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Aula 08 – Fator de Potência

Introdução

Entre a potência fornecida pela companhia de energia e a potência


realmente consumida pelos diferentes tipos de instalações elétricas
existe uma relação. Essa relação irá determinar os possíveis
problemas em caso de desajuste e as vantagens quando tudo estiver
funcionando em perfeita ordem.
No Brasil, por exemplo, em 1966, foram estabelecidas as primeiras
regras de fator de potência indutivo médio, sendo então de 0,90
para consumidores do serviço de transmissão e de 0,85 para os
demais consumidores. Se o faturamento resultante ficasse abaixo do
limite, seria cobrado um valor adicional por esse fator de potência
indutivo.
Em 1967, o limite passou a ser 0,85 para todos os níveis de tensão e
a regulamentação pouco mudou nas décadas seguintes.
Em 25 de março de 1992, a Portaria do DNAEE (atualmente ANEEL)
n. 085 estabeleceu um novo limite mínimo do fator de potência,
aumentado para 0,92, e passou a prever a possibilidade de
faturamento além do excedente indutivo pelo excedente capacitivo
no período noturno para alguns consumidores (AGÊNCIA NACIONAL
DE ENERGIA ELÉTRICA, 2012).
A correção do fator de potência gera muitos benefícios, por
exemplo:
Diminuição da fatura de energia elétrica:
Diminuição das bitolas dos cabos:
Diminuição das perdas nas linhas:
Redução nas quedas de tensão:
Aumento da potência disponível:
Fundamentos teóricos
Toda máquina elétrica (motores, transformadores) alimentada por corrente alternada,
utiliza duas formas de energia:
1) energia ativa, que corresponde à potência ativa P medida em kW e que se transforma
integralmente em energia mecânica (trabalho útil) e em calor (perdas);
2) energia reativa, que corresponde à potência reativa Q medida em kVAr que é utilizada
para criar e manter os campos magnéticos de equipamentos (transformadores, máquinas
girantes).
As redes de distribuição fornecem a energia aparente, que corresponde à potência
aparente S medida em kVA.
Um fator de potência próximo de 1 otimiza o funcionamento de uma
instalação. Dessa forma, fica evidente que devemos nos ocupar da
defasagem entre a corrente e a tensão e que essa defasagem pode
ser diferente de acordo com o tipo (resistivo, indutivo ou capacitivo)
de equipamento que utilizamos.
Em toda instalação elétrica quando um condutor é percorrido por uma corrente
elétrica há o aquecimento deste condutor. Isso ocorre em razão da resistência,
que pode ser definida como o elemento que limita o fluxo de corrente em um
circuito. Essa limitação pela circulação da energia elétrica é convertida em calor.
A potência consumida em um circuito elétrico com resistência é dada pela
fórmula
Indutância e capacitância
Temos, ainda, conforme as características dos equipamentos:
Indutância:
Capacitância:
O efeito da indutância em um sistema elétrico é retardar as variações de
corrente. Assim, dizemos que a corrente está atrasada em relação à tensão
quando nosso circuito for predominantemente indutivo. No caso da
capacitância, a taxa de variação da tensão é que nos dá a característica do
circuito. Dizemos, então, que a corrente está adiantada em relação à tensão.
Em circuitos puramente resistivos, a corrente varia de forma proporcional à
tensão (V = RI). Nesse caso temos, então, a corrente em fase com a tensão.
A indutância e a capacitância têm efeitos contrários em um sistema
elétrico.
Reatâncias indutiva e capacitiva
A oposição que o indutor faz às variações de fluxo de corrente é medida pela reatância
indutiva – XL . O valor da reatância indutiva é diretamente proporcional à
indutância L (henrys) e à frequência f da corrente.

A medida da oposição que o capacitor oferece à variação da corrente é dada pela


sua reatância capacitiva (XC). O valor da reatância capacitiva é inversamente proporcional à
capacitância C (faraday) e à frequência f da corrente.
A unidade de reatância capacitiva é medida em ohms, e é calculada da seguinte forma:
Impedância
Todos os sistemas elétricos possuem resistências, reatâncias
indutivas e reatâncias capacitivas e, obviamente, os efeitos das três
irão afetar os fluxos de corrente no sistema. O efeito de R, XL e XC é
chamado de impedância e notado pela letra Z, que é a soma
algébrica das três grandezas e medida em ohms.

Obs: j é igual à raiz quadrada de -1.


Potências
Em um circuito elétrico, a potência instantânea absorvida pela carga pode
ser expressa pelo produto da corrente, pela tensão ou por P = v × i. Já em
corrente alternada, as grandezas senoidais são representadas por:

Em que:
U = valor eficaz da tensão
I = valor eficaz da corrente
Logo, podemos escrever a potência como:
Portanto, percebemos que a potência instantânea é dividida em
duas parcelas: a primeira, que corresponde à potência instantânea e
é sempre fornecida a carga, é chamada de potência ativa; e a
segunda, que é a potência que não chega à carga mas é trocada
entre as reatâncias indutivas e capacitivas, é chamada de potência
reativa. Podemos, então, representar a potência por:
Em que:
S = potência aparente em VA
P = potência ativa em W
Q = potência reativa VAr
Podemos, agora, calcular a potência em função de uma carga que
seja representada por uma impedância:
Como pode ser visto no diagrama de impedâncias,
O fator de potência de um circuito fica, então, determinado por:
Significado do fator de potência
A circulação de energia reativa cria importantes problemas técnicos
e econômicos.
Ao realizar uma compensação na potência reativa (Qc), menos
potência aparente (S1) é necessária para manter a potência ativa (P)
igual. Ou seja, é preciso menos corrente, evitando, dessa forma,
sobrecargas nos transformadores, aquecimento nos cabos de
alimentação, diminuição de perdas suplementares e quedas de
tensão.
Note que o fator de potência ou cos ϕ é menor que o cos ϕ1, ou
matematicamente:

A potência reativa de compensação pode ser calculada pela


expressão Qc = P ( tg ϕ - tg ϕ1) .
Melhora do fator de potência
A compensação de baixo fator de potência é feita com a utilização de
capacitores tanto em baixa como em alta tensão. Esses capacitores
podem ter valores fixos ou variáveis e podem realizar a correção do baixo
fator de potência de quatro maneiras:
Compensação total na entrada em alta tensão
Compensação total na entrada em baixa tensão
Compensação parcial
Compensação individual
A escolha do meio de correção dependerá dos custos e dos benefícios
pretendidos.
A compensação total na entrada em alta tensão realiza a correção
do fator de potência que é medido pela empresa fornecedora de
energia. Desta forma, todos os problemas criados pelo baixo fator de
potência, internamente à instalação, continuam a existir. E como se
trata de alta tensão, o custo é bem elevado.
Na correção por compensação total na entrada em baixa tensão,
normalmente são utilizados os capacitores variáveis ou automáticos
empregados quando se tem cargas muito diferentes em uma mesma
instalação. Custo elevado e alguns dos inconvenientes anteriormente
citados continuarão a existir.
Na compensação parcial, a compensação é realizada em conjuntos
de cargas, em função de suas características.
Na compensação individual, a compensação é realizada em cada
carga do sistema.
Como vimos, devemos estar atentos à localização dos capacitores,
pois, por exemplo, se tivermos uma carga instalada de 500 kW com
fator de potência 0,5, precisaremos de um transformador de 1.000
kVA para suprir essa carga.
Da mesma forma, a bitola dos condutores utilizadas em sistemas
com baixos fatores de potência pode aumentar muito. Por exemplo:
com fator de potência 1, podemos utilizar para uma determinada
carga um condutor de 1mm2 . Com essa mesma carga, mas com
fator de potência de 0,70, necessitamos de um condutor de 2 mm2 .
É preciso, portanto, aumentar a bitola do condutor à medida que o
fator de potência diminui.
Cálculo da potência reativa de
compensação
Para compensarmos o baixo fator de potência, podemos calcular os reativos necessários utilizando a
seguinte fórmula:

Com esta fórmula, podemos realizar os cálculos a partir da medição do fator de potência da
instalação, medindo o cos φ e calculando a tan φ.
Se tivermos uma instalação com fator de potência cos φ = 0,68, teremos uma tan φ = 1,08. Para
chegarmos a esse resultado, realizamos as seguintes operações matemáticas:
Cos φ = 0,68, logo cos-1 φ = 47,16, ou seja, o cosseno de 0,68 corresponde a um ângulo de 47,16°.
A partir desse cálculo, determinamos a tangente do ângulo, ou seja: tan 47,18° = 1,08.
Da mesma forma, determinamos a tangente do ângulo de correção desejado.
EXEMPLO:
Uma carga P = 612 kW tem fator de potência de 0,68, que desejamos corrigir
para 0,93.
Cos φ = 0,68 será um ângulo, como já vimos, de 47,16° , logo, sua tangente será
tan 47,18° = 1,08.
Queremos a correção para 0,93, ou cos φ = 0,93, que corresponde a um ângulo
cos-1 0,93 = 21,56°. Então, tan 21,56° = 0,39. Colocando os dados na fórmula
inicial, temos:

Assim, teríamos o montante de reativo necessário para a correção de nossa instalação.


EXERCÍCIOS:
1 - O que é fator de potência?
2 - Entre as alternativas abaixo, qual é a forma de compensação realizada em conjuntos de cargas?
a) Compensação total na entrada em alta tensão
b) Compensação total na entrada em baixa tensão
c) Compensação parcial
d) Compensação individual
4 - Qual o efeito de indutâncias e capacitâncias em um Sistema Elétrico?
5 - Cite pelo menos 3 benefícios que ocorrem em uma instalação elétrica quando realizamos a
correção do fator de potência.
6 - No triângulo de potências abaixo, o que representa cada lado do triângulo? Onde identificamos e
como calculamos o fator de potência?
7 - No triângulo de potências da questão anterior, como podemos demonstrar que a correção do
fator de potência melhora nossa entrega de potência ativa ao Sistema?
8 - Em um sistema elétrico, temos uma potência instalada de P = 450 kW e um fator de potência
de 0,72. Queremos corrigir este fator de potência para 0,92. Quanto de reativo é necessário?
Qual o valor do banco de capacitores?

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