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Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 1

Organizadoras

Norma Regina Truppel Constantino


Karla Garcia Biernath
Karina Andrade Mattos

2ª Edição

ANAP
Tupã/SP
2021
2

EDITORA

ANAP - Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista


Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Cidade de Tupã, São Paulo. CEP 17.605-310.
Contato: (14) 3441-4945
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Revisão Ortográfica: Joselilian Lopes Miralha; Smirna Cavalheiro

Ficha Catalográfica

C758e Espaços livres de uso público na cidade contemporânea / Norma


Regina Truppel Constantino, Karla Garcia Biernath e Karina Andrade
Mattos (orgs). 2. ed. – Tupã: ANAP, 2021.
141 p; il. Color. 14,5 cm

Requisitos do Sistema: Adobe Acrobat Reader


ISBN 978-65-86753-50-9

1. Paisagem 2. Projetos de Intervenções 3. Sustentabilidade


I. Título.

CDD: 710
CDU: 710/49

Índice para catálogo sistemático


Brasil: Planejamento urbano e paisagismo
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 3

CONSELHO DE PARECERISTAS

Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE


Prof. Dr. André de Souza Silva - UNISINOS
Profª Drª Angélica Góis Morales – FCE/UNESP
Prof. Dr. Antônio Cezar Leal – FCT/UNESP
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM
Prof. Dr. Antonio Fluminhan Jr. – UNOESTE
Prof. Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto – UFMS
Prof. Dr. Daniel Dantas Moreira Gomes – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Daniela de Souza Onça – UDESC
Prof. Dr. Edson Luís Piroli – UNESP – Campus de Ourinhos
Profª Drª Eloisa Carvalho de Araujo - UFF
Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCar
Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UFMS
Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia– FCT/UNESP
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto – UEA / CEST
Prof. Dr. Joao Osvaldo Rodrigues Nunes– FCT/UNESP
Prof. Dr. José Carlos Ugeda Júnior – UFMS
Prof. Dr. Junior Ruiz Garcia – UFPR
Profª Drª Jureth Couto Lemos – UFU
Profª Drª Kênia Rezende – UFU
Prof. Dr. Luciano da Fonseca Lins – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Maira Celeiro Caple – Universidade de Havana – Cuba
Profª Drª Marcia Eliane Silva Carvalho – UFS
Prof. Dr. Marcos Reigota – Universidade de Sorocaba
Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG
Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA
Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP
Prof. Dr. Pedro Fernando Cataneo – FCE/UNESP
Prof. Dr. Rafael Montanhini Soares de Oliveira – UTFPR
Profª Drª Regina Célia de Castro Pereira – UEMA
Profª Drª Renata Ribeiro de Araújo – FCT/UNESP
Prof. Dr. Ricardo Augusto Felício – USP
4

Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UNICAMP


Profª Drª Roberta Medeiros de Souza – UFRPE – Campus Garanhuns
Prof. Dr. Roberto Rodrigues de Souza – UFS
Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – Unifal
Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD
Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araújo – UFMA
Profª Drª Rosa Maria Barilli Nogueira – UNOESTE
Profª Drª Simone Valaski – Universidade Federal do Paraná
Profª Drª Silvia Cantoia – UFMT – Campus Cuiabá
Profª Drª Sônia Maria Marchiorato Carneiro – UFPR
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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ........................................................................ 07
Norma Regina Truppel Constantino
Karla Garcia Biernath
Karina Andrade Mattos

Capítulo 1 ................................................................................... 13

OS PADRÕES URBANÍSTICOS DE PRODUÇÃO E GESTÃO DAS


CIDADES E SUAS (DES)CONEXÕES COM OS
ESPAÇOS LIVRES URBANOS
Karina Andrade Mattos
Norma Regina Truppel Constantino

Capítulo 2 ................................................................................... 35

O CARÁTER MULTIFUNCIONAL DAS CIDADES VERDES: QUESTÕES


PARA UM DEBATE
Eloisa Carvalho de Araujo
Natália Fernandes Ribeiro

Capítulo 3 ................................................................................... 55

ESTUDOS DE TRANSFORMAÇÕES DA PAISAGEM E SEUS IMPACTOS


NAS ÁGUAS URBANAS
Fernanda Moço Foloni
Norma R. T. Constantino
6

Capítulo 4 ................................................................................... 79

CONTRIBUIÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES DE ESPAÇOS PÚBLICOS


NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS CIDADES: O CASO DO
PARQUE POTYCABANA, EM TERESINA PIAUÍ
Lara Citó Lopes
Wilza Gomes Reis Lopes
Letícia Soares Daniel
Diego Ribeiro Fontenele

Capítulo 5 ................................................................................... 99

PARQUE DO POVO: LEVANTAMENTO QUANTIQUALITATIVO DA


INFRAESTRUTURA E LAZER
Talita Batista dos Santos
Milena de Moura Regis
Ana Paula do Nascimento Lamano Ferreira

Capítulo 6 ................................................................................... 113

AVALIAÇÃO DAS INFRAESTRUTURAS DAS PRAÇAS CENTRAIS DA


CIDADE DE CAMPO MOURÃO – PR
Tatiane Monteiro Re
Marcos Clair Bovo

Capítulo 7 ................................................................................... 127

PARQUE DO CARMO: INFRAESTRUTURA E PERCEPÇÃO DE


FREQUENTADORES NA CIDADE DE SÃO PAULO
Milena de Moura Régis
Fabio Arivabene de Oliveira
Ana Paula Branco do Nascimento
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APRESENTAÇÃO

Os trabalhos apresentados neste livro oferecem um panorama


acerca dos espaços livres públicos e sua relação com a cidade e o
meio ambiente.
No primeiro capítulo, Karina Andrade Mattos e Norma Regina
Truppel Constantino, analisam a produção e a gestão dos espaços
livres públicos na atualidade, apresentando diversos modelos de
produção adotados em alguns centros urbanos brasileiros e
elencando a importância destes espaços na vida das cidades. São
locais que atendem demandas de circulação, recreação, lazer,
relaxamento, conservação ambiental, assim como, possibilitam
manifestações políticas e proporcionam memórias afetivas. Com
diversas funções, estes espaços tornam-se cada vez mais importantes
para a vida cotidiana das cidades, mas que infelizmente em muitos
casos, devido às descontinuidades das políticas públicas, falta de
planejamento ou até mesmo falta de investimentos, geram espaços
sem qualidade para a população. Este trabalho, chama a atenção
para que sejam tomadas novas posturas administrativas e projetuais
por parte dos gestores públicos, que exige estudos, conhecimentos e
sensibilidade, levando em conta as relações entre o homem e a
natureza, assim como as especificidades econômicas, climáticas,
históricas e culturais de cada local.
Em relação às cidades verdes, Eloisa Carvalho de Araujo e
Natália Fernandes Ribeiro apresentam um panorama das ações
estratégicas de infraestrutura verde promovidas em âmbito nacional.
Nesse contexto, destaca-se a cidade de Curitiba, que possui um alto
desempenho exercido no tocante às questões ambientais. Adotou-se
a Ecologia da paisagem, como metodologia de trabalho, como uma
visão integradora da paisagem que envolve unidades interativas. A
área do presente estudo tem como recorte espacial a cidade do Rio
de Janeiro, especialmente a zona oeste, e reflete a importância de
8

promover a qualidade dos rios urbanos e a implantação de


corredores verdes. O trabalho gera a reflexão sobre a importância do
planejamento urbano ambiental das cidades assim como a
valorização da infraestrutura verde incorporando valores culturais,
sociais e ambientais.
No tocante à águas urbanas, Fernanda Moço Foloni e Norma
Regina Truppel Constantino analisam diversos estudos de caso sobre
revitalização de rios urbanos e ocorrências de enchentes em diversas
cidades brasileiras. Estes estudos foram relacionados pelas autoras,
destacando seus problemas, bem como as respectivas soluções
apresentadas em cada cidade e suas bacias hidrográficas. Assim, com
os dados organizados foram apresentadas as maiores ocorrências em
relação aos problemas urbanos; as medidas mais indicadas para
sanar as ocorrências; além da classificação acerca das propostas
apresentadas: quantas correspondem às medidas estruturais (como
tratamento de efluentes, pavimentação permeável e renaturalização
de corpos d'água) e às medidas não estruturais (como
reassentamentos, desapropriação de várzeas, programas de
educação ambiental e legislação tais como planos diretores e leis de
uso e ocupação de solo). Em relação aos problemas mais recorrentes
estão as enchentes, ocupação da área de várzea e despejo de
efluentes. E em relação às medidas saneadoras, destacam-se a
criação de áreas de lazer e parques lineares, captação de água de
enchentes/pluvial, recuperação de mata ciliar, reflorestamento e
implantação de corredores verdes. As autoras destacam que na
maioria dos casos as medidas apontadas para recuperação das águas
urbanas apoiam-se no conceito de Infraestrutura Verde através de
propostas que objetivam a recuperação do meio ambiente e a busca
pela sustentabilidade das cidades e bem-estar da população.
Salienta-se também, a utilização em conjunto de medidas estruturais
e não-estruturais, determinante para as novas expansões urbanas
como garantia da qualidade de vida da população.
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O quarto trabalho, de autoria de Lara Citó Lopes, Wilza Gomes


Reis Lopes, Letícia Soares Daniel e Diego Ribeiro Fontenele,
apresenta como objeto de estudo o Parque Potycabana em Teresina-
PI. Criado há mais de 20 anos, ficou fechado por 5 anos, sendo
reinaugurado em 2013. Os autores observaram os usos da população
e a ocorrência de interferências destes usos após a modificação do
espaço, analisando também, se após a reinauguração, o parque
contribuiu para a urbanidade da cidade, cumprindo sua função social,
influenciado pelo desenvolvimento sustentável. Após a observação
dos usos locais, os autores destacaram que o parque, embora
necessite de algumas ações voltadas ao aspecto da sustentabilidade
urbana, como coleta de lixo, reuso de água, uso de energia
sustentável, maior disposição de áreas permeáveis e maior variedade
de espécies arbóreas, cumpre sua função social, uma vez que é
frequentemente utilizado pela população, que necessitava deste tipo
de espaço, além de fazer parte da identidade da cidade.
Ainda em relação aos parques públicos, Talita Batista dos
Santos, Milena de Moura Regis e Ana Paula do Nascimento Lamano
Ferreira, realizaram o levantamento da infraestrutura do Parque
Mario Pimenta Camargo, popularmente conhecido como Parque do
Povo, de grande importância socioambiental para a cidade de São
Paulo. As autoras destacam a importância do planejamento dos
espaços públicos, visto que o desenvolvimento urbano não planejado
contribui para o desequilíbrio ambiental e afeta a qualidade de vida
de seus habitantes. Ao identificar os equipamentos presentes no
local, as autoras apontam que o parque possui quantidade e
qualidade referente à iluminação, quadras poliesportivas com
marcação especial para esportes paraolímpicos, campo gramado para
futebol, pista de skate, pista para caminhada/corrida, playgrounds,
academias ao ar livre e bebedouros adaptados para deficientes e
animais.
10

A praça é um dos principais elementos que compõe o espaço


público. Nesse sentido, os autores Tatiane Monteiro Re e Marcos
Clair Bovo buscam entender a praça como um elemento estruturador
do espaço urbano, devido à diversidade de suas funções: estética,
ecológica, paisagística, climática, psicológica e recreativa. Escolhidas
como objeto de estudo, destacam-se duas praças da área central da
cidade de Campo Mourão – PR, a Praça São José e a Praça Getúlio
Vargas, administradas por entidades religiosas e pelo Poder Público
Municipal que atuam na sua manutenção e conservação. Os autores
apontam que ambas as praças desempenham as funções estética,
ambiental e social, visto que as estruturas presentes possibilitam o
convívio e a integração de pessoas de níveis sociais, culturais,
econômicos e idades diferentes. Por fim, os autores sugerem a
instalação de parque infantil, uma vez que não foram encontradas
atividades de lazer gratuitas na cidade, assim como a instalação de
um módulo policial e alguns pontos de água (bebedouros) para os
usuários.
No sétimo capítulo os autores Milena de Moura Régis, Fabio
Arrivabene de Oliveira e Ana Paula B. do Nascimento analisam a
infraestrutura existente no Parque do Carmo, inaugurado em 1976
em São Paulo-SP, onde estão presentes o Museu do meio Ambiente,
um anfiteatro, o Monumento à Imigração Japonesa, o Viveiro Arthur
Etzel e o Bosque de Leitura. Para investigar a percepção dos
frequentadores sobre a infraestrutura disponível foram realizadas
entrevistas utilizando critérios que levaram em conta a qualidade e a
quantidade dos equipamentos (1406 elementos), além do seu estado
de conservação. A diversidade de equipamentos e a qualidade da
infraestrutura disponíveis revelaram que o espaço possibilita a
realização de práticas de lazer para as diferentes faixas etárias, além
de proporcionar a interação ambiental e social. O principal ponto
positivo levantado foi a qualidade das áreas verdes. No entanto,
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foram avaliados negativamente quanto à falta de manutenção, os


banheiros, bebedouros, bancos e os brinquedos do playground.
Neste sentido, esperamos contribuir para que novos estudos e
pesquisas sejam elaborados sobre os espaços livres de uso público no
intuito de que, quanto melhor possa ser apropriado, reconhecendo o
potencial do lugar, maior será sua aceitação social e por mais tempo
será mantida sua identidade na cidade contemporânea.

Boa Leitura!

Norma Regina Truppel Constantino


Karla Garcia Biernath
Karina Andrade Mattos

.
12
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 13

Capítulo 1

OS PADRÕES URBANÍSTICOS DE PRODUÇÃO E GESTÃO DAS


CIDADES E SUAS (DES)CONEXÕES COM OS
ESPAÇOS LIVRES URBANOS

Karina Andrade Mattos1


Norma Regina Truppel Constantino2

1 INTRODUÇÃO

Muitos são os benefícios ambientais e socioculturais


associados à criação e manutenção de espaços livres urbanos.
Constituídos por ruas, praças, parques, pátios, quintais, jardins, lotes
vagos, estacionamentos descobertos, áreas verdes, orlas, rios e
represas, os espaços livres formam um importante sistema urbano,
que junto com outros sistemas, tecem relações de conectividade e
complementaridade fundamentais a vida pública.
Elemento da forma urbana, os espaços livres exercem – em
função de sua forma, volume, distribuição e tamanho – inúmeras
influências sobre o funcionamento das cidades e o comportamento
humano, pois garantem áreas de preservação ambiental, de lazer e
convívio social, além de atender as necessidades básicas urbanas de
circulação, drenagem, conforto e segurança.

1
Mestranda e bolsista Capes/PROPG UNESP, Universidade Estadual Paulista – PPGARQ Unesp -
Bauru. E-mail: karina_amattos@hotmail.com
2
Professora Doutora, Universidade Estadual Paulista – PPGARQ Unesp - Bauru. E-mail:
nconst@faac.unesp.br
14

Contudo, o que se vê atualmente em algumas cidades


brasileiras é um conjunto de espaços livres precários e
desconectados de seu entorno edificado – as calçadas são estreitas e,
na maioria das vezes, estão em péssimo estado de conservação; nas
ruas e avenidas, carros e caminhões formam congestionamentos
quilométricos, levando caos e desordem para as principais vias da
cidade; os parques e praças sem manutenção se tornam locais hostis
e perigosos; a arborização urbana é deficiente em praticamente
todos os pontos da cidade; terrenos vazios e abandonados tornam os
locais insalubres e propensos a doenças e contaminações. O sistema
de espaços livres sofre com as descontinuidades políticas e a má
distribuição de terra e de renda.
Dessa forma, discutir os padrões urbanísticos de produção e
gestão das cidades torna-se, em primeira instância, imprescindível
para o entendimento e a análise dos espaços livres, principalmente
em função das questões culturais, econômicas e urbanísticas que
regem as relações entre o Estado e o mercado imobiliário. Elemento
indutor dos projetos urbanos, o sistema de espaços livres públicos
deve anteceder a formação das construções urbanas por meio de
uma prévia definição conceitual e formal, considerando, sobretudo,
as especificidades socioambientais de cada local, diferente do que
ocorre em grande parte das cidades atualmente. Hoje, as novas
dinâmicas de produção do espaço urbano baseiam-se,
principalmente, em ações de cunho econômico e político. Assim, na
tentativa de mudar tal conjuntura, acredita-se que as formulações
conceituais da paisagem são fundamentais para a inserção e a
estruturação dessas áreas no meio urbano.
Os intensos e acelerados processos de urbanização das últimas
décadas fez com que os espaços livres recebessem ações e
intervenções temporárias ou emergenciais, sem uma proposta
urbanística de fato. A falta de planejamento continua a contribuir até
hoje para que os espaços livres permaneçam desqualificados e pouco
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 15

valorizados. Embora sejam muitas as ações voltadas à tentativa de


qualificação de tais espaços, a desarticulação e a sobreposição de
funções públicas ainda dificultam a produção e a gestão dessas
ações. A qualidade de vida urbana e social está diretamente atrelada
aos fatores reunidos na infraestrutura e no desenvolvimento
sociocultural, econômico e ambiental. Portanto, é preciso responder
positivamente às necessidades dos cidadãos por meio de políticas
públicas integradas, que garantam projetos e medidas de qualidade.
O objetivo deste artigo é apresentar e analisar, por meio de um
levantamento bibliográfico, algumas das formas vigentes de
produção e gestão dos espaços livres urbanos e a relação de tais
espaços com a cidade. É fundamental entender os sistemas de
espaços livres, seus padrões espaciais e seu papel na estruturação e
transformação da paisagem, apreender as ações administrativas e
enfatizar a importância de novas medidas, a fim de se nortear futuras
intervenções e promover a articulação entre pesquisadores, políticos,
projetistas e usuários.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 CONCEITOS, FORMAS E FUNÇÕES DOS ESPAÇOS LIVRES

As formulações conceituais da paisagem constituem uma base


referencial fundamental para a contextualização das funções, das
formas e da distribuição dos espaços livres. Resultante de processos
socioculturais e naturais do homem sobre um território, a morfologia
da paisagem se dá em função da integração entre os sistemas
geológicos, climáticos e antropológicos (LEITE, 1996; MACEDO, 2012;
MAGNOLI, 2006) (Figura 1). Processo histórico de representação das
relações, tais sistemas atribuem sobre a paisagem dimensões
morfológicas, funcionais, espaciais e simbólicas (SCHLEE et al., 2009)
que contribuem e afetam diretamente o processo de construção e
16

desenvolvimento das cidades. Os conceitos contemporâneos da


paisagem partem diretamente do referencial Homem e Natureza,
assim, são poucas as paisagens que não tem, nos dias atuais, a
intervenção do homem, ainda que a forma e a representação de tal
ação sejam diversas. Segundo Magalhães (2007, p. 106), “a essência
do objecto deixou de ser ele próprio, mas aquilo que ele revela a
quem o souber interpretar, o que exige uma descodificação de sinais
para que, aquilo que não é visível, seja identificado”. Nessa acepção,
Seel (2011, p. 407) interpreta a paisagem como “a realidade de vida
do homem modelada pela natureza estética”. Portanto,
compreender as apropriações, as representações e os conflitos entre
o homem e a natureza, enquanto constituição de uma paisagem
torna-se fundamental para a análise de qualquer elemento da forma
urbana da atualidade.
Entender a cidade através da lógica das referências da paisagem que
apontam os elementos e os espaços que a conformam, seria também
uma maneira de legitimar um conceito de cidade mais baseada nas
próprias diretrizes paisagísticas que a estruturam, através de seus
marcos urbanos e territoriais, e que constituem a principal estética
de sua própria paisagem. (SEGUÍ, 1996, p. 61, tradução nossa).

Figura 1 - A integração de sistemas geológicos, climáticos e


antropológicos na paisagem de Bauru, SP

Fonte: CONSTANTINO, 2016.


Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 17

Dentro da paisagem urbana, as ações físicas do homem se


moldam por meio dos espaços edificados e espaços não edificados.
Segundo Magnoli (2006, p.179), “o espaço livre é todo espaço não
ocupado por um volume edificado”. Para Macedo (2012), a paisagem
urbana apresenta elementos característicos que se articulam, dando
forma, dessa maneira, às cidades (Figura 2). Assim, a base de toda
essa estrutura se dá pelo “suporte físico”, representado
principalmente pelos elementos naturais, como relevo e água. As
características físicas de cada local são conformadas pelos “volumes
urbanos” constituídos pelos elementos construídos, como prédios, e
elementos plantados, como árvores e arbustos. Representados por
parques, praças, ruas, quintais, terrenos vazios, entre outros, os
“espaços livres de edificação” constituem-se nos espaços abertos,
livres de edificações ou coberturas, nos quais as ações urbanas
acontecem.

Figura 2 - A paisagem urbana de Bauru – SP e seus elementos característicos

Fonte: CONSTANTINO, 2016.


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Geralmente associados à função de lazer, por meio das praças,


parques e jardins, os espaços livres das cidades devem ser
compreendidos de acordo com suas diversas funções, além das ações
e das necessidades do homem urbano (MAZZEI; COLESANTI; SANTOS,
2007). Com funções ambientais, ecológicas, estéticas, sociais,
culturais, de lazer, de mobilidade, dentre outras, o conjunto
organizado destes espaços, de domínio público ou privado,
distribuídos qualiquantitativamente no tecido urbano, constitui um
sistema de espaços livres urbanos (Figura 3). Segundo Loboda e De
Angelis (2005) os espaços verdes são os espaços livres dotados
predominantemente de vegetação. Dessa forma, pode-se afirmar
que as áreas verdes constituem um subsistema do sistema de
espaços livres.

Figura 3: Sistema de espaços livres urbanos e suas diversas funções em Curitiba, PR

Fonte: MATTOS, 2014.


Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 19

Fundamental ao desempenho da vida cotidiana e a


constituição da esfera de vida pública e privada, o sistema de espaços
livres está em constante processo de transformação e adequação às
novas exigências urbanas e sociais.
Apreender os aspectos e as funções que caracterizam os
espaços livres é imprescindível para o entendimento da relação entre
esses locais e a cidade. O usar, o ver e o sentir do indivíduo sobre o
espaço tornam-se fundamentais para a tomada de consciência de
cada local. Segundo Holanda (2007, p. 117), é importante entender
as “implicações dos lugares enquanto arquitetura, como ela nos afeta
de várias maneiras” e qual a sua pluralidade de desempenhos. Cada
aspecto, segundo o autor, implica em uma estrutura de relações
entre os atributos da forma-espaço e as expectativas humanas. Dado
isso, pode-se afirmar que o espaço livre urbano, assim como a
arquitetura, “é lugar usufruído como meio de satisfação de
expectativas funcionais, bioclimáticas, econômicas, sociológicas,
topoceptivas, afetivas, simbólicas e estéticas, em função de valores
que podem ser universais, grupais ou individuais.” (HOLANDA, 2007,
p. 117-118).
Quanto à configuração física e material das áreas livres, pode-
se afirmar que a forma, embora vaga e variável, está diretamente
associada à distribuição dos edifícios e dos espaços livres já
existentes, e segue, preferencialmente, os interesses políticos e
econômicos vinculados diretamente ao setor imobiliário em
detrimento as necessidades ambientais e ecológicas do meio.
20

O espaço livre na metrópole brasileira é comumente predeterminado


a partir do processo de loteamento quando são especificadas e
destinadas as áreas para as ruas e demais espaços públicos. A
composição dos elementos edificados pode definir as características
formais do espaço livre; no entanto, sua qualificação também deverá
ser dada pelo seu desenho/projeto e pela manutenção adequada.
(QUEIROGA, 2011, p. 29)

A (des)qualificação do meio urbano está diretamente


relacionada às configurações físicas do espaço livre. Portanto,
compreender as (des)conexões de tais espaços com a cidade e seus
elementos, bem como sua multifuncionalidade e inter-relações,
torna-se fundamental para o desenvolvimento de ações bem
planejadas.

2.2 O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES E A CIDADE

As discussões sobre os sistemas de espaços livres públicos vem


se tornando, desde as últimas décadas do século XX, temática
obrigatória tanto nos meios acadêmicos, quanto nas áreas de
planejamento e gestão urbana. Processados e apropriados pela
sociedade, os espaços livres urbanos, planejados ou não, formam um
tecido que representa uma grande porcentagem do solo das cidades
brasileiras (Figura 4).
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 21

Figura 4 - Os espaços livres urbanos de Ouro Preto, MG

Fonte: MATTOS, 2010.

Elemento de conexão e onde ocorre a maioria das ações


cotidianas da sociedade, os espaços livres urbanos ainda são vistos
como “estruturas independentes do seu entorno edificado, bolsões
de alívio dos males da urbanização ou, o que é ainda mais frequente,
como territórios perigosos e hostis ao desenvolvimento de diversas e
desejáveis formas de sociabilidade (...)” (LEITE, 2011, p. 159). A falta
de segurança e de atuação do poder público em ações de
participação popular fez com que a renúncia aos espaços livres
públicos pelas camadas sociais só aumentasse, principalmente
durante as últimas décadas do século XX. A paisagem fragmentada e
desorganizada fez com que fossem mais valorizados os espaços
privados, enquanto os espaços públicos tornaram-se cada vez mais
abandonados e deteriorados, apesar da mudança de pensamento
que começa a se instaurar sobre a população em relação a esses
espaços. É nos espaços livres que a vida pública tem sua maior
22

estrutura, constituídos por locais de acessibilidade, diversidade e


pluralidade (QUEIROGA, 2011).
Para Leite (2011), a visão social de que os espaços públicos
deveriam promovem a socialização e o encontro das pessoas, assim
como as áreas verdes deveriam contribuir para sua estruturação, não
foi capaz de alterar a organização física deficiente e o descaso pelos
espaços coletivos.
A forma de perceber, interpretar e intervir na paisagem, entre
moradores e poder público ainda revela-se oposta. Segundo Leite
(1996, p. 11), enquanto os moradores utilizam-se de uma percepção
e interpretação baseada na realidade cotidiana e suas características
de natureza cultural e simbólica, o poder público apoia-se em uma
visão de planejamento urbano baseado em uma operação padrão
que trata o espaço como um local “vazio”, “autoreprodutível” e
“monofuncional”.
O trabalho de profissionais que atuam na arquitetura e no
paisagismo também tem se limitado aos espaços que, pelos códigos e
leis, são definidos como espaços necessários e obrigatórios, como os
recuos de frente, lateral e de fundo das edificações. Além disso,
planejadores e gestores têm trabalhado na escala pontual de seus
projetos, sem considerar e mensurar os impactos e as consequências
do mesmo sobre o entorno, a cidade e a população (SPIRN, 1995).
A distribuição, a apropriação e o tratamento dos espaços livres
urbanos, bem como sua relação com os elementos construídos, estão
diretamente relacionados, segundo Schlee et al. (2009), aos conflitos
e contradições provenientes das imparcialidades presentes na
distribuição de terra e de renda, tanto no meio urbano quanto no
rural (Figura 5 e Figura 6). A diversidade cultural da sociedade
brasileira reflete diretamente na diversidade paisagística das cidades.
Nesse contexto, os espaços livres expressam os diversos aspectos
culturais e sociais, sejam eles regionais ou locais. Portanto,
compreender as características regionais torna-se fundamental para
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 23

a produção e organização de mudanças no planejamento dessas


áreas livres.

Figura 5 - A apropriação e o tratamento de um espaço livre em Botucatu, SP

Fonte: CONSTANTINO, 2013.

Figura 6 - A apropriação e o tratamento de um espaço livre em Belém, PA

Fonte: CONSTANTINO, 2014.


24

A cidade é um conjunto de elementos, sistemas e funções que


se associam. Dessa maneira, além de compreender as diversidades
sociais, o sistema de espaços livres urbanos apresenta uma complexa
inter-relação com outros sistemas urbanos, que juntos, podem
compor relações de conectividade e complementaridade com a
“preservação, a conservação e a requalificação ambientais, a
circulação e a drenagem urbana, as atividades de lazer, o imaginário,
a memória e o convívio” (LEITE, 2011, p. 159) (Figura 7).

Figura 7- A inter-relação de sistemas no Parque Barigui em Curitiba, PR

Fonte: MATTOS, 2011.

Tal interconectividade permite inúmeras práticas de relevância


cultural e social associadas ao sistema de espaços livres e voltadas
para o uso da população. A realização de festas populares, o uso para
manifestações políticas e sociais, assim como a presença de
elementos culturais destaca a diversidade desses elementos urbanos.
De acordo com Queiroga (2011, p. 28), “não há um tipo único ou
ideal de sistema, pois cada lugar urbano possui características
específicas de formação histórica, características socioeconômicas e
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 25

de relacionamento com o suporte biofísico”. Dessa forma, uma


abordagem integrada entre projeto, política social e gestão torna-se
fundamental tanto para a criação, quanto para a manutenção de
espaços livres públicos de sucesso.
Como se observa, são inúmeras as ações e conexões dos
espaços livres urbanos com a cidade e seus elementos. Contudo,
espera-se muito de um elemento que pouca atenção recebe de seus
usuários e gestores, como afirma Magnoli (2006, p. 181):

No desenho urbano os espaços são aqueles definidos pelo sistema


viário e por uma reserva de outro espaço livre, devidamente
classificado em ‘de recreação’ ou ‘área verde’ que se define por uma
porcentagem. Nas principais avenidas se espera estar entre
‘boulevards copados’ desde que as árvores se plantadas e mantidas
cresçam sobre um solo composto de tubulações diversas da
infraestrutura. É preciso que se saiba o que realmente se quer e se
pode ter. Exige-se a criação de topoclimas em locais de maior uso, a
diminuição de índices de ruído, a correção de erros de intervenção
no relevo, a garantia de limpeza das águas, a capacidade de atuarem
como focos de promoção social; o atendimento a níveis e graus de
recreação os mais diversos. A um equipamento raríssimo se fazem
exigências funcionais intensas e extensas independente de
desacertos no uso do solo e de qualquer política de espaços livres.
(MAGNOLI, 2006, p.181).

2.3 A PRODUÇÃO E A GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES URBANOS

Apesar do crescimento das ações voltadas para os espaços


livres urbanos nos últimos anos, ao analisar esses espaços em
algumas cidades brasileiras, é possível observar e compreender um
amplo quadro de problemas relacionados à produção e a gestão
pública de tais locais, como a descontinuidade administrativa e a falta
de inserção em planejamentos mais integrados. O não
desenvolvimento de uma prática de projetos para espaços livres
deve-se, prioritariamente, à permanência de um pensamento de
gestão centrada nas características socioeconômicas das cidades,
26

postergando a dependência desses elementos urbanos a segundo


plano - ainda que tais espaços sejam fundamentais para preservação
de desastres ambientais, como alagamentos e deslizamentos, e para
a qualidade de vida do meio e de seus usuários.
Para Pellegrino et al. (2006), estes espaços devem ser
entendidos como parte da infraestrutura urbana e não considerados
apenas em função de seus valores estéticos. As áreas livres urbanas
podem exercer várias outras funções, como conectar fragmentos de
vegetação; oferecer melhorias microclimáticas; garantir suporte
social por meio de usos relacionados à moradia, trabalho, educação e
lazer, além de acomodar as funções de outras infraestruturas
urbanas. Torna-se necessário, nos trabalhos de planejamento
ambiental, considerar seus aspectos teóricos e metodológicos.
A sucessão de cortes administrativos, dentro dessa concepção,
tem consolidado, principalmente, as práticas de recreação e lazer do
conjunto de espaços livres, buscando, eventualmente, a preservação
de recursos e a qualificação do ambiente urbano. Segundo Leite
(2011),

Da mesma maneira que o viário avança sobre os espaços públicos da


cidade, a expansão urbana avança sobre sua zona de proteção
ambiental, fazendo que se percam recursos preciosos e importantes
para a manutenção do equilíbrio cidade/natureza, daí decorrendo
todo tipo de catástrofe. (LEITE, 2011, p. 172).

A grande quantidade de produtores e gestores dos


espaços, bem como a desarticulação e sobreposição de funções
públicas, dificulta a administração e a execução de projetos
urbanos qualificados. Entre os inúmeros problemas presentes
nos espaços livres públicos urbanos observa-se que as calçadas
são estreitas e encontram-se, na maioria das vezes, em péssimo
estado de conservação, além da presença de terrenos vazios e
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 27

abandonados (Figura 8) e praças e parques sem manutenção


(Figura 9). A arborização urbana é deficiente, ou praticamente
ausente, na maioria do tecido urbano e são raros os
tratamentos paisagísticos encontrados nos espaços públicos,
cada vez mais pavimentados. Também se observa inúmeros
conflitos entre projeto e legislação, que atrasam ou impedem a
execução e/ou manutenção dos espaços. A falta de
saneamento e a má conservação de seu sistema contamina
grande parte dos rios urbanos.

Figura 8 - Terreno abandonado e sem administração pública na favela de Heliópolis, SP

Fonte: MATTOS, 2011.


28

Figura 9 - Parque sem manutenção em São Manuel, SP

Fonte: MATTOS, 2015.

São muitos os desafios e as barreiras relacionados à


produção e a gestão dos espaços livres para que se possam
desenvolver novos locais atrativos e de qualidade. De acordo
com Queiroga (2011), para isso são necessárias novas medidas
de planejamento e gestão, dentre as quais se incluem a criação
de uma legislação urbanística-ambiental apropriada às
necessidades ambientais urbanas; saneamento ambiental;
revisão de paradigmas urbanísticos atuais, como a priorização
de automóveis em detrimento ao pedestre e a produção
imobiliária voltada ao mercado financeiro; o estabelecimento
de planos atuais e eficientes para o sistema de espaços livres
que considerem as características particulares de cada lugar
urbano; assim como a articulação de políticas públicas e a
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 29

criação de quadros técnicos capazes de planejar, projetar,


executar e manter os espaços livres.
As especificidades geográficas, climáticas, econômicas,
históricas e culturais de cada local, bem como as diversas
formas de apropriação do espaço livre pela população, anulam
a criação de qualquer modelo ou manual de orientação para a
criação e manutenção dos espaços livres. O levantamento e a
interpretação dos inúmeros problemas das cidades são
semelhantes, mas as medidas desenvolvidas pelo poder público
e por planejadores devem estar diretamente relacionadas às
necessidades e especificidades de cada espaço urbano e dos
usuários. Por meio de análises locais, é possível estabelecer
diretrizes de projeto eficientes. A apropriação do espaço por
diferentes grupos sociais, bem como a prática de diferentes
atividades em um mesmo espaço mostram a diversidade desses
locais (Figura 10). Assim, recomenda-se a criação de um
sistema de espaços livres com diferentes espaços
multifuncionais, em detrimento aos rígidos cenários criados
pelos planejadores (GOMES, 2013) e aos locais de uso
exclusivo.

A especificidade funcional ao espaço livre é, às vezes, exigida para


algumas atividades; ela é, porém, frequentemente atribuída (ou
imposta) desnecessariamente (ou quiçá porque) por desenho (um
gramado pode propiciar muito mais do que uma ‘pelada’; contudo se
desenha uma “quadra”, devidamente cercada, com tela, portão e
piso devidamente igual em toda a periferia, (sempre com 2 metros de
largura!)). Saudavelmente, os arquitetos estão descobrindo que
‘vamos ter que aprender daqui para frente, a trabalhar com
aberturas e com espaços ‘em branco de significados’... ’ sejam
saudavelmente abertos e saudavelmente ambíguos, para que
permitam uma criação ampla de significados. (Magnoli, 2006, p.181-
182)
30

Figura 10 - Apropriação do espaço livre por diferentes grupos sociais em São Manuel, SP

Fonte: MATTOS, 2016.

Atender e suprir as carências presentes nas cidades


brasileiras por meio da integração de políticas públicas torna-se,
assim, fundamental para a produção e gestão de projetos com
uma nova abordagem, focados no usuário e na
multifuncionalidade. O desenvolvimento de espaços livres
efetivamente integrados entre si e com os demais elementos
urbanos garantem a formação de um grande e único sistema,
responsável tanto pela qualidade ambiental, quanto pela
qualidade de vida da população. A requalificação da cidade só é
possível por meio da harmônica integração entre o subsistema
natural e o subsistema artificial (MOISSET, 2006).
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 31

3 CONCLUSÃO

Componente básico na constituição da paisagem urbana e da


vida citadina, os espaços livres urbanos públicos atendem as
demandas de circulação de pedestres e veículos, de recreação e
contemplação da paisagem, de lazer e esportes, de relaxamento, de
conservação ambiental, além de possibilitar manifestações políticas e
sociais e proporcionar memórias afetivas. Em constante processo de
transformação, tal sistema adequa-se frequentemente às novas
demandas da sociedade, embora sejam a disponibilidade de
recursos, bem como as ações políticas, os fatores responsáveis por
definirem os processos de qualificação ou desqualificação de tais
sistemas.
Nos dias atuais, o planejamento desses espaços parte de
recursos residuais procedentes de outras atividades, consideradas
prioritárias, e geralmente advindas de pastas políticas, econômicas e
estratégicas. Os baixos investimentos contrastam diretamente com o
aumento das necessidades reais criadas pela expansão urbana.
Seguindo por tal premissa, pode-se afirmar que considerar os
espaços livres de forma prioritária e integrada a outros sistemas
urbanos torna-se básico para a criação de espaços de qualidade,
adequados às necessidades sociais, públicas e ambientais. É
fundamental compreender a importância e a possibilidade de
contato com outras pessoas nos lugares públicos, conhecidos como
verdadeiros espaços de exposição; que a saúde pública está
diretamente relacionada à qualidade de vida urbana, possibilitada
pela existência de espaços livres bem planejados; assim como a
saúde e o bem-estar da população está relacionada diretamente às
atividades de lazer, de contemplação e de esporte desenvolvidas nos
espaços urbanos não edificados; que a conservação dos espaços
verdes urbanos e áreas ambientais em conjunto com os elementos
naturais são primordiais para a qualidade bioclimática, para a
32

conservação de ecossistemas e para a prevenção de desastres


ambientais, como enchentes e deslizamentos de terra.
Como se pode observar, a presença dos espaços livres na
conformação das cidades contemporâneas tem se mostrado
imprescindível, principalmente em função de suas inúmeras e
determinantes funções. Portanto, planejar esses espaços vai muito
além de abrir ruas, implantar canteiros e construir praças e parques
com áreas de recreação. Planejar esses espaços exige o
conhecimento e a aplicação de tais funções desde a concepção de
projeto dos assentamentos urbanos, de forma a considerar
principalmente a relação entre o Homem e a Natureza. Para isso,
uma nova postura administrativa e projetual precisa se firmar dentro
da gestão pública.

REFERÊNCIAS

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34
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 35

Capítulo 2

O CARÁTER MULTIFUNCIONAL DAS CIDADES VERDES:


QUESTÕES PARA UM DEBATE 3

Eloisa Carvalho de Araujo4


Natália Fernandes Ribeiro5

1 INTRODUÇÃO

O capítulo em referência se propõe a apresentar um debate


técnico-científico apoiado em um diálogo entre os temas da
Requalificação Ambiental Urbana e da Infraestrutura Verde. Insere-se
em um processo de pesquisa em desenvolvimento, contextualizado
em cidades brasileiras que tem se destacado e se comprometido com
metas visando alcançarem o status de Cidades Verdes. O presente
artigo desenvolve-se a partir do enfoque de impactos gerados por
ações impressas a partir de intervenções urbanísticas, no campo da
requalificação e transformação de ambientes urbanos e possíveis
impactos na qualidade de vida da população.

3
Capítulo elaborado a partir do texto apresentado no II Encontro Técnico e Científico para
Construção de Cidades Verdes, 2015 “Cidades Verdes: contribuições para um debate sobre rios
urbanos e corredores verdes”.
4
Doutora em Urbanismo, pelo PROURB/FAU/UFRJ. Mestre em Geografia, pela UFRJ. Arquiteta
e Urbanista. Professora da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
Fluminense e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFF.
eloisa.araujo@gmail.com
5
Arquiteta e Urbanista. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e
Urbanismo – PPGAU/UFF.
36

A investigação inicial tomou como base o estudo da Economist


Intelligence Unit (EIU)6, patrocinado pela Siemens, ressalta que a
América Latina é a região mais urbanizada do mundo em
desenvolvimento. O percentual de população que vive em cidades
latino-americanas, atualmente no patamar de 81%, deverá crescer
mais ainda, o que é preocupante. O referido estudo aponta que até
2030, deverá chegar a 86%. Este vertiginoso crescimento acaba por
gerar efeitos econômicos, políticos, sociais e ambientais e por exigir o
enfrentamento dos problemas consequentes.
A pressão exercida pela expansão urbana, invariavelmente
causa impacto na infraestrutura existente, com implicações para as
edificações, transporte público, sistema viário, quanto aos serviços
de abastecimento de água, drenagem urbana, coleta de resíduos e
esgotamento sanitário. Nessa perspectiva a cidade de Curitiba
apresenta, no estudo acima referenciado, alto desempenho, por
naturalmente ter exercido a capacidade de enfrentar, de forma
holística a temática do meio ambiente. Ainda segundo a pesquisa, na
década de 1980, o plano urbano desta cidade buscou envolver
iniciativas integradas visando tratar, sobretudo, temas relacionados à
criação de áreas verdes, gestão de resíduos e saneamento básico,
além de questões relacionadas aos transportes públicos, com
repercussão, de forma positiva, na qualidade do ar. Este
planejamento integrado permitiu um bom desempenho, da referida
cidade, na área ambiental.

6
Trata-se do Índice de Cidades Verdes da América Latina, desenvolvido pelo Economist
Intelligence Unit (EIU), patrocinado pela Siemens, que busca medir e avaliar o desempenho
ambiental das 17 maiores cidades latino-americanas. Este estudo, para além de medir o
desempenho ambiental em oito categorias (energia e CO2, uso do solo e prédios, transporte,
resíduos sólidos, água, saneamento básico, qualidade do ar e governança ambiental) visa dar
um peso igual a cada uma delas. O estudo, tem na perspectiva da criação desse índice, a
avaliação de políticas públicas visando verificar o compromisso das cidades na redução de
impactos ambientais. Tal estudo está disponível em:
http://www.siemens.com/entry/cc/features/greencityindex_international/br/pt/pdf/report_lat
am_pt_new.pdf. Acesso em: 07 de outubro de 2015.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 37

Entretanto, a capital paranaense conta hoje com a companhia


de outras cidades em busca de um ambiente mais equilibrado, limpo
e agradável. JUBÉ RIBEIRO (2010), ao promover o debate sobre a
produção do espaço urbano a partir de duas vertentes, como as
condições biofísicas do território e a sociedade, focaliza em Goiânia,
por exemplo, uma cidade apoiada no planejamento, na leitura de
uma paisagem referenciada nas questões ambientais, em projetos e
nas pessoas em sua vivência cotidiana. Para a autora, na maioria das
cidades latino-americanas verifica-se o desequilíbrio entre
concentração humana e a capacidade de oferecer serviços
minimamente adequados, gerando pressão indiscriminada sobre
terras periféricas, sem planejamento, colocando em risco recursos
naturais e paisagens, agravando os problemas ambientais.
É a partir dos anos 2000, que ações estratégicas de
infraestrutura verde vêm sendo promovidas. E, segundo a autora,
trata-se de uma nova postura de projeto para o meio urbano frente
aos problemas ambientais, objetivando o equilíbrio entre as
condições biofísicas e a sociedade, tendo como foco os espaços
abertos em escala regional. Em 2005, deparamo-nos no Rio de
Janeiro com o 1º Seminário Nacional sobre Regeneração Ambiental
das Cidades 7. O referido seminário teve como tema principal as águas
urbanas e teve, dentre muitos assuntos, as discussões em torno da
temática das áreas verdes nas cidades, a proteção das margens de
rios e o incentivo a projetos, pesquisas e estudos no âmbito dos
corredores ecológicos. Já o 2º. Seminário sobre o mesmo tema,
realizado na cidade de Londrina 8, buscou, sobretudo, frente à troca

7
O I Seminário Nacional sobre Regeneração Ambiental de Cidades: Águas Urbanas, foi realizado
na cidade do Rio de Janeiro em dezembro de 2005, no Fórum de Ciência e Cultura do campus
Praia Vermelha da UFRJ. Teve como foco inicial a temática das Águas Urbanas tratada sob o viés
dos Ambientes Urbanos que se apresentam às Margens de Corpos d´Água. Ver em:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.068/386. Acesso em 20 de maio de
2015.
8
II Seminário Nacional sobre Regeneração Ambiental de Cidades: Águas Urbanas II, realizado na
cidade de Londrina, Paraná, em 2007. Disponível em:
38

de experiências, metodologias e procedimentos, direcionar seus


resultados à qualificação de ambientes urbanos, com ênfase em
processos de regeneração e recuperação, com ênfase na temática
das águas urbanas. O III Seminário Nacional sobre o Tratamento de
Áreas de Preservação Permanente em Meio Urbano e Restrições
Ambientais ao Parcelamento do Solo, ocorrido em 2014, conhecido
como APPURBANA9 pretendeu discutir, em um contexto nacional,
iniciativas de planejamento, intervenções e modalidades de gestão
continuada sobre as áreas urbanas, à luz da sua dimensão ambiental.
Também o 1º Fórum Latino-Americano de Infraestrutura Verde e
Urbana10 buscou salientar que países desse eixo possuem muitas
necessidades em comum, onde o desenvolvimento e o incentivo às
tecnologias verdes devem estar associados às políticas públicas,
sinalizando que a revolução sustentável deve se iniciar pelas cidades.
Já Cidades Verdes, em um contexto nacional, podem ser
fundamentadas no direito às cidades sustentáveis, apregoado pela
Lei n 10.257, denominada de Estatuto da Cidade, de 10 de julho de
200111. Reforçado pela ideia sobre a necessidade de reconhecimento

http://www.uel.br/eventos/aguasurbanas/ensalamento_todos.php. Acesso em 09 de outubro


de 2016
9
O evento APPURBANA 2014, idealizado por entidades acadêmicas e profissionais de diversas
regiões do país, teve como foco a dimensão ambiental da cidade. Destaque foi dado ao
relacionamento de corpos d’água que atravessam as cidades, as massas vegetais e morros com
o espaço urbano. Disponível em:
http://www.observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_k2&view=item&id=778:ap
purbana-2014&Itemid=163&lang=pt. Acesso em: 10 de setembro de 2016.
10
Quanto ao evento 1º Fórum Latino-Americano de Infraestrutura Verde Urbana, realizado em
São Paulo, por ocasião da realização da TeCobI Expo 2014, o mesmo teve na infraestrutura
verde e potenciais ações no campo dos telhados seu tema central. Foi realizado pela Associação
Tecnologia Verde Brasil (ATVerdeBrasil), em parceria com a Fundação Konrad Adenauer, entre
outras, em maio de 2014. Disponível em: http://easyts.com/eventos-traducao/1o-forum-latino-
americano-de-infraestrutura-verde-urbana-telhados-verdes-revolucao-sustentavel-das-cidades-
comeca-por-eles/. Acesso em 03 de outubro de 2016.
11
Tal aspecto, conforme fica evidenciado, é tratado neste dispositivo legal no seu Capítulo I,
Art. 2o – sobre a Política Urbana, que dentre suas diversas diretrizes, merece ser destacada a
seguinte diretriz: “– garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra
urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos
serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações”. Disponível em:
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 39

do papel do planejamento e do desenho urbano no trato das


questões ambientais, articuladas a aspectos socioeconômicos,
culturais e de saúde, para benefício de todos12. Em um contexto
internacional, tem entre seus objetivos reduzir o consumo doméstico
de água, aumentar as áreas verdes, eliminar sacolas plásticas,
melhorar o sistema de transporte e seus efeitos sobre as emissões de
CO2 e de gases do efeito estufa. Mas dentre todos esses aspectos, o
que pretendemos tratar neste artigo refere-se aos cuidados, em
especial resultante da ocupação desordenada do espaço urbano
sobre os cursos de água, assim como, a criação de corredores verdes
com estreita relação com políticas públicas, práticas sociais e hábitos
cotidianos.
Atualmente, estudos, pesquisas e práticas recentes 13
mobilizam interesses pautados nas mudanças ambientais e na
dinâmica evolutiva. Discorrem também sobre as transformações
vivenciadas pelos sistemas ambientais, ao longo dos últimos séculos,
tendo também como foco a qualidade ambiental urbana como
importante subsídio ao planejamento das cidades.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm. Acesso em: 03 de outubro


de 2016.
12
Aspectos tratados como “Metas de Sustentabilidade para Municípios Brasileiros (indicadores
e referências), em um contexto do Programa Cidades Sustentáveis.
http://www.cidadessustentaveis.org.br/downloads/publicacoes/publicacao-metas-de-
sustentabilidade-municipios-brasileiros.pdf. Acesso em 04 de outubro de 2016
13
Sob esse viés podemos ressaltar os estudos de autores como FERREIRA, J. C.; MACHADO, J. R.
no artigo “Infraestruturas verdes para um futuro urbano sustentável. O contributo da estrutura
ecológica e dos corredores verdes”. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/revistalabverde/article/viewFile/61279/64214. Acesso em 07 de
maio de 2016; E também a contribuição de RIBEIRO FRANCO, M. A. no seu artigo
“Infraestrutura Verde em São Paulo: o caso do Corredor Verde Ibirapuera-Villa Lobos”.
Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revistalabverde/article/viewFile/61284/64219.
Acesso em 08 de maio de 2016; Assim como os estudos de MINAKI, C.. AMORIM, M.C.T.,
presente no artigo “Espaços Urbanos e Qualidade Ambiental – um enfoque da paisagem”, o
qual integra a Revista Formação, nº14 volume, 2007; Além de apresentar também o projeto de
“Requalificação Urbana e Ambiental da Bacia do Cobre”, conduzido pela empresa
CONDER/Governo do Estado da Bahia. Ver em: http://www.abc.habitacao.org.br/wp-
content/uploads/2012/10/SEDUR-BA-BACIA-DO-COBRE.pdf. Acesso em 28 de maio de 2016.
40

Com esse entendimento o presente artigo objetiva gerar


reflexões sobre questões associadas a rios urbanos e corredores
verdes em faixas marginais num contexto de regiões periféricas, a
partir do recorte espacial privilegiado no estudo. Também, sob a
perspectiva de estabelecer diálogo entre os temas de requalificação
ambiental urbana e infraestrutura verde, amparados pelas relações
entre qualidade de vida e ambiente, pretende sensibilizar os leitores
quanto à idealização e desenvolvimento de iniciativas no campo da
recuperação de áreas degradadas, as quais valorizem a atividade
paisagística, reveladas por seu caráter multifuncional.
Tais ações, a nosso ver, podem ser consideradas como diretriz
de sustentabilidade, articuladora de políticas públicas, de
saneamento ambiental, educação e cultura, em um contexto de
interdisciplinar visando o redesenho da paisagem a partir das
dimensões ambiental, urbana, econômica, social e institucional.

2 MÉTODOS

A proposta em desenvolvimento, decorrente de uma revisão


bibliográfica, condicionada ao processo investigativo, apoia-se na
exposição de contribuições de autores que abordam temas
associados à requalificação ambiental urbana, assim como, a
infraestrutura verde, na perspectiva das práticas nas cidades
contemporâneas.
Em um segundo momento, o trabalho passa a ser
desenvolvido, sob o método da Ecologia da Paisagem 14, por

14
Adotamos, no presente artigo, conceito de Ecologia da Paisagem trabalhado por METZGER
(2010). A definição do autor revela-se como uma visão integradora de paisagem, com caráter
de um mosaico heterogêneo, consubstanciado na sua formação por unidades interativas. Tal
heterogeneidade, segundo o autor, pode se revelar, pelo menos a partir de um fator, que se
evidencia segundo um observador e segundo uma determinada escala de observação. Isto é,
centrada, por um lado, nas interações do homem com seu ambiente, e, por outro, preocupada
em como a heterogeneidade se expressa espacialmente.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 41

entendermos que este favorece a identificação das interações entre


os fatores no ecossistema de uma dada paisagem. Esse método de
análise pretende, ao valorizar o trabalho empírico, identificar e
classificar as áreas de estudo, quanto às unidades de paisagem,
problemas e potencialidades, a partir de um recorte espacial e
temporal a serem privilegiados no estudo. Com essa abordagem,
compreendida por seu espectro amplo e flexível, que ressalta a
importância da heterogeneidade no espaço e no tempo, além das
múltiplas escalas a considerar, valores e atributos passam a ser
considerados no entendimento dos processos ecológicos na
atualidade. Desse método, deriva, segundo HERZOG & ROSA (2010) o
conceito de infraestrutura verde 15. Para as autoras trata-se de um
conceito emergente baseado nos princípios da ecologia da paisagem,
valorizando elementos como estrutura, função e mudança,
conformando a paisagem como um mosaico. Por outro, MADUREIRA
(2012), o delimita como um conceito agregador de outras
abordagens16, com uma ampla trajetória e antecedentes. De certo, o
designando não como um novo conceito e sim como uma nova visão
sobre a questão ambiental e as áreas verdes nas cidades 17.
Essa abordagem, a nosso ver, propiciará, a partir do olhar do
observador, análises em microescalas ou macro escalas. Desafios se
colocam seja pelo viés da adaptação desse método ao contexto
urbano, em especial às faixas marginais de rios, em um contexto de

15
Para as autoras a definição de infraestrutura verde caracteriza-se por intervenções de baixo
impacto na paisagem e alto desempenho, com espaços multifuncionais e flexíveis. Tais
aspectos, ainda segundo as autoras, ressaltam o exercício de diferentes funções ao longo do
tempo, de preferência, adaptáveis às necessidades futuras, com expectativa de aplicação na
escala local, capazes de serem monitoradas visando possíveis correções ao longo do tempo.
16
Tal abordagem, tratada pela autora, fica evidenciada em seu artigo denominado
“Infraestrutura verde na paisagem urbana contemporânea: o desafio da conectividade e a
oportunidade da multifuncionalidade”, que integra a Revista da Faculdade de Letras – Geografia
– Universidade do Porto. III série, vol. I, 2012, pp. 33-43. Disponível em:
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/10555.pdf. Acesso em 10 de outubro de 2016.
17
BENEDICT, M.; MCMAHON, E. (2002). “Green Infrastructure: Smart Conservation for the 21st
Century”. Renewable Resources Journal 20(3):12-17
42

regiões periféricas, seja ao considerar esse tratamento enquanto


valor ecológico, capaz de agregar e articular as diferentes partes de
um todo.

3 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Há algum tempo a incorporação da infraestrutura verde ao


planejamento das cidades vem sendo enfrentada na ótica do bom
desempenho dos serviços ambientais. E, nesse aspecto,
investigações orientadas com o sentido de buscar oportunidades a
partir do conhecimento e percepção da paisagem e do meio
ambiente urbano vêm sendo conduzidas por práticas e pela produção
científica. Para HERZOG (2011) há de se considerar a necessária
adaptação das cidades às mudanças climáticas, para que as mesmas
se tornem resilientes aos impactos que já estão ocorrendo em todo o
planeta.
Nessa perspectiva MASCARÓ (2013) apresenta a infraestrutura
verde como um conjunto de redes multifuncionais de fragmentos
permeáveis e vegetados. Tal conjunto deve se configurar a partir da
utilização de arborização viária, da distribuição equilibrada de áreas
verdes, com controle da impermeabilização do solo e drenagem
pluvial. Emergindo de tal consideração o fato de parques arborizados
poderem ser articulados a corredores ecológicos formados por ruas,
largos e praças.
Segundo HERZOG (2011), muitas cidades, regiões e países já
estão vivenciando a experiência de trilhar caminhos inovadores. Para
a autora, iniciativas de planejamento e implantação de projetos que
consideram fatores abióticos, bióticos e antrópicos, em diversas
escalas são fundamentais. Na sequência, a autora, ressalta que a
infraestrutura verde já pode ser vista como uma realidade, como por
exemplo, (Figura 01), o corredor verde na cidade de Freiburg, na
Alemanha, exercendo múltiplas funções, como a ecológica em
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 43

manter a mata ciliar e a qualidade das águas e a social em criar


ciclovias e passeios como espaço de lazer, dentre outros benefícios, a
partir de uma abordagem sistêmica, abrangente e transdisciplinar.
No tocante as águas urbanas, uma preocupação do presente
artigo diz respeito aos rios canalizados. Para HERZOG (2013) os rios
que foram canalizados, em diversos países, estão sendo
renaturalizados em face da impossibilidade de se controlar a
natureza e suas forças, resultando na necessidade de conviver com
elas.

Figura 01 - Corredor verde multifuncional em Freiburgo (Alemanha)

Fonte: Herzog; Rosa, 2010. Créditos: Cecília Herzog

Para Barbosa & Nascimento Jr. (2009), a visão ecológica,


muitas vezes, não leva em conta o enfoque sistêmico em que se
concentram as interações entre os elementos, da dinâmica e
integração dos componentes com o seu ambiente, pondo em risco a
compreensão e esforço no entendimento da ecologia da paisagem
urbana, precisando, no campo da cidade, ser redesenhada.
44

Outro aspecto muito valorizado nos estudos sobre a temática


abordada é a interação das escalas, onde contribuições teóricas e
conceituais apoiam-se nos campos da arquitetura da paisagem, da
ecologia da paisagem, do planejamento e do desenho ambiental
(GOUVEIA, 2008; McHARG, 1992; BERNÁLDEZ, 1981; RIBEIRO
FRANCO, 1997; FORMAN; GODRON, 1986) apontam no sentido da
sensibilização, percepção e compreensão do ambiente. Mas segundo
Sandeville Jr. (2005), é a escala do lugar, que se revela, com base na
ideia de uma paisagem, cuja experiência demonstra-se como
socialmente construída. Para os autores, os estudos de campo devem
ser valorizados, à medida que se apresentem associados a processos
estruturais do espaço social. Isto é, na perspectiva de evidenciar a
capacidade de percepção da realidade vivenciada. O que segundo os
mesmo autores, pode se apresentar como a percepção de um
ambiente poluído, por exemplo, que necessita fugir das ameaças da
degradação, exigindo por esta razão soluções que podem reforçar a
necessidade de assumir o tema e o problema como meta de projeto.
No debate das cidades verdes e seu caráter multifuncional é
necessário ressaltar a combinação entre as políticas, a educação
pública e os projetos locais, que incorporam, desde funções naturais
na infraestrutura existente, o aprimoramento e o fortalecimento de
bacias hidrográficas, como também a criação de espaços livres
atrativos para a vida social nos bairros urbanos, entre outros tantos
aspectos.
Das iniciativas brasileiras quanto às intervenções em cursos
d´água, remonta ao início do século XX a regularização do Rio Tietê,
pelo engenheiro sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito. O
projeto referenciado, segundo ROSA (2013), embora não tenha se
tornado realidade, incluía desde lagos e canais, os quais dariam conta
de escoar as águas, como também, a proposta de um parque linear
configurando a ocupação das várzeas do rio.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 45

Figura 02 - Projeto da Comissão de melhoramentos do Rio Tietê.

Fonte: Artigo denominado “Do outro lado do rio: retificações, canalizações e projetos
abandonados dos rios de São Paulo”, por Giovanni Santa Rosa, http://gizmodo.uol.com.br/do-
outro-lado-do-rio-segunda-parte/. Acesso em 10 de maio de 2015.

No período mais recente, iniciativas em países europeus vêm


se pautando por ações de recuperação de rios a partir da recriação
de antigos canais e meandros e, pela revitalização de suas margens.
Embora existam limites para essas ações, repercussões a partir
destas visões tendem a obter significativa dimensão territorial
destinada à agricultura, assim como, áreas direcionadas à
urbanização visando minimizar os efeitos locais provocados pelas
enchentes. No entanto, as experiências em curso vêm demonstrando
ser fundamental conscientizar profissionais a respeito dos problemas
e soluções ambientais, na perspectiva de um viés interdisciplinar.
Soluções integradas, que incorporem a valorização ecológica
vêm movendo grande parte dos empreendimentos atuais. Estas
soluções apoiam-se, geralmente, na revitalização de rios, visando
aumentar não só a capacidade de recuperação ecológica, mas
também a atratividade que tais elementos da paisagem exercem
46

junto às atividades de recreação e lazer. Esse olhar, no entanto, não


caracteriza a determinação pela volta a uma paisagem genuína e
original, não tocada pelo homem, mas direciona a repercussão das
ações aos compromissos com o desenvolvimento sustentável dos rios
e da paisagem, na perspectiva de atendimento das necessidades e
conhecimentos contemporâneos.
No Brasil, a trajetória para recuperar a qualidade ambiental
dos cursos de água urbanos envolve, sobretudo, a associação de
políticas urbanas e investimentos. Segundo Moretti (2000),
“renaturalização ou revitalização”, não seria somente o processo de
trazer de volta as condições mais naturais e originais possíveis, dos
rios, mas também a necessidade de promover a integração de
distintos setores da administração pública que precisam atuar de
forma integrada no enfrentamento dos problemas relacionados.
Os resultados no âmbito da área de estudo e as discussões
sobre a temática que envolve o presente artigo, nos instiga no
sentido de valorizar a investigação em curso. Essa investigação é
tratada no âmbito da cidade do Rio de Janeiro, tendo em especial sua
zona oeste, como recorte espacial. A cidade cresceu e se desenvolveu
a base de projetos e planos de embelezamento e melhoramento da
região central com descaso para os bairros suburbanos. Todavia,
podemos observar que o projeto ferroviário foi o que permitiu o
deslocamento da população das zonas periféricas do município e sua
integração com o centro da cidade, propiciando o crescimento dos
bairros mais afastados.
Os bairros da Zona Oeste começaram a ser povoados com a
finalização do ramal ferroviário Santa Cruz no final do século XIX. Mas
o incremento populacional veio associado ao prolongamento da
Avenida Brasil até o bairro Bangu, no final da década de 1950.
Posteriormente, na década de 1990, com a construção do projeto da
Linha Amarela - via expressa que liga a região da Zona Norte do
município com a Barra da Tijuca, a tendência demográfica foi de
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 47

crescimento18. Este crescimento teve como resultado recente, obras


realizadas para os jogos Pan Americanos e atualmente para os jogos
Olímpicos, implicando em momento de grande especulação
imobiliária. Mas a região em que se insere o recorte espacial de
estudo se refere à área de planejamento AP5 19, do Plano Diretor
(Figura 03).

Figura 03 - Área de Estudo – Áreas de Proteção

Fonte: Elaboração própria a partir de imagem na plataforma google

18
Segundo dados do IBGE, a região da Zona Oeste do Rio revela uma taxa de crescimento de
150% do seu contingente populacional no período dos anos 2000 a 2010. Ainda segundo esta
mesma base de informação, dos dez bairros cariocas mais populosos em 2010, sete ficam na
zona oeste, como Campo Grande (328,3 mil), Bangu (243,1 mil), Santa Cruz (217,3 mil),
Realengo (180,1 mil), Jacarepaguá (157,3 mil), Barra da Tijuca (135,9mil) e Guaratiba (110 mil).
Ver em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/07/ibge-bairros-na-zona-oeste-do-rio-
crescem-ate-150.html. Acesso em 27 de maio de 2016.
19
De acordo com Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável do Rio de Janeiro,
aprovado pela Lei complementar Nº 111 de 2011, a Área de Planejamento denominada AP5, na
cidade do Rio de Janeiro, é composta por cinco Regiões Administrativas, como Bangu (RA XVII),
Realengo (RA XXXIII), Campo Grande (RA XXVIII), Guaratiba (RA XXVI) e Santa Cruz (RA XIX).
Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/3372233/DLFE-
262093.pdf/LEICOMPLEMENTARN1.1.1.DE0.1.DEDEZEMBRODE2.0.1.1..pdf. Acesso em : 24 de
maio de 2016.
48

Cercada pelos Maciços da Pedra Branca - Parque Estadual


Maciço da Pedra Branca e do Mendanha - Parque Natural Municipal
do Mendanha, é uma área que também compreende grande parte da
bacia hidrográfica do Rio Guandu, região RJ1 no Comitê Guandu de
Bacias Hidrográficas do Rio de Janeiro. Onde se verifica um híbrido de
áreas verdes e de vegetação mais densa e selvagem, culminando em
um ambiente de natureza preservada.
Se por um lado podemos ressaltar as características físicas e a
hidrologia da região. Por outro, a existência de grande quantidade de
rios, a maioria já canalizados ou modificados em valões a céu aberto
(Figura04), convive com a presença de lixo e esgoto nas águas
urbanas.
Nesse aspecto HERZOG (2009), a partir de experiência na
região, em especial no bairro de Guaratiba, ressalta a valorização da
relação da população local com a paisagem, no sentido de evitar a
degradação dos ecossistemas naturais.

Figura 04 - Rio em Campo Grande, Estrada do Campinho

Fonte: Google. Google Street View Imagem 2014.Acesso em 22 de maio 2015.


Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 49

No âmbito de um quadro legal/institucional vale observar


que na legislação federal a definição de Áreas Verdes Urbanas é
instituída pelo novo Código Florestal, Lei nº 12.651/2012. Esse código
vem por definir em seu Artigo 3º que o significado de áreas verdes
urbanas abarca o mesmo que “espaços, públicos ou privados, com
predomínio de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou
recuperada”. Esta definição, incorporada aos instrumentos jurídico-
urbanísticos do município, apresenta estas áreas em um contexto de
sua indisponibilidade à construção de moradias. Mas por outro lado,
destinadas, como ressalta a lei, ao propósito de “recreação, lazer,
melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos
hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e
manifestações culturais”. A mesma legislação, quando trata das
Áreas de Preservação Permanente - APPs20 urbanas, nos instiga a
investigar conflitos relacionados às faixas marginais de proteção de
cursos d´água, com potencial para a preservação de corredores
ecológicos.
Nesse sentido, os resultados da pesquisa em curso, ainda
que parciais, sugerem práticas de requalificação ambiental urbana,
sob a ótica de políticas socioambientais. Programas ambientais de
plantio de mudas, por exemplo, podem melhorar a quantidade e
qualidade das águas que são captadas para tratamento e
distribuição, como é o caso dos rios que contribuem para a Bacia do
Rio Guandu, responsável pelo abastecimento da cidade do Rio de
Janeiro.

20
As Áreas de Preservação Permanente - APPs são definida pelo novo Código Florestal, Lei
12.651/2012 “como áreas protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade”, mas também apresentam-se no mesmo Código, como áreas que visam
“facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas”.
50

4 CONCLUSÃO

Novos sentidos para a relação homem natureza na cidade


precisam ser materializados, exigindo reflexões quanto à degradação
natural e física e sua relação com a degradação social das áreas
periféricas. A partir das reflexões frente aos autores analisados e, das
perspectivas que envolvem a área de estudo, questiona-se sobre a
melhoria da qualidade dos rios urbanos e o uso dos corredores
verdes como proteção ecológica e de bem estar social.
A pesquisa demonstra, até o presente momento, a
necessidade de compreender o quanto a relação do rio com o espaço
urbano, seja por variáveis estéticas, hidráulicas e políticas de gestão
do território, deve ser favorável à preservação dos cursos d’água.
A investigação, no âmbito da área de estudo, vem por
considerar o rio como elemento da paisagem urbana da cidade, e
como tal, com possibilidade de valorização de percursos que venham
a contribuir para o redesenho da paisagem que ressalte cenário atual
e potencial.
No caso de áreas periféricas, em especial no município do Rio
de Janeiro, o trabalho empírico, em desenvolvimento, nos inquieta
quanto à necessidade de acesso às informações e estudos
disponíveis, assim como, quanto à articulação com políticas públicas,
organizações sociais e movimentos ativistas.
Nesse sentido, as reflexões, ora apresentadas no presente
artigo, pretendem ressaltar a importância do planejamento urbano
ambiental para as cidades e sua repercussão na qualidade ambiental
urbana, a partir de uma visão integradora da paisagem, assim como,
valorizar o papel do desenho da infraestrutura verde na cidade
contemporânea, ao incorporar seus valores ambientais, sociais e
culturais.
Esse entendimento nos direciona a designar às Cidades Verdes
um caráter multifuncional baseado em paisagens que sugerem
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 51

estruturas constituídas por sistemas diversos que estabelecem


relações, fluxos e processos a partir de atividades também diversas,
na perspectiva de aproximação dos ecossistemas naturais.

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54
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 55

Capítulo 3

ESTUDOS DE TRANSFORMAÇÕES DA PAISAGEM E SEUS


IMPACTOS NAS ÁGUAS URBANAS

Fernanda Moço Foloni21


Norma R. T. Constantino22

INTRODUÇÃO

O acelerado crescimento das cidades nos últimos tempos tem


resultado em graves complicações ao meio ambiente, sendo cada vez
mais perceptível as suas consequências no cotidiano da população.
Um exemplo claro é o estado de muitos rios urbanos: antes
fundamentais para a formação dos primeiros povoados, são
atualmente tidos como insalubres, desnecessários e a causa de
inundações. Entretanto, graças ao crescimento da consciência
ambiental, muitas organizações têm se empenhado em pesquisar
maneiras de revitalizá-los, requalificando a paisagem urbana.
Normalmente, os projetos de revitalização de rios urbanos
mais divulgados são aqueles internacionais, como o Rio
Cheonggyecheon em Seul ou o Rio Tamisa em Londres. Contudo, os
modelos estrangeiros nem sempre são as únicas fontes de pesquisa
para se utilizar de exemplos. Existem disponíveis diversos estudos de
casos nacionais, executados com sucesso até mesmo publicados no
exterior.

21
Mestranda, UNESP, Brasil. E-mail: fe_foloni@hotmail.com
22
Professora Doutora, UNESP, Brasil. E-mail: nconst@faac.unesp.br
56

Ao buscarmos estudos de casos brasileiros nos deparamos com


alternativas sustentáveis mais adequadas ao clima e à morfologia
desejados, para as cidades modernas com problemas urbanos
relacionados à degradação do meio ambiente e da paisagem, e às
causas e consequências do abandono dos rios. Para isso, foram
levantados a partir de revisão literária, estudos de caso relacionados
aos rios urbanos e à ocorrência de enchentes nas cidades. Serão
destacadas, neste capítulo, as semelhanças entre estes estudos,
assim como as problemáticas que descrevem e as respostas
apresentadas para reintegração dos rios à sociedade. Todos estes
princípios obtidos nas soluções são conceitos de Infraestrutura
Verde.

DA PAISAGEM NATURAL À URBANIZAÇÃO

Antes de entender quais as dificuldades que as cidades vêm


enfrentando e como estas podem ser superadas é fundamental
compreender, primeiramente, o que é a paisagem urbana, para
então estudarmos como intervenções inadequadas feitas pelo
homem resultaram nos problemas atuais.
A paisagem é um espaço (ASSUNTO, 2011, p.341-344), mas,
por ser um objeto de experiência estética e, portanto, tema de um
juízo estético, não deve ser tratado como um espaço vazio. Corajoud
(2011, p.214) a caracteriza dizendo não se tratar da representação do
infinito, entretanto, esta se abre a ele (o céu), ou seja: a paisagem é o
lugar onde o céu e a terra se toca, na linha do horizonte. Para o autor
a paisagem urbana “tem todas as qualidades aparentes de uma
paisagem, [...] mas é uma montagem cuja unidade é apenas artefato”
(CORAJOUD, 2011, p. 219), o que reflete a importância da presença
de pessoas na definição de paisagem urbana, pois ela não teria
significado qualquer se o homem não tivesse agido sobre ela. Pode
ainda existir uma relação com a paisagem natural quando esta se
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 57

abre à cidade, como quando um rio adentra nela (CORAJOUD, 2011,


p. 220).
Um rio, ao entrar na cidade, se torna parte da paisagem
urbana e, quando a cidade invade as águas, as águas invadem a
cidade. Com essa afirmação Costa (2006, p.10) simplifica a relação
atual entre o meio urbano e seus rios nas últimas décadas. Ao
mesmo tempo em que os rios oferecem a possibilidade de convívio e
interação entre as pessoas, são também corredores biológicos
capazes de permitir a presença da fauna e da flora na cidade, além de
alimento, lazer e transporte.
Entretanto essa íntima relação com a cidade desde as
formações coloniais vem sendo abalada por crescentes expansões
urbanas, decorrentes de ocupações irregulares em áreas de várzeas e
transformação dos córregos em coletores de lixo e esgoto. Isto
resulta desde grandes inundações até o desaparecimento total de
cursos d’água da paisagem urbana.
De um ponto de vista histórico, Marx (1980, p.31) trata dessa
relação de degradação como um alerta para os efeitos do
crescimento acelerado das cidades, da mudança do modelo de vida
urbanizada e da alteração rápida do quadro social: mais pessoas
partiam do campo para morar na cidade.
Existe uma relação direta entre a crescente ocupação
desorganizada nos fundos de vale e as enchentes urbanas. As
primeiras retificações de cursos d´água nas cidades brasileiras
ocorreram entre meados do século XIX e a década de 1920, período
este conhecido como “fase higienista” (OSEKI; ESTEVAM, 2006, p.84-
85). As vilas já próximas ao leito do rio precisavam expandir seu
entorno para acomodar o crescimento populacional, passando a
ocupar as duas margens. Logo, surgiram as vilas operárias que
aglomeraram ainda mais as pessoas em pequenos espaços
insalubres, resultando em surtos epidêmicos. Sem saneamento, o
esgoto era despejado direto no rio, o que fazia com que a
58

propagação das doenças se agravasse nos períodos de cheia. Isto


levou à primeira medida tomada como necessária: a retificação dos
rios, que corriam sinuosos, para direcionar as águas pluviais e o
esgoto para longe.
Consequentemente, surgia por todo país a necessidade de
“uma mudança radical na filosofia das soluções estruturais em
drenagem urbana” (CANHOLI, 2005), e a solução encontrada após a
retificação, em meados do século XX, foi a canalização dos cursos
d’água. Desta forma acelerava-se o escoamento para fora do centro
urbano e ainda era possível ocupar o terreno pantanoso drenado.
O progresso trouxe também a necessidade de novas avenidas,
que poderiam ser construídas sobre os rios canalizados. Entretanto, a
canalização provou sua ineficiência ao longo do tempo, pois além de
levar o mau cheiro que escapava pelos bueiros e bocas de lobo por
todo seu curso, nas épocas de chuva intensa o rio receptor passou a
sofrer sobrecarga e transbordar mais do que normalmente ocorria
em épocas de cheia, alagando as residências que ocupavam os
fundos de vale do antigo leito natural do rio.

Segundo Sheaffer e Wright (1982), o plano de drenagem deve


delinear alguns objetivos. Entre eles: manter as regiões ribeirinhas
ainda não urbanizadas em condições que minimizem as
interferências com a capacidade de escoamento e armazenamento
do talvegue; reduzir gradativamente o risco de inundações a que
estão expostas pessoas e propriedades; reduzir o nível existente de
danos por enchentes; assegurar que os projetos de prevenção e
correção sejam consistentes com os objetivos gerais do
planejamento urbano; minimizar problemas de erosões e
assoreamentos; controlar a poluição difusa; e incentivar a utilização
alternativa de aguas de chuvas coletadas, para uso industrial,
irrigação e abastecimento. (CANHOLI, 2005, p.24).

Com o passar do tempo, passou-se a buscar medidas de


controle para minimizar os danos das inundações. No início tratavam-
se principalmente de medidas estruturais, que são majoritariamente
obras capazes de acelerar o escoamento, como a elaboração de
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 59

túneis e canalizações, restaurações de calhas naturais e construção


de reservatórios. Aos poucos, foram sendo implementadas também
algumas medidas não estruturais, de menor custo, que são as que
envolvem criações de sistemas de alerta e previsão de enchentes, de
leis e instrumentos para regulamentação de ocupação do solo, de
desapropriação para construção de áreas permeáveis e educação
ambiental. É importante ressaltar que o melhor aproveitamento
dessas medidas está no seu uso em conjunto, como na formulação de
Planos Diretores com foco em gerenciamento das bacias
hidrográficas, conservação ambiental e macrodrenagem (CANHOLI,
2005, p.25-27).
O estudo dessas medidas e outras formas sustentáveis de
adequar a relação entre a natureza e o meio urbano é definido pelo
conceito de Infraestrutura Verde:

Denomina-se infraestrutura verde (tradução do termo inglês green


infraestructure) uma rede de espaços abertos e áreas vegetadas
(corredores verdes, alagados, parques, florestas preservadas ou
plantadas com espécies nativas) e contando, na microescala, com
jardins de infiltração, biovaleta e outras medidas de infiltração das
águas pluviais, visando a intervenções urbanas de baixo impacto e
incorporando práticas sustentáveis de manejo das águas, que
incluem medidas não estruturais e estruturais não convencionais, de
baixo custo e mais efetivas a médio prazo (GORSKI, 2015, p.223).

A Infraestrutura Verde destaca a importância da vegetação, na


natureza e na cidade, pois é capaz de proteger as margens dos corpos
d’água, ocupar vazios urbanos e trazer conforto térmico para os
bairros, conectando estes elementos por toda a extensão do
território.
60

METODOLOGIA

Com a intenção de aprofundamento nos estudos sobre rios


urbanos, esta pesquisa investiga as principais dificuldades que as
cidades brasileiras vêm enfrentando, decorrentes do processo de
urbanização desordenado desde a colonização.
Ao tratar de pesquisas a respeito da paisagem da cidade e rios
urbanos, é comum encontrarmos abordagens crítico analítica e
crítico propositiva. A partir da segunda abordagem, foram levantados
19 estudos de caso descritos em diferentes bibliografias. Então,
foram destacados os problemas e as propostas de soluções
apresentados pelos autores a respeito de suas respectivas cidades e
bacias hidrográficas. Em seguida, foram elaborados três gráficos: o
primeiro com os problemas urbanos mais frequentes entre os
estudos de caso; o segundo com as medidas mais indicadas entre os
mesmos; e o terceiro, a partir do segundo, a classificação de quantas
das propostas apresentadas são medidas estruturais e não
estruturais. Dessa forma, foi possível observar com mais clareza a
relação entre a formação das cidades brasileiras, as consequências
atuais para a população e a importância de estudos sobre a
Infraestrutura Verde na busca de cidades sustentáveis.

ESTUDOS DE CASO

PROPOSTAS AINDA NÃO EXECUTADAS

Rio de Janeiro/RJ: Bacia do rio Acari (Parque Unidos de Acari)23


Análise geral: inundações; dificuldade de escoamento das
águas; despejo de efluentes nas galerias fluviais;
assoreamentos; comprometimento da qualidade das águas;

23
BRITTO; SILVA, 2006, p. 17-32.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 61

erosões; ocupação irregular das margens do rio; acúmulo de


resíduos sólidos; problemas de saneamento e doenças.
Medidas indicadas: Construção de redes de esgoto previstas
no Plano Diretor; dragagem do rio; criação de pôlderes para
armazenamento de água das enchentes; delimitação de
logradouros públicos nas margens do rio; aumento da largura
do canal; uso de pavimentação permeável; reassentamento
da população residente em áreas de risco de inundação;
implantação de equipamentos e tratamento paisagístico;
política de proteção da faixa marginal e recuperação dos
recursos hídricos; criação de parques lineares e áreas de lazer
nas margens liberadas; implantação de um programa de
coleta de lixo adequado; recuperação das áreas de mangue e
da mata ciliar.

Rio de Janeiro/RJ: Rio Cabeça24


Análise geral: Córregos canalizados; adensamento de
ocupação urbana no trecho canalizado; dejetos de esgoto
ligados indevidamente à rede pluvial.
Medidas indicadas: Projeto urbano voltado para a valorização
do rio no Horto Florestal: tombamento da área antiga de uma
chácara para criação de um parque voltado para
contemplação e preservação do rio, para cidade do Rio de
Janeiro e acessível à população; desapropriação das quadras
de tênis particulares existentes próximas ao rio para garantir
a preservação da margem nesse trecho; cobrança de ingresso
por uma organização responsável (ONG) pela preservação da
memória do rio e manutenção do espaço.

24
ESCARLATE, 2006
62

Novo Horizonte/SP: Córrego da Estiva25


Análise geral: contaminação da água; erosão do solo;
terrenos abandonados com despejo irregular de resíduos
sólidos; vegetação natural em regeneração.
Medidas indicadas: Projeto de parque linear do córrego da
Estiva: controle de erosão e restauração do principal canal de
drenagem; novas vias de circulação; criação de atividades de
recreação com programa de educação ambiental para os
jovens; paisagismo urbano.

São Paulo/SP: Bacia do Rio Cabuçu de Baixo26


Análise geral: Córrego canalizado; desmatamento da mata
ciliar; inundações; ocupação desordenada; riscos à saúde
pública; intenso processo de urbanização; instabilidade e
contaminação do solo; contaminação das águas da bacia.
Medidas indicadas: Controle de cheias: uso e ocupação do
solo; realocação da população; recuperação de áreas de
várzea; sistema de alerta; piscinões; gabião; parques lineares;
valetas verdes, caixas de infiltração, jardins de chuva, pisos
drenantes. Preservação e recuperação ambiental: criação de
caminhos verdes para sub-bacia do Bananal; reflorestamento
de encostas; alagados construídos; programa de educação
ambiental. Controle de poluição difusa e saneamento básico:
jardins de absorção de chuvas; bacias de detenção secas e
alagadas; pisos drenantes; uso de jardins dentro dos lotes
particulares; controle de sedimentos de construção; controle
das ligações clandestinas de esgoto.

25
FRISCHENBRUDER; PELLEGRINO, 2006
26
GORSKI, 2010
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 63

Blumenau/SC: Rio Itajaí-Açu27


Análise geral: Aumento da impermeabilização urbana;
desmatamento; ocupação das áreas de várzea; enchentes
urbanas.
Medidas indicadas: Gerenciamento de rios urbanos a partir
de bacias hidrográficas e equipes interdisciplinares; legislação
amplamente fiscalizada e divulgada; inserção de vegetação
nativa e preservação da mata ciliar; dragagem; evitar
crescimento da área impermeabilizada nas margens do rio;
construção de pontes para valorização e visibilidade do rio;
respeitar a Área de Proteção Permanente em fundos de vale;
construções voltadas para os rios ao invés de trata-los como
local de despejos e fundo de lote; criação de parques nas
áreas de várzeas para conter enchentes; apenas
equipamentos de lazer e recreação nas margens; tratamento
de efluentes por toda bacia hidrográfica; incentivo ao turismo
fluvial e a navegabilidade.

Rio das Ostras/RJ: Rio das Ostras28


Análise geral: ocupação irregular da várzea do rio;
contaminação do lençol freático por meio de uso de fossas e
sumidouros; drenagem inadequada; erosão e assoreamento
das margens; enchentes; despejo de efluentes in natura;
deslizamentos; mau destino do lixo.
Medidas indicadas: controle do uso do solo por meio de
execução do Plano Diretor; gestão por ecossistemas ao invés
de limite territorial; criação de corredores verdes, ecológicos,
de transição, e cicláveis.

27
PORATH; AFONSO, 2006, p. 163-176
28
RIBEIRO, 2013
64

São Paulo/SP: Sub-bacia do córrego do Saracura Pequeno (Grota do


Bexiga)29
Análise geral: córregos canalizados; enchentes à jusante da
bacia; erosão; verticalização intensa da área central da cidade
no espigão da bacia ocupação do fundo do vale; alta taxa de
impermeabilização do solo; aumento da emissão de calor e
da poluição; desconformo térmico; cobertura vegetal
escassa; pequena quantidade de áreas verdes e livres.
Medidas indicadas: plantio de árvores; criação de parque
arborizado em regiões de fundo de vale e nascentes;
combater a impermeabilização do solo; arborização das ruas
e alargamento das calçadas; utilização de mecanismos de
retenção da água da chuva para retardamento e reuso;
economia de água e energia; introdução de espelhos d’água;
novos espaços de lazer e caminhos de pedestres; utilizar a
calçada como ambiente de estar e de passeio.

Nova Friburgo/RJ: Bacia ambiental do Córrego D'Antas30


Análise geral: Ocupação de áreas de risco pela população de
baixa renda; lançamento de esgoto in natura, ausência de
rede de drenagem; acúmulo de lixo nas margens dos corpos
d’água; inundações e enxurradas.
Medidas indicadas: Direcionar a vocação da área para o
ecoturismo; estimular a criação e o cultivo com incentivo à
produção sustentável; conter e monitorar a expansão
urbana; dar um tratamento e um controle para as zonas de
transição; alterar o zoneamento urbano do Plano Diretor,
aumentando as Zonas de Especial Interesse Ambiental (ZEIA),
criando de Zonas de Especial Interesse de Recuperação

29
SCHUTZER, 2012
30
VASCONCELLOS, 2015
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 65

Ambiental (ZEIRAS) e revisando as Zonas de Especial


Interesse Social (ZEIS).

PROPOSTAS EXECUTADAS OU EM ANDAMENTO

Belo Horizonte/MG: Ribeirão do Arrudas31


Análise geral: áreas de risco ocupadas; rio canalizado;
problemas de saneamento; alta taxa de impermeabilização
do solo.
Medidas indicadas: projeto de Requalificação Urbana
Ambiental do Ribeirão do Arrudas – PAC Arrudas: prevê obras
de drenagem; tratamento de fundo de vale; implantação de
parque linear; instalação de equipamentos públicos de lazer e
convivência; criação de novas unidades habitacionais;
educação ambiental; saneamento e revitalização do rio.

Campinas/SP: Ribeirão das Pedras32


Análise geral: deposição inadequada e irregular de resíduos
sólidos; assoreamento do rio; inundação; poluição; ocupação
irregular em áreas de inundação; desmoronamento das
margens; processos erosivos em áreas desmatadas; quase
inexistência de mata ciliar.
Medidas indicadas: parque Linear do Ribeirão das Pedras:
recuperação das matas ciliares; criação de um corredor
ecológico, com lagoas e ciclovia; construção de uma ETE para
recuperação da qualidade da água; mudanças nas travessias
viárias; criação de bacias de retenção detenção; criação de
dispositivos no processo de licenciamento ambiental, no qual
os grandes empreendimentos se comprometem a
implementar o parque no seu trecho de influência do rio.

31
ARAUJO, 2016, p. 165-180
32
COSTA, 2011
66

Campinas/SP: Ribeirão das Anhumas33


Análise geral: cursos d'água em diferentes níveis de
degradação, com pouca mata ciliar em seu entorno urbano.
Medidas indicadas: plano de Conservação Natural do
Ribeirão das Anhumas: restauração do ecossistema e
conservação dos rios; inventário de áreas em potencial para
criação de corredores verdes que possam ligar espaços
abertos urbanos com os principais remanescentes de
florestas regionais, oferecendo aos moradores da cidade a
possibilidade de acessar um espaço natural aberto das áreas
mais densas através de áreas ambientalmente sensíveis.

Curitiba/PA: Rio Iguaçu34


Análise geral: enchentes e inundações urbanas; segregação
social; propagação de doenças; falta de saneamento básico;
acúmulo de resíduos sólidos; poluição; despejo de efluentes
in natura.
Medidas indicadas: criação de um programa para controle de
enchente; limpeza do rio e reforma de pontes; construção de
um canal lateral para bloquear a pressão pública de invasão
de áreas de proteção permanente (APP); criação de um
parque interno como área de amortecimento e de lazer;
elaboração do Plano Diretor da Região Metropolitana de
Curitiba.

33
FRISCHENBRUDER; PELLEGRINO, 2006
34
PARKINSON, at. al, 2003
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 67

Esteio/RS: Arroio Sapucaia35


Análise geral: impactos causados pela urbanização; despejo
de efluentes industriais e esgoto; ocupação irregular;
alagamentos.
Medidas indicadas: recuperação da mata ciliar; revitalização
do rio; criação do projeto de Renaturalização do Arroio
Sapucaia; reassentamento de moradores em área de
proteção permanente; realização de reformas viárias;
implantação de parques lineares; criação de reservatórios
para amortecimento de cheias; adequação de canais para
redução da velocidade de escoamento; construção de um
dique e uma ETE no município; sistemas de drenagem por
infiltração; recuperação de várzea e renaturalização de curso
de água.

Guarapiranga/SP: Rio Embu Mirim36


Análise geral: contaminação das águas decorrentes da
invasão industrial urbana e de aterros sanitários periféricos à
várzea.
Medidas indicadas: estudo de proteção da várzea do rio
Embu Mirim: Conservação das várzeas existentes e tomada
de sua capacidade de depuração da água como um recurso
para a bacia; sistema de circulação proposto como uma
barreira para usos urbanos ao longo das várzeas, criando um
parque público de escala regional.

Piracicaba/SP: Rio Piracicaba37


Análise geral: rio retificado, tubulado e canalizado; despejo
de esgoto e depreciação das margens do corpo d’água,

35
COSTA, 2011
36
FRISCHENBRUDER; PELLEGRINO, 2006
37
GORSKI, 2010
68

tornando-o insalubre e degradando sua paisagem;


perturbação na cadeia ecológica e, por conta da poluição
hídrica, prejuízo no abastecimento dos aquíferos.
Medidas indicadas: redução do escoamento de resíduos
sólidos para o leito do rio; plantio de árvores; implantação de
coletor tronco; utilização de pisos drenantes; criação de
Áreas de Proteção Ambiental (APAs); instalação de
comportas ao lado do rio para controle das enchentes;
aumento das áreas públicas; melhoria da acessibilidade;
melhoria dos caminhos de pedestres, da infraestrutura e do
mobiliário urbano; valorização da paisagem da cidade do
ponto de vista do eixo do rio; uso da margem pelo pescador;
instalação de deques; criação de passarelas para pedestres e
trilha junto ao leito.

Rio Grande/RS: Arroio Vieira38


Análise geral: alto nível de degradação; canalização do rio;
contaminação difusa pela rede de drenagem pluvial;
recebimento de efluentes in natura; aprovação para
construção de residências sobre a APP do leito original do
Arroio; hiperparcelamento do solo na Área Funcional de
Interesse Ambiental.
Medidas indicadas: projeto Pró-Vieira: proposta da
renaturalização e criação do Parque do Arroio Vieira;
reconfiguração estrutural do espaço (heterogeneidade
ecossistêmica e retorno da fauna e flora); renaturalização do
curso d’água; proposição de um uso socioambiental, com
criação de equipamentos para comunidade.

38
COSTA, 2011
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 69

Santo André/SP: Mananciais39


Análise geral: enchentes e inundações urbanas; segregação
social; doenças; falta de saneamento básico; poluição;
acúmulo de resíduos sólidos; despejo de efluentes in natura.
Medidas indicadas: criação de uma autarquia de Saneamento
Ambiental (SEMASA) e transferência do sistema de
drenagem, da gestão ambiental, do gerenciamento de
resíduos sólidos e da defesa civil para a autarquia;
manutenção do sistema de drenagem; gestão integrada do
saneamento ambiental; educação ambiental; criação e
utilização de um Plano Diretor de Drenagem; sistema de
controle e supervisão da drenagem; gerenciamento por
bacias hidrográficas; mapeamento dos pontos de inundação;
uso de sistema de alerta; inversão do fluxo de algumas
canalizações e uso de válvulas para evitar o retorno da água
para os bairros.

São Paulo/SP: Sub-bacia do córrego Bananal40


Análise geral: enchentes urbanas; processo desordenado de
urbanização no entorno do córrego até o sul da bacia;
ocupação irregular ao longo das margens; a sub-bacia do
córrego Bananal possuía cerca de 50% de urbanização e 50%
de vegetação em 2006.
Medidas indicadas: plano de Bacia Urbana: criação de um
programa de recuperação ambiental e sustentabilidade
socioambiental com um sistema de parques e áreas verdes
associado ao tratamento das águas e ao sistema de
drenagem e em um trecho da bacia; o foco é a melhoria da
qualidade do espaço urbano aberto ao público e restauração
e preservação do ambiente natural; abertura dos fundos de

39
PARKINSON, at. al, 2003
40
PELLEGRINO, et. al, 2006, p. 57-76
70

vale para conexão com a Serra da Cantareira e criação de


espaços livres para recuperação e integração dos espaços
naturais urbanizados.

Tupã/SP: Bacia do rio do Peixe e bacia do Aguapeí41


Análise geral: ocupação dá área de nascentes, desmatamento
da mata ciliar, ocupação dos fundos de vales, emissão de
efluentes domiciliares, industriais, comerciais; despejo de
resíduos sólidos, erosão, inexistência ou
subdimensionamento de galerias, enchentes e inundações
urbanas, invasão de Áreas de Preservação Permanente (APP).
Medidas indicadas: convênio com o Governo Federal por
meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC);
realização de estudos de macrodrenagem urbana, com
diretrizes para o controle de águas pluviais; controle de
erosão; aumento da permeabilidade do solo; implantação de
áreas verdes e equipamentos urbanos; recuperação dos
córregos; implantação de parques lineares; controle do
processo de urbanização; demarcação dos canais de
drenagem no Zoneamento Urbano; fiscalização de depósito
de resíduos irregulares e desmatamento; reflorestamento;
execução de reservatórios de detenção; contenção e
estabilização de encostas gabião; implantação de um Parque
Ecológico; criação de corredores verdes para proteção de
nascentes e retenção de água.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

Foram elaborados gráficos42 para classificar as semelhanças


encontradas entre as dificuldades e as soluções apresentadas para os

41
BENINI, 2015
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 71

problemas que as cidades enfrentam com as irregularidades dos rios


urbanos, baseados nos estudos aqui apresentados.
A partir destes dados percebe-se uma relação entre a
ocupação da área de várzea, as margens dos rios e córregos, com a
presença de enchentes, inundações e alagamentos. A presença
comum de despejo de efluentes (domésticos e industriais) reflete
não só sua relação direta com a ocorrência de inundações, mas
também alerta o ainda presente descaso com o meio ambiente,
herança dos costumes de séculos passados (Figura 1).

Figura 1: Problemas urbanos mais frequentes entre os estudos de caso

É necessário ressaltar que alguns dos problemas apresentados


são consequências de outros. A poluição, despejo de efluentes e
resíduos sólidos estão diretamente relacionados ao
comprometimento da qualidade da água, problemas de saneamento
e propagação de doenças. O desmatamento da mata ciliar e a
ocupação da área de várzea estão ligados alta taxa de

42
Os valores apresentados nos gráficos são os números de estudos de caso, um total de 19.
72

impermeabilização, erosões e assoreamento. Por sua vez,


enchentes43, inundações e alagamentos é consequência de todos
esses fatores, individualmente ou em sua totalidade, dependendo da
intensidade de cada caso.
Apesar de apresentarem um índice menor, por tratar-se de
situações específicas da morfologia de cada cidade, os problemas
menos relatados pelos estudos de caso também contribuem bastante
para as dificuldades urbanas, possuindo as soluções propostas mais
significantes na Figura 2 44.

Figura 2 - Medidas mais indicadas entre os estudos de caso

O desmatamento da mata ciliar que foi relatado em apenas 6


estudos de caso (Figura 1) é visto como um importante fator a ser

43
A enchente é um processo natural do rio, é a ocupação irregular do seu leito maior,
preenchido em época de cheias, que torna a enchente um problema para a cidade.
44
O gráfico apresenta um total de 104 medidas distribuídas entre 15 colunas conforme a
descrição dos 19 estudos de caso.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 73

reparado (Figura 2): 13 exemplos sugerem a recuperação da mata


ciliar, além de reflorestamento de outras áreas e/ou criação de
corredores verdes. Algumas medidas mais populares são
principalmente estruturais, visto a eficiência que apresentam em
curto prazo, como a criação de parques lineares (para combater a
impermeabilização, ocupação das margens dos corpos d’água e
ausência de áreas verdes) e formas de captação/armazenamento de
água de enchente e de chuva. As duas se respostas diretas às maiores
dificuldades discutidas na Figura 1 (ocupação de área de várzea e
enchentes).
É importante destacar que a criação e fiscalização de leis
ambientais, o uso e ocupação do solo e principalmente o Plano
Diretor são considerados de grande importância, especialmente ao
buscar medidas eficientes em longo prazo que não sejam estruturais,
soluções estas presentes em dez estudos de caso analisados. A Figura
3 traz a classificação, entre as 104 medidas apresentadas (Figura 2),
da porcentagem de medidas estruturais e não estruturais.

Figura 3: Classificação da Infraestrutura Verde entre as propostas apresentadas


74

Apesar da maioria das medidas serem estruturais,


precisamente pela efetividade em curto prazo discutida acima, há
apenas uma diferença de 14% na quantidade de não estruturais. Isto
permite concluir que ambas são relevantes na procura por melhorias
da qualidade de vida urbana. A Infraestrutura Verde não é composta
apenas de soluções práticas e grandes obras urbanas não são
sinônimos de eficiência e progresso. A cidade precisa ser pensada por
profissionais, políticos e contar com participação popular para que as
soluções se apresentem no âmbito econômico, estrutural, legislativo,
morfológico e ambiental do município. Desse modo os problemas
não serão apenas remediados, mas evitados.

CONCLUSÃO

A formação das primeiras vilas próximas a cursos d’água foi


uma estratégia recorrente em diversos lugares ao redor do mundo e,
a expansão urbana, um processo inevitável. No Brasil é comum
encontrarmos cidades cujas vilas se expandiram para ambas as
margens do rio, desrespeitando seu espaço de várzea e retirando a
vegetação que o protegia.
Por isso é possível encontrar semelhanças entre essas cidades,
não apenas no modo de ocupação e urbanização, mas também nas
dificuldades que a população sofre atualmente, como é possível
perceber nos estudos de casos levantados: enchentes, erosão,
poluição, propagação de doenças e contaminação da água.
Da mesma forma, essa semelhança se repete ao analisarmos
quais são as propostas indicadas para recuperação das águas urbanas
nestes mesmos estudos de caso: todas contam com medidas
encontradas no conceito de Infraestrutura Verde. Sua maior
importância encontra-se no fato de apresentar propostas de
recuperação do meio ambiente nas cidades buscando a
sustentabilidade e bem estar da população, visto que a paisagem
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 75

urbana é composta pela vegetação, córregos, construções e seus


habitantes.
A utilização de medidas em curto prazo (estruturais) e em
longo prazo (não estruturais) precisam ser utilizadas em conjunto,
ressaltando a importância de planejamento urbano que vise tanto
novas expansões urbanas como a qualidade de vida da população.
Para isso, a preocupação com o meio ambiente não é apenas uma
necessidade ecológica, é também fundamental para o bom
funcionamento da cidade, já que essa relação simbiótica existente
desde o início entre ela e o rio é testemunha da importância de se
perceber que ambos são partes dessa paisagem, planejar um sem
considerar o outro apenas trará de volta à situação problemática em
que já nos encontramos.

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Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 77

VASCONCELLOS, A. A. Infraestrutura verde aplicada ao planejamento da ocupação


urbana. Curitiba: Appris, 2015.
78
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 79

Capítulo 4

CONTRIBUIÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES DE ESPAÇOS


PÚBLICOS NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS
CIDADES: O CASO DO PARQUE POTYCABANA,
EM TERESINA PIAUÍ

Lara Citó Lopes45


Wilza Gomes Reis Lopes46
Letícia Soares Daniel47
Diego Ribeiro Fontenele48

INTRODUÇÃO

É característica marcante no processo de expansão urbana das


cidades brasileiras a falta de articulação entre as esferas econômicas,
ambientais e sociais, provocando um crescimento desordenado, o
que contribui para reduzir o nível de qualidade de vida de seus
habitantes. Nota-se nesse processo a valorização do alcance dos
interesses econômicos, fruto do capitalismo instalado no país. Com o
passar dos anos os problemas oriundos desse modelo de expansão
urbana foram surgindo, assim como, alternativas para minimizá-los.

45
Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora
em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Uninovafapi. laracito@gmail.com
46
Doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas. Professora do
curso de Arquitetura e Urbanismo e do Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal do Piauí. izalopes@uol.com.br
47 Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora
em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Estácio/CEUT. leticiadaniel17@hotmail.com
48
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pelo Instituto Camillo Filho. dirifo@gmail.com
80

Atualmente, vários são os planejadores e pesquisadores que


propõem uma nova estratégia para o planejamento urbano como
Richard Rogers, Jan Gehl, Jaime Lerner, dentre outros. É de comum
acordo entre estes a necessidade da participação social na
elaboração do planejamento urbano das cidades. Nada mais justo do
que contar com tal participação nesse planejamento, uma vez que a
cidade é de todos, portanto deve estar adequada a toda população,
satisfazendo-a na maioria dos aspectos necessários para a vida em
sociedade.
Para Rogers (2015, p. 16), a cidadania estimula a vitalidade e
humanidade, e os cidadãos “devem sentir que o espaço público é
responsabilidade e propriedade da comunidade”, afirmando, ainda,
que “o sucesso de uma cidade depende de seus habitantes e do
poder público, da prioridade que ambos dão à criação e manutenção
de um ambiente urbano e humano”.
Apesar de cada região apresentar sua especificidade, o padrão
de urbanização, de acordo com Grostein (2001), apresenta
componentes de ‘insustentabilidade’ e geram baixa qualidade de vida
urbana a parcelas significativas da população, sendo a população de
baixa renda a primeira e a mais afetada. Esse cenário é fruto da forte
presença e atuação do mercado imobiliário no processo de
urbanização. Este gerou cidades com funções social e cultural
limitadas, onde segundo Gehl (2015, p. 3), a área pública com função
de “local de encontro e fórum social para os moradores foi reduzida,
ameaçada ou progressivamente descartada”.
O desenvolvimento sustentável das cidades aparece como
caminho para minimização desse quadro. Tal desenvolvimento
relaciona-se com a disponibilidade de insumos, o destino dos
resíduos, a oferta e o atendimento da população de infraestrutura,
como moradia, equipamentos sociais e serviços; a forma de ocupar o
território; a qualidade do transporte público; e a qualidade dos
espaços públicos. Estes, quando bem ordenados, aparecem como
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 81

fomentadores da qualidade de vida das cidades, promovendo a


revitalização das mesmas (GROSTEIN, 2001). No entanto, nota-se que
a configuração da maioria desses espaços é precária e insuficiente.
Nesse contexto, em relação ao espaço público, Matos (2010,
p.19) afirma que a sua problemática

[...] também resulta de uma transformação das práticas


urbanas e dos usos e estatutos dos diversos espaços
metropolitanos. A distinção entre público/privado,
exterior/interior, colectivo/individual, é reajustada pela
desagregação social e funcional dos bairros, pelo
aparecimento de novas centralidades, pelas novas
sociabilidades, pelo desenvolvimento dos transportes
rápidos, de novas formas de comunicação, pela concessão de
vários tipos de obras e serviços públicos, pela utilização quase
generalizada do automóvel.

Observa-se que, essas práticas urbanas prejudicando os


espaços públicos interferem na vida urbana estando relacionada ao
conceito de urbanidade. De acordo com Aguiar (2012, p. 7),
enquanto vitalidade é definida “como a presença maior ou menor ali
de pessoas”, a urbanidade diz respeito ao modo como se materializa
a relação espaço/corpo, ou seja, a qualidade em que a cidade se
apresenta para as pessoas devendo ser cômodo, gentil, agradável.
Dessa forma, reforça a ideia de Gehl (2015), de que o
comportamento humano é influenciado pelo espaço físico.
A cidade precisa ser atrativa para estimular as atividades
opcionais de seus cidadãos como caminhar, apreciar a paisagem,
promovendo trocas sociais que a torna viva e ativa (GEHL, 2015).
Assim como Matos e Aguiar (2012) colocam o automóvel como
influência negativa para a urbanidade, apontando como a principal
causa para a hostilidade da maioria dos espaços públicos. Pode-se
inferir, portanto, que a falta de urbanidade propicia a falta de
vitalidade desses locais. Para Rogers (2015, p. 10), “à medida que a
vitalidade dos espaços públicos diminui, perdemos o hábito de
82

participar da vida urbana da rua”, dessa forma, o cidadão se distancia


mais dos problemas da cidade e intervém menos em sua gestão
pública.
Assim, os parques urbanos, enquadrados como espaços
públicos, quando de qualidade influenciam positivamente o espaço
urbano na promoção do desenvolvimento sustentável.
É no final do século XVIII, na Inglaterra, que surgem os
primeiros parques urbanos. Estes se apresentam como resposta à
destruição de florestas, consequência da revolução industrial e
crescimento das cidades. Nessa época, em virtude do caos urbano
instalado com o crescimento dos subúrbios, de regiões habitadas
sem a infraestrutura necessária, a natureza passa a ser vista como
lugar ideal, pois apresentava uma fuga desse cenário urbanizado
conturbado. Foi nesse contexto que surgiram os jardins ingleses, com
base oposta aos jardins que, até então, eram produzidos, como os
franceses, caracterizados pela perfeita simetria. Os jardins ingleses
apresentavam formas orgânicas e davam preferências a terrenos com
topografia irregular para parecer o mais natural possível. Esses locais
apresentavam caminhos para que as pessoas pudessem circular e
apreciar a natureza obtendo uma sensação de bem estar (EMÍDIO,
2006). Segundo Bovo e Conrado (2012), é na Inglaterra, após a
revolução industrial, que os parques passam a apresentar função de
lazer, surgindo à discussão dos parques como ferramenta de
melhoria da qualidade de vida na cidade.
De acordo com Bovo e Conrado (2012), no século seguinte o
desenvolvimento de parques urbanos ganha mais destaque com os
planos urbanísticos, para Paris, na Europa, desenvolvidos por
Haussmann, iniciados em 1857 e finalizados em 1927. Nessa mesma
época, se destaca nos EUA o arquiteto Frederick Law Olmsted,
considerado pai do paisagismo e líder do movimento “Park
Movment”, defendendo além da ideia de recreação como função dos
parques urbanos, a de preservação dos recursos naturais.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 83

Nos anos de 1930, foi revisado o modo de projetar o ambiente


urbano (SCALISE, 2002). A partir de 1940, os parques passam a
atender a população com novas formas de lazer como playgrounds,
quadras esportivas e lanchonetes (KALLAS, 2005). Na década
seguinte os parques passam a realçar as características cênicas das
áreas verdes, gerando ambientes que despertam o interesse e a
fantasia do usuário. Na década seguinte os parques se proliferaram
em várias cidades do mundo (SCALISE, 2002).
Os parques dentro da zona urbana apresentam-se como um
local de contato com a natureza, os quais, quando presentes no
espaço urbano, apresentam inúmeros benefícios para a cidade. O uso
de elementos verdes na composição da cidade contribui com valor
estético da paisagem urbana. No entanto, este não é sua principal
contribuição, já que, por meio da arborização, é possível amenizar os
efeitos da alta temperatura e aumento da drenagem de águas
pluviais. Nota-se, também, o valor social apresentado com a
vegetação na cidade e, principalmente, quando utilizadas em espaços
planejados com outras funções além da função estética. Dessa
maneira, permite-se um maior contato entre homem e natureza,
com a criação de locais de troca social, práticas esportivas, dentre
outros. Observa-se, assim, que as cidades demandam, cada vez mais,
esses locais em virtude dos impactos negativos gerados pelo
adensamento urbano, sob a ótica do meio ambiente natural
(BENFATTI; SILVA, 2013)
Com base na importância apresentada pelos parques urbanos
para as cidades, o presente capítulo apresenta como objeto de
estudo o Parque Potycabana, situado na cidade de Teresina, capital
do Estado do Piauí. Este parque criado há mais de vinte anos, ficou
fechado por cinco anos, sendo reinaugurado em 2013.
Pretende-se analisar se o parque, após sua reinauguração,
favorece a urbanidade de Teresina, cumprindo com sua função social
e, consequentemente, tendo influência no que diz respeito ao
84

desenvolvimento sustentável. Para isso foi observada a existência das


relações sociais estabelecidas no local, procurando compreender se
tais relações sofreram interferência pela modificação do espaço
público, observando, para isso, seus usos pela população.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para o alcance dos objetivos propostos pela pesquisa, fez-se


necessária a pesquisa bibliográfica, por meio de fontes secundárias,
enfocando aspectos relacionados ao tema de planejamento urbano,
desenvolvimento sustentável, espaços públicos, paisagem ambiental,
assim como, buscando pesquisas que trazem como objeto de estudo
o parque Potycabana.
Realizou-se, também, pesquisa de campo para verificação do
uso do parque pela população. Na pesquisa, além da observação da
existência de pessoas utilizando o parque e dos equipamentos
existentes disponibilizados para estas, fez-se o registro fotográfico do
local, a fim de comprovar tal observação, em duas datas distintas no
ano de 2016, a primeira delas no dia 18 de junho, e a segunda no dia
12 de outubro. Além disso, foram realizadas entrevistas com dois
funcionários do local, na primeira visita, para se conhecer o
funcionamento do parque, que foram gravadas e fotografadas, com
uso de telefone celular.
Nas entrevistas, procurou-se saber sobre a existência ou não
de atividades desvinculadas da Gestão Estadual realizadas no parque,
identificando qual o horário e dia mais visitado, qual a predominância
de idade e sexo, qual a área do parque mais utilizada pelos visitantes,
qual o seu horário de funcionamento e, ainda, questões relacionadas
à manutenção e coleta de lixo (em que horários é feita a limpeza do
parque, se houver e se há coleta seletiva do lixo).
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 85

RESULTADOS

Em relação aos parques urbanos de Teresina, o Parque


Zoobotânico foi o primeiro parque criado na cidade, legalizado com a
Lei 1.479, de julho de 1972, e concebido seguindo uma linha
contemporânea de lazer ativo e contemplativo (PORTELA; BRITO,
2009). Após 16 anos de sua criação é que outro parque vai ser criado,
tratando-se, no caso, do Parque da Cidade, com intuito de manter,
preservar e criar áreas verdes. Posteriormente surgiram mais
parques, totalizando, 31 parques existentes, dentre os quais, de
acordo com Kallas (2005), apenas quatro realmente correspondem,
segundo a concepção contemporânea, a parques urbanos. Os demais
estão, apenas, delimitados em Lei, estando relacionados a áreas
livres, criadas com a denominação de parque, visando à proteção
ambiental, mas que não apresentam as funções necessárias para tal
finalidade.
Dentre os parques da capital, encontra-se o parque
Potycabana, criado em 1990, pelo então governador Alberto Silva.
Situa-se na zona urbana de Teresina, com acesso pela principal pela
Avenida Raul Lopes, que liga os dois shoppings centers da cidade,
identificados na figura 01, e está localizado nas margens direita do
Rio Poti.
86

Figura 01 - O Parque Potycabana e seu entorno

Fonte: Google maps, 2016, editado pelos autores.

Esta proximidade com o rio, segundo Afonso e Saraiva (2011),


sobre estudo arquitetônico da obra do parque propiciou inúmeros
impactos ambientais após sua implantação, por se tratar de uma
região, atualmente caracterizada como Área de Preservação
Permanente. Somado a isto, a presença do parque no local, contribui
com a valorização da região e sua urbanização, por conta da
importância que passou a apresentar para a cidade, tratando-se de
um dos primeiros e mais importantes espaços públicos de lazer.
O parque Potycabana encontra-se em local de grande fluxo,
por conta de sua proximidade com os três shoppings centers. Esta
tipologia, característica do século XX, em que a iniciativa privada,
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 87

segundo Gehl (2015), vê na falta de espaços públicos de qualidade,


juntamente com a necessidade da população, a oportunidade de se
ter uma nova fonte de rendimento, a partir da criação de espaços
que promovam o encontro social, Além destes locais, deve-se
salientar a proximidade do parque com outros espaços públicos,
como o Rio Poty, como já mencionado, e a Floresta Fóssil, os quais
apresentam demanda de revitalização pelo atual estado de
degradação em que se encontram.
O Parque Potycabana foi projetado no final dos anos de
1980, inaugurado em 1990, construído pelo governo do Estado e
administrado pela empresa Comércio de Bebidas Ltda (COBEL),
distribuidora de bebidas Antártica. O projeto do parque,
apresentando na figura 02, correspondia 80 mil metros quadrados,
sendo bastante utilizado pela população após sua inauguração, em
1990 (MARCULINO, et al. ,2010).

Figura 02 - Projeto original da Potycabana

Fonte: REDAÇÃO, 2013.

Analisando o projeto, é possível observar que o parque


apresentava vários equipamentos de lazer para o público tornando-o
88

bastante atrativo. No entanto, com o passar do tempo o local deixou


de ser um atrativo para a comunidade Teresinense. Tal fato pode ser
justificado por suas várias administrações e nenhuma manutenção,
sendo utilizado apenas para feiras, e eventos de folguedos. Após a
falência da COBEL, em 2001, o parque passou para o sistema
Fecomércio/Sesc/Senac. No entanto, pelo fato desse processo não
ter sido tramitado na Assembleia Legislativa Estadual, o mesmo foi
anulado em 2006, voltando a ser administrado pelo estado. Em 2008,
houve a destinação de verba do Estado para a recuperação do local.
No ano seguinte, 2009, deram a previsão de entrega do parque em
180 dias, a princípio essa obra seria de recuperação do local e sua
função continuaria a mesma (AFONSO, 2010).
Assim, o parque com o passar dos anos, perdeu seus visitantes
e consequentemente sua função, sendo abandonado (Figura 03),
sendo necessária, então, a atenção dos gestores públicos para o local
e sua revitalização.

Figura 03 - As condições do Parque Potycabana após seu desuso

Fonte: REDAÇÃO, 2013.


Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 89

Observam-se, pela a figura 03, que seus equipamentos


permaneceram, porém encontravam-se em péssimas condições,
após seu desuso e abandono. Fez-se necessário, portanto, um
projeto de revitalização, para este parque que por muito tempo se
apresentou como espaço de lazer e de encontro para a população,
sendo usado por alguns anos.
A reinauguração do parque veio a acontecer no dia 16 de maio
de 2013, com a presença do governador do estado desta época,
todos os secretários estaduais e o prefeito de Teresina. No local teve
apresentação de uma banda baiana para todas as pessoas presentes
(RIBEIRO, 2012).
Compreende-se nesse sentido que as intervenções em áreas
públicas já consolidadas aparecem como estratégias capazes de
proporcionar ambientes mais adequados à população,
principalmente, quando se encontram fechados, como era o caso do
parque Potycabana, tratando-se do objeto de estudo do presente
capítulo.
Portanto, o parque urbano, como forma de espaço público,
tem um importante papel no cenário da sustentabilidade urbana e
das relações sociais, devendo atender à sua função. Assim, fez-se
necessário uma nova leitura do parque Potycabana e de suas
condições, como se observa na figura 04, para que o mesmo voltasse
a ser um atrativo para a população fazendo parte de seu dia-a-dia.
90

Figura 04 - Proposta inicial de reforma do Parque Potycabana da


Secretaria de Infraestrutura do Estado do Piauí

Fonte: NEIVA, 2011, legendas ampliadas pelos autores.

Esta proposta inicial de reforma do parque, no momento da


construção sofreu algumas mudanças, embora a ideia base e a
maioria dos equipamentos foram mantidas. Uma dessas
modificações refere-se à retirada da piscina, a disposição diferente
de alguns equipamentos, como o playground que na imagem está
próximo ao Setor Esportivo 2, e na realidade encontra-se próximo ao
Setor Esportivo 1, e outros que seguiram a idéia inicial.
A retirada da piscina pode ser considerada como benéfica, já
que o parque objetiva atender a um público numeroso, apresentando
grande fluxo de pessoas, logo sua manutenção e salubridade seriam
de difícil controle.
A proposta de reforma do parque foi divulgada em 2011, pela
Secretaria Estadual da Infraestrutura (SEINFRA), descartando o
parque aquático, principal função desde sua fundação, e
incentivando práticas esportivas com a instalação das pistas de skate,
quadras de vôlei, de tênis, campo de futebol, pista de caminhada,
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 91

dentre outros equipamentos. Assim, o estímulo à prática de esportes


é o principal aspecto que diferencia o novo projeto do projeto
anterior.
O parque Potycabana após sua reforma passou a ser um
destino diário da população local. A população dispõe no parque de
atividades físicas gratuitas com assistência de um profissional, como
aulas de dança, aeróbica, jump, entre outras (Assessoria de imprensa,
Capital Teresina, 2014).
Em visita de campo realizada ao parque, foi identificada a
estrutura disponibilizada para a população, como se observa na
figura 05. A respeito de seus equipamentos, tem-se de acordo com o
Regulamento do Parque Potycabana (2013), que se encontra dividido
em Setor A e Setor B. O primeiro setor diz respeito aos equipamentos
que correspondem às atividades de práticas esportivas e culturais. O
Setor B corresponde à prática de atividades culturais e recreativas de
baixo impacto, sendo representado pelos palcos e estacionamento.

Figura 05 - Alguns equipamentos do parque disponíveis ao público

Fonte: arquivo pessoal LOPES, 2016.


92

De acordo com a figura 05, é possível visualizar alguns dos


equipamentos do parque como o palco, duas quadras poliesportivas,
uma destas com arquibancada, duas pistas de skates, lanchonetes,
brinquedos infantis, além de uma pista para pedestre e outra para
ciclistas e patinadores, ambas distribuídas ao longo de todo o parque.
Além desses equipamentos, o parque conta ainda com um campo de
futebol, uma quadra de areia, três quadras de tênis.
Por se tratar de um local na margem do rio e devido ao seu
horário de funcionamento, o parque é todo cercado com três
entradas de acesso, tendo um ponto de parada de ônibus, em frente
ao parque, o que facilitaria o acesso dos usuários de várias partes da
cidade.
A grade se apresenta como um ponto negativo e reforça a
cultura brasileira de isolamento dos ambientes, inclusive por se tratar
de um espaço público, pois como o nome já diz, deveria ser acessível
às pessoas a qualquer momento. No entanto, as grades tem se
mostrado como fundamentais para sua preservação, uma vez que,
restringe seu uso em horários que existe vigilância do local, evitando
atos de depredação, muito comum no país, principalmente em locais
como este. Trata-se da realidade cultural brasileira, tendo como
exemplo o parque Floresta Fóssil, localizado nas imediações do
Parque Potycabana, que apresenta sinais de vandalismo em seus
fósseis. Sob essa ótica, reforça-se a necessidade de educação da
população, para que se aprenda a cuidar de seus bens públicos.
Nas entrevistas realizadas com os funcionários do parque
foram obtidas várias informações, sobre os frequentadores,
funcionamento e manejo do local. O primeiro entrevistado da
pesquisa, Sr. Nascimento, afirmou que dentre os frequentadores do
parque não há predominância de sexo, sendo estes em sua maioria
jovens, apesar de muitas famílias também frequentarem bastante. Os
locais mais disputados do parque são as pistas de skates e as quadras
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 93

de futsal, sendo o dia de sábado o mais movimentado (informação


verbal)49.
Ele informou que o parque funciona no horário de 05:00 h às
22:00 h todos os dias, sendo mais utilizado a partir das 18:00 h. Por
conta disso, neste horário é realizada revista de bolsas e de pessoas
com detector de metais. Com relação à realização de eventos, é
necessário um agendamento, e o parque permanece aberto para
qualquer visitante, ficando apenas os palcos sob-responsabilidade de
quem o solicitou. Esses eventos normalmente são de cunho religioso.
A limpeza do mesmo é realizada a cada 30 minutos, o que faz
com que ele encontre-se sempre bem cuidado, atraindo ainda mais a
população. De acordo com Sr. Silva, outro funcionário entrevistado, o
parque possui pontos de coleta seletiva de lixo com lixeiras
separadas, de acordo com o tipo de lixo, que, no entanto, não vai
para a reciclagem, pois no próprio parque o mesmo é misturado com
os demais quando recolhidos pelos funcionários, e são levados juntos
pelo caminhão da prefeitura (informação verbal).
A partir da visita, foram verificadas as mais variadas atividades
no parque. Em vários locais, havia pessoas sentadas em círculos na
grama, alguns em rodas de músicas religiosas, outros reunidos para
confraternização, além ainda, de encontros em família, em que ficam
conversando ou passeando com carrinhos de bebê.
O parque apresenta-se, também, como um local de contato
com a natureza, como citado, pela presença de vegetação. Sob esse
aspecto, acredita-se que poderia ser melhorado, com melhor
distribuição da vegetação do local, uma vez que, o espaço é bastante
impermeabilizado e poderia contar com mais espécies vegetais.
Foi observado, ainda, durante a visita, que a espécie
predominante é o coqueiro, o que não traz tantos benefícios de
sombreamento, quanto às demais espécies, por possuir copa

49
Dados fornecidos por C. Silva, em entrevista feita no parque Potycabana, em Teresina, no dia
20 de junho de 2016.
94

pequena. Partindo desse ponto, nota-se, principalmente, que por se


tratar de uma cidade com temperatura média elevada durante todo
o ano, poderia haver uma melhora da qualidade do conforto do local,
em consequência da arborização, se fossem adotadas árvores de
grande porte, com copas altas e de grande circunferência, dando
preferência às não frutíferas, para evitar acidentes com os usuários
do espaço.
Destaca-se como uma de suas principais funções alcançada, o
fato de ser um local de interação social, levando ao uso do espaço
público de forma diversificada, pela população em geral. Tal função
até sua reinauguração, não era observada nos demais espaços
existentes, destacando-se como um dos seus principais objetivos
alcançados. Percebe-se assim, que o parque já faz parte da
identidade da cidade, e tornou-se essencial ao seu bom
funcionamento.
Além do uso diário pela população, observa-se que no final de
semana aumenta o número de crianças que vão ao parque levadas
pelos pais para usufruírem do espaço. Ou ainda em dias de feriados,
que aumenta seu uso, como por exemplo, o dia 12 de outubro, que
coincide com o dia das crianças, ocasião que muitas delas vão se
divertir no local. Nestas datas o parque oferece apresentações
teatrais para seus usuários, como pode se observar na figura 06 que
mostra um dos palcos sendo utilizado.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 95

Figura 06: A utilização do parque em datas comemorativas

Fonte: arquivo pessoal LOPES, 2016.

Apesar de ser uma região localizada na margem do rio, em


que, atualmente, pela legislação, seria proibido esse tipo de
construção, com a reforma o parque pode reduzir seus impactos
ambientais no local, principalmente pela retirada das piscinas, sendo
trocadas por práticas esportivas consideradas de baixo impacto
ambiental.
Faz-se necessário, no entanto, a revisão de alguns aspectos em
seu uso e manutenção, para que priorizem a sustentabilidade
urbana, como a questão do lixo, que apesar de não ser um impacto
direto do local, prejudica toda a cidade. Mais um aspecto a ser
considerado, que depende da gestão municipal, por exemplo, seria
um transporte público de melhor qualidade para que as pessoas não
necessitem de carro para chegar ao local, uma vez que, o
estacionamento existente não é suficiente para todos, e que o uso de
transporte público é uma das bases da sustentabilidade.
96

CONCLUSÃO

Com base na pesquisa realizada observa-se que o parque,


apesar de todo o tempo que permaneceu inacessível à população,
conseguiu, até o momento, atingir sua meta com função social. O
parque passou a ser um espaço de destino da população de toda a
cidade, que carecia de um local como tais características, fato
provado pela frequência de seus visitantes.
O parque Potycabana, diferente dos demais espaços da cidade,
é um local de troca e contato entre as pessoas de diferentes camadas
da sociedade, sexo e idade. Trata-se, também, de espaço de
incentivo a prática de esportes, essencial para que o ser humano
tenha uma boa qualidade de vida, e favoreça sua saúde física e
mental.
No entanto, nota-se, ainda que o local poderia ser palco de
ações voltadas para a conscientização de alguns aspectos da
sustentabilidade urbana, pois são os espaços públicos, os maiores e
melhores locais para servirem de exemplo para a população sobre
esse tema. Assim, a coleta de lixo deveria ser realizada, assim como o
uso de energia sustentável, reuso de água, além da disposição de
maior área permeável e maior variedade de espécies arbóreas.

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Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 99

Capítulo 5

PARQUE DO POVO: LEVANTAMENTO QUANTIQUALITATIVO


DA INFRAESTRUTURA E LAZER

Talita Batista dos Santos50


Milena de Moura Regis51
Ana Paula do Nascimento Lamano Ferreira52

1 INTRODUÇÃO

O avanço no processo de urbanização e crescimento de


cidades está transformando a paisagem em ritmo acelerado,
pressionando e consequentemente causando grandes problemas ao
ambiente. O desenvolvimento urbano não planejado afeta o espaço
físico das cidades, contribuindo para o desequilíbrio ambiental e na
qualidade de vida de seus habitantes. Essas transformações nas
cidades conduzem a uma preocupação com o planejamento e gestão
pública, a partir da compreensão da diversidade dos aspectos do
espaço urbano com a dimensão socioambiental (BARGOS; MATIAS,
2011).
Nas últimas décadas, tem-se discutido com mais ênfase os
problemas ambientais, tornando-se uma temática obrigatória para o
cotidiano. As áreas verdes tornaram-se então um dos principais
ícones de defesa do meio ambiente, por conta de sua degradação e

50
Graduanda, Ciências Biológicas na Universidade Nove de Julho - UNINOVE,
talitaasants@gmail.com
51
Professora Mestre, Departamento de Saúde II da Universidade Nove de Julho - UNINOVE,
milenaregis@hotmail.com
52
Professora Doutora, Programa de Mestrado Profissional em Gestão Ambiental e
Sustentabilidade na Universidade Nove de Julho- UNINOVE, ana_paula@uni9.pro.br
100

pelo seu pequeno espaço que lhes é destinado em centros urbanos


tanto em relação a espaços públicos (LOBODA; DE ANGELIS, 2005),
como privados (LAMANO-FERREIRA et al., 2016).
Segundo Feiber (2004), as áreas verdes possuem importância
funcional no metabolismo da cidade. Estas atuam no conjunto de
fenômenos físicos e químicos necessários a vida, como a redução da
poluição e a ciclagem de nutrientes (FERREIRA et al., 2014). Além
disso, os espaços verdes das cidades garantem a conservação e
abrigo a fauna existente, papel importante na prestação de serviços
ecossistêmicos (LAMANO-FERREIRA et al. 2016).
Chiesura (2004) relata sobre a importância de áreas verdes
urbanas para a qualidade de vida humana, agindo simultaneamente
sobre o lado físico e mental do homem, tornando-se imprescindível
para o bem-estar da população. O estudo de França et al. (2016)
sobre conhecimentos ecológicos, mostra que os entrevistados
mencionam que as plantas são importantes para a cidade e estão
relacionadas com redução de poluentes atmosféricos. Entretanto, os
entrevistados mencionam que em parques públicos consideram
importantes: lixeiras, iluminação, gramado, ornamentação e por
última pavimentação.
Os inúmeros benefícios que as áreas verdes urbanas
proporcionam à sociedade são disponibilizados principalmente pelos
parques públicos. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) considera
os parques urbanos como “áreas verdes de domínio público com
função ecológica, estética e de lazer”. Esses espaços estão
relacionados à gestão ambiental e a qualidade de vida das
populações que habitam os centros urbanos, por meio dos serviços
ambientais que são prestados, como a preservação de recursos
naturais, a socialização e o aprendizado (CARDOSO et al., 2015).
O planejamento, a conservação e a manutenção de espaços
verdes urbanos, como os parques, interferem em seu desempenho
funcional para alcançar a maior eficiência possível, influenciando
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 101

diretamente na qualidade de vida da população. Bem como,


amenizando as consequências negativas que o avanço acelerado da
urbanização provoca ao meio ambiente (BARGOS; MATIAS; OTHERS,
2012).
De acordo com Benini et al. (2016), as cidades brasileiras têm
carência de espaços públicos destinados ao lazer e recreação. Nesse
contexto, o presente capítulo teve como objetivo realizar o
levantamento da infraestrutura do Parque Mario Pimenta Camargo,
localizado na capital paulista, popularmente conhecido como Parque
do Povo, com o intuito de informar quais equipamentos o parque
urbano pode oferecer aos frequentadores.
O Parque do Povo foi escolhido como área de estudo devido à
importância socioambiental que representa para a região onde está
implantado. O Parque foi inaugurado em 28 de setembro de 2008 e
tornando-se um importante espaço para a avaliação da conservação
e manutenção de áreas verdes urbanas da cidade de São Paulo. Pois
seu planejamento, gerenciamento e fiscalização, são mantidos por
meio de políticas públicas entre gestores municipais e representantes
da sociedade civil.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 ÁREA DE ESTUDO

O presente estudo foi realizado no Parque do Povo, localizado


no bairro Itaim Bibi, na zona Sul do Município de São Paulo, próximo
às Avenidas Cidade Jardim, Henrique Schaumann e Nações Unidas
(Figura 1). O Parque foi instalado numa área que pertencia a Caixa
Econômica Federal (CEF) e ao Instituto Nacional de Seguro Social
(INSS). Durante duas décadas, diversas agremiações esportivas
ocuparam o local, até que em 2006 a Prefeitura conseguiu a
concessão do espaço. Sua área é de 133.547 m 2 e atualmente o
102

espaço é propriedade da Construtora WTORRE Empreendimentos e


da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Figura 1 - Vista superior da área do Parque Mario Pimenta Camargo


(Parque do Povo) e seus arredores.

Fonte: Google Earth, 29.04.2016

O Parque do Povo está localizado em uma área nobre na região


oeste da cidade de São Paulo. Possui fácil acesso a diversos
estabelecimentos comerciais, centros empresariais e residenciais.
Além de, no entorno do parque serem encontrados pontos de táxi e
de ônibus, bem como a estação Cidade Jardim da CPTM (Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos).
O parque funciona diariamente das 6h00 às 22h00, e sua
infraestrutura possui complexos esportivos, como: quadras
poliesportivas; campo de futebol gramado; ciclovia; pista de
caminhada; aparelhos de ginástica para a terceira idade e atividades
permanentes, por exemplo, o grupo de caminhada e o de Tai Chi Pai
Lin. Além disso, o parque também dispõe de roteiros botânicos,
como: o Jardim dos Sentidos, no qual os frequentadores podem
apalpar, morder e sentir o aroma das folhas de espécies vegetais.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 103

Segundo a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente


da Prefeitura de São Paulo, foram registradas no Parque 32 espécies
de plantas, dentre elas 2 espécies ameaçadas de extinção, a
Grumixama (Eugenia brasiliensis) e o Pau-Brasil (Caesalpinia
echinata), além de 37 espécies de aves típicas de ambientes abertos,
como o tico-tico, quero-quero, asa-branca, beija-flor-tesoura, rolinha,
pica-pau-do-campo, suiriri-cavaleiro, sabiá-do-campo, maracanã-
nobre, tuim, sanhaçu-do-coqueiro, ferreirinho-relógio, alegrinho,
pitiguari e avoante.

2.2 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Para o desenvolvimento desta pesquisa, os dados coletados


foram baseados em fichas propostas por De Angelis et al. (2004). As
fichas foram preenchidas durante as visitas ao parque, as quais
ocorreram nos dias 05 de março de 2016 e 16 de abril de 2016.
O parque foi categorizado a partir do levantamento
quantiqualitativo, adaptado ao Parque do Povo a partir de trabalhos
realizados com praças na cidade de São Paulo (OLIVEIRA, 2014). Foi
observada a estrutura existente no local, assinalando a presença ou
ausência de equipamentos e estruturas. Ainda sob o método dos
autores, foi levantada a quantidade de cada estrutura existente, além
de avaliar suas condições no ambiente. As fichas foram preenchidas
de acordo com a observação do pesquisador.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos, a partir do levantamento qualitativo e


quantitativo dos equipamentos e estruturas existentes no Parque do
Povo, demonstram que o Parque possui boa iluminação, alternando
entre pontos altos, localizados nos gramados centrais do parque e
104

nas quadras poliesportivas, e pontos baixos, rodeando as pistas de


caminhada e ciclovias, conforme tabela 1.

Tabela 1. Levantamento qualitativo e quantitativo dos equipamentos e estruturas


existentes no Parque do Povo.

EQUIPAMENTOS/ESTRUTURAS QUANTIDADE QUALIDADE


1. Bancos – material: madeira e concreto 97 BOM
2. Iluminação alta e baixa 156 BOM
3. Lixeiras 72 ÓTIMO
4. Sanitários 4 ÓTIMO
5. Bebedouros 6 ÓTIMO
6. Caminhos – material: concreto 3 BOM
7. Obra de arte: 2 BOM
8. Ponto de ônibus 2 BOM
9. Ponto de táxi 1 BOM
10. Quadra esportiva 3 ÓTIMO
11. Para prática de exercícios físicos 2 ÓTIMO
12. Para terceira idade 2 ÓTIMO
13. Parque infantil 1 ÓTIMO
14. Identificação 2 BOM
15. Edificação institucional 2 ÓTIMO
Fonte: O autor, 2016

O Parque dispõe de bancos de madeira e de concreto (figura 2)


distribuídos em toda a sua extensão. Estes se localizam
principalmente nos arredores das pistas de caminhada, ciclovias,
playgrounds e quadras e estão bem conservados, atendendo sua
funcionalidade. Rodeados pelos bancos em lugares estratégicos,
foram localizados 9 bituqueiras, que são aparatos destinados ao
descarte de bitucas de cigarro.
Assim como os bancos e a iluminação, as lixeiras estão
distribuídas em toda a extensão do Parque, a maioria delas apresenta
um bom estado de conservação. Cabe ressaltar que foram localizados
três tipos de recipientes: destinadas ao descarte de dejetos de
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 105

animais; com segmentos sugerindo o descarte de resíduo reciclável e


não reciclável, e com segmentação de materiais recicláveis, tais
como: papel; plástico; metais; vidro e orgânico. Na figura 3 é possível
observar os recipientes de diferentes segmentos (figura 3. a e d),
além de equipamentos de iluminação e bebedouros de água (figura
3. b e c).

Figura 2. Bancos do Parque do Povo: a – banco de madeira; b – banco de concreto

Fonte: O autor, 2016

Conforme mencionado anteriormente, lixeiras e iluminação


são prioridades dentre frequentadores de parques públicos (FRANÇA
et al., 2016). No entanto, frequentadores percebem estes espaços
como locais para convivência e interação social, o qual proporciona
aos moradores da cidade o contato com a natureza (DORIGO;
LAMANO-FERREIRA, 2015).
106

Figura 3. Equipamentos do Parque do Povo:


a – lixeiras recicláveis; b - iluminação baixa, lixeira e banco; c – bebedouro; d – lixeira.

Fonte: O autor, 2016

Os equipamentos de atividades físicas para idosos,


denominados como academia da terceira idade, estão em bom
estado. Possuem informativos com orientações sobre a forma de uso,
como se alongar e quais benefícios cada equipamento proporcionam
ao frequentador. Aparelhos similares aos de idosos também foram
localizados no parque, com funcionalidade similar, destinados ao
público mais jovem.
Há no parque um playground, dividido em três aglomerados,
com estruturas de madeiras e de ferro. Este local de lazer infantil é
constituído por vários brinquedos, atraindo as crianças pela
criatividade das brincadeiras, conforme figura 4.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 107

Figura 4. Infraestrutura do Parque do Povo: a – aparelho de ginástica; b – aparelho de ginástica


para a terceira idade; c – administração; d – playground

Fonte: O autor, 2016

No complexo esportivo do Parque do Povo as quadras


poliesportivas possuem marcação especial para esportes
paraolímpicos, e um campo de futebol gramado. Estão em bom
estado, possuem iluminação alta e seu piso está pintado e bem
conservado. Próximos a esse complexo e nos demais arredores do
Parque, foram localizados bebedouros, todos em funcionamento.
Cabe ressaltar que os bebedouros são adaptados para cadeirantes e
também para os animais.
O Parque possui pista de skate e patins, de caminhada/corrida
e ciclovias. Seu piso é impermeável e o material constituinte é o
concreto reaproveitado do entulho de construção civil das
edificações que existiam no local. A pista de caminhada/corrida está
localizada em todo perímetro do parque, esta é margeada por
108

vegetação, porém com um baixo sombreamento, devido à diminuta


área vegetativa no parque. A pista de skate e patins está localizada
próximo ao complexo esportivo do parque, e a ciclovia no entorno
geral do local, com duas entradas e saídas, que dão acesso a ciclovias
externas das avenidas próximas ao parque.
Ao redor do parque, foram localizados dois pontos de ônibus e
um ponto de taxi, facilitando o acesso ao local. A possibilidade de
acessar o Parque do Povo utilizando transporte público se faz
importante porque o Parque não possui estacionamento.
O parque possui dois prédios de apoio à administração, onde
estão localizados os banheiros e a sede administrativa do local. Sua
construção possui ventilação natural e prioriza a luz do dia, reduzindo
o uso de energia elétrica. No entorno dos prédios observa-se murais
com informativos gerais sobre as normas do parque, horários de
atendimento, contato com a administração e atividades culturais e
esportivas.
Em dois pontos do Parque foram localizadas duas esculturas
esculpidas em bronze fundido e patinado. A escultura “Homem na
Chuva” de Christina Motta (São Paulo, 1944) e uma peça de Florian
Raiss denominada como “Os Quadrúpedes”. Na figura 5 é possível
visualizar as esculturas em questão.
Em toda a área do Parque são encontradas placas informativas
identificando as espécies de plantas, os equipamentos e
infraestrutura do local (pistas, banheiros, bebedouros, quadras,
administração, entre outros), além de informativos sobre as normas
de cada ambiente do parque. Cabe informar que o parque não possui
pontos de venda de alimentos, telefones públicos e estacionamento.
Também é importante mencionar que o Parque do povo apresenta
poucos espaços com sombreamento para os frequentadores, uma
vez que as árvores ainda são jovens.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 109

Figura 5. Obras de arte do Parque do Povo:


a – Homem na Chuva; b – Os Quadrúpedes

Fonte: O autor, 2016

Por fim, cabe sinalizar que não foram localizados no Parque do


Povo: telefones públicos, palcos, chafariz e nascentes, bancas de
revistas e jornais para venda, quiosques de alimentação e templos
religiosos. Apesar da diversidade de espécies de árvores exóticas,
nativas frutíferas, madeiras nobres e trepadeiras, foi observado
pouca área arbórea densa, o que torna este espaço uma área aberta
e com pouca sombra.
110

4 CONCLUSÃO

O Parque do Povo possui quantidade e qualidade ao que se


refere à infraestrutura para a população, com ótima estrutura e
equipamentos esportivos. Desse modo, infere-se que o Parque foi
planejado visando o público que busca praticar atividades físicas,
como: futebol; ginástica/CrossFit; corridas/caminhadas; yoga;
massagem; artes marciais; dentre outras práticas. Além disso, foi
observada a presença de frequentadores com crianças que fazem uso
de playgrounds, idosos utilizando as academias voltadas à terceira
idade, visitantes passeando com animais de estimação, bem como,
frequentadores utilizando os espaços mais sombreados para prática
de piquenique e descanso.
Sugere-se conhecer a percepção dos frequentadores deste
parque, assim como estes utilizam o espaço. Essas informações
podem auxiliar o gestor nas tomadas de decisão e contribuir para a
manutenção do mesmo.

REFERÊNCIAS

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conceitual. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v. 6, n. 3, p. 172–
188, 2011.
BARGOS, D. C.; MATIAS, L. F.; OTHERS. Mapeamento e análise de áreas verdes
urbanas em Paulínia (SP): estudo com a aplicação de geotecnologias. Sociedade &
Natureza, v. 24, n. 1, p. 143–156, 2012.
BENINI, S.M.; ROSIN, J.A.R.G.; MARTIN, E.S. A importância das áreas verdes de uso
público na cidade contemporânea. In: Benini, S.M.; Rosin, J.A.R.G. (Org.). Estudos
Urbanos: uma abordagem interdisciplinar da cidade contemporânea. 2ed.Tupã:
ANAP, 2016, p. 307-323.
CARDOSO, S. L. C.; VASCONCELLOS SOBRINHO, M.; VASCONCELLOS, A. M. DE A.
Gestão ambiental de parques urbanos: o caso do Parque Ecológico do Município de
Belém Gunnar Vingren. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, v. 7, n. 1, p. 74–
90, 2015.
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CHIESURA, A. The role of urban parks for the sustainable city. Landscape and urban
planning, 68(1), 129-138.
DE ANGELIS, B. L. D.; CASTRO, R. M. DE; DE ANGELIS NETO, G. Metodologia para
levantamento, cadastramento, diagnóstico e avaliação de praças no Brasil.
Engenharia Civil, v. 4, n. 1, p. 57–70, 2004.
DORIGO, T. A.; LAMANO-FERREIRA, A. P. N. Contribuições da Percepção Ambiental
de Frequentadores Sobre Praças e Parques no Brasil (2009-2013): Revisão
Bibliográfica. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade-GeAS, v. 4, n. 3, p. 31–
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FEIBER, S. D. Áreas verdes urbanas: imagem e uso - o caso do passeio público de
Curitiba-PR. Raega-O Espaço Geográfico em Análise, v. 8, 2004.
FERREIRA, M. L.; SILVA, J.L.; PEREIRA, E.E.; LAMANO-FERREIRA, A.P.N. Litter fall
production and decomposition in a fragment of secondary Atlantic Forest of São
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FRANÇA, J.U.B.; LAMANO-FERREIRA, A.P.N.; RUIZ, M.S.; QUARESMA, C.C.; KNIESS,
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the East zone of São Paulo, SP: implications for sustainability in urban área. Holos, v.
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In: Benini, S.M.; Rosin, J.A.R.G. (Org.). Estudos Urbanos: uma abordagem
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LOBODA, C. R.; DE ANGELIS, B. L. D. Áreas verdes públicas urbanas: conceitos, usos e
funções. Ambiência, 2005.
OLIVEIRA, K.C.; LAMANO-FERREIRA, A.P.N.; RUIZ, M. Levantamento qualiquantitativo
de equipamentos e estrutura de cinco praças na cidade de São Paulo, SP. Periódico
Técnico e Científico Cidades Verdes, v.2, n.2, p. 59-73, 2014.
112
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 113

Capítulo 6

AVALIAÇÃO DAS INFRAESTRUTURAS DAS PRAÇAS CENTRAIS


DA CIDADE DE CAMPO MOURÃO – PR

Tatiane Monteiro Re53


Marcos Clair Bovo54

O aumento da população urbana de forma desordenada,


principalmente a partir da década de 1970, trouxe consigo o
aumento dos problemas econômicos e socioambientais e,
consequentemente, a diminuição da qualidade de vida da população.
É nesse sentido que temas relacionados ao desenvolvimento urbano
sustentável vêm sendo debatidos por pesquisadores nos níveis
técnicos e científicos, porque se tornaram questões cada vez mais
presentes para o planejamento e para a gestão urbana.
Assim, nesta pesquisa, buscamos entender a praça enquanto
um elemento estruturador do espaço urbano, pois atende a várias
funções, dentre elas destacamos: a social, a estética, a ecológica, a
paisagística, a climática, a psicológica e a recreativa. Dessa forma, a
praça pública é utilizada pela população como espaço de lazer, de
descanso, de circulação de pessoas, de embelezamento ou apenas
desfruta-se de sua paisagem por proporcionar um contato mais
próximo com a natureza no meio urbano. Dada a importância da
praça para a população citadina, a presente pesquisa tem como

53
Mestranda do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento da
Universidade Estadual do Paraná – Campus Campo Mourão. tatiane@utfpr.edu.br
54
Professor Adjunto do Colegiado de Geografia e do Programa de Pós-graduação
Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento da Universidade Estadual do Paraná – Campus
Campo Mourão. mcbovo69@gmail.com
114

objetivo/intenção caracterizar e analisar a Praça São José e a Praça


Getúlio Vargas na cidade de Campo Mourão (PR), destacando-se os
aspectos paisagísticos e as infraestruturas existentes de forma a
propor medidas que auxiliem no planejamento e gerenciamento
destes logradouros.

MATERIAIS E MÉTODO: A PRAÇA ENQUANTO ESPAÇO PÚBLICO

A praça é um dos principais elementos que compõem uma


cidade. Na história da humanidade, encontramos praças desde
tempos mais antigos. A Ágora, na Grécia antiga, e o Fórum romano
eram os espaços públicos de uso coletivos mais importantes na
cidade, servindo como ponto de encontro, comércio e circulação de
pessoas. Na Idade Média, as praças assumem funções específicas:
praça da igreja, praça de mercado, praça de entrada da cidade, praça
do centro da cidade, entre outras. No Renascimento, além dos
valores funcionais, elas ganham valores estéticos e passam a
ornamentar a cidade. Segundo De Angelis et al. (2005), é nesse
período histórico que a praça se converte em um dos principais
elementos urbanísticos para a transformação e embelezamento das
cidades.
No Brasil, as praças coloniais surgiram a partir das igrejas,
como observamos em Marx (1980, p. 222): “logradouro público por
excelência, a praça deve sua existência, sobretudo, aos adros das
nossas igrejas”. A partir da igreja e da praça surgia a cidade com os
principais prédios públicos e melhores moradias, sendo, portanto, os
espaços mais nobres da cidade. Nas palavras de Robba e Macedo
(2002, p. 22), “era ali que a população colonial manifestava sua
territorialidade, os fiéis demonstravam sua fé, os poderosos, seus
poderes, e os pobres, sua pobreza”. Apesar de terem sido, por muito
tempo, símbolo do poder religioso, as praças brasileiras também
representavam as funções cívicas e militares.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 115

Com o aumento da população e o crescimento desordenado


das cidades brasileiras, os espaços livres passaram a ser cada vez
mais valorizados tanto para recreação como para embelezamento da
cidade. Tal fato altera a função das praças brasileiras e marca o
surgimento das praças ajardinadas na história dos espaços livres
urbanos no país.
Para estudar as praças brasileiras, precisamos considerar o
desenvolvimento do paisagismo no país. Segundo De Angelis (2000),
o paisagismo brasileiro se define no século XIX a partir da
consolidação de uma rede de cidades, situadas principalmente ao
longo do litoral e sob forte influência urbanística europeia (francesa e
inglesa), que contribuiu para a criação de espaços públicos (parques,
praças e boulevards).
Macedo (1998, p.15), por meio do Projeto Quapa, destaca o
paisagismo brasileiro em três períodos distintos: o ecletismo, o
moderno e o contemporâneo:
• Ecletismo: Recebeu forte influência europeia. Marcado
pelo surgimento dos primeiros parques públicos, praças
ajardinadas, jardins dos barões do café.
• Moderno: Marcado pelo uso de vegetação nativa e
rompimento com escola clássica. Destaque para os
trabalhos de Roberto Burle Marx em Recife e Rio de
Janeiro.
• Contemporâneo: Recebeu influência paisagística japonesa,
americana e francesa utilizando estruturas construídas e
vegetação. Desenvolveu-se a partir dos anos 1980 e 1990.
A incorporação da vegetação no espaço público brasileiro
mostra a necessidade do contato do homem urbano com a natureza,
fato marcado pelo surgimento de hábitos de jardinagens, pela
abertura dos jardins botânicos para a população e pela arborização
das ruas e praças públicas.
116

Em síntese, os imensos espaços abertos e sem vegetação, que


serviam apenas como local de encontro começam a ser planejados
para atender às novas funções que surgem nas cidades brasileiras. A
inserção de arborização, inclusive a nativa que antes era
desvalorizada, colabora para que o espaço urbano seja pensado tanto
em nível estético como em nível funcional.
Hoje, essa valorização passa a constituir em um dos
indicadores de qualidade dos espaços livres públicos, pois além de
servir como um fator de embelezamento da cidade permite uma
ruptura na paisagem constituída por edificações, proporcionando
tanto espaços de passagem, embelezamento e ordenamento urbano
quanto espaço de sociabilidade da população. Porém, apesar do
empenho das administrações municipais em equipar e manter as
praças públicas brasileiras percebe-se um abandono desses espaços
por parte da população, principalmente nos grandes centros, que
apresentam outros atrativos de consumo e lazer como shoppings e
televisão.
Vários pesquisadores, dentre eles Marx (1980), Ferrara (1993),
Segawa (1996), Robba e Macedo (2002), Sun Alex (2008), Serpa
(2011) têm discutido em seus trabalhos a importância das praças
públicas na sociedade brasileira.
Para Robba e Macedo (2002), estudos sobre praça devem
considerar seu uso e sua acessibilidade. No primeiro caso, por ser
espaço público urbano destinado ao lazer e ao convívio da
população, e acessibilidade por ser espaço livre de veículos e
acessível ao cidadão.
Outro autor que discute a questão da acessibilidade é Sun Alex
(2008), para o qual “a praça não é apenas um espaço físico aberto,
mas também um centro social integrado ao tecido urbano. Sua
importância refere-se a seu valor histórico, bem como a sua
participação contínua na vida da cidade” (2008, p. 23). Destaca que a
acessibilidade é um dos fatores fundamentais para o uso e
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 117

apropriação do espaço público. O acesso a esse espaço pode ser


físico (com barreiras físicas que impeçam o acesso), visual (ameaça
visual de que o lugar não é seguro) e simbólico ou social (sinais que
sugerem quem não é bem vindo ao local); eles podem ser
combinados tornando o local mais ou menos convidativo ao uso
(2008, p. 25).
Como dito anteriormente, as praças são elementos de grande
importância para a população à medida que atendem às várias
funções: estética (embelezamento), ambiental (qualidade do
ambiente), social (convivência entre pessoas de faixa etária diversa) e
simbólica (lazer, descanso). A questão da acessibilidade, portanto, é
primordial para garantir o uso e a permanência das pessoas nos
espaços públicos. Sun Alex (2008) alerta que:

O desuso das praças acarreta a perda de oportunidades de


sociabilização e de fortalecimento da cidadania, contribuindo para o
aumento da dependência de espaços privados para a prática da vida
pública e, consequentemente, das desigualdades sociais e da
exclusão. Garantir o acesso público e o uso coletivo – condições
essenciais para promover a vida pública nas praças – é um desafio e
uma responsabilidade para a cidade e para o paisagismo. (ALEX,
2008, p. 279).

O espaço público é compreendido por Serpa (2011, p. 9) como


espaço da ação política, ele o analisa enquanto mercadoria para
consumo de poucos segundo a lógica do sistema capitalista. Para
tanto, aborda os conceitos de: cidadania, política e acessibilidade. A
acessibilidade física (sem barreiras que impeçam o acesso) e também
a acessibilidade simbólica (à medida que a apropriação espacial
seleciona ou limita o acesso ao espaço público).
Para Serpa (2011), as transformações urbanas têm sofrido
influência do consumo e do lazer da classe média, multiplicando,
assim, a valorização do solo. Aponta que há uma tendência em se
investir em espaços públicos “visíveis”, aqueles com maior destaque
na cidade.
118

METODOLOGIA

Para a realização deste capítulo, adotamos os seguintes


procedimentos metodológicos: pesquisa bibliográfica sobre praças
públicas, áreas verdes urbanas e espaço público; trabalho de campo
para levantamento das estruturas e mobiliários presentes nas Praças
São José e Getúlio Vargas da cidade de Campo Mourão e registro
fotográfico dessas estruturas.
Para avaliar de forma qualitativa e quantitativa as estruturas e
mobiliários, utilizaremos a metodologia desenvolvida por De Angelis
(2000), que estabelece parâmetros fixos de avaliação das estruturas
existentes nas praças: bancos, iluminação, sanitários, lixeiras entre
outras. Com o estabelecimento de parâmetros fixos, buscamos evitar
que o mesmo equipamento seja avaliado de forma diferente.
O registro fotográfico permitirá apresentar em forma de
mosaico a qualidade das estruturas e mobiliários presentes nas
Praças São José e Getúlio Vargas.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

O presente objeto teve como recorte espacial as Praças São


José e Getúlio Vargas (Figura 1) do município de Campo Mourão, que
está localizado na Mesorregião Centro Ocidental Paranaense.
Segundo o IBGE (2014), possui população total de 87.194 habitantes,
sendo 4.518 habitantes residentes na área rural e 82.676 na área
urbana. Conforme o Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES, 2015), esse município possui uma área
de 763,637 km², está a 447,18 km distante da capital do estado e o
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 2010, era de 0,757,
ligeiramente acima do índice do estado que é de 0,749.
As praças São José e Getúlio Vargas estão localizadas na área
central da cidade de Campo Mourão. Na década de 1940,
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 119

compunham um único espaço no entorno da igreja São José,


destinado às comemorações religiosas.

Figura 1 – Praças Centrais de Campo Mourão

Fonte: Museu Municipal Deolindo Mendes Pereira, 2015.

Com o mapeamento e demarcação dos primeiros quarteirões


para formação do núcleo urbano de Campo Mourão, a praça foi
fragmentada em dois espaços: um deles continuou destinado às
atividades religiosas e o outro ao lazer da população. A Praça Getúlio
Vargas foi oficializada no final da década de 1950, e a Praça São José
na segunda metade da década de 1960.
Na década de 1980, foi construído, no lugar da igreja São José,
a nova Catedral da cidade. Nessa época, o poder público municipal
fechou a Rua Brasil e construiu um calçadão entre as duas praças,
passando a falsa impressão da existência de apenas uma praça.
A partir da década de 1990, outros grupos passaram a
frequentar esses espaços, como andarilhos, prostitutas, etc. Na
120

tentativa de resgatar tais logradouros, em 2004 o poder público


municipal revitalizou-os e reabriu a Rua Brasil; porém, devido à
proximidade e à padronização dos mobiliários, a impressão de uma
única praça permanece.
A pesquisa in loco proporcionou apresentar uma análise
detalhada de todos os equipamentos existentes nas duas praças.
Logo, por serem semelhantes, apresentaremos uma análise integrada
das principais estruturas e mobiliários presentes nestas praças,
conforme apresentamos nos mosaicos das Figuras 2 e 3.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 121

Figura 2 - Mosaico das estruturas e mobiliários da Praça São José

1- Estátua; 2- Catedral São José; 3- Quiosque de alimentação; 4- Estátua em homenagem a São


José; 5- Banco; 6- Gramado; 7- Pavimentação; 8- Pátio para realização de eventos; 9- Palco;
10- Lixeira; 11- Estacionamento e 12- Ponto de água.
Foto: Tatiane Monteiro Ré, 2015.
122

Figura 3 - Mosaico das estruturas e mobiliários da Praça Getúlio Vargas

1- Pavimentação; 2- Banco; 3- Poste de luz; 4- Ponto de água; 5- Biblioteca Municipal; 6-


Poste de luz; 7- Ponto de táxi; 8- Coreto; 9- Lixeira; 10- Chafariz; 11- Gramado; 12- Placa de
identificação das duas Praças: Getúlio Vargas e São José.
Fotos: Tatiane Monteiro Ré, 2015.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 123

Quanto aos caminhos, são pavimentados por bloquetes que


facilitam o acesso e a circulação de transeuntes em diferentes áreas
da praça, inclusive em dias de chuva. A pavimentação encontra-se
em ótimo estado de conservação, o traçado é adequado do ponto de
vista funcional e estético e tem uma largura adequada para a
circulação.
Outro mobiliário de grande relevância são os bancos, pois
permitem que as pessoas permaneçam na praça para descansar,
contemplar a natureza, ler ou encontrar com amigos. Os bancos
possuem os pés ornamentados, de ferro, com encosto e assento em
madeira, e estão bem conservados e distribuídos por toda a praça,
proporcionando o uso e a permanência das pessoas.
Localizamos lixeiras de plástico sobre estrutura de metal em
bom estado de conservação; porém, insuficientes para atender de
forma satisfatória. Observamos apenas um ponto de água em cada
praça, utilizados para limpeza e irrigação das plantas, não sendo
possível saciar a sede dos usuários.
Em relação à iluminação, encontramos postes baixos
espalhados pelas duas praças. À noite, alguns pontos como chafariz,
estátuas e espaço para eventos recebem iluminação de destaque
contribuindo para a iluminação geral.
Além dessas estruturas, encontramos outros elementos que
compõem a forma das praças. Na São José, o elemento mais
importante é a Catedral São José, que dá o nome a praça. Outros
elementos religiosos foram encontrados: duas estátuas, uma em
homenagem a São José e outra em homenagem ao centenário
natalício de Dom Eliseu Simões Mendes, primeiro bispo de Campo
Mourão (1915 – 2015). Há, também, dois quiosques de alimentação
em bom estado de conservação que atendem ao público no período
diurno.
Na Praça São José há um palco e um amplo espaço de onde
acontecem eventos, religiosos ou não. Na foto, podemos observar
124

estruturas metálicas de um evento dos comerciantes locais que havia


ocorrido no final de semana. A Catedral utiliza uma parte do seu
entorno como estacionamento particular, atendendo a falta de
estacionamento do centro da cidade.
O destaque da Praça Getúlio Vargas é o chafariz que atrai a
atenção de crianças e adultos por sua beleza; à noite ele possui
iluminação própria. Nessa praça, encontramos um prédio
institucional, a Biblioteca Pública Municipal, que atende toda a
população. Encontramos uma placa de identificação com referência
às duas praças, mas em péssimo estado de conservação, não sendo
possível identificar o seu conteúdo. Há um coreto que está fechado
atualmente e um ponto de táxi.
As Praças São José e Getúlio Vargas formam um espaço público
fundamental para o desenvolvimento da cidadania, pois
proporcionam a integração de usuários de diferentes níveis sociais e
econômicos. Nota-se que há investimento por parte do poder público
e religioso para que as praças tenham a configuração atual e possa
atender às funções delas esperadas.
No entorno das praças encontramos o centro comercial da
cidade com lojas de vestuário, lojas de produtos agrícolas, sapatarias,
relojoarias, livrarias, farmácias, hotéis, restaurantes, agência dos
correios, Prefeitura Municipal de Campo Mourão, Câmara Municipal
de Campo Mourão, Colégio Vicentino Santa Cruz entre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a análise dos resultados obtidos no levantamento dos


aspectos quantitativos e qualitativos dos equipamentos e estruturas
existentes nas Praças São José e Getúlio Vargas foi possível concluir
que ambas desempenham as funções estética, ambiental e social. A
mais evidente é a social, pois as estruturas presentes possibilitam o
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 125

convívio e a integração de pessoas de níveis sociais, culturais,


econômicos e idades diferentes.
O poder público municipal e as entidades religiosas, enquanto
gestores desses espaços públicos estão atuando na manutenção e
conservação da praça. No entanto, com intuito de contribuir com as
futuras implementações ou reformas, deixamos algumas sugestões
pensando no conforto dos usuários das praças. A instalação de
parque infantil seria uma opção de lazer para a população, pois não
encontramos atividades de lazer gratuitas na cidade. Para que seja,
efetivamente, um elemento integrador, necessita estar em boa
qualidade de uso e adequado à capacidade psicomotora dos
usuários, que tenha cores e modelos variados e em quantidade
suficiente para atender o público. A instalação de um módulo policial
seria uma opção para aumentar a segurança dos usuários. A
instalação de alguns pontos de água (bebedouros) contribuiria com o
conforto dos usuários.

REFERÊNCIAS

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Editora Senac, 2008.
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SERPA, Angelo. O espaço público na cidade contemporânea. 1. Ed. São Paulo: Editora
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Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 127

Capítulo 7

PARQUE DO CARMO: INFRAESTRUTURA E PERCEPÇÃO DE


FREQUENTADORES NA CIDADE DE SÃO PAULO

Milena de Moura Régis 55


Fabio Arivabene de Oliveira 56
Ana Paula Branco do Nascimento57

A importância das áreas verdes públicas tem valor crescente


com o aumento acentuado da urbanização e dos problemas
ambientais. Estas áreas desempenham um papel significativo na
melhoria do ambiente urbano, por isso a população humana
emprega diversos usos a esses espaços e, consequentemente, os
percebem de maneiras distintas (COSTA; COLESANTI, 2011). Esses
espaços verdes desempenham funções ecológicas, sociais e
possibilitam lazer e descanso ao ar livre, promovendo melhorias à
saúde, bem-estar físico e psicológico aos frequentadores. Desse
modo, a vegetação funciona como um refúgio do caos urbano
(SANTOS et al., 2019).
As áreas verdes urbanas, na configuração de parques, estão
associadas aos fragmentos florestais resultantes da degradação
causada pelas ações humanas. Esses espaços públicos são
fundamentais para se alcançar objetivos socioambientais, além de

55
Bióloga, doutoranda em Ciência Ambiental – PROCAM/IEE USP. Professora do Departamento
de Saúde II da Universidade Nove de Julho (UNINOVE). E-mail: milenamregis@hotmail.com
56
Biólogo, bacharel e licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Nove de Julho
(UNINOVE). E-mail: fabiotwa@gmail.com
57
Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil-PPGEC da
Universidade São Judas Tadeu (USJT) e Docente Colaboradora no Programa de Sustentabilidade
na Gestão Ambiental da UFSCar-So. E-mail ana.branco@saojudas.br
128

sua fauna e flora prestarem serviços ecossistêmicos aos centros


urbanos, principalmente nas regiões que perderam grande parte da
vegetação nativa (FURLAN, 2004) e, consequentemente, da
biodiversidade.
Os parques urbanos, como outros modelos de áreas verdes,
promovem benefícios aos frequentadores (OLIVEIRA et al., 2013) tais
como: melhoria da qualidade do ar; redução de poluição sonora e
visual; conforto térmico; evapotranspiração; embelezamento da
cidade; prazer estético com texturas, formas e cores diferentes;
conservação da flora nativa e estabilidade do solo (CECCHETTO et al.,
2015). Esses aspectos podem atrair mais frequentadores aos parques
urbanos (CEMIG, 2011).
Com o aumento da urbanização observa-se que os
investimentos na manutenção, preservação e expansão das áreas
verdes urbanas, como os parques, estão sendo negligenciados. Em
algumas cidades, essas áreas acabam sendo destinadas à construção
de novas edificações e assim o local deixa de ofertar os serviços
ecossistêmicos que beneficiam a população citadina (COSTA;
COLESANTI, 2011).
De acordo com Melazo (2005), a percepção da população
humana está centrada nas diferenças entre os valores, culturas,
interesses e estilo de vida, num sentido amplo de discussão de
importância individual e coletiva. Cabe destacar que a falta de
planejamento urbano, principalmente na cidade de São Paulo,
contribui para a eliminação da maior parte da cobertura vegetal, por
meio de ocupação irregular, desmatamento, invasão de áreas
legalmente protegidas, dentre outros (SILVA et al., 2006). Nesse
sentido, as pesquisas sobre percepção geram uma nova consolidação
teórica, principalmente voltada à educação ambiental – que pode
alcançar outras áreas de conhecimento, fazendo-se necessária a
discussão sobre uso coletivo dos espaços verdes urbanos, como os
parques, por seus visitantes (JACOBI, 2003).
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 129

Os parques urbanos são utilizados de formas diferentes, de


modo único para cada indivíduo que os frequenta, de maneira
conjunta ou não, as atividades e percepção estão relacionados com
as diferentes idades, experiências, educação e aspectos
socioambientais. Portanto, o estudo da percepção desses indivíduos
auxilia no entendimento das suas necessidades, buscando melhorar e
disponibilizar um ambiente agradável a todos (MELAZO, 2005). Sendo
assim, compreender a percepção de frequentadores de parques
urbanos, buscando investigar as necessidades, atitudes, opiniões e
usos que determinados grupos têm da paisagem local, na qual estão
inseridas (SANTOS et al., 2019), se faz necessário para entender
como cada indivíduo valoriza e contribui para preservação desses
fragmentos florestais.

PARQUE DO CARMO

O Parque do Carmo está localizado na zona leste do município


de São Paulo/SP, sob as coordenadas -23.581756, -46.462341. Este
foi inaugurado em 1976, oferecendo estrutura completa aos
visitantes, contando hoje com diversas fontes de entretenimento,
como: Museu do Meio Ambiente; Anfiteatro; Monumento à
Imigração Japonesa; Viveiro Arthur Etzel; Bosque de Leitura; Festa
das Cerejeiras – que acontece desde 1978 para comemorar a florada
da árvore símbolo do Japão (SÃO PAULO, 2021).
Em domínio da Subprefeitura de Itaquera/Parque do Carmo
com divisa em São Matheus dentro da APA do Carmo (Área de
Proteção Ambiental) regulamentada pelo Decreto nº 37.678, uma
reserva natural que tem abrangência territorial de 449,78 hectares
destinados à preservação ambiental. O perímetro do Parque
comporta o SESC Itaquera, Parque Natural Municipal Fazenda do
Carmo, Parque do Carmo, antiga Usina de Compostagem e Aterro
Sanitário São Matheus, que está desativado e a administração do
130

local é feita pela EcoUrbis Ambiental S.A – empresa licitada pela


Prefeitura de São Paulo/SP para realizar a gestão de resíduos no
Município (PLANO DE MANEJO, 2014).
O Parque do Carmo – Olavo Egydio Setúbal está inserido na
maior cidade de área urbana do Brasil, com 11.753.659 habitantes no
município, 210,158 no distrito de Itaquera e 71.087 no distrito do
Parque do Carmo (SEADE, 2018). A região de Itaquera é valorizada
por comportar essa reserva com seu entorno urbanizado,
caracterizando ainda mais a necessidade de preservação e
manutenção deste patrimônio natural. Na Figura 1 é possível
observar a divisão territorial do Parque, que é considerado a maior
área verde urbana da zona leste de São Paulo/SP.

INFRAESTRUTURA DO PARQUE

Para investigar a percepção dos frequentadores sobre a


infraestrutura disponível no Parque, foi utilizado um roteiro de
entrevista adaptado de Régis et al. (2016). O roteiro contém 10
assertivas, baseadas em uma escala likert com cinco opções de
respostas (1. muito ruim; 2. ruim; 3. regular; 4. boa; 5. muito boa). A
participação dos frequentadores nas entrevistas ocorreu de forma
voluntária (GODOI et al., 2010). Aos entrevistados que aceitaram
participar da pesquisa foi fornecido um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), para que eles pudessem conferir e assinar
autorizando a participação na pesquisa.
O Parque do Carmo (Figura 1) é mapeado com diversos pontos
de referência bem didáticos para auxiliar seus frequentadores, por
isso optou-se por iniciar a contagem da infraestrutura em 2 pontos: o
planetário e a administração do Parque.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 131

Figura 1 – Região e divisão territorial da APA do Carmo

Fonte: Unicamp (2019).

O levantamento qualitativo e quantitativo dos equipamentos e


infraestrutura disponíveis no Parque do Carmo revelou que o Parque
possui 1.406 elementos. Os itens avaliados como “Ótimo” (nota 4),
de acordo com as métricas propostas por De Angelis et al. (2004),
foram: 42 painéis solares; 16 edificações; 5 portarias, enquanto 11
itens foram avaliados como “Bom” (notas entre 2,5 e 3,5): bancos
(221 de madeira e 6 de pedra); 681 equipamentos de iluminação; 119
lixeiras; 13 sanitários; 7 telefones públicos; 23 bebedouros; 13 áreas
destinadas à prática de esportes e exercícios; 5 parques infantis; 31
quiosques; trilhas (11 de concreto e 28 de terra); 97 churrasqueiras
(Tabela 1).
O Parque também possui 61 placas de identificação, 49 delas
apresentam informações – por isso foram avaliadas como bom – e 12
não apresentam informações – por isso foram avaliadas como
péssimo (nota 0,5). Além disso, as 4 câmeras presentes no local,
132

também foram avaliadas como péssimo (nota 0,5). Outros


equipamentos e infraestrutura foram avaliados como regular (as
notas variaram entre 1,7 e 2,2), tais como: estacionamento para
carros (8 áreas) e motos (2 áreas); 1 ponto de táxi; brejos (3 áreas).
Por fim, alguns foram avaliados como ruim (as notas entre 1 e 1,5),
como: 4 obras de arte; 3 pontos de ônibus; 2 coretos (Tabela 1).
Os bancos estão dispersos em todo o parque, próximos a
churrasqueiras, pista de caminhada e quadras de esporte, de madeira
ou de concreto estão em boa qualidade, assim atendendo a
necessidade dos usuários. Em relação aos equipamentos de
iluminação, dentre pontos altos e baixos, localizados em postes para
quadras esportivas e poucos pontos em pista de caminhada, há uma
preservação em bom estado, dispersos e atendendo a necessidade
dos frequentadores.
Nota-se uma falta de manutenção dos estacionamentos, obras
de arte, câmeras de vigilância e algumas placas de identificação,
estas que estão quebradas em pontos-chave do Parque, como inícios
de trilhas e locais com grande quantidade de frequentadores. A
avaliação negativa sobre esses elementos pode influenciar os
visitantes a deixarem de frequentar o Parque por conta da
precariedade ou da falta de equipamentos e serviços que
possibilitam interações, como ressaltaram Régis et al. (2016).
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 133

Tabela 1 – Levantamento da qualidade e quantidade dos equipamentos e


infraestrutura do Parque do Carmo
EQUIPAMENTOS QUANTIDADE QUALIDADE
Painéis Solares 42 Ótimo
Edificações 16 Ótimo
Portarias 5 Ótimo
Bancos 227 Bom
Iluminação 681 Bom
Lixeiras 119 Bom
Sanitários 13 Bom
Telefones públicos 7 Bom
Bebedouros 23 Bom
Quadras 13 Bom
Brinquedos 5 Bom
Quiosques 31 Bom
Trilhas de caminhada 39 Bom
Churrasqueiras 97 Bom
Placas de identificação 49 Bom
Paragem para carros 8 Regular
Paragem para motos 2 Regular
Ponto de táxi 1 Regular
Brejos 3 Regular
Obras de arte 4 Ruim
Pontos de ônibus 3 Ruim
Coretos 2 Ruim
Placas de identificação 12 Péssimo
Câmeras de segurança 4 Péssimo
Fonte: Autores (2020).

Cabe destacar que Parque do Carmo implantou e utiliza painéis


solares – que estão em ótimo estado de conservação, sendo este o
único parque da zona leste de São Paulo a investir em energia
sustentável. A análise dos dados demonstrou que o Parque dispõe de
uma grande quantidade e variedade de equipamentos e
infraestrutura, estes estão bem conservados e em bom estado.
Na Figura 2 é possível visualizar alguns dos elementos
presentes no Parque e avaliados neste estudo. Alguns critérios são
importantes para a escolha de parques urbanos pelos
frequentadores. Dentre esses critérios estão a quantidade e a
134

qualidade dos equipamentos e infraestrutura disponíveis no local e


seu estado de conservação.

Figura 2 – Infraestrutura do Parque do Carmo – Olavo Egydio Setúbal: A – Área


verde, B – Brinquedos (playground), C – Banco, D – Banheiros, E – Equipamentos de
ginástica, F – Entrada principal do Parque, G – Churrasqueiras, H – Poste de
iluminação, I – Pista de caminha pavimentada, J – Estacionamento, K – Bebedouro, L
– Pista de caminhada não pavimentada

Fonte: Autores (2020).

PERFIL DOS FREQUENTADORES

Foram entrevistados 100 frequentadores do Parque do Carmo,


sendo 49 (49%) mulheres e 51 (51%) homens. Sobre a faixa etária,
43% dos participantes tinham entre 18 e 29 anos, quanto à
escolaridade, 61% dos entrevistados tinham o Ensino Médio
completo ou incompleto. Com relação à situação conjugal, 50% dos
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 135

entrevistados eram solteiros (Tabela 2). Tais dados são importantes


porque, segundo Tuan (2012), é importante investigar a formação,
ensino e ocupação de uma determinada pessoa para compreender as
escolhas ambientais dela.

Tabela 2 – Perfil socioambiental dos frequentadores do Parque do Carmo


VARIÁVEIS N %
GÊNERO
Feminino 49 49
Masculino 51 51
FAIXA ETÁRIA
18 a 29 anos 43 43
30 a 39 anos 24 24
40 a 49 anos 13 13
50 anos ou mais 20 20
NÍVEL DE ESCOLARIDADE
Ensino Fundamental 12 12
Ensino Médio 61 61
Ensino Superior 26 26
Pós-Graduação 1 1
SITUAÇÃO CONJUGAL
Solteiros(as) 50 50
Casados(as) 43 43
Divorciados(as) 7 7
FILHOS
Sim 50 50
Não 50 50
HABITANTES POR RESIDÊNCIA
1a3 58 58
4+ 42 42
FREQUÊNCIA DE USO DO PARQUE
De segunda a sexta 11 11
Só aos finais de semana 46 46
Feriados 43 43
COMPANHIA
Sozinho(a) 25 25
Acompanhado(a) 75 75
PERÍODO QUE FREQUENTA O PARQUE
Manhã 60 60
Tarde 40 40
Fonte: Autores (2020).
136

Quando questionados sobre filhos, 50% dos entrevistados


responderam que não têm filhos, enquanto 50% disseram que têm
filhos. Com relação ao número de habitantes por residência, 58%
responderam que em seu lar moram de 1 a 3 pessoas, incluindo elas
mesmas. Sobre a frequência que os entrevistados visitam o Parque,
46% responderam fins de semana e feriados (Tabela 2). Resultados
semelhantes foram descritos no trabalho de Mota (2019) no Parque
Trianon, em que a maioria dos entrevistados pelas autoras também
frequenta o parque aos fins de semana e feriados.
Ao serem interrogados se frequentam o local acompanhados
ou sozinhos, 75% responderam que o visitam acompanhados. Em
relação ao período que frequentam o parque, 60% dos entrevistados
preferem visitar o parque no período matutino (Tabela 2). Nas visitas
realizadas ao Parque, estejam os frequentadores sozinhos ou
acompanhados, o espaço é percebido de maneiras distintas. A
variação na maneira como o local é percebido ocorre porque, de
acordo com Tuan (2012), dois grupos sociais e duas pessoas não
visualizam o mesmo fato, assim também como não fazem a mesma
análise sobre o meio ambiente.

PERCEPÇÃO SOBRE O PARQUE

A qualidade das áreas verdes do Parque do Carmo é percebida


positivamente pelos frequentadores entrevistados. É considerado
como um local de boa conservação por 74% dos frequentadores,
sendo que 37% relataram que a qualidade das áreas verdes é “boa” e
37% relataram que é “muito boa”, conforme Figura 3A. Já em relação
à pista de caminhada, esta foi considerada “razoável” por 21% dos
entrevistados (Figura 3H). Enquanto a disponibilidade de
equipamentos de ginástica, a disponibilidade de estacionamento e a
segurança do Parque foram avaliados como “boa” por,
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 137

respectivamente, 32%, 32% e 28% dos frequentadores, conforme


Figuras 3G, 3I e 3J.

Figura 3 – Percepção dos frequentadores sobre a infraestrutura e equipamentos


disponíveis no Parque do Carmo: Áreas Verdes (3A); Infraestrutura (3B); Banheiros
(3C); Bebedouros (3D); Brinquedos/Playgrounds (3E); Bancos (3F); Equipamentos de
Ginástica (3G); Pista de caminhada (3H); Estacionamento (3I); e Segurança do parque
(3J).

Fonte: Autores (2020).

Alguns aspectos foram avaliados como “razoável” e “ruim”, são


eles: infraestrutura do parque (avaliada como “razoável” por 35% dos
frequentadores); banheiros (“razoável” por 28%); bebedouros
(“razoável” por 33%); bancos (“razoável” por 31%) e os
brinquedos/playground (avaliados como “ruim” por 27% dos
frequentadores entrevistados).
Apontar aspectos negativos na avaliação da infraestrutura dos
equipamentos e serviços demonstra que a forma como os
frequentadores de parques urbanos percebe esses espaços está
138

relacionada com as experiências e as interações estabelecidas com


essas áreas verdes (RÉGIS et al., 2016). Por isso, sugere-se que
gestores de parques desenvolvam estratégias de gestão baseadas na
percepção dos frequentadores desses espaços verdes e busquem
realizar manutenções contínuas, para que os parques estejam
sempre bem conservados.
De acordo com Loboda e De Angelis (2005), quando os parques
estão abandonados, com má funcionalidade e manutenção precária
de equipamentos e infraestrutura, logo diminui a quantidade de
frequentadores. Por isso, se faz relevante realizar constante
manutenção dessas áreas verdes urbanas, pois esses espaços são
fundamentais para a qualidade de vida da população que reside nas
grandes cidades (MOTA et al., 2019).
Conhecer a maneira como os frequentadores de parques
percebem e utilizam equipamentos e infraestrutura disponíveis
nesses espaços, viabiliza a identificação dos critérios adotados pelos
visitantes quando escolhem acessar esses fragmentos florestais.
Esses critérios identificados podem contribuir para elaboração e
indicadores de sustentabilidade para espaços verdes de uso comum,
o que pode contribuir para metas dos objetivos de desenvolvimento
sustentável (ODS) relacionadas à conservação de ecossistemas
terrestres (ODS 15) e cidades e comunidades sustentáveis (ODS 11)
(AGENDA 2030, 2021).
De acordo com Sandifer et al. (2015), estudos têm relacionado
a exposição à biodiversidade e serviços ecossistêmicos à melhoria da
saúde e bem-estar da população. Nesse mesmo sentido, o trabalho
de Santos et al. (2019) no Parque do Povo, na cidade de São Paulo,
demonstra que a população estudada naquele espaço público
relaciona a frequência no parque com uma melhoria na qualidade de
vida.
Espaços Livres de Uso Público na Cidade Contemporânea - 139

CONSIDERAÇÕES

A diversidade de equipamentos e qualidade da infraestrutura


disponíveis no Parque do Carmo revelam que este espaço oferece à
comunidade espaço para a realização de práticas de lazer. Dentre
essas, atividades físicas, culturais e de recreação, tanto para crianças
quanto para adultos e idosos, permitindo convívio social, além de
proporcionar interação ambiental e social.
Cabe destacar que, em relação à qualidade da infraestrutura,
alguns equipamentos foram percebidos pelos frequentadores e
avaliados pelos autores como regular, ruim e muito ruim. Nesse
sentido, é demonstrada a necessidade de melhorias na manutenção
desses de maneira geral, pois a qualidade dos equipamentos e
infraestrutura influenciam na escolha dos frequentadores em visitar,
permanecer e conservar o espaço.

REFERÊNCIAS

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