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RELATÓRIO FINAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA


FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA - FEELT

ALOCAÇÃO DE BANCO DE CAPACITORES NA REDE DE


DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA PARA
CORREÇÃO DE SUBTENSÃO.

ALUNA: LARISSA BORGES DE MELLO.


ORIENTADOR: JOSÉ RUBENS MACEDO JR.

JULHO DE 2023
RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apresentar a vantagem relacionada à utilização de bancos
de capacitores na rede de distribuição de energia elétrica na correção de problemas reais de
subtensão, para dentro dos limites previstos, conforme PRODIST [8]. Foram comparadas as
curvas de carga em ponto de conexão com tensão de atendimento abaixo da faixa adequada (de
202 a 231 volts), simuladas no software OpenDSS, antes e após a alocação do banco de
capacitores no alimentador. O modelo apresentado corroborou a melhoria e correção de
diversos parâmetros relacionados à qualidade de energia elétrica com a instalação de
capacitores em sistemas de potência, nos pontos à jusante de sua atribuição.

Palavras-chave: Banco de capacitores; Subtensão; Qualidade de energia elétrica.


ABSTRACT

This work aims to present the advantage related to the use of capacitor banks in the
electric power distribution network in the correction of real undervoltage problems, within the
predicted limits, according to PRODIST [8]. The load curves at the connection point with
service voltage below the appropriate range (from 202 to 231 volts), simulated in the OpenDSS
software, were compared before and after the allocation of the capacitor bank in the feeder. The
presented model corroborated the improvement and correction of several parameters related to
the quality of electric energy with the installation of capacitors in power systems, at the
downstream points of their attribution.

Keywords: Capacitors bank; Undervoltage; Electric power quality.


SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 5
1.1 SOBRECARGA E SUBTENSÃO NA REDE .......................................................................................... 5
1.2 – BANCO DE CAPACITORES............................................................................................................ 6
2 - DESENVOLVIMENTO ........................................................................................................................... 9
2.1 – SOFTWARE OPENDSS.................................................................................................................. 9
2.1.1 – BARRA ..................................................................................................................................9

2.1.2 – TRANSFORMADOR...............................................................................................................9

2.1.3 – CARGA ............................................................................................................................... 10


2.2 - MODELAGEM ............................................................................................................................ 10
2.2 – CURVA DE CARGA ..................................................................................................................... 12
2.2.1 – ALOCAÇÃO DE BANCO DE CAPACITORES .............................................................................. 12
4 - CONCLUSÕES .................................................................................................................................... 15

5 – REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 16
1-INTRODUÇÃO

1.1 SOBRECARGA E SUBTENSÃO NA REDE

A energia elétrica é considerada um bem de primeira necessidade, e a sua demanda de


consumo no Brasil e no mundo tem crescido ao longo dos últimos anos, representando novos
desafios na sua concessão, no setor de geração, transmissão e distribuição de energia [1]. Dentre
eles, destaca-se a qualidade da energia elétrica, que é fiscalizada pela Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL), através dos Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no
Sistema Elétrico Nacional (PRODIST), Módulo 8 (ANEEL, 2008).
Os problemas de tensão são inerentes à crescente demanda de energia elétrica no país, e
também está interligado às perdas técnicas por Efeito Joule, que no Brasil foi considerado pela
ANEEL o equivalente a R$ 5,3 bilhões de perdas regulatórias só em 2019. Sendo o principal
parâmetro de desempenho das concessionárias analisado, esse desequilíbrio de tensão, o qual é
definido pelo PRODIST, módulo 8, como sendo o “fenômeno caracterizado por qualquer
diferença verificada nas amplitudes entre as três tensões de fase de um determinado sistema
trifásico, e/ou na defasagem elétrica de 120º entre as tensões de fase do mesmo sistema” [2],
interfere na qualidade do serviço prestado aos consumidores e na economia da concedente.
O item 11.3 do módulo 8 do PRODIST, determina que caso constatado inconformidades
na qualidade da energia fornecida, a concessionária deve providenciar soluções através da
instalação de equipamentos para correção [2]. Podemos definir as principais o Efeito Joule
como:

As perdas de energia elétrica ocorrem em forma de calor e são proporcionais ao


quadrado da corrente total (I2.R). Como essa corrente cresce com o excesso de energia
reativa, estabelece-se uma relação entre o incremento das perdas e o baixo fator de
potência, provocando o aumento do aquecimento de condutores e equipamentos.

O aumento da corrente devido ao excesso de energia reativa leva a quedas de tensão


acentuadas, podendo ocasionar a interrupção do fornecimento de energia elétrica e a
sobrecarga em certos elementos da rede. Esse risco é sobretudo acentuado durante os
períodos nos quais a rede é fortemente solicitada. As quedas de tensão podem
provocar ainda, a diminuição da intensidade luminosa das lâmpadas e aumento da
corrente nos motores. (WEG, 2023, p. 7).
Portanto, este trabalho enfoca na alocação de banco de capacitores em shunt como
solução para problemas de subtensão em ramal de distribuição, fora da faixa adequada da
classificação de tensão da figura 1, utilizando um sistema simplificado de distribuição com
curva de carga indicando uma sobrecarga na rede no horário de ponta, período entre o final do
horário comercial e início da noite.

Figura 1 – Faixa de Classificação de Tensões do PRODIST [8].

1.2 – BANCO DE CAPACITORES

A instalação de banco de capacitores em shunt para correção localizada de subtensão é


bastante vantajosa, pois estes injetam uma corrente reativa contrária ao fluxo de potência,
reduzindo as perdas por consequência das quedas de tensão acentuadas na linha (figura 2), a
corrente total diminui, reduzindo as perdas ativas e reativas representadas pelo resistor e
indutor.

Figura 2 – Fluxo de potência com injeção de corrente reativa.

Conforme a relação das potências (figura 3), a potência aparente (total entregue) diminui
por consequência da diminuição da corrente, que é compensada com o aumento da tensão
entregue para a carga.
Figura 3 – Relação entre as potências.

Outra consequência benéfica dessa solução, é a elevação do fator de potência na rede,


que está diretamente relacionado à diminuição da potência reativa, conforme indicado no
triângulo retângulo das potências (figura 4).

Figura 4 – Triângulo retângulo das potências.

A equação (1) refere-se ao cálculo do fator de potência (FP), quanto menor a potência
reativa, maior é o cos (∅). Quanto menor o fator de potência para a mesma seção de um
condutor, menor a potência ativa transportada, o que aumenta as perdas por Efeito Joule devido
ao aquecimento dos condutores.

Q (kvar)
FP = Cos (∅) = (1)
P (kW)

O efeito da redução da corrente do capacitor pode ser visualizado no diagrama fasorial


em função da corrente e tensão, da figura 5. Como a corrente referente à potência reativa da
rede opera somente nas reatâncias, com a redução da corrente total devido aos capacitores (I’),
a queda de tensão ao longo da linha diminui, ocasionando a elevação de tensão, equação (2)
que determina a elevação da tensão ocasionada pelos capacitores, onde R é a resistência em
ohms, I é a corrente total em Ampéres, X a reatância indutiva ou capacitiva, kW é a potência
ativa, e kvar a potência reativa total [3].
O ângulo de defasagem entre a corrente resultante (θ2) e a tensão V2, do terminal da carga,
diminui em relação ao ângulo da corrente original I (θ1). A perda por efeito joule, representada
pela resistência diminui, pois está diretamente relacionada com a corrente (RI’).

V = R . IkW ± X . Ikvar (2)

Figura 5 – Diagrama fasorial da compensação em shunt.


2 - DESENVOLVIMENTO

2.1 – SOFTWARE OPENDSS

O OpenDSS é um software de simulação para sistemas elétricos de distribuição,


comumente utilizado pelas concessionárias de energia elétrica do Brasil, para análise de
operação e planejamento. Foi criado, inicialmente, com a finalidade de apoiar as análises de
redes de distribuição com Geração Distribuída, e é indicado pela ANEEL para cálculo de perdas
técnicas das distribuidoras, também citado por meio de nota técnica n°0057/2014 [botar fonte].
A sua interface gráfica de usuário permite a descrição dos circuitos por meio de linhas
de comando com linguagem própria, e a visualização dos resultados são por meio de arquivos
de texto, CSV e gráficos, que também pode ser ampliada com controle por programas externos
(Python, Matlab, C++, etc) [4].

2.1.1 – BARRA

As barras (ou bus), é o elemento do circuito que contém os conectores (nós), que liga os
terminas dos elementos da rede de distribuição entre si (geradores, transformadores, linhas,
cargas, banco de capacitores, etc). O nó de referência (nó 0), representa o terminal de
aterramento.

2.1.2 – TRANSFORMADOR

Os principais parâmetros dos transformadores, que serão utilizados, são representados


na tabela 1, para melhor compreensão.

Parâmetro Descrição
Phases Número de fases.
Windings Número de enrolamentos. Padrão = 2.
Bus Nome da barra em que o terminal está conectado
Conn Tipo de conexão do enrolamento (delta / wye).
Kv Tensão nominal do enrolamento (kV).
Kva Potência base do enrolamento (kVA).
Tap Tape em que o enrolamento está conectado (pu).
Tabela 1 – Parâmetros do Transformador (fonte: autor).
2.1.3 – CARGA

Através da carga será analisada a variação de tensão no terminal, para conhecimento de


seus parâmetros, segue a tabela 2.

Parâmetro Descrição
Phases Número de fases.
Windings Número de enrolamentos. Padrão = 2.
Bus Nome da barra em que o terminal está conectado
Conn Tipo de conexão do enrolamento (delta / wye).
Kv Tensão nominal do enrolamento (kV).
Kva Potência base do enrolamento (kVA).
Tap Tape em que o enrolamento está conectado (pu).
Tabela 2 – Parâmetros da Carga (fonte: autor).

2.2 - MODELAGEM

A pesquisa utilizou um sistema de distribuição de um único alimentador


(transformador), de baixa tensão, com potência de 75 kVA. O arquivo relacionado às barras
onde os elementos do circuito são conectados, bem como o arquivo que caracteriza os
parâmetros elétricos dos cabos, curva de carga, linhas (comprimento, fases, reatâncias, barras
conectadas), cargas e suas coordenadas, são chamados em um único arquivo “Master.dss”,
através do comando Redirect, conforme mostra a figura 6.

Figura 6 – Arquivo Master do circuito.


A figura 7 representa a configuração gráfica do circuito escolhido, gerado através do
OpenDSS.

Fig. 7 – Circuito Master.

A barra escolhida para conectar o banco de capacitores está indicada amarelo


“bt1938.1.2.3.4”, que é a primeira barra trifásica à montante do ramal da carga que recebe o
pior nível de tensão, figura 8.

Fig. 8 – Barramento trifásico selecionado em amarelo.


2.2 – CURVA DE CARGA

A pior tensão indicada pelo software foi na barra “BT3273”, que é o ramal de
distribuição conectado à carga, portanto, através do comando New monitor (figura 9), foi gerada
a curva de carga da barra, a qual indica a magnitude da tensão em cada hora ao longo do dia,
figura 10. Nota-se que em várias horas do dia a amplitude de tensão fica abaixo do mínimo
permitido (202 V), das 17 horas às 8 horas da manhã do dia seguinte, com pior nível entregue
pela distribuidora às 20 horas. Esses horários estão associados aos períodos em que esses
consumidores de baixa tensão estão em suas residências, consumindo mais energia elétrica,
somado também com as perdas técnicas.

Fig. 9 – Comando New monitor que reproduz a curva de carga.

Fig. 10 – Curva de Carga BT3273 antes da instalação do banco de capacitores.

2.2.1 – ALOCAÇÃO DE BANCO DE CAPACITORES

A barra BT3273 observada com inconformidade nos níveis de tensão na sua curva de
carga, trata-se de um ramal de distribuição monofásico. O banco de capacitores utilizado neste
trabalho é trifásico, por isso escolheu-se a primeira barra trifásica à montante da carga precária
para instalação do mesmo (BT1935.1.2.3.4), figura 11, visto que a alocação do banco de
capacitores em shunt compensa a tensão à jusante deste.
Figura 11 – Código de alocação do banco de capacitores.

O banco de capacitores instalado possui uma potência reativa de 15 kvar, com tensão de
base de 220 V, que é a tensão de fase nominal entregue pelo alimentador neste trecho da rede.
A figura 12 representa o perfil da curva de carga após a instalação do banco de capacitores com
entrega de potência reativa em sentido contrário ao fluxo de potência da rede (da geradora para
a carga). O nível mínimo de tensão passa a ser de 209 V e o máximo é 228 V, adequado para a
faixa adequada conforme determinado pelo PRODIST, módulo 8.
É possível analisar que todas as barras presentes no trecho apresentam um nível de
tensão adequado, após a correção localizada de tensão com a introdução do banco de
capacitores em shunt, figura 13.

Figura 12 – Curva de Carga BT3273 após instalação do banco de capacitores.


Figura 13 – Tensão de fase em todas as barras após adequação.
4 - CONCLUSÕES

Para problemas relacionados com a subtensão na baixa tensão na distribuição de energia


elétrica, a alocação de banco de capacitores em shunt apresenta-se como uma solução muito
eficaz, sendo um investimento barato para readequação dos parâmetros normativos exigidos
pelo PRODIST, módulo 8, em relação aos prejuízos acarretados para o consumidor e para a
distribuidora, por resposta da inconformidade. Com a melhoria do fator de potência a perda
percentual no sistema será menor e a capacidade de distribuição da potência ativa será maior,
aliviando a linha e contribuindo para possível crescimento de adicional de carga no trecho, e
também a redução de carga reativa da fonte geradora, permite a expansão de carga nos
geradores das turbinas.
5 – REFERÊNCIAS

[1] O Planejamento e o Futuro do Setor Elétrico Brasileiro. Jornal GGN, 2014. Disponível
em: https://fgvenergia.fgv.br/noticias/o-planejamento-e-o-futuro-do-setor-eletrico-
brasileiro#:~:text=Em%202002%20era%20de%2080,respons%C3%A1veis%20por%201
9%2C3%20GW. Acesso em dia: 18, setembro, 2023.
[2] ANEEL, “Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
Nacional”, Módulo 8, 2023, p. 16.
[3] HAFFNER, Sérgio et al. “Alocação de Bancos de Capacitores em Redes de Distribuição de
Energia Visando Eliminar Violações de Tensão”. Revista Controle & Automação, 2009.
[4] OpenDSS. EPRI, 2023. Disponível em: https://www.epri.com/pages/sa/opendss. Acesso
em dia: 18, setembro, 2023.

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