Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/369960429
CITATIONS READS
2 329
11 authors, including:
All content following this page was uploaded by Ana Porto on 12 April 2023.
COMUNICADO
TÉCNICO
Proposta de guia para a
restauração de campos
394
nativos no sul do Brasil
Ernestino de Souza Gomes Guarino
Ana Boeira Porto
Pelotas, RS Pedro Augusto Thomas
Fevereiro, 2023 Sandra Cristina Müller
Leonardo Marques Urruth
Davi Chemello
Carlos Nabinger
Danilo Menezes Sant’Anna
Eduardo Vélez Martin
Gerhard Ernst Overbeck
Gabriela Coelho-de-Souza
2
2
Projeto Nexo Pampa: Valorização, Manejo e Restauração da Vegetação Nativa como Estratégia para as
Seguranças Alimentar, Hídrica e Energética (CNPq processo n° 441575/2017-0).
3
Oficina do Projeto PANexus: governança da sociobiodiversidade para as seguranças hídrica, energética
e alimentar na Mata Atlântica Sul (CNPq processo n° 441526/2017-9).
5
Etapas da restauração
Com base na discussão realizada ecológica dos campos naturais do Sul
durante e após a oficina técnica, foi do Brasil (Figura 2), as quais serão abor-
construído um diagrama com as quatro dadas a seguir.
etapas do processo de restauração
6
Ilustração: Ana Boeira Porto e Pedro Augusto Thomas
para pastejo com alta carga animal (so- de forma representativa e com número
brepastoreio) por anos consecutivos. suficiente para abranger a heterogenei-
O campo pode estar degradado, mas dade da área. Indicadores importantes
a vegetação consegue se recuperar de de se observar dizem respeito à estru-
forma mais fácil a partir de sementes ou tura da vegetação (altura, quantidade de
estruturas subterrâneas no solo. solo exposto, densidade de lenhosas,
etc.) e da composição dessa vegetação
O contexto da paisagem é outro
(cobertura e diversidade de espécies
elemento importante no diagnóstico da
nativas, cobertura de exóticas, cobertu-
área. Áreas degradadas situadas numa
ra de invasoras). Andrade et al. (2019b)
região com alto grau de conversão dos
apresentam procedimentos de amostra-
campos nativos (ou seja, utilizadas
gem em detalhe.
com agricultura ou silvicultura) tendem
a ter maior dificuldade de recuperação
natural (ouse seja, baixa resiliência), Etapa 2: Estabelecimento
em comparação com áreas cujo entor-
no ainda apresenta remanescentes de de uma cobertura
campos nativos (seja em unidades de vegetal campestre
conservação ou utilizados com pecuária
Uma vez realizado o diagnóstico ini-
sobre campo nativo). Isso ocorre porque
cial, pode-se iniciar o planejamento da
a presença de remanescentes no entor-
restauração propriamente dito, ou seja,
no pode facilitar a colonização natural
a escolha das estratégias e técnicas a
da área por espécies nativas, bem como
serem utilizadas. Para facilitar, o diagra-
facilitar o manejo com rebanhos entre
ma do guia é dividido em dois caminhos,
áreas remanescentes e a área degrada-
considerando-se áreas que tiveram his-
da. Além disso, em regiões com maior
tórico de uso com agricultura ou sobre-
índice de conversão, as chances de
pastejo (no lado esquerdo), e áreas que
invasão por espécies exóticas são muito
tiveram histórico de uso com silvicultura
mais elevadas, devido à maior proba-
(no lado direito). No caso de histórico
bilidade de chegada dessas sementes
com agricultura, é importante distinguir
do entorno, o que pode dificultar muito
entre locais que possuem maior ou me-
o processo de restauração ecológica. O
nor resiliência, conforme descrito acima.
levantamento da própria vegetação no
Em condições de resiliência baixa, o po-
local a ser restaurado, já mencionado
tencial de espécies nativas campestres
acima, é uma parte fundamental nesse
de forma espontânea é baixo. Sob con-
diagnóstico inicial. A vegetação deve ser
dições de resiliência maior, é possível
avaliada em vários pontos distintos para
que apenas a condução da regeneração
que represente bem a área como um
natural seja suficiente para desencadear
todo. Sugere-se a avaliação em várias
uma trajetória de retorno à vegetação
parcelas pequenas (por exemplo, 1 m²),
anterior.
espalhadas pela área a ser restaurada
9
ações têm funcionado (ou seja, tiveram Alguns parâmetros comuns e que
efeito positivo acerca dos indicadores de são indicadores da estrutura e funcio-
sucesso da restauração) e quais não. namento de campos são: diversidade
Por exemplo, a cobertura e a diversidade de espécies nativas ou de formas de
da vegetação nativa estão aumentando? vida (graminoides, ervas, arbusto, etc.),
Se não, o que se pode mudar para que altura da vegetação, cobertura de es-
ela aumente? Consegue-se o controlar pécies nativas, presença e cobertura
as espécies invasoras? Se não, o que de espécies exóticas e de invasoras,
pode ser feito de diferente para melhorar densidade de espécies lenhosas, entre
o controle? Para tanto, é sempre impor- outras. A quantidade de solo exposto
tante ter dados do início da implementa- também é muito informativa acerca do
ção das principais ações de intervenção estado da vegetação, bem como a pro-
na área em restauração e compará-los porção entre touceiras, gramíneas pros-
algum tempo à frente, para entender se tradas (rastejantes) e arbustos. A área
e como houve mudanças. degradada deve ser amostrada antes
das intervenções de restauração e ser
Para avaliar o andamento das ações
acompanhada ao longo do tempo para
de restauração, técnicas e manejos utili-
fins de comparação. É importante tam-
zados, e analisar se estão sendo eficien-
bém amostrar uma área conservada tida
tes, ou seja, se estão indo ao encontro
como referência para se ter uma ideia do
dos objetivos traçados, é preciso utilizar
estado em que se quer chegar (ou seja,
parâmetros que sejam indicadores de
quais são os valores dos parâmetros
aferição do processo. Esses parâmetros
medidos) com as técnicas de restaura-
devem ser quantificados no local, então
ção que estão sendo implementadas.
para isso é necessário delimitar uma
amostra representativa (uma quantidade Com base nessas informações, no-
de parcelas ou pontos de amostragem vas ações de intervenção e ou de mane-
espalhados por toda a área, e que seja jo podem ser adotadas. Por isso, essa
representativa da diversidade de situa- etapa é muito importante na restaura-
ções na área) para permitir que os dados ção, pois mostra que se deve aprender
reflitam toda a área em restauração. Por com a prática e adaptar nossas ações
exemplo, a composição e diversidade pensando sempre no objetivo final da
de espécies nativas pode ser avaliada restauração, que é alcançar característi-
dentro de parcelas de 1 m2 (Andrade et cas de composição e diversidade de es-
al., 2019a; Figura 3). pécies semelhantes às observadas em
áreas de campo conservado da região.
13
Figura 3. Área de campo degradada por plantio de pínus (A) e exemplo de parcela amostral
com 1 m2 (B), utilizada em um experimento de restauração no Parque Nacional da Lagoa do
Peixe, Mostardas, RS.
HOLL, K. D.; AIDE, T. M. When and where to PORTO, A. B.; DO PRADO, M. A. P. F.;
actively restore ecosystems? Forest Ecoogy and RODRIGUES, L. D. S.; OVERBECK, G. E.
Management, v. 261, p. 1558-1563, 2011. Restoration of subtropical grasslands degraded
by non-native pine plantations: effects of litter
OVERBECK, G. E.; MÜLLER, S. C.; FIDELIS, A.; removal and hay transfer. Restoration Ecology,
PFADENHAUER, J.; PILLAR, V. D.; BLANCO, 2022. DOI: 10.1111/rec.13773
C. C.; BOLDRINI, I. I.; BOTH, R.; FORNECK, E.
D. Brazil’s neglected biome: The South Brazilian THOMAS, P. A.; SCHÜLER, J.; BOAVISTA, L.
Campos. Perspectives in Plant Ecology, R.; TORCHELSEN, F. P.; OVERBECK, G. E.;
Evolution and Systematics, v. 9, p. 101-116, MÜLLER, S. C. Controlling the invader Urochloa
2007. decumbens: subsidies for ecological restoration
in subtropical Campos grassland. Applied
OVERBECK, G. E.; HERMANN, J.; ANDRADE, Vegetation Science, v. 22, p. 96–104, 2019.
B. O.; BOLDRINI, I. I.; KIEHL, K.; KIRMER,
A.; KOCH, C.; KOLLMANN, J.; MEYER, S. T.; VÉLEZ-MARTIN, E.; ROCHA, C. H.; BLANCO,
MÜLLER, S. C.; NABINGER, C.; PILGER, G. C.; AZAMBUJA, B. O.; HASENACK, H.; PILLAR,
E.; TRINDADE, J. P. P.; VÉLEZ-MARTIN, E.; V. P. Conversão e Fragmentação. In: PILLAR, V.
WALKER, E. A.; ZIMMERMANN, D. G.; PILLAR, P.; LANGE, O. (ed.). Os Campos do Sul. Porto
V. D. Restoration Ecology in Brazil: Time to Step Alegre: Rede Campos Sulinos – UFRGS, 2015. p.
Out of the Forest. Natureza & Conservação, v. 123-129.
11, p. 92-95, 2013.
PILLAR, V. P.; ANDRADE, B. O.; DADALT, L.
Serviços ecossistêmicos. In: PILLAR, V. P.;
LANGE, O. (ed.). Os Campos do Sul. Porto
Alegre: Rede Campos Sulinos – UFRGS, 2015.
p. 115-119.
Membros
Ana Luiza B. Viegas, Fernando Jackson,
Marilaine Schaun Pelufê, Sonia Desimon
Revisão de texto
Bárbara Chevallier Cosenza
Normalização bibliográfica
Marilaine Schaun Pelufê
Editoração eletrônica
Nathália Santos Fick (46.431.873/0001-50)
Foto da capa
Ernestino Guarino
CGPE