Você está na página 1de 158

MINISTÉRIO DA SAÚDE – MS

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE – FUNASA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

INDICADORES BIOLÓGICOS DE QUALIDADE DA ÁGUA


(COLIFORMES TOTAIS, Escherichia coli E
Cryptosporidium) E O IMPACTO DAS DOENÇAS DE
VEICULAÇÃO HÍDRICA: ESTUDO DE CASO – PARQUE
CUIABÁ, CUIABÁ (MT)
Relatório Final

PROGRAMA DE PESQUISA EM SAÚDE E SANEAMENTO

Cuiabá
Julho/2005
ii

APRESENTAÇÃO

O presente projeto foi elaborado através do Programa de Pesquisa em


Saúde e Saneamento, financiado pela Fundação Nacional de Saúde a partir do
Edital de Convocação N.º 001/2000. A equipe executora foi composta por
professores, técnicos e alunos dos Departamentos de Biologia, Engenharia
Sanitária e Ambiental, e Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso –
UFMT.
iii

PARTICIPANTES

Edna Lopes Hardoim – Instituto de Biologia – UFMT


Liliana V. A. Corrêa Zeilhofer – Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental-
UFMT
Peter Zeilhofer – Departamento de Geografia – UFMT
Zoraidy M. de Lima – Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental-UFMT

Alunos
Catarina Oliveira Silva – Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental-UFMT
Gustavo C. Ariano – Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental-UFMT
José F. da Hora Neto – Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental-UFMT
Luciano Pontes – Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental-UFMT
Luis Gustavo T. Molina – Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental-UFMT
Veracilda Ribeiro Alves – Instituto de Biologia - UFMT
Wagner Saff – Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental-UFMT
Wender F. R. da Silva – Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental-UFMT
iv

AGRADECIMENTOS
Aos diretores das escolas do bairro Parque Cuiabá: Sr.ª Eirina Sguarezirutz
(Escola de 1.º Grau “Padre Anchieta”), Sr.ª Argemira Martins da Rocha (Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Salim Felício”), Sr.ª Luci Oliveira Santana
da Silva (Escola Municipal “Padre Raimundo Conceição Pombo Moreira da
Cruz”), Colégio “Fênix” e Escola “Heliodoro Capistrano”, por permitirem a
realização das coletas para as análises de água e coprológicas, bem como o
trabalho em educação ambiental.
Á Companhia de Saneamento da Capital (SANECAP), pelo apoio
incondicional e irrestrito ao projeto.
À Fundação Secretaria Municipal de Saúde (FUSC), pela disponibilização
de dados dos postos de saúde do bairro.
v

RESUMO

Foi realizado um estudo epidemiológico transversal no bairro Parque Cuiabá,


Cuiabá (MT), objetivando uma avaliação sistemática das relações entre fatores
socioeconômicos, infra-estruturais como também ambientais e de indicadores de
qualidade de água e a prevalência de doenças de veiculação hídrica. Objetivaram
a detecção de padrões na qualidade de água e prevalência das doenças,
inclusive análises da distribuição espacial destes fatores e a geração de modelos
empíricos (regressão logística) para quantificação da importância de fatores
independentes na qualidade da água de abastecimento e prevalência de doenças
de veiculação hídrica e para construção de mapeamentos de risco. O
levantamento de dados primários incluiu caracterização socioeconômica e
higiênico-sanitária (enquete), monitoramento de qualidade de água nos
domicílios, escolas e estação de tratamento de água e análises coprológicas. O
estudo foi completado pela aquisição e análise de dados secundários associados
à qualidade de água de consumo (postos de saúde) e dados espaciais tais como
fotografias aéreas, modelo numérico de terreno e representação digital da rede de
abastecimento. O programa educacional, como componente de intervenção visou
a sensibilização da comunidade envolvida sobre questões de comportamento e
de higiene e suas relações com a ocorrência de doenças de veiculação hídrica.
As análises de qualidade de água indicam problemas de contaminação biológica
e elevados valores de turbidez na água de abastecimento, com as piores
condições encontradas nas escolas do bairro. Na enquete foram detectadas
freqüentes reclamações sobre sintomas de doenças de veiculação hídrica e em
26% das amostras coprológicas foram encontradas parasitas intestinais. Foram
comprovadas relações significativas entre variáveis exploratórios e qualidade de
água e incidência de parasitas intestinais, sendo os fatores independentes de
características socioeconômicas, infra-estruturais e ambientais. Entretanto não
puderam ser identificados fatores únicos que pudessem impactar em todos os
tipos de problemas de água e saúde analisados.

Palavras chave: Saúde pública, Saneamento, Água de consumo.


vi

ABSTRACT

A cross-sectional epidemiologic study has been realized in the Parque Cuiabá


district, Cuiabá-MT, objectifying a systematic evaluation of relationships between
socioeconomic, infrastructural as well as environmental explanatory factors and
water quality and prevalence of water-borne diseases. Despite the detection of
patterns and frequencies of water quality problems and disease symptoms, spatial
analysis and model building has been done to quantify causal relationships and
risk mapping. Field work included the characterization of socioeconomic structure,
hygienic behavior and observation on water quality and symptoms of enteric
diseases through structured interviews, supply water quality monitoring at
domiciles, schools and the water treatment station and coprologic survey.
Secondary data from health services have been included an analysis as well as
spatial data sets such as air fotos, digital elevation models and digital
representation of supply network. An educational program as an intervention
component objectified to sensitize the community on questions of hygienic
behavior and its relations with the transmission of water-borne diseases. Water
quality monitoring indicates biological contamination as well as elevated turbity
above legislation, with the worst situation in the ungradate schools of the district.
Community claimed frequent symptoms of enteric diseases and in about 26% of
all coprologic samples of children intestinal parasites have been detected.
Significant relationships between different types of independent factors
(socioeconomic, infrastructure, environmental) and water quality problems and
water-borne diseases have been diagnosed. There could not detected,
nevertheless, one or some unique factors, which seem to cause all kind of water
quality or disease problems.

Keywords: Public health, Sanitation, Supply Water.


vii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Relação entre a mortalidade infantil e a escassez de água potável. ... 9


FIGURA 2 - Localização da área de estudo no perímetro urbano de Cuiabá-MT. 37
FIGURA 3 - Vista de cima do floculador na posição de entrada da água (2002). . 38
FIGURA 4 - Floculador tipo Chicanas (Foto 2002)................................................ 39
FIGURA 5 - Decantadores do tipo fluxo laminar (Foto 2002). ............................... 41
FIGURA 6 - Vista de um dos filtros (Foto 2002). ................................................... 42
FIGURA 7 - Câmara de contato (Foto 2002)......................................................... 42
FIGURA 8 - Cilindros de gás cloro (Foto 2002)..................................................... 43
FIGURA 9 - Tanques de solução (Foto 2002). ...................................................... 43
FIGURA 10 - Laboratório desativado (Foto 2002)................................................. 44
FIGURA 11 - Interface do banco de dados desenvolvido para cadastro de dados
referentes à enquete realizada na área de estudo. ............................................... 50
FIGURA 12 - Características sócio-econômicas dos domicílios amostrados
conforme enquete. ................................................................................................ 56
FIGURA 13 - Nível de escolaridade do chefe de família nos domicílios amostrados
conforme enquete. ................................................................................................ 57
FIGURA 14 - Comprometimento da água de consumo nos domicílios (n: 208),
conforme enquete. ................................................................................................ 58
FIGURA 15 - Relatos de sintomas associados a doenças de veiculação hídrica
por habitante nos domicílios (n: 208) no último ano conforme enquete. ............... 59
FIGURA 16 - Total de análises realizadas nas residências (100% correspondem
às 10 coletas projetadas por domicílio). ................................................................ 62
FIGURA 17 - Turbidez da água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cav_:
Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha). .................................................................. 63
FIGURA 18 - Concentração de cloro na água de abastecimento nos domicílios (n:
48), (Cav_: Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha). ............................................... 64
FIGURA 19 - Cor da água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cax_:
Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha). .................................................................. 66
FIGURA 20 - Alcalinidade da água de abastecimento nos domicílios (n: 48),
(Cav_: Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha). ...................................................... 67
viii

FIGURA 21 - Dureza da água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cav_:


Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha). .................................................................. 69
FIGURA 22 - pH da água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cav_:
Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha). .................................................................. 70
FIGURA 23 - Porcentagem de contaminação da água de abastecimento nos
domicílios. Amostras coletadas no cavalete e na torneira da cozinha. ................. 72
FIGURA 24 - Resultados de turbidez da água de consumo escolas. ................... 74
FIGURA 25 - Resultado de nitrato - Escolas abastecidas com poço arteziano .... 76
FIGURA 26 - Resultados das análises de ferro. ................................................... 77
FIGURA 27 - Resultados análises da cor da água de consumo nas escolas e
valores de referência Portarias GM – 1469/00 e 518/04. ...................................... 78
FIGURA 28 - Dureza água consumo escolas. ...................................................... 79
FIGURA 29 - pH água de consumo nas escolas................................................... 80
FIGURA 30 - Razão das amostras com contaminação bacteriológica nas 05
escolas; amostras coletadas nos cavaletes ou saída do poço (Cav_) e cozinhas
(Coz_). .................................................................................................................. 81
FIGURA 31 - Turbidez da água tratada na saída da ETA Parque Cuiabá (Julho até
Dezembro 2002, n: 91). ........................................................................................ 84
FIGURA 32 - Dados bacteriológicos da estação de tratamento de água. ............. 85
FIGURA 33 - NMP/100 ml de Coliformes Totais de água tratada na saída da ETA,
Parque Cuiabá (Julho até Dezembro 2002, n: 91). ............................................... 86
FIGURA 34 - Ocorrências de problemas de saúde potencialmente relacionados
com a qualidade da água; Parque Cuiabá, 01/01/2002 até 31/12/2002 (FUSC,
2002). .................................................................................................................... 87
FIGURA 35 - Ocorrências de parasitoses intestinais em crianças dos domicílios
amostrados (n=39). ............................................................................................... 88
FIGURA 36 - Nível de escolaridade – reclamações de sintomas associados a
doenças de veiculação hídrica. ............................................................................. 90
FIGURA 37 - Relações entre renda e reclamações de sintomas associados a
doenças de veiculação hídrica. ............................................................................. 91
FIGURA 38 - Casos de reclamações de sintomas associados a doenças de
veiculação hídrica entre os entrevistados que consomem ou não água mineral. . 92
ix

FIGURA 39 - Relações entre a qualidade da água observada e sintomas


associados a doenças de veiculação hídrica. ....................................................... 93
FIGURA 40 - Elaboração de dados espaciais básicos – Mapeamento do uso e
ocupação do solo a partir de um mosaico de fotos aéreas. .................................. 98
FIGURA 41 - Elaboração de dados espaciais básicos – Modelo numérico de
terreno (MNT) a partir da interpolação das curvas de nível dos cadastros da
Sanecap (eqüidistância de 5 m). ........................................................................... 99
FIGURA 42 - Elaboração de dados espaciais básicos – Rede de abastecimento,
quadras com rede renovada (até 2002) e domicílios escalonados conforme
números de coletas (cavalete e cozinha). ........................................................... 100
FIGURA 43 - Número médio de quartos por quadra. .......................................... 102
FIGURA 44 - Padrão de construção médio por quadra. ..................................... 103
FIGURA 45 - Distância das quadras da Estação de Tratamento e idade da rede
de abastecimento. ............................................................................................... 104
FIGURA 46 - Estimativa das probabilidades de alterações da Turbidez acima do
limite permissível. ................................................................................................ 107
FIGURA 47 - Estimativa das probabilidades de alterações da Escherichia coli
acima do limite permissível. ................................................................................ 108
FIGURA 48 - Modelação espacial da probabilidade de casos positivos de
parasitoses intestinais em crianças a partir do modelo de RL. ........................... 110
x

ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 1 - Métodos analíticos e equipamentos utilizados para análise da


qualidade da água................................................................................................. 49
TABELA 2 – Comparação das médias para as variáveis de qualidade de água
obtidas para os períodos da cheia e seca (diferenças significativas p<0,05). ....... 73
TABELA 3 - Resultados de testes de significância das regressões logísticas
simples para avaliação das relações entre qualidade de água e fatores sócio-
econômicos obtidos pela enquete. ........................................................................ 95
TABELA 4 - Classificação dos casos de Turbidez acima dos limites da Portaria
1469/2000 a partir do modelo de RL. .................................................................. 106
TABELA 5 - Variáveis do modelo de RL para estimativa da probabilidade de
alterações da turbidez (cozinha dos domicílios) acima dos limites da Portaria
1469/2000 a partir do modelo de RL. .................................................................. 106
TABELA 6 - Classificação dos casos de contaminação com Escherichia coli na
cozinha dos domicílios a partir do modelo de RL. ............................................... 109
TABELA 7 - Variáveis do modelo de RL para estimativa da probabilidade de
contaminação com E. coli na cozinha dos domicílios a partir do modelo de RL. 109
TABELA 8 - Classificação dos casos positivos e negativos de parasitoses
intestinais em crianças do bairro a partir do modelo de RL. ............................... 110
TABELA 9 - Variáveis do modelo de RL para estimativa da probabilidade de casos
positivos e negativos de parasites intestinais em crianças do bairro a partir do
modelo de RL. ..................................................................................................... 111
TABELA 10 -Resultados (%) aos questionamentos sobre a relação da água com
a saúde dos alunos de 1ª e 8ª séries de escolas do bairro Jardim Cuiabá, Cuiabá,
MT. ...................................................................................................................... 112
xi

ÍNDICE DE QUADROS

QUADRO 1 - Ocorrência de óbitos por infecções em relação aos serviços de


saneamento básico. ................................................................................................ 7
QUADRO 2 - Classificação para política de distribuição de água. ........................ 12
QUADRO 3 - Doenças causadas por microrganismos e helmintos que podem
estar presentes em esgotos domésticos. .............................................................. 13
QUADRO 4 - Doenças relacionadas à água. ........................................................ 14
QUADRO 5 - Principais substâncias químicas utilizadas como agentes
floculantes. ............................................................................................................ 25
QUADRO 6 - Tempo de sedimentação de algumas partículas em suspensão na
água. ..................................................................................................................... 28
QUADRO 7 - Tempo de detenção em função da vazão por módulo de tratamento
(valores calculados). ............................................................................................. 40
xii

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................ v
ABSTRACT ........................................................................................................... vi
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
2 OBJETIVOS ................................................................................................. 4
2.1 Geral ............................................................................................................ 4
2.2 Específicos.................................................................................................. 4
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 5
3.1 A Água, o homem e a saúde. ..................................................................... 5
3.2 A água na transmissão de doenças ........................................................ 10
3.2.1 Doenças de origem hídrica ......................................................................... 12
3.2.2 Doenças de transmissão hídrica ................................................................ 13
3.3 Os coliformes como indicadores de contaminação da água ............... 14
3.4 Gestão ambiental e saúde pública .......................................................... 16
3.5 Sistema de abastecimento e tratamento de água .................................. 18
3.5.1 Manancial e captação ................................................................................. 19
3.5.2 Água subterrânea ....................................................................................... 21
3.5.3 A qualidade da água ................................................................................... 22
3.5.4 Tratamento químico das águas .................................................................. 23
3.5.5 Principais produtos químicos utilizados no tratamento de água ................. 24
3.5.6 Coagulação e floculação ............................................................................ 26
3.5.7 Decantação ................................................................................................ 27
3.5.8 Filtração ...................................................................................................... 29
3.5.9 Desinfecção ................................................................................................ 30
3.5.10 Eficiência do tratamento convencional ....................................................... 32
3.6 Aplicação do geoprocessamento na saúde pública.............................. 33
4 ÁREA DE ESTUDO ................................................................................... 35
4.1 Características sócio-econômicas do parque Cuiabá........................... 37
4.2 Principais problemas do bairro Parque Cuiabá ..................................... 38
4.2.1 Infra-estrutura de Abastecimento e Esgotamento Sanitário ................ 38
4.3 Caracterização da ETA ............................................................................. 38
4.3.1 Características Gerais ................................................................................ 38
xiii

4.3.2 Floculação .................................................................................................. 39


4.3.3 Tempo de detenção em função da vazão por módulo ................................ 40
4.3.4 Ligação entre Floculador e Decantador ...................................................... 40
4.3.5 Decantadores ............................................................................................. 40
4.3.6 Filtros .......................................................................................................... 41
4.3.7 Casa de química ......................................................................................... 43
4.3.8 Laboratório ................................................................................................. 44
5 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 45
5.1 Visão geral: Desenho epidemiológico do estudo .................................. 45
5.2 Amostragem dos dados alfanuméricos.................................................. 46
5.3 Levantamento de dados sócio-econômicos .......................................... 46
5.4 Levantamento de dados epidemiológicos ............................................. 47
5.5 Coleta e tratamento das amostras de água ............................................ 48
5.6 Organização e sistematização dos dados alfanuméricos ..................... 49
5.7 Visualização e análise estatística dos dados alfas-numéricos ............ 50
5.8 Análises espaciais .................................................................................... 51
5.8.1 Materiais utilizados ..................................................................................... 51
5.8.2 Interpolação do modelo numérico de terreno (MNT) .................................. 52
5.8.3 Análise de Rede ......................................................................................... 52
5.8.4 Visualização e análise exploratória dos dados ........................................... 52
5.8.5 Modelação espacial .................................................................................... 53
5.9 Metodologia utilizada nas atividades educativas .................................. 55
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................... 56
6.1 Análise exploratória ................................................................................. 56
6.1.1 Caracterização sócio-econômica e sanitária através da enquete............... 56
6.2 Avaliação da qualidade da água das residências .................................. 60
6.2.1 Número de amostras analisadas ................................................................ 60
6.2.2 Turbidez...................................................................................................... 60
6.2.3 Cloro ........................................................................................................... 61
6.2.4 Cor .............................................................................................................. 65
6.2.5 Alcalinidade ................................................................................................ 65
6.2.6 Dureza ........................................................................................................ 68
6.2.7 pH ............................................................................................................... 68
xiv

6.2.8 Variáveis microbiológicas ........................................................................... 71


6.2.9 Comparação da qualidade da água entre os períodos sazonais ................ 72
6.3 Avaliação da qualidade da água das escolas ........................................ 73
6.3.1 Turbidez...................................................................................................... 73
6.3.2 Nitrato ......................................................................................................... 74
6.3.3 Ferro ........................................................................................................... 76
6.3.4 Cor .............................................................................................................. 78
6.3.5 Dureza ........................................................................................................ 78
6.3.6 pH ............................................................................................................... 80
6.3.7 Variáveis microbiológicas ........................................................................... 80
6.4 Avaliação da estação de tratamento de água-ETA ................................ 84
6.4.1 Turbidez...................................................................................................... 84
6.4.2 Variáveis microbiológicas ........................................................................... 85
6.5 Poço profundo da companhia de água da capital (SANECAP) ............ 86
6.6 Levantamento epidemiológico ................................................................ 87
6.7 Relação entre variáveis sócio-econômicas e ambientais e as variáveis
epidemiológicas e qualidade da água através da enquete ................... 89
6.8 Relação entre nível de escolaridade e sintomas associados a doenças
de veiculação hídrica ............................................................................... 90
6.9 Relação entre renda e sintomas associados a doenças de veiculação
hídrica ........................................................................................................ 91
6.10 Relação entre tipo de água consumida e sintomas associados a
doenças de veiculação hídrica ................................................................ 92
6.11 Relações entre qualidade da água e sintomas associados a doenças
de veiculação hídrica ............................................................................... 93
6.12 Relações entre variáveis sócio-econômicos e ambientais e a
qualidade da água analisada ................................................................... 94
6.13 Sistema de informação geográfica ......................................................... 97
6.13.1 Elaboração de dados espaciais básicos ..................................................... 97
6.13.2 Características socioeconômicas, ambientais e infra-estruturais do bairro
Parque Cuiabá. ......................................................................................... 101
6.14 Modelos de regressão binária simples ................................................. 105
6.15 Modelos de regressão binária múltipla ................................................ 105
xv

6.16 Educação ambiental ............................................................................... 111


6.16.1 Relacionando a água com a saúde .......................................................... 111
6.16.2 Análise dos desenhos .............................................................................. 112
7 CONCLUSÕES ........................................................................................ 120
8 JUSTIFICATIVA DE ALTERAÇÕES METODOLÓGICAS ...................... 122
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 123
ANEXOS ............................................................................................................. 134
1

1 INTRODUÇÃO

A poluição das águas é, de longe, o problema ambiental mais sério do


Brasil, onde 80% de todas as doenças e 1/3 dos óbitos são relacionados com a
água contaminada.
Segundo Lora (2000), a interação entre a água e saúde tem sido
apregoada por diversos sábios no mundo antigo e encontra-se preconizada em
muitos códigos religiosos e práticas higiênicas, muitas das quais ainda hoje são
consideradas apropriadas para os dias atuais.
Dias (1998), afirma que o grau de desenvolvimento de um povo pode ser
avaliado pela qualidade da água e dos serviços de saneamento que lhe são
oferecidos.
Embora a relação entre qualidade da água e saúde seja evidente, existe
ainda uma grande lacuna no Brasil no que se refere a estudos que subsidiem uma
avaliação precisa dos múltiplos fatores intervenientes nessa relação e suas
particularidades sócio–econômicas, culturais e ambientais.
Sabe-se que o saneamento faz parte de uma tática geral para obtenção da
saúde e para que se cumpra tal objetivo, é necessário que se desenvolvam
estudos, principalmente nas áreas de conhecimento tradicional, incorporando
seus resultados no cotidiano da gestão do saneamento (BATALHA et al. 1996).
A solução dos problemas de saneamento ambiental e qualidade da água
no Brasil passa muito mais por repensar a gestão destes setores e adotar
medidas como educação ambiental e capacitação e disseminação de tecnologias
do que pela construção de grandes obras de tratamento de água e esgoto.
Branco (1991) relata que antigamente se falava da relação entre
saneamento e saúde, hoje, porém se fala em questões ambientais que englobam
o saneamento e por serem mais complexas, elas exigem uma equipe
multidisciplinar que dá uma visão do todo e possibilita previsões mais embasadas.
Na agenda 21, em seu capítulo 18, o saneamento é abordado como parte
de uma estratégia geral para obtenção da saúde. Para se fazer cumprir os
objetivos da Agenda, é necessário que se desenvolvam pesquisas, principalmente
nas áreas de conhecimento tradicional, incorporando seus resultados no cotidiano
da gestão do saneamento.
2

O Brasil é, na sua generalidade, um país de altos índices de incidência de


doenças intestinais transmitidas pela água. Esses índices se refletem nas
elevadas taxas de mortalidade, em especial nas taxas de mortalidade infantil, que
vem ocorrendo ao longo dos anos, causada pelo desenvolvimento industrial,
crescimento demográfico e ocupação do solo de forma intensa e acelerada,
comprometendo os recursos hídricos destinados ao consumo humano, recreação
e múltiplas atividades, aumentando potencialmente o risco de transmissão de
doenças de origem hídrica (BRANCO, 1999).
Com os avanços da poluição nas últimas décadas, evidenciou-se a
necessidade de se proceder a revisão técnica da legislação, em face dos padrões
de qualidade da água que se queria estabelecer. No final dos anos 80,
começaram a ser elaboradas e revisadas as legislações pertinentes aos padrões
de qualidade das águas, a exemplo da Resolução 20/86 (BRASIL, 1986) do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que, entre outros objetivos,
busca a proteção das águas dos mananciais, e da Portaria n o 36/90 do Ministério
da Saúde (MS, 1990), que estabelece normas e padrões para a qualidade da
água de consumo humano.
Com a promulgação da Portaria 1469 em 20 de janeiro 2000, que substituiu
a Portaria n.º 36 GM do Ministério da Saúde de janeiro de 1990 revisando os
padrões de potabilidade e os procedimentos relativos ao controle e vigilância da
qualidade da água para o consumo humano, houve uma melhor adequação em
relação aos critérios microbiológicos para água de consumo, como já era
recomendado pelos guias OMS, destacando a adoção da variável Escherichia coli
como critério bacteriológico definitivo de caracterização da qualidade da água
para consumo humano. Segundo Bastos et al. (2001), Essa Portaria pretendeu
incorporar ao máximo as informações recentes sobre os riscos associados, por
exemplo, à Giardia lamblia, Cryptosporidium sp. e cianobactérias; os mecanismos
de remoção de patogênicos por meio do tratamento de água; o emprego de
indicadores e as evidências toxicológicas de agravos à saúde decorrentes da
ingestão de substâncias químicas.
Em 25 de março de 2004, o Ministério da Saúde promulgou uma nova
Portaria para potabilidade (Portaria nº 518), entretanto são de conhecimento
público as dificuldades encontradas pelas Companhias de Água e Esgoto em
3

atender até mesmo os critérios menos exigentes da Portaria n.º 36 GM do


Ministério da Saúde.
Dentre outros problemas, estas dificuldades justificam-se no Brasil pelo fato
da qualidade da água estar seriamente comprometida desde o manancial pelos
lançamentos muitas vezes in natura de esgotos domésticos e industriais e
resíduos sólidos e pela falta de regulação do uso e ocupação do solo.
Já nos sistemas de distribuição, a contaminação da água se dá por
diversos fatores associados à descontinuidade do fornecimento, que determina
pressões negativas na rede, a falta de esgotamento sanitário, a baixas pressões
na rede por problemas operacionais e de projeto, a ausência ou manutenção
inadequada da rede, dos reservatórios de distribuição e, principalmente, das
ligações domiciliares de água.
Nos domicílios, a qualidade da água também pode ser comprometida pela
falta ou precariedade das instalações hidráulico-sanitárias, ausência de limpeza
periódica dos reservatórios domiciliares, a inadequação dos recipientes de
armazenamento da água de beber, a prática das pessoas na manipulação da
água, entre outros.
Sem dúvida, ações em saneamento que melhorem ou eliminem esses
problemas confirmam a evidência de que a implementação de sistemas de
abastecimento de água e de esgotamento sanitário causam benefícios à saúde
pública e ao meio ambiente. Uma questão que permanece indefinida, no entanto,
é o conhecimento do comportamento dos diferentes efeitos ao se compararem
realidades diferentes, uma vez que os fatores envolvidos nessa questão podem
ser bastante dinâmicos e muito variáveis de uma realidade à outra.
4

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Avaliar a relação entre as principais variáveis físicas, químicas, físico-


químicas e microbiológicas exigidas para a potabilidade com a ocorrência de
doenças de veiculação hídrica, investigando o grau de dependência entre essas
variáveis e as epidemiológicas e destas com as características sócio-econômicas,
culturais, sanitárias e ambientais.

2.2 Específicos

 Diagnosticar a qualidade da água de abastecimento e de consumo


através de variáveis físicas, químicas e microbiológicas (Coliformes
Totais, Escherichia coli) e suas relações;
 Avaliar os impactos da qualidade da água na saúde pública;
 Analisar a influência das condições sócio-econômicas, infra-estruturais e
ambientais e seus padrões espaciais na saúde pública;
 Investigar os níveis e os fatores determinantes da contaminação
domiciliar, se detectada (entre a água distribuída pela rede ou de poços e
a água de beber);
 Desenvolver métodos para monitoramento e controle de doenças de
veiculação hídrica;
 Investigar a influência da sazonalidade (período seco e chuvoso) na
qualidade da água e na ocorrência de doenças de veiculação hídrica.
 Estudar a relação entre variáveis físico-químicas, indicadores
bacteriológicos, variáveis sócio-econômicas, sanitárias e ambientais e a
ocorrência de doenças;
 Avaliar a relação entre a distribuição espacial de variáveis sócio-
econômicas, sanitárias e ambientais e a ocorrência das doenças.
 Informar à população local sobre as relações entre a qualidade da água e
a saúde.
5

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 A Água, o homem e a saúde.

No corpo humano, a água corresponde a mais de 65% e, em alguns seres


chega a 95%, dessa forma ela é vital para todos os seres vivos no planeta.Mais
de 50% das substâncias que compões os seres humanos são substituídas a cada
ano, o que significa dizer que, em menos de dois anos, já não possuímos nada do
que antes entrava na nossa constituição material (GIORDAN, 1995).
Esse fato, além de suas implicações filosóficas sobre a permanência de
uma “personalidade” que nos caracteriza durante toda uma vida, pode ilustrar,
também, a necessidade de água como simples veículo de transporte material,
uma vez que toda entrada e saída de materiais no nosso organismo são
efetuadas com auxilio da água (BRANCO, 1999).
Grandes quantidades de água também são consumidas em beneficio da
manutenção da temperatura corporal, além de que o ser humano não se satisfaz
apenas com a água que bebe, utiliza-a também para o uso doméstico, como
banho, lavagem de roupas e utensílios e manutenção da casa, quintal e jardim.
Em média, cada pessoa gasta por dia 40 litros de água: bebendo, tomando
banho, escovando os dentes, lavando as mãos antes das refeições etc.
(HESPANHOL, 1999).
A água encontra-se ameaçada pela poluição, pela contaminação e pelas
alterações climáticas que o ser humano vem provocando. Além do perigo que
representa para a saúde e bem-estar do ser humano, a degradação ambiental é
apontada pela Organização Mundial de Saúde como uma importante ameaça ao
desenvolvimento econômico. Em geral, uma pessoa só toma consciência da
importância da água quando ela lhe falta (GIORDAN, 1995).
Segundo OMS (1999), a água tem influência direta sobre a saúde, à
qualidade de vida e o desenvolvimento do ser humano.
“[...] Qualidade de Vida: ”são aqueles aspectos que se
referem às condições gerais da vida individual e coletiva:
habitação, saúde, educação, cultura, lazer, alimentação,
etc..” – “a amplitude do conceito requer uma delimitação
6

quando se o aplica ao meio ambiente, privilegiando os


aspectos que se relacionam mais diretamente à vida como
fato biológico, sem dar igual peso aos outros aspectos do
bem-estar [...]”.
Todas as pessoas, em quaisquer estágios de desenvolvimento e condições
sócio-econômicas têm o direito de ter acesso a um suprimento adequado de água
potável e segura, isto é, que não apresente risco significativo à saúde e seja em
quantidade suficiente para atender a todas as necessidades. Para que se possa
melhorar a saúde pública, é vital que tais condições sejam consideradas como um
todo no momento de se definir e manter programas de qualidade e abastecimento
de água. Ainda assim, a prioridade deve ser, providenciar e garantir o acesso de
toda a população a alguma forma de suprimento de água.
Dentre todos os consumos diários per capta, apenas 2 ou 3 litros são
utilizados, em um país tropical, como bebida ou preparo de alimento. Essa
parcela – bem como a água destinada a higienização corporal – deve ser objeto
da mais rigorosa padronização de qualidade, de modo que não se torne
comprometedora da saúde pública (BRANCO, 1999).
Branco (1991) relata que antigamente se falava da relação entre
saneamento e saúde, hoje, porém, fala-se em questões ambientais que englobam
o saneamento e por serem mais complexas, elas exigem uma equipe
multidisciplinar que dá uma visão do todo e possibilita previsões mais embasadas,
sendo que a preocupação com as questões ambientais é relativamente recente e
surgiu ainda ligada ao saneamento básico.
Em relação à água como transmissora de doenças, (o que já era “intuído”
desde a antiguidade), a “era Pasteur” foi que contribuiu para divisão de opiniões
em dois grandes partidos: os que acreditavam ser as doenças provocadas por
substâncias tóxicas dissolvidas (vegetais venenosos ou em decomposição, a
animais peçonhentos, como aranhas, cobras e sapos existentes, ou propriedades
resultantes do próprio “apodrecimento” da água), e os que, segundo a linha de
Pasteur e Koch, admitiam não ser a água e seus componentes químicos, mas sim
microrganismos originários de outros seres humanos – através de suas fezes – os
verdadeiros agentes infecciosos (HESPANHOL, 1999).
7

No Brasil, uma grande influência do espírito positivista, no final do século


XIX e início do XX, devem ter retardado bastante a admissão dos microrganismos
na água como responsáveis pelas epidemias. É curioso notar como o grande
sanitarista que foi Saturnino de Brito, opõe restrições, já em 1926, à importância
dos organismos patogênicos na água e, apenas em 1927, é feita, pela primeira
vez no Brasil, na cidade de São Paulo, a cloração das águas de abastecimento. O
aspecto mais relevante da questão, entretanto, é o da evidente redução da
incidência de doenças entéricas nas populações, na medida em que estas foram
sendo beneficiadas com o tratamento das águas de abastecimento (CAPOCCHI,
1962).
Segundo Hespanhol (1999), algumas conclusões sobre as relações entre
saúde e saneamento podem ser extraídas da publicação Mortalidade Brasil –
1994 (BRASIL, 1997) relativas à freqüência de óbitos por doenças relacionadas
com a água, quando cruzadas com as informações contidas no Catálogo
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental – CABES XVII relativos aos anos
de 1992/1994 (ABES, 1994), a respeito da situação sanitária de cada
comunidade, em relação à disponibilidade de água de abastecimento e esgotos
municipais (Quadro 1).

Quadro 1 - Ocorrência de óbitos por infecções em relação aos serviços de saneamento


básico.
(1) (2) (3) (4)
Local
% Inf. Int %< 1 Ano % Abast. Água % Sist. Esgoto
Rondônia 2,8 13,0 26,7 0,8
P. velho 2,4 20,0 50,2 2,9
Acre 2,0 8,0 54,3 10,3
R. Branco 2,3 9,0 100,0 66,4
Amazonas 3,0 9,3 90,2 3,7
Manaus 6,4 13,0 98,4 5,5
Roraima 3,0 10,0 61,5 6,2
Boa Vista 2,8 10,0 84,0 9,1
Pará 2,7 10,7 36,4 2,0
Belém 2,5 9,1 - -(*)
Amapá 2,3 5,2 62,4 3,1
Macapá 2,3 5,4 84,4 4,4
Tocantins 1,3 7,2 34,3 -(*)
Palmas 3,0 12,0 - 0,0
Maranhão 1,8 9,8 35,0 -(*)
S. Luís 3,2 9,7 - 6,9
Piauí 2,4 12,8 48,3 -(*)
Terezina 2,8 9,1 - 2,1
Ceará 3,4 14,4 37,7 -(*)
Fortaleza 4,0 20,0 - 6,8
8

Rio Grande do Norte 2,5 13,6 57,6 -(*)


Natal 2,4 10,6 - 7,2
Paraíba 2,2 9,0 57,8 -(*)
João Pessoa 1,6 9,6 96,9 12,8
Pernambuco 4,1 15,4 65,5 39,0
Recife 3,3 15,9 94,1 13,5
Alagoas 2,9 12,7 44,6 64,8
Maceió 4,3 22,6 88,5 6,8
Sergipe 3,9 14,8 60,4 31,5
Aracaju 5,8 16,5 96,2 7,4
Bahia 3,5 16,5 43,7 26,9
Salvador 2,9 14,2 100,0 5,0
Minas Gerais 1,5 7,3 74,1 21,4
Belo Horizonte 1,6 9,3 - 49,2
Esp. Santo 1,2 5,5 73,3 -(*)
Vitória 0,6 4,2 - 22,0
Rio de Janeiro 8,9 6,5 89,8 -(*)
Rio de Janeiro 5,4 6,1 - 54,8
São Paulo 8,1 5,5 83,7 -(*)
São Paulo 7,6 6,5 - 67,3
Paraná 1,7 9,5 80,7 -(*)322,2
Curitiba 1,1 7,4 - -(*)
Sta. Catarina 9,0 6,2 58,9 4,4
Florianópolis 8,3 6,0 - -(*)
Rio G. do Sul 5,1 4,0 69,6 14,0
Porto Alegre 3,4 4,3 - -(*)
Mato Grosso do Sul 2,3 9,9 78,6 7,3
Campo Grande 1,8 7,4 - -(*)
Mato Grosso 1,4 7,7 56,8 36,1
Cuiabá 0,4 1,3 - -(*)
Goiás 1,0 7,1 60,4 26,1
Goiânia 8,4 5,5 85,5 74,1
Brasília 1,1 5,9 88,1 75,1
Obs.: Os (*) indicam ocorrência nos dados do CABES. Em geral, o numero de pessoas
indicadas como beneficiadas por abastecimento de atua é superior ao número de
habitantes mencionados no mesmo catálogo.
(1) – Porcentagem de óbitos devidos a infecções intestinais.
(2) – Porcentagem de óbitos de crianças menores de 1 ano, devido a infecções intestinais.
(3) – Porcentagem de habitantes servidos pro rede de água de abastecimento.
(4) – Porcentagem de habitantes servidos por rede de esgotos.
Fonte: BRASIL (1997); ABES (1994) apud REBOUÇAS et al. (1999).

Os dados, tal como se apresentam, não permitem concluir por uma relação
muito nítida entre a freqüência de óbitos por infecções intestinais e as condições
de saneamento em termos de oferta de água tratada e rede de esgotos. Nota-se,
que os mais altos índices de mortalidade infantil por infecções intestinais ocorrem
no norte e nordeste, regiões onde prevalecem mais temperaturas médias altas. A
ausência de sistemas de esgotos também parece correlacionável, embora com
exceções gritantes, como é o caso de Maceió, com um dos mais altos padrões de
saneamento e que apresenta a mais alta porcentagem de mortes de recém
nascidos causados por infecções intestinais.
9

Países com altíssimas taxas de mortalidade infantil têm reduzida


disponibilidade de águas tratadas, limpas. São os casos do Afeganistão e Serra
Leoa, indicados na Figura 01. Ao contrário, países como EUA e França, com
baixa taxa de mortalidade infantil, têm alta porcentagem da população com
acesso à água limpa.

Figura 1 - Relação entre a mortalidade infantil e a escassez de água potável.


Fonte: Corson, 1993.

Embora na área de Engenharia de Saúde Pública, a FUNASA detenha a


mais antiga e contínua experiência em ações de saneamento no país e atue com
base em indicadores sanitários, epidemiológicos, ambientais e sociais, ainda
pode-se considerar elevados os índices de internações e de morte relacionados
com a má qualidade da água no Brasil. Reforçando esse quadro lamentável, o
mundo ainda apresenta situações de saneamento bastante precárias.
Anualmente, 8 milhões de crianças morrem em decorrência de enfermidades
relacionadas à falta de saneamento, o que significa 913 crianças por hora, 15 por
minuto ou 1 a cada quatro segundos (REVISTA VEJA, 22/dez/01). Das doenças
em crianças menores de 10 anos que sofrem internações hospitalares, 65% estão
associadas à falta de saneamento básico (BNDES, 2000).
Desde maio de 2003, a FUNASA exige que os prefeitos observem os
novos critérios, estabelecidos pela Portaria 225, para aplicação de recursos em
saneamento. Isso porque mudaram os parâmetros que são levados em
consideração nas análises dos projetos encaminhados para Brasília. Os
municípios contemplados têm a infra-estrutura local de saneamento básico e as
condições sócio-ambientais investigados antes de receberem investimentos da
FUNASA. Além disso, também são avaliados os critérios epidemiológicos, ou
seja, a situação das doenças associadas às más condições sanitárias do local.
10

No Brasil, as regiões mais penalizadas pela ausência de serviços de


saneamento básico são a Nordeste e a Norte, nas quais há também um menor
dinamismo das atividades econômicas e os maiores problemas relacionados à
falta de qualidade de vida da população. Uma das conseqüências dessa
precariedade é que essas duas regiões apresentam as maiores taxas de
mortalidade infantil do país. A melhoria da oferta de serviços de saneamento
básico está diretamente vinculada à necessária melhoria da condição de
habitação de quase um terço da população brasileira. Assim, uma política
habitacional que tenha como objetivo a qualidade de vida dos moradores que ela
vai beneficiar deve estar, necessariamente, articulada com a ampliação dos
serviços de saneamento básico. Caso contrário, a pobreza continuará se
manifestando de maneira cada vez mais cruel. Os problemas verificados por
Snow, Pasteur e Koch no século XIX continuam atuais, sobretudo nos países em
desenvolvimento, onde o saneamento básico atinge pequena parcela da
população. Mas a contaminação da água é contornável, desde que se tomem
medidas adequadas, a começar pelo respeito ao meio ambiente e pela ocupação
racional dos espaços.
A percepção de que a maior parte das doenças é transmitida
principalmente pelo contato com a água poluída e esgotos não tratados levaram
os especialistas a procurar em as soluções integrando várias áreas da
administração pública. O Ministério das Cidades irá liberar, neste ano, de 2004 R$
24 milhões para Mato Grosso implantar e ampliar o de sistemas de água,
esgotamento sanitário, lixo e drenagem. Em Mato Grosso, segundo dados da
SES, 75,83% dos domicílios contam com abastecimento de água, 23,43% com
atendimento na remoção de esgoto e 87,85% na remoção de lixo.

3.2 A água na transmissão de doenças

Na natureza não existe água pura, devido à sua capacidade de dissolver


quase todos os elementos e compostos químicos. A água que encontramos nos
rios e lagos ou em poços, contém várias substâncias dissolvidas, como o zinco, o
magnésio, o cálcio e elementos radioativos, dependendo do grau de concentração
11

desses elementos, a água pode ou não ser nociva. Para ser saudável, a água não
pode conter substâncias tóxicas, vírus, bactérias e parasitas (CAVINATO, 1992).
O Brasil é, na sua generalidade, um país de altos índices de incidência de
doenças intestinais transmitidas pela água. Esses índices se refletem nas
elevadas taxas de mortalidade, em especial nas taxas de mortalidade infantil, que
vem ocorrendo ao longo dos anos, causada pelo desenvolvimento industrial,
crescimento demográfico e ocupação do solo de forma intensa e acelerada,
comprometendo os recursos hídricos destinados ao consumo humano, recreação
e múltiplas atividades, aumentando potencialmente o risco de transmissão de
doenças de origem hídrica (BRANCO, 1999).
Somente 30% da população mundial têm garantia de água tratada, sendo
que os 70% restantes dependem de poços e outras fontes de abastecimento
passíveis de contaminação (OMS, 1999).
Segundo COUTO (2004), o Programa Pluri Anual ou PPA (2004-2007) do
atual Governo, prevê um montante de R$ 4,4 bilhões para ser investido em
Saneamento Básico no Brasil, o que deverá beneficiar cerca de 21,4 milhões de
pessoas.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas - ONU (2003) e do
IBGE (2004):
 60 milhões de brasileiros não têm saneamento básico;
 10 milhões não contam com coleta de esgotos;
 16 milhões não possuem coleta de lixo;
 3,4 milhões de residências não têm água encanada, o que atinge 15
milhões de brasileiros;
 1/3 dos municípios com menos de 20.000 habitantes não têm água tratada;
75% têm menos de 10.000 hab.;
 No nível distrital, 12% não tem rede de abastecimento d´água; destes, 46%
se valem de poço raso particular;
 75% dos esgotos coletados nas cidades brasileiras não têm tratamento;
 64% dos municípios brasileiros depositam o lixo coletado em lixões a céu
aberto;
 60% dos municípios sofreram inundações ou enchentes em 2000;
 20% dos municípios têm seu solo corroído por assoreamentos;
12

 Doenças intestinais, como diarréia e verminoses, são a principal causa de


internações no Brasil;
 Cada real investido em saneamento básico poupa quatro em gastos com a
saúde;
 O Brasil desperdiça ainda até 40% da água tratada;
 Cerca de 1/3 dos municípios brasileiros com menos de 20.000 habitantes
não têm água tratada;
 75% têm menos de 10.000 habitantes.
Para fins de política de distribuição de água, considera-se:

Quadro 2 - Classificação para política de distribuição de água.


Aglomerado Urbano
Designação N.ºde habitantes
Povoado < 2.000
Vila 2.000 a 10.000
Cidade > 10.000

O jornal Diário de Cuiabá, no dia 30.04.04, publicou, usando informações


da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), que 20% da população
brasileira não têm acesso à água potável, 40% da água das torneiras não têm
confiabilidade, 50% das casas não têm coleta de esgotos e 80% do esgoto
coletado é lançado diretamente nos rios, sem qualquer tipo de tratamento.
Acrescentando os 40% que não têm água confiável em suas torneiras, 60% da
população brasileira (105 milhões de pessoas) vivem em estado de insegurança
quanto à água que consome.
De acordo com SANCHES (2003), uma série de doenças pode ser
associada à água, seja em decorrência de sua contaminação por excretas
humanas ou de outros animais, seja pela presença de substâncias químicas
nocivas a saúde humana.

3.2.1 Doenças de origem hídrica

São causadas por determinadas substâncias químicas, orgânicas ou


inorgânicas, presentes na água em concentrações inadequadas, em geral
superiores às especificadas nos padrões para água de consumo humano. Essas
13

substâncias podem existir naturalmente no manancial ou resultarem da poluição.


Como exemplo de doenças de origem hídrica, podemos citar o saturnismo,
provocado por excesso de chumbo na água, a metemoglobinemia em crianças,
decorrente da ingestão de concentrações excessivas de nitrato, e ainda outras
doenças de efeitos a curto e longo prazo (SANCHES, 2003).

3.2.2 Doenças de transmissão hídrica

Para estas, a água atua como veículo do agente infeccioso. Os


microrganismos patogênicos atingem a água através das excretas de pessoas ou
animais infectados, causando problemas principalmente no aparelho intestinal do
homem. Essas doenças podem ser causadas por bactérias, fungos, vírus,
protozoários e helmintos. Entre os principais agentes etiológicos implicados em
doenças de transmissão hídrica, incluem-se os relacionados no Quadro 3.

Quadro 3 - Doenças causadas por microrganismos e helmintos que podem estar presentes
em esgotos domésticos.
Organismos Doenças
Bactérias Salmonella typhi Febre tifóide
Salmonella sp Salmoneloses
Shigella Shigeloses (disenteria bacilar)
Escherichia coli patogênica Gastroenterites
Vibrio cholerae Cólera
Legionella pneumophila Doença dos legionários
Leptospira Leptospirose (contato)
Vírus Enterovírus Poliomelite, gastroenterites
Rotavírus Gastroenterites
Vírus da Hepatite A Hepatite A
Adenovírus Doenças respiratórias,
Protozoários Entamoeba histolytica Amebíase
Giárdia lamblia Giardíase
Cryptosporidium parvum Criptosporidiose
Helmintos Ascaris lumbricoides Verminoses
Enterobius vermicularis Verminoses
Taenia saginata Cistecercose
Strongyloides stercolaris Verminoses
Trichuris trichiura Verminoses
Schistosoma mansoni Esquistossomose
Observações: Outros microrganismos patogênicos, se presentes, poderão ser veiculados
Fonte: SANCHES (2003).

No Quadro 4 são apresentadas as taxas globais de morbidade e


mortalidade associados às doenças transmitidas pela água. Os dados, tais como
14

se apresentam, são de uma maneira geral, subestimados, já que foram baseados


em informações enviadas pelos países membros das Organizações das Nações
Unidas, não devendo ser atribuídas exclusivamente ao consumo de água não
potável (HESPANHOL, 1999).
A eficiência do saneamento básico em reduzir as doenças relacionadas
com a água e esgoto foi comprovada no Brasil por vários trabalhos, dentre eles
MARTINS et al. (2000) apud MARTINS et al. (2002), no Vale do Ribeira e do
Médio Paranapanema no Estado de São Paulo e GROSS et al. (1989) apud
MARTINS et al. (2002) em Belo Horizonte.
A aplicação de cloro como meio de desinfecção pode reduzir
consideravelmente a incidência dessas doenças a um custo relativamente baixo,
no entanto, a cloração deve ser feita de maneira controlada, estabelecendo
dosagens adequadas e que não ofereçam riscos à saúde humana.

Quadro 4 - Doenças relacionadas à água.


Número por ano (1993)
Doenças
Casos de doenças Mortes
Cólera 297.000 4.971
Febre tifóide 500.000 25.000
Giardíase 500.000 Baixo
Amebíase 48.000.000 110.000
Doenças diarréicas 1.600.000.000 3.200.000
(idade < ou igual a 5 anos)
Esquistossomose 200.000.000 200.000
Fonte: HESPANHOL (1999).

3.3 Os coliformes como indicadores de contaminação da água

As bactérias do grupo coliforme constituem o indicador de contaminação


fecal mais utilizado, sendo empregadas como parâmetro bacteriológico básico na
definição de padrões para monitoramento da qualidade das águas destinadas ao
consumo humano, bem como para caracterização e avaliação da qualidade das
águas em geral (SANCHES, 2003).
Segundo APHA, WWA (1998), os organismos coliformes são definidos
como bacilos Gram-negativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, não
formadores de esporos, que fermentam lactose com produção de ácido e gás em
15

24-48 horas a 35º C. Neste grupo são incluídos os gêneros: Escherichia,


Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella.
Uma porcentagem elevadíssima – cerca de 95% - dos coliformes
existentes nas fezes humanas e de outros animais é de E. coli. Estudos
realizados demonstraram que as fezes do homem e de animais de sangue quente
são riquíssimas em coliformes e que estas bactérias usualmente não existem em
águas não poluídas. Alguns membros do grupo coliformes podem ocorrer, às
vezes com relativa abundância, no solo e mesmo em plantas, mas, ainda assim,
as águas poluídas praticamente não apresentam estas bactérias.
Uma grande vantagem da utilização dos coliformes como índice de
poluição fecal é o fato de que seu número na água apresenta, com o tempo,
decréscimo praticamente igual ao das bactérias patogênicas intestinais. Os
coliformes são facilmente isolados da água e identificados; as técnicas
bacteriológicas para sua detecção são simples, além de rápidas, econômicas, o
que permite sua aplicação em exames rotineiros para avaliação da qualidade
bacteriológica da água (SANCHES, 2003).
Segundo SANCHES (2003), este grupo de bactérias apresenta as
seguintes vantagens para uso como indicadores de contaminação:
 Encontram-se normalmente no intestino do homem e de animais de sangue
quente;
 São eliminados em grandes números nas fezes (cerca de 300 milhões, por
grama);
 Devido à prevalência do grupo coliforme no esgoto, eles podem ser
prontamente quantificados na água contaminada recentemente por matéria
fecal, através de métodos laboratoriais simples;
 A ausência de coliformes é prova de uma água bacteriologiamente potável.
Ainda segundo a mesma autora este grupo apresenta as seguintes
limitações:
 Alguns dos componentes do grupo coliforme não são de origem
exclusivamente fecal, podendo ser encontrados no solo e vegetação
(Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella);
 Algumas espécies desse grupo podem se multiplicar em águas poluídas,
com elevado teor nutritivo;
16

 Os testes para detecção de coliformes são sujeitos a interferências devido


a outros tipos de bactérias; resultados falso-negativos podem ocorrer
quando espécies de Pseudomonas estão presentes e resultados falso-
positivos também podem ocorrer devido à ação sinérgica de outras
bactérias.
Embora a utilização dos coliformes fecais, em substituição aos totais, tenha
determinado uma melhoria significativa na detecção da contaminação de origem
fecal, logo se tornou evidente a existência de outros coliformes termotolerantes
além de E. coli (principalmente Klebsiella), os quais por não serem de origem
exclusivamente fecal, comprometiam a especificidade deste subgrupo para
finalidade proposta.
Em decorrência disto, as tendências atuais se direcionam para a detecção
específica de E. coli, que é o único componente do grupo coliforme de origem
exclusivamente fecal.

3.4 Gestão ambiental e saúde pública

O conceito de saúde pública tem inspirado definições pouco rigorosas,


simplistas e por vezes abusivas. Muitas vezes denunciam-se situações como de
risco ou comprometimento da saúde pública. Para falar-se realmente na
existência de um problema de saúde pública são necessários muitos
condicionantes, nem sempre reunidos. Em outros casos, dá-se o oposto: sem que
ninguém se dê conta, estão ocorrendo, de fato, problemas de saúde pública
(ROCHA, 1993).
Todavia o ser humano dotado de juízo de valores, raciocínio, poder de
abstração, capacidade de modificar o meio ambiente, pode apresentar
diversidade de comportamento e definir os objetivos que norteiam sua vida. Por
essas razões, o homem distingue-se dos demais seres vivos exigindo a satisfação
de certas características particulares (FORATTINI, 2004).
Nesse contexto está à saúde do indivíduo que, segundo RODRIGUES
(1985), "é à base da boa disposição física e intelectual, da produtividade, do
sucesso social e econômico, da capacidade energética para o domínio de
imensas áreas e conseqüente excelência da atuação individual". A conceituação
17

de saúde pública envolve, no entanto, realidades concretas e definições aceitas


em nível internacional. Tornou-se domínio comum definir saúde como o oposto da
doença, implicando no fato de que gozar daquela significa ter ausência desta.
Interessante é notar, que talvez, mesmo sem conhecer o milenar provérbio árabe,
antes mencionado, técnicos e cientistas inseriram como preâmbulo da
Constituição da Organização Mundial de Saúde - OMS, a definição de saúde
como "o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a
ausência de doença". Na própria amplitude dessa definição transparece a
impossibilidade de dissociar a saúde de uma dimensão maior na qual se insere o
ser humano, o meio ambiente.
Segundo BRANCO (1999), as doenças vinculadas a fatores ambientais
podem ser agrupadas em função de agentes determinantes ou desencadeantes.
Em primeiro lugar está a ausência de saneamento básico: falta de água tratada,
tratamento de esgoto e coleta e tratamento do lixo, falta de serviços de limpeza
pública, más condições de habitação, inexistência de serviços de combate aos
insetos e ratos, ausência de campanhas de erradicação aos cães vadios, má
qualidade do ar e da água decorrente das inexistências de padrões de controle e
fiscalização sobre fontes de poluição etc.
A OMS (1999) estudou questões de saúde ambiental relacionadas com a
ordenação rural e urbana e com a moradia, em resposta ao crescimento das
cidades e aos efeitos secundários do desenvolvimento econômico. Dos 70 países
estudados, 23 possuíam moradia adequada para, no mínimo 75% da sua
população; em 17 países, menos da metade da população urbana apresentava
moradia adequada e em 28 países, para menos da metade da população rural. A
tendência dessa realidade piorava em, no mínimo 20 dos 57 países com
disponibilidades inadequadas de hábitat (SCHAEFER, 1990).
Estudos realizados por Kjellen e McGranahan (1997), do Stockholm
Environment Institute, evidenciam que os principais problemas relacionados ao
hábitat são conseqüências da qualidade d'água, de problemas sanitários e de
contaminação do ar. Trabalhos desenvolvidos pela organização não
governamental ECOFORÇA (2003/2004), identificam grupos de fatores como
condicionantes para problemas de saúde e que mostram que existem infinitas e
complexas interações entre o ambiente e a saúde da população.
18

Nem só da falta d'água nasce o problema do abastecimento. A má


qualidade da água disponível muitas vezes é um fator determinante no quadro de
escassez, sobretudo nas grandes cidades onde a poluição compromete os
mananciais e acarretam inúmeros outros problemas, dos quais os mais visíveis
são as enchentes e as doenças infecciosas. A gravidade do assunto pode ser
percebida pelo que diz o capítulo 18 da Agenda 21 do plano mundial de metas
ambientais estabelecidos na Eco92: "aproximadamente 80% de todas as doenças
de origem hídrica e mais de um terço das mortes em países em desenvolvimento
são causadas pelo consumo de água contaminada" (HARDOIM, 1999).

3.5 Sistema de abastecimento e tratamento de água

Os serviços públicos de abastecimento devem fornecer água sempre


segura e de boa qualidade.
Segundo o documento base para discussão da Agenda 21, elaborado em
2000 pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda
21 Nacional, na área do saneamento – abastecimento de água, esgotamento
sanitário e disposição final de resíduo – o desafio é a universalização do acesso
aos serviços, que pressupõe a garantia de fornecimento e o cumprimento de
normas de qualidade e de preços dos serviços prestados. Há avançada discussão
na sociedade quanto à necessidade da participação do setor privado para a
universalização dos serviços. Todavia, causa preocupação a pouca ênfase dada,
pelos três níveis de Governo, até então titulares dos serviços, ao estabelecimento
dos mecanismos de regulação e controle da prestação dos serviços, atribuição
indelegável do poder público, e condição para a relação de equilíbrio entre o
poder público, o concessionário e os usuários (NOVAES, 2000).
A necessidade de tratamento e os processos exigidos deverão ser
determinados com base nas inspeções sanitárias e nos resultados
representativos de exames e análises, cobrindo um período razoável de tempo, a
implantação da captação do sistema de abastecimento do Parque Cuiabá
contrariou toda a lógica apresentada, pois a água bruta neste local apresenta
qualidade inadequada ao tratamento convencional devido ao lançamento de
efluentes sem tratamento a montante da tomada d’água.
19

3.5.1 Manancial e captação

A captação em rios tem sido em muitas regiões do país, a forma mais usual
de utilização das águas de mananciais de superfície para o abastecimento de
cidades em extensas regiões, principalmente quando a vazão do manancial
subterrâneo é insuficiente para atender a demanda.
Os mananciais urbanos são fontes disponíveis de água, que suprem a
primordial necessidade de abastecimento, uso considerado o mais nobre dentre
os múltiplos usos da água. Entretanto, o desenvolvimento urbano envolve duas
atividades conflitantes: aumento da demanda de água com qualidade e a
degradação dos mananciais urbanos pela contaminação por resíduos urbanos e
industriais.
O Brasil apresentou, ao longo das últimas décadas, um crescimento
significativo da população urbana, gerando cidades com infra-estruturas
inadequadas, com conseqüências a todo o aparelhamento urbano relativo a
recursos hídricos: abastecimento de água, transporte e tratamento de esgotos
cloacal e pluvial (TUCCI, 1999).
Acompanhando o cenário nacional o Estado de Mato Grosso vem, nas
últimas décadas, sofrendo processos de profundas mudanças na sua dinâmica
sócio-econômica, ocasionados pela ocupação desordenada desencadeada pelo
acelerado crescimento populacional, agro-pastoril e industrial.
As alterações da qualidade das águas se fazem sentir mais severamente
nos grandes centros urbanos, como Cuiabá e Várzea Grande, cidades nas quais
a adequação de infra–estruturas sociais como esgotamento sanitário, redes de
distribuição de água, sistemas de tratamento de águas residuárias, entre outras,
não acompanhou proporcionalmente o crescimento populacional.
Um dos reflexos mais graves dessa situação é a poluição das águas do Rio
Cuiabá, mais expressivamente no perímetro urbano, que recebe grande
quantidade de poluentes, principalmente originados de esgoto doméstico não
tratado lançado nos córregos afluentes (LIMA e RONDON, 1994; FIGUEIREDO,
1996; HARDOIM, 1999, LIMA, 2001).
Devido a este fato, o Rio Cuiabá tem recebido especial atenção em virtude
de sua importância no contexto regional. A sua bacia hidrográfica representa o
20

principal pólo de ocupação e desenvolvimento do Estado e é um dos mais


importantes afluentes do complexo Pantanal. O Rio Cuiabá representa, ainda,
95% das fontes de captação de água para o abastecimento da cidade de Cuiabá
e Várzea Grande, principal aglomerado urbano do estado de MT, com uma
população de aproximadamente 650 mil habitantes (LIMA, 2001).
Rebouças et al. (1999) ressaltam que se a escassez quantitativa de água
constitui fator limitante ao desenvolvimento, a escassez qualitativa engendra
problemas muito mais sérios à saúde pública, à economia e ao ambiente em
geral.
Os autores salientam que é praticamente nula a confiabilidade dos
processos convencionais de tratamento de água de mananciais que recebem
esgotos de centros urbanos, efluentes industriais, águas residuais de mineração
ou, simplesmente, o escoamento superficial difuso de bacias hidrográficas onde
se pratica uma agricultura com uso intensivo de insumos químicos, devido à
quase impossibilidade de eliminação adequada da grande variedade de
elementos menores ou traços – neurotóxicos, carcinogênicos, mutagênicos,
teratogênicos, entre outros – que podem estar presentes nas águas de consumo.
Para os autores, águas captadas de bacias hidrográficas não protegidas não são
confiáveis para abastecimento público, pelo fato de meramente atender aos
poucos parâmetros de qualidade estabelecidos pelos padrões gerais de qualidade
ambiental ou de potabilidade para águas de consumo humano.
No Brasil, o lançamento indiscriminado de esgoto doméstico não tratado
ainda é a principal fonte de poluição dos corpos d’água. Nas grandes cidades
como Rio de Janeiro e São Paulo, o lançamento de esgotos domésticos não
tratados constitui cerca de 70% da poluição das águas, sendo os esgotos
industriais responsáveis pelo restante da poluição (JORDÃO e PESSÔA, 1995).
Os lançamentos de esgotos domésticos em coleções hídricas podem ainda
contaminá-los, expondo as pessoas que ingerem essas águas ou as utilizam em
atividades recreacionais, a riscos de aquisição de inúmeras doenças. O esgoto
doméstico contém quantidades significativas de bactérias do chamado “grupo
coliforme”, entre os quais, agentes específicos das doenças de veiculação hídrica
podem estar presentes. De acordo com JORDÃO e PESSOA (1995), a estimativa
21

de contribuição de coliformes totais no esgoto bruto é de 10 9 a 1010/ 100ml, e de


coliformes fecais de 108 a 109/ 100ml.
Não temos visto um acompanhamento sistemático das condições de
poluição dos sistemas hídricos. Há apenas dados disponíveis relativos a algumas
regiões mais críticas (Rio Cuiabá, por exemplo, na cidade de Cuiabá, MT). Os
poucos programas articulados de combate à poluição dos sistemas hídricos estão
restritos à área de saneamento urbano. Carecemos de muitos sistemas
articulados sobre bacias hidrográficas que permitam a adoção de medidas mais
estruturadas de combate à poluição hídrica. Os órgãos estaduais de meio
ambiente, por suas dificuldades financeiras, têm tido uma atuação bastante
limitada nesse campo, embora a Fundação Estadual do Meio Ambiente de Mato
Grosso venha se articulando para implementar, em curto prazo, os Comitês de
Bacias Hidrográficas.
É indispensável e premente estabelecer uma política de gestão integrada
de recursos hídricos para resolver os conflitos de interesses com relação ao uso
da água. Quais parâmetros éticos, mudanças de atitude e comportamento
orientarão um novo contrato social no que diz respeito aos recursos hídricos?
Compreender a dimensão do problema é o primeiro passo para começar a
resolvê-lo. A água ainda tem sido vista como uma fonte de conflitos e
apresentada em termos de catástrofe, escassez e contaminação. Necessitamos
implementar uma agenda política positiva, voltada para uma visão mais
construtiva da água como recurso essencial e compartilhado. Os comitês de
bacias são instrumentos de extrema importância para uma gestão compartilhada
dos recursos hídricos, seja em escala local, nacional ou internacional; sua
constituição ampliada permite e favorece a participação comunitária, oferece uma
instância colegiada para dirimir conflitos oriundos de disputas pelo uso da água e
propicia a cooperação entre nações - comitês de bacias transfronteiriças é uma
realidade.

3.5.2 Água subterrânea

A água subterrânea tende a apresentar na maioria das vezes, excelente


qualidade sanitária, sendo apta ao consumo humano, muitas vezes sem o
22

tratamento prévio. A contaminação ocorre quando algum elemento estranho entra


em contato com a água e coloca em risco a saúde e o bem estar de quem dela
fizer uso.
As águas subterrâneas embora se apresentem de um modo geral bem
protegidas, vem sofrendo uma acelerada degradação da sua qualidade em
decorrência das várias atividades desenvolvidas pelo homem. Das fontes de
contaminação produzidas pelo homem, destacam-se como as mais perigosas: o
esgoto doméstico; o rejeito sólido doméstico; o esgoto industrial; o rejeito sólido
industrial; a agricultura; os cemitérios; os sistemas de armazenamento e
transporte de combustíveis e poços de captação de água subterrânea e de
injeção de rejeitos.
A água subterrânea, além de ser um bem econômico, é considerada
mundialmente uma fonte imprescindível de abastecimento para consumo
humano, para as populações que não têm acesso à rede pública de
abastecimento ou para aqueles que, tendo acesso a uma rede de abastecimento,
têm o fornecimento com freqüência irregular. No Brasil, o aqüífero subterrâneo
abastece 6.549.363 domicílios (19% do total), e, destes, 68,78% estão localizados
na área rural, abrangendo 11,94% de toda a população nacional (IBGE, 1994).
As doenças relacionadas ao uso da água de poços contaminados podem,
ser divididas entre as causadas por agentes biológicos tais como organismos
patogênicos e as causadas por substâncias químicas.

3.5.3 A qualidade da água

A noção de que é possível tratar qualquer água, e de que o tratamento


pode resolver qualquer problema, precisa ser reconsiderada, tendo em vista a
praticabilidade, os custos e a segurança permanente (RICHTER e AZEVEDO
NETTO, 1991).
23

Água pura, no sentido rigoroso do termo, não existe na natureza, pois,


sendo a água um ótimo solvente, nunca é encontrada em estado de absoluta
pureza.
Embora as tecnologias de tratamento tenham tido evolução considerável, a
ponto de se poder dizer que, teoricamente, água de qualquer qualidade possa ser
tratada, já que a potabilidade pode ser conseguida até mesmo pela destilação.
Economicamente, no entanto, nem sempre se pode tratar qualquer água. Além
disso, no Brasil, há normas que regulamentam o uso das águas para
abastecimento publico, em função da qualidade que apresentam (Portaria 518 -
BRASIL, 2004). A escolha do manancial deve ser precedida de um levantamento
sanitário da bacia hidrográfica e de um profundo estudo da qualidade da água
para que a tecnologia de tratamento seja a mais econômica possível (DI
BERNARDO, 1993).
Assim, uma água destinada ao uso doméstico deve atender, inicialmente,
às características do manancial a ser utilizado que, segundo o CONAMA
(BRASIL, 1986), que classifica as águas doces destinadas ao abastecimento
doméstico, após tratamento convencional até a Classe 3. Portanto, a qualidade
que se deseja na água natural e a que se necessita na água de consumo, entre
outros aspectos, vai influir na escolha do manancial e no processo de tratamento
a ser adotado.

3.5.4 Tratamento químico das águas

Muitas das características das águas, consideradas inconvenientes, podem


ser removidas pelo uso de produtos químicos, cuja ação se faz de diversas
maneiras. Alguns produtos são utilizados para reagir entre si ou reagir com a
água e com compostos presentes na água a ser tratada, formando um novo
produto capaz de promover a remoção pretendida. Outros produtos são utilizados
para reagir com compostos que conferem à água características inconvenientes,
formando novos produtos que, ou são solúveis ou não causam os problemas que
eram encontrados. Alguns produtos químicos agem por suas propriedades
químicas ou físicas, alterando o pH da água, evitando fenômenos de corrosão,
impondo sua capacidade de absorção ou destruindo microrganismos.
24

O tratamento químico pode ser feito visando, entre outras, as seguintes


alterações:
 Remoção de partículas em suspensão, obtida mediante produtos capazes
de coagular colóides e de formar partículas floculentas dotadas de grande
capacidade de adsorção. A ação desses produtos pode ser incentivada por
meio de auxiliares de coagulação;
 Ajustagem de ph da água, mediante o uso de álcalis ou ácidos, a fim de
que certas reações ou fenômenos se realizem;
 Redução da corrosividade das águas;
 Remoção de excesso de sais de cálcio e de magnésio, responsáveis pela
natureza das águas, por meio da adição de produtos capazes de com eles
se combinarem, formando compostos insolúveis;
 Redução do teor de compostos presentes na água, pela ação oxidante de
certos produtos;
 Controle de problemas de sabor e de odor por meio de produtos que, ou se
combinam quimicamente com os agentes causadores do problema ou
exercendo uma ação de adsorção, removendo da água;
 Remoção ou controle de desenvolvimento de microrganismos, alcançado
mediante o uso de desinfetantes;
 Adição ou remoção de flúor, a fim de que seu teor na água fique dentro dos
limites em que sua ação é benéfica.

3.5.5 Principais produtos químicos utilizados no tratamento de água

A quantidade de coagulante a ser utilizada é definida no dia a dia da ETA


através do teste do jarro (jar test), onde se monitora a velocidade de agitação, pH,
quantidade do produto químico, temperatura e tempo de decantação. Os
principais agentes coagulantes estão mencionados no Quadro 5.
25

Quadro 5 - Principais substâncias químicas utilizadas como agentes floculantes.


Coagulante Fórmula
Sulfato de Alumínio Al2(SO4)3.18 H2O
Sulfato ferroso FeSO4.7 H2O
Sulfato férrico Fe2(SO4)3
Caparrosa clorada Fe2(SO4)3.FeCl3
Cloreto férrico FeCl3.6 H2O
Aluminato de sódio Na2Al2O4
Fonte: AQUATEC, sd.

 Sulfato de alumínio octadeca hidratado: Também chamado de alumen,


possui peso molecular igual a 666,45 para Al2SO4.18H2O ou 599,77 para
Al2SO4.14,3H2O é o produto mais utilizado. O produto comercial é sólido
cristalino, a pureza é de acordo com o teor de Al2O3, aproximadamente de
17%, a melhor faixa de pH para coagulação depende da quantidade de
sulfato de alumínio utilizado;
 Sulfato ferroso hepta hidratado: Denominado de caparrosa verde, se
apresenta como cristais verdes solúveis na água, o colóide que se forma é
o hidróxido férrico, Fe(OH)3; a faixa de pH, ótima de coagulação, está entre
8,5 e 11;
 Sulfato férrico: Também chamado de “ferri-floc” ou ferrisol, normalmente
utilizado para remover manganês, em valores de pH acima de 9. Em pH
baixo é efetivo na remoção de cor; sua solução é corrosiva colocando em
risco o manipulador, a faixa de atuação está no pH entre 4 a11. É
disponível na forma de material granular marron-avermelhada, muito
solúvel em água (HAMMER, 1975);
 Caparrosa clorada: É obtida pela injeção de gás cloro num tubo contendo
uma solução de sulfato ferroso, na proporção de uma parte de cloro para
7,8 partes de caparrosa. Não necessita de alta alcalinidade para formação
do floco. O efeito coagulante atinge uma faixa de pH que varia de 5 a 9
(HAMMER, 1975; VIANNA, 1992);
 Cloreto férrico hexa-hidratado: Apresenta as mesmas características do
sulfato férrico. A coagulação é decorrente do mecanismo e varredura, com
o pH compreendido entre 6 e 9, sendo a dosagem de cloreto férrico hexa-
hidratado variando entre 27 e 270 mg/L (DI BERNARDO e COSTA, 1993);
 Aluminato de sódio: Sob certas condições o seu uso e vantajoso, porque
não há necessidade de álcali adicional, é muito usado no tratamento de
26

águas para caldeiras. A forma comercial tem pureza de 88%. Em função de


seu preço é mais utilizado como coagulante secundário ou auxiliar de
coagulação é utilizado na faixa de pH de 6,0 a 8,5 (HAMMER, 1975;
BABBIT, DOLAND e CLEASBY, 1976).

3.5.6 Coagulação e floculação

É comum o emprego do termo coagulação como representativo do mesmo


fenômeno expresso pelo termo floculação.
O termo “coagular” provém do latim coagulare, que significa juntar e
flocular origina-se de floculare, que exprime produzir flocos. Portanto:
 Mistura: é o processo através do qual o coagulante é colocado em contato
com toda a massa líquida de forma contínua e homogênea, processo esse
que deverá estar concluído em um intervalo de tempo menor do que o
tempo de reação do coagulante;
 Coagulação: é o processo de formação de coágulos, através da reação do
coagulante, de modo a promover um estado geral de equilíbrio
eletrostaticamente instável das partículas, no seio da massa líquida;
 Floculação: é o processo pelo qual as partículas em estado de equilíbrio
eletrostaticamente instável no seio da massa líquida são forçadas a se
movimentar, a fim de que sejam atraídas entre si formando flocos que, com
a continuidade da agitação, tendem a aderir uns aos outros, tornando-se
pesados, para posterior separação nas unidades de decantação e filtração.
No tratamento de água, a finalidade da coagulação e floculação é
transformar as impurezas que se encontram em suspensão fina, em estado
coloidal ou em solução, bactérias, protozoários e/ou plâncton, em partículas
maiores (flocos) para que possam ser removidas por sedimentação, e/ou filtração
ou, em alguns casos, por flotação.
Coagulação e floculação constituem a parte mais delicada do tratamento
de água para abastecimento. Qualquer falha nesse setor pode acarretar grandes
prejuízos na qualidade e custo do produto distribuído à população.
As unidades de floculação, na maioria das estações de tratamento de água
em funcionamento, precedem aos decantadores, existindo, atualmente, estudos
27

em que a unidade de decantação é eliminada. Neste caso os flocos formados são


removidos através de unidades de filtração ou unidades de flotação. Logicamente
o emprego dessas técnicas está intimamente relacionado às características da
água bruta afluente à instalação.
Geralmente as partículas coloidais presentes na água apresentam os
maiores problemas quando se visa à remoção da cor e turbidez. Isso se deve às
propriedades eletrocinéticas dos colóides e também às características
conseqüentes da dimensão reduzida das partículas.
Há vários tipos de dispersões coloidais, porém, a que apresenta maior
interesse, quando se visa o tratamento de água, é aquela em que se tem uma
fase sólida, dispersa e uma fase líquida; mais particularmente ainda, quando se
tem, como fase dispersante, a água.
No controle da coagulação-floculação, no dia a dia em laboratório, a
turbidez do sobrenadante, proveniente do Ensaio dos Jarros, ainda é considerada
como o parâmetro mais prático para avaliar a sedimentabilidade do floco.

3.5.7 Decantação

Entre as impurezas contidas nas águas naturais encontram-se partículas


em suspensão e partículas em estado coloidal.
Partículas mais pesadas do que a água podem se manter suspensas nas
correntes líquidas pela ação de forças relativas à turbulência (efeito da
turbulência). A decantação ou sedimentação é um processo dinâmico de
separação de partículas sólidas suspensas nas águas.
Os sólidos em suspensão são removidos por sedimentação simples ou
sedimentação por coagulação e filtração. Microrganismos também são removidos
pelos métodos de eliminação de sólidos em suspensão, mas ressalta-se que a
redução dos microrganismos a níveis considerados seguros se obtém com o
processo de desinfecção.
Num fluído em repouso e de baixa densidade, como a água, uma partícula
sob a ação da gravidade, desce verticalmente com movimento acelerado, até que
a resistência do fluído se aproxime, em grandeza, da força propulsora dessa
28

mesma partícula. Quando isso ocorre, a partícula adquire velocidade constante,


denominada velocidade de decantação (DACACH, 1975).
A velocidade de sedimentação é proporcional ao peso e tamanho da
partícula. Como a capacidade de transporte da água é proporcional à sexta
potência da velocidade da água, conclui-se que a velocidade de sedimentação
das partículas é tanto maior quanto menor for à velocidade de escoamento da
água (DACACH, 1975).
A sedimentação simples ocorre de maneira natural, em lagos e represas,
mas é considerada como processo preliminar, para avaliar as cargas sobre os
processos subseqüentes. O problema envolvido, neste processo, é o tempo que
as partículas gastam para depositar, o que inviabiliza somente a sedimentação
simples para retirada da turbidez de um manancial para sua utilização no
abastecimento público.
O Quadro 6 apresenta o tempo de sedimentação de algumas partículas em
suspensão na água.

Quadro 6 - Tempo de sedimentação de algumas partículas em suspensão na água.


Sólidos suspensos Tempo p/ decantação
Areia grossa Segundos
Areia fina Minutos
Barro Horas
Argila anos
Fonte: AQUATEC, sd.

Sedimentação simples não remove cor da água (substâncias dissolvidas ou


estado coloidal). A sedimentação simples é empregada para separar partículas
suspensas com tamanho acima de 10 microns.
A maior parte das partículas e moléculas de substâncias húmicas, que é a
matéria mais finamente dividida, é mantida em suspensão porque possuem carga
elétrica negativa (25 milivolts), que se repelem, além do tamanho diminuto das
partículas. A carga negativa recebe o nome de potencial zeta (AQUATEC, sd).
Na sedimentação, o pH e fator preponderante nas reações para formação
da carga superficial da partícula sólida, ou seja, depende do pH da água. Com o
aumento do pH diminui a concentração de prótons e o equilíbrio nas reações
anteriores desloca-se para a direita, tomando a superfície sólida mais negativa,
enquanto que os grupos carboxílicos, amino e fenólico, geralmente apresentam-
29

se com carga negativa em valores de pH acima de 5 (DI BERNARDO e COSTA,


1993).

3.5.8 Filtração

A filtração consiste em fazer a água atravessar uma camada de material


poroso, que em função do diâmetro dos poros, após a passagem haverá a
remoção das partículas em suspensão e até a carga bacteriana será reduzida.
Através da experiência descobriu-se que após a passagem da água
através da areia, se remove matéria em suspensão e coloidais, alguns
componentes químicos são alterados e até número de microrganismos é
reduzido.
A primeira tentativa de tratamento de água em nível de município que
obteve êxito foi uma construção composta por carvão vegetal, areia e cascalho,
em 1855 em Elizabeth, Nova Jersey. No final de 1860 já haviam 136 estações
semelhantes implantadas. O processo rápido foi patenteado por John W. Hyatt
nos primeiros anos de 1880.
O processo de filtração se baseia em quatro ações: filtração mecânica,
sedimentação e adsorção, efeitos elétricos e alterações biológicas, em menor
nível (BABBITT, DOLAND e CLEASBY, 1976).
A filtração mecânica é considerada como responsável pela remoção de
grandes partículas na superfície da areia. Sendo considerado que é possível que
partículas de qualquer tamanho sejam retiradas em pontos próximos ou nos
pontos de contato entre grãos de areia, caso ocupem uma linha de fluxo próxima
aos pontos de contato, sendo que a remoção de partículas nestes pontos é
chamada de filtração intersticial.
Os espaços vazios entre os grãos de areia, que atuam como diminutas
câmaras de sedimentação, nas quais as forças de gravidade terrestre, da atração
gravitacional das partículas de matéria e a atração eletrostática entre partículas
de cargas diferentes, levam as partículas em suspensão a aderirem às paredes
dos espaços vazios, devido à camada gelatinosa previamente depositada pelas
partículas que foram removidas (BABBITT, DOLAND e CLEASBY, 1976).
30

Já o metabolismo biológico envolve os processos vitais nas células vivas,


estas alterações são mais significativas nos filtros lentos de areia. Num filtro lento
de areia, a maior parte da ação filtrante, ocorre numa camada delgada de material
depositado próximo ou na superfície do filtro. Em um filtro rápido de areia, a
mesma ação filtrante ocorre em todo o leito de areia, sendo que a maior parcela
da ação filtrante ocorre na parte superior do filtro.
Tanto no filtro lento como no rápido, mas especialmente no filtro lento de
areia, existe uma camada gelatinosa, na qual as atividades envolvidas no
processo de filtração, a filtração mecânica, a sedimentação e adsorção, os efeitos
elétricos e as alterações biológicas, ocorrem de maneira mais significante. Esta
camada é denominada schmutzdecke, que significa pele suja (BABBIT, DOLAND
e CLEASBY, 1976).

3.5.9 Desinfecção

Até que a teoria sobre os microrganismos causadores de doenças fosse


estabelecida, em meados de 1880, acreditava-se que os odores eram os meios
pelos quais as doenças eram transmitidas. Portanto, na tentativa de se controlar
os odores é que surgiu a desinfecção, tanto da água como dos esgotos.
Entende-se por desinfecção a destruição de organismos patogênicos,
capazes de produzir doenças, ou de outros organismos indesejáveis. Tais
organismos podem aparecer na água e sobreviver por varias semanas a
temperaturas próximas a 21ºC ou, possivelmente, por vários meses de baixa
temperatura. Além desse fator, sua sobrevivência depende de vários outros:
ecológicos, fisiológicos e morfológicos, incluindo: pH, turbidez, oxigênio,
nutrientes, competição com outros organismos, resistência a substancias tóxicas,
habilidade na formação de esporos, etc.
A desinfecção da água implica na destruição de organismos causadores de
doenças e de outros de origem fecal, mas não é necessariamente a destruição
completa de formas vivas. Este último caso designa-se esterilização, se bem que,
muitas vazes, o processo de desinfecção seja levado a ponto de esterilização.
Entre os fatores que influem na eficiência da desinfecção e,
conseqüentemente, no tipo de tratamento a ser empregado estão:
31

 Espécie e concentração do organismo a ser destruído;


 Espécie e concentração do desinfetante;
 Tempo de contato;
 Características químicas e físicas da água;
 Grau de dispersão do desinfetante na água.
A resistência de algumas espécies de microrganismos para desinfetantes
específicos varia consideravelmente. Bactérias não esporuladas são, por
exemplo, menos resistentes que bactérias formadoras de esporos. A forma
encistada e os vírus, por outro lado, são algumas vezes bastante resistentes.
A concentração dos microrganismos é significante já que um alto número
em dado volume (densidade) apresenta maior demanda de desinfetante. A
aglomeração ou amontoado de organismos pode criar uma barreira para a
penetração do desinfetante.
A morte de organismos por um certo desinfetante, fixando-se os outros
fatores, é proporcional à concentração do desinfetante e ao tempo de reação.
Assim sendo, pode-se trabalhar com altas concentrações e curto tempo ou baixas
concentrações de tempo elevado.
A característica da água a ser tratada tem influência marcante no processo
de desinfecção. Por exemplo, organismos circundados por material em
suspensão, podem tornar-se inatingíveis pelo agente desinfetante. Se o agente
desinfetante for um oxidante, a presença de material orgânico e outros materiais
oxidáveis irão consumir parte da quantidade de desinfetante necessária para
destruir os organismos. Além do caráter químico da água, a temperatura influi no
processo de desinfecção; em geral temperaturas altas favorecem a ação
desinfetante.
O cloro garante um efeito germicida desde o momento em que a água sai
do reservatório de uma Estação de Tratamento até a torneira de casa. Pesquisas
americanas, contudo, relacionam o seu uso com o aumento na incidência de
certos tipos de câncer, como o de fígado. No século passado, antes da adição do
cloro, a água era a maior fonte de contaminação de doenças graves como o tifo e
a hepatite. As Portarias 1469, em dezembro de 2000, e 518 de 25 de março de
2004, também fazem referência aos problemas da cloração nas ETAs sem a
prévia análise de presença de cianobactérias.
32

Alguns países, entre os quais a França, experimentam outras maneiras de


tratar a água, com a aplicação de gás ozônio, cujo efeito, porém, logo cessa. Por
esse motivo, a ozonização, além de ser cara, não funcionaria no Brasil: a água,
que sai limpa de uma estação de tratamento, pode ser contaminada nas caixas
d'água domésticas, cuja limpeza não é fiscalizada. Por isso, na maioria dos
países europeus, a caixa d'água é proibida - a água deve viajar diretamente da
estação de tratamento para as torneiras.

3.5.10 Eficiência do tratamento convencional

A utilização de parâmetros não específicos para avaliar a eficiência de um


sistema de tratamento, bem como a qualidade da água de um determinado
manancial é uma prática comum nas ETAs. O parâmetro turbidez, por exemplo, é
amplamente utilizado nas ETAs para o controle e o monitoramento operacional da
remoção de material particulado. Outros parâmetros deste tipo utilizados
comumente são a cor e a densidade de coliformes termotolerantes. Estes
parâmetros não específicos podem ser uma valiosa ferramenta para uma primeira
avaliação das características da qualidade de águas em mananciais destinados
ao abastecimento público. Também podem ser de grande utilidade para verificar
rapidamente mudanças na qualidade da água dentro do processo de tratamento
(MACEDO, 2001).
Os guias da OMS, desde suas primeiras edições, recomendam o uso
desses indicadores como critério suficiente para a caracterização da qualidade da
água (GALAL-GORCHEV, 1993; OMS, 1999).
A qualidade final da água tratada depende das características do
manancial que fornece, pois alguns compostos químicos tóxicos, sejam de origem
química ou biológica, dificilmente são removidos pelos tratamentos convencionais.
A evolução, tanto das técnicas de análise e monitoramento da água quanto dos
estudos epidemiológicos evidenciam essa limitação do atual sistema convencional
de tratamento de água para abastecimento público (BATALHA, 1998).
33

3.6 Aplicação do geoprocessamento na saúde pública

A concepção do espaço como determinante da saúde humana já foi


reconhecido pela cultura grega, por Hipócrates, em cerca de 300 aC.
Com o desenvolvimento científico e tecnológico das últimas décadas, o
Geoprocessamento e a análise espacial se tornaram ferramentas valiosas no
entendimento das importantes relações entre a localização e a saúde pública,
subsidiando tarefas básicas como prevenção de doenças ou o planejamento de
serviços de atendimento (NAJAR, 1992). Originariamente limitados na sua
capacidade de analisar e modelar quantitativamente fenômenos espaciais, os
Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s) passaram a incluir uma vasta gama
de métodos da geoestatistica, completando as suas capacidades para
armazenamento e manipulação integrada de informações espaciais (geográficas)
e não-espaciais temáticas. Tendo se tornando uma ferramenta completa de
Geoprocessamento/Geocumputação, SIGs subsidiam os três principais
componentes da análise espacial, sendo eles:
 Visualização: explora a capacidade humana de reconhecimentos de
padrões espaciais a partir de mapas temáticos;
 Análise espacial exploratória: técnicas numéricas para detectar padrões
espaciais;
 Modelação espacial e métodos correlatos: explica e pretende extrapolar
e prever padrões espaciais.
A chamada geografia da saúde lida com a exploração, descrição e
modelagem das incidências espaço-temporais das doenças e fenômenos
ambientais relacionados, a detecção e análise de agrupamentos (cluster) e
padrões (pattern), análise de causalidades e a geração de novas hipóteses sobre
as doenças e sua distribuição no espaço (BOULUS eCARSON 2001). As revisões
de Tim (1995) e Hay et al. (2000) incluem diversos exemplos para aplicabilidade
de técnicas de geoprocessamento na geografia da saúde. Um exemplo da
aplicação de SIG para estudos de contaminação e poluição de águas de consumo
relacionadas com a saúde pública foi apresentado por Cech e Montera (2000).
No Brasil, com a difusão mais expressiva de Sistemas de Informação
durante os últimos anos, já pode ser encontrado um acervo respeitável sobre a
34

aplicação de técnicas de geoprocessamento na geografia da saúde. Em seu livro,


Medronho (1993) apresenta uma das primeiras coleções de estudos no Brasil
sobre a aplicabilidade de geoprocessamento na saúde pública. Kubota (2000) dá
uma visão ampla de aplicações recentes de geoprocessamento no Brasil,
mostrando vários exemplos entre outros, das cidades de Curitiba (cadastramento
espacial da ocorrência de doenças), Belo Horizonte (Controle de desnutrição) e
Londrina (controle de doenças infantis). Magalhães et al. (1995) descrevem uma
metodologia para montagem de bases de dados de um sistema de informações
geográficas orientado para a área da saúde. Barcellos e Bastos (1996) fazem
uma avaliação crítica sobre a aplicabilidade de SIG’s também nesta área,
salientando a grande importância de SIG para a combinação de diversas
camadas de informações espaciais.
Nas avaliações espaciais de relações entre risco em saúde e a situação de
abastecimento de água destaca se o trabalho de BARCELLOS (2000), que
analisa diversas camadas de informações em um estudo de caso na cidade de
Rio de Janeiro.
35

4 ÁREA DE ESTUDO

O bairro Parque Cuiabá situa-se na cidade de Cuiabá (Figura 02), capital


do Estado de Mato Grosso e é integrante da bacia hidrográfica do rio Cuiabá que
tem como corpo d’água principal o próprio rio Cuiabá, que drena uma área
aproximada de 28.732 km2 pertencente à bacia do Alto Rio Paraguai
(CAVINATTO, 1995). A região do Médio Cuiabá concentra uma parcela
significativa da população do estado de Mato Grosso, incluindo a capital. Apesar
de encontrar-se muito alterada e também impactada, principalmente pelo uso e
ocupação inadequados de suas terras por atividades econômicas (MESSIAS,
2002).
De acordo com a classificação de Köppen o clima, em toda a BAP, é do
tipo AW Tropical Úmido, com estações de estiagem (maio – outubro) e chuvas
(novembro – abril) bem definidas (FIGUEIREDO, 1996).
O regime térmico da região se caracteriza pela variação da temperatura
com as altitudes, pequenas amplitudes e variação térmica com o decorrer do ano,
exceto entre os meses de maio e setembro quando ocorre o fenômeno chamado
“friagem”, que é o abaixamento brusco da temperatura de 10º a 15º C, devido à
entrada de massas polares oriundas do Continente Antártico (MESSIAS, 2002). A
temperatura média anual é de 28,6ºC, com uma umidade relativa do ar
alcançando até 90% no período chuvoso, segundo Missawa (2000).
A Baixada Cuiabana geomorfologicamente caracteriza-se por relevos
dissecados contendo cristas estruturadas em camadas de quartzitos ou a filões
de quartzo que cortam o Grupo Cuiabá. Apresenta altitudes variando de 100 a
300m e padrão de drenagem predominante dentrítico (MESSIAS, 2002).
Predominam neste trecho solos do tipo Plintossolo, com séria restrição à
drenagem, com argila de baixa atividade, favorecendo o encharcamento
(MISSAWA, 2000).
De acordo com Migliorini (1999), o sistema aqüífero na área de estudo é
composto por duas unidades aqüíferas: uma unidade porosa e granular
sobreposta a uma unidade maciça e fraturada.
36

Na unidade porosa e granular, mais superficial, têm-se solos e manto de


alteração das rochas. Nesta unidade o aqüífero é do tipo livre, homogêneo e
isotrópico.
A unidade maciça e fraturada, mais profunda, se caracteriza pela ausência
de espaços intergranulares na rocha e a água subterrânea encontra-se
armazenada em zonas de descontinuidades (falhas e fraturas) do maciço
rochoso. Nesta unidade o aqüífero é do tipo livre, heterogêneo e anisotrópico.
O Bairro Parque Cuiabá está localizado na região sul da cidade de Cuiabá
(Figura 2), do lado esquerdo da Rodovia MT-040 que dá acesso a Cidade de
Santo Antonio do Leverger, limitando-se com os bairros Parque Atalaia, São
Gonçalo, Beira Rio, Parque Geórgia, Jardim Mossoró, Cohab São Gonçalo,
Residencial Coxipó, além de uma grande área de expansão urbana onde
ocorreram algumas invasões.
O bairro é um conjunto habitacional criado na década de 80, que serviu
como incentivo para novos projetos residenciais e a ocupação definitiva de toda a
região cuiabana. Com uma área de 256,17 hectares, abrigava em 1996 uma
população de 8.582 habitantes (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano
– IPDU; Diretoria de Tecnologia da Informação – DTI), já em 2000 aumentou para
9.362 habitantes (4443 homens; 4919 mulheres), sendo 19,28% de crianças
menores de 14 anos. A população está distribuída em 2.476 domicílios ocupados
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, 2000).
37

Figura 2 - Localização da área de estudo no perímetro urbano de Cuiabá-MT.

4.1 Características sócio-econômicas do parque Cuiabá

 2.401 Domicílios, 9.362 Habitantes (IBGE 2000);


 Bairro de classe média a baixa, renda familiar de mais de 50 % dos
domicílios entre 04 e 10 salários mínimos;
 Abastecido por uma estação de tratamento com captação no rio Cuiabá e
um poço artesiano (100% da população atendida).
38

4.2 Principais problemas do bairro Parque Cuiabá

4.2.1 Infra-estrutura de Abastecimento e Esgotamento Sanitário

Supõe-se que uma das principais causas da má qualidade da água de


abastecimento se deve às condições precárias das redes de abastecimento e
esgotamento sanitário. Até início do ano de 2001, na maior parte do bairro, as
redes se encontravam na mesma vale. É um agravo adicional que em muitos
casos a rede de abastecimento é localizada abaixo da rede esgotamento.
 Interrupções freqüentes e regulares no abastecimento de água;
 Incidência de doenças de veiculação hídrica.]

4.3 Caracterização da ETA

4.3.1 Características Gerais

A ETA Parque Cuiabá possui dois módulos de tratamento de água (Figura


03, 04, 05 e06), contendo cada um deles: 1 floculador, 2 decantadores, 4 filtros e
1 câmara de contato (Figura 07). Esses módulos, são denominados tecnicamente
de ETA 6 e ETA 7, fazendo parte do chamado Sistema Parque Cuiabá.

Figura 3 - Vista de cima do floculador na posição de entrada da água (2002).


39

Figura 4 - Floculador tipo Chicanas (Foto 2002).

É feita na entrada da primeira câmara de floculação (Figura 03), sendo que


originalmente nesta ETA (padrão Sabesp) foi projetada a aplicação de coagulante
na placa de orifício que também servia para medição de vazão. Este dispositivo
não tem bom desempenho devido à oscilação do nível d’água com imprecisão na
medida de vazão, alem de que a medição da vazão de solução não pode ser feita
no interior do tubo. E esta é a razão da mudança da aplicação de coagulante para
a primeira câmara de floculação. A turbulência no local atual de dosagem é
mínima, portanto a mistura rápida é deficiente.

4.3.2 Floculação

É realizados através de floculadores do tipo chicanas (Figura 4) com fluxo


vertical em 44 câmaras de floculação, com dimensão de 0,38 x 0,54 m, sendo a
velocidade de fluxo de 0,1218 m/s para a vazão de 25 l/s que esta sendo tratada
atualmente e, gradiente de velocidade fixa de 15 s –1 e a dimensão total é de:
- Comprimento - 6,37 m
- Largura - 1,62 m
- Lamina d’água media - 4,67 m
- Volume - 42,16 m3
40

4.3.3 Tempo de detenção em função da vazão por módulo

Quadro 7 - Tempo de detenção em função da vazão por módulo de tratamento (valores


calculados).
Vazão (m3/h) Tempo (segundos) Tempo (minutos)
75 2023,8 33,73
80 1897,2 31,62
85 1785,6 29,76
90 1686 28,10
93,6 1620 27
95 1597,8 26,63
100 1517,4 25,29
110 1380 23
103,32 1468,9 24,48

De acordo com a NBR 12216 (BRASIL,1989), deve-se ter um tempo de


detenção entre 20 e 30 minutos quando a floculação é do tipo hidráulica, portanto
conclui-se que com o aumento de vazão nesta etapa do tratamento não tem muito
problema, pois o tempo de detenção é adequado até para vazão de operação
103,32 m3/h, ou seja, superior em 15 % à vazão de projeto.

4.3.4 Ligação entre Floculador e Decantador

É feita através de canal com orifícios (dez orifícios) com diâmetro de 150
mm, gradiente de velocidade de 18,94 s-1 para a vazão de 103,32 m3/h. De
acordo com a NBR 12216 deve-se ter velocidade máxima de 0,20 m/s e gradiente
de velocidade igual ao da última câmara de floculação que normalmente é inferior
a 20 s-1 e, neste caso, é de cerca de 19 s-1, portanto esta no limite para esta
vazão.

4.3.5 Decantadores

A decantação é feita em dois decantadores do tipo fluxo laminar (Figura 05)


com dimensão de:
- Comprimento - 2,30 m
- Largura - 3,12 m
- Altura - 4,44 m
41

Figura 5 - Decantadores do tipo fluxo laminar (Foto 2002).

A sedimentação ocorre entre módulos de decantação formados por lonas


e, esquadria de madeira para a vazão de 103,32 m 3/h:
- Velocidade entre módulos - 11,998 cm /min
- Velocidade de sedimentação - 1,198 cm /min
- Numero de Reynolds - 98
De acordo com a NBR 12216 a velocidade de sedimentação máxima é de
2,43 cm/min quando a ETA opera com qualidade total. Caso contrario, a
velocidade de sedimentação deve ser de 1,74 cm/min, portanto a decantação está
ocorrendo de forma adequada até para vazão de operação, maior que a de
projeto.

4.3.6 Filtros

Os filtros (Figura 06), são em número de quatro com dimensão unitária de:
- Comprimento - 1,45 m
- Largura - 1,38 m
- Altura - 4,95
42

Figura 6 - Vista de um dos filtros (Foto 2002).

Figura 7 - Câmara de contato (Foto 2002).


43

Para a vazão de operação de 103,32 m3/h, a velocidade de filtração é de


310 m/dia. Este tipo de filtro que é de dupla camada filtrante com velocidade de
filtração de 270 m/dia com leito de antracito e areia tem operação com taxa
declinante e, a lavagem é feita com água filtrada das demais unidades em serviço
para velocidade de lavagem de 0,75 m/min, para vazão de 90 m 3/h que
corresponde a uma expansão de cerca de 28% do material filtrante e superior ao
mínimo de 25 %.

4.3.7 Casa de química

Consta na Casa de Química: cloradores, cilindros de 57kg de gás cloro


(Figura 08), laboratório, tanques de solução e suspensão (Figura 09), banheiro e
estocagem de produtos químicos.

Figura 8 - Cilindros de gás cloro (Foto 2002).

Figura 9 - Tanques de solução (Foto 2002).


44

4.3.8 Laboratório

As análises são realizadas na ETA 2 de Cuiabá, fato que não é


recomendável, pois o operador não tem parâmetros para controle e correção, a
figura 10 apresenta o laboratório.

Figura 10 - Laboratório desativado (Foto 2002).


45

5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 Visão geral: Desenho epidemiológico do estudo

O presente projeto foi desenvolvido como estudo transversal, visando a


obtenção de avaliações gerais das relações entre fatores socioeconômicos, infra-
estruturais e ambientais e a qualidade de água e incidência de doenças de
veiculação hídrica.
A abordagem epidemiológica se enquadra na definição dada por
Paffenbarger (1988), que caracteriza estudos transversais como observações em
um único momento hipotético (‘snapshot studies’). O monitoramento de qualidade
de água de abastecimento, entretanto, abrangeu dois períodos distintos
(seco/chuvoso) que supostamente teriam influência na qualidade de água na
rede. A abordagem convencional foi acrescida de uma componente que objetivou
a avaliação de aspectos espaciais da qualidade de água e prevalência de
doenças no bairro estudado.
O estudo pode ser caracterizado como de observação, sem interferência
da equipe nos fatores determinantes. É composto de componentes descritivos,
objetivando a detecção de padrões e freqüências na qualidade de água e
prevalência das doenças, inclusive análises da distribuição espacial destes
fatores. Um componente analítico procurou a geração de modelos empíricos
(regressão lógistica) para quantificação da importância de fatores independentes
na qualidade de água de abastecimento e prevalência de doenças de veiculação
hídrica e para construção de mapeamentos de risco. O levantamento de dados
primários inclui caracterização socioeconômica e higiênico-sanitária (enquete),
monitoramento de qualidade de água nos domicílios, escolas e estação de
tratamento de água e análises coprológicas. O estudo foi completado pela
aquisição e análise de dados secundários associados à qualidade de água de
consumo (postos de saúde) e dados espaciais tais como fotografias aéreas,
modelo numérico de terreno e representação digital da rede de abastecimento.
Possui, por último, a partir do seu programa educacional, um componente
de intervenção, visando a sensibilização da comunidade envolvida sobre
46

questões de comportamento e de higiene e suas relações com a ocorrência de


doenças de veiculação hídrica.

5.2 Amostragem dos dados alfanuméricos

Através de dados obtidos da prefeitura de Cuiabá e da Agencia Municipal


de Saneamento (SANECAP) foi realizada uma caracterização geral da área de
estudo, com todas as informações disponíveis sobre a situação sócio-econômica
e sanitária do bairro estudado, bem como o detalhamento sobre o abastecimento
de água e esgotamento sanitário (reconhecimento da área de estudo).
A amostragem dos domicílios pesquisados foi realizada em duas fases. Foi
efetuada uma amostragem preliminar (seleção aleatória) de 10% dos domicílios
(214 de 2.141 no total conforme IPDU – Prefeitura, 1996) que investigou questões
como n.º de pessoas residentes, n.º de crianças menores de 14 anos, renda
familiar, abastecimento de água, esgotamento sanitário, grau de escolaridade,
saúde, entre outros (caracterização geral do bairro). Os domicílios da amostragem
preliminar foram agrupados conforme as suas características de procedência da
água, presença ou não de ligações de esgoto e características sócio-econômicas.
Na amostragem preliminar foi aplicada uma segunda amostragem estratificada
que abrangeu 3% dos domicílios (64 domicílios).

5.3 Levantamento de dados sócio-econômicos

Foi desenvolvido e aplicado um questionário (ANEXO A) detalhado nos


domicílios da amostragem estratificada, contendo campos para preenchimento
das seguintes informações:
 Demografia (numero de pessoas, idade dos membros etc.);
 Renda (Rendimento médio do chefe da família, casa alugada/própria, etc.);
 Condição da Habitação (classificação qualitativa, número de banheiros,
quartos);
 Educação (chefes de domicílios alfabetizados, nível de formação dos
membros da família etc.);
47

 Infra-estrutura Urbana e Serviços (fonte da água de abastecimento, seu


armazenamento, água de beber, ligação à rede de esgoto, coleta de lixo);
 Hábitos de higiene;
 Incidência de doenças (para validação e cruzamento com dados adquiridos
pelos agentes da Saúde, SUS);
 Características organolépticas da água servida pela Companhia de
saneamento.

5.4 Levantamento de dados epidemiológicos

No que se refere aos métodos de investigação pode-se afirmar que a


metodologia epidemiológica é utilizada em Saúde Coletiva para descrever a
ocorrência dos efeitos adversos à saúde, analisar a associação ou relação de
causalidade entre exposição a fatores ambientais com indicadores de saúde e
contribuir para ações/intervenções com o intuito de mitigar ou prevenir efeitos
adversos
Foram obtidos junto ao posto de saúde e Secretaria de Vigilância Sanitária
dados disponíveis sobre doenças de veiculação hídrica da comunidade-alvo.
As parasitoses intestinais constituem-se num grave problema de saúde
pública, sobretudo nos países do terceiro mundo, sendo um dos principais fatores
debilitantes da população, associando-se freqüentemente a quadros de diarréia
crônica e desnutrição, comprometendo, como conseqüência, o desenvolvimento
físico e intelectual, particularmente das faixas etárias mais jovens da população
(SALATA et al, 1972; VINHA E MARTINS, 1981; PEDRAZZANI et al, 1998).
Este trabalho priorizou como população de interesse para as análises
coprológicas o grupo de crianças, pela maior susceptibilidade aos agentes e
condições patogênicas.
Foram realizados exames coprológicos para investigar a ocorrência dos
principais parasitos intestinais, assim como a presença de Cryptosporidium em
crianças menores de 14 anos residentes nos domicílios estudados, onde foram
aplicados questionários epidemiológicos (ANEXO B), investigando questões sobre
saúde, hábitos de higiene e qualidade da água consumida pela criança.
48

Os oocistos de Cryptosporidium sp foram determinados nas fezes pelo


método de coloração de KYNIOUN . Este método inclui as seguintes etapas de
trabalho:
1. Fixação do esfregaço (calor ou metanol);
2. Cobrir o esfregaço com solução de fucsina-carbólica durante 5 minutos à
temperatura ambiente;
3. Lavagem;
4. Cobrir a lâmina com álcool-ácido (5%) até todo o corante ser removido;
5. Lavagem da lâmina;
6. Cobrir toda a lâmina com azul de metileno por 3 minutos;
7. Lavagem em água corrente, secagem;
8. Observar ao microscópio óptico em objetiva de imersão (100X).

5.5 Coleta e tratamento das amostras de água

As amostras de água foram coletadas no cavalete (água tratada) e na


torneira da cozinha (água de beber), em 05 escolas no bairro, com freqüência
quinzenal, em dois períodos sazonais.
Foram realizadas coletas nas diferentes etapas de tratamento de água da
ETA, desde a captação até a água tratada na saída do sistema, com freqüência
quinzenal, nos seguintes pontos amostrais:
 Na captação da ETA, situada na margem esquerda do Rio Cuiabá (curso
natural);
 Nas entradas dos dois módulos de tratamento (localizada na primeira
câmara de floculação);
 Na entrada dos decantadores;
 Na entrada dos filtros;
 Na torneira de água tratada dentro do laboratório desativado, que vem do
reservatório de acumulação.
49

A Tabela 1 sintetiza as variáveis analisadas, bem como os respectivos


métodos analíticos e equipamentos utilizados.

Tabela 1 - Métodos analíticos e equipamentos utilizados para análise da qualidade da água.


Variável Método Equipamentos
Ph Eletrométrico PHmetro, Digimed-Dm20
Cloro residual livre (mg/L) Ortotoluidina Kit Cloro
Temperatura Ar, Água (ºC) Termômetro de contato Termômetro c/ coluna Hg., certificado,
escala de 0 a 100º C7 c/ variação
0,1ºC
Cor (Uh) Comp. Visual solução Colorímetro/ Policontrol/ Nessler
padrão de cobalto-platina Quanti 200
Turbidez (uT) Nefelométrico Turbidímetro/Polilab/AP-1000
Alcalinidade (mg/L Potenciométrico com 1. pHmetro/Digime/Dm20
CaCO3) titulação c/ H2SO4 0,02N 2. Bureta automática/ Metrohm
Herisau/ E-1.85-10mL
Condutividade (µS/cm) Laboratório empregando Konduktometer Schott
eletrodo de platina
Dureza mg/L CaCO3 Titulação EDTA Bureta
Fósforo Total (mgP/L) Ácido ascórbico e leitura Espectofotômetro/ Micronal B-375/
colorimétrica Comprimento de onda 660nm
Ferro (mg/L) Colotimétrico Colorímetro/ Policontrol/ Nessler
Quanti 200
Nitrogênio Total (mg/L) Digestão Digestor Buchi – Modelo B435
Nitrito (mg/L) Redução Cadmium Hach – Método 8192
Contagem Geral Bactérias Pour Plate Incubadora e Contador de Colônias –
Heterotróficas (UFC/mL) QUEBEC
Coliformes Totais Substrato Cromogênico e Seladora e Incubadora Bacteriológica
(NMP/100ml) Fluorogênico
Escherichia coli Substrato Cromogênico e Seladora e Incubadora Bacteriológica
(NMP/100ml) Fluorogênico
Exames Parasitológicos Hoffmann et al. Microscópio Óptico
Coloração Kvynioun

As técnicas de coleta e análise de água foram aquelas descritas pelos


Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater - APHA (1998).

5.6 Organização e sistematização dos dados alfanuméricos

Para um manejo eficiente e para facilitar as análises estatísticas os dados


alfanuméricos tais como sócio-econômicos, sanitários, qualidade de água e
ocorrências de doenças etc. foram organizados através de um Sistema
Gerenciador de Banco de Dados (SGBD), o MS Access, versão 2000 (Microsoft).
A Figura 11 mostra a interface do Banco de Dados, desenvolvida para
recebimento dos dados oriundos da enquete.
50

Figura 11 - Interface do banco de dados desenvolvido para cadastro de dados referentes à


enquete realizada na área de estudo.

As análises estatísticas uni- e multivariadas foram realizadas através dos


softwares SPSS, versão 9.0 (SPSS Inc.) e ADE-4, versão 2001 (CNRS).

5.7 Visualização e análise estatística dos dados alfas-numéricos

Além de gráficos simples de valores médios e histogramas foram utilizados


gráficos do tipo Box plot para representação das faixas de distribuição dos valores
de determinadas variáveis (ex. turbidez) por grupos de casos de uma variável
categórica (casa x amostrada). A linha central do Box representa o mediano e os
seus limites definem os quartils de 25% e 75% dos casos da distribuição (50%
dos valores observados se encontram no box). São representados também
51

Outliers e Extremes. Outliers e Extremes são valores que se encontram em uma


distância de até 1.5 ou mais de 3 vezes o tamanho do Box dos quartis (CLEARY,
1984).
Comparações entre dados de qualidade de água nos períodos da seca e
cheia foram realizadas com o teste t para amostras correlatas.

5.8 Análises espaciais

5.8.1 Materiais utilizados

Dados geográficos tais como as localizações dos domicílios amostrados, a


rede viária do bairro etc. foram digitalizados, processados e analisados através os
softwares de Sistema de Informação Geográfica (SIG), o Arc/Info e ArcView
(ESRI). Para análise de padrões e fenômenos espaciais, os dados alfanuméricos
foram associados através de identificadores com os respectivos objetos
geográficos (ex: ocorrência de doenças com os pontos representando os
domicílios amostrados, revestimento das vias com os vetores representando
estas vias, características geológicas com polígonos dos limites destas unidades
etc.).
Foi digitalizada a planta urbana 1:10.000 do bairro com todas as entidades
espaciais (Hidrografia, vias, divisão das quadras, informações plani-altimétricas
etc.), a base cartográfica dos elementos espaciais e o georeferenciamento das
informações temáticas. Foi feita uma atualização da planta (áreas verdes, uso e
ocupação, condições das vias, localização de postos de gasolina etc.) através de
fotos aéreas disponíveis do ano 1999.
Foi digitalizada a partir das plantas 1:5.000 da Agencia de Saneamento
(SANECAP) a rede de abastecimento de água de consumo e atribuído valor
identificador para cada trecho sobre o estado da rede (rede renovada durante os
últimos 02 anos ou rede antiga).
O georeferenciamento das casas foi realizado a partir dos endereços
adquiridos nas enquetes e comparação com as plantas cadastrais do bairro.
52

5.8.2 Interpolação do modelo numérico de terreno (mnt)

O MNT do bairro foi interpolado a partir do algoritmo Topogrid


(HUTCHINSON, 1989), utilizando os dados plani-altimétricos da planta 1:10.000 e
reamostrado para uma resolução horizontal de 10m.

5.8.3 Análise de Rede

Foi avaliada a hipótese da influência da distância das casas da estação de


tratamento. Tende-se a diminuir a pressão nos dutos facilitando a infiltração de
água contaminada na rede de abastecimento, considerando sobretudo que em
muitos casos os dutos de ambas as redes são localizadas nas mesmas valas. Foi
utilizada, para cálculo das distâncias dos domicílios a extensão de ArcView
Network Analyst.

5.8.4 Visualização e análise exploratória dos dados

A visualização espacial dos geo-objetos (casas, quadras) e suas


características (padrão de construção, tipo de abastecimento de água, elevação
etc.) subsidiam a capacidade humana para reconhecimento de padrões espaciais
e deve ser considerada ferramenta essencial na análise da distribuição de
doenças.
Dispõe se, para análise exploratória, além da própria visualização, técnicas
quantitativas que descrevem o agrupamento de objetos no espaço. Salienta-se
que um objeto pode possuir, no mínimo dois tipos de elementos descritivos: um
atributo não-espacial (padrão de construção, número de quartos, elevação) e um
atributo espacial (localização, descritas por um endereço ou coordenadas de um
sistema de coordenadas). A autocorrelação espacial mede a relação entre as
diferenças de atributos não-espacial e a distância entre os objetos. Dois objetos,
que estão localizados próximos e possuem atributos não-espaciais similares são
altamente correlacionados (GOODCHILD, 1986).
53

Foi determinado, neste contexto, para os objetos (casas/quadras) e suas


características não-espaciais, o índice de Moran para teste da existência de
eventuais clusters espaciais.

5.8.5 Modelação espacial

A modelação espacial permite a “explicação” de padrões espaciais e,


conseqüentemente, a estimativa e extrapolação de atributos no espaço. São
disponíveis diversas técnicas da modelagem espacial, entre elas a interpolação e
técnicas da geo-estatística como a krigagem, que permitem, caso comprovado
autocorrelação espacial, a geração de superfícies a partir de observações
pontuais. Estas técnicas necessitam a disponibilidade de observações de alta
densidade espacial e, geralmente, não incluem extrapolações fora da área de
estudo ou a criação de cenários futuros.
Outras abordagens da modelação espacial visam o estabelecimento e
quantificação de relações entre fatores independentes (características sócio-
econômicas, ambientais etc.) e dependentes (ocorrência de doenças). Podem ser
citadas técnicas como redes neuronais, lógica fuzzy ou regressões logísticas.
Regressões logísticas são usadas para investigar associações entre uma
variável resposta (dependente) e um conjunto de possíveis fatores preditivos em
estudos caso-controle com pareamento. Em regressões logísticas a variável
resposta é binária com status 1 para caso e 0 para controle. Sendo um método de
estimativas não-lineares, as variáveis preditivos podem possuir escala métrica ou
não.
Nesta pesquisa foram comparados fatores sócio-econômicos, ambientais e
infra-estruturais com resultados da enquete (reclamações sobre a qualidade de
água, casos de doenças de veiculação hídrica), variáveis analíticas de qualidade
de água e ocorrência de doenças de veiculação hídrica.
A regressão logística é uma transformação não-linear de um a regressão
linear e seu resultado pode ser entendido como uma estimativa da probabilidade
da ocorrência de um evento (no nosso caso a probabilidade de ter casas com
resultados fora dos padrões exigidos pela Portaria 1469/2000 ou ter casos de
doenças de veiculação hídrica).
54

O modelo da regressão logística é dado por:


ln[p/(1-p)] = a + BX + e or
com:
ln: logaritmo natural
p: probabilidade de um evento ocorrer, p(Y=1)
p/(1-p): "odds ratio" (probabilidade do evento dividido pela probabilidade de
não-evento)
ln[p/(1-p)]: logaritmo do “odds ratio”, também chamado "logit"
e:constante do modelo
A partir da estatística de Wald pode ser testada a hipótese que um
coeficiente de uma variável independente esta significantemente diferente de 0. A
estatística de Wald é dada por:
Wald = [B/s.e.B]2
com:
B: coeficiente logit estimado
S.E.: erro padrão do coeficiente
Pode ser calculado também valor "Sig", representando o nível de
significância do(s) coeficiente(s) do modelo logit.
Uma estimativa da qualidade do completo modelo pode ser obtida pela
estatística de chi-squere quadrado baseado na estimativa de verossimilhança
máxima utilizada nos modelos de regressão logística. Pode ser comparada a
probabilidade L0 para o modelo nulo (todos os coeficientes do modelo 0) com a
probabilidade L1 do modelo ajustado. Chi-quadrado e dado por:
Chi-square = -2 * (log(L0 ) - log(L1))
Se o nível de significância (Sig) associado com o valor de Chi-quadrado é
significativo (Sig, 0.05), podemos concluir que o modelo desenvolvido é adapta
aos dados significativamente melhor do que o modelo nulo (WANT, 1995).
Na disponibilidade de planos de informação espaciais, a função resultante
de uma regressão logística pode ser utilizada para extrapolação das
probabilidades de ocorrência.
55

5.9 Metodologia utilizada nas atividades educativas

Após investigarmos os níveis de contaminação domiciliar da água de


consumo, os fatores determinantes dessa contaminação, bem como os resultados
das análises coprológicas, buscamos atingir nosso 12º objetivo, informando à
população local sobre as relações entre a qualidade da água e a saúde, de forma
escolarizada e não escolarizada. Esta última foi feita no momento da entrega dos
resultados dos exames coprológicos e dos laudos com os resultados das análise
conforme modelo anexos C e D , quando orientávamos cada morador para uma
correta higienização das caixas d’ água, bem como os cuidados com a água de
consumo (informação oral e entrega de folhetos explicativos(ANEXO E)).
As atividades escolarizadas consistiram em visita a 3 das 5 escolas do
bairro- Colégio Fênix, Salim Felício e Padre Pombo. Antes da palestra no pátio
das escolas, fizemos uma sondagem com os alunos da 1ª e da 8ª séries, por meio
de questionário aberto e de desenhos.
O questionário aplicado continha as seguintes perguntas:
1) Existe relação entre água e saúde? ( ) sim ( ) não
2) Você acha que a água da sua casa tem qualidade? ( ) sim ( ) não
Por quê?
3) Você consegue relacionar alguma doença na sua família com a falta de
qualidade de água?
Nos desenhos, foi solicitado aos alunos que expressassem suas
percepções de ambiente saudável e ambientes que provocam impactos na saúde
humana. Ao todo, participaram 105 crianças, da 1ª série, e 89, da 8ª.
A equipe retornou às 3 escolas em fevereiro e março de 2005, dezoito
meses após o primeiro contato, atendendo solicitação dos revisores do relatório
original, objetivando verificar a eficiência/impactos da ação educativa anterior.
Naquele momento, conseguimos resgatar 14, 94% (8 alunos da Escola Pe.
Pombo, 11 da Salim Felício e 7 da Fênix) do total dos 194 alunos que haviam
participado da pesquisa inicial. Solicitou-se que respondessem ao mesmo
questionário a fim de investigarmos um amadurecimento na sua percepção da
relação entre água e saúde.
56

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.1 Análise exploratória

6.1.1 Caracterização sócio-econômica e sanitária através da enquete

Os resultados da enquete revelaram que cerca de 36% das famílias têm


rendimento mensal de até 3 salários mínimos, 59% apresentaram renda variando
de 4 a vinte salários mínimos e 5% não informaram a renda mensal, conforme
Figura 12.

Figura 12 - Características sócio-econômicas dos domicílios amostrados conforme


enquete.

Quanto ao nível de escolaridade, a enquete revelou que cerca de 96% dos


entrevistados são alfabetizados, sendo que 41% têm ensino médio completo e
19% têm formação superior (Figura 13).
57

Figura 13 - Nível de escolaridade do chefe de família nos domicílios amostrados conforme


enquete.

Diante dos resultados obtidos através da enquete, constata-se que no


bairro em estudo predominam em maior quantidade famílias entrevistadas com
rendimento mensal a partir de 4 salários mínimos e dos 96% chefes de família
entrevistados alfabetizados, 60% possuem ensino médio completo e nível
superior, o que demonstra um bom nível social e econômico entre os moradores
entrevistados na enquete.
Em relação às características organolépticas da água fornecida, cerca de
28% dos entrevistados alegaram não perceber qualquer alteração, sendo
observadas por 72% dos entrevistados pelo menos uma característica alterada
(Figura 14).
58

Figura 14 - Comprometimento da água de consumo nos domicílios (n: 208), conforme


enquete.

São as características organolépticas da água deferidas através de gosto


salgado, doce, azedo e amargo e as sensações olfativas adquiridas por meio de
sólidos em suspensão, sólidos dissolvidos e gases dissolvidos originários de
matéria orgânica, microrganismos, gases e de despejos domésticos e industriais
(SPERLING, 1996).
A enquete revela que a maioria dos entrevistados reclama de pelo menos
uma das características organolépticas e físico-químicas estabelecidas no
questionário, demonstrando a insegurança dos moradores quanto à confiabilidade
da água fornecida no bairro.
A Figura 15 mostra, segundo a enquete, a ocorrência de sintomas
associados a doenças de veiculação hídrica. Os dados obtidos demonstram que
aproximadamente 51% das famílias entrevistadas relataram a ocorrência de pelo
menos 1 sintoma associado a doenças de veiculação hídrica no último ano.
59

Figura 15 - Relatos de sintomas associados a doenças de veiculação hídrica por habitante


nos domicílios (n: 208) no último ano conforme enquete.

As pesquisas que têm procurado estabelecer as relações entre


saneamento básico e saúde não chegam a definir metodologias que possam ser
aplicadas com o objetivo de avaliar o real impacto que o saneamento exerce
sobre indicadores de saúde. Porém elas fornecem informações importantes a
respeito dessa relação.
De acordo com Médici (1990), o nível sócio-econômico, a estrutura etária e
a presença de serviços de saneamento, dentre outros, são fatores determinantes
nas taxas de morbidade da população.
60

6.2 Avaliação da qualidade da água das residências

Segundo Sperling (1996), a qualidade da água pode ser representada


através de diversos parâmetros que traduzem as principais características físicas,
químicas, biológicas e organolépticas da água.
Os padrões de qualidade da água são estabelecidos no Brasil de acordo
com a Portaria Nº. 518/2004, antecedida pela Portaria1469/2000 do MS/BRASIL,
que define os valores em função do padrão de aceitação para consumo humano.

6.2.1 Número de amostras analisadas

A Figura 16 apresenta a porcentagem de coletas e análises realizadas nas


residências (cavalete e torneira da cozinha). Foi projetado um total teórico de
1280 coletas, sendo elas em 64 domicílios, em 10 datas de coleta com análises
de amostras do cavalete e da torneira da cozinha. Deste total puderam ser
realizadas as análises de 431 amostras. É possível verificar a predominância das
coletas nas torneiras da cozinha totalizando 77% das amostras. 23 % das coletas
não puderam ser realizadas por falta de acesso ao domicílio, mesmo
considerando que caso não for encontrado habitante foi realizada geralmente uma
segunda tentativa de coleta no próximo dia. Mais de 2/3 das coletas que não
puderam ser realizadas nos cavaletes se devem a intermitência na distribuição da
água na rede.

6.2.2 Turbidez

Os resultados das análises de turbidez nos domicílios amostrados (Figura


17) demonstram a ocorrência freqüente de valores maiores que 1, inclusive com
alguns valores maiores que 5, tanto na água da torneira da cozinha, após o
reservatório de acumulação, quanto na água distribuída pela Companhia de
Saneamento, coletada nos cavaletes das residências.
Segundo Richter e Azevedo Netto (1998), a turbidez é uma característica
da água devido à presença de partículas suspensas, com tamanho variando
desde suspensões grosseiras aos colóides, dependendo do grau de turbulência.
61

A presença dessas partículas provoca a dispersão e a absorção da luz, dando à


água uma aparência nebulosa, esteticamente indesejável e potencialmente
perigosa. Pode ser causada por uma variedade de materiais: partículas de argila
ou lodo, descarga de esgoto doméstico ou industrial, que possivelmente estão
associados a compostos tóxicos e principalmente a organismos patogênicos. Este
fenômeno ocorre com certa freqüência em alguns pontos de rede de distribuição
ou em instalações domiciliares (SPERLING, 1996).
A Portaria 1469/2000 do Ministério da Saúde estabelece um limite tolerável
de 5 uT de turbidez para água potável. Em relação às análises realizadas, nota-se
a ocorrência de valores fora dos permitidos, tanto no cavalete, quanto na torneira
da cozinha, nesta ainda mais freqüente, podendo ou não estar relacionados com
a intermitência no fornecimento de água do bairro, ou falhas nos mecanismos de
distribuição tanto da rede quanto das residências e até mesmo falta de limpeza
regular nos reservatórios de acumulação das residências.

6.2.3 Cloro

Os níveis de cloro residual na rede de distribuição são satisfatórios, como


mostra a Figura 18, sendo detectado inclusive nas residências após o reservatório
de acumulação predial. Fica ressaltado níveis de 2,0 mg/L de cloro residual livre
na água dos cavaletes em apenas sete coletas.
(%)

0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100

A01
A05
A18
A19
A20
A21
A24
A32
A36
A39
E01
B09
B11
B16
B23
B27
F03
F08
F11
F12
F18
G03

Cavalete
GZ01
B21
E07
E11
E12
E24
E32
F26
G05
Cozinha

GZ06
G08
GZ03
GZ08
GZ11
GZ13
C03
C06
Figura 16 - Total de análises realizadas nas residências (100% correspondem às 10 coletas projetadas por domicílio).

CD05
CE01
CE02
D14
D23
D10
CE10
D02
D07
62
63

75

70

65

60

55

50

45
Turbidez (uT)

40

35

30

25

20

15

10
CAV_TUR
5 Outliers
COZ_TUR
0
Outliers

CD05
CE01
CE02
CE10
A01
A05
A18
A19
A20
A21
A24
A32
A36
A39
E01
B09
B11
B16
B23
B27

B21
E07
E11
E12
E24
E32

C03
C06

D02
D07
D14
D23
D10
F03
F08
F11
F12
F18

F26
G03

G05
G08
GZ01

GZ06
GZ03
GZ08
GZ11
GZ13
Extremes

PONTO

Figura 17 - Turbidez da água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cav_: Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha).
64

2.2

2.0

1.8

1.6

1.4

1.2
Cloro (mg/l)

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2
CAV_CLOR
COZ_CLOR
0.0
Outliers

CD05
CE01
CE02
CE10
A01
A05
A18
A19
A20
A21
A24
A32
A36
A39
E01
B09
B11
B16
B23
B27

B21
E07
E11
E12
E24
E32

C03
C06

D02
D07
D14
D23
D10
F03
F08
F11
F12
F18

F26
G03

G05
G08
GZ01

GZ06
GZ03
GZ08
GZ11
GZ13
Extremes

PONTO
Figura 18 - Concentração de cloro na água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cav_: Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha).
65

O cloro é um poderoso agente oxidante, com capacidade de penetrar nas


células e de combinar com substâncias celulares vitais, provocando a morte de
microrganismos. No Brasil, a desinfecção de águas de abastecimento em
sistemas públicos é realizada através do cloro e seus compostos (SHIMADA,
1989).
A aplicação de cloro como meio de desinfecção pode garantir
consideravelmente a manutenção da qualidade da água desde que a cloração
seja feita de maneira controlada. Recomenda-se que o teor de cloro residual livre
no sistema de abastecimento esteja entre 0,5 e 2,0 mg/L (PORTARIA
1469/2000MS/BRASIL).

6.2.4 Cor

Os valores de cor estiveram, em geral, dentro do limite máximo permissível


para potabilidade, sendo pontuais os resultados acima deste limite (Figura 19).
Segundo Sperling (1996), esta é uma variável responsável pela coloração
da água, formada por sólidos dissolvidos de origem mineral ou vegetal, tais como
substâncias metálicas de ferro, manganês e outras partículas, provenientes da
decomposição de matéria orgânica ou resíduos industriais e esgoto doméstico.
Não apresentam riscos à saúde, mas possibilita questionamento quanto a sua
confiabilidade.
Seu valor máximo permitido é de 15uH(2) (Portaria 1469/2000), o que nos
possibilita afirmar que, no geral, as amostras analisadas estiveram dentro dos
limites desejáveis.

6.2.5 Alcalinidade

A alcalinidade de uma água indica sua capacidade de neutralizar ácidos,


sendo função das concentrações de carbonatos, bicarbonatos e hidróxidos.
Conseqüentemente é utilizada como indicador destes íons. Influenciam também a
alcalinidade, embora em menor porcentagem e com maior freqüência, boratos,
silicatos, fosfatos e ácidos orgânicos fracos (APHA, 1998). A Figura 20 mostra os
valores determinados para esta variável.
66

75

70

65

60

55

50

45

40
Cor (uH)

35

30

25

20

15

10

5 CAV_COR
Extremes
0
COZ_COR

CD05
CE01
CE02
CE10
A01
A05
A18
A19
A20
A21
A24
A32
A36
A39
E01
B09
B11
B16
B23
B27

B21
E07
E11
E12
E24
E32

C03
C06

D02
D07
D14
D23
D10
F03
F08
F11
F12
F18

F26
G03

G05
G08
GZ01

GZ06
GZ03
GZ08
GZ11
GZ13
Extremes

PONTO

Figura 19 - Cor da água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cax_: Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha).
67

80

75

70

65

60

55
Alcalinidade (mg/l CaCO3)

50

45

40

35

30

25

20

15

10

5 CAV_ALC
COS_ALC
0
Outliers

CD05
CE01
CE02
CE10
A01
A05
A18
A19
A20
A21
A24
A32
A36
A39
E01
B09
B11
B16
B23
B27

B21
E07
E11
E12
E24
E32

C03
C06

D02
D07
D14
D23
D10
F03
F08
F11
F12
F18

F26
G03

G05
G08
GZ01

GZ06
GZ03
GZ08
GZ11
GZ13
Extremes

PONTO

Figura 20 - Alcalinidade da água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cav_: Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha).
68

6.2.6 Dureza

A Figura 21 representa os valores de dureza resultante das análises


realizadas nas amostras coletadas nos cavaletes e na torneira da cozinha dos
domicílios selecionados, apresentando resultados dentro dos limites
estabelecidos.
A dureza da água caracteriza-se pela presença de alguns íons metálicos,
principalmente cálcio (Ca++) e magnésio (Mg++), que em condições de
supersaturação reagem com ânions formando precipitados. É reconhecida pela
sua capacidade de produzir incrustações nos sistemas de água e dificultar a
formação de espumas com o sabão. A dureza pode ser temporária, encontrada
na água pela presença de bicarbonatos de cálcio e magnésio e facilmente
removida, ou permanente, não sendo removidas facilmente (MECCA, 2002).
O limite máximo tolerável de dureza para consumo humano é de 500 mg/L,
estabelecido pela Portaria 1469/2000. Em relação a essa variável os resultados
demonstraram também serem satisfatórios em todas as análises realizadas.

6.2.7 pH

As análises de pH realizadas nos domicílios amostrados (Figura 22)


demonstram estar esta variável dentro dos limites, tanto na água da torneira da
cozinha, após o reservatório de acumulação, quanto para água coletada nos
cavaletes das residências.
O pH é usado universalmente para expressar as condições ácidas [H +] ou
alcalinas (OH-) de uma amostra e é proveniente de sólidos e gases dissolvidos,
provocando corrosão e incrustação (MECCA, 2002).
A Portaria 1469/2000 recomenda que para consumo humano, o pH seja
mantido na faixa de 6,0 a 9,5, sendo ideal principalmente para a ação de
desinfecção do cloro na água. Os resultados de pH apresentados nas análises
estiveram dentro da faixa estabelecida para padrões de potabilidade.
Na Portaria Nº. 518/GM/2004, esta variável não teve seu valor alterado,
continuando a recomendação que, no sistema de distribuição, seja mantido o pH
na faixa de 6,0 a 9,5.
69

300

280

260

240

220

200
Dureza (mg/l CaCO3)

180

160

140

120

100

80

60

40
CAV_DUR
20 Outliers
Extremes
0
COZ_DUR

CD05
CE01
CE02
CE10
A01
A05
A18
A19
A20
A21
A24
A32
A36
A39
E01
B09
B11
B16
B23
B27

B21
E07
E11
E12
E24
E32

C03
C06

D02
D07
D14
D23
D10
F03
F08
F11
F12
F18

F26
G03

G05
G08
GZ01

GZ06
GZ03
GZ08
GZ11
GZ13
Outliers

PONTO

Figura 21 - Dureza da água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cav_: Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha).
70

9.2
9.0
8.8
8.6
8.4
8.2
8.0
7.8
7.6
7.4
pH

7.2
7.0
6.8
6.6
6.4
6.2
6.0 Cavalete
5.8 Outliers
Cozinha
5.6
Outliers

CD05
CE01
CE02
CE10
A01
A05
A18
A19
A20
A21
A24
A32
A36
A39
E01
B09
B11
B16
B23
B27

B21
E07
E11
E12
E24
E32

C03
C06

D02
D07
D14
D23
D10
F03
F08
F11
F12
F18

F26
G03

G05
G08
GZ01

GZ06
GZ03
GZ08
GZ11
GZ13
Extremes

PONTO

Figura 22 - pH da água de abastecimento nos domicílios (n: 48), (Cav_: Cavalete, Coz_: Torneira de cozinha).
71

6.2.8 Variáveis microbiológicas

Na Figura 23 apresenta-se a porcentagem de contaminação da água de


abastecimento nos domicílios, em amostras coletadas no cavalete e na torneira
da cozinha.
Do total de amostras analisadas na água dos cavaletes das residências
amostradas, 27,7% apresentaram contaminação por coliformes totais, e destes,
7,67%, contaminação por Escherichia coli.
Quanto às análises na água oriunda dos reservatórios de acumulação
predial, detectou-se contaminação por coliformes totais em 39,8% das amostras,
sendo que deste total, 16% também apresentaram contaminação por Escherichia
coli.
Estes dados revelam um incremento de 43,68% na contaminação por
coliformes totais entre a água do cavalete e da saída do reservatório de
acumulação predial (torneira da cozinha). Para a contaminação por Escherichia
coli, o incremento na contaminação chega a 108,60%.
Um estudo realizado por Moraes et al. (1999), avaliando a qualidade da
água da rede de distribuição e de beber em um assentamento periurbano em
Salvador - BA, também apontou aumentos significativos na contaminação entre
as amostragens destes diferentes pontos de coleta, com valores de 24, 36% para
coliformes totais e 34,83% para coliformes fecais.
Em atendimento à Portaria 1469, foi realizada a contagem geral de
bactérias heterotróficas em 20% das amostras coletadas, apresentando como
resultados para a água dos cavaletes, 2,13%, com valores acima do permissível e
na água das torneiras da cozinha, 23,4% superior ao limite máximo.
72

Porcentagem contaminação amostras água - residências

45

40

35

30
Amostras (%)

25

20

15

10

0
Cav_CT(NMP/100mL) Cav_CGB(UFC/mL) Coz_E.
coli(NMP/100mL)

Figura 23 - Porcentagem de contaminação da água de abastecimento nos domicílios.


Amostras coletadas no cavalete e na torneira da cozinha.

6.2.9 Comparação da qualidade da água entre os períodos sazonais

As campanhas de coletas de amostras de água nas residências (cavalete e


torneira da cozinha) e nas escolas foram realizadas em dois períodos sazonais
para avaliação de possível interferência da sazonalidade na qualidade da água.
Como mostra a Tabela 2 houve diferenças significativas apenas para as
variáveis, cloro, alcalinidade, dureza e condutividade.
Em virtude de uma piora na qualidade da água do manancial utilizado para
captação no período de chuvas, principalmente quanto aos valores de matéria
orgânica e coliforme (LIMA, 2001; MECCA, 2002), há um aumento na dosagem
de cloro e outros produtos químicos nas diferentes etapas do tratamento, que
podem estar determinando as diferenças significativas destas variáveis.
73

Tabela 2 – Comparação das médias para as variáveis de qualidade de água obtidas para os
períodos da cheia e seca (diferenças significativas p<0,05).

Cheia 01/02 Seca 02 t-value Df P


CAV_CLOR 1,160714 0,802632 3,766614 92 0,0003
COZ_CLOR 0,468254 0,256 5,166668 312 0,0000
CAV_PH 6,676964 6,743684 -0,99578 92 0,3220
COZ_PH 7,148148 7,11264 0,701819 312 0,4833
CAV_COR 6,071429 7,763158 -1,03703 92 0,3024
COZ_COR 6,52381 5,48 1,51561 312 0,1306
CAV_TUR 4,965 6,797632 -1,05357 92 0,2948
COZ_TUR 4,688307 3,722984 1,526006 311 0,1280
CAV_DUR 85,95679 38,88432 9,839358 92 0,0000
COZ_DUR 90,82529 406,7416 -1,46083 312 0,1451
CAV_ALC 25,10536 6,247368 11,38349 92 0,0000
COZ_ALC 29,74746 5,418 35,34842 312 0,0000
CAV_COND 106,2714 92,5 3,166457 92 0,0021
COS_COND 115,3714 93,4496 10,60695 312 0,0000
CAV_CT 3,048214 6,534211 -0,9164 92 0,3619
CAV_EC 0,146429 0 1,139045 92 0,2576
COZ_CT 676,8741 198,4088 1,506375 311 0,1330

6.3 Avaliação da qualidade da água das escolas

6.3.1 Turbidez

Com relação a turbidez, os resultados apontam uma dificuldade das


escolas analisadas em manter a turbidez nos níveis exigidos pela Legislação
vigente para potabilidade. Todas as escolas estudadas apresentaram valores
maiores que 5 uT em alguma amostra analisada (Figura 24).
74

Figura 24 - Resultados de turbidez da água de consumo escolas.

Seguindo recomendações da Portaria 1469/00 (BRASIL, 2000), foram


realizadas para as águas de consumo provenientes de poços artesianos, para
além das variáveis analisadas nos demais pontos amostrais, as variáveis: Nitrato,
Ferro e Dureza.

6.3.2 Nitrato

Este íon geralmente ocorre em baixos teores nas águas superficiais, mas
pode atingir altas concentrações em águas profundas. O seu consumo por meio
das águas de abastecimento está associado a dois efeitos adversos à saúde: a
indução a metemoglobinemia, especialmente em crianças, e a formação potencial
de nitrosaminas e nitrosamidas carcinogênicas (BOUCHARD et al. 1992).
O desenvolvimento da metemoglobinemia a partir do nitrato nas águas
potáveis depende da conversão bacteriana deste para nitrito durante a digestão, o
que pode ocorrer na saliva e no trato gastrointestinal (AWWA, 1990; MATO,
1996).
75

As crianças pequenas, principalmente as menores de três meses de idade,


são bastante suscetíveis ao desenvolvimento desta doença por causa das
condições mais alcalinas do seu sistema gastrointestinal (OLIVEIRA et al. 1987),
fato também observado em pessoas adultas que apresentam gastroenterites,
anemia, porções do estômago cirurgicamente removidas e mulheres grávidas
(BOUCHARD et al. 1992).
No total, 100% das amostras apresentaram valores dentro dos padrões da
Portaria do Ministério da Saúde 1469/00 (BRASIL, 2000), que é de 10mg/l (N-
NO3-). Vale ressaltar que somente dois poços da área foram amostrados.
Alguns autores (ALABURDA e NISHIHARA, 1998), consideram que
concentrações superiores a 3mg N-NO3-/l em amostras de água são indicativos de
contaminação por atividades antropogênicas. No caso do Parque Cuiabá, para as
amostras de água analisadas para os poços que abastecem as escolas, foram
observados valores de nitrato dentro dos limites recomendados pela Portaria
1469/00 (BRASIL,2000).
76

A Figura 25 apresenta os resultados de nitrato para as escolas abastecidas


com poço artesiano.

Figura 25 - Resultado de nitrato - Escolas abastecidas com poço arteziano

A presença de compostos de nitrogênio nos seus diferentes estados de


oxidação é indicativo de contaminação do lençol freático e de possíveis condições
higiênico sanitárias insatisfatórias.

6.3.3 Ferro

Segundo CETESB (1978), praticamente todas as águas potabilizáveis


contêm um pouco de ferro. Esse teor de ferro é de considerável interesse porque
pequenas quantidades afetam seriamente a utilidade da água para algumas
finalidades domésticas e industriais. A fixação de limites para as concentrações
de ferro, não é por razões fisiológicas, pois, em pequenos teores não é molesto
nem aos homens nem aos animais. Com efeito, o corpo humano requer de 5 a 6
miligramas de ferro por dia. O ferro contido na água causa mancha nas
instalações sanitárias e nas roupas lavadas, incrustações nos filtros de poço e
77

obstrução nas canalizações. Concentrações de 1 a 5 ppm na água subterrânea


são comuns, não obstante, segundo Custódio e Llamas (1976), concentrações
acima de 5 ppm podem ser tóxicas para as plantas.
A Figura 26 apresenta os valores de ferro determinados para nas análises
da água de consumo das escolas que têm o abastecimento feito por poços
artesianos.

Figura 26 - Resultados das análises de ferro.

A legislação utilizada neste caso para avaliar a água de consumo


proveniente de poços, foi a Portaria 1469/2000 do Ministério da Saúde (BRASIL,
2000), que estabelece os procedimentos e responsabilidades relativas ao controle
e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de
potabilidade.
A escolha desta portaria advém do fato de que um dos poços analisados
fornece água para consumo humano, e também por não haver legislação
específica que preconize padrões para águas subterrâneas captadas em poços
profundos ou mesmo os do tipo cacimba que são tão comumente utilizados pela
78

população que por vários motivos não tem acesso à água distribuída por
empresas de abastecimento público.
6.3.4 Cor

Na Figura 27 são apresentados os valores determinados para a cor na


água de consumo em todos os pontos amostrais das escolas.

Figura 27 - Resultados análises da cor da água de consumo nas escolas e valores de


referência Portarias GM – 1469/00 e 518/04.

6.3.5 Dureza

Na Figura 28 são apresentados os valores de dureza da água de consumo


nas escolas. A dureza da água caracteriza pela presença de alguns íons
metálicos principalmente cálcio (Ca++) e magnésio (Mg++), que em condições de
super saturação reagem com ânions formando precipitados. É reconhecida pela
sua capacidade de produzir incrustações nos sistemas de água e dificultar a
formação de espumas com o sabão. A dureza pode ser temporária, encontrada
79

na água pela presença de bicarbonatos de cálcio e magnésio e facilmente


removida, ou permanente, não sendo removidas facilmente (MECCA, 2002).
O limite máximo tolerável de dureza para consumo humano é de 500 mg/L
estabelecido pela Portaria 1469/2000.
Em relação a esse parâmetro os resultados demonstraram também serem
satisfatórios em todas as análises realizadas.

Figura 28 - Dureza água consumo escolas.


80

6.3.6 pH

A Figura 29 apresenta os resultados de pH na água de consumo das


escolas, demonstrando estar esta variável dentro dos padrões recomendados.

Figura 29 - pH água de consumo nas escolas.

6.3.7 Variáveis microbiológicas

Quanto à água consumida nas escolas, os resultados mostram uma alta


porcentagem de contaminação por bactérias do grupo coliformes, sendo a
contaminação mais freqüente na água coletada após o reservatório de
acumulação (Figura 30).
81

120

100 100 100 100


100

80

62,5
(%)

60

40 40
40

22,22
25 25 25
22,22

20
12,5 12,5 11,11

6 5
2 1
0 0 0
0
% Coli Total % E. coli Saida % Coli Total % E.coli % Coli Total % E. coli % Coli Total % E.coli
Saída Poço Poço Cavalete Cavalete Bebedouro Bebedouro Torneira Torneira

Pontos Amostrais
Fênix Salim Felicio Padre Anchieta E.H.C. Padre Pombo

Figura 30 - Razão das amostras com contaminação bacteriológica nas 05 escolas; amostras coletadas nos cavaletes ou saída do poço (Cav_) e
cozinhas (Coz_).
82

As fontes de contaminação antropogênica em águas subterrâneas são em


geral diretamente associadas a despejos domésticos, industriais e ao chorume
oriundo de aterros de lixo que contaminam os lençóis freáticos com
microrganismos patogênicos (FREITAS E ALMEIDA, 1998). Além de promoverem
a mobilização de metais naturalmente contidos no solo, como alumínio, ferro e
manganês (NORDBERG et al. 1985), também são potenciais fontes de nitrato e
substâncias orgânicas extremamente tóxicas ao homem e ao meio ambiente.
Com os resultados obtidos através das análises, pode-se constatar
significativa precariedade na qualidade da água consumida nos domicílios
amostrados, devido à detecção de contaminação por coliformes totais,
Escherichia coli e alguns resultados de Bactérias Heterotróficas com valores
acima do permissível, principalmente no que se refere às amostras coletadas na
torneira da cozinha.
Os poucos estudos sobre a qualidade da água distribuída e consumida no
Brasil apontam para uma precariedade na sua qualidade. MORAES (1990) ao
estudar a qualidade bacteriológica da água em nove comunidades da periferia de
Salvador entre os meses de dezembro de 1989 a novembro de 1990 demonstrou
que 23,86% das amostras coletadas diretamente da rede de distribuição
apresentaram coliformes fecais e ao avaliar a água coletada nos recipiente de
beber, este percentual subiu para 56,1%, tendo, portanto, um acréscimo de
148,2% de amostras contaminadas.
Ocasionalmente poderíamos associar a contaminação encontrada neste
trabalho à falta de limpeza das caixas de água ou precariedade e falhas nos
encanamentos das próprias residências, porém deve-se considerar
particularidades tais como a intermitência no sistema de distribuição de água, pois
dentre os domicílios coletados a maioria não estava recebendo água da rede no
momento da coleta ou até mesmo resultados positivos de contaminação da água
distribuída pela rede, já que a mesma também apresentou alguns resultados
positivos de contaminação no cavalete.
Moraes et al. (1999), avaliando a qualidade bacteriológica da água
distribuída e consumida pela população de assentamento periurbano da cidade
de Salvador entre os anos de 1993 a 1998, antes e depois de intervenções de
saneamento ambiental, demonstrou que não houve o impacto positivo esperado,
83

estando à mesma fora dos padrões de potabilidade em todo o período de estudo.


Este fato foi atribuído à intermitência do serviço, à manutenção deficiente da rede
de água, ao estado precário da rede de esgoto implantada e à suscetibilidade do
sistema de distribuição da cidade como um todo.

Lima (2002) também demonstra resultados de possível precariedade da


água de consumo do bairro Parque Cuiabá, tanto para água na saída da ETA do
referido bairro, quanto para água que chega nos cavaletes, nos reservatórios e
bebedouros das residências, porem não apontam possíveis falhas ou
proveniência desta contaminação.

Segundo Cerqueira (1999), é comum a ocorrência ocasional de coliformes


em água de consumo mesmo com consideráveis índices residuais de cloro. Essas
ocorrências podem ser devidas à existência de biofilme formado por películas
biológicas retidas nas superfícies das canalizações, causadas principalmente
pelos níveis de nutrientes da água, as condições de manutenção de malha, falhas
nas unidades de distribuição de água e o acúmulo de partículas sólidas em
suspensão (turbidez).
Considerando alguns resultados elevados de turbidez e o nível satisfatório
de cloro nas amostras analisadas pode-se associar resultados de contaminação a
possível formação de biofilme, já que entre outros parâmetros indicadores de
qualidade da água (pH, cor, dureza), as amostras apresentaram-se dentro dos
índices de aceitação para consumo humano.
De acordo com Lazcano (1998), nas paredes internas das tubulações das
redes de distribuição ocorre o acúmulo de depósitos de precipitados, formação de
tubérculos, limo bacteriano e biopelículas, onde cresce livremente bactérias e
fungos que ficam resistente à ação bactericida do cloro residual presente na
tubulação. As oscilações de vazão no interior da tubulação provocam o
desprendimento destes materiais, aumentando a cor, turbidez e o ferro na água e
favorecendo o consumo de cloro residual pelas bactérias, que por sua vez são
mais resistentes a ação deste desinfetante.
84

6.4 Avaliação da estação de tratamento de água-ETA

6.4.1 Turbidez

A turbidez da água tratada vem progressivamente consolidando-se como


um dos principais parâmetros na avaliação do desempenho das estações de
tratamento, assertiva corroborada pelo novo padrão de potabilidade do Ministério
da Saúde. De acordo com a Portaria 1469/00, o limite máximo para turbidez na
saída da estação de tratamento é 1,0 uT, recomendando enfaticamente valores
inferiores a 0,5 uT em 95% das amostras mensais – essencialmente objetivando
assegurar o êxito das etapas de clarificação na remoção física e da desinfecção
na inativação de patogênicos mais resistentes.
Com relação à variável turbidez na água distribuída pela ETA, observamos
que no primeiro período do ano de 2002, não eram realizadas as determinações
desta variável na água da saída da ETA, que passaram a ser realizadas somente
após reunião com os responsáveis técnicos pela operação da mesma, ocasião
em que foi enfatizada a necessidade de acompanhamento diário, em atendimento
à Portaria. A figura 31 expõe que o limite de 5 uT é superado pelo menos uma vez
em todos os meses.

10

6
(uT)

0
jul-02 jul-02 ago-02 set-02 out-02 out-02 dez-02

Figura 31 - Turbidez da água tratada na saída da ETA Parque Cuiabá (Julho até Dezembro
2002, n: 91).
85

6.4.2 Variáveis microbiológicas

Os resultados das amostras coletadas na Estação de Tratamento de Água


do bairro Parque Cuiabá demonstram uma alta contaminação por coliformes da
água bruta, valores que excedem os limites estabelecidos pela Resolução
CONAMA 20/86 para rios de classe II. Ocasionalmente houve registros de
contaminação também na água tratada, como mostra a Figura 32.

Figura 32 - Dados bacteriológicos da estação de tratamento de água.

A Figura 33 mostra uma serie temporal fornecida pela agência de


Saneamento da Capital, dos meses julho até dezembro de 2002, na qual esta
exigência foi extrapolada em um único mês (Outubro). Salienta-se que a
regularidade da amostragem, no período observado é inconsistente (o mês de
Novembro somente teve um total de 13 coletas), fato hoje corrigido por orientação
de membros do projeto.
86

20
19
18
17
16
15
14
13
12
(NMP/100ml)

11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
jul-02 jul-02 ago-02 set-02 out-02 out-02 dez-02

Figura 33 - NMP/100 ml de Coliformes Totais de água tratada na saída da ETA, Parque


Cuiabá (Julho até Dezembro 2002, n: 91).

6.5 Poço profundo da companhia de água da capital (SANECAP)

Durante as campanhas de campo para coletas de água na ETA Parque


Cuiabá, a equipe não teve acesso ao poço artesiano, que encontrava-se lacrado e
com acesso restrito aos funcionários da ETA. A qualidade da água do poço não
era monitorada sistematicamente pela Companhia de Água e Saneamento da
Capital. Entretanto, esta forneceu, a pedido deste projeto, um laudo de uma
análise da água do poço (ANEXO F), evidenciando a contaminação
microbiológica.
Cabe ressaltar que durante o período de coletas na ETA, o poço estava em
atividade, sendo sua água misturada à água tratada proveniente da ETA em um
reservatório para distribuição.
Após a obtenção dos primeiros resultados das análises de qualidade da
água distribuída no bairro e da saída da ETA, houve uma reunião com a equipe
da Companhia de Água e Saneamento da Capital para repasse e discussão dos
87

resultados parciais, que culminou na desativação do poço artesiano em outubro


de 2002, conforme ofício (ANEXO G).
O efeito da mistura de água de diferentes fontes, tais como uma
combinação de poços, fontes superficiais ou ambos, como é o caso do Parque
Cuiabá, onde a água de poço é misturada à água tratada para ser distribuída,
pode influenciar muito a qualidade da água na rede. A irregularidade do
abastecimento na rede de uma determinada área urbana pode também modificar
a qualidade da água tratada com a introdução de agentes patogênicos na rede de
distribuição (BARCELOS et al. 1998).

6.6 Levantamento epidemiológico

A Figura 34 mostra a ocorrência de problemas de saúde potencialmente


relacionados com a qualidade da água, de acordo com dados do Posto de Saúde
do bairro Parque Cuiabá, no período de 01/01/02 à 31/12/02 (FUSC, 2002).
Número de ocorrências

50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
a se e e is e e s s c.
ól
er ía as as lep os as f ica se n fe
eb rdí ní o om rid
í
ec
í to . i
C ia Te en st ca
in ig
Am G y m ilo s e sp elm or
c A h ite
rH An nã
o s er
po is u tra e nt
o a
çã in O tro
s ta est as
fe t g
In in e
s es ré ia
to r
si ia
ra D
P a

Figura 34 - Ocorrências de problemas de saúde potencialmente relacionados com a


qualidade da água; Parque Cuiabá, 01/01/2002 até 31/12/2002 (FUSC, 2002).
88

As análises parasitológicas realizadas apontam uma maior ocorrência de


giardíase. A presença de oocistos de Cryptosporidium não foi detectada nas
amostras de fezes analisadas (Figura 35).

7
Amostras positivas

6
5
4
3
2
1
0
ia s lii is coli a a is m
bl i de
s c h
l a r
. n an stic ral iu
m o t u E H . li o ri d
.l
a ric . Bu mic st
o
t
c
er spo
G mb I r hy s
lu ve E. S. ypt
o
A . E r
C

Figura 35 - Ocorrências de parasitoses intestinais em crianças dos domicílios amostrados


(n=39).

Fazendo um paralelo com os resultados obtidos por diferentes autores


pode-se observar que as maiores freqüências do parasitas Giardia sp são
comuns. Ludwig et al, (1999) estudando a correlação entre condições de
saneamento básico e parasitoses intestinais na população de Assis, Estado de
São Paulo encontrou a maior porcentagem de Giardia intestinalis (8,7%), seguida
por Ascaris lumbricoides (5,5%) e Trichuris trichiura (2,4%). Dados do postos de
atendimento sanitário de Vila Marialves, entre os anos de 1990 a 1992,
apresentam freqüências de: G. intestinalis (17%), A. lumbricoides (13,1%) e T.
trichiura (5,9%) (LUDWIG et al, 1999).
Considerando-se o fato das formas de transmissão da Giardia decorrerem,
particularmente, da água contaminada, é forte a evidência de que as ocorrências
estejam associadas à má qualidade da água de consumo.
De acordo com Feachem et al. (1977), a proporção da redução de doenças
relacionadas com a água, tais como a shiguelose, a amebíase e teníase são de
89

cerca de 50% com a implantação de sistemas de abastecimento de água. Já as


ascaridíases se reduzem em cerca de 40% e as esquistossomoses em 60%.
Esrey et al. (1986) afirma que onde a incidência de diarréia é alta, a coleta
de esgotos desempenha um papel mais importante do que o abastecimento de
água. De acordo com o autor, as helmintíases estão relacionadas principalmente
com a falta de esgotos.

6.7 Relação entre variáveis sócio-econômicas e ambientais e as variáveis


epidemiológicas e qualidade da água através da enquete

O estado de saúde de uma população pode estar relacionado às condições


materiais e sociais do ambiente no qual esta população está inserida. Quando se
trata da manutenção da saúde do indivíduo é comum relaciona-la à qualidade do
ambiente, sendo isto justificado pelo fato de doenças infecto-parasitárias serem
freqüentemente observadas em ambientes favoráveis às rotas de contaminação
dos indivíduos (SALES, 2001).
90

6.8 Relação entre nível de escolaridade e sintomas associados a doenças


de veiculação hídrica

A Figura 36 apresenta o nível de escolaridade e a relação entre as


reclamações de sintomas associados às doenças de veiculação hídrica. As
medianas demonstram que as pessoas com nível de escolaridade mais elevado
reclamaram de um menor número de sintomas.

14

12

10
Soma casos de doença

4
Non-Outlier Max
Non-Outlier Min
75%
2
25%
Median
Outliers
0
1 2 3 Extremes

Escolaridade (1: 1.grau, 2: 2.grau, 3: nível sup.)

Figura 36 - Nível de escolaridade – reclamações de sintomas associados a doenças de


veiculação hídrica.

De fato, nível de escolaridade e indicadores econômicos são fatores


preponderantes para a busca de melhor qualidade de vida, já que tais condições
permitem maior conhecimento e acesso a fatores que facilitam e qualificam esta
busca.
91

6.9 Relação entre renda e sintomas associados a doenças de veiculação


hídrica

Como se observa na Figura 37, não há uma nítida associação entre renda
familiar e sintomas de doenças de veiculação hídrica, tendo sido observadas, em
geral, maiores medianas de ocorrência de sintomas de doenças de veiculação
hídrica entre as classes com melhores rendimentos familiares (entre 4 e 6 salários
mínimos).

Box Plot (Dados_Casa.STA 7v*200c)


14

12

10
Soma casos de doença

4
Non-Outlier Max
Non-Outlier Min
75%
2 25%
Median
Outliers
0
1 2 3 4 5 6 7 Extremes

RENDA

Figura 37 - Relações entre renda e reclamações de sintomas associados a doenças de


veiculação hídrica.
92

6.10 Relação entre tipo de água consumida e sintomas associados a


doenças de veiculação hídrica

A Figura 38 compara as relações entre reclamações de sintomas


associados a doenças de veiculação hídrica entre os entrevistados que
consomem ou não água mineral.

14

12

10
Soma casos de doença

4
Non-Outlier Max
Non-Outlier Min
75%
2
25%
Median
Outliers
0
Não usa Usa Extremes

Bebe água mineral / ferve água de consumo

Figura 38 - Casos de reclamações de sintomas associados a doenças de veiculação hídrica


entre os entrevistados que consomem ou não água mineral.

Segundo a OMS (1999), há uma relação direta entre saneamento e saúde


e a água constituem o principal elo nesta interpendência. De várias maneiras, a
água pode afetar a saúde humana: seja por ingestão direta ou na preparação de
alimento, ou pelo seu uso na higiene pessoal ou na agricultura, industria ou lazer.
As análises dos dados do inquérito sanitário demonstraram que entre o
grupo de moradores entrevistados que consomem água mineral/fervida há
maiores reclamações em relação ocorrência de sintomas associados a doenças
de veiculação hídrica, subentendendo-se que a ocorrência destes sintomas pode
93

estar sendo influenciada por outras formas de utilização da água e/ou a


contaminação estar ocorrendo em outros locais (escola ou trabalho).

6.11 Relações entre qualidade da água e sintomas associados a doenças de


veiculação hídrica

A Figura 39 apresenta as relações entre a qualidade da água observada


pelos moradores, extraída através de questionamentos sobre características
organolépticas e físico-químicas facilmente observáveis e sintomas relacionados
com doenças de veiculação hídrica.
Observa-se que as reclamações de um maior número de sintomas
ocorreram associadas à pior qualidade da água observada pelos moradores,
decrescendo à medida que uma melhor qualidade de água foi observada.

14

12

10
Soma casos de doença

4
Non-Outlier Max
Non-Outlier Min
75%
2
25%
Median
Outliers
0
0 1 2 3 4 5 Extremes

Qualidade da agua observada (0: ruim <-> 5: excellente)


Figura 39 - Relações entre a qualidade da água observada e sintomas associados a
doenças de veiculação hídrica.
94

6.12 Relações entre variáveis sócio-econômicos e ambientais e a qualidade


da água analisada

A Tabela 3 apresenta relações entre características de qualidade da água


com fatores sócio-econômicos, resultados dos dados obtidos através da enquete,
análises da qualidade da água consumida pelos entrevistados, dados
epidemiológicos e a correlação destes fatores.
95

Tabela 3 - Resultados de testes de significância das regressões logísticas simples para avaliação das relações entre qualidade de água e
fatores sócio-econômicos obtidos pela enquete.
96

Para que se possam relacionar tais características é necessário


primeiramente avaliarmos o conceito de saúde, estudar questões ambientais
relacionadas com a desordenação urbana, condições de moradia e as causas e
efeitos do desenvolvimento econômico. A OMS (1999), em estudo realizado,
enfoca tais questões e afirma que as mesmas tendem a piorar em países com
disponibilidades inadequadas de hábitat.
A relação entre dados obtidos através da enquete e avaliação da qualidade
da água, obtida pelos modelos de regressão logística, revela que há
possibilidades de fatores como o habitat e hábitos higiênicos interferirem de fato
nas reclamações quanto a alterações qualidade da água, além de possivelmente
estarem associadas a sintomas de doenças de veiculação hídrica, e o índice de
contaminação por coliformes nas residências.
Obtiveram-se relações altamente significativas (p<0.05) entre as alterações
de qualidade da água observadas pelos habitantes e o padrão de construção,
número de quartos e a rotina de higiene e limpeza nas casas (Tabela 3). A falta
de proteção dos reservatórios de água aumenta, no bairro estudado,
significativamente a ocorrência de sintomas associados a doenças de veiculação
hídrica.
Os casos positivos de contaminação com Coliformes totais e Escherichia
coli parecem ter relação com os fatores explanatórios “Numero de quartos” e
“Proteção dos reservatórios” e rotinas de higiene e proteção.
Fatores como a turbidez elevada que possivelmente implicam na qualidade
da água, demonstram estar associados aos hábitos higiênicos e até mesmo a
renda familiar ou aos padrões de construção das casas.
Como já foram discutidos neste estudo, outros indicadores sócio-
econômicos, como o nível de escolaridade, de fato aparenta não influenciar em
fatores que indiquem estar afetando a saúde e o bem estar dos moradores
entrevistados. Pode-se supor, para este resultado que a população, mesmo com
renda ou/e escolaridade mais baixa estão, de certa forma, cientes da importância
de água de boa qualidade para a saúde humana. É importante ressaltar neste
contexto, que toda população entrevistada no bairro, mesmo com certas
diferenças no nível social, pode ser considerada classe média.
97

Estes resultados sugerem também que os problemas de qualidade de água


constatados podem ser relacionados com fatores adicionais tais como diferenças
locais no estado da rede de abastecimento, ou com a altitude e a distância das
casas em relação a ETA, esses últimos fatores importantes para a intermitência
no abastecimento no bairro e conseqüentes infiltrações na rede de abastecimento
(pressão negativa).
Estudos realizados por Heller (1997), permitem mostrar que intervenções
em abastecimento de água e esgotamento sanitário realmente provocam
impactos em indicadores de saúde, porém ressalta que ainda mostra-se
necessário o aprofundamento dessa compreensão para situações
particularizadas, em termos da natureza das intervenções, do indicador medido e
das características sócio-econômicas e culturais da população estudada.
Ludwig et al (1999), estudando a correlação entre condições de
saneamento básico e parasitoses intestinais na população de Assis, estado de
São Paulo concluiu que no período analisado houve uma tendência para queda
na prevalência das parasitoses intestinais, que coincidiu com o aumento das
ligações de água e esgoto em todas as regiões da cidade de Assis, evidenciando
portanto uma relação inversa entre a prevalência de exames positivos e a
população atendida por ligações de água e esgoto.
Sendo assim, os dados tais como se apresentam, permitiram mostrar uma
realidade que possivelmente poderia estar implicando em impactos na qualidade
de vida dos moradores do bairro estudado.

6.13 Sistema de informação geográfica

6.13.1 Elaboração de dados espaciais básicos

Foi confeccionado, com base em um mosaico georeferenciado das


fotografias aéreas da escala 1:8.000 (IPDU, 2000) um mapeamento de uso e
ocupação de solo no bairro. A Figura 40 mostra o mosaico sobreposto com a
divisão do bairro para direcionar os grupos de trabalho de campo (entrevistas,
coletas...) e os polígonos dos diversos usos encontrados. O mapeamento foi
utilizado para a análise de eventuais relações do uso e ocupação com a
98

ocorrência de doenças de veiculação hídrica e se afirmativo como plano de


informação para um mapeamento de risco.

Figura 40 - Elaboração de dados espaciais básicos – Mapeamento do uso e ocupação do


solo a partir de um mosaico de fotos aéreas.

A figura 41 mostra o modelo numérico de terreno (MNT), gerado a partir


das curvas de nível, pontos cotados e rede hidrográfica, extraídas do cadastro
técnico da escala 1:2.000 da Sanecap. As áreas mais baixas se encontram na
99

parte ocidental do bairro. As nascentes do perímetro do bairro deságuam em


direção ao córrego Lavrinha, afluente direito do Rio Cuiabá.

Córrego
Lavrinha

Figura 41 - Elaboração de dados espaciais básicos – Modelo numérico de terreno (MNT) a


partir da interpolação das curvas de nível dos cadastros da Sanecap (eqüidistância de 5 m).

A rede de abastecimento de foi digitalizada a partir das plantas cadastrais


1:10.000, obtidas junto a Companhia de Saneamento da Capital – Sanecap. Inclui
uma classificação da rede conforme o seu estado de conservação, com ano base
100

de 2001/02. Não puderam ser obtidas, entretanto, plantas cadastrais da rede de


esgotamento. Como mencionado, na maior parte das áreas com rede ainda não
renovada, as linhas de abastecimento e esgotamento encontram-se instaladas na
mesma vala.
A figura 42 mostra, em síntese, a rede de abastecimento que é alimentada
pela ETA na parte ocidental do bairro. O poço ao lado da ETA foi responsável, até
2002, por cerca de 5% do total da água captada para consumo no bairro.

Figura 42 - Elaboração de dados espaciais básicos – Rede de abastecimento, quadras com


rede renovada (até 2002) e domicílios escalonados conforme números de coletas (cavalete
e cozinha).
101

Hoje o abastecimento é garantido 100% pela captação “Parque Cuiabá”


localizada nas margens do Rio Cuiabá, cerca de 2 km ao nordeste da ETA. O
mapa temático também inclui os domicílios amostrados durante monitoramento de
qualidade de água, cujo símbolo é escalonado conforme número de coletas
efetuadas (somatório das coletas nos cavaletes e torneira na cozinha).

6.13.2 Características socioeconômicas, ambientais e infra-estruturais do bairro


Parque Cuiabá.

As Figuras 43 e 44 mostram características socioeconômicas selecionadas


(número de quartos, padrão de construção), do bairro Parque Cuiabá que
mostraram relação significativa com um dos fatores dependentes (qualidade de
água, incidência de doenças de veiculação hídrica) avaliados (ítem 7.6). O bairro
não possui zoneamento com separação espacial de regiões de diferentes
características sócio-econômicas, resultando em Índices de Moran abaixo de 0.05
para as variáveis de Número de quartos, Renda, Padrão de construção e Nível
educacional.
102

Figura 43 - Número médio de quartos por quadra.


103

Figura 44 - Padrão de construção médio por quadra.


104

A Figura 45 mostra a distância das quadras da ETA e o estado da rede de


abastecimento, do Bairro Parque Cuiabá.

Figura 45 - Distância das quadras da Estação de Tratamento e idade da rede de


abastecimento.
105

6.14 Modelos de regressão binária simples

Em seguida são apresentados, os resultados das regressões logísticas


simples (RL), desenvolvidas para avaliação de relações de variáveis sócio-
econômico-ambientais com fatores qualidade de água e incidência de doenças de
veiculação hídrica. Foram considerados na elaboração dos modelos de previsão
somente fatores com níveis de significância abaixo de 0.10 nos modelos simples.

6.15 Modelos de regressão binária múltipla

Em seguida são apresentados, de forma resultados das regressões


logísticas múltiplas (RL), desenvolvidas para as estimativas das probabilidades da
ocorrência de valores de Turbidez (cozinha) e Escherichia coli (cozinha) acima
dos limites da Portaria 1469/2000 (Ministério de Saúde). Ambos os modelos foram
desenvolvidos para amostras coletadas nas cozinhas dos domicílios, local no qual
puderem ser obtidas amostragens superiores as quais dos cavaletes.
Em seguida é apresentado também modelo de RL para estimativa da
probabilidade da ocorrência de parasitas intestinais nas crianças do bairro.
As Tabelas 4 e 5 mostram a tabela de classificação e as variáveis para a
equação da regressão logística para a relação entre os casos de Turbidez acima
dos limites da Portaria 1469/2000, determinados para as amostras dos cavaletes
das casas e as variáveis explanatórias “Distância”, “Padrão de construção” e
“Altitude”. O resultado do modelo aplicado no bairro está exposto na Figura 44.
Observa-se uma porcentagem geral de previsão correta de 89,6%. O
modelo, entretanto estima, com um valor de “cut” de 0,5, de forma mais confiável
os casos de um limite de Turbidez extrapolado. A variável “Altitude” é significativa
em um intervalo de confiança de 95%, as variáveis “Distância” e “Padrão de
construção” somente em um intervalo de confiança de 90% (Tabela 5).
106

Tabela 4 - Classificação dos casos de Turbidez acima dos limites da Portaria 1469/2000 a
partir do modelo de RL.

Estimado
Turbidez Porcentagem
correta
Observado 0 1
Turbidez 0 2 4 33,3
1 1 41 97,6
Porcentagem geral 89,6

Tabela 5 - Variáveis do modelo de RL para estimativa da probabilidade de alterações da


turbidez (cozinha dos domicílios) acima dos limites da Portaria 1469/2000 a partir do
modelo de RL.

B S.E. Wald Df Sig. Exp (B)


Distância ,002 ,002 1,986 1 ,097 1,002
Padrão_const -2,697 1,525 3,130 1 ,077 ,067
Altitude ,186 ,080 5,370 1 ,020 1,204
Constante -20,814 13,400 2,413 1 ,120 ,000
107

Figura 46 - Estimativa das probabilidades de alterações da Turbidez acima do limite


permissível.
108

As Tabelas 6 e 7 mostram a classificação e as variáveis para a equação da


regressão logística para a relação entre os casos de contaminação da água de
consumo com E. coli (coletas cozinha) e as variáveis explanatórias “Práticas de
proteção” e “Número de quartos”. A Figura 44 ilustra o resultado da modelagem.
Obteve-se uma porcentagem geral de previsão correta de 93,8%. O modelo
estima, com um valor de “cut” de 0,5, de forma mais confiável os casos negativos
(100,0%) do que os casos positivos (33,3%).
As variáveis explanatórias são significativas somente em um intervalo de
confiança de 90% (Tabela 7).

Figura 47 - Estimativa das probabilidades de alterações da Escherichia coli acima do limite


permissível.
109

Tabela 6 - Classificação dos casos de contaminação com Escherichia coli na cozinha dos
domicílios a partir do modelo de RL.

Estimado
Porcentagem
E.coli_cozinha
correta
Observado 0 1
E.coli_cozinha 0 39 0 100,0
1 6 3 33,3
Porcentagem geral 93,8

Tabela 7 - Variáveis do modelo de RL para estimativa da probabilidade de contaminação


com E. coli na cozinha dos domicílios a partir do modelo de RL.

B S.E. Wald df Sig. Exp (B)


Nr. de quartos ,845 ,658 1,652 1 ,0909 2,329

Proteção -,857 ,584 2,158 1 ,0842 ,424

Constante -1,721 2,539 ,459 1 ,298 ,179

Os resultados indicam que eventuais contaminações da água de consumo


com Escherichia coli não podem ser associados a fatores ambientais ou infra-
estruturais. Elas ocorrem em função de fatores como tamanho da casa (padrão
socioeconômico) e práticas de higiene. Conseqüentemente, como exposto na
Figura 45, a distribuição espacial não possui gradientes nítidos no espaço. Os
valores simulados, associados aos domicílios possuem índice de Moran abaixo de
0,05.
As Tabelas 8 e 9 mostram a classificação e as variáveis para a equação da
regressão logística para a relação entre os casos de parasitas intestinais
encontrados nas análises de fezes de crianças do bairro e as variáveis
explanatórias “Distância” e “Rede nova”. A Figura 46 mostra a modelagem
espacial onde se obteve uma porcentagem geral de previsão correta de 74,0%. O
modelo estima, com um valor de corte de 0,5, de forma mais confiável os casos
negativos (88,9%) do que os casos positivos (35,7%).
A variável “Rede nova” é significativa em um intervalo de confiança de
95%, a variável “Distância” somente em um intervalo de confiança de 90%
(Tabela 3).
110

Figura 48 - Modelação espacial da probabilidade de casos positivos de parasitoses


intestinais em crianças a partir do modelo de RL.

Tabela 8 - Classificação dos casos positivos e negativos de parasitoses intestinais em


crianças do bairro a partir do modelo de RL.

Estimado
Porcentagem
Parasitas
correta
Observado 0 1
Parasitas 0 32 4 88,9
1 9 5 35,7
Porcentagem geral 74,0
111

Tabela 9 - Variáveis do modelo de RL para estimativa da probabilidade de casos positivos e


negativos de parasites intestinais em crianças do bairro a partir do modelo de RL.

B S.E. Wald df Sig. Exp (B)

Distância ,002 ,002 1,986 1 ,097 1,002

Rede nova -2,220 1,108 4,016 1 ,045 ,109

Constante -2,340 1,359 2,964 1 ,085 ,096


*Variáveis consideradas: Distancia casa – ETA, rede de abastecimento renovada.

6.16 Educação ambiental

Quais os caminhos para a reconstrução da ordem social, em que as


pessoas sejam reconhecidas, ao mesmo tempo, como objeto e sujeito de sua
história, e possam rever as heranças desfavoráveis, questionar crítica e
constantemente o presente e projetar a construção de possibilidades futuras?

6.16.1 Relacionando a água com a saúde

As respostas das crianças, nas escolas, aos questionamentos ratificaram


os dados obtidos no inquérito domiciliar, principalmente as queixas sobre as
propriedades organolépticas da água. Vários alunos apontaram que a água da
torneira é barrenta e possui odor muito desagradável, lembrando esgoto. Alguns
alunos da 8ª série atribuíram estas características ao tratamento ineficiente da
água pela ETA.
Vários alunos (28%) referiram diarréia e dores abdominais, micoses e,
ainda, dengue como problemas de saúde nas suas famílias e que, acreditam,
sejam decorrentes de problemas com a qualidade da água. Devido aos fatos
expostos anteriormente, 67% dos alunos entrevistados consomem água mineral
sem, contudo, conhecerem a qualidade microbiológica da mesma. Há uma grande
confusão entre água mineral e água potável.
No que se refere à qualidade, sabe-se que 80% das enfermidades no
mundo são causadas por água poluída e que, a cada oito segundos, morre uma
criança vítima de doença relacionada com o produto. Essa situação é comum em
112

quase todo Brasil, onde, segundo dados do Sistema Único de Saúde, 70% dos
leitos hospitalares são ocupados por portadores de doenças hídricas.
Na Tabela 10 são apresentados os percentuais das respostas positivas e
negativas a cada questão. Não há diferença significativa (p<0,005) entre as
respostas dos alunos de 1ª e 8ª séries ao primeiro questionamento se existe
relação entre a água e a saúde, variando de 90,9 a 100% as respostas positivas,
considerando-se as três escolas amostradas. Todavia, existe uma inversão nas
respostas à 2ª questão; os alunos da 1ª série de duas escolas - Fênix e Pe.
Pombo acreditam que a água em suas casas tem qualidade (92,3% e 77,2%,
respectivamente), contrariamente, aos alunos das 8ª séries (acima de 75%), que
atribuem os problemas de saúde da família à falta de qualidade da água de
abastecimento. No geral, 61,9% dos alunos da 1ª série não relacionam doença
familiar com a água contaminada.

Tabela 10 -Resultados (%) aos questionamentos sobre a relação da água com a saúde dos
alunos de 1ª e 8ª séries de escolas do bairro Jardim Cuiabá, Cuiabá, MT.
Escola Total 1ª questão 2ª questão 3ª questão
de Série Sim (%) Não (%) Sim (%) Não (%) Sim (%) Não (%)
alunos (nº.
Alunos)
Fênix 46 1ª 100 0 92,3 7,7 19,2 80,8
(n=26)
8ª 100 0 25 75 40 60
(n=20)
Salim 91 1ª 90,9 9,1 22,7 77,3 59,1 40,9
Felício (n=22)
8ª 100 0 24,6 75,4 29 71
(n=69)
Pe. 57 1ª 98,2 1,8 77,2 22,8 38,6 61,4
Pombo (n=57)
Total alunos
1ª série = 105 97,1 2,9 69,5 30,5 38,1 61,9
8ª série = 89 100 0 24,7 75,3 31,5 68,5
TOTAL= 194 98,5 1,5 48,9 51,1 35 65

6.16.2 Análise dos desenhos

Tomou-se aqui a teoria das representações sociais de Serge Moscovici


para o tratamento dos dados colhidos, uma vez que esta vem se mostrando
adequada às investigações sobre a popularização científica (FARR, 1993).
113

O trabalho, portanto, propôs-se também a descrever algumas das


representações sociais da saúde/doença e do meio ambiente formadas e
mantidas no ensino público fundamental. Como parte de um projeto maior, seus
resultados foram devolvidos aos grupos estudados, servindo para alimentar
etapas posteriores do processo educativo. O trabalho foi concluído buscando uma
padronização que pudesse expressar alguns aspectos essenciais do tema
analisado. Não temos a pretensão de generalizar qualquer afirmação além dos
limites desta metodologia. A partir da análise dos desenhos elaborados pelos
alunos, procedemos levantamento de unidades de significado com as quais
iniciamos a interpretação por meio da organização das principais convergências:
o ambiente saudável é representado pelos mais diversos elementos da paisagem
(árvores, geralmente coqueiros, sol, morros, rios, cachoeiras, pássaros e peixes)
e o ser humano não se coloca como parte do meio natural (ANEXO H). Dos 194
desenhos, apenas 7 desenharam o ser humano nos ambientes saudáveis
(ANEXO I) e um retratou pessoas jogando lixo no meio ambiente (ANEXO J),
mostrando que o ser humano não se vê, via de regra, como mais um elemento
que compõe a natureza.
Alguns destes desenhos podem ser observados no anexo 08.
A justificativa da escolha de desenhos desenvolvidos pelos alunos para
trabalhar o tema água e saúde com os alunos do Ensino Fundamental decorre da
expectativa da influência do movimento da escola nova defendendo os chamados
métodos ativos os quais envolviam, quase sempre, o uso de estratégias
alternativas, como a confecção de desenhos com princípio implícito do aprender
fazendo.
Os desenhos constituem uma forma de representação ainda acessível pela
sensibilidade, porém, com uma complexidade maior devido à exigência da
interpretação de seu significado principalmente se tratando de ambiente natural.
Todavia, esta representação depende muito de detalhes técnicos para análise. A
identificação dos invariantes conceituais, a partir da leitura de um desenho, não é
uma atividade direta tal como a manipulação de um modelo tridimensional,
segundo Baldy et al. (1987) o que dificultou a nossa análise. Os alunos da 1ª
série, por exemplo, representaram os ambientes poluídos em tons terrosos mais
escuros e a cor preta; suas árvores, neste ambiente, não possuíam copas,
114

lembrando árvores madas. Provavelmente foi feita uma associação com as


conseqüências das queimadas, comuns no estado no período de estiagem,
coincidente com a nossa visita às escolas. As crianças da 1ª série usaram grande
diversidade de cores nos desenhos em que retratavam um ambiente saudável.
Vimos nas imagens dos alunos de 8ªsérie um suporte bem mais sofisticado
de representação conceitual. Alguns deles (3,09%) retrataram o ambiente urbano
como aquele que traz impacto à saúde humana. Uma aluna, também da 8ª série,
desenhou uma piscina como ambiente saudável e uma ilha como um ambiente
desagradável. Alguns desenhos estão mais próximos da abstração, distanciam-se
dos conceitos esperados pelo seu aspecto subjetivo. Daí a necessidade de uma
interpretação mais dinâmica que contemple a dialética contida nesses pólos
duais. A nosso ver, a superação do risco de uma abordagem empírica da saúde
passa pela utilização tanto de modelos, como de desenhos e pela conseqüente
formação de imagens mentais. Esta parece ser uma direção pedagógica para a
aprendizagem da saúde onde as representações, quer seja por um modelo,
desenho ou imagem mental, determinam dimensões cognitivas do conhecimento
sobre o meio ambiente.
Há uma espécie de tradição, influenciada tanto pelo senso comum como
pelos saberes escolares, de preservação da forma particular de representação.
Entende-se por educação em saúde quaisquer combinações de experiências de
aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à
saúde. A palavra combinação enfatiza a importância de combinar múltiplos
determinantes do comportamento humano com múltiplas experiências de
aprendizagem e de intervenções educativas, necessidade de mesclar os múltiplos
determinantes da saúde (fatores genéticos, ambientais, serviços de saúde e estilo
de vida) com múltiplas intervenções ou fontes de apoio.
A expressão condições de vida permite que a definição de promoção em
saúde ultrapasse os limites daqueles fatores estritamente comportamentais,
observáveis em geral durante o relacionamento interpessoal que ocorre no âmbito
local, para prender-se a uma teia de interações muito mais complexa, constituída
pela cultura, por normas e pelo ambiente socioeconômico, cada um deles se
associando com o significado histórico mais amplo do que se convencionou
denominar de estilo de vida.
115

Na prática, a educação para a saúde constitui apenas uma fração das


atividades técnicas voltadas à saúde, prendendo-se especificamente a habilidade
de organizar logicamente o componente educativo de programas que se
desenvolvem em quatro diferentes ambientes: a escola, o local de trabalho, o
ambiente clínico, em seus diferentes níveis de atuação, e a comunidade,
compreendida aqui como contendo populações-alvo que não se encontram
normalmente nas três outras dimensões. Por constituir apenas uma parte de um
conjunto de atividades, é óbvio tratar-se de uma atividade-meio.
O fato é que, em qualquer sistema de saúde, não se pode conceber o
planejamento da política de ação, sem antes considerar as premissas do
planejamento educativo em cada uma das duas vertentes acima referidas -
educação e promoção em saúde. Se isso ocorrer, a prática subseqüente será
equivocada e, portanto, ilógica no que diz respeito às necessidades da
população-alvo que se pretende alcançar.
O conhecimento científico pode ser formalizado e objetivado para a
comunicação, uma forma de difusão científica (TARGINO, 1997) que pode se dar
na educação para a saúde em instituições de cuidados à saúde, na escola (por
exemplo, no ensino de Ciências) ou por outros canais (BIZZO, 2002). Embora o
conteúdo da comunicação para difusão científica em saúde demande precisão,
profundidade, explanação de mecanismos de doença, clareza, estilo
conversacional e atualidade científica, quase como via de regra esse conjunto de
requisitos está pouco presente (BOYD, 1987). Ganha realce a necessidade de se
conhecer os mecanismos de prevenção, instalação, atuação e tratamento das
doenças. Fourez (1995) denomina isto de "caixa preta", ou seja, defende a
necessidade de se desvendarem, na educação e comunicação científica, os
mecanismos pelos quais os eventos de saúde e doença ocorrem. Saber o como e
o porquê, exemplificados por meio de modelos, seria essencial para a
alfabetização em ciência - a Ciência de Todos, defendida pelo MC&T.
Desde que surgiu, o ser humano, como qualquer animal, provoca
mudanças no seu ambiente. Mas as alterações efetuadas pelos povos “primitivos”
estão longe de serem catastróficas, como têm sido muitas das conseqüências das
civilizações modernas. Estas alterações profundas vêm se avolumando ao longo
dos últimos séculos. O que efetivamente causa maior preocupação é o fato de
116

que começam a colocar em risco a própria sobrevivência humana. Se já não são


respeitados os direitos políticos do cidadão, começam também a serem
violentados os seus direitos biológicos. Não há como compatibilizar o direito
universal à vida e a presença de contaminantes/poluentes na água, nos alimentos
e no ar. Neste ponto é que as relações entre Educação e Cidadania passam pela
responsabilidade do educador, e é aqui que se torna imperioso afirmar que a
problemática ambiental é conseqüência e não a causa.
Ninguém tem dúvida de que a tendência à escassez vai colocar a água na
condição de principal commodity do próximo século, a exemplo do que foram o
ouro e o petróleo no passado. Com a diferença de que água é sinônimo de vida, o
que indica que seu valor, num quadro de escassez mundial, será incalculável. Ou
seja, o poder econômico das nações e a qualidade de vida das suas populações
serão medidos pelos volumes de água potável de que disponham.
Apesar da eficiência do saneamento básico em reduzir as doenças
relacionadas com a água e o esgoto já ter sido comprovada por inúmeras
pesquisas, algumas evidenciam que um impacto pouco significativo do
saneamento básico na saúde pública advém principalmente da falta de programas
de educação sanitária que provoquem mudanças de hábitos na população
(MARTINS et al., 2002).
Os autores constataram em uma pesquisa sobre o impacto do saneamento
básico na saúde da população em Itapetininga – SP, que a educação foi o fator
mais importante na explicação das variações da mortalidade infantil pós-neonatal
e de mortalidade por doenças infecciosas intestinais e helmintíases, independente
da qualidade do ensino fundamental nas escolas do município.
No contexto escolar, a promoção da saúde poderá estar incluída na
proposta político-pedagógica das escolas, envolvendo a estrutura escolar e as
parcerias comprometidas com a proposta de trabalho elaborada. A promoção da
saúde no âmbito escolar requer o desenvolvimento de ações integradas com os
diversos assuntos que envolvem educação, saúde, meio ambiente, trabalho,
cultura, música, educação física, alimentação saudável, moradia e outros,
considerando que "a saúde se cria e se vive na vida cotidiana, nos centros de
ensino, de trabalho e de lazer (...)" (FARR, 1993)
117

Os indivíduos e as comunidades devem ser educados para poder conhecer


e controlar os fatores determinantes da sua saúde. Ambientes favoráveis, acesso
à informação, habilidades para viver melhor, bem como possibilidades para fazer
escolhas mais saudáveis, estão entre os principais elementos dessa capacitação.
Como componentes essenciais que identificam uma escola que busca
promover a saúde estão o desenvolvimento de habilidades e práticas saudáveis
visando melhorar os padrões de saúde e projetos que envolvem as crianças,
adolescentes e adultos em um processo de reflexão sobre o cotidiano, sobre a
adequação e conservação dos espaços físicos.
Considerando que a discussão sobre desenvolvimento sustentável é
premente, é dever da escola oferecer condições para que os alunos possam se
apropriar de conceitos que envolvem as questões ambientais e de saúde de
forma crítica e reflexiva.
A ação de cuidar da saúde em âmbito social só será efetivada se as outras
dimensões da sociedade, como a economia, a habitação, o trabalho, a educação,
enfim, as políticas sociais se voltarem para a questão da saúde. Neste contexto
complexo, o processo educativo é fundamental para a conscientização dos
cidadãos no sentido de reivindicarem condições de saúde como um direito de
todos, que deve ser fiscalizado pela sociedade em prol de melhores condições de
vida das populações. Por isso, Werneck focaliza a educação não apenas como
uma ação que desencadeia um novo tipo de pensar, mas sobretudo, de agir (in
Rezende, idem:153). Por meio da educação, portanto, as pessoas poderão
desenvolver maiores possibilidades de participação nos bens sociais, a parir de
engajamentos comunitários. Para tanto, torna-se necessário que as instituições
responsáveis pela educação, particularmente as escolas e os centros de saúde,
despertem nas crianças, nos jovens e adultos de qualquer idade, uma consciência
crítica sobre a importância da saúde como condição de bem estar individual e
social. Deve-se igualmente destacar a responsabilidade dos meios de
comunicação de massa nesse processo de educação social sobre a saúde, por
meio de programas informativos e de reflexão e debate (GRYNSZPAN, 1999).
Como se deve agir quando se deseja estar engajado na busca de uma
transformação mundial que garanta às novas gerações, e a toda humanidade,
118

melhores condições de vida, de igualdade, de justiça, de inclusão e inserção


social; em uma palavra, um mundo melhor?
Nessa perspectiva, como se situa a contribuição propriamente dita das
escolas de 1º e 2º Graus na promoção de uma educação para a saúde? Na
realidade, os currículos escolares de 1º e 2º graus contemplam a questão da
saúde como parte do programa de Ciências. Mas, todos os demais problemas
relacionados ao cotidiano dos cidadãos, como a poluição, a qualidade da
alimentação, as condições de trabalho, de habitação, de saneamento, de
segurança e lazer, entre outros, também deveriam ser conteúdos de ensino por
parte de diversas áreas curriculares de 1º e 2º graus. A educação para a saúde
deveria, de fato, constituir uma dimensão curricular de todos os níveis de ensino,
desde a pré-escola até o nível superior.
Contemplar a saúde no contexto escolar é fundamental. Ela consta nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1996) como um tema de emergência
e relevância social, razão pela qual foi eleita um dos temas transversais. Esta
orientação amplia as possibilidades de se trabalhar as questões relacionadas à
saúde, por um lado, e permite a introdução de ações inovadoras, sob uma nova
ótica, por outro. E, trabalhar em uma nova perspectiva, no caso da saúde, é
possível a partir da adoção dos fundamentos da promoção da saúde, principal
foco desta série.
Mas, sem dúvida, os programas de Ensino Fundamental e Médio
constituem um momento privilegiado para a conscientização da infância e da
juventude no tocante à saúde como bem comum, a ser valorizado no conjunto das
possibilidades de desenvolvimento sócio-cultural profissional. Poder-se-ia, então,
esperar que uma compreensão partilhada dos problemas de saúde resultassem
numa superação do seu entendimento individualista, de modo que as populações
jovens do País alcançassem, em perspectiva de um futuro melhor, entender a
saúde e exercitar sua prática como um direito de todos (NAJAR, 1986).
Para quem é educador, principalmente, a formação de cidadãos planetários
deve ser uma preocupação constante, meio que natural, em cada atividade da
sala de aula. Uma formação que transcenda a teoria, o discurso do professor, e
se materialize nos seus exemplos diante dos educandos.
119

É necessário apresentar um caminho de reflexões que norteiem didática e


pedagogicamente o trabalho de todos os educadores e de todos os seres
humanos identificados com esses ideais, em busca da “formação de cidadãos
com consciência local e planetária que valorizem a autodeterminação dos povos e
a soberania das nações”.
120

7 CONCLUSÕES

Este trabalho mostrou que, a despeito dos problemas relativos à


periodicidade de coleta e número reduzido de amostras para avaliação de
algumas variáveis, os resultados obtidos fornecem um quadro da qualidade da
água consumida na área de estudo nos períodos analisados.
Com relação à água de poço das duas escolas, os resultados, quando
comparados com os padrões de potabilidade da Portaria 1469/00 do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2000), mostraram que, no Parque Cuiabá, 100% das amostras
de nitrato encontram-se de acordo com a referida Portaria.
A elevada porcentagem de amostras com cloro residual igual à zero na
rede de distribuição, e, mais ainda, na água armazenada nas caixas, indicam a
existência de problemas de manutenção e operação da rede de distribuição e das
próprias caixas d'água.
A contaminação encontrada nas amostras de água das residências pode
estar relacionada à intermitência na distribuição associada à pressão negativa na
rede, a formação de biofilme e o desprendimento destes associados à ausência
de cloro nos reservatórios de acumulação predial, a falta de limpeza das caixas
de água ou precariedade e falhas nos encanamentos das próprias residências.
Os resultados das análises de qualidade de água nos domicílios e escolas
e a comparação com os dados epidemiológicos mostram que a contaminação no
bairro estudado, não ocorre somente nos domicílios. Algumas das escolas
amostradas apresentaram taxas de contaminação microbiológica elevadas.
Conclui-se, conseqüentemente, a importância da amostragem também das
instituições públicas (escolas etc.) para abordagem da situação epidemiológico-
ambiental de bairros.
O número limitado de análises coprológicas realizadas deveu-se a pouca
cooperação por parte das mães, encarregadas de coletar o material das crianças
para análise. Embora tenha sido feito um trabalho de esclarecimento sobre a
importância da pesquisa para a melhoria da saúde quando da aplicação do
questionário, este parece ter sido insuficiente para sensibilizar e envolver a
comunidade para uma participação mais ativa. Este comportamento de descaso
121

evidencia a falta de educação sanitária e a importância desta componente nos


processos para a melhoria da saúde na comunidade estudada.
A qualidade da água consumida nas escolas do bairro deve ser monitorada
com regularidade pelos responsáveis administrativos, pelos estabelecimentos de
ensino e os laudos avaliados pelos demais setores competentes.
É fundamental um trabalho de conscientização da comunidade escolar
partindo da Secretaria de Educação com um Programa de Conscientização
acerca da importância da qualidade e quantidade da água e a capacitação dos
funcionários das escolas.
Os valores acima do que se preconiza na Portaria 518 (Brasil, 2004), tanto
para variáveis microbiológicas quanto para físico-químicos, colocam a população
consumidora exposta a diversos riscos para a saúde, como: doenças de
veiculação hídricas com relação à qualidade microbiológica.
O risco à saúde da população seria diminuído se, em primeiro lugar, a
regularidade do suprimento de água potável e a manutenção do sistema de
distribuição fossem melhoradas. Em segundo lugar os estabelecimentos
educacionais que não dispõem de sistema de distribuição devem ser notificados
dos problemas de potabilidade de suas águas para consumo e algum tipo de
tratamento ou substituição da fonte de suprimento deve ser providenciado.
O desenvolvimento deste projeto desencadeou um processo de melhoria
no controle de qualidade da água distribuída pela ETA do bairro estudado, que
passou a realizar sistematicamente análises de variáveis importantes após
reunião com a equipe do projeto. A conclusão de uma monografia do curso de
Engenharia Sanitária e Ambiental sobre a eficiência da remoção de coliformes
totais e Escherichia coli pela estação de tratamento de água do bairro Parque
Cuiabá, subsidiada por este projeto, proporcionou um diagnóstico das condições
de operação e suas principais falhas. O referido trabalho constituiu uma
importante ferramenta para a correção dos problemas apontados e melhoria do
sistema em geral.
122

8 JUSTIFICATIVA DE ALTERAÇÕES METODOLÓGICAS

Considerando as dificuldades em relação às análises de Cryptosporidium e


Giárdia em água – Treinamento e equipamento de microscopia de
epifluorescência conforme relatado aos consultores em reuniões de trabalho
ocorridas em Cuiabá (UFMT) em Vitória (12/08/02) e em diversos contatos
telefônicos e outros tantos, que não surtiram o efeito desejado;
Considerando a maior eficiência do método de separação imunomagnética
para detecção de oocistos de Cryptosporidium e cistos de Giardia em água
(método 1623 – EPA) em comparação ao método anteriormente proposto (1622 –
EPA), a equipe esteve buscando junto a este órgão, recursos que possibilitassem
a implementação deste método, assim como, aguardando contato mantido entre a
FUNASA e a CETESB para realização de treinamento conjunto UFMT/UFC/UNB
e técnicos da FUNASA para padronização e implementação da metodologia;
Considerando toda a documentação preenchida e encaminhada dentro dos
prazos estabelecidos pelo órgão financiador do projeto (Plano de Trabalho
encaminhado conforme solicitação deste órgão datada de 20/12/2002), para
aquisição de microscópio e material de consumo específico para a definitiva
implementação da técnica proposta à época;
Considerando que, o parecer do consultor da FUNASA quando da última
visita oficial de acompanhamento ao projeto, reforçava a expectativa da equipe na
implementação da técnica e conseqüente determinação de Cryptosporidium e
Giárdia na água de consumo da ETA e demais pontos, fato este não ocorrido;
A equipe viu-se impossibilitada em alcançar ao objetivo inicial, acima
mencionado.
Em função de uma maior representatividade amostral, foi incluída a
avaliação da qualidade da água em cinco escolas do bairro. Considerando a
cooperação limitada da comunidade para a realização dos exames coprológicos
(cronograma físico item 6) e o trabalho de educação na escola proposto no
cronograma físico (cronograma físico item 7), esta atividade foi estendida à
comunidade escolar residente no bairro, objetivando assim uma maior
abrangência da amostragem.
123

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALABURDA, J.; NISHIHARA, L. Presença de compostos de nitrogênio em águas


de poços. Revista de Saúde Pública. 32:160-165, 1998. Disponível em
www.scielo.br/scielo.php. Acesso em março de 2004.

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Microbiological Examination of


Water. In: Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.
20.ª edition, Washington. APHA, AWWA, WEF, 1998.

AQUATEC. Tratamentos Primários. Drew Produtos Químicos S. A., 30p., sd.


AWWA. American Water Works Association. Water Quality and Treatment: A
Handbook of Community Water Supplies. New York: McGraw Hill, 1990.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12216. Associação


Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de Estação de Tratamento de Água
para Abastecimento Público, 1992.

BABBITT, H. E. Qualidade e Tratamento de Águas. In: Abastecimento Público.


Editora Edgard Blucher Ltda, 1958.

BARCELLOS, C. H. Análise de Risco em Saúde Utilizando GIS –


Abastecimento de Água no Rio de Janeiro. Revista Fator GIS (2000):
Disponível em: www.fatorgis.com.br/ftp/pub/download .

BARCELLOS, C.; BASTOS, F. I. Geoprocessamento Ambiente e Saúde: Uma


União Possível? Cadernos de Saúde Pública. 12 (3): 389-397, 1996.

BARCELLOS, C.; COUTINHO, K.; PINA, M. F.; MAGALHÃES, M. M. A. E.;


PAOLA, J. C. M. D.; SANTOS, S. M. Inter-relacionamento de Dados Ambientais e
de Saúde: Análise de Riscos à Saúde Aplicada ao Abastecimento de Água no Rio
de Janeiro Utilizando Sistemas de Informações Geográficas. Cadernos de Saúde
Pública. 14:597-605, 1998.
124

BASTOS, R. K. X.; HELLER, L.; FORMAGGIA, D. M. E.; AMORIM, L. C.;


SANCHEZ, P. S.; BEVILACQUA, P. D.; COSTA, S. S. & CANCIO, J. A., 2001.
Revisão da Portaria 36 GM/90: Premissas e princípios norteadores. In: 21o
Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Anais, pp. 1-12,
João Pessoa: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental.

BATALHA, B. H. L. Ameaça Microscópica na Água Potável. Revista Ciência


Hoje. V.25, n. 145. p.29-34, 1998.

BATALHA, B. H. L.; PARLATORE, A. C. Controle de Qualidade da Água Para


Consumo Humano, Bases Conceituais e Operacionais. São Paulo: CETESB,
1977.

BIZZO, M. L. G. Diffusion of Science, Communication and Health. Cadernos de


Saúde Pública. jan./feb., V. 18, n.º 1, 307-314 p., 2002.

BOUCHARD, D. C.; WILLIAMS, M. D.; SURAMPALLI, R. Y. Nitrate Contamination


of Ground Water Sources and Potential Health Effects. Journal of the American
Water Works Association. 84:85-90, 1992.

BOYD, M. A Guide to Writing Effective Patient Education Materials. Nursing


Management, 18:56-64, 1987.

BRANCO, S. M. Água, Meio Ambiente e Saúde. In: Águas Doces no Brasil.


Capital Ecológico Uso e Conservação. REBOUÇAS, A. C., BRAGA, B.;
TUNDISI, J. G. (org.). São Paulo/SP: Escrituras. 227-247 p., 1999.

BRANCO, S. M. Caracterização e Alterações da Qualidade da Água. In:


Hidrologia Ambiental. PORTO, R. S. S. (org.). Editora da Universidade de São
Paulo – Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 1991.

BRASIL. Ministério das Cidades. Disponível em: http://www.cidades.gov.br/.


Acesso em agosto de 2004.
125

BRASIL. Portaria 1469, de 29 de dezembro de 2000, do Ministério da Saúde.


Normas e Padrões de Potabilidade das Águas Destinadas ao Consumo Humano.
Brasília/DF, 2000.

BRASIL. Portaria 518, de 25 de março de 2004, do Ministério da Saúde. Normas


e Padrões de Potabilidade das Águas Destinadas ao Consumo Humano.
Brasília/DF. Disponível em:
http://www.funasa.gov.br/sitefunasa/legis/pdfs/portariasm/pm5182004.pdf. Acesso
em março de 2004.

BRASIL. Portaria n.º 36, de 19 de janeiro de 1990, do Ministério da Saúde.


Normas e Padrões de Potabilidade de Água Destinada ao Consumo Humano.
Brasília/DF, 1990.

BRASIL. Resolução CONAMA n.º 20, de 18 de junho de 1986. Estabelece a


Classificação das Águas Doces, Salobras e Salinas. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília/DF, 11-356 p., 1986.

CANDEIAS, N. M. F. The Concepts of Health Education and Promotion-individual


and Organizational Changes. Revista Saúde Pública. V. 31, n.º 2, 1997.

CAPPOCCHI, J. Padrões de Qualidade da Água. Revista DAE. Departamento de


Água e Esgotos de São Paulo. n.º 47, 1962.

CAVINATO, V. M. Saneamento Básico. 2.ª ed. São Paulo: Moderna, 1992.

CERQUEIRA, D. A. Coliformes como Critério da Qualidade da Água de Consumo.


Retrospectivas e Perspectivas. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental. V. 3,
1998.
CETESB. Técnica de Abastecimento e Tratamento de Água. V. 1 (2 ª ed.
revisada) e 2 (2 ª ed.). São Paulo, 951 p., 1978.
126

CLEARY, P. D. The Analysis of Relationships Involving Dichotomous Dependent


Variables. Journal of Health and Social Behavior, 1984.

COUTO, J. L. V. Saneamento Rural. Disponível em:


http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/sane.htm Acesso em 08 de julho de
2004.

CUTRIM, A. O. Hidrogeologia, Demanda e Consumo de Água em


Rondonópolis – MT: Subsídios para o Desenvolvimento Urbano Sustentável.
Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas.
Instituto de Biociências. Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá/ MT, 187
p., 1999.

DACACH, N. G. Sistemas Urbanos de Água. Rio de Janeiro/RJ: Livros Técnicos


e Científicos Editora S.A., 389 p., 1975.

DI BERNARDO, L. Métodos e Técnicas de Tratamento de Água. V. 1. Rio de


Janeiro/RJ: ABES, 496 p., 1993.

DI BERNARDO, L.; COSTA, E. H. Curso de Coagulação e Floculação de


Águas de Abastecimento. Belo Horizonte/MG: ABES-MG. 104 p., 1993.

DIÁRIO DE CUIABÁ. Circulação Diária. Edição n. º 10904 de 30 de agosto de


2004. Disponível em: www.diariodecuiabá.com.br. Acesso em agosto de 2004.

ECOFORÇA. Instituição Não Governamental. Gestão Ambiental e Saúde


Pública: Conceitos. Disponível em:
http://www.ecof.org.br/projetos/machadinew/saupubli.html. Acesso em dezembro
de 2003 e Fevereiro de 2004.

ESREY, A. S.; HABICH, J. P. Epidemiologic Evidence for Health Benefits from


Improves Water and Sanitation in Developing Countries. Epidemiol Rev., 8: 117-
28., 1986.
127

FAECHEM, R. G. A. Water Wastes and Health in Hot Climates. John Wiley and
Sons, London, 1977.

FARR, R., 1993. Common sense, science and social representations. Public
Understanding of Science, 2:189-203.

FIGUEIREDO, D. M. A Influência dos Fatores Climáticos e Geológicos e da


Ação Antrópica sobre as Principais Variáveis Físicas e Químicas do Rio
Cuiabá, Estado de Mato Grosso. (Dissertação). Universidade Federal de Mato
Grosso/UFMT. Cuiabá/MT, 1996.

FORATTINI. O. P. Ecologia, Epidemiologia e Sociedade. 2ª Edição. São


Paulo/SP: Artes Médicas. 710 p., 2004.

FOUREZ, G. Scientific and Technological Literacy as a Social Practice. Social


Studies on Science, 27:903-922, 1997.

FREITAS, M. B.; ALMEIDA, L. M. Qualidade da Água Subterrânea e


Sazonalidade de Organismos Coliformes em Áreas Densamente Povoadas com
Saneamento Básico Precário. In: X Congresso Brasileiro de Águas
Subterrâneas. (CD-ROM). São Paulo/SP: Sonopress-Rimo, 1998.

FUNDAÇÃO SECRETARIA MUNICPAL DE SAÚDE. FUSC. Prefeitura Municipal


de Cuiabá. Secretaria Municipal de Saúde. Coordenadoria de Planejamento.
Número de Ocorrência de Doenças por CLD - 10 Período de 01/01/2002 a
31/12/2002, Distrito Sanitário Sul/ Unidade de Saúde: Centro de Saúde
Parque Cuiabá, 2002.
GOODCHILD, M. F. Data Models and Data Quality: Problems and Prospects.
New York: Oxford University Press, 1993.

GRYNSZPAN, Danielle. Health education and environmental education: an


integrated experience. Cad. Saúde Pública, 1999, vol.15 suppl.2, p.133-138. ISSN
0102-311X.
128

HAMMER, M. J. Sistemas de Abastecimento de Água e Esgotos. São


Paulo/SP: Livros Técnicos e Científicos, 563 p., 1975.

HARDOIM, E. L. Agenda 21 - Desenvolvimento Sustentável: Apresentação e


Algumas Considerações do Capítulo 18, Referente à Água no Planeta Terra. In: O
Rio Cuiabá como Subsídio para a Educação Ambiental. FERREIRA, M. S. F.
D. (org.). 149-162 p., 1999.

HELLER, L. . Estado-da-arte da investigação epidemiológica na área de


saneamento. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro, v. 2, n.
1, p. 176-189, 1997.

HESPANHOL, I. Água e Saneamento Básico – Uma Visão Realista. In: Águas


Doces no Brasil. Capital Ecológico Uso e Conservação. REBOUÇAS, A. C.;
BRAGA, B.; TUNDISI, J. G. (org.). São Paulo/SP: Escrituras, 249 –303 p., 1999.

HUTCHINSON, M. F. A New Procedure for Gridding Elevation and Stream Line


Data With Automatic Removal of Spurious Pits. Journal of Hydrology. 211-232
p., 1989.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Dados


sobre Domicílios no Estado do Rio de Janeiro. Anuário Estatístico do Brasil. V.
54. Rio de Janeiro/RJ: IBGE, 1994.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em www.ibge.gov.br. Acesso em
dezembro de 2003.
IINSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Disponível
em www.ibge.gov.br. Acesso em fevereiro de 2004.

INSTITUTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO URBANO. IPDU. Diretoria


de Tecnologia da Informação – DTI. Dados Demográficos. 1995.
129

INSTITUTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO URBANO. IPDU. Instituto de


Pesquisa e Desenvolvimento Urbano. Diretoria de Tecnologia da Informação –
DTI. Dados Demográficos. 1996.

JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C. A. Tratamento de Esgotos Domésticos. 3. ed. Rio


de Janeiro/RJ: ABES, 1995.

KJELLEN, M.; McGRANAHAN, G. Urban Water, Towards Health and


Sustainability. In: Stockholm Environment Institute ISBN: 91-88714-42-X.
Background Document to the Comprehensive Assessment of the Freshwater
Resources of the World Report, 1997.

KUBOTA, M. Saúde para as Cidades - Geoprocessamento na Saúde Pública.


Revista Fator GIS. Disponível em: http://www.fatorgis.com.br/ftp/pub/download.
2000.

LAZCANO, C. A. Fallas y Problemas de la Desinfeccion Urbana para el Simposio


sobre Calidad de Água: Desinfeccion Efectiva. In: Simpósio Regional sobre
Calidad del Água: Desinfeccion Efectiva. oct., 1998.

LIMA, E. B. N. R. Modelagem Integrada para Gestão da Qualidade da Água na


Bacia do Rio Cuiabá. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação de
Engenharia. COPPE / Universidade Federal do Rio de Janeiro / RJ, 184 p., 2001.
LIMA, J. B.; RONDON LIMA, E. B. N., Avaliação das Cargas Orgânicas
Poluidoras Lançadas no Rio Cuiabá pelas Principais Sub-bacias da Cidade de
Cuiabá–MT. Cuiabá, MT. In: 2a Reunião Especial da SBPC. (Resumos).
UFMT/SBPC. 1995.

LIMA, W. X. Avaliação da Qualidade da Água de Abastecimento para


Consumo no Bairro Parque Cuiabá. Monografia de Conclusão de Curso.
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental. Universidade Federal de
Mato Grosso, 2002.
130

LORA, E. E. S. Preservação e Controle da Poluição nos Setores Energéticos,


Industriais e de Transporte, Brasília, DF, ANEL, 2000.

LUDWIG, KARIN MARIA, FREI, FERNANDO, ALVARES FILHO, FIRMINO ET AL.


Correlação entre condições de saneamento básico e parasitoses intestinais na
população de Assis, Estado de São Paulo. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., set./out.
1999, vol.32, no.5, p.547-555. ISSN 0037-8682.

MACÊDO, J. A. B. Águas & Águas. São Paulo/SP: Varela, 505 p., 2001.

MAGALHÃES, M. A. F. M.; PAOLA, J. C. M. D.; PINA, M. F. Coleta de


Informações para Montagem de Bases de Dados de um Sistema de Informações
Geográficas Orientado para a Área da Saúde. In: Anais do XVII Congresso
Brasileiro de Cartografia. Salvador/BA, 1995.

MARTINS, G.; BORANGA, J. A.; LATORRE, M. R. D. O.; PEREIRA, H. A. S. L.


Impacto do Saneamento Básico na Saúde da População de Itapetininga/SP, de
1980 a 1997. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental. V. 7, n. º 4 e 5, 2002.

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral.


Caracterização Hidrográfica do Estado de Mato Grosso - Bacias Amazônica,
Araguaia-Tocantins e Platina. Cuiabá/MT: PNUD/PRODEAGRO. (Relatório
Técnico). 538 p., 1995.

MECCA, M. J. Fatores Intervenientes na Gestão da Qualidade da Água


Tratada em ETAs Localizadas na Bacia do Rio Cuiabá. Tese de Mestrado.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COOPE, 2002.

MEDICI, A. C., Aspectos Sócio Econômico da Morbidade no Brasil: Uma


Contribuição aos Estudos sobre População e Saúde: O Caso do Nordeste. Saúde
Déb. (30): 40-51. 1990.
131

MEDRONHO, R. Geoprocessamento e Saúde – Nova Abordagem em Doença


e Saúde no Espaço. ENSP: Fiocruz, 1993.

MESSIAS, O. M. S. Utilização de Indicadores na Avaliação da Qualidade de


Água de Ecossistema Aquático Lótico de Mato Grosso - Rio Cuiabá.
Cuiabá/MT: PPG Saúde e Ambiente (ISC/UFMT), 167p., 2002.

MIGLIORINI, R. B. Hidrogeologia em Meio Urbano - Região de Cuiabá e


Várzea Grande MT. Tese de Doutorado. Instituto de Geociências. Universidade
de São Paulo. São Paulo/SP, 146 p., 1999.

MILARÉ. E. Direito do Ambiente. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 3 p.,
2001.

MISSAWA, N. A. Influência das Alterações Físicas e Químicas Provocadas


por Poluentes Orgânicos na Estrutura de Comunidades de Testacea
(Protozoa: Rhizopoda) no Rio Cuiabá, Cuiabá - Mato Grosso. Cuiabá/MT:
PPG Ecologia e Conservação da Biodiversidade (IB/UFMT). 144 p., 2000.

MORAES S. L.; BORJA, P. C.; TOSTA, C. S. Qualidade de Água da Rede de


Distribuição e de Beber em Assentamento Periurbano: Estudo De Caso. In: 20.º
Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Rio de Janeiro/RJ.
Maio, 1462–1473 p., 1999.

MORAES, L. R. S. Qualidade Bacteriológica da Água em Nove Comunidades


Pauperizadas de Salvador. Salvador: DHS/UFBA, 1990.

NAJAR, A. L. Desigualdades de Bem-Estar Social no Município do Rio de Janeiro:


Um Exemplo de Aplicação da Ferramenta SIG. In: Saúde e Espaço: Estudos
Metodológicos e Técnicas de Análise. NAJAR, A. L.; MARQUES, E. C. (org.)
167-198 p., Rio de Janeiro/RJ: Fundação Oswaldo Cruz, 1998.
132

NORDBERG, G. F.; GOYER, R. A.; CLAKSON, T. W. Impact of Effects of Acid


Precipitation on Toxicity of Metals. Environmental Health Perspectives. 63:169-
180. 1985.

NOVAES, W. Agenda 21 Brasileira Bases para Discussão. Brasília/DF:


Ministério do Meio Ambiente. 172 p., 2000.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. OMS. Guias para a Qualidade da Água


Potável. Recomendações. Genebra, 2 ed., v. 1, 1999.

PEDRAZZANI ES, MELLO DA, PRIPAS S, FUCCI M, BARBOSA CAA,


SANTORO MCM. Helmintoses intestinais. II- Prevalência e correlação com renda,
tamanho da família, anemia e estado nutricional. Revista de Saúde Publica
22:384-389, 1988.

REBOUÇAS, A. C.; BRAGA, B.; TUNDISI, J. G. (org.). Águas Doces no Brasil.


Capital Ecológico, Uso e Conservação, São Paulo/SP: Escrituras, 1999.
RICHTER, C. A.; AZEVEDO NETTO, J. M. Tratamento de Água, Tecnologia
Atualizada. São Paulo/SP: Edgard Blucher, 332 p., 1991.

RODRIGUES, A. B. Educação Ambiental. In: 3.º Encontro Nacional de Estudos


Sobre o Meio Ambiente. Londrina/PR, v. 2, 1991.

SALATA E, CORRÊA FMA, SOGAYAR R, SOGAYAR MIL, BARBOSA MA.


Inquérito parasitológico na Cecap.- Distrito-sede de Botucatu, Estado de São
Paulo, Brasil. Revista de Saúde Publica 6:385-392, 1972.

SALES, A. T. C. Salubridade das habitações e Suas Relações com os


Aspectos Construtivos em uma Comunidade do Semi - árido de Sergipe.
Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Núcleo de Pós
Graduação e Estudos do Semi-árido. PRODEMA. Universidade Federal de
Sergipe. Aracajú/SE, 2001.
133

SANCHES, P. S. Seminário de Atualização em Técnicas para o Controle


Microbiológico de Águas Minerais. São Paulo/SP: ABINAN/MACKENZIE, 2003.

SANTOS, L. M. Qualidade de Água da Rede de Distribuição e de Beber em


Assentamento Periurbano: Estudo De Caso. In: 20º Congresso Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental. Rio de Janeiro/RJ. II-069. 1462-1473 p.,
maio de 1999.

SHIMADA, P. Algumas Considerações Sobre Qualidade da Água da Rede Pública


Domiciliar em Cuiabá. In: 15.º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e
Ambiental. Belém/PA, 1989.

SPERLING, M. V. Introdução à Qualidade da Água e ao Tratamento de


Esgotos. 2ª ed. Belo Horizonte/MG: Departamento de Engenharia Sanitária e
Ambiental - Universidade Federal de Minas Gerais, 1996.
TARGINO, M. G. The Internet and Society: Just Another Dream? Ciência e
Cultura. 49: 252-262, 1997.

TUCCI, C. E. M. Água no Meio Urbano. In: Águas Doces no Brasil: Capital


Ecológico, Uso e Conservação. REBOUÇAS, A. C.; BRAGA, B.; TUNDISI, J. G.
(org.). Capítulo 14. São Paulo/SP: Escrituras. 475–508 p., 1999.

VINHA C, MARTINS MRS. Parasitoses intestinais entre escolares. Jornal de


Pediatria 50:79-84, 1981.
134

ANEXOS
Anexo A – Questionário formulado para investigação sócio-econômicas e
sanitárias.
135

Anexo B - Questionário epidemiológico.

PROJETO FUNASA / UFMT


Código da residência: ..............................
Data: ...........................................................
ATENÇÃO
Favor preencher os dados do questionário abaixo. Eles são muito importantes para
nossa pesquisa e para a elaboração do resultado de exame parasitológico.
Um pesquisador da nossa equipe entrará em contato, marcando a data da coleta.
As amostras de fezes deverão ser coletadas no máximo 24 horas antes desse prazo,
devendo ficar armazenadas na geladeira até o seu recolhimento pela nossa equipe.
QUESTIONÁRIO EPIDEMIOLÓGICO
ENDEREÇO
Rua:......................................................... Número: ................................................
Quadra: ................................................... Bairro: Parque Cuiabá
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS
Nome da criança:
..................................................................................................................
Sexo: Masculino  Feminino 
Data de Nascimento: ........../............/.................
Idade que completou no último aniversário: ..................................
Estuda? Sim  Não  Fica em uma creche? Sim  Não 
INFORMAÇÕES PARASITOLÓGICAS E SANITÁRIAS
Fez exame de fezes no último ano? Sim  Não 
Se sim, apresentou algum parasita intestinal no exame mais recente?
Sim  Não 
Se sim, qual (s)?
........................................................................................................
Assinale os sintomas que a criança costuma apresentar:
Diarréia  Dor e cólicas abdominais  Vômitos  Náuseas  Fraqueza e
cansaço  Inchaço abdominal  Anemia  Febre  Erupções e manchas na pele
 Coceiras 
Em casa, a criança bebe água:
Mineral  Da rede pública  De poço 
Se da rede pública: Filtrada  Fervida  Diretamente da torneira 
136

Anexo C – Modelo de laudo de resultado das análises coprológicas.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


FACULDADE DE TECNOLOGIA E ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA
LAB. DE ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

1. INFORMAÇÕES GERAIS
Nome:
Data de nascimento:
Endereço:
Amostra: Fezes
Data da análise:
Técnica utilizada: Sedimentação espontânea (ROFFMANN et al.)

2. RESULTADOS

Cuiabá, ____ de ________________de_____


137

Anexo D – Modelo de laudo de análise da qualidade da água.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


FACULDADE DE TECNOLOGIA E ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA
LAB. DE ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS E DE EXAMES MICROBIOLÓGICOS

1. INFORMAÇÕES GERAIS - CLIENTE E PONTO DE AMOSTRAGEM


Interessado:
Endereço:
Local da coleta:
Número coletas:
Tipo de água:
Data da coleta:

2. CARACTERÍSTICAS MICROBIOLÓGICAS
Técnica utilizada – Substrato Cromogênico e Fluorogênico - Segundo Standard
Methods for the Examination of Water and Wasterwater, 20.ª ed, 1998.
PARÂMETROS VMP UNIDADE RESULTADO
S
Coliformes totais
Escherichia coli
*VMP – Valor máximo permissível.
3. CONCLUSÃO

4. RECOMENDAÇÕES

Cuiabá, ____ de ________________de_____


138

Anexo E – Modelo de folheto explicativo para orientação dos moradores.

Instrução para limpeza e desinfecção da Caixa d’ água


139

Anexo F – Boletim de exame de água poço SANECAP


140

Anexo G – Ofício SANECAP


141

Anexo H – Desenho representando o ambiente saudável que é representado


pelos mais diversos elementos da paisagem (árvores, geralmente coqueiros, sol,
morros, rios, cachoeiras, pássaros e peixes) e o ser humano não se coloca como
parte do meio natural.
142

Anexo I – Desenho representando o ser humano nos ambientes saudáveis.


143

Anexo J – Desenho que retratou pessoas jogando lixo no meio ambiente.

Você também pode gostar