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CARACTERÍSTICAS DE SISTEMAS
ELÉTRICOS DE POTÊNCIA
Para estar disponível aos consumidores, é necessário que a energia elétrica seja gerada,
transmitida e distribuída a cada um desses consumidores e, para tanto, são necessárias
usinas, subestações, linhas de transmissão e redes de distribuição, que constituem um
sistema elétrico de potência (SEP).

2.1 COMPONENTES DOS SEP


As instalações citadas, por sua vez, são constituídas por equipamentos dos mais diversos
tipos, tais como: chaves, disjuntores, relés, para-raios, transformadores, geradores, cabos,
que são conectados uns aos outros de modo a possibilitar uma forma adequada de operar
e proteger o sistema.

Normalmente, para efeito de análise e estudos, os SEP são subdivididos em três grandes
blocos: geração, transmissão e distribuição. Cada uma dessas partes, por sua vez,
pode ser constituída por diferentes tipos de componentes, dependendo da região, da
disponibilidade de fonte de energia e da tecnologia utilizada.

Assim, considerando-se cada uma dessas subdivisões, tem-se:


a) na geração:
–– usinas: elevadoras, da tensão de geração para a de transmissão;
–– hidráulicas: convencionais ou reversíveis (bombeamento);
–– térmicas: a óleo, carvão, gás, atômicas;
–– fontes alternativas: eólicas, solares, células de combustível;
b) na transmissão:
–– linhas de transmissão:
–– aéreas ou subterrâneas;
–– de corrente alternada alta tensão (AT), extra-alta tensão (EAT), ultra-alta tensão
(UAT);
–– de corrente contínua;
–– subestações de:
–– transmissão (com transformador interligador de tensões de transmissão);
–– chaves (apenas conexão de linhas);
–– distribuição (com transformador abaixador para tensão de distribuição);

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c) na distribuição:
–– redes de distribuição:
–– aéreas ou subterrâneas;
–– alta tensão radial ou em anel;
–– subestações:
–– distribuição, com transformação de AT para média tensão (MT) ou baixa tensão
(BT).
Em cada uma destas instalações, são necessários vários equipamentos específicos
e todo o conjunto devidamente coordenado e os equipamentos especificados para
operar continuamente, tanto em condição normal de operação como em condições de
emergência.

2.2 EQUIPAMENTOS DOS SEP


Os componentes dos SEP são formados por diversos equipamentos que possibilitem
a operação do sistema levando a energia desde a geração até o consumidor, tanto em
condições normais como em condições de emergência, mantendo a frequência e a tensão
nominais com variação dentro de uma faixa estabelecida.

As características (elétricas, mecânicas e dimensionais) dos equipamentos devem ser


definidas tendo em vista todo o conjunto e todas as funções e requisitos necessários,
como: frequência, níveis de tensão (normais e sobretensões atmosféricas e de manobra),
correntes (de carga e de curto-circuito), esforços mecânicos, proteção e controle.

A definição das características dos equipamentos deve ser feita visando a maior
confiabilidade com:
a) o melhor desempenho;
b) a maior eficiência;
c) a menor manutenção;
d) a maior vida útil;
e) a maior relação benefício-custo.
E considerando:
a) nível de carga a suprir e a geração necessária: a curto, médio e longo prazos;
b) capacidade (potência) de equipamentos: com pouca diversidade;
c) níveis de tensões de transmissão, subtransmissão e distribuição: não muito próximos;
d) faixa de variação de tensão de operação: reduzida;
e) tipo de aterramento: para otimizar a proteção;

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f) sistema de proteção: eficiente e rápido para minimizar os impactos sobre o sistema;
g) níveis e coordenação de isolamento: para minimizar o custo dos equipamentos.
Isso tudo de forma a minimizar custos, facilitar a operação, a manutenção e a estocagem
de equipamentos de reserva.

O Anexo A apresenta as características técnicas dos equipamentos e de um SEP real.

2.3 CONFIGURAÇÃO / TOPOLOGIA DOS SEP


De pequenas usinas suprindo indústrias ou localidades próximas, o crescimento da
utilização da energia elétrica levou a grandes usinas e suprindo diversos e distantes centros
de consumo, exigindo, assim, cada vez mais longas e numerosas linhas de transmissão e
subestações interligadoras e distribuidoras que formam os SEP.

A evolução dos sistemas, com o crescimento das cargas e das usinas, levou à conexão das
usinas com os diversos centros consumidores, formando circuitos elétricos em malhas
com apenas algumas cargas mais distantes ou de menor importância sendo supridas
radialmente.

A característica de sistema de transmissão em malha possibilita melhores condições de


operação e maior confiabilidade de suprimento às cargas.

Para apresentar a topologia do sistema e as conexões entre os vários equipamentos são


utilizados diagramas unifilares – pois os SEP são simétricos e equilibrados – utilizando-se
símbolos gráficos que são apresentados no Apêndice A – Símbolos e unidades. Podem
ser utilizados diagramas esquemáticos (Figura 2.1) ou eletrogeográficos (Figura 2.2) que
indicam a posição geográfica aproximada de usinas, subestações e linhas de transmissão.

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Figura 2.1 – Diagrama esquemático de um SEP

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Figura 2.2 – Diagrama eletrogeográfico de um SEP Sistema de 500 kV e 750 kV da Região Sul do Brasil
Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico (2018).

Os diagramas esquemáticos ou eletrogeográficos são utilizados também para a


apresentação dos dados elétricos dos equipamentos que serão utilizados nos estudos e
simulações do sistema (Figura 2.3) e ainda para a apresentação dos resultados de uma
condição de operação do sistema (Figura 2.4).

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Figura 2.3 – Diagrama com dados elétricos de um SEP

Figura 2.4 – Diagrama com a condição de operação normal de um SEP

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2.4 GERAÇÃO DOS SEP
Para possibilitar o adequado suprimento aos consumidores, é necessário que o sistema
elétrico esteja funcionando em regime permanente e em equilíbrio devendo, a cada
instante, haver tanta potência sendo gerada nas usinas quanto for a potência sendo
solicitada pelos consumidores mais as perdas que existirem em todo o sistema de
transmissão, subtransmissão e distribuição, ou seja:

(2.1)

A energia elétrica é gerada em usinas de diversos tipos – hidrelétricas, termelétricas


(carvão, óleo, gás, biomassa), nucleares, eólicas, solares – e de diversos tamanhos – grande,
médio e pequeno porte e em diferentes pontos do território onde estão os consumidores
(cargas) a serem atendidos.

O desenvolvimento de células fotovoltaicas possibilita a instalação de microusinas solares


nos telhados e pátios de construções, sendo estas microusinas ligadas diretamente às
redes de distribuição, constituindo o que se denomina de geração distribuída.

Para atender as cargas, as usinas deverão gerar a potência requerida instante a instante e a
energia total consumida (integração da potência da curva de carga com o tempo ao longo
do período considerado). Assim, um conjunto de usinas, de diferentes tipos, tamanhos e
fatores de capacidade deve ser operado permanentemente para atender as cargas com
uma curva de carga que determina um fator de carga do sistema.

A operação de todas as usinas necessárias para atender as cargas é feita pelo Operador
Nacional do Sistema Elétrico e constitui o despacho de carga que determina quais
usinas devem operar, em qual horário e período, sendo as hidrelétricas em função da
disponibilidade de água nos reservatórios e afluência dos rios e as termelétricas em
função da necessidade de potência e energia em função do custo de operação (do
combustível). Há ainda a considerar as usinas eólicas e as solares, cuja geração e despacho
são função das condições climáticas, e da disponibilidade de vento e sol, devendo ser
usadas independentemente da solicitação da carga.
O despacho de carga deve, ainda, considerar a condição de operação do sistema de
transmissão, em termos da capacidade das linhas de transmissão e dos transformadores,
para todos os valores de potência da curva de carga.

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2.5 SISTEMA DE TRANSMISSÃO DOS SEP
O sistema de transmissão, de subtransmissão e as redes de distribuição levam a energia
gerada pelas usinas conectadas em diferentes pontos do sistema até as cargas conectadas
em outros pontos.

Como sistema de transmissão, considera-se o que no Brasil se denomina de Rede Básica,


constituída por linhas de transmissão aéreas de 230 kV e acima, até 750 kV, de corrente
alternada e de até 800 kV, de corrente contínua. Esta rede de alta e extra-alta tensão (AT
e EAT), ou sistema de transmissão, é em malha, onde cada usina ou subestação é ligada a
uma ou mais subestações e usinas e tendo, em algumas partes, eventuais linhas radiais.

A distribuição é constituída por linhas nas tensões de 138 kV e 34,5 kV que saem das
subestações da Rede Básica e conectam as subestações de carga, das quais saem as redes
de distribuição urbanas com tensão de 13,8 kV. A rede de distribuição é geralmente em
grande parte em malha, porém, comumente tem maior número de linhas radiais.
As redes em malha possibilitam melhores condições de operação e maior confiabilidade de
atendimento às cargas, porém com maiores custos (investimento) quanto mais malhado
for o sistema, em relação a sistemas constituídos de grande número de linhas radiais.

As linhas de transmissão e distribuição no Brasil são, na quase totalidade, aéreas, com


grandes torres de aço treliçado e que utilizam largas faixas de passagem (ou faixa de
domínio). As linhas de transmissão conectam as usinas às subestações de transmissão,
localizadas em torno das grandes concentrações urbanas, das quais saem linhas de
subtransmissão que se conectam às subestações urbanas de distribuição ou a subestações
de distribuição de localidades próximas. Em casos especiais são necessárias linhas de
transmissão subterrâneas construídas com cabos isolados, normalmente curtas e de AT
ou EAT, na saída de usinas ou em áreas urbanas.
As linhas de distribuição são comumente aéreas e com características semelhantes às
de linhas de transmissão, porém, quando adentram áreas urbanas, têm características
especiais, denominadas linhas urbanas, sendo mais compactas e utilizando estreitas faixas
de passagem ou mesmo utilizando as calçadas e sem faixa de passagem. Há situações em
que, em áreas urbanas, mesmo as linhas urbanas não podem ser utilizadas, sendo então
necessárias linhas subterrâneas nas quais se empregam cabos isolados para altas tensões
(138 kV, 230 kV).

Tanto na transmissão como na subtransmissão, a tensão e os cabos das linhas são determinados
em função da potência a ser transmitida e do comprimento da linha, por meio de estudos de
fluxo de potência no planejamento do sistema de transmissão a longo prazo.

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A curva potência x comprimento de uma linha de transmissão, considerando tensão
nominal, bitola dos cabos, a queda de tensão e o fator de potência, possibilita determinar
a potência máxima que pode ser transmitida, como mostrado na Figura 2.5.

Figura 2.5 – Capacidade de transmissão x comprimento de linha de transmissão para


condições de comprimento e bitola de cabos típicos para a tensão, queda de tensão
de 4%, fator de potência 0,97 indutivo

Subestações são necessárias para interligar as diversas usinas, linhas de transmissão,


subtransmissão e redes de distribuição e nestas são necessários equipamentos de
conexão, chaveamento, proteção e transformação de tensões.

Nas usinas têm-se subestações elevadoras da tensão de geração para tensões de


transmissão e, nas subestações interligadoras tem-se a transformação para tensões
mais altas ou mais baixas que permitam a conexão a outras subestações do sistema e a
subestações de distribuição.

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A configuração de barra e de conexão possibilita diversos tipos de subestações designadas
pelo número de barras: barra simples, barra dupla, barra em anel, barra disjuntor e meio
como mostrado na Figura 2.6.

Figura 2.6 – Tipos de subestação


Nota: (a) barra simples; (b) barra principal e transferência; (c) barra disjuntor e meio.

A configuração de barra adotada em uma subestação é função da carga atendida, de sua


importância no sistema e da confiabilidade necessária.
A capacidade de transformação das subestações é função da posição no sistema e da
necessidade de potência para atendimento à carga, utilizando transformadores trifásicos
ou transformadores monofásicos formando bancos de transformadores. Normalmente
se utilizam dois ou três bancos de transformadores monofásicos nas subestações
interligadoras de tensão de transmissão e dois ou três transformadores trifásicos em
subestações de distribuição.
As subestações elevadoras de usinas e as grandes subestações de interligação de tensão
de transmissão e de distribuição são aéreas. Devido às condições de espaço nas usinas, são
também utilizadas subestações blindadas que utilizam isolamento a SF6. Também no caso
de subestações urbanas são muito utilizadas subestações blindadas que utilizam isolamento
a SF6 devido ao pequeno espaço utilizado e pela maior confiabilidade na operação.

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2.6 REDE DE DISTRIBUIÇÃO DOS SEP
As redes de distribuição são constituídas por linhas aéreas nas tensões de 13,8 kV
e 34,5 kV, denominados alimentadores, com transformadores de distribuição que
abaixam a alta tensão dos alimentadores para a baixa tensão de uso do consumidor
em 220 V ou 127 V.
Os alimentadores são trifásicos tanto na parte principal (tronco do alimentador) como nas
ramificações, porém, em locais com cargas pequenas as ramificações podem ser monofásicas
e com cabo de menor bitola.
Os transformadores de distribuição são trifásicos, normalmente, mas podem ser utilizados
bancos de transformadores monofásicos.
As redes de distribuição utilizam alimentadores radiais, com chaves seccionadoras em
pontos intermediários, e com interligação entre eles por meio de conexão geralmente
através de chave no final dos alimentadores, porém, operando com a chave aberta. As
chaves intermediárias e a conexão no final do alimentador permitem transferência de cargas
de um alimentador para outro quando de falhas nos alimentadores, possibilitando isolar a
parte com falha.
Para maior confiabilidade no atendimento às cargas, são utilizados alimentadores em anel,
com disjuntores em pontos intermediários (ao invés de chaves) de forma que qualquer falha
é isolada por meio da abertura automática dos disjuntores nos extremos da parte afetada.
Para melhorar o desempenho das redes de distribuição aéreas e evitar desligamentos quando
de ventanias e tempestades, são utilizados cabos semi-isolados em redes compactas, que
evitam o contato de galhos de árvores.
Em regiões urbanas com alta densidade de carga, e nas partes centrais das cidades,
são utilizadas redes de distribuição subterrâneas, com cabos de alta tensão isolados e
transformadores com características especiais e abrigados em vaults subterrâneos. As redes
de distribuição subterrâneas têm maior confiabilidade do que as redes aéreas e melhor
estética, porém, com custos 10 a 20 vezes maiores do que as redes aéreas.

2.7 CARGA DOS SEP


Com a crescente utilização da energia elétrica por todos os setores da sociedade
(residencial, comercial, industrial, rural, poderes públicos e transportes), passou a haver
uma dependência cada vez maior dos serviços de energia elétrica por parte de todos,
de tal modo que um colapso do sistema poderá levar parte, ou todo um país, ao caos (a
exemplo dos colapsos ocorridos nos Estados Unidos em 1975 e 1979, na França em 1978
e no Sudeste do Brasil em 1985).

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Suprir adequadamente os consumidores significa fornecer, nos terminais de entrada, a
cada instante, a potência solicitada por seus equipamentos com qualidade, ou seja, supri-
los continuamente com frequência, corrente e tensão senoidal dentro de limites pré-
estabelecidos em torno do valor nominal.

É importante, pois, que os SEP sejam planejados e operados corretamente, a fim de


possibilitar um suprimento adequado aos consumidores, tanto no tocante à amplitude e
forma de onda de tensão e corrente como de continuidade.

A potência elétrica a ser suprida aos consumidores é o elemento fundamental em qualquer


estudo de planejamento ou operação de um SEP, pois esta grandeza será utilizada para
dimensionar tanto os equipamentos da geração, como da transmissão e da distribuição do
sistema, porque a potência gerada nas usinas terá que ser transmitida até as subestações
e depois distribuída aos consumidores.
Em virtude do grande número de consumidores supridos por um SEP (milhares ou
milhões), torna-se impossível resolver um circuito elétrico que represente cada um destes
consumidores, a fim de estudar as condições de suprimento. Torna-se necessário, então,
agrupá-los em conjuntos, que tenham um comportamento semelhante, diminuindo,
assim, o número de elementos a representar; cada um destes conjuntos de consumidores
passa a ser considerado, então, como uma carga.

Os consumidores são supridos em baixa tensão a partir de alimentadores primários,


os quais têm origem nas subestações do sistema de distribuição. Assim, para efeito de
representação dos consumidores nos estudos de SEP, estes são agrupados nas subestações,
tomando-se o barramento destas subestações como referência e, desta forma, cada
barramento passa a ser um nó da malha a ser representada nos estudos elétricos. A soma,
a cada instante, da potência do conjunto de consumidores conectados a um barramento
fornece a potência a ser suprida naquele barramento ou naquele nó naquele instante.
Com os valores de carga obtidos para um determinado período, tem-se a curva de carga
daquele barramento (curva diária, semanal, mensal ou anual). Com a soma das potências
de todos os barramentos do sistema, tem-se a carga do sistema, bem como as curvas
de carga para os períodos considerados. Pode-se então determinar qual o instante mais
importante para se efetuar os estudos para a análise do comportamento do SEP.

Com os valores máximos anuais, pode-se efetuar uma projeção e determinar os valores
prováveis da carga total do sistema para um ano futuro e então efetuar estudos de
planejamento para o sistema, de maneira a determinar quais obras serão necessárias para
que o sistema tenha condição adequada de suprir os consumidores nos anos futuros.
Algumas curvas de carga típicas são mostradas na Figura 2.7.

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Figura 2.7 – Curvas de carga do Sistema Interligado Nacional (SIN)
Nota: (a) ano; (b) semana; (c) dia de carga máxima; (d) dia de carga mínima.

2.8 OPERAÇÃO DOS SEP


Um SEP deve atender as cargas dos consumidores com continuidade e qualidade de
energia, ou seja, deve operar continuamente, sem desligamentos e mantendo a tensão e
a frequência com o mínimo de variação e dentro de uma faixa especificada como mostram
as Figuras 2.8 e 2.9. Esta condição é atendida com o sistema operando em condição
normal, com todas as instalações de geração, transmissão e distribuição operando.

Figura 2.8 – Tensão em um barramento de 230 kV de um SEP ao longo de um dia

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Figura 2.9 – Frequência de um SEP ao longo de um dia

Para manter a continuidade do suprimento às cargas é necessário haver redundância de


equipamentos, pois, por melhor que sejam as instalações e os equipamentos, existe sempre
uma probabilidade de falha que configura uma condição de operação em emergência e que,
ocorrendo, levará ao desligamento de um equipamento ou instalação e consequentemente
ao desligamento de consumidores. Assim, o planejamento da expansão e da operação dos
SEP é feito utilizando o critério N-1, no qual se estuda a operação do sistema considerando a
falha de um equipamento ou instalação e verificando se é possível atender toda a carga dos
consumidores dentro das condições de tensão e frequência estabelecidas. Esta verificação
é feita simulando-se a operação do sistema com a falha de cada um dos equipamentos ou
instalação, retirando-se um equipamento de cada vez.

É necessário também analisar a operação do sistema para todas as condições de carga –


máxima, intermediária e leve –, de forma a verificar as necessidades de geração, de transmissão
e de compensação de reativo ao longo da curva de carga diária e ao longo do ano.

O suprimento à carga dos consumidores deve levar em consideração não somente


a potência da carga, mas também a energia a ser suprida em um período de tempo. É
necessário que haja usinas de diversos tipos – hidráulicas, térmicas, eólicas e solares –
que, em conjunto, possam atender à demanda de potência total e o consumo total de
energia do SEP em período diário, semanal, mensal, anual e plurianual, considerando
as variações climáticas, no caso das hidráulicas, eólicas e solares e a disponibilidade de
combustível, no caso das térmicas.

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2.9 PLANEJAMENTO DA OPERAÇÃO E DA EXPANSÃO DOS SEP
A determinação das características elétricas e mecânicas dos diversos componentes e
instalações de um SEP implica na realização de estudos e simulações que levem em conta
todas as condições operacionais, tanto em condições normais, como as variações das
cargas ao longo dos dias, semanas e meses, como em emergências ou anomalias, como
desligamentos, curtos-circuitos e sobretensões.

Para a adequada geração, transmissão e distribuição da energia elétrica, é necessário que,


em todas as partes do sistema, haja tensões e correntes simétricas e equilibradas. Esta
condição é mantida em regime permanente e, em consequência, é possível efetuar os
cálculos para apenas uma das três fases, pois, nas demais fases, se terá o mesmo módulo
e um defasamento de 120o. Isso facilita e acelera enormemente os cálculos necessários
aos estudos efetuados em SEP.

A fim de simplificar ainda mais os cálculos necessários à análise do funcionamento de um


SEP, são representados estritamente aqueles componentes que influenciam diretamente
os resultados dos cálculos do estudo em questão. Assim, por exemplo, chaves, disjuntores
e barramentos (cujas impedâncias são desprezíveis) não são representados nos estudos
de regime permanente, mas sua representação é fundamental em estudos de transitórios.

Dependendo do tipo de estudo, estes equipamentos são representados com maior, ou


menor, precisão a fim de que sejam atingidos os fins a que se propõe o estudo.

Para se saber se um determinado sistema tem ou não condições de atender a uma


determinada carga (conjunto de consumidores), são feitos diversos estudos para o mesmo,
através da simulação em computadores, com os quais se verifica o comportamento do
sistema para as mais variadas situações, normais ou emergenciais, ou seja, os vários
estados em que um sistema pode estar, ou período de transição de um estado para outro.

Os principais tipos de estudo executados para a análise dos SEP são:


a) fluxo de potência;
b) curto-circuito;
c) estabilidade ou transitório eletromecânico;
d) sobretensões ou transitórios eletromagnéticos;
e) confiabilidade;
f) compensação de reativo;
g) fluxo de potência ótimo.

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2.9.1 Fluxo de Potência
Nestes estudos, também denominados fluxo de carga ou load flow, simula-se o sistema
em regime permanente, para uma dada condição, ou estado. Através desta simulação
são determinadas as tensões dos barramentos, os fluxos de potência nas linhas de
transmissão e nos transformadores (correntes nestes componentes), as potências geradas
em cada máquina ou usina e as perdas do sistema. Estas simulações podem ser feitas
para a condição normal de operação ou para uma determinada condição de emergência
(estado posterior à ocorrência de perda de uma linha, transformador ou gerador).

O critério de planejamento e operação de sistemas, atualmente empregado no Brasil, é o


de que o sistema deve funcionar sem diminuição da qualidade do serviço, mesmo com a
perda de qualquer um dos componentes citados; este é o chamado critério N-1.

Para estes estudos é suficiente simular as linhas, transformadores, capacitores e reatores


como impedâncias, e as potências das cargas e das usinas como potências constantes
nos barramentos.

Na análise do comportamento dos SEP o que mais frequentemente se faz são as


simulações do mesmo em regime permanente. Ocorre que, na verdade, o sistema jamais
está realmente em regime permanente, condição esta determinada pela Equação 2.1,
pois as cargas variam de instante a instante, por pequenos incrementos ou decrementos
e, para que a equação seja verificada, as gerações também variam e, com isso, todo o
sistema está continuamente em alteração, como se pode ver na Figura 2.7.

O reflexo destas variações de carga e de geração é o desvio da frequência do sistema do


seu valor nominal (60 Hz no Brasil) como pode ser visto na Figura 2.9. Quando o sistema
está em regime permanente, estes desvios são muito pequenos, mas, quando ocorre um
distúrbio, observam-se, então, grandes desvios, após o que o sistema volta a operar em
regime permanente.

Para possibilitar estudos do sistema, assumem-se determinadas condições que poderão


ocorrer em instantes determinados do período considerado e admite-se esta situação
como estática, ou de regime permanente. Efetuando-se simulações para os instantes mais
significativos do dia (como por exemplo, carga leve: de madrugada, carga intermediária:
10 horas da manhã e carga pesada: 19 horas) e para vários dias típicos do ano, tem-se,
então, uma ideia global do funcionamento do SEP, pois, se há condições adequadas nas
situações extremas, haverá também nas situações intermediárias.

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2.9.2 Curto-Circuito
Possibilita conhecer as correntes que circulam nos equipamentos durante os poucos ciclos
que duram estas ocorrências, as tensões das fases e as potências de curto-circuito.
O sistema é simulado para os vários tipos possíveis de curto-circuito, porém, considerando-
se que a corrente de curto-circuito já se tenha estabilizado em um valor, ou seja, não
se analisa o transitório eletromagnético no sistema imediatamente após a ocorrência do
curto-circuito.
Por meio de cálculos adicionais é possível determinar o valor da corrente de curto-circuito
nos ciclos imediatamente após a ocorrência do curto. Nestes estudos são representadas
as linhas, os transformadores e os geradores como impedâncias (que são os elementos
em série), e não são representadas as cargas, a capacitância das linhas, os capacitores e os
reatores que são os elementos em derivação.

2.9.3 Estabilidade ou Transitório Eletromecânico


Após algum distúrbio (a exemplo de um curto-circuito, desligamento de uma grande carga
ou perda de um gerador), o sistema passa por um estado transitório, entre um estado
de regime permanente e outro, caracterizado por oscilações eletromecânicas, ou seja,
oscilações mecânicas dos rotores das máquinas, combinadas com variações das potências
nas linhas e transformadores, que poderão levar a um colapso total do sistema, com a perda
do sincronismo entre as máquinas e com o desligamento da carga que estava sendo suprida.
Nestes estudos é necessário representar as linhas, transformadores, capacitores e reatores
por suas impedâncias, e as cargas deverão ser representadas de forma a reproduzir a
sua variação com a tensão. Já os geradores e compensadores (estáticos ou síncronos)
deverão ser representados detalhadamente por meio de equações diferenciais, bem
como os reguladores de tensão e de velocidade, a fim de reproduzirem exatamente o seu
comportamento durante o transitório.
Os resultados das simulações são a variação dos ângulos dos rotores com o tempo
(permitindo verificar se as máquinas permanecerão em sincronismo), as tensões dos
barramentos e os fluxos de potência nas linhas e nos transformadores.

2.9.4 Sobretensões
Estes estudos, também denominados de transitórios eletromagnéticos, visam determinar
os efeitos das trocas de energia entre os campos elétrico e magnético dos componentes
do sistema quando ocorrem distúrbios no sistema, tais como chaveamento ou descarga
atmosférica. Estes fenômenos são extremamente rápidos, porém, causam grandes solici-
tações ao isolamento dos equipamentos.

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Para este tipo de estudo é necessária uma representação extremamente detalhada dos
equipamentos, levando em conta que nem a tensão nem a frequência permanecem
constantes enquanto dura o fenômeno.

Os resultados destes estudos são a variação das tensões e das correntes com o tempo,
desde o instante t0+ até alguns milissegundos após a ocorrência do fenômeno.

2.9.5 Confiabilidade
Com estes estudos determina-se o número provável de falhas e o tempo médio entre
falhas em um barramento do sistema, bem como a potência e a energia não supridas pelo
mesmo devido às falhas. Essas informações possibilitam análise custo-benefício entre o
investimento necessário à melhora do sistema e a redução da energia não suprida pelo
mesmo.

2.9.6 Compensação de Reativo


Um sistema de transmissão que tenha uma adequada compensação de reativo indutivo
e capacitivo terá um melhor desempenho, além de maior capacidade de transmissão
(com os mesmos equipamentos) e melhor condição de operação em regime normal e de
estabilidade durante transitórios eletrodinâmicos.

2.9.7 Fluxo de Potência Ótimo


Este estudo adquire importância quando no sistema há usinas térmicas em operação, pois, com
um despacho de geração adequado, é possível reduzir as perdas no sistema de transmissão e,
consequentemente, o gasto de combustível e o custo total de operação do sistema.

REFERÊNCIAS

OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO (ONS). Carga por submercado e SIN. Disponível
em: <www.ons.org.br>. Acesso em: 02 fev. 2018.
STEVENSON JR., W. D. Elements of power system analysis. New York: McGraw-Hill, 1982.
WEEDY, B. M. Sistemas elétricos de potência. São Paulo: Polígono, 1973.

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