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Notas de Aula

Eletrotécnica Básica
Texto retirado, em sua grande maioria, do livro Circuitos Elétricos de autoria de Otavio Markus

3º Semestre – Engenharia Elétrica Profª Engª Camila Soares


Eletrotécnica Básica – Aula 1

PRINCÍPIOS DE ELETRODINÂMICA

Tensão Elétrica

Suponha um campo elétrico E criado por uma carga Q positiva. Colocando-se um elétron,
cuja carga é negativa, num determinado ponto dentro deste campo, ele se movimentará
em sentido oposto ao do campo em direção à carga Q. Assim, seguindo o mesmo
raciocínio, se ao invés de um elétron, submetermos ao mesmo campo, um próton, cuja
carga elétrica é positiva, este se afastará da carga geradora do campo.

Figura 1 - Movimento das cargas de acordo com sua polaridade.

Sabemos que, o potencial gerado pelo campo elétrico em um determinado ponto é


inversamente proporcional à distância entre a carga geradora do campo e este ponto.

Figura 2 – Potencial elétrico inversamente proporcional à distância.

Sendo assim, podemos analisar que o elétron citado acima movimenta-se do potencial
menor para o maior e que o próton movimenta-se do potencial maior para o menor.
Com base nessas informações, podemos concluir que, para que uma carga se
movimente, ou em outras palavras, haja condução de eletricidade, é necessário que a
carga seja submetida a uma diferença de potencial (ddp).
A essa diferença de potencial entre dois pontos chamamos de tensão elétrica. Ela pode
ser representada pelas letras U, V ou E e sua unidade é o Volt [V].

Corrente Elétrica

Alguns materiais, principalmente os metais, possuem uma particularidade química que se


resume ao fato de que seus elétrons de valência têm a capacidade de desprenderem-se
facilmente dos seus átomos tornando-se “livres”. Esses materiais são os chamados
condutores.
Se aplicarmos uma ddp nas extremidades de um desses materiais, conforme vimos
anteriormente, seus elétrons “livres” se movimentarão de maneira ordenada no sentido do
menor para o maior potencial. A esse movimento de elétrons é dado o nome de corrente
elétrica. Esta pode ser simbolizada pelas letras i ou I e sua unidade de medida é o
ampére [A].

Intensidade de Corrente

A intensidade de corrente nada mais é do que a variação de carga dQ [C] que atravessa a
seção transversal de um determinado condutor por um certo intervalo de tempo dt [s]. Ou
dQ
seja: i = .
dt

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Corrente Elétrica Real e Convencional

Já sabemos que nos condutores metálicos, por exemplo, a corrente elétrica é o


movimento de elétrons, que possuem cargas negativas, e que se movimentam do
potencial menor para o maior.
Sendo assim, buscando evitar a utilização de valores negativos para a corrente, foi
determinada a utilização de um sentido convencional para ela, onde admitimos que num
condutor elétrico metálico a corrente elétrica é formada por cargas positivas deslocando-
se do maior para o menor potencial.

Figura 3 – Corrente real X corrente convencional

Geradores de Tensão e de Corrente

Gerador de Tensão

Um gerador de tensão ideal deve manter constante sua tensão independente da corrente
solicitada pelo circuito que ele alimenta. No entanto, os geradores reais sempre
apresentam perdas internas fazendo com que sua tensão de saída varie de acordo com a
carga nele acoplada ou com a corrente solicitada. Sendo assim, podemos modelar os
geradores de tensão como sendo uma fonte de tensão ideal E em série com uma
resistência elétrica Ri conforme mostrado na Figura 4.

Figura 4 – Modelo gerador de tensão real

Quanto menor a resistência interna do gerador de tensão, menor será sua perda e melhor
seu desempenho. Esse desempenho, ou rendimento, pode ser calculado pela equação
V
η = S .100 [%]
E
A tensão de saída VS, levando em consideração as perdas internas, é dada por
VS = E − R i .I .

Reta de Carga e Ponto Quiescente

Vamos imaginar três situações para um determinado gerador de tensão. Na primeira,


nenhuma carga é ligada ao gerador. Sendo assim não há passagem de corrente e
conseqüentemente não há perdas de tensão na resistência interna. Portanto VS = E.
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Figura 5 – Gerador em aberto

Na segunda situação é acoplada ao gerador uma carga RL fazendo com que circule uma
corrente pelo circuito provocando, conseqüentemente, uma perda de tensão Vi. Sendo
assim VS = E − Vi .

Figura 6 – Gerador com carga

Na terceira e última situação, o gerador é curto-circuitado. Neste caso VS = 0 e a corrente


E
de curto-circuito ICC é limitada exclusivamente pela resistência Ri. Assim, ICC = .
Ri

Figura 7 – Gerador curto-circuitado

Com base nessas três situações é possível traçarmos uma curva característica do
gerador conforme mostrado nas Figuras 5, 6 e 7.
Cada carga ligada ao gerador também possui uma determinada curva característica
chamada curva de carga. Ao sobrepormos uma curva à outra, encontramos o ponto
quiescente Q, no cruzamento de ambas, que nos fornece VS e I para aquela determinada
carga.

Figura 8 – Ponto quiescente

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Gerador de Corrente

Um gerador de corrente ideal deve fornecer corrente constante independente das


variações da carga nele acoplada e da tensão resultante de saída. No entanto, da mesma
forma que nos geradores de tensão, os geradores reais de corrente apresentam perdas
internas causando uma variação na corrente de saída, ou seja, IS < IG. O modelo
equivalente desses geradores, que é formado por uma fonte de corrente ideal IG em
paralelo a uma resistência RL, é mostrado na Figura 9.

Figura 9 - Modelo gerador de corrente real

Ri V
O valor de IS pode ser calculado pelas equações IS = .IG ou IS = IG − .
RL + Ri Ri
Ao contrário dos geradores de tensão, nos geradores de corrente, quanto maior Ri menor
será a perda observada e melhor será o desempenho do gerador. Esse desempenho, ou
I
rendimento, pode ser calculado pela equação η = S .100 [%] .
IG
Exercícios

1. Um fio condutor é percorrido por uma corrente de 10A. Calcule a carga que passa
através de uma seção transversal em 1 minuto.

2. Um motor elétrico é atravessado por 2.1020 elétrons em 4 segundos. Determine a


intensidade da corrente que passa pelo motor.

3. Um gerador de tensão com E=10V e Ri=0,5Ω, quando em uso, apresenta entre os seus
terminais uma ddp de 9V. Determine a corrente que o atravessa e o seu rendimento.

4. Medindo-se a ddp entre os terminais de uma bateria, quando por ela passa uma
corrente de 2A, obtêm-se 11V. Quando em circuito aberto, a medida entre esses terminais
é 12V. Determine a fem (força eletromotriz) E e a resistência interna Ri da bateria.

5. O gráfico a seguir representa, em azul, a curva de um gerador de tensão e, em rosa, a


curva de carga de um determinado resistor. 45
40
Determine: 35
a) A fem E do gerador. 30
25
b) A resistência interna do gerador. U (V)
20
c) A tensão na carga. 15
10
d) A corrente na carga. 5
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
I (A)

6. Uma carga RL=95Ω é acoplada a um gerador de corrente cujo IG=5A e Ri=5Ω. Calcule
a corrente e a tensão entregues a carga e o rendimento desse gerador.

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RESISTÊNCIA ELÉTRICA E LEI DE OHM

Conceito de Resistência Elétrica

A resistência elétrica é uma grandeza característica do resistor e mede a oposição


que seus átomos oferecem à passagem da corrente elétrica. Essa oposição é resultado
da dificuldade que os elétrons livres do material encontram para se deslocarem através
dele.
A resistência elétrica é representada pela letra R e sua unidade de medida é o ohm
[Ω].
Basicamente, o valor da resistência de um determinado material depende de suas
características químicas, de suas dimensões e da temperatura.

Primeira Lei de Ohm

Estudando a corrente elétrica que percorre um resistor, Georg Simon Ohm


determinou, empiricamente, que a resistência R é constante para determinados tipos de
condutores mantidos à temperatura ambiente.
Na experiência, Ohm, tendo aplicado sucessivamente as tensões U1, U2, U3, ..., Un
entre os terminais de um mesmo resistor e obtido, respectivamente, as correntes i1, i2, i3,
..., in, verificou que a razão entre esses valores era sempre constante. Ou seja:

U1 U2 U3 U U
= = = ... = n = cons tan te = = R
i1 i2 i3 in i

Desta maneira Ohm pode postular sua primeira lei onde ele enuncia que num
resistor, mantido a uma temperatura constante, a intensidade da corrente elétrica é
diretamente proporcional à ddp que a originou. Matematicamente: U = R.I .
Essa lei de Ohm é valida para alguns resistores, denominados resistores ôhmicos.
A maioria das resistências elétricas tem comportamento ôhmico, ou seja, linear. Porém,
alguns materiais, principalmente os sensíveis ao calor e à luz, apresentam um
comportamento não linear. A Figura 1 representa a curva de uma resistência ôhmica e
não ôhmica.

Figura 1 – (a) Curva de Carga de uma Resistência Ôhmica. (b) Curva de Carga de uma
Resistência Não Ôhmica

Segunda Lei de Ohm

Experimentalmente, Ohm verificou que a resistência de um resistor depende tanto


do material que o constitui e das suas dimensões como da sua temperatura.
Considerando um resistor cilíndrico de comprimento l e secção transversal S, à
temperatura constante, Ohm verificou que a resistência R do resistor é:
• Diretamente proporcional ao seu comprimento;

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• Inversamente proporcional à área de sua secção transversal.


Levando-se em conta esses fatores, pode-se escrever matematicamente a
Segunda Lei de Ohm como sendo:

l
R = ρ.
S

O coeficiente de proporcionalidade ρ é denominado resistividade elétrica do


material que constitui o resistor. Sendo assim, quanto menor a resistividade de um
material, menor será a sua resistência elétrica. A unidade da resistividade elétrica é Ω.m.
A Tabela 1 mostra a resistividade média de diferentes materiais. Esses valores são
aproximados e referentes a uma temperatura de 20°C.

Tabela 1 – Resistividade Média de Alguns Materiais

Efeito da Temperatura sobre as Resistências Elétricas

Como vimos, a resistividade dos materiais depende da temperatura. Assim, outra


característica dos materiais é o coeficiente de temperatura, que mostra de que forma a
resistividade e, conseqüentemente, a resistência variam com a temperatura.
O coeficiente de temperatura é simbolizado pela letra grega α (alfa), e sua unidade
de medida é °C-1.
A expressão que descreve a variação da resistividade com a temperatura é:

ρ = ρ0 .(1 + α.∆T )
onde:
ρ – resistividade do material à temperatura T [Ω.m];
ρ0 – resistividade do material à uma temperatura de referência T0 [Ω.m];
∆T = T-T0 – variação da temperatura [°C];
α – coeficiente de temperatura do material [°C-1].
A Tabela 2 apresenta o coeficiente de temperatura de alguns materiais.

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Tabela 2 – Coeficiente de Temperatura de Alguns Materiais

Potência Elétrica

O conceito de potência elétrica P está associado à quantidade de energia elétrica τ


desenvolvida em um intervalo de tempo ∆t por um dispositivo elétrico, ou seja:

τ
P=
∆t

Analisando as unidades das variáveis que essa expressão envolve, definimos que
a unidade de medida da potência é joule por segundo J .
s
[ ]
Num circuito elétrico, a potência pode também ser definida como sendo a
quantidade de carga elétrica Q que uma fonte de tensão V pode fornecer ao circuito num
intervalo de tempo ∆t. Assim:

V.Q
P=
∆t

No entanto, Q , conforme já vimos, corresponde a corrente elétrica I fornecida


∆t
pela fonte de alimentação ao circuito. Assim, rearranjando matematicamente as equações
acima, podemos dizer que a expressão da potência é:

P = V.I

Analisando as unidades da expressão acima, definimos que a unidade de potência


elétrica é volt ampére [V.A].
Embora as outras expressões descritas também expressem o valor da potência, a
mais utilizada é a última por associar variáveis que podem ser facilmente medidas com
um simples multímetro.
Em circuitos de corrente contínua, ao invés de usarmos J
s
[ ]
ou [V.A] como
unidade de medida de potência elétrica, é mais usual a utilização de uma unidade
equivalente chamada Watt [W].

Lei de Joule

Combinando a expressão da potência com a Primeira Lei de Ohm, obtemos a


potência elétrica dissipada em um resistor:

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V2
P = R.I2 ou P =
R
Sendo a energia elétrica consumida pelo resistor transformada em calor, obtemos a
expressão:

τ = R.I2 .∆t

Esta expressão é conhecida como Lei de Joule e permite calcular a energia elétrica
transformada em calor num intervalo de tempo ∆t.
A unidade de energia, como já vimos, é o joule [J]. Entretanto, quando se trata de
consumo de energia elétrica é usual o quilowatt-hora (kWh).

Máxima Transferência de Potência

Considere um gerador de tensão cuja equação característica é:

VS = E − Ri .I

Cada ponto da sua curva característica corresponde a uma coordenada (VS, I) para
uma determinada carga. O produto dos valores de cada coordenada corresponde à
potencia em cada carga, ou seja, P = VS .I . Se plotarmos a curva de potência nas cargas
em função de I, obteremos uma parábola, conforme mostra a Figura 2.

Figura 2 – Gráfico das Curvas de Carga, do Gerador e da Potência

O ponto de máxima potência PM, transferida do gerador para a carga, coincide com
as seguintes condições:

E ICC
VS = e I=
2 2

Dessa análise, conclui-se que a carga que propicia a máxima transferência de


potência pode ser calculada por:
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E
VS E
RL = = 2 ∴ RL =
I ICC ICC
2

E
Mas, como vimos anteriormente, = R i . Isso significa que a máxima
ICC
transferência de potência ocorre quando a carga é igual à resistência interna do gerador
de tensão.
A potência máxima PM que o gerador pode fornecer a uma carga pode ser
calculada em função apenas dos seus parâmetros E e Ri:

E ICC 1 1 E E2
PM = . = .E.ICC = .E. ∴ PM =
2 2 4 4 Ri 4.R i

Essa expressão mostra que o gerador de tensão pode fornecer a uma carga, no
E2
máximo, um quarto ou 25% de sua potência total PT = , dissipada com a saída curto-
Ri
circuitada.
Na máxima transferência de potência, o rendimento do gerador é η=50%, pois:

E
VS 1
η= .100 = 2 .100 = .100 = 50%
E E 2

Exercícios

1. Quando se aplica uma ddp de 12V num resistor ôhmico, ele é percorrido por uma
corrente de 3A. Determine a resistência do resistor e a corrente quando a ele se aplicar
uma ddp de 10V.

2. O gráfico ao lado representa a curva característica


de um resistor. Determine:
a) a resistência elétrica desse resistor
b) a ddp aplicada ao resistor quando percorrido por
uma corrente de 10A

3. Qual ddp deve ser aplicada a um resistor ôhmico de resistência 200Ω para se obter
uma corrente de 100mA?

4. Um fio de ferro de 2m de comprimento tem resistência de 5Ω. Sabendo que a


resistividade elétrica do ferro é 10.10-8 Ω.m, determine a área de sua secção transversal.

5. A resistência elétrica de um fio de 300m de comprimento e 0,3cm de diâmetro é de


12Ω. Determine a resistência elétrica de um fio de mesmo material com diâmetro de
0,6cm e 150m de comprimento.

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Eletrotécnica Básica – Aula 2

6. O filamento de tungstênio de uma lâmpada tem resistência de 40Ω a 20°C. Sabendo


que sua secção transversal mede 0,12mm² e que a resistividade vala 5,51µ Ω.m,
determine o comprimento do filamento.
7. Há duas resistências R1=R2=100Ω à temperatura de 20°C. Sabendo que R1 é de
grafite, com ρ0=5000.10-8 Ω.m e α=-0,0004°C-1, e R2 é de níquel-cromo, com ρ0=110.10-8
Ω.m e α=0,00017°C-1, determine as resistências R’1 e R’2 para a temperatura de 100°C.

8. Um resistor de 20Ω está ligado a uma fonte de tensão de 600V. Qual a potência
consumida pelo resistor? Qual é a energia consumida em uma hora?

9. Um chuveiro elétrico ligado a uma rede de 220V consome 1200W de potência. Qual a
intensidade da corrente utilizada pelo chuveiro? Qual a resistência do chuveiro?

10. Uma cidade consome 100MW de potência e é alimentada por uma linha de
transmissão de 1000Km de extensão, cuja voltagem, na entrada da cidade, é de 100KV.
Esta linha é constituída de cabos de alumínio cuja área de secção transversal total vale
5,26.10-3 m². Sabendo que a resistividade do alumínio é ρ=2,63.10-8 Ω.m, determine a
resistência dessa linha de transmissão, a sua corrente total e a potência dissipada pela
linha.

11. Nos terminais de um gerador que alimenta um circuito, a ddp passa de 8V para 5V
quando a intensidade da corrente que atravessa o gerador passa de 2A para 5A.
Determine a intensidade de corrente que passa pelo gerador no momento em que a
potência transferida para o circuito for máxima.

12. O motor elétrico de uma bomba d’água é ligado a uma rede elétrica que fornece uma
ddp de 220V. Em quantos segundos o motor da bomba consome uma energia de 35,2KJ,
se por ele circula uma corrente elétrica de 2A?

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Eletrotécnica Básica – Aula 3

LEIS DE KIRCHHOFF E ASSOCIAÇÃO DE RESISTORES

Elementos de um Circuito Elétrico

De maneira genérica, podemos chamar de circuito elétrico o conjunto de caminhos


por onde a corrente elétrica pode passar. Esses caminhos são formados por geradores,
resistores, indutores, capacitores e outros componentes que conheceremos ao longo do
curso.
Um circuito pode ser subdividido em três elementos: ramo, nó e malha.

Ramo

Qualquer parte de um circuito elétrico composta por um ou mais dispositivos


ligados em série é denominado ramo.

Figura 1 – Ramo

Qualquer ponto de um circuito elétrico no qual há a conexão de três ou mais ramos


é denominada nó.

Figura 2 – Nó
Malha

Qualquer parte de um circuito elétrico cujos ramos formam um caminho fechado


para a corrente é denominada malha.

Figura 3 – Malha
Leis de Kirchhoff

Um circuito admite um único sentido de corrente com um único valor para cada
ramo. Uma vez conhecidos os sentidos e as intensidades das correntes em todos os
ramos de um circuito, todas as tensões podem também ser determinadas.
A compreensão e a análise de um circuito dependem das duas leis enunciadas por
Kirchhoff.

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Eletrotécnica Básica – Aula 3

1ª Lei – Lei dos Nós

Considerando o princípio da conservação da carga elétrica, Kirchhoff enunciou:

“A soma das intensidades das correntes que chagam a


um nó é igual à soma das intensidades das correntes que
deixam o nó.”

Figura 4 – Lei dos Nós

2ª Lei – Lei das Malhas

Considerando que para um mesmo ponto de um circuito elétrico a ddp é nula,


Kirchhoff enunciou:

“Percorrendo-se uma malha, num mesmo sentido, é nula


a soma algébrica das tensões encontradas em cada
elemento do circuito.”

Para equacionarmos uma malha de acordo com o enunciado de Kirchhoff temos


que observar algumas regras:

a) No caso dos resistores, quando se percorre a malha no sentido da corrente a


tensão é negativa e, no sentido contrário ao da corrente, positiva.

Figura 5 – Regra do Sinal das Tensões para Resistores

b) No caso dos geradores, o sinal da tensão será o mesmo do pólo de saída no


sentido do percurso escolhido.

Figura 6 – Regra do Sinal das Tensões para Geradores de Tensão

Observando as regras descritas, se equacionarmos a malha da Figura 7 teremos:

R1.I1 + E1 + R2.I1 – E2 – R3.I2 = 0

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Eletrotécnica Básica – Aula 3

Figura 7 – Malha e seu Equacionamento

Na resolução dos circuitos elétricos, utilizando-se as leis de Kirchhoff, devem ser


observadas as seguintes etapas:

1ª. Identificação dos nós e malhas do circuito.


2ª. Atribuição a cada ramo do circuito de um sentido para a corrente.
3ª. Sendo n o número de nós, aplicação da 1ª Lei de Kirchhoff a (n – 1) nós.
4ª. Aplicação da 2ª Lei de Kirchhoff a um número de malhas tal que, juntamente com o
número de equações para nós, permita a obtenção de um sistema com tantas equações
quantas forem as correntes que se queira determinar.
5ª. Análise dos resultados obtidos para as correntes.

Caso uma intensidade de corrente resulte negativa, significa que seu sentido é o
contrário daquele assumido na 2ª etapa.

Exemplo:

Calcular a corrente de cada ramo do circuito abaixo:

Assumindo os seguintes sentidos de corrente e de percurso, chegamos às


equações:
30Ω 10Ω
I1 − I2 − I3 = 0
I1 I2
50V 150V 40V
− 5.I1 + 50 − 30.I1 − 150 − 5.I3 = 0 → − 35.I1 − 5.I3 = 100
5Ω 5Ω I3 10Ω

5.I3 + 150 − 10.I2 − 40 − 10.I2 = 0 → − 20.I2 + 5.I3 = −110

Resolvendo o sistema formado pelas três equações encontradas, temos:

 I1 − I2 − I3 = 0 I1 = −2

 − 35.I1 − 5.I3 = 100 ⇒ I2 = 4
− 20.I + 5.I = −110 I3 = −6
 2 3

Analisando os resultados, verificamos que foram admitidos sentidos errados para


as correntes I1 e I3. Os sentidos corretos, então, seriam:
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Eletrotécnica Básica – Aula 3

Associação de Resistores

Em muitos casos práticos, têm-se a necessidade de uma resistência maior do que


a fornecida por um único resistor. Em outros casos, um resistor não suporta a intensidade
da corrente que deve atravessá-lo. Nessas situações utilizam-se vários resistores
associados entre si.
Os resistores podem ser associados em série, em paralelo ou numa combinação
de ambas, a qual denominamos associação mista.
O resistor equivalente de uma associação é o resistor que produz o mesmo efeito
que a associação, ou seja, submetido à mesma ddp da associação, deixa passar corrente
de mesma intensidade.

Associação em Série

Um circuito elétrico com resistores lgados um em seguida ao outro, de modo a


oferecer um único caminho para a corrente passar pelos resistores, é chamado circuito
série.

Figura 8 – Associação de Resistores em Série

Pela Lei de Kirchhoff para tensões, a soma das tensões nos resistores é igual à
tensão total aplicada E:

E = V1 + V2 + ... + Vn

Onde: V1 = R1.I ; V2 = R2.I ; ... ; Vn = Rn.I


Substituindo as tensões nos resistores pela 1ª Lei de Ohm, tem-se:

E = R1.I + R2.I + ... + Rn.I

Colocando I em evidência:

E = I.(R1 + R2 + ... + Rn)

Dividindo a tensão E pela corrente I, chega-se a:

E
= R1 + R 2 + ... + R n
I

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Eletrotécnica Básica – Aula 3

E
O resultado corresponde à resistência equivalente Req da associação série, isto
I
é, a resistência que a fonte de alimentação entende como sendo a sua carga.
Matematicamente:

R eq = R 1 + R 2 + ... + R n

Nesse circuito, a potência total PE fornecida pela fonte ao circuito é igual à soma
das potências dissipadas pelos resistores (P1 + P2 + ... +Pn). Portanto, a potência total
PE = E.I fornecida pela fonte é igual à potência dissipada pela resistência equivalente
Peq = R eq .I2 .

Associação em Paralelo

Quando dois ou mais resitores estão ligados através de dois pontos em comum no
circuito, de modo a oferecer caminhos separados para a corrente, temos um circuito em
paralelo.

Figura 9 – Associação de Resistores em Paralelo

Pela Lei de Kirchhoff para correntes, a sima das correntes nos resistores é igual à
corrente total I fornecida pela fonte:

I = I1 + I2 + ... + In

E E E
Onde: I1 = ; I2 = ; ... ; In =
R1 R2 Rn

Substituindo as corrente nos resistores pela 1ª Lei de Ohm, têm-se:

E E E  1 1 1 
I= + + ... + ⇒ E. + + ... + 
R1 R 2 Rn  R1 R 2 R n 

Dividindo a corrente I pela tensão E, chega-se a:

I 1 1 1
= + + ... +
E R1 R 2 Rn

I
O resultado de corresponde à condutância equivalente Geq da associação
E
paralela. Invertendo esse valor, obtêm-se, portanto, a resistência equivalente Req que a
fonte de alimentação entende como sendo a sua carga.
Matematicamente:

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Eletrotécnica Básica – Aula 3

1 1 1 1
= + + ... +
R eq R1 R 2 Rn

No caso específico de dois resitores ligados em paralelo, a resistência equivalente


pode ser calculada por uma equação mais simples:

1 1 1 R 2 + R1 R1.R 2
= + = ⇒ R eq =
R eq R1 R 2 R1.R 2 R1. + R 2

A relação entre as potências envolvidas na ligação em paralelo é:


PE = P1 + P2 + ... + Pn = Peq .

Associação Mista

As associações mistas de resistores apresentam, ao mesmo tempo, associações


de resistores em série e em paralelo.
A determinação do resistor equivalente final é feita mediante o cálculo dos
resistores equivalentes de cada uma das associações, tendo-se certeza de quais estão
em série e quais estão em paralelo.

Confugurações Estrela e Triângulo

Num circuito, é comum os resistores estarem ligados conforme as configurações


estrela ou triângulo.

Figura 10 – Associação de Resistores na Configuração Estrela e Triângulo

Estas configurações não se caracterizam nem como série, nem como paralelo,
dificultando o cálculo da resistência equivalente do circuito e, portanto, sua análise.
Para resolver este problema, é possível converter uma configuração na outra,
fazendo com que os resitores mudem de posição sem, no entanto, mudarem as
caracterísiticas elétricas do circuito.
Utilizando as equações a seguir é possível convertermos um circuito na
configuração estrela para a configuração triângulo:

R1.R2 + R1.R3 + R2 .R3


R12 =
R3
R1.R2 + R1.R3 + R2 .R3
R13 =
R2
R1.R2 + R1.R3 + R2 .R3
R23 =
R1

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Eletrotécnica Básica – Aula 3

E para a conversão da configuração triângulo para estrela, devem ser usadas as


seguintes equações:
R12 .R13
R1 =
R12 + R13 + R23
R12 .R23
R2 =
R12 + R13 + R23
R13 .R23
R3 =
R12 + R13 + R23
Exercícios

1. No circuito apresentado, calcular as correntes I3, I5 e I6 usando as leis de Kirchhoff.

2. No circuito apresentado, calcular as tensões V1 e V2 usando as leis de Kirchhoff.

3. Dado o circuito da figura, calcule os valores de I1, I2 e R.

4. No circuito indicado, determine I, R e E.

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Eletrotécnica Básica – Aula 3

5. No circuito da figura, ache as intensidades das correntes nos diversos ramos e a ddp
entre os pontos A e B.

6. Considerando o circuito abaixo, determine:


a) A resistência equivalente do circuito;
b) A corrente fornecida ao circuito pela fonte;
c) A queda de tensão em cada resistor.

7. Considerando o circuito abaixo, determine:


a) A resistência equivalente do circuito;
b) A corrente fornecida ao circuito pela fonte;
c) Acorrente que passa por cada resistore.

8. Calcule a resistência equivalente para os circuitos abaixo:

a) b)

9. Converta o circuito abaixo da configuração estrela para triângulo.

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18
Eletrotécnica Básica – Aula 4

DIVISORES DE TENSÃO, DE CORRENTE E PONTE DE WHEATSTONE

Divisor de Tensão

Na associação série de resistores, vimos que a tensão da fonte de alimentação se


subdivide entre os resistores, formando um divisor de tensão.
Podemos deduzir uma equação geral para calcular a tensão Vi num resistor Ri da
associação em função da tensão E aplicada.
A tensão Vi no resistor Ri é dada por:

Vi = Ri .I

Mas a corrente I que passa pelos resistores em série vale:

E
I=
R eq

Trabalhando as duas equações acima, obtém-se a equação geral do divisor de


tensão:

Ri
Vi = .E
R eq

No caso de um divisor de tensão formado por dois resistores, as equações de V1 e


V2 são:

R1 R2
V1 = .E e V2 = .E
R1 + R 2 R1 + R 2

Divisor de Corrente

Na associação paralela de resistores, vimos que a corrente fornecida pela fonte de


alimentação se subdivide entre os resistores, formando um divisor de corrente.
Podemos deduzir uma equação geral para calcular a corrente Ii num determinado
resistor Ri da associação em função da corrente total I.
Como os resitores estão em paralelo, temos:

E
Ii =
Ri

Mas a tensão E aplicada à associação paralela vale:

E = R eq .I

3º Semestre – Engenharia Elétrica Profª Engª Camila Soares


19
Eletrotécnica Básica – Aula 4

Substituindo a segunda equação na primeira, obtêm-se a equação geral do divisor


de corrente:

R eq
Ii = .I
Ri

No caso de um divisor de corrente formado por dois resistores, podem-se deduzir


facilmente as equações de I1 e I2, que ficam como segue:

R2 R1
I1 = .I e I2 = .I
R1 + R 2 R1 + R 2

Ponte De Wheatstone

A Ponte de Wheatstone é um circuito muito utilizado em instrumentação eletrônica,


pois por meio dela é possível medir, além de resistência elétrica, diversas outras
grandezas físicas, como temperatura, força e pressão. Para isso, basta utilizar sensores
ou transdutores que convertam as grandezas a serem medidas em resistência elétrica.
O circuito básico da Ponte de Wheatstone está mostrado abaixo.

Trata-se de um divisor de corrente em que cada ramo forma um divisor de tensão.


Na ponte, o interesse recai sobre a tensão VAB entre as extremidades que não
estão ligadas à fonte de alimentação.
Para equacionar a Ponte de Wheatstone, podemos desmembrá-la e duas partes,
cada uma formando um divisor de tensão, conforme a figura abaixo.

As tensões VA e VB de cada parte da ponte são dadas por:

R2 R4
VA = .E e VB = .E
R1 + R 2 R3 + R4

3º Semestre – Engenharia Elétrica Profª Engª Camila Soares


20
Eletrotécnica Básica – Aula 4

Quando VAB = VA − VB = 0 , dizemos que a ponte encontra-se em equilíbrio. Nesse


caso, VA = VB , ou seja:

R2 R4
.E = .E
R1 + R 2 R3 + R4

R 2 .(R 3 + R 4 ) = R 4 .(R 1 + R 2 )

R 2 .R 3 + R 2 .R 4 = R 4 .R1 + R 4 .R 2

R 2 .R 3 = R 1.R 4

Portanto, a condição de equilíbrio da ponte é dada pela igualdade entre os


produtos das suas resistências opostas.

Exercícios

1. No divisor de tensão ao lado, determine a tensão V2 no


resistor de saída R2.

2. Um enfeite de natal é formado por 50 lâmpadas coloridas


ligdas em série, conforme figura ao lado. Cada lâmpada está
especificada para 1,5V / 6mW. Determine o valor do resistor RS
para que o enfeite possa ser alimentado pela rede elétrica de
110V.

3. Considerando o divisor de corrente abaixo, determine I1 e I2 a partir da sua equação


geral.

4. Na ponte de Wheatstone abaixo, qual é o valor de RX, sabendo que no seu equilíbrio
RD=18kΩ

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21
Eletrotécnica Básica – Aula 5

METODOLOGIAS DE ANÁLISE DE CIRCUITOS

Método da Superposição

O Método da Superposição é baseado no Teorema da Superposição de Efeitos e


se aplica nos casos em que desejamos analisar o comportamento elétrico (tensão e
corrente) num único dispositivo ou ramo de um circuito, sem precisar determinar as
tensões e corrente nos demais.

Teorema da Superposição de Efeitos

“Num circuito elétrico formado por vários bipolos lineares, o efeito causado pelos
geradores num determinado ramo ou bipolo é equivalente à soma algébrica dos efeitos
causados por cada gerador individulamente, eliminados os efeitos dos demais.”

Para eliminar o efeito causado num circuito por um gerador de tensão, ele deve ser
substituído por um curto-circuito.

Para eliminar o efeito causado num circuito por um gerador de corrente, ele deve
ser substituído por um circuito aberto.

Exemplo

No circuito abaixo, determinaremos a corrente e a tensão no resistor RX:

E1 = 10V
E2 = 20V
R1 = 100Ω
R2 = 220Ω
RX = 100Ω

3º Semestre – Engenharia Elétrica Profª Engª Camila Soares


22
Eletrotécnica Básica – Aula 5

Primeiramente, eliminaremos o efeito causado pelo gerador de tensão E2 por meio


da sua substituição por um curto-circuito e determinaremos a tensão V X1 e a corrente I X1
e RX, por efeito de E1.

R X .R 2 100.200
RA = = = 68,75Ω
R X + R 2 100 + 200

RA 68,75
VX1 = VA = .E1 = .10 = 4,07 V
R1 + R A 100 + 68,75

VX1 4,07
I X1 = = = 40,7mA
RX 100

Em seguida, eliminaresmos o efeito causado pelo gerador de tensão E1 por meio


da sua substituição por um curto-circuito e determinaresmos a tensão VX 2 e a corrente I X2
em RX, por efeito de E2.

R X .R1 100.100
RB = = = 50Ω
R X + R1 100 + 100

RB 50
VX2 = VB = .E 2 = .20 = 3,7 V
R 2 + RB 220 + 50

VX 2 3,7
I X2 = = = 37mA
RX 100

Finalmente, podemos calcular a tensão VX e a corrente IX pela soma algébrica dos


efeitos E1 e E2.

VX = VX1 − VX 2 = 4,07 − 3,7 = 0,37 V

I X = I X1 − I X2 = 40,7.10 −3 − 37.10 −3 = 3,7mA

Método de Thévenin

O Método de Thévenin é baseado no Teorema de Thévenin e se aplica nos casos


em que desejamos simplificar um circuito complexo por um mais simples equivalente.
Esse procedimento é muito útil quando precisamos analisar, em detalhes, o
comportamento de apenas uma parte de um circuito elétrico.

Teorema de Thévenin

“Num circuito formado por vários bipolos lineares, todos os geradores e receptores
do circuito, que envolvem um determinado bipolo ou ramo de interesse, podem ser
substituidos por um gerador de tensão Thévenin formado por uma fonte de tensão
equivalente Thévenin ETh em série com um resistência interna equivalente Thévenin RTh.”

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23
Eletrotécnica Básica – Aula 5

Os valores de ETh e RTh são calculados da seguinte forma:


• ETh: tensão em aberto entre os pontos em que está localizado o bipolo ou ramo de
interesse, causada por todos os geradores e receptores do circuito.
• RTh: resistência equivalente vista pelo bipolo ou ramo de interesse, quando todos
os geradores de tensão são substituídos por curto-circuitos e todos os geradores
de corrente são subsituídos por circuitos abertos.

Exemplo

No circuito abaixo, determinaremos a corrente e a tensão no resistor RX:

E1 = 15V
E2 = 10V
R1 = 150Ω
R2 = 100Ω
RX = 1kΩ

Primeiramente, retiramos RX e calcularemos a tensão ETh entre A e B.

5
E1 − R 2 .I − E 2 − R 1.I = 0 → 15 − 100 .I − 10 − 150 .I = 0 → 250 .I = 5 → I= = 20mA
250

E Th = E 2 + R 2 .I = 10 + 100.20.10 −3 = 12V

Em seguida, substituiremos os geradores de tensão E1 e E2 por curto-circuitos e


calcularemos a resistência RTh entre A e B, vista pela resistência RX.

3º Semestre – Engenharia Elétrica Profª Engª Camila Soares


24
Eletrotécnica Básica – Aula 5

R1.R2 150 .100


RTh = = = 60Ω
R1 + R2 150 + 100

Temos, então o seguinte gerador de tensão Thévenin:

Com o gerador de tensão Thévenin determinado, ligaremos novamente RX entre A


e B e calcularemos a tensão VX e a corrente IX.

RX 1000
VX = .E Th = .12 = 11,32V
R Th + R X 60 + 1000

VX 11,32
IX = = = 11,32mA
R X 1000

Método de Norton

O Método de Norton é baseado no Teorema de Norton, que é similar ao de


Thévenin, isto é, se aplica nos casos em que desejamos simplificar um circuito complexo
por um mais simples equivalente, com a diferença de que o circuito simplificado é formado
por um gerador de corrente no lugar do gerador de tensão.

Teorema de Norton

“Num circuito formado por vários bipolos lineares, todos os geradores do circuito
que envolvem um determinado bipolo ou ramo de ineresse podem ser substituídos por um
gerador Norton formado por uma fonte de corrente equivalente Norton IN em paralelo com
uma resistência interna equivalente Norton RN.”

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25
Eletrotécnica Básica – Aula 5

Os valores de IN e RN são calculados da seguinte forma:


• IN: corrente que passa pelos pontos em que está localizado o bipolo ou ramo de
interesse, quanto ele é substituído por um curto circuito.
• RN: resistência equivalente vista pelo bipolo ou ramo de interesse, quando todos os
geradores de tensão são substituídos por curto-circuitos e todos os geradores de
corrente são substituídos por circuitos abertos.

Exemplo

No circuito abaixo, determinaremos a corrente e a tensão no resistor RX:

I1 = 20mA
I2 = 15mA
E3 = 300V
R1 = 10kΩ
R2 = 12kΩ
R3 = 2k2Ω
R4 = 1kΩ
RX = 4k7Ω

Primeiramente, substituiremos os geradores de corrente I1 e I2 por circuitos abertos


e o gerador de tensão E3 por um curto-circuito e calcularemos a resistência RN entre A e
B, vista pela resistência RX.

R N = R1 + R 2 + R 3 + R 4 = 10k + 12k + 2,2k + 1k = 25,2kΩ


Em seguida, converteremos os geradores de corrente em geradores de tensão.

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26
Eletrotécnica Básica – Aula 5

E1 = I1.R1 = 20.10 −3.10.10 3 = 200 V

E 2 = I2 .R 2 = 15.10 −3.12.10 3 = 180 V

Agora substituiremos RX por um curto-circuito entre A e B e calcularemos a


corrente IN.

E1 − R1.IN + E 2 − R 2 .IN − R 3 .IN − E 3 − R 4 .IN = 0


200 − 10000.IN + 180 − 12000.IN − 2200.IN − 300 − 1000.IN = 0
25200.IN = 80
80
IN = = 3,17mA
25200

Com IN e RN determinados, calcularemos VX e IX em RX.

RN 25200
IX = .IN = .3,17.10 −3 = 2,67mA
RN + R X 25200 + 4700

VX = R X .I X = 4,7.10 3.2,67.10 −3 = 12,55 V

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27
Eletrotécnica Básica – Aula 5

Método de Maxwell

O Método de Maxwell parte de correntes de malhas adotadas arbitrariamente,


chamadas de correntes fictícias, pois em ramos comuns a duas ou mais malhas, haverá
mais de uma corrente, o que, na realidade, é impossível.
No final da análise, serão encontradas as correntes reais em cada ramo do circuito,
podendo-se calcular a tensão em todos os bipolos.

Método de Análise por Maxwell

1. Adota-se um sentido arbitrário para as correntes nas diversas malhas do circuito e


orientam-se as tensões nos bipolos receptores e geradores.
2. Aplica-se a Lei de Kirchhoff para tensões nas malhas internas do circuito,
chegando a um sistema de equações.
3. Resolve-se o sistema de equações, encontrando as correntes fictícias das malhas.
4. Um resultado positivo de corrente significa que o sentido arbitrário adotado estava
correto e, portanto, deve ser mantido; um resultado negativo de corrente significa
que o sentido arbitrário adotado estava incorreto e, portanto, deve ser invertido,
corrigindo nos resitores a polaridade das tensões afetadas.
5. Nos ramos comuns a duas malhas, a corrente real corresponde à sima algébrica
das correntes fictícias encontradas, já com o sentido corrigido.
6. Com as correntes nos ramos determinadas, calculam-se as tensões nos diversos
bipolos receptores do circuito.

Exemplo

No circuito abaixo, determinaremos as correntes e tensões em todos os bipolos.

E1 = 20V
E2 = 10V
E3 = 5V
R1 = R3 = R5 = 100Ω
R2 = R4 = 330Ω

Primeiramente, adotaremos arbitrariamente uma corrente para cada malha interna


do circuito, como I1 e I2, e orientaremos as tensões nos resistores conforme o sentido
adotado das correntes, e as tensões nos geradores conforme as suas polaridades.

Note que em R2 aparecem duas tensões: V21 por causa de I1 e V22 por causa de I2.
Em seguida, aplicaremos a Lei de Kirchhoff para tensões nas duas malhas e
obteremos o sistema de equações:

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28
Eletrotécnica Básica – Aula 5

Malha 1:

E1 − V1 + E 2 − V21 − V22 − V5 = 0
E1 − R1.I1 + E 2 − R 2 .I1 − R 2 .I2 − R 5 .I1 = 0
20 − 100.I1 + 10 − 330.I1 − 330.I2 − 100.I1 = 0
− 530.I1 − 330.I2 = −30 (1)
Malha 2:

E 3 − V3 + E 2 − V22 − V21 − V4 = 0
E 3 − R 3 .I2 + E 2 − R 2 .I2 − R 2 .I1 − R 4 .I2 = 0
5 − 100.I2 + 10 − 330.I2 − 330.I1 − 330.I2 = 0
− 330.I1 − 760.I2 = −15 (2)

530.I1 + 330.I2 = 30
Portanto, o sistema de equações formado por (1) e (2): 
330.I1 + 760.I2 = 15

Agora, resolvendo o sistema, temos que as correntes fictícias resultaram


I1 = 60,73mA e I2 = −6,63mA .
Pelos resutados obtidos, isto é, I1 positivo e I2 negatio, concluímos que o sentido
correto de I2 é o contrário do adotado inicialmente. Por isso, corrigiremos o sentido da
corrente I2 e a polaridade das tensões afetadas e redesenharemos o circuito.

Em seguida, determinaremos o valor de I3 no ramo central a partir das correntes


fictícias I1 e I2.

I3 = I1 − I2 = 60,73.10 −3 − 6,63 .10 −3 = 54,1mA

Finalmente, calcularemos a tensões nos diversos resistores do circuito:

V1 = R1.I1 = 100.60,73.10 −3 = 6,07 V


V2 = R 2 .I3 = 330.54,1.10 −3 = 17,85 V
V3 = R 3 .I2 = 100.6,63.10 −3 = 0,66 V
V4 = R 4 .I2 = 330.6,63.10 −3 = 2,19 V
V5 = R 5 .I1 = 100.60,73.10 −3 = 6,07 V

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29
Eletrotécnica Básica – Aula 5

Exercícios

1. Considere o circuito abaixo e determine a tensão e a corrente em RX:


a) pelo método da superposição
b) pelo método de Thévenin
c) pelo método de Norton

I1 = 500mA
E2 = 20V
R1 = R3 = 100Ω
R2 = RX = 200Ω

2. Determine as correntes e as tensões em todos os bipolos do circuito ao lado pelo


método de Maxwell.

E1 = E3 = 20V
E2 = E4 = 10V
R1 = R2 = 22Ω
R3 = R4 = 47Ω

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30
Eletrotécnica Básica – Aula 6

CAPACITORES

Conceito de Dispositivos Reativos

Dispositivos resistivos, como já vimos, são aqueles cujo valor ôhmico é constante
tanto para corrente continua como para corrente alternada.
Já os dispositivos reativos, que são os capacitores e os indutores, têm seu valor
ôhmico dependente da variação da corrente neles aplicada. Essa reação às variações de
corrente é denominada reatância capacitiva XC para os capacitores e reatância indutiva XL
para os indutores e sua unidade de medida, assim como nos resistores, é o ohm [Ω].

Capacitor

Considere duas placas condutoras paralelas A e B, denominadas armaduras,


separadas por um material isolante denominado dielétrico.

Aplicando uma diferença de potencial entre as placas, com potencial positivo na


placa A e potencial negativo na placa B, a placa A começa a ceder elétrons para o pólo
positivo da fonte, carregando-se positivamente, e a placa B, simultaneamente, começa a
atrair elétrons do pólo negativo da fonte, carregando-se negativamente, formando um
fluxo de elétrons (corrente i).

Porém como entre as placas existe um material isolante, esse fluxo de elétrons não
o atravessa, fazendo com que as cargas fiquem armazenadas nas placas.
Conforme aumenta a carga q armazenada nas placas, aumenta a diferença de
potencial v entre elas, fazendo com que o fluxo de elétrons diminua.
Após um determinado tempo, a carga armazenada atinge o seu valor máximo Q.
Isso ocorre quando a diferença de potencial entre as placas se iguala à tensão da fonte (v
= E), cessando o fluxo de elétrons (i = 0).
Esse dispositivo, com capacidade de armazenar cargas elétricas (energia
eletrostática), é chamado de capacitor ou condensador, cujos símbolos mais comuns
estão representados abaixo.

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31
Eletrotécnica Básica – Aula 6

Capacitância

A capacidade de armazenamento de cargas elétricas é chamada de capacitância,


simbolizada pela letra C.
A capacitância é a medida de carga elétrica que o capacitor pode armazenar por
unidade de tensão vC.
Matematicamente:
q
C=
vC

Por esta fórmula, a unidade de capacitância é Coulomb ou, simplesmente,


Volt
farad [F].

Comportamento Elétrico do Capacitor

Vamos analisar, em detalhes, o comportamento da tensão e da corrente no


capacitor.
Considere o circuito abaixo, com a chave S aberta e com o capacitor inicialmente
descarregado, ou seja, vC = 0.

Fechando a chave no instante t = 0, a tensão entre as placas do capacitor cresce


exponencialmente até atingir o calor máximo, isto é, vC = E.
Com a corrente acontece o contrário. Inicialmente, com as placas do capacitor
descarregadas, a corrente não encontra qualquer resistência para fluir, tendo um valor
máximo i = I, caindo exponencialmente até cessar, i = 0.
O período entre o fechamento da chave e a estabilização da tensão é rápido, mas
não instantâneo, sendo denominado transitório.

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32
Eletrotécnica Básica – Aula 6

Esse comportamento do capacitor leva-nos às seguintes conclusões:

1. Quando o capacitor está totalmente descarregado, a fonte o “enxerga” como um


curto-circuito (XC = 0). Para isso, vC = 0 e i = I.
2. Conforme as placas se carregam e a tensão vC aumenta, a fonte “enxerga” o
capacitor como se ele fosse uma reatância XC crescente, fazendo com que a
corrente i diminua.
3. Quando o capacitor está totalmente carregado, a tensão entre as placas se iguala
à da fonte, vC = E, que o “enxerga” como um circuito aberto (XC = ∞). Por isso i = 0.

A relação entre a tensão vC e a corrente i no capacitor pode ser dada


matematicamente por meio das expressões:

t
1 dv C
C ∫0
vC = . i.dt + v C0 e i = C.
dt

em que v C0 é a tensão no capacitor em t = 0.

Associação Série de Capacitores

Na associação séria, os capacitores estão ligados de forma que a carga Q


armazenada em cada um deles seja a mesma, e a tensão E total aplicada aos capacitores
se subdivida entre eles de forma inversamente proporcional aos seus valores.

Pela Lei de Kirchhoff para Tensões, a soma das tensões nos capacitores é igual à
tensão total E aplicada:

E = V1 + V2 + ... + Vn

Q
Como Vi = , tem-se:
Ci

Q Q Q E 1 1 1
E= + + ... + ⇒ = + + ... +
C1 C 2 Cn Q C1 C 2 Cn

O termo E corresponde ao inverso da capacitância equivalente vista pela fonte


Q
de alimentação. Assim:

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33
Eletrotécnica Básica – Aula 6

1 1 1 1
= + + ... +
C eq C1 C 2 Cn

Isso significa que, se todos os capacitores dessa associação forem substituídos por
uma única capacitância de valor Ceq, a fonte de alimentação fornecerá a mesma carga Q
ao circuito.
No caso de n capacitores iguais a C em série, tem-se:

C
C eq =
n

Para dois capacitores em série, tem-se:

C1.C 2
C eq =
C1 + C 2

Associação Paralela de Capacitores

Na associação paralela, os capacitores estão ligados de forma que a tensão total E


aplicada ao circuito seja a mesma em todos os capacitores, e a carga total Q do circuito
se subdivida entre eles proporcionalmente aos seus valores.

Adaptando a Lei de Kirchhoff para a distribuição das cargas, a soma nos


capacitores é igual à carga total Q fornecida:

Q = Q1 + Q2 + ... + Qn

Substituindo as cargas dos capacitores por Qi = E.Ci , tem-se:

Q = C1.E + C2 .E + ... + Cn .E ⇒ Q = E.(C1 + C2 + ... + Cn )

Dividindo-se a carga Q pela tensão E, chega-se a:

Q
= C1 + C 2 + ... + Cn
E

O resultado Q corresponde à capacitância equivalente Ceq da associação, isto é,


E
a capacitância que a fonte de alimentação entende como sendo a sua carga. Assim:

C eq = C1 + C 2 + ... + C n

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34
Eletrotécnica Básica – Aula 6

Isso significa que se todos os capacitores dessa associação forem substituídos por
uma única capacitância de valor Ceq, a fonte de alimentação E fornecerá a mesma carga
Q ao circuito.
No caso de n capacitores iguais a C em paralelo, tem-se:

C eq = n.C .

Circuito RC de Temporização

Como já vimos, o tempo de carga de um capacitor alimentado diretamente por uma


fonte de tensão não é instantâneo, embora seja muito pequeno.
Ligando um resistor em série com o capacitor, pode-se retardar o tempo de carga,
fazendo com que a tensão entre os seus terminais cresça mais lentamente.
Vamos analisar dimensionalmente o produto entre resistência e capacitância [R.C],
considerando as seguintes unidades de medida das grandezas envolvidas:

• [ R ] = Ω (Ohm) = V  Volt 
A  Ampére 
(
• [ C ] = F (Farad) = C Coulomb
V
)
Volt
• [ I ] = A ( Ampére ) = C  Coulomb 
s Segundo 

C
V C C C.s
[ R.C ] = Ω.F = . = = 1 = ⇒ [ R.C ] = s = segundo
A V A C C
s

Portanto, o produto R.C resulta na grandeza tempo [segundo]. Esse produto é


denominado constante de tempo, representado pela letra grega τ (tau).
Matematicamente:

τ = R.C

Num circuito RC, quanto maior a constante de tempo, maior é o tempo necessário
para que o capacitor se carregue.

Carga do Capacitor

Considere um circuito RC série ligado a uma fonte de tensão contínua E e a uma


chave S aberta, com o capacitor completamente descarregado.

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35
Eletrotécnica Básica – Aula 6

Pela Lei de Kirchhoff para tensões, a equação geral desse circuito é (S fechada):

v C (t) + v r (t) = E

A corrente que flui no circuito durante a carga do capacitor pode ser determinada
aplicando a Primeira Lei de Ohm no resistor R:

v r (t)
i( t ) =
R

Ligando a chave S no instante t=0, observa-se que as tensões e a corrente no


circuito resultam nos seguintes gráficos e expressões:

• Tensão no Resistor

A tensão vr cai exponencialmente de E até zero, pois o capacitor descarregado


comporta-se como um curto-circuito e totalmente carregado comporta-se como um
circuito aberto.
Matematicamente:
−t
v r ( t ) = E.e τ

−t
τ
Observe que o termo e diminui com o aumento do instante t.

• Tensão no Capacitor

A tensão vC no capacitor cresce exponencialmente desde zero até a tensão E,


quando a sua carga é total. Portanto, a tensão no capacitor é uma exponencial crescente,
que pode ser deduzida da equação geral do circuito e da expressão de vr:

−t −t
v C (t) + v r (t) = E ⇒ v C ( t ) = E − E.e τ
⇒ v C ( t ) = E.(1 − e τ
)

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36
Eletrotécnica Básica – Aula 6

−t
Observe que o termo (1 − e τ
) aumenta com o aumento do instante t.

• Corrente no Circuito

E
A corrente i inicia com um valor máximo I = quando o capacitor está
R
descarregado (curto-circuito), caindo até zero quando o capacitor está totalmente
carregado (circuito aberto).
Matematicamente:

v r (t) −t
i( t ) = ⇒ i( t ) = I.e τ
R

−t
τ
Observe que o termo e diminui com o aumento do instante t.

Descarga do Capacitor

Considere um circuito RC série ligado a uma fonte de tensão E e a uma chave S


inicialmente na posição I, com o capacitor já completamente carregado.

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37
Eletrotécnica Básica – Aula 6

Dessa forma, tem-se: I = 0; vC = E; vr = 0.


Ao mudar a chave S para a posição 2 no instante t = 0, a fonte de alimentação é
desligada, ficando o circuito RC em curto.

Assim, o capacitor se descarrega sobre o resistor, de forma que sua tensão


descreve uma curva exponencial decrescente.
Nesse caso, o capacitor comporta-se como uma fonte de tensão, cuja capacidade
de fornecimento de corrente é limitada pelo tempo de descarga.

• Corrente no Circuito

A corrente i flui agora no sentido contrário, decrescendo exponencialmente desde


E
−I = − até zero, devido à descarga do capacitor. Assim sua expressão é dada por:
R

−t
i( t ) = −I.e τ

• Tensão no Resistor

A tensão vr no resistor acompanha a corrente, de forma que a sua expressão é


dada por:

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38
Eletrotécnica Básica – Aula 6
−t
v r ( t ) = −E.e τ

• Tensão no Capacitor

A expressão da descarga do capacitor é dada por:

−t
v C ( t ) = E.e τ

Exercício para entregar

Faça uma análise dos valores de vC(t), vr(t) e i(t) em função da tensão E para os
tempos t = 0, t = τ e t = 5.τ quando o capacitor está sendo carregado e quando ele está
sendo descarregado.

Exercícios

1. Qual o valor do capacitor que, submetido a uma tensão de 100V, armazena 10µC
de carga?

2. Considerando o circuito abaixo, formado por três capacitores ligados em série,


determine:

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39
Eletrotécnica Básica – Aula 6

a) A capacitância equivalente do circuito série;


b) A carga Q fornecida pela fonte R ao circuito;
c) A tensão em cada capacitor.

3. Considerando o circuito abaixo, formado por quatro capacitores ligados em


paralelo, determine:

a) A capacitância equivalente do circuito paralelo;


b) A carga Q fornecida pela fonte E ao circuito;
c) A carga armazenada em cada capacitor.

4. Considerando o circuito abaixo, formado por diversos capacitores em série e em


paralelo, determine:

a) A capacitância equivalente do circuito;


b) A carga Q que a fonte de alimentação fornece ao circuito;
c) A carga Q1 e a tensão V1 no capacitor C1.

5. Considere o circuito RC abaixo, no qual o capacitor encontra-se totalmente


carregado com a tensão E = 5V.

a) Determine a constante de tempo τ do circuito;


b) A partir da mudança da chave S para 2, determine vC(t), vr(t) e i(t) para os
seguintes instantes t: 0s, 1s, 2s e 3s;
c) Calcule o instante em que a tensão no capacitor atinge 2,5V;

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40
Eletrotécnica Básica – Aula 7

INDUTORES

Indutor ou Bobina

O indutor ou bobina é um dispositivo formado por um fio esmaltado enrolado em


torno de um núcleo.
Ao passar uma corrente elétrica pelas espiras, cada uma delas cria ao seu redor
um campo magnético, cujo sentido é dado pela regra da mão direita.
No interior do indutor, as linhas de campo se somam, criando uma concentração do
fluxo magnético. O núcleo tem como objetivo reduzir a dispersão das linhas de campo,
pois os materiais de que ele é feito apresentam baixa resistência à passagem do fluxo
magnético.
Pelo sentido das linhas de campo, o indutor fica polarizado magneticamente, isto é,
cria um pólo norte por onde sai o fluxo magnético e um pólo sul por onde entra o fluxo
magnético, comportando-se como um imã artificial, denominado eletroímã.

Indutância

Considere um indutor alimentado por uma fonte de tensão constante. Fechando a


chave S, em t = 0, surge uma corrente iL crescente. Ao passar por uma espira, essa
corrente cria um campo magnético ao seu redor. Essas linhas de campo cortam as
espiras seguintes, induzindo uma corrente i’ que, segund a Lei de Lenz, irá se opor à
causa que a originou.

Por causa dessa oposição, a corrente iL leva um certo tempo, denominado


transitório, para atingir o seu valor máximo iL = I, que é limitado apenas pela resistência
ôhmica do fio. Quando a corrente estabiliza em I, o campo magnético armazenado passa
a ser constante, não havendo mais corrente induzida para criar oposição.
Desligando a chave S, a corrente iL decrescente cria uma nova oposição, de forma
a evitar a sua diminuição, aparecendo um novo transitório, até que ela chega a zero.
Portanto pode-se dizer que o indutor armazena energia magnética, pois, mesmo sem
alimentação, ainda existe corrente.

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41
Eletrotécnica Básica – Aula 7

A indutância L é a capacidade do indutor em armazenar energia magnética por


meio do fluxo magnético φ criado por uma corrente iL. Matematicamente:

φ
L=
iL

Por essa fórmula, a unidade de medida de indutância é Weber ou,


A
simplesmente, Henry [H].
A oposição às variações de corrente no indutor é denominada reatância indutiva XL
[Ω], que, em corrente contínua, comporta-se da seguinte forma:
1. Quando o indutor está totalmente desenergizado, a corrente iL = 0, isto é, a fonte o
“enxerga” como um circuito aberto (XL = ∞).
2. Quando o indutor está totalmente energizado, a corrente atinge o seu valor máximo
I, estabilizando-se. Assim, não havendo mais variação nessa corrente, deixa de
existir a corrente induzida i’, de forma que a fonte “enxerga” o indutor como uma
resistência baixa (resistência do fio), isto é, praticamente um curtocircuito (XL = 0).
A relação entre a corrente iL e a tensão v no indutor pode ser dada
matematicamente por meio das expressões:

t
1 diL
L ∫0
iL = v.dt + iL0 e v = L.
dt

em que iL 0 é a corrente no indutor em t = 0.

Associação Série de Indutores

Na associação série, os indutores estão ligados de forma que a corrente i seja a


mesma em todos eles, sendo a indutância equivalente dada por:

L eq = L1 + L 2 + ... + L n

Associação Paralela de Indutores

Na associação paralela, os indutores estão ligados de forma que a tensão total v


aplicada ao circuito seja a mesma em todos eles, sendo a indutância equivalente dada
por:

1 1 1 1
= + + ... +
L eq L1 L 2 Ln

Para dois indutores em paralelo:

L1.L 2
L eq =
L1 + L 2

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42
Eletrotécnica Básica – Aula 7

Circuito RL de Temporização

Vimos anteriormente que o tempo de energização de um indutor alimentado


diretamente por uma fonte de tensão não é instantâneo, embora seja muito pequeno.
Ligando um resistor em série com o indutor, pode-se retardar o tempo de energização,
fazendo com que a corrente creça mais lentamente.

A constante de tempo τ é dada por:

L
τ=
R

Energização do Indutor

Considere um circuito RL série ligado a uma fonte de tensão contínua E e a uma


chave S aberta, com o indutor completamente desenergizado, sendo a resistência do fio
do indutor desprezível em relação a R.

Pela lei de Kirchhoff para tensões, a equação geral desse circuito é (S fechada):

v L (t ) + v r (t ) = E

A corrente que flui no circuito durante a energização é dada por:

v r (t )
i( t ) =
R

Ligando a chave S no instante t = 0, a corrente i cresce exponencialmente até o


E
valor máximo I = e a tensão vr no resistor, que acompanha a corrente, cresce até o
R
valor máximo E. Assim, a tensão vL no indutor decresce exponencialmente de E até zero.
Esse comportamento é expresso matemárica e graficamente conforme segue:

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43
Eletrotécnica Básica – Aula 7

• Corrente no Circuito

A expressão da corrente na energização do indutor é dada por:


−t
i( t ) = I.(1 − e τ
)

• Tensão no Resistor

A tensão no resistor acompanha a corrente, de forma que a sua expressão é dada


por:
−t
v r ( t ) = E.(1 − e τ
)

• Tensão no Indutor

Pela Lei de Kirchhoff para tensões, v L = E − v r . Assim, a expressão da tensão no


indutor é dada por:
−t
v L ( t ) = E.e τ

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44
Eletrotécnica Básica – Aula 7

Desenergização do Indutor

Considere um circuito RL série ligado a uma chave S fechada, com o indutor já


completamente energizado, pelo qual passa uma corrente i = I, sendo a resistência do fio
do indutor desprezível em relação a R.

Dessa forma, tem-se: vL = 0 e vr = E.


Ao abrir a chave S no instante t = 0, a fonte de alimentação é desligada do circuito.
Porém, a corrente i, em vez de ser interrompida imediatamente, decresce
exponencialmente devido à energia magnética armazenada no indutor e à constante de
tempo τ do circuito. Observe que surge agora uma corrente i’ e uma tensão v’ invertidas,
tentando evitar a queda da corrente i.
Nesse caso, o indutor comporta-se como uma fonte de corrente, cuja capacidade
de fornecimento de corrente é limitada pelo tempo de desenergização. Esse
comportamento é expresso matemática e graficamente conforme segue:

• Corrente no Circuito

A expressão da corrente na desenergização do indutor é dada por:


−t
i( t ) = I.e τ

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45
Eletrotécnica Básica – Aula 7

• Tensão no Resistor

A tensão no resistor acompanha a corrente, de forma que a sua expressão é dada


por:
−t
v r ( t ) = E.e τ

• Tensão no Indutor

Pela lei de Kirchhoff para tensão, no instante t = 0, tem-se v L + v r = 0 e, portanto,


v L = −v r . Isso significa que no instante da abertura da chave, a tensão no indutor inverte
a sua polaridade, iniciando com tensão –E até atingir zero.
Nesse caso, a expressão da tensão no indutor é dada por:
−t
v L ( t ) = −E.e τ

Observação:

A chave aberta representa uma resistência infinita para o circuito, de forma que a
L L
sua constante de tempo τ muda de para , isto é, para praticamente zero. Como no
R ∞
exato momento da abertura da chave a corrente no indutor é máxima (i = I), e sendo a
corrente de tempo τ = 0, pela Lei de Lenz, a tensão induzida v’ deve ter um valor alto para
se opor à queda da corrente num intervalo de tempo tão pequeno.
Portanto, ao abrir a chave de um circuitoindutivo, pode surgir uma tensão induzida
v’ tão elevada (da ordem de milhares de volts) que seria suficiente para produzir um arco
voltaico entre os terminais da chave, podendo até matar o seu operador.

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46
Eletrotécnica Básica – Aula 7

Exercício

1. Considere o circuito RL série abaixo, no qual o indutor encontra-se completamente


energizado.

a) Da forma como ele se encontra, com a chave S fechada, quais são os valores da
corrente i e das tensões vL e vr?
b) No instante da abertura da chave (t = 0), quais são os novos valores de i, vL e vr?
c) Qual a constante de tempo τ do circuito?
d) Quais são os valores da corrente i e das tensões vL e vr após um tempo igual a τ?
e) Após quanto tempo, a partir da abertura da chave, pode-se considerar que o
indutor esteja desenergizado?

Exercício para entregar

Faça uma análise dos valores de vL(t), vr(t) e i(t) em função da tensão E para os
tempos t = 0, t = τ e t = 5.τ quando o indutor está sendo energizado e quando ele está
sendo desenergizado.

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47
Eletrotécnica Básica – Aula 8

CORRENTE ALTERNADA (CA)

Período e Freqüência

A forma de onda da tensão cossenoidal pode ser representada no domínio


temporal, isto é, v( t ) = VP . cos ω.t , e no domínio angular, isto é, v(θ) = VP . cos θ . Um ciclo
angular tem 2.π rad (ou 360°). No domínio temporal, o ciclo demora um período T, cuja
unidade de medida é o segundo [s].

A freqüência angular ω corresponde à velocidade angular do enrolamento do


gerador e mede quantos radianos ele deslocou em um segundo. Por isso, a sua unidade
[ ]
de medida é radianos por segundo rad . Já o número de ciclos gerados por segundo é
s
a freqüência f, cuja unidade de medida é ciclos por segundo ou hertz [Hz]. Assim,
podemos relacionar a freqüência angular ω, o período T e a freqüência f por meio das três
fórmulas apresentadas abaixo:

2.π 1
ω= f= ω = 2.π.f
T T

Amplitudes Características do Sinal Alternado

Um sinal CA (tensão ou corrente) pode ser especificado, em termos de amplitude,


de várias formas diferentes. Tomemos como referência uma tensão alternada
cossenoidal.

• Valor Instantâneo – v(t)

O valor instantâneo v(t) é a amplitude do sinal em um determinado instante t.


Matematicamente, ele deve ser calculado pela expressão:

v( t ) = VP . cos ω.t

• Valor de Pico - VP

O valor de pico corresponde à amplitude máxima (positiva ou negativa) que o sinal


possui.

• Valor de Pico a Pico - VPP

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48
Eletrotécnica Básica – Aula 8

O valor de pico a pico corresponde à amplitude total entre os dois pontos máximos
(positivo e negativo) e, portanto, ele é o dobro do valor de pico.

VPP = 2.VP

Os valores VP e VPP são mais significativos que o instantâneo, pois por meio deles
é possível comparar a amplitude de sinais diferentes. Além disso, ao analisarmos um sinal
com um osciloscópio, esses valores podem ser facilmente medidos.

• Valor Eficaz ou RMS – Vef, VRMS ou V

O valor eficaz ou RMS (Root Mean Square ou Raiz Média Quadrática) corresponde
ao valor de uma tensão alternada que, se fosse aplicada a uma resistência, dissiparia
uma potência média, em watt, de mesmo valor numérico de uma tensão contínua aplicada
à mesma resistência.
Definição: Considere uma função periódica temporal f(t), com período T. O valor
eficaz F dessa função é definido por:

1 T 2 
F=  .∫ f ( t ).dt 
T 0 

Para sinais alternados senoidais e cossenoidais, a fórmula de valor eficaz pode ser
convertida no domínio angular, considerando o período T equivalente a 2.π rad, ou seja:

 1 2. π 2 
F=  . ∫ f (θ).dθ
 2.π 0 

Assim, considerando a tensão v(θ) = VP . cos θ , a fórmula do seu valor eficaz pode
ser deduzida facilmente:

 1 2. π 2 
V=  . ∫ v (θ).dθ
 2.π 0 

 1 2. π 2 
V=  . ∫ VP . cos 2 θ.dθ
 2.π 0 

 VP 2 2.π 
V=  . ∫ cos 2 θ.dθ
 2.π 0 

 V 2  θ sen 2.θ  2.π 


V=  P . +  
 2.π  2 4 0 

 VP 2  2.π sen 2.2.π 0 sen 0 


V=  . + − − 
 2.π  2 4 2 4 
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49
Eletrotécnica Básica – Aula 8

 VP 2 
V=  .(π)
 2.π 

2
VP
V=
2

VP
V=
2

O valor eficaz de um sinal é, em termos de amplitude, o mais importante do ponto


vista prático, pois a tensão e a corrente eficazes podem ser medidas diretamente,
respectivamente, pelos voltímetros e amperímetros CA.

Fase Inicial de um Sinal Alternado

Um sinal cossenoidal (tensão ou corrente) não precisa ter, necessariamente,


amplitude máxima no instante t = 0. Isso significa que ele pode iniciar o seu ciclo
adiantado ou atrasado de um intervalo de tempo ∆t ou de uma fase inicial θ. Portanto, as
expressões gerais da tensão e da corrente alternadas passam a ser as seguintes:

v( t ) = VP . cos (ω.t + θ v ) i( t ) = IP . cos (ω.t + θ i )

Se o sinal está adiantado, a fase inicial θ é positiva na expressão do valor


instantâneo e no respectivo diagrama fasorial, conforme mostram as figuras abaixo.

Observe que o sinal cossenoidal adianta-se quando o seu valor máximo ocorre
antes do instante inicial.
Se o sinal está atrasado, a fase inicial θ é negativa na expressão do valor
instantâneo e no respectivo diagrama fasorial, conforme mostram as figuras abaixo.

3º Semestre – Engenharia Elétrica Profª Engª Camila Soares


50
Eletrotécnica Básica – Aula 8

Observe que o sinal cossenoidal atrasa-se quando o seu valor máximo ocorre após
o instante inicial.

Defasagem entre Sinais Alternados

A diferença de fase entre dois sinais da mesma freqüência é chamada de


defasagem. Para que a defasagem possa ser utilizada matematicamente de um modo
mais fácil, é importante estabelecer um dos sinais como referência.

• Defasagem entre Tensão e Corrente

A defasagem entre tensão e corrente é simbolizada por ϕ, tendo a corrente como


referência.
Consideremos uma tensão v( t ) = VP . cos (ω.t + θ v ) e uma corrente
i( t ) = IP . cos (ω.t + θ i ) , sendo i(t) a referência. Nesse caso, a defasagem é dada por
ϕ = θ v − θi .
Se v(t) estiver adiantado em relação a i(t), a defasagem ϕ será positiva. No
diagrama fasorial, a seta entre os fasores V e I tem a mesma orientação que a freqüência
angular ω, indicando que a defasagem é positiva, isto é, que a tensão está adiantada em
relação à corrente.

Se v(t) estiver atrasado em relação a i(t), a defasagem ϕ será negativa. No


diagrama fasorial, a seta entre os fasores V e I tem orientação oposta à da freqüência
ngular ω, indicando que a defasagem é negativa, isto é, que a tensão está atrasada e
relação à corrente.

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51
Eletrotécnica Básica – Aula 8

• Defasagem entre Sinais de Mesma Grandeza

A defasagem entre sinais de mesma grandeza (entre tensões ou entre correntes)


será simbolizada por ∆θ. Neste caso, deve-se adotar um dos sinais como referência,
como nas figuras abaixo, em que v1(t) foi adotado como referência e, portanto, v2(t) está
adiantado, resultando em uma defasagem positiva.

Representação Temporal, Fasorial e Complexa do Sinal CA

Um sinal alternado cossenoidal pode ser convertido diretamente nas


representações fasorial e complexa equivalentes. Mas, se a sua expressão for um seno,
ela deve ser modificada para cosseno por meio da identidade trigonométrica
sen θ = cos (θ − 90°) antes de efetivar as conversões.
Para que possamos fazer uma analogia entre estes três modos de representação
de um mesmo sinal alternado, consideremos o exemplo seguinte referente a uma tensão
CA:

Observe que nos modos de representação instantânea e fasorial, tanto analítica


quanto gráfica, aparecem, pelo menos três parâmetros básicos: uma amplitude, uma
freqüência e a fase, com os quais podem ser determinados todos os demais parâmetros.
Já na representação complexa, a freqüência deve ser fornecida à parte para
complementar esse conjunto de parâmetros básicos. Observe também a semelhança
entre o diagrama fasorial e a representação complexa no plano cartesiano.

Revisão Números Complexos

Um número complexo tem duas dimensões, sendo uma real e outra imaginária. Por
isso, eles devem ser representados num plano cartesiano formado por um eixo horizontal
real Re e por um eivo vertical imaginário Im.
Define-se unidade imaginária o número j, tal que: j = − 1 .
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52
Eletrotécnica Básica – Aula 8

& locado num ponto qualquer do plano


Considere um número complexo C
cartesiano.

Há duas formas de representar analiticamente esse mesmo número complexo:

& = a + jb → Forma re tan gular


C
C& = C∠θ → Forma Polar

Onde:
& - número complexo (o ponto sobre a letra caracteriza-o como número complexo;
C
a - componente real (positiva ou negativa)
b - componente imaginária (positiva ou negativa)
C - (ou |C|) módulo do número complexo (sempre positivo)
θ - fase do número complexo (positiva ou negativa, a partir da referência Re+)

• Conversão entre as Formas Retangular e Polar

Várias expressões entre os elementos que compõem um número complexo podem


ser obtidas por meio do Teorema de Pitágoras e das relações trigonométricas aplicadas
ao triângulo retângulo formado no plano cartesiano:

Elementos da forma retangular:

Componente real → a = C. cos θ


Componente imaginária → b = C.sen θ

Elementos da Forma Polar:

& → C = a2 + b2
Módulo de C
& → θ = tg −1 b
Fase de C
a

• Operação com Números Complexos

Considere os números complexos seguintes:

& = a + jb
C ≡ & = C ∠θ
C e & = a + jb
C ≡ & = C ∠θ
C
1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2

Para realizar as operações adição e subtração com números complexos, a melhor


opção é convertê-los primeiramente na forma retangular.

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53
Eletrotécnica Básica – Aula 8

Na adição, determina-se a soma algébrica das componentes reais e das


imaginárias, obtendo o número complexo resultante.

& +C
C & = (a + a ) + j(b + b )
1 2 1 2 1 2

Na subtração, determina-se a subtração algébrica das componentes reais e das


imaginárias, obtendo o número complexo resultante.

& −C
C & = (a − a ) + j(b − b )
1 2 1 2 1 2

Para realizar as operações multiplicação e divisão com números complexos, a


melhor opção é convertê-los primeiramente na forma polar.
Na multiplicação, determinam-se o produto dos módulos e a soma algébrica das
fases, obtendo o número complexo resultante.

& .C
C & = (C .C )∠( θ + θ )
1 2 1 2 1 2

Na divisão, determinam-se o quociente entre os módulos e subtração algébrica das


fases, obtendo o número complexo resultante.

&
C C
1
= 1 ∠(θ1 − θ 2 )
&
C2 C2

Exercícios

1. Considere as formas de onda representadas abaixo.

a) Determine T, f e ω de cada sinal;


b) Determine os valores de pico, de pico a pico e eficaz da cada sinal;
c) Determine as expressões temporais de cada sinal na forma cossenoidal;
d) Esboce o diagrama fasorial de cada sinal;
e) Determine os valores instantâneos de cada sinal no instante t = 12ms.

(
2. Considere as tensões v 1( t ) = 10. cos 377.t + π
6
) [V] e v (t) = 8. cos (377.t + π 4) [V].
2

Calcule V& A = V& 1 + V& 2 .

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54
Eletrotécnica Básica – Aula 9

CIRCUITOS EM CORRENTE ALTERNADA

Conceito de Impedância

A impedância Z& , em ohm, é um número complexo que caracteriza um dispositivo


ou circuito e reflete tanto a oposição total que ela impõe à passagem da corrente
alternada quanto a defasagem total entre a tensão e a corrente.
A impedância Z& é composta por uma componente real denominada resistência e
por uma componente imaginária denominada reatância X, isto é:

Z& = R + jX
&
Z = Z∠ϕ

Onde:

Z = R 2 + X 2 ⇒ módulo da impedância Z&


X
ϕ = tg −1 ⇒ fase da impedância Z&
R
R = Z. cos ϕ
X = Z.senϕ

Enquanto o módulo de Z é responsável pela oposição à corrente, a fase ϕ é


responsável pela defasagem da tensão em relação à corrente. Portanto, conhecer em
detalhes uma impedância torna possível prever o comportamento elétrico de um
dispositivo ou circuito, bem como do gerador que o alimenta.
Em relação à componente resistiva R da impedância, podemos afirmar que ela só
pode assumir valores positivos. Já em relação à componente reativa X, a situação é outra.
Como a impedância pode adiantar (ϕ+) ou atrasar (ϕ-) a tensão em relação a corrente, é
imediato que isso só é possível matematicamente se a reatância puder assumir valor
positivo (+jX) ou negativo (-jX).
De fato, uma indutância comporta-se como uma reatância positiva (+jXL) e uma
capacitância como uma reatância negativa (-jXC).

Lei de Ohm para Circuito CA

A Lei de Ohm pode ser aplicada aos circuitos que operam em corrente alternada.
Porém, como há a possibilidade de existir defasagem entre tensão e corrente, conclui-se
que:

• A relação entre tensão e corrente não resulta necessariamente em uma resistência


pura, mas em uma impedância Z& , em ohm [Ω].
• A Lei de Ohm pode ser tratada matematicamente no campo dos números complexos,
assim:

& = Z& .&I


V

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55
Eletrotécnica Básica – Aula 9

Leis de Kirchhoff para Circuito CA

As duas Leis de Kirchhoff já estudadas podem ser aplicadas em circuitos CA a fim


de analisá-los matematicamente. Porém, para que possamos enunciar essas leis
corretamente, é necessário chamarmos a atenção para um detalhe prático relacionado ao
sentido das corrente e à polaridade das tensões em circuitos CA.
Embora a polaridade da tensão fornecida por um gerador CA se alterne a cada
meio ciclo, do ponto de vista elétrico, um de seus pólos é sempre tomado como
referência, o que nos leva a representar a tensão por uma seta unidirecional apontada
para o pólo “positivo” do gerador.

Definida essa “polaridade”, todas as demais tensões e as corrente passam a ter,


respectivamente, “polaridades” e “sentidos” também definidos.
Considerando ainda que as impedâncias sejam, em princípio, formadas por um ou
mais dispositivos passivos (resistores, indutores e capacitores), do ponto de vista elétrico,
elas serão vistas como receptores, de modo que a corrente elétrica deve atravessá-las no
sentido do pólo “positivo” para o “negativo” das suas tensões.
Portanto, a representação da tensão e da corrente por setas unidirecionais dá a
essas grandezas, do ponto de vista matemático, uma dimensão algébrica que deve,
necessariamente, ser respeitada nas análises.

Associação de Impedâncias

A associação de impedâncias se dá da mesma maneira que nas resistências


puras, ou seja:

• Para impedâncias em série:

Z& eq = Z& 1 + Z& 2 + ... + Z& n

• Para impedâncias em paralelo:

1 1 1 1 Z& .Z&
= + + ... + ou Z& eq = 1 2
&Z &Z &Z &Z Z& 1 + Z& 2
eq 1 2 n

Divisores de Corrente e de Tensão

Assim como para a associação de impedâncias, os divisores de corrente e de


tensão comportam-se, em circuitos CA, como nos circuitos CC puramente resistivos.
Assim temos que:

• Divisor de Tensão:

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56
Eletrotécnica Básica – Aula 9

Z& 1
V& 1 = &
.V
Z& 1 + Z& 2

• Divisor de Corrente

&I = Z& 2 &


.I
Z& 1 + Z& 2
1

Resistor em Corrente Alternada

O resistor possui um comportamento ôhmico resistivo e não reativo, pois a sua


resistência é uma constante R em ohm [Ω], que independe da velocidade com que a
tensão aplicada varia, ou seja, independe da sua freqüência.
Por causa disso, a tensão e a corrente estão sempre em fase, isto é, θv = θi.

A representação fasorial da tensão e da corrente no resistor consiste nos dois


fasores VR e IR girando em fase (ϕ = 0°) a uma freqüência angular ω conforme figura
abaixo.

Aplicando a Lei de Ohm por meio dos valores complexos da tensão V& R e da
corrente &IR no resistor, obtemos a sua impedância Z& , cuja fase é sempre nula e
independente de θv e θi. Isso significa que, no plano dos números complexos, a
resistência é puramente real, isto é, não possui parte imaginária. Portanto o resistor é
uma impedância resistiva pura.

Z& = R + jX
&
Z = Z∠ϕ

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57
Eletrotécnica Básica – Aula 9

Reatâncias Indutivas e Capacitivas

O indutor e o capacitor possuem comportamentos reativos, sendo que as suas


reatâncias XL e XC dependem da velocidade com que a tensão aplicada varia, ou seja,
dependem da freqüência. Assim temos que:

• No indutor, a reatância XL é diretamente proporcional à freqüência e à indutância:

XL = ω.L = 2.π.f .L

Onde XL é a reatância indutiva [Ω], L é a indutância [H], ω é a freqüência angular [rad/s] e


f é a freqüência [Hz].

• No capacitor, a reatância XC é inversamente proporcional à freqüência e à


capacitância:

1 1
XC = =
ω.C 2.π.f .C

Onde XC é a reatância capacitiva [Ω], C é a capacitância [F], ω é a freqüência angular


[rad/s] e f é a freqüência [Hz].

Tensão, Corrente e Defasagem no Indutor e no Capacitor

Como vimos, o indutor e o capacito provocam um pequeno transitório a partir do


instante em que são alimentados por uma fonte CC, até atingirem um estado estável (o
indutor passa a ser um curto e o capacitor um circuito aberto).
Agora, porém, eles serão alimentados por um gerador CA, cuja tensão varia
continuamente de intensidade e inverte a polaridade a cada meio ciclo. Neste caso, o
transitório também ocorre, de modo que o indutor atrasa a corrente e o capacitor atrasa a
tensão. Mas, passado o transitório, que é rápido, dizemos que o indutor e o capacitor
entram em regime permanente senoidal, ou seja, a tensão e a corrente passam a
acompanhar as variações do gerador, mantendo, porém os respectivos atrasos.
Aplicando um tensão cossenoidal no indutor e no capacitor, ocorre uma defasagem
ϕ entre a tensão e a corrente que pode ser ± 90° (ou ± π rad), dependendo da natureza
2
da reatância.
Por facilidade, consideraremos que o indutor e o capacitor sejam ideais e as
correntes iL(t) e iC(t) possuam fases iniciais nulas (θi = 0°).
No indutor ideal a tensão adianta 90° em relação à corrente, ou seja, ϕ = + 90°.

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Eletrotécnica Básica – Aula 9

No capacitor ideal a tensão atrasa 90° em relação à corrente, ou seja, ϕ = – 90°.

A representação fasorial da tensão e da corrente no indutor e no capacitor ideais


consiste nos fasores de tensão e corrente em quatratura, girando com freqüência angular
ω.

Impedâncias Reativas Puras

Aplicando a Lei de Ohm por meio da tensão e da corrente complexas no indutor e


no capacitor, obtemos as respectivas impedâncias complexas, cujas fases ϕ são
constantes, já que independem de θv e de θi, pois ϕ = θ v − θi = ±90° (em função da
natureza da impedância).
No indutor, obtemos Z& por V& L e &IL :

V& V ∠θ V
Z& = L = L v = L ∠(θ v − θi ) = XL ∠90° = jX L
&I i L ∠θ i iL
L

No capacitor, obtemos Z& por V& C e &IC :

V& V ∠θ V
Z& = C = C v = C ∠(θ v − θi ) = X C ∠ − 90° = − jX C
&I iC ∠θi iC
C

Isso significa que no plano dos números complexos, a reatância é uma grandeza
puramente imaginária, isto é, não possui parte real. Portanto, o indutor e o capacitor são
impedâncias reativas puras.
No indutor, a parte imaginária é sempre positiva.

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Eletrotécnica Básica – Aula 9

No capacitor, a parte imaginária é sempre negativa.

Note mais uma vez que a fase das reatâncias indutiva e capacitiva correspondem à
defasagem ϕ que elas provocam entre a tensão e a corrente fornecidas pelo gerador,
conforme mostram as representações temporal e fasorial mostradas anteriormente.

Análise das Impedâncias em Circuitos RL e RC em Série

Os circuitos RL e RC em série funcionam como divisores de tensão reativos que


defasam a tensão do gerador em relação à corrente de um ângulo ϕ.
A impedância Z& dos circuitos RL e RC em série vale:

• No circuito RL série:

Z& = R + jX L = Z∠ϕ +

• No circuito RC série:

Z& = R + jX C = Z∠ϕ −

Como já era esperado, a fase ϕ da impedância indutiva é positiva entre 0° e + 90°,


enquanto na impedância capacitiva ela é negativa entre 0° e – 90°. Naturalmente, essa
fase corresponde à defasagem entre a tensão V & do gerador e a corrente &I que ele
fornece ao circuito.

Análise das Tensões, Correntes e Defasagens por Números Complexos

Podemos equacionar os circuitos, aplicando a Lei de Kirchhoff para Tensões


Alternadas, isto é, usando valores complexos em conformidade com as suas
representações fasoriais. Em nossa análise, a representação complexa tem como
referência a corrente com fase inicial θi.
No circuito RL série:

V& = V& R + V& L

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No circuito RC série:

V& = V& R + V& C

As expressões e fórmulas abaixo são genéricas, isto é, aplicam-se a qualquer


circuito RL ou RC em série. Por isso, todas as variáveis são positivas. No caso de um
valor numérico negativo, como ocorre com ϕ– no circuito RC, o sinal (–) é incorporado
automaticamente aos cálculos.
No circuito RL série:

V& = V& R + V& L


V& R = R∠0°.I∠θi = R.I∠θi
V& L = XL ∠90°.I∠θi = XL .I∠(θi + 90°)
V& = Z∠ϕ + .I∠θ = Z.I∠(θ + ϕ + )
i i

No circuito RC série:

V& = V& R + V& C


V& R = R∠0°.I∠θi = R.I∠θi
V& C = X C ∠ − 90°.I∠θi = X C .I∠(θi − 90°)
V& = Z∠ϕ − .I∠θ = Z.I∠( θ + ϕ − )
i i

Na prática, caso a fase inicial da tensão ou da corrente do gerador não seja


conhecida, a análise dos circuitos reativos em série pode ser realizada com mais
facilidade se adotarmos fase inicial nula para a corrente, isto é, &I = I∠0° . Neste caso:
V& = VR + jVL ou V& = VR − jVC .

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POTÊNCIA ELÉTRICA EM CORRENTE ALTERNADA

Potência Instantânea

Considere um gerador com tensão v(t) a uma impedância genérica Z∠ϕ .

Dependendo da natureza da impedância, a tensão v(t) pode estar atrasada, ou em


fase, ou adiantada de um ângulo ϕ em relação à corrente i(t).
Portando, podemos considerar as seguintes expressões instantâneas genéricas:

v( t ) = VP . cos(ω.t + ϕ) e i( t ) = IP . cos ω.t

A potência instantânea p(t) é o produto dos valores instantâneos da tensão v(t) e


da corrente i(t), isto é:

p(t ) = v( t ).i( t )

Então:

p( t ) = v( t ).i( t ) ⇒ p( t ) = VP . cos( ω.t + ϕ).IP . cos ω.t ⇒ p( t ) = VP .IP . cos( ω.t + ϕ). cos ω.t

Substituindo os valores de pico por seus respectivos valores eficazes, isto é, VP por
2.V e IP por 2.I , e aplicando a identidade trigonométrica
1
cos α. cos β = .[cos( α − β) + cos( α + β)] , obtemos:
2

2.V. 2.I
p( t ) = .[cos( ω.t + ϕ − ω.t ) + cos( ω.t + ϕ + ω.t )]
2

p( t ) = V.I. cos ϕ + V.I. cos( 2.ω.t + ϕ)

Nesta expressão, distinguimos dois termos: o primeiro, V.I. cos ϕ , é uma constante,
pois independe do tempo t; o segundo, V.I. cos(2.ω.t + ϕ) , é variável com o tempo t e sua
freqüência é o dobro da freqüência ω da tensão e da corrente. A parcela constante da
expressão da potência instantânea corresponde ao seu valor médio. A potência média,
por sua vez, é conhecida como potência ativa ou potência real de um circuito, sendo
simbolizada simplesmente por P.
Observe que, como ϕ só pode assumir valores entre +90° e -90° (primeiro e quarto
quadrantes do diagrama fasorial), o primeiro termo, V.I. cos ϕ , é sempre positivo, pois
cos ϕ = cos(−ϕ) , enquanto o segundo, V.I. cos(2.ω.t + ϕ) , pode ser positivo ou negativo,
dependendo do instante t considerado.

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Analisaremos, a seguir, o significado destes dois termos, considerando, para isso,


os cinco deferentes comportamentos de uma impedância em função de sua fase ϕ e
lembrando que cos 0° = 1 e cos ±90° = 0.

• Impedância Resistiva Pura

Toda a potência fornecida pelo gerador é ativa, pois ela é sempre positiva, variando
entre 0 e 2.V.I. Nesse caso, a potência média é V.I.

• Impedância Indutiva e Capacitiva Pura

Não há potências ativa, mas reativa, pois a potência fornecida ao indutor e ao


capacitor (parcelas positivas) é devolvida ao gerador (parcelas negativas).
Durante a devolução, é como se o dispositivo fosse um gerador.
A potência reativa varia entre –V.I e +V.I, de modo que a potência média é nula.

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• Impedância Indutiva e Capacitiva

Há potência ativa e reativa, sendo, por isso, sempre mais positiva que negativa.
Portanto, somente uma parcela da potência é devolvida ao gerador. Nesses casos, a
potência média pode estar entre 0 e V.I, dependendo de ϕ. Quanto mais próximo de zero
for o valor de ϕ, maior será a potência ativa.
A potência total (ativa + reativa) é chamada de potência aparente.

Potência em Números Complexos

A análise matemática da potência em circuitos CA por meio de expressões


temporais, conforme foi feita no tópico anterior, serviu apenas para mostrar as possíveis
formas de onda da potência instantânea em função da natureza da impedância, e
identificar os três tipos de potência: a ativa, a reativa e a aparente.
A partir de agora, migraremos para os números complexos para que possamos
chegar a formulas mais simples de ser analisadas e aplicadas.
Comecemos, então, por apresentar as duas condições que devem ser satisfeitas
para que essa abordagem seja feita corretamente. Considere a expressão da potência
instantânea: p( t ) = V.I. cos ϕ + V.I. cos(2.ω.t + ϕ) . Nesta expressão, os dois termos utilizam
os valores eficazes da tensão e da corrente, isto é, V.I. Além disso, o termo dependente
do tempo V.I. cos(2.ω.t + ϕ) mostra que em um diagrama fasorial de potência, esse fasor
ficaria circunscrito apenas ao primeiro e ao quarto quadrantes, pois -90°<ϕ<+90°.
Das observações acima, concluímos que:

• A primeira condição para o cálculo da potência por números complexos é a


utilização de valores eficazes (RMS), isto é, V para a tensão e I para a corrente;
• A segunda condição é limitar, matematicamente, o fasor da potência ao primeiro e
ao quarto quadrantes. Essa limitação está relacionada ao fato de a componente
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real da impedância (componente resistiva) poder assumir apenas valores positivos,


sendo esta uma imposição puramente física.
Porém, se calcularmos a potência complexa diretamente a partir da expressão
& & &
P = V.I , considerando V& = V∠θ v e &I = I∠θi , chegaremos a um resultado errado, porque,
como já vimos, fisicamente o fasor da potência só pode ocupar o primeiro e o quarto
quadrantes do diagrama fasorial, o que não ocorre com a fase resultante (θv + θi), pois
esta pode ocupar qualquer quadrante.
Mas a questão é apenas matemática. De fato, os números complexos
desconhecem que a defasagem ϕ é a diferença entre θv e θi, e não a soma, como ocorre
no produto V & .&I . Assim sendo, a forma correta de analisar a potência complexa é usando o
conjugado da tensão, isto é, V & * , já que ele mantém tanto o seu módulo quanto a sua
componente real inalterados.
Considere um gerador V& = V∠θ v fornecendo uma corrente &I = I∠θi a uma
impedância Z& dada genericamente por Z& = R ± jX ou Z& = Z∠ϕ ± . L,C

Fasorialmente, temos dois diagramas distintos:

Em cada impedância há uma corrente e três tensões. Portanto, há três potências


envolvidas. A potência total é denominada potência aparente P& S , dada por: P& S = V& * .&I .
Desenvolvendo essa expressão, temos:

P& S = V& * .&I = V∠( −θ v ).I∠( θ i ) = V.I∠( θ i − θ v ) ⇒ P& S = V.I∠ − ϕ

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Observe que, agora, a fase da potência aparente é -ϕ, isto é, situa-se no primeiro
ou no quarto quadrante e corresponde numericamente à fase ϕ da impedância Z& ou à
& e a corrente &I , a menos de sue sinal, que agora é invertido.
defasagem ϕ entre V
A potência aparente complexa P& S pode ser determinada também em função da
impedância Z por:

V2
P& S = ∠−ϕ ou P& S = Z.I2 ∠ − ϕ
Z

Decompondo a fórmula P& S = V.I∠ − ϕ em suas componentes real e imaginária,


temos:

P& S = V.I. cos( −ϕ) + jV.I.sen( −ϕ)

Mas, cos(−ϕ) = cos ϕ e sen( −ϕ) = −senϕ . Então:

P& S = V.I. cos ϕ − jV.I.senϕ


P& S = P − jPQ

A componente real de P& S é a potência ativa P, sendo exatamente igual ao primeiro


termo da expressão instantânea p(t). Portanto:

P = V.I. cos ϕ

A componente imaginária de P& S é a potência reativa PQ, correspondendo ao termo


V.I. cos(2.ω.t + ϕ) da expressão instantânea p(t) quando ϕ = ± π . Portanto:
2

PQ = −V.I.senϕ

Análise das Potências Ativa, Reativa e Aparente

• Potência Ativa - P

A potência ativa P, em watt, é aquela correspondente ao produto da corrente com a


parcela da tensão que está em fase com ela. Portanto:

P = V.I. cos ϕ

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Mas, como VR = V. cos ϕ :

2
V
P = VR .I ou P = R.I 2
P= R
R

A parcela ativa da potência total é fornecida pelo gerador à componente resistiva


da impedância, sendo totalmente dissipada por ela. Por isso ela é sempre positiva e
corresponde a uma parcela da região positiva do gráfico de p(t). Essa energia pode ser
utilizada para realizar trabalho. É por isso que a potência ativa é denominada também de
potência útil, potência de trabalho ou potência real.

• Potência Reativa - PQ

A potência reativa PQ, em volt.ampére reativo [VAr], é o negativo do produto da


corrente com a parcela da tensão que está em quadratura com ela. Portanto:

PQ = −V.I.senϕ

Já vimos que uma parcela da região positiva do gráfico de p(t) é a potência ativa P.
Já a outra parcela positiva é usada pela impedância para armazenar energia em sua
reatância. Assim, a área negativa do gráfico de p(t) corresponde à devolução dessa
energia ao gerador, então concluímos que a potência reativa PQ é totalmente perdida,
pois não realiza trabalho útil.
Na reatância indutiva, a corrente armazena energia na forma de campo magnético.
Só que a fase ϕ é positiva, provocando um atraso na corrente e, portanto, no
armazenamento de energia. É por isso que a potência reativa indutiva é negativa, ou seja:

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2
2 V
PQ = − VL .IL ou PQ = − XL .IL ou PQ = − L
XL

Na reatância capacitiva, a corrente armazena energia na forma de campo elétrico.


Só que a sua fase ϕ é negativa, provocando um avanço na corrente e, portanto, no
armazenamento de energia. É por isso que a potência reativa capacitiva é positiva, ou
seja:

2
2 V
PQ = VC .IC ou PQ = XC .IC ou PQ = C
XC
• Potência Aparente - PS

A potência aparente PS, em volt.ampere [VA], é a potência total fornecida pelo


gerador à impedância, isto é:

PS = V.I

A potência aparente pode ser determinada, também, em função do valor da


impedância Z:

V2
PS = Z.I2 ou PS =
Z

Em uma impedância formada pelas componentes resistiva e reativa, a parcela


positiva da potência é sempre maior que a negativa, pois a parcela positiva é a soma das
potências ativa com a de armazenamento de energia na componente reativa. Já, a
parcela negativa corresponde apenas à potência usada pela impedância para devolver ao
gerador essa energia armazenada.

Triângulo das Potências

Podemos representar as potências em uma impedância por um triangulo de


potências.
Na impedância indutiva, temos:

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Na impedância capacitiva, temos:

Deste triângulo, tiramos as seguintes relações entre as potências:

2 PQ
PS = P 2 + PQ e ϕ = −tg−1
P

Onde:
P = PS . cosϕ
PQ = −PS .senϕ

Fator de Potência - FP

A relação entre a potência ativa (consumida) e a potência aparente (fornecida pelo


gerador) é denominada fator de potência FP, que pode ser dado por:

P
FP = ou FP = cos ϕ
PS

O fator de potência é um valor positivo entre 0 e 1 que reflete o quanto da potência


aparente fornecida pelo gerador é efetivamente consumido pelo circuito ou pela
impedância.

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