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RESUMO
Este estudo avalia a propagação dos surtos atmosféricos no interior de uma Subestação (SE) do
Sistema Interligado Nacional, uma vez que, tais surtos podem ter sua intensidade ampliada por
reflexões da configuração interna desta subestação. Entretanto, a modelagem do transformador de
potência é realizada por um modelo “caixa branca”, cuja representação é através de uma rede RLC,
com destaque aos acoplamentos capacitivos. É imprescindível compreender como o transformador
comporta-se frente à estas excitações do sistema elétrico oriundas de descargas atmosféricas. A
modelagem física foi concebida a partir do conhecimento detalhado da geometria interna do
transformador. As simulações do sistema elétrico foram realizadas através do software ATP/EMTP,
cujos modelos de alta frequência de linhas de transmissão e cabos são representados em referência a
parâmetros construtivos e a faixa de frequência em que se deseja estudar, assim como,
transformadores de potencial, transformadores de corrente, seccionadoras, isoladores e disjuntores
foram representados considerando suas capacitâncias típicas. Já os para-raios, essenciais para estudos
de sobretensões, é apresentada uma alternativa na modelagem do tipo metal-óxido proposta
originalmente pelo grupo de estudo IEEE. Os estudos foram realizados seguindo premissas de
coordenação de isolamento a descargas atmosféricas, através de simulações de injeção de surtos
atmosféricos na subestação, advindos de uma de suas linhas de transmissão, com base nos dados
históricos de desligamentos forçados por descargas atmosféricas destas linhas de transmissão. O
resultado deste trabalho é a verificação da distribuição das tensões transitórias no interior da
subestação e nos equipamentos atualmente instalados, principalmente no transformador de potência,
cujo modelo “caixa branca” possibilita o conhecimento interno do equipamento, os pontos mais
críticos de sua estrutura interna e a suportabilidade da isolação.
PALAVRAS CHAVE
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1. INTRODUÇÃO
Transitório eletromagnético provocado por descarga atmosférica é um fenômeno que produz elevados
níveis de sobretensão no Sistema Elétrico de Potência (SEP) caracterizados pelo predomínio das
componentes de alta frequência. Estes surtos atmosféricos são responsáveis por um grande número de
falhas no sistema, quer seja na perda de continuidade do serviço ou em danos à um equipamento
[1][2].
Neste cenário, o objetivo principal deste trabalho é avaliar a propagação dos surtos atmosféricos pelo
interior de uma Subestação (SE) com base nos aspectos sistêmicos atualmente verificados, uma vez
que, tais surtos podem ter sua intensidade ampliada por reflexões da configuração interna desta. É
imprescindível, ainda, compreender como o transformador se comporta frente à estas excitações
oriundas do sistema. Portanto, apresenta-se a iteração do transformador de potência, modelagem
“caixa branca”, com o sistema elétrico de potência frente a descargas atmosféricas. Tal estudo, através
de simulação computacional, possibilitará o conhecimento da distribuição da tensão na subestação e ao
longo dos enrolamentos do transformador.
Estes estudos foram realizados por simulação digital utilizando o software de estudos de transitórios
eletromagnéticos Alternative Transients Program - ATP. As configurações do sistema em análise
foram montadas a partir da topologia da rede e dos parâmetros elétricos, cujos equivalentes foram
obtidos através dos programas de Análise de Redes - ANAREDE e de Análise de Faltas Simultâneas -
ANAFAS.
Para as análises destacadas acima, são apresentados os modelos dos diversos equipamentos de
subestações, bem como os valores típicos que embasam a representação para o estudo, análise e
diagnóstico de sobretensões transitórias [2].
A Subestação alvo dos estudos deste trabalho é composta por um setor de 138 kV e um setor de 23
kV. Destaca-se que estão conectadas ao barramento de 138 kV desta SE cinco linhas de transmissão
de 138 kV e um transformador de 25 MVA com tensões de 138 / 23 kV. A Figura 1 apresenta o
diagrama de operação completo e a configuração original da subestação, utilizada para modelagem dos
equipamentos no ATPDraw.
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Figura 1 – Diagrama de operação da subestação.
2.3 Para-raios
Modelos de para-raios são essenciais para estudos de sobretensões. Dados dos testes realizados pelo
grupo de trabalho do IEEE (1992) [8] mostram que o comportamento dependente da frequência dos
para-raios é significante nos estudos de descargas atmosféricas e outros eventos de frente rápida. De
maneira geral, a tensão sobre para-raios cresce à medida que o tempo de frente decresce, bem como a
tensão de pico dos para-raios tende a ocorrer antes da corrente de pico.
O modelo sugerido pelo grupo de trabalho do IEEE e adaptado pelo P&D UFSM / CEEE-GT é
ilustrado na Figura 2.
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2.4 Transformador de Potência
Os cálculos dos parâmetros do circuito equivalente utilizado estão baseados na modelagem física dos
enrolamentos. Porém, o modelo utilizado considera parâmetros distribuídos apenas para o disco de
entrada do enrolamento de alta tensão (AT); os demais discos deste enrolamento e dos demais
enrolamentos são representados através de parâmetros concentrados, ou seja, cada parâmetro do
circuito equivalente não corresponderá mais a uma única espira ou disco, e sim a um conjunto de
espiras ou discos.
A descarga atmosférica é injetada através de onda de tensão tipo surto através de uma Linha de
Transmissão, todos os equipamentos são considerados em condição de operação normal, ou seja, todas
as linhas e módulos encontram-se conectados ao sistema através do barramento A, com suas
derivações abertas nas seccionadoras com conexão ao barramento B. Com isso, o efeito atenuador,
proporcionado pelas demais linhas de transmissão conectadas à subestação, são considerados.
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Figura 3 – Taxa de desligamento forçado por descargas atmosféricas – Rede de Operação.
Descargas atmosféricas estão entre as principais causas de desligamentos forçados em linhas de
transmissão [5] e, portanto, devem ser avaliados seus efeitos nos equipamentos das subestações.
a) As ondas de surtos atmosféricos, que se propagam para a subestação, tem suas amplitudes
máximas devidas à correntes de descargas atmosféricas que incidem na linha de transmissão.
b) Para a descarga direta, ocorrendo no cabo condutor, esta ocorre por falha de blindagem ou
ausência dos cabos guarda da linha. Não se considerou a possibilidade de “flash-over” na
linha, já que isso limitaria o surto de tensão a um valor máximo estabelecido pela cadeia de
isoladores da linha.
4. ESTUDO DE CASO
Foram avaliados sete casos distintos de configuração da subestação. O primeiro caso, refere-se à
subestação atualmente existente, com para-raios instalados nas entradas de linhas. A partir desta
topologia, optou-se em fazer alterações e avaliar o comportamento das sobretensões no interior da SE.
Para o segundo caso, adicionou-se um para-raios a 5 metros do lado de AT do transformador. No
terceiro caso, considerou-se os para-raios de entrada das LTs e adicionou-se para-raios nas barras A e
B. De forma teórica, optou-se por avaliar a exclusão do para-raios no módulo de entrada da linha de
transmissão sujeita a descarga direta. Portanto, o quarto caso avaliado, considera a subestação original
com a exclusão dos para-raios da LT com incidência da descarga atmosférica. Para os casos seguintes
manteve-se esta abordagem, porém incluindo para-raios no módulo de AT do TR7 a 5 e 10 metros de
distância, correspondendo respectivamente os casos 5 e 6. Por fim, avaliou-se a inclusão de para-raios
nas barras A e B.
Os resultados das amplitudes das sobretensões ocasionadas pelas descargas atmosféricas no interior da
subestação podem ser resumidas na Tabela 1.
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Tab. 1. Resultados
dos estudos de
sobretensões de
descargas
atmosféricas.
Desta forma,
considerando a
configuração
existente da
subestação e atendendo uma das finalidades deste estudo pode-se concluir que o transformador 7 está
perfeitamente protegido contra descargas atmosféricas incidentes a linha de transmissão, alvo do
estudo.
Para as alterações propostas nos demais casos, deve-se avaliar o comportamento das sobretensões
internamente ao transformador.
Com base nos resultados obtidos através de simulações no ATPDraw, avalia-se o Caso 4 por
apresentar sobretensões com maiores amplitudes, Figura 8. Para isso, utiliza-se a forma de onda do
módulo de alta tensão do transformador para verificar o comportamento das tensões internamente ao
equipamento, comparando com os valores obtidos durante os ensaios padrões de impulso atmosférico
do transformador.
Para a análise das oscilações de tensões que ocorrem ao longo dos enrolamentos, nas simulações,
utilizou-se a onda de impulso atmosférico normatizada 1,2/50µs com valor de crista de 650 kV e os
estudos contidos em [13].
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Fig. 8. Tensão nos terminais do Transformador (Caso 4).
A Figura 9 ilustra o esquema de ligação do enrolamento de AT, onde é possível perceber que o
primeiro disco da bobina de conexão central é representado espira por espira e as demais seções
equivalem a concentração de um par de discos. O esquema de ligação da Figura 10 facilita o
entendimento das simulações e análises seguintes.
Figura 9 – Esquema de ligação do enrol. de AT Figura 10 – Esquema de ligação entre enrol. de AT e BT.
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Figura 12 – Resposta para tensões do Caso 4 entre AT e BT
Diante destes valores apresentados observa-se que a tensão máxima entre espiras para o ensaio
padronizado de impulso atmosférico é de 33 kV, ao passo que para o surto do Caso 4 os valores não
ultrapassam 23 kV.
Através de simulações realizadas para análise das tensões entre discos do enrolamento de AT do
transformador, tomam-se os discos iniciais como referência para comparação entre os valores de
ensaio, Figura 15, e valores resultantes do Caso 4, Figura 16.
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Figura 16 – Tensões entre discos no enrolamento de AT (Caso 4)
Para o ensaio de impulso atmosférico percebe-se que a tensão máxima entre os discos do enrolamento
de AT atinge 61 kV, entretanto para a simulação com as tensões oriundas do Caso 4 este valor pode
atingir 76 kV.
6. CONCLUSÃO
A partir das constatações obtidas nas simulações computacionais através do software ATP Draw, fica
evidente a importância da realização de tais estudos, especialmente aos sistemas de energia elétrica
submetidos a transitórios.
O Software ATPDraw mostrou-se uma ferramenta de trabalho muito útil, pois permite uma quantidade
muito grande de mecanismos que possibilitam manipular o sistema elétrico através de estudos, o que
muitas vezes são de difícil medição e entendimento na prática.
Por fim, merece ser destacada a importância das simulações tanto para o sistema como para o
transformador, pois permitem o conhecimento detalhado das reflexões das tensões na subestação e a
distribuição das tensões internas no equipamento, dada a impossibilidade de sua obtenção nos testes de
aceitação. Estes estudos devem ser muito detalhados avaliando os mais variados cenários, assim como,
devem ser realizados para qualquer mudança na topologia do sistema de energia.
Observa-se que, avaliações simplificadas não devem ser realizadas pois conforme verificado neste
estudo, apesar das tensões originadas no Caso 4 terem amplitudes muito superiores aos ensaios de
impulso atmosférico, a distribuição interna no equipamento somente acompanhou esta tendência para
as tensões entre discos. Outros aspectos importantes, além da amplitude das ondas originadas no
sistema elétrico e decisivos para interação do sistema elétrico e transformador, são: frequência dos
transitórios e frequências de ressonâncias do equipamento.
BIBLIOGRAFIA
[1] SARAIVA, E. et. al. “Considerações Sobre Modelagens e Resultado de Estudos dos Impactos
de Descargas Atmosféricas em ETD’s.”, IEEE Bologna Power Tech Conference, Bologna, June
2003.
9
[4] JWG-A2/C4-03 CIGRE-Brasil. “Interação entre Transformadores e o Sistema Elétrico com
Foco nos Transitórios Eletromagnéticos de Alta Frequência”. Brochura 12, 2011.
[6] GREENWOOD, A. “Electrical Transients in Power Systems” EUA: Wiley - Interscience, 1991.
[7] IEEE. Modeling guidelines for fast front transient. IEEE. Transactions on Power Delivery,
[S.l.], v.11,n.1, p.493–506, 1996.
[8] IEEE. Modeling of metal oxide surge arresters IEEE. IEEE Transactions on Power Delivery,
[S.l.], v.7, n.1, p.302–309, 1992.
[9] S.V. Kulkarni and S.A. Khaparde, “Transformer Engineering: Design and Practice” chapter 7,
CRC Press; 1st edition (May 24, 2004), ISBN-10: 0824756533.
[10] F.W. Grover, “Inductance Calculations: Working Formulas and Tables”, Instrument Society of
America, New York, 1973.
[11] V. Venegas, J.L. Guardado, E. Melgoza, S. Maximov, M. Hernandez, “A Computer Model for
Transient Voltages Distribution Studies in Transformer Windings”, 9th WSEAS/IASME
International Conference. Florença, pp. 121-126, August 2011.
[12] K.A. Wirgau, “Inductance calculation of air-core disk winding”, IEEE Transactions on Power
Apparatus and Systems, Vol. PAS-95, No.1, January/February 1976, pp. 394-400.
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