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Planejamento e análises ambientais

Book · December 2017

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1 author:

Patrícia Cristina Statella Martins


Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
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: Landscape and Tourism of Nature on Pantanal of Corumba (MS state- Brazil), Porto Suarez and Porto Quijarro (Santa Cruz – Bolivia) and their cross-border relations
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Planejamento e análises ambientais - 1

Organizadores
Marcos Norberto Boin
Patrícia Cristina Statella Martins

PLANEJAMENTO
E ANÁLISES AMBIENTAIS

1a Edição

TUPÃ - SP
ANAP
2017
2

Editora

ANAP - Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista


Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos
Fundada em 14 de setembro de 2003
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América,
Cidade de Tupã, Estado de São Paulo.
CEP 17.605-310
www.editoraanap.org.br
www.amigosdanatureza.org.br
editora@amigosdanatureza.org.br

Editoração e Diagramação da Obra


Sandra Medina Benini; Jeane Aparecida Rombi de Godoy Rosin
Revisora Ortográfica
Nina Jacomini Costa

O conteúdo desta publicação é de inteira responsabilidade dos organizadores e


autores. As ilustrações (fotografias, mapas, entre outros) utilizadas neste livro
são de inteira responsabilidade dos autores.

B681g Planejamento e análises ambientais / Marcos Norberto Boin;


Patrícia Cristina Statella Martins (org.) – Tupã: ANAP, 2017.

208 p ; il. Color. 21,0 cm

ISBN 978-85-68242-64-3

1. Meio Ambiente 2. Geotecnologia 3. Planejamento Ambiental

I. Título.

CDD: 900
CDU: 911/47

Índice para catálogo sistemático


Brasil: Geografia
Planejamento e análises ambientais - 3

Conselho Editorial Interdisciplinar

Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE


Profª Drª Angélica Góis Morales – UNESP – Campus de Tupã
Prof. Dr. Antônio Cezar Leal – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM
Prof. Dr. Antonio Fluminhan Jr. – UNOESTE
Prof. Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto – UFMS
Prof. Dr. Daniel Dantas Moreira Gomes – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Daniela de Souza Onça – UDESC
Prof. Dr. Edson Luís Piroli – UNESP – Campus de Ourinhos
Prof. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto – UEFS
Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCAR
Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UFMS
Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia– FCT/UNESP – Campus de Presidente
Prudente
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto – UEA / CEST
Prof. Dr. Joao Osvaldo Rodrigues Nunes– FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Jorge Amancio Pickenhayn – Universidade de San Juan – Argentina
Prof. Dr. José Carlos Ugeda Júnior – UFMS
Prof. Dr. José Manuel Mateo Rodriguez – Universidade de Havana – Cuba
Prof. Dr. José Mariano Caccia Gouveia – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Junior Ruiz Garcia – UFPR
Profª Drª Jureth Couto Lemos – UFU
Profª Drª Kênia Rezende – UFU
Prof. Dr. Luciano da Fonseca Lins – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Maira Celeiro Caple – Universidade de Havana – Cuba
Profª Drª Marcia Eliane Silva Carvalho – UFS
Prof. Dr. Marcos Reigota – Universidade de Sorocaba
Profª Drª Maria Betânia Moreira Amador – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG
Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA
Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Pedro Fernando Cataneo – UNESP – Campus de Tupã
Prof. Dr. Rafael Montanhini Soares de Oliveira – UTFPR
Profª Drª Regina Célia de Castro Pereira – UEMA
Profª Drª Renata Ribeiro de Araújo – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Ricardo Augusto Felício – USP
Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UNICAMP
4

Profª Drª Roberta Medeiros de Souza – UFRPE – Campus Garanhuns


Prof. Dr. Roberto Rodrigues de Souza – UFS
Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – Unifal
Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD
Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araújo – UFMA
Profª Drª Rosa Maria Barilli Nogueira – UNOESTE
Profª Drª Simone Valaski – Universidade Federal do Paraná
Profª Drª Silvia Cantoia – UFMT – Campus Cuiabá
Profª Drª Sônia Maria Marchiorato Carneiro – UFPR
Planejamento e análises ambientais - 5

Sumário

Apresentação 00

Capítulo 1 11
O MÉTODO DE MICHEL GODET PARA ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS
PROSPECTIVOS NO ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO
José Roberto da Silva Lunas
Claudio Gonçalves Egler
Maria Cristiane Fernandes da Silva Lunas

Capítulo 2 29
A EXPANSÃO DAS LAVOURAS DE CANA-DE-AÇÚCAR NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO BRILHANTE/MS E NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DAS USINAS
SUCROENERGÉTICAS
Patricia Silva Ferreira
Charlei Aparecido da Silva

Capítulo 3 45
MAPEAMENTO TEMÁTICO COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO E
PLANEJAMENTO TERRITORIAL, APLICADO À PROPRIEDADE RURAL NO
MUNICÍPIO DE CARLÓPOLIS/PR - BRASIL
Pedro Höfig
Glauco Marighella Ferreira da Silva
Elvio Giasson
Nina Simone Vilaverde Moura
Eduardo Augusto Werneck Ribeiro

Capítulo 4 65
PLANEJAMENTO AMBIENTAL E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
Eduardo Pizzolim Dibieso

Capítulo 5 93
ESTUDO SOBRE A DISPONIBILIDADE HÍDRICA DO RIBEIRÃO DA RANCHARIA/SP
Amanda Fernandes da Silva
Rosane Freire Boina
6

Capítulo 6 111
TEORIA DO CLIMA URBANO E O SUBSISTEMA FÍSICO-QUÍMICO: O MATERIAL
PARTICULADO INALÁVEL (MPI) COMO INDICADOR DE QUALIDADE DO AR DA
ATMOSFERA URBANA DE DOURADOS-MS E SEUS POSSÍVEIS
DESDOBRAMENTOS NA SAÚDE DOS HABITANTES
Vladimir Aparecido dos Santos
Charlei Aparecido da Silva

Capítulo 7 133
USO DE ÍNDICES HIDROGEOMORFOLÓGICOS PARA LA CARACTERIZACIÓN DE
ÁREAS INUNDABLES EN MADRE DE DIOS, PERÚ, Y CUENCA DEL RIO COJÍMAR,
CUBA
Alberto Enrique García Rivero
Jorge Olivera Acosta
Eduardo Salinas Chávez
Indira Farrés Vigil

Capítulo 8 161
ANÁLISE DA DINÂMICA DO TEMPO METEOROLÓGICO E DAS POSSIBILIDADES
DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRICOLAS AÉREOS NO PONTAL DO
PARANAPANEMA
Marcos Norberto Boin
Fernando Henrique Camargo Jardim
Luis Fernando de Jesus Tavares

Capítulo 9 185
O USO DE GEOTECNOLOGIAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS DE EXPANSÃO
DE LAVOURAS DE SOJA/MILHO NO
MUNICÍPIO DE BONITO/MS
Ângelo Franco do N. Ribeiro
Planejamento e análises ambientais - 7

Apresentação

O livro Planejamento e Análises Ambientais apresenta nove capítulos, os quais


procuram tratar de diagnósticos, processos, procedimentos e métodos, especificamente em
torno do planejamento ambiental.
O capítulo de José Roberto da S. Lunas, Cláudio Egler e Maria Cristiane Lunas
descreve a metodologia MICMAC de elaboração de cenários, de Michel Godet, aplicada na
elaboração do Zoneamento Ecológico Econômico do estado de Mato Grosso do Sul. Os
autores propõem a adoção de um exercício lógico para pensar o futuro de um território com
a contribuição efetiva de seus atores principais, mediada por estudos técnicos, ao mesmo
tempo que buscam amparo em estudos estatísticos que conciliam a visão subjetiva dos
pesos atribuídos com as variáveis envolvidas na transformação do território pelos
participantes do estudo.
A água, que atualmente é um dos recursos mais relevantes, aparece no trabalho de
Eduardo P. Dibieso, bem como no de Amanda F. da Silva e Rosane F. Boina. Eduardo utiliza a
análise integrada da paisagem para analisar a bacia hidrográfica do manancial do alto curso
do Rio Anastácio, em São Paulo/SP, que atualmente sofre forte pressão e degradação por
influência antrópica. O objetivo do autor é identificar as potencialidades, fragilidades e as
restrições ao uso e ocupação da terra, e também as funções sociais e econômicas da área de
estudo. As autoras Amanda e Rosane estudam a disponibilidade hídrica no Ribeirão da
Rancharia, que se localiza em Rancharia/SP, a partir do monitoramento de aspectos
qualitativos e quantitativos da água, e concluem que há necessidade urgente de se
estabelecerem ações e diretrizes que possam preservar, bem como garantir a
disponibilidade desse recurso natural.
Ainda dentro da temática água, os autores Alberto E. G. Rivero, Jorge O. Acosta,
Eduardo Salinas Chávez e Indira F. Vigil identificam e representam cartograficamente as
áreas suscetíveis às inundações fluviais tanto em Madre de Diós, no Peru, quanto na bacia
do Rio Cojimar, em Cuba, a partir do uso de modelos digitais de terreno (MDT) e do software
livre SAGA. Ao final, por meio de um mapa de índice de contraste, são estabelecidos os
cenários de inundação e as respectivas categorias de suscetibilidade das áreas de estudo.
8

Certamente, tais resultados contribuem com o ordenamento dos territórios em questão, e


pretendem reduzir a vulnerabilidade perante as precipitações extremas.
A aplicação da geotecnologia aparece como protagonista nos trabalhos de Patrícia
Ferreira e Charlei Silva; Ângelo Franco do N. Ribeiro; Pedro Höfig, Glauco Marighella Ferreira
da Silva, Elvio Giasson, Nina Simone Vilaverde Moura e Eduardo Augusto Werneck Ribeiro.
Considerando que no território sul-mato-grossense a distribuição de unidades
sucroenergéticas é desuniforme e as usinas detêm-se na região centro-sul do estado, os
autores Patrícia e Charlei identificam os principais aspectos que condicionam a instalação
das unidades sucroenergéticas e mapeiam a localização e área de influência dessas unidades
na bacia hidrográfica do Rio Brilhante/MS. Por fim, apontam as áreas saturadas, que sofrem
maior pressão pela ocupação extensiva da cana de açúcar. Ângelo Franco do N. Ribeiro,
também a partir do uso da geotecnologia, identifica as áreas de expansão de lavouras de
soja e milho no município de Bonito/MS, com o objetivo de verificar as implicações para a
manutenção do turismo e para as áreas de preservação. Pedro Höfig e demais colegas
elaboram uma série de mapas temáticos de uma propriedade rural localizada em
Carlópolis/PR, buscando gerar informações que possam subsidiar a elaboração de um
projeto de gestão e planejamento da propriedade. Segundo os autores, as informações
foram levantadas de forma rápida e com baixo custo, e permitirão a caracterização do meio
físico, para que sejam definidos, adequadamente, os tipos de cultivo nas parcelas da referida
propriedade.
Por último, mas não menos importante, a relação entre dinâmica climática e
dispersão de poluentes aparece nos trabalhos de Marcos Norberto Boin, Fernando H.
Camargo Jardim e Luis Fernando de Jesus Tavares, bem como no de Vladimir Aparecido dos
Santos e Charlei A. da Silva. O pesquisador Marcos Norberto Boin e demais autores trazem
uma análise da dinâmica do tempo meteorológico e das possibilidades de aplicação de
defensivos agrícolas aéreos no Pontal do Paranapanema/SP. Os autores fornecem elementos
para o entendimento da variabilidade do tempo meteorológico em superfície, com vistas a
analisar as possibilidades da pulverização aérea sobre alvos de plantação de cana-de-açúcar
e suas consequências sobre as atividades lindeiras. E demonstram, ao final, a inviabilidade
da utilização da pulverização por aeronaves agrícolas no território da Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos do Pontal do Paranapanema - UGRHI-22. Vladimir e
Charlei avaliam a qualidade do ar da cidade de Dourados/MS por meio da amostragem da
Planejamento e análises ambientais - 9

concentração de material particulado inalável (MPI) na atmosfera urbana. O MPI é um


indicador de qualidade do ar de áreas urbanas e apresenta desdobramentos na área de
saúde. Na pesquisa, os resultados encontrados e analisados demonstram que é possível
inferir que determinadas concentrações de material particulado presentes na atmosfera
urbana de Dourados/MS comprometem a qualidade do ar, e isso se deve às características
da área analisada e ao processo de produção do espaço urbano. Também é possível, a priori,
compreender a correlação existente entre as internações, morbidades hospitalares e óbitos
do CID-10 e a concentração de MPI, identificada através de amostras recolhidas em diversos
pontos da cidade. Para os autores, mesmo que ao final tenha-se demonstrado que o
poluente MPI está dentro do que é considerado “normal” ou “bom”, os dados recolhidos
demonstram, sem sombra de dúvida, que a saúde humana pode ser prejudicada pelos
poluentes, isto devido ao tempo de exposição
Em todos os trabalhos há uma preocupação em se organizar e analisar, de maneira
sistematizada, as informações coletadas, que posteriormente auxiliarão na tomada de
decisão, na escolha de alternativas relacionadas ao planejamento ambiental. Os autores
atendem, segundo Santos (2004)1, a uma das funções mais importantes do planejamento
ambiental, que é a de relacionar ou pautar o potencial e o limite que o meio apresenta.

Patrícia Cristina Statella Martins


Marcos Norberto Boin

1
Santos, Rosely. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.
10
Planejamento e análises ambientais - 11

Capítulo 1

O MÉTODO DE MICHEL GODET PARA ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS


PROSPECTIVOS NO ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO

José Roberto da Silva Lunas


Prof. Doutor, UEMS, Brasil
lunas_uems@yahoo.com.br

Claudio Gonçalves Egler


Prof. Doutor, UFRJ, Brasil
egler@ufrj.br

Maria Cristiane Fernandes da Silva Lunas


Prof. Doutora, UEMS, Brasil
crisfernandes_tur@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Os cenários prospectivos são utilizados para apoiar o planejamento estratégico,


sobretudo quando é necessário traçar um planejamento de longo prazo, ou quando há uma
incerteza muito grande sobre determinada questão ou problema complexo.
Os cenários são conceituados como o conjunto formado pela descrição (de forma
coerente, plausível e consistente) de uma situação futura (cena) e do encaminhamento
(trajetória) dos acontecimentos (eventos) que permitem passar da situação de origem
(atual) para outra, futura (GODET, 1993).
Seus propósitos giram em torno de organizar e delimitar as incertezas críticas, ou
seja, tomar consciência do risco, advindo de um planejamento de longo prazo, bem como
alertar os decisores sobre mudanças e descontinuidades, e unificar as visões quanto ao
futuro e utilizá-las para iluminar decisões estratégicas no presente.
12

A utilização dos cenários prospectivos para a elaboração do Zoneamento Ecológico


Econômico procura organizar os elementos que deverão ser fundamentais nos próximos 20
anos para a configuração do território.
O presente trabalho descreve a metodologia MICMAC de elaboração de Cenários,
de Michel Godet, apoiada pelo uso do software Morphol2 e aplicada na elaboração de um
Zoneamento Ecológico Econômico Estadual. Por objetivo principal, este trabalho busca
facilitar a adoção de um exercício lógico para pensar o futuro de um território com a
contribuição efetiva de seus atores principais, mediadas por estudos técnicos. Além disso,
pretende-se facilitar o entendimento do método, com a descrição de sua utilização na
prática, e fornecer dados sobre a aplicação de uma técnica específica, que pode auxiliar no
processo de elaboração de Zoneamentos Ecológicos Econômicos. A escolha do método de
Godet para o ZEE/MS foi decidida pela equipe gestora da Secretaria Estadual responsável
pelo processo. Não há relatos do uso desta metodologia em outros processos, entretanto, os
autores Godet e Durance a recomendam para a Gestão de Territórios (2011).
A primeira etapa da metodologia é constituída de uma linha de base por meio da
realização de pesquisas em bases de dados secundários, de modo a elaborar um
recenseamento de variáveis com interferência atual e potencial sobre o território. Com isso,
obtém-se um retrato dos impactos atuais e dos pregressos sobre o território. Após o
recenseamento, elabora-se uma Análise de Impactos Cruzados, que consiste em considerar
todas as influências de fatores, com o objetivo de estabelecer quais são as variáveis-chave
para o exercício seguinte.
O método de impactos cruzados consiste na aplicação discricionária, por meio de
um processo participativo, de pontuação que avalia a influência de cada variável envolvida
na discussão, uma sobre a outra. Esta pontuação vai de 0 (zero), quando não há influencia, a
3 (muita influência), passando por influência intermediária. Deste modo, obtém-se uma
matriz cujo somatório da pontuação das linhas representa a influência de cada variável e o
somatório das colunas representam sua dependência. Este método será melhor explicado no
subitem que trata da síntese e classificação das variáveis.

2
Programa desenvolvido pelo Laboratório de Investigação em Prospectiva, Estratégia e Organização (LIPSOR)
que permite uma série de análises por meio de abstrações aplicadas a partir de escalas estabelecidas de modo
participativo (GODET, 2016).
Planejamento e análises ambientais - 13

A etapa seguinte consiste em uma análise morfológica das variáveis estratégicas dos
cenários, por meio da elaboração de hipóteses e discussões coletivas acerca desses
elementos fundamentais para o futuro do território.
A partir da soma obtida na matriz das pontuações de influência e dependência
(impactos cruzados) gera-se um gráfico, que permite classificar as variáveis-chave e
encaminhar algumas discussões acerca dos elementos principais que têm e terão impacto
sobre o território e, consequentemente, sobre as decisões de Zoneamento Ecológico
Econômico.
Os resultados gerais da análise estrutural e das consultas à sociedade são
consolidados e analisados preliminarmente, e representam ajustes pontuais, com a presença
de atores representativos eleitos em oficinas regionais ou locais, além de atores que
representem segmentos da sociedade civil organizada, entidades de representação de classe
e outros elementos institucionais. Nas discussões participativas são apresentadas as
questões-chave, organizadas a partir da análise estrutural em que se identificam as
principais incertezas críticas detectadas em função de seus impactos espaciais, ou seja,
aqueles que deverão ser relevantes do ponto de vista do futuro do território.
As hipóteses sugeridas para cada questão-chave são, então, revistas pelos atores, e
resultam em supressões, aprimoramentos e sugestões de novas hipóteses. Com a
consolidação das hipóteses, são gerados cenários preliminares escolhidos pelos atores a
partir de uma proposta estruturadora de reflexões lógicas, e também por meio da percepção
do encadeamento de acontecimentos estruturadores de uma determinada realidade.
Na etapa seguinte, com a continuidade das reflexões participativas, são aplicados
métodos de perícia3 nos cenários preliminares, que permitem verificar os mais prováveis e,
portanto, mais plausíveis cenários de ocorrência no horizonte temporal estipulado
inicialmente, constituindo, assim, a base racional para definição dos cenários finais.
Paralelamente, a equipe técnica desenvolve estudos para indicar as invariâncias na forma de
macrotendências que cercam o território em questão.

3
A perícia de cenários é uma forma de confirmar os resultados obtidos pela equipe nas fases preliminares às
oficinas. Normalmente, é elaborado um número de seis cenários, que se constituem nos mais plausíveis
segundo uma cadeia de causa e efeito lógica, mas o número inicial de cenários deve ser diminuído para três ou
quatro, e a redução é feita com a ajuda da atribuição de uma pontuação pelos atores participantes, de modo
que ao final se aponte os cenários mais patrocinados.
14

O documento técnico final é estruturado em três partes principais: a primeira


apresenta a análise estrutural e seus resultados, a segunda apresenta a análise morfológica e
a geração dos cenários preliminares, e a terceira apresenta os cenários constituídos pelos
elementos de megatendências externas, de macrotendências que constituem as invariâncias
e, por fim, os cenários finais, definidos pelas incertezas críticas.
Para a metodologia da elaboração dos cenários são consideradas as tendências na
forma de invariâncias e incertezas críticas que cercam o desenvolvimento socioeconômico,
considerando um horizonte temporal de 20 anos.

O METODO PROSPECTIVO E A PARTICIPAÇÃO

A prospectiva estratégica surgiu nos anos de 1960, com os estudos de Gaston


Berger (1966), cujos métodos foram aprimorados por Michel Godet (1993 e 2011) na França.
Paralelamente, tem-se, nos EUA, a discussão desencadeada a partir da Guerra Fria e suas
muitas disputas, dentre elas a guerra pela supremacia espacial, que culminou na criação de
organizações como a Rand Corporation, Boston Consulting Group e a pesquisa acadêmica de
estudiosos como Schoemaker (1991), entre outros que se dedicaram a estudos de cenários.
Para o desenvolvimento de conhecimentos sobre exercício prospectivo, podemos citar
estudos de diversos analistas de tendências, incluindo: Porto, Nascimento e Buarque (2001),
e Naisbitt (1998).
Para a discussão da metodologia de elaboração da análise e organização de
informações para o desenvolvimento de cenários no âmbito do Zoneamento Ecológico
Econômico, a partir do método de Godet, foram necessários alguns aportes, como a
realização de consultas à sociedade e processos participativos com atores representativos.
Carlos Matus (1993) define atores como sendo forças sociais e personalidades que
controlam os centros de poder e, assim, são produtores de eventos que alteram o
situacional, alteram-se a si mesmos como fenoestruturas4 e produzem outras
fenoestruturas.

4
Segundo Matus, fenoestrutura é um plano de situação em que as acumulações sociais (humanas, físicas,
valores etc.) condicionam a quantidade e qualidade dos fluxos de produção social. A fenoestrutura é uma
instância de represamento ou acumulação de diferentes tipos de capacidade.
Planejamento e análises ambientais - 15

Godet (1993) apresenta em seu trabalho as diversas opções de metodologias de


análise para a elaboração de cenários, além dos métodos que permitem estabelecer e
avaliar as variáveis envolvidas no exercício prospectivo. Os métodos criados ou relatados por
Godet também auxiliam na análise dos atores envolvidos no processo e apresentam opções
e critérios para o estabelecimento das estratégias mais adequadas.
Para o desenvolvimento de cenários, são considerados os principais fatores críticos
condicionantes do futuro e que podem interferir de forma decisiva na realidade. Para o
aprimoramento do processo de planejamento, é necessário discutir quais são e quê
impactos terão as principais forças que podem ser identificadas ou classificadas como fatos
portadores de futuro ou fortemente influenciadoras do processo de desenvolvimento.
A elaboração de cenários requer disciplina intelectual e auto-organização (Pierre
Dupuy, apud GODET, 1993. p. 33):

A observação de uma inversão da flecha do tempo, de um presente que parece


determinado pelo futuro e não pelo passado, remete para a experiência interior da
vontade consciente, do projeto, do desejo, da intenção: então, parece-nos que o
que fazemos se explica, não pelos nossos condicionamentos, mas pelo objetivo que
explicitamos e para o qual tendemos.

Para Buarque (2002), os processos de planejamento devem ser participativos, já


que se constituem em espaços para o reconhecimento da evolução de posições
reivindicatórias, nos quais se combinam processos descendentes ou dedutivos (do geral para
o particular) com processos ascendentes ou intuitivos (do particular para o geral), de cuja
consistência e interação podem ser formulados os planos ou projetos coletivos. Os dois
processos resultam de abordagens relativamente autônomas que se complementam,
permitindo o confronto do tratamento agregado da realidade local com um esforço de
análise e percepção desagregada, por dimensão ou segmento. O tratamento desagregado,
base para o processo ascendente, parte de uma análise mais aprofundada e detalhada das
diversas partes ou segmentos da realidade (subsistemas), levando à identificação de ações
específicas e concretas para as diferentes dimensões, segmentos ou setores (dos projetos
para a visão agregada).
Para Silveira (1989), o processo de planejamento constitui-se em um espaço para o
reconhecimento da evolução de posições reivindicatórias, canalizada por movimentos
sociais, para uma posição participativa que se reflita na transparência das intervenções
16

estatais. O autor cita a possibilidade de aprendizado coletivo, que leva a uma evolução do
processo distributivo e que impõe à necessidade de ser repensado face às limitações de
recursos e aos interesses envolvidos, com consequentes impactos na distribuição do espaço.
A elaboração de cenários prospectivos permite aprimorar a avaliação dos futuros
possíveis e preparar-se melhor para as incertezas. Para isso, são considerados os principais
fatores críticos condicionantes do futuro e que podem interferir de forma decisiva na
realidade.
A metodologia de cenários, contudo, apresenta limitações por depender da
contribuição discricionária dos atores, e pode ser criticada por boa parte da academia
quanto aos aportes dos atores representativos. A própria matriz de impactos cruzados
depende de julgamentos e exercícios carregados de alguma subjetividade na contribuição
dos atores. A despeito de tais críticas acadêmicas, o processo de desenvolvimento de
cenários e planejamento participativo mantém aspectos positivos na mobilização dos
diversos atores durante o processo que resulta em empowerment ou “empoderamento” dos
atores sociais (SCHEYVENS, 1999).

O MÉTODO MICMAC PARA ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS

Análise Estrutural

A análise estrutural é a etapa em que se realiza um recenseamento das variáveis


que devem compor uma matriz de impactos cruzados. Para a estruturação inicial da tarefa,
são necessárias leituras de diversos documentos fundamentais, visando um levantamento
preliminar das variáveis que compõem uma ampla análise estrutural e que antecede o
exercício prospectivo.
No caso do Zoneamento Ecológico Econômico, importa estabelecer o registro, ao
longo dos anos, de pressões sobre o território pelo avanço do desenvolvimento econômico.
Além de conflitos e disputas, as pressões identificadas podem ter relação, por exemplo, com
a crescente modernização e o crescimento populacional, que geram conflitos como o
descontrole do uso do solo e a especulação imobiliária.
Planejamento e análises ambientais - 17

Ocorrências econômicas que mudam a configuração espacial, as políticas


desenvolvimentistas e expansionistas, ações que provocam degradação ambiental e todas as
pressões do crescimento populacional que provoquem mudanças substanciais na paisagem
também devem ser previamente identificadas. Além disso, devem ser identificadas as
unidades de conservação, sejam elas de proteção integral ou de uso sustentável, assim como
os corredores de biodiversidade e variáveis da legislação ambiental. Por isso, faz-se
necessário um esforço coletivo que busque respostas racionais para a organização do espaço
na forma do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE).
Nesse contexto, é necessário identificar fatores que dificultam a conservação e/ou a
preservação ambiental, e os processos de ocupação do território e seus modelos
expansionistas, com seus respectivos impactos ambientais.
As bacias hidrográficas podem se constituir em referências fundamentais para a
delimitação de indicadores, em que pesem as dificuldades de intersecção de indicadores
socioeconômicos sob a mesma matriz. As unidades de conservação, assim como suas zonas
de amortecimento para as unidades de conservação de proteção integral e os corredores de
biodiversidade, são elementos indispensáveis na análise estrutural, pois podem se constituir
em invariâncias do ponto de vista da ocupação do território.
Os Eixos de Desenvolvimento são responsáveis pela organização espacial dos
vetores de investimentos públicos e privados em infraestrutura econômica e logística, para
desenvolvimento de uma ou mais cadeias produtivas, articulados a corredores de
exportação e mercados consumidores. A identificação de eixos de desenvolvimento permite
estabelecer as principais forças motrizes que moldam a ocupação dos territórios. São
exemplos dessas forças motrizes o agronegócio, a energia, as integrações de zonas
fronteiriças, o desenvolvimento industrial e o turismo.
O principal suporte utilizado para a análise dos impactos cruzados gerado por Godet
(1993) é o método MICMAC, desenvolvido na década de 1970 e aprimorado posteriormente.
Essa forma de prospectiva tem sido aplicada com frequência em vários países. Nesse
processo, após a descrição de todas as variáveis, é elaborada uma matriz e aplicada uma
pontuação pela equipe de especialistas que compõe o estudo. Tal pontuação vai de nulo = 0,
passando por fraca = 1, média = 2, até forte = 3, com adição de influências potenciais = P. Ao
final, são avaliadas variáveis distribuídas por temas principais, o que permite uma
visualização estratégica de seus componentes.
18

A partir da soma obtida na matriz, das pontuações de influência e dependência, é


gerado um gráfico, apresentado nesta análise, que permite classificar as variáveis-chave e
encaminhar algumas discussões preliminares acerca dos elementos principais que têm e
terão impactos sobre o território e, consequentemente, nas decisões de Zoneamento
Ecológico Econômico.
As variáveis-chave apontadas na síntese final não são definitivas para a organização
das hipóteses que constituirão os arquétipos principais dos cenários, tendo em vista que as
consulta realizadas junto aos atores representativos podem alterar a percepção dos analistas
em relação às pressões sobre o território. Após tabulados os resultados da consulta, novas
variáveis importantes e ainda não consideradas no estudo podem surgir e estabelecer um
encaminhamento coletivo ao presente exercício prospectivo, conforme pode ser visualizado
na Figura 1.

Figura 1 – Metodologia de organização dos cenários

Fonte: LUNAS; ELGER; LUNAS, 2017.

Síntese e classificação das variáveis-chave

A principal finalidade da análise da matriz de influências diretas é indicar quais são


as variáveis-chave a serem consideradas no exercício prospectivo que se realizará a partir da
próxima etapa do trabalho. Neste processo, são considerados, inicialmente, os impactos
diretos calculados. Em seguida, o cálculo da própria matriz, elevada ao quadrado, resulta no
Planejamento e análises ambientais - 19

reposicionamento das variáveis, considerando as influências e dependências potenciais, que


permitiu analisar as tendências de evolução de cada uma das variáveis.
Todavia, a análise da matriz de impactos cruzados é útil para observar as variáveis-
chave do estudo que não são necessariamente as que têm maior poder no sistema, para o
contexto do território. Interessa mais perceber quais são as variáveis que provocam maiores
instabilidades no sistema como um todo – este é o caso das variáveis que são, ao mesmo
tempo, influentes e dependentes. Interessa também analisar, por meio do gráfico das
influências indiretas e suas potencialidades, quais são as tendências de encaminhamento de
variáveis que representam “germes de mudança” no sistema.
A razão para a valorização, no exercício prospectivo, justamente das variáveis que
apresentam maior influência e dependência é pela tendência de desestabilizar o sistema e,
assim, provocar maiores incertezas nas cenas futuras. Como não se sabe o que vai acontecer
com tais elementos, estabelecemos hipóteses plausíveis para eles.
A Tabela 1 apresenta o modelo da ordem das variáveis que resultaram em maiores
avaliações em relação aos níveis de incerteza calculados pela estabilização do ranking entre
a soma das influências e soma das dependências, obtidas na matriz de impactos diretos.

Tabela 1 – Ordenamento das variáveis segundo o nível de incerteza crítica


Soma Soma
Ordem Identificação da variável
Influência Dependência
1 Variável 1 - -
2 Variável 2 - -
3 Variável 3 - -
4 Variável n. - -
Fonte: LUNAS; EGLER; LUNAS, 2017.

O ponto de vista que determina as influências indiretas e potenciais pode alterar a


ordem das variáveis-chave apontadas a partir da visualização das influências diretas.
A metodologia da matriz de impactos cruzados resulta em um gráfico de influência
e dependência dividido em quatro quadrantes. As variáveis são classificadas segundo seu
posicionamento. As variáveis muito mais influentes e motrizes, classificadas no quadrante
superior esquerdo como variáveis de poder. As variáveis que apresentam grande
mobilidade, classificadas no segundo quadrante, e que podem constituir incertezas críticas.
Na área próxima à mediana, as variáveis de pelotão são analisadas individualmente pela
20

equipe de trabalho, pois podem se tornar incertezas críticas ou serem irrelevantes no futuro,
merecendo maiores discussões na decisão sobre a composição das variáveis-chave,
localizadas no segundo quadrante. E por fim, no quadrante inferior esquerdo, estão as
tendências pesadas, desconsideradas nos cenários e no quadrante inferior direito, e as
variáveis de resultados, muito influenciadas, mas pouco influentes.
Os resultados expostos, por meio da Figura 2, em um gráfico de dispersão (X,Y),
expressam as tendências de evolução das variáveis considerando suas influências indiretas e
a classificação de potencialidades de influências no futuro.

Figura 2 – Gráfico de dispersão (X,Y)

Fonte: GODET, 1993 (adaptado).

A classificação final das variáveis resulta em uma relação que irá compor a análise
morfológica na etapa seguinte. A relação final somente é definida após a realização das
oficinas de consultas à sociedade realizadas localmente, com a consolidação das
contribuições dos atores e o consequente aumento da acuidade das escolhas. Além disso, é
fundamental considerar a percepção de outros elementos que, eventualmente, tenham sido
ignorados pela equipe técnica na primeira etapa de trabalho.
Planejamento e análises ambientais - 21

Análise Morfológica

Os resultados da segunda etapa de discussão dos cenários prospectivos para o


Zoneamento Ecológico Econômico compreendem a consolidação das informações
levantadas por meio de oficinas de consultas à sociedade e questionários Delfos, enviados
para atores representativos em diversos segmentos e extratos regionais.
Os resultados são consolidados e analisados preliminarmente, e apresentam ajustes
pontuais que são organizados e discutidos em reuniões regionais com atores
representativos, eleitos nas oficinas locais. As questões-chave organizadas a partir da análise
estrutural agrupam as principais incertezas críticas detectadas em função de seus impactos
espaciais, ou seja, aquelas que deverão ser relevantes do ponto de vista do futuro do
território.
Na análise morfológica, são propostas hipóteses básicas para as variáveis
consideradas como incertezas críticas e, com a combinação de tais hipóteses, podem ser
gerados diversos cenários decorrentes da análise combinatória das probabilidades, segundo
uma cadeia lógica de ocorrências.
As hipóteses sugeridas para cada questão-chave são revistas pelos atores e
resultaram em supressões, aprimoramentos e sugestões de novas hipóteses. Com a
consolidação das hipóteses, são gerados seis cenários preliminares, escolhidos pelos atores a
partir de uma proposta estruturadora de reflexões lógicas, iniciadas com a percepção do
encadeamento de acontecimentos estruturadores de um determinado contexto.

Geração dos cenários preliminares

Elaboram-se 6 (seis) ou mais cenários mais plausíveis de acordo com a percepção


dos atores participantes do estudo na oficina estadual. Numa primeira etapa da oficina de
consulta à sociedade, os atores revisam coletivamente as hipóteses formuladas
preliminarmente pela equipe técnica, a partir da análise estrutural e dos resultados das
consultas à sociedade feitas por meio de oficinas presenciais e questionários enviados para
outros atores.
22

Para os cenários preliminares, foram considerados apenas o conjunto de


acontecimentos classificados como incertezas críticas.
Em seguida, a partir de discussões coletivas e considerando o quadro geral de
incertezas críticas e suas respectivas hipóteses, os atores traçam as trajetórias mais
plausíveis em um processo de varredura do campo de possibilidades (Figura 3). O modelo
utilizado na Figura 3 é baseado em um exercício prospectivo para definição de um Plano
Diretor Urbano, e mantém elementos muito próximos à elaboração de Zoneamento
Ecológico Econômico.

Figura 3 – Análise Morfológica

Fonte: LUNAS; EGLER; LUNAS, 2017. Elaborado a partir de modelo de arquétipos de cenários para o
desenvolvimento urbano.

A varredura resulta na definição de múltiplas trajetórias possíveis, conforme


exemplo descrito por meio da Figura 4. O método permite reduzir a quantidade de cenários
gerados a partir das hipóteses, para algo que possa ser objeto das reflexões dos atores. A
geração de todas as combinações tornaria impossível a reflexão, uma vez que a combinação
matemática de todos os cenários permitiria a elaboração de mais de 10.000 cenas.
Planejamento e análises ambientais - 23

A varredura reduz o campo de possibilidades, de modo que seja possível gerar algumas
imagens/cenários principais. O resultado deste exercício foi a geração de múltiplos cenários,
expostos conforme modelo da Figura 4.

Figura 4 – Imagens resumo dos cenários preliminares gerados


Hipótese geral/imagem Descrição completa da imagem
H1 Hipótese Geral/Imagem 1 Descrição sucinta da imagem 1
H2 Hipótese Geral/Imagem 2 Descrição sucinta da imagem 2
H3 Hipótese Geral/Imagem 3 Descrição sucinta da imagem 3
Hn - Hipótese Geral/Imagem n Descrição sucinta da imagem n
Fonte: LUNAS; EGLER; LUNAS, 2017.

Análise de proximidade dos cenários gerados

A matriz de proximidades (Figura 5 e 6) mostra o número de hipóteses comuns


entre todos os cenários, bem como a proximidade destas hipóteses em cada questão. Assim,
é possível gerar uma matriz que retrata a proximidade entre os cenários produzidos, de
modo a indicar quais serão os cenários a serem mantidos preliminarmente na próxima etapa
do estudo. A decisão a ser tomada nesse momento é de ajuste, para que se produza um
novo cenário, ou a eliminação de um deles, de modo que reste o mais plausível dentre os
cenários próximos.

Figura 5 – Matriz de proximidade dos cenários


Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Cenário 5 Cenário 6
1:2111213232 -1 3 0 3 0 0
2:3112112455 3 -1 5 7 1 0
3:3233322455 0 5 -1 3 4 3
4:2122112355 3 7 3 -1 0 0
5:4333331411 0 1 4 0 -1 7
6:1333331121 0 0 3 0 7 -1
Fonte: LUNAS; EGLER; LUNAS;, 2017.

A seguir é apresentado o mapa que espacializa os resultados da matriz acima


(Figura 6). Resulta de uma análise à distância, calculada a partir da matriz (Figura 5), e
permite visualizar o cenário num espaço bidimensional.
24

Na análise representada pela Figura 6, observa-se que os cenários com mais


proximidades são representados pelos de cenários 4 e 2, e pelos de cenários 5 e 6. Tal
quadro indica a possibilidade de que cada conjunto mais próximo seja reduzido a um. A
decisão sobre a redução deve caber aos atores participantes das oficinas regionais.

Figura 6 – Mapa de proximidade dos cenários gerados

Cenário 3

Cenário 2

Cenário 4

Cenário 5

Cenário 6

Cenário 1

Fonte: LUNAS; EGLER; LUNAS, 2017.

A definição dos cenários finais, a partir das seis cenas geradas pelos atores no
exercício participativo, leva em conta os fatores de plausibilidade e proximidade. Interessa
apontar as probabilidades de ocorrência em qualquer cenário externo e manter contrastes
entre os cenários, de modo que cenários próximos tendem a serem eliminados do rol com a
melhor combinação dos dois fatores. Deste modo, os critérios para definição dos três
cenários finais são:
Plausibilidade de cada cenário apontada por meio da tabulação de questionário de
probabilidade simples, em diversas situações externas (expansão econômica, tendencial e
crise). A conversão final em taxa de probabilidade está exposta por meio da Figura 7.
Proximidade dos cenários calculada por meio do software morphol, sendo
considerado, neste caso, a proximidade calculada e as mapeadas identificadas por meio das
Figuras 4 e 5.
Planejamento e análises ambientais - 25

Figura 7 – Probabilidades de ocorrência dos cenários


N° TRAJETÓRIA PROBABILIDADE
CENARIO 1 2111213232 0,4450
CENARIO 2 3112112455 0,5300
CENARIO 3 3233322455 0,4450
CENARIO 4 2122112355 0,6000
CENARIO 5 4333331411 0,2850
CENARIO 6 1333331121 0,4320
Fonte: LUNAS; EGLER; LUNAS, 2017.

A primeira análise permitiu verificar que os cenários 2 e 4 (Quadro 3) são os que


apresentam, em qualquer situação externa, as maiores probabilidades de ocorrência. Estes
dois cenários, contudo, apresentam proximidade matemática e espacial, ou seja, não
representam contrastes entre si, sendo necessária a eliminação de um deles. Neste caso, a
opção de manutenção deve ser a do cenário 4, que apresenta maior probabilidade de
ocorrência em qualquer cenário externo criado pelos atores.
Sobre o cenário 5, este foi avaliado com a menor probabilidade e por isso,
eliminado. Os demais cenários apresentam-se tecnicamente com a mesma probabilidade de
ocorrência (cenários 1, 3 e 6).
Com a utilização do segundo critério, juntamente com o mapeamento e
proximidade procedeu-se o desempate para efeito de definição dos três cenários principais.
Como já exposto, os cenários 4 e 2 foram apontados pelos atores como de alta
probabilidade de ocorrência, entretanto, por sua proximidade, foi eliminado o cenário 2, de
menor probabilidade.
Os cenários 5 e 6 também apresentam proximidade, sendo que o cenário 5 foi
apontado como de baixa probabilidade pelos atores. Pela condição dos contrastes nas
questões definidoras de zoneamento sobre o território, é mantido o cenário 6. Induz-se,
então, a manutenção do cenário 6, com a mesma probabilidade aproximada que os cenários
1 e 3.
Resta definir o último cenário, entre as opções 1 e 3. A primeira constatação é que
ambos apresentam o necessário distanciamento espacial, sendo que o cenário 3 é próximo
do cenário 2, mas este já foi eliminado, assim como o cenário 5. Os cenários 1 e 3, portanto,
estão em condição de igualdade de proximidade com os cenários restantes (4 e 6). Opta-se,
por este motivo, pela manutenção do cenário 3, por ser aquele que pode causar mais
26

instabilidade no sistema em função do cálculo de proximidade matemática. Os cenários


finais definidos são, portanto: 3, 4 e 6.

CENÁRIOS FINAIS

Os cenários finais representam o exercício de redução de incertezas a partir do


esforço dos diversos atores que participaram da reflexão coletiva nas oficinas locais e nas
oficinas estaduais – ambas devem ser realizadas. São apresentados aqui os cenários mais
plausíveis segundo os critérios de seleção justificados no item dos cenários preliminares.
Para a formação das imagens projetadas dos cenários busca-se o auxilio de textos
criativos ou cenas pictóricas e nomes criativos para as cenas geradas, de modo a superar o
desafio de pensar o futuro de maneira prospectiva. Na definição dos nomes dos cenários
para o estado de Mato Grosso do Sul, lançou-se mão de trechos de poesias de Manoel de
Barros, poeta local de reconhecimento internacional. Transcritas na forma de epígrafe, as
poesias foram utilizadas por representar de maneira genuinamente sul-mato-grossense o
sentimento geral, permitindo ampliar as percepções em relação a cada imagem de futuro.
Em um dos cenários reproduziu-se, por meio de sua poesia, a preocupação com os
serviços ambientais e recursos naturais: “Parede que me seduz é de tijolo, adobe / preposto
ao abdômen de uma casa. / Eu tenho um gosto rasteiro de ir por reentrâncias / baixar em
rachaduras de paredes / por frinchas, por gretas — com lascívia de hera” (BARROS, 1989, p.
11). O exercício de utilizar uma linguagem mais representativa do território torna-se uma
estratégia de difundir melhor a ideia do cenário proposto.
Os cenários são, por fim, estruturados segundo uma hipótese geral, seguida de uma
descrição da imagem e de um detalhamento da trajetória a partir da análise morfológica. No
exemplo acima mencionado, a cena descrita prevê transformações amenas no território e
impactos moderados. A descrição da imagem fixa-se em um desenvolvimento econômico
mais restrito e impactos moderados na biodiversidade.
A trajetória reflete a escolha de um ordenamento de incertezas críticas precedidas
por um cenário do geral para o particular, que parte de uma cena internacional de crise
moderada seguida de restrições ao crescimento econômico. De um lado, tais restrições
beneficiariam a preservação da biodiversidade, em que pesem as dificuldades do avanço das
Planejamento e análises ambientais - 27

atividades econômicas, por outro lado, aumentariam os problemas sociais e seus


decorrentes impactos.

CONCLUSÃO

Ao final do exercício prospectivo, tornamo-nos mais conscientes da necessidade de


práticas de planejamento. Como afirmou Michel Godet, o processo é tão, ou mais,
importante que o resultado.
Pôde-se perceber, após seis meses de trabalhos, estudos e discussões, a diversidade
de oportunidades, desafios, obstáculos e potencialidade que esperam o sul-mato-grossense
em um horizonte temporal de 20 anos.
Cabe ao Governo do Estado liderar um processo de ordenamento territorial e
adotar políticas participativas, para decidir com racionalidade os limites para a ocupação do
território em busca de um desenvolvimento sustentável. Este processo serve de inspiração,
pela adoção de uma metodologia plenamente participativa, para que os gestores públicos
busquem com mais frequência tanto o exercício de prospectiva estratégica quanto o
exercício participativo.
Tratou-se aqui de traçar, por meio de reflexões lógicas, possíveis trajetórias até um
ponto de chegada que dista 20 anos do momento atual. O que parece muito tempo pode
nada significar, face às imensas necessidades e dificuldades que cercam uma obra tão
grandiosa quanto a que constrói um território mais próspero para todos os cidadãos,
indistintamente.
Com este objetivo, iniciou-se a importante tarefa de desenhar imagens de futuro
condizentes com o ponto de partida, usando para isso elementos já amplamente estudados
e discutidos em diversas iniciativas anteriores. Afinal, não se pode desconsiderar o que já
havia sido construído nos exercícios anteriores.
O processo de elaboração de cenários prospectivos para zoneamento ecológico
econômico deve ser visto como uma obra viva e dinâmica, que deverá se perpetuar e se
repetir como fazem os povos mais desenvolvidos, preocupando-se com o futuro de seus
filhos e netos e optando por uma maior racionalidade em suas decisões estratégicas.
28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, Manoel de. O Guardador de águas. Rio de Janeiro: Record, 1998.

BERGER, Gaston. Phénoménologie du temps et du prospective. Philosophy and


Phenomenological Research, v. 26, n. 4, p. 615-616, jun., 1966.

BUARQUE, Sergio C. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de


planejamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.
GODET, Michel. Manual de prospectiva estratégica: da antecipação a acção. Lisboa: Dom
Quixote, 1993.

GODET, Michel; DURANCE, Philippe. A prospectiva estratégica: para as empresas e os


territórios. Lisboa: Dunod, 2011.

GODET, Softwares de prospectiva estratégica (SOFTWARE LIVRE). Disponível em


<http://pt.laprospective.fr/metodos-da-prospectiva.html>. Acesso em: 30 abr. 2016.

MATUS, Carlos. Política, planejamento & governo. Brasília-DF: IPEA, 1993.


NAISBITT, John. Paradoxo global: quanto maior a economia mundial, mais poderosos seus
protagonistas menores. Trad. Ivo Korytovski. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

PORTO, Cláudio; NASCIMENTO, Elimar Pinheiro; BUARQUE, Sérgio C. Cinco cenários para o
Brasil 2001-2003. Rio de Janeiro: Nórdica, 2001.

SCHEYVENS, Regina. Ecotourism and the empowerment of local communities. Tourism


Management. Palmerston North, New Zealand. p. 245–249, 1999.

SILVEIRA Ricardo de Jesus, Planejamento urbano participativo: a experiência de CAMBÉ-PR.


Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 1989.
Planejamento e análises ambientais - 29

Capítulo 2

A EXPANSÃO DAS LAVOURAS DE CANA-DE-AÇÚCAR NA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO BRILHANTE/MS E NA ÁREA DE INFLUÊNCIA
DAS USINAS SUCROENERGÉTICAS

Patricia Silva Ferreira


Doutoranda, UFGD, Brasil
patiferrera@gmail.com

Charlei Aparecido da Silva


Professor Doutor, UFGD, Brasil
charleisilva@ufgd.edu.br

INTRODUÇÃO

A produção de álcool e açúcar depende da quantidade e qualidade da matéria


prima disponível, uma vez que está diretamente ligada à área plantada e à produtividade
agrícola. De maneira geral, estes fatores estão vinculados a uma série de aspectos de cunho
socioeconômico, físico e ambiental.
A produtividade e longevidade da cultura são reguladas por diferentes fatores,
destaca-se como principais: a escolha da variedade e qualidade da matéria prima, fertilidade
do solo, condições climáticas, práticas de manejo culturais e método de colheita (BRASIL,
2007).
A cana-de-açúcar é uma cultura pouco exigente em solo, porém, tem
desenvolvimento mais vantajoso em solos com boa aeração, boa drenagem e com
profundidade maior que um metro (COOPERSUCAR, 1988). Nesse sentido, é pertinente dizer
que a produtividade da cana-de-açúcar é profundamente influenciada pelas condições
edafoclimáticas (tipo de solo, clima, precipitação, exposição solar e demanda de água), que
interferem diretamente no comportamento fisiológico da cultura.
30

Desse modo, alguns fatores físicos determinam a implantação de um canavial em


determinadas áreas, como a escolha adequada da época do plantio – este é um aspecto
fundamental para o bom desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar, que segundo
Rossetto e Santiago (2008), deve dispor de condições climáticas ideais para crescer e
acumular açúcar –, além de boa disponibilidade de água, temperaturas elevadas e alto índice
de radiação solar.
O planejamento da área selecionada para implantação de um canavial deve ainda
ser subsidiado por um levantamento topográfico, sendo que a área deverá apresentar
topografia plana à ligeiramente inclinada, a fim de diminuir os riscos de erosão (TOWNSEND,
2000) e favorecer o uso de máquinas. Atualmente, procura-se obter talhões planos com
sulcos de plantio de cana de grande comprimento, com o objetivo de evitar manobras das
máquinas e otimizar as operações mecanizadas. Para a utilização do sistema mecanizado é
recomendável que as terras possuam declives suaves, assim, De Biasi (1992) estabelece que
declives iguais ou menores que 12% são o limite máximo para utilizar máquinas no preparo
do solo ou colheita.
Por se apresentar como uma atividade diferenciada de outras culturas, para o
cultivo da cana-de-açúcar é primordial verificar a distância das áreas de plantio e a unidade
industrial, que não deverá ultrapassar 50km. Usualmente, em tradicionais regiões
produtoras de cana, utiliza-se uma distância econômica padrão da produção até a indústria,
de 20 km.
Diante disso, o presente estudo apresenta uma pesquisa relacionada à identificação
dos principais aspectos para cultivo da cana-de-açúcar, como as características fisiológicas
da planta, as condições edafoclimáticas ideais para seu desenvolvimento e a zona de
influência das usinas. Tais circunstâncias levam às condições favoráveis para instalação de
indústrias de processamento da cana-de-açúcar, denominadas neste estudo de unidades
sucroenergéticas5.
Posto isso, o objetivo da pesquisa foi identificar a distribuição das unidades
sucroenergéticas e a área de influência das indústrias em uma área de cultivo extensivo da
cana-de-açúcar, como é o caso da bacia hidrográfica do Rio Brilhante/MS, utilizando como

5
O termo sucroenergético define melhor as características da atividade canavieira no Brasil nos dias atuais,
que produz muito mais do que açúcar como produto. Com o elevado nível de investimento tecnológico, a
matéria-prima utilizada na fabricação do açúcar, a cana, teve seu rendimento expandido para a produção de
etanol e bioenergia, alavancando este setor para o ramo da energia.
Planejamento e análises ambientais - 31

métodos de análise o trabalho de campo, aliado ao emprego de ferramentas


geotecnológicas e às técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto.
A adoção da bacia hidrográfica como unidade física de planejamento além de ser
preconizada na Lei n. 9.433, de 08 de janeiro de 1997 (BRASIL, 1997), que institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) para implantação das políticas públicas, ainda é vista
como uma unidade de organização espacial que envolve inúmeras variáveis de análise,
naturais e socioeconômicas.
A bacia hidrográfica se “constitui um sistema natural bem delimitado no espaço,
composto por um conjunto de terras topograficamente drenadas por um curso d’água e
seus afluentes” (SANTOS, 2004, p. 40), onde as interações são integradas e, dessa maneira,
interpretadas com facilidade.
Venturi (2005) reforça o papel que as bacias hidrográficas desempenham no
contexto das mudanças ambientais e as caracteriza como uma das referências espaciais mais
conceituadas em estudos do meio físico, visto que fornecem subsídios para grande parte da
legislação e planejamento ambiental, tanto no Brasil como em outros países.

O CICLO DE DESENVOLVIMENTO DA CANA-DE-AÇÚCAR

A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) é uma gramínea originária do sudoeste


da Ásia, especificamente das montanhas da ilha de Nova Guiné. É uma cultura semiperene,
possuindo um ciclo econômico de cinco a seis anos. É designada cana planta até a primeira
colheita, com um período de crescimento em torno de 12 meses (cana de ano) ou 18 meses
(cana de ano e meio), dependendo da época do plantio. Após a primeira colheita, a cana-de-
açúcar passa a ser denominada de soca, seguida pela ressoca e segunda ressoca; cada uma
destas fases corresponde a um período em torno de 12 meses de crescimento (RUDORFF,
1985).
Como já constatado por Rudorff (1985); Rudorff e Sugawara (2007), a cana-de-
açúcar é uma cultura de clima tropical, geralmente plantada entre as latitudes 35° Norte e
Sul, já que em altitudes elevadas e ausência ou excesso de precipitação impedem seu
cultivo. Atinge máximo potencial de produção quando cultivada em áreas com médias de
temperaturas entre 22° e 30°C – para um crescimento dinâmico, a temperatura mínima deve
ficar em torno de 20°C. O período de crescimento vegetativo mais intenso, época na qual a
32

cultura possui alta demanda por água (cerca de 1.500mm a 2.500mm, dependendo o clima),
radiação e temperatura, é verificado entre os meses de outubro a março. A partir de abril, a
cana passa a ser induzida ao repouso e requer um déficit hídrico ou térmico para acumular
sacarose nos colmos. Em seguida, inicia-se o período da colheita, que normalmente se
estende até o mês de outubro.
As variedades de cana-de-açúcar na região centro-sul são divididas em quatro
grupos, tendo em vista sua relação com a maturação, ou seja, o período dentro da safra em
que atingem o máximo teor de sacarose nos colmos (NUNES JR, 1987):

• G1: Grupo de variedades de maturação precoce; atinge o máximo teor de


sacarose de abril a maio;
• G2: Grupo variedades de maturação semiprecoce; atinge o máximo teor de
sacarose no final de maio ao início de julho;
• G3: Grupo de variedades de maturação média; atinge o máximo teor de sacarose
do final de julho ao início de outubro;
• G4: Grupo de variedades de maturação tardia; atinge o máximo teor de sacarose
de outubro a novembro.

Na região centro-sul, o plantio é realizado em duas épocas do ano: o plantio de cana


de ano, realizado de setembro a outubro, que permite a colheita da cana-de-açúcar com
aproximadamente 12 meses e o plantio da cana de ano e meio, realizado de janeiro a março,
e que permite a colheita após cerca de 18 meses (Figura 1).
Planejamento e análises ambientais - 33

Figura 1. Período de operações agrícolas para a cana-de-açúcar na região centro-sul

Fonte: Adaptado de MARCHIORI (2004).

Segundo Rodrigues (1995), a cana de ano, plantada em setembro/outubro, atinge


seu desenvolvimento máximo de novembro a abril, diminuindo em seguida, devido às
condições do clima adversas do período de inverno na região centro-sul, podendo ser
colhida a partir de julho. A cana de ano e meio, plantada de janeiro a março, apresenta
crescimento mínimo de maio a setembro, em função das condições pouco favoráveis na
região, porém no início do período chuvoso (dezembro a abril), desencadeia a fase de maior
crescimento (Figura 2).

Figura 2. Ciclos da cana-de-açúcar e variações na temperatura e pluviosidade, na região centro-sul

Fonte: Adaptado de MARCHIORI (2004).


34

Portanto, condições de clima, relevo, variedade de espécie e logística são fatores


preponderantes à produção da cana-de-açúcar e que podem influenciar na expansão e
produtividade. As interferências climáticas e do regime hídrico são apontadas como
principais, porém segundo Picoli (2007), as diferenças entre tipos de solo podem minimizar
os danos por déficit hídrico – cultivos em solos argilosos são menos afetados do que em
solos arenosos, devido à capacidade de retenção de água desses solos.

DESENVOLVIMENTO DO SETOR SUCROENERGÉTICO NO ESTADO DO MATO


GROSSO DO SUL

Com início nos anos 1980, os investimentos do setor canavieiro no Mato Grosso do Sul
migraram a partir do nordeste brasileiro, historicamente, a principal região produtora do país. Nesse
período, o mercado sucroalcooleiro era composto por pequenas empresas, muitas vezes de origem
familiar e trabalhadores, também do núcleo da família, que realizavam o corte manual da cana. No
processo de incentivos para a consolidação desse mercado, o estado torna-se atrativo para as
grandes empresas e grupos internacionais. Ao procurarem se instalar no estado, indústrias de capital
estrangeiro passaram a adquirir unidades industriais de grupos de origem familiar (BACKES, 2009).
Em 2000, o grupo Louis Dreyfus marcou a entrada do capital estrangeiro direto na
produção da cana-de-açúcar quando adquiriu três unidades no país, incluindo a usina Passa Tempo,
em Rio Brilhante. Hoje, o grupo, que tem como subsidiária a Biosev, possui três unidades no estado,
todas elas no interior ou na área de influência da bacia do Rio Brilhante.
De acordo com Backes (2009), os grupos internacionais destacam-se pela tecnologia de
ponta que empregam na produção e construção de suas usinas, no monitoramento da safra, nas
pesquisas do ramo, etc. O cenário que se verifica atualmente é o de internacionalização do segmento
sucroenergético no Mato Grosso do Sul, controlado por poucos grupos, que praticamente já
mecanizaram toda a produção, concentrando o capital e escoando-o para fora do país.
No território sul-mato-grossense, a distribuição das unidades industriais de processamento
de cana-de-açúcar é desuniforme, pelas características edafoclimáticas discrepantes das diferentes
regiões do estado. A grande maioria das unidades de produção está localizada no centro-sul do
estado, sob influência dos climas de estação seca no inverno.
Além dos fatores físicos, há outros motivos para a migração e a expansão do setor
canavieiro para Mato Grosso do Sul, dentro os quais se destacam-se:
I. Os incentivos fiscais concedidos pelo poder público na esfera federal, estadual e/ou
municipal, que podem contribuir no processo de tomada de decisão de
empreendimentos de grande porte que pretendem se instalar em um local, o interesse
Planejamento e análises ambientais - 35

na instalação de novos empreendimentos é voltado a movimentação econômica gerada


para a região.
II. O baixo custo das terras para arrendamento ou compra, principalmente quando
comparado ao Estado de São Paulo;
III. A infraestrutura de transporte com ligação rodoviária pelas estradas federais e
estaduais pavimentadas fornecem suporte logístico e facilitam o escoamento da
produção e o acesso aos principais polos e portos, como é o caso de Porto Murtinho no
Rio Paraguai.
De acordo com Pereira (2007), Mato Grosso do Sul criou uma estratégia para
promover a atração de unidades industriais sucroenergéticas que, de maneira geral,
abrangeu a isenção ou descontos nas alíquotas de impostos, dentre outros benefícios. A Lei
Complementar 093/2001 concede isenção fiscal de 67% nas guias de recolhimento do ICMS
(Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Certamente outro fator que contribuiu para a grande atração desse segmento ao
estado foi o custo baixo das terras para arrendamento ou compra, principalmente quando
comparado ao estado de São Paulo, onde, em média, um hectare chega a custar três vezes
mais do que no Mato Grosso do Sul (PEREIRA, 2007), sem contar que há uma saturação de
áreas cultivadas com cana no estado de São Paulo (maior produtor nacional), levando novas
indústrias a procurarem outras regiões.
A infraestrutura de transporte, com ligação rodoviária pelas estradas federais e
estaduais pavimentadas, fornece suporte logístico e facilita o escoamento da produção e o
acesso aos principais polos e portos, como é o caso de Porto Murtinho no Rio Paraguai.
Aliado a isso, as redes de energia elétrica conectadas ao sistema nacional são condições que
também atraem investimentos na cadeia sucroenergética. De acordo com Frata e Faria
(2008, p. 75), “A geração de energia elétrica excedente para comercialização é uma proposta
dos empreendimentos que se instalam na região” e que se interessam ainda pela existência
de uma estrutura de serviços e de suporte presente nos munícipios de médio e pequeno
porte.
No que se refere à localização geográfica, Mato Grosso do Sul encontra-se em lugar
privilegiado, visto que o estado está bem próximo dos grandes centros consumidores do
país, especialmente do estado de São Paulo, o que contribui para o seu desenvolvimento
econômico (DOMINGUES, 2010).
36

METODOLOGIA

A metodologia empregada nesta pesquisa baseia-se nos recursos geotecnológicos,


envolvendo técnicas de aquisição, tratamento, armazenamento e análise espacial de dados
extraídos via Sistema de Informações Geográficas (SIG). Os dados foram agregados em
ambiente SIG, que permite adquirir, armazenar, combinar, analisar e recuperar informações
codificadas, espaciais ou não, possibilitando o tratamento de dados nos formatos vetoriais e
matriciais, bem como a combinação de funções de tratamento e processamento de
sensoriamento remoto e análise espacial de informações geográficas georreferenciadas por
meio de um único ambiente integrado e interativo (FITZ, 2008).
Foram utilizados, concomitantemente, os softwares Arcgis 10.2® (ESRI, 2014) e
QGIS 2.12® (QGIS,2015), e os dados obtidos de fontes secundárias de órgãos oficiais foram
georreferenciados no Datum SIRGAS 2000 (Sistema de Referência Geocêntrico das Américas)
e sistema de coordenadas UTM (Universal Transversa de Mercator). Todos os produtos
cartográficos foram construídos sob a mesma base cartográfica, na escala 1: 800.000.
Os dados oficiais do levantamento de área plantada e as informações históricas da
produção da cana-de-açúcar nos municípios foram obtidos por fontes como o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e seu banco de dados históricos (IBGE, 2015), a
Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2015) e também nos relatórios da safra da
cana-de-açúcar elaborados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA). Destaca-se
que o IBGE e a CONAB são os dois órgãos governamentais responsáveis pelas estatísticas
oficiais de área, produção e produtividade das culturas agrícolas no país.
As informações da área plantada com cana-de-açúcar levantadas por meio da
identificação e mapeamento foram obtidas do banco de dados do CANASAT, que é um
projeto formado desde 2003 a partir de uma parceria do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), o
Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e a única, com o objetido de mapear a área de cana
na região centro-sul do Brasil (RUDORFF et al., 2010).
O levantamento de campo teve como objetivo, além de verificar as áreas ocupadas
com cana-de-açúcar, mapear a localização das usinas inseridas na bacia hidrográfica do Rio
Brilhante e em sua área de influência. Tal procedimento foi subsidiado pela coleta de pontos
de controle com GPS Garmin Etrex.
Planejamento e análises ambientais - 37

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As características físicas e econômicas que se apresentam na bacia do Rio Brilhante


conduzem a um panorama de crescente expansão do setor sucroenergético. Atualmente,
Mato Grosso do Sul conta com 25 unidades processadoras de cana-de-açúcar em todo seu
território, só a região centro-sul do estado abrange 19 unidades. Dentre os municípios que
possuem unidades sucroenergéticas instaladas, aqueles que compõem a bacia do Rio
Brilhante concentram 9 (nove) unidades desse segmento.
Localizadas dentro do território da bacia do Rio Brilhante, estão 4 (quatro) unidades
e outras 11 unidades estão próximas à bacia do Rio Brilhante, em uma área de influência
com raio de 50km. O Quadro 1 apresenta informações como nome e localização das usinas
sucroenergéticas e a Figura 3, as mesmas informações espacialmente.

Quadro 1. Razão social e localização das usinas inseridas nos limites e proximidades da
bacia hidrográfica do Rio Brilhante/MS
Usinas Localização Munícipio
Acesso pela Rodovia MS 460, Km 54 -
1 Biosev – Unidade Maracaju Maracaju
Interior da bacia do

Fazenda Estrada da Água Fria, s/n


Rio Brilhante

Rodovia BR 163, Km 329 - Fazenda Santa


2 Biosev – Unidade Rio Brilhante Rio Brilhante
Maria, s/n
Odebrecht Agroindustrial – Rodovia MS 145, Km 49 - Fazenda S. Pedro,
3 Rio Brilhante
Unidade Eldorado s/n
Acesso pela Rodovia MS 164 - Fazenda Bom
4 Tonon – Unidade Vista Alegre Maracaju
Retiro, s/n
Acesso pela Rodovia BR 267, Km 321 -
5 Biosev – Unidade Passa Tempo Rio Brilhante
Fazenda Passa Tempo, s/n
Bunge Brasil – Unidade
6 Rodovia BR 463 - Km 35, s/n Ponta Porã
Monteverde
Acesso pela Rodovia BR 376 - Linha do
7 Fátima do Sul Agroenergética Fátima do Sul
Proximidades (raio 50km)

Barreirrinho - Lotes 02,03 e 04 - Quadra 43


Acesso pela Rodovia BR 274, Km 14 - Fazenda
8 Adecoagro –Angélica Agroenergia Angélica
Kurupay, s/n
Odebrecht Agroindustrial – Acesso pela Rodovia BR 267, Km 231 - Nova Alvorada
9
Unidade Santa Luzia I Fazenda São Sebastião do Sul
10 São Fernando Açúcar e Álcool Rodovia MS 379, Km 09, s/n Dourados
Acesso pela Rodovia MS 147 - Fazenda Dois
11 Energética Vicentina Vicentina
Córregos, Lote 43 - Quadra 20
Acesso pela Rodovia MS 060, Km 476 –
12 Agrison Bioenergia Ltda Sidrolândia
Fazenda Olímpio, s/n
13 Raízen – Caarapó Rodovia MS 156, Km 12 - s/n Caarapó
Rodovia MS 14, Km. 10 - s/n – Fazenda
14 Adecoagro – Vale do Ivinhema Ivinhema
Carmen
Acesso pela Rodovia MS 134, Km 25 –
15 Energética Santa Helena Nova Andradina
Fazenda Santa Helena s/n
Fonte: FERREIRA (2016).
38

Figura 3. Distribuição das usinas com influência na bacia hidrográfica do Rio Brilhante

Fonte: FERREIRA (2016).

Ao analisar a Figura 3, no que diz respeito à área de influência das usinas, fica claro
um eixo de pressão na porção sudeste da bacia do Rio Brilhante, demonstrado pelo grande
número de raios sobrepostos, que se deve à maior quantidade de usinas instaladas nessa
região. Consequentemente, isso acarreta em uma disputa por essas áreas para plantio da
cana-de-açúcar, tornando-as grandes áreas de monocultura.
O redimensionamento territorial, sobretudo na região centro-sul do estado,
principalmente no que se refere ao processo de territorialização da cana-de-açúcar, é
verificado também em outros estudos, vide Pereira (2007); Azevedo (2008); Backes (2009);
Domingues (2010); e Pinto Junior (2014). E se apresenta como uma tendência crescente,
considerando que até o começo dos anos 2000 essa região não possuía nenhuma
representatividade como produtor de cana-de-açúcar e derivados (açúcar e álcool).
Ao analisar os dados históricos de cultivo da cana-de-açúcar pelo Sistema IBGE de
Recuperação Automática (SIDRA-IBGE, 2015), verifica-se que há uma ampliação acelerada do
setor sucroenergético. A cana-de-açúcar vem se territorializando nos municípios em que
anteriormente não havia cultivo dessa cultura, conforme se constata na Figura 4.
Planejamento e análises ambientais - 39

Figura 4. Produção agrícola nos municípios da bacia do Rio Brilhante

Fonte: FERREIRA (2016).

Em 2014, os municípios com maior índice na produção de cana-de-açúcar da bacia


eram: Rio Brilhante, com 33,5% da área plantada e 5,7 milhões de toneladas produzidas;
Dourados, com 19,2% e 3,1 milhões de toneladas produzidas; Ponta Porã, com 14,4% e 2,5
milhões de toneladas; e Maracaju, com 13,5% e 2,2 milhões de toneladas. Os quatro
municípios juntos somam mais de 80% da produção total dos municípios que compõem a
bacia do Rio Brilhante.
O município com maior área plantada e quantidade produzida de cana-de-açúcar da
bacia é Rio Brilhante. Em 2014, o município se concentrou no plantio da cultura temporária,
e os cultivos de soja, milho e cana-de-açúcar ocuparam, juntos, 98% da área de cultura
temporária. Segundo o SEBRAE/MS (2015), no mesmo ano, o município de Rio Brilhante
contribuiu para as exportações do estado com U$ 60.097.831,00, principalmente com a
venda de açúcares de cana (86,33%), milho (6,92%) e soja (6,63%).
Nesse contexto é que se destaca o motivo de algumas preocupações: a
caracterização do novo cenário que se configura, de expansão da monocultura da cana-de-
40

açúcar, que vem ganhando cada vez mais áreas para seu plantio e implantação de novas
unidades sucroenergéticas. A disputa de áreas entre a cana-de-açúcar e os grãos deve
acarretar embates econômicos e políticos.

Figura 5. Área plantada com cana-de-açúcar e localização das usinas sucroenergéticas no interior e no raio de influência
da bacia do Rio Brilhante

Fonte: FERREIRA (2016).

É possível perceber que a atividade econômica canavieira desenvolvida nesta bacia


hidrográfica é regulada por uma série de fatores, como as características físicas dominantes,
a constituição de um relevo plano, a presença do Latossolo Vermelho favorável ao
desenvolvimento desse cultivo, assim como a grande disponibilidade hídrica, proporcionada
por uma densa rede de drenagem.
Não obstante, outras questões também influenciam diretamente na implantação
das unidades sucroenergéticas na bacia do Rio Brilhante, como os incentivos fiscais
concedidos no âmbito estadual e municipal, a localização geográfica da bacia (por estar na
região centro-sul do estado, próxima à capital Campo Grande), e abranger parte do território
de Dourados, que é considerado, segundo Mato Grosso do Sul (2015), o principal polo
Planejamento e análises ambientais - 41

industrial, comercial e de serviços da região, oferecendo acesso aos principais mercados


nacionais e internacionais com facilidade logística para escoamento da produção agrícola.

CONCLUSÃO

Os resultados demonstram que a região centro-sul, sudeste e nordeste do estado


do Mato Grosso do Sul são as áreas mais propícias ao cultivo da cana-de-açúcar, que tende a
ocupar as áreas de pastagens. Porém alguns estudos, vide Pinto Junior, Silva e Berezuk
(2014) e Ferreira e Silva (2016) demonstram que a expansão da cana-de-açúcar vêm
ocorrendo extensivamente em locais já ocupados por agricultura, o que desmistifica e
contradiz as falas governamentais de que essa cultura, efetivamente, ocupa áreas de
pastagem, solos já degradados.
Sabe-se que a cultura da cana não é muito exigente com solos, todavia, apresenta
melhor desempenho onde há boa aeração e boa drenagem. Tal condição pode justificar a
expansão das atividades agroindustriais em áreas de solos mais férteis, onde a agricultura
cedeu lugar para produção da cana-de-açúcar.
Nesse sentido, verifica-se uma demanda de normatização das áreas destinadas ao
plantio da cana-de-açúcar, principalmente no âmbito municipal, na área da bacia do Rio
Brilhante e seu entorno, haja vista que esta cultura dificilmente cede espaço para outros
usos. Portanto, caso se exima da elaboração do planejamento ambiental da bacia, corre-se o
risco de acabar comprometendo, ao longo do tempo, os serviços ambientais prestados por
essa unidade hidrográfica, passando por um processo de ocupação extensiva da cana, igual
ao que se verificou nos estados de São Paulo e Goiás.

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44
Planejamento e análises ambientais - 45

Capítulo 3

MAPEAMENTO TEMÁTICO COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO E


PLANEJAMENTO TERRITORIAL, APLICADO À PROPRIEDADE RURAL
NO MUNICÍPIO DE CARLÓPOLIS/PR - BRASIL

Pedro Höfig
Geógrafo, MsC. em Ciência do Solo, Catena Planejamento Territorial.
E-mail: pedro@catenaterritorial.com

Glauco Marighella Ferreira da Silva


Geógrafo, Catena Planejamento Territorial.
E-mail: glauco@catenaterritorial.com

Elvio Giasson
Eng. Agrônomo, Dr. em Ciência do Solo, Professor do Departamento de Solos da UFRGS.
E-mail: giasson@ufrgs.br

Nina Simone Vilaverde Moura


Geógrafa, Dr. em Geografia, Professora do Departamento de Geografia da UFRGS.
E-mail: nina.moura@ufrgs.br

Eduardo Augusto Werneck Ribeiro


Geógrafo, Dr. em Geografia, Professor do IFC – Campus São Francisco do Sul/SC.
E-mail: eduardo.werneck@ifc.edu.br

INTRODUÇÃO

No conjunto das atividades humanas, a Cartografia desempenha papel importante.


O mapa atua, por meio da representação, para o melhor conhecimento de causas,
ocorrência e efeito dos fatos do território, não só nas suas características naturais,
geométricas e físicas, como também nas marcas que o homem lhe imprime (CASTRO, 1945).
O conhecimento da distribuição espacial de feições naturais e antrópicas é importante, por
46

exemplo, para o diagnóstico e solução de problemas relacionados ao planejamento e gestão


territorial.
As condições fisiográficas de uma propriedade podem produzir um gradiente de
microcondições, incluindo variações na drenagem, carreamento dos nutrientes e partículas
do solo, arquitetura do dossel, temperatura do solo, intensidade da radiação
fotossinteticamente ativa, assim como o tempo de exposição e ângulo de interceptação
(GANDOLFI, 2000; PEZZOPANE, 2002; RODRIGUES et al., 2007).
O conhecimento territorial é indispensável para entender e trabalhar o espaço
geográfico e nele identificar e ampliar suas potencialidades. A visão sintética e reduzida do
território, proporcionada pela visualização vertical, permite analisar a inter-relação entre os
aspectos naturais e antrópicos (GRANELL-PÉREZ, 2004). A análise destas inter-relações
precede as ações de planejamento e gestão do espaço geográfico.
Entende-se por planejamento os estudos sobre o estabelecimento de um conjunto
coordenado de ações visando à consecução de um determinado objetivo, através da
identificação de estratégias de enfrentamento de problemas e mecanismos de
implementação de ações, tendo como resultado a elaboração de planos, programas e
projetos (PAIM & TEIXEIRA, 2006). Trata-se de uma forma de prospectar o futuro e antecipar
tendências, definindo com clareza os objetivos, ações, metas, recursos e métodos para
monitoramento e gestão (DRUCKER, 1998).
O histórico do planejamento territorial brasileiro, desde o retorno democrático, se
deu baseado em planejamentos setoriais, elencando alguns setores em detrimento de
outros, ignorando o potencial total da área. Entretanto, a experiência tem mostrado que
essa otimização isolada gera ineficiências (IPEA, 2009). Assim, a análise integrada do
ambiente tem se revelado uma proeminente proposta de planejamento, já que busca
potencializar o território em suas várias vertentes e compreender suas fragilidades em
relação aos diferentes tipos de uso e ocupação do solo.
A gestão está relacionada com a forma direta de atingir o que se buscou durante o
planejamento, através da criação e utilização de meios que possibilitem concretizar os
princípios de organização das ações propostas, como gestão de qualidade, gestão
estratégica, gestão de recursos humanos, gestão orçamentária e financeira (PAIM &
TEIXEIRA, 2006).
Planejamento e análises ambientais - 47

Dessa forma, os recursos de geotecnologias são importantes ferramentas de


diagnóstico para o planejamento e gestão territorial, utilizados para simular e analisar
diversos cenários com agilidade, transformando uma base de dados heterogênea em
informação relevante.
Nesse sentido, destaca-se a aquisição rápida de dados em larga escala (SILVA &
ZAIDAN, 2007). O desenvolvimento tecnológico acelerado, junto com fatores políticos e
sociais, levou as empresas a viverem uma nova realidade. Para ampliar sua eficiência, é
necessário lidar com informações que até pouco tempo não eram tão importantes
(GUTIERREZ, 1999), sendo necessária a incorporação de novos conhecimentos nos processos
produtivos e decisórios.
Tabelas extensas e complexas transformadas em mapas facilitam a análise, o que
aumenta sua acurácia e otimiza o uso do tempo. Características físicas das propriedades
podem ser levantadas com o uso de imagem de satélite e de Modelos Digitais de Elevação
(MDEs), o que agiliza e diminui os custos da geração de dados.
Sendo assim, o mapa temático se apresenta como um produto final do processo de
geração da informação geográfica. Tem como objetivo representar o espaço de forma
bidimensional e comunicar os fenômenos ali representados; por isso, o mapa é um
instrumento de descoberta a serviço de uma ação, o que auxilia na tomada de decisão.
As tomadas de decisões são baseadas em três pilares: o dado, a informação e o
conhecimento. Estes pilares, se não relacionados entre si, acabam por comprometer a
qualidade das decisões tomadas pelos agentes. A forma de inter-relação entre esses fatores
é baseada na comunicação entre as pessoas que os detêm, sendo tal comunicação essencial
para os rumos das ações. Para que as decisões sejam tomadas com rapidez e qualidade, é
necessário que se crie mecanismos eficientes de comunicação, evitando conflitos de
interpretações, e o mapa se mostra uma ferramenta inequívoca para distribuição e
verificação de ações de cunho espacial (ANGELONI, 2003). Seja pela verificação de estado,
base de reflexão e de previsão, ou guia de execução, o mapa intervém em todos os estágios
de contato entre o usuário e o território (JOLY,1990). Assim, ele se apresenta como um
produto final capaz de auxiliar o usuário na tomada de decisão.
Este trabalho objetiva, por meio de técnicas de geoprocessamento, rápidas e de
baixo custo, demonstrar como o mapeamento temático de uma propriedade rural pode
subsidiar a elaboração de um projeto capaz de auxiliar no desenvolvimento da área. Isto
48

porque é por meio de uma visão integrada do território que se pode definir os objetivos e as
metas adequadas para o planejamento e gestão da área, e fundamentar as tomadas de
decisões. Nesse sentido, foram confeccionados mapas de localização, uso do solo e
infraestrutura, altitude, declividade, irradiação solar, índice de umidade topográfica e
potencial à erosão laminar. As análises dos resultados, espacialmente representados nos
mapas, permitem conhecer as potencialidades e as fragilidades da propriedade rural,
auxiliando os gestores na tomada de decisões de forma direcionada e otimizada frente aos
tipos de uso atuais e, ainda, estabelecer diretrizes para o planejamento de médio e longo
prazos.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi realizado na Fazenda Modelo (nome fictício), que se localiza no Norte
Pioneiro do Paraná, na microrregião de Wenceslau Braz (IBGE, 1990), mais precisamente no
município de Carlópolis, na divisa com o estado de São Paulo. A fazenda, que possui 129,15
hectares, está localizada a cerca de 15km da sede municipal, com acesso principal pela
rodovia PR-218, no trecho que liga a cidade de Carlópolis e o município de Fartura, no
estado de São Paulo, seguindo por estrada de terra até a propriedade (Figura 1).
Planejamento e análises ambientais - 49

Figura 1: Localização da propriedade

Fonte: IBGE, 2015.

Para gerar os produtos, foram utilizadas bases cartográficas oficiais do IBGE,


imagens de satélite e o Modelo Digital de Elevação (MDE) Topodata, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE). Ressalta-se que o trabalhado foi pautado em informações
disponíveis gratuitamente. Em ambiente ArcGIS 10® (ENVIRONMENTAL SYSTEMS RESEARCH
INSTITUTE, 2010), foram produzidas as variáveis do terreno.
A construção da base de dados se deu por meio da seleção e relação dos dados que
alimentaram o SIG (Sistema de Informações Geográficas) da Fazenda Modelo no software,
no qual se gerou um banco de dados georreferenciado. O sistema de coordenadas utilizado
foi o UTM, zona 22 Sul e datum SIRGAS 2000. Os arquivos vetoriais foram elaborados em
escala de 1:2.000.
Os arquivos vetoriais básicos para o mapeamento foram obtidos no banco de dados
do IBGE (2015), sendo eles a delimitação dos municípios, estradas e a hidrografia. Isso
possibilitou a localização da propriedade e estabeleceu parâmetros de distância e
deslocamento no entorno da área.
50

As imagens de satélite usadas foram aquelas geradas pelo satélite Quickbird,


disponíveis no Google Earth, datadas de janeiro de 2015, com resolução espacial de 0,7m,
possibilitando a identificação das feições expostas (áreas de plantio, vegetação nativa e
edificações) em toda a propriedade e arredores. Foram utilizados dados referentes à banda
de frequência do espectro visível.
O mapa de uso do solo foi elaborado a partir de técnicas de geoprocessamento e
sensoriamento remoto. A partir da identificação das feições, delimitaram-se as áreas por
meio de polígonos em formato shapefile. Posteriormente, foram calculadas as áreas de cada
tipo de uso e elaborou-se o produto.
Para informações sobre o terreno, foram utilizados dados do MDE Topodata. O
MDE é um plano de informação que descreve a altitude, ponto a ponto, de uma
determinada área. O Topodata é produto de processamentos digitais do MDE do Shuttle
Radar Topography Mission (SRTM) da NASA (Nacional Aeronautics and Space
Administration), efetuado pelo Departamento de Sensoriamento Remoto (DSR) do INPE
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O DSR converteu os dados originais da SRTM
(90m) para resolução de 30m (TOPODATA, 2014).
Com o armazenamento dos dados de altimetria do MDE, gerou-se o mapa
hipsométrico, que é a altura do terreno em relação ao nível do mar (FLORENZANO, 2008b). A
partir das informações de altitude, foram derivadas outras informações físicas da área.
A declividade, que é a inclinação do relevo em relação ao plano horizontal
(FLORENZANO, 2008a), informa o aspecto vertical do terreno pelo diferencial altimétrico
entre pixels vizinhos. Para cada célula, a ferramenta Slope calcula a taxa máxima de
mudança de valor dentre os vizinhos. A declividade é uma das principais características
geomorfológicas limitantes à utilização de máquinas agrícolas. Por isso, as classes de
declividade foram distribuídas de acordo com a potencialidade à mecanização: a)
extremamente apta (0% a 5%); b) muito apta (5,1% a 10%); c) apta (10,1% a 15%); d)
moderadamente apta (15,1% a 20%); e e) não recomendada (> 20%), conforme Silva et al.
(2010).
O mapa de insolação anual foi gerado a partir de um algoritmo matemático que
considera a carga máxima de radiação solar ao longo de um ano, levando em conta o eixo de
inclinação e a rotação da Terra, além da forma do terreno (FU & RICH, 2002). Para tanto, o
script Area Solar Radiation soma a radiação solar direta e a radiação solar difusa de cada
Planejamento e análises ambientais - 51

setor do território. Geralmente, a maior componente da radiação é a direta, seguida pela


difusa. A radiação refletida constitui apenas uma pequena porção do total de radiação. Por
isso, a ferramenta não inclui radiação refletida no cálculo do total de radiação.
Com a extensão Topographic Weteness Index foi gerada a variável Índice de
Umidade Topográfica (IUT). O IUT é a função da declividade e da área de contribuição por
unidade de largura ortogonal à direção do fluxo (ARAUJO & SILVA, 2011), e caracteriza as
zonas de saturação de água superficial. O significado físico desse comportamento é que
quanto mais plana e baixa for a superfície, mais úmido é o terreno (SIRTOLI et al., 2008);
quanto menor o valor do IUT, mais bem drenada é a superfície.
Para elaboração do mapa de potencial à erosão laminar, primeiramente, fez-se um
mapa de suscetibilidade à erosão laminar, cruzando as classes de erodibilidade do solo
(BERTONI & LOMBARDI-NETO, 1985) com a declividade. Essas informações foram unidas
com o uso atual do solo, gerando a matriz de definição das classes de potencial atual à
erosão laminar (IPT, 1990).
Foi gerada, também, a curvatura do perfil, com a ferramenta Curvature. A curvatura
representa a taxa de variação da declividade na direção de sua orientação, e está
relacionada ao caráter convexo ou côncavo do terreno, sendo decisiva na aceleração ou
desaceleração do fluxo da água sobre o mesmo. Valores negativos representam convexidade
(maior erosividade), ao passo que os positivos significam concavidade (maior deposição). Na
medida em que se aproxima do zero, a vertente mostra-se retilínea (ANJOS, MENEGETTE
JÚNIOR & NUNUE, 2011).
Assim, em um único mapa, foram sobrepostas as informações de potencial à erosão
laminar e curvatura do perfil, tendo em vista um diagnóstico mais preciso.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A determinação das características físicas e estruturais permite a visualização dos


potenciais, carências e áreas frágeis da propriedade. Por meio da determinação destes
atributos, oferece-se ao produtor mais informações sobre sua propriedade, tendo em vista a
destinação de usos mais adequados para cada parcela do solo.
52

Com as imagens da superfície terrestre foi possível delimitar o uso do solo e


determinar as áreas que cada produção ou atividade ocupa (Figura 2). O principal uso da
propriedade é referente ao plantio de café, com 66,96% da cobertura total. Para os tratos
com o café, a propriedade conta com uma edificação e um galpão para armazenagem de
equipamentos e suplementos. Além da área de café, a propriedade ainda conta 19,09
hectares de pastagem. No tocante à vegetação nativa, a propriedade é composta por 12,88%
de Mata Atlântica.
Há cerca de três anos, a área de pastagem da propriedade não é utilizada, assim,
aproximadamente 15% da propriedade é atualmente improdutiva. Essa área improdutiva
poderia ser utilizada para produção em consórcio de árvores comerciais com vegetação
nativa. Desta forma, a longo prazo, este setor poderia ser transformado, além de fonte de
receita, em área de reserva legal, conforme legislação, uma vez que o equilíbrio natural
suporta a produção atual e pode garantir os cultivos futuros.
No tocante à análise da produção de café por intermédio de imagem de satélite, foi
possível identificar as áreas com falhas de plantio, presentes principalmente em setores com
maior susceptibilidade à erosão. Em relação à pastagem, identificaram-se áreas com plantas
invasoras. No total, são 1,41ha de área de café sem o desenvolvimento padrão das plantas
na propriedade, isto é, setores onde há diminuição da população de cafeeiro ou plantas
pouco desenvolvidas. Já na pastagem, constatou-se 2,39ha de plantas invasoras (qualquer
ser vegetal não desejado) (Figura 2).
Planejamento e análises ambientais - 53

Figura 2: Mapa de uso do solo na Fazenda Modelo

Fonte: Höfig et al, 2017.

Quanto à infraestrutura, a fazenda conta com duas residências ocupadas por


funcionários que conduzem o trabalho dos tratos culturais da propriedade. As duas
residências são assistidas por rede elétrica e água. Além das casas, existe uma caixa d’água e
tubulações móveis para irrigação das áreas de café. A propriedade possui estradas com
largura média de 4 metros, que circundam os talhões de café e facilitam o andamento dos
tratos culturais, além das áreas de pátio para acomodação de equipamentos e insumos
(Figura 2).
O plantio do café foi realizado nos anos de 2011 e 2012 e se utilizou uma única
variedade de café, a Mundo Novo6, que ocupa 86,48 hectares. A separação dos dados de
produção por talhão ou zonas pode auxiliar no melhor direcionamento e sistematização de
técnicas de manejo, tratamento e adubação da propriedade.

6
Variedade cafeeira produzida pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas) em 1977.
54

Em relação às características físicas, a Fazenda Modelo tem altitude variando entre


462m e 520m, porém 59,4% da propriedade encontra-se em altitude entre 476m e 490m, o
que demonstra baixa variação de altitude no terreno. A área mais alta da propriedade está
localizada a oeste, nas proximidades do acesso à fazenda (Figura 3).

Figura 3: Mapa de altitude da Fazenda Modelo

Fonte: TOPODATA, 2014.

Segundo a classificação de Ramalho-Filho e Beek (1995), a Fazenda Modelo


apresenta a maior parte de seu relevo classificado como suave ondulado (declividade entre
3% e 8%). Todavia, 15,76% da propriedade são classificados como relevo plano (declividade
entre 0% e 3%), e 23,43% como relevo moderadamente ondulado (declividade de 8% a
13%). A classe de relevo ondulado é encontrada em 2,44% da fazenda, com valores entre
13,1% e 20% de declividade.
Planejamento e análises ambientais - 55

Na análise da declividade como característica de aptidão à mecanização agrícola, a


propriedade possui suas áreas principalmente classificadas em extremamente apta (36,81%)
e muito apta (52,94%). Uma parcela da fazenda é enquadrada na classe apta à mecanização
(9,57%), e moderadamente apta representa apenas 0,68%. Sendo assim, considerando
apenas a variável declividade, não há restrição para a mecanização da produção (Figura 4).

Figura 4: Mapa de aptidão à mecanização na Fazenda Modelo

Fonte: TOPODATA, 2014.

Na Fazenda Modelo, as áreas com maior radiação solar são os locais mais altos e
com orientação de vertente voltada ao norte. Os locais de maior insolação são as áreas
próximas à estrada de acesso que divide a propriedade em setores norte e sul,
principalmente aqueles próximos à área de pastagem (Figura 5). Essas diferenças no
microclima são fatores que atuam diretamente na incidência de pragas e doenças no
56

cafeeiro, além de afetar o nível de desenvolvimento das plantas. Por exemplo, faces menos
expostas ao Sol são mais propensas à ferrugem, enquanto as mais expostas ao Sol são mais
aptas à cercosporiose (CUSTÓDIO, 2011). Ademais, os setores que recebem menor insolação
devem ser prioritários para o uso de técnicas de proteção às geadas.

Figura 5: Mapa de insolação anual

Fonte: TOPODATA, 2014.

A radiação solar é um elemento de destacada importância, já que é fonte primária


de todos os fenômenos atmosféricos, além dos processos físicos, químicos e biológicos
notados em ecossistemas agrícolas, como evaporação, fotossíntese, crescimento e
desenvolvimento de cultivos agrícolas (PEREIRA, VRISMAN e GALVANI, 2002).
A taxa de crescimento das plantas está relacionada à sua capacidade de interceptar
e utilizar a radiação em seus processos fotossintéticos, no qual o dióxido de carbono da
atmosfera é transformado em carboidrato (COSTA e SEDIYAMA, 1999). Quanto maior a
Planejamento e análises ambientais - 57

insolação em determinado local, maior será sua temperatura, implicando em maior


evapotranspiração e redução no conteúdo de umidade do solo e do ar, o que também
influencia no crescimento das plantas (REZENDE, 1971).
Em relação ao Índice de Umidade Topográfica (IUT), a Fazenda Modelo é
predominantemente coberta por terrenos sem problemas de acúmulo de água,
representados pela cor vermelha (Figura 6). Quanto mais próximo do azul, maior a
capacidade de retenção de água, e, em seu valor extremo, se caracteriza por áreas
alagadiças. As áreas mais frágeis em relação ao grande acúmulo de água estão localizadas à
margem da represa, na parte leste da propriedade, e às margens do rio, nas proximidades da
área de pastagem. Algumas pequenas áreas no centro da propriedade apresentam maior
potencial de armazenamento de água, mas em menor intensidade, não se caracterizando
por terrenos alagadiços.

Figura 6: Mapa de Índice de Umidade Topográfica: potencial de armazenamento de água na Fazenda Modelo

Fonte: TOPODATA, 2014.


58

No tangente à erosão, cruzando as classes de erodibilidade do solo (BERTONI &


LOMBARDI NETO, 1985) com a declividade (IPT, 1990), foram encontradas três classes:
a) Terrenos com problemas complexos de conservação, parcialmente favoráveis à
ocupação por pastagens, sendo mais apropriados para reflorestamento;
b) Terrenos com problemas complexos de conservação, sendo mais indicados a
pastagens e culturas perenes;
c) Terrenos com problemas complexos de conservação, sendo mais indicados a
pastagens e culturas perenes e, eventualmente, a culturas anuais, porém
exigindo práticas intensivas e mecanizadas de controle da erosão.
Essas informações, relacionadas com o uso e ocupação atual do solo, geraram a
matriz de definição das classes de potencial atual à erosão laminar (IPT, 1990). Encontraram-
se as seguintes classes (Figura 7):
a) Classe II: médio potencial – uso atual do solo incompatível com a suscetibilidade
à erosão laminar, possível de ser controlada com práticas conservacionistas
adequadas (108,01ha / 83,6%);
b) Classe III: baixo potencial – uso atual do solo compatível com a suscetibilidade à
erosão lamina (21,14ha / 16,4%).
Além disso, com o mapa de curvatura do perfil sobreposto, obtiveram-se mais
informações do terreno relacionadas à erosão.
As áreas localizadas, principalmente, nos divisores de águas, próximas à estrada de
acesso, foram classificadas como setores com menor potencial erosivo (Classe III).
Entretanto, alguns pontos nessas áreas podem apresentar uma característica diferenciada à
erosão, pois estão inseridas em locais com curvatura convexa, que naturalmente são áreas
de erosão.
O restante da propriedade, classificada como Classe II, apesar da sobreposição de
algumas áreas de curvatura côncava (que são áreas de deposição de sedimentos das áreas
mais altas), é predominantemente composto por áreas convexas. Conforme o potencial à
erosão laminar demonstra, essas áreas apesar de serem aptas a receber o atual uso do solo,
devem sempre ser combinadas com técnicas de proteção das terras, ação já realizada na
propriedade.
Planejamento e análises ambientais - 59

Figura 7 - Mapa de potencial à erosão laminar e curvatura do perfil

Fonte: TOPODATA, 2014.

CONCLUSÕES

O avanço tecnológico computacional provocou mudanças em todas as ciências, e na


Cartografia não é diferente. Novas ferramentas de trabalho e novas estratégias de
comunicação surgem em busca de um aprimoramento na construção e leitura de mapas.
Assim, atualmente, é possível processar grandes volumes de dados provenientes de
diferentes fontes através da utilização do geoprocessamento, o qual permite a integração e
manipulação de dados geográficos e a análise visual por meio da elaboração de mapas. O
uso da visualização cartográfica a partir de uma base de dados digitais possibilita uma
grande quantidade de análises e simulações, indispensáveis ao correto entendimento do
espaço geográfico.
60

O mapa amplia a capacidade de se unir os três fatores essenciais para a tomada de


decisão: o dado, a informação e o conhecimento. Por isso, trata-se de um mecanismo de
comunicação entre as pessoas, que possibilita a ampliação da capacidade de interpretação e
geração de novos conhecimentos sobre o espaço analisado.
A responsabilidade do mapeador reside na apresentação dos fatos. Cabe, em última
instância, ao administrador decidir como utilizar as informações. Com isso, premidas entre
um diagnóstico da área e as potencialidades do terreno, as instâncias decisórias podem
apoiar suas escolhas em mapas, reconhecendo que a informação e o conhecimento são
subsídios essenciais à tomada de decisão.
O mapeamento da Fazenda Modelo gerou, quantificou e sistematizou diversos
dados e informações que podem auxiliar os gestores em projetos futuros. No mapa de uso
de solo foi demonstrado que um setor da propriedade é subutilizado. A análise da altitude
revelou os setores mais propícios para geada e, portanto, os locais prioritários para ação de
medidas preventivas. O mapa de declividade apontou as aptidões para mecanização e, com
isso, os melhores rendimentos e menores custos do uso desta técnica. A avaliação da
quantificação e espacialização da insolação anual permitiu gerar diversas informações, uma
vez que a radiação é fonte primária de todos os fenômenos atmosféricos, além dos
processos físicos, químicos e biológicos notados em ecossistemas agrícolas. O mapa de
índice de umidade topográfica apontou locais de potencial dificuldade de locomoção de
máquinas. E por fim, o mapa de potencial à erosão laminar designou, levando em
consideração o uso atual das terras, quais áreas são prioritárias para ações de conservação
do solo, recurso este que embasa toda a produção e fonte de receitas.
A cartografia temática se mostrou um instrumento eficaz e um precioso apoio para
a simulação da gestão territorial. Dessa forma, pela utilização conjunta de informações
diversificadas, de instrumentos de tratamento matemático, de visualização e de desenhos
rápidos, o mapa pode tornar-se um auxiliar privilegiado do planejamento das ações
integradas de controle e de gestão da propriedade.
Na construção de um programa de gestão e planejamento territorial é fundamental
uma base de informações sobre os fatos ou eventos locais, regionais ou ainda em escalas
mais abrangentes. O acerto das decisões depende da qualidade da informação, que por sua
vez será função do modelo utilizado para perceber e analisar a realidade. Nesse sentido, o
Planejamento e análises ambientais - 61

conhecimento através da informação permeia todas as etapas do processo de intervenção


na realidade local e nas repercussões nos demais níveis escalares.

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64
Planejamento e análises ambientais - 65

Capítulo 4

PLANEJAMENTO AMBIENTAL E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS7

Eduardo Pizzolim Dibieso


Geógrafo, doutor em geografia pela FCT/Unesp
eduardodibieso@gmail.com

INTRODUÇÃO

O filósofo Pierre Girard (2001 apud BRANCO, 2005, p. 330) reflete: “qual é a
natureza da água? O físico responde: é um líquido à temperatura normal. O economista
retruca: é um recurso e precisa manejá-lo. Para o biólogo é um fator essencial para o
crescimento das espécies. Para o psicólogo ela é um símbolo. O poeta diz que é a própria
vida”. As diversas abordagens sobre o tema manifestam-se, inclusive, quanto ao seu valor
econômico, social e cultural, mas há outras: ecológica, medicinal, depurativa, curativa, etc.,
necessitando de uma visão cada vez mais inclusiva e abrangente do tema.
Assim, a gestão das bacias hidrográficas voltada à preservação dos recursos
hídricos, é mais ampla e efetiva quando soma medidas de conservação do solo, dos
remanescentes vegetacionais e da fauna, além do necessário controle de atividades rurais e
urbanas, que denotam as estreitas vinculações existentes entre as águas, os demais recursos
naturais e as atividades humanas (SANTOS, 2004).
Gerir os recursos hídricos de maneira integrada, numa visão sistêmica, significa
melhorar a compreensão de que a gestão da água que flui pelos rios é muito diferente da
gestão de bacia hidrográfica como unidade básica de planejamento. Neste caso, é preciso
considerar as condições de uso e ocupação do binômio solo-água ou água que infiltra e dá
suporte ao desenvolvimento da biomassa da bacia hidrográfica em apreço, as águas

7
Artigo extraído da tese de doutoramento intitulada "Planejamento ambiental e gestão dos recursos hídricos:
estudo aplicado à bacia hidrográfica do Manancial do Alto Curso do Rio Santo Anastácio - São Paulo/Brasil",
orientada pelo Prof. Dr. Antônio Cezar Leal e defendida na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp, em
janeiro de 2013.
66

subterrâneas e os recursos hídricos não convencionais de reciclagem, e o reuso,


principalmente (REBOUÇAS, 2004).
A qualidade da água dos rios que compõem uma bacia hidrográfica está relacionada
com o uso da terra e com o grau de controle sobre as fontes de poluição existentes na bacia.
Alterando a quantidade e, principalmente, a qualidade das águas, degradando-as (BOTELHO,
2011). A quantidade e a natureza dos constituintes presentes na água variam,
principalmente, conforme as características ambientais e o grau de poluição que lhes é
conferido, especialmente pelos despejos municipais e industriais e pela utilização
indiscriminada de agrotóxicos. Durante o ciclo hidrológico, a água sofre alterações em sua
qualidade. Isso ocorre nas condições naturais, em razão das inter-relações dos componentes
do sistema do meio ambiente, e também quando os recursos hídricos sofrem influência do
uso para suprimento das demandas dos núcleos urbanos, das indústrias, da agricultura e das
alterações do solo, urbano e rural (SETTI et al., 2001).
De acordo com Santos (2004), a integração dos temas e temáticas ambientais é
possível se for estabelecida uma estrutura clara e representativa das interações no território
[paisagem] e, consequentemente, nas bacias hidrográficas, conforme demonstra a Figura 01.

Figura 01 - Possíveis relações entre temas e funções ocorrentes em um território e nas bacias hidrográficas

Fonte: Santos, 2004, p. 128.


Planejamento e análises ambientais - 67

Para Mota (1999, p. 139), “o planejamento territorial de uma bacia hidrográfica


com base em princípios ambientais constitui o melhor método para evitar a degradação de
seus recursos hídricos”. Pois, medidas como o controle do escoamento das águas
superficiais, de proteção da vegetação, de disciplinamento da ocupação da terra, e de
controle da erosão têm reflexos na proteção dos recursos hídricos, tanto quantitativa como
qualitativamente.
Dessa forma, no processo de planejamento e gestão dos recursos hídricos de uma
bacia hidrográfica devem ser considerados todos os elementos que compõem a sua
paisagem (água, relevo, solo, flora, fauna, pastagem, agricultura, residências, indústrias,
população, economia, etc.), e compreendê-la como uma totalidade, composta por
elementos naturais e sociais, os quais são dinâmicos e estão inter-relacionados. Sob esta
perspectiva, o planejamento ambiental possui importante papel na interação e integração
dos sistemas ambientais, a fim de manter a máxima integridade possível dos seus elementos
componentes.

O objetivo do planejamento ambiental é estabelecer normas para territórios


complexos e, para tanto, ele precisa estar suficientemente ligado à realidade em
seus múltiplos aspectos. Tem que interpretar o meio em relação à sua composição,
estrutura, processo e função, como um todo contínuo no espaço. Por essa razão,
seu diagnóstico procura compreender o meio de forma global, por intermédio do
levantamento de dados ligados a diversas disciplinas (SANTOS, 2004, p. 72).

De acordo com Mateo Rodriguez (2008, p. 9, tradução nossa), “planejar é pensar


antecipadamente o que se deseja alcançar e como conseguir. A ideia de planejamento se
fundamenta na possibilidade de pensar e criar o futuro a partir do conhecimento e da
valorização do presente e sua articulação com o passado”. Conforme Santos (2004, p. 23),
“vários conceitos foram criados ao se definir planejamento. De uma forma bastante simples,
entende-se que o processo de planejamento é um meio sistemático de determinar o estágio
em que você está, onde deseja chegar e qual o melhor caminho para se chegar lá”.
Para Ross (2006), a geografia aplicada está diretamente ligada ao planejamento
ambiental, que é o suporte para gestão territorial, e condicionadora, consequentemente, da
produção do espaço, do ordenamento e reordenamento territorial.

O conhecimento gerado, no campo de ação da Geografia Física, surge como


inerentemente básico para a compreensão dos elementos que constituem o
68

grande conjunto do estoque dos recursos naturais e ambientais, no tocante a


diagnóstico, análise, avaliação e manejo, e para a complexidade do próprio sistema
[...]. Nesse conjunto do meio natural devem-se inserir a ação e os fluxos
relacionados com as atividades humanas, cuja interação torna-se participativa,
tanto nas características como na dinâmica do sistema ambiental físico
(CHRISTOFOLETTI, 2009, p. 433).

Dentre os recursos naturais de uma determinada bacia hidrográfica, a água se


destaca como o mais importante. Por sua vez, a qualidade da água de um manancial está
intimamente ligada aos usos e atividades desenvolvidas em sua bacia hidrográfica. A
manutenção de um manancial hídrico, livre das degradações promovidas pela ocupação
humana, é uma “garantia” de que o mesmo seja capaz de produzir água em quantidade e
qualidade adequadas para o abastecimento público.
Nesse contexto, a análise integrada da paisagem foi utilizada como referencial
teórico-metodológico para subsidiar o planejamento ambiental e a gestão dos recursos
hídricos da bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio,
responsável por, aproximadamente, 30% do abastecimento público de água da cidade de
Presidente Prudente/SP (SABESP, 2017).
A bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio, possui área
de 197,70 km2, abrangendo parte dos municípios de Presidente Prudente, Pirapozinho,
Regente Feijó, Anhumas e Álvares Machado (Figura 02).
Planejamento e análises ambientais - 69

Figura 02 - Municípios que compõem a bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio

Fonte: Dibieso, 2013.

A bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio está


localizada na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Pontal do Paranapanema,
no oeste do estado de São Paulo - Brasil, entre as coordenadas 22º 07’ 37” S e 22º 16’ 52” S
e as coordenadas 51º 19’ 46” W e 51º 31’27” W. A bacia é atravessada pelas rodovias Assis
Chateaubriand, no sentido NE-SW e a Raposo Tavares, localizada no divisor de água da
margem direita do Rio Santo Anastácio. O Rio Santo Anastácio, após a represa utilizada para
o abastecimento público de Presidente Prudente, segue seu curso até desaguar no Rio
Paraná, na divisa dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

OBJETIVO

O objetivo desta pesquisa foi definir os conceitos e métodos gerais dados pelo
referencial teórico da análise integrada da paisagem, aplicando-os ao planejamento
ambiental de bacia hidrográfica, para subsidiar a gestão dos recursos hídricos da bacia do
manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio.
70

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Dentre as principais técnicas operacionais, foi utilizada a cartografia digital para


definição de unidades ambientais de planejamento e gestão das águas. De acordo com
Botelho (1999, p. 288), “o mapeamento de unidades ambientais busca representar a análise
da paisagem, organizando espacialmente as informações sobre ela levantadas”,
transmitindo, de forma sistematizada, os dados e as informações sobre a área de estudo.
Para a elaboração do plano cartográfico desta pesquisa, utilizaram-se os
procedimentos e as etapas de mapeamento propostas por Santos (2004, p. 129):

a) estabelecimento dos objetivos gerais do mapeamento e das escalas a serem


adotadas para cada tema; b) coleta e análise da documentação disponível, seja ela
sob a forma orbital, cartográfica ou descritiva; c) definição e elaboração dos mapas-
base (drenagem, vias de acesso, etc.), de mesma escala atribuída aos temas; d)
interpretação preliminar de cada tema superposto à base cartográfica; e) trabalhos
em campo: coleta de informações e aferições; f) correções ou ajustes dos mapas de
cada tema e definição das questões prioritárias, estabelecendo os destaques e
detalhamento a serem feitos; g) elaboração das hipóteses iniciais de relações
causa-efeito e determinação de critérios de classificação; h) classificação detalhada
ou estabelecimento das relações causais; i) elaboração de mapas intermediários
pela associação dos temas, de acordo com a classificação prevista por meio de
softwares específicos ou manualmente; j) associação dos mapas intermediários
para elaboração do mapa-síntese; k) interpretação do mapa-síntese e suas
unidades ambientais para subsidiar a etapa seguinte do planejamento (formulação
de prognóstico, diretrizes, recomendações, etc.).

Os componentes da paisagem (meio físico e uso e ocupação da terra) foram


analisados a partir de suas conexões, objetivando a compreensão de sua dinâmica,
interdependência e dos processos decorrentes dessas relações. Para Mateo Rodriguez
(1994), a análise sistêmica da paisagem combina a natureza, a economia, a sociedade e a
cultura, em um amplo contexto de inúmeras variáveis que buscam representar a relação da
natureza como um sistema e dela com o homem.
A compreensão da dinâmica da paisagem deve ser a base para a elaboração do
zoneamento ambiental e, consequentemente, para a organização ou reorganização do
território. Preliminarmente ao estudo do zoneamento, torna-se necessário conhecer as
aptidões da paisagem, principalmente as limitações por elas impostas, a fim de escolher o
tipo de uso e ocupação compatível (TRICART, 1977). Desta forma, busca-se compatibilizar a
Planejamento e análises ambientais - 71

organização do uso e ocupação da terra com a preservação, conservação e recuperação


ambiental, e a melhoria da qualidade de vida.

ANÁLISE E DEFINIÇÃO DA PAISAGEM NATURAL

O conhecimento da paisagem natural é de suma importância para o planejamento


ambiental e a gestão dos recursos hídricos, pois as propostas de uso e ocupação da terra,
quando não são adequadas às características e à dinâmica do meio físico, agravam os
problemas ambientais provenientes da utilização dessas áreas.
Para a definição das unidades de paisagem natural (meio físico), além dos dados e
da sobreposição das cartas temáticas (litologia, formas do relevo, altimetria, declividade,
solos, hidrografia, etc.), consideramos suas características individuais e sua expressividade
para a determinação das unidades. De acordo com Leal (1995), as unidades do meio físico
representam, portanto, mais do que áreas delimitadas por sobreposição de cartas, e sim,
áreas que apresentam relativa homogeneidade nos seus fatores naturais, atributos, funções,
aptidão para determinada forma de uso e ocupação, e respostas semelhantes para as ações
antrópicas. As características das unidades do meio físico da bacia hidrográfica do manancial
do alto curso do Rio Santo Anastácio estão descritas no Quadro 01.
72

Quadro 01 - Definição de unidades de paisagem natural

Unidade Morfoestrutural – Bacia Sedimentar do Paraná


Unidade Morfoescultural – Planalto Ocidental Paulista
Unidades do Padrões de Formas Semelhantes – Predomínio de Colinas
Meio Físico - Litologia – Rochas da Formação Adamantina - Unidade Kav: são compostas de bancos de arenito de granulação fina a
muito fina, com cor variando de róseo a castanho e espessura variada, alternados com bancos de lamitos, siltitos e
tipos de arenitos lamíticos.
formas do
Clima - a precipitação e a temperatura média anual são de 1.277 mm e de 23° C.
relevo
Processos Morfodinâmicos Operantes,
Modelado – Características Gerais e
Solos Dominantes Grau de Instabilidade e Considerações
Tipos de Vertentes
Gerais

Alta densidade de drenagem, ARGISSOLO VERMELHO com São terras que apresentam problemas de
declividades predominantes variando textura arenosa/média. pequenas profundidades no solo e/ou
de 8% a >20%, pequena dimensão NEOSSOLOS LITÓLICOS com declividades elevadas, dificultando a
interfluvial e forte entalhamento dos textura arenosa e textura média infiltração da água. A unidade apresenta
canais. Altitude média de 400 m a 490 nas áreas mais declivosas. fragilidade potencial muito alta. O Topo é
m. Tipos de vertentes - topos ARGISSOLO VERMELHO- emissor de energia e matéria,
convexizados ocupando posição AMARELO com textura apresentando menor restrição ao uso
Unidade I cimeira nos divisores de água, arenosa/média. antrópico; as vertentes, transmissoras de
Morrotes em declividades variando de 3% a 20%. PV1, PV8, PVAe3, PVAe4, PVA7, energia e matéria, apresentam maior
Cabeceiras de Vertentes convexa, côncava e RLe1 e RLe3. restrição ao uso antrópico (especialmente
Drenagem retilínea, declividades >20%, as vertentes côncavas); e as planícies,
apresentando ruptura de declive. acumuladoras e transmissoras de energia e
Planícies de inundação, fundos de matéria, não devem ter uso antrópico. A
vale com declividades predominantes unidade não é recomendada para cultivo
<3%. Área onde existem de culturas temporárias e perenes, sendo
concentrações de nascentes que dão adaptadas para pastagens e manutenção
origem aos cursos d’água. e/ou recomposição da vegetação nativa
nas áreas mais declivosas.
Alta densidade de drenagem, ASSOCIAÇÃO DE ARGISSOLO São terras que apresentam problemas de
declividades predominantes variando VERMELHO + ARGISSOLO pequenas profundidades no solo e/ou
de 8% a 20%, pequena dimensão VERMELHO-AMARELO, todos declividades elevadas, dificultando a
interfluvial e forte entalhamento dos com textura arenosa/média + infiltração da água. A unidade apresenta
canais. Altitude média de 390 m a 500 NEOSSOLOS LITÓLICOS com fragilidade potencial alta. O Topo é emissor
m. Tipos de vertentes - topos textura arenosa e textura média de energia e matéria, apresentando menor
Unidade II
convexizados ocupando posição nas áreas mais declivosas. restrição ao uso antrópico; as vertentes,
Colinas
cimeira nos divisores de água, PVAe4, PVAe6, PVA7, PV1 e PV8. transmissoras de energia e matéria,
Médias
declividades variando de 3% a 8%. apresentam maior restrição ao uso
Alta Vertente
Vertentes convexa, côncava e antrópico (especialmente as vertentes
retilínea, declividades de 8% a 20%. côncavas); e as planícies, acumuladoras e
Planícies de inundação, fundos de transmissoras de energia e matéria, não
vale com declividades predominantes devem ter uso antrópico. A unidade não é
<3%. Área onde existem recomendada para cultura temporária,
concentrações de nascentes que dão sendo adaptadas para algumas culturas
origem aos cursos d’água. perenes e pastagens.
Média densidade de drenagem, Predomínio de NEOSSOLOS São terras que apresentam problemas de
declividades predominantes variando LITÓLICOS com textura arenosa. pequenas profundidades no solo e/ou
de 8% a 20%, média dimensão ARGISSOLO VERMELHO- declividades elevadas, dificultando a
interfluvial e entalhamento dos AMARELO com textura infiltração da água. A unidade apresenta
canais. Altitude média de 355 m a 425 arenosa/média. fragilidade potencial alta. O Topo é emissor
m. Tipos de vertentes - topos PVA1 e RLe6. de energia e matéria, apresentando menor
convexizados ocupando posição restrição ao uso antrópico; as vertentes,
cimeira nos divisores de água, transmissoras de energia e matéria,
Unidade III
declividades variando de 8% a 20%. apresentam maior restrição ao uso
Colinas
Vertentes convexa, côncava e antrópico (especialmente as vertentes
Médias
retilínea, declividades de 8 a >20% côncavas); e as planícies, acumuladoras e
apresentando ruptura de declive. transmissoras de energia e matéria, não
Expressivas planícies de inundação, devem ter uso antrópico. A unidade não é
fundos de vale com declividades recomendada para cultivo de culturas
predominantes <3%. temporárias e perenes, sendo adaptadas
para pastagens e manutenção, e/ou
recomposição da vegetação nativa nas
áreas mais declivosas.
Planejamento e análises ambientais - 73

Quadro 01 - Definição de unidades de paisagem natural - Continuação

Média densidade de drenagem, ARGISSOLO VERMELHO com São terras que apresentam problemas por
declividades predominantes textura arenosa/média. apresentar solos raso e pouco profundos
variando de 8% a 20%, média NEOSSOLOS LITÓLICOS com textura e/ou média e altas declividades,
dimensão interfluvial e média e textura arenosa nas áreas dificultando a infiltração d’água
entalhamento dos canais. Altitude mais declivosas. especialmente nas áreas que apresentam
média de 370 m a 445 m. Tipos de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO maiores declividades e solos mais rasos. A
vertentes - topos convexizados com textura arenosa/média. unidade apresenta fragilidade potencial
ocupando posição cimeira nos PV7 e PVA7. médio-alta. O Topo é emissor de energia e
Unidade IV divisores de água, declividades matéria, apresentando menor restrição ao
Colinas variando de 0% a 8%. Vertentes uso antrópico; as vertentes, transmissoras
Médias convexa, côncava e retilínea, de energia e matéria, apresentam maior
declividades de 8% a >20% restrição ao uso antrópico (especialmente
apresentando ruptura de declive. as vertentes côncavas) e as planícies,
Planícies de inundação, fundos de acumuladoras e transmissoras de energia e
vale com declividades matéria, não devem ter uso antrópico. A
predominantes <3%. unidade não é recomendada para qualquer
tipo de cultura temporária, sendo
adaptadas para culturas perenes e
pastagens.
Média densidade de drenagem, ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO A topografia inclinada e os solos rasos de
declividades predominantes com textura arenosa/média. alguns setores exigem cuidados intensivos
variando de 3% a 20%, média NEOSSOLOS LITÓLICOS com textura para controle de erosão. A unidade
dimensão interfluvial e média e textura arenosa nas áreas apresenta fragilidade potencial médio-alta.
entalhamento dos canais. Altitude mais declivosas. O Topo é emissor de energia e matéria,
média de 370 m a 450 m. Tipos de PVA1, PVA4, PVA7, PVAe4 e PVAe6. apresentando menor restrição ao uso
vertentes - topos suavemente antrópico; as vertentes, transmissoras de
convexizados ocupando posição energia e matéria, apresentam maior
Unidade V cimeira nos divisores de água, restrição ao uso antrópico (especialmente
Colinas declividades variando de 0% a 8%. as vertentes côncavas); e as planícies,
Médias Vertentes convexa, côncava e acumuladoras e transmissoras de energia e
retilínea, declividades de 3% a 20% matéria, não devem ter uso antrópico.
apresentando concentrações de Terras não indicadas para cultivos
rupturas de declive próxima à intensivos.
margem direita do Rio Santo
Anastácio e do Córrego do Cedro.
Planícies de inundação, fundos de
vale com declividades
predominantes <3%.
Média densidade de drenagem, ARGISSOLO VERMELHO com Apesar da baixa declividade do relevo, o
declividades predominantes textura arenosa/média. Horizonte B textural do solo exige controle
variando de 0% a 8%, média da água pluvial. A unidade apresenta
dimensão interfluvial e PV4. fragilidade potencial média. O Topo é
entalhamento dos canais. Altitude emissor de energia e matéria,
média de 385 m a 455 m. Tipos de apresentando menor restrição ao uso
Unidade VI vertentes – topos amplos antrópico; as vertentes, transmissoras de
Colinas suavemente convexizados energia e matéria, apresentam maior
Amplas ocupando posição cimeira nos restrição ao uso antrópico (especialmente
divisores de água, declividades as vertentes côncavas) e as planícies,
variando de 0% a 8%. Vertentes acumuladoras e transmissoras de energia e
convexa, côncava e retilínea, matéria, não devem ter uso antrópico.
declividades de 3% a 20%. Planícies Terras indicadas para cultivos contínuos ou
de inundação, fundos de vale com regulares, quando adequadamente
declividades predominantes <3%. protegidas.
Declividades predominantes LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Apesar da baixa declividade e boa
variando de 0% a 8%. Altitude com textura média. drenagem do solo, a unidade apresenta
média de 505 m a 540 m. Tipos de LVA2. fragilidade potencial média devido à
Unidade VII
vertentes – topos amplos proximidade das nascentes do Rio Santo
Colinas
suavemente convexizados Anastácio e à característica textural do solo.
Amplas em
ocupando posição cimeira nos Área emissora de energia e matéria,
Divisores de
divisores de água do Rio Santo apresentando menor restrição ao uso
Água (topo)
Anastácio. antrópico. Terras indicadas para cultivos
contínuos ou regulares, quando
adequadamente protegidas.
74

Quadro 01 - Definição de unidades de paisagem natural - Continuação

Baixa densidade de drenagem, NEOSSOLOS FLÚVICOS textura média, Baixíssima declividade, porém, a
declividades predominantes com textura arenosa e textura proximidade do canal principal e a alta
variando de 0% a 3%, alta média/arenosa. permeabilidade do solo podem oferecer
dimensão interfluvial e baixo riscos ao manancial de abastecimento
Unidade VIII entalhamento dos canais. Altitude RYd3. público. A unidade apresenta fragilidade
Relevo Plano média de 365 m a 375 m. Relevo potencial alta. Terras não indicadas para
plano - superfície plana onde os o cultivo de culturas que requerem uso
desnivelamentos são muito de fertilizante e agrotóxico. Área apta
pequenos, com declividades para pastagens extensivas.
inferiores a 3%.
Áreas com declividades de 20% a NEOSSOLOS LITÓLICOS e Declividades excessivas e solos rasos.
>45%, caracterizada pela falta de AFLORAMENTO ROCHOSO Área com fragilidade potencial
Áreas de
continuidade da declividade da extremamente alta. Terras não indicadas
Ruptura de
vertente. para uso antrópico, sendo indicadas para
Declive
manutenção e/ou recomposição da
vegetação nativa.
Afloramento do lençol freático, HIDROMORFIZAÇÃO Alta suscetibilidade à degradação e à
geralmente não é um ponto e sim contaminação das águas. Afloramento do
uma zona considerável da lençol freático. Área com fragilidade
Nascente
superfície terrestre. potencial extremamente alta. Terras não
Difusa
indicadas para uso antrópico, sendo
indicadas para manutenção e/ou
recomposição da vegetação nativa.
Superfície pouco elevada, acima GLEISSOLO HÁPLICO com textura Área sujeita à inundação periódica. Área
do nível médio das águas, sendo arenosa, média e com fragilidade potencial extremamente
frequentemente inundada por arenosa/média/arenosa. alta. Terras não indicadas para uso
Planície de
ocasião das cheias. NEOSSOLOS FLÚVICOS com textura antrópico, sendo indicadas para
Inundação
média, média/arenosa e manutenção e/ou recomposição da
arenosa/média. vegetação nativa.
GX2, RYbe1, RYbe2, RY3 e RY4.
Fonte: Dibieso, 2013.

O grau ou nível de fragilidade foi definido a partir da suscetibilidade à erosão e à


degradação das águas. Sob tal perspectiva, a definição e a análise de unidades de paisagem
natural ou do meio físico (Figura 03) poderão servir como parâmetro para o planejamento
ambiental, pois, através dos resultados obtidos, podemos estabelecer as restrições e
potencialidades ao uso e ocupação da terra.
Planejamento e análises ambientais - 75

Figura 03 – Unidades de paisagem natural

Fonte: Dibieso, 2013.

UNIDADES DE USO E OCUPAÇÃO DA TERRA

O uso e a ocupação da terra alteram as condições naturais e podem localizar-se


sobre uma ou várias unidades de paisagem natural (meio físico), dependendo
exclusivamente de suas dimensões, demonstrando a necessidade de se conhecer
previamente as unidades de paisagem natural. A atuação do homem sobre o meio
ambiente, sem o prévio conhecimento do equilíbrio dinâmico existente entre os diversos
componentes que permitiram a identificação das diferentes unidades de paisagem natural,
pode levar a situações desastrosas do ponto de vista ecológico e econômico. Assim, o
76

conhecimento dos processos que atuam nas unidades de paisagem natural permite orientar
as atividades de uso e ocupação da terra, de maneira a evitar degradações ambientais e
obter maior produtividade, além de promover ações corretivas dentro das unidades onde o
uso inadequado provoca consequências desastrosas (CREPANI et al., 2001).

Aos diferentes padrões de uso da terra associam-se padrões diferenciados de


emprego da tecnologia, diferentes relações sociais de produção e de divisão da
malha fundiária, fazendo com que da análise das transformações operadas nos
padrões de uso da terra se obtenha uma visão integrada dos impactos da ação
humana sobre o ambiente [...]. A análise do uso da terra sintetiza os estudos
socioeconômicos, revelando sua materialização no território. O conceito de uso da
terra envolve um complexo de atividades humanas aplicado sobre uma área
delimitada do território que se manifesta através de diferentes modos (BRASIL,
2006, p. 15).

A carta de uso e ocupação atual da terra espacializa as principais áreas urbanizadas,


vias de acesso, pastagens, agricultura e vegetação nativa presentes na bacia, são unidades
que possuem características particulares e que permitem sua individualização como forma
de expressão da (des)organização social presente na produção da cidade, e possuem uma
espacialidade que possibilita sua representação (LEAL, 1995). As informações sobre o uso e
ocupação da terra na bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio
foram agrupadas e estão espacializadas na Figura 04.
Planejamento e análises ambientais - 77

Figura 04 - Unidades de uso e ocupação da terra

Fonte: Dibieso, 2013.

A quantidade e a qualidade das águas que escoam para a represa do manancial do


alto curso do Rio Santo Anastácio estão diretamente relacionadas com as características de
uso e ocupação da terra na área da bacia hidrográfica em questão (Quadro 02).
78

Quadro 02 - Principais fontes poluidoras relacionadas ao uso e ocupação da terra

a) atividades agrícolas: as cargas dependem do tipo de cultura, da fase em que se encontra o ciclo de
produção (preparação do terreno, semeadura, desenvolvimento das plantas, colheita etc.) e do uso de
fertilizantes e defensivos; o aporte de cargas aos cursos de água está fundamentalmente associado à
ocorrência de eventos de chuva;
b) atividades pecuárias: as cargas dependem do tipo de rebanho e das técnicas utilizadas;
c) mineração ativa ou inativa: atividade de alto potencial poluidor, dependendo do tipo de minério em
Áreas Rurais

exploração, da adoção de técnicas adequadas ou inadequadas de proteção e, ainda, do controle


ambiental; estão associadas tanto às características operacionais da atividade quanto à ocorrência de
eventos de chuva;
d) chácaras de lazer e recreação: esgotos domésticos e lixo que são gerados nas atividades domésticas
e cargas de pequenas áreas cultivadas;
e) áreas pouco alteradas, como matas, capoeirões, capoeiras, campo: produzem cargas devido à
decomposição de matéria orgânica vegetal, carreadas aos cursos de água através do escoamento
superficial;
f) esgotos domésticos: afluem aos cursos de água por meio de lançamentos diretos, descargas
permanentes ou acidentais do sistema de coleta e interceptação, ligações clandestinas no sistema de
águas pluviais (de todo um domicílio ou parte dele, como instalações sanitárias externas, áreas de
lavanderia ou cozinhas), efluentes de fossas sépticas não ligados a sumidouros ou em áreas cujos solos
têm baixa capacidade de absorção, etc.; essas cargas variam em ciclos diários e semanais, mas
razoavelmente constantes no tempo;
g) efluentes líquidos de estabelecimentos industriais, comerciais e de serviço (padarias, restaurantes,
postos de gasolina, oficinas mecânicas, garagens de ônibus, etc.): lançados diretamente ou através do
sistema de drenagem; dão origem a cargas orgânicas, metais, óleos e graxas, solventes, entre outros;
Áreas Urbanas

h) resíduos sólidos: lançamento direto, no leito dos cursos de água ou na rede de drenagem pluvial, de
lixo de origem doméstica ou proveniente de atividades comerciais (como feiras-livres, mercados etc.) e
industriais;

i) movimento de veículos: resíduos originados no desgaste de pavimentos, resíduos de pneus, óleos,


lubrificantes e graxas são depositados na superfície das vias públicas e carreados aos cursos de água
durante os eventos de chuva;

j) lavagem de quintais e jardins, calçadas, ruas e grandes áreas;

k) erosão de áreas com solo nu, ou durante trabalhos de terraplenagem;

l) lavagem de materiais de construção (areia, cimento, cal etc.) em obras públicas ou construções
particulares (abertura de loteamentos, construção de edificações, etc.).

Fonte: SMA/SP, 2011.

Desta forma, com o uso e ocupação antrópico da paisagem natural, há a alteração,


subtração e/ou adição de muitos elementos, matérias e energias ao sistema da bacia
hidrográfica (LEAL, 1995).
Planejamento e análises ambientais - 79

DEFINIÇÃO DAS UNIDADES DE PAISAGEM

Na perspectiva de definir as especificidades ambientais da bacia hidrográfica do


manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio, contribuindo com o planejamento
ambiental e a gestão da área de manancial, foi realizada a compartimentação da paisagem
da bacia em segmentos denominados unidades de paisagem ou unidades ambientais. Para
estas unidades devem ser estabelecidas diretrizes, metas e normas específicas levando em
consideração as diferentes porções do território, buscando garantir maior eficácia na
recuperação, conservação e proteção dos recursos hídricos. A divisão da bacia em unidades
(compartimentos) permite uma análise e um diagnóstico mais preciso da situação de áreas
sujeitas a impactos negativos advindos das alterações do uso da terra, ou das áreas que
possuem alto grau de preservação e grande contribuição para garantir a água em
quantidade e qualidade na bacia (SMA/SP, 2011).
As atividades antrópicas desenvolvidas nas unidades do meio físico (paisagem
natural) introduzem novas forças que podem alterar, em escala variável, as condições de
equilíbrio do sistema (CREPANI et al., 2001). Além disso, os processos de uso e ocupação da
terra estão diretamente relacionados com os processos econômicos, demográficos e de
condições de vida da população. Assim, as unidades ambientais devem ser definidas a partir
das características do meio natural, uso e ocupação da terra, e também das características
socioeconômicas. O número de unidades e os resultados obtidos têm relação direta com a
escala espacial adotada.
É importante ressaltar que as unidades ambientais não são “ilhas” isoladas das
influências das áreas vizinhas.

A organização ou o remanejamento de um território afetam, por vezes, áreas


vizinhas, não compreendidas no perímetro a ser reorganizado, pois dependem do
que se passa externamente. Em curtas palavras, existe interdependência de áreas
mais ou menos vizinhas, que estão submetidas a certos elementos dinâmicos
comuns. As bacias fluviais oferecem excelente exemplo disso. A dinâmica dessas
bacias cria dependências mútuas entre suas diversas partes, principalmente por
intermédio do fluxo da água e dos materiais carreados de diferentes maneiras, que
definem a própria bacia (TRICART, 1977, p. 75).

As unidades ambientais de planejamento são definidas a partir da “semelhança” de


suas características, permitindo sua individualização. Esta subdivisão da bacia hidrográfica
80

permite a definição de um “padrão” para as unidades com potencialidades, fragilidades e


problemas ambientais semelhantes. Dessa forma, a partir da definição das unidades de
paisagem natural (unidades do meio físico) e das unidades de paisagem antropizadas
(unidades de uso e ocupação da terra), realizou-se a sobreposição das cartas geradas por
esses dados para obtenção da carta de unidades de paisagens (ou unidades ambientais). As
unidades de paisagem são áreas que apresentam características semelhantes em relação ao
meio físico, apropriação e utilização, e consequentemente possuem problemas e propostas
similares, sendo definidas e analisadas como subunidades de planejamento e gestão (LEAL,
1995).
A definição das unidades de paisagem pode ser aplicada ao planejamento ambiental
e às pesquisas em geografia física. Os estudos devem ser realizados com base no
entendimento de como se comporta o arranjo dos elementos naturais, em determinada
condição temporal, e como eles reagem às modificações da sociedade, quando da
implantação de uso e ocupação da terra em determinado espaço. O dinamismo da paisagem
vai construir-se com as modificações de uso e ocupação, criadoras de novos arranjos e
feições, que são determinados por atividades diversas (SOARES, 2001 apud GUERRA;
MARÇAL, 2006).
Para a definição das unidades de paisagem (ambientais), as unidades do meio físico
(paisagem natural) foram subdivididas a partir das características de uso e ocupação, ou
seja, a partir das potencialidades e fragilidades (uso potencial) e do uso e ocupação real
(atual) da terra. Nas unidades de paisagem ou unidades ambientais, pela semelhança de
suas características, os problemas e, consequentemente, as propostas são semelhantes.

A unidade de paisagem pode ser identificada por diferentes variáveis físicas e pelas
transformações históricas da dinâmica do uso da terra, em determinada unidade.
Elas se espacializam através do mapeamento dos impactos, em diferentes
momentos das atividades humanas, caracterizando sua dinâmica, ou seja, a
unidade de paisagem vai corresponder à dimensão territorial de uma variável física,
e só terá significado se estiver representando as modificações que a sociedade
impõe sobre ela, ao longo do tempo (GUERRA; MARÇAL, 2006, p. 125).

O primeiro critério para a definição das unidades de paisagem - ou unidades


ambientais - é a escala espaço temporal. Definida a escala, utiliza-se como primeiro
“recorte” espacial de informação a paisagem natural ou meio físico, entendido nesta
pesquisa como o suporte para as atividades antrópicas. A definição das unidades do meio
Planejamento e análises ambientais - 81

físico foi realizada a partir dos “tipos de formas do relevo”, integrando características
semelhantes de litologia, declividade, solos, densidade de drenagem, etc. Estas
características são essenciais para a classificação da paisagem e definição de seus níveis ou
graus de fragilidade em relação à suscetibilidade, à erosão e à degradação dos recursos
hídricos, associadas à intervenção antrópica e a qualidade de vida da população.
A possibilidade de transformação do conceito de paisagem como unidade
ambiental permite, também, a delimitação de unidades homogêneas, apresentando
características funcionais, morfológicas e dinâmicas bastante semelhantes, que
individualizam padrões homogêneos de paisagem (GUERRA; MARÇAL, 2006).
A divisão da bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio
em unidades ambientais consiste no estudo do todo através de suas partes, e suas inter-
relações, analisando a singularidade dentro da pluralidade. O todo (bacia) é fracionado em
partes (unidades ambientais), para ser melhor estudado e compreendidas as suas
características particulares e inter-relações. Depois, busca-se reconstruir o todo, para a
compreensão dos processos fundamentais. As unidades ambientais identificadas podem ser
consideradas como uma área que se distingue no conjunto da bacia hidrográfica por suas
características, onde as combinações de diversos fatores naturais e sociais conferem-lhe
certa homogeneidade, que a individualiza (LEAL, 1995).
O mapa das unidades ambientais demonstrou grande complexidade na
representação das informações. Assim, sintetizam-se e espacializam-se as informações
mantendo os limites de cada unidade, definindo um conjunto de informações que,
associadas ao uso e ocupação da terra, possuem influência direta e indireta nos problemas
ambientais e nos recursos hídricos da bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio
Santo Anastácio. Salientando que são os interesses econômicos, mediados pelas instâncias
política, social, cultural e tecnológica, que prevalecem nas formas de apropriação e uso do
território (BRASIL, 2006).

O planejamento ambiental fundamenta-se na interação e integração dos sistemas


que compõem o ambiente. Tem o papel de estabelecer as relações entre os
sistemas ecológicos e os processos da sociedade, das necessidades socio culturais a
atividades e interesses econômicos, a fim de manter a máxima integridade possível
dos seus elementos componentes. O planejador que trabalha sob esse prisma, de
forma geral, tem uma visão sistêmica e holística, mas tende primeiro a
compartimentar o espaço, para depois integrá-lo (SANTOS, 2004, p. 28).
82

Com a identificação das unidades ambientais, foram definidas as características do


meio físico, a função geoecológica, estabilidade/fragilidade, o uso potencial e o uso real
(atual) da terra e a função socioeconômica da unidade (Figura 05).

Figura 05 - Unidades de paisagem ou unidades ambientais

Fonte: Dibieso, 2013.

A definição de unidades de paisagem, consideradas neste trabalho como unidades


ambientais, é um instrumento de planejamento e gestão das “diferenças geográficas”, e
deve ser constantemente revisada e atualizada, de acordo com as escalas espaço-temporais
adotadas.
Planejamento e análises ambientais - 83

ANÁLISE DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS

Os problemas ambientais, como erosão acelerada dos solos, fragmentação da


vegetação nativa, perda de biodiversidade, desperenização e supressão dos cursos d’água,
diminuição da qualidade e quantidade da água, poluição do ar, entre outros, foram
analisados no contexto de cada unidade ambiental, sendo considerados também seus
indicadores, como extensão, forma e conectividade entre os problemas ambientais. Enfim,
acredita-se que a identificação e a caracterização dos problemas ambientais auxiliam na
avaliação integral da unidade ambiental e da bacia hidrográfica.
No mapeamento dos problemas ambientais, foram considerados o tipo e
abrangência. Os problemas foram localizados através de trabalhos de campo, com o apoio
de fotografias aéreas e imagens de satélite. Depois, foram georreferenciados com o auxílio
do Sistema de Posicionamento Global (GPS). Com base na escala de trabalho adotada e sua
extensão, os problemas foram representados com pontos ou polígonos, e os que não
puderam sê-lo foram representados por símbolos. Para a representação da poluição
atmosférica e sonora, por exemplo, utilizaram-se símbolos que indicam sua localização
aproximada - estes são problemas defluentes, ou seja, existe um eixo ou ponto definido,
contudo seus limites variam no território ou são de difícil definição. Os problemas difusos
são difíceis de espacializar, estando distribuídos pela paisagem ou unidades ambientais. Uma
forma de representá-los é através da identificação de sua origem, mas a grande abrangência
e a dificuldade de identificação prejudicam seu controle (SANTOS, 2004, p. 118).
A classificação da unidade ambiental entre altíssima e sem concentração de
problemas ambientais foi realizada com base no número de problemas e na área da
unidade. A altíssima concentração de problemas refere-se, principalmente, à erosão e
ausência de vegetação nativa (mata ciliar em área de preservação permanente) e, em
algumas unidades, à disposição inadequada de resíduos sólidos e líquidos. As unidades
classificadas como sem concentração de problemas ambientais possuem uso e ocupação
adequados da terra e não apresentam problemas expressivos (Figura 06).
84

Figura 06 - Problemas ambientais

Fonte: Dibieso, 2013.

Na bacia do manancial, predominam áreas com média-baixa concentração de


problemas ambientais (41%); são áreas rurais onde predominam as pastagens. As unidades
com altíssima e média-alta concentração de problemas ambientais representam 11% do
total, estando concentradas nos setores leste e norte da bacia. A área rural caracteriza-se
pela concentração e desenvolvimento de processos erosivos e a área urbanizada, pela
elevada impermeabilização do solo, erosão periurbana e disposição inadequada de resíduos
sólidos e líquidos. As chácaras utilizadas como 1ª ou 2ª moradia (Chácaras Arilena e
próximas ao aeroporto e nascentes do Córrego da Olga) caracterizam-se pela ausência de
infraestrutura sanitária. As áreas sem concentração de problemas ambientais estão
Planejamento e análises ambientais - 85

distribuídas pela bacia do manancial, e caracterizam-se pelo predomínio da vegetação


nativa.
As áreas de ruptura de declive possuem média-alta concentração de problemas
ambientais, devido ao desenvolvimento de processos erosivos em alguns setores. As
nascentes difusas e as planícies de inundação (áreas protegidas por lei) possuem alta
concentração de problemas ambientais, devido ao uso e à ocupação inadequada e irregular
da terra, ocasionando a diminuição da capacidade de infiltração e da qualidade da água,
solapamento das margens dos cursos d’água, entre outros.
No processo de planejamento, o importante é compreender de forma integrada, a
dinâmica dos processos impactantes. “Inúmeras vezes, os danos são mais nocivos pelo
somatório de vários impactos de pequena magnitude do que por uma ação e seu efeito
isolado, de média a alta magnitude” (SANTOS, 2004, p. 126). Pois, os impactos (problemas)
ambientais de alta magnitude são mais perceptíveis e acabam mobilizando a sociedade
(muitas vezes por necessidade imediata) na busca de soluções.

PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL

A elaboração do zoneamento ambiental, com base na compreensão da dinâmica da


paisagem e definição de unidades ambientais (zonas), pode subsidiar o ordenamento do
território fundamentado nos elementos naturais, sociais e econômicos. A definição do
zoneamento deve ter o amparo jurídico e institucional e deve ser indicativo e normativo.
Porém, “reconhece-se que normas rígidas correm o risco de não as verem cumpridas e de
rapidamente se tornarem obsoletas em face da dinâmica da ocupação. Por outro lado,
reconhece-se a necessidade de um corpo mínimo de normas como inerente à regulação”
(BECKER; EGLER, 1996, p. 24).
Os usos e ocupações das terras e as práticas de preservação e conservação devem
ser alterados a partir da sua relação com o desenvolvimento dos problemas ambientais, em
especial, aqueles relacionados à degradação dos recursos hídricos. Com base nesta
avaliação, deve ser alterada a configuração das zonas (unidades ambientais) e/ou das
práticas adotadas, posto que esse ordenamento e manejo da bacia hidrográfica são
fundamentais para garantir água em quantidade e qualidade para o abastecimento público.
86

Dentre outras características, cada unidade (zona) possui fragilidades, potencialidades, usos,
ocupações e problemas específicos, assim, para cada unidade ou zona, devem ser atribuídas
normas e orientações próprias.

Para cada zona é atribuído um conjunto de normas específicas, dirigidas para o


desenvolvimento de atividades e para a conservação do meio. Estas normas
definem políticas de orientação, consolidação e revisão de alternativas existentes
ou formulação de novas alternativas de ação. Isso significa que o zoneamento deve
definir as atividades que podem ser desenvolvidas em cada compartimento e,
assim, orientar a forma de uso, eliminando conflitos entre tipos incompatíveis de
atividades. Para tanto, é necessário atuar diretamente na consolidação das
atividades, alteração das condições existentes ou proibição daquelas inadequadas
(SANTOS, 2004, p. 133).

Tendo isso em vista, elaborou-se, para a bacia hidrográfica do manancial do alto


curso do Rio Santo Anastácio, um zoneamento ambiental (uma carta-síntese) com as
indicações das unidades ambientais que necessitam: a) de alteração do uso e ocupação da
terra; b) manutenção do uso e ocupação da terra com alta restrição; c) manutenção do uso e
ocupação da terra com restrição; d) manutenção do uso e ocupação da terra; e) proteção do
uso e ocupação da terra.
Para tanto, utilizaram-se os seguintes critérios de classificação:
a) Alteração do uso e ocupação da terra - a unidade possui alta e altíssima
incompatibilidade entre uso e ocupação potencial e real da terra, expressivos
problemas ambientais, desenvolvimento de processo erosivo acelerado e risco
de contaminação das águas. De forma geral a alteração ocasionará baixo
impacto socioeconômico.
b) Manutenção do uso e ocupação da terra com alta restrição - a unidade possui
média-alta e alta incompatibilidade entre uso e ocupação real e potencial do
solo, e expressivos problemas ambientais. Porém, a alteração do uso e
ocupação ocasionaria severos problemas sociais e econômicos. Devem ser
adotadas medidas de preservação e conservação para mitigar os problemas
ambientais.
c) Manutenção do uso e ocupação da terra com restrição - a unidade permite a
proteção do solo contra o desenvolvimento de processos erosivos, possibilita a
infiltração da água no solo e o desenvolvimento de atividades econômicas.
Porém, as culturas temporárias deixam o solo exposto em áreas com alta
fragilidade (erosão), contribuindo para o desenvolvimento dos processos
erosivos.
d) Manutenção do uso e ocupação da terra - a unidade permite a proteção do solo
Planejamento e análises ambientais - 87

contra o desenvolvimento de processos erosivos, possibilita a infiltração da água


no solo e o desenvolvimento de atividades econômicas.
e) Proteção do uso e ocupação da terra - as unidades, além de a conservação do
solo e da água, são destinadas à manutenção da biodiversidade.
A carta de zoneamento ambiental (Figura 07) sistematizou, classificou e
representou as informações referentes às unidades ambientais, em especial, avaliando o uso
e ocupação da terra.

Figura 07 - Zoneamento ambiental

Fonte: Dibieso, 2013.

Na bacia do manancial predominam as áreas com manutenção do uso e ocupação


da terra (59%); são áreas rurais onde predominam as pastagens, possibilitando a infiltração
da água no solo. As unidades com propostas de alteração do uso e ocupação da terra
88

representam 5% da área total da bacia, localizam-se próximas das áreas urbanizadas e do


setor sul da bacia, e caracterizam-se pela concentração e potencial desenvolvimento de
problemas ambientais. As unidades com propostas de manutenção com alta restrição
ocupam 2% da área total da bacia, porém exigem práticas urgentes de preservação e
conservação, e correspondem às áreas urbanizadas, ocasionando graves problemas
ambientais e revelando importante função socioeconômica. As unidades com propostas de
manutenção com restrição representam 33% da área da bacia e possuem, em alguns
setores, incompatibilidade entre uso e ocupação potencial e real, e problemas ambientais.
As unidades ambientais classificadas como de proteção do uso e ocupação da terra
correspondem a apenas 1% da área total, caracterizando-se pelo predomínio da vegetação
nativa.
As áreas de ruptura de declive foram classificadas como manutenção do uso e
ocupação da terra com restrição, pois alguns setores da unidade não possuem vegetação
nativa. Nas nascentes difusas e planícies de inundação, devido à alta fragilidade e
importância para a manutenção da qualidade e quantidade das águas, o uso e ocupação da
terra atual deve ser substituído por vegetação nativa.
Além das propostas gerais, para cada unidade ambiental da bacia hidrográfica do
manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio, foram elaboradas propostas específicas,
baseadas no conjunto das características da unidade. As propostas, basicamente, estão
pautadas na alteração do uso e ocupação da terra e na adoção de práticas de preservação e
conservação ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração da pesquisa permitiu compreender como o planejamento ambiental,


baseado na análise da paisagem, poderá contribuir para a gestão das águas da bacia
hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio, ao analisar, de forma
integrada, as características da paisagem natural, os processos de uso e ocupação da terra e,
respectivamente, suas funções geoecológicas, sociais e econômicas através da identificação
das unidades de paisagem, consideradas como unidades de planejamento e gestão. Desta
forma, a definição de unidades de paisagem ou unidades ambientais é a base do
ordenamento territorial e do zoneamento do uso e ocupação da terra.
Planejamento e análises ambientais - 89

Nesse contexto, as propostas de planejamento e gestão para a bacia hidrográfica do


manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio visam o controle do uso e ocupação da terra
e a adoção de práticas de preservação, conservação e recuperação ambiental. Além disso, as
propostas são mais adequadas quando elaboradas a partir de unidades ambientais, pois a
delimitação dos compartimentos (unidades homogêneas) tem o objetivo prático de levar em
conta a diversidade das características da bacia hidrográfica.
Todas as informações referentes à bacia hidrográfica do manancial do alto curso do
Rio Santo Anastácio devem ser incorporadas a um sistema gerencial de informações e
utilizadas como instrumento de planejamento e gestão, contribuindo para o ordenamento
(atual e futuro) do uso e ocupação da terra, para a fiscalização e licenciamento ambiental, e
divulgação das informações sobre a bacia.
Por fim, ressalta-se que a proteção de mananciais de abastecimento público deve
contar com os instrumentos de gestão abordados neste trabalho e vários outros, tais como:
outorga de direitos de uso da água, pagamento ou compensação por serviços ambientais,
licenciamento ambiental de atividades produtivas, cobrança pelo uso da água e criação de
áreas de proteção ambiental. Ressalta-se que essa proteção deverá contar, sobretudo, com
amplo e vigoroso processo de educação ambiental, que mobilize gestores, usuários e
população na defesa da água, para que as atuais e futuras gerações possam continuar a ter
acesso a esse recurso imprescindível a todas as formas de vida e ao desenvolvimento
sustentável.

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92
Planejamento e análises ambientais - 93

Capítulo 5

ESTUDO SOBRE A DISPONIBILIDADE HÍDRICA DO


RIBEIRÃO DA RANCHARIA/SP

Amanda Fernandes da Silva


Graduanda em Engenharia Ambiental, FCT/UNESP – Presidente Prudente, Brasil
amandafs05@gmail.com

Rosane Freire Boina


Professora Doutora, FCT/UNESP – Presidente Prudente, Brasil
rosane@fct.unesp.br

INTRODUÇÃO

Entre os instrumentos estabelecidos pela Política Nacional de Recursos Hídricos


(PNRH), Lei Federal nº 9.433 de 1997, Calmon et al. (2016) afirma que o enquadramento dos
corpos d´água em classes de uso apresenta grande relevância, uma vez que se trata de uma
ferramenta de integração entre gestão de quantidade e de qualidade da água dentro de uma
bacia hidrográfica. Libânio; Chernicharo; Nascimento (2005) afirmam que desde a
implantação da PNRH, a gestão de recursos hídricos deixou de ser apenas uma análise
quantitativa e ganhou força a interface entre áreas de recursos hídricos e saneamento
ambiental. Nesse momento, na área de recursos hídricos surge o termo reformulado
disponibilidade hídrica, significando que a água deve estar presente tanto em quantidade
como em qualidade satisfatória para atender às necessidades dos seres vivos, considerando
os usos previstos (FREIRE, 2010).
O comportamento da qualidade da água de determinado recurso hídrico reflete as
condições ambientais nas quais o mesmo se encontra inserido e, mediante conhecimento
dos aspectos qualitativos somados aos aspectos quantitativos das águas, consegue-se
compreender os impactos causados por atividades antrópicas, bem como sua distribuição no
94

espaço e tempo e, assim, estimar a disponibilidade de uso (SOUZA; GASTALDINI, 2014;


TOLEDO; NICOLELLA, 2002). De acordo com Setti et al. (2000), a quantidade e a natureza dos
constituintes presentes variam conforme a natureza do solo, as condições climáticas e devido
à presença de substâncias provenientes de despejos domésticos e industriais.
Com o conhecimento da disponibilidade hídrica e do cadastramento das demandas
é possível listar ações de controle e de gestão dos recursos de forma estratégica. Todavia,
para que esse controle seja efetivo, é relevante que órgãos públicos, responsáveis pela área
ambiental, adquiram informações sólidas, pratiquem fiscalização e o monitoramento dos
cursos d´água de modo a assegurar que as condicionantes mínimas definidas pela legislação
sejam respeitadas (PORTO; PORTO, 2008).
Na esfera do gerenciamento de qualidade da água, observa-se que os modelos
matemáticos apresentados na literatura técnica podem ser utilizados na avaliação de
possíveis impactos ambientais sobre as águas. Os resultados gerados, pautados na inserção
de dados do monitoramento qualitativo e quantitativo, fornecem estimativas que auxiliam os
tomadores de decisão a longo prazo e apoiam as decisões a curto prazo (GONÇALVES et al.
2012). Um dos principais usos dos modelos matemáticos está na previsão de impactos
causado pelo lançamento de efluentes orgânicos, ou seja, na avaliação da capacidade
depurativa do corpo hídrico receptor. Segundo Von Sperling (2007), por meio da depuração,
os compostos orgânicos são convertidos em compostos estáveis, como gás carbônico e água,
não sendo prejudiciais do ponto de vista ecológico. Do ponto de vista prático, considera-se
um curso d´água depurado quando este não apresenta mais características conflitantes com
o uso preponderante previsto em lei.
Tendo em vista que o lançamento de efluentes em corpos d´água não é proibido,
existem regulamentações que regem as características desses despejos visando a
manutenção e disponibilidade da água do corpo receptor. Sobre esse aspecto, destaca-se a
Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005, alterada pela Resolução CONAMA nº
430, de 13 de maio de 2011 (BRASIL, 2005; BRASIL, 2011). No estado de São Paulo, em
particular, tem-se a aplicação do Decreto Estadual nº 8.468, de 8 de setembro de 1976, que
regulamenta a Lei Estadual nº 997, de 31 de maio de 1976, o qual estabelece diretrizes
referentes ao controle e prevenção da poluição ambiental (SÃO PAULO, 1976). Nem sempre é
possível atender às características de lançamento estabelecidas, seja por negligência ou falta
de investimentos financeiros em tecnologia adequada.
Planejamento e análises ambientais - 95

Com base no cenário que avalia o comprometimento dos cursos d´água causado
pelo lançamento de poluentes orgânicos, estudos correlacionados à avaliação dessas cargas
poluidoras vêm ao encontro de soluções rápidas e de baixo custo, pois, a partir dos
resultados apresentados, decisões podem ser tomadas no intuito de minimizar os problemas
gerados pela poluição (BENASSI, 2002).
Com o exposto, o presente trabalho avaliou a disponibilidade hídrica do Ribeirão da
Rancharia, em Rancharia/SP, a partir da realização do monitoramento de alguns aspectos
qualitativos e quantitativos de suas águas. Este estudo é uma etapa importante no que tange
o fornecimento de dados relevantes para a avaliação e previsão de impactos ambientais
causados por despejos orgânicos existentes.
Localizado no oeste do estado de São Paulo, o município de Rancharia possui,
aproximadamente, 28.804 habitantes, com atividades econômicas ligadas à indústria e ao
setor agrícola (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). O Ribeirão da
Rancharia enquadra-se, segundo o Decreto Estadual nº 10.755/1997, como um corpo d´água
de classe 2 (dois). Trata-se, portanto, de um curso d´água que tem por finalidade de uso o
abastecimento humano, após tratamento convencional com vistas à proteção das
comunidades aquáticas (SÃO PAULO 1997; BRASIL, 2005). Contudo, o Ribeirão da Rancharia
recebe, atualmente, uma grande carga de matéria orgânica proveniente dos efluentes
domésticos e industriais, em desencontro com suas condições de uso. Não obstante, o
Ribeirão aporta também as águas do Ribeirão da Lavadeira, um tributário urbano e que
também recebe efluentes industriais.
Grande parte do curso do Ribeirão da Rancharia encontra-se visivelmente em
estágio de degradação e não há informações referentes à essas águas e, muito menos, de
conhecimento sobre a magnitude do impacto causado pelo lançamento dos efluentes. Desse
modo, por meio da realização de um monitoramento qualitativo e quantitativo da água, e
que contempla o efeito da sazonalidade, obteve-se informações mais precisas sobre a
disponibilidade hídrica do Ribeirão da Rancharia, fornecendo subsídios no que concerne às
consequências dos impactos ambientais gerados no recorte espacial estabelecido como
escopo deste trabalho.
96

METODOLOGIA

Descrição dos pontos de coleta

O presente estudo abrangeu uma porção do Ribeirão da Rancharia, o qual encontra-


se inserido na UGRH -17, mais precisamente na bacia hidrográfica do Rio Capivara, como
apresentado na Figura 1.

Figura 1: Localização do Ribeirão da Rancharia dentro da UGRH – 17

Fonte: COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS DO MÉDIO PARANAPANEMA - MP, 2011 (adaptado).

Estudos de campo foram realizados no Ribeirão da Rancharia com a finalidade de


delimitar o trecho e as seções de monitoramento, resultando em 4 (quatro) seções de coleta
de dados: seção 1, à montante da entrada de efluentes; seção 2, no tributário urbano
(Ribeirão da Lavadeira); seção 3, no ponto de mistura; e seção 4, a jusante do lançamento.
Com o auxílio do GPS GARMIN MAP 78S, foram coletadas as coordenadas geográficas de
cada seção (Tabela 1). Ao longo do desenvolvimento desta pesquisa foram realizadas 7 (sete)
campanhas para coleta de amostras com vistas às análises qualitativas, bem como
campanhas para estimativa da vazão de escoamento nas seções estabelecidas (análise
Planejamento e análises ambientais - 97

quantitativa). O estudo compreendeu o período de outubro de 2015 a outubro de 2016, com


frequência de coleta bimestral (Tabela 2).

Tabela 1: Coordenadas das seções de monitoramento


Seções Latitude Longitude
1 22º14’37,72’’S 50º52’55,65’’O
2 22º14’6,95’’S 50º53’15,42’’O
3 22º14’55,26’’S 50º53’15,42’’O
4 22º22’53,57’’S 50º55’06,16’’O
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.

Tabela 2: Informações referentes aos dias de coletas de amostras.


Número da Campanha Data de Realização Estação Climática
1 02/10/2015 Primavera
2 11/12/2015 Primavera
3 04/02/2016 Verão
4 10/04/2016 Outono
5 20/06/2016 Outono
6 17/08/2016 Inverno
7 20/10/2016 Primavera
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.

Metodologia de coleta das amostras e determinação dos dados químicos e físicos

In loco, foram coletadas amostras de água em quantidade suficiente para as análises


laboratoriais, bem como, mensurados alguns dados físicos e químicos. As coletas das
amostras foram realizadas com o auxílio de um balde de plástico, na seção central do curso
d’água, sendo armazenadas em uma garrafa de polietilenotereftalato (PET) de um litro. O
transporte até a Central de Laboratórios de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia
(FCT/UNESP), Presidente Prudente/SP, Laboratório 11-A, foi realizado com a utilização de
uma caixa térmica com gelo.
As medidas de oxigênio dissolvido (OD – mg/L) foram realizadas com o auxílio de
um oxímetro digital (HANNA, HI 9146). O pH foi determinado por meio do pHmetro portátil
digital (GEHAKA, PG 2000). Para a temperatura (T - ºC), utilizou-se um termômetro de
mercúrio. A demanda bioquímica de oxigênio (DBO5,20 – mg/L) foi determinada em todas as
amostras coletadas, seguindo as recomendações de APHA (1998). A turbidez (NTU) foi
determinada no laboratório, com o uso de um turbidímetro digital (TB 1000).
Em todas as campanhas, a vazão foi estimada pelo método do flutuador, conforme
apresentado em Palhares et al. (2007), para as seções 1, 2 e 3. A área da seção transversal ao
escoamento foi calculada por meio do produto da largura do corpo d´água por sua
98

profundidade média (Equação 1). A profundidade média foi determinada pelo método da
composição de verticais: dividindo-se a largura do corpo d’ água em intervalos equidistantes
e aferindo, nesses pontos equidistantes, a altura da lâmina d‘água. A largura foi mensurada
com o auxílio de uma trena e a profundidade, com um metro.

A=LxH (Equação 1)

em que:
A – área da seção (m2)
L – largura do rio (m)
H – profundidade média da seção (m)

Conhecendo a área da seção de escoamento, estimou-se a velocidade de


escoamento das águas a partir da determinação do tempo gasto para um objeto flutuador
percorrer uma distância conhecida (Equação 2).

(Equação 2)

em que:
Vm – velocidade média da água (m/s)
D – distância conhecida (m)
T – tempo (s)

Assim, conforme a Equação 3, a vazão (Q – m3.s-1) foi estimada pelo produto entre o
valor da velocidade média e o valor da área de seção transversal de escoamento, corrigido
por um coeficiente. Segundo recomendações de Palhares et al. (2007), foi estabelecido um
coeficiente de correção de 0,9.

Q = A x Vm x 0,9 (Equação 3)

Na seção 4, a vazão foi estimada a partir da vazão incremental do curso d’água,


conforme proposto por Von Sperling (2007) (Equação 4).
Planejamento e análises ambientais - 99

Qrio = Qmontante+ Qtributário + Qefluentes – Qcapitada (Equação 4)

em que:

Qrio - vazão do rio (m3/s)


Qmontante – vazão a montante do rio (m3/s)
Qefluentes – vazão do efluente (m3/s)
Qcaptada – vazão de capitação (m3/s)

Com a finalidade de conhecer a carga poluidora no Ribeirão da Rancharia, utilizou-


se a Equação 5, em conformidade com o proposto por Von Sperling (2005), no qual se
considera como medida de concentração a DBO5,20.

(Equação 5)

O efeito da sazonalidade foi estimado a partir da coleta de dados de precipitação na


Estação Meteorológica da Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT/UNESP – Presidente
Prudente e na Estação Meteorológica Automática do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET), localizada no município de Rancharia – SP.

Análise de disponibilidade da água

Para avaliar a disponibilidade da água no Ribeirão da Rancharia foram considerados


os parâmetros de qualidade da água obtidos in loco e por meio das análises laboratoriais.
Além disso, os dados físicos e químicos apresentados no Plano de Bacias Hidrográficas da
UGRH – 17 (COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS DO MÉDIO PARANAPANEMA – MP, 2006) e
no Relatório de Qualidade das Águas Superficiais (CETESB, 2016) foram utilizados com a
finalidade de contrapô-los com os dados coletados a partir do monitoramento. Desse modo,
elaborou-se um estudo preliminar acerca do recorte espacial estabelecido no presente
estudo, verificando os possíveis impactos ambientais gerados nas águas da bacia hidrográfica
no qual o Ribeirão está inserido.
100

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dados Quantitativos

A Tabela 3 apresenta os valores correspondentes à vazão em todas as seções de


monitoramento no Ribeirão da Rancharia (seções 1, 3 e 4) e no tributário urbano, Ribeirão
Lavadeira (seção 2), ao longo do período de estudo.

3
Tabela 3: Vazão (m /s) nas seções de monitoramento estimadas em cada campanha
Data Seção 1 Seção 2 Seção 3 Seção 4
02/10/2015 0,04 0,04 0,23 0,24
11/12/2015 1,28 0,15 1,63 3,06
04/02/2016 0,05 0,02 2,86 2,94
10/04/2016 0,17 0,01 1,53 1,70
20/06/2016 0,22 0,02 0,22 0,45
17/08/2016 0,13 0,02 0,13 0,28
20/10/2016 0,07 0,01 0,06 0,14
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.

Tomando por base os índices pluviométricos (Figura 2), pode-se inferir que o
comportamento da vazão ao longo do período de estudo esteve sobre o efeito da
sazonalidade, ou seja, em épocas mais chuvosas (dezembro/15 a março/16), a vazão no
Ribeirão da Rancharia era maior do que em épocas de estiagem (junho/16 a outubro/16).
Planejamento e análises ambientais - 101

Figura 2: Precipitação mensal durante o período de monitoramento

Fonte: INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA, 2016.

Qualidade

Os resultados dos parâmetros de qualidade da água foram discutidos com base na


Resolução CONAMA nº 357/2005 para corpos d´água de classe 2 (dois), tanto para o Ribeirão
da Rancharia quanto para seu tributário, Ribeirão da Lavadeira. Nas tabelas 4 e 5 são
apresentados os valores mínimo, máximo e a média aritmética, com seu respectivo desvio
padrão, para o Ribeirão da Rancharia e seu tributário, Ribeirão da Lavadeira,
respectivamente.

Tabela 4: Valores mínimo, máximo e média aritmética calculados para cada indicador de qualidade da água
no Ribeirão da Rancharia
Valores
Parâmetros
Mínimo Máximo Média
Temperatura (ºC) 18,60 35,00 24,52 ± 3,74
pH 6,40 8,85 7,41 ± 0,71
Turbidez (NTU) 2,63 163,00 37, 21 ± 49,28
OD (mg/L) 0,17 9,97 5,00 ± 2,42
DBO5,20 (mg/L) 1,13 219,81 67,38 ± 66,68
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.
102

Tabela 5: Valores mínimo, máximo e média aritmética calculados para cada indicador de qualidade da água
no tributário Ribeirão da Lavadeira
Valores
Parâmetros
Mínimo Máximo Média
Temperatura (ºC) 21,20 28,00 24,16 ± 2,71
pH 6,69 7,44 7,14 ± 0,24
Turbidez (NTU) 0,27 5,61 3,06 ± 2,12
OD (mg/L) 4,16 9,55 6,67 ± 1,91
DBO5,20 (mg/L) 1,07 78,33 32,69± 27,97
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.

A temperatura no Ribeirão da Rancharia e no tributário, Ribeirão da Lavadeira,


apresentou variações devido à sazonalidade, sendo que as mínimas e máximas referem-se às
coletas realizadas no inverno e no verão, respectivamente. Além disso, segundo Braga et al.
(2005), a variação de temperatura pode ocorrer devido ao período do dia e profundidade.
Quanto ao proposto pela legislação vigente, observa-se que a variação de temperatura se
manteve dentro do limite permitido (> 40ºC).
Os valores de pH no Ribeirão da Rancharia e no tributário apresentaram pequenas
variações, como pode ser observado no valor do desvio padrão, que considera uma medida
de dispersão dos dados entorno da média amostral. Destarte, os valores de pH mensurados
encontram-se de acordo com o apresentado na Resolução CONAMA nº 357/2005 (6,0 < pH <
9,0).
A turbidez causa interferência na dispersão da luz na água, devido à presença de
sólidos em suspensão. Dessa forma, no Ribeirão da Rancharia este parâmetro variou de 2,63
NTU a 163 NTU, sendo que o valor mínimo correspondeu à seção 4, e o máximo, ao ponto de
mistura do efluente com o curso d´água (seção 3). Os altos valores de turbidez indicam que a
Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) não está atingindo a eficiência necessária na
retenção de sólidos suspensos. Desse modo, a seção 3 apresentou valores em
desconformidade com o proposto na legislação, na qual se estabelece um limite de 100 NTU.
No tributário todos os valores mensurados estavam em conformidade.
Apesar de a concentração média de oxigênio dissolvido (OD), em ambos os corpos
d´água, apresentar valores satisfatórios, observou-se que o Ribeirão da Rancharia
apresentou dificuldades em reestabelecer as concentrações mínimas estabelecidas em
legislação após a entrada dos despejos orgânicos. Na Figura 3, são apresentados os valores
Planejamento e análises ambientais - 103

mensurados em cada seção ao longo do período de estudo e o limite proposto na Resolução


CONAMA nº 357/2005 (> 5mg/L).

-1
Figura 3: Variação de oxigênio dissolvido (mg.L ) nas seções de monitoramento

Fonte: SILVA; BOINA, 2017.

Nas seções 1, 2 e 3, em todas as campanhas realizadas, os valores de concentração


de OD estavam em conformidade com a legislação. A seção 4, localizada a jusante do
lançamento, apresentou em todas as campanhas valores de concentração de OD abaixo do
permitido. Como sugere Von Sperling (2007), a diminuição na concentração de OD em um
corpo d’ água ocorre devido ao processo de estabilização da matéria orgânica por bactérias
aeróbicas, que fazem uso desse oxigênio em seus processos respiratórios. Tendo em vista
que a seção 4 encontra-se a, aproximadamente, 16km de distância da entrada dos despejos,
pode-se inferir que o Ribeirão apresentou imensa dificuldade em degradar a matéria
orgânica presente, considerando o seu comportamento hidráulico.
Além disso, foi notório o efeito da sazonalidade nos resultados, como pode ser
observado na diferença dos valores de concentração de OD nos meses de outubro/15 e
dezembro/15, visto que nos dois meses foram registrados elevados índices de precipitação.
Outro parâmetro utilizado para inferir a poluição do meio aquático por despejos
orgânicos é foi a concentração da demanda bioquímica de oxigênio (DBO5,20). Em ambos os
cursos d´água foram obtidos valores médios acima do estabelecido para cursos d´água de
classe 2 (< 5,0 mg/L). O desvio padrão evidencia que a DBO5,20 no Ribeirão da Rancharia
apresentou altas concentrações (Tabela 4), sendo os maiores valores de DBO5,20
correspondentes ao ponto de mistura (seção 3). No tributário, Ribeirão da Lavadeira, pode-se
104

associar as altas concentrações de DBO5,20 a diversos fatores relacionados às atividades


humanas. Neste caso, além da contribuição industrial, há de se considerar a poluição do tipo
difusa, proporcionada pela influência da urbanização. Logo, faz-se necessário realizar uma
investigação mais aprofundada para que se possa chegar a um melhor conhecimento das
causas dessa poluição. Na Tabela 6, apresentam-se os valores obtidos para DBO5,20 em cada
seção de monitoramento. Em destaque (negrito) encontram-se os valores de concentração
de DBO5,20 acima do estabelecido pela Resolução CONAMA nº 357/2005.

Tabela 6: Concentração de DBO5,20 (mg/L) nas seções de monitoramento, ao longo do período de estudo
Campanha Seção 1 Seção 2 Seção 3 Seção 4
Outubro/15 6,85 52,18 216,60 51,55
Dezembro/15 5,71 22,62 84,68 29,02
Fevereiro/16 4,38 44,83 124,87 42,27
Abril/16 92,63 78,83 219,81 91,56
Junho/16 49,54 28,11 163,96 51,04
Agosto/16 19,55 1,70 97,43 18,01
Outubro/16 2,35 1,07 42,04 1,13
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.

Como exposto, os maiores valores de concentração de DBO5,20 correspondem ao


ponto de mistura (seção 3). Porém, a montante do lançamento (seção 1) também foram
observados altos valores de DBO5,20. A partir de imagens de satélite e de informações
repassadas pela Prefeitura Municipal de Rancharia, foi verificado que há outro lançamento
de efluentes proveniente de uma pequena estação de tratamento de efluentes instalada nas
proximidades de um conjunto habitacional popular recém construído. Essas interferências
foram importantes na análise global dos resultados obtidos para a seção 1 e indicam que um
estudo mais detalhado deve ser realizado no Ribeirão da Rancharia.
Em consulta à literatura, a maioria dos corpos receptores de despejos orgânicos
apresentam nas seções a jusante valores de concentração de DBO5,20 elevados. A medida que
ocorre a mistura e depuração da matéria orgânica, a concentração de DBO5,20 tende a
diminuir, conforme apresentado pelos valores obtidos nas seções 3 e 4. Por fim, também foi
notório o efeito da sazonalidade na diluição dos despejos orgânicos, como se pode observar
na diminuição da concentração de DBO5,20 de outubro/2015 para dezembro/15, período no
qual houve maiores índices pluviométricos.
Planejamento e análises ambientais - 105

Análise da disponibilidade da água

Segundo o Plano de Bacia da UGRH – 17 (COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS DO


MÉDIO PARANAPANEMA – MP, 2006), dentre os municípios pertencentes a esta unidade, o
município de Rancharia apresenta 108.851 hectares de pastagens, valor que corresponde a
13% do total da UGRH-17, 34.876 hectares de culturas temporárias, mais precisamente cana-
de-açúcar, correspondendo a 5,6% do total, e 1.954 hectares de silvicultura, representando
2,7% do total. Dessa forma, a manutenção das atividades agropecuárias demanda um uso
intensivo de água, seja para a dessendentação de animais ou para irrigação das culturas. Para
isso, a conservação dos aspectos de disponibilidade hídrica é um fator primordial no que
tange ao desenvolvimento dessas atividades.
Do ponto de vista da bacia hidrográfica do Rio Capivara, considera-se o Ribeirão da
Rancharia como sendo um tributário. Desse modo, após receber a contribuição das águas
provenientes do Ribeirão da Rancharia, o Rio Capivara desagua no Rio São Mateus,
prolongando seu deságue até o Rio Paranapanema. Estima-se que a vazão média da bacia
hidrográfica do Rio
Capivara seja de 32,27 m3/s, que corresponde a 16,65% do total de vazão da UGRH-
17, sendo, portanto, uma fração considerável em relação à quantidade (COMITÊ DE BACIAS
HIDROGRÁFICAS DO MÉDIO PARANAPANEMA, 2006).
O presente estudo verificou que a qualidade da água do Ribeirão da Rancharia não
apresenta condições favoráveis para seu uso, conforme previsto no instrumento legal. O
processo depurativo ocorre de forma muito lenta, sendo as condições hidráulicas do corpo
receptor apenas um dos fatores que colaboram com isso. Desse modo, a disponibilidade
hídrica do Ribeirão da Rancharia está em constante conflito com o uso que se faz dessas
águas, comprometendo fortemente o uso dos corpos hídricos a jusante. A alta carga orgânica
encaminhada pelas indústrias e pelo sistema de esgotamento doméstico configura-se como
uma das principais fontes poluidoras identificadas no trecho analisado. A Tabela 7 apresenta
os valores de carga poluidora calculados a partir dos dados físicos e químicos coletados
durante o monitoramento.
106

Tabela 7: Carga poluidora (kg/dia)


Carga Poluidora
Campanha -1
(kg/dia )
Outubro/15 4.304
Dezembro/15 11.926
Fevereiro/16 30.888
Abril/16 28.950
Junho/16 3.117
Agosto/16 1.094
Outubro/16 213
Fonte: SILVA; BOINA, 2017.

O Relatório de Qualidade das Águas Superficiais (CETESB, 2016) estimou que cerca
de 93% do esgoto gerado no município de Rancharia é coletado, sendo 100% desse esgoto
tratado com eficiência de 82,05%, e com um potencial de carga poluidora de 1.442 kg/dia.
Além disso, o indicador de coleta de tratabilidade de esgoto da população urbana do
município (ICTEM) é de 8,85, valor considerado satisfatório.
Considerando que o tratamento de efluentes no município é realizado a partir de
lagoas de estabilização, Von Sperling (2007) estima que esse processo apresenta uma
eficiência de remoção de DBO5,20 em torno de 75-80%, com concentração de saída entre 50 e
80 mg/L. Porém, a Tabela 6 apresenta valores de concentração de DBO5,20 acima do previsto
na literatura. Salienta-se que a coleta na seção 3 corresponde ao ponto de mistura, ou seja, a
concentração de DBO5,20 do efluente é maior do que os valores apresentados neste estudo.
Devido às características do efluente e o efeito do mesmo no Ribeirão da Rancharia,
torna-se necessário rever o método de tratamento de efluentes, a fim de aumentar a sua
eficiência e, consequentemente, diminuir a carga orgânica. A Tabela 7 evidenciou a
ineficiência no tratamento desses efluentes, com destaque para as campanhas de
outubro/2015 a junho/2016, as quais apresentaram valores superiores ao apresentado no
Relatório de Qualidade das Águas Superficiais (CETESB, 2016).
Desse modo, o Ribeirão da Rancharia não possui características hidráulicas
favoráveis à diluição desses despejos, fato corroborado por dados de concentração de OD e
DBO5,20 a jusante do lançamento – em discordância com os padrões estipulados na
Planejamento e análises ambientais - 107

Resolução CONAMA nº 357/2005 – e pelos altos valores de carga poluidora obtidos durante
o período de monitoramento.
A PNRH estabelece a existência de uma gestão sistemática dos recursos hídricos sem
desassociar os aspectos relevantes à qualidade e quantidade de água (BRASIL, 1997). Dessa
forma, a influência antrópica sobre o Ribeirão da Rancharia prejudica não somente o
ecossistema do presente curso d´água, como também causa, possivelmente, impactos sobre
outras bacias. Assim, estudos relacionados ao monitoramento da qualidade da água são
importantes para que sejam levantadas questões referentes à sua disponibilidade, pois é
fundamental dispor de água em quantidade e qualidade adequada para uso.

CONCLUSÃO

O monitoramento qualitativo e quantitativo realizado no Ribeirão da Rancharia


retratou alterações ocasionadas por ações antrópicas. Em relação aos limites qualitativos
propostos pela Resolução CONAMA nº 357/2005, foram observadas desconformidades nos
resultados obtidos para a turbidez, OD e DBO5,20. Os parâmetros quantitativos somados aos
qualitativos demonstraram que, após a entrada de despejos orgânicos, o Ribeirão da
Rancharia apresentou dificuldades em relação ao reestabelecimento das condições
anteriores ao lançamento, principalmente quanto à degradação da matéria orgânica. Assim,
tendo em vista a disponibilidade hídrica, o Ribeirão da Rancharia não apresenta condições
favoráveis ao uso proposto, considerando sua classe de enquadramento.
Verificou-se no presente trabalho que o sistema de tratamento de efluentes do
município e das indústrias encontram-se inadequado para a retenção de sólidos e matéria
orgânica. Logo, é fortemente recomendado rever a tecnologia utilizada e adequar o sistema,
para cumprimento dos padrões ambientais vigentes.
A análise dos resultados obtidos no presente estudo serviu como instrumento
preliminar à tomada de decisão dos gestores públicos e privados a curto prazo. Contudo,
para um melhor conhecimento do impacto ocasionado no Ribeirão da Rancharia a partir do
lançamento de despejos orgânicos, faz-se necessário realizar um estudo mais aprofundado,
com o intuito de avaliar a capacidade autodepurativa desse curso d’água, utilizando
modelagem matemática avançada. Sendo assim, este trabalho não se encerra, pelo
108

contrário, permite abrir novas possibilidade de debates para que outros estudos venham a se
realizar sobre essa temática no local.

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110

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Planejamento e análises ambientais - 111

Capítulo 6

TEORIA DO CLIMA URBANO E O SUBSISTEMA FÍSICO-QUÍMICO: O MATERIAL


PARTICULADO INALÁVEL (MPI) COMO INDICADOR DE QUALIDADE DO AR DA
ATMOSFERA URBANA DE DOURADOS-MS E SEUS POSSÍVEIS
DESDOBRAMENTOS NA SAÚDE DOS HABITANTES8

Vladimir Aparecido dos Santos


Mestre, UFGD, Brasil
vladimirvas@yahoo.com.br

Charlei Aparecido da Silva


Professor Doutor, UFGD, Brasil
charleisilva@ufgd.edu.br

INTRODUÇÃO

A Geografia, com suas variadas temáticas, tem a proposta de avaliar não somente
os impactos no ambiente, gerados pelo molde capitalista, mas também colocar em questão,
de forma reflexiva e argumentativa, temas relacionadas à saúde dos indivíduos e seu bem
estar físico e social (SANTOS, 2016).
Pode-se dizer que estudos referentes à poluição atmosférica vêm se desenvolvendo
fortemente desde 1930, por conta de todos os avanços realizados pela ciência, e seu
conhecimento enfático da atmosfera terrestre. Portanto, as questões ambientais ganham
corpo no que se refere aos estudos dos impactos e projeções de um futuro propenso à
escassez de vários elementos naturais, os quais são de suma importância para a continuação
da vida terrestre (SANTOS, 2016) .

8
Este trabalho de pesquisa é fruto de dissertação de mestrado sob o título “A qualidade do ar de Dourados
(MS): uma contribuição aos estudos de clima urbano, com foco no subsistema físico-químico”, realizada na
Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD (SANTOS, 2014a), e publicada parcialmente nos anais dos
eventos IX Seminário Latino-Americano e V Seminário Ibero-Americano de Geografia Física, em Portugal, no
ano de 2016 (SANTOS E SILVA, 2016b).
112

Com o gradativo adensamento populacional, aumento da frota automotiva, da


industrial, da queima de biomassa, entre outros fatores, a intensificação dos poluentes
atmosféricos tem se mostrado causa de graves transtornos às sociedades.
Os prejuízos à saúde têm seu percurso de longa data, a exemplo, conforme Baird e
Cann (2011), temos o caso “London Smog”, no qual, por conta do evento de poluição
atmosférica, houveram muitas mortes na cidade de Londres. Nesta ocasião, em 1952 a
fumaça liberada pelas chaminés por meio da queima de biomassa produziu uma espécie de
névoa que cobriu toda a cidade de Londres, contribuindo para a inversão térmica, e levando
cerca de 4.000 pessoas à morte – nos meses seguintes, o total aproximado de mortes
chegou ao impressionante número de 8.000 indivíduos.
Outro caso, dessa vez ocorrido no Brasil, diz respeito à cidade de Cubatão, no
estado de São Paulo. Em 1977, o nível de emissões de poluentes estava tão crítico na cidade
que os habitantes das regiões mais próximas às indústrias e os trabalhadores industriários
passaram a sofrer alterações hematológicas induzidas, estas promovidas pela inalação dos
poluentes: monóxido de carbono, benzeno, dióxido de carbono, óxido de nitrogênio,
hidrocarbonetos, material particulado, entre outros (NAOUM; MOURÃO; RUIZ, 1984).
Em ambos casos, a população local sofreu as consequências da inalação de
poluentes e material particulado, trazidos pela fumaça industrial. Partículas inaláveis e
respiráveis (≤ MP10) e fumaça são partículas de material sólido ou líquido que ficam
suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aerossol, fumaça, fuligem, etc.; na faixa de
tamanho ≤10μm. Elas têm como fontes principais de emissão os processos de combustão
(indústria e veículos automotores) e o aerossol secundário (formado na atmosfera), e seus
efeitos gerais ao meio ambiente são de danos à vegetação, deterioração da visibilidade e
contaminação do solo. Em relação à saúde humana, essas partículas podem afetar órgãos
traqueo-bronquial e pulmão, causando doenças respiratórias, bronquite crônica, constrição
dos brônquios, diminuição da função pulmonar, morbidade hospitalar e até mortes (CETESB,
2013; LORA, 2000; GOMES, 2001).
As adversidades da residência do material particulado na atmosfera vão desde os
aspectos estéticos, pois interferem na visibilidade, até processos de corrosão e sujeira das mais
diversas superfícies sólidas (DERISIO, 2012).
Planejamento e análises ambientais - 113

As partículas estão entre os poluentes que apresentam maiores riscos ao meio


ambiente. Elas atacam os pulmões, aumentam as taxas de reação na atmosfera,
reduzem a visibilidade e alteram os níveis de radiação solar que atinge o solo. Por
esse último fato, as partículas alteram a temperatura do solo e influenciam no
crescimento das plantas. (CARVALHO JUNIOR; LACAVA, 2003, p. 21).

Nesse ínterim, esta pesquisa se baseia nas dinâmicas do tempo e clima que se
estabelecem na cidade de Dourados/MS, e que nos levam a descrição das condições de
dissipação e/ou permanência (concentração) do poluente MP (como indicador de qualidade
do ar) emitidos na atmosfera da cidade, além de trazer à luz do conhecimento o Padrão de
Qualidade do Ar (PQA), sob o parâmetro da resolução CONAMA n° 03/90 (Conselho Nacional
do Meio Ambiente). Outro objetivo desta pesquisa é demonstrar a quantidade de
internações por morbidades hospitalares do CID-10, ou seja, internações por doenças do
aparelho respiratório, segundo dados do DATASUS (Tecnologia da Informação a Serviço do
SUS), disponíveis na base on-line SIH/SUS (Sistema de Informações Hospitalares do SUS).
A cidade de Dourados/MS foi escolhida como local de análise visto o adensamento
populacional e automotivo, e o aumento na instalação de indústrias e outras formas de
produção na região, durante as últimas décadas. Nesse contexto, o estabelecimento de
metas e propostas que visam um ambiente salubre torna-se indispensável.
Diante disso, é necessário que outras análises sejam feitas, ao longo do tempo, com
a temática apontada, para que estas possam confirmar e/ou descartar a suspeita de que os
materiais particulados inaláveis, presentes na atmosfera do ambiente urbano douradense,
são de fato os responsáveis pelas morbidades hospitalares do CID-10.

DINÂMICA ESPACIAL URBANA E O CLIMA DA CIDADE DE DOURADOS (MS)

Para a compreensão a respeito das dinâmicas climáticas que se estabelecem em


Dourados, faz-se necessário ter em conta as contribuições de Nimer, quem identifica, com
propriedade, as massas de ar que interferem diretamente no estabelecimento climático
regional e continental. Nimer (1979) afirma que são cinco as massas de ar com atividade na
circulação atmosférica direta no Brasil: massa de ar equatorial continental (mEc), massa de
ar equatorial atlântica (mEa), massa de ar tropical atlântica (mTa), massa de ar tropical
continental (mTc) e massa de ar polar atlântica (mPa).
114

A região centro-oeste do Brasil, na qual está localizado o estado do Mato Grosso do


Sul (MS), possui um relevo com preponderante influência no clima. Conforme destaca Nimer
(1979), o relevo é um dos agentes responsáveis pela dinâmica climática na interação com a
circulação atmosférica. Portanto:

[...] na região Centro-Oeste do Brasil predominam temperaturas elevadas na


primavera-verão, porém, seu inverno, embora sujeito a máximas diárias elevadas, é
uma estação mais caracterizada por temperaturas amenas e frias, principalmente
no centro-sul da região, pelo efeito da latitude, altitude e maior participação da
massa polar. (NIMER, 1979, p. 404).

A cidade de Dourados (Figura 1), por ser a segunda maior cidade do MS, com
população de 196.035 habitantes (IBGE, 2010), e área total de 4.086,244 km², é alvo de
diversos estudos referentes às dinâmicas urbanas e ambientais. Além disso, nas últimas
décadas os meios de produção agroindustriais instalam-se na cidade em número cada vez
maior, e consequentemente a malha urbana passou por recorrentes modificações (SANTOS,
2014a), chamando a atenção de pesquisadores.

Figura 1 – Mapa de localização e perímetro urbano de Dourados/MS

Fonte: SANTOS; SILVA,2016b, p. 982.


Planejamento e análises ambientais - 115

Dourados apresenta diferenças de amplitudes térmicas mensais, principalmente no


inverno, com uma média de 15°C. Os períodos outono/inverno são confortáveis, enquanto
que na primavera/verão, o calor provoca desconforto térmico. A continentalidade é fator
climático importante no estabelecimento do clima de Dourados, se considerado que os
fatores climáticos imprescindíveis que promovem a sensação de conforto térmico no
outono/inverno são a latitude e altitude (PARRA, 2001).
O clima de Dourados, conforme a ampla classificação de Köppen é do tipo CWA, ou
seja, clima mesotérmico úmido, com duas estações bem definidas, verão quente e inverno
seco. Portanto, as sensações térmicas obedecem duas variações térmicas bem distintas:
temperaturas mais baixas entre os meses de maio e agosto, e temperaturas mais altas entre
setembro e abril (FIETZ e FISCH, 2008). Tal condição é possível devido à sua posição
latitudinal, com influência direta da mTa, mTc e mPa (SCHNEIDER, 2012).
Zavatini (1992) estabelece discussão acerca da dinâmica climática da região de
Dourados, demonstrando que, pelo fato da cidade possuir altitude de 450 metros, ou seja,
mais baixa se comparado com outras cidades vizinhas do centro-sul do estado, é mais
quente, porém seus invernos podem apresentar até mesmo temperaturas próximas de 0ºC,
e por vezes mais baixa. Sabendo que a característica climática de maior relevância do centro-
sul pauta-se nas temperaturas, as quais são baixas no outono-inverno, com recorrentes
geadas, reconhecemos nas condições do tempo grande contribuição para as doenças
relacionadas ao CID-10.
As estruturas urbanas da cidade, principalmente aquelas construídas nas últimas
décadas, têm se intensificado de forma espantosa, evento consolidado “quantitativamente e
qualitativamente no aumento do número de bairros, de residências, prédios, arruamentos e
outros elementos ligados à infraestrutura urbana”( SCHNEIDER, 2012, p. 54).
Gomes (2012) analisa o conforto e amplitudes térmicas do perímetro urbano da
cidade de Dourados/MS. Como resultado, aponta que a cidade tem ganho de energia a
partir dos insumos urbanos próprios, possui alteração da ventilação conforme o
adensamento da área e apresenta ilhas de calor em determinados pontos. Em consequência
do processo de urbanização, é sentido na cidade o desconforto térmico, o qual gera
problemas de ordem coletiva (higiene pública) e de ordem individual (desempenho
humano).
116

Monteiro (1976, p. 95), em sua tese, apresenta o Sistema Clima Urbano (SCU) como
“um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização”, e
acrescenta que “o espaço urbanizado, que se identifica a partir do sítio, constitui o núcleo do
sistema que mantém relações íntimas com o ambiente regional imediato em que se insere”.
E, ainda, salienta que, “seja pela implosão demográfica, seja pela explosão de atividades, os
espaços urbanos passaram a assumir a responsabilidade do impacto máximo da atuação
humana sobre a organização da superfície terrestre e na deterioração do ambiente” (Ibid.,
p.54).
Portanto, no subsistema físico-químico II, a qualidade do ar é o elemento que está
em efetiva evidência às considerações de estudos inerentes aos impactos das emissões e
concentrações de poluentes atmosféricos dentro do ambiente urbano. Sendo profícuo
salientar que as formas degradativas do ambiente e da saúde humana encontram-se
inseridos nesse sistema que é apregoado por Monteiro (1976).

MATERIAIS E MÉTODOS (PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS DA PESQUISA)

A metodologia utilizada nesta pesquisa está calcada num roteiro teórico-


metodológico que possibilitou análises e discussões do objeto de estudo a partir das
considerações teóricas e práticas. No que se refere à concentração de poluição, será
estudado apenas um indicador de Qualidade do Ar9, isto é, os Materiais Particulados
Inaláveis (MPI).
Para a realização desta pesquisa, algumas literaturas são indispensáveis, como
CONAMA (2012), Monteiro (1976), CETESB (2013), entre outras que estão mencionadas na
bibliografia. Destas extraem-se os conceitos inerentes aos elementos climáticos, fatores
geográficos do clima, padrão de comportamento da atmosfera e sua sazonalidade, poluição
atmosférica, padrão de qualidade do ar e saúde.
A mensuração amostral das concentrações do poluente MPI (fino <2,5µm e grosso
na faixa de 2,5µm a 05 µm) na pesquisa foi realizada com equipamento eletrônico Datalog
INSTRUTEMP Handheld Laser Particle Counter MODEL P311, da marca Airy Technology

9
Os indicadores e o Índice geral de Qualidade do Ar são descritos pelo CONAMA (2012, p. 476-479) e pela
CETESB (2013, p. 23-24).
Planejamento e análises ambientais - 117

(Figura 2). Os dados foram colhidos nos meses de agosto de 2013 à janeiro de 2014,
abrangendo as estações de inverno, primavera e verão, num total de nove pontos (bairros)
de amostragem, em diferentes dias.
O P311 fez amostragem da quantidade de particulados por meio de contagens,
identificando apenas partículas com diâmetros 0,5µm, 2,5µm e 5,0µm por metro cúbico
(m³). O equipamento possui capacidade de registros de até oito mil amostras, porém não
realiza a coleta de modo automático, sendo necessário haver uma pessoa no local para
operá-lo e obter a amostra.
No momento das amostragem, foi utilizada uma plataforma de ferro zincado para
que o P311 fosse estacionado a uma altura de 1,50 metros (Figura 3), a altura média em que
as pessoas respiram. A cada 5 minutos era dado o start para a amostragem dos MPI´s. Este
procedimento foi executado em três momentos do dia (manhã , início tarde e fim da tarde),
num total de três horas por período (matutino e vespertino), totalizando nove horas de
observação e registro em cada dia.
Analisando a resolução CONAMA 03/90, a mesma indica que partículas inaláveis (na
ordem de 0,0μm a 10μm de diâmetro) têm, por padrão primário e secundário, a
concentração da média aritmética anual de 50 µm/m³ como máxima permitida, e
concentração média de 24 horas de 150 µm/m³, que não deve ser excedida mais de uma
vez no ano.
Assim, como o P311 não é automático , para efeito de obtenção de uma
classificação de concentração preliminar dos MPI´s, optou-se pela adaptação da indicação de
medição do CONAMA 03/90 (24h) para nove horas/dia de observação, em cada local
(pontual e episódica), as quais foram consideradas suficientes para entender a permanência
dos particulados na atmosfera urbana de Dourados.
118

Figura 2 – Equipamento P311 Figura 3 – Plataforma

Fonte: SANTOS; SILVA, 2017. Fonte: SANTOS; SILVA, 2017.

Para alcançar o resultado da concentração de MPI na atmosfera dos locais foi


necessário utilizar equações de conversão aritmética logarítmica dos quantitativos dos MPI
de diâmetros 0,5µm, 2,5µm e 5,0µm, para que, assim, fosse possível encontrar a massa
(g/m³) e, em seguida, a concentração (µg/m³).

A equação abaixo (SANTOS, 2001 apud SANTOS, 2014a, p. 105) permite calcular a
massa total das partículas contadas pelo equipamento em cada amostra:

 .d ³
m . .n
6
Onde:
m = massa da partícula


= constante da equação
6
n = números de partículas medidas, de dada classe de diâmetro (µm)
d = diâmetro médio das partículas de dada classe
ρ = densidade do material que deu origem às partículas (2,65g/cm³)
Planejamento e análises ambientais - 119

A equação de conversão acima, é necessária, pois:

Uma vez que o efeito de cada tipo de poeira tóxica inalada depende da região de
deposição, associada com o tamanho das partículas, e da concentração de poeira
no ambiente, pode-se avaliar melhor o risco ocupacional a partir do conhecimento
das concentrações em massa dentro das várias faixas de tamanhos de partículas
que se depositam no trato respiratório. (SANTOS, 2001, p. 33).

Admitindo que o solo é formado basicamente por quartzo, mica, argilas, feldspato e
silicatos coloidais, considera-se que sua densidade média é 2,65g/cm³. Além disso, admite-
se, também de forma geral, que todas as partículas são de formato esférico.

Particle densities for most mineral soils range from 2.60 to 2.75 g/cm3, since the
major portion of soils is usually comprised of quartz, feldspar, micas, and colloidal
silicate clays, with particle densities in the same range. If a soil contains minerals
with high particle densities (e.g., magnetite, garnet, or hornblende), the particle
density may exceed 2.75 g/cm3. Organic matter has a lower particle density,
ranging from 1.1 to 1.4 g/cm3. Surface soils, with higher contents of organic
matter, usually have lower particle densities than subsurface soils. However, for
general calculations, the average soil with 3 to 5 percent organic matter may be
considered to have a particle density of 2.65 g/cm3. (BRADY; WEIL, 1999 apud
BURDEN; SIMS, 1999, p. 5).

A equação abaixo (SANTOS, 2001 apud SANTOS, 2014a, p. 106) é a que permite
calcular a concentração:

m
c
V
Onde:
c = concentração das partículas sobre o local amostrado
m = massa total das partículas contadas
V = volume, em litros, da quantidade de ar que é contraída pelo equipamento de medição (valor de
2,83 litros)

Assim, as classificações das concentrações do poluente MPI foram usadas para


conjeturar sobre a atual condição da qualidade do ar da cidade de Dourados. Para tanto,
foram utilizadas as classificações da CETESB (2013), a qual interpreta a Resolução do
120

CONAMA nº 03/90 de forma didática e de simples leitura, como demonstra o Quadro 1, com
as devidas adequações para o poluente MPI em voga na pesquisa.
Para a obtenção dos dados quantitativos das morbidades hospitalares e óbitos
totais do CID-10- Doenças do aparelho respiratório, do intervalo de agosto/2013 a
janeiro/2014, foi consultado o DATASUS na base on-line SIH/SUS10, o qual fornece dados
quantitativos reais das internações por deficiência respiratória.

Quadro 1 – Índice Geral de Qualidade do Ar, segundo parâmetros da CETESB

Fonte: CETESB, 2013. Adaptação: SANTOS; SILVA,2016b, p. 985.

No bojo das compreensões e dos apontamentos das pesquisas de Santos (2014a;


2014b; 2016), e, Santos e Silva (2013; 2014; 2016a; 2016b) e Silva (2014) foram
essencialmente expressivos na completude do roteiro teórico-metodológico-prático,
principalmente por discutirem e apresentarem de forma detalhada os procedimentos
técnicos necessários para coleta dos dados, bem como a análise dos resultados da pesquisa.

10
No sítio <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/cnv/nims.def>.
Planejamento e análises ambientais - 121

RESULTADOS E DISCUSSÕES: AMOSTRAGEM DA QUALIDADE DO AR DE


DOURADOS (MS) E SUAS CONSEQUÊNCIAS

No decorrer da pesquisa foram coletadas amostras de nove pontos/locais distintos


na área urbana de Dourados. Cada um destes ponto tem amostragem da contagem de MPI
(diâmetros 0,5µm; 2,5µm e 5,0µm), com um grupo total de 111 amostras por ponto/local,
convertidas em massa e, posteriormente, em concentração/m³.
Primeiramente, serão apresentados os dados alcançados com as amostragens de
campo dos MPI; os dados de internação pelo CID-10, por meio do SIH/SUS; as médias e
classificações das concentrações de MPI por ponto/local; e média geral do período proposto.
Posteriormente, serão apresentadas as discussões e correlações entre os resultados.
As coletas ocorreram nos dias 16/08/2013, 30/08/2013, 13/09/2013, 20/09/2013,
27/09/2013, 06/11/2013, 27/11/2013, 21/01/2014 e 31/01/2014 (Quadro 2)11.

11
Os motivos que levaram a definir os pontos/locais de coleta das amostras na área urbana de Dourados foram
as condições do fluxo de trânsito, cobertura do solo, área central e área de limite com a zona rural.
122

Quadro 2 – Amostragens dos particulados

Fonte: SANTOS, 2014a; SANTOS & SILVA, 2016b, p. 986.

De acordo com o SIH/SUS (Sistema de informações Hospitalares do Sistema Único


de Saúde), o número de casos registrados de entrada em hospitais, no período de
Planejamento e análises ambientais - 123

agosto/2013 a janeiro/2014, referentes ao CID-10 (doenças do aparelho respiratório), é de


922 internações, dos quais 118 geraram óbitos. O Quadro 3 regista o número de internações
em listagem de morbidade, em total mensal, e de óbitos do CID-10.

Quadro 3 – Total de internações relativas ao CID-10


Período: Agosto/2013 a Janeiro/2014
Lista Morbidade / CID-10 - Doenças do aparelho
ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 jan/14 Total
respiratório
Faringite aguda e amigdalite aguda 6 0 1 3 1 1 12
Laringite e traqueíte agudas 1 1 1 1 0 0 4
Outras infecções agudas das vias aéreas superior 2 12 8 6 1 5 34
Pneumonia 121 83 80 79 100 68 531
Bronquite aguda e bronquiolite aguda 29 12 3 0 1 2 47
Outras doenças do nariz e dos seios paranasais 1 2 3 1 2 0 9
Doenças crônicas das amígdalas e das adenóides 6 6 5 2 3 5 27
Outras doenças do trato respiratório superior 3 2 1 5 1 1 13
Bronquite enfisema e outr doença pulm. Obstr. Crôn. 12 22 10 17 14 12 87
Asma 3 2 5 3 4 1 18
Bronquiectasia 0 0 1 0 0 0 1
Outras doenças do aparelho respiratório 34 24 24 15 31 11 139
Total Morbidade 218 166 142 132 158 106 922
TOTAL ÓBITOS / CID-10 25 17 20 13 28 15 118
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), maio/2016 apud SANTOS; SILVA,
2016b, p. 987.

Na Tabela 1, apresentada a seguir, são demonstrados os resultados das


concentrações de MPI por ponto/local e a média geral de concentração para todo o período
amostrado.

Tabela 1 – Concentração de MPI (μg/m³)

Fonte: SANTOS (2014a) - Organização: Santos e Silva (2016b, p. 987).

Pode-se destacar, de forma classificatória, dois Padrões de Qualidade do Ar (PQA): o


Padrão Primário (PQA/PP), que diz respeito às concentrações de poluentes, que, quando
ultrapassadas, têm grande capacidade de afetar a saúde humana, bens e materiais; e o
Padrão Secundário (PQA/PS), que é a classe de concentração de poluentes abaixo da qual se
124

prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem estar humano, bens e materiais, assim como, o
mínimo dano ao meio ambiente em geral, conforme a Resolução CONAMA N° 03/1990.
Analisando a resolução CONAMA 03/1990, nota-se que as partículas inaláveis (na
ordem de 0,0μm a 10μm de diâmetro) tem por padrão primário e secundário uma
concentração média aritmética anual de 50μm³, e uma concentração média de 24 horas de
150 microgramas, que não deve ser excedida mais que uma vez ao ano.
Assim, tomou-se como parâmetros os índices classificatórios de concentração de
MPI da CETESB (2013). Porém, como não foi possível realizar registros de 24 horas (como é o
indicado pelo CONAMA 03/90), devido ao P311 não ser automático, foram realizadas
amostragens de 9 horas para se estabelecer a média de concentração de particulados para
cada ponto/local e média geral, conforme Tabela 1. Para que, assim, se pudesse conjeturar,
de forma inicial, sobre a condição de concentração de MPI para a cidade de Dourados/MS.
Conforme a Tabela 1, os pontos amostrais de concentração diários demonstram
que os pontos 01 (123,97μg/m³) , 02 (55,44μg/m³) e 06 (51,76μg/m³) atingiram valores que
expressam uma qualidade do ar “regular” (Quadro 1. >50 - 150 μg/m³), isso devido ao
grande fluxo de trânsito nos locais e vias com solo exposto, ou seja, ruas de terra (Quadro 2).
No entanto, conforme o CONAMA 03/90, tais pontos se enquadram PQA/PS, apresentando o
mínimo de efeito nocivo à saúde humana e à fauna e flora.
Os pontos 03 (22,68 μg/m³), 04 (33,01 μg/m³), 05 (21,57 μg/m³), 07 (45,34 μg/m³),
08 (15,63 μg/m³) e 09 (27,11 μg/m³), da Tabela 1, apresentam valores que estão abaixo da
concentração que pode causar algum dano crônico ou agudo à saúde (Quadro 1),
enquadrando-se também na classificação de PQA/PS, conforme o CONAMA 03/90.
O Gráfico 1, a seguir, demonstra a proporção de ocorrências de morbidades
hospitalares, isto é, as internações em listagem mensal por tipo de doença do aparelho
respiratório (CID-10). Sabendo que o total das enfermidades relacionadas às deficiências do
trato respiratório é de 922 internações, deste total, 118 óbitos foram constatados.
Salienta-se que, no mês de agosto, o número de ocorrências das morbidades foi
mais elevado. Trata-se de um mês da estação de inverno, na qual as condições dos tipos de
tempo são caracterizadas pela alternância de massas tropicais e polares, por períodos de
estiagem prolongados, além de apresentar baixos índices de umidade relativa, que
favorecem a concentração de partículas sólidas no ar.
Planejamento e análises ambientais - 125

Gráfico 1 – Morbidade Hospitalar/Óbitos – CID 10, agosto/2013 a janeiro/2014

Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), maio/2016. apud SANTOS; SILVA ,
2016, p.988.

Os registros do Quadro 3 subsidiaram a produção do Gráfico 1, o qual proporciona


melhor visualização do comportamento dos dados para o período de registro das
morbidades e óbitos do CID-10.
126

Dessa forma, o Quadro 3 demonstra que os meses que obtiveram maior número de
internações hospitalares do CID-10 foram agosto/2013, com 218, e setembro/2013, com 116
internações, coincidindo com a estação de inverno, a qual se caracteriza pela estabilidade do
tempo influenciada pelas massas de ar de alta pressão. De outubro/2013 a janeiro/2014,
constata-se a diminuição dos casos hospitalares; os meses compreendem as estações de
primavera e verão (influência da baixa pressão). Entretanto, o maior número de óbitos
mensais deu-se no mês de dezembro/2013, com um total de 28 mortes, seguido do mês de
agosto/2013, com 25 mortes, outubro com 20, setembro com 17, janeiro com 15 e
novembro com 13 óbitos.
Analisando os dados totais de morbidade/óbito do Quadro 3, o maior número de
morbidades do CID-10 deu-se em agosto (inverno), porém, os dados amostrais de
concentração de MPI descritos no Quadro 2 demonstram que houve apenas um ponto/local
com concentração “regular” (Quadro 1. >50 - 150 μg/m³) no mesmo mês. Outras duas
recorrências de concentração “regular” (Quadro 1. >50 - 150 μg/m³) ocorreram apenas no
mês de janeiro (fim do verão, início do outono), quando o número de internações foi o
menor do período.
Acrescenta-se que, mesmo que por meio das amostragens estabelecidas nesta
pesquisa não se possa fazer, ainda, uma correlação direta da poluição atmosférica com as
deficiências do aparelho respiratório, a presente pesquisa indica que os mesmos podem
afetar de forma deletéria e irreversível a saúde humana.
Nesse momento, o que se percebe com clareza é a necessidade de compreender
como vêm se estabelecendo a produção e o adensamento das áreas urbanas das cidades do
Brasil continental, e como isso tem correlação com a qualidade do ar e, por consequência,
com a saúde da população –o que até o presente momento vem sendo negligenciado.
Os estudos estatísticos do Programa Nacional de Racionalização do Uso dos
Derivados do Petróleo e do Gás Natural - CONPET (2006), no Brasil, evidenciam a associação
de poluentes (em específico o material particulado - MP) com as crescentes admissões das
internações nos hospitais – morbidades hospitalares –, tanto de adultos como de crianças.
As evidências mostram-se de forma concreta, ainda mais quando se destaca as elevações
dos casos de agravamento do sistema respiratório por patologia asmática, existência de
doenças pulmonares obstrutivas crônicas, pneumonias, infecções do aparelho respiratório
superior, insuficiência cardíaca, além de arritmias cardíacas diversas.
Planejamento e análises ambientais - 127

Em especial, pode-se falar sobre a poluição atmosférica e a análise da qualidade do


ar como sendo um estudo recente na história de Dourados. Além disso, devido aos
processos econômicos que se estabeleceram na últimas décadas, e seguem em andamento
ainda sem medidas preventivas aplicadas à conservação e manutenção ambiental, a
qualidade do ar, sem sombra de dúvidas, será prejudicada, e dela decorrerão sérios
agravantes na saúde da população. Toda poluição que é lançada, hoje, na atmosfera por
emissões industriais, automotivas, queima de biomassa e revolvimento de solos
descobertos, causarão, paulatinamente, um aumento nas deficiências respiratórias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na pesquisa, os resultados encontrados e analisados conforme indica a Resolução


do CONAMA 03/90 e o Relatório de Qualidade do Ar da CETESB (2013), demonstram que é
possível inferir que concentrações de material particulado presentes na atmosfera urbana
de Dourados/MS comprometem a qualidade do ar, e isso se deve às características da área
analisada e ao processo de produção do espaço urbano. Também é possível, a priori,
compreender a correlação existente entre as internações, morbidades hospitalares e óbitos
do CID-10 ocorridas e a concentração de MPI, identificada através de amostras recolhidas
em diversos pontos da cidade.
Fazer uma correlação direta, e objetiva, entre a qualidade do ar e o número de
internações hospitalares do CID-10 é um grande desafio. Nesse momento, sabe-se que é
necessário seguir com o recolhimento de amostras para que se possa confirmar a
correspondência das morbidades do aparelho respiratório com a concentração de
poluentes. O recolhimento e o registro de amostras por um período mais longo é necessário
para que possa-se afirmar com precisão a existência de tal relação. Além disso, deve-se
existir análises de outros poluentes, como monóxido de carbono, ozônio, óxidos de
nitrogênios, entre outros, para que o relatório de Qualidade do Ar de Dourados tenha
concretude em seu resultado final, em conformidade com o PQA nacional, estabelecido pelo
CONAMA 03/90.
Este estudo inicial realizado em Dourados toma como parâmetro o indicador de
qualidade MPI, e aponta que a condição de concentração do poluente da cidade está dentro
128

do padrão exigido pela Legislação Federal, isto é, pode ser classificado como adequado,
levando em consideração as nove amostragens de concentração levantadas entre agosto de
2013 e janeiro de 2014.
Contudo, mesmo que, ao final do estudo, tenha-se demonstrado que o poluente
MPI está dentro do que é considerado “normal” ou “bom” (Quadro 1), com concentração de
44,05 μg/m³ no período amostrado (Tabela 1), é sem sombra de dúvida que os autores
afirmam que a saúde humana pode ser prejudicada por tais poluentes. No entanto, pondera-
se que os efeitos variam segundo o tempo de exposição, a dispersão dos contaminantes do
ar causada por elementos meteorológicos, a condição climática sazonal do local e até
mesmo por conta da principal atividade econômica da cidade, que é agrícola e, portanto,
apresenta grandes locais com solo descoberto para plantio e colheita das culturas. Vale dizer
que tais características se repetem em muitas cidades de pequeno e médio porte do Brasil
continental, principalmente naquelas onde as dinâmicas territoriais estão intimamente
ligadas ao agronegócio e ao plantio de monoculturas e/ou agropecuária extensiva – estas
áreas também sofrem com queimadas rotineiras, que contribuem para a piora da qualidade
do ar e afetam a saúde.
É a partir desse cenário que se pretende chamar a atenção do poder público
municipal para o estabelecimento de pesquisas e políticas públicas relacionadas às emissões
e concentrações de poluentes no ar havendo ou não correlação com as morbidades
hospitalares decorrentes do CID-10. Destaca-se que, conforme dados divulgados pelo
SIH/SUS para o período amostrado (de agosto/2013 a janeiro/2014), houve 922 internações,
sendo que desse total, 118 foram óbitos por deficiência respiratória. Objetiva-se, assim, que
o governo municipal de Dourados /MS possa estabelecer mitigações inerentes ao PQA e,
consequentemente, promover a qualidade de vida a todos os habitantes da cidade, sem
inibir o desenvolvimento econômico e industrial. De fato, busca-se com esta pesquisa
contribuir para a implementação de elementos que possam auxiliar na proposição de
normativas e prerrogativas que minimizem os impactos ambientais, neste caso,
especificamente representado pela qualidade do ar.
Planejamento e análises ambientais - 129

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132
Planejamento e análises ambientais - 133

Capítulo 7

USO DE ÍNDICES HIDROGEOMORFOLÓGICOS PARA LA


CARACTERIZACIÓN DE ÁREAS INUNDABLES EN MADRE DE DIOS,
PERÚ, Y CUENCA DEL RIO COJÍMAR, CUBA

Alberto Enrique García Rivero


Sección Geografía, PUCP – Perú
alberto.kike2014@gmail.com

Jorge Olivera Acosta


Instituto de Geografía Tropical, AMA, CITMA, Cuba
yoyiga@gmail.com

Eduardo Salinas Chávez


UFGD, PNPD/ Capes - UFGD, Brasil
esalinasc@yahoo.com

Indira Farrés Vigil


Instituto de Geografía Tropical, AMA, CITMA, Cuba
inafarres28@gmail.com
I

NTRODUCCIÓN

En las últimas décadas, nuestro planeta ha visto el incremento de los desastres


naturales asociados a la alta vulnerabilidad en la que la acción depredadora de la raza
humana ha puesto a amplias regiones, no solo de los países menos desarrollados sino
también de los llamados países desarrollados. Prueba de ello son las inundaciones causadas
por el Huracán Katrina en el año 2005 en la ciudad de New Orleans y sus alrededores, que
llevó incluso a los EE.UU. a declarar emergencia nacional ante este fenómeno, que causó
más de 1 800 víctimas, el 80% de Nueva Orleans bajo el agua, 1,1 millones de desplazados y
$81 mil millones de dólares en daños y perjuicios (RT, 2010).
134

Es por ello que desde inicios de este siglo XXI, a nivel mundial, numerosos
organismos internacionales han lanzado una alerta sobre el incremento de los desastres
naturales, acelerados por las actividades humanas inadecuadas e irresponsables, y han
convocado a la comunidad científica a trabajar arduamente en la búsqueda de soluciones de
adaptación y mitigación a los impactos causados por estas catástrofes, que deben
incrementarse con el Cambio Climático.
Las inundaciones son una amenaza constante y constituyen un fenómeno que se
puede desencadenar de forma rápida y repentina (UNEP-GEAS, 2012), siendo causante de
numerosos desastres a nivel mundial, ocasionando anualmente miles de muertes y millones
de dólares en pérdidas económicas por daños (CHANDRASEKAR; CIFELLI, 2012). Desde una
perspectiva antropocéntrica, se puede definir, de forma general, a las inundaciones como la
presencia de agua sobre el terreno en lugares, formas y tiempos que resultan inadecuados
para las actividades humanas, por lo que producen afectaciones económicas, sociales y
ambientales (PAOLI; DONDEYNAZ; CARMONA-MORENO, 2015).
Las inundaciones son fenómenos hidrológicos recurrentes y potencialmente
destructivos, que hacen parte de la dinámica de evolución de una corriente. Pueden
producirse por lluvias intensas o no tan intensas, pero de muy larga duración, las cuales van
aumentando progresivamente los caudales de las corrientes y con ello la altura de las aguas
hasta que estas rebasan los límites que imponen las orillas del cauce. En dependencia de
muchos factores, pero principalmente del tamaño, forma y relieve de la cuenca receptora,
estas inundaciones tendrán un mayor o menor tiempo de ocurrencia a partir del inicio de las
precipitaciones. Cuencas tendientes a la circularidad (factor de forma cercano a la unidad),
con un área muy grande y pendiente media elevada, desarrollarán crecidas e inundaciones
muy rápidas y extensas.
De ahí, que en los ríos que corren en zonas llanas las inundaciones serán lentas, con
incrementos diarios del nivel de las aguas del orden de centímetros y por lo general
afectando grandes áreas, pero no deben ocasionar pérdidas humanas de envergadura. Todo
lo contrario sucede en cuencas de piedemonte o de montaña, donde debido a su dinámica
temporal, la velocidad de la corriente es alta. Aquí, las inundaciones causan numerosas
pérdidas humanas, aunque su área de afectación pueda ser menor, al igual que el tiempo de
permanecía de las áreas inundadas, algo que comparten autores como Goerl e Kobiyama
Planejamento e análises ambientais - 135

(2005) al considerar que cuanto mayor es la velocidad de la corriente, aunque esta no sea
muy alta, mayor será el daño.
Por tal motivo, el presente estudio se dirigió a presentar una metodología que
permite, a partir del Modelo Digital del Terreno (MDT) y del uso del software libre SAGA GIS,
en su versión 2.2.2, cartografiar y categorizar la vulnerabilidad a las inundaciones fluviales
ante intensas y/o prolongadas lluvias en dos casos de estudio. Aunque los casos pudieran
parecer muy diferentes, y además de que fueron estudiados aplicando una metodología
innovadora y de probada eficacia, tienen como características similares ser territorios
tropicales, en países subdesarrollados y cuya vulnerabilidad está asociada en gran medida
al manejo inadecuado y la transformación de las condiciones naturales que vienen
realizando las comunidades humanas que los habitan desde hace más de 100 años.
En el primer caso, las inundaciones están asociadas con la elevada deforestación en
las vertientes del piedemonte andino, lo que provoca un intenso proceso de sedimentación
de los ríos de la llanura amazónica, que altera la morfología de sus cauces, la dinámica fluvial
y provoca un mayor número de desbordes. Este proceso de deforestación acelera los
abarrancamientos durante la temporada de lluvias y hace que los ríos, cuando llegan a la
llanura amazónica, estén cargados de sedimentos (ANA-DCPRH-Aguas Superficiales, 2010) y,
por tanto, aumente la vulnerabilidad a las inundaciones – incrementadas en esta región de
Madre de Dios por la llamada “minería artesanal” o “pequeña minería”, especialmente
asociada con la extracción de oro (Figura 1).

Figura 1: Diferentes inundaciones en la ciudad de Madre de Dios y regiones aledañas

(A)-Inforregion (2014a); (B)-Perú21 (2015); (C)- El Comercio (2014); (D)- Inforregion (2014b).
136

El segundo caso presentado, es una pequeña cuenca al este de La Habana, capital


de Cuba, donde las transformaciones llevadas a cabo en el último siglo, asociadas con el
crecimiento de la ciudad, la deforestación, la instalación de industrias y otras
infraestructuras, comprometen el funcionamiento adecuado de la misma. Algo que se verá
incrementado con el aumento en intensidad y frecuencia de los fenómenos
hidrometeorológicos extremos previstos en los diferentes escenarios propuestos en los
estudios relacionados con el Cambio Climático en el área del Caribe (REPÚBLICA DE CUBA,
2015).
En sentido general, estas dos áreas, a pesar de representar ambientes muy
diferentes en cuanto tamaño de la cuenca, grado de urbanización y características
climatológicas, van a sufrir inundaciones ante intensas o prolongadas lluvias, debido,
fundamentalmente, al nivel de degradación o deforestación de sus laderas. De ahí, que
resulta interesante aplicar la misma metodología en ambas y poder comparar la efectividad
de la misma.

MATERIALES Y MÉTODOS

En la actualidad existe un gran número de métodos y herramientas para


modelar gran parte de los procesos hidrológicos e hidráulicos que se relacionan con las
inundaciones fluviales. Este desarrollo de la modelación hidrológica se inició a principios del
siglo XIX para el diseño de obras hidráulicas principalmente. En los años 60 del siglo pasado,
surge el Standford Watershed Model (SWM) de Crawford y Linsley, en 1966, que permitía
modelar diversos aspectos del ciclo hidrológico. Con el desarrollo posterior de las
herramientas digitales, la mayor disponibilidad de datos espaciales georreferenciados y la
creación de los primeros Sistemas de Información Geográfica (SIG), en fines de los años 90,
esta disciplina toma un auge mayor, que llega hasta nuestros días (STEHLI; WEBER;
VESTENA, 2014). En esa disciplina, los modelos hidrológicos pueden ser físicos, con la
representación de las cuencas a escala real, o matemáticos (numéricos), los que utilizan
ecuaciones empíricas o conceptuales para representar la respuesta de la unidad hidrológica
a diferentes condiciones hidro- meteorológicas (WEBER, et al., 2013).
Planejamento e análises ambientais - 137

Según Ponce (1994), se pueden distinguir cuatro tipos de modelos: (a)


determinísticos, que son formulados siguiendo las leyes de la física y/o procesos químicos
descriptos por ecuaciones diferenciales; (b) probabilísticos, que por el contrario, se formulan
siguiendo las leyes del azar o probabilidad y pueden ser estadísticos o estocásticos; (c)
conceptuales, que son representaciones simplificadas de los procesos físicos, como
descripciones matemáticas que simulan procesos complejos basándose en unos pocos
parámetros, y (d) paramétricos, empíricos o de caja negra, que son los más simples y
consisten en el establecimiento de una ecuación (o ecuaciones) algebraica que contiene uno
o más parámetros a ser determinados por el análisis de datos u otro medio empírico.
En la actualidad existen diversas formas de implementación de muchos de estos
métodos en varios software libres que permiten determinar las áreas potencialmente
inundables ante intensas o prolongadas lluvias, entre los que se destacan está el QGIS-SIG,
con probado desempeño en estudios hidrológicos, y que corre en la mayoría de los sistemas
operativos; el modelo numérico HEC-RAS, desarrollado por el Cuerpo de Ingenieros del
Ejército de Estados Unidos, con modelos hidráulicos del río que utilizan el gradiente y la
topografía para evaluar el tirante, las velocidades y las zonas inundadas; y el IRIC
(International River Interface Cooperative), que es un software desarrollado con la finalidad
de proporcionar un entorno completo de simulación del cauce del río, cuyos resultados
pueden ser importados y utilizados por los usuarios con fines de análisis, mitigación y
prevención de desastres, mediante la visualización de los resultados de la simulación del río.
Otros software diseñados para simular los procesos hidrológicos de cuencas son: el
HEC-HMS, que incluye procedimientos de análisis hidrológico tradicionales, como eventos de
infiltración, hidrogramas unitarios y enrutamiento hidrológico; y el PRMS (Sistema de
Modelamiento de Precipitación-Escorrentía), que es un sistema modular, de parámetros
espacialmente distribuidos, que representan los procesos físicos de una cuenca hidrográfica,
y fue desarrollado por el Servicio Geológico de los Estados Unidos para evaluar los efectos
de varias combinaciones de relieve, uso del suelo/vegetación y parámetros climáticos, sobre
la respuesta hidrológica de una cuenca.
También están disponibles el SWAT, una herramienta para evaluar el suelo y el agua
a nivel de cuencas, con especial énfasis en el modelamiento de la precipitación-escorrentía y
en el transporte de agua y solutos a través de la superficie, permitiendo predecir el impacto
de las prácticas de manejo de los suelos en los recursos hídricos y los sedimentos. Gran parte
138

de los SIG tienen herramientas y hasta módulos completos para el trabajo hidrológico, tal es
el caso del SAGA GIS, una plataforma GIS dedicada al análisis espacial, con una gran cantidad
de herramientas para la modelación hidrológica y una estrategia de programación que le
imprime alta velocidad a sus procedimientos de cálculo.
La metodología y los materiales empleados en el presente estudio responden a las
indudables ventajas que presenta la incorporación de los Sistemas de Información
Geográfica (SIG), la Teledetección y el Procesamiento Digital de Imágenes en la modelización
hidrológica.
La gran mayoría de los autores concuerdan en que estas herramientas proporcionan
un cálculo más preciso de los parámetros físicos necesarios para operar con los modelos
hidrológicos y que hay un aumento de la resolución espacial de trabajo a todos los niveles,
siendo posible el análisis de la variación espacial de factores como los coeficientes de
escorrentía o similares, que hasta ahora fueron considerados como parámetros de valor
único constante (OLAYA, 2004).
De la misma forma es muy importante el análisis de la variación espacial de la
precipitación, hasta ahora considerada como elemento constante y estático, lo cual permite
un análisis de las diferentes intensidades de precipitación para los distintos puntos de una
cuenca. Todos estos avances posibilitaron la aparición de nuevos enfoques, tales como
modelos plenamente distribuidos o recursos y técnicas nuevas, basadas en el conocimiento
exhaustivo del medio físico, en el que se desarrollan los fenómenos hidrológicos.
Dentro de este tipo de estudio, la determinación de las zonas susceptibles de
inundación ante intensas y/o prolongadas lluvias va a tener al relieve como factor
fundamental, ya que controla en primera instancia la dirección del flujo de las aguas y los
espacios donde estas se acumulan, así como el tiempo de permanencia de las aguas en el
área inundada.
La metodología aplicada en el presente trabajo toma en cuenta esas consideraciones
y se basa en el MDT y algunas técnicas y/o herramientas implementadas en la versión 2.2.2
del SAGA para lograr la obtención del mapa de susceptibilidad a las inundaciones fluviales en
un territorio determinado. La elección de este software estuvo motivada por el hecho de su
amplio espectro de herramientas destinadas a los estudios y caracterización del relieve y de
la hidrología de una cuenca fluvial, además de ser libre y asimilar grandes volúmenes de
Planejamento e análises ambientais - 139

datos y procesarlos de una forma muy rápida, incluso en ordenadores de no muy altas
prestaciones.
En la Figura 2 se presenta la metodología empleada a partir de considerar como
elemento fundamental contar con un MDT de buena calidad (precisión) en correspondencia
con la escala de trabajo requerida. Dicho modelo, una vez ajustado, se corrige
hidrológicamente, algo que en muchos estudios es obviado y que es, en gran medida, lo que
asegura la precisión y exactitud que tengan los diferentes productos del procesamiento del
modelo con las herramientas SIG.
140

Figura 2: Esquema metodológico de la investigación

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.


Planejamento e análises ambientais - 141

La presente variante metodológica se basa en el supuesto fundamental de que el


relieve es el principal responsable de la distribución del agua en la superficie del terreno y
que, a partir de criterios geomorfológicos e hidrológicos, altamente dependientes del
relieve, se seleccionan una serie de factores o parámetros, que se calculan en el marco de las
opciones de la versión 2.2.2 del SAGA. Los criterios calculados y empleados para identificar
las áreas con mayor susceptibilidad a ser inundadas son:

Criterios geomorfológicos

1. Depresiones Cerradas (CD): Las depresiones del relieve no kársticas, son zonas
potencialmente susceptibles a ser inundadas. Estas formas incluyen depresiones
dentro de otras depresiones (depresiones anidadas) o morfologías de tipo llano
hundidas sobre el nivel general y que ante la presencia de intensas o prolongadas
precipitaciones acumulan las aguas de escorrentía.
2. Distancia Vertical a la Red de Drenaje (VD): Es la distancia vertical desde la red de
drenaje hacia las alturas colindantes, lo que desde el punto de vista geomorfológico,
se puede correlacionar con los diferentes planos de inundación de los cauces y nos
da, según su valor, el nivel de proximidad al cauce del río.

Criterios hidrológicos

1. Área de Captación Modificada (MCA): Es el área que recibe una cantidad de flujo que
se acumula por unidad de área, por lo cual representa un factor de mucha
importancia para describir las inundaciones.
2. Escurrimiento (Runoff-overland flow D8): Se forma cuando las precipitaciones son
superiores a la capacidad de infiltración del suelo debido a la alta humedad del
terreno, lo que provoca la sobresaturación. La relevancia de este factor lo corrobora
la extensa literatura al respecto y, sin duda, es un parámetro muy importante para el
análisis de las inundaciones, pues representa la lámina de agua que circula sobre la
superficie en una cuenca de drenaje determinada.
142

3. Indice Topográfico de Humedad de SAGA (TW1): Su uso principal está relacionado


con la producción de escorrentía, bajo el supuesto de que se origina en presencia de
la saturación de agua en el suelo, momento en que el nivel freático se aproxima a la
superficie. Estas condiciones se dan ante la presencia de fenómenos
hidrometeorológicos extremos, con intensas o muy prolongadas precipitaciones.

Tipificación de los datos de cada mapa resultante

Con el modelo hidrológicamente corregido se procede a calcular los factores


geomorfológicos e hidrológicos seleccionados. A cada uno de ellos se le determinan los
parámetros estadísticos fundamentales, siendo tipificados según la expresión siguiente:

Valor Tipificado= (Vi-µ)/σ (Ecuación 1)

Donde:
Vi-valor de cada celda del mapa raster
µ-media aritmética de los valores de todas las celdas del mapa raster
σ-desviación típica de los valores de todas las celdas del mapa raster

Con la tipificación, se logran estandarizar los valores de cada mapa y a partir de sus
estadígrafos, los valores por debajo de la media aritmética serán negativos y por encima de
la media serán positivos.
Con todos los mapas de los factores tipificados, se obtiene el mapa del Índice de
Contraste Hidromorfométrico (MIC) a partir de su suma lineal ponderada (Ecuación 2).

MIC= (CD + VD +MCA +D8 +TW1)/5 (Ecuación 2)

Donde:
CD: Depresiones cerradas
VD: Distancia vertical a la red de drenaje
MCA: Área de captación modificada
D8: Escurrimiento (Runoff)
Planejamento e análises ambientais - 143

TW1: Índice topográfico de humedad de SAGA

Con los valores resultantes de este Índice de Contraste Hidromorfométrico (MIC), se


construye su histograma. Si la distribución de los datos no es normal, primero se utilizan
algunas de las técnicas para su normalización y, al igual que la que presenta normalidad
inicial, empleando el método de las desviaciones típicas (resumido en el Cuadro 1) se
establecen las categorías del grado de susceptibilidad del mapa resultante final.

Cuadro 1: Metodología para la determinación de las desviaciones típicas para la reclasificación de los datos
Categoría de susceptibilidad a Rango de la categoría Fórmula de
las inundaciones Desde Hasta cálculo

No susceptible Valor mínimo (Vmin) Valor medio (µ) + una Vmin - µ + (σ)
desviación típica (σ)
Poco susceptible Valor medio (µ) + una Valor medio (µ) + dos µ + (σ) - µ + (2σ)
desviación típica (σ) desviaciones típicas (2σ)
Valor medio (µ) + dos Valor medio (µ) + tres µ + (2σ) - µ + (3σ)
Medianamente susceptible desviaciones típicas desviaciones típicas (3σ)
(2σ)
Valor medio (µ) + tres Valor máximo (Vmax) µ + (3σ) - Vmax
Altamente susceptible desviaciones típicas
(3σ)
Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

El sistema de proyección cartográfica empleado para la unidad hidrográfica Madre


de Dios, en Perú, fue UTM zona Sur 18 GWS84 y una escala de 1:100 000; mientras que para
el caso de la cuenca del Río Cojímar, en Cuba, se utilizó el sistema de coordenadas planas
Cónico Conforme de Lambert (Cuba Norte), el Datum (NAD 27 para Cuba) esferoide Clark
1866 y la escala empleada para el análisis de la información cartográfica fue de 1: 25 000,
siendo todos los mapas trabajados en formato raster con la extensión (sgrd), propia del
sistema.
144

RESULTADOS

Unidad hidrográfica Madre de Dios

Esta región está constituida por el sector medio-inferior de la unidad hidrográfica


Madre de Dios, que involucra parte de los ríos Madre de Dios, Inambari, Manu, Las Piedras y
Tambopata. Este sector comprende cuatro cuencas y dos intercuencas, en relación con los
cinco ríos presentes (Figura 3).

Figura 3: Situación geográfica de la unidad hidrográfica Madre de Dios en el piedemonte andino de Perú

Nota: en el mapa de la parte superior izquierda, los números romanos Ej. I, II, III,… se corresponden con las 14
unidades hidrográficas de Perú.
Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

A partir del procesamiento del MDT hidrológicamente corregido, se obtuvieron los


mapas correspondientes a los factores geomorfológicos. En la figura 4A y 4B se muestra un
área de detalle de las depresiones cerradas (CD) y la distancia vertical a la red de drenaje
(VD), respectivamente.
A continuación fueron elaborados los mapas correspondientes a los factores
hidrológicos, representados por el área de captación modificada-(MCA) (Figura 4C), el
Planejamento e análises ambientais - 145

escurrimiento y el Índice Topográfico de Humedad S-T (Figura 4D).


Posteriormente, los valores de esos cinco mapas fueron tipificados mediante la
estandarización y aplicando la suma lineal ponderada de los mismos, para la obtención del
mapa del Índice de Contraste Hidromorfométrico (Figura 4E), donde los valores resultantes
se mueven entre 5 y -5 – representando 5 la más baja susceptibilidad y -5 la más alta
susceptibilidad a las inundaciones.

Figura 4: Resultados de los diferentes mapas obtenidos durante el procesamiento, mostrando un área de
detalle en las inmediaciones de la ciudad de Puerto Maldonado (círculo en amarillo)

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.


146

Con el objetivo de clasificar este mapa sintético en categorías representativas del


fenómeno de las inundaciones, se analizó el comportamiento estadístico de sus valores. En
la Figura 4F se muestra el histograma correspondiente a los mismos, donde se puede
apreciar una buena distribución normal de los datos, lo que permitió entonces aplicar la
metodología de las desviaciones típicas para su categorización y llegar al mapa final de
susceptibilidad a las inundaciones fluviales (Figura 5).
En el sector de estudio están presentes áreas de alta y media susceptibilidad a las
inundaciones fluviales distribuidas en casi todo el territorio, aunque en mayor grado en los
sectores más bajos de la cuenca, lo cual se corresponde con la gran cantidad de eventos de
inundaciones fluviales registrados para esta unidad hidrográfica de forma regular.

Figura 5. Áreas susceptibles a las inundaciones fluviales en la unidad hidrográfica Madre de Dios, Perú

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.


Planejamento e análises ambientais - 147

Dada la escala del mapa y el área que abarca, se creyó conveniente ilustrar la
utilidad y precisión del mismo, a partir de un detalle de la zona que comprende la ciudad de
Puerto Maldonado (Figura 6).
Es sintomático como en su fundación el núcleo de la ciudad se situó en un lugar
donde no estaría expuesto a las inundaciones, pero a medida que la ciudad fue creciendo,
ocupó áreas medianamente susceptibles a las inundaciones y con ello, aumentó su
vulnerabilidad a las inundaciones pluviales que con frecuencia se originan en esta región,
producto de fuertes y/o prolongadas lluvias.
En el mes de agosto del 2016, los autores pudieron comprobar in situ el grado de
correspondencia de los límites para cada una de las categorías en la ciudad, resultado de
gran exactitud, obtenido a partir de la confrontación con especialistas y personas que
habitan el territorio.

Figura 6: Detalle de la ciudad de Puerto Maldonado en la unidad hidrográfica Madre de Dios, Perú, y sus
diferentes categorías de susceptibilidad a las inundaciones fluviales

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.


148

La cuenca del Río Cojímar, Cuba

La cuenca fluvial del río Cojímar, situada al este de la ciudad de La Habana en el


occidente de Cuba, está expuesta a peligros naturales asociados al paso de eventos
meteorológicos extremos como son huracanes y frentes fríos. Eventos que provocan
afectaciones a algunos asentamientos de población y determinados objetivos económicos.

Figura 7- Situación geográfica de la cuenca del Río Cojímar, La Habana, Cuba

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

A partir de las curvas de nivel con equidistancia 2,5 metros, se obtuvo el Modelo
Digital del Terreno, aplicando para esto tres métodos de interpolación diferentes, que
fueron: Topo to raster, ArcGis, Mínima Curvatura (Mapinfo) y Spline (SAGA). Además, se
ajustó el tamaño de celda en la interpolación, a partir de los criterios de uso frecuente en la
literatura internacional (ESRI, 2011) y Discover Mapinfo (2013), y la selección del mejor
modelo interpolado se realizó mediante el ajuste de las curvas de nivel (Olivera, 2015),
resultando el más aceptado estudio realizado por la interpolación de Mínima Curvatura
(Figura 8):
Planejamento e análises ambientais - 149

Figura 8: Modelo digital del terreno de la cuenca del Río Cojímar (pixel de 5 x 5 m)

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

Determinación de los factores hidrológicos

Con el modelo hidrológicamente corregido, se procedió a calcular los factores


hidrológicos tomados en cuenta para el análisis y mencionados en la primera parte de este
capítulo. Estos factores se procesaron estadísticamente mediante la tipificación de los datos
explicada en el apartado 2, obteniéndose los resultados siguientes:
150

Figura 9: Índice topográfico de humedad de la cuenca del Río Cojímar, Cuba (SAGA)

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

El índice topográfico de humedad es un parámetro sumamente importante para los


análisis hidrológicos, sobre todo los que tienen que ver con inundaciones por eventos
hidrometeorológicos extremos, por lo que representa uno de los indicadores de mayor
importancia a la hora de definir las zonas con mayor susceptibilidad a ser inundadas. El uso
principal de este índice está relacionado con la producción de escorrentía bajo el supuesto
de que esta se produce en presencia de una saturación de agua en el suelo (OLAYA, 2006).
Se pueden observar las áreas (en rojo) por encima de los valores medios y más propensas a
ser inundadas.
El área de captación, como su nombre lo indica, es el área que recibe la mayor
cantidad de flujo por unidad de área, por lo que en nuestro caso representa un factor
Planejamento e análises ambientais - 151

importante, como se observa en la Figura 10, en la que las zonas en rojo tienen valores por
encima del valor medio y representan aquellas zonas con mayor posibilidad de ser afectadas
por una inundación.

Figura 10: Área de captación modificada (SAGA)

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

El escurrimiento superficial se forma, como señalamos anteriormente, cuando


las precipitaciones superan la capacidad de infiltración del suelo, sumadas al grado de
humedad del mismo (sobresaturación), lo que limita la infiltración y que convertirá a toda el
agua que cae en un flujo de escorrentía, que se acumulará en los lugares susceptibles a esto.
Para determinar el escurrimiento en la cuenca, el escurrimiento superficial se modeló
mediante el algoritmo D8, ajustando los coeficientes de rugosidad de Manning y el de
152

infiltración según las características de la cuenca y considerando una lluvia homogénea


sobre toda la cuenca. El resultado se puede apreciar en la Figura 10, donde aparecen en
color rojo las áreas con mayor escorrentía y por consiguiente, los lugares más propensos a
inundaciones.

Figura 11- Escurrimiento superficial

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

Determinación de los factores geomorfológicos

Las depresiones del relieve no cárstico son zonas potencialmente susceptibles a ser
inundadas. Estas depresiones representan las zonas más bajas desde el punto de vista
Planejamento e análises ambientais - 153

geomorfológico y por su morfología, permiten la acumulación de las aguas y son zonas


propensas a inundarse. En la Figura 12 se observan en color rojo las zonas identificadas
como depresiones cerradas en la cuenca fluvial del Río Cojímar, que constituyen áreas
favorables a la ocurrencia de inundaciones.

Figura 12: Depresiones cerradas (SAGA)

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

Otro factor geomorfológico de suma importancia es la distancia vertical desde la


red de drenaje hasta las alturas máximas colindantes, lo que es equivalente a la proximidad
al cauce del río y se constituye en factor de riesgo ante la ocurrencia de una inundación. Por
lo que la misma nos da una idea de los diferentes niveles de susceptibilidad de cada área
ante una inundación, según la cota y la altura de las aguas que alcanza la inundación (Figura
13).
154

Figura 13: Distancia vertical desde la red de drenaje

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

Integración final de los factores hidrológicos y geomorfológicos

Para representar las áreas susceptibles a inundaciones fluviales fue necesario


representar mediante una ecuación matemática (lineal) la suma espacial de todos los
factores anteriormente considerados – con ayuda del algebra de mapas y las herramientas
del SIG. De eso, se obtuvo como resultado un índice de contraste hidromorfométrico que se
muestra en la Figura 14, donde se pueden apreciar en color rojo las áreas con mayor
susceptibilidad a ser inundadas en la cuenca fluvial del Río Cojímar.
Planejamento e análises ambientais - 155

Figura 14: Índice de contraste hidromorfométrico (suma de factores tipificados)

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

Figura 15: Histograma resultante del procesamiento de los valores del índice de contrate

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.


156

Para definir estas categorías de susceptibilidad fue necesario reclasificar el índice


de contraste obtenido, tomando en cuenta el tipo de distribución de los datos y el criterio
estadístico de las desviaciones típicas. Como se puede observar según el comportamiento
del histograma (Figura 15), los datos del índice de contraste se ajustan a un comportamiento
de distribución normal. En la Figura 16, producto de la tipificación de los valores del índice
de contrate, se observan las áreas susceptibles a las inundaciones fluviales por la ocurrencia
de lluvias intensas o prolongadas y sus respectivas categorías.

Figura 16: Áreas susceptibles a inundaciones fluviales ante la ocurrencia de lluvias intensas o prolongadas

Fuente: GARCÍA; OLIVERA; SALINAS; FARRÉS, 2017.

Los resultados obtenidos con la aplicación de estas herramientas, para la cuenca del
Río Cojímar en Cuba, fueron contrastados con los datos históricos de estudios anteriores y
con la verificación de campo. Por ende, se comparó el mapa resultante de este estudio con
Planejamento e análises ambientais - 157

el límite de inundación calculado por el Instituto Nacional de Recursos Hidráulicos (INRH)


para la provincia La Habana, que observó una lluvia máxima, reportada en 24 horas, de
144mm.
También las áreas de alta vulnerabilidad a inundaciones, obtenidas en el presente
trabajo, fueron comparadas con los estudios de Peligro, Vulnerabilidad y Riesgos (PVR),
realizados por la Agencia de Medio Ambiente (AMA) del Ministerio de Ciencia tecnología y
Medio Ambiente (CITMA), en el año 2007. Pudiéndose apreciar en ambos casos una clara
coincidencia entre el límite obtenido como resultado de la aplicación de las técnicas aquí
explicadas y el límite de inundación obtenido en los trabajos del INRH y la AMA. Finalmente,
se puede mencionar que el límite propuesto en nuestro estudio, mejora la precisión
cartográfica de los estudios anteriores y revela nuevas áreas susceptibles a las inundaciones
por lluvias intensas o prolongadas.

CONCLUSIONES

La metodología propuesta y empleada permitió delimitar con exactitud las áreas


susceptibles a inundaciones, lo que fue validado en los recorridos de campo en las zonas de
estudio. Se debe destacar la alta correspondencia entre las áreas que tradicionalmente
presentan inundaciones fluviales en la ciudad de Puerto Maldonado con aquellas
categorizadas de mediana y alta susceptibilidad como resultado del presente estudio.
Los criterios y factores utilizados permitieron integrar la información necesaria y
suficiente para delimitar las áreas susceptibles a las inundaciones. Nótese que esta
aproximación metodológica solo utiliza como dato de partida el MDT, a diferencia de otros
modelos mucho más complejos, que involucran un considerable número de variables,
algunas de las cuales son de difícil obtención o estimación.
En el sector estudiado de la unidad hidrográfica Madre de Dios se producen con
bastante frecuencia inundaciones fluviales. Se observa que este sector queda plenamente
recogido en la gran cantidad de áreas categorizadas en el presente estudio como de media y
alta susceptibilidad a las inundaciones fluviales, lo que indica que existen las condiciones
geomorfológicas e hidrológicas para que, en presencia de intensas o prolongadas lluvias,
parte del territorio pueda quedar bajo las aguas.
158

En la cuenca del Río Cojímar, en Cuba, las inundaciones asociadas con eventos
meteorológicos extremos (huracanes y frentes fríos) son frecuentes y causan importantes
afectaciones económicas y sociales, por lo que contar con una metodología efectiva para su
pronóstico tiene un alto valor y contribuye a establecer un sistema de alerta temprana ante
lluvias fuertes y/o prolongadas.
La efectividad de la metodología que se propone quedó demostrada en ambas
cuencas, a pesar de sus significativas diferencias en cuanto a dimensiones y grado de
transformación antrópica, dato que apunta hacia a una buena aplicabilidad de la misma en
diversos escenarios.

AGRADECIMIENTOS

Los autores agradecen a la Directiva de la Sociedad Geográfica de Lima, Perú, por la


posibilidad brindada de visitar durante agosto del 2016 el área de estudio y realizar las
comprobaciones de campo pertinentes, así como a los revisores del capítulo, durante la
edición del libro, quienes han contribuido a su mejor estructura y contenido.

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Planejamento e análises ambientais - 161

Capítulo 8

ANÁLISE DA DINÂMICA DO TEMPO METEOROLÓGICO E DAS


POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRICOLAS
AÉREOS NO PONTAL DO PARANAPANEMA

Marcos Norberto Boin


Prof. Dr. UFGD- MS, Brasil
boinmar@hotmail.com

Fernando Henrique Camargo Jardim


Mestrando UNESP/PP– MPSP, Brasil
fernandojardim@yahoo.com.br

Luis Fernando de Jesus Tavares


Engenheiro Agrônomo, MPSP, Brasil
luistavares@mp.sp.gov.br

INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho se prende a uma série de indagações e constatações


práticas, as quais culminaram na necessidade de se obter dados de elementos
meteorológicos detalhados, para analisar as reais condições climáticas de aplicação dos
produtos químicos sobre os canaviais no Pontal do Paranapanema. As indagações
relacionadas ao comportamento climático produzido pela circulação local, suas relações com
a topografia e seus diferentes impactos sobre as atividades econômicas, levaram a refletir
sobre os benefícios do uso de agrotóxicos: se por um lado a maior aplicação de agrotóxicos é
benéfica à produção de cana-de-açúcar, por outro, pode ser desastrosa sobre determinadas
atividades agrícolas, ao homem e ao meio ambiente, provocando danos econômicos, à
saúde da população e à biodiversidade.
A pulverização de produtos fitossanitários sobre uma determinada área,
condicionada a parâmetros meteorológicos, gera um desvio na trajetória das gotas em
relação ao alvo durante, levando à perda do produto, que por sua vez é denominada de
162

deriva (MATTHEWS, 2000). Madureira; Raetano; Cavalieri (2015), estudando a estimativa do


risco potencial de deriva pela pulverização, alertam que “durante a pulverização dos
produtos fitossanitários sobre uma área alvo, quando não é realizada dentro das condições
meteorológicas ideais para tal, é inevitável que parte dela seja perdida para o ambiente por
deriva (p.181).” Os autores apontam ainda que, além de conhecer o produto a ser aplicado,
é imprescindível conhecer a forma de aplicação para garantir que o agente químico atinja o
alvo de forma eficiente, tornando mínimas as perdas por deriva ao ambiente. Isto porque, o
risco potencial de contaminação dos ecossistemas e do homem, com o produto aplicado,
embora pouco perceptível, causa grandes impactos negativos ao meio ambiente e à
sociedade.
Com o advento do sistema de semeadura direta, a partir dos anos de 1990, a
aplicação de um único herbicida mostrou-se insuficiente no controle de alguns biótipos de
plantas daninhas, resistentes ao glyphosate12. A mistura utilizada a partir de então na
pulverização das culturas gerou o questionamento sobre o comportamento da dispersão das
gotas dos produtos. Consoante ao Gandolfo et al (2012), em seu estudo sobre o potencial de
deriva da mistura de 2,4-D + glyphosate, a pulverização dos herbicidas, quando associados
causa maior condição de deriva que quando aplicados de forma isolada e quando adicionado
um adjuvante à calda associada, produz-se uma redução na deriva. Entretanto, no mesmo
estudo, os autores alertam que estudos referentes à deriva destas misturas ainda são
parcos.
Na monocultura sucroalcooleira, a pulverização aérea tornou-se necessária para
manter o controle fitossanitário, nas quais são aplicados produtos únicos ou associados a
outros, para manter sob controle o desenvolvimento da cana e a sacarose. Assim, associado
ao glyphosate é comum à utilização da mistura com maturadores do mercado, tais como o
Moddus (Etil Trinexapac), o Curavial (Sulfometurom metil), o Ethrel 720 (Ethefon) e o
Fusilade 250 (Fluasifope-p-butílico). Conforme apontado por Gandolfo et al, op cit, estas
combinações de produtos aumentam o potencial de deriva13. Deve-se destacar que as
recomendações climáticas sobre a aplicação de cada produto, indicadas pelos fabricantes,

12
Composto organofosforado, especificamente um fosfonato. É usado para matar ervas daninha,
especialmente ervas daninhas folhosas perenes, e gramíneas que competem com as culturas.
13
Desvio do curso do ar atmosférico.
Planejamento e análises ambientais - 163

estabelecem parâmetros climáticos díspares, o que aumenta o risco de deriva durante a


aplicação.
No afã de se obter grande produtividade dos canaviais, o setor produtivo,
controlado por grandes grupos empresariais de capital nacional e internacional, emprega
uma série de técnicas agrárias desvinculadas da preocupação com a preservação ambiental e
social. Os impactos negativos decorrentes de tais práticas de produção são sentidos nas
áreas de entorno aos canaviais, principalmente nas pequenas propriedades rurais,
aglomerados populacionais e ecossistemas, onde as atividades são prejudicadas com a
contaminação do ar, do solo e da água. Neste contexto, nossa preocupação com os
parâmetros climáticos torna-se importante na medida em que é necessário entender o
funcionamento do encadeamento dos elementos do clima em escala de detalhe (minutos)
como são as aplicações de pulverização aérea de agrotóxicos, pois estas não duram mais que
um quarto de hora.
As análises dos estudos climáticos envolvem diferentes escalas de abordagem, seja
no âmbito espacial ou temporal. Sobre as escalas espaciais, ela pode abranger desde o nível
zonal (global) até aqueles nas escalas inferiores do clima (meso, topo e microclimático). No
nível topoclimático, Mendonça e Dann-Oliveira (2007) apontam que “o relevo e seus
atributos (altitude ou cota, orientação, declividade e forma da vertente) é um importante
controle climático”. Os autores, ainda, assinalam que os fatores que definem o microclima
“dizem respeito ao movimento turbulento do ar na superfície (circulação terciária), a
determinados obstáculos à circulação do ar, a detalhes do uso e da ocupação do solo, entre
outros”(p.24). Do acima exposto, considera-se que quanto menor a escala espacial do clima
maior são as perturbações sobre seus elementos, influenciados pelos fatores de superfície.
O clima é aqui entendido segundo a definição de Julius Hann, para quem o clima é o
estado médio da atmosfera, e de Max Sorre, que o compreende em sua concepção dinâmica
e o considera como a sucessão habitual dos estados atmosféricos sobre um lugar da
superfície terrestre (SORRE, 1951, Apud ZAVATTINI e BOIN, 2013).
Assim, segundo Zavattini e Boin (2013), no tratamento do clima, sob a visão
estática, as séries temporais são abordadas através das médias das variações centenárias,
anuais, mensais, diárias e horárias dos elementos do clima (chuva, temperatura, umidade,
etc.). Sobre este assunto, é importante lembrarmos que as médias destroem o complexo
vivo que o clima representa e, por isso, não o explicam segundo toda a sua complexidade
164

(PÉDELABORDE, 1970). Na concepção dinâmica de clima, isto é, sobre a “sucessão habitual


dos estados atmosféricos sobre um lugar da superfície terrestre” (SORRE, 1951, Apud
ZAVATTINI e BOIN, 2013), a combinação de seus elementos em tempo real manifesta a
vivacidade (ou diversidade) do mesmo, retratando o fenômeno climático.
É importante ressaltar que, por princípio, o clima de um lugar é fruto das interações
estabelecidas entre os elementos climáticos, e destes com o meio geográfico. Assim, o
trabalho com o clima segundo uma perspectiva dinâmica, são procedimentos que buscam,
na atmosfera, a gênese dos fenômenos climáticos e analisam as consequências de seus
impactos sobre o ambiente, encarando tais consequências, como resultado das interações
entre os elementos climáticos e o meio geográfico (ZAVATTINI e BOIN, 2013). No que
concerne à variação vertical da temperatura na atmosfera, Galvani, Lima e Falcão (2012),
apontam que:
O gradiente adiabático seco da troposfera (primeira camada da atmosfera)
o -1
apresenta redução de -0,98 C.100m e o gradiente adiabático saturado expressa
o -1
redução de 0,4 C.100m . A variação vertical da temperatura do ar (gradiente) nos
o
limites da troposfera apresenta uma redução média de 0,65 C a cada 100 metros
acima do nível da superfície (SELLERS, 1974). Isto ocorre porque a atmosfera é
transparente a parte da radiação solar de onda curta e mais absorvente para
radiação de onda longa terrestre. Assim, a atmosfera passa a ser aquecida a partir
da superfície (aquecimento basal). (p. 165).

As formas do relevo, como a declividade e orientação das vertentes, e, ainda, o uso


do solo, a cobertura vegetal e sua coloração podem influenciar sobremaneira o perfil vertical
de temperatura do ar. A dinâmica atmosférica e sua condição de estabilidade e instabilidade
vão também influenciar o gradiente térmico da atmosfera, em especial nos fundos de vale,
onde, por ventura, pode ocorrer o fenômeno da inversão térmica, caracterizado pelo
aumento da temperatura com elevação acima do nível do solo, contestando os princípios
descritos anteriormente (GALVANI, LIMA e FALCÃO, 2012.). A inversão térmica trata-se de
uma condição meteorológica em que uma camada de ar quente posiciona-se sobre uma
camada de ar frio, mais pesado, impedindo a movimentação ascensionária do ar, que
favorece a retenção do ar poluído próximo à superfície. Esta condição pode ocorrer nas
áreas rurais e urbanas ao longo de todo o ano, mas principalmente no período noturno e no
inverno.
Nas cidades, locais com grande concentração de indústrias e veículos podem
resultar em grande concentração de poluentes. No campo, esse mecanismo pode concentrar
os poluentes pulverizados sobre as culturas, em especial se os agrotóxicos forem aplicadas
Planejamento e análises ambientais - 165

via aérea e em condições climáticas e de relevo desfavoráveis. Em determinadas condições


de temperatura, as gotas aspergidas dos produtos podem ter um tempo de vida reduzido
(segundos), a depender do diâmetro das mesmas, da diferença de temperatura (bulbo
seco/úmido)oC e da distância da queda (equação de Amsden), evaporando na atmosfera. Da
mesma forma, o gás formado com a evaporação pode, em situação inversa, vir a se agregar
às moléculas de H2O da atmosfera, precipitando sob a forma de orvalhos, nevoeiros, garoas
ou chuvas, e sendo depositado sobre áreas distantes dos alvos de aplicação.
O vapor de água na atmosfera recebe as denominações de pressão de vapor,
umidade absoluta, umidade específica, razão de mistura e umidade relativa, sendo estas as
diversas maneiras de abordar a presença de água no ar (MENDONÇA E DANN-OLIVEIRA,
2007). Este elemento climático é importante na medida em que, em condições de baixa
umidade do ar, as gotas dos produtos pulverizados, em vez de cair sobre os alvos, podem
evaporar e precipitarem-se distantes do local de aplicação.
O elemento climático de maior importância com relação à deriva das gotas dos
produtos químicos aplicados via aérea é o vento (velocidade e direção). Este elemento
conduz as gotas da mistura de água com o agrotóxico de acordo com sua intensidade e em
diferentes direções, a depender do gradiente de pressão local, que se estabelece de acordo
com o aquecimento diferencial da superfície. De acordo com Alves et al (2012), a direção do
vento indica o sentido de onde o vento vem, levando consigo propriedades atmosféricas
(vapor d´água, materiais em suspensão, calor sensível e latente, entre outros). Já a
velocidade é, além da distância percorrida, a rapidez com que essa parcela de ar se desloca
num intervalo de tempo. Para o autor, “O vento é sempre turbulento, num grau mais ou
menos elevado, isto é, sua velocidade varia constantemente em rajadas e em calmarias, com
cada uma delas durando alguns segundos.” (ALVES et al., 2012. p. 95).
Os obstáculos na superfície, como o relevo, a vegetação e os diferentes tipos de uso
do solo, são uma das causas da turbulência do vento em superfície, mas há outra causa
igualmente importante: a instabilidade atmosférica. Nas situações de instabilidade, o
movimento vertical do ar é livre e as porções de ar acendem-se lentamente da superfície e
são rapidamente substituídas por porções de ar descendentes. Esta movimentação
ascendente - descendente do ar dá origem às rajadas. Se o ar estiver estável, o movimento
vertical tende a desaparecer e o vento torna-se mais suave (FORSDYKE, 1975).
166

Para entender esse processo de variação climática em escalas de tempo


condizentes com as aplicações aéreas dos produtos químicos, analisaram-se dados de três
estações meteorológicas, duas com leituras dos elementos do clima de hora em hora e uma,
de quinze em quinze minutos.

Caracterização da área de estudo

A bacia hidrografica do Pontal do Paranapanema (Unidade de Gerenciamento de


Recursos Hídricos – UGRHI - 22) encontra-se no extremo oeste do estado de São Paulo, em
área de confluência entre os rios Paraná e Paranapanema, e no encontro dos estados Mato
Grosso do Sul e Paraná. Pertence a este território a área de 26 municípios, de
aproximadamente 11.838 km² (CPTI, 1999), localizada entre os paralelos, -21o 29’ 11” e -22o
48’ 26” S e entre os meridianos -53º 07’ 38” a -50o 40’ 53”O (Figura 1).
Entre os 26 municípios, destacam-se o de Presidente Prudente com uma população
estimada de 223 mil habitantes, Presidente Epitácio, 43 mil hab. e Presidente Venceslau,
com 39 mil hab. (IBGE, 2016), sendo que metade dos municípios apresenta uma população
inferior a 10 mil habitantes. Os menores municípios são Estrela do Norte e Nantes, com 2 mil
habitantes cada um. O relevo da UGRHI-22 pertence à província geomorfológica do Planalto
Ocidental Paulista. As características do modelado regional vêm ajustar-se aos arranjos de
Ross & Moroz (2011), classificando-se em relevos de degradação (colinas amplas e baixas) e
relevos de agradação (planícies e terraços aluviais), compondo o relevo ondulado regional.
As colinas amplas representam setores de significativas densidades de drenagem, com
maiores índices de dissecação e menor amplitude e distância entre os seus interflúvios em
comparação às colinas baixas. As colinas amplas normalmente revelam um relevo entre
ondulado e fortemente ondulado, enquanto as colinas baixas caracterizam-se por seu baixo
índice de dissecação, com menores classes de declividade, em relevo plano suave a
ondulado (Ross & Moroz, 2011). As planícies situam-se em superfícies planas, contíguas aos
cursos d’água, e estão sujeitas às inundações periodicamente. Os terraços constituem
porções alçadas a poucos metros das planícies, possuindo leve inclinação no sentido das
várzeas, e são caracterizados como setores não inundáveis e eventualmente com o
comparecimento de lagoas marginais (IPT, 1981).
Planejamento e análises ambientais - 167

Por se tratar de uma região de ondulações topográficas com setores acidentados e


planos, com ventos soprados pelos alísios, preferencialmente das direções de E, SE e NE, e
sobretudo, por se tratar de um território de importante variação latitudinal e longitudinal,
localizado sob a trajetória preferencial das frentes polares (correntes perturbadas de sul),
onde o sistema de circulação do anticiclone polar das altas latitudes e o sistema de
circulação do anticiclone do Atlântico Sul das latitudes baixas se opõem em equilíbrio
dinâmico, a UGRHI – 22 apresenta grande diversidade climática, conforme classificação de
Monteiro (1973) para o estado de São Paulo, e de Boin (2000) para o Oeste Paulista. Sobre o
relevo do Oeste Paulista, coberto primeiramente com a vegetação da Mata Atlântica do
Interior (Floresta Estacional Semidecidual - FLES), estabelecida sobre solos arenosos, onde
predomina os argissolos e latossolos, originários dos sedimentos da bacia sedimentar do
Paraná, notamos que sofreu grandes modificações com a ocupação deste território no
último século, feita de maneira devastadora.
O processo de ocupação do Oeste Paulista se caracterizou pela especulação de
terras e grilagem, sendo sucedido por diversos ciclos econômicos vinculados à produção
primária com base na monocultura e no latifúndio (ZANATTA, CUNHA e BOIN, 2014). Como
primeiro ciclo, teve-se a cultura do café que expandiu seus limites no sentido de E para W no
estado de São Paulo. Segundo Monbeig (1984), com o declínio do café, o plantio de algodão
e amendoim teve seu domínio no Oeste Paulista. Na segunda metade do século XX, houve o
decréscimo da produção do algodão no Pontal do Paranapanema, por conta da retomada da
plantação de algodão no Japão. Junto a isso, o empobrecimento dos solos e o aparecimento
de pragas nos algodoais do Oeste Paulista (NUNES et al, 2006) elevaram o custo da produção
e dificultaram a competividade diante do novo panorama mundial. Surgia, então, a cultura
do amendoim, menos exigente quanto aos solos (ZANATTA, CUNHA e BOIN, 2014). Na
década de 1970, aliados ao desgaste natural dos terrenos arenosos e à perda de fertilidade
dos solos, o surgimento de processos erosivos, a dificuldade de produção e a
descapitalização dos produtores rurais levaram eles a venderem suas terras (NUNES et al,
2006), que passaram a ser ocupadas por grandes pecuaristas. Em 1975, incentivado pelo
Programa Nacional do Álcool (Proálcool), Decreto no. 76.593/75 ampliou-se o cultivo de
cana-de-açúcar para a produção de álcool e a instalação de usinas, que avança no Oeste
Paulista até os dias de hoje, em especial sobre a UGRHI – 22. Com a Política Nacional de
ampliação da matriz energética, instituída a partir de 2003, as empresas sucroalcooleiras
168

intensificaram suas atividades no Pontal do Paranapanema (BARRETO e THOMAZ Jr, 2012),


ampliando a área de plantio de cana e os impactos advindos da atividade (Figura 1).

Figura 1 – Distribuição da cana-de-açúcar pela UGRHI – 22, no ano de 2010.

Fonte: Adaptado de Thomaz Jr. (2012).

Com o aumento da área de plantio, em terras próprias ou arrendadas, a extensão


da área coberta com canaviais atingiu dimensões significativas em toda a UGRHI - 22 – mais
de 40% do território –, exigindo práticas de cultivo mais extensivas, além de um mais
rigoroso controle fitossanitário e da sacarose da cana. Este controle, anteriormente
executado estritamente via terrestre, passou então a ser efetuado com o auxílio da aviação
agrícola, com o fito de cobrir a maior área de plantio no menor espaço de tempo, com
grande impacto às circunvizinhanças dos canaviais.
Assim, a partir do ano de 2007, com a expansão do plantio de cana-de açúcar e sete
usinas de açúcar e álcool instaladas na UGRHI – 22, surgem as mais evidentes mostras desses
impactos, afetando de forma direta a produção da agricultura familiar atingida pelos
agrotóxicos pela pulverização aérea, causando graves prejuízos aos agricultores que atuam
Planejamento e análises ambientais - 169

com a sericicultura (Figura 2). A deriva da pulverização de produtos químicos (herbicidas14,


fungicidas, inseticidas) aplicados nos canaviais inutiliza as folhas das amoreiras que servem
de alimento ao bicho-da-seda, causando perda parcial ou total da produção (Figura 3). Dos
234 (duzentos e trinta e quatro) produtores de bicho-da-seda existentes antes da expansão
do setor sucroalcooleiro em 2007, apenas 37 (trinta e sete) continuam na UGRHI – 22 no ano
de 201415. Para Barreto e Thomaz Jr (2012), “é relevante ressaltar que este ato não
impactou apenas a produção nos assentamentos, mas também destruiu o trabalho e a
produção dos trabalhadores”. Destaca-se, também, que nos lotes dos assentamentos, assim
como nas pequenas propriedades no entorno dos canaviais, a pulverização aérea, de forma
perversa, atinge a produção de alimentos, de consumo próprio, depauperando ainda mais a
vida da população rural.
A problemática dos agrotóxicos ainda é associada a prejuízos nas hortas existentes
na periferia das cidades da região, com estragos nos produtos da horticultura e grandes
perdas econômicas aos produtores (Figura 4). Além dos danos causados pela deriva dos
agrotóxicos sobre as atividades de sericicultura, horticultura, fruticultura, silvicultura, plantio
de mandioca e pastagens, foi observada a degradação da vegetação nativa (Figura 5) e,
ainda, a redução significativa de abelhas e outros insetos na região. Afora os danos aéreos,
danos ao solo e aos recursos hídricos foram constatados. No solo foi constatado em campo o
vazamento de agrotóxicos ao abastecer a aeronave agrícola (Figura 6) e nos recursos
hídricos, a presença de glyphosate nas águas dos córregos (RODRIGUES, et al. 2015), que
pode estar relacionada à pulverização aérea. Embora a instrução normativa do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)16 estabeleça distâncias mínimas para a
aspersão dos agrotóxicos, a prática, na grande maioria das vezes, não atende à norma,
apresentada a seguir:

Não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma


distância mínima de: a) quinhentos metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de
mananciais de captação de água para abastecimento da população; b) duzentos e
cinquenta metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de
o
animais [...] (Art. 10 da I.N., n . 2).

14
Segundo informações das usinas existentes no Pontal do Paranapanema, os herbicidas e, em especial, o
glyfosato, deixaram de ser utilizados na pulverização aérea nos últimos anos.
15
Informações obtidas junto à empresa que fornece as larvas e compra os casulos do bicho-da-seda.
16
Instrução Normativa 02/2008, Art. 10 - Prática de pulverização aérea dos agrotóxicos no Brasil.
170

Por vezes, são observadas pulverizações sobre habitações isoladas, núcleos


habitacionais rurais, áreas de proteção dos recursos hídricos (APP´s – Áreas de Preservação
Permanente) ou mesmo sobre áreas urbanas que muitas vezes estão a poucos metros dos
canaviais, tal como observado nas localidades de Estrela do Norte, Narandiba, Teodoro
Sampaio, Santo Anastácio, Planalto do Sul, Caiuá e outros. Essa situação sugere a
possibilidade de risco tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente, pois entre
os produtos empregados encontram-se um número expressivo de substâncias com média e
alta toxicidade. Apesar de o órgão ambiental competente somente poder emitir autorização
/ licença ambiental no caso de utilização de agrotóxicos de baixa toxicidade (Classe IV)17, os
produtos encontrados nos barracões das usinas do setor sulcroalcooleiro18, são todos das
classes toxicológicas III e II, ou seja, medianamente tóxico (III) e altamente tóxico (II)19.

Figura 3 – Perda parcial (a) e total (b) da criação do bicho-da-seda em lotes dos assentamentos do
20
Pontal do Paranapanema

Fonte: Boin, 2017.

17
Portaria Normativa IBAMA nº 84 de 15/10/1996, com prazo de três anos para adequação das atividades pré-
existentes que façam uso de produtos das classes I, II e III.
18
Verificação efetuada nas usinas instaladas na UGRHI – 22.
19
Os inseticidas Certero (Triflumurom), Altacor (Clorantratraniliprole), Actara (Triamethoxam), Curbix (Etiprole)
e os maturadores Moddus (Trinexapac), Ethrel 720 (Ethefon), Curavial (Sulfometuron methil) e Ampligo
(Piretroide)
20
Constatações efetuadas nos trabalhos de campo. Fotos da produção perdida no município de Sandovalina –
SP.
Planejamento e análises ambientais - 171

Figura 4 – Prejuízos à produção de hortaliças nos municípios de


Regente Feijó (a) e Martinópolis (b)

Fonte: Boin, 2017.

Figura 5 – Árvores isoladas dissecadas em meio a canavial (a) e, pulverização aérea sobre
área de preservação permanente (b)

Fonte: Boin e Tavares, 2017.

21
Figura 6 – Abastecimento das aeronaves agrícolas com calda de agrotóxicos

Fonte: Jardim e Tavares, 2017.

21
Constatações efetuadas nos trabalhos de campo.
172

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é analisar o tempo meteorológico em superfície, com


vistas a considerar as possibilidades da pulverização aérea sobre alvos de plantação de cana-
de-açúcar e suas consequências sobre as atividades lindeiras.

METODOLOGIA

A aviação agrícola tem se tornado cada vez mais difundida na agricultura brasileira,
principalmente com a expansão das áreas cultivadas, pois esta ferramenta possibilita a
pulverização de agroquímicos em áreas de lavouras com grandes extensões em tempo
reduzido. No entanto, acompanhando o crescimento da utilização desta tecnologia, nota-se
que houve um aumento de críticas e estudos relacionados aos graves problemas ambientais
e de saúde humana oriundos desta prática, especialmente pelos eventos da deriva, que
podem arrastar as partículas dos agrotóxicos a longas distâncias do alvo, ou seja, das
lavouras pulverizadas.
Os fatores climáticos que devem ser considerados para a pulverização são a
umidade relativa do ar, a temperatura do ar atmosférico e a velocidade dos ventos,
definidos em bula para cada tipo de agrotóxico. Naime, Franco e Neto (2014) apontam que
atualmente o resultado das pulverizações aéreas é avaliado somente após execução, sem
qualquer recurso para monitorar a ação em tempo real, reforçando, ainda, que vento,
temperatura do ar, turbulência sob a asa do avião e distribuição das gotas são fatores de
maior influência sobre a deriva. A Instrução Normativa 2/2008, do MAPA, exige que nos
relatórios operacionais seja demonstrada a direção predominante dos ventos, bem como
dos tiros22 de aplicação. A velocidade do vento poderá influenciar diretamente no arraste
das gotículas pulverizadas, transportando-as para fora da área alvo. Temperaturas elevadas
e baixa umidade do ar podem acarretar na evaporação do produto aspergido, mantendo-os
em suspensão na atmosfera até que, ganhando umidade novamente, podem precipitar na
forma de orvalho ou de chuva a longas distâncias da cultura tratada.

22
Direção em que a aeronave realiza o voo, pulverizando os defensivos.
Planejamento e análises ambientais - 173

Para o presente estudo, foram obtidos dados meteorológicos em três Estações


Meteorológicas de Observação de Superfície Automáticas - EMOSA. Duas dessas estações
pertencem à rede de estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET), sendo uma localizada no Campus da FCT/UNESP de Presidente Prudente – SP (-22°
7’ 11”S; -51° 24’ 31”O) e a outra situada na cidade paranaense de Paranapoema – PR (-22°
39’ 29”S; -52° 8’ 4”O), próximo à divisa com o estado de São Paulo. A terceira Estação
Meteorológica Automática utilizada era do tipo móvel, e foi instalada no Assentamento
Rural Bom Pastor, situado município de Sandovalina – SP (-22° 32’ 33”S; -51° 56’ 19”O),
localidade em que se verifica concentração de sericicultores. As três estações coletaram as
informações meteorológicas (temperatura, umidade, pressão atmosférica, precipitação,
direção e velocidade dos ventos e radiação solar) da área em que estavam instaladas. As
medições ocorreram minuto a minuto e foram registradas em uma unidade de memória
central (data-logger), em períodos programados pelo usuário (BRASIL, 2011).
Nas estações meteorológicas de Presidente Prudente e Paranapoema, as leituras
são registradas de hora em hora, enquanto que na estação do Assentamento Bom Pastor, as
leituras foram programadas para serem registradas de quinze em quinze minutos. Os
elementos climáticos analisados constituíram-se de: temperatura, em Graus Celsius (T ºC);
umidade relativa do ar, em porcentagem (UR %); velocidade dos ventos no momento da
leitura, em quilômetros por hora (V Vent. - Km/H); e velocidade máxima do vento (rajadas)
no período entre leituras (quinze ou sessenta minutos), em quilômetros por hora (V Rajad. -
Km/H). Na Estação Meteorológica Automática móvel, instalada no município de Sandovalina,
foram realizados dois períodos de medição: a primeira iniciada em 15 (quinze) de dezembro
de 2014 e concluída em 19 (dezenove) de dezembro de 2014; a segunda medição ocorreu no
período compreendido entre o dia 15 (quinze) de janeiro 2015 e o dia 27 (vinte e sete) de
janeiro de 2015. Da estação situada em Presidente Prudente, foram analisadas as
informações compreendidas no período de 01 (um) de setembro de 2013 até o dia 31 (trinta
e um) de maio de 2014; e 01 (um) de dezembro de 2014 a 31 (trinta e um) de janeiro de
2015. Já os dados analisados da estação localizada em Paranapoema compreendem o
período de 04 (quatro) de outubro de 2013 até o dia 30 (trinta) de setembro de 2014; e do
dia 01 (um) a 31 (trinta e um) de dezembro de 2014. Uma síntese dos dados meteorológicos
analisados apresenta-se na Tabela 1, a seguir.
174

Tabela 1: Dados meteorológicos analisados

Local Estação Data de início Data final Frequência de leitura


Paranapoema - PR INMET 04/10/2013 30/09/2014 60 minutos
Paranapoema - PR INMET 01/12/2014 31/12/2014 60 minutos
Presidente Prudente - SP INMET 01/09/2013 31/05/2014 60 minutos
Presidente Prudente - SP INMET 01/12/2014 31/01/2015 60 minutos
Sandovalina - SP Móvel/UNESP 15/12/2014 19/12/2014 15 minutos
Sandovalina - SP Móvel/UNESP 15/01/2015 27/01/2015 15 minutos
Fonte: Org. autores, 2017.

Os dados obtidos foram organizados em planilhas digitais, separadas por localidade


e por produto analisado. Posteriormente, as planilhas que originalmente apresentavam as
leituras diárias, ou seja, com os dados das 24 (vinte e quatro) horas do dia, foram
formatadas de forma a analisar o comportamento meteorológico nos períodos com luz
natural (das 6h00min até ás 20h00min), haja vista a determinação da Regulamentação
Brasileira de Aviação Civil (RBAC) 137. Durante a pesquisa realizada, obteve-se a informação
de que as usinas canavieiras da região do Pontal do Paranapanema realizam pulverização
aérea dos inseticidas Actara, Altacor e Certero, bem como os maturadores Curavial e
Moddus. Após as buscas realizadas no Sistema AGROFIT e no sítio on line da ADAPAR,
verificou-se os seguintes parâmetros climáticos de aplicação para cada agrotóxico (Tabela 2):
Planejamento e análises ambientais - 175

Tabela 2: Parâmetros meteorológicos considerados para análise das condições de voos na aplicação dos
agrotóxicos e recomendo pelos fabricantes

Produto Categoria Velocidade do Vento Umidade Relativa do Ar Temperatura Máxima


(km/h) (%) (°C)
Actara Inseticida Entre 5 e 18 > 55 < 30
Altacor Inseticida Entre 5 e 16 > 70 < 25
Certeto Inseticida <8 > 70 < 30
Curavial Maturador <5 > 70 < 28
Moddus Maturador Entre 3 e 10 > 55 < 30
23
UNICA - Entre 3 e 15 > 50 < 30
Fonte: Org. autores, 2017.

Verifica-se, então, que os parâmetros climáticos são diferentes para cada produto a
ser aplicado, mas com uma proximidade entre os valores dos elementos atmosféricos. De
posse dos dados meteorológicos das estações e dos parâmetros meteorológicos
considerados para análise das condições de voos na aplicação dos agrotóxicos e recomendo
pelos fabricantes (Tabela 2), passou-se a analisar as leituras favoráveis à pulverização aérea
de cada produto. Para tanto, considerando que todos os paramentos devem estar favoráveis
para que o produto possa ser pulverizado, as células nas planilhas digitais com leituras
favoráveis foram sendo marcadas em verde e aquelas com leituras desfavoráveis, em
vermelho. As linhas que não tiveram nenhuma célula marcada com a cor vermelha foi
considerada como favorável à pulverização aérea, sendo toda a linha marcada na cor verde,
conforme exemplificado adiante (Quadro 1).

Quadro 1: Análise dos dados meteorológicos da Estação Automática de Presidente Prudente, em


comparação aos parâmetros do inseticida Certero

Estação Automática de Presidente Prudente - SP


CERTERO - Parâmetros Climáticos
Velocidade do vento até 8 km/h
Temperatura Máxima de 30° C
Umidade Relativa mínima de 70%
Horários com parâmetros climáticos não favoráveis para
pulverização aérea do Certero.
Horários com parâmetros climáticos favoráveis para
pulverização aérea do Certero.

23
Parâmetros Meteorológicos conforme Parecer Técnico apresentado pela UNICA ao Ministério Público
Estadual.
176

V Vent. V Rajad.
Mês Dia Hora T (°C) UR (%)
(km/H) (km/H)

dez/14 1 01:00 21,7 95 2,16 13,68


dez/14 1 02:00 21,6 94 0,72 9,36
dez/14 1 03:00 21,4 94 0,00 7,20
dez/14 1 04:00 21,9 93 6,84 16,92
dez/14 1 05:00 22,5 93 4,32 18,36
dez/14 1 06:00 22,9 92 5,04 18,36
dez/14 1 07:00 23,1 90 3,60 17,64
dez/14 1 08:00 23,7 85 4,32 18,36
dez/14 1 09:00 23,9 83 5,04 16,20
Fonte: Org. autores, 2017.

RESULTADOS

Nas análises efetuadas com os dados obtidos nas estações meteorológicas, pode-se
perceber que os parâmetros umidade relativa do ar e temperatura do ar apresentam
variação uniforme no decorrer do tempo, sendo, portanto, previsível e de mais fácil controle
durante as operações (Figuras 7 e 8). Já os parâmetros velocidade e direção dos ventos
apresentam grande variação no tempo cronológico, oscilando repentinamente, o que o
torna imprevisível.

Figura 7 - Dados de quarto de hora na EMOSA de Sandovalina, no dia 16 jan. 2015


Planejamento e análises ambientais - 177

Fonte: Org. autores, 2017.


178

Figura 8 – Dados levantados de hora em hora na EMOSA de Presidente Prudente, no dia 16 jan. 2015

Fonte: Org. autores, 2017.

Como se pode observar nas figuras 7 e 8, o aumento da temperatura do ar provoca


a redução da umidade relativa do ar, enquanto que em relação ao vento, direção e
velocidade oscilam com frequência, o que o torna imprevisível. No caso da Figura 7,
observamos que ao se analisar os elementos do tempo meteorológico em um menor tempo
cronológico de registro, as oscilações são maiores do que quando observamos em um maior
espaço de tempo, como na Figura 8, na qual foram analisados os elementos de hora em
hora, na EMOSA de Presidente Prudente. No primeiro caso (Figura7), com registros de 15 em
15min, a possibilidade de aplicação aérea de agrotóxicos com as condições climáticas
favoráveis não atinge 30min, o que torna este procedimento inviável, pois o tempo gasto
com os procedimentos de verificação das condições atmosféricas, abastecimento da
aeronave e outros procedimentos, não possibilita tempo hábil para a aeronave alçar voo e
atingir seus alvos. No caso de Presidente Prudente, no 16 de janeiro de 2015, não houve
Planejamento e análises ambientais - 179

condições de aplicação de agrotóxicos via aérea. Por vezes, verificou-se que a velocidade do
vento no momento da leitura apresentava-se favorável para determinado produto, mas a
velocidade máxima da rajada registrada no período entre leituras ultrapassou
consideravelmente o parâmetro estipulado pela bula do agrotóxico. No caso da velocidade
de rajada, a estação apresenta tão somente a maior velocidade alcançada no intervalo entre
os registros, assim, não é possível avaliar quantas vezes a velocidade do vento ultrapassou o
limite estabelecido pela bula, somente que ultrapassou.
Tais características geram condições de risco muito grandes, já que, se no momento
em que operador estiver pulverizando o veneno ocorrer uma rajada acima dos parâmetros
definidos em bula, a formação da deriva será inevitável, podendo arrastar o agrotóxico fora
da área alvo, com o risco de atingir a flora e a fauna nativas, recursos hídricos, animais
domésticos, culturas sensíveis ao agrotóxico pulverizado e, mesmo, populações humanas. O
inverso também foi verificado, ou seja, em diversos momentos, a velocidade do vento se
reduz abaixo dos limites mínimos, o que pode dificultar a precipitação das gotículas do
veneno pulverizado, aumentado o tempo de suspensão na atmosfera. A direção dos ventos
ainda constitui elemento climático deveras importante, mas também muito instável. Assim
como a velocidade dos ventos, a sua direção oscila com muita frequência e, dependendo do
sentido que toma, lança as gotas dos produtos químicos em áreas fora do alvo. A junção dos
três parâmetros climáticos favoráveis no mesmo momento se deu em poucas oportunidades
e, quando ocorreu, se deu em curtos espaços de tempo (minutos) ao longo do dia.
Durante as madrugadas foram os momentos em que as condições climáticas se
apresentaram mais favoráveis e com longos períodos propícios à pulverização aérea de
agrotóxicos, porém, as restrições da aviação civil (RBAC 137) impossibilitam a prática da
atividade sem luz natural, salvo autorização expressa do órgão responsável. Outros horários
que apresentaram alguma possibilidade de utilização das operações aeroagrícolas foram às
primeiras horas da manhã e no final da tarde, mas ainda assim, em curtos períodos de
tempo. A Figura 9 ilustra os percentuais de leituras de registros meteorológicos favoráveis
para os dados analisados para cada produto químico, considerando os períodos integrais de
medição, ou seja, as 24 horas do dia, conforme o parecer técnico da UNICA. Com os dados
tabulados, é possível observar que o maior percentual alcançado foi para o inseticida
Certero, na EMOSA de Sandovalina, com a ressalva de que tal produto não apresenta limite
mínimo para a velocidade do vento, e por isso, acumula maior número de leituras favoráveis
180

se comparados aos demais produtos.

Figura 9 – Percentual de registros meteorológicos favoráveis durante as 24 horas

Fonte: Org. autores, 2017.

A Figura 10 apresenta as informações relativas aos registros meteorológicos,


considerando apenas o período das 6h00 até as 20h00. É possível observar uma sensível
redução nos percentuais de leituras favoráveis, evidenciando que muitas delas foram feitas
no período noturno, cujas restrições da RBAC restringem as operações aeroagrícolas. Mais
uma vez, observa-se que o Certero, na EMOSA de Sandovalina, apresenta maior percentual
de leituras favoráveis, mas dessa vez apenas 12% de registros viáveis, ante 24% quando
consideradas as 24 horas do dia.
Planejamento e análises ambientais - 181

Figura 10 – Percentual de registros meteorológicos favoráveis entre 6h00min e 20h00min

Fonte: Org. autores, 2017.

É importante salientar que apenas o Certero, conforme exposto acima, alcançou o


percentual de 12%, sendo que os demais ficaram abaixo dos 10% de períodos favoráveis à
pulverização aérea. O inseticida Actara apresentou percentual variado, entre 2% a 4%. O
maturador Moddus, por sua vez, não passou dos 2% de registros favoráveis, ficando em 1%
nas EMOSAs de Presidente Prudente e Paranapoema. Deve-se, ainda, ressaltar que em todas
essas análises descartaram-se os momentos de precipitações, em que práticas agronômicas
não recomendam a aplicação de agrotóxicos devido à perda dos produtos pela lavagem das
plantas, ocorrida pela ação das águas meteóricas. Dessa maneira, pode-se afirmar que os
percentuais favoráveis são ainda menores do que o aqui estimado.

CONCLUSÃO

Diante de todos os elementos analisados, conclui-se que não há condições de se


realizar as atividades aeroagrícolas para pulverização de defensivos agrícolas de maneira
segura na região do Pontal do Paranapanema. Os períodos em que os parâmetros
meteorológicos, ou seja, umidade relativa do ar, temperatura atmosférica e velocidade do
182

vento coincidem com taxas favoráveis, conforme os limites estabelecidos pelas respectivas
bulas, são reduzidíssimos. A velocidade do vento é o fator de maior imprevisibilidade,
tornando-se o fator de maior limitação. A direção do vento em superfície também é
imprevisível, aumentando o nível de risco de deriva durante as operações aeroagrícolas.
Assim, é possível afirmar que as técnicas de controle e redução da deriva, ainda
que venham sendo aprimoradas ao longo dos anos, são ineficazes caso as condições
meteorológicas não sejam adequadas.
Considerando que é princípio constitucional a manutenção de um ambiente sadio e
equilibrado para as presentes e futuras gerações, e a aspersão aérea de agrotóxicos é fator
limitante para que se alcance tal objetivo, a prática da pulverização aérea deve ser
reavaliada no Pontal do Paranapanema. Tal conclusão é baseada em todos os fatores
expostos nesta pesquisa, em que se verificou a impossibilidade do atendimento aos
requisitos climáticos mínimos exigidos para que a pulverização aérea de agrotóxicos seja
praticada com segurança, especialmente quanto ao fator velocidade dos ventos. Reforça
essa conclusão os relatos de produtores de diversas culturas, que apontam que os
problemas em suas atividades passaram a ocorrer após a visualização dos aviões
pulverizadores operando nos canaviais.
Não é por acaso que a União Europeia, por meio da Diretiva 128/2009, de 21 de
outubro de 2009, decidiu que:

A pulverização aérea de pesticidas possui potencial de causar significativos


impactos à saúde humana e ao ambiente, em particular devido à deriva. Assim
sendo, a pulverização aérea deve ser proibida, podendo ser utilizada quando
representar clara vantagem em termos de redução de impactos à saúde humana e
ao ambiente, se comparado com outros métodos de pulverização, ou quando não
houver alternativas viáveis, comprovando que as melhores técnicas de redução de
deriva serão utilizadas.

Agradecemos aos professores da UNESP, Prof. Dr. Raul Borges Guimarães e Prof. Dr.
José Tadeu Garcia Tommaselli, pelo empréstimo da EMOSA, instalada no município de
Sandavalina, e pelos dados das EMOSA, de Presidente Prudente e Paranapoema.
Planejamento e análises ambientais - 183

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Planejamento e análises ambientais - 185

Capítulo 9

O USO DE GEOTECNOLOGIAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS DE


EXPANSÃO DE LAVOURAS DE SOJA/MILHO NO
MUNICÍPIO DE BONITO/MS

Ângelo Franco do N. Ribeiro


Doutor em Geografia, UFGD, Brasil
angeloribeiro@ufgd.edu.br

INTRODUÇÃO

Este trabalho é parte integrante da tese de doutorado24 defendida no Programa de


Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados, e tem como
objetivo avaliar o uso de geotecnologias na identificação de áreas de expansão de cultivo de
soja e milho no município de Bonito, Mato Grosso do Sul, e a importância destas
ferramentas para pesquisa em geografia.
O município de Bonito é conhecido internacionalmente pelos atrativos turísticos,
águas límpidas e natureza exuberante. Entre os atrativos destacam-se grutas, nascentes,
rios, cachoeiras, trilhas, cavalgadas, rapel, etc. Possui rede de serviços altamente organizada,
hotéis e restaurantes para públicos de todos os níveis econômicos e cidadãos já
acostumados a conviver com os turistas que visitam a cidade.
Entretanto, nos últimos anos, sobretudo nos anos posteriores a 2010, houve um
aumento significativo de áreas de lavouras de soja/milho. Este fato levou ao
desenvolvimento desta pesquisa, assim como chamou a atenção dos segmentos ligados ao
turismo e ao meio ambiente, visto que tal atividade econômica, se não desenvolvida com
rigor, pode comprometer as águas dos rios, que são a principal “matéria-prima” da atividade
turística do município.
A presente pesquisa buscou, então, entender esse processo de mudança no uso da
terra e identificar onde estariam concentradas as áreas de lavouras. Para tanto, buscou-se o

24
RIBEIRO, 2017.
186

apoio de técnicas de sensoriamento remoto e processamento digital na identificação do


padrão de localização das culturas de soja e milho e suas possíveis áreas de expansão.
Especificamente neste artigo – fragmento da pesquisa original –, optou-se pela
apresentação dos procedimentos de elaboração dos mapas como possibilidade de debate
sobre como ferramentas de análise espacial podem contribuir no campo da geografia e de
outras ciências na mensuração e comparação de dados espaciais. Neste sentido, serão
apresentados os procedimentos metodológicos: como os dados foram coletados,
manipulados e analisados.

MUNICÍPIO DE BONITO/MS – O BINÔMIO AGRICULTURA/PECUÁRIA, DE 1980


A 2015

Historicamente, a ocupação do Mato Grosso do Sul teve relação com a expansão da


fronteira agrícola, com a abertura de novas áreas para agricultura. Certamente, A produção
de soja e milho iniciada naquela época, levou o estado a se destacar no cenário nacional e
internacional. Ao mesmo tempo, as condições do terreno na região levaram à ocupação de
grandes extensões de terra para a criação de gado, e hoje o estado figura entre os maiores
rebanhos do Brasil (IBGE, 2006). Nesse contexto, e tendo em vista todas as atividades
citadas – principalmente, a pecuária do modo como é desenvolvida no Mato Grosso do Sul,
com grandes áreas para criação de animais –, os problemas ambientais e sociais no campo
tendem a se agravar.
As características de formação do estado perpassam vários municípios, carregando
um perfil que basicamente se repete, guardadas as particularidades de cada área. De modo
geral, podemos dizer que, tradicionalmente, as áreas situadas na bacia do Rio Paraná
possuem uma tendência ao desenvolvimento da agricultura e na bacia do Rio Paraguai, à
pecuária. No entanto, atualmente, esta divisão grosseira não é mais regra, pois com o
desenvolvimento de tecnologias para o campo e a manipulação de sementes, a barreira
natural foi superada.
Tentando entender o processo de expansão das lavouras de soja/milho para além
da bacia do Rio Paraná, sobretudo no Planalto da Bodoquena, delimitamos o município de
Bonito/MS para execução deste trabalho.
Planejamento e análises ambientais - 187

Para a análise que propomos neste trabalho, sobre o uso e ocupação da terra, é
adequado utilizar técnicas de coleta, tratamento, análise de dados e geração de mapas para,
posteriormente, confrontar com os dados existentes, sobretudo aqueles levantados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE por meio dos Censos Agropecuários.
Primeiramente, definimos a área a ser estudada, o município de Bonito/MS,
inserido no Planalto da Bodoquena. Além do acúmulo de pesquisas que temos na área,
desperta-nos a atenção para o aumento significativos das lavouras de soja/milho, o que traz
preocupações por diversos fatores, o principal deles, e de certa maneira conectado com os
demais, é que a região é uma área cárstica com rios de águas extremamente transparentes,
com um nível de exploração turística alto, como nos mostra Boggiani et al (2002):

Causa preocupação, no entanto, a acelerada ocupação da área, pela agricultura e


pecuária, e os desmatamentos generalizados que não pouparam nem as florestas
ripárias ao longo dos rios. Preocupa também o crescimento da atividade turística
na região, principalmente após 1995, que tem os seus rios e as cachoeiras de tufas
calcárias como principais atrativos.

Motivados também por esta preocupação, decidimos buscar elementos para


entender o processo e apontar medidas que permitam minimizar os problemas gerados pelo
uso do local.

AQUISIÇÃO DE DADOS E ELABORAÇÃO DE MAPAS COMO FORMA DE AUXÍLIO


À PESQUISA EM GEOGRAFIA

O processo de elaboração dos mapas neste trabalho se apresenta como ferramenta


fundamental para compreendermos o objeto pesquisado, e envolveu reflexões de ordem
geográfica, portanto, é importante apontar como eles foram pensados e produzidos, para
que sirvam de base para outros pesquisadores da mesma temática.
Inicialmente, criamos um Banco de Dados – BD para armazenar todos os dados do
trabalho, pois isso facilita o manuseio dos arquivos e organiza as tarefas. Para que este BD
fosse criado, foi preciso definir os softwares que utilizaríamos, pois isso pode limitar ou
ampliar as possibilidades de análise. Naquele momento, optamos pelo ArcGis 10.2 e o ENVI
5.1: o primeiro para montagem do BD25, manuseio dos dados existentes e geração dos

25
No caso do ArcGis, o banco de dados é o Geodatabase, que segundo Esri (2015), “armazena dados
georreferenciados em um local central para fácil acesso e gerenciamento. Ele pode ser utilizado em ambientes
de desktop, servidor ou móveis. Ele fica configurado em sistema de banco de dados, como o SQL Server, Oracle
ou PostgreSQL, e suporta todos os tipos de dados SIG.”
188

layouts, e o segundo para tratamento e classificação das imagens de satélites e dos dados de
altimetria; lembrando que os dois softwares apresentam compatibilidade entre seus
formatos de arquivo, o que facilita no momento dos processamentos.
A criação do Geodatabase implica, principalmente, na definição do que será feito,
pois é necessário adquirir os dados de fontes confiáveis e testá-los para ver se o resultado
será satisfatório. Devido a isso, optamos por trabalhar somente com shapefiles26 de fontes
oficiais e com procedência já conhecida, ou dados elaborados pelo próprio autor. Com isso
definido, partimos para a delimitação da malha municipal, que é disponibilizada pelo IBGE 27
e que serviu como base para ajuste de todos os demais dados.
A hidrografia é disponibilizada pelo Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do
Sul – IMASUL28 em parceria com a Agência Nacional de Águas – ANA, e necessitou apenas de
ajustes em alguns nomes de rios ou córregos, que foram feitos com o apoio das cartas
topográficas do Exército. As rodovias disponibilizadas no formato shapefile são de péssima
qualidade, então, como esta feição é importante para o trabalho, optamos por digitalizar
sobre as imagens do Google Earth e importar no ArcGis. A delimitação do Parque Nacional
da Serra da Bodoquena - PNSBd é fornecida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade – ICMBio29. Os dados referentes aos solos foram fornecidos pelo Zoneamento
Ecológico-Econômico do Mato Grosso do Sul – ZEE-MS30.
Com os dados armazenados no computador, foi necessário convertê-los para o
sistema de coordenadas padrão do nosso Geodatabase, definido como geográficas e Datum
SIRGAS2000. Todos os dados foram recortados pelo polígono do município de Bonito e
armazenados no BD com o sistema de coordenadas padrão, organizados conforme seu
tema. O próximo passo foi selecionar as imagens para o período estipulado e começar os
trabalhos de tratamento e classificação no ENVI.
Ao utilizar imagens de satélite, é preciso escolher, para cada período, o satélite e
sensor a ser usado. No caso deste trabalho, não tínhamos muitas opções, pois precisávamos
de imagens gratuitas e com disponibilidade das décadas de 1980, 1990, 2000 e atual, para

26
Formato padrão do ArcGis e compatível com todos os Sistemas de Informação Geográfica, passível de ser
utilizado também no ENVI, sistema utilizado na pesquisa.
27
Disponível em: <http://downloads.ibge.gov.br/downloads_geociencias.htm>. Acesso em: 10 dez. 2014.
28
Disponível em: <http://sisla.imasul.ms.gov.br/Downloads/dados_complementares/>. Acesso em: 10
jan.2015.
29
Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/servicos/geoprocessamento/51-menu-servicos/4004-
downloads-mapa-tematico-e-dados-geoestatisticos-das-uc-s.html>. Acesso em: 08 jan. 2015.
30
Disponível em: <http://www.zee.ms.gov.br/>. - Acesso em: 12 jan. 2015.
Planejamento e análises ambientais - 189

fazer a análise temporal do plantio de soja/milho na área. Com tais características, tínhamos
apenas as imagens do Satélite Landsat 5 TM para as décadas de 1980, 1990 e 2000, e o
Landsat 8 OLI para as imagens atuais, que são imagens multiespectrais com resolução de 30
metros. Este intervalo foi definido levando em consideração o surgimento das lavouras no
município.
Imagens com qualidade para um bom levantamento são raras, ainda mais em casos
que envolvem mais de uma cena. Neste trabalho, utilizamos o site do United States
Geological Survey - USGS31, que além de oferecer mais opções de busca, disponibiliza cenas
com um arquivo chamado “*_MTL.txt”, que permite fazer Radiometric Calibration32 e Dark
Subtraction33 na imagem, de forma automática, procedimentos necessários para corrigir
algumas imperfeições das imagens antes da classificação.
Com base nos parâmetros discutidos, começamos a busca para encontrar imagens
que estivessem dentro da qualidade necessária para identificação dos atributos que o
trabalho exigia, até definirmos as cenas que se aproximam do ideal para o levantamento.
Depois de várias tentativas, optamos pelas imagens de março de 1987, janeiro de 1992,
janeiro de 2004 e julho de 2016, sendo as cenas 226-74 e 226-75 as que cobrem a área de
estudo.
Com as imagens arquivadas no computador, começamos a parte de pré-
processamento, para correção de pequenos ruídos e imperfeições das bandas. Para isso,
utilizamos a calibração radiométrica, que visa corrigir pincipalmente ruídos causados por
defasagem dos sensores. Na sequência, foi feita a correção atmosférica de subtração do
pixel escuro, que tem como principal objetivo minimizar os efeitos atmosféricos em uma
cena.
Feitas as correções iniciamos os trabalhos com as cenas que já estavam aptas à
classificação. No entanto, devido às duas cenas abrangerem uma área muito grande, foi
necessário o recorte pelo polígono do município de Bonito/MS a fim de extrair apenas a área
de estudo, agilizando o processo. Como se tratava de duas cenas, seria necessário efetuar o

31
Disponível em: <http://glovis.usgs.gov/>. - Acesso periodicamente de: 10 nov. 2014 a 10 jan. 2015.
32
A calibração radiométrica recalcula os números digitais numa imagem com base em vários fatores, tais como
o tempo de exposição, valores conhecidos para o sombreamento da câmara com base em observações de
campo plano, corrente escura (corrente de saída de um detector quando nenhuma energia é incidente no
detector, como quando o obturador está fechado), e outros fatores que descrevem o design eletrônico
exclusivo e as características de um sistema de imagem. EXELIS (2015).
33
A subtração de pixel escuro é utilizada para remover os efeitos de espalhamento atmosférico de uma
imagem, subtraindo um valor de pixel que representa a assinatura de fundo de cada banda. EXELIS (2015).
190

mosaico e depois o recorte, mas o procedimento não se mostrou eficaz e foi preciso, então,
fazer o recorte individual e em seguida o mosaico34 das cenas.
Como o ENVI trabalha com todas as bandas do Landsat, apenas no momento da
classificação é que foi preciso definir as bandas a serem trabalhadas. Nesse momento,
optamos, no sensor TM, pelas bandas 5R, 4G e 3B, e para o sensor OLI, pelas bandas 6R, 5G
e 4B. Como as características dos dois satélites são diferentes, alterando os comprimentos
de onda entre as bandas (Quadro 1), as composições se mostraram eficientes para o
mapeamento da cobertura da terra.

34
Para efetuar o mosaico, utilizamos a ferramenta Seamless Mosaic do ENVI que apresenta um ótimo
resultado,pois ajusta o histograma de uma imagem baseada na outra evitando diferenças de tonalidades entre
as cenas.
Planejamento e análises ambientais - 191

Quadro 2 – Comparação entre Satélites Landsat 5 e 8


Satélite Bandas Wavelength (micrometers)
5 1.55-1.75
Landsat 5 TM 4 0.76-0.90
3 0.63-0.69
6 1.57 – 1.65
Landsat 8 OLI 5 0.85 - 0.88
4 0.64 - 0.67
Org: RIBEIRO, 2015.

Para a classificação das imagens, foi preciso, primeiro, definir as classes de uso que seriam
utilizadas para padronização de todos os períodos. Com base neste fator e na análise prévia das
imagens, definimos seis classes para o mapeamento: (1) agricultura, que agregaria as áreas de cultivo
com cobertura de plantações; (2) pastagem, para as áreas de pastagem natural ou artificial que fosse
possível identificar nas imagens; (3) solo, que englobaria as áreas de solo exposto; (4) água, para os
corpos d’água existentes; (5) mata, que agruparia as matas e toda vegetação densa da imagem; e,
por fim, a classe (6) campo sujo, que indicaria as áreas de pastagem suja, capoeira e mata rala.
Definidas as classes para o mapeamento, partimos para a classificação no ENVI, utilizando a
ferramenta Classification workflow que permite, de maneira interativa, executar as ferramentas e
algoritmos de modo que seja possível visualizar tudo de forma instantânea, na forma de preview.
Para tanto, foi adotada a classificação supervisionada, pois permite que se escolha previamente as
amostras, com base nas classes já estipulas – para cada classe, foi adquirida uma média de quinze
amostras, contemplando todas as variações da imagem. Durante o processo de classificação, foi
solicitada a escolha de vários parâmetros, sendo o principal dele o algoritmo, que define a forma
como o software utilizará as amostras para o mapeamento de toda a imagem. Nesse momento,
testamos todos os disponíveis e o que se mostrou mais eficiente para este trabalho foi o Maximum
Likelihood35, o único que permitiu separar as feições com mais clareza.
O processo de classificação torna-se complicado quando não contamos com um material de
apoio, como mapeamentos da época e dados mais precisos. Tínhamos como base apenas os dados
dos Censos Agropecuários de 1985, 1995 e 2006, pois as imagens das décadas de 1980 e 1990 não
são muito claras na separação de algumas feições de mata e lavouras, mesmo optando-se por
imagens do período em que a soja já está bem definida. Foi necessário, então, utilizar apenas a
imagem de março de 1987, uma vez que não tínhamos disponível a imagem de outro período.

35
A classificação de máxima verossimilhança (Maximum Likelihood) assume que as estatísticas para cada banda
normalmente são distintas e a partir disso calcula a probabilidade de que um determinado pixel pertença a
uma classe específica. A menos que você selecione um limite de probabilidade, todos os pixels são
classificados. Cada pixel é atribuído à classe que tem a maior probabilidade (ou seja, a máxima
verossimilhança). Se a maior probabilidade for menor que um limite especificado, o pixel permanecerá sem
classificação. EXELIS, (2015).
192

Mesmo com todas as dificuldades listadas acima foi possível uma classificação satisfatória,
que evidenciou onde estão concentradas as principais áreas de lavouras e as quantificações das
classes nos períodos estipulados.
Com os dados organizados, e suas devidas correções, foram todos convertidos para o
sistema de coordenadas geográficas Datum SIRGAS2000 e armazenados no Geodatabase, para
elaboração do layout padrão e posterior geração dos mapas. No processo de elaboração do layout, o
primeiro passo é a definição do tamanho da impressão. No nosso caso, optamos por trabalhar com
papel A5 devido às configurações do trabalho. Definido isto, todos os mapas foram gerados com a
mesma escala.
No próximo tópico, apresentaremos os resultados obtidos, bem como a descrição dos
elementos encontrados, sempre utilizando como recurso a visão de estudiosos ou os dados oficiais
sobre os temas abordados, porque apenas a elaboração de mapas não explica a sua função, que é
trazer mais elementos para a análise geográfica neste estudo.

LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO MUNICÍPIO DE BONITO/MS

O município de Bonito/MS possui uma extensão de 4.934,414km² e está localizado no


Planalto da Bodoquena. Seu limite é definido, a oeste, pelo município de Porto Murtinho, que tem
como vizinho o Pantanal; ao norte, pelos municípios de Bodoquena e Miranda; a leste, por Anástacio
e Guia Lopes da Laguna; e ao sul, Jardim (Figura 1). De acordo com estimativa do IBGE (2017), a
população chegaria a 21.483 em 2017.
Planejamento e análises ambientais - 193

Figura 1 – Mapa de localização do município de Bonito/MS

Bonito/MS tem em seu histórico de formação o desmembramento do município de


Miranda, ocorrido no ano de 1948, conforme:

O núcleo habitacional que se transformaria na sede do Município de Bonito


iniciou-se em terras da Fazenda Rincão Bonito, que possuía uma área de 10
léguas e meia e foi adquirida do Sr. Euzébio pelo Capitão Luiz da Costa Leite
Falcão, que aí se aportara em 1869, e é considerado o desbravador de Bonito,
tendo sido também seu primeiro escrivão e tabelião. A Lei Estadual nº 693, de
11 de junho de 1915, cria inicialmente o Distrito de Paz de Bonito, com área
desmembrada do Município de Miranda e a este subordinado
administrativamente.
Foi fundada em 1927 e com a criação do território Federal de Ponta Porã,
pelo Decreto-Lei nº 5.839, de 21 de setembro de 1943, é lhe anexado como
Distrito de Paz de Miranda. Por força do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição Federal, é reintegrado ao estado de Mato
Grosso, na mesma situação de Distrito pertencente ao Município de Miranda.
Finalmente a Lei Estadual nº 145, de 2 de outubro de 1948, eleva -o a
categoria de Município, tendo por sede a cidade de Bonito. (BONITO, 2014)
194

Costa (2010) fez um estudo da origem identitária de Bonito/MS. A investigação


mostra que sua história está ligada de maneira mais distante aos índios Guaicuru, que
possuem uma grande reserva no município de Porto Murtinho.
A origem de Bonito remonta à história da cidade de Miranda, e as suas origens mais
distantes vinculam-se à história dos povos indígenas Guaicuru, como ainda ao passado
colonial luso-castelhano e à antiga vila de Miranda. As posses de terras, especificamente, a
de nome Rincão Bonito, adquiridas por Luis da Costa Falcão, ainda no século 19,
transformaram-se, anos mais tarde, no município hoje conhecido por Bonito.
Até o ano de 1948, Bonito era um distrito de Miranda, núcleo urbano significativo
desde o período colonial, mas a partir daí, começou a construir sua própria história, embora
mantivesse estreitas relações com Miranda, seu município-mãe. Hoje, Bonito é um dos
municípios sul mato-grossense que serve de apoio às regiões do Pantanal do Nabileque,
tendo também proximidade de acesso às fronteiras com o Paraguai e a Bolívia. (COSTA,
2010)
Segundo Von Behr (2001), a ocupação das terras no entorno da Serra da Bodoquena
pela população não indígena remonta aos anos de 1830, pela decadência da mineração no
norte do Mato Grosso. Já existia um povoado no entorno do presídio de Miranda, às
margens do rio de mesmo nome. Mais recentemente, com a política de ocupação dos vazios
demográficos, foi criada a Colônia Agrícola de Miranda:

Com a decadência da mineração de ouro na região norte de Mato Grosso, o s


grupos populacionais que para lá haviam seguido em busca de riquezas,
deslocam-se para o sul do estado. São estes grupos que iniciam o ciclo da
pecuária, que, de certa maneira, perdura até os dias de hoje, e a cultura da
erva-mate. As migrações de mineiros e paulistas inicialmente e, mais tarde,
dos gaúchos, efetivam a ocupação das terras mato-grossenses.
Na década de 1830, começa de fato o povoamento das terras mais próximas à
Serra da Bodoquena. Nesta época já havia moradores nos arredores do
presídio de Miranda, e em povoações que alcançavam os campos
pantaneiros. (p. 20)
(...)
Atendendo reivindicações de políticos do município de Miranda, e liderados
pelo prefeito Manoel de Pinho, o governador de Mato Grosso, Arnaldo
Estevão de Figueiredo, implantou em 1948, em terras do governo, na região
da Serra da Bodoquena, ainda no Município de Miranda, uma colônia
agrícola, em linguagem mais moderna, um assentamento, de 40 mil hectares,
localizado acerca de 250 quilômetros de Campo Grande. Os 859 lotes do
assentamento tinham 35 hectares, aproximadamente, cada um. Este projeto
foi considerado um dos atos de maior sucesso do governo Figueiredo. (p. 36).
Planejamento e análises ambientais - 195

Os municípios do Mato Grosso do Sul têm, em seu histórico econômico, o binômio


agricultura/pecuária como as principais atividades, mas Bonito/MS sempre teve como
principal atividade econômica a pecuária, e algumas poucas lavouras que não chegavam a
ser consideradas como campo lucrativo. Outra atividade econômica que se tornou
importante, sobretudo em meados da década de 1990, é o turismo, e todos os serviços
relacionados a esta atividade.
Acompanhando a discussão, Von Behr (2001) discute detalhes desse processo:

Entre a década de 1950 até os anos setenta, a pecuária foi a atividade


produtiva predominante. Após este período, a região acolheu migrantes
oriundos do Paraná, que introduziram lavouras de café nas terras mais
férteis, prejudicadas por geadas em meados dessa década. Apesar disso,
considera-se de grande importância o papel desempenhado pela cultura
cafeeira no desbravamento da região de Bodoquena.
Durante os anos oitenta, já separado do estado de Mato Grosso (1977), com a
vinda de mais migrantes do sul e de empresários paulistas, houve substancial
incremento das lavouras como o arroz, milho e soja. Esta últi ma cultura vai
substituindo, rapidamente, as outras, refletindo o que vinha acontecendo no
âmbito nacional, sobretudo nas áreas de novas fronteiras agrícolas. (p. 25).

Ainda sobre o processo de ocupação e territorialização da atividade agropecuária na


região, Costa (2010) destaca o papel da Guerra da Tríplice Aliança na ocupação dessa porção
de terras:

A Guerra do Paraguai (1864-1870) revelou aos gaúchos as potencialidades


econômicas do sul de Mato Grosso uno, como espaço semelhante às
paisagens da região sul do Brasil, sendo que muitos daqueles que retornaram
à sua província natal do Rio Grande do Sul, após a guerra, levaram a notícia
da existência de imensos campos devolutos, propícios à atividade criatória, e
grande quantidade de matas virgens, onde se encontrava a erva-mate nativa.

Para Boggiani (2013), além da ocupação dos campos com pastagem e lavoura para
processar a madeira oriunda dos desmatamentos, havia inúmeras serrarias para
beneficiamento e, ainda, o anseio, por parte dos interessados, de a região se tornar um
importante polo da mineração.

Naquela época, além da pecuária, existiam inúmeras serrarias e iniciava -se a


implantação da agricultura, com a vinda de agricultores gaúchos com
arrendamento de terras. Estes promoviam o desmatamento, pla ntavam soja e
depois devolviam a terra ao proprietário, que a transformava em pastagem.
Pairava ainda o sonho daquela região se transformar num grande polo de
mineração, principalmente pelas suas jazidas de mármore, comparadas aos
196

de Carrara. Falava-se também em jazidas de urânio, as quais tinham sido


visitadas até pelo Ministro de Minas e Energia, Shigeak Ueki. (BOGGIANI,
2013, p. 359).

Devido ao processo de ocupação de Mato Grosso do Sul, desenvolveram-se várias


atividades na região, como a pecuária, agricultura, mineração, serraria e, mais
recentemente, a atividade turística. A agricultura teve um momento de expansão no período
que compreende o final da década de 1980 até meados da década de 1990, durante o qual
entrou em crise. É somente na primeira década do século XXI que o estado volta a aumentar
sua área e consolida-se na região.
Para entender as características da economia de Bonito/MS, buscamos apoio nos
dados dos censos agropecuários do Instituto de Geografia e Estatística – IBGE, de 1960,
1970, 1975, 1985, 1995 e 2006. A intensão era possibilitar maior entendimento em relação
às principais culturas e produção no período estipulado para a análise, o que ofertou
diretamente a base de consulta para o mapeamento. Assim, estipulamos como período de
análise da pesquisa os anos de 1980 até a década atual, levando em conta o surgimento das
lavouras nesse intervalo.
A criação de gado sempre foi significativa no município, inicialmente com
predomínio de pastagem natural. Na década de 1960, a pastagem natural ocupava uma área
de aproximadamente 250.000ha, contra pouco mais de 15.000ha de pastagem plantada,
para um rebanho de aproximadamente 57.000 cabeças. De acordo com os dados do Censo
Agropecuário de 2006, esse cenário sofreu uma considerável mudança com o passar do
tempo, verificando-se uma inversão no quesito pastagem: as pastagens naturais, hoje,
somam pouco mais de 26.500ha, contra uma área de mais de 292.500ha de pastagem
plantada, e um rebanho de mais de 340.000 cabeças de gado.
Em relação às lavouras, destaca-se a grande preocupação da atualidade: o plantio
de grandes extensões de soja. A soja aparece no município em meados da década de 1980,
com pouco mais de 4.500ha e uma produção de aproximadamente 7.500 toneladas, com um
crescimento contínuo até início da década de 1990, período em que a área plantada era de
aproximadamente 20.000ha (IBGE36). Em seguida, nota-se um período de declínio que se
estende até o ano de 2002, momento em que apresenta área de 7.500ha. Quando,
novamente, inicia-se uma fase de crescimento: o ano de 2013, foi registrada uma área de

36
Banco de Dados Séries Estatísticas & Séries Históricas.
Planejamento e análises ambientais - 197

29.000ha de soja (IBGE, 2014). O milho sofreu processo semelhante, com a pequena
diferença de que o produto aparece na região já na década de 1960, segundo
levantamentos.
Outra cultura que aparece de maneira considerável na década de 1970 é o café, que
chega a 100 toneladas de produção anual, mas que em meados de 1980, perde área e na
década de 1990 desaparece das estatísticas. O mesmo ocorre com o arroz, que apresenta
índices elevados de produção na década de 1980 e início de 1990, e depois não aparece mais
nos dados.
Vale considerar que os levantamentos efetuados pelo IBGE apresentam uma
melhora significativa nos dados diminuindo o intervalo de coleta, mas uma perda no período
que se estende até o início dos anos 2000, quando os dados passam a ser fornecidos
anualmente através do site. Além do IBGE, atualmente, outros órgãos e instituições
divulgam dados sobre a produção e localização das lavouras, tornando-os mais acessíveis.
Um exemplo disso é o SIGA-WEB – Sistema Informação Geográfica do Agronegócio - MS37,
que oferece informações detalhadas das safras de diversas culturas, desde 2009.
Além disso, a qualidade das imagens de satélites gratuitas tem melhorado muito em
relação aos dados e tempo de revisita, permitindo mapeamentos temporais com mais
precisão e detalhamento. Certamente, a utilização das imagens de satélite não dispensa a
visita à área para checar os dados, ou, no caso de análises envolvendo imagens mais antigas,
a busca de material de apoio para validar as informações encontradas.
Com a finalidade de brindar novas possibilidades de pesquisa, apresentaremos a
seguir alguns dados sobre a região retirados de censos agropecuários, e que permitem uma
avaliação dessa oscilação na área de plantio de soja/milho no município de Bonito/MS.

37
O Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (SIGA), em sua versão Web, oferece aos seus usuários
acesso a diversas informações relacionadas às safras agrícolas do Mato Grosso do Sul, bem como a um acervo
de documentos e boletins técnicos publicados.
198

Tabela 1 - Dados referentes à área plantada de soja/milho e pastagem, dos censos agropecuários de 1960 a
2006 (hectares)
1960 1970 1975 1980 1985 1995 2006
Milho 372 1.143 1.321 2.216 4.634 6.482 4.200
Soja - - - 4.592 14.911 6.499 12.000
Pastagem natural 263.718 184.355 189.018 173.002 106.883 52.957 26.750
Pastagem plantada 15.344 43.069 68.164 164.207 201.812 271.496 292.679
Fonte: IBGE, 1967; IBGE, 1967; IBGE, 1975; IBGE, 1979; IBGE, 1983; IBGE, 1985; IBGE, 1997; IBGE, 2006. Org:
RIBEIRO, 2015.

Acompanhando os dados apresentados na Tabela 1, temos os gráficos (figuras 2 e 3)


que nos mostram os índices de produção de soja/milho e a quantidade de cabeças de gado,
no mesmo período. Foi necessário dividir os dados de soja/milho da quantidade de cabeças
de gado, pois a quantidade do segundo era muito elevada e mascarava os números dos
primeiros.

Figura 2 – Produção de soja e milho no período de 1960 a 2006

Se atentarmos para a Tabela 1, veremos que os dados de área ocupada refletem o


mesmo que o gráfico acima, pois, no caso da soja, a produção segue com um aumento
contínuo, e em 1995 despenca bruscamente. Logo no levantamento de 2006, a soja volta ao
patamar anterior e tende, nos dias atuais, a apresentar dados de produção ainda mais
Planejamento e análises ambientais - 199

relevantes, pois na safra 2013-14, o produto passou a ocupar uma área de mais de 30.000ha,
segundo dados do SIGA-MS38.
Devemos considerar que, se no caso das lavouras houve um período de declínio da
área plantada e de produção, no caso da pecuária o que ocorreu foi a inversão de pastagem
natural para pastagem plantada (em termos de área); mas, se somadas as duas variedades,
temos um aumento de área de aproximadamente 40.000ha, o que representa cerca de 10%
da área do município. No ano de 2006, a área total de pastagem de Bonito, ocupou
aproximadamente 320.000ha, correspondendo a mais de 60% da área do município.

Figura 3 – Quantidades de cabeças de gado, no período de 1960 a 2006

Se levarmos em conta a questão financeira, a produção agropecuária é significativa


para o município, sendo a segunda em termos de valor, correspondendo a cerca de 28% do
Produto Interno Bruto-PIB do município, perdendo apenas para o setor de serviços, que
representou pouco mais de 53% do valor total no ano de 2012, segundo dados do IBGE
(2014).
Para esta pesquisa, a representação da participação da atividade agropecuária no
PIB é significativa, pois a ideia é, primeiramente, entender a oscilação verificada na década
de 1990 em relação à área plantada, que corresponde ao período em que o turismo passou a

38
http://www.sigaweb.org/ms/sistema/consulta.php - Acesso em 01/02/2015.
200

se destacar no município, o que poderia levar à suposição de inversão de atividades.


Contudo alguns moradores do município descartam esta possibilidade, o que faz sentido
pelo fato do turismo ser uma atividade consolidada no município e a agricultura ter voltado
a ocupar grandes áreas de terras.
Com a intenção de entender esse processo e avaliar os efeitos do aumento das
áreas de cultivo no município, sobretudo para a atividade turística e para os moradores da
zona rural que vivem em pequenas propriedades e assentamentos, optamos por mapear as
áreas de lavoura, a altimetria, declividade e solos. Pretendia-se dessa maneira identificar se
existe algum padrão de localização dessas lavouras, bem como suas possíveis áreas de
expansão.
Vale ressaltar que o mapeamento da localização, feito por meio de imagens de
satélite, pode não ser de precisão elevada, tendo em vista que a resolução das imagens
utilizadas é de 30m e porque optamos por períodos nos quais a soja estava bem definida,
entre dezembro e janeiro – no caso do ano de 1987, foi necessário utilizar imagens de março
pelo fato de não haver uma imagem de qualidade no período para os meses desejados.
Apresentaremos a seguir os mapas de uso da terra dos anos 1987, 1992, 2004 e
2016 (figuras 4, 5, 6 e 7). O levantamento de dados de quatro décadas serviu para uma
análise mais ampla da localização e comportamento do uso da terra. Posteriormente, a
discussão se centrará nos resultados e nas quantificações das classes apresentadas.
Vale lembrar que este trabalho tem foco na apresentação de um mapeamento de
dados obtidos com o auxílio de imagens de satélite e dados fornecidos por fontes oficiais.
Planejamento e análises ambientais - 201

Figura 4 – Mapa de uso e ocupação da terra do município de Bonito/MS, no ano de 1987

Figura 5 – Mapa de uso e ocupação da terra do município de Bonito/MS, no ano de 1992


202

Figura 6 – Mapa de uso e ocupação da terra do município de Bonito/MS, no ano de 2004

Figura 7 – Mapa de uso e ocupação da terra do município de Bonito/MS, no ano de 2016


Planejamento e análises ambientais - 203

A apresentação dos mapas, de maneira geral, ilustra quatro décadas do uso da terra
no município de Bonito/MS, e nos permite analisar um padrão de localização das lavouras e
sua evolução, sempre margeando o corpo principal da Serra da Bodoquena. Como nos dados
do IBGE (1997), a oscilação na área de plantio se deu na década de 1990, coincidindo com o
período em que a atividade turística teve grande desenvolvimento, mas, segundo
informações levantadas durante a pesquisa, este fato não foi determinante para diminuição
das áreas de lavoura, mas foram as políticas econômicas que fizeram do plantio uma
atividade econômica menos lucrativa que as demais.

Tabela 2 – Quantitativo de área das classes de uso da terra em Bonito/MS, no período de 1987 a 2016

Classe 1987 1992 2004 2016


Agricultura 12.116,97 10.077,48 9.883,26 32.797,43
Pastagem 98.773,65 152.549,28 132.735,90 220.708,08
Solo exposto 100.338,30 71.846,19 58.636,44 16.189,00
Água 1.594,89 1.746,32 1.497,51 1.386,08
Mata 103.926,96 164.012,58 154.446,12 160.386,15
Campo Sujo 176.600,34 93.262,90 136.217,34 38.616,68
Fonte: RIBEIRO, 2017.

Em termos de área, algumas classes são significativas, como é o caso da pastagem,


que no ano de 2016, representou um valor superior a 50% da área do município, como nos
mostra o gráfico a seguir (Figura 8).

Figura 86 – Gráfico do percentual das classes em relação à área do município

Fonte: RIBEIRO, 2017.


204

Algo que podemos aferir a partir dos mapas de uso da terra e das porcentagens de
participação de cada classe na área do município é a diminuição das áreas correspondentes
às matas, se considerarmos a classe campo sujo como um tipo de mata menos densa e
também as áreas de pastagem natural, que possuem vegetação abundante. No ano de 1987,
se somadas as classes mata e campo sujo, tínhamos cerca de 280.000ha, área que caiu, no
ano de 2016, para aproximadamente 200.000ha, fato corroborado apenas por meio da
observação dos mapas.
Outro fato interessante a ser observado é que o único fragmento de mata contínuo
é a área do Parque Nacional da Serra da Bodoquena - PNSBd. Mesmo o parque tendo sido
criado no ano de 2000, esta faixa de vegetação permaneceu razoavelmente conservada.
Nota-se, em alguns pontos, tentativas de desmatamentos, mas com a criação do parque, a
área fica preservada e os locais desmatados tendem a ser recuperados.
Como mencionado anteriormente, a localização das lavouras segue o mesmo
padrão desde a década de 1980, com um eixo de expansão sempre margeando a serra no
fragmento sul do PNSBd e subindo na direção norte, com destino à Bodoquena e à Baía das
Garças.

CONSIDERAÇÕES

O Planalto da Bodoquena, onde o município de Bonito está inserido, é uma área de


intensa movimentação turística. A região é marcada por uma beleza cênica inquestionável,
rios de águas límpidas, cavernas e paisagens valorizadas pelo mercado turístico, bem como
pela mineração e, mais recentemente, pelo agronegócio.
Na década de 1990, quando a agricultura sofreu um declínio, o turismo estava
engatinhando na região e houve episódios, como o turvamento da água dos rios, que
geraram revolta entre os ambientalistas. Esta revolta ocorreu no mesmo período em que foi
feito o primeiro curso de guias de turismo em Bonito, quando se discutia o modelo de
turismo que seria implantado no município.
Atualmente, a discussão voltou com muita força, e com os mesmos problemas do
passado – pelo menos os visíveis, como o turvamento da água dos rios. No entanto, hoje, o
embate entre agricultores e ambientalistas se dá de maneira muito mais qualificada. Se de
Planejamento e análises ambientais - 205

um lado, os agricultores têm ainda muito poder econômico e político, de outro, os


ambientalistas, guias e empreendedores do turismo estão muito mais capacitados para a
discussão.
Nesse bojo surge este trabalho, que de maneira técnica procura mostrar pontos
onde esta prática está acontecendo. É obvio que a causa do problema pode ser muito mais
complexa, mas entendemos que a identificação das áreas ocupadas pelas lavouras e os
cursos d’água representa um passo importante para que o poder público aja de maneira
eficaz. Lembramos que tanto o setor agrícola como o turismo são importantes na geração de
renda e emprego para o município, mas dependem de regulação para que nenhuma destas
atividades prejudique os elementos ímpares existentes na área.
Outro fato que cabe ressalva é sobre a área ainda preservada do PNSBd. Não
podemos esquecer que as matas locais são de difícil acesso e com afloramentos rochosos
intensos, fato que explica tamanha preservação em um local altamente explorado. A
vegetação desta área é representante da zona de transição entre a Mata Atlântica e o
Cerrado, além de sua formação ser rica em calcário, formando paisagens belíssimas e rios de
águas cristalinas (BOGGIANI, 2011).
Finalmente, a aplicação de geotecnologias na avaliação do uso e ocupação das
terras do município de Bonito/MS se mostrou eficaz na identificação dos pontos de
expansão de lavouras de soja/milho, e pode ser de grande relevância para o Poder Público
na intervenção em áreas de uso inadequado do solo, que têm gerado o turvamento e a
irregularidade no volume das águas nos cursos d’água do município.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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