Você está na página 1de 14

DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS ELÉTRICOS POR MEIO DA METODOLOGIA BIM

João Victor Batista Ballarini¹; Luana da Silva¹; Welton Sthel Duque².

1. Técnico (a) em Eletrotécnica; Acadêmico (a) de Engenharia Elétrica na Faculdade Brasileira – Multivix Vitória.
2. Engenheiro Eletricista; Docente de Engenharia Elétrica na Faculdade Brasileira – Multivix Vitória.

Palavras-Chave: BIM, Projeto, Elétrico, Compatibilização.

RESUMO
Os projetos elétricos residenciais e industriais vêm sendo desenvolvidos da mesma maneira a mais
de cinquenta anos, passando do cálculo manual às planilhas eletrônicas e de desenhos a mão, no
papel vegetal, para softwares de desenho 2D, porém mantendo o mesmo raciocínio de elaboração,
em que o engenheiro precisa expressar todos os detalhes no projeto e o orçamentista deve realizar o
levantamento de materiais de maneira braçal, contando item a item. Este trabalho irá introduzir o
1
conceito BIM para a elaboração de projetos elétricos, por meio de um comparativo entre o método
2
tradicional CAD , em conjunto com planilhas eletrônicas, no qual a maior parte do trabalho é repetitiva
e trabalhosa; e o método BIM, que permite a inserção de informações dentro dos elementos do
projeto, permitindo compatibilizações simultâneas ao desenvolvimento e ao levantamento de
quantitativos de maneira automatizada e precisa.

ABSTRACT
Residential and industrial electrical projects have been developed in the same way for more than fifty
years, changing from manual calculation to electronic spreadsheets and handmade drawings, on
vegetable paper, to 2D drawing softwares, but keeping the same rationale of elaboration, in which the
engineer has to express all the details in the project and the budget holder must carry out the lifting of
materials in a manual way, provided item by item. This work will introduce the BIM concept for the
elaboration of electrical projects, through a comparison between the traditional CAD method in
conjunction with electronic spreadsheets, which most of the work is repetitive, and labor intensive, and
the BIM method, which allows the insertion of pertinent information within the elements of the project,
simultaneous compatibilizations to the development and the quantitative survey in an automated and
precise way.

INTRODUÇÃO
Dentro das áreas de arquitetura e engenharias, a necessidade de normatizações e o
desenvolvimento de projetos para construção vêm se desenvolvendo de acordo com a
necessidade do homem, que busca redução de custo e otimização do tempo, fazendo-se
necessário um desenvolvimento tecnológico voltado à área de projetos. Por volta de 1960, o
processo de criação e desenvolvimento dos projetos elétricos eram mais lentos e
dependiam apenas do conhecimento humano (CUNHA, 2010).
Analisando a evolução da tecnologia, com destaque para a informática, pode-se ver a
facilidade e agilidade que os programas CAD voltados para engenharia proporcionaram às
fases de criação e compartilhamento de projetos em desenvolvimento. Segundo Cunha
(2010, p. 67):

Antes disso, o processo era manual e demorado. ‘Como até 1990, a gente tinha que
fazer à mão, a probabilidade de erro era muito grande’, [...] os projetos eram feitos
em papel vegetal, nos quais os desenhistas faziam a planta elétrica da instalação
predial. Primeiro era desenhado sobre a planta de arquitetura com papel vegetal, a
lápis, utilizando uma prancheta. Em seguida, passava-se a caneta nanquim e era

1
BIM – Building Information Modeling (“Modelagem da Informação da Construção”, em português).
2
CAD – Computer-Aided Design (“Desenho Assistido por Computador”, em português).
jogada uma camada de talco com uma escova de limpar prancheta para ajudar a
tinta a fixar melhor e não borrar.

Embora tenha havido mudanças nas técnicas de projetar, desde o início, as etapas para a
concepção de um projeto continuam sendo as mesmas, começando pelo estudo preliminar,
passando pelo estudo pré-executivo e executivo, para, finalmente, chegar ao projeto final e
ao memorial descritivo (CUNHA, 2010).
O desenvolvimento de um projeto elétrico não mudou muito em relação à metodologia de
desenvolvimento, podendo ser dividido, de maneira genérica, em duas etapas: “a teórica, na
qual o engenheiro realiza os cálculos, e a prática, em que ele elabora os desenhos.”
(MOREIRA, 2008, p. 31).
Quando o engenheiro finaliza a idealização do projeto, este é entregue ao desenhista, ou
“cadista”, que torna o esboço mais apresentável. Nos dias atuais, esta parte de desenho é
realizada utilizando ferramentas gráficas próprias para engenharia, como o software
AUTOCAD (2017), da Autodesk (CUNHA, 2010).
Com a implementação de softwares de desenho e cálculo, a produtividade dos setores de
Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) aumentou, tornando o desenvolvimento de
projetos mais rápido e as eventuais correções mais simples. Porém, ao mesmo tempo em
que se ganham vantagens, como agilidade e facilidade em realizar alterações ou correções,
percebem-se ainda alguns problemas de representação, devido à necessidade que se tem
de sempre projetar as partes do desenho a serem exibidas. Além disso, o levantamento de
quantitativos continua sendo realizado de forma rudimentar, muitas vezes não
acompanhando todas as alterações realizadas (EASTMAN et al., 2014).
Diante desta situação, surgiu uma discussão quanto à necessidade da aplicação de novas
tecnologias que incorporassem etapas que ainda apresentavam falhas durante o
desenvolvimento de projetos elétricos prediais. Dentro dessa discussão, a metodologia BIM
acabou por se tornar base para um novo avanço nos setores de AEC (EASTMAN et al.,
2014).
O conceito BIM propõe a concentração de um número maior de informações dentro do
projeto, por meio da construção de um modelo virtual, permitindo que as representações
sejam extraídas diretamente deste, de forma que qualquer alteração realizada em uma parte
do projeto altere todas as representações exibidas, do mesmo setor alterado,
simultaneamente. Ao adicionar informações sobre os materiais e itens utilizados nessa
construção virtual, obtêm-se quantitativos com maior exatidão, acompanhando as mudanças
e informando o aumento ou diminuição dos itens levantados em etapas anteriores, devido às
alterações que foram realizadas serem geradas por meio de relatórios vinculados ao modelo
(EASTMAN et al., 2014).
A responsabilidade por projetar com segurança e precisão exige que o profissional esteja
sempre atualizado com as normas e ferramentas que permitam a elaboração de projetos
mais fidedignos à realidade. Com a parametrização de um arquivo base, é possível
automatizar várias etapas, permitindo que os projetos sejam finalizados com mais
informações incorporadas.
Partindo deste contexto, pode-se levantar o seguinte questionamento: quais os efeitos da
elaboração de projetos elétricos realizados diretamente em BIM, em relação aos métodos
tradicionais CAD 2D3?

3
Método Tradicional CAD 2D – Compreendido pelas técnicas aplicadas atualmente, por meio de cálculos
realizados em planilhas eletrônicas e desenhos realizadas através de softwares de desenho em linhas sem
informações agregadas.
Em busca de uma resposta ao problema exposto, este trabalho propõe a execução de um
projeto elétrico, usando como base um projeto arquitetônico pré-elaborado, utilizando os
dois métodos: (i) primeiro, por meio do método tradicional CAD 2D em conjunto com
planilhas eletrônicas; e, (ii) segundo: usando um software baseado na metodologia BIM.
É importante salientar que, independentemente do método escolhido, as etapas para a
execução de um projeto elétrico continuam as mesmas. Dessa forma, pode-se assegurar
que a comparação dos dois métodos citados seja feita de forma coerente.
Na comparação, devem-se levar em consideração os tempos demandados pelos
respectivos métodos e os resultados obtidos em termos de informações, como detalhes do
projeto e dos custos.
Espera-se demonstrar, por meio desse projeto, ganhos advindos da redução de retrabalhos
no as built4, maior precisão dos quantitativos e das informações pertinentes aos projetos,
além de economias financeiras, por permitir a localização de incompatibilidades e problemas
durante a fase do projeto, e não depois, durante a obra (da metodologia BIM em relação ao
método tradicional CAD 2D).

MATERIAL E MÉTODOS
De acordo com as técnicas que serão aplicadas, a pesquisa é classificada como
experimental, conforme indicado por Prodanov e Freitas (2013, p. 57), pois “caracteriza-se
por manipular diretamente as variáveis relacionadas com o objeto de estudo, [...] o
pesquisador procura refazer as condições de um fato a ser estudado”.
Os dados necessários ao estudo foram coletados a partir do desenvolvimento de um mesmo
projeto elétrico em ambas metodologias, tradicional CAD 2D e BIM. Para tal, os desenhos
foram realizados recorrendo ao uso de duas ferramentas de software, a saber: (i) AutoCad,
seguindo modelo tradicional CAD 2D; (ii) Revit, para simulação em BIM. Em relação aos
cálculos, em conjunto com o AutoCad foi utilizado o Microsoft Excel (MICROSOFT, 2010)
para o método tradicional, enquanto que para o BIM o próprio Revit disponibiliza funções
que possibilitam a realização dos cálculos necessário ao projeto.
A escolha dos softwares de desenho se deu devido à sua popularidade e por serem
desenvolvidos pela mesma empresa Autodesk, tendo, assim, o mesmo padrão de
confiabilidade (PIZARRO, 2017; KRYMSKY, 2017).
Foram registrados todos os períodos de tempo gastos em cada etapa do processo de
elaboração do projeto nas duas ferramentas, bem como a análise do nível de detalhamento
das informações extraídas de ambos os projetos.
Após os projetos finalizados, foram registrados e avaliados os retrabalhos e as economias
de ambos processos, a partir da quantidade de dados extraídos de cada projeto. Os dados
foram analisados por meio de planilhas eletrônicas voltadas para a elaboração do estudo,
conforme a planilha de cálculo de circuitos apresentada na tabela 1, juntamente com análise
dos projetos arquitetônicos, elétricos e hidráulicos da amostra estudada.
As amostras foram coletadas de projetos reais de um escritório de arquitetura e engenharia,
aqui denominado, por motivo de sigilo de informações, por Alfa Engenharia, localizada na
cidade de Vitória, no estado do Espírito Santo, que realiza projetos contemplando todas as
áreas de instalações prediais5.

4
As built – Realização de correções no projeto de acordo com alterações realizadas na obra.
5
Áreas de instalações prediais – civil, hidráulica, elétrica, telecomunicações, automação e incêndio.
Tabela 1 - Planilha de cálculo de circuitos. Fonte: Alfa (2017)

Os projetos de arquitetura, estrutura e instalações hidráulicas do caso analisado foram


cedidos por uma empresa cliente da Alfa, que aqui será denominada por Beta Engenharia.
Para a realização desse estudo, o projeto da Beta trata-se de um edifício de uso residencial
e religioso, com arquitetura gótica (Figura 1), contendo cinco pavimentos, em que o
pavimento térreo possui uma área comum com salas e capelas. O primeiro, segundo,
terceiro e quarto pavimentos possuem diversas suítes e no quinto pavimento estão
localizadas as áreas técnicas, lavanderia e depósitos.

Figura 1 - Arquitetura Fonte: Beta (2017)

Para a elaboração do objeto de estudo, foi selecionado o primeiro pavimento (Figura 2), o
qual foi utilizado para desenvolver o projeto elétrico usando tanto o método tradicional
quanto a metodologia BIM.

Figura 2 - Planta baixa primeiro pavimento Fonte: Beta (2017)


A elaboração de projetos elétricos segue, em sua essência, um fluxo de trabalho definido,
permitindo a elaboração de um roteiro a ser seguido por ambos os métodos, conforme o
fluxograma apresentado na figura 3, em que as atividades agrupadas dentro dos retângulos
em linha traço-ponto representam as possíveis áreas de ganho de eficiência ao se utilizar a
metodologia BIM.
O fluxograma da figura 3 identifica 3 (três) áreas distintas, sendo cada área constituída por
um grupo de tarefas que estão semanticamente relacionadas dentro das etapas de um
projeto elétrico.

Figura 3 - Fluxograma da elaboração de um projeto elétrico. Fonte: Autores (2017).

O primeiro bloco representa o início do processo, englobando todas as etapas de


contratação, que se iniciaram a partir do contato do cliente com o projetista, seguido pela
elaboração do escopo, levantamento de questionamentos sobre o projeto e briefing6. Após a
efetivação do contrato de prestação de serviço, o projetista recebeu os projetos
arquitetônicos e demais projetos que o cliente possuía, como os projetos estruturais,
hidráulicos e de pontos elétricos.
Na sequência, o projetista organizou os arquivos recebidos de maneira a facilitar o
entendimento de todas as informações, de acordo com o método utilizado durante a
realização do projeto. Nessa etapa, foi realizada a confecção do arquivo base para desenho
da representação gráfica do projeto elétrico, juntamente com o arquivo destinado a realizar
as análises de compatibilização.
Por meio do arquivo base da etapa anterior, pôde-se analisar o layout do projeto
arquitetônico, bem como o projeto de pontos elétricos, de acordo com a demanda mínima
solicitada pelo cliente. O projetista utilizou, posteriormente, os dados dessa demanda dos
pontos confrontados com os resultados dos cálculos da próxima etapa, para definir a
quantidade de pontos elétricos de maneira a garantir o atendimento aos requisitos do projeto
do cliente.
Na quarta e quinta etapas, o projetista realizou o levantamento das áreas e perímetros dos
cômodos para que, a partir desses dados, pudesse realizar os cálculos necessários para
definir a quantidade mínima de tomadas de uso geral e a potência mínima de iluminação do
ambiente (NISKIER, 2016; CREDER, 2016; NBR 5410, 2008).
Com os cálculos em mãos, os pontos elétricos foram alocados na planta baixa do projeto
elétrico, preferencialmente seguindo o projeto de locação de pontos entregue pelo cliente
(CAVALIN; CERVELIN, 2011; NBR 5410, 2008).
A partir da sétima etapa do fluxograma, pelo método tradicional, os trabalhos são braçais. O
projetista fez a contagem dos pontos efetivamente alocados no projeto e os associou a uma
planilha eletrônica, para definir a potência instalada e agrupar os pontos em circuitos.
Retornando ao desenho, os pontos elétricos foram identificados de acordo com o
agrupamento, para que, então, pudessem ser realizados os cálculos a respeito das
propriedades elétricas de cada circuito.
Com os resultados obtidos, foi efetuada a montagem do esquema trifilar do quadro de
disjuntores a partir de diversas consultas, tanto ao desenho quanto à planilha eletrônica,
para que não ocorresse nenhuma divergência entre os circuitos identificados em planta
baixa e o circuito alimentador do quadro de disjuntores.
Para realizar as quatro últimas etapas descritas acima, o Revit conta com ferramentas
automatizadas que indicam diretamente em planta as tomadas não associadas a um
circuito. Após a associação do ponto ou pontos elétricos ao quadro de disjuntores, o próprio
software retorna automaticamente a potência instalada, o número do respectivo circuito e os
dados elétricos dos circuitos.
No software Revit, as etapas doze e treze foram agrupadas em um único bloco, pois a
passagem dos eletrodutos e eletrocalhas é realizada diretamente em uma construção
virtual, permitindo a visualização de possíveis interferências e a resolução de possíveis
incompatibilidades simultaneamente ao desenvolvimento do projeto. Porém, para garantir a
inexistência de interferências, foi utilizado um comando que detecta a colisão dos elementos
inseridos no modelo de maneira automática. Para a realização dessa última etapa, no
método tradicional, o projetista sobrepôs todos os projetos da obra em 2D e analisou
visualmente os possíveis pontos de problema.

6
Briefing – Ato de dar informações e instruções concisas e objetivas sobre missão ou tarefa a ser executada, ou
conjunto dessas informações e instruções.
Para a etapa dezesseis, que consiste em realizar desenhos técnicos acerca dos detalhes
voltados para a construção, como transposição de eletrodutos e detalhes específicos sobre
a instalação de equipamentos e luminárias, em ambas metodologias foram utilizados os
chamados “detalhes típicos”. No método CAD, estes detalhes são avaliados deixando a
interpretação do problema e a representação gráfica a cargo do projetista. Em contrapartida,
no Revit, que segue a ideia de ser um modelo interativo, o projetista apenas extraiu as vistas
necessárias ao entendimento do problema diretamente do modelo, ficando com a tarefa de
realizar anotações pertinentes ao desenho extraído.
A enfiação dos eletrodutos foi realizada de maneira similar em ambos métodos. Porém, com
atenção redobrada no método tradicional, pois neste as combinações dos circuitos que
passam em cada eletrocalha ou eletroduto devem ser montadas ponto a ponto, de maneira
braçal, por meio de simbologias, ao passo que no Revit esta etapa é realizada utilizando
tags7 e parâmetros.
No método tradicional, para representar um corte de qualquer setor do projeto, o projetista
precisou produzir todos os desenhos da área, atentando para os locais em que existem
diversos eletrodutos, para não trocar os circuitos entre os dutos ou mesmo ocultar
informações, pois seria necessário montar novamente o conjunto de circuitos que passam
em cada duto.
O quantitativo de materiais pode ser levantado aplicando-se diversas técnicas. No método
tradicional, para gerar o quantitativo de tomadas, por exemplo, foram utilizadas as tabelas
eletrônicas montadas a partir das etapas anteriores. Já os itens de iluminação foram
aferidos a partir das plantas baixas finalizadas, nas quais os itens foram contados um a um.
Os eletrodutos e eletrocalhas precisaram ser medidos seção por seção, adicionando sempre
a medida teórica de descida dos eletrodutos do teto até o ponto de destino, considerando a
altura em que o equipamento ficará instalado na parede em relação ao piso, sendo 30 cm
para pontos elétricos baixos, 110 cm para os médios e 230 cm para os altos (CAVALIN;
CERVELIN, 2011; NBR 5410, 2008).
A cada etapa de contagem, os dados foram sendo inseridos em planilhas eletrônicas
voltadas ao orçamento. No caso do Revit, o próprio programa possui ferramentas que
permitem a quantificação de todos os elementos inseridos no modelo, por meio de listas de
elementos, nas quais pode-se separar, mediante parâmetros, por tipo, pavimento, disciplina,
entre outras classificações.
Para a conclusão da etapa de finalização de detalhes e produção das pranchas no Revit,
pôde-se utilizar as vistas extraídas da construção virtual. No AutoCad, foi necessário o
projetista desenhar tudo o que julgasse necessário.
A entrega do arquivo final simboliza a finalização do projeto, que está sujeito a alterações e
correções de acordo com o entendimento dos analistas técnicos da concessionária local e
das instaladoras de infraestrutura elétrica, que, durante a execução da obra, irão, ou não,
gerar a demanda para a modificação do as built do projeto.

RESULTADOS
Os dados coletados durante a elaboração dos dois projetos foram comparados com relação
à qualidade dos resultados do ato de projetar, levando-se em consideração as informações
contidas nas plantas baixas, cortes, detalhes e demais representações pertinentes, a

7
Tag – Pode ser traduzido como etiqueta em português. É uma ferramenta que permite aplicar aos elementos do
projeto etiquetas pré-formatadas, extraindo a informação do elemento para documentação.
confiabilidade no que tange a geração de quantitativos de materiais e orçamentos e ao
tempo, em horas, empregados para realizar cada etapa da respectiva metodologia.
Os registros dos tempos para realizar as etapas dos dois projetos elétricos, obtidos por meio
do experimento, estão listados na tabela 2. Os dados foram sintetizados com as
informações que são relevantes à comparação.

Tabela 2 - Controle de tempo. Fonte: Autores (2017)


TABELA COMPARATIVA DE TEMPOS DE EXECUÇÃO
TRADICIONAL BIM
Nº TIPO
TEMPO TEMPO
LEVANTAR ÁREAS E PERÍMETROS DOS
1 0,33 H 1,65% 0,00 H 0,00%
CÔMODOS
CALCULAR QUANTIDADE MÍNIMA DE TOMADAS
2 0,25 H 1,24% 0,00 H 0,00%
E POTÊNCIA DE ILUMINAÇÃO
4 LEVANTAR POTÊNCIA INSTALADA 0,25 H 1,24% 0,00 H 0,00%
5 DISTRIBUIR EM CIRCUITOS 0,33 H 1,65% 0,25 H 2,29%
IDENTIFICAR O CIRCUITO DE CADA PONTO
6 0,50 H 2,48% 0,00 H 0,00%
ELÉTRICO
TODOS OS PONTOS ELÉTRICOS FORAM
7 0,33 H 1,64% 0,15 H 1,37%
DESTINADOS A UM CIRCUITO?
8 CALCULAR DADOS DOS CIRCUITOS 0,75 H 3,72% 0,17 H 1,52%
MONTAR ESQUEMA TRIFILAR DO QUADRO DE
9 1,00 H 4,96% 0,58 H 5,34%
DISJUNTORES
10 LANÇAR ELETRODUTOS E ELETROCALHAS 1,50 H 7,44% 3,25 H 29,73%
ANÁLISAR INTERFERÊNCIA COM OUTROS
11 1,50 H 7,44% 0,25 H 2,29%
PROJETOS
EXISTE INTERFERÊNCIA ENTRE OS
12 0,33 H 1,64% 0,20 H 1,83%
PROJETOS?
13 DESENHAR DETALHES PERTINENTES 4,50 H 22,33% 1,50 H 13,72%
14 REALIZAR ENFIAÇÃO NOS DUTOS 3,00 H 14,88% 2,50 H 22,87%
TODOS OS PONTOS ELÉTRICOS
15 0,33 H 1,64% 0,33 H 3,02%
RECEBERAM O CIRCUITO CORRETO?
16 LEVANTAR QUANTITATIVO DE MATERIAIS 2,75 H 13,64% 0,25 H 2,29%

17 FINALIZAR DETALHES E PRANCHAS 2,50 H 12,40% 1,50 H 13,72%

21 PRESTAR ACESSORIA DURANTE A OBRA* - - - -


FORAM REALIZADAS ALTERAÇÕES DO
22 - - - -
PROJETO DURANTE A CONSTRUÇÃO?*
23 CORREÇÃO DO PROJETO (AS BUILT)* - - - -
TOTAL 20,16 H 10,93 H
Para facilitar a análise das questões de compatibilização e qualidade visual de ambos os
métodos, uma pequena área da planta baixa, considerada relevante devido à concentração
de elementos e possíveis interferências, foi representada na figura 4.

(a) (b)

(d)

(c) (e)
Figura 4 - (a) Planta de compatibilização em CAD 2D; (b) Planta baixa de compatibilização em BIM;
8
(c) Interferência encontrada a partir do modelo virtual; (d) QRcode 1 Compatibilização BIM;
9
(e) QRcode 2 vista panorâmica. Fonte: Autores (2017)

Os dados relativos ao quantitativo foram analisados estrategicamente sobre os itens de


maior valor e de difícil quantificação, sendo estes os cabos e eletrodutos. A tabela 3
apresenta os dados obtidos na etapa de levantamento de matérias.

Tabela 3 - Tabela de quantitativos. Fonte: Autores (2017).


QUANTITATIVO DE ITENS LEVANTADOS POR METRO LINEAR
QTD QTD R$ TOTAL R$ TOTAL R$ TOTAL
Nº UNI. DESCRIÇÃO R$ UNI.
TRAD. BIM TRAD. BIM BIM %
1 460,99 496,39 M Cabo de cu 1,5mm² 750V PVC - Cor Branco 0,76 349,89 376,76 7%
2 334,98 322,89 M Cabo de cu 2,5mm² 750V PVC - Cor Preta 0,89 296,46 285,76 4%
3 316,05 493,55 M Cabo de cu 2,5mm² 750V PVC - Cor Azul 0,89 279,70 436,79 36%
4 316,05 261,86 M Cabo de cu 2,5mm² 750V PVC - Cor Verde 0,89 279,70 231,75 21%
5 1197,6 2184,9 M Cabo PP 2 vias 2,5mm² 750V PVC - Classe V 1,89 2.263,46 4.129,52 45%
6 100,69 115,57 M Eletroduto de aço galvanizado leve 25 mm 7,00 704,84 808,99 13%
7 94,75 86,33 M Eletroduto PVC rígido roscável 25 mm 3,30 312,68 284,89 10%
8 0 0,48 M Eletroduto PVC rígido roscável 50 mm 12,30 - 5,90 100%
9 146,56 235,11 M Eletroduto de PVC corrugado flexível 25 1,80 263,81 423,20 38%
TOTAL 4.750,55 6.983,55 32%

8
Link QRcode 1: http://a360.co/2gP0kUO
9
Link QRcode 2: http://pano.autodesk.com/pano.html?url=jpgs/082ca9aa-e018-401d-a196-79f7f554c753
DISCUSSÃO
Por meio dos dados relacionados na tabela 2, pôde-se observar uma otimização de quase
50% do tempo gasto para produzir todo o trabalho, utilizando o Revit. Isso se deve ao fato
de o software já possuir algumas etapas como parte da sua funcionalidade, algumas tarefas
terem sido mescladas, como pôde-se observar, principalmente, a partir da sétima etapa do
fluxograma, por meio do uso de funções disponíveis, ou nem mesmo terem sido executadas
pelo projetista, já que o próprio Revit organiza e fornece as informações automaticamente,
poupando o projetista deste trabalho.
Neste quesito, os destaques foram as etapas de detalhamento de partes pertinentes ao
projeto e levantamento de quantitativos de materiais. A metodologia BIM, associada ao
conceito de modelo virtual, permitiu que o projetista extraísse as informações para a
documentação, usando as ferramentas do próprio software.
A única etapa que requereu mais tempo utilizando o Revit foi o lançamento dos eletrodutos
e eletrocalhas. Isso ocorreu devido à atividade conjunta de compatibilização, em que o
projetista modela o caminho observando os espaços em vistas tridimensionais, o que torna
a execução da atividade mais complexa. Entretanto, essa adição de tempo ocorre devido à
potencialidade de a ferramenta BIM apontar os problemas antes, durante a fase de projeto,
evitando que sejam percebidos apenas futuramente, na fase de execução, conforme
acontece quando se usam as ferramentas CAD. Portanto, a detecção antecipada destes
problemas demanda tempo de ajustes no momento da concepção do projeto, mas
economiza tempo de retrabalho durante o momento de sua execução. E as atividades de
retrabalhos consomem mais recursos e tempo que as atividades para se fazer o certo na
primeira vez (CAMPOS, 2014a; 2014b).
A redução do trabalho braçal também deve ser levada em consideração. Atividades que
requerem esforços por parte do projetista, utilizando o método tradicional, como os cálculos
do projeto, projeção de detalhes pertinentes, verificação de interferências e distribuição dos
pontos em circuitos, são executadas pelo Revit.
Nas primeiras etapas, por exemplo, o projetista precisou levantar os dados das áreas e
perímetros, cômodo por cômodo, e transferir estes dados para uma planilha eletrônica, para
a realização das etapas seguintes. No método tradicional, este trabalho está susceptível a
erros e retrabalhos. No Revit, bastou gerar uma tabela no próprio programa, contendo os
dados dos cômodos e, em poucos segundos, o software listou todas as áreas e perímetros,
e calculou a quantidade mínima de pontos elétricos e a potência de iluminação da cada
área, conforme o seu tipo (quartos, banheiros, áreas úmidas, etc.).
Neste ponto, o fato de não haver a necessidade de o projetista ficar transitando entre os
aplicativos CAD e Excel, para realizar estas atividades, pode ser visto também como
vantagem, por evitar trabalho braçal e sujeição a erros.
Algumas dessas facilidades dos softwares BIM são possíveis graças à possibilidade de
inserção de regras das normas, como a NBR 5410, por meio de parâmetros nas
configurações do programa. Assim, algumas informações podem ser obtidas por intermédio
de ferramentas disponíveis.
A visualização do projeto por meio da construção virtual no Revit, como mostra a figura 4,
aumenta a confiabilidade de uma representação mais fiel da realidade. A forma como as
diversas partes do projeto é exibida facilita a visualização dos elementos e,
consequentemente, a interpretação do projeto.
Em ambos os métodos, pôde-se observar, a partir das plantas baixas, figura 4 - (a) para o
método tradicional e (b) para o BIM, diversos pontos de possíveis interferências; porém,
apenas com o modelo virtual do Revit foi possível gerar isometrias ao redor do local de
conflito, figura 4 - (c), permitindo que o projetista extraísse informações precisas sobre o
problema, simplificando a sua solução e documentação.
Essa situação exemplifica uma das dificuldades do método tradicional. Uma interferência
não identificada corretamente em planta pode acabar sendo identificada apenas quando a
obra já estiver em andamento, o que gera dificuldades de correção, aumento do tempo de
trabalho e prejuízos financeiros (GUERRETTA; SANTOS, 2015).
A possibilidade de geração de isometrias também facilitou a finalização dos detalhes. Essa
ferramenta foi vista como um dos maiores avanços, em termos de praticidade, de se
trabalhar com o BIM em relação ao método tradicional.
Outro avanço foi em relação à facilidade em se corrigir erros no Revit. A metodologia BIM
reforça uma visualização da obra como um todo, dentro de um só aplicativo e uma relação
dinâmica entre as partes. Isso permitiu que, em caso de alteração em um setor, todas as
vistas associadas ao mesmo fossem alteradas automaticamente. No caso do método
tradicional, em caso de alteração, todas as vistas precisaram ser alteradas manualmente,
uma a uma, pelo projetista.
O levantamento de materiais é um processo com possibilidades de erros, devido ao trabalho
exigido para se contar e medir os elementos especificados no projeto, em se tratando do
método tradicional. Estudos apontam que a quantificação de cabos elétricos, por exemplo,
geralmente possui uma variação entre os valores reais e orçados, acarretando em não
conformidades entre a obra e o projeto, além de desvios no valor final (GUERRETTA;
SANTOS, 2015).
Além disso, as correções e alterações no projeto podem resultar em erros de orçamentação.
É nesse ponto que se observa uma falha do uso do método tradicional, pois as alterações
nos projetos, que carecem de mudanças manuais, tendem a gerar uma propagação de
erros.
Apesar de o levantamento preliminar do método tradicional apresentar valores mais baixos
que em BIM, como mostra a tabela 3, é possível prever que estes números não condizem
com os valores reais, devido aos problemas encontrados no levantamento das informações.
Além do mais, observa-se, também, que o item 8, por exemplo, não foi contabilizado no
método tradicional, em consequência das falhas nas questões de visualização gráfica.
Essas questões orçamentárias se justificam ao observar a figura 5, que exemplifica o fluxo
de trabalho entre ambas metodologias. O BIM concentra nas fases preliminares os maiores
investimentos de trabalho e tempo, possibilitando a detecção antecipada de erros. Isso gera
uma redução de gastos, principalmente financeiros associados ao retrabalho. A visualização
antecipada das falhas proporciona agilidade na tarefa de correção e facilita na tomada de
decisões sobre o empreendimento (EASTMAN et al., 2014; CAMPESTRINI et al., 2015).
Dessa forma, é possível observar, como pode ser observado nas curvas apresentadas na
figura 5, que as últimas etapas10 do fluxograma podem acabar demandando mais recursos
financeiros quando o projeto é realizado por meio do método tradicional, pois o mesmo
demonstra ser mais suscetível a erros, que acarretam em necessidade de correções e
atualizações do as built, quando comparado a um projeto realizado com a tecnologia BIM.

10
Etapas destacadas com * na tabela 1.
Figura 5 - Curva de MacLeamy. Fonte: Eastman et al. (2014) e Campestrini et al. (2015).

CONCLUSÃO
A incorporação da metodologia BIM ao setor de projetos mostrou-se vantajosa em se
tratando de questões voltadas ao rendimento de tempo e confiabilidade das informações
extraídas na execução dos projetos. Porém, é importante ressaltar que, para se obter esse
rendimento no tempo gasto nos projetos realizados no Revit, por exemplo, faz-se necessário
um investimento de tempo e trabalho braçal único e preliminar para configurar o software
com os parâmetros necessários ao seu desenvolvimento. O software recém instalado traz
consigo somente as configurações dos padrões e normas norte-americanas. Esse trabalho
de configuração inicial é visto com certa irrelevância, quando comparado aos resultados
obtidos futuramente.
Vale ressaltar que, atualmente no mercado, existem diversos softwares que permitem a
realização de projetos elétricos por meio da metodologia BIM, cada um com um foco bem
específico. Um exemplo que evita esses gastos inicias de tempo, devido a ser brasileiro e já
possuir os padrões do país, é o QiElétrico, da desenvolvedora AltoQi (QIELÉTRICO, 2017).
Em questões de trabalho, a metodologia BIM mostrou-se capaz trazer praticidade ao
projetista, que não foi muito requisitado para a execução de trabalhos braçais. Apesar de o
software Revit possuir certas limitações, estas não reduzem a eficiência do fluxo de trabalho
de um projeto elétrico, em comparação ao método tradicional.
Em se tratando de qualidade e confiabilidade das informações, incluindo as orçamentárias, o
uso do BIM é mais vantajoso. O método tradicional mostra-se com muitas falhas e muito
dependente de tomadas de decisão humanas, que podem acarretar em variações e erros
nos projetos.
Com a crescente oferta de softwares direcionados à metodologia BIM, este trabalho pode
ser complementado realizando-se comparações direcionadas às vantagens e desvantagens
da utilização dos novos aplicativos que estão surgindo no mercado, abordando itens de
cálculo, compatibilização e representação gráfica, além da apresentação das facilidades e
dificuldades de uso de suas funções, em relação à elaboração de um projeto elétrico.

REFERÊNCIAS

AUTOCAD. Version N.52.0.0. USA: Autodesk, 2017. 1 DVD-ROM.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS [ABNT]. Instalações elétricas de


baixa tensão - NBR 5410. Rio de Janeiro, 2008. 209 p.

CAMPESTRINI, Tiago Francisco et al. Entendendo BIM. 1. ed. Curitiba: UFPR, 2015. 51 p.
v.1. Disponível em: http://www.gpsustentavel.ufba.br/documentos/livro_entendendo_bim.pdf.
Acesso em: 03 out. 2017.

CAMPOS, Vicente Falconi. Qualidade total: padronização de empresas. 2. ed. Nova Lima:
Falconi Editora, 2014a. 171 p.

_____, Vicente Falconi. TQC: controle da qualidade total no estilo japonês. 9. ed. Nova
Lima: Falconi Editora, 2014b. 286 p.

CAVALIN, Geraldo; CERVELIN, Severino. Instalações elétricas prediais. 21. ed. São
Paulo: Érica, 2011.

CREDER, Hélio. Instalações elétricas. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.

CUNHA, Lívia. A evolução das instalações. O setor elétrico. São Paulo, abr. 2010.
Memória da eletricidade, p. 62-69.

EASTMAN, Chuck et al. Manual de BIM: um guia de modelagem da informação da


construção para arquitetos, engenheiros, gerentes, construtores e incorporadores, Porto
Alegre: Bookman, 2014.

GUERRETTA, L. F.; SANTOS, E. T.; Comparação de orçamento de obra de sistemas


prediais com e sem utilização de BIM. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA
DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO, 7., 2015, Recife. Anais... Porto
Alegre: ANTAC, 2015.

KRYMSKY, Yan. A revolução dos softwares de arquitetura: do padrão único ao DIY.


Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/779023/a-revolucao-nos-softwares-de-
arquitetura-da-abordagem-uniformizada-ao-diy>. Acesso em: 01 out. 2017.

MICROSOFT Office Professional 2010: Microsoft Excel 2010. Version 14.0. USA: Microsoft
Corparation, 2010. 1 DVD-ROM.

MOREIRA, Bruno. Profissional em transformação. Coleção Elétrica. São Paulo, São


Paulo, v. 3, p. 30-33, dez. 2008.

NISKIER, Júlio. Manual de instalações elétricas. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.

PIZARRO, Diego. A popularidade do AutoCAD. Disponível em:


<http://latitudecursos.com.br/blog/a-popularidade-do-autocad>. Acesso em: 01 out. 2017.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar. Metodologia do trabalho
científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2.ed. Novo Hamburgo:
Editora Feevale, 2013.

QIELÉTRICO: Solução altoqi para projetos de instalações elétricas prediais. Disponível


em: <https://www.altoqi.com.br/hotsite/qieletrico/>. Acesso em: 27 out. 2017.

REVIT. Version 17.0.416.0. USA: Autodesk, 2017. 1 DVD-ROM.

Você também pode gostar