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O modelo de linha longa considera a abordagem 𝑅 + 𝑗ω𝐿

𝑍 =
por parâmetros distribuídos. O seu modelo é 𝑗ω𝐶
semelhante ao de uma linha média. No entanto, ao
invés de se ter uma impedância série, formada pela 𝛾= 𝑅 + 𝑗ω𝐿 𝑗ω𝐶
composição série da resistência R com a reatância
X, tem se simplesmente uma impedância definida
como Ze e uma susceptância Ye, cujos cálculos são
efetuados conforme as expressões a seguir.

onde l é o comprimento da linha e as constantes Zc


e γ são definidas como:

Figura 2.3 Modelo de linha longa


O elemento em derivação (shunt) do modelo de uma linha longa
é representado pelo termo:

EXEMPLO 2.1
Uma linha que opera com frequência industrial igual a 60 Hz e com tensão nominal de
linha igual a 500 kV apresenta os seguintes parâmetros: L = 8,84×10−4 H/km, C = 13,12
nF/km e R=0,0222 W/km. Calcule a impedância de surto, bem como o SIL dessa linha.
SOLUÇÃO
A impedância de surto e o SIL não dependem do comprimento da linha. Assim,

Considerando que a tensão nominal da linha é igual a 500 kV (tensão fase-fase), então
a potência de SIL será
EXEMPLO 2.2
Considere que uma linha tenha 350 km de comprimento. Suponha que uma tensão
fase-neutro igual a 288,67 kV seja aplicada ao terminal de entrada da linha. Calcule a
tensão fase-neutro e de linha no terminal de saída da linha, considerando:
a) um modelo de linha média;
b) um modelo de linha longa.

Resolver em casa.
SOLUÇÃO
a) O módulo da tensão na entrada da linha é igual a 288,67 kV. Considere a fase da
tensão na entrada da linha como a referência angular. Assim, faz-se :
.
Inicialmente, é necessário calcular os parâmetros do circuito equivalente, conforme
Figura 2.3.
A reatância total da linha é:
A susceptância total da linha é:
A resistência total da linha é: R = 0,0222×350 = 7,77 .

Por conveniência, deve-se converter a susceptância capacitiva Y em reatância


capacitiva para que seja calculada a corrente que circula por esse elemento do
circuito equivalente.

Lembrar que XCap = 1/Y. Porém, na forma de impedância:


A corrente Io, em kA, no circuito equivalente da Figura 2.3 é:

A tensão nos terminais de saída da linha é:

Por tanto, a intensidade da tensão fase-fase no terminal de saída da linha é:


𝟎

Esse resultado está coerente, porque a linha é longa e está descarregada. Portanto, há
uma elevada parcela de potência reativa gerada pela linha, fazendo com que a
tensão fique acima da nominal no terminal de saída, quando o terminal de entrada é
alimentado com tensão nominal.
b) Considerar-se-á agora a situação em
que a linha é modelada por circuito
equivalente para linha longa. O
procedimento de cálculo a ser
realizado é semelhante ao
apresentado no item a). É necessário
calcular os parâmetros : 𝑍 e 𝑌 . Os
parâmetros são os seguintes para ω=
2π60 = 377 rad/s:

A magnitude da tensão fase-fase


nesse caso é:
𝑽𝟎 = 𝟑𝟐𝟎, 𝟓 𝟑 = 𝟓𝟓𝟓, 𝟏 𝒌𝑽

Observa-se, deste modo, que embora a


linha seja longa, a utilização de um
modelo a parâmetros concentrado para
realização dos cálculos gera desvios
pouco significativos em relação aos
resultados em que se considerou modelo
a parâmetros distribuídos.
Evidentemente, para comprimentos
superiores, os resultados poderão ser
bastante diferentes.
2.3 DISTRIBUIÇÃO DOS FLUXOS DE POTÊNCIA EM UMA
LINHA

Figura 2.4 Distribuição de fluxo de potência em


uma linha de transmissão
EXEMPLO 2.3:

Considere o diagrama unifilar mostrado na Figura 2.5 como representativa de um sistema elétrico
equivalente formado pelas barras k e m, as quais são interligadas por meio de uma linha de transmissão.
Ambas as barras são caracterizadas como de 230 kV de tensão nominal.

Figura 2.5 Linha interligando as barras k e m


Considerando que as tensões nas duas barras sejam conhecidas, determinar os fluxos de potência ativo e
reativo na interligação e no circuito equivalente. Suponha que a linha seja representada por seu modelo
p-equivalente, para linha média, cujos parâmetros em pu são os seguintes: R = 0,017, X = 0,1224, Y =
0,22. O valor de Y corresponde à susceptância total da linha. Ou seja, Y = wC, onde C é a capacitância da
linha. Nesse sistema, as tensões nas duas barras são: = 1,022 23,3° e = 1,037 11,8°.
SOLUÇÃO
As correntes nas duas extremidades da linha são, portanto, 𝐼 e𝐼 .
Elas serão calculadas como segue:
Figura 2.6 Procedimento de cálculo executado no Matlab
 Dos resultados anteriores, é possível fazer a seguinte análise. Da barra k, na tensão de
1,022 pu (ou, considerando uma base de 230 kV, 1,022×230 ≈ 235 kV), 1,70 pu de
potência ativa é enviado para a barra m.
 Considerando que a base de potência é igual a 100MVA, resulta no envio de 170MW.
Em relação à potência reativa, ocorre absorção de aproximadamente 0,303 pu.
 Istocorresponde a absorção de 30,3 MVar de potência reativa na barra k. Com relação
à barra m, a sua tensão é igual a 1,037 pu (ou 1,037×230=238,5 kV). Nessa condição,
a barra absorve 1,65 pu ou 165 MW. Verifica-se, portanto, que houve perda ativa de 5
MW na interligação.
 Quanto à potência reativa, a barra gera 0,41 pu. Desse modo, 41 MVar é gerado e
enviado para a linha.
Figura 2.7 Distribuição final de fluxos
Com relação ao balanço de potência de reativo nas extremidades da linha, são constatadas as seguintes
observações:

 Se a barra k recebe 30,3 MVar e ocorre geração de 11,5 MVar devido ao capacitor da linha nessa extremidade,
então, 18,8 MVar são provenientes da linha e que há excesso de potência reativa sendo gerado na barra m.
 Na barra m, há geração de 41,0 MVar e mais 11,8 MVar por parte do capacitor da linha. Isto implica dizer que
52,8 MVar estão sendo liberados para a outra extremidade da linha.
 A perda reativa na linha (consumo da reatância indutiva da linha) será Qperda = 52,8−18,8 = 34 MVar.
EXERCÍCIO
Considere que a um dos terminais de uma linha de transmissão CA é conectado um gerador síncrono,
cuja magnitude da tensão gerada é igual a 10 kV. A linha de transmissão pode ser representada por
seu circuito π-equivalente, cujos parâmetros são:
r = 0,02 𝛀/km, c = 100 nF/km e l = 0,1 mH/km. A frequência do sistema é igual a 60 Hz. A partir dessas
informações e considerando base de tensão igual a 10 kV, de potência igual a 100 MVA, e
comprimento da linha igual a 100 km, calcule, em pu:

a) Para a condição do outro terminal da linha à vazio.


a.1) a corrente que é fornecida pelo gerador e a tensão nos terminais da linha;
a.2) as potências ativa e reativa que são geradas pelo gerador;
a.3) as perdas ativa e reativa na linha.

b) para a condição de carga igual a 10 MW e 3 MVar indutivo conectada ao outro


terminal,
b.1) a corrente que é fornecida pelo gerador e a tensão na carga;
b.2) as potências ativa e reativa que são geradas pelo gerador;
b.3) as perdas ativa e reativa na linha.
Resolver em casa.
2.4 TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA
 Os transformadores de potência possibilitam a utilização de diversos níveis de tensão em
um sistema elétrico. Do ponto de vista de eficiência e de transferência de potência, a
tensão de transmissão deve ser elevada, porém não é usual se gerar ou consumir
energia nesse mesmo nível de tensão.
 Em sistemas elétricos modernos, desde a geração até os centros de consumo, a tensão
pode passar por até uns cinco estágios de transformação. Além de permitir a
transformação de tensões, os transformadores são frequentemente usados para:
Controle de tensão e de fluxo de potência reativa.
 Portanto, praticamente todos os transformadores utilizados nos sistemas de transmissão e
na entrada dos alimentadores de sistemas de distribuição apresentam taps.
 A variação de taps permite compensar variações de tensões no sistema.
 Dois tipos de componentes para variação de taps são encontrados: o que permite a
variação sem carga (off-load) e o sob carga (under-load tap changing) (ULTC), ou on-
load tap changing (OLTC), ou simplesmente load tap changing (LTC). Para alteração na
relação do primeiro tipo, é necessário que o transformador seja desenergizado. São
usados quando a relação de taps precisa ser alterada somente após longos períodos.
 O LTC é utilizado quando há necessidade de alterações frequentes na relação de
transformação. Por exemplo, para acompanhar as mudanças diárias de carga. Os
taps normalmente permitem uma variação na relação de transformação.
 Os transformadores podem ser unidades trifásicas ou três unidades monofásicas
constituindo um banco trifásico. A última opção é preferida para sistemas em
extra-alta tensão e sistemas de distribuição. Quando a relação de transformação
é pequena (por exemplo 500 kV para 230 kV), a melhor opção é utilizar
autotransformadores.
 Em sistemas interligados, algumas vezes torna-se necessário efetuar conexões que
formam circuitos em malhas em um ou mais subsistemas. A fim de controlar o fluxo
de potência ativa e prevenir sobrecarga em algumas linhas, são introduzidos os
chamados transformadores defasadores. Em certos casos, além da transformação
de fase, é necessário realizar também transformação do módulo de tensão, via
uso de taps.
2.4.1 MODELO DO TRANSFORMADOR
 O modelo do transformador de potência depende da presença ou não de taps. O
modelo convencional é composto de um transformador ideal e de uma
impedância série. A relação de transformação de tensão no transformador ideal,
em pu, é 1 : a, onde a é o tap em pu.
 A impedância série é formada pela reatância do transformador, em geral,
desprezando-se as resistências dos enrolamentos. Ou seja, ZT = jXT . A Figura 2.8
ilustra a inserção desses elementos em um diagrama unifilar, substituindo-se, por
conveniência, ZT , por uma admitância ykm, ficticiamente ligada entre as barras p e
m. Por essa convenção, supõe-se que o transfomador possua tap, em pu, somente
do lado da barra m, embora fisicamente ele possa ter tap em ambos os lados.
 O tap a pode ser um número real ou complexo, dependendo do tipo de
transformador. Na situação na qual se diz que as tensões Vk e Vm estão em fase,
diz-se que a "relação de tap está em fase".
 Quando a é um número complexo, o transformador, além da transformação das
magnitudes da tensão, como no caso em fase, proporciona também a
transformação da fase. Na dedução que se segue, considerar-se-á somente a
situação na qual a constante a representa uma grandeza real .
Figura 2.8 Modelo do transformador com tap

 A dedução das equações do transformador com tap é baseada nas equações do trans-
formador ideal e no cálculo das correntes que fluem no equipamento. O objetivo é se de-
terminar um circuito elétrico equivalente semelhante ao que foi apresentado para o caso
da linha de transmissão CA. Assume-se que seja possível calcular as constantes A B e C do
circuito elétrico mostrado na Figura 2.9. Todas essas constantes estão calculadas na forma
de admitâncias.
 O circuito forma um quadripolo, no qual pode-se imaginar o terminal de entrada como
do lado d a barra k e o terminal de saída como do lado da barra m.
Figura 2.9 Transformador equivalente com tap em pu do lado da barra m

 No circuito da Figura 2.9 as relações entre as correntes de entrada e as tensões de saída são dadas pelas
expressões a seguir.
Ikm = (A+B)Vk−AVm (2.6)
Imk = −AVk+(A+C)Vm (2.7)
 Deve-se calcular os parâmetros do circuito em função dos parâmetros do transformador.
 Considere o transformador ideal entre as barras (nós) k e p. Algumas relações para esse elemento são as
seguintes:
 Conservação da potência no transformador ideal: a potência de
entrada é igual à potência de saída. Em pu, isto significa que a
potência no nó k é a mesma no nó p, a menos do sinal, isto é,
Skm+Smk = 0;
 Relação de transformação de tensão: a relação de tensão, em pu,
entre o nó p e o nó k é:
V p = aVk.
EXEMPLO 2.3
Considere que o diagrama unifilar de um transformador com tap em fase seja o
mesmo indicado na Figura 2.8. Os valores nominais de tensão do lado das barras k
e m são 13,8 kV e 230 kV, respectivamente (tensões equivalentes a 1 pu em cada
lado do transformador). Na condição nominal, a reatância do transformador é
igual a 0,1 pu.
Determinar um modelo equivalente do transformador, em pu, para a condição de tap
em fase, no qual a = 1,10 pu.

SOLUÇÃO
EXEMPLO 2.4
Considere que seja aplicada uma tensão de 13 kV no lado de baixa tensão do
transformador descrito no exemplo 2.3. Calcule a tensão no lado de alta tensão, em kV,
bem como as correntes nos enrolamentos de baixa e alta tensão, em A. Sabe-se o
transformador tem tap apenas do lado de alta tensão (lado da barra m na Figura 2.8 e
está operando a vazio.

SOLUÇÃO
2.9
EXEMPLO 2.5
A Figura 2.10 mostra a conexão de dois circuitos fictícios que operam em paralelo,
conectados entre as barras 1 e 2. Calcule o circuito equivalente em pu desses circuitos,
entre as barras 1 e 2, sabendo-se que a base de potência é igual a 100 MVA e as bases
de tensão, no lado de alta e de baixa são iguais a 230 kV e 13,8 kV , respectivamente.
Ambas as linhas de transmissão são representadas por um modelo de linha curta, em
que R=0 e X=0,1pu, na base fornecida. Cada transformador tem potência nominal
igual a 200MVA e reatância igual a 10%. No entanto, suas relações de transformação
de tensão são13 kV /230 kV , para T1, e 13,8kV /230 kV , para T2

Figura 2.10 Interligações em paralelo – situação onde


ocorre conflito de base
SOLUÇÃO
Figura 2.11 Circuito elétrico equivalente das interligações
em paralelo
EXEMPLO 2.6
A Figura 2.12 mostra o a conexão de uma carga a um gerador, o qual está conectado à
extremidade de uma linha de transmissão. Essa linha conecta-se ao lado de baixa tensão de
um transformador, cujo lado de alta supre a carga. O transformador apresenta tap no lado de
baixa, estando esse ajustado em +1 kV acima do valor da tensão nominal do enrolamento. O
transformador tem potência nominal igual à 50 MVA, reatância igual à 5% e relação de
transformação 10 kV/100 kV. A linha de transmissão apresenta os seguintes parâmetros: tensão
nominal de 10 kV, R = 0,05 W, X = 0,1 W e carregamento de 4 MVar. A carga é composta por
uma parcela ativa de 10 MW e outra reativa de 3 MVar. Adote base de potência de 100 MVA
e de tensão igual a 10 kV no lado de baixa do transformador. Considerando que a carga está
funcionando sob tensão de 97 kV, calcule:
 a potência ativa e reativa que é entregue na barra 1 (fornecimento do gerador); em pu.
 a tensão, em kV, e a corrente que flui do gerador, em amperes, para a barra 1.

Figura 2.12 Linha e transformador atendendo a uma carga


SOLUÇÃO
tros cálculos. Por exemplo, a perda ativa na linha é R|I1|2=0,05 ×0,09382≈0,0004 pu.

O valor dessa perda somada à parte ativa da carga é igual a 0,1004 pu, que é exatamente igual à potência
gerada pelo gerador.

Figura 2.13 Circuito elétrico equivalente do sistema formado


por linha, transformador e carga
EXERCÍCIO
 Refaça o Exemplo 2.6 e o exercício anterior, considerando que o tap tenha sido
ajustado para 0,5 kV abaixo do valor nominal da tensão do enrolamento do
transformador.

Fazer em casa
2do Testinho Terça feira- 22/06/2021 Horário de Aula

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