta potência pode assumir valores excessivos. Em tais associar componentes em série ou em paralelo. Nestes casos
casos deve-se buscar soluções ativas, nas quais a energia acumulada os procedimentos são similares àqueles empregados, descritos
no capacitor seja devolvida à fonte ou à carga . anteriormente, para os SCRs.
A potência a ser retirada do capacitor é dada por:
C • V2
3.6 – Transistor Bipolar de Potência (TBP)
Pcap = • fs (3.5)
2
3.6.1 – Princípio de funcionamento
Onde V é a tensão de alimentação e fs é a freqüência de
A figura 3.30 mostra a estrutura básica de um transistor
chaveamento.
bipolar.
Como exemplo, suponhamos um circuito alimentado em
1000V, operando a 1kHz com um capacitor de 1mF. Isto significa
Rc
uma potência de 500W! Vcc
J2 J1
N+ N- P N+
3.5.4.2 – Entrada em condução -
C - E
A limitação de di/dt nos GTOs é muito menos crítica do que para - -
os SCR. Isto se deve à interdigitação entre gate e catodo, o que leva Vb
Figura 3.29 - GTO acionando carga indutiva e amaciador para desligamento. do emissor provoca a ruptura de J1 em baixas tensões (5 a 20V).
O SETOR ELÉTRICO
22 Agosto 2006
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O uso preferencial de TBP tipo NPN se deve às menores perdas Com o transistor conduzindo (Ib>0) e operando na região ativa,
em relação aos PNP, o que ocorre por causa da maior mobilidade o limite de tensão Vce é Vces o qual, se atingido, leva o dispositivo
dos elétrons em relação às lacunas, reduzindo, principalmente, os a um fenômeno chamado de primeira ruptura.
tempos de comutação do componente. O processo de primeira ruptura ocorre quando, ao se elevar a
tensão Vce, provoca-se um fenômeno de avalanche em J2. Este
B E
acontecimento não danifica, necessariamente, o dispositivo. Se,
N+ 10e19 cm-3 10 u no entanto, a corrente Ic se concentrar em pequenas áreas, o
P 10e16 cm-3 5 a 20 u sobreaquecimento produzirá ainda mais portadores e destruirá o
C componente (segunda ruptura).
10e14 cm-3 50 a 200 u Com o transistor desligado (Ib=0) a tensão que provoca a ruptura
N-
B da junção J2 é maior, elevando-se ainda mais quando a corrente de base
E for negativa. Isto é uma indicação interessante que, para transistores
N+ 10e19 cm-3 submetidos a valores elevados de tensão, o estado desligado deve ser
250 u (substrato)
acompanhado de uma polarização negativa da base.
C
SE 1580
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Agosto 2006 23
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Ic segunda ruptura
A: Máxima corrente contínua de coletor
primeira ruptura
B: Máxima potência dissipável (relacionada à temperatura na
junção)
Ib4 C: Limite de segunda ruptura
D: Máxima tensão Vce
Ib3
Ib2 Ib<0
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24 Agosto 2006
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Os TBP apresentam uma região chamada de quase-
saturação quase-saturação
saturação gerada, principalmente, pela presença da camada
Ic
N- do coletor.
R
À semelhança da carga espacial armazenada nos diodos, Vcc/R
Ib
nos transistores bipolares também ocorre estocagem de carga.
região ativa Vcc
A figura 3.36 mostra a distribuição de carga estática no interior Vce
SE 1595
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Agosto 2006 25
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3.6.5 – Ganho de corrente tri: tempo de crescimento da corrente de coletor – Este intervalo
O ganho de corrente dos TBP varia com diversos parâmetros se relaciona com a velocidade de aumento da carga estocada e
(Vce, Ic, temperatura), sendo necessário, no projeto, definir adequa depende da corrente de base. Como a carga é resistiva, uma variação
damente o ponto de operação. A figura 3.37 mostra uma variação de Ic provoca uma mudança em Vce.
típica do ganho. ts: tempo de armazenamento – Intervalo necessário para retirar
Em baixas correntes, a recombinação dos portadores em trânsito (Ib<0) e/ou neutralizar os portadores estocados no coletor e na base
leva a uma redução no ganho, enquanto para altas correntes tem-se tfi: tempo de queda da corrente de coletor – Corresponde ao
o fenômeno da quase-saturação reduzindo o ganho, como explicado processo de bloqueio do TBP, com a travessia da região ativa, da
anteriormente. saturação para o corte. A redução de Ic depende de fatores internos
Para uma tensão Vce elevada, a largura da região de transição ao componente, como o tempo de recombinação, e de fatores
de J2 que penetra na camada de base é maior, de modo a reduzir a externos, como o valor de Ib (negativo).
espessura efetiva da base, o que leva a um aumento do ganho. Para obter um desligamento rápido deve-se evitar operar com
o componente além da quase-saturação, de modo a tornar breve o
Ganho de corrente tempo de armazenamento.
Vce = 2 V (125 C)
b) Carga indutiva
Vce = 400 V (25 C)
Seja Io>0 e constante durante a comutação. A figura 3.39 mostra
formas de onda típicas com este tipo de carga.
Vce = 2 V (25 C) b.1) Entrada em condução – Com o TBP cortado, Io circula pelo
diodo (=> Vce=Vcc). Após td, Ic começa a crescer, reduzindo Id (pois Io
é constante). Quando Ic=Io, o diodo desliga e Vce começa a diminuir.
Além disso, pelo transistor circula a corrente reversa do diodo.
log Ic b.2) Bloqueio – Com a inversão da tensão Vbe (e de Ib), inicia-se o
processo de desligamento do TBP. Após tsv começa a crescer Vce. Para
Figura 3.37 - Comportamento típico do ganho de corrente em
que o diodo conduza é preciso que Vce>Vcc. Enquanto isto não ocorre,
função da tensão Vce, da temperatura e da corrente de coletor.
Ic=Io. Com a entrada em condução do diodo, Ic diminui, à medida que
Id cresce (tfi).
3.6.6 – Características de chaveamento
Além destes tempos definem-se outros para carga indutiva: tti:
As características de chaveamento são importantes, pois
(tail time): Queda de Ic de 10% a 2%; tc ou txo: intervalo entre 10%
definem a velocidade de mudança de estado e ainda determinam as
de Vce e 10% de Ic.
perdas no dispositivo relativas às comutações, que são dominantes
100%
nos conversores de alta freqüência. Definem-se diversos intervalos 90%
considerando operação com carga resistiva ou indutiva. O sinal de Sinal de base
10%
base, para o desligamento é, geralmente, negativo, a fim de acelerar ton=ton(i) toff=toffi
ts=tsi tfi
o bloqueio do TBP. td=tdi
tri
90%
a) Carga resistiva - A figura 3.38 mostra formas de onda
Corrente do
típicas para este tipo de carga. O índice “r” se refere aos tempos 10% coletor
de subida (de 10% a 90% dos valores máximos), enquanto “f” ton (v) toff (v)
Ic Vcc Ic
Cs Vcs Vcc log Vce
Vce Vce
Ds Rs
Figura 3.39 - Formas de onda com carga indutiva Figura 3.40 - Circuito amaciador de desligamento e trajetórias na AOS
Vcc
Ic Vcc
Ic
3.6.7 – Circuitos amaciadores
(ou de ajuda à comutação) - “snubber” Vce Vce
O papel dos circuitos amaciadores é garantir a operação do Ic.Vcc
P P
TBP dentro da AOS, especialmente durante o chaveamento de
cargas indutivas.
a) Desligamento - Objetivo: atrasar o crescimento de V ce
(figura 3.40)
Quando V ce começa a crescer, o capacitor Cs começa a se
tf
carregar (via Ds), desviando parcialmente a corrente, reduzindo
Ic. Df só conduzirá quando V ce>Vcc. Figura 3.41 - Formas de onda no desligamento sem e com o circuito
Quando o transistor ligar o capacitor se descarregará por amaciador.
importância no acionamento de cargas indutivas, uma vez que faz a Figura 3.46 - Forma de onda de corrente de base recomendada para
função do diodo de circulação. acionamento de TBP.
D1
D2
T1 T2
D3
capacitâncias parasitas
A Figura 3.47 - Arranjo de diodos para evitar saturação
P região ativa
Vgs2
N- G
N+
Vgs1
S
Símbolo
D
Vdso
SiO2 Vds
metal
vgs3>Vgs2>Vgs1
Figura 3.49 - Estrutura básica de transistor MOSFET. Figura 3.50 - Característica estática do MOSFET
O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2006 23
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Vgg
V+
log Id
Io
Id pico
Vgs Df
V+
Id cont A Vth
Cgd
B C Id Id=Io Vdd
D Vds
Rg
Cds
Vds
Vds on Vgs
Vgg
Cgs Id
Vdso log Vds td
CARGA INDUTIVA
O SETOR ELÉTRICO
24 Setembro 2006
Harmônicos
Na verdade, o que ocorre é que, enquanto Vds se mantém elevado, a ordem inversa. O uso de uma tensão Vgg negativa apressa o desligamento,
capacitância que drena corrente do circuito de acionamento é apenas Cgs. pois acelera a descarga da capacitância de entrada.
Quando Vds diminui, a capacitância entre dreno e source se descarrega, Como os MOSFETs não apresentam cargas estocadas, não existe o
o mesmo ocorrendo com a capacitância entre gate e dreno. A descarga tempo de armazenamento, por isso são muito mais rápidos que os TBP.
desta última capacitância se dá desviando a corrente do circuito de
acionamento, reduzindo a velocidade do processo de carga de Cgs, o que
ocorre até que Cgd esteja descarregado.
C (nF)
Os manuais fornecem informações sobre as capacitâncias C (nF)
SE 1875
O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2006 25
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e
doutor em engenharia elétrica pela Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp, professor da Faculdade de Enge-
nharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br
N+
3.10 – IGCT
J1 O IGCT é um dispositivo surgido no final da década de 1990,
P+
capaz de comutação comandada para ligar e desligar, com aplicações
Coletor em média e alta potência.
SiO2 metal Em termos de aplicações, é um elemento que pode substituir os
O SETOR ELÉTRICO
26 Outubro 2006
Harmônicos
Além de algumas melhorias no projeto do dispositivo, a principal
Anode Anode
característica do IGCT, que lhe dá o nome, é a integração do circuito
de comando junto ao dispositivo de potência, como mostrado na
figura 3.55. Tal implementação permite minimizar indutâncias neste P VAK P
muito facilitada.
Esta unidade de comando necessita apenas da informação -VCK
Cathode Cathode
lógica para o liga-desliga (normalmente fornecida por meio de fibra
ótica) e de uma fonte de alimentação para o circuito. O consumo do
circuito de comando é entre 10 e 100W.
Como um tiristor, as perdas em condução são muito baixas.
Vcl (kV) ia (kA)
A freqüência típica de comutação está na faixa de 500 Hz. No
entanto, diferentemente do GTO, que necessita de capacitores 4 4
para limitar o dv/dt no desligamento, o limite superior de
3 3
freqüência de comutação é dado apenas pela temperatura
2 2
do dispositivo (dependente das perdas de condução), o que
1 1
permite, a princípio, seu uso em freqüências da ordem de
0 0
dezenas de kHz.
Na entrada em condução é preciso um indutor que limite o di/dt. -10
pela ação do circuito de comando, a estrutura pnpn do tiristor é Vg (V) 15 20 25 30 35 time ( mS)
O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2006 27
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
A tabela 3.1 mostra propriedades de diversos materiais a região de deriva e num comprimento de apenas 2mm, ou seja, 50
partir dos quais se pode, potencialmente, produzir dispositivos vezes menos que um componente equivalente de Si.
semicondutores de potência. Na tabela 3.IV tem-se expressa a redução no tempo de vida
Carbetos de Silício são materiais com os quais são feitas dos portadores no interior da região de deriva. Este parâmetro tem
intensas pesquisas. O gap de energia é maior que o dobro implicações sobre a velocidade de comutação dos dispositivos, sendo,
do Si, permitindo operação em temperaturas elevadas. assim, esperável que componentes de diamante, sejam algumas
Adicionalmente apresenta elevada condutividade térmica (que ordens de grandeza mais rápidos que os atuais componentes de Si.
é baixa para GaAs), facilitando a dissipação do calor produzido
no interior do semicondutor. Sua principal vantagem em relação Tabela 3.II Resistência ôhmica da região de deriva
tanto ao Si quanto ao GaAs é a intensidade de campo elétrico Material Si GaAs SiC Diamante
de ruptura, que é aumentada em uma ordem de grandeza. Resistência relativa 1 6,4.10-2 9,6.10-3 3,7.10-5
O SETOR ELÉTRICO
28 Outubro 2006
Harmônicos
3.12 – Referências Bibliográficas Applications, 1985.
Hausles, M. e outros: Firing System and Overvoltage Protection for
Grafham, D.R. e Golden, F.b., editors: SCR Manual. General Electric, Thyristor Valves in Static VAR Compensators. Brown Boveri Review, 4-
6o ed., 1979, USA. 1987, pp. 206-212
Rice, L.R., editor: SCR Designers Handbook. Westinghouse Electric Miller, T.J.E.: Reactive Power Control in Electric Systems. J o h n
Co., 1970, USA Wiley & Sons, 1982, USA
Hoft, R.G., editor: SCR Applications Handbook. International E. Duane Wolley: Gate Turn-off in p-n-p-n devices. I E E E
Rectifiers, 1977, USA Trans. On Electron Devices, vol. ED-13, no.7, pp. 590-597, July 1966
Tsuneto Sekiya, S. Furuhata, H. Shigekane, S. Kobayashi e S. Yasuhiko Ikeda: Gate Turn-Off Thyristors. Hitachi Review, vol 31, no.
Kobayashi: “Advancing Power Transistors and Their Applications to 4, pp 169-172, Agosto 1982
Electronic Power Converters”, Fuji Electric Co., Ltd., 1981 A. Woodworth: Understanding GTO data as an aid to circuit
Edwin S. Oxner: “MOSPOWER Semiconductor”, Power Conversion design. Electronic Components and Applications, vol 3, no. 3, pp.
International, Junho/Julho/Agosto/Setembro 1982, Artigo Técnico 159166, Julho 1981
Siliconix TA82-2 Steyn, C.G.; Van Wyk, J.D.: Ultra Low-loss Non-linear Turn-off
B. Jayant Baliga: “Evolution of MOS-Bipolar Power Semiconductos Snubbers for Power Electronics Switches. I European Conference on
Technology”, Proceedings of the IEEE, vol 76, no. 4, Abril 1988, pp. Power Electronics and Applications, 1985.
409-418 Edwin S. Oxner: Power Conversion International, Junho/Julho/
V. A. K. Temple: “Advances in MOS-Controlled Thyristor Technology”, Agosto/Setembro 1982. Artigo Técnico Siliconix TA82-2 MOSPOWER
PCIM, Novembro 1989, pp. 12-15. Semiconductor
N. Mohan, T. M. Undeland and W. P. Robbins: “Power Electronics V. A. K. Temple: Advances in MOS-Controlled Thyristor Technology.
- Converters, Applications and Design”, John Wiley & Sons, Inc., Second PCIM, Novembro 1989, pp. 12-15.
Ed., 1995 Arthur D. Evans, “Designing with Field-Effect Transistors”, McGraw-
Bimal K. Bose “Power Electronics - A Technology Review”, Hill, New York, 1983.
Proceedings of the IEEE, vol 80, no. 8, August 1992, pp. 1303-1334. P. Steimer, O. Apeldoorn, E. Carroll e A.Nagel: “IGCT Technology
Detemmerman, B.: Parallel and Serie Connection of GTOs in baseline and future opportunities”, IEEE PES Summer Meeting, Atlanta,
Traction Applications. I European Conference on Power Electronics and USA, October 2003.
SE 2185
O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2006 29
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de Campinas – Unicamp, professor da Faculdade de Enge-
nharia Elétrica e de Computação da Unicamp
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CAPÍTULO IV -
EFEITOS E CAUSAS DE HARMÔNICAS
NO SISTEMA DE ENERGIA ELÉTRICA
PARTE 1
A análise aqui feita baseia-se no texto da recomendação IEEE- eficiência é indicada na literatura como de 5 a 10% dos valores
519 (1991) que trata de práticas e requisitos para o controle de obtidos com uma alimentação senoidal. Este fato não se aplica a
harmônicas no sistema elétrico de potência. No referido texto são máquinas projetadas para alimentação a partir de inversores, mas
identificadas diversas referências específicas sobre os diferentes apenas àquelas de uso em alimentação direta da rede.
fenômenos abordados. Algumas componentes harmônicas, ou pares de componentes
(por exemplo, 5a e 7a, produzindo uma resultante de 6a harmônica)
4.1 – Efeitos de harmônicas em podem estimular oscilações mecânicas em sistemas turbina-gerador
componentes do sistema elétrico ou motor-carga, devido a uma eventual excitação de ressonâncias
O grau com que harmônicas podem ser toleradas em um sistema mecânicas. Isto pode levar a problemas de industrias como, por
de alimentação depende da susceptibilidade da carga (ou da fonte exemplo, na produção de fios, em que a precisão no acionamento é
de potência). Os equipamentos menos sensíveis, geralmente, são os elemento fundamental para a qualidade do produto.
de aquecimento (carga resistiva), para os quais a forma de onda não
é relevante, mas sim seu valor eficaz. Os mais sensíveis são aqueles
que, em seu projeto, assumem a existência de uma alimentação 4.1.24.1 – Transformadores
senoidal como, por exemplo, equipamentos de comunicação e Também neste caso tem-se um aumento nas perdas. Harmônicos na
processamento de dados. No entanto, mesmo para as cargas de tensão aumentam as perdas ferro, enquanto harmônicos na corrente elevam
baixa susceptibilidade, a presença de harmônicas (de tensão ou de as perdas cobre. A elevação das perdas cobre deve-se principalmente ao
corrente) podem ser prejudiciais, produzindo maiores esforços nos efeito pelicular, que implica numa redução da área efetivamente condutora
componentes e isolantes. à medida que se eleva a freqüência da corrente.
Normalmente as componentes harmônicas possuem amplitude
4.1.14.1 – Motores e geradores reduzida, o que colabora para não tornar esses aumentos de
O maior efeito dos harmônicos em máquinas rotativas (indução perdas excessivos. No entanto, podem surgir situações específicas
e síncrona) é o aumento do aquecimento devido ao aumento das (ressonâncias, por exemplo) em que surjam componentes de alta
perdas no ferro e no cobre. Afeta-se, assim, sua eficiência e o freqüência e amplitude elevada.
torque disponível. Além disso, tem-se um possível aumento do ruído Além disso o efeito das reatâncias de dispersão fica ampliado, uma
audível, quando comparado com alimentação senoidal. vez que seu valor aumenta com a freqüência.
Outro fenômeno é a presença de harmônicos no fluxo, Associada à dispersão existe ainda outro fator de perdas
produzindo alterações no acionamento, como componentes de que se refere às correntes induzidas pelo fluxo disperso. Esta
torque que atuam no sentido oposto ao da fundamental, como corrente manifesta-se nos enrolamentos, no núcleo e nas peças
ocorre com o 5o , 11o, 17o, etc. harmônicos. Isto significa que metálicas adjacentes aos enrolamentos. Estas perdas crescem
tanto o quinto componente, quanto o sétimo induzem uma proporcionalmente ao quadrado da freqüência e da corrente.
sexta harmônica no rotor. O mesmo ocorre com outros pares de Tem-se ainda uma maior influência das capacitâncias parasitas (entre
componentes. espiras e entre enrolamento) que podem realizar acoplamentos não
O sobre-aquecimento que pode ser tolerado depende do tipo desejados e, eventualmente, produzir ressonâncias no próprio dispositivo.
de rotor utilizado. Rotores bobinados são mais seriamente afetados
do que os de gaiola. Os de gaiola profunda, por causa do efeito 4.1.34.1 – Cabos de alimentação
pelicular que leva a condução da corrente para a superfície do Em razão do efeito pelicular, que restringe a secção condutora
condutor em freqüências elevadas, produzem maior elevação de para componentes de freqüência elevada, também os cabos de
temperatura do que os de gaiola convencional. alimentação têm um aumento de perdas devido às harmônicas de
O efeito cumulativo do aumento das perdas reflete-se numa corrente. Além disso tem-se o chamado “efeito de proximidade”, o
diminuição da eficiência e da vida útil da máquina. A redução na qual relaciona um aumento na resistência do condutor em função do
O SETOR ELÉTRICO
22 Novembro 2006
Harmônicos
efeito dos campos magnéticos produzidos pelos demais condutores
Vo/Vi
colocados nas adjacências. 10
sem efeito pelicular
A figura 4.1 mostra curvas que indicam a seção transversal e o
diâmetro de condutores de cobre que devem ser utilizados para que
o efeito pelicular não seja significativo (aumento menor que 1% na 5
danificar o cabo.
Na figura 4.2 tem-se a resposta em freqüência, para uma entrada
em tensão, de um cabo de 10 km de comprimento, com parâmetros com efeito pelicular
5
obtidos de um cabo trifásico 2 AWG, 6 kV. As curvas mostram o
módulo da tensão no final do cabo, ou seja, sobre a carga (do
tipo RL). Dada a característica indutiva da carga, esta se comporta
praticamente como um circuito aberto em freqüências elevadas. 0
0 2 4 6 8 10
Quando o comprimento do cabo for igual a ¼ do comprimento
x (km)
de onda do sinal injetado, este “circuito aberto” no final da linha
Figura 4.3 Perfil de tensão ao longo do cabo na freqüência de ressonância
reflete-se como um curto-circuito na fonte. Isto se repete para todos
os múltiplos ímpares desta freqüência. As duas curvas mostradas
Na figura 4.4 tem-se a resposta no tempo de uma linha de 40
referem-se à resposta em freqüência sem e com o efeito pelicular.
km (não incluindo o efeito pelicular), para uma entrada senoidal
Nota-se que considerando este efeito tem-se uma redução na
(50Hz), na qual existe uma componente de 1% da harmônica que
amplitude das ressonâncias, devido ao maior amortecimento
coincide com a freqüência de ressonância do sistema (11a). Observe
apresentado pelo cabo por causa do aumento de sua resistência.
como esta componente aparece amplificada sobre a carga.
Na figura 4.3 tem-se a perfil do módulo da tensão ao longo
À medida que aumenta o comprimento do cabo a ressonância
do cabo quando o sinal de entrada apresentar-se na primeira
se dá em freqüência mais baixa, aumentando a possibilidade de
freqüência de ressonância. Observe que a sobre-tensão na carga
amplificar os harmônicos mais comuns do sistema.
atinge quase 4 vezes a tensão de entrada (já considerando a ação
do efeito pelicular). O valor máximo não ocorre exatamente sobre
1.0V
a carga porque ela não é, efetivamente, um circuito aberto nesta
freqüência de aproximadamente 2,3 kHz.
1000
0V
100
-1.0V
0S 10ms 20ms 30ms 40ms
time
V (L4:2) V (T1:B+) V (V1:+)
10
Figura 4.4 Resposta no tempo de cabo de transmissão a uma entrada com
componente na freqüência de ressonância.
1
10 100 1000 1•10
4 4.1.4 – Capacitores
f (Hz) O maior problema é a possibilidade de ocorrência de ressonâncias
Área Condutora (mm2) Diâmetro do Condutor (mm)
(excitadas pelas harmônicas), podendo produzir níveis excessivos de
corrente e/ou de tensão. Além disso, como a reatância capacitiva
Figura 4.1 Área de seção e diâmetro de fio de cobre que deve ser usado em
função da freqüência da corrente para que o aumento da resistência seja
diminui com a freqüência, tem-se um aumento nas correntes
menor que 1%. relativas às harmônicas presentes na tensão.
O SETOR ELÉTRICO
Novembro 2006 23
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
CAPÍTULO IV -
EFEITOS E CAUSAS DE HARMÔNICAS
NO SISTEMA DE ENERGIA ELÉTRICA
PARTE 2
4.2.1 – Conversores
0
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0.018 0.02
Serão vistos aqui alguns casos típicos de componentes t
harmônicas produzidas por conversores eletrônicos de potência, tais Figura 4.8 – Tensão de saída de retificador ideal
período da rede.
Na figuras 4.8 tem-se a forma de tensão de saída do retificador, 200
numa situação ideal. Supondo uma corrente constante, sem
ondulação sendo consumida pela carga, a forma de onda da 400
corrente na entrada do retificador é mostrada na figura 4.9. 0 0 .0 0 5 0 .0 1 0 .0 1 5 0 .0 2
a equação (4.1):
1
Ih =
h
h = k q±1 0.5A
onde:
h é a ordem harmônica;
k é qualquer inteiro positivo;
q é o número de pulsos do circuito retificador (6, no exemplo) 0A
0Hz 0.5KHz 1.0KHz 1.5KHz 2.0KHz 2.5KHz 3.0KHz
Frequency
Figura 4.9 – Tensões e corrente de entrada com carga indutiva
Lo + ideal e espectro da corrente
va Ro
vb Vo
vc 4.2.1.2 – A comutação
Uma forma de corrente retangular como a suposta na figura
Id - 4.9 pressupõe a não existência de indutâncias em seu caminho,
ou então uma fonte de tensão infinita, que garante a presença de
Figura 4.7 Circuito retificador trifásico, com carga RL tensão qualquer que seja a derivada da corrente.
O SETOR ELÉTRICO
22 Dezembro 2006
Harmônicos
Na presença de indutâncias, como mostrado na figura 4.10, no 4.2.1.3 – Reator controlado a tiristores (RCT)
entanto, a transferência de corrente de uma fase para outra não A figura 4.12 mostra o circuito de um RCT, elemento utilizado
pode ser instantânea. Ao invés disso, existe um intervalo no qual para fazer controle de tensão no sistema elétrico. Isto é feito pela
estarão em condução o diodo que está entrando e aquele que está síntese de uma reatância equivalente, que varia entre 0 e L, em
em processo de desligamento. Isto configura um curto-circuito na função do intervalo de condução do par de tiristores. A forma de
entrada do retificador. A duração deste curto-circuito depende de onda da corrente, bem como seu espectro está mostrado na figura
quão rapidamente se dá o crescimento da corrente pela fase que 4.13. Observe a presença de harmônicos ímpares. À medida que o
está entrando em condução, ou seja, da diferença de tensão entre intervalo de condução se reduz aumenta a THD da corrente.
as fases que estão envolvidas na comutação.
Vi
Lo S1
Li +
Vp.sin(wt) S2
vi(t)
i(t)
Vo
200V
v i(t)
Tensão de fase
-2 0 0 V
40A
intervalo de comutação i(t)
Figura 4.10 Topologia de retificador trifásico, não-controlado, com carga
indutiva . Formas de onda típicas, indicando o fenômeno da comutação.
-4 0 A
A figura 4.11 mostra um resultado experimental relativo a
um retificador deste tipo. Neste caso a corrente não é plana, mas
apresenta uma ondulação determinada pelo filtro indutivo do lado
CC. Mesmo neste caso pode-se notar que as transições da corrente
de entrada não são instantâneas e que durante as transições, nota-
se uma perturbação na tensão na entrada do retificador. O valor
instantâneo desta tensão é a média das tensões das fases que
estão comutando, supondo iguais às indutâncias da linha. Este
“afundamento” da tensão é chamado de “notching”. 0Hz 0.5KHz 1.0KHz 1.5KHz
Frequency
2.0KHz 2.5KHz 3.0KHz
(4.3)
0.15
I( 3 , a )
0
0.1
I( 5 , a )
0.05 -
I( 7 , a )
0
2 2.5 3
-
α 0
Figura 4.14 Variação do valor eficaz de cada componente harmônica de
10A
corrente em relação à fundamental
reatância da linha.
4.3 – Referências bibliográficas
“IEEE Recommended Practices and Requirements for
+ Harmonic Control in Electric Power Systems.” Project IEEE-519.
October 1991.
“Sine-wave Distortions in Power Systems and the Impact
Vp.sin(wt) Vo
on Protective Relaying.” Report prepared by the Power System
Relaying Committee of the IEEE Power Engineering Society.
Novembro 1982.
Figura 4.15 Retificador monofásico com filtro capacitivo Continua na próxima edição
O SETOR ELÉTRICO
24 Dezembro 2006
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CAPÍTULO V -
COMPENSAÇÃO CAPACITIVA E
FILTROS PASSIVOS EM REDES SECUNDÁRIAS
PARTE 1
A solução clássica para a redução da contaminação harmônica Os filtros usados nas simulações que se seguem tiveram a
de corrente em sistemas elétricos é o uso de filtros sintonizados, capacitância total distribuída igualmente entre os três ramos
conectados em derivação no alimentador. sintonizados e uma parcela menor incluída no ramo passa-altas.
A estrutura típica de um filtro passivo de harmônicos de corrente O fator de qualidade de cada ramo é de 20, o que é um valor
é mostrada na figura 5.1. As várias células LC série são sintonizadas típico para indutores com núcleo ferromagnético. Dispositivos com
nas proximidades das freqüências que se deseja eliminar, o que, via núcleo de ar têm fator de qualidade superior. O ramo passa-altas
de regra, são os componentes de ordem inferior. Para as freqüências possui uma resistência de amortecimento. O ramo da 5ª harmônica
mais elevadas é usado, em geral, um simples capacitor funcionando foi sintonizado em 290Hz enquanto os demais ramos foram
como filtro passa-altas. A carga considerada neste exemplo é do dessintonizados em 20Hz abaixo da harmônica.
tipo fonte de corrente e é similar à que se obtém com o uso de um O alimentador apresenta um nível de curto-circuito de 20 p.u.
retificador tiristorizado trifásico, alimentando uma carga indutiva, A impedância em série com a fonte tem um papel essencial na
como um motor de CC. eficácia do filtro. Observe que, se for considerada uma fonte ideal,
Na freqüência da rede, os diferentes filtros apresentam uma qualquer filtro é indiferente, posto que, por definição, a impedância
reatância capacitiva, de modo que contribuem para a correção de uma fonte de tensão é nula. Ou seja, o caminho preferencial
do fator de potência (na freqüência fundamental), supondo que a para os componentes harmônicos da corrente da carga sempre
carga alimentada seja de característica indutiva. seria a fonte.
A distribuição da capacitância total entre os diferentes A carga apresenta fator de deslocamento de 0,866 e fator
ramos pode ser feita de diversas maneiras. Steeper e Stratford. de deformação de 0,95, configurando um fator de potência
(1976) indicam que a distribuição é indiferente, não afetando o de 0,82. Dada a simetria da forma de onda, não estão
comportamento do filtro. Em Bonner e outros (1995) a indicação presentes as componentes pares, assim como as múltiplas de
é que a alocação seja proporcional à corrente total que deve fluir ordem três.
por cada ramo, ou seja, depende do conteúdo espectral de uma
determinada carga. Esta solução tenderia a equalizar as perdas .1 .25m
pelos capacitores. Peeran e outros (1995) e Almonte e Ashley 2.15m 1.05m 440u I1
+- 20u +- -
+
(1995) indicam divisões da capacitância total em função da ordem I3
0.19 .13 .085
harmônica do ramo do filtro, cabendo uma parcela maior ao filtro 2
de 5ª harmônica em relação aos demais. Czarnecki e Ginn (2005) 150u 150u 150u
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20 Janeiro 2007
HARMÔNICOS
10
1.0
100m
10m
10Hz 30Hz 100Hz 300Hz 1.0Hz 3.0Hz 10Hz
Fraquency
Figura 5.4 Corrente da carga e corrente na fonte com filtragem passiva
Figura 5.2 Ganho (em dB) de tensão do filtro, em relação à tensão da fonte CA
cada filtro pode ser influenciado pela presença dos outros filtros e
A figura 5.6 mostra a tensão no ponto de conexão da carga e seu
outras cargas.
espectro. Observe-se os afundamentos na tensão quando há a variação
acentuada da corrente da carga. Sem os filtros, a distorção harmônica
10 total da tensão no ponto de conexão da carga é de 13%. Com o filtro,
o afundamento não é compensado plenamente, mas a DHT se reduz
para 8%. Mesmo com a atenuação introduzida neste ramo passa-altas,
1.0
tem-se alguma oscilação em torno de 3 kHz, conforme se poderia
antever pelo resultado da figura 5.2. Verifica-se assim que o uso do
filtro melhora não só a corrente como a tensão, que é, na verdade, a
100m
grandeza elétrica que é compartilhada pelos usuários.
10m
10Hz 30Hz 100Hz 300Hz 1.0Hz 3.0Hz 10Hz
Fraquency
O SETOR ELÉTRICO
Janeiro 2007 21
F ASCÍCU LO 1 / HARMÔN I C O S
5.1.1 Efeito de componentes não Por outro lado, se considerados os retificadores com filtro
característicos da carga capacitivo, normalmente utilizados no estágio de entrada em
equipamentos eletrônicos, como aparelhos de TV, computadores,
Czarnecki (1997) denomina como “harmônicos menores” todas monitores de vídeo etc., a tensão na entrada do retificador é imposta
componentes espectrais presentes na tensão, assim como aquelas pelo capacitor do lado CC durante o intervalo de tempo em que os
devidas à carga e que não possuem um ramo sintonizado no filtro diodos estiverem em condução Nesta situação, estes dispositivos
passivo. Neste exemplo incluem-se todas componentes que não as são mais bem representados por fontes de tensão harmônica [Peng
de 5ª, 7ª e 11ª ordem. e Farquharson, 1999]. Esta mudança de enfoque traz profundas
A presença de uma distorção na tensão pode ter um efeito alterações na concepção de filtros passivos. Tal situação é ilustrada
muito danoso, uma vez que pode encontrar no filtro sintonizado um pela figura 5.8.
caminho de mínima impedância, contribuindo para o surgimento É claro que para qualquer valor de Zo diferente de zero é possível
de uma elevada corrente naquela freqüência que circula entre a passar do equivalente Norton para o equivalente Thevenin que
fonte e o filtro, e que não é proveniente da carga. Este efeito pode representa a carga. No entanto, quando o valor de Zo é muito baixo,
sobrecarregar o filtro. A figura 5.7 mostra o efeito de uma distorção o modelo simplificado (sem Zo) mais próximo da realidade é o de
de 3% na 7ª harmônica na tensão da fonte. Observe-se que, além fonte de tensão.
da distorção ser visível na tensão sobre o filtro, se reduz para 1%,
Ii Zi Ic Ii Zi Ic Zo
ocorre uma amplificação na corrente da fonte, a qual assume um
valor de 16% da componente fundamental, elevando a THD da
Vi Zf Zo Io Vi Zf Vo
corrente de 8% para 22%.
If If
Figura 5.8 Filtro passivo em derivação para cargas tipo fonte de corrente e
fonte de tensão
indutância, procurando isolar eletricamente (em alta freqüência) os (figura 5.8.b), a eficácia do filtro LC, que define Zf, conectado em
diversos sistemas. Esta solução, no entanto, é custosa e aumenta as paralelo com a carga, em desviar da fonte componentes harmônicas
perdas e a queda de tensão para a carga. Além disso, tal indutância produzidas na carga, é ser expressa por:
deve ser incluída no cálculo dos filtros, uma vez que ela altera as
Ii Zf
ressonâncias do sistema. = (5.2)
Vo Z o Z i + Z o Z f + Z i Z f
5.1.2 Filtragem passiva em
cargas tipo fonte de tensão É claro que a compensação depende tanto da impedância
Os casos estudados anteriormente consideravam cargas com da carga quanto da fonte. No entanto, se Zo for nula (a carga se
comportamento de fonte de corrente, que são típicas quando comporta como uma fonte de tensão ideal), o filtro conectado em
se considera o efeito de harmônicas no nível de distribuição de paralelo é inútil. De maneira análoga, se a impedância da rede for
energia, no lado de alta tensão. Quando se considera a presença de nula, o efeito é o mesmo.
cargas não-lineares no lado de baixa tensão, o comportamento do Em tais situações torna-se mais efetivo o uso de filtros conectados
tipo fonte de corrente é característico de motores e de conversores em série com a alimentação, numa associação LC paralela, de modo
eletrônicos com indutâncias de alisamento, por exemplo. a bloquear a passagem das parcelas das correntes indesejadas,
como mostra a figura 5.9. Nesta figura tem-se indicado um filtro
O SETOR ELÉTRICO
22 Janeiro 2007
sintonizado na terceira harmônica e outro na quinta, incluindo um
resistor de amortecimento. Tal resistor, embora reduza a eficácia de
filtro da quinta harmônica, garante o amortecimento necessário
para as possíveis ressonâncias série que podem ocorrer no circuito.
Resultados de simulação de um sistema alimentando um
retificador monofásico com filtro capacitivo estão indicados nas
figura 5.10 e 5.11. No primeiro caso tem-se as formas de onda da
corrente da rede com um filtro em derivação e com filtro série, como
o da figura 5.9.
Nota-se que o filtro derivação não é eficaz na filtragem (a
reatância da rede e da carga é 10 vezes menor que a do filtro na
freqüência fundamental), enquanto na conexão em série tem-se
Figura 5.10 Formas de onda da corrente de entrada com carga tipo fonte
uma efetiva melhoria na forma de onda da corrente de entrada. de tensão para filtro em derivação (superior) e filtro série (inferior).
Obviamente a inserção de filtros em série é um problema
em equipamentos já instalados, pois exigiria a interrupção do
alimentador. No entanto, a inclusão destes filtros na carga não-
linear poderia ser uma solução mais adequada, embora sempre seja
necessário verificar o impacto deste procedimento no funcionamento
do equipamento.
L3 Lf Zo
Ii Zi Ic
C3 Cf Rf
Vi Vo
SE 3070
O SETOR ELÉTRICO
Janeiro 2007 23
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos
Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e doutor em enge-
nharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, professor
da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp
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CAPÍTULO V
COMPENSAÇÃO CAPACITIVA E
FILTROS PASSIVOS EM REDES SECUNDÁRIAS
PARTE 2
5.2 - Caracterização e compensação de harmônicos este problema seria a inclusão de um reator em série com o capacitor que
e reativos e cargas não-lineares residenciais e possibilitaria a compensação dos reativos (na freqüência fundamental)
comerciais sem ampliar demais a distorção da corrente [Phipps, 1994].
O uso de filtros sintonizados e de capacitores na rede secundária 5.2.1 - Análise de cargas típicas de redes de
tem como objetivo realizar a compensação da potência reativa, melhorar distribuição – baixa tensão
o perfil das tensões ao longo do alimentador, reduzir o carregamento
dos transformadores e reduzir as perdas ôhmicas na rede. Para efeito da análise que se segue, as cargas domésticas podem
Diferentemente do que ocorre, em geral, com cargas não- ser divididas em três grupos: cargas resistivas, cargas indutivas e
lineares industriais, que apresentam um comportamento de “fontes cargas eletrônicas. Do ponto de vista de reativos e de harmônicos
harmônicas de corrente”, as cargas não-lineares de uso doméstico e são as duas últimas categorias que devem ser consideradas.
comercial têm um comportamento predominantemente de “fontes
harmônicas de tensão” [Peng e Farquharson, 1999; Deckmann e 5.2.1.1 - Refrigeradores: carga tipo fonte de corrente
outros, 2005, 2005b; Pomilio e Deckmann, 2006]. Tais cargas são
constituídas, essencialmente, de aparelhos eletroeletrônicos que O comportamento de um refrigerador, que é a carga indutiva mais
possuem em sua entrada um retificador monofásico com filtro presente em ambientes residenciais, além de implicar na demanda
capacitivo (computadores, reatores eletrônicos sem correção de de potência reativa, também produz harmônicos pela distorção da
fator de potência, lâmpadas fluorescentes compactas, aparelhos corrente, como se pode observar na figura 5.12. Outros aparelhos,
de TV, som etc.). Por outro lado, a potência reativa em redes que possuam motores ou transformadores em sua entrada, como
domésticas sofre pequena variação ao longo de uma jornada diária máquinas de lavar, aparelhos de ar condicionado, ventiladores,
e está, preponderantemente, relacionada com os refrigeradores, e, bombas etc., podem ser incluídos neste grupo.
eventualmente, com máquinas de lavar. As curvas mostradas na Figura 5.12 referem-se a um refrigerador
No entanto, na presença de cargas tipo “fontes harmônicas de baixo consumo (26,6 kWh), com potência aparente de 170VA e
de tensão”, a conexão de compensadores ou filtros em derivação fator de potência de 0,64 (131VAr e 108,5W). A Figura 5.13 mostra
não é capaz de alterar significativamente a corrente que as mesmas o espectro da corrente, cujas principais componentes são: 3a (6,2%),
produzem no restante no circuito. Na prática, o que ocorre é um 5a (5%) e 7a (1,5%). A Distorção Harmônica Total da tensão é nula,
aumento das componentes harmônicas da carga, o que confirma o pois neste teste, foi utilizada uma fonte programável.
seu funcionamento como fonte de tensão. De fato, estas “fontes de
tensão” não são ideais, apresentando uma certa impedância série, Tensão
de sorte que pode ocorrer algum efeito de atuação do componente Corrente
O SETOR ELÉTRICO
18 Fevereiro 2007
Harmônicos
ao longo da manhã e decréscimo após o meio-dia. O valor mínimo
é perfeitamente consistente com as estimativas de consumo dos
refrigeradores domésticos. Ao longo da manhã há um aumento na
potência reativa, justificável pelo uso de máquinas de lavar e outros
eletrodomésticos contendo motores. A partir do meio-dia, observa-
se uma redução sistemática da potência reativa, na direção oposta à
da potência ativa, mostrada na Figura 5.15. Ou seja, as novas cargas
adicionadas, especialmente no final da tarde e início da noite, devem
possuir fator de deslocamento próximo da unidade. Poderiam ser cargas
resistivas (lâmpadas incandescentes e chuveiros) ou cargas eletrônicas,
como se verá na seqüência.
Fig. 5.13. Espectro da corrente do refrigerador. (0,2A/div., 125Hz/div.) Potência Reativa [kVA]
12.0
11.0
Esta distorção na corrente pode ser bem modelada por fontes de 10.0
9.0
correntes harmônicas, ou seja, a inclusão de um filtro em derivação
8.0
no ponto de acoplamento da carga consegue minimizar a propagação 7.0
5.0
deste estudo.
4.0
Um refrigerador de duas portas tem um consumo médio maior que 3.0
rede secundária, com 141 consumidores residenciais (70% da demanda), Potência Ativa [kW]
35.0
industrial (5% da demanda). Trata-se de um bairro de classe média, o que
30.0
tem implicações sobre o padrão de consumo de energia elétrica.
25.0
A Figura 5.14 mostra, para cada fase, o comportamento da
20.0
potência reativa durante o período de uma semana de medição. O 15.0
identificar cada uma das três fases. Esta consideração é também válida 5.0
em torno das seis horas da manhã, que apresenta um crescimento Fig. 5.15. Potência ativa medida na saída do transformador de distribuição.
O SETOR ELÉTRICO
Fevereiro 2007 19
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
5.2.1.2 - Cargas eletrônicas domésticas: possuir alto fator de potência. Para os de potência inferior, em geral
fontes de tensões harmônicas a corrente absorvida da rede é como a mostrada na Figura 5. Pode-
se considerar uma potência média de 30W por reator.
As cargas eletrônicas domésticas, tipicamente, possuem um A Figura 5.17 mostra o espectro da corrente (valor eficaz das
estágio retificador a diodos, com filtro capacitivo na saída. Como componentes harmônicas). Como esperado, tem-se expressiva
resultado, tem-se uma corrente de entrada muito distorcida, com presença de componentes ímpares. A componente fundamental da
baixo fator de potência. O fator de deslocamento da fundamental corrente resultou adiantada de 14,4° em relação à tensão.
pode resultar levemente capacitivo. A forma de onda da corrente
é influenciada pela impedância do alimentador, de modo que um
mesmo retificador apresentará diferentes espectros de corrente para
fontes com impedâncias distintas.
Cargas eletrônicas residenciais e comerciais típicas são televisores,
lâmpadas fluorescentes compactas, reatores eletrônicos para
lâmpadas fluorescentes tubulares (sem correção de fator de potência),
computadores, aparelhos de som etc. Em termos de consumo, a
análise pode se limitar a televisores e lâmpadas compactas. Em regiões
de maior poder aquisitivo, deve-se considerar também a presença de Fig. 5.17. Espectro de corrente da TV valor eficaz das componentes (100mA/div).
Potência
Tensão
Corrente
CAPÍTULO V
COMPENSAÇÃO CAPACITIVA E
FILTROS PASSIVOS EM REDES SECUNDÁRIAS
PARTE 3
fonte de tensão ideal), o filtro em paralelo é inútil. O mesmo ocorre Tabela 5.I
se a impedância da rede for nula. Corrente na carga (TV)
Ordem Harmônica Sem filtro no Com filtro de 5º harm.
Ii Zi Ic Ii Zi I c Zo
PCC PAC [mA] no PAC [mA]
Vi V 1 808 830
o
Vi Z I Z II 3 687 732
f f
5 488 563
If If 7 275 368
9 114 192
Fig. 5.19. Retificador com filtro capacitivo e modelo de carga como fonte de tensão
11 60 78
DHT(%) 111% 123%
O comportamento tipo fonte de tensão deste tipo de carga
pode ser verificado por simulação ou experimentalmente.
A Figura 5.20 mostra resultados simulados em que a carga é A Tabela 5.II mostra componentes harmônicos da tensão no
composta por uma parte linear (RL, equivalente ao refrigerador) PAC. Como esperado, há uma redução no 5º (e também no 7º)
e uma parcela não linear (equivalente a um aparelho de TV). harmônico, mas há um aumento no 3º e 9º componentes. A
Inicialmente o filtro de 5ª harmônica está conectado no ponto de distorção harmônica total (DHT) está dentro de limites de normas
acoplamento comum (PAC), compensando o fator de deslocamento. como a IEEE-519 (1991). A redução da DHT deve-se ao pequeno
Nota-se uma maior distorção da corrente. A Figura 5.21 mostra um valor resultante, na tensão, para o 5º harmônico.
resultado experimental nas mesmas condições. A Tabela 5.III mostra o feito sobre a corrente na fonte. O filtro
Conforme mostra a Tabela 5.I, a corrente da carga é menos leva a uma redução no 5º harmônico (embora proporcionalmente
distorcida sem o filtro. O aumento dos componentes harmônicos menor do que no caso do refrigerador). Há um aumento no 3o e
da corrente da carga (TV) mostra a natureza de fonte de tensão 9o harmônicos. A fundamental se reduz devido à compensação da
da mesma. potência reativa.
O SETOR ELÉTRICO
38 Março 2007
Harmônicos
A presença do filtro sintonizado pode produzir um efeito
Tabela 5.II
adverso em termos de melhoria na forma de onda, principalmente
Corrente no PAC
no caso de existir uma componente de tensão do alimentador
Ordem Harmônica Sem filtro Com filtro de 5º harm.
nesta freqüência de sintonia. A baixa impedância do filtro levará a
[%] [%]
3 2,2 2,92 um aumento na distorção da corrente e da tensão. A Figura 5.22
5 2,58 0,83 mostra o resultado com o mesmo filtro, incluindo apenas 2% de
7 2,03 1,73 5º harmônico na tensão da fonte. Mesmo dessintonizado, o filtro
9 1,08 1,27 amplifica essa corrente para 23% da fundamental!
11 0,69 0,66
DHT(%) 4,46 4,05 Tensão e corrente na fonte
SE 3920
O SETOR ELÉTRICO
Março 2007 39
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
entre as três fases, isto deve representar perto de 3 A por fase de comerciais (80% da carga) e industriais (11% da carga). Quase
terceira harmônica. Durante as madrugadas tais componentes são 65% das cargas comerciais estão conectadas em uma mesma
dominantes, como se vê na Figura 5.23. barra. Trata-se de um alimentador urbano, com alta presença de
cargas não-lineares típicas de escritórios de serviços (iluminação
22.0
20.0 com reatores eletromagnéticos e eletrônicos, computadores,
18.0
impressoras, condicionadores de ar etc.).
16.0
14.0 Das medições, foram extraídos alguns resultados significativos
12.0
para a análise do tipo de carga conectada. Por exemplo, a carga
10.0
8.0 total está razoavelmente bem balanceada (Figura 5.24). No entanto,
6.0
as cargas não- lineares estão concentradas em duas fases, como se
4.0
2.0 pode concluir da análise da Figura 5.25.
23.00 24.00 25.00 26.00 27.00 28.00 29.00
Dia . Hora
30.0
Fig. 5.23. Terceiro harmônico da corrente, medido em rede secundária, ao
longo de sete dias 25.0
Caso 65% dos aparelhos estejam ligados (valor consistente com 20.0
finais de semana), isto indica que deve haver 15 A (por fase), além
10.0
do relacionado à geladeira. Tais valores também são consistentes
5.0
com as medições observadas.
Isto mostra que a distorção da corrente é majoritariamente 0.0
28.00 28.00 30.00 31.00 01.00 02.00
determinada pelas cargas tipo retificador, e apenas marginalmente Dia . Hora
(10 a 20%) pelos refrigeradores e outras cargas deste tipo (motores). Fig. 5.24. Potência aparente no secundário do trafo???? na rede comercial, ao
Também explica a redução da potência reativa total (figura 5.14), já que longo de seis dias.
as cargas não-lineares do tipo retificador apresentam leve característica O 3º harmônico aumenta durante o horário comercial apenas
capacitiva em termos da fundamental. O crescimento relativo da 3ª em duas fases, sugerindo cargas bifásicas não lineares (reatores
harmônica é menor que o da potência ativa, o que indica o aumento sem correção de fator de potência). Comportamento análogo se
das cargas resistivas no final da tarde e começo da noite. nota também nas demais componentes harmônicas da corrente. Tal
desequilíbrio leva a uma propagação de componentes harmônicas
B. Carga em rede com consumidores comerciais da corrente para o lado de alta tensão do transformador, o que
Neste caso as medições se referem a uma rede secundária resultará na distorção da tensão no sistema de distribuição para
radial, relativamente curta, porém com concentração de cargas outras cargas.
SE 4400
O SETOR ELÉTRICO
40 Março 2007
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
parcela “base” de potência reativa (como indicado na Figura 3).
Como benefícios econômicos, tem-se a redução de perdas no
transformador e na rede, mas, principalmente, uma elevação da
demanda por conta do aumento da tensão para os consumidores.
A Figura 5.26 mostra a alteração na potência reativa medida no
transformador (rede residencial) com compensação com um banco
capacitivo (17,5 kVAr), enquanto a Figura 5.27 mostra o efeito sobre
a tensão na saída do transformador.
A Figura 5.28 mostra que se tem um aumento na DHT da tensão
com a instalação do banco capacitivo. A DHT média de tensão se
elevou de 2% para 2,5%, enquanto a de corrente aumentou de
Fig. 5.25. Terceiro harmônico da corrente da carga comercial ao longo de seis dias 8,5% para 10%, como mostra a Figura 5.29.
O SETOR ELÉTRICO
42 Março 2007
F ASCÍCU LO 1 / h armôn i cos
carga represente uma parcela relativamente pequena da demanda,
o que é o caso da rede residencial.
Assumindo que a carga tem um comportamento de fonte
de tensão, para a explicação deste comportamento é necessário
considerar a ressonância paralela entre o banco capacitivo e a
impedância da fonte, que pode levar a uma amplificação de algumas
harmônicas presentes na carga. O componente harmônico da tensão
no PAC, para um dado valor presente na carga (Voh) é dado por:
VhPAC Z i // Z f
= (5.3)
Voh Z o + Z i // Z f
O SETOR ELÉTRICO
44 Março 2007
Harmônicos
5.2.4 – Conclusões Applications, v. 144, no. 5, Sept. 1997. p. 349-356.
Os equipamentos eletroeletrônicos de uso dominante em Czarnecki, L. S.; Ginn III, H. L. (2005) “The Effect of The Design Method on
áreas residenciais e comerciais possuem, em sua interface com a Efficiency of Resonant Harmonic Filters”, IEEE Trans. on Power Delivery, v. 20.
n.. 1. p. 286-271. Jan. 2005.
rede, retificadores a diodos com filtro capacitivo. Tais dispositivos
Deckmann S. M.; J.A. Pomilio; E.A.Mertens, L.F.S.Dias, A.R.Aoki, M.D.Teixeira
comportam-se como cargas não-lineares do tipo fonte de tensão
e F.R.Garcia (2005b), “Compensação Capacitiva em Redes de Baixa Tensão
harmônica, o que implica na baixa eficiência de dispositivos em
com Consumidores Domésticos: impactos no nível de Tensão e na Distorção
derivação para a filtragem das correntes harmônicas.
Harmônica”, Anais do VI SBQEE Belém, PA. ago. 2005.
O estudo de redes com cargas deste tipo por meio de modelos Deckmann, S. M.; Pomilio, J. A. (2005) “Characterization and compensation
com fonte de corrente é inadequado e pode conduzir a resultados for harmonics and reactive power of residential and commercial loads”, Anais
errados, a menos que o modelo permita a inclusão do equivalente do 8º Congresso Brasileiro de Eletrônica de Potência, COBEP 2005, Recife, 14
Norton da carga. -17 de junho de 2005.
Nas condições anteriores, a colocação de bancos capacitivos IEEE (1991), “IEEE Recommended Practices and Requirements for Harmonic
para a compensação de reativos, e conseqüente melhoria no perfil Control in Electric Power Systems.” Project IEEE-519, 1991.
de tensão ao longo da rede de baixa tensão, leva a uma ampliação Macedo Jr., J. R. “et al” (2003) “Aplicação de Filtros Harmônicos Passivos em
da distorção harmônica da tensão e da corrente, de modo que deve Circuitos Secundários”, Anais do II CITENEL, Salvador, nov. 2003. p.845 - 852.
Oliveira A. M “et al” (2003) “Energy Quality x Capacitor Bank”, Anais do 7ºCongresso
ser usada com muito cuidado.
Brasileiro de Eletrônica de Potência – COBEP 2003, Fortaleza, Ceará.
Em redes secundárias que já possuam uma elevada DHT de
Peeran, S.M., “et al” (1995) “Application, design and specification of
corrente, como é o caso de consumidores comerciais, a simples inclusão
harmonic filters for variable frequency drives”, IEEE Trans. on IA, v. 31. n.
de bancos capacitivos pode levar a níveis inaceitáveis de harmônicos.
4. p. 841- 847.
Nestes casos deve--se utilizar reatores em série com o banco capacitivo
Peng, F. Z., Su, G-J.; Farquharson, G. (1999): “A series LC filter for harmonic
de modo a minimizar a ampliação dos harmônicos de corrente, compensation of AC Drives”. CD-ROM of IEEE PESC’99, Charleston, USA, Jun. 1999.
tomando-se o cuidado para evitar ressonâncias com os harmônicos Phipps, J. K.; Nelson, J. P.; Sen, P. K. (1994): “Power Quality and Harmonic
impostos pela tensão no lado AT (primário) do transformador. Distortion on Distribution Systems”, IEEE Trans. on Industry Applications, v. 30.
n. 2. March/April 1994. p. 476 - 484.
5.3 – Referências Bibliográficas Pomilio, J.A.; Deckmann, S. M. (2006): “Caracterização e Compensação de
Almonte, R.L.; Asheley, A.W. (1995) “Harmonics at the utility industrial Harmônicos e Reativos de Cargas não-lineares Residenciais e Comerciais”,
interface: a real world example”, IEEE Trans. on IA, v. 31. n. 6, Nov. Dec. p. Eletrônica de Potência, v. 11. n. 1. p. 9 -16, março de 2006.
1419 -1426. Steeper, D. E. and Stratford, R. P. (1976): “Reactive compensation and
ANEEL (2001), Resolução Normativa n. 505 de 26/11/2001. harmonic suppression for industrial power systems using thyristor converters”,
Bonner, J.A. “et al” (1995) “Selecting ratings for capacitors and reactors in IEEE Trans. on Industry Applications, v. 12. n. 3. 1976, p. 232-254.
applications involving multiple single-tuned filters”, IEEE Trans. on Power Tanaka, T., Nishida, Y., Funabike, S., (2004) “A Method of Compensating
Del., v.10. January, p.547-555. Harmonic Currents Generated by Consumer Electronic Equipment Using the
Czarnecki, L. S., (1997) “Effect of minor harmonics on the performance of Correlation Function”, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 19. n.1. Jan.
resonant harmonic filters in distribution systems”, IEE Proc. Of Electric Power 2004. p. 266 - 271.
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O SETOR ELÉTRICO
Março 2007 45
Apoio
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CAPÍTULO VI
CONDICIONAMENTO DA CORRENTE ABSORVIDA:
PRÉ-REGULADORES DE FATOR DE POTÊNCIA – PFP
Do ponto de vista da minimização das distorções da corrente um estágio de entrada composto por um retificador a diodos e filtro
que alimenta uma carga qualquer e da maximização de seu fator de capacitivo, com pequenos (ou mesmo sem) reatores de conexão
potência, a melhor solução é que a carga tenha um comportamento com a rede.
puramente resistivo, ou seja, que a corrente siga a mesma forma da Veremos neste capítulo alguns métodos de condicionar o estágio de
tensão que a alimenta. entrada de um conversor, de modo a fazê-lo absorver uma corrente
As cargas responsáveis pela maior parte da distorção harmônica com forma de onda que maximize o fator de potência, ou seja, que
são as cargas eletrônicas. Principalmente em ambientes doméstico tenha a mesma forma da tensão da rede à qual está conectado.
e comercial, tais cargas normalmente são de baixa potência e Inúmeras outras soluções existem, mas não serão abordadas aqui.
utilizadas em grande quantidade. Referem-se, em sua maioria, a O uso ou não de soluções deste tipo depende muito mais de
reatores para lâmpadas fluorescentes (compactas ou tubulares), imposições normativas do que de outros aspectos, uma vez que o
aparelhos de TV, monitores de vídeo e computadores, sempre com custo de tal implementação é relativamente baixo e existem diversas
alimentação monofásica. soluções tecnológicas.
Nas soluções para estes aparelhos sem correção do fator de
potência, o estágio de interface com a rede é um retificador com 6.1 – Retificadores monofásicos: estudo do conversor
filtro capacitivo e, eventualmente, algum filtro de Interferência elevador de tensão (boost)
Eletromagnética – IEM - . Note-se que, conforme já discutido em
capítulos anteriores, tais conversores apresentam um fator de Este tipo de conversor tem sido o mais utilizado como PFP em
deslocamento da fundamental próximo da unidade, o que significa função de suas vantagens estruturais como [2]:
que não é possível melhorar o fator de potência por meio de filtros • a presença do indutor na entrada bloqueia variações bruscas na
passivos em derivação sem deteriorar o fator de deslocamento. tensão de rede (“spikes”), além de facilitar a obtenção da forma
Nas soluções para estes aparelhos sem correção do fator de desejada da corrente (senoidal).
potência, o estágio de interface com a rede é um retificador com • Energia é armazenada mais eficientemente no capacitor de saída, o
filtro capacitivo e, eventualmente, algum filtro de Interferência qual opera em alta tensão (Vo>E), permitindo valores relativamente
Eletromagnética – IEM - . Note-se que, conforme já discutido em menores de capacitância.
capítulos anteriores, tais conversores apresentam um fator de • O controle da forma de onda é mantido para todo valor instantâneo
deslocamento da fundamental próximo da unidade, o que significa da tensão de entrada, inclusive o zero.
que não é possível melhorar o fator de potência por meio de filtros • Como a corrente de entrada não é interrompida (no modo
passivos em derivação sem deteriorar o fator de deslocamento. de condução contínuo), as exigências de filtros de IEM são
De acordo com as indicações da norma européia, baseada na minimizadas.
IEC61000-3-2 [1], tais aparelhos (exceto as lâmpadas compactas) • O transistor deve suportar uma tensão igual à tensão de saída e
devem apresentar uma corrente com reduzida distorção. seu acionamento é simples, uma vez que pode ser feito por um sinal
Quando se trata de cargas industriais, além dos dispositivos já de baixa tensão referenciado ao terra.
citados (reatores, computadores e acessórios) há grande quantidade Como desvantagens tem-se:
de conversores para alimentação de máquinas elétricas. Para estes, • O conversor posterior deve operar com uma tensão de entrada
a alimentação é tipicamente trifásica e o fator de potência e a relativamente elevada.
distorção harmônica dependem muito de como é feita a conexão • A posição do interruptor não permite proteção contra curto-
com a rede. Não é raro encontrar, no entanto, situações com elevada circuito na carga ou sobre-corrente.
distorção da corrente, especialmente se o conversor eletrônico tem • Não é possível isolação entre entrada e saída.
Outras topologias também podem ser utilizadas como PFP,
O SETOR ELÉTRICO
18 Abril 2007
Harmônicos
mas não serão discutidas neste capítulo, o qual tem como objetivo
indicar algumas possibilidades gerais de melhoria na forma de onda
fornecida pela rede a um retificador a diodos.
(6.4)
Seja:
Figura 6.1 Conversor elevador de tensão operando como pré-regulador de
fator de potência (6.5)
(6.2) (6.7)
SE 4470
O SETOR ELÉTRICO
Abril 2007 19
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos
Note-se que a corrente média de entrada não é senoidal! sobre o fator de potência. Em outras palavras, estes valores para o
Isto ocorre porque no intervalo t2 a redução da corrente depende Fator de Potência são os obtidos com a inclusão de um filtro passa-
também da tensão de saída, que é constante, e não apenas da baixas na entrada do conversor, de modo que a corrente absorvida
tensão senoidal de entrada. Quanto maior for Vo, menor será t2. da rede seja apenas a sua componente média, com as componentes
Assim, a corrente média dependerá mais efetivamente apenas de de alta freqüência circulando pela capacitância deste filtro. Na figura
Îi(t), tendendo a uma forma senoidal. 6.4, os resultados de simulação, mostrando a corrente no indutor
O fator de potência é dado por: (do lado CC do retificador) e na rede (após a filtragem).
(6.8)
Onde
(6.9)
O SETOR ELÉTRICO
20 Abril 2007
Harmônicos
um sinal de sincronismo (que define a forma e a freqüência da corrente
de referência) e de um sinal da realimentação da tensão de saída (o qual
determina a amplitude da referência de corrente).
Mede-se a corrente de entrada, a qual será regulada de acordo com
a referência. Gera-se um sinal que determina a largura de pulso a ser
utilizada para dar à corrente a forma desejada. A figura 6.5 mostra o
diagrama geral do circuito e do controle.
V
Figura 6.5 Diagrama de blocos do conversor elevador de tensão, com circuito
de controle por corrente média.
(6.11)
A figura 6.6 mostra uma forma de onda típica da corrente no Figura 6.7 Tensão, corrente de entrada e potência instantânea em conversor
conversor. boost PFP no modo de condução contínua (100V/div; 5A/div; 1kW/div.)
SE 4475
O SETOR ELÉTRICO
Abril 2007 21
F ASCÍCULO 1 / h armôn i cos
unitário, no entanto seu valor é bastante elevado (maior que 0,98) e a Figura 6.10 Tensão e corrente de entrada com condução contínua (na
indutância de entrada
distorção harmônica tranqüilamente dentro dos limites das normas.
SE 4480
O SETOR ELÉTRICO
22 Abril 2007
Harmônicos
da tensão de linha na entrada. Neste caso consegue-se operar
e1
no modo de condução contínua, pois além dos diodos é possível
ter condução pelos transistores. Isto garante um elevado fator
i1 de potência, com reduzida ondulação de alta freqüência na
corrente, o que minimiza a necessidade de filtros de IEM.
Saída
Figura 6.11 Tensão (50V/div) e corrente de fase (1A/div), após filtragem da alta vca Vcc
freqüência. Horiz.: 4ms/div
SE 4485
O SETOR ELÉTRICO
Abril 2007 23
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CAPÍTULO VIi
FILTROS ATIVOS
Filtragem ativa de uma carga única, ou um conjunto delas, é sintetizar diferentes formas de corrente (ou tensão) em seus terminais.
uma opção à correção do fator de potência no estágio de entrada Se, em regime permanente, tais conversores não fornecem potência
de cada equipamento, assunto que foi visto no capítulo anterior, ativa, não necessitam de uma fonte de potência em sua alimentação. O
utilizado os chamados pré-reguladores de fator de potência. circuito deve operar de maneira a manter sob controle o valor da variável
O objetivo da filtragem da corrente é obter uma forma de onda elétrica no lado CC do conversor (corrente no indutor ou da tensão do
com baixa distorção harmônica que siga, por exemplo, a forma capacitor de armazenamento de energia). Devido às menores perdas
da tensão do barramento. Nesse caso, o conjunto (carga + filtro) de potência produzidas pelos capacitores, seu uso é mais difundido.
representaria uma carga resistiva, maximizando o fator de potência, Uma descrição do método de controle será feita posteriormente.
o que vale dizer, minimizando a corrente eficaz absorvida da fonte, Note-se que para o inversor fonte de corrente (figura 7.1.a), as
mantida a potência ativa da carga. chaves semicondutoras devem ser unidirecionais em corrente.. O diodo
É também possível realizar a filtragem ativa da tensão, quando em série protege o transistor (indicado como uma chave aberta) em
um conversor eletrônico é empregado diretamente para minimizar situações de polarização reversa. Uma vez que a rede CA, à qual o
as distorções da tensão. No entanto, o uso destes filtros é ainda mais conversor está conectado, apresenta uma característica indutiva, deve-
restrito do que os de filtragem de corrente, até porque os problemas se inserir elementos capacitivos, capazes de absorver as diferenças
de distorção de tensão são significativamente menores do que os instantâneas das correntes, a fim de evitar surtos de tensão na saída
devidos à distorção da corrente. Adicionalmente, a melhoria da (lado CA) quando o conversor injetar na rede pulsos de corrente de
forma de onda ca corrente leva, naturalmente, a uma melhoria na valor Io. Além disso, tais capacitores realizam uma filtragem de alta
forma de onda da tensão. freqüência, de modo que a corrente que flui para a rede seja apenas o
Embora seja uma tecnologia bastante consolidada, o uso de valor médio da corrente sintetizada pelo inversor. A presença do filtro
filtros ativos para melhoria da qualidade de energia é muito restrito. capacitivo pode levar ao surgimento de ressonâncias entre a linha e o
Uma razão fundamental é seu custo relativamente elevado. Outro filtro, as quais devem ser evitadas e/ou amortecidas adequadamente.
aspecto é a faixa de potência das aplicações, limitada a poucos
MVA e, geralmente, em baixa tensão. Aliem-se ainda as falhas de
regulamentação da qualidade de energia
(especialmente no caso do Brasil) que tolera distorções relativamente
elevadas de corrente, exatamente com o argumento da dificuldade
de sua compensação.
A seguir será mostrado como um conversor eletrônico de
potência pode produzir formas de onda de corrente (e também
de tensão) de forma arbitrária, o que permite seu uso para a
Figura 7.1. Topologias de inversores trifásicos: a) Inversor fonte de corrente; b)
compensação de distorções na rede elétrica. Inversor fonte de tensão
Harmônicos
Para que seja possível o controle das formas de onda (seja de A figura 7.2 mostra a modulação de uma onda senoidal,
corrente ou de tensão), os valores de Io ou de Vo devem ser maiores produzindo na saída uma tensão com dois níveis, na freqüência da
do que os valores de pico máximos, respectivamente de corrente e onda triangular. A informação da referência está contida na variação
de tensão, presentes no sistema. da largura dos pulsos.
SE 4865
O SETOR ELÉTRICO
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F ASC Í CULO 1 / harmôni cos
O uso de um filtro não amortecido pode levar ao surgimento de suas saída, valendo aqui as mesmas observações relativas ao tipo de
componentes oscilatórias na freqüência de ressonância, que podem elemento de armazenamento de energia, isto é, caso o inversor forneça
ser excitadas na ocorrência de transitórios na rede ou na carga. Em apenas energia reativa, ele não precisa de uma fonte de potência,
regime elas não se manifestam, uma vez que o espectro da onda podendo operar a partir apenas de elementos de armazenamento de
MLP não as excita. O uso de filtros amortecidos ou o controle da energia.
variável elétrica de saída devem ser utilizados em situações em que O estágio de saída deve ser adaptado de modo a ser obtida uma
tais transitórios possam ser problemáticos. tensão filtrada dos componentes relativos à freqüência de chaveamento,
reproduzindo apenas a tensão de referência sintetizada pelo inversor.
7.2 - Filtros Ativos de Potência (FAP)
A ação de filtros em derivação não muda a corrente na carga,
pois praticamente não modifica a tensão no ponto de acoplamento
comum (PAC). A ação do FAP permite suprir à carga toda a potência
não ativa, incluindo componentes harmônicos e potência reativa. Da
rede se consome apenas a corrente associada à potência ativa. Este fato
maximiza o Fator de Potência (FP), já que implica no mínimo valor de
corrente pelo sistema, liberando a capacidade de transmissão para as
Figura 7.3 Formas de onda da tensão de linha em inversor trifásico, sinais MLP linhas, mantida constante a potência ativa na carga.
filtrado e espectro do sinal MLP de três níveis
No enfoque da aplicação de um filtro ativo, ou seja, quando se buscam
medidas de variáveis elétricas para identificar componentes nas correntes
7.1.2 - Síntese de correntes em inversor com
que devam ser compensadas, deve-se levar em conta qual o objetivo da
acúmulo capacitivo
compensação.
A síntese de uma corrente CA utilizando um inversor fonte de
Os métodos de medida de potência baseados no domínio da
corrente pode ser feita em malha aberta, aplicando diretamente os
freqüência, ou que apenas tratem comportamentos médios (e não
comandos gerados pelo modulador (MLP, por exemplo) diretamente nos
instantâneos), não possibilitam a identificação de grandezas temporais,
transistores. No caso de inversores fonte de tensão, a corrente média de
de modo que não se aplicam no caso de compensação de componentes
saída é determinada pela diferença entre as tensões médias da rede e
harmônicas.
da saída do inversor. Tal diferença é aplicada sobre os indutores de filtro,
Pode-se considerar que o objetivo da filtragem da corrente seja
definindo, assim, a corrente. As diferenças instantâneas determinam a
obter uma forma de onda que siga a forma da tensão, ou seja, que o
ondulação da corrente na freqüência de chaveamento.
conjunto (carga + filtro) represente uma carga resistiva, maximizando
Como não se faz uma síntese direta da corrente, a correta
o fator de potência, o que vale dizer, minimizando a corrente eficaz
operação desta topologia como um filtro ativo de corrente necessita da
absorvida da fonte, mantida a potência ativa da carga.
realimentação da corrente, a ser comparada com a referência, gerando
Uma outra possibilidade é sintetizar uma corrente senoidal, mesmo
um sinal de erro que, se necessário, corrige a largura de pulso. Esta
na presença de distorções na tensão.
realimentação permite a síntese de qualquer forma de corrente, dentro
Caso o sistema apresente uma tensão senoidal e nenhuma não-
da faixa de passagem do filtro passivo de saída.
linearidade, ambos os métodos seriam idênticos. Como, normalmente,
Numa situação de regime permanente, na qual o inversor forneça perfeitamente senoidal, sempre existirão elementos harmônicos capazes
apenas energia não ativa ao sistema e à carga, a tensão média no de excitar ressonâncias. Os elementos que introduzem amortecimento
capacitor é constante. Transitoriamente, no entanto, é possível que esta no sistema são, essencialmente, as cargas, uma vez que as perdas
tensão varie em função de mudanças na carga ou na rede. próprias das linhas e transformadores são baixas. Assim, um sistema
A correção do erro de tensão é feita controlando-se a amplitude do sem carga tende a ver amplificadas as possíveis ressonâncias presentes.
sinal de referência de corrente. Por exemplo, caso a tensão CC diminua, Quando um filtro ativo leva à absorção apenas de uma corrente
o circuito de controle deve produzir um ajuste na amplitude da corrente senoidal, isto significa que a rede vê uma carga aberta para as outras
em relação à tensão da rede de modo a absorver potência ativa, freqüências, ou seja, a carga deixa de atuar como fator de amortecimento
acumulando carga no capacitor e elevando novamente sua tensão. para as eventuais ressonâncias do sistema.
A defesa desta técnica (corrente senoidal) é feita com o argumento
7.1.3 - Síntese de tensões de que a absorção de correntes senoidais melhoraria a forma da tensão
As mesmas topologias que são capazes de produzir formas arbitrárias da rede, mas isto nem sempre é verdade.
de corrente podem também fazê-lo em relação à tensão sintetizada em É bastante comum a presença de capacitores em uma rede de
O SETOR ELÉTRICO
20 Maio 2007
Harmônicos
distribuição de energia, no lado de baixa tensão, para a compensação senoidal, há dispositivos de controle que monitoram o aparecimento
do fator de deslocamento. Em tal situação há uma ressonância entre a das oscilações e alteram a corrente de modo que sejam adicionadas
capacitância e a reatância indutiva do alimentador. Para valores típicos, componentes de corrente de modo a amortecer a oscilação. Ou seja,
com a elevação do fator de potência de 0,85 para 0,95, a ressonância ao invés de sintetizar uma resistência em todo espectro de freqüências,
se dá em torno da 11ª harmônica, mas cada caso deve ser analisado em as resistências são vistas pelo alimentador apenas na componente
particular. fundamental e nas freqüências em que ocorrem ressonâncias.
A figura 7.4 mostra resultados de simulação com ambos os métodos A recomendação IEEE-519 estabelece para redes de baixa tensão
aplicados. A fonte de entrada possui uma 11UaU harmônica com 1% uma Distorção Harmônica Total aceitável de (DHT) 5%, limitando
de amplitude da fundamental. O indutor e o capacitor produzem uma cada harmônica a 3% do valor da componente fundamental. Este
ressonância nesta harmônica. Quando se tem uma carga resistiva, devido valor pode facilmente ser superado, especialmente se a corrente da
ao amortecimento introduzido, praticamente não se observa o efeito rede estiver altamente distorcida como, por exemplo, na presença
desta harmônica, pois ela continua afetando as tensões em um nível de cargas não lineares.
muito baixo. Quando se força a carga a absorver uma corrente apenas
na freqüência fundamental, nota-se a ressonância e a conseqüente 7.2.1 - Estrutura de controle do filtro
distorção na tensão (circuito à direita e formas de onda inferiores). Filtros ativos monofásicos podem ser utilizados na correção
do fator de potência de cargas de pequena e média potência. As
aplicações restringem-se tipicamente a potências de 4kVA (para
alimentação em 220V), dado que cargas maiores normalmente
possuem entrada trifásica.
A figura 7.5 mostra uma possível estrutura do sistema de
controle para um filtro monofásico, de acúmulo capacitivo,
operando em MLP. A forma da referência da corrente é obtida da
própria tensão. A amplitude desta referência é modulada de modo
a manter a tensão CC no valor desejado. O sinal do erro da tensão
CC, passado por um compensador tipo proporcional-integral (que
anula o erro em regime para uma entrada constante) é uma das
entradas do bloco multiplicador. Sendo um valor contínuo (que varia
muito mais lentamente do que a referência de corrente, que varia
na freqüência da rede), funciona como fator de escalonamento da
forma da corrente. A corrente da rede é realimentada, produzindo,
Figura 7.4 Circuitos simulados e formas de onda para carga resistiva e “senoidal”
em relação à referência de corrente, um erro o qual, passando por um
O amortecimento de tais oscilações pode e deve ser realizado compensador, produz a tensão de controle, que é comparada com a
pelo FAP. Mesmo nos sistemas que utilizam a imposição de corrente portadora MLP, gerando os pulsos para o comando dos transistores.
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Maio 2007 21
F ASC Í CULO 1 / harmôni cos
b) Caso trifásico
A Figura 7.8 mostra o caso de uma carga não-linear balanceada
(retificador a diodos). Depois da compensação, as correntes na rede
Figura 7.5 Diagrama de controle de filtro ativo de corrente para sintetizar
carga resistiva. são similares às respectivas tensões, incluindo as distorções. As
transições rápidas não são completamente compensadas devido à
Para o emprego da técnica de síntese de carga resistiva, a limitação da resposta em freqüência da malha de corrente.
estrutura trifásica é em tudo análoga à monofásica. Devendo-se A DHT da corrente da carga é 25%. Depois da atuação do FAP, a
medir duas ou três correntes (dependendo se o sistema for a três ou distorção na corrente da rede diminui significativamente produzindo
a quatro fios) e determinando a referência a partir de multiplicações uma DHT de 5,2%.
entre um sinal proporcional à tensão e outro derivado da malha de
controle da tensão CC. Para um sistema a quatro fios deve haver
alguma modificação na topologia do inversor, por exemplo, com a
adição de um quarto ramo de chaves. Figura 7.8 Carga
7.2.2 - Resultados experimentais trifásica não linear
a) Caso monofásico balanceada: Acima :
Tensão (500V/div.);
Os resultados a seguir foram obtidos em um protótipo Meio : Corrente
monofásico. A carga não-linear é um retificador a diodos com filtro de linha após
compensação (5
capacitivo.
A/div.); Abaixo :
Na figura 7.6 têm-se os resultado da operação do filtro Corrente de carga
ativo. Nota-se que as distorções presentes na tensão também são (5 A/div).
Figura 7.6 Tensão da rede (superior - 150V/div.), corrente na rede após Figura 7.9 Carga não-linear monofásica: Acima: Tensão (500V/div.); Meio: Correntes
compensação (intermediário - 5A/div.) e corrente na carga (inferior - 5A/div.) de linha após compensação (1 A/div.); Abaixo: Correntes de carga (1 A/div)
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22 Maio 2007
Harmônicos
Na Figura 7.10 mostra-se a resposta dinâmica do FAP a uma variação As limitações de potência estão ligadas à tecnologia dos
em degrau na carga. Observe que, ao ser aumentada a corrente da carga, semicondutores, o que torna difícil a construção de tais equipamentos,
ocorre uma redução na tensão do barramento CC, uma vez que a energia exceto para uso em baixa tensão.
consumida vem, inicialmente, do capacitor que alimenta o inversor. Uma vez
detectada essa redução, o circuito de controle atua no sentido de aumentar 7.4 - Referências Bibliográficas
Fabiana Pöttker de Souza: “Correção de fator de potência de instalações de baixa
a corrente absorvida da rede visando recuperar o valor de referência.
potência empregando filtros ativos” Tese de doutorado, UFSC, 2000.
Y. Komatsu, T. Kawabata, “A Control Method of Active Power Filter in Unsymmetrical
an Distorted Voltage System”, Proceedings of the Power Conversion Conference, Nagaoka,
Japan, vol.1, august 1997, pp. 161-168
T. E. N. Zuniga and J. A. Pomilio: “Shunt Active Power Filter Synthesizing Resistive Load”.
IEEE Trans. on Power Electronics, vol. 16, no. 2, march 2002, pp. 273-278.
F. P. Marafão, S. M. Deckmann, J. A. Pomilio, R. Q. Machado: “Selective Disturbance
Compensation and Comparison of Active Filtering Strategies“, IEEE – International Conference
on Harmonics and Quality of Power, ICHQP 2002, Rio de Janeiro, Brazil, October 2002.
S. M. Deckmann and F. P. Marafão, “Time based decompositions of Voltage, Current and
Power Functions,” in Proc. 2000 IEEE International Conference on Harmonics and Quality of
Power, pp. 289-294.
F. P. Marafão and S. M. Deckmann, “Basic Decompositions for Instantaneous Power
Components Calculation,” in Proc. 2000 IEEE Industry Applications Conf. (Induscon), pp. 750-
755.
L. Malesani, P. Mattavelli and P. Tomasin: “High-Performance Hysteresis Modulation
Technique for Active Filters”. Proc. of APEC ‘96, March 3-7, 1996, San Jose, USA, pp. 939-947.
H.-L. Jou, J.-C. Wu and H.-Y. Chu: “New Single-Phase Active Power Filter”. IEE Proc. -
Figura 7.10 Resposta do FAP a variações da carga: Tensão no barramento CC
(superior -50 V/div.) e corrente de linha (inferior - 5 A/div.).
Electric Power Applications, vol. 141, no. 3, May 1994, pp. 129-134.
F. Pöttker and I. Barbi: “Power Factor Correction of Non-Linear Loads Employing a Single
Phase Active Power Filter: Control Strategy, Design Methodology and Experimentation”. Proc.
7.3 - Conclusões
of the IEEE Power Electronics Specialists Conference - PESC’97, St. Louis, USA, June 1997, pp.
Os filtros ativos de potência são dispositivos muito eficazes na 412-417.
melhoria das formas de onda da rede elétrica. Seu uso como filtro de M. V. Ataíde e J. A. Pomilio: “Single-Phase Shunt Active Filter: a Design Procedure
corrente permite compensar as componentes harmônicas da carga (ou Considering EMI and Harmonics Standards”. Proc. of IEEE International Symposium on
Industrial Electronics, ISIE’97, Guimarães, Portugal, June 1997.
conjunto de cargas), também fornecer localmente a demanda de reativos
Project IEEE-519, IEEE Recommended Practices and Requirements for Harmonic Control
e, adicionalmente, criar caminhos para a corrente de modo que a rede in Electric Power System.
elétrica “enxergue” uma carga resistiva e equilibrada (no caso trifásico). S. P. Pimentel: “Aplicação de Inversor Multinível como Filtro Ativo de Potência”,
Embora tão poderoso, do ponto de vista funcional, o Dissertação de Mestrado, FEEC – Unicamp, 2006.
principal obstáculo para um uso mais generalizado é o custo do N. Baldo, D. Sella, P. Penzo, G. Bisiach, D. Cappellieri, L. Malesani and A. Zuccato: “Hybrid
Active Filter for Parallel Harmonic Compensation”. European Power Electronics Conference,
equipamento, que o faz conveniente, nos tempos atuais, apenas
EPE’93, Brighton, England, vol. 8, pp. 133-137
em situações muito críticas.
O SETOR ELÉTRICO
Maio 2007 23
F ASC Í CULO 1 / harmôni cos
Por José Antenor Pomilio, engenheiro eletricista, mestre e doutor em enge-
nharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, professor
da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp
antenor@dsce.fee.unicamp.br
Desde seu número inaugural, a revista O Setor Elétrico apresentado. Foi mostrado, inclusive com resultados de
publicou uma série de artigos com uma visão moderna do campo, que o uso destes filtros em redes dominantemente
problema da distorção harmônica e do fator de potência em de consumidores residenciais e comerciais pode ampliar a
instalações elétricas. distorção na tensão, devendo ser utilizados com muito critério.
Foram apresentados e discutidos aspectos normativos e A razão deste comportamento é que as cargas não-lineares
definições de grandezas elétricas importantes para o correto de uso residencial e comercial têm um comportamento que
entendimento do problema em um sistema elétrico, para o mais se aproxima de uma fonte de tensão, ao invés do modelo
qual não são mais suficientes as antigas definições associadas tradicional de fonte de corrente harmônica, mais adequado às
a grandezas puramente senoidais. cargas industriais.
Para que se tornasse possível o entendimento do que se Pode-se dizer que o principal objetivo desta seqüência de
pode fazer e quais as limitações da tecnologia atual na área artigos foi despertar o leitor para o fato de que o atual estágio
de eletrônica de potência, com vistas a mitigar os problemas de disseminação de cargas não-lineares pela rede elétrica não
de distorção harmônica, foram apresentados os principais mais permite supor que as formas de onda sejam senoidais. Em
componentes semicondutores de potência utilizados na alguns casos mais críticos, nem mesmo a tensão pode ser assim
construção de filtros ativos e outros conversores. considerada. E nesse mundo não-senoidal, novos conceitos
Tais conversores foram também discutidos, sendo precisam ser adotados para que se tenha um adequado
mostrada sua capacidade efetiva de melhorar a qualidade da entendimento do comportamento de uma instalação elétrica e
energia, embora também tenham sido realçadas as limitações, das cargas a ela conectadas.
especialmente em termos de potência. Para facilitar a busca e o download através do site da
Um capítulo sobre as técnicas convencionais de revista, confira abaixo o índice remissivo dos 16 fascículos e
compensação, através de filtros passivos, também foi seus principais tópicos.
O SETOR ELÉTRICO
22 Junho 2007
Apoio
Harmônicos
Edição 1 – fevereiro/2006 Edição 11 – dezembro/2006
Capítulo I - Fator de potência e distorção harmônica – parte 1 Capítulo IV – Efeitos e causas de harmônicas no sistema de energia
Edição 2 – março/2006 elétrica – parte 2
Capítulo I - Fator de potência e distorção harmônica – parte 2 Foram tratados os exemplos de motores e geradores,
Aspectos normativos e definições de grandezas elétricas importantes transformadores, cabos de alimentação, equipamentos
para o correto entendimento do problema em um sistema elétrico eletrônicos. Além disso, os efeitos nos aparelhos de medição,
nos relés de proteção e nos fusíveis
Edição 3– abril/2006
Edição 12 – janeiro/2007
Capítulo II – Normas relativas a fator de potência e distorção
Capítulo V – Compensação capacitiva e filtros passivos em redes
harmônica
secundárias – parte 1
Norma IEC 6100-3-2; Norma IEC 6100-3-4; Recomendações do
Edição 13 - fevereiro/2007
IEEE (IEEE-519); Regulamentação brasileira Capítulo V – Compensação capacitiva e filtros passivos em redes
secundárias – parte 2
Edição 4 – maio/2006 Edição 14 – março/2007
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 1 Capítulo V – Compensação capacitiva e filtros passivos em redes
Edição 5 – junho/2006 secundárias – parte 3
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 2 Técnicas convencionais de compensação, através de filtros passivos,
Edição 6 – julho/2006 com resultados de campo, mostram que o uso destes filtros em
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 3 redes dominantemente de consumidores residenciais e comerciais
Edição 7 – agosto/2006 pode ampliar a distorção na tensão. Análise do comportamento de
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 4 cargas não-lineares de uso residencial e comercial
Edição 8 – setembro/2006
Edição 15 – abril/2007
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 5
Capítulo VI – Condicionamento da corrente absorvida: pré-reguladores
Edição 9 – outubro/2006
de fator de potência – PFP
Capítulo III – Componentes Semicondutores de Potência – parte 6
Métodos de condicionar o estágio de entrada de um conversor,
Breve revisão da física dos semicondutores, com a descrição
de modo a fazê-lo absorver uma corrente com forma de onda
dos vários tipos de componentes normalmente utilizados nos
que maximize o fator de potência
sistemas de potência.
Edição 16 – maio/2007
Edição 10 – novembro/2006 Capítulo VII – Filtros Ativos
Capítulo IV – Efeitos e causas de harmônicas no sistema de energia Descrição do uso dos filtros ativos para melhoria da qualidade
elétrica – parte 1 de energia
O SETOR ELÉTRICO
Junho 2007 23
F ASCÍCU LO 4 / MEDIÇÃO F A S O R I A L Gabriel Benmouyal
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Longueuil, Pq Canadá
E. O. Schweitzer, A. Guzmán
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Pullman, WA USA
Artigo publicado na 29ª versão do WPRC
( Western Protective Relay Seminar) em
Spokane-WA que se realizou entre 22 e 24
CAPÍTULO I
de outubro de 2002
SE 1270
O SETOR ELÉTRICO
Julho 2006 225
F ASCÍCU LO 4 / MEDIÇÃO F A S O R I A L
A solução da seguinte equação diferencial fornece a solução os fabricantes de equipamentos criarem suas próprias definições; a norma
para a corrente do circuito não possui requisitos relativos à precisão da medição da magnitude dos
fasores para valores diferentes dos da freqüência nominal do sistema (50
di (t)
V • cos ( w • t + f ) = R • i(t) + L (1) Hz ou 60 Hz).
dt
Para as formas de onda em tempo real, é necessário definir uma refe
Sendo o circuito linear, a solução para a corrente tem a rência de tempo para medir os ângulos de fase de forma sincronizada [3].
seguinte forma: A Norma IEEE 1344-1995 [2] define o início do segundo como a referência
de tempo para estabelecer o valor do ângulo de fase do fasor. A convenção
i (t) = I • cos( w • t + q ) (2)
para medição fasorial sincronizada está demonstrada na Figura 2.
Podemos representar os fasores de tensão e corrente como
números complexos na forma exponencial:
V = V • cos ( w • t + f )
V
(3) Início do segundo
V = V • e jj e I = I • e jq f = 0°
V V
V 0°
O Apêndice mostra que podemos expressar a Equação 1 na
forma algébrica, conforme mostrado a seguir: t
V
V • e jj = (R + j w • L) I • e jq (4) Início do segundo
f = -90°
V
A solução para a corrente é:
V -90° V
t
I • e jq = V•e jj
(5)
R + jw • L
Figura 2 Convenção para medição fasorial sincronizada em
A partir desse exemplo, podemos concluir o seguinte: relação ao tempo
1) Um fasor é um número complexo associado a uma onda senoidal. A
A medição do ângulo de fase instantânea permanece constante
magnitude do fasor é a mesma que a magnitude da onda senoidal. O
para freqüência nominal se estiver usando a referência do início
ângulo de fase do fasor é a fase da onda para t = 0.
do segundo para a fase. Se o sinal estiver fora da freqüência
2) Os fasores são normalmente associados a uma única freqüência.
nominal (“off-nominal frequency”), a fase instantânea varia com
3) Para ser possível remover a dimensão de tempo da solução quando
o tempo. Veremos posteriormente que a escolha dessa referência
da aplicação da transformação fasorial, todos os parâmetros do sistema
tem influência sobre a medição do ângulo de fase do fasor para
têm de ser constantes.
freqüência “off-nominal”.
4) Não é necessário definir uma escala de tempo ou uma referência de
A Norma IEEE 1344-1995 [2] define a forma de onda para o
tempo nos estudos teóricos do estado de regime, pois a dimensão de
estado de regime onde a magnitude, a freqüência e o ângulo de
tempo foi removida das equações finais baseadas em fasores.
fase da forma de onda não variam. Essa norma não inclui requisitos
5) Nos estudos de sistemas de potência, a aplicação de fasores ocorre
relativos à performance da medição dos fasores para uma forma de
em todas as situações em que os parâmetros são constantes, e nós
onda no estado transitório.
temos uma freqüência única. Os programas de fluxo de carga ou de
curto-circuito são exemplos de tais estudos. Para análise de transitórios
Medição de Fase para Freqüências Diferentes da Nominal
eletromagnéticos, as equações diferenciais do sistema são normalmente
Vamos considerar a função seguinte representando a tensão na
resolvidas no domínio do tempo. Ferramentas tais como o EMTP
barra de um diagrama do sistema de potência:
(“Electromagnetic Transient Program”) ou “Power System Blockset”
são exemplos deste método. Teoricamente, nos sistemas de potência V (t) = V • cos (2 • p • f • t+ f ) (6)
reais, somente podemos aplicar os fasores para as condições de regime.
Entretanto, conforme veremos posteriormente, podemos ainda aplicar o O argumento da função coseno na Equação 6 é:
conceito fasorial para as condições transitórias e obter bons resultados. q (t) = 2 • p • f • t+ f ) (7)
fD
bB
fA
f fB
t t
Figura 3 Medição de fase para freqüência diferente da Figura 4 Medição de fase em dois pontos para
nominal (“off-nominal”) e Df > 0 freqüência“off-nominal”
Continua na próxima edição
SE 1275
O SETOR ELÉTRICO
Julho 2006 27
F ASCÍCU LO 4 / MEDIÇÃO F A S O R I A L Gabriel Benmouyal
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Longueuil, Pq Canadá
E. O. Schweitzer, A. Guzmán
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc.
Pullman, WA USA
Artigo publicado na 29ª versão do WPRC
( Western Protective Relay Seminar) em
Spokane-WA que se realizou entre 22 e 24
de outubro de 2002
CAPÍTULO I Parte 2
Introdução e Formas de Onda de
Tensão e Corrente vs. Tempo e
Definição Fasorial
Fase como Indicador do Comportamento M = J • w (15)
se adaptar às mudanças nos requisitos de transferência de potência Podemos expressar a posição angular do rotor em relação a
que ocorrem durante perturbações no sistema. A dinâmica do uma referência síncrona que gira na velocidade síncrona, wsyn.
sistema de potência envolve as propriedades elétricas, assim como A posição angular do rotor q é igual ao ângulo de fase devido
as propriedades mecânicas, das máquinas elétricas do sistema. Para à referência de rotação síncrona, wsyn • t, mais o defasamento
o propósito desta discussão, considere uma máquina síncrona com angular da referência de rotação síncrona, d, conforme mostrado
dois pólos em que os graus elétricos e mecânicos sejam iguais. na Equação 17.
A diferença entre o torque no eixo, Tm, e o torque eletromecânico, q(t) = wsyn • t + d (17)
O SETOR ELÉTRICO
32 Agosto 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
defasamento angular não pode ser medido mecanicamente. No estado de regime, os fasores medidos em tempo-real, de
As variações do ângulo de fase podem ser estudadas através da acordo com a definição original, constituem a solução de qualquer
computação do fasor de tensão atrás da reatância transitória da conjunto de equações do sistema que está sendo considerado.
máquina, visando obter uma imagem do defasamento angular da Como exemplo, considere os fasores sincronizados da tensão
máquina. Na prática, os modos de oscilação da máquina podem ser de seqüência-positiva (“positive-sequence voltage” – PSV) nas
determinados pela medição do ângulo de fase do fasor de tensão de extremidades de uma linha tal qual a modelada na Figura 5.
seqüência-positiva nos terminais da máquina. Isto será demonstrado
Pij
posteriormente no texto.
Qij
Yij vj 0
Tensão, Freqüência e Ângulo de Fase vi dij
O SETOR ELÉTRICO
Agosto 2006 33
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Artigo publicado na 29ª versão do WPRC
( Western Protective Relay Seminar) em
Spokane-WA que se realizou entre 22 e 24
de outubro de 2002
CAPÍTULO II
MÉTODOS ATUAIS DE AMOSTRAGEM E
PROCESSAMENTO DE SINAIS
O SETOR ELÉTRICO
30 Setembro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
Uma pequena variação deste método é o sistema de amostragem outros métodos de estimação da freqüência executam a mesma
que usa uma taxa de amostragem fixa (fs), que é um valor múltiplo da tarefa [11]. Os dados amostrados passam por um filtro digital passa-
freqüência nominal do sistema (fNOM). Por exemplo, 960 amostras/ banda (“digital band-pass filter” – DBPF), após o que o sinal filtrado
segundo (SPS) pode ser a taxa de amostragem. Essa taxa é 16 vezes a está pronto para aplicações da proteção de distância de linhas. Esse
freqüência nominal (fNOM) num sistema de potência de 60 Hz. método reduz os erros dos cálculos fasoriais; o erro remanescente
A amostragem em intervalos de tempo constantes é adequada depende somente do erro de estimação da freqüência, normalmente
para aplicações múltiplas de proteção tal como a proteção diferencial menor do que 0,01 Hz. Uma desvantagem desse método é que a
de corrente [10], porém ela introduz erros não desejados em aplicações medição fasorial não usa o tempo absoluto como referência para
de proteção tal como a proteção de distância de linhas. Uma forma aplicações da medição fasorial sincronizada. O método necessita de
comum de obter as informações dos fasores para as aplicações de uma referência de tempo absoluto para tais aplicações.
proteção é a de calcular a Transformação Discreta de Fourier (“Discrete
fsys
Fourier Transform” – DFT) do sinal amostrado. Está bem documentado
no artigo da referência [11] que esse cálculo fasorial não é exato quando fsys Xk
o sistema de potência estiver operando com freqüências diferentes da
nominal. A Figura 8 mostra o desvio em relação ao ideal do cálculo Estimativa da
Freqüência do
fasorial para ângulos entre 0º e 360º. Esses erros nos cálculos podem sistema
causar atuação incorreta do elemento de distância [12]. O sistema de fs
8
Fasores Amostragem em Intervalos Fixos de
Ideais
6 Tempo com Filtragem Adaptativa
4
Podemos usar amostras obtidas em intervalos de tempo fixos para
2 calcular fasores com um mínimo de erro. Neste método (ver Figura
Imaginário
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Setembro 2006 31
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CAPÍTULO III
Amostragem e Processamento de Sinais para
Medição Fasorial Sincronizada e Proteção de
Distância de Linhas (Patente Pendente)
Os métodos de aquisição de dados discutidos anteriormente as aplicações de medição fasorial sincronizada, oscilografia e análise de
fornecem soluções apropriadas para as aplicações de medição fasorial harmônicos. Os dados com alta taxa de amostragem passam através
sincronizada que requerem amostragem com referência de tempo de um filtro digital passa-baixa (“digital low-pass filter” – DLPF) antes
absoluto, ou aplicações da proteção de distância de linhas que requerem que a amostragem e a reamostragem sejam efetuadas. O amostrador
amostragem em múltiplos da freqüência de operação do sistema de fornece os dados a uma taxa menor para estimação da freqüência.
potência. A Figura 11 mostra a aquisição de dados e o processamento Uma das entradas do reamostrador (“resampler” – RSMP) é o sinal
de dados adequados aos dois tipos de aplicação. Este sistema de filtrado . A segunda entrada para o reamostrador é a freqüência de
aquisição e processamento de dados é parte de um dispositivo para operação do sistema de potência (fSYS) . O reamostrador fornece os
múltiplas aplicações no sistema de potência, o qual será descrito nas dados a uma taxa que é um valor múltiplo da freqüência de operação
seções seguintes. (fSYS), por exemplo, 32 • fSYS. Os dados reamostrados passam através
de um filtro digital passa-banda (DBPF). O DBPF tem coeficientes fixos
Amostragem e Processamento de Sinais para que não dependem da freqüência de operação do sistema de potência
Aplicações Múltiplas no Sistema de Potência (fSYS). Os dados filtrados estão prontos para as aplicações da proteção
de distância tal como a Referência [15] descreve. Os dados filtrados
O dispositivo para múltiplas aplicações coleta os dados em intervalos são também disponibilizados para calcular a magnitude do fasor
fixos de tempo; a freqüência de amostragem (fS) depende do sinal do sincronizado, conforme será visto posteriormente.
relógio externo (receptor de GPS) com referência de tempo absoluto. A Figura 12 mostra uma variação deste sistema de amostragem e
Para as aplicações de medição fasorial sincronizada, o dispositivo usa a processamento de sinais, no qual a amostragem é baseada no relógio
referência de tempo do GPS. Após o conversor A/D ter obtido os dados, local. A reamostragem nessa variação usa a referência de tempo
esses dados são calibrados para compensar os erros da aquisição de absoluto do receptor de GPS e a freqüência de operação do sistema
dados do hardware. Os dados calibrados são disponibilizados a uma para reamostrar os dados em uma freqüência específica dependendo
taxa de amostragem alta (ex., 8 kSPS); esses dados são adequados para dos requisitos da aplicação.
fs
1 2 5 6
Canal Analógico LPF via Proteção de
A/D CAL DLPF RSMP DBPF
V ou I Hardware Distância da Linha
Figura 11 - Amostragem com referência de tempo absoluto para aplicações de medição fasorial sincronizada e reamostragem em múltiplos da
freqüência de operação do sistema de potência para as aplicações da proteção de distância de linhas
O SETOR ELÉTRICO
38 Outubro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
Média de LPF Butterworth
Relógio Receptor *-sen(2•p•60•t) Operação de de 4ª Ordem 1 f
Local de GPS 3 ciclos fe = 18 HZ Fasor
X Cálculo
+ do Ângulo X V f
j
Intervalo de Sincronismo V
Amostragem de Tempo X Média de LPF Butterworth Magnitude a
Operação de de 4ª Ordem partir de um
fs *-sen(2•p•60•t) 3 ciclos fe = 18 HZ Filtro Cosseno
Proteção de com FreqUência
Distância da Linha de Amostragem
Canal
LPF via * Sinais de referência com tempo sincronizado Adaptativa
Analógico A/D RSMP
Hardware
V ou I
Proteção de Figura 13 Princípio da medição com fasores desacoplados
distância da Linha
Estimativa da Performance do Algoritmo de Desacoplamento
Freqüência do fsys
sistema
Figura 12 - Amostragem em intervalos fixos de tempo com um Avaliamos, inicialmente, a capacidade de o algoritmo de
relógio local e reamostragem de acordo com a referência de tempo desacoplamento executar a medição do ângulo de fase para
absoluto e freqüência de operação do sistema de potência freqüências diferentes da freqüência nominal. A Equação 28 e a
Equação 29 definem duas formas de onda v1(t) e v2(t):
Um Algoritmo para Desacoplamento das Medições da
Magnitude do Fasor e do Ângulo de Fase (
V1(t)= cos 2•p•59.5•t+
p
) (28)
4
amplo de freqüência e que um sistema com freqüência de Essas formas de onda são processadas através do algoritmo de
amostragem fixa possibilita impedir a medição da freqüência local, desacoplamento, e os ângulos de fase resultantes estão mostrados
a combinação desses dois sistemas vai otimizar a performance da na Figura 14.
medição fasorial. Tal sistema está mostrado na Figura 13. Considere Pode ser visto que, em ambos os casos, a taxa de variação dos
a forma de onda de tensão da Equação 6 e efetue a multiplicação ângulos de fase é constante e é igual a –180º/s:
dessa forma de onda pelo fasor da unidade com tempo sincronizado,
df1 df2
de acordo com a seguinte equação: = = prad / s = -180º / s (30)
dt dt
a qual pode ser expressa, de outra forma, através da Equação 25: 31 fornece a diferença do ângulo de fase no estado de regime entre
os dois fasores para qualquer tempo síncrono:
V = V [ej2pfNOMt • ejf + e-j2pfNOMt • e-jf ] e-j2pfNOMt (25) f1 - f2 =
p
rad= 45°
2 (31)
4
Ângulo da relação V1 / V2
Se filtrarmos a componente de freqüência dupla, obtemos
0
Ângulo V2
finalmente a Equação 27
-20
V = V • ejf (27) -40
2
-60
O fasor calculado é o fasor da forma de onda original com a
magnitude dividida pela metade. Uma vez que usamos um sinal na -80
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4
velocidade síncrona para demodular o sinal de entrada, a magnitude do Tempo (s)
fasor calculado não vai representar corretamente a magnitude do sinal Figura 14 Diferença do ângulo de fase entre dois fasores para
freqüência “off-nominal”
de chegada para freqüência “off-nominal”. Para obter uma estimativa da
magnitude do fasor independente da freqüência, usamos a magnitude do Para avaliar o comportamento dinâmico do algoritmo de desaco
cálculo fasorial para funções de proteção que tenham sido processadas plamento, vamos relembrar o problema clássico de um gerador conectado
através de um sistema com freqüência de amostragem adaptativa. O fasor a uma barra infinita, através de uma linha de transmissão, para diferentes
final combina as duas saídas: magnitude em um lado e ângulo de fase no condições de falta e de operação. A Figura 15 mostra o sistema que
outro. A função exponencial da unidade que multiplica o sinal tem uma foi modelado através do “Power System Blockset” [1]. Ambos os loops
freqüência de amostragem fixa de 1 kHz e é sincronizada em tempo. de potência-freqüência e alimentação de campo-regulação foram mode
O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2006 39
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lados conforme mostrado na Figura 16. A característica da queda da velo A Figura 21 e a Figura 22 mostram a velocidade da máquina e
cidade (alteração porcentual da freqüência que vai provocar a mudança a diferença do ângulo de fase entre os fasores de PSV medidos na
da potência de saída da unidade em 100%) foi definida em 5%. Barra 1 e Barra 3, respectivamente, para uma falta de 300 ms. Esta
Faltas trifásicas com tempos de duração diferentes aplicadas na duração da falta é maior do que o tempo crítico para eliminação da
saída de um gerador induzem oscilações de freqüência na máquina. As mesma. Neste caso, o sistema se torna instável; a diferença de fases
oscilações de freqüência resultantes de uma diferença entre a potência corresponde a uma exponencial crescente com uma constante de
mecânica e a elétrica (Equação 20) são conhecidas por serem estáveis tempo positiva. O gráfico da velocidade da máquina mostra uma
(a freqüência retorna a um valor estável e constante) ou instáveis (a velocidade angular linearmente crescente que indica a perda do
freqüência aumenta ou diminui consistentemente). Poderíamos usar o sincronismo da máquina em relação à freqüência da barra infinita.
algoritmo de áreas iguais [4] para analisar, de forma teórica, este exemplo. A equação de oscilação do rotor do gerador para este sistema
Entretanto, ao invés disso, vamos demonstrar que, efetuando a medição em particular é fornecida pela Equação 20, a qual pode ser expressa,
da diferença do ângulo de fase entre o fasor de PSV na saída do gerador de outra forma, através da Equação 32:
(Barra 1) e o mesmo fasor da barra infinita (Barra 3), é possível detectar
2H d2d
condições de instabilidade ou estabilidade transitória. Observe que = Pm – Pmax • sind (32)
wsyn td2
apesar dessa aplicação de fasores sincronizados ser no estado transitório
(a freqüência próxima ao gerador é uma função do tempo), ela todavia
onde a equação seguinte fornece a potência máxima Pmax:
atinge o objetivo principal de efetuar a medição do ângulo de fase entre
duas tensões da barra. E’1 • E3
Pmax = (33)
Um curto-circuito trifásico é aplicado na Barra 2 por 50 ms, com X13
Vt
wref Turbina 2H d2d
Pref=0.75pu Hidráulica e Gerador Rede = 0.75 – 1.866 • sin 23.70° (36)
Regulador wsyn td2
Pe
Durante uma perturbação, a freqüência de oscilação do rotor do
Figura 16 - Modelo dos reguladores/turbina hidráulica e tensão no gerador gerador é fornecida por [4]:
O SETOR ELÉTRICO
40 Outubro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
62
1 ws • Sp 1 377 1 1.707
fn = = = 1.597Hz (37)
2p 2•H 2p 2 • 3.2 61
dPe 58
Sp = = Pmax • cosd0 = 1.866 • cos 23.70° = 1.707pu
dt d=d0 57
(38) 0 5 10 15
Tempo (s)
Ângulo em Graus
0
1. Embora o exemplo possa ser considerado como uma
-10
condição do estado transitório, a medição fasorial sincronizada
-20
fornece uma precisão razoavelmente boa para medição dos
-30
ângulos de fase.
2. A precisão obtida no cálculo do ângulo de fase dos -40
60.4 70
60.3
68
60,2
66
60.1
60 64
59.9
62
59.8
60
59.7
59.6 58
0 5 10 15 0 0.5 1 1.5 2
Tempo (s) Tempo (s)
Figura 17 Velocidade da máquina ou freqüência para uma falta de 50 ms
Figura 21 - Velocidade da máquina ou freqüência para uma falta de 300 ms
-10 2000
-12
-14 1500
Ângulo em Graus
Ângulo em Graus
-16
1000
-18
-20
500
-22
-24
0
-26
0 5 10 15 0 0.5 1 1.5 2
Tempo (s) Tempo (s)
Figura 18 Diferença dos ângulos de fase dos fasores de PSV entre Figura 22 - Diferença dos ângulos de fase dos fasores de PSV entre
barras para uma falta de 50 ms barras para uma falta de 300 ms
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CAPÍTULO IV
APLICAÇÕES DOS FASORES
SINCRONIZADOS
Monitoração em Tempo Real das Variáveis de Estado Podemos expressar a tensão remota, V2, em pu para V1 = 1∠0º,
conforme indicado a seguir
V1 d12 jX12 V2 0
1 – X12 • Q12
V2 = (42)
cosd12
P12
Q12 A monitoração das variáveis de estado do sistema permite
Figura 23: Diagrama unifilar elementar também a verificação e a calibração dos estudos do sistema.
A implementação dos fasores sincronizados em tempo real Transdutor de Fase e Registro Dinâmico das Fases
possibilita a medição rápida dos fasores de PSV nas barras do Qualquer alteração que ocorra no sistema elétrico (isto é, falta no
sistema. Os ângulos de fase dessas grandezas constituem as mais sistema), mudança topológica tal como a abertura ou fechamento de
importantes variáveis de estado do sistema pois esses ângulos estão uma linha, alterações nos níveis de equilíbrio geração-carga (perda
relacionados à margem de estabilidade transitória do sistema, fluxos de um bloco de geração ou adição de uma carga de grande vulto),
de potência da linha e estabilidade das tensões [16, 17]. oscilações de potência instáveis ou estáveis na linha de interligação
Para o diagrama representado na Figura 23, a equação do fluxo ou na área de interligação, etc., vão refletir na medição da magnitude
de potência ativa na barra da esquerda é dada pela equação do e do ângulo de fase das variáveis de estado do sistema.
fluxo de potência ativa convencional: O registro das variáveis de estado dos ângulos de fase de
pontos estratégicos, antes e depois da perturbação, fornece
V1 • V2
P12 = sind12 (39) informações de grande utilidade sobre a resposta do sistema de
X12
potência e a capacidade de o sistema de potência responder a
e pela equação do fluxo de potência reativa convencional: eventos adversos.
V12 V1 V2
Q12 = – sind12
(40) Esquemas Especiais de Proteção e Relés de Proteção
X12 X12 Contra Perda de Sincronismo do Sistema
Diversas concessionárias de energia elétrica possuem projetos em
As Equações 39 e 40 são idênticas às Equações 22 e 23, com
andamento ou já usaram os princípios de fasores sincronizados para
a exceção de que a admitância shunt e a resistência da linha são
monitorar a estabilidade transitória do sistema ou para implementar
consideradas desprezíveis. Para estabelecer a relação entre a
esquemas especiais de proteção baseados na proteção contra perda
regulação de tensão (expressa como a relação das duas magnitudes
de sincronismo.
de tensão nas extremidades da linha), a potência reativa fornecida
Quando diversos geradores do sistema começam a operar em
para a linha e o ângulo de fase entre os fasores de tensão, a Equação
diferentes velocidades, pode ocorrer perda de sincronismo. Se uma
40 adquire a forma da Equação 41:
parte do sistema perde o sincronismo em relação a uma outra parte,
V2 V12 – X12 • Q12 a tensão de fase nas barras próximas aos geradores que estão
=
V1 V12 • cosd12 (41) provocando o distúrbio reflete as variações na velocidade de rotação.
Quando um sistema de proteção detecta a instabilidade, esquemas
O SETOR ELÉTRICO
32 Novembro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
com ações corretivas podem incluir a separação do sistema ou a
X1 d12
rejeição de cargas. X = X2 = V1
Dois métodos são descritos para implementar a aplicação da X3 V2 (44)
perda de sincronismo do sistema [18, 19, 20, 21]:
1. Uma vez que o equivalente de um sistema com duas máquinas
pode representar um sistema, um método consiste da medição Em seguida, o vetor z das medições é definido. As medições
síncrona do ângulo de fase entre as reatâncias transitórias das duas incluem a magnitude dos dois fasores de PSV e dos fluxos de
máquinas. Quando ocorre uma perturbação, o novo ângulo de fase potência da linha, P12 e Q12. Assumindo que os fasores síncronos
entre as duas máquinas é calculado e o algoritmo das áreas iguais é estão disponíveis neste sistema, o ângulo de fase entre as tensões
implementado em tempo real para determinar se o novo ponto de na barra, d12, está agora disponível e o vetor de medição é como
operação é estável [19, 20]. está mostrado na Equação 45:
2. Um segundo método consiste da medição dos fasores de PSV
em duas ou mais barras localizadas estrategicamente. Durante uma
perturbação, o ângulo de fase entre os pares de sinal é calculado em d12 e1
tempo real e um algoritmo preditivo é usado para estabelecer se a V1 e2
Z = V2 = e3 (45)
perturbação será estável. Uma aplicação usa um modelo da forma
P12 e4
de onda do ângulo de fase em relação ao tempo na forma de uma Q12 e5
onda senoidal amortecida exponencialmente [21]:
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CAPÍTULO IV
de outubro de 2002
Figura 26 Conexões dos relés e do computador “host” para aplicações da medição fasorial sincronizada
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30 Dezembro 2006
MEDIÇÃO FASORIAL
O computador anfitrião (“host”) analisa os dados recebidos dos CONCLUSÕES
diferentes relés do sistema de acordo com a estampa de tempo e o 1. Os fasores foram introduzidos para transformar as equações diferenciais
número da amostra do pacote de dados. de circuitos elétricos de modelagem em equações algébricas comuns e
acelerar a solução para o estado de regime.
Mensagens ASCII Solicitadas
2. Os registradores digitais de faltas coletam os dados em intervalos fixos
Os relés respondem ao comando METER PM TIME efetuando um
de tempo. Esses dados contêm as informações da freqüência do sistema
relatório da medição fasorial sincronizada em tempos específicos.
de potência durante operações do sistema de potência com freqüências
Podemos usar esse comando para obter registros instantâneos
diferentes da nominal (“off-nominal”) que podem ocorrer durante
(“snapshots”) do fasor em instantes específicos ao longo do sistema
perturbações no sistema.
de potência. A Figura 27 mostra um exemplo do relatório.
3. Os dispositivos de medição fasorial sincronizada requerem uma
referência de tempo absoluto para aplicações ao longo do sistema
de potência. Tradicionalmente, este recurso é parte de um dispositivo
dedicado para essas aplicações. Esses equipamentos não são adequados
para aplicações de proteção tal como a proteção de distância de linhas.
4. O sinal 1kPPS fornece uma referência de tempo absoluto para
amostragem de freqüência fixa. Nas aplicações da medição fasorial
sincronizada, todas as formas de onda do sistema são comparadas a
uma referência de fase baseada em tempo.
5. Os cálculos fasoriais através de DFT introduzem erros quando o sistema
de potência opera para freqüências diferentes da nominal. Esses erros de
Figura 27 - Relatório de medição fasorial sincronizada no formato de cálculo podem provocar atuações incorretas do elemento de distância.
mensagem ASCII solicitada
6. Tradicionalmente, os relés numéricos para aplicações da proteção de
distância de linhas amostram os sinais de tensão e corrente em múltiplos
FONTES DE ERROS NA ESTIMAÇÃO FASORIAL da freqüência de operação do sistema de potência (fSYS) para minimizar
a estimação de estado e o sistema de proteção contra perda de 7. Os sistemas de aquisição de dados que coletam dados em intervalos de
sincronismo, requerem erros na estimação fasorial da ordem de tempo fixos e usam filtragem adaptativa minimizam os erros dos cálculos
décimos de um grau [9]. As fontes típicas desses erros incluem fasoriais, porém esses sistemas não amostram com uma referência de
instrumento e dispositivos de estimação fasorial. Podemos dividir 8. Um método de aquisição e processamento dos sinais de corrente
os erros provenientes dessas fontes em duas categorias: erros e tensão para aplicações tais como registro de faltas, medição fasorial
de sincronização de tempo e erros de aquisição de dados. Os sincronizada e proteção de distância de linhas amostra os sinais em
transmissores de GPS, os receptores de GPS e os dispositivos de intervalos fixos de tempo em relação a uma referência de tempo absoluto e
estimação fasorial determinam os erros de sincronização de tempo; reamostra esses sinais em múltiplos da freqüência de operação do sistema
os transformadores de instrumento e os dispositivos de estimação de potência. Um filtro digital passa-banda simples com coeficientes
fasorial determinam os erros de aquisição de dados. A Tabela 1 fixos fornece a filtragem dos dados reamostrados. A medição fasorial
sumariza esses erros e inclui os valores correspondentes típicos que sincronizada usa os dados amostrados com uma referência de tempo
temos de considerar nessas aplicações. absoluto. A proteção de distância usa os dados reamostrados filtrados, o
que minimiza os erros dos cálculos fasoriais.
9. Numa variação do método da Conclusão 8, a amostragem é baseada
Tabela 1: Erros na Estimação Fasorial Sincronizada e Valores Correspondentes Típicos
no relógio local. A reamostragem usa a referência de tempo absoluto
Causa do Erro Erro em Graus Erro em ms proveniente do receptor de GPS e a freqüência de operação do sistema
Sincronização de Tempo ± 0.0216 ±1 para reamostrar os dados a uma freqüência específica dependendo dos
Transformadores de Instrumento ± 0.3 ±14 requisitos da aplicação.
(Classe 0.3) [28] 10. O desacoplamento da medição da magnitude e do ângulo de fase
Dispositivo de Estimação Fasorial ± 0.1 ±5 fornece uma magnitude fasorial precisa para um intervalo amplo de
freqüência.
11. O cálculo minucioso dos fasores em tempo real obtém uma precisão
Na Tabela 1, podemos observar que os transformadores de
viável, mesmo nos estados transitórios.
instrumento são os que mais contribuem para o erro de estimação
12. O dispositivo para múltiplas aplicações usa mensagens binárias não
fasorial sincronizada. Num futuro próximo, veremos avanços na
solicitadas e mensagens ASCII solicitadas para reportar os dados da
tecnologia que vão minimizar esses erros.
medição fasorial sincronizada.
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Dezembro 2006 31
FASCÍCULO 4 / MEDIÇÃO FA S O R I A L
REFERÊNCIAS APÊNDICE
[1] Power System Blockset, The MathWorks, Inc., Release 12, setembro de 2000.
Fasores como uma Solução para uma Equação Diferencial
[2] IEEE Standard 1344-1995. “IEEE Standard for Synchrophasors for Power
Systems”. Começando com a Equação 1, a solução da corrente em relação
[3] R. E. Wilson, “Methods and Uses of Precise Time in Power Systems”, IEEE/PES
ao tempo tem a mesma forma que a forma de onda de tensão, uma
Summer Meeting 1991, San Diego, CA.
[4] W. D. Stevenson, Jr., Elements of Power System Analysis, 4th Ed., McGraw-Hill vez que o circuito é linear:
Book Company, 1986.
[5] A. G. Phadke e J. S. Thorp, “Computer Relaying for Power Systems”, Research
Studies Press Ltd. ISBN 0 86380 074 2. i( t ) = I �cos(
� � t + �) (A.1)
[6] J.Z. Yang e C. W. Liu, “A Precise Calculation of Power System Frequency and
Phasor”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 15, Nº 2, abril de 2000.
[7] E. O. Schweitzer III e Daqing Hou, “Filtering for Protective Relays”, 19thAnnual Ambas a solução da tensão e da corrente podem ser expressas
Western Protective Relay Conference, Spokane, WA, 20 a 22 de outubro, 1992.
[8] G. Benmouyal, “Removal of DC-Offset in Current Waveform Using Digital na forma exponencial:
Mimic Filtering”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 2, No. 2, pp. 621-30,
abril de 1995.
[9] A. G. Phadke e outros, “Synchronized Sampling and Phasor Measurements for �e j(
� t + �)
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Relaying and Control”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 9, Nº 1, janeiro i( t ) = I � � (A.2)
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[10] US Patent Number: 6,236,949. “Digital Sensor Apparatus and System for
Protection, Control, and Management of Electricity Distribution Systems”.
e
[11] A. G. Phadke, J. S. Thorp e M. G. Adamiak, “A New Measurement Technique
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� t + �)
+ e � j(
� t + �)
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for Tracking Voltage Phasors, Local System Frequency, and Rate of Change of i( t ) = I � � (A.3)
Frequency”, IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, Vol. PAS-102, Nº � 2 �
5, maio de 1983.
[12] D. Hou, A. Guzman e J. Roberts, “Innovative Solutions Improve Transmission
Line Protection”, 24th Annual Western Protective Relay Conference, Spokane, WA, Após a substituição das Equações A.2 e A.3 na Equação 1,
21 a 23 de outubro, 1997.
[13] A. Guzman, J. B. Mooney, G. Benmouyal, N. Fischer, “Transmission Line obtemos a Equação A.4:
Protection System for Increasing Power System Requirements”, 55th Annual
Conference for Protective Relay Engineers, College Station, Texas, 8 a 11 de
abril, 2002. � �e j(
� t + �) + e � j(
� t + �)
��
d �I � ��
[14] US Patent Number: 6,141,196. “Method and Apparatus for Compensation of �e j(
� t +�)
+ e � j(
� t +�)
� �e j(
� t + �)
+ e � j(
� t + �)
� � � 2 ��
Phasor Estimations”. V� � = R �I � � +L
� 2 � � 2 � dt
[15] E. O. Schweitzer III e J. Roberts, “Distance Relay Element Design”, 19th Annual
Western Protective Relay Conference, Spokane, WA, 20 a 22 de outubro, 1992. (A.4)
[16] P. Bonanomi “Phase Angle Measurements With Synchronized Clocks–Principle
Devido ao princípio da superposição aplicado a um sistema
and Applications”, IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, Vol. PAS-
100, Nº 12, dezembro de 1981. linear, esta equação pode ser separada em duas equações:
[17] G. Missout, J. Beland, G. Bedard, “Dynamic Measurement of the Absolute
Voltage Angle on Long Transmission Lines”, IEEE Transactions on Power Apparatus
and Systems, Vol. PAS-100, Nº 11, novembro de 1981. d[
I �e j( ] (A.5)
� t + �)
[18] Ph. Denys, C. Counan, L. Hossenlopp, C. Holweck, “Measurement of Voltage V �e j(
� t +�)= R �I �e j(
� t + �)
+L
Phase for the French Future Defence Plan Against Losses of Synchronism”, IEEE dt
Transactions on Power Delivery, Vol. 7, Nº 1, janeiro de 1992. e
[19] J. S. Thorp, A. G. Phadke, S. H. Horowitz, M. M. Begovic, “Some Applications
of Phasor Measurements to Adaptive Protection”, IEEE Transactions on Power d[
I �e � j( ](A.6)
� t + �)
Systems, Vol. 3, Nº 2, maio de 1988. V �e � j(
� t +�)= R �I �e � j(
� t + �)
+L
[20] V. Centeno, J. De La Ree, A. G. Phadke, G. Mitchell, J. Murphy, R. Burnett, dt
“Adaptive Out-of-Step Relaying Using Phasor Measurement Techniques”, IEEE
Computer Applications in Power, outubro de 1993.
[21] Y. Ohura, M. Suzuki, K. Yanagihashi, M. Yamaura, K. Omata, T. Nakamura, Da Equação A.5, após a diferenciação, obtemos o seguinte:
“A Predictive Out-of-Step Protection System Based on Observation of the Phase
Difference Between Substations”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 5, Nº
4, novembro de 1990. e j� �t V �e j� = e j� t [
R �I �e j� + j� �L �I �e j� ] (A.7)
[22] A. G. Phadke, J. S. Thorp, K. J. Karimi, “State Estimation with Phasor
Measurements”, IEEE Transactions on Power Systems, Vol. PWRS-1, Nº 1,
fevereiro de 1986. O termo exponencial contendo a dimensão do tempo pode
[23] Shweppe, F. C., Wildes, J., Rom, D. B., “Power System Static State
Estimation I, II, III”, IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, Vol.
ser cancelado pois temos uma única freqüência. Ficamos com a
PAS-89, janeiro de 1970. Equação A.8:
[24] L. L. Grigsby, ed., Electric Power Engineering Handbook, CRC-IEEE Press, 2001.
[25] IRIG Standard 200-95. “IRIG Standard Time Formats”. Telecommunications
Working Group, Inter-Range Instrumentation Group, Range Commanders Council. V �e j� = [
R �I �e j� + j� �L �I �e j� ] (A.8)
[26] IEEE Standard C37.111-1999. “IEEE Standard Common Format for Transient
Data Exchange (COMTRADE) for Power Systems”.
[27] Schweitzer Engineering Laboratories, Inc., Application Guide AG2002.08, “Using Resolva a Equação A.8 para determinar a magnitude e o ângulo
SEL-421 Synchrophasor Measurements in Basic Applications”, outubro de 2002.
[28] IEEE Standard C57.13-1993. “Standard Requirements for Instrument de fase da onda senoidal de corrente.
Transformers”.
O SETOR ELÉTRICO
32 Dezembro 2006
BIOGRAFIAS
Gabriel Benmouyal, P.E. recebeu seu B.A.Sc. em
Engenharia Elétrica e seu M.A.Sc em Engenharia de
Controle pela Ecole Polytechnique, Université de
Montreál, Canadá, em 1968 e 1970, respectivamente.
Em 1969, ele começou a trabalhar da Hydro-Québec
como Especialista em Instrumentação e Controle.
Trabalhou em diferentes projetos na área de sistemas
de controle de subestações e centros de despacho.
Em 1978, foi para a IREQ, onde sua principal área
de trabalho foi em aplicação de técnicas digitais e
microprocessadores para sistemas de proteção e
controle de subestações de linhas e de usinas. Em
1997, ele ingressou na Schweitzer Engineering
Laboratories na posição de Engenheiro de Pesquisas.
É um engenheiro profissional com registro na
Province of Québec, é membro do IEEE e atende
ao Power System Relaying Committee desde maio
de 1989. Ele é autor e co-autor de diversos papers
na área de processamento de sinais e proteção de
sistemas de potência. Ele detém uma patente e tem
diversas patentes pendentes.
Dr. Edmund O. Schweitzer, III é reconhecido
como o pioneiro da proteção digital e detém o
título de Fellow do IEEE, o qual é concedido a
menos de 1% dos membros do IEEE. Ele escreveu
diversos papers técnicos nas áreas de projeto e
confiabilidade de relés digitais e detém mais de 20
patentes relativas à proteção, medição, monitoração
e controle de sistemas elétricos de potência. Dr.
Schweitzer recebeu o título de Bacharel e de Master
em engenharia elétrica da Purdue University, e o
certificado de Ph.D. da Washington State University.
Ele fez parte do corpo docente da faculdade de
engenharia elétrica da Ohio University e Washington
State University; em 1982, ele fundou a Schweitzer
Engineering Laboratories para desenvolver e
fabricar relés de proteção digitais e produtos e
serviços associados.
Armando Gusmán, P.E. recebeu seu BSEE com
louvor da Guadalajara Autonomous University
(UAG), México, em 1979. Ele recebeu um diploma em
Engenharia de Fibra Óptica do Monterrey Institute of
Technology and Advanced Studies (ITESM), México,
em 1990. Trabalhou como Supervisor Regional do
Departamento de Proteção na Região de Transmissão
Oeste da Federal Electricity Commission (a empresa
concessionária de energia elétrica do México) por 13
anos. Realizou conferências na área de proteção de
sistemas de potência na Guadalajara Autonomous
University (UAG). Desde 1993, ele integra a equipe
da Schweitzer Engineering Laboratories, Inc., em
Pullman, Washington, onde atualmente é um
Fellow Research Engineer. Ele detém diversas
patentes em proteção de sistemas de potência. É
um engenheiro profissional registrado no México,
é membro sênior do IEEE, e é autor e co-autor de
diversos papers técnicos.
CAPÍTULO I
Indicador de
qualidade de energia
Proposta de indicador de qualidade de tensão a partir do impacto de
distorções harmônicas e desequilíbrios sobre motores de indução
Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema possibilidade de se obter um indicador que reflita os efeitos
“qualidade de energia” sempre desperta o interesse dos térmicos sofridos por motores trifásicos de indução quando
profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas submetidos a distúrbios de desequilíbrios de freqüência
do dia-a-dia das instalações. fundamental e distorções harmônicas na tensão, agindo
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento simultaneamente.
e da qualidade da energia a ser consumida, especialistas
encontram-se periodicamente em um dos mais importantes Aspectos relevantes e justificativos
eventos sobre qualidade de energia no País, a Conferência Há um grande número de trabalhos desenvolvidos
Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), na área de qualidade de energia elétrica dedicados
para discutir, entre outros assuntos, novas tecnologias, exclusivamente para criar indicadores e definir os seus
aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica limites adequados. Adequadamente, a Agência Nacional
e eletromagnética, conservação de energia, normas e de Energia Elétrica (Aneel), em conjunto com suas agências
recomendações e eficiência energética. estaduais, primeiro definiu a criação de indicadores e
Considerando a importância do tema e ratificando o limites relativos à continuidade do serviço. Em seguida,
compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de contribuir estabeleceu indicadores e limites para os níveis da tensão
para a formação técnica dos seus leitores, iniciamos nesta eficazes de fornecimento, contemplando efeitos térmicos
edição o fascículo “Qualidade de energia”, organizado pelo de longa duração sobre equipamentos. Ainda falta
diretor do departamento de Engenharia, de Energia e de estabelecer indicadores e limites para outros fenômenos,
Automação Elétricas da Universidade de São Paulo (USP), o como variações de tensão de curta duração e desequilíbrios
professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos e distorções harmônicas de tensão, contemplando também
na CBQEE, realizada em meados do ano passado. efeitos térmicos de longa duração.
Os artigos da série, que são assinados por especialistas A Aneel, por meio da resolução 505/2001,
no assunto, sofrerão atualizações quando necessário regulamentou e definiu limites que estabelecem faixas de
e constituirão uma verdadeira aula sobre qualidade de valores, nas quais as tensões das fases são consideradas
energia. adequadas, precárias e críticas, em valores inferiores e
superiores.
Introdução No nível de baixa tensão, os valores eficazes das tensões
Neste artigo, discutiremos a necessidade de monitoração nas fases são considerados adequados se estiverem dentro
de indicadores de desequilíbrios de tensão de freqüência da faixa limite entre +5% e -8,5% da tensão nominal de
fundamental agindo simultaneamente com harmônicas referência. Essa é uma faixa bastante ampla, de 13,5%,
e a possibilidade de se obter um indicador que combine de valores admissíveis das tensões nas fases. Desvios entre
desequilíbrios de freqüência fundamental e distorções os valores das tensões das fases superiores a 5% são
harmônicas de tensão. O objetivo principal é mostrar a considerados elevados e intoleráveis por períodos longos
O SETOR ELÉTRICO
44 Março 2008
Apoio
de tempo, isso porque causariam desequilíbrios de seqüência negativa O fato de a impedância de seqüência negativa para a freqüência
superiores aos limites recomendados pelas normas [3] e [7], se estiverem fundamental ser muito inferior à impedância de seqüência positiva
presentes cargas monofásicas e trifásicas. explica o porquê de os motores de indução trifásicos ser tão
suscetíveis a tensões de seqüência negativa, ou seja, ao grau de
Efeitos e distúrbios na tensão em motores de indução desequilíbrio de freqüência fundamental da tensão de entrada.
A partir das análises e expressões apresentadas sobre motores de Em relação aos efeitos de distorções harmônicas de tensão sobre os
indução trifásicos foram feitas outras análises. Concluiu-se que o parâmetro motores de indução, pode-se citar também a norma Nema, que sugere
do circuito equivalente representativo das perdas no ferro é pouco a aplicação de um fator de redução da capacidade de potência de
influenciado pela presença de harmônicas nas tensões de alimentação um motor em função da distorção de tensão ao qual está submetido.
dos motores de indução trifásicos. Já a reatância de magnetização (Xm) Segundo essa norma, um motor de indução trifásico submetido a
colocada em paralelo no circuito equivalente é diretamente proporcional uma distorção de tensão de 5% deve ter sua capacidade reduzida a
à freqüência. Nesse caso, quanto maior a freqüência harmônica presente aproximadamente 95% a fim de preservar sua vida útil.
nas tensões, maior será a reatância de magnetização. Para efeitos de desequilíbrio de tensão de seqüência negativa
No circuito equivalente, os ramos colocados em série são de freqüência fundamental, a norma recomenda que um motor
influenciados pelas freqüências harmônicas, assim como pela de indução trifásico submetido a um desequilíbrio de tensão
presença de desequilíbrios de seqüência negativa nas tensões. de seqüência negativa de 5% tenha sua capacidade reduzida a
Tanto as resistências como as reatâncias se alteram com o aumento aproximadamente 75% a fim de preservar sua vida útil.
da freqüência. Os resultados obtidos relativos às impedâncias
equivalentes para as seqüências positiva e negativa do motor, Testes de elevação de temperatura
vistas dos seus terminais de entrada, para cada ordem harmônica, em motor de indução
mostraram que, apenas para a freqüência fundamental, a
impedância de seqüência negativa é bastante inferior à impedância A. Montagens para realização dos testes
de seqüência positiva. Entretanto, para ordens harmônicas a partir Para melhor caracterizar a necessidade de apuração de
da segunda ordem harmônica, praticamente já não existe diferença indicadores de desequilíbrio e também de distorção harmônica de
entre os valores das impedâncias de seqüências positiva e negativa. tensão, fez-se uma seqüência de testes em um pequeno motor
O SETOR ELÉTRICO
Março 2008 45
Apoio
enrolamento do estator. 8 4h
5h
[ºC]
O valor obtido para a constante de tempo térmica do motor 6
7h
foi de 12 minutos. Após a obtenção da constante de tempo, foram 4 11h
feitas dez seqüências de testes, dez ensaios, alterando os distúrbios 2 5-7--11
B. Análise dos resultados dos testes Figura 1 – Elevação de temperatura obtida para aplicação de tensão de
A seguir, há uma breve avaliação dos resultados obtidos para as freqüência fundamental e harmônica equilibradas.
O SETOR ELÉTRICO
46 Março 2008
Apoio
4) Caso de aplicação de tensão com desequilíbrio de simultânea de quinta, sétima e 11ª ordens harmônicas e com 3%
freqüência fundamental e harmônicas equilibradas de desequilíbrio de freqüência fundamental, houve o aumento da
Quando foram aplicadas ao motor, simultaneamente, tensão elevação de temperatura superior a três vezes ao obtido apenas
com desequilíbrio de freqüência fundamental de 3% e harmônicas com a aplicação de desequilíbrio de freqüência fundamental.
equilibradas com amplitudes de 5% e 15%, as elevações de A Figura 3 mostra as elevações de temperatura resultantes
temperatura foram muito maiores que quando aplicada tensão dos testes de aplicação de tensão com 3% de desequilíbrio
apenas com desequilíbrio de freqüência fundamental de 3%. de freqüência fundamental e harmônicas equilibradas com
Nesse caso, o aumento na elevação de temperatura em amplitudes de 5% e 15%.
relação ao teste de tensão apenas com desequilíbrio de freqüência
fundamental foi da ordem de 2/3 superior ao obtido quando foi 5) Caso de aplicação de tensão com desequilíbrio de
aplicado apenas harmônicas equilibradas. No caso de aplicação freqüência fundamental e harmônicas desequilibradas
Quando foram aplicadas ao motor, simultaneamente,
tensão com desequilíbrios de freqüência fundamental de 3% e
12 harmônicas desequilibradas com amplitudes de 5% e 10%, as
10
5h
elevações de temperatura foram maiores que quando aplicadas
8 7h tensão apenas com desequilíbrios de freqüência fundamental
11h de 3%. O aumento na elevação de temperatura em relação ao
[ºC]
6
5-7-11
4 teste apenas com desequilíbrio de freqüência fundamental foi da
ordem de duas vezes a elevação de temperatura obtida quando
2
foram aplicadas apenas harmônicas desequilibradas. A Figura
0
5 15 4 mostra as elevações de temperatura resultantes dos testes
Amplitude Harmônica [%] de aplicação de tensão com 3% de desequilíbrio de freqüência
Figura 3 – Elevação de temperatura obtida para aplicação de tensão de fundamental e harmônicas desequilibradas com 5% e 10% de
freqüência fundamental com desequilíbrio de 3% e harmônicas equilibradas amplitude.
com 5% e 15% de amplitude.
O SETOR ELÉTRICO
Março 2008 47
Apoio
3
anteriormente, propõe-se um outro parâmetro que combine os
9h
11h outros dois parâmetros anteriores ponderados por algum fator de
2
1 ajuste (peso) que seja considerado adequado. O problema principal
0 é obter, além dos parâmetros individuais relativos a cada distúrbio,
5 10 um terceiro parâmetro, que reflita a elevação de temperatura dos
Amplitude Harmônica [%]
enrolamentos dos motores de indução devido aos efeitos individuais
Figura 4 – Elevação de temperatura obtida para aplicação de tensão e efeitos combinados de cada distúrbio.
de freqüência fundamental com desequilíbrio de 3% e harmônicas
desequilibradas com 5% e 10% de amplitude.
B. Algoritmo para obter parâmetros de qualidade de
tensão a partir das representações no sistema DQ ou
Norma Euclidiana Instantânea
6) Caso de aplicação de tensão com desequilíbrio de
Admitindo sinais da grandeza tensão, constituída por distúrbios
freqüência fundamental e harmônicas desequilibradas
de desequilíbrio de freqüência fundamental e harmônica, é possível,
Quando foram aplicadas ao motor, simultaneamente, tensão
a partir de técnicas para tratamentos de sinais, obter separadamente
com desequilíbrios de freqüência fundamental de 5% e harmônicas
as componentes referentes a cada distúrbio [4].
desequilibradas com amplitudes de 5% as elevações de temperatura
Adquirida a componente de freqüência fundamental no
foram maiores que quando aplicados apenas desequilíbrios de
sistema (DQ) ou NEI, pode-se obter o parâmetro de qualidade de
fundamental de 5%.
desequilíbrio de tensão (FDu). Para um período completo do sinal
de freqüência fundamental, define-se o fator de qualidade de
12 desequilíbrio de tensão como o parâmetro FDu. Esse parâmetro
10
corresponde à amplitude de ondulação do sinal, do eixo (d) ou da
3h
NEI, dividido pelo seu valor médio. No caso do sinal do eixo (d),
8 5h
7h a amplitude da ondulação do sinal corresponde à componente
[ºC]
6
9h de seqüência negativa e o valor médio desse sinal corresponde à
4
11h amplitude da componente de seqüência positiva.
2
As componentes harmônicas dos sinais de tensão que aparecem
0
nas duas formas de representação (DQ) ou NEI correspondem ao
5
Amplitude Harmônica [%]
efeito combinado das harmônicas que estão presentes em qualquer
das fases dos sinais de entrada. A partir dessas componentes, pode-se
Figura 5 – Elevação de temperatura obtida para aplicação de tensão de obter um parâmetro que corresponde à distorção harmônica total
freqüência fundamental com desequilíbrio de 5% harmônicas desequilibradas
(FHu) do sinal no eixo (d) ou (q) ou NEI. Essa distorção é o efeito da
com 5% de amplitude.
presença de tensões de freqüências harmônicas em qualquer das
fases ou linhas do sistema de fornecimento.
O aumento na elevação de temperatura em relação ao teste Para um período completo do sinal de freqüência fundamental,
apenas com desequilíbrio de freqüência fundamental foi da ordem define-se o fator de qualidade de distorção harmônica total de tensão
de cinco vezes a elevação de temperatura obtida quando foram obtida da componente de eixo (d), (q) ou NEI, como o parâmetro
aplicadas apenas harmônicas desequilibradas. A Figura 5 mostra FHu. Esse parâmetro corresponde à raiz da média quadrática do
as elevações de temperatura resultantes dos testes de aplicação sinal dividido pelo seu valor médio.
de tensão com 5% de desequilíbrio de freqüência fundamental e
harmônicas desequilibradas com 5% de amplitude. C. Parâmetro combinado de qualidade de tensão
A partir de qualquer um dos métodos usados para o cálculo dos
Proposta para avaliação de distúrbios na tensão parâmetros de qualidade (FDu) e (FHu), propõe-se aqui um parâmetro
de qualidade (FQu). Esse parâmetro deve ser obtido da combinação
A. Parâmetro de qualidade de tensão dos parâmetros FDu e FHu. Uma das dificuldades é estabelecer como
A partir das representações das tensões nos sistemas DQ ou a deve ser feita a combinação dos valores dos parâmetros individuais
partir da Norma Euclidiana Instantânea (NEI), é possível identificar a obtidos. A proposta inicial feita aqui parte da avaliação dos fatores
ocorrência de desequilíbrios de tensão, assim como a presença de de qualidade obtidos em cada um dos testes realizados, assim como
O SETOR ELÉTRICO
48 Março 2008
Apoio
das elevações de temperaturas observadas de cada teste aplicado. harmônicas desequilibradas, equilibradas e de todos os resultados de
Qualidade de energia
A proposta para obter um parâmetro de qualidade de tensão que testes de harmônicas juntos. A constante que deve ser considerada
combina os efeitos dos distúrbios analisados está indicada na mais representativa neste caso é a que resultou da regressão linear
equação: FQu k FDu k FHu h 1 = +, em que: FQu é o parâmetro de obtida de todos os testes juntos, já que essa deve ser possivelmente a
qualidade de tensão obtido a partir da combinação dos parâmetros regra encontrada nos sistemas de distribuição em baixa tensão. Então,
de qualidade de desequilíbrio de freqüência fundamental e de para cada 1% de distorção harmônica de tensão ocorre uma elevação
distorção harmônica total; k1 é uma constante de ponderação que de temperatura de 0,28 ºC dos enrolamentos do motor de indução.
atribui o peso com que o desequilíbrio de freqüência fundamental Utilizando a equação (1) com os valores das constantes
deve contribuir na formação do parâmetro FQu; e kh é uma de ponderação obtidas das regressões lineares apresentadas
constante de ponderação que atribui o peso com que as distorções anteriormente, calculou-se os parâmetros de qualidade de tensão
harmônicas devem contribuir na formação do parâmetro FQu. FQu a fim de representar os efeitos combinados dos distúrbios
No item VI, são apresentados valores para as constantes k1 e kh estudados. O parâmetro de qualidade de tensão FQu mostra que a
obtidas de regressões lineares feitas a partir dos valores de elevação elevação de temperatura devido ao efeito combinado dos distúrbios
de temperatura dos enrolamentos em função dos parâmetros FDu e de desequilíbrio de freqüência fundamental e distorção harmônica
FHu obtidos dos testes realizados neste trabalho. de tensão é maior. Esse efeito já foi observado nos resultados
dos testes realizados. Apesar disso, ainda não é possível afirmar
Parâmetros de qualidade de tensão obtidos que esse valor é representativo de qualquer condição genérica de
funcionamento, embora já seja um bom indicativo.
A. Constantes de ponderação Obter os coeficientes de ponderação dos parâmetros de
Considerando os registros dos testes realizados por qualidade de cada distúrbio deve ser objeto de estudos futuros
aproximadamente 60 horas, que identificaram, além das temperaturas, que dependem da realização de mais ensaios, além de medições
os valores instantâneos das tensões de linha aplicadas ao motor e as das composições espectrais características das tensões nos sistemas
correntes instantâneas de fase absorvidas pelo motor, pode-se calcular de distribuição em vários níveis de tensão. Não há pretensão de
os valores dos parâmetros de qualidade referentes ao desequilíbrio encerrar o assunto, aqui neste trabalho, devido à limitação dos
de freqüência fundamental, assim como os parâmetros relacionados testes realizados e a necessidade de se investigar outras questões
às freqüências harmônicas. A partir dos valores das elevações de relacionadas aos aumentos de perdas devido aos distúrbios e seu
temperaturas registradas e dos valores dos parâmetros de qualidade reflexo sobre o parâmetro de qualidade proposto.
calculados para cada distúrbio, para cada teste, foram feitas regressões Apesar de não ser objetivo final deste trabalho encerrar a questão
lineares, relacionando a elevação de temperatura em função do sobre os fatores de ponderação a ser utilizados, foram feitas algumas
parâmetro de qualidade. Dessas regressões obtiveram-se os valores mudanças nos valores dos coeficientes de peso dos parâmetros de
das constantes de ponderação procuradas. Além disso, foi possível qualidade avaliados. A Figura 6 mostra três curvas A, B e C. A curva A
comparar os resultados dos parâmetros de qualidade obtidos para cada foi obtida com os coeficientes k1 = 0,88 e kh = 0,28; a curva B com os
um dos métodos de cálculo sugeridos, a partir das componentes nos coeficientes k1 = 1,0 e kh = 0,28; e a curva C com os coeficientes k1 =
eixos (DQ) e da NEI. 1,0 e kh = 0,35. A curva B admite que os desequilíbrios de freqüência
A partir dos pares ordenados do parâmetro de qualidade fundamental devam entrar com peso máximo no cálculo do parâmetro
FDu calculado e da elevação de temperatura dos enrolamentos, combinado, devido ao seu potencial de degradação ser muito elevado.
a regressão linear indica uma constante de ponderação desse Na curva C, além de considerar que o desequilíbrio de freqüência
parâmetro de valor aproximadamente igual a 0,9. Essa constante fundamental é muito importante, considera um aumento da influência
mostra que, para cada 1% de desequilíbrio de tensão de freqüência das harmônicas, já que os testes com harmônicas múltiplas indicaram
fundamental, ocorreu uma elevação de temperatura de 0,9 ºC dos maior influência na elevação de temperatura que a ação de harmônicas
enrolamentos do motor de indução. individuais (o valor 0,35 para o coeficiente das harmônicas foi usado a
Para harmônicas foram obtidas três constantes de ponderação. fim de ajustar a curva de elevação de temperatura resultante para o
Foram feitas regressões lineares da elevação de temperatura dos caso de desequilíbrio de freqüência fundamental e distorção harmônica
enrolamentos do motor de indução em função do parâmetro de equilibrada agindo simultaneamente).
distorção harmônica. Essas regressões foram calculadas a partir Mais uma vez, ressalta-se que os valores dos coeficientes a
dos testes realizados para os casos com harmônicas equilibradas serem usados na equação (1) devem ser obtidos a partir de estudos
(trifásicas), desequilibradas (monofásicas) e todos os resultados dos futuros com a realização de mais testes e medições de harmônicas
testes juntos. Dos pares ordenados do parâmetro de qualidade FHu e em campo. A partir da Figura 6 pode-se comparar o parâmetro de
elevação de temperatura dos enrolamentos, obteve-se das regressões qualidade de tensão obtido da curva C com o obtido da curva A.
lineares as constantes de ponderação desse parâmetro de valores Nota-se que para uma mesma elevação de temperatura o fator de
aproximadamente iguais a 0,21, 0,30 e 0,28 correspondentes a qualidade de tensão obtido pela curva C é maior.
O SETOR ELÉTRICO
50 Março 2008
Apoio
Qualidade de energia
0.00
0.00 5.00 10.00 Conclusões e recomendações
Figura 6 – Elevação de temperatura em função dos parâmetros O desenvolvimento deste trabalho contribuiu propondo um
FQu para diferentes coeficientes de ponderação. indicador de qualidade de tensão capaz de refletir os efeitos
térmicos sofridos por motores trifásicos de indução devido
Essa curva é proposta porque apresenta melhor aderência a distúrbios de desequilíbrio de freqüência fundamental e
em relação aos efeitos de elevações de temperatura que distorções harmônicas na tensão de fornecimento. Também
ocorrem nos motores de indução trifásicos devido aos distúrbios contribuiu mostrando que o indicador proposto, além de
de desequilíbrios de freqüência fundamental combinados a representativo, pode reduzir a quantidade de indicadores
distúrbios de mais de uma ordem harmônica na tensão (que de qualidade de fornecimento de energia elétrica a serem
deve ser o caso mais geral). Por exemplo, para uma elevação de monitorados pelos órgãos reguladores.
temperatura de 3 ºC, o fator de qualidade de tensão indicado A indicação de que as impedâncias de seqüência positiva e
na curva C é de 3%, enquanto na curva A esse fator é de 2,5%. negativa dos motores de indução para harmônicas superiores à
Considerando um limite de compatibilidade para o fator de freqüência fundamental são praticamente iguais é também uma
qualidade de tensão de 2%, o fator obtido pela curva C é muito contribuição apresentada, assim como a recomendação de que
mais severo que o indicado pela curva A. as normas não devem restringir a aplicação de qualquer que
seja o algoritmo de cálculo usado para obter um parâmetro de
B. Comparações de resultados de parâmetros de qualidade de energia, desde que esse algoritmo obtenha valores
qualidade de tensão equivalentes aos obtidos pelos algoritmos recomendados. Além
A Tabela 1 traz valores dos parâmetros de qualidade de dessas contribuições, este trabalho apresentou uma série de
tensão calculados pelos dois métodos citados acima, no item resultados práticos sobre como distúrbios na tensão afetam os
“Proposta para avaliação de distúrbios na tensão”. Esses cálculos motores trifásicos de indução.
foram feitos para todos os 60 testes realizados, porém foram Esses resultados apresentados aqui e a metodologia utilizada
mostrados aqui apenas os resultados dos parâmetros calculados podem servir de referência para outros estudos posteriores.
para um dos ensaios referidos. O fator de qualidade de tensão Finalmente, pode-se avaliar que o desenvolvimento deste
FQu foi calculado com os valores dos coeficientes de ponderação trabalho possibilitou aumentar o conhecimento de como os
usados para obter a curva C da Figura 6. Estes resultados são indicadores de qualidade de energia elétrica, no caso, tensão,
Clássico Eixos (DQ) NEI Eixos (DQ) NEI Eixos (DQ) NEI
NEI
A 0,22 0,22 0,22 0,15 0,15 0,27 0,27 0,00
B 3,27 3,27 3,27 0,16 0,16 3,33 3,33 2,78
C 5,31 5,31 5,30 0,12 0,11 5,35 5,34 4,78
1
D 0,19 0,19 0,19 4,96 4,96 1,93 1,93 2,18
E 0,19 0,19 0,19 9,80 9,79 3,62 3,61 3,78
F 1,19 1,19 1,19 19,93 19,85 8,17 8,14 10,58
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52 Março 2008
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são capazes de representar bem as condições não adequadas instantâneas e aplicações em qualidade de energia.
a que podem estar submetidos equipamentos conectados às Dissertação, Unicamp, São Paulo, 2000.
redes de energia elétrica, devido a distúrbios na tensão. [6] Normas NEMA – MG1 – Section IV – Performance
Standars Applying to All Machines, Part 30, 1993.
Bibliografia [7] Normas NEMA – MG1 – Section II – Performance
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Induction Motors Loss of Life to Voltage Imbalance and [8] Resolução da ANEEL nº 505 de 26 de novembro de
Harmonics: In: Proceedings 9th International Conference 2001.
on Harmonics and Quality of Power, Oct. 2000. Anais [9] WAKILEH, G. J., Power Systems Harmonics:
eletrônicos. V. 1. p. 75-80. Fundamentals, Analysis and Filter Design. New York:
[2] CIGRÉ, A. New Simple and Effective Approximate Springer, 2001.
Formulation for the Determination of Three-phase
Unbalances by the Voltmeter Method. Belgiques: CIGRÉ,
1986. Continua na próxima edição
[3] Hydro-Québec, CEA (Canadian Electricity Association)
por Nelson Kagan
220 D 711 - Power Quality Measurement Protocol CEA Mestre e PhD pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e pela
Guide to Performing Power Quality Surveys, Prepared by Universidade de Londres, respectivamente. É professor na Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo desde 1983, na qual é professor associado.
Hidro-Québec, May 1996.
[4] MAFARÃO, F. P., DECKMANN E PAIVA, E. P. por Silvio Xavier Duarte
Instantaneous Evaluation of Power Quality Indexes, 5º Doutor pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, participa do
grupo de pesquisadores do Centro de Qualidade de Energia (Enerq/USP),
Congresso Brasileiro de Eletrônica de Potência (COBEP'99) é professor-assistente na Escola de Engenharia da Fundação Educacional
1, 1999, p. 117-122. Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros (FEI) e coordenador do curso de
[5] Mafarão, F. P. Contribuição para a teoria de potências engenharia elétrica da Faculdade de Ciências da FITO, em Osasco.
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Março 2008 53
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CAPÍTULO II
Análise Harmônica em
Sistemas Elétricos
Ideais e Não-Ideais
Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse dos
profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida, especialistas
encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no País, a Conferência
Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos, novas tecnologias, aspectos
legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de energia, normas e recomendações e
eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de contribuir
para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”, organizado pelo
coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de São Paulo (Enerq/USP), o
professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em meados do ano passado.
Os artigos da série, que são assinados por especialistas no assunto, sofrerão atualizações quando necessário e
constituirão uma verdadeira aula sobre qualidade de energia.
Nesta edição, os professores José Policarpo Gonçalves de Abreu, Héctor Arango e Fernando N. Belchior buscam
agregar informações importantes e essenciais relacionadas a sistemas elétricos ideais e não-ideais.
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48 Abril 2008
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Essas igualdades independem do caráter senoidal das ondas Caso aconteça alguma disfunção, como assimetrias nos
(va vb v c ) e podem ser usadas para definir a simetria no caso mais pulsos de disparo, o retificador deixa de agir como carga
geral de ondas distorcidas. Quando se tratam de grandezas balanceada e sua corrente perde a simetria. Isto pode ser
distorcidas e, portanto, com harmônicos, não é possível detectado pelo aparecimento de componentes harmônicas
identificar a simetria com apenas uma particular seqüência de de seqüência que não correspondem à última fórmula citada.
fases. Um exemplo disso é um 5º harmônico contendo seqüência
Entretanto, surge uma interessante questão: como se positiva.
relaciona a simetria de uma onda distorcida com as seqüências É natural que a essência da fundamental seja a seqüência
de fase dos seus harmônicos? positiva da 2ª harmônica à negativa, da 3ª à zero e assim por
Mostra-se que, se uma grandeza trifásica não senoidal tiver diante.
simetria positiva, o seu harmônico h deverá ser de seqüência.
Agregação de harmônicos
Dado um conjunto, ou cluster, de cargas poluidoras, os
harmônicos resultantes dependem da distribuição dos ângulos
Onde (h – Módulo 3) é o resto de dividir o produto h por
de fase nos harmônicos individuais. Estes ângulos diferem tanto
3.
pela distinção entre as cargas quanto dos pontos de conexão.
Assim, o quinto harmônico terá seqüência 5 3
= 2, isto é,
Adotando o ângulo médio como referência, tal como está
negativa.
apresentado na Fig. 2, as cargas a um lado resultam “opostas”,
A questão da simetria de ondas distorcidas tem relação com
em certa proporção, àquelas no outro lado. À imagem dos
muitas situações práticas. Por exemplo, uma boa parte das cargas
compostos químicos, alguns harmônicos são básicos e outros
não-lineares é balanceada, ou seja, quando se aplica uma tensão
ácidos, havendo uma neutralização mútua tanto maior quanto
com simetria positiva, as mesmas reagem absorvendo corrente
mais extremas sejam a basicidade e a acidez, pH=14 e pH=0,
também simétrica positiva. Por exemplo, retificadores trifásicos
consumem-se mutuamente e equivalem a 180° em diferença
de 6 pulsos, quando operando corretamente, comportam-se
angular.
como cargas balanceadas.
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50 Abril 2008
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Harmônicos estatóricos e harmônicos rotóricos
Um gerador síncrono alimentando um desses retificadores
• Tn,1 (T1,n) torque resultante no eixo produzido pela interação entre
é afetado pela circulação desses harmônicos pelo estator da
vn com i1 (ou v1 com in);
máquina, dando origem a campos magnéticos rotativos. O campo
do harmônico h=7, com seqüência positiva, gira com freqüência
mecânica Ω7 = +7ω1 e o h=7, com negativa, o faz com Ω5 =-5ω1.
Os campos refletem-se no rotor, que gira com ΩR = ω1 com os
harmônicos Ω7 - ΩR = 7ω1 - ω1 = 6ω e Ω5 - ΩR = -5ω1 - ω1 = -6ω.
Onde:
Trata-se de uma dupla com a mesma ordem h=6, mas não formam
o mesmo átomo, pois são de seqüências opostas. Os dois átomos As análises de torque podem ser visualizadas na Fig. 7, onde se
seriam, na notação adotada, univitelinos. observa que:
Os motores de Indução podem ter sua operação afetada pela • Utiliza-se o sinal ‘-’ para harmônicos de seqüência negativa;
presença destes harmônicos, que resultaria em uma operação • Utiliza-se o sinal ‘+’ para harmônicos de seqüência positiva;
indevida na forma de: [7]-[9] • Freqüência do torque de 5º harmônico = 360 Hz (6º harmônico);
• Partida do motor; • O torque fundamental é o dominante e se apresenta com um valor
• Ponto de operação de regime permanente; constante para cada carga acionada;
• Torque médio; • O torque harmônico Tn,n, embora se apresente com um nível
• Torque oscilatório (vibração). constante, devido a φn << φ1 e IRn < IR1, tem-se que seu valor é muito
Sendo: pequeno;
• T1,1 torque fundamental no eixo produzido pela interação • O torque de oscilação T1,n tem amplitude determinada por φ1 e IRn
entre v1 com i1; e oscila em uma freqüência definida por (n±1).ω1. Adicionalmente a
amplitude do torque de oscilação é independente do carregamento
mecânico do motor. Este fato resulta que o efeito de T1,n é mais
• Tn,n torque harmônico no eixo produzido pela interação entre vn pronunciado sobre condições de carga leve.
com in;
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Qualidade de energia
Por outro lado, as Figs. 10a e 10b trazem as formas de onda das
correntes na armadura, alimentando, da mesma forma, o retificador
e a carga desequilibrada. É possível observar o desequilíbrio das
correntes, que se apresentam, também, distorcidas. Analisando o
espectro harmônico constante na Fig. 9b, nota-se a presença da
3ª harmônica, característica do desequilíbrio e também os efeitos
provocados pela ação em conjunto de cargas desequilibradas
e cargas não-lineares, onde se observa além dos harmônicos
Fig. 7. Representação da influência dos torques harmônicos na rotação nominal
característicos, a presença de harmônicos não-característicos.
de uma máquina elétrica.
Obteve-se, da simulação computacional, as formas de onda Fig. 10b. Espectro harmônico da corrente de linha na
das tensões e correntes na saída do gerador, da excitação e das armadura da máquina síncrona.
Fig. 9a. Tensões de linha na armadura da máquina síncrona. Fig. 11. Tensão no enrolamento de campo da máquina síncrona
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54 Abril 2008
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Conclusões
Qualidade de energia
Referências bibliográficas
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distortion and imbalance: loss of useful life and its estimated cost, IEEE Transations on
Industry Applications, Vol. 38, Nº1, Jan/Feb 2002, pp. 12-20 and in IEEE Industrial and
Commercial Power Systems Technical Conference, May 2001, pp: 105-114.
[2] J. P. G. Abreu, A. E. Emanuel, “Induction motors loss of life due to voltage imbalance
and harmonics: a preliminary study”, Proceedings of 9th International Conference on
Harmonics and Quality of Power (ICHQP), Vol. 1, Oct. 2000, pp: 75-80.
[3] J. P. G. Abreu, A. E. Emanuel, “The need to limit subharmonics injection”, Proceedings
of 9th International Conference on Harmonics and Quality of Power (ICHQP), Vol. 1, Oct.
Fig. 13b. Espectro harmônico da corrente no enrolamento amortecedor de
2000, pp:251-253.
eixo d da máquina síncrona.
[4] F. A. Furfari, J. Brittain, Charles LeGeyt Fortescue and the method of symmetrical
components, IEEE Industry Applications Magazine, Vol. 8, Issue 3, May-June 2002, pp: 7-9.
Para o enrolamento amortecedor de eixo em quadratura, as [5] R. C. Dugan, M. F. McGranaghan, S. Santoso, H. W. Beaty, Electrical Power Systems
formas de onda da corrente e seu espectro harmônico são dados pelas Quality, McGraw-Hill, 2nd Edition, USA, 2003.
[6] F. N. Belchior, J. C. Oliveira, L. C. O. Oliveira, “Uma estratégia eletromagnética
Figs. 14a e 14b, respectivamente. Neste enrolamento irá ocorrer o
para redução da injeção de correntes harmônicas através da auto-compensação”, XVI
mesmo efeito que para o enrolamento amortecedor de eixo direto. Congresso Brasileiro de Automática (CBA), Out. 2006.
Os comentários e as análises para o enrolamento amortecedor [7] A. Rocco, “Máquinas síncronas e cargas não lineares, efeitos da distorção harmônica,
são análogos aos já realizados para a excitação da máquina. uma análise numérico-experimental”, Tese de Doutorado, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
[8] Battistelli, L., Caramia, P., Carpinelli, G., Proto, D., Power quality disturbances due
to interaction between AC and DC traction systems, IEE Conference Publication, vol. 2,
2nd International Conference on Power Electronics, Machines and Drives, PEMD 2004,
pp. 492-497.
[9] S. X. Duarte, “Proposta de indicador de qualidade de tensão a partir do impacto de
distorções harmônicas e desequilíbrios sobre motores de indução”, Tese de doutorado,
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
[10] C. A. L. Rocha, “Comportamento de geradores síncronos trifásicos alimentando
cargas desequilibradas, uma abordagem analítica e experimental”, Dissertação de
Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2002.
Fig. 14a. Corrente no enrolamento amortecedor de eixo q da máquina síncrona.
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CAPÍTULO III
Qualidade de energia
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e, por esta razão, constituem os principais parâmetros usados por Desenvolvimento
órgãos reguladores e por empresas de distribuição para avaliar a
qualidade do serviço e medir o desempenho. Esses indicadores, 1. Análise envoltória de dados
quando comparados com níveis máximos preestabelecidos, Uma unidade produtiva ou Decision Making Unit (DMU), por
denominados por metas ou padrões de continuidade, possibilitam exemplo, uma distribuidora, transforma um vetor de insumos
um controle da qualidade por meio de normas e multas em função X={x1 ,..., x s} ∈R+S em um vetor de produtos Y ={y 1 ,..., y m}∈
do desempenho verificado. R+m. A união de todas as transformações viáveis de X em Y
Em 2000, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) emitiu forma o Conjunto de Possibilidades de Produção (CPP):
a Resolução n° 024, aprimorando a regulação da continuidade do CPP={(X,Y)|viável transformar X em Y} (1)
fornecimento no sistema elétrico brasileiro. A resolução introduziu Sob a orientação ao produto, define-se a eficiência como a
a análise comparativa (yardstick competition) dos desempenhos das máxima expansão radial da produção para uma quantidade fixa
concessionárias como meio para definição das metas para Duração de insumos:
Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC) e Eficiência = Max{ θ | (X,θY)∈CPP } (2)
Freqüência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora Neste caso, a variável θ assume um valor maior ou igual
(FEC), as quais são fixadas para cada conjunto de unidades à unidade. Um valor unitário indica que a DMU localiza-se na
consumidoras do sistema (cerca de 6.000 conjuntos). fronteira eficiente e que o aumento da produção só é possível
Com base em estatísticas agregadas por concessionária, este mediante um aumento na quantidade dos insumos. Caso
trabalho propõe um modelo de Análise Envoltória de Dados ou Data contrário, a DMU é ineficiente, pois sua produção situa-se
Envelopment Analysis (DEA) para identificar uma função fronteira abaixo do nível definido pela fronteira, podendo ser expandida
da qual emergem índices que expressam o grau de eficiência das até este nível, mantendo fixas as quantidades dos insumos. Com
concessionárias no cumprimento das metas globais de continuidade base nesses resultados e admitindo as hipóteses de rendimentos
estabelecidas pela Aneel. constantes de escala e tecnologia convexa e monótona, Charnes
A partir de uma classificação desses índices de eficiência, o trabalho et al formulam o primeiro modelo DEA, conhecido como
propõe a inclusão de uma componente Xq nos índices de reajustes Constant Return of Scale (CRS), cuja formulação envelope com
tarifários anuais das tarifas de cada concessionária de distribuição. orientação ao produto é apresentada a seguir:
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Qualidade de energia
3. Resultados das medidas de eficiência determinação do Fator X; o reposicionamento tarifário da
Na Tabela I, apresentam-se as medidas de eficiência concessionária visa a proporcionar receita necessária para a
(1/θ), obtidas pelo modelo DEA, para os três clusters de cobertura de custos operacionais eficientes e remuneração
concessionárias. adequada de investimentos prudentes, em nível compatível
com a preservação do equilíbrio econômico-financeiro
Tabela I – Eficiências do contrato de concessão; o fator X calculado na revisão
tarifária periódica da concessionária do serviço público de
DMUs 1/θ DMUs 1/θ DMUs 1/θ
distribuição de energia elétrica é o instrumento regulatório
G1 1 M1 0,4078 P1 1
G2 1 M2 0,6064 P2 0,9906
de estímulo à eficiência e à modicidade das tarifas de
G3 1 M3 0,4273 P3 0,5665 fornecimento.
G4 0,7395 M4 1 P4 0,4049 A proposta metodológica da Aneel para cálculo do Fator
G5 0,8443 M5 0,8374 P5 0,6644 X considera os ganhos de produtividade da concessionária
G6 1 M6 0,8581 P6 0,8868
previstos para o próximo período tarifário (Xe), decorrentes
G7 0,6833 M7 0,6356 P7 0,6413
G8 1 M8 0,3925 P8 1 do crescimento do mercado atendido, a avaliação do grau de
G9 0,8523 M9 1 P9 0,2448 satisfação na percepção do consumidor (Xc, dado pelo IASC),
G10 0,7119 M10 0,9888 P10 0,3301 bem como a manutenção da condição de equilíbrio econômico-
G11 ,9570 M11 1 P11 0,4511
financeiro definida na revisão tarifária periódica (Xa).
G12 0,8753 M12 1 P12 0,9717
O valor do Fator X, tal que (IGPM – X), é aplicado à Parcela
G13 0,5714 M13 0,7608 P13 1
G14 0,8508 M14 1 P14 0,2925 B da receita da concessionária em cada reajuste tarifário
G15 0,9437 M15 0,7810 P15 0,4013 anual, resultante dos componentes Xe, Xc e Xa, é obtido pela
P16 0,6776 fórmula:
P, M e G denotam, respectivamente, P17 0,7663
X = (Xe + Xc) × (IGPM − Xa) + Xa (10)
os clusters com as distribuidoras de P18 0,5752
P19 0,7980 Como se pode notar, a metodologia do fator X não
pequeno, médio e grande porte
P20 0,4857 abordou a questão da qualidade técnica do fornecimento,
P21 1 somente a visão da satisfação do consumidor, por meio da
componente Xc.
De posse desses resultados, pode-se estabelecer um ranking O índice IASC não foi concebido com essa finalidade e não
das empresas do sistema elétrico brasileiro, no que diz respeito tem a precisão necessária à aplicação utilizada. O índice IASC
à eficiência no cumprimento das metas de continuidade do perde qualidade como instrumento de avaliação em função do
fornecimento de energia elétrica estabelecidas pelo regulador chamado “risco moral” que estimularia avaliações negativas em
(Aneel). função de potenciais efeitos tarifários.
O que o trabalho propõe é a inserção de uma componente
4. Proposta de interação com o Xq na fórmula de cálculo do fator X, trazendo para o processo
processo de reajuste tarifário anual de reajuste tarifário aquilo que a empresa de referência também
Pelo regime de regulação por incentivos adotado no sistema, não contempla: a eficiência das concessionárias distribuidoras
incluiu-se a definição e a efetiva implantação de um regime da no cumprimento das metas de continuidade estabelecidas pelo
qualidade do serviço técnico e atendimento comercial recebidos regulador (Aneel).
pelos clientes, compreendido em:
a) Determinação de metas para os parâmetros de qualidade que 5. Definição da componente Xq
refletem um nível de qualidade mínimo; Da mesma forma que a componente Xc, a componente Xq
b) Efetiva medição desses parâmetros para cada cliente também é limitada a um intervalo:
individual; -1,0000 ≤ Xq ≤ +1,0000 (11)
c) Aplicação de penalidades para os casos em que o serviço De posse do ranking já citado em 3.3, baseado
não alcance níveis mínimos de qualidade exigidos, com valores na modelagem DEA, distribui-se as concessionárias
determinados com base no custo da energia não fornecida. uniformemente no intervalo [-1,1], partindo de 1/ θ =1
A revisão tarifária periódica das concessionárias de (concessionárias mais eficientes) decrescentemente até as
distribuição do sistema compreende o reposicionamento menos eficientes. No estudo, obtiveram-se os seguintes
das tarifas de fornecimento de energia elétrica e a resultados:
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Para as concessionárias com índice de eficiência 1/θ ≥ 0,7,
Tabela 2
atribui-se um Xq ≥ 0.
DMUs 1/θ Xq DMUs 1/θ Xq
Como proposta de revisão do fator X, este trabalho enfoca
G1 1 1,0000 M5 0,8374 0,3514
G2 1 1,0000 P19 0,798 0,2973 a necessidade da inclusão da componente Xq na fórmula (10),
G3 1 1,0000 M15 0,781 0,2432 obtendo-se a nova fórmula proposta a seguir:
G6 1 1,0000 P17 0,7663 0,1892 X = (Xe + Xc - Xq) × (IGPM − Xa) + Xa (12)
G8 1 1,0000 M13 0,7608 0,1351 Como ilustração, aplicando (10) e (12), considerando a
M4 1 1,0000 G4 0,7395 0,0811
concessionária G8, demonstra-se a seguir o cálculo realizado pela
M9 1 1,0000 G10 0,7119 0,0270
ANEEL para o Fator X do ano de 2004 e, logo após, o cálculo do
M11 1 1,0000 G7 0,6833 -0,0270
M12 1 1,0000 P16 0,6776 -0,0811 fator X, considerando a inserção da componente Xq, proposta por
M14 1 1,0000 P5 0,6644 -0,1351 este trabalho.
P1 1 1,0000 P7 0,6413 -0,1892
P8 1 1,0000 M7 0,6356 -0,2432 (13)
P13 1 1,0000 M2 0,6064 -0,2973
P21 1 1,0000 P18 0,5752 -0,3514
P2 0,9906 0,9459 G13 0,5714 -0,4054
M10 0,9888 0,8919 P3 0,5665 -0,4595 (14)
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já que o sistema elétrico comportou-se melhor que o requerido. No o período anterior mediante uma gestão eficiente, vinculada
Qualidade de energia
entanto, quando Xq<0 (eficiência 1/θ menor que 70%), a ineficiência diretamente ao desempenho efetivo da concessionária na
da concessionária deve ser compensada aos consumidores, continuidade da prestação do serviço de distribuição de energia
beneficiando-os com uma redução na tarifa. elétrica.
Eventuais melhorias para uma próxima modelagem incluem
Conclusões a possibilidade da análise de outras variáveis, como número de
O trabalho apresenta resultados significativos no que concerne consumidores e número de conjuntos da concessionária, DEC/FEC
a análises que podem ser feitas pelo Regulador, quais sejam: (horas médias por interrupção), investimentos, MWh/Km rede aérea
- do ponto de vista da fiscalização, o ranking apresentado permite primária e custo operacional.
avaliar o desempenho de concessionárias com padrão técnico Em síntese, o trabalho sugere o aprofundamento da questão,
de atendimentos semelhantes, que deveriam, pelos mesmos com vistas a um possível aperfeiçoamento do processo regulatório,
insumos, alcançar níveis de eficiência equiparados. E ainda permite em particular quanto à necessidade de compatibilização dos
uma avaliação da acurácia dos procedimentos de apuração dos processos de regulação da qualidade e de regulação econômica.
indicadores de continuidade DEC e FEC; Esse processo seria realizado de modo a cotejar as exigências de DEC
- do ponto de vista da regulação técnica, é possível se identificar e FEC para todas as concessionárias com os padrões da empresa de
aquelas concessionárias que tiveram metas definidas com excessiva referência utilizada em cada caso, bem como a oportunidade de
tolerância ou, ao contrário, aquelas que tiveram metas definidas verificar se um eventual aumento de custos, derivado da evolução
muito apertadas em relação ao que a concessionária pode realizar. da qualidade cobrada pela regulação, poderia afetar a expectativa
Sob a análise da regulação econômica e alinhada às abordagens de captura dos ganhos de eficiência por parte das concessionárias
já adotadas pela ação regulatória, a proposta visa a incrementar a de distribuição.
competitividade das empresas distribuidoras, estimulando a busca
pela eficiência na prestação do serviço de distribuição de energia Referências bibliográficas
ARAÚJO, J.L., A questão do investimento no setor elétrico brasileiro: reforma e crise, Nova
elétrica, bem como a redução de custos e a alocação correta de
Economia, Belo Horizonte, v.11, n.1, julho 2001.
recursos financeiros. Nessa análise, seria considerada no reajuste ARMSTRONG, M., COWAN, S. and VICKERS, J., Regulatory reform, economic analysis and the
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tarifário anual a eficiência que a concessionária alcançou durante
O SETOR ELÉTRICO
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Qualidade de energia
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Continua na próxima edição
2004a.
PESSANHA, J.F.M., CASTELLANI, V.L.O , HASSIN, E.S. and CHEBERLE, L.A.D., ANABENCH
Luciano Augusto Duarte Cheberle é engenheiro eletricista e especialista em
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José Francisco Moreira Pessanha é engenheiro eletricista, doutor em
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November, 2000. pesquisador do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel/Eletrobrás).
O SETOR ELÉTRICO
56 Maio 2008
Apoio
Por José Antonio Jardini, Se Un Ahn, Lourenço Matakas Jr., Wilson Komatsu, Edison Bormio Jr., Josué de
Camargo, Antonio Ricardo Giaretta, Maurício Galassi, Thiago Costa Monteiro e Marco Antônio de Oliveira
Qualidade de energia
CAPÍTULO IV
Micro DVR – Uma plataforma de
desenvolvimento para DVR e FACDS
O objetivo deste trabalho é apresentar uma O equipamento em escala reduzida pode diminuir
plataforma de desenvolvimento para o Restaurador drasticamente os custos de desenvolvimento. Em
Dinâmico de Tensão (RDT ou DVR – Dynamic Voltage um laboratório pequeno e com uma rede CA com
Restorer) e para Sistemas Flexíveis de Distribuição capacidade de corrente limitada, é possível realizar
de Corrente Alternada (FACDS, em inglês, Flexible os mesmos tipos de ensaios de um equipamento
Alternating Current Distribution Systems), que de dimensões reais, os quais só seriam possíveis
permita testar os algoritmos de controle, o em instalações especiais. Há também economia de
comportamento do hardware e validar as estratégias recursos, pois menos pessoas são envolvidas e são
de dimensionamento dos circuitos sem a presença utilizados equipamentos com nível de isolação básica
dos inconvenientes da operação com tensões e menor para medição e proteção individual. Com a
correntes elevadas. redução de tamanho, este equipamento pode ser
Esta plataforma opera com tensões e correntes facilmente transportado para oferecer treinamento e
CA trifásicos com valores reduzidos (31 V eficazes capacitação de pessoal em equipamentos de eletrônica
de fase e 3 A nominais). Dessa forma, o sistema de potência aplicados a sistemas de distribuição.
fica com o tamanho reduzido, possibilitando um
manuseio mais simples se comparado a um sistema Topologia do Micro DVR
em escala real. Trabalhando com correntes e O diagrama unifilar simplificado do Micro DVR é
tensões reduzidas, além da redução dos riscos de mostrado na Figura 1. O sistema é ligado à rede CA
acidentes graves durante o desenvolvimento, os por meio de dois bancos de três transformadores
efeitos da interferência eletromagnética gerada monofásicos ligados em estrela-estrela com um
pelo chaveamento dos conversores também são terciário em delta. Com isso, o sistema opera sem
minimizados. defasagem da rede CA e galvanicamente isolado.
O SETOR ELÉTRICO
40 Junho 2008
Apoio
Figura 1 - Diagrama unifilar simplificado do Micro DVR. Fase A.
O ramo série é implantado com três inversores monofásicos da entrada CA, realiza o afundamento momentâneo da tensão
em ponte completa, chaveados com PWM em três níveis, de fase (Sag) para 50% da tensão nominal.
conectados a filtros LC (Linv, Cinv) e ligados em série entre a O ramo paralelo é composto pelo segundo banco de
rede CA (isolada) e a carga por meio de três transformadores transformadores abaixadores e por um retificador PWM trifásico,
monofásicos, permitindo a injeção de corrente de seqüência que absorve corrente CA praticamente senoidal com alto fator
zero. A presença dos indutores chaveados Lfacds permite simular de potência e mantém a tensão no banco de capacitores C do
a impedância de uma linha de distribuição concentrada metade barramento CC com tensão Vcc constante igual a 50 V. Em um
à montante e metade à jusante. O resistor Rsag, com o mesmo evento de rejeição de carga que gere uma elevação momentânea de
valor ôhmico da impedância série do banco de transformadores tensão (Swell), os inversores monofásicos do ramo série devolvem
O SETOR ELÉTRICO
Junho 2008 41
Apoio
energia ao banco C e o retificador PWM devolve esta energia à em fase com a componente fundamental da seqüência positiva da
Qualidade de energia
rede CA. Na energização inicial do conjunto, com o retificador PWM rede. Além disso, é possível desenvolver um PLL preciso e rápido com
desativado, a corrente de carga do banco C é limitada temporariamente tempo mínimo de processamento, o que facilita a sua introdução em
pelos resistores Rret. Quando a tensão Vcc atinge um valor mínimo, os sistemas de controle baseados em DSPs.
resistores Rret são “curto-circuitados” pelo controle e o retificador PWM
e os inversores do ramo série entram em operação. Em regime, a tensão
Vcc é maior que o valor de pico de linha do secundário do banco de
transformadores do ramo paralelo, permitindo ao retificador PWM impor
corrente com derivada positiva ou negativa sobre os indutores Lret.
O DVR implantado pode compensar Voltage Sags trifásicos
Figura 3 – Estrutura básica do PLL utilizado com um sistema de controle em malha fechada
máximos para vSag3φ = 0,5 pu e Voltage Swells máximos para vSwell =
1,2 pu com máxima duração de Δt = 300 ms. b) Geração de referência para compensação de Sags e Swells
e harmônicas de tensão
Controle do Micro DVR Este método tem como vantagem o fato de corrigir a amplitude
da seqüência positiva em regime e durante Sags e Swells, assim
Controle do ramo série como eliminar as distorções harmônicas de tensão na carga.
O sistema de controle do ramo série do Micro DVR é representado
pelos blocos de geração de referência, Phase-Locked-Loop (PLL), e
pelo controle do inversor da Figura 2. O bloco de geração de referência
tem por objetivo fornecer ao controlador de tensão a referência de
tensão a ser injetada pelo DVR. O controle do inversor (por fase)
rastreia a tensão de referência por fase, garantindo a injeção correta
de tensão em série de cada fase. Informações sobre ângulo de fase
e freqüência da tensão CA utilizada, fornecidas pelo bloco de PLL,
são críticas para o funcionamento de DVRs. Algumas estratégias de Figura 4 - Geração de referência na operação como DVR baseada na extração da
controle de tensão e do PLL são apresentadas em [6], [7], [8] e [9]. As seqüência positiva da tensão
estratégias de PLL e de geração de referência série instaladas nessa Na Figura 4, os valores instantâneos gerados pelo PLL (vPLL//A(t),
plataforma são apresentadas nos itens a) e b) a seguir. vPLL//B(t) e vPLL//C(t)), em fase com a seqüência positiva da rede, são
multiplicados, um a um, com as correspondentes tensões medidas
da rede vA(t), vB(t) e vC(t). A soma dos três produtos passa por um
filtro passa-baixas (FPB) e é multiplicada por uma constante (K =
2/3), resultando no valor de pico da seqüência positiva extraída
da rede |v+1(t)|. Multiplicando-se individualmente esse valor por
vPLL//A(t), vPLL//B(t) e vPLL//C(t), obtêm-se v+1A(t), v+1B(t) e v+1C(t) (valores
desejados para a carga), de onde, subtraídas as tensões medidas
da rede, resultam as tensões de referência vREFA(t), vREFB(t) e vREFC(t)
para o controle de cada um dos três inversores série do DVR.
O valor |v+1(t)| (valor real de pico da componente fundamental
de seqüência positiva) varia lentamente durante o dia devido às
variações no carregamento do sistema de distribuição. Portanto, a
Figura 2 - Diagrama de blocos de controle do ramo série na operação como DVR. dinâmica do gerador de referência deve ser lenta o suficiente para
a) PLL de seqüência positiva [8] acompanhar apenas a pequena variação, normal e aceitável, em
É implantado um detector de fase baseado no produto escalar torno do valor nominal da tensão da rede, mas deve-se manter
das tensões de rede CA VA,B,C com as tensões de sincronismo VPLLA,B,C praticamente inalterada durante os Sags e Swells para que estes
e uma posterior filtragem desse resultado (Figura 3). Se as tensões sejam compensados. Com isso, distorções harmônicas de tensão
estiverem sincronizadas e com defasagem de 90 graus entre si, a na carga também são compensadas em regime e nos transitórios,
componente contínua do produto escalar tem valor nulo. Caso elas pois as referências v+1A(t), v+1B(t) e v+1C(t) têm valor de pico |v+1(t)|.
estejam em alguma outra situação, um controlador PI faz o ajuste na
freqüência do PLL, corrigindo fase e freqüência. A partir de VPLLA,B,C, Controle do ramo paralelo
são geradas tensões (VPLL//A,B,C) em fase com a rede. Este método O sistema de controle do ramo paralelo do Micro DVR,
apresenta a vantagem de obter um conjunto trifásico de referências operando como DVR, é representado pelos blocos de controle
O SETOR ELÉTRICO
42 Junho 2008
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de tensão CC (Figura 5) e controle da corrente CA, ambos do
retificador PWM (Figura 6).
b) Controle de corrente CA
Figura 6: Diagrama de blocos de controle da corrente CA do ramo paralelo
O controlador de corrente CA, baseado em um algoritmo
a) Controle de tensão CC deadbeat ([3], [4], [5], [6], [7], [9]), rastreia a corrente de referência,
O bloco de controle da tensão CC é implantado com um garantindo a geração de correntes senoidais em fase com as tensões
controlador PI com anti-windup e tem por objetivo manter a de entrada do retificador PWM. Para uma dada fase, a diferença
tensão no barramento CC em um valor predeterminado VCCREF. A entre a tensão da rede vA(t), vB(t) ou vC(t) e a tensão sintetizada
expressão do controlador PI discretizado do plano s para o plano z, vRETA(t), vRETB(t) ou vRETC(t) na saída do retificador PWM recai sobre
por transformação bilinear, é: o indutor Lret em série, gerando uma corrente iL, que é a corrente
O SETOR ELÉTRICO
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absorvida pelo retificador PWM. A tensão sintetizada vRET, que Para o ramo paralelo (retificador PWM), inicialmente regulou-se
Qualidade de energia
assegura a resposta deadbeat, é dada pela seguinte expressão: o controlador PI de tensão do barramento CC para um tempo de
acomodação de 1s e um erro máximo de 5% em relação à tensão
de referência. Com isto após a aplicação de um degrau de carga de
50% da potência nominal pode-se verificar a atuação do controlador
de tensão na Figura. 9.
Simulações
O algoritmo de PLL da Figura 3 foi simulado com o software
Matlab para a freqüência da rede de 60 Hz, afundamento
trifásico de 50% da fundamental e presença da 5ª harmônica
(20%). Os resultados estão na Figura 7, mostrando a ocorrência
de sincronização, evidenciados pela presença das três tensões de
seqüência positiva VPLL//. O controlador PI (controlador GC(s) na
Resultados experimentais
Figura 8.
Comportamento
da referência de
tensão (vermelho)
durante um Sag
trifásico (azul).
Formas de onda
referidas à fase A. Figura 12 - Vista lateral do Micro DVR
O SETOR ELÉTRICO
44 Junho 2008
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Foram efetuadas medidas de desempenho, operando como correntes elevadas. Com isso, reduzem-se os riscos de acidentes
Qualidade de energia
DVR, comprovando a compensação de harmônicas de tensão (Figura elétricos, há redução de interferência eletromagnética, abre-se
13) e de afundamentos de tensão trifásicos para 50% com carga R a possibilidade de instalação em locais com potência disponível
(Figura 14) e RL (Figura 15). limitada e se ganha portabilidade para o equipamento, que pode ser
usado para treinamento e capacitação de pessoal em equipamentos
de eletrônica de potência aplicados a sistemas de distribuição.
Simulações computacionais e resultados experimentais foram
apresentados para validar as premissas de projeto e aplicação.
Referências bibliográficas
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electronics: converters, applications and design. 3. ed. Hoboken, NJ: John Wiley &
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O SETOR ELÉTRICO
46 Junho 2008
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CAPÍTULO V
Procedimentos para determinação
de filtros harmônicos sintonizados,
incluindo análises de desempenho e
de suportabilidade
Este artigo apresenta uma seqüência de ao longo do tempo, um aspecto importante na fase
procedimentos que visam à determinação de de projeto é o conhecimento do comportamento
filtros harmônicos sintonizados, priorizando a das impedâncias harmônicas da barra em que
minimização das potências reativas e sua garantia se pretende instalar o filtro. Neste sentido, para
de suportabilidade. sistemas elétricos industriais ou de distribuição,
Os procedimentos a serem apresentados costuma-se obter as impedâncias harmônicas a
compreendem a execução de diversas etapas partir do nível de curto-circuito da barra. Isso pode
de cálculos, os quais culminarão em análises do ser assumido porque estes sistemas, em geral,
desempenho e da suportabilidade do filtro e nos não sofrem grandes variações em sua topologia e
valores nominais dos componentes R, L e C. possuem uma grande quantidade de alimentadores
De maneira geral, a presença de um ou mais curtos, os quais apresentam características indutivas
filtros harmônicos em uma barra certamente ao longo de todas as freqüências harmônicas. Para
promoverá: sistemas de transmissão, porém, será necessário
• Redução dos índices de distorção harmônica do conhecer com mais detalhes o comportamento da
sistema; rede.
• Geração de reativos para o sistema (visando à Devido à exigüidade de espaço, nos
melhoria do fator de potência). procedimentos propostos neste artigo, o sistema
Entretanto, no que concerne à questão de elétrico será considerado apenas a partir do
dimensionamento de filtros, devido às eventuais nível de curto-circuito da barra em que os filtros
mudanças que podem ocorrer na topologia das redes serão instalados. No entanto, para sistemas de
O SETOR ELÉTRICO
42 Julho 2008
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transmissão, os procedimentos gerais não serão diferentes A partir das informações anteriores, cada filtro sintonizado
do que aqui apresentamos. Após a escolha do tipo de será dimensionado separadamente, ordem por ordem, de
representação a ser adotado para o sistema elétrico, o próximo modo iterativo. Este processo iterativo será iniciado para o
passo será determinar qual dos dois objetivos será priorizado filtro sintonizado da menor ordem harmônica “n” escolhida.
com a inserção dos filtros sintonizados: redução dos índices de Para iniciar o processo iterativo, outros três dados devem ser
distorção harmônica do sistema a níveis prefixados ou correção fornecidos, a saber:
do fator de potência para um valor também predeterminado. • O fator de qualidade inicial do filtro (Q(0)) (o índice “(0)“ significa
que o dado informado é uma estimativa inicial, pois trata-se de
Procedimentos gerais para a determinação um cálculo iterativo);
de filtro sintonizado mínimo • A potência reativa fundamental inicial do capacitor do filtro (Q(0) CAP).
Neste artigo, os procedimentos que levarão à obtenção • A dessintonia máxima permitida ao filtro (d).
de filtros de menor potência possível (ou filtro mínimo) serão Com relação à dessintonia máxima, é oportuno
ilustrados a partir da condição acima mencionada, que visa, mencionar que, se um filtro sintonizado é dimensionado
prioritariamente, à redução de distorções harmônicas de tensão para uma dada freqüência, três fatores independentes
a níveis prefixados. contribuem para dessintonizar o circuito para a harmônica
Além das escolhas da forma de representação do sistema elétrico correspondente:
e do objetivo prioritário a ser atingido com a inserção dos filtros, a) variação da freqüência do sistema c.a;
também será necessário o conhecimento dos seguintes dados: b) erro de sintonia inicial, devido ao reator do filtro (dada à sua
• Escolha da barra em que será(ão) instalado(s) o(s) filtro(s) própria característica de fabricação);
sintonizado(s); c) variação da capacitância total, devido à variação da temperatura,
• Escolha da(s) ordem(ns) harmônica(s) para a(s) qual(is) se deseja ou devido à falha de um ou mais elementos de capacitor.
projetar filtro(s) sintonizado(s); A pior hipótese de dessintonização acontecerá quando
• Determinação do(s) valor(es) da(s) máxima(s) distorção(ões) todos os fatores descritos forem cumulativos. Os valores que
harmônica(s) individual(is) de tensão possível(eis) de ocorrer com a ocorrem na prática situam-se, normalmente, na faixa de 1,5%
inserção do(s) filtro(s) sintonizado(s) na(s) ordem(ns) escolhida(s). a 3%.
O SETOR ELÉTRICO
Julho 2008 43
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Cálculo da potência reativa fundamental mínima do filtro Cabe aqui ressaltar que, em geral, é recomendável que o valor
Qualidade de energia
Com essas informações, determinam-se, para a iésima iteração da freqüência de ressonância do filtro, adotado nas equações (1)
da potência reativa do capacitor, os componentes C , L e R do filtro e (2), não seja exatamente “n”, mas sim a diferença entre o valor
(equações (1), (2) e (3)). dessa freqüência de sintonia e o valor da dessintonia máxima à
qual o filtro poderá ser submetido, ou seja, n−d. Este procedimento
fará o valor adotado para a freqüência de ressonância do filtro ser
sempre um pouco menor que a ordem harmônica de filtragem para
a qual o filtro destina-se. Pretende-se, assim, evitar que um filtro
sintonizado, ao perder algumas de suas unidades capacitivas, passe
a ter uma impedância de característica capacitiva na freqüência de
sintonia “n“. Nestas condições, (filtro com impedância capacitiva)
Em que: poderá ocorrer uma ressonância paralela do filtro com o sistema
Q(i) = potência reativa fundamental do capacitor do filtro sintonizado na elétrico (o qual para sistemas de distribuição e sistemas industriais
iteração “i” é indutivo). Desta forma, este filtro, que possui sua maior eficiência
n = freqüência harmônica de sintonia do filtro para a harmônica de ordem “n−d”, deverá ser projetado para ter
d = dessintonia máxima do filtro sintonizado na ordem “n” grande eficiência também para a harmônica de ordem “n”.
C = capacitância, em pu, do filtro sintonizado na iteração “i”
(i) No próximo passo, será feita a correção harmônica dos valores
L = indutância, em pu, do filtro sintonizado na iteração “i”
(i) da resistência do filtro e o cálculo das reatâncias para a referida
Q(0) = fator de qualidade inicial do filtro sintonizado freqüência de sintonia “n“ do filtro. Pode-se definir os valores
R = resistência, em pu, do filtro sintonizado na iteração “i”
(i) corrigidos e calculados como sendo:
A partir dessas estimativas, inicia-se o cálculo iterativo. O objetivo desta R(i)(n) = Resistência do filtro sintonizado corrigida para a ordem “n“
etapa dos procedimentos é encontrar a potência reativa fundamental e na iteração “i”
mínima do capacitor do filtro que atenda à meta de distorção harmônica X(i)C(n) = Reatância capacitiva do filtro sintonizado calculada para a
individual de tensão preestabelecida para a primeira ordem harmônica ordem “n“ e na iteração “i”
“n” escolhida. X(i)L(n) = Reatância indutiva do filtro sintonizado calculada para a
Neste processo iterativo, a variável que terá seu valor alterado a cada ordem “n“ e na iteração “i”
iteração (na prática, aumentado) será a potência reativa do capacitor (veja Deste modo, o valor da impedância do filtro, na freqüência de
Figura 2). Na etapa dos cálculos, este fator de qualidade será modificado. sintonia “n“, para a iteração “i“ será:
Assim que o dimensionamento do filtro sintonizado desta
ordem estiver concluído, passa-se para o dimensionamento do
filtro da próxima ordem escolhida até chegar ao último filtro ou ao Prosseguindo, calcula-se o correspondente valor da admitância
filtro da maior ordem escolhida. do filtro ( ) para a freqüência de sintonia “n“ na iteração “i“. Esta
Ressalte-se que a freqüência de sintonia “n” do filtro é aquela na admitância, por sua vez, é inserida na Matriz Admitância do sistema
qual os valores das impedâncias dos componentes do filtro (capacitor e (ainda sem filtros) na freqüência de sintonia “n“. Esta matriz é
reator) são iguais. Esta também é denominada freqüência de ressonância obtida na etapa do estudo de Penetração Harmônica, realizada antes
do filtro e, quando é expressa em pu, esta freqüência assume um valor da determinação dos filtros e que também está indicada na Figura
inteiro múltiplo da freqüência fundamental (por exemplo, a freqüência de 2. Obtém-se, assim, a Matriz Admitância resultante para a
sintonia n = 300 Hz, em pu será n = 5). iteração “i“.
Se os valores de n, d e Q(i)CAP forem dados em pu de suas respectivas Na seqüência, determina-se a Matriz Impedância total ,
grandezas base, então os resultados das equações (1), (2) e (3) serão resultante do sistema com o filtro para a freqüência de sintonia “n“
fornecidos em pu. A partir desses valores, podem ser calculadas as na iteração “i“.
reatâncias fundamentais dos componentes para a iteração “i” (equações Sendo conhecida a Matriz das Correntes harmônicas (cujas
(4) e (5)) em pu. correntes são inseridas no sistema pelas fontes harmônicas, também
na correspondente freqüência de sintonia “n“), determina-se a
Matriz das Tensões harmônicas individuais resultantes (equa
ção (7), para esta freqüência, na iteração “i“.
Em que:
XC(i) = Reatância capacitiva fundamental do capacitor do filtro
sintonizado na iteração “i”
XL(i) = Reatância indutiva fundamental do indutor do filtro sintonizado
na iteração “i”
O SETOR ELÉTRICO
44 Julho 2008
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A determinação da Matriz das Correntes harmônicas Assim, para a i-ésima iteração da potência reativa
Qualidade de energia
também é oriunda da etapa do estudo de penetração harmônica, repetem-se, sucessivamente, todas as etapas do cálculo do filtro
a qual deve ser realizada antes do início do projeto dos filtros. Na sintonizado (descritos desde a equação (1) até a equação (7)), com
Matriz das Tensões harmônicas, obtida na equação (7), cada linha o valor agora recalculado de potência reativa fundamental. Ao final
corresponde ao valor da tensão harmônica (na correspondente de cada iteração, compara-se o valor da distorção de tensão obtido
freqüência de sintonia “n“) de cada barra do sistema. com o valor estipulado.
O passo final deste processo iterativo (que, recorde-se, procura obter Repete-se o processo iterativo até se conseguir o atendimento
a potência reativa fundamental mínima do filtro que consiga reduzir do nível especificado de tensão harmônica na freqüência de sintonia
a distorção harmônica de tensão individual relativa a este filtro) será “n“ do filtro. Os procedimentos descritos neste item estão indicados
comparar o módulo do valor da tensão resultante (na barra em que o no fluxograma básico da Figura 2 (a).
filtro foi inserido), com o valor prefixado da tensão harmônica máxima
permitida após a inserção do filtro sintonizado na referida freqüência de Cálculo do fator de qualidade final do filtro
sintonia “n“. Caso este valor estipulado da tensão harmônica, para esta Uma vez determinada a potência reativa fundamental QCAP do
ordem, seja ultrapassado, será dado prosseguimento ao cálculo iterativo, filtro sintonizado, com o fator de qualidade Q(0), capaz de atender ao
aumentando-se a potência reativa fundamental do capacitor do filtro limite de tensão harmônica especificado, parte-se para a obtenção
sintonizado. Neste caso, na próxima iteração “i“ a potência reativa ganhará do fator de qualidade final. A determinação deste é recomendada
um pequeno incremento conhecido, e o seu valor será o seguinte: visando a melhorar a eficiência do filtro, conforme poderá ser
percebido com o auxilio da Figura 2.
= Potência reativa fundamental do capacitor do filtro (DHI) de tensão versus o fator de qualidade para um filtro sintonizado
sintonizado para a próxima iteração “i” que já possua uma determinada capacitância e sua correspondente
sintonizado para a iteração “i” anterior Observa-se que a DHI de tensão pode ser reduzida ainda mais
= Incremento conhecido da potência reativa fundamental com o aumento do fator de qualidade. Na prática, este aumento
O SETOR ELÉTRICO
46 Julho 2008
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Entretanto, a partir de um determinado valor do fator de qualidade repete-se todo o processo de cálculo iterativo até que esta condição
Qualidade de energia
e se prosseguir aumentado, como resultado, ter-se-ão em melhorias seja satisfeita. Desta forma, ao final da última iteração “k”, tem-se
muito pequenas em sua eficiência de filtragem. O fator de qualidade o fator de qualidade calculado, a partir do qual se conseguiu uma
final será obtido por método iterativo, semelhante ao descrito para variação da tensão harmônica de ordem “n” (na barra do filtro)
a obtenção do filtro mínimo. Para isso, será mantida a potência menor que o valor de referência mínimo . Este será consi
reativa fundamental do filtro QCAP (obtida na etapa anterior) e, na derado como o fator de qualidade final do filtro (item b).
primeira iteração “k”, adotar-se-á um novo valor inicial para o fator Os procedimentos descritos neste item estão indicados no fluxograma
de qualidade do filtro, Q(k), o qual poderá ser um valor baixo (por básico da Figura 2, como “Item C”. Ao final da busca deste fator de
exemplo, 1). A partir deste valor, obtém-se a nova resistência do qualidade final, a DHIV obtida na barra do filtro deve ter decrescido para
filtro (porém, mantendo-se os valores de C e L). um valor abaixo daquele originalmente desejado. Assim, caso se deseje
Em seguida, calcula-se o novo valor da distorção harmônica individual retornar ao DHIV original, deve-se reduzir a potência reativa do capacitor
de tensão de ordem “n” na barra em que o filtro está inserido. (em um processo iterativo), mantendo-se sempre o fator de qualidade
Em que:
= Fator de qualidade do filtro para a próxima iteração “k”
= Fator de qualidade do filtro para a iteração “k” anterior
= Incremento conhecido do fator de qualidade do filtro
Ao final desta segunda iteração “k”, calcula-se o valor da
variação da máxima distorção harmônica individual de tensão de
ordem “n” ( ) na barra escolhida para inserção do filtro.
Esta variação é obtida de acordo com a equação (10).
Em que:
= Variação da distorção harmônica individual de tensão de
ordem “n” na barra do filtro
= Distorção harmônica individual de tensão de ordem “n”
na barra do filtro para a iteração “k” anterior
= Distorção harmônica individual de tensão de ordem “n”
na barra do filtro para a iteração “k” seguinte
Na seqüência, compara-se o valor calculado da variação
com um valor mínimo de variação tomado como referên
cia. Esta variação mínima de referência é igual a 0,01%. Enquanto o
valor calculado da variação for maior que esta referência, Figura 2 – Fluxograma básico referente ao projeto de filtros sintonizados
incrementa-se o fator de qualidade Q(k) do filtro (equação (9)) e pelo método convencional objetivando reduzir distorções harmônicas a níveis
prefixados.
O SETOR ELÉTRICO
48 Julho 2008
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final, de maneira similar ao que já foi descrito anteriormente (porém, Cálculo das grandezas
Qualidade de energia
lembrando que, agora, a potência reativa será reduzida). fundamentais sobre o capacitor
A primeira das etapas relativas à verificação de suportabilidade
Cálculo do filtro final do capacitor consiste no cálculo das grandezas corrente e tensão
A associação das duas últimas etapas ilustra os procedimentos do cálculo (na freqüência fundamental) às quais ele será submetido. Essas
iterativo de obtenção do filtro mínimo com um fator de qualidade final para grandezas são determinadas pelas equações (11) e (12):
a freqüência de sintonia “n”. Nestes procedimentos, os cálculos referentes
ao filtro sintonizado são feitos somente para a ordem de sintonia “n” e
não para todas as ordens harmônicas. Isso porque, nos cálculos iterativos,
a preocupação se concentra apenas na busca do dimensionamento dos Em que:
elementos do filtro que atenda às exigências individuais de tensão na = Corrente fundamental no capacitor
freqüência de ordem “n”. Assim, para que este filtro possa ser inserido = Tensão fundamental na barra do filtro
nas matrizes harmônicas do sistema (equações (6) e (7)), os cálculos serão = Impedância total fundamental do filtro
realizados para todas as ordens harmônicas consideradas no estudo. = Tensão fundamental sobre o capacitor
Desta forma, serão obtidas as matrizes das impedâncias harmônicas = Reatância fundamental do capacitor
totais [ZT] (resultantes da associação das impedâncias do sistema com a
impedância do filtro para todas as ordens harmônicas), bem como as Cálculo das grandezas
matrizes das tensões harmônicas resultantes [VH]. Estes resultados são harmônicas sobre o capacitor
armazenados e passam a ser os novos valores harmônicos do sistema De forma semelhante, as grandezas harmônicas, às quais o
elétrico sob estudo e vale o mesmo para o filtro, isto é, os dados capacitor será submetido, serão determinadas pelas equações (13) e
calculados do filtro final de ordem “n” também são armazenados. (14). No entanto, o cálculo ora desenvolvido difere do anterior pelo
O armazenamento destes novos resultados é importante porque fato de as grandezas não serem calculadas apenas para uma ordem
os cálculos subseqüentes dos filtros harmônicos das próximas ordens e sim para cada ordem harmônica “h” existente no sistema.
TABELA I
LIMITES DOS TESTES DE SUPORTABILIDADE DO CAPACITOR
O SETOR ELÉTRICO
50 Julho 2008
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em produção industrial. Dessa forma, o cálculo do filtro será totalmente
refeito, partindo-se da nova reatância capacitiva do filtro:
Em que:
= Nova reatância capacitiva fundamental do capacitor
= Nova tensão fundamental nominal do capacitor
Cálculo das grandezas nominais do capacitor = Nova potência reativa fundamental nominal do capacitor
A tensão fundamental nominal do capacitor do filtro, , é a
Como todos os dados são operados em pu, tem-se:
própria tensão fundamental da barra ( ) no qual está ligado o filtro:
Em que:
A potência reativa fundamental nominal do capacitor é a
C(Novo) = Nova capacitância do capacitor
potência fundamental ( ), que foi determinada durante o
A partir desse ponto, seguindo-se os mesmos passos da
cálculo do filtro ótimo. Assim, o cálculo da corrente fundamental
determinação do filtro mínimo, o cálculo dos demais componentes
nominal do capacitor do filtro, , será dado por:
do filtro será feito reutilizando-se as equações (2) até a (5). Da mesma
forma, nas equações (6) e (7), os cálculos serão realizados para todas
as ordens harmônicas. As novas matrizes obtidas das impedâncias
Caso algum dos cinco limites mostrados na Tabela I não seja satisfatório,
harmônicas totais [ZT] e também as matrizes das tensões harmônicas
o capacitor, assim como todos os demais componentes do filtro, precisarão
resultantes [VH] (para cada uma das ordens harmônicas) serão, então,
ser redimensionados. Para isso, a próxima etapa consistirá na determinação
os novos resultados finais do sistema elétrico sob estudo.
de novos valores nominais fundamentais de tensão e potência reativa
Na seqüência, todos os testes de suportabilidade serão novamente
do capacitor. Estes valores devem ser fornecidos a cada iteração (ou a
aplicados. Em caso de reprovação em algum deles, uma nova iteração
cada reprovação nos testes) até que todos os testes de suportabilidade
será processada a partir de novos valores nominais de entrada para o
sejam satisfatórios e devem ser compatíveis com capacitores disponíveis
O SETOR ELÉTRICO
Julho 2008 51
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capacitor. Quando todos os testes forem satisfeitos, o filtro sintonizado Portanto, nestas condições, caso algum dos limites de distorção
Qualidade de energia
calculado será o filtro definitivo para esta ordem harmônica e seus harmônica seja ultrapassado, recomenda-se que se redimensionem
dados armazenados. Caso existam mais filtros sintonizados a serem os filtros sintonizados daquelas ordens que estiverem apresentando
projetados (para outras ordens harmônicas superiores), eles serão problemas quanto a este desempenho final de filtragem.
dimensionados de acordo com todas as etapas descritas até aqui. Os
procedimentos descritos nos últimos cinco subitens estão indicados no Conclusões
fluxograma básico da Figura 2, como “Itens d”. Este artigo apresentou uma proposta de procedimentos sistemáticos
voltados à determinação de filtros harmônicos sintonizados. Seguindo-se
Cálculo de desempenho de
as etapas propostas, os autores esperam ter contribuído para que
filtragem final dos filtros sintonizados
projetos de filtros sintonizados possam ser realizados com melhor
Após a determinação de todos os filtros sintonizados definitivos
aproveitamento da potência dos bancos de capacitores adotados e,
para todas as ordens harmônicas de sintonia escolhidas, finalmente se
muito provavelmente, a custos mais baixos.
poderá calcular o desempenho de filtragem global de todos os filtros
sintonizados juntos. Esta etapa consistirá de um teste final em relação ao
Referências bibliográficas
desempenho individual de filtragem de cada um dos filtros, atuando no ALVES, A. C. B. Análise de problemas e procedimentos na determinação de filtros
conjunto de filtros sintonizados inseridos na barra. harmônicos. Dissertação de Mestrado – UFU – Uberlândia, 1991.
DUGAN, R. C.; MCGRANAGHAN, M. C. Electrical power system quality, 2. ed. Estados
Por meio de testes comparativos idênticos àqueles realizados
Unidos: McGraw-Hill, 2002.
ao final da etapa iterativa, já descrita aqui, os limites das distorções IEEE Standard 1531-2003, IEEE Guide for application and specification of harmonic filters.
harmônicas máximas prefixados são novamente comparados com as IEEE Standard 18-2002, IEEE Standard for shunt power capacitors.
WAKILEH, G. Power systems harmonics: fundamentals, analysis and filter design.
distorções harmônicas calculadas do sistema. A aplicação desta etapa
Alemanha: Springer-Verlag, 2001.
final de desempenho de filtragem individual dos filtros é necessária Continua na próxima edição
para que se observem possíveis inadequações dos filtros sintonizados
José Wilson Resende é engenheiro eletricista, Ph.D. pela University of
quando atuando em conjunto (um filtro pode provocar ressonâncias Aberdeen (Escócia/1986) e professor da Faculdade de Engenharia Elétrica
paralelas com o sistema elétrico em outras freqüências bem diferentes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Rogério Pinto do Nascimento é engenheiro eletricista e professor da
da freqüência de sintonia). Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
O SETOR ELÉTRICO
52 Julho 2008
Apoio
Qualidade de energia Por Guilherme Alfredo D. Dias, Darcy Casa e Marcos Telló
Capítulo VI
Aspectos legais e contratuais
referentes ao impacto da qualidade da
energia elétrica no sistema elétrico
O SETOR ELÉTRICO
30 Agosto 2008
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produzida por terceiros, nociva ao próprio consumidor. Apesar da • Conceitos básicos
precaução das concessionárias em esclarecer os consumidores, estes, • Requisitos gerais
usualmente, não dão o devido valor a tais informações, assim sendo, • Procedimentos específicos
são solicitadas, preliminarmente, antes da ligação das novas cargas • Limites especificados
ou da implantação de empresa com cargas não lineares, informações - Tensão em regime permanente
com o maior detalhamento possível. Tais informações, resumidamente, - Cintilação (flicker)
são as seguintes: - Distorção harmônica
• Informações de ordem geral sobre o consumidor (tipo de ligação, - Interferência telefônica
razão social, endereço, regime de trabalho, geração própria, demanda - Desequilíbrios
contratada, previsão de demanda, etc.). - Cargas potencialmente perturbadoras
• Informações técnicas sobre equipamentos (motores, fornos, Os principais aspectos deste documento correspondem ao
máquinas de solda, etc.). regramento das ações a serem desenvolvidas pelo consumidor, de
Observe-se que tal fornecimento de informações é relativamente subtransmissão ou distribuição. O interessado na conexão deverá
simples para instalações novas, em que os equipamentos estão em elaborar às suas expensas e apresentar à concessionária um relatório
fase de aquisição e, usualmente, estão disponíveis em Especificações de impacto das harmônicas e outras perturbações. Em tal relatório
Técnicas para aquisição ou Folhas de Dados fornecidas pelos deverão ser demonstrados quais serão os impactos causados no ponto
fabricantes, em que constam todas ou quase todas as informações de conexão pelas cargas previstas no processo produtivo, qualquer
desejadas pela concessionária. que seja o regime operativo utilizado, bem como demonstrando
Um documento considerado muito importante para a quais serão as medidas de compensação adotadas para prevenir o
concessionária é aquele que define os requisitos de acesso ao seu surgimento de tais perturbações. Deve conter, também, de forma
sistema elétrico, o qual apresenta, em linhas gerais, os seguintes tabelada e perfeitamente compreensível, um conjunto de resultados
aspectos: da operação em regime da instalação do acessante, medindo ou
• Finalidade simulando a inexistência de qualquer medida compensatória (filtros
• Âmbito de aplicação de harmônicas, etc.), apresentando a magnitude e a extensão da
• Documentos complementares perturbação que ocorreria no ponto de conexão com a concessionária.
O SETOR ELÉTRICO
Agosto 2008 31
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resultados da operação em regime, medindo ou simulando, agora, a Considerando-se o que é apresentado no relatório para instalações
introdução dos dispositivos e equipamentos de compensação (filtros ainda não existentes, são solicitadas simulações das cargas não lineares
de harmônicas, etc.). integradas ao sistema elétrico da concessionária, com o emprego de
Tal relatório deverá conter um diagrama unifilar que ilustre as duas softwares e das características presumidas das cargas para avaliação
situações de simulação acima requeridas com todas as referências da concessionária, sendo realizadas após medições para avaliação e
para sua perfeita compreensão. A concessionária procederá a análise confirmação das simulações.
do relatório e a qualquer tempo poderá solicitar esclarecimentos ou Já para instalações existentes, que usualmente são expandidas
a introdução de detalhes que elucidem possíveis dúvidas quanto de acordo com a necessidade de aumento da produção, o controle
à eficácia, o desempenho do sistema ou metodologia proposta dos equipamentos, no detalhamento desejado pela concessionária,
para a compensação ou eliminação das perturbações no ponto de é precário. Normalmente, será necessário realizar um “pente fino”
conexão do acesso. A estrutura sugerida (sumário) para o relatório é na instalação, o que, em geral, depende de paradas de máquinas ou
a seguinte: mesmo de toda a instalação, o que no setor industrial apresenta, não
• Objetivos raras vezes, valores expressivos com a respectiva má vontade para
• Informações básicas (diagrama unifilar, etc.) realizar os desligamentos necessários para a inspeção.
• Critérios de cálculo ou medição adotados Para contornar tais problemas, a concessionária permite que
• Metodologia de cálculo ou medição (particularização do memorial) sejam utilizadas outras formas para solucionar o problema envolvendo
• Conclusões e recomendações medições de qualidade da energia elétrica. As medições de qualidade
• Referências (bibliografia) da energia elétrica são usualmente conduzidas da seguinte forma:
• Anexos • Previamente, a introdução de novas cargas não lineares para verificar
Para definição dos valores máximos permitidos para as o sistema elétrico sem a nova carga, realizando medições de tensão
perturbações ao seu sistema elétrico, a concessionária utilizou, em com a carga desligada e medições de corrente e tensão com a carga
nível nacional, os critérios do Operador Nacional do Sistema Elétrico existente ligada;
(ONS) para a subtransmissão, da Agência Nacional de Energia Elétrica • Posteriormente, com a nova carga não linear ligada são realizadas
(Aneel) para a distribuição e os limites internacionais da ANSI/IEEE e outras medições de corrente e tensão.
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32 Agosto 2008
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No interregno entre as duas medições e com as harmônicas O processo acima descrito repetir-se-á até que não restem mais
características presumidas da nova carga, fornecidas por seu dúvidas sobre a eficácia das medidas compensatórias. Quando isso
fabricante, são realizadas simulações de seu impacto sobre o sistema ocorrer, o acessante poderá, então, receber a autorização definitiva
elétrico da concessionária, expressas no relatório. para operação de suas instalações, o que não exime o acessante
Após a análise do correspondente relatório, é permitida a de cumprir outras obrigações previstas em outros procedimentos
operação da instalação e é solicitado que seja apurado o impacto estabelecidos pela concessionária ou outro organismo legalmente
no sistema elétrico por meio de medições. A execução dessas constituído com vistas ao uso da energia elétrica.
medições no campo objetiva comprovar o acerto das medidas
compensatórias propostas pelo acessante e, em princípio, aprovadas Visão e postura do consumidor
pela concessionária, ao demonstrar que as magnitudes das eventuais No Brasil, na maioria dos casos, as indústrias são de pequeno
perturbações que surgirem ficarão dentro dos limites estabelecidos e médio porte, alimentadas em tensão de distribuição. Da mesma
por esta concessionária e/ou pelos órgãos normativos do poder forma, estas dificilmente dispõem de equipes de manutenção e de
concedente. engenheiro eletricista dedicadas, que, quando são necessárias, são
Se ficar constatada a inadequação ou insuficiência do esquema convocadas com urgência para resolver os problemas que surgem
de compensação, mesmo que a concessionária tenha aprovado na unidade fabril. Por esses motivos, o consumidor não é advertido
o correspondente relatório, o acessante estará obrigado, sob sobre o que pode acontecer em termos da qualidade de energia
sua total responsabilidade e ônus, a rever a solução proposta e no seu processo de fabricação, desconhecendo e necessitando de
adotada, devendo imediatamente modificar, substituir ou tomar orientação segura, o que é obtido por meio de contratação de experts
qualquer outra providência necessária à readequação das medidas (consultores) para solucionar tais problemas.
compensatórias. O acessante deverá, ainda, providenciar a revisão O consumidor, em geral, está preocupado com o seu sistema
do relatório e submetê-lo novamente à aprovação da concessionária produtivo, sendo a energia elétrica considerada unicamente um
e a nova vistoria das instalações para comprovar a execução das insumo necessário à produção. Assim sendo, “exige” da concessionária
modificações adotadas. A concessionária poderá, ainda, interromper um insumo de excelente qualidade e que não perturbe o seu sistema
o fornecimento de energia caso o nível de perturbação apurado possa produtivo. Hoje em dia, com a massificação das cargas não lineares,
prejudicar outras unidades consumidoras e/ou o seu sistema elétrico. não raras vezes o próprio consumidor reclamante é o causador dos
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Agosto 2008 33
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problemas, mormente em se considerando as harmônicas produzidas • Solicitar visita inicial do consultor à empresa para elucidar dúvidas
Qualidade de energia
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34 Agosto 2008
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O SETOR ELÉTRICO
36 Agosto 2008
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A partir dos resultados das medições realizadas, foram realizadas
as seguintes conclusões do relatório:
1. Após a energização do forno, continua normal o desempenho da
planta elétrica, com o fator de potência de aproximadamente 0,96;
2. Não foi constatada nenhuma irregularidade no funcionamento
dos demais equipamentos industriais;
3. Houve uma queda dos níveis de distorção harmônica.
4. Com base no resultado das medições, deve-se apresentar o
segundo relatório à concessionária e solicitar a operação da indústria
por tempo indeterminado.
Observe-se que, se fossem necessárias quaisquer medidas
compensatórias (filtros de harmônicas, etc.), estas deveriam estar
claramente apresentadas no relatório para conhecimento da
concessionária e do consumidor. Isto acontecendo, um terceiro
relatório deveria ser apresentado evidenciando os resultados Figura 7 – Exemplo de filtro de harmônicas dessintonizado em baixa tensão
adequados da aplicação das medidas compensatórias.
Continua na próxima edição
O SETOR ELÉTRICO
Agosto 2008 37
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Qualidade de energia Por Mateus Duarte Teixeira, Rodrigo Antônio Peniche e Alexandre Rasi Aoki
Capítulo VIi
Avaliação do impacto da interconexão
de microturbinas no contexto da
qualidade de energia elétrica
Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse dos
profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida, especialistas
encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no País, a
Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos, novas
tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de energia,
normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de contribuir
para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”, organizado pelo
coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de São Paulo (Enerq/USP),
o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em meados do ano passado.
A proliferação de equipamentos de geração distribuída (GD) e seus impactos sobre o sistema de energia
elétrica tornaram-se temas de extrema relevância para o setor elétrico. Atualmente, existem inúmeras tecnologias
voltadas à geração de energia próxima aos consumidores finais, citando-se como as mais relevantes as células
a combustível, os sistemas fotovoltaicos e as microturbinas. Este artigo focará a microturbina, por se tratar de
uma das mais promissoras tecnologias de GD. Desse modo, este trabalho se propõe a investigar tanto o efeito de
distúrbios gerados pelo sistema quanto o impacto da operação da microturbina sobre o sistema elétrico, por meio da
monitoração e da análise dos indicadores associados à qualidade da energia elétrica.
O SETOR ELÉTRICO
34 Setembro 2008
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É importante ressaltar que, devido a restrições laboratoriais, Com o intuito de evitar riscos ao sistema da concessionária e aos
não foi possível seguir, fidedignamente, todos os procedimentos seus consumidores, os estudos foram realizados em um sistema
técnicos para a estruturação dos ensaios estabelecidos pelas normas elétrico hipotético representativo da rede de distribuição de energia.
consultadas. No entanto, os resultados que serão apresentados O sistema foi composto por um grupo motor-gerador a diesel,
poderão ser utilizados como premissa para subsidiar análises sobre cargas elétricas lineares e a microturbina. A seguir, apresenta-se um
o impacto da conexão de equipamentos de GD à rede, bem como resumo dos testes realizados com a microturbina:
avaliar a eficácia do sistema de proteção de tais equipamentos
submetidos a situações anormais de operação do sistema elétrico Módulo I – Validação do sistema elétrico hipotético
O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2008 35
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determinado evento (curto-circuito, por exemplo), encontra-se fora de de energia em um período de tempo determinado. Em face da
Qualidade de energia
operação. Tal situação representa uma condição de extremo perigo impossibilidade de alterar os parâmetros do grupo gerador, foram
tanto para a operação dos equipamentos do sistema elétrico como feitos ensaios de rejeição de parcelas da carga (abertura do disjuntor
para as equipes de manutenção da concessionária que atuam na rede. D3) para provocar variações na freqüência da tensão fornecida
Para simular tal situação, a rede elétrica simulada (grupo motor- conforme Tabela 3.
gerador) foi desconectada do restante da montagem laboratorial
Tabela 3 – Módulo III – Oscilação de freqüência
(microturbina e cargas) por meio de um disjuntor (D1). A Tabela 2
Ensaio Características
caracteriza os ensaios.
• Grupo motor-gerador a diesel operando normalmente;
Tabela 2 – Módulo II – Ilhamento • Microturbina fornecendo 5,5 kW ao sistema;
3.1
• Banco de resistência de 38 kW;
Ensaio Características
• Tensão de operação 220/127 V, 60 Hz.
• Grupo motor-gerador a diesel operando normalmente;
2.1 • Microturbina fornecendo 5,5 kW ao sistema; • Idem ao ensaio 3.1;
3.2
• Banco de resistência de 38 kW; • Microturbina fornecendo 15 kW ao sistema.
• Tensão de operação 220/127 V, 60 Hz.
• Idem ao ensaio 3.1;
3.3
• Idem ao ensaio 2.1; • Microturbina fornecendo 30 kW ao sistema.
2.2
• Microturbina fornecendo 15 kW ao sistema.
O SETOR ELÉTRICO
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de tensão de curta duração e às variações de tensão em regime Módulo IV – Variação de tensão em regime
Qualidade de energia
(regulação de tensão). A Tabela 4 fornece os detalhes associados aos A interconexão de equipamentos de geração distribuída com a rede
ensaios de qualidade de energia. elétrica não pode provocar variações dos níveis de tensão no ponto de
acoplamento comum, de forma a causar violações de limites proibitivos
Tabela 4 – Módulo IV – Qualidade de energia
preestabelecidos. Os níveis de tensão eficazes nos sistemas em baixa
Ensaio Características
tensão devem permanecer dentro de certos patamares que garantam o
• Grupo motor-gerador a diesel operando normalmente;
correto funcionamento de equipamentos elétricos. No Brasil, os níveis de
4.1 • Banco de resistência de 38 kW;
tensão em regime permanente são regulamentados pela Resolução n.
•Tensão de operação 220/127 V, 60 Hz.
505 da Aneel e, posteriormente, pelos procedimentos de distribuição.
4.2 • Microturbina operando a vazio;
• Tensão de operação 280/220 V, 60 Hz. Módulo V – Harmônicos
• Idem ao ensaio 4.1; Os limites de distorção harmônica de tensão, no cenário nacional,
4.3 serão estabelecidos pelo PRODIST, cuja abrangência contemplará,
• Microturbina fornecendo 5,5 kW ao sistema.
principalmente, as redes de distribuição de energia elétrica. Nesse
4.4 • Idem ao ensaio 4.1;
contexto, a tensão gerada pelos equipamentos de GD conectados à rede
• Microturbina fornecendo 15 kW ao sistema.
de distribuição deverá atender aos requisitos estabelecidos na presente
• Idem ao ensaio 4.1; norma. A Tabela 6 apresenta os limites estabelecidos pelo Prodist no
4.5
• Microturbina fornecendo 30 kW ao sistema. tocante às distorções harmônicas de tensão.
Para complementar as informações sobre o fenômeno harmônico, o
IEEE 1547 estabelece que, quando o equipamento de GD estiver suprindo
Limites normativos admissíveis utilizados na análise
dos resultados dos testes cargas lineares e equilibradas, o conteúdo harmônico de corrente deve
O SETOR ELÉTRICO
38 Setembro 2008
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Qualidade de energia
Tabela 7 – Índices de conformidade para desequilíbrios de tensão
Recomendação/norma Limite
IEEE 519 –
EM 50160 2%
ANSI C84.1 3%
NRS 048 2%
NTCSE –
IEC 2%
ONS – Submódulo 2.2 2%
Prodist 2%
Figura 1 – Sistema microturbina utilizado nos ensaios
Estrutura laboratorial e equipamentos
utilizados nos ensaios Essencialmente, a microturbina é composta por uma turbina a
Conforme relatado anteriormente, a conexão de geradores combustão e por um gerador elétrico, conectados ao mesmo eixo,
modulares de energia na rede de distribuição em baixa tensão deve produzindo tensão alternada em alta freqüência. A tensão terminal com
ser respaldada por uma série de exigências de segurança, tanto patível com a rede é obtida mediante o uso de conversores eletrônicos.
para os recursos técnicos da rede elétrica quanto para os recursos A microturbina empregada nos ensaios possui o sistema de
humanos que acessam o sistema da concessionária. proteção integrado ao próprio equipamento. Assim, conforme
Devido a essas restrições e diante da necessidade da realização contido no manual de informações técnicas, não há necessidade
de ensaios laboratoriais, optou-se por estruturar um sistema elétrico de adicionar outros aparatos de proteção para sua conexão com o
hipotético que representasse, com certa margem de fidelidade, sistema elétrico de distribuição. As funções de proteção integradas
o sistema real da concessionária. Para se atingir tal propósito, foi à microturbina obedecem à nomenclatura da IEEE C37.90-1989.
utilizado um grupo motor-gerador a diesel, cuja capacidade de O diagrama esquemático da microturbina, enfatizando o seu
fornecimento gira em torno de 150 kVA, em 220 V. A seleção do princípio de funcionamento e os componentes que a compreendem,
grupo motor-gerador a diesel obedeceu aos requisitos estabelecidos é apresentado na Figura 2.
pela norma IEEE 1547.1. Complementarmente ao gerador,
utilizou-se nos ensaios um grupo de cargas elétricas ativas 38 kW.
Na seqüência, os detalhes técnicos de cada equipamento utilizado
nos ensaios serão pormenorizados.
Cargas elétricas
Montagem experimental
O conjunto de cargas utilizado para a realização dos testes foi constituído
O esquema unifilar do sistema elétrico estruturado para a
de um banco de resistências trifásico (38 kW), um transformador trifásico
realização dos ensaios encontra-se ilustrado na Figura 3.
(45 kVA) e um equipamento de eletrólise (10 kW, bifásico). O banco resistivo
foi constituído por três conjuntos de resistências de, aproximadamente,
12,6 kW cada, comandadas por três disjuntores.
Microturbina
Os testes de conexão foram aplicados na microturbina ilustrada
na Figura 1. Como a tensão gerada pela microturbina é incompatível
com a tensão da rede elétrica de distribuição, foi necessário utilizar
um transformador de ajuste para possibilitar a operação do
equipamento em paralelo com o sistema de energia.
Figura 3 – Esquema unifilar do sistema elétrico utilizado nos testes
O SETOR ELÉTRICO
40 Setembro 2008
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Deve-se ressaltar que a aquisição dos sinais de tensão e de corrente, Diante dos resultados apresentados, ressalta-se que a utilização
durante a aplicação dos ensaios, foi feita nos terminais de saída da microturbina do grupo gerador a diesel atende perfeitamente aos anseios dos
e nos terminais do grupo motor-gerador a diesel (barramento 220 V). Para ensaios ora propostos, representando, com certa fidelidade, o
algumas situações de operação da microturbina, os registros foram realizados sistema elétrico da concessionária. As discrepâncias apresentadas se
nos terminais do próprio equipamento (barramento 380 V). justificam no fato de que o sistema de distribuição da concessionária,
assim como qualquer outro sistema de distribuição, possui muitas
Resultados variáveis externas que afetam seu comportamento.
A seguir são apresentados os resultados oriundos dos testes
nos equipamentos de Geração Distribuída, os quais se encontram Ilhamento
divididos por módulos, conforme apresentado em tabelas anteriores. Para simular uma situação de ilhamento, o disjuntor D1,
responsável pela interconexão entre o gerador a diesel e os demais
Validação do sistema elétrico hipotético componentes do sistema, conforme ilustrado na Figura 3, foi aberto
As tabelas a seguir apresentam, de forma resumida, os valores intencionalmente. A partir desse instante, parte do sistema elétrico
mais relevantes obtidos com as medições efetuadas tanto no hipotético passa a ser alimentado pela fonte GD. Os resultados
sistema da concessionária como no grupo gerador. Nesse sentido, obtidos dos ensaios experimentais, para cada um dos itens descritos,
tais grandezas podem ser comparadas, com a finalidade de validar são analisados na seqüência.
o sistema elétrico hipotético.
O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2008 41
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Em todas as situações analisadas, o tempo de atuação do sistema Figura 9 – Análise comparativa entre as distorções harmônicas de tensão
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42 Setembro 2008
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Conclusão Todavia, não obstante a bateria de testes realizados, novas
Neste artigo foram apresentados os resultados de ensaios investigações devem ser conduzidas de forma a se contemplar outras
experimentais em uma microturbina, com o intuito de avaliar a conexão condições de não conformidade não identificadas neste trabalho.
destes equipamentos com a rede elétrica. Os ensaios foram conduzidos
de forma a atender aos requisitos estabelecidos pelo procedimento Referências bibliográficas
Grisham, J. L. “A Guidebook to Evaluate the Use of Distributed Generation in
normativo IEEE 1547. Os estudos compreenderam análises das funções Distribution Systems”, A Thesis Submitted to the Faculty of Mississippi State
Universit. Mississippi, May 2004.
de proteção, bem como a avaliação da degradação dos níveis de Dugan, R.; McGranaghan, M. F.; Beaty, H. W. “Electrical Power System Quality”,
conformidade da tensão de suprimento da rede elétrica quando da McGraw-Hill, Second Edition, USA, 2002.
IEEE 1547 – 2003 – “IEEE Standard for Interconnecting Distributed Resouces with
operação das fontes GD. Electric Power Systems”, 2003.
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica: Prodist – Procedimentos de
Com relação aos ensaios para a avaliação da confiabilidade do Distribuição.
IEEE 519-1992 – “IEEE Recomended Practices and Requirements for Harmonic
sistema de proteção do equipamento de GD, ficou evidenciado que a
Control in Electrical Power Systems”, 1992.
resposta de atuação dos equipamentos, com a presença de distúrbios Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, Resolução Nº 505, de 26 de
novembro de 2001.
anormais na rede elétrica, atendeu plenamente aos limites estabelecidos IEC 61000-4-30 Ed. 1: Electromagnetic Compatibility (EMC) – Part 4-30: Testing
and Measurement Techniques – Power Quality Measurement Methods.
pelo IEEE 1547. Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, “Submódulo 2.2, Padrões de
No que concerne aos ensaios relacionados à qualidade da energia Desempenho da Rede Básica”, de 22 de agosto de 2002.
elétrica, os fenômenos que foram contemplados nesta avaliação Continua na próxima edição
atenderam às recomendações normativas utilizadas como referência
Mateus Duarte Teixeira é engenheiro eletricista, mestre em Ciências
nas análises do impacto. Ressalva deve ser feita para o caso do indicador pela Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de
DDT (Distorção Total de Demanda), cujos patamares para alguns ensaios Uberlândia (UFU) e gerente de desenvolvimento de negócios na área de
extrapolaram os limites máximos de injeção de correntes harmônicas. qualidade de energia da Arteche EDC.
Contudo, conforme ficou evidenciado, as distorções de correntes Rodrigo Antônio Peniche é engenheiro eletricista, mestre em
Ciências pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e trabalha com
registradas não comprometeram a conformidade da tensão do sistema
planejamento da distribuição em sistemas de 69 kV e 138 KV na Copel.
elétrico. Desse modo, ficou comprovado que a microturbina levada aos
Alexandre Rasi Aoki é engenheiro eletricista, mestre e doutor pela Escola
ensaios pode ser interconectada ao sistema elétrico de distribuição sem Federal de Engenharia de Itajubá (Unifei) e gerente da Divisão de Sistemas
comprometer o seu desempenho. Elétricos do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (Lactec).
O SETOR ELÉTRICO
Setembro 2008 43
Apoio
Qualidade de energia Por I. T. Domingues, A. J. Monteiro, N.M. Matsuo, N. Kagan, S.X. Duarte, E. L. Ferrari
Capítulo VIII
Danos em equipamentos de baixa
tensão causados por surtos
atmosféricos e seu impacto nos
pedidos de indenização
Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse
dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no
País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos,
novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de
energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de
contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”,
organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de
São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em
meados do ano passado.
Este artigo enfoca os estudos realizados para o desenvolvimento de uma metodologia de análise quanto
à possibilidade de ocorrência de danos em equipamentos de consumidores de baixa tensão em decorrência de
descargas atmosféricas, com o objetivo de inclusão dessa metodologia no sistema informatizado de análise de
pedidos de indenização existente na AES Eletropaulo.
Trabalhos têm sido publicados recentemente causados por anomalia no sistema alimentador. Esse sistema
relativamente à questão de danos em equipamentos de visa tornar o processo de atendimento mais eficiente,
consumidores de energia elétrica e ressarcimentos por ágil, uniforme e apoiado em resultados de estudos dos
parte da empresa concessionária, atestando a importância fenômenos da rede elétrica, que podem causar danos
do assunto e a preocupação que isso suscita. A questão é em equipamentos e em informações de suscetibilidade
originada pelo uso crescente de aparelhos eletroeletrônicos de equipamentos levantadas por meio de ensaios em
em todas as camadas sociais, aparelhos esses que são laboratório.
suscetíveis a solicitações decorrentes de condições anormais O sistema atualmente em funcionamento contempla
nas tensões de alimentação, bem como a exigência crescente ocorrências de curta e longa duração (curto-circuito,
dos consumidores em relação aos padrões de atendimento abertura do neutro, abertura de fase, etc.) e alguns
de serviços públicos, que, hoje em dia, dispõem de canais fenômenos transitórios (chaveamento de capacitores e
para reivindicar os seus direitos e órgãos reguladores atentos restabelecimento de circuito).
à questão. Em conseqüência, as empresas de energia têm Entre novos estudos e desenvolvimentos realizados
sofrido aumento nos gastos para ressarcimento de prejuízos destaca-se a análise quanto à possibilidade de danos
por danos em equipamentos de consumidores. de equipamentos por descargas atmosféricas a partir
A Universidade de São Paulo vem desenvolvendo, de informações do sistema de detecção de raios hoje
em conjunto com algumas empresas de distribuição de disponíveis. Esta questão assume importância, tendo
energia elétrica, um sistema informatizado de análise e em vista que a regulamentação vigente não isenta as
suporte técnico para atendimento dos casos de pedidos de concessionárias de energia de responsabilidade por danos
indenização por danos em equipamentos de consumidores em equipamentos de consumidores relacionados a raios.
O SETOR ELÉTRICO
32 Outubro 2008
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Este artigo enfoca os estudos desenvolvidos sobre a potencialidade por meio de ensaios em laboratório, os níveis de suportabilidade de
destrutiva das sobretensões atmosféricas em relação aos equipamentos equipamentos às sobretensões e, assim, indiretamente, a possibilidade
de consumidores de baixa tensão. ou não de dano.
Entretanto, devido às incertezas associadas aos diversos fatores
Sobretensões atmosféricas em envolvidos na propagação de surtos atmosféricos na rede de distribuição
instalações de baixa tensão e ao processo de “queima” de equipamentos, não é possível dizer de uma
Tendo em vista que a regulamentação vigente (Resolução 61, de 29 maneira determinística e precisa o efeito que uma descarga atmosférica
de abril de 2004, da Aneel) não isenta as concessionárias de energia teria sobre um determinado equipamento ligado à rede. Por esse motivo,
elétrica de responsabilidade nos casos de danos em equipamentos de parece razoável adotar, como princípio, um procedimento de análise
consumidores relacionados ao fenômeno mencionado, levantou-se a que forneça resultados no geral pessimistas, dentro do razoável, de
possibilidade de inclusão da análise quanto a danos de equipamentos por forma a evitar prejudicar consumidores que tenham seus equipamentos
descargas atmosféricas a partir de informações do sistema de detecção danificados por descargas atmosféricas. Esse posicionamento considera
de raios hoje disponíveis. a necessidade de estabelecer critérios de análise que, embora sujeitos
A inclusão da análise de descargas atmosféricas, no sistema a imprecisões, permitam classificar os pedidos de indenização em
informatizado de suporte ao atendimento de pedidos de indenização, procedentes ou não, por meio de procedimento que venha a ter o aval
visa criar, nesse sistema, uma ferramenta que forneça um diagnóstico de órgãos reguladores de energia elétrica.
quanto à possibilidade de “queima” de equipamentos por descargas, Na prática, devido à margem de incerteza na localização do
em função da localização da instalação do consumidor em relação ao ponto de queda de raio, em grande parte das situações não é possível
local. Além de fornecer os parâmetros da descarga, considerando a determinar se a descarga atingiu a rede de distribuição ou apenas um
rede de suprimento de energia, na qual o consumidor encontra-se, bem ponto próximo à rede, principalmente em redes urbanas. Por isso, os
como as características de suportabilidade do equipamento a surtos estudos de simulação consideraram a situação mais pessimista, que é
atmosféricos. a descarga direta, que engloba casos em que o raio atinge a linha de
Uma metodologia mais viável para essa análise consiste em avaliar distribuição primária e secundária, incluindo ramais de ligação. Engloba,
por meio de simulações computacionais as possíveis sobretensões nas também, os casos em que o raio atinge instalações, edificações e
instalações elétricas provocadas por descargas atmosféricas e avaliar, estruturas alimentadas pela rede de distribuição, pois, nesses casos, é
O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2008 33
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possível a propagação das sobretensões à rede de distribuição por meio Rede simulada
Qualidade de energia
de ligações existentes na instalação atingida ou por caminhos abertos A rede elétrica básica considerada para as simulações é
pelas disrupções que ocorrem em conseqüência da descarga. representada na Figura 1 e consiste em:
• uma linha de distribuição primária de 10 km, com condutores de
Simulações fase de 3x336,4 MCM – Al e condutor de neutro de 1x1/0 AWG –
Para realizar as simulações, foi utilizado o programa ATP (Alternative Al, com neutro aterrado a cada 300 m;
Transients Program). Essas simulações foram fundamentais para um melhor • transformador de distribuição, que supre o circuito secundário
entendimento do processo de propagação de surtos de tensão e de corrente analisado localizado no ponto médio do circuito primário;
resultantes de descargas diretas em redes de distribuição. Diferentemente • circuito secundário com extensão de 150 m em cada lado do
do que ocorre normalmente com linhas de transmissão de alta tensão, as transformador, acoplado à linha primária, com condutor de fase 1/0
descargas diretas em linhas de distribuição provocam múltiplas disrupções AWG – Al; neutro comum com a linha primária;
em isoladores, tornando difícil realizar uma análise ou mesmo obter um • derivações de consumidores secundários no circuito estudado a
entendimento qualitativo da questão sem recorrer a uma simulação cada 30 m;
detalhada, pois as ondas de tensão e de corrente são resultantes de inúmeras • neutro aterrado nas entradas de consumidores;
interações e reflexões em muitos pontos de descontinuidade. • transformador de distribuição protegido por pára-raios no lado do primário;
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• existência de pára-raios ao longo da linha primária, tendo sido foi utilizado o modelo de Rajotte/Fortin/Cyr e para transformador
considerados pára-raios nas 3 fases a cada 300 m e nas extremidades trifásico foi utilizado o modelo de Kanashiro. Os pára-raios foram
do alimentador; representados por um modelo disponível no programa ATP.
• ramais de ligação de consumidores do circuito secundário analisado Utilizou-se uma curva típica VxI de um pára-raios de ZnO.
de 10 m (admitido cabo multiplexado de 10 mm2) Os isoladores foram modelados por meio de chaves normalmente
• não considerada existência de qualquer dispositivo de proteção de abertas que se fecham quando determinadas condições de tensão
baixa tensão (BT); são alcançadas, simulando a ocorrência de disrupção. Foi utilizado o
• considerada a possibilidade de ocorrência de disrupção em modelo, em que é definida uma grandeza chamada efeito disruptivo
isoladores da rede primária e do circuito secundário estudado, (DE), dada pela expressão:
mas não nas instalações de consumidores de BT e nos ramais de
ligação.
Redes reais geralmente apresentam ramificações e interligações dos
neutros de diferentes alimentadores, que contribuem para uma maior Em que U(t) é a tensão aplicada; t0 é o instante de tempo em que
efetividade do aterramento do sistema. Esse efeito pode ser levando U(t)>U0; U0 é a tensão de início de atuação e k é uma constante.
em consideração, caso seja desejado obter resultados mais realísticos, Na literatura, existem menções de diferentes modelos de
principalmente em redes com neutro contínuo interligado. representação de carga, como resistência, indutância, capacitância e
composições de elementos. Nas simulações básicas realizadas neste
Modelos de representação dos componentes da rede trabalho, foram considerados 5 diferentes modelos de representação
As linhas primária e secundária foram representadas utilizando de cargas de consumidores: resistência (R = 30 Ω), indutância (L =
o modelo disponível no ATP, que leva em consideração a variação 3,5 μH [9]), capacitância (C = 4 ηF).
dos parâmetros com a freqüência. As linhas foram representadas O ramal de derivação do circuito secundário para o consumidor
em trechos de 30 m cada, sendo esse espaçamento aumentado a (cabo multiplexado) foi representado utilizando o modelo de linha
partir de 900 m do transformador. com parâmetros distribuídos. Os aterramentos foram representados
Nos estudos, foram considerados transformadores monofásico por resistências em série com indutâncias que representam as
e trifásico. Para a representação do transformador monofásico, descidas de aterramento. Foram utilizados alguns diferentes valores
O SETOR ELÉTRICO
Outubro 2008 35
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de resistências de aterramento para análise paramétrica. Com as simulações, foram avaliadas as tensões nos pontos de
Qualidade de energia
A descarga atmosférica foi representada como uma fonte de conexão de consumidores do circuito secundário da rede estudada
corrente conectada à linha. Foi utilizada a forma de onda triangular em função da amplitude da corrente de descarga e da distância do
(crescimento constante até a crista e decaimento constante após a ponto de descarga na linha primária em relação ao transformador.
mesma). O tempo de frente até a crista, considerado nas simulações Foram obtidos, assim, os valores de crista das tensões fase-
básicas, é de 2,25 μs e o tempo de cauda até o meio valor de crista neutro e neutro-terra em função da distância, para diferentes
é 80 μs (Figura 2). valores de corrente de descarga. A Figura 4 apresenta gráficos com
esses valores, obtidos para a rede da Figura 1, com os valores das
resistências de aterramento RT = RC = RS = 100Ω.
Suportabilidade de equipamentos
a surtos atmosféricos
Solicitações em equipamentos de BT
As sobretensões podem aparecer nos equipamentos de
dois modos: comum e diferencial. As sobretensões de modo
Figura 2 - Corrente de descarga. Descarga a 600 m do transformador
diferencial aparecem em função das diferenças nas tensões
Sobretensões nas entradas de consumidores de baixa tensão
transitórias das diferentes fases ou entre fase e neutro. As
– Resultados das simulações
sobretensões de modo comum aparecem em função das
A Figura 3 mostra exemplos de resultados obtidos em uma
elevações de potencial nos condutores (fase e neutro) da rede
simulação em que foram admitidos os valores de resistências de
de alimentação em relação à terra.
aterramento RT, RS, RC = 100 Ω e RP = 200 Ω e descarga a 600 m
É necessário considerar o fato de que em muitos equipamentos
do transformador.
não há conexão da sua massa ou do seu referencial de “terra” ao
As simulações mostraram que as formas de onda e as amplitudes
condutor de proteção da instalação, seja por não haver terminal de
das sobretensões variam consideravelmente em função do modelo
aterramento, seja pelo fato de não ter sido realizada a conexão apesar
de representação das cargas de consumidores. Dentre diferentes
de existir esse terminal. Por esse motivo, dependendo do local em
modelos utilizados nas simulações, para a representação das cargas,
que estão instalados, esses equipamentos podem ficar sujeitos às
foi considerado como particularmente apropriados, para este estudo,
solicitações de ambos os modos, comum e diferencial, em instalações
os modelos Bassi (apresentados na VIII International Symposium on
com esquema de aterramento TN ou TT.
Lightining Protection, realizado em novembro de 2005, em São
Paulo), que foram baseados em ensaios de laboratório.
O SETOR ELÉTRICO
36 Outubro 2008
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Normas relativas à imunidade de equipamento a) Formas de onda e níveis de tensão aplicados
As normas da série IEC 61000 (Compatibilidade As seguintes ondas foram utilizadas nos ensaios: onda
Eletromagnética) tratam da questão de imunidade de combinada (tensão de 1,2 x 50 ms e corrente de 8/20 us) e
equipamentos a perturbações do ponto de vista do seu “ring wave”.
desempenho operativo/funcional e servem como uma referência O gerador combinado (IEC 61000-4-5) apresenta uma
aos estudos e objetivos enfocados neste artigo. tensão de saída em vazio com tempo de frente de 1,2 μs e
A IEC 61000-6-1 especifica os seguintes níveis de imunidade, tempo até o meio valor de 50 μs e corrente de curto-circuito
relativos a surtos, para entradas de alimentação em CA de com tempo de frente de 8 μs e tempo até o meio valor de 20 μs.
equipamentos para ambientes residencial, comercial e industrial O gerador de impulsos de onda “ring wave” (IEC 61000-4-12)
leve: linha–terra: ± 2 kV e linha–linha: ± 1 kV. apresenta características de saída oscilatória.
Embora não haja nenhuma exigência para os equipamentos
existentes no mercado nacional quanto ao atendimento aos b) Formas de aplicação das ondas
valores especificados na IEC 61000-6-1, os níveis de imunidade Os aparelhos foram ensaiados com os terminais de
especificados nesta norma podem servir como referência para alimentação conectados à fonte e contemplando os estados:
a definição dos níveis de suportabilidade a serem utilizados nas ligado (em funcionamento), em estado “stand-by” (aparelho
análises, junto com os níveis obtidos nos testes em laboratório. conectado à alimentação, mas em estado desligado, nos casos
As normas IEC 61000-4-5 e IEC 61000-4-12, que tratam de com essa possibilidade, como: TV, DVD, etc.) e desligado (por
métodos de ensaios de imunidade de equipamentos relativos um interruptor mecânico, quando existente no aparelho). Nos
a surtos atmosféricos, serviram, neste estudo, para a definição ensaios de modo diferencial, as tensões são aplicadas entre os
dos testes realizados em laboratório. condutores de alimentação do aparelho.
Ensaios de suportabilidade Nos ensaios de modo comum, as tensões são aplicadas entre
Foram realizados ensaios com vários equipamentos os condutores de alimentação do aparelho e o seu terminal
eletroeletrônicos com a finalidade de levantar os níveis de de aterramento, quando existir. Em aparelhos sem terminal de
suportabilidade. aterramento, foram realizados ensaios aplicando tensão entre
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os condutores de alimentação e uma placa condutora colocada Dessa forma, dado um nível de suportabilidade haveria
Qualidade de energia
sob o equipamento, em contato com a carcaça do equipamento. uma distância crítica para certa corrente de descarga. A rigor,
Para aparelhos de uso em mesa, foram também considerados a amplitude de uma sobretensão poderia ser comparada com o
ensaios com o plano de terra colocado sob um dos pés da mesa valor da tensão de suportabilidade de um equipamento somente
na qual fica o aparelho. se as formas de onda forem iguais. No entanto, tendo em vista
Os testes foram aplicados aumentando gradualmente a que pode ocorrer uma grande variedade de formas de onda
severidade dos impulsos a fim de se obter o valor de impulso diferentes, propõe-se que os valores de pico das sobretensões
até o qual o equipamento suporta. A severidade foi aumentada obtidos nas simulações sejam comparados diretamente com os
até que o equipamento fosse danificado. valores de suportabilidade obtidos em ensaios.
(1) entrada com tensão fixa c) Critério para diagnóstico quanto à queima ou não de
(2) entrada regulada automaticamente equipamento
(3) refrigerador sem controle eletrônico
(4) equipamento sem terminal terra (tensão aplicada entre condutores ativos e Tendo-se a distância crítica e a elipse de segurança para
uma placa sob o aparelho) um caso sob análise, o diagnóstico é obtido em função da
localização do transformador em relação à elipse considerada e
Os ensaios indicaram que, de uma maneira geral, a onda a distância crítica obtida. Se a probabilidade de que a descarga
combinada é mais severa para os equipamentos do que a “ring tenha ocorrido dentro da distância crítica for significativa,
wave” de mesma amplitude. Assim, as suportabilidades obtidas nos considera-se que o equipamento em questão pode sofrer dano
ensaios foram determinadas pela onda combinada. em conseqüência da descarga.
Nos ensaios realizados, os equipamentos apresentaram, Na aplicação desse método, pode-se medir a distância
em geral, suportabilidades superiores aos valores de imunidade crítica pelo caminho elétrico (linha), ou, caso seja desejado
especificados na norma IEC-61000-6-1 (linha-terra: ±2 kV, e linha- uma aplicação mais conservativa, pode-se medir essa distância
linha: ±1kV). geograficamente. Neste caso, a área situada dentro da
circunferência com centro no transformador e raio igual à
Procedimento de análise quanto distância crítica pode ser chamada de área de vulnerabilidade.
à possibilidade de queima O critério proposto é que, se houver intersecção entre a
Para a análise dos casos de pedidos de indenização por elipse de confiança e essa circunferência seja considerada, o
queimas de equipamentos relacionados com as descargas equipamento pode sofrer dano (Figura 5). Utilizando a elipse
atmosféricas, buscou-se estabelecer procedimentos que de probabilidade de 50%, a condição de não haver intersecção
permitam realizar a análise das sobretensões em função da com a circunferência resulta em probabilidade em geral
distância do ponto de queda do raio em relação ao consumidor bastante baixa de que a descarga tenha ocorrido dentro da área
e do nível de suportabilidade do equipamento em questão. de vulnerabilidade.
O SETOR ELÉTRICO
38 Outubro 2008
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na rede de suprimento ou informações colhidas nas instalações
do consumidor reclamante e na sua vizinhança, pois esses dados
podem auxiliar para diagnósticos mais apurados.
Evidentemente, as análises de pedidos de indenização
não se restringem às questões técnicas, envolvendo aspectos
jurídicos e regulatórios que devem ser considerados, mas os
procedimentos aqui propostos permitem uma melhor avaliação
do problema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo apresentou os estudos realizados para avaliação
da possibilidade de danos em equipamentos em conseqüência
Figura 5 - Ilustração da posição relativa entre a elipse de probabilidade (50%) e a
circunferência da área crítica
de descargas atmosféricas. Os critérios propostos estão sendo
incorporados no sistema informatizado de auxílio à análise
d) Aplicação do critério proposto
Embora o critério proposto permita distinguir situações com maior Existem trabalhos de continuidade a esses estudos visando
probabilidade de ocorrência de dano em equipamentos de outras novos desenvolvimentos, em que estão previstos estudos
situações de menores probabilidades, não se trata de um indicador incluindo realização de medições de eventos de surtos no
absoluto da possibilidade de dano, tendo em vista as incertezas sistema de distribuição, pesquisas de medidas para redução
envolvidas. Por esse motivo, nas análises de pedidos de indenização, de casos de pedidos de indenização, incluindo instalações de
não deve ser descartada a utilização de dados adicionais, tais dispositivos de proteção e novos ensaios de laboratório relativos
como aqueles referentes às ocorrências de manutenção/operação à suportabilidade de equipamentos.
O SETOR ELÉTRICO
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Capítulo IX
Sobretensões induzidas por
descargas atmosféricas em redes
secundárias
Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse
dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no
País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos,
novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de
energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de
contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”,
organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de
São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em
meados do ano passado.
Neste artigo, serão apresentados os resultados de um estudo sobre as características das sobretensões
ocasionadas por descargas atmosféricas próximas a linhas de distribuição de baixa tensão. As tensões induzidas
foram calculadas pelo ERM (“Extended Rusck Model”) – modelo de validade comprovada por centenas de
comparações entre resultados teóricos e experimentais.
As descargas atmosféricas são responsáveis por parcela atuação de dispositivos de proteção. Por sua vez, as tensões
significativa dos distúrbios nas redes elétricas, podendo induzidas na rede secundária ainda não foram estudadas
ocasionar desligamentos ou queima de equipamentos, em grande profundidade. Esses transitórios ocorrem com
tanto das concessionárias quanto dos consumidores. Os freqüência e podem atingir amplitudes elevadas.
distúrbios nas redes de distribuição causados por descargas A adoção de novos critérios para a avaliação da
atmosféricas podem ser causados tanto por descargas qualidade da energia fornecida tem incentivado a realização
diretas como indiretas (próximas à rede). As descargas de pesquisas com o objetivo de se obter informações a
diretas na rede de baixa tensão são raras pelo fato de os respeito das características das sobretensões em redes
condutores estarem posicionados em alturas inferiores à de baixa tensão. A busca de um melhor entendimento
dos condutores da rede primária e pelo fato desta última do comportamento das tensões induzidas em relação
normalmente estar presente, blindando a rede secundária. a diversos parâmetros é de fundamental importância.
Os surtos ocasionados por descargas diretas na rede As formas de onda das tensões induzidas em redes de
primária são transferidos para a rede de baixa tensão baixa tensão típicas brasileiras são caracterizadas por
por meio do transformador e também pela atuação oscilações amortecidas de alta freqüência em função das
dos pára-raios de média tensão. Vários estudos vêm simulações terem sido realizadas considerando linhas com
sendo desenvolvidos a respeito das tensões induzidas espaçamentos da ordem de 250 m a 400 m entre pontos
na rede primária devido a descargas indiretas e sobre as de aterramento do neutro.
tensões transferidas para a rede secundária por meio dos Entretanto, como no Brasil em geral as distâncias entre
transformadores de distribuição. No caso de uma descarga os pontos de aterramento são menores, as características
direta em uma edificação, ocorre um aumento do potencial das tensões induzidas são diferentes. Deve-se considerar
de terra próximo à instalação, o qual pode ocasionar também que as redes de baixa tensão apresentam ainda
a transferência de surtos à rede de baixa tensão em grande diversidade de configurações.
decorrência de descargas disruptivas na instalação ou da Nesse trabalho, são apresentados resultados referentes
O SETOR ELÉTRICO
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às características das sobretensões nas redes de baixa tensão, causadas das tensões induzidas apresentadas neste trabalho, as cargas foram
por descargas atmosféricas indiretas. O estudo considera diferentes representadas pelo circuito mostrado na Figura 1.
configurações de rede e discute a influência de parâmetros, como a
altura do condutor fase, o comprimento do ramal de ligação, a distância
entre pontos de aterramento do condutor neutro e a posição ao longo
da linha.
As simulações foram realizadas por meio do modelo matemático
ERM (“Extended Rusck Model”), cuja validade foi comprovada por meio
de centenas de comparações entre resultados teóricos e experimentais.
O trabalho discute também a modelagem das cargas dos consumidores Figura 1 – Aproximação da impedância de entrada de uma instalação de baixa
tensão típica (sistema TN)
e do transformador de distribuição diante de surtos atmosféricos.
O SETOR ELÉTRICO
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μH, correspondendo a um ramal com 40 m de comprimento. As alturas As formas de onda e as amplitudes das tensões induzidas
Qualidade de energia
dos condutores fase (h) e neutro são 6,8 m e 7,0 m, respectivamente. A dependem dos parâmetros da linha, das cargas consumidoras e dos
resistência de terra é igual a 20 Ω, a indutância do condutor de descida parâmetros das descargas atmosféricas. Como podemos observar, as
do aterramento do neutro é igual a 17,5 μH, sendo o condutor neutro tensões induzidas (fase-terra, fase-neutro, neutro-terra) apresentam
aterrado com o transformador e nos locais de instalação de cargas. A amplitudes elevadas, variando entre 6 kV e aproximadamente 17
descarga atmosférica ocorre em frente ao transformador, a uma distância kV, e podem acarretar descargas disruptivas em um ou mais pontos
d = 50 m da linha. A amplitude da corrente de descarga (I) é 45 kA e da rede. A tensão induzida fase-terra atinge o seu valor máximo em
sua velocidade de propagação é igual a 30% da velocidade da luz no instante próximo ao instante em que a corrente da descarga atinge
vácuo. A forma de onda da corrente é triangular, com tempos de frente a sua máxima amplitude (3 μs). No entanto, o valor de crista da
e até zero, respectivamente iguais a 3,0 μs e 150 μs. O modelo de linha tensão fase-neutro ocorre em instante inferior ao da tensão induzida
de transmissão (TL) foi usado para determinar a distribuição da corrente fase-terra. Isso se deve à natureza predominantemente indutiva das
ao longo do canal de descarga, suposto com 3 km de comprimento. cargas e do transformador. Observam-se também oscilações nas
A menos que indicado em contrário, todas as simulações apresentadas tensões induzidas na linha devido às diversas reflexões das ondas
no trabalho foram realizadas com as condições e parâmetros indicados de tensão e corrente ocasionadas pela presença do transformador e
anteriormente. As tensões induzidas calculadas no ponto P indicado na das cargas consumidoras.
Figura 2 são mostradas na Figura 3.
Altura do condutor fase
Com o objetivo de avaliar a influência da altura do condutor
fase, foram realizadas duas simulações da configuração de rede,
apresentada na Figura 2, uma com h = 6,8 m e outra com h = 6,4
m. O único parâmetro alterado nas simulações foi a altura h do
condutor fase, mantendo os restantes iguais aos do caso base. As
tensões induzidas nesses dois casos são mostradas na Figura 4.
O SETOR ELÉTRICO
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A tensão induzida é diretamente proporcional à altura do condutor. atmosférica. As tensões induzidas fase-terra e fase-neutro no ponto P da
Quando um condutor não aterrado (fase) está localizado nas proximidades Figura 5, assim como aquelas obtidas para o caso base (x = 0 m e xd = 0
de um condutor aterrado (neutro), a tensão induzida no condutor fase m), são mostradas na Figura 6.
diminui com a redução da distância entre eles (mantendo-se os demais
parâmetros inalterados), devido ao acoplamento entre os condutores.
Como na rede secundária convencional, os condutores são instalados
verticalmente, a mudança do afastamento dos condutores fase em
relação ao neutro provoca a alteração da altura h do condutor fase.
Assim, a redução na altura do condutor fase de 6,8 m (caso base) para
6,4 m pode diminuir ou aumentar a tensão fase-terra, dependendo
de qual dos efeitos é predominante. Embora as diferenças não sejam
significativas, observa-se nessas simulações que para a menor altura do
condutor (h = 6,4 m) a tensão induzida é maior, o que leva à conclusão
que, para essa configuração de linha, o efeito do acoplamento entre
os condutores fase e neutro é predominante em relação ao efeito de
redução da altura do condutor fase.
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Novembro 2008 33
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Comparando as tensões induzidas fase-terra nas três influência na tensão induzida. As distâncias utilizadas foram 30 m,
Qualidade de energia
Distância entre pontos de aterramento do neutro Pode-se observar que, para o caso em que xat é igual a 30
Nesse caso, a análise é feita com base na Figura 7, sendo o m, a amplitude de tensão induzida é menor se comparada às das
comprimento da linha igual a 450 m, com distância xat entre pontos tensões correspondentes às outras distâncias. A diferença entre as
de aterramento do condutor neutro. Variou-se então a distância tensões fase-terra é de aproximadamente 44% em relação ao caso
entre os pontos de aterramentos com o objetivo de estudar sua de xat = 60 m e de aproximadamente 56% em relação ao caso
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34 Novembro 2008
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36 Novembro 2008
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Qualidade de energia Por Juan Carlos Cebrian Amasifen, Luciano Camilo, Nelson Kagan e Nelson Matsuo
Capítulo X
Análise de áreas de risco
considerando os afundamentos de
tensão em estudos de planejamento
Recorrente em muitos seminários e congressos, o tema “qualidade de energia” sempre desperta o interesse
dos profissionais da engenharia elétrica por envolver problemas do dia-a-dia das instalações.
Nesse sentido, em busca da perfeição do abastecimento e da qualidade da energia a ser consumida,
especialistas encontram-se periodicamente em um dos mais importantes eventos sobre qualidade de energia no
País, a Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), para discutir, entre outros assuntos,
novas tecnologias, aspectos legais e contratuais, compatibilidade elétrica e eletromagnética, conservação de
energia, normas e recomendações e eficiência energética.
Considerando a importância do tema e ratificando o compromisso da revista O SETOR ELÉTRICO de
contribuir para a formação técnica dos seus leitores, damos continuidade ao fascículo “Qualidade de energia”,
organizado pelo coordenador do Centro de Estudos em Regulação e Qualidade de Energia da Universidade de
São Paulo (Enerq/USP), o professor doutor Nelson Kagan, a partir dos artigos expostos na CBQEE, realizada em
meados do ano passado.
Este trabalho permite avaliar os índices de qualidade de energia em uma rede de distribuição, permitindo
representar de forma gráfica, considerando a topologia da rede e áreas de risco para consumidores próximos.
Esta metodologia aplica o método de Monte Carlo, que permite obter os índices de maneira estatística.
Os novos processos industriais baseados em possível calcular a média dos indicadores esperados
equipamentos eletrônicos e a necessidade de um nível de para cada alimentador e subestação. Esta média indica
qualidade de energia compatível nos pontos de conexão o número esperado de disrupções levando em conta as
dos consumidores produzem mudanças nos modelos de curvas de sensibilidade dos consumidores.
planejamento de distribuição tradicionais. Ao invés de Entretanto, os objetivos a serem considerados no
considerar apenas os custos de equipamentos utilizados estudo de planejamento incluem a minimização do
para reforçar ou expandir a rede de distribuição e os número de ocorrências de afundamentos de tensão,
custos de perdas obtidos por meio de cálculos de fluxo especialmente aqueles que podem afetar os processos
de potência, este artigo apresenta na sua metodologia industriais.
uma análise do planejamento da distribuição que Uma tabela comparativa pode ser analisada
considera os indicadores de qualidade de energia. posteriormente, mostrando um número médio de
A modernização de companhias de distribuição disrupções encontradas para todos os barramentos em
requer a redução do número de interrupções. Devido cada alimentador e subestação. Deste modo, o estudo
à sensibilidade dos novos processos industriais, desenvolvido permite ao planejamento do sistema de
afundamentos de tensão podem ser tão severos quanto distribuição a estimação dos custos de cada disrupção
interrupções, considerando o lado do consumidor. Uma prevenida, permitindo a escolha de reforços baseados
disrupção (falha de equipamento) pode interromper na melhor opção de planejamento.
um processo ou resultar em perdas na produção, o que
pode levar horas para o restabelecimento. Metodologia
Para monitorar a qualidade de energia considerando Cálculo de indicadores relativos à variação de
o número de disrupções, este artigo apresenta uma tensão de curta duração
estimação de indicadores de disrupção, resultados Este artigo utiliza um modelo de curto-circuito
de simulação de Monte Carlo. Considerando estes convencional para avaliar correntes e tensões ao longo
indicadores, calculados para toda a rede elétrica, é da rede devido a uma dada falta. Além disso, ele utiliza
O SETOR ELÉTRICO
26 Dezembro de 2008
Apoio
o método da simulação de Monte Carlo para estimar afundamentos com a distribuição de probabilidade de ocorrência de falta.
e elevações de tensão nos diferentes pontos da rede, utilizando Diferentes distribuições de probabilidades podem ser consideradas,
dados estatísticos relacionados às taxas de falhas dos componentes e a diversidade de áreas pode ser representada assumindo-se
da rede. diferentes taxas de falhas associadas a cada ramal. Quando a taxa de
O método de Monte Carlo permite uma avaliação de indicadores falhas (falhas/km/ano) é igual para todos os ramais, uma distribuição
relacionados a variações de tensão de curta duração (VTCD), além uniforme é assumida.
de interrupções de curta e longa duração. As magnitudes das b) Tipo de falta: o método considera as seguintes faltas: fase-
VTCDs podem ser determinadas por cálculos de curto-circuito, terra, dupla-fase, dupla-fase terra e trifásico. Diferentes valores
desde que conhecidos dados específicos, como a topologia da rede probabilísticos são associados a cada tipo de falta, como na Figura 1.
probabilidade
de extinção da falta e tempos operacionais dos dispositivos de
proteção, que são normalmente relacionados à corrente de falta.
O método de Monte Carlo permite a elaboração de relatórios,
relacionados com dados estatísticos de ocorrências de VTCDs, Tipos de curtos-circuitos
originados de faltas por todo o sistema de distribuição.
fase-terra dupla-fase terra dupla-fase trifásico
Pela determinação do número de eventos de VTCDs, organizados
pela sua duração e magnitude, os alimentadores podem ser Figura 1 – Distribuição probabilística do tipo de falta
mostrados com informação dos riscos de VTCDs e interrupções. c) Impedância de falta: o método considera intervalo de impedâncias
de falta para faltas fase-fase e fase-terra. O intervalo de impedância
Simulação de faltas vai de 0 a um valor máximo, de acordo com o tipo de falta, como
Utilizando o método de Monte Carlo, os seguintes parâmetros mostrado na Tabela 1.
serão determinados em uma única simulação: O desenvolvimento dessa metodologia é iniciado com cadastro,
a) Local da falta no alimentador: o local é determinado de acordo identificação e características de um dos disjuntores dados pelo
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fabricante: ampolas de vácuo e respectiva vida útil (energia máxima distribuição é determinado por meio dessa simulação. Como as
Qualidade de energia
dissipada), informações armazenadas no banco de dados da condições de pré-falta não são consideradas neste estudo, os efeitos
concessionária. nas correntes destes barramentos nos demais alimentadores desta
Tabela 1 – Valor máximo de impedância de falta subestação são facilmente calculados.
As VTCDs originárias de sistemas de transmissão não são
Trifásico 10 Ω
incluídas neste trabalho. Entretanto, sabe-se que VTCDs nos sistemas
Dupla-fase 20 Ω
de distribuição são normalmente devido a faltas no próprio sistema
Dupla-fase terra (impedância terra) 20 Ω
distribuição.
Dupla-fase terra (impedância por fase) 10 Ω
Fase-terra 30 Ω
Planejamento para melhoria de indicadores de VTCDs
d) Tempo de extinção natural: é uma variável aleatória representada Fenômenos de VTCDs são basicamente relacionados ao
pela sua duração e distribuição probabilística como mostrado na mau funcionamento de equipamentos de consumidores, o que
Figura 2. geralmente causa interrupção em processos produtivos [4]. Este
conceito é referenciado como disrupção do consumidor. Processos
contínuos, quando interrompidos devido a afundamentos ou
elevações de tensão, normalmente demandam um longe período
para o restabelecimento dos procedimentos de produção.
Disrupções ocorrem quando a variação de tensão é mais severa
que a suportada pelo equipamento ou processo. Cada parte do
processo pode ser caracterizada por uma curva de sensibilidade,
como mostrada na Figura 3.
O SETOR ELÉTRICO
28 Dezembro de 2008
Apoio
Nd: número de disrupções causadas por VTCDs quando a ação de
planejamento i é considerada. (4)
NI: número de interrupções de longa duração quando a ação de
planejamento i é considerada. em que:
Os custos de disrupção individuais não são geralmente RCBi: relação custo-benefício da ação de planejamento i
conhecidos. Neste caso, pode se considerar apenas o número de Ci: custo da ação de planejamento i
disrupção no processo devido a VTCDs ou devido a interrupções de V0: custo de VTCD sem a ação de planejamento considerada.
longa duração, que é: Em alguns estudos específicos, a melhor ação de planejamento
i*, dentre as n possíveis, será a melhor para maximizar o benefício,
(2) isto é, minimizará os custos de disrupções.
(5)
em que:
Di: Número de disrupções de processos considerando a ação de Quando a análise custo-benefício é considerada, deve-se
planejamento i. selecionar a melhor ação de planejamento de acordo com:
Para se determinar o benefício associado a cada ação de
(6)
planejamento i, deve-se compará-la ao sistema inicial (sem nenhuma
ação de planejamento). O benefício devido à ação de planejamento Estudo de caso
i é determinado por: A metodologia proposta é aplicada a um sistema real de
distribuição. Os indicadores de qualidade de energia (disrupções
(3)
devido a VTCDs e interrupções de longa duração) são determinados
em que: pelo método da simulação de Monte Carlo, utilizando um total de
D0: Número de disrupções de processos sem nenhuma ação de 5.000 simulações.
planejamento (sistema original) A rede selecionada, mostrada na Figura 4, para este estudo
Bi: Benefício da ação de planejamento i de caso engloba 4.185 barramentos, 350 dispositivos de proteção
Também é relevante considerar uma análise de custo-benefício. e chaveamento, além de 172 km de rede distribuídos por 8
Neste caso, a seguinte relação deve ser apresentada: alimentadores.
O SETOR ELÉTRICO
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As Figuras 5 e 6 mostram uma saída gráfica relacionadas a planejamento). A tabela mostra os piores valores, que consistem
afundamentos de tensão e interrupções (cada cor representa um nos barramentos no sistema que apresentam os maiores indicadores
intervalo de eventos de VTCDs e interrupções). Nessas figuras, o referentes a eventos de VTCDs e interrupções. A coluna “Differ”
método de Monte Carlo foi executado para o sistema de distribuição refere-se à diferença do número de eventos diante da rede base.
existente (sem ação de planejamento). Experimentos mostram que 30% dos afundamentos de tensão
geram interrupções em processos produtivos. Assumindo este
cenário, os benefícios referentes às ações de planejamento podem
ser calculados como mostrado na Tabela 2.
Tabela 2 – Número esperado de disrupções e interrupções de VTCDs
CONCLUSÕES
Figura 5 – Mapeamento de afundamentos de tensão
Os resultados utilizando o método da simulação de Monte
Carlo mostraram-se aderentes e consistentes, mostrando que sua
implantação conduz a uma forma eficiente para obter indicadores de
qualidade de energia relacionados com variações de tensão de curta
duração e interrupções de longa duração. Este estudo de caso indica
que a escolha da ação de planejamento #2 é a que resulta nos melhores
cinco indicadores considerando melhoria nos indicadores de disrupção
e de interrupção. Além disso, todas as ações de planejamento levaram
a uma melhoria nos indicadores de qualidade de energia.
A ação de planejamento #2 foi a melhor, pois ela reduz o número
de eventos devido aos alimentadores próximos. A redução no
indicador de VTCD foi de aproximadamente 20%. Deve-se destacar
que se apenas interrupções de longa duração fossem consideradas
Figura 6 – Mapeamento de interrupções de longa duração
(no Brasil, apenas este indicador é regulado), a melhor opção seria a
Para se demonstrar a metodologia, foram consideradas três
ação de planejamento #3.
ações de planejamento:
Ação 1: substituição do transformador de 30 MVA da subestação Continua na próxima edição
por uma unidade de 40 MVA, ambos com a mesma reatância de JUAN CARLOS CEBRIAN AMASIFEN é engenheiro eletricista, doutor em
curto-circuito (9,55%). Engenharia Elétrica e pesquisador do Departamento de Engenharia de
Energia e Automação Elétrica da Universidade de São Paulo.
Ação 2: abertura do barramento de alta e média tensão na LUCIANO CAMILO é engenheiro eletricista, pós-graduando da Escola
subestação. Cada barramento de média tensão será suprido por um Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
transformador de 30 MVA. NELSON KAGAN é engenheiro eletricista, Ph. D. pela Universidade de
Londres e professor da Universidade de São Paulo.
Ação 3: adição de fusíveis em ramais específicos dos três
NELSON MATSUO é engenheiro eletricista e pesquisador do Centro
alimentadores. (verificar) Tecnológico de Qualidade de Energia do Departamento de Engenharia de
O método da simulação de Monte Carlo permite a estimação do Energia e Automação Elétricas (Enerq-CT/USP).
O SETOR ELÉTRICO
30 Dezembro de 2008
Apoio
20
O Setor Elétrico / Janeiro de 2009
Qualidade de energia
Capítulo XI
Fatores de influência no desempenho
de filtros eletromagnéticos de
sequências positiva e negativa
Por Fernando N. Belchior, José C. Oliveira e Luis C. O. Oliveira*
eletromagnético, à base de saturação, destinado à atenuação das A operação de um retificador de 6 pulsos é bastante difundida e
componentes harmônicas de sequências positiva e negativa. dispensa maiores detalhes. Não obstante, é importante destacar que, sob
Considerando, pois, a tecnologia da compensação de condições idealizadas do sistema alimentador, bem como a existência de
harmônicos de corrente via dispositivos eletromagnéticos saturados, uma indutância infinita nos terminais de saída, a corrente média no lado CC
este trabalho encontra-se direcionado para a apresentação do é constante de valor Id. Nessas condições, as correntes de alimentação do
princípio físico que norteia a solução aqui contemplada, sua lado CA serão formadas por blocos retangulares de amplitude ±Id. A Figura
implantação na forma de modelos computacionais e a influência de 2 evidencia a forma de onda típica e idealizada da corrente de linha de
parâmetros reais de um sistema elétrico na eficiência do dispositivo alimentação (IRet) e a respectiva tensão de alimentação (V) (fase A).
em questão.
Tomando-se a tensão fase A – neutro (V) como referência para Avançando na direção de se atingir uma compensação
Qualidade de energia
o cálculo das componentes harmônicas da corrente de linha, é harmônica mais efetiva, observa-se que a inserção de um elemento
possível observar que o retificador produz apenas as chamadas resistivo entre o barramento e o reator resulta numa mudança do
ordens harmônicas características, dadas por 6k±1, sendo k ЄI+, ângulo de fase de suas correspondentes correntes harmônicas. A
como mostra a Figura 3. título de exemplificação, com a presença de um resistor devidamente
ajustado, fica evidenciado que o espectro de frequências das
correntes produzidas pelo compensador assume novas propriedades
angulares. Consequentemente, a nova composição angular, dada
na Figura 7 (b), ressalta uma situação mais favorável ao processo de
atenuação das componentes harmônicas de correntes advindas da
operação conjunta do retificador e do dispositivo eletromagnético.
Estudos computacionais
Os estudos computacionais foram realizados utilizando o arranjo
físico identificado na Figura 1.
As situações selecionadas e representativas das distintas condições
operacionais estudadas estão resumidas na Tabela I.
Caso 01 – Situação ideal Figura 10 – Forma de onda (a) e respectivo espectro harmônico (b) da
corrente (fase A) absorvida pelo filtro harmônico – Caso 01
Tabela I
Situação Características
Objetivando fornecer maiores esclarecimentos sobre a
operacionalidade do filtro, as Figuras 11 (a) e (b) apresentam, na forma
de diagramas fasoriais, as correntes harmônicas, em valor de pico, para
a 5ª e 7ª ordens correspondentes ao filtro e a carga não linear (fase A).
evidenciam a vulnerabilidade dessa metodologia com relação Novamente, com o objetivo de prover meios para maior
Qualidade de energia
ao desvio do padrão ideal da tensão de suprimento (3% de entendimento do processo de filtragem e dos impactos
desequilíbrio). Nesta situação, verifica-se um valor de 14% para associados ao funcionamento sob condições reduzidas das
o DHT total na alimentação, contra os 10% obtidos quando em tensões de suprimento, as Figuras 19 (a) e (b) apresentam os
situação ideal de funcionamento. diagramas fasoriais para as correntes de 5ª e 7ª ordens para as
Desse modo, verifica-se que, quando o filtro eletromagnético correntes do filtro e da carga não linear. Tal como aconteceu
é alimentado com uma tensão diferente daquela especificada para o caso anterior, observa-se uma forte influência do valor
para o seu funcionamento, os fasores das componentes da tensão de suprimento senoidal no desempenho do filtro ora
harmônicas de 5ª e 7ª ordens são modificados, afetando, por sob enfoque.
conseguinte, o processo como um todo. Isto é uma decorrência Neste particular, é possível constatar as suas baixas correntes
normal relacionada ao ponto de saturação atingido e definido harmônicas, justificadas pela baixa saturação, em decorrência
pela característica da curva BxH do material magnético. Este da baixa tensão de suprimento. Como consequência,
desvio promove uma menor compensação harmônica das verifica-se um valor de 18% para o DHT total no sistema de
correntes oriundas da carga não linear. suprimento. Novamente, a comparação desses diagramas com
aqueles oriundos das Figuras 11 (a) e (b) permitem ratificar as
afirmativas anteriores.
qualidade em função de quatro perturbações elétricas básicas em um das condições mínimas de segurança e desempenho dos equipamentos
sinal de tensão ou corrente, presentes em uma instalação elétrica: eletromédicos.
amplitude da tensão, frequência do sinal, desequilíbrios de tensão e Quanto às instalações elétricas, internacionalmente encontra-se a
corrente nos sistemas trifásicos e distorções na forma de onda do sinal. norma IEC 60364 –Electrical Instalations of Buildings, como norma geral
Sob o ponto de vista do nível de qualidade de energia elétrica fornecida que trata, em sua parte 7-710, dos requisitos para as instalações elétricas
pelo sistema da concessionária, é muito importante a ausência relativa em locais médicos e áreas associadas. No Brasil, de forma semelhante,
de variações de tensão, particularmente a ausência de desligamentos. existem as normas NBR 5410 – Instalações Elétricas de Baixa Tensão e
No entanto, para o consumidor, o termo “qualidade de energia elétrica” a NBR 13534 – Instalações Elétricas em Estabelecimentos Assistenciais
está, na maioria das vezes, relacionado à ausência relativa de variações de Saúde. A última edição da NBR 5410 entrou em vigor em março de
de tensão medidas no ponto de entrega de energia. 2005. A NBR 13534 tornou-se válida em dezembro de 1995 com o
Na maioria dos casos, as perturbações são provocadas pelos objetivo de estabelecer um conjunto de requisitos mínimos de segurança
próprios consumidores ou em instalações próximas pela utilização de para as instalações elétricas em estabelecimentos assistenciais de saúde,
equipamentos denominados de “tecnologia moderna” implantados como hospitais, ambulatórios, unidades sanitárias, clínicas médicas e
com componentes não lineares. A partir da década de 1990, a crescente odontológicas, veterinárias, etc.
utilização desses equipamentos em todos os segmentos da sociedade Os hospitais e ambientes similares devem dispor de fonte de
agravou a situação sob o ponto de vista de qualidade de energia segurança para o caso de falha no sistema de alimentação normal, capaz
elétrica. Em geral, esses equipamentos exigem uma rede elétrica de alta de alimentar por um período de tempo especificado, considerando
qualidade para seu correto funcionamento, mas sendo os principais ainda o tempo necessário à transferência. As instalações de segurança
causadores das perturbações acabam sendo as próprias vítimas. têm como objetivo garantir a continuidade dos serviços essenciais
à preservação da vida e da segurança ou destinadas a funcionar em
Normas técnicas situações de emergência. Muitos dos problemas relativos à qualidade
Com relação aos equipamentos eletromédicos, é encontrada de energia elétrica são provocados internamente às instalações do
uma série de normas internacionais IEC 60601, que serviram como consumidor, devido à comutação de cargas com elevada potência ou o
base para elaboração das normas nacionais NBR IEC 60601. Esse uso generalizado de variadores de velocidade para motores de indução.
conjunto de normas tem como objetivo principal o estabelecimento Diversas organizações internacionais possuem normas sobre o assunto,
Apoio
20 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009
mas não se conseguiu atingir um nível de consenso entre elas. Portanto, a segurança nas instalações normalmente está ligada a elevados
Qualidade de energia
ocorre a necessidade do desenvolvimento de pesquisas envolvendo investimentos. Este artigo técnico não tem como objetivo ensinar a
equipamentos sensíveis e sua interação com os sistemas de suprimento projetar e manter as instalações elétricas dentro dos padrões aceitáveis,
de energia. Infelizmente no Brasil, ainda não dispomos de normas sobre mas apresentar fatores que poderão contribuir para a sua degradação,
o assunto e nem legislação apropriada. por meio da apresentação de casos reais observados pelo próprio autor
durante sua pesquisa de campo.
A qualidade de energia elétrica nos estabelecimentos A maioria das instalações elétricas dos estabelecimentos
assistenciais de saúde assistenciais de saúde é tratada com o mesmo descaso que se observa
Os estabelecimentos assistenciais de saúde vêm cada vez mais em outras atividades, sejam industriais, comerciais ou de serviços. A
aumentando a utilização de equipamentos eletromédicos, que falta de diagramas elétricos atualizados, identificação nos dispositivos
desempenham importantes funções, como sistemas de informação de comando e proteção contidos nos painéis, localização em planta dos
sobre o paciente, equipamentos de diagnóstico e tratamento, além de pontos de aterramento, entre outros, também são algumas das causas
outros. Observa-se, portanto, que a eletricidade no ambiente hospitalar que comprometem o funcionamento seguro das instalações e provocam
é fonte de vida, podendo interferir na sobrevivência ou não do paciente, acidentes, muitas vezes de elevada gravidade.
pela utilização de equipamentos de ventilação pulmonar, bombas de
infusão de medicamentos, lâmpadas para iluminação cirúrgica, energia METODOLOGIA
de emergência, ar comprimido, oxigênio, entre outros. A metodologia aplicada consistiu em medições dos parâmetros
Embora não estejam ligados à sobrevivência dos pacientes, outros referentes à qualidade de energia elétrica e nos estabelecimentos
equipamentos utilizam energia elétrica para fornecer importantes assistenciais de saúde.Atenção especial foi dada ao conteúdo harmônico
informações sobre o tratamento terapêutico, como equipamentos de tensão e às variações de tensão de curta duração, principalmente os
de laboratório, de imagem, de fisioterapia ou outros que possam afundamentos.
comprometer a saúde do paciente. Em seguida, perturbações típicas desses ambientes foram
Além disso, grande quantidade de informações é armazenada reproduzidas em fontes de tensão específicas para essa finalidade,
em sistemas computadorizados, muitas vezes interligados por meio instaladas no Laboratório do Centro Tecnológico de Qualidade de
de redes, de forma que aspectos relacionados à qualidade de energia Energia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, conhecido
elétrica se tornam extremamente importantes. como Enerq-ct. Equipamentos eletromédicos portáteis, gentilmente
cedidos por diversos fabricantes nacionais, foram submetidos a essas
As instalações elétricas nos ambientes assistenciais de perturbações para verificação do seu desempenho. Alguns ensaios,
saúde como os de afundamento de tensão, foram complementados pelas
Embora a norma brasileira NBR 13534 especifique as condições recomendações da norma IEC 61000-4-11. O equipamento principal
exigíveis às instalações elétricas de estabelecimentos assistenciais e responsável pela reprodução das perturbações de tensão idênticas às
de saúde, a fim de garantir a segurança pessoal, principalmente dos medidas em campo é uma fonte com potência de saída igual a 9 kVA.
pacientes, observa-se, em muitos casos, exatamente o oposto. No Está equipada com um controlador UMC-31 trifásico, capaz de gerar
Brasil, a questão da saúde se agrava cada vez mais, principalmente frequências entre 45 Hz e 500 Hz. Uma vez fixada as grandezas, possui
pela falta de investimentos, demonstrando o descaso total com o ser operação estável, com precisão de 0,5% dos valores estabelecidos. As
humano. Impostos cobrados aos cidadãos, destinados à área médica, medições em campo foram efetuadas com um analisador de qualidade
são desviados para outras finalidades, como é o caso da Contribuição de energia adquirido especialmente para essa finalidade. Foram ainda
Provisória de Movimentação Financeira (CPMF). Muitas vezes, utilizados outros instrumentos de precisão, como osciloscópio, entre
equipamentos com tecnologia de ponta, instalados em hospitais e outros.
locais semelhantes, são alimentados por instalações elétricas deficientes
e isentas de manutenção, podendo fornecer dados incorretos. O PRINCIPAIS CARGAS POLUIDORAS NOS
maior prejudicado nestes casos é o paciente, cuja sobrevivência pode ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE
depender dessas informações. Dentro do ambiente médico-hospitalar, O avanço tecnológico está provocando maior utilização de
a falha de um equipamento, seja pela qualidade de energia elétrica de equipamentos sensíveis em todos os segmentos da sociedade, mas,
suprimento, instalações elétricas deficientes, ausência de manutenção infelizmente, prejudiciais ao aspecto relativo à qualidade de energia
nos equipamentos e nas instalações, pode provocar a perda de vidas elétrica. No caso dos equipamentos eletromédicos, sejam conectados
humanas. ao paciente sejam fornecendo informações sobre seu estado de saúde, o
Infelizmente não se encontram dados estatísticos relacionados resultado pode ser comprometedor. Nesta última situação, em função de
a estas situações, mas pode-se perguntar, qual seria a taxa de falhas informações incorretas, procedimentos médicos inadequados poderão
aceitável quando se trata com vidas humanas? ser aplicados, comprometendo a vida do paciente. Equipamentos de
Observa-se, portanto, a criticidade do problema, uma vez que sustentação da vida poderão apresentar travamentos ou funcionamento
Apoio
22 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009
totalmente incorreto, provocando o óbito do paciente. Como já de seções fatiadas que serão posteriormente montadas para formar
Qualidade de energia
mencionado, a maioria das perturbações é gerada internamente ao uma imagem completa. Possui, portanto, um comportamento
estabelecimento assistencial de saúde pela comutação de cargas com semelhante ao aparelho de raios X, solicitando elevados picos de
elevada potência, variadores de velocidade para motores de indução corrente de curta duração conforme se apresenta na Figura 2:
e, principalmente, por equipamentos específicos desses ambientes,
como raios X, tomografia computadorizada, ressonância magnética e
equipamentos para mamografia.
Raios X
Em 1995 comemorou-se 100 anos do descobrimento dos raios X
pelo físico alemão Wilhelm Konrad Roentgen (1845-1923). Seu uso
possibilitou grande impulso nas técnicas de diagnóstico pela elevada
capacidade de penetração, permitindo, na biologia e na medicina, a
observação de órgãos internos sem necessidade de cirurgia. Na indústria
mecânica e metalúrgica, permite a identificação de trincas internas em
estruturas metálicas e, na indústria alimentícia, no prolongamento do
Figura 2 – Picos de corrente produzidos por um equipamento de
período de conservação de produtos perecíveis. Pertencem ao espectro
tomografia computadorizada
de radiações eletromagnéticas, que diferem entre si pela frequência e
pelo comprimento de onda. A produção de raios X é obtida por uma Ressonância magnética
fonte fornecedora de elétrons, os quais são acelerados em trajetória Atualmente, a medicina pode contar com uma ferramenta moderna
livre até chocarem-se com os átomos de um anteparo, provocando e precisa, com a finalidade de obtenção de uma imagem seccional
o deslocamento de elétrons e a consequente emissão de energia. Os do interior do corpo. A imagem, obtida por meio de propriedades
equipamentos de raios X possuem dois modos de operação: contínuo e magnéticas, fornece aos médicos uma quantidade de informações
momentâneo. detalhadas sobre a localização, tamanho e composição do tecido
Durante a operação no modo momentâneo no instante da corporal a ser examinado, permitindo um diagnóstico rápido e preciso.
radiografia, a potência elétrica necessária é elevada, podendo produzir A ressonância magnética não utiliza raios X, mas sim as
afundamentos de tensão. Para obtenção de uma boa radiografia, o propriedades magnéticas dos átomos que constituem todas as
radiologista seleciona a potência necessária, o tempo de duração substâncias, incluindo, obviamente, o corpo humano. Por meio de
e outras variáveis, não existindo, portanto, um padrão típico de um potente campo magnético gerado no scanner do equipamento,
operação. A Figura 1 apresenta o comportamento da corrente elétrica sinais elétricos são emitidos pelo núcleo atômico do tecido
e os afundamentos de tensão produzidos durante o funcionamento do corporal. Esses sinais são interceptados por uma antena circular
equipamento: ao redor do paciente. A intensidade do sinal varia de acordo com
o tipo do tecido. Um computador designa os sinais aos pontos
correspondentes das áreas corporais em exame e transforma-as em
imagem na tela. Da mesma forma que os equipamentos anteriores,
a ressonância magnética também produz elevados picos de corrente
durante seu funcionamento, conforme se apresenta na Figura 3.
Tomografia computadorizada
É um dos métodos de exame mais confiável e seguro disponível
na medicina moderna. Constitui-se por um equipamento de raios
X que gira em torno do corpo do paciente, fazendo radiografias
transversais. Em seguida, estas radiografias são convertidas por um
Figura 3 – Picos de corrente produzidos por um equipamento de
computador, nos chamados cortes tomográficos, ou seja, uma série ressonância magnética
Apoio
O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009
23
O segundo grupo de ensaios foi referente a afundamentos de tempos de duração recomendados pela referida norma. Em todos
tensão, semelhantes aos produzidos por equipamentos de raios X, eles o sinal do eletrocardiograma se manteve estável e sem alterações
ressonância magnética e outros, cujos valores estão apresentados em sua forma de onda. Nos ensaios de tensão remanescente de 20%,
na Tabela II. com duração de 180 ciclos e interrupções com durações de 25, 50 e
Tabela II 180 ciclos, ocorreu a transferência para a bateria interna, mas não se
Ensaios de afundamentos de tensão percebeu alteração na forma de onda apresentada na tela.
Tensão de Tensão Trata-se, portanto, de equipamento que mantém seu
Afundamento afundamento remanescente Tempo de Espaçamento funcionamento estável mesmo quando submetido a perturbações
nº (V) (V) duração (s) (s) críticas.
1, 2 e 3 60 50 0,5 20
4 90 20 0,5 - Ventilador pulmonar
5e6 100 10 0,5 20 O ventilador testado é um equipamento totalmente
7e8 110 0 1 20 microprocessado e projetado para aplicações de insuficiência
9 60 50 1 20 respiratória em pacientes pediátricos e adultos, com massa corporal
10 80 30 1 20 entre 6 kg e 150 kg. É bastante prático, possuindo controles digitais
11 100 10 1 20 diretos para os principais parâmetros ventilatórios. O disparo
12 110 0 1 20 dos ciclos é por pressão e, por possuir um monitor de ventilação
Os afundamentos produzidos e aplicados ao equipamento incorporado, permite um amplo acompanhamento das condições
podem ser visualizados na Figura 4: do paciente, aumentando a segurança. Além disso, um completo
sistema de alarmes audiovisuais com mensagem escrita na tela de
controles faz uma pronta identificação da condição de alarme.
Simulou-se a presença dos pulmões por meio de um balão de
borracha cedido pelo fabricante e utilizado para essa finalidade.
No primeiro grupo de testes, o equipamento foi alimentado
com tensão nominal de 110 V, mas contendo os componentes
harmônicos já apresentados da Tabela I. Embora se tenha notado
uma grande alteração na forma de onda da corrente entre a
alimentação senoidal e a alimentação com tensão totalmente
distorcida, não se observou qualquer alteração na regularidade
instalado na parte frontal, indicou os mesmos valores em todos um medidor de fluxo ligado ao duto de saída do equipamento
Qualidade de energia
os ensaios. Dessa forma, comprovou-se sua imunidade quando (circuito de inspiração). O equipamento suportou sem alterações os
submetido a tensões fortemente distorcidas. afundamentos de 20%, 30% e 60% para todas as durações, ou seja,
No segundo grupo de ensaios, o equipamento foi submetido a de 0,5 a 180 ciclos. O mesmo ocorreu para afundamentos de 80% e
afundamentos de tensão repetitivos mais críticos que os aplicados interrupção com tempos de duração de 0,5, 1 e 5 ciclos. No entanto,
ao monitor cardíaco por tratar-se de equipamento de sustentação para afundamentos de 80%, quanto para interrupções com tempos de
de vida. Os ensaios estão apresentados na Tabela IV: duração iguais ou superiores a 10 ciclos, o equipamento apresentou
vários problemas, que poderão colocar sob risco o paciente a ele
Tabela IV
Ensaios de afundamentos de tensão ligado:
Tensão de Tensão Tempo de 1) o funcionamento foi interrompido embora a bateria estivesse
Ensaio Quant. de afundamento remanescente duração Espaça- carregada. Os parâmetros ajustados não se perderam, mas o alarme
nº afundamentos (V) (V) (s) mento (s) não foi acionado;
1 10 11 99 3 1 2) em alguns ensaios, dependendo do instante da aplicação dos
2 10 22 88 3 1 afundamentos ou interrupções, a válvula expiratória se manteve
3 10 33 77 3 1 permanentemente aberta, lançando para o ambiente todo ar/
4 10 44 66 3 1 oxigênio injetado nos pulmões. O sistema de alarme também não
5 10 55 55 3 1 foi acionado e o equipamento teve que ser desligado da rede de
6 10 11 a 110 99 a 0 3 60
alimentação e reprogramado para retornar à operação;
3) da mesma forma que no caso 2, em alguns ensaios, o
As Figuras 5 e 6 apresentam os afundamentos de tensão
equipamento se travou continuando a injetar ar/oxigênio com a
referentes aos ensaios 5 e 6 aplicados ao equipamento.
válvula expiratória permanentemente fechada. O alarme não foi
acionado e o equipamento também necessitou ser desligado da rede
e reprogramado. O medidor conectado ao equipamento indicou
um valor de pressão provavelmente prejudicial aos pulmões do
paciente.
Oxímetro de pulso
É um equipamento utilizado na determinação do nível de
saturação de oxigênio (SpO2) no sangue arterial, sendo esta
quantificação executada de forma não invasiva, por sensores óticos
posicionados externamente ao paciente. A utilização do oxímetro
Figura 5 – Afundamentos de tensão do ensaio nº 5
de pulso é considerada procedimento padrão no monitoramento do
nível de saturação de oxigênio sanguíneo em unidades de terapia
intensiva, centros cirúrgicos, áreas de recuperação, unidades de
pacientes com queimaduras graves, de cateterismo e em ambulâncias.
Sua característica não invasiva torna desnecessária a retirada de
sangue do paciente para sua análise em laboratório.
Outra característica favorável é a possibilidade de monitoramento
contínuo e em tempo real dos níveis de oxigenação no sangue,
detectando, de forma rápida, eventuais reduções desses valores que
possam resultar em riscos ao paciente. A coloração do sangue varia em
função dos diferentes níveis de oxigenação, apresentando o sangue
Figura 6 – Afundamentos de tensão do ensaio nº 6
com alta concentração de oxigênio, a coloração vermelha brilhante.
No ensaio nº 6, o equipamento apresentou funcionamento A presença do gás carbônico no sangue altera a cor tendendo para
irregular para os afundamentos de 77 V, 88 V, 99 V e interrupção. Os um tom ligeiramente azulado. Seu princípio de funcionamento se
problemas apresentados incluem travamentos, bloqueios de válvula apóia na espectrofotometria sanguínea que mede a luz transmitida
expiratória e ausência de atuação do sistema de alarme. ou refletida dos capilares do corpo humano, sincronizados com os
No terceiro grupo de ensaios, foram aplicados afundamentos de batimentos cardíacos. O equipamento testado não possui bateria
tensão conforme as recomendações contidas no item 5.1 da norma para garantia de seu funcionamento durante interrupções de energia
IEC 61000-4-11, cujos valores já foram apresentados na Tabela III. elétrica. É microprocessado e contém um sistema de alarme para o
Os valores de pressão e vazão de ar foram monitorados com caso de alteração dos parâmetros pré-estabelecidos.
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28 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009
No primeiro grupo de testes, o equipamento foi alimentado com Nível de tensão Tensão de
Qualidade de energia
tensão nominal de 110 V, mas contendo os componentes harmônicos remanescente - afundamento ou Duração [ciclos] / ocorrência
já apresentados na Tabela 1. Durante os ensaios, o comportamento % Un interrupção - % Un
do aparelho foi alterado, passando por um ponto bastante crítico. ≥ 10 ciclos / travou e a tela apresentou
Observou-se a grande influência da 3ª harmônica, pois valores 20 80 caracteres aleatórios. Necessitou ser
de até 50% da fundamental produzem interferências no visor do desligado para retornar a funcionar.
equipamento. Para valores acima de 70%, o aparelho voltou a ≥ 10 ciclos / travou e a tela apresentou
funcionar normalmente. A 5ª e 7ª harmônicas influenciam pouco no 0 100 caracteres aleatórios. Necessitou ser
desligado para retornar a funcionar.
resultado final, sendo predominante a presença da 3ª.
O segundo grupo de ensaios foi referente a afundamentos
CONCLUSÕES
de tensão, semelhantes aos produzidos nos ambientes médicos
O referido estudo mostrou a importância da qualidade de energia
hospitalares, mas sempre procurando uma situação crítica que
elétrica nos estabelecimentos assistenciais de saúde. As perturbações
pudesse provocar uma falha no equipamento. Os valores aplicados
a que foram submetidos os equipamentos eletromédicos ensaiados
estão apresentados na Tabela V:
poderão ter origem nas próprias instalações desses estabelecimentos
Tabela V
Ensaios de afundamentos de tensão como também nos sistemas de distribuição das concessionárias de
Tensão de Tensão Tempo de fornecimento de energia elétrica.
Ensaio Quant. de afundamento remanescente duração Espaça- Outras vezes, a má qualidade dos projetos e serviços de manutenção
nº afundamentos (V) (V) (s) mento (s) poderá também, contribuir para o funcionamento incorreto dos
1 10 3,3 106,7 1 1 equipamentos eletromédicos. No entanto, conhecendo os resultados dos
2 10 5,5 104,5 1 1 ensaios, os fabricantes deverão concentrar esforços para melhorar seus
3 10 8,8 101,2 1 1 equipamentos com objetivo da redução da sensibilidade a tais perturbações.
4 10 11 109 1 1 Da mesma forma, as concessionárias de energia elétrica terão um melhor
5 10 22 88 1 1 conhecimento dos problemas ocasionados pela má qualidade de energia
No primeiro grupo de testes, o equipamento foi alimentado com elétrica fornecida aos consumidores da área de saúde.
tensão nominal de 110 V, mas contendo os componentes harmônicos Grandes dificuldades foram encontradas durante a realização deste
já apresentados na Tabela 1. Durante os ensaios, o comportamento do trabalho, podendo-se mencionar entre elas:
aparelho foi alterado, passando por um ponto bastante crítico. -inexistência de normas específicas sobre o comportamento de
Observou-se a grande influência da 3ª harmônica, pois valores equipamentos eletromédicos quando submetidos às perturbações
de até 50% da fundamental produzem interferências no visor do existentes nos próprios ambientes em que se encontram instalados;
equipamento. Para valores acima de 70%, o aparelho voltou a -comportamento diversificado em função da tecnologia de fabricação,
funcionar normalmente. A 5ª e 7ª harmônicas influenciam pouco no o que dificulta a aplicação de ensaios padronizados para todos os tipos
resultado final, sendo predominante a presença da 3ª. de equipamentos eletromédicos;
O segundo grupo de ensaios foi referente a afundamentos de tensão, -muitos fabricantes se negaram a ceder seus equipamentos para testes, com
semelhantes aos produzidos nos ambientes médicos hospitalares, mas receio de que se encontrassem problemas sujeitos a implicações legais,
sempre procurando uma situação crítica que pudesse provocar uma falha devido a erros médicos ocasionados pelo mau funcionamento deles ;
no equipamento. Os valores aplicados estão apresentados na Tabela V: -autorização para se efetuar medições em estabelecimentos assistenciais
de saúde com o objetivo da determinação de cargas poluidoras que
Tabela VI
degradam a qualidade de energia elétrica;
Ensaios de afundamentos de tensão conforme a norma IEC 61000-4-11
Nível de tensão Tensão de -permissão para realização de vistorias nas instalações elétricas nos
remanescente - afundamento ou Duração [ciclos] / ocorrência mesmos ambientes, como forma de verificação do atendimento às
% Un interrupção - % Un normas pertinentes.
800 20 ≥ 5 ciclos / o visor reduz o brilho,
*MÁRIO CÉSAR GIACCO RAMOS é engenheiro eletricista, mestre em
mas não perde as informações
Sistemas de Potência, professor da Universidade de Mogi das Cruzes
70 30 ≥ 5 ciclos / o visor reduz o brilho, (UMC) e da Universidade de São Paulo (USP).
mas não perde as informações ADERBAL DE ARRUDA PENTEADO JÚNIOR é engenheiro eletricista,
10 ciclos / travou e a tela apresentou mestre e doutor em Sistemas de Potência, professor no Departamento
caracteres aleatórios. Necessitou ser de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da USP.
40 60 desligado para retornar a funcionar.
Encerramos, com este artigo, a série “Qualidade de energia”. Confira este
25, 50 e 80 ciclos / apagou, mas
e os outros artigos deste fascículo no site www.osetoreletrico.com.br.
retornou à tela principal. Voltou a Dúvidas e sugestões podem ser encaminhadas para o e-mail
funcionar normalmente. redacao@atitudeeditorial.com.br
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44
O Setor Elétrico / Janeiro de 2009
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos
Capítulo I
Implantação de sistemas eletrônicos
em ambientes de alta tensão
Por Roberto Menna Barreto*
Esta série de artigos abordará diversas técnicas para EMC, as quais abordam tanto o aspecto de emissão
o controle de interferências no projeto, na instalação e (o equipamento se constituindo em uma fonte de
na manutenção de sistemas eletrônicos em ambientes perturbação EM) como de imunidade (o equipamento
de alta tensão. A seguir, os temas propostos para os 12 não sendo afetado por perturbações EM no ambiente).
capítulos deste fascículo: Estas normas EMC permitem certa liberdade na
• Influência de sistemas de alta tensão em sistemas instalação dos equipamentos, evitando a ocorrência
eletrônicos de problemas de EMI causados por fontes internas
• Requisitos EMC para equipamentos eletrônicos (unidades de equipamento) e mesmo para a maior
• Acoplamento de campos elétricos parte das fontes externas.
• Acoplamento de campos magnéticos Nesse contexto, poderíamos pensar que equipamentos
• Aspectos EMC para cabeamento eletrônicos que cumpram com requisitos EMC comerciais,
• Aspectos EMC para o sistema de aterramento – instalados mesmo próximos a linhas de transmissão/
Malha de terra distribuição, deveriam estar naturalmente protegidos
• Aspectos EMC para o sistema de aterramento – contra perturbações eletromagnéticas originadas em
Referência para equipamentos sensíveis situações normais de operação das LT/LD (sistemas de
• Blindagem de salas telecomunicações via rádio constituem um aspecto
• Proteção (interna) contra descargas atmosféricas particular). Isso em parte é verdade. Quando equipamentos
• Radiação não-ionizante (exposição humana a são interconectados compondo um sistema eletrônico, essa
campos eletromagnéticos) situação pode ser drasticamente alterada uma vez que o
• Procedimentos EMC para projeto e instalação de nível de imunidade do sistema é normalmente menor que
sistemas eletrônicos o nível de imunidade de cada equipamento isolado, devido,
• Procedimentos EMC para manutenção de sistemas principalmente, aos cabos de interconexão. Assim, sistemas
eletrônicos eletrônicos são passíveis de serem afetados por LT/LD,
Os fascículos serão divididos e publicados nomeadamente, se estiverem localizados próximos destas.
conforme cronograma anterior, podendo, entretanto,
sofrer alterações de acordo com os critérios do autor. Influência de sistemas de alta tensão
Existem diversos aspectos no âmbito EMC que
Compatibilidade eletromagnética devem ser considerados na implantação de sistemas
Compatibilidade Eletromagnética (EMC) pode eletrônicos (automação, telecomunicações, proteção,
ser definida como a capacidade de um dispositivo, controle) em ambientes de alta tensão, como o de
unidade de equipamento ou sistema, que funcione subestações elétricas, entre eles:
satisfatoriamente no seu ambiente eletromagnético sem
Tensões induzidas em sistemas de telecomunicações
introduzir, ele próprio, perturbações eletromagnéticas
(automação, controle, sinalização, etc.) com
intoleráveis naquele ambiente.
linhas metálicas
Uma configuração EMC é assegurada com certa
facilidade em uma instalação, exigindo-se que Representa a influência, nomeadamente na faixa de
cada unidade de equipamento cumpra as normas frequência de DC a 9 kHz, resultante de acoplamento
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45
O Setor Elétrico / Janeiro de 2009
indutivo, capacitivo ou condutivo em situação de operação normal sistemas de alta tensão na faixa de 0,15 MHz a 300 MHz na
ou de falta, que poderia acarretar perigo para pessoas, estragos ou recepção de rádio, nomeadamente radiodifusão sonora AM
funcionamento incorreto de sistema de telecomunicações com (0,15 MHz a 30 MHz) e radiodifusão sonora FM e TV (30 MHz
linhas metálicas. a 300 MHz).
Para a segurança de pessoas, deverá existir uma separação O ruído em radiofrequência gerado por LT/LD (acima de 1 kV) é
mínima entre os cabos de telecomunicações com partes metálicas causado principalmente pelo efeito corona, isoladores defeituosos
aterradas e partes metálicas conectadas diretamente ao sistema de ou contatos frouxos (permitindo a existência de descargas elétricas)
alta tensão, função da localização e da resistividade do solo, entre e variam conforme as condições atmosféricas.
outros aspectos, podendo variar de 2 metros a 200 metros. Para a recepção de sinais de rádio e televisão livre de
Para os cálculos das tensões induzidas que poderiam afetar a interferência, é necessária uma elevada relação sinal/ruído
segurança ou o funcionamento dos sistemas de telecomunicações, na entrada do receptor, que pode ficar comprometida caso
os cálculos são mais complexos, uma vez que diversos fatores o nível de recepção dos sinais de rádio/TV sejam baixos e as
deverão ser considerados, assim como o paralelismo entre a LT/ condições atmosféricas sejam propícias à geração de ruído
LD e a linha de telecomunicações, entre outros. Estes cálculos em RF por LT/LD.
objetivam o atendimento de um valor máximo de tensão acoplada De forma a garantir que os níveis dos diferentes tipos de
para situações de operação normal da LT/LD (tensão típica de 150 ruído gerados por uma LT/LD e equipamentos associados sejam
Vrms entre partes metálicas para segurança; e 60 Vrms, ou 200 mantidos abaixo dos limites aceitáveis, são desenvolvidas
mV medidos psofometricamente para interferência) e em caso técnicas de medição e predição baseadas no conceito de nível
de faltas (por exemplo, 2000 V para cabos coaxiais ou fibras de referência de uma LT/LD, que é a intensidade de campo
óticas com partes metálicas). Caso estes limites sejam excedidos medida na frequência de 500 kHz a 20 metros do condutor mais
(por cálculo ou medição), deverá ser estudada a necessidade de próximo. O ruído gerado em outras frequências pode ser obtido
medidas corretivas. por meio do espectro (padrão) de frequência associado – efeito
corona. O nível de referência de uma LT/LD é determinado pelo
Interferência com sistemas de rádio seu projeto, instalação e manutenção.
Representa a influência das perturbações geradas por Sistemas de transmissão DC também são passíveis de gerar
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46
O Setor Elétrico / Janeiro de 2009
A elevação do Potencial de Terra se dá quando há uma são então determinados os níveis de imunidade a serem
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos
falta à Terra, acarretando um elevado potencial da malha de observados pelos diversos equipamentos, consoante suas
Terra (normalmente da ordem de 1 kV a 20 kV, mas podendo localizações, a fim de atenderem aos critérios definidos.
atingir 100 kV). Dentro do sistema eletrônico, o problema é Caso os equipamentos não satisfaçam a estes requisitos,
contornado, favorecendo um mesmo potencial dentro dele, ou se o nível de perturbação eletromagnética for superior,
garantindo a segurança das pessoas e dos equipamentos deverão ser então implantadas medidas corretivas
instalados, com a implantação de uma ampla configuração de complementares.
aterramento. Para se eliminar problemas de interferência eletromagnética
Este fenômeno representa um sério risco (segurança e obter uma configuração EMC, temos inicialmente que
das pessoas, proteção dos equipamentos e continuidade identificar a fonte de perturbação eletromagnética (o que está
de serviço) para sistemas de telecomunicações com linhas gerando as perturbações eletromagnéticas, que podem ser
metálicas que entram no ambiente da SE, como é o caso de internas ou externas ao sistema), o mecanismo de acoplamento
linhas telefônicas. (como as perturbações eletromagnéticas geradas são acopladas
ao circuito) e o receptor (o circuito que está sendo afetado).
Controle de interferência Então é possível solucionar o problema trabalhando-se em um
Para entendermos a natureza dos problemas de interferência ou mais desses componentes para se reduzir o ruído.
eletromagnética em sistemas de automação/instrumentação, é Na instalação de sistemas eletrônicos, podemos
conveniente considerarmos a era da modernidade, que ainda considerar que não é usual trabalhar no receptor ou na fonte
vivemos, como a efetivação da Lógica da Dupla Diferença, de perturbação eletromagnética. Não é conveniente trabalhar
qual seja, que são feitas duas partições da realidade (duas no receptor, pois o equipamento já estaria definido pelo
diferenças) de forma a permitir a sistematização do mundo. Em fabricante e pode não ser conveniente trabalhar nas fontes
outras palavras, a realidade é empobrecida para um universo de perturbações eletromagnéticas, principalmente se estas já
menor (primeira diferença), em que podemos então estudar estiverem sido implantadas.
as entidades (segunda diferença) neste universo menor num Em suma, é necessário identificar os níveis de perturbações
contexto mais simplificado, permitindo assim a elaboração eletromagnéticas gerados e de imunidade apresentados pelos
das leis da física. equipamentos, mas não necessariamente modificá-los. Resta-
A maioria dos problemas de interferência acontece nos então trabalhar no acoplamento.
exatamente pela não observância dessa simplificação da Perturbações EM são acopladas em circuitos eletrônicos
realidade. por meio de três mecanismos básicos: acoplamento capacitivo
Quando é possível uma aproximação para baixas (campos elétricos), acoplamento indutivo (campos magnéticos)
frequências, um circuito pode ser descrito em termos e acoplamento por impedância comum (de aterramento).
de componentes “normais”, assim como resistências, Praticamente todas as técnicas que se aplicam para a
capacitâncias e indutâncias, e é então possível o eliminação destes mecanismos de acoplamento, assim como
desenvolvimento de cálculos “normais”. Entretanto, quando filtragem, blindagem, balanceamento, etc., estão diretamente
as dimensões do circuito não podem mais ser consideradas relacionadas ao sistema de aterramento. Por exemplo, para
como pequenas em relação ao comprimento de onda, as evitar o acoplamento de campos magnéticos em cabos de sinal,
propriedades de radiação do circuito já não podem mais ser a técnica básica é a eliminação da área do “loop” definida
ignoradas (ou seja, o universo empobrecido por esta primeira pelo fluxo de corrente – uma blindagem pode ser usada nesse
diferença não atende às necessidades do estudo). Quando são sentido, porém seu uso é orientado para a redução da área do
ignoradas surgem “os problemas misteriosos”. “loop”, isto é, como a blindagem é “aterrada”.
Nesse contexto, torna-se imprescindível a implantação Assim, a essência da compatibilidade eletromagnética de
de um tratamento sistemático na área da Compatibilidade um sistema eletrônico, como caracterizado acima, é o seu
Eletromagnética, mesmo porque o ambiente eletromagnético próprio sistema de aterramento. Muitas vezes, o sistema de
é constantemente alterado com a instalação de novos aterramento é confundido inadvertidamente com o conceito
equipamentos ou modificações das instalações existentes. de “malha de terra” – um baixo valor de resistência de terra
Os efeitos e as consequências das diferentes classes de não é fundamental para EMC.
fenômenos eletromagnéticos em sistemas eletrônicos estão
diretamente relacionados às funções desempenhadas por um * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
sistema de controle específico e os processos envolvidos. Para gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
cada função deverá ser definido um critério específico quanto Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
à influência de perturbações eletromagnéticas. Nesse cenário, eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
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42
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009
Capítulo II
Requisitos emc para
equipamentos eletroeletrônicos
Por Roberto Menna Barreto*
Flavio Santos
modo que os equipamentos não sofram uma carga desproporcionada,
prejudicando as redes.
No Brasil
No Brasil, não existe propriamente uma imposição para o
cumprimento de normas EMC no que se refere a produtos eletroeletrônicos
de uso geral, embora as recomendações apresentadas pela IEC sirvam
de referência. No entanto, a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel), por meio da Resolução nº 237 – Regulamento para certificação
de equipamentos de telecomunicações quanto aos aspectos de
compatibilidade eletromagnética, de 9 de novembro de 2000, passou
a exigir de todos os fabricantes nacionais de equipamentos para uso Subestação Carapina Escelsa
em telecomunicações o cumprimento de requisitos específicos em EMC
(que refletem as especificações técnicas da Diretiva EMC). Também que não estavam habituadas ao cumprimento de normas específicas na
já estão sendo adotados no Brasil requisitos EMC para equipamentos área EMC, uma mudança significativa nos seus próprios procedimentos
eletromédicos, os quais (novamente) refletem as especificações técnicas internos, de forma a vencer certa “inércia EMC” dentro de sua própria
da Diretiva EMC. empresa, além de investimentos em equipamentos e pessoal para
Embora existam outros procedimentos para qualificação de produtos ensaios e projetos EMC.
eletroeletrônicos em outros países, a Diretiva Européia sobre EMC está A questão que se coloca então é: por que uma empresa brasileira
referenciada neste estudo como um desafio para a indústria brasileira, deveria fazer, em maior ou menor escala, investimentos nesse sentido?
principalmente, por definir um contexto internacional, moderno e Obviamente, essa pergunta deveria ser respondida de acordo com
abrangente, em que são exigidos requisitos técnicos para emissão e a estratégia de desenvolvimento e o mercado-alvo pretendidos, pois
imunidade, tanto de produtos como de suas próprias instalações. não existem atualmente restrições oficiais similares nesse âmbito para o
A qualificação para a Diretiva EMC vem, assim, requerer às empresas mercado brasileiro. Entretanto, os seguintes aspectos devem também ser
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44 O Setor Elétrico / Fevereiro de 2009
Flavio Santos
a) EMC x eletroeletrônica: a área da compatibilidade eletromagnética
não representa somente uma “reserva de mercado” de alguns países, mas
principalmente uma consequência do desenvolvimento eletroeletrônico,
em que os problemas de interferência surgem como consequência
natural do uso de um maior número de circuitos operando em maior
proximidade, utilizando maiores bandas de frequência, menores níveis de
sinal, etc.. EMC é, assim, uma necessidade inerente à própria eletrônica;
b) padrão internacional: embora o ponto de partida para aplicação
da Diretiva EMC tenha sido as normas internacionais existentes (IEC), o
processo de normalização europeu representa cada vez mais o padrão
internacional que está sendo implementado, que abordam tanto os
aspectos de emissão como imunidade; Subestação Bento Ferreira, Escelsa
c) exigências de mercado: é natural, como já está acontecendo, que
mesmo em mercados onde não é necessário o cumprimento oficial de inferior àquele que seria adequado a esse ambiente de subestações.
requisitos, haja uma maior aceitação por produtos europeus diante de Os efeitos e as consequências das diferentes classes de fenômenos
uma maior garantia de funcionamento desses produtos; eletromagnéticos em sistemas eletrônicos, por exemplo, de automação,
d) competitividade: a abordagem implicitamente pretendida para o estão diretamente relacionados com as funções desempenhadas por
cumprimento da Diretiva EMC – em que os problemas de interferência um sistema de controle específico e com os processos envolvidos. Essas
são analisados e solucionados desde a fase de projeto – é a forma que funções incluem proteção/teleproteção, regulação e processamento
tem se mostrado mais rentável para o desenvolvimento de equipamentos em tempo real, contadores, controle e comando, supervisão, alarme,
eletroeletrônicos. É nesse sentido que está sendo desenvolvida uma aquisição de dados e armazenamento, medição, entre outros.
tecnologia avançada, contra a qual qualquer empresa brasileira da área Dependendo dos tipos de fenômenos eletromagnéticos (conduzidos
eletroeletrônica terá que competir. ou radiados, alta ou baixa frequência) e das portas de entrada do
Dessa forma, a indústria eletroeletrônica brasileira terá que, num equipamento envolvidas (porta AC de entrada/saída; porta DC de
futuro próximo, cumprir muitas das exigências especificadas atualmente entrada/saída; gabinete; porta de sinal para conexões locais, conexões
para o mercado europeu para se tornar competitiva em um mercado de campo, para equipamento de alta tensão e telecomunicações; e
cada vez mais globalizado e, consequentemente, terá de se adaptar porta de aterramento), o efeito de perturbações eletromagnéticas pode
aos procedimentos de projeto e fabricação inerentes ao campo da ser limitado a uma única função ou a um grande número delas.
Compatibilidade Eletromagnética. Para cada função deverá ser definido um critério específico quanto
à influência de perturbações eletromagnéticas. Assim, por exemplo,
Consequências para ambientes de subestações elétricas para a medição poderá ser assumido o critério de que o sistema
Quando consideramos a instalação de equipamentos eletroele tenha garantido o desempenho correto quando sujeito a fenômenos
trônicos compondo um sistema eletrônico no Brasil, a situação que se eletromagnéticos contínuos, porém sendo tolerável uma degradação
apresenta é: temporária com recuperação automática quando sujeito a fenômenos
• o nível de emissão/imunidade de cada equipamento não está eletromagnéticos transitórios. Para a regulação e processamento em
claramente definido, a menos que haja a comprovação de cumprimento tempo real, poderá ser especificado que nenhuma degradação de
com normas EMC específicas; desempenho é tolerada quando sujeita a fenômenos eletromagnéticos
• o nível de emissão/imunidade do sistema eletrônico não é contínuos ou esporádicos.
necessariamente o mesmo nível dos equipamentos que o compõe De forma a se obter uma configuração EMC adequada à operação de
devido, por exemplo, aos cabos de interconexão que tornam o sistema um sistema eletrônico em um ambiente de subestação elétrica, torna-se
mais vulnerável à influência de perturbações radiadas; necessário o desenvolvimento de um “plano de trabalho”, especificando
• os níveis de perturbações eletromagnéticas em um determinado as ações e seus tempos de execução ao longo de toda a instalação do
ambiente podem diferir drasticamente daqueles normalmente usados sistema eletrônico (proteção, automação, telecomunicações) para que
como referência na elaboração das normas EMC (ambientes residenciais as diversas situações possíveis para a ocorrência de problemas de EMI
e industriais). possam ser identificadas e solucionadas. Este “plano de trabalho” é
Para instalações específicas, como no caso de subestações elétricas, chamado “Plano de Controle de Interferência”.
é de se esperar a necessidade de implantação de medidas de proteção
complementares, especialmente, quando os equipamentos a serem * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
instalados cumprem especificações técnicas EMC para uso em ambientes
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
comerciais/residenciais, que espelham um nível de imunidade muito
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
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30
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Março de 2009
Capítulo III
Acoplamento de campos elétricos
Por Roberto Menna Barreto*
Vruído = j w R C12 V1
frequência ou outros circuitos não lineares, assim como dimmers), Essas transições dV/dt extremamente rápidas ocasionam a
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos
a tensão acoplada pode atingir níveis de 90 V, o que pode ocasionar circulação de correntes espúrias entre um condutor de fase e
problemas de interferência. o “terra” de referência, devido a altas frequências que vêem a
capacitância parasita entre o condutor e o “terra” como uma baixa
Ruído no modo comum (instrumentação) impedância, um “curto circuito”. A circulação de corrente (IG) com
Ao considerarmos os dois condutores em um circuito (fonte, carga componentes de alta frequência (decorrente do tempo de subida/
e condutores de ida e retorno), devemos distinguir duas formas de descida dos pulsos de tensão da ordem de 200 ns) no sistema “terra
circulação de corrente: modo diferencial, o sinal desejado, significando de referência” ocasiona uma ddp entre as extremidades do circuito
que a corrente flui da fonte para a carga por um condutor e retorna pelo eletrônico e o resultado é a circulação de correntes no modo
outro; e modo comum, o sinal indesejado (ruído), significando que a comum (Imc) pelos condutores de instrumentação, favorecendo
corrente flui na mesma direção em ambos os condutores do circuito, a ocorrência de problemas de interferência, conforme ilustrado a
retornando por um terceiro condutor, em geral uma “Massa/ground” seguir:
(daí o termo largamente utilizado de “loop de terra”).
O circuito de modo comum pode ter uma “existência material”,
como no caso em que a fonte de sinal e a carga estão conectadas
diretamente a uma referência (“Terra/Massa/ground”) em diferentes
pontos. Neste caso, a fonte de corrente em modo comum pode ser
uma diferença de potencial entre estes dois pontos de referência (“Terra/
Massa/ground”), que força o fluxo de corrente em ambos os condutores
em um mesmo sentido.
Muitas vezes, os circuitos por onde fluem correntes em modo
comum não têm uma conexão “material” para fechar o “loop” para uma
referência. Isto pode ser entendido, considerando-se que capacitâncias
parasitas fecham o “loop” para a referência (“Terra/Massa/ground”) em
um dos extremos do circuito.
A figura a seguir ilustra esta situação, em que a circulação das
correntes de modo diferencial (Imd) e de modo comum (Imc, devido à
A solução para este problema poderá estar pautada na
capacitância fechar o “loop” com a Fonte (Vs)) caracterizam na carga ZL
redução de IG pelo “terra de referência”, de forma a evitar a
duas tensões: a tensão desejada, de sinal (Vs), e a tensão indesejada, de
ddp decorrente entre os extremos do circuito, o que pode ser
ruído (V’mc).
obtido com a utilização de reatâncias para amenizar o dV/dt
(diminuição das componentes de alta frequência de IG) e com
a diminuição do comprimento dos cabos ou a utilização de
blindagem (redução do valor da capacitância C), por exemplo.
Entretanto, as soluções a serem implantadas deverão responder
também a outras formas de acoplamento de ruído.
A proteção de equipamentos eletrônicos contra perturbações
eletromagnéticas, incluindo a proteção contra descargas
atmosféricas e seus efeitos, requer a coordenação de diferentes
aspectos, assim como características dos equipamentos, suas
instalações, cabos de interconexão, sistema de proteção contra
descargas atmosféricas (SPDA – proteção externa), topologia
Circulação das correntes de modo diferencial e modo comum: tensão
desejada, de sinal, e tensão indesejada, de ruído. (malha) de aterramento, qualidade da energia elétrica etc. sob
o enfoque da Compatibilidade Eletromagnética (EMC).
As correntes em modo comum são responsáveis pela maior Dessa forma, somente um estudo abrangente, levando
parte dos problemas de interferência que aparecem em sistemas em consideração estes diversos fatores, poderá indicar uma
eletrônicos. Um exemplo é a utilização de inversores de frequência, solução apropriada.
os quais traduzem diversas situações para a ocorrência de
problemas de interferência. Uma destas situações está relacionada
* ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
à tecnologia atual IGBT (Insulated Gate Bipolar Transistors) em que
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
são obtidos tempos de comutação menores que 200 ns. Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
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28
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Abril de 2009
Capítulo IV
Acoplamento de campos magnéticos
Por Roberto Menna Barreto*
Acoplamento indutivo
Quando os campos magnéticos presentes no ambiente
atravessam um loop formado por dois cabos quaisquer que se
interligam a um mesmo equipamento, ocorre a indução de uma
força eletromotriz (resultando numa tensão de ruído). Assim, para
instalações com um grande número de equipamentos eletrônicos,
é muito importante o planejamento das rotas dos cabos (elétricos,
sinais, etc.) que atendem aos diversos equipamentos interligados.
De modo a simplificarmos a análise do acoplamento indutivo,
a interação dos campos magnéticos entre dois circuitos será
representada por meio de indutâncias mútuas (como se todos os
campos entre os elementos estivessem confinados no interior de um
transformador de uma espira só), permitindo então trabalharmos
somente com uma variável (tempo) na teoria normal de circuitos.
A expressão para o cálculo da tensão induzida, Vruído, pode
assim ser escrita na forma da indutância mútua entre os dois
circuitos (M), a qual depende da geometria e das propriedades
magnéticas do meio entre os dois circuitos, como:
Vruído = jwMI1
Capítulo V
Aspectos emc para a cabeação
Por Roberto Menna Barreto*
Blindagem de condutores
RRMC = [Zb + Zc + Zg] / Rb + jw (Lb – M)
diante do ruído em modo comum
Em que:
Está representada na figura a seguir uma conexão
Zb – impedância da blindagem (Rb + jwLb)
blindada entre dois equipamentos. A corrente de
Zc – impedância da conexão para terminação da
sinal (I – fonte de sinal Vs) irá retornar em parte
blindagem
pela blindagem (Ib) e em parte pelo sistema de terra
Zg – impedância de terra entre os dois extremos do circuito
(“Terra/Massa/ground”), estrutura mecânica ou outros
Lb – indutância da blindagem
condutores de retorno (Ig).
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O Setor Elétrico / Abril de 2009 37
1,99 �H
Vs 20 mohm, 2�
50 nH 3 3 50 nH
RRMC (dB)
80
60
Efeito de L = 50 nH
20
F (MHz)
De outra forma, mantendo-se a blindagem aterrada somente (dezenas de kHz), a blindagem ser aterrada somente em uma
em um dos extremos (servindo para blindagem contra campos extremidade. Em altas frequências (centenas de kHz ou faixa de
elétricos) e utilizando-se o terra comum para retorno de sinal, a MHz), é recomendável o aterramento nas duas extremidades,
expressão da RRMC torna-se: devendo a blindagem ser protegida por um condutor externo
ao cabo, lançado junto a este e aterrado também nas duas
RRMC = [Rb + jw Lb + 1/jwC] / [Rb + jw (Lb – M) + 1/jwC] extremidades, de modo a evitar que a blindagem seja danificada
por correntes transitórias, favorecendo a redução da “área de loop”
Em que “C” é capacitância parasita na extremidade flutuante da para captação de ruído em modo comum.
blindagem, sendo esta impedância capacitiva o fator preponderante Uma situação importante e bastante comum a ser analisada é
para frequências baixas, já que o valor de C é bastante baixo a interconexão de equipamentos situados em prédios ou em locais
(assumindo-se da ordem 50 PF na figura a seguir), implicando uma distantes entre si. Embora em cada prédio ou edifício possa existir
RRMC ~ 1. Ou seja, não há proteção contra ruído em modo comum. uma malha de referência, se elas forem interconectadas por meio
Para frequências altas, a impedância capacitiva 1/jwC tende a zero, de condutores longos, não se conseguirá “equalizá-las” para altas
significando que a RRMC se comporta como o circuito aterrado em frequências. Assim, podem surgir diferenças de potencial entre as
ambos os extremos como visto anteriormente. malhas e, em uma situação pior, podem ser induzidos surtos de
tensão elevados nos cabos que fazem a conexão dos equipamentos
remotos.
Estes surtos, causados geralmente por descargas atmosféricas
incidentes nos edifícios ou nas suas proximidades, penetram nos
cartões de interface por intermédio dos cabos, seja na forma de sinal
de modo comum (condutores e terra), seja no modo normal (entre
condutores). Em alguns casos, os valores dos surtos são tão elevados
que os componentes eletrônicos dos cartões são literalmente
carbonizados. Embora esses surtos de tensão possam ser atenuados
por técnicas de instalação corretas (blindagem dos condutores por
meio de eletrodutos metálicos, por exemplo), a experiência tem
mostrado que essas técnicas são insuficientes ou, em alguns casos,
impossíveis de serem aplicadas, pelo seu custo excessivo.
Nestes casos, a situação pode ser contornada, preferencialmente,
pelo emprego da fibra ótica e alternativamente, pelo o uso de
Roteamento e segregação de cabos protetores de surtos adequados, cujo dimensionamento requer um
No que diz respeito à passagem dos cabos, estes deverão estudo específico.
estar agrupados e separados por classes, a exemplo da norma IEC Vale lembrar que a proteção de equipamentos eletrônicos
61000-5-2:1997 "Electromagnetic Compatibility (EMC) – Part 5: contra perturbações eletromagnéticas, incluindo a proteção contra
Installation and Mitigation Guidelines – Section 2: Earthing and descargas atmosféricas e seus efeitos, requer a coordenação de
Cabling", que considera cinco classes principais: diferentes aspectos, assim como características dos equipamentos,
Classe 1 – cabos portando sinais muito sensíveis (que devem ser, suas instalações, cabos de interconexão, sistema de proteção
preferencialmente, blindados) – sinais analógicos, com milivolts, contra descargas atmosféricas (SPDA – proteção externa), topologia
cabos de antenas receptoras, Ethernet de alta velocidade, etc.; (malha) de aterramento, qualidade da energia elétrica, etc., sob o
Classe 2 – cabos portando sinais sensíveis - analógicos 4-20 mA, enfoque da Compatibilidade Eletromagnética (EMC).
0-10 V, abaixo de 1 MHz, sinais digitais de baixa velocidade Nesse sentido, somente um estudo abrangente, tendo em
(RS422, RS485); consideração estes diversos fatores, poderá indicar uma solução
Classe 3 – cabos portando sinais que podem criar interferência – apropriada.
CA abaixo de
1 kV, CC, circuitos de controle com cargas indutivas, etc.; * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
Classe 4 – cabos portando sinais que podem criar muita interferência gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
(que devem ser, preferencialmente, blindados) – conversores,
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
antenas transmissoras de RF; e
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Classes 5 e 6 – cabos de média e alta tensão, respectivamente.
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
O aterramento das blindagens dos cabos é parte do projeto Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
do sistema de aterramento, sendo possível, em baixas frequências redacao@atitudeeditorial.com.br
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26
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Junho de 2009
Capítulo VI
Aspectos emc para sistemas de
aterramento – malha de terra
Por Roberto Menna Barreto*
O sistema de aterramento tem como objetivo a E para fazer as coisas ainda piores, existe o
realização de diferentes funções fundamentais para dilema: quem fica encarregado desses “sistemas de
a correta operação dos equipamentos instalados, terra”?
nomeadamente: – Os profissionais da área de engenharia elétrica
– O estabelecimento de uma tensão de referência costumam ser os responsáveis pelos “sistemas de
para o sistema de energia; terra” devido a razões históricas, porém eles estão
– O funcionamento dos dispositivos de proteção de preparados para trabalhar essencialmente com
pessoas contra choques elétricos; dezenas/centenas de Ampeèes e 50/60 Hertz,
– O controle da quantidade de energia que possa o que, de certa forma, lhes conferem alguma
ser conduzida para os equipamentos, a fim de dificuldade para tratar o ruído nestes “sistemas
protegê-los; de terra”, nomeadamente, os sinais de mA/Mhz
– O favorecimento de percursos de baixa presentes nas configurações dos cabos em que
impedância para a circulação de correntes, para a trabalham;
redução do ruído elétrico; e – Entretanto, os profissionais da área de engenharia
– A dissipação da energia dos raios. eletrônica estão direcionados para trabalhar com
Estas funções são normalmente implantadas por sinais de mA/MHz, porém evitam, ao máximo,
meio dos seguintes “sistemas de terra”: deixar as fronteiras dos seus equipamentos
– “sistema de terra” da distribuição de energia AC; sofisticados para lidar com as instalações de
– “sistema de terra” da distribuição de energia DC; potência com dezenas/centenas de Ampères e
– “sistema de terra” para RF; 50/60 Hertz.
– “sistema de terra” local para isolamento de Como consequência, o sistema de aterramento
equipamentos; é um tipo de “terra de ninguém” no que se refere
– “sistema de terra” para referência de sinal; à maioria dos problemas de interferência, uma
– “sistema de terra” do para-raios. vez que as perturbações eletromagnéticas em mA/
Assim, as diferentes tecnologias existentes MHz são livres para existir, já que ninguém está
em um sistema eletrônico (instrumentação, muito direcionado para definir uma configuração
automação, telecomunicações, incluindo redes apropriada que permita evitar esses tipos de
de comunicações, sistemas de energia AC e DC, perturbações.
sistemas de RF, etc.) têm de estar necessariamente
interligadas pelo sistema de aterramento que, por Sistema de eletrodos de terra
sua vez, é a base para uma proteção adequada Malha de terra
contra descargas atmosféricas e seus efeitos. Basicamente, a função da conexão à terra
Como consequência, os sistemas de aterramento realizada por um sistema de eletrodos de terra
apresentam um cenário propício à ocorrência de (inerente aos “Sistemas de Terra”) é fornecer
problemas de Interferência Eletromagnética (EMI), um caminho de baixa impedância para a terra,
uma vez que sinais (níveis baixos) fluem junto com permitindo a drenagem de correntes para a
perturbações eletromagnéticas de níveis elevados (surtos proteção contra raios, proteção de faltas e sistema
de corrente/tensão em AC, correntes de raios, etc.). de referência para sinais.
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O Setor Elétrico / Junho de 2009
27
Uma conexão à terra apresenta resistência, capacitância e d (cm) – diâmetro da haste (necessidades mecânicas de
indutância, cada qual influindo na capacidade de condução cravamento);
de corrente para o solo. No entanto, para frequências baixas, ρ (ohm.cm) – resistividade do solo.
correntes baixas e valores não muito elevados de resistividade Normalmente, uma única haste não é suficiente para se
do solo, este se comporta praticamente como uma resistência obter um valor apropriado de Rat. Por exemplo, para o caso de
linear. Para correntes impulsivas (raios) de elevada amplitude, um solo constituído de terra de jardim, ρ = 200 ohm.m, uma
temos o efeito de ionização do solo, em que a área do eletrodo haste com as dimensões: L = 3 m; d = 16 mm (5/8) apresentaria
é “aumentada” devido aos canais de descargas formados em um valor de resistência de aterramento de Rat = (0,366 x 20000
torno do eletrodo, favorecendo a redução da impedância / 300) log (3 x 300 / 1.6) = 67,1 ohm.
de aterramento. Usualmente, podemos desprezar os efeitos Para analisarmos o efeito da colocação de hastes em
capacitivos e indutivos para o dimensionamento de sistemas paralelo, de forma a reduzir o valor da resistência de
de eletrodos de terra. aterramento, devemos inicialmente determinar a zona de
A resistência de aterramento de um eletrodo pode ser influência de uma haste.
traduzida como a relação entre a tensão resultante no eletrodo O potencial de uma concha em torno da haste a uma
e a corrente injetada no solo por meio dele: distância “x” pode ser dado por:
Para um eletrodo na forma de uma haste vertical, o valor Então, a parte da resistência de aterramento, compreendida
da resistência de aterramento (existem diversas fórmulas para entre o ponto “x” e o infinito, é dada por:
determinação da Rat) pode ser dado por:
Ex. / I = Rx = (0,366 ρ / L) log [ (L/x) + SQR (1 + (L/x)²]
Rat (haste) = (0,366 r / L) log (3 L / d) ohm
Logo, sendo Rhaste a resistência total de uma haste (da haste
L (cm) – comprimento da haste (usual ser inferior a 3m); até o infinito, como visto anteriormente), temos a porcentagem
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28 O Setor Elétrico / Junho de 2009
da resistência de aterramento entre o ponto “x” e o infinito: o potencial V do sistema de eletrodos em relação ao tal ponto
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos
Na área da compatibilidade eletromagnética, a lógica as dimensões do circuito não podem mais ser consideradas
clássica (0 ou 1, ou melhor 1 ou –1, existe ou não existe, etc.) como pequenas em relação ao comprimento de onda, as
nem sempre se aplica. propriedades de radiação do circuito já não podem mais ser
De uma forma geral, o que se procura não é a eliminação ignoradas.
do ruído! O que se procura é um compromisso entre diferentes Por exemplo, um pedaço de um fio é um pedaço de fio, mas
fontes de perturbação eletromagnética de forma a que o ruído existem resistências, capacitâncias e indutâncias associadas
total acoplado no circuito não cause interferência. a ele que, de acordo com as dimensões e frequências
Como este acoplamento de ruído é função de diversas consideradas, poderão ter uma influência significativa no
variáveis (assim como largura de banda dos sinais, nível desempenho do circuito.
das perturbações eletromagnéticas presentes no ambiente, Na verdade, a maior parte dos problemas de interferência
disposição física do circuito, etc.), não existe uma “solução ocorre por não se considerar que uma corrente é sempre
padrão”. Em muitos casos, o que se faz é permitir o acompanhada por campo magnético e uma tensão por campo
acoplamento de ruído originado por uma determinada fonte elétrico.
de forma a proteger o circuito contra o ruído proveniente de
outra fonte mais severa. Correntes em modo comum
Quando consideramos dois condutores em um circuito
Eletrodos de terra (fonte, carga e condutores de ida e retorno), podemos
Muitos fornecedores de sistemas eletrônicos exigem um distinguir duas formas de circulação de corrente: o modo
valor máximo de resistência de aterramento, por exemplo, diferencial, o sinal desejado, significando que a corrente flui
de 1 ohms ou 5 ohms. Embora seja extremamente raro da fonte para a carga por um condutor e retorna pelo outro;
se encontrar uma justificativa teórica para suportar esta e o modo comum, o sinal indesejado, significando que a
exigência, isto tende a ser um critério geral. Mas o fato é corrente flui na mesma direção em ambos os condutores do
que a resistência de aterramento do subsistema de eletrodos circuito, retornando por um terceiro condutor, em geral uma
de terra não é fundamental para a operação adequada de “massa/ground”.
sistemas eletrônicos. Muitas vezes, os circuitos por onde fluem correntes em
Na verdade, é muito mais importante uma topologia modo comum não têm uma conexão “material” para fechar o
capaz de “dissolver” as perturbações eletromagnéticas (como “loop” para uma referência (“terra/massa/ground”). Isto pode
as correntes originadas por raios no solo), sem a criação de ser entendido considerando-se que capacitâncias parasitas
diferenças elevadas de potencial, do que um baixo valor de fecham o “loop” para a referência (“Terra/Massa/ground”) em
resistência de aterramento, muito embora um baixo valor um dos extremos do circuito.
deva ser o objetivo básico sempre que possível. As correntes em modo comum são responsáveis por
muitos dos problemas de interferência que aparecem em
Potencial de referência instalações de sistemas eletrônicos. Este tipo de fenômeno é
O termo “Massa/ground” significa uma “referência” para também referido como “loop de terra” porque “terra” (massa/
a transmissão/processamento de sinal e, como consequência, ground) é usado como caminho de retorno para as correntes,
deve existir somente uma única referência para um circuito mas este não é um termo muito apropriado porque a análise
– duas referências indicam que existirá uma diferença de de circulação de correntes é normalmente o aspecto principal
potencial (dois pontos nunca estão num mesmo potencial), a para a solução de problemas de interferência.
qual poderá ser adicionada como ruído para o circuito. Desta forma, somente um estudo abrangente, considerando
Se dois circuitos são considerados, eles podem ter duas estes aspectos, poderá indicar uma solução apropriada para o
referências quando visto por cada um, mas o circuito total sistema de aterramento.
englobado pelos dois só deverá ter uma única referência.
Nesse sentido, deverá existir somente um único (fisicamente)
* ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
sistema de aterramento.
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
Campos eletromagnéticos eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
Quando é possível uma aproximação para baixas
frequências, um circuito pode ser descrito em termos CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
de componentes “normais”, assim como resistências,
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
capacitâncias e indutâncias, e é então possível o redacao@atitudeeditorial.com.br
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Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Julho de 2009
Capítulo VII
Aspectos EMC para o sistema de
aterramento – referência para
equipamentos sensíveis
Por Roberto Menna Barreto*
Este sistema de aterramento inerente a um equipamento aplica, objetivando também o atendimento às normas EMC, sendo
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos
eletrônico para referência de sinais poderá ser classificado as trilhas de “terra” (e Vcc) as mais importantes, que é por onde
como um aterramento por um único ponto, o qual poderá ter a fluem as correntes de sinal de todos os circuitos além do ruído em
configuração em série ou em paralelo, ou como um aterramento alta frequência gerado na placa. Daí a grande vantagem das placas
multiponto, conforme apresentado na Figura 4. multilayer, por apresentarem uma menor impedância característica.
Conclusão
Conforme apresentado, o sistema de aterramento constitui
um único circuito, que vai desde o subsistema de eletrodos
de terra até aos componentes em placas de circuito impresso.
O dimensionamento deste circuito (sistema de aterramento)
irá depender de diversos fatores, como as características dos
equipamentos, as faixas de frequência utilizadas, as dimensões e
topologia do sistema, as perturbações eletromagnéticas (radiadas e
conduzidas) presentes no ambiente, etc. Fatores estes que poderão
indicar a necessidade de medidas de proteção adicionais (filtragem,
blindagem, isolação, etc.) conforme a situação para este circuito
que é o sistema de aterramento.
Ou seja, não existe um “pré-projeto” para a implantação de
Figura 4 – Classes de aterramento para sinais sistemas de aterramento. Cada instalação de sistema eletrônico
(instrumentação, telecomunicações, hospitalar, automação, etc.)
A configuração da conexão em série, por ser a mais simples,
tem as suas próprias particularidades inerentes ao próprio sistema
acaba sendo a mais utilizada e funciona corretamente desde que
e ao local de instalação, e requer um projeto específico do
os níveis de sinais dos vários circuitos sejam semelhantes. Quando
sistema de aterramento que possa garantir a operação correta dos
a tensão Vfio desenvolvida em um pedaço da fiação entre dois
equipamentos instalados.
estágios [Vfio = Zfio x (somatório das correntes que fluem neste
Muitas vezes o que é feito é a implantação do sistema de
pedaço de fio, originárias dos vários circuitos anteriores #1, #2, #3,
aterramento baseada em somente dois ou três critérios, em lugar
etc.)] se torna significativa para a operação dos circuitos anteriores.
de um projeto específico, tais como: a resistência de terra deve ser
Estes circuitos vêem a referência de “terra” modulada por estes Vfio
inferior a 5 ohms; a configuração em estrela deve ser implementada;
que se apresentam em série, então esta configuração não é mais
deve-se evitar os “loops de terra”; deve-se fazer uma equalização
apropriada e a configuração da conexão em paralelo irá solucionar
de potencial; etc. Mas, em geral, estes critérios são falhos, não são
este aspecto.
suficientes e nem mesmo necessários.
Na configuração da conexão em paralelo cada condutor de
A consequência então é um número bastante elevado de
retorno tem agora a exclusividade do circuito para o qual está
problemas sempre que ocorre uma situação de risco, assim como
referenciando, ou seja, que não existem mais correntes de outros
aquelas originadas por raios, por exemplo. Então se inicia uma
circuitos fluindo por eles, ou seja, uma impedância comum de
busca por produtos especiais, tal como um “super” Dispositivo de
aterramento a diferentes circuitos (Zfio) como no caso anterior.
Proteção contra Surtos (DPS) que possa resolver o problema. Na
Esta configuração é apropriada desde que a faixa de frequência
verdade, o problema é de outra categoria, porque é no sistema de
seja suficientemente baixa para desprezarmos os efeitos indutivos
aterramento que o problema precisa ser solucionado.
e capacitivos destes condutores de aterramento, quando então
Dessa forma, somente um estudo abrangente, tendo em
estaríamos alterando a configuração para o sistema multiponto,
consideração estes aspectos, poderá indicar uma solução
fazendo o comprimento dos condutores ser o menor possível.
apropriada para o sistema de aterramento.
Na prática, o que fazemos é uma “configuração mista”,
alternando as diferentes classes conforme a necessidade de
operação dos circuitos e segregando quanto ao nível de ruído: * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
“terra de sinais” para o aterramento de circuitos mais sensíveis;
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
“terra de ruído” para o aterramento de relés, circuitos de alta
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
potência; e “terra de equipamento” para o aterramento de racks,
gabinetes, etc., sendo estes três circuitos conectados ao condutor CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
de proteção. Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
Para a placa de circuito impresso, esta mesma metodologia se
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O Setor Elétrico / Agosto de 2009 O Setor Elétrico / Agosto de 2009
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos
Capítulo VIII
Blindagem de salas
Por Roberto Menna Barreto*
Eficiência de uma Blindagem (EB) e é expresso por: A perda por reflexão diz respeito a quanto a onda perde ao
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos
Capítulo IX
Proteção contra descargas
atmosféricas
Por Roberto Menna Barreto*
Proteção contra pulsos EM – a proteção contra pulsos EM as necessidades (EMC) para operação dos vários equipamentos
(LEMP – Lightning Electromagnetic Pulse) também deve ser instalados. É importante observar que a ideia de uma baixa
objetivada pelo projeto do SPDA, embora a maior parte das resistência de terra não significa proteção contra descargas
medidas de proteção possa ser realizada pela própria topologia atmosféricas – é fundamental uma configuração apropriada
do sistema. para “dissolver” homogeneamente as correntes oriundas de
Perturbações EM nos cabos de comunicação – deve-se descargas atmosféricas, evitando a ocorrência de potenciais de
estimar o risco de avarias, considerando as características do risco, que um baixo valor de resistência para a terra, embora
cabo (aéreo ou enterrado, blindado ou não, comprimento, um baixo valor deva ser objetivado sempre que for técnico-
tipo de isolamento, etc.) e o ambiente em que está instalado economicamente viável. O sistema de aterramento é também
(resistividade do solo, estruturas adjacentes, etc.). Uma vez o principal mecanismo de proteção contra os campos EM
identificados o cabo e a sua instalação, é possível calcular originados pelas correntes das descargas atmosféricas.
a necessidade de medidas de proteção, que podem incluir o Sistema de energia – a rede de distribuição de energia AC
uso de Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS) ou outras deve ser considerada como uma ligação do sistema eletrônico
opções, de forma a garantir que o cabo e os equipamentos a várias fontes de perturbação EM, além da própria fonte de
interligados se apresentem dentro dos limites para o risco energia. Devem ser levados em conta tanto as variações de
de avarias tolerado, a ser definido pelo operador do sistema. tensão (sobretensão, “fickers”, harmónicos, etc.) como os
Surtos de tensão e corrente induzidos por descargas indiretas surtos de tensão/corrente (gerados por descargas atmosféricas
(aquelas que não atingem diretamente as edificações em que ou chaveamento de cargas indutivas).
estão instalados os equipamentos do sistema eletrônico, mas
que, por acoplamento resistivo ou indutivo, ocasionam o
aparecimento de tensões/correntes no sistema) são a principal EMC e proteção contra raios
causa de avarias em equipamentos. (proteção interna – eletrônica)
Sistema de aterramento – devem ser levados em consideração A proteção de sistemas eletrônicos contra descargas
os requisitos indicados pelo projeto do SPDA como também atmosféricas e seus efeitos é, normalmente, considerada
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28
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Setembro de 2009
fora do âmbito da Compatibilidade Eletromagnética por Os níveis de imunidade a serem observados pelos
razões históricas, nomeadamente por envolver não somente diversos equipamentos, consoante suas localizações, são
interferências eletromagnéticas (EMI) como, principalmente, determinados com o objetivo de garantir a operação correta
danos na instalação. dos equipamentos instalados. Por exemplo, para as portas AC
No entanto, se colocarmos a proteção de sistemas de entrada/saída, pode ser exigido um nível de imunidade
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos a transitórios rápidos/salvos de acordo com a norma EN
dentro do âmbito da Compatibilidade Eletromagnética, uma 61000-4-4, com amplitude de 2 kV para equipamentos a
vez que as descargas atmosféricas e seus efeitos constituem serem instalados no campo, ou com amplitude de 4 kV, para
também perturbações eletromagnéticas, uma nova situação se equipamentos a serem instalados em subestações de alta
apresenta, deixando claro tanto a natureza do problema como tensão.
os procedimentos a serem seguidos. Caso os equipamentos não satisfaçam estes requisitos ou
E esta situação se aplica naturalmente a todos os sistemas o nível de perturbação eletromagnética seja superior, deverão
eletroeletrônicos, incluindo instalações de telecomunicações, ser então instaladas medidas complementares de proteção.
instalações em ambientes de alta tensão (a seguir é exemplificada Para a implantação de medidas complementares de
utilização cada vez maior da eletrônica em sistemas de alta proteção, temos inicialmente que identificar a fonte
tensão), sistemas de instrumentação em plantas industriais, de perturbação eletromagnética (o que está gerando as
sistemas hospitalares, etc. perturbações eletromagnéticas, que tanto pode ser interna
como externa ao sistema), o mecanismo de acoplamento
(como que as perturbações eletromagnéticas geradas são
acopladas ao circuito) e o receptor (o circuito que está sendo
afetado). Então é possível solucionar o problema trabalhando
um ou mais destes componentes para se reduzir o ruído
acoplado.
Na instalação de um sistema eletrônico, podemos
considerar que normalmente não é conveniente, nem mesmo
possível, se trabalhar no receptor e, muitas vezes, nem na
fonte de perturbação eletromagnética. Não é conveniente
trabalhar no receptor, uma vez que o equipamento já estaria
definido pelo fabricante e pode não ser conveniente trabalhar
nas fontes de perturbações eletromagnéticas, principalmente
se estas já estiverem sido instaladas. Resta-nos, então,
trabalhar no acoplamento.
Perturbações EM são acopladas em circuitos eletrônicos
Exemplo ilustrativo de Sistema de Proteção contra Descargas
Atmosféricas (SPDA) | Fonte:Termotécnica por meio de três mecanismos básicos: acoplamento
capacitivo (campos elétricos), acoplamento indutivo (campos
Compatibilidade Eletromagnética (EMC – Electromagnetic magnéticos) e acoplamento por impedância comum (de
Compatibility) pode ser definida então como a capacidade aterramento).
de um dispositivo, unidade de equipamento ou sistema de Entretanto, deve-se ressaltar que praticamente todas as
funcionar satisfatoriamente no seu ambiente eletromagnético técnicas que se aplicam para a eliminação destes mecanismos
sem introduzir, ele próprio, perturbações eletromagnéticas de acoplamento, assim como filtragem, blindagem,
intoleráveis naquele ambiente. balanceamento, etc., estão diretamente relacionadas ao
Uma configuração EMC é assegurada com certa facilidade sistema de aterramento. Por exemplo, para se evitar o
numa instalação exigindo-se que cada unidade de equipamento acoplamento de campos magnéticos em cabos de sinal, a
cumpra com normas EMC, as quais abordam tanto o aspecto técnica básica é a eliminação da área do “loop” definida
de emissão (o equipamento se constituindo numa fonte de pelo fluxo de corrente – uma blindagem pode ser usada neste
perturbação EM) como de imunidade (o equipamento não sentido, porém seu uso é orientado para a redução da área do
sendo afetado por perturbações EM no ambiente). “loop”, isto é, como a blindagem é “aterrada”.
Estas normas EMC permitem, assim, certa liberdade na Desse modo, a essência da compatibilidade eletromagnética
instalação dos vários equipamentos, evitando a ocorrência de em um sistema eletrônico, como caracterizado anteriormente,
problemas de EMI causados por fontes internas (unidades de é o seu próprio “sistema de aterramento”.
equipamento), mesmo para a maior parte das fontes externas. Assim, ao colocarmos a proteção da instalação de um
Apoio
O Setor Elétrico / Setembro de 2009
29
sistema eletrônico contra descargas atmosféricas e seus efeitos por produtos especiais, tal como um “super DPS” que possa
dentro do âmbito da Compatibilidade Eletromagnética, o resolver o problema, quando na verdade o problema é de
sistema de aterramento assume também o papel preponderante outra categoria.
na proteção dos equipamentos instalados, o qual deve ser
projetado para: Dispositivos de proteção contra surtos (DPS)
• Evitar que perturbações EM de grande intensidade sejam O uso de Dispositivos de Proteção contra Surtos é, na
acopladas nos circuitos; verdade, um recurso de aterramento a ser usado quando,
• Evitar que as perturbações EM acopladas nos circuitos devido às características da instalação, é passível a ocorrência
possam ocasionar surtos de tensão e corrente perigosos para surtos de tensão/corrente com amplitude superior aos níveis
os circuitos. de resistibilidade dos equipamentos.
Muitas vezes, o “sistema de aterramento” é confundido Embora todas as normas nacionais e internacionais
inadvertidamente com o conceito de “malha de terra” – um apontem outra direção, o nome correto para este tipo de
baixo valor de resistência de terra não é relevante para EMC e dispositivo deveria ser Dispositivo de Aterramento Transitório
nem para a proteção contra raios. (DAT) porque esta é a função dele e não simplesmente um
O que é feito muitas vezes é a implantação do sistema Dispositivo de Proteção contra Surtos, pois esta é a finalidade
de aterramento baseada em somente dois ou três critérios com a qual é usado, deixando-se talvez até “maliciosamente”
genéricos como: a resistência de terra deve ser inferior a 5 uma margem para se imaginar que o emprego de um DPS
ohms; a configuração em estrela deve ser implementada; basta.
deve-se evitar os “loops de terra”; deve-se fazer uma Um exemplo desta confusão, em que somente a utilização
equalização de potencial; etc. Via de regra, estes critérios não de DPS apropriados não é suficiente à proteção contra
são suficientes e nem mesmo necessários. descargas atmosféricas é caracterizado na figura a seguir, de
A consequência então é um número bastante elevado de um caso de proteção de um portão eletrônico, em que foram
problemas sempre que ocorre uma situação de risco, assim usados DPS adequados, mas instalados de forma inadequada,
como aquelas originadas por raios. Então se inicia uma busca resultando em uma proteção inexistente.
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30 O Setor Elétrico / Setembro de 2009
Nota-se que o valor da resistência de terra (R) não é importante atmosféricas e seus efeitos (raios) é normalmente considerada
no que se refere à tensão a ser sentida pelo equipamento “azul”, fora da área de EMC (EMC – Electromagnetic Compatibility),
uma vez implantadas as conexões #1 e #2. E mais: o que está uma vez que, em EMC, objetivamos evitar interferências,
em jogo não são valores ôhmicos – um fio de escoamento da enquanto na proteção contra raios objetivamos evitar avarias de
corrente desviada pelo DPS com 1,5 metros acarreta uma tensão circuitos.
ôhmica da ordem de somente Vr = 4,5 v [Vr = 10 kA x Rfio (Rfio Todavia, técnicas EMC são necessárias à proteção contra
= 1,5 m x 0,3 mohm/m)] enquanto acarreta uma tensão indutiva raios e as medidas de proteção contra raios têm, necessariamente,
da ordem de VL = 1.875 [VL = L dI/dt = (1,5 m x 1 uH/m) x 10 que estar integradas com as demais técnicas EMC usadas para a
kA/8 us]. instalação do sistema eletrônico.
Este valor de 1.875 v, que estaria sendo somando à tensão Sob esta perspectiva, torna-se evidente a importância do
residual do DPS, é crítico, ou seja, os requisitos exigidos ou sistema de aterramento na proteção de sistemas eletrônicos
sugeridos pelas normas sobre DPS são necessários e suficientes (automação, instrumentação, telecomunicações, etc.) contra
a uma proteção adequada de sistemas eletrônicos, desde que descargas atmosféricas e seus efeitos. A proteção de sistemas
os DPS sejam instalados corretamente de forma a compor um eletrônicos contra raios é, basicamente, um sinônimo para
sistema de aterramento adequado. EMC, e EMC é, essencialmente, um sistema de aterramento
Os dispositivos de proteção contra surtos são normalmente adequado.
instalados com os equipamentos que estariam sendo protegidos,
mas esta não é necessariamente a condição para todas as * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
instalações. Em muitas aplicações, os DPS são instalados ao longo gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
dos cabos de comunicação de forma a dividir o comprimento do Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
cabo e, assim, reduzir a amplitude das sobretensões acopladas.
Capítulo X
Radiação não-ionizante (exposição
humana a campos eletromagnéticos)
Por Roberto Menna Barreto*
Com a efetivação da Lei nº 11.934, de 5 de maio imediato, dos trabalhadores. Esses padrões incluem
de 2009, que dispõe sobre limites à exposição humana as normas elaboradas pela International Commission
a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos, on Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP) e a
devemos incluir também as exigências de norma de segurança IEEE C95.6-2002, Standard for
segurança para os trabalhadores expostos a campos Safety Levels with respect to Human Exposure to
eletromagnéticos, no que diz respeito à segurança dos Eletromagnetic Fields 0-3 kHz (Padrões para Níveis
empregados que trabalham em instalações elétricas. de Segurança com Respeito à Exposição Humana
Com a alta exposição dos empregados a Campos Eletromagnéticos). Estes padrões, junto
que trabalham em instalações elétricas, pela com a norma IEEE C95.1-1999” Standard for Safety
proximidade de condutores de alta voltagem Levels with Respect to Human Exposure to Radio
e alta corrente, é importante estar ciente dos Frequency Eletromagnetic Fields 3kHz-300 GHz
efeitos da exposição a estes campos e dos níveis (Padrões para Níveis de segurança com Respeito à
recomendados de segurança. Exposição Humana a Campos Eletromagnéticos de
Existem vários mecanismos estabelecidos para Radio Frequência) cobrem a parte não ionizante do
descrever os efeitos biológicos de campos elétricos e espectro eletromagnético.
magnéticos de baixa frequência em seres humanos. Os limites de segurança descritos têm a intenção
Os padrões atuais de segurança dizem respeito, de evitar os seguintes efeitos biológicos (do IEEE
principalmente, a efeitos agudos e de curto prazo. C95.6 Safety Standard):
Atualmente, não existem evidências • Estimulação dolorosa ou aversiva dos neurônios
suficientemente confiáveis sobre os malefícios à motores ou sensoriais;
saúde ou doenças, incluindo o câncer, resultantes da • Excitação muscular capaz de conduzir a dano
baixa exposição a campos elétricos e magnéticos de ou ferimento durante a execução de atividades
longo prazo. Não existe mecanismo capaz de oferecer potencialmente perigosas;
um fundamento para se prever os efeitos da exposição • Excitação de neurônios ou alteração direta de
de longo prazo. As associações entre exposição de atividade no cérebro;
longo prazo e doenças, inclusive leucemia infantil, • Excitação cardíaca;
são incertas neste momento. • Efeitos adversos associados com potenciais ou
forças sobre a movimentação rápida de cargas dentro
Limites de segurança do corpo, tais como no fluxo sanguíneo.
Enquanto ainda existe uma grande discussão Nos locais de trabalho, monitoramos as
sobre os possíveis efeitos da baixa exposição a intensidades dos campos elétricos e magnéticos,
campos elétricos e magnéticos em frequências porém estes não são os mecanismos importantes
industriais, já existem inúmeros padrões de segurança dentro dos nossos corpos que podem causar
que foram adotados para a alta exposição, de caráter problemas de saúde. As medições mais importantes
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O Setor Elétrico / Outubro de 2009
29
de possíveis danos à saúde de trabalhadores são chamadas de expressa em unidades de Volts/metro (V/m). A intensidade de
“restrições básicas”. Usamos medições de campos externos campos magnéticos é expressa em unidades de Ampères/metro
(intensidades dos campos elétrico e magnético) para prever as (A/m) e as densidades de fluxo magnético em unidades de Tesla.
restrições básicas internas. Em frequências de até 100 kHz, a A unidade Tesla é muito grande, em geral limitada à descrição
restrição básica de segurança é o campo elétrico interno ou a de campos magnéticos de alta intensidade como de campos DC
densidade de corrente interna induzida no corpo. Acima dos (estático) em magnetos. A exposição a campos magnéticos de
100 kHz e até cerca de 6 GHz, o fator dominante de segurança frequência industrial, relacionada à segurança e saúde humana, é
é a Taxa de Absorção Específica (SAR-Specific Absortion Rate). geralmente expressa em unidades de millitesla [mT], equivalente
Acima de 6 GHz, o fator passa a ser mais a absorção superficial à 1/1000 tesla, ou em unidades de microtesla [μT] igual a
de energia (um efeito sobre a pele). 1/1.000.000 Tesla.
Trabalhadores de instalações elétricas podem estar expostos As diretrizes do ICNIRP, adotadas no Brasil, recomendam os
a campos eletromagnéticos de maior frequência (RF), resultantes seguintes limites de exposição:
das antenas de rádio-transmissão próximas às linhas de energia,
assim como dos equipamentos de rádio utilizados no seu trabalho. Entre 25 Hz e 820 Hz, o limite do campo elétrico é calculado
Também tem se tornado mais frequente a instalação de estações como 500/f [V/m], em que a frequência é expressa em unidades de
rádio-base de telefonia móvel em torres de linhas de transmissão, kilohertz (kHz). Em 60 Hz, a exposição máxima a campos elétricos
o que pode expor o trabalhador a campos eletromagnéticos de passa a ser 500/0,060 = 8.333 V/m. O limite de exposição para o
radiofrequência. público em geral é de 250/f e a exposição em 60 Hz passa a ser
Limitaremos nossa discussão ao âmbito da segurança que 4.170 V/m.
pode existir em face dos campos elétricos e magnéticos em O limite de intensidade de campo magnético (H) da ICNIRP é
frequências industriais (50 Hz e 60 Hz). Em frequências industriais, definido como 25000/f [μT], que resulta em um valor a 60 Hz de
as diretrizes do ICNIRP são elaboradas para limitar as correntes 417 μT. O limite de exposição para o público em geral é igual a
induzidas no corpo, de 10 mA/m2 para o trabalhador e de 2 mA/ 5000/f [μT], que equivale a 83 μT.
m2 para o público em geral. As diretrizes do ICNIRP não fazem diferenciação das exposições na
Para estas discussões, a intensidade de campos elétricos é cabeça, tronco e membros (braços e pernas).
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30 O Setor Elétrico / Outubro de 2009
Estes valores limites ou valores de Exposição Máxima Permitida Ao se medir campos elétricos de baixa frequência é importante
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos
(EMP) são resumidos da seguinte maneira: lembrar que qualquer material não condutor (dielétrico) próximo
afetará a indicação do campo medido. Isso inclui árvores, plantas
60 Hz – Limites Campo magnético Campo elétrico e pessoas. Para a realização de medições precisas de campos
de exposição (μT) (V/m) elétricos, o sensor deve estar orientado perpendicularmente às
humana Trabalhador Público Trabalhador Público linhas do campo incidente para a obtenção da leitura máxima.
ICNIRP 417 83 8.333 4.170 Campos magnéticos de baixa frequência variando no tempo
(AC) são normalmente medidos usando-se “loops” (espiras)
Na faixa ELF do espectro eletromagnético (extremely low indutivos de núcleo de ar alinhados com o campo magnético a ser
frequency), a exposição a campos se dá sempre na região de campo medido. A saída do “loop” é calibrada para indicar a intensidade
próximo (menos de um comprimento de onda, que em 60 Hz é de do campo magnético, em Ampères por metro, ou a densidade de
5.000 km). Por causa disso, é sempre necessário se considerar o fluxo de campo magnético, em unidades de Gauss ou Tesla.
monitoramento de ambos os campos elétrico e magnético porque Um campo magnético variando no tempo induzirá uma
estes campos não estão acoplados, como é o caso da faixa de corrente em uma espira (“loop”) condutora proporcional à
radiofrequência. amplitude da densidade de fluxo de campo magnético e também
à frequência do campo magnético. A compensação da saída da
Medições espira pela integração do sinal ou outros meios produz uma saída
A realização de uma medição exploratória espacial (survey) já proporcional ao valor médio da amplitude do campo magnético
poderá indicar situações de risco para a saúde, como nos casos das através da espira. As características elétricas da espira e dos seus
medições apresentadas a seguir, realizadas em duas subestações circuitos associados determinam a faixa de frequência utilizável
elétricas (os valores mais altos correspondem naturalmente a locais da espira. Uma faixa de frequência efetiva estendendo a partir
no pátio, e os mais baixos são referentes à casa de comando): da fundamental (50/60 Hz) até 2.000 Hz permitirá a medição da
maioria dos componentes harmônicos.
Subestação #1 Subestação #2 Campos com forte conteúdo de harmônicas e de altas
Pontos de Campo Campo Pontos de Campo Campo intensidades poderão necessitar de investigações complementares
medição elétrico magnético medição elétrico magnético
(V/m) (mG) (V/m) (mG) para se assegurar que as intensidades de campo das harmônicas
1 7,7 k 57,4 1 3,2 k 22,3 não excedam os seus respectivos limites. Essa é a situação geral
2 4,9 k 15,5 2 9,1 k 61,2 quando as diretrizes de segurança são dependentes da frequência.
3 3,0 k 15,2 3 5,5 k 28,0 Por exemplo, as diretrizes do ICNIRP para exposição ocupacional é
4 1,3 k 7,0 4 0,5 k 17,5 25.000/f [μT]. Na frequência fundamental de 60 Hz, o valor limite
5 39,1 24,8 5 5,3 k 30,4 é 417 μT. O valor limite na terceira harmônica (180 Hz) é 139 μT
6 59,9 23,1 6 3,2 10,3 ou 33% do valor limite da frequência fundamental.
7 42,3 23,9 7 0,9 8,7 A corrente resultante do “loop” é mostrada em um dispositivo
8 6,2 14,4 8 1,4 10,9 de leitura adequado, calibrado para indicar as unidades desejadas.
9 10,9 16,0 9 2,7 9,2 Um sensor de espira (“loop”, bobina) não funciona para medição
de campos magnéticos DC (estático ou 0 Hz).
Exemplo de valores de intensidade de campo medidos em Na configuração mais simples, uma única espira é usada para
duas subestações o acoplamento do campo magnético. Como campos elétricos e
Campos elétricos de frequência extremamente baixa (ELF, magnéticos são quantidades vetoriais, com amplitude tanto quanto
como no caso de frequências industriais) são medidos usando-se direção, a orientação da bobina em relação à direção do campo
medidores de corrente de deslocamento. Um sensor de corrente afetará o resultado medido. O sinal resultante será máximo quando
de deslocamento usa o princípio de que quando duas placas o eixo das espiras estiver alinhado com a direção do campo
condutores planas paralelas são interconectadas, irá existir magnético.
uma corrente de deslocamento fluindo entre elas quando as À medida que se faz rotação da bobina (o ângulo entre a bobina
placas estiverem localizadas num campo elétrico. Isso pode ser e o campo aumenta de 0 a 90 graus), a saída da bobina mostrará
exemplificado lembrando que o campo elétrico entre as duas uma relação senoidal com o ângulo (co-seno).
placas deve ser zero quando estão interconectadas (elas estão no Quando se usa um sensor com bobina de eixo único é necessário
mesmo potencial e não pode haver campo elétrico entre elas). Ao se alinhar a bobina com o campo (obtendo leitura máxima) ou então
se colocar tal sensor num campo elétrico conhecido, a corrente de obter três leituras ortogonais – cada leitura ortogonal (normal) às outras
deslocamento pode ser relacionada diretamente com a amplitude duas. As componentes dos três campos podem então ser combinadas
do campo que a causa, permitindo sua calibração. em uma soma vetorial para obtenção do “valor do campo resultante”.
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32 O Setor Elétrico / Outubro de 2009
segurança do ICNIRP.
Alternativamente, três bobinas podem ser ordenadas em um Quando necessário, é possível blindar campos elétricos. Como
único sensor, com as bobinas arranjadas de maneira ortogonal foi dito anteriormente, árvores e até um capim alto perturbam
concêntrica. Os resultados individuais são então combinados para os campos elétricos. Diferentes materiais para a implantação
fornecer o resultado da soma vetorial ou medição isotrópica. da blindagem e muitos tipos de construções de prédios também
Em um campo magnético monofásico (todas as correntes oferecem o efeito de blindagem.
geradoras de campo têm a mesma fase), o vetor campo magnético Campos magnéticos resultam do fluxo de correntes. Sem fluxo
tem uma direção constante e muda a amplitude na frequência do de corrente não há campo magnético. Como podemos associar altas
campo. Quando os campos são resultantes do fluxo de correntes correntes a circuitos de tensão relativamente baixa (240-600VAC), é
em um sistema trifásico, o campo magnético resultante pode possível ficar bem próximo a um condutor elétrico em uma área em
parecer em rotação no espaço. que o campo magnético é relativamente alto. Grande proximidade e
Enquanto sensores de bobinas com núcleo de ar são utilizados altos níveis de corrente são necessários para se encontrar campos da
tipicamente para medições de campos magnéticos no ambiente, ordem dos níveis máximos de exposição permitida.
a sensibilidade das medições pode ser aumentada usando-se Diferentemente dos campos elétricos, campos magnéticos são
um núcleo de ferro ou ferrite. Deve-se notar que tais sensores muito mais difíceis de se blindar. Para muitas aplicações, é impraticável a
interagirão mais com os campos e, dependendo das variações nos tentativa de se obter uma redução significativa nos níveis de intensidade
campos, afetarão as leituras observadas. de campo magnético, embora existam empresas de consultoria que
Diferente das medições de campos elétricos, medições afirmam ter sucesso em projetos de blindagem em larga escala.
magnéticas são menos afetadas pelos instrumentos de medição ou Uma maior preocupação prática é a exposição a campos elétricos e
pelo inspetor. Somente material ferroso terá efeito substancial na magnéticos de pessoas com aparelhos médicos eletrônicos implantados,
distribuição do campo magnético e na precisão das leituras. Não é ou externos. Marca-passos, desfibriladores e cardioversores implantáveis
necessário isolar o sensor de campo magnético da leitura. estão entre os aparelhos que podem ser mais suscetíveis a este tipo de
interferência devido ao campo presente. Um grande fabricante de
aparelhos médicos recomenda que a exposição de marca passos ou
aparelhos eletrônicos implantáveis a campo elétrico de 60 Hz deve se
limitar a não mais do que 6.000 V/m e a exposição a campo magnético a
não mais do que 100 μT. Níveis de campo magnético de 60 μT – 80 μT
podem ser medidos na superfície de um transformador de 480 V /120 V
encontrado em muitos locais acessíveis de fábricas.
Este fabricante recomenda que pessoas com implantes de
equipamentos médicos mantenham uma distância de pelo menos dois
metros de condutores de alta corrente e uma distância de 8 m de linhas
de transmissão que excedam 100 kV. Mais informações sobre estes
tópicos estão disponíveis nos fabricantes de equipamentos médicos.
Normas de segurança relacionadas a campos elétricos e
Figura 1 – Medição de campo magnético em 60 Hz magnéticos na frequência industrial estão atualmente disponíveis
para avaliação da segurança em ambientes de trabalho. Medições
Ambientes típicos de exposição e monitoramento criteriosos geralmente demonstram que a maioria
Pela presença de duas áreas condutoras com potenciais dos ambientes de trabalho está dentro dos limites de valores
diferentes (tensões diferentes), campos elétricos são gerados. recomendados por estas diretrizes.
Isso pode ocorrer entre dois condutores elétricos com potenciais
diferentes ou, mais provavelmente, entre um condutor elétrico e o Este artigo é baseado em um trabalho de Dave Baron para QEMC e
traduzido por Susan Berger.
aterramento (malha de terra).
Campos elétricos com intensidades próximas dos limites de * ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
exposição máxima permitida (EMP) raramente são encontrados em um gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
ambiente público comum. Campos elétricos desta intensidade estão Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
geralmente limitados àqueles embaixo de linhas de transmissão de alta
tensão e dentro de subestações elétricas. Note que o público em geral CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
pode ter acesso às áreas embaixo das linhas de transmissão. Dependendo Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
dos padrões de segurança adotados, é possível o público ficar exposto a e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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28
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos O Setor Elétrico / Novembro de 2009
Capítulo XI
Técnicas para o controle de interferências no
projeto, instalação e manutenção de sistemas
eletrônicos em ambientes de alta tensão
Por Roberto Menna Barreto*
interconexão que tornam o sistema mais vulnerável à influência de mesmo porque o ambiente eletromagnético é constantemente alterado
Compatibilidade Eletromagnética em Sistemas Elétricos
Conclusão
Medição de Campos EM
Para se garantir o desempenho adequado e um menor custo
associado na instalação de um sistema eletrônico – em particular no
Brasil onde ainda não existe uma normalização abrangente em EMC
para os equipamentos – é extremamente importante o levantamento do
ambiente eletromagnético em que o sistema irá operar, permitindo, assim,
a sua consequente adaptação a este ambiente. Desta forma, a topologia
do sistema, seus cabos de interconexão, a configuração do sistema de
aterramento, entre outros aspectos, podem facilmente comprometer o
atendimento da compatibilidade eletromagnética pretendida.
Capítulo XII
Procedimentos EMC para a manutenção de
sistemas eletrônicos
Por Roberto Menna Barreto*
Sistemas eletrônicos, nomeadamente aqueles de lógica, equipamentos, terminação dos cabos, etc.), foi
maior complexidade como os sistemas de automação/ assegurado que o PLC estava corretamente instalado.
instrumentação em plantas industriais, são passíveis Os problemas observados estariam sendo causados
de serem afetados por perturbações eletromagnéticas pelos inversores de frequência, cuja emissão de
no ambiente onde estão instalados, mesmo depois de perturbações eletromagnéticas variava conforme a
operar corretamente por um longo tempo. condição de trabalho.
Instalação de novos equipamentos, conexões Entre outros aspectos, para a análise EMC da
acidentais, deterioração das instalações existentes, situação existente, foi observado que a taxa elevada
entre outros, fazem o sistema ficar vulnerável a de “retries” acontecia esporadicamente e não existia
interferências ou mesmo a danos nos equipamentos correlação da taxa com tempestades. Às vezes
que o compõe. ficava um mês ou mais sem acontecer situações
Os dois exemplos apresentados a seguir ilustram de desligamento. Somente uma área da fábrica
esta situação: apresentava este problema, e dentro desta área somente
a comunicação com dois racks eram afetadas, os quais
“Retries”: em uma planta industrial, a rede RIO tinham percursos diferentes, ou seja, não seguiam no
(remote I/O) referente a um determinado prédio mesmo leito de cabos.
apresentava, esporadicamente, uma taxa elevada de Dentre as medidas corretivas para solução dos
“retries”. Quando esta taxa ultrapassa um determinado problemas foi recomendado que a blindagem do cabo
valor, o sistema considera que o rack está “em falha” e RIO devesse ser aterrada somente no rack principal,
o desliga, interrompendo vários processos, o que pode e que os transformadores de isolamento blindados
vir a interromper a operação. instalados nos painéis deveriam ter o secundário
Após uma análise exaustiva do problema pelo (neutro) conectado ao terra interno, bem como
fornecedor (todas as instalações foram verificadas e a blindagem deveria ser conectada neste mesmo
aprimoradas no que se refere às conexões, cabos, barramento (terra interno).
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O Setor Elétrico / Dezembro de 2009
27
Angiografia: um equipamento de angiografia instalado em um A causa desta situação era um contato “chamuscado” no
hospital passou a se desligar automaticamente (várias vezes) sistema de distribuição AC do prédio, representando uma alta
durante o exame, quando o paciente estava submetido a uma impedância no percurso de alimentação do equipamento.
condição de risco elevado. Análise exaustiva do software não Quando o equipamento de angiografia era acionado, a corrente
indicava existência de problemas, mesmo porque o equipamento solicitada fazia com que houvesse um afundamento da tensão
já estava em operação havia quatro meses. nesta fase, e este afundamento era identificado pelo equipamento
Para a análise EMC da situação existente foi medida a qualidade que se desligava.
da rede elétrica, onde foi constatado um afundamento da tensão Diversos outros exemplos poderão ser citados neste
numa das fases e uma elevada tensão no modo comum (entre mesmo contexto, uma vez que a possibilidade de problemas
neutro e terra). de interferência ou dano nos equipamentos instalados é uma
realidade cada vez mais presente em qualquer sistema eletrônico.
Entretanto, o aspecto principal a ser observado é que o
procedimento usualmente aplicado de se exaurir todas as
possibilidades disponíveis (experiência dos intervenientes,
informações acessíveis na internet, etc.) para então ser chamado
um especialista em EMC para fazer “o milagre”, certamente não
é a forma mais eficiente para lidar com a situação.
Milagres acontecem, mas não são acontecimentos isolados:
milagres são decorrentes de esforços empreendidos por pessoas
apropriadas no tempo e lugar adequados, no sentido de se
aprimorar a qualidade das partes envolvidas.
É neste contexto que os “milagres” para solução de
problemas de interferência precisam vir a ser desenvolvidos de
forma sistemática.
Exemplo do hospital – afundamento da tensão em uma fase
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28 O Setor Elétrico / Dezembro de 2009
Conclusão
A operação correta de sistemas eletrônicos, e em particular no
Brasil onde ainda não existe uma normalização abrangente em EMC, é
bastante vulnerável a problemas de interferência eletromagnética pela
própria topologia do sistema instalado, seus cabos de interconexão,
configuração do sistema de aterramento, etc., podendo ser facilmente
Quadro do trafo auxiliar em casa de comando de sistemas eletrônicos
comprometida pela instalação de novos equipamentos nas imediações,
(inclusive sem DPS)
pelo aparecimento de conexões acidentais, pela deterioração das
instalações existentes, entre outros fatores.
Para se garantir o desempenho adequado e um menor custo
associado à operação de sistemas eletrônicos ao longo do tempo,
nomeadamente àqueles de maior complexidade, como os de
instrumentação, torna-se cada vez mais imprescindível a implantação
de um tratamento sistemático da área da compatibilidade
eletromagnética nos procedimentos de manutenção.
Este estudo propõe um conjunto de procedimentos para a
Quadro do trafo auxiliar em casa de comando de sistemas eletrônicos
(inclusive sem DPS)
garantia da compatibilidade eletromagnética, procedimentos estes
Este grupo de trabalho denominado “Setor EMC” se reuniria que tem se mostrado necessários e suficientes, e sugere a criação de
periodicamente (por exemplo, uma ou duas vezes por mês) um grupo de trabalho, denominado “Setor EMC”, com o objetivo
para análise dos resultados obtidos nas atividades executadas e de implantar a metodologia EMC.
planejamento das próximas atividades, incluindo:
* ROBERTO MENNA BARRETO é engenheiro eletricista e sócio-
Análise das situações críticas - Compreende o levantamento
gerente da QEMC, empresa de consultoria na área de Compatibilidade
das diversas instalações existentes (identificação do sistema de
Eletromagnética (EMC) e de proteção de instalações de sistemas
aterramento, características elétricas dos equipamentos e cabos eletrônicos contra descargas atmosféricas e seus efeitos.
associados, medidas de proteção instaladas, etc.), o histórico de
FIM
avarias e a análise EMC para identificação das causas destas avarias.
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Engloba o projeto de medidas corretivas para as situações críticas, Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
a instalação de produtos e materiais para este fim, bem como a e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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40
Filtros harmônicos eletromagnéticos O Setor Elétrico / Março de 2009
Capítulo I
Uma abordagem à filtragem
de harmônicos por meio de
dispositivos eletromagnéticos
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira
e Luis C. Origa de Oliveira
inteiros da frequência fundamental, têm-se as chamadas inter- É também amplamente conhecido que uma onda não-senoidal
harmônicas, que podem se apresentar com frequências discretas pode ser representada como uma somatória de ondas senoidais puras,
ou como larga faixa espectral. cada qual constituída por uma frequência múltipla inteira da frequência
Embora haja grande divulgação dos conceitos básicos atrelados fundamental da onda original. Esta interpretação advém da conhecida
a esta área de conhecimento, não é demais lembrar que a distorção Série de Fourier, a qual é graficamente ilustrada na Figura 2.
harmônica é causada por dispositivos não-lineares localizados
no sistema de potência. A Figura 1 ilustra o caso de uma tensão
senoidal aplicada a um simples resistor não-linear, no qual a tensão
e a corrente variam de acordo com a curva apresentada. Enquanto
a tensão aplicada é puramente senoidal, a corrente resultante
é distorcida. Esta situação ilustra o surgimento das distorções
harmônicas nos sistemas elétricos.
apresentam totalmente equilibrados e a modelagem monofásica pode recomendados, surge a necessidade de medidas preventivas ou corretivas
Filtros harmônicos eletromagnéticos
ser utilizada, os demais sistemas trifásicos, apresentando-se de forma para a redução dos níveis de harmônicos presentes nos barramentos e
desequilibrada, exigem procedimentos distintos. Neste particular, o linhas de um complexo elétrico. Dentro desse contexto, este fascículo
método das componentes simétricas se apresenta como uma excelente enfocará métodos para a filtragem de correntes harmônicas de sequência
ferramenta para a descrição do comportamento de tais arranjos. Este zero, positiva e negativa, descritos, com mais detalhes, no decorrer de 6
procedimento, também bastante útil nos estudos voltados para a fascículos.
análise de redes, consiste no tratamento de um conjunto de correntes
de fase (ou tensões) desbalanceadas em três sistemas balanceados, Estado da arte
dispostos como a seguir: Várias pesquisas e publicações têm sido encontradas com relação
• Componentes de sequência positiva: conjunto de 3 fasores ao assunto filtros harmônicos e, portanto, neste momento, torna-se
defasados de 120º, com rotação de fase ABC; necessário relatar os resultados dos trabalhos de levantamentos
• Componentes de sequência negativa: conjunto de 3 fasores bibliográficos executados.
defasados de 120º, porém com rotação de fase ACB; Nesse sentido, é possível encontrar diversas técnicas para reduzir os
• Componentes de sequência zero: conjunto de 3 fasores em fase. sinais harmônicos de tensão e/ou corrente. Estas, de um modo global,
A Figura 3 ilustra o exposto: podem ser agrupadas nas estratégias a seguir caracterizadas:
• uso de filtros passivos conectados em paralelo e/ou em série;
• inserção de reator em série na linha c.a.;
• aumento da quantidade de pulsos em unidades conversoras, com o
uso de transformadores defasadores;
• técnicas de compensação de fluxo magnético;
Figura 3 – Decomposição em componentes simétricas • filtros ativos de potência conectados em paralelo e/ou em série;
• uso de dispositivos eletromagnéticos.
Como forma de quantificar a presença de distorções harmônicas
A escolha de um ou outro procedimento, ou mesmo a associação
nos sinais de tensões e/ou correntes, utiliza-se a denominada
de soluções, deve levar em conta a análise dos seguintes aspectos:
“Distorção Harmônica Total”, uma das designações mais utilizadas
• conhecimento do sistema de alimentação do ponto de vista da
no meio técnico/científico. Utilizando de propostas de convenção
concessionária: impedância de curto-circuito, nível de tensão e
adotadas nos Padrões de Desempenho da Rede Básica, do Operador
legislação quanto aos níveis de distorções harmônicas permitidos;
Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as equações (1) e (2) sintetizam
• conhecimento do sistema consumidor: tipos de cargas instaladas,
tais definições:
potência envolvida, problemas que ocorrem devido aos harmônicos,
hm· x 2 perda de energia, diminuição do fator de potência real;
DTT = ∑ (Vh % ) (1)
h> 2 • local da instalação do dispositivo para redução de harmônicos;
• desempenho e capacidade nominal de tensão/corrente do
hm· x 2
dispositivo;
DTI = ∑ ( I h% ) (2)
h> 2 • custo inicial de compra e custo da energia consumida no próprio
dispositivo;
Em que:
• efeitos colaterais prejudiciais sobre o sistema de alimentação: o
• DTT – distorção de tensão harmônica total [%];
fator de potência em situações de carga nominal pode se alterar
• DTI – distorção de corrente harmônica total [%];
inconvenientemente em condições de carga baixa, modificação do
Vh nível e da distorção de tensão ou de corrente, alteração do nível de
V h % = 100
• V 1 – tensão harmônica de ordem h em porcentagem da
curto-circuito para a terra, mudança ou possibilidade de ressonância
fundamental [%];
em outras frequências harmônicas. Em decorrência desses, pode haver
• V h – tensão harmônica de ordem h [V];
possíveis efeitos nocivos sobre outras cargas consumidoras adjacentes;
• V 1 – tensão fundamental [V];
• efeitos colaterais prejudiciais ao funcionamento das cargas elétricas
Ih
I h % = 100 envolvidas: aumento da distorção de tensão de alimentação da carga,
• I1 – corrente harmônica de ordem h em porcentagem
sua queda ou sua elevação;
da fundamental [%];
• influências nocivas das variações do sistema sobre o dispositivo
• I h – corrente harmônica de ordem h [A];
utilizado: alterações da impedância do sistema, correntes harmônicas
• I 1 – corrente fundamental [A].
de cargas consumidoras adjacentes podem entrar pela alimentação, o
Reconhecendo os efeitos negativos causados pelas componentes sistema pode desequilibrar-se em tensão, a distorção de tensão e o seu
harmônicas de tensão e/ou corrente na rede elétrica e seus componentes, nível na barra de alimentação podem variar devido a fatores externos;
bem como objetivando manter os níveis de distorção dentro dos limites • influência da carga sobre a técnica utilizada: a variação da potência
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44 O Setor Elétrico / Março de 2009
solicitada pela carga e a presença de desequilíbrios podem alterar no sentido de reduzir o custo inicial da instalação e obtenção de
Filtros harmônicos eletromagnéticos
o funcionamento do dispositivo empregado para a redução de maior eficiência na diminuição do conteúdo harmônico.
harmônicos. De maneira geral, a utilização de filtros ativos para o controle de
Entre as alternativas relatadas como possíveis estratégias para a distorções harmônicas de tensão e/ou corrente se apresenta como
eliminação/redução das correntes harmônicas, aquelas associadas opção eficiente para tal fim, apresentando, porém, altos custos de
aos filtros ativos, passivos e eletromagnéticos são, comumente, as implantação e manutenção, inviabilizando, em algumas situações,
mais empregadas. Devido a este fato, estas três metodologias serão o seu uso.
consideradas com mais detalhes na sequência. Na sequência, apresentam-se alternativas para a filtragem
Os filtros passivos são formados a partir de várias combinações de harmônicos por meio de dispositivos eletromagnéticos. Serão
dos elementos tipo R, L e C, podendo ser conectados em paralelo contemplados os princípios físicos, a modelagem computacional,
ou em série ao sistema elétrico. Aqueles conectados em paralelo a análise de desempenho e outros aspectos relacionados com dois
(derivação ou shunt) têm sido amplamente estudados e aplicados equipamentos compensadores, um voltado para as componentes
em sistemas elétricos. Ao longo de vários anos, devido a fatores harmônicas de sequência zero e outro para o controle das distorções
científicos, tecnológicos e econômicos, esta última opção tem atreladas com as componentes de sequência positiva e negativa.
se firmado como a solução mais tradicional para a redução de
harmônicos. Estes dispositivos podem ser classificados em dois Filtros harmônicos eletromagnéticos
grupos: sintonizados e amortecidos. Os filtros em derivação Inicialmente, será focada a filtragem das correntes harmônicas
sintonizados são baseados no fenômeno da ressonância, que de sequência zero, que consiste no uso de enrolamentos
deve ocorrer para uma ou mais frequências harmônicas a serem eletromagnéticos interligados em zigue-zague, com os quais se
eliminadas, apresentando, nesta situação, uma baixa impedância consegue um dispositivo capaz de oferecer um caminho de baixa
resistiva. Os filtros em derivação amortecidos são constituídos impedância para as correntes harmônicas de sequência zero.
por circuitos que oferecem uma baixa impedância ao longo No entanto, a filtragem das componentes de sequência positiva
de uma larga faixa de frequência. Na prática, são encontradas e negativa tem como fundamentação o uso de um reator a núcleo
configurações que combinam o uso de filtros sintonizados saturado. Este, uma vez levado a níveis de saturação capazes de produzir
para ordens harmônicas individuais (até a 13a, por exemplo) e correntes harmônicas de mesma amplitude e ângulos de fase opostos
amortecidos para as frequências superiores. Outra função dos àquelas geradas por uma determinada carga não-linear já instalada,
filtros sintonizados e amortecidos é que, para as frequências abaixo oferecerá a propriedade almejada. Neste capítulo abordaremos:
da frequência de ressonância, apresentam-se como circuitos • o princípio físico de funcionamento dos filtros eletromagnéticos
capacitivos, sendo, portanto, compensadores de energia reativa na de sequência zero, positiva e negativa, com destaque aos seus
frequência fundamental. aspectos da concepção física construtiva;
Uma alternativa para diminuir a distorção harmônica de correntes • as bases matemáticas que mostram a operacionalidade dos filtros
consiste na utilização de filtros ativos, constituídos por componentes harmônicos supramencionados;
eletrônicos de potência e de controle analógico e/ou digital. Esta • a operacionalidade do filtro de sequências positiva e negativa
proposta tem evoluído notavelmente, sobretudo a partir de 1980. dentro do contexto da adequação da magnitude e do defasamento
Os tipos básicos de filtros ativos são: paralelo, série, série/paralelo angular das componentes harmônicas de correntes produzidas.
combinados e híbridos (que combinam técnicas ativas e passivas).
Os métodos de operação dos filtros ativos atuais são fundamentados Filtro de sequência zero
na teoria das potências ativa e reativa instantâneas. A Figura 4 ilustra uma instalação típica constituída por
Os filtros ativos paralelos atuam por meio de um processo uma rede elétrica genérica, possuindo uma carga geradora de
de detecção, sintetização e aplicação de correntes harmônicas harmônicas e a presença de um filtro de sequência zero. Este
contrárias àquelas produzidas pela carga não-linear, podendo ainda arranjo permite visualizar o princípio do mecanismo da eliminação
atuar sobre a corrente na frequência fundamental, promovendo a das componentes harmônicas de corrente de sequência zero.
compensação reativa. Um filtro ativo paralelo típico é composto Como se vê, o propósito maior do filtro está em prover meios para
basicamente por um inversor de tensão ou de corrente, acionado que as mencionadas componentes harmônicas fiquem restritas ao
por técnicas específicas de controle. circuito composto pela carga e o filtro propriamente dito. Em outras
Como mencionado, a combinação de filtros ativos série/paralelo palavras, assim como para o caso dos filtros passivos convencionais,
também se apresenta como um procedimento para o controle de não ocorre a alteração do conteúdo harmônico produzido pela
harmônicos. Por fim, tem-se a associação dos filtros passivos com carga, mas sim, um desvio em seu caminho de circulação inibindo,
os filtros ativos, chamados de filtros híbridos. Esta solução ocorre ao máximo, sua injeção na rede de suprimento.
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O Setor Elétrico / Março de 2009
45
Sendo:
i0_C (t) – Corrente de sequência zero gerada pela carga não–linear;
i0_F (t) – Corrente de sequência zero pelo filtro de sequência zero;
Figura 4 – Instalação típica do filtro eletromagnético de sequência zero
Z 0_S – Impedância de sequência zero do sistema de suprimento
A partir da Figura 4, é possível observar que o desempenho (R0_S, L0_S);
do filtro possui forte dependência com a relação entre a sua Z 0_F – Impedância de sequência zero do filtro de sequência zero
impedância e a impedância do sistema, como sugere o circuito (R0_F, L0_F).
equivalente simplificado de sequência zero ilustrado na Figura 5.
A equação (3) revela que, quanto menor a impedância de
sequência zero do filtro, em relação à mesma impedância do
sistema de alimentação, maior será sua eficiência em drenar as
correntes harmônicas de sequência zero.
Já a corrente injetada na rede de suprimento, com a inserção do
filtro em paralelo, pode ser calculada por:
Z0 _ F
i 0 _ S (t ) = .i0 _ C (t ) (4)
Z0 _ F + Z0 _ S
Mais uma vez, a equação (4) evidencia que a corrente de transversais nas três colunas;
Filtros harmônicos eletromagnéticos
sequência zero que se estabelece no sistema de suprimento será Ф I,A ; Ф I,B ; Ф I,C – Fluxo referente ao enrolamento I das colunas 1, 2 e
tão menor quanto maior a impedância de sequência zero do 3, respectivamente;
sistema quando comparada com a impedância de sequência zero Ф II,A ; Ф II,B ; Ф II,C – Fluxo referente ao enrolamento II das colunas 1, 2
do filtro. Esta situação nem sempre pode ser encontrada na prática, e 3, respectivamente.
pois dependerá fortemente do local em que o filtro é instalado no Sob o ponto de vista magnético, a composição física anterior
sistema elétrico. pode ser ilustrada na forma indicada na Figura 7.
No que tange ao arranjo trifásico para o filtro em questão,
este é constituído por um núcleo trifásico de três colunas junto
aos quais são inseridos, por fase, dois conjuntos de bobinas com
polaridades opostas. Conectando-se tais enrolamentos de acordo
com a clássica designação zigue-zague, obtém-se a composição
ilustrada na Figura 6.
Em que:
Φ D – fluxo de dispersão entre o enrolamento I e II;
Φ AR – fluxo pelo caminho de ar entre o núcleo e o enrolamento I;
Φ EX – fluxo entre a culatra superior e a culatra inferior pelo ar
e/ou tanque;
Φ NU – fluxo que circula pelo material ferromagnético.
(a) Arranjo didático Como pode ser visto, cada coluna é enlaçada por dois
enrolamentos, denominados por I e II, construídos com o mesmo
número de espiras e ligados em zigue–zague. Desta forma, cada
coluna magnética apresentará uma força magnetomotriz (FMM)
resultante de duas fontes, as quais combinam os correspondentes
efeitos da corrente de linha. Esta interação, aliada às considerações
construtivas e operacionais do sistema elétrico, deve conduzir a um
caminho de baixa impedância para as componentes de sequência
zero. O motivo disto está atrelado ao fato de que esta impedância irá
concorrer com a impedância do sistema de fornecimento, servindo
como caminho alternativo às correntes enfocadas. Nessas condições,
as tensões nas bobinas I das fases A, B e C são dadas por:
(a) Arranjo real . 1 . . .
Figura 6 – Arranjo físico trifásico do filtro eletromagnético de V An = jω h( L + M ).( 2 I A − I B − I C ) (5)
sequência zero 3
. 1 . . .
Sendo: V Bn = jω h( L + M ).( 2 I B − I C − I A ) (6)
3
LI,A ; L I,B ; L I,C – Indutância própria do enrolamento I das colunas 1, 2
. 1 . . .
e 3, respectivamente; V Cn = jω h( L + M ).( 2 I C − I A − I B ) (7)
3
LII,A ; L II,B ; L II,C – Indutância própria do enrolamento II das colunas 1,
Aplicando as expressões anteriores (5 a 7) para uma componente
2 e 3, respectivamente;
particular de sequência zero, no caso h=3, obtém-se:
LM – Indutância mútua entre os enrolamentos I e II de mesma
.
coluna; (
V An ( 3) = jω (L + M ) 2I 3< 0o − I 3< − 360o − I 3< 360o ) (8)
M I,I – Indutâncias mútuas entre os enrolamentos I nas três colunas;
.
M II,II – Indutâncias mútuas entre os enrolamentos II nas três
(
V Bn ( 3) = jω ( L + M ) 2 I 3< − 360o − I 3< 360o − I 3< 0o ) (9)
colunas;
.
M I,II e M II,I – Indutâncias mútuas entre os enrolamentos I e II
(
V C n ( 3) = jω ( L + M ) 2 I 3< 360o − I 3< 0o − I 3< − 360o ) (10)
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48 O Setor Elétrico / Março de 2009
.
I C7 = I C 7 θC 7 (15)
.
I F7 = I F 7 θF 7 (16)
harmônica.
v
`j
jv
`v
`jv
Avançando agora na direção da topologia eletromagnética mais Figura 14 – Diagrama fasorial da compensação harmônica
Capítulo II
Modelagem computacional
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira
e Luis C. Origa de Oliveira*
Seguindo a prática usual empregada nas mais • Seleciona a estratégia de modelagem a ser
diversas áreas de conhecimento, a obtenção de empregada para os filtros eletromagnéticos;
meios computacionais voltados para a avaliação de • Estabelece os modelos em consonância com a base
desempenho de dispositivos e sistemas constitui-se, computacional escolhida;
indubitavelmente, em mecanismos que permitem • Promove estudos avaliativos sobre a eficácia e a
antever e corrigir situações passíveis de ocorrência qualidade da modelagem, para fins da reprodução de
com a implantação prática de soluções e métodos. fenômenos em regime permanente relacionados com a
Neste particular, em face da inovação das propostas operação dos filtros eletromagnéticos.
feitas nesta pesquisa e a inexistência de maiores
experiências nacionais e internacionais sobre filtros Estratégias de simulação
eletromagnéticos, o desenvolvimento de modelos Durante as últimas décadas, diversas abor
e respectivas implementações computacionais dos dagens têm sido usadas para a modelagem de
produtos aqui contemplados constitui-se em tema transformadores, reatores e outros dispositivos
bastante original. eletromagnéticos. Essas podem ser classificadas em
Para se atingir uma base computacional que estratégias fundamentadas em:
permita avaliar o desempenho transitório e de regime • Equações elétricas;
permanente dos filtros, dentre os passos a serem • Equações elétricas e magnéticas;
seguidos, ressaltam-se: • Relutâncias magnéticas e forças magnetomotrizes.
• Identificação das partes físicas constituintes dos Segue uma breve discussão sobre os princípios que
filtros; norteiam as metodologias mencionadas anteriormente.
• Suas modelagens matemáticas e, finalmente;
• Suas implementações em uma base computacional Equações elétricas
própria aos objetivos dos estudos. O circuito elétrico equivalente fundamenta-se,
Tendo em vista a natureza dos fenômenos focados como é classicamente conhecido, nos seguintes
neste conjunto de fascículos, considera-se fundamental elementos: indutâncias não-lineares para representar
que os processos de simulação façam uso de técnicas os circuitos magnéticos saturáveis; indutâncias lineares
de análise no domínio do tempo. Nesse sentido, este representando os fluxos de dispersão e resistências
artigo contempla os seguintes pontos básicos: para a inclusão das perdas no cobre. Dessa forma, os
• Apresenta, de forma sucinta, as principais fenômenos magnéticos são traduzidos em componentes
formas atualmente utilizadas para a modelagem de elétricos e as tradicionais equações de equilíbrio entre
dispositivos eletromagnéticos utilizando, para tanto, as tensões constituem a base da modelagem.
técnicas no domínio do tempo;
• Destaca os recursos pré-existentes, destinados à Equações elétricas e magnéticas
modelagem de componentes elétricos e magnéticos, A sistemática, nesse caso, consiste na
conforme requerido pelos equipamentos aqui focados; representação do equipamento ou do sistema por meio
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O Setor Elétrico / Abril de 2009
41
de equações diferenciais e algébricas. O procedimento faz uso da circule uma corrente elétrica, uma força magnetomotriz é gerada
analogia clássica entre circuitos elétricos e circuitos magnéticos, no núcleo magnético. Entretanto, a variação do fluxo magnético
o que permite derivar as equações nodais que relacionam as em um núcleo pode gerar uma força eletromotriz em uma bobina
forças magnetomotrizes nodais no núcleo dos filtros às forças enrolada sobre este núcleo.
magnetomotrizes produzidas pelos enrolamentos. Esta estratégia O simulador computacional utilizado possui uma variedade
origina uma matriz de relutâncias (ou de permeâncias) relacionando de blocos de dispositivos (modelos representados por templates)
as grandezas: fluxo e força magnetomotriz. incorporados e disponibilizados em sua biblioteca, capazes de
A utilização dessa abordagem para a modelagem de dispositivos simular os fenômenos elétricos e magnéticos concomitantemente.
eletromagnéticos determina a necessidade de se obter equações Esta última opção foi a adotada para fins deste trabalho, recaindo
diferenciais e algébricas envolvendo os enrolamentos e os fluxos sobre um simulador computacional que utiliza técnicas de
magnéticos que os acoplam e, qualquer alteração na conexão modelagem no domínio do tempo. Isso permitirá estudos
dos enrolamentos, requer que as equações sejam reescritas. avaliativos dos produtos contemplados nessa tese, tanto em regime
Sem dúvida, haverá grande demanda de tempo e de esforço de permanente como também sob condições transitórias.
programação, contrariando a tendência crescente do uso de
uma plataforma computacional voltada especificamente para a Técnica de modelagem selecionada
simulação de sistemas elétricos, na qual os usuários atêm-se na O primeiro passo para a realização de um estudo computacional
observação dos fenômenos e na análise dos resultados. no simulador utilizado consiste na criação de uma netlist, a qual
corresponde a uma lista de chamadas de modelos elétricos e
Uso de relutâncias e forças magnetomotrizes magnéticos, especificando os modelos (templates) a serem usados
A modelagem do dispositivo, nos termos aqui mencionados, no sistema ora simulado e como eles estão conectados entre si. Esta
baseia-se em sua representação por meio de seus circuitos etapa define um arquivo texto de entrada para o simulador.
magnéticos equivalentes, nos quais as relutâncias representam os Quando o sistema elétrico a ser simulado contém um
caminhos do fluxo magnético e os enrolamentos representam as enrolamento de um transformador, na netlist aparecerá,
forças magnetomotrizes. Assim, quando uma tensão é aplicada em necessariamente, em uma das linhas, uma referência ao template
uma bobina enrolada sobre um núcleo magnético, tal que por ela wind.sin, o qual é esquematicamente ilustrado na Figura 1.
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42 O Setor Elétrico / Abril de 2009
Sendo:
Filtros harmônicos eletromagnéticos
(4)
v - Tensão aplicada [V]. • hc - força coerciva, valor de H necessário para mover B = Bres para B =
0. É o ponto no qual a curva superior B-H passa pelo eixo x;
A corrente elétrica (i) circulando no enrolamento da bobina • ptemp - especifica a temperatura em que todos os parâmetros anteriores
produz uma força magnetomotriz (F) entre os terminais magnéticos estão definidos;
do enrolamento, os quais podem ser ligados aos terminais magnéticos • tau - especifica o tempo de atraso entre o campo aplicado e o campo
objetivando uma modelagem mais exata, é possível identificar a A Figura 4, por sua vez, mostra o modelo eletromagnético
inserção de caminhos magnéticos pelo ar, os quais são indicativos das obtido em consonância com os recursos disponibilizados pelo
indutâncias de dispersão. As relutâncias em negrito estão associadas simulador utilizado.
às partes magnéticas sujeitas à saturação, enquanto as demais são
representativas das partes não-saturáveis (ar).
Não obstante o desempenho satisfatório obtido, é importante sequência zero, torna-se dispensável, neste momento, repetir seu
ressaltar que outras investigações serão conduzidas oportunamente significado. A distinção maior se faz na forma da existência, para
para uma melhor certificação de suas propriedades. os novos filtros, de apenas uma única fonte de força magnetomotriz
por coluna magnética. Estas são:
Modelagem do filtro de sequência positiva e negativa • F(1), F(2), F(3) – Força magnetomotriz no enrolamento para cada
Voltando agora as atenções para o arranjo físico do filtro coluna.
de sequência positiva e negativa, pode-se, de modo similar A Figura 10, também similar ao caso anterior, ilustra o modelo
aos procedimentos anteriores, derivar o circuito magnético eletromagnético em consonância com os recursos disponibilizados
equivalente formado pela combinação das relutâncias e forças pelo simulador utilizado.
magnetomotrizes. O circuito equivalente indicado na Figura 9
evidencia a já mencionada similaridade entre os processos.
Na Figura 10:
Figura 9 – Modelo magnético equivalente do filtro de sequência positiva e
negativa
• NC1 até NC7 – núcleos magnéticos não-lineares, utilizando o
template corenl.sin;
Tendo em vista que os elementos componentes do circuito • m1a, m1b, m2a, m2b, m2c, m3a, m3b e m3c – pontos de conexão
equivalente são semelhantes àqueles já comentados para o filtro de das partes do núcleo que representam o espaço do núcleo com
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46 O Setor Elétrico / Abril de 2009
Capítulo III
Validação experimental
do filtro de sequência zero
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira e Luis C. Origa de Oliveira*
(1)
Em que:
n – Número de espiras do enrolamento do filtro;
l0 – Comprimento médio do caminho magnético [m], dado por: l0 =2.l+2.lcul ;
i – Corrente instantânea de magnetização do reator [A];
h – Intensidade do campo magnético instantâneo [A/m]. (a) Forma de onda da tensão aplicada e da corrente de magnetização do
filtro de sequência zero
(1)
(1)
Em que:
Φ(t) – Fluxo magnético instantâneo;
V(t) – Tensão instantânea aplicada ao filtro.
Em consonância com os requisitos impostos pelo modelo do Os pontos de monitoração selecionados, as grandezas
Filtros harmônicos eletromagnéticos
laço de histerese empregado pelo programa, a partir das informações registradas e as correspondentes figuras ilustrativas são sintetizados
anteriores, é viável a extração das grandezas sintetizadas na Tabela 2. na Tabela 3.
Tabela 2 – Características obtidas a partir da curva de Tabela 3 – Síntese das medições utilizadas para validação do modelo
histerese do filtro de sequência zero computacional do filtro de sequência zero
Figura 4 – Esquema unifilar correspondente à Figura 3 Figura 6 – Diagrama trifásico utilizado para o registro das grandezas elétricas
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O Setor Elétrico / Maio de 2009
53
Figura 7 – Formas de onda das correntes de linha na carga não-linear – Figura 8 – Espectros harmônicos das correntes de linha na carga não-linear –
experimental e computacional experimental e computacional
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54 O Setor Elétrico / Maio de 2009
(b) Corrente de linha no alimentador (c) Corrente de linha no filtro de sequência zero
Filtros harmônicos eletromagnéticos
A Figura 9 apresenta, respectivamente, as correntes nas linhas Por fim, a Figura 11 apresenta as correntes de linha A, B
A, B e C no alimentador. Novamente, os resultados experimental e e C no filtro eletromagnético. Objetivando, mais uma vez, o
computacional são destacados para os fins aqui almejados. estabelecimento de termos comparativos, ambos os resultados,
experimental e computacional, são evidenciados.
Complementarmente, a Figura 10 é indicativa dos espectros Ainda, a Figura 12 indica os correspondentes espectros
Figura 10 – Espectros harmônicos das correntes de linha no alimentador – Figura 12 – Espectros harmônicos das correntes de linha no filtro –
experimental e computacional experimental e computacional
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56 O Setor Elétrico / Maio de 2009
(d) Síntese das correntes de linha de acordo com as suas (e) Corrente no neutro da carga não-linear,
Filtros harmônicos eletromagnéticos
• Quando da inserção do filtro de sequência zero, a nova esperar alguns desvios que possam justificar diferenças de
distorção total da corrente de linha do lado do supridor passou resultados. Estes são, dentre outros motivos: imprecisões
para 26,9%. Vale ressaltar que esta proporção corresponde, paramétricas, negligências de componentes parasitas, erros
praticamente, ao conteúdo de 5º harmônico, a qual, como se do sistema de medição e aquisição de dados, modelagem de
sabe, não se constitui numa frequência factível de filtragem alguns dispositivos como ideais, etc. Todavia, de modo geral,
pelo dispositivo aqui considerado. Todavia, a redução de não foram constatadas grandes discrepâncias que viessem a
cerca de 30% da distorção harmônica total de corrente já comprometer o processo de validação efetivado.
evidencia um substancial ganho advindo da filtragem ora O próximo capítulo deste fascículo abordará as análises de
considerada; desempenho do filtro de sequência zero quando da inserção
• No que tange às correntes encontradas nas linhas do de um dispositivo chamado bloqueador de sequência zero, o
filtro, constatou-se, como seria esperado, que o dispositivo qual, como será visto, melhorará significadamente a eficácia
demonstrou sua eficácia no sentido de absorver as deste filtro eletromagnético.
componentes harmônicas de sequência zero, promovendo,
assim, a atenuação da injeção harmônica no alimentador;
• Os resultados computacionais e experimentais, de um *FERNANDO NUNES BELCHIOR é engenheiro eletricista e docente da
modo geral, evidenciaram uma boa correlação quantitativa e Universidade Federal de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da
qualitativa, como observado pelas formas de onda e valores Energia Elétrica.
obtidos. Desta forma, fica evidenciado que o processo de Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, PhD é docente da Universidade
Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica.
validação da modelagem computacional apresentou um
LUIS C. ORIGA DE OLIVEIRA é docente da Universidade Estadual
bom desempenho no sentido de representar a operação do
Paulista (Unesp), campus Ilha Solteira (SP).
dispositivo focado nesta fase da pesquisa, qual seja, o filtro
de sequência zero. CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Deve-se ressaltar que, embora os resultados computacionais
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
e experimentais apresentem boa concordância, é de se redacao@atitudeeditorial.com.br
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36
Filtros harmônicos eletromagnéticos O Setor Elétrico / Junho de 2009
Capítulo IV
Operação conjunta: filtro e bloqueador
eletromagnético para correntes
harmônicas de sequência zero
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira e Luis C. Origa de Oliveira*
Como mencionado nos capítulos anteriores, A equação (2) mostra que a corrente no neutro do
diferentes técnicas têm sido utilizadas para a eliminação sistema de suprimento será tão menor quanto maior for
ou redução das correntes harmônicas de sequência zero a impedância de sequência zero do sistema, quando
nos sistemas elétricos de distribuição. Foi mostrado no comparada com a impedância de sequência zero do filtro.
capítulo anterior a utilização do filtro eletromagnético de Esta situação nem sempre pode ser encontrada na
baixa impedância de sequência zero, ligado em paralelo prática, pois dependerá fortemente do local em que
com a carga não-linear. Como visto, a eficiência do filtro o filtro é instalado no sistema elétrico. Objetivando
paralelo depende da impedância de sequência zero do avançar nesta direção, este capítulo propõe uma
filtro, a qual, por sua vez, está relacionada à reatância combinação do filtro de sequência zero paralelo com
de dispersão entre os enrolamentos pertencentes à um dispositivo bloqueador de sequência zero em série.
mesma coluna do núcleo e da impedância de sequência Assim procedendo, como será mostrado, obtém-se
zero do sistema de suprimento no local de instalação do uma substancial melhoria do desempenho da proposta
dispositivo. A corrente que se estabelece por meio do eletromagnética para filtragem.
filtro é dada por:
Filtro eletromagnético e
(1) bloqueador de sequência zero
A equação (1) permite constatar que a eficiência
Sendo: do filtro de sequência zero depende fortemente da
i0_C (t) - Corrente de sequência zero gerada
relação entre a impedância de sequência zero do filtro
pela carga não-linear;
e a impedância de sequência zero do sistema.
i0_F (t) - Corrente de sequência zero por meio
do filtro de sequência zero; Em instalações comerciais ou industriais de baixa
Z0_S - Impedância de sequência zero do tensão é comum encontrar a unidade abaixadora
sistema de suprimento (R0_S , L0_S );
de tensão formada por um ou mais transformadores
Z0_F - Impedância de sequência zero do
trifásicos ligados em delta no lado de média tensão (13,8
filtro de sequência zero (R0_F , L0_F ).
kV e 34,5 kV) e em estrela aterrada no lado da baixa
Como observado, a corrente de sequência zero tensão. Estes equipamentos, normalmente apresentam
gerada pela carga não-linear será drenada totalmente uma impedância de sequência zero dada por:
pelo filtro se a impedância de sequência zero do filtro
(3)
for bem menor que a impedância de sequência zero
do sistema de suprimento. A corrente resultante no Sendo:
neutro da fonte, depois da inserção do filtro, pode ser Z0_T - Impedância de sequência zero do
transformador ligado em delta-estrela aterrada;
calculada por:
ZP_T - Impedância de sequência positiva do
transformador ligado em delta-estrela aterrada.
(2)
A Figura 1 mostra um sistema de distribuição
Sendo:
INSS - Corrente de sequência zero pelo trifásico a quatro fios com o filtro de sequência zero
neutro do sistema de suprimento. ligado em paralelo com a carga não-linear.
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O Setor Elétrico / Junho de 2009
37
Temos:
Modelagem do bloqueador
e filtro de sequência zero
Os modelos computacionais dos arranjos magnéticos para o
filtro paralelo foram devidamente explorados nos capítulo anteriores.
Fundamentando na mesma estratégia, a Figura 5 mostra o modelo
físico dos enrolamentos e do núcleo equivalente da Figura 4, em que
Figura 6 – Bloqueador de sequência zero com minimização da dispersão.
se observa a distribuição dos principais fluxos magnéticos.
Características dos protótipos não-linear empregou-se um reator trifásico a núcleo saturado (RNS)
Filtros harmônicos eletromagnéticos
A Tabela 2 fornece as características elétricas e geométricas com o ponto comum dos enrolamentos ligados ao neutro do sistema.
do protótipo do filtro eletromagnético de sequência zero a ser
ligado em paralelo com a carga não-linear. A Figura 8 mostra o
equipamento propriamente dito.
Tabela 2 – Características elétricas e físicas do
protótipo do filtro eletromagnético
Tensão fase-fase 220 V
Potência trifásica 9 kVA
Número de espiras da BP e BA 88 espiras
Área bruta do núcleo 41,19 cm2
Fator de empilhamento 0,95
Altura da janela 13,6 cm Figura 10 – Diagrama esquemático da configuração nas simulações
computacionais e nos testes em laboratório.
Altura do núcleo 27,6 cm
Resistência das bobinas (BP + BA) 0,145 Ω Os trabalhos de simulação compreenderam duas situações.
Reatância dispersão (BP e BA) 0,0895 Ω A primeira com o filtro ligado à carga (chave S1 fechada), sem a
Impedância de dispersão entre BP e BA 0,1704 Ω presença do bloqueador de sequência zero (chave S2 fechada).
Posteriormente, a chave S2 foi aberta (t = 0,3 s), colocando-se o
No entanto, as principais as características elétricas e geométricas
bloqueador em série com o alimentador L1.
do protótipo do bloqueador de sequência zero, cujos parâmetros
foram utilizados nas simulações computacionais, encontram-se na
Correntes de linha
Tabela 3. A Figura 9 ilustra o equipamento em questão.
A Figura 11 mostra as correntes resultantes na linha A do
Tabela 3 – Características elétricas e físicas do protótipo do bloqueador série
alimentador L1 e do filtro (L3) decorrentes das situações já
Número de espiras por enrolamento 8 espiras
mencionadas. As tensões de suprimento foram consideradas
Área bruta do núcleo 64,0 cm2
equilibradas, bem como também a carga não-linear.
Fator de empilhamento 0,96
Altura da janela 13,6 cm
Altura do núcleo 27,6 cm
Resistência dos enrolamentos 0,01 Ω
Avaliação laboratorial
Empregando desta vez um arranjo laboratorial no qual se faz
presente um protótipo de reator saturado como fonte de harmônicos,
procedeu-se uma série de experimentos objetivando a validação
experimental das constatações anteriores quanto à eficácia do
desempenho físico da proposta deste artigo. Figura 14 – Formas de onda das correntes de linha com o filtro paralelo e o
bloqueador série.
Correntes de linha
A Figura 13 mostra as formas de onda das correntes em L1 sem o filtro Corrente de neutro
paralelo e sem o bloqueador série e a Tabela 5 quantifica os resultados. A Tabela 8 fornece a decomposição harmônica para a corrente
no neutro do sistema (INSS) e no neutro da carga não-linear (INC)
sem a presença do filtro e sem o bloqueador série.
Tabela 8 – Correntes de neutro sem o filtro e sem o bloqueador série
Capítulo V
Variáveis de influência na
eficácia dos filtros de sequência zero
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira e Luis C. Origa de Oliveira*
Nos capítulos precedentes foram abordados encontrados nas redes e equipamentos elétricos;
aspectos diversos referentes aos equipamentos • Apresentação dos resultados obtidos e respectivas
eletromagnéticos abordados neste fascículo. As análises comparações com as situações idealizadas;
envolveram desde o princípio de funcionamento dos • Caracterização do nível de relevância do tipo de
dispositivos até a validação computacional por meio de desvio analisado.
ensaios laboratoriais. Estas contemplaram tão apenas
situações ideais de funcionamento. Sob tais condições, Fatores de influência nos
devem ser compreendidas: redes de alimentação processos de filtragem
com tensões senoidais e equilibradas, impedâncias Com o intuito de contemplar os itens anteriormente
simétricas para todas as partes envolvidas, carga não- mencionados, a Tabela 1 sintetiza as situações
linear equilibrada, etc. selecionadas para os estudos de desempenho dos
Em vista do fato de que as redes elétricas não filtros eletromagnéticos de sequência zero sob
atendem às premissas anteriores, torna-se imperativa distintos desvios das condições ideais. Para cada
a realização de trabalhos adicionais investigativos caso considerado, são caracterizadas as situações e
voltados para os estudos de desempenho dos os valores adotados para quantificar os desvios. Estas
produtos focados sob distintas condições que aquelas situações expressam condições operacionais reais,
postuladas. Este assunto constitui-se na essência deste frequentemente encontradas nos sistemas elétricos.
capítulo, o qual realiza estudos comparativos dos Tendo em vista dos impactos que as mencionadas
filtros de sequencia zero, de modo experimental e variáveis podem trazer para a operação do dispositivo
computacional, quando estes se encontram operando eletromagnético, considera-se fundamental avaliar
sob condições não-ideais de funcionamento. seus efeitos para o seu correto dimensionamento.
Para atender aos objetivos aqui propostos, este Vale lembrar que, à exceção dos parâmetros alterados
capítulo encontra-se estruturado da seguinte forma: e destacados na Tabela 1, os demais dados obedecem
• Definição dos casos considerados nas investigações integralmente àqueles já empregados no Capítulo III,
experimentais e computacionais, os quais contemplam publicado nesta revista em maio de 2009. Por tais motivos,
os desvios das condições ideais mais comumente considera-se dispensável repeti-los neste capítulo.
Objetivando avaliar o desempenho do filtro de sequência zero um fator de desequilíbrio de 3% ( ), mantendo-se as demais
a partir das situações enfocadas na Tabela 1, o arranjo físico da características idênticas às condições ideais de funcionamento.
Figura 1 foi utilizado para os trabalhos subsequentes. Vale ainda ressaltar que a tensão utilizada, além da componente
de sequência negativa responsável pelo indicador anterior, ainda
possui uma componente de sequência zero ( ) de 1,35 V.
A diferença encontrada entre o espectro harmônico da corrente aquecer e, consequentemente, trazer restrições para a utilização
Filtros harmônicos eletromagnéticos
do filtro experimental e computacionalmente pode ser atribuída, do dispositivo, caso esta situação não seja prevista no projeto do
dentre outros aspectos, às imperfeições frequentemente detectadas equipamento.
nos ensaios laboratoriais. De fato, muito embora os esforços
para a reprodução de situações impostas, pequenos desvios são Caso 3 – Carga não-linear desequilibrada
inerentes ao processo de geração das ondas de tensão, justificando, De modo a contemplar esta situação não-ideal, adotou-se uma
assim, os erros detectados entre os resultados experimentais e nova composição para a carga, a qual passa a ser constituída por
computacionais. três unidades retificadoras distintas, cujas potências são: SA = 908
VA, SB = 633 VA e SC = 441 VA. Quanto às demais grandezas, estas
(d) Síntese das correntes de linha de acordo com as suas voltam a ser as mesmas empregadas para as condições ideais de
sequências de fase funcionamento do filtro.
Mais uma vez, objetivando comparar o desempenho do
filtro de sequência zero quando no suprimento ideal e diante (a) Corrente na carga não-linear
do suprimento distorcido aqui enfocado, a Figura 9 apresenta os A Figura 10 apresenta os resultados para a corrente de linha
espectros harmônicos com a distribuição de sequências positivas, e respectivo espectro harmônico na fase A registrada na carga
negativas e zero para as correntes de pico nos mesmos pontos não-linear, na alimentação e, por fim, no filtro de sequência zero.
analisados anteriormente. Apenas os resultados experimentais Como para os demais casos, ambos os desempenhos, experimental
são considerados e as cores destacam a sequência de fases da e computacional, são destacados.
componente harmônica sob foco.
(c) Corrente de linha no filtro de sequência zero Os resultados evidenciam que a operação da carga não-
Filtros harmônicos eletromagnéticos
Por fim, a Figura 12 fornece a corrente de linha A e espectro linear desequilibrada contribuiu significativamente para o
harmônico do filtro eletromagnético, de forma experimental e aumento da componente fundamental de corrente de sequência
computacional. zero. Também se observa que as componentes harmônicas
são afetadas e o conjunto incrementa a corrente no filtro.
Mais uma vez, fica constatado que o prévio conhecimento
das condições operativas do filtro sob a ação de uma carga
desequilibrada também se constitui em fator relevante ao
correto dimensionamento e construção do filtro.
Considerações finais
Finalmente, para este capítulo, vale enfatizar que
os resultados evidenciaram que, sob tais condições de
funcionamento, os filtros harmônicos eletromagnéticos de
sequência zero podem apresentar expressivas perdas de
eficiência. Por tais motivos, torna-se essencial que a sua
aplicação seja sempre precedida de estudos avaliativos para
Figura 12 – Forma de onda e espectro harmônico da corrente de linha A no
filtro – experimental e computacional – carga não-linear desequilibrada
se evitar, por exemplo, aquecimentos excessivos e queda da
eficiência acima de níveis permitidos.
(d) Síntese das correntes de linha de acordo com as suas O último capítulo deste fascículo abordará a validação
sequências de fase experimental dos filtros harmônicos eletromagnéticos de
A Figura 13 apresenta os espectros harmônicos, com a sequência positiva e negativa.
distribuição de sequências positivas, negativas e zero das correntes
de linha nos mesmos pontos analisados anteriormente. Apenas os
resultados experimentais são considerados.
Capítulo VI - final
Filtros harmônicos eletromagnéticos
Validação experimental do
filtro harmônico de sequência
positiva e negativa
Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira e Luis C. Origa de Oliveira*
As análises que seguem estão imbuídas do propósito Para prosseguir com as análises, o primeiro passo
de se avaliar as características elétricas e magnéticas do consiste na obtenção das informações relacionadas com
filtro de sequência positiva e negativa, assim como dos a corrente de magnetização do filtro de sequência positiva
estudos de seu desempenho operacional. Objetivando e negativa, quando o dispositivo encontra-se suprido por
o atendimento a tais metas, são apresentados a seguir: uma tensão nominal e ideal. Esta medida é relevante ao
• O protótipo do filtro harmônico; processo de obtenção da curva de histerese magnética real
• O arranjo laboratorial utilizado para os testes; do produto, visto que o seu funcionamento como filtro
• Os resultados comparativos de desempenho. harmônico se fundamenta justamente na sua operação
sob condições saturadas. A partir da curva de histerese,
Protótipo do filtro de torna-se viável a extração dos parâmetros exigidos pelo
sequência positiva e negativa modelo do laço de histerese utilizado.
O protótipo construído para fins de filtragem de Em valores instantâneos, a relação entre a corrente
correntes de sequência positiva e negativa é mostrado de magnetização do reator (i) e o campo magnético do
na Figura 1. Suas características construtivas são núcleo (h) é dada pela Lei de Ampère (1):
apresentadas na Tabela 1.
Em que:
N - Número de espiras do enrolamento do filtro;
l0 - Comprimento médio do caminho magnético [m], dado
por: ;
I - Corrente instantânea de magnetização do reator [A];
H - Intensidade do campo magnético instantâneo [A/m].
Utilizando uma excitação magnética associada com a aplicação Com base nos requisitos impostos pelo modelo do laço de
da tensão nominal do dispositivo, obtêm-se as formas de onda do histerese empregado pelo programa e a partir das informações da
processo de excitação e o laço de histerese, indicados nas Figuras Tabela 1, torna-se possível a extração das grandezas sintetizadas na
2(a) e (b). Tabela 2.
Grandeza Valor
Permeabilidade inicial relativa (ui) 2500
Permeabilidade coerciva relativa (uhc) 60000
Densidade de fluxo residual (br) 1,2 [T]
Força coerciva (hc) 79 [Ae/m]
(a) Forma de onda da tensão aplicada e da corrente de magnetização
bmax 1,8 [T]
do filtro de sequência positiva e negativa
hmax 1700 [Ae/m]
bsat 1,7 [T]
hsat 1000 [Ae/m]
controlado, cujo conteúdo harmônico presente nas correntes é dado por Local da medição Resultado apresentado Figura
6k±1, sendo k∈I+. Desta forma, as principais componentes harmônicas (a) Carga não-linear Correntes de fase A, B e C 6
são de 5ª e 7ª ordens, conforme requerido pela metodologia aqui Espectro harmônico A, B e C 7
contemplada. (b) Alimentador Correntes de fase A, B e C 8
A Figura 3 mostra o arranjo laboratorial utilizado para o ensaio Espectro harmônico A, B e C 9
do protótipo, enquanto que a Figura 4 é indicativa do correspondente (c) Filtro de sequência Correntes de fase A, B e C 10
digital de acordo com a taxa de amostragem selecionada. Neste caso, (b) Corrente de linha no alimentador
Filtros harmônicos eletromagnéticos
utilizou-se 128 pontos representando 1 ciclo de medição. As correntes de linha no alimentador, fornecidas pela Figura 8,
mostram os resultados experimentais e computacionais.
(a) Corrente na carga não-linear
A Figura 6 apresenta, respectivamente, as correntes de linha A, B
e C na carga não-linear. Tal como foram apresentados para a estratégia
de filtragem de sequência zero, ambos os resultados, experimental
e computacional, são adicionados para fins de inspeção visual e
estabelecimento dos termos comparativos.
Complementarmente, a Figura 7 fornece os correspondentes
espectros de frequência para as correntes de pico anteriores.
e C no filtro eletromagnético. Objetivando, mais uma vez, o Ainda, a Figura 11 indica os correspondentes espectros
estabelecimento de termos comparativos, ambos os resultados, harmônicos para as correntes de pico.
experimental e computacional, são evidenciados.
Valor eficaz (A) 3,89 3,9 3,89 3,89 4,01 3,9 0 2,7 0,2
Corrente na Harmônicas mais 5ª 1,2 1,19 1,2 1,22 1,24 1,21 1,6 4,0 0,8
carga não-linear significativas pico (A) 7ª 0,54 0,55 0,55 0,58 0,61 0,59 6,9 9,8 6,7
DIHT (%) 26,6 26,5 26,6 28,9 28,9 28,9 7,9 8,3 7,9
Valor eficaz (A) 5,22 4,79 5,26 5,26 5,03 5,24 0,7 4,7 0,4
Corrente no Harmônicas mais 3ª 0,32 0,28 0,05 0,3 0,26 0,04 6,6 7,7 25
pico (A) 7ª 0,4 0,3 0,4 0,36 0,32 0,4 11,1 6,6 0
DIHT (%) 10,4 11,3 10,6 11,3 12,8 11,6 7,9 2,6 8,6
Figura 12 - Diagramas fasoriais das correntes de linha na carga e no
Corrente no Valor eficaz (A) 2,75 2,42 2,52 2,8 2,6 2,7 1,8 6,9 6,6
filtro - experimental e computacional - 5ª ordem - filtro de sequência
positiva e negativa filtro de Harmônicas Mais 3ª 0,3 0,32 0,03 0,28 0,29 0,01 7,1 10,3 -
sequência significativas 5ª 1,02 0,84 1,03 1,0 0,9 1,11 1,9 6,6 7,2
É importante observar que as referências para os fasores das
Positiva e negativa pico (A) 7ª 0,34 0,34 0,3 0,37 0,34 0,34 8,1 0 11,7
correntes de carga e do filtro, obtidos de forma computacional 30,5 31,3 32,7 29,2 29,7 32,1 4,4 5,4 1,8
DIHT (%)
e experimental, não são iguais. Não obstante a este fato, a
compensação das ordens harmônicas fica clara quando se observam Observando os resultados da Tabela 4, pode-se constatar que:
as magnitudes e as diferenças entre os fasores apresentados para As correntes harmônicas injetadas pela carga não-linear se apresentam
um mesmo procedimento (experimental ou computacional). com conteúdos harmônicos responsáveis por distorções totais em torno
de 28%;
Quando da inserção do filtro de sequência positiva e negativa, a nova
distorção total da corrente de linha, do lado do supridor, passou para um
valor nas imediações de 10%. Tal redução, bastante significativa, tem
sustentação na forte eliminação da componente harmônica de ordem 5
e parte da componente de ordem 7. Disto desprende que ocorreu uma
redução da distorção harmônica total de cerca de 65%.
No que tange às correntes encontradas nas linhas do filtro,
constatou-se, como seria esperado, que o dispositivo, operando de
forma saturada e com neutro isolado, apresenta-se como uma carga
não-linear com geração de harmônicas de sequência positiva e negativa,
sendo a 5ª e 7ª ordens as que se manifestam com maiores amplitudes. O
aparecimento da 3ª ordem se justifica pela geometria planar do reator,
como já mencionado anteriormente.
Os resultados computacionais e experimentais, de um modo geral,
Apoio
O Setor Elétrico / Agosto de 2009
49
evidenciaram uma boa correlação. Isto ocorreu tanto para as formas de comparados aos respectivos resultados laboratoriais constituíram-se na
onda quanto para os valores obtidos. Desta forma, fica esclarecido que base do processo utilizado.
o processo de validação da modelagem computacional apresentou um Ratificação da eficácia da metodologia proposta para o processo de
bom desempenho no sentido de representar a operação do dispositivo filtragem de harmônicos de sequência positiva e negativa, fundamentadas
focado nesta fase da pesquisa, qual seja, o filtro de sequência positiva e em dispositivos eletromagnéticos.
negativa.
Como observação final, é importante ressaltar que, muito embora Referência bibliográfica
se tenha constatado o bom desempenho do filtro de sequência positiva - BELCHIOR, F. N. Uma nova abordagem à filtragem de harmônicos através de dispositivos
eletromagnéticos. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Uberlândia, 2006.
e negativa, outras influências operacionais não podem ser ignoradas.
- BELCHIOR, F. N.; OLIVEIRA, J. C.; OLIVEIRA, L. C. O. Fatores de influência no
Dentre elas destaca-se o aumento do valor RMS da corrente de suprimento desempenho de filtros eletromagnéticos de sequências positiva e negativa. Revista “O
do conjunto carga e filtro, visto a parcela de corrente fundamental Setor Elétrico”, São Paulo, p. 20-28, 01 jan. 2009.
necessária ao funcionamento da unidade eletromagnética. Associada a
mesma corrente, há ainda a ser destacado as implicações sobre o fator de
potência do conjunto, o qual sofre redução diante do aumento da parcela *FERNANDO NUNES BELCHIOR é engenheiro eletricista e docente da
indutiva da corrente total. Com o aumento da corrente fundamental e Universidade Federal de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da
Energia Elétrica.
sua influência sobre os cálculos dos DIHT, vale também observar que,
Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, PhD é docente da Universidade
somado ao efetivo processo de atenuação das componentes harmônicas,
Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica.
isto também contribui para uma redução maior dos níveis de distorção. LUIS C. ORIGA DE OLIVEIRA é docente da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), campus Ilha Solteira (SP).
Considerações finais
Todos os capítulos deste fascículo contaram com o suporte da Fundação
Atendendo aos objetivos supramencionados, o presente capítulo
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG.
ofereceu as seguintes contribuições: validação do modelo computacional
FIM
do filtro eletromagnético de sequência positiva e negativa, sob condições Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
operacionais também consideradas ideais. Os estudos computacionais
redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
32
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Janeiro de 2010
Capítulo I
Conceitos iniciais: qualidade de
energia e harmônicos
Por Igor Amariz Pires*
Nos últimos anos, o desenvolvimento da indústria consumo elétrico nacional, sendo, assim, o setor que
eletroeletrônica tem propiciado um maior conforto mais consumiu, entre todos os analisados (residencial,
para a vida dos usuários ao mesmo tempo em que tem comercial, industrial, transporte, agropecuário e
fornecido equipamentos mais eficientes do ponto de público).
vista do consumo de energia. Além disso, programas de Entretanto, os percentuais de consumo de energia
conservação de energia passaram a ter maior enfoque elétrica residencial e comercial foram, respectivamente,
nas concessionárias, a partir do racionamento de 21,9% e 13,9%, totalizando 35,8%. Por estes dados,
energia elétrica ocorrido em 2001. um estudo dos cenários destes consumidores,
Estes cenários propiciaram uma maior entrada de enfocando a questão da qualidade de energia em seu
cargas eficientes e não-lineares nos lares brasileiros aspecto relativo aos harmônicos, se faz necessário.
e também em estabelecimentos comerciais. Este Para discutir a questão harmônica de cargas não
trabalho estuda o impacto que as cargas presentes em lineares residenciais e comerciais, este fascículo
consumidores residenciais e comerciais provocam no está dividido em capítulos, que abordarão os
sistema de distribuição no enfoque da qualidade de seguintes temas:
energia elétrica, especificamente harmônicos, tendo • A relação entre a conservação de energia e a
como objetivo caracterizar estas cargas quanto à qualidade de energia, mostrando estudos realizados
produção de correntes harmônicas. na temática envolvida neste trabalho;
Na literatura técnica são encontradas muitas • Efeitos de harmônicos no sistema de distribuição
informações sobre o impacto de cargas associadas e limites segundo as principais normas nacionais e
a consumidores industriais e poucas informações internacionais;
acerca de consumidores residenciais e comerciais. • Caracterização de aparelhos eletrodomésticos;
Isto poderia ser justificado anos atrás quando a maior • Cenários harmônicos em cargas residenciais e
parte das cargas presentes em residências e comércios comerciais;
eram lineares. Outra justificativa pertinente poderia • Simulação de sistemas de distribuição em áreas
ser o fato de o setor industrial ser o maior consumidor residenciais e comerciais;
de energia. • Conclusões e propostas para trabalhos futuros.
Porém, segundo o Boletim Energético Nacional Os fascículos serão divididos e publicados
(BEN) de 2005, no ano de 2004, quando foi feito o conforme cronograma anterior, podendo, entretanto,
balanço, o consumo da indústria representou 47,9% do sofrer alterações de acordo com os critérios do autor.
Variações de curta duração ano de 2001, com o advento do racionamento de energia, quando
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Interrupções: tensão de alimentação ou corrente de carga esteja o programa de selos que classifica os produtos conforme sua
abaixo de 0,1 pu por um período menor que um minuto. eficiência começou a ter maior importância para o povo brasileiro
Sags: diminuição para valores entre 0,1 e 0,9 pu da tensão ou como um todo, mesmo após o racionamento. Dessa forma, a cultura
corrente eficaz para durações entre 0,5 ciclo e um minuto. de conservação de energia tem adentrado nos lares brasileiros.
Swell: aumento para valores entre 1,1 e 1,8 pu da tensão ou
corrente eficaz para durações entre 0,5 ciclo e um minuto. Harmônicos
Pata introduzir os principais temas a respeito de harmônicos,
Desbalanceamento serão citados estudos e pesquisas de diversos autores, mencionados
Desvio máximo da média das três tensões ou correntes de fase ao final do fascículo, nas referências bibliográficas. Os harmônicos
dividido pela média das três tensões ou correntes de fase, expresso são ondas senoidais de frequências múltiplas inteiras a uma
em porcentagem. A melhor análise seria através de componentes frequência de referência, chamada fundamental. No caso do
simétricas, pois a taxa de componentes de sequência negativa e sistema elétrico brasileiro, a fundamental é a frequência padrão de
positiva em relação à sequência positiva daria o desbalanceamento 60 Hz, tendo como 2º harmônico uma onda senoidal de 120 Hz,
para um dado sistema. 3º harmônico uma onda senoidal de 180 Hz e assim por diante.
Os harmônicos são uma forma matemática de analisar a
Distorção da forma de onda distorção de uma forma de onda, seja ela de tensão ou de corrente.
DC offset: presença de tensão ou corrente contínua no sistema Esta análise é feita por meio da decomposição de uma onda,
elétrico. utilizando a série de Fourier.
Harmônicos: tensões ou correntes de frequências múltiplas à O índice utilizado para contabilizar a quantidade de
fundamental presentes na forma de onda de tensão ou corrente. harmônicos presentes em uma onda, ou, em outras palavras, quão
Inter-harmônicos: tensões ou correntes em frequências não inteiras distorcida uma onda está em relação a uma onda senoidal é o THD
à fundamental presentes na forma de onda de tensão ou corrente. (Total Harmonic Distortion). Para uma onda puramente senoidal,
Notching: distúrbio periódico de tensão causado pela operação de livre de distorções, o THD é de 0%. Já para algumas ondas
componentes eletrônicos de potência quando ocorre comutação muito distorcidas, como exemplo correntes de alguns aparelhos
de uma fase para outra. eletrônicos, o THD pode chegar a 100%. A definição do THD é
Ruído: sinais indesejáveis em grandes frequências, abaixo de 200 apresentada na Equação 1:
kHz, superpostas a tensão ou corrente nos condutores de fase.
Flutuação de tensão
Variações sistemáticas na tensão cuja amplitude não exceda a Equação 1
faixa de 0,9 a 1,1 pu do valor eficaz de tensão. Em que:
f1 – módulo da grandeza na frequência fundamental
n – ordem harmônica
Variações na frequência da rede
k – último harmônico considerado
São desvios na frequência fundamental da rede. Flicker seria um fn – módulo da grandeza na frequência harmônica
fenômeno associado a este problema, sendo caracterizado como
uma flutuação na iluminação. Outro índice que também indica a distorção de uma onda
em relação a uma senoide é o fator de crista, chamado FC. Este é
Conservação de energia definido matematicamente como a divisão entre o valor de pico e
O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica o valor eficaz de uma onda. Para uma onda puramente senoidal,
(Procel), criado em dezembro de 1985 e instituído no ano seguinte, livre de distorções, o fator de crista é igual a 1,41. Alguns aparelhos
é um projeto do governo federal coordenado pelo Ministério de eletrônicos apresentam fatores de crista em suas correntes de
Minas e Energia e cujo controle de execução cabe à Eletrobrás. valores iguais a 2,00. A definição do fator de crista é apresentada
O objetivo deste programa é promover a racionalização da na Equação 2:
produção e do consumo de energia elétrica para que seja eliminado
o desperdício e sejam reduzidos os custos e investimentos setoriais.
A atuação do Procel é focada em áreas como: elaboração de planos
de ação para programas de combate ao desperdício; projetos de Equação 2
gerenciamento pelo lado da demanda; atuação no uso final Alguns autores apresentam informações sobre a relação entre
(residencial, comercial, industrial, outros); etc. a distorção de corrente e o acréscimo na corrente e decréscimo no
Este projeto se tornou mais evidente para o povo brasileiro no fator de potência, tendo como base uma corrente fundamental de
acrescentando harmônicos que chegavam a uma certa distorção Outro estudo parecido, mas com foco na interferência causada
de corrente, tendo por consequência um acréscimo de corrente no pelo uso de LFCs em residências, também constatou um ganho
valor eficaz e uma diminuição no fator de potência. A Tabela 1 na demanda ativa da residência, porém com um aumento da
transcreve estas informações mencionadas. potência reativa e uma diminuição do fator de potência. A corrente
Tabela 1
circulante na instalação elétrica também ficou mais distorcida.
Influência dos harmônicos no acréscimo da corrente Um terceiro estudo analisou a poluição na rede elétrica
e na redução do fator de potência causada por sistemas de controle de iluminação, os dimmers, para
Distorção de corrente Acréscimo de Fator de potência controle de lâmpadas incandescentes, fluorescentes com reatores
– THDi (%) corrente (%) total 1 eletromagnéticos e eletrônicos. Nessa situação, duas variáveis
0 0,00 1 foram estudadas para efeitos de comparação: fator de potência e 3º
10 0,50 0,995 harmônico na corrente.
30 4,40 0,958 Variando a potência de iluminação, o fator de potência
50 11,80 0,894 diminuía com a diminuição da potência para as lâmpadas
70 22,07 0,819 incandescente e fluorescente com reator eletromagnético. Para a
90 34,54 0,743 lâmpada fluorescente com reator eletrônico, o fator de potência se
100 41,42 0,707 mantinha constante.
120 56,20 0,640 Em relação ao 3º harmônico da corrente, o percentual deste
150 80,28 0,555 em relação à fundamental aumentava com a diminuição da
potência de iluminação, também para as lâmpadas incandescente
1
Fator de potência total: divisão entre a potência ativa e a potência aparente
e fluorescente com reator eletromagnético. Mais uma vez, para a
Analisando as medidas adotadas pelo Procel na gerência, pelo lâmpada fluorescente com reator eletrônico, o percentual de 3º
lado da demanda, e na atuação do uso final, bem como o impacto harmônico em relação à fundamental se manteve constante com a
na distorção harmônica, pode-se destacar quatro itens: diminuição da potência de iluminação.
1. Controladores de velocidade variável. Com a possibilidade de Quando foram realizaram ensaios em reatores eletrônicos de
economia de energia e gerência do controle dos fluxos de potência, lâmpadas fluorescentes comparando com reatores eletromagnéticos,
apresentam, em alguns casos, harmônicos bastantes significativos. em outro estudo, foi percebido que o reator eletrônico, apesar de
2. Lâmpadas fluorescentes compactas. A substituição de lâmpadas ser vantajoso no aspecto da conservação de energia, gera mais
incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas, visando harmônicos de corrente, tendo uma forma de onda bastante
economia, injeta níveis substanciais de harmônicos nos sistemas distorcida se comparado com o reator eletromagnético. O principal
de distribuição secundária, além de contribuir para a diminuição problema na utilização dos reatores eletrônicos é o aumento da
do fator de potência. corrente de neutro em sistemas trifásicos, comumente percebido
3. Instalação de bancos de capacitores. Visando a melhoria do em prédios comerciais que utilizem lâmpadas fluorescentes com
fator de potência, uma instalação mal executada, sem uma análise reator eletrônico na base de sua iluminação.
crítica acerca dos harmônicos circulantes no sistema, provoca Alguns pesquisadores, como Tostes, apresentaram medições
problemas de qualidade de energia, tais como: amplificação de correntes de lâmpadas de descarga utilizadas em iluminação
do conteúdo harmônico presente no sistema; estabelecimento pública, mostrando a corrente e seus harmônicos de lâmpadas
de condições de ressonância harmônica; e queima prematura de vapor de mercúrio, vapor de sódio e metálico. Das lâmpadas
dos bancos de capacitores devido ao aquecimento de unidades analisadas, por exemplo, as que apresentavam maior distorção
capacitivas sob condições harmônicas. harmônica de corrente foram as lâmpadas de vapor de sódio com
4. Controladores de intensidade luminosa. Também em busca de uma média de 35% de distorção harmônica de corrente, sendo 20%
economia, este dispositivo piora o fator de potência e aumenta a e 25% para as lâmpadas de vapor de mercúrio e vapor metálico,
injeção de harmônicos no sistema elétrico. respectivamente.
Vários estudos realizaram uma análise entre a qualidade Nessas medições, foram mostradas ainda a realizada em um
de energia elétrica e a conservação de energia elétrica. Um transformador de 30 kVA que alimentava, exclusivamente, um
desses mostra um estudo acerca da substituição de lâmpadas conjunto de iluminação pública, contendo 15 postes com quatro
incandescentes por lâmpadas fluorescente compactas (LFCs) em lâmpadas de vapor de sódio de 400 W cada um. A distorção
ambientes residenciais que concluiu que, nessa situação, há um de corrente encontrada foi de 59,37%, sendo que o espectro
ganho em conservação de energia e uma perda na qualidade de harmônico desta corrente apresentou um 3º harmônico de 53,2%,
energia elétrica, sobretudo na corrente circulante na instalação 2% de 5º harmônico e 7,6% de 7º harmônico. A distorção de
e um aumento na corrente pelo neutro, principalmente de 3º tensão medida estava em 6%.
Gómez e Morcos analisaram o impacto de carregadores de com medições em 1996 e 1997. Perceberam que o crescimento
baterias de carros elétricos na qualidade de energia de sistemas da distorção de tensão foi de 0,1% por ano. Este crescimento se
de distribuição, apresentado em um estudo do estado da arte de deve, no ambiente industrial, pelo crescente uso de inversores
carregadores de bateria de carros elétricos. Como efeito, um grande de frequência e, nos ambientes comerciais, pela inserção de
número de carregadores resultará em uma tensão distorcida. computadores.
Foi apresentado também um algoritmo para pesquisar o Além desses estudos, outros pesquisadores, como Penna,
impacto dos carregadores mencionados em transformadores, analisaram alguns impactos dos programas de eficiência energética
levando em conta fatores como temperatura ambiente, duração na qualidade de energia elétrica no Brasil. Foram investigados
do carregamento de baterias, hora de início e THD de corrente dois consumidores residenciais, os quais tinham, em suas casas,
dos carregadores. Como conclusões, foi percebida uma relação iluminação preponderantemente feita por lâmpadas incandescentes,
quadrática entre o THD de corrente dos carregadores e a redução sendo estas substituídas por lâmpadas fluorescentes compactas,
de vida útil do transformador, indicando que o THD de corrente visando a mesma luminosidade.
deveria ser limitado a 30%. Depois de medirem a potência ativa, aparente, corrente e
Além desses, foi realizado por outros pesquisadores um estudo tensão, antes e depois da substituição, percebeu-se que, com a
sobre a tendência harmônica em uma região dos Estados Unidos, troca das lâmpadas, houve uma queda da potência ativa e reativa
citando estudos realizados no Japão e na Europa ocidental. No em uma casa, enquanto na segunda residência houve queda na
Japão, até o ano 2000, a distorção de tensão alcançaria níveis potência ativa, mas um aumento na potência reativa. Isto se explica
entre 6% e 7% em ambientes industriais, e 4% e 5% em ambientes pelo baixo fator de potência que as LFCs apresentam.
residenciais. Já, na Europa ocidental, o 5º harmônico cresceu, entre O fator de potência foi reduzido em 5,6% e 33,3% na primeira
1979 e 1991, de 3% para 5%, tendo um crescimento de 1,67% por e segunda residência, respectivamente, tendo ainda um aumento
década. percentual na distorção da corrente de 89,3% e 208,0%.
Os autores desse trabalho compararam medições realizadas Nesse estudo, os autores fizeram ainda uma perspectiva da
em indústrias, universidade, supermercado, hospital, prédio economia de consumo de energia ativa que se alcançaria com
residencial e alimentadores de subestações nos anos 1986 e 1987 a substituição efetivada em consumidores residenciais no Brasil.
Apoio
38 O Setor Elétrico / Janeiro de 2010
Tabela 2
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Resultados experimentais
Como estes representavam, à época, 28% do consumo total da com a qualidade de energia elétrica. XV SNPTEE – Seminário Nacional de
energia consumida no país e a iluminação era responsável por Produção e Transmissão de Energia Elétrica (1999), Brasil.
7% neste setor, se 40% da iluminação fosse substituída por LFCs, DUGAN, R.C. et al. Electrical Power Systems Quality, second edition,
negativos desta troca fariam com que o número apresentado PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia elétrica.
subsídios à realização desta dissertação. Confira os próximos GÓMEZ, J. C.; MORCOS, M. M. Impact of EV Battery Chargers on the Power
capítulos deste fascículo. Quality of Distribution Systems, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 18,
n. 3, jul. 2003.
NEJDAWI, I. M. et al. Harmonics Trend in NE USA: a preliminary survey, IEEE
Referências
Transactions on Power Delivery, v. 14, n. 4, out. 1999.
GONZALEZ, M. L.; PIRES, I. A. et al. Correntes harmônicas em aparelhos
PENNA, C. et al. O impacto dos programas de eficiência energética na
eletrodomésticos, VI SBQEE – Seminário Brasileiro sobre Qualidade de
Qualidade de Energia Elétrica, I Congresso de Inovação Tecnológica em
Energia Elétrica, 21 a 24 de agosto de 2005, Belém – PA.
Energia Elétrica, 6 e 7 de nov. 2001, Brasília – DF.
BEN 2005, Boletim Energético Nacional 2005. Disponível em:
< h t t p : / / w w w. m m e . g ov. b r / s i t e / m e n u / s e l e c t _ m a i n _ m e n u _ i t e m .
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e
do?channelId=1432&pageId=4060>. Acesso em: 19/01/06.
doutorando em engenharia elétrica pela Universidade Federal
IEEE std 1159-1995, IEEE Recommended Practice for Monitoring Electric
de Minas Gerais (UFMG), com ênfase em qualidade da energia
Power Quality.
elétrica.
BOLLEN, M. H. J. What is power quality? Eletric Power Systems Reasearch,
Continua na próxima edição
66, 2003, p. 5-14. Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
GAMA, P. H. R. P.; OLIVEIRA, A. Conservação de energia e sua relação Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
Capítulo II
Tabela 1
Consumidores selecionados para avaliação de medidores de energia
(1)
Consumidor THD – THD – Erros (%)*
tensão corrente kWh kW kW kVArh
(%) (%) (ponta) (fp)**
Indústria de cimento 1,77 15,90 -0,03 -0,76 -0,08 -27,65
(2)
Autarquia militar 2,70 15,40 -0,27 0,89 0,18 -18,48
Universidade 3,00 5,60 -0,37 -1,17 -0,42 -17,28
Edifício Inteligente 8,1 72,4 0,05 0,40 0,12 -15,85
Serviço de informática 12,50 14,00 -0,17 -0,10 -0,09 11,29
* Erros do medidor eletromagnético em relação às medições realizadas
(3)
em medidor eletrônico que considera as harmônicas
** fp = fora de ponta
Avaliando o ensaio de tensão e corrente distorcidas com diferentes que a tensão também esteja bastante distorcida. Assim, a referência
THDs, a tensão foi distorcida em 5,82%, sendo que a primeira cita apenas o valor de distorção de tensão, pois, havendo uma grande
componente harmônica era de 5% e a segunda 3%. A corrente teve uma distorção de tensão, por consequência, haverá uma grande distorção de
distorção de 24,25%, sendo que a primeira componente harmônica corrente, provocando assim um significativo erro de medição.
era de 20% e a segunda 15%, com os seguintes perfis de composição Em relação aos medidores eletrônicos, devido às suas modernas
harmônica foram: 1º, 3º e 5º; 1º, 5º e 7º; 1º, 7º e 9º; 1º, 9º e 11º. Ou técnicas de medição, consegue-se incluir as energias dos harmônicos,
seja, para o segundo perfil mencionado (1º, 5º e 7º harmônicos), o 5º apresentando erros muito pequenos.
harmônico teve um módulo igual a 20% e o 7º harmônico módulo igual
a 15%, porcentagem em relação à fundamental. Concluiu-se que o Condutores
valor da energia ativa varia com a alteração da composição harmônica, As correntes harmônicas em condutores poderão provocar
comprovando a tendência do ensaio anterior. sobreaquecimento, se comparadas com o aquecimento provocado
O ensaio final de tensão e corrente distorcidas, variando o atraso apenas pela fundamental da corrente. Há dois mecanismos para analisar
da corrente em relação à tensão, foi basicamente a junção dos ensaios este aquecimento.
anteriormente realizados. As discrepâncias observadas na medição O primeiro mecanismo é devido à redistribuição de corrente no
variam de acordo com o atraso da corrente em relação à tensão condutor, incluindo os efeitos pelicular e de proximidade. O efeito
e à composição harmônica, tendo como resultados tanto valores pelicular é devido à blindagem da porção mais interna do condutor para
positivos quanto negativos de discrepância. Como exemplo, para uma a camada mais externa em função da frequência da rede. O efeito de
composição harmônica com fundamental, 5º e 7º harmônicos e um proximidade é devido ao campo magnético dos condutores próximos
fator de potência igual a 0,2 indutivo, a discrepância observada foi de distorcendo a distribuição de corrente nos condutores adjacentes. Em
-1,5%. Já para uma composição harmônica de 1º, 9º e 11º e fator de cabos com condutores circulares, o efeito de proximidade é menos
potência igual a 0,5 indutivo, a discrepância foi de +1%. Desta forma, pronunciado que o efeito pelicular.
os valores encontrados de diferença não são muito significativos. O segundo mecanismo é o aumento da corrente de neutro em
Outros autores apresentam ainda o desenvolvimento de um sistemas trifásicos a quatro condutores alimentando cargas não-
modelo matemático de um medidor de watt-hora indutivo para avaliar lineares. Várias cargas, como as eletrônicas, produzem correntes de 3º
a influência deste em condições não senoidais. As características do harmônico significativas. Sistemas trifásicos equilibrados e sem tensões
medidor indutivo de um desses trabalhos eram: 1 elemento, 2 fios, 1 harmônicas não terão corrente de neutro. Porém, 3º harmônicos e
fase, classe 2, 60 Hz, 220 V, 15-100 A e Kd = 3,6 Wh/r. Os testes, em seus múltiplos inteiros irão se somar ao neutro, ao invés de subtrair,
medidores reais para validação do modelo desenvolvido, apontaram podendo a corrente de neutro chegar a ser 1,7 vezes a corrente de fase
que, para se ter uma diferença na tarifação da energia elétrica, seria para cargas conversoras estáticas. Assim, como os cabos de neutro são
necessário grandes THDs de tensão e corrente, na ordem de 20%. A dimensionados para serem do mesmo tamanho dos cabos de fase, ou,
Tabela 2 mostra os resultados obtidos tanto no experimento de medição até mesmo, menores, eles estarão sobrecarregados.
quanto em simulações. Os erros são relativos aos valores medidos para Este problema é mais provável de ocorrer em edifícios comerciais
tensão e corrente com THDs iguais a zero. que têm um sistema trifásico que alimenta várias cargas comerciais
Enfim, para os níveis de distorção normalmente encontrados na rede monofásicas eletrônicas. Para situações como esta, é comum
elétrica, ou seja, tensões com distorções menores que 5%, não haverá dimensionar o condutor de neutro para duas vezes o condutor de fase.
erros significativos na tarifação de energia, sendo estes erros normalmente Cabos de potência, usados em transmissão e distribuição, quando
localizados na faixa de precisão dos medidores de energia (2%). submetidos a uma ressonância provocada por algum harmônico, podem
Para haver um grande erro de medição, o THD de tensão deve ser ser submetidos a um estresse de tensão e um efeito corona, que podem
bastante severo, acima de 20%. Não são citados os valores de THDs de levar à disrupção dielétrica. Deve-se considerar, ainda, o cálculo da
corrente que dariam significativos erros de medição, pois é necessário ampacidade dos cabos incluindo os efeitos dos harmônicos. Este cálculo
Apoio
O Setor Elétrico / Fevereiro de 2010
37
é resumido em um fator de depreciação harmônico, chamado HDF, do Com este conteúdo harmônico, o HDF para os condutores
inglês Harmonic Derating Factor, como mostrado na Equação 5. fase será de 0,96, ou seja, uma redução na ampacidade dos cabos
para 96% da ampacidade utilizando somente a fundamental. Já no
cabo de neutro, neste sistema equilibrado, a corrente de neutro
(5) terá apenas o 3º harmônico, porém esta será três vezes o valor da
corrente de fase.
Em que: Portanto, a corrente de 3º harmônico será igual a 3 x 0,2285
HDF = fator de depreciação harmônico = 0,6855 pu. Desta forma, utilizando a Equação 5, o HDF será
αh = corrente harmônica, em pu, tendo como base a fundamental de 0,80, ou seja, redução na ampacidade do neutro para 80% da
βh = resistência harmônica normalizada, em pu, tendo como base ampacidade em consideração a um regime sem harmônicos.
a resistência da frequência fundamental Já a imunidade prática de condutores aos efeitos de harmônicos
é dado por < 10%, em que h > 1 e Uh é dado em porcentagem.
Como exemplo para um sistema trifásico a quatro condutores Em suma, o maior problema que se verifica em cabos é em
com cabos de alumínio de 500 kcm e diâmetro de 0,999 sua configuração de cabo neutro em ambientes com grandes
polegadas, a Tabela 3 apresenta o conteúdo harmônico aplicado concentrações de cargas não lineares. O mais comum é fixar a
nestes condutores, bem como seus valores de resistência para cada seção do neutro para, pelos menos, duas vezes a ampacidade dos
harmônico. cabos fase, em um sistema trifásico.
Tabela 3
Exemplo de cálculo do HDF
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
Fundamental + Frequência Resistência Corrente αh (pu) βh (pu)
Harmônico (Hz) (ohm/m) (A) engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
1 60 0,000106 350 1 1 com ênfase em qualidade da energia elétrica.
* em relação à rotação do campo girante fundamental CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
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40
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Março de 2010
Capítulo III
Tabela 3
Perdas no motor
Perdas no núcleo As perdas no núcleo do estator é função da densidade de fluxo no mesmo. O aumento nas perdas devido aos
harmônicos se constitui em uma pequena fração da perda total, podendo então ser desprezado
Perdas por atrito e ventilação Estas perdas não dependem da forma de onda da tensão aplicada
Perdas harmônicas no rotor Correntes harmônicas induzidas no rotor
Perdas complementares
Perdas finais no rotor Correntes parasitas devido ao fluxo de dispersão Igual a do estator
axial nas laminações do rotor
Outras perdas As outras perdas não mencionadas provavelmente aumentarão na presença de harmônicos. Entretanto, usualmente
são pequenas, sendo consideradas as mesmas que quando excitado por uma onda puramente senoidal
Legenda:
Wk = perdas em Watts, sendo k índice que identifica cada perda T = torque
C0, C1,CL e Cdb = constantes empíricas rks, rkr = resistência no estator e rotor, respectivamente, para cada
m = número de polos harmônico de ordem k
k = ordem harmônica Iks, Ikr = Correntes no estator e rotor, respectivamente para o harmônico
Ihar = valor rms das correntes harmônicas excluída a fundamental de ordem k
f1 = frequência fundamental I0 = corrente fundamental a vazio
nsl = escorregamento, em r/min (fundamental) I = corrente total no estator
no motor, incluindo os harmônicos. Um resumo destas é apresentado na 5 20,0 20,0 21,3 26,0
7 14,3 14,8 16,2 25,3
Tabela 6. Para avaliá-las, foram escolhidas cinco formas de onda de tensão,
11 9,1 10,0 12,7 86,8
sendo uma puramente senoidal em 60 Hz e quatro com harmônicos
13 7,7 8,6 12,5 81,8
característicos. Estas formas de onda, chamadas de A a D, estão descritas
17 5,9 7,0 15,1 18,8
na Tabela 7. Estas ondas foram, então, aplicadas em dois motores trifásicos 19 5,3 6,6 19,2 17,0
idênticos de 20 hp, 220 V e 60 Hz. Os resultados das perdas obtidas em 23 4,4 6,3 85,3 49,6
plena carga, tanto experimentalmente quanto computacionalmente, 25 4,0 6,4 82,7 42,3
(utilizando as fórmulas da Tabela 6) são apresentados na Tabela 8. 29 3,4 6,5 16,5 7,5
perdas devido aos harmônicos de tensão. THDv (%) 30,2 127,3 143,8 146,1
Apoio
44 O Setor Elétrico / Março de 2010
Resultados do exemplo de aplicação de ondas de tensão Os componentes concentrados são derivados das informações
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
distorcidas em motores de indução trifásicos dimensionais do motor, propriedades térmicas, material utilizado na
Tabela 5 construção e coeficientes de transferência térmica. Em vários resultados
Resultados do exemplo de aplicação de ondas de tensão distorcidas em motores
de indução trifásicos mostrados, como exemplo, para um desbalanceamento de tensão de
3%, um espectro harmônico de V3 = 4%, V5 = 3%, V7 = 5%, V9 = 2% e
Motor Forma de Frequência Medida Simuladas
onda Fundamental (Hz) (W) (W) V11 = 1%, tendo então um THDv = 7,4% e o motor operando em carga
1 Senoidal 15 902 712 nominal, a redução de vida útil do isolamento seria de 24,3%.
2 A 15 1070 1015 Em um estudo probabilístico do impacto destas variações na
B 15 1440 1272,6 temperatura final do motor, baseando na média, variância e distribuição
C 15 1680 1680,9 de probabilidade de cada harmônica, um pesquisador percebeu que as
D 15 2900 2791 harmônicas de tensão variam no tempo. Por isso, ele estimou os efeitos
Senoidal 60 1303 1122 das flutuações de tensões harmônicas no aumento da temperatura de
A 60 1600 1437,7 motores de indução com rotor em gaiola. Como resultado do trabalho,
Senoidal 15 912 741
para motores com constantes térmicas no rotor maior que 60 minutos,
B 15 1400 1229,5
essas máquinas toleram distorções de tensão com uma média de 4%
C 15 1950 1613
e um máximo de 10%, desde que este máximo não ultrapasse 36
D 15 1935 2664
segundos, causando um aumento admissível de temperatura de 3%.
O grau de imunidade aos harmônicos para máquinas síncronas é
O ângulo de fase dos harmônicos é analisado para se descobrir
dado por
seu efeito na performance de motores de indução trifásico. Para chegar
a tanto, os autores que desenvolveram tal trabalho executaram alguns
testes em motores, apresentando resultados da influência de mudança < 1,3% a 2,4%.
Capítulo IV
Tabela 2
Limites globais de harmônicos expressos em porcentagem da tensão fundamental
V < 69 kV V ≥ 69 kV
Ímpares Pares Ímpares Pares
Ordem Valor por harm. (%) Ordem Valor por harm. (%) Ordem Valor por harm. (%) Ordem Valor por harm. (%)
3, 5, 7 5 2, 4, 6 2 3, 5, 7 2 2, 4, 6 1
9, 11, 13 9, 11, 13 1,5
15 a 25 ≥ 8 1 15 a 25 1 ≥8 0,5
≥ 27 ≥ 27 0,5
THDV = 6% THDV = 3%
Limites de harmônicos segundo normas nacionais e matemática que o THD, diferenciando no termo do dividendo que,
internacionais enquanto no THD será a fundamental da tensão ou corrente do
Segundo padrões do Operador Nacional do Sistema Elétrico sinal analisado, o TDD usará a tensão ou corrente de demanda
(ONS), os limites de harmônicos para faixas acima e abaixo de 69 nominal no barramento analisado. Em outras palavras, o TDD seria
kV são descritos na Tabela 2. O THDv para tensões abaixo de 69 kV é o THD na situação em que a fundamental da tensão ou corrente
limitado em 6% enquanto para tensões acima de 69 kV está em 3%. estivessem em seus valores nominais de demanda.
Os valores recomendados segundo a norma IEEE std. 519/1992
Tabela 5
são apresentados na Tabela 3. Limites de distorção de corrente para sistemas de distribuição (V ≤ 69 kV)
Distorção de corrente em percentuais de Icarga
Tabela 3
Limites de distorção de tensão Harmônicos individuais
Faixa de tensão Distorção individual por Distorção total de tensão – ICC/Icarga < 11 11 ≤ h < 17 17 ≤ h < 23 23 ≤ h < 35 H ≤ 35 TDD
harmônico (%) THDV (%)
< 20 4,0 2,0 1,5 0,6 0,3 5,0
V ≤ 69 kV 3,0 5,0
20 < 50 7,0 3,5 2,5 1,0 0,5 8,0
69 kV < V < 161 kV 1,5 2,0
V ≥ 161 kV 1,0 1,5 50 < 100 10,0 4,5 4,0 1,5 0,7 12,0
100 < 1000 12,0 5,5 5,0 2,0 1,0 15,0
Nas Tabelas 2 e 3, os limites estabelecidos são bem próximos, > 1000 15,0 7,0 6,0 2,5 1,4 20,0
sendo a tabela do ONS mais detalhada em relação aos limites Harmônicos pares são limitados a 25% dos limites dos harmônicos impares
ICC = corrente máxima de curto-circuito
estabelecidos para cada harmônico.
Icarga =demanda máxima de corrente de carga (somente fundamental)
Alguns pesquisadores transcreveram os limites das tensões
harmônicas sugeridas pela norma IEC 61000-2-2 para sistemas
Tabela 6
públicos de baixa tensão (240 V e 415 V). A Tabela 4 apresenta Limites de distorção de corrente para sistemas de subtransmissão
(69 kV < V ≤ 161 kV)
estes limites. Distorção de corrente em percentuais de Icarga
Tabela 4 Harmônicos individuais
Limites de harmônicos individuais em sistemas públicos de baixa tensão
(240 V e 415 V) conforme norma IEC 61000-2-2 ICC/Icarga < 11 11 ≤ h < 17 17 ≤ h < 23 23 ≤ h < 35 h ≥ 35 TDD
Ordem Tensão Ordem ímpar Tensão Ordem Tensão < 20 2,0 1,0 1,75 0,3 0,2 2,5
ímpar harmônica – múltiplo harmônica par harmônica
(%)* de 3 (%)* (%)* 20 < 50 3,5 1,75 1,25 0,5 0,25 4,0
5 6,0 3 5,0 2 2 50 < 100 5,0 2,25 2,0 0,75 0,35 6,0
7 5,0 9 1,5 4 1 100 < 1000 6,0 2,75 2,5 1,0 0,5 7,5
11 3,5 15 0,3 6 0,5 > 1000 7,5 3,5 3,0 1,25 0,5 10,0
13 3,0 21 0,2 8 0,5
Harmônicos pares são limitados a 25% dos limites dos harmônicos impares
17 2,0 > 21 0,2 10 0,2
ICC = corrente máxima de curto-circuito
19 1,5 > 12 0,2 Icarga =demanda máxima de corrente de carga (somente fundamental)
23 1,5
25 1,5
> 25 0,2 + 1,3 Tabela 7
Limites de distorção de corrente para sistemas de transmissão (V > 161 kV)
x 25/h
Distorção de corrente em percentuais de Icarga
THDV (até o 40º harmônico) < 8% Harmônicos individuais
* Valores em relação à tensão fundamental ICC/Icarga < 11 11 ≤ h < 17 17 ≤ h < 23 23 ≤ h < 35 h ≥ 35 TDD
< 50 2,0 1,0 0,75 0,3 0,15 2,5
Na Tabela 4, percebe-se que a norma IEC é menos rígida para
≥ 50 3,0 1,5 1,15 0,45 0,22 3,75
sistemas de baixa tensão (THDv = 8%). A norma IEEE std. 519/1992
Harmônicos pares são limitados a 25% dos limites dos harmônicos impares
define limites de distorção de corrente em um ponto do sistema ICC = corrente máxima de curto-circuito
elétrico conforme sua corrente de curto-circuito e níveis de tensão. Icarga =demanda máxima de corrente de carga (somente fundamental)
Já as Tabelas 5, 6 e 7 trazem estas recomendações, diferenciadas
pelo nível de tensão. Há um termo utilizado nesta norma que é A IEC 61000-3-2 define limites de correntes harmônicas que
o TDD (Total Demand Distortion). Tendo a mesma formulação podem ser emitidos por aparelhos que trabalham com uma corrente
Apoio
40 O Setor Elétrico / Abril de 2010
• Classe A: Equipamentos com alimentação trifásica equilibrada e Ordem Máxima Ordem Máxima
todos os demais que não se enquadram nas outras classes. harmônica (h) corrente (%)* harmônica (h) corrente (A)
3 21,6 19 1,1
• Classe B: Equipamentos portáteis.
5 10,7 21 0,6
• Classe C: Equipamentos para iluminação incluindo dispositivos
7 7,2 23 0,9
dimmer.
9 3,8 25 0,8
• Classe D: Equipamentos contendo uma forma de onda de 11 3,1 27 0,6
corrente de entrada “especial” com uma potência ativa de entrada 13 2 29 0,7
menor que 600 W. 15 0,7 31 0,7
Os limites para os equipamentos classe A estão expostos na 17 1,2 33 0,6
Tabela 8. Para os equipamentos de classe B, basta utilizar os índices * Em relação à corrente fundamental
Tabela 9
limita em 5% enquanto a IEC admite 8% de THD de tensão.
Limites de correntes harmônicas para equipamentos classe C
conforme norma IEC 61000-3-2 Para correntes harmônicas, o IEEE apresenta limites da distorção
Ordem harmônica (h) Máxima corrente (%)* que a corrente poderá ter de acordo com a relação (divisão)
2 2 corrente de curto-circuito e corrente nominal. Quanto mais alta
3 30% x fator de potência esta relação, o limite de distorção de corrente também será mais
5 10 alto, tendo um limite de 20% de distorção de corrente nominal
7 7 (TDD de 20%).
9 5
A IEC tem várias normas que limitam a produção de
01/11/39 3
harmônicos por parte de equipamentos eletrônicos, dependendo
* Em relação à corrente fundamental de sua finalidade e potência. Os efeitos de harmônicos no sistema
de distribuição, em conjunto com os limites determinados
Tabela 10 por normas nacionais e internacionais, mostram que se pode
Limites de correntes harmônicas para equipamentos classe D
conforme norma IEC 61000-3-2
conviver com harmônicos, desde que eles estejam devidamente
Ordem harmônica (h) Máxima corrente (%)*
controlados.
Por watt (mA/W) (A)
2 3,4 2,3
5 1,9 1,14 Referências
(Para os capítulos II, III e IV)
7 1,0 0,77
IEEE std. 519-1992, IEEE Recommended Practices and Requirements for
9 0,50 0,40
Harmonic Control in Electrical Power Systems.
11 0,35 0,33
OLIVEIRA, M. et al. Efeito das distorções harmônicas nas medições de energia
13 0,3 0,21
elétrica. III SBQEE – Seminário Brasileiro de Qualidade de Energia Elétrica, ST 1 –
15-39 3,86/h 2,25/h
IT 7, 8-12 de agosto de 1999, Brasília – DF.
GALHARDO, M. A. B.; PINHO, J. T. Conceitos de distorção e não-linearidades. V
Para equipamentos com correntes acima de 16 A e abaixo de
SBQEE – Seminário Brasileiro de Qualidade de Energia Elétrica, 17-20 de agosto
75 A por fase, a norma IEC 61000-3-4 fixa os limites de correntes de 2003, Aracaju – SE.
harmônicas para estes equipamentos. Os limites estão na Tabela 11. VASCONCELOS, F. H. et al. Calibração de medidores de energia elétrica
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O Setor Elétrico / Abril de 2010
41
ativa em condições não senoidais. Metrologia 2003, Sociedade Brasileira de 38th Midwest Symposium on Circuits and System. Rio de Janeiro, 1995, v. 1, p.
Metrologia, 01 a 05 de setembro de 2003, Recife – PE. 933-936.
SILVA, R.V. R. et al. Análise de desempenho de medidores de watt-hora sob IEEE std C57.12.00-2000 IEEE Standard General Requirements for Liquid-
condições não senoidais. III SBQEE – Seminário Brasileiro de Qualidade de Immersed Distribution, Power and Regulating Transformers.
Energia Elétrica, ST 8 – IT 61, 8-12 de agosto de 1999, Brasília – DF. CAVALLINI A. et al. A Parametric Investigation on the Effect of Harmonic
IEEE Task Force on the Effects of Harmonics on Equipment, Effects of Harmonics Distortion on Life Expectancy of Power Capacitors. 8th Mediterranean
on Equipment. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 8, n. 2, April 1993. Electrotechnical Conference, 1996, Italy, v. 1 p. 491-494.
HIRANANDAM, A. Calculation of Cable Ampacities Including the Effects of DUARTE, L. H. S.; ALVES, M. F. Degradação dos capacitores de potência sob
Harmonics. IEEE Industry Applications Magazine, March/April 1998, p. 42-51. influência dos componentes harmônicos. XVI SNPTEE – Seminário Nacional
DIAS, G. A. D. Harmônicas em sistemas industriais. 2. edição, Edipucrs, 1998. de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, 21 a 26 de outubro de 2001,
CHEN, M. T.; FU, C. H. Characteristics of Fluorescent Lamps under abnormal Campinas – SP.
System Voltage Conditions. Eletric Power System Research, n. 41, 1997. IEEE std. 18-2002, IEEE Standard for Shunt Power Capacitors.
KLINGSHIRN, E. A.; JORDAN, H. E. Polyphase Induction Motor Performance SIQUEIRA, F. J. B.; SILVA, E. P. de. Harmônicos e capacitores em prédios
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Apparatus and Systems, v. PAS-87, n. 3, March 1968. BROZEK, J. P. The Effects of Harmonics on Overcurrent Protection Devices. IEEE
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EMANUEL, A. E. Estimating the Effects of Harmonic Voltage Fluctuations on DUGAN, R.C. et al. Electrical Power Systems Quality, second edition,
the Temperature Rise of Squirrel-Cage Motors. IEEE Transactions on Energy McGraw-Hill.
Conversion, v. 6, n. 1, March 1991.
ORAEE, H. A Quantative Approach to Estimate the Life Expectancy of Motor *IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
Insulation Systems. IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, v. 7, engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
n. 16, December 2000. com ênfase em qualidade da energia elétrica.
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
BARROS, J. DIEGO, R. I. Effects of Nonsinusoidal Supply on Voltage Tolerance of
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Equipment. IEEE Power Engineering Review, July 2002.
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
DELAIBA A. C. et al. The Effect of Harmonics on Power Transformers Loss of Life. e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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38
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Maio de 2010
Capítulo V
Caracterização de aparelhos
eletrodomésticos
Igor Amariz Pires*
Tabela 6
Conteúdo harmônico de lâmpadas fluorescentes convencionais com reatores
eletromagnéticos e com reatores eletrônicos
Tabela 10
Conteúdo harmônico de um computador, uma televisão e um aparelho de som
Computador 7 Televisão 3 Aparelho de som 3
Irms = 1,408 A Irms = 0,621 A Irms =0,127 A
THDi = 94,42% THDi = 103,29% THDi = 42,80%
Harmônicos Fator de crista = 2,15 Fator de crista = 1,67 Fator de crista = 1,89
Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
1 100,00 2,46 100,00 2,49 100,00 -26,19
3 78,46 -174,73 82,29 175,41 37,40 -179,22
5 45,08 9,40 54,84 -7,64 17,31 -48,47
7 13,74 -161,18 25,15 173,21 6,04 -17,81
9 6,11 169,64 3,41 43,13 5,91 132,88
11 10,42 11,77 10,51 -33,28 1,97 -128,06
13 5,55 -154,47 11,82 146,07 2,59 -46,53
15 2,09 139,21 6,27 -42,45 0,98 76,64 Figura 2 - Forma de onda de corrente típica de aparelhos refrigeradores.
17 4,50 7,39 0,84 -1,12 1,20 137,23
19 3,00 -160,01 0,38 61,72 0,67 -108,95
21 0,60 82,59 4,86 -53,31 0,69 -53,26 Uma distorção típica nesta categoria de aparelhos é um THD de
23 1,91 14,14 2,00 95,39 0,59 58,81
25 1,23 -151,58 1,68 154,01 0,44 137,31
8% (valor médio). Analisada a corrente eficaz da geladeira, durante
27 0,57 153,49 3,31 -57,23 0,43 -119,81 um período de 15 horas, percebe-se que há um comportamento mais
29 1,55 28,31 2,74 102,59 0,35 -38,46 espaçado durante a madrugada, que se deve ao número reduzido ou
31 1,18 -134,33 0,89 -147,4 0,33 63,18
nenhuma abertura da porta da geladeira, o que faz seu compressor
Refrigeradores ficar mais tempo desligado, além da baixa temperatura ambiente.
Os refrigeradores são importantes eletrodomésticos que estão Esta alternância é menos pronunciada no freezer, por trabalhar com
presentes na maioria dos lares brasileiros. Segundo o Instituto Brasileiro temperaturas menores. Os bebedouros medidos não apresentam o
de Geografia e Estatística (IBGE), em 2003, 86,8% dos lares brasileiros controle mencionado, ou seja, tem-se compressor ligado a todo instante.
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O Setor Elétrico / Maio de 2010
43
Condicionadores de ar
Os aparelhos de ar-condicionado medidos foram do tipo janela,
comuns tanto em ambientes residenciais quanto em consumidores
comerciais. Eles contêm um controle de temperatura na qual desligam o
seu compressor de resfriamento quando a temperatura ambiente chega
a um certo nível. Além disso, os aparelhos medidos tinham vários níveis
de resfriamento e um ou dois níveis de ventilação.
No modo de resfriamento, a distorção de corrente é maior que
no modo de ventilação. Aqui vale a mesma observação feita para
os refrigeradores: não há como classificá-los como não-lineares,
pois as medições foram realizadas em ambientes com níveis de Figura 3 - Forma de onda de corrente de um condicionador de ar (modo
tensão distorcidos. A Tabela 12 mostra os THDs de tensão e corrente resfriar).
medidos para diversos condicionadores de ar, enquanto as Figuras 3 e
4 mostram a forma de onda de corrente nos modos resfriar e ventilar,
respectivamente.
Tabela 12
THDs de condicionadores de ar
Nº Fabricante/tipo BTU Resfriar Ventilar
THD (%) THD (%)
V I V I
1 Fabricante 1 – tipo 1 7500 3,20 12,70 3,40 5,40
2 Fabricante 2 – tipo 1 7500 1,21 11,26 1,37 1,89
3 Fabricante 2 – tipo 2 7500 1,60 13,08 1,59 5,21
4 Fabricante 2 – tipo 3 10500 3,90 12,20 - -
5 Fabricante 2 – tipo 4 10500 3,10 15,40 - -
6 Fabricante 2 – tipo 5 15000 3,80 16,30 3,50 4,90
7 Fabricante 2 – tipo 6 18000 1,54 10,65 1,63 2,07
8 Fabricante 1 – tipo 2 18000 0,85 15,38 0,76 6,05
Figura 4 - Forma de onda de corrente de um condicionador de ar (modo
9 Fabricante 1 – tipo 3 21000 1,15 17,31 1,10 7,87
ventilar).
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Harmônicos provocados por eletroeletrônicos O Setor Elétrico / Maio de 2010
Tabela 15
Tabela 13 THDs de eletrodomésticos baseados em motores
Conteúdo harmônico do condicionador de ar nos modos resfriar e ventilar
Nº Aparelho/fabricante THD (%)
Resfriar Ventilar V I
Irms = 9,856 A Irms = 0,967 A Aspirador de pó
Harmônicos THDi = 17,31% THDi = 7,87% 1 Fabricante 1 4,07 22,68
Fator de crista = 1,43 Fator de crista = 1,04
Batedeira
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) 1 Fabricante 1 4,16 5,62
1 100,00 -2,38 100,00 15,80 Circulador de ar
2 12,50 125,33 0,14 51,20 1 Fabricante 1 2,80 3,80
3 12,00 104,03 7,50 116,20 Enceradeira
5 1,61 -163,86 2,90 -147,02 1 Fabricante 1 3,11 11,26
7 0,73 138,83 0,82 -75,43 Espremedor de laranja
9 0,83 113,51 0,25 65,31 1 Fabricante 1 3,76 10,16
Exaustor de fogão
Aquecimento 1 Fabricante 1 3,32 7,8
Liquidificador
Normalmente, os eletrodomésticos, que envolvem algum 1 Fabricante 1 3,40 13,51
aquecimento, têm esta funcionalidade associada a uma resistência Fabricante 2 2,51 16,85
Lavadora de roupas
que provoca este fenômeno. Assim, são aparelhos lineares sendo que a
1 Fabricante 1 2,63 5,56
distorção da corrente acompanha a distorção de tensão. Uma exceção 2 Fabricante 2 3,26 17,06
neste grupo seria o aparelho de micro-ondas. Sua distorção de corrente Tanquinho
1 Fabricante 1 1,75 8,98
é facilmente explicada por não utilizar uma resistência, mas sim um
Ventilador de teto
propulsor de micro-ondas para aquecer os alimentos. O conteúdo 1 Fabricante 1 4,20 4,21
harmônico desse equipamento de aquecimento é mostrado na Tabela Ventilador pequeno
1 Fabricante 1 3,38 2,24
14, que tem como último harmônico o 11º, devido ao fato dos outros
2 Fabricante 2 2,90 3,90
terem tido valores menores que 1%. 3 Fabricante 3 5,32 5,49
Capítulo VI
Além dos eletrodomésticos apresentados no capítulo A medição foi realizada no ramal que alimenta
anterior, consumidores residenciais e comerciais também o padrão do consumidor. Para tal, utilizou-se um TC
foram medidos para estabelecer um perfil do consumo e de janela junto ao instrumento de medição. O tempo
qual é o conteúdo harmônico que cada um destes produz. total de coleta de dados foi de 24 horas, sendo possível
No caso de consumidores residenciais, tema que será caracterizar a curva de consumo e de distorção de
abordado neste capítulo, serão apresentados os resultados corrente do consumidor. As formas de onda foram
de quatro medições, sendo um resultado para o perfil de adquiridas de hora em hora.
consumo baixo, dois para médio e um para o alto. Um trabalho semelhante às medições realizadas
Já para consumidores comerciais, que serão é apresentado no trabalho Curva de Carga de
apresentados no próximo capítulo, serão mostradas as Consumidores Comerciais e Industriais em Baixa
medições realizadas em um centro comercial. Este local Tensão, que consta nas referências bibliográficas. As
foi escolhido, pois permitiu medir vários consumidores curvas de corrente e distorção de corrente ao longo
comerciais. É também mostrada a medição global realizada do tempo de consumidores residenciais deste atual
neste centro comercial. Além disso, resultados de medições trabalho são muito semelhantes às divulgadas naquele.
em transformadores que alimentam consumidores A Tabela 1 traz a corrente eficaz média, os THDs de
residenciais e comerciais também são apresentados. corrente e tensão médios durante a coleta de dados nas
residências mencionadas no tempo coletado (24 horas),
Consumidores residenciais além do consumo médio mensal de cada uma (dado
As medições em consumidores residenciais fornecido pela concessionária de energia elétrica).
foram realizadas na cidade sede da concessionária
de energia elétrica. A partir do circuito secundário de Residência de consumo baixo
um certo transformador, escolheu-se quatro amostras Este consumidor, com um consumo médio mensal
de consumidores residenciais de um universo de 39. de 89 kWh/mês, é atendido apenas por uma fase. Na
A escolha foi baseada no consumo mensal de cada pesquisa, foi constatado que há um baixo número
residência, escolhendo, portanto, um consumidor com de eletrodomésticos nesta residência, havendo
consumo baixo, dois consumidores com consumos apenas uma televisão e um rádio como aparelhos
médios e um consumidor com consumo alto. A definição eletrônicos. A iluminação era essencialmente feita por
destes patamares foi realizada da seguinte forma: lâmpadas incandescentes. Outros eletrodomésticos
que merecem destaque são a geladeira e o chuveiro.
• Consumo abaixo de 200 kWh/mês – A Figura 1 apresenta a curva de corrente eficaz da fase
consumo baixo que alimenta este consumidor ao longo do tempo,
• Consumo entre 200 e 500 kWh/mês – enquanto a Figura 2 mostra o THDs desta curva de
consumo médio corrente. A Figura 3 apresenta o THD de tensão no
• Consumo acima de 500 kWh/mês – período de coleta de dados.
consumo alto Analisando as Figuras 1 e 2, pode-se inferir quais
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47
O Setor Elétrico / Junho de 2010
Figura 2 - THD de corrente ao longo do tempo para a residência com consumo baixo. Figura 5 - Forma de onda de corrente às 2h – consumo baixo.
Figura 3 - THD de tensão ao longo do tempo para a residência com Figura 6 - Forma de onda de corrente às 12h – consumo baixo.
consumo baixo.
Figura 4 - Forma de onda de corrente às 13h – consumo baixo. Figura 7 - Forma de onda de corrente às 21h – consumo baixo.
Tabela 2 - Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente da residência de consumo baixo
12h 13h 21h 2h
Irms = 1,337 Irms = 0,857 Irms = 2,189 Irms = 1,355
THDi = 9,02 THDi =105,15 THDi = 2,87 THDi = 7,68
Harmônicos F. crista = 1,26 F. crisra = 2,34 F. crista = 1,37 F. crista = 1,33
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 -59,99 100,00 0,22 100,00 -2,92 100,00 -53,82
3 7,96 69,99 79,83 -169,31 2,65 163,70 6,75 83,22
5 3,50 28,42 56,76 16,04 0,51 -151,24 3,74 0,09
7 1,20 -145,36 31,61 -158,61 - - - -
9 - - 10,62 22,66 - - - -
11 - - 3,00 106,33 - - - -
13 - - 6,55 -122,02 - - - -
15 - - 4,79 58,37 - - - -
17 - - 0,46 -124,27 - - - -
19 - - 2,38 -102,81 - - - -
21 - - 2,95 78,94 - - - -
21 - - 1,39 -105,43 - - - -
25 - - 0,54 17,92 - - - -
27 - - 1,55 134,46 - - - -
29 - - 1,42 -57,20 - - - -
31 - - 0,45 127,73 - - - -
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O Setor Elétrico / Junho de 2010
Figura 8 - Corrente eficaz ao longo do tempo para residência com consumo médio 1. Figura 13 - Forma de onda de corrente às 12h – consumo médio 1.
Figura 9 - THD de corrente ao longo do tempo para residência com consumo médio 1. Figura 14 - Forma de onda de corrente às 2h – consumo médio 1.
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Tabela 3
Conteúdos harmônicos das formas de onda de corrente da residência de consumo médio 1
12h 13h 21h 2h
Irms = 2,396 Irms = 1,259 Irms = 2,705 Irms = 2,387
THDi = 9,01 THDi = 105,27 THDi = 65,90 THDi = 7,13
Harmônicos F. crista = 1,49 F. crista = 3,00 F. crista = 2,18 F. crista = 1,26
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 -60,10 100,00 0,45 100,00 1,89 100,00 -57,51
3 7,87 111,15 80,03 10,78 51,34 -162,78 3,27 79,34
5 3,55 29,93 57,48 16,47 34,93 26,90 3,44 31,43
7 1,26 31,67 33,03 21,89 19,37 -143,80 1,37 -23,46
9 - - 12,03 22,75 8,09 49,92 1,11 -47,06
11 - - 2,29 87,31 2,74 -69,54 1,61 -165,45
13 - - 6,37 121,33 3,74 176,59 1,71 58,88
15 - - 5,06 119,58 3,85 18,72 1,14 -80,86
17 - - 1,33 116,86 1,74 -132,10 - -
19 - - 1,97 75,89 1,05 178,60 - -
21 - - 2,83 78,99 1,44 43,66 - -
23 - - 1,85 77,37 0,81 -94,41 - -
25 - - 0,48 0,23 0,65 -128,11 - -
27 - - 1,25 53,21 0,89 99,59 - -
29 - - 1,42 52,06 0,36 -13,35 - -
31 - - 0,53 38,32 0,75 -84,77 - -
O segundo consumidor medido neste padrão de consumo (Figura 15) é reconhecida como um ciclo de funcionamento da
tinha um consumo médio de 296 kWh/mês (nos gráficos é geladeira. O interessante é que, durante a madrugada, além do
chamado consumo médio 2). As Figuras 15, 16 e 17 apresentam compressor da geladeira algo mais em paralelo está ligado. Esta
a corrente eficaz, o THD de corrente e tensão ao longo do tempo, conclusão é tirada dos instantes em que o compressor se desliga e
respectivamente para este consumidor. a corrente eficaz não vai a zero. Pelo valor de corrente e seu THD,
Como na residência anterior, a maior parte da fuga de corrente além do horário, pode-se inferir que há uma lâmpada fluorescente
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O Setor Elétrico / Junho de 2010
Figura 15 - Corrente eficaz ao longo do tempo para residência com consumo médio 2.
Figura 16 - THD de corrente ao longo do tempo para residência com consumo médio 2.
Figura 17 - THD de tensão ao longo do tempo para residência com consumo médio 2. Figura 21 - Forma de onda de corrente às 21h – consumo médio 2.
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Tabela 4
Conteúdos harmônicos das formas de onda de corrente da residência de consumo médio 2
12h 15h 21h 2h
Irms = 2,602 Irms = 0,510 Irms = 2,234 Irms = 0,946
THDi = 15,74 THDi = 19,5 THDi = 3,75 THDi = 8,911
Harmônicos F. crista = 1,38 F. crista = 1,82 F. crista = 1,45 F. crista = 1,68
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 -42,13 100,00 -6,31 100,00 -16,48 100,00 -10,25
3 10,36 174,09 82,73 -169,04 3,48 -19,45 8,51 163,94
5 9,69 27,27 66,41 16,19 1,20 130,98 1,12 -172,74
7 5,77 -149,32 48,34 -155,97 0,69 64,47 1,86 146,68
9 3,33 33,65 28,24 33,49 - - 1,41 131,02
11 1,46 -133,03 12,48 -130,33 - - 1,10 117,51
13 - - 3,12 134,16 - - - -
15 - - 6,96 19,03 - - - -
17 - - 8,77 -144,18 - - - -
19 - - 6,57 48,35 - - - -
21 - - 3,15 -127,25 - - - -
23 - - 1,07 -163,19 - - - -
25 - - 2,52 55,44 - - - -
27 - - 3,29 -114,64 - - - -
29 - - 2,32 83,17 - - - -
31 - - 0,89 -89,40 - - - -
Figura 22 - Corrente eficaz em 24h – Consumo alto – Fases A e B. Figura 25 - THD de corrente em 24h – Consumo alto – Neutro.
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56
O Setor Elétrico / Junho de 2010
Isso também ocorre às 2h da manhã, mas ligado a ela havia outra carga
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Figura 27 - Formas de onda de corrente às 12h – consumo alto. Figura 30 - Formas de onda de corrente às 2h – consumo alto.
Tabela 5
Conteúdo harmônico da forma de onda de corrente da residência de consumo alto às 12h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 7,607 Irms = 1,962 Irms = 0,312 Irms = 6,322
THDi = 4,17 THDi = 6,08 THDi = 75,89 THDi = 8,31
Harmônicos F. crista = 1,44 F. crista = 1,39 F. crista = 2,85 F. crista = 1,44
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 5,37 100,00 -130,78 100,00 89,94 100,00 -3,99
3 3,64 83,43 4,49 68,21 43,30 27,53 7,02 71,45
5 1,49 -18,78 3,83 -73,43 40,33 -116,97 3,47 -62,71
7 - - - - 33,92 134,72 1,60 166,89
9 - - - - 24,06 18,18 1,39 49,74
11 - - - - 17,40 -99,08 - -
13 - - - - 12,03 148,18 - -
15 - - - - 6,70 35,80 - -
17 - - - - 3,50 -77,71 - -
19 - - - - 2,14 -168,33 - -
21 - - - - 0,80 140,04 - -
23 - - - - 0,98 64,15
25 - - - - 0,92 -25,44
27 - - - - 1,50 -127,59
29 - - - - 1,31 115,70
31 - - - - 1,32 0,28
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58
O Setor Elétrico / Junho de 2010
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 6
Conteúdo harmônico da forma de onda de corrente da residência de consumo alto às 18h
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 7,650 Irms = 5,393 Irms = 1,719 Irms = 4,317
THDi = 4,27 THDi = 22,83 THDi = 92,95 THDi = 45,06
Harmônicos F. crista = 1,45 F. crista = 1,43 F. crista = 2,78 F. crista = 1,63
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 6,95 100,00 -132,67 100,00 114,37 100,00 -26,07
3 3,37 68,51 16,94 114,90 73,73 -2,35 30,45 60,48
5 2,28 -39,09 13,98 -53,88 47,36 -132,37 29,34 -76,51
7 - - 5,29 143,06 24,64 92,36 13,46 127,40
9 - - 1,12 -38,01 12,67 -62,88 5,49 -42,07
11 - - 0,82 -1,7 8,13 141,47 1,52 120,53
13 - - 1,45 173,04 3,78 -25,70 1,26 -142,24
15 - - 1,12 22,14 4,09 142,09 1,53 91,25
17 - - 0,66 -87,9 4,24 5,71 1,69 -12,04
19 - - 1,15 177,07 1,94 -92,25 1,32 -140,99
21 - - 1,24 38,54 1,98 -108,83 1,13 48,32
23 - - - - 3,28 156,51 1,16 -134,58
25 - - - - 2,29 54,31 - -
27 - - - - 0,68 -15,49 - -
29 - - - - 1,31 -27,65 - -
31 - - - - 1,47 -133,60 - -
Tabela 7
Conteúdo harmônico da forma de onda de corrente da residência de consumo alto às 21h
Fase A* Fase B Fase C Neutro
Irms = 0 Irms = 2,749 Irms = 4,303 Irms = 2,202
THDi = - THDi = 30,86 THDi = 47,47 THDi = 83,32
Harmônicos F. crista = - F. crista = 1,80 F. crista = 2,05 F. crista = 1,72
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 - - 100,00 -122,96 100,00 96,03 100,00 -171,50
3 - - 23,43 114,59 39,21 20,76 58,29 62,74
5 - - 16,98 -70,43 20,54 -99,39 49,98 -79,28
7 - - 8,63 110,83 4,73 93,79 19,09 113,03
9 - - 1,12 -38,01 12,67 -62,88 5,49 -42,07
11 - - 1,66 -145,88 9,83 167,81 13,86 -173,19
13 - - 2,74 106,81 4,60 74,43 9,47 101,8
15 - - 1,65 -40,86 2,05 95,60 1,88 40,3
17 - - 0,43 -44,19 4,59 22,93 5,80 34,38
19 - - 1,31 166,93 4,00 -64,15 3,89 -69,11
21 - - 1,00 -37,57 2,28 -121,40 3,23 -72,46
23 - - 1,43 118,95 2,36 -167,97 4,01 -175,84
25 - - 1,00 -46,00 2,21 116,29 1,32 121,93
27 - - 0,31 -46,01 1,10 46,65 1,35 54,53
29 - - 1,12 172,88 0,89 28,17 1,03 166,4
31 - - 0,61 16,61 0,99 -38,13 1,83 18,28
* Compressor da geladeira desligado, apresentando baixos valores de corrente, fazendo o instrumento de medição não medir o conteúdo harmônico.
Tabela 8
Conteúdo harmônico da forma de onda de corrente da residência de consumo alto às 2h da manhã
Fase A Fase B Fase C Neutro
Irms = 1,590 Irms = 0,505 Irms = 1,140 Irms = 1,392
THDi = 12,04 THDi = 21,57 THDi = 24,00 THDi = 27,91
Harmônicos F. crista = 1,41 F. crista = 1,60 F. crista = 1,97 F. crista = 1,54
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus)
1 100,00 9,81 100,00 -113,15 100,00 107,94 100,00 41,50
3 10,94 100,73 18,08 127,78 19,49 6,19 21,82 67,21
5 4,57 -58,04 11,27 -98,43 7,54 -115,07 14,31 -86,43
7 0,97 -115,07 1,69 93,80 8,86 109,18 7,12 121,57
9 - - 1,59 108,69 5,98 23,66 4,84 43,99
11 - - 2,12 -93,27 3,15 -123,66 3,13 -103,92
13 - - - - 3,09 143,61 2,60 151,85
15 - - - - 1,03 49,67 - -
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com ênfase em qualidade da energia elétrica.
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
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Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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O Setor Elétrico / Julho de 2010
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Capítulo VII
Tabela 1
Consumidores comerciais
N° Ramo de atuação Ia Ib Ia Ib Va Vb
1 Escritório administrativo 15,30 1,89 10,69 6,04 3,01 2,51
2 Bar 9,42 7,44 6,91 4,84 1,52 2,35
3 Contabilidade 15,17 20,17 6,47 15,05 2,68 2,67
4 Curso de informática 7,57 8,47 84,17 79,09 1,52 1,45
5 Escritório de jornalismo 4,52 4,54 30,39 28,27 1,50 1,17
6 Salão de beleza 15,14 13,81 9,81 26,03 1,97 2,36
7 Seguradora 15,14 13,81 9,81 26,03 1,97 2,36
8 Venda de bijuterias 14,36 25,54 28,90 28,23 1,96 1,83
10 Venda de cosméticos 7,23 11,13 27,78 44,12 2,08 1,55
11 Venda de roupas 4,02 0,89 8,75 67,14 1,35 1,97
Ieficaz média (A) THDI-médio (%) THDV - médio (%)
Ia Ib Ic Ia Ib Ic Ia Ia Ia
12 Agência de turismo 13,60 13,90 10,70 5,72 10,62 53,31 1,47 2,35 2,00
13 Escritório de advogados 13,79 14,53 19,38 31,34 7,76 17,14 3,36 3,10 2,89
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41
O Setor Elétrico / Julho de 2010
• Venda de roupas
• Venda de computadores
• Curso de informática
• Agência de turismo
Venda de roupas
Esse consumidor apresentava uma curva de demanda
invariável no tempo de medição coletado. As cargas presentes Figura 1 – Corrente eficaz ao longo do tempo – Venda de roupas.
Tabela 2
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Venda de roupas
Fase A Fase C Figura 7 – THD de corrente ao longo do tempo – Venda de computadores.
Irms = 4,055 A Irms = 0,891 A
THDi = 8,62% THDi = 67,23% Comparando as curvas das Figuras 5 e 6, chega-se à conclusão
Harmônicos Fator de crista = 1,48 Fator de crista = 1,12
de que há uma correlação inversa entre a curva de valor eficaz
Módulo (%) Ângulo (graus) Módulo (%) Ângulo (graus) de corrente e seu THD, conclusão essa também conseguida nos
1 100,00 -54,04 100,00 101,73
2 – – 61,26 -40,80 consumidores residenciais.
3 8,54 -30,42 21,63 -158,70 O ciclo de funcionamento visualizado na Figura 5 acontece
4 – – 4,04 20,59
simultaneamente nas duas fases, indicando que o ar-condicionado
5 1,54 -155,75 5,23 -112,53
7 1,00 109,56 4,62 120,18 era bifásico. Como na curva de corrente há dois momentos distintos,
9 0,45 41,08 0,78 66,30 um de menor valor eficaz de corrente e outro de maior valor, as
Figuras 8 e 9 apresentam formas de ondas nesses dois instantes.
Venda de computadores
A Tabela 3 traz o conteúdo harmônico de corrente nos instantes
Esse consumidor apresenta uma curva de carga variável em
mencionados.
um ciclo determinado (Figura 5). Isso se deve à presença de
ar-condicionado com termostato que desliga o compressor do ar
quando atinge o nível de temperatura determinado. A curva de
corrente desse consumidor se assemelha às curvas de corrente do
escritório de jornalismo, agência de turismo, escritório de advogados,
bar e salão de beleza.
A variabilidade de carga do bar se deve a dois refrigeradores
enquanto no salão de beleza seria a utilização de secadores de
cabelo, além do ar-condicionado também ali presente. A Figura 5 Figura 8 – Forma de onda de corrente – Venda de computadores – Menor
valor eficaz de corrente.
Curso de informática
O curso de informática foi escolhido para aqui ser exposto o seu
alto THD de corrente nas fases medidas. Várias referências descrevem
os problemas relativos a Centros de Processamento de Dados (CPDs)
devido aos harmônicos gerados pelos computadores desses locais.
O curso de informática medido continha 15 computadores.
Alimentado por duas fases, tinha como iluminação lâmpadas
fluorescentes convencionais. As Figuras 10 e 11 apresentam a curva
Figura 12 – THD de tensão ao longo do tempo – Curso de informática.
de corrente eficaz e THD de corrente ao longo do tempo e a Figura
12 mostra o THD de tensão durante a medição.
A medição iniciou-se por volta das 13h20. O treinamento iniciava
às 14h e terminava às 17h, momento em que a medição foi concluída.
A Figura 10 mostra o alto nível de distorção harmônica durante o
funcionamento do treinamento. Isso, em alguns casos, pode se tornar
crítico devido, principalmente, ao nível de potência demandada.
Tabela 4
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Curso de informática
Fase A Fase C
Irms = 9116 A Irms = 11,100 A
THDi = 81,63% THDi = 71,70%
Harmônicos Fator de crista = 2,30 Fator de crista = 2,34
Agência de turismo
A agência de turismo era uma loja com um grande número de cargas
instaladas, predominantemente computadores, sendo então alimentada
por três fases. O escritório de advogados também era atendido por três
fases, tendo um comportamento semelhante à agência de turismo. A
Figura 11 – THD de corrente ao longo do tempo – Curso de informática. Figura 14 traz a curva de corrente eficaz ao longo do tempo. As fases
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45
O Setor Elétrico / Julho de 2010
Prédio comercial
Na mesma cidade em que foram realizadas as medições dos
consumidores residenciais e comerciais, mediu-se o Prédio Administrativo
da Concessionária de Energia Elétrica (Pacee). Várias referências tratam da
Figura 15 – THD de corrente ao longo do tempo – Agência de turismo. temática de harmônicos em prédios comerciais.
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46
O Setor Elétrico / Julho de 2010
Tabela 5
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 7 Tabela 9
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Horário de expediente Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Madrugada
Fase A Fase B Fase C
Irms = 208,52 Irms = 276,29 Irms = 260,92 Fase A Fase B Fase C
THDi = 8,39 THDi = 5,52 THDi = 9,43 Irms = 9,856 Irms = 9,693 Irms = 12,643
F. crista = 1,56 F. crista = 1,53 F. crista = 1,55 THDi = 63,74 THDi = 13,11 THDi = 46,97
Harmônicos Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo F. crista = 2,36 F. crista = 1,66 F. crista = 2,06
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) Harmônicos Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
1 100,00 -2,30 100,00 -127,12 100,00 108,88 (%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
2 1,40 -21,66 0,47 -98,96 1,29 112,23 1 100,00 17,69 100,00 -117,24 100,00 101,67
3 6,81 -168,88 5,30 -174,20 8,28 -155,31 3 47,39 -157,09 9,33 -154,50 39,78 -147,39
5 2,29 -32,07 1,87 79,54 2,73 -150,22 5 32,32 5,58 5,12 96,06 21,16 -97,45
7 1,44 149,20 1,41 31,50 1,74 -138,14 7 22,91 -168,27 3,85 55,96 8,84 -43,98
9 11,41 0,73 3,19 -1,24 6,25 -34,37
Tabela 8 11 5,26 138,63 1,91 -67,83 4,75 18,25
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente – Horário de almoço
13 4,71 -88,72 1,65 -152,48 1,12 69,01
Fase A Fase B Fase C
Irms = 126,70 Irms = 144,02 Irms = 150,21 15 4,88 70,28 1,02 102,60 2,24 2,23
THDi = 9,19 THDi = 5,20 THDi = 7,96 17 2,40 -136,56 1,23 68,87 2,82 82,67
F. crista = 1,56 F. crista = 1,50 F. crista = 1,50 19 1,93 -8,49 0,94 -7,73 1,05 179,45
Harmônicos Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo 21 2,66 117,15 1,20 20,16 1,01 46,74
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) 23 1,99 -29,29 0,42 36,20 1,36 133,96
1 100,00 -2,42 100,00 -126,61 100,00 105,21 25 1,37 54,12 1,25 118,72 0,35 -107,67
2 1,18 -30,10 1,60 178,74 1,75 65,28 27 0,97 153,90 3,86 -31,12 0,45 120,16
3 7,95 -175,12 4,75 -177,29 7,46 -152,37 29 2,35 11,77 1,44 153,29 0,71 -171,31
5 2,18 -22,26 1,18 63,47 1,48 -140,76
7 1,21 151,11 0,83 14,97 0,92 -117,18
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com ênfase em qualidade da energia elétrica.
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O Setor Elétrico / Agosto de 2010
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Capítulo VIII
Transformador de consumidores
residenciais
As Figuras 1 e 2 trazem as correntes eficazes
das fases e neutro ao longo do tempo enquanto as
Figuras 3, 4 e 5 mostram os THDs de corrente e
tensão no mesmo tempo.
Figura 2 – Corrente eficaz ao longo do tempo – Transformador
de consumidores residenciais – Fase C e neutro.
Tabela 1 Transformadores
Nº. Ieficaz médio (A) THDI-médio (%) THDI-médio (%)
Ia Ib Ic In Ia Ib Ic In Va Vb Vc
1 38,58 43,08 45,88 17,60 7,48 8,33 8,24 26,90 1,21 1,07 1,33
2 76,81 100,41 82,41 35,89 9,65 8,35 8,34 51,63 1,84 1,75 1,83
3 103,65 128,49 97,69 35,59 10,14 6,48 6,00 55,22 1,85 1,82 1,77
4 169,32 138,50 193,71 55,73 14,20 13,69 20,35 165,35 1,67 1,51 1,54
1. Transformador de consumidores residenciais (45 kVA)
2. Transformador de consumidores residenciais e comerciais (75 kVA)
3. Transformador de consumidores residenciais e comerciais (112,5 kVA)
4. Transformador de consumidores comerciais (225 kVA)
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O Setor Elétrico / Agosto de 2010
Figura 25 – Corrente eficaz ao longo do tempo de medição – Transformador Figura 29 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores
de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA – Fase C e Neutro. residenciais e comerciais de 112,5 kVA – 2h.
Figura 26 – THD de corrente ao longo do tempo de medição – Transformador Figura 30 – Forma de onda de corrente – Transformador de consumidores
de consumidores residenciais e comerciais de 112,5 kVA – Fases A, B e C. residenciais e comerciais de 112,5 kVA – 12h.
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47
O Setor Elétrico / Agosto de 2010
harmônicas, além da medição de um prédio comercial. Também corrente distorcida no horário de ponta e grande nível
Harmônicos provocados
por eletroeletrônicos
foram mostradas medições realizadas nos transformadores que de 3º harmônico no neutro, maior que o encontrado em
alimentavam estes e outros consumidores. transformadores puramente residenciais.
Nas medições, foram apresentadas curvas de corrente, THD
de corrente e tensão ao longo do tempo. Além dessas curvas, as Referências (para os capítulos VI, VII e VIII)
formas de onda em alguns instantes também foram mostradas. - SIQUEIRA F. J. B.; SILVA, E. P. de. Harmônicos e capacitores em prédios
comerciais: análise de um caso real. Eletricidade Moderna, fevereiro 1998.
Consumidores residenciais com consumo baixo, médio e alto - JARDINI, J. A. et al. Curva de carga de consumidores comerciais e industriais
e também consumidores comerciais de diferentes ramos foram em baixa tensão. Eletricidade Moderna, abril 1998.
- MOORE, P. J.; PORTUGUÉS, I. E. The Influence of Personal Computer
medidos.
Processing Modes on Line Current Harmonics. IEEE Transactions on Power
Das curvas apresentadas, notou-se uma correlação inversa Delivery, v. 18, n. 4, october 2003.
entre a corrente demanda e sua distorção, ou seja, quanto - AZEVEDO, A. C. et al. Diagnóstico, análise e sugestões relativa à qualidade
de energia elétrica em centro de processamento de dados – CPD´s´. III
maior o valor da corrente eficaz menor o seu THD e vice-versa.
SBQEE – Seminário Brasileiro de Qualidade de Energia Elétrica, ST 8 – IT
O transformador que alimentava os consumidores residenciais 61, Brasília, 8 a 12 de agosto de 1999.- LIEW, A. Excessive Neutral Currents
tem a corrente mais distorcida no horário de ponta. Isso se in Three-Phase Fluorescent Ligthing Circuits. IEEE Transactions on Industry
Applications, v. 25, n. 4, agosto 1989.
deve pela maior utilização de aparelhos nesse horário, sendo
- AINTABLIAN, H. The Harmonic Currents of Commercial Office Buildings
ainda estes aparelhos produtores de harmônicos (televisores, due to Non-Linear Eletronic Equipment, SouthCom/96, Conference Record,
LFCs, etc.). 25-27 June 1996, p. 610-613.
- MORRISON, R. E. Harmonic Distortion in Commercial Establishments. IEE
Já no transformador que alimentava os consumidores
Colloquium on Sources and Effect of Harmonic Distortion in Power Systems,
comerciais pudemos notar os momentos de funcionamento do 1997.
comércio. Destaque para o nível de 3º harmônico no neutro,
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
devido ao grande número de cargas não lineares presente:
engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com
computadores, LFCs, etc. ênfase em qualidade da energia elétrica.
Por fim, nos transformadores que alimentavam tanto
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
consumidores residenciais quanto comerciais, nota-se a Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail redacao@
convergência da análise dos transformadores anteriores: atitudeeditorial.com.br
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O Setor Elétrico / Setembro de 2010
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Capítulo IX
Simulação de um sistema de
distribuição em áreas residenciais
e comerciais - Parte I
Igor Amariz Pires*
Este capítulo tem como objetivo avaliar o Como o ATP é um simulador baseado em
estado atual de um sistema de distribuição em áreas modelos temporais e não no domínio da frequência,
residenciais e comerciais, no que diz respeito ao seu uma vantagem na sua utilização é a capacidade
nível de distorção de tensão, a partir da interação das de interação entre os ângulos de fase das correntes
correntes harmônicas dos aparelhos eletrodomésticos harmônicas produzidas por várias cargas não lineares.
e dos consumidores residenciais e comerciais. Para Além disso, os modelos de elementos do sistema de
tal, várias simulações foram conduzidas a partir das distribuição e fontes de tensão e corrente já existem no
medições apresentadas nos capítulos anteriores. ATP. Bastava, então, modelar as cargas não lineares e
As simulações iniciaram com cenários harmônicos seus conjuntos. Estas foram modeladas como fonte de
encontrados em residências e estabelecimentos correntes harmônicas.
comerciais, devido à interação de suas cargas. Ou Esta modelagem é precisa desde que as distorções
seja, foram simuladas as interações das correntes de tensão nas fontes de harmônicos sejam menores que
harmônicas de vários eletrodomésticos presentes nos 10%. Na referência Modeling and Simulation of the
consumidores residenciais e comerciais, avaliando seu Propagation of Harmonics in Electric Power Networks,
resultado no padrão de medição. Depois, simulou-se esta modelagem é apresentada principalmente
uma rede secundária do sistema de distribuição que para cargas eletrônicas. Várias referências utilizam
alimentava os consumidores residenciais apresentados esta modelagem tendo um ramo paralelo R-L para
no Capítulo VI, em três situações de carga: baixa, média representar o conteúdo de potência do ambiente e
e alta. Por fim, estes resultados foram extrapolados para fontes de correntes harmônicas para o conteúdo não
o circuito primário e, assim, simulou-se o sistema de linear.
distribuição de média tensão, também nas situações de Na modelagem das cargas, o ramo paralelo R-L
cargas descritas. foi utilizado para representar a corrente fundamental.
As simulações foram realizadas com o programa Isso permitiu suprimir algumas oscilações que estavam
computacional ATP (do inglês, Alternative Transient ocorrendo quando se utilizavam apenas fontes de
Program). O trabalho Power Quality Analysis using corrente em simulações no ATP. Em algumas cargas,
Electromagnetic Transient Programs, que consta nas principalmente nas cargas eletrônicas, a corrente
Referências, as possibilidades de simulação que o ATP/ fundamental teve de ser representada por um ramo
EMTP fornece para a temática de qualidade de energia paralelo R-C devido ao ângulo da fundamental. Nos
elétrica, tais como avaliação de sag/swell, harmônicos, harmônicos, as fontes de correntes harmônicas tiveram
dentre outros. Já o trabalho Simulation of Power Quality seus módulos e ângulos inseridos. Os resultados,
Problems on a University Distribution System, também somente com fontes de harmônicos ou fontes e paralelo
utilizado como referência para este capítulo, apresenta R-L, eram exatamente os mesmos.
um estudo de caso de um sistema de distribuição de As fontes harmônicas eram reproduzidas até
uma universidade utilizando o ATP. o harmônico que apresentava módulo acima de
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41
O Setor Elétrico / Setembro de 2010
1% em relação à corrente fundamental, no máximo até o 31º, lineares, principalmente aquelas responsáveis por algum tipo de
devido a este ser o limite de medição. Esta escolha foi feita (1% aquecimento, foram modeladas com um simples resistor.
sendo o limite mínimo de representação de fontes harmônicas) Para a simulação, com cada eletrodoméstico representado por
para reproduzir o mais fielmente possível as ondas de corrente, um “bloco”, estes foram postos em um barramento de uma fase
conforme as medições apresentadas nos capítulos anteriores. A com uma fonte de tensão ideal. A corrente demandada deste grupo
Figura 1 apresenta a modelagem realizada, no caso de uma carga de eletrodomésticos foi o foco nestas simulações. A Tabela 1 traz
com até o 11º harmônico. as situações simuladas com seus respectivos resultados: corrente
eficaz e THD de corrente. A tabela está organizada pela distorção
de corrente, iniciando pela menor.
As simulações executadas não serão todas aqui detalhadas.
Todos os resultados das simulações (formas de onda e seus
conteúdos harmônicos) serão apresentados no Capítulo XI.
Algumas merecem destaque, como a simulação de número 23, em
Figura 1 – Modelagem de cargas por fonte de correntes harmônicos e
ramo paralelo R-L. que havia um aparelho de televisão em um ambiente iluminado
por uma lâmpada incandescente de 100 W, tem sua forma de onda
Formas de ondas de conjunto de eletrodomésticos de corrente apresentada na Figura 2.
em consumidores residenciais e comerciais Esta figura é bem parecida com a Figura 11 do Capítulo VI, que
O objetivo desta simulação era encontrar as correntes nos retrava a situação no consumidor residencial de consumo médio 1
padrões de medição destes consumidores, analisando a não às 21 horas. A diferença na Figura 11 do Capítulo IV para a Figura
linearidade que estes consumidores produzem na rede de 2 deste é que a porção não linear era muito maior que na simulada
distribuição. Assim, cada eletrodoméstico foi modelado conforme aqui, o que explica a maior distorção de corrente (65,90% na Figura
a Figura 1, produzindo um “bloco” de fontes de correntes 11 do Capítulo VI contra 49,67% na Figura 2 deste capítulo). Outra
harmônicas. A modelagem dos eletrodomésticos foi realizada simulação que merece destaque é a de número 20 (computador, com
a partir das medições apresentadas anteriormente. Cargas ambiente iluminado por LFC de 25 W e televisão, com mais um
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42
O Setor Elétrico / Setembro de 2010
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Tabela 1
Simulações de cenários harmônicos em consumidores residenciais e comerciais
Nº Situação Irms THDi
1 Chuveiro (4400 W) com ambiente iluminado por lâmpada fluorescente com reator eletromagnético de 1x40 W, secador 42,92 0,45
de cabelo (1000 W) com ambiente iluminado por LFC de 25 W.
2 Chuveiro com lâmpada fluorescente com reator eletrônico 47,06 0,58
1x40 W, freezer, geladeira, aparelho de som e secador de cabelos com LFC 25 W
3 Chuveiro, freezer e geladeira 38,53 1,18
4 Ferro de passar (1000 W), tanquinho, geladeira e televisão 11,38 4,86
5 Telefone sem fio, geladeira e freezer 6,48 7,00
6 Freezer, geladeira e televisão 6,70 7,14
7 Telefone sem fio e geladeira 1,89 7,29
8 Freezer, geladeira, micro-ondas e lavadora de roupas 20,84 8,24
9 Ar condicionado 10500 BTU, televisão e videocassete com LFC de 25 W, geladeira 10,74 11,60
10 Ar condicionado, televisão e LFC de 25 W 7,868 12,55
11 Lavadora de roupas, liquidificador, micro-ondas e televisão 17,83 13,06
12 Tanquinho, compressor da geladeira ligado e televisão 4,223 13,18
13 Televisão, em ambiente iluminado por LFC de 25 W, compressor da geladeira ligado e cozinha utilizando iluminação 2,729 13,51
fluorescente de reator eletromagnético 1x40 W.
14 Ar-condicionado 10500 BTU, televisão e videocassete com LFC de 25W 9,05 13,66
15 Freezer, geladeira e micro-ondas 14,91
16 Televisão, com o ambiente iluminado por LFC de 25 W, compressor da geladeira ligado e alguém jantando na cozinha 2,420 16,88
utilizando iluminação fluorescente de reator eletrônico 1x40 W.
17 Freezer, geladeira, micro-ondas e fluorescente de reator eletrônico 2 (1x40 W) e televisão com LFC 25 W 15,63 17,52
18 Micro-ondas com iluminação fluorescente de reator eletrônico 1x40 W e compressor da geladeira ligado 12,06 18,74
19 Micro-ondas com iluminação fluorescente de reator eletrônico 1x40 W 10,75 23,69
20 Computador, em ambiente iluminado por LFC de 25 W e televisão, com mais um ambiente iluminadopor LFC de 25 W 2,993 28,07
e compressor da geladeira ligado 33,70
21 Ventilador de teto, televisão e videocassete com LFC de 25 W 1,780 35,86
22 Computador, com ambiente iluminado por lâmpada incandescente de 60 W e televisão, com ambiente iluminado por 2,501 43,90
lâmpada incandescente de 100 W
23 Televisão em ambiente iluminado por lâmpada incandescente de 100 W 1,319 49,67
24 Televisão e videocassete com LFC de 25 W e aparelho de som com LFC de 25 W 1,484 71,12
25 Computador, com ambiente iluminado por LFC de 25 W 0,906 79,95
26 Computador, com ambiente iluminado por LFC de 25 W e televisão, com ambiente iluminado por LFC de 25 W 1,646 80,19
27 Televisão, com o ambiente iluminado por LFC de 25 W 0,744 81,36
28 Televisão e videocassete com LFC de 25 W e computador com LFC de 25 W, telefone sem fio 1,843 81,97
29 Televisão e videocassete com LFC de 25 W e computador com LFC de 25 W 1,826 82,75
30 Televisão e videocassete com LFC de 25 W, televisão e vídeo game com LFC de 25 W 1,656 91,38
residencial de alto consumo às 21h). Na Figura 29 do Capítulo VI, Sistema de um alimentador de distribuição
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
interação entre uma televisão e uma lâmpada incandescente. 2 e quatro de consumo alto. Os consumos das residências,
Porém, esta forma de onda é encontrada na interação de uma fornecidos pela concessionária, estão listados na Tabela 2,
carga resistiva com um aparelho eletrônico. ordenados pelo consumo mensal.
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46
O Setor Elétrico / Setembro de 2010
Das Figuras 7, 8 e 9, apenas as correntes de fase às conjunto de residenciais com a mesma corrente harmônica
12h ficaram fortemente desbalanceadas. Isso se explica na e mais chuveiros para completar a potência medida no
modelagem das residências. A carga da residência de consumo transformador, as diferenças podem ter ocorrido devido a esse
alto estava fortemente desequilibrada nas três fases, com uma tipo de modelagem.
corrente de valor alto na fase A, fazendo a resultante ser alta
Tabela 4
nesta fase. Os conteúdos harmônicos das formas de onda estão Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente da Figura 8 (2h)
Fase A Fase B Fase C
apresentados nas Tabelas 3, 4 e 5. Irms = 38,13 A Irms = 36,34 A Irms = 37,28 A
Harm. THDi = 8,90% THDi = 11,51% THDi = 7,66%
Tabela 3 Fator de crista = 1,38 Fator de crista = 1,38 Fator de crista = 1,41
Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente da Figura 7 (12h)
Fase A Fase B Fase C Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
Irms = 43,47 A Irms = 17,72 A Irms = 25,02 A
THDi = 4,05% THDi = 8,34% THDi = 6,74% 1 100,00 -14,28 100,00 -136,25 100,00 94,92
Harm.
Fator de crista = 1,47 Fator de crista = 1,52 Fator de crista = 1,46 3 4,00 -48,13 6,54 -53,12 5,09 9,08
Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo 5 7,68 92,33 9,16 -143,81 5,27 -43,38
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus) 7 1,33 -5,04 1,02 -94,44 1,39 95,13
1 100,00 -15,62 100,00 -168,84 100,00 82,42 9 0,26 -126,63 0,49 142,73 0,45 -51,72
3 1,85 -145,58 6,24 61,15 4,87 64,56 11 1,32 -88,59 1,17 41,90 1,50 144,52
5 3,32 17,67 4,49 147,75 4,27 -98,47
7 0,87 -151,52 2,88 124,09 1,07 -23,93
Tabela 5
9 0,94 26,83 0,52 -146,37 1,20 10,57 Conteúdo harmônico das formas de onda de corrente da Figura 9 (21h)
11 0,59 -166,19 1,39 -57,83 0,94 85,32 Fase A Fase B Fase C
Irms = 70,23 A Irms = 67,99 A Irms = 73,01 A
Harm. THDi = 5,50% THDi = 10,05% THDi = 9,22%
Comparando os valores simulados com os valores medidos Fator de crista = 1,48 Fator de crista = 1,57 Fator de crista = 1,67
de corrente no transformador (Tabelas 2, 3 e 4 do Capítulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo
(%) (graus) (%) (graus) (%) (graus)
VIII), os valores resultantes da simulação ficaram mais 1 100,00 -1,33 100,00 -119,12 100,00 117,61
equilibrados do que os encontrados nas medições. Os valores 3 2,34 -39,95 3,21 164,59 6,69 -154,02
5 4,19 67,07 9,04 -154,53 6,19 -60,66
de THD de corrente também apresentaram diferença, que
7 1,17 -114,20 0,28 -28,30 1,42 -26,50
pode ser explicada pela diferença de correntes harmônicas de 9 0,27 -151,42 1,49 1,59 0,89 32,32
cada residência. Como para a simulação foi considerado um 11 1,12 -93,51 1,77 70,20 0,88 154,85
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48
O Setor Elétrico / Setembro de 2010
Capítulo X
Simulação de um sistema de
distribuição em áreas residenciais
e comerciais - Parte II
Igor Amariz Pires*
Com os resultados das correntes nos primários nas 3). Dos resultados encontrados, calculou-se o THD de tensão
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
situações das residências uniformemente distribuídas e nestes pontos, que são apresentados nas Tabelas 3 e 4.
dos transformadores, os horários de 12h, 21h e 2h foram Analisando os resultados apresentados nas Tabelas 3 e
simulados. Estes resultados foram modelados e distribuídos ao 4, os maiores valores de THDs de tensão são encontrados às
longo do alimentador, sendo o alimentador também modelado 21h. Este instante é também o instante de maior carregamento
conforme as suas características físicas anteriormente nos transformadores e, por consequência, no alimentador dos
apresentadas. três horários analisados nos resultados obtidos por meio de
Houve duas simulações: uma simulação realizada com simulações.
transformadores de 45 kVA, 75 kVA e 112,5 kVA, e uma Os momentos de maior carregamento no alimentador
segunda simulação com transformadores modelados a partir terão maior distorção na forma de onda. Isso é explicado
dos resultados da simulação das residências uniformemente por não haver uma variação muito brusca na distorção de
distribuídas, ou seja, da simulação do sistema secundário de corrente nos instantes analisados. Assim, quanto maior o
distribuição. Neste último caso, como o resultado da simulação valor de corrente, tão maior serão os valores absolutos dos
do conjunto de residências era para um transformador de 45 harmônicos e da fundamental. Assim, as quedas de tensão
kVA, este resultado foi extrapolado para os transformadores de devido aos harmônicos serão maiores e, por consequência,
75 kVA e 112,5 kVA, por meio de uma regra de três simples. levarão a uma maior distorção na tensão.
Avaliou-se a tensão nas simulações em três pontos Na Tabela 3, os THDs de tensão às 12h são menores do
distintos (Figura 1): próximo à subestação (medição 1), meio que às 2h. Já na Tabela 4 ocorre o inverso. Isso só acontece na
do alimentador (medição 2) e no fim do alimentador (medição Tabela 3 porque o alimentador tem somente as características
Tabela 3 dos transformadores de consumidores residenciais. Já na
THDs de tensão ao longo do alimentador – simulação a partir de
transformadores com residências uniformemente distribuídas Tabela 3, os transformadores levaram em conta a contribuição
Próximo à subestação dos consumidores comerciais, o que em um transformador
Fase A Fase B Fase C que alimenta estes consumidores em conjunto com
12h 0,08 0,08 0,07 consumidores residenciais às 12h há uma maior carga que às
21h 0,23 0,57 0,23
2h de madrugada, por isso, a distorção, às 12h, será maior.
2h 0,15 0,16 0,13
Meio do alimentador
Conclusões gerais
Fase A Fase B Fase C
Algumas simulações foram apresentadas neste e no
12h 0,39 0,4 0,32
capítulo anterior, que tiveram como objetivo mostrar como
21h 1,13 1,7 1,17
2h 0,74 0,82 0,67 a corrente demandada em uma residência ou comércio
Fim do alimentador fica alterada com a interação de vários eletrodomésticos.
Fase A Fase B Fase C Além disto, também foram investigadas como as correntes
12h 0,64 0,65 0,53 harmônicas distorcem a tensão ao longo de um alimentador
21h 1,85 2,62 1,93 secundário e também ao longo de um alimentador primário.
2h 1,21 1,36 1,11 Trinta simulações da interação de vários eletrodomésticos
Tabela 4
foram conduzidas. Os eletrodomésticos foram modelados e,
THDs de tensão ao longo do alimentador – simulação a partir a partir dessas simulações, percebeu-se também a correlação
das medições em transformadores
Próximo à subestação inversa entre a corrente eficaz e seu THD. Esta correlação
Fase A Fase B Fase C é explicada por serem ainda as cargas lineares as cargas de
12h 0,64 0,77 0,58 maior potência em consumidores residenciais e comerciais,
21h 0,50 1,06 0,71 nos casos investigados.
2h 0,42 0,56 0,45
A partir das medições de consumidores residenciais e
Meio do alimentador
comerciais e transformadores, foram realizadas simulações
Fase A Fase B Fase C
em um circuito de baixa tensão (220 V) e outra simulação em
12h 1,06 1,3 0,98
um circuito de média tensão (11,4 kV). A simulação de baixa
21h 0,82 1,65 1,17
2h 0,71 0,93 0,76 tensão foi realizada sem e com uma pré-distorção na fonte de
Fim do alimentador tensão.
Fase A Fase B Fase C Das simulações dos circuitos, pode-se perceber que a
12h 0,64 0,65 0,53 tensão vai ficando mais distorcida à medida que o circuito
21h 1,85 2,62 1,93 se distancia do transformador da subestação que atende o
2h 1,21 1,36 1,11 alimentador. Isso se deve às quedas de tensão harmônicas
Apoio
43
O Setor Elétrico / Outubro de 2010
que vão ocorrendo no alimentador conforme se distancia da Conference on Research and Development (Scored), 2003,
subestação. Apesar das distorções de tensão encontradas na Putrajaya, Malaysia.
simulação, em nenhum caso foram encontradas distorções Task Force on Harmonics Modeling and Simulation, Modeling
que estivessem acima das normas. and Simulation of the Propagation of Harmonics in Electric
Nos próximos capítulos, serão apresentadas informações Power Networks - Part I: Concepts, Models and Simulation
adicionais desse trabalho, que, originalmente, eram apêndices Techniques, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 11, n. 1,
da dissertação de mestrado que deu origem a esse fascículo. January 1996.
No final, serão feitas proposições para trabalhos futuros, Task Force on Harmonics Modeling and Simulation, Test
dando continuidade ao tema. Systems for Harmonic Modeling and Simulation, IEEE
Transaction on Power Delivery, v. 14, n. 2, April 1999.
Referências WANG, Y. et al. Modeling and Prediction of Distribution
IEEE std. 519-1992, IEEE Recommended Practices and System Voltage Distortion Caused by Nonlinear Residential
Requirements for Harmonic Control in Electrical Power Loads, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 16, n. 4,
Systems. October 2001.
MARTINEZ, J. A. Power Quality Analysis using Electromagnetic BASS, R. et al. Residential Harmonic Loads and EV Charging,
Transient Programs, 8th International Conference on IEEE Transactions, 2001.
Harmonics and Quality of Power, ICHQP ‘98, October 14-16, NBR-5440 - Transformadores para Redes Aéreas de
1998, Athens, Greece. Distribuição. Padronização, ABNT, Jul. 1999.
JUN, W.; SAHA, T. K. Simulation of Power Quality Problems
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em
on a University Distribution System, IEEE Power Engineering
engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com
Society General Meeting 16-20 July 2000 Page(s): 2326 – ênfase em qualidade da energia elétrica.
2331, v. 4.
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
UMEH, K. C et al. Determining Harmonic Characteristics of Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail redacao@
Typical Single Phase Non-Linear Loads, Proceeding of Student atitudeeditorial.com.br
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O Setor Elétrico / Novembro de 2010
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
Capítulo XI
Este capítulo, originalmente um apêndice do presente trabalho, destina-se a apresentar as formas de onda
e espectro harmônico das simulações de cenários residenciais e comerciais. Essas simulações executadas e
descritas na Tabela 1 do Capítulo IX já foram comentadas anteriormente e agora serão apresentadas com todos
os resultados das simulações, desde as formas de onda a seus conteúdos harmônicos.
Cenário 1 Cenário 2
Chuveiro (4400 W) com ambiente iluminado Chuveiro com lâmpada fluorescente com reator
por fluorescente com reator eletromagnético de eletrônico 1x40 W, freezer, geladeira, aparelho de
1x40 W, secador de cabelo (1000 W) com ambiente som e secador de cabelos com LFC 25 W.
iluminado por LFC de 25 W.
Cenário 1 Cenário 2
Harmônico Irms = 42,49 Harmônico Irms = 47,06
THDi = 0,58 THDi = 0,45
F. crista = 1,41 F. crista = 1,41
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 -0,49 1 100,00 -6,37
3 0,33 -81,97 3 0,15 11,25
5 0,15 159,15 5 0,41 134,30
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41
O Setor Elétrico / Novembro de 2010
Cenário 16
Harmônico Irms = 2,420
Cenário 15 Cenário 17
THDi = 17,52
Harmônico Irms = 14,91 Harmônico Irms = 15,63
F. crista = 1,49
THDi = 16,88 THDi = 18,74
Mod. (%) Ang. (graus)
F. crista = 1,52 F. crista = 1,60
1 100,00 -27,81
Mod. (%) Ang. (graus) Mod. (%) Ang. (graus)
3 12,95 -140,38
1 100,00 -22,43 1 100,00 -20,52
5 3,16 37,20
2 4,45 -97,11 2 4,26 -97,10
7 7,39 146,25
3 15,65 -149,08 3 17,75 -147,29
9 5,52 34,04
5 2,36 -34,17 5 2,78 -29,75
11 4,24 -55,09
7 3,35 -54,32 7 2,13 -68,23
13 2,76 178,75
9 1,14 28,53 9 1,90 29,85
15 0,89 -14,35
11 1,11 99,25
17 1,06 -123,19
19 2,20 135,12
21 2,08 22,36
23 1,56 -47,57
Cenário 18 25 1,58 -138,24 Cenário 20
Micro-ondas com iluminação Computador, em ambiente iluminado
fluorescente de reator eletrônico 1x40 Cenário 19 por LFC de 25 W e televisão, com mais
W e compressor da geladeira ligado. Micro-ondas com iluminação fluorescente um ambiente iluminado por LFC de 25
de reator eletrônico 1x40 W. W e compressor da geladeira ligado.
Cenário 30
Televisão e vídeo-cassete com LFC de 25 W, televisão e vídeo-game com LFC de 25 W.
Cenário 30
Harmônico Irms = 1,656
THDi = 91,38
F. crista = 2,51
Mod. (%) Ang. (graus)
1 100,00 3,05
3 78,42 -162,47
5 37,99 16,98
7 16,10 179,84
9 8,98 21,91
11 10,90 -74,20
13 11,02 145,46
15 8,66 13,91
17 6,37 -79,05
19 6,37 167,48
21 3,04 34,54
23 1,55 -1,67
25 0,92 -139,32
27 1,23 -95,74
29 2,08 120,86
31 1,65 10,63
*IGOR AMARIZ PIRES é engenheiro eletricista, mestre e doutorando em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com ênfase
em qualidade da energia elétrica.
Capítulo XII
Medidas de mitigação de
harmônicos
Igor Amariz Pires*
A maneira mais comum de mitigar harmônicos é por objetivo é evitar que uma determinada frequência (ou
meio da utilização de filtros. O principal objetivo dos uma faixa de frequências) tenha acesso a uma parte
filtros de harmônicos é reduzir a amplitude de tensões e do sistema. Com ação semelhante a uma bobina de
correntes de uma ou mais frequências harmônicas. bloqueio, este filtro é composto por um capacitor
Quando o objetivo é impedir que uma determinada e um indutor em paralelo. Esta é uma solução cara
corrente harmônica entre em uma planta elétrica ou e raramente utilizada, tendo como principal fator
em partes do sistema elétrico, é possível utilizar um negativo o fato de o filtro ter de transportar toda a
filtro série que consiste no paralelo de um indutor com corrente passante no ponto do sistema em que ele
um capacitor, representando uma alta impedância para foi instalado.
o harmônico que se deseja impedir. A solução mais usual para se evitar que
Entretanto, esta solução não elimina o surgimento correntes harmônicas penetrem em determinadas
de harmônicos por parte da fonte geradora. Outra partes do sistema elétrico consiste na utilização dos
forma de evitar a penetração de harmônicos no sistema chamados filtros em derivação (paralelo ou shunt),
elétrico, a partir de uma fonte geradora, seria fornecer que oferecem um caminho de baixa impedância
um caminho de derivação de baixa impedância para as para as correntes harmônicas de interesse. Desse
correntes harmônicas. filtro, há dois tipos:
Evitar circulação de correntes harmônicas, além
de beneficiar aqueles dispositivos que sofrem danos • filtro sintonizado
por sua circulação, tais como cabos, transformadores • filtro amortecido
e capacitores, significa também diminuir a distorção
de onda de tensão. Isso será possível pela diminuição Antes de definir os dois filtros, é necessário falar
das correntes harmônicas nas impedâncias dos cabos sobre o fator de qualidade (Q) de um filtro. O fator
presentes no sistema elétrico, causando, assim, uma de qualidade de um filtro determina seu grau de
menor queda de tensão harmônica. seletividade e é expresso pela divisão da frequência de
Além dessas diferenças entre filtro série e paralelo ressonância do filtro (ωn) por sua banda de passagem
(shunt), os filtros ainda podem ser classificados como (BP), como mostrado na Equação 1.
passivos e ativos. Os primeiros são assim chamados
porque utilizam elementos passivos (resistores, Q = ωn/BP (1)
indutores e capacitores), enquanto os filtros ativos
utilizam a eletrônica embarcada em um conjunto com Filtro sintonizado
elementos passivos para realizar a mitigação. O filtro sintonizado é um circuito série RLC, como
mostrado na Figura 1, sintonizado em uma frequência
Filtros passivos de um harmônico. Sua impedância é dada pela
Os filtros passivos-série são utilizados quando o Equação 2.
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capacitivamente abaixo de sua frequência de ressonância, A filosofia de desenvolvimento deste filtro não é muito
Harmônicos provocados por eletroeletrônicos
contribuindo para a compensação da potência reativa em relação diferente do exposto no filtro sintonizado. Ou seja, basta
à frequência da rede. Acima da frequência de ressonância o escolher a frequência de ressonância, a quantidade de potência
comportamento do filtro será indutivo. reativa que será entregue na frequência fundamental e o fator
Assim, para o desenvolvimento de um filtro sintonizado basta de qualidade.
escolher a frequência de ressonância, a quantidade de potência reativa
que será entregue na frequência fundamental (podendo ser próximo de Aplicações
zero, ficando o filtro com a exclusiva função de filtrar os harmônicos) e Os filtros sintonizado e amortecido, muitas vezes, são
o fator de qualidade. A partir dessas escolhas, os elementos R, L e C são aplicados em conjunto para mitigar correntes harmônicas de uma
facilmente fornecidos pelas Equações 1, 2, 3 e 4. fonte poluidora. Como exemplo, podemos citar um conversor
estático de seis pulsos, haverá quatro filtros sintonizados,
Filtro amortecido sendo estes nas frequências do 5º, 7º, 11º e 13º harmônico e
São filtros passa-alta que apresentam uma baixa impedância um filtro amortecido com frequência de ressonância no 17º
a partir da frequência de ressonância. Esta é sintonizada, harmônico. Esse último filtro será responsável por amortecer os
normalmente, em um harmônico de baixa ordem. É constituído harmônicos de ordens superiores.
por um capacitor em série com um RL paralelo, como mostrado na No trabalho Reduction of Harmonics Currents in Fluorescent
Figura 3. O fator de qualidade deste filtro é baixo, sendo da ordem Lighting Systems: Design and Realisation, os autores apresentam
de 1 a 10. um filtro passivo para minimizar a corrente harmônica no
neutro em sistemas de iluminação por lâmpadas fluorescentes.
Ele consiste em um filtro duplamente sintonizado, como
mostrado na Figura 5, que nada mais é do que uma extensão do
filtro sintonizado, contendo duas frequências de ressonância.
O filtro é instalado em série com o neutro.
Nas frequências de ressonância, a impedância do filtro é
baixa, sendo alta nas demais frequências. Uma das frequências
de ressonância escolhidas é a fundamental, sendo que a
segunda é em uma frequência diferente de um harmônico. Esta
configuração série tem por objetivo “barrar” as correntes de
sequência zero, o que, em um sistema equilibrado, representa
Figura 3 - Filtro amortecido. os harmônicos triplos (3º, 9º, 15º, etc.).
No artigo, os autores apresentam um exemplo de dimen
A frequência de ressonância e o fator de qualidade têm as
sionamento desse filtro. Os valores por eles utilizados foram:
mesmas fórmulas do filtro sintonizado (Equações de 1 a 4). A Figura
4 mostra um gráfico qualitativo do módulo da impedância do filtro
Ramo série – C1 = 1250 uF, L 1 = 4,4 mH, R1=0,1 Ω
amortecido ao longo da frequência. O R escolhido na Figura 4 é
Ramo paralelo – C1 = 340 uF, L 1 = 3,3 mH, R1=0,1 Ω.
igual a 1. Nas altas frequências, a tendência do filtro é ter uma
impedância igual a R.
Vale lembrar que a frequência fundamental, para esses
autores, era 50 Hz. A Figura 6 apresenta o gráfico de impedância
para diversos harmônicos para este filtro. As frequências de
ressonância se dão na frequência fundamental e em torno do
4º harmônico.
Figura 4 - Módulo da impedância versus frequência do filtro amortecido. Figura 5 - Filtro duplo sintonizado.
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O Setor Elétrico / Dezembro de 2010
(5)
Figura 8 - Diagrama trifilar do filtro passivo de redes secundárias.
Tabela 5
Distorções de tensão no sistema de distribuição secundário – sem pré-distorção
no transformador
Como resultados, obtém-se uma redução média de 50% Ponto de medição 3 – ponta do sistema de distribuição secundário
de THD de tensão no transformador de 45 kVA instalado Sem filtro Com filtro
Carga / Horário Va (%) Vb (%) Vc (%) Va (%) Vb (%) Vc (%)
(THDv médio de 4% para 2%). Neste presente trabalho,
Leve / 12h 0,33 0,20 0,33 0,29 0,17 0,28
este filtro foi implementado no ATP e posto nas simulações
Média / 2h 0,79 0,95 0,67 0,66 0,83 0,60
do sistema de distribuição secundário em todos os casos Pesada / 21h 0,89 1,67 1,16 0,77 1,37 1,05
simulados nos Capítulos IX e X. O filtro foi ligado diretamente
nos terminais do secundário do transformador. As Tabelas 5 e
6 apresentam os resultados em três pontos de medição sem
e com pré-distorção de tensão no transformador.
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O Setor Elétrico / Dezembro de 2010
Vale dizer que as correntes não desejadas, na maioria • Filtro ativo série/paralelo
dos casos, são harmônicos, mas podem, em alguns casos, ser Para a compensação simultânea da tensão e da corrente, há
correntes na frequência fundamental (como exemplo podemos uma combinação de filtros ativos série/paralelo, a qual foi
citar a corrente reativa ou de desequilíbrio). Assim, o grande convencionada como um UPQC (do inglês, Unified Power
desafio no projeto de um filtro ativo paralelo baseado em Quality Conditioner).
conversores desse tipo está na determinação instantânea da A Figura 13 mostra uma situação típica para o emprego
referência de corrente a ser sintetizada. do UPQC. Este é um cenário em que se tem um grupo de
cargas críticas muitos sensíveis às distorções harmônicas e
• Filtro ativo série que requerem um suprimento de energia de boa qualidade.
O filtro série é mostrado na Figura 12. Nessa figura, a fonte Porém, estas cargas estão conectadas a um barramento em que
de tensão está representada por uma fonte de tensão distorcida. se encontram outras cargas (i L) não lineares, que são geradores
O filtro ativo em série, entre a carga e a fonte, impede, dessa de alto conteúdo de correntes harmônicas desbalanceadas.
forma, que as parcelas não desejáveis de tensão sejam aplicadas Além disso, admite-se que a tensão de suprimento (vs)
na carga. deste barramento também seja desbalanceada e distorcida,
Vale lembrar que o filtro ativo série não é capaz de eliminar independentemente dessas cargas não lineares. O UPQC está
harmônicos de correntes geradas pela carga uma vez que este inserido em paralelo, próximo à carga não linear e em série
filtro está inserido em série com esta carga. Este consiste no com a tensão de suprimento, de tal forma que a tensão do
conceito dual do que o ocorre com o filtro paralelo. Para se filtro série vc compense a tensão vs e torne a tensão v senoidal
ter essa compensação, tanto de tensão quanto de corrente, é e balanceada.
necessário utilizar um filtro ativo série/paralelo. Entretanto, a corrente i c do filtro paralelo compensa os
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O Setor Elétrico / Dezembro de 2010
na frequência fundamental. A variabilidade da carga em que o de 54 kVAR e um filtro ativo de 50 kVAr para diminuir os
filtro está conectado influencia o seu rendimento. harmônicos de corrente injetados na rede de um retificador
O filtro ativo deve ter uma potência igual ou maior que a trifásico de 110 kVA. O circuito elétrico do retificador é
carga não linear a ser filtrada, o que o torna economicamente mostrado na Figura 14. Dois casos de carga do retificador foram
inviável em alguns casos. Mais caro que o filtro passivo, o considerados. No primeiro caso, retirou-se o indutor L d (Figura
filtro ativo tem seu rendimento constante independente da 14) e, no segundo caso, o indutor foi novamente inserido no
variabilidade da carga. retificador.
Na referência Influence of Load Characteristics on the A corrente do sistema elétrico que alimentava o retificador
Applications of Passive and Active Harmonic Filters, os autores tinha uma distorção de 25,58% para o primeiro caso (sem
apresentam um trabalho em que se comparou um filtro passivo indutor) e 50,48% no segundo caso (com indutor). Quando o
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O Setor Elétrico / Dezembro de 2010
Capítulo I
pode afetar e ser afetada pelos demais. As variações de tensão de longa duração são fenômenos
Qualidade de energia
O estabelecimento de indicadores para o controle e avaliação semelhantes aos fenômenos de curta duração, porém, com a
do produto “energia elétrica” é bastante complexo e apresenta característica de se manterem no sistema elétrico por tempos
peculiaridades técnicas que dificultam seu tratamento de forma superiores a três minutos. São causadas por saídas de grandes
simples. Dentre as particularidades mencionadas podem-se blocos de carga, perdas de fase, dentre outras.
destacar:
4. Desequilíbrios
• Caráter aleatório nas ocorrências de distúrbios de QEE; Os desequilíbrios podem ser definidos como o desvio
• Inevitabilidade técnica de ocorrências destes distúrbios; máximo da média das correntes ou tensões trifásicas, divididos
• Variado nível de sensibilidade dos consumidores, uma vez pela média das correntes ou tensões trifásicas, expressados em
que cada consumidor percebe a qualidade da energia de forma percentual. As origens destes desequilíbrios estão geralmente nos
diferenciada; sistemas de distribuição, os quais possuem cargas monofásicas
• Dificuldade de executar controle prévio da QEE, como ocorre distribuídas inadequadamente, fazendo surgir no circuito
com outros produtos, visto que geração, transmissão, distribuição tensões de sequência negativa. Este problema se agrava quando
e consumo da energia ocorrem simultaneamente; consumidores alimentados de forma trifásica possuem uma
• Extensa área de vulnerabilidade do sistema elétrico, má distribuição de carga em seus circuitos internos, impondo
representado por milhares de quilômetros de linhas de correntes desequilibradas no circuito da concessionária.
transmissão, subtransmissão e distribuições aéreas.
5. Distorções da forma de onda: harmônicos, cortes de
Principais distúrbios associados à qualidade da tensão, ruídos, etc.
energia A distorção da forma de onda é definida como um desvio,
O termo qualidade da energia elétrica refere-se a uma ampla em regime permanente, da forma de onda puramente senoidal,
variedade de fenômenos eletromagnéticos conduzidos que na frequência fundamental, e é caracterizada principalmente
caracterizam a tensão e a corrente em um dado tempo e local pelo seu conteúdo espectral. Existem cinco tipos principais de
do sistema elétrico. distorções da forma de onda:
A qualidade da energia em uma determinada barra do sistema • Harmônicos: tensões ou correntes senoidais de frequências
elétrico é adversamente afetada por uma ampla variedade de múltiplas inteiras da frequência fundamental (50 Hz ou 60 Hz)
distúrbios: na qual opera o sistema de energia elétrica. Estes harmônicos
distorcem as formas de onda da tensão e corrente e são oriundos
1. Transitórios de equipamentos e cargas com características não lineares
Os transitórios são fenômenos eletromagnéticos oriundos instalados no sistema de energia.
de alterações súbitas nas condições operacionais de um sistema • Inter-harmônicos: componentes de frequência, em tensão
de energia elétrica. Geralmente, a duração de um transitório ou corrente, que não são múltiplos inteiros da frequência
é muito pequena, mas de grande importância, uma vez que fundamental do sistema supridor (50 Hz ou 60 Hz). Elas podem
submetem equipamentos a grandes solicitações de tensão e/ aparecer como frequências discretas ou como uma larga faixa
ou corrente. Existem dois tipos de transitórios: os impulsivos, espectral. Os inter-harmônicos podem ser encontrados em redes
causados por descargas atmosféricas, e os oscilatórios, causados de diferentes classes de tensão. As suas principais fontes são
por chaveamentos. conversores estáticos de potência, ciclo-conversores, motores
de indução e equipamentos a arco. Sinais "carrier" em linhas
2. Variações de tensão de curta duração de potência também podem ser considerados como inter-
As variações de tensão de curta duração podem ser harmônicos. Os efeitos deste fenômeno não são bem conhecidos,
caracterizadas por alterações instantâneas, momentâneas ou mas admite-se que podem afetar a transmissão de sinais "carrier"
temporárias. Tais variações de tensão são, geralmente, causadas e induzir "flicker" visual no display de equipamentos como tubos
pela energização de grandes cargas que requerem altas correntes de raios catódicos.
de partida, ou por intermitentes falhas nas conexões dos cabos • Nível CC: a presença de tensão ou corrente CC em um sistema
de sistema. Dependendo do local da falha e das condições do elétrico CA é denominado "DC offset". Este fenômeno pode
sistema, o resultado pode ser um afundamento momentâneo de ocorrer como o resultado da operação ideal de retificadores de
tensão (“sag”), uma elevação momentânea de tensão (“swell”), meia-onda. O nível CC em redes de corrente alternada pode
ou mesmo uma interrupção completa do sistema elétrico. levar à saturação de transformadores, resultando em perdas
adicionais e redução da vida útil.
3. Variações de tensão de longa duração • "Notching": distúrbio de tensão causado pela operação normal
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Qualidade de energia
de equipamentos de eletrônica de potência quando a corrente rendimento dos equipamentos elétricos, interferência nos sistemas de
é comutada de uma fase para outra. Este fenômeno pode ser proteção, e efeito "flicker" ou cintilação luminosa.
detectado pelo conteúdo harmônico da tensão afetada. As
componentes de frequência associadas com os "notchings" 7. Variações de frequência
são de alto valor e, desta forma, não podem ser medidas pelos Variações na frequência de um sistema elétrico são definidas
equipamentos normalmente utilizados para análise harmônica. como sendo desvios no valor da frequência fundamental deste
• Ruído: definido como um sinal elétrico indesejado, contendo sistema (50 Hz ou 60 Hz). A frequência do sistema de potência
uma larga faixa espectral com frequências menores que 200 está diretamente associada à velocidade de rotação dos geradores
KHz, as quais são superpostas às tensões ou correntes de que suprem o sistema. Pequenas variações de frequência podem
fase, ou encontradas em condutores de neutro. Os ruídos em ser observadas como resultado do balanço dinâmico entre carga
sistemas de potência podem ser causados por equipamentos e geração no caso de alguma alteração (variações na faixa de 60
eletrônicos de potência, circuitos de controle, equipamentos ± 0,5Hz). Variações de frequência que ultrapassam os limites para
a arco, retificadores a estado sólido e fontes chaveadas que, operação normal em regime permanente podem ser causadas por
normalmente, estão relacionados com aterramentos impróprios. faltas em sistemas de transmissão, saída de um grande bloco de
carga ou pela saída de operação de uma grande fonte de geração.
6. Flutuações de tensão Em sistemas isolados, entretanto, como é o caso da geração
As flutuações de tensão correspondem a variações própria nas indústrias, na eventualidade de um distúrbio, a
sistemáticas dos valores eficazes da tensão de suprimento dentro magnitude e o tempo de permanência das máquinas operando
da faixa compreendida entre 0,95 pu e 1,05 pu. Tais flutuações fora da velocidade, resultam em desvios da frequência em
são geralmente causadas por cargas industriais e manifestam-se proporções mais significativas.
de diferentes formas, a destacar: A título de ilustração, a Figura 1 mostra os principais
• Flutuações aleatórias: causadas por fornos a arco, onde as distúrbios envolvendo a qualidade da energia.
amplitudes das oscilações dependem do estado de fusão do
material e do nível de curto-circuito da instalação. Em que:
• Flutuações repetitivas: causadas por máquinas de solda, a - tensão senoidal f - salto de tensão
laminadores, elevadores de minas e ferrovias. b - transitório impulsivo g - harmônico
• Flutuações esporádicas: causadas pela partida direta de c - transitório oscilatório h - corte de tensão
grandes motores. d - afundamento de tensão i - ruídos
e - interrupção j – inter-harmônicos
Os principais efeitos nos sistemas elétricos, resultados das
oscilações causadas pelos equipamentos mencionados anteriormente, A Tabela 1 apresenta as categorias mais comuns dos
são oscilações de potência e torque das máquinas elétricas, queda de distúrbios, suas causas e algumas soluções práticas.
Sub e sobretensões • Partidas de motores; • Pequena redução na velocidade dos • Reguladores de tensão;
• Variações de cargas; motores de indução e no reativo dos bancos • Fontes de energia de reserva;
• Chaveamento de capacitores; de capacitores; • Chaves estáticas;
• TAPs de transformadores ajustados • Falhas em equipamentos eletrônicos; • Geradores de energia.
incorretamente. • Redução da vida útil de máquinas rotativas,
transformadores, cabos, disjuntores, TPs e
TCs;
• Operação indevida de relés de proteção,
motores, geradores, etc.
Ruídos • Chaveamento de equipamentos eletrônicos • Distúrbios em equipamentos eletrônicos • Aterramento das instalações;
de potência; (computadores e controladores programáveis). • Filtros.
• Radiações eletromagnéticas.
Variação de frequência • Perda de geração, perda de linhas de • Danos severos nos geradores e nas palhetas
transmissão, etc. das turbinas, etc. podem ocorrer.
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Qualidade de energia
• ANEEL: Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no pela Universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
Sistema Elétrico Nacional – Módulo 8 – Qualidade da Energia é consultor tecnológico em energia no Instituto de
• ONS: Padrões de Desempenho da Rede Básica – Submódulo para áreas de qualidade de energia elétrica, geração
Capítulo II
Harmônicos – conceitos
Por Gilson Paulilo e Mateus Duarte Teixeira*
Tecnicamente, um harmônico é um componente de uma onda 1) Os harmônicos que causam problemas geralmente são os
periódica cuja frequência é um múltiplo inteiro da frequência componentes de números ímpares;
fundamental (no caso da energia elétrica brasileira, de 60 Hz). 2) A magnitude da corrente harmônica diminui com o aumento da
Harmônicos são fenômenos contínuos e não devem ser frequência.
confundidos com fenômenos de curta duração, os quais duram
apenas alguns ciclos. Distorção harmônica é um tipo específico de Como comentado, altos níveis de distorções harmônicas em
energia suja, que é normalmente associada à crescente quantidade uma instalação elétrica podem causar problemas para as redes
de acionamentos estáticos, fontes chaveadas e outros dispositivos de distribuição das concessionárias, para a própria instalação e
eletrônicos nas plantas industriais, isto é, associado com cargas para os equipamentos ali instalados. As consequências podem
não lineares. Estas perturbações no sistema podem normalmente chegar até a parada total de importantes equipamentos na linha
ser eliminadas com a aplicação de filtros de linha (supressores de produção, acarretando prejuízos econômicos. Dentre eles, de
de transitórios). Um filtro de harmônicos é essencialmente um maior importância estão a perda de produtividade e de vendas
capacitor para correção do fator de potência, combinado em série devido a paradas de produção, causadas por inesperadas falhas em
com um reator (indutor). motores, acionamentos, fontes ou simplesmente pelo "repicar" de
A distorção harmônica vem contra os objetivos da qualidade do disjuntores.
suprimento promovido por uma concessionária de energia elétrica, As componentes harmônicas geradas por estas cargas não
a qual deve fornecer aos seus consumidores uma tensão puramente lineares propagam-se pela rede elétrica, resultando em sérios danos
senoidal, com amplitude e frequência constantes. Entretanto, aos equipamentos elétricos e/ou eletrônicos. Dentre os principais
o fornecimento de energia a determinados consumidores que efeitos causados, em termos gerais, podem ser citados:
causam deformações no sistema supridor prejudica não apenas
o consumidor responsável pelo distúrbio, mas também outros • Má operação de equipamentos eletrônicos, de controle, de
conectados à mesma rede elétrica. proteção, de medição e outros;
A natureza e a magnitude das distorções harmônicas geradas • Sobretensões gerando comprometimento da isolação e da vida
por cargas não lineares dependem de cada carga em específico, útil do equipamento;
mas duas generalizações podem ser assumidas: • Sobrecorrentes ocasionando efeitos térmicos nocivos aos
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36
equipamentos;
Qualidade de energia
Série de Fourier
Para a quantificação do grau de distorção presente na tensão
e/ou corrente, lança-se mão da ferramenta matemática conhecida
por série de Fourier. As vantagens de se usar a série de Fourier para Figura 3 – Sinal distorcido e seu espectro harmônico.
representar formas de onda distorcidas é que cada componente
Distorções harmônicas
harmônica pode ser analisada separadamente e a distorção
A distorção harmônica de tensão é o resultado da corrente
final é determinada pela superposição das várias componentes
harmônica circulando através da impedância série (linear) do
constituintes do sinal distorcido. A série de Fourier é calculada pela
sistema elétrico. Para cada frequência harmônica, há uma queda de
seguinte expressão:
tensão de mesma frequência, resultando, desta forma, na distorção
da tensão na barra, conforme a Figura 4.
Em que:
DHTv% - Distorção harmônica total de tensão em percentagem;
DHTI% - Distorção harmônica total de corrente em percentagem;
h - Número de ordem harmônica;
Vh - Tensão harmônica de ordem ‘h’, [V];
V1 - Tensão fundamental, [V];
Ih - Corrente harmônica de ordem ‘h’, [V];
I1 - Corrente fundamental, [V]. Figura 5 – Forma de onda do sinal analisado.
• Existência de componente contínua de corrente levará o transformador Um sistema elétrico industrial apresenta as seguintes características:
a se sobreaquecer e, também, a saturar o seu núcleo rapidamente; uma linha de distribuição de 13,8 kV com 18 km de extensão desde
• Em geral, um transformador que esteja submetido a uma distorção a subestação até o PAC com o consumidor. As cargas do consumidor
de corrente superior a 5% deverá ser operado abaixo da sua potência são distribuídas em nove cabines com transformadores abaixadores
nominal, operação conhecida como derating. para as tensões de 380/220 V e 220/127 V, assim denominadas: Cabine
01 – Acabamento; Cabine 02 – Onduladeiras; Cabine 03 – Máquina
Motores de indução de papel I; Cabine 04 – Desagregação; Cabine 05 – Caldeira; Cabine
• Sobreaquecimento de seus enrolamentos e diminuição de vida útil. 06 –Máquina de Papel II; Cabine 07 – Picador; Cabine 08 – TAR; Cabine
09 – Administração/Portaria.
Máquinas síncronas Uma grande parte das cargas existentes na instalação tem características
• Sobreaquecimento das sapatas polares, causado pela circulação não lineares e gera componentes harmônicos que estão causando
de correntes harmônicas nos enrolamentos amortecedores, torques problemas de queima dos bancos de capacitores instalados para a correção
pulsantes no eixo da máquina e indução de tensões harmônicas no do fator de potência da instalação, bem como gerando níveis de distorção
circuito de campo, que comprometem a qualidade das tensões geradas. harmônica elevada na barra de 13,8 kV. Problemas na operação das cargas
também foram relatados pelos técnicos da empresa em estudo.
Bancos de capacitores A concessionária realizou medições no PAC junto ao seu
• Fadiga (“stress”) do isolamento, sobreaquecimento e redução da vida útil. alimentador (13,8 kV - Scc 21 MVA), com os seguintes resultados em
termos de distorção harmônica total de tensão e distorção harmônica
Mitigação de harmônicos total de corrente, conforme as Figuras 7 e 8 a seguir.
Diante de tantos problemas causados por harmônicos, torna-se As medições mostradas anteriormente demonstram níveis elevados
necessário tomar medidas preventivas ou corretivas, no sentido de de distorção harmônica total de tensão (Figura 7), acima dos limites
reduzir ou eliminar os níveis harmônicos presentes nos barramentos e recomendados pela IEEE-519/1992 e pela Aneel/ONS, apesar de injeção
linhas de um sistema elétrico. harmônica de corrente no 13,8 kV não apresentar valores elevados.
Dentre as diversas técnicas utilizadas destacam-se: Tal fato justificou a realização de estudos e medições de harmônicos
visando à redução de tais níveis de distorção.
• Filtros passivos: são constituídos basicamente de componentes
R, L e C por meio dos quais se obtêm os filtros sintonizados e
amortecidos. Estes filtros são instalados geralmente em paralelo
com o sistema supridor, proporcionando um caminho de baixa
impedância para as correntes harmônicas. Podem ser utilizados para
a melhoria do fator de potência, fornecendo o reativo necessário
ao sistema. Entretanto, existem alguns problemas relacionados à
utilização destes filtros, dentre os quais se destacam o alto custo, a
complexidade de sintonia e a possibilidade de ressonância paralela
com a impedância do sistema elétrico.
• Filtros ativos: um circuito ativo gera e injeta correntes harmônicas
com defasagem oposta àquelas produzidas pela carga não linear. Assim,
há um cancelamento das ordens harmônicas que se deseja eliminar. Figura 7 – Distorção harmônica total de tensão – 13,8 kV.
Capítulo III
Desequilíbrios de tensão
Por Gilson Paulilo*
também introduz uma assimetria nas tensões de linha. Este fator, e recomendações de várias instituições para calcular o
Qualidade de energia
Recomendações/Normas Expressões
IEC
Em que:
FD% - Fator de desequilíbrio de tensão em porcentagem;
V- - Módulo da tensão de sequência negativa; ONS / PRODIST
,em que
V + - Módulo da tensão de sequência positiva.
IEEE
Em que:
Origens dos desequilíbrios
ΔU - máximo desvio da tensão média [V];
Os desequilíbrios de tensão afetam fortemente o nível de
UAV - tensão média [V].
distribuição de energia elétrica se comparado com os demais
níveis. Por este motivo, as fontes destes estão diretamente
• Alternativamente, pode-se usar a expressão conhecida como
associadas com as cargas elétricas e com os arranjos utilizados
CIGRÉ-C04, que é dada por:
para sua alimentação neste nível de tensão.
De uma maneira geral, salvas as características exclusivas
de alguns sistemas isolados, como no caso de sistemas
ferroviários eletrificados, as fontes dos desequilíbrios de tensão
Em que: são as seguintes:
elétricas, são cargas puramente monofásicas controladas girante é resultado da composição dos campos de sequência positiva
Qualidade de energia
atualmente por semicondutores de potência. Na rede de e negativa: a de sequência positiva executando as mesmas funções
alimentação são utilizadas topologias especiais de transformadores caso o campo fosse normal e o de sequência negativa opondo-se ao
como, por exemplo, as conexões Scott e conexões Woodbridge. anterior e produzindo o desequilíbrio magnético do motor. Outro efeito
Essas conexões permitem minimizar, em parte, o desequilíbrio importante é o fato das impedâncias de sequência negativa possuir
gerado pelas cargas de tração devido à brusca variação de carga valores muito pequenos, resultando em um desequilíbrio de corrente
de acordo com os períodos de aceleração e frenagem. bastante elevado. Consequentemente, a elevação de temperatura do
motor operando com uma determinada carga e sob determinado
Consequências dos desequilíbrios desequilíbrio será maior que o mesmo operando sob as mesmas
Tensões desequilibradas provocam consequências condições e com tensões equilibradas. Isso causa o sobreaquecimento
danosas no funcionamento de alguns equipamentos elétricos, do motor e a diminuição da sua vida útil. Um exemplo destes efeitos
comprometendo, na maioria dos casos, o seu desempenho está apresentado na Tabela 2, para um motor de 5 Hp.
e a sua vida útil. Entretanto, por mais paradoxal que possa Tabela 2 – Efeitos dos desequilíbrios de tensão em motores elétricos
parecer, as cargas elétricas se constituem na principal fonte de – Motor de indução trifásico: 5 Hp, 1725 rpm, 230 V, 60 Hz
desequilíbrio, como visto anteriormente. A fim de esclarecer esta
Característica Desempenho
relação de causa/efeito, o comportamento de cargas lineares, do
tipo motores de indução trifásicos, e de cargas não lineares, do Tensão Média [V] 230 230 230
tipo conversores estáticos CA-CC, operando sob esta condição é Desequilíbrio de Tensão [%] 0,3 2,3 2,3
apresentado a seguir. Desequilíbrio de Corrente [%] 0,4 40 17,7
desequilíbrios de tensão com o mesmo VUF no desempenho • Corrente de rotor bloqueado: o desequilíbrio desta corrente será da
de um motor de indução e a influência destes no sistema de mesma ordem que o desequilíbrio das tensões;
potência. A partir de oito diferentes situações, monofásicas, • Ruído e vibração: como já citado anteriormente, estes efeitos
bifásicas e trifásicas, considerando elevação e diminuição das aparecerão, sendo mais severos em motores de dois polos.
tensões, resultando em desequilíbrios da ordem de 4% e 6%,
foram investigados o rendimento e o fator de potência. Além das Cargas não lineares – sistemas multiconversores
conclusões já apresentadas, o estudo mostrou: CA – CC
A utilização de sistemas multiconversores CA-CC foi largamente
• A importância de se considerar o valor da tensão de sequência difundida nas aplicações industriais nos últimos 20 anos. Isso
positiva que, quando muito elevada, provoca um baixo fator de ocorreu devido ao estágio de desenvolvimento adquirido pela
potência e alto rendimento; eletrônica de potência e pela eletrônica de controle que permitiram a
• As piores situações em relação à sobrelevação de temperatura ocorrem disponibilidade de componentes cada vez mais potentes associados
para desequilíbrios trifásicos considerando diminuição das tensões; a esquemas de controle cada vez mais eficazes.
• Uma vez que os desequilíbrios causam perdas excessivas e Podem-se citar como exemplos práticos de dispositivos
aumento no consumo, estes também influenciam a estabilidade desenvolvidos a partir desta tecnologia os sistemas de
do sistema de potência, sendo necessária a sua incorporação a acionamento para motores de corrente contínua e para motores
estudos desta natureza. de corrente alternada. Apesar de serem sistemas que competem
entre si em nível de aplicações, ainda hoje é possível se
De uma maneira geral, os efeitos em outras características encontrar nichos específicos de mercado em que um sistema
elétricas podem ser resumidos da seguinte maneira: se sobrepõe ao outro. Vale lembrar, porém, que a tendência do
mercado, em um futuro próximo, é a utilização em larga escala
• Torque: os torques de rotor bloqueado e de frenagem diminuem. de acionamentos para motores de corrente alternada.
Em condições extremamente severas, o torque pode não ser o Os conversores estáticos de potência são dispositivos que
adequado para a aplicação; possuem, por natureza, uma característica não linear gerando
• Velocidade nominal: a velocidade nominal diminui ligeiramente; harmônicos no sistema de fornecimento de energia. Como resultado
Apoio
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direto, estes sistemas apresentam normalmente fatores de potência 4) Limite global de desequilíbrio de tensão e limite de desequilíbrio
Qualidade de energia
ruins e que variam com a carga. Estes sistemas, da mesma forma que de tensão por consumidor na conexão a redes de transmissão e
qualquer outro, foram projetados para trabalharem sob condições subtransmissão.
equilibradas de fornecimento na frequência fundamental. Na prática,
porém, os sistemas de alimentação são desequilibrados dentro de Apesar dos diferentes valores encontrados na tabela anterior,
certa faixa, tornando complexo o problema de geração harmônica, adota-se, de maneira geral, o limite de 2% para desequilíbrios de
degradando as características e a qualidade da corrente de entrada tensão, sem qualquer tipo de prejuízo à operação de cargas lineares
do conversor e interferindo significativamente na tensão de saída. e não lineares.
Vários trabalhos estão disponíveis na literatura investigando estes
problemas, abordando a modelagem do conversor através de diferentes Referências
métodos. Contudo, dois métodos podem ser, basicamente, distinguidos: DUGAN, R. C.; McGRANAGHAN, M. F.; SANTOSO, S.; BEATY,
o método no domínio do tempo e o método no domínio da frequência. H. W. Electrical power systems quality. New York: McGraw–Hill,
A análise temporal tem a vantagem de prever o comportamento do 2ª Edição.
conversor em regimes transitórios. Um sistema de equações diferenciais BOLLEN, M. H. J. Understanding power quality problems: voltage
descreve o funcionamento do conversor e sua solução é encontrada por sags in interruptions. Wiley-IEEE Press, Oct. 1999.
meio de técnicas de análise numérica. Os harmônicos são avaliados pela ARRILAGA, J.; WATSON, N. R. Power system harmonics. New York:
Transformada Rápida de Fourier (FFT). Como inconveniente, tem-se o Wiley-Ieee Press, November 2004, Second Edition.
longo tempo de simulação para se atingir o regime permanente, ou seja, PAULILLO, G. Proposta de um mitigador de harmônicos não
característicos através da compensação de desequilíbrios de tensão.
despende-se um grande esforço computacional. Alguns dos simuladores
Tese de Doutorado (Universidade Federal de Itajubá), Itajubá-MG,
que utilizam este método: EMTP, EMTPDC, ATP, SABER, etc. Por sua
2001.
vez, o método frequencial consiste em descrever o conversor por um
PAULILLO, G. Um compensador de desequilíbrios de tensão.
sistema de equações em regime permanente e sua resolução é obtida
Dissertação de Mestrado (Universidade Federal de Itajubá),
por um método interativo. Em alguns casos, são relatados problemas de
Itajubá-MG, 1996.
convergência na aplicação deste método.
PAULILLO, G.; ABREU, J. P. G. Development of a voltage imbalance
electromagnetic compensator. Computational Methods in Circuits
Limites dos desequilíbrios and Systems Applications, WSEAS Press, 2003, p. 253-257.
Antes de serem apresentadas as soluções para desequilíbrios de
ABREU, J. P. G.; ARANGO, H.; PAULILLO, G. Proposal for a line
tensão, serão apresentados os limites permissíveis dos desequilíbrios drop and unbalance compensator. Proceedings of the 7th IEEE PES
de tensão em sistemas elétricos definidos por diversas normas, International Conference on Harmonics and Quality of Power –
tanto em nível nacional como em nível internacional. Estes valores ICHQP, Las Vegas, p. 276-279, Oct. 1996.
constituem-se como indicadores da necessidade ou não de se adotar ABREU, J. P. G.; ARANGO, H.; PAULILLO, G. A novel electromagnetic
medidas de mitigação, de modo a se respeitar a normalização compensator. Proceedings of the 14t h International Conference on
vigente. Estes limites estão apresentados na Tabela 3 a seguir. Electricity Distribution – CIRED’97, Birmingham, 1997;
Tabela 3 – Limites permissíveis para desequilíbrios de tensão ABREU, J. P. G.; GUIMARÃES, C. A. M.; PAULILLO, G. Reducing
harmonics in multiconverter systems under unbalanced voltage
Norma L imite
supply – a novel transformer topology. Proceedings of the IEEE PES
2% Summer Meeting 2000, Seattle, Jul. 2000.
NEMA MG1 14-34 (1)
ABREU, J. P. G.; ARANGO, H.; PAULILLO, G. Compensador de
ANSI C.84.1-1989 (2) 3%
Desequilíbrios e de Quedas de Tensão. Anais do XI CBA – Congresso
IEEE Orange Book – 446/1995 (3) 2,5%
Brasileiro de Automática, USP – São Paulo, p. 1.661-1.665, 1996.
GTCP/CTST/GCPS – ELETROBRÁS (4) 1,5% e 2%
fatores a serem aplicados ao motor operando sob condições de distribuída, eficiência energética e distribuição.
Capítulo IV
Variações de tensão de
longa duração
Por Gilson Paulilo e Mateus Duarte Teixeira*
Subtensões
Já a subtensão apresenta características opostas, sendo que
agora um decréscimo no valor eficaz da tensão AC para menos de
90% na frequência do sistema é caracterizado também com uma
duração superior a 1 min.
As subtensões são decorrentes, principalmente, do
carregamento excessivo de circuitos alimentadores, os quais são
submetidos a determinados níveis de corrente que, interagindo com
a impedância da rede, dão origem a quedas de tensão acentuadas.
Figura 1 – Exemplo ilustrando o perfil da tensão para uma variação de Outros fatores que contribuem para as subtensões são: a conexão
longa duração.
de cargas à rede elétrica, o desligamento de bancos de capacitores
apresentem falhas imediatas. Entretanto, tais equipamentos, e, consequentemente, o excesso de reativo transportado pelos
quando submetidos a repetidas sobretensões, poderão ter a circuitos de distribuição, o que limita a capacidade do sistema no
sua vida útil reduzida. Relés de proteção também poderão fornecimento de potência ativa e, ao mesmo tempo, eleva a queda
apresentar falhas de operação durante as sobretensões. Uma de tensão.
observação importante diz respeito à potência reativa fornecida A queda de tensão por fase é função da corrente de carga, do
pelos bancos de capacitores, que aumentará com o quadrado fator de potência e dos parâmetros R e X da rede. Dessa forma,
da tensão, durante uma condição de sobretensão. pode-se concluir que aqueles consumidores mais distantes da
Dentre algumas opções para a solução de tais problemas, subestação estarão submetidos a menores níveis de tensão. Além
destaca-se a troca de bancos de capacitores fixos por bancos disso, quanto menor for o fator de potência, maiores serão as
Apoio
40
perdas reativas na distribuição, aumentando a queda de tensão no • Transformadores de tap variável: Existem transformadores de
Qualidade de energia
Interrupções sustentadas vários minutos a horas (em média 2 horas), dependendo do local da
Qualidade de energia
Quando o fornecimento de tensão permanece em zero por um falta, do tipo de defeito na rede e também da operacionalidade da
período de tempo que excede um minuto, a variação de tensão de equipe de manutenção. Em redes aéreas, a localização do defeito
longa duração é considerada como uma interrupção sustentada. não demora muito tempo, ao passo que em redes subterrâneas
As interrupções maiores do que um minuto são geralmente necessita-se de um tempo considerável, o que contribui para o
permanentes e requerem intervenção humana para reparar e comprometimento da qualidade do fornecimento. Entretanto, a
retornar o sistema à operação normal no fornecimento de energia. probabilidade de ocorrer uma falta em redes subterrâneas é muito
As interrupções sustentadas podem ocorrer de forma inesperada menor do que em redes aéreas.
ou de forma planejada. A maioria delas ocorre inesperadamente e as
*Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com
principais causas são falhas nos disjuntores, queima de fusíveis, falha de mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica
componentes de circuito alimentador, etc. Já as interrupções planejadas pela Universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
são feitas geralmente para executar manutenção na rede, ou seja, serviço é consultor tecnológico em energia no Instituto de
como troca de cabos e postes, mudança do tap do transformador, Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação
é voltada para áreas de qualidade de energia
alteração dos ajustes de equipamentos de proteção, etc.
elétrica, geração distribuída, eficiência energética e
Seja a interrupção de natureza inesperada e/ou sustentada, o distribuição.
sistema elétrico deve ser projetado e operado de forma a garantir que: Mateus Duarte Teixeira é engenheiro eletricista e
mestre em sistemas de potência – qualidade de energia
elétrica. Atua há mais de dez anos em projetos de
• O número de interrupções seja mínimo possível;
tecnologia aplicada ao setor elétrico nas áreas de
• Uma interrupção dure o mínimo possível; e qualidade da energia, geração distribuída, eficiência
• O número de consumidores afetados seja pequeno. energética e proteção de sistemas elétricos para
empresas do setor.
Ao ocorrer uma falta de caráter permanente, o dispositivo de Continua na próxima edição
proteção do alimentador principal executa três ou quatro operações Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
na tentativa de se restabelecer o sistema, até que o bloqueio
redacao@atitudeeditorial.com.br
definitivo seja efetuado. A duração desta interrupção pode atingir de
Apoio
36
Qualidade de energia
Capítulo V
trifásico, quando da ocorrência de um curto-circuito. O termo de grandes cargas ou energização de grandes bancos de
sobretensão momentânea é empregado por vários autores capacitores, o tempo de duração das elevações depende do
como sinônimo para o termo “elevação de tensão”. tempo de resposta dos dispositivos reguladores de tensão das
Como para o item anterior, elevações são usualmente unidades geradoras. Tem-se ainda o tempo de resposta dos
associadas às condições de faltas no sistema, mas não são tão transformadores de tap variável e da atuação dos dispositivos
comuns como afundamentos de tensão. compensadores de reativos e síncronos em sistemas de
As elevações são caracterizadas pela sua magnitude (valor potência e compensadores síncronos que porventura existam.
eficaz) e duração. A severidade deste distúrbio durante uma
condição de falta é uma função da localização da falta,
impedância do sistema e do aterramento. Em um sistema
não aterrado com impedância de sequência zero infinita,
as tensões fase-terra das fases não aterradas serão 1,73 por
unidade durante uma condição de falta envolvendo uma fase
com conexão a terra. Próxima à subestação em um sistema
aterrado, haverá um pequeno ou nenhum aumento nas
fases não faltosas porque o transformador da subestação é
usualmente conectado em delta-estrela, provendo um baixo
caminho de impedância de sequência zero para a corrente
de falta. Na Figura 1, está ilustrada uma elevação de tensão
proveniente de uma falta monofásica.
A duração da elevação também está intimamente ligada
aos ajustes dos dispositivos de proteção, à natureza da
falta (permanente ou temporária) e à sua localização na
rede elétrica. Em situações de elevações oriundas de saídas Figura 1 - Elevação de tensão devido a uma falta fase-terra.
Apoio
38
Este fenômeno pode também estar associado à saída depende apenas da magnitude da elevação, mas também
Qualidade de energia
comprometimento do processo produtivo. sendo propostos para melhor caracterizar os fenômenos aqui
Qualidade de energia
Um parâmetro relevante para determinar os impactos enfocados. Dentre eles, destacam-se a evolução da forma de
dos afundamentos em um subsistema é a frequência de onda, o ponto de início e término do afundamento na onda e a
ocorrência, que corresponde à quantidade de vezes que variação súbita do defasamento angular (phase angle jumps).
cada combinação dos parâmetros de duração e amplitude Em afundamentos trifásicos, as três tensões de fase
ocorrem em determinado período de tempo ao longo do poderão ter e, na maioria dos casos, têm magnitude e duração
qual um barramento tenha sido monitorado (três meses, um diferentes para cada uma das fases. Algumas propostas têm
ano, etc.). sido formuladas para caracterizar esses parâmetros nesses
A Figura 5 registra a alteração da forma de onda de afundamentos. A mais comumente aceita considera a
tensão na ocorrência de um afundamento de tensão. magnitude e a duração da fase mais afetada como referência
A magnitude pode ser definida como o menor valor da para caracterizar o fenômeno trifásico.
tensão RMS e a duração reflete o tempo em que a magnitude Conhecendo-se a magnitude e a duração de um voltage sag,
da tensão está abaixo de 90% da tensão eficaz nominal. este pode ser apresentado em um ponto no plano: magnitude
versus duração. Um exemplo dessa plotagem é mostrado
na Figura 7, onde os números referem-se a voltage sags
provenientes de:
As faltas no sistema elétrico consistem, normalmente, nas as fase-terra, apresentam maiores taxas de ocorrência e
principais causas dos afundamentos temporários de tensão, geram afundamentos de tensão menos severos, porém
sobretudo as originadas no sistema da concessionária, desequilibrados e assimétricos.
devido à existência de milhares de quilômetros de linhas Na Figura 1.11, está representado um sistema composto por
aéreas de transmissão e distribuição, sujeitas a vários tipos uma concessionária e por uma carga equivalente. Neste sistema
de fenômenos naturais. serão aplicados os quatro tipos de faltas, descritos anteriormente.
Curtos-circuitos também ocorrem em subestações Nas Figuras 12 a 15, estão representadas, respectivamente,
terminais de linha e nos sistemas industriais, porém, com as formas de onda das tensões fase-fase no barramento da
menor taxa de ocorrência. Geralmente, nos sistemas concessionária devido a uma falta trifásica, monofásica,
industriais, a distribuição primária e secundária é feita por bifásica a terra e bifásica.
cabos isolados, que possuem uma menor taxa de falta quando
comparados às linhas aéreas.
As faltas nas linhas aéreas são quase que exclusivamente
devido a descargas atmosféricas, porém, queimadas, vendavais,
contatos acidentais, falhas nos isoladores, acidentes, também
são causadores de curtos-circuitos.
As faltas podem ser de natureza temporária ou permanente.
As temporárias são, em sua grande maioria, devido à
ocorrência de descargas atmosféricas, temporais e ventanias,
que, em geral, não provocam danos permanentes ao sistema de
isolação. O sistema pode ser prontamente restabelecido pelos
religamentos automáticos. As faltas permanentes são causadas
Figura 12 – Tensões fase-fase no barramento da concessionária para
por danos físicos em algum elemento de isolação do sistema,
uma falta trifásica.
sendo necessária a intervenção da equipe de manutenção.
Na ocorrência de um curto circuito, o afundamento de
tensão tem a duração do tempo de permanência da falta,
ou seja, desde o instante inicial do defeito, até a completa
eliminação do mesmo.
As faltas no sistema elétrico podem ser: trifásicas,
bifásicas, bifásicas à terra e monofásicas. As faltas trifásicas
são simétricas e geram, portanto, afundamentos de tensão
também simétricos. Embora produzam afundamentos mais
severos, ocorrem com menor frequência.
Estrela E strela
E quilibrada trifásica
Triângulo T riângulo
Estrela E strela
Monofásica
Triângulo T riângulo
Estrela E strela
Bifásicas
Triângulo T riângulo
B ifásicas à terra
Estrela E strela
Triângulo T riângulo
Em que:
h - Magnitude do afundamento de tensão;
V - Magnitude da tensão nominal do sistema;
*Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com Ivandro Bacca é engenheiro eletricista e mestre pela
mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica Universidade Fé engenheiro eletricista e mestre pela
pela universidade Federal de Itajubá. Atualmente, Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em Qualidade da
é consultor tecnológico em energia no Instituto de Energia. É engenheiro da Copel Distribuição com atuação
Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação na área de manutenção de equipamentos eletromecânicos.
é voltada para áreas de qualidade de energia
elétrica, geração distribuída, eficiência energética e José Maria de Carvalho Filho é engenheiro eletricista
distribuição. pela UFMG, com mestrado e doutorado pela Unifei.
Atualmente, é professor da Unifei e membro do Grupo de
Mateus Duarte Teixeira é engenheiro eletricista e Estudos em Qualidade da Energia (GQEE), com atuação em
mestre em sistemas de potência – qualidade de energia Qualidade e Proteção de Sistemas Elétricos.
elétrica. Atua há mais de dez anos em projetos de
tecnologia aplicada ao setor elétrico nas áreas de Continua na próxima edição
qualidade da energia, geração distribuída, eficiência Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
energética e proteção de sistemas elétricos para Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
empresas do setor. redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
34
Qualidade de energia
Capítulo V
Este capítulo continuará a abordar as Variações para explicar a transferência dos afundamentos de
de Tensão de Curta Duração (VTCDs), que têm um nível de tensão para outro:
mobilizado esforços de pesquisadores de todo o
mundo na busca de soluções tanto para suas causas 1. Transformadores que não introduzem
quanto para os efeitos sobre o sistema. defasamento angular e nem filtram as componentes
A maioria dos afundamentos de tensão tem de sequência zero: fazem parte desta categoria os
origem em pontos físicos dos sistemas elétricos transformadores com as conexões Y N Y N (estrela-
com níveis de tensão diferentes daqueles estrela, aterrado em ambos os lados);
onde os equipamentos estão conectados. 2. São aqueles que somente filtram as componentes
Portanto, nem sempre as características dos de sequência zero: exemplos destes tipos são os
afundamentos trifásicos monitorados nos pontos transformadores com conexões YY (estrela - estrela),
de acoplamento comum, ou em outras partes do ΔΔ (delta-delta), YN Y (estrela-estrela, aterrado
sistema, correspondem às experimentadas pelos no primário), Y YN (estrela-estrela, aterrado no
equipamentos. Tal fato se deve, principalmente, à secundário) e ΔΖ (delta – zig-zag);
existência de transformadores entre o sistema da 3. Transformadores em que cada tensão em um
concessionária (e do próprio complexo industrial) dos enrolamentos (primário ou secundário) é
e os terminais dos equipamentos. função da diferença fasorial entre duas tensões
Sabendo-se que a maioria dos transformadores aplicadas ao outro enrolamento: além de filtrarem
empregados comercialmente é, por exemplo, a componente de sequência zero da tensão, estes
do tipo estrela-delta e como tais conexões introduzem ainda defasamentos angulares entre as
exercem forte influência sobre as propagações tensões primária e secundária. Tais equipamentos
de fenômenos desequilibrados, é de se esperar são aqueles com conexões YΔ (estrela-delta),
que os afundamentos percebidos pelas cargas, (delta-estrela), (estrela-delta, aterrado no primário),
tanto no que tange às magnitudes como seus ΔY (delta-estrela, aterrado no secundário) e YN Ζ
correspondentes ângulos de fase, venham a ser (estrela – zig-zag).
afetados por tais equipamentos.
Apesar da existência de várias formas de A transferência dos afundamentos de tensão
conexão dos enrolamentos dos transformadores, pelos transformadores agrupados nas três categorias
agrupá-los em apenas três categorias é suficiente acima descritas pode ser sintetizada na Tabela 1.
Apoio
35
• Localização da falta
A localização da falta no sistema elétrico influencia,
significativamente, o impacto do afundamento de tensão
sobre os consumidores. As faltas, quando ocorrem no
sistema de transmissão e subtransmissão, afetam certamente
um número maior de consumidores do que as faltas no
sistema de distribuição. Este fato deve-se, principalmente, às
Figura 1 – Influência da localização das faltas em um sistema elétrico.
características dos sistemas de transmissão e subtransmissão
que são normalmente malhados. A título de exemplo, há registros nos Estados Unidos que uma
Já os sistemas de distribuição possuem, geralmente, falta, sobre um sistema de transmissão de 230 kV, foi percebida
configuração radial, sendo que curtos-circuitos nos ramais de sob a forma de afundamento de tensão por equipamentos
uma subestação (SE) de distribuição dificilmente provocarão instalados a aproximadamente 160 km, enquanto, para um
afundamentos de tensão significativos em outra. Normalmente, sistema de 100 kV, o raio de ação é da ordem de 80 km.
Apoio
36
Raramente, os curtos-circuitos no sistema elétrico são variação da curva de carga diária, observando-se elevações
metálicos, ou seja, com impedância de falta nula. Normalmente, de tensão durante períodos de carga leve, de um modo geral,
ocorrem por impedância de falta que é constituída da associação de madrugada, sábados, domingos e feriados e reduções de
dos seguintes elementos: tensão nos períodos de carga pesada.
Geralmente, nos estudos do sistema elétrico, assume-se
• Resistência do arco elétrico entre o condutor e a terra, ou que a tensão, no instante anterior à falta (tensão pré-falta), é
entre dois ou mais condutores, para defeitos envolvendo mais de 1pu. No entanto, em função da curva de carga do sistema,
de uma fase; esta premissa, na maioria das vezes, não é verdadeira,
• Resistência de contato devido à oxidação no local da falta; incorrendo-se em erros, quando do cálculo da magnitude do
• Resistência de terra para defeitos englobando a terra. afundamento de tensão.
Relógios
Duração (ciclos)
Figura 2 – Curva CBEMA.
afundamento de tensão, os CLPs apresentam disfunções e Independentemente de sua aplicação, os contatores e relés
perda de programação, que causam interrupção de parte auxiliares têm sido identificados como um dos pontos fracos
ou de todo o processo produtivo. A Figura 5 apresenta a dos sistemas elétricos, principalmente, quando associados a
curva de sensibilidade dos CLPs, quando submetidos à processos industriais automatizados. Os problemas geralmente
afundamentos de tensão. surgem quando da ocorrência de afundamento de tensão no
sistema, ocasião em que estes dispositivos, indevidamente,
Faixa de de sensibilidade dos CLPs
provocam a abertura de circuitos de força e/ou comando.
A literatura especializada mostra que o desempenho
Porcentagem da Tensão Nominal
CBEMA
e sistema inversor (normalmente PWM). Estes equipamentos
têm dispositivos de armazenamento de energia (capacitor e
indutor) no barramento DC e os de menor potência utilizam
ponte retificadora não controlada (a diodos) no primeiro
Região de Disrupção
estágio. Estes acionamentos fornecem tensão e frequência
variável para motores de indução trifásicos.
Já os acionamentos CC são constituídos basicamente
Duração (ciclos)
de uma ponte retificadora, que fornece tensão CC variável
Figura 7 – Sensibilidade dos relés auxiliares.
para o motor de corrente contínua. Os acionamentos CC
utilizam pontes controladas ou semi-controladas, cujos poderão promover a parada destes equipamentos.
tiristores são gatilhados de forma sincronizada com a fonte Constata-se que os ASDs, a exemplo dos demais
de suprimento. Normalmente, estes acionamentos são equipamentos industriais, têm a sensibilidade caracterizada
desprovidos de capacitor (filtragem) no lado CC. por uma faixa dentro do plano: magnitude versus duração
Ambos os tipos de acionamentos (CA e CC) são do afundamento de tensão. Isso ocorre geralmente devido
vulneráveis à ocorrência de afundamento de tensão, aos seguintes fatores:
principalmente, no que se refere à intensidade e duração • Diferenças entre as tecnologias de fabricação dos
deste distúrbio. fornecedores;
No entanto, estudos técnicos recentes relatam que, • Diferenças entre as condições operacionais e de ciclo de
dependendo do tipo de acionamento e sistema de controle carga dos equipamentos quando em operação;
utilizado, o desequilíbrio e a assimetria angular presentes • Fatores ambientais do local em que o equipamento está
no afundamento de tensão também poderão promover o instalado;
desligamento dos acionamentos ou até mesmo provocar • Desaceleração do acionamento (motor e carga mecânica).
danos permanentes nestes equipamentos. Portanto, os Dependendo do processo, isso poderá comprometer a
ASDs poderão estar sendo desligados devido à combinação qualidade do produto;
de, pelo menos, três fatores normalmente presentes no • Flutuação do torque do motor (AC e DC) com as mesmas
afundamento de tensão (magnitude, duração e assimetria implicações citadas anteriormente;
angular). • Desligamento do acionamento devido à atuação de
Devido às características construtivas, os acionamentos dispositivos de controle e proteção (subtensão, sobretensão,
CC são mais sensíveis aos afundamentos de tensão que os perda de fase, sequência de fase, etc.);
acionamentos CA. Isso ocorre devido aos seguintes fatores: • Queima de fusíveis e componentes, principalmente, nos
acionamentos DC operando no modo regenerativo.
• Os acionamentos CC são normalmente desprovidos de
dispositivos de armazenamento de energia (capacitor no Conclui-se que, para conhecer profundamente
lado CC); o comportamento dos ASDs, quando submetidos a
• Os sistemas de comando destes equipamentos bloqueiam afundamentos de tensão, ainda será necessário o
o sistema de disparo da ponte controlada devido ao desenvolvimento de muitas pesquisas, envolvendo
desequilíbrio e assimetria presentes nos três fasores do principalmente universidades e fabricantes.
afundamento de tensão.
Ações mitigadoras
O fato é que muitos dos acionamentos, sejam eles Os processos de mitigação dos afundamentos de tensão
CA ou CC, deixarão de operar quando da ocorrência de podem ser realizados em várias partes do sistema elétrico,
afundamento de tensão, o que inevitavelmente conduzirá a contudo, os custos envolvidos aumentam à medida que
perdas de produção. aumenta a tensão do sistema conforme verificado na Figura
A Figura 10 apresenta a curva de sensibilidade dos ASDs 11.
diante do afundamento de tensão, representada por apenas
dois parâmetros (magnitude e duração). Observa-se que
afundamentos de tensão com valores abaixo de 0,90 pu
CBEMA
Região de
Disrupção
Duração (ciclos)
Figura 11 – Custos envolvendo os processos de mitigação dos
Figura 10 – Sensibilidade dos ASDs. afundamentos.
Apoio
43
Para se reduzir os efeitos de VTCDs, pode-se, em da eficiência da técnica de controle de chaveamento dos
princípio, adotar uma das seguintes medidas básicas: inversores. Os inversores são geralmente elementos do tipo
“Space Vector Pulse With Modulation pulses (SVPWM)”
1. Agir nas suas causas; que maximizam a utilização da tensão do elo CC.
2. Atuar na sensibilidade dos equipamentos. O segundo tipo de ação seria mais abrangente, evitando
a propagação dos afundamentos pelo sistema, evitando que
No que diz respeito às ações de compensação e/ou ele atinja as cargas. Normalmente, este tipo de solução
eliminação dos afundamentos momentâneos de tensão, está diretamente ligado à tomada de ações de coordenação
pode-se visualizar duas possibilidades distintas. A primeira da proteção dos sistemas de potência, como atuação de
corresponde à compensação visando reduzir os impactos religadores automáticos, instalação de fusíveis limitadores;
destes fenômenos sobre as cargas. Dessa forma, busca-se implantação de estratégias “fuse saving”. Outras formas
uma solução momentânea e localizada. Como exemplo de compensação podem ser ajustadas de maneira a contribuir
de soluções na eliminação das
pode-se citar a variações de ten -
instalação de alguns são como o apro vei-
equipamentos, tais tamento ou in stalação
como: de com pensadores
de tensão, tais como
• Transformadores STATCOM, DVR,
ferrorresonantes RCT, CCT, dentre
(CVT) – Também outros. No entanto,
conhecidos por todas estas estratégias
transformadores de demandam grande
tensão constante.
Constituem-se em
unidades altamente Interrupções de
excitadas em relação curta duração
a sua curva de Uma inter rup-
saturação. Aplicável ção ocorre quando
a pequenas cargas; o fornecimento de
• UPS – Formadas tensão ou corrente
por um retificador, de carga decresce
um conjunto de para um valor menor
baterias/capacitores do que 0,1 pu por
conectados ao intervalos típicos
barramento CC, um não superiores a 2
inversor estático e ou 5 segundos.
um dispositivo para As interrupções
transferência automática da carga; podem ser resultantes de faltas no sistema de energia,
• Grupo motor-gerador – Formado por máquinas rotativas falhas nos equipamentos e mau funcionamento de sistemas
e dispositivos mecânicos apropriados para o bloqueio das de controle. As interrupções são medidas pela sua duração
transferências das variações de tensão; desde que a magnitude da tensão é sempre menor do que
• Flywheel – São equipamentos mecânicos instalados nos 10% da nominal. A duração de uma interrupção, devido a
eixos de motores elétricos com intuito de fornecer a inércia uma falta sobre o sistema da concessionária, é determinada
necessária à carga mecânica instalada no referido eixo; pelo tempo de operação dos dispositivos de proteção
• DVR – Os “Dynamic Voltage Restorer” (VSI) são empregados.
equipamentos que consistem de um uma fonte inversora Religadores programados para operar instantaneamente,
de tensão (VSI), transformadores de injeção, filtros passivos geralmente, limitam a interrupção a tempos inferiores a 30
e fontes armazenadoras de energia como baterias e ciclos.
capacitores. A eficiência do DVR depende principalmente Religadores temporizados podem originar interrupções
Apoio
44
Tensão na Fase B - Alguns dados estatísticos revelam que 75% das faltas em
Variação rms redes aéreas são de natureza temporária. No passado, este
Duração percentual não era considerado preocupante. Entretanto, com
2300s o crescente emprego de cargas eletrônicas, como inversores,
Min. 0.257 computadores, videocassetes, etc., este número passou
Méd. 22.43 a ser relevante nos estudos de otimização do sistema, pois
Máx. 100.4 é, agora, tido como responsável pela saída de operação de
Tempo (s)
diversos equipamentos, interrompendo o processo produtivo
e causando enormes prejuízos às indústrias.
Para corrigir este problema, algumas concessionárias têm
mudado a filosofia de proteção com o objetivo de diminuir
o número de consumidores afetados pelas interrupções. Na
Tempo (ms) filosofia de proteção coordenada, o dispositivo de proteção do
Figura 12 – Interrupção momentânea devido a um curto-circuito e alimentador principal, seja o religador ou o disjuntor, sempre
subsequente religamento. opera uma ou duas vezes antes da operação do dispositivo à
Seja, por exemplo, o caso de um curto-circuito no jusante, geralmente um fusível.
sistema supridor da concessionária. Logo que o dispositivo
de proteção detecta a corrente de curto-circuito, ele
*Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com
comanda a desenergização da linha com vistas a eliminar mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica
pela universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
a corrente de falta. Somente após um curto intervalo de é consultor tecnológico em energia no Instituto de
Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação
tempo, o religamento automático do disjuntor ou religador é é voltada para áreas de qualidade de energia
elétrica, geração distribuída, eficiência energética e
efetuado. Entretanto, pode ocorrer que, após o religamento, distribuição.
o curto persista e uma sequência de religamentos pode Mateus Duarte Teixeira é engenheiro eletricista e
mestre em sistemas de potência – qualidade de energia
ser efetuada com o intuito deeliminar a falta. A Figura 13 elétrica. Atua há mais de dez anos em projetos de
tecnologia aplicada ao setor elétrico nas áreas de
mostra uma sequência de religamentos com valores típicos qualidade da energia, geração distribuída, eficiência
de ajustes do atraso. energética e proteção de sistemas elétricos para
empresas do setor.
Sendo a falta de caráter temporário, o equipamento Ivandro Bacca é engenheiro eletricista e mestre pela
de proteção não completará a sequência de operações Universidade Fé engenheiro eletricista e mestre pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em Qualidade da
programadas e o fornecimento de energia não é Energia. É engenheiro da Copel Distribuição com atuação
na área de manutenção de equipamentos eletromecânicos.
interrompido. Assim, grande parte dos consumidores,
José Maria de Carvalho Filho é engenheiro eletricista
principalmente em áreas residenciais, não sentirá os efeitos pela UFMG, com mestrado e doutorado pela Unifei.
Atualmente, é professor da Unifei e membro do Grupo de
da interrupção. Porém, algumas cargas mais sensíveis do Estudos em Qualidade da Energia (GQEE), com atuação em
Qualidade e Proteção de Sistemas Elétricos.
tipo computadores e outras cargas eletrônicas estarão
sujeitas a tais efeitos, a menos que a instalação seja dotada Continua na próxima edição
de unidades UPS (Uninterruptible Power Supply), as Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
quais evitarão maiores consequências na operação destes redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
38
Qualidade de energia
Capítulo VII
Flutuações de tensão
Por Gilson Paulillo e Mateus Teixeira*
A Norma IEC 60555-3 define quatro tipos distintos de como motores, prensas, compressores, etc.
flutuação de tensão de forma a facilitar a aplicação de
métodos de análise e de ensaios de conformidade em
equipamentos elétricos.
• Tipo A:
Representa uma série repetitiva de variações retangulares
em torno de um nível de tensão de referência. Esta flutuação
apresenta um padrão (retangular) bem definido, tendo como
variáveis importantes a amplitude e a frequência, conforme
mostra a Figura 4.
• Tipo D:
Compostas por variações contínuas e aleatórias, em
geral provocadas por cargas com operação intermitentes,
tais como fornos a arco elétrico (veja a Figura 7). Em função
da potência das cargas, esta pode se propagar pelo sistema
de transmissão e distribuição.
• Tipo B:
Resultado da composição de uma série irregular de
variações bruscas, não apresentando um período ou ciclo
definido. Este tipo pode representar sucessivos degraus
de tensão, crescentes ou decrescentes, caracterizada pela
entrada ou saída de cargas que operam por etapas, tais
como elevadores, laminadores, prensas, etc. e é mostrada
na Figura 5.
Forno a arco
Um forno elétrico a arco é uma máquina elétrica que
transforma energia elétrica em energia térmica. Os principais
tipos de forno a arco estão apresentados na Figura 8.
• Tipo C:
Resultado da composição de uma série irregular de formas
diversas, as quais podem ser por degraus (retangular), em rampa
(triangular) ou oscilatórias (senoidais), conforme mostra a Figura Figura 8 – Principais tipos de fornos a arco.
Apoio
42
forno a arco, em um barramento de 14,4 kV, é apresentado na Este tipo de equipamento, utilizado nas mais diversas
Figura 9. indústrias, trabalha com o princípio do arco elétrico. A Figura
12 apresenta o esquema elétrico básico desses equipamentos.
Figura 9 – Oscilações de tensão oriundas da operação de um forno a arco. Figura 12 – Esquema elétrico de uma máquina de solda.
dez minutos, consistindo dos níveis que foram excedidos em A expressão resultante para o índice de severidade
Qualidade de energia
0,1%, 1%, 3%, 10% e 50%, respectivamente. de flicker de curta duração, incluindo os valores dos
Com relação aos valores obtidos para os coeficientes Ki, coeficientes Ki, é dada pela Equação 2.
estes foram determinados a partir da curva recomendada pelo
(2)
documento IEC 555-3, a qual, baseada em investigações de
sensibilidade do olho humano, correlaciona a variação de A avaliação da severidade no nível flicker pelo método
tensão com variações retangulares de tensão, por minuto, para de curta duração é empregada, adequadamente, quando
a obtenção de PST igual a 1. se realiza a análise de distúrbio causada por fontes
Simplificadamente, a conversão da curva FPC, em um individuais. Quando da existência de várias fontes de
índice representativo da severidade do incômodo visual para distúrbio ou cargas com longos e variáveis ciclos, torna-se
um período de dez minutos, é determinada de modo que o necessária e conveniente uma análise criteriosa pelo índice
valor de PST seja igual a 1 para todos os valores de variação de de severidade de flicker de longa duração (PLT).
tensão expressos pela curva IEC 60555-3. O estabelecimento de O índice de severidade de flicker de longa a duração –
um valor limite para PST foi resultante de testes em laboratório; PLT – mais utilizado é derivado do parâmetro PST a partir do
verificou-se que uma proporção substancial de observadores cálculo da raiz cúbica dos valores de PST cúbicos, expresso
mostrou-se sensível ao flicker para PST igual a 1. pela Equação 3.
Os valores determinados para os coeficientes Ki são
apresentados na Tabela 1.
(3)
Capítulo VIII
Compensação reativa e
qualidade da energia elétrica
Por Flávio Resende e Gilson Paulillo*
(2)
Figura 1 – Relação entre perdas e fator de potência corrigido de uma
instalação.
Apoio
38
Logo, a redução do valor de Ix, que pode ser viabilizada por Clientes com medição do tipo média mensal:
Qualidade de energia
meio da aplicação, por exemplo, de um banco de capacitores Considera-se, neste caso, a correção do fator de potência de
tipo shunt, permitirá a melhoria do perfil de tensão da instalação. consumidores do tipo “B”, que, via de regra, estão submetidos
Vale lembrar que cuidados especiais devem ser tomados à medição mensal do fator de potência.
quando da operação do banco de capacitores sob condições O valor atualmente mais indicado para correção do
de carga leve, pois, nesta situação, a tensão tende a se elevar fator de potência é de 0.95, recomendando-se que ele não
bastante, podendo atingir valores acima dos permitidos. Nestes apresente fatores médios abaixo de 0.93 ou acima de 0.98.
casos, é aconselhável a adoção do chaveamento manual ou No primeiro caso, conforme a característica da instalação,
automático dos capacitores, de acordo com as necessidades da adotar a estratégia de correção para valores abaixo de
instalação. Esta condição pode ser observada na Figura 3, que 0.93 pode ocasionar multas em determinados períodos do
mostra que a instalação apropriada de capacitores pode manter ano devido à estreita margem de erro. No segundo caso, a
a tensão no fim da linha dentro de limites bem próximos do correção para valores acima de 0.98 pode levar a problemas
valor da tensão no início da linha. na instalação do consumidor.
Assim, recomenda-se a realização de um estudo detalhado
das diversas alternativas de compensação como, por exemplo,
a aplicação de bancos automáticos, correção localizada, filtros
ativos, dentre outros.
A identificação mais prática e segura dos problemas de
multa por baixo fator de potência e, consequente, a necessidade
de se adotar um mecanismo de compensação de reativos é a
análise das contas de energia da instalação.
Estas informações são indispensáveis para a determinação No caso da utilização da demanda registrada em cada
do local mais indicado para instalação dos capacitores, assim hora como referência para (3) e (4), o resultado é a definição
como o modelo e tipo de capacitor mais apropriado. Em geral, da compensação a ser inserida na rede em cada hora em
estão disponíveis no diagrama unifilar da instalação e deve função do perfil de carregamento do consumidor. Logo,
apresentar as seguintes informações: tem-se que:
(6)
• Todos os transformadores (com tensões e potência definidas);
• Todos os capacitores fixos (com potência definida);
Aplicação de capacitores em circuitos com
• Todos os bancos automáticos de capacitores (com potência
harmônicos
definida);
Pelas considerações estabelecidas nas normas
• Todos os capacitores não fixos, em geral instalados junto a
mundialmente reconhecidas de especificação de capacitores
máquinas especiais, motores, etc. (com potência definida);
de potência, existem restrições quanto à sua utilização em
• Cargas especiais, fundamental para os circuítos onde pode
circuitos com condições anormais de operação (transitórios,
haver a circulação de correntes harmônicas. Nestes casos,
sobretensões, harmônicos, etc.).
recomenda-se efetuar o estudo de penetração harmônica da
Tais restrições são decorrentes do fato de que o
instalação. Neste caso, o unifilar deve ser completo, constando
fabricante, ao projetar e fabricar um determinado tipo
os seguintes dados:
de capacitor, leva em consideração os valores normais
Impedância de todos os equipamentos;
de tensão e corrente a que ele estará submetido (valores
Características das fontes geradoras de harmônicas;
nominais), não podendo prever de modo generalizadoas
Potência de curto circuíto da concessionária;
possíveis condições adversas. Tais condições adversas,
Outros.
em muitos casos, ultrapassam os valores normalizados de
suportabilidade do equipamento, sacrificando desta forma
Definição do valor da compensação de reativos
sua vida operacional.
O montante de compensação pode ser definido por meio
Todo circuito que opera com dispositivos que alteram
dos dados disponibilizados pela fatura de energia elétrica ou
a forma de onda da corrente e da tensão fundamental de
ainda pelos dados disponibilizados pela concessionária de
alimentação possui componentes harmônicos. A amplitude
energia a partir da memória do medidor de energia (hora a
e a frequência destes harmônicos dependerão do tipo
hora). Dessa forma, pode-se obter o valor da compensação por
de equipamento utilizado, de sua potência e dos valores
meio da seguinte relação:
intrínsecos do circuito e equipamentos a ele conectados.
(3) A impedância de qualquer tipo de capacitor (reatância
Em que: capacitiva) é definida pela seguinte expressão:
uma vez que estes tendem a diminuir a impedância geral do Logicamente, o equipamento utilizado para tal proposição
circuito para frequências acima da fundamental. é dimensionado para suportar as adversidades de funciona
mento (sobrecorrentes e sobretensões harmônicas), sendo
Ressonância série aproveitada a sua potência de serviço na tensão fundamental
Em relação à circulação de componentes harmônicos sobre para a correção do fator de potência no ponto de instalação
os capacitores, ressalta-se que a condição mais severa ocorrerá do mesmo.
quando for estabelecida uma sintonia em série entre os valores
da impedância equivalente do sistema com o capacitor Resssonância paralela
(ressonância série). Neste caso, a atenuação da amplitude do Esta ressonância apresenta um elevado valor de
harmônico considerado é praticamente nenhuma, transferindo impedância pela combinação em paralelo da reatância
para o capacitor toda (ou quase toda) a energia corresponde à capacitiva com a reatância indutiva, na frequência em
harmônica sintonizada. Neste caso, considera-se: que ambas se equivalem. Isto pode representar um sério
problema quando esta impedância for percorrida por uma
corrente, mesmo que pequena, de mesma frequência,
fazendo com que se elevem drasticamente as tensões em
Em que: Zr = Impedância Resultante
seus terminais e as correntes harmônicas desta ordem
existentes no sistema, levando a danos aos equipamentos
do sistema, principalmente aos bancos de capacitores
instalados no ponto de ocorrência de tal ressonância.
Em que: fr = Frequência de Ressonância
Em sistemas de potência, a utilização de capacitores
Contudo, uma estratégia comum é a utilização do para correção do fator de potência pode caracterizar uma
efeito de ressonância em questão para a “filtragem” das ressonância paralela no ponto de instalação àafrequências
harmônicas existentes em sistemas elétricos. Cria-se, harmônicas que estejam presentes no sistema. Desta forma,
dessa forma, o conceito de “Filtro de Harmônicos”. em sistemas onde existem cargas geradoras de harmônicas
Apoio
42
significativas, é imprescindível a realização de estudos harmônicas, tais ligações deverão ser reforçadas, evitando
Qualidade de energia
harmônicos para garantir a instalação segura dos bancos sobrecarga nos condutores e placas.
de capacitores para correção do fator de potência, evitando
com isto danos a estes bancos e ao próprio sistema. c) Na prática, pode-se considerar que a média quadrática
Para determinação da frequência de ressonância quando dos valores das correntes existentes, nos dará a noção
da instalação de bancos de capacitores, pode-se utilizar a apropriada da corrente resultante, para o dimensionamento
seguinte equação: dos condutores a placas associados ao capacitor.
Efeitos das componentes harmônicas sobre capacitores d) Efeito combinado: tensão X corrente: este efeito, gerado
Os valores nominais de tensão de potência de operação a partir da presença de tensões e correntes harmônicas,
são utilizados para o dimensionamento dos capacitores leva à necessidade de estabelecer, com critérios, o
em sua utilização mais genérica, ous seja, funcionamento adequado dimensionamento dos capacitores da instalação.
na frequência fundamental. Entretanto, em circuitos com Além disso, devem ser consideradas as variações bruscas
presença de harmônicos os valores de suportabilidade dos na forma de onda distorcida da tensão sobre o capacitor,
capacitores ficarão prejudicados em função do acréscimo resultante das componentes harmônicas.
de corrente, tensão e potência introduzidos por este Neste caso, considere-se a que a corrente no capacitor
fenômeno. é dada, em função de sua tensão, pela seguinte relação:
Basicamente, os efeitos prejudiciais causados pelas
componentes harmônicas podem ser explicados da seguinte
forma:
Invarialvemente, o “reforço” dos capacitores leva a um Sinusoidal Voltage on Intrinsic Aging of Cable and Capacitor
aumento no seu tamanho com a reavalição de todas as Insulating Materials”, IEEE Transactions on Dielectrics and
suas características de projeto, repercutindo em acréscimos Electrical Insulation, pp. 798-802, Dec. 1999.
de custos e, possivelmente, prazos de entrega. Porém, [5] Life Expectance Test Procedures – General Electric –
paralelamente, tais inconvenientes são justificáveis em Reactive Compensation Business.
função dos benefícios obtidos com o aumento de vida útil [6] GARCIA, F.R. “Procedimentos de Projeto de Capacitores
alcançado, se comparados com capacitores convencionais. e Bancos de Capacitores em Sistema com Harmônicos”,
Aconselha-se, em função da problemática que circuitos Inepar.
com harmônicos podem assumir, fazer um criterioso estudo
de características, dando ao fabricante de capacitores os *Gilson Paulilo é engenheiro eletricista, com
subsídios necessários para o correto dimensionamento de mestrado e doutorado em qualidade de energia elétrica
pela universidade Federal de Itajubá. Atualmente,
seu equipamento. é consultor tecnológico em energia no Instituto de
Pesquisas Eldorado, em Campinas (SP). Sua atuação
é voltada para áreas de qualidade de energia
Referências
elétrica, geração distribuída, eficiência energética e
[1] ARRILAGA, J., “Harmonic Elimination”, in International distribuição.
Conference on Harmonics in Power Systems Proceedings,
Flávio Resende Garcia é consultor técnico da empresa
September 1981, Manchester, England, pp. 37-75.
INEPAR S/A desde 1992. É engenheiro eletricista, com
[2] ARRILAGA, J., BRADLEY, P. S., BOGDER, P. S., “Power mestrado em Cargas Elétricas Especiais e Harmônicos
Systems Harmonics”, John Wiley and Sons, New York, 1985. em Sistemas Elétricos de Potência e especialização em
“Power Quality Management” pela Westinghouse-USA.
[3] DUGAN, R. C., McGRANAGHAN, M. F., BEATY, H. W.,
“Electrical Power Systems Quality”, McGraw-Hill, USA,
Continua na próxima edição
1996. Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
[4] MONTANARI, G.C. and FABIANI, D. “The Effect of Non- redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
44
Qualidade de energia
Capítulo IX
existentes.
6
75
Bloco
Bloco
Diagnóstico da QEE
Inicialmente, foram analisados os dados obtidos nas Figura 3 – Tensão de regime permanente – Secundário do transformador.
tensão (VTHD – Voltage Total Harmonic Distortion) é mostrado tensão (VTHD – Voltage Total Harmonic Distortion) é mostrado
Qualidade de energia
na Figura 4 e a forma de onda representativa desta distorção é na Figura 4 e a forma de onda representativa desta distorção é
mostrada na Figura 5. mostrada na Figura 5.
40 80,00%
Frequência
30 60,00%
%cumulativo 0.0V 0.0A
20 40,00%
10 20,00%
0 ,00%
5
5
s
1,
0,
2,
3,
4,
ai
M
Model 7100 Snapshot Waveform Three Phase Wye Figura 6 – Transitório de chaveamento de banco de capacitores
350.0V 10.0A
Distortion: THD=2.31% Odd=2.30% Even=0.25% Va
- VTCDs – Afundamentos e elevações de tensão
Os eventos registrados no período de monitoramento (50
dias) estão sintetizados na Tabela 1 e na Figura 7. Observa-se,
0.0V 0.0A
quantitativamente, que os afundamentos de tensão foram os
distúrbios que estiveram mais presentes nas instalações do
consumidor X.
- Transitórios
A Figura 6 mostra um transitório típico associado ao
chaveamento de banco de capacitores, comandado pelo
Intensidade(%)
controlador de fator de potência. Como não houve registro de
Duração (ms)
paradas de produção nestes instantes, não se pode, neste caso,
correlacionar os transitórios medidos e as paradas de processo. Figura 7 – Características dos afundamentos de tensão.
Apoio
50
Em função da característica dos desligamentos dos Estes eventos culminaram em diversas paradas de produção na
Qualidade de energia
equipamentos associados ao processo produtivo, bem unidade consumidora, com os seguintes impactos:
como aos resultados mostrados anteriormente, concluiu-se
que as ocorrências de afundamentos de tensão de tensão − Desligamento de acionamentos CA e CC e efeitos associados
constituíram-se na principal suspeita da causa das paradas ao processo;
de produção do consumidor X. − Paradas de produção em processos contínuos devido às
A fim de confirmar esta hipótese, correlacionaram-se os disfunções ocorridas em CLPs e cartões de controle;
eventos registrados (paradas de processo) com as ocorrências − Desligamento de motores na área de serviços auxiliares
dos afundamentos de tensão e suas características intrínsecas devido ao desligamento de contatores e relés auxiliares.
(intensidade e duração). Neste caso, a combinação do
grau de severidade dos afundamentos e a sensibilidade Para minimizar os problemas identificados, recomendou-se
dos equipamentos (acionamentos CA e CC e sistemas de a execução de estudos de viabilidade e projeto de instalação,
controle) tiveram impacto direto no desligamento dos visando as seguintes ações:
equipamentos e na interrupção dos processos produtivos
associados. Como exemplo, a Figura 8 mostra um registro − Estabilizar as tensões de comando para alimentação de CLPs
de afundamento de tensão com elevado grau de severidade. e cartões de controle por meio de no-break (solução local);
A correlação de todos os registros de afundamentos de − Estabilizar as tensões de comando para a alimentação de
tensão com o relatório de produção indicou a ocorrência bobinas de contatores e relés auxiliares;
de seis eventos. − Implantar um sistema de alarmes, visando notificar a equipe
Assim, com base nestas informações concluiu-se que a de manutenção elétrica dos desligamentos de equipamentos
causa principal das paradas de produção do consumidor auxiliares;
X foram os afundamentos de tensão, provocando o mau − Avaliar, juntamente com todos os fabricantes, a possibilidade
funcionamento e desligamento de Controladores Lógico de dessensibilização dos acionamentos CA e CC por meio de
Programáveis (CLPs) e acionamentos CA e CC. uma nova parametrização dos acionamentos. Neste particular,
faz-se necessário a obtenção, junto aos fornecedores, das
parametrizações em uso nos equipamentos;
Model 7100 RMS Sag Disturbance Three Phase Wye
300.0V 20.0A
− Estabilizar as tensões de alimentação das demais cargas
Va
sensíveis por meio de nobreaks (solução local).
Vb
Vc
Figura 8 – Afundamento de tensão de grande severidade. Fernando Nunes Belchior é engenheiro eletricista,
mestre e doutor em Engenharia Elétrica pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU-MG). Desde
Conclusões fev/2007 é professor adjunto no Grupo de Estudos da
Qualidade da Energia Elétrica (GQEE) no Instituto de
Considerando as condições de carga, as medições realizadas
Sistemas Elétricos e Energia (ISEE) da Universidade
indicaram que o sistema de distribuição do consumidor X tem Federal de Itajubá, UNIFEI-MG, Brasil. Atualmente é
boa qualidade da energia no que se refere às tensões de regime presidente da SBQEE, Gestão 2013-2015.
permanente, distorção harmônica e transitórios. José Maria de Carvalho Filho é engenheiro eletricista
Contudo, verificou-se um número substancial de pela UFMG, com mestrado e doutorado pela Unifei.
Atualmente, é professor da Unifei e membro do Grupo de
ocorrências de afundamentos de tensão. Considerando que a
Estudos em Qualidade da Energia (GQEE), com atuação em
instalação do consumidor não registrou e ocorrência de curtos- Qualidade e Proteção de Sistemas Elétricos.
circuitos internos, bem como não dispõe de motores de elevada Continua na próxima edição
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
potência, principais causas deste tipo de fenômeno, os eventos Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
registrados foram originados fora da instalação do consumidor. redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
40
Qualidade de energia
Capítulo X
Aspectos da qualidade da
energia elétrica no contexto
das redes inteligentes
Por Gilson Paulillo e Paulo Ribeiro*
• Análise da Qualidade do Produto em Sistemas CC, de arquitetura de telecomunicação e TI, bem como softwares
Qualidade de energia
principalmente alterações na qualidade da tensão devido a e capacidade de processamento de dados que são a essência
transitórios e oscilações. Isto é de muita importância especialmente da rede inteligente. Estes, associados a aplicativos de Business
para cargas de centros de processamento de dados. Inteligence, são direcionados para atender prioritariamente os
seguintes objetivos:
Conceitos de redes elétricas inteligentes
Usado pela primeira vez em 2005, o termo “smart grid”, • Reduzir as perdas técnicas e comerciais (fraudes);
doravante Redes Elétricas Inteligentes (REIs), contempla • Melhorar a qualidade do serviço prestado pelas distribuidoras;
a convergência da aplicação de elementos digitais e de • Reduzir os custos operacionais;
comunicações nas redes de transporte de energia elétrica, • Melhorar o planejamento da expansão da rede;
proporcionando a efetiva digitalização do sistema elétrico. • Melhorar a gestão dos ativos;
Neste caso, esta convergência proporciona a disponibilização • Promover a eficiência energética;
de um grande volume de dados, gerados a partir de “n” • Fomentar a inovação e a indústria tecnológica.
dispositivos instalados na rede elétrica e que se referem a
diversas grandezas de interesse. Estes, devidamente tratados e Não obstante, este novo ambiente apresenta os seguintes
processados em centros de monitoramento e controle, geram desafios:
informação estratégica sobre a rede elétrica, auxiliando na
operação e controle do sistema como um todo. • Desenvolver um modelo de mercado;
Trata-se de um tema amplamente debatido no mundo atual • Estabelecer padrões de interoperabilidade e de segurança de
e envolve um conceito de relativa complexidade conceitual, equipamentos e sistemas;
formado por relações dinâmicas, envolvendo não somente • Desenvolver novos equipamentos, sistemas de comunicação
a infraestrutura elétrica, de tecnologia da informação e de e aplicações de software para suporte das funcionalidades
telecomunicação, como os agentes de governo, mercado, requeridas;
consumidores em geral e demais entidades. Este ambiente • Desenvolver e priorizar mecanismos, procedimentos e
considera uma vasta diversidade de tecnologias, de soluções associadas a cibersegurança;
equipamentos e de fabricantes, com uma gama de benefícios • Estabelecer politicas e regulamentação;
associados como inovação tecnológica, desenvolvimento de • Integrar todos os agentes do setor e mostrar a importância
novos produtos e serviços e novas oportunidades de mercado, das REIs;
atrelados a toda cadeia de provimento e consumo da energia • Promover uma politica de CT&I de forma a gerar tecnologias
elétrica. nacionais, infraestrutura de pesquisa e disponibilidade de
Esta junção entre os dois tipos de infraestrutura – redes profissionais qualificados nos diversos níveis e temas;
elétricas e redes de TI e Telecom – e sua evolução é mostrada • Promover uma politica industrial que garanta a sustentabilidade
na Figura 1. da cadeia produtiva;
A mudança de paradigma proporcionada por esta • Prover uma energia com qualidade compatível para uma
tecnologia demanda uma série de transformações que passam economia digital.
pela modernização da infraestrutura, definição e instalação Um exemplo prático deste desafio é a evolução dos atuais
sistemas de medição para sistemas de medição inteligentes, Qualidade da energia e redes elétricas inteligentes
Qualidade de energia
que devem ser regulamentados e definidos, somente no tocante No contexto das REIs, diversas possibilidades podem
à continuidade da questão os seguintes aspectos: ser relacionadas a partir da disponibilização de uma grande
quantidade de dados de uma determinada rede elétrica,
• Medição da tensão, energia ativa e energia reativa instantâneas; destacando-se, por exemplo:
• Registro de frequência e duração das interrupções, bem como
dos indicadores de nível de tensão (DRP, DRC); − Análise de contingências e simulações em tempo real;
• Capacidade de aplicação de quatro postos tarifários; − Integração de fontes renováveis e de geração distribuída em
• Corte, religamento, parametrização e leitura realizados larga escala na rede, proporcionando o autoabastecimento total
remotamente; ou parcial de uma residência, comércio ou indústria a partir
• Protocolo de comunicação aberto. do aproveitamento da geração de energia solar fotovoltaica,
eólica, biogás, etc.;
Qualidade da energia elétrica − Monitoramento, controle e proteção da geração distribuída,
A Qualidade da Energia Elétrica (QEE) refere-se a qualquer incluindo a adoção de mecanismos de antiilhamento;
desvio que possa ocorrer na magnitude, forma de onda ou − Monitoramento em tempo real de ativos e do estado
frequência da tensão e/ou corrente elétrica, que resulte em falha operacional de equipamentos da rede elétrica, possibilitando a
ou operação indevida de equipamentos elétricos. Este conceito otimização dos procedimentos de operação e manutenção;
inclui uma ampla gama de fenômenos, com características
e particularidades intrínsecas que abrangem diversas áreas No tocante à qualidade da energia, esta configuração
de interesse de sistemas de energia elétrica, incluindo até apresenta as seguintes preocupações e desafios:
problemas relacionados com a comunicação em redes de
transmissão de dados. − Monitorar, diagnosticar e responder a todas as demandas
Este conceito envolve aspectos relacionados à continuidade de QEE, independentemente da origem dos problemas e da
do fornecimento de energia elétrica, bem como com a complexidade da solução;
conformidade dos sinais de tensão e de corrente presentes no − Proporcionar diferentes níveis de qualidade, com preços
sistema. A interpretação destes fenômenos, principalmente diferenciados, no entendimento pleno de que energia elétrica
as distorções de tensões e correntes, localizadas tanto nos é, sobretudo, um produto;
PACs (ponto de acoplamento comum) como também dentro − Encontrar um equilíbrio entre os indicadores e limites
das instalações dos próprios consumidores de energia, preconizados pelas diferentes normas, ponderando-se o nível de
estão associadas diretamente a diversos fatores, dentre os sensibilidade dos equipamentos elétricos e o custo associado à
quais pode-se mencionar a correção do fator de potência, tarifa. No caso de uma economia digital em larga escala, níveis
racionalização do consumo de energia elétrica e o aumento diferenciados de qualidade em função de requisitos de alimentação
da produtividade em processos industriais que demandam das cargas elétricas, demanda níveis diferenciados de tarifas;
a aplicação em larga escala de dispositivos baseados em − Prover soluções para os problemas de QEE devem ser
eletrônica de potência, microleletrônica e controle. adotadas tanto para as instalações dos clientes quanto a
Os principais fenômenos associados são mostrados na nível de sistema elétrica. Isso se deve ao fato de que o grau
Figura 2. de complexidade dos problemas associados a QEE no futuro
tendem a aumentar e a busca de soluções mais próximas das
fontes perturbadoras deve ser prioritária;
− Desenvolver sistemas inteligentes de monitoramento da
QEE a partir da potencialidade proporcionada pela implantação
em larga escala de medidores inteligentes na rede elétrica,
que agregam funcionalidades importantes em termos de
processamento, armazenamento de dados e comunicação com
Figura 2 – Fenômenos associados à QEE. centros de medição, de forma a:
Em que: Otimizar o investimento na prevenção e mitigação dos
a - tensão senoidal f - salto de tensão
problemas de QEE;
b - transitório impulsivo g - harmônico
c - transitório oscilatório h - corte de tensão Estabelecer um benchmark no tocante ao desempenho
d - afundamento de tensão i - ruídos da rede e das instalações;
e – interrupção j – interharmônicos
Apoio
45
Definir níveis adequados para a QEE; escala de geração distribuída à rede é a distorção harmônica
Atender as necessidades das cargas elétricas no tocante dos sinais de tensão e de corrente e tem relação direta com
aos diferentes fenômenos; a interface de conexão com a rede. No caso de máquinas
Antecipar eventuais demandas regulatórias. rotativas, normalmente a emissão de harmônicos é pequena.
No caso de conexões baseadas em dispositivos de eletrônica
− Minimizar o impacto da integração em larga escala de de potência, a situação é diferente. Muitos inversores utilizados
geração distribuída à rede elétrica, principalmente a geração na conexão de painéis solares fotovoltaicos são baratos e de
solar fotovoltaica, eólica, microturbinas e células a combustível. baixa qualidade, resutando em um invasão significativa de
harmônicos de baixa ordem na rede de distribuição.
Neste contexto, os principais aspectos impactos associados Esta situação depende de diversos fatores, principalmente,
à QEE no contexto das REIs são: da mudança dos parâmetros da impedância da rede, dos níveis
de tensão de rede da distribuidora, da potência de curto-circuito
• Controle bidirecional de fluxo de potência ativa e reativa na no ponto de conexão e, especialmente, da quantidade de
rede elétrica; capacitância adicionada à rede. Neste caso, esta capacitância
• Regulação de tensão; acionará novas frequências ressonantes e modificarão as
• Controle antiilhamento em geração distribuída; ressonânicas dominantes para baixas frequências, provocando
• Sobretensões indesejáveis na rede elétrica; a necessidade de estudos adicionais. Esta situação pode ocorrer
• Coordenação e seletividade da proteção; particularmente em redes de transmissão vinculadas a parques
• Harmônicos. eólicos. Para minimizar este problema, o inversor deve ser
capaz de reduzir os níveis de distorção harmônica de tensão,
Integração de geração distribuída à rede elétrica mesmo nos casos em que a potência de curto-circuito se reduz.
A Figura 3 mostra a geração harmônica resultante da simulação
Um dos principais efeitos decorrentes da integração em larga de diversas fontes de GD a uma rede elétrica.
Apoio
46
Qualidade de energia
turbina de 600 kW para diferentes faixas de potência (neste e faltas para terra são mais prováveis durante ilhamentos não
Qualidade de energia
caso, 1 MW, 2 MW ou 3 MW). Uma simulação de Monte intencionais, como um equipamento pode ser isolado com um
Carlo foi usada para obter a distribuição de probabilidade grande banco de condensadores que podem provocar uma
da soma de duas variáveis estocásticas (tensão pré-vento e ressonância com as fontes de energia do sistema ilhado.
elevação da tensão). Os resultados são mostrados na Figura
7, com a potência da geração eólica crescendo da esquerda Esta situação indesejável é mostrada na Figura 7, em que
para a direita. A elevação da magnitude da tensão devido ao o ramal onde está instalada a GD deve ser desconectado para
crescimento da geração eólica é visível. impedir que esta assuma outras cargas da rede. Para tanto, os
ajustes de proteção devem estar coordenados com as demais
proteções dos alimentadores.
Em que:
Figura 10 – Conceito básico dos sinais e parâmetros que podem ser processados e derivados para a QEE no âmbito das REIs.
Por meio da medição e análise dos sinais em diferentes pontos, o Redes Elétricas Inteligentes, 2011.
• PAULILLO, G.; TEIXEIRA, M. D.; BACCA, I. Qualidade da energia elétrica, 2010.
estado da rede pode ser avaliado. Este conceito é mostrado na Figura
• BOLLEN, M. H. J. et. al. Power quality aspects of smar grid. International Conference
10, que mostra como os sinais e os parâmetros de avaliação podem on Renewable Energies and Power Quality – ICREPQ´10. Granada, spain, mar. 2010.
ser processados em etapas sucessivas. O resultado proporcionará ao • PAULILLO, G.; DREHER, J. H.; TOYAMA, J. Conexão e proteção de geração distribuída
engenheiro visualizar a natureza das condições variantes no tempo no sistema de distribuição. XXI SNPTEE, Florianópolis, out. 2011.
• RIBEIRO, P. F.; DUQUE, C. A.; Silveira, P. M.; CERQUEIRA, A. S. Signal processing for
das REIs no tocante aos diferentes aspectos da QEE.
smart grids. Wiley (to be published in 2013).
• BOLLEN, M. H. J.; RIBEIRO, P. F.; GU, I. Y. H.; DUQUE, C. A. Trends, challenges
Conclusão and opportunities in power quality research. European Transactions on Electrical Power,
2009.
O interesse e problemas associados com a qualidade de
• DUQUE, C. A.; SILVEIRA, P. M.; Riberio, P. F.; BOLLEN, M. H. J. Future trends and
energia tedem a aumentar com o aumento da complexidade e research opportunities in power quality: an integrated perspective. VIII CBQEE VIII
desenvolvimento das redes inteligentes. Este artigo apresenta CBQEE. Blumenau, p. 100-106, Blumenau, 2009.
as principais preocupações e as possíveis soluções para garantir
*Gilson Paulillo é engenheiro eletricista, com mestrado e
uma qualidade de energia compatível com a complexidade e doutorado em qualidade de energia elétrica pela universidade
as características das cargas, a integração em larga escala da Federal de Itajubá. Atualmente, é consultor executivo em
energia no Instituto de Pesquisas Eldorado, em Campinas
geração distribuída e as tecnologias de TI e Telecom associadas (SP). Sua atuação é voltada para áreas de qualidade de
às REIs. Dessa forma, abrem-se alternativas para, a partir da energia elétrica, geração distribuída, eficiência energética
e distribuição.
alta observabilidade do sistema elétrico, mitigar os problemas
associados e dispor de amplo sistema de monitoramento, Paulo F. Ribeiro é engenheiro, pesquisador e professor
controle e gestão da qualidade da energia elétrica. de engenharia com experiência nos Estados Unidos, Europa
e Brasil, nas áreas de eletrônica de potência, qualidade
de energia, redes inteligentes e processamento de sinais
Referências bibliográficas em sistemas de potência. Atualmente, é professor na
• BREUER, W. et al. Prospects of smart grid technologies for a sustainable and secure Universidade de Eindhoven na Holanda e registrado com
power supply. 20th World Energy Congress, Rome, Italy, nov. 2007. Engenheiro Profissional (PE) no estado de Iowa, USA.
• AMIM, S. M.; WOLLEMBER, B. F. Toward a smart grid: power delivery for the 21st É membro do IEEE e do IET.
century. IEEE Power and Energy Magazine, v. 3, Issue 5, p. 34-41, set.-out. 2005. Continua na próxima edição
Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
• INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. Technology roadmap – smart grid, 2011.
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail
• MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Smart grid. Relatório do Grupo de Trabalho de redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
42
Qualidade de energia
Capítulo XI
Transitórios
Por Gilson Paulillo, Mateus Duarte Teixeira e Ivandro Bacca*
O termo transitório tem sido aplicado à análise da tensão e/ou corrente, sendo unidirecional na sua
das variações do sistema de energia para denotar um polaridade (primeiramente positivo ou negativo).
evento que é momentâneo e indesejável. De outra Em razão da alta frequência, os transitórios
forma, entende-se por transitórios eletromagnéticos impulsivos são amortecidos rapidamente devido à
as manifestações ou respostas elétricas locais ou resistência dos componentes do sistema. Geralmente,
nas adjacências, oriundas de alterações súbitas nas não são conduzidos para muito longe do ponto
condições operacionais de um sistema de energia onde foram gerados. Estes transitórios podem excitar
elétrica. ressonâncias naturais do sistema elétrico e provocar
Os sistemas elétricos estão sujeitos a inúmeros outros tipos de transitórios, como os transitórios
fenômenos transitórios, variando desde as oscilações oscilatórios.
eletromecânicas (baixas frequências) até as rápidas Normalmente são causados por descargas
variações de tensões e correntes causadas por atmosféricas com frequências bastante diferentes
chaveamentos ou mudanças bruscas de estado. daquela da rede elétrica. A Figura 1 ilustra a aplicação
Geralmente, a duração de um transitório é de uma descarga atmosférica na fase A de um
muito pequena, mas de grande importância, uma determinado sistema elétrico.
vez que os equipamentos presentes nos sistemas A Figura 2 apresenta a forma de onda da corrente da
elétricos estarão submetidos a grandes solicitações descarga atmosférica aplicada ao sistema em análise.
de tensão e/ou corrente. Como resposta do sistema à aplicação dessa descarga,
Os fenômenos transitórios podem ser classificados a Figura 3 apresenta as formas de onda das tensões
em dois grupos, os chamados transitórios impulsivos e fase-fase no receptor. Pode-se observar que a aplicação
os transitórios oscilatórios. de um transitório impulsivo, isto é, uma descarga
atmosférica, ocasionou transitórios oscilatórios.
Transitórios impulsivos Os transitórios impulsivos são normalmente
Um transitório impulsivo é uma súbita alteração caracterizados pelo seu tempo de aumento e
não desejável no sistema, que se encontra em condição decaimento, os quais podem ser revelados pelo
de regime permanente, refletido nas formas de ondas conteúdo espectral do sinal em análise. Como exemplo,
um transitório impulsivo 1,2 μs x 50 μs com 2.000 V nominalmente as descargas atmosféricas é por meio de um condutor fase, no
aumenta de zero até seu valor de pico de 2.000 V em 1,2 μs e decai primário ou no secundário, causando altas sobretensões no
a um valor médio do seu pico em 50 μs. sistema. Uma descarga diretamente na fase geralmente causa
Como anteriormente citado, a causa mais comum de transitórios flashover na linha próxima ao ponto de incidência e pode
impulsivos são as descargas atmosféricas. Devido à alta frequência gerar não somente um transitório impulsivo, mas também
do sinal resultante, a forma dos transitórios impulsivos pode ser uma falta acompanhada de afundamentos de curta duração e
alterada rapidamente pelos componentes do circuito e apresentar interrupções. Altas sobretensões transitórias podem também ser
características significantes quando observadas de diferentes partes geradas por descargas que fluem ao longo do condutor terra.
do sistema de energia. Existem numerosos caminhos através dos quais as correntes de
Em sistemas de distribuição, o caminho mais provável para descarga podem fluir pelo sistema de aterramento, tais como
Figura 2 – Corrente proveniente da descarga atmosférica. Figura 3 – Tensão fase-fase no receptor do sistema analisado.
Apoio
44
Transitórios oscilatórios
Também como para o caso anterior, um transitório oscilatório
é uma súbita alteração não desejável da condição de regime
permanente da tensão, corrente ou ambas, em que as mesmas
incluem valores de polaridade positivos ou negativos. É caracterizado
pelo seu conteúdo espectral (frequência predominante), duração e
magnitude da tensão.
Figura 5 – Tensão fase-fase no barramento do de conexão do banco de
Transitórios oscilatórios de baixa frequência capacitores.
Capítulo XII
No período compreendido entre 1990 e 2007, Neste contexto, este artigo introduz alguns
o número de contribuições técnicas apresentadas dos desafios futuros na área de QEE até o presente
pelos diversos segmentos da sociedade – academia, momento, o que inclui aspectos relacionados
institutos de pesquisa, indústrias, fabricantes às novas fontes de geração de energia elétrica,
de equipamentos, consultorias e empresas de equipamentos com front end ativos, links HVDC,
engenharia e órgãos governamentais – cresceu a necessidade de métodos de análise automática
quase que linearmente, conforme mostra a Figura de grande volume de dados de medição, dentre
1, sendo que, somente em 2007, mais de 800 outros aspectos. Assim este artigo indica algumas
artigos técnicos foram publicados sobre o tema potenciais direções para o futuro da pesquisa em
Qualidade da Energia Elétrica (QEE). QEE.
Muitas das questões técnicas foram
equacionadas e um relevante progresso tem Diferentes tipos de distúrbios
sido alcançado em alguns temas não totalmente Existem diferentes formas de se definir um
equacionados. Isso mostra que ainda existem problema ou distúrbio associado à QEE. Para tanto,
muitos temas a serem tratados e muita pesquisa deve-se lembrar da definição de QEE: “Qualquer
a ser realizada na área, principalmente com a desvio que possa ocorrer na magnitude, forma
inserção de novas tecnologias em equipamentos e de onda ou frequência da tensão e/ou corrente
suas aplicações em sistemas elétricos de potência. elétrica, que resulte em falha ou operação indevida
Figura 1 – Número de artigos publicados, por ano, com o termo Power Quality no título, resumo ou palavras-chave – Fonte:
Banco de dados INSPEC.
29
o que indica a necessidade de novos conceitos associados a As variações na magnitude da tensão em redes de
essa quantificação. distribuição têm impacto significativo na geração distribuição.
A injeção de potência ativa resultará em sobretensões
Um exemplo de como este aprimoramento deve ser consideradas aceitáveis, conforme mostra a Figura 2. Nesta,
contínuo pode ser tomado a partir do risco de sobrecarga a introdução da geração em um alimentador de distribuição
de um transformador de distribuição, o qual é impactado eleva o nível de tensão. Por sua vez, isso demanda a adoção de
pelas potências ativa e reativa, pela corrente desequilibrada um controle de tensão mais complexo na rede de distribuição
e seu conteúdo harmônico, pelos transitórios de chaveamento devido ao inesperado impacto que estas sobretensões podem
das cargas, dentre outros aspectos. O desafio, neste caso, acarretar nos equipamentos.
é combinar todos os tipos de distúrbios de uma forma que Além disso, a geração distribuída pode ocasionar
resulte em indicadores que estimem a perda de vida ou o risco transitórios, aumento do nível de curto-circuito e demandará
de sobrecarga devido às características da corrente de carga. ajustes na proteção do circuito. Para evitar transtornos,
devem-se equilibrar os limites de sobretensões e demais
Novos tipos de geração parâmetros de desempenho com os riscos nos inerentes nas
A penetração de novas fontes de geração nos sistemas de cargas. Isso inclui considerar os equipamentos de baixa tensão
distribuição e transmissão é uma realidade nos dias atuais utilizados em residências e no comércio em geral, tais como
no Brasil e em diversas partes do mundo. As vantagens e TVs, computadores, lâmpadas e refrigeradores, etc., os quais
desvantagens associadas a estes desenvolvimentos têm sido muitas vezes não são considerados nos estudos associados à
apontadas e discutidas em diversos fóruns de discussão. QEE.
Todavia, existem muitos desafios associados a este Outro aspecto importante trata das variações na magnitude
desenvolvimento no âmbito da QEE. da tensão ao longo do tempo, que podem ocorrer desde
um segundo a 10 minutos ou varações ainda maiores. Isso
Indicadores de desempenho ocorre em fontes de geração que sofrem influência climática,
Um dos primeiros desafios está associado à conexão da como a geração solar e a fotovoltaica. Nestes casos, o desafio
geração em baixa e média tensão, o que tem muita similaridade consiste em desenvolver modelos estocásticos da potência a
com as conexões utilizadas em plantas industriais. Isso implica ser gerada, incluindo a correlação com diferentes escalas de
que o nível de QEE no ponto de conexão deve ser adequado tempo e entre os geradores instalados em diferentes locais.
para a conexão da geração distribuída.
O termo "capacidade de hospedagem" recentemente Emissões harmônicas e ressonâncias
desenvolvido no âmbito de um projeto de investigação A emissão de harmônicos devido à integração de fontes
europeu combina indicadores de desempenho adequados renováveis depende da interface com a rede. Quando máquinas
com um limite de suprimento que resulta em desempenho rotativas (indução ou síncronas) são utilizadas, o nível de
aceitável do sistema. O principal desafio é definir este conjunto emissão é geralmente pequeno. Essa situação se modifica
de indicadores e limites que cobrem todas os parâmetros quando são utilizadas interfaces baseadas em eletrônica de
elétricos de qualidade do suprimento de energia. potência. Como exemplo, alguns conversores de baixo custo
Figura 9 – Conceito básico dos sinais e parâmetros que podem ser processados e derivados para a QEE no âmbito das REIs.
Apoio
37
Por meio da medição e da análise dos sinais em • WIECHOWSKi, W.; BØRRE ERIKSEN, P. Selected Studies
diferentes pontos, o estado da rede pode ser avaliado. Este on Offshore Wind Farm Cable Connections – Challenges and
conceito é mostrado na Figura 9, que mostra como os sinais Experience of the Danish TSO. IEEE PES General Meeting,
e os parâmetros de avaliação podem ser processados em Pittsburgh, jul. 2008.
etapas sucessivas. O resultado proporcionará ao engenheiro • STYVAKTAKIS, E.; BOLLEN, M. H. J.; GU, I. Y. H. Expert
system for classification and analysis of power system events.
visualizar a natureza das condições variantes no tempo das
IEEE Transactions on Power Delivery, v. 17, n. 2, abr. 2002,
REIs no tocante aos diferentes aspectos da QEE.
p. 423-428.
• BOLLEN, M. H. J.; GU, I. Y. H., SANTOSO, S.;
Conclusões MCGRANAGHAN, M. F.; CROSSLEY, P. A.; RIBEIRO, P. F.
Este trabalho apresentou as principais tendências e desafios Bridging the gap between signal and power – state of the art
em termos de áreas de interesse e de pesquisa na área de and remaining challenges for signal-processing applications to
QEE para os próximos anos. Devido ao impacto técnico e power system quality. IEEE Signal Processing Magazine, in print.
econômico associado, a área de QEE continuará sendo foco de • DJOKIĆ, S. Ž.; BOLLEN, M. H. J. Dip Segmentation Method.
grande interesse por parte de todos os agentes do setor elétrico IEEE Int Conf on Harmonics and Quality of Power (ICHQP),
– concessionárias, consumidores, fabricantes de equipamentos Wollongong, Australia, set. 2008.
e órgãos reguladores. Para tanto, contribui fortemente a • LARSSON, A. High frequency distortion in power grids due
proliferação de novas fontes de energia na rede, estimulada to electronic equipment. Licentiate thesis, Luleå University of
pelo crescimento da geração distribuída, a intensificação Technology, Luleå, Sweden, 2006.
• LARSSON, E. O. A.; LUNDMARK, C. M.; BOLLEN, M. H.
do uso da eletrônica de potência em conjunto com novas
J. Distortion of Fluorescent Lamps in the Frequency Range
tecnologias, principalmente as abordagens que demandam
2-150 kHz. IEEE Int Conf on Harmonics and Quality of Power
grande frequência de chaveamento, a adoção de dispositivos
(ICHQP). Cascais, Portugal, out. 2006.
FACTS, os novos investimentos em HVDC, a ampliação dos
• RÖNNBERG, S.; WAHLBERG, M.; BOLLEN, M. H. J.;
investimentos em redes elétricas inteligentes, dentre outros LARSSON, A.; LUNDMARK, M. Measurements of interaction
aspectos. Este contexto caracteriza um ambiente complexo between equipment in the frequency range 9 to 95 kHz. IEEE
para as redes de transmissão e distribuição e proporciona novos Int. Conf. on Electricity Distribution, Prague, jun. 2009.
desafios para estudos e pesquisas no contexto da Qualidade da • GU, I. Y. H.; GU, BOLLEN, M. H. J. Estimating interharmonics
Energia Elétrica. by using sliding-window esprit. IEEE Transactions on Power
Delivery, v. 23, n. 1, jan. 2008.
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• BOLLEN, M. H. J.; GU, I. Y. H. Signal processing of power- and determination of load composition using a least square
quality disturbances. Wiley – IEEE Press, 2006. method. Electric Power Systems Research, v. 37,
• ARRILLAGA, J., Watson, N. R. Power system harmonics. Wiley. p. 203-208, 1996.
2nd Edition. Chichester, 2003.
• PAULILLO, G. et. al. Conceitos associados a QEE. Revista O *Gilson Paulillo é engenheiro eletricista, com mestrado
e doutorado em qualidade de energia elétrica pela
Setor Elétrico, jan. 2013. universidade Federal de Itajubá. Atualmente, é consultor
• Economic Framework for Power Quality, CIGRE Technical executivo em energia no Instituto de Pesquisas Eldorado,
em Campinas (SP). Sua atuação é voltada para áreas de
Brochure JWG CIGRE-CIRED C4.107, 2011. qualidade de energia elétrica, geração distribuída,
• BOLLEN, M. H. J.; RIBEIRO, P. F.; LARSSON, E. O. A.; eficiência energética e distribuição.
LUNDMARK, C. M. Limits for voltage distortion in the frequency Paulo F. Ribeiro é engenheiro, pesquisador e professor
de engenharia com experiência nos Estados Unidos, Europa
range 2-9 kHz”. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 23, n. 3, e Brasil, nas áreas de eletrônica de potência, qualidade
July 2008, p. 1.481-1.487. de energia, redes inteligentes e processamento de sinais
em sistemas de potência. Atualmente, é professor na
• GU, I. Y. H.; BOLLEN, M. H. J. Estimating interharmonics Universidade de Eindhoven na Holanda e registrado com
Engenheiro Profissional (PE) no estado de Iowa, USA. É
by using sliding-window esprit. IEEE Transactions on Power membro do IEEE e do IET.
Delivery, v. 23, n. 1, jan. 2008.
Carlos A. Duque possui graduação pela Universidade
• RONG, C. et al. New flicker weighting curves for different lamp Federal de Juiz de Fora (1986), mestrado e doutorado em
types based on the lamp light spectrum. Int Conf Harmonics Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro e Pós-doutorado pela Florida State
and Quality of Power (ICHQP), set. 2008. University, FL – USA. Atualmente é Professor Associado
da Universidade Federal de Juiz de Fora.
• BOLLEN, M. H. J.; YANG, Y.; HASSAN, F. Integration of
distributed generation in the power system – a power quality Fim
approach. IEEE Int Conf on Harmonics and Quality of Power Acesse todos os capítulos deste fascículo em
www.osetoreletrico.com.br.
(ICHQP). Wollongong, Australia, set. 2008.