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GAT/{CODIGO}

GRUPO DE ESTUDO DE ANÁLISE E TÉCNICAS DE SISTEMAS DE POTÊNCIA - GAT

ANÁLISE DO IMPACTO DO ANGLE DIFFERENCE CONTROL USADO EM ELOS HVDC INSERIDOS EM


SISTEMAS DE POTÊNCIA SOBRE MODOS DE OSCILAÇÃO INTER-ÁREA

THIAGO JOSE MASSERAN ANTUNES PARREIRAS (1) THOMAS MOREIRA CAMPELLO (1,2)
GLAUCO NERY TARANTO (1)
(1) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – COPPE
(2) CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA

RESUMO

Neste artigo, será realizada uma análise do impacto da utilização do Angle Difference Control (ADC) em Elos
HVDC sobre modos de oscilação eletromecânicos inter-áreas do Sistema Interligado Nacional (SIN). O ADC pode
ser utilizado em Elos HVDC inseridos, que operam em paralelo com a rede elétrica em corrente alternada, com o
objetivo de minimizar o problema dos fluxos circulantes (loop flows). Essa análise será realizada através da
identificação dos modos de oscilação de interesse e da utilização do método do lugar das raízes (root-locus),
considerando variações em parâmetros do ADC. Assim, será possível compreender o impacto do ADC sobre esses
modos de oscilação inter-área do SIN.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade a pequenos sinais; Modos de oscilação; Angle Difference Control (ADC); Elos
HVDC inseridos, Loop flow, Oscilações inter-área.

1.0 INTRODUÇÃO

O Sistema Interligado Nacional (SIN) é um sistema de potência de dimensões continentais, com a característica de
possuir os grandes centros de geração localizados distantes dos centros consumidores. Dessa maneira, a
operação do SIN é extremamente complexa e, para ser realizada de forma robusta, deve ser bem planejada.
Considerando que a demanda do SIN, geralmente, cresce ao longo do tempo, estudos de planejamento da
expansão do sistema devem ser realizados, de modo a garantir o pleno atendimento a sua demanda de energia.
Nesses estudos, a entrada em operação de diversos equipamentos pode ser recomendada, como novas linhas de
transmissão, que podem ser necessárias para escoar adequadamente a energia entre diferentes pontos da rede
elétrica.

Essas novas linhas de transmissão podem ser linhas tradicionais de corrente alternada (LTCAs) ou Elos de
corrente contínua em alta tensão (Elos HVDC). As LTCAs conduzem potência elétrica dependendo das condições
de operação do próprio sistema. Caso seja necessário controlar a potência que passa em uma LTCA, outros
equipamentos devem ser utilizados para essa finalidade. No caso dos Elos HVDC, pode-se definir a potência
elétrica que será transmitida, através da utilização de estratégias de controle adequadas para seus conversores.

Os Elos HVDC podem ser utilizados para escoamento da energia proveniente de grandes usinas geradoras ou
como linhas de interligação, controlando o fluxo de potência entre duas regiões elétricas diferentes ou o
intercâmbio de energia elétrica entre países vizinhos [1]. Devido aos seus benefícios, a utilização de Elos HVDC
tem se tornado cada vez mais comum no SIN. Alguns Elos HVDC existentes ou planejados podem possuir a
característica de reversão, ou seja, seus conversores podem operar como retificadores ou como inversores,
dependendo da direção do fluxo de potência que o sistema esteja necessitando no ponto de operação.

Além disso, esses Elos HVDC podem ser construídos de forma radial, como em Itaipú, ou estarem inseridos na
rede CA (em paralelo com uma rede de transmissão), como em Belo Monte. A operação dos Elos inseridos em
redes elétricas CA podem apresentar, como efeito adverso, os denominados fluxos circulantes (LFs, do inglês, loop
flow) [1, 2, 3]. Esses LFs surgem quando os Elos HVDC são configurados para transmitir uma potência maior do
que o sistema naturalmente transmitiria através da rede CA entre as áreas elétricas do retificador e do inversor. Ao
forçar um fluxo elevado pelo sistema CC, uma parte da energia que está sendo transmitida para a região do

masseran@poli.ufrj.br
2

inversor acaba retornando à área do retificador pelas LTCA. Isso causa uma operação não otimizada, que acaba
elevando as perdas elétricas no sistema [1, 2, 3].

Para resolver esse problema, em [1, 2], é proposto um controle adicional, que deve ser utilizado em conjunto com
os controles dos Elos, denominado de Controle de Diferença Angular (ou, do inglês, ADC, Angle Difference
Control), que visa reduzir a diferença dos ângulos das tensões das barras terminais de corrente alternada dos
conversores. Através da utilização do ADC, é possível minimizar a ocorrência dos LFs, melhorando a operação do
sistema elétrico de potência. Os autores de [1, 2] focaram na análise do comportamento geral desse controlador,
de seus benefícios e de suas desvantagens, quando aplicado a um único ou à múltiplos Elos HVDC. Entretanto,
não se focou no impacto do ADC na estabilidade a pequenos sinais de sistemas elétricos de potência e em seus
modos de oscilação inter-área.

Por isso, este informe técnico apresentará uma análise do ADC no contexto da estabilidade a pequenos sinais de
sistemas de potência. Será realizada uma avaliação do impacto da utilização desse tipo de controlador no modo de
oscilação eletromecânica entre as regiões elétricas Norte/Nordeste e Sul/Sudeste do SIN, com o objetivo de
identificar se o ADC pode contribuir para a melhoria do amortecimento desse modo ou se traria alguma
consequência negativa, diminuindo seu fator de amortecimento. As análises propostas serão realizadas através da
utilização do software PacDyn [4], desenvolvido pelo CEPEL. Primeiro, será realizada a identificação do modo de
interesse, usando as sensibilidades modais. Posteriormente, será feita uma análise pelo método do lugar das
raízes (root-locus), considerando a variação de parâmetros do ADC, para observar como esses modos se
deslocam no plano complexo. Dessa forma, será possível compreender o impacto do ADC sobre modos de
oscilação inter-área do SIN.

2.0 ELOS HVDC INSERIDOS E FLUXO CIRCULANTE

Para exemplificar o fenômeno do LF, foi utilizado um sistema didático de 4 barras e duas regiões, mostrado na
Figura 1. Para simplificar a análise, facilitando o entendimento, só serão observadas as potências ativas que estão
sendo geradas, consumidas e transferidas e as tensões e ângulos das barras do sistema. Os parâmetros das
LTCAs deste sistema são baseados em parâmetros típicos de LTCAs reais, entretanto sua resistência foi
aumentada para que a análise de perdas ficasse mais evidente. Também, a princípio, será considerado um Elo
HVDC que não possui perdas.

Na primeira região deste sistema, existe uma geração de 2000 MW e uma carga de 1000 MW, enquanto que na
segunda região existe uma geração de 1000 MW e uma carga de 2000 MW. Logo, existe uma necessidade de
exportação de potência da região 1 para a 2 de 1000 MW. Estas duas regiões são conectadas por uma LTCA em
paralelo com um Elo HVDC, ou seja, inserido na rede CA.

A barra swing deste sistema é a barra 4, pertencente a região 2. Dessa forma, qualquer variação no valor das
perdas desse sistema pode ser vista através da variação da potência ativa gerada na barra 4, no caso de existir
uma geração superior a 1000 MW.

Como foi dito, é possível configurar uma ordem de potência fixa para um Elo HVDC, de forma que se garanta uma
transferência fixa de potência por ele. Dessa forma, no cenário inicial, mostrado na Figura 1, essa ordem de
potência está configurada para transferir 500 MW pelo elo, sobrando 500 MW de potência para ser transferido da
região 1 para a 2 pela linha CA. Nessa configuração observa-se uma perda de 96.8 MW.

Região 1 Região 2

Figura 1 – Ilustração de um Elo HVDC inserido.


3

A seguir, simulou-se um segundo cenário, mostrado na Figura 2, onde a ordem de potência é incrementada para
1000 MW. Observa-se que toda a potência exportada da região 2 está sendo transferida pelo elo HVDC, reduzindo
as perdas CA à zero. Nesse cenário observa-se que os ângulos entre as barras terminais do elo são
aproximadamente iguais.

Figura 2 – Ilustração do cenário onde toda a potência transferida está sendo passada pelo Elo HVDC.

Por fim, na Figura 3 é mostrado um terceiro cenário onde a ordem de potência do Elo HVDC foi alterada para 1500
MW. Observa-se que neste cenário o Elo está transferindo uma potência da região 1 para a 2 superior ao que é
requerido pelo balanço de geração e carga do sistema. Devido a isso, a região 2 retorna o excedente de 500 MW
para a região 1 via LTCA, criando um fluxo de potência circulante. Nesse caso, inclusive a perda do sistema é de
149.7 MW, maior do que no cenário inicial.

Figura 3 – Ilustração da ocorrência de fluxo de potência circulante.

Por mais que este caso didático possa parecer simples, ele ajuda a ilustrar um problema que começa a surgir no
SIN quando se inclui Elos HVDC inseridos, principalmente quando se passa a ter uma parcela significativa de
geração intermitente. No caso didático mostrado, foi variado a ordem de potência do Elo, entretanto na prática o
que acontece é uma variação da potência gerada, principalmente nos parques eólicos e solares, como é
evidenciado em [4], onde é relatado um caso real ocorrido no SIN, onde uma grande quantidade de geração eólica
(3000 MW) diminuiu em aproximadamente 5 horas, levando ao surgimento do LF e ao desligamento do elo Xingu-
Estreito.

Na Figura 2, quando se considera uma ordem de potência que tende a zerar o fluxo de potência na LTCA, observa-
se que os ângulos das barras terminais do Elo HVDC são aproximadamente iguais. É neste ponto em que o ADC,
proposto em [2, 3] e revisado na Seção 3.0 deste Informe Técnico tenta agir. Entretanto, como foi evidenciado em
[3], uma desvantagem deste controle é que ele não considera as perdas do sistema CC. As perdas nos Elos
HVDCs aumentam com o aumento da potência que está passando pelo Elo, assim, entre os cenários mostrados na
Figura 1 e na Figura 2, além da redução das perdas CA também tem um aumento da perda CC que deve ser
considerada numa análise final para se concluir que de fato aquela ordem de potência reduz as perdas totais do
sistema. Em [2], essa questão é analisada considerando o ADC em apenas um Elo e observou-se que o
incremento das perdas CC não é significativo quando comparado com a redução das perdas CA, entretanto, em
4

[3], que o ADC é aplicado à múltiplos elos do SIN, as perdas CC passam a se tornar significativas, mostrando que
o ADC, neste cenário, não levava à um ponto de operação ótimo.

3.0 CONTROLE DE DIFERENÇA ANGULAR

O problema do fluxo circulante gera perdas adicionais ao sistema de potência, fazendo com que esse sistema
opere fora de condições otimizadas. Esse problema pode ser minimizado com a utilização do ADC em Elos HVDC,
ajustando-se a potência elétrica transmitida através desse sistema de transmissão, de tal maneira que passe pelo
Elo apenas a potência que o sistema necessita que passe.

O ADC compara os ângulos das tensões das barras CA do retificador e do inversor do Elo onde ele está
conectado, gerando um sinal de controle adicional ao seu controle de potência, que visa minimizar essa diferença
angular, mitigando-se o problema do fluxo circulante.

O diagrama de blocos do ADC pode ser visualizado na Figura 4. O ADC é composto por um bloco Proporcional-
Integral (PI) adotado para melhorar a resposta em regime permanente e um bloco de atraso adotado para melhorar
a resposta transitória a defeitos no sistema. Os parâmetros dos blocos PI e de atraso originais, propostos em [1, 2],
são apresentados na Tabela I, e foram adotados neste informe técnico.

Tabela I – Parâmetros usados no ADC original.

Figura 4 – Diagrama de blocos simplificado do ADC.

No diagrama de blocos do ADC mostrado na Figura 4, ∆θ é a diferença dos ângulos do retificador e do inversor e
PADC é o sinal adicional de saída do ADC que é utilizado no controle do Elo HVDC onde o ADC está instalado,
visando um ajuste no controle de potência.

4.0 SIMULAÇÕES E RESULTADOS

Para entender os impactos do ADC sobre os fatores de amortecimento de modos eletromecânicos inter-áreas do
SIN, foi utilizado um caso do sistema elétrico brasileiro proveniente da base de dados da EPE, referente ao PDE
2029 [5], onde foi incluído um ADC no Elo HVDC inserido entre as barras Graça Aranha e Silvânia. Esse ADC tinha
o objetivo de auxiliar na regulação de potência transmitida por esse elo inserido para minimização do problema de
fluxo circulante que pode acontecer na região onde esse sistema de transmissão está localizado.

Foi, então, realizada a análise do impacto do ADC do Elo HVDC Graça Aranha – Silvânia sobre o modo de
oscilação eletromecânica entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste do SIN. A avaliação foi feita através das
seguintes etapas: cálculo de modos de oscilação via método QR [6, 7]; identificação do modo de oscilação
eletromecânica Norte/Nordeste – Sul/Sudeste; identificação da máquina de maior resíduo relacionado ao modo de
interesse para uso em cálculo de polos via Sequential Dominant Pole Algorithm (SDPA) [8], visando o rastreamento
desse modo; execução do cálculo de root-locus para avaliação da movimentação do modo de interesse no plano
complexo, considerando um aumento nos valores dos ganhos proporcional e integral utilizados no ADC.

4.1 Identificação do Modo de Oscilação Norte/Nordeste – Sul/Sudeste

A primeira etapa da análise consistiu na determinação do modo de oscilação eletromecânico Norte/Nordeste –


Sul/Sudeste, através do método QR, onde o modo de oscilação −0,3374 + 𝑗3,5776 (0,57 Hz) com fator de
amortecimento de 9,39 % foi obtido. Uma vez encontrado um modo candidato a ser aquele que representa as
oscilações de interesse, é necessário identificar se o modo é eletromecânico (o que é realizado pelo cálculo dos
fatores de participação desse modo) e se ele representa uma oscilação entre as áreas de interesse, isto é, entre as
áreas Norte e Sul (o que é realizado pelo cálculo dos mode shapes de velocidade do rotor).

Os fatores de participação do modo em análise são apresentados na Figura 5, onde é possível notar que a
velocidade do rotor de uma das máquinas da usina de Belo Monte apresenta o maior fator de participação para o
aparecimento desse modo no SIN, indicando que esse modo é, de fato, eletromecânico.
5
-0,3374 +J3,5776

1,

0,
Figura 5 – Fatores de Participação do Modo de Oscilação −0,3374 + 𝑗3,5776.

Em seguida, foram calculados os mode shapes do modo em análise, que são apresentados na Figura 6, onde é
possível notar que as máquinas das regiões Norte e Nordeste oscilam de maneira coerente entre si e contra as
máquinas das regiões Sul e Sudeste, indicando que esse modo representa uma oscilação Norte – Sul.

+J3,5776

ONTE OUTRAS EMPRESAS DE GERACAO SUL


Usinas do Sul
COPEL - D
Usinas do Norte
NORTE GERASUL
SUL 230KV - SUL CEEE
0 1
Usinas do Sudeste CHESF - SISTEMA CENTRO
CHESF - SISTEMA
Usinas doOESTE
Nordeste
A NORTE-SUL
Figura 6 – Mode Shape do Modo Eletromecânico
CHESF - SISTEMA−0,3374LESTE
+ 𝑗3,5776.

Depois, foram calculados os resíduos das máquinas síncronas do SIN relacionados ao modo
−0,3374 + 𝑗3,5776 , utilizando as funções de transferência (FTs) que possuem os sinais de referência dos
reguladores de tensão das máquinas como variáveis de entrada (VREF) e possuem as velocidades dos rotores das
máquinas como variáveis de saída (WW).

O objetivo do cálculo desses resíduos foi a identificação da melhor máquina cuja função de transferência seria
utilizada no método do cálculo parcial de polos SDPA, que será utilizado no cálculo do root-locus, com o intuito de
se manter o rastreamento do modo de oscilação eletromecânico Norte-Sul, que é o modo de interesse.

O resultado do cálculo dos resíduos pode ser observado na Figura 7, onde é possível notar que a usina de Tucuruí
possui o maior resíduo relacionado ao modo Norte/Nordeste – Sul/Sudeste dentre as máquinas síncronas que
estão em operação no cenário em análise do Sistema Interligado Nacional.
6

4 +J3,5776

GR#19536
UI6-3GR# 10
71 10 Tucurui CURUAUN1-2GR#19535
BMONTE1--7GR# 104941 30 PIMENTL1-3GR#
Marmelei-2CS#
195 20
8773 10
(Barra 71, Grupo 10)
R#
GR#3586
89751010 PIRAJU---1GR#
CNOVOS---2GR#
4494 10 7301 10 JUPIA----2GR#
ANGRA-2--1GR#
2042 10 3582 1
GR#19535
0-6GR# 3584
20 10 PARAIBUN-1GR#
TUCURUI1-3GR#
2058 10 50 10 JUPIA----2GR#
MAUA3-V--1GR#10503
2042 20
UI5-2GR#
R# 4393 2070 10 CSA-G1---2GR#
GNBraga--3GR#
4540 107195 10 AMANDIBI-1GR#42596
BGRANDE--3GR# 107303
0 1
E1--7GR#
R# 4392 20
4941 20 CSA-G1---2GR#
MAUA3-G--1GR#10501
4540 20 10 T.MARIAS-1GR#
FCHAPECO-3GR#
1446 10 7305
E---2CS#
# 8955 10 898 10 JUPIA138-1GR#
TUCURUI3-2GR#
2043 10 54 10 CANOAS-1-2GR#
14JULHO--2GR#
3021 10
7313 1
GR#19537
E1--7GR# 10
4941 10 PIMENTL1-3GR#
GJRicha--3GR#
195 30
7190 10 MESQUITA-1CS#
Itauba---1GR#
46649141
10 10
GR#
-20GR#
87352041
10 10 PIMENTL1-3GR#
GBMunhoz-2GR#
195 10 6979 10 CAARAPO--1GR#40618
ESTREITO-4GR# 1080 1
Figura 7 – Resíduos do Modo Eletromecânico −0,3374 + 𝑗3,5776.

Em razão do resultado do cálculo dos resíduos mostrados na Figura 7, que mostram um maior resíduo para a
máquina de Tucuruí (Barra 71, Grupo 10), esta máquina será escolhida para a formação da função de transferência
que será utilizada no cálculo do root-locus, através do método SDPA.

4.2 Execução do Root-Locus e Avaliação do Deslocamento do Modo de Interesse

Agora, executa-se o cálculo do root-locus, variando-se os ganhos proporcional (K P ) e integral (K i = 1⁄Ti ) do


Controle de Diferença Angular utilizado no Elo HVDC Graça Aranha – Silvânia. Os valores originais desses
parâmetros do ADC são: K P = 0,5 e K i = 0,4. O ganho proporcional desse controlador será variado do valor 0 até
100,0, enquanto o seu ganho integral será variado do valor 0 até 80,0. Isso representa uma variação máxima para
esses ganhos que chega a duzentas vezes os valores originais desses parâmetros.

O resultado obtido no root-locus pode ser observado na Figura 8, onde é possível notar que o modo da interligação
Norte/Nordeste – Sul/Sudeste se movimenta, majoritariamente, em direção ao lado direito do plano complexo
(movimento indicado pelas setas vermelhas), representando uma tendência de diminuição de seu fator de
amortecimento, com o aumento dos valores dos ganhos K P e K i do ADC, até atingir uma posição de amortecimento
mínimo, quando o modo retorna levemente em direção ao lado esquerdo. Entretanto, essa movimentação
visualizada no root-locus é razoavelmente pequena, uma vez que a variação dos ganhos foi exagerada, o que
+VREF 71 10 | +WW 71 10 - P01=100 P02=80 P03=100 P04=80
significa que esse controle tem um impacto relativamente baixo no deslocamento desse modo no plano complexo.

+VREF 71 10 | +WW 71 10 - P01=100 P02=80 P03=100 P04=80


6 3,82203
5%
10%

3,49061
15% -0,342035 -0,250674

20%

0
-0,5 0
Figura 8 – Resultado do cálculo de root-locus com variação de K P e K i do ADC (e zoom).

A Tabela 2 mostra um resumo dos resultados do root-locus, apresentando os valores do modo de oscilação de
interesse para quatro situações de valores de K P e K i distintas: ambos os ganhos zerados (Situação 1), com os
valores originais (Situação 2), com os valores que levaram ao fator de amortecimento mínimo (Situação 3) e com
os maiores valores de ganhos dentro da faixa de variação que foi testada (Situação 4).
7

Esse resumo mostra que o modo varia relativamente pouco, considerando a variação exagerada dos parâmetros
do ADC, que chegam a valores máximos de duzentas vezes seus valores originais.

Tabela 2 – Resumo dos resultados obtidos no cálculo do root-locus.


Caso Parâmetros Modo de Oscilação Fator de Amortecimento
Situação 1 KP = 0 e Ki = 0 −0,3398 + 𝑗3,5768 9,46 %
Situação 2 K P = 0,5 e K i = 0,4 −0,3374 + 𝑗3,5776 9,39 %
Situação 3 K P = 52,53 e K i = 42,02 −0,2534 + 𝑗3,7085 6,83 %
Situação 4 K P = 100,0 e K i = 80,0 −0,2628 + 𝑗3,7498 6,99 %

Analisando os resultados do root-locus, nota-se que o modo de oscilação de interesse se moveu relativamente
pouco no plano complexo, mesmo com um aumento exagerado nos valores dos ganhos K P e K i . Isso significa que
o ADC, apesar de apresentar, inicialmente, um impacto negativo no amortecimento do modo inter-área Norte – Sul,
não possui uma influência consideravelmente alta no posicionamento desse modo no plano complexo. O ADC
causa um deslocamento do modo no plano complexo, mas relativamente baixo, considerando valores mais
razoáveis para os parâmetros desse controlador. Essa é uma excelente informação, pois o ADC traz um grande
benefício ao sistema, minimizando condições de fluxo circulante e não apresenta um efeito colateral grave no fator
de amortecimento de modos inter-área importantes, como o modo eletromecânico Norte-Sul.

4.3 Comparação do Amortecimento da Oscilação via Simulação no Domínio do Tempo

Realizou-se uma simulação de uma perturbação do tipo degrau de 0,01 pu nos sinais de referência dos
reguladores de tensão (RTs) das usinas Tucuruí e Itaipu, e observou-se o comportamento do fluxo de potência
ativa em uma linha de transmissão CA de 500 kV entre as barras de Silvânia (GO, Barra 14921) e de
Itumbiara (MG, Barra 3860). O resultado dessa simulação no domínio do tempo, considerando as situações da
Tabela 2, é apresentado na Figura 9.

Figura 9 – Comparação das respostas no tempo, com os parâmetros originais e máximos do ADC.

Os resultados obtidos através das simulações no domínio no tempo trazem informações bastante importantes e
interessantes. A Figura 9 mostra que, com os ganhos maiores, o sistema se comportou de forma instável. Isso
significa que, apesar do ADC não ter um impacto considerável no fator de amortecimento do modo eletromecânico
Norte/Nordeste – Sul/Sudeste do SIN, eles possuem uma grande influência sobre outros modos do sistema, como
modos associados ao controle dos Elos HVDC onde eles estão instalados. Portanto, é necessário ter cuidado na
definição dos valores dos parâmetros do ADC, pois alguns modos de oscilação sofrem um impacto considerável
desse controle. Cumpre notar, que os resultados obtidos com os parâmetros originais (valores sugeridos), com os
parâmetros que geraram o amortecimento mínimo para o modo de interesse (situação de inflexão no root-locus) e
com parâmetros zerados (situação que representa o desligamento do ADC) foram estáveis. Uma análise mais
aprofundada deste fenômeno de instabilidade será fruto de desenvolvimentos futuros.
8

5.0 CONCLUSÕES

Neste trabalho, foi realizada uma análise do impacto do ADC utilizado em Elos HVDC, para minimizar problemas
de fluxos circulantes, sobre modos de oscilação inter-áreas. Em específico, foi feita uma análise do impacto de um
ADC utilizado no Elo HVDC Graça Aranha – Silvânia sobre o modo de oscilação entre as áreas elétricas
Norte/Nordeste e Sul/Sudeste do Sistema Interligado Nacional. Para isso, utilizando-se a base de dados do PDE
2029,
determinou-se o modo eletromecânico que representava a oscilação de interesse (entre as áreas Norte e Sul).
Para isso, os modos de oscilação do SIN foram calculados através do método QR e foram utilizadas sensibilidades
modais para identificar o modo eletromecânico de interesse, bem como a máquina mais adequada para se utilizar
no cálculo do root-locus, via SDPA.

Analisando os resultados obtidos pelo cálculo do root-locus, foi possível notar que o ADC tem uma influência
relativamente baixa no posicionamento do modo eletromecânico Norte-Sul no plano complexo. Um aumento
exagerado nos valores dos ganhos K P e K i desse controlador ocasiona, de fato, uma diminuição no fator de
amortecimento do modo de oscilação Norte/Nordeste – Sul/Sudeste. Entretanto, para valores razoáveis dos
parâmetros analisados, esse impacto do ADC sobre o modo de interesse não é tão considerável. Para confirmar
esse baixo impacto do ADC no modo Norte-Sul, foram realizadas simulações no domínio do tempo, considerando
quatro situações distintas de valores para os parâmetros do ADC.

Os resultados obtidos nas respostas no tempo permitem dizer que, de fato, o ADC não possui uma influência
considerável no modo de oscilação Norte-Sul do Sistema Interligado Nacional. Porém, o resultado obtido na
simulação que considerava os valores máximos utilizados no root-locus para os parâmetros do ADC foi instável.
Isso ocorreu pelo fato de que esse controle tem grande impacto em outros modos de oscilação do sistema, como
modos relacionados aos controles dos Elos HVDC onde estão instalados.

Por essa razão, é importantíssimo que se tenha cautela na definição dos valores dos parâmetros que serão
utilizados no ADC de Elos HVDC inseridos, pois, dependendo dos valores dos parâmetros K P e K i , alguns modos
do sistema podem se deslocar para o lado direito do plano complexo, apresentando valores de fator de
amortecimento negativos e, consequentemente, instabilizando o sistema de potência. Entretanto, utilizando valores
razoáveis para esses parâmetros do ADC (como os valores originais), o SIN se comporta de maneira estável.

6.0 REFERÊNCIAS

[1] G. N. Taranto, C. E. Pontes, T. M. Campello, V. A. Almeida, J. Graham, P. C. Esmeraldo and M. Schicong,


"Power flow control for an embedded HVDC link to integrate renewable energy in Brazil," Electric Power
Systems Research, vol. 211, p. 108504, 2022.
[2] G. N. Taranto, C. E. Pontes, T. M. Campello, V. A. Almeida, J. Graham, P. C. Esmeraldo e M. Schicong,
“Controle de Potência em Elos CCAT Inseridos no Sistema Elétrico para Integração da Energia Renovável no
Brasil,” em XV SEPOPE – Simpósio de Especialistas em Planejamento da Operação e Expansão Elétrica, Foz
do Iguaçu, 2022.
[3] R. Zymler, A. M. Silva, M. A. N. Silveira, P. S. Neves, L. F. F. M. Silva, A. R. Nunes, M. F. Silva e A. M. Cunha,
“lanejamento da Operação da Interligação Norte-Sudeste com os Elos CCAT Xingu - Estreito e Xingu - Terminal
Rio,” em XXV SNPTEE – Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Belo Horizonte,
2019.
[4] CEPEL, “PacDyn – Programa de Análise Linear e Controle do Amortecimento de Oscilações em Sistemas de
Potência – Versão 9.9.16 – Manual de Usuário,” Rio de Janeiro, 2021.
[5] EPE, “PDE 2023 – Plano Decenal de Expansão de Energia 2029,” Rio de Janeiro, 2019.
[6] J. G. Francis, "The QR Transformation a Unitary Analogue to the LR Transformation - Part 1," The Computer
Journal, vol. 4, no. 3, pp. 265-271, 1961.
[7] J. G. Francis, "The QR Transformation - Part 2," The Computer Journal, vol. 4, no. 4, pp. 332-345, 1962.
[8] S. Gomes, N. Martins and C. Portela, "Sequential Computation of Transfer Function Dominant Poles of s-
Domain System Models," IEEE Transactions on Power Systems, vol. 24, no. 2, pp. 776-784, 2009.
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DADOS BIOGRÁFICOS

(1) THIAGO JOSE MASSERAN A. PARREIRAS


Thiago J. Masseran A. Parreiras possui graduação (2009), mestrado (2012) e doutorado
(2017) em engenharia elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2011,
ele foi analista na ELETROBRAS. De 2011 a 2014, ele foi analista na EPE. De 2014 a 2021,
ele foi pesquisador no CEPEL. Desde 2021, ele é professor da UFRJ. Ele tem experiência na
área de engenharia elétrica, com ênfase em sistemas elétricos de potência, atuando
principalmente nos seguintes temas: modelagem de equipamentos, transitórios
eletromagnéticos, transitórios eletromecânicos, sistemas de controle, análise modal, métodos
computacionais e redes elétricas inteligentes.

(2) THOMAS MOREIRA CAMPELLO


Thomas Moreira Campello possui graduação (2016) e mestrado (2018) em Engenharia Elétrica com ênfase em
Sistemas de Potência pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(COPPE/UFRJ), respectivamente. Atualmente é doutorando pela COPPE/UFRJ na mesma área. Outrossim, figura
como pesquisador no Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CEPEL), onde atua na equipe de desenvolvimento
do programa HarmZs para estudos de comportamento harmônico e análise modal de redes elétricas, largamente
utilizado no setor elétrico brasileiro e no projeto ModPol, que tem o objetivo de modernização dos programas
computacionais de planejamento e operação elétricos.

(3) GLAUCO NERY TARANTO


Glauco N. Taranto obteve o título de Engenheiro Eletricista na UERJ em 1988, mestrado na PUC/RJ em 1991 e o
doutorado pelo Rensselaer Polytechnic Institute, EUA (1994). Em 2006 foi pesquisador visitante no Centro
Elettrotecnico Sperimentale Italiano, Milão, Itália. Dr. Taranto é Professor Titular da COPPE/Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Foi presidente do Subcomitê de Estabilidade de Sistemas de Potência do Comitê Técnico de
Desempenho Dinâmico do IEEE Power & Energy Society e é presidente da Força-Tarefa sobre “Integrating relay
models with RMS dynamic simulation”. Foi editor do IEEE Transactions on Power Systems (2016-2020).

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