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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA ENGENHARIA E TECNOLOGIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS

Metodologia de avaliação de cenários de usos de recursos hídricos


frente a áreas prioritárias de conservação

João Paulo Alves Sartorello

Cuiabá/MT

2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ARQUITETURA ENGENHARIA E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS

Metodologia de avaliação de cenários de usos de recursos hídricos


frente a áreas prioritárias de conservação

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação


em Recursos Hídricos da Faculdade de Arquitetura,
Engenharia e Tecnologia da Universidade Federal de
Mato Grosso, como parte dos requisitos para
cumprimento de créditos obrigatórios e
desenvolvimento do estudo no âmbito da linha de
pesquisa: Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos.

Orientador: Prof. Dr. Jhonatan Barbosa da Silva.

Cuiabá/MT

2022
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO : "Metodologia de avaliação de cenários de usos de recursos


hídricos frente a áreas prioritárias de conservação"

AUTOR: MESTRANDO João Paulo Alves Sartorello

Dissertação defendida e aprovada em 30 de MAIO de 2022.

COMPOSIÇÃO DA BANCA EXAMINADORA

1. Doutor(a) Jhonatan Barbosa da Silva (Presidente Banca/Orientador)


INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Mato Grosso
2. Doutor(a) Luciana Sanches (Examinador Interno)
INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Mato Grosso
3. Doutor(a) Alisson André Ribeiro (Examinador Externo)
INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
4. Doutor(a) Fernando Ximenes de Tavares Salomão (Examinador Suplente)
INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Mato Grosso
5. Doutor(a) Ibraim Fantin da Cruz (Examinador Suplente)
INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Mato Grosso
CUIABÁ-MT, 30/05/2022.

Documento assinado eletronicamente por JHONATAN BARBOSA DA SILVA,


Docente da Universidade Federal de Mato Grosso, em 03/06/2022, às
23:52, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º
do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020.
Documento assinado eletronicamente por Alisson André Ribeiro, Usuário
Externo, em 04/07/2022, às 19:29, conforme horário oficial de Brasília, com
fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de

TUVTVFJBRE8gLSBGb2xoYSBkZSBBcHJvdmHn428gRkFFVCAtIFBQRyBSSCA0NzcwMDc2 SEI 23108.046220/2022-09 / pg. 1


2020.
Documento assinado eletronicamente por LUCIANA SANCHES, Docente da
Universidade Federal de Mato Grosso, em 05/07/2022, às 09:23,
conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do
Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020.

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Referência: Processo nº 23108.046220/2022-09 SEI nº 4770076

TUVTVFJBRE8gLSBGb2xoYSBkZSBBcHJvdmHn428gRkFFVCAtIFBQRyBSSCA0NzcwMDc2 SEI 23108.046220/2022-09 / pg. 2


Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

A474m Alves Sartorello, João Paulo.


Metodologia de avaliação de cenários de usos de recursos
hídricos frente a áreas prioritárias de conservação / João Paulo
Alves Sartorello. -- 2022
57 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientador: Jhonatan Barbosa da Silva.


Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,
Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós-Graduação
em Recursos Hídricos, Cuiabá, 2022.
Inclui bibliografia.

1. Gestão Estratégica. 2. Gestão de Recursos Hídricos. 3. SIG. 4.


Cenários futuros. 5. Usos múltiplos. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais Claudinei Sartorello e Maria Alves Pereira
Sartorello pelo apoio e carinho durante toda minha vida, e pelo apoio durante a luta contra o
câncer, sem eles este trabalho nunca teria sido se concretizado. Amor igual não há. Amo muito
meus pais.

Ao meu querido professor Jhonatan Barbosa da Silva, pela orientação e paciência


comigo durante a elaboração deste trabalho, pelo tempo dedicado a mim, e por nunca ter me
deixado na mão, muito atencioso sempre.

A todos os professores do departamento do Programa de Pós-Graduação em Recursos


Hídricos que repassaram parte de seus conhecimentos durante o processo de ensino.

A todos os colegas de sala e veteranos que ajudaram de alguma forma durante o


mestrado.

3
“O dom de poder mental vem de Deus, o Ser Divino e se
concentrarmos nossas mentes na verdade, ficamos em sintonia
com este grande poder.”

Nikola Tesla
4
RESUMO

Visto o crescente número de conflitos pelos usos múltiplos da água, temos que as simulações
de cenários possibilitam uma melhor formulação estratégica para gestão deste recurso por meio
de indicadores de desempenho, relacionando-os com as percepções de causa e efeito. O presente
trabalho tem o objetivo de propor uma metodologia para identificar e definir áreas passiveis de
intervenção em relação aos usos dos recursos hídricos. Como metodologia será efetuado a
sobreposição de mapas em ambiente SIG, dos usos consuntivos, não consuntivos dos recursos
hídricos, com áreas de especial atenção socio-econômico-ambiental, dentre elas: Unidades de
Conservação, Terras Indígenas, Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade. Este
trabalho aplicado a unidades de planejamento possibilita os setores estratégicos e órgãos de
meio ambiente executar uma gestão e gerenciamento mais coerente, atendendo o maior número
de instrumentos ambientais, de recursos hídricos e socioeconômicos. Assim, será aplicada a
metodologia para um cenário de arquétipos, possibilitando a análise para a tomada de decisão
por meio dos órgãos gestores, como uma ferramenta de planejamento dos usos múltiplos dos
recursos hídricos e naturais de forma racional.

Palavras-chave: Gestão Estratégica. Gestão de Recursos Hídricos. SIG. Cenários futuros.


Usos múltiplos.

5
ABSTRACT

In view of the growing number of conflicts over multiple uses of water, scenario simulation
allows for a better strategic formulation for managing this resource through performance
indicators, relating them to the perceptions of cause and effect. The present work has the
objective of proposing a methodology to identify and define areas that are amenable to
intervention in relation to the uses of water. As a methodology, overlapping maps in a GIS
environment will be made, of the consumptive, non-consumptive uses of water resources and
irregular uses of natural resources, with areas of special socio-economic-environmental
attention, among them: Conservation units, Indigenous Lands, Priorities for Biodiversity
Conservation. This work applied to planning units enables strategic sectors and environmental
agencies to perform a more coherent management, taking into account the greatest number of
environmental instruments, water and socioeconomic resources. Thus, the methodology will be
applied for the archetypes scenario, enabling the analysis for decision making through the
management bodies, as a planning tool for the multiple uses of water and natural resources in a
rational way.

Keywords: Strategic Management. Water Resources Management. GIS. Future scenarios.


Multiple uses.

6
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 ....................................................................................................................................... 12
Introdução Geral ................................................................................................................................. 12
Constituição federal ........................................................................................................................ 14
Política nacional do meio ambiente ............................................................................................... 15
Política estadual do meio ambiente................................................................................................ 16
Política nacional de recursos hídricos ........................................................................................... 17
Plano estadual de recursos hídricos de mato grosso .................................................................... 18
Usos consuntivos e não-consuntivos............................................................................................... 18
Áreas Legalmente Protegidas (ALP) ............................................................................................. 18
Unidades de conservação ................................................................................................................ 20
Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade ............................................................ 21
Regionalização de vazões do estado de mato grosso .................................................................... 22
Estimativa de demanda................................................................................................................... 22
Modelagem de qualidade dos recursos hídricos ........................................................................... 23
Escopo e estrutura da dissertação...................................................................................................... 24
Referências bibliográficas................................................................................................................... 25
CAPÍTULO 2 ....................................................................................................................................... 27
Introdução........................................................................................................................................ 28
Materiais e Métodos ........................................................................................................................ 29
Área de estudo ............................................................................................................................. 29
Oferta hídrica superficial e subterrânea ................................................................................... 31
Demandas dos setores usuários .................................................................................................. 31
Demandas dos setores usuários consuntivos para o cenário atual e futuro ........................... 32
Demandas dos setores usuários não consuntivos para o cenário atual e futuro .................... 32
Balanços e pressões hídricas quantitativas ............................................................................... 33
Águas superficiais........................................................................................................................ 33
Águas subterrâneas ..................................................................................................................... 34
Balanços e pressões hídricas qualitativas .................................................................................. 34
Águas superficiais........................................................................................................................ 34
Proposição de arquétipos ............................................................................................................ 35
Metodologia de sobreposição...................................................................................................... 36
Áreas de restrição de usos dos recursos hídricos...................................................................... 37

7
Resultados e Discussão .................................................................................................................... 39
Demandas quantitativas e qualitativas dos setores usuários consuntivos por sub-bacia...... 39
Emprego da metodologia de sobreposição frente às ALPs ...................................................... 40
Sobreposição das ALPs e os arquétipos da componente quantitativa .................................... 40
Sobreposição das ALPs e os arquétipos da componente qualitativa ...................................... 42
Sobreposição das ALPs e os usos não-consuntivos ................................................................... 44
Áreas de restrição de uso dos recursos hídricos ....................................................................... 44
Conclusões........................................................................................................................................ 48
Referências Bibliográficas .............................................................................................................. 49
CAPITULO 3 ....................................................................................................................................... 51
Conclusões e recomendações finais ................................................................................................ 51
ANEXOS .............................................................................................................................................. 52

8
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Região Hidrográfica do Alto Paraguai. ............................................................................ 30


Figura 2. Fluxograma simplificado da metodologia......................................................................... 37
Figura 3. Usos consuntivos nas Região Hidrográfica do Alto Paraguai. ....................................... 39
Figura 4. Áreas de restrição propostas.............................................................................................. 45
Figura 5. Mapa de arquétipos – Componente quantitativo............................................................. 52
Figura 6. Mapa de arquétipos – Componente qualitativo – DBO Q95. ......................................... 53
Figura 7. Mapa de arquétipos – Componente qualitativo – DBO Qmédia. ................................... 54
Figura 8. Mapa de sobreposição entre arquétipos e ALPs – Componente quantitativo............... 55
Figura 9. Mapa de sobreposição entre arquétipos e ALPs – Componente qualitativo – DBO Q95.
............................................................................................................................................................... 56
Figura 10. Mapa de sobreposição entre arquétipos e ALPs – Componente qualitativo – DBO
Qmédia. ................................................................................................................................................ 57

9
LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Unidades de Conservação de Proteção Integral. ............................................................ 19


Quadro 2. Unidades de Conservação de Uso Sustentável. ............................................................... 20

10
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ALP - Áreas Legalmente Protegidas;

ANA – Agencia Nacional de Águas;

APCB - Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade;

APP – Áreas de Preservação Permanente;

CAR - Cadastro Ambiental Rural;

CEHIDRO – Conselho Estadual de Recursos Hídricos;

DBO - Demanda bioquímica de oxigênio;

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis;

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

MT – Mato Grosso;

PERH - Plano Estadual de Recursos Hídricos;

RH – Região Hidrográfica;

SEMA - Secretaria de Estado de Meio Ambiente;

SIDRA - Sistema IBGE de Recuperação Automática;

SIG – Sistema de Informações Geográficas;

SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente;

SNUC - Sistema Nacional de Unidades Conservação.

11
Capítulo 1 – Introdução Geral

CAPÍTULO 1

Introdução Geral

Desde os princípios da vida no planeta e da história da humanidade, a água sempre foi


indispensável. As grandes civilizações do passado e do presente sempre dependeram da água
doce para sua sobrevivência, desenvolvimento cultural e econômico. O abastecimento de água
doce de boa qualidade é, consequentemente, essencial para o desenvolvimento econômico, para
a qualidade de vida das populações humanas e para a sustentabilidade do planeta (TUNDISI,
2003).

Segundo Von Sperling (2005), a água é um dos elementos mais abundantes no planeta,
porém, estimativas apontam que somente 0,8% de sua totalidade se encontram como água doce
para o abastecimento humano, e ainda destes, só 3% se encontram nas águas superficiais e 97%
estão confinados em aquíferos subterrâneos.

Ainda o mesmo autor ressalta que a qualidade da água é dependente dos fenômenos
naturais e da ação antrópica, visto isso o controle da qualidade das águas está ligado ao
planejamento em nível de toda bacia hidrográfica.

A distribuição irregular e a qualidade dos recursos hídricos entre os países são


problemas sérios relacionados a este recurso. Apenas alguns países se encontram em um cenário
privilegiado no quesito de suprimento de água. Exceto alguns países como a Rússia, Estados
Unidos, Canadá, China, Indonésia, Colômbia, Peru, Zaire, Papua Nova Guiné e Brasil, o
restante dos países do mundo apresentam problemas severos de escassez, tanto no quesito
quantitativo ou qualitativo (WALDMAN, 2002).

Observa-se ainda a existência de atuais e potenciais conflitos futuros nos usos de água
do Brasil entre os setores usuários de recursos hídricos: a agricultura irrigada, a geração de
energia elétrica, a navegação, e o saneamento ambiental, envolvendo aspectos de quantidade e
qualidade de água (LANNA, 2008).

No âmbito legislativo, a regulação de recursos hídricos no Brasil possui o amparo de


políticas públicas a nível Federal, Estadual; sendo que a nível Federal a regulação deste recurso
12
Capítulo 1 – Introdução Geral

se dá pela Agencia Nacional de Águas, para o nível Estadual fica a responsabilidade para as
Secretarias Estaduais de Meio Ambiente.

De acordo com Larentis (2004), a gestão dos recursos hídricos tem, historicamente,
tratado de forma isolada os aspectos qualitativos e quantitativos, com prejuízos sensíveis para
os objetivos ambientais.

Schmitz e Bittencourt (2016) acreditam que a identificação das demandas hídricas para
seus múltiplos usos devem ser monitoradas e relacionadas com a disponibilidade hídrica, assim
como deve ser relacionada à qualidade das águas. Uma vez que a degradação das águas, em
maior ou menor grau, podem impossibilitar alguns usos, acarretando em perdas econômicas e
ambientais.

A identificação de áreas com pressão ao qual necessitam de ação no curto prazo


sobrepostas às áreas legalmente protegidas, ou que são prioritárias para a conservação, permite
inferir quais áreas apresentam fragilidade e necessidade de atenção redobrada, mesmo que se
trate de áreas pouco extensas em relação à totalidade da região hidrográfica estudada (ANA,
2017).

Visto o crescente conflito pelos usos múltiplos da água na região, devido ao aumento da
população, da industrialização e do agronegócio; fica evidente a necessidade de um olhar
holístico em relação aos recursos hídricos para o correto planejamento desse recurso natural
limitado, dotado de valor econômico, de domínio público (BRASIL, 1997).

Todos os países do mundo encontram um desafio que é equilibrar a oferta e os usos dos
recursos hídricos, sendo muitas vezes pauta de discussões e entraves globais estratégicos e
econômicos. Então, para regular o tema, os países propõem um arcabouço institucional e legal,
porém, o que é correntemente visto é um desequilíbrio ambiental desenfreado e, que muitas
vezes trazem prejuízos irreparáveis. Nesse viés, considerando o Brasil, constata-se que a forma
de gestão e gerenciamento dos recursos hídricos não é efetiva, uma vez que cada vez mais o
país incrementa passivos ambientais e áreas degradadas, com prejuízos muitas vezes
incalculáveis do ponto de vista local, regional e global.
Pode-se dizer que no Brasil temos uma estrutura de governança das pastas de interesse
econômico na esfera federal, estadual e municipal. Esse arranjo institucional é válido, devido
ao país possuir dimensões continentais, sendo necessário implementar regras gerais aplicadas
13
Capítulo 1 – Introdução Geral

a todas as regiões e específicas para regiões com particularidades locais. Assim, instrumentos
de regulação como: licenciamento ambiental, Cadastro Ambiental Rural (CAR), outorga de
recursos hídricos, legislações ambientais, fiscalização e outros não são suficientes para
minimizar os danos ambientais, uma vez que é frequente e visível o aumento do desequilíbrio.

A análise e proposição de cenários de uso dos recursos hídricos para bacias


hidrográficas, aliado a ferramentas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), possibilita
determinar áreas passiveis de uso, intervenção e planejamento para atender critérios socio-
econômico-ambiental dos recursos hídricos.

Este estudo é uma proposta de integração e visualização metodológica de vários


elementos que guiam o Estado para planejamento entre exploração e preservação. Assim, define
e unifica pilares no âmbito de gestão e gerenciamento de recursos hídricos.

Como estudo de caso para sua aplicação, selecionou-se como área a região hidrográfica
do médio e alto Paraguai, em função de sua importância, tanto em quantidade e qualidade na
região hidrográfica a qual alimenta, sendo uma região de relevantes nascentes que alimentam
grande parte do Brasil e países vizinhos.

A metodologia servirá de apoio para futuras tomadas de decisões na região, e auxiliará


na implementação dos instrumentos propostos na Política Nacional de Recursos Hídricos como
o Enquadramento dos corpos de água em classes e a Cobrança pelo uso dos recursos hídricos;
ou melhoria dos já existentes como a Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos na região.

Espera-se ainda que este estudo sirva de base para aplicação em outras regiões
hidrográficas, na busca do real planejamento entre o limite de exploração e a demanda por
recursos hídricos.

Constituição federal

Malheiros et al (2013) inferiu que o Brasil sofreu influência direta das conferências e
do movimento ambientalista global na década de 70, ao qual levou a criação da Secretaria
Especial do Meio Ambiente (SEMA), em 1973, e a edição da Lei Federal que instituiu a Política
Nacional de Meio Ambiente em 1981. Acontecimentos que foram marcos do início de uma
14
Capítulo 1 – Introdução Geral

nova institucionalidade política que tem como objeto o meio ambiente. A partir da Constituição
de 1988, que estabeleceu que a água é um bem público e considerou a necessidade de uma
política integrada, vários estados aprovaram leis que reorganizaram o sistema de gestão dos
recursos hídricos.
Segundo Noronha et al (2013), a Constituição Federal de 1988 definiu que as águas são
bens da União e Estados e, posteriormente, a Política Nacional de Recursos Hídricos institui as
bacias hidrográficas como as unidades territoriais de gestão.
Os princípios básicos da gestão de recursos hídricos foram ditados pela Constituição
Brasileira de 1988 e detalhados pela Política Nacional de Recursos Hídricos em 1997.

Política nacional do meio ambiente

Implementada pela Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, a Política Nacional do Meio


Ambiente dispõe seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental (BRASIL,
1981). Dentre seus instrumentos:

1. Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;


2. Zoneamento ambiental;
3. Avaliação de impactos ambientais;
4. Licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;
5. Incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de
tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
6. Criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público
federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de
relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
7. Sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
8. Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;
9. Penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.

15
Capítulo 1 – Introdução Geral

10. Instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado


anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA;
11. Garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-
se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
12. Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou
utilizadoras dos recursos ambientais.
13. Instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro
ambiental e outros.

Política estadual do meio ambiente

Lei Complementar, ressalvada a competência da União, institui o Código Ambiental do


Estado de Mato Grosso e estabelece as bases normativas para a Política Estadual do Meio
Ambiente, dispõe sobre o Código Estadual do Meio Ambiente e dá outras providências (MATO
GROSSO, 1995). Sendo seus princípios:

I - Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o


meio ambiente como patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II - Recuperação do meio ambiente na gestão de recursos ambientais, bem como


diretrizes para seu detalhamento em planos setoriais, de acompanhamento e
avaliação;

III - desenvolvimento e implementação de mecanismos que garantam a


integração dos diversos organismos da ação setorial do Estado na consecução
dos objetivos da política ambiental;

IV - Consideração da disponibilidade e limites dos recursos ambientais, face ao


desenvolvimento e à dinâmica demográfica do Estado;

V - Consideração do padrão na interação entre os recursos ambientais e as


atividades ocorrentes no território com aqueles que se verificam em outras
unidades geopolíticas;

VI - Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água, da fauna, da flora e do


ar;

16
Capítulo 1 – Introdução Geral

VII - desenvolvimento científico e tecnológico através de incentivos aos estudos


e pesquisa de tecnologia orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos
ambientais;

VIII - recuperação das áreas degradadas;

IX - Educação ambiental e conscientização da comunidade, objetivando


capacitá-la para a participação na defesa do meio ambiente.

Política nacional de recursos hídricos

A lei 9433/1997 institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e cria o Sistema


Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, possuindo o objetivo de assegurar à atual e
às futuras gerações a disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos, com a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, de forma a garantir
um desenvolvimento sustentável (BRASIL, 1997).
Dentre seus instrumentos para efetivação na aplicação:
1. Plano de Recursos Hídricos;
2. Enquadramento dos Corpos de Água em Classes, segundo os usos
preponderantes da água;
3. Outorga do Direito de Uso dos Recursos Hídricos;
4. Cobrança pelo uso dos Recursos Hídricos;
5. Compensação a municípios;
6. Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

De acordo com Patrício et al (2012), a Política Nacional de Recursos Hídricos declara a


água como bem de domínio público de interesse comum, e ao reconhecê-la como recurso
natural limitado, dotado de valor econômico, estabelece o necessário disciplinamento em
contextos de competição entre setores usuários diante de situações de qualidade ou de escassez
geográfica ou sazonal. Ainda que a água desempenhe papel central no contexto da problemática
ambiental, a Política Nacional de Recursos Hídricos é fortemente marcada por uma abordagem
setorial, possuindo poucos pontos de tangência com outras políticas públicas.

17
Capítulo 1 – Introdução Geral

Plano estadual de recursos hídricos de mato grosso

O Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH/MT) foi instituído pela Resolução nº 26


de 02 de junho de 2009, do Conselho Estadual de Recursos Hídricos e efetivado pelo Decreto
Governamental nº 2.154, de 28 de setembro de 2009, é um instrumento de planejamento,
possuindo o objetivo de buscar o equilíbrio entre a oferta e a demanda de água no Estado, de
forma a assegurar a sua disponibilidade aos usos múltiplos (MATO GROSSO, 2009).

Usos consuntivos e não-consuntivos

Conforme Lanna (2002), quanto à natureza da utilização existem os usos consuntivos e


não consuntivos. Os usos consuntivos referem-se a usos que retiram a água de um corpo d’água
diminuindo sua disponibilidade quantitativa, espacial e temporalmente, são eles: usos
domésticos, agricultura, pecuária, irrigação, processamento industrial, termoeletricidade,
mineração, transporte hidráulico, dentre outros usos.

Ainda segundo o autor, os usos não consuntivos são atribuídos aos usos de água em que
há o retorno do recurso ao corpo hídrico de retirada, praticamente a totalidade utilizada,
podendo haver alguma modificação na qualidade, mas não em quantidade do recurso, são usos
não consuntivos: a navegação, recreação, piscicultura, hidroeletricidade, dentre outros.

Áreas Legalmente Protegidas (ALP)

Segundo Brito (2011), as áreas legalmente protegidas, em geral, apresentam regime


especial de administração e manejo, nas quais foram constituídas a partir de conflitos
envolvendo a utilização dos recursos naturais, com permanência ou não de populações locais,
e ainda, são considerados espaços especiais quanto ao uso dos seus recursos. Essas áreas
englobam as Unidades de Conservação (UCs), Áreas Prioritárias para Conservação da
Biodiversidade (APCBs), terras indígenas (TIs) e quilombolas (MMA, 2015).

18
Capítulo 1 – Introdução Geral

Quanto as Unidades de Conservação (UCs) são definidas como os espaços territoriais e


seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e com
limites definidos, sob-regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas
de proteção (BRASIL, 2000).

As unidades de conservação integrantes do Sistema Nacional de Unidades de


Conservação dividem-se em dois grupos, com características específicas, sendo: Unidades de
Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.

As Unidades de Proteção Integral têm como objetivo preservar a natureza, sendo


admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos pela
Lei. As Unidades de Uso Sustentável têm como objetivo compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

Quadro 1. Unidades de Conservação de Proteção Integral.

Unidade de conservação Objetivo


Estação ecológica Proteger a natureza e realizar pesquisas científicas.
Proteger integralmente a biota e demais atributos
naturais existentes dentro de seus limites, sem
interferência humana direta ou modificações
ambientais, exceto as medidas de recuperação de seus
Reserva biológica
ecossistemas alterados e as ações de manejo
necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio
natural, a diversidade biológica e os processos
ecológicos naturais.
Proteger ecossistemas naturais de grande relevância
ecológica e beleza paisagística, que possibilita a
realização de investigações científicas e o
Parque nacional
desenvolvimento de atividades de educação e
interpretação ambiental, de recreação em contato com
a natureza e do turismo ecológico.
Proteger sítios naturais raros, singulares ou de grande
Monumento natural
beleza paisagística.
Proteger ambientes naturais que são asseguradas as
condições para a existência ou reprodução de
Refúgio da vida silvestre
espécies ou comunidades da flora local e da fauna
residente ou migratória.
Fonte: (BRASIL, 2000).

19
Capítulo 1 – Introdução Geral

Quadro 2. Unidades de Conservação de Uso Sustentável.

Unidade de conservação Objetivo


Proteger a diversidade biológica, disciplinar o
Área de proteção ambiental processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade
do uso dos recursos naturais.
Manter os ecossistemas naturais de importância
regional ou local e regular o uso de entrada a essas
Área de relevante Interesse ecológico
áreas, de modo a compatibilizar com os objetivos de
conservação da natureza.
Aplicar o uso múltiplo sustentável dos recursos
florestais e da investigação científica, com ênfase em
Floresta nacional
métodos para a exploração sustentável de florestas
nativas.
Proteger os meios de vida e da cultura das
Reserva extrativista populações extrativistas, e assegurar o uso
sustentável dos recursos naturais da unidade.
Desenvolver investigações técnico-científicas sobre o
Reserva de fauna manejo econômico sustentável dos recursos
faunísticos.
Proteger a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as
condições e os meios necessários para a reprodução e
a melhoria dos modos e da qualidade de vida, e
Reserva de Desenvolvimento sustentável exploração dos recursos naturais das populações
tradicionais, bem como valorizar, conservar e
aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo
do ambiente, desenvolvido por essas populações.
Reserva privada do patrimônio natural Conservar a diversidade biológica.
Fonte: (BRASIL, 2000).

Unidades de conservação

O Sistema Estadual de Unidades de Conservação – SEUC define Unidade de


Conservação como: "zona ou região dedicada especificamente a proteção e conservação da
diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais associados (MATO GROSSO, 1997)”.
As UCs podem ser criadas e geridas pelos poderes públicos: federal, estadual e
municipal. No caso de Unidades de Conservação federais o órgão responsável é o Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). As estaduais são administradas
pela Coordenadoria de Unidades de Conservação da Secretaria de Estado do Meio Ambiente
(SEMA-MT) e nos municípios, são as secretarias responsáveis pela gestão do meio ambiente.
Esses espaços de conservação estão divididos em dois importantes grupos, as Unidades de
Proteção Integral e as Unidades de Uso Sustentável.
Ao todo são 105 UC's no Estado de Mato Grosso, 23 federais, 46 estaduais e 36
municipais. Existe também as RPPN's - Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) que
são Unidades de Conservação de caráter privado.
20
Capítulo 1 – Introdução Geral

Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade

As Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade (APCBs) são regidas pelo


Decreto n° 5.092 de 21 de maio de 2004, ao qual define as regras para identificação de áreas
prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da
biodiversidade, no âmbito das atribuições do Ministério do Meio Ambiente.
As APCBs são um instrumento de política pública para apoiar a tomada de decisão, de
forma objetiva e participativa, cujos resultados vêm sendo utilizados no planejamento e na
implementação de ações, como criação de unidades de conservação, licenciamento, fiscalização
e fomento ao uso sustentável.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2015), nos limites das Região
Hidrográfica do Alto e Médio Paraguai estão integrais, ou parcialmente inseridas, 16 áreas
definidas como prioritárias para conservação da biodiversidade, ocupando 64,31% da área total
da região de estudo (Tabela 1).

Tabela 1 - Áreas prioritárias para a biodiversidade inseridas na região de estudo.

Nome Prioridade de conservação Área (ha)


Três bocas Extremamente Alta 36.405,8
Glória d'Oeste Extremamente Alta 12.500,1
Serra do Facão Extremamente Alta 18.772,1
Caitara Alta 15.817,2
Rio Jauquara Muito Alta 40.405,3
Porto Estrela Cáceres Alta 195.299,5
Serra das Nascentes Muito Alta 778.075,5
Nascentes Jauru Extremamente Alta 5,8
Cabaçal Muito Alta 410.802,2
ESEC Serra das Araras Muito Alta 27.753,3
TI Rio Formoso Alta 18.446,6
Província Serrana/
Extremamente Alta 236.601,3
APA da Cabeceira do rio Paraguai
Rio Jauquara Muito Alta 149.652,4
Serra das Nascentes Muito Alta 145.934,6
Borda do Alto Pantanal Extremamente Alta 5.133,4
ESEC Serra das Araras Muito Alta 1.861,7
Área Total Ocupada por APCBs 2.093.466,80
Fonte: MMA (2015).

21
Capítulo 1 – Introdução Geral

As APCBs classificadas como “extremamente altas” apresentam ameaças, entre elas,


ilhas exploradas para pecuária, desmatamento, ocupação nas APPs, turismo predatório,
expansão agrícola descontrolada, desmatamento, mineração, queimadas, pesca predatória,
ameaça de caça, conflitos fundiários, atividade agropecuária estabelecida e presença de espécies
exóticas (MMA, 2015).

Regionalização de vazões do estado de mato grosso

Rodrigues (2013) aborda que a regionalização das vazões foi fundamental determinação
da vazão de referência Q95, auxiliando a análise técnica das solicitações de outorga de direito
de uso da água requeridas a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, SEMA-MT.
Ainda conforme o autor, esse estudo foi resultante do contrato 021/2007 realizado pela
empresa CEMA, Consultoria Especializada na Área Ambiental, juntamente com a empresa
Tecnomapas, em atendimento a Secretaria de Estado de Meio Ambiente.
Foram pesquisados postos fluviométricos e pluviométricos do banco de dados da
Agência Nacional de Águas – ANA, e de outras instituições que pudessem ser utilizadas no
estudo. Destes, foram selecionados 189 postos pluviométricos e 69 postos fluviométricos. Os
mapas de base utilizados foram obtidos junto ao IBGE, juntamente com o mapa de divisões das
UPG’s estaduais (SEMA, 2007).

Estimativa de demanda

A estimativa de demanda em geral baseia-se nas outorgas emitidas pelos órgãos gestores
de recursos hídricos, devido ao ato de regularização do setor e da maior consistência dos dados
informados. Pode-se ressaltar também que as outorgas são diferenciadas entre superficiais e
subterrâneas e representam o local exato das captações nas respectivas microbacias (ANA,
2018).
A localização dos usos múltiplos consuntivos das águas da Região Hidrográfica do Alto
Paraguai Médio e Alto Paraguai Superior encontra-se no banco de cadastros de outorgas
concedidas (superficial, subterrâneas e outorgas insignificantes) disponibilizadas pela
Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA/MT) (SEMA, 2018).
22
Capítulo 1 – Introdução Geral

Modelagem de qualidade dos recursos hídricos

Para Von Sperling, (2014) um modelo tem a missão de representar a realidade. Essa
metodologia passou a ser largamente utilizada na esfera ambiental e na gestão púbica
relacionada aos recursos hídricos, pois possibilita a simulação de cenários que podem prever
impactos ao meio ambiente.

Para a modelagem de decaimento de DBO, é usualmente utilizado como base conceitual


o equacionamento de Streeter e Phelps, ao qual as concentrações de DBO ao longo do corpo
d’água são determinadas partindo de uma concentração inicial e das características definidas
do sistema. É possível calcular a concentração de DBO, de acordo com a velocidade média e
distância percorrida do trecho do rio, conforme as equações 1 e 2:

L=L0 .e-k1 t (Eq.1)

K1 .L0 (Eq.2)
Ct = Cs - [ . (e-k1t -e-k2t )+D0 . e-k2t ]
K2 -K1

Em que:

L = concentração de DBO em um tempo qualquer t (mg/l);


L0 = concentração de DBO em t=0 (mg/l);
CS = concentração de saturação de oxigênio (mg/l);
Ct = concentração de oxigênio em um tempo qualquer t (mg/l);
C0 = concentração de oxigênio em t=0 (mg/l);
D0 = Déficit de oxigênio em t=0 (mg/l);
K1 = coeficiente de desoxigenação (1/dia);
K2 = coeficiente de reaeração (1/dia).

Dentre as principais formas de poluição nos corpos hídricos intervenientes na


modelagem, temos as provenientes de descargas pontais (TEODORO et al., 2013), e difusas
(MOURA e LIMA, 2018). Esses lançamentos acarretam na alteração da qualidade da água dos
rios e, assim causar conflitos de interesses dentro da bacia.

23
Capítulo 1 – Introdução Geral

Escopo e estrutura da dissertação

O principal objetivo dessa dissertação é avaliar e definir áreas de uso, restrição e de


conflito para intervenção dos usos dos recursos naturais e hídricos na Região Hidrográfica do
Paraguai.

Este estudo apresenta uma metodologia onde serão analisados, propostos e simulados
cenários de usos consuntivos, não consuntivos que aliados a ferramentas de sistemas de
informações geográficas (SIG), possibilitará planejar de maneira equilibrada a demanda e oferta
dos usos para atender preservação socio-econômico-ambiental dos recursos hídricos.

Para tanto, foi realizado a proposição de arquétipos de cenários futuros de demanda por
recursos hídricos em quantidade e qualidade. Visando desta forma a definição de áreas com
elevada pressão de uso, propondo restrição de acordo com a criticidade das áreas afetadas que
foram encontradas.

No Capítulo 2 é apresentado a metodologia deste estudo, assim como seus resultados e mapas
elaborados para aclaramento das áreas que necessitam de atenção.

No Capítulo 3 são apresentadas as conclusões e recomendações gerais deste trabalho.

24
Capítulo 1 – Introdução Geral

Referências bibliográficas

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áreas prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios
da biodiversidade, no âmbito das atribuições do Ministério do Meio Ambiente. Brasília.
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Brasília: 198. 1981.
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25
Capítulo 1 – Introdução Geral

MOURA, B. M.D; LIMA, E. B. N. R. Estudo Sistemático sobre Poluição por Cargas Difusas
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WALDMAN, M. Recursos hídricos e a rede urbana mundial: dimensões globais da
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26
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

CAPÍTULO 2

Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a


conservação de Áreas Legalmente Protegidas

RESUMO

Com o crescente conflito pelos usos múltiplos da água, devido ao aumento da população, da
industrialização e do agronegócio, fica evidente a necessidade de um olhar holístico em relação
aos recursos hídricos para o correto planejamento desse recurso natural limitado, dotado de
valor econômico, de domínio público. Este trabalho teve por objetivo propor uma metodologia
integrada para identificar e definir áreas de uso e intervenção em relação aos recursos hídricos,
como uma ferramenta adicional aos instrumentos das políticas de meio ambiente e recursos
hídricos na região hidrográfica do Alto e Médio Paraguai; de forma a aplicar e validar a
metodologia frente às Áreas Legalmente Protegidas (ALPs), assim como identificar os
principais usuários nas regiões com conflito; e propor áreas de restrição do uso dos recursos
hídricos, empregou-se ferramenta de Sistemas de Informações Geográficas e dados de usos
atuais e futuros para estimativa de demanda e qualidade dos recursos hídricos. Os resultados
obtidos neste estudo permitiram a elaboração de mapa temático com áreas de restrição que
podem servir de orientação para o planejamento futuro da região, alertando para o os problemas
relacionados a quantidade e qualidade da água na bacia como um todo.

Palavras-chave: Gestão Estratégica. Gestão de Recursos Hídricos. SIG. Cenários futuros. Usos
múltiplos. Usos consuntivos.

27
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Assessment of areas of conflict between the use of water resources and the
conservation of Legally Protected Areas

ABSTRACT

With the growing conflict over the multiple uses of water, due to the increase in population,
industrialization and agribusiness; the need for a holistic approach to water resources is evident
for the correct planning of this limited natural resource, endowed with economic value, in the
public domain. This work aimed to propose an integrated methodology to identify and define
areas of use and intervention in relation to water resources, as an additional tool to the
instruments of environment and water resources policies in the hydrographic region of Upper
and Middle Paraguay; in order to apply and validate the methodology against Legally Protected
Areas (ALPs), as well as identify the main users in conflict regions; and to propose restricted
areas for the use of water resources, a Geographic Information Systems tool and data on current
and future uses were used to estimate demand and quality of water resources. The results
obtained in this study allowed the elaboration of a thematic map with restriction areas that can
serve as guidance for the future planning of the region, alerting to the problems related to the
quantity and quality of water in the basin as a whole.

Keywords: Strategic Management. Water Resources Management. GIS Future scenarios.


Multiple uses. Consumptive uses.

Introdução

No Brasil, a legislação que instituiu a Política e o Sistema Nacional de Gerenciamento


dos Recursos Hídricos, privilegia os usos múltiplos das águas e tem como um de seus objetivos
a utilização racional e integrada deste bem público (BRASIL, 1997).

Como forma de garantir os fundamentos e objetivos da Política Nacional de Recursos


Hídricos (PNRH), Oliveira, El-Aouar, Nóbrega (2017) afirmam que a simulação de cenários é
elaborada para auxiliar na formulação de uma estratégia e trazer qualidade de previsão para os
principais indicadores de desempenho, relacionando-os com as percepções de causa e efeito.
28
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Segundo Leandro e Rocha (2019), as bacias hidrográficas constituem importante


unidade territorial de estudo, conforme fundamentado na PNRH, devido sua dinâmica registrar
os impactos associados à extração, e ao uso dos recursos naturais. Ao considerarmos sua
totalidade e complexidade, são indicadas para estudos ambientais, avaliações e diagnósticos
socioambientais, de forma a contribuir com o ordenamento territorial.

Gouveia et al. (2015), afirma que a negligencia do planejamento territorial acaba


resultando em consequências negativas no futuro, devido a ocupação desordenada, que podem
originar processos ambientais como: erosão, lixiviação, desmatamento, e escassez de recursos
hídricos. Problemas estes aos quais geram baixa produtividade das atividades agropecuárias, o
que, por sua vez, afeta o próprio ser humano, e a economia como um todo.

O objetivo deste trabalho é propor uma metodologia integrada para identificar e definir
áreas de uso e intervenção em relação aos recursos hídricos, como uma ferramenta adicional
aos instrumentos das políticas de meio ambiente e recursos hídricos na Região Hidrográfica do
Alto Paraguai, com finalidade de aplicar e validar a metodologia frente às Áreas Legalmente
Protegidas (ALPs), assim como identificar os principais usuários nas regiões com conflito, e
propor áreas de restrição do uso dos recursos hídricos.

Materiais e Métodos

Área de estudo

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2017), aproximadamente 12%


da água doce do planeta encontra-se em território brasileiro, ao qual o Estado do Mato Grosso
possui relevante quantidade de oferta deste recurso. A área abrangida neste estudo faz parte da
Bacia Hidrográfica do Paraguai, correspondendo à região do Alto Paraguai Médio com área
aproximada de 23.377,0 km² e Alto Paraguai Superior com aproximadamente 9.177,5 km²
(ANA, 2018).

A região do estudo é berço da nascente do Rio Paraguai, além disso, a mesma tem como
uma de suas características o agronegócio e a pecuária, como atividades que ocupam grandes
proporções de áreas. Essa realidade, evidencia a necessidade de atenção especial para o

29
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

planejamento correto do uso dessas áreas, de modo a evitar que haja, futuramente, problemas
no ponto de vista ambiental e econômico para a população humana e de animais atendida por
estes recursos.

A área de estudo abrange 22 municípios, sendo que apenas 15 municípios possuem sede
urbana na região de estudo. Além disso, a região é composta por quatro bacias hidrográficas:
Paraguai, Sepotuba, Cabaçal e Bugres. Dentre os principais rios, destacam-se: Cabaçal,
Paraguai, Sepotuba, Juba, Formoso, Vermelho, Branco e Bugres, Paraguai, Santana, Bugres,
Jauquara, Diamantino e Pari.
A área da região hidrográfica é ocupada em mais da metade de sua extensão por
formações vegetais, representantes de mais de 17.510 km². O Uso Agropecuário com
Predomínio de Pastagem, e de Lavoura representam juntas 45%, cerca de 14.482 km².

A figura 1 apresenta as áreas legalmente protegidas e APCBS pertencentes a Região


Hidrográfica do Alto Paraguai, extraídas do banco de dados do Ministério do Meio Ambiente
(2015).

Figura 1. Região Hidrográfica do Alto Paraguai.

30
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Oferta hídrica superficial e subterrânea

A estimativa da disponibilidade hídrica superficial na região foi obtida por meio do


Estudo de Regionalização Hidrológica do Estado de Mato Grosso. A regionalização de vazões
adotado consiste em considerar como região homogênea a área incremental entre duas ou mais
estações fluviométricas, sendo que as vazões incrementais foram computadas em nível de
microbacias, pela relação entre áreas de drenagem, mantendo-se assim o balanço de massas.
Desta maneira, com as vazões incrementais determinadas trecho a trecho da hidrografia, foi
feita sua acumulação de montante para jusante, também em nível de microbacias, através da
soma de todos os valores de vazão incremental das microbacias a montante. Ao final foi obtido
as vazões superficiais características das microbacias pertencentes a área de estudo, nos
exutórios das 27 sub-bacias (SEMA, 2007).

A disponibilidade hídrica subterrânea foi determinada por meio do coeficiente de


infiltração e precipitação na região. Essa estimativa compreende os volumes de águas
subterrâneas que anualmente são recarregados nas zonas de recarga por meio da infiltração de
parte da precipitação. Os quantitativos dessa estimativa estão relacionados diretamente com as
características do meio físico como: geologia, tipo de solo, relevo, chuva, clima e uso e
ocupação do solo (ANA, 2016).

Demandas dos setores usuários

Os dados de retirada de água referentes aos usuários foram obtidos por meio do banco
de dados das outorgas emitidas pela SEMA/MT; já as projeções futuras foram elaboradas de
acordo com a tendência histórica imposição de taxas de crescimento tendencial para a região
de acordo com a base de dados referente ao ano de 2018 do SIDRA/IBGE para os setores de:
população, indústria, mineração, agricultura, pecuária e aquicultura.

Ribeiro et al (2019) explana que os consuntivos ocorrem quando a água retirada é


consumida, parcial ou totalmente, no processo a que se destina, não retornando diretamente ao
corpo d'água (são os setores da irrigação, abastecimento, mineração, criação de animais, entre

31
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

outros) enquanto, os não consuntivos não envolvem o consumo direto da água (barragens,
geração de energia, lazer, pesca, navegação).

Demandas dos setores usuários consuntivos para o cenário atual e futuro

Os usos consuntivos são relativos à demanda de retirada e ao retorno das cargas de DBO.
As demandas de retirada e retorno de vazões e de retorno de cargas foram obtidas dos registros
no cadastro das atividades na região do ano de 2018, e simuladas para um cenário de longo
prazo no ano de 2038 considerando tendência de crescimento na região. A sua espacialização
foi efetuada de acordo com o seu cadastro.

Demandas dos setores usuários não consuntivos para o cenário atual e futuro

Os usos não consuntivos de água relativos à geração de energia e barramentos, foram


relativos à base de cadastro existe da região. Da mesma forma, os valores foram obtidos por
meio dos registros no cadastro das atividades na região do ano de 2018, e simuladas para 2038
de acordo com a tendência de crescimento. Estes usuários foram espacializados de acordo com
os cadastros das principais bases de dados.

Dentre os principais usos não consuntivos na região, temos:

• Geração de energia: Consta com 10 empreendimentos hidroelétricos em operação


espacializados nos rios Juba, Maracanã, Formoso, Santana e Paraguai; sendo que a
maior parte da geração de energia elétrica provém de hidrelétricas (72%), pouco menos
de 1/3 provém de termoelétricas (28%).
• Barragens de Usos Múltiplos: Na região tem-se um total de 22 barragens/reservatórios
utilizados para usos múltiplos que são monitoradas pela SEMA/MT.

32
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Balanços e pressões hídricas quantitativas

Águas superficiais

O balanço hídrico das águas superficiais foi realizado por microbacias e os resultados
foram gerados por sub-bacias, mantendo-se no processo o balanço de massa, representando a
condição dos exutórios dos cursos d’água principais, em termos do confronto entre oferta e
demandas hídricas totais naquele ponto, permitindo comparar as regiões hidrográficas entre si
em termos da sua situação global, destacando áreas que necessitem de gestão de recursos
hídricos.

No balanço hídrico superficial, as demandas hídricas totais de retirada e retorno


referentes ao quadrimestre mais seco (junho a setembro), foram confrontadas com a vazão Q95,
que representa a vazão de estiagem com 95% de permanência na curva de permanência de
vazões, parâmetro adotado como vazão de referência para emissão de outorgas pela SEMA/MT;
e com a Qmédia.

Assim, após as definições foi realizado, para o cenário de longo prazo (2038), o balanço
hídrico superficial para cada sub-bacia, conforme a equação 1 e 2:

(𝑸𝟗𝟓 − 𝑸𝒓𝒆𝒕𝒊𝒓𝒂𝒅𝒂 + 𝑸𝒓𝒆𝒕𝒐𝒓𝒏𝒐) (Eq.3)


Balanço hídrico𝑸𝟗𝟓 =
Q95

(𝑸𝒎é𝒅𝒊𝒂 − 𝑸𝒓𝒆𝒕𝒊𝒓𝒂𝒅𝒂 + 𝑸𝒓𝒆𝒕𝒐𝒓𝒏𝒐) (Eq.4)


Balanço hídrico𝑸𝒎é𝒅𝒊𝒂 =
Qmédia

A pressão hídrica superficial em cada sub-bacia foi determinada de acordo com a


equação 3:

Pressão Hídrica (%) = [1 - Balanço superficial] × 100 (Eq.5)

33
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Águas subterrâneas

Para o balanço hídrico subterrâneo foram consideradas as disponibilidades hídricas dos


aquíferos das sub-bacias hidrográficas da região, que foram confrontadas com as demandas de
retiradas subterrânea agregadas por sub-bacias e por aquíferos.

Assim, o balanço hídrico subterrâneo foi realizado levando em consideração a


disponibilidade subterrânea, representado pela Reserva Potencial Explotável (RPE) e as
demandas de retirada do período mais seco. Cabe ressaltar, que as estimativas de demanda
foram rebatidas nos cenários considerando o cadastro de outorgas subterrâneas da SEMA-MT.

Então, a partir do rebatimento das demandas simuladas foi possível determinar as


retiradas subterrâneas e calcular a disponibilidade de águas subterrâneas nos aquíferos da região
hidrográfica, por meio da equação 4:

Disponibilidade (Balanço subterrâneo)=(RPE-Qretirada )/RPE (Eq.6)

Por fim, foi realizado o cálculo da pressão das demandas sobre a reserva potencial
explotável, expresso em porcentagem, por meio da equação 5.

Pressão Hídrica % = [1-Disponibilidade(Balanço subterrâneo) ]*100 (Eq.7)

Balanços e pressões hídricas qualitativas

Águas superficiais

A modelagem de decaimento de DBO e consumo de OD teve-se como base conceitual


o equacionamento de Streeter e Phelps.

34
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

As concentrações de DBO e OD ao longo do corpo d’água foram determinadas partindo


de uma concentração inicial e das características definidas do sistema. Por meio das equações
8, 9 e 10 foi possível calcular a concentração de DBO e de OD, de acordo com a velocidade
média e distância percorrida do trecho do rio:

L = L0 . e-k1 t (Eq.8)

K1 .L0
Ct = Cs - [ . (e-k1t -e-k2t )+D0 . e-k2t ] (Eq.9)
K2 -K1

D0 = CS -C0 (Eq.10)

Em que:

• L = concentração de DBO em um tempo qualquer t (mg/l);


• L0 = concentração de DBO em t=0 (mg/l);
• CS = concentração de saturação de oxigênio (mg/l);
• Ct = concentração de oxigênio em um tempo qualquer t (mg/l);
• C0 = concentração de oxigênio em t=0 (mg/l);
• D0 = Déficit de oxigênio em t=0 (mg/l);
• K1 = coeficiente de desoxigenação (1/dia);
• K2 = coeficiente de reaeração (1/dia).

Proposição de arquétipos

A partir da organização e processamento dos dados acima em Sistema de Informação


Geográfica, foi possível a elaboração de mapas de pressão pela utilização dos recursos hídricos
na Região do Alto Paraguai. A utilização da geotecnologia neste trabalho, permite fazer uma
análise integrada do ambiente de forma a entender como questões relacionadas às alterações
ambientais se comportam no espaço, esse é um dos pontos fortes permitindo que o ambiente
seja estudado em parte e entendido como um todo.

35
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Sendo assim, foi utilizado neste estudo a definição de arquétipos, ou seja, determinação
de regiões que demandam determinada tomada de decisão, obtida por meio da composição dos
cenários futuros e de leituras que se mantém consistentes ao longo do comportamento espaço-
temporal dos mesmos, conforme a intensidade da demanda futura pelos Recursos Hídricos.

Para complementar a leitura da intensidade, a direção predominante do movimento


antevisto, surge para interpretar o gradiente de pressão marcante. Sendo crescente, quando
demanda maior urgência e controle de ações, e, decrescente, quando se há menor necessidade
de gestão.

Os arquétipos são definidos de 1 a 6, esses cenários representam:

• Arquétipo 1: Demanda irrisória e estabilidade;


• Arquétipo 2: Demanda baixa e estabilidade de pressão;
• Arquétipo 3: Demanda atendida e pressão estável;
• Arquétipo 4: Demandas e concentrações atendidas e médias, respectivamente,
porém com pressão para crescimento;
• Arquétipo 5: Demanda e concentração excessiva ou elevada, com estabilidade
de pressão;
• Arquétipo 6: Demanda e concentração excessiva, com pressão.

Metodologia de sobreposição

A análise estratégica das demandas hídricas, e suas respectivas necessidades de proteção


ambiental na região, foi efetuada por meio do cruzamento de mapas em ambiente SIG
recorrendo ao software Quantum Gis ou QGIS Desktop 3.12.1, utilizando dados do ano de
2018, e valores projetados para 2038. Dentre os mapas a serem cruzados para as análises:

• Os arquétipos quali-quantitativos para os parâmetros de vazão e DBO, acelerado o


cenário de maior pressão para os recursos hídricos;
• Áreas Legalmente Protegidas (ALP) e Áreas Prioritárias para a Conservação da
Biodiversidade (APCB) da inclusas na região hidrográfica.

36
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

A cenarização foi dividida, sendo que o enfoque da análise deste estudo se deu entre os
arquétipos do cenário futuro de maior pressão sobre o recurso hídrico com necessidade de ação
no curto prazo, qual sejam, os arquétipos 4, 5 e 6.

A Figura 2 apresenta o resumo simplificado da metodologia proposta:

Figura 2. Fluxograma simplificado da metodologia.

Feito os seguintes passos, temos a identificação das áreas de pressão (com necessidade
de ação no curto prazo) que se sobrepõe às áreas legalmente protegidas, ou seja, que são
prioritárias para a conservação, permite deduzir que são locais de fragilidade e necessidade de
atenção redobrada. Mesmo que se trate de áreas pequenas em relação à totalidade da região fica
salientado que são áreas prioritárias para a adoção de cuidados especiais frente aos usos dos
recursos hídricos.

Áreas de restrição de usos dos recursos hídricos

A proposta da metodologia utilizou Sistema de Informações Geográficas aplicado a um


estudo de caso na Região Hidrográfica do Alto Paraguai para um cenário de arquétipos de
maneira a identificar as áreas de uso em conflito com a necessidade de conservação ambiental
na região, possibilitando os setores estratégicos e órgãos de meio ambiente fazer uma gestão e
gerenciamento mais acurado, atendendo o maior número de instrumentos ambientais e de

37
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

recursos hídricos. Essa proposta de metodologia contribuirá para o melhor direcionamento no


planejamento dos usos múltiplos dos recursos hídricos e do meio ambiente de forma racional.

Conforme a Política Estadual de Recursos Hídricos os Planos de Recursos Hídricos


deverão conter proposta de criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção
de recursos hídricos e de ecossistemas aquáticos.

A criação de áreas sujeitas à restrição de uso tem por finalidade garantir o melhor
aproveitamento e conservação de recursos hídricos, para o controle e prevenção da erosão e
assoreamento dos rios, conservação de mananciais para o abastecimento público e, também,
para o equilíbrio do ecossistema como um todo.

Para isto, foram recomendadas quatro categorias de usos:

Categoria R1 - Restrição Total: situações em que não devem ser permitidas novas
captações de água ou intervenções em recursos hídricos e devem ser implementadas ações
visando a verificação daquelas captações que podem continuar, como é o caso de usos para
abastecimento humano e de terras indígenas;

Categoria R2 - Situação Crítica: não autorizados novos usos, mantidos os atuais,


desde que submetidos a prazos de transição para adequação ao uso racional. Nesse caso, devem
ser mantidos os usos de recursos hídricos atuais, mas seguindo os critérios técnicos
estabelecidos relacionados ao uso racional, tratando de aspectos quali-quantitativos, ligados a
índices de uso da água para cada setor usuário a serem aplicados nessas áreas e definidos prazos
de transição para que os usuários se adequem a eles;

Categoria R3 – Restrição Parcial: Podem ser mantidos os usos atuais e podem ser
implantados novos usos de águas, mas todos devem seguir critérios restritivos de uso racional
por meio de índices estabelecidos por setor usuário.

Categoria R4 – Restrição fora das ALPs: São áreas que não estão incluídas nas ALPs,
mas que apresentam cenários futuros de pressão para o uso dos recursos hídricos e que devem
ter atenção. Quanto aos usos, também podem ser mantidos os usos atuais e podem ser
implantados novos usos de águas, mas todos devem seguir critérios restritivos de uso racional
por meio de índices estabelecidos por setor usuário.

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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Resultados e Discussão

Demandas quantitativas e qualitativas dos setores usuários consuntivos por sub-bacia

Figura 3. Percentual de demandas quantitativas nas sub-bacias da Região Hidrográfica do Alto Paraguai.

Observa-se pela Figura 3 que a sub-bacia do rio Queima-Pé possui setor predominante
de uso industrial, com 54% das retiradas, seguido do setor de abastecimento urbano com 29%
das demandas no município de Tangará da Serra.

O setor usuário que possui a maior demanda de retirada, em relação a contagem do total
de sub-bacias é a criação animal, sendo predominante na maior parte das sub-bacias,
predominando em 15 sub-bacias, das 27 sub-bacias avaliadas.

Figura 4. Percentual de carga de DBO nas sub-bacias da Região Hidrográfica do Alto Paraguai.

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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Na Figura 4 temos a representatividade dos setores usuários em relação ao percentual


de carga de DBO gerada por sub-bacia, ao qual temos a criação animal com predomínio em
quase a totalidade da RH, este setor se destaca durante a estação de chuvas devido sua ser de
forma poluição difusa, com o carreamento das cargas em direção aos corpos d’água.

As sub-bacias do Ararão, Queima-Pé, Diamantino tem o setor de abastecimento urbano


como principal gerador de poluentes devido se localizarem em regiões de grandes malhas
urbanas, acarretando no despejo pontual de poluentes.

Emprego da metodologia de sobreposição frente às ALPs

Tendo em vista as necessidades conservacionistas, tem-se uma leitura de eminente risco


de perda de vegetação natural no planalto. Conforme Strassburg et al. (2017), a expansão do
agronegócio e o desenvolvimento de infraestrutura, aliada da baixa proteção legal e de
incentivos limitados de conservação favorece a rápida degradação ambiental na região de
estudo.
Conforme os cenários futuros em seus componentes qualitativos (parâmetros de
remanescentes de DBO5,20), a região apresenta porções significativas de seu território sob
arquétipos que indicam situações limites de diluição de carga.
A criticidade advém das interações entre a dinâmica de geração das cargas, do
carreamento destas pelo complexo sistema de drenagem e sua capacidade de abatimento,
dinâmica essa que demanda solução integrada entre hidrologia e socioeconômica, nas áreas de
planalto e da planície.

Sobreposição das ALPs e os arquétipos da componente quantitativa

Em relação a análise quantitativa, denota-se que em sua maioria a região detém de uma
disponibilidade hídrica confortável frente as demandas, com a predominâncias dos arquétipos
1 e 2. Contudo, algumas sub-bacias e microbacias destacam-se como regiões mais críticas
(Arquétipos 4, 5 e 6), como as seguintes:

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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

• Sub-bacias do Angelim, Bracinho, Bugres e Pari, influenciados pelas atividades de


agricultura, dessedentação animal, aquicultura e abastecimento rural;
• Sub-bacias do Queima Pé e Ararão no Sepotuba, além de microbacias no Juba e Alto
Sepotuba, influenciado pelos usos múltiplos na região (agricultura, dessedentação
animal, aquicultura, indústria, abastecimento e mineração);
• Santana, Diamantino e Alto Paraguai, influenciados principalmente pela indústria
agropecuária, dessedentação animal, aquicultura, mineração e abastecimento urbano e
rural.

Como forma de revelar as áreas onde há de fato sobreposição entre as áreas prioritárias
para a conservação e legalmente protegidas, foi efetuado o cruzamento entre os arquétipos 4, 5
e 6, aclarando as áreas de maior preocupação. Conforme análise, observou-se que as áreas onde
há sobreposição de demanda com TIs e uma parcela de área localizada em UCs, não mais se
identificam no cruzamento, uma vez que se caracterizam como arquétipos de 1 a 3. Ou seja,
embora haja demanda sobreposta às áreas de interesse conservacionista, há concomitante oferta
hídrica em abundância e pouca pressão para o crescimento do uso do recurso.
Foi constatado que existem pontos específicos de sobreposição entre as legalmente
protegidas e de prioridade para conservação frente às áreas de maior intensidade de uso
quantitativo. Na análise destacou-se as seguintes sub-bacias com alta demanda quantitativa: a
sub-bacia do Queima-Pé, Ararão e Diamantino; sendo elas a localização dos clusters de pressão
quantitativa.

Nestas áreas, a gestão do recurso hídrico deve atentar para a importância da área como
prioritária para conservação, incitando ações de gestão diferenciadas. De forma geral, nota-se
que a abundância hídrica na RH, combinada com as baixas demandas, perfaz um contexto
confortável em relação à interação com as áreas de interesse conservacionista.

A sub-bacia do Queima-Pé se destaca pela alta demanda em ordem decrescente para os


usuários da: indústria, abastecimento urbano e irrigação. Deve-se ter um olhar crítico sobre o
setor industrial, pois além de ser o setor com maior demanda, a região se encontra com
problemas de abastecimento à população, necessitando ação no curto prazo de forma a realocar
este usuário ou limita-lo na tentativa de contornar a falta no abastecimento público.

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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Ainda sobre o Queima Pé, essa sub-bacia ocupa cerca de 1,6% do município de Tangará
da Serra/MT, localizado na Amazônia brasileira, além disso ela sofre todo o tipo de
interferência do perímetro urbano pertencente a sub-bacia, ao qual ocupa 5 mil hectares
(TANGARÁ DA SERRA, 2015).

Situação parecida é vista na sub-bacia do Diamantino com suas principais demandas no


setor de abastecimento público e industrial. Esta região é de suma importância para toda região
hidrográfica sendo ponto chave do planejamento, uma vez que é a cabeceira do Rio Paraguai,
principal rio da RH.
A sub-bacia do Ararão está diretamente ligada à bacia do Queima Pé, devido
englobarem mesmo município e sede municipal de Tangará da Serra. Diferente da sub-bacia do
Queima-pé onde se localiza a maior concentração industrial do município, a sub-bacia do
Ararão se destaca em sua extensão territorial pelo abastecimento urbano, irrigação e
aquicultura.

Sobreposição das ALPs e os arquétipos da componente qualitativa

A análise para a vazão Q95 refletiu a predominância dos Arquétipos 1, 2 e 3, devido ao


domínio de concentrações baixas de DBO na RH. Contudo, também foram denotadas algumas
sub-bacias em estados mais críticos (Arquétipos 4, 5 e 6), são elas: Queima Pé, Ararão, Branco
(Cabaçal), Diamantino, Angelim, tributários do Sepotuba, Bracinho, Bugres, Santana e
Paraguai, devido a influência direta de lançamentos de efluentes domésticos e industriais.

Sobre análise da Qmédia infere-se que a contribuição da carga difusa corroborou para o
incremento das concentrações de DBO na RH, especialmente nos tributários dos rios principais.
As sub-bacias e microbacias em estados mais críticos (Arquétipos 4,5 e 6), foram as indicadas:
trechos da parte alta e baixa do Cabaçal, com maior destaque para trechos do Sepotuba e
Paraguai, além da sub-bacia do Santana, influência do deflúvio superficial associado a
características naturais da região (matas ciliares e florestas) e o reflexo da atividade antrópica
advinda do esgotamento urbano/industrial e pecuária.

Para o cruzamento da Q95 foi observado que os pontos críticos são basicamente os
mesmos da demanda, localizado nas sub-bacias do Queima-Pé, Ararão, Diamantino e Santana.
Conclui-se com a inclusão da bacia do Santana em observância as demandas das sub-bacias,
42
Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

que as bacias mais afligidas pela pressão futura são as regiões ao qual se localizam o setor
industrial consolidado, isso se confirma pelo gráfico de demandas, uma vez que são as sub-
bacias com o maior percentual de demanda pelo setor industrial, setor este na bacia do Santana
proveniente dos municípios de Nova Marilândia, Arenápolis e Nortelândia.

Segundo Vinaga et al. (2015), devido o curso d’água urbano e que abastece toda a cidade
de Tangará da Serra/MT, igualmente a outros aglomerados urbanos, ocorre de a população fazer
lançamentos na rede de drenagem natural por meio de esgotos clandestinos, assim como há
lançamentos industriais e agrícolas, tendo como consequência mudanças substanciais na
qualidade da água.

Para Thebaldi et al. (2013), a drenagem agrícola e urbana são fontes significativas de
poluição na sub-bacia do Queima Pé, porém durante o período de estiagem grande parte dos
efluentes é proveniente de indústria frigoríficas da região.

A vazão Qmédia considerou a carga difusa de poluentes geradas na região, apresentando


os pontos mais críticos nas sub-bacias do Sepotuba, Vermelho, Cabaçal, Paraguai e Santana.
Nessas bacias se destacam os setores de dessedentação animal, irrigação e aquicultura.

De acordo com estudos de Souza et al (2012), a Região Hidrográfica do Alto Paraguai,


tem sido ocupada por diversas monoculturas ao decorrer dos anos, expondo diversas questões
e impactos associados a essa mudança no uso e ocupação do solo da região.

Já se é conhecido que os três setores citados acima são grandes fontes de geração de
carga difusa, ao contrário do observado aos parâmetros de DBO Q95 e Quantidade, atribuído o
principal setor como sendo o setor industrial responsável por descargas pontuais nas bacias
hidrográficas.

Para o resultado encontrado no parâmetro de DBO Qmédia é necessária uma revisão


aprofundada em relação aos limites de exploração agropecuária na região. Os pontos mais
críticos são observados nas regiões de nascentes do Rio Sepotuba e Rio Paraguai, assim como
na região próxima ao exutório do Rio Paraguai em direção ao bioma do Pantanal.

Outro ponto importante encontrado para a DBO Qmédia é a sobreposição com a Terra
Indígena Umutina e a APA Estadual Nascentes do Rio Paraguai, indicando possível

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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

contaminação de ambas regiões por matéria orgânica proveniente principalmente do setor


agropecuário, esses dois pontos devem ser os mais monitorados ao decorrer dos anos devido
serem a APA ser o ponto das nascentes do Rio Paraguai, caso o mesmo não seja monitorado já
pode nascer com problemas de qualidade no futuro, e a Terra Indígena Umutina devido a
importância dos corpos d’água para a subsistência alimentar e cultural dos povos indígenas
brasileiros.

Sobreposição das ALPs e os usos não-consuntivos

O setor de geração de energia elétrica na região representou um ínfimo percentual nas


áreas de restrições, totalizando apenas 0,7% do total, equivalente a 214,24 Km² da área total da
Região Hidrográfica. Sendo que contribuição do setor não consuntivo para o futuro antevisto
acarretou em 0,1% de área classificada como R1, 0,1% de área classificada como R2, 0,5%
como R3, e 0% de áreas em situação de restrição R4.

Áreas de restrição de uso dos recursos hídricos

Existem inúmeras causas que desencadeiam alterações nos recursos hídricos, mas uma
das principais são as atividades humanas, no que se refere ao uso e ocupação do solo (RIBEIRO
ET AL, 2019).
Cada vez mais o ser humano está ocupando os espaços indiscriminadamente, sem o
conhecimento de seus limites de exploração (SILVA; CONCEIÇÃO, 2011).
Feita a exposição separadamente para a quantidade e a qualidade foi proposta a
integração de ambos parâmetros na intenção de verificar a totalidade de área comprometida
pelos arquétipos futuros.
Ao total temos 16.853,56km² de área comprometida na RH, ou seja, temos 51,7% da
área necessitando de atenção e mudança na direção da gestão.
Como forma de melhorar a situação futura da região propõem-se a realocação dos
principais usuários das sub-bacias para áreas com pouca pressão futura para o uso do recurso
hídrico.
As regiões com equilibro de pressão podem receber esses usuários de forma a equilibrar
o balanço hídrico nas regiões onde se encontra os clusters de pressão.
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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

O resultado final apresentado na Figura 4 apresenta as áreas de restrição propostas para


a região de estudo. O mapeamento contribuirá para discussões dos setores usuários, Comitês de
Bacia Hidrográfica, órgãos gestores, prefeituras, empresas de saneamento, assim como a
sociedade civil.
A proposição para criação de áreas de restrição está comtemplada como requisitos
mínimos para os planos de bacias hidrográficas, e com certeza deixa muita dúvida por parte dos
tomadores de decisão sobre a criação das mesmas, devido a sua implicação ambiental, social e
econômica para a região.

Figura 5. Áreas de restrição propostas.

Em termos de percentuais, temos conforme a Figura 6, que 1,5% da Região Hidrográfica


do Alto Paraguai se encontra em situação crítica classificada como área de restrição R1; 3,6%
do total está classificada como R2 na previsão de arquétipos futuros; 26,6% classificado como
R3 necessitando de atenção para o possível agravamento futuro; e 20% da área total se encontra
classificada com R4, apresentando pressão fora das Áreas Legalmente Protegidas.

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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Figura 6. Percentual das áreas de restrição.

Sobre os pontos críticos encontrados nos três diagnósticos incidente, o córrego


Queima-Pé pertence a sub-bacia do rio Sepotuba, e tem como afluente o córrego Uberaba e
Figueira. De acordo com Grossi (2006), o Queima-Pé nasce ao sul do município de Tangará da
Serra junto as Glebas Esmeralda, Santa Fé e Aurora, margeando parte da sede do município. É
essencial o manejo adequado de sua disponibilidade hídrica por meio do controle de concessão
de outorgas de captação e diluição para garantir quantidade e qualidade adequada à população,
além de garantir a alimentação do rio Sepotuba ao qual é afluente do Rio Paraguai que forma o
Pantanal Mato-grossense.

Segundo Monteiro (2020), devido os recorrentes problemas de crise hídrica na área


urbana de Tangará da Serra no Córrego Queima-Pé foi construído um barramento em uma seção
do curso d’água para a formação de um reservatório de acumulação de modo a facilitar a
captação de água para o tratamento. O sistema de captação é constituído de três represas
denominadas Ezeque, Sitna e Reobote, sendo que a primeira recebe água das outras duas.

Mesmo com a criação das represas citadas acima a região continua com problemas de
disponibilidade hídrica para a população, alarmando a necessidade de ação no curto prazo para
esta sub-bacia com a realocação do setor industrial da região ou limitações em suas outorgas.

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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Na região de Diamantino, de acordo com o estudo realizado por Casarin (2007), indica
que a prática da agricultura mecanizada e pastagens ao longo dos anos tem levado ao
desmatamento intenso, principalmente por monoculturas.

Atualmente, predomina o cultivo de soja e pastagem, na região das nascentes do rio


Paraguai, onde se constata perda de parte de sua cobertura vegetal natural, além da atividade
mineradora, que deixou cicatrizes com as escavações de extensas áreas na região.

De acordo com Neves et al. (2015), a expansão das atividades produtivas nas áreas de
planalto da Bacia do Alto Paraguai tem capacidade para impactar o bioma do Pantanal
localizada exutório da Região Hidrográfica do Alto e Médio Paraguai.

Exposto isso, é necessário a preservação das nascentes da região de Diamantino e Alto


Paraguai, devido esta região ser de suma importância para toda bacia do rio Paraguai,
alimentando em seu exutório o Pantanal. Conforme previsto na Lei Federal 12.651/2012, é
estabelecido a necessidade de proteção das Áreas de Preservação Permanente (APPs) pela sua
importante função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar
o bem-estar das populações humanas, impedindo assim a retirada dessas áreas no entorno das
nascentes do rio Paraguai (BRASIL, 2012).

Coelho Junior, et al (2022) alerta que o Conselho Estadual de Meio Ambiente do Mato
Grosso aprovou licença preliminar para o plantio de soja na região do pantanal mato-grossense.
Ainda segundo o autor, o bioma do pantanal já perdeu cerca de 68% de sua área alagada desde
1985. Sendo essa licença uma grande ameaça ao ecossistema para o cenário atual e futuro,
podendo acarretar em escassez de recursos hídricos futuramente no bioma, assim como a perda
sua biodiversidade única.

Ainda acerca das porções das áreas legalmente protegidas identificadas com conflito
de uso futuro a partir da dinâmica de uso e ocupação do solo da área de estudo, Pereira et al.
(2021) afirma que é de suma importância do poder público em todas as esferas criem
mecanismos de fiscalização, assim como devem criar projetos de educação ambiental visando
à proteção e recuperação desses ambientes.

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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

Conclusões

A estratégia de planejamento por cenários surgiu para investigar o futuro desenrolar da


situação hídrica na Região Hidrográfica do Alto Paraguai, partiu-se da compreensão de que
demandas e cargas hídricas resultam de relações, sociais e econômicas multifacetadas, que se
entrelaçam e se confrontam em necessidades, prioridades e desdobramentos únicos com sua
interface física, hidrológica e climática.
Utilizando a metodologia de cenarização de vanguarda que direciona antecipadamente
as respostas futuras oferecidas pelas demandas hídricas, sendo estas justamente o reflexo de
fatos portadores do futuro. Os arquétipos foram elaborados na interação entre dinâmicas
exógenas e endógenas na região hidrográfica, fundindo as forças econômico-demográficas que
se sobrepõe ao território com aquelas que dele emergem e o configuram. Modelar a interação e
as formas futuras de utilização dos recursos hídricos embute, inerentemente, diversas incertezas
que são encadeamentos de variáveis antrópicas de cunho econômico, desenrolares de
especificidades produtivas locais, juntamente com as respostas da própria gestão do recurso
hídrico.

Dentre algumas propostas para a gestão da região, podemos elencar que se deve:
• Articular esforços entre as diversas esferas do poder público e dos demais usuários da
bacia, no sentido de promover o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade
ambiental da região;
• Realocar os principais setores usuários das regiões em conflito, transpondo-os para
regiões sem situação de restrição;
• Conscientizar a sociedade e difundir informações sobre a importância das nascentes e
do Pantanal bioma este dependente da RH com necessidade de conservação dos recursos
hídricos;
• Fomentar a conservação do solo e de mananciais superficiais e subterrâneos,
abrangendo projetos de proteção e revitalização das matas ciliares, garantindo uma
proteção maior contra carga difusa proveniente da agropecuária;
• Introduzir novas séries históricas e simular novos cenários futuros para acompanhar o
incremento e deslocamento das áreas de restrição;
• Buscar alternativas para financiar as ações propostas, uma vez que nada adianta ter o
planejamento, mas sem recursos para sua execução.
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Capítulo 2 - Avaliação de áreas de conflito entre o uso dos recursos hídricos e a conservação
de Áreas Legalmente Protegidas

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50
Capítulo 3 – Conclusões e Recomendações Finais

CAPITULO 3

Conclusões e recomendações finais

Por meio desses resultados da pesquisa, temos a necessidade de haver a capacitação de


técnicos para execução de estudos futuros, assim como estudos em outras regiões hidrográficas,
baseada nessa metodologia aplicada sobre as Áreas Legalmente Protegidas.

Para um planejamento e gestão eficaz dos recursos hídricos em uma bacia hidrográfica
é imprescindível o conhecimento da disponibilidade hídrica ao longo do tempo, de forma a
garantir ao órgão gestor o correto manejo dos valores outorgáveis de acordo com a
disponibilidade hídrica futura da região.

Dentre as entidades que podem ser beneficiadas com este estudo de planejamento, temos
a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), a Agência Nacional de Águas (ANA), além
dos usuários de água, dos Comitês de Bacia Hidrográficas, e toda a sociedade civil em si, uma
vez que se espera uma gestão mais efetiva dos recursos hídricos.

O ordenamento territorial deve conceber as Áreas Legalmente Protegidas a partir de


suas potencialidades e fragilidades, com a finalidade de conciliar a preservação da natureza e o
desenvolvimento sustentável, para isso os Sistemas de Informação Geográfica atuam como uma
importante ferramenta de investigações dessa natureza.

Ressalta-se novamente a necessidade de propor programas de conscientização


ambiental, que tenham ênfase na disseminação de ações voltadas a educação ambiental, assim
como se devem efetivar medidas de fiscalização ambiental na região, elaborar/melhorar os
instrumentos legislativos existentes, de forma a estabelecer a defesa dessas áreas, a partir de
uma perspectiva de desenvolvimento e sustentabilidade.

Os resultados encontrados não conferem uma inovação tecnológica, uma vez que a
mesma se espelha em outros estudos já realizados para outras regiões, ou seja, é uma
metodologia que pode ser replicada por outros autores, adequando-a conforme a área de estudo
e dados disponíveis.

Por fim, este estudo serve como um auxílio aos instrumentos normativos e elaboração
de ferramentas de suporte à decisão, servindo como fomento para discussões sobre estratégias
que poderão subsidiar planos e políticas de gestão de recursos hídricos.
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Anexos

ANEXOS

Figura 7. Mapa de arquétipos – Componente quantitativo.

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Anexos

Figura 8. Mapa de arquétipos – Componente qualitativo – DBO Q95.

53
Anexos

Figura 9. Mapa de arquétipos – Componente qualitativo – DBO Qmédia.

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Anexos

Figura 10. Mapa de sobreposição entre arquétipos e ALPs – Componente quantitativo.

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Anexos

Figura 11. Mapa de sobreposição entre arquétipos e ALPs – Componente qualitativo – DBO Q95.

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Anexos

Figura 12. Mapa de sobreposição entre arquétipos e ALPs – Componente qualitativo – DBO Qmédia.

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