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APOSTILA
CONSERVAÇÃO DO
SOLO E DA ÁGUA
2020
Essa apostila foi elaborada com o propósito de auxiliar os graduandos em Agronomia e
Zootecnia, que cursam disciplinas relacionadas à conservação do solo e da água na
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Câmpus de Jaboticabal. Assim, os sete
capítulos apresentados reúnem textos de autores renomados nas suas respectivas áreas,
de forma a constituir material didático qualificado para a utilização em sala de aula.
Entretanto, por tratar de conceitos fundamentais da conservação do solo e da água e conter
informações técnicas importantes para a compreensão e a prevenção dos processos
responsáveis pela erosão, o presente texto também se direciona a estudantes de pós-
graduação e profissionais das ciências agrárias e áreas afins.
ÍNDICE
Página
1 Introdução à Conservação do Solo e da Água ........................................................ 01
2 Erosão .................................................................................................................... 04
2.1 Erosão eólica ..................................................................................................... 04
2.2 Erosão hídrica ................................................................................................... 05
3 Práticas Conservacionistas ..................................................................................... 10
3.1 Princípios de controle da erosão hídrica ............................................................ 10
3.2 Práticas de controle da erosão hídrica ............................................................... 11
3.2.1 Práticas de caráter mecânico ....................................................................... 11
3.2.2 Práticas de caráter vegetativo ...................................................................... 12
3.2.3 Práticas complementares ............................................................................. 14
4 Terraceamento Agrícola ......................................................................................... 16
4.1 Classificação dos terraços ................................................................................. 16
4.2 Dimensionamento dos terraços ......................................................................... 23
4.2.1 Espaçamento entre terraços......................................................................... 23
4.2.1.1 Espaçamento vertical .............................................................................. 23
4.2.1.2 Espaçamento horizontal .......................................................................... 24
4.2.2 Dimensões da seção transversal do canal do terraço................................... 25
4.2.2.1 Dimensionamento do canal do terraço em nível ou de absorção ............ 25
4.2.2.2 Dimensionamento do canal do terraço em desnível ou de drenagem ..... 28
5 Tolerância de Perdas de Solo ................................................................................. 31
6 Modelos para estimar as perdas de solo em áreas agrícolas .................................. 34
7 Equação Universal de Perdas de Solo .................................................................... 37
7.1 Fator de erosividade da chuva ........................................................................... 37
7.2 Fator de erodibilidade do solo............................................................................ 39
7.3 Fator topográfico ............................................................................................... 41
7.4 Fator de uso e manejo do solo .......................................................................... 43
7.5 Fator de práticas conservacionistas................................................................... 47
Referências Bibliográficas ......................................................................................... 48
Capítulo 1
Introdução à Conservação do Solo e da Água
1
somente a partir do início deste século, técnicos e agricultores se deram conta de que,
além de minimizar o impacto ambiental da agricultura, mitigando as perdas de solo, água,
nutrientes e matéria orgânica, estariam também contribuindo para o sequestro de carbono
e reduzindo a emissão de gases de efeito estufa. Sendo assim, é necessário também
desenvolver sistemas de produção capazes de se adaptar às mudanças climáticas,
garantindo a produção de alimentos, fibras e agroenergia e a manutenção de serviços
ambientais.
A degradação dos solos está intimamente associada ao avanço da agricultura. O
ser humano tem sido muito inteligente em termos de produzir alimentos, mas não tem sido
capaz, o suficiente, para associar o desenvolvimento com a conservação do solo e da água.
Em muitos casos, até parece que o homem se empenha em acelerar o empobrecimento
das terras: as matas são derrubadas e queimadas desordenadamente, as encostas
íngremes são aradas e gradeadas na direção da maior declividade, os pastos são
superlotados com rebanhos e as terras cultivadas são submetidas à monocultura, ano após
ano, sem proteção contra o arraste pelas enxurradas ou restituição da fertilidade natural
com fertilizantes.
É relativamente fácil perceber os sinais que revelam esse desgaste, mas é difícil
prever quais serão as más consequências futuras. A aceleração do ritmo da erosão produz
condições anormais bastante notáveis: voçorocas, pomares com árvores raquíticas e
raízes expostas, barreiras caídas em estradas, caminhos profundos nas pastagens,
entulhamento de reservatório de água, rios com águas turvas ou barrentas e inundações
em campos e cidades ribeirinhas.
O aumento de áreas degradadas em regiões anteriormente produtivas tem sido
constatado em diferentes regiões do Brasil. A erosão tem se mostrado sob diversas
intensidades, levando solos, sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas para os lagos,
os rios, até atingir o mar. O resultado é a perda de produção e o empobrecimento dos
agricultores, o assoreamento e a contaminação dos corpos hídricos e o desmatamento
para abertura de novas áreas de produção, causando perda da biodiversidade nos
diferentes biomas brasileiros.
Para o desenvolvimento de sistemas sustentáveis nas diferentes zonas
agroecológicas é necessário a aplicação de técnicas conservacionistas adaptadas aos
diferentes ambientes e sistemas de produção agropecuária, protegendo o solo e a água e
garantindo sua funcionalidade, como a troca de ar e calor, o armazenamento e a ciclagem
de nutrientes, a decomposição da matéria orgânica, a regulação do fluxo de água e o
movimento de materiais solúveis, servindo de filtro ou de tampão para elementos e
compostos tóxicos.
2
Os sistemas conservacionistas associam a redução drástica do revolvimento do
solo à rotação de diferentes usos e culturas; à manutenção permanente da cobertura do
solo; ao manejo integrado de pragas, doenças e de plantas daninhas; à seleção de
espécies vegetais e ao desenvolvimento de variedades e cultivares mais produtivas e
adaptadas; aos sistemas de adubação mais racionais; e a outras tecnologias adaptadas
aos diferentes sistemas de produção. Por serem desenvolvidos para as condições de solo
e clima existentes em cada região, os sistemas conservacionistas vêm se tornando mais
frequentes na paisagem, recuperando áreas degradadas e dando renda aos agricultores.
O objetivo da conservação dos solos agrícolas e da água é fomentar sua adequada
utilização, quando a vegetação natural é substituída por lavouras, pastagens ou
reflorestamento. Os resultados observados até agora mostram que os agricultores podem
preservar o solo e a água e proporcionar maior estabilidade a seus empreendimentos se,
para isto, tiverem vontade, os meios materiais e os conhecimentos necessários. Uma vez
que o solo e a água são a base fundamental de qualquer nação, a sua conservação
relaciona-se principalmente à produção de alimentos, assumindo assim grande
importância econômica, como garantia da própria estabilidade social do país. Portanto, a
conservação do solo e da água deve ser preocupação e responsabilidade, sem exceção,
de toda a população.
Dentro desse contexto, o desafio é compreender os processos responsáveis pela
erosão, reconhecendo que esses processos não são meramente físicos, mas também
sócio-econômicos. Os solos erodem não apenas porque chove forte, mas porque foram
desmatados e cultivados de maneira incorreta. Portanto, a prevenção da erosão depende
do nosso entendimento sobre como, onde e por que ela ocorre.
3
Capítulo 2
Erosão
4
As práticas de controle da erosão eólica devem ter como objetivos: aumentar a
estabilidade do solo e a rugosidade da superfície, manter o solo coberto por vegetação e
resíduos culturais e evitar a ação dos ventos sobre a área cultivada.
Uma das práticas mais empregadas pelos agricultores para o controle da erosão
eólica é a utilização de quebra-ventos. Eles consistem em uma barreira densa de árvores,
colocadas a intervalos regulares do terreno, nas regiões sujeitas a ventos fortes, de modo
a formarem anteparos contra os ventos dominantes. Sua função é fundamentalmente
reprimir a ação do vento na superfície do solo, protegendo as plantas cultivadas e o solo,
por isso deve ser o mais alto e o mais cerrado possível na direção perpendicular dos ventos
dominantes.
5
Se o material assim desagregado não for removido por escoamento, pode ocorrer
o movimento das partículas finas e dispersas ao longo de poucos centímetros abaixo da
superfície do solo e sua deposição nos poros do solo, causando redução da
macroporosidade da camada superficial do solo. Além de ocasionar a liberação de
partículas que obstruem os poros do solo, o impacto das gotas da chuva tende também a
produzir uma camada delgada de solo expressivamente adensada, ocasionando o
selamento de sua superfície e, consequentemente, reduzindo a capacidade de infiltração
da água.
A capacidade de infiltração deve ser entendida como o volume máximo de água
que pode infiltrar no solo em um dado intervalo de tempo. Quando uma precipitação atinge
o solo com intensidade menor do que a capacidade de infiltração, toda a água penetra no
solo. A partir do instante em que a intensidade de precipitação excede a capacidade de
infiltração inicia-se o escoamento superficial, podendo ocorrer o transporte de partículas
do solo.
Grande quantidade de solo pode ser removida desde que suas partículas estejam
desagregadas e suspensas nas águas das enxurradas, pois isto as torna suscetíveis de
serem transportadas.
O transporte é a segunda fase do processo erosivo e consiste na transferência das
partículas de solo desagregadas de seu local de origem para outro, seja pelo salpicamento
decorrente do impacto das gotas da chuva, seja pelo escoamento superficial. Geralmente,
a maior parte do solo é transportada pelo escoamento superficial.
Associado ao escoamento superficial, também ocorre o desprendimento de
partículas do solo, em que o agente erosivo é decorrente da tensão cisalhante
correspondente ao próprio escoamento superficial. Assim, o desprendimento de partículas
de solo promovido pelo escoamento superficial somente ocorre quando a tensão cisalhante
associada ao escoamento superficial supera a tensão crítica de cisalhamento do solo.
A deposição é a terceira e última fase do processo erosivo e consiste na deposição
do material que foi desagregado e transportado. Isso ocorre quando a quantidade de
sedimentos contida no escoamento superficial for maior que a sua capacidade de
transporte, ou quando o escoamento superficial encontrar um obstáculo ao seu movimento.
O processo de desprendimento de partículas de solo pelo impacto das gotas de
chuva é o principal causador da erosão em entressulcos, que constitui a fase inicial da
erosão hídrica, caracterizando-se pela remoção de delgadas camadas da superfície do
solo por um fino fluxo superficial de água (fluxo laminar). A princípio, a erosão em
entressulcos é quase imperceptível, sendo notada apenas com o decorrer do tempo,
quando se aumenta a quantidade de solo removido.
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O processo de desprendimento de partículas de solo em decorrência do
escoamento superficial (fluxo turbulento) é o principal responsável pela ocorrência da
erosão em sulcos, facilmente perceptível pela formação de sulcos irregulares, em virtude
da concentração do fluxo superficial de água.
Se a enxurrada não for controlada desde seu início, os sulcos se aprofundam. O
escoamento superficial da água pode vir a transformá-los em voçorocas, que ao atingir o
horizonte C dos solos, podem alcançar profundidades de vários metros. Esse tipo de
erosão proporciona a perda total do solo, destruindo campos cultivados e, por vezes, áreas
urbanas.
O movimento do solo pela água é um processo complexo, influenciado por uma
série de fatores, dos quais quatro são considerados principais: clima da região, tipo de solo,
topografia do terreno e cobertura vegetal. Em cada caso, a intensidade do processo erosivo
é determinada pela interação ou balanço dos vários fatores, alguns favorecendo o processo
erosivo e outros se opondo a ele.
Os fatores mais importantes do clima com respeito à erosão são a distribuição e a
intensidade das chuvas.
A distribuição diz respeito à ocorrência das chuvas em uma determinada região no
decorrer do ano. As chuvas, numa região, podem se concentrar todas num período do ano,
enquanto que em outra região a mesma quantidade de chuva pode ser distribuída durante
todo o ano. Se os intervalos entre as chuvas são curtos, a umidade do solo é maior,
consequentemente, a capacidade de absorção de água do solo menor, aumentando as
possibilidades de enxurradas mais volumosas.
A intensidade refere-se à quantidade de chuva que ocorre durante um determinado
tempo. Quanto maior a intensidade da chuva, maior a perda de solo por erosão. Quando a
chuva cai mansamente, sob a forma de pequenas gotas, durante um período de várias
horas, como as garoas (baixa intensidade), há mais tempo para ser totalmente absorvida
e raramente causa estragos. Por outro lado, se essa mesma quantidade de chuva cai
rapidamente, em forma de temporais, em alguns minutos (alta intensidade) formam-se
volumosas enxurradas, podendo provocar erosões.
Certos solos são mais suscetíveis à erosão do que outros, de acordo com seus
atributos. A permeabilidade do solo e a capacidade de armazenamento de água
determinam o volume da enxurrada. As condições que mais comumente limitam a
permeabilidade do solo são: encrostamento superficial, causado pelo impacto das gotas
de chuva ou pelo tráfego de máquinas e animais; subsolos compactados e leitos rochosos.
Quanto mais próxima da superfície estiver a camada de impedimento físico, menor o
volume de água necessário para saturar o solo e causar o início do escoamento superficial.
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A textura também influencia a erodibilidade dos solos. Os solos arenosos, ricos em
macroporos e muito permeáveis, durante uma chuva de pouca intensidade, podem
absorver toda a água. Entretanto, por possuírem baixa proporção de partículas argilosas e
matéria orgânica, o escoamento das enxurradas, mesmo em pequena quantidade, pode
causar o arrastamento de grande quantidade de solo, devido à baixa coesão entre as
partículas. Nos solos argilosos, com menor macroporosidade, a capacidade de infiltração
da água é menor, resultando em maior volume de enxurrada com potencial erosivo.
Todavia, devido à maior força de coesão entre as partículas, os solos argilosos oferecem
maior resistência ao fluxo de enxurrada do que os arenosos.
A topografia do terreno, representada pela declividade, pelo comprimento de rampa
e pela forma do declive, exerce acentuada influência sobre a erosão.
Se a declividade for zero, isto é, se a área for plana, a erosão é praticamente nula,
desde que se mantenha o solo coberto para evitar o impacto das gotas da chuva. A
declividade, ou grau de inclinação do terreno, influencia no maior ou menor arrastamento
superficial das partículas do solo. Nos terrenos planos, ou apenas levemente inclinados, a
água escoa com pequena velocidade e, além de possuir menos energia, tem mais tempo
para se infiltrar. Por outro lado, nos terrenos muito inclinados, a resistência ao escoamento
da enxurrada é menor, atingindo assim maior velocidade.
Para uma mesma declividade, a erosão será tanto maior quanto maior for o
comprimento de rampa. Para um mesmo comprimento de rampa, a erosão é sempre maior
no seu final devido à maior velocidade e concentração da enxurrada.
A superfície de um terreno em declive nem sempre é um plano inclinado. Na maioria
das vezes, apresenta-se com a forma côncava, convexa ou combinações dessas.
Numa superfície curva de forma côncava, há tendência de redução da velocidade
da enxurrada do início para o final da rampa. Isto faz com que a erosão numa superfície
côncava seja menor do que numa superfície de declividade uniforme. Numa superfície
convexa, o fenômeno ocorre de modo inverso, isto é, há um aumento da velocidade da
enxurrada no final da rampa. Como no final da rampa o volume de água também é maior,
conclui-se que numa rampa convexa a erosão é maior do que numa rampa plana.
A cobertura vegetal também influencia o processo erosivo. Quanto mais protegida
pela cobertura vegetal estiver a superfície do solo contra a ação da chuva, menor será sua
propensão de ocorrência de erosão. Além de aumentar o volume de água interceptado, a
vegetação amortece a energia de impacto das gotas da chuva, reduzindo a destruição dos
agregados, a obstrução dos poros e o selamento superficial do solo. A cobertura vegetal
na superfície também reduz a velocidade do escoamento superficial, pelo aumento da
rugosidade superficial do terreno. Além disso, as raízes da vegetação exercem a função
de travamento do solo, pois as raízes emaranhadas promovem a fixação das partículas do
8
solo, dificultando o seu desprendimento pela água que escorre superficialmente. Quanto
maior o número de raízes, mais proteção é oferecida ao solo.
Portanto, para controlar o processo de erosão hídrica do solo, é preciso deter não
somente o escorrimento da enxurrada, que transporta as partículas de solo, mas também,
e principalmente, a desagregação do solo, evitando o desprendimento das partículas do
solo causado pelo impacto das gotas da chuva.
9
Capítulo 3
Práticas Conservacionistas
10
- aumentar a resistência do solo ao escoamento superficial: obtido por meio do
aumento da rugosidade do solo, o que pode ser conseguido pela melhoria da sua estrutura
ou pela própria cobertura do solo, viva ou morta.
A melhoria das condições de infiltração da água no solo proporciona aumento do
volume de água infiltrado e, consequentemente, redução do volume de água disponível
para o escoamento superficial. Assim, para atender ao terceiro princípio de controle da
erosão hídrica, deve-se:
- represar a água, por um intervalo de tempo, que possibilite a sua infiltração no
solo: obtido por meio da construção de barreiras, que interceptam o escoamento
superficial;
- aumentar a taxa de infiltração de água no solo: obtido por meio de melhoria nas
condições físicas do solo, o que pode ser conseguido pelo aumento da macroporosidade
do solo.
b) Terraceamento
Consiste na construção de terraços no sentido transversal à declividade do terreno,
formando obstáculos físicos capazes de reduzir a velocidade do escoamento superficial e
de disciplinar o movimento da água sobre a superfície do terreno. O princípio de
funcionamento do terraceamento é o parcelamento do declive, ou seja, dividir uma rampa
comprida (mais sujeita à erosão) em várias rampas curtas (menos sujeitas à erosão). Com
o armazenamento da água no canal do terraço, há uma maior possibilidade de infiltração
da água no solo, porém só há aumento da infiltração na área do canal e não em toda a
área terraceada.
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c) Canais escoadouros
São construídos quando a área não possui um escoadouro natural, tal como uma
depressão vegetada, uma área de pastagem bem protegida ou uma floresta, que possa
conduzir a água das áreas terraceadas até um curso de água sem provocar erosão. Esses
canais são construídos cortando os terraços, de forma a receber toda a água conduzida
pelos seus canais, e sua declividade pode acompanhar a declividade natural da área.
Normalmente, são largos e rasos, de modo a dificultar o aumento da velocidade da água.
d) Canais divergentes
São canais construídos com dois objetivos. Um é o de escoar a água de áreas que
não tenham qualquer prática de controle de erosão, para proteger uma área terraceada em
cota inferior, conduzindo essa água de maneira segura diretamente para fora da área
terraceada até um canal escoadouro. O outro é conduzir a água recebida dos canais
escoadouros até encontrar um escoadouro natural. Os canais divergentes são,
normalmente, mais estreitos e profundos do que os canais escoadouros. Sua declividade
deve ser tal que a água não adquira velocidade para provocar erosão no seu leito.
e) Subsolagem
Consiste em se utilizar um subsolador que, ao ser puxado por um trator, se
aprofunda no solo, rompendo as camadas compactadas e, consequentemente,
aumentando a infiltração de água no solo.
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b) Rotação de culturas
Consiste na sucessão de diferentes culturas em uma mesma área, visando à
exploração mais uniforme do solo. A rotação de culturas é realizada com a principal
finalidade de manter a produtividade do solo. Como as diferentes culturas exploram
diferentes profundidades de solo, a rotação de culturas propicia o aumento da infiltração
de água no solo.
c) Culturas em faixas
Consiste na disposição de culturas em faixas de largura variável, plantadas sempre
em nível, de tal forma que, a cada ano, se alternem em determinada área, plantas com
cobertura densa e outras que ofereçam menor proteção ao solo. Dessa forma, a proteção
do solo se processa como se houvesse um parcelamento da rampa. O escoamento
superficial, passando sobre a faixa de cultura menos protetora, transporta partículas de
solo, que ao penetrar na faixa de cultura mais protetora, tende a sofrer desaceleração,
proporcionando nessa faixa a deposição do sedimento transportado. No ano seguinte, a
ordem das culturas nas faixas se inverte, proporcionando, assim, um desgaste mais
uniforme da área total cultivada.
d) Semeadura direta
Consiste na semeadura de culturas sobre o resíduo da cultura anterior. O solo só é
movimentado no local de plantio, utilizando-se máquinas de semeadura direta. Assim, o
solo permanece constantemente coberto, o que evita o impacto direto da gota da chuva na
superfície do solo e aumenta a rugosidade do solo, aumentando assim a sua resistência
ao escoamento superficial.
e) Ceifa do mato
Consiste no corte rasteiro das plantas daninhas, mantendo-se a parte inferior da
planta viva no solo, de forma a manter o efeito de travamento do solo pelas suas raízes.
Assim, sobre a superfície do solo permanece uma pequena vegetação protetora,
constituída dos caules das plantas ceifadas.
f) Alternância de capinas
Consiste em realizar as capinas alternando as faixas de mobilização do solo,
deixando sempre uma ou duas faixas protegidas pela própria planta daninha logo abaixo
daquelas recém capinadas. Na próxima vez, as áreas que foram capinadas anteriormente
ficam intactas, capinando-se aquelas que não tinham sido capinadas. Além de proteger o
solo contra o impacto direto da gota da chuva, essa prática também parcela o declive, pois
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a água que escorre livremente na faixa capinada, ao atingir a faixa não capinada, tende a
diminuir a velocidade e depositar as partículas transportadas.
g) Plantas de cobertura
São plantas utilizadas com o objetivo específico de proteger o solo durante a
estação chuvosa, evitando assim o impacto direto da gota da chuva.
h) Pastagens
Podem ser utilizadas em diversos tipos de solo e em áreas cuja declividade não
possibilite a utilização de cultivo intensivo, mas permita a exploração pecuária. Quando a
pastagem se encontra adequadamente manejada proporciona a total cobertura do solo.
i) Reflorestamento ou arborização
Essa prática também pode ser utilizada em diversos tipos de solo, porém em áreas
com declividade bastante acentuada, que não possibilite a utilização de cultivo intensivo e
nem de exploração pecuária. Quando a área de reflorestamento se encontra
adequadamente manejada proporciona a total cobertura do solo.
a) Cobertura morta
Consiste na cobertura do solo com palha ou resíduos vegetais, distribuídos sobre a
superfície do solo, de maneira tão homogênea quanto possível. A cobertura morta protege
o solo contra o impacto direto da gota da chuva e oferece resistência ao escoamento
superficial.
b) Adubação verde
Consiste na incorporação de plantas especialmente cultivadas para esse fim,
constituindo-se uma das formas mais baratas e acessíveis de repor a matéria orgânica,
proporcionando melhoria na agregação do solo. Assim, com o solo melhor estruturado,
obtêm-se maior resistência ao impacto da gota da chuva e maior resistência ao
escoamento superficial.
14
c) Adubação orgânica
Consiste na adição de matéria orgânica já em estado de decomposição, o que influi
diretamente na melhoria dos atributos físicos do solo, melhorando a agregação,
aumentando a porosidade e, consequentemente, a taxa de infiltração de água no solo.
e) Irrigação e drenagem
Ambas promoverem um melhor desenvolvimento vegetal e, consequentemente,
uma melhor cobertura do solo.
15
Capítulo 4
Terraceamento Agrícola
16
a) Quanto à função, os terraços podem ser classificados em: nível ou de absorção
e desnível ou de drenagem.
O terraço em nível ou de absorção tem a função de armazenar o volume de água
decorrente do escoamento superficial para que possa infiltrar-se no canal do terraço. Esse
tipo de terraço é construído com o canal em nível e as extremidades bloqueadas.
Normalmente, é construído em solos profundos, com alta taxa de infiltração quando
saturado e sem impedimento de drenagem. Quanto à região, deve-se optar por aquelas
com precipitações pluviométricas não muito elevadas.
O terraço em desnível ou de drenagem tem a função de retirar o excedente de água
da chuva da área terraceada de forma segura, sem que a água atinja velocidade erosível,
provocando arrastamento de partículas no leito do canal. Esse tipo de terraço é construído
com o canal em pequeno declive e pelo menos uma das extremidades abertas, pois a água
retirada deve ser conduzida até um canal escoadouro. Normalmente, é construído em solos
rasos, com taxa de infiltração baixa ou moderada e com algum impedimento de drenagem.
Quanto à região, deve-se optar por aquelas com precipitações pluviométricas elevadas.
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canal
dique ou camalhão
Figura 4.1 Representação esquemática de um terraço comum.
Fonte: Lombardi Neto & Drugowich (1994).
18
A = pequena faixa perdida no plantio
talude
plataforma
19
Figura 4.5 Perfil de um terreno com terraço patamar.
Fonte: Lombardi Neto & Drugowich (1994).
20
d) Quanto à largura da base, os terraços podem ser classificados em: base estreita,
base média e base larga. Essa classificação baseia-se na largura da faixa de
movimentação de terra para construir a base do terraço.
O terraço de base estreita possui até 3 m de largura da base e é construído em
áreas declivosas, normalmente entre 12 e 18%. Nesse tipo de terraço não se pode cultivar
no dique nem no canal. A área útil para cultivo é constituída das áreas entre os terraços,
excluindo canal e dique.
O terraço de base média possui de 3 a 6 m de largura da base e é construído em
áreas um pouco menos inclinadas do que aquelas do tipo anterior, normalmente entre 8 e
12%. O cultivo pode ser realizado no dique, mas não se admite plantio dentro do canal.
O terraço de base larga possui de 6 a 12 m de largura da base e é construído em
áreas com declividade suave, normalmente até 8%. Esse tipo de terraço possui dique e
canal tão suaves que possibilita a utilização de máquinas agrícolas para plantio em toda a
área, dentro do canal e sobre o dique. O alto custo de construção desse tipo de terraço é
compensado por cultivar-se em toda a sua superfície e pela facilidade da sua manutenção.
Figura 4.8 Perfil esquemático de terraço com base estreita, média e larga.
Fonte: Lombardi Neto & Drugowich (1994).
21
e) Quanto ao processo de construção, os terraços podem ser classificados em:
Mangum e Nichols.
O terraço tipo Mangum normalmente é construído com arado fixo. Na construção
desse tipo de terraço, o trator trabalha jogando terra para cima e para baixo, sobre uma
linha nivelada básica, previamente demarcada no terreno. Ao se construir um terraço com
arado fixo, o trator praticamente abre dois sulcos. Um sulco maior pelo lado de cima do
dique e outro sulco menor pelo lado de baixo, pois o trator vai pelo lado de cima e volta
pelo lado de baixo. Esse segundo canal é feito devido ao rastro do arado, devendo ser
eliminado no final da construção.
22
4.2 Dimensionamento dos terraços
O dimensionamento de sistemas de terraceamento consiste em determinar duas de
suas características: o espaçamento entre terraços e as dimensões da seção transversal
do canal do terraço.
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Quadro 4.2 Grupos de culturas e os respectivos valores do fator u.
Grupo Culturas u
1 feijão, mandioca, mamona 0,50
2 amendoim, algodão, arroz, alho, cebola, girassol, fumo 0,75
soja, batatinha, melancia, abóbora, melão, leguminosas para adubação
3 1,00
verde
milho, sorgo, cana-de-açúcar, trigo, aveia, centeio, cevada, outras
4 1,25
culturas de inverno, frutíferas de ciclo curto
5 banana, café, citros, frutíferas permanentes 1,50
6 pastagens, capineiras 1,75
7 reflorestamento, cacau, seringueira 2,00
Quadro 4.3 Grupos de preparo do solo e manejo de restos culturais e os respectivos valores
do fator m.
Manejo do Solo
Grupo Restos Culturais m
Preparo Primário Preparo Secundário
grade aradora (ou
1 pesada) ou enxada grade niveladora incorporados ou queimados 0,50
rotativa
arado de disco ou
2 grade niveladora incorporados ou queimados 0,75
aivecas
parcialmente incorporados com
3 grade leve grade niveladora 1,00
ou sem rotação de culturas
parcialmente incorporados com
4 arado escarificador grade niveladora 1,50
ou sem rotação de culturas
plantio sem revolvimento do
5 não tem solo, roçadeira, rolo-faca, superfície do terreno 2,00
herbicidas (plantio direto)
24
4.2.2 Dimensões da seção transversal do canal do terraço
O primeiro passo, no dimensionamento de estruturas de controle de água, é
determinar o período de retorno (recorrência) desejado, que permitirá dimensionar o
tamanho mais econômico dessas estruturas.
Para a grande maioria dos dimensionamentos de estruturas para a conservação do
solo e da água, não é necessário considerar a maior chuva que já ocorreu naquele local.
É preferível, economicamente, correr algum risco e dimensionar para um período de
retorno menor. Somente quando vidas humanas correm risco é que se projeta para as
chuvas de maiores intensidades já registradas no local.
O período de retorno de 10 anos para estimativa da enxurrada produzida nas áreas
agrícolas é o suficiente para dimensionar a seção transversal dos terraços para suportá-la
com a segurança necessária.
25
O coeficiente de enxurrada (C) é a relação entre o volume de água escoado na
superfície do solo e o volume precipitado, sendo variável, principalmente, segundo o solo,
a declividade do terreno e a cobertura vegetal proporcionada pela cultura.
A Figura 4.11 mostra, para o Estado de São Paulo, as isoietas das chuvas diárias
máximas (h) para o período de retorno de 10 anos.
Figura 4.11 Isoietas de chuvas diárias (24 horas) máximas, em milímetros, para período
de retorno de 10 anos.
Fonte: Lombardi Neto & Drugowich (1994).
26
Depois de calculado o valor do volume máximo de enxurrada produzido pela área
a ser drenada, pode-se calcular a área de seção transversal do canal do terraço, de acordo
com a equação a seguir.
a = V/1,0
onde:
a = área de seção do canal do terraço para cada metro linear de canal (m2)
V = volume máximo de enxurrada por m linear de canal (m3)
1,0 = um metro linear de canal (m)
Finalmente, com o valor da área de seção do canal e considerando a largura da
base do terraço (base estreita, base média, base larga), podem-se calcular as dimensões
do canal do terraço. Considerando-se a forma geométrica trapezoidal, utiliza-se a equação
a seguir.
a = y (b + zy)
onde:
a = área de seção do canal (m2)
y = profundidade do canal (m)
b = base menor do canal (m)
z = razão de inclinação do talude do canal (Quadro 4.5)
t = b + 2zy
x x
1 y
Quadro 4.5 Razão de inclinação dos taludes (z:1) para canais abertos com profundidade
menor que 1,2 m.
Tipos de solo Razão de inclinação (z:1)
turfa vertical
muito argiloso 1/2:1
argiloso ou franco siltoso 1:1
franco arenoso 3/2:1
arenoso 2:1
27
4.2.2.2 Dimensionamento do canal do terraço em desnível ou de drenagem
A seção transversal do terraço em desnível deve suportar a vazão máxima de
enxurrada produzida pela área a ser drenada, que é determinada pela seguinte equação.
CIA
Q
360
onde:
Q = vazão máxima de enxurrada (m3 s-1)
C = coeficiente de enxurrada (Quadro 4.4)
I = intensidade máxima da chuva para o período de retorno definido (mm h-1)
A = área a ser drenada (ha)
28
Depois de calculada a vazão máxima de enxurrada produzida pela área a ser
drenada (Q), pode-se calcular a área de seção transversal do canal do terraço, de acordo
com a equação a seguir.
Q
a
Vp
onde:
a = área de seção do canal do terraço (m2)
Q = vazão máxima de enxurrada (m3s-1)
Vp = velocidade permissível de escoamento no canal (m s-1) (Quadro 4.6)
Quadro 4.6 Velocidade máxima permissível (m s-1) para escoamento em canais abertos.
Com vegetação
Material Sem vegetação
Regular Boa
areia muito leve 0,30 0,75 1,50
areia solta 0,50 0,90 1,50
areia grossa 0,75 1,25 1,70
solo arenoso 0,75 1,50 2,00
solo franco argiloso 1,00 1,70 2,30
solo argiloso 1,50 1,80 2,50
cascalho grosso 1,50 1,80 -----
29
Para o cálculo da velocidade da enxurrada no canal utiliza-se a equação a seguir.
1
v Rh2 / 3 S1/ 2
n
onde:
v = velocidade da enxurrada no canal (m s-1)
n = coeficiente de rugosidade de Manning (Quadro 4.7)
Rh = raio hidráulico (m)
S = razão de inclinação do canal (m m-1)
Quadro 4.7 Valores do coeficiente de rugosidade (n) de Manning para canais retos e
uniformes escavados na terra.
Material Valores de n
solo arenoso 0,020
solo franco arenoso 0,020
solo franco siltoso 0,020
solo franco 0,020
solo argiloso ou solo muito argiloso 0,025
cascalho fino 0,020
cascalho grosso 0,025
Considera-se como ideal que v = Vp 0,1 Vp. Assim, se v < Vp pode-se esperar que
ocorra deposição das partículas de solo no leito do canal, enquanto que se v > Vp pode-se
esperar que ocorra erosão no leito do canal. Caso a velocidade da enxurrada no canal
determinada estiver fora da faixa ideal (v = Vp 0,1 Vp), deve-se refazer o
dimensionamento, a fim de se obter valores adequados tanto para as dimensões do canal
quanto para a velocidade da enxurrada no canal, a fim de não promover erosão no leito no
canal do terraço em desnível.
30
Capítulo 5
Tolerância de Perdas de Solo
31
Método proposto por Lombardi Neto & Bertoni (1975), descrito por Bertol & Almeida
(2000):
T = h r 1000-1
onde:
T = tolerância de perda de solo (mm ano-1)
h = profundidade efetiva do solo (mm), limitada a 1000 mm
r = fator que expressa o efeito da relação textural entre os horizontes B e A (Quadro 5.1)
1000 = constante que expressa o período de tempo (anos) necessário para desgastar uma
camada de solo de 1000 mm de espessura, desconsiderando a formação do solo nesse
período
Quadro 5.1 Valores do fator r, proposto por Lombardi Neto & Bertoni (1975).
Relação textural B/A * r
< 1,5 1,00
1,5 – 2,5 0,75
> 2,5 0,50
* Relação textural obtida pelo quociente entre o teor médio de argila do horizonte B
(excluindo-se o B3 ou BC) e o teor médio de argila do horizonte A.
Método proposto por Lombardi Neto & Bertoni (1975), modificado por Bertol &
Almeida (2000):
T = h ra 1000-1
onde:
T = tolerância de perda de solo (mm ano-1)
h = profundidade efetiva do solo (mm), limitada a 1000 mm
ra = fator que expressa, conjuntamente, o efeito da relação textural entre os horizontes B
e A e do teor de argila do horizonte A (Quadro 5.2)
1000 = constante que expressa o período de tempo (anos) necessário para desgastar uma
camada de solo de 1000 mm de espessura, desconsiderando a formação do solo nesse
período
Quadro 5.2 Valores do fator ra, proposto por Bertol & Almeida (2000).
Teor de argila do horizonte A (%)
Relação textural B/A *
< 20 20 – 40 > 40
< 1,5 0,8 0,9 1,0
1,5 – 2,0 0,6 0,7 0,8
> 2,0 0,4 0,5 0,6
* Relação textural obtida pelo quociente entre o teor médio de argila do horizonte B
(excluindo-se o B3 ou BC) e o teor médio de argila do horizonte A.
32
Os dois métodos apresentados expressam os valores da tolerância de perdas de
solo em mm ano-1. A conversão desses valores para t ha-1 ano-1 é realizada a partir do valor
da densidade do solo, de acordo com a equação a seguir.
T (t ha-1 ano-1) = 10 ds T (mm ano-1)
onde:
T = tolerância de perda de solo
ds = densidade do solo (g cm-3)
33
Capítulo 6
Modelos para estimar as perdas de solo em áreas agrícolas
34
Em função das limitações da USLE, as pesquisas continuaram a se desenvolver
com o intuito de aprimorar as estimativas das perdas de solo por meio dessa equação.
Assim, foi proposto o modelo denominado Revised Universal Soil Loss Equation (RUSLE).
Embora a estrutura da equação seja a mesma da USLE, vários conceitos da modelagem
da erosão, baseados na descrição do processo físico, foram incorporados na RUSLE para
melhorar as predições de erosão. Além disso, devido à complexidade das equações
usadas para quantificar os fatores da equação principal, foi desenvolvido um programa
computacional para facilitar a estimativa das perdas de solo.
Assim, a implementação computacional da RUSLE possibilitou a incorporação de
conceitos de base física para determinação de alguns de seus componentes,
proporcionando, dessa forma, uma reprodução mais real do sistema. Porém, embora a
RUSLE tenha sofrido consideráveis melhorias em relação à USLE, esse modelo de
predição da erosão ainda apresenta algumas limitações: sua base empírica limita muito
sua aplicação para outras condições edafoclimáticas e por não considerar o processo de
deposição não pode ser aplicada em grandes áreas onde o processo de deposição tem
importância expressiva.
Diante das limitações dos modelos de base empírica (USLE e RUSLE), a pesquisa
tem buscado um modelo alternativo para estimar as perdas de solo com base nos
fundamentos dos processos de erosão que regem a desagregação, o transporte e a
deposição das partículas do solo. Assim, foi proposto o modelo denominado Water Erosion
Prediction Project (WEPP).
O WEPP consiste em um modelo dinâmico de simulação que incorpora conceitos
de erosão em entressulcos e em sulcos. Com sua utilização, podem-se simular os
processos que ocorrem em determinada área de acordo com o estado atual do solo,
cobertura vegetal, restos culturais e umidade do solo. Para cada dia, as características do
solo e da cobertura vegetal são atualizadas. Quando ocorre uma chuva, com base nas
características atuais do terreno, determina-se se haverá produção de escoamento
superficial. Se houver, o modelo estima a desagregação, o transporte e a deposição das
partículas do solo ao longo da encosta.
Entretanto, mesmo com diversas possibilidades, o modelo WEPP ainda apresenta
algumas limitações: o grande número de parâmetros de entrada necessário para aplicação
do modelo pode limitar a sua utilização em situações onde existem poucos dados, há a
necessidade de treinamento intensivo de pessoal para a efetiva implementação e não pode
ser aplicado para predizer a erosão em voçorocas.
Diante do exposto em relação às aplicações e limitações desses três modelos de
predição da erosão (USLE, RUSLE e WEPP), considera-se a USLE um bom instrumento
para previsão das perdas de solo por erosão. Além de ser uma equação bastante
35
conhecida e estudada, a USLE exige um número de informações relativamente pequeno,
quando comparado aos modelos mais complexos. Assim, a USLE tem sido utilizada como
um guia para os profissionais da área no planejamento dos cultivos, manejos e práticas de
conservação do solo e da água.
Conforme descrito anteriormente, a USLE é um modelo de base totalmente
empírica. Portanto, a sua adaptação para as condições do Brasil está condicionada ao
desenvolvimento de uma base de dados específica para as condições edafoclimáticas
brasileiras. Entretanto, já há no Brasil muitas informações geradas por pesquisadores
brasileiros, as quais têm permitido o uso da USLE para a predição das perdas de solo, em
distintas localidades brasileiras, com um grau de confiabilidade aceitável. Portanto, a USLE
é o modelo de predição da erosão mais utilizado no Brasil, onde é conhecido como
Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS).
36
Capítulo 7
Equação Universal de Perdas de Solo
Cada fator foi introduzido ao modelo para representar os processos críticos que
podem afetar a perda de solo em determinada encosta. Os fatores R, K, L e S são
dependentes das condições naturais, já os fatores C e P são fatores antrópicos,
relacionados às formas de ocupação e uso dos solos.
37
desagregação do solo, enquanto a máxima intensidade da chuva num intervalo de 30
minutos (I30) representa a sua capacidade de transporte das partículas desagregadas.
Para se obter o valor da energia cinética da chuva (E), expressa em MJ ha-1,
multiplica-se a energia cinética da chuva (Ec) para cada milímetro precipitado pela
respectiva precipitação (P), de acordo com a equação a seguir.
E = Ec P
onde:
E = energia cinética da chuva (MJ ha-1)
Ec = energia cinética associada à chuva que incide sobre uma área (MJ ha-1 mm-1)
P = precipitação (mm)
A energia cinética associada à chuva que incide sobre uma área (Ec), expressa em
MJ ha-1 mm-1, é obtida pela equação a seguir.
Ec 0,119 0,0873 log I
onde:
I = intensidade da chuva (mm h-1)
38
A erosividade da chuva ou potencial erosivo de uma região é calculada como o
somatório dos valores anuais de EI30 dividido pelo número total de anos em que os valores
foram coletados, conforme a equação abaixo.
1 n
R EiI30i
N i 1
onde:
R = fator de erosividade da chuva (MJ mm ha-1 h-1)
N = número de anos computados
n = número de chuvas erosivas nos N anos computados
E = energia cinética da chuva (MJ ha-1)
I30 = máxima intensidade da chuva num intervalo de 30 minutos (mm h-1)
39
de largura, numa área mantida descoberta (C = 1) e preparada morro abaixo (P = 1). Em
seguida, inicia-se a aplicação da chuva artificial, com a utilização do simulador de hastes
rotativas, de acordo com o procedimento recomendado a seguir:
- realiza-se a 1ª chuva artificial com intensidade constante de 60 mm h-1, durante
60 minutos;
- 24 horas após a 1ª chuva, realiza-se a 2ª chuva artificial com intensidade constante
de 60 mm h-1, durante 30 minutos;
- 15 minutos após a 2ª chuva, realiza-se a 3ª chuva artificial com intensidade
constante de 120 mm h-1, durante 18 minutos.
Durante a ocorrência das chuvas artificiais, coletam-se amostras da enxurrada para
a quantificação das perdas de solo e água por erosão.
Deve-se ressaltar que a chuva artificial não reproduz fielmente a distribuição de
tamanhos de gotas de uma chuva natural de mesma intensidade e duração. Considera-se
que a energia cinética de uma chuva artificial é 78% menor do que a energia cinética de
uma chuva natural de mesmas características. Por isso, para o cálculo da energia cinética
da chuva artificial, utiliza-se o fator de correção (0,78), conforme a seguinte equação.
Ec 0,78 0,119 0,0873 logI
onde:
Ec = energia cinética para cada mm de chuva artificial (MJ ha-1 mm-1)
I = intensidade da chuva (mm h-1)
40
devido à facilidade de determinação dos parâmetros do solo, por meio de análises
laboratoriais. As duas equações, propostas por Denardin (1990) para a determinação do
fator K estão apresentadas a seguir.
K = 0,006084 P + 8,34286 x 10-4 MO – 1,1616 x 10-4 Al – 3,776 x 10-5 PART
onde:
K = fator de erodibilidade do solo (t h MJ-1 mm-1)
P = código referente à permeabilidade (adimensional) (Quadro 7.1)
MO = teor de matéria orgânica (g kg-1)
Al = teor de Al2O3 da fração TFSA extraído pelo ataque sulfúrico (g kg-1)
PART = partículas com diâmetro entre 0,5 e 2,0 mm (g kg-1)
41
O fator topográfico pode ser estimado pela equação a seguir.
m
L
LS 65,41sen 4,56 sen 0,065
2
22,13
onde:
LS = fator de comprimento e declividade de encosta (adimensional)
L = comprimento da encosta (m)
m = parâmetro de ajuste que varia em razão da declividade da encosta (Quadro 7.2)
= ângulo de inclinação da encosta (graus)
42
valores do LS para cada segmento (LSi) e da fração de perda de solo correspondente ao
referido segmento (fi), para finalmente, calcular o LS.
A fração de perda de solo para cada segmento é calculada pela seguinte equação.
im 1 i 1
m 1
fi
Nm 1
onde:
fi = fração de perda de solo do segmento i
i = número do segmento
m = expoente em função da declividade da encosta do segmento i (Quadro 7.2)
N = número total de segmentos de mesmo comprimento no qual a encosta foi dividida
d1 d2 d3 d4 d d1 d2 d3 d4
L1 = L2 = L3 = L4 L1 = L2 = L3 = L4
L L L
n n
LS i x fi LS i x fi
LS
i 1 LS = (L/22,13)m (65,41 sen2 LS
i 1
n n
+ 4,56 sen + 0,065)
f
i 1
f
i 1
43
O fator uso e manejo do solo (C) é a relação esperada entre as perdas de solo de
uma área cultivada em dadas condições e as perdas correspondentes de um terreno
mantido continuamente descoberto.
Os efeitos das variáveis uso e manejo não podem ser avaliados
independentemente, devido às diversas interações que ocorrem entre eles. Assim, uma
cultura pode ser plantada continuamente em um mesmo local ou então em rotação com
outras culturas. Seus restos vegetais podem ser removidos, deixados na superfície,
incorporados próximos à superfície ou totalmente enterrados com o preparo do solo. O
preparo do solo pode deixar a superfície do terreno bastante irregular ou lisa. Portanto,
diferentes combinações dessas variáveis certamente apresentam diferentes efeitos nas
perdas de solo.
A efetividade do manejo dos restos culturais dependerá da quantidade de resíduos
existente, que, por sua vez, é função da chuva, fertilidade do solo e manejo da cultura.
A proteção da cobertura vegetal não só depende do tipo de vegetação, da
população de plantas e do seu desenvolvimento como, também, varia grandemente nos
diferentes meses ou estações do ano. A eficácia de reduzir a erosão, portanto, depende
da quantidade de chuvas erosivas que ocorrem durante esse período, quando a cultura e
as práticas de manejo apresentam uma proteção mínima.
O fator C mede o efeito combinado de todas as relações das variáveis de cobertura
e manejo anteriormente citadas. A proteção oferecida pela cobertura vegetal, durante o
seu ciclo vegetativo, é gradual. Para fins práticos, divide-se o ano agrícola em cinco
períodos ou estádios da cultura, definidos de tal modo que os efeitos de cobertura e manejo
possam ser considerados aproximadamente uniformes dentro de cada período, conforme
descrito a seguir:
- período D (preparo do solo): desde o preparo até o plantio;
- período 1 (plantio): do final do período D até um mês após o plantio;
- período 2 (estabelecimento): do final do período 1 até dois meses após o plantio;
- período 3 (crescimento e maturação): do final do período 2 até a colheita;
- período 4 (resíduo): do final do período 3 até o próximo preparo do solo.
Para a determinação do fator C, as intensidades de perdas de solo de cada período
são combinadas com dados relativos à chuva, isto é, em relação à porcentagem de
distribuição do índice de erosão (EI) anual para determinado local (Figura 7.1 e Quadro
7.3).
44
Figura 7.1 Áreas do Estado de São Paulo cuja distribuição do potencial de erosão das
chuvas é uniforme.
Fonte: Bertoni & Lombardi Neto (2005).
Quadro 7.3 Porcentagem do valor médio anual do índice de erosão que ocorre entre 01 de
julho e as datas indicadas para as áreas geográficas mostradas na Figura 7.1.
Área 01/07 01/08 01/09 01/10 01/11 01/12 01/01 01/02 01/03 01/04 01/05 01/06 01/07
1 0 2 3 5 19 30 47 66 82 88 92 97 100
2 0 1 2 4 15 23 42 64 82 92 94 98 100
3 0 1 1 2 10 18 39 62 84 95 97 99 100
4 0 0 0 1 9 21 44 66 84 95 98 99 100
5 0 1 2 3 13 21 45 68 86 95 97 99 100
6 0 1 2 4 12 21 42 65 84 95 97 99 100
7 0 1 2 4 14 24 44 65 83 94 97 99 100
8 0 0 1 4 12 22 42 63 81 95 98 99 100
9 0 2 3 6 17 25 44 65 82 93 96 98 100
10 0 2 5 9 22 30 45 63 78 88 92 96 100
11 0 1 2 5 13 22 38 61 81 94 97 99 100
12 0 2 4 7 18 24 38 59 77 90 95 98 100
13 0 2 4 9 18 27 44 59 74 88 95 99 100
14 0 2 4 7 15 21 31 47 65 81 92 98 100
45
Quadro 7.4 Razão de perdas de solo (rp) entre área cultivada e área continuamente
descoberta.
Cobertura – sequência – manejo rp por estádio da cultura (%)
D 1 2 3 4
milho – contínuo – palha queimada 37 30 21 6 1
milho – contínuo – palha enterrada 23 19 17 4 2
milho – contínuo – palha superfície --- 5 2 1 1
algodão – contínuo – convencional 40 60 40 50 20
soja – contínuo – convencional 35 30 20 20 5
pasto (1º ano) – rotação --- --- 40 --- ---
pasto (2º ano) – rotação --- --- 0,4 --- ---
milho – rotação – após pasto 10 11 8 4 1
milho – rotação – plantio direto após pasto --- 8 5 3 1
soja – rotação após milho 15 12 20 4 3
soja – rotação plantio direto após milho --- 8 10 4 3
algodão – rotação após soja 20 20 30 15 13
cana-de-açúcar (1º ano) – convencional --- --- 15 --- ---
cana-de-açúcar (2º ano) --- --- 0,15 --- ---
%EI rp
i 1
i i
C n
%EI
i 1
i
onde:
C = fator de uso e manejo do solo (adimensional)
n = número de estádios da cultura
i = estádio específico
EI = porcentagem de distribuição do índice de erosão para o estádio específico
rp = razão de perda de solo no estádio específico
46
7.5 Fator de práticas conservacionistas
O fator P é a relação entre a intensidade esperada de perdas de solo com
determinada prática conservacionista e aquelas que ocorrem quando a cultura está
plantada no sentido do declive (morro abaixo). Os valores de P para algumas práticas
conservacionistas de proteção do solo contra a erosão estão apresentados no Quadro 7.5.
Para áreas terraceadas, o valor de P deve ser igual aquele para o plantio em contorno.
47
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