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QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA, EFICIÊNCIA E RACIONALIZAÇÃO


DESPERDÍCIO versus DESCONHECIMENTO
Carlos Alberto Canesin
Universidade Estadual Paulista
UNESP – FEIS – DEE – Cx. P. 31
15385-000 – Ilha Solteira (SP)
Fone: 0xx18 3743 1086 , Fax: 0xx18 3742 2735
http://www.dee.feis.unesp.br/docentes/canesin/power.html
e-mail: canesin@dee.feis.unesp.br

O conceito de qualidade da energia elétrica tem- elementos armazenadores de energia é


se ampliado, nos últimos anos, em conjunto com a inversamente proporcional à freqüência), grande
evolução das técnicas de processamento eletrônico parte da comunidade científica nacional e
desta fonte de energia, como por exemplo nas internacional, atuante na área de eletrônica de
aplicações: industriais (acionamentos e controles de potência, têm apresentado propostas de novas
máquinas elétricas), embarcadas (aeroespaciais, topologias e novas técnicas para o processamento
navais e transportes terrestres), informática eletrônico de energia elétrica através dos
(microcomputadores e sistemas de informação), denominados “conversores estáticos”.
controle e segurança (residencial, comercial e
Como características gerais destas novas
industrial), residenciais (tv, videocassete, vídeo-
técnicas, tem-se a possibilidade do aumento da
game, microondas, aparelhos de som, etc...), etc....
densidade de potência, com reduzidas perdas e
Como em todos os setores que envolvem as possibilidade de operação com freqüências elevadas
aplicações de energia elétrica, há na eletrônica de de chaveamento (dezenas ou centenas de kHz),
potência (ciência que estuda as diferentes técnicas tornando possível a redução de peso e volume
de processamento eletrônico da energia elétrica) o destas estruturas. Além deste fato, diversas técnicas
interesse de acompanhar a evolução dos conceitos de minimização de ruídos eletromagnéticos e
de qualidade de energia, quais sejam: elevada filtragens, têm possibilitado a aplicação destas novas
eficiência (rendimento), reduzido volume técnicas de processamento eletrônico de energia
(compactação), reduzida interferência elétrica nos mais susceptíveis ambientes.
eletromagnética (ruídos eletromagnéticos), elevado
Entretanto, um problema adicional para estes
fator de potência (relação de utilização: Potência
“conversores estáticos”, principalmente para aqueles
ativa(Watts)/Potência aparente(Volt-Ampère), baixa
diretamente ligados à rede de corrente alternada, é a
distorção harmônica (formas de ondas de corrente
Elevada Taxa de distorção harmônica, e, o
mais próximas da tensão de alimentação senoidal) e
conseqüente Baixo Fator de Potência que os
reduzido custo.
mesmos apresentam para a rede de corrente
Estes conceitos estão também intimamente alternada.
vinculados à evolução dos equipamentos que se
Para o entendimento do conceito de fator de
utilizam de fontes de alimentação, as denominadas
potência, lembramos que a potência gerada é
fontes chaveadas (presentes em diversos
denominada de potência aparente (unidade: VA -
equipamentos industriais, comerciais e residenciais,
Volt-Ampère), e a potência útil
incluindo-se aí os microcomputadores), e, aos
consumida/processada é denominada de potência
reatores eletrônicos para iluminação fluorescente,
ativa (unidade: W – Watts). Desta forma, fator de
dispositivos estes ligados diretamente à rede de
potência é a relação entre potência ativa e potência
corrente alternada.
aparente, em outras palavras, é um fator de
Fundamentados na necessidade do aumento da utilização entre aquela potência gerada e a
densidade de potência (relação: Watts/cm3), através efetivamente útil, em qualquer processo eletro-
da redução das perdas (aumento do rendimento), eletrônico, assumindo valores de 0 até 1.
assim como, da minimização de peso e volume
Desta forma, quanto mais próximo do unitário o
(compactação), através do aumento da freqüência
denominado fator de potência, melhor será o fator de
de chaveamento (freqüência de comutação dos
interruptores semicondutores: o volume dos
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utilização e melhor a qualidade do processamento da “eficiência energética”, apesar de apresentar um


energia elétrica. maior custo inicial de instalação. Observa-se que o
custo de instalação destas lâmpadas é normalmente
Os problemas decorrentes da elevada distorção
amortizado, com resultados positivos ao longo do
harmônica da corrente no sistema de corrente
tempo útil de vida das lâmpadas fluorescentes.
alternada e do conseqüente reduzido fator de
Desta forma, a produção da lâmpada fluorescente
potência, são os seguintes: Distorção da tensão da
que se iniciou no final da década de quarenta, teve
rede de Corrente Alternada, deslocamento excessivo
real incremento nas décadas de setenta e oitenta,
de tensões e correntes, interferências em cargas
atualmente em constante evolução, como alternativa
próximas, redução da potência útil, aumento das
para a substituição da iluminação incandescente,
perdas em condutores, redução da eficiência e
principalmente em função da grande “economia
conseqüente necessidade de aumento da geração
energética” proporcionada pelas mesmas.
de potência (VA).
Neste contexto, o Japão no biênio 89/90
Como exemplo, no Brasil, através dos dados de
consumiu 2(duas) lâmpadas fluorescentes para cada
uma pesquisa já desatualizada (Projeto - PROCEL
1(uma) incandescente. No Brasil, infelizmente, no
ELETROBRÁS), praticamente a potência instalada
mesmo período o mercado consumiu 2(duas)
da USINA DE ITAIPU é diariamente "perdida" devido
lâmpadas fluorescentes para cada conjunto de
à utilização de fontes de alimentação convencionais
13(treze) incandescentes.
(fator de potência típico de 0,6), somente através de
equipamentos considerados de uso doméstico Portanto, no Brasil, mais do que se justifica os
(microcomputadores, TVs, Vídeos, etc..). esforços de “racionalização” no setor de iluminação
artificial, principalmente em função da grave crise
No Brasil, atualmente (2001), a restrição é
financeira em que nos encontramos, e, dos
apenas quanto ao fator de potência das instalações
“inexistentes” recursos aplicados para o aumento
elétricas e não quanto à taxa de distorção harmônica
efetivo da geração de energia elétrica.
dos equipamentos, individualmente, além do que, a
restrição não envolve consumidores residenciais e Entretanto, observações importantes referem-se
do comércio em geral. Contudo, como a pesquisa às características físicas de operação das lâmpadas
PROCEL (desatualizada) demonstra, o Brasil tem fluorescentes, as quais exigem um dispositivo
"jogado fora" muitos MVA (Mega-VA), somente com especial (reator) para propiciar a ignição das
a desatualização tecnológica dos nossos mesmas e a correta corrente de manutenção nas
equipamentos, e, em função das normas nacionais lâmpadas, para que as mesmas possam operar com
desatualizadas. Outro grande problema são os um bom rendimento luminoso.
medidores convencionais de "fator de potência" que
No Brasil, até o início da denominada “crise do
não representam o valor verdadeiro do fator de
apagão”, os dispositivos mais utilizados para o
potência para formas de ondas não senoidais
acionamento das lâmpadas fluorescentes eram os
(típicas dos conversores estáticos). Portanto, apesar
denominados “reatores convencionais”. Estes
das medições das companhias de energia, o
dispositivos apresentam elevado ruído audível,
problema é muito maior do que elas tem detectado.
grande peso e volume, além de um sério
Com relação ao importante segmento de inconveniente adicional, que inviabiliza a lâmpada
iluminação artificial (industrial, comercial e fluorescente para diversos ambientes industriais,
residencial), que representa cerca de 17% do denominado de “efeito estroboscópico” (efeito que
consumo de energia elétrica no Brasil, onde em mais num ambiente em que existam máquinas elétricas
de 70% das residências a iluminação é em movimento, pode levar um operário a não
proporcionada somente por lâmpadas perceber tal movimento (vê, falsamente, a máquina
incandescentes, as quais se caracterizam por como se estivesse parada), podendo acarretar em
reduzida eficácia luminosa (relação: Lúmens por graves acidentes).
Watts), grandes contribuições científicas tem sido
Entretanto, na última década, foram
oferecidas à sociedade.
desenvolvidos os denominados “reatores eletrônicos”
A lâmpada fluorescente, em comparação com a para lâmpadas fluorescentes. Estes dispositivos
incandescente, apresenta uma maior vida útil (tempo impõem um fluxo luminoso na lâmpada de descarga
total de funcionamento), e, principalmente uma maior através de um circuito oscilador em elevada
eficácia luminosa, proporcionando uma maior freqüência, resultando em uma maior eficiência
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luminosa com menor potência elétrica drenada do uma fluorescente de 30W, com nível de iluminação
sistema de alimentação em corrente alternada, igual ou pouco maior), na verdade para o sistema de
proporcionando uma maior eficiência energética. energia de corrente alternada esta lâmpada estará
Além desta considerável vantagem, propiciam uma exigindo cerca de 70VA (Volt-Ampère). Observa-se
compactação (menor volume e peso), eliminam os que, para a lâmpada incandescente de 60W, o fator
ruídos audíveis e efeito estroboscópico. Apesar de potência é unitário e tem-se a exigência do
destas vantagens, os “reatores eletrônicos básicos” sistema de corrente alternada de 60VA. Ou seja,
apresentam ruídos eletromagnéticos (devido apesar do consumidor realmente pagar menos em
operação em elevadas freqüências, podendo causar sua fatura mensal de quilowatt-hora (consumidor
interferências em outros equipamentos elétricos nas residencial paga kWh, não havendo verificação de
proximidades), reduzido fator de potência (ruim fator de potência da instalação), para o sistema de
relação de utilização da potência elétrica), reduzida energia elétrica não houve economia nenhuma,
confiabilidade, menor vida média e elevado custo, muito pelo contrário, houve sim um excesso de
quando comparados com os “reatores potência em VA e uma menor tarifação (kWh), para o
convencionais”. exemplo citado.
Portanto, nos últimos anos, em função das Adicionalmente, não obstante ao problema da
desvantagens citadas, os “reatores eletrônicos” tem eficiência energética, devido às elevadas taxas de
evoluído. Neste contexto, foram desenvolvidos distorção harmônica da corrente de entrada destes
“reatores eletrônicos especiais” que proporcionam dispositivos (em grande parte daqueles presentes no
fator de potência praticamente unitário, com reduzida mercado nacional), tem-se a possibilidade da
distorção harmônica e desprezível nível de ocorrência de outros gravíssimos problemas para o
interferência eletromagnética. sistema de energia elétrica (devido potência reativa
em circulação), caso a substituição continue a
Por outro lado, no Brasil, observa-se que,
ocorrer de forma indiscriminada, sem se exigir uma
mesmo antes da “crise do apagão”, os “reatores
qualidade mínima para estas lâmpadas compactas, e
eletrônicos” já eram responsáveis por mais de 20%
até mesmo para os reatores eletrônicos destinados
do mercado nacional de reatores para lâmpadas
às lâmpadas fluorescentes tubulares e circulares.
fluorescentes.
Portanto, caso a simplória decisão de
Entretanto, uma vez que não existem
substituição em massa, inclusive insuflada pelos
normatizações completas e severas para o setor
mais diversos meios de comunicação, continue a
(normas ABNT apenas para reatores eletrônicos
ocorrer sem critérios mínimos científicos, o sistema
acima de 60W, porém, a vigorar somente a partir de
elétrico nacional verdadeiramente “sentirá” maiores
2002), devido desconhecimento técnico de grande
problemas em relação à caótica situação atual, e,
parte dos projetistas/engenheiros e inexistência de
muito dinheiro, dos consumidores, terá sido “jogado
fiscalização eficiente, quanto à qualidade dos
fora” em vão.
mesmos, estes reatores eletrônicos, a grande
maioria daqueles no mercado nacional atual, Neste contexto, propomos que as agências
inclusive aqueles destinados às denominadas governamentais adotem imediatamente
“lâmpadas fluorescentes compactas”, apresentam normatizações severas, impondo o estabelecimento
uma reduzida qualidade quanto ao processamento de normas mais rígidas quanto ao grave problema
da energia elétrica. de distorção harmônica e reduzido fator de potência
que a desatualização tecnológica dos equipamentos
Apenas para citar um exemplo de reduzida industriais, comerciais e residenciais, tem
qualidade, dentre aquelas lâmpadas fluorescentes proporcionado para o sistema de geração nacional,
ditas compactas, hoje em explosão no mercado principalmente neste momento, onde os recursos
nacional (ninguém consegue mais fornecedor para financeiros para investimentos no aumento da
as mesmas): Seja este ruim exemplo de uma geração, devem ser otimizados.
fluorescente compacta de 30W, admitida em Ilha Solteira(SP), 17 de Maio de 2001.
substituição à lâmpada de 60W incandescente, onde Prof. Dr. Carlos Alberto Canesin
o fator de potência da mesma está em torno de 0,4 Professor Adjunto – Livre Docente da UNESP – Ilha Solteira -SP
Pesquisador CNPq – Bolsista Produtividade em Pesquisa
(além da existência de outros significativos
Pesquisador FAPESP
problemas operacionais). Isto significa que, apesar Secretário da SOBRAEP – Sociedade Brasileira de Eletrônica de
do consumidor “achar” que esta economizando Potência
(trocou uma lâmpada incandescente de 60W por

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