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Engenharia e TI
1. INTRODUÇÃO
As Linhas de transmissão são as estruturas responsáveis por conectar a geração de
energia elétrica com os pontos de distribuição. Elas transportam quantidades massivas de
energia elétrica, possuem custos relevantes ao sistema e problemas nessa estrutura costumam
trazer impactos acentuados. Em relação a forma como a energia é transmitida, elas são divididas
em dois tipos: CA (Corrente Alternada) e CC (Corrente Contínua).
Segundo dados da ONS (2022), o Brasil conta com 170 mil km de linhas, sendo 87%
CA e 13% CC. As principais linhas brasileiras são as linhas entre Foz do Iguaçu (PR) e Ibiuna
(SP) com aproximadamente 810Km de extensão em ±600kV (ITAIPU, 2022) e a linha de Belo
monte, que é a primeira de corrente contínua de ultra-alta tensão (±800kV) das Américas, com
mais de 2.000 quilômetros, que descarrega parte da energia gerada pela Usina Hidrelétrica Belo
Monte, na região norte do Brasil, até a subestação Estreito na região sudeste (RIMA, 2016).
O Sistema Elétrico de Potência (SEP) está sujeito aos mais diversos tipos de eventos,
sejam eles por falta de manutenção, intempestividades, defeito de fabricação entre outros. Os
impactos nas linhas são os mais críticos devido ao número de unidades consumidores que elas
podem interromper. Incidentes como queimadas irregulares e galhos de árvores são os
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principais ofensores das ocorrências do nosso sistema, com isso, o maior número de
interrupções se dá quando um dos condutores da linha parte e vai ao solo provocando, assim,
uma Falta Elétrica Monofásica.
Diante de uma falta elétrica monofásica, linhas CA e CC se comportam de formas
completamente diferentes, todavia, ainda possuímos oportunidade de nos aprofundarmos neste
tipo de estudo para os sistemas em CC, e isso se deve ao fato das linhas de transmissão neste
formato ainda não serem muito utilizadas. A primeira linha CA no Brasil data de 1883,
enquanto a primeira linha CC só entrou em operação em 1984, mais de 100 anos depois.
(Ferreira, 2017). A complexidade em se transmitir em CC também é muito maior que em CA,
contudo ela possui vantagens atrativas e como menor impacto ambiental, facilidade em mudar
a frequência, restabelecimento do sistema frente a um curto. Sendo este último aspecto, o alvo
deste estudo.
A partir do cenário exposto, o presente artigo tem como objetivo analisar o
comportamento de uma Linha de Transmissão CC quando submetida a uma falta monofásica e
mostrar algumas das vantagens deste tipo de transmissão em relação a CA. Para isso, foi
simulado uma falta monofásica através do software PSCAD, utilizando um modelo de linha
DC idealizado pela CIGRE, denominado CIGRE Benchmark, disponível no próprio software.
Ao longo do estudo, algumas modificações foram aplicadas no modelo e todas elas foram
especificadas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. ESTRUTURA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA NO BRASIL
Os Sistemas Elétricos de Potência (SEP) são formados por usinas geradoras, linhas de
alta tensão de transmissão de energia e sistemas de distribuição (TECNOEGRA, 2022).
A geração de energia elétrica consiste na transformação de energia oriunda de fonte
primária (hidráulica, gás natural, petróleo, carvão mineral, etc) em energia elétrica. De forma a
facilitar esta etapa, as usinas geradoras são construídas próximas dos recursos naturais, tendo
como exemplo as usinas hidrelétricas, que geralmente são encontradas em grandes rios ou em
locais onde seja possível o represamento de um alto volume de água, gerando energia através
das quedas de água. A figura 1 representa a geração de energia através de uma usina hidrelétrica.
Da mesma forma, as usinas térmicas são construídas próximas das reservas de combustíveis
fósseis, como o carvão e o gás natural.
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Por último, existe a rede de distribuição, que é a etapa final no fornecimento de energia
elétrica. A rede de distribuição primária transporta a energia em média tensão, com o objetivo
de atender grandes empresas e/ou indústrias. Já a rede de distribuição secundária, após a tensão
da rede primária passar por transformadores localizados em postes da rede elétrica da
distribuição, transportam baixa em tensão para atender residências, pequenos comércios e
iluminação pública (INBRAEP, 2021). A figura 3 apresenta, de forma simplificada, o
funcionamento de um sistema.
Fig. 3 - Sistema elétrico de potência simplificado
Por último, a ligação homopolar possui dois ou mais condutores de mesma polaridade
com retorno de terra e está representada na fig 6. Algumas outras ligações menos convencionais
podem ser citadas, tais como a multi-terminal, ponto-a-ponto e a mais recente dentre elas: a
CCAT Light.
Fig. 6 – Sistema CCAT homopolar
o catodo torna-se positiva e realiza o bloqueio da corrente quando a tensão torna-se nula,
evidenciando a dependência deste modelo à tensão da rede, principalmente das consideradas
redes “fortes” (KIM, et al., 2009). O uso mais comum é quando estes componentes são
associados em pontes trifásicas para permitir a conversão da corrente alternada para a corrente
contínua.
- As estruturas necessárias para sistemas VSC são menores devido ao menor porte dos filtros,
já que a necessidade para atenuação de harmônicos é mínima, sendo necessário apenas para
altas frequências.
- É possível efetuar o controle da potência reativa de forma independente à potência ativa.
- Possui menor capacidade de transmitir energia e baixa robustez no sentido de proteção ao
curto-circuito na linha de corrente contínua.
uma estratégia de controle própria para abranger suas peculiaridades e garantir a segurança e
estabilidade da operação do sistema.
Além dos fatores elencados, deve-se observar também o aspecto econômico que é um
dos mais importantes balizadores na tomada de decisão acerca da construção de novos projetos
no ramo de transmissão de energia elétrica. De forma breve, o custo inicial de um sistema de
transmissão em corrente contínua é elevado quando comparado a um sistema de mesma
capacidade de transmissão em corrente alternada e isto é devido ao custo dos dispositivos
conversores, os tiristores. Entretanto, com o aumento do comprimento do sistema, o custo da
transmissão alternada é incrementado pelos maiores custos em relação às torres de transmissão
bem como os fios utilizados. Além disto, subestações de compensação, dotadas de bancos de
capacitores e indutores, se fazem necessárias em um sistema de corrente alternada de longa
distância devido à componente reativa da linha que cresce conforme a distância, implicando em
mais custos e maiores perdas ao longo do sistema.
A fig. 10 mostra as curvas de custo de ambos os sistemas, onde fica evidente o maior
custo inicial da transmissão em corrente contínua, bem como os demais elementos que
impactam no custo total de um sistema de transmissão.
3. SIMULAÇÕES REALIZADAS
Atualmente, vários estudos acerca dos sistemas CCAT estão disponíveis e em sua
grande maioria utilizam-se do benchmark proposto pelo grupo francês CIGRÉ, conforme
imagem Fig. 11 abaixo. Desta forma, sua escolha foi motivada pela grande acessibilidade de
dados para análise e comparação em diferentes níveis de atuação dentro da área. Este sistema
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propõe, de forma simples, um sistema CCAT monopolar com retorno por terra e com estratégia
de controle simples, o que abre as portas para uma infinidade de possibilidades de estudos,
análises e simulações. O software utilizado para as simulações foi PSCAD/EMTDC,
desenvolvido pela Universidade de Manitoba - Canadá e é utilizado principalmente para
simulação de transitórios no domínio do tempo e da frequência.
Na fig. 11 é notável então a presença de fontes CA, filtros CA, filtros CC,
transformadores e estações conversoras retificadoras e inversoras. Além disto, nota-se a
representação de uma linha de transmissão a partir da impedância entre as estações conversoras.
Os dados dos respectivos elementos do benchmark da CIGRÉ estão elencados abaixo,
com base na tabela disponível em SOUSA (2016) e SILVA (2013).
Fonte: PSCAD
Fonte: PSCAD
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Fonte: PSCAD
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O sistema supracitado será o objeto de análise deste trabalho que, irá, portanto, simular
a ocorrência de faltas monofásicas em trechos da linha CC, de modo à observar a reação do
sistema e a atuação dos elementos de controle na contenção da falta até a recuperação do
sistema. Não serão simuladas a ocorrência de faltas bifásicas, tampouco trifásicas neste estudo.
Fonte: PSCAD
Fonte: PSCAD
Nas fig. 18 e fig. 19, é registrada a tensão nos terminais CC do retificador e do inversor, que
oscilam em torno de 1 pu, e na fig. 20 é evidenciada a diferença entre a tensão CC nos terminais
de retificação e nos terminais de inversão no instante de 1s, como exemplo do que acontece
durante toda a transmissão, de forma coerente ao esperado.
Fonte: PSCAD
Fonte: PSCAD
Fonte: PSCAD
Fonte: PSCAD
Nas pontes conversoras, podemos registrar, por sua vez, o ângulo de disparo do
retificador na fig. 23 no valor de 18° e o ângulo de extinção do inversor na fig. 24 em torno de
15° ambos a partir do tempo de 0,6s no qual o sistema apresenta uma estabilização. Estes
valores estão conforme o esperado, acima dos valores mínimos estabelecidos para garantir a
operação normal das válvulas de tiristores e a continuidade da transmissão com os valores
controlados de 1 pu de corrente CC na linha de transmissão.
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Fonte: PSCAD
Fonte: PSCAD
Fonte: PSCAD
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Fonte: PSCAD
É possível observar também que logo após a ocorrência do surto a queda brusca da
tensão provoca a inversão de polaridade no qual a tensão chega a 0,75 pu em polaridade inversa
àquela definida para transmissão, como mostra a fig. 29. Esta ocorrência está evidenciada entre
os instantes 0,61s e 0,64s da simulação. E pode ser justificada a partir do ocorrido nas fig. 27 e
fig. 28 onde é observado que os valores de ângulo de disparo do retificador e de extinção do
inversor ultrapassam os 90º, no qual a parcela aproveitada da tensão é a negativa. Em seguida,
os valores se estabilizam em cerca de 90º e a tensão finalmente atinge o valor nulo.
Fonte: PSCAD
Fonte: PSCAD
Fig. 29 - Inversão da polaridade da transmissão durante curto espaço de tempo após a falta.
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Fonte: PSCAD
4. CONCLUSÃO
Este trabalho, portanto, introduziu o conceito da transmissão de alta tensão em corrente
contínua, bem como apresentou seus aspectos principais e, por fim, uma simulação do sistema,
que foram construídas a partir do modelo acadêmico de referência para transmissão CCAT, o
Benchmark do Conselho Internacional de Grandes Sistemas Elétricos, a CIGRÉ, este modelo
foi utilizado no software PSCAD.
A adequação do modelo para o estudo se deu na remoção dos parâmetros equivalentes
de uma linha de transmissão T de cem quilômetros, para inserção de uma linha de transmissão
de mil quilômetros a partir dos dados disponíveis na biblioteca do PSCAD.
Os resultados obtidos nas simulações deixam a entender que para o sistema operando sem
a aplicação das faltas é possível notar que sistema proposto CIGRÉ apresenta um modelo
consistente para simulação de um sistema de transmissão contínua monopolar. Nota-se então
que o sistema opera normalmente com uma transmissão estável a partir de 600 ms, instante no
qual considera-se o início do estado estacionário do sistema, havendo estabilização dos níveis
de tensão, corrente, bem como dos ângulos de disparo do retificador e extinção do inversor. Em
uma falta simulada na extremidade da linha, à 1000 km, observa-se que os valores dos ângulos
de disparo do retificador e de extinção do inversor, se aproximam de 90º, ultrapassando este
valor apenas no instante em que acontece a falta. Isto provoca uma inversão da polaridade da
tensão por poucos instantes, chegando a 0,75 pu em polaridade inversa e logo depois se
estabiliza no valor nulo.
Dito isto, conclui-se que há perfeita atuação dos elementos apresentados e estudados para
o desenvolvimento da simulação. Para trabalhos futuros, é possível elencar algumas
modificações, tais quais o aumento e a diminuição da relação de curto circuito, a alteração do
fator de ordem da corrente, a simulação de faltas bifásicas e trifásicas, a utilização de diferentes
configurações de elo CCAT como bipolar e homopolar, além do desenvolvimento de uma
estratégia de controle adequado para faltas na linha CC.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KUNDUR, P. (1994). Power System Stability and Control. New York: McGraw-Hill.
SZECHTMAN, M., et al (1991). First Benchmark Model for Study of CCAT Controls
Studies. Electra, 54-67.
ARRILLAGA, J., LIU, Y. H., WATSON, N. R. - Flexible Power Transmission: The HVDC
Options - John Wiley & Sons, Chichester, England, 2001.