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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNISEP – CEUUN

CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO


CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Rafaela Giachini da Silva

Aplicação da Plataforma BIM na elaboração de projetos de uma Central


Geradora Hidrelétrica

Francisco Beltrão
2020
Rafaela Giachini da Silva

Aplicação da Plataforma BIM na elaboração de projetos de uma Central


Geradora Hidrelétrica

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário
UNISEP – CEUUN, campus de Francisco Beltrão,
como requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Douglas Everton Cadore, Mestre.


Coorientadora: Prof. Taienne Winni Paiz Ecker,
Mestra.

Francisco Beltrão
2020
RESUMO

Para a elaboração de projetos, o uso dos softwares aparece como uma forma de se
obter melhor visualização dos elementos. Com isso, o software mais utilizado é o
AutoCad, no qual representou grande progresso, visto que substituiu os desenhos
manuais. Essa ferramenta apresenta projetos em 2D, que resultam em desenhos com
linhas e curvas. Já a Plataforma Building Information Modeling, ou Plataforma BIM,
apresenta-se como uma alternativa aos processos tradicionais de projeto, pois realiza
uma modelagem que vai desde o 3D até o 6D, trabalhando com diversas informações,
como custos, materiais, resistência, etc. Contudo, a metodologia BIM é mais comum
na realização de projetos e obras verticais, como casas e prédios. Por isso, o presente
estudo consiste na elaboração de projetos de uma Central Geradora Hidrelétrica
(CGH), onde esses projetos foram feitos em 3D com o uso do software Revit e o
planejamento da obra foi elaborado no MS Project. Assim, a modelagem 3D foi
compatibilizada com o planejamento no Navisworks, gerando um modelo 4D. Dessa
maneira, muitos benefícios foram apontados, como a obtenção de uma melhor
visualização, integração, análise e gestão dos projetos e também a detecção de
possíveis problemas e incompatibilidades. Além disso, com informações mais
precisas obtidas através do BIM, pode-se obter maior economia de tempo e de
orçamento, visto que se trata de uma obra de grande porte.

Palavras-chave: Central Geradora Hidrelétrica. Plataforma BIM. Projetos.


ABSTRACT

For the elaboration of projects, the use of software appears as a way to obtain a better
view of the elements. With that, the most used software is AutoCad, which represented
great progress, since it replaced manual drawings. This tool presents 2D designs,
which result in drawings with lines and curves. The Building Information Modeling
Platform, or BIM Platform, presents itself as an alternative to traditional design
processes, since it performs a modeling that goes from 3D to 6D, working with several
information, such as costs, materials, resistance, etc. However, the BIM methodology
is more common in vertical projects and constructions, such as houses and buildings.
For this reason, the present study consists on the elaboration of projects for a
Hydroelectric Generating Plant (HGP), where these projects were made in 3D using
the Revit software and the planning of the construction was made on MS Project
software. Thus, the 3D modeling was made compatible with planning on Navisworks,
generating a 4D model. In this way, many benefits were pointed out, like the obtention
of a better visualization, integration, analysis and management of the projects and the
possible detection of problems and incompatibilities. In addition, with more accurate
information obtained through BIM, it is possible to obtain bigger time and budget
savings, since it is a large construction.

Keywords: Small Hydropower Plants. BIM Platform. Projects.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Arranjo de uma CGH com casa de força no “pé” da barragem ............... 14
Figura 2 – Arranjo de derivação ou desvio ............................................................... 14
Figura 3 – Esquema de funcionamento de empreendimentos hidrelétricos ............. 15
Figura 4 – Seção de uma barragem de terra homogênea ........................................ 16
Figura 5 – Seção de barragem de enrocamento com núcleo impermeável ............. 17
Figura 6 – Seção de barragem de concreto gravidade ............................................. 18
Figura 7 – Vertedouro sobre o próprio corpo da barragem ...................................... 19
Figura 8 – Tomada d’água com comporta ................................................................ 20
Figura 9 – Canal de adução feito em concreto ......................................................... 21
Figura 10 – Câmara de carga ................................................................................... 22
Figura 11 – Exemplo de casa de força com turbinas, gerador e sucção .................. 23
Figura 12 – Ciclo do uso da plataforma BIM ............................................................ 25
Figura 13 – Funcionamento do processo tradicional e do processo BIM ................. 26
Figura 14 – Topografia em 3D gerada no software Revit a partir de fotometria ....... 31
Figura 15 – Projeto da barragem e canal de adução em 3D .................................... 32
Figura 16 – Planejamento no MS Project ................................................................. 33
Figura 17 – Interface do software Navisworks com a compatibilização do projeto 3D
com o planejamento .................................................................................................. 34
Figura 18 – Interoperabilidade dos elementos realizada nos softwares Revit, Project
e Navisworks ............................................................................................................. 35
Figura 19 – Ferramenta Clash Detective no software Navisworks ........................... 35
Figura 20 – Vista do projeto da CGH Santo Anjo em 3D .......................................... 36
Figura 21 – Imagem renderizada do projeto da CGH Santo Anjo ............................ 37
Figura 22 – Modelo em 3D da barragem .................................................................. 37
Figura 23 – Planta baixa da barragem ..................................................................... 38
Figura 24 – Corte transversal da barragem .............................................................. 38
Figura 25 – Planta baixa em 2D da casa de força .................................................... 40
Figura 26 – Corte transversal da casa de força ........................................................ 41
Figura 27 – Casa de força em 3D realizada no software Revit................................. 41
Figura 28 – Imagem renderizada da parte externa da casa de força ....................... 42
Figura 29 – Cronograma da construção do canal de adução ................................... 43
Figura 30 – Cronograma e Gráfico de Gantt elaborados no MS Project .................. 44
Figura 31 – Compatibilização do projeto em 3D com o planejamento da obra ........ 45
Figura 32 – Imagem do vídeo onde o canal de adução aparece pronto ................... 46
Figura 33 – Vista de dentro da casa de força ........................................................... 46
Figura 34 – Detecção de conflitos entre condutos.................................................... 47
Figura 35 – Relatório de incompatibilidade entre condutos ...................................... 48
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Quantitativo de corte e aterro gerado no software Revit ......................... 39


Tabela 2 – Quantitativo de esquadrias ..................................................................... 39
Tabela 3 – Quantitativo de concreto da barragem .................................................... 40
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEC Arquitetura, Engenharia e Construção


BIM Building Information Modeling
CAD Computer-aided design
CGH Central Geradora Hidrelétrica
MW Megawatts
PCH Pequena Central Hidrelétrica
UHE Usina Hidrelétrica
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 12
1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................. 12
1.2.2 Objetivos específicos..................................................................................... 12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 13
2.1 CENTRAIS GERADORAS HIDRELÉTRICAS ..................................................... 13
2.1.1 Arranjo das CGHs .......................................................................................... 13
2.1.1.1 Barragem....................................................................................................... 16
2.1.1.2 Vertedouro ..................................................................................................... 18
2.1.1.3 Tomada d’água ............................................................................................. 19
2.1.1.4 Canal de adução ........................................................................................... 20
2.1.1.5 Câmara de carga ........................................................................................... 21
2.1.1.6 Conduto forçado ............................................................................................ 22
2.1.1.7 Casa de força ................................................................................................ 23
2.1.1.8 Canal de fuga ................................................................................................ 24
2.2 BUILDING INFORMATION MODELING (BIM).................................................... 24
2.2.1 Conceituação .................................................................................................. 24
2.2.2 Comparação com o modelo tradicional ....................................................... 25
2.2.3 Modelos BIM 3D, 4D, 5D e 6D ........................................................................ 27
2.2.4 Interoperabilidade e IFC................................................................................. 27
2.2.5 Benefícios e dificuldades .............................................................................. 28
3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 30
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA CGH ............................................................................ 30
3.2 ELABORAÇÃO DO PROJETO DA CGH............................................................. 31
3.3 PLANEJAMENTO DA CGH................................................................................. 33
3.4 PLANEJAMENTO 4D .......................................................................................... 34
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 36
4.1 APLICAÇÃO DA DIMENSÃO 3D DO BIM NO PROJETO ESTUDO DE CASO..36
4.1.1 Projetos no software AutoCad ...................................................................... 40
4.2 APLICAÇÃO DA DIMENSÃO 4D DO BIM NO PROJETO .................................. 43
4.2.1 Planejamento no MS Project ......................................................................... 43
4.3 COMPATIBILIZAÇÃO DA DIMENSÃO 3D PARA DIMENSÃO 4D ..................... 45
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 49
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 51
APÊNDICE A – CRONOGRAMA ELABORADO NO MS PROJECT ....................... 54
ANEXO A – PLANTA DE SITUAÇÃO EM 2D DA CGH SANTO ANJO................... 64
ANEXO B – PLANILHA COM PLANEJAMENTO DA OBRA .................................. 66
10

1 INTRODUÇÃO

No setor da construção civil há uma grande busca por avanços, objetivando


melhor qualidade e produtividade. Isso inclui a gestão dos softwares, que são
utilizados para a elaboração de projetos, para melhor visualização dos elementos.
Logo, surge a Plataforma Building Information Modeling (BIM) propondo uma
nova metodologia de projeto. Segundo Eastman et al. (2011), essa plataforma é uma
tecnologia de modelagem da informação da construção e um conjunto associado de
processos para comunicação, produção e análise. Sendo que o BIM não trabalha
apenas com desenho, mas com elementos em que informações podem ser inseridas.
Desse modo, através do modelo tradicional Computer-aided design (CAD)
obtém-se informações espaciais, como formas e dimensões em 2D. Já com a
Plataforma BIM por meio de uma modelagem 3D, é possível ter uma visualização mais
exata e um melhor entendimento do projeto, trabalhando com informações
geométricas e não geométricas (custos, materiais, peso, resistência, etc.). Assim, é
possível obter uma relação entre todas as fases envolvidas na construção do
empreendimento, visando melhor planejamento e consequentemente, minimizar
erros.
Todavia, a aplicação da metodologia BIM é mais comum no processo de
planejamento e de elaboração de projetos de obras verticais, como casas e prédios,
sendo raras as iniciativas que aplicam essa tecnologia em obras de Centrais
Geradoras Hidrelétricas (CGHs), existindo poucos estudos e aplicações nessa área.
Não utilizar a plataforma BIM pode causar uma série de problemas. Exemplo
disso é a incompatibilidade de projetos, que gera problemas de execução, impactando
em vários fatores, como a redução da qualidade do empreendimento, causando
improvisos na obra. Outros fatores são os problemas de orçamento, resultando em
custos acima do previsto que poderiam ser evitados, principalmente em obras de
grande porte e de alto custo como as de CGHs. Além disso, falhas com cronogramas,
levando muito tempo para a concepção dos projetos e consequentemente, atraso na
entrega do empreendimento.
Portanto, esse trabalho visa verificar e analisar vantagens que a tecnologia
BIM pode apresentar quanto aos métodos tradicionais de projeto. Essa verificação
ocorre através da elaboração de projetos em modelagem 3D de uma Central Geradora
Hidrelétrica. Além dos projetos, há também a realização do planejamento da obra e
11

posteriormente, a compatibilização desses projetos com o planejamento através da


plataforma BIM, tornando-se uma modelagem 4D. Em vista disso, essa análise pode
apresentar bons resultados, visto que a aplicação dessa metodologia em projetos de
CGHs não é comum.
Por isso, os objetivos gerais e específicos desse estudo são apresentados.
Depois, no terceiro capítulo há uma revisão bibliográfica apresentando o que são
centrais geradoras hidrelétricas, suas estruturas civis, o que é a plataforma BIM,
algumas definições e seus benefícios e dificuldades.
Já no quarto tópico, são apresentados os materiais e métodos utilizados para
esse trabalho, explicando quais softwares foram usados e como eles foram aplicados.
No quinto, aparecem os resultados obtidos e as discussões referentes a eles.
E por fim, foram feitas considerações finais, que aparecem no sexto capítulo,
verificando se os objetivos foram atingidos.
12

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

• Expor soluções através da aplicação da plataforma BIM na elaboração de


projetos de uma Central Geradora Hidrelétrica.

1.2.2 Objetivos Específicos

• Estudar as definições e aplicações da metodologia BIM;


• Aplicar a plataforma BIM em um estudo de obra de uma Central Geradora
Hidrelétrica;
• Apontar benefícios e dificuldades da aplicação da implementação da
plataforma BIM em projetos de CGHs;
• Fazer uma análise da utilização dessa metodologia para compatibilizar projetos
e otimizar processos de obras de CGHs.
13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Nesse capítulo, de forma geral, busca-se apresentar os conceitos que serão


aplicados no estudo da CGH Santo Anjo, através de referencial teórico.

2.1 CENTRAIS GERADORAS HIDRELÉTRICAS

De acordo com a Resolução nº 875, de 10 de março de 2020 c/c Lei nº 13.360,


de 17 de novembro de 2016, é definido que Central Geradora Hidrelétrica é um
empreendimento de potência igual ou inferior a 5 MW (megawatts).
Desse modo, as Centrais Geradoras Hidrelétricas, mais conhecidas como
CGHs, são miniusinas hidrelétricas que estão em classe abaixo das Pequenas
Centrais Hidrelétricas (PCHs), que possuem potência de 5 MW a 30 MW. Por
conseguinte, existem as Usinas Hidrelétricas (UHEs), que são empreendimentos
hidrelétricos com potência instalada superior a 30 MW (FERNANDES, 2019).
Segundo Martins (2015), no Brasil ocorreu um aumento significativo nos últimos
anos no número de PCHs e CGHs, em virtude de que esses empreendimentos
causam menores impactos ambientais e são fonte renovável de energia.
Sendo uma usina a fio d’água, as CGHs fazem aproveitamento da queda
natural do rio e, portanto, não necessitam da formação de reservatório.
(FERNANDES, 2019).

2.1.1 Arranjo das CGHs

Existem vários tipos de arranjo para uma CGH. Sendo que, para fazer a escolha
do melhor é preciso levar em consideração as condições topográficas e geológico-
geotécnicas do local onde a central será implantada. Há dois tipos de arranjos:
compactos e com derivação (PEREIRA, 2015).
Os arranjos compactos são caracterizados por possuírem tomada d’água e
casa de força na mesma estrutura, além de, possuírem um vertedouro incorporado ao
barramento. Esse tipo de arranjo é indicado quando não existe uma queda natural
localizada, fazendo com que o desvio necessário seja feito pelo barramento. Desse
modo, a casa de força é construída no “pé” da barragem sem um canal de adução
(MARTINS, 2015).
14

A Figura 1 mostra um arranjo compacto de uma CGH com a casa de força


localizada no “pé” da barragem.

Figura 1 – Arranjo de uma CGH com casa de força no “pé” da barragem.

Fonte: Oliveira (2017)

Já os arranjos de derivação ou desvio são feitos em locais com queda natural


acentuada. Esse tipo de arranjo é o clássico funcionamento de um empreendimento
hidrelétrico. Assim, a estrutura do barramento é feita a montante da queda junto com
o canal de adução e a casa de força é construída a jusante, ficando distante do
barramento (PEREIRA, 2015). Logo, é possível ver que na Figura 2, a topografia
contribuiu para o arranjo de derivação possuindo canal de adução, tomada d’água,
conduto forçado, casa de força e canal de fuga.

Figura 2 – Arranjo de derivação ou desvio.

Fonte: Oliveira (2017)


15

Dessa forma, segundo Mancebo e Brandão (2013) o arranjo de uma CGH é


similar ao de qualquer outro tipo de usina hidrelétrica. Portanto, a Figura 3 apresenta
um esquema com o clássico modelo de arranjo de empreendimentos hidrelétricos a
fio d’água.

Figura 3 – Esquema de funcionamento de empreendimentos hidrelétricos.

Fonte: Balarim (1996)

Quanto a seleção do tipo de arranjo é importante que uma análise seja feita
para possibilitar a redução de custos, desde que, sejam garantidas questões de
segurança e eficiência do sistema (MANCEBO; BRANDÃO, 2013).
16

2.1.1.1 Barragem

A barragem é a estrutura que tem como objetivo represar a água, de forma que
eleve o nível d’água do rio e possibilite a alimentação da tomada d’água. Assim, em
locais de baixa queda a barragem também cria o desnível necessário para produção
da energia (ELETROBRÁS, 2000).
Para a escolha do tipo de barragem mais adequado ao projeto é necessário
levar em consideração alguns fatores, como as condições da fundação e também a
disponibilidade de materiais, equipamentos e mão de obra. Além disso, é preferível
que a barragem seja construída em local estreito do rio, de forma que possibilite a
economia do material (MANCEBO; BRANDÃO, 2013).
A determinação do tipo de barragem também depende dos aspectos
topográficos, geológicos e geotécnicos. Desse modo em geral, tem sido adotado pelos
projetos de aproveitamentos hidrelétricos barragens de terra, barragens de
enrocamento e barragens de concreto a gravidade. (ELETROBRÁS, 2000).
Segundo Souza, Santos e Bortoni (1999), as barragens de terra são feitas em
terra compactada, em que possuem um núcleo de material impermeável com filtro de
drenagem. Elas são recobertas por revestimento protetor, como grama ou pedra e
possuem seções transversais trapezoidais. A Figura 4 apresenta a seção de uma
barragem de terra:

Figura 4 – Seção de uma barragem de terra homogênea.

Fonte: Eletrobrás (2000)

Ademais, as barragens de terra são indicadas para locais em que a topografia


é suavemente ondulada, como vales pouco encaixados. Também, são indicadas para
lugares em que há áreas de empréstimo de materiais argilosos ou arenosos para a
17

construção do maciço compactado. Além disso, é importante que seja feita uma
análise do balanceamento dos materiais em relação ao uso dos materiais terrosos,
aos quais são provenientes das escavações decorrentes da execução da obra, como
as do canal de adução ou das fundações das estruturas de concreto (ELETROBRÁS,
2000).
As barragens de enrocamento possuem predominância de material rochoso.
Basicamente, existem dois tipos de barragem de enrocamento: as de membrana
externa impermeável (sendo de concreto ou asfalto) e as com o núcleo interno
impermeável (argila compactada) (MARTINS, 2015).
Esse tipo de barragem é apropriado para vales medianamente encaixados em
regiões rochosas, sendo que nessas regiões o capeamento do solo, geralmente, não
existe ou é pouco espesso. Para isso, é necessário que existam condições para
fundações e acesso facilmente explorável de pedreiras, visando facilitar o transporte
de materiais (ELETROBRÁS, 2000).
A Figura 5 ilustra a seção transversal de uma barragem de enrocamento com
núcleo impermeável.

Figura 5 – Seção de barragem de enrocamento com núcleo impermeável.

Fonte: Assis; Hernandez; Colmanetti (2003)

E por último, as barragens de concreto que podem ser de gravidade, arco ou


contraforte. As de gravidade dependem do seu peso próprio para resistir aos esforços
da água, normalmente, construídas com concreto convencional ou concreto
compactado a rolo. As barragens em arco são sugeridas para vales estreitos, nos
quais necessitam de menor quantidade de concreto em comparação às barragens de
18

gravidade, pois essa estrutura em arco conduz o esforço da água para as paredes do
vale em que a barragem está encaixada. Já as de contraforte dependem de estruturas
verticais para sua sustentação (MARTINS, 2015).
Segundo as diretrizes da Eletrobrás (2000), o projeto de uma barragem de
concreto deve levar em consideração algumas características, como a disponibilidade
de pedreiras para aquisição de brita e jazidas e areia que possam ser exploradas perto
do local. E também, é importante que exista facilidade de construção e acessos para
a obra. A figura 6 mostra a seção de uma barragem de concreto gravidade.

Figura 6 – Seção de barragem de concreto gravidade.

Fonte: Assis; Hernandez; Colmanetti (2003)

2.1.1.2 Vertedouro

Além da barragem, a captação de água também conta com um vertedouro, que


tem como finalidade conduzir a água através de uma barreira. Ele serve como um
sistema de escape, pois impede a passagem da água por cima da barragem quando
há cheias causadas por aumento da vazão. Desse modo, ele possibilita o controle do
nível da água, sendo que em períodos de chuva, seu processo de abertura busca
evitar enchentes ao redor da usina (MANCEBO; BRANDÃO, 2013).
19

Em geral, há três formas para realizar o extravasamento do excesso de água


afluente: por canal lateral, em que a cota é elevada ao leito natural do rio com soleira
vertedoura a jusante. Outra forma, é o vertedouro sobre o próprio corpo da barragem
ao longo da extensão da crista (superfície no topo da barragem). E a última, é uma
combinação dos dois tipos citados. A escolha dependerá das condições topográficas,
geológicas e geotécnicas do local, as quais definirão o arranjo e a vazão de projeto
do vertedouro (ELETROBRÁS, 2000). A figura 7 mostra um tipo de vertedouro que
está junto da barragem.

Figura 7 – Vertedouro sobre o próprio corpo da barragem.

Fonte: Reis; Polli (2015)

2.1.1.3 Tomada d’água

De acordo com Flórez (2014), a tomada d’água é a estrutura responsável pela


transição da descarga de água no rio. Isso ocorre, pois, a água é captada na tomada
d’água e levada através do canal de adução, que pode ser aberto ou fechado.
Sua estrutura deve dispor de uma geometria que receba o escoamento da água
de forma uniforme, sem vórtices, promovendo uma aceleração progressiva e gradual
do fluxo (PEREIRA, 2015).
20

Contudo, deve dispor de grades para evitar a passagem de material sólido em


suspensão, a fim de, não preencher de material o canal ou outro sistema de adução
(FLÓREZ, 2014).
A Figura 8 apresenta uma tomada d’água em túnel contendo comporta e grade.

Figura 8 – Tomada d’água com comporta.

Fonte: Oliveira (2017)

2.1.1.4 Canal de adução

Quando o arranjo da usina é de derivação, ou seja, a casa de força está a


jusante, é comum a construção do canal de adução. Dessa forma, esse canal que
pode ser aberto ou fechado, conduz a água que foi captada na tomada d’água e tem
como finalidade minimizar a formação de vórtices e perdas de carga. Assim, a
montante da tomada d’água, isso significa, depois do canal, encontra-se uma câmara
de carga, dependendo da situação um desarenador e muitas vezes, um vertedouro
lateral (PEREIRA, 2015).
Quanto ao dimensionamento do canal, ele deverá ser realizado de acordo com
os parâmetros fixados para o projeto da tomada d’água. Assim, como outras as
estruturas a escolha da seção mais adequada para o canal dependerá das condições
topográficas, geológicas e geotécnicas. Nesse contexto, um canal pode ser
trapezoidal, em solo, retangular, em rocha e com ou sem revestimento
21

(ELETROBRÁS, 2000). Desse modo, a Figura 9 ilustra um trecho de sistema de


adução feito em concreto.

Figura 9 – Canal de adução feito em concreto.

Fonte: Oliveira (2017)

Para que ocorra um balanceamento dos materiais é importante que o material


proveniente da escavação do canal seja utilizado em outras obras de terra do
empreendimento hidrelétrico (ELETROBRÁS, 2000).
Contudo, para atender requisitos topográficos e técnicos, o canal de adução
pode ser reduzido ou substituído por meio de túneis, tubulações, aquedutos, ou outros
tipos de obras (FLÓREZ, 2014).

2.1.1.5 Câmara de carga

Uma vez que a dinâmica do processo de transformação de energia das CGHs


é gravitacional, as velocidades nas aduções são diferentes. Portanto, a velocidade no
canal de adução é baixa e no conduto forçado é alta. Sendo assim, a câmara de carga
é a estrutura localizada no final da usina que interliga o canal (sistema de baixa
22

pressão) ao conduto (alta pressão) (FLÓREZ, 2014). A Figura 10 apresenta uma


câmara de carga juntamente com o canal de adução.

Figura 10 – Câmara de carga.

Fonte: Oliveira (2017)

Diante disso, deve ser dimensionada para condições críticas de operação,


como o golpe de aríete, conhecido por ser uma onda de sobrepressão causada por
uma parada brusca que afeta diretamente o conduto forçado. Logo, para um bom
funcionamento, a câmara de carga deve criar um volume para servir de reserva de
água, satisfazendo as necessidades da turbina (FLÓREZ, 2014).
Ainda assim, pode ser prevista uma grade metálica na câmara de carga, a fim
de que, evite a entrada de sólidos e corpos flutuantes que possam interferir no
funcionamento da turbina (BALARIM, 1996).

2.1.1.6 Conduto forçado

O conduto forçado consiste em levar as águas da câmara de carga até a casa


de força, em que estão as turbinas. Assim, um dos materiais mais utilizados para
condutos é o aço comercial (FLÓREZ, 2014).
Visto que, seu material possui custo relativamente elevado e que seu
comprimento é variável em cada projeto, como orientação, deve-se buscar reduzir o
comprimento do conduto (PEREIRA, 2015).
23

Dessa forma, é de grande importância aperfeiçoar seu projeto para reduzir não
só o investimento inicial mas também os custos com manutenção (FLÓREZ, 2014).

2.1.1.7 Casa de força

A casa de força ou casa de máquinas é uma estrutura civil na qual possui


grande parte do equipamento eletromecânico (turbina e gerador). Esse equipamento
faz a transformação da energia cinética da água em energia mecânica, e depois, em
energia elétrica (FLÓREZ, 2014). A Figura 11 mostra um exemplo de casa de força
composta por turbinas, gerador e sucção.

Figura 11 – Exemplo de casa de força com turbinas, gerador e sucção.

Fonte: Oliveira (2017)

A definição de suas dimensões dependerá da quantidade e das dimensões da


turbina e do gerador. Ademais, é importante que seja analisada a necessidade de uma
sala para a operação da usina (ELETROBRÁS, 2000).
24

A localização da casa de força é muito importante para obter um bom


funcionamento da CGH. Ela deve estar localizada próximo ao afluente para devolver
a água através do canal de fuga e também se situar em terreno estável, ficando longe
do alcance de cheias para que as máquinas não sejam afetadas em caso extremo
(FLÓREZ, 2014).
Deve-se lembrar que nos arranjos compactos, em que o desnível é criado pela
barragem, a casa de força é vinculada à tomada d’água, ou seja, é incorporada ao
barramento (ELETROBRÁS, 2000).

2.1.1.8 Canal de fuga

Localizado entre a casa de força e o rio, o canal de fuga é responsável por


devolver a água turbinada para o rio. Seu dimensionamento e geometria se dá pelo
tipo e dimensões da casa de força e também pela distância que existe entre ela e o
rio (ELETROBRAS, 2000).

2.2 BUILDING INFORMATION MODELING (BIM)

2.2.1 Conceituação

Conhecida por ser uma filosofia de desenvolvimento de projetos, a metodologia


BIM tem como objetivo fazer a integração dos profissionais de arquitetura, engenharia
e construção (AEC) do começo ao fim da elaboração dos projetos. Pretendendo criar
um formato virtual que apresente as características do produto final, contendo
informações técnicas de orçamento, execução e manutenção. Além disso, é capaz de
apresentar a conexão entre todas as fases em função do tempo (DURANTE, 2013).
Scheer et al. (2007) defendem que o uso do BIM vai muito além da construção
de maquetes eletrônicas e rapidez no processo de produção de documentações
projetuais. A visualização tridimensional faz com que seja possível verificar as
inadequações e também as incompatibilidades de forma instantânea, sendo que isso
auxilia no processo de decisão em todas as etapas do projeto.
Para Santos (2012), a tecnologia BIM é o meio de produção, utilização e
atualização de um modelo de informações do empreendimento durante o seu ciclo de
vida. Esse modelo possui diversas informações de diferentes aspectos, que abrangem
25

todas as disciplinas envolvidas na construção do empreendimento. Assim, serve a


diferentes finalidades, desde estudos de viabilidade, desenvolvimento do projeto,
orçamento, planejamento, construção, manutenção, entre outras. Conforme a Figura
12, há uma representação sobre o uso do BIM no ciclo de vida do empreendimento.

Figura 12 – Ciclo do uso da plataforma BIM.

Fonte: Adaptado de Dispenza (2010)

Portanto, o BIM faz a integração de diversas disciplinas, unindo-as em um único


modelo ao invés de fazer o uso de programas separados de acordo com cada
especialidade. Sendo que, essa união resulta na facilidade de fluxo e troca de
informações de diversas fases da obra (PINTO, 2019).

2.2.2 Comparação com o modelo tradicional

Por mais que o BIM esteja em grande uso no Brasil, a ferramenta mais utilizada
na AEC é o CAD (Computer-aided design), utilizado na parte de elaboração de
projetos e também no acompanhamento no processo executivo da obra. Essa
ferramenta representou um grande avanço, visto que, substituiu desenhos manuais
pela representação digital (SCHMITZ, 2014).
26

A plataforma CAD, sendo o modelo tradicional, é responsável pela produção


de desenhos de forma vetorial, com linhas e curvas que dificulta a troca de dados e
faz com que ocorra perda de informação. Desse modo, isso acontece de forma menos
eficiente, pois não permite que ocorra uma troca de informação durante o
desenvolvimento dos projetos de cada área (arquitetônico, elétrico, estrutural,
hidrossanitário, etc) (PINTO, 2019).
A diferença entre CAD e BIM se dá pelo fato de que a plataforma BIM lida com
objetos e não com linhas. Assim, esses objetos são parametrizados e possuem
informações, fazendo com que eles interajam com outros elementos. Exemplo disso,
é uma parede de alvenaria, na qual será possível obter seu tamanho, espessura,
altura, materiais, entre outros parâmetros. Desse modo, caso queira adicionar uma
janela nessa parede ou fazer alguma modificação, haverá informações que facilitarão
essa ação (MULLER, 2015).
Nesse contexto, o processo tradicional consiste em diversos projetos para cada
disciplina. Goes (2011) afirma que, no BIM toda informação necessária pode ser
embutida, desde fases iniciais de projeto até a conclusão da obra, de modo em que
todas as disciplinas estejam integradas em um único modelo, como mostra a Figura
13.

Figura 13 – Funcionamento do processo tradicional e do processo BIM.

Fonte: Goes (2011)


27

Portanto, pode-se dizer que a tecnologia BIM é uma evolução do sistema CAD,
pois integra informações do ciclo de vida completo de um empreendimento (GOES,
2011).

2.2.3 Modelos BIM 3D, 4D, 5D e 6D

Quando se trata de um modelo e suas dimensões, o modelo se refere a forma


em que ele está programado e também aos tipos de informações que estão contidas
nele. Sendo assim, o 3D possui informações espaciais, em que ilustra pilares, vigas,
lajes, paredes, portas, janelas, etc. Desse modelo computacional é possível extrair
informações quanto a compatibilização espacial do projeto, as especificações de
materiais, quantitativos, entre outros (CAMPESTRINI et al. 2015).
O modelo 4D tem seus elementos gráficos relacionados aos elementos de
tempo. Ele representa graficamente e simultaneamente os elementos permanentes e
temporários com o cronograma das atividades, fazendo com que seja possível fazer
um acompanhamento do avanço físico da obra. Desse modo, é usado para planejar
as fases da construção, sendo uma ferramenta importante, pois possibilita a
visualização e a comunicação (PARREIRA; CACHADINHA, 2012).
Recebendo o nome de modelo BIM 5D, esse modelo é programado para
receber informações referentes ao custo dos serviços como dos materiais, mão de
obra, equipamentos, despesas, etc (CAMPESTRINI et al. 2015).
Segundo Mattos (2019), a sexta dimensão consiste em fazer o gerenciamento
do ciclo de vida do empreendimento. Com o 6D é possível controlar a garantia dos
equipamentos, fazer planos de manutenção, obter dados de fabricantes e
fornecedores, além de custos de operação e até mesmo fotos.
Nesse contexto, Campestrini et al. (2015) afirmam que, quanto mais dimensões
o modelo tiver, maior será a quantidade e o tipo de informações modeladas a partir
deles, fazendo com que a tomada de decisões seja mais complexa e assertiva.

2.2.4 Interoperabilidade e IFC

Há uma grande diversidade de softwares que utilizam a plataforma BIM


atualmente. Desse modo, é necessário que exista uma compatibilização de projetos,
28

na qual consiste em um modelo central funcionando como intermediador, recebendo


os projetos e fazendo a compatibilização entre todas as disciplinas (PINTO, 2019).
Nesse contexto, existe a interoperabilidade, que segue a definição de
engenharia colaborativa, pois todas as áreas envolvidas na elaboração dos projetos e
execução do empreendimento compartilham informações em variadas camadas.
Contudo, cada software BIM trabalha com seu tipo de arquivo, sendo que alguns deles
não se comunicam com outros softwares pois são formatos de arquivos diferentes.
Isso dificulta a interoperabilidade entre esses programas e o processo BIM, sendo que
para superar essa dificuldade, os softwares adotaram como solução um padrão para
realizar a exportação e importação de arquivos de projeto chamado Industry
Foundation Classes (IFC) (DERITTI, 2017).
Dessa maneira, Deritti (2017) ainda afirma que, para ocorrer uma troca de
informações eficiente, é de extrema importância que cada indivíduo AEC exporte seus
arquivos de projetos para a mesma extensão, conhecida como IFC. Caso possua
extensões diferentes devem ser importados em um software BIM que suporte essas
extensões. Assim, essa compatibilização facilitará a interoperabilidade entre as
diversas áreas de projetos, fazendo com que um projeto feito em um programa possa
ser utilizado em outro programa.

2.2.5 Benefícios e dificuldades

Uma das caraterísticas da tecnologia BIM que mais apresenta vantagens é a


sua parametricidade, ou seja, parâmetros são definidos para os objetos. Desse modo,
quando uma alteração é feita, essa alteração ocorre automaticamente em todos os
objetos semelhantes. Isso faz com que seja possível testar alternativas e também
analisar seus efeitos na edificação. Além do mais, esses parâmetros permitem a
obtenção de informações, como tabelas de quantitativos e materiais (DURANTE,
2013).
Ademais, no guia BIM Handbook, Eastman et al. (2011) apresentam alguns
benefícios do uso da plataforma BIM, como:

• Aumento da performance de qualidade e construção por meio de simulações e


análises;
• Melhor colaboração entre projetistas;
29

• Visualização mais precisa do projeto,


• Geração mais apurada e consistente de desenhos em 2D;
• Trabalho simultâneo entre múltiplas disciplinas, reduzindo tempo e erros;
• Extração de estimativas de custos mais acurada durante etapa do projeto;
• Descoberta de erros de projeto antes da construção;
• Sincronização do design com o planejamento da construção, possibilitando a
simulação da obra juntamente com a revelação de potenciais problemas e
alternativas;
• Melhor detalhamento do projeto as built, facilitando futuras manutenções;
• Melhor gerenciamento e operação da edificação, devido maior quantidade de
informações.

Entretanto, algumas dificuldades são encontradas para que ocorra a


implantação do BIM. Uma delas é a financeira, visto que os softwares possuem preços
elevados e também seus pacotes adicionais. Outro impasse é a necessidade de
bibliotecas com objetos paramétricos (também conhecidos como blocos). Alguns
escritórios têm criado sua própria biblioteca, entretanto, essa alternativa é bastante
complexa, pois exige conhecimento de áreas técnicas e específicas da computação.
Sendo assim, a incompatibilidade também é um tópico que gera problemas. Isso
ocorre, durante a conversão de arquivos para o IFC, podendo ocorrer uma perda
significativa de dados (DURANTE, 2013).
30

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Segundo Martins e Theóphilo (2016), a pesquisa bibliográfica busca conhecer,


discutir, analisar e explicar contribuições sobre um assunto específico com base em
referências publicadas, como livros, artigos, revistas, etc.
Já os estudos de caso, conforme o Manual de Publicação da APA (2012),
consistem em relatos de materiais de casos obtidos através de um trabalho. Dessa
forma, eles ilustram um problema, determinam uma forma de resolver esse problema
e/ou esclarecem pesquisas necessárias, aplicações ou assuntos teóricos.
Portanto, essa pesquisa se trata de uma pesquisa bibliográfica, devido ao seu
referencial teórico e também de um estudo de caso. Logo, nesse estudo de caso foram
elaborados os projetos da CGH Santo Anjo, utilizando softwares e fazendo a
compatibilização desses projetos através da metodologia BIM.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA CGH

O empreendimento em estudo está localizado próximo a cidade de Caxias do


Sul, no Rio Grande do sul, mais especificamente no Rio Piaí. Trata-se de uma central
geradora hidrelétrica que possui o nome de Central Geradora Hidrelétrica Santo Anjo,
com potência instalada de 2,0 MW e foi criada para investir em geração e
comercialização de energia elétrica.
A CGH está na fase inicial da sua construção e sua instalação requer as
seguintes estruturas civis: barragem, tomada d’água, canal de adução, câmara de
carga, conduto forçado e casa de força.
Sua barragem é de concreto e possui vertedouro incorporado, tendo 3,0 de
altura e 42,0 metros de comprimento, sendo que a sua fundação é composta por
rochas basálticas. Além disso, para a execução do barramento foi necessário o desvio
do rio.
As estruturas de adução e geração estão localizadas na margem esquerda do
rio Piaí. A adução é feita por meio de um canal em concreto armado com contrafortes,
com extensão de aproximadamente 65,0 metros e largura aproximada a 3,0 metros,
seguindo até a câmara de carga.
A câmara de carga conta com sistemas de grades e comportas para proteção
contra corpos flutuantes superficiais trazidos pela água. Sua estrutura é constituída
31

de concreto armado, com dimensões necessárias para permitir a transição adequada


do escoamento da água. Desse modo, a água parte para o conduto forçado, que
possui 2,5 metros de diâmetro e uma extensão de 263,0 metros.
Por fim, a água é levada através dos condutos até a casa de força, que contém
duas unidades geradoras (turbinas) de potência unitária de 1,0 MW, fazendo uma
potência total de 2,0 MW. Essa estrutura possui 23,0 metros de comprimento e 9,3
metros de largura e é feita de concreto armado.

3.2 ELABORAÇÃO DO PROJETO DA CGH

O projeto arquitetônico foi elaborado através do software Revit, da empresa


Autodesk. Esse software permite a elaboração de projetos de edifícios, estruturas e
seus componentes em 3D.
Para dar início ao projeto, as cotas de nível da topografia foram geradas no
próprio software. Isso foi possível através de dados metashape, obtidos por meio de
fotometria feita com o uso de drone, que gerou uma visão de todo o terreno em 3D,
como mostra a Figura 14.

Figura 14 – Topografia em 3D gerada no software Revit a partir de fotometria.

Fonte: Autora (2020)

Após o lançamento das curvas de nível, que foram georreferenciadas no


software Revit, o próximo passo foi a elaboração do projeto arquitetônico.
32

Desse modo, visto que as estruturas já haviam sido dimensionadas pela


empresa responsável pela construção da usina, utilizaram-se os projetos em 2D nos
quais foram disponibilizados pela empresa. Com esses projetos obtiveram-se
informações e dimensões para a realização da modelagem em 3D sobre a topografia,
no programa Revit.
O primeiro projeto utilizado foi o da planta de situação, que se encontra no
Anexo A. A partir disso, foi possível fazer uma análise de onde as estruturas deveriam
ser modeladas e alocadas na topografia em 3D.
Depois de ter a localização de cada estrutura determinada, todas os
componentes necessários de cada estrutura foram modelados, incluindo barragem,
paredes, esquadrias, coberturas, turbinas, comportas, grades, condutos, etc. A Figura
15 apresenta o projeto arquitetônico em 3D da barragem juntamente com o canal de
adução da CGH Santo Anjo.

Figura 15 – Projeto da barragem e canal de adução em 3D.

Fonte: Autora (2020)

Assim, as outras estruturas foram desenhadas e alocadas na topografia,


respeitando seus dimensionamentos e as cotas de níveis determinadas pelo estudo
ambiental da empresa.
Por fim, esse projeto arquitetônico, serviu de base para o planejamento e a
compatibilização feitos posteriormente.
33

3.3 PLANEJAMENTO DA CGH

Obteve-se o planejamento detalhado da obra através da empresa responsável


pela construção da CGH em uma planilha, na qual encontra-se no Anexo B. Esse
planejamento foi realizado através do conhecimento empírico dos engenheiros civis e
eletricistas da empresa, que se basearam em comparações com outras obras do
mesmo porte.
Desse modo, essas informações da planilha foram passadas para o software
utilizado para a criação do cronograma, chamado Microsoft Project (também
conhecido como MS Project ou apenas Project), que pertence à empresa Microsoft.
As tarefas foram alinhadas e organizadas para se obter o planejamento, no qual
formou um gráfico, conhecido como Gráfico de Gantt. Nele foi possível visualizar a
relação existente entre as tarefas, como mostra a Figura 16.

Figura 16 – Planejamento no MS Project.

Fonte: Autora (2020)

Definiu-se o calendário de trabalho para dar início às atividades, a partir do dia


17 de fevereiro de 2020. Além disso, foi configurado o período de trabalho, sendo das
7:45h às 12:00h no período da manhã e das 13:30h às 18:00h, baseando-se no
horário de trabalho real dos funcionários da obra. Por conseguinte, a obra da CGH
34

Santo Anjo foi planejada para aproximadamente 11 meses, desde a construção do


barramento até sua operação.

3.4 PLANEJAMENTO 4D

Após o desenvolvimento do projeto no Revit, que gerou uma modelagem 3D e


o planejamento na forma de cronograma elaborado no MS Project, essas informações
foram adicionadas ao software Navisworks, gerando um planejamento em 4D. Esse
software pertencente a empresa Autodesk e permite visualizar o andamento da obra,
possibilitando a visualização gráfica de atividades através do cronograma que foi
inserido, apresentando uma visão mais real da construção.
Desse modo, cada projeto foi exportado em seu próprio software. Assim, o
modelo 3D (feito no Revit) foi exportado no formato rvt e o planejamento (feito no MS
Project) foi exportado no formato mpp. Logo, percebe-se que são dois formatos
diferentes quando se trata de informações, modelos, aparência e objetivos. Por fim,
esses dois projetos foram importados no Navisworks e a união desses elementos foi
realizada, conforme apontado na Figura 17.

Figura 17 – Interface do software Navisworks com a compatibilização do projeto 3D


com o planejamento.

Fonte: Autora (2020)


35

Assim, com essa compatibilização dos projetos ocorreu a interoperabilidade,


em que as áreas compartilharam informações, como mostra a Figura 18.

Figura 18 – Interoperabilidade dos elementos realizada nos softwares Revit, Project


e Navisworks.

Fonte: Autora (2020)

Além disso, o software Navisworks apresenta uma opção para procurar


incompatibilidades no projeto através de uma ferramenta chamada Clash Detective
(Figura 19). Portanto, essa ferramenta foi utilizada para fazer uma análise de possíveis
interferências e conflitos no projeto. Dessa forma, foi definido o nível em que a obra
se localiza (térreo) e o teste foi realizado.

Figura 19 – Ferramenta Clash Detective no software Navisworks.

Fonte: Autora (2020)


36

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste item encontram-se todos os resultados referentes aos projetos


elaborados no software Revit (BIM 3D), o planejamento no software MS Project e a
compatibilização realizada no software Navisworks (BIM 4D).

4.1 APLICAÇÃO DA DIMENSÃO 3D DO BIM NO PROJETO ESTUDO DE CASO

Através da utilização do software Revit, foi elaborado todo o projeto em 3D com


todas as estruturas da central geradora hidrelétrica, de modo em que cada estrutura
ficou interligada à outra. Dessa forma, esse projeto não só apresentou um desenho
em três dimensões, mas também apresentou uma modelagem 3D inteligente. Sendo
que, de acordo com Teles e Rocha (2013), esse tipo de modelagem incorpora ao
modelo digital parâmetros e bancos de dados, nos quais é possível fazer estudos e
análises. A Figura 20 apresenta uma vista em três dimensões de todo o projeto da
CGH Santo Anjo, sendo uma construção virtual da obra.

Figura 20 – Vista do projeto da CGH Santo Anjo em 3D.

Fonte: Autora (2020)


37

Além de gerar o projeto nesse formato, também foi realizada a sua


renderização. Essa renderização ou render, segundo Bortolato (2015), é um processo
no qual consiste em obter o produto final de um processamento digital, resultando em
uma imagem mais próxima à realidade, como mostra a Figura 21.

Figura 21 – Imagem renderizada do projeto da CGH Santo Anjo.

Fonte: Autora (2020)

Nesse contexto obteve-se o modelo paramétrico de cada estrutura civil da


Central Geradora Hidrelétrica, podendo ser analisado separadamente ou em conjunto
com as outras estruturas. A Figura 22 mostra a barragem em modelo 3D.

Figura 22 – Modelo em 3D da barragem.

Fonte: Autora (2020)


38

Logo, pode-se perceber que o programa possui funções de desenho 2D e


modelagem 3D. Assim, apesar de que a barragem tenha sido modelada em 3D, foi
possível obter as dimensões de cada estrutura, níveis, cotas e coordenadas e também
a planta baixa e cortes. Por meio da Figura 23 é possível ver a planta baixa da
barragem.

Figura 23 – Planta baixa da barragem.

Fonte: Autora (2020)

Também se obteve o corte transversal, no qual apresenta o nível do topo da


barragem e suas dimensões, representado na Figura 24.

Figura 24 – Corte transversal da barragem.

Fonte: Autora (2020)


39

Além disso, o programa não só gerou os cortes e vistas de forma automática,


como também apresentou várias informações por meio da representação gráfica da
CGH.
Estas informações são de grande importância e contribuem para planejamento,
execução de obra, custo, entre outros fatores. Exemplo disso, é o volume de
escavação realizado no terreno para alocar as estruturas, no qual foi obtido através
do modelo paramétrico em 3D, gerando uma tabela. A Tabela 1 apresenta o
quantitativo gerado no software Revit com o volume em metros cúbicos do corte e do
aterro de terra feitos para alocação das estruturas.

Tabela 1 – Quantitativo de corte e aterro gerado no software Revit.

Fonte: Autora (2020)

Na casa de força obteve-se várias informações, visto que é a estrutura principal,


em que os condutos chegam e são conectados às turbinas. Uma dessas informações
foi o quantitativo das janelas (Tabela 2), em que o programa gerou uma tabela
apresentando a contagem, descrição, largura, altura e altura do peitoril (em relação
ao terreno que ficou na cota 253,0).

Tabela 2 – Quantitativo de esquadrias.

Fonte: Autora (2020)

Outro tipo de quantitativo que foi retirado do software foi o volume de concreto
necessário para a construção da barragem. Dessa maneira, com essas tabelas de
quantitativos, pode-se perceber que é possível obter mais eficiência e precisão para
a elaboração de orçamentos e cronogramas de obra. Assim, com a Tabela 3 é
40

apresentado o quantitativo da barragem, com a resistência do concreto e o seu


volume.

Tabela 3 – Quantitativo de concreto da barragem.

Fonte: Autora (2020)

4.1.1 Projetos no software AutoCad

Sabe-se que o software mais utilizado para projetos é o AutoCad e ele


apresenta projetos em 2D. Essa visualização é eficiente, entretanto, sem informações
paramétricas (como quantitativos e propriedades de materiais). Aliás, cada projeto
elaborado em 2D precisa ser efetuado de forma separada, geralmente, ficando em
arquivos separados, impedindo de fazer uma análise sistêmica geral.
Assim, os projetos iniciais da CGH Santo Anjo que serviram de base para esse
estudo estavam no formato 2D. A Figura 25 apresenta a planta baixa da casa de força
feita no AutoCad.

Figura 25 – Planta Baixa em 2D da casa de força.

Fonte: Autora (2020)


41

Logo, a Figura 26 mostra o corte transversal da mesma casa de força, sem


apresentar mais informações além das dimensões da estrutura e suas cotas.

Figura 26 – Corte transversal da casa de força.

Fonte: Autora (2020)

Desse modo, com o projeto elaborado no Revit e fazendo uma comparação


entre as duas modelagens, pode-se dizer que a modelagem em 3D permitiu uma
visualização melhor, permitindo um entendimento mais abrangente da construção e
dos seus projetos. A Figura 27 apresenta uma parte da modelagem do projeto em 3D
mostrando a casa de força da CGH Santo Anjo.

Figura 27 – Casa de força em 3D realizada no software Revit.

Fonte: Autora (2020)


42

Ademais, o Revit realiza renderizações em alta qualidade. Portanto, imagens


mais realistas foram geradas a partir do software, levando as vistas e perspectivas a
um acabamento final com mais precisão, como mostra a Figura 28.

Figura 28 – Imagem renderizada da parte externa da casa de força.

Fonte: Autora (2020)

Por fim, o modelo 3D criou de forma automática plantas, elevações, cortes e


vistas 3D, fazendo com que apresentasse uma melhor visualização e entendimento
facilitado do projeto. Ele também permitiu que todos os dados dos projetos de cada
estrutura civil fossem armazenados em um só arquivo. Além disso, as tabelas de
quantitativos de materiais foram geradas à medida que o modelo foi carregado de
informações relacionadas ao seu processo construtivo.
Dessa maneira, caso feita alguma alteração no projeto em 3D, todos os cortes,
plantas, quantitativos e outros modelos são alterados de forma automática, evitando
desperdício de tempo para realizar alteração nos outros arquivos.
Isso agiliza o trabalho, pois ao utilizar o modelo 2D, é necessário criar cada
corte, cada vista e também criar as tabelas de quantitativo, sendo que com o Revit,
todas essas etapas foram geradas de forma automática. Assim, isso evita desgastes
na obra e faz com que a equipe não perca tempo com situações inesperadas.
43

4.2 APLICAÇÃO DA DIMENSÃO 4D DO BIM NO PROJETO

Para o uso da dimensão 4D do BIM utilizou-se uma combinação do projeto em


3D com o planejamento. Dessa forma segundo Silva (2011), o planejamento de uma
obra tem grande importância, pois mesmo que não tenha como determinar com
certeza e perfeição qualquer atividade humana, é capaz de proporcionar uma garantia
razoável de que os objetivos que serão atingidos. Portanto, o planejamento apresenta
uma noção prévia do que fazer e para onde ir, resultando em um trabalho mais
eficiente.

4.2.1 Planejamento no MS Project

O cronograma completo da obra da CGH Santo Anjo foi realizado no software


MS Project, no qual encontra-se no Apêndice A. Em vista disso, vale ressaltar que os
prazos para cada atividade foram definidos pela empresa responsável pela obra e
usados para a aplicação do modelo 4D.
Assim, para dar início ao planejamento no Project o calendário de trabalho foi
configurado com os horários a serem trabalhos. Depois disso, cada tarefa foi
adicionada juntamente com suas datas de início e fim. Logo, o software gerou a
quantidade de dias necessários para trabalhar em cada tarefa, resultando em uma
coluna chamada “duração”.
Dessa forma, com os prazos de cada tarefa definidos a relação de precedência
ou dependência foi determinada. Essa relação entre tarefas apresentou um vínculo
entre elas, definindo que uma tarefa só deveria iniciar quando outra acabasse.
Portanto, na Figura 29 é apresentado uma parte do cronograma, apresentando nome
da tarefa, duração, início e término e as tarefas predecessoras para construção do
canal.

Figura 29 – Cronograma da construção do canal de adução.

Fonte: Autora (2020)


44

Desse modo, à medida que o conjunto de atividades que compõem o projeto


foi adicionado, o Project foi gerando automaticamente o Gráfico de Gantt (ou
Diagrama de Gantt). Esse gráfico localiza-se na área gráfica, ao lado direito da
planilha do cronograma, apresentando as atividades na horizontal e o tempo na
vertical, como mostra a Figura 30.

Figura 30 – Cronograma e Gráfico de Gantt elaborados no MS Project.

Fonte: Autora (2020)

Com o Diagrama de Gantt foi possível visualizar o desenvolvimento das


atividades ao longo do tempo, deixando as informações de forma mais transparente.
Assim, as atividades que foram definidas como predecessoras apresentaram no
gráfico o fluxo de trabalho. Com isso, foi possível fazer uma análise de qual atividade
começaria, terminaria e/ou ocorreria em paralelo.
Um fator bastante importante em relação ao cronograma é o caminho crítico.
Sua importância se dá, pois, de acordo com Baia (2015), ele reúne as atividades na
qual se relacionam de maneira direta com o prazo total do projeto.
Portanto, com a visualização gráfica do diagrama, o caminho crítico pode ser
determinado com antecedência, evitando atrasos, desperdícios e prejuízos para a
obra. Dessa forma, o gestor pode analisar qual atividade foi ou será cumprida de
acordo com o prazo.
A visão geral do cronograma da obra através do Gráfico de Gantt facilita a
reprogramação, caso a obra tenha um imprevisto. Isso permite a verificação de como
essa reprogramação afetará as atividades que estão acontecendo e também as
atividades futuras.
45

Por fim, pode-se dizer que o software auxilia para que possa ser feito um
controle dos prazos e do andamento das tarefas para evitar que os atrasos se
concretizem.

4.3 COMPATIBILIZAÇÃO DA DIMENSÃO 3D PARA DIMENSÃO 4D

Sendo uma construção virtual prévia da obra, a modelagem em 3D demanda


uma verificação do cronograma com as etapas da execução da obra. Essa verificação
foi possível por meio da compatibilização do projeto realizado no software Revit e do
planejamento no software MS Project, gerando uma combinação do projeto em 3D
com o planejamento, ocasionando na dimensão 4D.
Uma vez unido todo o modelo com o cronograma, foi gerado um vídeo da obra
sendo construída. Nesse vídeo, o software vai avançando os dias e mostrando em 3D
quais atividades são planejadas para executar naquele período.
Para representar esse crescimento da obra no vídeo, no início de cada tarefa
do planejamento identificada como “construir”, os objetos aparecem na cor verde e
são transparentes. Contudo, assim que a tarefa se encerra, os objetos passam a ser
representados com cores realistas.
Dessa forma, o prazo da atividade aparece no canto superior esquerdo da tela.
Esse prazo aparece com o dia da semana, horário, data e número da semana. A
Figura 31 apresenta a etapa em que as paredes da casa de força foram levantadas e
que posteriormente, será colocada a escada, a cabine de medição será construída e
o conduto forçado será instalado (por isso estão na cor verde).

Figura 31 – Compatibilização do projeto em 3D com o planejamento da obra.

Fonte: Autora (2020)


46

Nesse contexto, a Figura 32 mostra como exemplo, uma imagem do vídeo no


dia 19/08/2020, quarta-feira. Nela o canal de adução já aparece pronto, visto que no
cronograma sua construção estava prevista para ser finalizada no dia anterior.

Figura 32 – Imagem do vídeo onde o canal de adução aparece pronto.

Fonte: Autora (2020)

Com essa animação gráfica é possível fazer várias análises. Primeiro, que com
o vídeo há uma eliminação do esforço para visualizar e interpretar mentalmente o
cronograma. Esse vídeo pode ser pausado, avançado ou recuado, além de que o
software permite estar com a câmera posicionada em qualquer local do projeto. A
Figura 33 mostra um exemplo disso, em que a câmera do software se encontra dentro
da casa de força, podendo analisar a posição das turbinas e a disposição de espaço.

Figura 33 – Vista de dentro da casa de força.

Fonte: Autora (2020)


47

Essa visualização permite ter controle sobre o que foi planejado, evita
interpretações diferentes entre projetistas e também minimiza potenciais falhas de
comunicação.
Além disso, possibilita detectar erros de planejamento como problemas de
sequência executiva e sobreposição de atividades, de forma mais efetiva. Bem como
simular variados cenários do cronograma, facilitando a tomada de decisão por parte
do planejamento.
É importante destacar que uma das vantagens desse software é que, uma vez
carregado o modelo, ele permite com que o projeto fique sincronizado com o arquivo
original do Revit e MS Project. Desse modo, se alguma alteração for realizada no
projeto 3D ou no cronograma, será automaticamente alterado no Navisworks também.
Consequentemente, o gerenciamento do projeto se torna mais fácil, economizando
tempo e esforço, pois importar novamente o arquivo exigiria uma nova
compatibilização para conectar todos os objetos às tarefas.
Por fim, outro benefício do uso do planejamento 4D é que ele funciona como
uma construção virtual. Portanto, esse planejamento da obra é simulado no
computador, com ambiente controlado, permitindo errar e fazer ajustes sem causar
prejuízos aos custos e ao tempo de execução.

4.3.1 Detecção de choques e interferências

Para fazer uma análise de erros, o Navisworks possui a ferramenta Clash


Detective, na qual permite a detecção automática de interferências geométricas.
Nesse contexto, para o projeto da CGH, foram encontradas 48 interferências,
sendo que a maioria delas localizaram-se nos condutos forçados. A Figura 34
apresenta conflito entre os condutos, mostrando que eles estão desconectados.

Figura 34 – Detecção de conflitos entre condutos.

Fonte: Autora (2020)


48

Dessa forma, após a busca por conflitos e interferências, o software gerou um


relatório com todas as incompatibilidades encontradas e junto dele uma imagem foi
gerada dos objetos que apresentaram erros. Nesse relatório, constaram as
incompatibilidades com informações, como nome do objeto que apresentou
interferência, o nível que ele se encontra e o nome da interferência. Com esse nome
da interferência foi possível verificar qual é a imagem referente à aquela
incompatibilidade. A Figura abaixo mostra o relatório de incompatibilidade entre os
condutos forçados da Figura 34.

Figura 35 – Relatório de incompatibilidade entre condutos.


NOME DA INTERFERÊNCIA

NÍVEL
NOME DO OBJETO

Fonte: Autora (2020)

Com o relatório gerado existe a possibilidade de gerir as interferências


encontradas, classificando-as como novas, ativas, revisadas e aprovadas.
Portanto, essa ferramenta mostrou grande utilidade, visto que permite
identificar erros de projeto. Assim, ela também identifica problemas que muitas vezes
surgem enquanto a obra está em seu processo de construção, evitando retrabalhos e
prejuízos.
49

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecida por ser uma alternativa aos processos tradicionais de projeto,


planejamento e gerenciamento, a plataforma BIM surgiu como uma grande inovação.
Isso ocorreu, pois ela permite que simulações virtuais se aproximem cada vez mais
da realidade, resultando em projetos mais eficientes. Logo, essa eficiência aparece
devido a metodologia poder ser aplicada em todo o ciclo de vida do empreendimento,
desde o modelo 3D que apresenta informações espaciais até o modelo 6D, com o
gerenciamento desse ciclo.
É importante ressaltar que a metodologia BIM não consiste em apenas ser uma
modelagem 3D, e sim um processo integrado com troca de informações de áreas
variadas. Em vista disso, um software não pode ser considerado BIM, pois o BIM é a
colaboração dele com outros softwares que permitem isso.
Desse modo, o presente estudo atingiu os objetivos propostos, tendo em vista
que os projetos da Central Geradora Hidrelétrica foram realizados e compatibilizados
com o planejamento utilizando a plataforma BIM. Por conseguinte, as definições dessa
plataforma foram estudadas e as vantagens e dificuldades da sua aplicação foram
analisadas.
Portanto, quando comparado ao modelo tradicional 2D (realizado no software
AutoCad), o BIM realmente apresenta diversos benefícios, como melhor visualização,
integração, análise e gestão de projetos. Ele também promove uma melhor
compreensão da sequência executiva e permite a detecção prévia de possíveis
problemas.
Com a modelagem 4D pode-se observar que há uma troca de experiências,
além da simulação de alternativas e melhorias da logística de canteiro que possibilitam
o desenvolvimento de soluções que otimizem a construção.
Quanto a aplicação da plataforma BIM em projetos de Centrais Geradoras
Hidrelétricas, por meio da revisão bibliográfica foi possível perceber que ainda há
pouca aplicação dessa metodologia. Também foi possível perceber que com uma obra
desse porte, na qual milhões de reais são gastos, ao elaborar os projetos nessa
modelagem desperdícios são evitados, gerando grande economia de tempo e
orçamento ainda nas fases iniciais.
Ademais, para a utilização dessa modelagem é de extrema importância ter
conhecimento sobre os softwares e também de como gerenciá-los. Caso contrário,
50

resultados equivocados podem ser fornecidos e interferências que não existem podem
ser apresentadas. Além disso, ferramentas não adequadas podem ser utilizadas para
uma tarefa específica, criando problemas ao invés de soluções. Portanto, cabe ao
usuário fazer uso apropriado do processo para se obter os benefícios.
51

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54

APÊNDICE A – CRONOGRAMA ELABORADO NO MS PROJECT


55

Figura A.1 – Cronograma com Gráfico de Gantt elaborado no MS Project.

Continua...
56

Continuação da Figura A.1

Continua...
57

Continuação da Figura A.1

Continua...
58

Continuação da Figura A.1

Continua...
59

Continuação da Figura A.1

Continua...
60

Continuação da Figura A.1

Continua...
61

Continuação da Figura A.1

Continua...
62

Continuação da Figura A.1

Continua...
63

Continuação da Figura A.1

Fonte: Autora (2020)


64

ANEXO A – PLANTA DE SITUAÇÃO EM 2D DA CGH SANTO ANJO


65

Figura A.1 – Planta de situação da CGH Santo Anjo.

Fonte: Volts Automação (2020)


66

ANEXO B – PLANILHA COM PLANEJAMENTO DA OBRA


67

Quadro B.1 – Planilha com cronograma da obra.

Continua...
68

Continuação do Quadro B.1

Fonte: Volts Automação (2020)

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