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Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 1
Organizadores
Marcos Norberto Boin
Patrícia Cristina Statella Martins
Maria Helena Pereira Mirante
GEOTECNOLOGIAS APLICADAS
ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS
Volume I
1a Edição
TUPÃ - SP
ANAP
2017
2 - Volume I
Editora
ISBN 978-85-68242-60-5
I. Título.
CDD: 900
CDU: 911/47
Sumário
Apresentação 06
Capítulo 1 10
Capítulo 2 31
Capítulo 3 54
Capítulo 4 72
Capítulo 5 97
Apresentação
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
distúrbios ao ecossistema, mas pondera que, no curso de seu desenvolvimento, esse tipo de
produção, promove a formação de novas estruturas e o restabelecimento das funções dos
ecossistemas, desde que seu manejo seja revisto.
O manejo da terra é elemento fundamental dessa equação, pois é necessário que
haja um equilíbrio entre produção e preservação ambiental, promovendo a utilização, de
forma sustentável, dos recursos naturais. Nesse sentido, Faustino (2005) afirma que para o
sucesso do manejo da terra, é necessário levantar informações sobre o uso das terras e de
suas características hidrológicas.
O cultivo de eucalipto, no Brasil, começou nos primeiros anos do século XX,
inicialmente utilizado como planta ornamental, quebra-vento e/ou na extração de óleo
vegetal. Apenas no fim da década de 1930 o eucalipto começou a ser plantado em escala
comercial (MEDEIROS, 2016).
Atualmente, o estado de Mato Grosso do Sul é um dos maiores produtores de
celulose do Brasil, e dados da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e
Consumidores de Florestas Plantadas (REFLORE – MS) apontam que nos últimos seis anos a
área destinada ao cultivo do eucalipto no estado cresceu 475%.
Na região da BHCM, desde o período da ocupação até a década de 1980, ocorreram
pequenas modificações em suas vegetações, visto que a atividade produtiva sempre esteve
relacionada com a pecuária extensiva para criação de gado. Segundo informações obtidas
por meio do IBGE (s.d), a partir das décadas de 80 e 90 do século passado, as mudanças no
município tomaram impulsos com avanços na modernização das fazendas de gado e
introdução de hortos florestais de eucaliptos, iniciada pela expectativa da vinda de indústrias
de papel e celulose. Em decorrência destas alterações, iniciou-se uma modificação do uso,
cobertura e manejo da terra da BHCM, ainda com pouca expressividade até o início do
século XXI.
A partir de 2006, as alterações têm se mostrado mais marcantes nesta bacia
hidrográfica pelo relativo aumento do cultivo de eucalipto, estimulado pela vinda das
indústrias de papel e celulose. Nessa região, encontra-se a empresa Fibria MS Celulose Ltda.,
que juntamente com a International Paper, utilizou cerca de 342.481,00 hectares no Mato
Grosso do Sul para o cultivo de eucalipto; destes, 13.138,00 hectares, estão situados nos
limites da BHCM (INTERNATIONAL PAPER, 2006).
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Nesta pesquisa, observou-se que grande parte dos impactos ambientais da bacia
hidrográfica é proveniente especialmente do uso, cobertura e manejo da terra de forma não
sustentável, que acabam provocando alterações nocivas em seus mananciais hídricos. Sendo
que uma das formas de analisar essa possível deterioração de uma bacia hidrográfica é por
meio do uso de índices de qualidade de água, que segundo Toledo e Nicolella (2002), trata-
se de uma tentativa de identificar, através de informações resumidas, uma possível
deterioração dos mananciais.
A unidade territorial de estudo para esta pesquisa é a Bacia Hidrográfica do Córrego
Moeda – BHCM, que está localizada no município de Três Lagoas/MS e possui uma área de
247,64 km² e posiciona-se entre as coordenadas UTM de 393200 e 425000 metros Oeste e
7676692 e 7696172 metros Sul, Figura 1. Além disso, a BHCM possui grandes extensões de
terras voltadas ao cultivo de eucalipto pertencente à Fibria MS Celulose Ltda. Estando
situada no Distrito Industrial do Moeda, que tem a principal finalidade de alojar indústrias,
como o caso da própria Fibria MS Celulose Ltda., e da Unidade de Fertilizantes e
Nitrogenados de Três Lagoas – UFN 3, de propriedade da Petrobras.
A BHCM vem passando por rápidas transformações no seu uso, cobertura e manejo
da terra, geradas pela expansão da silvicultura no município de Três Lagoas. As plantações
de eucalipto para a produção de celulose e papel estão distribuídas em 28 hortos florestais1,
com 625 talhões e idade média em torno dos cinco anos. Todas as florestas de eucalipto
presentes na área pertencem à Fibria MS Celulose Ltda. Segundo informações
disponibilizadas pela empresa, essas florestas de eucalipto são formadas
predominantemente por híbridos de eucalipto obtidos a partir do cruzamento entre as
espécies Eucalyptus grandis e Eucalyptus urophylla, ou cruzamentos manipulados
geneticamente, que após vários ciclos de melhorias e pesquisas, foram selecionadas por
melhor se adaptarem às condições locais. A empresa afirma ainda que as atividades de
plantio sempre priorizam a mínima utilização de recursos naturais e de insumos.
OBJETIVOS
MATERIAIS E MÉTODOS
1
Hortos Florestais: áreas onde se levavam a cabo trabalhos de experimentações mais ou menos intensivas.
Alguns já com suas áreas quase totalmente tomadas por esse tipo de plantação.
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Áreas Sem Manejo (SM): Área sem qualquer tipo de manejo, podendo ser
formada por pastagens, solo exposto, bem como, áreas florestais.
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Com essa análise, é preciso fazer a coleta de amostras de água em diversos pontos
da BHCM para que se ocorra apossa identificarção de suas interferências do manejo do solo
na qualidade das águas, necessita-se a coleta de amostras. Assim, foram selecionados onze
pontos de coleta das águas superficiais segundo critérios como: açude (nascente do
cCórrego Moeda), usado para captação de água pela Fibria MS Celulose Ltda.; montante, foz
dos afluentes e jusante dos três principais córregos tributários (Querência, Granada e Buriti);
e ponto próximo da foz do próprio Córrego Moeda, (Figura 2 e Tabela 1).
Figura 2: Localização das estações de coleta das águas superficiais e as sub-bacias da BHCM, Três Lagoas/MS
Alto curso do Córrego Moeda. Abrange uma pequena área após a Sub-bacia 3, com um
397276 O total de 1,09km² ou 0,44%. Ao sul desta sub-bacia, há plantações de eucalipto, e ao
4
7691447 S norte, pastagens. Estação de Coleta das Águas Superficiais: à jusante da foz do Córrego
Querência. Possui pouca velocidade de suas águas e mata ciliar nativa.
Córrego Granada. Principal afluente do Córrego Moeda, possui uma área de 17,60km²
ou 7,11% da BHCM. Estação de Coleta das Águas Superficiais: clareira aberta para coleta
407627 O
6 de água para molha do eucalipto. No local existe um projeto de restauração ecológica
7685232 S do cerrado, sendo adotadas diferentes técnicas de regeneração natural para a
recomposição da vegetação nativa.
Maior sub-bacia dentre todas, abrange grande parte do médio curso da BHCM,
totalizando 109,79km² ou 44,33%. Esta sub-bacia recebe grande parte dos afluentes
410951 O
7 temporários e apenas o Córrego Granada permanente.
7684057 S Estação de Coleta das Águas Superficiais: À montante da foz do Córrego Buriti. Local
com velocidade nas águas e ponto de desnível do relevo.
Córrego Buriti. Esta sub-bacia abrange 25,64km² ou 10,35% do total da BHCM, maior
411276 O afluente do Córrego Moeda em extensão. Grande parte de suas áreas é de plantações
8
7684563 S de eucalipto. Estação de Coleta das Águas Superficiais: baixo curso do Córrego Buriti,
área de várzea com matas ciliares nativas.
Médio Curso do Córrego Moeda. Abrange uma pequena área de 0,81km² ou 0,33%.
411392 O Existem poucos cursos fluviais perenes na região e sua área é predominantemente de
9
7683901 S pastagens. Estação de Coleta das Águas Superficiais: À jusante da foz do Córrego Buriti.
Ambiente com velocidade considerável e mata ciliar nativa.
Médio/Baixo Curso do Córrego Moeda. Ocupada por eucalipto, abrange uma área de
46,15km² ou 18,64%. Estação de Coleta das Águas Superficiais: clareira aberta para
419785 O
10 ponte e coleta das águas para molha do eucalipto. A estação possui velocidade
7680353 S considerável, sendo notável a quantidade de cascalhos e areia no leito do Córrego
Moeda.
Baixo curso da BHCM. Possui variedade no uso de suas terras, como pastagens,
421447 O eucalipto e seringueira. Abrange uma área de 7,27km², totalizando 2,94%. Estação de
11
7677527 S Coleta das Águas Superficiais: À montante do lago que se desenvolveu por meio do
represamento do Rio Paraná. Mata ciliar nativa.
Baixo curso da BHCM. Única sub-bacia que não possui estação de coleta das águas. Este
12 -- local exerce influência sobre o Rio Paraná, abrangendo córregos temporários e o lago --
do represamento vai até a foz do Córrego Moeda.
Fonte: MEDEIROS, 2014.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 19
A qualidade das águas superficiais é definida por suas características físicas e químicas,
sendo determinada por meio de análises laboratoriais. Entretanto, devido à utilização do
equipamento de medição de parâmetros, Horiba U-50 Series Multiparameter water Quality
Unit’s, sua mensuração pôde ser realizada nas saídas de campo.
Cada variável teve sua importância na análise, sendo que os principais parâmetros
foram o Oxigênio Dissolvido (OD), pH, temperatura do ar e da água, condutividade elétrica e
turbidez. Ainda foram mensurados alguns parâmetros auxiliares, como o Potencial Redox ou
Óxido-redução (ORP) e os Sólidos Totais Dissolvidos (TDS).
O Quadro 1 apresenta os limites para o enquadramento das águas e seus principais
usos, utilizando as legislações descritas nas resoluções 357/2005 (BRASIL, 2011a) e 430/2011
(BRASIL, 2011b) do CONAMA. O uso desta última resolução ocorre devido à entrada de
efluentes industriais e até mesmo pelo próprio uso, cobertura e manejo da terra nessa área
(utilização de adubos químicos).
Os parâmetros adotados auxiliam na identificação de possíveis contaminações dos
mananciais hídricos. O resultado encontrado foi determinante para o objetivo desta
pesquisa, pois assinalou as possíveis causas que alteram o equilíbrio desse ambiente,
possibilitando o apontamento de sugestões de auxílio para um ordenamento sustentável da
área.
20 - Volume I
É preciso deixar claro que a análise dos parâmetros de qualidade das águas
superficiais é um ótimo indicador de sustentabilidade de uma bacia hidrográfica, avaliando,
assim, as condições ambientais desse sistema fluvial diante das interferências antrópicas,
como o uso, cobertura e manejo da terra.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por meio dos dados obtidos, mostra-se uma extensa área destinada ao cultivo de
eucalipto, que segundo a International Paper (2006), deixa o solo praticamente em repouso,
com um aumento significativo do material vegetal advindo de galhos e folhas que caem na
superfície, o que acaba favorecendo a proteção do solo, diferentemente das áreas ocupadas
por pastagens, por exemplo. Este cultivo demora aproximadamente sete anos para ser
colhido e requer algumas ações do homem sobre o solo, como adubação e controle de
pragas.
Este uso da terra abrangeu 53,05% ou 131,38km², e foi encontrado ao longo de
toda a BHCM, ocorrendo alguns cortes de talhões ao sul do ponto 7 e 9. Todas as áreas de
cultivo de eucalipto, possuem Manejo de Eucalipto Comercial (MEC) que, apesar de não ser
contínuo, é um fator que auxilia na retenção do solo, contra a ação das águas pluviais.
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Figura 5: Variação dos parâmetros obtidos por meio do monitoramento da qualidade das águas da BHCM,
no verão de 2014
Com a análise dos dados obtidos nesta estação do verão de 2014, foi possível identificar três
pontos que se enquadraram na Classe IV: os pontos 1, 2 e 9. O ponto 1 é um problema para
o Córrego Moeda, por conta dos inúmeros fatores já citados, desde a falta de mata ciliar até
a utilização do açude para bebedouro de gado, ocasionando no aumento da condutividade
elétrica (pelas fezes dos animais), que alcançou o valor expressivo de 559,00µS/cm, maior
índice encontrado em relação a todas as estações. A condutividade elétrica é um fator
prejudicial ligado diretamente à contaminação dos mananciais hídricos. Agora, levando em
consideração que esse ponto é a atual nascente do Córrego Moeda, torna-se urgente a
garantia de uma maior proteção.
26 - Volume I
Sobre o ponto 7, foi enquadrado como Classe II. Seu oxigênio dissolvido e
condutividade elétrica alcançou níveis satisfatórios; no entanto, devido à turbidez, que
alcançou 41,10NTU, não foi possível seu enquadramento em classes de melhor qualidade.
Essas condições são encontradas por conta da falta de mata ciliar em sua margem direita,
onde as pastagens adentram até a margem do manancial hídrico, sendo possível identificar a
falta de manejo em suas terras, além da presença de animais na área.
Por fim, o ponto 11 de monitoramento apresenta áreas úmidas, com grande
quantidade de vegetações aquáticas em sua margem esquerda, e possuir uma considerável
velocidade da água, além de uma vegetação nativa em seu entorno, favorecendo a elevação
do oxigênio dissolvido, e assim, enquadrando-se na Classe I.
De modo geral, a BHCM foi enquadrada na Classe II, que segundo a resolução
357/2005 (BRASIL, 2011a) e 430/2011 (BRASIL, 2011b), do CONAMA:
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Capítulo 2
INTRODUÇÃO
Na área estudada, após a definição de cada forma erosiva (laminar, sulco, ravina e
voçoroca), as feições foram mapeadas nos cenários de 1962 e 1997, por meio do uso do
programa StereoPhoto Maker para gerar anaglifos através dos pares estereoscópico de
fotografias aéreas digitalizadas, obtendo-se a tridimensionalidade do relevo em meio digital,
como apresentado por Souza e Oliveira (2012).
A ÁREA ESTUDADA
cobertura vegetal. De acordo com Bertoni e Lombardi-Neto (1990, p.46) “durante uma
chuva muito forte, milhares de milhões de gotas de chuva golpeiam cada hectare de terreno,
desprendendo as partículas da massa de solo. Muitas dessas partículas podem ser atiradas a
mais de 60 cm de altura e a mais de 1,5m de distância”. Essas partículas, ao se depositarem,
podem preencher os poros do topo do solo, formando uma crosta que dificulta a infiltração
da água. A redução da capacidade do solo em absorver água proporciona a formação de
poças, onde o excedente ocupa as irregularidades da superfície. Quando saturadas, as poças
transbordam, escorrendo pela vertente e se conectando com outras poças, aumentando o
fluxo. Inicia-se, assim, os processos desencadeados pelo escoamento superficial da água.
Nessa etapa, as gotas d’água de chuva continuam atuando, ao provocar o salpicamento e
imprimir energia em forma de turbulência à água superficial.
De acordo com Lal (1990), o aumento do fluxo de água escoando pela vertente
forma o sheet flow, ou escoamento em forma de lâmina. Fookes et al. (2007) destaca que
essa forma de overland flow raramente ocorre como um sheet flow, pois, devido a pequenas
irregularidades da superfície, a água escorre como fluxo raso anastomosado. Esse
escoamento, ao encontrar ângulos críticos da vertente, provoca tensão de cisalhamento,
modelando o trajeto em pequenos canais denominados rill, onde o escoamento se faz
concentrado (LAL, 1999).
O potencial erosivo do sheet erosion é classificado nos estudos de forma
diferenciada. Lal (1990) considera sua capacidade de remoção e transporte muito baixa,
sendo significativa apenas quando a tensão de cisalhamento promove a atuação da rill
erosion. Já Lepsch et al. (1983, p.91), seguido pela Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (CATI, 1997), avaliam o potencial erosivo desse processo como significativo, pois
definem erosão laminar como “remoção de uma camada aparentemente uniforme da parte
superficial do solo pela ação da enxurrada não concentrada”, e descrevem que a erosão
pode ocorrer de forma ligeira quando do Horizonte A e B, e evoluir até atingir estágio
extremamente severo, quando boa parte do Horizonte B é removido, atingindo o Horizonte
C. Fendrich et al. (1997, p.32) caracterizam erosão laminar – traduzida pelos autores do
termo sheet erosion – como “desgaste laminar causado pelas enxurradas que deslizam como
um lençol, desgastando a superfície do solo, suave e uniformemente em toda sua extensão”,
complementando que esse fenômeno é responsável pelo depauperamento do solo, pois
38 - Volume I
Uma vez estabelecidos os processos desencadeados pela rill erosion, o canal não
apenas se aprofunda e alarga, mas, de acordo com Fookes et al. (2007 p. 100), “once
formed, rills can migrate upslope by head ward retreat”.
Para Lal (1990), quando os processos erosivos que atuam sobre o rill provocam seu
desenvolvimento ao ponto de comprometer a produção agrícola, de modo a não ser possível
obliterar por operações simples no preparo do solo, a forma erosiva passa a ser definida por
gully. De acordo com o autor, o momento e os processos que envolvem a transição de rill
para gully não são muito bem conhecidos, no entanto, uma vez iniciada, a gully erosion se
propaga rapidamente através de desbarrancamentos promovidos pelo escavamento da
base, formando paredões íngremes (LAL, 1990).
Esse critério, que considera a possibilidade de recuperação dos terrenos por
práticas conservacionistas normais como critério para diferenciar feições erosivas, também
foi utilizado por Lal (1990) para distinguir rill de gully, e se assemelha à utilizada por Salomão
(2012) para distinguir sulcos de ravinas, com base nas definições estabelecidas pela Soil
Conservation Service (1966).
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 39
p.33) e Lal (1990, p.171), diferentemente do que aponta Oliveira (2012) e Karman (2008),
consideram que a voçoroca é consequência exclusiva das perturbações provocados no
ambiente pela ação antrópica.
Embora haja divergências na definição de ravinas e voçorocas, há um consenso de
que essas erosões, uma vez estabelecidas, se desenvolvem a partir da combinação de
distintos mecanismos, que atuam em diferentes escalas temporais e espaciais,
condicionados tanto ao escoamento superficial, como subsuperficial.
De acordo com Lal (1990) e Fendrich et al. (1997), o formato do fundo da forma
erosiva está relacionado às características do solo. Para os autores, quando em solo
homogêneo – igualmente frágil em todos os horizontes–, como Latossolo, a base é em
formato de U. Enquanto em solo com horizonte subsuperficial composto de materiais mais
resistentes que o superficial, como Argissolo, o formato da feição erosiva é em V. Fendrich et
al. (1997) ainda destacam que este formato é mais comum no início do processo erosivo,
muito embora seja frequente encontrar ambos os formatos numa mesma voçoroca,
independentemente de sua idade ou estabilização.
Oliveira (2012) aponta para a evolução das voçorocas a partir de processos que
ocorrem nas margens com maior coesão aparente. Nessas margens, a água que chega de
montante desemboca na forma de cascata, escavando uma depressão na base da borda;
dependendo da altura que o degrau atinge, podendo gerar desbarrancamentos. O autor
ainda destaca a ação dos filetes subverticais, formados a partir da separação do volume
principal da cascata, que escorrem ao longo das paredes da incisão esculpindo alcovas de
regressão. Essas alcovas, quando aprofundadas na parede, também podem resultar em
colapso do material acima, seja na cabeceira ou na lateral da forma erosiva, provocando
tanto o alargamento do canal como a erosão remontante.
O autor ainda atenta para feições em pedestais (demoiselles), as quais
não apresenta coesão, formando pináculos no fundo e na borda das voçorocas. Os autores
também destacam a importância de reconhecer essa forma erosiva, visto a dificuldade que
promove no controle da erosão pelas condições adversas de umidade do solo e de
nutrientes, que dificultam a colonização por vegetação.
A água que infiltra no solo, ao atingir um horizonte menos permeável, começa a
escoar em subsuperfície. De acordo com Lal (1990), o escoamento ocorre de duas distintas
formas: de forma difusa, denominado de interflow; e de forma concentrada, como pipe ou
tunel flow, sendo este com potencial para remover e transportar partículas.
O pipe inicia-se pelo escoamento que se forma nos macroporos, rachaduras
existentes ou caminhos abertos pela bioturbação, provocando a remoção e transporte dos
materiais menos coesos do solo em subsuperfície. Lal (1990) e Fookes et al. (2007) indicam
que os fluxos em pipe podem provocar o colapso do material adjacente, transformando o
pipe em gully erosion.
A erosão em pipping pode ser observada tanto nas paredes e cabeceira da voçoroca
– onde surgem como vazios, despejando fluxo de água e sedimento – como ao longo das
vertentes, seja qual for sua forma, côncava, retilínea ou convexa.
o lençol freático atinge seu nível máximo de 4 a 6 meses após a época das chuvas.
Assim, o efeito da água subterrânea pode ser intenso nas estações secas, sendo
que o material desabado vai se cumulando no pé do talude e à primeira chuva de
proporções, causará um escoamento superficial que transportará este material a
jusante.
Fendrich et al. (1997) e Fookes et al. (2007) atentam para a estabilidade dos
processos erosivos, que ocorrem quando, com o tempo, o gradiente do canal (diferença
entre altura do leito sobre nível de base em relação ao comprimento do canal) é reduzido e
o processo erosivo cessa ao ponto da vegetação conseguir se desenvolver. Quanto maior o
desenvolvimento da vegetação, maior a proteção dos solos e estabilidade das paredes da
forma erosiva. Os mecanismos de superfície, subsuperfície e lençol, que provocaram a
erosão, continuam a atuar, no entanto, ocorre um equilíbrio dinâmico entre esses e as
formas. Fookes et al. (2007) alertam ao fato dessa estabilização ser momentânea, uma vez
que o processo pode ser reativado através de eventos climáticos, mudanças no gradiente e
uso da terra.
Com base nessas informações e na particularidade do universo estudado, optou-se
por aderir às definições de: sulco como pequenas incisões passíveis de correção por
procedimentos simples de preparo do solo; ravinas como incisões mais profundas, as quais
prejudicam a operação com maquinário agrícola, passíveis de correção somente através de
práticas específicas; e voçorocas quando a erosão linear atinge e expõe o lençol freático.
Dentro das possibilidades desse trabalho, entende-se que o viés geomorfológico é o
mais pertinente, devido ao entendimento dessas formas erosivas através dos mecanismos
que operam em seu desenvolvimento, além da possibilidade de avaliar a evolução do
processo erosivo em um intervalo de 35 anos, através do mapeamento dos anos de 1962 e
1997. Foram usadas também fotografias aéreas na identificação de tais formas erosivas,
ainda que elas não tenham possibilitado a distinção precisa da profundidade da erosão nos
horizontes do solo, aspecto contemplado pelo levantamento realizado por agrônomos e
orientado pela CATI (1997).
TÉCNICAS CARTOGRÁFICAS
RESULTADOS
Figura 4: Anaglifo da média e baixa bacia estudada, 1962 - Marabá Paulista (SP)
pela incisão vertical, com formação de fundo e paredes laterais. Nesse setor ocorre também
maior número de feições em sulcos, identificadas também, ainda que em menor quantidade,
na média e baixa bacia (Figura 4).
As marcas que indicam erosão laminar surgem na alta bacia, localizadas nas altas
vertentes com declives acentuados, enquanto na média bacia, aparecem com maior
frequência nas vertentes a W. Na baixa bacia, identificam-se os sulcos na margem esquerda
do canal principal, e outro sulco extenso que percorre toda a extensão de uma vertente
côncava na margem direita da bacia.
As feições em sulco ocorrem em duas situações em vertentes convexas e uma em
vertente retilínea: na média bacia, seguindo o traçado da cerca, no sentido do declive; na
margem direita do canal principal, ainda na média vertente, devido ao pisoteio excessivo do
gado; e na baixa vertente, na margem esquerda do canal principal, surgem em vertentes
retilíneas, a jusante da estrada rural.
Já nos anaglifos das fotografias de 1997, a visualização tridimensional foi possível na
escala 1: 25.000 (Figura 6). Neste caso, pode-se, através de óculos de visualização 3D, de
lentes azul e vermelha, visualizar a tridimensionalidade do relevo na Figura 5.
48 - Volume I
Figura 5: Anaglifo e identificação das formas erosivas da área estudada, 1997 - Marabá Paulista (SP)
Figura 6: Fotografias aéreas da média e baixa bacia, levantamento das feições em ravina na baixa vertente,
ao longo da voçoroca
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 53
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Ciência Exatas, Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, São Paulo, 1999.
Capítulo 3
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
METODOLOGIA
denominada “média do vizinho mais próximo” (average nearest neighbor), que testa a
hipótese de aglomeração espacial não aleatória, no spatial statistics do ArcGIS10.1.
A partir dessa camada de informação, e com a ajuda do software ArcGIS10.1, foram
elaborados mapas de intensidade de notificações baseados no estimador Kernel, mapas
com a quantidade de notificações de escorpião por setor censitário, e um mapa de
autocorreção espacial com o Índice Local de Moran (LISA) dos setores censitários urbanos.
O Estimador de Intensidade de Kernel é uma técnica muito usada em dados de
saúde para demonstrar padrões em fenômenos que se encontram distribuídos no espaço,
verificando localidades de concentração denominadas de hotspots. Esse estimador é
calculado através de dois parâmetros: raio de atuação, pelo qual se busca verificar a
intensidade do fenômeno, e função K, responsável por realizar a estimação e também o
dimensionamento do tamanho da célula que representa o fenômeno.
Sobre o estimador de intensidade de Kernel, Barbosa (2012, p.39) afirma que:
RESULTADOS
tenha sido de maior número de registos. Durante o inverno, o patamar de registros é menor.
Tal comportamento se deve, possivelmente, às quedas de temperatura, bem como aos
índices pluviométricos mais baixos durante os meses de outono e inverno, que levam os
escorpiões a permanecessem em locais úmidos e aquecidos, como bocas de lobo,
encanamentos e fiações. Enquanto que durante os períodos de elevados índices de
temperatura e precipitação (primavera-verão), tais animais passam a ocupar espaços intra-
domiciliares, ocasionando na alta dos registros. Como podemos ver na Figura 3 e na Figura 4.
Elaborada por: SILVA, 2015. Fonte dos dados: CCZ- Presidente Prudente, 2014.
62 - Volume I
Figura 4 - Distribuição das notificações de escorpiões pelo estimador de intensidade Kernel, do ano de 2012
Elaborada por SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ, Presidente Prudente, 2014.
Figura 5- Distribuição das notificações de escorpiões por setores censitários, no ano de 2012
Elaborada por SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ- Presidente Prudente, 2014.
Elaborada por: SILVA, 2015 Fonte dos dados: CCZ, Presidente Prudente, 2014.
Figura 7 - Distribuição das notificações de escorpiões pelo estimador de intensidade Kernel, do ano de 2013
Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ- Presidente Prudente, 2014.
Figura 8 - Distribuição das notificações de escorpiões por setor censitário, no ano de 2013
Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ-PP, 2013; IBGE, 2010.
Após analisar as Figuras 10 e 11, conclui-se que os bairros localizados próximos à região
central são os que apresentam maior concentração em relação às outras regiões da cidade, podendo
apresentar alguma influência da rede de drenagem pertencente à bacia hidrográfica do Córrego do
Veado (principal córrego da cidade).
A maioria das notificações ocorre em áreas de topo de vertentes, onde se localizam as
cabeceiras de drenagem em formato de anfiteatro, seguindo pelos principais canais de drenagem da
cidade. As áreas mais densas também apresentam um número elevado de notificações, como por
exemplo o centro da cidade.
Atualmente, a maioria dos afluentes no meio urbano encontra-se já canalizada e
subterrânea, concentrando grande quantidade de bocas de lobo, o que pode vir a atrair animais
pertencentes à cadeia alimentar dos escorpiões – como as baratas, por exemplo –, resultando na
concentração do aracnídeo nessas localidades.
68 - Volume I
Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ-PP, 2013; IBGE, 2010.
Figura 11 - Distribuição das notificações de escorpiões, por setor censitário, nos anos de 2012 e 2013
Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ-PP, 2013; IBGE, 2010.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 69
Figura 12–Autocorrelação espacial dos setores censitários com presença de escorpião por setor censitário,
nos anos de 2012 e 2013
Elaborada por: SILVA; CATÃO, 2015. Fonte dos dados: CCZ-PP, 2013; IBGE, 2010.
CONCLUSÃO
Controle de Zoonoses de Presidente Prudente. Foi gerado um banco de dados com o intuito
de dar continuidade a pesquisa e também ajudar na projeção de medidas de controle no que
diz respeito ao escorpionismo no município. Dessa maneira, comprova-se a importância da
aproximação entre estudos acadêmicos e órgãos públicos. Com base nos dados levantados e
imagens geradas no presente estudo, foi possível identificar que os bairros mais infestados
por escorpiões em 2012 e 2013, devem receber maior atenção do CCZ na implantação de
políticas de contenção de danos. Estes bairro foram: Jardim Paulista, Vila Machadinho,
Bairro do Bosque e Vila Formosa, tendo muitos outros casos localizados próximos às
cabeceiras de drenagem da bacia hidrográfica do Córrego do Veado.
Ao observarmos o cenário do município de Presidente Prudente/SP, pode-se dizer
que a presença dos escorpiões está diretamente relacionada com os aspectos
socioambientais, pois há a influência de córregos canalizados que servem tanto como abrigo
para estes animais quanto como vias dispersoras dos mesmos pela cidade.
Ainda há uma gama de dados que podem ser utilizados para uma análise mais
aprofundada, os quais nos levariam a relacionar, por exemplo, essa espacialização a
variáveis socioeconômicas, tais como: renda, escolaridade, densidade demográfica, acesso à
infraestrutura sanitária, tipo de solo, presença de ferros-velhos, madeireiras, lotes vagos,
parque e áreas verdes que possam vir a influenciar na aparição, proliferação ou dispersão
dos escorpiões no município.
Com base nos resultados obtidos, o CCZ do município de Presidente Prudente
implementou um novo direcionamento de combate a esses aracnídeos, de acordo com a
espacialização verificada nos mapas de geocodificação das notificações de escorpiões,
poupando, dessa forma, tempo e recursos financeiros.
O combate aos escorpiões em Presidente Prudente vem sendo realizado nas
localidades mais infestadas, instruindo a população e aplicando medidas de fiscalização em
caso do não cumprimento das orientações recomendadas, tais como o acúmulo de entulho
no domicílio ou ao redor do mesmo, ou a não telagem de ralos intra-domiciliares. Ações
como estas podem vir a contribuir para uma melhoria da saúde em relação aos acidentes
por picada de escorpião na população do município.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 71
REFERÊNCIAS BIBLIOFRÁFICAS
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em Ciências, na área de Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro/RJ, 2009.
72 - Volume I
Capítulo 4
INTRODUÇÃO
BERTRAND, 2002). De outra forma, a estrutura vertical é o conjunto dos componentes que
nela constitui e que atuam desde a atmosfera até a rocha mãe, passando pelas vegetações,
solo, águas superficiais e subterrâneas (NAVEH, 1991).
Diante disto, Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2004) e Rodriguez e Silva, (2013)
apresentam como condicionantes da paisagem, os seguintes fatores: geológicos, climáticos,
relevo, hídricos, edáficos e bióticos. Ao considerar tais fatores como apoio científico para o
estudo e planejamento da paisagem, Santos (2004) aponta que a ecologia da paisagem (ou
geoecologia da paisagem) fornece um apoio integrador na análise dos elementos que atuam
no meio ambiente, além de conduzir a observação e sistematização dos mesmos.
Sob a óptica geográfica, a geoecologia da paisagem pode ser compreendida como
uma disciplina que busca compreender os diversos fenômenos da paisagem e ordenamento
territorial, integrando-os às variáveis sociais, biológicas e geofísicas (METZGER, 2001).
A estrutura organizacional do planejamento ambiental, na concepção da teoria da
paisagem, depende de uma sequência de etapas, que segundo Santos (2004), compreende,
simplificadamente, as fases de definição dos objetivos, diagnóstico, levantamento de
alternativas e a tomada de decisão.
Em diagnósticos ambientais, a identificação e sistematização da fragilidade
ambiental são demasiadamente importantes, visto que assim faz-se uso de uma abordagem
integrada da paisagem para o mapeamento e espacialização dos atributos de fragilidade, ao
mesmo tempo em que correlaciona os componentes geoambientais e antrópicos,
condicionantes na organização e comportamento do estrato geográfico (TRICART 1977,
AMARAL e ROSS, 2009, (RODRIGUEZ e SILVA, 2013). Tal estudo analítico auxilia em tomadas
de decisões do poder público, no planejamento ambiental e territorial, além de ser um
elemento de orientação para órgãos ambientais responsáveis por fiscalizar e licenciar
atividades econômicas e potencialmente poluidoras. Nucci (2009) destaca a importância do
levantamento da situação original do ambiente em estudo (inventário) e do diagnóstico da
situação atual, para então, concretizar as bases necessárias e sugerir cenários futuros
(prognóstico) em relação ao desenvolvimento da paisagem em questão.
Os planejamentos ambientais costumeiramente empregam métodos de
classificação e ordenação para decompor e integrar os elementos do espaço geográfico.
Essa ordenação do espaço entre seus elementos componentes e fenômenos atuantes,
corresponde à representação cartográfica efetuada pelo mapeamento do espaço geográfico,
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 75
em escala condizente com os objetivos do trabalho (SANTOS, 2004). Para Silva (2012), a
conjuntura da teoria da paisagem ocorre entre a Geografia Física, a Geografia Humana, a
Biologia, a Ecologia e a Cartografia.
As unidades de paisagem, segundo Gómez Orea (1978) e Santos, (2004) são obtidas
através do cruzamento entre cartas temáticas dos elementos da paisagem, onde, como
resultado, têm-se as zonas homólogas, ou seja, áreas que possuem semelhanças entre si.
Assim, a determinação destas unidades, conforme o critério de homogeneidade facilita o
conhecimento das mesmas e auxilia no prognóstico.
Todos esses fatores combinados geram uma carta temática, composta por cores
que representam determinadas unidades, sua susceptibilidade intrínseca e capacidade de
suporte em função de diversos usos e ocupações.
O poder de transformação do meio pelo homem tem alterado e degradado os
ecossistemas e a paisagem como um todo, com uma velocidade sem precedentes no último
século. Tais mudanças têm determinado que o monitoramento ambiental seja efetuado com
maior rapidez e eficácia por meio de recursos tecnológicos, como o sensoriamento remoto e
as técnicas de geoprocessamento. (EHLERS, 2005).
A interpretação das imagens de satélite ou de fotografias aéreas é utilizada desde a
primeira metade do século XX e tornou-se um importante instrumento no auxílio para a
compreensão dos padrões de organização do espaço rural, cada vez mais modificado pelo
homem. Desta forma, para a compreensão da dinâmica espacial e a constante atualização
das alterações do uso da terra, tem sido imprescindível o uso das geotecnologias no
planejamento regional e ambiental (ROSA, 1990). Na interpretação das imagens ou das
fotografias aéreas são utilizadas chaves de identificação, que a depender do tipo de sensor
vão apresentar diferentes padrões de respostas. Basta alterar o sensor, sua resolução
espacial ou ainda a resolução espectral para que seu resultado também mude
(FLORENZANO, 2008; AZEVEDO, 2008). Segundo Jacomine (1966), as fotografias aéreas
fornecem resultados por dedução e que são válidos apenas localmente, não se podendo
generalizar.
No presente trabalho foram utilizadas ortofotografias aéreas cedidas pela
EMPLASA, 2010, na escala 1:25.000 e elaborados estudos prévios com vistas à confecção das
chaves de interpretação de acordo com Santos, Niero e Lombardo (1980), para identificação
de alvos específicos do meio físico e biótico, que posteriormente serviram para espacializar
76 - Volume I
ÁREA DE ESTUDO
METODOLOGIA
Figura 2 – Etapas do cruzamento das cartas dos condicionantes geoambientais por sobreposição, dois a dois
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 1 – Chaves de interpretação relacionadas aos recursos hídricos e os reflexos da estrutura geológica
Elementos / Rio Planície Planície fluvial Lençol Lençol de Inflexões na Rio
Características encaixado fluvial alveolar suspenso fundo de drenagem condicionado
vale à estrutura
Textura Fina Fina Fina Fina Fina Grosseira Fina
aveludada
Porte da Fundo Rasteiro Rasteiro Rasteiro Rasteiro Rasteira, Rasteiro
vegetação média
Tonalidade Cinza Marrom Marrom Marrom Marrom Cinza, Cinza
escuro esverdeado, esverdeado, esverdeado marrom e esverdeado
creme creme creme
Telhado Não Uniforme Uniforme Uniforme Uniforme Não uniforme Não
uniforme uniforme
Aspectos Risco Faixa com Faixa com Linhas Faixa com Mudança Curso
associados retilíneo diferentes diferentes marrom lateral ao brusca na retilíneo
sem cores e tons, cores e tons, escuras de curso direção do condicionado
planície de forma em forma de escoamento d´água curso d´água à estrutura
fluvial alongada bolsão das águas geológica.
Exemplos Figura 3 a Figura 3 b Figura 3 c Figura 3 d Figura 3 e Figura 3 f Figura 3 g
Fonte: Elaborado pelos autores.
Figuras 3 – Exemplo das características das imagens relacionadas aos recursos hídricos e os reflexos litológicos e da
estrutura geológica
Figura 4 a – Erosão Figura 4 b – Leque fluvial Figura 4 c – Relevo com Figura 4 d – Vertente
rupturas convexa côncava
Fonte: Elaborado pelos autores.
intrínsecas de seus componentes, que foram destacados na análise da paisagem por meio
das chaves de interpretação.
Figura 6 - Cartas dos condicionantes geoambientais elaborados pela geotecnologia: A - Rede de drenagem; B – Áreas
úmidas; C – Geologia; D – Pedologia; E – Geomorfologia; e F – Uso da terra
A B C
D E F
análise e planejamento das atividades antrópicas que possam provocar impactos negativos
ao meio.
Neste sentido, a utilização da análise integrada aplicada ao objetivo deste estudo
apresentou-se de importância significativa para a escala trabalhada, sendo possível
compreender a maneira em que a paisagem se organiza em sua plenitude, bem como as
conexões harmônicas e ao mesmo tempo instáveis entre os elementos que a constituem e
que são responsáveis pela estruturação e função de toda a paisagem do município de
Anhumas.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Sul e Paraná. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 31., 1980, Camboriú. Anais... Camboriú:
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SANTOS, R. F. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de textos, 2004.
Capítulo 5
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Método de trabalho
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Estação J F M A M J J A S O N D Total
Amambai 199,2 213,4 154,5 183,7 165,7 132,4 63,0 70,1 147,3 234,4 213,4 237,2 2014,13
Bocajá 172,1 157,2 128,6 137,8 131,5 81,3 46,7 48,8 105,1 147,1 178,0 148,3 1482,53
Flórida 167,6 145,9 123,8 114,3 109,1 88,7 46,2 61,9 116,2 155,2 153,1 165,9 1447,95
Naviraí 158,0 162,4 103,4 110,2 120,0 85,6 44,1 57,0 110,5 169,9 142,6 154,0 1417,57
Colônia
155,9 125,3 104,5 111,7 117,9 82,7 54,5 58,9 101,1 145,5 124,2 173,8 1355,99
Bom Jesus
Media
170,5 160,8 123,0 131,5 128,8 94,1 50,9 59,3 116,0 170,4 162,3 175,8 1543,63
meses
Desvio
17,3 32,7 20,9 31,3 22,1 21,6 7,8 7,7 18,4 37,0 34,6 35,7 267,1
padrão
Fonte: ANA- Agência Nacional das Águas, 2014, Ibidem MARTINS, 2016.
112 - Volume I
Figura 6: Mapa pluviométrico da UPG Amambai: média entre anos 1986 - 2015
A retirada da vegetação deixa a área exposta aos processos erosivos, causados pela
queda das gotículas de chuvas, acarretando no transporte de sedimentos.
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
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