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XV Simpósio de Especialistas em Planejamento da Operação e Expansão Elétrica

Março 15 – 18, 2022 – Foz do Iguaçu/PR - Brazil

Controle de Potência em Elos CCAT Inseridos no Sistema Elétrico para


Integração da Energia Renovável no Brasil

G. N. Taranto1 C. E. V. Pontes2 T. M. Campello1 V. A. F. Almeida1


J. Graham3 P. Esmeraldo3 M. Schicong4
1
COPPE/UFRJ 2Powerconsult 3
State Grid Brazil Holding (SGBH) 4CEPRI

Brazil & China

RESUMO

Recentemente entraram em serviço os dois bipolos de Belo Monte, sendo estes inseridos em paralelo na rede
elétrica brasileira e com estações conversoras separadas. Neste caso, o fluxo de energia “reverso” é previsto, mas
apenas em base sazonal, quando as afluências nesta usina são baixas. Hoje o Brasil tem capacidade crescente em
energia eólica e solar, especialmente na região NE e está em estudo a possibilidade de um novo elo CCAT para
transportar o excedente de energia dessa região, e para alívio de eventuais sobrecargas no sistema CA. Nesse caso,
prevê-se um elo em conjunto com a geração variável que necessitará de controle de potência ativa, podendo incluir
frequentes reversões de potência, o que impõe novas exigências aos estudos de especificação de equipamentos.
Entre os desafios está o fato deste elo estar inserido na rede CA de 500 kV malhada, incluindo linhas compensadas
em série, e o fato da região NE, onde a energia renovável variável está majoritariamente localizada, também ser
um centro de carga substancial, sendo, às vezes, deficiente em abastecimento. Esses fatos exigem um controle de
potência do elo que se adapte ativamente às flutuações inerentes na geração e carga, e pode evitar efeitos adversos
como o surgimento de fluxos circulantes (loop flows), consequentemente com aumento de perdas. Este artigo
analisa os impactos do loop flow, além de propor um novo controle ativo dos elos via controle de diferença angular
(ADC do inglês Angle Difference Control), mostrando suas vantagens e desvantagens quando aplicado em um
único elo, ou em múltiplos elos simultaneamente.

PALAVRAS-CHAVE

Energia Renovável Variável; Elos CCAT; Elos LCC; Fluxo Circulante (Loop Flow); Controle de Diferença
Angular (ADC), Energia Eólica e Solar, HVDC.
2

1.0 INTRODUÇÃO
Este artigo discute a implementação de elos de Corrente Contínua de Alta Tensão (CCAT) inseridos na rede
elétrica brasileira, com atenção especial aos requisitos de fontes de energia variável, exigindo uma adaptação
automática de suas ordens de potência, incluindo inversão de fluxo. O Brasil tem um bom histórico com elos
CCAT como Itaipu 6.300 MW, Garabi 2.200 MW e Rio Madeira 6.300 MW, mas nenhum desses primeiros elos
está inserido (em paralelo) na rede CA. Mais recentemente entraram em serviço os dois bipolos de Belo Monte,
cada um de 4000 MW, ± 800 kV, sendo estes inseridos na rede CA. Neste caso, o fluxo de energia “reverso” é
previsto, mas apenas em base sazonal, quando o fluxo de água é baixo na usina geradora de Belo Monte e o
subsistema Sudeste (SE) possui excesso de geração. Hoje o Brasil tem capacidade crescente em energia eólica e
solar, especialmente na região Nordeste (NE), e está em estudo a possibilidade de um novo elo CCAT para
transportar o excedente de energia dessa região, assim como para alívio de eventuais sobrecargas no sistema CA
paralelo. Nesse caso, prevê-se um elo inserido em conjunto com a geração variável que necessitará de controle de
potência ativa, incluindo eventuais reversões do fluxo de energia, o que impõe novas exigências aos estudos de
especificação de equipamentos.O crescimento das energias renováveis, com suas características variáveis, em
adição ao despacho de geração baseado no mercado, impõe novas demandas aos sistemas de controle de elos
inseridos na rede CA. O atendimento a essas demandas tem sido ajudado pelo desenvolvimento de conversores
baseados em fonte de tensão (“Voltage Source Converter” -VSC) devido ao seu controle flexível de potência e
tensão. Contudo para o novo elo do NE um sistema convencional de conversores a tiristores (“Line Commutated
Converter” - LCC) está sendo considerado como a principal alternativa, devido à alta capacidade prevista de 4000
MW em ± 800 kV, que no presente momento não pode ser provida pela tecnologia VSC.

Entre os desafios está o fato deste elo CCAT estar inserido na rede CA de 500 kV malhada, incluindo linhas
compensadas em série de alta capacidade, e o fato da região NE brasileira, onde a energia renovável variável está
fortemente localizada, também ser um centro de carga substancial, sendo ocasionalmente deficiente no seu
abastecimento. Esses fatos exigem um controle de potência do elo que se adapte ativamente às flutuações inerentes
na geração e carga, e pode evitar efeitos adversos como o surgimento de fluxos circulantes (loop flows – LFs)
consequentemente com aumento de perdas. Recentemente, a Europa tem implantado novos elos inseridos na rede
CA [1] - [7], como é o exemplo do elo INELF entre a França e a Espanha, que faz o controle da potência de seu
elo CCAT com base na diferença angular entre as barras dos conversores [1]. No entanto, existem diferenças
significativas com os elos inseridos do SIN. Em primeiro lugar o elo INELF usa tecnologia VSC dando controle
dinâmico de tensão e, em segundo lugar, as linhas EHV CA em paralelo com o elo CC são relativamente simples
em comparação com o sistema malhado que conecta a região NE à rede brasileira integrada. Apesar dessas
diferenças, o uso do controle de potência ativa via controle de diferença angular (Angle-Difference Control – ADC)
tem se mostrado eficaz na eliminação dos LFs e na redução de perdas do sistema. Embora a tecnologia LCC tenha
controle de potência ativa eficiente usando ADC, há dois pontos negativos nos casos em que a reversão frequente
de potência no elo é necessária, a exigência de corrente mínima do conversor e a reversão da polaridade. Isto
provoca uma descontinuidade no fluxo de potência, como será mostrado neste artigo. A economia geral do uso de
VSC com linhas aéreas está avançando tecnicamente e as vantagens do controle de potência contínuo e controle
de tensão independente podem ser suficientes para fazer pender a balança a favor da tecnologia VSC.

Além da discussão sobre o LF em sistemas de potência, tratando sobre os principais pontos que podem ocasionar
no surgimento deste fenômeno, é proposto um novo ADC que se baseia no uso de um controlador proporcional-
integral, ao contrário dos demais presentes na literatura que utilizam um controlador proporcional [1]. Por fim, o
ADC proposto é aplicado em múltiplos elos CCAT ineridos na rede para que possa ser avaliado seu desempenho
em cenários diversos.

2.0 FLUXOS CIRCULANTES EM SISTEMAS DE POTÊNCIA


Para exemplificar o fenômeno do LF, que pode ocorrer em sistemas elétricos que possuem elos CCAT inseridos
na rede, é utilizado um sistema tutorial de 4 barras, mostrado na Figura 1. Ele é composto por duas regiões, cada
uma delas com sua própria geração e carga, com a Região 1 exportando aproximadamente 1.000 MW para a
Região 2. A conexão entre as regiões é feita por um elo CCAT em paralelo com uma linha de transmissão (LT)
3

CA. No fluxo de potência, a barra 04 localizada na região 2 é a barra swing. Para tornar este caso mais didático,
foi considerada apenas a impedância da LT 2-3 significativa, sendo as demais praticamente desprezadas. Além
disso, as tensões na barra dos conversores (barras 5 e 6) são fixas em 1.05 pu.

Para demonstrar o conceito de LF, foi feita uma análise de sensibilidade das perdas CA e totais para uma Ordem
de Potência (OP) variável do elo CCAT. Na Figura 2, observa-se que à medida que a OP do elo aumenta, as perdas
CA diminuem até que a OP seja ajustada em 1000 MW, onde as perdas CA passam a ser iguais a zero, já que não
há fluxo transmitido na LT 2-3. Quando a ordem de energia é definida acima de 1000 MW, ocorre LF, pois o elo
envia potência ativa da Região 1 para a Região 2, enquanto Região 1 recebe energia pela LT 2-3 da Região 2. Note
que quanto maior o LF, maiores as perdas CA e que no ponto de mínimas perdas CA, a diferença angular entre
barra 5 e 6 é igual a zero, conforme Figura 3. Além da OP no elo CCAT, outros fatores podem fazer surgir o LF,
levando o sistema a pontos indesejáveis de operação, como 1) a diferença angular entre as barras CA conectadas
ao terminal retificador e inversor das barras, 2) O módulo da tensão das barras conversoras do sistema e 3) O
balanço carga/geração nas regiões do sistema.

Figura 1 – Sistema Tutorial com duas Regiões. Figura 2 – Perdas no sistema conforme altera-se a ordem
de potência do elo CCAT.

2.1. Impacto da Diferença Angular


As perdas em LTs CA são dadas por:

𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 = (𝑉𝑘2 + 𝑉𝑚2 )(𝑔𝑠ℎ + 𝑔𝑘𝑚 ) − 2𝑉𝑘 𝑉𝑚 𝑔𝑘𝑚 cos(Δθ) (1)

onde 𝑉𝑘 e 𝑉𝑚 são os módulos das tensões nos terminais da LT estudada (respectivamente, barra 𝑘 e 𝑚), Δθ é a
diferença angular entre essas barras, 𝑔𝑠ℎ é a condutância da LT para a terra e 𝑔𝑘𝑚 é a condutância entre a barra 𝑘
e 𝑚. Se diferenciarmos essa expressão em relação ao ângulo, obtêm-se (2). Igualando essa expressão a zero para
descobrir o valor mínimo de perdas, é facilmente observável que Δ𝜃 = 0º é uma solução para o problema.
Aplicando esse valor na expressão de perdas na linha CA e considerando a condutância para a terra 𝑔𝑠ℎ desprezível,
consegue-se o valor de perdas mínimas no sistema, conforme (3).
𝜕𝑃𝐿𝑜𝑠𝑠𝑒𝑠
= 2𝑉𝑘 𝑉𝑚 𝑔𝑘𝑚 sin(∆θ) (2) 𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 𝑔𝑘𝑚 (𝑉𝑘 − 𝑉𝑚 )2 (3)
𝜕θ𝑘𝑚
Ao manipular-se as expressões, constata-se que a diferença angular tem significativa influência nas perdas do
sistema CA. Pela Figura 3 e Figura 4, percebe-se que o ponto mínimo de perdas encontrado no sistema tutorial
ocorre quando a diferença angular vai a zero. Além disso, a partir desse ponto, em que a diferença angular assume
valores negativos, o LF ocorre.

Figura 3 – Diferença angular entre as barras 5 e 6 durante Figura 4 – Ocorrência de Loop Flow devido à mudança do
a variação de potência do elo CCAT. ponto de operação Carga/Geração.
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2.2. Impacto dos Módulos das Tensões


Para exemplificar o impacto dos módulos das tensões das barras conversoras dos elos CCAT, a Tabela I apresenta
alguns resultados de perdas CA com diferentes ordens de potência no elo, e diferentes valores de tensão nas barras
5 e 6. Pode-se observar que o a OP de 1000 MW não é necessariamente o ponto mínimo de perdas quando os
valores das tensões em módulo não são iguais. Em alguns casos, o ponto mínimo de perdas provoca LF se houver
diferença nos módulos das tensões do sistema. O caso 1 é o caso ideal para redução de perdas CA. Todos os outros
casos apresentam perdas CA diferentes de zero, independentemente da presença ou não do LF.

Tabela I – Impacto do módulo das Tensões nas perdas e no Loop Flow.

Ordem de Potência do Elo Tensão na Barra Tensão na Barra Perdas CA Diferença angular das Há Loop
Caso
CCAT (MW) 5 (pu) 6 (pu) (MW) Barras 5 e 6 (º) Flow?
1 1000 1.05 1.05 0.000 0.00 Não
2 936 0.95 1.05 6.690 2.00 Não
3 1000 0.95 1.05 6.173 1.05 Sim
4 1056 0.95 1.05 5.977 0.00 Sim
5 936 1.05 0.95 5.975 0.00 Não
6 1000 1.05 0.95 6.134 -0.93 Sim
7 1056 1.05 0.95 6.680 -2.00 Sim

2.3. Condições de Balanço Energético (Carga/Geração) do Sistema


O último fator que influencia para o surgimento e o impacto do LF é o equilíbrio carga/geração das regiões do
sistema elétrico. Em [8], é relatado um caso real ocorrido no Sistema Interligado Nacional (SIN), onde uma grande
quantidade de geração eólica (3000 MW) diminuiu em aproximadamente 5 horas, levando ao surgimento do LF e
ao desligamento do elo Xingu-Estreito. A Figura 4 apresenta um caso didático semelhante a este caso real, em que
ocorre uma redução de 750 MW da geração na Barra 1 em 250 s. A OP do elo CCAT é definida em 1000 MW,
que é o valor que zera as perdas CA no sistema tutorial em sua condição operacional inicial. Observa-se que, sem
um controle de OP adaptável do elo CCAT, surge o LF aos 50 s, quando a potência flui da Região 2 para a Região
1 através da LT 2-3, produzindo perdas no sistema CA iguais a 26,3 MW. As perdas totais aumentaram de 7,6
MW para 33,9 MW. Este teste mostra a importância de ter um controle automático da OP do elo, mitigando LFs
e reduzindo perdas. Um novo controle automático para este tipo de elo é proposto na próxima seção.

3.0 CONTROLE DE DIFERENÇA ANGULAR


Conforme observado na Seção 2.0, as perdas CA são altamente influenciadas pela diferença angular, que por sua
vez é um bom indicador da presença de LF. Desta forma, é proposto um novo ADC que modula a OP do elo CCAT
com o objetivo de zerar a diferença angular dos fasores de tensão das barras do retificador e do inversor. Em [1]
os autores propuseram um ADC usando um controlador proporcional em um elo VSC-CCAT de curto
comprimento, com o objetivo principal de operar o elo CCAT semelhante a uma LT CA convencional, onde a OP
é alterada automaticamente quando o fluxo na linha CA é alterado. Um alto valor de ganho do ADC pode tornar
o elo muito sensível, o que pode causar problemas como mudanças repentinas no fluxo de potência ativa CC,
saturar o elo CCAT em sua potência nominal com pequenos valores de ∆θ e amplificar ruídos de alta frequência.
Por outro lado, um ganho pequeno pode tornar o elo CCAT menos sensível, tornando o ADC menos flexível. Em
[1], o ganho proporcional foi variado de 0 a 180 MW/º, mostrando a dificuldade de definir o ganho correto para
condições operacionais variáveis.

No Brasil, o cenário de elos CCAT inseridos é distinto. A rede CA paralela é muito mais complexa, envolvendo
centenas de LTs com diversas barras de geração e carga. Portanto, ajustar a OP dos elos CCAT tem um objetivo
mais importante, reduzir as perdas CA. Conforme mostrado no sistema tutorial, ao minimizar as perdas CA
variando a OP do elo CC, o LF está sendo mitigado ou eliminado. Devido a questões econômicas, os elos CCAT
no Brasil usam tecnologia LCC, que restringe os graus de liberdade para fins de controle. Com esta tecnologia
pode-se modular apenas a OP para modificar as diferenças angulares, não sendo possível controlar
independentemente as tensões terminais com os conversores. Conforme apontado na Seção 2.2, essa flexibilidade
ajudaria reduzir ainda mais as perdas CA.
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Dadas as limitações dos elos LCC-CCAT, o ADC proposto neste trabalho busca zerar a diferença angular (Δθ)
entre as barras retificadora e inversora do elo, com o objetivo de reduzir as perdas CA do sistema e mitigar o LF.
Seu diagrama de blocos é mostrado na Figura 5. O ADC proposto é composto por um bloco Proporcional-Integral
(PI) adotado para melhorar a resposta em regime permanente, e um bloco de atraso adotado para melhorar a
resposta transitória a defeitos no sistema, e não influenciar no comportamento dos modos eletromecânicos, além
de atuar como filtro passa-baixa de ruídos de medição. Em uma aplicação real de campo, a sincronização dos
ângulos pode ser alcançada com medição fasorial sincronizada via PMUs, e a consideração da latência da
comunicação pode influenciar nos ajustes dos parâmetros do ADC proposto. Os parâmetros dos blocos PI e de
atraso usados neste artigo são apresentados na Tabela II.

Tabela II – Parâmetros usados no ADC proposto.

Parameter Value
Kp 0.5
Ti 2.5
Figura 5 – Controle de diferença angular proposto. T1 0.5
T2 5.0

4.0 SIMULAÇÕES
Para demonstrar o desempenho do ADC proposto no sistema tutorial e no SIN, foram utilizados os softwares
Anarede [9] e Anatem [10] para simulações estáticas e dinâmicas, respectivamente.

4.1. Sistema Tutorial


Primeiramente, a simulação apresentada na Seção 2.3 é refeita incluindo o ADC proposto. A Figura 6 apresenta
os resultados obtidos. Observa-se que o fluxo de potência na LT CA é baixo durante toda a simulação, com o elo
CCAT diminuindo a OP para zerar a diferença angular entre as barras 5 e 6, evitando o LF. Como mencionado
anteriormente, as tensões do conversor CA também são importantes para reduzir as perdas CA, mas isso não pode
ser controlado pelo ADC proposto aplicado em conversores LCC. Para fins de comparação, a Figura 7 mostra o
resultado de perdas CA realizando a simulação com (elo VSC) e sem (elo LCC) controle de tensão nas barras
terminais do elo. Com a tecnologia LCC-CCAT, as perdas CA vão até aproximadamente 0.3 MW. No caso VSC-
CCAT, elas permanecem basicamente em zero.

Figura 6 – Atuação do ADC durante alteração de ponto de Figura 7 – Comparação de Perdas CA no caso
operação do sistema. LCC-CCAT e VSC-CCAT.

4.2. Sistema Tutorial modificado com 3 Elos CC


No caso do SIN para o horizonte 2029, há 3 elos CCAT inseridos. Os dois primeiros elos, Xingu-Terminal Rio
(XTR) e Xingu-Estreito (XE), estão em operação no SIN e suas barras conversoras estão localizadas na mesma
subestação na região Norte. O terceiro elo, de Graça Aranha-Silvânia (GAS), está em fase final de estudos, com
estimativa de entrar em operação em 2028. Para se aproximar com uma configuração semelhante de elos inseridos
do SIN no horizonte 2029, o sistema tutorial mostrado na Figura 1 foi expandido para um sistema com 5 regiões,
como mostra o diagrama simplificado da Figura 8. Observa-se que cada região é composta por apenas uma barra.
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A Região 1 pode ser compreendida como se fosse a região Norte, a Região 2 o Nordeste, a Região 3 a região do
Rio de Janeiro, a Região 4 como se fosse a região de Minas Gerais e a Região 5 como a região de Goiás. As setas
azuis e vermelhas indicam a transferência de potência entre regiões feitas pelos elos CC e pelos sistemas CA,
respectivamente. A impedância das conexões CA entre as regiões 1-2, 3-4 e 4-5 é a metade das impedâncias das
conexões 1-3, 1-4 e 1-5. O elo CC entre as regiões 1-3, 1-4 e 2-5 possuem os mesmos dados dos elos XTR, XE e
GAS, respectivamente, com a exceção da capacidade máxima desses elos ser de 2000 MW, neste exemplo.

A Figura 8 apresenta o ponto de operação inicial do sistema. A Figura 9 apresenta o novo ponto de operação do
sistema ao implementar o ADC em cada um dos três elos. As perdas CA do sistema reduzem de 104 MW para 10
MW, enquanto as perdas totais reduzem de aproximadamente 113 MW para 76 MW, uma redução de
aproximadamente 32.7%.

Figura 8 – Diagrama do Sistema Tutorial Expandido com Figura 9 – Ponto de operação final do Sistema Tutorial
3 elos em seu ponto de operação inicial. Expandido com atuação do ADC nos 3 elos.

Além dessa simulação, foram realizadas simulações ligando o ADC em 2 elos (3 possibilidades) e em apenas um
elo (3 possibilidades). As perdas CA e totais ao longo do tempo são mostradas na Figura 10 e na Figura 11,
respectivamente. Para o ponto de operação analisado, a implementação do ADC nos 3 elos é o mais adequado
devido à maior redução das perdas totais neste sistema. No entanto, a aplicação indiscriminada de ADCs no sistema
pode não ser desejável em determinados pontos de operação. Diferentemente do caso tutorial com apenas um elo
CC, onde a minimização das perdas CA está associada à diferença angular nula entre as barras conversoras, no
caso de múltiplos elos CC, esta associação não é mais assegurada, portanto, não levando necessariamente a uma
minimização das perdas totais do sistema. A minimização das perdas totais em função das ordens de potência de
múltiplos elos CC inseridos, pode ser formulada como um problema de otimização. Isso constituiria um nível
secundário coordenado de controle dos múltiplos elos. O resultado do problema de otimização calcularia as
diversas ordens de potência dos elos CC que minimizam as perdas totais (CA+CC) do sistema. A estrutura do
ADC poderia ser utilizada, tendo como objetivo não zerar os ângulos das barras conversoras, mas sim, regular as
ordens de potência enviadas pelo nível secundário.

Figura 10 – Resposta dinâmica das perdas CA no sistema Figura 11 – Resposta dinâmica das perdas totais no
tutorial com 3 elos. sistema tutorial com 3 elos.

Um ponto interessante a ser notado é que, em todas as simulações, as perdas totais perpassam por um vale no início
das simulações, conforme pode ser observado na Figura 11. Com a atuação do ADC, as curvas das perdas CA
diminuem conforme as curvas de perdas CC aumentam. Esse vale corresponde ao ponto de interseção destas
curvas. No entanto, no ponto final de operação das simulações, mesmo as Barras 1, 3 e 4 tendo o mesmo ângulo e
as Barras 2 e 5 também tendo o mesmo ângulo, as perdas totais do sistema não são minimizadas. Conforme
mencionado anteriormente, em sistemas mais complexos com atuação de vários ADCs, a minimização das perdas
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totais do sistema passa por um problema de otimização. Soluções ad hoc que não necessitem de um grande aparato
de comunicação, computação e modelos matemáticos podem ser investigadas e testadas caso a caso.

4.1. Simulações no SIN


Foi utilizado como cenário base do SIN o cenário fornecido no PDE 2029 [11], onde os afluentes do Norte estão
em baixa (“Norte Seco”) e no patamar de carga leve. Este cenário possui uma demanda de aproximadamente 75
GW, com a maior parte da geração com fontes hidráulica (55%) e eólica (22%). Além disso, originalmente já
possui pouca geração nas usinas hidroelétricas do Norte, com os elos CCAT de Belo Monte transmitindo os seus
valores mínimos (400 MW cada). Considera-se, então, que houve uma redução de geração de eólicas no NE,
simulando a intermitência deste tipo de fonte, sendo essa diferença suprida pelas gerações do SE. Neste novo
cenário, a região SE está exportando energia para o NE, e o elo GAS é ajustado para transferir 800 MW do SE
para o NE (representado com sinal negativo na Tabela III). Foi simulado um cenário subsequente a este,
considerando-se um aumento significativo na geração eólica na região NE, voltando para seu patamar original do
cenário fornecido pelo PDE 2029, com diminuição correspondente na geração hidrelétrica na região SE.

Inicialmente a atuação do ADC nos elos do SIN está sendo desconsiderada, mantendo fixo o valor de potência
transferida pelos elos CCAT. Dessa forma, há um LF entre as regiões NE-SE, como mostra a Figura 12, uma vez
que há uma transferência de 800 MW do SE para o NE no elo GAS, e 5964 MW do NE para o SE pelo sistema
CA. Nesta situação as perdas CA são 2725 MW e as perdas CC são 207 MW no SIN.

Em um segundo caso, considera-se o ADC ativo apenas no elo GAS. A Figura 13 apresenta a potência transmitida
por este elo, mostrando sua variação no tempo devido atuação de seu ADC. Os demais elos permanecem com a
potência fixa em 400 MW. Conforme mencionado na Seção 1.0 , todos os elos CCAT no SIN usam a tecnologia
LCC. Os elos LCC têm um limite mínimo de transferência de 10% da potência nominal, em ambos os sentidos,
sendo 400 MW no elo GAS. Portanto, a reversão do fluxo de potência imposta pelo ADC enfrenta uma banda
morta (BM) de 800 MW.

Figura 12 – Pontos de operação inicial do SIN sem Figura 13 – Variação da ordem de potência elo GAS
atuação do ADC em nenhum elo CCAT. devido atuação do ADC neste elo.

O elo GAS está sendo planejado para ser um elo LCC. Dessa forma, ao ativar o ADC proposto, o controle busca
reduzir a OP deste elo, ficando limitado a um valor mínimo de potência (400 MW) por 10s. Em seguida, o elo é
bloqueado por mais 10s e, posteriormente, o sentido da potência é invertido. Na prática estes tempos são diferentes
devido necessidades físicas do equipamento, porém foi utilizado 10s para exemplificar essa limitação dos elos
LCC. O limite mínimo de 10% e o tempo de 10s para reversão de potência foram definidos para as simulações.
Estes valores podem ser reduzidos se necessários, sendo 5% um valor possível para o limite de corrente mínima,
e menos de 10s para reversão com o aumento do grau de automatização.

O elo atinge uma OP de aproximadamente 2100 MW no momento em que a diferença angular entre retificador e
inversor é zerada. A Figura 14 apresenta o diagrama simplificado do fluxo de potência entre as regiões do sistema.
Note que o LF entre o NE-SE é eliminado.

Uma desvantagem do ADC, que existe quando este é implementado em elos que usam a tecnologia LCC, é a
existência de casos em que o ponto de solução do ADC se encontra dentro da BM do conversor. Isto acontece no
cenário utilizado neste artigo quando o ADC é aplicado nos elos XE e XTR simultaneamente, onde o XE é forçado
8

pelo ADC a reduzir sua OP, ficando dentro da BM. Para exemplificar, a Figura 15 mostra a variação da potência
quando o ADC está atuando nos três elos. Note que para viabilizar essa simulação, o limite mínimo do elo XE foi
reduzido para permitir a análise completa do impacto do ADC quando implementado simultaneamente nos três
elos. Na prática, o elo XE ficaria limitado em 400 MW ou seria desligado. Portanto, futuramente, uma lógica
adicional deve ser implementada ao ADC visando uma melhor solução para impedir LF ou reduzir as perdas CA
do sistema para estas situações.

Para uma melhor análise do impacto do ADC em um sistema de grande porte, o controlador proposto foi testado
em todas as combinações possíveis entre os três elos CCAT inseridos na rede CA do SIN. A Tabela III resume as
informações obtidas destas simulações, mostrando as OP de cada elo após as simulações, e as perdas CA e CC do
sistema. Para os casos em que o ADC faz com que a OP do elo XE fique na BM do conversor, as perdas são
calculadas considerando que estes elos foram bloqueados.

Figura 14 – Pontos de operação do SIN com atuação do ADC Figura 15 – Variação da ordem de potência elos GAS, XTR e
no elo GAS. XE devido a atuação do ADC nestes elos.

Tabela III – Comparação de perdas nas simulações do SIN.


ADC nos
ADC nos ADC nos ADC nos três
ADC no elo ADC no elo ADC no elo ADC nos elos elos XTR e ADC nos
Sem ADC elos GAS e elos XTR e elos (XE
GAS XTR XE GAS e XE XE (XE três elos
XTR XE bloqueado)
bloqueado)

GAS -800 2109.3 -800 -800 1090.7 1261.5 -800 -800 1175.3 1102.6
Ordem de
Potência
(MW)

XTR 400 400 3205.7 400 2654.0 400 3490.1 3564.6 3239.5 3028.0

XE 400 400 400 2892.3 400 2205.3 0.0 -342.0 0.0


96.3
CA 2725.24 2525.9 2531.4 2564.9 2452.1 2476.3 - 2534.2 - 2452.0
Perdas (MW)

CC 202.8 232.0 339.7 328.4 302.0 284.0 - 368.1 - 325.2

Totais 2928.0 2757.9 2871.1 2893.3 2754.1 2760.3 - 2902.3 - 2777.2

Como pode-se observar na Tabela III, ao implementar o ADC apenas no elo GAS, o LF que ocorre devido a este
elo é eliminado e as perdas CA são reduzidas em 7 % quando comparado com o caso sem ADC. O elo que se
mostrou mais efetivo em reduzir perdas CA foi o XTR, onde com o ADC apenas nele as perdas CA também são
reduzidas em 7%, mesmo sem eliminar o LF, e quando combinado com o ADC no elo GAS, reduzindo
aproximadamente 10% das perdas CA. Entretanto, como os elos XTR e XE geram perdas CC maiores, a redução
das perdas totais do sistema acabam sendo de 5.7 %, 5.8 % e 1.95 %, para o caso do ADC nos elos do GAS e XTR,
apenas no elo GAS e apenas no elo XTR, respectivamente.

Destes resultados, observa-se que o ADC acaba dando prioridade para o elo XTR no aumento da OP, em
detrimento do XE e do GAS. Isso pode ser explicado através das admitâncias nodais vista dos terminais de cada
elo. De (3) observamos que as perdas estão relacionadas com a condutância mútua entre as barras 𝑘 e 𝑚, que
podem ser consideradas como as barras dos terminais de um dos elos. Assim, o elo que possuir a maior condutância
é o que tem maior impacto nas perdas CA daquele sistema. Utilizando o programa HarmZs [12] foi possível
observar que a condutância do elo XTR realmente é maior do que as demais, 154802.2 pu, contra 91922.9 pu do
XE e 21845.6 do GAS. Dessa forma, é possível concluir que essa variável pode indicar ao operador da rede qual
é o elo mais propício ao se implementar o ADC considerando apenas perdas CA. É importante salientar que a
utilização de ADC para minimização de perdas no SIN é uma tarefa complexa e que ainda necessita de estudos
9

mais aprofundados e abrangentes. A dificuldade reside no fato de que o sistema CA em paralelo é muito malhado,
possui muitas linhas, e muitos pontos de carga e geração em sua trajetória.

5.0 CONCLUSÕES
A atual e futura presença de elos CC inseridos na rede CA do Sistema Interligado Nacional, conjugada com a
crescente parcela de geração eólica e solar variável, cria eventuais loop flows no sistema, se as ordens de potência
dos elos CC não se adaptarem às inevitáveis mudanças desta geração variável.
Este artigo propôs um novo controle de diferença angular para sistema com elos CCAT inseridos em paralelo na
rede CA, com objetivo de reduzir as perdas CA do sistema e evitar o surgimento do LF. Como prova de conceito,
esse controle foi testado inicialmente em um sistema tutorial didático com 1 elo CCAT e, em seguida, em um
sistema tutorial expandido com 3 elos, e finalmente no SIN para um cenário obtido no PDE 2029. De forma geral,
o ADC demonstrou muita eficiência na redução de perdas CA do sistema, ocasionando em uma redução de 5.9 %
até 10 % no SIN, dependendo da combinação de elos em que o ADC foi implementado, comparando com o caso
sem o ADC.
A utilização do ADC se mostra mais vantajosa quando os elos CCAT são com a tecnologia VSC, pelo maior grau
de liberdade em se controlar a diferença angular independentemente do valor das tensões nas barras conversoras,
além de evitar a BM quando houver necessidade de inversão de fluxo de potência, passando suavemente pelo zero.
A solução VSC traz outras vantagens que não fazem parte do foco deste trabalho, mas que em conjunto podem
ajudar a superar a desvantagem econômica da tecnologia VSC em relação à tecnologia LCC.

6.0 AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi patrocinado pela State Grid Brazil Holding e realizado no âmbito do programa de P&D ANEEL.

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