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ESTUDO DE FALTAS MONOFÁSICAS EM UM SISTEMA DE


TRANSMISSÃO EM DC COM 1.000 km DE EXTENSÃO

Rafael Baqueiro Batista, Ruan Carlos Dórea Costa1


Antônia Ferreira dos Santos Cruz2

RESUMO – As Linhas de Transmissão são componentes fundamentais do Sistema Elétrico de


Potência (SEP) e têm como objetivo conectar a geração até os pontos de distribuição
transportando quantidades massivas de energia. Quanto a suas tecnologias, se dividem em
dois grupos: CA (Corrente Alternada) e CC (Corrente Contínua). Tendo em vista a
importância desse subsistema, fica claro que defeitos originários desta etapa do processo de
fornecimento, causam grandes impactos à sociedade. As Linhas do tipo CC mostraram-se ser
mais econômicas e eficientes quando utilizadas em longas distâncias, quando comparadas às
Linhas CA. Conseguinte, este trabalho tem como objetivo realizar o estudo de uma falta
monofásica em um sistema de transmissão em CC de 1.000Km, simulado através do software
PSCAD e um breve comparativo, desta vez relacionando os dois tipos de transmissão e
mostrando as vantagens da transmissão em CC. Com isso, foi analisado o comportamento
desse sistema frente a este defeito, seu tempo de resposta e recuperação. O sistema
apresentou-se viável, tanto do ponto de vista econômico quanto teórico para as simulações
realizadas, sendo eficiente e demonstrando resultados que agregam ao Estudos de
transmissão em CC.

1. INTRODUÇÃO
As Linhas de transmissão são as estruturas responsáveis por conectar a geração de
energia elétrica com os pontos de distribuição. Elas transportam quantidades massivas de
energia elétrica, possuem custos relevantes ao sistema e problemas nessa estrutura costumam
trazer impactos acentuados. Em relação a forma como a energia é transmitida, elas são divididas
em dois tipos: CA (Corrente Alternada) e CC (Corrente Contínua).

Segundo dados da ONS (2022), o Brasil conta com 170 mil km de linhas, sendo 87%
CA e 13% CC. As principais linhas brasileiras são as linhas entre Foz do Iguaçu (PR) e Ibiuna
(SP) com aproximadamente 810Km de extensão em ±600kV (ITAIPU, 2022) e a linha de Belo
monte, que é a primeira de corrente contínua de ultra-alta tensão (±800kV) das Américas, com
mais de 2.000 quilômetros, que descarrega parte da energia gerada pela Usina Hidrelétrica Belo
Monte, na região norte do Brasil, até a subestação Estreito na região sudeste (RIMA, 2016).

O Sistema Elétrico de Potência (SEP) está sujeito aos mais diversos tipos de eventos,
sejam eles por falta de manutenção, intempestividades, defeito de fabricação entre outros. Os
impactos nas linhas são os mais críticos devido ao número de unidades consumidores que elas
podem interromper. Incidentes como queimadas irregulares e galhos de árvores são os
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principais ofensores das ocorrências do nosso sistema, com isso, o maior número de
interrupções se dá quando um dos condutores da linha parte e vai ao solo provocando, assim,
uma Falta Elétrica Monofásica.
Diante de uma falta elétrica monofásica, linhas CA e CC se comportam de formas
completamente diferentes, todavia, ainda possuímos oportunidade de nos aprofundarmos neste
tipo de estudo para os sistemas em CC, e isso se deve ao fato das linhas de transmissão neste
formato ainda não serem muito utilizadas. A primeira linha CA no Brasil data de 1883,
enquanto a primeira linha CC só entrou em operação em 1984, mais de 100 anos depois.
(Ferreira, 2017). A complexidade em se transmitir em CC também é muito maior que em CA,
contudo ela possui vantagens atrativas e como menor impacto ambiental, facilidade em mudar
a frequência, restabelecimento do sistema frente a um curto. Sendo este último aspecto, o alvo
deste estudo.
A partir do cenário exposto, o presente artigo tem como objetivo analisar o
comportamento de uma Linha de Transmissão CC quando submetida a uma falta monofásica e
mostrar algumas das vantagens deste tipo de transmissão em relação a CA. Para isso, foi
simulado uma falta monofásica através do software PSCAD, utilizando um modelo de linha
DC idealizado pela CIGRE, denominado CIGRE Benchmark, disponível no próprio software.
Ao longo do estudo, algumas modificações foram aplicadas no modelo e todas elas foram
especificadas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. ESTRUTURA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA NO BRASIL
Os Sistemas Elétricos de Potência (SEP) são formados por usinas geradoras, linhas de
alta tensão de transmissão de energia e sistemas de distribuição (TECNOEGRA, 2022).
A geração de energia elétrica consiste na transformação de energia oriunda de fonte
primária (hidráulica, gás natural, petróleo, carvão mineral, etc) em energia elétrica. De forma a
facilitar esta etapa, as usinas geradoras são construídas próximas dos recursos naturais, tendo
como exemplo as usinas hidrelétricas, que geralmente são encontradas em grandes rios ou em
locais onde seja possível o represamento de um alto volume de água, gerando energia através
das quedas de água. A figura 1 representa a geração de energia através de uma usina hidrelétrica.
Da mesma forma, as usinas térmicas são construídas próximas das reservas de combustíveis
fósseis, como o carvão e o gás natural.
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Fig. 1 - Usina Hidrelétrica

Fonte: (GOUVEIA, 2022)

A transmissão de energia elétrica constitui-se na etapa de condução da energia que foi


gerada até os centros de distribuição. O transporte da eletricidade ocorre com a elevação de
tensão nas saídas das usinas geradora, seguem através das linhas de transmissão de alta tensão
por meio de cabos aéreos fixados em grandes torres de metal, e podem percorrer longas
distâncias, chegando até os centros de distribuição, por onde passam por outra subestação, desta
vez reduzindo o nível de tensão, para que a eletricidade possa chegar nos centros de consumo
e assim iniciar a etapa de distribuição (ELÉTRICA, 2022).
Importante ressaltar que a etapa de transmissão de energia elétrica integra o Sistema
Interligado Nacional (SIN), ilustrado na figura 2, representando todo o sistema de transmissão,
tanto em CA quanto em CC. Consideram-se linhas de transmissão aquelas cujas tensão são
iguais ou superiores a 230kV, constituindo a maior relevância no setor elétrico brasileiro,
devido aos altos investimentos e alta demanda (LEÃO, 2016).

Fig. 2 -Mapa do Sistema de Transmissão - Horizonte 2024

Fonte: (ONS, 2022)


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Por último, existe a rede de distribuição, que é a etapa final no fornecimento de energia
elétrica. A rede de distribuição primária transporta a energia em média tensão, com o objetivo
de atender grandes empresas e/ou indústrias. Já a rede de distribuição secundária, após a tensão
da rede primária passar por transformadores localizados em postes da rede elétrica da
distribuição, transportam baixa em tensão para atender residências, pequenos comércios e
iluminação pública (INBRAEP, 2021). A figura 3 apresenta, de forma simplificada, o
funcionamento de um sistema.
Fig. 3 - Sistema elétrico de potência simplificado

Fonte: (RIBEIRO, 2022)

2.2. MODELOS DE TRANSMISSÃO CCAT


É importante entender como a transmissão acontece de fato. As unidades conversoras,
elementos construídos a partir de semicondutores, são interligadas em pontes com seis
unidades, chamada de Ponte Conversora de Seis Pulsos que quando associada com outra ponte
semelhante forma o que chama-se de Ponte Conversora de Doze Pulsos, sendo este o modelo
mais utilizado em aplicações práticas de alta potência interligadas à rede elétrica. A depender
de como estas pontes estão associadas, o sistema possuirá diferentes características e
denominações, como: monopolar, bipolar e homopolar. A diferença entre os modelos reside no
número de condutores utilizados: a configuração monopolar, mostrada na fig. 4, utiliza apenas
um fio condutor e um retorno de terra.

Fig. 4 – Sistema CCAT monopolar

Fonte: Kundur, 1994


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A configuração bipolar, representada na fig. 5, utiliza dois condutores, que possuem


mesma tensão nominal, mas com polaridade invertida em relação à outra.

Fig. 5 – Sistema CCAT bipolar

Fonte: Kundur, 1994

Por último, a ligação homopolar possui dois ou mais condutores de mesma polaridade
com retorno de terra e está representada na fig 6. Algumas outras ligações menos convencionais
podem ser citadas, tais como a multi-terminal, ponto-a-ponto e a mais recente dentre elas: a
CCAT Light.
Fig. 6 – Sistema CCAT homopolar

Fonte: Kundur, 1994

2.3. TIPOS DE TRANSMISSÃO CCAT


Atualmente, existem duas tecnologias de transmissão: a Conversão por Linha
Comutada, LCC, que utiliza fontes de corrente e tiristores para comutação das linhas de
transmissão, e a Conversão por Fonte de Tensão, que é o fundamento da ligação CCAT Light
e que se utiliza de componentes IGBTs para realizar a conversão.

2.3.1. Conversão por linha comutada (LCC)


Este modelo de transmissão em corrente contínua é a mais utilizada atualmente e está
no mercado desde meados do séc. XX. Ao redor do mundo, esta tecnologia já alcança 75GW,
distribuídas em 92 projetos em linhas que chegam a 600kV e novas conexões continuam a
surgir. (Arrillaga et al, 2001) No Brasil, pode ser encontrada na UHE de Itaipu, bem como nas
UHEs de Santo Antônio e Jiraú, que possuem uma configuração bipolar com 600kV em cada
linha.
Estes sistemas utilizam-se de tiristores, em especial o SCR (Silicon Controlled
Rectifier), que permite a passagem da corrente quando a polaridade da tensão entre o anodo e
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o catodo torna-se positiva e realiza o bloqueio da corrente quando a tensão torna-se nula,
evidenciando a dependência deste modelo à tensão da rede, principalmente das consideradas
redes “fortes” (KIM, et al., 2009). O uso mais comum é quando estes componentes são
associados em pontes trifásicas para permitir a conversão da corrente alternada para a corrente
contínua.

A fig. 7 mostra os principais componentes elétricos de cada estação de conversão CCAT


e a fig. 8 apresenta o detalhe de uma estação conversora de retificação.

Fig. 7 - Estrutura de transmissão CCAT (Ferreira, 2014)

Fonte: Adaptado de Arrillaga et al, 2001

Fig. 8 - Componentes da estação de conversão

Fonte: Adaptado de Arrillaga et al, 2001

2.3.2. Conversão por fonte de tensão (VSC)


Este tipo de conversão é comandado por chaves auto comutadas, os IGBT (Insulated
Gate Bipolar Transistor), ou seja, seu controle não depende da tensão da linha tanto para
fechamento quanto para abertura. É a tecnologia base para o modelo de transmissão CCAT
Light, que é a alternativa mais flexível em termos de controle de potência, entretanto, produz
perdas consideravelmente maiores em relação ao modelo de transmissão LCC (Arrillaga et al,
2001). Além disto, outras vantagens e desvantagens podem ser citadas:
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- As estruturas necessárias para sistemas VSC são menores devido ao menor porte dos filtros,
já que a necessidade para atenuação de harmônicos é mínima, sendo necessário apenas para
altas frequências.
- É possível efetuar o controle da potência reativa de forma independente à potência ativa.
- Possui menor capacidade de transmitir energia e baixa robustez no sentido de proteção ao
curto-circuito na linha de corrente contínua.

2.4. FALTAS NO SISTEMA ELÉTRICO


As chamadas faltas elétricas são caracterizadas pela existência de um caminho físico
entre as fases ou fase-terra. Elas possuem características e topologias distintas para cada tipo.
As falhas em um sistema de transmissão CCAT impactam diretamente na ação de controle dos
conversores. Deste modo, o controle dos conversores é de suma importância para uma resposta
adequada na ocorrência de faltas na linha CC, nos conversores e no lado CA do sistema de
transmissão.
As faltas na linha CC são, em sua maioria, verificadas como fase-terra, uma vez que
para que aconteça uma si tipo fase-fase, é necessário um dano físico considerável à estrutura.
Quando ocorridas nas estações conversoras, ocasionam o desligamento de um grupo de válvulas
ou, em alguns casos, de todo o pólo. Em geral, uma falta em um grupamento de válvulas irá
cessar a transmissão de potência devido ao desligamento do pólo. Quando isto acontece a
corrente é rapidamente reduzida a zero e o ângulo de disparo do retificador é desviado para um
valor mínimo de 90° e, eventualmente, também para região de operação do inversor. (SOUSA,
2016).
Aquelas que ocorrem no lado CA do sistema podem acontecer tanto do lado CA do
retificador quanto do lado CA do inversor e a recuperação do sistema CCAT é
consideravelmente mais rápida que em um sistema CAAT (KUNDUR, 1994). Quando ocorrem
no lado CA do retificador podem ser monofásicas, bifásicas ou trifásicas, no último caso, há
uma redução da tensão CC nos terminais do retificador e, por consequência, da corrente.
Sistemas CA considerados fracos possuem dificuldade de fornecer a energia reativa necessária
para uma recuperação rápida do sistema CCAT.
Quando a falha for solucionada, a taxa permitida de restauração irá depender da força
do sistema CA. De modo geral, o desempenho do sistema de potência seguindo qualquer
perturbação do sistema, depende muito da interação do sistema CA/CC.
É interessante, portanto, que haja uma maximização da taxa de recuperação do sistema
sem que haja um comprometimento da segurança do sistema CCAT e cada sistema deverá ter
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uma estratégia de controle própria para abranger suas peculiaridades e garantir a segurança e
estabilidade da operação do sistema.

2.5. COMPARATIVO CCAT X CAAT


Na transmissão CCAT, os principais componentes localizam-se nas estações
conversoras e recebem o nome de conversores. Sua função é a conversão da corrente alternada
recebida para a corrente contínua que irá para as linhas de transmissão e, também, a conversão
da corrente contínua transmitida em corrente alternada para adequar a rede elétrica e ao perfil
dos consumidores. A Fig. 9. Esquematiza de forma simplificada as etapas para a transmissão
contínua e mostra ambas as estações conversoras citadas, tanto a CA/CC quanto a CC/CA.

Fig. 9 - Sistema de transmissão de energia elétrica em corrente contínua

Fonte: Clean Line Energy

Este modelo, apresenta diversas vantagens em relação ao sistema em corrente alternada,


entretanto, perdeu espaço ao longo dos anos devido à carência dos avanços da eletrônica de
potência e dos conversores. Algumas das vantagens da transmissão em corrente contínua
merecem destaque, são elas:
- Possuem estações conversoras de parâmetros configuráveis, que torna possível a transmissão
entre duas subestações que operam em frequências diferentes. De forma prática, pode-se citar
a Usina Hidrelétrica de Itaipu que transmite energia para o Paraguai, cuja rede opera em 50Hz.
- Não apresentam componente de frequência, logo, as componentes reativas referentes à
impedância da linha são nulos e a transmissão pode acontecer por maiores distâncias sem
necessitar de compensação de reativos.
- Os campos elétricos ocasionados pela corrente elétrica, na transmissão em corrente contínua,
não são capazes de provocar acoplamento indutivo ou capacitivo que interferem em
equipamentos elétricos nas proximidades e menores níveis de ruído, o que impacta menos no
ecossistema dos arredores da linha de transmissão.
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Além dos fatores elencados, deve-se observar também o aspecto econômico que é um
dos mais importantes balizadores na tomada de decisão acerca da construção de novos projetos
no ramo de transmissão de energia elétrica. De forma breve, o custo inicial de um sistema de
transmissão em corrente contínua é elevado quando comparado a um sistema de mesma
capacidade de transmissão em corrente alternada e isto é devido ao custo dos dispositivos
conversores, os tiristores. Entretanto, com o aumento do comprimento do sistema, o custo da
transmissão alternada é incrementado pelos maiores custos em relação às torres de transmissão
bem como os fios utilizados. Além disto, subestações de compensação, dotadas de bancos de
capacitores e indutores, se fazem necessárias em um sistema de corrente alternada de longa
distância devido à componente reativa da linha que cresce conforme a distância, implicando em
mais custos e maiores perdas ao longo do sistema.
A fig. 10 mostra as curvas de custo de ambos os sistemas, onde fica evidente o maior
custo inicial da transmissão em corrente contínua, bem como os demais elementos que
impactam no custo total de um sistema de transmissão.

Fig. 10 - Curva de custo das transmissões CCAT e CAAT

Fonte: Adaptado de Arrillaga et al, 2001

3. SIMULAÇÕES REALIZADAS

3.1. MODELO DE REFERÊNCIA UTILIZADO

Atualmente, vários estudos acerca dos sistemas CCAT estão disponíveis e em sua
grande maioria utilizam-se do benchmark proposto pelo grupo francês CIGRÉ, conforme
imagem Fig. 11 abaixo. Desta forma, sua escolha foi motivada pela grande acessibilidade de
dados para análise e comparação em diferentes níveis de atuação dentro da área. Este sistema
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propõe, de forma simples, um sistema CCAT monopolar com retorno por terra e com estratégia
de controle simples, o que abre as portas para uma infinidade de possibilidades de estudos,
análises e simulações. O software utilizado para as simulações foi PSCAD/EMTDC,
desenvolvido pela Universidade de Manitoba - Canadá e é utilizado principalmente para
simulação de transitórios no domínio do tempo e da frequência.

Fig. 11 - Representação do Benchmark CCAT CIGRÉ

Fonte: Szechtman, 1991

Na fig. 11 é notável então a presença de fontes CA, filtros CA, filtros CC,
transformadores e estações conversoras retificadoras e inversoras. Além disto, nota-se a
representação de uma linha de transmissão a partir da impedância entre as estações conversoras.
Os dados dos respectivos elementos do benchmark da CIGRÉ estão elencados abaixo,
com base na tabela disponível em SOUSA (2016) e SILVA (2013).

Tabela 1 - Parâmetros do sistema de transmissão


PARÂMETROS RETIFICADOR INVERSOR
Tensão base CA 345 kV 230 kV
Potência base 100 MVA 100 MVA
Tap de Transferência (AT) 1,01 pu 0,989 pu
Tensão da fonte 1,088∠22,18° pu 0,935∠-23,14° pu
Tensão nominal (CC) 500 kV 500 kV
Corrente Nominal (CC) 2 kA 2 kA
Impedância do transformador 0,18 pu 0,18 pu
Impedância da fonte R = 3,737 Ω R = 0,7406 Ω
Frequência do sistema 50 Hz 50 Hz
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Ângulo mínimo α = 15º 𝛾 = 15º

3.2. SISTEMA CCAT MODELADO NO PSCAD

As fontes de corrente alternada foram produzidas, cada uma em um módulo distinto,


conectado aos terminais dos transformadores por meio dos nós denominados N. Nota-se a
mesma frequência e as tensões distintas, evidenciando o fluxo de potência do terminal
retificador para o terminal inversor, conforme fig. 12.

Fig. 12 - Fontes CA do sistema de retificação à esquerda e do sistema de inversão à direita.

Fonte: PSCAD

A fig. 13 ilustra componentes essenciais para o sucesso da transmissão: a estação


conversora, com pontes de 6 pulsos associadas, os transformadores, e os filtros passa-baixa. A
conexão com a fonte alternada é feita a partir do nó AC e a conexão do terminal do retificador
com a linha de transmissão em corrente contínua é realizada pelo nó CC.

Fig. 13 - Seção de retificação.

Fonte: PSCAD
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Os transformadores possuem os secundários conectados de forma distinta, um em delta


e outro em estrela, o que permite uma defasagem de 30°, para permitir eliminar o 5° e 7°
harmônicos (ELEUTÉRIO, 2006). Eles serão responsáveis por abaixar a tensão recebida em
345 kV para, aproximadamente, 213 kV. Há também o dispositivo de compensação de reativos
que é composto por filtros passa alta e capacitores em paralelo com intuito de manter os
harmônicos em níveis adequados e compensar o fluxo de potência reativa com a impedâncias
capacitivas dos filtros. (LIU et al, 2015).
A estação inversora, por sua vez, é construtivamente semelhante à estação retificadora.
Dotada de duas pontes de 6 pulsos e com a mesma variedade de entrada e saída de dados,
diferindo na polaridade das válvulas tiristores, que irão operar na parcela negativa da curva de
tensão, são responsáveis por alternar a corrente contínua recebida e a adequar para a frequência
de utilização desta rede. A fig. 14 ilustra como está configurado o módulo de inversão.

Fig. 14 - Seção de inversão.

Fonte: PSCAD

Por fim, entre as estações de conversão o benchmark da CIGRÉ propõe a utilização de


reatores de alisamento e uma linha de transmissão em circuito T equivalente com parâmetros
que simulam um cabo de alta tensão com comprimento de cerca de 100 km. Para esta simulação
foi mantido o reator de alisamento, de valor 0.5968 H, nos terminais CC tanto do retificador
quanto do inversor com intuito de suavizar o ripple da corrente CC e prevenir contra danos
ocasionados por sobretensão (LIU et al, 2015). Entretanto, a linha de transmissão foi substituída
por uma linha de transmissão de 1000 km com condutores Chukar, e configurações semelhantes
às propostas por LIU et al (2015). Na fig. 15 abaixo, é possível observar a representação
simplificada do sistema descrito.
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Fig. 15 - Representação completa do sistema com a linha de transmissão de 1.000 km entre as


estações conversoras.

Fonte: PSCAD

O sistema supracitado será o objeto de análise deste trabalho que, irá, portanto, simular
a ocorrência de faltas monofásicas em trechos da linha CC, de modo à observar a reação do
sistema e a atuação dos elementos de controle na contenção da falta até a recuperação do
sistema. Não serão simuladas a ocorrência de faltas bifásicas, tampouco trifásicas neste estudo.

3.3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.3.1. Operação normal do sistema sem faltas aplicadas


É importante saber o funcionamento do sistema em condições normais para verificar o
funcionamento adequado do sistema, bem como para fins de comparação com os resultados
decorrentes de faltas. É esperado que haja um valor de corrente próximo de 1 pu no lado do
retificador, enquanto no inversor espera-se um valor mais baixo para ser possível o fluxo de
corrente neste sentido. Os valores base para a conversão em pu estão listados abaixo:

Tabela 2 - Valores de base para tensão e corrente.


Retificador Linha CC Inversor
Tensão base 345 kV 500 kV 230 kV
Corrente - 2 kA -

O tempo considerado para simulação foi de 1s e abaixo estão elencados os resultados


obtidos para operação normal do sistema. Os gráficos apresentados abaixo mostram o
funcionamento normal do sistema de transmissão CCAT simulado no PSCAD. Observa-se nas
fig. 16 e fig. 17 que as tensões CA oscilam entre 1 pu e -1 pu tanto no lado CA do retificador
quanto do inversor, sinalizando o perfeito funcionamento das fontes de tensão.
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Fig. 16 - Tensão CA por fase no retificador em condições normais

Fonte: PSCAD

Fig. 17 - Tensão CA por fase no inversor em condições normais

Fonte: PSCAD

Nas fig. 18 e fig. 19, é registrada a tensão nos terminais CC do retificador e do inversor, que
oscilam em torno de 1 pu, e na fig. 20 é evidenciada a diferença entre a tensão CC nos terminais
de retificação e nos terminais de inversão no instante de 1s, como exemplo do que acontece
durante toda a transmissão, de forma coerente ao esperado.

Fig. 18 - Tensão CC nos terminais do retificador em condições normais

Fonte: PSCAD

Fig. 19 - Tensão CC nos terminais do inversor em condições normais.


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Fonte: PSCAD

Fig. 20 - Comparação da tensão CA no retificador (esquerda) com a tensão CA no inversor


(direita).

Fonte: PSCAD

As fig. 21 e fig. 22, mostram a corrente contínua no terminal do retificador e do inversor,


ambas próximas de 1 pu, sinalizando a transmissão de potência desejada a partir do
estabelecimento do regime permanente.

Fig. 21 - Corrente CC nos terminais do retificador em condições normais.

Fonte: PSCAD

Fig. 22 - Corrente CC nos terminais do inversor em condições normais.

Fonte: PSCAD

Nas pontes conversoras, podemos registrar, por sua vez, o ângulo de disparo do
retificador na fig. 23 no valor de 18° e o ângulo de extinção do inversor na fig. 24 em torno de
15° ambos a partir do tempo de 0,6s no qual o sistema apresenta uma estabilização. Estes
valores estão conforme o esperado, acima dos valores mínimos estabelecidos para garantir a
operação normal das válvulas de tiristores e a continuidade da transmissão com os valores
controlados de 1 pu de corrente CC na linha de transmissão.
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Fig. 23 - Ângulo de disparo do retificador.

Fonte: PSCAD

Fig. 24 - Ângulo de extinção do inversor.

Fonte: PSCAD

3.3.2. Falta em 1000 km da linha de transmissão CC


Da mesma forma que no item anterior, busca-se observar os efeitos provocados por uma
interrupção brusca na transmissão, bem como a recuperação do sistema após o cessar da falta.
Os dados da falta foram os mesmos: falta para a terra em 0,6s com duração de 0,1s e a resistência
especificada de 50 ohms. Espera-se também a interrupção da transmissão, bem como da
comutação nas estações conversoras.
As fig. 25 e fig. 26 mostram a ocorrência da falta e como consequência a interrupção da
transmissão com a queda brusca da tensão para zero. A corrente durante a ocorrência do evento
apresenta um valor de pico de cerca de 1,5 pu. Novamente, decorrido o tempo da falta, o sistema
não se recupera e a transmissão permanece interrompida.

Fig. 25 - Representação da tensão na linha CC com a aplicação da falta

Fonte: PSCAD
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Fig. 26 - Representação da corrente na linha CC com a aplicação da falta.

Fonte: PSCAD

É possível observar também que logo após a ocorrência do surto a queda brusca da
tensão provoca a inversão de polaridade no qual a tensão chega a 0,75 pu em polaridade inversa
àquela definida para transmissão, como mostra a fig. 29. Esta ocorrência está evidenciada entre
os instantes 0,61s e 0,64s da simulação. E pode ser justificada a partir do ocorrido nas fig. 27 e
fig. 28 onde é observado que os valores de ângulo de disparo do retificador e de extinção do
inversor ultrapassam os 90º, no qual a parcela aproveitada da tensão é a negativa. Em seguida,
os valores se estabilizam em cerca de 90º e a tensão finalmente atinge o valor nulo.

Fig. 27 - Representação do ângulo de disparo do retificador com a aplicação da falta.

Fonte: PSCAD

Fig. 28 - Representação do ângulo de disparo do retificador com a aplicação da falta.

Fonte: PSCAD

Fig. 29 - Inversão da polaridade da transmissão durante curto espaço de tempo após a falta.
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Fonte: PSCAD

4. CONCLUSÃO
Este trabalho, portanto, introduziu o conceito da transmissão de alta tensão em corrente
contínua, bem como apresentou seus aspectos principais e, por fim, uma simulação do sistema,
que foram construídas a partir do modelo acadêmico de referência para transmissão CCAT, o
Benchmark do Conselho Internacional de Grandes Sistemas Elétricos, a CIGRÉ, este modelo
foi utilizado no software PSCAD.
A adequação do modelo para o estudo se deu na remoção dos parâmetros equivalentes
de uma linha de transmissão T de cem quilômetros, para inserção de uma linha de transmissão
de mil quilômetros a partir dos dados disponíveis na biblioteca do PSCAD.
Os resultados obtidos nas simulações deixam a entender que para o sistema operando sem
a aplicação das faltas é possível notar que sistema proposto CIGRÉ apresenta um modelo
consistente para simulação de um sistema de transmissão contínua monopolar. Nota-se então
que o sistema opera normalmente com uma transmissão estável a partir de 600 ms, instante no
qual considera-se o início do estado estacionário do sistema, havendo estabilização dos níveis
de tensão, corrente, bem como dos ângulos de disparo do retificador e extinção do inversor. Em
uma falta simulada na extremidade da linha, à 1000 km, observa-se que os valores dos ângulos
de disparo do retificador e de extinção do inversor, se aproximam de 90º, ultrapassando este
valor apenas no instante em que acontece a falta. Isto provoca uma inversão da polaridade da
tensão por poucos instantes, chegando a 0,75 pu em polaridade inversa e logo depois se
estabiliza no valor nulo.
Dito isto, conclui-se que há perfeita atuação dos elementos apresentados e estudados para
o desenvolvimento da simulação. Para trabalhos futuros, é possível elencar algumas
modificações, tais quais o aumento e a diminuição da relação de curto circuito, a alteração do
fator de ordem da corrente, a simulação de faltas bifásicas e trifásicas, a utilização de diferentes
configurações de elo CCAT como bipolar e homopolar, além do desenvolvimento de uma
estratégia de controle adequado para faltas na linha CC.
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Finalmente, o PSCAD, bem como o benchmark da CIGRÉ, mostra-se ferramentas


poderosas para análise do sistema CCAT e abrem diversas oportunidades de estudo. Este
trabalho, com foco na análise das faltas, atingiu seu objetivo acadêmico de construção e
disseminação do conhecimento técnico e deixa para os estudantes de engenharia elétrica
sugestões para a continuação deste belo estudo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOUSA, M. O., Análise de Faltas em um Sistema CCAT. Monografia. Universidade Federal


de Campina Grande, Capina Grande, Paraíba.

LIU, P. et al (2015). Detailed Modeling and Simulation of ±500kV CCAT Transmission


System Using PSCAD/EMTDC. Jinan, China.

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