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DOI: 10.48011/asba.v2i1.

1065

Análise do desempenho de inversores fotovoltaicos conectados à rede segundo


ABNT NBR 16149 em diferentes cenários de impedância de rede
Igor A. B. de Bitencourt. Henrique H. Figueira. Leandro Michels.

Instituto de Redes Inteligentes, Santa Maria, RS


(Tel: 055-32208924; e-mail: igor.labensaios@gepoc.ufsm.br, henrique@inriufsm.com.br, michels@gepoc.ufsm.br )

Abstract: The growth of Distributed Generation (DG) in the electricity grid can be a challenge in the
electrical power system in terms of Electric Power Quality (QEE). The stability of photovoltaic inverters
(PV) is essential for the proper functioning of these systems. Based on tests carried out on different
models of PV inverters, this study demonstrates that these equipments can present deterioration of
operation when inserted in a grid with high impedance. The tests were carried out in accordance with the
Brazilian standards ABNT NBR 16149 and ABNT NBR 16150 to analyze the quality of energy supplied
in two PV inverters with nominal power of 1.5 kW and 3 kW. The continuous component injection, the
levels of total harmonic distortion and harmonics, the variation of voltage and frequency and the power
factor of the inverters when inserted at different impedance levels at the common coupling point were
analyzed.
Resumo: O crescimento da Geração Distribuída (GD) na rede elétrica pode ser um desafio no sistema
elétrico de potência quanto à Qualidade de Energia Elétrica (QEE). A estabilidade de inversores
fotovoltaicos (FV) é fundamental para o funcionamento adequado destes sistemas. Com base em ensaios
realizados em diferentes modelos de inversores FV, este estudo demonstra que estes equipamentos
podem apresentar deterioramento do funcionamento quando inseridos em uma rede com alta impedância.
Os ensaios foram realizados de acordo com as normas Brasileiras ABNT NBR 16149 e ABNT NBR
16150 para analisar a qualidade de energia fornecida em dois inversores FV com potência nominal de 1,5
kW e 3 kW. Foi analisada a injeção de componente contínua, os níveis de distorção harmônica total e
harmônicos, a variação de tensão e de frequência e o fator de potência dos inversores quando inseridos
em diferentes níveis de impedância no ponto de acoplamento comum.
Keywords: ABNT NBR 16149; Distributed generation; Grid impedance; Quality of electrical energy;
Grid-connected photovoltaic system;
Palavras-chaves: ABNT NBR 16149; Geração distribuída; Impedância de rede; Qualidade de energia
elétrica; Sistema fotovoltaico conectado à rede;

1. INTRODUÇÃO Os inversores fotovoltaicos são os responsáveis pelo


condicionamento da energia gerada pelo sol, nos quais devem
O desenvolvimento de alternativas sustentáveis para geração entregar a energia com padrões mínimos de Qualidade de
de energia elétrica é um tema em destaque atualmente. A Energia Elétrica (QEE) com finalidade de manter a qualidade
possível escassez de combustíveis fósseis, juntamente com as do sistema elétrico de potência (Pinto Neto, 2012). De acordo
grandes taxas de poluição gerada por estas fontes de energia, com a Portaria INMETRO nº 357 (2014) (INMETRO, 2014),
tornam cada vez mais clara a necessidade do inversores de até 10 kW conectados à rede devem estar em
desenvolvimento de fontes de energia renováveis. Nesse conformidade com os limites apresentados na ABNT NBR
cenário, a integração entre sistemas de energia centralizada e 16149 (ABNT, 2013a) e os procedimentos de ensaio
distribuída é uma questão muito relevante para a expansão do definidos na ABNT NBR 16150 (ABNT, 2013b), além de
sistema elétrico brasileiro . incluir outros dois ensaios na própria portaria.
Os avanços nas tecnologias de semicondutores contribuíram É importante ressaltar que a compatibilidade eletromagnética
fortemente para o desenvolvimento de inversores de baixa frequência, definida pela ABNT NBR 16149, é
fotovoltaicos, tornando a energia fotovoltaica mais baseada nas normas internacionais IEC 61000-3-3 (IEC,
competitiva no cenário mundial. Desta forma, os Sistemas 2017b), IEC 61000-3-11 (IEC, 2017a) e IEC 61000-3-5 (IEC,
Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica (SFCR) vem 2009). Estas normas especificam condições de teste,
ganhando destaque nos sistemas de Geração Distribuída (GD) impedância de rede padrão e limites de variação de tensão
(REN21, 2020). para equipamentos conectados à rede.
Entretanto, os níveis de impedância no sistema elétrico 2.1 Compatibilidade com a rede
brasileiro podem variar de acordo com a região e o ponto de
conexão do sistema, uma vez que os níveis e configurações A QEE fornecida pelo sistema fotovoltaico à rede elétrica é
de tensão entre os transformadores não são padronizados e regida por práticas e normas referentes à tensão, cintilação,
apresentam variações entre estados e municípios (Saccol et frequência, distorção harmônica e fator de potência. O desvio
al., 2019). Além disso, muitos sistemas FV, especialmente dos padrões estabelecidos por essas normas caracteriza uma
grandes usinas FV, estão localizados em áreas rurais, onde a condição anormal de operação, devendo o sistema
impedância de rede equivalente correspondente é elevada fotovoltaico ser capaz de identificar esse desvio e cessar o
podem levar a problemas de estabilidade dos inversores fornecimento de energia à rede.
(Zhang et al., 2020). Desta forma, a adoção de valores de
impedância de referência, conforme definido nas normas A tensão, a potência e a frequência do sistema fotovoltaico
europeias, nem sempre é o mais adequado para inversores no devem ser compatíveis com a rede elétrica local. Os sistemas
Brasil. Nesse sentido, ajustes nos valores de impedância fotovoltaicos conectados à rede não regulam tensão, e sim a
definidos nas normas IEC 61000-3-3 e 61000-3-11 podem ser corrente injetada. Portanto, a faixa de operação normal de
necessários para tornar os testes dos inversores compatíveis tensão do sistema é selecionada como uma função de
com a rede brasileira (Saccol et al., 2019). proteção, que responde às condições anormais da rede no
local de instalação.
Atualmente, diversos trabalhos têm sido publicados sobre o
desempenho de inversores em redes fracas. Em XU et al. A operação do sistema fotovoltaico não pode causar
(2013) é avaliado diferentes métodos de controle utilizados cintilação acima dos limites mencionados nas seções
nos inversores, validando a estabilidade do sistema e a pertinentes da IEC 61000-3-3 (para sistemas com corrente
aplicabilidade de cada método no caso da rede fraca. Em JIA inferior a 16 A), IEC 61000-3-11 (para sistemas com corrente
et al. (2017) é apresentada uma análise de estabilidade de superior a 16 A e inferior a 75 A) e IEC 61000-3-5 (para
pequenos sinais para múltiplos inversores FV em paralelo sistemas com corrente superior a 75 A). As normas
conectados à rede em diferentes intensidades rede. Em mencionadas acima, estipulam condições de testes para a
HÖCKEL et al. (2017) é discutido as instabilidades de tensão realização deste ensaio, estabelecendo procedimentos,
causadas pelos inversores em redes fracas, comprovando que circuitos e métodos de avaliação que devem ser usados nos
a estabilidade dos inversores depende diretamente da testes de flutuação de tensão do equipamento. Assim, para a
impedância de rede no ponto de acoplamento comum. Em realização desses testes, o Equipamento Sob Ensaio (ESE)
ZHANG et al. (2020) é fornecido um levantamento dos deve ser conectado à rede elétrica de acordo com o circuito
problemas de estabilidade de inversores FV em condições de da Fig. 1, onde R, S e T representam as fases da fonte de
rede fraca, discutindo os problemas de estabilidade nos alimentação trifásica, ZF representa a impedância de
circuitos de controle e na tensão de saída do inversor. referência do condutor de fase e ZN a impedância de
referência do condutor neutro, ambos definidos de acordo
Neste contexto, este trabalho propõe uma análise comparativa com a norma IEC TR 60725 (IEC, 2012), onde estes valores
do desempenho de inversores fotovoltaicos em diferentes de impedância estão resumidos na Tabela 1. Cabe ressaltar
cenários de impedância de rede. Neste estudo de caso foram que essas normas foram elaboradas para atender ao sistema
realizados ensaios em dois inversores fotovoltaicos, com europeu de fornecimento de energia, o que pode se tornar
potência nominal de 1,5 kW e de 3 kW. inadequado em certas situações quando aplicado ao sistema
brasileiro de distribuição de eletricidade.
Este trabalho está organizado da seguinte maneira: a Seção 2
trata dos principais critérios da ABNT NBR 16149 utilizados Tabela 1. Valores de referência de impedância conforme
neste trabalho, a Seção 3 trata da bancada de ensaio utilizada norma europeia IEC/TR 60725
para o desenvolvimento dos ensaios, a Seção 4 trata dos
resultados e discussão obtidos, a Seção 5 apresenta uma Capacidade de corrente do condutor
Parâmetro
breve conclusão do trabalho e, por fim, a Seção 6 apresenta Inferior a 100 A Superior a 100 A
as referências do trabalho. ZF 0,24 + j0,15 Ω 0,15 + j0,15 Ω
ZN 0,16 + j0,10 Ω 0,10 + j0,10 Ω
2. Limites de operação segundo a ABNT NBR 16149
Quando a injeção de componente c.c. na rede for superior a
Devido ao elevado crescimento do uso de sistemas 0,5% da corrente nominal do ESE, o sistema fotovoltaico
fotovoltaicos no Brasil nos últimos anos, a regulamentação deve cessar o fornecimento de energia à rede.
destes sistemas tornou-se necessário como forma de não
causar impactos na qualidade de energia fornecida pela rede. A energia injetada pelo sistema fotovoltaico deve ter baixos
A ABNT NBR 16149 trata das características de interface e níveis de distorção harmônica de corrente para garantir que
conexão entre sistemas fotovoltaicos e a distribuição nenhum efeito adverso ocorra em outro equipamento
brasileira de baixa tensão. As subseções a seguir abordam os conectado à rede. A Distorção Harmônica Total (THD) de
principais tópicos desta norma relevantes neste trabalho. corrente deve ser inferior a 5% em relação à corrente
Tabela 3. Respostas às condições anormais de tensão e
frequência
Tensão no ponto comum de Tempo máximo de
conexão (% em relação à desligamento (s)
Tensão Nominal)
V < 80 0,4
80 ≤ V ≤ 110 Regime normal de operação
110 < V 0,2
Tempo máximo de
Frequência da rede (Hz) desligamento (s)
f < 57,5 0,2
57,5 ≤ f ≤ 62,0 Regime normal de operação
Fig. 1 Rede de referência para testes de cintilação 62,0 < f 0,2

fundamental na potência nominal do inversor. Além disso,


cada harmônica individual deve estar limitada aos valores 3.1 Simulador de rede c.a.
indicados na Tabela 2.
O simulador de rede c.a. é responsável por simular as
Tabela 2. Limite de distorção harmônica de corrente condições encontradas em uma rede c.a. convencional, além
Harmônicas ímpares Limite de distorção de ser capaz de simular falhas ou condições anormais, como
3º a 9º < 4,0% variações de tensão, frequência, deslocamento de fase, entre
11º a 15º < 2,0% outros. O equipamento utilizado neste trabalho é uma fonte
17º a 21º < 1,5% de alimentação c.a. trifásica, modelo FCATQ 10000-60-40
23º a 33º < 0,6% PFC55450, do fabricante Supplier, nas quais as caraterísticas
Harmônicas pares Limite de distorção atendem a todos os requisitos da ABNT BNR 16150.
2º a 8º < 1,0%
10º a 32º <0,5%
3.2 Simulador de gerador fotovoltaico
Para sistemas fotovoltaicos com potência nominal menor ou O simulador de gerador fotovoltaico é responsável por
igual a 3 kW, quando a potência ativa injetada na rede for fornecer energia para o ESE, simulando a curva I-V com
superior a 20% da potência nominal do inversor, o sistema comportamento similar de um gerador fotovoltaico,
fotovoltaico deve apresentar fator de potência (FP) igual a 1 permitindo a realização de ensaios em qualquer ponto de
ajustado de fábrica, com tolerância de trabalho na faixa de operação do inversor. O uso destes simuladores é essencial
0,98 indutivo até 0,98 capacitivo. para os ensaios, pois eliminam a dependência da radiação
solar, além de possibilitarem a repetibilidade dos ensaios. O
2.2 Segurança pessoal e proteção do sistema FV equipamento utilizado para a realização dos ensaios foi o
simulador fotovoltaico, modelo N8957APV, do fabricante
Os critérios de proteção do sistema fotovoltaico e de Keysight, nas quais as características atendem a todos os
segurança pessoal, como perda de tensão da rede, variações requisitos da ABNT NBR 16150.
de tensão e frequência, proteção contra ilhamento, reconexão,
aterramento, proteção contra curto-circuito, isolação e 3.3 Analisador de energia
seccionamento e religamento automático fora de fase, devem
ser garantidos para a operação segura e correta do SFCR, a Para garantir medidas corretas com níveis de exatidão que
fim de evitar danos no equipamento e situações de risco e atendem à norma ABNT NBR 16150, o analisador de energia
acidentes pessoais. é um equipamento adequado para as medidas das grandezas
Os limites de tensão e frequência para operação do sistema de interesse dos ensaios. O equipamento utilizado para a
fotovoltaico estabelecidos pela ABNT NBR 16149 são realização dos ensaios foi um analisador de energia, modelo
apresentados na Tabela 3. O sistema fotovoltaico deve LMG 670, do fabricante Zimmer, no qual atende a todos os
perceber uma condição anormal de tensão e cessar o requisitos da ABNT NBR 16150. Para a medição de corrente
fornecimento à rede quando as condições de regime normal foram utilizadas ponteiras de corrente, modelo PTC-200,
de operação não forem cumpridas. capazes de realizar leituras de até 200 A.

3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.3 Equipamento sob ensaio


Para a realização deste trabalho seguiu-se as definições da Neste estudo foram utilizados dois modelos de inversores
ABNT NBR 16150, onde são especificados os procedimentos fotovoltaicos, uma amostra de cada modelo. Os modelos
de ensaio bem como os equipamentos utilizados na interface utilizados não foram identificados a fim de preservar o nome
de conexão entre o sistema fotovoltaico e a rede de dos fabricantes. As especificações das amostras utilizadas são
distribuição de energia. Os equipamentos utilizados são descritas na Tabela 4.
descritos nas seguintes subseções.
Tabela 4. Especificações técnicas dos inversores
fotovoltaicos analisados
Parâmetro Amostra 1 Amostra 2
Potência (W) 1500 3000
Tensão (V) 220 220
Forma de conexão com a rede Monofásico Monofásico
Tensão de SPMP mínima (V) 125 125
Tensão de SPMP máxima (V) 400 380
Tensão CC máxima (V) 450 440
Corrente CC máxima (A) 12 10

3.4 Carga de impedância de rede

Para poder inserir os inversores em diferentes condições de


impedância de rede, um branco resistivo e indutivo foi Fig. 3 Protótipo montado da carga de impedância de rede.
construído de modo que diferentes arranjos de impedância
pudessem ser configurados. Deste modo, para simular redes Tabela 5. Condições de impedância de rede
com baixa impedância, média impedância e alta impedância
foi construída uma carga trifásica ajustável por meio de Impedância
Arranjo Indutor Resistor equivalente (Ω)
disjuntores com capacidade de suportar até 35 A por fase. O
esquema de ligação desta carga é apresentado na Fig. 2 e o Z1 XL1 R1 0,08 + j0,05
protótipo construído apresentado na Fig. 3. Cabe ressaltar que Z2 XL1+XL2 R1+R2 0,16 + j0,10
Z3 XL1+XL2+XL3 R1+R2 +R3 0,24 + j0,15
os inversores utilizados nos ensaios são monofásicos, porém
ZN XL1+XL2 R1+R2 0,16 + j0,10
os ensaios foram realizados em fases distintas da carga
construída.
4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS
Neste trabalho foram utilizados 3 arranjos distintos de
impedância para os testes nos inversores, conforme Tabela 5. Esta seção apresenta os resultados obtidos dos ensaios
especificados acima, realizados nas amostras apresentadas na
Tabela 4, onde cada ensaio foi reproduzido com uma
impedância de rede mencionada na Tabela 5. Cabe ressaltar
que a impedância de neutro ZN utilizada para todos os casos
foi fixada com valor de 0,16 + j0,1 Ω.

Tabela 6. Resultados dos ensaios de injeção de


componente c.c.
Potência nominal
Z1
33% 66% 100%
Amostra 1 Pc.a. (W) 495,2 990,3 1500,9
Ic.c. (mA) 1,8 0,5 -2,3
Amostra 2 Pc.a. (W) 990,0 1980,8 3001,6
Ic.c. (mA) 22,9 -169,0 -307,2
Potência nominal
Z2
33% 66% 100%
Fig. 2 Esquemático da carga de impedância de rede. Amostra 1 Pc.a. (W) 495,3 990,4 1500,9
Ic.c. (mA) 0,6 1,9 2,1
Amostra 2 Pc.a. (W) 990,0 1980,1 3005,7
3.4 Ensaios realizados
Ic.c. (mA) -5,1 -200,1 -243
Potência nominal
Os ensaios realizados para analisar o desempenho dos Z3
33% 66% 100%
inversores nos diferentes cenários de impedância de rede Amostra 1 Pc.a. (W) 495,1 990,7 1501,0
quanto à QEE foram os seguintes: Ic.c. (mA) -2,1 -0,3 0,7
• Injeção de componente c.c.; Amostra 2 Pc.a. (W) 989,7 1988,8 2969,3
Ic.c. (mA) 18,1 -168,8 -550,5
• Harmônicos e THD;
• Tensão de desconexão; 4.1 Injeção de componente c.c.
• Frequência de desconexão;
• Fator de Potência. O inversor fotovoltaico deve parar de fornecer energia à rede
em até um segundo caso a injeção de componente c.c. for
superior a 0,5% da corrente nominal do inversor. Desta
maneira, de acordo com os limites estabelecidos pela ABNT
NBR 16149, nota-se que a amostra 2 reprovou neste ensaio para as condições de impedância Z2 e Z3, e um desvio nas
para as curvas de 66% e 100% da potência nominal em todos harmônicas pares na condição de Z1.
os cenários.
Os resultados dos ensaios de harmônicos e THD da amostra 1
Os resultados dos ensaios de injeção de componente c.c. e 2 podem ser analisados nas Fig. 4(a) até Fig. 6(a). As Fig
realizados nas amostras 1 e 2 são apresentados na Tabela 6. 4(b) até 6(b) mostram a forma de onda de tensão e corrente
da amostra 2, evidenciando a instabilidade do sistema ao
4.2 Harmônicos e THD passo que a intensidade de rede vai aumentando. A critério de
comparação, a Fig. 7 apresenta a forma de onda de tensão e
O ESE é considerado em conformidade se a distorção corrente da amostra 1 para o pior caso de impedância (Z3),
harmônica total de corrente for inferior a 5% em relação à evidenciando um bom desempenho do controle de corrente
corrente fundamental na potência nominal do inversor. Além do inversor no pior caso da rede. O comportamento desta
amostra mostrou-se satisfatório em todas as condições de
disso, cada harmônica individual de corrente deve estar
impedância utilizadas nos ensaios.
limitada aos valores apresentados na Tabela 2.
Analisando os resultados da amostra 2, é possível notar um
A amostra 1 foi aprovada em todos os ensaios de harmônicos
e THD, ao passo que a amostra 2 teve seus ensaios grande impacto à medida que a impedância da rede aumenta.
Isto evidencia que o ESE não tem um controle de corrente
reprovados em todas as condições de impedância,
adequado para redes com níveis de impedância maiores.
apresentado uma distorção harmônica total muito elevada

(a) (b)
Fig. 4 Harmônicos e THD para Z1: (a) Conteúdo harmônico e (b) Forma de onda da tensão (vermelho) e corrente (verde) da amostra 2
para Z1

(a) (b)
Fig. 5 Harmônicos e THD para Z2: (a) Conteúdo harmônico e (b) Forma de onda da tensão (vermelho) e corrente (verde) da amostra 2
para Z2

(a) (b)
Fig. 6 Harmônicos e THD para Z3: (a) Conteúdo harmônico e (b) Forma de onda da tensão (vermelho) e corrente (verde) da amostra 2
para Z3
Tabela 8. Resultados dos ensaios de frequência de
desconexão
Frequência de Frequência de
Amostra 1 desconexão por desconexão por
sobrefrequência subfrequência
(Hz) (Hz)
Z1 62,0 57,5
Z2 62,0 57,5
Z3 62,0 57,5
Frequência de Frequência de
Amostra 2 desconexão por desconexão por
sobrefrequência subfrequência
Fig. 7 Forma de onda da tensão (vermelho) e corrente (verde) (Hz) (Hz)
da amostra 1 para Z3. Z1 62,0 57,5
Z2 62,1 57,5
3 Tensão de desconexão Z3 Não realizado Não realizado

O ESE é considerado em conformidade se os critérios 4.5 Fator de potência


mencionados na Tabela 3 forem cumpridos, com uma
tolerância de aprovação de + 2% para sobretensão e ± 2% O ESE é considerado em conformidade se o fator de potência
para subtensão. ajustado de fábrica for igual a 1, com tolerância de trabalho
na faixa de 0,98 indutivo até 0,98 capacitivo, quando a
Este ensaio não foi realizado na condição de impedância Z3 potência ativa injetada na rede for superior a 20 % da
para a amostra 2, a fim de evitar a queima do ESE, pois este potência nominal do inversor.
apresentou um comportamento crítico de operação
observados nos ensaios de harmônicos e THD. A Tabela 7 A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos nos ensaios de
apresenta os limites de tensão dos ensaios realizados. fator de potência.

Tabela 7. Resultados dos ensaios de tensão de desconexão Tabela 9. Resultados dos ensaios de fator de potência
Tensão de Tensão de Z1 Amostra 1 Amostra 2
Amostra 1 desconexão por desconexão por Potência
nominal Pca (W) FP Pca (W) FP
sobretensão (V) subtensão (V)
Z1 245,6 176,1 10% 147,6 0,762 300,4 0,954
Z2 245,6 176,6 20% 299,3 0,950 596,8 0,988
Z3 245,6 176,6 30% 449,3 0,986 899,4 0,995
Tensão de Tensão de 50% 750,5 0,984 1498,4 0,998
Amostra 2 desconexão por desconexão por 75% 1125,0 0,984 2253,3 0,998
sobretensão (V) subtensão (V) 100% 1499,0 0,992 3005,8 0,999
Z1 243,6 176,1 Z2 Amostra 1 Amostra 2
Z2 240,6 176,6 Potência
nominal Pca (W) FP Pca (W) FP
Z3 Não realizado Não realizado
10% 149,3 0,767 299,9 0,954
Para os ensaios de sobretensão e subtensão, considerando a 20% 299,1 0,934 597,5 0,988
tolerância de aprovação, ambas as amostras foram aprovadas 30% 449,7 0,986 898,2 0,996
em todas as condições de impedância, com exceção da 50% 749,3 0,985 1500,2 0,998
75% 1125,4 0,984 2250,4 0,998
amostra 2 para o ensaio de sobretensão na condição Z2.
100% 1501,8 0,992 3007,7 0,984
Z3 Amostra 1 Amostra 2
4.4 Frequência de desconexão Potência
nominal Pca (W) FP Pca (W) FP
O ESE é considerado em conformidade se os critérios 10% 149,3 0,770 299,3 0,958
mencionados na Tabela 3 forem cumpridos, com uma 20% 299,0 0,934 598,7 0,988
tolerância de aprovação de ± 0,1 Hz para ambos os casos. 30% 449,2 0,986 899,1 0,996
50% 750,6 0,985 1502,1 0,998
Este ensaio não foi realizado na condição de impedância Z3 75% 1124,1 0,984 2249,9 0,995
para a amostra 2, pelo mesmo motivo mencionado no ensaio 100% 1500,8 0,992 2998,3 0,971
anterior. A Tabela 8 apresenta os limites de frequência dos
ensaios realizados. Ambas as amostras foram aprovadas para os ensaios de fator
de potência em todas as condições de impedância, exceto a
Ambas as amostras foram aprovadas nos ensaios de amostra 2 para a condição de impedância Z3, novamente
frequência de desconexão em todas as condições de devido à instabilidade do controle de corrente do inversor.
impedância de rede.
4.5 Análise e discussão dos resultados individuais da amostra 2 foram reprovados para todos os
níveis de impedância, ao passo que a THD foi reprovada para
A partir dos ensaios realizados, verificou-se que as amostras os níveis Z2 e Z3.
apresentaram um desempenho muito diferente entre si. A
amostra 1 apresentou um bom desempenho, aprovando em Os ensaios de tensão de desconexão, de frequência de
todos os ensaios realizados, enquanto a amostra 2 apresentou desconexão e de fator de potência, tiveram bons resultados
um desempenho insatisfatório. para ambas as amostras. Para os testes de tensão e frequência,
considerando a tolerância de aprovação dos limites
Os ensaios de injeção de componente c.c. e de harmônicos e estabelecidos na ABNT NBR 16149, ambas as amostras
THD apresentaram os resultados mais críticos, quando foram aprovadas para todos os níveis de impedância. Ao
comparados aos limites de aprovação definidos pela ABNT passo que, no ensaio de fator de potência, a amostra 2 teve o
NBR 16149. ensaio reprovado na curva de 100% da potência nominal para
o nível Z3 de impedância.
Nos ensaios de injeção de componente c.c, a amostra 2 teve
seus testes reprovados nas curvas de 66% e 100% da potência A Tabela 10 apresenta um comparativo dos ensaios indicando
nominal para os três níveis de impedância. os desvios percentuais dos resultados reprovados em relação
ao limite de aprovação das amostras.
Nos ensaios de harmônicos e THD, os limites das harmônicas
Os resultados extraídos dos ensaios através do analisador de
energia podem ser acessados no seguinte link:
Tabela 10. Desvios percentuais de reprovação dos ensaios https://drive.google.com/drive/folders/1W2GU4KbtLUew1-
(continua) 6fm5xltSXMvzPPy3JB?usp=sharing.
Injeção de Componente c.c.
5. CONCLUSÃO
Componente c.c (mA) Desvio (%)
ESE Imp. Potência nominal Limite Este trabalho propôs uma breve análise da QEE injetada na
33% 66% 100% 66% 100% (mA) rede de dois inversores fotovoltaicos distintos, apresentando
Z1 1,8 0,5 -2,3 - - resultados de ensaios com base na ABNT NBR 16149 e da
1 Z2 0,6 1,9 2,1 - - ±34,1 ABNT NBR 16150 inseridos em diferentes cenários de
impedância de rede.
Z3 -2,1 -0,3 0,7 - -

Z1 22,9 -169,0 -307,2 147 350,5


A norma brasileira para certificação de inversores
±68,2
fotovoltaicos ABNT NBR 16150 define o uso de uma
2 Z2 -5,1 200,1 -243,0 193 256,4 impedância de rede em série com o emulador de rede apenas
Z3 18,1 -168,8 -550,5 147 707,4 para o ensaio de cintilação. Através dos resultados deste
trabalho foi demonstrado nos ensaios de harmônicos e THD e
Distorção Harmônica Total (THD)
Potência nominal de injeção de componente contínua um desempenho
100% deteriorado da amostra 2 quando conectada em uma rede com
ESE Imp. Limite alta impedância. Nos testes de injeção de componente c.c., os
THD (%) Desvio (%) desvios percentuais apresentados foram de 147% a 707,4%
(%)
- em relação aos limites permitidos; enquanto nos testes de
Z1 1,97
THD foram de 4,87% a 29,42% à medida em que a
1 Z2 1,88 - impedância aumentava.
Z3 1,77 -
5,00 Este tipo de comportamento comprometerá a QEE fornecida
Z1 4,03 - pela rede elétrica. Por isso é muito importante levar em
2 Z2 9,87 4,87 consideração os níveis de impedância da rede no ponto de
29,42 acoplamento comum em um SFCR, optando pelo uso de
Z3 34,42
inversores FV que possuam um controle robusto a variação
Tensão de desconexão por sobretensão da impedância da rede.
Potência nominal
100% AGRADECIMENTOS
ESE Imp. Limite
Tensão (V) Desvio (%)
(V) O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação
Z1 245,6 1,49 de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
1 1,49
(CAPES/PROEX) - Código de Financiamento 001.
Z2 245,6
Z3 245,6 1,49 242,0 6. REFERÊNCIAS
Z1 243,6 0,66
2 ABNT (2013a) ‘ABNT NBR 16149 Sistemas fotovoltaicos
Z2 240,6 -0,58
(FV) – Características da interface de conexão com a rede
elétrica de distribuição’.
Tabela 10. Desvios percentuais de reprovação dos ensaios
doi: 10.1109/MPE.2018.2884113.
(conclusão)
Tensão de desconexão por subtensão
Höckel, M. et al. (2017) ‘Measurement of voltage
Potência nominal instabilities caused by inverters in weak grids’, CIRED -
100% Open Access Proceedings Journal, 2017(1), pp. 770–774.
ESE Imp. Limite doi: 10.1049/oap-cired.2017.0997.
Tensão (V) Desvio (%)
(V)
0,06 IEC (2009) ‘IEC TS 61000-3-5 Electromagnetic
Z1 176,1
compatibility (EMC) - Part 3-5: Limits - Limitation of
1 Z2 176,6 0,34
voltage fluctuations and flicker in low-voltage power supply
Z3 176,6 0,34 176,0 systems for equipment with rated current greater than 75 A’.
Z1 176,1 0,06
2 IEC (2012) ‘IEC TR 60725 Technical Report’. IEC.
Z2 176,6 0,34

Frequência de desconexão por sobrefrequência IEC (2017a) ‘IEC 61000-3-11 Electromagnetic compatibility
Potência nominal (EMC) - Part 3-11: Limits - Limitation of voltage changes,
100% voltage fluctuations and flicker in public low-voltage supply
ESE Imp.
Frequência (Hz) Desvio (%)
Limite systems - Equipment with rated current ≤ 75 A and subject to
(Hz) conditional connection’.
Z1 62,0 -
1 - IEC (2017b) ‘IEC 61000-3-3 Electromagnetic compatibility
Z2 62,0
62,0 (EMC) - Part 3-3: Limits - Limitation of voltage changes,
Z3 62,0 -
voltage fluctuations and flicker in public low-voltage supply
Z1 62,0 - systems, for equipment with rated current ≤ 16 A per phase
2
0,16 and not subject to conditional c’.
Z2 62,1
Frequência de desconexão por subfrequência INMETRO (2014) ‘Portaria n.o 357, de 01 de agosto de
Potência nominal 2014’, p. 10. Available at:
100% http://www.inmetro.gov.br/legislacao/rtac/pdf/RTAC002145.
ESE Imp. Desvio Limite
Frequência (Hz) pdf.
(%) (Hz)
Z1 57,5 - Jia, Q. et al. (2017) ‘Small signal stability analysis of
1 Z2 57,5 - paralleled inverters for multiple photovoltaic generation units
- 57,5 connected to weak grid’, The Journal of Engineering,
Z3 57,5
2017(13), pp. 2015–2020. doi: 10.1049/joe.2017.0683.
Z1 57,5 -
2
Z2 57,5 - Pinto Neto, A. F. de C. (2012) QUALIFICAÇÃO E
Fator de potência ETIQUETAGEM DE INVERSORES PARA SISTEMAS
FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE. USP.
Potência nominal
30% 50% 75% 100% 100% REN21 (2020) Renewables 2020 Global Status Report,
ESE Desvio Limite
Fator de potência REN21 Secretariat. Available at:
(%) http://www.ren21.net/resources/publications/.
0,986 0,984 0,984 0,992 -
1 0,986 0,985 0,984 0,992 - ±0,98 Saccol, G. A. et al. (2019) ‘Reference Grid Impedance for
Tests of Grid-connected Power Converters for Distributed
0,986 0,985 0,984 0,992 - Energy Resources: The Brazilian Case’, 2019 IEEE 15th
0,995 0,998 0,998 0,999 - Brazilian Power Electronics Conference and 5th IEEE
2 0,996 0,998 0,998 0,984 - ±0,98 Southern Power Electronics Conference, COBEP/SPEC
2019. doi: 10.1109/COBEP/SPEC44138.2019.9065649.
0,996 0,998 0,995 0,971 -0,41
Xu, J., Xie, S. and Tang, T. (2013) ‘Evaluations of current
ABNT (2013b) ‘ABNT NBR 16150 Sistemas fotovoltaicos control in weak grid case for grid-connected LCL-filtered
(FV) — Características da interface de conexão com a rede inverter’, IET Power Electronics, 6(2), pp. 227–234. doi:
elétrica de distribuição — Procedimento de ensaio de 10.1049/iet-pel.2012.0192.
conformidade’.
Zhang, Q. et al. (2020) ‘Stability problems of PV inverter in
Ferreira, R. et al. (2019) Electrical Expansion in South weak grid: a review’, IET Power Electronics, 13(11), pp.
America: Centralized or Distributed Generation for Brazil 2165–2174. doi: 10.1049/iet-pel.2019.1049.
and Colombia, IEEE Power and Energy Magazine. IEEE.

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