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‘
Planejamento e análises ambientais - 1
Organizadores
Marcos Norberto Boin
Patrícia Cristina Statella Martins
PLANEJAMENTO
E ANÁLISES AMBIENTAIS
1a Edição
TUPÃ - SP
ANAP
2017
2
Editora
ISBN 978-85-68242-64-3
I. Título.
CDD: 900
CDU: 911/47
Sumário
Apresentação 00
Capítulo 1 11
O MÉTODO DE MICHEL GODET PARA ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS
PROSPECTIVOS NO ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO
José Roberto da Silva Lunas
Claudio Gonçalves Egler
Maria Cristiane Fernandes da Silva Lunas
Capítulo 2 29
A EXPANSÃO DAS LAVOURAS DE CANA-DE-AÇÚCAR NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO BRILHANTE/MS E NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DAS USINAS
SUCROENERGÉTICAS
Patricia Silva Ferreira
Charlei Aparecido da Silva
Capítulo 3 45
MAPEAMENTO TEMÁTICO COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO E
PLANEJAMENTO TERRITORIAL, APLICADO À PROPRIEDADE RURAL NO
MUNICÍPIO DE CARLÓPOLIS/PR - BRASIL
Pedro Höfig
Glauco Marighella Ferreira da Silva
Elvio Giasson
Nina Simone Vilaverde Moura
Eduardo Augusto Werneck Ribeiro
Capítulo 4 65
PLANEJAMENTO AMBIENTAL E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
Eduardo Pizzolim Dibieso
Capítulo 5 93
ESTUDO SOBRE A DISPONIBILIDADE HÍDRICA DO RIBEIRÃO DA RANCHARIA/SP
Amanda Fernandes da Silva
Rosane Freire Boina
6
Capítulo 6 111
TEORIA DO CLIMA URBANO E O SUBSISTEMA FÍSICO-QUÍMICO: O MATERIAL
PARTICULADO INALÁVEL (MPI) COMO INDICADOR DE QUALIDADE DO AR DA
ATMOSFERA URBANA DE DOURADOS-MS E SEUS POSSÍVEIS
DESDOBRAMENTOS NA SAÚDE DOS HABITANTES
Vladimir Aparecido dos Santos
Charlei Aparecido da Silva
Capítulo 7 133
USO DE ÍNDICES HIDROGEOMORFOLÓGICOS PARA LA CARACTERIZACIÓN DE
ÁREAS INUNDABLES EN MADRE DE DIOS, PERÚ, Y CUENCA DEL RIO COJÍMAR,
CUBA
Alberto Enrique García Rivero
Jorge Olivera Acosta
Eduardo Salinas Chávez
Indira Farrés Vigil
Capítulo 8 161
ANÁLISE DA DINÂMICA DO TEMPO METEOROLÓGICO E DAS POSSIBILIDADES
DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRICOLAS AÉREOS NO PONTAL DO
PARANAPANEMA
Marcos Norberto Boin
Fernando Henrique Camargo Jardim
Luis Fernando de Jesus Tavares
Capítulo 9 185
O USO DE GEOTECNOLOGIAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS DE EXPANSÃO
DE LAVOURAS DE SOJA/MILHO NO
MUNICÍPIO DE BONITO/MS
Ângelo Franco do N. Ribeiro
Planejamento e análises ambientais - 7
Apresentação
1
Santos, Rosely. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.
10
Planejamento e análises ambientais - 11
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
2
Programa desenvolvido pelo Laboratório de Investigação em Prospectiva, Estratégia e Organização (LIPSOR)
que permite uma série de análises por meio de abstrações aplicadas a partir de escalas estabelecidas de modo
participativo (GODET, 2016).
Planejamento e análises ambientais - 13
A etapa seguinte consiste em uma análise morfológica das variáveis estratégicas dos
cenários, por meio da elaboração de hipóteses e discussões coletivas acerca desses
elementos fundamentais para o futuro do território.
A partir da soma obtida na matriz das pontuações de influência e dependência
(impactos cruzados) gera-se um gráfico, que permite classificar as variáveis-chave e
encaminhar algumas discussões acerca dos elementos principais que têm e terão impacto
sobre o território e, consequentemente, sobre as decisões de Zoneamento Ecológico
Econômico.
Os resultados gerais da análise estrutural e das consultas à sociedade são
consolidados e analisados preliminarmente, e representam ajustes pontuais, com a presença
de atores representativos eleitos em oficinas regionais ou locais, além de atores que
representem segmentos da sociedade civil organizada, entidades de representação de classe
e outros elementos institucionais. Nas discussões participativas são apresentadas as
questões-chave, organizadas a partir da análise estrutural em que se identificam as
principais incertezas críticas detectadas em função de seus impactos espaciais, ou seja,
aqueles que deverão ser relevantes do ponto de vista do futuro do território.
As hipóteses sugeridas para cada questão-chave são, então, revistas pelos atores, e
resultam em supressões, aprimoramentos e sugestões de novas hipóteses. Com a
consolidação das hipóteses, são gerados cenários preliminares escolhidos pelos atores a
partir de uma proposta estruturadora de reflexões lógicas, e também por meio da percepção
do encadeamento de acontecimentos estruturadores de uma determinada realidade.
Na etapa seguinte, com a continuidade das reflexões participativas, são aplicados
métodos de perícia3 nos cenários preliminares, que permitem verificar os mais prováveis e,
portanto, mais plausíveis cenários de ocorrência no horizonte temporal estipulado
inicialmente, constituindo, assim, a base racional para definição dos cenários finais.
Paralelamente, a equipe técnica desenvolve estudos para indicar as invariâncias na forma de
macrotendências que cercam o território em questão.
3
A perícia de cenários é uma forma de confirmar os resultados obtidos pela equipe nas fases preliminares às
oficinas. Normalmente, é elaborado um número de seis cenários, que se constituem nos mais plausíveis
segundo uma cadeia de causa e efeito lógica, mas o número inicial de cenários deve ser diminuído para três ou
quatro, e a redução é feita com a ajuda da atribuição de uma pontuação pelos atores participantes, de modo
que ao final se aponte os cenários mais patrocinados.
14
4
Segundo Matus, fenoestrutura é um plano de situação em que as acumulações sociais (humanas, físicas,
valores etc.) condicionam a quantidade e qualidade dos fluxos de produção social. A fenoestrutura é uma
instância de represamento ou acumulação de diferentes tipos de capacidade.
Planejamento e análises ambientais - 15
estatais. O autor cita a possibilidade de aprendizado coletivo, que leva a uma evolução do
processo distributivo e que impõe à necessidade de ser repensado face às limitações de
recursos e aos interesses envolvidos, com consequentes impactos na distribuição do espaço.
A elaboração de cenários prospectivos permite aprimorar a avaliação dos futuros
possíveis e preparar-se melhor para as incertezas. Para isso, são considerados os principais
fatores críticos condicionantes do futuro e que podem interferir de forma decisiva na
realidade.
A metodologia de cenários, contudo, apresenta limitações por depender da
contribuição discricionária dos atores, e pode ser criticada por boa parte da academia
quanto aos aportes dos atores representativos. A própria matriz de impactos cruzados
depende de julgamentos e exercícios carregados de alguma subjetividade na contribuição
dos atores. A despeito de tais críticas acadêmicas, o processo de desenvolvimento de
cenários e planejamento participativo mantém aspectos positivos na mobilização dos
diversos atores durante o processo que resulta em empowerment ou “empoderamento” dos
atores sociais (SCHEYVENS, 1999).
Análise Estrutural
equipe de trabalho, pois podem se tornar incertezas críticas ou serem irrelevantes no futuro,
merecendo maiores discussões na decisão sobre a composição das variáveis-chave,
localizadas no segundo quadrante. E por fim, no quadrante inferior esquerdo, estão as
tendências pesadas, desconsideradas nos cenários e no quadrante inferior direito, e as
variáveis de resultados, muito influenciadas, mas pouco influentes.
Os resultados expostos, por meio da Figura 2, em um gráfico de dispersão (X,Y),
expressam as tendências de evolução das variáveis considerando suas influências indiretas e
a classificação de potencialidades de influências no futuro.
A classificação final das variáveis resulta em uma relação que irá compor a análise
morfológica na etapa seguinte. A relação final somente é definida após a realização das
oficinas de consultas à sociedade realizadas localmente, com a consolidação das
contribuições dos atores e o consequente aumento da acuidade das escolhas. Além disso, é
fundamental considerar a percepção de outros elementos que, eventualmente, tenham sido
ignorados pela equipe técnica na primeira etapa de trabalho.
Planejamento e análises ambientais - 21
Análise Morfológica
Fonte: LUNAS; EGLER; LUNAS, 2017. Elaborado a partir de modelo de arquétipos de cenários para o
desenvolvimento urbano.
A varredura reduz o campo de possibilidades, de modo que seja possível gerar algumas
imagens/cenários principais. O resultado deste exercício foi a geração de múltiplos cenários,
expostos conforme modelo da Figura 4.
Cenário 3
Cenário 2
Cenário 4
Cenário 5
Cenário 6
Cenário 1
A definição dos cenários finais, a partir das seis cenas geradas pelos atores no
exercício participativo, leva em conta os fatores de plausibilidade e proximidade. Interessa
apontar as probabilidades de ocorrência em qualquer cenário externo e manter contrastes
entre os cenários, de modo que cenários próximos tendem a serem eliminados do rol com a
melhor combinação dos dois fatores. Deste modo, os critérios para definição dos três
cenários finais são:
Plausibilidade de cada cenário apontada por meio da tabulação de questionário de
probabilidade simples, em diversas situações externas (expansão econômica, tendencial e
crise). A conversão final em taxa de probabilidade está exposta por meio da Figura 7.
Proximidade dos cenários calculada por meio do software morphol, sendo
considerado, neste caso, a proximidade calculada e as mapeadas identificadas por meio das
Figuras 4 e 5.
Planejamento e análises ambientais - 25
CENÁRIOS FINAIS
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PORTO, Cláudio; NASCIMENTO, Elimar Pinheiro; BUARQUE, Sérgio C. Cinco cenários para o
Brasil 2001-2003. Rio de Janeiro: Nórdica, 2001.
Capítulo 2
INTRODUÇÃO
5
O termo sucroenergético define melhor as características da atividade canavieira no Brasil nos dias atuais,
que produz muito mais do que açúcar como produto. Com o elevado nível de investimento tecnológico, a
matéria-prima utilizada na fabricação do açúcar, a cana, teve seu rendimento expandido para a produção de
etanol e bioenergia, alavancando este setor para o ramo da energia.
Planejamento e análises ambientais - 31
cultura possui alta demanda por água (cerca de 1.500mm a 2.500mm, dependendo o clima),
radiação e temperatura, é verificado entre os meses de outubro a março. A partir de abril, a
cana passa a ser induzida ao repouso e requer um déficit hídrico ou térmico para acumular
sacarose nos colmos. Em seguida, inicia-se o período da colheita, que normalmente se
estende até o mês de outubro.
As variedades de cana-de-açúcar na região centro-sul são divididas em quatro
grupos, tendo em vista sua relação com a maturação, ou seja, o período dentro da safra em
que atingem o máximo teor de sacarose nos colmos (NUNES JR, 1987):
Com início nos anos 1980, os investimentos do setor canavieiro no Mato Grosso do Sul
migraram a partir do nordeste brasileiro, historicamente, a principal região produtora do país. Nesse
período, o mercado sucroalcooleiro era composto por pequenas empresas, muitas vezes de origem
familiar e trabalhadores, também do núcleo da família, que realizavam o corte manual da cana. No
processo de incentivos para a consolidação desse mercado, o estado torna-se atrativo para as
grandes empresas e grupos internacionais. Ao procurarem se instalar no estado, indústrias de capital
estrangeiro passaram a adquirir unidades industriais de grupos de origem familiar (BACKES, 2009).
Em 2000, o grupo Louis Dreyfus marcou a entrada do capital estrangeiro direto na
produção da cana-de-açúcar quando adquiriu três unidades no país, incluindo a usina Passa Tempo,
em Rio Brilhante. Hoje, o grupo, que tem como subsidiária a Biosev, possui três unidades no estado,
todas elas no interior ou na área de influência da bacia do Rio Brilhante.
De acordo com Backes (2009), os grupos internacionais destacam-se pela tecnologia de
ponta que empregam na produção e construção de suas usinas, no monitoramento da safra, nas
pesquisas do ramo, etc. O cenário que se verifica atualmente é o de internacionalização do segmento
sucroenergético no Mato Grosso do Sul, controlado por poucos grupos, que praticamente já
mecanizaram toda a produção, concentrando o capital e escoando-o para fora do país.
No território sul-mato-grossense, a distribuição das unidades industriais de processamento
de cana-de-açúcar é desuniforme, pelas características edafoclimáticas discrepantes das diferentes
regiões do estado. A grande maioria das unidades de produção está localizada no centro-sul do
estado, sob influência dos climas de estação seca no inverno.
Além dos fatores físicos, há outros motivos para a migração e a expansão do setor
canavieiro para Mato Grosso do Sul, dentro os quais se destacam-se:
I. Os incentivos fiscais concedidos pelo poder público na esfera federal, estadual e/ou
municipal, que podem contribuir no processo de tomada de decisão de
empreendimentos de grande porte que pretendem se instalar em um local, o interesse
Planejamento e análises ambientais - 35
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 1. Razão social e localização das usinas inseridas nos limites e proximidades da
bacia hidrográfica do Rio Brilhante/MS
Usinas Localização Munícipio
Acesso pela Rodovia MS 460, Km 54 -
1 Biosev – Unidade Maracaju Maracaju
Interior da bacia do
Figura 3. Distribuição das usinas com influência na bacia hidrográfica do Rio Brilhante
Ao analisar a Figura 3, no que diz respeito à área de influência das usinas, fica claro
um eixo de pressão na porção sudeste da bacia do Rio Brilhante, demonstrado pelo grande
número de raios sobrepostos, que se deve à maior quantidade de usinas instaladas nessa
região. Consequentemente, isso acarreta em uma disputa por essas áreas para plantio da
cana-de-açúcar, tornando-as grandes áreas de monocultura.
O redimensionamento territorial, sobretudo na região centro-sul do estado,
principalmente no que se refere ao processo de territorialização da cana-de-açúcar, é
verificado também em outros estudos, vide Pereira (2007); Azevedo (2008); Backes (2009);
Domingues (2010); e Pinto Junior (2014). E se apresenta como uma tendência crescente,
considerando que até o começo dos anos 2000 essa região não possuía nenhuma
representatividade como produtor de cana-de-açúcar e derivados (açúcar e álcool).
Ao analisar os dados históricos de cultivo da cana-de-açúcar pelo Sistema IBGE de
Recuperação Automática (SIDRA-IBGE, 2015), verifica-se que há uma ampliação acelerada do
setor sucroenergético. A cana-de-açúcar vem se territorializando nos municípios em que
anteriormente não havia cultivo dessa cultura, conforme se constata na Figura 4.
Planejamento e análises ambientais - 39
açúcar, que vem ganhando cada vez mais áreas para seu plantio e implantação de novas
unidades sucroenergéticas. A disputa de áreas entre a cana-de-açúcar e os grãos deve
acarretar embates econômicos e políticos.
Figura 5. Área plantada com cana-de-açúcar e localização das usinas sucroenergéticas no interior e no raio de influência
da bacia do Rio Brilhante
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL (1997). Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001,
de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.
42
QUANTUM GIS DEVELOPMENT TEAM, 2015. Quantum GIS Geographic Information System.
Open Source Geospatial Foundation Project,Versão 2.12.3 “Lyon”. Disponível em:
http://qgis.osgeo.org. Acesso em: 10 mar. 2016.
RUDORFF, B.F.T.; et al. Studies on the Rapid Expansion of Sugarcane for Ethanol Production
in São Paulo State (Brazil). Remote Sensing, Ottawa, v. 2, n.4, p.1.057-1.076, 2010.
SANTOS, R. F. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.
Capítulo 3
Pedro Höfig
Geógrafo, MsC. em Ciência do Solo, Catena Planejamento Territorial.
E-mail: pedro@catenaterritorial.com
Elvio Giasson
Eng. Agrônomo, Dr. em Ciência do Solo, Professor do Departamento de Solos da UFRGS.
E-mail: giasson@ufrgs.br
INTRODUÇÃO
porque é por meio de uma visão integrada do território que se pode definir os objetivos e as
metas adequadas para o planejamento e gestão da área, e fundamentar as tomadas de
decisões. Nesse sentido, foram confeccionados mapas de localização, uso do solo e
infraestrutura, altitude, declividade, irradiação solar, índice de umidade topográfica e
potencial à erosão laminar. As análises dos resultados, espacialmente representados nos
mapas, permitem conhecer as potencialidades e as fragilidades da propriedade rural,
auxiliando os gestores na tomada de decisões de forma direcionada e otimizada frente aos
tipos de uso atuais e, ainda, estabelecer diretrizes para o planejamento de médio e longo
prazos.
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi realizado na Fazenda Modelo (nome fictício), que se localiza no Norte
Pioneiro do Paraná, na microrregião de Wenceslau Braz (IBGE, 1990), mais precisamente no
município de Carlópolis, na divisa com o estado de São Paulo. A fazenda, que possui 129,15
hectares, está localizada a cerca de 15km da sede municipal, com acesso principal pela
rodovia PR-218, no trecho que liga a cidade de Carlópolis e o município de Fartura, no
estado de São Paulo, seguindo por estrada de terra até a propriedade (Figura 1).
Planejamento e análises ambientais - 49
RESULTADOS E DISCUSSÕES
6
Variedade cafeeira produzida pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas) em 1977.
54
Na Fazenda Modelo, as áreas com maior radiação solar são os locais mais altos e
com orientação de vertente voltada ao norte. Os locais de maior insolação são as áreas
próximas à estrada de acesso que divide a propriedade em setores norte e sul,
principalmente aqueles próximos à área de pastagem (Figura 5). Essas diferenças no
microclima são fatores que atuam diretamente na incidência de pragas e doenças no
56
cafeeiro, além de afetar o nível de desenvolvimento das plantas. Por exemplo, faces menos
expostas ao Sol são mais propensas à ferrugem, enquanto as mais expostas ao Sol são mais
aptas à cercosporiose (CUSTÓDIO, 2011). Ademais, os setores que recebem menor insolação
devem ser prioritários para o uso de técnicas de proteção às geadas.
Figura 6: Mapa de Índice de Umidade Topográfica: potencial de armazenamento de água na Fazenda Modelo
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
CASTRO, Christovam Leite de. Geografia e Cartografia. Revista Brasileira de Geografia, ano
7, n. 3, p. 129-131, jul./set. 1945.
COSTA, L.C. & SEDIYAMA, G. Elementos climáticos e produtividade agrícola. Revista Ação
Ambiental, n.7, p. 24-27, 1999.
DRUCKER, Peter F. Introdução à administração. 2ª ed. São Paulo: Thomson Learning, 1998.
ENVIRONMENTAL SYSTEMS RESEARCH INSTITUTE. Inc. ArcMap, versão 10.0. Redlands, 2010.
1 DVD-ROM.
FU, P., RICH, P. M. A Geometric Solar Radiation Model with Applications in Agriculture and
Forestry. Computers and Electronics in Agriculture, Amsterdan, v.37, n.1-3 , p. 25 - 35, 2002.
GRANELL-PÉREZ, M. del C. Trabalhar geografia com as cartas topográfica. 2 ed. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2004, 128 p.
PAIM, J. S.; TEIXEIRA, C. F. Política, planejamento & gestão em saúde; balanço do estado da
arte. Revista de Saúde Pública, São Paulo, n. especial, p. 73-78, 2006.
PEREIRA, A. B.; VRISMAN, A. L.; GALVANI, E. Estimativa da radiação solar global diária em
função do potencial de energia solar na superfície do solo. Scientia Agricola, Piracicaba, v.59,
n.2, p.211-216, 2002.
RAMALHO-FILHO, A.; BEEK, K. J. Sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras. 3. ed.
Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1995. 65 p.
REZENDE, S.B. Estudo de crono-sequência em Viçosa – Minas Gerais. 1971. 71f. Dissertação
(Mestrado em Ciência Florestal). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, 1971.
RODRIGUES, L. A; CARVALHO, Douglas Antônio de; OLIVEIRA FILHO, Ary Teixeira de; CURI,
Nilton. Efeitos de solos e topografia sobre a distribuição de espécies arbóreas em um
fragmento de Floresta Estacional Semidecidual em Luminárias, MG. Revista Árvore, Viçosa,
v.31, n.1, p.25-35, jan-fev. 2007.
SILVA, F. M. da; REZENDE, F. A.; ALVES, H. M. R.; ALVES, M. C.; MOREIRA, M. A.; SILVA, A. C.
da. Potencialidade de mecanização da região sul e sudoeste de Minas Gerais, visando a
lavoura cafeeira. In: EXPOCAFE, Três Pontas/MG, 2010. Anais do Simpósio Mecanização da
Lavoura Cafeeira. Lavras: Editora UFLA/DEG. p. 73 - 80.
Planejamento e análises ambientais - 63
SILVA, J.X. da; ZAIDAN, R.T.(org.). Geoprocessamento e análise ambiental. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2007. 2ª Ed.
SIRTOLI, A. E.; SILVEIRA, C. T.; MONTOVANI, L. E.; SIRTOLI, A. R. A.; OKA-FIORI, C. Atributos
do relevo derivados de modelo digital de elevação e suas relações com solos. Scientia
Agraria, Curitiba, v.9, n.3, p.317-329, 2008.
Capítulo 4
INTRODUÇÃO
O filósofo Pierre Girard (2001 apud BRANCO, 2005, p. 330) reflete: “qual é a
natureza da água? O físico responde: é um líquido à temperatura normal. O economista
retruca: é um recurso e precisa manejá-lo. Para o biólogo é um fator essencial para o
crescimento das espécies. Para o psicólogo ela é um símbolo. O poeta diz que é a própria
vida”. As diversas abordagens sobre o tema manifestam-se, inclusive, quanto ao seu valor
econômico, social e cultural, mas há outras: ecológica, medicinal, depurativa, curativa, etc.,
necessitando de uma visão cada vez mais inclusiva e abrangente do tema.
Assim, a gestão das bacias hidrográficas voltada à preservação dos recursos
hídricos, é mais ampla e efetiva quando soma medidas de conservação do solo, dos
remanescentes vegetacionais e da fauna, além do necessário controle de atividades rurais e
urbanas, que denotam as estreitas vinculações existentes entre as águas, os demais recursos
naturais e as atividades humanas (SANTOS, 2004).
Gerir os recursos hídricos de maneira integrada, numa visão sistêmica, significa
melhorar a compreensão de que a gestão da água que flui pelos rios é muito diferente da
gestão de bacia hidrográfica como unidade básica de planejamento. Neste caso, é preciso
considerar as condições de uso e ocupação do binômio solo-água ou água que infiltra e dá
suporte ao desenvolvimento da biomassa da bacia hidrográfica em apreço, as águas
7
Artigo extraído da tese de doutoramento intitulada "Planejamento ambiental e gestão dos recursos hídricos:
estudo aplicado à bacia hidrográfica do Manancial do Alto Curso do Rio Santo Anastácio - São Paulo/Brasil",
orientada pelo Prof. Dr. Antônio Cezar Leal e defendida na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp, em
janeiro de 2013.
66
Figura 01 - Possíveis relações entre temas e funções ocorrentes em um território e nas bacias hidrográficas
Figura 02 - Municípios que compõem a bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio
OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa foi definir os conceitos e métodos gerais dados pelo
referencial teórico da análise integrada da paisagem, aplicando-os ao planejamento
ambiental de bacia hidrográfica, para subsidiar a gestão dos recursos hídricos da bacia do
manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio.
70
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Alta densidade de drenagem, ARGISSOLO VERMELHO com São terras que apresentam problemas de
declividades predominantes variando textura arenosa/média. pequenas profundidades no solo e/ou
de 8% a >20%, pequena dimensão NEOSSOLOS LITÓLICOS com declividades elevadas, dificultando a
interfluvial e forte entalhamento dos textura arenosa e textura média infiltração da água. A unidade apresenta
canais. Altitude média de 400 m a 490 nas áreas mais declivosas. fragilidade potencial muito alta. O Topo é
m. Tipos de vertentes - topos ARGISSOLO VERMELHO- emissor de energia e matéria,
convexizados ocupando posição AMARELO com textura apresentando menor restrição ao uso
Unidade I cimeira nos divisores de água, arenosa/média. antrópico; as vertentes, transmissoras de
Morrotes em declividades variando de 3% a 20%. PV1, PV8, PVAe3, PVAe4, PVA7, energia e matéria, apresentam maior
Cabeceiras de Vertentes convexa, côncava e RLe1 e RLe3. restrição ao uso antrópico (especialmente
Drenagem retilínea, declividades >20%, as vertentes côncavas); e as planícies,
apresentando ruptura de declive. acumuladoras e transmissoras de energia e
Planícies de inundação, fundos de matéria, não devem ter uso antrópico. A
vale com declividades predominantes unidade não é recomendada para cultivo
<3%. Área onde existem de culturas temporárias e perenes, sendo
concentrações de nascentes que dão adaptadas para pastagens e manutenção
origem aos cursos d’água. e/ou recomposição da vegetação nativa
nas áreas mais declivosas.
Alta densidade de drenagem, ASSOCIAÇÃO DE ARGISSOLO São terras que apresentam problemas de
declividades predominantes variando VERMELHO + ARGISSOLO pequenas profundidades no solo e/ou
de 8% a 20%, pequena dimensão VERMELHO-AMARELO, todos declividades elevadas, dificultando a
interfluvial e forte entalhamento dos com textura arenosa/média + infiltração da água. A unidade apresenta
canais. Altitude média de 390 m a 500 NEOSSOLOS LITÓLICOS com fragilidade potencial alta. O Topo é emissor
m. Tipos de vertentes - topos textura arenosa e textura média de energia e matéria, apresentando menor
Unidade II
convexizados ocupando posição nas áreas mais declivosas. restrição ao uso antrópico; as vertentes,
Colinas
cimeira nos divisores de água, PVAe4, PVAe6, PVA7, PV1 e PV8. transmissoras de energia e matéria,
Médias
declividades variando de 3% a 8%. apresentam maior restrição ao uso
Alta Vertente
Vertentes convexa, côncava e antrópico (especialmente as vertentes
retilínea, declividades de 8% a 20%. côncavas); e as planícies, acumuladoras e
Planícies de inundação, fundos de transmissoras de energia e matéria, não
vale com declividades predominantes devem ter uso antrópico. A unidade não é
<3%. Área onde existem recomendada para cultura temporária,
concentrações de nascentes que dão sendo adaptadas para algumas culturas
origem aos cursos d’água. perenes e pastagens.
Média densidade de drenagem, Predomínio de NEOSSOLOS São terras que apresentam problemas de
declividades predominantes variando LITÓLICOS com textura arenosa. pequenas profundidades no solo e/ou
de 8% a 20%, média dimensão ARGISSOLO VERMELHO- declividades elevadas, dificultando a
interfluvial e entalhamento dos AMARELO com textura infiltração da água. A unidade apresenta
canais. Altitude média de 355 m a 425 arenosa/média. fragilidade potencial alta. O Topo é emissor
m. Tipos de vertentes - topos PVA1 e RLe6. de energia e matéria, apresentando menor
convexizados ocupando posição restrição ao uso antrópico; as vertentes,
cimeira nos divisores de água, transmissoras de energia e matéria,
Unidade III
declividades variando de 8% a 20%. apresentam maior restrição ao uso
Colinas
Vertentes convexa, côncava e antrópico (especialmente as vertentes
Médias
retilínea, declividades de 8 a >20% côncavas); e as planícies, acumuladoras e
apresentando ruptura de declive. transmissoras de energia e matéria, não
Expressivas planícies de inundação, devem ter uso antrópico. A unidade não é
fundos de vale com declividades recomendada para cultivo de culturas
predominantes <3%. temporárias e perenes, sendo adaptadas
para pastagens e manutenção, e/ou
recomposição da vegetação nativa nas
áreas mais declivosas.
Planejamento e análises ambientais - 73
Média densidade de drenagem, ARGISSOLO VERMELHO com São terras que apresentam problemas por
declividades predominantes textura arenosa/média. apresentar solos raso e pouco profundos
variando de 8% a 20%, média NEOSSOLOS LITÓLICOS com textura e/ou média e altas declividades,
dimensão interfluvial e média e textura arenosa nas áreas dificultando a infiltração d’água
entalhamento dos canais. Altitude mais declivosas. especialmente nas áreas que apresentam
média de 370 m a 445 m. Tipos de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO maiores declividades e solos mais rasos. A
vertentes - topos convexizados com textura arenosa/média. unidade apresenta fragilidade potencial
ocupando posição cimeira nos PV7 e PVA7. médio-alta. O Topo é emissor de energia e
Unidade IV divisores de água, declividades matéria, apresentando menor restrição ao
Colinas variando de 0% a 8%. Vertentes uso antrópico; as vertentes, transmissoras
Médias convexa, côncava e retilínea, de energia e matéria, apresentam maior
declividades de 8% a >20% restrição ao uso antrópico (especialmente
apresentando ruptura de declive. as vertentes côncavas) e as planícies,
Planícies de inundação, fundos de acumuladoras e transmissoras de energia e
vale com declividades matéria, não devem ter uso antrópico. A
predominantes <3%. unidade não é recomendada para qualquer
tipo de cultura temporária, sendo
adaptadas para culturas perenes e
pastagens.
Média densidade de drenagem, ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO A topografia inclinada e os solos rasos de
declividades predominantes com textura arenosa/média. alguns setores exigem cuidados intensivos
variando de 3% a 20%, média NEOSSOLOS LITÓLICOS com textura para controle de erosão. A unidade
dimensão interfluvial e média e textura arenosa nas áreas apresenta fragilidade potencial médio-alta.
entalhamento dos canais. Altitude mais declivosas. O Topo é emissor de energia e matéria,
média de 370 m a 450 m. Tipos de PVA1, PVA4, PVA7, PVAe4 e PVAe6. apresentando menor restrição ao uso
vertentes - topos suavemente antrópico; as vertentes, transmissoras de
convexizados ocupando posição energia e matéria, apresentam maior
Unidade V cimeira nos divisores de água, restrição ao uso antrópico (especialmente
Colinas declividades variando de 0% a 8%. as vertentes côncavas); e as planícies,
Médias Vertentes convexa, côncava e acumuladoras e transmissoras de energia e
retilínea, declividades de 3% a 20% matéria, não devem ter uso antrópico.
apresentando concentrações de Terras não indicadas para cultivos
rupturas de declive próxima à intensivos.
margem direita do Rio Santo
Anastácio e do Córrego do Cedro.
Planícies de inundação, fundos de
vale com declividades
predominantes <3%.
Média densidade de drenagem, ARGISSOLO VERMELHO com Apesar da baixa declividade do relevo, o
declividades predominantes textura arenosa/média. Horizonte B textural do solo exige controle
variando de 0% a 8%, média da água pluvial. A unidade apresenta
dimensão interfluvial e PV4. fragilidade potencial média. O Topo é
entalhamento dos canais. Altitude emissor de energia e matéria,
média de 385 m a 455 m. Tipos de apresentando menor restrição ao uso
Unidade VI vertentes – topos amplos antrópico; as vertentes, transmissoras de
Colinas suavemente convexizados energia e matéria, apresentam maior
Amplas ocupando posição cimeira nos restrição ao uso antrópico (especialmente
divisores de água, declividades as vertentes côncavas) e as planícies,
variando de 0% a 8%. Vertentes acumuladoras e transmissoras de energia e
convexa, côncava e retilínea, matéria, não devem ter uso antrópico.
declividades de 3% a 20%. Planícies Terras indicadas para cultivos contínuos ou
de inundação, fundos de vale com regulares, quando adequadamente
declividades predominantes <3%. protegidas.
Declividades predominantes LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Apesar da baixa declividade e boa
variando de 0% a 8%. Altitude com textura média. drenagem do solo, a unidade apresenta
média de 505 m a 540 m. Tipos de LVA2. fragilidade potencial média devido à
Unidade VII
vertentes – topos amplos proximidade das nascentes do Rio Santo
Colinas
suavemente convexizados Anastácio e à característica textural do solo.
Amplas em
ocupando posição cimeira nos Área emissora de energia e matéria,
Divisores de
divisores de água do Rio Santo apresentando menor restrição ao uso
Água (topo)
Anastácio. antrópico. Terras indicadas para cultivos
contínuos ou regulares, quando
adequadamente protegidas.
74
Baixa densidade de drenagem, NEOSSOLOS FLÚVICOS textura média, Baixíssima declividade, porém, a
declividades predominantes com textura arenosa e textura proximidade do canal principal e a alta
variando de 0% a 3%, alta média/arenosa. permeabilidade do solo podem oferecer
dimensão interfluvial e baixo riscos ao manancial de abastecimento
Unidade VIII entalhamento dos canais. Altitude RYd3. público. A unidade apresenta fragilidade
Relevo Plano média de 365 m a 375 m. Relevo potencial alta. Terras não indicadas para
plano - superfície plana onde os o cultivo de culturas que requerem uso
desnivelamentos são muito de fertilizante e agrotóxico. Área apta
pequenos, com declividades para pastagens extensivas.
inferiores a 3%.
Áreas com declividades de 20% a NEOSSOLOS LITÓLICOS e Declividades excessivas e solos rasos.
>45%, caracterizada pela falta de AFLORAMENTO ROCHOSO Área com fragilidade potencial
Áreas de
continuidade da declividade da extremamente alta. Terras não indicadas
Ruptura de
vertente. para uso antrópico, sendo indicadas para
Declive
manutenção e/ou recomposição da
vegetação nativa.
Afloramento do lençol freático, HIDROMORFIZAÇÃO Alta suscetibilidade à degradação e à
geralmente não é um ponto e sim contaminação das águas. Afloramento do
uma zona considerável da lençol freático. Área com fragilidade
Nascente
superfície terrestre. potencial extremamente alta. Terras não
Difusa
indicadas para uso antrópico, sendo
indicadas para manutenção e/ou
recomposição da vegetação nativa.
Superfície pouco elevada, acima GLEISSOLO HÁPLICO com textura Área sujeita à inundação periódica. Área
do nível médio das águas, sendo arenosa, média e com fragilidade potencial extremamente
frequentemente inundada por arenosa/média/arenosa. alta. Terras não indicadas para uso
Planície de
ocasião das cheias. NEOSSOLOS FLÚVICOS com textura antrópico, sendo indicadas para
Inundação
média, média/arenosa e manutenção e/ou recomposição da
arenosa/média. vegetação nativa.
GX2, RYbe1, RYbe2, RY3 e RY4.
Fonte: Dibieso, 2013.
conhecimento dos processos que atuam nas unidades de paisagem natural permite orientar
as atividades de uso e ocupação da terra, de maneira a evitar degradações ambientais e
obter maior produtividade, além de promover ações corretivas dentro das unidades onde o
uso inadequado provoca consequências desastrosas (CREPANI et al., 2001).
a) atividades agrícolas: as cargas dependem do tipo de cultura, da fase em que se encontra o ciclo de
produção (preparação do terreno, semeadura, desenvolvimento das plantas, colheita etc.) e do uso de
fertilizantes e defensivos; o aporte de cargas aos cursos de água está fundamentalmente associado à
ocorrência de eventos de chuva;
b) atividades pecuárias: as cargas dependem do tipo de rebanho e das técnicas utilizadas;
c) mineração ativa ou inativa: atividade de alto potencial poluidor, dependendo do tipo de minério em
Áreas Rurais
h) resíduos sólidos: lançamento direto, no leito dos cursos de água ou na rede de drenagem pluvial, de
lixo de origem doméstica ou proveniente de atividades comerciais (como feiras-livres, mercados etc.) e
industriais;
l) lavagem de materiais de construção (areia, cimento, cal etc.) em obras públicas ou construções
particulares (abertura de loteamentos, construção de edificações, etc.).
A unidade de paisagem pode ser identificada por diferentes variáveis físicas e pelas
transformações históricas da dinâmica do uso da terra, em determinada unidade.
Elas se espacializam através do mapeamento dos impactos, em diferentes
momentos das atividades humanas, caracterizando sua dinâmica, ou seja, a
unidade de paisagem vai corresponder à dimensão territorial de uma variável física,
e só terá significado se estiver representando as modificações que a sociedade
impõe sobre ela, ao longo do tempo (GUERRA; MARÇAL, 2006, p. 125).
físico foi realizada a partir dos “tipos de formas do relevo”, integrando características
semelhantes de litologia, declividade, solos, densidade de drenagem, etc. Estas
características são essenciais para a classificação da paisagem e definição de seus níveis ou
graus de fragilidade em relação à suscetibilidade, à erosão e à degradação dos recursos
hídricos, associadas à intervenção antrópica e a qualidade de vida da população.
A possibilidade de transformação do conceito de paisagem como unidade
ambiental permite, também, a delimitação de unidades homogêneas, apresentando
características funcionais, morfológicas e dinâmicas bastante semelhantes, que
individualizam padrões homogêneos de paisagem (GUERRA; MARÇAL, 2006).
A divisão da bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio
em unidades ambientais consiste no estudo do todo através de suas partes, e suas inter-
relações, analisando a singularidade dentro da pluralidade. O todo (bacia) é fracionado em
partes (unidades ambientais), para ser melhor estudado e compreendidas as suas
características particulares e inter-relações. Depois, busca-se reconstruir o todo, para a
compreensão dos processos fundamentais. As unidades ambientais identificadas podem ser
consideradas como uma área que se distingue no conjunto da bacia hidrográfica por suas
características, onde as combinações de diversos fatores naturais e sociais conferem-lhe
certa homogeneidade, que a individualiza (LEAL, 1995).
O mapa das unidades ambientais demonstrou grande complexidade na
representação das informações. Assim, sintetizam-se e espacializam-se as informações
mantendo os limites de cada unidade, definindo um conjunto de informações que,
associadas ao uso e ocupação da terra, possuem influência direta e indireta nos problemas
ambientais e nos recursos hídricos da bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio
Santo Anastácio. Salientando que são os interesses econômicos, mediados pelas instâncias
política, social, cultural e tecnológica, que prevalecem nas formas de apropriação e uso do
território (BRASIL, 2006).
Dentre outras características, cada unidade (zona) possui fragilidades, potencialidades, usos,
ocupações e problemas específicos, assim, para cada unidade ou zona, devem ser atribuídas
normas e orientações próprias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANCO, M. A participação como processo educativo nos comitês de bacia. In: UNESCO
(Org.) Capacitação para gestores em recurso hídricos. Brasília: Edições Unesco, 2005,
90
p. 320-354. CD-ROM.
CREPANI, E.; MEDEIROS, J. S.; L. G.; AZEVEDO, L. G.; HERNANDEZ Filho, P.; FLORENZANO, T.
G.; DUARTE, V. Sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicados ao zoneamento
ecológico-econômico e ao ordenamento territorial. São José dos Campos: INPE, 2001.
LEAL, A. C. Gestão das águas no Pontal do Paranapanema - São Paulo. 2000. Tese
(Doutorado) - Instituto de Geociências, UNICAMP, Campinas, 2000.
REFLORESTAMENTO da nascente do Rio Santo Anastácio. São Paulo: SABESP Notícias, 2013.
Apresenta informações sobre o abastecimento público de água da cidade de Presidente
Prudente. Disponível em: <http://site.sabesp.com.br/site/imprensa/noticias-
detalhe.aspx?secaoId=66&id=5676>. Acesso em: 28 mar. 2017.
SANTOS, R. F. dos. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina Textos,
2004.
Planejamento e análises ambientais - 91
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA). Elaboração do plano
de desenvolvimento e proteção ambiental da bacia hidrográfica do Reservatório Billings.
São Paulo: SMA/CPLA (Relatório Final), 2011.
Capítulo 5
INTRODUÇÃO
Com base no cenário que avalia o comprometimento dos cursos d´água causado
pelo lançamento de poluentes orgânicos, estudos correlacionados à avaliação dessas cargas
poluidoras vêm ao encontro de soluções rápidas e de baixo custo, pois, a partir dos
resultados apresentados, decisões podem ser tomadas no intuito de minimizar os problemas
gerados pela poluição (BENASSI, 2002).
Com o exposto, o presente trabalho avaliou a disponibilidade hídrica do Ribeirão da
Rancharia, em Rancharia/SP, a partir da realização do monitoramento de alguns aspectos
qualitativos e quantitativos de suas águas. Este estudo é uma etapa importante no que tange
o fornecimento de dados relevantes para a avaliação e previsão de impactos ambientais
causados por despejos orgânicos existentes.
Localizado no oeste do estado de São Paulo, o município de Rancharia possui,
aproximadamente, 28.804 habitantes, com atividades econômicas ligadas à indústria e ao
setor agrícola (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). O Ribeirão da
Rancharia enquadra-se, segundo o Decreto Estadual nº 10.755/1997, como um corpo d´água
de classe 2 (dois). Trata-se, portanto, de um curso d´água que tem por finalidade de uso o
abastecimento humano, após tratamento convencional com vistas à proteção das
comunidades aquáticas (SÃO PAULO 1997; BRASIL, 2005). Contudo, o Ribeirão da Rancharia
recebe, atualmente, uma grande carga de matéria orgânica proveniente dos efluentes
domésticos e industriais, em desencontro com suas condições de uso. Não obstante, o
Ribeirão aporta também as águas do Ribeirão da Lavadeira, um tributário urbano e que
também recebe efluentes industriais.
Grande parte do curso do Ribeirão da Rancharia encontra-se visivelmente em
estágio de degradação e não há informações referentes à essas águas e, muito menos, de
conhecimento sobre a magnitude do impacto causado pelo lançamento dos efluentes. Desse
modo, por meio da realização de um monitoramento qualitativo e quantitativo da água, e
que contempla o efeito da sazonalidade, obteve-se informações mais precisas sobre a
disponibilidade hídrica do Ribeirão da Rancharia, fornecendo subsídios no que concerne às
consequências dos impactos ambientais gerados no recorte espacial estabelecido como
escopo deste trabalho.
96
METODOLOGIA
profundidade média (Equação 1). A profundidade média foi determinada pelo método da
composição de verticais: dividindo-se a largura do corpo d’ água em intervalos equidistantes
e aferindo, nesses pontos equidistantes, a altura da lâmina d‘água. A largura foi mensurada
com o auxílio de uma trena e a profundidade, com um metro.
A=LxH (Equação 1)
em que:
A – área da seção (m2)
L – largura do rio (m)
H – profundidade média da seção (m)
(Equação 2)
em que:
Vm – velocidade média da água (m/s)
D – distância conhecida (m)
T – tempo (s)
Assim, conforme a Equação 3, a vazão (Q – m3.s-1) foi estimada pelo produto entre o
valor da velocidade média e o valor da área de seção transversal de escoamento, corrigido
por um coeficiente. Segundo recomendações de Palhares et al. (2007), foi estabelecido um
coeficiente de correção de 0,9.
Q = A x Vm x 0,9 (Equação 3)
em que:
(Equação 5)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dados Quantitativos
3
Tabela 3: Vazão (m /s) nas seções de monitoramento estimadas em cada campanha
Data Seção 1 Seção 2 Seção 3 Seção 4
02/10/2015 0,04 0,04 0,23 0,24
11/12/2015 1,28 0,15 1,63 3,06
04/02/2016 0,05 0,02 2,86 2,94
10/04/2016 0,17 0,01 1,53 1,70
20/06/2016 0,22 0,02 0,22 0,45
17/08/2016 0,13 0,02 0,13 0,28
20/10/2016 0,07 0,01 0,06 0,14
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.
Tomando por base os índices pluviométricos (Figura 2), pode-se inferir que o
comportamento da vazão ao longo do período de estudo esteve sobre o efeito da
sazonalidade, ou seja, em épocas mais chuvosas (dezembro/15 a março/16), a vazão no
Ribeirão da Rancharia era maior do que em épocas de estiagem (junho/16 a outubro/16).
Planejamento e análises ambientais - 101
Qualidade
Tabela 4: Valores mínimo, máximo e média aritmética calculados para cada indicador de qualidade da água
no Ribeirão da Rancharia
Valores
Parâmetros
Mínimo Máximo Média
Temperatura (ºC) 18,60 35,00 24,52 ± 3,74
pH 6,40 8,85 7,41 ± 0,71
Turbidez (NTU) 2,63 163,00 37, 21 ± 49,28
OD (mg/L) 0,17 9,97 5,00 ± 2,42
DBO5,20 (mg/L) 1,13 219,81 67,38 ± 66,68
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.
102
Tabela 5: Valores mínimo, máximo e média aritmética calculados para cada indicador de qualidade da água
no tributário Ribeirão da Lavadeira
Valores
Parâmetros
Mínimo Máximo Média
Temperatura (ºC) 21,20 28,00 24,16 ± 2,71
pH 6,69 7,44 7,14 ± 0,24
Turbidez (NTU) 0,27 5,61 3,06 ± 2,12
OD (mg/L) 4,16 9,55 6,67 ± 1,91
DBO5,20 (mg/L) 1,07 78,33 32,69± 27,97
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.
-1
Figura 3: Variação de oxigênio dissolvido (mg.L ) nas seções de monitoramento
Tabela 6: Concentração de DBO5,20 (mg/L) nas seções de monitoramento, ao longo do período de estudo
Campanha Seção 1 Seção 2 Seção 3 Seção 4
Outubro/15 6,85 52,18 216,60 51,55
Dezembro/15 5,71 22,62 84,68 29,02
Fevereiro/16 4,38 44,83 124,87 42,27
Abril/16 92,63 78,83 219,81 91,56
Junho/16 49,54 28,11 163,96 51,04
Agosto/16 19,55 1,70 97,43 18,01
Outubro/16 2,35 1,07 42,04 1,13
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.
O Relatório de Qualidade das Águas Superficiais (CETESB, 2016) estimou que cerca
de 93% do esgoto gerado no município de Rancharia é coletado, sendo 100% desse esgoto
tratado com eficiência de 82,05%, e com um potencial de carga poluidora de 1.442 kg/dia.
Além disso, o indicador de coleta de tratabilidade de esgoto da população urbana do
município (ICTEM) é de 8,85, valor considerado satisfatório.
Considerando que o tratamento de efluentes no município é realizado a partir de
lagoas de estabilização, Von Sperling (2007) estima que esse processo apresenta uma
eficiência de remoção de DBO5,20 em torno de 75-80%, com concentração de saída entre 50 e
80 mg/L. Porém, a Tabela 6 apresenta valores de concentração de DBO5,20 acima do previsto
na literatura. Salienta-se que a coleta na seção 3 corresponde ao ponto de mistura, ou seja, a
concentração de DBO5,20 do efluente é maior do que os valores apresentados neste estudo.
Devido às características do efluente e o efeito do mesmo no Ribeirão da Rancharia,
torna-se necessário rever o método de tratamento de efluentes, a fim de aumentar a sua
eficiência e, consequentemente, diminuir a carga orgânica. A Tabela 7 evidenciou a
ineficiência no tratamento desses efluentes, com destaque para as campanhas de
outubro/2015 a junho/2016, as quais apresentaram valores superiores ao apresentado no
Relatório de Qualidade das Águas Superficiais (CETESB, 2016).
Desse modo, o Ribeirão da Rancharia não possui características hidráulicas
favoráveis à diluição desses despejos, fato corroborado por dados de concentração de OD e
DBO5,20 a jusante do lançamento – em discordância com os padrões estipulados na
Planejamento e análises ambientais - 107
Resolução CONAMA nº 357/2005 – e pelos altos valores de carga poluidora obtidos durante
o período de monitoramento.
A PNRH estabelece a existência de uma gestão sistemática dos recursos hídricos sem
desassociar os aspectos relevantes à qualidade e quantidade de água (BRASIL, 1997). Dessa
forma, a influência antrópica sobre o Ribeirão da Rancharia prejudica não somente o
ecossistema do presente curso d´água, como também causa, possivelmente, impactos sobre
outras bacias. Assim, estudos relacionados ao monitoramento da qualidade da água são
importantes para que sejam levantadas questões referentes à sua disponibilidade, pois é
fundamental dispor de água em quantidade e qualidade adequada para uso.
CONCLUSÃO
contrário, permite abrir novas possibilidade de debates para que outros estudos venham a se
realizar sobre essa temática no local.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APHA. American Public Health Association. Standard methods for the examination of water
and wastewater. Washington, D.C, 1998.
CETESB (São Paulo). Qualidade das águas superficiais no estado de São Paulo 2015. Parte 1 –
Águas Doces. 406p. 2016. Disponível em: <http://aguasinteriores.cetesb.sp.gov.br/wp-
Planejamento e análises ambientais - 109
content/uploads/sites/32/2013/11/Cetesb_QualidadeAguasSuperficiais2015_ParteI_25-
07.pdf> Acesso em: 12 fev.2017.
Capítulo 6
INTRODUÇÃO
A Geografia, com suas variadas temáticas, tem a proposta de avaliar não somente
os impactos no ambiente, gerados pelo molde capitalista, mas também colocar em questão,
de forma reflexiva e argumentativa, temas relacionadas à saúde dos indivíduos e seu bem
estar físico e social (SANTOS, 2016).
Pode-se dizer que estudos referentes à poluição atmosférica vêm se desenvolvendo
fortemente desde 1930, por conta de todos os avanços realizados pela ciência, e seu
conhecimento enfático da atmosfera terrestre. Portanto, as questões ambientais ganham
corpo no que se refere aos estudos dos impactos e projeções de um futuro propenso à
escassez de vários elementos naturais, os quais são de suma importância para a continuação
da vida terrestre (SANTOS, 2016) .
8
Este trabalho de pesquisa é fruto de dissertação de mestrado sob o título “A qualidade do ar de Dourados
(MS): uma contribuição aos estudos de clima urbano, com foco no subsistema físico-químico”, realizada na
Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD (SANTOS, 2014a), e publicada parcialmente nos anais dos
eventos IX Seminário Latino-Americano e V Seminário Ibero-Americano de Geografia Física, em Portugal, no
ano de 2016 (SANTOS E SILVA, 2016b).
112
Nesse ínterim, esta pesquisa se baseia nas dinâmicas do tempo e clima que se
estabelecem na cidade de Dourados/MS, e que nos levam a descrição das condições de
dissipação e/ou permanência (concentração) do poluente MP (como indicador de qualidade
do ar) emitidos na atmosfera da cidade, além de trazer à luz do conhecimento o Padrão de
Qualidade do Ar (PQA), sob o parâmetro da resolução CONAMA n° 03/90 (Conselho Nacional
do Meio Ambiente). Outro objetivo desta pesquisa é demonstrar a quantidade de
internações por morbidades hospitalares do CID-10, ou seja, internações por doenças do
aparelho respiratório, segundo dados do DATASUS (Tecnologia da Informação a Serviço do
SUS), disponíveis na base on-line SIH/SUS (Sistema de Informações Hospitalares do SUS).
A cidade de Dourados/MS foi escolhida como local de análise visto o adensamento
populacional e automotivo, e o aumento na instalação de indústrias e outras formas de
produção na região, durante as últimas décadas. Nesse contexto, o estabelecimento de
metas e propostas que visam um ambiente salubre torna-se indispensável.
Diante disso, é necessário que outras análises sejam feitas, ao longo do tempo, com
a temática apontada, para que estas possam confirmar e/ou descartar a suspeita de que os
materiais particulados inaláveis, presentes na atmosfera do ambiente urbano douradense,
são de fato os responsáveis pelas morbidades hospitalares do CID-10.
A cidade de Dourados (Figura 1), por ser a segunda maior cidade do MS, com
população de 196.035 habitantes (IBGE, 2010), e área total de 4.086,244 km², é alvo de
diversos estudos referentes às dinâmicas urbanas e ambientais. Além disso, nas últimas
décadas os meios de produção agroindustriais instalam-se na cidade em número cada vez
maior, e consequentemente a malha urbana passou por recorrentes modificações (SANTOS,
2014a), chamando a atenção de pesquisadores.
Monteiro (1976, p. 95), em sua tese, apresenta o Sistema Clima Urbano (SCU) como
“um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização”, e
acrescenta que “o espaço urbanizado, que se identifica a partir do sítio, constitui o núcleo do
sistema que mantém relações íntimas com o ambiente regional imediato em que se insere”.
E, ainda, salienta que, “seja pela implosão demográfica, seja pela explosão de atividades, os
espaços urbanos passaram a assumir a responsabilidade do impacto máximo da atuação
humana sobre a organização da superfície terrestre e na deterioração do ambiente” (Ibid.,
p.54).
Portanto, no subsistema físico-químico II, a qualidade do ar é o elemento que está
em efetiva evidência às considerações de estudos inerentes aos impactos das emissões e
concentrações de poluentes atmosféricos dentro do ambiente urbano. Sendo profícuo
salientar que as formas degradativas do ambiente e da saúde humana encontram-se
inseridos nesse sistema que é apregoado por Monteiro (1976).
9
Os indicadores e o Índice geral de Qualidade do Ar são descritos pelo CONAMA (2012, p. 476-479) e pela
CETESB (2013, p. 23-24).
Planejamento e análises ambientais - 117
(Figura 2). Os dados foram colhidos nos meses de agosto de 2013 à janeiro de 2014,
abrangendo as estações de inverno, primavera e verão, num total de nove pontos (bairros)
de amostragem, em diferentes dias.
O P311 fez amostragem da quantidade de particulados por meio de contagens,
identificando apenas partículas com diâmetros 0,5µm, 2,5µm e 5,0µm por metro cúbico
(m³). O equipamento possui capacidade de registros de até oito mil amostras, porém não
realiza a coleta de modo automático, sendo necessário haver uma pessoa no local para
operá-lo e obter a amostra.
No momento das amostragem, foi utilizada uma plataforma de ferro zincado para
que o P311 fosse estacionado a uma altura de 1,50 metros (Figura 3), a altura média em que
as pessoas respiram. A cada 5 minutos era dado o start para a amostragem dos MPI´s. Este
procedimento foi executado em três momentos do dia (manhã , início tarde e fim da tarde),
num total de três horas por período (matutino e vespertino), totalizando nove horas de
observação e registro em cada dia.
Analisando a resolução CONAMA 03/90, a mesma indica que partículas inaláveis (na
ordem de 0,0μm a 10μm de diâmetro) têm, por padrão primário e secundário, a
concentração da média aritmética anual de 50 µm/m³ como máxima permitida, e
concentração média de 24 horas de 150 µm/m³, que não deve ser excedida mais de uma
vez no ano.
Assim, como o P311 não é automático , para efeito de obtenção de uma
classificação de concentração preliminar dos MPI´s, optou-se pela adaptação da indicação de
medição do CONAMA 03/90 (24h) para nove horas/dia de observação, em cada local
(pontual e episódica), as quais foram consideradas suficientes para entender a permanência
dos particulados na atmosfera urbana de Dourados.
118
A equação abaixo (SANTOS, 2001 apud SANTOS, 2014a, p. 105) permite calcular a
massa total das partículas contadas pelo equipamento em cada amostra:
.d ³
m . .n
6
Onde:
m = massa da partícula
= constante da equação
6
n = números de partículas medidas, de dada classe de diâmetro (µm)
d = diâmetro médio das partículas de dada classe
ρ = densidade do material que deu origem às partículas (2,65g/cm³)
Planejamento e análises ambientais - 119
Uma vez que o efeito de cada tipo de poeira tóxica inalada depende da região de
deposição, associada com o tamanho das partículas, e da concentração de poeira
no ambiente, pode-se avaliar melhor o risco ocupacional a partir do conhecimento
das concentrações em massa dentro das várias faixas de tamanhos de partículas
que se depositam no trato respiratório. (SANTOS, 2001, p. 33).
Admitindo que o solo é formado basicamente por quartzo, mica, argilas, feldspato e
silicatos coloidais, considera-se que sua densidade média é 2,65g/cm³. Além disso, admite-
se, também de forma geral, que todas as partículas são de formato esférico.
Particle densities for most mineral soils range from 2.60 to 2.75 g/cm3, since the
major portion of soils is usually comprised of quartz, feldspar, micas, and colloidal
silicate clays, with particle densities in the same range. If a soil contains minerals
with high particle densities (e.g., magnetite, garnet, or hornblende), the particle
density may exceed 2.75 g/cm3. Organic matter has a lower particle density,
ranging from 1.1 to 1.4 g/cm3. Surface soils, with higher contents of organic
matter, usually have lower particle densities than subsurface soils. However, for
general calculations, the average soil with 3 to 5 percent organic matter may be
considered to have a particle density of 2.65 g/cm3. (BRADY; WEIL, 1999 apud
BURDEN; SIMS, 1999, p. 5).
A equação abaixo (SANTOS, 2001 apud SANTOS, 2014a, p. 106) é a que permite
calcular a concentração:
m
c
V
Onde:
c = concentração das partículas sobre o local amostrado
m = massa total das partículas contadas
V = volume, em litros, da quantidade de ar que é contraída pelo equipamento de medição (valor de
2,83 litros)
CONAMA nº 03/90 de forma didática e de simples leitura, como demonstra o Quadro 1, com
as devidas adequações para o poluente MPI em voga na pesquisa.
Para a obtenção dos dados quantitativos das morbidades hospitalares e óbitos
totais do CID-10- Doenças do aparelho respiratório, do intervalo de agosto/2013 a
janeiro/2014, foi consultado o DATASUS na base on-line SIH/SUS10, o qual fornece dados
quantitativos reais das internações por deficiência respiratória.
10
No sítio <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/cnv/nims.def>.
Planejamento e análises ambientais - 121
11
Os motivos que levaram a definir os pontos/locais de coleta das amostras na área urbana de Dourados foram
as condições do fluxo de trânsito, cobertura do solo, área central e área de limite com a zona rural.
122
prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem estar humano, bens e materiais, assim como, o
mínimo dano ao meio ambiente em geral, conforme a Resolução CONAMA N° 03/1990.
Analisando a resolução CONAMA 03/1990, nota-se que as partículas inaláveis (na
ordem de 0,0μm a 10μm de diâmetro) tem por padrão primário e secundário uma
concentração média aritmética anual de 50μm³, e uma concentração média de 24 horas de
150 microgramas, que não deve ser excedida mais que uma vez ao ano.
Assim, tomou-se como parâmetros os índices classificatórios de concentração de
MPI da CETESB (2013). Porém, como não foi possível realizar registros de 24 horas (como é o
indicado pelo CONAMA 03/90), devido ao P311 não ser automático, foram realizadas
amostragens de 9 horas para se estabelecer a média de concentração de particulados para
cada ponto/local e média geral, conforme Tabela 1. Para que, assim, se pudesse conjeturar,
de forma inicial, sobre a condição de concentração de MPI para a cidade de Dourados/MS.
Conforme a Tabela 1, os pontos amostrais de concentração diários demonstram
que os pontos 01 (123,97μg/m³) , 02 (55,44μg/m³) e 06 (51,76μg/m³) atingiram valores que
expressam uma qualidade do ar “regular” (Quadro 1. >50 - 150 μg/m³), isso devido ao
grande fluxo de trânsito nos locais e vias com solo exposto, ou seja, ruas de terra (Quadro 2).
No entanto, conforme o CONAMA 03/90, tais pontos se enquadram PQA/PS, apresentando o
mínimo de efeito nocivo à saúde humana e à fauna e flora.
Os pontos 03 (22,68 μg/m³), 04 (33,01 μg/m³), 05 (21,57 μg/m³), 07 (45,34 μg/m³),
08 (15,63 μg/m³) e 09 (27,11 μg/m³), da Tabela 1, apresentam valores que estão abaixo da
concentração que pode causar algum dano crônico ou agudo à saúde (Quadro 1),
enquadrando-se também na classificação de PQA/PS, conforme o CONAMA 03/90.
O Gráfico 1, a seguir, demonstra a proporção de ocorrências de morbidades
hospitalares, isto é, as internações em listagem mensal por tipo de doença do aparelho
respiratório (CID-10). Sabendo que o total das enfermidades relacionadas às deficiências do
trato respiratório é de 922 internações, deste total, 118 óbitos foram constatados.
Salienta-se que, no mês de agosto, o número de ocorrências das morbidades foi
mais elevado. Trata-se de um mês da estação de inverno, na qual as condições dos tipos de
tempo são caracterizadas pela alternância de massas tropicais e polares, por períodos de
estiagem prolongados, além de apresentar baixos índices de umidade relativa, que
favorecem a concentração de partículas sólidas no ar.
Planejamento e análises ambientais - 125
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), maio/2016. apud SANTOS; SILVA ,
2016, p.988.
Dessa forma, o Quadro 3 demonstra que os meses que obtiveram maior número de
internações hospitalares do CID-10 foram agosto/2013, com 218, e setembro/2013, com 116
internações, coincidindo com a estação de inverno, a qual se caracteriza pela estabilidade do
tempo influenciada pelas massas de ar de alta pressão. De outubro/2013 a janeiro/2014,
constata-se a diminuição dos casos hospitalares; os meses compreendem as estações de
primavera e verão (influência da baixa pressão). Entretanto, o maior número de óbitos
mensais deu-se no mês de dezembro/2013, com um total de 28 mortes, seguido do mês de
agosto/2013, com 25 mortes, outubro com 20, setembro com 17, janeiro com 15 e
novembro com 13 óbitos.
Analisando os dados totais de morbidade/óbito do Quadro 3, o maior número de
morbidades do CID-10 deu-se em agosto (inverno), porém, os dados amostrais de
concentração de MPI descritos no Quadro 2 demonstram que houve apenas um ponto/local
com concentração “regular” (Quadro 1. >50 - 150 μg/m³) no mesmo mês. Outras duas
recorrências de concentração “regular” (Quadro 1. >50 - 150 μg/m³) ocorreram apenas no
mês de janeiro (fim do verão, início do outono), quando o número de internações foi o
menor do período.
Acrescenta-se que, mesmo que por meio das amostragens estabelecidas nesta
pesquisa não se possa fazer, ainda, uma correlação direta da poluição atmosférica com as
deficiências do aparelho respiratório, a presente pesquisa indica que os mesmos podem
afetar de forma deletéria e irreversível a saúde humana.
Nesse momento, o que se percebe com clareza é a necessidade de compreender
como vêm se estabelecendo a produção e o adensamento das áreas urbanas das cidades do
Brasil continental, e como isso tem correlação com a qualidade do ar e, por consequência,
com a saúde da população –o que até o presente momento vem sendo negligenciado.
Os estudos estatísticos do Programa Nacional de Racionalização do Uso dos
Derivados do Petróleo e do Gás Natural - CONPET (2006), no Brasil, evidenciam a associação
de poluentes (em específico o material particulado - MP) com as crescentes admissões das
internações nos hospitais – morbidades hospitalares –, tanto de adultos como de crianças.
As evidências mostram-se de forma concreta, ainda mais quando se destaca as elevações
dos casos de agravamento do sistema respiratório por patologia asmática, existência de
doenças pulmonares obstrutivas crônicas, pneumonias, infecções do aparelho respiratório
superior, insuficiência cardíaca, além de arritmias cardíacas diversas.
Planejamento e análises ambientais - 127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
do padrão exigido pela Legislação Federal, isto é, pode ser classificado como adequado,
levando em consideração as nove amostragens de concentração levantadas entre agosto de
2013 e janeiro de 2014.
Contudo, mesmo que, ao final do estudo, tenha-se demonstrado que o poluente
MPI está dentro do que é considerado “normal” ou “bom” (Quadro 1), com concentração de
44,05 μg/m³ no período amostrado (Tabela 1), é sem sombra de dúvida que os autores
afirmam que a saúde humana pode ser prejudicada por tais poluentes. No entanto, pondera-
se que os efeitos variam segundo o tempo de exposição, a dispersão dos contaminantes do
ar causada por elementos meteorológicos, a condição climática sazonal do local e até
mesmo por conta da principal atividade econômica da cidade, que é agrícola e, portanto,
apresenta grandes locais com solo descoberto para plantio e colheita das culturas. Vale dizer
que tais características se repetem em muitas cidades de pequeno e médio porte do Brasil
continental, principalmente naquelas onde as dinâmicas territoriais estão intimamente
ligadas ao agronegócio e ao plantio de monoculturas e/ou agropecuária extensiva – estas
áreas também sofrem com queimadas rotineiras, que contribuem para a piora da qualidade
do ar e afetam a saúde.
É a partir desse cenário que se pretende chamar a atenção do poder público
municipal para o estabelecimento de pesquisas e políticas públicas relacionadas às emissões
e concentrações de poluentes no ar havendo ou não correlação com as morbidades
hospitalares decorrentes do CID-10. Destaca-se que, conforme dados divulgados pelo
SIH/SUS para o período amostrado (de agosto/2013 a janeiro/2014), houve 922 internações,
sendo que desse total, 118 foram óbitos por deficiência respiratória. Objetiva-se, assim, que
o governo municipal de Dourados /MS possa estabelecer mitigações inerentes ao PQA e,
consequentemente, promover a qualidade de vida a todos os habitantes da cidade, sem
inibir o desenvolvimento econômico e industrial. De fato, busca-se com esta pesquisa
contribuir para a implementação de elementos que possam auxiliar na proposição de
normativas e prerrogativas que minimizem os impactos ambientais, neste caso,
especificamente representado pela qualidade do ar.
Planejamento e análises ambientais - 129
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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65-91, 1992.
132
Planejamento e análises ambientais - 133
Capítulo 7
NTRODUCCIÓN
Es por ello que desde inicios de este siglo XXI, a nivel mundial, numerosos
organismos internacionales han lanzado una alerta sobre el incremento de los desastres
naturales, acelerados por las actividades humanas inadecuadas e irresponsables, y han
convocado a la comunidad científica a trabajar arduamente en la búsqueda de soluciones de
adaptación y mitigación a los impactos causados por estas catástrofes, que deben
incrementarse con el Cambio Climático.
Las inundaciones son una amenaza constante y constituyen un fenómeno que se
puede desencadenar de forma rápida y repentina (UNEP-GEAS, 2012), siendo causante de
numerosos desastres a nivel mundial, ocasionando anualmente miles de muertes y millones
de dólares en pérdidas económicas por daños (CHANDRASEKAR; CIFELLI, 2012). Desde una
perspectiva antropocéntrica, se puede definir, de forma general, a las inundaciones como la
presencia de agua sobre el terreno en lugares, formas y tiempos que resultan inadecuados
para las actividades humanas, por lo que producen afectaciones económicas, sociales y
ambientales (PAOLI; DONDEYNAZ; CARMONA-MORENO, 2015).
Las inundaciones son fenómenos hidrológicos recurrentes y potencialmente
destructivos, que hacen parte de la dinámica de evolución de una corriente. Pueden
producirse por lluvias intensas o no tan intensas, pero de muy larga duración, las cuales van
aumentando progresivamente los caudales de las corrientes y con ello la altura de las aguas
hasta que estas rebasan los límites que imponen las orillas del cauce. En dependencia de
muchos factores, pero principalmente del tamaño, forma y relieve de la cuenca receptora,
estas inundaciones tendrán un mayor o menor tiempo de ocurrencia a partir del inicio de las
precipitaciones. Cuencas tendientes a la circularidad (factor de forma cercano a la unidad),
con un área muy grande y pendiente media elevada, desarrollarán crecidas e inundaciones
muy rápidas y extensas.
De ahí, que en los ríos que corren en zonas llanas las inundaciones serán lentas, con
incrementos diarios del nivel de las aguas del orden de centímetros y por lo general
afectando grandes áreas, pero no deben ocasionar pérdidas humanas de envergadura. Todo
lo contrario sucede en cuencas de piedemonte o de montaña, donde debido a su dinámica
temporal, la velocidad de la corriente es alta. Aquí, las inundaciones causan numerosas
pérdidas humanas, aunque su área de afectación pueda ser menor, al igual que el tiempo de
permanecía de las áreas inundadas, algo que comparten autores como Goerl e Kobiyama
Planejamento e análises ambientais - 135
(2005) al considerar que cuanto mayor es la velocidad de la corriente, aunque esta no sea
muy alta, mayor será el daño.
Por tal motivo, el presente estudio se dirigió a presentar una metodología que
permite, a partir del Modelo Digital del Terreno (MDT) y del uso del software libre SAGA GIS,
en su versión 2.2.2, cartografiar y categorizar la vulnerabilidad a las inundaciones fluviales
ante intensas y/o prolongadas lluvias en dos casos de estudio. Aunque los casos pudieran
parecer muy diferentes, y además de que fueron estudiados aplicando una metodología
innovadora y de probada eficacia, tienen como características similares ser territorios
tropicales, en países subdesarrollados y cuya vulnerabilidad está asociada en gran medida
al manejo inadecuado y la transformación de las condiciones naturales que vienen
realizando las comunidades humanas que los habitan desde hace más de 100 años.
En el primer caso, las inundaciones están asociadas con la elevada deforestación en
las vertientes del piedemonte andino, lo que provoca un intenso proceso de sedimentación
de los ríos de la llanura amazónica, que altera la morfología de sus cauces, la dinámica fluvial
y provoca un mayor número de desbordes. Este proceso de deforestación acelera los
abarrancamientos durante la temporada de lluvias y hace que los ríos, cuando llegan a la
llanura amazónica, estén cargados de sedimentos (ANA-DCPRH-Aguas Superficiales, 2010) y,
por tanto, aumente la vulnerabilidad a las inundaciones – incrementadas en esta región de
Madre de Dios por la llamada “minería artesanal” o “pequeña minería”, especialmente
asociada con la extracción de oro (Figura 1).
(A)-Inforregion (2014a); (B)-Perú21 (2015); (C)- El Comercio (2014); (D)- Inforregion (2014b).
136
MATERIALES Y MÉTODOS
de los SIG tienen herramientas y hasta módulos completos para el trabajo hidrológico, tal es
el caso del SAGA GIS, una plataforma GIS dedicada al análisis espacial, con una gran cantidad
de herramientas para la modelación hidrológica y una estrategia de programación que le
imprime alta velocidad a sus procedimientos de cálculo.
La metodología y los materiales empleados en el presente estudio responden a las
indudables ventajas que presenta la incorporación de los Sistemas de Información
Geográfica (SIG), la Teledetección y el Procesamiento Digital de Imágenes en la modelización
hidrológica.
La gran mayoría de los autores concuerdan en que estas herramientas proporcionan
un cálculo más preciso de los parámetros físicos necesarios para operar con los modelos
hidrológicos y que hay un aumento de la resolución espacial de trabajo a todos los niveles,
siendo posible el análisis de la variación espacial de factores como los coeficientes de
escorrentía o similares, que hasta ahora fueron considerados como parámetros de valor
único constante (OLAYA, 2004).
De la misma forma es muy importante el análisis de la variación espacial de la
precipitación, hasta ahora considerada como elemento constante y estático, lo cual permite
un análisis de las diferentes intensidades de precipitación para los distintos puntos de una
cuenca. Todos estos avances posibilitaron la aparición de nuevos enfoques, tales como
modelos plenamente distribuidos o recursos y técnicas nuevas, basadas en el conocimiento
exhaustivo del medio físico, en el que se desarrollan los fenómenos hidrológicos.
Dentro de este tipo de estudio, la determinación de las zonas susceptibles de
inundación ante intensas y/o prolongadas lluvias va a tener al relieve como factor
fundamental, ya que controla en primera instancia la dirección del flujo de las aguas y los
espacios donde estas se acumulan, así como el tiempo de permanencia de las aguas en el
área inundada.
La metodología aplicada en el presente trabajo toma en cuenta esas consideraciones
y se basa en el MDT y algunas técnicas y/o herramientas implementadas en la versión 2.2.2
del SAGA para lograr la obtención del mapa de susceptibilidad a las inundaciones fluviales en
un territorio determinado. La elección de este software estuvo motivada por el hecho de su
amplio espectro de herramientas destinadas a los estudios y caracterización del relieve y de
la hidrología de una cuenca fluvial, además de ser libre y asimilar grandes volúmenes de
Planejamento e análises ambientais - 139
datos y procesarlos de una forma muy rápida, incluso en ordenadores de no muy altas
prestaciones.
En la Figura 2 se presenta la metodología empleada a partir de considerar como
elemento fundamental contar con un MDT de buena calidad (precisión) en correspondencia
con la escala de trabajo requerida. Dicho modelo, una vez ajustado, se corrige
hidrológicamente, algo que en muchos estudios es obviado y que es, en gran medida, lo que
asegura la precisión y exactitud que tengan los diferentes productos del procesamiento del
modelo con las herramientas SIG.
140
Criterios geomorfológicos
1. Depresiones Cerradas (CD): Las depresiones del relieve no kársticas, son zonas
potencialmente susceptibles a ser inundadas. Estas formas incluyen depresiones
dentro de otras depresiones (depresiones anidadas) o morfologías de tipo llano
hundidas sobre el nivel general y que ante la presencia de intensas o prolongadas
precipitaciones acumulan las aguas de escorrentía.
2. Distancia Vertical a la Red de Drenaje (VD): Es la distancia vertical desde la red de
drenaje hacia las alturas colindantes, lo que desde el punto de vista geomorfológico,
se puede correlacionar con los diferentes planos de inundación de los cauces y nos
da, según su valor, el nivel de proximidad al cauce del río.
Criterios hidrológicos
1. Área de Captación Modificada (MCA): Es el área que recibe una cantidad de flujo que
se acumula por unidad de área, por lo cual representa un factor de mucha
importancia para describir las inundaciones.
2. Escurrimiento (Runoff-overland flow D8): Se forma cuando las precipitaciones son
superiores a la capacidad de infiltración del suelo debido a la alta humedad del
terreno, lo que provoca la sobresaturación. La relevancia de este factor lo corrobora
la extensa literatura al respecto y, sin duda, es un parámetro muy importante para el
análisis de las inundaciones, pues representa la lámina de agua que circula sobre la
superficie en una cuenca de drenaje determinada.
142
Donde:
Vi-valor de cada celda del mapa raster
µ-media aritmética de los valores de todas las celdas del mapa raster
σ-desviación típica de los valores de todas las celdas del mapa raster
Con la tipificación, se logran estandarizar los valores de cada mapa y a partir de sus
estadígrafos, los valores por debajo de la media aritmética serán negativos y por encima de
la media serán positivos.
Con todos los mapas de los factores tipificados, se obtiene el mapa del Índice de
Contraste Hidromorfométrico (MIC) a partir de su suma lineal ponderada (Ecuación 2).
Donde:
CD: Depresiones cerradas
VD: Distancia vertical a la red de drenaje
MCA: Área de captación modificada
D8: Escurrimiento (Runoff)
Planejamento e análises ambientais - 143
Cuadro 1: Metodología para la determinación de las desviaciones típicas para la reclasificación de los datos
Categoría de susceptibilidad a Rango de la categoría Fórmula de
las inundaciones Desde Hasta cálculo
No susceptible Valor mínimo (Vmin) Valor medio (µ) + una Vmin - µ + (σ)
desviación típica (σ)
Poco susceptible Valor medio (µ) + una Valor medio (µ) + dos µ + (σ) - µ + (2σ)
desviación típica (σ) desviaciones típicas (2σ)
Valor medio (µ) + dos Valor medio (µ) + tres µ + (2σ) - µ + (3σ)
Medianamente susceptible desviaciones típicas desviaciones típicas (3σ)
(2σ)
Valor medio (µ) + tres Valor máximo (Vmax) µ + (3σ) - Vmax
Altamente susceptible desviaciones típicas
(3σ)
Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.
RESULTADOS
Figura 3: Situación geográfica de la unidad hidrográfica Madre de Dios en el piedemonte andino de Perú
Nota: en el mapa de la parte superior izquierda, los números romanos Ej. I, II, III,… se corresponden con las 14
unidades hidrográficas de Perú.
Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.
Figura 4: Resultados de los diferentes mapas obtenidos durante el procesamiento, mostrando un área de
detalle en las inmediaciones de la ciudad de Puerto Maldonado (círculo en amarillo)
Figura 5. Áreas susceptibles a las inundaciones fluviales en la unidad hidrográfica Madre de Dios, Perú
Dada la escala del mapa y el área que abarca, se creyó conveniente ilustrar la
utilidad y precisión del mismo, a partir de un detalle de la zona que comprende la ciudad de
Puerto Maldonado (Figura 6).
Es sintomático como en su fundación el núcleo de la ciudad se situó en un lugar
donde no estaría expuesto a las inundaciones, pero a medida que la ciudad fue creciendo,
ocupó áreas medianamente susceptibles a las inundaciones y con ello, aumentó su
vulnerabilidad a las inundaciones pluviales que con frecuencia se originan en esta región,
producto de fuertes y/o prolongadas lluvias.
En el mes de agosto del 2016, los autores pudieron comprobar in situ el grado de
correspondencia de los límites para cada una de las categorías en la ciudad, resultado de
gran exactitud, obtenido a partir de la confrontación con especialistas y personas que
habitan el territorio.
Figura 6: Detalle de la ciudad de Puerto Maldonado en la unidad hidrográfica Madre de Dios, Perú, y sus
diferentes categorías de susceptibilidad a las inundaciones fluviales
A partir de las curvas de nivel con equidistancia 2,5 metros, se obtuvo el Modelo
Digital del Terreno, aplicando para esto tres métodos de interpolación diferentes, que
fueron: Topo to raster, ArcGis, Mínima Curvatura (Mapinfo) y Spline (SAGA). Además, se
ajustó el tamaño de celda en la interpolación, a partir de los criterios de uso frecuente en la
literatura internacional (ESRI, 2011) y Discover Mapinfo (2013), y la selección del mejor
modelo interpolado se realizó mediante el ajuste de las curvas de nivel (Olivera, 2015),
resultando el más aceptado estudio realizado por la interpolación de Mínima Curvatura
(Figura 8):
Planejamento e análises ambientais - 149
Figura 8: Modelo digital del terreno de la cuenca del Río Cojímar (pixel de 5 x 5 m)
Figura 9: Índice topográfico de humedad de la cuenca del Río Cojímar, Cuba (SAGA)
importante, como se observa en la Figura 10, en la que las zonas en rojo tienen valores por
encima del valor medio y representan aquellas zonas con mayor posibilidad de ser afectadas
por una inundación.
Las depresiones del relieve no cárstico son zonas potencialmente susceptibles a ser
inundadas. Estas depresiones representan las zonas más bajas desde el punto de vista
Planejamento e análises ambientais - 153
Figura 15: Histograma resultante del procesamiento de los valores del índice de contrate
Figura 16: Áreas susceptibles a inundaciones fluviales ante la ocurrencia de lluvias intensas o prolongadas
Los resultados obtenidos con la aplicación de estas herramientas, para la cuenca del
Río Cojímar en Cuba, fueron contrastados con los datos históricos de estudios anteriores y
con la verificación de campo. Por ende, se comparó el mapa resultante de este estudio con
Planejamento e análises ambientais - 157
CONCLUSIONES
En la cuenca del Río Cojímar, en Cuba, las inundaciones asociadas con eventos
meteorológicos extremos (huracanes y frentes fríos) son frecuentes y causan importantes
afectaciones económicas y sociales, por lo que contar con una metodología efectiva para su
pronóstico tiene un alto valor y contribuye a establecer un sistema de alerta temprana ante
lluvias fuertes y/o prolongadas.
La efectividad de la metodología que se propone quedó demostrada en ambas
cuencas, a pesar de sus significativas diferencias en cuanto a dimensiones y grado de
transformación antrópica, dato que apunta hacia a una buena aplicabilidad de la misma en
diversos escenarios.
AGRADECIMIENTOS
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160
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Planejamento e análises ambientais - 161
Capítulo 8
INTRODUÇÃO
12
Composto organofosforado, especificamente um fosfonato. É usado para matar ervas daninha,
especialmente ervas daninhas folhosas perenes, e gramíneas que competem com as culturas.
13
Desvio do curso do ar atmosférico.
Planejamento e análises ambientais - 163
14
Segundo informações das usinas existentes no Pontal do Paranapanema, os herbicidas e, em especial, o
glyfosato, deixaram de ser utilizados na pulverização aérea nos últimos anos.
15
Informações obtidas junto à empresa que fornece as larvas e compra os casulos do bicho-da-seda.
16
Instrução Normativa 02/2008, Art. 10 - Prática de pulverização aérea dos agrotóxicos no Brasil.
170
Figura 3 – Perda parcial (a) e total (b) da criação do bicho-da-seda em lotes dos assentamentos do
20
Pontal do Paranapanema
17
Portaria Normativa IBAMA nº 84 de 15/10/1996, com prazo de três anos para adequação das atividades pré-
existentes que façam uso de produtos das classes I, II e III.
18
Verificação efetuada nas usinas instaladas na UGRHI – 22.
19
Os inseticidas Certero (Triflumurom), Altacor (Clorantratraniliprole), Actara (Triamethoxam), Curbix (Etiprole)
e os maturadores Moddus (Trinexapac), Ethrel 720 (Ethefon), Curavial (Sulfometuron methil) e Ampligo
(Piretroide)
20
Constatações efetuadas nos trabalhos de campo. Fotos da produção perdida no município de Sandovalina –
SP.
Planejamento e análises ambientais - 171
Figura 5 – Árvores isoladas dissecadas em meio a canavial (a) e, pulverização aérea sobre
área de preservação permanente (b)
21
Figura 6 – Abastecimento das aeronaves agrícolas com calda de agrotóxicos
21
Constatações efetuadas nos trabalhos de campo.
172
OBJETIVO
METODOLOGIA
A aviação agrícola tem se tornado cada vez mais difundida na agricultura brasileira,
principalmente com a expansão das áreas cultivadas, pois esta ferramenta possibilita a
pulverização de agroquímicos em áreas de lavouras com grandes extensões em tempo
reduzido. No entanto, acompanhando o crescimento da utilização desta tecnologia, nota-se
que houve um aumento de críticas e estudos relacionados aos graves problemas ambientais
e de saúde humana oriundos desta prática, especialmente pelos eventos da deriva, que
podem arrastar as partículas dos agrotóxicos a longas distâncias do alvo, ou seja, das
lavouras pulverizadas.
Os fatores climáticos que devem ser considerados para a pulverização são a
umidade relativa do ar, a temperatura do ar atmosférico e a velocidade dos ventos,
definidos em bula para cada tipo de agrotóxico. Naime, Franco e Neto (2014) apontam que
atualmente o resultado das pulverizações aéreas é avaliado somente após execução, sem
qualquer recurso para monitorar a ação em tempo real, reforçando, ainda, que vento,
temperatura do ar, turbulência sob a asa do avião e distribuição das gotas são fatores de
maior influência sobre a deriva. A Instrução Normativa 2/2008, do MAPA, exige que nos
relatórios operacionais seja demonstrada a direção predominante dos ventos, bem como
dos tiros22 de aplicação. A velocidade do vento poderá influenciar diretamente no arraste
das gotículas pulverizadas, transportando-as para fora da área alvo. Temperaturas elevadas
e baixa umidade do ar podem acarretar na evaporação do produto aspergido, mantendo-os
em suspensão na atmosfera até que, ganhando umidade novamente, podem precipitar na
forma de orvalho ou de chuva a longas distâncias da cultura tratada.
22
Direção em que a aeronave realiza o voo, pulverizando os defensivos.
Planejamento e análises ambientais - 173
Tabela 2: Parâmetros meteorológicos considerados para análise das condições de voos na aplicação dos
agrotóxicos e recomendo pelos fabricantes
Verifica-se, então, que os parâmetros climáticos são diferentes para cada produto a
ser aplicado, mas com uma proximidade entre os valores dos elementos atmosféricos. De
posse dos dados meteorológicos das estações e dos parâmetros meteorológicos
considerados para análise das condições de voos na aplicação dos agrotóxicos e recomendo
pelos fabricantes (Tabela 2), passou-se a analisar as leituras favoráveis à pulverização aérea
de cada produto. Para tanto, considerando que todos os paramentos devem estar favoráveis
para que o produto possa ser pulverizado, as células nas planilhas digitais com leituras
favoráveis foram sendo marcadas em verde e aquelas com leituras desfavoráveis, em
vermelho. As linhas que não tiveram nenhuma célula marcada com a cor vermelha foi
considerada como favorável à pulverização aérea, sendo toda a linha marcada na cor verde,
conforme exemplificado adiante (Quadro 1).
23
Parâmetros Meteorológicos conforme Parecer Técnico apresentado pela UNICA ao Ministério Público
Estadual.
176
V Vent. V Rajad.
Mês Dia Hora T (°C) UR (%)
(km/H) (km/H)
RESULTADOS
Nas análises efetuadas com os dados obtidos nas estações meteorológicas, pode-se
perceber que os parâmetros umidade relativa do ar e temperatura do ar apresentam
variação uniforme no decorrer do tempo, sendo, portanto, previsível e de mais fácil controle
durante as operações (Figuras 7 e 8). Já os parâmetros velocidade e direção dos ventos
apresentam grande variação no tempo cronológico, oscilando repentinamente, o que o
torna imprevisível.
Figura 8 – Dados levantados de hora em hora na EMOSA de Presidente Prudente, no dia 16 jan. 2015
condições de aplicação de agrotóxicos via aérea. Por vezes, verificou-se que a velocidade do
vento no momento da leitura apresentava-se favorável para determinado produto, mas a
velocidade máxima da rajada registrada no período entre leituras ultrapassou
consideravelmente o parâmetro estipulado pela bula do agrotóxico. No caso da velocidade
de rajada, a estação apresenta tão somente a maior velocidade alcançada no intervalo entre
os registros, assim, não é possível avaliar quantas vezes a velocidade do vento ultrapassou o
limite estabelecido pela bula, somente que ultrapassou.
Tais características geram condições de risco muito grandes, já que, se no momento
em que operador estiver pulverizando o veneno ocorrer uma rajada acima dos parâmetros
definidos em bula, a formação da deriva será inevitável, podendo arrastar o agrotóxico fora
da área alvo, com o risco de atingir a flora e a fauna nativas, recursos hídricos, animais
domésticos, culturas sensíveis ao agrotóxico pulverizado e, mesmo, populações humanas. O
inverso também foi verificado, ou seja, em diversos momentos, a velocidade do vento se
reduz abaixo dos limites mínimos, o que pode dificultar a precipitação das gotículas do
veneno pulverizado, aumentado o tempo de suspensão na atmosfera. A direção dos ventos
ainda constitui elemento climático deveras importante, mas também muito instável. Assim
como a velocidade dos ventos, a sua direção oscila com muita frequência e, dependendo do
sentido que toma, lança as gotas dos produtos químicos em áreas fora do alvo. A junção dos
três parâmetros climáticos favoráveis no mesmo momento se deu em poucas oportunidades
e, quando ocorreu, se deu em curtos espaços de tempo (minutos) ao longo do dia.
Durante as madrugadas foram os momentos em que as condições climáticas se
apresentaram mais favoráveis e com longos períodos propícios à pulverização aérea de
agrotóxicos, porém, as restrições da aviação civil (RBAC 137) impossibilitam a prática da
atividade sem luz natural, salvo autorização expressa do órgão responsável. Outros horários
que apresentaram alguma possibilidade de utilização das operações aeroagrícolas foram às
primeiras horas da manhã e no final da tarde, mas ainda assim, em curtos períodos de
tempo. A Figura 9 ilustra os percentuais de leituras de registros meteorológicos favoráveis
para os dados analisados para cada produto químico, considerando os períodos integrais de
medição, ou seja, as 24 horas do dia, conforme o parecer técnico da UNICA. Com os dados
tabulados, é possível observar que o maior percentual alcançado foi para o inseticida
Certero, na EMOSA de Sandovalina, com a ressalva de que tal produto não apresenta limite
mínimo para a velocidade do vento, e por isso, acumula maior número de leituras favoráveis
180
CONCLUSÃO
vento coincidem com taxas favoráveis, conforme os limites estabelecidos pelas respectivas
bulas, são reduzidíssimos. A velocidade do vento é o fator de maior imprevisibilidade,
tornando-se o fator de maior limitação. A direção do vento em superfície também é
imprevisível, aumentando o nível de risco de deriva durante as operações aeroagrícolas.
Assim, é possível afirmar que as técnicas de controle e redução da deriva, ainda
que venham sendo aprimoradas ao longo dos anos, são ineficazes caso as condições
meteorológicas não sejam adequadas.
Considerando que é princípio constitucional a manutenção de um ambiente sadio e
equilibrado para as presentes e futuras gerações, e a aspersão aérea de agrotóxicos é fator
limitante para que se alcance tal objetivo, a prática da pulverização aérea deve ser
reavaliada no Pontal do Paranapanema. Tal conclusão é baseada em todos os fatores
expostos nesta pesquisa, em que se verificou a impossibilidade do atendimento aos
requisitos climáticos mínimos exigidos para que a pulverização aérea de agrotóxicos seja
praticada com segurança, especialmente quanto ao fator velocidade dos ventos. Reforça
essa conclusão os relatos de produtores de diversas culturas, que apontam que os
problemas em suas atividades passaram a ocorrer após a visualização dos aviões
pulverizadores operando nos canaviais.
Não é por acaso que a União Europeia, por meio da Diretiva 128/2009, de 21 de
outubro de 2009, decidiu que:
Agradecemos aos professores da UNESP, Prof. Dr. Raul Borges Guimarães e Prof. Dr.
José Tadeu Garcia Tommaselli, pelo empréstimo da EMOSA, instalada no município de
Sandavalina, e pelos dados das EMOSA, de Presidente Prudente e Paranapoema.
Planejamento e análises ambientais - 183
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Planejamento e análises ambientais - 185
Capítulo 9
INTRODUÇÃO
24
RIBEIRO, 2017.
186
Para a análise que propomos neste trabalho, sobre o uso e ocupação da terra, é
adequado utilizar técnicas de coleta, tratamento, análise de dados e geração de mapas para,
posteriormente, confrontar com os dados existentes, sobretudo aqueles levantados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE por meio dos Censos Agropecuários.
Primeiramente, definimos a área a ser estudada, o município de Bonito/MS,
inserido no Planalto da Bodoquena. Além do acúmulo de pesquisas que temos na área,
desperta-nos a atenção para o aumento significativos das lavouras de soja/milho, o que traz
preocupações por diversos fatores, o principal deles, e de certa maneira conectado com os
demais, é que a região é uma área cárstica com rios de águas extremamente transparentes,
com um nível de exploração turística alto, como nos mostra Boggiani et al (2002):
25
No caso do ArcGis, o banco de dados é o Geodatabase, que segundo Esri (2015), “armazena dados
georreferenciados em um local central para fácil acesso e gerenciamento. Ele pode ser utilizado em ambientes
de desktop, servidor ou móveis. Ele fica configurado em sistema de banco de dados, como o SQL Server, Oracle
ou PostgreSQL, e suporta todos os tipos de dados SIG.”
188
layouts, e o segundo para tratamento e classificação das imagens de satélites e dos dados de
altimetria; lembrando que os dois softwares apresentam compatibilidade entre seus
formatos de arquivo, o que facilita no momento dos processamentos.
A criação do Geodatabase implica, principalmente, na definição do que será feito,
pois é necessário adquirir os dados de fontes confiáveis e testá-los para ver se o resultado
será satisfatório. Devido a isso, optamos por trabalhar somente com shapefiles26 de fontes
oficiais e com procedência já conhecida, ou dados elaborados pelo próprio autor. Com isso
definido, partimos para a delimitação da malha municipal, que é disponibilizada pelo IBGE 27
e que serviu como base para ajuste de todos os demais dados.
A hidrografia é disponibilizada pelo Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do
Sul – IMASUL28 em parceria com a Agência Nacional de Águas – ANA, e necessitou apenas de
ajustes em alguns nomes de rios ou córregos, que foram feitos com o apoio das cartas
topográficas do Exército. As rodovias disponibilizadas no formato shapefile são de péssima
qualidade, então, como esta feição é importante para o trabalho, optamos por digitalizar
sobre as imagens do Google Earth e importar no ArcGis. A delimitação do Parque Nacional
da Serra da Bodoquena - PNSBd é fornecida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade – ICMBio29. Os dados referentes aos solos foram fornecidos pelo Zoneamento
Ecológico-Econômico do Mato Grosso do Sul – ZEE-MS30.
Com os dados armazenados no computador, foi necessário convertê-los para o
sistema de coordenadas padrão do nosso Geodatabase, definido como geográficas e Datum
SIRGAS2000. Todos os dados foram recortados pelo polígono do município de Bonito e
armazenados no BD com o sistema de coordenadas padrão, organizados conforme seu
tema. O próximo passo foi selecionar as imagens para o período estipulado e começar os
trabalhos de tratamento e classificação no ENVI.
Ao utilizar imagens de satélite, é preciso escolher, para cada período, o satélite e
sensor a ser usado. No caso deste trabalho, não tínhamos muitas opções, pois precisávamos
de imagens gratuitas e com disponibilidade das décadas de 1980, 1990, 2000 e atual, para
26
Formato padrão do ArcGis e compatível com todos os Sistemas de Informação Geográfica, passível de ser
utilizado também no ENVI, sistema utilizado na pesquisa.
27
Disponível em: <http://downloads.ibge.gov.br/downloads_geociencias.htm>. Acesso em: 10 dez. 2014.
28
Disponível em: <http://sisla.imasul.ms.gov.br/Downloads/dados_complementares/>. Acesso em: 10
jan.2015.
29
Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/servicos/geoprocessamento/51-menu-servicos/4004-
downloads-mapa-tematico-e-dados-geoestatisticos-das-uc-s.html>. Acesso em: 08 jan. 2015.
30
Disponível em: <http://www.zee.ms.gov.br/>. - Acesso em: 12 jan. 2015.
Planejamento e análises ambientais - 189
fazer a análise temporal do plantio de soja/milho na área. Com tais características, tínhamos
apenas as imagens do Satélite Landsat 5 TM para as décadas de 1980, 1990 e 2000, e o
Landsat 8 OLI para as imagens atuais, que são imagens multiespectrais com resolução de 30
metros. Este intervalo foi definido levando em consideração o surgimento das lavouras no
município.
Imagens com qualidade para um bom levantamento são raras, ainda mais em casos
que envolvem mais de uma cena. Neste trabalho, utilizamos o site do United States
Geological Survey - USGS31, que além de oferecer mais opções de busca, disponibiliza cenas
com um arquivo chamado “*_MTL.txt”, que permite fazer Radiometric Calibration32 e Dark
Subtraction33 na imagem, de forma automática, procedimentos necessários para corrigir
algumas imperfeições das imagens antes da classificação.
Com base nos parâmetros discutidos, começamos a busca para encontrar imagens
que estivessem dentro da qualidade necessária para identificação dos atributos que o
trabalho exigia, até definirmos as cenas que se aproximam do ideal para o levantamento.
Depois de várias tentativas, optamos pelas imagens de março de 1987, janeiro de 1992,
janeiro de 2004 e julho de 2016, sendo as cenas 226-74 e 226-75 as que cobrem a área de
estudo.
Com as imagens arquivadas no computador, começamos a parte de pré-
processamento, para correção de pequenos ruídos e imperfeições das bandas. Para isso,
utilizamos a calibração radiométrica, que visa corrigir pincipalmente ruídos causados por
defasagem dos sensores. Na sequência, foi feita a correção atmosférica de subtração do
pixel escuro, que tem como principal objetivo minimizar os efeitos atmosféricos em uma
cena.
Feitas as correções iniciamos os trabalhos com as cenas que já estavam aptas à
classificação. No entanto, devido às duas cenas abrangerem uma área muito grande, foi
necessário o recorte pelo polígono do município de Bonito/MS a fim de extrair apenas a área
de estudo, agilizando o processo. Como se tratava de duas cenas, seria necessário efetuar o
31
Disponível em: <http://glovis.usgs.gov/>. - Acesso periodicamente de: 10 nov. 2014 a 10 jan. 2015.
32
A calibração radiométrica recalcula os números digitais numa imagem com base em vários fatores, tais como
o tempo de exposição, valores conhecidos para o sombreamento da câmara com base em observações de
campo plano, corrente escura (corrente de saída de um detector quando nenhuma energia é incidente no
detector, como quando o obturador está fechado), e outros fatores que descrevem o design eletrônico
exclusivo e as características de um sistema de imagem. EXELIS (2015).
33
A subtração de pixel escuro é utilizada para remover os efeitos de espalhamento atmosférico de uma
imagem, subtraindo um valor de pixel que representa a assinatura de fundo de cada banda. EXELIS (2015).
190
mosaico e depois o recorte, mas o procedimento não se mostrou eficaz e foi preciso, então,
fazer o recorte individual e em seguida o mosaico34 das cenas.
Como o ENVI trabalha com todas as bandas do Landsat, apenas no momento da
classificação é que foi preciso definir as bandas a serem trabalhadas. Nesse momento,
optamos, no sensor TM, pelas bandas 5R, 4G e 3B, e para o sensor OLI, pelas bandas 6R, 5G
e 4B. Como as características dos dois satélites são diferentes, alterando os comprimentos
de onda entre as bandas (Quadro 1), as composições se mostraram eficientes para o
mapeamento da cobertura da terra.
34
Para efetuar o mosaico, utilizamos a ferramenta Seamless Mosaic do ENVI que apresenta um ótimo
resultado,pois ajusta o histograma de uma imagem baseada na outra evitando diferenças de tonalidades entre
as cenas.
Planejamento e análises ambientais - 191
Para a classificação das imagens, foi preciso, primeiro, definir as classes de uso que seriam
utilizadas para padronização de todos os períodos. Com base neste fator e na análise prévia das
imagens, definimos seis classes para o mapeamento: (1) agricultura, que agregaria as áreas de cultivo
com cobertura de plantações; (2) pastagem, para as áreas de pastagem natural ou artificial que fosse
possível identificar nas imagens; (3) solo, que englobaria as áreas de solo exposto; (4) água, para os
corpos d’água existentes; (5) mata, que agruparia as matas e toda vegetação densa da imagem; e,
por fim, a classe (6) campo sujo, que indicaria as áreas de pastagem suja, capoeira e mata rala.
Definidas as classes para o mapeamento, partimos para a classificação no ENVI, utilizando a
ferramenta Classification workflow que permite, de maneira interativa, executar as ferramentas e
algoritmos de modo que seja possível visualizar tudo de forma instantânea, na forma de preview.
Para tanto, foi adotada a classificação supervisionada, pois permite que se escolha previamente as
amostras, com base nas classes já estipulas – para cada classe, foi adquirida uma média de quinze
amostras, contemplando todas as variações da imagem. Durante o processo de classificação, foi
solicitada a escolha de vários parâmetros, sendo o principal dele o algoritmo, que define a forma
como o software utilizará as amostras para o mapeamento de toda a imagem. Nesse momento,
testamos todos os disponíveis e o que se mostrou mais eficiente para este trabalho foi o Maximum
Likelihood35, o único que permitiu separar as feições com mais clareza.
O processo de classificação torna-se complicado quando não contamos com um material de
apoio, como mapeamentos da época e dados mais precisos. Tínhamos como base apenas os dados
dos Censos Agropecuários de 1985, 1995 e 2006, pois as imagens das décadas de 1980 e 1990 não
são muito claras na separação de algumas feições de mata e lavouras, mesmo optando-se por
imagens do período em que a soja já está bem definida. Foi necessário, então, utilizar apenas a
imagem de março de 1987, uma vez que não tínhamos disponível a imagem de outro período.
35
A classificação de máxima verossimilhança (Maximum Likelihood) assume que as estatísticas para cada banda
normalmente são distintas e a partir disso calcula a probabilidade de que um determinado pixel pertença a
uma classe específica. A menos que você selecione um limite de probabilidade, todos os pixels são
classificados. Cada pixel é atribuído à classe que tem a maior probabilidade (ou seja, a máxima
verossimilhança). Se a maior probabilidade for menor que um limite especificado, o pixel permanecerá sem
classificação. EXELIS, (2015).
192
Mesmo com todas as dificuldades listadas acima foi possível uma classificação satisfatória,
que evidenciou onde estão concentradas as principais áreas de lavouras e as quantificações das
classes nos períodos estipulados.
Com os dados organizados, e suas devidas correções, foram todos convertidos para o
sistema de coordenadas geográficas Datum SIRGAS2000 e armazenados no Geodatabase, para
elaboração do layout padrão e posterior geração dos mapas. No processo de elaboração do layout, o
primeiro passo é a definição do tamanho da impressão. No nosso caso, optamos por trabalhar com
papel A5 devido às configurações do trabalho. Definido isto, todos os mapas foram gerados com a
mesma escala.
No próximo tópico, apresentaremos os resultados obtidos, bem como a descrição dos
elementos encontrados, sempre utilizando como recurso a visão de estudiosos ou os dados oficiais
sobre os temas abordados, porque apenas a elaboração de mapas não explica a sua função, que é
trazer mais elementos para a análise geográfica neste estudo.
Para Boggiani (2013), além da ocupação dos campos com pastagem e lavoura para
processar a madeira oriunda dos desmatamentos, havia inúmeras serrarias para
beneficiamento e, ainda, o anseio, por parte dos interessados, de a região se tornar um
importante polo da mineração.
36
Banco de Dados Séries Estatísticas & Séries Históricas.
Planejamento e análises ambientais - 197
29.000ha de soja (IBGE, 2014). O milho sofreu processo semelhante, com a pequena
diferença de que o produto aparece na região já na década de 1960, segundo
levantamentos.
Outra cultura que aparece de maneira considerável na década de 1970 é o café, que
chega a 100 toneladas de produção anual, mas que em meados de 1980, perde área e na
década de 1990 desaparece das estatísticas. O mesmo ocorre com o arroz, que apresenta
índices elevados de produção na década de 1980 e início de 1990, e depois não aparece mais
nos dados.
Vale considerar que os levantamentos efetuados pelo IBGE apresentam uma
melhora significativa nos dados diminuindo o intervalo de coleta, mas uma perda no período
que se estende até o início dos anos 2000, quando os dados passam a ser fornecidos
anualmente através do site. Além do IBGE, atualmente, outros órgãos e instituições
divulgam dados sobre a produção e localização das lavouras, tornando-os mais acessíveis.
Um exemplo disso é o SIGA-WEB – Sistema Informação Geográfica do Agronegócio - MS37,
que oferece informações detalhadas das safras de diversas culturas, desde 2009.
Além disso, a qualidade das imagens de satélites gratuitas tem melhorado muito em
relação aos dados e tempo de revisita, permitindo mapeamentos temporais com mais
precisão e detalhamento. Certamente, a utilização das imagens de satélite não dispensa a
visita à área para checar os dados, ou, no caso de análises envolvendo imagens mais antigas,
a busca de material de apoio para validar as informações encontradas.
Com a finalidade de brindar novas possibilidades de pesquisa, apresentaremos a
seguir alguns dados sobre a região retirados de censos agropecuários, e que permitem uma
avaliação dessa oscilação na área de plantio de soja/milho no município de Bonito/MS.
37
O Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (SIGA), em sua versão Web, oferece aos seus usuários
acesso a diversas informações relacionadas às safras agrícolas do Mato Grosso do Sul, bem como a um acervo
de documentos e boletins técnicos publicados.
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Tabela 1 - Dados referentes à área plantada de soja/milho e pastagem, dos censos agropecuários de 1960 a
2006 (hectares)
1960 1970 1975 1980 1985 1995 2006
Milho 372 1.143 1.321 2.216 4.634 6.482 4.200
Soja - - - 4.592 14.911 6.499 12.000
Pastagem natural 263.718 184.355 189.018 173.002 106.883 52.957 26.750
Pastagem plantada 15.344 43.069 68.164 164.207 201.812 271.496 292.679
Fonte: IBGE, 1967; IBGE, 1967; IBGE, 1975; IBGE, 1979; IBGE, 1983; IBGE, 1985; IBGE, 1997; IBGE, 2006. Org:
RIBEIRO, 2015.
relevantes, pois na safra 2013-14, o produto passou a ocupar uma área de mais de 30.000ha,
segundo dados do SIGA-MS38.
Devemos considerar que, se no caso das lavouras houve um período de declínio da
área plantada e de produção, no caso da pecuária o que ocorreu foi a inversão de pastagem
natural para pastagem plantada (em termos de área); mas, se somadas as duas variedades,
temos um aumento de área de aproximadamente 40.000ha, o que representa cerca de 10%
da área do município. No ano de 2006, a área total de pastagem de Bonito, ocupou
aproximadamente 320.000ha, correspondendo a mais de 60% da área do município.
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http://www.sigaweb.org/ms/sistema/consulta.php - Acesso em 01/02/2015.
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A apresentação dos mapas, de maneira geral, ilustra quatro décadas do uso da terra
no município de Bonito/MS, e nos permite analisar um padrão de localização das lavouras e
sua evolução, sempre margeando o corpo principal da Serra da Bodoquena. Como nos dados
do IBGE (1997), a oscilação na área de plantio se deu na década de 1990, coincidindo com o
período em que a atividade turística teve grande desenvolvimento, mas, segundo
informações levantadas durante a pesquisa, este fato não foi determinante para diminuição
das áreas de lavoura, mas foram as políticas econômicas que fizeram do plantio uma
atividade econômica menos lucrativa que as demais.
Tabela 2 – Quantitativo de área das classes de uso da terra em Bonito/MS, no período de 1987 a 2016
Algo que podemos aferir a partir dos mapas de uso da terra e das porcentagens de
participação de cada classe na área do município é a diminuição das áreas correspondentes
às matas, se considerarmos a classe campo sujo como um tipo de mata menos densa e
também as áreas de pastagem natural, que possuem vegetação abundante. No ano de 1987,
se somadas as classes mata e campo sujo, tínhamos cerca de 280.000ha, área que caiu, no
ano de 2016, para aproximadamente 200.000ha, fato corroborado apenas por meio da
observação dos mapas.
Outro fato interessante a ser observado é que o único fragmento de mata contínuo
é a área do Parque Nacional da Serra da Bodoquena - PNSBd. Mesmo o parque tendo sido
criado no ano de 2000, esta faixa de vegetação permaneceu razoavelmente conservada.
Nota-se, em alguns pontos, tentativas de desmatamentos, mas com a criação do parque, a
área fica preservada e os locais desmatados tendem a ser recuperados.
Como mencionado anteriormente, a localização das lavouras segue o mesmo
padrão desde a década de 1980, com um eixo de expansão sempre margeando a serra no
fragmento sul do PNSBd e subindo na direção norte, com destino à Bodoquena e à Baía das
Garças.
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Editora, 2001.
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Planejamento e análises ambientais - 209