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0 - Volume I


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 1

Organizadores
Marcos Norberto Boin
Patrícia Cristina Statella Martins
Maria Helena Pereira Mirante

GEOTECNOLOGIAS APLICADAS
ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS

Volume I

1a Edição

TUPÃ - SP
ANAP
2017
2 - Volume I

Editora

ANAP - Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista


Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos
Fundada em 14 de setembro de 2003
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América,
Cidade de Tupã, Estado de São Paulo.
CEP 17.605-310
www.editoraanap.org.br
www.amigosdanatureza.org.br
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Editoração e Diagramação da Obra


Sandra Medina Benini; Jeane Aparecida Rombi de Godoy Rosin

O conteúdo desta publicação é de inteira responsabilidade dos organizadores e


autores. As ilustrações (fotografias, mapas, entre outros) utilizadas neste livro
são de inteira responsabilidade dos autores.

B681g Geotecnologias aplicadas às questões ambientais / Marcos Norberto


Boin; Patrícia Cristina Statella Martins; Maria Helena Pereira Mirante
(org.) v. I – Tupã: ANAP, 2017.

118 p ; il. Color. 21,0 cm

ISBN 978-85-68242-60-5

1. Meio Ambiente 2. Geotecnologia 3. Planejamento Ambiental

I. Título.

CDD: 900
CDU: 911/47

Índice para catálogo sistemático


Brasil: Geografia
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 3

Conselho Editorial Interdisciplinar

Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE


Profª Drª Angélica Góis Morales – UNESP – Campus de Tupã
Prof. Dr. Antônio Cezar Leal – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM
Prof. Dr. Antonio Fluminhan Jr. – UNOESTE
Prof. Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto – UFMS
Prof. Dr. Daniel Dantas Moreira Gomes – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Daniela de Souza Onça – UDESC
Prof. Dr. Edson Luís Piroli – UNESP – Campus de Ourinhos
Prof. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto – UEFS
Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCAR
Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UFMS
Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia– FCT/UNESP – Campus de Presidente
Prudente
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto – UEA / CEST
Prof. Dr. Joao Osvaldo Rodrigues Nunes– FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Jorge Amancio Pickenhayn – Universidade de San Juan – Argentina
Prof. Dr. José Carlos Ugeda Júnior – UFMS
Prof. Dr. José Manuel Mateo Rodriguez – Universidade de Havana – Cuba
Prof. Dr. José Mariano Caccia Gouveia – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Junior Ruiz Garcia – UFPR
Profª Drª Jureth Couto Lemos – UFU
Profª Drª Kênia Rezende – UFU
Prof. Dr. Luciano da Fonseca Lins – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Maira Celeiro Caple – Universidade de Havana – Cuba
Profª Drª Marcia Eliane Silva Carvalho – UFS
Prof. Dr. Marcos Reigota – Universidade de Sorocaba
Profª Drª Maria Betânia Moreira Amador – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG
Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA
Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Pedro Fernando Cataneo – UNESP – Campus de Tupã
Prof. Dr. Rafael Montanhini Soares de Oliveira – UTFPR
Profª Drª Regina Célia de Castro Pereira – UEMA
Profª Drª Renata Ribeiro de Araújo – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Ricardo Augusto Felício – USP
Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UNICAMP
4 - Volume I

Profª Drª Roberta Medeiros de Souza – UFRPE – Campus Garanhuns


Prof. Dr. Roberto Rodrigues de Souza – UFS
Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – Unifal
Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD
Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araújo – UFMA
Profª Drª Rosa Maria Barilli Nogueira – UNOESTE
Profª Drª Simone Valaski – Universidade Federal do Paraná
Profª Drª Silvia Cantoia – UFMT – Campus Cuiabá
Profª Drª Sônia Maria Marchiorato Carneiro – UFPR
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 5

Sumário

Apresentação 06

Capítulo 1 10

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO USO, COBERTURA E MANEJO DA TERRA NA


QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO
CÓRREGO MOEDA, TRÊS LAGOAS/MS
Rafael Brugnolli Medeiros; André Luiz Pinto

Capítulo 2 31

O USO DE ANAGLIFOS NA IDENTIFICAÇÃO DE FEIÇÕES EROSIVAS: ESTUDO DE


CASO EM ÁREA RURAL DEGRADADA
Felipe Augusto Scudeller Zanatta; Cenira Maria Lupinacci; Marcos Norberto Boin

Capítulo 3 54

ANÁLISE ESPACIAL DOS REGISTROS DE ESCORPIÃO EM PRESIDENTE


PRUDENTE/SP, 2012-2013
Jean Farhat de Araújo da Silva; Rafael de Castro Catão; Raul Borges Guimarães

Capítulo 4 72

AS GEOTECNOLOGIAS E AS CHAVES DE INTERPRETAÇÃO COMO AUXÍLIO EM


LEVANTAMENTOS DA PAISAGEM: UMA ANÁLISE DO MUNICÍPIO DE
ANHUMAS - SP
Marcos Norberto Boin; Rodrigo Coladello Oliveira; Maria Helena Pereira Mirante

Capítulo 5 97

ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E O USO DA


TERRA NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DO AMAMBAI,
MATO GROSSO DO SUL
Jederson Henrique Pedroso Martins; Adelsom Soares Filho; André Geraldo
Berezuk
6 - Volume I

Apresentação

O livro Geotecnologias aplicadas às questões ambientais, além de ir ao encontro da


missão da ANAP e de sua editora, contribuirá significativamente com estudos relacionados à
temática ambiental com apoio das geotecnologias, bem como com o planejamento
ambiental, sobretudo no que diz respeito a metodologias e processos apresentados, que
certamente poderão ser utilizados em outros trabalhos.
Trata-se de um livro diverso nos temas, e também no que diz respeito aos autores e
instituições presentes. O município de Guisa, em Cuba, é o objeto de estudo dos
pesquisadores Adonis R. Puebla, Leusnier M. Quintana, Célida S. García e Eduardo S. Chávez,
dos quais os três primeiros são de Organo de Montaña, em Sierra Maestra - Cuba, e o
último, professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFGD. No capítulo
“Determinación de la relación uso/potencial para las tierras del municipio Guisa, en Cuba,
con el apoyo de las geotecnologias”, os autores avaliam a relação uso/potencial em um
município eminentemente montanhoso e estabelecem as potencialidades agropecuárias e
silvícolas do território como linha base.
O estado do Mato Grosso do Sul é cenário dos capítulos de Jederson Martins,
Adelson Soares Filho e André G. Berezuk, que são da Universidade Federal da Grande
Dourados – UFGD; Waldir Leonel e Mercedes Mercante, docentes da Universidade Estadual
de Mato Grosso do Sul – UEMS e Universidade Anhanguera – Uniderp, respectivamente;
Rafael Medeiros e André Pinto, o primeiro doutorando em Geografia pela UFGD e o segundo
docente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS; e Bruno de Souza Lima,
docente da UNEMAT, Charlei Aparecido da Silva e Marcos Norberto Boin, docentes da
Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD.
O município de Bonito/MS, que é conhecido internacionalmente pelo turismo de
natureza, em função de seus rios de águas cristalinas e cavernas, é a área de estudo de
Waldir Leonel e Mercedes Mercante. No capítulo dedicado à região, os autores Leonel e
Mercedes analisam, de forma multitemporal, a dinâmica da mudança da paisagem e suas
influências na evolução do turismo na cidade.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 7

Três Lagoas/MS é o objeto de estudo de Rafael Medeiros e André Pinto no capítulo


“Avaliação da influência do uso, cobertura e manejo da terra na qualidade das águas
superficiais da bacia hidrográfica do Córrego Moeda”, que teve como objetivo avaliar uma
possível interferência do uso, cobertura e manejo da terra na qualidade das águas
superficiais da bacia.
A análise das relações entre as características físicas e o uso da terra na Unidade de
Planejamento e Gerenciamento do Amambai é apresentada na pesquisa de Jederson
Martins, Adelson Soares Filho e André G. Berezuk.
A faixa central da Serra de Maracaju, localizada também no Mato Grosso do Sul, é
cenário do capítulo dos autores Bruno Lima, Charlei Silva e Marcos Norberto Boin. Nesta
seção, os autores demonstram a importância e a necessidade de se ajustar dados
secundários com trabalhos de campo, a fim de evitar distorções nos resultados finais de
cartas de unidades de paisagem. Além disso, demonstram de que maneira realizaram a
compatibilização de dados na região de estudo, ressaltando a importância de se cruzar as
informações relacionadas às análises de campo, imagens de satélite e cartas topográficas na
elaboração de cartas de Unidades da Paisagem para o Turismo de Natureza.
O estado de São Paulo aparece nos trabalhos de Felipe A. S. Zanatta, Cenira M.
Lupinacci e Marcos Norberto Boin, os dois primeiros da Universidade Paulista “Júlio
Mesquita Filho”, UNESP de Rio Claro, e Boin da UFGD; Rogério H. Toppa, Marcos R. Martines
e Maria A. Garcia, da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar Sorocaba; Rodrigo C.
Oliveira, professor do Centro Universitário Toledo Prudente; Maria H. P. Mirante, Ana Paula
M. Ramos e Lucas P. Osco, as duas primeiras, docentes da Universidade do Oeste Paulista e
o terceiro, doutorando da mesma instituição. Jean F. de A. Silva e Rafael de C. Catão,
respectivamente, mestrando no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE e bolsista de
Pós-Doutorado da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. Zanatta, Lupinacci e Boin
escrevem sobre uma sub-bacia do Rio Santo Anastácio, localizada no município de Marabá
Paulista/SP, e discutem a erosão do solo e suas etapas de desenvolvimento, além de
apresentarem uma possibilidade técnica de identificação das formas erosivas através de
anaglifos, pelo mapeamento das feições por meio de esteroscopia em meio digital. Como
resultados, os autores definem critérios para a identificação das formas erosivas: feições que
indicam erosão laminar, sulcos, ravinas e voçorocas.
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O capítulo “Geoprocessamento aplicado ao estabelecimento de Unidades de


Planejamento como subsídio à gestão ambiental”, dos professores Rogério H. Toppa, Marcos
R. Martines e Maria A. Garcia, demonstra que o estabelecimento de unidades de
planejamento para a caracterização de temas específicos é a base para o planejamento com
foco na sustentabilidade territorial, voltada à tomada de decisão. Os autores apresentam um
estudo de caso sobre Araçoicaba da Serra/SP.
O município de Anhumas/SP está presente no capítulo “As geotecnologias e as
chaves de interpretação como auxílio em levantamentos da paisagem”, que apresenta as
técnicas de geoprocessamento e o emprego de chaves de interpretação utilizadas como
ferramentas no mapeamento das unidades da paisagem no referido município. A pesquisa
conclui que as geotecnologias baseadas na interpretação visual, por meio das chaves de
interpretação aplicadas à analise integrada da paisagem, podem ser uma ferramenta útil na
identificação de ambientes de fragilidade ambiental.
O reconhecimento de áreas com fragilidade e potencialidade ambiental também foi
tema do capítulo de Lucas Osco e Ana P. M. Ramos, que apresentam as etapas
metodológicas aplicadas durante o mapeamento geoecológico, realizado segundo a lógica
Fuzzy, e comparam o mapa geoecológico com o mapa de cobertura da terra na área de
estudo – bacia do Rio Santo Anastácio, localizada na região do Pontal do Paranapanema, a
extremo oeste do estado de São Paulo. Os autores concluem que o mapa geoecológico
produzido com auxílio da lógica Fuzzy é uma alternativa viável, e a implementação desta
técnica favorece a integração ou síntese de dados ao produto final.
O estudo de áreas urbanas aparece no trabalho intitulado “Análise espacial dos
registros de escorpião em Presidente Prudente”, que avalia o crescimento e a distribuição
espacial do escorpionismo na área urbana de Presidente Prudente, nos anos de 2012 e 2013.
Este estudo contribui para a identificação das áreas com maiores incidências do
escorpionismo e para a tomada de medidas de controle e prevenção de tal ocorrência no
município.
Em função da edição e tamanho do livro, o mesmo foi dividido em dois volumes. No
volume 1 estão presentes os capítulos “Avaliação da influência do uso, cobertura e manejo
da terra na qualidade das águas superficiais da bacia hidrográfica do córrego Moeda, Três
Lagoas/MS”; “O uso de anaglifos na identificação de feições erosivas: estudo de caso em
área rural degradada”; “Análise espacial dos registros de escorpião em Presidente
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 9

Prudente/SP, 2012-2013”; “Geotecnologias e as chaves de interpretação como auxílio em


levantamentos de paisagem: uma análise do município de Anhumas – SP”; e o capítulo
“Análises das relações entre as características físicas e o uso da terra na unidade de
planejamento e gerenciamento do Amambai, Mato Grosso do Sul”.
O volume 2 traz os capítulos “Geoprocessamento aplicado no estabelecimento de
unidades de planejamento como subsídio a gestão ambiental”; “Análise multitemporal da
mudança da paisagem e suas influências na evolução do desenvolvimento do turismo em
Bonito, Mato Grosso do Sul”; “Determinación de la relación uso/potencial para las tierras del
municipio Guisa, en Cuba, con el apoyo de las geotecnologias”; “Aplicação da abordagem de
análise multicriterial para a elaboração de mapa geoecológico para o reconhecimento de
áreas com fragilidade e potencialidade ambiental”; e “Compatibilização de dados
cartográficos na elaboração de cartas de unidades da paisagem para o Turismo de
Natureza”, de Bruno Lima, Charlei Silva e Marcos Norberto Boin.
Considerando que a aplicação das geotecnologias em questões ambientais é um
tema de extrema importância, acredita-se que este livro contribuirá muito para o
desenvolvimento de futuras pesquisas na área ambiental, pois aponta questões relevantes
para a temática e interessantes metodologias, processos e problemas, que poderão ser
aplicados de diferentes maneiras em diferentes casos, além de indicar outras questões
pertinentes à temática ambiental.

Marcos Norberto Boin


Patrícia Cristina Statella Martins
10 - Volume I

Capítulo 1

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO USO, COBERTURA E MANEJO DA


TERRA NA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO MOEDA, TRÊS LAGOAS/MS

Rafael Brugnolli Medeiros


Doutorando e Bolsista CAPES, UFGD, Brasil
rafael_bmedeiros@hotmail.com

André Luiz Pinto


Professor Adjunto IV, UFMS/CPTL, Brasil
andre.pinto@ufms.br
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 11

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO USO, COBERTURA E MANEJO DA


TERRA NA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO MOEDA, TRÊS LAGOAS/MS

Rafael Brugnolli Medeiros


Doutorando e Bolsista CAPES, UFGD, Brasil
rafael_bmedeiros@hotmail.com

André Luiz Pinto


Professor Adjunto IV, UFMS/CPTL, Brasil
andre.pinto@ufms.br

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como unidade territorial de estudo a Bacia Hidrográfica do


Córrego Moeda – BHCM, e busca observá-la de forma mais ampla, levando em consideração
suas características de uso, cobertura e manejo da terra (predominantemente, plantações
de eucalipto). Objetiva-se neste artigo apresentar as relações estabelecidas entre tais
características e a qualidade das águas da bacia hidrográfica em questão, revelando a forte
influência estabelecida entre elas. Destaca-se, ainda, a escassez de estudos nessa temática,
além de alavancar o conhecimento do estado da qualidade das águas superficiais, visto que,
a mesma é utilizada para abastecimento do distrito industrial do Moeda, bem como, a
manutenção do equilíbrio de diversas reservas legais ao longo de sua bacia hidrográfica,
sobretudo, nas proximidades de sua foz no rio Paraná.
Os diversos usos, coberturas e manejos da terra influenciam diretamente na
dinâmica de uma bacia hidrográfica, apresentando variáveis que alteram os demais
componentes deste sistema, sobretudo as águas superficiais. Atualmente, o reflorestamento
ou plantio comercial de espécies arbóreas exóticas (principal forma de uso e cobertura da
BHCM) vem sendo utilizado como a atividade agrícola que mais se recomenda para a
conservação do solo, a proteção dos mananciais e a recuperação de áreas degradadas
(VITAL, 2007).
Bueno et al. (2005) também enfatiza a questão, afirmando que a silvicultura
(eucalipto e seringueira) caracteriza-se como a forma de uso da terra capaz de introduzir
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distúrbios ao ecossistema, mas pondera que, no curso de seu desenvolvimento, esse tipo de
produção, promove a formação de novas estruturas e o restabelecimento das funções dos
ecossistemas, desde que seu manejo seja revisto.
O manejo da terra é elemento fundamental dessa equação, pois é necessário que
haja um equilíbrio entre produção e preservação ambiental, promovendo a utilização, de
forma sustentável, dos recursos naturais. Nesse sentido, Faustino (2005) afirma que para o
sucesso do manejo da terra, é necessário levantar informações sobre o uso das terras e de
suas características hidrológicas.
O cultivo de eucalipto, no Brasil, começou nos primeiros anos do século XX,
inicialmente utilizado como planta ornamental, quebra-vento e/ou na extração de óleo
vegetal. Apenas no fim da década de 1930 o eucalipto começou a ser plantado em escala
comercial (MEDEIROS, 2016).
Atualmente, o estado de Mato Grosso do Sul é um dos maiores produtores de
celulose do Brasil, e dados da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e
Consumidores de Florestas Plantadas (REFLORE – MS) apontam que nos últimos seis anos a
área destinada ao cultivo do eucalipto no estado cresceu 475%.
Na região da BHCM, desde o período da ocupação até a década de 1980, ocorreram
pequenas modificações em suas vegetações, visto que a atividade produtiva sempre esteve
relacionada com a pecuária extensiva para criação de gado. Segundo informações obtidas
por meio do IBGE (s.d), a partir das décadas de 80 e 90 do século passado, as mudanças no
município tomaram impulsos com avanços na modernização das fazendas de gado e
introdução de hortos florestais de eucaliptos, iniciada pela expectativa da vinda de indústrias
de papel e celulose. Em decorrência destas alterações, iniciou-se uma modificação do uso,
cobertura e manejo da terra da BHCM, ainda com pouca expressividade até o início do
século XXI.
A partir de 2006, as alterações têm se mostrado mais marcantes nesta bacia
hidrográfica pelo relativo aumento do cultivo de eucalipto, estimulado pela vinda das
indústrias de papel e celulose. Nessa região, encontra-se a empresa Fibria MS Celulose Ltda.,
que juntamente com a International Paper, utilizou cerca de 342.481,00 hectares no Mato
Grosso do Sul para o cultivo de eucalipto; destes, 13.138,00 hectares, estão situados nos
limites da BHCM (INTERNATIONAL PAPER, 2006).
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 13

Nesta pesquisa, observou-se que grande parte dos impactos ambientais da bacia
hidrográfica é proveniente especialmente do uso, cobertura e manejo da terra de forma não
sustentável, que acabam provocando alterações nocivas em seus mananciais hídricos. Sendo
que uma das formas de analisar essa possível deterioração de uma bacia hidrográfica é por
meio do uso de índices de qualidade de água, que segundo Toledo e Nicolella (2002), trata-
se de uma tentativa de identificar, através de informações resumidas, uma possível
deterioração dos mananciais.
A unidade territorial de estudo para esta pesquisa é a Bacia Hidrográfica do Córrego
Moeda – BHCM, que está localizada no município de Três Lagoas/MS e possui uma área de
247,64 km² e posiciona-se entre as coordenadas UTM de 393200 e 425000 metros Oeste e
7676692 e 7696172 metros Sul, Figura 1. Além disso, a BHCM possui grandes extensões de
terras voltadas ao cultivo de eucalipto pertencente à Fibria MS Celulose Ltda. Estando
situada no Distrito Industrial do Moeda, que tem a principal finalidade de alojar indústrias,
como o caso da própria Fibria MS Celulose Ltda., e da Unidade de Fertilizantes e
Nitrogenados de Três Lagoas – UFN 3, de propriedade da Petrobras.

Figura 1: Localização da BHCM, Três Lagoas/MS

Fonte: MEDEIROS, 2014.


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A BHCM vem passando por rápidas transformações no seu uso, cobertura e manejo
da terra, geradas pela expansão da silvicultura no município de Três Lagoas. As plantações
de eucalipto para a produção de celulose e papel estão distribuídas em 28 hortos florestais1,
com 625 talhões e idade média em torno dos cinco anos. Todas as florestas de eucalipto
presentes na área pertencem à Fibria MS Celulose Ltda. Segundo informações
disponibilizadas pela empresa, essas florestas de eucalipto são formadas
predominantemente por híbridos de eucalipto obtidos a partir do cruzamento entre as
espécies Eucalyptus grandis e Eucalyptus urophylla, ou cruzamentos manipulados
geneticamente, que após vários ciclos de melhorias e pesquisas, foram selecionadas por
melhor se adaptarem às condições locais. A empresa afirma ainda que as atividades de
plantio sempre priorizam a mínima utilização de recursos naturais e de insumos.

OBJETIVOS

O objetivo desta pesquisa é avaliar uma possível interferência do uso, cobertura e


manejo da terra na qualidade das águas superficiais, elaborando sugestões que visem uma
utilização mais equilibrada da BHCM e um melhor e mais sustentável aproveitamento de
suas terras, levando em conta as limitações expressas pelo enquadramento das águas
superficiais, segundo as resoluções 357/2005 (BRASIL, 2011a) e 430/2011 (BRASIL, 2011b) do
CONAMA.

MATERIAIS E MÉTODOS

No mapeamento do uso, cobertura e manejo da terra foi utilizado o


geoprocessamento, que neste caso, foi feito através do emprego dos SIG’s ArcGis 10 ® e
Spring 5.2.6®. Para tanto, foram utilizadas imagens do satélite LandSat 8, sensor OLI, órbita
223 e ponto 74, datadas de 04 de fevereiro de 2014 – abrangendo o período chuvoso do
verão, disponibilizadas pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos.

1
Hortos Florestais: áreas onde se levavam a cabo trabalhos de experimentações mais ou menos intensivas.
Alguns já com suas áreas quase totalmente tomadas por esse tipo de plantação.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 15

No mapeamento, utilizaram-se as bandas 4, 5, 6 e 8, e sua elaboração foi feita na


sequência:
a) Criação de um banco de dados geográficos;
b) Reprojeção de todas as imagens para SIRGAS 2000, 22Sul;
c) Realização da composição de bandas RGB (R - Red, G - Green e B - Blue) e
junção com a imagem pancromática;
d) Segmentação no método de crescimento de regiões, com similaridade um
(1) e pixel de área de dez (10). A similaridade consiste no índice mínimo, no
qual dois temas são avaliados como similares e incorporados em uma região
singular; o pixel de área é determinado pelo número mínimo de pixels que
uma região carece para que seja particularizada, sendo indispensáveis os
testes experimentais, até possuir uma discriminação aceitável das regiões
pertencentes às classes temáticas;
e) Mapeamento com o classificador Histograma, através do qual foi realizada a
classificação por meio de um processo não supervisionado no software
Spring 5.2.6®. De acordo com Oliveira (2014), o classificador por histograma
é um algoritmo de clustering de regiões, que ao invés de usar a distância
euclidiana entre as médias das regiões, computa a diferença entre os
histogramas das regiões;
f) As classificações foram trabalhadas ajustando variações e analisando cada
região, alterando aquelas que apresentavam inconsistências, de acordo com
a própria imagem de satélite e as saídas de campo;
g) Identificação de oito classes: Vegetação Campestre; Áreas Úmidas; Cultivo
de Eucalipto; Cultivo de Seringueira; Áreas Antrópicas; Vegetação Nativa;
Pastagem; Solo Exposto.

Juntamente com a evolução do uso e cobertura da terra na BHCM, foi realizada a


classificação dos locais em que é possível identificar a presença de manejo da terra, que
auxilia na conservação do ecossistema. As classes de manejo foram determinadas de acordo
com as saídas de campo e a visita à algumas fazendas na unidade de estudo, bem como, em
relação às imagens de satélite, que auxiliam na identificação de curvas de nível, piquetes
para o gado e áreas destinadas ao cultivo comercial de eucalipto, e que se encontram
16 - Volume I

com/sem cobertura vegetal. Assim, as classes de manejo da terra encontradas na BHCM


foram:

 Manejo de Pastagem Cultivada e Animal (MPCA): Provável utilização


animal, com curvas de nível dispostas perpendicularmente às inclinações e
rampas no relevo. Com a utilização das curvas de nível, ocorre a redução da
velocidade de escoamento das águas superficiais, contribuindo para a
retenção de elementos solúveis no solo, aumentando a infiltração.

 Manejo de Eucalipto Comercial (MEC): De acordo com Oliveira (2014),


constitui-se de um conjunto de técnicas aplicadas no plantio, extração e
replantio de madeira. Entre o plantio e a extração, o eucalipto é
desenvolvido com o auxílio de algumas técnicas de manejo, como a
adubação de base (plantio), adubação de cobertura e adubação de
manutenção (desenvolvimento), além do controle de pragas, como
formigas, cupins e ervas daninhas.

 Manejo de Solo Exposto para Eucalipto Comercial (MSEEC): Tem por


característica o corte, a adubação de base e o replantio do eucalipto, sendo
realizado nas áreas que possuem cultivo, bem como, nos novos talhões de
eucalipto.

 Manejo de Hevea Brasiliensis (MHB): Consiste na adubação de base,


diferenciando-se dos manejos supracitados por conta do espaçamento entre
as mudas, visto que deixa uma área maior do solo desprotegida,
principalmente, se levar em conta a ação das águas pluviais, que é um fator
importante e que acarreta alterações na análise das águas superficiais.

 Áreas Sem Manejo (SM): Área sem qualquer tipo de manejo, podendo ser
formada por pastagens, solo exposto, bem como, áreas florestais.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 17

Com essa análise, é preciso fazer a coleta de amostras de água em diversos pontos
da BHCM para que se ocorra apossa identificarção de suas interferências do manejo do solo
na qualidade das águas, necessita-se a coleta de amostras. Assim, foram selecionados onze
pontos de coleta das águas superficiais segundo critérios como: açude (nascente do
cCórrego Moeda), usado para captação de água pela Fibria MS Celulose Ltda.; montante, foz
dos afluentes e jusante dos três principais córregos tributários (Querência, Granada e Buriti);
e ponto próximo da foz do próprio Córrego Moeda, (Figura 2 e Tabela 1).

Figura 2: Localização das estações de coleta das águas superficiais e as sub-bacias da BHCM, Três Lagoas/MS

Fonte: MEDEIROS, 2014.


18 - Volume I

Tabela 1: Localização das estações de monitoramento na BHCM, Três Lagoas/MS


Coordenadas
Sub- Ponto de
UTM Descrição da sub-bacia e dos pontos de monitoramento
bacia referência
(metros)
Alto curso do Córrego Moeda e onde está localizada a atual nascente do Córrego
Moeda. Abrange uma área que corresponde a 2,34% do total da BHCM. Grande parte é
395970 O
1 de pastagens. Estação de Coleta das Águas Superficiais: açude construído no canal
7691950 S fluvial seco, na Fazenda Querência, ambiente lêntico e não cercado, servindo de
bebedouro para o gado.

Alto curso do Córrego Moeda, na margem esquerda predomina pastagens e na margem


direita, cobertura de eucalipto. Abrange uma área de 3,64km², ocupando 1,47% da
396943 O
2 BHCM. Estação de Coleta das Águas Superficiais: À montante da foz do Córrego
7691614 S Querência, na Fazenda Querência, possui mata ciliar bem recomposta. Ambiente com
pouca velocidade de suas águas.

Córrego Querência. Esta sub-bacia possui cobertura predominante de pastagens. Possui


397171 O 7,44km², que corresponde a 3% do total da área. Estação de Coleta das Águas
3
7991675 S Superficiais: baixo curso do Córrego Querência, próximo à sua foz do Córrego Moeda.
Mata ciliar nativa.

Alto curso do Córrego Moeda. Abrange uma pequena área após a Sub-bacia 3, com um
397276 O total de 1,09km² ou 0,44%. Ao sul desta sub-bacia, há plantações de eucalipto, e ao
4
7691447 S norte, pastagens. Estação de Coleta das Águas Superficiais: à jusante da foz do Córrego
Querência. Possui pouca velocidade de suas águas e mata ciliar nativa.

Alto/Médio curso da BHCM. Possui uma área de 20,06km². Corresponde ao Córrego


400013 O Moeda e pequenos afluentes temporários. Estação de Coleta das Águas Superficiais: À
5 jusante da ponte de captação de água pela Fibria MS; possui mata ciliar nativa e
7689568 S
ambiente com mais velocidade nas águas.

Córrego Granada. Principal afluente do Córrego Moeda, possui uma área de 17,60km²
ou 7,11% da BHCM. Estação de Coleta das Águas Superficiais: clareira aberta para coleta
407627 O
6 de água para molha do eucalipto. No local existe um projeto de restauração ecológica
7685232 S do cerrado, sendo adotadas diferentes técnicas de regeneração natural para a
recomposição da vegetação nativa.

Maior sub-bacia dentre todas, abrange grande parte do médio curso da BHCM,
totalizando 109,79km² ou 44,33%. Esta sub-bacia recebe grande parte dos afluentes
410951 O
7 temporários e apenas o Córrego Granada permanente.
7684057 S Estação de Coleta das Águas Superficiais: À montante da foz do Córrego Buriti. Local
com velocidade nas águas e ponto de desnível do relevo.

Córrego Buriti. Esta sub-bacia abrange 25,64km² ou 10,35% do total da BHCM, maior
411276 O afluente do Córrego Moeda em extensão. Grande parte de suas áreas é de plantações
8
7684563 S de eucalipto. Estação de Coleta das Águas Superficiais: baixo curso do Córrego Buriti,
área de várzea com matas ciliares nativas.

Médio Curso do Córrego Moeda. Abrange uma pequena área de 0,81km² ou 0,33%.
411392 O Existem poucos cursos fluviais perenes na região e sua área é predominantemente de
9
7683901 S pastagens. Estação de Coleta das Águas Superficiais: À jusante da foz do Córrego Buriti.
Ambiente com velocidade considerável e mata ciliar nativa.

Médio/Baixo Curso do Córrego Moeda. Ocupada por eucalipto, abrange uma área de
46,15km² ou 18,64%. Estação de Coleta das Águas Superficiais: clareira aberta para
419785 O
10 ponte e coleta das águas para molha do eucalipto. A estação possui velocidade
7680353 S considerável, sendo notável a quantidade de cascalhos e areia no leito do Córrego
Moeda.

Baixo curso da BHCM. Possui variedade no uso de suas terras, como pastagens,
421447 O eucalipto e seringueira. Abrange uma área de 7,27km², totalizando 2,94%. Estação de
11
7677527 S Coleta das Águas Superficiais: À montante do lago que se desenvolveu por meio do
represamento do Rio Paraná. Mata ciliar nativa.

Baixo curso da BHCM. Única sub-bacia que não possui estação de coleta das águas. Este
12 -- local exerce influência sobre o Rio Paraná, abrangendo córregos temporários e o lago --
do represamento vai até a foz do Córrego Moeda.
Fonte: MEDEIROS, 2014.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 19

A qualidade das águas superficiais é definida por suas características físicas e químicas,
sendo determinada por meio de análises laboratoriais. Entretanto, devido à utilização do
equipamento de medição de parâmetros, Horiba U-50 Series Multiparameter water Quality
Unit’s, sua mensuração pôde ser realizada nas saídas de campo.
Cada variável teve sua importância na análise, sendo que os principais parâmetros
foram o Oxigênio Dissolvido (OD), pH, temperatura do ar e da água, condutividade elétrica e
turbidez. Ainda foram mensurados alguns parâmetros auxiliares, como o Potencial Redox ou
Óxido-redução (ORP) e os Sólidos Totais Dissolvidos (TDS).
O Quadro 1 apresenta os limites para o enquadramento das águas e seus principais
usos, utilizando as legislações descritas nas resoluções 357/2005 (BRASIL, 2011a) e 430/2011
(BRASIL, 2011b) do CONAMA. O uso desta última resolução ocorre devido à entrada de
efluentes industriais e até mesmo pelo próprio uso, cobertura e manejo da terra nessa área
(utilização de adubos químicos).
Os parâmetros adotados auxiliam na identificação de possíveis contaminações dos
mananciais hídricos. O resultado encontrado foi determinante para o objetivo desta
pesquisa, pois assinalou as possíveis causas que alteram o equilíbrio desse ambiente,
possibilitando o apontamento de sugestões de auxílio para um ordenamento sustentável da
área.
20 - Volume I

Quadro 1: Limites dos parâmetros analisados


Classes Limites para o enquadramento Principais usos
Manter as condições naturais da água. Consumo humano com desinfecção; preservação de equilíbrio
OD: + 10,0 mg/L; natural das comunidades aquáticas; preservação dos ambientes
Ph: 6,0 a 9,0; aquáticos em unidades de conservação de proteção integral.
Especial
Turbidez: 0 a 20 NTU;
(E)
CE: 0 a 50 uS/cm;
TDS: 0 a 200 mg/L;
ORP: 0 a 300 mV.
OD: 10 a 6 mg/L; Consumo humano, após tratamento simplificado; proteção das
pH: 6,0 a 9,0; comunidades aquáticas; recreação de contato primário, como
Turbidez: 20 a 40 NTU; natação, esqui aquático e mergulho; irrigação de hortaliças que são
I
CE: 50 a 75 uS/cm; consumidas cruas e frutas que se desenvolvam rentes ao solo;
TDS: 200 a 300 mg/L; proteção das comunidades aquáticas.
ORP: 300 a 400 mV.
OD: 6 a 5 mg/L; Abastecimento para consumo humano, após tratamento
pH: 6,0 a 9,0; convencional; proteção das comunidades aquáticas; recreação de
Turbidez: 40 a 70 NTU; contato primário, como natação, esqui aquático e mergulho;
II
CE: 75 até 100 uS/cm; irrigação de hortaliças, plantas frutíferas, parques, jardins, campos
TDS: 300 a 400 mg/L; de esporte e lazer.
ORP: 400 a 500 mV.
OD: 5 a 4 mg/L; Abastecimento para consumo humano, após tratamento
pH: 6,0 a 9,0; convencional ou avançado; irrigação de culturas arbóreas,
Turbidez: 70 a 100 NTU; cerealíferas e forrageiras; pesca amadora; recreação de contato
III
CE: 100 a 150 uS/cm; secundário; dessedentação de animais.
TDS: 400 a 500 mg/L;
ORP: 500 a 600 mV.
OD: - 4 mg/L; Navegação; harmonia paisagística.
pH: 6,0 a 9,0;
Turbidez: +100 NTU;
IV
CE: +150 uS/cm;
TDS: +500 mg/L;
ORP: + 600 mV.
Fonte: CONAMA, 357/2005 e 430/2011 (adaptado).

É preciso deixar claro que a análise dos parâmetros de qualidade das águas
superficiais é um ótimo indicador de sustentabilidade de uma bacia hidrográfica, avaliando,
assim, as condições ambientais desse sistema fluvial diante das interferências antrópicas,
como o uso, cobertura e manejo da terra.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados encontrados constataram, como se apresenta na Figura 3, alguns cortes


de talhões nas proximidades da rodovia MS-395, no horto chamado Dobrão, bem como,
próximo ao ponto 10 e 11 de coleta. Outro fator de destaque é que as pastagens existentes
na BHCM não possuem manejo de suas terras, podendo provocar algumas modificações nos
parâmetros físicos e químicos das águas superficiais.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 21

Figura 3: Mapa de uso, cobertura e manejo da terra da BHCM, no verão de 2014

Fonte: MEDEIROS; PINTO, 2017.

Por meio dos dados obtidos, mostra-se uma extensa área destinada ao cultivo de
eucalipto, que segundo a International Paper (2006), deixa o solo praticamente em repouso,
com um aumento significativo do material vegetal advindo de galhos e folhas que caem na
superfície, o que acaba favorecendo a proteção do solo, diferentemente das áreas ocupadas
por pastagens, por exemplo. Este cultivo demora aproximadamente sete anos para ser
colhido e requer algumas ações do homem sobre o solo, como adubação e controle de
pragas.
Este uso da terra abrangeu 53,05% ou 131,38km², e foi encontrado ao longo de
toda a BHCM, ocorrendo alguns cortes de talhões ao sul do ponto 7 e 9. Todas as áreas de
cultivo de eucalipto, possuem Manejo de Eucalipto Comercial (MEC) que, apesar de não ser
contínuo, é um fator que auxilia na retenção do solo, contra a ação das águas pluviais.
22 - Volume I

Outro elemento a ser destacado é a variação no plantio dos hortos de eucalipto.


Segundo dados da Fibria MS Celulose Ltda., os hortos são plantados, em média, com um ano
de diferença entre eles. Além disso, busca-se, na hora da extração, que não ocorra a retirada
de cobertura vegetal em grandes áreas da BHCM, reduzindo os possíveis impactos sobre os
componentes da bacia hidrográfica, mais precisamente, dos mananciais hídricos. Outra
medida tomada pela empresa é o corte dos talhões e hortos em estações que, segundo a
média, são menos chuvosas.
Os cortes desses hortos deixam áreas sem cobertura vegetal, mas essas são áreas
que possuem um Manejo de Solo Exposto para Eucalipto Comercial (MSEEC), que busca a
redução das perdas de solo, o que não ocorre em áreas de solo exposto não utilizadas para o
cultivo de eucalipto. Estas permanecem sem cobertura que proteja o solo, além de não
possuírem manejo em suas terras, tornando-as mais vulneráveis aos processos erosivos, que
podem ocasionar alterações nos mananciais hídricos.
As áreas classificadas como solo exposto, abrangeram apenas 12,17km². Destes,
9,03km² possuem manejo (MSEEC), os serão utilizados para o cultivo de eucalipto, o
restante, são áreas localizadas em meio às pastagens no alto e médio curso, e portanto, sem
qualquer tipo de manejo. A vegetação campestre corresponde a uma área de 9,58km². Esta
classe é caracteriza por uma vegetação rasteira, com algumas manchas de Cerrado que
apresentam árvores tortuosas e cascudas, localizadas ao longo de toda a BHCM,
principalmente, nas proximidades dos cursos fluviais no alto e médio curso. Por serem áreas
em pousio, não apresentam manejo em suas terras, o que chama a atenção para com
cuidados tomados em relação aos mananciais hídricos.
A esse respeito, toda a área destinada ao cultivo de eucalipto deve respeitar o que é
exigido pela legislação também em relação às áreas de preservação permanente. Sendo
assim, ao longo dos mananciais, sobretudo do alto e médio curso, existem faixas com cerca
de 100m a 200m (Figura 4), onde ocorre o predomínio de uma vegetação campestre, que
abrange desde campos com maior umidade até manchas de cerrado nas áreas mais secas,
cercadas por esses cultivos de eucalipto.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 23

Figura 4: Médio curso da BHCM, campo úmido em área de proteção


permanente, no leito efêmero no alto curso do córrego Buriti

Fonte: MEDEIROS, 2014.

A classe água foi identificada em uma pequena área de abrangência, apenas


0,04km². Lembrando sempre que não é possível a quantificação exata dessas áreas, pois a
copa das árvores acaba modificando o valor exato das águas existentes, sendo encontradas,
principalmente, em açudes e hidrografias represadas no alto e baixo curso da BHCM.
As áreas classificadas como de pastagem, foram encontradas no alto e médio curso
da BHCM, ao longo das fazendas existentes na bacia hidrográfica, que tem como elemento
vegetal característico a “brachiaria”, abrangendo 59,47km². Deste valor, apenas 3,55km²
possuem manejo (MPCA), que são áreas utilizadas para pecuária de gado, possuindo
piquetes para reduzir os níveis de degradação das pastagens. Todas as áreas restantes não
possuem uma utilização específica, consequentemente, não possuem manejo da terra.
Um local característico das pastagens é a Fazenda Querência, localizada no alto
curso da BHCM, onde está situada a atual nascente do Córrego Moeda - considerada atual
nascente, pois a antiga acabou secando devido a pouca preservação dos mananciais hídricos
e suas matas ciliares. Assim, trata-se de uma área sem qualquer tipo de vegetação ou cerca
que busque proteger os cursos fluviais. Observa-se nesta área uma grande quantidade de
gado que acaba adentrando o açude (ponto 1 de monitoramento das águas), ocasionando
na elevação dos sedimentos e fezes, que alteram todos os parâmetros analisados de
qualidade das águas superficiais.
As classes áreas antrópicas e cultivo de seringueira não apresentaram grandes
áreas. Entretanto, esta última é de suma importância para essa pesquisa, pois apresenta um
tipo de plantio com linhas de espaçamento maiores entre as árvores, elevando o índice de
vulnerabilidade do solo, deixando-o mais compactado e com grande potencial erosivo.
24 - Volume I

A classe de vegetação nativa compreende 31,78km², sendo que, após a análise do


uso, cobertura e manejo da terra, foi identificada a falta de mata ciliar em alguns pontos,
principalmente nos afluentes, córregos Granada e Buriti. Mas é importante destacar que, há
um projeto para recomposição de sua mata ciliar no médio/baixo curso do Córrego Granada.
O maior problema da área de vegetação nativa é que sua restauração acabou sendo
deixada para auto-regeneração, o que vem ocorrendo de maneira muito lenta devido às
intensas degradações do passado e do presente – caminhões que adentram essas áreas para
coletar água para a rega dos eucaliptos, ou contra incêndios. A dificuldade em recuperar de
forma natural as matas ciliares ocorre ao longo de toda a BHCM, mas principalmente, nas
faixas de vegetação rasteira citadas anteriormente.
Diante desse contexto, o monitoramento dessas áreas, como também o emprego
de práticas conservacionistas, são essenciais para manter o solo fértil, oferecendo, ao
mesmo tempo, condições para que se torne produtivo. Dentro das práticas necessárias,
sobretudo em áreas com grandes quantidades de eucalipto – em escala comercial–, são
realizados controles das ações erosivas e adubações periódicas, que por sua vez, podem
causar alterações nos parâmetros físicos e químicos das águas superficiais.
Com isso, a análise da qualidade das águas (Tabela 2 e Figura 5) se torna essencial
na busca de aferimento dos elementos que compõe o sistema, retratando de que forma o
ambiente está alterado e onde ele influencia na qualidade das águas de maneira mais
intensa.

Tabela 2: Parâmetros de qualidade das águas da BHCM, no verão de 2014


CE. OD. Temp. Temp. Turbidez ORP TDS
Pontos pH Classes
(µS/cm) (mg/L) Ar (°C) H2O (°C) (NTU) (mV) (mg/L)
1 559,00 7,90 32,67 34,35 6,60 >1000 148,00 355,00 IV
2 31,00 5,70 28,30 26,70 5,83 10,20 155,00 20,00 IV
3 37,00 7,35 28,56 28,00 6,04 6,00 150,00 24,00 I
4 38,00 7,81 27,99 27,59 6,72 12,60 82,00 25,00 I
5 28,00 10,04 32,52 26,32 6,05 4,10 152,00 18,00 E
6 22,00 9,97 32,85 29,17 6,76 7,50 156,00 14,00 I
7 46,00 10,00 33,23 26,20 6,30 41,10 154,00 16,00 II
8* * * * * * * * * *
9 26,00 9,00 31,54 26,54 5,86 10,10 201,00 16,00 IV
10 24,00 10,10 27,05 23,87 7,10 11,30 55,00 15,00 E
11 43,00 10,00 31,10 25,06 6,93 14,40 122,00 15,00 I
Média 85,40 8,79 30,58 27,38 6,42 13,03 137,50 51,80 II
*Canal Fluvial Seco.
Fonte: MEDEIROS, 2014.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 25

Figura 5: Variação dos parâmetros obtidos por meio do monitoramento da qualidade das águas da BHCM,
no verão de 2014

Fonte: MEDEIROS; PINTO, 2017.

Com a análise dos dados obtidos nesta estação do verão de 2014, foi possível identificar três
pontos que se enquadraram na Classe IV: os pontos 1, 2 e 9. O ponto 1 é um problema para
o Córrego Moeda, por conta dos inúmeros fatores já citados, desde a falta de mata ciliar até
a utilização do açude para bebedouro de gado, ocasionando no aumento da condutividade
elétrica (pelas fezes dos animais), que alcançou o valor expressivo de 559,00µS/cm, maior
índice encontrado em relação a todas as estações. A condutividade elétrica é um fator
prejudicial ligado diretamente à contaminação dos mananciais hídricos. Agora, levando em
consideração que esse ponto é a atual nascente do Córrego Moeda, torna-se urgente a
garantia de uma maior proteção.
26 - Volume I

Nos pontos 2 e 9 ocorreram uma redução nos valores de pH – 5,83 e 5,86


respectivamente –, ou seja, uma água ácida, que sai dos padrões de enquadramento da
qualidade das águas oferecido pelo CONAMA, e por isso, foi qualificada como Classe IV.
Esses índices são preocupantes, e tem como principal fator atuante o represamento das
águas, devido à baixa velocidade. Uma vez que não ocorre a movimentação e
turbilhonamento das águas, reduz-se sua oxigenação e pH. Mesmo possuindo uma
vegetação nativa em seu entorno, há que se destacar a influência maior entre os própiros
parâmetros de qualidade das águas.
Os pontos 5 e 10 receberam as melhores classificações dentre todos os pontos de
monitoramento, principalmente pelos altos níveis de OD (maiores que 10,00mg/L),
enquadrando-os na Classe Especial. Juntamente com este fator, a redução da condutividade
e da turbidez auxiliaram na melhora da qualidade das águas nestes pontos.
O ponto 5, mesmo com o desmoronamento da ponte à sua montante, recebeu uma
boa classificação porque as quedas d’água que se formaram acabam aumentando a
velocidade, gerando um turbilhonamento na água e, consequentemente, elevando seu OD,
que somado ao uso e cobertura da terra com área vegetação nativa, favoreceu a melhora na
qualidade da água.
No ponto 10, foi obtido o maior OD, 10,10mg/L. Este valor foi determinado,
principalmente, pelo turbilhonamento gerado pela alta velocidade de fluxo e por seu leito
ser formado por cascalhos, elevando a oxigenação da água, bem como, por apresentar
vegetação nativa em todo seu entorno, tornando-se um filtro natural para a águas
superficiais (Figura 6).
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 27

Figura 6: Baixo curso da BHCM, ponto 10 - alta velocidade e rugosidade de


fundo, repleto de cascalho; aumento do turbilhonamento da água,
elevando seu OD, no verão de 2014.

Fonte: MEDEIROS, 2014.

Sobre o ponto 7, foi enquadrado como Classe II. Seu oxigênio dissolvido e
condutividade elétrica alcançou níveis satisfatórios; no entanto, devido à turbidez, que
alcançou 41,10NTU, não foi possível seu enquadramento em classes de melhor qualidade.
Essas condições são encontradas por conta da falta de mata ciliar em sua margem direita,
onde as pastagens adentram até a margem do manancial hídrico, sendo possível identificar a
falta de manejo em suas terras, além da presença de animais na área.
Por fim, o ponto 11 de monitoramento apresenta áreas úmidas, com grande
quantidade de vegetações aquáticas em sua margem esquerda, e possuir uma considerável
velocidade da água, além de uma vegetação nativa em seu entorno, favorecendo a elevação
do oxigênio dissolvido, e assim, enquadrando-se na Classe I.
De modo geral, a BHCM foi enquadrada na Classe II, que segundo a resolução
357/2005 (BRASIL, 2011a) e 430/2011 (BRASIL, 2011b), do CONAMA:

[...] ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional, à


proteção das comunidades aquáticas, à recreação de contato primário, tais como
natação, esqui aquático e mergulho, à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e
de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a
ter contato direto e à 27quicultura e à atividade de pesca.
28 - Volume I

CONCLUSÃO

Verificou-se durante a pesquisa que as áreas de plantio comercial de eucalipto


não entram nos limites determinados para as áreas de preservação permanente,
obedecendo ao que é exigido por lei, além de deixar áreas em pousio para a auto-
regeneração. No entanto, essas áreas em pousio deixam grande parte das terras sem
cobertura vegetal que recubra todo o solo, causando impactos significativos sobre alguns
pontos específicos, como os pontos 1, 6, 7, 8 e 9 de coleta de água superficial da bacia
hidrográfica do Córrego Moeda - BHCM.
No Córrego Buriti (ponto 8), na estação de análise (verão), não foi possível
encontrar água em seu leito fluvial. Este fato é explicado pelas estradas que cortam seu leito
fluvial no alto curso, prejudicando o manancial com a passagem constante de caminhões
carregados de eucalipto, provocando também a redução da quantidade de suas águas.
Conclui-se que as alterações na qualidade das águas seguiram a influência direta do
uso, cobertura e manejo da terra. Os locais enquadrados com as piores classes são aqueles
com áreas de pastagens ou corte de talhões próximos, que além de elevar a perda de solo e,
consequentemente, sua turbidez, reduz o OD e pH, prejudicando o enquadramento de suas
águas superficiais.
A qualidade das águas da BHCM variou nos pontos de monitoramento, mas de
maneira geral, a bacia ficou enquadrada na Classe II. Entretanto, vale destacar que houve
algumas variações importantes, que nos levam a identificar problemas ambientais. Nesse
sentido, são sugeridas algumas melhorias, tanto no uso, cobertura e manejo da terra como
das águas superficiais:

 Recomposição de algumas áreas de matas ciliares, principalmente nos pontos que


apresentam falhas e naqueles em que há animais adentrando o local, causando
problemas significativos na qualidade das águas (pontos 1, 6, 7, 8, 9 e 10);
 Alteração de traçados de estradas de terra que cortam o Córrego Buriti, que
impactam diretamente sobre a quantidade de suas águas;
 Implementação de curvas de nível e terraços nas fazendas da BHCM, além da
elaboração de um manejo adequado das áreas de pastagens, principalmente
àquelas que possuem gado;
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 29

 Variações nas áreas de corte de plantio de eucalipto comercial, visando o corte


em estações cuja média seja de pouca precipitação;
 Elaboração de um monitoramento constante e eficiente sobre a qualidade das
águas superficiais, além da criação de um plano de manejo das áreas de
pastagens, sobretudo, no alto curso, pois a preservação da nascente do Córrego
Moeda trará benefício para toda a bacia hidrográfica.

Com isso, indica-se a necessidade de serem realizados novos estudos na região,


garantindo o acompanhamento dos efeitos do uso, cobertura e manejo da terra na bacia
hidrográfica do Córrego Moeda, Três Lagoas/MS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Resolução 357/2005, Enquadramento dos
corpos hídricos superficiais no Brasil. Governo Federal, Brasília. Publicada no DOU n 92, de 13 de
maio de 2011a, Seção 1, 89p.

________. Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA Resolução 403/2011, Enquadramento


dos emissários de esgoto que são lançados em corpos hídricos superficiais no Brasil. Governo
Federal, Brasília. Publicada no DOU n 92, de 13 de maio de 2011b, Seção 1, 89p.

BUENO, L. F; GALBIATTI, J. A; BORGES, M. J. Monitoramento de variáveis de qualidade de água no


horto Ouro Verde - Conchal - SP. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.25, n.3, p.742-748, 2005.

ESRI 2011. ArcGIS Desktop: Release 10. Redlands, CA: Environmental Systems Research Institute.

FAUSTINO, J.; JIMÉNEZ, F. Experiencias internacionales de los organismos de cuencas: programas


focuencas II. Turrialba - Costa Rica: CATIE, 2005. p. 76.

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<http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php> Acesso em: jan. 2016.

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IP, 2006. 981 p.

MEDEIROS, R. B. Procedimentos metodológicos para análise da vulnerabilidade ambiental em


bacias hidrográficas com um estudo de caso da Bacia Hidrográfica do Córrego Moeda, Três
Lagoas/MS em 2014. 2016. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Mato
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OLIVEIRA, G. H. de. As implicações do uso, cobertura e manejo da terra na qualidade e


enquadramento das águas superficiais da Bacia Hidrográfica do Córrego Bom Jardim,
Brasilândia/MS. 2014. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul, Campus de Três Lagoas. 2014.
30 - Volume I

REFLORE-MS. Associação sul-mato-grossense de produtores e consumidores de florestas plantadas.


Revista MS Vegetação Nativa 2013. Disponível em: <http://www.reflore.com.br/dados/revista-ms-
Vegetação Nativa-2013>. Acesso em: fev. 2016.

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TOLEDO, G. L., NICOLELLA, G. Índice de qualidade de água em microbacia sob uso agrícola e urbano.
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VITAL, M. S. H. F. Impacto Ambiental de Florestas de Eucalipto. Revista do BNDES. Rio de Janeiro, v.


14, n. 28, p. 235-276, dez. 2007.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 31

Capítulo 2

O USO DE ANAGLIFOS NA IDENTIFICAÇÃO DE FEIÇÕES EROSIVAS:


ESTUDO DE CASO EM ÁREA RURAL DEGRADADA

Felipe Augusto Scudeller Zanatta


Dourando em Geografia, IGCE, UNESP, Brasil
felipeasz@hotmail.com

Cenira Maria Lupinacci


Professora Livre docente, IGCE, UNESP, Brasil
cenira@rc.unesp.br

Marcos Norberto Boin


Professor Doutor UFGD, Brasil
boinmar@hotmail.com
32 - Volume I

O USO DE ANAGLIFOS NA IDENTIFICAÇÃO DE FEIÇÕES EROSIVAS:


ESTUDO DE CASO EM ÁREA RURAL DEGRADADA

Felipe Augusto Scudeller Zanatta


Dourando em Geografia, IGCE, UNESP, Brasil
felipeasz@hotmail.com

Cenira Maria Lupinacci


Professora Livre docente, IGCE, UNESP, Brasil
cenira@rc.unesp.br

Marcos Norberto Boin


Professor Doutor UFGD, Brasil
boinmar@hotmail.com

INTRODUÇÃO

O solo é recurso natural essencial para a sociedade, para gerações presentes e


futuras. Como descreve Bertoni e Lombardi Neto (1990, p.28), o solo “suporta toda
cobertura vegetal de terra, sem a qual os seres vivos não podem existir. Nessa cobertura,
incluem-se não só as culturas como, também, todos os tipos de árvores, gramíneas, raízes e
herbáceas que podem ser utilizadas pelo homem”.
Esse recurso natural tem sua formação dependente de cinco fatores: material de
origem, clima, relevo, vegetação e o tempo de formação. Da interação entre esses
elementos resultam as condições de pedogênese, como o intemperismo físico e químico das
rochas, promovido pelos agentes exógenos (clima) e pela ação biológica (fauna e flora),
sobre uma determinada forma de relevo, que, ao longo do tempo geológico, vai formando e
desenvolvendo os horizontes do solo. Portanto, o solo representa um recurso não renovável
no tempo histórico.
De acordo com Santos (et al.,2013), a caracterização mais utilizada em nível
mundial, para atender trabalhos pedológicos, define solo como:
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 33

Corpos naturais independentes, constituídos de materiais minerais e orgânicos,


organizados em camadas e/ ou horizontes resultantes da ação de fatores de
formação, com destaque para ação biológica e climática sobre um determinado
material de origem (rocha, sedimentos orgânicos etc.) e numa determinada
condição de relevo, através do tempo ( p.1).

Quanto ao tempo de formação do solo, Toledo et al. (2008) ponderam que a


formação do solo passível de uso agrícola pode levar milhares de anos. No entanto, apesar
do longo tempo de formação, a estabilidade desse recurso paira sobre um frágil equilíbrio
entre os fatores que determinam sua formação e desenvolvimento, de modo que, quando se
altera, por exemplo, a cobertura vegetal nativa, modificam-se as condições de origem
daquele solo, o que gera instabilidade de todos os demais elementos, incluindo, aqui, o
tempo, haja vista que os processos atuantes terão sua temporalidade também modificada.
Na condição de instabilidade dos elementos, a ação erosiva dos fenômenos
determinados pelo clima, como ventos e regime hídrico, intensifica-se e promove o
desequilíbrio entre a formação e remoção do material particulado que compõe o solo.
Assim, dependendo da erosividade da chuva e da erodibilidade do solo, o fenômeno erosivo
causa tanto o depauperamento do solo, removendo as camadas mais superficiais em ritmo
acelerado, como a remoção de toneladas de solos em um período chuvoso, promovendo a
formação de voçoroca.
Compreendendo sua importância e fragilidade, a legislação paulista estabelece
situações para o uso racional do solo agrícola. De acordo com a Lei 6.171/88 (SÃO PAULO,
1988) e suas modificações posteriores, que trata do uso, conservação e preservação do solo
agrícola no estado de São Paulo, fica estabelecido, no Art. 2º, solo agrícola como patrimônio
da humanidade, sendo responsabilidade de quem promove sua exploração o controle da
erosão em todas as suas formas, Inciso II. Considera, também, Art. 12, “que o mau uso do
solo atenta contra os interesses do Estado”.
A proteção legal do solo, enquanto recurso natural essencial para sociedade,
assegurada na esfera jurídica, carece do entendimento da erosão do solo enquanto processo
no âmbito técnico e científico, sendo, portanto, necessário reconhecer as formas erosivas
em seus distintos estágios de desenvolvimento, de modo que esse conhecimento seja
utilizado na recuperação de áreas degradadas, pois, como descreve Bertoni e Lombardi Neto
(1990, p.228),
34 - Volume I

O conhecimento do desgaste já produzido no solo pela erosão, em suas diferentes


formas, será de grande interesse como base para os planejamentos
conservacionistas, pois indica, não apenas a maior ou menor erodibilidade do solo,
como o grau de redução de sua capacidade produtiva e, principalmente, a natureza
e a intensidade das práticas conservacionistas necessárias.

Nessa perspectiva, o presente trabalho visa discutir o entendimento da erosão


enquanto processo, em bibliografias nacionais e internacionais, de agrônomos e
geomorfólogos; as questões técnicas na definição e identificação das formas erosivas; e o
uso de anaglifos para o mapeamento dessas feições em meio digital, considerando princípios
da cartografia geomorfológica retrospectiva. Para tanto, foi selecionada uma sub-bacia do
rio Santo Anastácio, localizada inteiramente no Município de Marabá Paulista (Figura 1), em
que a erosão do solo em área rural é significativa.

Figura 1: Localização da área estudada - Marabá Paulista, (SP)

Fonte: Elaborada pelos autores (ZANATTA, et.al, 2017).


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 35

Na área estudada, após a definição de cada forma erosiva (laminar, sulco, ravina e
voçoroca), as feições foram mapeadas nos cenários de 1962 e 1997, por meio do uso do
programa StereoPhoto Maker para gerar anaglifos através dos pares estereoscópico de
fotografias aéreas digitalizadas, obtendo-se a tridimensionalidade do relevo em meio digital,
como apresentado por Souza e Oliveira (2012).

A ÁREA ESTUDADA

Localizada inteiramente em uma área rural do município de Marabá Paulista (SP), a


bacia estudada retrata o que foi o processo de ocupação do Oeste Paulista. Em seus 644,45
hectares, são poucos os vestígios de mata nativa. A alteração promovida pela ação de
grileiros e latifundiários na região (FERRAI LEITE, 1993), se estabeleceu na área estudada de
modo despreocupado com princípios preservacionistas ou de conservação dos solos, com a
retirada da mata nativa em ritmo acelerado, substituídas por extensas áreas agrícolas, com
cultivos e pecuária extensiva, atividades sempre atreladas à economia e nunca ao suporte do
ecossistema local.
Na área estudada, os solos são predominantemente arenosos, produtos do
intemperismo dos arenitos da Formação Bauru. De acordo com Carvalho (et al., 1997), os
topos próximos às cabeceiras e toda porção E da bacia apresentam Latossolo Vermelho
Álico. Nas vertentes W da alta bacia ocorre Argissolo Vermelho Distrófico, enquanto na
porção W da média e baixa bacia formou-se Neossolo Litólico Tb A Chernozêmico. Na
composição de todos esses, os autores identificaram que mais de 80% da fração
granulométrica presente é areia, sobretudo areia fina Tal característica indica um solo
poroso e fraco na formação de estruturas, de erodibilidade significativa pela fácil
desagregação e transporte.
As consequências da mudança abrupta da cobertura vegetal natural, associada à
fragilidade dos solos, em ambiente tropical úmido com estações bem definidas, foram
constatadas por Monbeig (1984), quando descreveu que a marcha para o Oeste Paulista, em
relação aos solos, significou uma devastação sem freios. Trabalhos posteriores na região,
como o de Stein (1999), ao analisar a bacia do rio Santo Anastácio, Boin (2000), em estudo
sobre o Oeste Paulista, e Zanatta (2014), ao realizar diagnóstico ambiental na alta bacia do
ribeirão Areia Dourada, constataram a intensa atividade erosiva, desde feições que indicam
36 - Volume I

erosão laminar de forma generalizada, até a presença de sulcos, ravinas e voçorocas em


distintos setores do relevo.

Erosão do solo e definições para área estudada

Por erosão, compreende-se “a realização de um conjunto de ações que modelam


uma paisagem” (GUERRA & GUERRA, 2010 p.229). Bertoni e Lombardi-Neto (1990) definem
como “processo de desprendimento e arraste acelerado das partículas do solo, causado pela
água e pelo vento” ( p.68), complementando que, em seu aspecto físico, erosão consiste na
“realização de uma quantidade de trabalho no desprendimento do material do solo e no seu
transporte” ( p.70). Fendrich et al. (1997) e Fookes et al. (2007) acrescentam, como um
último estágio do processo erosivo, a deposição dos sedimentos removidos e transportados,
momento em que as forças que atuam perdem a capacidade de transporte.
Dentre as forças atuantes nesse processo, Lepsch et al. (1983) alertam para a
importância de estudar os processos atinentes à erosão hídrica, devido às características
climáticas determinarem sua maior frequência e intensidade em território nacional.
A erosão hídrica opera por distintos mecanismos, superficiais e subsuperficiais. Para
Lepsch et al. (1983), em estudos sobre o tema, reconhecer “o estádio de erosão do solo,
considerando suas diversas formas, representa importante aspecto a ser levantado, porque
indica o grau de redução de sua produtividade, bem como a natureza e a intensidade das
práticas conservacionistas que se fazem necessárias” ( p.90), salientando que “a adoção de
medidas efetivas de controle preventivo e corretivo da erosão depende do entendimento
correto dos processos relacionados com a dinâmica de funcionamento hídrico sobre o
terreno” ( p.229)
Há um consenso entre diversos autores (IPT & DAEE, 1989; BERTONI & LOMBARDI-
NETO, 1990; LAL, 1990; FENDRICH, 1997; OLIVEIRA, 2012; SALOMÃO, 2012) de que a erosão
hídrica se inicia pelo impacto das gotas d’água da chuva no solo. Bertoni e Lombardi-Neto
(1990) consideram esse primeiro estágio o mais importante de todo processo erosivo.
O impacto das gotas d’água, fenômeno denominado de splash, ou, segundo a
tradução de Guerra (1966), erosão por salpicamento, descarrega energia cinética no solo,
provocando a desagregação de material particulado; a eficiência desse processo está
relacionada com a altura da queda, o diâmetro da gota, a natureza do solo e o tipo de
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 37

cobertura vegetal. De acordo com Bertoni e Lombardi-Neto (1990, p.46) “durante uma
chuva muito forte, milhares de milhões de gotas de chuva golpeiam cada hectare de terreno,
desprendendo as partículas da massa de solo. Muitas dessas partículas podem ser atiradas a
mais de 60 cm de altura e a mais de 1,5m de distância”. Essas partículas, ao se depositarem,
podem preencher os poros do topo do solo, formando uma crosta que dificulta a infiltração
da água. A redução da capacidade do solo em absorver água proporciona a formação de
poças, onde o excedente ocupa as irregularidades da superfície. Quando saturadas, as poças
transbordam, escorrendo pela vertente e se conectando com outras poças, aumentando o
fluxo. Inicia-se, assim, os processos desencadeados pelo escoamento superficial da água.
Nessa etapa, as gotas d’água de chuva continuam atuando, ao provocar o salpicamento e
imprimir energia em forma de turbulência à água superficial.
De acordo com Lal (1990), o aumento do fluxo de água escoando pela vertente
forma o sheet flow, ou escoamento em forma de lâmina. Fookes et al. (2007) destaca que
essa forma de overland flow raramente ocorre como um sheet flow, pois, devido a pequenas
irregularidades da superfície, a água escorre como fluxo raso anastomosado. Esse
escoamento, ao encontrar ângulos críticos da vertente, provoca tensão de cisalhamento,
modelando o trajeto em pequenos canais denominados rill, onde o escoamento se faz
concentrado (LAL, 1999).
O potencial erosivo do sheet erosion é classificado nos estudos de forma
diferenciada. Lal (1990) considera sua capacidade de remoção e transporte muito baixa,
sendo significativa apenas quando a tensão de cisalhamento promove a atuação da rill
erosion. Já Lepsch et al. (1983, p.91), seguido pela Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (CATI, 1997), avaliam o potencial erosivo desse processo como significativo, pois
definem erosão laminar como “remoção de uma camada aparentemente uniforme da parte
superficial do solo pela ação da enxurrada não concentrada”, e descrevem que a erosão
pode ocorrer de forma ligeira quando do Horizonte A e B, e evoluir até atingir estágio
extremamente severo, quando boa parte do Horizonte B é removido, atingindo o Horizonte
C. Fendrich et al. (1997, p.32) caracterizam erosão laminar – traduzida pelos autores do
termo sheet erosion – como “desgaste laminar causado pelas enxurradas que deslizam como
um lençol, desgastando a superfície do solo, suave e uniformemente em toda sua extensão”,
complementando que esse fenômeno é responsável pelo depauperamento do solo, pois
38 - Volume I

remove, primeiramente, a argila e o carbono orgânico , considerados as principais fontes de


nutrientes das plantas.
A partir do ponto em que a tensão de cisalhamento promove a concentração do
fluxo nas microdepressões formadas no solo, a ação erosiva se processa com maior
intensidade. O efeito erosivo é potencializado em consonância com a capacidade do
escoamento em transportar as partículas. O atrito provocado pelas partículas transportadas
pela lâmina d’água com o material do fundo e das bordas desses pequenos canais, provoca o
rompimento e transporte desses materiais e, consequentemente, o aprofundamento e
alargamento da forma erosiva. Esse impacto gera, ainda, turbulência no fluxo de água,
elevando seu potencial erosivo. Bertoni e Lombardi-Neto (1990, p.72) indicam que

A capacidade de desprendimento e de transporte da enxurrada pode variar,


independentemente uma da outra. Se, por exemplo, fosse permitido que água
limpa escorresse sobre um solo argiloso compacto, ela não teria capacidade de
desprendimento para causar erosão, e a enxurrada seria limpa; mas, se o solo
contivesse frações abrasivas, a capacidade de desprendimento das partículas seria
aumentada, e a erosão acelerada.

Uma vez estabelecidos os processos desencadeados pela rill erosion, o canal não
apenas se aprofunda e alarga, mas, de acordo com Fookes et al. (2007 p. 100), “once
formed, rills can migrate upslope by head ward retreat”.
Para Lal (1990), quando os processos erosivos que atuam sobre o rill provocam seu
desenvolvimento ao ponto de comprometer a produção agrícola, de modo a não ser possível
obliterar por operações simples no preparo do solo, a forma erosiva passa a ser definida por
gully. De acordo com o autor, o momento e os processos que envolvem a transição de rill
para gully não são muito bem conhecidos, no entanto, uma vez iniciada, a gully erosion se
propaga rapidamente através de desbarrancamentos promovidos pelo escavamento da
base, formando paredões íngremes (LAL, 1990).
Esse critério, que considera a possibilidade de recuperação dos terrenos por
práticas conservacionistas normais como critério para diferenciar feições erosivas, também
foi utilizado por Lal (1990) para distinguir rill de gully, e se assemelha à utilizada por Salomão
(2012) para distinguir sulcos de ravinas, com base nas definições estabelecidas pela Soil
Conservation Service (1966).
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 39

Em análise sobre a literatura nacional e internacional, Oliveira (2012) destaca que o


termo sulco não é utilizado com frequência, distinguindo as feições em ravina e voçoroca
pelo caráter dimensional, onde as ravinas representam incisões de até 50 centímetros de
largura e profundidade e a voçoroca se caracterizada por incisões acima desses valores.
Lepsch et al. (1983), Bertoni e Lombardi-Neto (1990), Karman (2008) e Guerra e Guerra
(2010) não diferenciam as formas erosivas em sulco e ravina, mas as distingue da voçoroca
ou boçoroca. Lepsch et al. (1983) e Bertoni e Lombardi Neto (1990) consideram possível o
uso do termo sulco para caracterizar tanto as formas erosivas que podem ser corrigidas por
operações normais no preparo do solo, como aquelas que atingem profundidades que
interrompem o trabalho de máquinas agrícolas; e, embora não estabeleçam uma dimensão
padrão na caracterização das formas erosivas, definem voçoroca como a evolução da erosão
em sulco, onde os processos erosivos formam grandes concavidades, que podem atingir
centenas de metros de comprimentos e dezenas de metros de profundidade. Lepsch et al.
(1983) cita a profundidade da erosão em relação aos horizontes como critério para
diferenciar as formas erosivas, sendo as voçorocas sulcos muito profundos, os quais já
atingiram o Horizonte C. Fendrich et al. (1997) também não distingue sulco de voçoroca,
descrevendo estas como estágios mais avançados da rill erosion, traduzido pelos autores
como “erosões em canal”. Karman (2008) traduz voçoroca do termo gully, e descreve sulcos
ou ravinas como resultados da ação do escoamento de água em superfície, sendo a
boçoroca o estágio avançado dessas erosões, quando se somam aos processos erosivos
derivados do escoamento em subsuperfície. Esta definição foi também sugerida por Salomão
(2012), DAEE e IPT (1989) e Guerra e Guerra (2010) para caracterizar voçoroca. Fookes et al.
(2007) diferenciam gully de badlands, tanto pelos processos atuantes em superfície e
subsuperfície, como pelo conjunto de fatores favoráveis ao seu desenvolvimento,
associando badlands a solos frágeis.
A discussão sobre os fatores que desencadeiam a erosão acelerada, resultando na
formação da voçoroca, também apresenta divergência entre os autores estudados. De
acordo com Oliveira (2012), esse fenômeno pode ocorrer como resultado da ação humana
ou de fenômenos naturais, haja vista que essas feições erosivas caracterizam antigos
depósitos sedimentares que datam mais de 20.000 anos A.P. Karman (2008) destaca que a
evolução do sulco para boçorocas é consequência de alterações ambientais locais, quase
sempre provocadas pela ação humana sobre a dinâmica da paisagem. Fendrich et al. (1997,
40 - Volume I

p.33) e Lal (1990, p.171), diferentemente do que aponta Oliveira (2012) e Karman (2008),
consideram que a voçoroca é consequência exclusiva das perturbações provocados no
ambiente pela ação antrópica.
Embora haja divergências na definição de ravinas e voçorocas, há um consenso de
que essas erosões, uma vez estabelecidas, se desenvolvem a partir da combinação de
distintos mecanismos, que atuam em diferentes escalas temporais e espaciais,
condicionados tanto ao escoamento superficial, como subsuperficial.
De acordo com Lal (1990) e Fendrich et al. (1997), o formato do fundo da forma
erosiva está relacionado às características do solo. Para os autores, quando em solo
homogêneo – igualmente frágil em todos os horizontes–, como Latossolo, a base é em
formato de U. Enquanto em solo com horizonte subsuperficial composto de materiais mais
resistentes que o superficial, como Argissolo, o formato da feição erosiva é em V. Fendrich et
al. (1997) ainda destacam que este formato é mais comum no início do processo erosivo,
muito embora seja frequente encontrar ambos os formatos numa mesma voçoroca,
independentemente de sua idade ou estabilização.
Oliveira (2012) aponta para a evolução das voçorocas a partir de processos que
ocorrem nas margens com maior coesão aparente. Nessas margens, a água que chega de
montante desemboca na forma de cascata, escavando uma depressão na base da borda;
dependendo da altura que o degrau atinge, podendo gerar desbarrancamentos. O autor
ainda destaca a ação dos filetes subverticais, formados a partir da separação do volume
principal da cascata, que escorrem ao longo das paredes da incisão esculpindo alcovas de
regressão. Essas alcovas, quando aprofundadas na parede, também podem resultar em
colapso do material acima, seja na cabeceira ou na lateral da forma erosiva, provocando
tanto o alargamento do canal como a erosão remontante.
O autor ainda atenta para feições em pedestais (demoiselles), as quais

[...] indicam a ocorrência de salpicamento intercalado com remoção das partículas


pelo escoamento superficial. Em geral, essas feições são formas residuais
esculpidas abaixo de um objeto, cuja densidade não permitiu a sua remoção [...] e
fornecem, de imediato, um parâmetro para estimar a taxa de ablação pluvial da
superfície nas quais são esculpidas ( p.69).

Bertoni e Lombardi-Neto (1990) discorrem sobre a erosão em pináculo, fenômeno


que geralmente está associado às condições altamente erosionáveis e ocorre quando o solo
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 41

não apresenta coesão, formando pináculos no fundo e na borda das voçorocas. Os autores
também destacam a importância de reconhecer essa forma erosiva, visto a dificuldade que
promove no controle da erosão pelas condições adversas de umidade do solo e de
nutrientes, que dificultam a colonização por vegetação.
A água que infiltra no solo, ao atingir um horizonte menos permeável, começa a
escoar em subsuperfície. De acordo com Lal (1990), o escoamento ocorre de duas distintas
formas: de forma difusa, denominado de interflow; e de forma concentrada, como pipe ou
tunel flow, sendo este com potencial para remover e transportar partículas.
O pipe inicia-se pelo escoamento que se forma nos macroporos, rachaduras
existentes ou caminhos abertos pela bioturbação, provocando a remoção e transporte dos
materiais menos coesos do solo em subsuperfície. Lal (1990) e Fookes et al. (2007) indicam
que os fluxos em pipe podem provocar o colapso do material adjacente, transformando o
pipe em gully erosion.
A erosão em pipping pode ser observada tanto nas paredes e cabeceira da voçoroca
– onde surgem como vazios, despejando fluxo de água e sedimento – como ao longo das
vertentes, seja qual for sua forma, côncava, retilínea ou convexa.

A erosão tubular interna retroprogressiva (pipping) não se processa apenas nas


proximidades do talude, ela pode se desenvolver ao longo de centenas de metros
de distância da voçoroca, enfraquecendo o solo e estabelecendo regiões de
percolação preferencial. Em razão disto existem vários relatos de afundamento de
uma porção de solo em formato arredondado, formando fossas de pequeno
diâmetro com a vegetação intacta (FENDRICH et al., 1997 p.35).

Tanto a água proveniente da superfície como da subsuperfície, ao convergirem para


a base da erosão, passam a escoar no interior da voçoroca. Esse fluxo também pode
provocar o solapamento das margens e, consequentemente, o colapso das paredes; o
processo se potencializa em consonância com o aumento da velocidade e turbulência do
fluxo.
Se por um lado os processos erosivos em superfície se intensificam durante as
estações chuvosas, os de subsuperfície atuam ao longo das estações secas, estabelecendo
na área atingida a ação erosiva contínua, em diferentes intensidades e mecanismos de
atuação. De acordo com Pradini (1980 apud FENDRICH et al., 1997, p.35),
42 - Volume I

o lençol freático atinge seu nível máximo de 4 a 6 meses após a época das chuvas.
Assim, o efeito da água subterrânea pode ser intenso nas estações secas, sendo
que o material desabado vai se cumulando no pé do talude e à primeira chuva de
proporções, causará um escoamento superficial que transportará este material a
jusante.

Fendrich et al. (1997) e Fookes et al. (2007) atentam para a estabilidade dos
processos erosivos, que ocorrem quando, com o tempo, o gradiente do canal (diferença
entre altura do leito sobre nível de base em relação ao comprimento do canal) é reduzido e
o processo erosivo cessa ao ponto da vegetação conseguir se desenvolver. Quanto maior o
desenvolvimento da vegetação, maior a proteção dos solos e estabilidade das paredes da
forma erosiva. Os mecanismos de superfície, subsuperfície e lençol, que provocaram a
erosão, continuam a atuar, no entanto, ocorre um equilíbrio dinâmico entre esses e as
formas. Fookes et al. (2007) alertam ao fato dessa estabilização ser momentânea, uma vez
que o processo pode ser reativado através de eventos climáticos, mudanças no gradiente e
uso da terra.
Com base nessas informações e na particularidade do universo estudado, optou-se
por aderir às definições de: sulco como pequenas incisões passíveis de correção por
procedimentos simples de preparo do solo; ravinas como incisões mais profundas, as quais
prejudicam a operação com maquinário agrícola, passíveis de correção somente através de
práticas específicas; e voçorocas quando a erosão linear atinge e expõe o lençol freático.
Dentro das possibilidades desse trabalho, entende-se que o viés geomorfológico é o
mais pertinente, devido ao entendimento dessas formas erosivas através dos mecanismos
que operam em seu desenvolvimento, além da possibilidade de avaliar a evolução do
processo erosivo em um intervalo de 35 anos, através do mapeamento dos anos de 1962 e
1997. Foram usadas também fotografias aéreas na identificação de tais formas erosivas,
ainda que elas não tenham possibilitado a distinção precisa da profundidade da erosão nos
horizontes do solo, aspecto contemplado pelo levantamento realizado por agrônomos e
orientado pela CATI (1997).

TÉCNICAS CARTOGRÁFICAS

De modo a contemplar os objetivos propostos, foi levantada a base cartográfica,


bem como as fotografias aéreas que permitiram o trabalho com estereoscopia. Assim, como
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 43

base cartográfica foram utilizadas as cartas topográficas em escala 1: 10.000, com


equidistâncias de cinco metros, elaboradas pelo Instituto Geográfico e Cartográfica do
estado de São Paulo (IGC), folhas 057/019, 057/20, 058/19 e 058/20.
As fotografias aéreas utilizadas derivaram dos aerolevantamentos: de 1962,
realizado pelo Estado de São Paulo, em escala de voo de 1: 25.000, com pares
estereoscópicos nas fotografias 5505 e 5504, e 6274 e 6275; e de 1997, também realizado
pelo Estado de São Paulo, em escala de voo de 1: 35.000, com as fotografias 07-5884 e 07-
5885, e 07-5885 e 07-5886.
Selecionadas as referidas fotografias, as mesmas foram convertidas em arquivo
digital. Para formar os anaglifos, os pares estereoscópicos foram introduzidos no programa
StereoPhoto Maker, no qual foram realizados os procedimentos descritos por Souza e
Oliveira (2012). Assim, antes de abrir os pares, foi necessário verificar a orientação do voo.
No caso estudado, todos os voos foram realizados de L para O, sendo, portanto, a fotografia
à esquerda, L e à direita, O.
Montados os pares no referido programa, embora a formação dos anaglifos seja
feita de forma automática, através da ferramenta Easy Adjustment, em muitos casos se faz
necessário o ajuste no alinhamento das fotografias. Ainda, para verificar o ajuste e mapear
as feições desejadas, faz-se necessário o uso de óculos para visualização em 3D, com lentes
nas cores vermelho e azul.
Adquirida a tridimensionalidade, os anaglifos foram exportados em File - Save
StereoImage em formato .TIFF, os quais, posteriormente trabalhados no programa ArcGIs,
foram georreferenciados de acordo com as curvas de nível, pontos cotados e hidrografia,
extraídos da base cartográfica.
Na identificação e distinção das feições erosivas, buscou-se, nas lineares, observar a
profundidade da forma, o talude e a presença de umidade escoando pela base, enquanto na
laminar, verificou-se a presença de manchas em tons mais claros ao longo das vertentes.
Assim, levantaram-se as formas erosivas em: sulco (pequena incisão no relevo), ravina
(incisão significativa, formando fundo e paredes laterais), voçoroca (quando ocorrem sinais
da presença de umidade no fundo da forma erosiva, sugerindo a presença de canal fluvial), e
marcas que indicam erosão laminar.
Essas formas foram mapeadas utilizando-se os símbolos (Figura 2) propostos por
Tricart (1965) e Vertappen e Zuidam (1975).
44 - Volume I

Figura 2: Símbolos de formas erosivas e respectivos autores

Fonte: elaborada pelos autores (ZANATA et.al, 2017).

RESULTADOS

Nos anaglifos de 1962, a visualização tridimensional no programa ArcGis foi possível


na escala 1: 10.000 (figuras 3 e 4); pode-se, através de óculos de visualização 3D, de lentes
azul e vermelha, visualizar a tridimensionalidade do relevo nas figuras 3 e 4.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 45

Figura 3: Anaglifo da alta bacia estudada, 1962 - Marabá Paulista (SP)

Fonte: elaborada pelos autores (ZANATTA et.al, 2017).


46 - Volume I

Figura 4: Anaglifo da média e baixa bacia estudada, 1962 - Marabá Paulista (SP)

Fonte: elaborada pelos autores (ZANATTA et.al, 2017).

Nos anaglifos, observa-se a presença de ravinas apenas no alto curso da bacia


(Figura 3). Destas, somente uma ocorre em vertente convexa, em área de pastagem,
potencialmente devido ao pisoteio excessivo do gado. Essa forma erosiva foi identificada
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 47

pela incisão vertical, com formação de fundo e paredes laterais. Nesse setor ocorre também
maior número de feições em sulcos, identificadas também, ainda que em menor quantidade,
na média e baixa bacia (Figura 4).
As marcas que indicam erosão laminar surgem na alta bacia, localizadas nas altas
vertentes com declives acentuados, enquanto na média bacia, aparecem com maior
frequência nas vertentes a W. Na baixa bacia, identificam-se os sulcos na margem esquerda
do canal principal, e outro sulco extenso que percorre toda a extensão de uma vertente
côncava na margem direita da bacia.
As feições em sulco ocorrem em duas situações em vertentes convexas e uma em
vertente retilínea: na média bacia, seguindo o traçado da cerca, no sentido do declive; na
margem direita do canal principal, ainda na média vertente, devido ao pisoteio excessivo do
gado; e na baixa vertente, na margem esquerda do canal principal, surgem em vertentes
retilíneas, a jusante da estrada rural.
Já nos anaglifos das fotografias de 1997, a visualização tridimensional foi possível na
escala 1: 25.000 (Figura 6). Neste caso, pode-se, através de óculos de visualização 3D, de
lentes azul e vermelha, visualizar a tridimensionalidade do relevo na Figura 5.
48 - Volume I

Figura 5: Anaglifo e identificação das formas erosivas da área estudada, 1997 - Marabá Paulista (SP)

Fonte: elaborada pelos autores (ZANATTA et.al, 2017).


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 49

No caso de 1997, a escala possível para obter tridimensionalidade do anaglifo


reduziu a resolução das fotografias. Ainda que permitindo levantar boa parte das formas
erosivas, surgiram dificuldades na identificação de feições menores. Nesses casos, recorreu-
se ao estereoscópio tradicional, identificando as feições e, posteriormente, mapeando-as em
meio digital. Através desse procedimento, levantaram-se as pequenas ravinas que surgem
nas margens da voçoroca (Figura 6).

Figura 6: Fotografias aéreas da média e baixa bacia, levantamento das feições em ravina na baixa vertente,
ao longo da voçoroca

Fonte: elaborada pelos autores (ZANATA et.al, 2017).


50 - Volume I

No geral, o cenário de 1997 apresenta aumento expressivo de feições erosivas, com


modificações intensas na rede de drenagem da bacia.
Em praticamente todos os topos e vertentes ocorrem manchas em tons mais claros
em meio a tons mais escuro, indicativo do desgaste e depauperamento do solo, promovido
pela erosão laminar. Os sulcos também ocorrem de maneira generalizada, tanto em
vertentes côncavas como convexas e retilíneas.
As ravinas que, no cenário de 1962, ocupavam as concavidades da alta bacia,
evoluíram para voçorocas, aflorando o lençol. Essa forma erosiva foi identificada pelo fundo
plano, com presença de umidade na base. Tal processo não apenas atingiu o canal principal
e o canal a W na média bacia, como também progrediu a montante, no sentido da cabeceira
da drenagem.
Nota-se que as ravinas que se formam na média vertente da margem direita do
voçorocamento, na média bacia, pela posição topográfica em que se desenvolvem, de
trajeto incomum, ocorrem devido à canalização da água pluvial ao longo da cerca, formando
cinco ravinas que desembocam no canal fluvial.
O aumento expressivo de formas em ravinas também se relaciona à formação da
voçoroca, haja vista que, atingido o nível de voçorocamento, a evolução opera por diversos
mecanismos, dentre os quais aqueles que promovem desabamentos das paredes laterais,
originando ramificações em ravinas na baixa vertente, que se desenvolvem para montante.
Ademais, atenta-se para o surgimento de formas erosivas não comuns de serem
constatadas em determinadas formas do relevo, como as erosões de tipo linear na alta e
média vertente convexa, sobretudo sulcos. Assim, vertentes convexas, que normalmente
dispersam a água e sua energia, transformaram-se em setores submetidos a processos de
escoamento concentrado e consequentemente de erosão linear. Esse fenômeno está
associado à intervenção antrópica, através da canalização do fluxo de água pluvial em
estradas rurais e ao longo de cercas ou, principalmente, associado ao pisoteio excessivo do
gado, que provoca a formação de crosta, com efeito similar ao da erosão por salpicamento.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 51

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sobre a técnica, entende-se que o uso dos anaglifos facilitou o trabalho no


levantamento das formas erosivas, pois por meio deles, associados ao uso de óculos de
baixo custo, se obteve a tridimensionalidade do terreno, proporcionando o mapeamento
das feições já em meio digital. No entanto, atenta-se para a escala que permitiu obter a
tridimensionalidade no cenário de 1997, a qual diminui a resolução da fotografia. Neste
caso, aponta-se à necessidade de recorrer a um estereoscópio tradicional.
O trabalho com a mesma área em distintos anos, buscando compreender as
mudanças nos processos erosivos, indicou que em um período de 35 anos de uso intenso, as
formas erosivas se desenvolvem de modo expressivo, com alterações em toda a rede de
drenagem. A comparação dos mapeamentos também permite avaliar a mudança nos
mecanismos pelos quais a erosão opera quando da presença de uma voçoroca. Assim, os
terrenos próximos à voçoroca foram afetados por uma intensificação do processo erosivo,
verificado pelo aumento significativo do número de feições em ravina.
Ademais, esse aumento do número de feições erosivas, o desenvolvimento do
processo erosivo em terrenos poucos sujeitos a determinados fenômenos, e o
desenvolvimento acelerado das formas erosivas indicam que as modificações antrópicas na
área, verificadas em 1962 e intensificadas no cenário de 1997, apontam para um desgaste
excessivo dos solos, com perdas expressivas deste recurso natural, comprovando a
incompatibilidade do modo de uso com a capacidade de suporte dos terrenos do local.
Constata-se, assim, a importância das informações obtidas como contribuição para
recuperação da área analisada.

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54 - Volume I

Capítulo 3

ANÁLISE ESPACIAL DOS REGISTROS DE ESCORPIÃO EM PRESIDENTE


PRUDENTE/SP, 2012-2013

Jean Farhat de Araújo da Silva


Mestre em Sensoriamento Remoto, INPE, Brasil
jeanfarhat7@gmail.com

Rafael de Castro Catão


Doutor em Geografia, PNPD-NMT-UnB, Brasil
rafadicastro@gmai.com

Raul Borges Guimarães


Doutor em Geografia, Prof do PPGG – FCT/UNESP, Brasil
raulguimaraes@uol.com.br
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 55

ANÁLISE ESPACIAL DOS REGISTROS DE ESCORPIÃO EM PRESIDENTE


PRUDENTE/SP, 2012-2013

Jean Farhat de Araújo da Silva


Mestre em Sensoriamento Remoto, INPE, Brasil
jeanfarhat7@gmail.com

Rafael de Castro Catão


Doutor em Geografia, PNPD-NMT-UnB, Brasil
rafadicastro@gmai.com

Raul Borges Guimarães


Doutor em Geografia, Prof do PPGG – FCT/UNESP, Brasil
raulguimaraes@uol.com.br

INTRODUÇÃO

A presença de escorpiões próximos às habitações humanas apresenta riscos à saúde


pública devido à possibilidade de um acidente, que pode levar indivíduos ao óbito caso não
haja um tratamento adequado. Por tanto, é necessário um controle adequado desses
aracnídeos, tendo em vista que sua erradicação não seria possível nem viável, pois as
principais espécies que causam acidentes no Brasil são autóctones e cumprem importantes
funções ecológicas, como a promoção do equilíbrio da cadeia alimentar.
Os escorpiões são artrópodes quelicerados da classe dos aracnídeos, e sua fauna é
composta por quatro famílias (Bothriuridae, Chactidae, Liochelidae e Buthidae). Dentre as
famílias, a de principal interesse à saúde pública é a Buthidae, não apenas porque 60% dos
escorpiões pertencem a ela (BRASIL, 2009), mas porque abriga a espécie Tityus serrulatus,
popularmente conhecida como escorpião amarelo, e principal responsável pelos acidentes e
óbitos no Brasil (BRASIL, 2009).
Os escorpiões se adaptam a diversos tipos de ambientes, habitam desde desertos
até florestas tropicais, do nível do mar a 4.400 metros de altitude (BRASIL, 2009). Além
disso, são considerados animais sinantrópicos devido a sua capacidade de se adaptar ao
56 - Volume I

meio geográfico produzido pelo homem, especialmente, domicílios e peridomicílios de


cidades, e áreas rurais. O acidente causado por picadas de escorpiões é denominado de
escorpionismo.
No Brasil, ocorrem, aproximadamente, 100 mil acidentes de animais peçonhentos
(cobras, aranhas, lagartas, lacraias, abelhas, entre outros) e quase 200 óbitos por ano
(BUSATO et al., 2014). Especificamente sobre o escorpionismo, os estados das regiões
Sudeste e Nordeste são os mais afetados, com concentração de casos em Minas Gerais, São
Paulo, Bahia e Pernambuco.
No estado de São Paulo, observa-se um predomínio no interior, nas regiões central,
norte e oeste do estado. Os municípios com maior número de caso são Campinas, Limeira,
Ribeirão Preto e São José do Rio Preto (SILVA, 2015).
De acordo com o estudo realizado por Silva (2015), a distribuição espacial dos
acidentes de escorpião em São Paulo está intimamente ligada a algumas características
sociais e ambientais presentes do interior do estado. Estão presentes nas Cuestas Basálticas
e no Planalto Ocidental, onde o clima é subquente (médias entre 15°C e 18°C) ou quente
(com temperaturas maiores que 18°C), e há predomínio dos biomas de Cerrado e Mata
Caducifólia, com vegetação secundária e atividades agrícolas, especialmente o agronegócio
canavieiro.
Estes fatores contribuem para a adaptação dos escorpiões ao meio urbano,
tornando necessária a realização de análises mais aprofundadas sobre o escorpionismo no
interior paulista, já que apresenta um comportamento favorável à ocorrência de tais
acidentes, e a tendência segue crescendo.
No município de Presidente Prudente/SP, o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN) registrou acidentes causados por picadas de escorpião em todos os anos
desde 2003, com uma tendência de aumento, principalmente após o ano de 2010 quando
houve um aumento considerável (SILVA, 2015). A Figura 01 mostra a evolução dos casos de
acidentes com animais peçonhentos em Presidente Prudente, no período de 2003 a 2012.
Pode-se observar um aumento gradativo nos acidentes relacionados aos escorpiões no
período, com um volume maior que os relacionados a outros animais peçonhentos.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 57

Figura 01 - Acidentes com animais peçonhentos, Presidente Prudente/SP, 2003-2012

Elaborada por: SILVA, 2015. Fonte dos dados: SINAN, 2013.

Com o incremento dos acidentes, e da infestação, o Centro de Controle de


Zoonoses – CCZ, da Secretaria Municipal de Saúde de Presidente Prudente, aumentou as
atividades de prevenção e combate ao escorpionismo. O Centro de Controle de Zoonoses é o
órgão responsável pelo combate a animais peçonhentos. Quando ocorre um acidente ou
alguém encontra um escorpião, e notifica o CCZ, cria-se um registro, que gera ações de
controle. Há também a busca ativa desses artrópodes em áreas prioritárias, como
cemitérios, borracharias, madeireiras e residências próximas às áreas de maior densidade de
registros.
Devido ao aumento do número de registros, o CCZ de Presidente Prudente não
estava preparado para processar tal volume de dados de modo a permitir uma análise
espacial da situação da infestação de escorpiões na área urbana do município. O presente
trabalho foi uma resposta a esta necessidade, evidenciando a importância dos
conhecimentos geográficos para os serviços de vigilância em saúde.
58 - Volume I

OBJETIVO

Analisar a distribuição espacial dos registros de escorpiões no município de


Presidente Prudente, interior do estado de São Paulo, durante os anos de 2012 e 2013,
dando subsídio aos órgãos responsáveis pelo controle do artrópode.

METODOLOGIA

O município de Presidente Prudente/SP (Figura 1) está localizado a -22°07’04” de


latitude sul e -51°22’57” de longitude oeste, e a cerca de 472m de altitude em relação ao
nível do mar. Possui 562,794 (Km²) de área territorial. Sua população total, no ano de 2010,
era de aproximadamente 207 mil habitantes, apresentando uma densidade demográfica de
368,89 (hab/Km²). Seu sistema de saúde é composto por um total de 107 estabelecimentos,
sendo que 39 destes são destinados para uso público e 68 para uso privado (IBGE, Censo
2010).

Figura 2. Localização do município de Presidente Prudente/SP

Fonte: CATÃO, 2012.

Para identificar a distribuição espacial do fenômeno, verificando os locais mais


infestados na área urbana do município, foram elaborados mapas de distribuição de
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 59

registros e análises estatísticas aplicadas a eventos pontuais. Os produtos cartográficos


elaborados durante a realização desta pesquisa levaram em consideração os dados
tabulados a partir do registro do aparecimento de escorpiões, por domicílio, captados pelo
CCZ de Presidente Prudente, referente aos anos de 2012 e 2013. Tais dados são oriundos de
fichas de notificação da população, resultados de busca ativa ou registro de acidente
escorpiônico. Essas fichas foram preenchidas, em papel, pelos técnicos do CCZ, e
posteriormente digitadas e tabuladas em uma planilha eletrônica para que fosse possível
realizar o processo de geocodificação de endereços.
Com o término da planilha eletrônica, iniciou-se o segundo passo: a geocodificação,
um procedimento que transforma uma tabela de endereços em uma camada de informação
composta de pares de coordenadas geográficas. Esta conversão ocorre por meio de uma
base cartográfica, em formato vetorial, representando os eixos de rua georreferenciados, a
tabela de endereços, e os indexadores de conversão. Skaba (2009, p.56) define a
geocodificação como:

O processo de encontrar coordenadas geográficas associadas (normalmente


expressa como latitude e longitude) por outros dados geográficos, tais como
endereços residenciais ou códigos postais (CEP). Com as coordenadas geográficas,
os elementos podem ser mapeados e incorporados a Sistemas de Informação
Geográfica, ou as coordenadas podem ser incorporadas a mídias como fotografias
digitais.

No caso das fichas de notificação de escorpiões, o domicílio foi utilizado como


unidade de agregação de dados, ou seja, uma notificação equivale a um domicílio, que é
representado no mapa por um ponto. Para tanto, foi utilizada a função Geocoding Adress do
software ArcGIS10.1®. Do total de 1.864 notificações, dos anos de 2012 e 2013, foram
geocodificados 1.735 endereços, ou 93,07% do total. O restante – 129 notificações, ou
6,92% – não foi possível de ser geocodificado devido ao preenchimento incompleto ou
inadequado da ficha, bem como pela ausência de certos endereços na base
georreferenciada utilizada nesse processo.
Como resultado da geocodificação, foi criada uma camada de informação com os
endereços dos domicílios com escorpiões, representados por pontos. Com os dados já
mapeados, foi elaborado um teste de estatística espacial descritiva, por meio da ferramenta
60 - Volume I

denominada “média do vizinho mais próximo” (average nearest neighbor), que testa a
hipótese de aglomeração espacial não aleatória, no spatial statistics do ArcGIS10.1.
A partir dessa camada de informação, e com a ajuda do software ArcGIS10.1, foram
elaborados mapas de intensidade de notificações baseados no estimador Kernel, mapas
com a quantidade de notificações de escorpião por setor censitário, e um mapa de
autocorreção espacial com o Índice Local de Moran (LISA) dos setores censitários urbanos.
O Estimador de Intensidade de Kernel é uma técnica muito usada em dados de
saúde para demonstrar padrões em fenômenos que se encontram distribuídos no espaço,
verificando localidades de concentração denominadas de hotspots. Esse estimador é
calculado através de dois parâmetros: raio de atuação, pelo qual se busca verificar a
intensidade do fenômeno, e função K, responsável por realizar a estimação e também o
dimensionamento do tamanho da célula que representa o fenômeno.
Sobre o estimador de intensidade de Kernel, Barbosa (2012, p.39) afirma que:

Esse é um método estatístico que analisa o comportamento de padrões de pontos.


O método fornece a intensidade pontual do processo em toda a região do estudo,
por meio de interpolação e função de suavização, a qual associa um valor a um
ponto da região de estudo baseado na distância de cada evento vizinho a ele.

Sobre o Índice de Moran função LISA (Local Indicators of Spatial Association) – ou


Indicadores Locais de Associação Espacial –, é usado para o estudo de fenômenos de
segunda ordem, ou seja, de pequena escala, e que representam a dependência espacial no
processo. Esse método tem por objetivo identificar a autocorrelação entre dados não
aleatórios (aglomerados), verificando a associação espacial entre os pontos mais próximos
(BRASIL, 2007). Assim,

Essa estatística é interessante, pois permite comparar o valor de cada município


com seus vizinhos. Em geral se utiliza o indicador normalizado, ou seja, a diferença
entre a média global e o valor em cada município, dividida pelo desvio padrão, de
forma que a unidade do indicador passa a ser unidades de desvio padrão de
afastamento da média. (BRASIL, 2007, p.71).

RESULTADOS

As notificações de escorpiões durante o ano de 2012 demonstraram um


crescimento dos registros durante a primavera, os quais se mantiveram altos no verão. No
final do outono, parece ocorrer uma tendência de baixa de registros, embora o mês de maio
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 61

tenha sido de maior número de registos. Durante o inverno, o patamar de registros é menor.
Tal comportamento se deve, possivelmente, às quedas de temperatura, bem como aos
índices pluviométricos mais baixos durante os meses de outono e inverno, que levam os
escorpiões a permanecessem em locais úmidos e aquecidos, como bocas de lobo,
encanamentos e fiações. Enquanto que durante os períodos de elevados índices de
temperatura e precipitação (primavera-verão), tais animais passam a ocupar espaços intra-
domiciliares, ocasionando na alta dos registros. Como podemos ver na Figura 3 e na Figura 4.

Figura 3 – Notificações de escorpiões no ano de 2012

Elaborada por: SILVA, 2015. Fonte dos dados: CCZ- Presidente Prudente, 2014.
62 - Volume I

Figura 4 - Distribuição das notificações de escorpiões pelo estimador de intensidade Kernel, do ano de 2012

Elaborada por SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ, Presidente Prudente, 2014.

A Figura 4 representa a intensidade da distribuição das notificações de escorpiões


no ano de 2012. Nota-se através da variação entre as cores verde e vermelho que há regiões
com menor e maior intensidade, respectivamente, ao longo dos meses do ano. Assim,
observa-se que no primeiro semestre houve maior concentração de notificações de
escorpiões na região central e sudeste da cidade, sendo o mês de maio aquele que
apresenta maior concentração, com índices mais elevados de registros de casos. No segundo
semestre esse padrão se modifica, apresentando uma distribuição maior das notificações
pela malha urbana. Neste período, o mês de novembro foi o que apresentou maior número
de notificações.
A Figura 5 representa a distribuição das notificações de escorpiões por setor
censitário, no ano de 2012, utilizando a variável cartográfica (tamanho) para representar o
fenômeno tratado, com uma variação de 0 a 6 notificações por setor censitário – dados
tabulados em relação aos meses do ano.
Assim, no primeiro semestre os meses de fevereiro, março e maio foram aqueles
com maior número de registros, especialmente nos setores localizados na área central da
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 63

cidade. Enquanto que no segundo semestre os meses de agosto, outubro e dezembro


revelam um maior número de registros, com concentração nas porções sudeste, sul e central
da cidade.

Figura 5- Distribuição das notificações de escorpiões por setores censitários, no ano de 2012

Elaborada por SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ- Presidente Prudente, 2014.

Como se pode observar na Figura 6, há um padrão temporal bastante semelhante


ao ano de 2012 em 2013. Em ambos os casos verifica-se uma tendência ascendente na
primavera-verão, tendo o primeiro trimestre maior número de registro; e uma tendência
descendente nos meses de outono-inverno, com os meses de maio a julho com menores
registros.
64 - Volume I

Figura 6 - Notificações de escorpiões no ano de 2013

Elaborada por: SILVA, 2015 Fonte dos dados: CCZ, Presidente Prudente, 2014.

Com relação à distribuição espacial dos casos, a Figura 7 permite a visualização da


intensidade de registros de escorpiões no ano de 2013, de forma idêntica à Figura 4, referente ao
ano de 2012. Observa-se que no primeiro semestre houve uma distribuição das notificações de
escorpiões por todo o perímetro urbano do município, tendo uma maior concentração na região
central, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro. E no segundo semestre, esse padrão se
mantém tendo um maior espraiamento das notificações pela malha urbana, sem tanta concentração.
Neste período, o mês de novembro foi o que apresentou o maior número de registros.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 65

Figura 7 - Distribuição das notificações de escorpiões pelo estimador de intensidade Kernel, do ano de 2013

Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ- Presidente Prudente, 2014.

A Figura 8 representa a distribuição das notificações de escorpiões por setor


censitário, no ano de 2013. Neste caso também foi usada a variável cartográfica (tamanho)
para dimensionar o fenômeno tratado, tendo uma variação de 0 a 5 notificações por setor
censitário – dados tabulados em relação aos meses do ano.
Desse modo, a partir da interpretação da Figura 8, pode-se dizer que no primeiro
semestre os meses de fevereiro e março foram os mais afetados, apresentando valores
absolutos de 5 (cinco) notificações por setor censitário, sendo estes setores localizados nas
áreas localizadas ao norte e ao centro da cidade. Enquanto que no segundo semestre a
distribuição das notificações apresentou um padrão suavemente distinto, tendo os meses de
agosto e novembro como mais infestados, com predomínio nos setores das regiões sudeste
e central da cidade.
66 - Volume I

Figura 8 - Distribuição das notificações de escorpiões por setor censitário, no ano de 2013

Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ-PP, 2013; IBGE, 2010.

O resultado do teste de aglomeração média do vizinho mais próximo encontrou um


z-score de -32,985443, indicando que essa é uma aglomeração espacial não aleatória, ou
seja, que esse fenômeno não está aleatoriamente distribuído no espaço e nem disperso.
Segundo o método, se o valor for menor que -2,58, o fenômeno ocorre de maneira
aglomerada; se estiver entre 2,58 e -2,58, ele é aleatório; e se for maior que 2,58, ele é
disperso.
Foi possível verificar que os bairros mais infestados foram: Jardim Paulista, Vila
Machadinho, Bairro do Bosque e Vila Formosa. Sendo que outros bairros localizados
próximos às cabeceiras de drenagem da bacia hidrográfica do Córrego do Veado também
apresentam altos índices de notificação.
Os anos de 2012 e 2013 revelaram um padrão de ocorrência, pois demonstraram
ascendência durante o período primavera-verão, e decréscimo entre os meses de outono-
inverno (com exceção do mês de maio de 2012). A comparação entre os anos e o
comportamento sazonal dos registros de escorpiões explicita-se com o auxílio da Figura 9.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 67

Figura 9 - Notificações de escorpiões nos anos de 2012 e 2013, em Presidente Prudente/SP

Elaborada por: SILVA, 2015. Fonte: CCZ. Presidente Prudente, 2014.

Após analisar as Figuras 10 e 11, conclui-se que os bairros localizados próximos à região
central são os que apresentam maior concentração em relação às outras regiões da cidade, podendo
apresentar alguma influência da rede de drenagem pertencente à bacia hidrográfica do Córrego do
Veado (principal córrego da cidade).
A maioria das notificações ocorre em áreas de topo de vertentes, onde se localizam as
cabeceiras de drenagem em formato de anfiteatro, seguindo pelos principais canais de drenagem da
cidade. As áreas mais densas também apresentam um número elevado de notificações, como por
exemplo o centro da cidade.
Atualmente, a maioria dos afluentes no meio urbano encontra-se já canalizada e
subterrânea, concentrando grande quantidade de bocas de lobo, o que pode vir a atrair animais
pertencentes à cadeia alimentar dos escorpiões – como as baratas, por exemplo –, resultando na
concentração do aracnídeo nessas localidades.
68 - Volume I

Figura 10 - Distribuição das notificações de escorpiões pelo estimador de intensidade Kernel,


dos anos de 2012 e 2013

Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ-PP, 2013; IBGE, 2010.

Figura 11 - Distribuição das notificações de escorpiões, por setor censitário, nos anos de 2012 e 2013

Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ-PP, 2013; IBGE, 2010.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 69

A Figura 12 evidencia os setores censitários com altos valores aglomerados, em


preto; valores que demonstram uma distribuição intermediária, representada por Alto-
Baixo, em amarelo; e os setores com baixos valores, em azul.
Nota-se nessa figura uma predominância dos valores similares mais altos na bacia
do Córrego do Veado e na área sudeste, adjacente ao centro da cidade, reforçando o padrão
indicado nas figuras anteriores. O padrão de setores censitários com altos valores de
notificação possui contiguidade territorial, uma vez que o rio principal e os canais de
drenagem podem estar agindo como rede de dispersão de escorpiões pela cidade,
demonstrando a necessidade do direcionamento do combate a estes animais nessas
localidades, especialmente naquelas próximas aos rios e córregos já canalizados.

Figura 12–Autocorrelação espacial dos setores censitários com presença de escorpião por setor censitário,
nos anos de 2012 e 2013

Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ-PP, 2013; IBGE, 2010.

CONCLUSÃO

A partir dos produtos cartográficos construídos durante a pesquisa e apresentados


neste artigo, foi possível atingir o objetivo do trabalho e estabelecer uma contribuição
mútua entre o Laboratório de Biogeografia e Geografia da Saúde (FCT-UNESP) e o Centro de
70 - Volume I

Controle de Zoonoses de Presidente Prudente. Foi gerado um banco de dados com o intuito
de dar continuidade a pesquisa e também ajudar na projeção de medidas de controle no que
diz respeito ao escorpionismo no município. Dessa maneira, comprova-se a importância da
aproximação entre estudos acadêmicos e órgãos públicos. Com base nos dados levantados e
imagens geradas no presente estudo, foi possível identificar que os bairros mais infestados
por escorpiões em 2012 e 2013, devem receber maior atenção do CCZ na implantação de
políticas de contenção de danos. Estes bairro foram: Jardim Paulista, Vila Machadinho,
Bairro do Bosque e Vila Formosa, tendo muitos outros casos localizados próximos às
cabeceiras de drenagem da bacia hidrográfica do Córrego do Veado.
Ao observarmos o cenário do município de Presidente Prudente/SP, pode-se dizer
que a presença dos escorpiões está diretamente relacionada com os aspectos
socioambientais, pois há a influência de córregos canalizados que servem tanto como abrigo
para estes animais quanto como vias dispersoras dos mesmos pela cidade.
Ainda há uma gama de dados que podem ser utilizados para uma análise mais
aprofundada, os quais nos levariam a relacionar, por exemplo, essa espacialização a
variáveis socioeconômicas, tais como: renda, escolaridade, densidade demográfica, acesso à
infraestrutura sanitária, tipo de solo, presença de ferros-velhos, madeireiras, lotes vagos,
parque e áreas verdes que possam vir a influenciar na aparição, proliferação ou dispersão
dos escorpiões no município.
Com base nos resultados obtidos, o CCZ do município de Presidente Prudente
implementou um novo direcionamento de combate a esses aracnídeos, de acordo com a
espacialização verificada nos mapas de geocodificação das notificações de escorpiões,
poupando, dessa forma, tempo e recursos financeiros.
O combate aos escorpiões em Presidente Prudente vem sendo realizado nas
localidades mais infestadas, instruindo a população e aplicando medidas de fiscalização em
caso do não cumprimento das orientações recomendadas, tais como o acúmulo de entulho
no domicílio ou ao redor do mesmo, ou a não telagem de ralos intra-domiciliares. Ações
como estas podem vir a contribuir para uma melhoria da saúde em relação aos acidentes
por picada de escorpião na população do município.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 71

REFERÊNCIAS BIBLIOFRÁFICAS
BARBOSA. A. D; et. al. Caracterização dos acidentes escorpiônicos em Belo Horizonte, Minas Gerais,
Brasil, 2005 a 2009. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.28, n. 9, p. 1785-1789, set, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Introdução à estatística espacial para a Saúde Pública. Brasília, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de controle de escorpiões. Brasília, 2009.

BUSATO, M.A.; CORRALO, V.S.; BORDIN, S.M.S.; GUARDA, C.; ZULIAN, V.; LUTINSKI, J.A. Acidentes por
animais peçonhentos no oeste do estado de Santa Catarina, Brasil. Hygeia, v.10, n.18, p. 129-139,
2014.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro, Censo 2010.

SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO - SINAN. Brasília: DATASUS – Ministério da


Saúde, 2010.

SILVA. J. F. A. Distribuição Geográfica dos escorpiões no município de Presidente Prudente -SP nos
anos de 2012 e 2013. 2015. 64pp. Monografia (Graduação em Geografia) UNESP. Presidente
Prudente, 2015.

SKABA. D.A. Metodologias de geocodificação dos dados da saúde. 2009. 169pp. Tese (Doutorado
em Ciências, na área de Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro/RJ, 2009.
72 - Volume I

Capítulo 4

AS GEOTECNOLOGIAS E AS CHAVES DE INTERPRETAÇÃO COMO AUXÍLIO EM


LEVANTAMENTOS DA PAISAGEM: UMA ANÁLISE DO
MUNICÍPIO DE ANHUMAS - SP

Marcos Norberto Boin


Professor Doutor da Universidade Federal da Grande Dourados
marcosboin@ufgd.edu.br

Rodrigo Coladello Oliveira


Professor Mestre - Toledo Prudente Centro Universitário
rodrigo.oliveira@toledoprudente.edu.br

Maria Helena Pereira Mirante


Professora Doutora da Universidade do Oeste Paulista
heleninhamirante@gmail.com
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 73

AS GEOTECNOLOGIAS E AS CHAVES DE INTERPRETAÇÃO COMO AUXÍLIO EM


LEVANTAMENTOS DA PAISAGEM: UMA ANÁLISE DO
MUNICÍPIO DE ANHUMAS - SP

Marcos Norberto Boin


Professor Doutor da Universidade Federal da Grande Dourados
marcosboin@ufgd.edu.br

Rodrigo Coladello Oliveira


Professor Mestre - Toledo Prudente Centro Universitário
rodrigo.oliveira@toledoprudente.edu.br

Maria Helena Pereira Mirante


Professora Doutora da Universidade do Oeste Paulista
heleninhamirante@gmail.com

INTRODUÇÃO

A compreensão do planejamento geoambiental requer uma concepção holística,


sistêmica e dialética das relações entre natureza e sociedade, com base na ideia de que os
sistemas ambientais estão inter-relacionados cultivando uma totalidade. Não obstante, tal
planejamento deve estar voltado para os aspectos naturais do meio físico e biótico
(RODRIGUEZ e SILVA, 2013).
Em estudos sobre planejamento da paisagem, diversos autores buscam
compreender e classificar o mesmo de modo integrado, possibilitando identificar suas
potencialidades e limitações, e avaliar a estruturação geoecológica, com o objetivo de
fornecer suporte para as atividades socioeconômicas e à ocupação territorial. Como
exemplo, temos os trabalhos de Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2004), Rodriguez e Silva,
(2013) Ferreira (1997), Pellerin e Hellvin (1998), Pedrotti e Martinelli (2001), Ruhoff (2002),
Cavalheiro (2002), Freitas e Cunha (2003), Marçal e Luz (2003), entre outros.
O funcionamento da paisagem possui estruturação própria, horizontal e vertical,
que, numa abordagem integrada, necessita ser interpretada de forma sistêmica. Assim, a
estruturação horizontal consiste em classificar a mesma através de elementos que refletem
a sua organização no espaço geográfico horizontal, que possuem associação direta com a
organização e comportamento dos seus respectivos geohorizontes (BERTRAND &
74 - Volume I

BERTRAND, 2002). De outra forma, a estrutura vertical é o conjunto dos componentes que
nela constitui e que atuam desde a atmosfera até a rocha mãe, passando pelas vegetações,
solo, águas superficiais e subterrâneas (NAVEH, 1991).
Diante disto, Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2004) e Rodriguez e Silva, (2013)
apresentam como condicionantes da paisagem, os seguintes fatores: geológicos, climáticos,
relevo, hídricos, edáficos e bióticos. Ao considerar tais fatores como apoio científico para o
estudo e planejamento da paisagem, Santos (2004) aponta que a ecologia da paisagem (ou
geoecologia da paisagem) fornece um apoio integrador na análise dos elementos que atuam
no meio ambiente, além de conduzir a observação e sistematização dos mesmos.
Sob a óptica geográfica, a geoecologia da paisagem pode ser compreendida como
uma disciplina que busca compreender os diversos fenômenos da paisagem e ordenamento
territorial, integrando-os às variáveis sociais, biológicas e geofísicas (METZGER, 2001).
A estrutura organizacional do planejamento ambiental, na concepção da teoria da
paisagem, depende de uma sequência de etapas, que segundo Santos (2004), compreende,
simplificadamente, as fases de definição dos objetivos, diagnóstico, levantamento de
alternativas e a tomada de decisão.
Em diagnósticos ambientais, a identificação e sistematização da fragilidade
ambiental são demasiadamente importantes, visto que assim faz-se uso de uma abordagem
integrada da paisagem para o mapeamento e espacialização dos atributos de fragilidade, ao
mesmo tempo em que correlaciona os componentes geoambientais e antrópicos,
condicionantes na organização e comportamento do estrato geográfico (TRICART 1977,
AMARAL e ROSS, 2009, (RODRIGUEZ e SILVA, 2013). Tal estudo analítico auxilia em tomadas
de decisões do poder público, no planejamento ambiental e territorial, além de ser um
elemento de orientação para órgãos ambientais responsáveis por fiscalizar e licenciar
atividades econômicas e potencialmente poluidoras. Nucci (2009) destaca a importância do
levantamento da situação original do ambiente em estudo (inventário) e do diagnóstico da
situação atual, para então, concretizar as bases necessárias e sugerir cenários futuros
(prognóstico) em relação ao desenvolvimento da paisagem em questão.
Os planejamentos ambientais costumeiramente empregam métodos de
classificação e ordenação para decompor e integrar os elementos do espaço geográfico.
Essa ordenação do espaço entre seus elementos componentes e fenômenos atuantes,
corresponde à representação cartográfica efetuada pelo mapeamento do espaço geográfico,
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 75

em escala condizente com os objetivos do trabalho (SANTOS, 2004). Para Silva (2012), a
conjuntura da teoria da paisagem ocorre entre a Geografia Física, a Geografia Humana, a
Biologia, a Ecologia e a Cartografia.
As unidades de paisagem, segundo Gómez Orea (1978) e Santos, (2004) são obtidas
através do cruzamento entre cartas temáticas dos elementos da paisagem, onde, como
resultado, têm-se as zonas homólogas, ou seja, áreas que possuem semelhanças entre si.
Assim, a determinação destas unidades, conforme o critério de homogeneidade facilita o
conhecimento das mesmas e auxilia no prognóstico.
Todos esses fatores combinados geram uma carta temática, composta por cores
que representam determinadas unidades, sua susceptibilidade intrínseca e capacidade de
suporte em função de diversos usos e ocupações.
O poder de transformação do meio pelo homem tem alterado e degradado os
ecossistemas e a paisagem como um todo, com uma velocidade sem precedentes no último
século. Tais mudanças têm determinado que o monitoramento ambiental seja efetuado com
maior rapidez e eficácia por meio de recursos tecnológicos, como o sensoriamento remoto e
as técnicas de geoprocessamento. (EHLERS, 2005).
A interpretação das imagens de satélite ou de fotografias aéreas é utilizada desde a
primeira metade do século XX e tornou-se um importante instrumento no auxílio para a
compreensão dos padrões de organização do espaço rural, cada vez mais modificado pelo
homem. Desta forma, para a compreensão da dinâmica espacial e a constante atualização
das alterações do uso da terra, tem sido imprescindível o uso das geotecnologias no
planejamento regional e ambiental (ROSA, 1990). Na interpretação das imagens ou das
fotografias aéreas são utilizadas chaves de identificação, que a depender do tipo de sensor
vão apresentar diferentes padrões de respostas. Basta alterar o sensor, sua resolução
espacial ou ainda a resolução espectral para que seu resultado também mude
(FLORENZANO, 2008; AZEVEDO, 2008). Segundo Jacomine (1966), as fotografias aéreas
fornecem resultados por dedução e que são válidos apenas localmente, não se podendo
generalizar.
No presente trabalho foram utilizadas ortofotografias aéreas cedidas pela
EMPLASA, 2010, na escala 1:25.000 e elaborados estudos prévios com vistas à confecção das
chaves de interpretação de acordo com Santos, Niero e Lombardo (1980), para identificação
de alvos específicos do meio físico e biótico, que posteriormente serviram para espacializar
76 - Volume I

os fatores condicionantes da paisagem, seus graus de instabilidade e o zoneamento


ambiental a partir de metodologias de trabalho fundamentadas na dinâmica do ambiente
natural e de fatores socioeconômicos. A integração destes elementos promoveu a síntese da
paisagem estudada, permitindo identificar ambientes de fragilidade e potencialidade.

ÁREA DE ESTUDO

O município de Anhumas localiza-se na região oeste do estado de São Paulo, com


área total de aproximadamente 320 km², pertence à região administrativa de Presidente
Prudente e possui como coordenadas latitudinais e longitudinais do ponto central da cidade
22º 17’ 45” S e 51º 23’ 08” W, respectivamente (Figura 1).

Figura 1 – Localização do município de Anhumas

Fonte: Elaborado pelos autores.

O município de Anhumas, no Oeste Paulista, apresenta um relevo de colinas médias


e amplas assentado sobre o substrato arenoso da bacia sedimentar do Paraná, de idade
cretácea, representada pela Formação Adamantina, unidades de mapeamento Ka I, KAIV e KaV
(ALMEIDA, et. al., 1980) e sedimentos quaternário inconsolados, fluviais. Conforme a
EMBRAPA (1999), as classes de solos existentes são Latossolo Vermelho-Escuro, Argissolo
Vermelho-Amarelo, Neossolo Litólico e Areias Quartzosas Álicas, cujas texturas apresentam-
se como média ou arenosa/média. Climaticamente, caracteriza-se por se situar em zona de
transição, sendo compartilhada pelos sistemas atmosféricos intertropicais e extratropicais,
que promovem o conflito entre as massas tropical atlântica e tropical continental, massa
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 77

polar atlântica e, ainda, participação esporádica de massa equatorial continental (BOIN,


2000). Este clima é representado por uma estação chuvosa e outra seca, chovendo em
média 1300 mm por ano, e uma temperatura média de 23,9 oC. A vegetação primitiva do
município é composta pelo bioma da Mata Atlântica, representada pelas fisionomias
Floresta Estacional Semidecidual, com enclaves de tensão ecológicas caracterizados como
Cerrado. No interior do município, o principal corpo d´água é o ribeirão homônimo que
confronta com as bacias dos: ribeirão Santo Anastácio; ribeirão da Onça; ribeirão da Boa
Vista e os córregos do Cai-Guaçu e Mandacarú, este último integralmente no território
anhumense.

METODOLOGIA

A partir do inventário das condições naturais e socioeconômicas, para o qual foram


coletadas informações bibliográficas e cartográficas referente aos aspectos geoecológicos e
socioeconômicos da área, passou-se a desenvolver o diagnóstico ambiental do município. No
inventário, as fontes de dados utilizadas para compor a base das informações do diagnóstico
foram os trabalhos realizados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São
Paulo - IPT (1981a, 1981b, 1982) e Cooperativa de Serviços e Pesquisas Tecnológicas e
Industriais (1999) - componentes do relatório da UGRHI-22 -, Soares et al. (1980) e Boin
(2000). Foram utilizados ainda dados adquiridos junto à Prefeitura Municipal de Anhumas e
ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de levantamentos em trabalhos
de campo e interpretação de fotografias aéreas ortorretificadas. Com o intuito de se
contribuir e sistematizar as informações dos mapeamentos por todo o território do
município, procurou-se selecionar chaves de identificação ou de interpretação, visando a
caracterização geoecológica por meio da análise visual de detalhe das fotografias aéreas,
com resolução espacial de 1 (um) metro, o que possibilitou identificar alvos de
representatividade no mapeamento do meio físico (geo, bio e socioeconômico). Este
mapeamento foi desenvolvido inicialmente na escala 1:3.000, utilizando a delimitação visual
através de chaves de interpretação, considerando-se os padrões característicos da imagem
fotográfica, da EMPLASA (2010, 2011). Tais chaves são apresentadas nos quadros 1, 2 e 3 e
nas figuras 3, 4 e 5.
78 - Volume I

As técnicas de interpretação visual de imagens de satélite ou de fotointerpretação


fazem parte do sistema de análise de dados em sensoriamento remoto (NOVO, 1995). Essas
técnicas são o meio de assimilação e de estudo da paisagem, e podem ser aplicadas em
diferentes temáticas. Na análise visual para a apreensão dos componentes geoambientais,
utilizou-se os critérios apregoados por Santos, Niero e Lombardo (1980), que organizam as
chaves em quadros contendo descrições sobre os alvos, e registrando os seguintes
elementos de caracterização: textura, porte da vegetação, tonalidade, telhado e aspectos
associados a cada chave.
Estas chaves forneceram subsídios para o agrupamento de classes com
características semelhantes e para o processo de vetorização da rede de drenagem,
estradas, cidade, vegetação, planícies aluviais, lineamentos estruturais, lençóis suspensos,
uso da terra, entre outros, que permitiram a elaboração das cartas do meio físico e suas
principais características ou condicionantes geoambientais.
Após o levantamento dos condicionantes geoambientais e do registro de suas
características no município de Anhumas, deu-se início à confecção da carta de fragilidade
ambiental. Desta forma, o mapeamento da fragilidade ambiental pautou-se em adaptações
do modelo proposto por Ross (1994), que utiliza como base as concepções de ecodinâmica e
ecossistema – definidas anteriormente por Tricart (1977) – na determinação das unidades
ecodinâmicas de instabilidade potencial (estável) e de instabilidade emergente (instável),
classificando-as através de graus de fragilidade.
Assim, as unidades ecodinâmicas de instabilidade potencial são aquelas em que o
equilíbrio dinâmico encontrasse em seu estado natural, mas com certa instabilidade
potencial contida, devido a possível intervenção antrópica. Já as unidades ecodinâmicas de
instabilidade emergente são apresentadas como ambientes naturais que em alguma ocasião
foram intensamente alterados por atividades antrópicas de vários gêneros.
Para obter tais categorias, o método de análise de fragilidade considera os
elementos do meio físico e de uso da terra/cobertura vegetal para se obter a classificação
das unidades ecodinâmicas, sendo necessário proceder-se de levantamento dos
constituintes da paisagem, em escala de 1:100.000, para representar o grau de fragilidade
dos ambientes. Para cada um dos elementos do meio físico (fatores usados na análise) foram
atribuídos graus de fragilidade de 1 a 5 (muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto).
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 79

O primeiro elemento analisado na classificação foi a forma de uso da


terra/cobertura vegetal, que em função da preponderância de análise, classifica inicialmente
as unidades ecodinâmicas de instabilidade potencial ou emergente. Assim, em seguida,
integraram-se “dois a dois” (SANTOS, 2004) os demais elementos, como: tipos de solos,
formas de relevo e clima (Figura 2).
Entende-se, nesta abordagem, que as características litológicas estão contidas no
critério de análise dos tipos de solos, pois ambos se encontram correlacionados no aspecto
composicional e estrutural. No que se refere ao fator solo, o estudo se baseou no ponto de
vista de Amaral e Ross (2009), analisando as tipologias em relação à profundidade,
granulometria, erodibilidade, capacidade de infiltração e escoamento, elementos/aspectos
considerados importantes no processo de escolha da área para aterros sanitários.
Em seguida, as formas do relevo somam-se cartograficamente à integração entre
uso da terra e solos, criando uma classe intermediária, que ao levar em consideração fatores
morfológicos como tipos de vertentes e declividades, gera a categoria de fragilidade
ambiental (Figura 2).
80 - Volume I

Figura 2 – Etapas do cruzamento das cartas dos condicionantes geoambientais por sobreposição, dois a dois

Fonte: Elaborado pelos autores.


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 81

Em função da ausência de monitoramento climático do município de Anhumas


especificamente, utilizaram-se os dados obtidos na estação meteorológica da UNESP de Presidente
Prudente para definir o fator clima utilizado – assim como arranjou Amaral e Ross (2009) –,
considerando a constante pluviométrica anual correspondente à aproximadamente 1.300 mm/ano
para toda a área estudada.
Por fim, o cruzamento da carta síntese, que representa as unidades de instabilidade
potencial e emergente, com a carta de uso da terra, agora considerada como aspecto externo visível
na paisagem e não mais em seus graus de proteção, como aplicado anteriormente, obteve-se a carta
de unidades de paisagens.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A paisagem do município de Anhumas é caracterizada por relevo colinoso, com


setores subordinados planos e outros com maior movimentação, representados pela
ocorrência de rupturas de relevo, sendo estas, controladas pelas fácies litológicas do
substrato rochoso, em específico a Formação Adamantina (ALMEIDA et al. 1980). A
Formação Adamantina é classificada em unidades de mapeamento e estas são
caracterizadas pela homogeneidade entre si, prevalecendo no território do Município as
unidades de mapeamento KaI, KaIV e KaV. Estas unidades apresentam, ao sul, um relevo de
menor movimentação relacionado à unidade KaI, e ao norte, de maior movimentação
associado às unidades KaIV e KaV. Além disso, podem ser encontrados nos fundos de vales,
planícies fluviais e terraços aluvionares, constituídos de sedimentos quaternários
inconsolidados (Figura 3b, 3c e 3f). Desta forma, para identificar os recursos hídricos,
utilizaram-se as chaves de interpretação apresentadas no Quadro 1, e nas figura 3a, 3b, 3c,
3d, 3e, 3f e 3g.
82 - Volume I

Quadro 1 – Chaves de interpretação relacionadas aos recursos hídricos e os reflexos da estrutura geológica
Elementos / Rio Planície Planície fluvial Lençol Lençol de Inflexões na Rio
Características encaixado fluvial alveolar suspenso fundo de drenagem condicionado
vale à estrutura
Textura Fina Fina Fina Fina Fina Grosseira Fina
aveludada
Porte da Fundo Rasteiro Rasteiro Rasteiro Rasteiro Rasteira, Rasteiro
vegetação média
Tonalidade Cinza Marrom Marrom Marrom Marrom Cinza, Cinza
escuro esverdeado, esverdeado, esverdeado marrom e esverdeado
creme creme creme
Telhado Não Uniforme Uniforme Uniforme Uniforme Não uniforme Não
uniforme uniforme
Aspectos Risco Faixa com Faixa com Linhas Faixa com Mudança Curso
associados retilíneo diferentes diferentes marrom lateral ao brusca na retilíneo
sem cores e tons, cores e tons, escuras de curso direção do condicionado
planície de forma em forma de escoamento d´água curso d´água à estrutura
fluvial alongada bolsão das águas geológica.
Exemplos Figura 3 a Figura 3 b Figura 3 c Figura 3 d Figura 3 e Figura 3 f Figura 3 g
Fonte: Elaborado pelos autores.

Nos ambientes de ocorrência das unidades de mapeamento KaIV e KaV, é comum a


presença do controle estrutural refletido na rede de drenagem, podendo ser identificado nas
chaves de interpretação (Quadro 1, Figuras 3a, 3c, 3f e 3g).

Figuras 3 – Exemplo das características das imagens relacionadas aos recursos hídricos e os reflexos litológicos e da
estrutura geológica

Figura 3 b – Planície fluvial Figura 3 c – Planície fluvial Figura 3 d – Lençol suspenso


Figura 3 a – Rio encaixado
alveolar/sinuosidade
estrutural

Figura 3 e – Lençol de fundo Figura 3 f – Inflexões na Figura 3 g – Rio condicionado


de vale drenagem à estrutura
Fonte: Elaborada pelos autores.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 83

Assim, existem alvos identificados nas ortofotografias que indicam setores de


fragilidade ambiental. Na figura 3c, o elemento estrutural de subsuperfície se reflete na
superfície formando alvéolos, um em forma de bolsão e outro retangular, indicando o
substrato ígneo constituído pelos basaltos da formação Serra Geral (JKsg). Ainda na Figura
3c, pode-se observar uma inflexão de aproximadamente 90° (noventa graus) na rede de
drenagem, denominada de feição anômala. Diante do exposto, ambas situações convergem
para um setor de fragilidade ambiental intensa e de usos da terra severamente restritos.
Conforme observado, os lineamentos estruturais identificados nas figuras anteriores
provocam feições retilíneas no curso d’água, conduzido ao longo da zona de fraqueza. Assim,
em alguns trechos do ribeirão Anhumas, associados aos canais dos corpos d´água e aos
depósitos de sedimentos quaternários, as inflexões e cotovelos relacionados com o aspecto
estrutural tornam-se mais evidentes.

Associados aos elementos hidrogeomorfológicos acima e, ainda como reflexo da


tectônica regional, é comum a formação de planícies irregulares, com aspecto ora alveolar
ou de bolsão ora retilíneo, ambos pouco descritos em trabalhos realizados no Oeste Paulista.

Essas características, associadas aos rios subsequentes da região, espelham o


controle estrutural predominante WNW-ESE, onde a movimentação tectônica que secciona
a drenagem ora barra o escoamento do curso d´água retendo os sedimentos fluviais com a
formação de planícies alargadas, ora vencem a barreira provocando corredeiras no corpo
d´água.
Tal imposição estrutural é registrada em inúmeras corredeiras e quedas d´água ao
longo dos ribeirão Anhumas, córrego São Pedro, do Sapo e outros.
Também relacionadas às chaves de interpretação que subsidiaram o mapeamento
dos condicionantes geoecológicos e apontaram os graus de fragilidade ambiental no
município, estão as feições de relevo (Quadro 2, Figuras 4).
84 - Volume I

Quadro 2 – Chaves de interpretação relacionadas a algumas feições do relevo


Elementos / Erosão Leque aluvial Relevo com rupturas Vertente
Características
Textura Grosseira Granular Granular Fina aveludada
Porte da - Rasteiro Rasteiro, médio Rasteiro
vegetação
Tonalidade Areia Marrom esverdeado Marrom esverdeado Verde claro
Telhado Não uniforme Não uniforme Não uniforme Uniforme
Aspectos Sulco sinuoso, Forma de leque, Relevo movimentado Linhas de curvas de
associados vegetação no alargando em sua foz com faixas mais escuras nível
interior sobre as rupturas de
relevo
Exemplos Figura 4 a Figura 4 b Figura 4 c Figura 4 d
Fonte: Elaborado pelos autores.

Como se pode observar nas figuras 4a e 4b (erosão e leque aluvial), a fragilidade do


solo se faz representar pelo dinamismo da morfogênese e o acúmulo dos sedimentos junto à
foz das bacias mais frágeis. De forma inversa, na Figura 4c, a diferença na resistência
litológica entre distintos estratos litológicos propicia a formação de feições de ruptura no
relevo, destacada pela presença de vegetação nativa arbustiva de coloração mais escura. A
Figura 4d, destaca um grau de média fragilidade do relevo, onde ainda é possível notar
sulcos erosivos.

Figuras 4 – Exemplo das características da imagem de feições relacionadas ao relevo

Figura 4 a – Erosão Figura 4 b – Leque fluvial Figura 4 c – Relevo com Figura 4 d – Vertente
rupturas convexa côncava
Fonte: Elaborado pelos autores.

Como apontado, ao norte, o Município apresenta relevo mais movimentado, com


colinas médias e interflúvios que abrangem de 1km a 4km, topos aplainados e vertentes
côncavas, convexas e retilíneas (Figura 4d). Nesta porção, a convexidade em direção ao
topo, seguida pela concavidade ao longo da vertente reporta-se ao controle estrutural
exercido pela diferença na resistência dos materiais inconsolidados que constituem a
Formação Adamantina, muitas vezes provocado pela intercalação de bancos silto-argilosos e
areníticos (Figura 4c). Ocorrem sobre os topos das colinas os Latossolos Vermelho-Escuro, na
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 85

meia encosta os Argissolo Vermelho-Amarelo, nas rupturas de relevo os Neossolo Litólico /


Neossolo Litólico submetido ao hidromorfismo (Figura 3d e 6D) e sobre os fundos de vales as
Areias Quartzosas Álicas (Figuras 3d, 3c, 3e, 3f e 4b).
Nas colinas médias, os interflúvios são menores quando comparados aos das colinas
amplas, o que configura para esta classe, vertentes com perfis côncavos, convexos a
retilíneos, topos aplainados e eventuais colos topográficos (Figura 6E). É comum nas
cabeceiras da rede de drenagem e em locais de afloramento do lençol - suspenso ou de
fundo de vale -, o relevo apresentar feições de concavidade.
As formas do relevo, controladas pelas características litológicas (fatores
endógenos) e pelo clima da região (fatores exógenos), produzem diferentes níveis de
fragilidade quanto aos aspectos morfodinâmicos e/ou de acessibilidade aos recursos
hídricos, quer seja pela infiltração dos contaminantes ou pelo afastamento dos corpos
d’água (Figura 6E).
Assim, nos compartimentos do relevo com colinas amplas, e interflúvios extensos,
há um maior distanciamento até os corpos d´água e, ainda, solos mais profundos
(Latossolos) ocasionados pelo fenômeno de balanço morfogenético perpendicular (TRICART,
1977), produzindo menor fragilidade nas áreas de sua ocorrência (Figura 6E). Contrapondo-
se a este, nas áreas do relevo com morrotes alongados e espigões, os interflúvios são
menores, e consequentemente o relevo é mais dissecado, os solos que o constituem são
pouco espessos, o maciço rochoso em processo de intemperização apresenta-se em baixa
profundidade e os lençóis freáticos corriqueiramente afloram na superfície do terreno. Tal
situação contribui para maior vulnerabilidade à contaminação desses ambientes.
O mesmo acontece em relação ao distanciamento dos corpos d´água superficiais,
pois os espaçamentos dos interflúvios reduzem a influência das ações antrópicas na
qualidade dos recursos hídricos (Figura 6A). Esta situação culmina em uma maior fragilidade
do relevo, quer para o desenvolvimento de processos erosivos, quer para a contaminação
dos corpos d’água. O cenário de maior gravidade ou instabilidade encontra-se no relevo de
planícies fluviais, pois neste caso a fragilidade é muito alta, devido tal ambiente apresentar-
se em relação direta aos recursos hídricos superficiais (Figuras 3b, 3c, 3e, 3f e 4b).
As características apresentadas atribuem, assim, para a área de estudo, uma baixa
diversidade geológica, geomorfológica e pedológica, as quais estão diretamente refletidas na
vegetação que se estabelece nesses ambientes, oriundas do bioma Mata Atlântica. A Mata
86 - Volume I

Atlântica manteve-se em seu estado natural de preservação até o início do processo de


ocupação da região do Oeste Paulista, sendo intensamente devastada a partir do século XX.
No início dos registros de desmatamento, as áreas cobertas por florestas foram reduzidas
para 1,13km², correspondendo à aproximadamente 3,49% de todo o bioma original do
município de Anhumas. Atualmente, são registrados alguns remanescentes de vegetação
secundária de Floresta Latifoliada Estacional Semidecidual (Quadro 3, Figura 5d),
correspondente à porção onde o relevo se mantém em colinas médias e sobre solos pouco
profundos ao norte do município.
Ao sul do município, são registradas vegetações características e remanescentes do
bioma Cerrado, em função do ambiente em que se encontra, marcado por relevo
relativamente plano de colinas amplas, solos profundos (Latossolos) de pouca densidade de
drenagem e feições hidrogeológicas próximas à superfície (lençóis freáticos regionais –
Figura 6B), que condicionam a disponibilidade hídrica. Em fundos de vale encontram-se
vegetações adaptadas para áreas úmidas, com espécies típicas hidrófilas (Figuras 6B, 3b, 3c,
3e, 3f e 4b).
No levantamento do uso da terra, que determinou os graus de proteção do solo,
foram destacados cinco elementos de uso, de acordo com o Quadro 3, Figuras 5.

Quadro 3 – Chaves de interpretação do uso da terra


Elementos/ Cultura Cana de Cultura Vegetação Silvicultura Pastagem Área urbana
Características temporária açúcar permanente nativa
Textura Fina Fina Granular Grosseira Fina Fina Grosseira
aveludada
Porte Baixo Rasteiro, Médio Alto Alto Rasteira -
baixo e
médio
Tonalidade Cinza Marrom Verde escuro Verde Verde Cinza claro e Cores
amarronzado esverdeado escuro médio diversas
Telhado - Uniforme - Não Uniforme - Não
uniforme uniforme
Aspectos Curvas de Carreadores Individualização Ausência Gleba com Árvores Quarteirões,
associados nível e curvas de das plantas, de limites isoladas para ruas,
nível espaçamentos carreadores regulares, sombreamento construções
largos, limites Carreadores
configuração irregulares definidos
geométrica das
glebas
Exemplos Figura 5 a Figura 5 b Figura 5 c Figura 5 d Figura 5 e Figura 5 f Figura 5 g
Fonte: Elaborado pelos autores.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 87

Em geral, a vegetação do município de Anhumas encontra-se demasiadamente


degradada, restando somente pequenos fragmentos de vegetação nativa primária ou
secundária, em porções restritas das vertentes, com limitações de manejo agrícola ou
mesmo protegidas por estarem no entorno de corpos hídricos (Figuras 6F, 5d). A atividade
agrícola predominante no município de Anhumas, identificada através das chaves de
interpretação, é a cana-de-açúcar, que se estabelece na porção sul onde a mecanização no
plantio e colheita de extensas áreas parece ser mais fácil de se introduzir. Já na porção
norte, predominam culturas permanentes e temporárias na produção de alimentos e
exploração da silvicultura (Quadro 3, Figuras 5a, 5b, 5c, 5d, 5e e 5f).

Figuras 5 – Exemplo das características do uso da terra

Figura 5 c – Cultura Figura 5 d – Vegetação


Figura 5 a – Cultura Figura 5 b – Cana de açúcar
permanente - café nativa
temporária

Figura 5 e – Silvicultura Figura 5 f – Pastagem Figura 5 g – Área urbana


Fonte: Elaborada pelos autores.

Condicionantes geoambientais da paisagem

Com o auxílio das chaves de interpretação, produziram-se as cartas dos


condicionantes geoambientais da paisagem de acordo com Rodriguez e Silva (2013), ou seja:
rede de drenagem, áreas úmidas, geologia, pedologia, geomorfologia e o uso da terra
(Figuras 6A, B, C, D, E e F). Estas cartas do meio físico e antrópico, por sua vez, subsidiaram a
integração e inter-relação dos diferentes níveis de fragilidade através das características
88 - Volume I

intrínsecas de seus componentes, que foram destacados na análise da paisagem por meio
das chaves de interpretação.

Figura 6 - Cartas dos condicionantes geoambientais elaborados pela geotecnologia: A - Rede de drenagem; B – Áreas
úmidas; C – Geologia; D – Pedologia; E – Geomorfologia; e F – Uso da terra

A B C

D E F

Fonte: Elaboradas pelos autores.


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 89

Unidades ecodinâmicas de instabilidade potencial e emergente

Conforme mencionado anteriormente na metodologia do presente trabalho, para a


classificação das unidades ecodinâmicas de instabilidade potencial e emergente foram
levantados e avaliados quatro fatores, em escala 1:100.000, conforme os parâmetros
determinados na proposta de Ross (1994) e Amaral e Ross (2009): uso da terra/cobertura
vegetal, morfologia do relevo, solos e clima. Os condicionantes propostos pelos autores
supracitados basicamente são os elementos considerados na análise da paisagem, o
diferencial se apresenta na atribuição de graus de fragilidades para cada elemento durante a
concepção da matriz de correlação para a elaboração do material cartográfico.
A integração dos métodos mencionados proporcionou a classificação das unidades
ecodinâmicas de instabilidade potencial e emergente (Figura 7). Assim, o resultado
cartográfico final desta integração permite observar à disposição espacial dessas unidades e
suas relações com atividades antrópicas existentes, configurações do relevo, entre outros.
Os níveis de fragilidade atribuídos restringem determinadas atividades econômicas
e sanitárias em unidades ecodinâmicas de instabilidade potencial, em face à sua principal
característica de ambiente com vegetação nativa preservada ou em estágio de regeneração
avançado, restando somente as de instabilidade emergente, mas que ainda necessitam da
avaliação prévia para viabilidade de uso.
Assim, obtiveram-se 5 classes de ambientes ecodinâmicos de instabilidade potencial
e 3 classes de ambientes ecodinâmicos de instabilidade emergente (Figura 7), separadas em
muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto para ambos ambientes ecodinâmicos. Uma vez
que as unidades de alto grau de fragilidade são submetidas ao uso antrópico indevido e/ou
ausente de práticas de manejo conservacionistas, promoverão certamente a degradação
desses ambientes.
Cabe ressaltar que a vegetação existente nos ambientes ecodinâmicos de
instabilidade potencial, já apresentado outrora por Tricart (1977) como “meios estáveis”, é
capaz de manter a estabilidade morfogenética e, em determinadas situações, apresentam-se
como locais sensíveis à intervenções antrópicas, podendo passar de estáveis para
intergrades, retornar para estável novamente ou avançar rapidamente para instável. Ross
(1994) retoma essas concepções de ecodinâmica de Tricart (1977) e pondera que as
90 - Volume I

intervenções antrópicas provocam alterações de fluxos de energia e matéria dos sistemas


que se encontram em equilíbrio dinâmico, por isso devem ser necessariamente protegidas.
A este exemplo, têm-se os locais onde a vegetação arbórea mantém a estabilidade
das encostas declivosas, sustentando o equilíbrio dinâmico entre os fluxos de matéria e
energia e controlando, consequentemente, os processos erosivos.

Figura 7 – Carta de unidades ecodinâmicas de instabilidades potencial e emergente

Fonte: Elaborada pelos autores.

Sendo assim, os ambientes ecodinâmicos de instabilidade potencial possuem


vocação de uso restrita, de extrema funcionalidade ecossistêmica e mantenedora de
biodiversidade. Além disso, proporciona o equilíbrio dinâmico entre os fluxos de energia,
matéria e informação, possui grande vocação paisagística e contribui ativamente para a
recarga dos lençóis freáticos, regional e local.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 91

Já nos ambientes ecodinâmicos de instabilidade emergente, a cobertura vegetal


controla processos erosivos e o local pode ser destinado à atividade agropastoril desde que
associado ao manejo sustentável. Ademais, pode receber estruturas de saneamento
ambiental, como aterros sanitários e estações de tratamento de efluentes, contudo,
mantendo a premissa anterior do manejo sustentável, o planejamento ambiental na
instalação e a gestão na operação das atividades. Na ausência de manejos e técnicas de
segurança eficazes para as atividades elencadas acima, e outras que sejam potencialmente
poluidoras, esses ambientes estão sujeitos à contaminação, visto que uma das principais
características é a maior permeabilidade do solo, a qual contribuirá para a infiltração de
eventuais poluentes até atingir os lençóis freáticos.

Unidades de paisagem no município de Anhumas

Sob tal metodologia, analisaram-se dados e informações que foram coletadas e


sistematizadas na etapa do inventário e diagnóstico do meio físico, e que, se integrando,
conforme Santos (2004), constituíram os mapas sínteses de fragilidade ambiental conforme
Ross (1994), de restrição ambiental à instalação do aterro sanitário e de unidades da
paisagem. A integração de tais aspectos auxiliou na interpretação aprofundada dos
elementos da paisagem e, desta forma, a apontar áreas possíveis para receber o aterro
sanitário. Neste sentido, a integração dos fatores naturais e antrópicos originou a carta de
unidades de paisagem (Figura 8), com polígonos de denominação e área territorial exclusiva,
cujo critério de distribuição não se restringe apenas à homogeneidade, mas destaca a
inseparabilidade dos elementos, a intensidade das inter-relações e a evolução histórica.
Ao todo foram demarcadas 5 unidades de paisagem, produtos da integração entre
geologia, relevo, solos e uso e cobertura da terra, aspectos que possibilitaram a análise das
particularidades de cada unidade. As unidades de paisagem encontram-se organizadas
sequencialmente conforme sua aptidão à instalação do aterro sanitário, sendo A
(adequado), B (adequado com restrições), C (restrito), D (inadequado) e E (severamente
restritivo) – Figura 8.
Nos estudos sobre a paisagem, diagnosticar e identificar as relações, a organização
e a complexidade intrínseca dos meios físico e biótico, permite estabelecer critérios de
92 - Volume I

análise e planejamento das atividades antrópicas que possam provocar impactos negativos
ao meio.
Neste sentido, a utilização da análise integrada aplicada ao objetivo deste estudo
apresentou-se de importância significativa para a escala trabalhada, sendo possível
compreender a maneira em que a paisagem se organiza em sua plenitude, bem como as
conexões harmônicas e ao mesmo tempo instáveis entre os elementos que a constituem e
que são responsáveis pela estruturação e função de toda a paisagem do município de
Anhumas.

Figura 8 - Carta de unidades de paisagem

Fonte: Elaborada pelos autores.


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 93

Por fim, essas informações deram subsídios ao ordenamento do território do


Município, com a aplicação da legislação pertinente aos resíduos sólidos e outros aspectos,
como aquele relacionado à proteção dos recursos hídricos.

CONCLUSÃO

A utilização das técnicas de geotecnologia baseadas nas chaves de interpretação,


associadas à abordagem integrada da paisagem e à teoria da ecodinâmica para o
mapeamento empírico da fragilidade ambiental no município de Anhumas – SP, apresentou-
se relevante para tal análise e podem ser utilizadas como uma ferramenta substancial para o
planejamento ambiental de diferentes temas e espaços geográficos.
Tal mapeamento se tornou possível devido à abordagem integrada dos
condicionantes, e da interpretação de que a paisagem não se refere somente aos elementos
da natureza (potencial ecológico e exploração biológica), mas ao total integrado de todas as
implicações humanas. Desta forma, reforça o pensamento de Bertrand (1995), que afirma
que a paisagem é um sistema social e, concomitantemente, natural, abstrata e real,
subjetiva e objetiva, fixada em determinada unidade temporal e espacial, onde sua
complexidade associa-se ao tempo morfológico, constituída por estruturas e funcionalidades
que necessariamente devem ser analisadas em conjunto e não reduzidas a partes.
Os resultados mostram que a aplicação das chaves de interpretação se revelaram
eficientes em identificar os elementos do meio biofísico e antrópico no território municipal,
além de destacar aspectos de fragilidade intrínsecos a esses meios. Tais elementos de
interpretação propiciaram maior segurança na definição dos critérios dos graus de
fragilidade.
Contudo, vale a pena ressaltar que, devido à mudança de escala entre o
desenvolvimento inicial do trabalho e a apresentação final das informações, a queda no nível
de informação foi acentuada, ainda que tenham permitido a segurança dos trabalhos
realizados.
O método proposto por Tricart (1977), Ross (1994), Amaral e Ross, (2009) e Santos
(2004), associando as chaves de interpretação e à utilização de geotecnologias, mostrou-se
muito eficaz na delimitação e caracterização da paisagem, assim como permitiu identificar as
94 - Volume I

possíveis variações em sua estrutura, possibilitando a visualização de cenários futuros que


podem vir a ser utilizados na tomada de decisões sobre a ocupação do território.
A partir desses procedimentos, o mapeamento dos componentes dos meios físico,
bióticos e antrópicos permitiram apontar instrumentos baseados em critérios geoecológicos
e jurídicos que minimizam a subjetividade, aumentando a transparência no processo de
construção do diagnóstico sobre o território.

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Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 97

Capítulo 5

ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E O


USO DA TERRA NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E
GERENCIAMENTO DO AMAMBAI, MATO GROSSO DO SUL

Jederson Henrique Pedroso Martins


Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da
Grande Dourados
jederson1@outlook.com

Adelsom Soares Filho


Prof.º Dr. Adjunto do curso de Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD
adelsomfilho@ufgd.edu.br

André Geraldo Berezuk


Prof.º Dr. Associado do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFGD
andreberezuk@ufgd.edu.br
98 - Volume I

ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E O


USO DA TERRA NA UNIDADE DE PLANEJAMENTO E
GERENCIAMENTO DO AMAMBAI, MATO GROSSO DO SUL

Jederson Henrique Pedroso Martins


Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da
Grande Dourados
jederson1@outlook.com

Adelsom Soares Filho


Prof.º Dr. Adjunto do curso de Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD
adelsomfilho@ufgd.edu.br

André Geraldo Berezuk


Prof.º Dr. Associado do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFGD
andreberezuk@ufgd.edu.br

INTRODUÇÃO

A Unidade de Planejamento e Gerenciamento (UPG) do Amambai está localizada no


estado de Mato Grosso Sul, compreendendo os municípios de Ponta Porã, Laguna Caarapã,
Caarapó, Juti, Naviraí, Itaquiraí, Iguatemi, Amambai e Aral Moreira (Tabela 1). Além disso,
posiciona-se entre os paralelos 22°03’40 e 23°32’16 de latitude sul, e entre os meridianos
55°40’53” e 53°47’15” de longitude oeste. A UPG compreende uma área de 12.189,05 km 2
(Figura 1).

Tabela 1 - Dados gerais dos municípios da UPG do Rio Amambai


Municípios Área do Município (km²) Área na Bacia (km²) População (2007)
Amambai 4.202,30 2.818,11 23,12% 34.739
Aral Moreira 1.656,19 1.655,74 13,58% 10.255
Caarapó 2.089,71 800,47 6,57% 25.734
Coronel Sapucaia 1.028,90 122,76 1,01% 14.064
Iguatemi 2.946,68 1.464,51 12,01% 14.538
Itaquiraí 2.063,88 1.610,39 13,21% 18.412
Jutí 1.584,60 1.042,81 8,56% 5.900
Laguna Caarapã 1.734 1.138,88 9,34% 6.488
Naviraí 3.193,84 1.149,67 9,43% 45.086
Ponta Porã 5.328,62 385,71 3,16% 76.944
Área total da UPG 12.189,05 100% 237.654 (total)
Fonte: MARTINS, 2016, Ibidem IBGE, 2010.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 99

Figura 1: Mapa de localização da UPG Amambai

Fonte: MARTINS, 2016 (adaptado).


100 - Volume I

A área que corresponde à UPG Amambai apresenta uma economia centrada


na pecuária extensiva, com presença também marcante do setor sucroalcooleiro, e da
agricultura de grãos para exportação, em especial soja e milho. Como afirmado por
Vasconcelos e Paranhos Filho (2010):

A economia dos municípios é baseada na agropecuária, principalmente na


pecuária bovina de corte, lavouras de sementes e cereais. E nas últimas
décadas, o plantio da cana-de-açúcar está sendo desenvolvido e incentivado
pela chegada de usinas do setor sucroalcooleiro. (VASCONCELOS e
PARANHOS FILHO, 2010, p. 8).

A UPG apresenta inúmeras ocorrências de degradação ambiental, com a


formação de voçorocas. Estas voçorocas ocorrem, principalmente, em áreas de solos
frágeis, originados das rochas sedimentares cretácicas da Formação Caiuá, em grande
parte mal utilizados tecnicamente. As voçorocas em questão se apresentam, portanto,
como um problema e como uma reação do próprio meio natural, em resposta ao
inadequado uso da terra e das atividades agrícolas a elas relacionados.
Assim sendo, o objetivo deste breve trabalho é identificar e caracterizar os
principais danos ambientais da UPG Amambai, representados pelos processos erosivos
localizados na área em estudo. Para tanto, será apresentada uma análise das
configurações físicas da paisagem da UPG, correlacionando tais configurações com o
modo de uso da terra, e integrando e enfatizando os elementos solo e pluviosidade.

METODOLOGIA

Para elaboração do trabalho, fora realizado um levantamento teórico-


metodológico sobre o tema de estudo, bem como organizado um processo de
aplicação de técnicas de geoprocessamento para espacialização dos dados geográficos,
além de um trabalho de campo para confirmação dos dados obtidos. A seguir está a
apresentação dos materiais e equipamentos utilizados na pesquisa, assim como os
procedimentos metodológicos:
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 101

Materiais e equipamentos utilizados

Para realização desta pesquisa foram utilizados os materiais e equipamentos


descritos abaixo:
1. Referencial teórico sobre o tema proposto;
2. Arquivos vetoriais da Litologia e Pedologia do projeto referente ao
Zoneamento Ecológico Econômico do estado de Mato Grosso do Sul (ZEE-
MS 2009), em escala de 1:250.000;
3. Classificação geomorfológica do relevo, utilizando como base o Atlas
Multirreferencial do estado de Mato Grosso do Sul (MATO GROSSO DO SUL,
1990), em escala de 1:1.000.000;
4. Arquivo vetorial da malha municipal digital do Mato Grosso do Sul (IBGE,
2016);
5. Arquivo vetorial das Unidades Hidrográficas Estaduais (ANA, 2014);
6. Dados pluviométricos de cinco estações convencionais da ANA, localizadas
dentro da área de estudo (Estação Amambai, Bocajá, Flórida, Naviraí e
Colônia Bom Jesus);
7. Software QGIS 2.14.11 LTR, para espacialização dos dados e confecção dos
mapas;
8. Software Inkscape 0.92, para resolução gráfica de imagens;
9. Câmera fotográfica SONY Cyber-shot, para registro de imagens das
voçorocas em campo.

Método de trabalho

A confecção do mapa de localização da área de estudo (Figura 1) ocorreu


mediante recorte dos arquivos vetoriais das rodovias e da malha digital municipal do
estado de Mato Grosso do Sul (2014), pelo arquivo vetorial da UPG Amambai. Todos os
arquivos e mapas foram projetados para o sistema de coordenadas planas (UTM) e
Datum Sirgas 2000, posicionados no fuso 21 Sul. A tabulação dos dados e confecção
dos mapas foram elaboradas no SIG QGIS 2.14 LTR.
102 - Volume I

A identificação dos dados e confecção dos mapas de Litologia e Pedologia


foram compilados do projeto Zoneamento Ecológico-Econômico do MS (Mato Grosso
do Sul, 2009), em escala de 1:250.000. Com relação aos dados referentes ao relevo,
estes foram vetorizados do macrozoneamento do Atlas Multirreferencial do MS
(1990), escala de 1:1.000.000.
A metodologia aplicada no trabalho também almejou a aplicação e
espacialização dos dados pluviométricos em ambiente SIG (Figura 2), através da
interpolação da média mensal de precipitação de chuvas entre os anos de 1986 e
2015. Para tanto, foram utilizados dados pluviométricos das estações convencionais da
ANA, pelo algoritmo IDW (Inverso da Distância Ponderada). Este método consiste na
interpolação da média de precipitação dos dados através dos pontos de coordenadas
de latitude e longitude (XY) das estações pluviométricas convencionais da ANA, tendo
a precipitação estipulada pelo campo (Z) tridimensional (MARTINS, 2016).

Figura 2: Representação de espacialização dos dados pluviométricos

Fonte: MARTINS, 2016, p. 54 (adaptado).


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 103

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Características físicas da área de estudo: litologia, pedologia e


morfografia do relevo

Os aspectos geológicos da UPG Amambai são compostos pelas rochas


basálticas da Formação Serra Geral e pelas rochas sedimentares da Formação Caiuá,
além de áreas menos extensas compostas pela Formação Litológica Ponta Porã e pelos
Aluviões Atuais (Figura 3).
A Formação Serra Geral, parte superior do Grupo São Bento, possui idade
Mesozoica à Jurássica. Segundo Mato Grosso do Sul (1990), esta formação apresenta
rochas constituídas por basaltos e diabásios, de coloração verde a cinza escuros, com
granulação fina a média. Além disso, representa uma expressiva área de ocorrência da
Formação Serra Geral, aflorando a partir da área central e a oeste do canal do Rio
Amambai, até confrontar-se com os afloramentos do Arenito Caiuá (mais recentes, de
idade Cretácica) e com os Aluviões Fluviais. No extremo oeste da área da bacia, uma
estreita faixa da Formação Ponta Porã encontra-se sobreposta à Formação Serra Geral.
A Formação Caiuá possui idade Mesozoica a Cretácea, sendo uma formação
geológica mais recente que os basaltos e diabásios da Formação Serra Geral. De
acordo com Mato Grosso do Sul (1990), tratam-se de rochas que se apresentam como
arenitos bastante porosos e bem desagregáveis, com uma profundidade não muito
superior a 150 metros.
A Formação Ponta Porã pertencente à Era Cenozoica, e se apresenta como
uma pequena “mancha” na porção noroeste da bacia. É constituída essencialmente
por uma face basal formada por intercalações argilo-siltosas, recobertas por um
pavimento rudáceo, bastante representativo e utilizado economicamente na região,
principalmente no encascalhamento de estradas (MATO GROSSO DO SUL, 2009).
Os aluviões atuais fazem parte da configuração geológica e geomorfológica do
setor médio e baixo Amambai, depositados junto ao canal principal até a sua foz.
Trata-se de uma área composta por sedimentos clásticos, formados no leito e nas
104 - Volume I

margens do canal, incluindo as planícies de inundação e as áreas deltaicas e os


terraços, com material mais fino extravasado dos canais nas cheias.
Segundo a classificação geomorfológica da área de estudo, o relevo da sub-
bacia hidrográfica do Rio Amambai compreende: o Planalto de Maracaju, o Planalto de
Dourados, os divisores das bacias meridionais e o Vale do Paraná (MATO GROSSO DO
SUL, 1990) (Figura 4).
O Planalto de Maracaju e o Planalto de Dourados compreendem rochas
basálticas da Formação Serra Geral, que originam um relevo plano ou tabular, com
uma altitude média de 600 metros. Nesta área, de abrangência dessas feições de
relevo, a rede de drenagem converge para a calha do Rio Paraná (MATO GROSSO DO
SUL, 1990). O Planalto de Dourados possui uma superfície rampeada, formando um
plano inclinado no sentido sudeste da UPG Amambai, e sua altitude atinge até 500
metros no limite com o Planalto de Maracaju. Além disso, o Planalto de Dourados é
formado por derrames basálticos, ocorrendo, localmente, “manchas” correspondentes
a afloramentos de arenitos (MATO GROSSO DO SUL, 1990).
Os divisores das sub-bacias meridionais são compostos, por sua vez, por
suaves colinas com 300 metros de altitude, no limite com o Planalto de Dourados.
Trata-se de uma extensa superfície rampeada, com inclinação também para o sudeste
da UPG Amambai, e altitudes mais elevadas a noroeste (400m - 430m), decrescendo
em direção ao Vale do Paraná, quando as altitudes encontram-se na cota de 230m –
240m. Há também a área correspondente à Planície Fluvial do Rio Amambai, que
compreende o Baixo Amambai até a sua foz no Vale Rio Paraná. Esta planície é
formada pela deposição de material aluvial erodido em áreas mais elevadas, que
formam uma área de sedimentação arenosa. O Vale do Paraná, por fim, compreende a
sequência de sedimentos aluviais que originam planícies associadas, ou não, a
terraços, que acompanham o Rio Paraná e alguns de seus afluentes (MATO GROSSO
DO SUL, 1990).
Referindo-se às características pedológicas da área de estudo, as unidades de
solo presentes na área são classificadas como: Argissolos Vermelho-Amarelos,
Gleissolos, Latossolos Vermelhos, Neossolos Flúvicos, Neossolos Quartzarênicos e
Planossolos Háplicos (Figura 5).
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 105

Segundo Santos (2013), os Argissolos Vermelho-Amarelos estão localizados,


predominantemente, no baixo curso da UPG Amambai, seguindo em direção à foz. São
solos com elevado teor de argila no horizonte B, com ou sem decréscimos para baixo
no perfil. Os horizontes A e Bt apresentam, portanto, uma transição bem demarcada,
abrupta ou gradual, tendo uma textura que varia de arenosa para argilosa. São de
profundidade variável, desde forte a imperfeitamente mal drenados, de cor
avermelhada ou amarelada.
Os Gleissolos estão localizados no baixo curso da calha do Rio Amambai e no
médio curso até a foz do Rio Maracaí, e são um agrupamento de solos de expressiva
gleização. Segundo Santos (2013), possui característica de hidromorfia resultante do
processamento de intensa redução de compostos de ferro em presença de matéria
orgânica, com ou sem alternância de oxidação, por efeito de flutuação de nível do
lençol freático, em condições de regime de excesso de umidade permanente ou
periódico.
Os Latossolos estão presentes em quase toda a UPG Amambai, solos em um
avançado estágio de intemperização, variando de fortemente a bem drenados. Podem,
por vez, apresentar solos de cores pálidas, de drenagem moderada ou até mesmo
quase imperfeitamente drenado (SANTOS, 2013).
Os Neossolos são caracterizados por serem solos jovens, sendo que os
Neossolos Flúvicos foram identificados na foz da UPG Amambai e os Neossolos
Quartzarênicos estavam espalhados entre os Latossolos Vermelhos. Santos (2013)
afirma que os Neossolos não apresentam nenhum tipo de horizonte B, e possuem
sequência de horizonte A-R, A-C-R, A-Cr-R, A-Cr, A-C, O-R ou H-C, sem atender,
contudo, aos requisitos estabelecidos para serem enquadrados nas classes dos
Chernossolos, Vertissolos, Plintossolos, Organossolos ou Gleissolos. Esta última classe
admite diversos tipos de horizontes superficiais, incluindo o horizonte O com menos
de 20cm de espessura, quando sobrejacente à rocha, ou horizonte A húmico com mais
de 50 cm, quando sobrejacente à camada R, C ou Cr.
Os Planossolos Háplicos estão localizados na foz da UPG Amambai e se
caracterizam por apresentarem uma drenagem deficiente, com horizontes Bt argilosos,
de densidade elevada e semipermeável, localizados em uma posição topográfica
praticamente plana, favorecendo o acúmulo de água e formando um ambiente com
106 - Volume I

lençol de água sobreposto à superfície do solo. Segundo Santos (2013), os horizontes


apresentam diferenças em seu contraste textural.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 107

Figura 3: Mapa de Unidade Litológicas da UPG Amambai

Fonte: MARTINS, 2016 (adaptado).


108 - Volume I

Figura 4: Mapa de morfografia do relevo da UPG Amambai

Fonte: MARTINS, 2016 (adaptado).


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 109

Figura: 5 Unidades Pedológicas da UPG Amambai

Fonte: MARTINS, 2016 (adaptado).


110 - Volume I

Aspectos pluviométricos da UPG Amambai

Ainda discorrendo sobre as características físicas da paisagem da sub-bacia do


Rio Paraná, o clima da UPG Amambai, segundo Martins (2016, p. 80), é caracterizado,
perante a classificação de Koeppen-Geiger, como um clima temperado úmido de verão
quente (Cfa), com um significativo índice pluviométrico no decorrer do ano. Zavattini
(2009), em seu clássico trabalho de climatologia geográfica, ao realizar uma proposta
de classificação climática para o estado do Mato Grosso do Sul, menciona que no sul
do estado, onde se encontra a área de estudo, ocorre a atuação da massa de ar polar
atlântica (MPA) e da massa de ar tropical atlântica (MTA). Levando tal estudo em
consideração, verificou-se que nesta área, ao longo do ano, eventos de frontogênese
se mesclam com a ocorrência de linhas de instabilidade tropical e outros eventos mais
complexos, como a gênese de Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) ou de
Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).
Berezuk (2014), ao realizar um estudo de análise do ritmo pluviométrico da
bacia hidrográfica do Rio Amambai em um período de trinta anos (1983 – 2012),
identifica que nas estações de verão (nos meses de janeiro, fevereiro e março)
ocorrem os maiores registros de precipitação pluviométrica na área, e no outono (de
abril a junho) estes índices de chuvas tendem a diminuir, já que a ação das massas
polares desloca as células de chuvas para o norte do estado do Mato Grosso do Sul. O
autor ainda argumenta que no período de inverno (estação seca) a área apresenta o
menor registro de precipitações ao longo do ano. Segundo o trabalho do pesquisador,
os gráficos “refletem a tendência positiva de acréscimo do volume de chuvas anuais na
Estação Amambai, o que reforça a identificação de sombra pluviométrica sobre o setor
sudeste da bacia” (BEREZUK, 2014, p. 336).
Martins (2016), ao realizar uma espacialização do regime pluviométrico da
UPG, com dados oriundos das estações pluviométricas da Agência Nacional das Águas
(ANA), estabeleceu uma média total do índice pluviométrico em um intervalo de trinta
anos (1986 – 2015) (Tabela 2), e uma espacialização geoestatística de interpolação do
índice de chuvas das estações pluviométricas da UPG, que pode ser visualizado na
Figura 6.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 111

Tabela 2: Média de 30 anos das estações pluviométricas convencionais na UPG Amambai

Período de análise (1986 – 2015)

Estação J F M A M J J A S O N D Total

Amambai 199,2 213,4 154,5 183,7 165,7 132,4 63,0 70,1 147,3 234,4 213,4 237,2 2014,13

Bocajá 172,1 157,2 128,6 137,8 131,5 81,3 46,7 48,8 105,1 147,1 178,0 148,3 1482,53

Flórida 167,6 145,9 123,8 114,3 109,1 88,7 46,2 61,9 116,2 155,2 153,1 165,9 1447,95

Naviraí 158,0 162,4 103,4 110,2 120,0 85,6 44,1 57,0 110,5 169,9 142,6 154,0 1417,57

Colônia
155,9 125,3 104,5 111,7 117,9 82,7 54,5 58,9 101,1 145,5 124,2 173,8 1355,99
Bom Jesus
Media
170,5 160,8 123,0 131,5 128,8 94,1 50,9 59,3 116,0 170,4 162,3 175,8 1543,63
meses
Desvio
17,3 32,7 20,9 31,3 22,1 21,6 7,8 7,7 18,4 37,0 34,6 35,7 267,1
padrão
Fonte: ANA- Agência Nacional das Águas, 2014, Ibidem MARTINS, 2016.
112 - Volume I

Figura 6: Mapa pluviométrico da UPG Amambai: média entre anos 1986 - 2015

Fonte: MARTINS, 2016 (adaptado).


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 113

Voçorocas e chuvas na UPG Amambai

Na Unidade de Planejamento e Gerenciamento do Amambai, a paisagem


representada pela cobertura vegetal nativa deu lugar a vastas áreas de pastagem e
lavoura mecanizada, com o passar do tempo. Ocasionou-se, assim, uma intensa
mudança na paisagem da bacia ao longo dos últimos cinquenta anos, devido ao
desenvolvimento de estratégias territoriais vinculados às atividades agrícolas para
exportação.
O desmatamento da região originou a contaminação dos leitos fluviais, com o
acúmulo de sedimentos transportados pelas chuvas e o uso intensivo dos agrotóxicos
na produção agrícola. A paisagem da área se transformou em uma intensa área de
produção de commodities, de acordo com o mapa de uso da terra da UPG Amambai
(2016) (Figura 7). As áreas destinadas à pastagem estão mais presentes em solos
oriundos das rochas sedimentares (Formação Caiuá e áreas de Neossolos
Quartzarênicos, em especial), e se não forem tomados os devidos cuidados, com o
correto uso de técnicas para utilização racional dos recursos naturais, ocorrerá a
degradação edáfica, ocasionando a perda de solos e de seus nutrientes, com o
transporte de sedimentos pelas enxurradas e, posteriormente, assoreando os rios e
seus afluentes, podendo até mesmo contaminar as águas com os inseticidas agrícolas.
Na UPG Amambai são identificados muitos focos de erosão provenientes do
mau uso da terra. As áreas degradadas apresentam solos constituídos por rochas
sedimentares da Formação Caiuá, que, por conta do considerável regime
pluviométrico da região e da já consolidada retirada da cobertura vegetal, propiciam a
formação de grandes erosões no solo. A Figura 8 apresenta, assim, um mosaico de
erosões ocorridas ao longo da UPG Amambai, registradas em junho de 2016. Na foto
A, identificou-se uma voçoroca ocorrida em área de Neossolo Quartzarênico, sobre o
substrato rochoso da Formação Caiuá, em um relevo tipicamente plano. Na imagem B,
pôde-se encontrar a formação de sulcos em áreas de pastagem, o que pode ser
considerado a gênese de uma ravina. Na fotografia C, apresenta-se uma voçoroca
ativa, em estágio de escavação, ao longo da margem da estrada, seguindo em direção
ao fundo do vale. A fotografia D representa uma voçoroca em estágio de transporte de
sedimento, com vertentes íngremes e pouca cobertura vegetal nos taludes.
114 - Volume I

A retirada da vegetação deixa a área exposta aos processos erosivos, causados pela
queda das gotículas de chuvas, acarretando no transporte de sedimentos.

O processo responsável pela desagregação do solo, após a retirada da


camada vegetal em sua superfície, é o impacto das gotículas da água da
chuva (splash), que incidem diretamente sobre este. Com a desagregação
dessas partículas, os sedimentos são transportados de um local para outro
(LOPES; GUERRA, 2001, p. 2).

Após um longo período chuvoso, os impactos no solo acabam gerando um fluxo de


água que transporta as partículas e podem dar origem aos sulcos e ravinas, e se esse
processo for contínuo, pode provocar um incessante aprofundamento do solo,
podendo chegar ao nível de uma voçoroca. Vale salientar que uma voçoroca pode
alcançar profundidades elevadas, chegando a atingir o limite do lençol freático.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 115

Figura7: Mapa de uso da terra da UPG Amambai (2016)

Fonte: MARTINS, 2016 (adaptado).


116 - Volume I

Figura 8: Mosaico de imagens de verificação de campo

Fonte: MARTINS; SOARES FILHO, 2016. Arquivo particular.

Erosões do tipo voçoroca podem chegar a vários metros de comprimento e de


profundidade devido ao fluxo de água que é possibilitado em seu interior, causando uma
grande movimentação de partículas.
Nesse sentido, as voçorocas estão relacionadas à mudança da paisagem pela ação
antrópica. De acordo com Verdum (2012, p 16), “os geógrafos passam a analisar os
elementos que compõem a paisagem em função de sua forma e magnitude e, assim, obter
uma classificação das paisagens”. Sobre isso, acrescenta-se que os processos de
transformação da paisagem através de elementos modificadores são fundamentais, já que
permitem compreender a natureza através de uma referência tempo espacial.

CONCLUSÃO

A UPG Amambai apresenta características de uso intensivo das atividades agrícolas,


com predomínio de lavouras e da presença de pastagens em locais onde há evidente
fragilidade ambiental. Estas características de ocupação determinam e moldam a paisagem
na UPG Amambai. A Figura 7 (sobre o uso da terra) comprova o predomínio de atividades
agrícolas na área de estudo.
Geotecnologias aplicadas a questões ambientais - 117

Em áreas com predomínio de solos arenosos, de gênese arenítica, ocorrem os


principais danos ambientais referentes à erosão, com a formação de sulcos, ravinas,
voçorocas e casos de assoreamento. Essas áreas, normalmente posicionadas em zonas de
pouca cobertura vegetal, requerem a atenção no manejo, visando minimizar tais problemas.
Com relação aos sedimentos, quando transportados por gravidade, seja por chuvas ou
vento, podem assorear os cursos d’água e reduzir a oferta de recursos hídricos às
populações residentes na região.
Convém ressaltar que a UPG Amambai ainda não possui um comitê de bacia
hidrográfica, o que dificulta a implementação de políticas públicas regionais de auxílio à
preservação ambiental dos recursos naturais. Assim sendo, a criação de um comitê de bacia
hidrográfica pode ser um passo fundamental para a melhoria do gerenciamento territorial
da região.
Muito há que se fazer na UPG Amambai, desde ações governamentais de
fiscalização e aplicação das políticas públicas de conservação dos recursos naturais, até o
cuidado com ações de educação em informação e conscientização sobre os cuidados com o
meio ambiente regional da população residente.

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