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artmed®

EDITORA
R EITO PELO CONHECIMENTO
Equipe de tradução Michael Begon
School oi Biological Sciences
The University oi Liverpool, Liverpool, UK

Adriano Sanches Melo Colin R. Townsend


(Capículos 16 e 19) Department oi Zoology, University oi Otago, Dunedin, New Zealand
Doucor em Ecologia pelJ. Universidade Estadual de CJ.mpinas.
Professor adjunto do Departamenco de Ecologia do Insciturn de Biociências
,b Universidade Federal do Rio Grande do Sul (LJFRGS). John L. Harper
Docence do Programa de Pós-Graduação em Ecologia d, UFRGS. Chapei Road, Bramplord Speke, Exeter, UK

Júlio César Bicca-Marques


(Capículos 7, 15, 22)
PhD com ênfase em Amropologia Biolog1c1
pel.1 Universin· of Illinois ac Urban,-Ch,mp.ugn. C:LJA.
Docenre da Faculdade de Biociênci.1s

Ecologia
da Poncitícia Universidade Cdtó!ica do Rio Grande do Sul (PLJCRS).

Paulo Luiz de Oliveir:1


(Iniciais, Capítulos 1-3, 5, 6, 8-14, 17, 18, 20, 21, Índices)
Doutor em Agronomia pd.a Universica.c Hohenhcim, Alt-manha.
Docente dos ProgramJs de Pós-Graduação em Boünica e em Ecologia da UFRGS.

Sandra Maria Harcz


lCapícu\os 4, 6)
De Indivíduos a Ecossistemas
Doucora em CiC:n~ias, com ênfas~ em Ecologia e em Recursos Naturais, 4ª Edição
pela Universidade Federal de São Carlos. S:io l\1ulo.
Professora adjunta do Departamento de Ecologia do Inscirnco de Biociência~ da UFRGS
Docenre do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Ja UFRGS.

Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição:

l'AULO LUIZ DE OLI\'EIR:\


Douwr em :-\gronomi.1 peb Universirir Hohenhei111. Alenunha.
DoL·ence do~ P1ogrJJ11,t'i dt.' Pós-Gr.1duJ.\Jo em Bodnic.1 e em EcologiJ da UFRGS

B~ l 7e Br:gon. \lichJ.d
b.cull)gi.1: de HH.i1víduos .1 ecossis[emJ.s '\\i...h.id Regon,
Colin R. Tl)wnsenJ, Jühn L. HJrpcr; crJ.duçJo ..-\.drirno S.1nchcs
.\klo .. [er J.l.j. - 4. ed - Porco Alegre Arrme:J. ~00~
-; ~2 p ti ; ~s cm.
Reimpressão 2008

..
ISB:,S: •J7S-8i-3G3-0884-5

Ecologi.1. 1. Town.seíld, Colin R. 11 H.u;.it.:r John l.. III. Tl[Ulo.


~
coe 574

Canlogl"1.ÍO n.1 publicaçio Júli.1 An.gsc Codho - CRR l \)/\ 71 ~


2007

1
Ohra originalmenre publicad.1 sob o cículo Ecology. Founh Edi[ion
ISBN 1405111178
Cop!·righ[ !cl 200G by BLKkwdl Publíshing l[d, Oxford.
Prefácio
-! l11s c:J1c1on i:i publisheJ hy arr.ingemenr wich 81.icbvdl Publishing Lrd., Oxford.
·rr.1ml.1red b:· Amn<:d EJiwr,l S.A. frorn rhe original English languagc \ersion.
Re~p,ln~1bd1r: of rhc.' .1eu1r.1c_1· of rhe u.rnsl.uion resrs soldy \\·irh che :\mncd EJiwr.1 S.:\ .
.l!ld i, nor rhe rc:sponsibiliry nf Blackwdl Publishing LcJ.

Capa:
i\1:írio Róhndc Uma c:2nci2 para todos - mas não uma gia, se não for a profi:-..'>J.u mais .1nriga, provavdmence seja .1
.~i§ncl:J f!3cii ciência mais ancig.i", e era seguido de uma justificaciv.1 segun-
Ilustração da capa:
O murJ.! da cap,1. lk um.i ru.1 de \\dlmgwn. Nova ZdándiJ.. é um-1 obra de Chri:iwpher i\icech e um grupo de anisus
do a qu.1! os hun1Jnos primirivo5 rinham a necessid..1de de com-
urb.rno:,, wm o ubjc.·[1\·n de ui.ir um tr.ih.dho Jrci.;;úco ptiblico que escimul.1,.,e unu rdlex.lo sobre.' .1 degraJ.11;,lO Esce liHo trJU d.1 disrribui-;J.o e abundância de diferc1Hes ci- pn.:ender a din:imicJ <lo ~unbienn: em que viviam. Dezenm·e
.1mh1e1H.d. :\:, paL1\"í,ts. f1l·que1ne1111:nce J.rnbuidas J.o CJ.cique Seade. re:.umi::-rn '-LU \·is.ío. pos de organl:-.mm,, de carJcrerísric1s t"ísicas, químicas e, espe- anos depoi), tenumos caprar, em nosso desenhe, d.1 capa, can-
ci<1lmenrc:. biológicas. bem como de inter,1ções que determi- to o que mudou muito como o que pouco mudou. A pincura
Preparação do original: 11am essas distribuições e .1bund.l.nci,1:-.. ri1pesrre deu lug:1r .10 .'>C:ll eyu[\·alentc:: moJano o gr.ltice ur-
\!.1gJ,1 Ch.n·es
Diferenremenre d~ Jlgunus outrJ.) ci~nciJs, o objeto de bano. Do mc-smn modo que uma c::-.pêcie, gdtic.t e publica-
Leitura final: esmdos dJ ecologia é e\'iJence para rndos: a maioria das pes- mente, est.1mo\ :-.empre rr.111.smicindo nossos :-.c'ntimenrn.'>
D.rnidc :\z.1mbuj.1 Je Borb:1 Cunh.i. soas obsc:l"\'J. e se inrcrcss.t peb natureza e, de cena fornu. ro- ao olhar dos oucro:i. Porém, prncur.is ,imples e reJ1s dão
Julia1u Cunlu da Rocha dos somos um pouco ecólogos. Porém, a ecologi,1 não é uma lug.tr a urgente:, declarações de frustração e .igressão. Os
ciência facil. EL1 con:-.idera o:plicicamcnrc rre:,, níveis de hic- hununos não sáo m.1is meros parcicip.1ntes, nL1S sim per-
Supervisão editorial:
Le(Íc1.1 Bispo de Lim.1
r.uquia biológica - o, organismos, JS populações de organis- petradores ou v1rim.1s.
mos e as comunidades de populações - L. como veremos, 1g- t\awr.1lmcnte. foram necessários mais do que l 9 .mos pJra
Edicoraçáo eletrônica: 11orJ, por sua conu e risco, os decJlhcs da biologia dos indiví- que ocorresse a mudança do pintor d.1 CJ\·ern:1 par.1 o anisc1
:\CE - A,~c:.:.oria Gr.itlc1 r: Ediwri.d Leda. duos ou a.;; influências permeances dos eventos históricos, eYO- do grafite. Todavia. ha 19 anos, parecia aceit.hel. aos ecólo-
lurivos e gc"ológicos. Ela se abastece de avanços em nosso co- gos, manter um ponco de visu conforcável e ubje[i\·o, para
nhecimento :-.obre a bioquímica, o componJ.menco, a clima- nJo dizer desinteressJdo, em que os anim.ús e os ,·egeuis ao
rologia, a recrônic1 de pbcas e assim por diante, mas reforça nosso redor significn·am simplesmente um m.ueriJl para o
também .t nossa compreens,l.o de excensas áreJs da biologia. qual buscávamos uma compreensão ciencítica. Hoje, devemos
Se "em biologia nada cem sen[ido, exceto à luz da evolução", Jceirar a proximid.1de dos problemas ambiencais que nos ame.1-
como di:-.se T.H. Dobzhansky. enrão, igualmente, 11.1 evolução ç.1m e a respon.-iJbilidade dos ecólogos de sair de_· uma posiç,lo
e, porcanco, ,u biologia como um codn, poucas coisas cém secundária e assumir seu papel cotalmente endereç,1do a esse.'!
\encido, exceto i1 luz da ecologi,1. problemas. A aplicação de princípios ecológicos 11.l.o C: J.perus
,..\ ecologi.1 C.lfacreriza-se por 'icr pJrcicularmenre confron- uma necessid,ide pr.üic.1, nus também repre:-.enra um des,ü!o
r.idJ com singulJridade: milhões de espécies diíCren[es, incon- científico. Nes.1,e \Llltido, inclu[mos três novos c1pírulos "apli-
r.iveis hilhões de individuo<; generic1mcnce distintos, todos cados" nesca édiç:w. org.rnizados em rorno de :1l·s seçõe, (iú
\·ivendo e interagindo em um mundo v.uiado e sempre murá- ll\TO: .1plicaçóe.<-. em nível de organismos individu.1i.1i e de po-
\·el. O des.1fio d.1 c-cologl,1 é desenvolver o cunhecimenco sobre pula~ões de um.l única espécie:. em nh·c! de inr2r<1çóes de t')-
l\:,en .ido~ wdo.;; m d1rl·iros de 11uhl1caç:10. cm língua porrnguc:'>a. J
prob!cm.1s muito h,bicos e t:'\·idenre~ p.1r.1 reconhecer este ca- pécies e em ní\·t'l Je cumuni<lJJes e ecoss1stenLl\. Porém, per
,ln ldE[) l·DITORA S ..,. i-Ít.:r únic() e .1 stu complexid.1Je, mas ..10 mesmo tempo. bus- rnc1necemo.'! (Oll\·icros de que c1 aç.l.o .imbienul só pode te,
.\\·. l..::·(rnimo di: ( )rnel.1,. 67() - S.,nun.1 ,__Jr p.1<lrões e predições dentro de,s.1 com~1lexidade, em vez de cons1srênci,1 qu-1n<lo bJ<;e.1da cm ~1rincípio.., ect1lógicos. Por-
lJIJU-HJ-5~0 !\11tu :\k·gre RS ~:::-r subme[1d.1 ,l e!J. Como :-..diencou L.C. Blrch ..1 receica de unro. c1i...1u,inro 1)~ dt'11u1s ,__·.1pítulo1i <iu alnd., .rn1~1L1111enté'
Fonl· (;)) _102---000 F.1-..: (~li .102--70-:0
\X'hitehe.1d p,ua .1 nência ( nuis ,1propri.1Ja qu,mdo aplicada dedicado.\ JOS p1't"iprio.1i principios, em \·eL de Sll.l.'! ,1plicações.
f·. p1u1hiJ.1 ,\ dupliu..::w ou reprnJu':,.iO dçm: \olumc:, no wdo ou cm p.uct:,
:1 ecologia: busque ,1 s1mplici<l.1de, nus de....confie <leia. acr.:dinmus que u conjunco Jesre li\ 10 \·isa um mdhor prep,1-
.~llh qu.11:itJUe1 forrn.b uu rior qu.1i,qul'f rnt:ios (r:lc:uónico, meçi.111co, gr:n·.1ção. rii p.tra o enc.uninhameruo de problenus .11nbienu1:. do 110,·u
h,rn1..u[)l.l. dismbu1s·.io !!.t \\'eb e oucro..;1, :,em permi~üo cxpre:.sJ d.1 EJiwr.1. milênio.
·::~.~eJ~;,J\;9 aí:::i.3: :1 ~:;r:·:,ls9\3 apiicada '..::(ing2
SAO PAULO .::: r:';2ioi-ld~.J3
\\. t\ngéltc.1. 109 ! - Higiéll{Ípo!i:.
0!227-100 S.io Pllllo sr
Fone 11 : 1 5G65- l 100 F.t., ( 111 .l667 -1533 Esc,1 4:J edição cheg.l nove anos após su:t ancecessorJ imedÍJta
e 19 .1nos após .1 l ! ediçJo. ,\1uito mudou em ecologi.i no Seríamos rc:.1lmente ecólogos medíocres :-,e nio .tcred1cj,;;semn.'!
,.AC ilSIJO -o.l-3444 mundo ao nos:-.o redor e até cm nós Jucores (por nuis escra- que os princípio, dJ. ecol~gia .'!e aplicam .1 rod.b .b Li.._eus do
nho que p:irc:ç.ti). ü prefácio d:1 l 1 ediçJo inicia\·a assim: ''Con- mundo ao 11us)O redor e a rndo:i os .1:-.pectos do ._·sforço hunu-
l\!PRES~O C:ü BRASIL
f'R!t\'TED !,\· BRA7!L forme: J pintura rupescre que ilu,tLI a c1pa <leste livro. a ecolo- no. Assim, a \ J. ediçJo de Ecologia foi J Je um liHo gcner.tl1s-
VI Prefácio Prefácio VII

ca, desci nado a superar a oposição de rodos os livros-texto con- que elas consricue-m uma série de subtítulos, ressaltando a es- Nas edições anteriores, agradecemos aos muitos amigos e chard Sibly, Andrew Watkinson, Jacob Weiner e David Whar-
correntes. Recencemence. fomos persuadidos a usar nosso gran- trutura deulhad.1 do texto. Encrecanro, por serem numerosas colegas que nos ajudaram cri ricamente em várias passagens do ton. Na etapa de produção na Editora Black-well, fomos auxi-
de livro como um crampolim para produzir um rexco menor e e freqüentemente auro-informacivas, elas podem ser lidas em rexro. Os efeitos de suas concribuições estão ainda forcemence liados e escimulados por Jane Andrew, Elizabech Frank, Rosie
mais básico, Essrntíals ofEcolog_y (também publicado pela Edi- seqüência junrn com os subrímlos convencionais, com um de- presentes nesta ediçáo, que foi lida por vários revisores, aos Hayden, Delia Sandford e Nancy Whilton.
tora Blackwell!)*, destinado especialmente ao primeiro ano lineamento de e.ida capítulo. Elas devem, também, auxiliar os quais manifestamos nossos profundos agradecimentos. l'vlui- Esce livro é dedicado às nossas familias - de Myke para
do curso de graduação e àqueles que, neste nível, reráo apenas c:scudanccs na revisio dJ marina - na verdade, das são seme- tos deles permaneceram anônimos, mas remos o prazer de agra- Linda, Jessica e Robert, e de Colin para Laurel. Dominic, Jenny
uma disciplina de ecologia em seu currículo. Jh.unes às anocações que os estudantes freqilentemenre fazem decer pela ajuda de Jonachan Anderson, Mike Bonsall, Angela e Brennan, e especialmente em memória de sua mãe, Jean
Isso, por sua vez, nos possibilitou engendrar uma cena em seus livro'.'.1-texrn. Por fim, como estas notas geralmente Douglas, Chris Elphick, Valerie Eviner. Andy Foggo, Jerry Evelyn Townsend.
quantidade de "diferenciações de nichos". Com o respaldo dos resumem a mensagem do parágrafo ou parágrafos que elas Franklin, Kevin Gaston, Charles Godfray. Sue Harcley, Mar-
primeiros anos do Essentials, ficamos mais livres para fazer desta acompanham. elas podem servir como uma avaliação contí- cel Holyoak, Jim Hone, Peter Hudson, Johannes Knops. Xa- Mike Begon
4" edição um guia da ecologia atual (ou, ao menos, quando nua da compreensão: se você for capaz de perceber que acha- vier Lambin, Svaca Lauda, Peter Morin, Steve Ormerod, Ri- Colin Townsend
ela foi escrita). Para esta finalidade. foram incorporados ao mada é a mensagem resumida do que acabou de loc, então
cexco os resultados de cerca de 800 escudos recences. a maioria você entendeu o rema. Ainda assim, nesta edição, acrescenta-
dos quais publicada após a 3• edição. Todavia. reduzimos o mos um breve resumo para cada capítulo, esperando que ele
livro em ctrca de l 5º/o, cientes de que, nas edições anteriores, oriente e prepa.re os leirnres antes de iniciarem o capítulo, ou
os rexros se rornaram progrt"ssiv.1mence longos e de que, mes- que sin·a como recJpicul..1çâo do que foi lido.
mo pJn:cendo clichê, menos é freqi.tememente mais. Ao mes- Assim, resummdo e, Jré cerro ponto, rC!'1cerando. estas são
mo tempo em que incluíamos cantos trabalhos recentes, cen- algumas cancrerísricas-chave desta 4l edição:
ramo,; também deliberadamente evitar modismos, que prova-
\'elmence estarão ultrapassados quando muiros estiverem usan- • chamadas em desL1que, do longo do cexro
do este livro. lnfelizmenre. e claro que podemos também cer • resumos de codo::. os capírulos
excluído modismos promissores. • incorporação de cerca de 800 esrudos recenres
Esperamos que esta edição seja útil a todos aqueles cujo • rrt:s capítulos novos sobrç ecologia a.plicada
curso de graduação inclua ecologia e a todos que são, de algu- • redução, em aproximadamente l 5%. do tamanho rotai do
ma maneira, ecólogos praticantes. Certos aspectos dos con- livro
teúdos, parricularmence os referentes à matemática, poderão • página (em inglés) na internet (www.blacbvellpublishing.com/
ser difíceis para alguns, mas a obra foi concebida para garanrir begon), \·inculada à página do livro EssenriaÍf of ecology,
que, independencemence de onde se concencrem as energias incluindo modelos matemáticos interativos, um extenso
dos nossos leitores - no campo ou no laboracório, na teoria ou glossáno, cópias da arte-final no cexco e conexões com
na prática -, surja uma visão equilibrada e atualizada. outras pJginJs sobre ecologia
Os diferences capítulos desce livro compreendem distinras • acualização e reformulação de rndo o projeto gráfico.
proporções da história natural descritiva, fisiologia. compor-
camenco, rigorosa experimenração de campo e de laboratório,
minuciosos monicoramencos e recenseamentos de campo, além Agradecirr.entos
de modelagem matemática (uma forma simples, segundo a
qual é essencial buscar, mas da qual, igualmente, é essencial Por fim, calvez ,1 mai,; profunda alteração na consuuçáo da 4,1
duvidar). De cerca forma, estas proporções variadas refletem o edição desre livro é que a rev1s:'io foi um trabalho realizado por
progresso alcançado em diferences áreas. Elas refletem cam- dois de nós, e não mais por crês. i\.luico sensatamente, John
bl:!m diferen\JS intrínsecas em diferences aspectos da ecologia. Harper <lec1dru que a apost'nradoria e o pdpel de avô mere-
Seja qual for o progresso Jringido, a ecologia permanecerá como cem, agorJ, maior arçnç:ío do que a co-autoria de um livro-
um campo dt: enconcro p.lra o nacura.lisra, o experimemador, rexm. Para nós que perm::inecemos, fica somenre um benefí-
o biólogo de campo t" o modelador m:uemático. De: 1\gum cio: John no~ permHe regi suar public.tmentt' não apenJs a gran-
modo, rodos os ecólogo,; deveriam [enrar reunrí rodas escas de satisfação Je ctrmos colaborado ..::om dt' durante rodos e::.-
facetas. ses anos, m,1'.'.I também por cermos aprenJido tanro com de.
Não podemos prometer qut' assimilamos ou, para sermos
fr:1ncos, acei::amos rodas as suas opiniões, mas, nesta 4:i
Características técnicas e pedagógicas edição, esperamos rer seguido os caminhos pelos quais ele
nos conduziu. Porém, se os ieirores reconhecerem as cenca-
Uma. característica técnica conservada nesce livro é a incorpo- civas de estimul.u e inspirar, em vez de simplesmenre infor-
ração de notas em destaque que acompanham alguns pad.gra- mar, de pergunur, em vez de aceitar, de respeitar nossos
fos, funcionando como guias ao longo do texto. Esperamos leitores, em vez de conduzi-los a uma padronização, e de
que estas sirvam para muiros propósiros. Primeiramente, por- evitar obedic'-n..::i.1 incondicional 3. repuução arual, embora
reconhecendl) no~s.1 dívida para com os mescres do passl-
· i\ di:: T Publica.do pd.1 Arrmi::d Ediwca sob o ciwlo F11ndm11mtor em do, então ele'.) re~J.o identificado o legado lnreleccu.1l de John
ecnlogi,r. 2.ed .. em 2006. aind.1 firmemente impresso no texco.
Introdução: A Ecologia e seu Domínio

Definição e escopo da ecologia Os ecólogos rambém focalizam as rota<; seguid.ts pela energia
e pela maréria, J medida que esrJs se movem Jrravés de de-
A pa.lavra "ecologia" foi usada pela primeir.1 vez por Ernesr mentas vivo~ e n.ío-vivos de uma categoria posrerior d<;! orga-
H.1eckd em 1869. l'arafraseando Haeckel. podemos definir a nizaçâo. o t't"OJ"SIS!t'Hur, que compreende .1 comunidade junto
ecologia como o e~rudo cienrítlLo d.is intc:raçóes enrre os or- com o seu ambieme físico. Com este ní\·el de organização em
g.111 i:.mos e o ~eu ambience. A p.1L1n.1 é Jeri\·,1da do grego 01- mente, Likens ( 1992,1 es[ende J nos).l definiç:10 prefc-rid.1 de
l·u,, que sisnific.1 "u.,;,1". Pnrunw. ~1odc-rí.1mm dizer que a eco- é'Lolog1.1 111cluindo ··,1s inreraçõc'i cnrre organi'imm. b<:."m n1n10
!u~i.1 é o e:iruJo d.1 "\'ÍJc1 domé:,rica" do\ organismos vivos. ,l rr.1mfom1Jç.l.o e o fluxo de energiJ e m.Héri.1··. EntrecJnm,
l(;ebs { 197 2.; sugenu uma ddlniç.l.o menos v;ga: "A <:'.cologia nJ nos~.1 ddlniç:ío. trJn.•iformações de macéria/energiJ c")rão
é o e:irndo ciencffico das interat;óes Cjllc:'. dererminam a dis(rt- corno subordinadas :1s "1meraçóes"
buiçáo e a .1bund:ín..:i.1 dos organismos". Observe que a defini- Exi~rem duas amplas abordagens que os ec6logos podem
ç.lo de Kreb~ n.lo utiliza a pal.1n.1 ··.1mbiente"; par.1 ::.aber a adorar c:m cada nível de organização ecológic.1. Em prlmeiro
raüo disso. é nece.'isário definir cstJ. p;1L1,T.1. O .1mbiente de lugar, muiro pode ser obtido p.1rtin<lo de propriedades em um
um organismo consisre em um cnnjunrn de influencias exter- nível ab.iixo: a fisiologia, qu.rndo estud.11nos ecologia do orga-
1us exercidds sobre de, as quais são represt:madJs por fatores e ni::.mo; o r.rnunho da ninhada, quando in\'esrigamos a din.i-
fenômenos. Tais farnn:s podem sér fí-;icos e químicos (abióti- mica de populações de dererminadas espécies; as uxas de (on-
cos) ou mesmo outros organismos (bióricos). As "interações" sumo de alimento, qu.mdo rrar.1mos das inter.1ções enrre po-
J.t ddlnição de: ~rebs, naturalmeme, SJ.o interações com es~es pulaçóes de pred.1dore~ e de presas; os limites d:i similaridade
\',inos fatores. O ambiente, portanto, co1ben·a aqui a posição de espécies coexistentes, quando pesquisamos comunidade~. e
cemral concediJa pnr Haeckel e111 su:1 detlniçáo. A detlniçJ.o Jssim por diame. Uma a.borda.gem ..1lrema.riva. crau diretamente
Je K,ebs tem o mérito de localizar o tema ccnrral da ecologia: d.is propriedades do nível de interesse - por exrmplo, largura
a discribuiç.l.o e a .1bundinci.1 dos organismos - ondt os orga- do nicho no ní"el do org.rnismo; impord.nciJ relativa de pro-
nismos ocorrem, qwl!ltos ocorrem em um dererminado local e cessos dependentes da dt:nsid:1de no nível d..1 população; di-
por quê. As~im, poderíamos propor uma definição ain<la me- versidade em espécies no nível da comunidade; r:ua de produ-
!lh)r de ecologiJ como: ção de biomassa 110 ni\·el do ecossistem.1 - e procura relacio-
ni-1.is .10.s aspecrns ,lbióticos ou bióticos do amhienre. AmbJs
o eswdo científico d.i distribuição e Jbundància dos as abordagem são úcei) e serão us.1d.1s em cada unu <las trê'.)
organismns e d.1, inrLTações que determ,nJm .1 disrri- panes Je~ce livro: Organismos, lnreraçues e Comunid.1d~s e
buiç.lo e ;1 abund.lnci.1. Ecossi~r.:rn,is.

t',.,(i qu.._· \C rd"erc .w cem,i cemr.il th t.'.'colo~1.1, .1 p.1ne dJ "dis-


ml1u1i;Jn e .1bunJ.ir1<..i.1 du'.) oq;.1111,mn"'" 1._: .1gr.1Jan:lmrnte su-
c11n.t. ToJ.1\·1.1, lh'U..'.)'otr.uno~ .trnpli.i-Lt. O rnunJo \"Í\'I) pode
'it:r enc.ir.1do como um.1 hier;uqttt:l bioiógic.t. qut.' inicia com Em rndu~ os nÍ\'Ci\ J.1 h1er.1r4u1.1 ecológJC,l, rs:nt.t-)t:' re.dir.1r
p.irricub-; ~ubcelulJ1-es e comirnu .1tr.1vés J.is células. dos (eci- muit.1~ '-ºi~.l'.) difcrc:nces. Em primeiro lugar, f)Ode-se tenur
du.-. e dos úrs.l.o~. :\ ecologi.1 re111 uê-; níveis dr imeres~e: orgd- exp!t(,li" ou mmprecnrla. Tr.H::i.-se 1.L1 hu,;c.1 do conhecimt:nro
11/,ino indzvi<lu,d. poplflaçílo (fornud.1 por indinduos d~, mes- na cr.1J1~.l.O ciencífic.1 pura. ~o em ..uHo. p.u.1 conseguir ::-sfe
nu t.'~pécie) e com,n11d.Jdt: (t.jue ..:onsi'ifc <:m um número mJior intento. é necesdrio primeiumeme de)crt't•t-r. Cnm isso, um-
ou menor de popuL1çócs). Em rd,1ç:io .10 0rgJnisr11u, a ecolo- bém aumenumos nossos conhecimemo, do mundo vivo. Ev!-
g1,1 ~e ocupa do modo como os indivídum s:io Jfeudos pelo dc:ncemenre. para compreender .1lgo, devemos dispor <la d<:'.'s-
seu .unbieme (e como des o :tfeCJmJ. No nÍ\'d da população, criç.lo do que queremo<; conhecer. Do me'.)mo modo, embor.1
a e..:ologi,1 ~e ocupa J,1 presenç.1 uu Ju-;ência de de(ermin.1das menos ób\·io. a, descrições m.lÍs v.1liosas são aquel.1s re::i.lizadas
e~pécies, <l.1 su.1 .1h~111d.inciJ ou r.iridade t.' J.1s tendênci:i.s e rendo-se em mente um problemJ em e~pccial ot1 "uma nec<:s-
fluru,1çóes em seus números. A e,,_.ologi.1 d.is comunid.1des tra- ,idJde de compreenüo". Todas as descriçó<:s ~5.o seletivas, mJs,
Lt da compos1ç:io e organÍZJ<;..l.o de comurnd.1Jes ecológica~. nas de~crn.;ües nJo-direc1011JJ,1S, nJ.o-realizada) com unu ti-
X INTRODUÇÃO: A ECOLOGlA E SEU DOMÍNIO

nalidade decerminada, freqüenremence se verifica mais tarde mente as mesmas?" (Capítulo 19). Tais problemas fazem parte
que foram selecionados alguns farores errados. da ecologia moderna canco quanco a prevenção de pragas, a Sumário
Os ecólogos freqüentemente tentam também prever o que proteção de lavouras e a preservação de espécies raras. A capa-
aconcecerá a um organismo, a uma população, a uma comu- cidade de explicar e compreender melhora nossa capacidade
nidade ou a um ecossistema sob um conjunto determinado de de concrole e exploração dos ecossistemas. Na busca do co-
circunstâncias: com base nestas previsões, procuramos conrro- nhecimenco, devemos combinar canro as explicações próxi-
la.r a situação. Tenta-se minimizar os efeitos negativos dos ga- mas como as discantes.
fanhorns prevendo quando eles provavelmente ocorrem e to-
mando as atitudes apropriadas. Tema-se proteger as lavouras
Parte 1: Organismo:.
prevendo quando as condições serão favoráveis a elas e desfa-
voráveis para seus inimigos. Tenra-se preservar espécies amea-
Organismos em seus .1.mbienres: o cenário evolutivo . .3
çadas propondo a política de conservaçáo adequada. Precisa- Os ecólogos se ocupam não apenas de comunidades, .popula-
2. Condições .. ....... 30
se conservar a biodiversidade mantendo os "serviços" dos ecos- ções e organismos da narurna, mas também de ambientes cons-
3. Recursos .. .. 58
sisremas, ral como a proreção da qualidade química das águas uuidos ou influenciados pelo homem (planração de florestas,
narurais. Em algumas siruaçóes, a previsão e o controle po- lavouras de trigo, depósitos de grãos, reservas naturais, etc.) e 4. Natalidade, monJ!1dade e hiscória de vida .. ... 89
dem ser realizados sem dispor de explicação ou compreensão. de consequênciJs da. influênci.a humana sobre a nacureza (po- 5. Competição inc1,1·c)pcdfica .. l.ll
Porém a.s previsóes confiáveis, as previsóes exaras e as previ- luição, sobre-exploração de recursos naturais, mudança climá- 6. D1spersâo, Jorm2111..u .:- merapopulaçóes .. 162
sões sobre o que aconrecerá em circunsrâncias não-habituais tica glob.1!). ~J verdade, nossa influência está táo generaliza- 7. Aplicações ecológicas nos níveis individual e populacional: rc:scauraçâo, biossegurança e
só podem ser feiras quando se pode explicar o que esrá ocor- da que é mu1co difícil encomrar um ambiente ainda não-afe- conservação. 185
rendo. A modelagem maremácica desempenhou e conrinuará tado por atividade humana. Os problemas ambientais ocu-
desempenhando um papel fundamencal no desenvolvimenro pam hoje um.1. posição de destaque na agenda política, e os
da ecologia, especialmence na nossa capacidade de prever con- ecólogos têm claramence um papel cenrral a desempenhar: um
Parte 2: J nt1-:L'.\Úé'->
seqüências. Todavia, é no mundo real que esramos interes- futuro susrencável depende especialmente do conhecimento
sados, e o valor dos modelos deve ser julgado em termos de ecológico e da nossa capacidade de prever ou produzir conse-
8. Compecição inrerespecífica. ... 225
elucidações sobre o funcionamenco dos sistemas naturais. qüências segundo diferences cenários.
9. A natureza da predaçJ.o. .. 264
É imporrante perceber que, em biologia, existem duas clas- Quando a l' edição deste livro foi publicada (1986), os
ses diferentes de explicação: as explicações próximas e as dis- ecólogos, em sua. maioria, classificavam a si mesmos como cien- 1O. A dinâmica de populações da predação .... ... 297
tantes. Por exemplo, a distribuição e a abundância acuais de tistas puros, defendendo o direiro de se ocupar da ecologia em l 1. Decomposirores e derncívoros .. .... 326
uma determinada espécie de ave podem ser "explicadas'' em seu próprio benefício e não querendo se desviar para projetos 12. Parasicismo e doença. .. 347
termos do ambience físico que ela tolera, do alimento que ela estritamente aplicados. Esta situação mudou drasticamente em 13. Simbiose e mum.1li:-.mo .. ... 381
consome e dos parasicos e predadores que a atacam. Esca é 20 anos, em parre porque os governos transferiram o foco dos 14. Abundância ... ... 410
uma explicação próxima. Encretanco, também se pode pergun- organismos de concessão para aplicações ecológicas, mas tam- 15. Aplicações ecológica:-. no nível das interações enrre populações: concrole de pragas e
tar como essa espécie de ave adquiriu essas propriedades que bém, e fundamenralmenre, porque os ecólogos responderam manejo de exploraçáo . ...... 439
atualmente parecem governar a sua vida. Esca pergunta deve à necessidade de direcionar grande parte da sua pesquisa para
ser respondida mediante uma explicação em rermos evoluti- muiros problemas ambientais que se rornaram cada Ve'l. mais
vos. A explicação distante da distribuição e da abundância acuais prementes. Esta realidade e reconhecida nesra nova edição,
dessa ave encontra-se nas experiências ecológicas de seus an- por meio de um cracamenro sistemático de aplicações eco-
cestrais. Em ecologia, existem muiros problemas que deman- lógicas - uda uma das rrês seções termina com um capitu-
16. A nacureZJ da cornunidade: padrões no espaço e no tempo .... ..... 469
dam explicações evolutivas, distanres: "Como os organismos lo de cunho aplicado. Acreditamos enfaricamenre que a
passaram a ter determinadas combinações de tamanho, taxa aplicaçâo dJ teoria ecológica deve ser baseada em um co- 17. O fluxo de energi.1 .ur;1vés dos ecossistemas. 499
de desenvolvimenro, rendimenro reprodutivo, etc.?" (Capitu- nhecimento sofisticado da ciência pura. Desse modo, nos- 18. O fluxo de m.1rér1J ,Hravés dos ecossis(emas . ... 525
lo 4). "Por que os predadores adoram determinados padrões sos cJ.pírulos sobre ei..:ologia aplicada esrão organiudos em 19. ,-\ iníluênc1J de 111tcr.1s-ôes populacionais na e::.trucura de comunidades .. 550
de comportamento de forrageio'" (Capírulo 9). ·'Por que as ramo do .:.onhecimenro ecológico apresenrado nos cJ.píru- 20. Teüs .1l1menurcs )78
espécies coexiscenres são muitas vezes semelhances, mas rara- los preceJenres de cada seção. 21 Padrões na nqueLJ em espécies . .. 602
22. Aplicações ecológÍCJ.\ no nível das comunidades e ecossistemas: manejo com b:1.se n.J.
reorla da rnct'.ssin, ce1.15 alimentares, funcionamento do ecossistemas e biodiversidade. 635

Referências Bibliogrific.1s . 659

Índice de organismos. .. 70 7

Índice de as::.unrn,;. 719

Encarte colando entre JS págin:is 20 e 21


INTRODUÇÃO rai.1. vai iam no espaço e no tempo e como elas impõem limites
J disrribuiçáo de espécies em panicul..ir. Após, no C:1pítulo 3.
Preferimos começ.1r esce livro com cJ.pím(o<; sobre organis- d.m::mos atenção ,105 recursos que diferences ripos de organismos
mos, para logo depois considerar os modos como eles inrc:ra- consomem e à narureza <las suas interações com rais recursos.
gem e, por fim, tratar dJs propriedades d;is comunidades que A presença e a abundância <le unu espécie conferem :1
elt:"s conscicuc:m. Podemos cha.mar ess;i abordagem de ''cons- sua comunidade muito do seu irueresse ecológico. A abun-
rru(lva". Poderíamos também, muito sensacamence, cer dado dância e a distribuição (a variação da abundância de um loc.11
um oucro tratamento para o cc:ma - iniciando com uma dis- para outro) sáo determinadas pelo equilíbrio entre natalidade,
cussão sobre comunidades complexas de hábicats naturais ou mortalidade, imigração e emigração. No Capitulo 4, conside-
consrruídos pelo homem, dando seguimento com a "desmon- raremos alguns dos vários esquemas de n:1talidade e mon.1li-
r.1gem" delas em escalas cada vez menores e finalizando com dade. de que forma eles podem ser quanrificados e os modelo.'.
capírnlos sobre as características dos organismos individual- resultances em "histórias de vida": perfis de crescimento, dife-
menre -, uma abordagem mais analítica. Porém, nenhuma renciação, armazenamento e reprodução ao longo da vida. No
delas escá ''correra"~ Nossa abordagem evita a necessidade de Capirulo 5, examinaremos a interação que é, ralvez, a mais
de~crever padrões de comunidades antes de discutir as popu- generalizad:1 atuando em populações de uma única espécie, a
lações que as constituem. Porém, quando nós iniciamos com competição intra-específica por recursos (companilhadm) com
os organismos, temos de admitir que muitas das forças am- suprimemo resrrirn. No Capíwlo G. remrnaremos à migra-
biencais aru,rndo sobre de'.'., em especial as e . . pécies com as ção: imigração e emigraçáo. Cada espécie vegetal e aninul rem
quais eles coexistem, serão examinadas integralmente apenas uma capacidade de dispersão característica. Essa capacid:tde
mais tarde neste livro. determina .1 taxa com que os indivíduos escapam dos ambien-
A primeira seção inclui os organismos e ,ls populações tes que são ou se tornaram desfavoráveis e a ra.xa com y_ue des
compostas de apenas urna espécie. Consideramos inicialmen- descobrem locais propícios para colon1z:1.çáo e explora,,)u. ,\
cc os tipos de corrt'.sponJênc1.1s que foram dereccad.1 . . emre os. .1bund.incia ou raridJJe de urna espécie pode ser determin.1d.1
organismos e os 1mbiences em quedes vivem. SeriJ. facil ini- pela sua ca.pac1<l.1de de :.e d.ispcrs.u (ou migrar) pJr:.1 nunchas.
lÍ,1r com a idéia de.· que Lada org,rni . . mo, de .ilgum moJo, esd ilhas ou concinc"ntL'S desocupado'.'.!. Por fim, no C.1piulo 7,
pnfeicamemc: molJ,lJo ,10 .1mb1ente onde vÍ\'e. Em vez disso, .iborJ:iremos .1 ;iplicu;.ío Jo,;; princípio~ di:.cutidos nos c::ipirn-
enf:.uizamos., no Capítulo J, que os orgJni~rnos com freqllên- los precedenre'i, incluindo a reoriJ de nichos, a teona da lw,-
c1.1 são como sJ.o e vivem onde vivem devido à'.:! rescrii;ües Ím- cória de vitfa, o.<, padrón de migraçlo e a Jinàmica de popula-
pos[Js por :.uJ. história evolu[iv.1. As espécies rüo esráo. cod.1s, çôe'.'.! peque,us, dedicando acenção especial a restaur:1çJ.o :1pó~
presences em quase todos os lug.1res, e t:XJrninaremos J seguir, dano ambienc.11, bimscgur.rnç.1 (resist~nciJ à invasão de: e:.pé-
no Capítulo 2, as maneiras pel.1s qu,1is a.<, condições amb1en- cies alúcmnes) e conservaç.l.o de espécies.
nismos não foram planejados ou moldados para o presente:
eles foram moldados (por seleção natura{) por ambientes pas-
A partir da nossa definição de ecologia, no Prefacio, e mesmo sados. Suas características reflecem os sucessos e as falhas de
a partir da compreensão que o leigo cem do termo, fica claro ancestrais. Eles parecem escar apcos aos ambientes em que vi-
que no âmago dessa disciplina se situa a relação entre organis- vem no presence apenas porque cais ambiences cendem a ser
mos e seus ambientes. Nesce capítulo, explicamos como, fun- similares àqueles do passado.
damencalmenre, isso é uma relação evoluciva. O grande biólo- A teoria da evolução por seleção natural é uma ceoria eco-
go russo-americano Theodosius Dobzhansky é autor desta fra- lógica. Ela foi primeiramente elaborada por Charles Darwin
se: "Em biologia, nada cem sentido, exceco à luz da evolução". (1859), embora sua essência tenha sido também examinada
Essa é uma verdade da ecologia, bem como de qualquer outro por Alfred Russell Wallace (Figura
aspecco da biologia. Assim, tentamos aqui explicar os proces- 1.1), seu concemporâneo e correspon-
sos pelos quais as propriedades de diferences tipos de espécies dente. Ela baseia-se em uma série de
lhes possibilitam viver em determinados ambientes, assim como proposiçóes.
explicar também porque elas não conseguem viver em outros
ambientes. Ao planejar esse cenário para o tópico, introduzi- 1. Os indivíduos que constituem uma população de uma es-
mos muitas das questóes que serão detalhadas em capítulos pécie não são idênticos: desvariam, embora às vezes apenas
posteriores. levemente, em tamanho, caxa de desenvolvimenco, em res-
Na linguagem comum, a frase mais habirualmeme usada posta à cemperacura, ecc.
para descrever o ajuste entre otganismos e ambiente é: "orga- 2. Ao menos parce dessa variação é heredirária. Em oucras
nismo X é adaptado a", seguida por uma descrição de onde o palavras, as caracceríscicas de um indivíduo são determina-
organismo é encontrado. Assim, com freqllênc1a ouvimos que das até cerco ponto pela sua conscicuiçio genérica. Os in-
"peixes são adaptados para viver na água" ou "cacto.'> são adap- divíduos recebem seus genes de seus ancestrais e, portan-
tados para viver em condiçóes de seca". Na linguagem comum, to, tendem a comparcilhar suas caracceríscicas.
isso pode significar muito pouco: simplesmente que peixes pos- 3. Todas as populaçóes têm a potencíalidatÚ de povoar roda a
suem características que lhes permitem viver na :igua (e talvez Terra, e das o fariam se cada indivíduo sobrevivesse e pro-
os excluam de oucros ambientes) ou que caccos têm caracterís- duzisse seu número máximo de descendentes. Porém, elas
ticas que lhes permitem viver onde a água é escassa. A palavra não o fazem: muitos indivíduos morrem antes da reprodu-
"adaptado'' empregada aqui não informa como JS característi- ção, e a maioria se reproduz menos do que a taxa máxima.
cas foram adquiridas. 4. Ancestrais diferences deixam nti.meros diferentes de desan-
Para um ecólogo ou um biólogo cúntes, o que significa muico mais do que dizer que indiví-
evolucionista, no enunw, ··x é adap- duos diferentes produzem números diferences de descen-
tado a viver em Y" significa que o am- dentes. Isso inclui cambém as possibilidades de sobrevi-
biente Y estabeleceu forças de seleção vência da prole até a idade reprodutiva, a sobrevivência e a
nacural que afetaram a vida de ances- reprodução de seus descendentes; por sua vez, a sobrevi-
trais de X e, assim, moldaram e especializaram a evolução de v~ncia e a reprodução dos descendences desces úlcimos, e
X". "Adaptação" significa que ocorreu mudança genética. assim sucess1vamence.
Lamencavelmente, concudo, a palavra adapcação implica 5. Por fi.m, o número de descendences deixados por um indiví-
que os organismos estão moldados aos seus ambientes amais, duo depende, não inceiramence, mas de maneira decisiva, da
sugerindo '·intenção" ou mesmo "previsão". Todavia, os orga- interaçáo entre as características do indivíduo e seu ambiente.

1
PARTE l - 0RGAN1s-,os
CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 5

a) mos se ajmum aos seus ambiente~ por serem '"os mais apros aquático. Os organismos fixos, como algas, espongiários, me-
encre os disponíveis" ou "os mais .1pms aré o momento": eles xilhões e cracas, enfrentam e mleram dois extremos de vida.
não são "os melhores imagin,íveis". Parte da falra de ajuste Por outro lado, os camarões, os caranguejos e os peixes rastrei-
surge porque nem todas as propriedades atuais de um organis- am seu ambiente aquático enquanto se movem; as aves coscei-
mo se origin,i.ram em um ambiente similar, em todos os as- ras exploram seu h.íbirar rerrescre. A mobilidade de tais orga-
pectos, àquel..: em que ele vive no mamemo acuai. No curso nismos lhes permice ajustar seus ambientes a si próprios. O
de su.1 hisróri.1 evolutiva (sua filogenia), um antepassado re- organismo imóvel se ajusra ao seu ambiente.
moro do organismo pode rer desenvolvido um conjunro de
cu.tcrerísrica,,.... a ''bagagem'~evoluçiva - que resrringem uma
evolução futur.L Por muiros milhões deJnos, ,l evoluç.J.o de 1.2.1 Variação geográfica intra-específica:
\'ercebrados foi limitada àquela que pode ser alcançada por ecótipos
orgJnismos com un11 coluna vertebral. AJem disso, muim do
qt~ hoje emendemos como ajustes precisos entre um organismo Arabzs fecwtdtt é uma erva perene rara, rescrita aos solos de
e seu ambiente também podem ser vistos como resrrições: o coab aAoramentos calcários no oesre de Manca.na (Estados Unidos).
\·ivi.: com ~UL<.:'..'.SO da folh1gem de tl,rn~i,ptw, mas, de uma ourr.1 Na realidade, essa espécie e rio rara que existem apenJs 19
pt:t'.lpecriv.1, de rüo pode\ iver .'iem .1 folhagem d..: Fuct1(pptuJ. popuLições, sep,1r.1dJs em dois grupos (de ··altitude elevada" l'
de '"alrirn<le b,1ixa") por uma distância de cercJ. de 100 km. A
possível ocorrênci.i de adapcaç.io local, nesse caso, é de impor-
1.2 Especialização em nível intra-específico rància prácica parJ a conservação: quatro da.s populações de
altitude baixa estJo sob ,1 Jmeaça dJ expansão de áreas urba-
O mundo nacur,tl 1üo é composto de um rontimmm de tipos de nas e podem necessitar de reintrodução de indivíduos de ou-
organismos, oda um com·errendo-se gradualmente no próximo: tras procedc?ncias, ~e eL1s forem mantidas. Quando as ad.1pu-
identificamo.-. limires enrre um tipo Je org.111ismo e outro, Con- ções locais são muito pronun(iadas, a reintrodução pode ser
tudo, denrro do que reconhecemm como esptúe (definida a se- malsucedida. A observação de plantas em seus próprios h.ibi-
guir). exi::.re, em gerJI. um.1 consl<lerável vJri,1çáo, da qual uma rars e a verificação de diíúenças enrre das não nos moscrarão
pane i here<lir.íria. É sobre tal v.1riação inrr.1-específica, afinal. se houve adaptação loca! no sentido evolmivo. As diferenças
que firocecnisras e zootecnisras (e a sdeç:'io natural) trabalham. podem simplesmence resultar de respostas imediaras a ambien-
Uma vez que h.i d1ferenç.1s entre os próprios ambientes tes contrastantes, desenvolvidas por
experimencados por um,1 espécie em partes diversas <la sua. a.m- planras que são essencialmente as mes-
plirude de disrribuiçJ.o, pode-se e!>perar que a seleção 11 •.uural mas. Nesse sentido, plantas de altitu-
tenha favorecido variantes diferenres da espécie em locais dis- des elevada e baixa foram cultivadas
tintos. A palavra :córipo foi primeirJ.menre empregada em po- junras no "mesmo jardim", eliminan-
iURA 1.1. (a) Charles Darwin 1849 (litografia de Thomas H. Ma-
puL1çôes vegetais (Turesson, l 922,1, 1922b). visando descre- do. assim, qualquer influência de diferenças ambiemais (McKay
re. cortesia de Tne Royal tnst1tut1on. London. UK/Bndgeman Art
rary) (b) A!fred Russell Wallace. 1862 (cortesia do Natural H,story ver diferenças genericamente determinadas encre popuhções et al, 2001). Os locais de alúrude baixa eram mais sujeitos à
seum. London) de uma espéc,e que refletem ajustes entre os org~mismos e seus sec.l; unto o ar quanto o solo eram mais quenres e secos. Por-
;unbientes. Porém. a evolução forç.1 as cuacrerísricas de popula- tanro, no escudo realizado, as plantas de altitude baixa apre-
çôes a di\'ergiri.:m um,\S da." mnus someme se (i) existe suficiente senraram maior rolerâ.ncu à seca (Figura l .2).
vari,1bilidadt'.' heredic.íriJ. sobre a qu,11 a seleçâo pode atuar; (ii) .1s Por outro lado, a seleção local nem sempre supera J hibri-
Em rodo amh1c.·me, .tlgun,;; indivíduo'.) render:lo a sohre\·i- pr,üiu. o termo com freqüenci.1 é aplic1do n.lo a um só indi- fonra:i que favorecrm .1 di\·ergênci.1 são fortes o basrame para. se 1.bçdo. Por exernplo, em um esrudo com Chamaecrisftl jàJC!Cll-
,1 ,e rt'produzir melhor e .1 deixar rn.1is desu~ndemes do víduo. m.1, também a um indivíduo rípico ou um tipo. Pode- oporem ao Líll7.rn1enw e à hibridJ.ç3.o Je indidduos de dit"eremes lar.t - um.1 legumino'.)J anu.11 ocorrenre em hjhHats alreraJos
. '. ou(ro,. Se, dt:v1do ,w t:nti de ,tlgu11s rndin'duo:. dei:,nrem mo, dm.:r. por exemplo. que l'fll dun.1~ arenosJs, os caracói, louis. Duas populaçôes n.lo d1\'erg1rão de mancir1 compku .\t' nn lestt: d.1 Ar;1érica do :\orte -. foram cu!rivad.is em um mes-
i, dt.::,Ccndenrn que riurru,. ,l'.:'.i :.ILlL{tTÍ:.rÍch hc:n.:dit.iri,t" dt: 1..(lnch.1,;; ,rn1.m:t1'.I '.l:io mai:i .1ptos do que os ur.lCÓÍ.'. de ccm- '.'>CU~ rnemb,m lntL nu c1so Je \·egeui:i. st:us gr.tos Je pólen) m.rn- mo j.tr1..lim L'Xperimemal. pl.uuas oriu1Hhs do loc1l de "ocor-
\!!11.l pu~1u!.1\."io r11ud.11c111 li,._· u111.1 :;1..:r.1,).0 fUrJ our1.t, Lüll- ch.i, m.1rro11". :\ (_·f,r,ít·ia hwli~z1(d (/ifill'SJ), emJo, é um,t c:xpre_,- riverem co11t,tco conrmuo e rn1srnr,uem .-.eus gene<;. rC:11u.1 1uwrJl"' ou runspbnrad.ts de dtsr:incia:i de 0,1. 1, 10.
l'Ll-'>t.· que ou11n.:u t.'\·n!m.lo por :.dc\.Í.O rutuul. E<;s,1 é a s:t0 rcLHi\·,1. e n.ío ,1bsolut.1. O::. 1ndi\ íduos 111.11~ .1pro:i em um,1 Pupubçúc.:s localrnence especi.1liudas .1eab.1m apresent.1n- 100, 1 000 e 2.UOIJ km (C.1lloway e Fenster. 2000). O mudo
·ccpçJ.o v.1g.1 que <;e tvrn tju,111Jo se._. Jiz l\ue J 1ucurt.:z.1 é popul.1.;áo ,Jn ,lt}ucles que deixam um número maior de des- do uma difercnciaç.lo mais evideme em org,1nisn10s que são foi repetido rrê~ \'e1es - no K.rnsas, em i\laryland e no norte
eov,L Porém, a 1LHurtL1 rüo <;ekciona d.1 mesma manet- o.:ndenres rc/,1ú1·amt'ittr: ao número Je descendenres deix,1do, móveis dunn(e a m,lÍor pane de su:.i..-, vid.i.-,. Os organismos de Illinois. Cinco L,lLlctcriscicas foram medidas: gerrnin,1ção,
que o fazem os ficorecn1:.Ll'>..: zoorecnisr.t\. E\ses remem por ourros indtdduos na pnpulaçlo. móvei.'. pos'.lut'm uma ampla margem de controle sobre o am- sohrevin~ncia. b1om.1ssJ Ja pane veger;1tiv,1, produção de fru-
u uma tliulidade dài11i1..L1 - semente'> m.1iores ou um.1 (~u.rn1..lo nos m.ir.1vilhamos com ,1 hienre cm que vivem: eles podem uir de um ambiente lera! ou ros e número de fruros produzidos por semente colocad1 para
,l de Cl\,do maÍ\ vdo, ( tHHudo .. 1 naturelJ náo selccio- di\'eL">icLide e complexid.:tde <las espe- de::.fa\·orivel e buscar ativamente um outro. Os org.1ni~mos gcrmirur. O estudo mostrou que, par.1 rodos os paràmcrros,
,hsim, atfi·,rmr:n!L': cL .1pen,L'> n10:-.rr.1 o cenúio em que J cial1z,1~·õt:". existe uma tenr:iç:io de sêssei~ nJo cêrn c,1' libc-rdade. Eles neces:1iram viver, ou morrer, em rod.1s .ts repetii;ões, houve pouca ou mesmo nenhuma evi-
·esenudo o 1ogo t:\·oluti\'<J J,1 '>übre\·in'.'ncia e reproduçJ.o con~iderar cad,t c;1~0 como um exemplo de perfeiçJ.o evoluti- n,l.'> 1...ondiçõn onde se estJbclecem. Por isso, as populações de Jencia de adapcaç.:io local. exceto em escalas espaciais muitos
t:re11c1.us. va. Porém. i,:,,o senJ um erro. O processo evolutivo arua ::.obre orgJnismos sésseis s:io cxposrJ'i a forçts de sdeç:ío narural de nuis distantes (Figura 1.3). Existe "adJpCJção local", nu.<- nio
( h indl\·íduos nui., ,iptos em unu ,l \',1ruhilidade genétic.1 disponível. ConseqUenremenre, é im- unu forma pcculi,lrmenre imensa. clJramenre :1que!t loca!.
popuLt•-;,-,o ,.lo .1quele~ qul:' deix.1m um prt)\ :l\'d que a .\eleçJ.o natural le,,e :1 e,·oluç,ín de indivíduos Esse contraste é evidenciado n,l cosu marinh,t, onde o Podemos também cesr.1r se o::. orgJnismos evoluíram para
ru'1111~ro m.iior de dc.,cendenres. N.1 perfeicm. com ''.1pridâo nüxinu" Em \'CZ di~so, m org.rnis- .unOic:nte enrre-nurés oscil.t conrrnuamente entre terrestre e se rorn.1rem especi,1lizadm J vida em )t'US ambienres locais,
PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 7

ca das populações esrará sempre defasada em relação às mu- o caso quando as formas de cor rara de uma presa são mais
P=0.009 P= 0,0001 P= 0,001 danças ambientais e será incapaz de se antecipar às circuns- apcas, pois elas não são reconhecidas e, por isso, são igno-
20 40 câncias mucáveis - isso está ilustrado no exemplo da mariposa radas por seus predadores.
Biston berularia apresentado a seguir. 4. As forças seletivas podem atuar em direções distintas dentro
Muitos polimorfismos, concudo, das diftrenre, zonas na população. Um exemplo notável de
são mamidos ativamente em uma po- polimorfismo em uma população narural é proporcionado
15 30
E
E
s .
s pulação por seleção natural, e há várias
maneiras pelas quais isso pode ocorrer.
por um escudo de transplante:: redproco sobre o trevo branco
(Trifólium reprns), em um campo em Gales do Norte (Rei·

.
:li
m

1 10
e
20 1. Os heteroz1gotos podem ter uma maior eficácia biolog1ca, mas,
no Unido). Para determinar se as características de indiví-
duos se ajustavam às características locais do seu ambien-
m
"
e

1
"~ devido à mecânica da genética mendeliana, eles geram con- te, Turkingcon e Harper (1979) retiraram plantas de posi·

1
<
.;! ! rinuameme na populaçáo homozigocos menos aptos. Tal ções marcadas no campo e as multiplicaram em clones no
"'
D
"heterose" se observa na anemia falciforme humana. nas ambiente comum de uma escufa. Após, eles transplanta-
10
zonas onde há prevalência de malária. O p.irasirn da malá· ram amostras de cada clone no local de onde procedia a
ria acaca os erirrócicos. A mutação do cipo falciforme dá planta originária de cal clone (como um concrole) e, além
i'j;..'~.
.::}r:~,-_-.
:.:-~~; origem a erirrócitos fisiologic.i.mc:nce impafe1to'i e malfor· disso, introduziram uma amostra nos locais dos quais pro-
=::t~ mados. No enranco. os hect:rozigoco.'> pJr J o fator falei for· cediam todas as outras planc,s (como cransplance). As plan·
Att1tude Altitude Altitude Altitude Altitude Altitude me possuem eficácia biológica, pois eles sofrem apenas li- cas cresceram por um ano, ances de sc:rem removidas, seca-
baixa elevada baixa elevada baixa elevada
geiramence de anemia e são pouco afrcados pdJ mal.íria. das e pesadas. O peso médio dos trevos transplantados de
Porém, eles geram de modo contínuo homozigows, que volca em seus ambientes originais foi de 0,89 g, mas em
JURA 1.2 Quando plantas de Arabis fecunda provenientes de altitudes baixa (propensa à seca) e elevada foram cultivadas no mesmo
jim. houve adaptação local; aquelas oriundas da altitude baixa exibiram uma eficiência no uso da água significativamente maior, alêm de são perigosamenre anêmicos (dois genes p.ua o fator falci- locais afastados ele foi de apenas 0,52 g. uma diferença
marem rosetas mais altas e largas (de McKay et ai., 2001 ). forme) ou suscetíveis à malária (sem genes p1ra o facor escatiscicamence muito significaciva. Isso proporciona uma
falciforme). Contudo, a maior eficácia biológica do hete- evidência direta e force de que clones do crevo na pdsragem
rozigoto mantém ambos os tipos de gene i;a população evoluíram e se rornaram especializados, de modo a ter um
(ou seja, um polimorfismo). desempenho melhor em seu ambiente local. Porém, cudo
90 2. Podem haver gradientes de forças seletiv,H fa\·orecendo uma isso ocorreu dentro de uma única população, que, portan-
forma (morfo) em um extremo do gradienrt' e oucra forma to, era polimórfica. •
T no oucro extremo. Isso pode produzir popu!dções polimór-
T T
T ficas em posições inrermediárias do gradiente - tal situa- Na verdade, a distinção entre ecóripos locais e populações
T ção rambém esrá ilustrada a seguir no escudo da mariposa polimórficas nem sempre é evidente. Isso é ilustrado por um
FIGURA 1.3 Porcentagem de germinação, Biston betularia. outro estudo em Gales do Norte, onde há uma gradação de
em um 1ard1m experimental. de populações 3. Pode haver uma seleçâo dependente da freqtiénclil, em que hábitacs, junco à margem entre cestões marinhos rochosos e
de Chamaecrista fasciculata provenientes do
local e transplantadas de diferentes distân- cada um dos morfos de uma esp~cie é mais apm quando é pastagens. Em muitos desses hábitacs, ocorre uma espécie de
cias ao longo de uma transecção no Kan- o mais raro (Clarke e Partridge, 1988). A..:redira-se ser esse gramínea (Agrostis !tolonifem). A Figura 1.4 exibe o mapa do
sas. para testar a existência de adaptação
local. Os dados de 1995 e 1996 foram agru-
pados porque não diferem estatrslicamen-
le. As populações que diferem daquela do
hábitat ong1nal ( P < O, 05) estão indicadas (a) (O)
0,1 1,0 10 100 1 000 2.000 por astensco. A adaptação local ocorre so-
Distância do transplante {km) mente na escala espacial maior (de Gallo- 30
1
1.
way e Fenster, 2000)

. r
f 20 :l,
>
"
o
~.,.
o é realizado por meio de experimencos de transplantei rtci- ções. Tal vanJ.ção e conhecidd como polimorfismo. Especifi- < ,oL ,,,
1
FIGURA 1.4 (a) Mapa de Abraham's BosofTI,
local escolhido para um estudo sobre ocor-
Jcos: comparar o seu desempenho, quando culcivado ''em camente, o polirnllffi'imo genérico é "a ocorrência simultânea rência de evolução ao longo de d1stãncias
,a" (isco é, no seu ambiente natural), com seu desempenho no mesmo hábicar de duas ou mais formas descontínuas de

soluJJ~J·
100 pequ,anas. A área mais escura corresponde
,nge de casa" (ou seja, no hábic.u de outros). Um experi- uma espécie, em uma proporção cal que a mais rara dehs não à pastagem mane1ada; as áreas mais c!a·
(e)
ras correspondem aos cestões marinhos
:nro desse tipo (realizado com trevo branco) é descrito na pode sc::r manrida. meramente por muração recorrenre ou imi- rochosos. Os números indicam os locais
)xima seção. gração'' (Ford, 1940). Nem wda essa variação represenra um O onde a graminea Agrostis stolomfera foi
"- amostrada. Observe que a área total tem
ajuste enrre orgJ.nÍsmo e ambiente. De faro, pane dela pode 2• to · uma extensão de apenas 200 m. (b) Uma
representar um fal:in desajuste, se, por exemplo, as condições
2.2 Polimorfismo genético
100 200m ~ ·~25 .
transecção vertical perpendicular à área de
em um h.íhiur mud.1m de cal modo que uma forma é subsri-

Em uma escala mais detalhada do que


ruída por oucn. Ta.is polimorfismos são denominados cransi- i~ 1 o
estudo, mostrando a mudança gradual da
pastagem para as condições de costão ro-
choso. (c} Comprimento mêdio dos estolões,
córios. Uma vez que todas as comunidades esrão sempre mu- O 100 produzidos no 1ard1m experimental pelas
ecócipos, é possível também detectar dando, muicos polimorfismos observados na narureza podem Distância (m) plantas coletadas da transecção (de Aston
níveis de variação dentro de popula- ser cransicór1os, mJnifescando are! que ponto a rC"sposca gC"néci- e Bradshaw, 1966)

1
PARTE l - ORGANISMOS
CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 9

11 e uma das cransecções nJ qual as planu.s foram amosffa- a escala espacial seja pequena, as forças de seleção parecem nõmeno em que formas pretJS ou escuras de espécies cêm sur- carbono. Então, com unu rapidez extraordinária, a freqúên-
; ela apresenra também os resulrados do cultivo, no mesmo sobrepujar as forças de hibridição. Todavia, é discutível se gido de modo a predominar em populaçóes de ~ireas indus- cia da forma melânica recuou para nívt:is próximos aos verifi-
{im, de plantas procedentes dos pontos de amostragem ao deveríamos descrever tal situação como uma st=rle em pequena criais. Um gene dominante é cipicJmente responsável pela pro- cados antes da industrialização (Figural .6). Novamente, houve
go dessa rran..,ecçáo. As planras se propagam vegerariva- escala de ecótipos locais ou uma população polimórfica man- dução em excesso do pigmento melânico preto nos indiví- polimorfismo transitório, mas no período em que as popula-
nte mediante a emissdo de caules junrn à supC"rfície do solo cidJ por um gradiente de seleção. duos escuros. O mel.mismo industrial é conhecido em muims ções esr;ivam seguindo omra direção.
olões); o crescimento da::. pbnras foi comparado pela me- países industrializados, sendo que mais de 100 espécies de ma-
io dos comprimentos desses esrolões. No campo, foi cons- riposas desenvolveram formas de..,se tipo de mel<rnismo.
1do que as pbmas localiz.idas nos cosrões formavam ape- 1.2.3. Variação intra-específica com pressões de O regiscro mais ancigo desse modo 1.3. Especiação
esrolóes curros, e os J,1s pl.mcas d.1 pascagem eram longo-". seleção provocadas pelo homem ri1elan1smo
de evolução de uma espécie foi o da
jardim experimental, uis diferenças foram mantida.'), em- 1:1dus1r1al na
nuriposa Biston berularia. O primei- Fic.1 claro, assim, que :1 seleção natural pode forçar populações
a os pontos de amosrr.igem estive..,sem afastados por ape- Talvez não seja surpreendenre que ::ilguns dos exemplos mais ro espécime escuro em uma popula- de plantas e animais a mudar suas características - a evoluir.
cerca de 30 m - cerc.imence denno d.1 amplirude de dis- dramáticos de especialização local dentro de espécies e.na ver- ção p,ilida foi caprurado em Manches- Porém, nenhum dos exemplos que consideramos envolveu a
são dos grãos de pólen entre as plantas. De faro, ao longo dade, da seleção n.uural em atuação) cenham sido impulsio· ter (Reino Unido), em 1848. Em 1895, cerca de 98% da po- evolução de uma espécie nova. O que. então, jusrifica consi-
u:rnsecção, houve correspondenci:1 entre a mudança grJ- nadas por forças ecológicas provocadJs pelo homem, especial- pulação dessa mariposa, em Manchesrt'r, era mdânio.. Após derar a elevação de duas popul.1çôes ao staws de espécie? E
d do :1111b1ente e a muJ.rnç.1 gradu.1! <lo comprimemo dm mente aquelas refúenres à. poluição ;imbienral. Estas podem muiros anos mais de poluiçJo, um levJntJmento Je larga es- <...jUal é o processo - "especiaçâo" - pelo qual du,ts ou mais
>iões. prcsumi\·elrncmc i..:om base gc:nétiu. j.í que esu foi pro\·oc.1r muJ.rnÇJ-'> dpidas sob J inflw:nci.t de podero..,J.s pres- c.1L1 re.1lizado enrre 1952 e 1970 revelou a pre.'iençJ. de 20 mil espécies novas são form.1J.ts J pJrrir de uma espécie originJl?
rente no mesmo jJrdi111 c:xperimentJI. Assim, mesmo que sôes de seleç.ío. O ml'l,uúmw i11dwff1td, por exemplo, é o fr- t:spécimes de B. hctuLll"ia dJs formJs pilida e mdjnica 11.1 GrJ.-
BrerJ.nha (Figuu l .5). Os \·enrm na Grã-Bretanha são oci-
denca.is, dispe~sando poluentes in<lu.'itriais (em especi:11, fumaça 1.3. 1. O que entendemos por "espécie"?
e dióxido de enxofre) para a direção leste. As formas meli111-
cas escavam concencradas na direç.1.o lestt' e inexistiam com- Os céticos cêm dito, com um ceno
.,;3Jec1,:; Sro:·Jg1c2
pleumenre nas panes não-poluídas <lo oeste da Inglaterra, de grau de verdJde, que uma espC:cie é o ~ L"s!e rJ::. i};_:,;r-
Gales, no norte da E.">cócia e na Irlanda. Obst:rva-se na figura, que um competente caxonom1sca con-
contudo. que muitas populações eram polimórficas: JS formas sidera como cal! Por outro lado, na dé-
melânica e nJ.o-melânica coexistiam. Desse modo, o polimor- cada de 1930. dois biólogos americanos, Mavr e Dobzhansky,
fismo pJrece resultar ranro de alreraçóes ambientais (maior propuseram um teste e~tplrico que poderi,a ser usado pa;a
Q forma typica poluição) - nesse sencido. o polimorfismo é transitório-quan- decidir se duas populaçõe~ eram parte de unu mesma espécie
@ forma carbonana to de um gradienre de pressões seletivas do oeste menos polu- ou de duas espécies diferentes. Eles reconheceram organismos
ído para o leste mais poluído . como membros de uma mesma espécie aqueles que podiam se
• forma msufar1a
A princlpal press.ío seletiva parece ser aplicada por aves acasalar na narnreza e produzir prole fértil. pelo menos pocen-
predadoras das mariposas. Em um experimenro de campo, uma cialmente. Eles chamaram de espécie biológim uma espécie tes·
grande quantidade de mariposas melânicas e n:ío-melânicas cada e definida desse modo. Nos exemplos usados anterior-
(pálidJs, typica) foi criada e liberad.is em números iguais. Em mente, sabemos que as mariposas B. betu!aria melânicas e nor-
uma área rural e predominancemenre não-poluída do sul da
Inglaterra, a maioria das mariposas capturJdas por aves era
melânic.1. Em uma área induscrial próxima à. cidade de Bir-
mingham, J m.lioria era típica (Kt:tdewdl, l 955). Enrreranco,
a imt:rpreração segunJo J qual ;H formas melânicas eram favo- 100

recidas simplesmente porque escavam umuAadas em sub.">cra- -( '


ms t.'iC..urecido\ por fum,1ça n.i.s .ire.is mais poluídas (e as for- 'i
FIGURA 1.5 Locais na Grã-Bretanha
80
1 :·\
onde as frequênc1as das formas páhda
(forma typ,ca) e melânica de Biston be·
111,lS típius er.1111 favorc:i..:idas em ;Í!e,1:. náo-poluíd,ts, pois estavam

cunutbJ.1s em .">uhsrr,Hns cl.1ros) pode :>er c1pena, parce &1 expli-


-1- 1\
ro
ôO
tu/afia foram registradas por Kettlewell
e seus colegas. No total, mais de 20 mil
caç.:io. As rn:1.ripus.1:> permanecem sobre os troncos das ,irvores
dur.inre o dia, e.: as formas n.lo-meLlniclS fica.m bt:m-c-sconJi<l.is l f\j

it
espécimes foram examinados. A forma
melãnica principal (forma carbonaria) em um substrato de musgos e liquens. A poluiç:1.o industri.11 nJo
,l' 40
era abundante próximo às âreas rndus-
só escureceu o substrato das mariposas. mas umbém, e~peciJl-

·r
triais e onde os ventos ocidentais pre-
valentes carregam poluentes atmosfé· menre por meio do dióxido de enxofre. destruiu a maior p.ute
ricos para a direção les:e. Uma forma dos musgos e líquens sobre os troncos das ,irvores. Desse modo, J
lf,t,
melân1ca adicional (forma msufana. que
poluiçáo por dióxido Je enxofre poJe cer sido tão importante o
se parece com uma fo1ma mtermed1á· 1950 1960 1970 1980 1990 2000
na. devido à presença de diversos ge- qua11ro a fom.HrJ n.i seleção de m1riposas mdânicas.
Ano
nes que controlam o carâter escuro) Na décadJ de 1960, os ambientes industrializa<los na Eu-
esteve também presente. porém perma- ropa Ocidental e nos Est.1dos Unidos começar.im J mudJr, 3
neceu oculta onde os genes para a for- FIGURA 1.6 Mudança na freqüência da forma carbonaf!a da mar1po·
ma carbonarra estavam presentes (de medid.t que o petróleo e J eletricidade começJram J substitulf sa Biston betularia na área de Manchester a partir de 1950. As linnas
Ford, 1975) o carvão, e unu legisbção foi aprov.1da para estabelecer zonJs verticais representam a erro-padrão, e as horizontais. a amphtude de
!ines de fumaça e reduzir J emi~sâo in<lusui.11 de dióxido de anos incluídos (de Cook et ai 1998)
) PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 11

tis podem se acasalar e que a sua prole é integralmente fi~r- 8.S;J€C ?.Cüé::S isolamento reproducivo, em especial nau-se na Sibéria e colonizou progressivamente na direção apenas porções de cerra circundada de água - podem rer um
isso cambém é verdadeiro para as planras dos diferentes caraccerísticas pré-zigóticas, impedin- oeste, formando uma cadeia ou continuum de formas diferen- efeiro profundo na ecologia das populações e comunidades
os de Agrosti.i. Elas são variações intra-específicas - e não do a produção de prole de híbridos de tes, expandindo-se para a Grã-Bretanha e Islândia (Figura 1.8). que vivem nesses locais. Tal isolamento também proporciona
>écies disrinras. baixa eficácia biológica. As formas vizinhas ao longo do continuum são discincas, mas o ambienre mais favorável para as populações se separarem em
Na prática, c:ncretanto, os biólogos não aplicam o teste de Seria erra.do imaginar, encrecanto, que rodos os exemplos hibridam rapidamente na namreza. A5 populações vizinhas espécies distintas. Mais célebre exemplo de evolução e especi-
1yr-Dobzhansky para reconhecer uma espécie, pois não há de especiação se ajuscam integralmente a esse cenário ortodo- sáo, portanto, consideradas como pane da me~ma espécie, e ação em ilhas é o caso dos renrilhões de Darwin, no arquipéla-
npo e recursos suficientes para cal. Além disso, existem vas- xo (Schlurer. 200 l ). Primeiro, o conraro secundário pode nun- os taxonomisras dão a elas apenas o status de ''subespécies" (p. go de Galápagos. Galápagos é consriruído de ilhas vulcânicas
porçóes do mundo vivo - a maioria dos microrganismos, ca acontecer. Isso seria especiação "alopárrica" pura (isco é, com ex., l. fascus graellsii, l. Juscus Juscus). fu populações da gaivo- isoladas no Oceano Pacifico, a cerca de 1.000 km a oesre do
r exemplo - cuja ausência de reprodução sexual toma ina- rodas as divergências ocorrendo em subpopulações de locais ta, entrecanco, também se expandiram na direção leste da Si- Equador e a 750 km da Ilha dos Cocos, que dista 500 km da
Jpriado o critério escrito do cruzamenco. O mais imporran- diferentes). Segundo, existe dara possibilidade de variação con- béria, novamente formando um continuum de formas que hi- América Cenrral. A mais de 500 m acima do nível do mar, a
é que o reste reconhece um elemento crucial no processo siderável nas importâncias relacivas dos mecanismos pré-zigó- bridam livremente. Juncas, as populações que se expandiram vegetação é do ripo campestre aberra. Abaixo dessa altitude,
J!ucivo, com o qual já nos deparamos ao considerar a espe- tico e pós-zigórico nas fases alopátrica e de contato secundário. para o leste e o oeste circundam o hemisfério narre. Elas se sicua-se uma zona úmida de floresta inrercalada, com transi-
lização dentro de espécies. Se os membros de duas popula- O fundamental, talvez, é que tem aumentado o apoio à enconcram e se sobrepõem no narre da Europ.1. Lá, os conti- ção gradual para uma faixa costeira de vegetação desénica do-
:s são capazes de hibridar e seus genes são combinados e opinião de que não há necessidade de uma fase alopátrica: isw nuum oriundos do leste divergiram, cama que e fát.il identifi- tada de algumas espécies endêmicas de caccáceas (Opuntia).
liscribuídos nc1 progênie, entio a seleção nacural nunca po- é, a especiação "simpirrica" é possível. com subpopulações di- cá-los, sendo reconhecidos como duas espéoes d1scinus, L. fus- Cacorze espécies de centilhões são enconcradas nessas ilhas. As
rá rorná-los verdadeiramente discincos. Embora a seleção vergindo, .1pe:-,d.í Je rüo esc.1rem geogra~lcamenre separadas ci,s e l. argentaws. Além disso, J.S duas espécies nJo hibndam: relações evolucivas entre elas foram escabdecidas por cécnicas
rural possa tender J. forçar uma população a evoluir em duas uma d.1 omra. A circunsd.ncia mais escudada em que isso cem das tornaram-se espécies biológicas verdadeiras. j\;e~~e excraor- moleculares (analisando a variação em DNA ''microssarélite")
mais formas discinras, a reproduçJ.o sexuada e a hibridação maior chance de ocorrer (ver Dres e l'vhllec, 2002) provavel- dinário exemplo, podemos, então, perceber como duas espé- (Figura l. 9) (Perren et a!., 1999). Esses restes modernos são
Jvocam novamente a mistura delas. mente é aquela em LJ. ue insetos se alimentam de mais de uma cies distintas evoluíram a parcir de um estoque original e que acurados e confirmam o ponco de visca há rempos aceito de
Especiação ''ecológica" é a especia- espécie de phnrJ. hospedeira e precisam se especializar para os estágios de ~uas divergências permaneceram in.1lterados no que a árvore genealógica dos renrilhões de Galápagos irradiou
ção induzida por seleção nacural di- superar as deres.is vegetais (defesa e especialização quanto ao continuum que as conecta. de um tronco comum: uma única espécie ancestral, que inva-
vergence em subpopulações distintas consumo de recursos são examinados inregralmence nos Ca- diu as ilhas a partir do continente cencro-amerícano. Os da-
(Schlurer, 2001). O cenário mais or- pítulos 3 e 9). Nes~c sentido, panicularmenre convincente é a dos moleculares t1mbém fornecem fone evidência de que o
foxo para isso compreende vários esrágios (Figura 1.7). Pri- exiscênCla de um contimwm identificado por Dres e Maller: 1.3.2. Ilhas e especiação renrilhão canoro (Certhidea olivacea) foi o primeiro a se sepa-
!iramence, duas subpopulações se tornam geografi.camence partindo de popul.1ções de insetos predadores de mais de uma rar do grupo fundador, sendo provavelmente o mais similar
1ladas, e a seleção natural pressiona a adaptação genécica aos
planta hospedeira. passando por populações diferenciadas em Veremos reireradamenre mais carde aos ancescrais colonizadores originais. O processo completo
is ambiences locais. Em seguida, como um rnbproduco dessa "raças de hospedeiro,"" (definidas por Ores e Maller como po- neste livro (em especia.l no Capítulo de divergência evolutiva dessas espécies parece ter acontecido
=e-renciação genécica, é escabdecido um grau de isolamento pulações simp.ítrÍcJ.s que trocam genes a uma taxa maior do 21) que o isolarnenro de ilhas - e não em menos de crês milhões de anos.
Jroducivo entre as duas. Esse pode ser "pré-zigótico", cen- que cerca de I q,o por geração), até espécies coexistentes, inti-
ndo a impedir o cruzamento em primeiro lugar (p. ex., di- mamente relacionadas. Isso nos faz lembrar, também. de que a
·enças no rimai de cone), ou "pós-zigótico": viabilidade re- origem de uma espécie, seja ela a.Jopárrica ou simpátrica, é um
zida. talvez inviabilidade, da prole. Após, em uma fase de processo, não um evenm. Na formação de uma espécie nova, tal
mtato secundário", as duas subpopulações se reencontram. como no cozimento de um ovo, existe algum grau de liberdade
; híbridos entre indivíduos de sub populações diferenres exi- para afirmar quando ela se complerou.
m agora baixa eficácia biológica, porque eles não são, de A evolução das espécies e o balanço encre seleçáo nacural e
o, nem uma coisa, nem oucra. A seleção nacural favorecerá, hibridação sã.o ilusrrados por um caso extraordinário de duas
tio, todo o atributo, em cada subpopulaçáo, que refora o espécies de ga1\·orJ~ marinhJs. A gaivoca Larw fwcw origi-

FIGURA 1. 7 O cenário ortodoxo da especi-


ação ecológica. Uma espécie uniforme com
uma grande amphtude ( 1) se d1ferenc1a (2)
em subpopulações (p. ex . separadas por
barreiras geográficas ou dispersadas em
Ilhas diferentes), que se tornam genelica· FIGURA 1.8 Duas espécies de gaivotas,
mente isoladas uma da outra (3). Após evo- Larus fuscus graellsi1 e Larus argentatus
lução no isolamento, elas podem enconlrar- argentatus. divergiram a partir de um ances-
se novamente, quando são incapazes de tral comum à medida que foram colonizan-
formar híbridos {4a). tornando-se espécies do e circundando o hemisfério norte. Onde
b1ológ1cas verdadeiras, ou produzem ht"bri- ocorrem 1untas no norte da Europa, não con·
dos de eficácia biológica mais baixa {4b). seguem cruzar. sendo claramente reconhe-
Neste segundo caso. a evolução pode fa- cidas como duas espécies distintas. Entre·
vorecer características que impedem o tanto. ao longo de suas d1stnbwções, encon·
cruzamento entre as ··espécies emergen- tram-se conectadas por uma série de raças
tes~ ate que elas sejam espécies b1ológi· ou suoespécies, as quais interc,uzam livre·
cas verdadeiras. mente {de Brookes, 1998)

1
.----
1

2 PARTE 1- ORGANISMOS
' CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 13

Hoje. permanecendo isolados nas ilhas, a despeito de te- Desse modo, as ilhas comem muit:is espécies únicas (''en-
(a) rem um parentesco muiro próximo, os rencilhões de Galápa- dêmicas" - espécies enconcradas em apenas uma área), bem
gos irradiaram em uma variedade de espécies com ecologias como muitas "raças" ou "subcSpécies" diferenciadas, as quais
concrascances (Figura 1.9), ocupando nichos ecológicos que, são disringuíveis das formas concinencais. Uns poucos indi-
em oucra situação, são preenchidos por espécies sem qualquer víduos que eventualmente se dispersam para uma ilha ha-
parentesco. Os membros de um grupo, incluindo Geospiza bicável podem formar núcleos de uma nova espécie em ex-
fidiginostl e G. fortis, possuem bicos forres e ciscam à procura pansão. Suas caracceríscicas seriam moldadas por determi-
de sementes enquanto sal citam sobre o solo. Gêospiza scandens nados genes que estavam represencados entre os coloniza-
rem bico mais fino e um pouco mais longo, alimentando-se dores - é improvável que sejam uma amostra perfeica da
Cul~r das flores e da polpa dos frutos de caccáceas, bem como de populaçã_o ancesrral. O que a seleção natural pode fazer com
,. '
Wenll'ia,; ' , Galapagos semc:nres. Os tencilhões Je um terceiro grupo possuem bico essa populaçá~ fundadorJ'é limicado pelo que se enconcra
:Pinta---.. ~-----... _ do cipo psicaciforme, alimentando-se de folhas, brocos, flores na suàfestrita amoscrâde genes (mais mutações raras e ocJ.-
e frutos; um quarto grupo, cambém com bico do tipo psitaci- sionais). Na verdade, muicos dos desvios entre populações
forrne (Camarhynchus psittacula) tornou-se insetívoro, alimen- isoladas em ilhas parecem ser devidos ao efeito da fund,1çáo
tando-se de besouros e o urros inserns na copa das án·ores. Um - a composição aleatôria de um grupo comum de genes
85'() 80"0 omro tipo, conhecido corno cenrilhão pic1-p,1.u, Cam,tr~)'n- fundadores impõe limices e força a variação exiscence para

.,,,..,,}-} :~:entes
chw ( Caao)piza} paf!td,1, extrai inscros das fendJs, utilizando- J seleção natural agir.
(b)
.se Je um espinho ou pequeno pedJço de ramo pre:io ao bico. As moscas-da-fruta (Drosophi/a) do Havai oferecem um
9
G fuligmosa enquanto um grupo :.idicional inclui o tentilhão canoro (Cer- outro exemplo bem elucidativo de formação de espécies em
~... " - Ciscam à procura thidia olivacea), que voa ativamenté'. coletando pequenos inse- ,lhas. A cadeia de ilhas do Havai (Figura 1.1 O) é de origem
~-·,~;,;- 20 9 ~~ cos no dossd da tlorC'Sta e no ar. O isolamenw - tanro do vulcânica, tendo sido formada de maneira gradual durance

4'}9
arquipélago quanco <las ilhas que o compõem - levou a uma os últimos 40 milhões de anos à medida que o centro da
linha evoluuva original, irradiando em uma série de espécies, placa ceccônica do Pacífico se deslocava concinuamenre
cada qual se ajusrando ao seu próprio ambiente. ,. ,_ sobre um hot spot em direção sudeste (Niihau é a mais anti-

~s~ }Alimentam-sede
ga das ilhas, e Havaí propriamente dira é a mais recente). A
riqueza em Drosophi!a havaianas é impressionance: exisrem
G.. scandens sement.es no solo. 1.4 Fatores históricos provavelmente l .500 espécies de Drosophi!a em todo o mun-
- ~ das flores e da popla do, mas ao menos 500 delas são encontradas apenas nas
~ .::---..r ........ do fruto de cactáceas
G conlfostris 28 9 (Opunr,a)
Nosso mundo não foi construído por alguém que pegou as ilhas do Havai.
espécies uma a uma. tescou-as t'.m cada tipo de ambience e Cerca de 100 espécies de Drosophi-

~"'
~i}
:0-C>'.J-é>.:,-s--:: ':.::.
moldou-as, de modo que cada uma delas encontrasse seu locaJ la de ''asas pintadas" são de particular e.=--.;:~):...-~:·, c:::i ---
perfeico. Em nosso mundo, as e~pécies vivem cm um lugar inceresse. As linhagens pelas quais es-
FIGURA 1.9 (a) Mapa das Ilhas Galá- por razões que com freqüência sâo, ao menos em parte, aci- sas espécies evoluíram podem ser se-
pagos, mostrando suas posições em re- dentes da história. flusrraremos esse rema, primeiramente, por guidas pela análise dos padrões de bandas, encontrados nos
lação à América Central; no equador, 5° meio da concinuação do nosso exame sobre ilhas. cromossomos gigances das glândulas salivares das suas larva.<..

...
~ . ..__ A1;men1am-sede correspondem a aproximadamente
~-' ~ -.,..:.. besouros nas arvores A árvore evoluciva resultante é moscrada na Figura 1.1 O, em
20 560 km. (b) Reconstrução da históna
C psittacula g evolutiva dos tenhlhões de Galâpagos . que cada espécie escá colocada acima da ilha onde ocorre (exis-
~~ com base na variação do comprimento
dos m1crossatélites de DNA. Os hâb1tos
1.4.1 Padrões insulares tem apenas duas espécies encontradas em mais de uma ilha).
"'lillJ / 18g
alimentares das várias espéc1es são O demento hiscórico de ·'quem vive onde" é bem aparenrc J~
C. pauper } Usam espinhos presos
-~ ao beco para extrair também mostrados Os desenhos das (\-1uica:i das espécies ocorrences em dh,1s sáo ligeira ou profun- espécies mais antigas vivem nas ilhas mais amigas, e, à medida
• ':&_ ~ insetos das ~endas das aves são proporc1ona1s ao tamanho cor- dameme dlferenres daquelas dJ .irea concinenul comparável que novJ.<. ilhas for,tm formadas, pouco . . indi,·íduos chegaram
C palÍ,da 21 9 cascas das arvores poral real. A quantidade maxima de co-

I loração preta na plumagem do macho e mai, próxim,L De maneira simp!itluda, pode-se dizt'r que 1s,.;o a elas e tlnalmeme e,·oluíram acé espécies no\'JS. Ao menos

:;~~}
~·:- } Ahmentam·s. e de !olhas.
---- ~ } ~ brotos e sementes nas
a média da massa corporal são apre- obedece a duJ5 razóe,;; principais J!gumas dessas espécies parecem ajusrar-se ao mesmo ambien-
,,,..- 34 g copas das arvores
sentadas para cada espécie. A distân- te que ourr:.is em ilhas diferences. Enue as espécies estreita-

cia genética (uma medida da diferença
genética) entre as especies está repre- 1. Os animJis e plantas d:1 ilha esrâo limitados Jos tipos cujos mente aparencad,:i.s, D. adimro!a (espécie 8), por exemplo,
sentada pelo compnmento das linhas Jncescrais conseguiram se disper.<.ar e cheg,tr nela, embora é encontrada apenas em Maui, e D. saosimentum (espécie
horizontais Observe a separação gran- :.1 amplicu<le dessa limitação depend<1 <lo isolamento da ilha 11), somente no Havaí; encrecanrn, os ambientes em que
_,-..r;: :. , . ,. _
_-a:~.
:· . . . _
Pi. mo;,ata
13
g
Aves de hâbttos canoros.
que se ahentam de
pequenos insetos de
de e precoce de Cer1hidea olivacea em
relação às demais especies, sugerindo
que ele pode ser bastante semelhante
e Ja capacidJde imrínseca de dispersão do animal ou plan-
ra em questão.
das vivem são aparenremence indistinguíveis (Heed, l 968)
O que é mais nocável, e a força e a importância do iso!J-
~------- ~ ~ corpo mole
aos fundadores que colonizaram as 2. Devido ao isolamenrn, como vimos na seção anterior. a menro (junto com a seleçáo nacural) na geração de espécies
ilhas. C. = Camarhynchus: Ce. = Certhi-
~ - - / · 10g ta..'<J. de mudança evoluciva em uma ilha com freqüência novas. Desse modo, as bioras insulares ilustram dois pon-
dea; G. = Geospiza; P. = Platyspiza; P,
Ce o/1vacea
= Pmaroloxias (de Petren et ai. 1999) pode ser rápid.:1. o hascante p:u,1 compensar com uma boa rns importJnce5 e relacionados: (i) que existe um compo-
margem os efeiw:.:; do inrercimbio de m.:1.taial genérico nenre hiscórico no Jjusce encre organi'imOs e ambienres; (ii)
entre a população insular e as populações aparentadas de que náo existe apenas um organismo perfeito para cada tipo
oucro local. de ambiente.
4 PARTE l - ORGANISMOS CAPÍTULO l: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: O CENÁRIO EVOLUTIVO 15

Assim, enquanco ocorriam os principais desen\"olvimencos A Figura 1. 12 moma um exemplo


se evolutivos nos reinos vegetal e animal, suas populações fo- de um grupo imporcance de organis-
4e-- -- - · - - - ,. s.•9 e11 ram divididas e separadas, e áreas de rerra se deslocaram mos (as aves grandes sem vôo poten-
3 através das zonas climáticas. te) cujas distribuições só começam a ter sentido à luz do mo-
• grupoadiastola 5•--- ::....-=~---:::---~---~~---·~ 12
1e - (3-16)

21 . . ~- e22
11•-·
-· --24~;~/a2s ~ 8 ___ ~30 (b) Hâ 150 milhões de anos
grupo planihdia 18 •- - /_,,,,~.,..__---,
;g.
(17-33)
-::------------+---
-_.......
_ ---- ·- ---------- 26
e2s e31
) '~
27
-------- ----- 833
.40

32 :----.41 44

~--
-e42
...~!_ __ _ •- -145
146
»56
-~49 .J5·3-
48,; ..,.
'54 -
s1 aso
grupo 3 •ss
59-, 52 ~63
58 punafua
;>- (~5) -50~ . - .. 64 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 O

66
..-----
61.-

69e
·--
~I __
~65
e71
--- -•12
•13
Há milhões de anos

(d) Há 32 milhões de anos


76 ê78
grupo gnmshaW1 74 .0-- -----!>---

·- .
(6<H01) 75• 77 ·----- --
ao e1 a1 •s2 ______ .8_1 __ _
- .....~83
--
84 8 ...5
•aa
----- ---·-
89 • 286
91

995
@92

•93
94 .. - -•96
.__ .,oo
98 •
- -----997

---·- 99
19101

OKaua1 FIGURA 1.1 O Ârvore evoluliva que rela-


ciona as espécies de Drosophifa de asas
pintadas do Havai, estabelecida pela
=
c?Ni1hau
Molokai análise dos padrões de bandas cromos- (e) Hâ 1O milhões de anos
sômicas. As espécies mais antigas são Floresta tropical

~~·
- ;:emrasavana
Oahu O pnmaeva (espécie 1) e D. att,gua (es-
Floresta do tipo medi-

~--~
N pécie 2). encontradas somente na Ilha
~ Floresta paratro~I
~ ~e~~~~~~~!~ta/
t ,.. ,.
Lana, de Kauai. As outras espéc1es estão re-
o
Kahoolawe
presentadas por círculos cheios: ases- . ~ (com estação seca)
chaparra

li ra~;;:~:~~~~a
pécies hipotéticas. necessárias para re- . Floresta subtrop1caUsavana
1 arbórea (perenifólia

"~-{)
lacionar as espécies atuais. estão repre-
lahfoliada)

IJ
sentadas por círculos vazios. Cada es-
..• •• ·. \JL)~
O
e___,
50km
pécie to1 colocada acima da ilha ou ilhas
onde ê encontrada (embora Molokai.
Floresta lemperada
(decidua lahfoliada)
li Tundra

ªº
Lanai e Maui esteJam agrupadas). Em Floresta temperada
N11hau e Kahoolawe, não há Orosophila
(de Carson e Kaneshiro, 1976; Wilham·
' V) (mista: coníferas e
deciduas)
O Gelo

son. 1981).
li Savana lenhosa

.4.2 Movimentos de massas terrestres nences devem ter-se deslocado. Essa idéia foi rejeitada com
vigor pelos geólogos, acé que medições geomagnéticas exi-
c1
FIGURA 1.11 (a) Mudanças na temperatura do Mar do Norte ao longo dos últimos 60 milhões de anos. Durante esse periodo, houve grandes
alterações no nível do mar (setas). as quais propiciaram a dispersão tanto de plantas quanto de animais entre as massas terrestres. (b-e)
giram a mesma explicação, aparentemente baseante impro- Denva continental. (b) O antigo supercontinente de Gonduana começou a dividir-se há cerca de 150 milhões de anos. (c) Há aproximadamente
{á muiro cempo, as curiosas discribuições de espécies en-
50 milhões de anos ícomeço do Eoceno mêdto). desenvolveram-se faixas reconhecíveis de vegetação distinta e, (d) por vona de 32 milhões de
e os concinences, aparencemence inexplicáveis em cermos vávd. A descoberta de que as placas ceccônicas da crosta a.nos (início do Oligoceno), estas se tornaram mais claramente definidas (e) Há cerca de 10 milhões de anos (início do Mioceno), grande parte
:: disper'ião por grandes distâncias, levaram biólogos, em cerrestre se movem, com a conseqüente migração dos con- da geografia atual dos continentes tomou-se estabelecida, porém com diferenças drásticas em relação ao clima e à vegetação atuais; a
.pecidl Wegener (1915). a sugerir que os próprios conci- cinentes (Figura l.11 b-e), reconciliou geólogos e biólogos. posição da calota de gelo da Antart1da é altamente esqwemática (segundo Norton e Sclater. 1979. Janis, 1993: e outras fontes)

1
6 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 1: ORGANISMOS ™SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 17

sas mudanças climáricas e bióticas está apenas começando a Durante os 20 mil anos posteriores ao pico da última gla-
ser desvendada, à medida que a tecnologia para descoberra, ciação, as cemperarnras do globo se elevaram em corno de 8ºC,
análise e datação de resms biológicos se coma mais sofisticada e a caxa de mudança da vegetação em grande parte desse pe-
(em particular pela análise de amostras de pólen enterradas). ríodo cem sido dereccada pelo exame de registros polínicos. As
Progressivamente, essas técnicas permitem determinar quan- espécies vegetais lenhosas que predominam nos perfis políni-
to da distribuição amai de organismos representa uma espe- cos no Lago Rogers, em Conneccicuc (Figura l. l 3b), surgi~
cialização local precisa aos ambientes atuais e quanto é uma ram em etapas: primeiro o espruce e, mais recenremente, o
impressão digira! deixada pela mão da História. castanheiro. Cada novo aparecimento incrementou o número
As técnicas de medição de isóto- de espécies, que tem aumentado continuamente nos úlcimos
pos de oxigênio em testemunhos oce- 14 mil anos. O mesmo padrão é repetido em perfis europeus.
ânicos indicam que podem ter ocorri- À medida que o número de registros polínicos foi aumen-
do 16 ciclos glaciais no Pleiscoceno, tando, mrnou-se possível não só acompanhar as mudanças na
cada um com duração de aproximadamente I 25 mil anos (Fi- vegetação em um ponw no espaço,
gura l. l 3a). Cada fase glacial parece cer durado de 50 a l 00 mas também começar a mapear os mo-
mil J.nos, com inrerv.1los breves <le I O a 20 mil anos, durante vimentos das diferences espécies atra-
os quais as temper.uur.ls .1umenc.1.ram acé v.1lores próximos aos \·és <los continentes (ver Bennet,
verificados arualmenre. Isso sugere que as floras e faunJS atttals 1986). t\.1s invasóes posreriores ao re-
seriam singulares, porque elas se desenvolveram ao finaJ de uma cuo do gelo no leste da América do
série de períodos de aquecimenro ur:isrróficos e incomuns. Norte, o espruce foi seguido pdo ''jack pri1e" (Pi1rns bankúa-

(b)
- - - - - lnhambus
1
- - - - - - - - - - Avestruzes
1 ' (a)
-j - 1 ' - - - - - - - - - - - Emas
1

i . r
1
c__j
1
fl
Quivi pardo {Uha do Norte)

Quivi pardo {Ilha do Sul)


i JOf- ----------- ----
;j '1
C, ~ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

..._.,,-) ! _.,r'----"'-'. . . ,,--\ /\ /'' _.r, ('._......_.,.-. "


~-------,il
1,
~ \...,,,,--""\. /,/ ·-....J \~ \.,/ . \
i Grande quivi manchado /.,1 \"------../. "----- ,-

E 20 1v I r t 1 ----- r 1 ::Í
1 ~ O 50 100 150 200 250 300 350 400
i_' ----~j i__ Pequeno quivi manchado
FIGURA 1.12 (a) D1stnbuição de aves Tempo {há ta3 anos)
~ - -- - - Cascares sem vôo potente. (b) Árvore filogenéti-
ca das aves ápteras e o tempo estima·
_;- - - Emus do de suas divergências (segundo Oia- (b)
mond, 1983; com base nos dados de
80 60 40 20 O Milhães de anos S;bley e Ahlqu;st).

CastanheJro

menta d.1s massas terrestres. Seria injustificado dizer que os 80 milhóes de anos, e os ancestrais do quivi abriram seu ca.mi- H1cóna
nus e o~ casoare!:, estão onde estJ.o porque representam o nho, há cerca de 40 milhóes de anos, rnpostamente s.1ltando
elhor Jjuste aos .1mbiente\ Justralianm, e as emJs e os inh.1.m- emre as ilhas, ern direção à Nova Zdândia, onde a divergência
1s est.ío onde esrâo porque representam o melhor ajuste aos das espécies atuais é recente. Uma inrerprera.çio sobre as ten-
~ 8 Hemlock
nbienres sul-americanu,. É hem provÁ\"el que suas distribui- dências e\·olucivas entre mamíf::ro.s durante grande parte do I
·Caf\lalho
1es d1screpanres sejam determinadas em especial pelos mo\·i- mesmo período é fornecida por Janis (1993). 10 P1nhe1ro
Pinheiro
entos pré-h1stóncos <lo, concinenres e pela ulrerior impossi-
12 "'--Espruce
lidade de que .1lgumas lrnh,1.:, evolutivJs geograficamente iso-
das alcancem o ambiente Jls ouuas. Na verd.1.de, técnicas 1.4.3. Mudanças climáticas 14 j

oleculares possibilitam an.1!1sar o momenro em que aves dis-


o I j o I 10000 o lo 500 o I o 500
120001 10000 . 1 500 1 000 1.000 1 , .000
1ras sem vôo potenre iniciar.1m sua divergência evolutiva (Fi- As mudanças climáticas ocorreram em escalas temporais mais 1.000 3.000 20.000 4.000 2.000 2 000
1ra 1.12). O inhambu p:uece ter sido o prime;iro a divergir e curtas do que os movimentos de massas terrestres (Boden et
!>e tornar evolutivamente separado dos demdiS, os ratitm. ai., 1990; IGBP. 1990). Grande parte do que se observa na FIGURA 1.13 (a) Estimativa das variações de temperatura ao longo do tempo, durante os ciclos glaciais nos últimos 400 mil anos As estima·
m seguida, a Ausrra.lásiJ. se separou <los outros continentes distribuição atual das espécies representa as etapas de recupe- tivas foram obtidas por comparação de razões de isótopos de ox1gên10 em tósseis retirados de testemunhos oceànicos no Caribe. A linha
dinos e, destes, os estoques ancesrrais das avesuu1.es e emas ra.ção frente às mudanças climáticas ocorridas no passado. As traceJada corresponde à razão de 1O mil anos atrás, no começo do período de aquecimento atual. Periodos tão quentes quanto o atual têm sido
eventos raros, e o clima durante a maior parte dos últimos 400 mil anos tem sido do 1ipo glacial (segundo Emiliani. 1966, Davis, 1976) (b) Perfis
,ram subseqüentemente separados quando do surgimenw da mudanças no clima, em particular durante os períodos gla- de pólen acumulado a partir dos últimos períodos glaciais até o presente. em sedimentos do Rogers Lake. Connecllcut A data estimada da
lh.1 do Atlântico entre a A~rica e a América <lo Sul. Na. Aus- ciais do Pleiscoceno, são em parte responsáveis pelos padrões chegada de cada espécie em Connect1cut é mosuada por setas à direita da figura As escalas horizontais representam o influxo do pólen· 10 3
alásia, o 1\far da Tasm21ni:1 se; fendeu há :1proximadamence acuais de distribuição de plamas e animais. A magnitude Je;s- grãos cm 2 ano·' (segundo Davis et ai.. 1973).
8 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 19

1.4.4 Convergências e paralelismos vegecação e, assim, ter acesso a mais luz do que se dependes-
sem de seus próprios tecidos de sustentação. Essa capacidade
O ajusce enrre a natureza dos organis- de ascender evoluiu em muicas famílias distintas, e órgãos com-
mos e seu ambience muitas vezes pode pletamente diversos transformaram-se em escrumras escanden-
ser visto como uma similaridade de tes (Figura l. l 5a): elas são estruturas análogas. Em outras es-
forma e comporcamenro encre os or- pécies vegecais, o mesmo cipo de órgão cransformou-se em
ganismos vivendo em um ambiente semelhante, mas percen- escrururas totalmente diferentes com funções bem distintas -
FIGURA 1.14 (a) Dislribuição atual das llo·
restas tropicais na América do Sul. (b) Pas- centes a linhas filéticas diferentes (isco é, ramos diferences da por isso, elas são homólogas (Figura l. l 5b).
sivei distribuição dos refügios de floresta tro- árvore evoluciva). Tais semelhanças também enfraquecem ainda Oucros exemplos podem ser usados para mostrar os para-
pical no tempo em que o último período gla- mais a idéia de que para cada ambiente exisce um único orga- lelismos nas rocas evolucivas em grupos separados que irradia-
cial estava no pico, a julgar pelos hot spots
atuais de diversidade de espêcies na floresta
nismo perfeito. Essa tendência é convincence em particular ram após serem isolados uns dos oucros. O exemplo clássico
(de Ridley. 1993). quando as linhas filécicas escão muico afasrad1s umas das ou- de tal evolução paralela é a radiação entre os mamíferos pla-
tras e quando papéis semelhantes são desempenhJdos pores- cencários e marsupiais. Os marsupiais chegaram ao continen-
rruturas com origens evolutivas compleramente diversas, ou te australiano no período Cretáceo (há cerca de 90 milhões de
seja, quando as estruturas são andlogas (com superficial seme- anos), quando os únicos oucros mamíferos presentes eram os
·) ou pelo pinheiro vermelho, que se estenderam para o nor- Asia e na Á.fric1. Em áre.1s continenrJis de monção ( p. ex., ihJnça em forml ou função), mas não l,omólogaJ" (derivadas de curiosos monocremados ovíparos (atualmence represencados
a uma taxa de 350 a 500 m ano- 1, por vários milhares de Tibet, Etiópi.1. Sahau Ocidental e África subequatorial), o uma estrutura equivalenre, a partir de um ance~rral comum). somente pelas équidnas espinhosas [ Tachyglom,s arnleatus] e o
os. O pinheiro-branco-do-Canadá começou sua migração período pcis-gbcial começou com uma fase exte~nsa de umida- Quando isso ocorre, dizemos que há evofuç,10 convergente. ornitorrinco bico-de-paro [Ornithorynchus anatÍnus]). Produ-
rca de mil anos mais carde, na mesma época do carvalho. de alca, seguida por uma série de fases de aridez incensa (Zahn, Muitas espermarófitas e algumas pteridóficas, por exemplo, ziu-se, então, um processo evolucivo de radiação, que, em
uem também teve uma expansão rápida (200 a 300 m ano- 1) 1994). Na América do Sul, está emergindo um quadro de usam o apoio de outras plantas para ascender no dossel da muitos aspectos, se compara exatamence ao ocorrido nos ma-
ia h,mfock ( Tsuga), chegando à maioria dos locais por volta mudanças na vegetação que se compara àqueles ocorrentes em
· l 000 após o pinheiro-branco-do-Canadá. O castanheiro se regiões temperadas. como a expansão da floresta tropical em
oveu lentamente (l 00 m ano- 1), mas logo se tornou uma períodos mais quentes e mais úmidos, e a sua redução até
pécie dominante. As árvores ílorescais ainda hoje continuam manchas menores circundadas por savana, durance períodos (a)

igrando para áreas degeladas. Isso implica claramente que o glaciais mais frios e mais secos. O apoio para essa interpreta- o,oscorea
>so de um período interglacial médio é demasiado curro para ção provém da distribuição arual de espécies nas florestas tro- (Oioscoreacea).
volUvel
,e se alcance o equilíbrio florístico (Davis, 1976). Tais faro- picais da Aménca do Sul (Figura l.14). Lá, os hot spots de
:, históricos seráa retomados no Capítulo 2 l, quando consi- biodiversidade são aparentes e são considerados como prová-
·rarmos os diferences padrões de riqueza em espécies e biodi- veis sírios de refúgios florestais durante os períodos glaciais e,
rsidade. porcanto, também locais com caxas elevadas de especiação
Clematis
A "história"' pode também ter um (Prance, 1987; Ridley. 1993). Nessa interpretação, as distri- {Aanunculaceae),
impacco manifestado em escalas espa- buições acuais das espécies podem novamente ser vistas de peci olo volUvel

ciais e temporais multo menores. Os modo preponderante como acidentes da história (onde os re-
distúrbios à comunidade: bentônica fúgios se loc1lizavam), em vez de retratarem correspondências
omunidade de fundo) de um riacho se fazem sentir, em es- precisas entre as espécies e seus ambientes.
la muito pequena, quando eventos de alta descarga (associa- As evidências de alterações na ve-
>S com temporais e derretimento de neve) provocam um getação apôs a úlrima retração das ge- ,nv:i CDíí'.:Ja 2-'
osaico de mJnchas evidenciado por perda de substraw, au- leiras sugerem consequências prováveis
enco de substrato ou nenhuma mudança (Matthaei ec al., do aquecimenro global (possivelmen-
)99). As comunidades de invertebrados associadas com as n: de 3°C nos próximos 100 anos). que
ferentes hiscónas de manchas são nítidJs por um período de:
eses, no qual é provável que ocorra um outro evemo de alra
é previsw lumo n:'.'iu\uJo de aumentos contínuos do dióxido
de c.irbono Jcmosf.Enco (discutido em decalhes nas seções :!.9.1 \
l
·scarga. Da mesma maneira que a discribuiçáo de árvores em e 18.4.6). Conmclo, as esCJbs sâ.o cornpletamence diferentes.
Cobaea
lação a períodos glaciais repetidos, a fauna de nacho rara- O aquecimento pós-gbcial ocorreu ao longo de 20 mil :tnos, e (Cobaeacea). gavrnha
ence pode alcançar um equilíbrio entre distúrbios de cheias as mudJnças 1H \'egeração processaram-se em taxas menores.
,fa[[haei e Townsend, 2000). Porém, as proJeçõc:s .1tu.1.is par.1 o século XX[ determinJ.m uma
Os regisuos de mudanças climáti- amplitude de Jeslocamenro da5i árvore~ a taxas de 30 J 500 km
cas nos trópicos são bem menos com- por século. em comparJçio às taxas de 20 a 40 km por século,
plecos do que para as regiões tempera- típicas do p.l.'.;aJo !excepcionalmente, de 100 a 150 km). Chama FIGURA 1.15 Uma diversidade de ca·
racteristicas morfológicas de esperma-
das. Por isso, existe a inclinJçâo a ima- a atenção n faro de que a ünica extinção de um.1 espécie arbórea
F,cus (Moraceae), tóhtas escandentes. (a) Características
nar que, enquanco drásticas mudanças climáticas e invasões com datação exatJ.. a Ja P,cea auchft!dii, ocorreu há cerca de 15 estruturais análogas, isto é, denvadas
raízes adventícras
: gdo foram dominances em regiões temperadas, os trópicos mil mos, em um períoJo de Jquecimemo pós-glacial especial- de transformações de partes vegetati-
ParrhenOCJSSUS vas totalmente diferentes, como. por
·rmaneceram no escada que conhecemos hoje. [sso cerramen- mente rápido \_)Jck,;;on e Weng, 1999). Evidentemente, mudan-
(V1taceae). exemplo. lâminas foliares, pecíolos, cau-
n.ão corresponde à realidade. Dados de fontes variadas indi- ças J.inda m .u~ ripidas no futuro poderiam resultar em exrinções apreensónos aderentes les e raizes (continua).
m que houve flutuações abruptas em dimas pós-glaciais na de muiras ourrJs t'.'ip~cies (Davis e Shaw, 2001).
1

1
L

1
20 PARTE 1 - ORGANISMOS

(b)

{L1haceae)
L,ttoma r~
• 1

\
Ap,ce fohar

-(~!
(Asateraceae)
Nervura mediana

Folíolo

Folíolo

~
',,
-~·
__
Pec;iolo

Estipula
Clytostoma Bignonia
(Bignoniaceae)
(Bognoniaceae) .
Peciolo ~ -

?'\ Asanna
(Scrophutanaceae)
Smdax
(Smdacaceae)
FIGURA 1.15 (continuação) (b) Carac·
teristicas estruturais homólogas. ou
seja, derrvadas de modificações de um
mesmo órgão (a folha) representadas
por meio de uma folha ideallzada no cen-
tro da figura (cortesia de Alan Bryant).

miferos placemário.., em ourros continentes (Figura I. l6). A limites bem-definidos são mais uma conveniência para carcó-
FIGURA 1 Tundra ártica. Groenlândia (cortesia de J. A Vickery).
surilt'ZJ dos par=i.lel1smos. [anto na formJ dos organismo<; quan- grafos do que uma realidade d.1 natureza. Descrevemos oito
to no seu esulo de \'ilh ~ rão nm:h·el que fica difícil evitar a biornas rerrescres e ilustramos sua distribuição global na Figu-
imerpretaçJ.o Je que tJ\ Jmbienres de placencirios e marsupi- ra l. 17, bem como mostramos de que forma eles podem estar
propici.1r1m oporru111Lbde::, simibres, à.<; qluis os processos
JÍ::. relacionados à temperatura e à precipitaç3.o anuais (Figura l. 18)
e\·olucivu'> do, drn~ ~rnpos re~ponder.1m de maneiras seme- (ver Wodward. 1987, para uma explanação mais detalhada).
lluntt'> Independenremenre da classificação adorada, é necessário com-
preender a terminologia que descreve e distingue esses bio-
mas, quando considerarmos questões-chave mais tarde neste
.._; ?:j._:-:>t2 ~~:L 2 :.::.Jr1~~;,~!::.-:i,..::23 2 livro (em especial nos Capímlos 20 e 21 ). Por que existem
:.:;-2:.!;; âi;l:-.:.2;~~2..3 mais espécies em Jlgumas comunidades do que em outras?
Algumas comunidades têm composições mais escáveis do que
1 .5.1 Biornas terrestres outrJ.S e, se isso acontece, por quê? Ambientes mais produti-
vos sustentam comunidades com maior diversidade: Ou co-
Ames de examinar as diferenças e semelhança::, entre comuni- munidades com maior diversidade usam de maneira mais pro-
JJ<les. é necess,írio considerar os grandes agrupamento'>, os duriva os recursos disponíveis~
"biornas", nos qu.ú.s us b1ogeógrafos reconhecem nodveis di- A tundra (ver Figura l do encarte) '.urc~:,,
ferenç1s n.1 flora e n-1 fauna de diYersa:-. partes do mundo. O ocorre ao redor do Círculo Ánico,
número de h1omas dis:ringuíveis é um.1 ljllestão <le ponto de: além do li mice das árvores. Pequenas áreas de mndra também
\·isca_ Eles cerumenre exibem rransiçJ.o de um para outro, e são enconrrada.s em ilh;:is subantárricas do hemisf"erio sul. A
r
(b)

=1GURA 2 Florestas de coníferas: {a) vista aérea de uma floresta de coníferas. em Alberta, Canadá(© Planet Earth Pictures/Martin King) e (b)
loresta de pinheiros no outono, na Suécia (Cl Planei Earth Pictures/Jan Tove Johansson)

FIGURA 4 Savana. Manadas imensas de gnus e zebras comuns, vistas do Naabi Hill. Serengeti,
Tanzânia (© lmages of Africa,'Dav1d Ke1th Jones)

a)

(b)

=1GURA 3 Florestas temperadas: (a) floresta mista no outono, na Carolina do Norte. EUA (!ç} The lmage Bank/Arthur Mayerson) e (b) floresta
le faias no final do verão. em Harburn, Escócia (© Ecoscene/Vv'1lkrnson).
-~

FIGURA S Deserto (a) no verão. em Namaqualand e io) flores ae primavera em Namaqualand. oeste da África do Sul (© Ptanet Earth
P1ctures/J MacKinnon)

1
(a)

FIGURA 7 Mapas de exemplos de eventos de EI N1rio (novembro de 1997) e La Nifia (fevereiro de


1•)99), em termos de altura do mar acima de níveis médios Mares mais quentes são mais altos: por
e'<emp10. uma altura do mar de 15 a 20 cm abaixo da média equivale a uma anomalia de temperatura
d~ aproximadamente 2 a 3cc (Imagem de http.//topex-www Jp!.nasa gov/sc1ence/images/el-rnno-la-
n na JPQ) (ver Figura 2.11 cortesia da NASA JPL-Caltech)

FIGURA 6 Floresta pluvial. (a. b) Floresta densa no sudoeste de Uganda(© 1mages oi Afnca/Dav1d
Ke1th Jones)
(b)

(e)

FIGURA 8 Condições típicas de inverno. quando o índice da NAO é positivo ou negativo. São
indicadas as cond1çôes mais do que habitualmente quentes (vermelho), frias {azul), secas (!aran1a)
ou úmidas (azul·turquesa) (Imagem de http"//www ldeo.co!umb,a.edu/NAO/) (ver Figura 2.11)

1
8 PARTE 1- 0RGAS,ISMOS
CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 21

(d)

Carnívoros.
assemelhados
aos cães

Lobo·da-Tasmârna (Thylacinus)

Carnívoros,
assemelhados
~
aos gatos

Jaguatinca f Fehs)
~ Dasiurideo (Oasyurus)

Planadores
a rboricolas

Sc1urideo
( Glaucomys)
w '
Petaundeo
(Ptaurus)
'

Herbívoros
fossor1ais
,JiiR Marmota Vombatideo

Cavadores.
comedores
de formigas

Insetívoros
subterrâneos
-~ Tamandua·bandeira
(Myrmecophaga)
Mirmecobudeo
(Mymecab,us)

FIGURA 1.16 Evolução paralela de mam1


FIGURA 9 Plantas (a esquerda) e animais (à d1re1ta) modulares. sendo mostradas as semelhanças morfológicas entre eles. (página antenor) feras marsupra,s e placentános Os pares
(a) Organismos modulares com cresc1merito em partes· lentilha d'água (Lemna sp.) e Hydra sp. (b) Orgamsmos livremente ram1t1cados nos Tcupe,ra Notoric!ldeo de espécies são s1m1l~res tanto em aparên
quais os módulos estão dispostos como "pêndulos"· um ramo vegetativo de uma planta superior (Lonicera 1aponica} com folhas (muitos ( Taipa) ( Notorycres) eia quanto em hábrto e geralmente. em es-
módulos) e um ramo flordero e uma colônia de h1dró1des (Obeha) com modulas alimentares e reprodutivos. (e) Organismos estolonileros cuias tilo de vida
colônias se expandem laterzilmente e permanecem ligadas pelos "estolõestt ou rizomas. indivíduo de morangumho (Fragana) se expandindo
por meio de estolões e uma colónia do hrdró1de Tubulana crocea. (nesta pagina) (d) Colónias de módulos firmemente drspostos: uma moita de
Saxitraga bronchialis e um segmento do corai Turbmana reniform,s. (e) Módulos acumulados em um suporte morto. porém persistente: um
carvalho (Quercus robur). em que o suporte está constituído de tecidos mortos derivados de outros módulos, e uma gorgônia coralinea, CUJO
suporte é formado pnnc1pal~ente de tecidos calc1hcados de módulos anteriormente vivos cundr.1 "'alpin,1" é enconrrad.1 . . ob condiçôes .')ir11ibres, mas em g.1r. µor '>LU va, J.O de.seno polar. O mime10 de úpécies cL:'.
([a] à esquerda.© V1sual5 Unl1m1ted/John D Cunningham. à direita.© Visuais Unllmited/Larry Stepanow1cz; [b] à esquerda.© Visuais Unl1m1- ,t!cirude elevadJ. O amhiente e'. cu.1cterizado pela presença do pLrnus ::.uperiore~ (isro é, excluindo musgo,; e liquem) decres-
ted à direita.© Visuais Unlrm1ted/Larr; Stepanw1cz: [e] à esquerda,© Visuais Unlimited/Science VU. à j1re1ta, © Visuais Unl1mited/Jhn O pc'rma_fi-ost - águ.1 perm,rncnremenre congel.iJ.i no solo - en- ce do H.lixo Árríco (caca de 600 espécies 11.1 América do Nor-
Cunn1ngham; {d] à esquerda. -'© Visuais Unlim1ted/Gerald e BuH Corsi; a direita. © Visuais Uní1mited/Oave B Fleetham. [e] à esquerda, ©
Visuais Unl1m1ted/Sllwood Park. à drre1ta :ç) Visuais Unlfm1ted/Danrel W Gotshall) qu.inrn a ;igua líquida esd presente ,1penJ'> por curtos perÍo· ré') par.1 o Alro ,-\rrico (norre de 8.)º, p. ex., c..um ci:rcJ de lOU
do-; do ano. A flora rípic.1 inclui !iquens. musgo,. ciper.íceJs e e.'>pécies 11;1 GroenHndi,1 e n.1 l!h.1 Ellesmere). :\ flora da An-
árvores ;más. Os inseto-; têm arivithde sazonal bem·definida. drric1, :10 contrário, contém apenas duas e~pêcies nariva,;
e a fau11.1 nati\"a de Jves e mamífero-; é enriquecid.1 no verJo de pl.inus vascul.1res e alguns líquen.~ e musgo:., gue sus-
por espécies m1gr;uórias de LHiwdc'i mais quemes. Em úe:1.s tenram poucos inverrebr.idos pequenos.,\ produrtviJade c
m.ti.s frias, gramíneas e c..iped...:eas do.iparecem, n.lo permane- a Ji\·as1d,1dc.· biológicas da .--\nt.írrica esrlo concenrr:.1.d.1s n.1
cendo quJlquer planca enrai1,1dc1 no pi·rm11frost. A \·egeração, cosra t: dependem quJse inreiramenre de recur . . os forneci
que consiste basiL,lmenre apena:, t':m líquens e musgo-", J:i lu- dm pelo m:ir.
r
22 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 23

(a) Floresta pluvial tropical

40 Congo (África) Manaus (América do Sul)

'.:~' •C~r~cz::o~ Aus1,ália)


";j' --, -

5000
(b) Savana (e) Floresta decídua temperada
40 40

J,;:i:,.f,:,-.
'f.t"
'7-
.

ffifif!f ff~, ~QLI- - - - - - - - -


5.000 O
(d) Floresta setentrional de coníferas (taiga) (e) Tundra
40 40
FIGURA 1.11· Oistnbuição mundial dos maiores biamas de vegetação (segundo Audestrk e Audesirk, 1996).
FIGURA 1.18 A variedade de condições
ºN de R T Esta figura exibe generalizações que, em se tratando de biornas brasileiros, merecem algumas especificações
experimentadas em ambientes terres-
1 Os "campos temperados" do mapa estendem-se até o Brasil Central, o que é uma 1mprec1são. pois diferentes fatores geomorfo.lóg1cos e
tres pode ser descrita em termos de sua
chmàticos condicionam a existência de tipos distintos de campos (estepes). como os da campanha do sudoeste gaúcho e os de altitude nas
pluviosidade anual e média das tempe-
Regiões Sul e Sudeste do Brasil, por exemplo . _ . . . raturas mínimas mensais. Amphtude de
2 A "floresta pluvial tropicar costeira (Floresta Atlãntica ou Floresta Ombrófila Densa. conforme denom1naçao oficial bras1le1ra) ocupa uma
condições experimentadas em (a) flores-
faixa da Região Nordeste até o Rio Gr.an?e do Sul. Este tipo de floresta apresenta muitas d1fere~ças. (florísticas e faunísticas, entre outras)
ta pluvial tropical, (b) savana, (e) flo-
ao longo dessa extensa faixa de distnbu1ção. além de ser bastante distinta a Floresta Amazônica (identificada na legenda da figura pela
resta decidua temperada. {d) floresta
mesma cor e denominação)
setentrional de coníferas (taiga) e (e)
3. Na área representada por Msavana tropical. campo e vegetação arbustiva" devem ser d1st1ngu1dos. principalmente. o cerrado (savana.
S.000 tundra (segundo Heal et ai, 1993, ©
especialmente bem representada no Brasil Central) e a caatinga nordestina
Pluviosidade anual total (mm) UNESCO).
4. A ãrea de MFloresta estacionai tropical" reúne parte da caatinga nordestina e as florestas estacionais tropicais e subtropicais, que são bem
distintas sob vãrios aspectos

A taiga ou floresta se[entrional de das de grande p.ine da América do None e norce d.1. Europa repes, na Ásia; pradarias, na América do Norcc~; pampas, na reio e milho. Essas gramíneas anuais de regiões cemperadas,
coníferas (ver Figura 2 do encane) Cenrral (onde pode haver seis meses de remperamras de con- .-\mérica do Sul, e veldt, na África do Sul. CJmpu tropical ou juncamente com o arroz nos trópicos, fornecem o alimento
ocupa um amplo cimuráo ao longo da América do Norce e da gelamenro) :ué as ílorescas úmidas de árvores perenifólias lari- savana (veja Figura 4 do encane) é o nome empregado à \'ege- básico das populaçóes humanas em rodo o mundo. Nos limi-
Eurásia. A água líquida não fica disponível por um grande foliadJs, encontradas nos limites de baixas latimdes do biorna caçJo tropical que varia desde um campo herbicc.'o até uma res mais secos do biorna, muitos dos campos são "man~jados"
período do inverno, e as plantas e muitos animais cêm uma - na Flórid.1 e na Nova Zelândi.1, por exemplo. NJ maioria nurriz campestre com árvores esparsa.<., Quase codo<; esse.<, cam- para produção de carne ou leite, algumas vezes impondo ao
marcada dormência, durance a qual o mecabolismo é baseante das florestas temperadas, enrrecanro, exisrem períodos do ano pos remperados e tropic.1.is são submetido" J. uma seca perió- homem um estilo de vida nômade. As populações naturais de
lemo. Em geral. a flora arbürea é muito lirnirada. Em áreas em que o :iuprirncnto de- :ígua líquida é pequeno, pois J. eva- dica, m.1.s o papel do clima na ddiniçJ.o d.1 :,u,1 \'egeuçâo é animais pas[ejadores fora.m diminuld.1s em favor de bovinos,
com in\'erno.') menos rigorosos, pod(' h.iver predominância de poração pore11c1.1.! super.1 a soma da precipiração e da água quase complecamenre sobrepujado pelos ereirlh do p.tstt:JO ani- ovinos e caprinos. De mdos os biomJs, esse é o mais cobiçado.
pinheiros (espécies de l'znus. todas perenifólias) e ..Ír\'ores de- disponívd nu solo. ,\s árvorc:s decíduas, domin.1 n,1 maiori.l nuL que limitam a presença de espécie:, aperu, :,quda~ .:apa- usado e transformado pelo homem.
cldu.1s k1.1duofólilli), como o briço (Lmix), J bécul.1 (Betrdir) d.1s tlore)t.h cemper.1JJ..'), perdem su.1s folhas no outono e tor- ll'S de se recuperar da de..,foliaçJ.o frequente. ~-' ~J', .1n,1, o fogo O chaparral ou maqui ocorre em
ou o :íbmos (f>opulus), freqllenremente compondo florestas 11a.m-se dormemes. No chão da floresta, com freqúência ocor- é umbém um perigo comum na escaçâo :ieCJ e, d.1 mesma climas do ripo medirerrâneo (ame-
misus. (\.fais para o none, e~sas espécies dia lugar a florestas rem diferentes e,pécies de er\'aS perenes, em panicul.1.f aquelas forma que os ;:mimais pastejadores, ele inclin-1 o :.:qLalíbrio da no. ventos úmidos e verá.o seco), n.1 Europa, na Califórnia,
de uma única esp~cie de espruce (Picea), que cobrem ::írea.s que cresu~m com rapidez. n.1 primavera, antes do desenvolvi- vegetação em detrimento das árvores e J fav~)r d.1s espécies no noroesce do México e em algumas áreas pequenas da
imensas. A principal restrição ambienral nas áreas de floresta<; mento de uma nova folhagem arbórea. As flore~ras cempera- campestres. Conrudo, h.í [ipicamence umJ grande ingestão de Austrália, do Chile e da África do Sul. Ele se desenvolw em
secemrionais de espruce é J presença do permafroJt, criando das umhém proporcionam recursos alimentares para animais alimento alternada com escassez, e, como consequencia, os her- regiões cuja precipi[ação é inferior à dos campos tempera-
uma seca, exceto quando o sol Jquecc: a superfície. O sisrema que em ger:d c2'-m ocorrência. marcadamenre sazonal. N1uicas hívoros de grande porte padecem de fome extrenu (e morra.lida- dos e é dominado por plantas lenhosas arbusciv:is d_. folhas
de raízes do espruce pode desenvoh·er-se na canuda superfi- Jas ;1.ves de tlor::sc.1s cemperadas são migrarória~ que retornam de) nos .1nos mais secos. Uma abundânci.1 .')azon.1! de sementes e duras e crescimenco lenco, resistentes à sec:i. As planus
cial Jo solo, d;i qual as árvores extraem J ::ígua durame a curra na prima\'erJ, enquanco no resranre do ano se encontram em imecos sustcnca populações grandes de aves rrngr:.itórús, nus pou- anuais são também comuns em regiões de chaparral dunn-
esraçáo de crescimento. biornas ma1,; quemes. cas espécies podem enconrrar recursos suficienres p.1ra serem resi- ce o inverno e começo de primavera, quando as chuvas são
As Jloresti.ls temperadas (ver Figura. O (tltrlpo ocup.1 J.s panes mais secas de regiões temperadas dentes durJ.nce o ano inreiro. mais abundantes. O chaparral está sujeito a qut:imadas pe-
3 do enc.irre) se estendem desde as flo- e cropicti:i. ().., c.1mpos temperados i\luiros desses campos naturais têm sido :iubsornído, por riódtca.s; muitas planras produzem sementt:s que germinam
resras mi::,cas de coníferas e larifol1a- possuem muitos nomes reg1ona1s: es- ''campos" culcivados anualmente com rrigo, ,1\·ei.1, cevad.1, cen- apenas apôs o fogo. enquanto outras podem rebrotar com

l
24 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 25

rapidez devido às reservas armazenada-. em suas raízes re- ros e demais componences da cadeia alimentar. Erwin 1.5.2 Os "espectros de formas de vida" das solo (hemicriptófitm: "plJ.ntas semi-ocultas") ou em órgãos de
sistentes ao fogo. ( 1982) estimou que existem 18.000 espécies de besouros comunidades armazenamento dormentes e enterrados (bulbos, tubérculos e
Os desertos (\·er Figura 5 do encar- em I ha de floresta pluvial panamenha (comparadas com rizomas - criptófitas: "pia.mas oculras" ou geófitm: "planus de
::~.:,erto te) são encontrados em áreas que ex- apenas 24.000 em roda a exrensáo dos Esrados Unidos e do J:i re:isaltamo-'> a imporrância crucial do isolamento geográfico subsolo"). Isso permire que as plantas tenham um crescimen-
perimentam exrremJ escassez de água: Canadá). c:m püssibilitar que as populações se distingam por seleçáo. A to rápido e floresçam anrc:s de voltarem a um estado de dor-
a precipitação em geral ~ menor do que 250 mm por ano, Todos esses biornas são terrestres ~ '.J.--:,:_:is aqL:at1c)s: di.<.tribuição geográfica de espécies, de gêneros, de famílias e mência. Por fim, uma importante caregoria que consiste em
muito imprevisível e consideravelmente menor do que a eva- Os ecólogos de ambienres aquáticos mesmo de caregorias taxonômicas superiores de'. vegetais e-api- pi.incas anuais que dependem de sementes dormentes para
poração potencial. O biorna abrange uma gJma muito ampla poderiam rambém sugerir um conjunto de biornas, embora a nuis com freqüência refletem essa divCrg~ncia ge(?gráfica_ To- manterem suas populações através de estações secas e frias (te-
de temperarnras, desde desertos quentes, como o do Sahara, tradição seja, em geral a dos biornas terresrres. Poderíamos das as espécies de lêmures, por exemplo, são enconrradas so- rófittls: "p!Jncas de verlo"). As terófiras são plantas de desertos
até muito frios, como o Gobi, na Mongólia. Na sua forma distinguir nascenres, rios, açudes, lagos, estuários, zonas cos- mente na ilh.1 de tv1.idagascar. De modo semelhance, 230 es- (elas perfazem um cocal de cerca de 50% da flora do Vale da
mais extrema, os desercos quentes são demasiado áridos pJra teiras, recifes de coral e oceanos profundos, encre outros ripos pécies do gênero Euca!yptw (eucalipto) ocorrem naturalmen- Nlorte), dunas de areia e hábitacs reperidamenre perturb.1dos.
manter qualquer vegec.içáo; eles são tão desprovidos de vege- característicos de comunidades aquáricas. Para os· propósito, te na Austrália (e duas ou três na Indonésia e Malásia). Os Elas incluem ra.mbém ervas anuais, que colonizam terras ará-
tação quanto os desertos frios da Anrárric.1. A precipitação em desre livro, reconhecemos apenas dois biornas aquáticos: o kmures e os eucalipcos ocorrem nesses locJ.is porque lá eles veis, jardins e terrenos urbanos abandonados.
desercos áridos, suficierue para propiciar o crescimento de plan- mari11ho e o de dgua doce. Os oceanos cobrem cerca de 71 (!,() evuluírJm, e não porque esses '.',âo os únicos lugares onde des Todavia, é bem provivel que não hJja vcgecação que con-
tas, apresema sempre ocorrência impre\'isívd. A vegecação de da superfície terresm:· e .1kançam profundid.ides superiores .1 pnderi.un .'>Obrevi,·er e prosperar. >ia verd.ide, mui[.lS espécies sisr.1 inreiramente em um,1 única form.1 de crescimento. Tod.1
Jeserco enquadra-,e cm dois padrões de comporr.1menco nm- 10 mil merros. Eles .1bungem dt:-"de regiócs onde .1 precipit.1- d..: E11ct1Ú'Plll:, cresceram com gr.rnde sucesso e .1.e propJgaram ,·eger,1ç.io comim unu miswr.1, um e.<.pecrro, das form.1, de
damenre comrast.rnre.',. i\·luius espticies (êm um estilo de vida çã.o excede .1 evaporação ~ué regiões on<ll' ,1Conrece o oposrn. r.1p!dameme quandn for.1m imroduzidas na Califórni<1 ou no \'ida de Raunkiaer. A compo..,içâo do espectro em qualquer
opormnisca e são e'irimuLtdas à germinaçJ.o pelas chuvds im- Existem movimenrns nussivos dc:nrro des.)e eorpo de jgua que Quênia. Um map.1 da disrribuiç.í.o narural Je lê mures no num- hábitar em p.irticul.ir permite aos ecólogos reJliz.ar uma des-
previsíveis. Elas cre.',Cem r.1pidameme e completJrn sua hisró- evitJm o desenvolvimento de grandes diferenç.1s nJ.s concen- do nos diz muito sobre a história evoluciva Je'ise grupo. Po- crição resumida de sua vegetação. Raunki.1er comparou tais
ria de vida começ::rndo a produzir novas .'.ememes depois de trações de sal (a concentração média é por volta de 3~10). Dois rém, quanto ao relacionamento do grupo com um bionu, o espectros com um "espectro global'' obtido por amostragem a
poucas seman.1s. E'isJs üo as espécies que podem ocasional- facores principais influenci..1.m a ativid.1de bíológic.1 dos oce.1- m.í.x1mo que se pode dizer é que úS lémures sio um dos cons- partir de um compêndio de rndas as espécies conhecida'i em
mence fazer um deserto florir. Um padrão diference de com- nos. A radiação fotossimericamente ,uiva é absorvida à medi- tituintes do bioma floresu pluvial tropical em N{adagascar. sua época (o !ndex Kewr:nsis), distorcido pelo fato de que os
porramenro de plantas de desenos árido.'. é ser perene com da que penerra na :igu;t, de modo que a fornssíncese fica resrti- De mudo similar, alguns biornas na Austrália incluem cer- trópicos eram, e J.ind.1 continuam, rel..Hivamente tnexp;ora-
processos fisiológicos !en[Os. Os cactos e outras suculencas, tJ à região superficiJI. Os nutriemes minerais, em especial ni- tos numíferos marsupiais, e os mesmos bionus em outras par- dos. A'.:lsim, por exemplo, reconhecemos uma vegetação do
além de espécies arbustÍ\'J'\ de pequeno porte com folhas pe- rrogênio e fósforo, Jpresencam-se em geral cáo diluídos que tes <lo mundo são hábirats para os equivalenres placentários tipo chaparral quando a \·emos no Chile, na Austrália, na Ca-
quenas, espessas e freqüentemente pilosas, podem fechar seus limitam o desenvolvimento porencial da biomassa. As águJs <lt cais m.imíferos. Lºm mapa de biornas, entâo, com freqUên- lifórni,1 ou em Crera. porque os espectros de formas de vida
estômacos (aberturas por onde ocorrem a~ trocas gasosas) e pouco profundas (p. ex .. regiões costeiras e esruirio~) ren- ,j,1. nlo represenr,1 um mapa de disrribuiçôes de espécies. Em são similares. As taxonomias detalhadas de su:1.s floras e f.aunas
tolerar longos períodos de inatividade fisiológica. A relativa dem a ter atividade biológica Jlta, porque recebem apone vez disso. reconhecemos diferentes biornas e diferences tipos poderiam apenas enfatiz:1.r o quanto elas são ditt'"rentes.
pobreza de vida animal nos desertos áriJw, reflete a produrivi- mineral do continente e a perda de radiação incidente é de t.omunid.ides aqu~íric1.s pdos tipos de organismos que neles As fauna.<, s.ío consideradas estreitamente vinculadas à~ flo-
dade baixa da vegetação e a indigescibilidade de grande parte menor do que se atravessasse águas mais profundas. Umc1 \·i, em. Como podemos descre\·er suas semelhanças de modo Lts, o que se consraca, ao menos, n.1 maioria dos herbívoros
dela. atividade biológica 1r1rens.1 rambém ocorre onJe JS á"uas que possa.mo:i classitlCJ-!os, compará-los e mapeá-los? Ao de- com rebção à sua dieu. Os carnívoros rerresrres disrribuem-se
A florôM pÍul'ta! rropica/ (ver fi- ricas em nutrie~tes, provenientes das profundezas oceâni- dictr-se a essa quesrJo, o biogeógrafo dinam..1.rquês Raunkiaer de forma muito mais ampla do que rnas presas herbívoras,
gura 6 do encarrt') é o biama mais pro- ca.'), chegam à superfície; isso é respons;ivel pela concencr.t- de5envolveu, em 1934, sua idéia sobre "formas de vida", um mas a distribuiç.io de herbívoros ainda confere aos carnívoros
du[ivo da Terra - um resulrado da co- ção de muiros dos estoques poqueiros nas águas do Árrico profundo discernimento no significado ecológico das formas uma ampla fidelidade em relação 3. vegetação. Os bot.í.nicos
incidência da alta r:1diaçlo solar rece- e da Antártica. n:geuis (Figura l. l 9). Ele usou, enrão, o c:spenro de formas cendem a se empenhar mais na classificação de floras do que
bida durame o ,mo com .1s chuvas rcgulare5 e abundames. A Os biornas de água doce ocorrem em especial no curso eh <lL" vida prescmes em diferenre.'> ripos de vegecaçáo como um ús zoólogos em classiticar faunas, mas uma tenrativa inceres-
produrividaJe é e.<.nug.1doramence mais ,drJ no denso do,;;sel drenagem do conrinente para o mar. A composição químiu mt:io de descrever st:u cadter ecológico. ,ame de ~lassificar fauna-'> comparou os mamifero-'> de ílore.'>tas
fluresul de folhJgem perene. A flornta p!uvi.11 tropical é escu- da água varia muirn, dependendo da su.1 origem, da sua rax.1 As pl.rnus crescem pelo desenvol- na i\bl.isi.1, no Pa1umi, 11.1 Austdlia e no Z<iire (Andrev.rs et
r.1 no nível do solo. ex...:et(1 onde a,;; .írvores c1em e provocam de Auxo e dos aportes de matéri:1 orgànic.1 procedenres Ja ,·e- o-,s1:1Cé1c;i'J d-? vi:i.1ento de novos rJmos, a partir das :1Í., 1979). Eles for.im cl.tssifica<los em carnívoros, herbívoros,
cbreir.l.<,. Com freqüt'nci,1. muitas t:.<.pécit_·<; arhórcas pern1.1ne- geraç.í.o que vive demro ou no t'ntorno Ju .unbienre aquático gemas que -'>e luulizam n..1.s c:xtremi- 1nsetÍ\'orns e oní\·orm: ui,;; categorias foram suhdividida~ em
cem ano apÜ<; Jno em csdgio-" de pl.lrnul.ts e juvt:nls e cre,cem N,1,;; bacia-'> de c-1ptJç.ío de :igu.1 com r.n..t de evaporaçáo .1lu.. d.ides Jc .:.wles l' n.1s axilas das folh.1s. .1nimais; aéreos (principalmente morcegos e r.1pos.1s-voador.1s),
'>omcnte qu,111do .<.t' f~)I 111.1 urn.1 cLucir.1 110 dos,;el acima deLls. poJe s;;er proJuzid.1 um.1 :icumubç:io de '.',,llS a p,lítir d.1 l1xi,:i- Dcnrrn d.1<; gem.h. ,t, céldas merl'item:úicas :i:í.o .i parre mJ1s .trbrn Í1..0Lts (habiume.;; de .ÍtYores). m:p.1dore-'> e pequell(J' mJ-
Além das án·ores, :1 vegeuç.io é Jmpbmcnrc composta de ti- ;1ção terrcsrre, <;endo possível que JS conc.encrações superem -'>c.'mívd de rodo o uule -- o ,.CJk.rnh.H-de-Aquiles" d,t.', pbn- míteros: de _,,alo (Figur.1 1.20). A comp.1r.1ç;to re,·ela aluum t..011-
pos morfológicos que Jk,rnçam o dossel de m.rneir:1 vic.1ri,1n- ;1mpbmenre J.s dos oce~111m; podem ser fornudos lagos salg.1- us. Raunki.1er sustenrou que .1s mane1r.1;"1 como essa.1. gemJ.<; traste'.', t.'" sernelhanÇ.1s fortes. Por exemplo, os especr~s de di-
ce; elas tanto Js;;cen<lem e depois se rrnstur.tm its copas das ir- dos ou me.limo salinas, na-'> quais a vida é muiro restriu. Mes- );J.o protegid-1s em diferenres pl1nus .',;lo poderosos indicado- vers1d.1de ecológica p.ua as flnre.'>t.1s auscr,1lia11a~ e malaias fo-
vores (trepadeiras e lianJs, incluindo muius esp~cies de fi- mo em zonas aquáticas, .1 âgu.1 líquida pode estar in<li-'>poní- res dos nscm prest·nces em seus Jmbiemes e podem ser usadas r.1rn muito similares ..1pesJr de suas faun.ts serem caxonomio-
gueiras) quanro cresct'm como epífir:1s, enrJ.izad.1s nos ramos vel, como é o caso das regiõe,; polares. par.1 definir ,1s diversas formas vegetais (Figura 1.19). Assim. mentt: distintJS - os mamíferos australianos são marsupi;-i.is. e
úmi<los superiores. i'.\ia floresta plm·ial rropical. :1 nuior parre A comparaçâo entre biornas permite .1penas um reconhe- as .irvores apr~senum su:b gem.1s nas parres alr,ts, roralmence u.s d.t ivfaLísia sJ.o pl.lcencários.
das espécies. umo de arnnuis como de pbntas, é ativa durJn- cimento aproximado dos tipos de diferenças e semeliunç1,;; expostas ,10 vento, ao frio e à seca; Raunkiaer denominou-.ts
re o ano, embou as pbnus possam florescer e amadurecer oc; que ocorrem encre comunidades de org:rnismos. Dentro dos Jànaójitt1s (do greco, phanero, "visível"; pl~)'te, ·'planta'º). ivlui-
frucos em sequCnciJ. E,;;sas florestas po:-.rnem uma riqueZJ biorna-'>, existem p.1drões de variação, ranro em pequena qu.rn- c,ts erva.<. perenes, ,rn conrrárlo, formam almofadas ou moiras 1.6 A diversidade dos ajustes dentro das
em espécies muiro grande, eª-" comunidades raramente ou w em grande escala, na estrutura de comunidades e nos orga- nas quais as gem.1s nascem acimJ do nível do solo, mas são comunidades
nunL,l se torrum domin.1das por uma ou poucas espécies. nismos que as habitam. Além di')so, como se verá a seguir, o prQ[egid,ts d,1 sec.1 e do fno na den.'>a massa de folhas e rJmos
A diversidade de :írvore'.\ n:1s f1oresr,1s pluvi:i.is proporciona que CJracreriza um biom:1 nio é necessariamente a espécie par- velhos (mm~fir{u: "pLtntas sobre o nível do solo"). As gema.;; EmborJ um tipo p,uticular de organi.'>mos sep c1racter!.'lti-
um,1 correspondente di,·ersid.1de Je recursos para herhívo- ticular que U vive. sJ.o mais bem-protegidas quando formad:1s na superfície do cci de uma siruJçlo ecológica peculi.u. é bem provivd que

-----··-----
26 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SéUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 27

.se subdividem em duas formas: uma que fica aderida às pare- 1.6.2 Pares de espécies
des e outra que permanece livre no meio de cultura.
O grau de he,erogeneidade de um ambieme depende da Conforme já observamos, a existência de um ripo de organis-
escala do organismo que o percebe. Para uma semente de mo em uma área imediatamente a diversifica para outros or-
mostarda, um grão de solo é uma montanha; para uma lagar- ganismos. Ao longo de sua vida, um organismo pode aumen-
ta, uma folha pode representar a diera da vida inreira. A ger- tar a diversidade do seu ambiente, contribuindo com excre-
minação de uma semente à sombra de um.a. folha pode ser mencos, urina, folhas mortas e, por fim, com seu corpo mor-
inibida, e uma semente que se encontra fora da iníluência da to. Durante sua vida, seu corpo pode servir como um local em
~ombra poderá germinar livremente. Ao observador humano, que ourras espécies encontram seus hábitats. Na verdade, al-
Anuais
o que aparece como um ambiente homogêneo, para um orga- guns dos ajustes mais forcemence estabelecidos entre organis-
Fanerófitas (terótitas) Criplôfitas Hemicnptóhtas Caméfitas
nismo dentro dele pode ser um mosaico do intolerável e do mos e seu ambiente são aqueles em que uma espécie desenvol-
Tropical Deserto Mediterrâneo adequado. veu uma dependência em relação à oucra. Isso é o que aconce-
80
Pode também tratar-se de gradientes no espaço (p. ex., aJ- ce em muitas relações entre consumidores e seus alimencos.
tirude) ou no tempo. Este úlrimo pode ser ricmico (como os As síndromes de forma, de comporcamenco e de metabolis-
;;; 60
ciclos diários e sazonais), di.fecional (como a .a.cumulação de mo, em conjunto, resuingem o animal dentro do seu estreito
§ um polueme em um lago) ou errático (como qw:inudas, cem- nicho alimencar e negam a ele acesso ao que podem parecer
m
g 40 pesca.des de granizo e tufões). alimenws alternativos apropriados. Alguns ajustes esrn:itos se-

.,
m
u

20
A heterogeneidade manifesta-se repetidas \'ezes nos capí-
tulos subseqüences - em pane pelos desafios que ela impõe
melhantes são caracceríscicas das relações encre parasicos e sc:us
hospedeiros. As diferences interações em que uma espécie é
JOS organismos em movimento de mancha para mancha (Ca- consumida por ouua são cernas dos Capítulos 9 a 12.
pítulo 6), em pane por causa da variedade de oporcunidades Quando duas espécies desenvolveram uma dependência
que ela proporciona para diferences espécies (Capítulos 8 e mútua, o ajuste pode ser ainda mais estreico. No Capículo 13.
19) e em pane porque ela pode alterar comunidades pela in- examinaremos cais "mucualismos" de forma detalhada. A as-
terrupção do que seria uma marcha constante para um estado sociação de bacrérias fixadoras de nluogênio com raízes de
Temperado Ártico de equilíbrio (Capítulos I O e 19). leguminosas e as relações, muitas vezes exrremamenre preci-
80

;;; 60
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(a) (b)

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10
FIGURA 1.19 Os desenhos na parte superror da figura representam a variedade de formas vegetais d1st1ngu1das por Raunk1aer. com base na z
local1zaçào de suas gemas (mostradas em negnto). Abaixo, estão os espectros de formas de vida para cinco biornas diferentes As barras '
coloridas mostram a porcentagem da flora total que é composta de espécies com cada uma. das cinco formas de vida diferentes. As barras em <~~r ,.
cinza representam as proporções das várias formas de vida na flora mund,al. para comparação (de Craw!ey. 1986) HF o e HF o e
(e) (d)
40 40
(.·\e sep apenas uma parce de uma comunidade diversifica- de de espécÍ;:>-; diferences, todas estruturadas e vivendo (ao
da de espécies. Por isso, uma análise satisfatória deve mais menos superflculmente) de maneira bastante semelhante FIGURA 1.20 Porcentagens de mamíferos
<lo que identificar as semdhanças que permitem aos orga-
nismos viver no mesmo ambiente - é preciso também ten-
Exisrem virio,;; dernencos em uma explan.1çJo parJ essa di-
versidade. .
l

í~
30 30
florestais em diferentes categorias de háb1·
tats quanto à locomoção e ao forrageio. em
comunidades: {a) na Malásia. todas as áreas
tJr explicar por que espécies que vivem no mesmo ambien-
te apresentam, muitas veres, cantas diferenças. Até cerro
ponto, essa "explanação" de diversidade é um exercício tri- 1.6.1 Os ambientes são heterogêneos
.
u

~
20 20
com florestas (161 espécies). (b) em :!ares-
ta seca do Panamá (70 espécies). (e) na
Austrália, floresta do Cabo York (50 espé·
cies) e (d) no Zaire. floresta lrang, (96 espé-
vial. Nâo chega a surpreender que uma planta utilizando .§ 10 10
cies). C = carnivoros; HF = herbivoros e fru-
luz sob.r, um fungo vivendo sobre a planta, um herbívoro
z givoros: 1= insetívoros; O= onivoros. (_ __ )
Na. narureza, n.l.o exi . . cem ambientes homogêneos. t,.,lesmo uma = aéreos; ( .... ) :::: arbóreos; { - - ) = tre-
pre<l.rndo a planta e um verme parasico vivendo em um culrura de mICrorganismos homogeneizada por agitação con- padores; (- - ---)=pequenos mam1teros de
herbívoro coexistam na mesma comunidade. Por outro lado. tínua é heterogênea. porque ela tem um limite - as paredes do HF o e solo (de Andrews et ai., 1 979).
a m.1iori.1 das comunidades também contém uma varieda- recipieme <lJ c_u!cur,t -, e os microrganismos com freqüência

l
28 PARTE 1 - ORGANISMOS
r CAPÍTULO 1: ORGANISMOS EM SEUS AMBIENTES: o CENÁRIO EVOLUTIVO 29

).15, entre insecos poliníz,tdores e suas flores, s:10 dois bons exem- nidades também mancêm, em geral, uma diversidade de espé- qulo diferences elas precisam ser: existe algum limite para sua camenre determinadas entre populações denuo de uma espé-
plos de mucualismo. cies desempenhando funções aparenremence similares. As fo- similaridade? Espécies como as focas interagem com uma ou- cie que rdlecem ajustes locais entre os organismos e seus am-
A evolução para umJ mlerância ddlnicivJ pode ser produ- cas da Ancárcica são um exemplo. Acrediu-se que as focas an- rra. arualmence, ou a evolução no passado levou à ausência de bientes. Polimorfismo genérico é a ocorrência simultânea, no
1.ida quando uma popu!açJ.o foi exposta a variações dos fato- ce:::.crais evoluíram no hemisfério norte, onde estão presemes cais inreraçóes em comunidades conremporâneas? No Capí- mesmo hábitar, de duas ou mais formas distintas. Exemplos
res físicos do ambiente. como. por exemplo. uma esraçio de como fósseis do tvlioceno, _mas um grupo Je focas se deslocou culo 8, voltaremos a essas questões sobre espécies similares dramáticos de especialização local rêm sido acionados por for-
crescimenco curta ou um risco grande de geada ou seca. O parJ águas mais quentes do sul e provavelmente colonizou a coexistenres. ças ecológicas provocadas pelo homem, em especial agudas
fator físico em si não pode mudar ou se desenvolver como Amárcica no final do t-vlioceno ou começo do Plioceno (hj Podemos acrescenrar, contudo, que espécies coexistentes, referentes à poluição ambienral. __ ""'
resulrado da evolução dos organismos. Ao contrário, quando cerca de cinco milhões de anos). Quando elas chegaram J. An- mesmo quando parecem ser muiro similares, em geral diferem Descrevemos os processos de_ eSpeciaçªo; pelos quais duas
membros de duas espécies imeragem, a mudança em cada un1J cárcic.1, o Oceano Austral possivelmente era rico em alimenrn de maneira sutil - nJ.o só em sua morfologia ou fisiologia, mas ou mais espécies novas são formàâàs- a partir de uma espécie
delas produz alterações na vida da ourra, e ambas podem gerar e não possuía os predadores principais, da mesma forma que também em suas respostas ao seu ambience e na função que original, assim como o que se entende por uma "espécie", em
forças sdecivas que dirigem a evoluçJ.o J,1 outra espécie. Em acontece hoje. Ê provável que nesse ambiente o grupo renh.t de:::.empenham na comunidade da qual fazem parte. Diz-se que parcicular uma espécie biológica. As ilhas proporcionam, de
um processo coevolutivo como esse, a interação entre duas experimentado uma radiação evolutiva (FigurJ l .21 ). Por os ·'nichos ecológicos" de cais espécies são diferenciados uns maneira incontesd.vel, o ambiente mais favorável para a di-
espécies pode mostrar um.1 escabdJ contínua. O que observJ- exemplo, a foca Weddell se alimenra em especial de peixe e dos outros. O conceito de nicho ecológico é explicado nos vergência de populações em espécies discinras.
mo:::., em.lo, 11:1 naturez.1, s.í.o pdíes de espécie:::. que se impulsi- tem denciçio não-especializada; a foca caranguejeira alimen- próximos dois capítulos. As espécies vivem em decermin.ido local por razões que,
011arJm muttumeme p,Ha \'ÍJs Je e'.'>pec1.1liza~Jo sempre mai.') rJ.-,e quase exclusivJ.mente de kri!f e seus dentes são JpropriJ- rnuiras vezes, são acidentes d.1 história. Tal sicuJçJo foi ilusrrJ-
l.'.C'l(íCÍ[.l~ - lllll .1juS[L l.tt.l.! \<:.Z nui.') iIHllllO. Jo., p,1r.1 t:ssc:. cru~t;i.ceo~ d.1 .igu,t do m.lí: J foc.1 Russ tem JJ por meio do cx,1111e de p.1<lrões insulJre.':i. dos 1110\'imtncos
dence'.'> pequeno~ e .üiados e alimenu~se principalmc:nte <le Flesumo <le mass.1s cerresrres no rempo geológico. Jas mudanças climá-
cal.imar pelágico; ,l foc.1. leop.irdo tem demes grandes. pomiagu- ticas - em especial dur,lnte os períodos glaciais do Pleistoceno
1.6.3 Coexistência de espécies similares dos e apreenson:.s e ali menu-se de uma ampb v.1riedade de recur- ·'Em biologia, nada cem senrido, excew à luz da evolução". (e comparamos isso com mud;inças previ sras como conseqüên-
sos. incluindo outrJS focas e, em algum.l'i estações, pingüins. Procuramos, nesre cJpículo, ilusrrar os processos pelos quais cia do aquecimenco global em curso} ~ e dos conceicos de
Assim como 11.lo é surprc:.')a que espécies com funções bem b,sas espécies competem enrre si? Espécies comperidoras as propriedades de tipos diferentes de espécies rnrnam possí- evoluções convergente e parakl.J.
distim<1:::. coexistam demro da mesm.1 comunidade, as comu- precls::un :::.er diferentes, se das coexistem? Em ca~o afirmativo, vel sua vida em ambientes peculiares. Os diversos biornas terrestres são revísms e seus equivalen-
Explicamos o significado da adapração evoluriva e da teo- res aquáticos abordados brevemenre. O conceirn de Raunkiaer
ria da evolução por ~eleçáo namral, uma recria ecológica pri- sobre especcros de formas de vida, em especial. descaca que
meiramente elaborada por Charles Darwin, em I 859. Por meio comunidades ecológicas podem ser fundamentalmente scme-
(a) (b) da seleção natural, os organismos se ajustam aos seus ambien- lhanres, mesmo quando raxonomicamenre bem distintas.
tes por serem "os mais apcos emre os disponíveis", ou ·'os mais Tod.1s as comunidades compreendem uma diversidade de
Jpms aré o momenco": des não são ''os melhore.':i imagináveis". espécies: uma diversidade de ajustes ao ambience local. Con-
A variação ad.1p~ariva inrra-específica pode ocorrer em uma tribuem para i.':iSO a heterogeneidade ambienul. as incerações
Jmp-licuâe--de níveis: rodos repre~enram um equilíbrio entre enrre predadores e presas, parasiros e hospedeiros e mutualis-
adaprJção loc.1! e hibridação. Os ecóripos sã.o variantes generi- tas, além d..1 coexistência de espécies similares.

(e)

FIGURA 1.21 Focas da Antártica. espécies simt!ares que coexistem (a) Foca Weddell (Leptonychotes wedde/111) (de lmageshop - zela visual
media uk !td/Alamy), (b) Foca carangueieira (Lobodon carcmophagus) (de Bryan & Cherry Alexander Photography/Alamy), (e) Foca Ross.
(Omatophoca ross11) (de Chr1s Sattlberger/Science Photo L1brary} e (d) Foca leopardo (Hydrurga !eptonyx} (de Kev1n Schafer/Alamy)
CAPÍTULO 2: CONOIÇÓES 31

novamente a um nível adverso ou lecal no outro extremo (dano 3) necessários a um indivíduo ou uma espécie, a fim de cum-
por calor ou alcalinidade excessiva). Todavia, exisrem muicas prir seu modo de vida. A cemperatura, por exemplo, limita o
condiçóes ambiencais para as quais a Figura 2.1 b é uma curva crescimento e a reprodução de todos os organismos, mas or-
de resposta mais apropriada - por exemplo, a maioria das to- ganismos distintos toleram faixas diferences de cemperarura.
xinas, emissóes radioativas e poluentes químicos, em que uma Essa faixa é uma dimensão de um nicho ecológico do organis-
baixa imensidade ou concentração da condição não tem um mo. A Figura 2.2a moscra como espécies de plancas variam
efeiro decectável, enquanto um incremenrn começa a causar nessa dimensão do seu nicho: como elas variam na faixa de
danos e um incremento ainda maior pode ser lera!. Exisre tam- temperaturas em que podem sobreviver. Porém, exiscem mui-
bém uma forma diference de resposta às condições que são tas dimensões do nicho de uma espécie - sua colerância a vá-
cóxicas em níveis alcos, mas essenciais para o crescimenco em rias oucras condições (umidade relaciva, pH, velocidade do
níveis baixos (Figura 2. lc). Essa é a sicuação para o cloreco de vento, fluxo da água, etc.) e sua necessidade de recursos varia-
sódio - um recurso essencial para animais, mas letal em con- dos. Evidentemente, o nicho real de uma espécie deve ser
centrações altas - e para muicos elemencos que são micronu- multidimensional.
trientes essenciais ao crescimenco de plamas e animais (p. ex., É fácil visualizar os escágios iniciais ····~-· .·j: .... =
cobre, zinco e manganês), mas que podem tornar-se leCJis em de construção de um nicho mulcidi- ... -;,-,,;,::
. . oncencr.1ções mais altas, às vezes caus..idJs pur poluiç.io in- mensional. A Figura 2.2b ilustra o
dustrial. modo pelo quJl duas dimensões de um nicho (tempeurura e
i.1 Introdução veis mais ba1xm e m..iis alcos (Figura 2. la). Todavia, <levemos
Nesre capículo, consideraremos as resposus :1 remperatura salinidade) juntas definem uma área, que é pane do nicho de
definir o que consideramos "melhor desemperiho" Do ponto
muico mais decalhadamence do que outras condições, pois ela um camarão-da-areia. Três dimensóes, como temperatura, pH
'ara compreender a disrribuição e a abundância de uma espé- de vista evolutivo, condições "órimas" são aquelas sob as quais
C: a condição mais importante para as vidas dm organismos, e e disponibilidade de um decerminado alimenco, podem defi-
ie, devemos conhecer sua hiscória (Capículo 1). os recursos os indivíduos deixam mais descendentes (são os mais apros),
muitas das generaliz.açóes que fazemos sâo relevantes para as nir um nicho com um volume (Figura 2.2c). Na realidade,
leque necessica (Capículo 3). as caxas individuais de nacalida- mas, na prárica, muitas vezes é impossível determiná-las, por-
outras condições. Antes de recoroar à temperarura, considera- considera-se um nicho como um hiperuolume n-dimensional,
le, de morcalidade e de migração (Capiculos 4 e 6), as suas que as medições da eficácia biológica deveriam ser feiras por
remos também um.1 gama de outras condições - em especial em que n é o número de dimensões que o constituem. É difí-
nceraçóes incra e incerespecíficas (Capículos 5 e 8 a 13) e os várias gerações. Em vez disso, com freqüência medimos o efeito
os poluentes -, devido aos seus efeicos sobre o J.quecimento cil imaginar (e impassível delinear) um diagrama de um nicho
feicos das condições ambiencais. Este capítulo crata dos limi- das condições sobre algumas propriedades-chave, como a ati-
global. Iniciaremos, codavia, explicando a e~crurnra dentro da mais realista. Concudo, a versão tridimensinal simplificada capca
es impostos aos organismos pelas condições ambientais. vidade de uma enzima, a raxa de respiração de um tecido, a
qual cada uma dessas condições deve ser compreendida: o ni- a idéia do nicho ecológico de uma espécie. Ela é definida pelos
Uma condição é um famr ambien- taxa de crescimento de indivíduos ou a sua taxa de reprodu-
cho ecológico. limices onde pode viver, crescer e se reproduzir. ficando claro que
tal abiócico que influencia no funcio- ção. No encanco, o efeico da variação das condições sobre essas
o nicho é um conceito, em va de um local. Esse conceiw tor-
: ... J.S namento de organismos vivos. Os diferences propriedades muitas vezes não será o mesmo; os
nou-se um dos pilares do pensamento ecológico.
exemplos incluem a temperatura, a organismos geralmente podem sobreviver em uma gama mais
2.2. Nichos ecológicos Desde que um local seja caracterizado por condições den-
umidade celaciva, o pH, a salinidade e ampla de condiçôes do que lhes é permitido para crescer ou se
tro de limices aceicáveis e, além disso, concenhJ rodos os re-
. concentração de poluenres. A temperatura, a umidade e o reproduzir (Figura 2.1 a).
A expressão nicho ecológico freqüentemente é nnicompreendi- cursos necessários a uma espécie, esca pode potencialmente
,H do solo, por exemplo, podem ser alcerados sob o dossel de A forma exara da curva de resposta de uma espécie varia de
da e mal-empregada. Ela é muitas vezes usada de m,meira im- nele ocorrer e persistir. De qualquer modo, para que isso acon-
1ma floresta. Porém, ao contrário dos recursos, as condições condição para condição. A forma generalizada de resposca,
precisa para descrever o tipo de lugar onde um organismo vive, teça, devem ser considerados dois outros fatores. Primeiro, a
ião são consumidas ou esgotadas pelos organismos. mostrada na Figura 2.1 a, é apropriada para condições como
como na frase: ''As florestas são os nichos dos pica-paus··. En- espécie deve ser capaz de chegar ao local, e isso depende do
Para algumas condições, podemos estabelecer uma con- temperatura e pH, para as quais existe um contimwm de um
tretanto, esrritamence falando, onde o organ1rn10 vive é o seu seu poder de colonização e da discância desse local. Segundo,
·encração ou nívd ótimo, em que um organismo exibe um nível adverso ou letal (p. ex., congelamento ou condições muiw
hdhitat. Um nicho não é um local, mas uma idéia: um resumo sua ocorrência pode ser impossibilicada pela ação de indiví-
lesempenho máximo, com sua arividade diminuindo nos ní- .ícidas), pass.rndo por níveis favoráveis da condição aré chegar
da.,;; tolerânciJs e necessidades de um organismo. O hábicar de duos de outras espécies que comperem com ela ou sJ.o seus
um organismo inrescinal seria o canal ,._al1menur de um ani- predadores.
mal; o h.íbicat de um afídeo poderia ser um 1Jrd1m; o hibitat Em geral, uma espécie tem um ni-
(a) (b) (e)
d~ um peixe poderia ser um lago imeiro. C:a<l.i h:íb1car, no cho ecológico mais amplo na au~ên-
enunrn, proporcio1u muiws nichos d1ft:rc:mes· muirns outros cia Je competidores e predadores <lo
orgJnÍ"'mos c.1mbém vi\·em no imesrino, no j,ndim ou no lago que na presença dele,;;. Em outras p.1.lavras, d espécie pode
- - - - - - Reprodução - e com estilos de vida completamente diferences. A palavra mancer uma população viável sob cenJs combinações de con-
~ mcho começou a ganhar sua conoraçáo ciemitlc1 .uual quan- dições e recursos, desde que estas não sej,1m afetadas por ini-

1 do Ch:ules Elton escreveu, em 1933. que o nicho d~ um orga- migos de maneir:i. adversa. (s<;.o levou HU[chinson a fater a

r /'
~ ~~C-'..-RL _-_-_---A~_,__,,_
-----A -----A
nismo é o seu modo de vida "no sentido que faLrn10s de ocu-
pações ou empregos ou profissões em uma ~ocied.1.de huma-
n.1." O nicho de um organismo começou J ser usJ.do para des-
Ji~tinção encre mchos fundamental e efetivo. O primeiro des-
creve as potencialidades rotais de uma espécie; o sc::gundo, o
c::speccro mais limitado de condições e recursos que: permirc:m
c----c ------e ------e
s s
Intensidade de condtção
-------5 -------5 crever como, em vez de onde, um organ1"'mo vive. pamanência da espécie, mesmo na presença de compe(idor::s
O concei;o moderno <le mcho foi e predadores. Nichos fundamenral e d'etivo receberão mais
-.:,-,s·J% e:; proposto por Evelrn Hurchinson em atenção no Capírnlo 8, quando examinarmos a competição
=1GURA 2.1 Curvas ilustrando os efeitos de uma série de condições ambientais sobre a sobrev1vênc1a (S). o crescimento (C) e a reprodução
A) do indivíduo. (a) As condições extremas são letais; as condições menos extremas impedem o crescimento; apenas as condições ótrmas 1957 e se refere ls ma.neir,is pelas quais interespecífica.
lOss1b1htam a reprodução. (b) A condição é letal apenas em intensidades altas. ainda se aplica a sequénc1a reprodução-crescimento-sobrevi· a colerincia e a necessid.1de mrer.1.gem O restante desce capículo trata de algumas dimensóes d.1s
1
ênc1a. (c) Semelhante a (b), mas, do mesmo modo que um recurso, os organismos necessitam da condição em concentrações baixas na. definiçáo de condições (C.1pítulo 2) e reu1rn.h (Capírulo condições mais importantes dos nichos, começando com a

1
f,,
eI,
32 PARTE 1 - ORGANISMOS '! CAPÍTULO 2: CoNDIÇôEs 33
,í,
t
t,· organismo podem ser resumidas em

,,
(a) Temperatura (oC) (b) J. 600 um único valor, muito útil, o número
10 15 20 25 30
1 ,,, de "graus-dia". Por exemplo, a Figura 2.4c mostra que a l 5ºC
Ranunculus glacialls 2.600 1 (5, 1ºC acima do limiar de desenvolvimento de 9,9ºC), o áca·
Oxyria digyna 2.500 500
! ro predatório, Amblyseius califamicus, leva 24,22 dias para se
Geum reptans 2 500 , desenvolver (ou seja, a proporção do seu desenvolvimento ro-
Pinus cembra
Picea abies
1.900
1.900
1
-,,, i ,'' tai alcançado a cada dia foi 0,041 [= 1/24,22), mas precisa de
400
Betula pendula 1.900 o" apenas 8, 18 dias para se desenvolver a 25°C ( 15.1 °C acima do
Larix decidua 1.900 ~ mesmo limiar). Ponanro, em ambas as [emperacuras, o desen-
P,cea abies 900 ~ 20 ~ volvimemo necessita de 123,5 graus-dia (ou, mais apropria-

.
'1l, 300
Larix decídua
Leucojum vemum
900
600
·s damente, "graus-dia acima do limiar''}. isrn é, 24,22 x 5, 1 =
Betula pendula 600
,, 123,5, e 8, 18 x 15, 1 = 123,5. Essa é rambém a necessidade
o
Fagus sylvar,ca 600 § 200 para o desenvolvimento do ácaro em outras temperaturas den-
Taxus baccata 550 § tro de uma amplitude não-lera!. Não se pode dizer que tais
Abies alba 530 u
organismos exigem um tempo definido para se desenvolver.
Prunus laurocerasus 250 100
Quercus 1/ex 240
10 O quedes exigem é uma combinação de rempo e temperatu-
Olea europaea 240 ra, muitas vezes referid.1 como "rempo fisiológico".
Quercus pubescens 240 .! As taxas de crescimenro e de de-
/
C1trus /lmonum 80 15 senvolvimento, juntas, determinam o
10 20 25 30
(m) 1O 15 20 25 30 35 40 45
Temperatura (ºC) tamanho final de um organi.smo. Por
Sahmdade (%)
(e) exemplo, para uma determinada taxa
FIGURA 2.3 Taxa de consumo de oxigênio do besouro-da·batata (Lep· de crescimento, uma taxa mais rápida de desenvolvimento con-
tmotarsa decemmeata). que duplica para cada elevação de 1OºC aci· duzirá ,l um tamanho final menor. Em conseqüência, se as
ma de 20"C. mas aumenta menos rapidamente em temperaturas mais
respostas de crescimento e desenvolvimenco a variações da tem-
altas (de Marzusch, 1952)
peratura não são as mesmas, a remperarnra afetará rambérn o
tamanho final. Na realidade, em geral o desenvolvimento se
fim, morre nos extremos superior e processa mais rapidamente com a temperarnra do que o cres-
inferior (discutido nas Seções 2.3.4 e cimento, de forma que, para uma gama muim ampla de org,1-
2.3.6), com uma amplitude funcional nismos, o tamanho final rende a decrescer com a elev:icão da
entre os extremos, dentro da qual se temperatura: ''regra temperatura-tamanho" (ver Atkin~on et
situa um ótimo. Isso é responsável, em parte, simplesmente ai., 2003). A Figura 2.5 mostra um exemplo para prmistas
por mudanças na eficácia metabólica. Para cada l OºC de ele~ unicelulares (72 conjuntos de dados de hábitars marinho, -'>J.-
T emperatu,a
vação da temperarura, por exemplo, a ra..xa de processos bioló- lobro e de água doce): para cada 1"C de aumento da temperJ-
gicos enzim~üicos muicas vezes quase duplica e, assim, aparece tura, o volume celular final decresceu em cerca de 2,Y'C.
FIGU~A 2.2 (a) Nicho de ~ma d1me~são Faixa de temperatura na qual diversas espécies vegetais dos Alpes Europeus podem atingir a
fotossmtese líqu,da com baixas 1ntens1dades de radiação (70 W m· 2 ) (de P1sek et ai., 1973) (b) N1cho em duas dimensões para o camarão-da- como uma curva exponencial (Figura 2.3). Esse aumento é Es.\eS efeitos d:1 cemperawr.1 sobre o crescimenco, o desen-
are1a (Crangon septemspmosa). mostra~do o destino de fêmeas portando ovos em água aerada. em uma faixa de temperaturas e salinidades produzido porque .1 remperatur:.1 alta aumenta a velocidade de volvimento e o tamanho podem ser rambém de imporr3.ncia
{de Haefner, 1970) (c! Nicho d1agramátrco em três dimensões para um organismo aquático, mostrando um volume definido pela temperatura, prátic.1, além do valor científico. Cada vez mais, os ecólogos
pelo pH e pela dispombilrdade de alimento
movimento molecular e acelera as reações químicas. O fator
pelo qual uma reaç.í.o muda em uma faixa de I ove
é referido sã.o solicicados para fazer predições. Nós podemos querer :,,1-
como Qlfl: um.a duplicaçáo aproximada significa Q10 :::::: 2. ber que consequências terá um aumenro de 2"C, resu\unte
cemperamra; o capítulo ~eguinre exzimina m recursos, que adi- que eles evoluíram; nem m reduro, gelados d,l Antártica consri- Pan um ecólogo, no entanto, os do aquecimento global (ver Seção 2.9.2). Ou, por exemplo,
cionani ourras d1menst)e~ deles próprios. mem um ambiente extremo param pingüim (\Xlharron, 2002) efeito, sobre reações químicas indivi- podemos querer cnren<ler o pJpe\ da remper_uura nas v.uiJ-
~~ r.unhém facil e pc-rigoso p:ira o ecólogo .1drnirir que coJm m duai'.) s.lo provavelmente menos im- çôes s.1zo1uis. 1meranu.us e geográficH da produri,·id.1de Je
oucros organismos sentem o ambiente <la mesma maneira que os portantes do que os d~icos sobre u- ecoss1srem.1.s marinhos (BlJckford eta!, 2004). NJ.o podemo..,
seres humanos. Sem dlzvidJ, esse profission.d deveria remar ver o x.1s de crescimento (aumento de mas- nos permitir aceitar relações exponenciais com a temper.uura.
.unbiencc com ''olho de verme" ou ''olho de pl.mra": enxergar o sJ), sobre cJxas de desenvo\vimenco se ela!> sã.o realmente lineares, nem ignorar os efeitos Jc mu-
2.3.1 O que queremos dizer com "extremo"? mundo como os outros o enxergam. As palavras emotivas, como ( progre::,SJ.o através de esc.ígios do ci- danç:.1s no tamanho do organismo sobre seu papel em comu-
severo ou propício, e mesmo as rdariva.'i, como quence e frio. clo de vida) e sohre o tamanho corporal fin=tl, já que, confor- nidades ecológicas.
Parece muiw n:uural de<;crever cerus condições ambientais deveri:un ser usad.l.S com muita caurela pelos ecologistas. me se discutirá no Capítulo 4, esses rendem .1 governar JS ari- Talvez motivado pela necessidade
como "extremas", "sever.1s''. ··propícias" ou "c<;rressJntes" Pode viJades ecológic.1s centrais de sobrevivência, de reprodução e de ser capaz de exrrapobr Jo conheci-
parecer óbvio quando as condições sJ.o "extremas": o calor do de movimento. E quando relacionamos as ta..xas de crescimen- do parJ o desconhecido e ramb~m
meio-dia de um deserro. o frio do inverno anrártico, a con- 2.3.2 Metabolismo, crescimento, to e desenvolvimenrn de organismos com J remper:uura, cons- apenas por querer descobrir princípios
centração de sal do Gre:.u S.1lt Lake. Porém, isso significa ape- desenvolvimento e tamanho tara-se muicas vezes umJ exrens.1 faixa sobre a qual existem, fundamenrais de organiz..1çio que governam o mundo ao nos-
nas que essas condições são extrem:1s para ,uh, dadas as nossas qu.mdo muito, apenas leves desvios da llnearid..1.de (Figura 2A). so redor, rêm surgido tem.uivas de de~cobrir regras univ':'nJ.i<;
parriculares características e toledncias fisiológicas. Para os ClC- Quando :1 rdaç:i.o entre cre,;cimenm e de.,envolvimenrn é de dependência <l.1 temperarnra. Isso vale-ria para o próprio
Os individum respondem à temperatura essencialmence da
rns, não hi nada exrremo quamo às condiçóes desértic:u em efetivamenre linear. as remper;imus experimentadas por um meraholismo e para tJx:1s de desenvolvimento, ligando rodos
maneira mosrradJ na Figura 2. 11: função prejudicada e, por
r
14 PARTE 1 - ORGANISMOS '~r CAPÍTULO 2: CoN01çóEs 35
1
'
!
~I .... .
(a) 1,0

.
y = 0,072x - 0.32

. o.a R2 =0,64

/ ~
;; 'j /
0.6
1o

LJ~
tadóaçao
procedente

.i ~
0,4
da atmosfera

..
~
"O
0,2

o
~ o
--0,2
--0.BL • • FIGURA 2.6 Diagrama esquemático das ro-
10 12 14 16 18 20 22 24 tas de 1ntercãmbio de calor entre um ecto-
-20 -10 10 20
Temperatura (oC) térm,co e diversos aspectos fis1cos do seu
Temperatura (oC- 15) ambiente (de Tracy, 1976; de Ha1nsworth.
1981).
(b) 0.2 FIGURA 2.5 A regra temperatura-tamanho (o tamanho final d1mmui
Y=0.0124x-0.1384 com o aumento da temperatura) ilustrada em protistas (65 conJuntos
=0.9753 de dados combinados) A escala horizontal mede a temperatura como
o

"~
0.18 R2
• um desvio de 1s::-c A escala vertical mede o !amanho padronizado: a
;; 0,16 • diferença entre o volume celular observado e o volume celular a 1SºC,
d1vid1da pelo volume celular a 15°C. A inclinação da linha de regres-
pondo-se ao sol sobre uma rocha quenre ou procurJ a sombra
para escapar do calor.
güíneo superficial e por outros mecanismos utilizados pelos
ecrocérmicos, como o arquejo e a simples escolha de um hábi-
I são média, que deve passar pelo ponto {O.O), 101 -0,025 {SE. 0,004); o Entre os insetos, existem exemplos de aumento das cem- cac apropriado. Todos esses mecanismos e propriedades juncos
i
. 0.14


volume celular decresceu cerca de 2,5% para cada aumento de 1ºC
peracuras corporais mediante o controle do rrabalho muscu- conferem aos organismos endotérmicos uma capacidade con-

..
(de Atktnson et ai.. 2003)
"O
0.12 lar. como acontece quando as mamangavas elevam sua tempe- siderável (mas náo perfeita) para regular sua cemperacura cor-
>--
ratura corporal pela vibraçáo dos músculos responsáveis pelo poral. O beneficio obtido é uma constância de desempenho
0,1 vôo. Os insetos sociais, como as abelhas e os cupins, po- próximo ao ótimo. Como conseqüência, eles têm um grande
podem ser um.1 .1upersimplificação, enfatizando, por exemplo,
dem controlar e regular a temperatura das suas colônias gasco de energia (Figura 2. 7) e, assim, uma necessidade muico
0.08 que características dos organlsmos, como taxas de crescimen-
18 20 22 24 26 28 com extraordinária precisáo cermostácica. i\1esmo algumas grande de alimentos para proporcionar cal energia. Em uma
to e desenvo!v1menco, são determinadas náo apenas pela de-
Temperatura (oC) plancas (p. ex., Philodendron) usam o calor mecabólico para cerca amplitude térmica (a zona cecmoneutra), um endotér-
pendência das re:.i.ções químicas individuais em relação à cem-
manter a temperacura das flores relativamente consranre; aves mico consome energia em uma taxa basal. Porém, sob tempe-
peracura, mJs também pela disponibilidade de recursos, sua
e mamíferos, evidememenre, usam calor metabólico quase codo racuras ambientais cada vez mais acima ou abaixo dessa zona,
(e) 0.25 taxa de difusáo do ambiente pua tecidos metabolizanres, etc.
o tempo, para manter a cemperacura corporal aproximada- o endotérmico consome cada vez mais energia para manter
(Rombou~h. 200 l; Clarke, 2004). É possível que haja espaço
mente constante. uma cemperacura corporal constante. Mesmo na zona cermo-
o 0.2 Y"'0.0081x-0.05 para a coexistênc1.1 de generalizações amplas em grande escala
Uma distinção importante, portanto, é a que se estabelece neucra, contudo, um endotérmico em geral consome energia
"i
.~=..
R2 = 0,6838 e relações mJ1.'i complexas em nível de espécies (subordinadas
enrre endorérmicos, que regulam sua cemperamra pda produ- com muiro mais rapidez do que um ectotérmico de tamanho
ara.is gencrJ.ltz:1çôes).

1
0.15 ção de calor dentro de seus próprios corpos. e eaoténnicfü, comparável.

)'í1
que dependem de fomes externas de calor. Ess.1 d1">tinç:io, po- As respostas de endocérmicos e eccocérmicos a cemperacu-

. º·'
g
.
>-- o.os
2.3.3 Ectotérmicos e endotérmicos
r~m. não é complecamence precisa. Como já obsern.mos, além
de aves e mamítêros, existem também outros ti'<ons que utili-
zam seu próprio calor para regular a cemperarur:i corporal.
ras em alteração, porcan/o, não são táo diferences como po-
dem parecer à primeira /isca. Ambos correm o risco de morre
por exposições, ainda que curtas, a temperaturJ.s muito baixas
:\1uims organirn10s [êm urna temperatura corporal que difere
mas apenas por períodos limitados, e exi-.tem aH.'.:> e mamífe- e por exposição mais prolongada a remperatllras moderada-
pouco d.1 J.o s,çu ambiente. Um verme parasirn no imescino
ros que reduzem ou suspendem suas upaciJ:ide.., endmérmi- mente baixas. Ambos possuem uma temper.uura ambiental
10 15 20 25 30 35 de um m,1r111fr.:ro, um micélio flrngico no solo e um;:i esponjJ
Cl.'> quando as temperarur:is sJ.o muita exm:>rn-I\. Em p.1rticu- ótirna e limires letais superiores e inferiores. H.i também cus-
Temperatura(~) no nur adqu1,r.:111 J [ernpencura do meio em que vivem. Os
br, muiros animais endotérmicos escapam de J.\gum dos cus- ros para ambos quando vivem sob cempc:racuras afastadas do
organismo" têrre::-[íL.'i. exposm.', ao sol e ao ar, são diferemes,
ros da endocermia por hibernação durame as esuçõc:s mais ótimo. Para o eccocérmico, esses custos podem representar cres-
'IGURA 2.4 Relações efetivamente hneares entre as taxas de cresc1- pois podem .dquirir calor direca.mente, pela absorçáo dara-
frias: nesses períodos, desse comporram quase como ecrotér- cimento e reproduçio mais lemos, movimenro lenco, incapa·
1ento e de desenvolvimento e a temperatura. (a) Crescimento do diação sai.Ir. ou r::>frigerar-se medi.mce o cJ.lor latente de eva-
ro!lsta Stromb,-dmops1s multiauns (de Montagnes et ai.. 2003). (b) m1cos. cidade de escapar de predadores e lentidão na busca de ali-
por:1ção dJ Jgua 1'.J F1gur.1 2.G mostra as roca.s rípicas de inrer-
>esenvotvimento do ovo no besouro Ou/ema dutrschmidi (de Severiní Aves e mamíferos em ger:11 man- mento. Porém, para o endotérmico, a manutenção da cempe-
·t ai.. 2003). (e) Desenvolv1mento. do ovo ao indivíduo adulto, no áca- cimbio de c.1lor). Di·:ersas propriedades fixas podem ganntir
têm uma cemperaturJ corporal cons- r:icura corporal custa energia, que poderia ser usada par1 cap-
J Amblyse,us califormcus (de Hart et ai.. 2002). As escalas verticais temper:uur.b curpor:iis mais elev:1d.1s (ou mais baixas) do que
m (b) e (e) representam a proporção do desenvolvimento total alcan- cance entre 35 e --ÍÜ''C .:, portamo, eles curar mais presas, produzir e nutrir mais descendentes ou es-
as ternpeutur.is do .:unbieme. Por exemplo. :is folhas brilhan-
ado em um d,a. em temperatura correspondente tendem a perder calor nJ m:iioria dos capar de mais predadores. Existem cambém custos do isola-
ces ou pracçaJJs de muitas pbmas de deserto rdletem a radia-
ambientes. Entretamo, essa perda é mento (p.ex., gordura nas balei:is, pelagem nos mamíferos) e
ç:io que poderi.1 provocar .'ieu a.quecimento. Os organismos
reduzida por isolamenco em forma de pelagem, <le pen.1s e de mesmo custos na mudança do isolamento entre estações. T1;;m·
,s organismos, por meio de gradação de cais depende!ncias, móveis po . . suem um cerrn comrole JJ sua cemperacura corpo-
gordur:i e pelo controle do flLL'<O sangüíneo próximo à . . uper- peraturas de .i.penas poucos graus acima do ótimo metabólico
om aspecrns do umanho corporal (Gillooly et ai., 200 l, rJl. poi::; ele ... s.lo ..:JpJz.es de buscar .1.mbiences mais quenres ou
fície <la pele. Quando é necessário elevar J. C3Xa <le perda de esdo sujeiras a se tornarem letais canto para endmérmicos
'.002). Oucru, aurores têm sugerido que cais generalizações nuis frio-., como quando um lagJrco prefere se .1quecer ex-
calor, isso também pode ser obtido pelo com role do fluxo san- quanto pa.ra eccocérm1cos (ver Seção 2.3.6).

1
r
> PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 2: CoN01çôEs 37

propriedades físicas podem mudar de maneira biologicamen- -7°C), eles não mostraram tal queda, porque as temperaturas
(a) (b)
te significativa: sua viscosidade aumenta, sua_ (axa de difusão foram demasiado baixas para os processos fisiológicos requeri-
~ decresce e seu grau de ionização diminui. De taro, o gelo rara- dos responderem à aclimação.
45 7â
g_ meme se forma em um orgJ.nismo até que a temperatura caia À pane da aclimatizaçáo, em geral a resposta dos indiví-
40 8 vários graus abaixo de 0°C. Os corpos fluidos permanecem duos à remperamra varia, dependendo do esrágio de desen-
40 35 5 em um estado de superesfriamenro, até que o gelo se forme de volvimento que eles atingiram. Provavelmente, a forma m .iis
30 ~ repc::me ao redor de parrículas que a ruam como núcleos. Como extrema desse comporramenro ocorre quando um organismo
1
o,

~
35

30
t
1-
conseqüência, aumenta a concentração de soluros na fase lí-
quida remanescente. É, muirn raro se formar gelo dentro de
tem um esrágio dormente em seu ciclo virai. Os estágios dor-
menres em geral são desidratados, metabolicamente lentos e
õ células, o que, quando acontece, é inevitavelmente letal; a con- roleranres a extremos de remperarura.
~ 25 aelação da água exrracelular é um dos fatores que impede a
i
o furm.1çáo de gelo denrro das células (Wharron, 2002), já que
·g- 20 J água é retirada da cdula e os solll[os no cirnplasma {e nos 2.3.5 Variação genética e a evolução da
e
a. 15
\·acúolos) se tornam mais concemr.1dos. Os efeitos da conge- tolerãncia ao frio
bção s.ío, portanto, principJ!menre osmorreguladores; o equi-
10 líbrio hídrico J,15 células é perrurbado e JS membrJnas cdula- i\1esmo dentro de uma esp~cie obsen·Jm-se, com freqüêncÍJ,
res fic1.m dese.'.>tJbilizad.1s. Os c::feitm são essencialmente se- diferenças n.1s respostas à temperatura entre populJçôes de lo-
te
melhanres aos da seca e J;i salinidade. cais distintos. !'vluiras vezes, constata-se que tais diferenças não

10 20 30
/
40
Os organismos possuem ao menos
duas estratégias metabólicas diferen·
sã.o atribuídas exclusivamente à Jclimarização, mas resultam
de difúenças genéticas. Um estudo com a c..1ctácea Opunáa
Temperatura ambiental (;C) Temperalura ambiental (oC) res que lhts permitem sobreviver às fr,tgilú proporcionou uma fone evidência de que a rnlerân-
',v·--3i-,~-.., temperaturas baixis do inverno. Uma ciJ ao frio varia entre raçJs geográficas de uma espécie. Em
URA 2.7 (a) A produção termostática de calor por um endotérmico é constante na zona termoneutra, isto é, entre b, a temperatura crítica escr;:icégia de ··eviração da congelação" geral, os cactos são espécies de hábicacs quentes e secos, m.as
fiar, e e. a temperatura crítica superior. A produção de calor aumenta, mas a temperatura corporal permanece constante à medida que a usa alcoóis poli-hídricos de baixo peso molecular (polióis, como O. fragili>· atinge até 56ºN e em um determinado local toi
peratura ambiental decresce abaixo de b, até que a produção de calor alcance uma taxa mâx1ma passivei a uma temperatura ambiental o glicerol), que baixam os pomos de congelação e de sup~res- reo-istrada a uma remperacura mínima extrenu de -49,4°C.
:a. Abaixo de a. tanto a produção de calor como a temperatura corporal diminuem. Acima de e, a taxa metabólica. a produção de calor e a
peratura corporal aumentam Portanto, a temperatura corporal permanece constante no intervalo de temperaturas ambientais entre a e e friamenro, e uriliza também proteínas da "histerese cérm1Ca", D; localidades diferenres do narre dos EUA e dô Canaciá,
Hainsworth, 1981). (b) Efeito da temperatura ambiental sobre a taxa metabólica (taxa de consumo de oxigênio) do esquilo·hstrado {Tamias que impedem a formação de núcleos de gelo (Figura 2.8a. b). amostraram-se vime populações, que foram restadas quanro à
Jtus). te= temperatura corporal Observe que entre O e 30"C o consumo de oxigênio diminui quase hnearmente à medida que a temperatura Uma estratégia ''colerante à congelação", que concrasra com a rolerància à congelação e à capacidade de se aclimatar ao frio.
1enta. Acima de 30°C. um aumento posterior da temperatura tem um eleito pequeno até próximo à temperatura corporal do animal, quando
insumo de oxigênio aumenta novamente (de Neumann. 1967; Nedgergaard e Cannon. 1990). anterior e rambém envolve a formação de polióis, promove a Os indivíduos da população mais roleranre à congelação (de
formaç.ío de gelo extracelular, mas protege as membranas ce· Manirnba) rnleraram -49ºC eT restes de [3.boratório e se ~cli-
lulares de dano quando a água é reririda das células (Srnrey, mararam a 19,9ºC, e indivíduf.ls de uma população no clima
1990). As tolerâncias de organismos a temperawras baix,H não m.ús suave de Hornby Isbnd, Colúmbia Britânica, toleraram
Embora seja difícil justificar essa do com uma remperamra constance de cerca de 2ºC. Se in-
são fixadas, mas sim pré-condicionadas pela experiência de apenas -l 9°C e se aclimataram a somente 12, 1ºC {Loik e
i<léia, é remador considerar os ecro- cluirmos as calotas glaciais polares, mais dos que 80º/o da bio-
temperaturas no seu p<1ssado recence. Esse processo é denomi· Nobel, 1993).
teírnicos como "primitivos" e os en- sfera é permanentemente fria.
nado {[c!imaçiio, quando ocorre no laboratório, e aclrnuwza- Exis(e-m também casos noráveis em que firotecniscas têm
docérmicos como rendo adquirido Por definição, rodas as temperatu-
ção, quando ocorre naturalmente. A aclimJtizaç.ío pode ini- estendido a amplirude geográfica de uma espécie de lavoura
controle "avJ.nçado" do seu ambieme ras abaixo do ócimo são prejudiciais,
ciar quando a remperarura se cornJ mais baixa no outono, para regiões mais frias. Programas de seleçJ.o deliberada, apli-
naioria dos ambienres ~ luhicada por comunidades mis(as mas existe, em gerJI, uma ampla faix;i "és' ?.:-:1ent:J
1

estimulando a com·ers.lo de quase toda a reserva de g!Kogênio cados J.o milho (Zea maví), têm expandido a área dm EUA em
minuis tndmérmicos e ecrotérmicos. [sso rnclui ;:ilguns dos térmica que náo causa dano físico e
dos .1nimais em polióis (Figura 2.8c), mas isso pode ter um que esta culrura pode s~r lucrativa. Da décJda de 1920 ate'. a
bientes nuis quenrn - p. ex., deseno com roedores e bgJr- na qual quaisquer efeitos são totalmente reversi\·eis. Enrreran-
cusw energético: cerca de t 6% da reserva de carboidratos pode década de l 940, a produçáo de milho em low.1 e Illinois au-
- e alguns dos nui.1, frll)s -- margens dJ plar.tfornu de gelo to, exisrem dois tipos completamente distintos de danos cau-
ser consumida na conversão da~ reservas de glicogênio em mentou em cere,1. de 24~'0, e no e,;rado m,1.Í\ frio de Wisconsin
-\ndrrica com pingüins e b.deiJs, junrameme com peixes e sados por temperaru1a'i que podem .'.>er let.iis, unro para os
polióis. d.1 cresceu 54%.
l. De modo ger,11. pod,.-mm t.iizer que o contr.i~re é enrrt ,1 tecidos como par.1 os org..1ni:.mo.'.>: esfri..1memo e <..ongeL1ção.
A expmiç.ío de um individuo por Se ;t .<1eleçáo del1ber..1da pode mud:ir a rnledncia e J dism-
.1régia dt .ilrn cusro/alrn bt.'nefício dos tnJorérmicos e J. :Vluiros org..111ismo'i sofrem d:rnos quJ.ndo exposros a tempera-
\·ários dias a uma temperatura rel,ui- buiçáo de umJ espécie domescicad<1., podemos esperar que :1
atégia de baixo cusco/b,iixo benefício dos ectutérmicos. Po- turJs baixas, embora acima do pomo de congel.1çáo - o que se
varnenre baixa pode dcslocJr roda sua sdeçJ.o n.J.rnral renha acuado do mesmo modo na naturez.t.
1, sua coexistência nos di, l\ue 3mh.1s as estr3régi.1s, cada denomina ··dano por esfriamenrn". Os frutos da banana escu-
resposta térmica p;tra a pane inferior Para restar essa hipótese, Umbilicw rupestris, espécie que hahi-
a ao seu modo, podem "f.17.er tnbalhar". recem e amadurecem após exposlçJ.o a temperc1turas de e.<1fri.1-
da esctb de temper;irura. De modo similar, a exposição a uma r.1 áreas m.uítimas amenas da Grã-Bretanha, foi cultivada fou
mento, e muitas espécies da floresta tropical são sensíveis ao
temperamra alr.1 pode deslocar a resposta térmica para cima. da sua faixa normal (\Xroodward. 1990). Plantas e semenrts
esfriamenrn. A natureza do dano é obscura, emborJ pareça
Poduras da A.nrinica (artrópodes <liminurns), por exemplo, foram coleradas de uma população de h:íbiur de inverno ;imc::no
.4 A vida a temperaturas baixas estar associada J. perda da permeabilidade da membrana e à
quando coletados a cemper.uuras de ''verão" na natureza (ao de Cardiff, no oeste, e introduzidas em um ambiente mais frio
perda de ions especificas, como o cálcio (Minorsky, 1985).
redor de 5"C n,1. Ant.írrica) e submetidos a uma 3.mplirude a unu alrirude de 157 m em Sussex, no sul. Após oiro J.nos, ,IS
uior p,irte do nosso pLmcu fie1. ab,iixo de 5"C: "o frio é o Temperaruras abaixo de 0°C podem ter conseqüências fí-
térmica. de aclimação, respondenm a temper.truras na faixa re.\posras :1 temperatura de sementes da popuilçâo doador:1. e
nigo m.1is violento e m-1is comum Ja vida )Obre a Terra" sicas e químicas !e(ais, ainda que nem sempre .'le forme gelo. A
de +2"C a -2°C: (indic:nivo de inverno), mosrrando uma mar- da popubção introduzida divergiram rotalmente (Figura
rnks ec rd., l 990). 1\.fai:. Ju que 7Whi dn planeta é coberco ,igua pode ·'superesfriar'' ,mi aringir temperaturas próximas a
cada queda n,1 temperatura cm que congelam (Figura 2.9); no 2. l Oa), e ,lS remperaruras de subcongelação, letais em Card1ff
1 água do mar - nJ maior parre, trata-se <le oce,mo profun- -4ílºC e perm.mecer sob forma !íquid.1 insrávd, em que suas
enranrn, a cemperarurJs de Jclima~·io Jinda nuis b,lixas (-5'1C, (-12"C), foram roleradas por 50% da população de Sussex

J
38 PARTE 1 - ORGANISMOS
r
CAPÍTULO 2: CONDIÇÕES 39

(a)
--6
FIGURA 2.9 Aclimação a temperaturas bai·
--6 'i' xas. Foram coletadas amoslras da podura
2:
I I I
da Antártica ( Cryptopygus antarcttcus), no
~ 3.000 -10

..
@ verão (cerca de SºC), por vários dias, e seu

1
. I
ponto de superesfriamento (no qual eles

~ /'·
.I... -12
1
congelaram) foi determinado ou imediata·
mente(•) ou após um período de aclimação

.
1

i ~ -14

1
(•) a temperaturas mostradas. Os pontos de
G
2.000 /'"-,,,/ ', ~ superestriamento dos controles variaram de-
~
"o
~ ""'--. i
-16 vido às variações da temperatura de d•a para

••
~
o dia, mas a aclimação a temperaturas na fai-
~
§ -18 xa de +2 a ·2ºC (indicativa de inverno) le-
~ 1.000 e. 1
vou a uma queda no ponto de superesfria-
8 ,;
-20 I mento. enquanto tal queda não foi observa·
da a temperaturas mais altas (indicativo de
•K -22 verão) ou temperaturas mais baixas (dema-
-1 -3 -5 -7 siado baixas para uma resposta de achmação
Sei Oul Nov Dez Temperatura de exposição (<>C) hs1ológ1ca) As barras são os erros-padrão (de
Jan Fe, Mac Ab<
Wor1and e Convey, 2001 ) .

(b)

20

(a) (b)
/
~ /--.........___/ .... ------ 2

~ 80 80
•~
....~ -20
• -2

--40
Sei Oul Nov Dez Jan Fev Ma, Ab< - •.
(e) 10 16 22 -4 --6 -12 -14
Temperatura (oC) Temperatura mínima (oC)

1. 1 200 FIGURA 2.10 Mudanças no comportamento de populações de Umb1f1cus rupestns. espécie estabelecida. por um período de oito anos, em um
õ ambiente frio em Sussex, a part1r de coletas de um local de inverno ameno em Gales do Sul (Cad1tt. Reino Unido) (a) Temperatura e germina-
1o çào de sementes: respostas de amostras (1) da população doadora (Card1tt). em 1978, e (2) da população de Sussex, em 1987. (b) Sobre-

f
v1vênc1a à temperatura baixa da população doadora em Cardilf, em 1978 (1). e da população estabelecida em Sussex, em 1987 (2) (de
Woodward, 1990)
800 FIGURA 2.8 (a) Mudanças na concen-
õ, tração de glicerol, por grama de massa

".
o fresca, das lar1as da mariposa da vara-
o de-oura· (Ep1blema scuddenana), que
0 evrtam a congelação. (b) Temperaturas mo. elas ger.dmenre se situam apenas pou..:o:. guu~ acima cos por uma remperarura corporal <lemasi;iJo a.lta; mas se
400
máxima e min1ma d1ànas (acrma) e pon- do Ó[Ímo metabólico. Isso é em grande pJrcc uma conse- .;;uas superfícies não s.ío protegidas. eles podem morrer por
~ tos de superesfnamento das larvas
§ (abaixo) durante o mesmo período. (e)
qüência inevitável das propriedades físico-quím1..:.1:-, da maio- dessecação.
ü
Mudanças na concentração de glicogêrno ria das enzimas (Whanon, 2002). TemperJrnr.1-,; alra.::. po- O Vale da Morte (do inglês lJench
durante o mesmo periodo (de Atckards dem ser perigosas porque das levam J. i1uu\"Jd.1de ou mes- Valley), Califórnia, no verão, é prova-
Sei Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr
etª"· 1987). mo à desnaturação de enzimas, mas elas podem cambém vd mence o local mais quence da Terra
Mês "N de T Nome popular de Solidago v,rga- ter efeitos danosos indiretos como conseqüênci;i dJ Jesl- cm que as plancas superiores mancêm um crescimento acivo.
aurea (Asteraceae). draraçáo. Uma vez que a evaporJ.ção é 1mport.1nte para a A remperarnra do ar durance o dia pode chegar J. 50%, e as
redução da temperatura corporal, os organismo.., terrescres {emperacuras da superfície do solo podem ser muico mais al-
enfrentam um dilema, pois todos precisam conservar jgua, tas. Uma espécie perene conhecida como doce-mel-do-deser-
Figura 2. Iüb). Esse resuhado sugere que mudanças climáti- 2.3.6 A vida a temperaturas altas e a taxa de perda de água por evaporação pode ser lecal a to (deurt honeysweet) ( TideJtromia oblrmgifalia) cre~ce com vi-
as pretéritas, como períodos glaciais, por exemplo, teriam al- temperaturas altas. Se .1.s superfícies são pro[egidas da eva- gor em cal ambiente, embora suas folhas morram quando sub-
erado a tolerância à remperarura de esp~cies, bem como re- Talvez o ,1~pecro mais imponante a respeito dos perigos de poraçáo (p. ex., pelo fechamento dos estônuco~· em pbntas metidas à. mesma tc:mperarura do ar. A transpir:1ção mulco rá-
iam forçado sua migração. tempera[uras .1.!us seja que, para um determina.do organis- ou espiráculos em insetos), os organismos po<lrm ser mor- pida mantém a temperamra das folhas em 40 a 45°C. e, nessa

1
40 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 2: CONDIÇÓES 41

faixa, elas podem exibir fotossínrese excremamenre rápida (Ber- nas profundidades oceânicas. em que Auidos com altas rem- eia fisiológica de que o inverno passou) antes de poder iniciar de 2,G m, da superfície do solo até o ropo do dossel (Geiger,
ry e Bjõrkman, 1980). peraruras ('°smokers") foram expelidos do fundo do mar, for- <;eu ciclo de crescimento e desenvolvimento. A temperatura 1955). Portanto, não devemos limitar nossa atenção a padrões
A maioria das espécie) vegecais que vivem em ambientes mando "chaminés" de paredes finas consricuídos de materiais ~ode também interagir com outros estímulos (p. ex., forope- globais ou geográficos qu.rndo buscamos evidências para a in-
muito quentes sofre de escassez de água e, por is50, são inca- minerais. A pareie de encão, muico mais fendas vulcânicas des- riodo). para quebrar a dormência e, assim, regular o começo fluência da temperatura sobre a distribuição e a abundjnci.1
pazes de usar o c.tlor larente de evaporação da águJ para man- se ripo cêm sido descobercas em cristas médio-oceânicas canto do crescimento. As semences de bérnla (Betltla pubescem) ne- de organismos.
ter baixas as temperaturas foliares. Em especial, esse é o caso do Arlânrico quanro do Pacífico. Elas se localizam a 2.000 a ces..'.itam de um esdmulo focoperiódico (ou seja, experiência As variações da temper.ltura a longo prazo, como as a5so-
de suculentas do deserto, em que a perda de água é minimiza- 4.000 m abaixo do nível do mar, a pressões de 200 a 400 bars de um regime especi.1! de comprimento do dia) antes de ger- ciadas a períodos glaciais, foram discucidas no capítulo ante-
da por uma baixa razão superfície/volume e uma baixa densi- (20 a 40 MPa). O ponto de ebulição da água aumenta para minar, mas, se submetidas ao esfriamenco, elas iniclam o cres- rior. No enranto, entre e.<.sas e as mud.inças diárias sazonais
dade de estônutos. Em uis plantas. o risco de superaqueci- 370"C a 200 bars e para 404ºC a 400 bars. O fluído supera- cimento sem um estímulo luminoso. gue conhecemos, v.írios padrões de médio prazo têm-se mr-
mento pode ser reduzido por espinhos (que proporcionam quecido emerge pelas chaminés a remperaruras em torno de nado progressivamente aparenres. Entre esces, destacam-se E!
sombra à superfície de um cacto) ou tricomas ou ceras (que 350ºC e proporciona um conrimmm de ambientes com tem- N1110-So11rhern Orcillario11 (ENSO) e Norrh Arl11mic Osci/lati-
refletem uma grande pane da radiaç:io incidente). Apesar dis- peraturas incermediárias à medid.1 que se esfria para atingir J. 2.-l Correlacões entre a temperatura e a 011 (NAO) (Figura 2.11) (ver Srenseth er,t!., 2003). A ENSO
so, tais espécies experimentam e toleram em seus recidos tem- temperarura da água do mar a cerca de 2°C. distribuição de vegetais e animais se origina no Oceano Pací~ico rropical, afastada da costa da
peraturas superiores a Gü•'C:, quando J temperarnra do ar esd Amhiences com pressões e temperaturas rã.o extremas são América do Sul. e com al[ernância (Figura 2.1 la) entre um
acima de 40ºC (Smith cr Ji, 1984). obviameme muiw difíceis de escudar in situe em muims as- 2.4.1 Variações espaciais e temporais na estJdo quente (EI Nino) e um frio (La ~iiia) da água, afetan-
.-\s queim.1J.1s s;\o respons<.Í\'ei.., pc- pectos impossíveis de manter no !.1borarório. Algumas b.1ctt:'.- temperatura do .:i.mbienre~ mJrinhos e: cononenrai:) por roda a bacia do
!J.'. temperaiuras 111.1is altas que os or- rias rermófilas, coletadas nessas fendas vulcânicas. furam cul- Pacífico (Figura 2.11.b; Figura 7 do encarte) e :ilém dcb. A
g:.rnismos enfrentam ru Terr:1. Antes dJ suJ intensific<1ção pro- tivadas com êxito a 100 °C e sob pressões b;ira.mécricas apenas As vJriações n.1 remperatura sobre a superfície da Terra e no NAO se refere à alternânci.1 norte-sul, em massa atmosférica,
vocadct por atividades humanas, ..1s queimadas eram causadas levemente acima do normal (Jan11Jsch e Morri. 1985). No interior de..<,ca têm uma di,·ersidade de causas: efeitos latirudi- entre o Aclânrico subtropical e o Ártico (Figura 2. l lc), Jfe-
prlncipalmeme por açJ.o de raios. O ri.-.co recorrente do fogo enr~rnto, há bastante evidência circunstancial de que algum.1 nJ.is. alritudi,uis, continentais, sazonais, di.irios e microcli- rando também o clima em geral mais do que apenas a tem-
moldou a composição em espécies de florestas áridas e semi- atividade microbiana ocorre a remperaturas muito mais altas máricos, e, no solo e na água, os efeitos da profundidade. perarura (figura 2.1 l d; hgura 8 do encarte). Índices com
úidas em muitas parte-" Jo mundo. Todas as pLrntas são dani- e pode gerar a fonte energécica para as comunidades de água A<i variaçôes latirudinais e sazonais não podem realmenre valores positivos (Figura 2. lc) estão associados, por exem-
ficadas por queinudas. m.1s os notáveis poderes de rebrota- quence fora dessas fendas vulcânicas. Por ~xemplo, fragmen- ser separadas. A Terrct esrâ inclinada em um ângulo em rdaçáo plo, a condições rela(ivamenre quentes na América ~o Norte
menrn a partir de meristemas protegidos nos caules e da ger- tos de DNA foram enconcrados em amosuas coletadas dentro i1s mudanças do sol. de acordo com as esrações, e isso determi- e na Europa e a condições relacivamente frias na Africi. do
minação de sementes permitem a um conjunrn especializado dos ·'smokers", em concenuações que indicam a presença de na alguns dos princip.tis diferenciais da temperarnra sobre a Narre e no Oriente N1édio. A Figur..1 2.12 mostra o efeito
de espécies a recuperação do dano e a formação de floras adap- bactérias intactas a temperJturas muirn mais altas do que as superfície (errescre. As influênciJ.s d.1 altitude e da ·'con(inen- da variação da NAO sobre a abundância de espécies. ro-
tJdas ao fogo (ver. por exemplo, Hodgkinson, 1992). convencionalmence consideradas como limiunces à vida (Ba.- ulidade" est.lo sobrepostas a essas ampl.is rendências geográfi- mando como exemplo o bacalhau ( Gadus morlnw), no mar
A maréria orgànica, decompondo-se em montes de excre- ross e Deming, 1995). CJS. Existe uma queda de 1°C p.1ra c.1da 100 m de aumento da de Barents.
mentos de propriedade~ rur;lÍs, pilhas de compostagem e mon- Existe uma rica fauna eucariócica nas proximidades de fen- ,ll(imde no ar seco e uma queda de 0,6"C no ar úmido. Este é
res de feno úmido, pode .ilcançar temperaturas muito altas. das vulcânicas, completamente atípica para os oceanos pro- n:sulrado da expansão ''adiabática" do ar à medida que a pres-
As acumulações de feno llmido se aquecem até remperaturas fundos em geral. Em uma fenda vulcànica em Middle Valley. sáo atmosféric::i cai com a altitude cresceme. Os efeitos da con- 2.4-2 Temperaturas e distribuições típicas
de 50 a GO"C pelo met.tbolismo de fungos - como Aspergillw nordeste do Pacífico, examinada por meio de fotografias e ví- tinentalidade sdo amplamence atribuíveis a taxas diferences de
(umigruus - e, posteriormenre, atingem cerca de 65ºC pela deo, ao menos 55 táxons foram documencados, dos quais 15 aquecimento e esfriamenrn da terra e do mar. Em comparação Existem muicos exemplos de distribui- ·so:ermas
ação de outros fungos termofílicos - como /V/ucor pmi!lw - e, eram espécies novas ou provavelmente novas (Juniper et ai., com a água. a superfície terresrre reflete menos calor, de modo ções de vegetais e animais significati-
urn pouco depois, pel.1 .1ç.to de bactérias e actinomicetos. A 1992). É um dos poucos ambienres em que uma comunidade que da se aquece mais rapidamente, ma.s também perde calor vamente correlacionadas com algum aspecto dJ temperarura
atividade biológica ces.<..1 perto de l OOºC, mas são formados com ramanha complexidade e especialização depende de uma com mais rapidez. O mar, portamo. tem um efeico modera- ambienul, ainda que em nÍ\'eis taxonômicos e sisremáticos
produtos autocombusrívei.<. que causam um aquecimemo .idi- condição especial rã.o localizada. As fendas vulcirncas mais Jor sobre as temperaturas de regiões cosceiras, em especial das gerais (Figura 2.13). Em uma escala mais detalhada. as disrri-
cional, eliminam água e podem inclusive provocar fogo. Um próximas conhecid:.1s, com condições similares, esrão a 2. 500 tlh:1.1>; tanro .,.., variações <li.irias como :1s sazonais da tempera- buiçóes de muius espécies têm uma e.'.treita relaç:10 com al-
outro ambiente escJIJanre é o de fonte<; [ermais namrais, onde km de disdncid. Tais comunidades acrescenram unu lisra 1di- rura são multo menos marCJdas do que em locais continentais guns aspectos da temperatura. Por ex.emplo, o limite norte de
o microrgani~mo 7/Jennu.i i1qumicw cresce ,I temperatura~ de cional ao registro de riqueza em espCcies do pbneca. Elas .1pre- J rnesm.1 britude. Além di,;so. existem efeitos compadvels no Ji.1,tribuiç:io J:1 ruivinha-do)-tinrnreiros (Rubia peregrina) é in-
G7"C e tolera remperarnr.1s "cima de 79' 1C. Esse organismo sentam problemas e"oluri\·os desati.1dores e problemas desen- i ntcrior de massas cominenrais: ,ire.1s seus e com solo desco- cirnamente correi.lcionado com a posição d,1 isorerma de 4,-:i"C
urnbém j.í foi isolado de .<.t"remas domésticos de águ.1 quente. coraj.1dores p.ira a recnologia nece.'.s.iri.1 p.ua observá-!J.,, re- berto, como o, deserro.1,, e.1>t.lo suhmecid.1s a extremo,;; di.iríos e em ianeiro (hgurst 2.14a; urna isorernu é uma linha do msipa
Muitas (ralvez codas) d.1, C.',f~écies extrcm.unente termófibs são giscr.i-bs e esrud.i-las. s.1zonais de remperarnra maiores do que em irea.<, l\mid:1.'., como que ligJ loc.1is com a nH:snu rcmperarura - nesse c.i.so, um.1
proc.1rioras. Fm ambiences <..:om temperaturas muito alras, a.<. flore.1>us. Desse modo, os m.1pas glob,iis de Lona ... térmicas ocul- média de j.rneiro de 1-t,SºC) No enranw, devemos rer nrnÍcJ
comunidades contêm pouc1:, espécies. Em geral. Jtlimais e ve- c.un uma gr.rnde quamidade de \·ariações loc.iis. cautela 11.1 interpretação dessas relações: da~ podem ser excre-
gecais são os mais senSÍ\ eis J temperJruras aleis, seguidos por 2.3.7 Temperatura como um estímulo .'vfuico menos considerada é a pos- m.lmente valiosas mbre previsões de loLais de ocorrência de
fungos, bactérias, actinomiceros e Jrqueobaccérias. Essa é es- sihi!idade de J.ind.1 haver, cm menor umJ decerrninaLL1 espécie, podem sugerir que alguma cuane-
sencialmeme a mesma ordem encomrada em resposta a mui- Vimos que a cemperarura é uma condição que afeta a taxa de esula, um.1 variaçJo microclim.ítica ristica relacionada :l. remperacura é importante na vida dos
tas outras condições extrenus, como temperatura baixa, sali- de~envolvimento dos organismos. Ela pode também acuar importante. Por ext.·mplo, a descid:1 de organismos, nus nJ.o prm·.1m que a temperacurJ catwt os limi-
nidade, toxicidade por met,ll.'. e dessecação. como um estímulo, determinando :ie o organismo começa ou ar seco e frio pu.1 o fundo de um vJle, J nn!ce, pode torná-lo tt:S de Jiscribuiçâo de uma espécie. A lnerarura relevante sobre
Um ambiente quente ecologica- nâo o seu de:,envolvimenro. Por exemplo, para muitas espé- até .10ºC nui~ frio do que o lado do vale .1penas l 00 m mais essa e muitas outras correbções entre temperamra e p,1drõcs
mente digno de nou foi descrito pela cies de ervas de clima temperado, ártico ou .1!pino, um perio- alw: o sol de inverno, in..::ldindo em um di.1 frio, pode aquecer Je dimihuiçâo foi revisada por Henges·eld ( 1990), que tam-
t-2í,na1s e c-.;:rvs primeira vez :ipenas pc:rm <lo final do do de esfriamento ou congelação (ou mesmo de alternância o bdo de uma .irvore voltado pJra o .<.til (e !'.\U.lS fi,;sur:is habná- bém descreveu um procedimento grifico mais refinado. Se-
século passado. Em 1979. foi desco- de temperaruras altas e baix.1s) é necessário ames que a germi- veis) até 30"C; e ,I temperatura do ar em uma manch.1 <leve- gundo o esrndo, remper.uura mínima Jo mês mais fno e .1
berro, no P.icífico oriental. um locd nação ocorra. A pL::mra exige uma experiência ao frio (evidên- ger.1ção pode v.1riar I Ü' 1C, ao longo Jc- um.1 distância vertical remperarura m..í:rnna do mês mais quente esrâo estimadas parJ
ri
42 PARTE 1 - ORGANISMOS ,;.~
CAPÍTULO 2: CoN01çóEs 43

! (e)
(a)
6

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Ano
·[
1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000
Ano

FIGURA 2.11 (a) EI N11ío·Southern Oscillation (ENSO), de 1950 a 2000. medtda por meio de anomalias da temperatura na superfície do mar
(diferenças a partir da média) no meio do Pacifico. Os eventos de El Nírio (> 0.4 'C acima da média) são apresentados em cor escura. e os
eventos de La Nuia (> 0,4°C abaixo da média) são mostrados em cor clara. (Imagem de http·//www cgd ucar.edu/cas/catalog/cl1m1nd/N1no-3·
3 4-indices html.) (b) Mapas de exemplos de eventos de EI Nino (novembro de 1997) e La N1Aa (fevereiro de 1999). relativamente à altura do
mar acima de níveis médios. Os mares mais quentes são mais altos; por exemplo. uma altura do mar de 15 a 20 cm abaixo da média equivale FIGURA 2.11 (continuação) (e) North Atfant,c Oscdlat1on (NAO). de 1864 a 2000. medida pela diferença de pressão normalizada ao nível do
a uma anomaha da temperatura de aproximadamente 2 a 3ºC. (Imagem de http"l/'.opex-w·Nw JPI nasa.gov/science/1mages/el-nino-la-nina.Jpg.) mar (Ln - Sn). entre Lisboa (Portugal) e Reyk1av1k (Islândia) (Imagem de http://www.cgd.ucar edu/-jhurrell/nao.stat.winter.html#winter) (d)
(Ver Figura 7 do encarte.) (continua) Condições típicas de inverno, quando o índice da N.A.O é pos1t1vo ou negativo São indicadas as condições mais do que quentes. frias. secas ou
um1das. (Imagem de hnp.//www.ldeo.columbia edU1NAO/.) (Ver Figura 8 do encarte.)

muirns locais, dentro e fora da amplitude de uma espécie:. Cada então, usadJ p:.1r.1 definir o limite geográfico das distribuições
loc1l é, depois, piorado em um gráfico de remperacura má..xi- da espécie (Figur J 2. 14c). Isso pode ter um fone valor de pre- Uma razão pela qual se de\·e cer cuidado ,lO imerprecar as isotermas de um mapa raramence são aqudas experimentadas
ma em relação à mínima e é traçada uma linha que Jistlngue dição, mas nad.1 revela aindJ sobre as forças subjacemes que correlações encre distribuições de espécies e m..1pas de tempe- pelos organismos. Na nacureza, um organismo pode escolher
registros de presença e ausência (Figura 2.14b). Essa linha é, causam os p:1drõt:S de di5cribuição. ra.cura é que as cemperaruras medidas par.1 .1 daboraç:ío d,lS entre ficar ao sol ou protegido à sombra, ou mesmo, em um

l
r
u PARTE l - ORGANISMOS CAPÍTULO 2, CONDIÇÓES 45

.l
2.4.4 Distribuições e interação da temperatura
(b) com outros fatores
(a)
~
8,0 5,0 • Hemistério Norte
<>

7.5 ,,.. ~ Hemisléno Sul Embora os organismos respondam a cada condição em seu
ambiente, os efeirns das condições podem ser bascanre deter-
•• • • •
200

·,
4,5
~~ minados pelas respostas de outros membros da comunidade .

• • ...•
:! § 7,0
~
• r ••
o A temperatura nã.o atuJ ::.obre uma única espécie: ela atua tam-
• •
o .
~ ~
o E
u •
~~
6.5

6,0

• ••• .. •

-! ~
1!
8.
4.0

3,5 e
•• ,·• a-·
y
.
~
'O
2
bém sobre os seus competidores, pre:ias, parasitas, e assim por
diante. Como vimos na Seção 2.2, essa era a diferença entre

/.
um nicho fundJ.menral (onde um org:inismo poderia viv~r) e

.,.
e•
a -g
~
! i 5,5
•• • • 100
z um nicho realizado (onde ele de fato vive). Por exemplo, um

.. ••
~ 3,0 organismo sofrerá se sua alimentação for outra espécie que
5,0
•• não pode tolerar uma condição ambiencal. Isso é ilustrado pela
4,5 2,5 distribuição da maripos.1-do-junco (Caleaphara alticolella) na
-5 -4 -3 -2 -1 -5 -4 -3 -2 -1
/ Inglaterra. A mariposa deposita seus ovos sobre as folhas de
lnd1ce da NAO Índice da NAO
iunco (}tmrw squarrosus). e JS !Jn·as :ie alimentam d.1s semen-
(d) (e) ~o -40 -20 20 tes em desenvolvimento Acim.1 de GOU m. :1s mariposas e JS
Temperatura (ºC) larvJs sã.o pouco aferaJas pelJs cemperaruras bJi.xas, mJs o jun-
8,0
.E
É.
100

FIGURA 2.13 Relação entre a temperatura mínima absoluta e o nú-


co, emhora cresça, nJ.o consegue Jmadurecer suas sementes .
7,5 {f ~
.. Esse comportamento, por suJ vez, limira a distribuição da

"'.
~ ~ 90 ,3 T1ero de fam1lras de plantas floríferas nos hemisférios norte e sul (de
••
.. ".. ....,
.• • ,• maripo;<.a, pois as larvas que eclodem nas elevações mais friJs
(:ã-
.r.•
Woodward, 1987. que também discute as l1m11ações desse tipo de
"] 8 7,0
:g~ "' .
'O

••
anáhse e como a h1slórra do isolamento continental pode ser respon- passam fome como conseqüência des-

-
a 80 sável pela extraordinária diferença entre as dois hemisférios)
; Es,s ,,=
sa insuficiência alimentar (Randal, :::c.e:-icc;
u.
~~ 6,0 if
~
.i,:)
õ
] 70
• ••••., 1 1 1982).
Os efeiros de condições sobre doenças rambém podem ser
ea -g

:[ ~ 5,5
,. ., t •
.g
•• • •• produção do café ( Cajfett arabiw e C. robusta) é definido relevan[es. As condições podem favorecer a dispersão de in~
o,
.. i 60 •• fecção (ventos transportam esporos de fungos), o crescimento
o
5,0
@
) E
• • pel.1 isoterma de l 3°C do mês mais frio do ano. A maior

4,5
• "t
C) 50
pane da safr.1 mundial é produzida em microclimas de pla-
nalro dos estados brasileiros de Sá.o Paulo e Paraná. Nesses
de parasirns ou enfraquecer as defesas do hospedeiro. Por exem-
plo, durance uma epidemia da ferrugem-d.1-folha·do-milho
5-0 60 70 ao 90 100 2,5 3,5 4,5
locai,;, a temperatura mínima m~dia é 20ºC, mas ocasio- (HelmúuhoJporium ma_ydis), em uma planração de milho em
Comprimento do bacalhau de 5 meses (mm) Temperatura (oC) Connecticur, as plantas mais próximas
nalmence ventos frios e poucas horas de temperatura pró-
xinu ao ponro de congelação são suficientes para m:irar as às árvores, que ficavam à sombra por co~:y;· 1caJ
.=1GURA 2.12 (a) A abundância do bacalhau ( Gadus morhua) de 3 anos, no mar de Barents, apresenta uma correlação positiva com o valor do períodos mais longos, foram as mais
plantas ou danífid-las gravemente (com conseqüências nos
ndice da North Atlantic Oscillation (NAO), para o mesmo ano. O mecanismo que fundamenta essa correlação é sugerido em (b·d). (b) A
emperatura média anual aumenta com o índice da NAO. (e) O comprimento do bacalhau de 5 meses aumenta com a temperatura média anual preços mundiais do produro). forremenre afetadas pela doença (Figura 2.15).
:d) A abundância do bacalhau de 3 anos aumenta com seu comprimento aos 5 meses (segundo Ottersen et ai., 2001 ) .

.'t11ico dia, experimenrar um sol escaldante ao meio-dia e uma isoladamente, seja o faror mais importance na limitação da
(a) (b) (e)
noite gebda. Além disso, a cemperarura varia de um local para distribuição das plamas. O cacto gigance do oeste dos EUA e
)utro em uma escala muito mais detalhada do que poderia ime-
ress,ir a um geógrafo, ma.s sdo as condições nesses "microclimas"
do México (do inglês, saguaro) ( Carnegiea gigantea), por exem-
plo, está sujeiro a morrer quando JS temperarurJs perm:ine- .
2: 20
i 18
b que decerminarâo deci,i\·ameme o que é lubitável para unu cem abaixo do ponro de congelação durante 36 horas, mas de
Jeterminada espécie. Por cxc:mplo, o arbusto D,pts octapeta!tr não fica ameaçado se houver um degelo diirio. No ArizonJ, ~ 16
E
rncringe-se a altitudes superiores a 650 m em Gales do Norce os limites nane e leste da disrribuiçio dessa espécie de c-Jcro
'~ 14
(Reino Unido), onde se encomr:1. próximo do seu limite meri- correspondem a uma linha de uni.lo de !oCJ.is onde em dias
dional. Todavia, para o norte, em Surherland (Escócia), onde ocasionais náo há degdo. Assim, e:i:ia espécie não esrá pre"eme • 12
a
geulmenre é mais frio, de é encorur.1do ao nível do mJr. onde ocasionalmente existem cond1çõc:s letJ.is - um indivíduo ;;
• 10
náo morre mais do que uma vez.
De maneira semelhante, uma es- l
....
2.4.3. Distribuições e condições extremas pécie vegeul cultivada c:m escala co-
Temperatura no mês mais frio (oC)
mercial quase nunca se enconrra sob
Para muitas espécies, J.S di:itribuiçóes são explicadas não ramo as condiçóes climáticas dos seus ancestrais selvagens e sã.o bem
FIGURA 2.14 (a) O lrm1te norte de d1stnbu1ção da rurvrnha-dos-t1ntureiros (Rub1a peregrina) está intimamente correlacionado com a posição da
pel.1s cemperarura:i méJias, mas muito mais pelos extremos conhecidos os casos de insucessos de safr:1s cJusados por isoterma de 4.S)C de jar.e1ro (de Cox er ai. 197ô). (b) Representação dos locais de T1/ta cordatdentro (•) e fora (o) da sua amplitude. no esi::aço
oca:iionais, em especial rnnperamras let:iis ocasionais que im- evenros exrremos, principalmente geadas e estiagem. Por gráfico definido pela temperatura minima do mês mais Irra e máxima do mês mais quente. (c) Limite da amplitude geográfica de T. cordata no
pedem sua existência. Por exemplo, é provável que a geada. exemplo, o limite climático da amplitude geográfica para a norte da Europa. definido pela hnha reta em (b). (fb. c] de H1nllkka. 1963; de Hengeveld, 1990)
6 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 2: CONDIÇÔES 47

15

is
.
Ê
10

1 FIGURA 2.16 A mudança da temperatura


inverte o resultado da competição À tem·
peratura baixa (6ºC). à esquerda, o peixe
FIGURA 2.15 Incidência da lerrugem- salmonideo Safvelinus mafma sobrevive co·
da-folha-do-milho (Helmmthosporium habitando com S. leucomaenis, e a l 2°C. à
mayd1s) sobre o milho crescendo em fi- direita, S. feucomaenis leva S. ma/ma à ex-
leiras. a distàncias variadas de ârvores tinção. Ambas as espécies são totalmente
que o sombreavam. As doenças fUngi- 100 200 100 200 capazes de viver sozinhas nas duas tempe-
cas transportadas pelo vento foram as Duração do expenmento (dias) raturas (segundo Taniguchi e Nakano. 2000).
11 responsáveis pela maior parte dessa
Números das f1iel(as de milho a partir das árvores dispostas no 1tm1te da lavoura
mortahdade (Harper. 1955) (de Lukens
e Mullany, 1972).

diversidade). Os limites de tolerância para pH \J.rtam entre as


A competição enrre espécies pode, também, ser profunda- no ar imedi.1.ramente acima, a, calvez, 40 cm de distância. a espécies vegecais, mas apenas uma minoria é cJp.iz de crescer e
1ence influenciada pelas condições ambientais, em especial umidade rel.1t1va atinge apenas 50º/o. Os organismos "terres- reproduzir-se sob um pH abaixo de 4,5.
da cemperarura. Duas espécies de peixes salmonídeos de ria- ues" têm a sua disuibuição mais obviamente afetada pela Em solos alcalinos, o ferro (Fe-'•), o fosforo (Pü.;'•) e cer-
10, Salvelinw mafma e 5. !eucomaenis, coexistem em locais umidade, pois eles são. de fato, "aquáticos" na maneira de con- cos elementos-traço, como o manganês (~1n~+). são fixados
~ alritudes intermediárias (e, portanco, de temperaturas in- trolar seu balanço hídrico. Anfíbios, isópodes terrestres, ne- em compostos relativamente insolúveis, e as p!amas podem
·rmediárias) na Ilha Hokkaido, Japão; apenas a primeira vive macódeos, minhocas e moluscos, ao menos em seus esrágios ser, então, prejudicadas, devido à pouca disponibilidade des-
n alrirudes mais elevadas (cemperacuras mais baixas) e a úlci- ativos, estão confinados a microambiences cuja umidade rela- ses elementos. Por exemplo, as plantas calcífugas (característi-
'ª· em altitudes mais baixas (ver cambém Seção 8.2.1 ). Por tiva aproxima-se de 100%. O principal grupo de animais a cas de solos ácidos) muitas vezes mostram simomas de defi-
ma mudança de cemperacura, uma inversão do resulcado da escapar desse confinamenco é o dos artrópodes terrestres, em ciência de ferro quando transplantadas para solos mais ak.ili-
iteração entre as espécies compecidoras parece desempenhar especial insetos. Toda\'la, mesmo assim, a perda evaporaciva nos. Coorudo, em geral, solos e águas com pH acima de 7
m papel-chave na compecição. Por exemplo, em riachos ex- de igua freqiJencemenre limita suas atividades a hábicats (p. rendem a ser favoráveis a muito mais espécies do que aqueles
erimentais com as duas espécies, mancidos a 6°C por um ex., ílon::stas) ou períodos do dia (p. ex., anoirecer) com umi- mais ácidos. Campos de solos gredosos e calcirios têm uma
eríodo de 191 dias (uma temperacura típica de alcitude ele- dade relarivarnence alca. flora (e fauna associada) muito mais rica do que campos de
1da), a sobrevivência de 5. ma/ma foi muiw superior à de 5. solos ácidos, e essa siruação ~ semelhante par .1 animais que
ucomaenis; por ouuo lado, a l 2ºC (uma cemperarura típica habicam riachos, açudes e lagos.
e altitude baixa), a sobrevivência das duas espécies foi me- 2.5 pH do solo e da água Alguns procariocos, em especial as Arqueob.1ctérias, po- pH

or, mas o resultado foi invercido, de modo que em torno de dem colerar e até crescer melhor em ambientes CUJO pH está.
O dias wdos os indivíduos de S. malma morreram ( Figura O pH do solo. em ambientes terrestres, ou da água, em am- muito distante da faixa tolerada pelos eucarioto'i. T.1is ambien- FIGURA 2.17 A toxicidade de H• e OH- para as plantas e a influéncra
tes são raros, mas ocorrem em lagos vulcânicos e fontes geo- do pH do solo na disponibilidade de minerais para elas (indicada pe-
.1 G). Ambas as espécies são capazes de viver sozinhas nas duas bientes aqu:üicos, é uma condição que pode exercer uma po- las larguras das faixas) (segundo Larcher. l 980)
·mperacuras. derosa influên...:i.i sobre a distribuição e a abundância de orga- cermJ.is, onde estão sicuados os valores óomos de pH. e os
i\.1uitas das interações encre cem- nismos. O prucopl.isma das células das raÍLes da maioria das organismos dominantes são bactérias sulfo-oxid;rnre'i, incapa-
erarura e oucras condições fístcas são plancas aqujcica) é danificado como resultado direto de con- zes de viver em ambiences neucros (Smlp, l CJ8t-;J. Thiobaállw
10 forces que; não é adequado consi- cencrações tóxicas de íons de H• ou OH- em solo) com pH ft,To.âd,ms ocorre em resíduos de processos industriais de !ixí-
eri-!Js separ.idameme. A umidade relaciva do ar. por exem- abaixo de 3 ou .Kima de 9, respectiva.mente. Além disso. ocorrem vi:.i de metais e colerJ pH 1; T. thioxidaw náo e,() rnler.1. mas perfície, onde se acumula sal cnsCJ.l1r10. Isso acontece especial-
lo, ~ unu condição imporunre na nda de organismos rerres- efeitos inJiretos, pois o pH do solo influencia a dispooibilidade pode crescer em pH O. Na outra excremidade d-1 dmp!icu<le do mence quando .l) plane.is de !J.voura são cultiv.1das sob irriga-
es, pois desempenha uma pane importante na dererminação de nutnences e/ou J. concentração de wxinas (Figura 2. l 7). pH escão os ambientes alcalinos dos lagos riem cm clfbonaco çJ.o em regiões ándas; desenvolvem-se, enrão, salinas, to solo
e suas taxas de perda de água. Na prática, raramente é possí- A acidez elevcJ.da (pH baixo) pode atuar de três maneiras: de sódio com valores de pH enrre 9 e 11. habi(ados por ciano- se torna inucilizado para a agrlculcura. O principal efeico da
.:1 escabelecer uma disrinção clara encre os efeicos da umidade (i) diretameore, pela penurbação da osmorregulaçáo, da ativi- bactérias, como Anabaenopsis arnoldii e Spzr?drn.z pl.itensis; salinidade! é provocar o mesmo tipo de probltmas osmorregu-
:!..uiva e da temperatura. Isso acontece simplesmente porque dade enzLmicica ou das croca.s gasosas acravés dJs superfícies f>!eaonema ,wstocorum pode crescer em pH 13. lacórios consracados na seca e no congelamenm, e muitos dos
ma elevação na temperacurJ. provoca um aumenw da raxa de respiratória~; (Ít) indireramenre. aumentando a concencração problemas são registrados da mesma maneira. Por exemplo,
•aporação. Uma umidade relativa aceitâvd para um organis- de metais pes.1dos tóxicos - em parricular alumínio (AI3•). muitas das plantas superiores que vivem em ambiences 'ialinos
10 sob uma temperatura baixa pode, portanto, ser inaceitável mas também manganês (l'v1n 2 •) e ferro (Fe 3 •) -, que são nu- 2.6 Salinidade (halóftras) acumulam eletrólitos em seus vacúolos, mas man-
>b uma tempenrura mais alca. As variações microclimácicas uiences vegetais essenciais sob valores de pH mais altos; e {iii) têm uma concenuação baixa no ciroplasma e nas organdas
:n umidade relativa podem ser até mais acencuad:is do que indirecameore, pela redução da qualidade e amplitude de fon- ParJ. as plantas terrestres, a concentração de sJÍ:, na água do (Rohinson er ai., 1983). Tais plancas maorêm pressões osmó-
~Lidas envolvendo a temperatura. Por exemplo, não é inco- tes alimentares disponíveis aos animais (p. ex., o crescimento solo oferece resistência osmócic:.i à absorção de água. As con- ticas altas e, assim, permanecem cúrgidas, sendo protegidas da
1um J. ocorrência de umidade rei.uiva de qu:ise 100º/o no ní- fúngico t: reduzido sob pH baixo em riachos (Hildrew et aí., cencraçoes salinas mais extremas ocorrem em zonas árida), cujo ação prejudicial dos deuólicos acumulados por polióis e pro-
::1 do solo. no meio de densa vegetação e no interior do solo; 1984} e a flora .iquitica muitas vezes inexisce ou exibe menos movimento predominante da água do solo é em dirc-:ção à su- tetores de membrana.

1
r
.f
-,;
48 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 2: CONDIÇÕES 49

Os ambiences de água doce apresentam um conjunto de interações com ourras condições - em especial exposição ao ar Com exceção de fendas onde .se formam substraros moles, salinidade, iluminaçáo excessiva e as simples forças físicas do
:ondições especializadas, pois a água rende a penetrar nos or- e à natureza do subscrato. ,1s plantas superiores inexistem em cosrões rochosos entre-ma- embate de ondas e tempestades (às quais reremaremos n.1 Se-
;anismos, e esre fenômeno deve ser conri<lo. Em hábitats ma- Algas de todos os tipos encontrJ.m hábirars adequados vi- rés. Esres ambientes são dominados por algas, que dão lugar a ção 2.7). Além disso, a "exposição'' mosrra, com deim, apenas
·inhos, os organismos, na maioria, sao isotônicos em relação vendo sempre submersas no mar. mas as plancas superiores liquens ao nível da maré alta e acima desta, onde a exposição à os limites superiores dessas espécies essencialmence marinhas;
10 seu ambience, de modo que não há fluxo líquido de águJ. inexistem completamente nesses ambientes. Isso estabelece um Jessecaçáo é maior. Os vegetais e os animais que vivem sobre no enranco, a zonação implica que elas tenham também limi-
">or outro lado, existem muitos 4ue são hiporônicos, de ma- contraste notável com hábicacs submersos de: água doce, onde cestões rochosos são influenciados por condições ambientais res inferiores. Para algumas espécies, pode haver uma expoú-
1eira que a água flui desses organismos para o ambiente, colo- uma diversidade de espermarófius desempenha um papel de extremas, à medida que toleram exposição ao ambiente aéreo çiio demasiado pequena nas zonas inferiores. Por exemplo, as
:ando-os em posição semelhante aos organismos terrestres. As- destaque. A principal razão parece ser que as plantas superio- e às forças de ondas e tempestades. Isso se expressa na zonaçiio .ilgas verdes rornam-se carentes de luz nas faixas do azul e,
;im, para muicos organlsmos aquáticos, a regulação da con- rc=s necessitam de um subsrrarn onde suas raízes possam en- dos organismos, com espécies distintas em ~1lmras diferences especiaJmente, do vermelho, se ficarem submersas por longos
:enrração fluida do corpo é um processo virai e, às vezes, ener- contrar ancoragem. As algas marinhas macroscópicas, que fi- da cosra (Figura 2.19). períodos em zonas muiro baixas da costa. Para muitas outras
;eticamente dispendioso. A salinidade de um ambiente aquá- cam continuamente submersas (exceto em marés extremamence A extensão dJ z.ona entre-marés espécies, contudo, a distribuição no limite inferior evita a com-
ico pode reruma influênci<1 imporunre sobre a disrribuição e baixas}, ocorrem com abundância em comunidades;narinhas. 1')'1?.çao depende Ja altura das marés e da in- petição e a predação (ver. por exemplo, a discussão em P.iine,
l abundância, em especial em locais como estuários, onde há Elas não possuem raízes, mas se fixam às roch.is por meio de clinação J,1 costa. Longe da costa, as 1994). Na costa da Grã-Bretanha, a alga marinha Fucus spira-
101 gradiente bem-definido entre hibiracs verdadeiramente mJ- "grampos" especializados. Em regiões com substratos moles. subid.1s e descid.1s Ja.s marés rar.unente são n1Jiores do que !is se estende com facilidade para zonas mais baixas do que o
·inhos e de água Joce. essas algas são excluídas, pois n,10 conseguem tlx.1r-se. É nes- 1 m. Porém. mais próximo J. cosu. o formaro d.1 massa terres- normJl quando são escJS:>J.S outras algas marinhas fucóides,
Os camarões de jgu.t dou:'. I'.daâllOllt.'ll'J. pugio e P. uu!gar/J", sas regiôes que ,ts pouc.ts espernucófic.1s \·erd.1Jeir.Hllt.'"1He mJ- rre poJe afunil.tr a m.1ré t.: o fluxo de águ.1, proJuLindo deva- co111pet1Jor,ts nas zon.,s méJi,t..,
1or exemplo, co-ocorrem cm uma .1mpb fo1xa de :iJ.liniJade:i rinha . . , como, por exemplo, ZOJtertI e Po.1ido11ia. for111.rn1 co- çõcs Je maré . . com .unplirude.s excrJordi11.iri,1s de. por exem-
ie esruários da costa lt'sre dos EUA. No enunrn, P. pugio pJ.- munidades submersas que sustencam comuoidades animais plo, qu,1se 20 m na Baía de Fundy (entre Nov.t Scotia e New
ece ser mais rnleranre .1 remperatur.ts mais b.1ixas do que P complexas. Brunswick, Canadá). As costas do rnar Mediterrâneo, ao con- 2.7 Forcas físicas de ventos, de ondas e
mfg,11-is, ocupando alguns h.íbirats no.s quais a última inexiste. A maioria <las plancas superiores ,:_;~~s ~ pl::--:::;:1s tr.írio. experimentam uma amplitude de maré praticamence de éorrentes
-\ Figura 2. l 8 mostra o mt.:c.rnismo provável que fundamenta enraizad.1s em subsrraro nurinho rem ·p?r,:.,,2s insignificante. Em costõe~ inclinados e penhascos rochosos, a
·sse fenômeno (Rowe. 2002). Em uma faixa de salinidade (em- caules e folhas expostos J. atmosfera zonJ entre-mJrés é muito curta, e .1 zonação é comprimida. Na natureza, existem mui(as forças do ambiente que têm seu
JOra não na salinidade mJ.is baixa efetivamente leral). o con- durante grande parte do ciclo das marés. Como exemplos, po- Explicar a "zonaçJ.o como um resultado da exposição", efeiro graças à força do movimento físico - o vento e a :igua
.umo metJ.bólico foi significativamente mais baixo em P pu- dem ser citadas as plantas de mangue, espécies de Spartina e enrretanto, é uma simplificação exJgera<la do cerna (Raffaeli e são os melhores exemplos.
~io. P vu!garú necessita de muito mais energia simplesmence halófitas extremas, como as espécies de S,t!icornia, que têm Hawkins, 1996). Em primeiro lugar, "exposição" pode signi- Em riachos e rios, plamas e animais defrontam-se com o
Jara se manter, o que a coloca em grande desvanragem na caules aéreos e raízes expostos à salinidade wtal da água do ficar uma din•rsidade ou uma combinação de muitas coisas risco contínuo de serem CJrregados. A velocidade médiJ do
:ompetição com P pugw. mesmo quando ela é capaz de sus- mar. Nos locais com substrato está\ el em que as plantas po-
1
diferences: dessecação, exrremos de temperatura, alterações na fluxo geralmente cresce para jus,rnte, mas o perigo maior Je os
enrar tal consumo. dem enraizar, as comunidades de espermaróficas podem se
propagar através da zon:i entre-marés, em um continuum que
se estende desde condições de água salgada com plantas per-
~.6.1 Condições no limite entre o mar e a terra manentemente submersas (como as gramíneas) até condições
rocalmence não-salinas. Os marismas, em parricular, abra.n-
\ salinidade tem efeitos 1mporrantes sobre a distribuição de gem uma faixa de concencrações de sal, desde J água do mar
)rganismos em áreas entre-marés, mas ela age por meio de até condições tot.ilmente não-salinas.

33 ~

32
-+- P.pugio
31 -e.- P vu/garis Media g-efal

.
-5
30 P vulgar,s (24.85)
1

.•
:,.
o
-5
i
~ .
~
iõ '
E

i
FIGURA 2.18 Consumo metabólico padrão
(est1'llado por meio do consumo mínimo de
oxigénio} em duas espécies de camarão,
u
Palaemonetes pugio e P. vulga"s. submeti· FIGURA 2.19 Esquema gera! de zona·
das a uma faixa de salinidades. Houve mor- çào da costa marinha. determinada p~-
l
18
17
1 l Média geral
P. pug10 {22,91)
talidade s1gnifrcat1va das duas espécies a
0,5 partes por mil, especialmente em P vul-
' !os comprimentos relativos dt! expos1-
çào ao ar e à ação das ondas (segun-
o 10 15 20 25 30 35 gans {75%. comparada com 25%) {segun- do Raffaeh e Hawk1ns. 1996).
Salinidade {partes por mil) do Rowe. 2002)
50 PARTE 1 - ORGANISMOS
CAPÍTULO 2: CoN01çôEs 51

membros da comunidade bencônica (habi,antes do fundo) e rajadas de 320 km h·'. Em 40 horas, a chuva ulrrapassou os
(a) (b)
serem arrasrados é nas regiões a moncance, onde a água é rur- 300 mm. Os primeiros escágios de regeneração após o ciclone 14
bulenra e rasa. As únicas plantas enconcradas em cursos de (Labbé, 1994) sio respostas típicas de comunidades, estabde- ~
água exm::mos são as espécies de "baixo perfil", como algas cidas na rerr.1 ou no mar, às forças massivas de destruiçáo. []] ~
Mtddte Beach
.!l
a
-í 0,2
D Kangaroo lsland
~ ~
incrustantes e filamentosas, musgos e hepáticas. Onde a cor- Mesmo em comunidades "não-percurbadas", há uma contí-
nua criação de cl.1reiras com a morce de indivíduos (p. ex., • PonPine ~ ::; li] ModdleBeach
rc:nce é um pouco menos excrema, existem plantas, como o ~
ranúnculo (Ranunndus Jluitans), que oferecem pequena resis- árvores em um.1 floresta, algas macroscópicas em um cosráo g _j 0,4 • Edil1burgh
tência ao fluxo e se fixam ao redor de um objeto imóvel por rochoso) e a recolonização dos espaços que eles ocupavam (ver ~
i'l, üi • PonPine
meio de raízes advencícias densamente desenvolvidas. Plantas Seção 16.7). Após a devascação massiva por ciclones e outros m @.
0,6
"
ílucuantes como a lentilha-d'água (Lemna spp.) em geral ocor- desastres comuns. a recolonização segue quase o mesmo cur-
f
~

'll
rem apenas onde o fluxo é insignificance. so. As espécies que normalmence colonizam a.penas clareiras
As condições de exposição em cosrões rochosos estabele- naturais nJ Yegeução chegam a dominar uma comunidade 1 <!)

1l o.a
J;
cem limices rigorosos às formas de vida e aos hábitos de espé- conrínu.1. 1-
~
cies que podem colerar o embate e a sucção da ação reperitiva Ao conrr iriu d;is condições chamadas de "perigos" e ·'de-
-~ 1.0 BSI MI {isópode)
das ondas. As algas marinhas fixJdas sobre rochas sobrevivem sastres", exÍ'.)(em ocorrencias naruraís caus.1doras de enormes Verão Inverno

J.s repetidas uações e pressõ~s da ação Jas 011d.1s por meio de danos, ernhurJ ~e1.1m r.1ras a punco de não deixar d'eim seleti-
uma combinação da poderosa aderênci;i de esuururas espe- vo sobre a evolução das espécies. Pode-se chamar tais eventos
FIGURA 2.20 Resposta do 1sópode mannho. Platynympha /ongicaudata, à poluição ao redor da maior operação de fundição de chumbo do
cializadas (apreensórios) e da extrema flexibilidade dos seus de "carásuot~s", (Orno, por exemplo, a erupção vulcânica de mundo, em Port P1rie. sul da Austrália (a} A tolerância. s1gnif1catrvamente mais alta (P < 0,05) do que para animais de um local-controle (não-
ralos. Os animais que vivem nesse ambiente se movem com tvlt Se Helens ou dJ ilha de Cracatoa. Na próxima erupção do poluido), tanto no verão como no inverno, foi medida pela concentração de metais no alimento (de uma combinação de chumbo, cobre, cádmio.
a massa de água ou, como as algas, conram com mecanis- Cracaco.1, é improvável que haja quaisquer genes persistentes zmco e manganês). suficiente para matar 50% da população (LCSO). (b) A diversidade genética em Port Pme, medida por dois índices de
diversidade baseados em RAPDs (random ampllfied polymorph1c DNA). to1 significativamente mais baixa do que em três locais não-poluidos
mos refinados de aderência, como as substâncias orgânicas sdecion,1dos pJr.1 tolerância J vulcões. (segundo Ross et af., 2002).
viscosas das cracas e os pés musculosos das lapas. Uma di-
versidade comparável de especializações morfológicas é en-
contrada entre os invertebrados que toleram os perigos das 2.8 Poluição ambiental dustrial, a queima de combustíveis cr.:..:ci a: J~~
basrance quanto à capacidade de tolerar poluentC'S. Algumas
curbulenras correntes de água doce. fóss.eis e a conseqüente emissão para a
planras, por exemplo, são "hiperacumuladoras" de metais pe-
Muicas condições que, lamencavelmente, se tornaram progres- atmosfera de vários poluenres, em especial dióxido de enxo-
sados - chumbo, cádmio e outros - com capacidade canto de
sivamence imporrances são devidas à acumulação de subpro- fre, tem produzido um depósito de panículas ácidas secas e de
tolerar quanco de acumular concentrações muico mais alcas do
2.7.1 Perigos, desastres e catástrofes: ecologia dutos róxicos de atividades humanas. O dióxido de enxofre chuva, que consiste essencialmente em ácido sulfúrico diluí-
ljll< o padrão (Brooks. 1998). Como resultado, tais plamas po-
de eventos extremos emitido por minas elétricas e metais, como cobre, zinco e
dem <er um papel imponanre na "biorremedia~:\o" (Sair et ai.. do. Nosso conhecimenco sobre tolerâncias ao pH de espécies
chumbo, acumulados junco às minas ou depositados ao redor de diacomáceas permite construir, de maneira aproximada, a
1998), removendo poluemes do solo, de modo que posrerior-
Os ventos e as marés são "perigos" diários normais na vida de de refinariJ.'.), sáo apenas alguns dos poluentes que limitam a história do pH de Ltm lago. A história da acidificação de lagos
meme ourras espécies menos tolerantes podem ali crescer (assun-
muitos organismos. A estrutura e o comporcamento desses discribuição dos organismos, em especial dos vegetais. Muicos fica muitas vezes registrada na sucessão de espécies de diato-
w discurido mais adiante, na Seção 7.2.l).
organismos exibem alguns rescemunhos da freqüência e in- desse~ poluentes ocorrem de modo nacural. mas em concen- máceas acumuladas nos seus sedimentos (Flower uai., 1994).
Assim, em termos muito simples, um poluente tem um
tensidade de cais perigos na hisrória evoluriva de suas espécies. trações baixas, e alguns, na verdade, são nutrientes essenciais A Figura 2.22, por exemplo, mostra como a composição em
efeiro duplo. Quando sua presença. é recente ou se enconrra
Assim, a maioria das árvores resiste à força de muiras tempes- para as pl.rnra~. Toddvia, em locais poluídos, suas concentra- espécies de diatomáceas mudou em Lough J\..1aam, Irlanda -
em concenrrações muico .1\cas, haverá pouco~ indivíduos de
tades, sem tombar ou perder seus ramos vivos. A maioria das ções podem crescer Jté níveis lerais. A perda de espécies é, discante dos principais disrritos industriais. A porcentagem de
cada uma das espécies presentC'S (as exceções serdo .1s varian-
lapas, cracas e algas macros(ópicas se prende firmemente às muitas \·nes. a primeira indicação de ocorrência da poluição, espécies distintas de diaromácea.s em profundidades diversas
tes, já tolerantes por narureza, ou seus de'.)Cendentes imedia-
roch.1s, resistindo às forças das ondas e marés, normais e diá- e mudanç:is n::i. riqucz.1 em espécies de um rio, lago ou área reflete a flora presence em épocas disrinras do passado (quacro
tos). Concudo, é provável que, posteriormente, o local poluí-
rias. Podemos também reconhecer uma escala de forças causa- terrestre proporciun1m bioensaios da intensidade da sua con- espécies sáo ilustradas). A idade da.s camadas de sedimento
do suporte uma densidade de indivíduos muirlJ nuis .1lca, mas
doras de danos mais incensos (podemos chamá-las de "desas- ramm.1çio (ver, por exemplo, Lovecr Doust et ai. l994). pode ser determinada pelo decaimenro radioarivo do chum-
esses serão represencJtivos de' uma gama de c:spécles muito
tres''), que ocorrem oca.sionalmence, mas com freqüência sufi- Ainda hoie é uro encontrar-se bo-210 (e outros elementos). Conhecemos a colerância ao pH
menor d.1 que haveria na ause'ncia do poluenr~ Tlis comuni-
cieme p.ir a conrrihuir com :1.s forçJs da sdeç:lo natural. QuJn- .Írea'.'>. mesmo .1s m,ti~ poluíd;is. tofJI- ·: '°'~_;--·.-;.~ <le espécies de diacomice;is a parcir da sua díscribuiçâo acuai e
d.1Jes recentc:mc:nce desenvolv1d.1s e pohr~s -:m t:~pécies cons-
Jo umJ força desse ripo se repete. eb encontra uma popub- menre Jespro\"l . .bs de espécies; em isso pode ser usado para saber qu;il era o pH do lago no passa-
tituem agora uma p1ne estabelecida de amb1ences que sofre-
ção que ainda guar&1 uma memória genética da seleção que geral. existem :10 menos :ilguns indivíduos de poucas espécies do. Observe como as águas acidiftca.ra.m desde aproximada-
ram ações humanas (Bradshaw, 1987).
an10u sobre seus ancescrais - e, por isso, sofre um impacto que podem reler .H essas condições. Mesmo populações natu- mente 1900. As diacomáceas Fragil.ana vzres(ens e Brachysinz
A poluição, evidencemence, pode cer seus c>fe1ros bem dis-
menor. Em florestas e comunidades arbustivas de zonas ári- rais de loc.us n.lo-poluídos muitas vezes conrêm uma freqüên- vitrea tiveram um declínio acenru.1do durance esse período, e
tantes da fonte original (Figura 2.21 ). Os etluc:nres róxicos de
~as, o fogo cem essa qualiddde, e~ rolerância ~o dano do fogo cia baix.1 de indivi'duos que toleram o poluente; isso é pane da as ácido-tolerantes Cymbella perpusilla e Frmt11!ia rhamba,des
uma mina ou de uma usina podem penecrar em um curso de
e uma resposta claramence evolunva (ver Seçao 2 ..3.6). variabilidade genirica presente em populações nacur.lis. Estes
águ.1 e afecar sua flora e fauna por codJ a suJ extens3o a jusan- aumentaram após I 900.
Quando os desastres atingem comunidades na.rurais, é indivíduo\ podC'm ser os únicos a sobreviver ou colonizar à
te. Os efluenres de grandes complexos indu!,,tfl;It:> podem po-
muiro raro que elas tenham sido escudadas minuciosamence me<lid;i que aumentam os níveis do poluence. Eles podem,
luir e alterar a Hora e a fauna de muitos rio~ e !Jgus de uma
anres do evento. Uma exceção é o ciclone ··Hugo", que arin- encão, rorn;ir-se o~ fundadores de uma população coleranre à
região, assim como causar discussões 1nterna<..Íorui'.) 2.9 Mudança global
giu a ilha caribenha de Guadalupe em 1994. Ducrey e Labbé quJ.l cr..-1.nsmitiram seus genes de "tolerância". Est.1s popula-
Um norávd exemplo de poluição é a fornução de "chuva
( 1985. 1986) publicaram d«alhadas descrições das densas tlo- çõe'.), por serem descendentes de apenas poucos fundadores, No Capítulo 1, discucimos algumas das maneiras pdas quais
ácida'', precipitando n~l Irlanda e na EscandinclviJ, a parcir de
resc.is úmidas da ilha. O ciclone devasmu as florescas com ve- podem exibir diversidade genérica extraordinariamente baixa os ambientes globais mudaram como conseqüência da deriva
arividades induscriais em outros países. Desde a Revoluçâo ln-
locidades do vento cuja média das máximas foi de 270 km h· 1 (Figura 2.20). Além disso, JS próprias espécies podem d1fefir

l
52 PARTE 1 - ORGANISMOS
r CAPÍTULO 2: CONDIÇÕES 53

tências - conseqüências de nossas próprias atividades - e que,


conforme predições da maioria dos cenários, acarretarão mu-
ie. j
danças profundas na ecologia do planera.
1j_ i 1
s
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pH
2.9.1 Gases industriais e o efeito estufa f '§i Anos depois
~ de Cristo
& .;:: "- 1988 --
5.2
o
5.4 5.6 S.8 6.0
h, . ...,
Um imporrante elemenrn da Revoluçdo Industrial foi a passa-
gem do mo de combustíveis sustentáveis p.1ra o emprego do
Ê
e?'_ --
-
1969

1940
-

carvJo (e, mais tarde, petróleo) como fome de energia. Entre 2- 1-=----
10 h •. --- 10
a metade do século XIX e a metade do século XX, a queima de l1 r--=~-=- 1903

combustíveis fósseis e o desm.uamenro extensivo ;,icrescentJ- ~ 15


1-.--
1.
ram cerca de 9 x 10 1" rondadas de dióxido de c.rbono (CO,) io
L~

.
-o 20 1 20
à atmosfera, e muito mais foi adicionado desde emão. A crn~- o
-o 1
cemraçáo de CO, na ,Hmosfera ames <la Re\·olução lndusrrl.11 -o 25
(medid.1 em gás r~tido em amo\tras de gelo) erJ de 280 ppm, i
õ 30 30
um "pico" incerglacial bem típico (Figura 2.23). nus eb au- à:
mentou para aproxinudamenre 570 ppm n.• \·irada do milê- 35
nio e ainda está crescendo (ver Figura l 8.22).
A radiação solar incidence sobre a acmosfera da Terra é em 40 40
o 10 20 10 10 20 30 10 20 30
parre reflecida, em pane absorvida e em pJrce rransmirida arrJ.-
Porcentagem
vés da superfície cerrescre, que a absorve e se aquece. Parce
dessa energia absorvid.1 é irrad1,1da de volra para a atmosfera,
FIGURA 2.22 A h1stôna de diatomãceas de um lago irlandês (Lough Maam, mun1cíp10 de Denegai) pode ser estudada por meio da coleta de
onde gases atmosféricos, principalmente vapor dJ água e C0 2 , amostras de sedimento do fundo do lago. A porcentagem de vã.rias espécies de d1atomãceas a diferentes profundidades reflete a flora presente
a absorvem (cerca de 70%). Essa energia. irradiad.1 de novo e em vános períodos no passado {quatro espéc1es estão ilustradas nesta figura). A idade das camadas do sedimento pode ser determinada pelo
rerida, é a que aquece a atmosfera, conscirnindo o chamado decaimento radroativo do chumbo-210 (e de outros elementos). Conhecendo a tolerãnc1a ao pH das espécies de diatomáceas a partir da sua
d1stribwção atual. podemos estimar qual era o pH do lago no passado. Observe como as águas do lago têm sido acidificadas desde 1900,
"efeito esrufa". O efeito estufa era, na verdade, componente aproximadamente. As populações das diatomáceas Frag1fafla virescens e Brachysira vítrea diminuíram de modo abrupto durante esse penado.
do ambience normal antes da Revolução Industrial e foi rc:s- e as populações das espécies tolerantes à acidez. Cymbella perpus1/Ja e Frustul1a rhomboides, aumentaram (segundo Flower et ai., 1994).
ponsável por pane do aquecimento ambiencal. antes que a
atividade industrial começasse a intensificá-lo. Naquela épo-
ca, o vapor d'água atmosférico era responsável pela maior p.1r- para a armosfera. Porém. o aumt.'.'IHO em CO, armosf"érico (2,9 40 anos (Hansen er ai., 1999). Os oceanos ahson·em CO, da
cela do efeito estufo. x l O'J ronebdJs métricas) é responsável por ;penas 60% desse atmosfera, e estima-se que sua capacidade de absorção sej; de
Além da intensificação do efeirn CO .. mas não ema!, uma porcemagem que cem permanecido constante por 1,8 a 2,5 x 10 9 toneladas mérricas do carbono liberado por
esrufa pelo aumento de CO" outros ape-nas co2 ativid.1des humanas. Análises recentes também indicam que a
gases-traço têm aumemado de forma ,..-egeração terresrre cem sido ''fertilizada·' pelo aumento em CO 2
FIGURA 2.21 Um exemplo de poluição ambientar de longo alcance. A significativa na Jtmosfera, em especial o metano (CH) (Figu- atmosférico, de modo que uma quanridade considerável de
d1str1buição na Grã-Bretanha de partículas de césio radioativo (Bq m-2)
rJ 2.24a; e compare-a com o regisrro histórico na Figura 2.23), carbono fica rerida 11.1 biomassa da vegeração (Kicklighrt.'.'r t.'.'t
oriundas do acidente nuclear de Chernobyl, na União Soviética. em
1986 O mapa mostra a pers1stênc1a do poluente em solos ácidos de o óxido nirroso (N ,O) e os clorofluorcarboneros (CFCs, p. 700 ai., 1999). ApesJr desse ,brJndJmento do desame pelos ocea-
regiões montanhosas. onde ele ê reciclado através dos solos, plantas
e animais. As ovelhas de areas montanhosas continham ma,s cé-
ex., triclorofluormecano [CCl ;FJ e diclorodifluormetano 1 600 nos e pel.1 \'egetaçâo rerrestre, o CO 2 ,ltmosférico e o deiro
[CC\ 2 F2 ]). Esses e omros gases juncos comribuem para o ,lu- I~ 500
esruf.i i::srão aument.tndo. Na Seçao 18.4.6, recornaremo,; .w
sio-137 ( 137 Cs) em 1987 e 1988 (após rec1c!agem) do que em 1986. u
O iJ~Cs tem uma v1da-med1a de 30 anosl Em solos f1picos de plani· mento do efeito esmfo tjuase tamo quanw a elev.1çio de CO, 400
rema dos oroqut.'.'s gloha1.,; de carbono
c1e ele é mais rap1da'Tlente imobilizado e não persiste nas cadeias (Figura 2.24h). O ::iumenro em CH I n.'io é tora!menre expli:
alimentares (segundo NERC, 1990)
cada, mas é prod\'d que ele tenha unu origem microbi.111.1 11.1 280
agricu!rura intensiva em solos anJeróbicos (produção de Jrro1
sensivelmenre aumentada) e no proce.<.so digestivo de rumi-
ió' 240 2.9.2 Aquecimento global
u 200
nantes (uma vaca produz cerca de 40 lirros de CH f por di.l); Inic1amm e.<.te capítulo discmindo a ternper.Hura, ,IVançarnos
400.000 300 000 200.000 100.000
conrinental, ern unn ocala cempor:il longJ., e como conse- em wrno de 70o/o da sua produção é anrropogênica (KhJ!il, para outras condiçôes ambientais aré os poluentes e agora vol-
quênc1J de gbciaçór:s repetidas, em uma escala temporal mais Idade AP (anos) tamos p,ir.1 a temperaturJ., devido aus efeito:, desses poluentes
1999). O efeiro dos CFCs de refrigeranres, serossóis propul-
curu. Durance essa~ esci.las temporais, alguns organismos não sores, entre outros, é porencialrnence grande, nus acordos in- wbre :l'> temperaturas globais. Acrediu-se que a remper:.i~ura
conseguir.mi ,1eornod.1r-'>t: às mud:inças e foram extincos. Ou- tt.:rnacionJis JO menos parecem ter detido nm·os crescimento<; FIGURA 2.23 Concentrações de C0 2 e metano {CH 4 ) em gás retido amai do ar nJ superfíC!e dJ Terra esteja 0,6 ± 0,2°C mais ele-
em amostras de gelo de Vostok, Antártica. depositado nos Ultimas
tros migr<1.ram. de modo que concinuam experimentando as de suas concenrrações (Khalil, 1999). \'Jda do que no período pré-industrial (Figura 2.25) e qut' ela
420.000 anos. As temperaturas esttmadas estão muito correlaciona-
me.<imas condições, nus em um local diference, e é provivd Ê possível fazer urn ba.lanço que mostra como o CO, pro- das com essas concentrações Assim, as transições entre épocas gla- continuará d subir emre 1.4 e 5.SºC aré o ano 2 l 00 (IPCC.
que o urros renham .11 rn.1do sua narureza (evoluído) e tolera- duzido por atividades human.1s se traduz em mudanÇas n.1 ciars e quentes ocorreram há cerca de 335 000. 245.000. t 35 000 e 2001 ). Tiis mudanças pro\·avdmenre resulcar.ío no derreri-
18 000 anos. AP = antes do presente. ppb = partes por bilhào: ppm =
do ~dguma.<i d.1s mLH.ÍJnçJs. Agor.i, voltamos a considerar as concentração da atmosfera. A cada ano, a.<. atividades huma- mento das calota.<. polare.<i, com conseqüeme .mmento no ní-
partes por milhão (segundo Petrt et ai., 1999; Stautter, 2000)
mud:mças glob,Iis que e'.lt:Ío ocorrendo em nmsas próprias exis- nJs liberam 5. 1 a 7, 5 x 1O'J rondadas métricas de carbono \·el do m.tr, e em grande.<i mudanças no padr;lo clim;ítico glo-
54 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 2: CONOIÇÔES 55

(bl ,.o~----------------------~
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e FIGURA 2.25 Variações anuais globais na
u temperatura da superfície da Terra, de 1860
~ ~ 0.1
a 1998 As barras mostram desvios da mé·
§ 1 000 dia no final do secuto XIX. A curva repre-
ü
senta uma média móvel obhda pelo uso de
um filtro de 21 anos. As temperaturas glo-
-o, 4 c.,a.1-6_0~-,-'aa-o-~-,9.1-oo_~-,-'9-20-~-,9.L4_0~-,-'9-50-~-,.Lga-o~-~2000w
1 920 1.940 1.960 1.980 2000 co, CH 4 N20 "CFCs bais médias atuais são mais altas do que
em qualquer penedo desde 1400 (segundo
Ano Gás-traço Ano
Saunders, 1999)

FIGURA 2.24 (a) Concentração de metano (CH 4 ) na atmosfera durante o seculo XX (b) Est1mat1vas de aquecimenlo global no periodo de 1850
a 1990 causado por C0 2 e outros gases-estufa importantes (segundo Khah1. 1999)

bal e na distribuição das espécies. As predições de aquecimen- pouco mJls de chuvas, essa zona seria quase subuopical e,
to global resultante do aumento do efeito escufa provêm de com um pouco menos, ela poderia ser qualificada como
duas fomes: (i) sofisticados modelos por compu,ador ("mode- árida! FIGURA 2.26 Elevação na temperatura
los de circulação geral") que simulam o clima mundial; e (ii) Da mesm;i forma, o aquecimento média global da superfície da Terra, proje-
cendências detectadas em conjuntos de dados medidos, in- global ndo é dbcribuído uniformemen- tada pelo modelo global acoplado (isto é,
tanto os oceanos como a atmosfera são
cluindo a largura. dos anéis de crescimenco de árvores, regis- te sobre J :,,uperfície dJ. Terra. A Figu- modelados) da variabilidade e mudança do
tro~ do n(vel do mar e medidas da taxa de retração de geleiras. ra 2.27 mostr.l as a![erações medidas clima em uso no Laboratôrio Geofísico de
Não é surpreendenre que os diver- nas tendênuas da remperacura da superfície do globo ao lon- Dinâmica dos Fluidos, Pnnceton, EUA Os
aumentos em gases-estufa observados são
sos modelos de circulação global di- go de ~G anos, no período de 195 l a 1997. Nesse período, usados para o período de 1865 a i990 (e
virjam em suas predições sobre a ele- áreas da :\ménca do None (Alasca) e da Ásia experimemaram claramente as projeções correspondem à
vação da. temperatura global. resultan- crescimenrn de 1,5 a 2ºC. e as predições indicam que esses tendência observada na temperatura); após
esse periodo. admite-se para os gases.es-
te de aumentos previsros em CO ,. Enrreranro, a maioria das locais comimur:ío experimentando um aquecimento mais rá- tufa um aumento de 1'% ao ano. Uma vez
predições baseadas em cais modelo~ varia apenas de 2.3 a 5,2ºC pido ru pnml'.lra metade do século XXI. Em algumas regiões, que o modelo simula o comportamento glo-
(,1 nuior pane da variação fica por coma da maneira pela qual a remper.HurJ ap1renremenre não mudou (No\·a York, por bal dos oceanos e da atmosfera. o compor·
tamente exato depende da situação in1c1al
sâo modda.dos os efeitos da coberntra de nuvens), e uma ele- exemplo) e nJo de\·e se alcerJ.r muito nos próx1m(h 50 ano:-.. do sistema. Os três "expenmentos" foram ini-
1925 1950 1975 2000 2025 2050 2075
v:1.çio de 3 a 4°C nos próximos lüO anos p:ue<..:e um valor Exísrem umhém ,1!gumas :íreas. em especial a Groenlândia e ciados a partir de situações diferentes (se-
Ano
r,uoávd como pomo de parrid,1 pM,l fazer prn1eções sobre d"ei- o norrr: do Oc.:e,rno Pacifico, onde as remperarnras da superfí- gundo De1wor1h et ai. 2002)
ros ecológicos ~figura 2.26). cie d.1 Terr:1 r~m cüdo.
No entanto, os regimes cérmi<..:os são apenas uma pane do Enfactr.1mos, também. que a distribuição de muirns orga-
conjumo de condições que determinam os locais de ocorrên- nismos é decet min.1da por extremos ocasionais, e n:io por con-
cia do!-> organismos. Infelizmente, depositamos muito menos dições méd1,1s. A:,, projeções modeladas por computador indi- Como já vimos, a~ temperacuns encontrado em sedimentos fornece uma evidência da:,, mu-
t:onfi.inça em projeções de precipiraç.ío e evaporação. pois é cam que ,lS mudanças climáticas globais produziráo também globais variaram de t~)rm.1 natural no danças na vegetação ocorridas no p,1ss.1.do e mostra que os li-
muito Jificil incorporar bons modelos de comportamento das m:iior vJri.1..;J.o na temperatura. Timmerman e colaboradores passado. Arualmen[.:=, estamos nos mices das florestas nane-americanas têm migrado para o nor-
massa!-> de nuvens a um modelo geral de clima. Se considerar- ( l 999). por exemplo, modelaram o efeirn do aquecimento-es[Ufa aproximando do final de uni dos pe- te a raxas de 100 a 500 m ano· 1 desde o ültlmo período glaci-
mos .ipenas a temperatura como uma variável relevante, po- sobre a E"°SO (ver Seçáo 2.4. l). Segundo suas previsóes, o clima ríodos de aquecimento, 4ue ceve ini- al. No entanro, essa [axa de avanço não cem sido suficience-
deriamo,; projetar uma elevação de }ºC, assemelhando o cli- médio na regiJ.o tropical do Pa.cífico deve mudar para aquele arual- cio há 20 mil anos, e durante o qu:il a.s cemperJrnr:is globais menre rápida para acompanhar o aquecimento pcís-glacial. A.s
ma de Londres (Reino Unido) ao de Lisboa (Porwgal) (com menre rcpresenndo pdo est:ido do EI Nillo (mais queme), mas a aumentaram em 1cé 8"C. O dt'iro estufa sonu-se .H> aquecimen- predições sugerem que a rax.1 de aquecimenm resultance do
vegeraçlo apropriada de oliveiras, videiras, Boug,zinvillea e variahil1cbde ímeranuaJ deve aumemar, com indinaç:ío mais acen- to global em uma época em que as remperarnr..1s ;i esráo mais d'eica estufa será 50 a l 00 vezes nu.is r:ípida do qw.: o aqueci-
vegetação arbustiva de clima semi-árido). Porêm, com um tuada para cvenws exuaordinariameme frios. alras do que escavam durante os úlcimos 400 mil ,rnos. O pólen menca pós-glaci1l. Assim. de rodos os ripo~ de poluição am-

l
56 PARTE 1 - ÜRGmSMOS CAPÍTULO 2: CoNo,çóEs 57

1uis, alcirudinais, continentais, sazonais, diários e microcli- Muitas outras condições ambientais também são discmidas:
máticos, bem como os efeitos da profundidade no solo e na o pH do solo e da água. a salinidade, as condições no limite entre
Jgua. Cada vez mais, rem-se tornado aparente a imporrância o mar e o conrinenre e as forças físicas de vemos, de ondas e de
de padrões temporais de médio prazo. Entre esses, são dignos correntes. Sáo feiras distinções entre riscos, desastres e catástrofes.
de noca a E/ Ni,ío-Southem Oscil/ation (ENSO) e a North Atlan- lvluiras condições ambientais estão se tornando grada.riva-
ric Oscillation (NAO). menre importanres, devido à acumulação de subprodutos tó-
Existem muims exemplos de distribuições de plantas e ani- xicos de atividades human.is. Um exemplo significativo é a
nuis que estão correla.cionadas de forma significativa com al- criação de ''chuva ácida" Um outro exemplo é a influ~ncia de
guns aspecrns da cemperarura do ambiente, mas que não pro- gases industriais sobre o efeiw estufa e os efeitos conseqüentes
v.1m que a cemperarura determina diretamente os limites de sobre o aquecimemo glob,tl. Uma elevação projetada de 3 a 4°C
JiHribuição de uma espécie. As remperamras medidas rara- para os próximos 100 anos parece um valor razoável como
mt?nte são Jquelas que os organismos experimentam. Para ponto de parcida para projeções de efeiws ecológicos, embora
muitas espécies, as distribuições são atribuídas menos à.s cem- o aquecimento global não seja uniformemente distribuído
r.:raturas médias do que aos extremos ocasionais; e os efeitos sobre a superfície da Terra. Essa taxa é 50 a 100 vezes mais
~1.1 cempecHLtrJ podem ser decerminados amp\Jmence pelas rápida do que o aquecimento pós-glacial. Devemos esper.u
re'>posras de." omro'i membro'> J,1 comunidade ou por imerJ- mud.mç,1s laticudiiuis e .drirudi1ui:-. rus d1srribuições de c'ipé-
ÇÓc."'> com oucra:i condições. cies e exrinções de flora~ e foun.1s.

-------------------:;:,

-2 -1 5 -1 -o 5 -o 3 -o 1 0.1 03 05 15 2.8

FIGURA 2.27 Alterações na temperatura da superfície da globo, expressas como a tendência linear durante 46 anos. no período de 1951 a
1997. A barra abaixo mostra a amplitude de variação na temperatura em °C (de Hansen et ai., 1999)

bienral causada pelas atividades humanas, nenhum pode ter recursos. O conceito moderno - hipervolume 11-dimensional,
efeims tão profundos como o aquecimenm global. Podemos segundo Hutchinson - rambém distingue nichos fundamen-
esperar alterações larirndinais e :iltitudinais na distribuição das tal e realizado.
espécies e extinções por rnda a p:irre à medida que as floras e A temperatura é discutida em detalhe como uma condição
faunas nâo conseguirem acompanhar a taxa de mudança nas típica e, tal\'eZ, a mais imporranre. Nos extremos superiores e
remperaruras do planet:1 ( Hughes, 2000). Além disso, grandes inferiores de temperatura, os organismos acusam prejuízos de
extensões de terr,1, sobrt' as quais a vegetação poderia Jvançar funcionamento e, por fim, morrem. Entre os extremos, onde
e recuar, têm sido frc1gmentadas no processo de civilização, existe um ótimo, eles respondem com um:1. amplitude funcio-
colocando importamt:- b.irreiras ao avanço vegeracional. Ser.í nal, embora essas respostJs possam estar sujeiras à adaptação
umJ surpresa muito grande se \'ári.1s espécies nJ.o desaparece- evoluri,·a e à JclimatizaçJo mais imediata.
rem ne~se processo As t~L'<as de processos biológicos enzimáricos muitas vezes
crescem exponencialmente com .1 temper,Hura (com freqüen-
á:t, Q 10 2), mas para tax;is de crescimenw e de~em·okimen-
,;:;:!

to muitas vezes existem apen,1s leves desvios dJ. linearidJde: J


base para o conceito gr;iu-di:i. Uma vez que o desenvolvimen-
Uma condição é um frnor ambienral abiótico que influencia o ro em geral aumenta mai~ rapid:imenre com a temperatura do
funcionamento <los organismos vi\'OS. Em geral, podemos re- que o cre,;cimenro, o tamanho final tende J decrescer com a
conhecer um nível órirno, no qual um organismo exibe o me- dev.ição da temperatura. As tentativas para descobrir regras
lhor desempenho. B.1sic::imente, deveríamos definir ''melhor universais de dependência da temperatura permanecem um
desempenho" do pomo Je vista evolutivo, mas, na pdrica, cerna de controvérsia.
em geral medimos o dt'1ro das condições sobre algumJ pro- Explicamos as diferenças e as semelhJnças entre organis-
priedade-chave, como J. ,rnvidade de uma enzima ou a taxa de mos endorérmicos e ecrntérmicos em especial quanto às suas
reprodução. respostas a uma faixa de rempenrur;is.
O nicho ecológico 1üo é um local de um organismo, mas Examinamos variações sobre a superficie Ja Terra e no in-
um resumo de suas rolerànci,1s a condições e exigências de terior dela, com uma diversidade de ousas: efeiros !arimdi-

----------- ---- -
CAPÍTULO 3: RECURSOS 59

r
1

FIGURA 3.1 Mapa global da radiação solar


absorvida anualmente no sistema atmosfe·
1- - ra·Terra le,to a partir de dados obtidos com
! um rad1ômetro do satéhte meteorolôg1co
N1mbus 3 As unidades são J cm- 2 min 1 (se-
3.1. Introdução Unu grande pane da ecologia diz. respejw ao agrupa- gundo Raushke et ai., 1973).
menw de recursos inorg.inicos pelas plancas Yerdes e ao rea-
Segundo Ttlman ( 1982), mdas as coi- grupamc:nco de::.sc:s conjuncos em cada estágio sucessivo, em
sas consumidas por um organismo são uma teia de incer.ições consumidor-recurso. Neste capítulo,
seus recursos. Porém, consumir não iniciamos com os recursos de vegetais e enfocamos aqueles inalterado), transmitida (após haver perdido algumas faixas radiação incidente sobre a superfície terrestre situam-se fora
significa simplesmente "comer". Abelhas e esquilos não co- mais imporunces na fornssíncese: r.idiação e CO,. Esses re- de ondas) ou absorvida. Parte da fração que é .1bsorvida pode do incervalo da PAR e, desse modo, não estão disponíveis como
mem rocas, mas uma rnca ocupada não fica mais disponí- cursos, junws, promovem o crescimenco dos indivÍduos vege- elevar a cemperarura da planta e ser irradiadd novamence com um recurso para as plamas verdes. Em outros organismos, exis-
vel para ourra abelha ou outro esquilo, exatamence como tais, que, colecivamence, determinam a produtividzde primti- comprimenros de onda muico mais longos; em plantas rerrí- tem pigmentos, como bacterioclorofila em baccérias, por exem-
um átomo de nitrogênio, o néctar ou uma porção de bolo- ria de áreas de rerra (ou de volumes de água): a taxa, por uni- colas, pane pode contribuir ao calor latente de evaporação da plo, que realizam fotossíntese fora do intervalo da PAR das
cas· não é mais disponível para outros consumidores. De dade de área, em que as plantas produz.em biomassa. Os pa- água e, assim, impulsionar a corrence de transpiração. Uma plantas verdes.
maneira similar, fêmeas que já acasalaram podem não escar drões de produtividade primária serão ex.1minados no Capí- parce pequena pode chegar aré os cloroplasrns e ativar o pro-
disponíveis para outros machos. Todos esses recursos são con- tulo 17. Relativamente pouco espaço nesre capírulo é reserva- ces~o de fomssíncese (Figura 3.2).
sumidos, no sencido que o estoque ou suprimemo é reduzido. do JO alimenrn como um recurso para animais, slmplesmence Durante a forossímese, a ener- 3.2.1 Variações na intensidade e qualidade da
Desse modo, recursos são encidades exigidas por um organis- porque uma série de capítulos posteriores (9 a 12) é dedicada gia radiante é converrida em compos- radiação
mo cujas quancidades podem ser reduzidas pela sua atividade. à ecologia de predadores, de pastadores, de parasiros e de sa- tos químicos de carbono ricos em ener-
As plantas verdes realizam a focos- prócrofos (os consumidores e decomposirores de organismos gia, que subseqüencerneme serão de- A razão principal de as plantas rara-
sínrese e obtêm energia e matéria para o morros). Esre c.iplcu!o, enrão, encerra onde o anterior come- compostos na respiraçáo (sej.1 pela pró- mence atingirem a sua capacidade fo-
seu crescímenro e reprodução a partir ça: com o nicho ecológico, adicionando dimensões de recur- pria planta ou por organismos que a consomem). No encanrn. tossiméüca intrínseca é que a imensi-
de materiais inorgânicos. Seus recursos sos às dimen,;;õe.s de condições que já conhecemos. a radiação é perdida de modo irreversível para a fowssíntese, :1 dade de radiação varia continuamente (Figura 3.3). Amorfo-
são a radiaç.ão solar, o dióxido de carbono, a água e os nucriences menos que seja caprurada e fixada quimicamente no me~mo logia e a fisiologia vegetais órimas para a fotossíntese a um.1
minera.is. Os organismos ··quimiossincéticos", como muitas das instance que incide sobre a folha. A energia r,1dianre que foi determinada intensidade de radiação em geral serão inapro-
arqueobacrérias, obtêm energia pela oxidação do metano, de íons fixada na focossínrese p1ssa apen.1s uma vez pela Terra. Ism é priadas a uma oucra intensidade. Em hábirats terrestres, as
de Jmônio, do ácido sulfidrico ou do ferro ferroso; eles vivem em 3.2 Radiaçao ex1ramenre o contrário do que ocorre com um :.írnmo de ni- folhas vivem sob um regime de radiação que varia durante o
ambience~. cais como fontes hidrocermais e fendas marinhas trogênio ou carbono ou uma molécula de igu:i. que podem dia e o ano; além disso. elas vivem em um ambiente de oucras
profundas e U!\,lm recursos que eram muiro mais abundances A udiaç.ío sol.ir é J. única fome de energi.1 quc: pode ser usada ser usados reperid.1s vezes por infinitas ger.l\Ót'.'.> de organis- folhas. que modifica a quantidade e a qualidade da radiação
duranre .is fases iniciai, d.1 \'!Ja na TerrJ. Todos o,; OLllfOS or- por planLJ'.> \·erJn em arividJdes metabólic.ts. Ela chega até a mo~. por meio de um processo de ciclagem recebidJ. Como acomece com rodos os recursos, o suprimemo
g;rnismos ucili1..1m os corpos de outros organismos como re- planta como urn fluxo de r.idiação do sol. seja direramence r\ radiJção snla~ e um recurso de radiação pode variar sistemática (diariameme, anualmente) e
curso alimentar. Em cada caso, o que foi consumido n.ío é difundid.1 por um.1 trajetória. maior ou menor na atmosfera contínuo: um espectro de comprimen- assiscemaricameme. ivfais isso não significa apenas que a imensi-
mais disponível para outro consumidor. O coelho consumido ou após ser refletida ou cransmirida por oucros objeros. A fra- tos de onda diferente~. Porém, o apa- dade de radiJção é uma proporção maior ou menor de um valor
por uma águia não é mais disponível para outra águia. O quan- ção direra é maior cm laricudes baixas (Figura 3. l ). Além dis- relho fotossintérico é L:tp.1z de ter aces- máximo soh o qual a fotossíntese seria mais produtiva. Sob imen-
mm de radiaçáo solar absorvido e assimilado como produco so, na maior pute do ano, em climJ.5 temperados, e durante o so à energia de apenas uma faixd rescrita de~se espc:crro. Todas sidades 1lcas, pode ocorrer faro-inibiçáo da fotossíntese (Long rt
da forossíntese por uma folha não é mais disponível para ou- ano inreiro, em climas áridos, o dossel de comunidades ter- as plantas verdes dependem da clorofila e de ourros pigmen- ai., 1994), de cal modo que a taxa de fixação de carbono decresce
cra folha. Isso tem uma conseqüência importante: os organis- restres n:io cobre ,l superfície do solo, de modo que a maior tos para a fixação forossincécica de carbono: esses pigmentos com imensidade de radiação crescente. Intensidades altas de ra-
mos podem competir enrre si para conquistar uma porção de pane da rad1aç:io incide sobre ramos desprovidos de folhas fixam a radiação na faixa de ondas entre 400 e 7()0 nm, ,1pro- diação podem também levar a um superaquecimento perigoso
um recurso limitado - um tópico a ser tratado no Capítulo 5. ou solo descoberto. ximadamence. Essa é a faixa da "radiJ.ção forn..;sintecicamenre das plantas. A radiação é essencial para as plantas, mas elas po-
QuanJo uma planta intercc:pta aciv.1" (PAR, do inglês - photosynrhetical{v aa:ue radranon). dem cer ramo excesso como escassez desse recurso.
a energia radúnce, esta pode ser reíle- Ela corresponde, de modo geral, à região do c:specrro v1,ívd Os riemas anuais e diários s.Jo variaçóes sistemáticas
• N. Jc T. Boloca é um cipo Jc fruto, CJrJcterísrico de represemances da
fo.milia F.tgJceae, como o c.arva..lho t:uropeu (Qunrus robur). por exemplo. rida (com seu comprimento de onda do olho humano. que denominamos ''luz". C::-rca de SG 1Yo da da radiação solar (Figura 3.3a, b). A planta verde experi-

l
60 PARTE 1 ~ ORGANISMOS
r CAPÍTULO 3: RECURSOS 61

(a) (b)
(a) Ciclos anuais
Wageningen Kabanyolo
2000 2.000

Perle1tamente clar~) _

:, ,. Perle1tamente
-:/ 1.500
,.- ', claro 1.500
Ctaro
5
.
::,_
u
:e

g
.
~
~ 1.000 1.000 r--· +--,....__ '

..•
o
~

-g
cr 500 500

(e) (d) O J F M A M J J A S O N D O J F M A M J J A S O N O

(b) Ciclos diãros


Jan Fev Ma• Ab• Mai Jun Jul Ago Set Oul Nov Dez
Poona (Índia) 1a-31 · N
s 5~
L
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cKu,1-'-'LU.=~_u_J~,u·~1,..,_,.cJ,IL.,.,..,,,u.._u1,..,_,.cJ1ll.,.,..,,, --"-'~1lu.,..,_,u,1.....L,1•LI'-'-'u.11..,,,w•--"-'1ILI'-'-'ui1~~w_cwl1-'-'~•1~•w_c,ui1u•L11~•u11_,_,~,1=~u•u•LIILI'~'-'-'w1,..,,,..,,,=
w,

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u

i ~
Bergen (Noruega) 60-22' N

i~
:u~•=•t<..ll..,,,w,~•LI>L•Lli..,_·,u+1-'-'-'LI'-'-'ul=i'-'-'c-•u•.u.Jl..,_,~,u,•~11-'-''-:'Ilu,•Ltl':'',-c'''-'-'":''-::'-'-' ':' :--e'' -'-' :;'1-;:'-'-' ;:I1~1tLI''::'';;'~Il~IILI'':;'';;I'-'-'';:'•;;--;--•u'";'.';;l·i"~•';;';c-;--w'";'';;f•~•a;;•I~'-'";'';;/•~•a;;1'
4 12 204 12 204 12 204 12 204 12 204 12 204 12 204 12 204 12 204 12 204 12 204 12 20
Tempo (h)

(e) f 100r
FIGURA 3.2 Reflexão (A) e atenuaçào da radiação solar incidindo sobre comunidades vegetais distintas. As setas mostram as porcentagens
de radiação incidente at1ng1ndo diferentes niveis na vegetação (a) Uma floresta boreal mista de bétula e espruce: (b) uma f!oresta de pinheiro,
(e) uma lavoura de guasso:. e (d) uma lavoura de milho Essas figuras representam dados obtidos em determinadas comunidades e é passivei
ocorrer uma grande variação, dependendo do estágio de cresc,mento do dossel da floresta ou da lavoura. do periodo do dia e da época em que
as medições toram feitas (segundo Larcher, 1980, e outras fontes)
li
ªº
60

~
.g 40

mema períodos de esussez e excesso de seu recurso lumi-


noso a cada 24 horas kxcero perto dos pólos), bem como
que ceHas "angiospermas marinhas" (setzgrass)"' podem cres-
cer sobre substrarns sólidos a cerca de 90 m J.baixo <la su-
.
e:
.~ 20
ü
es[ações de escassez e excesso a cada ·,
perfície no oceano aberrn relativamente improduúvo, e ~
.mo (excew nos trópicos). Em h:íbi- macróficas de água doce r1ramence crescem em profundi- 3 4 5 6 7 8 9 10
U[S J.qu:íricos, a redução da intensi- dades abaixo de l O m (Sorrell et ai., 200 l ). Estas com fre- Profundidade (m)
dade de f.ldiaçâo Jc acordo com a qUencia habitam 1penas locais bem mais rJ.Sos, em grande
profundidade da coluna d'água (Fi- FIGURA 3.3 (a) Totais diários de radiação solar recebida durante o ano em Wageningen (Holanda) e Kabanyolo (Uganda). (b) Média me~sal ~e
gura 3.3c) é uma v.1ri-1çáo J.dicional, sistemática e previsí- radiação d1ána registrada em Poona (Índia), Coimbra (Portugal) e Berge~ _(Noruega) (a, b._ ~e Wit. ~ 963, e outras fontes) (e) 01m1nu1çao
vel, embora o grJu des\e fenômeno pos~.1 vari.u bas[anre. exponencial da intensidade de radiação em um hábitat de água doce (Bumn1uck Dam, Australla) (de Kirk, 1994).
• N. de T. Na verd.1de. rl.lo s~ rraram de gramineas (família Poacnr:l.
Por exemplo, difercnç.1s na claridJde da :igua explicam por- mas sim de represen[J[Hes da fami!i., Poramogeron.ice:ie.
62 PARTE l - ÜRGANISM05 CAPÍTULO 3: RECURSOS 63

pane devido às diferenças nas concentrações de panículas sidade com a profundidade é ranro maior quanto maior for a cossíncese, reagindo mesmo à passagem de um feixe de luz
suspensas e também ao ficoplãncton (ver a seguir).
O modo pelo qual um organismo reage à variação, sisce-
mática e previsível, no suprimento de um recurso rdlece sua
densidade do firoplanc,ôn. A Figura 3.4, por exemplo, mos-
{ra o declínio na penerração da luz, medida a uma profundi-
dade fixa em um sistema construído em laboracório, utilizan-
50 Smgo //,;;;ho} e,
solar. A caxa na qual uma folha forossintetiza cambém de-
pende das demandas de outras partes com crescimento vi-
goroso. ~1esmo quando as condições são ideais, a forossín-
fisiologia acuai e sua evolução passada. Em regiões tempera- do uma população da alga verde unicelular Chlorella vulgaris, cese pode ser reduzida. se não houver demanda de seus pro-
'"Olo 40
das, a abscisã.o sazonal d.ts folhas pelas árvores dedduas em por um período superior a 12 dias (Huisman, 1999). du,os.
parte é um reflexo do ritmo anual na imensidade de radiação A composição da radiação que
ó' Em hábicacs aquácicos, grande
/~.--- fogo )
';;, 30 ·.1a..,a:ã0 :J·::
~ elas caem quando são menos úteis. Como conseqüência, passou Jtr:ivés de folh:is em um dossel §. /.,.,-·--· Ervas parte da variação encre as espécies é :,:;rnent::s em
.
uma espécie perenifólia de sub-bosque pode passar por uma ou acrav~s de um corpo d'água é tam- õ ,' /,/ - - - - - - - de sol acribuída às diferenças em pigmenros ::,12.n:as .:\,J"1':!t1.:as
mudança siscemácica adicional, pois o ciclo sazonal de produ- bém alreraJa. Fotossinceticamente, ~ 20 : j/
.' ;f _- - - Faia
e, focossintécicos, que concribuem signi-
ção foliar do dossel determina a radiação que permanece para isso pode ~er menos vantajoso, pois o componente da radia- o ficarivamence para a utilização precisa dos comprimentos de
penerrar no sub-bosque. O movimento diário de folhas em çáo fornssinre{Ícamente aciva foi reduzido - embora cais redu-
~

!!" 10 . / onda da radiação (Kirk, 1994). Dos <rês ripos de pigmenws -


muitas espécies também provoca mudanças na intensidade e ções possam também impedir a fom-inibição e o superaqueci- j ,/
Ervas de sombra
- - - - • Musgos de sombra.
clorofila, carorenóides e biliproceínas - codas as plane.as focos-
na direção dd radiação incidente. memo. A hgurJ 3.5 moscra um exemplo da variação com a pro- algas p!anctón1cas sincécicas contêm os dois primeiros, mas muicas algas também
Variações menos siscemácicas no fundidade em um hábir.1t de água doce concêm biliproceínas. Quanto à.s clorofilas, todas as plancas
10
.1mbieme de radiação de uma folha são A~ princ1p.1is diferençJs enrre superiores possuem clorofilas a e b. nus muius algas têm so-
Intensidade de radiação ( 100 J m ~ s- 1 J
causadas pela n~uureza e peb posição espécies rerrícoLls, em suJ re:ição à.s vJ- mente clorofila a, e algumas têm clorofila a e e. A Figura 3.7
de folhas vizinhas. Cada dossel, cada riações si:,.remáric.1s na imensidade da ilustra exemplos dos especcros de absorção de muicos pigmen-
FIGURA 3.6 Resposta da lotossintese â intensidade luminosa em plan-
planu e cada folha incercepca. a radiação, criando uma zona de rad1açJ.u, sJo J.qudas que evoluíram tas diferentes, sob temperaturas ótimas e com um suprimento natural tos, e sua relação com os espectros de absorção concrastances
esgotamento de recurso (RDZ; resource-deplerion zone) - uma emre ''espécies de sol" e "espécies de sombra". Em geral, as de C0 2 . Observe que o milho e o sorgo são plantas C4 . e as demais de virias grupos de plancas aquáticas e com as diferenças de
faixa móvel de sombra sobre outras folhas da mesma planca espécies vegerais características de hábitars sombreados usam espécies são C3 (os termos são explicados nas Seções 3 3.1 e 3.3.2 dis<ribuição (de acordo com a profundid;ide) en<re grupos de
(segundo Larcher. 1980, e outras fontes)
ou de outras. Na zona mais profunda sob o dossel, as sombras a radiaçáo em intensidades baixas com mais eficiência do que plantas aqufocas. Kirk (1994) faz uma apreciação deralhada
comam-se menos definidas. porque grande pane da radiação as espicies de sol, mas o inverso é \·erdadeiro em imensidades da evidência das ligações diretas entre pigmentos. desempe-
perde sua direção original, por difusão e reflexão. ahas (Figura 3.6). Pane da diferença entre elas reside na fisio- nho e disrribuiçáo.
A vegetação submersa de hábi- logia das folh,1s, mas a morfologia das plantas também in- pJ.ga um feixe incidente de radiação sobre umJ úe.1 foliar mais
cars aquácicos está submecida a um fluencia J eficiência com a qual a radiação é caprnrada. As ampla e efetivamence reduz sua intensidade. Uma imensidade
efeico de sombra, provavelmence mui- folhas de pi.incas de 'iOI em geral ficam expostas ao sol do meio- de radiação superótima para a focossíncese, qu.rndo Jtinge uma 3.2.2 Fotossíntese líquida
to menos sisremácico, apenas porque dia em àngulos agudos (Poulson e Oelucia, 1993). Isso pro- folha a 90º, pode, pareamo. ser ócima para unu fo!ha inclina.-
ela é movida pelo fluxo da água, em- d., em um ângulo agudo. As folhas de plantas de sol com fre- A caxa de fomssíncese é uma medida bruta da taxa em que
bora a vegecação flucuante, em espe- qüência estão sobrepostas em um dossel multiestrarificado. Sob uma planca capcura energia radiance e a fixa em composms de
cial de açudes ou lagos, renha um efelca profundo e invariável luz solar brilhante, mesmo JS folhas sombre.1das em cama- carbono. Encretanco, muitas vezes, é mais imponance consi-
sobre o regime de radiação abaixo dela. As células do fica- 5 000 das inferiores podem cer raxas poslrivJ.s de foto)SÍntese lí- derar o ganho líquido, pois esse é muito mais fácil de medir. A
plâncron mais próximas da superfície também provocam som- 4uida. As plancas de sombra em geral possuem folhas com fotossíntese líquida é o aumento (ou diminuição) de macéria

~~
bra nas células abaixo delas, de modo que a redução da inten- disposição mais ou menos horizontal, formando uma copa seca resultance da diferença encre a fotossíntese bruta e as perdas
4 000 uniescracificada. devido à respiração e à morre de panes da pia.ma (Figura 3.8).
Ao conrráno de,sc1.s diferenças A fotossíntese líquida é negariva

// '"estratégicas", pode ramhem aconte- no escuro, quando a respiração supe-

........
"' 2 0 r - - - - - - - - - - - - - - - - , 60 ( cer que, dura.me o crescimento da ra a fotossíntese, e aumenta com a in-
3 000 i...
rensidade da PAR. O ponto de com-
planta, as suas folhJ.s desenvolvam-se
'.,
I
/ 5m (x 25) diferemernenre como umJ. resposta. '·drica." .10 .1mbienre de pemaçiio é a intensidade de PAR em que o ganho da fotossín-

~
~
E 15 • • •
w: §

2 000
1
rad1-1ção. Isso muiras vezt:s levJ J. formaç.lo d:.:' ··fnlh,b de sol" e
'"folhas de .'iombr,t" dentro da mesm.1 pL1nr.1. :-\" rolha.<. de som-
tese bruta compensa exa.camence as perdas por respir:1ção e
por outros mocÍ\'OS. As folhas de espécies de sombra tendem a
!
'J

~ tO brJ em geria são menores, m.tis espessJs, possuem !11Jl.'i células exibir raxa:. de respiração mais b:üxas do que as folh,1s de es-

!
3 20;
por unidade de área, ven:.ição mais densa, <l1spo~içJo m.1is dens.1
dos clorop!Jstos e maior peso .<.eco por unid.1de de área foliar.
pécies de sol. Assim, quando ambJ.s crescem à sombr.1, a
focossíncese líquida de espécies de sombra é maior do que a
& o 1 000
Essas manobras r:üicas, então, tendem a ocorrer n.io 1u planta de espécies de sol.
! i roda, mas ao nível da folha individual ou me\mo em suas par- Exisce uma variaçáo de quase
-~
a
Ü ~-LI·-~...L.~-~...L.~-~·-...L.~-~-'Q
o 12 16 20 24
l o ' - - - - - 1~ ~ " '-----Jmc___c___L--"'>W
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tes, o que. codavia, demanda cempo. Pa.r.1 form.u folhas de sol
ou de sombra como uma resposta cácica, a pl.inra, sua gema
l 00 vezes na capacidizde fatmúntética
de folhas (Mooney e Gulmon, 1979).
Tempo (dias) 400 450 500 550 600 650 700 750 ou J folhJ. em desenvolvimenro deve perceber o Jmbiente e Essa é a ta.xa de focossíncese quando a radiação incidente atin-
Comprimento de onda (nm)
responder a ele, formando uma folha com um.1 estrlHUra apro- ge o nível de sarura.ção, a cemperacura é ótima. a umidade
FIGURA 3.4 O aumento da densidade populacional(•) da alga verde priada. Por exemplo, é impossível a pl..1.m.1 mu<l,u ~u.1 forma relativa é a!cJ e as concenrrações de CO:: e oxigênio são nor-
unicelular. Chlorella vulgaris. em cultura de laboratório, reduziu a pe· FIGURA 3.5 Variação da dtsfribuiçào espectral da radiação, de acor·
netraçào da luz (:: == intensidade luminosas a uma profundidade fixa) cum rapidez suficiente para acompanh:ir .as mud,rnças na in- mais. Quando as folhas de espécies di"imas são comparadas
do com a profundidade do Lago Burley Gritfin. Austrália. Obser,e que
As barras indicam os desvios-padrão. que estão omitidos quando me· a radiação fotoss1nlet1camente ativa se situa principalmente dentro censid:ide de radiação entre um dia nubbdo e um dia claro. sob essas condições ideais, as com capa.cidade foro~sinrética
nores do que os simbolos (segundo Hu1sman. 1999). da faixa de 400 a 700 nm (segundo K1rk. 1994). No encanto, ela pode mudar ra.pidamence 'iLU ra.xa de fo- mais alta são em geral aquelas de ambientes ande nurri~ncc:s,

1
64 PARTE 1 - ÜRGANISMOS
r CAPÍTULO 3: RECURSOS 65

(a) Clorofrlas ae b (b) Clorofila C:? {g) 01atomàceas {i) Oeste da Escócia
60
449--------,

1,0
1,5 50
- - Clorofila b

.g 0,75

. 40
i 1,0
Clorofila a - ~
1l
< ~ 30
Vermelhas
i
{h) Algas verde-azuladas e
0,5

~
0,25
-~z
20
628
Pardas

f
1

HI 10
450 soo 550 600 650 700 450 450 500 550 600 650 700 jj Verdes
Compnmento de onda (nm) Compnmento de onda (nm) - < 'O

(e) ~-caroteno
i '---~-'---~J.-~-'--~---'-'~-L~'---'---~L---' o l____l___L __J
(d) A-hcocianina
0,9
400 450 500 550 600 650 700 750 o 10 30
2,5 Comprimento de ondas (nm) Profundidade {m)
0,8

0,7 FIGURA 3.7 (continuação) (g-h) Espectros de absorção das algas planctõrncas Nav,cula mimma (d1atomâcea) e Synechocyst,s sp. (verde-
2,0
azutada). (i) Números de espécies de algas bentônicas vermelhas. verdes e pardas em profundidades distintas (e sob diferentes regimes de

. .
g
0,6
luz). afastadas da costa oeste da Escócia (56-57°N) (segundo Kirk. 1994: dados de fontes diferentes).

i
1,5
0,5

~ 1 0,4

.
1,0 < (a) (b)
50 15 :e- 20
0,3 k
~ ~
i5 i5
0,2 40 o 15
0,5 E
0,1
e

ii•
10 .
1 ~
E

400 450 soo 550 300 400 soo 600


.
!!Í,
30 s
~ .
o'
u
'O
10

700 e
j
.
,9 o
20 'C
Comprimento de onda {nm) Comprimento de onda (nm) ,9 ·ro
i5

.
~
'O o
(e) Macrófita (f) Alga verde o
e 10 ~
~ .1 o -- ~ -------- ---- -.~---
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0,8
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0,6 .~ ~
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M A N D A M A N D
Mês Mês
B
<
0.4
i!
0,2

o
400 450 soo 550 600 650 700 750
<"
1 r 400 450 soo 550 600 650 700 750
FIGURA 3.8 Curso anual de eventos que determinaram a taxa fotossintét1ca da folhagem do bordo (Acer campestre), em 1980 (a) Vanaçào da
intensidade da PAR ( ·) e alterações na capacidade fotossintética da folhagem ( ), evidenciando-se na primavera. crescendo até atingir um
platô e, depois. declinado no final de setembro e outubro. (b) Fixação de d1ox1do de carbono (C0 2) ( ) e sua perda por respiração durante a
Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) no,te (>).A fotossíntese bruta total anual foi 1.342 g C0 2 m· 2 • e a resp,ração noturna foi 150 g C0 2 m· 2 • resultando em um balanço de
fotossíntese liquida de 1 192 g C0 2 m· 2 (segundo Pearcy et ai., 1984).

FIGURA 3.7 (a) Espectros de a.bsorção das clor?fll~s a e b (b) Espectro de absorção da clorofila Cz- (e) Espectro de absorção do p-caroteno
(d) Espectro de absorção da bth.proteina. A-f1~oc1an1na (e) Espectro de absorção de um pedaço de folha da macrófita de âgua doce Vaflisnena
sp,raf,s, coletada no Lago G1nnindera. Austral1a (f) Espectro de absorção da alga planctônica Chforelfa pyrenoidos (verde) (continua) como roda a capacidade, deve ser "construída", e o invesrimenco procede é limitada por condições (p. ex., remperacura) e pela
n.1 sua construção é provavelmente apenas para ser reposto, caso disponibilidade de outros recursos além da energia radi.mte.
exisra .1mpla oportunidade de utilização dessa capacidade. As folhas parecem também alcançar sua taxa focossintérica má-
água e radiação raramente são limitantes (Jo menos durante a sombra, perenes de deserro, espécies do urzal) geralmente exi- É desnecessário dizer que as condições ideais, sob as quai~ xim:i somente quando os producos esdo sendo ativamente re-
estação decrescimento). Entretanto, são incluídas muiras plan- bem uma baixa capacidade fotossintécica - mesmo quando as plantas podem alcançar sua capacidade focossincécica, raras tirados (para o desenvolvimento dt: gemas, cubt!rculos, ecc.).
tas de lavoura e as ervas daninha~ que crescem com das. As são fornecidos recursos abundantes. Tais padrões podem ser vezes estáo presentes, exceco em ambientes experimenra.lmen- Além Jisso, a capacidade focossincérica de folhas é corrdacio-
espécies de ambientes pobres em recursos (p. ex., plantas de compreendidos ao constatar que a capacidade forossinrética, re cone rolados. Na. prática, a taxa em que J fotossíntese de faro nadJ com o conrt:údo de nitrogênio foliar. canto entre folhas
r CAPÍTULO 3: RECURSOS 67
66 PARTE l - ORGANISMOS

TABELA 3.1 (a) Diferenças observadas em caules e f~lhas de pla_ntas de sol e de som~r~ do arbus!o f!eteromeles_arbutifolia. Os desvios-
de uma planca individualmence quanco encre folhas de espé- padrão estão entre parênteses; as significãncias das diferenças sao dadas segundo analise de vananc1a. (b) Propnedades resultantes. para
cies discincas (Woodward, 1994). Cerca de 75% do nicrogê- (a) (e)
plantas de sol e de sombra (segundo Valladares e Pearcy, 1998)
nio foliar é investido em cloroplasros. Isso sugere que adis- (a)
ponibilidade de nicrogênio como um recurso pode impor Sol Sombra p
limices emiros à capacidade das plancas de acumular C0 2 1,08 (0,06) 1,65 (0,02) < o.os
Comprimento do entrenó (cm)
e energia na fotossíntese. A taxa de fotossíntese cambém 71,3 (16,3) 5,3 (4,3) < 0,01
Ângulo foliar (graus)
10,1 (0.3) 21,4 (0,8) < 0,01
aumenta com a intensidade da PAR, mas, na maioria das Ârea de superfície foliar (cm 2)
292,4 (9,5) < 0,01
espécies ("plancas C," - ver, a seguir). ela atinge um platô .,' Espessura da lâmina foliar (µm)
1
462,5
14,1
(10,9)
(2.0) 9,0 (1.7) < 0,01
Capacidade fotossintética, com base na área (µmal ~0 2 m- 2 s- )
sob intensidades de ~adiação bem abaixo da incensidade da 1
Capacidade lotossintética. com base na massa (µmo1 C0 2 kg- 1 s- ) 60,8 (10,1) 58,1 (11,2) NS
2 280.5 (15,3) 226,7 (14,0) < 0,01
radiação solar coral. Conteúdo de clorofila, com base na área (mg m- )
Conteúdo de clorofila, com base na massa (mg g- 1 ) 1,23 (0,04) 1,49 (0.03) < o.os
A eficiência mais alca de ucilização de radiação pelas plan-
Conteúdo de nitrogénio foliar, com base na área (g m- 2 ) 1,97 (0,25) 1,71 (0,21) < o.os
tas verdes é de 3 a 4º/o, abrida por algas microscópicas cultiva- ConteUdo de nitrogênio, com base na massa (% do peso seco) 0,91 (0,31) 0,96 (0.30) NS
das sob inrensidades baixas de PAR Em florescas tropicais, os
valores ficam na faixa de I a 3~0 e, em florescas temperadas, (b) (d) (b)
nJ faixa de O,G a l ,2°10. A eficiência aproximada de plantas de Plantas de sol Plantas de sombra
Verão Inverno Verão Inverno
lavourJ. em clima temperado é somente cerca de 0,6%. A ener-
gétiGt de todas as comunidades depende de rais níveis de efi- ép 0,55ª 0,80b 0,88° 0,54 11
E 0,33ª 0,38ª b 0,4 P 0,43b
ciência.
z~;:oº
0

~~e~ato-sombreada
LARe(m2g- 1 )
g:~~: ~::~:
7,P 11,?b
~::~: g:~~:
20.5C 19,?C
3.2.3 Plantas de sol e de sombra de um arbusto Ep = eficiência de proieçâo; Eo = eficiência de exposição. ~raçâo auto-sombre~~; EA = efi_ciê~ia de absorção; LARe = razão da área foliar efetiva.
perenifólio os códigos de letras indicam grupos que diferiram s1gnif1cat1vamente na analise de variância (P < 0,05).

Muiros dos pontos gerais ances apresenrados sáo iluscrados por


um esrudo com um arbusto perenifólio. Hereromeles arburifo-
1,a. Essa espécie cresce em hábicats de chaparral na Califórnia,
-1 planca como um rodo. As plantas de sol podem ;)er vi sras como vida curta e atividade focossincécica elevada durance períodos com
abundância de água, mas permanecer em escada de dormência
um compromisso assumido enrre a maximizaçJ.o da fotossín-
onde suas copas sáo exposras à luz solar plena e a cemperacuras FIGURA 3.9 Reconst1tu1çôes por computador de caules de folhas de (ese de todo o indivíduo, por um lado, e o ev1tJ.menro da (como sementes) durance o resto do ano, nem focossincecizando,
elevadas - em especial durance a escação seca -, bem como cm sol (a, c) e de sombra (b. d) do arbusto perenifóho Heteromeles arbu-
foco-inibição e superaquecimento de folhas individuais, por nem transpirando (p. ex., muitas plantas anuais de deserto.
tifol1a. vistas ao longo da trajetôria dos raios solares no início da ma·
hábiracs floresrais, onde ocorre em locais aberros e no sub- outro lado. ervas anuais e a maioria das plantas anuais culcivadas).
nhã (a. b) e ao me10-d1a (e, d) Os tons mais escuros representam
bosque sombreado (Valladares e Pearcy, 1998). Planras de som- partes de folhas sombreadas por outras folhas da mesma planta. Bar- As plantas com vidas longas
bra do sub-bosque foram comparadas com plancas de sol do ras= 4 cm (segundo Vatladares e Pearcy. 1998). podem produzir folhas quando a
chaparral. onde elas receberam cerca de sece vezes mais radia- 3.2.4 Fotossíntese ou conservação de água? água é abundante e perdê-las duran-
ção (densidade do fluxo focônico; PFD, do inglês photon f/11x Soluções estratégicas e táticas re os períodos de seca (p. ex., muicas
densiry). Comparadas às de sombra (Figura 3.9 e Tabela 3. la), da mdior efiLiénciJ de projeção e, no inverno, devido à ausên- espécies de Acacia). Alguns arbustos do deserro de lsrJel
as fo!hJs das pi.ancas de sol esravam inclinadas com ângulo cia rehriv.1 Je auro·sombreamento em folhJs de sombra. De faro, especialme,ue em hábi(ats (p. ex., Te11cri11m polium) exibem folhas finamence dividi-
muiro mais acentuado em relaçáo 3. horizontal, eram menores As propriedades fisiológicas da planra como um todo (erresrres, não seria ra1.o.-ivel Lonside- das e com cutícula delgada durante a escaçáo com disponi-
e mais espess;is e se originaram em caules mais curros (entre- (Tabela 5.1 b). encJ.o, reflecem ranco a sua arquirerurJ como as rar a radiação como um recurso inde- bilidade de água no solo. Em estações mais propensas à
nós mais curros). As folhas de sol civeram, rambém, uma maior morfologi.1'.'> e foiologias de folhas individuais. A eficiência de pendente da água. A radiação intercepcadJ nJ.o re~uha em fo- seca, as folhas são subsriruidas por ourras inteiras. peque-
capacidade forossinrética (mais clorofila e nitrogênio) por uni- absorç.lo dc1 luz, como J eficiencia de exposição, reflete tJnro cossínrese, a menos yuc: haja co2 disponívd, l'. a \·i:t principal nas e com cutícula espessa; essas folhas. por sua vez. caem e
dade de área foliar, mas nio por unidade de biomassJ. o,; ;lngu!m <..Lis folh,1s corno o auto-sombreamenro. Portanro. de entr.1da de CO, são os escômaros aberros. ·rnd.1viJ.. sem podem deixar apenas espinhos verdes (Orshan, 1963). Es-
Como conseqüências ··arquiterurais" dessas diferenças a dlctC:n..::i,1 de .1hson;J.o foi consiscememenre nuis eleva.da para. es(Õmaros esúvere~1 abertos, J água. evapour.i .,rrJ\·és ddes. rabelece-se, portanto, um polimorfismo seqüencial Hra,·és
(T.1bd.1 3. lh). as planras de :-.ombra riverJm uma '"eficiênci,1 pbnus de ,omhr.1 do que p,ua .ts de sol. embora 3 diciênctJ Se ,1 .íguJ for perdida m.1is rápido do que podl' ,er obc1J-1, a das e,;cações, com cadJ. folhJ. sendo suh,ricuídJ por uma
de projeçáo" muiro maior no ver.ia, mas muiro menor no in- par.1 pLrnu:, de_> :-.oi fosse significJtivamente mais elevada no folha (e a planra) acabará murch.rndo e, por tim, morrerá. estrutura menos focossincericamenre aciva, mas com maior
verno. A eficiência de projeção expressa o grau em que a área inverno, comp.trJ.Ja com o verão. A razão foliar efetiva (adi- Vale observar yue, na maioria das comunidJdes cerresm::s, ao economia de água.
foliar d~riva é reduzida por esc.u disposta i radiação incidente cienc1a de .1bsorçdo da luz por unidade de biomassa) foi. en- menos às vezes, o suprimemo de água é pequeno. A planta Há cambém a sicuação em que a,; folhas podem cer vida
em um ângulo diferente do :ingulo rero. Assim, as folhas de rJ.o, massiv.1mence m.1ior para plantas de sombra do que para deve conservar água à custa dJ. focmsínccse ou ma.x1miLJr a longa. transpiram apenas lenramence e roleram um déficit hí-
plantas de sol com disposição mais oblíqua absorveram os raios as de sol (com resultado de suas folhas mais delgad,1s), embo- forossínrese. correndo o risco de ficar sem água? L ma \'é.'7. mais drico. mas são incapazes de forossincetizar com rapidez, mes-
direros do sol Je \'erão a pino, sobre uma área foliar maior do ra, m,lÍS uma vt.-z, um pouco nu.is alta para as úlcimas no inverno. nos defronramos com o problema de saber se .l rnlução ótima mo quando a água é abundante (p. ex., arbusros perenifolios
que as folhas mais horizontais da.s plantas de sombra; no en- De: moJo geral. portanto, embora recebendo apen:l.'i um envolve uma esrracégia estrita ou a cap:1Cid.1<lc de apresentar do deseno). Caraccerísricas escrururais, como cricomas e e~cô-
canto, os raios de sol de inverno de incidência lateral atingi- sécimo JJ Pl'D de plJncJs de sol, as planCJS de sombra reduzi- resposcas táticas. Existem bons exem- macos em cavidade e com distribuição restrita em áreas espe-
ram JS folhas de plancas de sol quase em ângulo reco. Além ram par.1 um qua.rrn o diferencial na quantidade absorvida e plos ranco de so!uç.óe, como Je com- cializadas da face inferior da folha, diminuem a perda. de água.
disso, essas eficiências de projeção podem ser modificadas peld reduzir.tm pdr ,1. :tpe,us a metade o diferencial em sua ca__xa diá- promissos. Porém, esses mesmos acriburos morfológicos reduzem a caxa
fração de área foliar sujeica a auro-sombreamenro, dando ori- ria de ganho de c1rbono. As plantas de sombra concrabalança- Ta.lvez a estracégi.1 mJ.is óbvia de entrada de C0 1 • Superfícies foliares com ceras e cricomas
gem a "eficiências de exposição". Escas for.1m mais elevadas ram com êx:iro sua reduzida capacidade focossincécica no nível que as planras possam ::ido[ar é ter uma podem, contudo, ;efletir uma grande proporção de radiação
nas planras de sombra do que nas de sol: no verão, por causa foliJ.r com aumenco da capacidade de captar luz no nível da

j
1
68 PARTE 1 - ÜRGANISMOS
CAPÍTULO 3: RECURSOS 69

fora da faixa da PAR e, assim, manter a remperatura foliar ra 3.1 Ob), mas as perenifólias mantêm um balanço de carbono completamence ditt=rente. No interior de uma floresta ded- Em ambiences aquáticos, as va-
positivo durante todo o ano (Figura 3. l Oc}, e as espécies decídu- Jua misra da Nova Inglaterra, foram medidas, durante o ano, riações na concentração de CO, tam-
baixa e reduzir a perdJ de ;Ígua.
Por fim, alguns grupos de plan- as não exibem focossínrese líquida por cerca de crês meses. :IS mudJnças na concentração de CQ 2 no ar, em várias alcuras bém podem ser significativas, ~m es-
tas desenvolver.un fisiologias especiais: O principal controle tático, tanto das taxas de fotossín- acimJ do solo (Figura 3.11 a) (Bazzaz e Williams, 1991). As pecial quando a mistura da água é limitada - por exemplo,
C, e CAM (meubolismo ácido das tese como da perda de ~igua, é realizado por meio de mudan- concemrações mais altas, em corno de l.800 µI L- 1• foram durance a "estratificação'' de lagos, com camadas de água quenre
crassul.íceas; do inglês Crassufacem1 ças na ·'condurância" escom.üica, que pode ocorrer rapidamente medidas próximo J. superfície do solo, chegando a cerca de volcadas para a superfície e camadas de água mais fria abaixo
Acid 1\,fetabolúm), que serão considerados de modo mais deta- durante o curso de um dia e permitir uma resposta muito rá- 400 µI L· 1, a I m acima do solo. Esses valores altos próximos (FigurJ 3.12).
lhado nas Seções 3.3. l e 5.3.3, respectivamente. Por ora, ape- pida J. escassez imediac.1 de água. Os rirmos de abertura e fe- .w nível do solo foram alcançados no verão, quando as tempe- làmbém em hábirars aquáticos, o C0 2 dissolvido tende
nas destacamos que planras com focossínrese "normal" (isro é, ch:imenco dos escôm,uos podem garamir que as panes da planta raturJs elevadas permirir.1m a de(omposição rápida da serra- ,lreagir com a água, formando ácido carbônico, que, por sua
as C_,) são esbanjador JS de água, em comparação com as plan- siwadas acima do solo permaneçam mais ou menos imunes :1 pilhcira e da matéria orgânica <lo solo. Em alcuras maiores vez, ioniza. Essas tendências aumentam com o pH. de modo
tas C, e CAi\'1. A eficiência do uso da ,igua das planras C, (a perda de água, excew durante períodos controlados de foros- dc'ntro da tloresca, a conc.encraçâo do CO, raramente alcan- que 50º10 ou mais do c.1.rbono inorgânico na água podem estar
quamidade de carbono tlxado por unidade de água transpira- síncese aciva. Esses ritmos podem ser diários ou pronramence Çl)U o v.ilor de 370 µI L· 1 (mesmo no inve~no), que é a con- sob forma de íons bicarbonato. Muitas plantas aquácicas po-
da) pode ser duas vezes maior do que nas plantas C responsivos ao status hídrico interno da plam.1. O movimenw ccntraçJo acmosférica <lo ar medida no Laboratório de dem ucilizat carbono desta forma. Porém, já que deve, por
1•
A viJbilidade de esrracigias alcer- esromãrico pode ser até mesmo desencade.1do diretJmence pdas .\Lwna LoJ, no H.1vaí (ver Figura 18.22). Nos meses de fim, ser reconverrido em CO, para a fotossíntese, provavel-
11<1civas pa.n resolver um problema em condições na própria ~uperfície foliar - a pbnca. emâo. re:,- irnerno, .ts concentraçõe.<. permaneceram virrualmenre cons- mente o bicarbonaco é menos ti'cil como fonre de carbono inor-
comum é muito bem-ilusrrada p.u,1 ir- ponde is condições de dc:.sec.unemo no ex.uo loc.1! e ao me:,- t,inres Jurante o di.t e :1 11oice em rodJs as alcuras. Todavia, gânico e, 11.1 prácica, muius planus cerjo ~uJ taxa focossinr~ti-
\ ores de tloresr.ts tropicais s..i.zonal- mo tempo em que rnis condições SJ.o experimenudas. 1w \·er:'10, se desenvolveram os principais ciclos diurnos de
ca limitada peb disponibilidJde de CO,. A FigurJ 3.13, ;,or
meme seC.l'i (EJmu:., 1999). Essas co- concentração, que refletiram a inceração encre J. produção 1:xemplo. mostra a resposu do musgo Sphagnum subsecundum,
munid.1des são enconrradas rurural- de CO, por decomposição e o seu consumo na fowssíncese examinado em dua.s profundidades em
menre na Áfrio, nJs Arnêricas, na Ausrráli~1 e n~1 Índia, e em (Figur,; 3.11 b). um lago dinamarquês, em relação ao
Jlguns lugares da Ásia como resultado da interferência huma- O faco de as concentrações de CO 1 variarem ramo den- .1umenco d.1 concencração de CO,. Na
1_1a. Porém, enquanto, por exemplo, as savanas da África e da Ü co2
utilizado na fotossíntese é obcido quase coralmenre tro da vegecação significa que as pl.incJs~ em partes diferentes época da amostragem (julho de 1995),
Indi.i sãodominJ.d.1s por espécies decíduas, e os lia nos da Amé- da atmosfera, onde sua concentração cresceu de cerca <le de uma floresta, experimentam ambientes completamente dis- as concentrações narurais nas águas de
rica do Sul são dominadm por perenifólias, as savanas da Aus- 280 µI L·'. em 1750, para cerca de rincos quanrn a esse fator. Na verdade, as fo!hJs da pane infe- onde as plantas foram reriradas (Figura 3. 12) eram 5 a I O
rrália são ocup.idas por nllmeros aproximadamente iguais de 370 µl L- 1 nos dias amais e conci- rior de um arbusto da floresta em geral experimenr.1m con- vezes menores do que aquelas relacionadas às máximas de fo-
espécies de quarro grupos (Figura 3.1 Oa): espécies perenifólias nua crescendo em 0,4 a 0,5°/o ao ano centrações mais elevadas de co.! do que as folhas da parre tossíntese. tvtesmo as concentrações muito mais alras verifica-
(com copa complera durame rndo o ano), espécies decíduas (ver Figura 18.22). Em uma comu- .\uperior, e as plânrulas vivem em ambiences mais ricos em das nas profundidades menores durante a estratificação de verão
(perdem rndas as folhas, .10 menos por um mês e, em geral, 2 nidade cerrescre, o fluxo de CO, à noHe é ascendente: ,I CO ~ do que as árvores maduras. não ma..-ximizaram a taxa focossincécica.
a 4 meses por ano), espécies semidecíduas (perdem cerca de partir do solo e da vegeução em- direçlo ;\ armosferJ; em
50°/o ou mais de suas follus a cada ano) e espécies brevided- dias ensoLuados. acima de um dossel forossinterizante, cons-
duas (perdem apenas cerca de 20% de suas folhas). Nas exrre- tara-se um fluxo descendente. (a)
mid.1des desse to11ti1111um, .1s espécies decídu.is cvicam a esria- Acima do dossel, o ar rnrn.1-se 440
gem na estação seca (ahri! a novembro, na Ausrrilia), como rapidamente misto. No enranco, den- ~ 420
resultado de sua:. t;Lxa.s de cranspiraçJo baseante reduzidas (Figu- tro e abaixo do dossel, a siruaçJo é 2;, 400
o
~ 380

(a) (b) (e) i: •.

fººf
1320 -~
ü 300
u
m
80
l -0,5
o
u, ~
12
6 Mar 25 Abr 14 Jun 3 Ago 22 Set 11 Nov 31 Dez
1o 10
~
..C -1,0
..•
~
Datas das medições

!6º[~~
i
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Cl.
40

20
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E
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6
4

2
(b)

~
~

3
455
21 de novembro 455
4 de julho
FIGURA 3.11 Concentrações de C0 2 em
uma floresta decídua mista (Floresta
Harward, Massachusetts. EUA), em
épocas diferentes do ano e em cinco
alturas diferentes acima do solo: ;l,,_ =
a· 405
o '-L-1-...L_L u 405 O.OS m: - :: 0.20 m, 111:: 3 m, = 6 m: •
1 ' -
2
J F M A M J J A S O N O J
Mês
- ,0 J F M A M J J

Mês
A S O N D J

Més
.i
m

355
355 = 12 m. Os dados do Laboratório de C0 2
de Mauna Loa ( ) são fornecidos no
e 305 305 mesmo eixo. para comparação. (b) Con-

F.IGUR~ 3.10 {a) Porcentagem da plenitude da copa, durante o ano. de árvores decíduas ( >), sem,decíduas ( ii), brevidecíduas ( Y) e pereni-
foi,as ( 'J) de savanas australianas (observe que a estação seca no hemisfério vai, aproximadamente, de abnl ate novembro). (b) Suscetibthda-
1
u
255 L__J4h_ _ c_ _l 2-'-h--'--2-'0h_ __J 255 '---'4-h- ~ - l2~h-~-2~0h-~
centrações de C0 2 para cada hora do
dia (médias calculadas por períodos de
3 a 7 dias). em 21 de novembro e 4 de
~e ~ seca. ~edida por.valores progressiva.mente negativos do "potencial hidnco" de árvores deciduas (•)e perenifóhas ( .J). (c) Fotossíntese Hora do dia 1ulho (segundo Bazzaz e Williams. 1991)
l1qu1da de arvores dec1duas ( ·) e perenifol1as (').medida pela taxa de assimilação do carbono (segundo Eamus. 1999)
70 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 3: RECURSOS 71

uma afinidade ao CO., muiw m,uor do que a Rubisco. Tudo noite (como ácido málico). Durance o período luminoso, os
210 10
isso tem profundas co~seqüências. estômatos permanecem fechados, e o CO, é liberado dentro
200
190 Em primeiro lugar, as plantas c.podem ,bsorver C0 2 da folha e fixado pela Rubisco. No emam;, como o CO, en-
180 • •
acmosférico muico mais efetivamente do y_ uc: JS pi ancas Ci . contra-se, encão, em concentração alta dencro da folha, ; fo-
170 Como ;esultado, as plantas C., ,êm a possibilidJ<le de perd~r rorrespiração é impedida, exacamence como em plantas que
160
~ 150 Agosto
• uma quantidade de água muirn menor por unida.de de carbo-
no fixada. Além disso, a liberaçio dispendiosa de CO, pela
usam a roca C<i. As plancas que utilizam a rara fotossincécica
CAJ\.1 rém vanragens óbvias, quando o suprimento de água é
~ 140
2: 130
• fowrrespiração é quase completameme impedida, e, p~rcan- pequeno, pois seus escômaros permanecem fechados durante
d'' 120 ro. a eficiência. do processo global de fixação de carbono não o período diurno, quando as forças evaporacivas sio mais in-
ü
~ 110 •• se altera com a cemperacura. Por fim, a. concenrr:içâo de Ru- censas. Essa roca é conhecida, hoje, em uma ampla diversida-
,g 100 bisco nas folhas é de um terço a um sexco da enconcrada em de de famílias, não apenas as Crassulaceae. Isso pode ser um
M"
e
90
80 .i plantas Cy e o conceúdo de nitrogênio foliJr é correspon<len-
rememe mais baixo. Como conseqüência disso, as plancas C_.
meio altamente efetivo para conservação de água, mas as espé-
cies CAM náo conquistaram o mundo. Um custo para as plan-

ü
i 70
60
1

5âo muito menos arrarivas a muicos herbívoros . .i.lém de reali- tas CAM é o problema do armazenamento do ácido málico
z:Hem mJis fornssíncese por unidade de niuogérno absorvido. formado à noite: as plantas CA~t. 111 m,iioria, são suculentas,
so
40 Poderíamos estranhar como .is pbnr.b C.1 • com a efi- com tecidos Je arn1.1zen.1menro de águJ que super.1111 t'sse pro-
30 ciência de uso de águJ cão alta. n.ío comeguium dominar a blemJ.
20 \'t!gecação do mundo, mas exisrem cuscos bem evidenres que Em geral, as planras CAM são encontradas em ambien-
10
00~--'-~-'-----'-~-'----'-~-'---'-~-'---'-~~10---'11
contrapõem esses ganhos. O sistema c.tem um alm pomo de tes áridos, onde o rigoroso controle escomácico de consumo
..:ompensação da luz e é ineficiente sob 111rensid.1de~ lumino- de água durante o período diurno é vital para a sobrevivência
Profundidade {m) sas baixa~; por isso, as espécies C_1 são inefici.zn como pbnras (suculentas de deserto). Elas ocorrem, também, em locais cujo
Concentração de C0 2 (µmol L- 1 )
Je sombra. Além disso, as plantas e. possuem ótimos de tem- suprimento de CO 2 é pequeno durante o período diurno,
FIGURA 3.12 Variação na concentração de C0 2 em relação à profun- peracuras mais altos para o crescimenw do que J.S espécies C3 ; como, por exemplo, em plantas aquáticas submersas e em ór-
didade no Lago Grane Langso. Dinamarca. no início de julho e no final FIGURA 3.13 Crescimento (para um platô) das taxas fotossintéticas gãos focossincécicos sem escômacos (p. ex., raízes focossincéri-
:1 maioria das plantas C é enconrrada em regiôes áridas ou
do musgo Sphagnum subsecundum em relação às concentrações de 4
de agosto. após o lago tomar-se estratificado, com pouca mistura entre a
água quente, junto à superticie, e a água mais fna, abaixo (segundo C0 2 manipuladas artificialmente, medidas a profundidades de 9,5 m nos trópicos. Na América do Narre. as espécies de dicociledô- cas aéreas de orquídeas). Em algumas plantas CAM, como
R,is e Sand-Jensen. 1997). ~•) e 0.7 m (-_) no Lago Grane Langso, Dinamarca. no começo de neas C-1 parecem ser favorecidas em locais de suprimemo hí- Opuntia basiúzris, os estômatos permanecem fechados diurur-
JUiho. Essas concentrações - e, portanto, as taxas de fotossíntese -
drico limitado (Figura 3.14) (Stowe e Teeri, 1978), e J abun- namenre durante a seca. O processo CAlvl permite, enráo, que a
são muito mais altas do que aquelas de ocorrência natura! (ver Figura
3.12) (segundo Rus e Sand-Jensen, 1997) d.incia de espécies... de monocociledôneas C, e~d muito corre- planta permaneça "inativa" - focossincecizando apenas O co2
Seria possí,·el estranhar que um processo tão fundamen- la(.ionJ.da com temperaturas diárias máximJs durante a esta- produzido internarneme por respiração (Szarek er ai., 1973).
tal para a vida sobre a Terra, com a fixação de carbono na ç.ío de crescimento (Teeri e Stowe, l 976). Porim, e.\sas corre- Eh\eringer e Monson (1993) apresentam um levanta-
fotossíntese, estivesse baseado apenas em uma única rota bio- bções não são universais. Mais comumence, onde existem po- menco raxonômico e sisremárico de sistemas forossincécicos
:\ r,1xa de forossíncese de plantas C, aumema com a in-
química. Na realidade, exiscem crês rotas (e variantes dentro tensidade da radiação, mas atinge um pl~tô. Em muicas espé-
pulações mistas de plantas e_,. e ...
e a proporçáo de espécies C 3 , C-+ e CAM. Eles descrevem a evidência muito force de que
delas): a rota C; (a mais comum), a rota c.
e a rota CAM C_ 1 tende a diminuir com o Jumento da .:i.lrirude; em climas a rma C 3 é evolutivamente primiciva e, de modo surpreen-
cies, em parcicular as de sombra, esse platô ocorre em imensi-
(metJbolismo ácido das crassuláceas). As conseqüências eco- snonais, as espécies C 4 tendem a dominar .1 vegecação nas dente, que os sistemas C, e CA.J\,f devem ter surgido repetida
dades de radi.1ç.ío muito abaixo daquela da radiação solar ple-
lógicas das diferences rocas são profundas, em especial porque estações secas e quentes, e as espécies C,, n3s esuções mais e independentemente durance a evolução do reino veget:1.I.
11;1 (ver Figur.1 3.6). As plantas com mecabolismo C 1 têm bai-
elas aJêum a harmonização da atividade forossintética com a llmidas e mais frias. As poucas espécies C, que ,;e expandem
xa eficiênci.1 no uso da água, em comparação com plamas C-l
perda controlada de água (ver Seção 3.2.4). Mesmo em plan- p.:i.ra regiões temperadas (p. ex., Spartrna spp.) são enconcra-
e CA:VI (\"era seguir), principalmente porque, em uma planta
ras aquáticas, nas quais a conservação da água em geral náo d.i.s em .:i.mbienres marinhos ou outros amhienre1, ·ulinos, onde 3.3.4 As respostas de plantas às concentrações
C~, o CO~ se difunde um tanro mais lenrameme para a folha
esd em questão e a maioria dessas espécies usa a roca C,. exis- a, condições osmóticas podem favorecer espec1e~ com uso eÍ1- variáveis de C0 2 atmosférico
e, .1ssim, d.i tempo para um.1 parte do vapor de jgua difundir-
tem muitos mecanismos concencradores de COl que serve.m pJ.ra c1cn te da água.
se par.1 r<1r.1 deh.
aumemar a ef1Cácia de ucilizaçáo desSt: g.is (Badger er ai., I 997). Takez J CJrJ.Cterísric.1 m.llS signifi(J[l\",l lÍC plantJ)e I
De rodos os diferences recursos neces.drios :ts p!anus, o CO~
"L"l,1 que ela.\ não parecem empregar :,,u:t 3.]LJ .:tlc1ênc1a de uso é o ünico que est;Í crescendo em escala global. E.\Sa elevação
3.3.2 A rota C4 d.1 igu.1 de maneira eficaz no crc:scimc-nro 111,11" r.ipido da p,u- esc.í muito correlacionada com o aumento d.1 taxa de consu-
3.3.1 A rota C3 re aérea, mas, em vez disso, dedicam a fraç.l.o nnior do corpo mo de combustíveis fósseis e as derrubadas de florestas. Con-
Ne::.::.J. rot.t ·- o ciclo de H.uch-S!Jck -, a rora C3 está presenre, da planta para um sisremJ subterrâneo bem dc:sen\"olvido. Isso forme destaca Loladze (2002), as alrerações com conseqüên-
Nt'ssa rota - o ciclo de Calvin-Benson -, o CO., é fixado em m,1s fic:l lirrntati.t J. decerminadas células do corpo da folha. O indica que a taxa de assimilação do carbono n.lo ::- o principal cias para o clima global podem ser concroverrid:ts em algunus
um ácido com três carbonos (ácido fo~foglicéri~o) pela enzi- CO.! que )e J1Funde para o incerior das folhas, via estômatos, li mire ao seu crescimento, e que a escJ.',sez de .íguJ e/ou subs- regiões. porém, os níridos aumentos na concentração de CO 2
mJ. Rubisco, que está preseme em grandes quamidades nas enconcr:i células do mesofilo contendo a enzima fosfoenolpi- tâncias nucricionais cêm imporcinc1a maior. não o são. As plantas acualmence escão submeridas a concen-
folhas (25 a 30% do total do nitrogênio foliar). Essa mesma ruvarn (PEP) cJ.rboxilase. Essa enzima combinJ o CO 1 atmos- rraçóes cerca de 300/o mais altas, em comparação com o perío-
enzima pode também amar como uma oxigenase, e esta ativi- férico com a PEP, produzindo um ácido com q uatr~ carbo- do pré-industrial - o que significa pouco tempo. em escala
dade (fororrespiração) pode resultar em uma dispendiosa libe- nos, o qual se difunde e \ih~ra CO, para as células internas·, 3.3.3 A rota CAM geológica. As ::írvores atuais podem experimencar, ao longo dos
ração de co.2 - reduzindo em quase um terço as quantidades onde." 111grc:~s.1 nJ rota C 5 cradicion;I. A PEP carboxilase tem seus ciclos de vida, uma duplicação n=i concemra~ão - o que
liquidas de CO, que são fixadas. A fotorrespir,ção aumenta As pbnras C:\i\,1 também usam a PEP cJrhoxilase. com seu representa umJ alceraçáo imediata em uma escala. euolutiv11. E
com a temperamra, e, como conseqüênci1. a eficiência global • :--:. dl'. T. Lr:i, cJlulas constirucm J ch.1.m:1d:1 bamha p:urnqu1mátic.1 force poder concentrador de CO,. Ao urntr.ir10 das plJnL.ls as altas tax.1s de mistura na atmosfer.1 indicam mudanças que
de fixação de carbono declina com a remperarnra crescente. do ripo ls:n;\L ..:J.rJ.ccai~r1e1 dos feixes v1stulare~ de p!.i.nc1s C~. e) e ...
e contudo. elas abrem seu~ esrônuco:,, e' fixam .! i co aferam todas as plantas.

l
72 PARTE 1 - ORGANISMOS
CAPÍTULO 3: RECURSOS 73

scimula a focossíncese e, em média, aumenta 41 o/o a produ-


600
(a) (b) e ão aoricola (Loladze, 2002). No entanto, há também forre
- Concentração de C0 2 alta :1
~vid~~c.:ia de que as respostas podem ser complicadas (Bazzaz, .... - Concentração de C0 2 baixa !
500

.
f= 0.947 I 990). Por exemplo, seis espécies arbóreas de floresta tempe- -a;
rada, cultivad,ls por rrês anos em estufa em uma arrnosfera .s
l 400

.•
u' enriquecida com C0 2 , eram geralmenr~ maiores do que as
plJmas-conrrole. mas O aument~ do crescimento por co2
d~-
.-g
E
300
·~
~
u,
2 dinou, mesmo no período rdat1vamenre pequeno do expen- 1 200
mento (Bazzaz et ai., 1993).

, .,
o enriquecimenro com co~. além disso, tem uma ten-
dência geral de alterar a composição de planras e, em especia_L
*
~
100

o de reduzir a concentração de nitrogênio em tecidos vegera1s o


20 35 50 65 80
localizados acima do solo - por volta de 14°/o, em média, sob o 10 20 30
Media da evaporação (com pan evaporímetro)
Idade larval (dias)
durante o verão (polegadas por verão) 111 mcnto de CO, (Corrufo et ,zl., 1998). Isso, por sua vez,
~~ode rer efe"1rns ;ndiretos sobre JS interações pl_anra-animal.
plli:-. insetos herbívoros podem, _emáo, consu:rnr :º.
a 80% FIGURA 3.15 Crescimento de larvas da borboleta buckeye (Junonia
coema) consumindo Pfantago lanceofata. que 101 cultivada em atmos·
1113 is folhagem p.1ra manter seu ingresso de rncrogen10 e Jd- feras com concentrações de C0 2 baixas e altas (segundo Fa1er. 198'3)
quirir massa mais lemamente (Figura 3.15).
o aumento de co) pode cam-
hém reduzir, nJ.s plantas~ as concen-
rrações de outros nurrienres e micro- 3.4.1 Raízes como forrageadoras de água
nutrientes essenciais (Figura 3.16)
(ver Seção 3.5). concribuindo pdra a Para a maioria das plantas rerrícolas, a principal fonte de águJ.
'"desnutrição de micronutrientes", que diminui a saúde e a é o solo, e elas têm acesso a esse recurso por meio do sistema
economia de mais da metade da população hum.ina mundial de raízes. Consideraremos aqui (e na próxima seção sobre re-
cursos nutricionais para as planras), de maneira simplificada.
(loladze, 2002).
as plantas d oradas de "raízes''. Na realidade, a maioria das plan-
tas não possui raízes - elas têm micorrizas: associações de teci-
dos de fungos e de raízes, em que ambos os parceiros são deci-
sivos n.1 obtenção de recursos para o todo. As micorrizas e os
O \"Olume de .igua que se incorpora à~ plantas superiores du- respectivos papéis das plantas e dos fungo:-. serão discutidos no
rante o crescimento é infinitesimal. em comparaç3.o ao volu- Capítulo 13.
FIGURA 3.14 (a) Porcentagem de espécies de dicotiledóneas C 4 nativas em diferentes regiões da América do Norte (b) Relação entre a Não é fácil observar como as raízc:s evoluíram pela mo-
porcentagem de espécies C 4 nativas em 31 regiões da América do Norte e a média da evaporação estival (maio a outubro) registrada mediante me que flui através da planta na corrente cranspiratória. Con-
rudo, a águJ é um recurso importante. A hidratação é uma J,ficaçáo de um órgáo mais primitivo (Harper et ai., 1991),
um pan evaporimetro - um 1nd1cador chmático do equilíbrio planta/água. As regiões cujos dados climáticos apropriados não estavam disponi-
veis foram excluídas, 1untamente com o sul da Ffónda. onde a geografia peculiar e o cltma podem explicar a compos1çào aberrante da flora condiçâo . .necessária parJ a ocorrência de reações metabólicas, amda que a evolução dela., seja provavelmente o evento m,iis
(segundo Stowe e Teerr. 1978) influence que possibilitou :1 exi'itência de extensas floras e fau-
e, uma vez que nenhum organismo é impermeável, seu con-
reúdo de 3gua necessita de reabasrec11nento contínuo. A maio- 1us cerrícolas. Uma vez evoluídas, as raízes propiciaram anco-
I i,1 <los ani. .m.ti~ terricolas hebe .igua livre e ramhém gera uma
r.igem segura para árvore~ e meios para um ímimo contato
Existe, tJrnbém, evidência de cena. e as plantas C., podem começar a perder pane de su.1 porção a p.1rt1r do meubol.1smo de alimenros e maceriais do com nurrienres miner.1is e ~í.~u.1 do solo.
mudJnça.,, em gr.rnde escala, no C02_, vantagem. corpo; há Cl:-.lh exrremos em que .n11m.1is de zonas áridas po- Como chuva ou pelo derretimenco da ne\'e, a água pe-
por períodos muito mais longos. Os Quando outros recurso~ estdo dem obter md.1 sua águ.1 :1 panir do ,1limenro. netr,l no solo. formando nele uma re~erv,t nos poros existemes
modelos de b.1!Jnço de urbono ;)Ugerem que, Jura me os pe- presenrts em níveis adequados, o Cü,
ríodos Tn..íssico. Jurá~:-.1co e Crec..ícco, as concenrrJções de CO, .tdicion.d influenci,t muito pouco ~
na armosfera eram qu..uro a oico vezes maiores do que arn.d:
.
taxa de fotossíntese de plantas C 1, 111JS
mente, caindo após o Credceo de 1.400 a 2.800 µI l: 1 para É
abaixo de 1.000 µI L : 110 Eoceno, no M,oceno e no f'lioceno
aumenta a taxa. de:: plantas C 1. Nesse::
senriJo, J elevação artificial da concenrraçâo de:: C0 1 em estu- ~ 5
1
e flutuando encre 180 e 280 µl L- 1 durante os períodos glacial
e incergbcial subseqücnce) (Ehlennger e 1\lonso, 1993).
fas é uma técnica comercial para aumenur as produções dt'
plantas (C:;) de lavoura. É razoável. portanto, predizer aumen-
.•
E
o
~ -5 ,,> \ 1· FIGURA 3.16 Mudanças nas concentrações
Os declínios n.1 concentração de CO, na atmosfera
após o Cretáceo podem ter sido a força indL~cora que favo-
receu a evolução de plantJS com fisiologia C_. (Ehleringer
tos dramâ(icos na produtividade de plantas individuais e de
lavouras inteiras, bem como de florestas e comunidades naru~
rais, à medidJ que:: as concentrações de C0 1 concinuarem a
1
.
e
-15
de nutnentes em material vegetal cultivado
em ambientes com concentrações duplica·
das de C0 2 atmosferice, com base em 25
estudos sobre folhas de plantas diferentes
rn
et f/Í., 1991 ). pois, sob wncentraçôes baixas de CO,, a fo- crescer na atmosfera. Apenas na décad.1 de 1990, foram publi- (barras coloridas) e cinco estudos com
torrespiração coloca as pia nus C 1 em desvantagem ..~ cons- cados resultados de 2.700 estudos sobre o incremento de CO, í~ -25 gràos de tngo (barras cinzentas). As linhas
pretas sobre as barras indicam os erres·
tante elevação do CO 1 J partir da Revolução Industrial é, na atmosfera (FACE,free-11ir CO) enrichmem), e sabe-se, po; Elemento padrão (segundo Loladze. 2002).
portanto, um retorno -parcial às condições do pré-Pleisrn- exemplo, que J duplic.1ç;fo da co~cenrração de co2
em geral

--~--~
74 PARTE 1 - ORGANISMOS
r
:1
:'l1
CAPÍTULO 3: RECURSOS 75

1
enuc:: as suas panículas. O que acon-
tece com a jgua depende do tamanho
cerconeccados do solo. A água flui ao longo do gradiente até as
zonas esgotadas, fornecendo mais água para a raiz. Esse pro-
!! mence diferences, e, na realidade, as raízes podem movi-
memar água enue camadas do solo (Caldwell e Richards,
res na predição da evaporranspiração e da fotossíntese que
podem ocorrer em áreas de vegetação. como resultado do
dos poros, que podem re,ê-la por for- cesso simples se wrna muico m;Ús complexo porque, quanto 1986). Em áreas áridas, onde as chuvas são raras, JS cama- aquecimenrn global e de mudanças na precipi,açáo (Aber e
ças capilares comra a gravidade. Se os mais água for retirada do solo ao redor das raízes, maior será a das superficiais podem ser levadas à capacid.ide de campo, Federer, 1992).
poros forem amplos, como em solos arenosos, pane da água resistência ao seu fluxo. A primeira água que a raiz obcém, enquanto o restante do solo permanece no ponto de mur-
será drenada por grande distância, até encontrar um obscácu- quando e!J começa a rerirá-la do solo, é a de poros maiores, cha ou abaixo desce. Esse é um risco potencial na vida de
lo e se acumular como um aqüít'ero ou seguir seu caminho em pois eles 1 retêm com forças capilares mais fracas. Isso faz com uma plânwla, pois ela resulta da germinação em camadas 3.5 Nutrientes minerais
direção aos riachos ou rios. A água rerida pelos poros do solo que a água percorra apenas vias mais estreitas e tortuosas, au- superficiais úmidas, sicuadas sobre uma ma.ssa de solo inca-
comra a força da gravidade é denominada ·'capacidade de cam- mentando, assim, . 1. resistência ao fluxo. Desse modo, quando paz de proporcionar água para susrentar seu desenvolvimen- Para constituir uma planca, é preciso
po'' do solo. Esse é o limite superior de água que um solo a raiz retira água do solo com muira rapidez, a zona de esgota- to subseqüente. Em espécies que vivem em rais hábita.ts, mais do que luz, CO, e água. Os re-
livremente drenado recém. Existe, menos claramente defini- mento de recurso (ROZ; ver Seção 3.2.1.) coma-se estrita- SJo encontrados diferences mecanismos especializados de cursos minerais são c~rnbém necessá-
do, um limite inferior para a água, que pode ser usado no mente definida, e a água pode mover-se através dela apenas quebra de dormência, procegendo-as contra uma resposta rios. Os recursos minerais que a planta deve obrer do solo (ou
crescimemo vege,al (Figura 3.17). Ele é decerminado pela ca- lemamente. Por essa razão, as plantas com rranspiraçio rápida muito rápida à chuva insuficiente. da água do encorno, no caso de plantas aquácicas) incluem
pacidade das plantas de exrrair água dos poros do solo mais podem murchdf em um solo com suprimemo hídrico abun- O siscema de raízes que a planta estabelece no início da macronutriences (isro C:, aqueles necessários em quancidades
próximos e é conhecido como o "ponto de murcha perma- dance. A tlnezJ e o grau de rarnlficação do sistema de raízes rn:i. vida pode determinar sua responsividade J evenros fulU- relativamente grandes) - niuogênio (N), fó.sforo (P), enxofre
nenre" - comeúdo de águ.1 no solo em que as plantas mur- corn.1111-sc imporc.111ce~ na dcterminaç.io do .teesso d..1. plJ.nra à flJ:.. Em locais com grande pJrte da água pro\·en1ente de chu- (S). po<ássio (K), dkio (Ca), magnésio (Mg) e fmo (Fé) - e
cliam e sJ.o incapazes de recuperar-se. O ponto de murcha água no solo. v.1radas ocasionais sobre um substrato seco, unu plântula. cu10 uma sc'.íie de demencos-traço - por exemplo, mang1nês (Mn).
permanente não difere muico entre espécies vegetais de am- A águJ que chega à superfície programa de desenvolvimento invesce sua energia inicial em zinco (Zn), cobre (Cu), boro (B) e molibdênio (Mo) (Figura
bientes mésicos (isto é, com uma quancidade moderada de do solo pda chL1v..1. ou pelo derreti- uma raiz principal profunda, rerá pouco ganho de chuvaradas 3.18). (Nluirns desses elementos são também essenciais aos
.igua) ou encre espécies de plantas de lavoura, mas muitas es- menro d.1 neve n.1.o se distribui de subseqüentes. Por outro lado, um programa pdo qual J. raiz animais, embora elc:s os abrenham mais comumence sob for-
pécies nacivas de regiões áridas podem extrair quantidades signi- maneira uniforme. Em vez disso, ela principal é formada no começo da vida pode gar.rnrir um .1eesso ma orgânica em seu alimento do que como substâncias orgâ-
ficativamente maiores de água do solo. leva a c.inuda superficial à capacidade de c.impo, e um.1 conrínuo à água, em um ambiente onde as chuv.1~ rnrrencia.is nicas.) Alguns grupos de plantas têm exigências especiais. Por
Quando uma raiz rerira água dos poros do solo, ela cria chuva subseqüenre aprofunda essa camada no perfil do solo. de primavera preenchem um profundo reservarório no solo, exemplo, o alumínio é um nutriente necessário para algumas
zonas de esgoramento desse recurso ao seu redor. Essas zonas Isso significa que panes diferences do mesmo sistema de mas depois vem um longo período de seca. pceridófitas, o silício, para diaromáceas - e o selênio, para cer·
estabelecem gradientes de potencial hídrico entre os poros in- raízes podem enconrrar água rerida com forças completa- tas algas planctônicas.
As plantas verdes não obcêm seus recursos minerais como
3.4.2 Escala e duas interpretações sobre a um bloco único. Cada elemento penetra na planta indepen-
perda de água da planta para a atmosfera dencemence como um íon ou uma molécula. Cada um deles
tem suas propriedades características de absorção no solo e de
Existem duas maneiras que permitem analisar e explicar a per- difusão, que afecam sua acessibilidade à planta, mesmo ames
da de água das plantas para a atmosfera. Os fisiologisras vege- de ocorrer quaisquer processos seletivos de entrada junto às
tais remontam, pelo menos, até o trabalho de Brown e Es- membranas das raízes. Todas as plantas verdes exigem codos os
O,âmetros de Células
pequenas raízes bactenanas combe, em l 900, que enfatizou o papel do comporcamento elementos "essenciais" listados na Figura 3.18. embora não na
,----A-----.. ,--"--,. das estômatos na determinação da taxa de perd;i de água pela mesma proporção, e há algumas diferenças significativas entre
folha. Hoje, parece óbvio que, em uma superfície e~senoal- a composição mineral de tecidos vegetais de espécies diferences
1.000 100 10 õ0,01 0.001 0.0001 Tamanho mence impermeável, a frequência e as abercur.1s de estôm:ltos e entre panes diferences de uma única planta (Figura 3. l 9).
do poro concrolarn a taxa de difusão da água do incerior ..ia folha para Muiros dos pancas levantados
(µm)
o excerior. Porém, os micrometeorologiscas dd"endern um pon~ sobre a água como um recurso e sobre
to de vista completamence diferente, enfocando J vegecaçâ.o .is raízes como excratores desses recur-
--0.001 --0.1 -1 000 Bars como um rodo, em vez de um csrõmaco, um..1. folhJ. ou uma sos se aplic.rn1 igualmente aos nutrientes minerais. As Jiferen~
pl.rnra. Sua abordagem enfatiz.1 que J águ.1 sed perdida por ças estratégicas em progr.1mas de desenvolvimento podem ser
c:v.1poraç.ío apenas se hou\'er calor larence Jisponi\'él. F.s-.;e pode reconhecid.is enrre as raízes de espécies diferentes (Figura 3.20a).
provir da r,1diação solar receb1d;i Jiretamence peLi, tólf1Js rrJn<;- Porém, é ;1 c.ipacidade dos sistemas Je raízes par.1 sobrepujar
'5 pF
piranres ou como energia "de advecção", isro t: . .._:1lor recebido programas escritos e o seu caráter oportunisca que o.s cornJm
4 '
' como radiação solar em alguma outra parte. m.1~ rr.i.mporcado exploradores dêcivo.s do solo. A maioria das raízes se alonga
no ar em movimento. Os micromeceorologisus desenvolve- ames de produzir raízes laterais, e isso garJnte que a explor.tção
Água drena hvremente Água disponível Agua Agua md1sponiveJ
por grande distância disponível
ram fórmulas parJ a raxa de perda de água, .1, qu..1.is sáo baseJ- preceda a utilizaç.1.o. As raízes ramificadas em gera.1 emergem ra-
para muitas das inceiramence nas condições meceorológiCJs: ,..e[o...:idade do dialmence da raiz-mãe, as raízes secundá.rias parrem dessas primj-
espec1es nativas
vento, radiação solar, temperatura, encre outra,. Ele~ ignorJm ria.s e: as rerciári.1s 11a.\Cem de secundárias. Essas regr.ts reduzem a
as esp<:cies de plantas e sua fisiologia, mas, .1pe,.1r <l1.\so, <;eus chance de duas r~unificações da mesma raiz partilharem da mes-
FIGURA 3.17 Relação entre três medições do status hídrico no solo: (i} pF, o logantmo da altura (cm) da coluna de água que o solo suportana; modelos são efic1zes para predizer a evaporaç:'i.o de água da ma pMticula do solo e de cada uma entrar na RDZ da outra.
(11) status hídrico expresso como atmosferas ou bars; (1i1) diâmetro dos poros do solo que permanecem preenchidos de água Na figura, os
vegetJçáo que não está padecendo de )t'CJ.. NenhumJ. das As raízes passam arra,·és dt: um meio em que encontram
tamanhos dos poros preenchidos de âgua podem ser comparados com os tamanhos de pequenas raízes. pêlos de raízes e células bacteria-
nas Observe que, para a ma1ona das espécies de plantas de lavoura. o ponto de murcha permanente situa-se em torno de · 15 bars (-1 ,5 x 1Q6 abordagens é cerra ou errada: qual adorar depende dJ. ques- obscáculos e se depaum com heterogeneidade - manchas de
tâo J ser formulada. Os modelos em grande t:'.'>LJl.t b..1.seados nutrientes vari;rndo na mt'.sma escala que o d1àmetro de uma.

J
Pa). mas em muitas outras espécies ele alcança -80 bars (-8 x 106 Pa). dependendo dos potenciais osmóticos que as espécies podem
desenvolver. no climJ., por exemplo, provavelmence são lh rn.1i:. relevan-
"" Cm O cm de ««• meom. "'"' "" ,oo, """"'"' "'" -

1
76 PARTE 1 ~ ORGANISMOS CAPÍTULO 3: RECURSOS 77

D Essencial pa,a grupos restritos de organismos I


(a)
Quercus alba Quercus illcifol,a Pmus rígida Vaccmium vacillans
Essencial para a maioria dos organismos I ~~( ~~ ~li~::~:~:~,:::::1r;sp:r~~~~ma1s superiores
D Essencial pa~ a maioria dos
organismos vivos
{e) Cobalto - Essencial para ruminantes e leguminosas fixadoras de N
(d) Flúor - Benéfico para a formação de ossos e dentes
I!
D __J ~~) ~::n~o~n~~g:~:~:;~: :upenores?
Esse::•: para a n : : _ _ _
(g) S1licio - D1atomãceas
(h) Vanâdio -_ Tumcados. equinodermes e algumas alg·ª·.s_ __
J !

-- ~

1 2 (b)
H He
Madeira Casca Raízes
3 4
(a) 5 7 8
,19 10
6

ô~
L, Be B e N o F Ne

11 12 13 g)14 15 16 17 18 :
Na Mg AI s, p s CI A,

19 21 (h)23 l(b)24
,,, 27 31
(1)34
35 36
K
20
Ca Se
22
T, V Cr
25
Mn
26
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29
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33
As Se s, K,
,., -~. <.~.-
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DN
41 43 44 47 e)53 54
:,.t;.?:•·' Dp
37 38 39
'ºz, 42 45 46 48 49 50 51 52
QK
s,
.Mg
Rb y Nb j Mo Te Ru Ah Te 1 Xe
Pd Ag Cd ln Sn Sb
1 1
Folhas Oca

.F,
Flores Frulos
55 56 57 72 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86
Cs Ba La HI 73
Ta 1 w Re Os 1, Pl Au Hg TI Pb s, Po A< Rn
[ili s
87 88 89
F, Ra Ae
D Na

58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71
Lantanonas
Ce P, Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho E, Tm Yb Lu
1

91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103


Actmonas 90 1
Th Pa u Np Pu Am Cm Bk CI Es Fm Md No L,
FIGURA 3.19 (a) Concentr~ção relativa de_ ~ános. minerais em indivíduos mte1ros de quatro espec1es vegetais, na Floresta Brookhaven.
Nova York. (b) Concentraçao relativa de vanos minerais em tecidos diferentes do carvalho branco (Quercus alba), na Floresta Brookha-
ven. Observe que as diferenças entre as espécies são muito menores do que entre as parte de uma única espécie {segundo Woodwell et
FIGURA 3.18 Tabela periódica dos elementos. mostrando aqueles que são recursos essenc1a1s na vida de organismos distintos. ai, 1975).

mat;icJo, seixos e gr:l.os de areiJ, uma raiz vivJ ou morra ou o De todos os nurrienres vegerais imporr:rnces, os nitratos
corpo de um verme em decomposiçJ.o. Visro que um.1 raiz sr movem mais livremenre na soluçJo do solo e, como a águ-1, A ;)CJluçJ.o que flui através dos PJra recursos que possuem coeficiemes de difusão bai-
passa arra\·és de um '.-.olo heterogêneo (e wdos os solos são são transportados de longas disr.l.ncias da raiz. Porranro~. ns poros do solo para a superfície da raiz xos, como o fosfaro, as RDZs serão esrreiras (Figura 3.21);
heterogêneos, qu.rndo observ:idos a p;irrir da "visão do olho nitr.uos são os mais móveis em solos próximos à capaciJ.ide rem uma composição miner.11 disror- raízes ou pêlos de 1aízes extrairão poo/) de um recurso em co-
J.1 r;ii1,"), ela responde com ramifie1çJo. livremente em zonas de campo e em solos com poros amplos. As RDZs para nirr:t- cida, em comparação com a que está mum (isro é, há competi\J.o) somenre ~e estiverem muiro pró-
de suprimemo de recursos e escassamt:IHe em nunch:is mc:no,;; cos são, encão, ampl.ts. e aquelas produzidas ao redor de r.l11es porenc1.1!mente disponível. Isso acon- ximos. Esrim:1.~se que m,iis dr 90~·() do fosfarn .1bsorvido por
compensadoras (Figura .3.2.0b). O comporramenro vai depen- vizinhas rêm mais prob,lbilidade dr sobreposição. Como con- tece porque dit~renccs íons minerais es[Jo reridos no solo por um pêlo de raiz, em um período de qu.uro dias, provêm Je
der eh capacidade 1nd1v1du.ll d.1 pequeru raiz em reagir. em seqüênci1, pode ocorrer competição - mrsmu enrre raíze~ Je forç.1s di\ttnr.ts. Íoth con:o nirr.Hu. cák:io e sódio. em um solo unu Ji:\cânci..1 de O. l mm d.1 superfície do solo. Porranro. duas
cscJla exrrenumeme loc:iL às condições l.jlle ela enconrra. uma única plJnra. agricoL1 férul. podem ser rransport<1dm par.1 J. superfície JJ r.1ízes somente rerir;:trão o mesmo recur)O de fosfato nesse pe-
Existem forte'.) imerações entre O conceirn de RDZ é importante não ::ipenas para vi- rJiz mai ... rJ.pid,1memc do que s.J.o acumulados no corpo d.t ríodo, ~e J disr:u1ei:1 entre elas for menor do que 0,2 mm. Um
águJ e nutrientes como recursos pa.ra sualizar como um organismo intluenci,1 a disponibilidade de pl.rnrJ.o~ conteúdos de fosfaco e podssio da solução do ~olo, rxcenso sisrema de raíze~. baseante esp.tçado, rende a maximi-
o crescimenro vegeCJl. As raÍLes não recursos para um outro, mas tJmbém pHa entender como a ao comrJnu, com frequt!:ncia sJ.o insuficientes para as necessi~ ZJr o acesso ao nitrato, e um sistema intensamente ramificado
crescerão livremente para as zonJs do arquitetura do sistema de raízes :ifera a captura desses recur- cLides d.1s pLrnras. O fosfarn esrá fixado aos colóides do solo e escreiramente espaçado tende a maximizar o :1cesso J fosta-
rnlo sem disponibil1d.1de de igud, e . .issim, os nurrienres n:io sos. Para uma planta crescendo em um ambienre em que a por supertk1~'i porudor:1s de íom c.ílcio, alumínio e férrico, e ros (Nye e Tinker, l 977). As plantas com sistemas de r:iízes
serão utilizado, ne,~.ts zonas. As planus priv.tdas de minerais água se move com liberdade p.ira a superfície das raíze~. aque- a rax.1 com que ele pode ser exrníJo pelas plancas depende dJ que Jpresenram diferenç:ts morfológicas podem. porranro, ro-
essenciais crescem menos e. enr.io, náo conseguem alcançar les nurrienres livres em solução se movem com a água. Eles L-lX:l com qur sua concentração é reabastecida pela liberação lerar níveis di~~rence.s de recursos minerais do solo, e espécirs
volumes de solo que contêm ~ígua disponívd. Existem intera- serão capturados de forma mais efetiva por sistemas de raízes dos colóiJr:,. Em soluções JiluídJs, os coeficientes de difusáo discintJs podem esgotar recursos minerais discinros em dife-
ções similares entre recursos minerais. Uma planra carenre de amplo'.), não-inrimamenre ramificados. Quanto menos livre- de íons n.l0-.1bsorvidos, como o nitraro, s;;io da ordem de l Q·í rences quantidades. Isso pode ser de gr.rnde importância parJ.
nitrogênio exibe um crescimenrn precirio das raízes e, por- mente a água se move no solo, ranro m.1is reduzicL.1s serão .1:, cm~ s· 1; p;iu citíons, como cálcio, magnésio, amônia e potás- permitir que uma dtversidade de espécies vegetais coabite a
ranro, nJo consegue ··forragear'' em ;Í.reas que possuem fosfaco RDZs e sed ranro nuis compens:idor pMa a plantJ. explor.1r o ,io. eles s.lo 10·- cm 2 'i·!. A raxa de difusão C: o principal fator mesma área (a coexistênci.1 de competidores é discurida nos
disponível ou .ué mesmo contêm mai~ nirrogênio. solo de forma intc::nsiva, em vez de rxrensiv.1. que derermina a .tmp!iruJe de uma RDZ. Capírulos 8 e 19).
r CAPÍTULO 3: RECURSOS 79
78 PARTE 1 - ORGANISMOS

las rornam-se os recursos pa.ra os or- provavelmence, generalistas: eles não podem depender da dis-
(a) (b) ganismos heterotróficos (decomposico- ponibilidade de um só recurso alimentar durante a sua vida .
- ,:::erc:ní::s
Se um consumidor tem um tempo de vida currn, aumenta a
.\ res, parasirns, predadores e pasradores),
que participam de uma cadeia de evenrns em que cada consu- probabilidade de especialização. As forças evolutivas podem,
midor de um recurso rnrna-se, por sua vez, um recurso para então, ajustar o rirmo das demandas alimentares do consumi-
um outro consumidor. Em cada elo nessa cJ.deid Jlimentar, a dor ao ritmo da sua. presa. A especialização também permite a
discinção mais óbvia é entre saprótrofos e predadores (defini- evolução de esrrucuras que tornam possível lidar de modo efi-
dos genericamente). ciente com decerminados recursos - esse é especialmente o
0,5 FIGURA 3.20 (a) Sistemas de raízes de plan-
Os saprócrofos - bactérias, fungos e anlmais detrirívoros caso das peças bucais. Uma estrutura como o escilere de um

.
I
"'m 1,0
tas em uma típica pradaria de gramíneas
baixas. após uma série de anos com preci-
pitação média (Hays, Kansas). Ap = Aristida
purpurea; Aps = Ambrosia ps1/ostachya; Bd
{\·er Ca.pímlo 11) - uciliz.am como alimenro outros organis-
mos ou parces de outros organismos, mas somente após estes
afídeo (pulgão) (Figura 3.22) pode ser incerprerada como um
produco requintado do processo evolutivo que permitiu ao

f
õ 1,5
= Buchloe dactyloides; Bg = Bor,teloua gra-
cilis; Me = Malvastrum coccineum; Pt = Pso-
rerem morrido, ou eles consomem resíduos ou produms de
secreção de um ouuo organismo.
animal o acesso a um recurso alimentar valioso - ou como um
exemplo de uma roca excremamence especializada, que rescrin-
à: ralia tenuiflora; Sm = Solidago mollis (segun-
Os predadores usJm como ali- giu os alimencos que os afídeos podem consumir. Quanro mais
do, Albertson. 1937; Weaver e Albertson.
2.0 especializado o recurso alimentar exigido por um orga.nismo,
1943). (b) Sistema de raízes desenvolvido menta outros organismos \"ivos ou

2.5 J (
)
\
por uma planta de tngo. crescendo em um
solo arenoso contendo uma camada de ar-
gila. Observe a resposta do desenvolvimen-
to das raizes ao ambiente tocaltzado que elas
panes de outros org,rni~mos \ ivos. Ü;:,
pn:dJdores verdJJeirm m,H<Im suas
presas. Os exemplo;) incluem o puma
nuis ele é forçado a viver em m.rnclus onde se encomrJ o
recurso ou gasrar rempo e energia lld procura <lde emre outros
recursos. Esse é um dos cusrns da especial1z.1ção.
3.0 ..1 encontram (cortesia de J. V Lake). consumindo um coelho, mas também consumidores que po·
de-mos não referir como predadores em linguagem habirual:
umJ pulga-d'água consumindo células de fimplânccon, um 3.7.1 O conteúdo nutricional de plantas e
esquilo comendo uma boloca e mesmo um:i. plJnca insetívora animais como alimentos
-3.6 Oxigênio case decompõe em um ambieme aquático, a respiração mi- ,tprisionando um mosquirn. O pastejo pode umhém ser con-
crobiand demanda oxigênio, e essa "demanda biológica de siderado como um tipo de predação, mas o organismo usado Como um ''pa.core" de recursos, o cor-
O oxigênio é um recurso para animais e p!Jnras. Somente oxigênio" pode restringir os ripas de animais superiores que como alimenco (presa) não é morco; someme p.ure da presa é po de uma planta verde é completa-
poucos procariotos podem viver sem de. Na água, a difusáo e ainda persistem. As altas demandas biológicas de oxigênio são consumida, deixando o restante com pocenciJl de regenera- mente diferente do corpo de um ani-
a solubilidade do oxigênio são muiw baixas e, assim, ele cor- características de águas paradas com depósitos de serrapilheira ç.ío. Os pascadores alimentam-se de muicas pre'.'taS duranre seu ma.!. Isso tem um tremendo efeiro
oa-se limitante mais depressa em ambientes aquáticos e inun- ou poluemt:s orglnicos e rornam-se mais agudas duranre pe- ciclo de vida. A verdadeira predação e o pasrejo s.ío discutidos sobre o valor desses recursos como alimento potencial (Figura
dados. Sua solubilidade na águJ também decresce rapidamen- ríodos de temperarura alta. detalhadamente no Capírulo 9. O parasitismo umbém é uma 3.23). A diferença mais importante é que as células vegetais
te com o aumenm da remperarura. Quando a nuréria orgâni- Dev1Jo à lentidão com que o oxigênio se difunde na forma de predação, em que o consumidor em geral não maca são envolvidas por paredes de celulose, lignina. e/ou ourros
água, os .rnimJis aquáticos devem manter um fluxo contínuo o organismo do qual se alimenta; porém. diferentemente de materiais esrrmurais. São essas paredes celulares que dão ao
de :ígua ~obre JS suas superfícies respiratórias (p. ex., as brân- um pasrJdor, um parasiro se alimenta de apen,lS um ou muico material vegetal seu elevado conteúdo em fibra. A presença de
quias dos peixe~). possuir áreas de superfície grandes em rela.- poucos organismos hospedeiros (ver Capítulo 12). paredes celulares é também, em grande pane. responsável pelo
ção ao volume do corpo (p. ex., muirns crustáceos aquáticos Uma distinção irnporca.nce entre con reúdo elevado de carbono nos cecidos vegetais e pela razão
rêm Jpê11Jice) leves e grandes), [er pigmentos respiratórios animais consumidores é se eles são es- a.Ira do carbono em relação a outros elemenros imporranres.
especi:1liza.dos ou um.1 caxa de respiração lema (p. ex., as larva.s peci,lliscas ou generalisus em suas die- Por exemplo, a razão carbono:nitrogênio (C:N) de cecidos
do mo~qu1co-pólvora \"(vendo em águas parada.s e ricas em tas. Os generalisr..1.s (espécie, polífizg,u) vege[ais em geral excede 40: l, em comparação com as_ razões
nutricnrcs) ou rewrna.r continu.1mente à superfície para. respi- consomem uma ampla variedade de espéc1es-pres.1. embon de cerca de l O: l em bactérias, fungos e ~mimais. Diterenre-
rar (p. ex., balens, golfinhos, ran.1.rug:1s e tritões). muitas vezes tenham claras preferências e um.1 ordem de esco- mente das planra.s, os tecidos animais n.lo contêm ca.rhoidra-
:-\s rúze-; de muitas p!Jnras superiores náo conseguem lha, quando exiscem alrernacivas disponíveis. O:s especi.1liscas ros ou fibras esrrururais, mas s:'to ricos em gordur:1 e, em espe-
cres.cer cm :.olo inundado, ou morrem, se o lençol freático se podem consumir somente partes de sua pre-;a, embor.1 eles cial. proteínas.
dev.1 Jpt"" ..:b~ terem penecr.tdo profunda.mente. Essas reações explorem muít:is espécies. lsso é nuis comum entre herbívo- As di"ersas partes de uma plan-
poden1 ,n resposr.1s d1reras J. deficiência de oxigênio ou à ctcu- ros. pois, conforme veremos. partes diferemes de !Jl.intas (êm [J têm composições muim diferences
mulJÇ-lll d-: ga.q~s. como acido sulfúrico, metano e eúleno, composições complecamente disrincas. Assim. muius Jves se (Figura 3.23) e, assim, oferecem recur-
produzido.., por nucrorga111smos empenhados na decomposi- e.speLia.lium em comer sementes, embora raramente fiquem sos imeirameme distintos. A casca, por
ção JnJeróbi..::a. :.1e~mo se as raízes não morrem com a carên- restritas a uma espécie em particular. Ourros especialisras, en- exemplo, é composta. principalmente
cia de oxi~ênio. e\Js podem p.1rar de absorver nurrienres mi- rret:1.nto, podem se alimentar de apenas umJ faixa estreita de de células morras com suberina e lignin,t em suas p:uede~ e é
nerJÍs. provo..::anJo deficie"ncias minerais nas plantas. espécies intimamente relacionada.s ou mesmo umJ só espécie totalmente inúril como alimento para J. maioria dos herbívo-
(nesre caso, eles são denominados monó.fi1gn;). Os exemplos ros (mesmo as espt'.cies do "besouro-bicudo" ~ bdrk bt•t:rfe - se
.-.ão JS larvas da mariposa escarlate (que consomem folha.,, ge- especializam em consumir a camada cambial nucririva ime-
f.-i 3.7 r.>gar:ismos como recursos alimentares m1s florais e caules muim jovens de espécies de rasneira [Se11e- diatamente abaixo da casca). As concentrações nui, ricas em
1cm
áv;) e muitas espécies de parasicos hospedeiro-específicos. proteínas vegecais (e, porcanco, de nitrogênio) estão n_os. rne-
FIGURA 3.21 Radioautograf1a do solo em que foram cultivadas plân·
lulas de mos1arda. O solo foi supndo com fosfato rad,oahvamente
o~ organismu~ autotrdficoi (planras verdes e cerras bactérias) lv1uitos dos padrões de uso de recur:,os c..·ncontraJos nos riscemas das gemas, nos ápices caulinares e nas .txilas tolures.
assimibm rtcur,os inorg.inicos, formando "pacO[es" de molé- animais refletem os diferentes tempos de vida do consumidor Não é surpresa que, em geral. as gemas sejJm fortemente pro-
marcado ( 32 PO.i ), e as zonas examinadas pela atividade das raízes
mos{ram-se n1hdamente brancas (segundo Nye e Tinker, 1977) cul.ts org.ln1LJS (proteínas. carboidraros, etc.). EssJs molécu- e o que ele consome. InJivlduos de espécies de v1dJ longa. são, tegidas por escamas e defendida.s da ação de herbívoros por

1
80 PARTE 1 - ÜRGANISMOS
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CAPÍTULO 3: RECURSOS 81
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1
(a)
l
·!
Madeira Casca Pecíolo Folha

/
- E m direção
ao mteslino
mécllo

1 Seiva do rloema
( Yucca flacc,da)

- - Curvatura labial
Peças buca,s - - - -- - \,
perlucantes /;
Alimento sendo
sugado do tloema
Fungo
Fruto (Agancus campesrns)
Sementes
Nervura da folha §3 Traje to do eshlete com estilete
~ Trajetos do estilete vazios

Secção
transversal
da folha

Tubérculo

FIGURA 3.22 Estilete de um afideo penetrando nos tecidos do hospedeiro e alcançando as células do floema ncas em açúcar. nas nervuras
foliares. (a) Peças bucais do afideo e secção transversal de uma folha (b) Um estilete. mostrando seu trajeto tortuoso através da folha
(segundo T1allrngi1 e Hogenesch. 1993)

,icúleos e e~pinhm. As semences em geral s.ío secas e providas para escolher entre uma dietJ. de !a-
D Mmera1s
de reservas ricas em amido ou óleos, podendo, rambém, pos~ garras, bacalhau ou carne de veado.
O Gordura
suir arrnazenamenro <le proteínas. Os frutos açucarados e car~ As partes podem ser diferememen(e D Carbo1dra!os
nosos são recur<;m fornecidos pela planra como "pagamenro" distribuídas (e o sabor pode ser diferen- Gado Pei)ce Ili Fibras
aos animais que di,;per:-.,un JS semenres. J\[uiro pouco do ni- te}. mas os conreúdos são essenoalmen- D Proteinas
trogênio dJ. planta é ··~.tsm" nessas recompensas. ce os mesmos. Os carnívoros, enrão, não se defrontam com pro- • Xilanos e outr~s
compostos qu,micos
O valor diecérico dos diferenres tecidos vegerais é tão blemas de digestão (e eles variam pouco em seu sistema digescó- da madeira

diverso que n:i.o surprl'ende que a maiori..1 dos pequenos her- rio), m<1s enfrentam dificuldades em enconrrar, capturar e nlJ-
hívoros seja e.<,pec1Jl1sL1 - não apenas quanco a decermin..1das nejar su.1 presa (ver Capítulo 9).
espécies ou grupo<; de pLrnus, mas quanto a parres especiais Detalhes das diferenças à p.ure, os herbívoros que con-
d:1 pl.1nt,1: mcristem,t,, lcilhas, raíz.es, oules, etc. Qu..1nco me- somem matéria vegetal vivJ - e saprócrofos que con.'>ornem
nor for o herbívoro. mais detalhada é a esc..1b de heterogenei- macériJ vegeul morc..1 - utiliz.1m um recurso alimentar í!LO Ganso
Camarão
dade da pia.ma na qu.1! de pode se especializar. Podem ser em carbono e pobre em proreina. Port:.lnto, a passagem dJ
encontrado.'> exemplos extremos nas Lirvas de diferentes espé- planra para o consumidor envolve um.1 queima massiva de
cies de vespas das gJ.lh:1:,. do carv.1lho, algumas das quais po- carbono, com dimimúção da razão C:N. Este é o domínio
dem se especializar em folhas jovens, algumas em folhas ma- da esrequiomerria ecológica (Elser e Ur.1be, 1999): a análi-
duns, algumas em gem.1s \"egetarivas, algumas em flores csca- se das rescriçôes e conseqüências em inrerações ecológicas
minadas e outras em tecidos de raízes. do balanço de massa de elemencos químicos múltiplos (em
EmborJ. as pbnu, e suas p.1rce.<, possam diferir quan- particular as razões carbono:nicrogênio e carbono:fósforo
to aos recurrns que oferecem a porencirtis consumidores, a - ver Seções l l.2.4 e 18.2.5). Os principais producos resi-
composição dos corpos de herbívoro.::i discinros é muiro se- duais de organismos que consomem pi.incas são composros
FIGURA 3.23 Composição de diferentes partes vegetais e dos corpos de animais que servem de recursos alimentares para outros organismos
melhanre. Em termos de conteúdo de procefna, carboidra- ricos em carbono: CO,, fibras e, no caso de afídeos, por (dados de fontes diversas)
ros, gordura, ;igua e m1ner..1is por grama, há muiro pouco exemplo, substâncias ri~as em carbono gotejando de árvo-
82 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 3: RECURSOS 83

res infestadas. A maior parte das demandas de energia dos ser limiunre~. Contudo, a maior pane :-, es:'.,'.L.r-.;:::; Em herbívoros \'errebrados, a espinhosas do azevinho não são comidas por larvas da mari-
carnívoros, ao contrário, é obtida de proteína e gorduras na ma1.y,a cos
daquela energia só fica disponível dire- ·.c.s:iné:::5 G2 taxa de ganho de energia a panir de posa-do-carvalho (Lnsiocampa querem), mas, se os espinhos
da sua presa e, como conseqüência, seus principais produ- tameme p:.1ra os consumidores se eles ti- :o-:er-·ad:..·s diferences recursos dierericos é derer- forem removidos, as folhas são consumidas rapidamence. Sem
ros de excreção são nitrogenados. verem enzimas capazes de mobilizar celulose e ligninas, sendo minada pela estrucurJ do intescino - dúvida, um resulcado semelhante seria alcançado com raposas
O diferencial entre plantas e de- que nJ esmagadora maioria das espécies dos reinos vegecais e em particular, o equilíbrio entre uma câmara anterior de mis- como predadores e ouriços como presas. Em muitos inverte-
composirores microbianos, quanco às animais faltam essas enzimas. De mdas as muitas rescrições rnra em que ocorre fermentação rnicrobi.1n.t (AF), um cubo brados planctônicos, pequenos habitantes de lagos, o desen-
razões C:N, também significa que os que colocam limites sobre quais organismos podem exercer de conexão em que ocorre digescão - mas 11Jo fermenração volvimento de espinhos, cristas e outros apêndices, que redu-
efeitos a longo prazo do aumento de determinada J.cividade, a deficiência em desenvolver enzimas (D) - e uma câmara posterior de fermen raçJo, o cólon e o zem sua vulnerabilidade à predaçáo, pode ser induzido pela pre-
CO, (ver Seção 3.3.4) não são tão diretos como se poderia celulolíricJ.s é um especial enigma evolutivo. É possível que ceco (PF). Os modelos de cais sistemas digestivos Je rrês com- sença de um predador. Por exemplo, o desenvolvimento de espi-
imaginar (Figura 3.24): isco é, a biomassa vegetal não necessa- procariorns celulolícicos, habitantes do intestino, tenham es- partimentos (Alexander, 1991) sugerem que a grande AF, a nhos é escimulado na descendência de rocíferos braquionídeos,
riamente se torna aumencada. Se os próprios micróbios são tabelecido elo rapidamente ímimas relações "'simbióticas" com pequena D e a pequena PF (p. ex., o ruminamt:) dariam ga- incluindo Kemtelfa cochkaris, se o organismo materno foi cultiva-
limitados pelo carbono, então o aumenco das concentrações herbívoros (ver Capículo 13) que houve pequena pn;ssão de sele- nhos próximos ao ótimo a parcir de alimenrn pobre em qua- do em um meio condicionado pelo rotífero predador, Aipl.aclma
de CO,, à pane de seus efeitos diretos sobre a planta, poderia ção para estes desenvolverem suas próprias celulases (Martin, lidade. A grande PF. como nos cavalos, é mais apropriada para priodo11ta (Stemberger e Gilbert, 1984; Snell, 1998). Em uma
estimular a atividade microbiana e tornar outros nutrientes, 199 l ). Hoje se sabe que muitos insetos produzem suas próprias alimemo com menos material de parede cduLu e mais conteúdos escala ainda menor, muicas superfícies vegetais exi~m cricomas,
especial o nitrogênio, disponíveis p~ua as plancas e, com isso, cdubst:s, mas .1 imensa m.úoria depende de simbionces. celulares. Para a.limemo de qualidade muim ,lira (unu proporção que, em algumas espécies, possuem paredes celulares espess:t,;;, for-
intensificir o seu crescimenro. Experimentos de curco prazo l;m,1 \·ez que a n1.1ioriJ dos anim.tis n.ío possui cdulases. muim alta de conteúdos celul.ues e pouco m:Hcri.1! Je p.1rede mando ganchos rijos ou armJdilhas de insems.
rêm demons(r.ado esse tipo de ete'iro sobre' comunidades de o materul J.1 parede celul.tr de planus impede o acesso de Ll:lular). o incescino ócimo tem D longa e nJo hj :\F (JLI PF. Qualquer cJraccerístlca que au-
decomposirores. Por outro lado. os decompositores podem ser enzin1.1s digestivas aos conteúdos das células vegetais. Os arns Elefantes, lagomorfos e alguns ;oedores ..:ornem suas pró- mence o dispêndio de energia por pane
limirados pelo niuogênio. inicialmente ou seguindo um pe- de mascigJç.i.o pelos mamífúos pastadores, de cozimento pe- pri,1s fezes e, assim, duplicJ.m a distância per..:orrid.1 pdo re- de um consumidor n.1 descoberta ou
riodo de aumento do crescimento vegetal, durante o qual o los humJnos e de moagem lld moela d.1s aves permitem às curso alimentar acra,-es do sistema digestório. Is~o permite têr- captura de um icem alimentar - a cas-
nicrogênio se acumula na biomassa vegetal e na serrapilheira. enzimas digesrivas cer acesso mais facil aos conteúdos celula- memaçáo e digestão adicionais, mas também possibilica redu- ca espessa de uma noz ou o cone fibroso de um pinheiro - é
A acividade microbiana. então, sofreria redução, diminuindo res. Os carrii\·oros. ao contrário, podem engolir seu allmenw zir deficiéncias dietéticas (p. ex., de virami,us) media me a sín- uma defesa, se, como conseqüência, o consumidor a consome
a liberação de nU[rientes para plantas e potencialmente impe- com mais segurança. tese microbiana. Esses remas são retomados n.1 Seçio 13.5. menos. A plama verde não usa seus recursos energéticos para
dindo o estímulo ao seu crescimemo, a despeito das elevadas con- Quando as panes vegetais são decompostas, o material fugir e, assim, pode cê-los em maior disponibilidade p.ira in-
centrações de co.'!. Esses, codavia, são efeims de prazo mais lon- com alto comeúdo de carbono é convercido em corpos micro- vestir em esuucuras defensivas ricas em energia. Ném disso, é
go e muim poucos dados foram colecados para podermos detec- bianos, com um conteüdo de carbono relativamente baixo - 3.7.3 Defesas físicas provável que a maioria das plantas verdes seja relativamenre
tar sua datação. O debate mais amplo sobre "estoques de carbo- .is limitações do crescimento e da multiplicação de micróbios superabastecida de recursos energéticos, podendo utilizá-los
no" locais e globais é realizado na Seção 18.4.6. são de alguns recursos diferences do carbono. Assim, quando Todos os organismos sio potencial- nJ formação de envolrórios de sementes e espinhos lenhosos
os micróbios se multiplicam sobre uma parte vegetal em de- mente recursos alimemares para ou- em caules - principalmente de celulose e lignina -, protegen-
composição, eles retiram nitrogênio e oucros recursos mine- (rü~- Desse moda, não é surpresa que muiros organismos te- do, assim, nos embriões e meristemas, as autênticas riquezas:
3.7.2 Digestão e assimilação de matéria vegetal rais d.is suJ.s adjacências e os incorporam aos seus próprios nham desenvolvido defesas físicas, químicas, morfológicas e/ os escassos recursos de nitrogênio, fósforo, potássio, etc.
corpos. Por essJ. razão, e por ser o tecido microbiano digerido ou comporcamencais que diminuem a chance de um encontro As semences correm maior ris-
As grandes quamidades de carbono fixado em materiais vegetais e Jssimilado com mais rapidez, o detrito ,,egetal mais rica- com um consumidor e/ou aumentam a chance de sobreviver co de predação quando recém-ama-
moscram que eles são potencialmente fomes ricas em energia. meme colonizado por microrganismos e, em geral. preferido tm tal encontro. Todavia. as interações podem não terminar durecidas e ainda ligadas às plancas-
Outros componentes da die,a (p. ex., nitrogênio) é que podem por ,mimais derritívoros. nesse encontro. Um rt:curso alimentar ma1~ bi:m-ddêndido mãe, em um cone ou ovário, mas seu
exerce uma pressão de seleção sobre os consumidores que bus- valor praticamente desaparece cão logo a cápsula se abre e
c..1.m superar a defesa; emrecanm. ao superJr unu determinada elas se dispersam. Por exemplo, as sementes de p.apoub~
defes.1, em vcr de defesas de oucr3s espécies, l: provável que o silvestres são liberadas através de uma série de poros situa~
i Aumento das
C é limitante ~ concentrações de C0 2 , consumidor se torne rda(ivamenre especializ.1L{o naqude recurso do:, no ápice da dpsula, quando esta é agicada pelo venco.
aos micróbios - "--lue Jepoi.s se ~ubmete a uma pressão p,trricul..tr p:ua defender- Dua:, dt:ss.1s espécies, Atpaver rhoe1ts e/>. dubium, abrem os
Acumulação liquida de N na ~e de um consumidor parricubr. e .1:.sim por diante. Porranto, poros tão logo a semenre esteja madur .1 e, muir.1s vezes, as
biomassa vegetal ou na serrapilheira
pude ser considerada uma inreraçJ.o conrinu.1J.1 entre cunsumi- cipsul.is :.e rorn:un va1.i.1s no dia seguimr. Duas oucras c'~-
f '
Crescimento Crescimento
__ ~ N torna-se limitante
Cresc:mento J do1 e organismo consumid(I, ..:rn que a evolu~·.iu de um depende pécies, !'. ,ll-ge11w11c' e I'. /J)'brid11m, possuem semc1Hes gr.rn-
V-~~~~1- v_,=!_~!- -- aos m,crôbios ..,.e9e!~I
dJ evoluç.io do outro: uma "corrid.1.1rnumenrÍ.\u·· e\·o!uriva (Ehr- des em rel.içJo ao tamanho dos poros da cápsula. e :1 dis-
' Armazenamento ... lich e R.wen, 1964), que, na sua formJ. mais excrc111.1, envolve um pers3o é um processo lemo durance os meses de outono e
t 01spornbilidade
e
de no solo

'
Crescimento
A~~~~:N
.
Mineralização
t deC
M1nerahzação
de nutnenfes
FIGURA 3.24 Feedback potencial. positi-
vo e negativo, a partir do aumento das
concentrações de C0 2 . para o crescimenio
vegetal. para a at,vidade microbiana e de
p.1r de espécies co-adaprada:i em luta permanenre
Evidencemence. os recurso~ d.is planra:, ·.trdes (e dm au-
córrofos em geral) náo são vivos e, porta11to, nJ.o podem de-
inverno. As cápsulas dessas especies são defendidas mediante
espinhos. A papoula cultivada (P. somniferum), ao contrá-
rio. foi selecionada por ficotecnisras p3.ía náo dispersar suas
microbiano de nutrientes '
Crescimento Oecompos,ção I
volta para o crescimento vegetal As setas
senvolver defesas. A coevoluçáo rambém n.lo ~ pos,;;ível t:nrre semences - os poros das cápsulas não se abrem. Por esse
__,__ microbiano da serrap1lhe1ra t
entre os descritores indicam causalidade;
as setas pretas ao lado dos descritores
1nd1cam aumentos ou diminuições da ati-
organismos decomposimres e seus recurso:. .dimencares mor~ motivo. as aves podem ser uma praga dt:vastJdúrJ da pa-
Atividades tos, embora bactérias, fungos e ..1.nimais derrirívoros muitas poula cultiv.1da; elas rompem as cápsulas em busca de: ali-
mterobianas' vidade. A seta trace1ada que vai do aumen-
to das concentrações de CO, para o cres- vezes tenham de enfrenrar os efeitos residuais de dd°esJs físic1s mento rico em ôleo e proteína. Os humano:-,. naturalmen-
Feedback positivo em direção Feedback negativo em direção c1men10 vegetal indica que Pode não ha- e, sobretudo, químicas pre::.ences nos seus alimentos. te, sdecion.iram a recenção e: nJo a dispersão <l.1:-, sementes
ao crescimento vegetal ao crescimento vegetal ver eleito, como resultado da hm1tação de
Os espinho:. :-,Írnplc:s podem ser na maioria das su.1s culturas, tornando-.1s akos fixos para
Tempo nutnentes (segundo Hu et ai., 1999).
um impedimc:nrn et~ri-:o. As folh.1s as av~s granívor.as.

1
r
84 PARTE 1 - ÜRGANISMOS
l-1 CAPÍTULO 3: RECURSOS 85

3.7.4 Defesas químicas clamemo de uma corrida armamentista, exigindo de um her-

'l1
bívoro uma resposta que também seja simples e específica; j.í (a)
5,3
O reino vegecal é muico rico em com- os compostos químicos que comam as plantas indigeríveis sio

.
0 35
postos químicos que aparentemente muito mais difíceis de superar.
3,3 ~ 30
n3.o desempenham um papel nas suas A teoria da aparência, encão, propõe que plantas efême-
rotas bioquímicas normais. Entre es- ras, de vida relativamente curta (dicas "não-aparenres") s.ío pro-
i u
~
tl
;;
25
~
ses merabóliros "secundários", enconrram-se desde moléculas tegidas de consumidores devido ao caráter imprevisível do seu 1 1,3
°ê 20
~ a
simples, como o ácido oxálico e o cianureco, aré moléculas aparecimento no espaço e no cempo. Porranro, elas precisam i -0,7 g
mais complexas, como glucosinolaros, alcalóides terpenóides, invesrir menos na defesa do que as espécies de vida longa ("apa- ! a
-2,7t:_.l..__ _ _ _ _ __._ _ _ _ _ _ __ L _
saponinas, ílavonói<les e caninos (Fumyma, 1983). Muitos des- rentes"), como as árvores. AJém disso, e~tas últimas, preci.')a-
ses compostos são tóxicos para uma ampla gama de consumi- mente por serem aparentes durante períodos longos e previsí-
dores potenciais. As populações do tre\'o-branco ( Trifali um veis a um grande número de herbívoros, deveriam i>lVe.srir em
(b) FIGURA 3.26 Concentrações de glucosinolatos (µg mg· 1 de massa
repem), por exemplo, sio comumenre polimórficas quanto à composros químicos redurnres da digestão, que, embora one-
seca) nas pétalas e folhas de rabanete silvestre. Raphanus sativus,
capacidade de liberar ::ícido cianídrico quando seus tecidos são rosos. oferecem a elas uma ampla proteção. As espécies n:io- não-danificadas ou danificadas por larvas de P,eris rapae. As barras
.1tac1dos. Os indivíduos sem a capacidade de gerar ácido cia- aparenres, por sua vez. necessitariam produzir toxinas somen- representam os erros-padrão (segundo Strauss el ai., 2004)
nídnco s;fo consum1dns por le:,,mas: a-; formas cianogênicas re se esrivessem sujeitJS J coevoluir com alcruns predadorc-s

!
slo mordi~caJ,1s, mJ.~ rejeira&1s. :\:1u!tos pt'squisadores admi- especi.1lizJ.dos ;:,
rem que a prmeçJo contra consumidores propiciou a pressão A recria da aparênci.1, ao incorpor.ir idé~.ts sohre co-en1- <los talos (efetivamente, CJules). menos ,·Jlio~as e localizadas
seleriva que favoreceu a produçio de uis merabóliros. Muiros lução, faz, por isso. várias previsões (Cornell e H.rn-kins, 2003). -1

!1---~--·--1'-------~---
' - no ápice da. planta, foram protegidas apenas por composrus
outros, no entanto, quescionam se a força seletiva é suficiente- A mais óbvia é que as plantas não-aparentes são protegidJs químicos tóxicos induzidm pelo pastejo.
mente poderosa par.1 isso (sua pro<luçJo pode ser onerosa para com mais probabilidade por composros tóxicos simples do que Os a.nimais possuem mais opções
as plantas, em termos de nurrienres essenci,1is) e têm indicado por compostos mais complexos inibidores da digestão. Isso de defesa do que as plantas, mas, ain-
Especialização
outras propriedades desses compostos: por exemplo, como pro- pode ser observado nas alterações das dd"esas químicas de al- dJ assim, alguns utilium compostos químicos. Em alguns gru-
tetores contra a radiaçfo ultravioleta (Shirley, 1996). Encre- gumas p!Jncas em função das mudanças de esc.1ções. Por exem- pos de gamópodes, por exemplo, incluindo os cauris, ocor-
FIGURA 3.25 Por meio da combinação de dados de vários estudos
canro, nos poucos caso., Je experimentos de seleção já realiza- plo, na samambaia Ptt:ridium aquilinum, as folhas jovens, que publicados, os herbívoros foram divididos em três grupos: 1. especia- rem secreções defensivas de ácido sulfúrico com pH l ou 2.
dos, as plantas culti,·,1Jas na presença de consumidores tive- se abrem arravés do solo na primavera, s.1o menos aparente~ .1 hstas (alimentam-se de uma ou duas familias vegetais); 2. ollgófagos Ourros animais, que podem tolerar as defesas químicas do seu
(3 a 9 familias); 3. generalistas (mais do que nove famílias). As subs- alimenro vegecal, armazenam essas substâncias e as urilizam
ram um aumento cb, defesas contra e~~es inimigos, em rela- potenciais herbívoros do que a frondosa folhagem do final do tâncias químicas foram d1v1d1das em dois grupos: (a) as que são e (b)
em sua própria defesa. Um exemplo clássico é a borboleta-
ção às plantas-controle culrivad:is na ausência de consumido- verão. As folhas jovens são ricas em glucosinolaros cianogênicos, as que não são encontradas nos hospedeiros norma1s de especialis·
res (Rausher, 20011. Mais adiante, no Capírnlo 9, quando e a concenrraçJo de caninos cresce regularmenre, aré atingir seu tas e ollgófagos Com a crescente especiahzaçâo, (a) os herbívoros monarcJ. (Danam plexippus), cujas larvas se alimentam de as-
sofreram decréscimo da mortalidade por compostos químicos que não clépias (l'"lsclepias spp.). A~ asclépias contêm mecabóliros '.>e-
examinarmos de m:rneira mais detalhada a interação entre pre- mi,imo em folhas maduras (Rhoades e Cates, 1976). provocaram uma resposta coevolut1va de herbivoros espec1ahstas. mas
cundários e glicosídeos cardíacos, que ,1fetam a pulsação de
dadores e suas presa..s, rr.u.uemos dos custos e benetícios da dd"e- Uma previsão mais sutil da teoria é que os herbivoros espe- (b) sofreram mortalidade mais alta por compostos químicos que não
sa da presa (especialmetm: Yegetal). para ela própria e seus consu- cia1isras, ao terem eYoluído na superação de determinados com- provocaram tal resposta. Regressões· (a) y = 0,33x- 1, 12: r2 = 0.032. vertebrados e são tóxicos para mamíferos e aves. As larvas da
t = 3.25; P = 0.0013; (b) y = 0.93 - 0,36x; ('. = 0,049; t =- 4,35, P < monarca podem armazenar o veneno, que permanece aind:.1
midores. Aqui, nos concentraremos na narureza dessas defesas. postos químicos, deveriam ter um desempenho melhor quando 0.00001 (segundo Comell e Hawk1ns, 2003)
Se as atenções dos herbívoros nos adultos, os quais. como conseqüência, são completamen-
diante de rais composros. Já os generalistas, (endo investido em
"elecionam metabólitos defensivos ve- um bom desempenho quando diame de uma ampla g.1ma de te inaceiráveis para aves pred.1doras. Um gJ.io (Cianocitra cris-
"eh-agem (Raphanw Jat1vw), em que os indivíduos forJm sub- t,tta), inexperiente (isto é, um animal que nunca experimen-
getais, em.lo, igualmente, esses meu- compostos químicos, deYeriam ter um desempenho intêriorquan-
mc:udos à herbivoria por !arvas da borboleu Pieris rapae, ou rou uma. borboleta-monarL,l), .1pós consumir uma monarca,
bóliros selecionarJ.o adaprações em do diante de composto~ guímicos que prm·ocar,11n respostas cne-
herhivoros que podem superá-lo<;: um.1 "corrida armamentis- m.rntidos como controles não-manipulados (Srrauss et ai.. vomitad intens.1mente e, uma vez recupcr.1do, rejeicad tod,1s
voluriva.s de especialistas. Isso é su.">temado por um.t an.ílise Je
ta'' coe,·olunv.1 cl..ísc;iu. Isso, contudo, sugere que JS pl.J.nus 200--!). Ne~-"ª espécie polinizad.1 por insetos, as pécalas {e rnda..s .1s .1s outras. As monarcas criJdas sobre couves, ao conrrário, são
uma ampla gama de conjumm de dados para insems herbívoros
Je\"t:riam tornar-se ~empre mais nocivas e os herbívoros sem- consumindo dietas artifictais com adiçJ.o de composto~ químiLo.\ p.utes da flor) sJ.o muiw importantes para a efic.ícia biológica comestíveis (Brower e Con·inó, 1967)
pre mais e.<,pec..ializado..,, n.lo explicando por que existem tan- (892 combinações de inseros/compmtm químicos). (/in1t'Ss). As concemraçóes de glucosinoLuos proretore~ forJm duJS As defesas químic.1.s náo sJ.o
tm herbí\'oros gencr.1li'>U:., up,1ze) de .<,e :1.liment:1.r de muiras As pbnt.1s, J.!ém disso, podem \ e-zes mai-" ,1lu,,, 11.1s p~(J.las dL> gue n,l-" folhas nJ.o-danificad:is; nas 1~u.dmenre efetivas con[t.l rndos os
pi.incas (Cornd! e H:1,\·kins, 200.3). Uma resposta foi sugerida diferir em suas defesas químic:is. n:lO péulas, esse ní\ eis m,rn[Í\.eram-se qua..\e igu.us, independentemen- cvnswnidores. De faro. o que é in:.1-
pela "teoria da aparênci,{ (Feen\·· 19 7 6; Rhoades e Caces, re .se elas forJ.m danificadas ou nJo \Figura 3.26). As folhas, por ceicável p,u.t .1lgu11.<, anim.ti:.; pode ser J. d1etJ escolhidJ, e .1cé
somente de espécies par:1 espécies, mas
1976). Ela se baseia nJ uhservação segundo a qu.11 os compos- outro lado, têm bem menm influência direca na eficácia biológi- mesmo a únicJ., de outros. Afina.!, como conseqüência inevitá-
também dentro de um indivíduo. Se-
tos químicos nocivos de origem veoet~d. Je modo oeral po- gundo a "cearia d:1 Jefesa ócima", ca: ela..s podem passar por níveis afros de dano foliar sem qualquer ,·el de ter de...envolvido n::.<.i.'>tt'ncia às ddesd.5 de umJ. planta, um
dem ser classificado:i em dois ripos~ (i) composros ~uí~icos cteiro mensurável sobre o rendimento reprodutivo. Conforme já consumidor obteve aces.')o a um recurso indisponível à maioria
quanto mais importJnte um órgd.o nu tecido for para a eVid-
róxicos (ou qualitativos), que sJo venenosos mesmo em quan- ob.'>ervado, o.s níveis constitutivos de gluc..osinolacos foram bai- dJs outra...<; espécies (ou a rodas). Por exemplo, J leguminosa rro~u-
cia do organismo, melhor ele sed prmegi<lo. i\u preseme con-
tidades pequenas; (it) compostos químicos redutores d.i diges- texto. essa reoria prevê que as partes vegeuis mJ.is importan- xos; n:;5 em folhJS d.rnificada..s, a.,; con~·emrações (induzidas) fo~ c.1! Diodt•a nu·Mcmp,1 é tóxica a quast: todas as espécies de insetas.
ram até mais .1!cas do que n,15 pérJ.Lls. pois contém um aminoáciJo não-protéico, L-canavanina, que os
tão (ou quantitativos), que amam em proporçdo à sua con- tes deveriam ser protegidas por compostos químicos constitun-
centração. Os 1:aninos sJo um exemplo do segundo tipo. Eles Resultados semelhantes for:im obtidos para .l :.1lgJ mari- inseros incorpor:.1m às su:1~ proreínJ.S no lugar de arginina. Po-
VOJ (produzidos rodo tempo), e as panes menos irnpnrunres
nha p.irda, Siugasmm ji!tpenduln, CUJO apreensório na base é o rém, uma e--'>pécie de besouro, (âryedes bmsiliemis, desenvoheu
ligam proteínas. f.u-::n<lo com que os tecidos, como os de fo- deveri,1m contar com compostos químicos indu:,fl,e!i. produzi-
lhas maduras do cJ.r\"3.lho, se tornem relativamente indioerí- tecido mais \·,ilioso, pois sem ele a planu ficaria. solta n:.1 água uma cR:'-'A sincera.se modificad.1, que faz J. <listinçJo encre L-ca-
dos apenas em resposu .10 dano e. portamo, com custos nui,
(Taylor tt ai.. 2002). Ele é proregi<lo por composrns químicos navanina e .uginina, de modo que suas larvas se alimemam uni-
veis. A teoria. além dis\o, supõe que os composm..; quí~cos baixos p,1ra as plant.1s (McKey. 1979: Strauss et JI., 200~1.
tóxicos, devido à su.1 especificidade, provavelmente são o fun- qua.ncitativo.s, onerosos e conscirucivos. e as partes mais jovens camente de D. n1t:tati.t1pa \Rosenthal et ai., 1976).
Isso é confirmado, por exemplo. pdo estudo com rJ.bJ.ne(e
86 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 3: RECURSOS 87

3.7.5 Cripsia, aposematismo e mimetismo de predadores. e, ao "se fingirem de marcos" (p. ex .. o gambá cionado pelo recurso l depende complecamence da quamida- de forma separada. Um bom exemplo é a dieta humana vegerari-
[Didelphú vi,gúúant1] e o esquilo africano), os animais não esti- Je disponível do recurso 2, e vice-versa. Isso é indica.do na ana, combinando cercos tipos de feijão com arroz. O feijão é rico
Um animal pode ser menos óbvio a um mulam um.1 resposta de ara.que do predador. Os animais que se figura 3.27a pelas isolinhas oriemadas paralel.m1ence a ambos em lisina, um aminoácido essencial pouco representado no arroz,
predador se igualar-se ao seu meio ou escondem em um abrigo já preparado (p. ex., coelhos e marmo- os eixos. Elas se dispõem assim porque a qtunridade disponí- e este é rico em aminoácidos compostos de enxofre, presentes em
possuir um padrão que altere o seu perfil, ou se parecer com um tas em suas mcJS, caracóis em suas conchas) ou que se enrolam e vel de um recurso define uma taxa de crescimento máxima concentrações baixas no feijão.
acribuco não-comestível do seu ambiente. Bons exemplos de críp- proregem su.15 panes vulneráveis por meio de uma estrumra exte- disponí\·el, independenceeme da quantidade do muro recur- Os recursos substimiveis cujas '~C'Jr.:>os
sitz são a coloração verde de muitos gafanhotos e larvas, bem como rior resisceme (p. ex., rarus e isópodes) reduzem sua chance de so. Essa taxa de crescimemo é alcançada, a menos que a quJnci- isolinhas se curvam afascando-se da ~·~:agon1co3
a transparência de muitos animais planctônicos que habitam as captura, m.1s limitam suas vidas à pos.sibilidade de o porencial dJde disponível do ourro recurso defina uma r,Lx.1 de crescimento origem das coordenadas são definidos
camadas superficiais de oceanos e lagos. Os casos mais dramáti- predador nJo poder romper suas defesas. Outros animais pare- J.inda mais baixa. Isso ocorrerá para o nirrogênio e o por.íssio como antagônicos (Figura 3.27d). Essa forma das isolinhas in-
cos são o peixe-sargaço (Histrio pictw), cujo perfil corporal imita cem renc.u enganar para se livrarem de dificuldades, utilizando como recursos para o crescimento de plant.1s verdes, e para os dica que, para manter uma determinada caxa de crescimento,
o sarg:iço (alga parda) onde ele é encontrado, ou a larva da borbo- disposirin>s de .1meaça. A resposta de a1arme de mariposas e bor- dois hospedeiros obrigatórios que um parasito oLt um pacógeno uma espécie necessira de uma quantidade proporcionalmenre
leta vice-rei (Limenitis archippus), que cem a forma de excremen- boletJS, que expõem subitamente os ocelos de suas asas, é um devem alrernar duranre seu ciclo virai (ver Capirnlo l 2). maior de recursos, quando esses são consumidos junms em
to de Jve. Animais crípcicos podem ser alramence palatáveis, mas exemplo disso. Sem dúvida, a fuga é a resposta comporta!nencal mais vez de separadamente. Isso poderia se manifesrar, por exem-
sua morfologi.i e cor (e sua escolha do meio apropriado) reduzem comum de um .uúmal em perigo de ser ciprurado. plo, se os recursos contivessem composcos tóxicos disrimos
3.8.2 Outras categorias de recursos
a probabilidade de serem uciliza<los como recurso. que Jgem sinergicamence (mais do que a simples soma) sobre
Enqu.tnro .1 cripsia pode ser uma ~)3- -:~" .;:.:3sifis:=1:~?.o aos ,--::::c Jis·:;s :-.
1 Dois recursos sJo considerado ... paftumni:mc mÍhr1t1ú1•cts LjUJ!l- seu consumidor. Por exemplo, o ácido D, L~pipecólico e o ici-
e:,.cr;1têgi.i detênsiva p.ua um organismo :~ :,-: ·:·-::c:69\cc dn qualquer um pode substirnir wulmenre o outro. ls::.o o e <lo Jjenkólico (dois defensivos químicos em cenJs sementes)
p.11.ufrd, .mimais nocivo~ OL1 perigosm d:io J impress.ío de unu tjUe .icontece com as sememes de rrigo ou cev.td.1 ru J,eu dt' n.ío river.1111 um efeito signiticJtivo sobre o crescimenro d.1
adverrência, mediame brilho, bem como por cores e formas vis- Vimos que CJ.dJ planta requer muitos recursss diferenres par.1 um frango no criJ.douro ou com zebras e gJll.'Ll~ n.l d1eu de larvJ. granívora de um besouro bruquideo quando consumi-
rosas. Esre fenômeno é identificado como aposematismo. A bor- compleur ,;eu ciclo vital. e a maioriJ de\Js necessita do mes- um leão. Obser\'e que isso não signific.1 dizer que ü'i dois re- dos !>eparad.unenre, mas exerceram um ett'.ito pronunciado qua11do
boleca-monarca tem umJ coloração aposemárica, J.!ISim como sua mo grupo Jc:: 1c::cursos, embora em proporções smilmence dis- -:ursos são igualmente bons. Esra caraccerísriu (perr~iramence ingeridos juncos (Janzen ec al., 1977).
larva, que seqüestra os glucosinolacos cardíacos defensivos encon- rimas. C.tJ,1 um dos recursos deve ser abrido independence- :iubsricuíveis. mas que podem não ser qualirati\·.imente iguais) Por fim, a Figura 3.27e iluscra o
trados em seu alimento. O argumento evolurivo usual para esse meme dos ourros e, muitas vezes, por mecanismos de: absor- !: iluscradJ na Figura 3.27b pelas isolinhJs, cujJs inclinações fenômeno da inibição para níveis ele-
fenômeno é o seguinte: a coloração viscosa será favorecida porque çJ.o tou!mence diferences - alguns como íons (potássio). al- não secciorum ambos os eixos na mesm.1 disr;l.nciJ J pJrcir da vados de recursos (para um par de re-
J presa nociv.1 será reconhecida (memorizada) pelos predadores guns como moliculas (COJ, alguns em soluçá.o, alguns sob origem. Assim, na Figura 3.27b. na ause'nci.1 do recurso 2, o cursos essencidis): recursos essenciais, mas que se tornam pre-
que a comeram. Assim, a borboleta-monarca será protegida, en- form.1 gJsosa. O carbono não pode ser substimído pelo nicro- organismo necessira de uma quantidade re\Jrivameme pequena judiciais quando consumidos em excesso. O C0 2• a água e os
quamo os cu.srns de "educação'" do predador serão compartilha· gênio, nem o fosforo pelo potássio. O nitrogênio pode ser do recurso l, mas na ausência do recurso 1, de precisJ de uma nucriemes minerais (como o ferro) são necessários para a fo-
dos entre os membros da popubção da presa viscosa. Esse argu- absorvido pe!J maioria d.1s plantas sob forma de nirraco ou qu,unidade relarivameme grande do recurso 2. rnssíncese, mas cada um é letal em quancidades excessivas. Ana-
menm, concudo, não responde como as presas vistosas e nocivas como íons amõnio, mas não existe um subsrimco do próprio ni- Os recursos subsriwí,-eis sJ.o de- logamence, a luz provoca um dumenro das caxas de crescimen-
surgiram no primeiro local, pois é provável que, quando inicial- trogênio. PJra muiros carnívoros, ao contrário, as presas de tama- finidos como co111pltnh'11ttrrt'J se as iso- rn d1s plantas em uma ampla faixa de intensidades, mas pode
mente rarJS, ehs tenham sido eliminadas reperidl!> vezes por pre- nho seme!h1nre praticamence se equivalem como icens da dieta. linhas se curvarem em d1reçJo à ori- inibir o crescimento se suas intensidades forem demasiado ele-
dadores inexperientes (isco é, "não-educados") (Speed e R,mon, Esse contr:.i:;ce. entre recursos que são individualmente esse11ciaú gem (Figura ~27c). E!ls,1 form,1 signi- vadas. Em cais casos, as isolinhas formam curvas fechadas, pois
2002). Uma pos.sível resposta é qut:: predadores e presas coevoluí- para um organismo e os que são substituíveis, pode escender-se fica que uma espécie necessica de uma quamid.1de menor de o crescimento diminui com um aumemo dos recursos em ní-
ra.m: em cada geração - J partir de uma mismra origin.il de presas para um.1 cl.lSSificaç.10 de recursos capeados em pares (Figt1ra 3.27). dois recursos consumidos junros do que quando consumidos veis muiro alms.
viscosas e nã.o-viswsas, nocivas e comestíveis -, presas viscosas co- Ness.1 classific:.ição, a concentração
mestíveis são eliminadas. Como as presas viscosas se comam, por ou a q u.urndaJe de um recurso é regis-
isso, desproporcionalmeme nocivas, os predadores desenvolve- trada no eixo do x, e a do outro recurso,
ram uma caurda maior por presas viscosas (Sherran, 2002). no eixo cio y. Sabemos que as dit"erences
(a) Essenciais (b) Perfeitamente substituíveis (c) Complementares
A adoção de padrões corporais combinas-õc:s dos dois recursos susremar.ío taxas de crescimento
vistosos por pane de presas repugnan- di!itint.1.":i Jo nrg.rnismo em quesrão (rrata-se do crescimento indi-
rcs ime<liarameme rJ.mbém abre J por- vidual ou do cresc1menrn populacional). Assim. podemos unir os
u p1ra eng:1.11.u ourr.is rspécies, pois ponto.;; li'-CO é, J.s comhinJçêt.·s de recursos) com as mesmas taxas -e -
'ier,Í unu nlrida \·.rncagc:m evoluri,·a pJra uma presa p.darável de cre.\cimento. obtendo comamo<; ou ··i')olinh.1s" de crescimen- R,

("n mimice/) qur da st' .1ssemelhe a unu espécie impalacivel co igu,1l. ~.1 hgun .).2 7 • ;1 linh.1 B é, em Dda Cl'lO. urna isolinha -8 -
c·o mo1..ldo") (mimerismo b.uesi,mo). Volrando ao caso dJ bor- de: cn:su111nuu liquido 2'.To: qualquer um.1 d.lS combinações de FIGURA 3.27 lsollnhas de crescimento de-
pendentes dos recursos. Cada uma das iso-
recursm r(.rrc . .cnrad.1s ne-;sas linha., permite que o organismo se -- -----A -
bvler.1-mon.1rc.1. verificamos que o adulrn da borbolera vice- hnhas de crescimento representa as quanti-
rei p,1lac,ível mimc:riza .1 monarca repugn.ince, e um gaio, que m.rnrenh.1, K'.11\ ,1umenur, nem diminuir. As isollnhas A, com R, A, A,
dades de dois recursos (A I e A 2 ) que deve-
.1prc"ndeu ,1 evirar monarcas, evirad também vice-reis. PJ.fa menos r-:curs( l'i Jo que JS B, unem combinações com a mesma (d) Antagônicos (e) Inibição riam ex1st1r em um hábitat para que uma po-
um.t pres.1 repugnJnte de coloraç.Jo aposemática haverá tam- r.:1x.1 Jl~fdt.'l'tZ de crescimento; por outro lJdo, as isolinhas C, com pulação mostrasse uma determinada taxa de
crescimento. Uma vez que essa taxa aumen-
bC:m umJ vanragem em .issemdhar-se a uma outra (mimetis- m.ti':, recursos 1..iu que is B, unem combinações com J mesma raxa

//-~-j
ta com a dtsponibilidade de recursos. as 1so-
mo mu!leriJno). embor:1 permJneçam muitas questões náo- poútii'rl de ..:re'!C1menm. Como veremos, as form.J.S das i.solinhJS hnhas ma,s distantes da origem representam
respun<lidas quanto ao final exam do mimecismo baresiano e v.triJ.m com .1 nature7~1 dos recursos. 1 1
as taxas de crescimento mais altas da popu-
R,
lação - a isolinha A tem uma taxa de cresci-
.10 começo do rnimecismo mülleriano, em parte porque exis-
1 mento negat,va, a isohnha 8, uma taxa zero,
tem m1is pontos de visu ceóricos do que dados consistentes 1 -8- e a isohnha C. uma taxa pos1t1va. (a) Recur-
3.8.1 Recursos essenciais ~-
que possam disringui-los (Speed, 1999). A e '~-,).,~-,.. sos essenc1a1s; (b) perfeitamente substituí-
Vi,·endo em tocas, determinados animais (p. ex., milípedes veis; (e) complementares; (d) antagõnicos;
Dois recurso" ,,io considerados erse11cit1Íf quJ.ndo um não pode R, R. (e) inibição (segundo Tilman. 1982).
e roupeir.-t,;;) podem eviur .1 esrimulaçlo de receprores sensori.tis sub!lriwir o ourrn. Assim, o crescimento que pode .ser propor-

1
88 PARTE 1 - ORGANISMOS

3.8.3 Dimensões de recursos do nicho ecológico meme ativa". Examinamos as variações na intensidade e qua-
lidade da radiação, bem como as respostas das plarnas a tais
No Capítulo 2, desenvolvemos o conce1co de nicho ecológico variações. Estudamos, também, as soluções esrracégicas e r;iri-
como um hiper-volume n-dimensional. Isso define os limites cas admadas pelas plantas para resolver os coníliros entre fo-
nos quais uma determinada espécie pode sobreviver e repro- rossíntese e conservação de águJ..
duzir-se, para um elev.tdo número (n) de fatores ambiemais, O dióxido de carbono é r.imbém essencial para a foto::.sín-
incluindo canto as condições quanco O.':, recursos. Observe, cese. Foram examinadas as variações em sua concentração e .)Ua5
portamo, que as 1solinhas de crescimenrn zero da Figura 3.27 conseqüências, incluindo aumentos globais ao longo do tempo e
definem os limites drn. nichos em duas dimensões. As combi- aqueles em escalas espaciais menores. Exisrem três rotas de fixa-
nações de recursm que ficam de um lado da linha B permitem ção do carbono na focossímese: e,. C, e CA,\1. São explicitadas
o crescimento dos organismos - mas no outro lado da linha os as diferenças entre essas rocas e as suas conseqüências ecológicas.
organismos diminuem. A água t: um recurso crícico para rndos os organismos.
As dimensõe.':> em recursos <lo nicho de uma espécie, às ve- Nas plantas, examinamos como as raízes "forrageiah1" a água e
zes, podem ser representadas de uma maneira semelhante à ado- a dinâmica das zonas de esgoramenrn dos recursos ao redor
[ada para ;as condições. com limites inferiores e superiores demro das raízes, para ,l água e os nurrienres minerais. Os nucrientes
Jos quais ela podt: :,e desenvolver. Assim, J. capacidJde de um minerais são classific1dos de modo ger.1! em macronutrientes
predador em Jen:crar e ..:,1prnrar sirna-'le enrn: os li mires intúior e e ekmenros-traço. sendo que cada um penetra independt'.nte-
'-uperior de tanunho de suas presas. P.ira ourros recursos, como menre nJ pl.nHJ, como um íon ou uma molécula; elt.'~ rCm tes esrágios sejam influt'nci1dos por fatores distintos e tenham
o:. nutrientes mmer,us p:1ra as pbnus, pode ha,·er um limite infe- propriedades c1raccerísticas de absorçJ.o no solo e de difusão, taxa:, diferentes de dispersão (mligrJçJ.o e emigração), morra-
rior abaixo <lo qual os indivíduos não podem crescer e reprodu- o que afeta a sua acessibilidade para a pl.imJ. Nesre capítulo, mudaremos o enfoque de noss3. abordagem. lidadc e reprodução.
1ir-se, mas é pos"ívd que nio exista um limire superior (figura O oxigCnio é um recurso para animais e plantas. Ele ror-
\.'.1.0 esraremos muito ocup1dos com as interações entre os Além disso, mesmo em um de-
5.27a-d). No entanto. muitos recur.\OS de\"em ser considerados na-se limitante nuis r.:ipidamenre em ambientes aquáticos e
L'rgJnismos e seus .1mbiences físicos, mas sim com 3. quJntida- Lerminado est:ígio de ciclo de vida, os
como enridrtdes discreta::,, em vez de variáveis contínuas. As larvas alagados. Quando a matéria orgânica se decompõe em um
Je desse.~ indivíduos e os processos envolvidos nas mudançJs indivíduos podem diferir quanto à
de borboleras do gênero He/1cowus precisam de folhas de Pa.;siflo- ambiente aquático, a respiração microbiana pode reduzir ran-
nl!méricas deles. "qualidade" ou "condição". O aspecto
m como alimento; as da borboleta-monarca se especializam rn esse recurso a ponto de restringir alguns ripas de aninuis
A esse respeiro, há um fundamental faro ecológico da vidJ: mais óbvio é o ramanho, sendo muiro
em plantas da família das Asclepiadaceae; e muitas espécies de superiores que poderiam persistir.
animais necessiram de locais para nidific.1ção com caracterís- comum, por exemplo, indivíduos possuírem quarnidades di-
Entre os heterórrofos, explicamos as diferenças entre sa-
ticas especiais. Tais recursos não podem ser represenrados ao prócrofos, predadores. pastadores e parasiros, hem como .:-ncre N 1~"íl
e N.mrn,or + B - D + 1 - E. (4.1) ferentes de reservas esrncadas.
longo de um eixo conrínuo de coordenadas com a denomina- especialistas e generalisras. Uma uniformidade entre os indi-
ção "espécies veger1ls forrageiras", por exemplo. Em vez disso. A razão carbono:nirrogênio de tecidos vegetais comu- Segundo esta equação, o número de indivíduos de uma víduos de uma espécie é especialmente
a dimensão do nicho <la planta forrageira ou do local de nidi- mente supera muito a de bactérias, fungos e animJ.Ís. Por is,o, npécie dererminada que ocupa um local de interesse (N.i~orJ é improvável quando os organismos são
ficação deve ser definida simplesmente por uma lisra rescrita os principais produtos residuais de organismos que consomc:m igual ao número prévio de indivíduos (N.iiu..:rior) somado <10 modu!tlres em va. de unitários. Nos organismos unirários, a fornu
dos recursos apropriados. planras são compostos ricos em carbono. Os principais pro- nlÍmero de nascimenros entre o momento anterior e o atu.il é altamente determinável: por exemplo, todm os cães pos"uem
Jurnos, cnt.l.o, condições e recurso.'. definem um nicho <luros de excreção dos carnívoros, ao comrário, são nitrogen.1- (8), excluindo-se o número de morros (D), somando o núme- quarro paras, todas as lubs possuem doi.) olhos. erc. O!i hurr:anos
de uma espécie. No próximo capítulo, examinaremos mais dos. As diferenres panes de uma. pla.nra têm composições muito ro de imigr.rnres (I) e, finalmenre, excluindo o número de emi- são exemplos perfeiros de organismos unitários. A vida começa
detalhadamente J.s resposr.1.s fundamenrais dos organismos às disrinras. Como conseqüênciJ, os pe4uenos herbívoros, na gunres durante es::.e mesmo período (E). quando um espermatozóide fertiliza o óvulo, para formar um
condições e recurso::.: seus padrõe,;; de cre,;;cimenro, de sobrevi- maioria, são especialisras. A composição dos corpos de herbí- Essa equação define o principal objerivo da ecologi,1: zigoro. Esre se implanta na parede do útero, iniciando o cor.1p!e-
vtncia e de reproduç:10 \'Oros disrincos é significuivamente semelhanre. dc~crever, explicar e entender ,l disrribuição e a 1bundância xo desenvolvimento embriológico. Em torno de seis semar:J.s, o
A mJ.ior pane das fontes de energtJ porcncialmeme di"- Jns organismos. Os ecólogos se interessam pelo número de few j.í possui nariz, olhm, ouv;dos e membros reconhecívei:i, que
ponheis pJ.ra herbívoros compreende celulose e ligninas. mas indivíduos, pela sua discribuiçJ.n, pelos processos demogr.í- permanecerão assim até o indivíduo morrer (n.l.o levando em LUJ1-
J. maioria dos anlmJ.is não dispõe de cdulases - um enigm.1 ficos que estio influenciando e'isa variação numérica (n:Ha- sider1ç.l.o acidentes duranre a vida). O fero continuará a cre,;;cer
e\·olmivo. Em vertebrados herbívoros, explicamos como .1 tJ.xa !1(ÍJde, morulidade, imigraçáo e emigraçáo) e em como uis acé o iuscimemo, continuando o ::.eu desenvolvimento aré .:eru
Os recursos são fatore" necessJfim ,l um org,1n1smo, cujJs qu1n- de ganho de cnagia de: diteíenres recur')os alimencare~ t: de- proce::.sos sJ.o intluenciJdos pelos farores ambienuis. dos l 8 ,mos de vid.1. No emanm, não h,1vc:rá mudanças na fornu
rnbde" podem ,er redU?ida,;; peL1 ,u.1 ,Hi\·id:1de. Porunto, os cermin.1da peb e,trurur.1 do imestino. (di~~renremente do um,rnho), exct:ro com pc:quenas diferLJh.,,l.\
organismos podem competir p.lí.l c1pruur uma p<1rre de.: um Os recurso.1, \"Í\"OS ~.ío ddt'ndi<los de nuneira caraccerí.1,nca:
reLtcionadas à marnr.1ç.:io ~exual. A fa.se reproJuriva se esrenderi
recurso limirado. foicameme, medi.mte sub:irãncias químicas, ou por crip.1,i.1, .i.po-
-, 2 O C]'Jc ~ <Jm indi'Jiciuo? por cerca de 30 anos para .1s mulheres e um pouco mais p.1r.1 os
Os org.:rnismos autorróficm (pl.intJ..S verdes e certa::. bac- semarismo ou mimetismo. Isso pode levar a uma corrida arma-
homc:ns. Segue-se um.1 fase de senescênci1. A morte pode ocorrer
rérias) assimilam rl..'cu1sch inorg:inicos em conjuntos de molé- menri~ta coevolutiva entre o consumidor e o consumido.
4.2.1 Organismos unitários e modulares em qu.alquer etapa desse ciclo, porém, t.11 como J forma, para os
culas orgãnicJ.s (proreínas, CJ.rhoidrato.<., erc.). Eles se tornam A reoria da 3.parência e a reoria d1 defesa órima procu-
indivíduos sobrevivenres a sucesslo de &ses é mralmenre prev1,í,d.
os recursos de organismos hererotrófico-;, que p..1rricip.un de ram revelar o semido da distribuição de diferences compostos
umJ cadeia de evenrn, em que cada consumidor de um recurso 0ios:io "farn ecológico da vida", contudo, infere que rodos m Em organismos modulares (Fi-
químicos prmecores, em especiJI os constiwtivo:. e os induzi-
organismos vivos sJ.o símilares, o que é falso em muirns casos gura tí. I), por omro !.ido, a forma e o
roma-se, por sua \"e?., um recurso para um outro consumidor. dos, em disrimas espécies vegetais e partes das pLrnfJ.s.
A radíaçáo .<,o\ar é a única fonte de energia que pode ser Tom.rndo os recursos aos pares, os gráficos para os con- Primeiramente, qu.ise rodas as e::.pécies passam por t'Sttigios em rempo de desenvolvimento sJ.o impre-
us.1da em arividades metabólica:, das planr,1s verdes. Ourante sumidores de isolinha.1, de cres(imemo lú1uido zero permirc:m seus ciclo.1, Je vida. por exemplo, 3. metamorfose <los inseros, visíveis. O zigorn se desenvolve em uma unic.Ltde Je comcru-
a fornssíntese, a energia radianre é convertida em compostos que os pares de recursos sejam classifiCJdos como essenciais. de ovos a larvas - passando, :1s vezes, por pupas - e então a ç.io (um módulo, como unu folh.1, com su.1 comeqüenr::: cx-
de carbono ricos em energi.1, que depois serão decomposms perfeitamente subsrimíveis, complemenrares, antagônico:. ou Jdulws; as planus, que passam de semenres a plânrul.1s e adul- temdo de caule), a qual produziri módulos subseqüentc:s 'ii-
n,1 respiraç,lo. Porém, o aparam fow,;;s1nrérico cem acesso à revelando in1h1çio. As isolinhas de crescimento líquido zero tos forossinterizanres; enrre outros. É provável que os diferen" miLues. Os indivíduo\ sdo composcos por um número de
energia apen.1s na fa1x1 de ond,1s d.1 "energia forossinterica- definem um limite de um nicho ecológico de uma espécie.

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90 PARTE 1 - ÜRGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA OE VIDA 91

(a) (d)

(e)
(b)

FIGURA 4.1 Plantas (à esquerda) e animais (à d1re1ta) modulares, mostrando as semelhanças na mortologia entre eles. (página anterior) (a)
Q,ganismos que desprendem partes à medida que crescem: lentilha d'água (Lemna sp.) e Hydra sp. (b) Organismos livremente ramificados
nos quais os módulos estão dispostos sobre kpedúnculos" um ramo vegetativo de uma planta superior (Lonicera japon,ca) com folhas (mó<fo·
!os ahmentares) e um ramo reprodutivo e uma colõnia de h1dró1des (Obelia) com módulos alimentares e reprodutivos. (e) Organismos estolo-
ntferos cujas colônias se propagam lateratmente. permanecendo ligadas pelos ~estolões" ou rizomas. um indivíduo de moranguinho (Fragaria)
e uma colõnia do h1dróide Tubularia crocea (acima) (d) Colônias de modules firmemente ligados: uma moita de Saxifraga bronch,a//s e um
segmento do coral Turbmaria remfarmis. (e) Módulos acumulados em um suporte não mais vivo, porém persistente: um carvalho (Quercus
robur) em que o suporte é const,tuido de tec1dos lenhosos derivados de módulos anteriores e uma gorgõnia coralínea no qual o suporte é
const1tuido de tecidos calc1f1cados de módulos anteriormente vivos (ver Figura 9 do encarte)
([aj, esquerda, © "Visuais Unlimited"/ John D. Cur.ningham, direita,© "Visuais Unlimited"/ Larry Stepanowicz. (b) esquerda.© "V1suals
Unhm1ted~; d1re1ta. © ·visuais Unhmited"/ Larry Stepanow1cz. (e) esquerda. © "Visuais Unltmited~/ Science VU; direita. © "Visuais Unl1mited"/
(e)
John D Cunningham. (d) esquerda,© ··visuais Unl1m1ted"/ Gerald e BuH Cors1; direita,© Visuais Unhm1ted"/ Oave B Fleetham; (e) esquerda.
© ·v,suals Un!1m1ted~/ Silwood Park; d1re1ta, © ··visuais Unl1m1ted"/ Daniel W. Gotshall

1;1ôdulo~ bai,r,u1te \"Jrti\·el. l:' o seu prugianu Lk dei,en\'oh-i- Des:-.e modo. as porencialid.1des para diferenç.1s indi-
mento muito depende de su:1 interação com o .1mbienre. Es- viduais .sáo muico nuiores em organismos modulares do
ses organismos quase sempre fornum uma e~trutur.t ramifica- que em unirários. Por exemplo, um indivíduo de Chenopo-
d,1 e, excecuando a fase juvenil, são eficienremente imóveis. A diwn a/bum, uma espécie vegerJl anual. pode florescer e
maioria das planus é consrituída de módulo,, form.mdo o produzir semenres quando river apen.1s 50 mm de a.lrura,
grupo mais comum desses organismos modul.ue~. Hi, contu- se crescer em condições ambienrais adversas ou com mui-
do, muitos grupos imporranres de animJis modulares (na ver- ros indivíduos. Todavia, sob condições ideais, e!J pode atin-
d.1de, cerca de 19 filos, incluindo esponjas, hiJró,Jes, corais, gir l m de alcura e produzir 50 mil vezes mais sementes. É
briozoário-; e ascídias coloniais). além de muirm prorisras e es[J modu!JridJde e as tJ.X..lS diferenciadas de nJscimenro e
túngos. Em HJrper e colaboradores ( 1986:il. Hughe, ( 1989), mortalidade de pJrres desse vegetal que originam sua plas-
Room e colahoradores ( 1994) e Collado-Vidcs 1200 1) podem ticidade.
')er enconrradas revisões sobre crescimenm, fornu, ecologia e O módulo fund,unemal para o crescimenro de: uma
evoluçáo de unu variedade de organÍ)ffiO) moJuLues. planta superior acima do ~ulo é a folha, com sua gema axi-

l
92 PARTE 1 - ÜRGANISM05
CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA 93

lar, acompanhada do encrenó. À medida que se desenvolve Com freqüência, podemos re- 4.2.5 Integração
modulos ,jen:· _
e cresce, a gema produz mais folhas, cada uma com gemas conhecer dois ou mais níveis de outros moci JI-:;_
1

nas suas axilas. A planta, assim, cresce por meio do acúmu- 57


construção modular. O morangui-
11i1 Acropora Para muicas espécies rizoma.rosas e escolonífecas, essa estrutura
lo desses módulos. Em um determinado esc.Ígio do desen-
volvimenro, surge um novo conjunto de módulos, associa-
nho é um bom exemplo disso: as folhas se desenvolvem
reperidamence de uma gema, mas essas folhas sáo dispostas
69[] D Porites erária em mudança está, por sua vez, associada a um nivd em
D Pociflopora mudança, ao qual as conexões entre os rametas individuais
do à reprodução (p. ex., as flores em plantas superiores),
dando origem J novos zigoros. Os módulos especializados
na reprodução em geral param de originar novos módulos.
em rosecas. O indivíduo de moranguinho cresce (i) por
adição de novas folhas a uma roseta e (ii) pela produção de f_rr,~, 79
permanecem imaccas. Um rameta jovem pode se benefici,u de
nurriences que fluem de um rameca mais velho ao qual e.'ltá
novas rosetas em esrolões que crescem das axilas das folhas. "- ligado e do qual cresceu. Todavia, os prós e concras dessa liga-
As raízes de uma planca também são unidades modulares, As árvores cambém exibem níveis de modularidade: a folha ção terá.o sofrido mudanças evidentes quando o ramera jovem
embora totalmente diferentes (Harper et ai., 1991 ). O pro- com sua gema axilar, a parce aérea na qual as folhas são , 30 estiver coralmenre estabelecido por conta própria e o rameca
·- -, 39
grama de desenvolvimento em organismos modulares é ci- dispostas e o sistema incegral de ramos que repete um pa- parental se encontrar em uma fase pós-reproduriva de senes-
pic.1mence decerminJdo pela proporç.'io de módulos que drão característico de partes aéreas.
' 1 --r=-~-:--- 82
·3 cência (um faro semelhante aos organismos unitários que apre-
estão alocados para diferentes funções (p. ex., reprodução Muicos animais, a despeico das variações no método de 0---10 10---50 >50 sentam cuidados parentais) (Caraco e Kelly. 1991 ).
ou crescimento continuado). crescimento e reprodução, SJ.o tão "modulares" quanto qual- As mudanças dos custos e beneficias da integração fo-
Ârea da colõnia (cm 2)
quer planta. Além di!)so, em corais, por exemplo, assim (omo r.im e~tudad.1s experimentalmente na grJmínea forrageira
em muitJ!'.i pLuuas, o indivíduo pode existir corno um sÍ.\tt:111:.1 FIGURA 4.2 A taxa de mortalidade declina constantemente com o 1a- Holcfls fant1tw, comparando o crescimento de (i) ramera., que
4.2.2 Formas de crescimento de organismos incegrado t"isiologicJmenre ou pode escJr sep.trado em \"ÚÍ.1'> rT1ar.ho 1a colônia (e, portanto, com a idade) em três táxons de corais foram deixados com uma conexão fisiológica à sua pl.rnta-mãe,
modulares colônias - rodas panes de um único indivíJuo, mas tlsio!o~i- ja crista do recife na Heron lsland. Great Barner Reef (os tamanhos
no me'.)mo vaso, fazendo com que ambos pudessem competir
das amostras são dados acima de cada barra) (segundo Hughes e
camente independentes (Hughes et a/., 1992). ._ Conne!I. 1987. Hughes et ai. 1992) (inalterado e sem dano: UU); (ii) rametas cujas conexões fo-
Unu diversidade de termas de crescimenco e arquirecuras, pro- ram rompidas da planta-mãe, mas ambos deixados no mesmo
duzidas pelo crescimenrn modular em animais e plantas, está vaso (inalterado e com dano: SU); e (iii) rametas que civeram
ilustrada na Figura 4.1 (ver Figura 9 <lo encane). Os organis- 4.2.3 Qual é o tamanho de uma população No nível modular, encontramos grandes diferenças. A morre suas conexões também rompidas, mas foram replaneados após
mos modul.1res podem ser amplJmenrc divididos naqueles que modular? .im,.U de follus em uma árvore decídua é o exemplo mais drás[ico a planra-mãe ter sido 1emovida, sem possibilidade de compe-
Jpresentam crescimenro verrical e naqudes que expandem seus dt: !'.ienescência - embora raízes, gemas. flores e os módulos de tição entre ambos (SM) (Figura 4.4). Esses tratamentos foram
módulos IJteralmenre, sobre ou dentro de um subsrraw. Mui- Em organismos modulares, o número de zigocos sobre\'i- .1ninui!) modulares passem também por fases juvenis, de meia aplicados aos ramecas-filhos de várias idades, que foram exa-
tas plantas produzem novos sistemas de raízes associados a ventes pode dar uma impressão parcial e enganadora do i,.1.1Je, sent:scência e morte. O crescimento de um geneca indivi- minados após oico semanas. Para os rame[as mais jovens (Fi-
um caule que se estende lateralmente: essas são as plantas "tamanho" de uma população. Kays e Harper (1974) cria- du..:I é o resuhado combin,1do desses processos. A Figura 4.3 mostra gura 4.4a), a ligação à planta-mãe intensificou significaciva-
estoloníferas e rizomatosas. As conexõe.') entre as panes des- ram a palavra ''geneta" para descrever um "indivíduo gené- s..1ue .1 escrurnra erária de panes aéreas da cipt:rácea Carex arenaria mence o crescimento (UU > SU), porém, não houve uma apa-
tJS plantas podem morrer e se desprender, e o produto do rico": o produro de um zigoto. Nos organismos modulares, ,~rniÍJ de nuncira rJdical pela aplicação de fercilizante à base de rente alteração na competição com a planta-mãe (SU ~ SM).
zigorn original wrn.1-se represenc1do por panes fisiologi- enrão, a disrribuiç:to e a abundância dos genetJs (indiví- \.'!'K (nitrogênio, fosforo, pmissio), mesmo quando o número Para ramet.1s um pouco mais velhos (figura 4.4b), o cresci-
camente separad,i~. (i'dódulos com o potencial de existirem duos) são importantes, porém, em muitas situações, é mais rdr:.1 de partes aérea!'.! presentes é pouco atêrado pelo tratamento . mento pode ter sido inibido pela planta-mie (SU < SM).
separados sJo chanudos de '"rametas''.) Os exemplos m.lis üril esrudar a distribuição e a abund:incia dos módulos (r.t- A., pJrcelas rerrillzadas tomaram-se dominadas por partes aéreas porém a conexão fisiológica impediu isso de modo efeci\'O
exrremo.'l de planu-; que ''caem em pedaços" à medidJ que meras, partes aéreas, zoói<les, pólipo!), etc.): a guanridade jovens, à medida que as mais velhas, comuns c:-m parcelas-contra- (UU > SU; UU ~ SM). Para rametas bem matS velhos. o b,-
crescem sáo as muíta:-. espécies aquirica, flutuantes, como a de gramíneas em um campo disponível para o gado nJ.o é i,:, for.1m forçadas a morrer precocemente . 1.rnço se modificou ainda mais: a conexão fisiológica à planta-
lenrilha J'jgua (l_cm11t1) e o agu.1pé (Eichhoruia). Açudes e determinada pelo número de genetas, mas sim pelo núme-
lagos ou rios pm-it:m ,er ocup.idm em sua wralid.ide por ro de folhas (módulos).
p.1nes modulares rndependenres e separJdas, produzidJs por
um único Ligoto.
:\s jr\"ores _.,j_o l'Xt'mplos supremos de plantas que apre- 4.2.4 Senescência - ou a falta de - em
semam crescimt'.ll(O predominamememe vertiCJ.I. Unu carac- organismos modulares
terística peculiar 1..1ue distingue ,írvores e .ubusros Je muitas
pLrnt,lS herbJceas C o .~1,tem.1 que conecra os módulos entre si 1\luiras vo.e!'.i, nJo exi,te também uma scnescêncu prour:1111;1-
e estt:.'l ,lü SÍ.'ltemJ de r.1ízes. Es.'le si.'ltenu n.lo se:: decompõe; ao da pJra um indivíduo modular como um mdo - eles p:reccm
conrr:irio, ele se e.<.pes':>J com tecido lenhoso, o que lhe confere ter urna juvenrude somá rica perpécua. i\fesmo em .üvores, que Janeiro 1976 Julho 1976
um caráter perene. A nuior parte dJ esrrntura de um indiví- acumulam seus reciclo.'! caulinares marcos em corais gorgonia- Controle Ferhhzado Controle Ferl1llzado
duo lenhoso é morta, com uma delgada camada de tecidos
vi\"OS imediatamente .tbaixo da casca morra. Um desses teci-
dos é o cimbio, um meriscema que produz concinuamenre
novo.'! tecidos e, com l.'lSO, adiciona ao tronco da jrvore ca-
madas que se tom.Hão mareri.d morto. (sso provê resistên-
nos que acumulam velhos ramos caki~lc.idos, a morte com
freqüência ocorre porque os indivíduos se tornam muiro gran-
des ou sucumbem a doenças, e não por uma senescência pro-
gr.1mada. Isso é ilustrado por trê'i ripas de corais exisrenres nJ
;;,

~
_s
cn
Ili

i ~:~
~.ir
7-7.9
6-6.9
5-5.9
8--8.9
7-7.9
>9r
&--6.9
S---5.9
4---4.9
3---3.9
Greac Barrier Reef. Figura 4.2. A mort,didade anual declinou :{l 2-2,9 2-2.9
cia. ao indivíduo, .10 mesmo tempo em que soluciona o pro- acenmadamenre com o aumenco da colônia (e, porcanro, com g 1-1,9 1-1,9
u 0--0,9 0---0.9
blenu de obtenção de .igua e nurrien(es abaixo <la superfí- a idade) até, encre as colônias maiores e m,1is Jncigas, se rornar
cie do solo. bem como de luz pJra J!'.i p.ures mais alras do virrualmente zero, com nenhuma evidência de qualquer .1u-
dossel d.r floresta. FIGURA 4.3 A estrutura etána de partes aéreas em clones da ciperácea Carex arenaria crescendo em dunas, na localidade de North_Wales.
mcmo cm idades avanç.rd.rs (Hughes & Connell. 1987). Reino Unido. Os clor.es são compostos de partes aéreas de idades diferentes. O efeito da aplicação de fert1hzante muda a estrutura etana. Os
clones tornam-se dominados por partes aéreas 1ovens e as mais velhas morrem (segundo Noble et ai. 1979).
94 PARTE 1- ORGANISMOS
.:,
CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E H1STÓRIA DE VIDA 95
,f.
i
mãe não foi suficiente para superar o resultado dos efeims adver- casm., em especial. é apropriado considerar a den)úi.adede uma ·.f ci<lo como capcura-ma.rcação-recaptura. Em su.1 maneira mais Quancificar os nascimencos pode
sos da presença de competidores (Figura 4.4c; SM > UU > SU) populaçáo. Esse parâmetro é geralmente definido como "nú-
.1., simples, esse mérodo envolve a captura de um.1 amosrra alea- ser uma carefa mais dífrcil do que con- r,asc1rT:e•1'cis
ou posceriormence pareceu representar uma fonce de recursos
para o rameta (Figura 4.4d; SM > SU > UU).
mero de indivíduos por unidade de área", porém, em cerras
circunstâncias, "número por folha", ·'número por hospedei- ..•
~
cória de indivíduos de uma população, m.1rcação de tais indi-
,·íduo.'i (para que possam ser reconhecidos subseqüencemen-
tar indivíduos. A formação de um zi-
goto é muitas vezes considerada como sendo o ponto inicial
ro", ou algumas outras medidas podem ser também utilizadas. i
rd, soltura - para que possam retornar à popul.içJo local (se de vida de um indivíduo. Porém, esse é um estágio muitas

4.3 Contando indivíduos


Par.1 determin.u o tamanho de
uma população. deve-se imaginar que
·; miswrando a ela) - e posterior capcura de uma amostra alea-
tória de indivíduos. O tamanho populacionJl poder.í ser esti-
vezes não conhecido e exrremamence difícil de escudar. Para
muitas espécies de animais e plancas, simplesmente não temos
isso é possível simplesmente contan- ;)'.)í)UIJCl0'1é! mJdo a partir da proporção, nessa segunda .1mosrra, dos indi- idéia de quancos embriões morrem ames de ·'nascer", levando
Se quisermos escudar o nascimento, a morte e o crescimento do o número Je indivíduos, em espe- , íduos marcados pelo coral de indivíduos capmra<los. Dito de em consideração casos como o do coelho, em que se estima
modular, então devemos quantificá-los. Isso significa concar cialmence para espécies pouco numerosas, isoladas e de gran- uma forma aproximada, a proporção de inJivlduos marcados que pelo menos 50º/o dos embriões morrem ainda no útero, e
os indivíduos e (quando necessário) os módulos. De fato, de tamanho corporal. como um grande mamífero herbívoro n.1 segunda amostra dcved ser alta, se a popubçdo é relativa- de muitas plantas superiores, nas quais é provável que cerca de
muicos esrudos enfocam não a natalidade e a morcalidade pro- em uma ilh.1. Para muitas espécies, contudo, ess~ concagem é mente pequena e baixa, quando estivermos lid.inJo com uma 50o/o dos embrióes sejam abortados antes mesmo que a se·
priamente dicas, mas sim as conseqüências desces parâmeuos impossível ou impracicávd: J detecção - nossa capacidade para p·Jpulação relativamente mais numerosa. Um conjunto de mente esteja cocalmence crescida e madura. Com isso, é quase
populacionais. isco é. o número de indivíduos presentes em observ,lí cadd indivíduo preseme - é quase sempre menos do d.1dos (com recapcuras freqüentes) coma-se muito mais com- sempre impossível, na prática, considerar a formação de um
uma área de escudo e como esce número varia no tempo. Estes que 100°0. Por esse moúvo, os ecólogos deYem. na maioria plc>..o. fazendo-se necessário o uso de métodos de .inálise mais zigoto como o .. mamemo" do nascimento de um indivíduo.
estudos, emretamo, com freqüencia podem ser úteis. Mesmo d.is \"ele'~, t)ft111irr o mi mero de indidduos em unu populaç.ío. ._t)lhi,;;tentc (,·cr Schw.1rz e Seber, 19{)l), p.1r.t urn.1 revisJo). Em aves, podemos considerar o momenco do nascimenro de
com organi3mos unidrios, os ecólogos têm enormes proble- em \'eL Je contá-los. Eles podem escimJr o número Jt." pulgõe~ O segundo mécodo é usar um índice de .1bund.inci.1. Este um indivíduo quando este eclode do ovo; em mamíferos, guan-
mas técnicos quando tentam quantificar as populações na na- em unu pbnuçJo, por exemplo, contand9 o nümero desces pode forn;cer informação sobre o um,rnho rd.ui\'O de uma do um indivíduo é "expulso" (ou ''retirado") do útero e da
tureza. J\1uitas questões ecológicas permanecem sem resposca sobre uma .unosrra representativa de folhas, estimar a seguir o população, mas em si mc::smo proporcion.1 um.1 pequen,1 indi· placenta e começa a viver excernamence como lactente; e, em
por causa desses problemas. número de folhas por metro qt1Jdrado de solo e, assim, esti- c.ição do ramanho ab.')oluro. Como exemplo . .t Figuu 4. 5 plantas, podemos usar a germinação de uma semente como o
É comum usar o termo popul.ti- nur o nümero de pulgões por metro quadrado. ParJ plancas e mostra o efeito na abundância da rã-leop.udo (Rt1w1 pipi- momenco do nascimento, a despeito de ela ter passado um
ção para descrever um grupo de indi- animais que vivem sobre a superfície do solo (ou de um outro t'lí.i), em açudes próximos a Occa,va, C.rn...1d.i. sobre o nú- período de tempo qualquer de dormência. Podemos, encão,
víduos de uma mesma espécie sob in- subsrr.ico qualquer), a unidade de amostragem é geralmente mero de açudes ocupado.') e .1 quanriJ.1dc de hibic.ns de pensar que met.ide ou mais de uma populdç.ío freqüencemen-
vescigaçáo. O que realmence conscicui uma pe4uena área conhecida como parcela (ou quadrar, nome Yt:ráo {[errescres) em corno desses açudes. ~esse escudo, a ce terá morrido ames de poder ser registrada como viva!
uma população, no encanco, pode variar de espécie para espé- d.ado às formas quadrada ou retangular, para demarcar os li- .1bundáncia de rás foi estimada por meio de um método de Contar o número de mortos
cie e de escudo para escudo. Em alguns casos, os limices de mites d.a área sobre o solo). Para organismos que vivem no c~cuta, em que os animais foram indicado'i como ''ausen- cambém apresenta camas dificuldades
uma população são facilmente idencificáveis: uma determina- solo. a unidade de amostragem geralmente é em volume de te,··, "poucos", "medianamente .i.bundances" ou "muiro quanto quantificar os nascimentos. Corpos morcos não per-
da espécie de peixe que escâ ocupando um pequeno lago, por solo; p.1r .1 organismos aquáticos, volume de água; para mui- abundantes", de acordo com a imensidade do seu coaxar. A manecem por muito tempo na natureza. Somente esquelems
exemplo. Em outros casos, os limlces são muitas vezes decer- tos inseros herbívoros, a. unidade de amostragem é uma plan- despeito das suas deficiências, os índict.·~ de abunJjncia de grandes mJmíferos persistem por longos períodos após a
minados pelos objetivos do pesquisador ou até mesmo por ta ou folh.1 e assim por diante. Para mais detalhes quanto podem fornecer informações valios.1s. morte. Plànculas podem ser contadas e mapeadas em um dia
conveniência: é possível escudar uma populaçâo de afídeos ha- aos mirodos de amostragem e de contagem de organismos, e, no próximo, não haver mais indícios ddas. Pequenos roe-
bicando uma folha, uma árvore, um grupo de árvores ou a sugere-se procurar textos específicos sobre esse tema, por dores e animais de corpos moles, como lagartas e vermes. são
íloresca toda, por exemplo. Ainda em outros casos - e são muito exemplo, Brower e colaboradores (1998), Krebs ( 1999) e digeridos pelos predadores ou rapidamente removidos por con-
freqüentes - os indivíduos estáo distribuídos continuamente Southwood e Henderson (2000). sumidores de carniça ou decomposicores. Esces tipos de orga·
sobre uma área muito ampla, e o pesquisador, nesse caso, deve Par.1 .mimais, especialmeme, há dois mt!rndos adicion.tis nismos não deixam carcaças para serem contadas e nenhuma
definir arbitrariamente os limites de uma população. Nestes de e,;;tim.niv.1 do camanho populacional. O primeiro é conhe- • o evidência da cc1.usa de sua morte. Em um longo período de
'5 -
g-a, ,tcompanhamenco, os métodos de:: marcação e recaptura po-
o
e <D dem estimar a mortalidade a partir da perda de indivíduo~

(a) (b) (e) (d)


I~
o:"'
marcados em uma população (estes são. muicas vezes, utiliza-
dos tanto para mt:dir a sobrevívênciJ. quanro .1 abund.incia).
2
Porém, mesmo ncSte!l casos, com freqúência é impossível discin·
í gu1r perdJ de indivíduos por mortalidade ou por emigração.
r
1.6 1.6 l 6 ;._. 1.6
i
=O,OSSg
i"' 1,2
LSO
1.2
LSD = 0.079g
1.2
LSD = O 074g
1.2
LSD=0.154gl

1
4.4 Ciclos de Vida
! o.e .-=r. o.e

l
0,8 o.e 1
ãi
0.4

íl
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i 1',1 ,=,, íl
0.4 {=--r~

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; • 1
I
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j
1

i
1
FIGURA 4.5 A abundànc1a {método de escuta) de anf1b1os. represen-
Para enrender as forças que governam J. abundância dos indi-
víduos em uma população, precisamos conhecer as fases da
vida desses organismos em que essas forças arn.1m de forma
tados por Rana p1piens, em açudes aumenta sigrnficaltvamente tanto
mais significativa. Para isso, precisamos compreender ,1s se·
UU SU SM uu su SM uu su SM uu su SM com o nllmero de açudes próximos que Já estão ocupados quanto
com o nllmero de hábitats marginais em torno ,jos açudes nos meses qüênci.1s de eventos que ocorrem e governam os ciclos de vida
de verão {1 km de raio). O método de escuta consiste na soma de um desses organismos. De uma forma simplificada, um ciclo de
FIGURA 4.4 O crescimento de ramelas da gramínea Holcus lanatus. os quais possuíam 1n1c1almente {a) 1 semana. (b) 2 semanas, (e) 4 índice med1do em quatro momentos. O= nenhum 1nd1viduo coaxando;
vida (Figura 4.Ga) compreende n.1scimento, seguido por um
semanas e (d) 8 semanas. e acompanhados o crescimento posterior por um per1odo de 8 semanas LSO = diferença minima s1gnil1cahva, que 1 = indivíduos podem ser ouv,dos. mas sem sobreposição de sons: 2:::
precisa ser excedida por dois valores médios para ser diferente significativamente uma da outra. Para outras informações. veia o texto (segun- sons de < 15 ind1v{duos que podem ser d1st1ngu1dos com alguma so- período pré-reprodutivo, um período de reprodução e, cJ.Ívez,
do Bullock et ai. 1994a) breposição: 3 = cantos de~ 151nd1víduos {segundo Pape et ai., 2000). um período pós-reprodutivo, finalizando na. morre, como re-

1
96 PARTE 1 - ÜRGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HrsTORIA DE VrDA 97

sulcado da senescêncÍJ (ressalrando-se que ourros fatores de mo em climas mais sazonais, sendo responsáveis pelas abun-
(a) morralidade podem atuar em qualquer momento da vida). A dâncias de oucras espécies, como as baratas, pois criam am·
Fase 1uvenil. dominada Fase Fase pós· variedade de ciclos de vida está resumida em diagramas na bien[es escáveis para elas.
pelo crescimento - - ~ - - r e p r o d u t i v a - - - ~ + - - - reprodutiva Figura 4.6, embora existam muitos tipos que não seguem essa Dentre as plantas semélparas de ciclo de vida longo (maior
simples c!Jssificação. Alguns organismos apresentam muitas do que um ano) (Figura 4.6f), algumas
geraçóes dentro de um ano, outros possuem somente uma ge- são estritamente bianuais - cida indiví-
o
2 '' ração por ano (anuais) e outros possuem um ciclo de vida que duo precisa de dois verões e um inverno
3 se estende por v~irios anos. Para rodos esses tipos de organis- para se desenvolver, mas rem apenas uma fase reprodutiva, no
''
l
a:
1
1
1
mm, no entanto, existe um período de crescimento anterior à
reprodução; o crescimento em geral diminui (em alguns ca·
segundo período de verão. Um exemplo é o crevo branco doce,
Meliotus alba. No Estado de New York, essa espécie apresema
ê- '
1
. . os, ele cessa completamente) quando começa a reprodução. uma mortalidade relacivamenre alta durance a primeira estação
~
w ·,,'
1
Seja qual for o comprimemo do de crescimento (na fase de plântula), seguida por uma mortalida-

Nascimento
t
início
t
Final da
t
Morte devido
seu ciclo de vida, as espécies podem ser
semélparas ou iceróparas (em ecologia ve·
de muico mais baixa até o final do segundo período de verão,
quando floresce e diminui a sobrevivencia novamente. Ne·
da reprodução reprodução a senescênc1a geral. muitas vezes, elas são referidas nhuma planta sobrevi,·e aré o terceiro período de verão. Com
Tempo~ como monocárpicas e policárpicas). Nas isso, há um.1 sobreposiçio de, no m.í.x1mo, duas geraçóe::. (Klc·
espécies semélparJS, os indivíduos apresenram um único e distÍn· mow e RJynal, I 981 ). O exemplo mJÍs típico de uma e~pécie
(b) (e)
co evenro reprodutivo, muitas vezes após a fase de crescimento, St!mélpara com sobrepmiçã.o de gerações é Crindelút fa11ceola·
Fase 1uvernl investindo, assim, pouco ou quase nada na sobrevivência para ta (Asreraceae), que pode florescer em seu rerceiro, quarto ou
Fase
juvenil eventos reprodutivos futuros. Após a fase reproduriva, geralmen- quinto ano de vida. Logo após a floração, a espécie morre.
re os indivíduos morrem. Nas espécies ireróparas, um indivíduo Um exemplo bem conhecido de um animal semdparo
normalmeme apresenta vários momentos reprodurivos, alguns com gerações sobreposcas (Figura 4.6f) é o salmão do Oceano
s.uonais, outros não (reprodução continua). Duranre cada perío- Pacífico, Oncorhynclms nerka. Os salmões desovam nos rios.
do reprodurivo, o indivíduo conrinua alocando energia para so- Eles passam a primeira fase de sua vida juvenil em água doce,
brevivência e possivelmente aré para o crescimenro, tendo uma para então migrarem para o mar, muicas vezes percorrendo
Ano 1 Ano 1
Lena chance de sobreviver para se reproduzir novamente. milhares de quilômetros. Quando adultos, retomam aos mes-
Tempo--------------t Tempo----+
Por exemplo, muitas plantas anuais são semélparas (Figu· mos rios em que nasceram. A.Jguns rernrnam para se reprodu·
(d) ra 4.6b): elas possuem uma súbita explosão de florescimemo e zir após dois anos. enquanto outros recomam somente 3, 4 ou
Fase Fase reprodu!lva ----------------- produção de sementes, para depois morrerem. Isso é comum 5 anos depois. No período reprodutivo, a população de sal-
Juvenil
entre as ervas-daninhas em lavouras. Ourras, como a casneira móes é composta por geraçóes sobreposcas de indivíduos. Po·
tSenecio vu!garis), são Üeróporas (Figura 4.6c): elas continuam rém, todos são semélparos: desovam e morrem (ou seja, a re·
J crescer e produzir novas flores e sementes através das esta- produção é a fase de vida terminal do indivíduo).
.;;óes, aré morrerem, ainda com produção de botões, nas pri· Há exemplos muico mais drásticos de espécies que pos·
1------r-'-----,-----.--~-,---~-.-------------
'\
meir.1s geadas de inverno. suem um longo período de vida, mas se reproduzem uma vez
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5
Existe também um rirmo sazonal marcado nos ciclos de só. A maioria das espécies de bambus formJ densos clones de
(e) vida de muiros animais e plantas iteróparos, em especiJ.l liga· caules aéreos que permanecem vegetativos por muitos Jr10s:
Fase <lo à atividJde reprodutiva: um período reprodutivo uma vez mais de 100 em algunus espécies. Todos os caules, dos mes·
Fase reprodu!lva ----------------+
1uven1I por ano (Figura 4.6d). O acasalamento (ou a floração, em plan- mos e de diferentes clones, florescem enráo simulcaneamenre.
o
us) está rd.1cion.1do ao fornperíodo {ver Seção 2.3.7), influen· JV1esmo quando esses caules se comam fisicamente separados

i
a:
FIGURA 4.6 (a) Um padrão da h1stóna de
v,da para um organismo urntáno. O eixo x
ciando no nascimento dos filhores, na ecloslo de ovos ou no
amadurecímenro de sementes quando os recursos sazonais pro·
entre si, as panes aindJ. florescem sincronizadamenre.
Nas seções seguinces deste texro, apresemaremos os pa·

! esta d1v1d1do entre as diferentes fases de v.1vc:lmeme s:io :1bund,rntes. Aqui, porranrn. diferenremence drôes de nascimenw e mort,1li<lade de: alguns desses cidqs de
!-------,~----.----,-------------------------------- vida do 1nd1víduo O eixo y reflete o esforço J.1s e~pécic.:s Jnuai~. as ger..ições se sobrepõem, e 111divíduos de vida em mais detJlhes e r.:omo des podem ser quancificJdos
Ano 1 Ano 2 Ano 3 reprodutivo deste As figuras abaixo (b a f) v;Ínas idade~ convivem uns com os outros. A população estará Na tentativa de monirorar e examinar os padrões de mortali-
representam variações desse esquema bá-
sico. (b) Uma espécie semélpara anual. (e) mancida em parte pel.1 sobre\'ivência dos .1dulros e em parte dade com a idade ou estágio, muaas ,·ezes é usada uma t.1bc!tz
(1)
Uma espécie iterópora anual. (d) Uma es- pdos nascimentos. de vid,z. Esta permite a construção de uma curva de sobrei ivên·
1

------+\ pécie iterópora de vida longa com reprodu·


ção sazonal (pode viver mU1to mais do que
Por oucro lado, em regiões equatoriais úmi<las, onde ocor· eia, que mostra, ao longo do tempo (ou idade), o declínio
1 sugerido na figura) (e) Uma espécie de vida re pouca variação . . azon.11 na temperatura e na chuva, além do numérico de um grupo de indivíduos ou módulos que n.1sce·
longa com reprodução contínua (podendo próprio fotoperiodo, enconrrnmos espécies de plantas que flo- ram (ou emergiram, seja qual processo reprodutivo esteja .~endo

:\ novamente apresentar longevidade maior do


que o represenlado). (f) Uma espécie se-
mélpara que vive mais de um ano. A fase
rescem e frutificam ao longo de rodo o J.no - com animais
utilizando esce recurso e também conseguindo energia para se
utilizado). visco também como um modelo de probabilidade de
sobrevivC:ncia emre as várias idades de indivíduos que nascem
------~---.---~-----------------~~-'--~ pré-reprodutiva pode ser um pouco maior reproduzir (Figura 4.6e). Há virias espécies de figueiras (Fi- nesta população. Os padrões de na[J.lidade entre os indivíduos de
Ano n morte do que um ano (uma espécre bienal se re- cus), por exemplo, que frutificam continuamente e fornecem dif"eremes idades muitas vezes são monitorados ao mesmo tempo
Ano 1 Ano 2 Ano 3
produzindo no segundo ano) ou até mais do
Tempo-- alimento para muitJS aves e primaras. Os humanos são uma em que as rabeias de v1d.1 são construídas. Esses padrões são de·
que esse período (como indicado)
exceção à regra, ao apresentarem reprodução contínua, mes· senvolvidos por meio dos chamados p,1drões de Jecundidtzde
98

4.5
PARTE 1-

Espécies anuais
ORGANISMOS

insetos, com m·os, larvas, pupas, ecc.) ou em classes de tama-


nho. Os números populacionais, em P dnm1mondii, foram
r
.,i
i
( 1 x 295)/996 = 0,296). Assim, enquanto o valor de 996 é
peculiar ao conjunto de dados, escudos desse' cipo terão um
CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE V1DA

4.5.2 Padrões de fertilidade e taxa reprodutiva


líquida
99

Os ciclos de vida anuais compleram seu desenvolvimenro em registrados em v,íri.1s ocasiões ames da germinação e, após. em i valor de 10 de 1, comparando-os entre si. Os v.1lores de (
mrno de 12 meses ou menos (Figura 4.6 b, e). Comumente, inrervalos regulares aré todos os indivíduos terem florescido e 1 5jo melhores entendidos como a proporção da coorce ori- O arranjo da fertilidade apresemada na Tabela 4.1 (as rrês colu-
cada indivíduo de uma população se reproduz durante uma morrido. A vam.igem do uso de cl.isses de idade é a possibili-
.i ginal que sobrevive ao início da idade x. nas finais) inicia com uma coluna de dados brutos de campo. f_,:
!
dererminada esração do ano, não estando vivo nessa mesma dade de regiscr.ir em decalhes os padrões de natalidade e mor- Para estimar a morralidade com mJ.is cl.ueza, a pro· o número cocal de sementes produzidas durante cada período. A
esração no ano seguinre. Por isso. as gerações são chamadas talidade nos escágios (p. ex., escágio de plântula). A desvanra- porção da coorte original que morre durante cada estágio segunda colun.1 é m,: a fercilida.de individual ou taxa de nasci-
discretas, em que cada uma é distinguível da oucra; a llnica gem é que o escágio de um indivíduo não necessariamente ou idade (d) é calculada na próxim.1 coluna, )endo sim- memo, ou seja, o número médio de sementes produzidas por
chance de sobreposição de gerações é encre adultos reproduti- reflete a melhor ou a mais sacisfarória medida biológica. Em plesmence a diferença encre sucessivos valores de (; por cada indivíduo sobrevivente. Embora a época reproduriva para a
vos com a sua prole, durante um curro intervalo de tempo. As muitas planras de ciclo de vida mais longo, por exemplo, en- exemplo, d 1!,= 0.296-0, 191 = 0, 105. A taxa de mortalida- população de !'hlox dure em corno de 56 dias, cada planta se
espécies com gerações discretas não precisam ser obrigatoria- tre indi\'íduos d:1 mesma idade, :1lguns podem estar reprodu- de específica por idade, q,, pode, então, ser c.ilculada. O reproduz somente uma va.. Essa fase reprodutiva única produz
mente anuais, uma vez que podem apresentar período de vida tivamence ativos enquanto outros crescem vegecaci•·amence e pJCâmerro d~ é considerado como uma fração de (. Além um desenvolvimenro sincrónico (ou quase) de sementes. Uma
de menos de um ano. Na prática, conrudo, muitas são: o cido não se reproduzem ou rlJ.o se enconrram em nenhuma das disso, a magnicude das classes de idade torrl.l esse parâme- escação reproduciva mais extensa ocorre porque diferences indiví-
.rnual regular de regiões climácicas sazonais causa uma force siruaçóes. Em rais casos, uma classificação baseada em esd- cro sensível para converrer os valores de q, em taxas "diá· duos iniciam sua reprodução em tempos discincos.
pn:ss:ío sderiva em favor da sincronia. gios de J.:-sen\·ol\·Ímenco (em oposição à. idade) é mais apro· ri.15" de more.didade. Assim. por exemplo, .1 fr.1çJ.o de in- Pro\'avelmence o rermo mais imporcance que pode ser
priadJ. ~o esruJo de P tlm1111no11dii, a decisão de se usJr cb!>- Ji\·iduos que morrem encre os diJs l 24 e 18-i t: O, 1())/0.296 = c:xcraído de um.1 r.ibeti de ,·id.1 e de ft:rrilid,1de é a CJ.X..1 repro-
ses de idade foi b.1,eada no número pequeno de: c:sdgios, n.1 0.3)5, o que significa, em uma fraçáo di.iri.1 dJ {dXJ, q,.l-1' duriva líquida, indicada por R,r Esse pJd.mecro represenca o
4.5.1 Espécies anuais comuns: tabela de vida variJçáo demográfica denrro de cada um e +1.1 sincronia de de> 0,007. O parâmetro q, umbém pode ser considerado número médio de prole (o primeiro estágio do ciclo de vida -
de coorte desenvolvimenco da população como um cada. como uma "chance" ou probabt!idJde de um indivíduo sementes, nesce caso) produzida pela coorce. Isso indica, em
A primeira coluna da Tabela 4.1 morrer durante aquele incervalo. Isso é equÍ\'J.lente a (1-pJ, espécies anuais. a excensão total pelo qual a população au·
Uma tabela de vida e um padrão de fecundidade escão exibi- indica as várias classes, (nc:sse caso, de as cJ\,'' ;5 ·""::·-? _:í";'.-3 em que p refere-se à probabilidade de sobrev1\·e'ncia. menta ou decresce no tempo. (Como veremos a seguir, a si-
dos na TabelJ 4.1 para a espécie vegetal anual !'hlox drum· idade). A segunda coluna, a,, lista a iaoe·a. :i~ ,.,ij;:i A vantagem dos valores de d~ é que eles podem ser tuação torna-se mais complicada quando as gerações se sobre-
mondii em Nixon, Texas (Leverich e Levin, l 979). Uma cabe- principal p.arce dos dados: o número somados: com isso, a proporção da coorte que morreu nos põem ou quando ocorre reprodução concínua.)
la de vida é denominada de coorte, porque uma única coorte tO[al de indivíduos vivos no início de cada cl.isse (tt 0 indiví- primeiros 192 dias (essencialmente o período pré-reprodu- Há duas maneiras pelas quais
de indivíduos (isto é, um grupo de indivíduos que nascem duos na classe inicial. tt6 ,; na classe seguinte - no início do dia rivo) foi de d 0 + d63 +d,:!,+ ... + d!-s (= 0.840). A desvanta- podemos calcular Rrr A primeira é por
dentro de um mesmo intervalo de tempo) foi acompanhada 63 - e assim por diance). O problema com a coluna a, é que: gem é que os valores individuais não dão um.a idé.l:i. real da meio da fórmula:
do nascimenro até a morte do último sobrevivente. Em espé- ela indica umJ informação específica para uma populaçio na· inrensidade ou imporrância da marrai idade duranre um es-
cies anu.lis, como P. drummondii, não há oucra maneira de quele .ino, dificultando a comparação com outras populações (ágio (ou idade) particular. Isso porque os vJlores de d, es- (4.2)
construir uma cabela de vida. O ciclo de vida de P drummon- e ourros anos. Os valores necessicam, com isso, serem padro- cJ.o relacionados ao número de indivíduos; quanto mals in-
dii foi dividido em um número de classes de idade. Em ourros nizados. na coluna que vem a seguir, ( O valor inicial é l, e divíduos, maiores serão os valores de d,. O valor de q,, por ou seja. o número cocal de semences produzidas durante uma
casos, é mais apropriado dividir em estágios de vida (como em todos os demais são produzidos em relação a ele (p. ex .. Íe 1 = oucro lado, é uma excelente medida da incensid:lde da mor- geração dividido pelo número original de semences in- u: (
ulidade. No exemplo dado da tabela, esc.i claro que a in- dica a soma dos valores da coluna F.). A maneira mais usual
formação da coluna. q,. ressalta que J. raxa de mortalidade de calcular Rrr contudo. é pelJ fórm:1la:
aumenca mulro no segttndo período. informação que não
TA~ELA 4.1 Tabela de v1da de coorte para Phfox drummondii. O sign1f1cado das colunas está exphcado no texto {segundo Leverich e fica clara nJ coluna d,. M.is os valores de q, também apre· (4 3)
Lev,n, 1979) sentam uma desvancagem, pois, por exemplo, ao !>Omar os
Proporção da Proporção da primeiros 292 d1Js, o resultado não dá un1.1 idé1.1 da caxa ou seja, a soma do número de sementes produzidas por indi-
Intervalo Número de coorte original coorte ong,na/ Taxa de de monalida<le Juranre o período. víduo durance c1da escágio (a coluna final d.1 cabela de forcili·
de idade sobrev1entes sobrevivente morta durante mortalidade Força diária dade). Como demonstrado na Tabela 4.1. o valor de R0 será o
Essas vanragen-" C)t.í.o combma·
(dias) no dia x no dia x o intervalo pord,a de morte
X·X a, 1, d, q, Log10/x k, F, m,
<.bs. comudo, 11.1 pri"iximJ coluna da mesmo, qualquer que seja a fórmula utilizada.
t.thda de ,·ida. 4ue fornece os valores k, (f l.1ldrne, 19-í9, \'ar- A fecundidJde especifica por idade. 111, (a fecundidade
0-63 996 1 0,329 O 006 0.003
63-124 \c:1· e Gradwell. 1970).0 padmecro k, é Jd\nlJo como .1 dit~- pda sobre\'Í\'ência individu.:tl). demonsrr.1 a exiscênciJ de um
668 0,671 0,375 0.013 -0.17 0.006
124-184 295 0.296 0.105 0.007 ··0.53 0.003 renç,1 emre os Sltcess1\'0S v.1lores de logJ1 111, ou ~uce":>sivo, valo· período rc:prodmivo, uma gradual ascensáo Je produção de
184-215 190 0.191 0.014 0.003 -O 72 0.001 res de log 10 ( (considera-se como o me . . mo1, e e~ce se rc:fere novos indidduos, um pico e, após, um rápido declínio. A pro-
215---264 176 0.177 0.004 0.002 -O 75 0.001
264-278 172 0.173
como uma ''força de monalid.1de". Como os ,·-1\ores de q 1 , os dução reprodutiva tocai da popuhção. (. assemelha-se a esse
0.005 0.002 -0.76 0.001
278-292 167 0,168 0,008 0.004 ··0.78 0.002 valores de k, refletem a inrenstdJde de moru!1J.1de (.1ssim como padrão. porém rambém leva em coma o faro de que, enquan-
292-306 159 0.160 0.005 0.002 -0.80 0.001 53.0 0,33 0.05 demonscr,1dos na T.1bda 4.1); porém, ao concrino dos valores m J fecundidade específica por idade se alcerava, o camanho
306-320 154 0.155 0.007 0.003 -0.81 0,001 485.0 3.13 0.49
320-334 147 0.148
de q,, os valores de k, podem ser somJ.do ..... Assim, .1 força de da população declinJva gradualmente. Ess.1 combinação encre
0.043 0.025 -0.83 0,011 802.7 5.42 0,80
334-348 105 0,105 0.083 0.106 -0.98 0.049 972.7 9.26 0.97 mortalidade ou valor k para o final dos 18 d1.1s é (0,011 x 14) fecundidade e sobrevivência é uma propriedade imporcance
348-362 22 0.022 0,022 1 -1.66 94.8 4.31 0.10 ,. (0.049 x 14) = 0,84, que é umbém a diferença emre - 0,8.1 de F,. compartilhada pela taxa reprodutiva liquida (RJ. Isso
362- o o e-1,66 (com aproximações numéricas). Ob~erve r.unbC:m que acarrera o faco de que a reprodução porencial depende canro
2.408.2 2.41 ral como os valor~s de(. os valores de k 1 escio padronizados e, da reprodução atual (m) quanto da sobrevivência (/).
porranco, são J.propriados para compar:u com ourros estudos. No caso da população de P. drummo11dii. R0 foi 2.41.
R0 ="E..f,m, = IF, =2.41. 0Íeste capículo e em oucros mais adiance. os nlores de k, serão Isso significa que houve um incremento de 2.4 l vezes no ca-
a,
us.idos reperid.1.mence. manho da população durante uma geração. Se cal valor for ma.n·

1
.J

1
l 00 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA l Ol

rido a cada geração, J população de P. drummondii poderia cres- do, amostras são mmadas, e sobre o mesmo intervalo de tem- de sementes. Assim, a qualquer momento, as sementes de uma
po, o índice de densid1de declina de 100 para 50. Os dois 1.000 série de idades podem ocorrer juntas no banco de sementes e,
cer indefinidamenre aré cobrir o globo. Esrá claro que um quadro
Tipo I
mais realista dJ sobrevivência e morralidJ.de de P. drumrnondii, casos são biologicamente idênticos, ou seja, a probabilidade ou dessa forma, quando germinarem, as plâ.nculas produzidas tam-

.
~~, \
ou de qualquer OU[ra espécie, pode ser gerado somente por meio raxa de morte por indivíduo sobre esse intervalo de tempo (rJ.Xa 100
bém serão de várias idades (aqui entendida como o tempo de
do acompanhamento dessas variiveis por muitos anos. per capita) é a mc-sma. O grau de inclinação das du.is curvas de exisrência da semenre desde que ela foi produzida). É rara a
sobrevivência refletiria isso: ambas seriam - 0,30 l. Porém, em ·g formação de algo comparável a um banco de sementes para os
~

4.5.3 Curvas de sobrevivência


uma escala linear, as inclinações iriam diferir. As curvas de so- -~ 10
\ animais, mas há exemplos entre os ovos de nemaródeos, mos-
quitos e camarões, as gêmulas de espon1as e os estatociscos de

·~ ~~
brevivência em uma escala logJrítmica têm, ponanco, a vanta- ~
gem de padronizar os estudos, ral como as taxas de q,.. k, e mx. "' briozoários.
O padrão de morralid,1de na população de P drummondii é A plotagem dos números em uma escala logarítmica indicará Observe que as espécies em geral referidas como "anuais",
ilustrado na FigurJ. 4.7.i, ucilizando-se ambos os valores, q,. e também quando as t,Lxas de aumenco per mpita são idênticas. .. mas com um banco de sementes (ou o equivalente para os
(. A raxa de morr.did.1de foi alta no início do estágio de se- Os "números na escalJ log" devem ser preferencial.meme usa- 0,1 animais), não sã.o plenamente anuais - mesmo que germinem
Idade
mente, mas tornou-se baixa no final. Com isso, entre os adul- dos, em detrimento dos "números", qu..1.ndo as dif"erenças nu- e se reproduzam dentro de um ano - se algumas das sementes
tos, houve um período em que a raxa de mortalidade fluruou méricas são demonsrradas em gráficos. destinadas a germinar a cada ano tiverem mais do que 12 me-
FIGURA 4.8 Uma classificação para as curvas de sobrevivência O ses de vida. Isso mostra um exemplo de situações reais de or-
em rnrno de um ni\·d moderado, seguido flna.lmenre por um
Tipo 1 (convexa} - exemplificado. talvez. por humanos em países de·
pro1wn(i.1<lo .iumencu ,1 níveis muirn .1lw.'l duranre as úlrimJs senvolvidos. animais criados em zoolàg1cos ou tolhas de uma planta
.'len1Jnas da ger.1çáo O mt'smo padr.ío é mostrJ<lo Je uma 4.5.4 Uma classificação para as curvas de - descreve a situação na qual a mortahdade está concentrada no final
da longevidade máxima O Tipo li (linear) indica que a probabilidade
forma diferente nct h~ur..t 4.7b. EsrJ. é denominada curva de sobrevivência
j~ morte permanece constante com a idade e pode ser bem aplicada
sobrevivência, e segue o declínio de logff/ com a idade. Quan- a bancos de sementes enterradas no solo para muitas populações de
do a r~xa de morr1!t<l.1dc é aproximadamente consca.nre. a curva As rabeias de vida fornecem um grande número de informa- plantas O Tipo Ili (càncava) md1ca alta mortalidade 1nic1al e subse·
1.000
de sobrevivência se rom.1 m.lis ou menos retilínea; quando a ções sobre os organismos. Porém, os ecólogos buscam genera-
qúente alta taxa de sobrevivência. Isto se aplica. por exemplo, a muitos C----------~---
peixes mannhos, que produzem milhões de ovos, dos quais poucos so- Dens1dade bau.::a ~ ---=-"\...
raxa aumenta, a curv.1 se rurnJ convexa; e quando a taxa de- lizações: padrões de vida e de morte que podem ser reperidos brevivem atê a idade adulta (segundo Pearl. 1928; Deevey. 1947).
cresce, a curva torn..1.-sc côncava. No caso representado, a cur- nos ciclos de vida de diversas espécies. Um conjunto útil de
VJ apresenta-se côncava até o final do estágio de semente e curvas de sobrevivência foi desenvolvido por Pearl ( 1928), no
convexa aré o final d.1 geraçáo. As curvas de sobrevivência são qual generalizou que haveria tre's tipos básicos sobre os quais lid..t<le consrame do nascimento até as idades mais avançadas.
as formas mais usuJÍs de representar os padrões de morralidade. os riscos de mortalidade de acordo com a idade poderiam es- Urn exemplo dessa situação pode se.r a sobrevivência de se-
O eixo J', na Figura 4. 7b, é loga- tar distribuídos entre os mais diferences organismos (Figura menres enrcrradas no solo. O Tipo III descreve uma alra mor-
rirmico. :\ importância de se logarit- 4.8). O Tipo [ descreve a siruaçáo na qual a mortalidade esrá r.d1d.-1.de inicial, seguida de uma elevada taxa de sobrevivência. 10 15 20 25

mizM os valores de J' pode ser conside- concentrada em idades mais avançadas, no tempo m.Lximo de E-:~e padrão é rípico de espécies que produzem muira prole.

.
rada imaginando-se dois escudos de vida de um organismo. Esse ripo é, calvez, mais típico em hu- .'\p~sar de uma baixa sobrevivênci,1 iniciJI, aqueles indivíduos 1.000

uma mesma popul..tção. No prim;iro, roda a população é con- manos de países desenvolvidos e animais de estimação ou si- qu~ ultrapassam essas idades críc1cas apresentam baixos, po- o::
750
tada: há um declínio de 1.000 para 500 indivíduos. No segun- tuados em zoológicos. O Tipo II descreve Lima raxa de morra- rém consranres, riscos de mortalidade. Esse padrão parece ser
·g
~ 500
o mais comum encre plamas e animais na natureza.
Esses ripas de curvas de sobrevivência são úteis generali-
"
~
~ 250
z,1ções, mas, na prática, os padrões de sobrevivência são bem "' 100
50
(a) (b) mais complexos. Por exemplo, em uma população de Erophila
0,11
1,cnM, uma planta anual que habira dunas, a sobrevivência 10 15 20 25
pode seguir uma curva do tipo I quando os indivíduos esráo
0,1
em densidades baixJs, apresemar uma curva do tipo I[ (pelo 1.000
0,09 meno~ em idJdes m.iis avançadas), em densid.1des medianas, e
umJ curva do ripo III nos esrágios iniciais de vida. quando
0.08
c11conrrctda em .1hJ, dens1d,1des (F1gur.1 4.9). ·.--.......__Densidade
____ alta

0,07
--------
.
".
e;
0,06

o.os
4.5.5 Bancos de sementes, efêmeras e outras
espécies quase-anuais
100
50

·, k 10 15 20 25
0,04 1,
Idade da planta
O uso de P. dmmmondii como um exemplo de uma espécie
0,03
Yegecal anual pode, J.té cerro sentido, causar confusâo, umJ
-2 FIGURA 4.9 Curvas de sobrevivêncra (I", em que /0 = 1 000). para
0.02 vez que o grupo de plântula:, que se desenvolvem em um ano uma planta anual de dunas. Erophila vema, monitorada em três ní-
FIGURA 4. 7 Mortalidade e sobrevivência no
0,01 ciclo de vida de Phlox drummondii (a) Taxa consrirui-se em uma coone verdadeira: das derivam inteira- veis de densidade: elevada (mic1almente com 55 ou mais plântulas
por 0.01 m2); mediana (15 e 30 plãntulas por 0,01 m 2); a baixa (la 2
-----· --::.._-_~ de mortalidade d1ána especifica por idade {qJ
e intensidade de mortalldade (k). (b) Curva
mente das St'.'menres produzidas pelos adultos do ano anterior.
plãntulas por 0,01 m2). O eixo x (idade) eslá padronizado levando-se
100 200 300 100 200 300 Sementes que não germinam em um ano não sobreviverão ao em conta o fato de que cada curva representa a média de sobrev1vên-
de sobrevivência: vanação de log 101.. em rela-
Oras Dias ção a idade {segundo Levench e Levin. 1979) próximo. Em muitas plantas dicas ··anuais'', este não é o caso. c1a de várias coortes, as quais apresentam também diferentes longevi·
Por exemplo, as sementes se acumulam no solo em um banco dades médias (em media, 70 dias de vida) (segundo Symonides. 1983).
T
.i
.t
102 PARTE 1 - ORGANISMOS
·!• CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA 103
ij
ganismos que fogem de nossa tentativa de colocá-los em cate- guince. Is.')o se ,1plica. por exemplo, ao isópode terrícola Phi/mcia TABELA 4.2 Tabela de vida de coorte para as fêmeas do cervo-vermelho na ilha de Rhum que nasceram em 1957 (segundo Lowe, 1969).
mwcorum, que vive no nordesce d:1 Inglaterra (Sunderland et ai., ; Proporção da coorte original Proporção da coorte original que Taxa de
gorias claras e definidas.
1976). Qu,Lse 90% das fêmeas se reproduzem somente no pri-
i Idade (anos) no inú;io da idade x morreu durante a idade x mortalidade
Como regra geral, sementes dor-
.~ cun,;:i,Js,cdo de mences, que contribuem para o banco meiro verio após o seu nascimento; as oucras l 0°/o se reproduzem ·1' '· d, q,

de sementes, sJo mais comuns em es- apt:nas no segundo verão. Em algumas outras espécies, a diferen-
1 o o
1 0,061 0.061
pécies de planras anuais e de curro ci- ça nos número-.. entre as que se reproduzem no primeiro ou no 0.939 0.185 0.197
clo de vida, comparadas a espécies de vida mais longa. Assim, -..egundo ,lllO é cão insignificante que a denominação amt11'-bie- 0.754 0,249 0.330
0,505 0,200 0,396
em bancos de sementes predominam espécies de ciclo de vida 11a! seria m.1.is J.propriada.
0.305 0,119 0,390
curco, mesmo em locais onde ocorrem plamas estabelecidas Em sumJ, estí claro que ciclos de vida anuais são muico 0.186 0.054 0,290
de vida mais longeva. Ê possível que a composição de espécies mais complexos e diversos. 0,132 0.107 0,810
0.025 0.025 1
do banco de sementes e a vegetação existente acima do solo
sejam diferences (Figura 4.10).
Espécies anuais com bancos de sememes não são as únicas 4.6 Indivíduos com períodos reprodutivos
para as quais o termo anuaJ, no sencido escrito, é inapropriado. repetidos 4.6.2 Tabelas de vida estática brevivenres dos 78 indivíduos de cinco anos de idade vivos
Por exemplo. ex.iscem muitas espécies vegetais anuais vivendo em em 1956, que, por suJ vez. foram os sobre\'Ívé'ntes dos SI
dõc-rros que são muito mais sazonJis no seu ap.uecimenco. Elas ~vluica~ espé<.:ic--.. sc- rc>produzem v..iri.1s vc::zes (.,~sumindo--..e que As dificuldade') t'.'m se construir uma tabd.1 de \·id.1 de coorte indivíduos de quJtro anm é' assim por diJnce. Ou seja, pode-
pmsuem um banco de st'.'memes subsrancial. com a germin.1ção sobrev1v.1.m p;n,1 1,su), .1prt'.'st'.'ntJ.ndo. contudo. um período sa- p.ir.1 um organismo que apresenta gerações ":tobrqJmCJ':t são mos afirmar que os d:idos apresent:.1dos na T1bd.1 4.J s:to os
de ocorrência rara. após chuvas consideráveis. O desenvolvimen- zonal t'.'speclfico. Como conseqüência, d.is .1rré'senram gera- facilitadas quando o organismo é séssil. Neste CISO, novos mesmos que seriam obtidos caso uma respecciva coorre dessa
to subseqüence em geral é rápido, de modo que o período da çóes sobreposc,1s (ver Figur:1 4.6d). Encre os exemplos mais emergentes ou dispersores podem ser mapeaJo,, focografados populJção tivtsse sido acompanhada.
germinação até a produção de sementes é curco. Tais pia.mas são comuns, estão as aves de regióes temperadas que vivt'.'m mais ou mesmo marcados, e a sua exara localização rt'.'conhecida Tendo feito cais pressuposiçóes,
melhor definidas como semélparas efoneras. de um ~mo, .1J,7uns corais, a maioria das irvores e outras plan- ~t'.'mpre que a área de estudo for revisitada. De forma geral. as colunas f.:. d.-.: e q\ foram construí-
Um rótulo de espécie anual também está equivocado para tas perenes ite~óparJs. Nessas espécies, há uma série de indiví- comudo. os problemas práticos têm impossibilit.1do aos ecó- das. Está cl~ro. contudo, que elas sáo
espécies cuja maioria dos indivíduos de cada geração é an~ mas duos de idades discincas que estão se reproduzindo ao mesmo logos construir muiras tabelas de vida de coorte par.1 organis- falsas. Houve realmente mais animais
uma pequena quantidade posrerga a reproduçáo para o verão se- rempo. Encrecanco, nessa categoria, algumas espécies de gra- mos iteróparos de ciclo de vida longo com gerações sobrepos- no sétimo ano, comparado ao sexto, e mais animais com 15
mínea_,;, por exemplo, e muitas espécies de aves apresentam tJS, mesmo quando estes são sésseis. Todavid, há uma alterna- anos do que com 14. Portanto, houve morcalidades "neg;.Hi-
ciclos de vida relativamenre curcos. tiva: a construção de uma rabe!J de vida escárica. Como vere- vas" e taxas de mortalidade inexpressivas. Os problemas em se
mos adiance, essa alternativa pode tornar-se muiro incorrera,
mas é, muitas vezes, melhor do que nenhumJ.
4.6.1 Tabelas de vida de coorte Um exemplo interessante é trazido pelo estudo de
l.owe para o cervo-vermelho em Rhum. Como j.-í foi expli- 1.000
É mais di fiei! consrruir uma tabela de vida para es~cies que se cado, uma grande parce dos cervos que morreram de 1957 -ll
reprocluzem repetidamente do que para as anuais. Um.1 coorte a 1966 pôde ter sua idade reconhecida correr.1mente. As- -!! 500
' '
-ll 400
deYe ser reconhecid:1 na população e acompanhada (muitas vezes sim, por exemplo, um indivíduo, recém-morro em l 961 e
par vários anm). mesmo que os organismos esrejam mismrados e datado como tendo seis anos de idade. foi reconhecido como
~ 300

~ 200
coexisríndo com a~ demais coorces. mais \"dhas ou mais jovens. tc:ndo dois anos em 1957. Lowe foi capaz de reconsuuir a -ll \~
Contudo. isso foi possível de ser realizado como pane de um esrrumra de idades da população em 1957: estrurura de ~
100
extensi\·o c:scudo sobre o cervo-vermelho ( Ctrvus túzphw), na pe-
quena ilh.1 de Rhum. Escócia {Lowe. 1969). Essa espécie vive um
idades (ou escrutura etária) é a base para J construção de
c.1belas de vida estática. É claro que a estrurnra etária da
~
~
E
50 \ \',,,
. :~
pouco m.iis de.· l G anos, e J.~ fêmeas são capaies de se reproduzir a população em l 957 poderia ter sido averiguada :1barendo- ;,: \
caJ,1 Jno J p.1rm do seu qu.irco verão. Em 1957, Lowe e seus se um grande ntÍmero de cervo.<, e examinanJo d'> suas ida- ~
i
~
20
cohibur.,dore~ reali1..1.ram uma contagem cuidadosJ dc: indivíduos des; porém, como o objerivo do projeto er.1 po,;sibil1r.1r a
de ce;rYm nJ i!h.l. incluindo o número roral Je bezerros (mt'.'nO~ Lnnser\'J.Ção do cervo, este método saia in.1~1rnpnado p.u:.1
~ 10
~
Je um .mo de \·id,1). Esta foi J. coorte dt: bezerrJS que l.o,,'é' con- seus propósicos. (Observe que os rc:sult.1.dch de Lmve; não ~ - - - - - Fêmeas em Rhum
siderou em l ')5" Assim. de 1957 aré 1966, cada individuo que representavam o número total de individuo, ~·ivos em 1957, ~ em 1957 {es!at1ca)

morri., Jnu.tlmeme por causas narurais ou não (caça) era registra- uma vez que algumas carcaças já reriam s1dn decompostas i - - - Fêmeas que nasceram

do. por meio d.l.\ condiçóes rigoro-..amente controladas do Servi- ou mesmo comidas antes que o pesqui.<.ador pudes.se r2'-las
e em Rhum em 1957 (coorte)

ço de Conservaç'io da Natureza. A idade deles foi determinada examinado.) Os dados de Lowe para as frmcas do cervo- .~
z
FIGURA 4.10 Espécies restabelecidas a part,r do banco de semen- pdo exame d.1 dentição (desgaste e substituição dos dentes). Des- n:rmelho são apresentados na coluna 2 da Tabel.t 4.3. 1 2 3 4 5 6 7 8 9101112131415
tes. de plântulas e da vegetação madura. em um campo na costa sa tOmu, foi pm-..i'-"d idencificar os cervos que pertenciam J. coor- É imporrance lembrar que os dados <la T,helJ 4.3 se re- Idade (anos)
oeste da Finlândia Sete grupos de espécies (GA1 a GR7) são dehni-
te de 19)7, em 1966, 92º/o deles já tinham sido morms, e suas terem a idades em 1957. Eles podem ser u,;Jdm como uma
dos com base na presença em somente um. em dois ou em todos os
estáglOS. O GR3 (somente encontrado no banco de sementes e em piãn- id:.1des. dt'tt'.'rminadas. A rabeia de vida para essa coorce de fêmeas base para a rabeia de vida, mas somente se for assumido que FIGURA 4.11 Curvas de sobrevivência para fêmeas do cervo-verme-
tulas) consiste em um agrupamento de espécies incompletamente iden- (ou os 92% da .1moscra delas) está apresenrada na Tabela 4.2. e a não houve variação anual anterior ao ano referido no número lho da ilha de Rhum. Como explicado no texto. uma delas estâ basea-
tihcadas; em GRS há muitas espécies difíceis de identificar. como plântu- da na coorte de 1957 e. por isso. se aphca para o periodo a partir
curva de -..obrt'.'Vi\'ência correspondente, na Figura 4.11. Parece rot:.11 de nascimentos e nem nas taxas de sohre\ ivêncÍJ. especí-
las. que podem pertencer mais apropnadamente a GR 1. Contudo. a mar- deste ano; a outra curva estâ baseada na tabela de vida estática para
cada diferença na composição. em especial entre o banco de sementes ter ha·:ido um :mmenco consistente e regular no risco de morcali- ficas por idade. Em outras palavras, deve-se assumir que os 59 o ano de 1957 e, portanto. se aphca para a população antes deste
e as plantas adultas. é bastante aparente (segundo Jutila. 2003). dade com a idade Ct curva é convexa). indivíduos de seis anos de idade vivos em 19)7 foram osso- período (segundo Lowe, 1969).

l
l 04 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA l 05

TABELA 4.3 Uma tabela de vida estática para as fêmeas do cervo-vermelho na ilha de Ahum, baseado na reconstrução da estrutura etâna da TABELA 4.4 Tamanho médio da ninhada e idade de chapim-real (Parus major}, na floresta de Wytham. próximo a Oxford, Reino Unido
população de 1957 (segundo Lowe. 1969). (segundo Pemns, 1965).
Idade Dados reformulados /IP de indivíduos 1961 1962 1963
(anos) observados de idade x
a, ,, d, q, ,, d, q, Número
de nascimentos
Tamanho médio
da ninhada
Número
de nascimentos
Tamanho médio
da ninhada
Número Tamanho médio
Idade (anos) de nascimentos da ninhada
129 1 0,116 0,116 1 0.137 0,137
114 0,884 0,008 0,009 0,863 0,085 0,097 128 7.7 54 8,5 54 9.4
113 0.876 0,251 0,287 0.778 0.084 0,108 18 8,5 43 9 33 10
4 81 0.625 0,020 0,032 0.694 0,084 0,121 14 8,3 12 8,8 29 9.7
5 78 0,605 0,148 0,245 0,610 0,084 0, 137 5 8.2 9 9,7
6 59 0,457 0,047 0,526 0.084 0,159 1 8 2 9.5
7 65 0,504 0,078 0,155 0,442 0,085 0,190 9,0
8 55 0,426 0,232 0,545 0.357 0,176 0,502
9 25 0, 194 0,124 0.639 0,181 0.122 0,672
10 9 0,070 0,008 0, 114 0,059 0,008 0, 141
11 8 0,062 0,008 0.129 0.051 0,009 0,165
12 7 0,054 0.038 0,704 0.042 0.008 0,198
próximo estágio (com 36 a 40 folhas), ele assumiu que um 4.7 Taxas reprodutivas, tempos de
13 2 0,016 0,008 0,500 0,034 0.009 0,247 cmal de l ,30 (isro ~. 1,04 + 0.~6) caule a~reo vivente inre- gerações e taxas de crescimento
14 1 0,080 -0.023 0,025 0.008 0,329 gr.t\'J o esti~io de 31 J 35 folh.1.s. Como hJvia J ,30 caule riopul3cional
15 0.031 0,015 0,484 0.017 0,008 0,492
0,009 0,009
;éreo vegeu...tivo e 1,56 caule aéreo florífero no escigio de
16 0,016
.l l a 35 folhas, 2,86 caule aéreo devem ter sobrevivido do 4.7.1 Relações entre as variáveis
est.igio de 26 a 30 folhas. Dessa forma, a rabeia de vida foi
construir tais ubt'bs de vida (e comparar estrururas ecárias foram marcadas com marcas reconheciveis após a incuba- construída (aplicável aos módulos, náo aos generas indivi- Na seção anterior, vimos que as tabelas de vida e os padrõe;; de
com curvas de sobrt:vivência) esrão amplamente ilustrados. ção). A rabeia mostra que a fecundidade média cresceu até duais). fecundidade observados para espécies com gerações sobrepos-
Entreramo, os dddos podem ser Úteis. O objeTivo de Lowe os indivíduos completarem dois anos de idade e, após, decli- Parece não ter havido o estabelecimento de novos indi- cas são similares àqueles construídos para espécies com gera-
foi ddr uma idéia gera! das raxas de sobrevivência específicas nou gradualmence. Na verdade, a maioria das espécies iteró- víduos a parcir de sememes (sem novos genecas); os números ções discretJS. Dentre as espécies com gerações discretas, po-
por idade para a população ames de 1957 (quando o abate da paras mosua um padrão de fecundidade relacionado com a de caules aéreos foram sendo mancidos somente por cresci- demos calcular a taxa reprodutiva líquida (R) como um parâ-
população reve início). Ele poderia, então, ter comparado os idade. Por exemplo, a Figura 4.12 demonma a fecundid.1de mento modular. Contudo, foi construído um "padrão de cres- metro que descreve o resultado final combinado dos padrões
dados abridos com a situação após 1957, como ilumado pela <lependence da idade para o alce, Alces alces, na Suécia. cimento modular", análogo ao de fecundidade. de sobrevivência e fecundidade. O mesmo pode ser realiZJdo
rabeia de vida de coorte discutida anteriormente. O autor es- Observe, por fim. que foram usados estágios, em vez das quando temos gerações sobreposcas?
tava mais interessado nas tendências gerais do que nas mu- classes de idade, nesse estudo - algo que é quase sempre neces- Podemos observar que, para espécies com gerações dis-
danças particulares ocorridas de ano a ano. Ele, por isso, ''re- 4.6.4 A importância da modularidade sário quando estamos lidando com organismos modul.ues. A (reras, R0 descreve dois parâmetros populacionais disrinms.
organizou" as variações nos números enue as idades de 2 a 8 variabilidade no crescimenco modular, que se acumula ano Ele representa o número de descendentes produzidos em mé-
anos e de l O a 16 Jnos e constatou um declínio conscanre A ciperácea Carex bigelowii, que cresce em áreas alagadas após ano, faz da idade uma medida pobre para acessar as chan- dia por um indivíduo durante o curso de sua vida e, também,
durJnte esses dois períodos. O resultado está mostrado nas da Noruega, ilusua as dificuldades de se consuuir qual- ces de um organismo morrer, se rc:-produzir ou mesmo crescer o facor de multiplicação para o tamanho populacional inicial
três colunas finais da Tabela 4.3 e na curva de sobrevivência quer tipo de rabeia de vida estática para organismos modu- posteriormente. que determinará o tamanho populacional fuwro a cada gera-
plotada na Figura 4.11. Disso surge um quadro geral: a intro- lares (e que são ireróparos com gerações sobrepostas) {Figura ção. Com as gerações sobrepostas, quando uma tabela de ,·idJ
dução da caça na ilha parece ter diminuído a sobrevivência em 4.13). Carex bigelowii possui um extenso sistema de rizo- Je coorte está disponível, a taxa reprodutiva líquida pode ser
geral. superando qLulquer decréscimo compensatório na mor- mas subrerràneos que, à medida que cresce, produz caules calcuLtd.1 usando-se .i seguinte fórmula:
talidade natural. aéreos. Tal crescimento é produzido por um merisrema la-
l
1,6
1
.. . . (4.4)
Não obstante, a utilidade de uma tabela de vida está-
tica, 'iUa inrerpreLJção e a e::irrumra edria que ela origina
apresentam muitas dificuldades; em geral estrururas cdrias
teral na axila de uma folha pertencence a um caule aéreo
"parental". Esse meristema lacera.!, no início, depende com-
pletamente do caule aéreo parental, mas é potencialmente
~
~ 1.2 "'
.i. . .. e se referíri ao número médio de de~cendences produzidos

não oferecem facet.'.I entendimenrns sobre a dinâmica das
populações
capaz de desenvolver um órgáo vegecarivo, que pode flores-
cer, Í.'.>SO acontecendo quJ..ndo são produzid,1s l 6 ou mais
.
~
-1l
"'
o
,· por um indivíduo. Porc.:m, há a necessida.de de se rnanipubr
.tdicion.dmenre o.s dados, se quisermm falar da taxa em que
uma popul.içJo aumenta uu diminui de ca.manho - ou sefJ,

4.6.3 Padrões de fecundidade


folhas. Apôs J produção de flores, os caules aéreos morrem,
isto é, os caules aéreos sáo semdpJros, embora os genetJS l 0,8 A
Jo tempo de uma geração. As dificuldades são muito maiores
quando somente unu rabeia de vida esdrica (ou melhor, uma
sej~1m iter6paros.
Callaghan ( 1976) observou um número de caules aé-
"K csrrumra eráriJ) está disponível {ver a seguir).
-1l 0.4 Devemos iniciar derivando umJ.
Padrões de fecundidade eudticos, ou seja, variações específi- reos bem separados, escavando para encontrar gerações mais
{ ... 1elação gerrt! que relaClonJ o tamanho
cas, por idade, na fecundidade em uma estação reprodutiva
parricular, também podem fornecer informações Úteis, es-
velhas de caules aéreos parentais. Isso foi possível pela per-
sistência no solo de caules aéreos mortos. Ele escavou 23
~
!'! .. ~~~c......~~....L....~
populacional, a taxa de crescimento
populacional e o tempo - mas este não
2. taxa. ré!prcdut·va
,ir; •.. Géi .~

pecialmente se- eles estão disponíveis para sucessivas esta- de tais sistemas, contendo um torai de 360 caules aéreos, L . . , . . ~ ~........
10 15 20
ções reprodutivas. Isso pode ser observado para uma popu- e foi capaz de construir um ripo de tabela de vida esd- medido em termos Je tempo de geração. Imagine-se uma po-
Idade das fêmea (anos)
laçfo do ch.1pim·real (Paru; major), na floresra de Wytham, tica (e um padrão de fecundidade) com base nos e.'.lrá- pulação que- inicia com 10 indivíduos e Jpós sucessivos inter-
próximo a Oxford. Reino Unido (Tabela 4.4). onde os da· gios de crescimenw (Figura 4.13). Havia. por exemplo, 1.04 valos de cempo aumente p:ira 20, 40. HO, 160 indivíduos e
FIGURA 4.12 Reprodução dependente da idade (tamanho médio de
dos puderam ser obtidos somente porque os nascimemos caule aéreo vegetativo morro (por m~) com 31 a .35 folh.1s. assim por diance. Podemos nos referir à população inicial como
prole) em uma população de alces {Alces alces). na Suécia (médias
individuais puderam ser datados (nesse caso, porque as aves Com isso, uma vez que havia também 0,26 caule aéreo no com erros-padrão) (segundo Ericsson et ai, 2001). ,Vri (significando o tamanho populacional quando nenhum
l 06 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA l 07

Resumindo, temos uma rebção encre o numero médio todos esses tempos individuais, divididos pelo número rotai
de descendentes produzidos por um indidduo durante seu de prole, ou melhor:
-
,-,- - -
;~
'
"'
. • • •
~ ~ ~ ~
l
Laterais
tempo de vida, R0 • a taxa de: aumento populacional por uni-
J.,de de cempo, r (ln = R), e o cempo de geração, T. Anrerior·
mence, com gerações discrecas (ver Seção 4.5.2). a unidade de
cempo era a geração, fazendo com que R0 fosse ,gual a R.

.
ou

-.-
4.15. ____!d.1
~
19.73 ___ll6. 2.J.4. 1,04. Caules aéreos
~ ~ ~
~~ ~ ~
~-, 11egetat1vos (4.16)
t t t
4.7.2 Estimando as variáveis das tabelas de Esra equação é semelhante à do tempo de geração, T, pois não

-~ ..:2!J ~ .,..~ -~ 16:371 ~ ~ ~ Caules aéreos


sobreviventes FIGURA 4.13 Uma tabela de vida estâtica re-
vida e dos padrões de fecundidade leva em coma o faro de que alguma prole gerada pela coorce
pode também gerar novos indivíduos duranre o tempo repro-
.i____ -'----- .!___ L_ !____. __
construida para os módulos (caules aéreos) Em populações com gerações sobrepostas {ou reprodução con- ducivo dos seus pais.
i~
0.26. ~-
2.6 ·
~
~- '·"'
~ ,O:W
0.26..
Caules aereos
de uma população de Carex b1Qelowi,. As
densidades por m 2 são apresentadas nos tínua), ré a taxa intrínseca de aumento natural que a popula- Assim, as equações 4.15 e 4.16 possibilicam calcular T,e
flonferos
retângulos e as sementes. nos losangos. As ção rem o pottncial de atingir; porém, ela só conseguirá atin- um valor aproximado der. esre advindo de uma rabeia de vida
setas representam os tipos de caules aéreos. gir um novo patamar de indi\·íduos se O'.'i p;idrões de sobrevi- de coorre com gerações sobrepostas ou com reproduçáo con-
enquanto as colunas representam as suas
classes de tamanho Os losangos ou retân· \t'.'ncia e ~ê-cundid:1de perm.rne(erem esr.ín.:Ís por um longo tínua. Em sum,1, elas dão um resumo dos pJrimeuos de que
,4.03 52.7 35.04 / 29.6 , 5.98
"4.03 >· 52.7_; /Js.04;> 29.6 \. 598~. Semenres gulas mais claros representam compartimen- paiodo. Se isso aconcecer. r seri alcanç.1do gr:.1L{u.1lmenre (e necessitamos. Um exemplo esd. apresemado na Tabeb 4. 5.
,/ V '.,/ V tos de caules aéreos mortos (ou sementes). enrão mantido) e no mesmo período, a popuLH.):o obcerá, de usando dados para a craca, Ba/1111w gla11d11/a. Observe que o
e as setas mostram as rota$ entre as classes
0--S 6--10 11-15 18-20 21-25 26--30 31-35 36--40 de tamanho. morte ou reprodução (segundo forma gradual, uma estruturJ etária esrável (ou '.'iLjJ, com per- valor preciso de r, pela equaçáo 4.14, é 0,085, semelhame ao
NUmero de folhas por caule aéreo Callaghan, 1976). m.rnences proporções entre cada classe de id.1dc.:; \era seguir). valor aproximado de 0,080, enquanro T, calculado pela equa-
Se, por outro lado, os padrões de fecundidade e sobre\'ivência ção 4.13. é 2,9 anos, comparado a T,. = 3.1 anos. As aproxi-
)e alterarem no tempo - como quase sc:mpre .!Comece - enüo mações, nesce caso, sáo, evidenremenre, sarisfatórias. Elas de-
. 1 raxa de aumento mudará conrinuamente, 3enJo impossivel monstraram que, enquanco r estiver acima de zero, a popula-
rempo esreve acuando), ao ramanho populacional após um As equações -i.7 e 4.8 reúnem o -=: ...~o~ T
c.1.racterizar a população em um único padrão. Apes.u disso. ção renderá a aumentar em ramanho, embora de forma um
inrervalo de tempo como N 1 e, após dois intervalos, N2 e a ramanho popul.icional. a raxa de cres-
pode ser úril caractc:rizar uma população em termos de seu pouco lenta, se os parâmecros calculados se manriverem cons-
um tempo geral reorno N 1. No presente caso, N 0 = l O e N 1 = 20, cimenco e o tempo, que podem agora ligar-se sucessivamence
potencial, especialmenre quando o objetivo é fazer uma com- canres no rempo. Por ourro lado, podemos dizer que, a julgar
e podemos também dizer que: com R0 , a t.1.x.J reprodutiva líquida, e com o tempo de geração
p.uação, por exemplo, de várias populações <lL· uma espécie pelos dados dessa rabeia de vida de coorce, a populaçáo de
(definido como os inrervalos T de cempo). Na Seção 4.5.2.
c-m ambienres diferenres, para observar qual de3tü é o mJ.is cracas tem uma boa chance de continuar existindo.
N 1 "N,,R, (4.5) verificamos que R0 é o fator de multiplicação que converte
.tdequado para a espécie.
um tamanho populacional em outro, uma gerJ.ção posterior,
A forma mais exaca de calcular ré pd.1 equaç.ío:
em que R. nesre exemplo 2, é a raxa reprodutiva líquida ou a tax,1 ou seja, imervJlos de tempo T. .Assim:
4.7.3 A projeção de uma população a partir de
p<!f capira lt'qwda de aumtnro populacional. Evidememence, po-
(4 9) (4 14) uma matriz
pulações aumenram em número quando R > l e decrescem quando
R < l. (Infelizmente a literarura ecológica se divide emre o uso do
Porém, podemo~ observar a partir da equação 4.8 que: em que os valores de ( e m1. são obtidos de uma cabda de vida Um mécodo mais úcil e seguro de analisar e incerpretar os pa-
símbolo R e o símbolo À para o mesrr:o parâmetro. Neste texto, o
de- coorte e ''e" é a base dos Ioga rirmos naturais. Concudo, essa drões de sobrevivéncia e de fecundidade de uma populaçáo
símbolo R será usado, mas o símbolo À já foi utilizado algumas
(4.10) é uma equação ''implícica", que não pode ser resolvida direta- com gerações sobrepostas uriliza projc:ções por meio de matri-
vezes em capírulos anteriores).
mente (somente por iteração, ucilizando um computador), e: zes (ver Caswell, 2001, para uma explanação mais compleca).
R combina o n.iscimento de novos indivíduos com aso- Ponanco· sem quJlquer significado biológico claro. E-~ mai::. comum, por- A palavra "projeção" nesse contexto é imponance. Sernelhame
bre\·ivencia dos indivíduos existentes. Com i-;so, quando R =
tanto, urilizar uma equaçlo semelhante :l 4.13: aos mérodos anreriormenre apresentados, a idéia aqui não é
2, e.ida individuo poderiJ gerar dois novos indivíduos e mor- R0 " R' (4 11)
rer o resulrado presente de uma populaçáo e apenas prever o
rer após isso ou gerar 30mence um e permanecer vivo: em ambos
os c1sos R = 2 (nascimento+ sobrevive'.'ncia). Observe também ou. se comJrmo:ci o log,mcmo narurJI em ,unbos o, lJdus:
r = ln R.. n: (4 15) que irá acontecer .1. e\J no futuro, mas projetar a população
futura se os :.1ruais padrões de sobrevi\"C:ncia e fecundidade se
que. no pre~eme ciso. R perm.1nece con,;t,111te durJme suces-
em que T,. represem.1 o rt•mpo de gemç/io dc 11111,1 (ou1H (ver :1 m.1.ntiverem consranres. Caswell faz uma analogia ao velocí-
::.i\u::, inter,..alos de tempo, ou sejJ, i\'2 = 40 = /V 1R. J\l, = 80 = ln R"º /'ln R (4 121
seguir). Esta equação companillu com .1 c-qu..1,)u 4.13 . 1 \"J.11- metro de um carro: ele é umJ peça fundament;I que nos in-
:V~R e assim por di.intt:. Porunto:
tagem de deixar explicita J. dependência der sohrc a capacida- forma o esrado presence do veículo, porém, a leimra de. por
O [L'rm,) ln R é geralmente re-
de reprodutiva dos indivíduos {R0 ) e o cempo de uma geração exemplo, 80kmlh njo deixa de ser uma projeção, não o faro
(4.6) presenrado por r, .1 tilxa i,arin>eCíl de
n::i.tura: ( T}. A equação 4.15 é uma. boa aproximação qu:tndo R0 = l real de que percorrc:mos 80km em uma horJ exaca.
aumento 11ttmr,d. Esse parâmetro é a
(isto é, quando o tamanho da população permanece.: relativa- A matriz de projeção de uma
e, em termos gc:rais: ta.."<l na qual a população aumenta em
mente: constanre), quando h.í. pouca vJri.1çáo no tempo de populaçáo reconhece que a maioria
tanunho, ou ,ej.1, a mudança no tamanho da população por ç-:1::cas Cos c:cios
geração, ou para ,1lguma combinação <lessJs du,13 condicio- dos ciclos de vida compreende: uma
t\\._ 1 = 1V,R (4 7) individuo por unidade de tempo. Uma população aumentará
names (May. 1976). seqüência de classc:s distintas com ta-
de ,:da
1

ser> O e J1minuir:í ser< O: podemos observar das equaçóes


Podemos estimar r da equação 4.1 5 se conhecermos o xas de fecundidade e sobrevivC:ncia diferences: escágios do ci-
e: .interiores que:
valor do tempo de geração de um.i coorte ( 1:}, o qual é o clo de vida, talvez, ou classes de camanho, em vez de simples-
tempo médio compreendido entre o nascimenco dos indivi- mente diferences idades. O padrão re3ulcante pode ser resumi-
(4.8) /'o ln R,/T. (4 13)
duas e o nascimento da sua prole. Isso, em médi:.1, : :'. . 1 somJ de do em uma represenraçio gráfica do ciclo de vida. que na vc:r-

~--___J

l
l 08 PARTE 1 - ÜRGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VtDA l 09

TABELA 4.5 Uma tabela de vida de coorte e padrões de fecundidade Nesta, o foco eram as classes etárias, e a passagem do tempo signi- (t,1. Os mecanismos disso -ou seja, onde cada elemento do novo R pode ser determinado diretamence, sem a necessidade de
específicos por idade para a craca. Balanus glandula. em Pile Pomt.
ficava a passagem de uma idade à outra: os valores de p se rde- , ~wr é gerado - são apresentados como segue: uma simulação, aplicando-se os mérodos da álgebra matricial,
San Juan lsland, Washington (Connell. 1970). Os calculas de fio, Te e do
valor aproximado de r estão exphcados no texto. Os números marcados riam à sobrevivência de uma classe a oucrJ. Aqui, pelo contrário, embora ism não esceja nos propósitos desce texto (ver Cas\vdl.
com astensco foram interpolados a partir da curva de sobrevivência. a sobrevivência de um indivíduo não significa passar de uma cLi!>- ~ P1 m,
"' 11 1,1 2001 ). Além disso. tais análises algébricas podem. rambém,
Idade (anos) se a outra, e, por isso, é necessário discinguir a sobrevivência den- o o

l'" r"
1,gl P, llc.,! indicar se uma distribuição esrávd de classes será alcançada e
a, 1, m, 1,m, xl,m, tro de uma classe (neste caso, valores p) de passagem e a sobrevi- quais proporções cada classe apresentará. Isso pode demons-
1.000.000 1 o o vência para a classe seguinte (valores'"~'). 'º
1
g, p, ()
"1,1 ll \ : :'
crar a importância de cada componente da matriz no resulta-
'O P,
62 0,0000620 4 600 0,285 0,285 A informação apresentada na re- "
o, n,,1 'l.,,c do geral final, R ~ um cópico que retomaremos na Seção 14.3.2.
34 0,0000340 8.700 0,296 0,592
presentação gráfica de um ciclo de vida m~tr•z
20 0,0000200 11.600 0,232 0,696
4 15,5· 0,0000155 12.700 0,197 0.788 pode ser resumida de uma forma ma- (n 1, 1x p 1)+(n, ,. x m, )+(n 1, 1x m,)+(11~ , 1x mJ"'
5 11 0,000110 12 700 0,140 0,700 tricial. Tais matrizes são apresentadas ao lado dos gráficos, n.l (n 111 xg 1)+(n,:: 1 xp,)+(11\,,x OJ+(11 111 x O) 4.8 Evolução da história de vida
6 6,5' 0.0000065 12 700 0,082 0,492
Figura 4.14. A convenção é dispor os elementos de. uma ma-
7 2 0,0000020 12 700 0,025 0,175 :::; (n 1,. 1 x O)+(nc.,i xg,)+(n, 1 x p 1)+ (n, 11 x O)
8 2 0.0000020 12.700 0,025 0,200 criz dentro de um quadrado limirado por colcheres. De fato, , [ A hisróriJ. de vida de um organismo compreende, durante seu
(11 1. 1 x0)+(11~: 1x 0)+(11\ 1 xg,)+(n,_, 1 xp 1)
macriz de projeção é sempre ·'quadradJ": ela tem o mesmo ciclo de vida, o padrão de crescimento, a diferenciação, a Jr-
1,282 3,928
número de linhas e de colunas. As linh.1s ret'erem-se aos nú- mazenagem e J reprodução. Vimos, JlJS seções Jnteriores, al-
meros de" indivíduos de uma determinaJ,1 d.1::,se em um deccr-
R, =1.282: T, = ~2.8_
,. = 3 , 1, r =ln
-T R, =0.08014 guma VJriedade de p<1drôc:~ de" hi'.'!róriJ de vida e quJÍ.s .is con-
282 minado período e as colu,us. aos números ,HHeriore::. a e:-.se Assim. os números 11.t primeir.1 seqüênc1.1s desses padrõn p.tra as tJxas de aumenco popula-
período. Por exemplo, o elemento marrici.1! dJ terceira linhJ e classe, ;z 1, correspondem aos sobreviven- c10nal. Porém, podemos c:nrender como evoh1íram as hisró-
segunda coluna descreve o fluxo de indivíduos da segundJ classe tes daquela classe no tempo anterior mais nas de vida de diferentes e::.pfries? De farn, há no mínimo rres
dade é um fluxogranu que descreve as transições de uma fase para a terceira classe. Mais especific.1mente, enrJ.o, e uti!1ZJn- aqueles que nasceram e ingressaram na diferentes tipos de questóes que são comumenre cvocadJs
a outra a[ravés do t(:mpo. Dois exemplos s:io apresentados na do a informação do ciclo de vida da Figur:1 4. l4a, os ekmen- dJ!>!>e, e assim por di.mre. A Figura 4.15 mosrra esse processo acerca da evoluçJo de histórias de vida.
Figura 4.14 (ver ramhém Caswell. 2001). O primeiro (Figura rns apresentados na diagonal principal, do canto superior es- reperido 20 vezes (ou seja, 20 unidades de tempo), p.mindo-se de A primeira e~tá relacionada com
4. I 4a) indica um:.1 simples seqüência de classes em que, em querdo ao canto inferior direiro, representam J!> probabilida- vJlores hiporécicos inseridos na figura. FicJ claro que exisce um as caracteríscicJs individuJ.Ís das his-
cada período de cempo, os individuas da classe Í podem (i) des de sobrevivência e de permanência na mesma classe (os período inicial (transitório) em que as proporções das diferentes tórias de vida. Por que os andorinhões,
sobreviver e perm.rnecer na mesm.i classe (com probabilidade ps); os elementos apresenrados na primeira linha representam classes se alteram, umas aumentando e outras decrescendo, po- por exemplo, em geral produzem ninhadas de três ovos - ain-
p); (li) sobreviver e cre:,cer, para passar para a próxima classe as fecundidades de cada classe subseqüente (os ms). enquanto r~m. após cerca de nove unidades de tempo, todas as classes ctes- dJ que fisiologicamence sejam capazes de produzir mais filho-
(com probabilidade g); e (iii) gerar m 1 nm·os indivíduos que os gs, as probabilidades de sobrevivência até a próxima classe, ct:m exponencialmente (linhas retas em uma escala logarírmi- ces - uma vez que outras espécies de aves produzem ninhad.1s
farão parte de cl.1sse.\ nuis iovens/menores. Além disso, como aparecem na subdiagonal, abaixo da diagonal principal (de 1 a ca) cm uma mesma proporção. O valor de Ré 1.25. Da mes- maiores~ Podemos estabelecer que aquele tam.inho de ninhJ-
mostra a Figura 4. l'-lh, uma representação gráfica de um ciclo 2, de 2 a 3, etc.). ma forma, J.S proporções são comrances nas diferentes classes d.1 é o mJ.is producivo, ou seja, o melhor ajustado em termos
de vida também pode envolver ciclos mais complexos, por É vancajoso resumir as informações dessa forma port1ue, (que podem ser etárias): a população dtingiu uma estável es- e\·olutivos, e o que determina esse tamanho particular~
exemplo, canro com reprodução sexuada (no exemplo da figu- ucilizando regras-padrão de informação matricial, podemos to- trutura de classes, com números nas razões 51.5: 14,7: 3,8: l. A segunda qucscão está relacionada com as relações e:1-
r.1, a classe 4 gerando !>ementes da classe l) quanto com cre.'>ci- mar o número de indivíduos nas ditêrenres classes (n 1, n 2, ecc.) Uma matriz de projeção populacionJ.I, portanto, nos rre as caracteríscicas das hiscórias de vida. Por que, por exem-
menro vegetacivo de novos módulos (no exemplo, de módulo em um momento no cempo (t 1), expresso aqui como uma ··colu- possibilita rernmir um arranjo potencialmente complexo <le plo, a razão entre idade :1 primeira maruração sexual e longe,·i-
maduro da classe 3 a um novo módulo, da classe 2). É impor- na-vemr" (uma matriz que compreende apenas uma coluna), pré- sobrevivência, crescimento e reprodução e caracterizar uma dade média é muitas vezes forremencc constante enrre um gru-
CJnte observar que a notJ.ção agui é um pouco difereme da- mulciplicar esce vetor pela matriz de projeção e gerar os números população sucincamenre por meio da sua taxa de aurnenco per po de organi,;;mos e nitidamente diference entre grupos (por
quela utilizada em 11rn,1 rabeia de vida, como a Tabela 4.1. nas diferences classes em um momento do tempo subsegllenrc capita, R, subenrendida pela matriz. Porém, este "assintótico" exemplo, em mamíferos é 1,3, em peixes é 0.45)? Qual é a

4,5
(a)
-~
-----
------------

10°~?,~<~:~ ··0 ·- ~~-o


m;-"" FIGURA 4.14 Representações gráficas e
matnzes de proieção populac1ona1s para 3,5
dois diferentes ciclos de vida. A conexão
entre os gráficos e as matrizes está explica-
da no texto. (a) Um ciclo de vida com quatro
'-....../
P, classes sucess,vas. Durante um certo pe- e 2.5 FIGURA 4.15 Uma população crescendo de
ríodo de tempo, os 1ndtviduos podem sobre-
viver dentro da mesma classe (probab1hda-
-~e 2
acordo com o ciclo de vida mostrado na F1g'.J-
ra 4. 14a, com valores hipotéticos inseridos
de p 1), sobreviver e passar para a próxima
classe (probabilidade gJ ou morrer. sendo
3 na matnz. As condições 1rnc1a1s foram de 100
1,5 indivíduos na classe 1 (n 1 =100). 50 na clas-
que os indrviduos das classes 2. 3 e 4 po-
se 2, 25 na classe 3 e 1O na classe 4 E:n
dem gerar novos indivíduos da classe 1 (fe-
uma escala logaritm1ca (eixo y), o crescimen-
cundidade m,). (b) Outro ciclo de vida com
to exponencial é representado como uma li-
quatro classes, porém, neste caso, somen- 0.5 nha reta Assim. após cerca de 1O unidades
te a classe 4 pode gerar individuas da clas-
de tempo, as linhas paralelas 1nd1cam qi_.e
se 1, sendo que a classe 3 pode ·gerar" (tal-
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
todas as classes estão crescendo a urria
vez por crescimento vegetativo) novos indi-
mesma taxa (R = 1,25) e que foi alcançaca
víduos da classe 2. Unidades de tempo uma estável estrutura de classes
l lo PARTE l - ORGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA 111

base para a ligação entre essas duas caracreríscicas dencro de adotar a usual perspectiva simplificadora de estabilidade po- des encre essas várias medidas são mais imporcantes do que
um grupo de organismos relacionados? Qual é a base para que pulacional (p. ex., Ranra et ai., 2000). Não obsrante, aqui pequenas diferenças entre elas. Aqui, nos concencraremos
grupos diferences apresencem parâmetros diferences?
A terceira quescão, por fim, escá focada nas relações
enfocamos a abordagem da otimização.
i1 apenas no valor reprodutivo.
O valor reprodutivo está descri-
enrre as histórias de vida e os hábicars. Como explicar que m em decalhes no Quadro 4.1. Para
as orquídeas. por exemplo, produzem muitas sementes mi- 4.8.1 Componentes das histórias de vida muicos propósitos, encrecanro, esses
núsculas, quando árvores tropicais do gênero fofora produ- detalhes podem ser ignorados, desde
zem apenas algumas sementes grandes? Essa diferença pode Quais sJo os componences mais imponances da história de que se considere que: (i) o valor reprodutivo em uma determi-
esrar relacionada direcamence com as diferenças nos hábi- vida de um organismo qualquer? O tamanho corporal calvez nada idade ou estágio é a soma da capacidade reprodutiva acuai
rars que esses organismos ocupam? Ou há outras diferenças seja o aspecro mais evidemc:. Essa característica, como vimos mais a futura (chamada de valor reprodutivo residual, VRR);
entre des? anreriormence, é muiro variável nos organismos modulares. Peso de machos adultos (mg) (ii) o VRR combina a sobrevivência futura esperada com a
O eSludo da evolução das diferentes hiSlórias de vida Um tam.1.nho grande pode aumentar a capacidade competiti- fecundidade futura esperada; (iii) isto é realizado de uma ma-
é, em suma, uma busca por padróes - e por explicações va de um organismo, aumentar seu sucesso como predador ou FIGURA 4.16 Em machos adultos da mosca Coenagr,on puel/a, o neira que leva em conta a concribuição de cada indivíduo para
tamanho ótimo previsto (em peso) é 1ntermed1áno {\1nha), correspon· as fucuras gerações, relacionada às contribuições de outros in-
para esses padrões. Não devemos esquecer, contudo, que diminuir J su.1 vulnerabilidade à predação, aumc:nrando, por-
dendo ao tamanho modal encontrado na população (barras). A tinha
cada história de vida, e cada hábi[ar. é única. Devemos en- tanto. a ::.uJ ,obre\·ivência. A capacidade para estocar mais divíduos; e (iv) a hiSlória de vida favorecida pela seleção natu-
assume a forma oval porque a taxa de acasalamento decresce com o
concrar m.rneiras de descrever, porranco, as histórias de vida, c:nergi.1 e/ou recur::,os tJmbém pode bc:nefici.u Jqueles orga- oeso, enquanto a longevidade aumenta com este parâmetro (taxa de ral. entre ~tqudes indivíduos da população, sed aquela para J
acasalamenlo = 1,15 a 0,018 peso. P < 0.05: longevidade= 0,21 a qual é mais alra a soma do rendimento atual e do VRR.
n.1 tem.uiva de reunir, classificar e comparar todas elas e nismos LJUL pJssam por períodos de suprimenro nU[ricional
o 44 peso. P < 0,05; n = 186) (segundo Thompson, 1989)
todos os hábicars nos quais elas evoluíram. Somente en[áo reduzido ou irregular (provavelmente vá.lido para. a maioria das A Figura 4.18 ilusua o modo pelo qual o valor reprodu-
poderemos buscar associações encre uma característica de esp~cies, por algum tempo). E. naturalmente, indivíduos maio- rivo muda com a idade em duas populaçóes opostas. Ele é
hiscória de vida e oucra ou enrre caracceríscicas de história res em geral produzem prole maior. Comudo, o ramanho pode 4.8.2 Valor reprodutivo baixo para indivíduos jovens, quando cada um desces apresen-
de vida e propriedades dos há.bicacs em que elas são encon- aumemar alguns riscos: um indivíduo arbóreo grande [em maior ra uma baixa probabilidade de sobrevivência aré alcançar a
rradJs. É imporrante entender que a existência de uma ca- probabilida.de <le ser derrubado em um temporal, muicos preda- A seleção nacural favorece aqueles indivíduos que realizam a ma[Uridade sexual; porém, para aqueles que sobrevivem, o valor
racceríscica de história de vida pode limitar a possível gama dores exibc:m preferências por presas maiores, e. claro, indivíduos m.1ior con[ribuição para o fucuro da população à qual perten- reprodutivo aumenta conscancemence à medida que a idade
de algumas oucras características, e a morfologia e a fisiolo- maiores requerem mais recursos para sobreviver estando mais su- cem. Todos os componentes da história de \'ida afetam e~rn da primeira reprodução é atingida, comando-se maior quanto
gia de um organismo podem limitar a possível gama de to- jeitos. portamo, a privações. Com isso, é facil conscarar por que contribuição, influenciando, em última instância, a fecundi- maior for a caxa de sobrevivência deles. O valor reprodutivo
das as caraccerísricas de história de vi&1. O máximo que a esrudm detalhados c:srão confirmando que um ram.mho inter- dade e a sobrevivência do indivíduo. É necessário, contudo, torna-se novamente decrescente para os indivíduos mais ve-
seleção na rural pode fazer é favorecer, em um ambiente par- mediário, e nao máximo, parece ser o ócimo (Figura 4. 16). r~unir esses efeitos em um único parimetro, p:1.ra que diferen- lhos, uma vez que a produção de novos indivíduos nescas ida-
ticular. com suas demandas conílicances, aquelas caracre- O desenvolvimenro de um indivíduo consiste na dit'e- ces histórias de vida possam ser avaliadas e comp.u.1.das. Mui- des é menor, além da expeccaciva de vida ser muito baixa. A
ríscicas que tenderão a cer mais sucesso, em especial por renciaçao progressiva de suas parces, capacirando·o a realizar tas medidas de jitness cêm sido usadas. As melhores têm utili- variação do valor reprodutivo é, assim, dependente dos pa-
deixar mais descendentes. arividades variJdas ao longo de sua história de vida. Portanto, ndo informações sobre fecundidade e sobrevivência, porém drões das cax:as de mortalidade e natalidade, específicos para
Fundamentalmente, muiro do um desen\·ol\"imenrn rápido pode aumentar o fit11ess, pois isso de muitas maneiras diferences, com muitas discussões a res- cada idade, da espécie que está sendo objeto de eswdo.
sucesso na busca por um entendi- leva ao rápido inicio da reprodução. Como já vimos, a repro- peito de qual é a mais apropriada. A taxa intrínseca de aumen-
menco para a evolução das caracte- dução pode ocorrer como um evento único e explosivo (se- to narural, r, e a taxa líquida reprodutiva, Ru (,·er ancerior-
rísticas das histórias de vida cem sido melparidade) ou como uma série de evenros repetidos (icero- meme), foram defendidas como um "valor reprodurivo" (Fi- 4.8.3 Trade-offs
baseado em um conceim de otimi- paridade). Enrre os organismos iteróparos, há possibilidade sher, 1930; Williams. 1966), principalmenre ao nascer (Ko-
zação: estabelecer que J. combinação de: variaçJo no número de ninhadas, e rodos os organismos zlowski, 1993; de Jong, 1994). Contudo, parJ uma discus· Toda a história de vida de um organismo deve, se necessário,
das características observadas na na- podem \·;iriar no número de descendentes em cad;i ninhada.. ~io dos padrões básicos das histórias de vida, .is simibrida- apresentar um compromisso na alocação dos recursos que es-
tureza são aquelas com valor adaptativo mais alto (Scearns, Um descendence individual pode variar em tamanho.
~000). Contudo, é inceressance também observar que exis- Um descendenre maior pode ser melhor competidor, obcer
tem .thordagens alternativas - uma bc:>m-estabelecida e duas com mai~ v:crnr.1gem os nU[riences e ser um mdhor sobrevi-
100
ourras mais recentes - que certJ.mc:nce são ainda teóricas, vente em condições adversa.'.. Ponanco, des [c:rão mais chance
pois suJs cip.1cidades de explicar os dados reais lindJ. são de sohre\ iver e )C reproduzir. e:o 80
l1m1r:id.1s. em comparaçJo à .abordagem d.1. orimizaçio
(Src:arns, 2000). A primeira denomina-se "rc:rardar a apos-
Combiiundo rodos esses aspecros, as his[órtas de \·ida
s.ío muira.s vezes descritas em termos de uma medicü combi-
·ig 60 FIGURA 4.17 Alocação percentual de rntro·
ê gênio, para diferentes estruturas, durante o
ra" (ber-Jiedging): quando ofiwesi flutua, pode ser mais im- nada de ,1tivid.1de reprodU[iva. conhecida como ".1locaçáo re-
il 40 ciclo de vida da espécie vegetal perene Spa·
porranre arrasar (ou investir meno~) momentos reproduti- produti\·:1.'' (ramhém chamado de "esforço reprodurivo"J. Este
vos de períodos de baixo fimess do que evoluir para um conceico é melhor definido como a proporção <los recursos ·~g 20
rax,s grandlflora. na Ãfrica do Sul, oride a
produção de frutos ocorre na primavera (se·
único ó,imo (Gillespie, 1977). A segunda reconhece que o tembro a dezembro no Hemisfério Sul). A
/itneH de qualquer história de vida não pode ser visto de
disponíveis alocados para a reprodução em um periodo deter-
minado; mas is,o i mais fácil de definir do que de medir. L'm
"' oL........L~L........L~L........L~L........L~'---'"""'--' planta cresce a cada ano a partir de um cor·
mo, que é substituído durante a estação de
Jan Fev Mar Abr Ma1 Jun Jul Ago Sei Ou! Nov Dez
modo isolado: ele depende das histórias de vida de outros exemplo é apresentado na Figura 4.17, envolvendo a alocação crescimento. mas observe, no final da esta·
Meses ção de crescimento, o desenvolvimento de
indivíduos da população, fazendo com que esse parâmetro de nicroge"nio, um recurso fundamencal nesse caso. Na práti- 1
D Carmo parental (CP) • Carmo hlho (CF) EJ Frutos \ partes reprodutivas a expensas de raizes e
seja ·'dependrnre da freqüência" - dependente das propor- ca, mesmo os melhores esrudos conseguc:m em gera.!, monico- folhas_ As partes vegetais estão indicadas à
• Raízes (A) O Escapo da inttorescénc1a (EI) 1
çóes exibidas pela população (p. ex., Sinervo et ai., 2000). rar J.penas .1 a.locação de energia ou somente o peso seco de
Por fim, a terceira inclui uma consideração sobre a dinâmi- diversas escrururJs durancc: os estágios do ciclo de vida do or-
O Folhas (Fo) O Flores (F} ! direita. 1lus1rando uma planla no início da pri·
mavera ( segundo Auiters e McKenzie, 1994).

ca da população na qual esd sendo escudada, em vez de ganismo.

1
ll2 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE V1DA 113

não por causa da diferença na disponibilidade de recursos, m1s


QUADRO 4.1 Valor Reprodutivo (a) porque o acesso a locais de ovoposição e/ou o acesso a parcei-
ros para reprodução foram manipulados, revelou-se um tmde-
O valor reprodutivo de um organismo de idade x (VAr) é a moeda· la idade {m,). multiplicada pela probabilidade de realmente fazê-lo
corrente pela qual se avalia o valor da histôria de vida à luz da já tendo alcançado a idade x U/lx). ojf (correlação negativa}.
seleção natural. Ela é definida por meio das tabelas de vida discu- O valor reprodutivo adquire sua forma mais simples quando o ta- No entanto, o conrrasre enrre manipulação experimen-
tidas neste capítulo Mais especificamente· manho populack>nal permanece aproximadamente constante. Em tais tal ("'melhor") e observação descritiva C'pior") nem sempre é
casos, R =1 e pode ser ignorado. O valo< reprodutivo de um indivíduo
consiste no seu rendimento reprodutivo ao longo da expectativa de direto (Bel! e Koufopanou, 1986; Lessells, 1991). Algumas
seu ciclo de vida (a partJr da idade corrente até tcxlas as subseqüentes). manipulaçõe~ sofrem dos mesmos problemas que as sim?les
Contudo, deve-se levar em consideração quando a população au- observações no campo. Por exemplo, se o tamanho da ninha-
menta ou diminui de forma consistente. Se a população aumenta, R >
1 e ff·Y < 1 (porque x < y). Portanto, os termos da equação são redu- da é manipulado por meio de suplementação alimentar, então
em que m. é a taxa de natalidade do indivíduo na classe de idade x; zidos por ff·Y quanto maior for o valor de y, significando que a repro- .is melhoras em outras caracreríscicas sã.o esperadas. É impor-
lx é a probabilidade de sobrevivência do individuo até alcançar a dução futura (ou "residuar) adiciona relativamente pouco a VRll, por- tante que a manipulação altere uma cuacrerísrica-alvo e não
idade x; Ré a taxa reprodutiva liquida da população por unidade de que a contribuição proporcional futura de um individuo em· uma popu- (b)
tempo (sendo o tempo, aqui, o intervalo de idade); e :E signtlica "o lação crescente é pequena - onde a prole atual ou a reprodução exis- uma qualquer. Por outro bdo, observações direcas podem ser
10
somatório de" tente em classes mais jovens tem uma oportunidade de contribuir mais aceit.iveis, se baseadas em ..experimentos narnrais". Por exemplo,
Para entender a equação acima, é necessário dividir VRx em para o crescimento da população. De forma inversa, se a população ~ prodvd que, como resultado d:1 '"chuv.1 de sementes" (\'er Se-
seus componentes está decrescendo, então R < 1 e ff·Y> 1. e os termos da equação são
sucessivamente aumentados, refletindo uma maior contribuição na re-
o çJo 9.4). J populJçJ.o de Jb('.ms da Figur;! 4.19,t cenh~1. grandes e
produção futura. 3 '~ peque,us produções de pi11h.1s cm respo.'>r,1 .1 farorcs outros que
Em qualquer h1stôr1a de vida, os valores reprodutivos de ida-
l não .1 disponibili<l.1Je de recursos, e que ;1 correbção negatiYa.

\
des diferentes estão intimamente conectados~ no sentido que,
quando a seleção natural atua para maximizar a reprodução em o ponamo. represente ,1pen.1s um mzde-ojf subjacente.

Aqui. m.., a taxa de nascimento média por rnd1víduo na idade x.


uma dada classe etária, ela restringe os valores para idades sub-
seqüentes (e de todos os parâmetros da tabela de vida). Por
">
pode ser entendida como seu rendimento produtivo atual. O res- isso. de forma geral, a seleção natural atua principalmente na ma-
tante é, então, o valor reprodutivo residual(W1Hiams, 1966): a soma ximização do valor reprodutivo no nascimento. VR 0 (Kozlowski, 4.8.4 O custo de reprodução
o~~~~~~~~~~~
das ··expec1at1vas de reprodução"' de todas as idades restantes, 1993). (Não hâ uma contradiçào entre isso e o fato de que o o 10
modificado em cada caso por Rx·,, por razões descritas a seguir. A valor reprodutivo é tipicamente baixo no nascimento [Figura 4.18]. ;\ maiorid das arenções rem sido dirigida aos rmde-offi que
Idade (dias)
Me~pe~tativa de reprodução~ p~r da~se de idade y_é U/lx·[my]). ou A seleção natural pode discriminar somente entre aquelas op-
se1a. e a taxa de natalidade do 1nd1v1duo que devera alcançar aque- ções disponíveis para aquela idade.) revelam um aparente ·'cusco de reprodução" (CR). O cernw
FIGURA 4.18 O valor reprodutivo geralmente aumenta e depois decai
"cusro", aqui, é usado para indicar que um indi\'íduo, ao au-
r:om a idade, como explicado no texto. (a) A espécie vegetal anual memar suas energias para JS ativid.ides reprodutivas, tender.:í
Phlox drummondii, descrita no início do capitulo (segundo Leverich e J diminuir sua sobrevivência e/ou taXJ de crescimemo corpo-
Lev1n, 1979). (bi O gavião. Accipiter msus, no sul da Escócia. Os símbo-
cí.o d1sponi\·e1, ,1 de. Recursos destinados parJ uma Jrividade Lntre os indivíduos na quantidade de recursos que eles têm à los che,os (± 1 erro-padrão) referem-se apenas a 1nd1víduos acasalados. ral, diminuindo, conseqüentemente, seu po(encial para a re-
tornam-se indisponíveis para oucrJs ar1v1dades. Um tmde-offé disposição, então é prová\'el LUlIJ correlaçáo positiva (e não nega- os símbolos vazios. a 1nd1viduos não-reprodutivos (segundo Newton e produçáo no futuro. Isso é mostrado pelos ahetos e moscas-
Aorhery, 1997). Observe que em ambos os casos a escala vertical é das-fruus, na Figura 4.19, e pelos besouros, na Figura 4.21.
unu relação neg.HÍ\",l entre duas c1r;1cterisricas da hisróriJ de tiva) entre dois proce~sos Jpart:nrememe alcernacivos (alguns in-
arbitrária. no sentido de que a taxa de aumento (R) para a população
\·idJ, em que J~lmt'.!Hth em unu e,rJ.o as,ociJ<los a decrésci- divíduos serão ótimos em vari.1dos aspectos, enquanto outros, total não era conhecida. por isso. foi assumido um valor qualquer. Os custos da reprodução podem ser mais facilmente observa-
mos na ourr.1, con10 resultado de ui, compromissos.· Por nem ramo). Por exemplo, na Figura 4.20, J serpente Vipera t1)pis dos em plantas. Todos os bon_.,, jardineiros sabem. por exem-
exemplo, indi\·íduo:'> do .1bern de Douglas, A-eudotmga mellzi- sob órima condição produz ninhadas maiores e rJ.mbem conse- plo. que, para prolongar J sobrevivt'ncia de herbáceas florífe-
es11, se beneficiam tJmo peb repro<luç3.o quanro pdo cresci- gu~ se recuper,lf com m.lÍs rapidez para se reproduzir novameruc:. \Lc:ssells, 1991). Isso tem. portanto, !imicado o sucesso de se ras perenes, as sementes em nucuraçâo devem ser removid.1s,
menm (já que, entre uutr.1s cois,1s, isto aumentJ a reprodução Duas abordagens têm procura- medir os trade-offi no campo, a despciro deste conceiw rece- pois elas comperem por recurso, que serio utilizados para me-
futur.1), porém qu.11H(1 mais cones s3.o produzidm, menor é o do resolver es'ies problemas e, por con- her forre apoio dos pesquisadores, em virtude da sua Jproxi- lhorar a capacidade de sobrevivência d.1 planca.-mâe ou acé mes-
trncimento {Figur.l "f.19a). ~lJchos J,1 mosca-d.1s-frucas se '>eqüência. perm1cido a investig:1ção dJ m:1ç:.i.o direta com a ha.'ie de diferenças seleti\·as emre as hi:,,tÓ- mo invescir em en:nros rcprodur"t\·os fmuros. NJ rasneira. Sc-
bend'lci.tm de L;m 1011~0 período de ,Hi\-i&1de reprodutiv.1 e nJrnreza dJs cur\'as dos mzrlc-o/fs. A ria, de vida (Reznick. 1985: Rose N ai., 1987). 1u·oo it1cobt1t:fl, ;)Omente aqueles indivíduos que Jlocam me!lor
de unu .ilt.1 frequê11c1.1 de ac.1s,ilamento,, por~m. quanto m.uor primeira baseÍkSe em comparações de indivíduos genetÍc11111c11ft' ÜnLl abord.igem alternativa é t.:sforÇo na reprodução sohrevivem ;lO fl,ul de unu esraçi.i.o re-
,l :iti\·idade reprodum·,1 ::m idad..-, inici,li, prem.uur,1s. m.uor é diferencc:s, e genótipo.') diferences são enc1.rados como altcm,t- uur manipubçües e\.perimencais, p.1ra produ[l\'.l (Figura 4.22)
,l morulid.1Jc {h~ur ,l t. ! 9h). [i\",IS <lisrinca.s qu.tnro :1. .1loc1~·:-lü Je recursos. E... se'i genótipo:-. re\'dar lllll tmde-o/rdiretJmente de
f~ um cr 10 pt:nsJr y_ue es.,.b cor- podc-m ser comparados Je dot'i modos: (1J por um c:xperimc.·n- uma corrd,tç,lo F1,;u'picil negaovJ. O
rd.1çõe~ neg,uiv,1s sJo abund:intcs na ro reproduti\"o, em que grupos genericJmence conrrasunces c:srndo com D1füophila. 11.1 Figura 4. l 9b. é um exemplo disso. 4.8.5 O número e o fitness da prole
n,Hura.1, ,1pe11.1s :, esper.1 de serem 'i:'io ,ICasalados e depois compJr1dos; (ii) por um experimc-nco A nuior vantJgem rr.1 manipu!JçJ.o expl'.rimencal, comparada
obser\"aJ,1s. Pelo comrário, em geral de seleção, em que um:.1 populaç:lo é suhmecida a uma pre.'is.io apenas à simples ob:,,ervaçlo, é que os indivíduos são conside- Um segundo trndc-ojf-chJve é aquele entre o número e o _ftr-
nJo podernm esperJr \·er tmde-o.ffi pd,1 ,imples observ.içJo de seleciva para alterar uma certJ car.ICrerí,.,rica, e, após, sJo mo- r.1Jos rraramentos experimenrais ao ::i.caso, em vez de diferi- individual da prole. Há, no mínimo unu rdação inn:'.rs...1
1tt'S)

correl.ições em popul..1ç:Oes nJrurais (Lessells, 1991 ). Em um nitoradas as mudanças associJdas em outrJs caraccerí... cicas. Por rem um do muro, por exemplo, na quJmidade de recurso que c:mre número e tamanho da prole, demro de dado invt''>ti-
primeiro momenru. \e fij unu. dara otimiz.1ção de combin.ir exemplo, em um experimenro Je seleção, populações Ja nuri- têm à disposi~áo. Esse:: conrrasre e~d ilustrado 11.1 Figura 4.21. mento reprodutivo to(al. Ou sejJ, d aloctçJ.o repro<luriva pode
crescimento e rendimenro reprodmivo, então rndos os indiví- posJ indiana I'fndia útterpunac!!a, que: desenvolveu um ,1u- que mosrrJ. dois conjunros de dados para o besouro Cal!oso- ser dividida enrre uma prole numcros.1 com umanho corporal
duos podem se aproximar deste ótimo t:, JessJ forma, n.1 po- menco da resiscência a um vírus que J. infectava por muir.1.s bmchw n1t1culat10, em que a fecundidade e a longevidade es- menor ou uma prole menos numerosa com indivíduos maio-
pulaçâo n.lo h.1veri1 \·:1ri.1ção nt:ssJs CHJt.:terísticts par.1 que gerações, exibiu um decréscimo associado (correlação negJri- cav.im correlacion,1Jd'>. Uma simples observaçJ.o de uma po- res em c.1manho. Entre(Jnto, tamanho de semente ou de O\O é
um trade-off fosse: reconhecido. Além dl)so, se há vanJção vJ) na sua raxa de desenvolvimento (Boors e Begon, 1993). pul.ição não-manipuladd no campo deu origem a uma corre- 5omeme urna forma de ,e medir o Ji(i[ess. Pode ~er mais apro-
No geral, entretamo, a husc.1 por correlações genérica, cem laçJ.o positi\·a: os "melhores'' inJivíduos eram mais longevos e priado medir o tmdt:-~/j".enrre o número de descendentes e a
· :'i. Jc T hLrnJo cm rcrrno~ é'\'oiurn m. gerado mJÍs relações positiYa) ou nulas do que neg.triv,1s ovoposiraram mJis. Comudo, quando J fecundidade variou, ~ua sobrevivência ou a caxa de desem·olvimenco individual.
l 14 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA 115

(•)
1
I
~
~
120
115

~
,v~
'"''
;;;};
:j
1
~
(a)

15
(b)

30t * FIGURA 4.21 (a) Correlação fenotipica (po-

1~~~·
10
~
!
~
~
85
80
75
.. .\..
1
~
.. sitiva) entre longevidade e fecundidade de
adultos de uma população não-manipulada
de fêmeas do besouro Caflosobruchus ma-
j
400 800 1 200 1.600 2.000
§ culatus. {b) Trade-off (negativo) entre os
mesmos parâmetros, quando o acesso a
NUmero médio de pinhas por individuo acasalamentos e/ou a locais de ovoposição
foram manipulados. Os pontos representam
as médias de quatro tratamentos. com er-
(b) 100
.. 50

Fecundidade
100 150 25 50
Fecundidade
75
ros-padrão (segundo Lessells. 1991; de K.
Wilson, dados não-pubhcados) .


11 1,
FIGURA 4.19 Trade-offs nas h1stór1as de
vida (a) Uma correlação negativa entre o
LÍ,L, se ou(ra planta, com igual qu.rnodJdc de: recursos, produ- res. comp.1radJs com J.S de Washington (em média 7 a 8
tamanho da pinha e o incremento do cresci-
mento anual para uma população do abeto zisse 80 sementes? É evidente que n.io seria \·,ilido manipul.1r ovos com uma média de 0.65 g de peso, conrra 12 ovos, em
de Douglas (Pseudotsuga menziesii) (se- o número de sementes produzidas pel<1 .1.lcer.1,;.io d.1 quancida- média, com peso de 0,4 g; Figura 4.23c). Com o Juxílio da
gundo Eis et ai.. 1965). (b} A longevidade

1
.
1 8
de machos da mosca-das-frutas (Orosophi-
la melanogastelj geralmente aumenta com
o tamanho corporal (comprimento do tórax).
\.k de recursos; mesmo se as 20 sementes fossem removidas
JiHc'S da fase de ma.rnração, a planu não ~eria capaz de a.I-
terar o tamanho das sementes remanescemcs. e a sua sub-
manipulação experimenral, a comparação entre as duas po-
pulações parece refletir um trade-off enue número e Jit,uss
da prole gerada.
8 8 8 Contudo. ela diminuiu em machos acompa-
8
sc·qüence sobrevivência não responderia :1 pergunta origi-
nhados, por dia, de uma fêmea virgem e sete
que jâ acasalaram (1) em comparação com n.tlmence proposta.
machos acompanhados de 8 fêmeas Jâ aca- Sinervo (1990), conrndo, manipulou o tamanho dos 4.9 Possibilidades, níveis de fitness e L,rna
saladas { •) - por causa do aumento do com-
portamento de corte-, reduzindo novamente
ü\ os de um !agarro iguanídeo, Sce!oporw orcidcntalú, reci- classificação dos hábitats
em machos acompanhados de 8 fêmeas vtr- rJndo a gema após eles serem produzidos, gerando uma
0.6 0,8 gens por dia (8) (segundo Partridge e Far- prole mais vigorosa, mas em menor número em compara- Retomaremos urna ourra pergunta básica da história de vida:
Tamanho corporal de machos (mm) quhar. 1981)
ç:í.o com ninhadas não-manipuladJ.s. Essa~ ninhadas me- há padróes ligando cipos especificas de hiscória de vida a tipos
nos numerosas apresentaram taxas mais lenus Je desloca- específicos de hábitats? Para responder a essa pergunta, intro-
memo (Figura 4.23c) - pro\·avelmenre um indicati\·o de duzimos dois ourros conceitos, no concexto do custo da re-
umJ. menor habilidade para evir.ir predadores e, porranro, produção, uma vez que os trade-offi associados a ele são os.
100 um menor Jitness. Dentro de popubções 1ucurais da Cali- mais importantes - mas os mesmos princípios se aplicam a
fórni.1, essa espécie produz ninhadJs menores de ovos maio- codo o tmde-ojf
.-'
o
80

!i 60

"ª~~.í 40
!~ FIGURA 4.20 Fêmeas da serpente V1pera 150
~~ 20 asp1s que produziram ninhadas maiores
g~ (biomassa ~,elat1va" da ninhada. porque !01
considerada a massa total das fêmeas) tam-
"' ~ bém se recuperam mais rapidamente para
o próximo evento reprodutivo (não ~,elativa··,
-20 porque a biomassa não foi afetada pelo ta-
-30 -20 -10 10 20 30 manho corporal) (r= 0.43: P= 0,01) (segun-
Biomassa relativa da nmhada (resíduos) do Bonnet er ai., 2002) FIGURA 4.22 O custo da reprodução na tas-
ne,ra. Senec,o Jacobaea. A hnha separa as
plantas que sobrevivem ( +) daquelas que
morrem no final da estação (-).Não há plan-
Das poucas correlações genéricas examinadas entre ta- tas sobreviventes acima e à esquerda da li-
disso. esse ripo de mule-ojf é especialmence difícil de observJr
nha. Para um dado tamanho (volume do sis-
manho e número de ovos (pnncipalmeme em aves domésri- por meio de ma.nipu!Jç.io experimental. Pari saber a razio dis- tema subterrâneo). só sobrevivem aqueles
cas), a maioria cem sido negativa (Lessells. 1991). Essas mes- so, prc:-cis.imos formular o seguinte ripo de perguma: dadJ uma indivíduos que alocaram menor esforço re-
mas relações são observ:idas em comparações simples entre produtivo (número de capitulas). embora
derermínad.1 espécie vegetal que, digamos, produza l 00 se-
plantas maiores sejam capazes de alocar
espécies ou populações (ver Figura 4.23a,b), embora em cais m.:""nce'>, cJ.da um:i pesando l O mg e apresenran<lo uma chance 0,4 0,8 12 1.6 2.4 mais e ainda sobreviver (segundo G1lman e
casos seja. improvável que indivíduos de espécies ou popula- de S':o de sobreviver ac-: J. id.1de reproduriv.1, qual deveria ser o Volume do sistema sutJterrãneo (cmJJ Crawley, 1990).
çües difaentes façam a mesma :1locaçáo reprodutiva coral. Alt:m umanho esperado da semente e a sua chance de sobrevi\-ên-

1
l l6 PARTE 1- ORGANISMOS
T
1
r
1
Várias s,io as propostas de clasS1ficação de hábitm (p,
CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA

2, Hábitats com CR baixos, nos quais o VRR é pouco afeca-


11 7

(a) 1 ex .. Schaffer, 1974; Crime et ai. 1988; Silvercown et ai. 1993). do pelo nível de crescimento acuai. O fiwess, desse modo,
• Campo abandonado
1 Pradaria mas a revisá.o desse cerna esrá aJém do escopo desce livro. Em vez. é decerminado essencialmenre pelo nível de reprodução

.
~ disso. classific.amos os hábiracs focaliz.ando os níveis de fitners e, arnal, independentemente do nível de crescimento. Os ní·
.. Florestas de carvalho
i : D,sturb10 da pradaria
porrarno, as maneiras pelas quais reprodução e crescimento escão veis de firness, por isso, são quase verticais (paralelos ao
~ eixo do y. do "crescimenro''; Figura 4.25a).
&10"
8
""'

~::3 2 (b)

-1 É
(e)

2,5
combinados para determinar o ajusre nos diferenres tipos de há-
b,w (seguindo L:vins, 1968; Sibly e Calow, 1983).
Para indivíduos adultos e já esrabelecidos, dois tipos con- Essa classificação é comparativa. Na prática, um hábirac
1
i~ 5• \,
1. '\.._3 il -3
E
E 2.0
rrasranres de hábitats podem ser reconhecidos: pode somente ser descriro como "de CR alco" se esta informJ-
ç.1o for relativa a outro hábicar que é. comparacivamenre, "de
~
-8 103 5 6~"-
e• ...,. j
.....
L Hábicacs com CR altos, nos quais qualquer redução no CR baixo". O propósito da classificaçá.o é conrrastar hábicacs.
e '\,_ 4

9~,. ~
1e
-5

-7
.
.... ·.:• "'~
15

1,0
crescimenco que resulra da reprodução amai cem um gran-
de efeito negativo no VRR e, com isso,
Além disso, por urna série de ra-
zões, um hábirat pode ser de um tipo

10'~~~~~~~~~~~~
.~ 1
no fimess. Assim, podem ser alcança- particular. Os hábicacs podem ser de
z ~ ~
g 0_5~-~-~-~- do~ fimess similares pela combinação CR relarivamenre alco por, no míni-
102 10 3 10' 0.4 0,6 0,8 1.0 1.2 1,4 1,6
~ de reproJuç.ío alu ,om crescirnenro mo, <lL1as r.nões.
Peso media (_ug) de propagulos Ln (tamanho da ninhada) Massa de um ammal
recêm-eclodido (g) b.aixo ou vice-versa. Os níveis do fir-
11ess, porranw, se dirigem radiJ!menre c.om um.-1. mclina- 1. Quando há urna comperiçáo inrensa enrre indivíduos es-
FIGURA 4.23 Evidências de trade-off entre o número e o fltness da prole produzida durante um evento reprodutivo. (a) Relação negativa entre ç.:ío negJ.ti\·a (Figur:i 4.25a). tabelecidos (ver Capírulo 5). em que os melhores comperi-
o número de propágulos por caule de 1nd1viduos da vara-de-ouro, Sohdago, e o peso dos propágulos produzidos. As espécies são 1 = S
nemoralis: 2 = S. grammdolia, 3 = S canadens,s; 4 = S. speciosa: 5 = S. missouriensis; 6 = S. g,gantea: 7 = S rígida; 8 = S. caes,a e 9 == S
rugosa, localizadas em uma variedade de hábitats (segundo Werner e Platt. 1976). (b) Uma correlação negativa entre tamanho e volume de
ninhada produzida entre espécies de Drosophlla do Havai, desenvolvidas sob condições restrrtivas de recurso, pólen (Á) ou bactérias em
folhas caídas (::..::) ou sob condições de recursos abundantes, porém imprev1sive1s - leveduras em frutos apodrecidos, cascas e caules (il)
(a) (b) (e)
(segundo Montague et ai, 1981; Stearns, 1992). (c) A massa e a capacidade de deslocamento da prole produzida pelo lagarto Sceloporus
f1tness bauco f1tness médio
occidentahs são menores naqueles provenrentes de ovos em que parte da gema foi retirada (.:·).comparados com a prole não·manipulada ( <it).
As médias para os controles das populações da Califórnia (CA) (maiores. menos numerosas) e de Washington (WA) (menores. mais numero-
sas) são também 1nd1cadas (segundo S1nervo, 1990)
/ t,rness alto

4.9.1 Possibilidades e níveis de fitness descrito a seguir, as formas dos níveis de fitness não refletem as
propriedades intrínsecas do organismo, mas os hábirars t:m
Um ro11jumo de opriies descreve ,l gama total de combinações que ele vive.
de du.1s caracrc:rísricas de: hiscóna de vida que um organismo é A combinação de caracrerísricas, entre aquelas disponí-
capaz de exibir. Por i'>so. esse conjunto retlere a capacidade \·eis, que cem o fitneSJ mais J.lto decerminJ a direçá.o da seleção
fisiológica do orgamsmo. Para fins ilusrrarivos, usamos .1 re- natural. A seleção natural. porranro, favorece o ponro no con-
produção amai, m 1 • e o crescimento (como um indicador im- junco de opções ( n.1 curva do tmde-ojf) que atinge o ní\"d
portante da VRR) (Figura 4.24). I'orranro. o conjunco de op- mais aIro de fimess (indicado pelos asreríscos nJ Figura 4.24d. e).
Reprodução atua! Reprodução atual Reprodução atual
ções descreve, para um dererminado nin·I cb reprodução amai. Uma vez que conjunrns de opções diferenre, indicam tipos de
(d)
a gam.i de incremenco, no crescimenw que o organismo pode organi3mos distinros e formas diferences de níveis de firncs.1
alcJ.nçar, e, par.1 um Jererm111.1<.io incremenw no crt'scimen- indicam ripas disrrncos de hábirac, pode-se utilizar essas infor-
to, a g.rnu de ní\·;:is Ja reproduçJo .uual que o organismo mações reunidas para se cheg~tr aos lfifrrenres ripos de hisró-
pode: akanç.u. O limite externo Jo conjunto de opçôes repre- ri.is de vida.
senra .1 Lun·J do tJ·,,dc-~/f Em qu-1lquer pomo :-.obre esse limi-
[e, o org:rnismo pode :.t)ntt•11te .1umem.1r ;",· re.1liL.rndo umJ
reduç:lo compen:-.,Hóri-1 no crescimento e \·ice-HTSJ.. 4.9,2 Hábitats: uma classificação
Uma das opções pode ser de tipo con\ t:xo (Figura 4. 24a),
implicando, no presem-.: LJSO, que um nível de repro<luç.io ar uai O h:íbiur de cada organismo é único. Porém, se: for esubc:lc-
apenas um pouco ah.lixo Jo máximo permite, enrreranro. uma cido um padrão liga,;do h::íbirats e histórias de vida, os hábi-
quanr!&1de considt:ri\·e! de crescimento. A!rernarivameme, a tats de\·em ser classificados em termos que se aplicam a rodos
rebção pode ser do tipo cônca\·a (Flgura 4.24b), indic.mdo eles. Além disso. eles devem ser descritas e classificados de
que um sub,;canci,1l crescimento pode somence ser conseguido acordo com o organismo a ser estudado, e não do ponto de
Reprodução atual Reprodução atual
com um nível de rt:produçá.o acuai bem ab.iixo do má.,imo. visra do pesquisador ('ic é fragmenrado ou homogêneo, adver-
Um 11ll'e! ele fir1ri:ú é, .1ssim, um;i linh.1 unindo combina- so ou favorável, por exemplo). Assim. quando dizemos que a
FIGURA 4.24 (a. b) Possibilidades de relações entre reprodução e crescimento que um organrsmo pode apresentar. Como explicado no text::i.
ções de m, e crescimenro para a qual o fitnôJ (valor reproduci- forma dos níveis de fiwess reílerem um h::íbitar do org:inisrno, o limite externo do conjunto de opções é uma curva do trade-off. (a) convexa. (b) cõncava. (c) Nive,s de flrness ligando combinações de
\"O) é consranre (Figura 4.24c). Portamo. níveis muico além queremos dizer que eles refletem o efeito do hábitar sobre aquele reprodução e crescimento atuais que têm um fitness igual em um determinado hábilat. Em conseqúênc1a, linhas mais longe da origem apr~-
d.1 origem represemarn combinações com Jimess maior. Como sentam fitness maior. (d) Em um coniunto de opções. o ponto com o maior fttness e aquele que alcançar o nível mais alto Esse ponto e o valor
organismo ou a resposra daquele organismo ao hábirat.
(ótimo) da reprodução atuai que o ongina estão marcados com um asterisco (segundo S1b!y & Calow. 1983)
11 8 PARTE l - ORGANISMOS
f
'l
!
CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E H1sTóR1A DE V1DA 119

dores sobrevivem e se reproduzem, a reprodução atual pode n1J.. determinadas aves predadoras preferem predar os maio-
1 ~om CR baixo favoreceriam uma alocação rcprodmiva mais e o valor reprodutivo na maturidade (ver uma revisão em Sce-
ser dispendiosa, pois reduz o crescimenco e, conseqüente- res indivíduos de cercas espécies de peixes. Jlta, enquamo hábicats com CR alro favoreceriJm uma aloca- arns, 1992). Adiar a maturidade para tamanhos maiores au-
mente, a capacidade competitiva fucura, reduzindo o YRR.
Machos adulcos do cervo vermelho, cujo harém de fêmeas Podemos [ambém construir uma
1 çáo reprodutiva mais baixa (Figura 4.26a). Esse padrão pode
ser observado em crês populações do vegeta! dente-de-leão,
menta o valor reprodutivo na mamridade, porém isco é alcan-
çado a expensas do decréscimo da sobrevivência juvenil, uma
classificação de hábicars para a prole
urr.a c:ass1t1cacão
re!aC,·Y<ada de
l
só pode ser mantido pelos melhores compecidores. consti- T.mzxacum ojficinale. As populações eram compostas por vá- vez que esta fase é prolongada quando a maturidade é poster-
tuem um bom exemplo disso. recém-nascida. Novamente, há dois rios clones discincos que pertenciam a um dos 4uarro biótipos gada. Com esse tipo de rrade-ojf em mente, podemos cenrar
2. Quando os adultos menores são mais suscetíveis à mortalida- tipos concrascanccs (Figura 4.25b), as- (A a D). Os hábicacs das populações variaram desde bordas de responder, por exemplo, como a idade e o tamanho na macu-
de, por predação ou algum facor abiócico, a reprodução arual sumindo que. para uma determinada alocação reprodutiva, quanto crilhas (onde a mortalidade era indiscrimin.,d.1 - "CR mais ridade podem diferir entre um ambiente "produtivo", com
pode ser dispendiosa, pois mancém esses adulcos nessas vul- maior o canunho da prole, menos indivíduos são produzidos. baixo") até pascagens amigas, escáveis (hábiuc com o máximo alimento abundante, e um ambiente .. improducivo", em que
neráveis classes de tamanho. Por exemplo, mexilhões na z.ona de competição - "CR mais alco"); o [erceiro local apresentava os indivíduos são pobremente nucridos. Se o aumento da dis-
L H.íbiucs que sáo "sensíveis ao tamanho da prole", em que
costeira, pela rescrição reprodutiva, crescem mais e superam a características intermediárias enrre os anreriores. De acordo ponibilidade de alimento aumenta a taxa de crescimenro (isco
o v.ilor reprodutivo desta aumenta significativamente com
predação por cracas e paros-selvagens. com o esperado, o biótipo que predominou n,ts trilhas (A) é, o tamanho em uma cerra idade) e a sobrevivência juvenil
o tamanho (como referido anreriormenre, pHa comperi-
possuía a maior alocação reproduriva, enquanto o biótipo que (isco é, a probabilidade de alcançar uma cerca idade). o con-
ç3o emre descendentes ou por imporrnnres fomes de mor-
Por outro lado. os hábicacs podem ser considerados de predominou nas pastagens amigas (D) aprc)enrnu a menor junto de opções no ambiente produtivo se es[c:nder.í além da-
c.1lid.11..ie J qual indivíduos pequenos são mais vulneráveis).
CR baixo por, no mínimo, crês ditúences razões. ;ilocação reprodutiva (Figura 4.26b, c). Os ripas B e C apre- quele no ambiente improdurivo, a despeico da forma da cur\'a
LJm .lllmenw no [amJnho implica em um aumento signi-
~emar,1m caracrerísticas incermediári.1s <..Jt1,11Ho :1.., ocupJÇÕes do m1de-ojf (Figura 4.27). Dessa fornu, m org~rnismos em
fic.ui\·o dos níveis do fime}s.
l. A maioria dos fawres de monalidade pode ser inevitável e Jc locais e alocações reprodutivas. ambientes mais produtivos mamrariam m..1.is cedo e em [Jma-
2. HibicJrs ··111'.:'.iensíveis ao tamanho da prole", em que o v.1-
indiscriminada, de modo que todo o aumenrn no tama- nhos maiores. Isso cem sido observado em Drfüopht!a meúmo-
lor reproduti\·o de um indivíduo da proie é pouco afetado
nho por restrição reprodutiva provavelmente será inútil no gasu,-. as moscas que crc:scem a 27°C, com alimenco abundan-
pelo seu can1Jnho (como nos casos anteriores, por causa da
fmuro. Por exemplo, quando poças temporárias secam, a 4.10.2 Idade da maturação sexual te, em densidades moderadas, iniciam a reprodução com l I
morc;ilida<le indiscriminada, dos recursos superabundan-
maioria dos indivíduos morre. independen[emente de seu dias de vid,1, pesando 1,0 mg, enquanto as moscas pouco nu-
[es ou porque existem fomes de morralidade às quais os
tamanho ou condição. Uma vez que hábitars com CR alco favoreceriam .ilocaçóes tridas, em densidades muico alcas iniciam a reproduçáo com
indi\·íduos maiores são mais suscetíveis). Um aumento no
2. O hábicac pode ser cão benigno e livre de competição que reprodutivas baixas, a maturidade {início J,1 reprodução se- 15 dias ou mais, pesando 0,5 mg (Scearns, 1992). Observe
rJmanho nâo modifica os níveis do fimess.
todos os indivíduos estabelecidos apresentam uma alta pro- :-..ual} seria reLHivamence recardada, mas ocorreriam umanhos que aqui estamos comparando as respostas imediatas dos in-
babilidade de sobreviver e de ter uma grande capacidade Junrn'.:i, os dois pares comrastames podem ser combina- corporais maiores (ao retardar a maturid.1de. um organismo divíduos aos seus ambientes, em vez de comparar duas popu-
reprodutiva fucura, independencemence da reprodução dos em 4uJcro tipos de hábicars (Figura 4.25c). .:'.:lei apresentando uma alocação reprodmiv.1 igu,11 a zero). Es- lações ou espécies complecamence distintas. Retornaremos a
preseme. Isso é verdadeiro, pelo menos por um tempo, para SJ.S idéias são confirmadas por um esrudo com peixes gupifi, essa questão na Seção 4.13.
os primeiros indivíduos que colonizam um novo ambiente. Poecilia retirnlattt, uma pequena espécie existente em Trinidad
3. O hábicar pode ser considerado de CR baixo simplesmen-
4.1 O Época e alocação reprodutiva (T,1bela 4.6). Esse mesmo estudo também encontrou os pa-
te porque existem importantes fontes de mortalidade para drões discutidos anteriormente quanto à alocação reprodutiva 4.10.3 Semelparidade
4.10.1 Alocação reprodutiva
os maiores indivíduos. Assim, conter a reprodução atual, o e l variação do tamanho da prole, discutido na Seção 4. l l. Os
que faz levar a tamanhos corporais maiores, pode gerar Se Jssumirmos que rodas as possíveis opções parJ. um organis- guppies vivem em pequenos ria('hos, que podem ser divididos Recomando à comparação de hábi,acs com CR alto e bai.xo,
uma baú.:a sobrevivência furura. Por exemplo, na Amazô- mo Sdo <lo ripo convexa, enrio podemos perceber que hábirars em dois tipos distintos. Em um deles, seu predador principal está claro que a semelparidade evoluiu mais prova\'elmeme
é um peixe cidídeo, Crenicichla alta, que predJ principalmen- em hábitacs com CR baixo (Figura 4.28a). Isso escá corrobo-
te os guppies grandes, sexualmente maduros. Em outro riacho, rado por um esrudo com duas espécies de Lobelia vivendo em
o predador é um peixe Jnual. Rivu!us hrrtii. qut: prefere pre- Mounc Kenya (Figura 4.28b). Tais espécies são plancas herbá-
(a) (b) (e) dar os guppiej pequenos, juvenis. Os locais onde ocorre C. aft,z ceas de vida longa: vivem cerca de 40 a 60 anos até a macura-
C Sensível ao tamanha da prole ,;Jo, ponanco, de CR baixo e, como previsto, m guppies matu- çáo, na qual a semélpara L relekii morre, enquanto a iceróparJ
A CR auo rJm relativamente mais cedo, em tanunhos menores. Eles [Jlll- L. keniemis se reproduz somente a cada 7 a 14 anos. Young
B CR baixo O lnsens1vel ao tamanho
da prole A B bem realizam uma ::ilocação reprodutiv.1 nuior (colunas .'.l es- ( 1990) e Young e At1gspurger ( 199 l) demonstraram que, em
querd, na Tabela 4.6) (Reznick. 1982). Além Ji,so, quando locais mais secm, as probabilidades de sobre\·ivência dos adul-
e 111) 200 guppicf forJm trocado.s de riacho, com C .,i/:11 p.1r,1 ria- to,, SJ.o menores, e os períodos entre os evemos reprodutivos,
chos com R. h,1rti1, vi\'endo cerc.1 de 11 ,11w, UO a 60 gerJ.- maiores. ou seja, hábicacs com CR mais b.1ixo. A scn1dparid:t-
..;óes}, nJo someme os fenótipos se .1s~emdh.ti:tr11 àqueles do de seria [lvoreci<la neste ripo de ambiente someme se as pL.m-
D (111) (IV)
local original. com CR alto (R harti1), mas umbém ticou cla- cas semé\p,tr.1s [ambém tivessem uma v~rntagem reprodutiva
ro que essas diferenças evoluíram e foram herdad.1s, bem como pelo desvio de mais recursos à reprodução e menos à sobrevi-
observadas em condiçõc-s de labor:wírio (colun,1-; J. dirc:ica na vência fmura. De fato, parece haver uma escreiu corre~pon-
Reprodução atual Número de descendentes
T:ibel., 4 0) (Reznick a,,/., 1990). dência emre o limite geográfico (entre espécies semélparas e
O conhec1menro d.1 id.1de 3. pri- icc-róparas) e o limite em que o balanço de vamagem oscila de
FIGURA 4.25 Classihcação demográfica de háb1tats (a) Os hábitats de 1nd1viduos Já es!abelec1dos podem ser de dois tipos· (A) Com CR
relallvamente alto (os níveis de fitness indicam que o valor reprodutivo residual se eleva com o aumento na taxa de crescimento, em decorrén· meira mJwração snual. emretanto, uma estratégia reprodutiva para oucra (Figura 4.28b).
class1f:c2cão d-2
eia do decréscimo da reprodução atual) ou (B) Com CR relativamente baixo (os níveis de f,tness refletem o nível de reprodução atual). (b) Os requer que direcionemos nossa aten- Se não considerarmos que codas as possibilidades defit-
há.bitais da prole produzida recentemente podem ser de dois tipos: (C) relativamente sensível ao tamanho corporal da prole ou (D) relativamen- çio para além d1 simples classificaçio ness podem ser de formJto convexo, fica claro que se espera a
te insensível ao tamanho da prole. Prole de tamanho corporal maior acarreta a produção de menos indivíduos (para uma dada quantidade de
energia requerida para a reprodução). Em (O). por exemplo, o fitness reflete o número de prole produzida, não o seu tamanho corporal. (e) de hibiurs. Por exemplo, .1 id1dc: mais fa\'orivd e o umanho evolução da semelparid1de em organismos nos quJÍS essas pos-
Combinação dessas duas classificações, o que torna o há.bital de um organismo. em comparação com outros, de quatro tipos básicos, arbitra- na mamridaJe podem ser entendidos como sc:ndo govern:idos sibilidades são côncavas, ou seja, me~mo o aumento do'.:> nívc-is
riamente referidos como (i) a (iv) na figura. por um t1·ade-o/f entre sobrevivência juvenil (pré-maturidade) de reprodução acuai cem pouca influência llJ ~obr~vi\'ência

1
l 2O PARTE 1 - ORGANISMOS
CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE V10A 121

onde a competição foi geralmenre mais incensa - var~-de-ouro

(a)
r (Solidago), nas pradarias (em oposição a hábitats mais tempo-
rários de campos abandonados) e Drosophi/a, em pólen (em
j
;;; ~ oposição a uma rica e imprevisível fonte de levedura).
o
º~ 1
~
ü

CR alto
\
CR baixo
l 4. 11.1 O número da prole: tamanho da ninhada

O trade-ojfenrre número e o Jitness da prole não pode ser visto


de modo isolado. Em vez disso, se o combinarmos com o CR,

100L LLL
Reprodução atual podemos rernrnar aos tipos de histórias de vida e pergun~ar:
(b)
como um tamanho parricular de prole ou semente produzida
A e o
FIGURA 4.26 (a) Os conjuntos de opções e é favorecido?
D1stnbuição de
biótipos em três
níveis de fitness (ver Figura 4.25) sugerem Lack (l 947b) demonmou o tra-
60 que háb1tats com CR alto favoreceriam alo-
populações de-ojf entre número e jit,rt:H da prole
cações reprodutivas relat1vamen1e baixas (bJ
20 produtivo e propôs que a sdeçJ.o n.uma.l favore- .
Oisfnbuição de quatro biótipos (A a D) do ve-
Local getal dente-de-leão. Taraxacum offrónafe. en- Valor reprodullvo na matundade sexual ceria nio o ramanho mdior, mas anres um aJusre, que contr,1-
Distúrbio al!o media baixo tre três populações su1e1tas a nive1s de d1s- balança.sse O número miximo produzido em relação à sua sub-
lúrb1os baixos, médios e.altos (ou seja. hàb1-
FIGURA 4.27 Idade e tamanho na matur"1dade sex~al em ambi~ntes '.)eqüenre sobrevivência. lsso passou a ser conhecido como o
(e) tats vanando desde CR alto até CR baixo)
A 8 e o produtivos e 1mprodut1vos. Quando_ o val?r reprodutivo na matundade
(e) Alocações reprodutivas (AAs) dos bióti- ",amanho da prole de Lack" (figura 4.29a). Grandes esforços
Capitulas por é comparado com a sobrevivência Juvenil. uma. curva ~e t~ade-off nos
pos diferentes de locais distintos de origem. têm sido realizados para testar a validade dessa proposra, em
planta (1. é. AR) lrmites encontrados para os ambientes produtivos vai _alem dos am-
mostrando que o biótipo A, que predomina bientes improdutivos. e é prevista uma matundade mais precoce em
em condições no hàbitat com CR relativamente baixo. tem
especial com aves e em menor extensão com insetos, com e~-
padronizadas tamanhos corporais maiores
uma AR rela!lvamente alta e assim por diante perimencos de adição ou remoção de desc~ndenres .. decerm1-
Local de origem {{b,c] segundo Solbng e Simpson. 1974) nando qual tamanho da prole torna-se o mais produnvo, com-
parando com condições normais. Muitos desres estudos suge-
descritos ameriormcme (ver Tabela 4.6): o umanho da prole
riram que a proposta de Lack escava errada: o tamanho d.a
foi maior onde a predação estava mais concentrada nos juve-
prole mais comumeme ob!>ervado "naruralmente'' não é o mais
TABELA 4.6 Comparaçào de gupp,es (Poecil1a ret,culata) de locais com CR relativamente baixo e insensíveis ao tamanho da prole (predação nis menores; e também pelos exemplos dados na Figura 4.23,
por Cremcichla alta concentrada em indivíduos adultos e maiores) e de locais com CR relativamente alto e sensíveis ao tamanho da prole producivo. Os experimenrns de aumento no ramanho da pro-
em que O ramanho da prole rambém foi maior em hábitats
(predaçào por Rivulus hart11 concentrada em indivíduos juvenis, pequenos). No primeiro caso. os perxes (masculinos e femininos) maturam
mais cedo e com menor tamanho. apresentando uma maior alocação reprodutrva (intervalos mais curtos entre um período reprodutivo e outro.
com taxa de esforço reprodutivo mais alta), produzindo uma prole mais numerosa e de menor tamanho. Isso é observado para populações
naturais de locais contrastantes (colunas da esquerda) e na comparação de uma população introduzida em local contendo R hart,i com seu
controle nào-mampulado (colunas da drreita) (segundo Rezn1ck et ai.. 1982. 1990). Zona de intersecção entre semelpandade e 1teropandade.

r~
(b)
(•) dando uma incerteza na fecundidade relativa___ __ - ~
Reznick (1982) Remck et ai. ( 1990)

Controle Introduzidos

Idade de machos na primeira maturação sexual (dias)


Cren,c,chla

51.8 P< 0.01


R1vufus

58.8
(Cremc1chla)

48,5 P<0.01
(Rivufus)

58,2
I 2

Tamanho de machos na primeira maturação sexual (mg) 87.7 P< 0,01 99.7 67.5 P< 0,01 76.1 ] ·~o
~

p < o.os
~
Idade de fêmeas na primeira reprodução (dias) 71.5 P< 0,01 81.9 85.7 92,3 ;;;
Tamanho de fêmeas na primeira reprodução (mg) 218 P< 0.01 270 161,5 P < 0.01 185.6 o 10 Locais mais secos
Tamanho da prole 1 5.2 P< O.OI 3.2 4,5 p < o.os 3,3
e e lteropandade
Tamanho da prole 2 10.9 NS 10,2 8,1 NS 7.5
~ ~ Semelparidade
i o
Tamanho da prole 3
Peso da prole 1 (mg de peso seco)
Peso da prole 2
16,1
0.84
0.95
NS
P< 0,01
P< 0,05
16
0.99
1.05
11.4
0.87
0,9
NS
P<0.1
p < o.os
11.5
0,95
1.02
ü 1:e 18
Local fora
da distribUtção

Peso da prole 3 1,03 P< 0.01 1.17 1,1 NS 1, 17 falta de fecundidade


Intervalo entre eventos reprodutivos (dias) 22.8 NS 25 24.5 NS 25,2 1.5 10 50
Esforço reprodutivo (~o) 25, 1 p < o.os 19,2 22 NS 18,5 0,95 0,98 0,99 O 995 0,998 0.999
Alocação máxima
NS = diferença não-s1gnit1cat1va passivei (VAA == O) Média anual de sobrevivência de adultos

Reprodução atual (alocação reprodullva)

futura (ver Figura 4.24). Essa é uma provivel explicaçáo p.ira ·Jr·J'.2 · · · · · r h rt cal) são mais comuns em situações de semelpa-
FIGURA 4 28 (a) Hábitats com CR relativamente baixo (n1ve1s de fltness prox1mos a m a vel ' d t s1'dual (b) Para Lobelia spp em
o fato de muÍtJS espécies de salm.fo exibirem J semelpari<lade · - · t t ações futuras) VRR = va or repro u ,vo re . ··
ridade (máxima alocaçao reprodutiva. nada ª. man_ er para ds~u interval~ entre as florações aumenta (valores menores no eixo y) e a
suicida. A reproduçJ.o Je rais espécies demanda um esforço De acordo com a classificação vista na Seç.lo 4.9, .1 divisão de Mount Kenya. os há.b1tats apresenta_m_ CA mais baixo a me i a que o . e semé! ara L telek11 apresenta cerca de quatro vezes ma1~
tão grande e perigoso qu,rndo percorrem os rios contra a cor- uma dada alocação reprodutivJ. enrre a produção de uma pro- sobrevivência mêdia nas idades in1c1a1s adultas decresce. Uma ve~ ~ue a especr p st . dos a favor da semelparidade (embaixo e a
renteza, desde o mar acé Js nascente~, que esses riscos esrâo
asfüciado~ com a reprodução e sáo independentes da ma.gni-
le menos numerosa e de tamanho corpora! maior é esperad.1
em hábirJrs relarivameme sensíveis ao ramanho <la prole. A
esquerda na frgura) ~u d~ iteropandade (acrma e à direita nat figura~
populações de L. kemens,s, como previsto no mo~e~o. apresen arn car e e .
~º,:,~::
o peso da semente do que.ª espécie iteróp~ra L kemens,s. os habitats podem ser pro~no n~:~erm1nação entre os d01s prognósticos. Três
t:~: pa~a1 iteroparidade quanto indeterminadas quando são
·
rude da alocação reprodutiva dos indiv1duoc"1. comprovJção disso é observada nos expenmentos com gupis encontradas fora da sua zona habitual de distribu1çao (segundo Young, 1990. Stearns. 1992)
122 PARTE l - ORGANISMOS
r!
1
CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA 123
1
j

\e, em parcicular, muitas vezes levam a aumentos aparemes na será menor do que parece ser o mais produtivo em tempo
i que indivíduos r·esrrategiscas têm sido fa\'Orecidos pela sua ca· ro). Os indivíduos investirão pouco na sobrevivência, mas a
produtividade {Godfray. 1987; Lessells, 1991; Stearns, 1992). cuno (Figur,1 4.29c). Poucos estudos cêm sido suficienremen· pacidJde de se reproduzir rapidamente (ou sejJ, cem um valor sobrevida efetiva variará consideravelmente, dependendo do
Não obscance, como é muitas vezes o caso, a prÇ>posca de Lack. re deca!hados p,irJ permitir que o CR seja levado em conside· ekvado de r). A letra K, ainda não apresencada, ~ed discutida ambiente (imprevisível) no qual eles se enconuarem.
mesmo incorreta em muitos detalhes, foi muim imporrame raçáo n..1 .1v.1li.1çJo de um ramanho de prole ótimo. Em um apropriadamenre no próximo capículo, sobre competição in· O esquema ri K é, assim, um caso especial de classifica-
na direção do entendimento do tamanho da prole. Muiras estudo, femeas do roedor Ciethrionomys glnreolw foram rraca- crJ·específica. Porém, por ora, é preciso indicar dpenas que ela ção de hábitats (Figura 4.25c). Observe que, primeiro, os há-
rJzões são conhecidas para a falca de ajusre. e duas são pani- das com hormônios (gonadorropina), para induzi.Ias a aumen- se refere ao tamanho ("capacidade de supone'') de uma popu· birars dos adultos e da prole não necessiram esrar relacionados
cularmeme imponances. tar a alocaç.ío reprodutiva (Oksanen et n/., 2002). As têmeas laçáo adensada, limi[ado pela competição. A~~Ím. os indiví· conforme postula o esquema ri K e, segundo, que as caracce·
Primeiro, muicos escudos têm rea1iz..--i<lo uma avaliação ina- craradas produziram nuis filhotes, n1.1s não houve diferenças duos K·estracegistas têm sido favorecidos peld SUd capacidade rísticas de história de vida associadas ao esquema podem sur·
dequada do fimen dos indivíduos descendentes. Não é suficiente signi~lcirivas n,1 sobrevivência desta prole em relação à produ- de fornecer uma comribuiçáo significa[iva à população que se gir por várias ourras razões, além do seu escopo (p. ex., preda.
adicionar dois ovos a uma ninhada que normalmeme possui qua- zida por fême,t'.'> náo·ffatadas. Encretanro, as fêmeas tratadas mantém próxima à capacidade de suporre. O conceim, porranto, ção dos indivíduos menores em oposição à competição incen·
tro e observar que os seis indivíduos sejam chocados, emerjam do rambém pJgaram um custo alto pelo aumenro de seus esfor- e~rá baseado na existência de dois tipos comrasunces de hábicars: sa enrre os adultos).
ovo, emplumem e saiam do ninho. Como sobreviverão ao próxi- ços reproduti\·os: mortalidade maior no período.de amamen~ r·selecivos e K-sdetivos. Ele se desen\'okeu originalmence
mo inverno? Quamos descendemes eles produzirão? Por exem- tJÇáo, dc:déscimo no ganho de massa corporal e uma redução (1\1acAnhur & 'X-'ilson. 1967) da compJraçJo entre espécies que
plo, em um esmdo de longa duração, com o chapim-real (Pa- n.1 probahilíd,1de de produzir uma ninhada sub~eqüente. Ou· colonizam com rapidez ilhas rei.uivamente ''v,lzi,1..'>" (espécies r) e 4.12.1 Evidências do conceito r!K
nu major), perto de Oxford. Reino Unido, enquanto ninhos tro esrndo, rc.tl12.1<lo com o falcão europeu, ser.\ discurido a c'>p~cies que conseguem se mJ.nrer esr,Í\'eis nc'>S,ts ilhas após a
"..1dicion.1is" foram irnediac:.1111enre nuis proJurivos (10, 96) ,egutr (\·cr Scç:io 4.13). ..:hes.1J.1 de muitos coloniz.adores (espt:cies f..') Dcpui:,, o concei- O conceico ri A" pode cert.tmente ser úril para descrever algu-
Ju que os ninhos·conrrole (8. 68), que foram mais prodmivo.s w foi aplicado de maneira muirn mais gerJL Como ro<lJs .l'.'1 ge· mas d.1s diferenças gerais entre dxons. Por exemplo, emre plan·
do que os ninhos em situação de remoçáo (5. 68). o recrura· neraliza<rões, essa dicornmia não passa de umJ ~upnsimplificação tas é possível descrever um mimem muiro amplo de relações
menro (isco é, a sobrevivência da prole are as idades adulras) 0
U2 Se!ecão r e K - ;1 despeiro de rer sido muito produtiva. gerais (Figura 4.30). As árvores de uma floresta são bons exem·
foi maior nas ninhadas não-m.rnipuladas (Figura 4.29b). Uma população K-esrrategisca vive pios de espécies K-seletivas, encontradas em ambientes relati·
Segundo. talvez a falha mais im- .-\lgum,ü d.1s pre\·isões discutidas nas seções ameriores podem em um hábicat relJtÍ\'Jrnente consran- vamenre constanres e previsíveis. A maioria das espécies exibe
porranre na proposra de Lack é que ser reunidas em um esquema que tem sido particularmente re. Como conseqüência. é estabelecida um.1 população de tama- ciclo de vida longo. maturidade tardia, sementes grandes, alo·
ela não leva em comideraçáo o CR. A intlueme 1u busca pelos padrões nas hiscórias de vida. Esce é o nho adensado e mais ou menos conscanre. Hi uma imensa com- cação reprodutiva baixa, tamanho corporal grande e alca fre.
~eleção natural favorecerá um p.tdrã.o de ciclo de vida que apre· conceito da seleção r e K originalmente proposto por MacAr· perição entre os adulros, sendo o resultado desu competição um qüência de espécies i[eróparas. De maneira contrária. em hj.
senrar o maior ganho no fimess. Uma ninhada grande e apa· thur e Wilson ( 1967; MacArthur, 1962) e elaborado por Pianka forte determinante de suas taxas de sobrevi\·ência e rêcundidade. bitats mais perturbados. aberras, r·selecivos, as plantas rende-
renrememe produtiva pode produzir também um alro cusrn (1970) (ver também Boyce, 1984). A letra r refere-se à taxa Os jovens rambém precisam competir para sobre\·iver nesse am- rão a mostrar caracceríscicas mais r-escrategisras.
em rermos de VRR. O ramanho da prole favorecido, então. 111rrínseci de .mmenro natural (vista ameriormence) e indica bieme adensado, e há poucas oportunidades pau eles rnrnarem· Há rambém muiros casos nos quais as populações de
se escabelecidos como adultos reprodutivos. Em suma, a popula· uma espécie ou de espécies relacionadas têm sido comparad.is,
çJo vive em um hábitat que, por causa da competição incensa, é e a correspondência com o esquema ri K cem sido favorável.
de CR alto e sensível ao tamanho da prole. Por exemplo, isso é verdadeiro para um estudo com popul..1·
(a) As caracrerísricas previstas dos indidduos A'-estraregis· çóes de Tj•phn (taboa) (Tabela 4.7). Indivíduos de espécies me-
us são, portanto, ramanho corporal maior. reproduçáo rardia, ridionais, T domingensis, e espécies mais setentrionais, T ,m-
ireroparidade (reprodução mais longa), alocaçJ.o reproduciva gwrifolin, foram coletados no Texas e em Dakou do Nortt'.
~
mais baixa e prole de tamanho maior (e, as~im. menos nume· respectivamente, e foram cultivados juncos, sob as mesmas
"~e
.
K + rosa). Os indivíduos invesrirão. em geraL em arribucos que
.mmenrem a sobrevivência (em oposição à reprodução); po·
condições. Alem disso, foram quantificados cerros aspeccos
dos hábitacs, com longos e currns períodos de crescimenro.
r~m. na prática, muicos deles ter.io \'ida maÍ) curta {devido à respecri\'amente. É possível observar, na Tabela 4. 7, que .l
~
intensa competição). primeira espécie apresencou-se como K-escraregista, e a ~t'-
~
s FIGURA 4.29 (a) "Tamanho da prole de Em contr:qJmi-;.lo. uma popub- gunda, como r-estnrtegista. Também é claro que as espécies
ú:
Lack~ Se o fitness de cada individuo per- çáo r-e1trittc_?JSftl \.l\'e em um hdbit.H yue estão presences nesses hábiracs se ajuscam ao modelo ri
tencente a prole decresce à medida que o 1mprevisivd no cempo ou de curta duraç.1,1 ..--\ pnpuLiçJo, as- A.'. lj,pha angwt1folit1 (que possui uma Cllfta esração de cresci·
Tamanho da nmhada Tamanho da nsr;hada tamanho da prole total aumenta, então o t,.
tness total de uma prole (produto do núme- sim. experimenurâ períodos favor.Í\eÍ~ de r-ípido crescimen· menco) amadurece nuis cedo (c.1racterísrica l ). é menor (ca·
(b) (e) ro e t,tness 1nd1 111dual) deve ser maximizado to, livre Je competição (p. ex .. ljUdndo um !ocd está sendo r.1cterisricas 2 e .1), faz uma alocaçâo reproduciv.1 mJior ka-
,.o em niv~is rntermediânos de tamanho de pro·
...:olonizado). Esses períodos, porém, SJ.o inrerromp1Jos por pe- racreristicas 3 e G) e produz prole mais numerosa e com ind1·
le (WLack"). (b) NUmero médio observado de
_i- - Benel1c10 máximo liquido
Juvenis recrutados por ninho (:t erro-padrão), ríodos desfavoráveis, com inevitável morr;1\1Jade fp. ex., quan· víduos de menor tJ.manho (caracteres 4 e 5), se comparada a
o.a 1

Cusio da
em relação às manipulações experimenlais J.o um local efêmero tem sido muiro exp!nr.1do ou mesmo T donzingenns (longo período de crescimento).
(adição ou remoção da prole) no chap1m-
0.6 · r~pr:xlução quando desaparece). As taxas de mortalidade de :idultos e de Há. encáo, exemplos que se
real. A curva é a polinomial RECRUTAMEN-
TO - MANIPULAÇÃO EXPERIMENTAL+ Jovens são, por isso, altamenre variáveis e imprevisíveis e, com .tjustam ao esquemd ri K. Stearns
0.4 · F11ness ::la (MANIPULAÇÃO EXPERIMENTAL)' (se- frequéncia. independentes da densidade d.1 popul,ção, do ta- ( l 977), encreranto, em uma revisio
\ ninhada gundo Pettifor et ai., 2001) (c) Contudo, se
manho ou da condiçáo dos indivíduos en\·ol-:idos. Ern resu- extensiva dos dados disponíveis J.té
houver também um certo CR. então o tama-
0.2 mo, o hábicJ.c é de CR baixo e insensível Jo um.rnho da prole. emáo, verificou que, de 35 esrudos analisados, 18 se ajus-
nho "ótimo~ da ninhada é aquele que afere·
ce um maior fitness !1qu1do. isto é. em que a Portanto, as caracrerístlcas pre\'lst.ts dm indivíduos r-es· tavam ao esquema e 17, não. Podemos considerar isco unu
d1stãnc1a entre a lenha do custo e a curva do
-4 -3 -2 -1 O 1 2 3 Ótun~ Tamanho da ninhada u.1tegisras são tamanho corporal menor, mJturidade precoce, critica ao modelo, uma vez que esse resultado demonstra
Mbenelicio.. (para o total da ninhada) é ma,or
Manipu!açào experimental {segundo Charnov e Krebs. 1974) cerro grau de semelparidade, alocação reprnduuva maior e que o seu poder explicativo é limitado. Por outro lado, uma
descendentes de CJmanho menor (e, :1.ssirn. em maior núme- caxa de 50°10 de sucesso é aré cerro ponto surpreendente

1
124 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HrSTÓRIA DE VrDA 125

(a) TABELA 4.7 Características da história de vida de duas espécies de Typha (taboa). Juntamente com propriedades dos hã.bitais em que elas crescem.
- 5 :!r;~
refere-se à razào vanãnc1a:média, uma medida de variabilidade. As plantas se a1ustam ao esquema rlK (segundo McNaughton, 1975).

Estação de crescimento
+-- Plantas perenes. mclu1ndo árvores - Características do hábitat Variáveis Curta Longa
...-Plantas anuais silvestres ....
Variabilidade climâtica s2/X de dias livres de gelo por ano 3.05 1,56
. _ _ Culturas de cereais - - competição Biomassa acima do solo (g!m·2) 404 1.336
Recolonizaçào anual Mortalidade dos rizomas no inverno (%) 74
10 20 30 40 variação anual na densidade s 2/i de nUmeros de partes aéreas por m·2 2,75 1,51
Alocação reproduhva liquida{%)
Características da planta T. angustdolia T domingens,s

(b) Dias anteriores à floração 44 70


Hábilats abertos. ervas de pequeno porte AliUra média da folhagem (cm) 162 186
Bordas de florestas Peso médio do geneta (g) 12,64 14,34
Vegetação do chão de florestas Numero médio de frutos por genera 41 8
Formações arbustivas Peso médio dos frutos (g) 11.8 21.4
Formações arbóreas ?eso médio total dos frutos (g) 483 171

r---r-~~~~~~~~~~~

10---'Õ ,o-s 10--4 10-) 10-2 10-1 10°


Peso da semente {g)
Em alguns c.1.ms, ao menos, a convenit"nci.1 de uma respo.'.- Esst:s resulc.1dm (amais e previstos) podem ~er compar.tdos
(e)
í.t pLí.scic.1 parece clara. Por exemplo, falcões europeus (.1ves pre- entre terrirórios de diferentes qualidades (Figura 4.3 I b). A cor-
100
d,1doras) na Holand.1 vari,1m quanm J. qua!id.1de do seu cerriró- respondência é muiro gr;rnde. Cad.1 individuo aparentemenre
I io. ao tamanho da ninhad:i e ao período de posrura (Daan t't tlÍ., esd muito próximo do órimo, como resposta JO ambiente ,.:rer-
50
!990). Essas diferenças p.1recem não ser geneticamente decermi- ricório} no quJI se encontra.

i 11.1das, mas sã.o um exemplo de plasticidade fenotípica. Será que


c.td,1 combin,1ção de tamanho da ninhad.1 e período de postura
·~ rl..'presenra o ótimo no seu próprio território~ 4.14 Restrições iiiogen;~ticc1, e alo,nétncas
l
.
~
10 FIGURA 4.30 De maneira geral, as plan-
tas exibem alguma conformidade com o
A combinaçJ.o ótima, como de cosrume, é aquela com
\":.dor repro<lurivo rnul mais alto - a reprodução acuai mais o As histórias de vida que a seleçâ.o natural fa\·orece (e as que

..l • Ervas
Arbustos
• Arvores
I esquema r!K. Por exemplo, árvores em
hâb,tats florestais rela!rvamen!e K-selel!-
vos (a) têm uma probabilidade relativa-
\"'RR parenr.d. O valor d.1. últim.1 ninhad.1 clJ.rameme aumen-
ta com o tamanho, e o \",1lor de cada ovo produzido também
observamos) n.ão são selecionadas de uma g.1ma infinita de
possibilidades, mas restrius à filogenia ou posição caxonómi-
~
YJ! i.1 com a dctra d.1 postura. E o VRR? Esce declina com o c.1 que o organismo ocupa. Por exemplo, em toda a Ordem
(~ngiospermas) mente alta de serem iteróparas e uma alo-
:!:! Arvores l caçào reprodutiva relativamente pequena. .1umento do "e~forço p.líemal" (ou seja, o número de horas Procdlariformes (albatroLes, perréis e outros), o r.1manho da
(conileras) 1 (b) têm sementes relativamente grandes; p0r dia que os pais dedicam à caça para alimentar os filhotes), ninhada é de apenas um filhote e as aves estão "preparadas"
.1. Espécies e (c) são relativamente 1ongevas. inician-
semélparas n qual decresce com o aumento n,1 "qualidade" do território: morfologicamente para terem .1penas um li nico filhote em cada
10 do mars tardiamente o processo reprodu-
50 100 500 1.000 ·-·------ ti número de presas c.1pcuraJas por hora. Dessa forma, o VRR esraçáo reproduriva (Ashrnole. 1971 ). Uma ave pode produzir
tivo (segundo Harper. 1977; seguindo
Longevidade (anos) Salisbury, 1942, Ogden, 1968; Harper e é menor (i) com ninhad.1s maiores; (ii) em momenros menos uma ninhada maior, mas el.1 esc;.í li-
White, 1974).
produrivos no ano; (iii) em rerricórios de quJ!idade mai~ bai- mitad.1, a menos que hom·esse 1nuda11-
\,l. Com esse principio, o valor reprodutivo torai de cad,1 com- ças concomicanres em wdos os pro-
bin.1ç.l.o enrre um.rnho e dara de postura em cad.1 território pode cessos do desenvokimenro do evento
dado o nlimero de f.Hores aJicionai'.:> J.1 clescriws (ou par.1 vivendo. E.<..<.a capacidade de um único genótipo de se expre-.- ~tT computado e ,t uin1bir1.1ção órimJ, pre\"i,ra (Figura 4.31 a). reprodurivo. Ü'.> .1lbJtrn1e~, portanto,
serem descritos) (jllC favorecem nosso s::ntcndimenro dos s.1r de diferences modos dependendo do ambiente é conheci-
p;iJrOes da" hi-;tór1-1~ de vida. PortJnto, é igualmente possí- da como plasticidade fenotíp1CJ.
n:l con~idr:rar como :,,;1(1sfocório qut: um simple.>1 conceito UmJ. d.1s questões mais importantes que precisamos
po<le ajud,u a enrender uma grande multiplicidade Je his- (a) (b)
abordar em relaçâ.o J plasticidade fcnotípica é a excenüo
tórias de viJ.t. N:'io se pode dizer, contudo, que o conceito em que ela representa a resposta pel.1 qual um organis-mo
ri K explíc,1. roda .t história. aloca recursos diferencemenre em amhientes diversos, para FIGURA 4.31 P1ast1c1dade lenotipica na
maximizar seu fitneH em cada ocasiio. A alcernaciva sen.1 ! combinação do tamanho da ninhada e da

que a resposta representa um grau de dano inevitável ou


,! 0:-"' data de postura no fa!cào europeu. Fafco rin-
nuncufus. na Holanda. (a) O esperado den-

!'
1 °;'.; Í o • • ~J 1 ._ '.'.:
incontrolado ou interrupção do desenvolvimenw pelo am- tro dos territórios (com alta qualidade). com
uma combinação ótima, é o maior valor re-
biente (Lessells, 1991 ). Observe, em e,pecial, que, se a plas- Combinação ot1ma de
produl1vo total {para o cálculo. ver o texto)
Uma hi-.rória <le nd.1 n.10 é uma propriedade fixa que um or- ticidade fenocípica é governada pela seleção natural, encdo tamanho da ni1;haca ~ ........ -! -
2 ___ e data de posfur_?~ ,.,, (b) Combmações previstas (retãngulos) e
ganismo exibe, sem levar em coma as condições :i.mbiemais é válido buscar padrões ligando diferentes ambientes e J.S :--·•-·: observadas (pontos com desvios-padrão)
para territórios que variam na qualidade.
prevalenres. Uma hiscóna de vld:1 observ:i.da é o resulcado de diferemes respost.1s dadas por um indivíduo, .1ssim como Abnl Ma1 Jun Abnl Ma, Jun
desde alta (esquerda) até baixa (direita) (se·
forças evolutivas de longo prazo, ma.<. rambém de resposras procurar padrões ligando m hábirac,;; com as histórias de Data da postura gundo Daan etal. 1990; Lessells. 1991)
rn.1is imediaras de um organismo ao ambiente no qual ele está vid:i de indivíduos geneticamente disrinros.
126 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA 127

são prisioneiros do seu passado evolurivo, como são todos os tempo de rnaturid,1de e tamanho (em peso) de uma ampla Uma relação alomécrica (ver produzido ou água requerida, contudo. depende do volume do
.:E:!1r'.1yàJ je
demais organismos. Suas histórias de vida podem evoluir so- gama de organismos, desde vírus até baleias. Observe que de- -:1xr.et~1a Gould, 1966) ocorre quando uma pro- órgão ou organismo envolvido. Conseqüencememe, mudanças
mente para um número limicado de opções, e os organismos terminados grupos esráo "confinados" a cenas faixas de tama- priedade física ou fisiológic.1 de um or- nas razões área:volume resulcames de mudanças no tamanho le-
escáo. por isso, confinados a uma gama limitada de hábicars. nho. Por exemplo, os organismos unicelulares não podem ex- aanismo se altera em relaçáo ao seu tamanho. Por exemplo, na vm1 a alterações: na eficiência da transferência por unidade de
Por causa dessas resuiçóes "filogenéricas", as compara· ceder um cerco limite de tamanho por causa <la sua dependên- figura 4.33a, um aumento no tamanho (no exemplo, \·olu- volume. Assim, se a eficiência for mantid.i, isso deve ocorrer par
ções enrre as histórias de vida devem ser feiras com cautela. Os cia do princípio de difusão para a transferência de oxigênio da rnd, entre espécies de salamandras, leva a um decréscimo na aheraçóes alomécrica.s. As ex.acas inclinações alomérricas variam
Jlbacrozes, como grupo, podem ser comparados com outros superfície d.1 membrana para dentro da célula. Os insetos não proporção do volume que é alocado pata uma ninh.1d.1. Da mes- de sistema para sistema e de táxon para cáxon (pa.r:1 continuar a
ripas de aves, quando se quer encontrar um.i relação entre esse
ripo de história de vida e o hábitat ucípico" no qual ele é en-
comrado. As histórias de vida e os tipos de hábirars de duas
podem exceder um determinado tamanho por causa da de-
pendência da respiração traqueal para a troca de gases do exte-
rior para o imerior da seu corpo. Os mamíferos, por serem
i ma forma, n.1 Figura 4.32b. um aumento no peso encre espé-
cies de a\'es está associado com um decréscimo no tempo dedi-
discussão, ver Gould, 1966; Schmidt-Nielsen. 1984; e. em um
comexto mais ecológico, Perers, 1983). Qual é, então, o signifi-

espécies de albatrozes podem ser razoavelmente comparados.


Porém, a comparação dos albatrozes com outra espécie de ave
endotérmicos. podem apresentar um tamanho maior, uma vez
que os de caman ho menor apresentam uma grande superfície
í1 cado a chocar os ovos, por unidade de peso co,poraf. Tais rela-
ções alomérricas podem ser ontogenécicas (mud,rnças ocorri-
das durante o desenvolvimento do organismo) ou filogenéti-
cado da alometria para o escudo das histórias de vida?
A abordagem usual ao escudo ecológico das histórias de
vida tem sido comparar os parâmetros constituintes de duas
muito distante evolmivamenre deve ser feita com muito cui- corpor,1l, diss1p.111do mais rapid:imenre o calor do que o ani- ' CJ~ (mudanças que são evidenres quando são comparados táxons ou mais populações (ou espécies ou grupos) e buscar entender
dado. para distinguir as diferenças atribuíveis ao hábitat da- mal poderia produzir, etc. relacionados de diferentes tamanhos). sendo esta úlcima a mais as diferenças encre eles. à luz dos ambiences que ocupam. Deve-
quebs atribuíveis a restrições filogenéticas. O segundo ponto a obser\'ar é que o tempo de nutura- importante no estudo das histórias de \'ida (Figuras 4.32 e 4.33). se deixar claro, concudo, que os tixons podem também diferir
ç.lo e o r.u11.t11ho J~Hesemam urna force corrdaçJo positi\'a. Por que ocorrem relações :ilométric1s? Rcsum1JJmeme. devido ~t posiç.ío que ocupam em umJ mesmJ rdaç:lO alomé-
De fow. como .1 figura 4 ..12a-c ilustra, o ramanho corpor.1[ ,e organismos similares que difúem no camanho conser\'aS- rric.1. ou porque geralmence tJrnbém estJo sujeitos a resrriçóe~
4.14.1 Efeitos do tamanho e alometria esd foncmeme correlacion.1do com muitos dos componente~ scm uma simiLuidade geométrica (ou seja. se eles fossem úo- filogenéticas. É importance, por isso, desmembrar .1.s diferen-
da históriJ di: vid.1. Uma vez que o tamanho também está mécricos), então. todas as áreas de superfícies ,rnmentariam ças "ecológicas" das alomécricas e filogenéricas (ver Harvey e
Um elemento imporrance da restrição filogenética é o tama- restrito J. posiçJ.o filogenética, esses outros componentes da com o quadrado do comprimento, enquanto todos os volu- !'age!, 1991; Harvey, 1996; e também um resumo em Srearns.
nho corporal. Na Figura 4.32a, é apresentada a relação encre história de vid.1 est.1rão da mesma forma limitados. mes e pesos aumentariam com o cubo deste. Cm aumento no 1992), mas não porque aquelas são dicas ''adaptativas" enquanto
tamanho deveria então levar a decréscimos nas r.uões compri- as demais não o são. De fato, temos vism, por exemplo, que as
menco:área, comprimenco:vo\ume e, mais imporcante, área: relações alomécrica.,; conseguem comparar (nivelar) os organis-
,·olume. Quase todas as funções corporais dependem da efi- mos de diferences ramanhos aos seus respectivos ambientes. Essa
(a) (b)
ciencia de uma dessas razões (ou escão relacionadJs J uma de- é uma questão que aborda respostas evolutivas das espécies aos
100.000
10.000
,:'),·· . l.1s). Uma mudança no tamanho entre organismos isométri-
Lqs levaria, portanto, a uma mudança na eficlênciJ.
seus hãbicats, com suas restrições, conforme elas evoluem.
Essas idéias estão ilustradas na
1.000 ·-::;: - Mamíferos
.•
:§.
o
Aves
Por exemplo, a cramfcrência de Figura 4.33a, que mostra a relação alo-
100
10
:, /·-Insetos foo . ,,::--··~s1-1,-::!~'
calor, água ou nuuiemes, dentro de um
organismo ou mesmo emre o orga.nis-
mérrica entre volume da ninhada e vo-
lume do tamanho corporal para sala-
-1l mo e seu ambiente, :icomece ;10 longo mandras. A Figura 4.33b mostra a
o 10
0,1 de um.1 superfi.cie, que possui umJ. área. A quancilbde de calor mesma relação em linh:is gerais; porém sobrepostas a ela estão
0,01 ,-~
1~~~~~~~~~~~~~~~

1 10 102 1a3 104 105


Peso corporal (g) (a) (b)

(e)
Volume da ninhada
------=0.136
Volume corporal
;;;- · ~ffws. inYertabtados, - ~ e ~ 35
! •Aves
• Peixes
~

.
~ 100.000
E 3.0
10 000 Relacâo alometnca de
u
m 1000 (a)
~

f 100
10 2.5
111·11 111111
"'
E ~
-
"' ~
E
e §1
- e"' g"' 'l 'l 'l
- e §1 ~ê
0.1
01ãmetro (m)
ó
Log do ..,olume corporal 1_mm 3) Log do ...o1ume corporal (mm 3 )
Peso corporal -ª
FIGURA 4.33 Relações alométricas entre volume (atai da ninhada e volume corporal de salamandras fêmeas. (a) Relação global para 74
FIGURA 4.32 Relações alométricas. todas plotadas em escala logarítmica {a) Ter.1po de maturação em função do peso corporal para uma espécies, usando um valor médio por espécie {P < o 01) (b) Relação dentro de uma população de Ambystoma t,grrnum_( ) (P < 0,01) e d~ntro
ampla gama de animais (b) Tempo de incubação em função do peso corporal materno em aves. (c) Longevidade máxima em função do peso de uma de A. opacum r::) (P < O.OS). A relação alométr1ca de (a) é mostrada como uma linha lrace1ada· A. ooacum se a1usta a ela: A ttgnnum.
corporal dos adultos para uma ampla gama de espécies animais (segundo Bluewe1ss er ai.. 1978). (d) Relação alométnca entre altura e não. Contudo, ambas as espécies se a1ustam a uma linha 1sometnca na qual o volume da ninhada corresponde a 13.6º/., do volume corporal
d1àmetro do tronco (a 1.525 m do solo) para 576 1nd1viduos de diferentes espécies arbóreas americanas (segundo McMahon. 1973). (- - -) (segundo Kaplan e Salthe. 1979)

l
128 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 4: NATALIDADE, MORTALIDADE E HISTÓRIA DE VIDA 129

as relações alométricas denrro de duas populações de espécies hábitars. Como as seções anteriores mostraram, freqüentemente TABELA 4.8 Quando anâlises de variância h1erârqu1cas sào reahzadas em conjunto de dados muitos caracteres de histónas de vida de um
diferences de s::dJmandras, Amkystonlil tigrinum e A. opacum grande número de espécies de mamiferos. o percentual de variância é maior em nive1s taxonômicos mais elevados (ordens dentro da classe)
essas tentativas cêm sido exitosas. Porém, as que falharam e
e menor em nivel mais baixo (espécies dentro do gênero) (segundo Read e Harvey, 1989).
(Kaplan e Sal,he, 1979). Se as médias para cada espécie são que não buscaram analisar as relações alométricas, folharam
Espécies dentro de Gêneros dentro de Familias denrro de Ordens dentro
comparJdas, sem referência à alomerria geral, as espécies são muito provavelmenre por esta ro:1.záo.
Cara ter um mesmo gênero uma mesma familia uma mesma ordem da classe
vistas como tendo J mesma razão de volume da ninhada:volume
corporal (0,136). Isso parece sugerir que as his,órias de vida Tempo de gestação 2,4 5,8 21 ,1 70 7
Jdade de desmame 8,4 11,5 18,9 61.6
dessas espécies náo diferem e, porcanro, não haveria nada "a 4. 14.2 Efeitos da filogenia Idade à maturidade sexual 10,7 7,2 26,7 55,4
explicar" - ou que qualquer sugesráo a ser dada estJ.ria errada. intervalo entre período reprodutivo 6,6 13,5 16,1 63.8
Longevidade máxima 9,7 10,1 12,4 67.8
A. opacum se ajusta perfeitamente à relação geral para as sala- A abordagem usada com as salaman-
Peso ao nascer 2,9 5,5 26,6 64,9
mandras. A. ti'gri11um, por outro bdo, possui um volume de dras, de comparar espécies (ou grupo . . ) Peso do adulto 2,9 7,5 21,0 68.5
ninhada que: é quJ.<.e duas vezes maior do que deveria ser espe- em termos de seus desvios de uma re-
rado pela rdaçáo. Dentro das limitações alométricas de ser laçá.o alométrica que as une, cem sido
uma salamandra, ,·l. tigrinum está fazendo uma alocação re- utilizada com sucesso para várias caxocenoses. Pela remoção
produciva muiro maior do que A. op,1cmn; seria razoável para dos efeicos do tamanho. a abordagem busca o efeito da filoge- r·.1.mília, etc. As espécies v,1riam muirn pouco dencro de um nas variações d.1s suJs hiscórias de vida - o esquema ri K forne-
um ecólogo oh,en .1r os /i;ibirats <lessa ... espécies e tenrar en- nia sem influência daquele. Por exemplo. a Figura 4 ..34 m~')- m::smo gênero; os gêneros vari.1m pouco denrro das famílias. ce um razoável (porém não pertêito) resumo desses p.1drões
cender o moti\() d1s::.o. ua, par,1 várias espécies de mamíferos, que a ídade ··rebriva" :i A maiori.1 d.1 vari.incia, parJ. cod.ts as cJuccerbcicas, é observa- lig.tdm a ambos m grupo:-..
Em ourr.1::. p.1l.1vra.'>, é rJzo.ivd comp.!í.lf tixon::. de um primeira reprodução aumenta de acordo com o ,ll!menro d.1 d.1 encre J..'> ordens, usando J. Classe 1\bmmJ.lia como um rodo. A me... m.1 '-1ue~tJ.o est.í ilustr.1d.1 <le um.1 n1J.neirJ mJ.Í:o. 4u.111-
ponto de visu "ecológico", comamo que a relação alomérrica expeccaúva de vida "relativa" (ou seja. par:1. um valor esperado fsso enfacia que, com uma simple:, cumpHação entre duas ritJtÍva por uma aplicação do mémdo de "remoção d:1 influenci.1
envolvida, em nlvet-'> raxonôrnicos mais amplos, ..'>eja conheci- de acordo com um ajuste alométrico). Isso mo~trJ. uma pode- espécies de ordens diferentes. escamas, em essência, cumpJ.- dJ. filogenia" .. (Harvey e Pagel, 1991) ,1os padrôes de covariánciJ
da (Cluuon-Brock e Harve1•, 1979). São os desvios a essas rosa rdaç:10 enrre esses dois parâmetros Ja hisróriJ de vida, r.indo J.. '> ordens (com prov.íveis divergências evolutivas de al- em l O c.Hacrerisric:tS das histórias de vida pJra os marníteros
relações que formam a base ,das comparações. Os problemas umJ vez removidos os efeiros do tamanho, ,tlém de revelar guns milhóes de anos). Contudo, comparJr ,is espécies de mes- (S,earm, 1983). Nos dados não-manipulados, o pad,ão .1 ser c,-
surgem, enrrecanro, quando .1s relações alométricas são desco- similaridades entre espécies de diferentes camanhos: elefantes mo gênero não é apenas analisar superficialmente o caso. i\.1es- perado sobre a influência da :,deção ri K foi pronunciado: cerc.1
nhecidas (ou ignoudas). Sem a alometria geral fornecida na e lonrras do mar, roedores e javalis. mo quando duJs espécies são muito simi!J.res em suas histórias de 68°/o da cuvariaçáo. Essa iníluência foi reduzida pJ.r.1 42~'o
Figura 4.33a, as duas espécies seriam reconhecidas como si- Uma impressão adicional da força da influência da filo- e hábiracs, se uma possuir uma maior alocação reproduriva e quando o efeito do peso corporal foi removido, e foi reduzida
mi!Jre.'>, quando de fato são diferentes. De maneira oposta, genia pode ser obtida de análises como a que é mostrada na \-iver em um hábirar de CR mais b.11xo, isso nos possibilita ainda mais quando as uracreríscicas foram substituídas na anilise
duas OU[ras espécie\ podem ser consideradas diferentes, quan- Tabela 4.8 (Read e Harvey. 1989). Uma análise de vari.ínci.1 construir um padrão que reúna as duas. por seus desvios, em relação ao valor médio. para as famíliJ.s às
do de foto elas .1.e ajustam a uma mesma relação alométflca. hierárquica rem sido aplicada à variaçáo de sete caracreríscica, Mais ainda, a força destas rela- quais 1S espécies pertenciam (33º/o) ou à sua ordem (32~,o). Pri-
E. . quecer as comparações quanto à alomerria é claramente pe- de história de vidJ entre um grande número de espécies dr: ções nos níveis ra.xonômicos mai:, ai· meir.ameme, essas análises re-Jfirmam a importância do c:un,mho
rigoso, porém, infeliz.mente, isso ocorre com freqüência. No mamíferos. Isso tem levado à derermmação do percentual d.1 ms não significa abandonar o esforço corporal e da filogenia, pois ambos tiver:1m muira influênci,1 na
geral, as compar,1çóes enue as histórias de vida rêm sido reali- variância total atribuível a (i) diferenças entre espécies de um de relJcionar hiscóriJs de vida aos variação encontradJ. Segundo, também é importante o faro de o
zadJ.s p.ua explicar .1\ diferen~·as em termos de diferenças nos mesmo gênero; (ii) diferenças entre gêneros de uma mesm.1 modos <le vida e h.íbir.us, umJ. vc:z que estes também são res- padrão ri K ter continuado a ex.istir, mesmo após os dêiro.<i terem
rringidm pelo tamanho do orgJ.nismo e por sua posição filo- sido removidos. Porém, a força do padrão em dados não-mani-
genética. hso mostra que, em níveis taxonômicos mais eleva- pulados não pode ser simplesmente renegada como um arteforo
dos, os padrões que ligam os ambienres e as hisrória1i de vida füogenérico. É possível que as diferenç1s de háhiw, ,ambém es-
(a) (b)
e,;rão 1merligado::. pela sdeç.í.o natural. Por exemplo, os inse- cej.i.m associadas ao ranunho corporal, unrn ao nível de tspécic".
ros (pequeno tamanho, prole numerosa, alocaçJo reprodmlva quanto J.O de famíliJ. ou mesmo ordem.
Esqu1to-de-dorso-hstrado
o.a Lontra-do-mar..,. 0,5 • Chiroptera .dra, semdparidJde frc:qüenre) ctm sido descritos como r-c:s- Ê sem dúvid:1 verdadeiro que o es-
o b ) Ocótono rrategisLl'i, se comparado1i aos mamíferos (ranunho maior, tudo da história de vida não pode es-
'"a -+ ~
l
~ Ovelha ~:. ~· Primates
Elefante atncano prole menos numero,a. t'.tc., relJtiv.rn1eme K-estrategistas) quecer J.S rescrições filogenéricas e alomérricas. Conmdo, n.l.o se-
0,4 H1popófamo .!!
·• Esquilo E 0.25 Prob1sco1dea i'Pi.inka. 1é)/0). Tiis Jiferc:nç.1' podc:ri,un ser rejeiratÜs, sendo ri.1 proveimso ver a filogenia corno um.1 explicação alcernarna ao
o 11.Ío m.li.1. Jo que o produto de um.1 divergênci.1 e\'olutiva re- h:ihitar. quando se bu:-.ca enrender os p.1drões das hisróri.1s de
~ u
a Castor
~ \ 1<la. EL1 coloc.i um cerco limite às pm~ibilidades do,;; tÍ)ü\ de
..
lã o Lebre americana mora (Ste.trm, 1()t)2). Porém. 1..01110 remo, rey.,,dudu, o h.íbi-
a ã P<2r1ssodactyla
história de vtda e dos hábirJr:, onde e~us ocorrem. I'orCm ..1 l"'::.-
uc de um org.1111rn10 rdlece ~u.1::. própria~ resposus .10 seu
lmpala
(antifope africano)
~
o
o Art1odactyla
. Carn1vora

• Jmbieme. florrJnrn, um mamít~rn t' um inseco que convivem 'ienc1:-U tJretà ecológica de rebcionar as hisrórias de vid.1 ao~ h.ih1-

.
ii:i -0,4 ; Porco , ;;
;:rJ... r1rs perm.mece ,linda como o desafio mais fundamental
~ domestico ~ Lince eo Edentata/ -+ ROdentia juntos em um locJ.! t.l"'rc.1menre cêm experiênLias muito Jis-

~ --0.8
Javali

> Camundongo > Anhlope


1
o..
--0,25 Macroscehda
/ i \
I Cetacea
) !nsec11vora rinras quJnw ao hábirJc Os mamífero'> de maior umanho
corporal, homeorámicos, de vid.t longa. com comporramen-
P:nneped1a ws complexos. em geral :ie encomr.1m em populações cons·
~ Rato silvestre
-1,2.'-::----:---:---cc------'---L-.---L_ __ -0.5
Lagomorpha • tJnres em números, .<,ujeiro::. ,t freqüentes níveis de competi-
Os ecólogos tentam deKrever e explicar J d1srribu1çl.o e a abun-
-1,2 -0.3 --0,4 0,4 0,8 -1 0.5 -0,5 -1 ção, sendo rd,Hi\·J.mence imunes d muicas catástrofes e incer-
dância <los organismos, m processos que mo<lifiCJ.m o ramJ-
Expectativa relatrva de v1da ao nascer Fecundidade anual relativa
rezJs ambientais. u~ insetos - menores, pecilotérm1cos, sem
nho populacional - 1uralidade, morralidade e os movimentos
comporc.unencos complexos, Je ciclo de vida mais curto são
Je dispersão (emigraçJ.o e imigração) -- ,: os modos pelm quais
..-m geral oponunistas, experimentando morralid1des freqüen-
FIGUR~ 4.34 Após o ~leito do tama~ho ~ter si_do,,removido, a idade â primeira reprodução ~umenta com a expectativa de vida ao nascer. para
24 espec1es de mamiferos. A questao relativa se refere ao desvio da relação alométnca que liga o caráter em questão ao tamanho do tes. Es:,es dois grupos de org.1111 ... mos s;ío ·'prisioneiros" de seu
organismo (segundo Har1ey e Zammuto. 1985). pJssado t'\·olurivo na interação com ,eus h.íbir.us, Jssim como · '.\. lic T. Em c~r.HÍ\CÍC.1, .tn.ílisc: dos rcsi<ltHt\.
130 PARTE 1 - ORGANISMOS

esces processos demográficos são influenciJdos pelos fawres metros podem ser estimados pelas rabeias de vida, projetando
ambiencais. a populaçJ.o futura por meio de matrizes, um método mais
Nem rodos os indivíduos são igu.iis, especialmenre encre eficaz de: se anali::;ar a fecundidade e a sobrevivência quando
os modulares, em oposição aos organismos unicários. As for- há sobreposiçáo de gerações.
mas de crescimento modular precisam ser descriCls, assim como Furam Jc:::icritos crês diferentes tipos de perguntas a res-
a n.uureza e imponância ecológica da senescência e a inregra- peito da e\'oluçio das hiscórias de vida que ocorrem com fre-
ção fisiológica em organismos modulares. A ecologia necessa- qüC:ncia. Muitas das respostas a essas perguntas têm sido ba-
riamente envolve contagem dos indivíduos ou de seus módu- seadas na idéi;i de orimização. Os componente::; d.is histórias
los. Uma população é um grupo de indivíduos de uma espé- de vida e seu significado ecológico foram também descritos:
cie, sendo que este conceiro varia de esmdo a estudo. É mais tamanho, LLXa de desenvolvimento, semelparidade ou itero-
convenienre considerar a densidade do que o ramanho popu- paridade, número e camanho da ninhada, e algumas medidas
lacional. Os métodos de escimar o tamanho populacional ou a compostas - alocação reprodutiva e especialmenc~ valor re-
densidade são descriros brevememe. producivo.
Foi demonmada uma variedade de p.1dróes de ciclos de Os tmdc'-ojJS são centrais para se entender a evolução da
vida, incluindo a distinção entre espécies scmélparas e ireró- hisróriJ. de \·ida, embora sejam difíceis de se obser\'ar na natu-
pJrJ:,. Os mémdos b.ísicos de quanrificaçJ.o de uis padrões rez,l. Os muÍt'-off nuis imporc.mres sJ.o aqueles que: revelam
incluem tabebs de ,·ida, curvas de sobrevivê11ciJ e padrões de um ap.ireme .. CU.')(U da reproduçáo" (CR) em rermos de de-
fecundidade. Para espécies anuais, podem ser construídas ra- créscimo no ,·alor reprodurivo residual. Outro enrre o núme- s. 1 Introdução çáo determinam a contribuição do gafanhoto para a geração
beias de vida de coone, em que seus componentes são descri- ro e o fimei .- ind1vidu,d da prole. seguinte. Porranco, quanto mais competidores intra-específi-
tos. Um parâmetro que resume o padrão de fecundidade é a Pa.r.1 orient,u a quesrão se há padrões ligando tipos espe- Os organismos crescem, se reproduzem e morrem (C.1púulo 4). cos por alimenrn um gafanhoto river, provavelmente sua con-
taxa reprodutiva líquida, R0 . As curvas de sobrevivência que cíficos de: hiscória::; de vida a tipos específicos de h.ibicars, são Eles são afetados pelas condições em que vivem (Capítulo 2) e tribuição será menor.
derivam de uma tabela de vida podem ser classificadas em três introduzidos os conceitos de conjuntos de opçóe.') e níveis de pelos recursos que obtêm (Capítulo 3), porém nenhum orga- No que diz respeito à. erva, uma plântula isolada em solo
tipos básicos. Contudo, uma variedade de caracrerísticas, in- fimeH, h::\·ando a uma cl.1ssificação geral comparativa. de hJbi- nismo vive isolado. Todos eles, pelos menos em parte: de suas fértil pode rer uma chance grande de sobreviver até atingir a
cluindo banco de sementes, indica que há muitas espécies que rars. EmJ.o, revelou-se um padrão da alocação reprodutiva e \·idas, são membros de uma população composta de indiví- maturidade reprodutiva. É provável que ela exiba um extenso
nJ.o são assim, ditas anuais. duos da sua própria espécie. crescimento modular e, como conseqüência. produza um gran-
do seu tempo de ocorrência, otimizando o tamanho e o número
Para indivíduos de momenws reprodutivos repetidos da prole. O conceirn de seleção r e K foi apresentado, coin suas Os indivíduos da mesma espé- de número de sementes. No encanto, é provável uma plântula
cie têm necessid.1.des muiro semelhan- que esteja rodeada por vizinhas muito próximas (fazendo som-
também é possível construir rabeias de vida de coorte; tabelas limitações e e\'idências. Também foi explicado que os padrões na
de vida estática são uma alternativa que deve ser U[ilizada com plasticidade tenotipica das histórias de vida podem igualmente tes para sobreviver, crescer e se repro- bra com suas folhas e recirando água e nucriences do solo com
cautela. ser go\'c~rrudos pela seleção natural. duzir, mas a demanda combinada que suas raízes) não sobreviva e, caso o consiga, cercamente for-
Foi explicado como a taxa reprodutiva líquida, R0 , o tem- fin.1lmente, foram discuridos os efeitos das restrições fi- des rem por um recurso pode exceder .1. sua oferta imediata. mar:í poucos módulos e produzirá poucas sementes.
po de geração e a taxa de aumento populacional estão inter- logenéric.1::; e .1lomérricas na evolução das histórias de vida - Os indivíduos competem então pelo recurso, não ::iendo sur- Podemos perceber imediatamente que o efeirn fin.1! da
relacionadas quando as gerações se sobrepõem, levando à taxa em especial o d"eiro do tamanho - concluindo-se que ainda presa que pelo menos alguns ficam privados dele. Este capítu- competição sobre um indivíduo é uma redução da sua concri-
líquida reprodutiva, R, e à taxa intrínseca de aumento popula- permanece um desafio relacionar as histórias de \'ida com os lo trata da natureza de ral competição inrr.1-específica, .')eus buição à geração seguinte, em comparação com o que aconte-
cional r (= lnR). Foi explicado, igualmente, como tais parâ- hábirars no qu.11 esra::; evoluem. efeitos sobre os indivíduos competidores e sobre as suas popu- ceria. se não houvesse competidores. A competição intra-espe-
Lições. Iniciamos com uma definição <le crah.1lho: "compeci- cifica leva a uma diminuição das taxas de incorporação de re·
~:'io é uma interação entre indivíduos, provocadJ. por uma ne- cursos por indivíduo e, assim, a uma diminuição d.as taxas de
cessidade comum de um recurso e que leva J reduçJ.o da so- crescimento ou desenvo\vimenrn individual. ou rrtlvez a um
brevivência, crescimenw e/ou reprodução <le pelo menos al- decréscimo das quamidades de reservas armazenadas ou a um
guns dos indivíduos comperidures envolvidos" Podemos .1.go- aumento dos riscos depredação. Isso, por sua vez, pode acarrecar
ra o:.1minar mais decid.1menrc a compenç}o. um decréscimo d.i sobrevivência e/ou da fecundidade, que juncas
Inici.llmenre, considen~mos uma comunidJde h,poréri- <lererminam o rendimento reprodutivo de um indivíduo.
u ::iimple~: uma população bem-sucedtd.1 de g.1tanhoros (rn-
do~ d:i mesma espécie) se alimencando em um CJ1~1po de ervas
(também de umJ. só espécie). Para prover-se dé" energia e ma- 5.1.1 Exploração e interferência
téria necessáriJs ao crescimento e à. rcproduçJ.o, o-; gJfanhows
comem ervas, mas para enconrrá-las e consumi-1.ls, eles preci- Em muirns casos, os indivíduos com-
SJm us.u energia. Qualquer gafanhorn pode estar ('m um lu- peridorc:s não interagem diretamente
gar do campo onde não haja ervas porque: oucro gJfa.nhoto já uns com os outros. Em vez disso, eles respondem ao nível de
as comeu. O gafanhoto preci:.a entío se dc",;;loc.1r e gasur mais um recurso, que diminui devido a presença e arivid.1dé' de
energia, ances de conseguir alimentar-se. Q_u.HHO m.lls gafa- outros indivíduos. Os gafanhotos menciun~1dos são um exem-
nhorns hou\'er, mais freqüentemente Í:o.\O oLorreri Um au- plo. De maneira análoga., uma planta herbâcea comperidorJ C:
mento no gasto de energia e um Jecré::icimo na t.na de inges- afetada adversamente pela presença de pl.uua.s vizinhas, pois a
rão de alimento podem diminuir as chance,;; Je sohrevivência zona da qual ela extrai os recursos (luz, água, nutrientes) foi
do gafanhoto~ .1 quantidade de energiJ disponí\'el p:.1ta o de- sobreposta pelas "zonas dt: esgotamenro de recursos" das pLm-
senvolvimento e a reproduçio. A sobre\'iv~n(.i.1 s.: a reprodu- tas vizinhas; isso torna mais diftcil a extração daqueles recur-

1
---'

l
132 PARTE l - ORGANISMOS CAPÍTULO 5 COMPETIÇÃO INTRA-ESPECÍFICA 133

sos. Em [ais casos, a competição pode ser descrita como explo- Na prá[ica, muicos exemplos de competição incluem pro-
ração, em que cada indivíduo é aferado pela quanridade de vavelmence elememos [anta de exploração quanto de incerfcrê:n-
recurso que perm.rnece apôs esre ter sido explorJdo pelos de- cia. Por exemplo, os adulros do besouro-das-cavernas (Neaphea-
mais. Porranco, a exploraçJo só pode ocorrer se o recurso em 11op, tel!kampfi), em Grear Onyx Cave, Kenrucky, comperem en-
quesr.ío se enconrr.1 ern quantidades limitadas. tre si, mas com nenhuma outra espécie, e têm só um ripo de
Em muitos muros casos, a com- alimento - os ovos de grilo, que eles obtêm fazendo escavaçóes
0.95
petição toma a forma de interferência. no chão arenoso da caverna. Por um lado, eles sofrem indireta-
.~ 0.85
Aqui, os indivíduos interagem direramence uns com os ou- mente os efeirns da exploração: os besouros reduzem a densidade 0.95
~ 0.75
tros, e um indivíduo de foro impedirá que outro explore os do seu recurso {ovos de grilo) e têm uma fecundidade maroda- ~ 0,65
0,85
recursos denrro de um.-1 porçio do hábirat. Essa sim.ição é ob- mente menor, quando a disponibilidade do recurso é bJjxa {Figur:1 â 0.55 0,75
0.65
e, 0.45
servada, por exemplo, entre :mimais que defendem seus cerrl- 5. la). Porém, eles sofrem direrameme os efeirns da incerferência:
tórios (ver Seçio 5.11 l e emre .mimais ~ésseis e planras que
vivem em costões rochosos. A presenç.t de uma craci sobre
em densidades mais alras, os besouros lutam mais, forrageiam
meno~. cavam cm·as nu.is superficiJ..is e em menor quamidade,
j ~:~ 0.55
0,45
0.35
uma rocha impede que outra cr.1ca ocupe a me.<ima posição,
mesmo que o Jlimt.'ll[u nesse loul exced.1 as denundas de v.í-
,dc'.m de comerem menos ovos do que seria esperado com apenJ...\
o alimenro corno fator limiranrc (Figur.1 ).1 b).
ia: 0.25

ri.1s cr.lc.t.\. Em Lll\ CbO\, o t.::sp,1ço pode ::icr considerJdo um


recurso em qu:111ridades Jimira<l,1s. Outro ripo <le comperiç,lo
FIGURA 5.2 Os cervos-vermelhos mencres,
de imed"erênuJ OLorre quando, por exemplo, dois cervos-ver- 5.1.2 Competição unilateral ao nascerem. têm menor probabilidade de
melhos machm luc.1111 por aces,;o a um harém de t"emeas. Qual- sobreviver ao inverno quando. em intens1da·
quer um do::i nuchos poderia pronramenre aCJsabr com rodas I ndependenremence de comperirem por exploração ou inter- des mais altas, a sobrevivência dechna (se-
gundo Clutton-Brock et ai., 1987)
a.<i fêmeas, mas de) rüo conseguem fazê-lo porque os JGlSala- ferência, os indivíduos de un1.1 espécie possuem muitas C.Hac-
menros sâo limit.1dus .w ·'propriedrio" do harém. rerísricas fundamencais em comum, usando recursos simi\Jres
Assim, a compeciçdo mediante interferência pode e reagindo às condições de maneira muito parecida.. Encreran-
ocorrer por um recurso de v.ilor real (p. ex., pelo espaço to, a competição incra-específica pode ser baseante unilarer.1!:
para uma craca sobre um CO)tJ.o rochoso). Nesse caso, a uma plânrnla precoce e robusta fará sombra a uma plântula '-·~c:i longe de ser igu.1\ para todos os indivíduos. Os competi- Ao longo da região l (densidade b.tixa), a raxa de morta-
interferênci.1 é acornp.mhada por um cerro grau de explo- rardia e acrotlada; na praia, um briozoário de mais idade e J\11es fracos concribuir;lo pouco pdra :J. próxima geração ou lidade permaneceu constJnte à medida que aumencava a den-
raçio ou por um recur)o substituto (um território ou a posse maior crescerá por cima de um mais jovem e menor. A Figura. n,ío contribuirão em absoluco. Os compLtidores forces podem sidade (figura 5.3a). Os nümeros de indivíduos morws e so-
de um harém), quc é v,ilioso somente porque permite o 5.2 .1.presenra um exemplo. A sobrevivência durante o inverno tt:r umJ contribuição ape1us infimameme .,fecada. breviventes aumentaram (Figura 5.3b, c) (o que não é surpre-
acesso a um recurso rcc1l (alimemo ou fêmeas). Com J ex- de criJ.s do cervo-vermelho, na popul.1çJo com recursos limi- Por ftm, observe que o passivei efeirn Ja compecição in- .<,a, pois o m'imero "disponível" para morrer e sobreviver au-
ploração, a imemid.1Je de compeúç:i.o é muiro ligad.1 ao r,dos da ilha de Rhum, Escócia (ver Capírulo 4). declinou rr.1-específica sobrL qualquer indivíduo é mJior quanto mais mentou), mas a proporçio dos indivíduos moribundos per-
nível de recursos pre')enres e nccessJ.rios, mas com a inter- nitidamenre à medida que a população se tornou mais aJen- competidores houver. Por isso, diz-se que os efeitos da compe- manecia a mesma, o que explica as linhas reras nJ região I dJ
ferênci,1. a i1He11sid.llle pode ser ;ilra. mesmo quando o ní- s.tda, nus aquelas com maior probabilidJ.de de morrer eram J!) riç:10 inrra-específic.1 sJ.o dependenres da densitÍJ.dt'. A seguir, Figura 5.3b, e. A morralidade nessa regi:ío é independence dJ
\'d dos recursos re,1is não é limiranre. que nasceram menores. Pon:rnro, o efeito final da comperiçio n.1minaren10s m.1is deralhadamenre os dCiws da competição densidade. Os indivíduos morreram, mas a chance de um so-
intr.1-especffica dependemes d.1 densidade ~obre a morralid.1- brevivente chegar à. idade adulta n.:io variou nessa densid.1de
de ..1 11.1tali<laJe e o crescimento inicial. :\ julgar por isso. não houve competição intra-esp<:cí-
r!cJ entre os besouros nessas densidades. Tais mortes indepen-
Jences d.1 Jensid,1de afeum a população, seja qual for a sua
(a) (b)
5.2 Competição intra-específica e mortalidade e Jensid.ide, e represencam J linha bá,ica que roda mortalidJde
20
fecundidade dependentes da densidade

r
dependc::nre da densidade deveria super:ir.
i

r
'.\.'J regi.lo 2, a c1Xa de mortalida-
~ 15 A hgura 5.5 mosrr.1 o p.idr:to de morra!id.tde do hesouro-d.1- de aumentou com ,l densidade (Figura

i~I·L
l
o
o. f.irinh.1 ( T,-iho/iuJ// umjlouJJ/), ..:rn coones cn,1d.1s LUl11 den~Í- ).}a): houve um,l monJ.lidade depen-
o i
2. 10 tbJes d1h:renres. L:111 número conhec1Jo de ovo~ füt coloc.1do denre d.t den,iJ.1de. O número de mor-
~
i'l
1
~
I "" -/

! ' , - '"-....
T
ea.
em tubos de vidro com O, 5 g de unu misrun Je farinh,t de
rrigo e levedura. sendo rei!,ÍSrradus os individuas sobrevivenres
qu~ se tornar.1m adulws ~m c.1tl.l rubo. Os mesmos dados fo-
res continuou aumentando com a densidade, porém mais r;1pi-
damenre do que na região l (Figura '5.Jb). O número de sobrc:-vi-
venres tambt'.m continuou crescendo, nus com menor rapidez.
~ / Besouros
u , r:1rn expressm de crê\ modos. e em odJ. c.1so .1 curv,1 resulun- do que n..1 regiJ.o l (hgura 5.3c). Assim, nesra região. o aumenro
O 1 2 4 '-~-'--~-'-~-"'--- ce foi dividid,1 em três regiões. :\ FigurJ. 5.5.1 descreve a rdJ- d.1 den~idade dm ovos cominuou a levJ.r J um Jwnenrn do nú-
ASONOJFMAMJJ
1986 1987
Número de besouros por rec1p1ente ~Jo enrre ,1 densidJde e .1 c.1.xJ de morr.didade per otptta - mero cuca! de Jdulcos .')ohrevivencc:s. A CJ.."X.I de morra.lida.de cres-
!iceralmente, J r1x,1 Je morulid.1Je "por c.1be<;.J.", isto é, .l prn- ceu, mJ.s eid "subcompensou" os aumemos da densidade.
h,tbilidade de um indivíduo morrer ou a proporç.10 dos que i'sid região 3, a comperiçio in-
FIGURA 5.1 Compet1ção 1ntra-específ1ca entre besouros-das-cavernas (Neapheonops tellkampfi). (a) Exploração A fecundidade dos besou-
ros está s1gn1f1cat1vamente correlac1onada (r = 0.86) com a fecundidade dos grilos (por si sô. uma boa medida da d1sponib1Hdade de ovos de morreram entre o:-. e~tigios de ovo e .1dulco. A FigurJ. 5.Jb rra-e.<,pecífic1 foi ainda mais inren- sctr<x0r.'!penSéldor J
grilo_ - o alimento dos besouros). Os propnos besouros reduzem a densidade de ovos de grilo. Em experimentos com 1O ovos de gnlo, à Jescreve como mudou. com a densidade. o número de indiví- s..1. A raxa de morulid.1de crescenre 1a 'Jens1·ja.de
medida que a densidade de besouros aumentava de 1 para 2 para 4, eles cavavam covas mais superficiais e em menor quantidade na busca
duos morros ,inres do estágio adulto, e a FigurJ. 5.3c descreve ··sobrecompensou" qu:iltiuer aumen-
do seu alimento; em ultrma anáhse. comiam muito menos (P < 0.001. em cada caso). embora 1O ovos de grilo fossem suficientes para saciar
a todos As méd,as e os desvios-padrão sào indicados em cada caso (segundo GnHtth e Poulson. 1993). ,l reL-iç.lo entre J dcn::iidJd; e o nümero de :obrevivences. ro d..1 den,id.ide, isco é, nessa regiJo. quanro mais ovos ha-

--- ---,.-·-----
134 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: COMPETIÇÃO iNTRA-ESPECÍflCA 135

(a) (b) (e) (a)


140 35 Ê ,os
g ~ ~
FIGURA 5.5 (a) A fecundidade (sementes por
~

i~~
30 N planta) de Vulpia fasciculata. uma espécie
ã ;> ó anual de dunas. é constante em densidades
i

j
1


E
i 100 3/
/ ;
.,
~ 25
.8.,o-i
e
mais baixas (dependência da densidade, à
esquerda). Enlrelanto, em densidades mais
o
I O" 20 altas. a fecundidade dechna, mas de forma

!º·6~ ,!

.
>
~
60

/)
]
~
,o
15

10
~
.
~ 103

"'
o
subcompensadora. de tal modo que o nume-
ro total de sementes continua a crescer (à
direita) (segundo Watkinson e Harper, 1978)
"'
l/'
(b) A fecundidade (ovos por ataque) no be·
~
0.2 ~ o -~ 102 souro-do·p1nhe1ro (Oendroctonus frontalts),
~
20 60 100 140
z
202;//2

20 60 100 140
.!z 20
10' Z 10'
Número de plantas florlleras por 0,25 m2
10' 10'
Número de plantas floríferas por 0,25 m2
10' em East Texas, declina com a crescente den·
s,dade de ataque. de modo a compensar mais
60 100 140 ou menos exatamente os aumentos de den·
sidade: o numero total de ovos produzidos foi
Número inicial de ovos
(b) (e) cerca de 100 por 100 cm 2 • independentemen-
te da densidade de ataque sobre a amphtude
70
FIGURA 5.3 Mortahdade dependente da densidade no besouro-da-farinha ( Tnbol1um confusum). e seu efeito sobre (a) a taxa de mortalidade. observada (" = 1992. • = 1993) (segundo
(b) o numero de indivíduos que morrem e (e) o numero de indivíduos que sobrevivem Na região t. a mortalidade é independente da densidade. Reeve et ai .. 1998). (c) Quando o crustâceo

.... .
60
na região 2, há uma mortalidade dependente da densidade do tipo subcompensador: na região 3. há uma mortalidade dependente da densida- o planctômco Daphnia magna !01 infectado com
o 50
de do tipo sobrecompensador (segundo Bellows. 1981) ~ O" números variáveis de esporos da bactéria
o

~.··~·;..,
;;; 40 Pasteur1a ramosa. o nl.lmero total de esporos
il. 30
produzidos por hospedetro na próxima gera-
ção fot independente da densidade (exata-
V!J., menos adulcos sobreviveram: um aumento do núrnero
inicial de ovos conduziu a um aumenco proporcional aindJ
maior da raxa de morralidade. Portanco, se as densidades
densiJ.1dc: wdo aumento do número de alevinos foi com-
pens.1do por um aumento equivalence d.1 U.XJ. de mortali-
g 20
10
.,,. . :- mente compensadora), em densidades mais
baixas, mas declinou com densidade crescen-
te (sobrecompensação). em densidades mais
dade. Porc.1nco, o número de sobrevivenres se aproximou e
o altas. Os erros-padrão são mostrados (segun-
fossem aumenradas, haveria cubos sem sobrevivenres: os be- se mJnteve em um nível constante. independentemente d.1 o 10 ~~o~--,1~00=---c1000~~~10~.ooo==-:-:1oocé::ooo::: do Ebert et at.. 2000).
souros em desenvolvimenro teriam comido rodo o alimen- densid.ide inicial. Densidade de ataque (nº 100cm· 2 ) Dose (esporos mL· 1 J
co disponível, antes que qualquer um deles pudesse alcan- Os p.tdrões de fecundidade de-
çar o estágio adulto. pendeme d,l densidade que resulcam
A Figura 5.4 mo.sera uma sirna- da comperição inrra-específic,1 são, em 3.3 Densidade ou adensamento? insetos seria 82,9 insetos por planta.
çáo um pouco diference. Ela ilustra certo sentido, uma imagem-espelho isco é, somam-se as densidades experi-
Y-; e,· ·~, .. e
a relação entre densidade e morcali- daqut>b.: abridos para a monalidade (Figura 5. 5). Encreranro, ,--\ imensidade da compe{ição imrJ-específica experimemada mentadas por cada um dos inseras
dade de trucas jovens. Em densida- no caso d;i ferrilid.ide, a raxa de mortalidade per capita cai à por um indiYíduo não é verdadeiramente determinada pela (91+91+91 ... +l+l) e se divide pelo número ,oral de insems.
des mais baixas. houve dependência medida que a compecição se intensifica. Quando as raxas es- densidade de roda a população. O efeito sobre um individuo é Esca é a "densidade ponderada pelo organismo", que claramente
subcompensadora dJ densidade, m.1s em densidades mai, r:ío baixJ.s o bas.tante, a raxa de na[dlidade pode ser indepen- determinado mais pelo grau de adensJmento ou inibição exer- proporciona uma medida muito mais sacisfatória da intensida-
alcas. a mortalidade nunca sobrecompensou. De forma mais dente d.1 densidade (Figura 5. 5a, densidades mais baixas). ..:ido por seus vizinhos imediatos. de de compeciçâo que provavelmente sofrem os insecos.
precisa, ela compensou com exatidão qualquer aumemo da Por~m. :1 medid.1 que a densidade aumentJ e os efeicos d.1 com- Uma maneira de enfatizar esse .1.specto é: reconhecer que, No entanto, permanece a oucra questão da demidade
periç10 11ur.:1-es.pecífica se mrn:.im evidentes, a taxa de natali- n.1 realidade. existem ao menos crês significados <literence, de média de insetos experimentada pelas plantas. Essa, que pode
d.1de mostra inicialmence um.1 dependência subcompens.1do- "dt'nsidJde" (ver ~wontin e Lcvins .....1989, onde podem ser ser referida como "pressão de explor.1çio", resulta ser de 1.1
r.1 da densidade (Figura 5.5a, densidades n1Jis .dtas), e logo enLonrrados detalhes de cálculos e termos). Considere unu inseto por planra, rdlerindo o faro de que ..1 maioria das plan-
pod-: exibir uma dependência exacamcnte compensadora (Ft-

.
§_ populaçio de insetos, di,rribuíd.1 sobre umJ popuLiçâo de plan- tas sustenra apenas um inseto.
1,5 gUt,1) ::;h. hgur.l í.5c densid,1des m.11s b.1ix.1s) ou sohreco111- r.is d.is quais eles se alimentJm. Esse é um t:\':rnplo típico de Qua.l é, em.lo, a densidade do insero? E\·idemcmence. isso

.
~
"
pen~.1Jo1.1 uim rel.tç:"io }1 densidade (F1gur.1 ).11..·. densidades
nu1, .du:-1.
um fi=nômeno quase gerJl - uma popubçJ.o ide tnserm. nesse
c.1:-io) sendo di:icribuíd.l em diferentes nunch.t:i de um recur'.)o
depende da perspecriva pela qu.1! a resposta é considerad.1 - .1 do
inseto ou a d.1 plamJ -, nus qtulquer que sei.1 J nSJ.o, a pr.iricJ
] 1,0
. [)n\c modo. par.1 re:-.um1r. :iem con::iiderar as \·.1ri,1-
çõe" em :.nbrecompens.1çáo ou subcompen:.'hlçâo, o ponro
(J:,, pbnus}. Em geral. J densidade seri.1 c.dcubd.1 como o nü- h.1bitual de calcular a densiJ..1de ponderada pdo recur,;o e dcno-

! ~s~enc1Jl ~ simples: em densidades apropriad.ts, a competi-


mero de insetos (suponhamos l .000) di\·ididu pelo número
de planras (suponhdmos 100), ou sep, líl in:-.erns por pbma.
mlná-b "densidade" parece muito suspeira. A diferença emre .1
densidade ponderada pelo recurso e a densidace ponderadJ pelo
i. 0.5 çio inr1a-cspecíf"ica pode conduzir à mortalidade e/ou fe-
cundid.1de Jependente da densid.1de, o que indica que ,l
Esse valor, que em geral chamaríamos apena:-. de "densid.1de", organismo é ilustrada na Tabela 5.1, p..1ra populações hum.mJS
"' na realidade é a "densidade ponderad.1 pelo recur:-.o" Enrre- de vários esrados dos EUA (onde o ''recurso" é simple-smente a
rax:1 de mortalidade cresce e/ou a taxa de nHalidade <le-
t cre5ce à medidJ que J densid.-ide aumenn. Pnn:rnrn, sem-
tJnto, ele proporcionaria uma medida precis.i da unensidade
de compecição sofridJ pelos insetos (o grau Je aJens.imenro)
área de tt:rra). As densidades ponderadas pdos organismos são
muito maiores (mJS algo inúteis) do qut: .is habiruais d.ensidaJc.-s
0.5 1.0 1,5 2.0 2.5 pre que h í competição inrra-específica; seu d"eiro, seja na somenre se exiscissem exa[Jmente 1O lnsecm sobre cJda plan- panderadas pelos recursos, pois a maion..1 das pessoas vive aden-
Log 10 da dens+dade inicial de trutas (m-2) '.)obrevi\·ênci.1, na fecundidade ou em uma combinação das CJ e as planca.s rivessem o mesmo tamanho. sada em cidades (Lewomin e Levins, 1989).
du,ts, é dependenre da densidade. No entJnto, como mos- Suponha, por oucro lado, que 10 pbnus sus[entam 91 As dificuldades em confiar na densidade parJ <.:aracre-
rraremo~ em oucros capítulos, exiscem ourro'.) processos, insems l.:ada. uma, e as resranre, 90 apen.1s um :nseco. A densi- rizar a incensidade potencial de compeciçjo incra-específi-
FIGURA 5.4 Efeito dependente da densidade exatamente comp'3nsa-
dor: o número de alevrnos de truta sobreviventes é independente da alé111 d.1 comperiç.ío incra-específica, que cambém exercem d.1de ponderadJ pelo recurso continuaria sendo de l O insems ca são especi..1lmenre incensas com os organismos sésseis e:
densidade 1nic1al em densidades mais atlas (segundo Le Cren. 1973). efeiros dqiendenres d,1 densidade. por planc:t. Porém, a densidade média experimentada pelos modulare~. poi.,, ,endo fixos. eles comperem quase exclusl-

l
136 PARTE 1 - ÜRGANISMOS CAPÍTULO 5: CoMPETtÇÁO INTRA-ESPECÍFICA 137

TABELA 5.1 Comparação das densidades ponderadas pelo recurso conrarn com vizinhos, a taxa de natalidade das gemas é mais 5.4 Competição intra-específica e regulação 5.4.1 Capacidades de suporte
e pelo organismo, de cinco estados dos EUA. com base no censo de
1960, em que as "manchas de recursos~ são os condados dentro de
alta, a taxa de morralidade, mais baixa, os ramos wrnam-se do tamanho populacional
cada estado (segundo Lewont1n e Levins, 1989) mJis longos e a forma se aproxima à de uma árvore cres- A Figura 5.7a-c reitera o faro de que, à medida que a densidade
Densidade ponderada Densidade ponderada cendo em espaço aberro (Figura 5.G). Os módulos distin- Existem, portanto, padrões típicos quanw aos efeitos da com- aumenra, a taxa de natalidade per mpita por fim diminui, e a ;:axa
Estado pelo recurso (km 2 ) pelo organismo (km·ZJ tos experimencam intensidades dit"erences de competição, periçáo intra-específica na natJ!idade e na mortalidade (ver de morcalidade per capita por fim se eleva. Em conseqüêr,ci:t,
Colorado 44 6.252 de modo que destacar a densidade na qual um indivíduo Figuras 5.3 a 5.5). Esses padrões generalizados estão re.<>umi- deve haver uma densidade em que essas curvas se cruz.am. Com
M1ssouri
New York
159
896
6.525
48.714
está crescendo seria fora de propós1ro. f do, nJs Figuras 5.7 e 5.8. densidades inferiores a este vaJor, a taxa de natalidade supera J
Utah
Virgínia
28
207
684
13.824
Pareamo, sejam móveis ou sés-
seis, os organismos diferentes encon- ·I
tram ou sofrem com um número va-
riável de comperidores. A densida- (a) (b)

vamente com seus vizinhos mais imediaras e, sendo modu- de, em especial a densidade ponde-
lares, a cornpetiç:lo é dirigida principalmente aos módulos rada pelo recurso, é uma abstraçlo 1 !1- Natahdade
------
mais próximos de tais vízinhos. Assim, por exemplo, quan~ que se aplica à roralidade da população, mas que não deve
do indivíduos de bteula prare.idJ (Renda pendu/a), crescem aplicada a nenhum dos indivíduos que a constituem
.':ieí

em pequeno) grupl>..,, os Lidos <l,1, .ir,-ores que contaram EntretJIHO, a densidade pode muit,l.':i \'ezes ser J. maneir.1 1
FIGURA 5.7 As taxas de natalidade e r1or-
talidade dependentes da densidade levam à
! M~~~~~
com os vizinho'> aprocnram uma r.1x.1 de "nJtJlidJde" de mais conveniente de expressar o gr.1u de .tdensamento do~
___ _./ regulação do tamanho populacional. Quan-
gemas mai.<> b.tix.1 e uma raxa de morra!id.tde mais alta (ver indivíduos - e esca é cercamente a n1aneM"a habirual de ex- do ambas as taxas dependem da densidade
pressão. (a). ou quando apenas uma delas mostra
Seção 4.2). No enranm, nos Lidos das mesm.1s árvores sem
~ K --- comportamento de dependência (b. c). suas
curvas se cruzam. A densidade em que es-
(e) (d) sas curvas se cruzam é denominada cc:.pa-
cidade de suporte (K). Abaixo deste valo( a
população aumenta, acrma dele. a pop.Jla·
ção d1m1nui: K é um equilíbrio estável. Estas
(a) (b) figuras, enlretanto. representam uma car·ca·
lura da realidade. Uma situação mais próxi-
ma da realidade é aquela mostrada em (d).
na qual, em relação à densidade, a taxa de
mortalidade aumenta, e a de natalidade. di-
10
minui. Portanto. é passivei que as duas ta·
xas se equilibrem não só a uma densidade
única, mas também a uma gama ampla de
K densidades. na d1reção da qual tendem a se
Densidade r mover as outras densidades

(a) (b) (e)

' ---.....:..io\
Idade do ramo (anos) ,, ;--·--'i
Numero de nascimentos _ 1. -
-• H
·• 1 J K

Recrutamento
,, - 'F
G

liquido

,• E

.
·~ •
;,,
'.-·..
' Mec:,a
·A11,1
~ ª""" FIGURA 5.6 Produção relativa médra de ge-
mas (gemas novas por gema existente) de Densidade K Densidade Tempo

r·\. Jllllli...
,·,.,,~.
- ""'' indivíduos de bétula prateada (Betula pen-
dula) expressa (a) como produção bruta e
(z-\··/ \ . (b) como produção liquida de gemas (nas-
cimentos menos mortes). em diferentes zo-
FIGURA 5.8 Alguns aspectos gera,s da competição intra-especifica. (a) Efeitos dependentes da densrdade sobre o número de mortos e o
~A número de nascimentos em uma população. o recrutamento liquido é "nascimentos menos mortas·· Portanto, como é mostrado em (b), o efeito
B•••• i nas de 1nterferénc1as. As zonas estão as·
dependente da densidade da competrção intra-especifica sobre o recrutamento hql..1do é uma curva convexa ou em forma de "n·· (c) População
sim s1mbohzadas. • = interferência alta. aumentando de tamanho sob a inf!uénc,a das relações em (a) e (b). Cada seta representa a l'l'ludança no tamanho populacional durante um
4 = média; - = baixa. As barras represen- intervalo de tempo. A mudança (isto é, o recrutamento liquido) é pequena quando a densidade é baixa (isto é. quando os tamanhos populacio·
tam os erros-padrão (segundo Jones e Har- na1s são pequenos: de A a 8. de B a C) e quando se acha próximo à capacidade de suporte (de I a J, de J a K) e é grande em densidades
Idade do ramo (anos) per. 19871 intermediárias (de E a F) O resultado é uma curva em forma de "S" ou padrão s1gmo1dat de aumento populacional. que se aprox,ma da
capacidade de suporte
138 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: COMPETIÇÃO INTRA-ESPECÍFICA 139

rJXa de morralidade, e a população aumenra de ramanho. Com Portanto, d sirnaçáo é provavelmente mais próxima àquela repre- s.4.2 Curvas de recrutamento liquido (Figura 5.1 Ob) é modular: ela descreve a relação emre o índice de
densidades sup<:riores ao ponto de interseção, a taxa de mortali- senrJda na FigurJ 5.7d. A competição intra-específica não man- área foliar (lAF) de uma população vegeral (a área foliar roral por
l.,1 rna visão geral alternativa de competição intra-específica é unidade de área do solo) e a raxa de crescimenro da população
dade é superior à de naralidade. e a população declina. Na densi- tém ,ti populações naturais em um nível previsível e imutável (a
mostrada na Figura 5.8a, que craca mais de números do que (nascimento modular menos morre modular). A r.1.xa Je cresci-
dade de incerseçáo, as duas taxas são iguais e não há alteração capacidade de supone), mas ela pode aruar sobre uma gama mui-
di: raxas. A diferença entre as duas curvas ("ruscimentos me- mento é baixa quando existem poucas folhas, alcança o máximo
liquida no tamanho da população. Porranro, esta densidade re- co ampla de densidades iniciais, levá-las a uma gama muico mais
nos mones" ou "recrutamenco líquido") é o número líquido para um lAF intermediário e diminui novamente com um IAF
presenta um equilíbrio estável, do qual rodas as outras densidades restrita <le densidades finais e, por isso, tende a manter ~l densid1-
de: indivíduos adicionais esperados na popubç~ío durante o alco, quando há muico sobreamemo mútuo e competição, po-
renderão a se aproximar. Em outras palavras, ao amar sobre as de dentro de cercos limites. Nesse sentido, em geral se diz que a
esdgio apropriado ou ao longo de um intervalo de tempo. dendo as folhas escarem consumindo mais na re.:,piração do que
caxas de natalidade e mortalidade, a competição incra-esp<:cíflca compeciçáo inrra-específic1 é capaz de regular o tamanho d.1s
Devido às formas das curvas de n.1talidade e morulidade, o conrribuindo por meio da forossíncese.
pode regular as populações aré uma densidade esrável, em que a pcpu!.1çôe!i. A Figura 5.9. por exemplo, apresem.1 as fluruações
número líquido de indivíduos adicionais é pequeno n.1s den-
raxa de naralidade é igual à de morralidade. Esra densidade é co- incr.1 e inceranuais em populações da cruca marrom (Salmo tnttra)
.-,;id.1des mais baixas, aumenta à medida que a densidade se
nhecida como capacidade de wporre da população e é habirual- e do gsfanhoco (Chorthippus bnmneus). Nesses exemplos. não h,i
de\'J, declina novamence ao aproximar-se dJ capacidade de 5.4.3 Curvas de crescimento sigmoidal
meme represenrada por K(Figura 5.7). Ela é denominada capaci- capacidJdes de supone simples, mas observam-se flíridas tendC:n-
suporte e depois fica negarivo (mais morres do que nascimen-
dade de suporre porque represenra o r.,manho da população que cias p.1ra que .t densidade "final" de cada ano ("número de indiví- As curvas do tipo mostrado na Figura 5.8a e b também po·
ws), quando a densidade inicial é superior a K (Figura 5.8b).
os recursos do ambieme podem exatamente manter ("suportar"), duos nos finais de verão". no primeiro c.1.SO; ''adultos". no segun- dem ser usadas para sugerir o padrão pelo qual uma popula-
Porcanco. o recrutamento rotai para uma popubçJo é peque·
sem uma tendência de: aumento ou redução. do c.1so) sep n:bciv1mente constanre, apesar das grandes flucua- ção poderia ,1umencar a partir de um tamanho inicial muito
1w quando existem poucos indiddum d.isponín~·is para repro-
Enrreunto, aind.1 que .is popul.t- ~·õe:, d.1 Jc::11:.iJ.1de Jencro de CJda ano e do ób,·10 ~)orenáJ de pequeno (p. ex., qu.1ndo uma espécie coloniza uma .írea pn:-
duç.lo e tamb~m qu.rndo .1 compeciçio incr.1-e:,pecífica é in-
ções hiporétit.:.1s represe11tadas pdos gd- cre:,cimc:nro de .1mbJ.<. ,lS popubções. viamente desocupada). Isso é iluscr.ido na Figur.1 5.8c. Imagi-
ri:nsJ. Ele alcança um pico, isco é, a populaç.lo aumenta mais
ficos como os da Figura 5.7a-c possam De Lco, o conceito de uma populaçáo cstabdecida em ne uma população pequena, bem abaixo da capacidade de su-
rapidamence em tamanho em unu densid.1de intermediária.
ser caracterizadas por uma capacidade um.1 upaLidade de suporte esr.ível, mesmo em popul.1ções pone do seu ambieme (ponto A). Uma vez que a população é
A namreza exat,1 d.1 relação entre
de suporte simples, isso ná.o aconcece hiporé(ii..:.1:i, só é relevante para situações em que a dependên- :; ::Tei ce pequena, durante um incervalo de tempo ela. pouco aumenta
.1 ta.xa líquida de recrur.imento de uma
com uma verdadeira populaçáo natural. Exisrem flumaçóes am- cia da densida.de não é fortemente sobrecompensadora. Onde de tamanho e apenas alcança o ponto B. No encanto, agora.
população e SlU demidade \'J.ria com a
biemais imprevisíveis; os indivíduos s.ío aferados por inúmeros existe sobrecompensação, podem resultar ciclos ou mesmo por ser maior. ela a.umenca de tamanho mais rapidamente'
biologia decalhJda da espécie em ques-
fatores, um dos quais é a competição intra-específiCt; e os recur- mudJnças caóric1s no camanho da popubçJ.o. Nbis c,1rde. durante o intervalo de tempo seguinte (até o ponto C) e ainda
tão (p. ex., a truta, os rre\'OS, o arenque e
sos não só af'ecam a densidade, nus também respondem a ela. voltaremos a esse ponto (ver Seção 5.8). com mais rapidez durante o próximo (aré o ponco D). Esse
as baleias da Figura 5. 1Os-d). Além dis-
so, uma vez que o recrutamenro é afe"tado por múltiplos fatores, processo continua até que a população supere o pico de su.1
os d.idos raramente se prestam com exatidão a urn.1 única curva. curva de recrutamento líquido (Figura 5.8b). Depois disso.
No entanto, em cada caso na Figura 5.1 O, é ev1deme uma curva em cada intervalo de tempo. J popul.1çáo aumenta cada \'el
em forma de domo (convexa). Isso reflete :1. n::i.rnra..1 geral dos menos, aré alcançar sua capacidade de suporte (AJ. e o au-
na:,cimenms e morres dependentes da densidade>. semp;e que há mento de tamanho cessa compleramenre. Por isso, pode-!ie
rnmpetição incra-específica. Observe também que uma delas esperar que a população siga uma curva em forma de S ou

{a)

2 000 4 000 6 000 8 000

1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 FIGURA 5.9 Regulação da população na Ovos por 60 m2 lnd1ce de a,ea foliar
prática_ {a) Truta marrom, Salmo truNa. em FIGURA 5.10 Algumas cur,as de recruta-
{b) mento liquido em forma de domo (a) Truta
um nacho do Lake District. Inglaterra (e) {d)
número de individuas nos comecos de ve- marrom ( Salmo trutra) com seis meses de
j '+ rão, inc!umdo os recém-saidos dÔs ovos, ,: idade. ern Black Brows Beck. Reino Umdo.
> = numero de 1nd1v1duos nos finais de verão 0 12~ _ entre 1967e t989(segundoM1ers. 2001; se-
~ Observe a diferença nas escalas verticais 1 ,ar _ _._, . --. '.,,. guindo Ell1ott. 1994) (b) Relação entre a taJta

º;, ªr .,. ,
m
(segundo Elliolt. 1984). (b) O gafanhoto de crescimento do trevo subterrâneo ( Trifo-
"~ (Chorthippus brunneus). no sul da Inglaterra lium subterraneum) e o índice de área fohar

-~ 3
o
• =ovos; - = ninfas; ::. = adul1os. Observe
a escala logarítmica (segundo Richards e
Waloff. 1954). Não existem capacidades de
ji !tª _.,/,A,
em diferentes intensidades de radiação (kJ
cm· 2 dia· 1) (segundo Black. 1963). (e) Aren·
que ~blackwater" { Clupea harengus) do es·
"o suporte conclusivas, mas as densidades ~11-
~ 2 .,./
tuário do Tâmisa. entre 1962 e 1997 (segun-
a: o .. '
t 1947 1948 1949 1950 1951
nais" de cada ano r1tnais de verãon e Madul-
tos .. ) são relativamente constantes, apesar
O 100 200
Estoque de baleia franca
300 400 do Fax. 2001 ). (d) Estimativas de estoques
de baleias francas antárticas (segundo AI·
Bt0massa do estoque
Ano das grandes flutuações intra-anuais de desova (toneladas) cinco anos antes (1.000s) ten, 1972).

1
140 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: COMPETIÇÁO INTRA-ESPECÍFICA 141

"sigmoidal", J. medida que dJ cresce, a partir de uma densida- pendentes da densidade sobre a composição de uma popul.1çáo. gama de densidades, (a densidade
de baixa até sua c1pJcidade de supone. Isto é uma conseqüên- A Figura 5. l 2a, b, por exemplo, apre!>ema duas sirnações em que (a) maior era 30 vezes superior à menor) cJr.:;:a.0ta e o
cia da inflexão na su.1 curva de taxa de recrutamento, que, por os indivíduos eram tipicamente menores em densidades mais al- (Figura 5 15). Após 180 dias, alguns caraiec mJd:..:ia:

sua vez, é uma con'.:ieqüência da competição incra-específica. ras. Muitas vezes, isso significa que, embora o camanho numérico ~ - 25 e genecas" haviam morrido, mas a gama

...
de uma populaç.10 seja regtdado apenas aproximadamente pela 9E ......
Naturalmenre, a Figura 5.8c. como o resro da Figura iE. de densidades finais de úllm (módulos) foi muito mais reduzida
5.8, é uma simplifioção grosseira. Ela supõe que as mudanças competição imra-e.specífica, a biomassJ tocai é regulada de n1.1- -~~ 24 do que .t de genecas (indivíduos). As forças reguladoras da (Otn-
no tamanho populacional são aferadas unicamente pda com- neira muito mais precisa. Esse fam esd ilustrado rambém pelas '"•
gE peciçáo arnaram afetando amplamente o número de módulos por
lapas, na Figura 5. I 2b. u
peciçáo imra-específica. Todavia, em muitas situações natu-
rais e experimentais. pode-se perceber algo parecido com um
• geneta, em vez de afetar o número de genetas propriamente.

crescimento sigmoidal da população (Figura 5. l l ). Números por l(m2


A comperição intra-específica será óbvia em cenas casos
5.5.1 Lei da produção final constante 5.6 Quantificação da competição
(como a comperiç.ío, devido ao crescimento excessivo, entre (b) intra-específica
Tais efeitos são particularmente acenruados errt organi.'.mO'.)
organismos sésseis sobre um cosrão rochoso), mas isso não modulares. Por exemplo, quJndo a seme:idura de sememes de Toda população é única. TodJvia, como já cemos visto, a ação
ocorrerá com rnd,1s as popuL1ções examin.idas. Os indivíduos cenoura (Daucw ú1trota), foi realizada em uma g,1ma de den- da comperição inrra-específlc;i obedece a a.lguns padrões ge-
sJo Jferddos por preci.tdores, p,1rasi tos e pres:.1s, comperidore.<i sidades. a produção por sementeira na primeiu colheita (21.J rais. !',;esra seçio, avanç.uernos mais em c,iis generalizações.
de outras cspt'....:ic:.. além d.1:i muir~h L1ci:t,1s do seu ,tmbiente dia~) .mmemou com a densidJde (Figura 5.13). Enm:t.11Hu, Será descrito um mt:rodo. urilizJndo v.tlorcs k (ver Capítulo 4).
Hsico t químico. Qu.1!quer Je..,'.-ies fatores pode superar ou obs- ,1pós 62 dtJs, e ainJa nuis ;ipós 76 e lJO <liJs, .1 proJuçdo nJ.o par.i rt:surnir os efeitos d.1 comperição intra-específica sobre a
curecer os d'eirn:i d.1 competiçJ.o inrr.1-específica; ou o efeiro mJis refleciu a densi<la.de de semeadut.1. 1\fàis exJcamence. da 40 rnorulidade, a fecundid.tde e o crescimento. A monalid:1de
<lesses omro:i forores em ,1lgum estágio pode reduzir, para to- foi a mesma para umJ amplJ gam.1 de densidades inici.11s. em 125
~ / ~ ; , - -,------- '.)erá aborJadJ cm primeiro lugar. O método sed depois em:n-
dm os esc.íg.1os po\tcriorcs, :1 densidJde .Hé vJlores bem abaixo especi,1.l em densidades mais altas, onde a competição foi mai~ dido para a fecundidade e o crescimento.
da c.1pacid,ide de ~uporce. Todavia, é prová\·el que a competi- imensa. Esse padrão com freqüêncÍJ. tem sido observado por Um valor k foi definido pela
\.;10 inrra-espedftca afete a m,1ioria d.ts populações, ao menos ecólogos vegetais e é denominado "lei da produçio final con.')-
.;
i fórmula:
durante um est,igio do seu ciclo de vida. tance" (Kira et ai., 1953). Os indivíduos sofrem reduções, de-
pendentes da densidade, na sua ca.xa de crescimento e, portan- Í k = log (densidade inicial) - log (densidade final). :S.4)

5.5 Competição intra-específica e


ro, no tamanho individual da planca, que tende a compensar com •
'--~--.~00--'--sioo-~-1~2-oo_Jso
exatidão os aumentos da densidade (por conseqüênciJ, a produ- ou, de maneira equivaleme:
crescimento dependente da densidade ção final conscanre). Isso sugere, naruralmence, yue os recursm Densidade (m-2)
dispon(\'eis para o crescimento vegetal são limitados, em especial k = log (densidade inicial/densidade final). :S.5)
A comperição imr:H.:..,pecifica pode, enrJ.o, exercer um efeito pro- em densidades altas, o que é demonscrado na Figur.1 5. U peLt.s FIGURA 5. 12 (a) O compnmento da maxila indica que a rena alcança Para os propósitos presemes, a "densidade inicial" pode ser sim-
fundo no número de indivíduos de um.1 população; nus ela pode produções maiores (conscanres) em níveis mai:i altos. tamanhos maiores em densidades mais baixas (segundo Skogland,
ter um dt"'im ig11.1lmenre profundo nm próprios indivíduos. Em 1983) (b) Em populações da lapa (Pateffa cochlear), o tamanho ,nd1· bolizada por B, significando o ·'número de indivíduos antes da
A produção é a densidade (d) mulciplicJdJ pelo peso
populações de organimws unidrios, as taxas de crescimento e as v1dual dechna com a densidade. levando a uma regulação exata da ação da competição intra-específica", e a ººden.')idade final" pode
médio por planta (1T•). Portanto, se a produção é consrame {e): biomassa da população (segundo Branch, 1975)
ta..xas de <lesen\-olvimento SJ.o ml1Íras ,·ezes influenci.1c.ÍJs pela com- ser simbolizada por A, significando o '·número de indivíduos de-
periçJ.o imra-t:spcdflca. Isso lev;i necessariamente a efeitos de- d zli == e (5.1) pois <la ;i.ção da competiçJ.o inrra-especfflca". Assim:
C JSS!ffi: k = log (BIA) 56)

(a) (b) (e) log d + log lli == log e (5 2) OhserYe que k aumenta J mcdid,1 que aumenta a taxa de mor-
c.did.,de.
Alguns exemptm dos d~icos dJ
60 comperiçJ.o imra-específiCJ. sobre a mor-
log iU == log e - l. log d l'Ul
ul1d<1de sJo mosrrados nJ Figura 5.16,
/
·''
l..'ffi que !..· é ploudo em re!Jçáo ,10 log B. F.m ,-ários ctsm, k é
e. desse modo. um gráfico do log.iriuno do pcSo médio em rela-
const.1.me em demid.tdes m.lis baix.ts. Isso é uma tndtcaçáo da
ç.lo ao logaritmo d.1 Jensid,H.ie reria umJ inclinação de -1
independenc1a em relaçáo à densidade: a proporção de sobrevi-
A Figura 5.14 apresenca os <lados dos efenos da densidade
\'emes não esd corrda.cionada com .1 densidade inicial. Em den-
'iobre o crescimcnm da gramínea Vídpia ft.sornl,ua; ohserve que a
sidades mais .Uta.<i, k aumenta com a densidade inicial; isso inJica
inclinaçáo da curva para. o final <lo experimento realmenre se J.pro-
10 20
Tempo (h)
1960 1970
Ano
1980 50 100
NOJFMAMJJA
150 200 250 300 ~:::~º ximJ de um valor Je -l. Nesse experimento. igual J.o re:iliz.ado
cnm cenoura, o peso individuJ! d.is plancas na primeira colheita
dependênci,1. em relação J densidade. Porém, é mais imporranre
reconhecer que J maneira como k v:.i.ria com o log-.uitmo d..1 den-
Mês s1d.1de indica a natureza precisa da dcpendênci.1 em relaç..ío à den-
-;o foi reduzido quando a.s densidJdes eram muiro altas. Pcm:m. :1
medid.i que se rornaram maiores, as plancJ..S mostraram interfe-
FIGURA 5.11 Exemplos reais de um aumento populacional em forma de S. (a) A bactérra Lactobac1llus sakei (medida em gramas de ·massa rência_,; mútuas em densidades sucessiv.1mence mais baixas.
• ~ dt' T Em vcgc'.r.us com ue~umenro por prup.1gaçio vcger.H1\·:t,
seca celular"' - MSC - por l1!ro) crescendo em meio de cultura (segundo Leroy e de Wuys!. 2001). (b) A população de gnus (Connochaetes A con'.)tância. da produção final é em grande pane o re-
taurmus). da região do Serenget1 da Tanzânia e do Quênia. parece estabilizar-se após aumentar a partir de uma baixa densidade causada por como gr.1mínc.1s cstolonifeus, por exemplo. u COlljlUHo (J planr.1 .nrc1-
uma peste bovina (segundo S1nclair e Norton-Gntfiths, 1982; Oeshmukh, 1986) (e) População da 1uncàcea anual Juncus gerard1, em um sult3do do caráter modular das plantas. Isso ficou cvidenciJdo r.i. lnclu111Jo o~ r:s[Olóes) ~ um gener.1: c.i.th módulo (cJule r:reco t ~u.ts

ambiente de mansma na costa oeste da França (segundo Bouzille et ai., 1997) quando o azevém perene (Lolwm paenne) fo1 semeado 1 uma folhas) t' urn ril/r:r; CJtb u//n e :u.1s raizcs coihmucm um r.11nec.1

-------- -- --
___J
142 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: (OMPETIÇÁO INTRA-ESPECÍFICA 143

lo'
10.000
27 de Junho
e
~ 8.
! lo' ~
~ 3.150
f
i
ê:
"~ ::"
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·~:
_.__.__~:
18 de ianeiro ......._
~

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z
1.ooor_,,,~----

315
10º
,o' 10' 10' 60 100 140 180
Número de plantas por m~ Dias a partir da semeadura

FIGURA 5.14 ~Produção lsnal cons1ante~ de plantas. ilustrada por uma FIGURA 5.15 A competiçào intra-especifica em plantas com trequên·
lin:ia de inclinação -1. quando o logaritmo do peso médio é plotado eia regula o número de módulos. Quando populações de azevém (Lo-
em relação ao logaritmo da densidade. para Vulp1a fasc1culata. uma lium perenne) toram semeadas em diferentes densidades, a gama de
espécie de gramínea anual de dunas Em 18 de janeiro. especial- densidades tinais dos tillers (isto é. módulos) foi muito mais reduzida
mente em densidades baixas, o crescimento e. portanto, o peso seco do que a dos genetas (segundo Kays e Harper. 1974).
médio eram quase independentes da densidade. Porém, em 27 de
1unho. as reduções do crescimento dependenles da densidade com·
pensaram com exatidão as variações da densidade. levando a uma
produção constante (segundo Watkinson. 1984).
FIGURA 5.13 Relação entre produção por
sementeira e densidade de semeadura da
cenoura (Daucus carrota) em quatro colheitas
((a] 29 dias após a semeadura. [b] 62 dias, [e]
76 dias e [dJ 90 dias) e em três níve,s de nu-
trientes (baixo. médio e alto. 8, Me A). apli-
cados semanalmente às sementeiras após (a) (b)
a primetra colheita. Os pontos sào as mé-

!'sºrr
o
d1as de três réplicas. com exceçào da densi- 3
dade mais baixa (9) e da primeira colheita (9). ~ b= 1
:_· = peso da raiz; • = peso da parte aérea, o.

rs ,.._ ___~/.
- = peso total. As curvas foram a1ustadas em
i 1

DenSKiade de cenouras (planlas por sementetra- 1 )


linha com as relações teóricas de produçào·
densidade. cujos detalhes não são importan-
tes neste contexto (segundo U et ai., 1996).
"ê 0.4 ~ o.si ..
\idade. A Figura 5. l 6a, b. per exemplo, descreve siruações em dc"pc11<..i~nc1,1 sobrecompens:i.JorJ em
~
!
< • •
0 ·}~.0-----,~.-5----~3.-0-

Log 10 da densidade das plântulas


! !l.
o~
1.0
b <'
2,0 3,0
Log 10 da densidade
que existe subcompens:1çáo e compensação exata em densid1dc,; relaç:.'io .\ dc.·nsid<1de, em que rodos os (e)

111.ti'i J.!r,b, respecci\·a.menre. A compensação exata na F1gur:i 5.16b indi,·iduo::. competidores s5.o t:lo ad-
é indicada peb inclinação da curva (indicada por b) tomando um versJm<.:me ,itt°tJdos que nenhum de- (d)

\·J.lor consra.nre de l (a inclinação macem;.üica perrnice observ=ir !c"s sobre\ ivc, Í':ico é, A= O. Isso seri.i indicado n,1 Figura 5.16 ! FIGURA 5.16 Emprego de valores k para
que isso resulta do farn de que, com compensaçáo exata, A é por um \·,1lor b de infinito (uma linha verric1l), e a Figura
1
.+
descrever os padrões de mortahdade de-
consc:rnte). A subcompensação que precedeu esr:1 compensação 5.16c i um exemplo desse caso. Todavia. s5.o muirn comuns o pendente da densidade. (a) Mortahdad~ de
exJ.cJ em densidades mais baix;J..<.,, e que é ob,;ervada na Figura os exemp!us em que a compc:ciçáo se assemelha ao tipo desorgani- " plântulas de Androsace septentnona/,s,
"<
I
uma espécie anual de dunas. na Polônia
5.1 GJ mesmo em densidades mais alus, é indicada fXlo fam de zado. ou .,cja, hj uma sobre-compensação considerável, mas não " 2~
~E (segundo Symomdes. 1979) (b) Mortali-

__.) .
'
que b é menor do que" 1. rotai Ib .. 1). isso é mosrrado, por exemplo. na Figura 5.1 Gd. dade de ovos e compet1ção larval na ma-

J.b>1
J
A compensação exata (b == l) com freqüênciJ. é referida Porunro. a representação de k em funçáo do log B é um nposa-da-amendoe•ra ( Ephest,a cautella)
como comperição de torneio pura, porque há um número cons- modo inform.1.tivo de ilustrar os dêirns d.a competição intra-es- "
~
(segundo Benson. 1973a). (e) Competição I

tante de vencedores (sobreviventc::s) no processo comperirivo. pecífica sobre :1 mortalidade. A:s variações na inclinaç::io da curva I e I larval na mosca-da-fruta (Drosophila me· ,·
0,5 o 2 lanogaster) (segundo Bakker. 1969). (d)
O rermo foi proposro por Nicholson (l 954), em conrraposi- (b) dão um.l clara indicaç.1.o da maneira em que J dependênciJ
Log 10 (larvas por mg· 1 de levedura) Log 1'l (número de indivíduos Mortalidade larval na manposa (Plod1a m-
çjo ao que de chamou de competição desorganizada pura. A c"m rd.1.çJ.o i densidade varia com a densid.1de. O mémdo pode terpunctella) (segundo Snyman. 1949)
antes da ação da competição)
comperiçjo desorganizada pura é a forma mais extrema de também ::.cr estendido à fecundid.1.de e ao crescimenco.

- __J
1
144 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: (OMPETIÇÀO INTRA-ESPl'CÍFICA 145

Para a fecundidade, é necessário pensar em B como o máticos ou gráficos. Pode parecer surpreendente que interes- rurais. Como conseqüência, os modelos freqüencememe suge-
'"número rotai de descendentes que teria sido produzido, se sados no mundo vivo natural despendam tempo para recons- rem quais os experimentos ou as observações seriam mais vama-
não houvesse cornperição intra-específica", isto é, o número de truí-lo em uma forma matemárica arrificial, mas exisrem vá- josos de serem realizados - ''Uma vez que as raxas de migração
descendentes produz.idos por cada indivíduo reprodumr em rias boas razões para proceder assim. A primeira é que os mo- "' dos indivíduos jovens parecem ser tão imporranres, elas deveriam
um ambiente sem competição. A é, portanto, o número toral d elos podem crisral izar, ou pelo menos agrupar em poucos :} ser medidas em cada uma de nossas populações escudadas''. K ---

de descendentes de fato produzidos. (NJ. prática, B é em geral parâmerros, as propriedades comuns imponanres de uma ri- As mesmas razóes para a construção de modelos são ram-
estimado a partir da população que experimenta a menor com- queza de exemplos discinros. Isso apenas facilita ao.s ecólooos bém crirérios pelos quais eles deveriam ser julgados. Na verda-
perição ~ não necessariamente de uma população sem compe- a tarefa de pensar sobre o problema ou processo em consid:;. J- de, um modelo só é útil (isro é, só vale a pena construí-lo) se N,
r,ção.) Para o crescimento, B deve ser considerado como a bio- ção, obrigando a tentar exrrair o essencial dos sisremas com- ek dc:sempenha uma ou mais dessas funções. Naruralmeme,
massa torai, ou o número coral de módulos, que rerÍJ sido pro- plexos. Dessa forma, um modelo pode proporcion.H uma '·lin- para desempenhá-las, um modelo deve descrever de maneira
duzido, caso rodos os indivíduos crescessem como se estivessem guagem comum" em que é possível expressar cada exemplo ad~quada as siruaçóes reais e os conjunrns de dados reais, e
em uma situação livre de competiçáo. A é, portamo, a biomassa único; e se todos eles podem ser expressos em uma linguagem cs5J "capacidade de descrição" ou "capacidade de simulação" é
Te<rjXJ(I}
coral ou o número total de módulos realmenre produzidos. comum, ficarão mais aparences as propriedades relarivas Je pur si só um ourro crirério que possibilita julgar um modelo.
A Figura 5.17 fornece exemplos cm que os valores k sáo uns com outros e calvez com algum padrJ.o ideal. F.nm·ranro, a palavra crucial é a ''adequação". A única descri-
uri!iza<los para descrever os efeiros dJ comperição inrra-espe- Essas idéias são, calvez, mJis familiares em ourrm con- e
~Jo perfeita do mundo reJ.I o próprio mundo real. Um mo- FIGURA 5.18 Modelos matemáticos de aumento populacional com o
tempo. em populações com gerações discretas: aumento exponen-
cit!CJ. sobre a fecundidade e o crescimenro. Os padrões são rexros. Newrnn nunca uriliLou um corpo roralmenre despro- ddo é uma de.'.criç-:10 adequ.1da, em úlrima -.in.íli::.e, desdt' que cial (à esquerda) e aumento s1gmoidal (à d1re1ta)
es::.enLiJ!menre ::.imilares aos d.1 figur.1 ).1 G. Eles ficam situa- vido de ;:icriro, e Boyle nuncJ viu um gás ide.d - cxceco c'lll .suJ de::.empc:nhe um.1 função útil.
dos em algum lugJr do rontinuum ...que se estende encre a inde- imaginação-, mas as Leis da Dinâmica de Newton e a Lei de No presente c::1so, descreveremos alguns moJdos simples
pendência em rdaçdo à densidade e J competição desorgani- Boyle têm sido de imensurável valor para nós duranrc :iéculo~. de' competição incra-específica. Eles serão construídos tomando
zada pura, e a .'.UJ posição nesse rowinuron é imediatamente Talvez mais imporranre, no emanm, seja a possibilidade de am ponto de partid.1 rnuiro elementar e, após, se examinarâo as
aparenre. Uriliundo os valore::. k, rodo:. os exemplos de com- os modelos esclarecerem o mundo real que eles simulam. Como '>tl,1~ propriedades (isto é, sua capacidade de sacisfazer os cri[érios
1 --
periç.io incra-específica podem ser quantifiCJdos nos mesmos veremos, os modelos podem exibir propriedades previamenre descritos}. Inicialmente, será consrruído um modelo para uma
termos. No enCJnro. para a fecundidade e o crescimenro, os desconhecidas de sistema a ser modelado. Mais comumeme, o.<, popul.1ção com esraçóes de reprodução discreta::. (descontínuas).
termos "desorganizado" e, em especial, "de rorneio" são me- modelos permitem evidenciar como o comporramenm de umJ
nos Jpropriados. É preferívd simplesmenre falar em compen- população, por exemplo, depende da,, propriedades dos indi\'í-
sação exatJ, sobrecompensação e subcompensação. duos que a constituem. Ou seja, os modelos nos permirem obser-
5.'l Um modelo com estacões de
var as prováveis conseqüências das premissas que escolhemos -
reproducão discretas'
"No caso em que apenas os indivíduos jovens vingaram, o que
5.7 Mo-:lelo3 matemáticos: introdução aconreceria com a dinâmica de suas popubçóes?" - e assim por
5.8.1 Equações básicas
<liame. Os modelos podem fazer isso porque os mérodos mare- N.1 Seção 4.7, desenvolvemos um modelo simples para espé- 1/R A
O desejo de formular regras gerais em ecologia com freqüên- máricos es[ão delineados precisJ.mentt' para permitir que um con- ciL·, com esr3çóes de reprodução discreras, em que o ramanho
cia encontra su.i expressão na construção de modelos mate- junto de premissas seja acompanhado .ué as suas conclusóes na- populacional no tempo t, 1\'1 , VMÍOu sob a influência de uma N, K

r.1,.1 de reprodução liquido fundamental, R. Esse modelo pode


s...-:1 re·mmido em duJ.s equaçõe~· FIGURA 5.19 O modelo mais simples, em hnha reta. no qual o inver-
so do crescimento da geração (NJN1+ 1 ) pode aumentar com a densi-

(a) (b) (e) N .. , = N.R (5 7) dade (N) Para mais explicações, ver o texto

e:
No pomo B. ao contrário, o tamanho populacional(/\')
N= ,\'/1' (5.8)
<: muiw m.1.ior e n.:io hJ um gr;1u significacivo de competiçJ.o
incra-espc:cífic.1. Nesse pomo, a raxa de reprodução líquida foi
O moddn, no enranro, descreve
rJo mod1ficad::1 pela (ornperiçJo yue .1 populaçJ.o não pode
unu popuL1ç:in em que n:io hi compe-
bzer m.11s do que sub,tiru1r .1 si mesnu em c.1da gc:ração. pois
tÍ)-ãO. R Cconsume e, se R > l, a popu-
o. .!1 1.it;:lo conrinu.trá a crescer em tamanho indefinidamenre ("crt::'sci-
!Tlento exponencial", mostrado na Figura 5.18). Porramo, o pri-
os "nasclrnenros" se 1gualJm J.s "mortes" Em oucr.1s palavras.
.Y!• l é 1gual a ,V,, eJ\')
N 1 , 1 é igual a 1 () tamanho popul..J.Cio-
nal em que ísro ocorre é. por definição, a cap.1cidade de 5u-
Log 10 da densidade "" meiro passo consiste em modificar dS equações, submetendo a
porre, K (ver Figura ).7).
ra--:.1 de reprodução líquida à ação da comperição intra-especifica.
O rerceiro componente da Figu-
l:.to é realivdo na Figura 5.19, que apresenca rrês componenres.
rJ 5.19 é a linh.1. rera qlll" une o pomo
No ponto A, o tamanho pnpubcional é muiro pequeno
.-\ ao ponto R e :.e estende além de:.re
Log 10 da densidade Log 10 {número de 1nd1vrduos antes (N, é vinualmence zero). A comperição é, portanto, desprezí-
último. EL1 descreve a modificação pro-
da população da ação da compe!ição) \·el, e a rax;:i de reprodução líquid.1 real fica definid:1 adequada- g;ressivJ da taxa de reproduçio líquidJ real à medida que ,tu-
mente por uma R 1úo-modificadJ. Assim, J EquJ..;ão 5.7 ;11n- mema o c;:irnanho popubLional, mas seu caráter linear é ape-
FIGURA 5.17 Utilização de val'?res k para descrever as reduções da fecundidade e crescimento dependentes da densidade. (a) Fecundidade d.1 é apropriJ(Ü, ou, rearranjandu-<1 de ourra m,rneÍrJ: nas um.1 premis::ia Jdorad.1 por conveniencia, uma vez que ro-
na lapa (Patella cochlear). na Afr1ca do Sul (segundo Brar:ch, 1973). (b) Fecundidade na mosca-da-raiz-da-couve (Erios1ch1a brass1cae) (se-
gundo Benson. 1973b) {c) Crescimento na bolsa-de-paslor (Capsella bursa-pastons) (segundo Paimblad. 1968) (5 9) (!JS a~ linhas ret;:is cêm a fornu simple:.: _y = (inclinação) x +
N/N,., = 1/R.
146 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: COMPfT\ÇÃO INTRA-ESPECÍFICA 14 7

(imerseção). Na Figura 5.19, N,IN,, 1 é medido no eixoy, N,. uma popubçâo hipotética crescendo em tamanho ao longo cou flutuações no modelo e pode-se supor que renha efeitos
no eixo x. a interseção é 1/ R, e a inclinação, com base no seg- do rempo. conforme o modelo). A população na Figura 5.18 3.S desestabilizadores similares sobre populações reais.
menm entre os pontos A e B, é (1 - li R')I K Portanm: descreve um.t curva em forma de S ao longo do tempo. Como !
3.0
vimos, ess.1 é uma qualidade desejável de um modelo de compe- 1
l lnclmaçâo 5.8.4 Incorporação de uma gama de competições
!!_=\-R
N,.,
1
N+~
K . ' R'
(5.10)
tição incra-específica. É importante observar, no encanto, que exis-
tem muitos ourros modelos que também gera.riam uma curva
? 2.0
2.5
tal=\ Um modelo de importância muito mais geral pode ser obtido
desse ripo. A vanragem da Equação 5.12 é a sua simplicidade.
+
O comportamento do modelo nas proximidades da capa- por uma simples modificação da Equação 5.12. Tal modifica-
cidade de suporte pode ser melhor observado na Figura 5.19. ção foi sugerida originalmente por Maynard Smith e Slatkin
ou, rearranjando:
Quando o ununho populacional é inferior a /(, ela aumema de (1973) e discurida em decalhe por Bellows (1981). Alrerada. a
ramanho; qu.wdo o tamanho é superior a /(, o tamanho popula- equação fica assim:
N,R (5.11) cional declin.a; no K, a população nem aumenta, nem dlminui. A
N,.,= (R-l)N.·
\+----~ capacidade de suporte, porcanco, é um equil1brio estável para a
K (5.18)
população. e o modelo exibe:: as propriedades reguladoras em ge-
r,ll c.uanerísrÍ..:JS d.1 competição incra-específica. 0.5 1.0 1.5 2.0 2,5 3.0 3.5
P.1r.1 um.1. nuior simplicidade, A justifi.cariva dessa modificação pode ~er observ.1da pelo
(R - 1)/ K pode ser indicado por a, exame de algumas das propriedades do modelo revisado. A
resulcando: 5.8.2 Que tipo de competição? Figura 5.21, por exemplo, moscra representações gráficas de k
FIGURA 5.20 Competição intra-específica inerente a Equação 5.13
A ;nclinação final de k em função de log 10 N1 é a unidade (compensa- em relação ao log N,. de forma análoga às da Figura 5.20: k é
A111J..1. ndo c:st.-i claro, no entanto, t::xacamemt:: que ripo ou
V N.R ção exata). independentemente da densidade 1mcial N 0 ou da cons· agora log 10 (1 + [aN,]'). A inclinação da curva, em vez de
, ... 1 = - - - . (5.12) amplirudt:: d.e competição este modelo é capaz de descrever. Jante a(= [R -11/K).
(1+,rN,i aproximar-se de 1, como fazia antes, aprox..ima-se agora do valor
Isso pode ~er explorado esrabelecendo a rel.1çáo entre os valo-
mmado por b na Equação 5.18. Assim, por meio da escolha de
res k e o log N (como na Seção 5.6). Em cad.l geração. o nú-
valores aproximados, o modelo pode ilustrar a subcompensaçã.o
Esce é um modelo de aumento populacional limicado mero pO(enclJ.I de indivíduos produzidos (ou seja, o número <.hde acuai determina a quantidade de recurso disponível para
(b < 1), a compensação perfeita (b = 1), a sobrecompensação do
pela competição incra-específica. Sua essência baseia-se no fam que .-.eria produzido se não houvesse competição) é N,R. O uma população e isco, por sua vez, dererminJ .1 r,1xa de repro-
ripo desordenado (b > l) ou mesmo a dependência da densidade
de que R, irre-alisticameme consranre na EqUJçáo 5.7, foi subsci- número re.11 produzido (isco é, o número que sobrevive aos dução líquida denrro da população. Suponhamos. em ve,: dis-
(b = O). Esse modelo rem a generalidade que falra na Equação
mida por uma raxa de reprodução liquida real, Rl(I + aN). que efeiros da competição) é N,Rl(l + aN,). so, que a quantidade de recurso disponível é determinada pela
5.12, com o valor de b determinando o ripo de dependência da
decresce à medida que o ramanho populacional (N) aumenta. .'\ Seç.io 5.6 demonstro,, que: densidade em um intervalo de tempo prévio. Tomando um
densidade que esrá sendo incorporado.
Como muicos outros, nós deriva- exemplo específico, a quantidade de plantas herb..ícc:.1s em um
k = log ( número produzido) - log (ntímero de sobre- Outra qualidade desejável que a
mos a Equação 5.12 como se o com- CJmpo nJ. primavera (o recurso disponlvel para o gado} pode
v1venres) (5.131 Equação 5.18 compartilha com outros
porramenro de uma populaçáo estivesse ser determinada pelo nível de pascejo (e, portanto, .1 densida- J J:'?.'J,3:; chrà -~1:::;0-,
modelos adequados é a capacidade de ele e ,=i2 C'
determinado conjuncameme por R e K dt: do gado) no ano anterior. Nesse caso, a própna raxa de
Assim, no caso presenrc:: esclarecer o mundo real. Graças à análi-
(a raxa de aumenro p,r capita e a capacidade de suporre da popu- reprodução dependerá da densidade em um intervalo de tem-
se sensível da dinâmica de populações
lação) - a é. enrão. apenas uma combinação de ambas. Um pon- k = log N,R - log N,RI( 1 + aN,). (5.141 po anterior. Assim, como nas Equaçõc:s 5.7 e). l2:
gerada pela equação, é passível tirar conclusões cautelosas a res-
to de vista alcernacivo é que a tem significado por direito próprio,
medindo a suscecibilidade per mpita do adensamento: quanm ou, simplificando: N,+ 1 = N, x taxa de reproduçJo. ('í.16)
maior o valor de a, maior será o efeito da densidade sobre a taxa
re-,I de aumenro da população (Kuno, 1991 ). Considera-se agora k = lo~ (1 + ,,N,). (5 15) A Equação 5. 12 pode ser modificada para:
o compcrtamenro de uma populaçáo como sendo determinado
conjuntamente por duas propriedades dos indivíduos que a com- :\ FigurJ ).20 mostrJ algumas represenuções grificas de k ,V R No='º
a= 0.1
em fon<:-,ío <.k log 10 N,. com a inserção no modelo de uma divc-r- (5.17) b 5
póc:'m ~ sua t:t.xa intrínseca de crescimento per capita e sua susce-
==-
l+,1S._ 1
cibilidade ao adensamento, R e a. A capacidJde de suporte da s1d.tde 1..k v.1loreS de a. Em todos os Gt<;os .. t inclinação do gr;H]co
populaç:io (K = [R -1 J/11) é. ponanro, uma conseqüência dessa; .-.t: ,tpro,1nu do \·:Uor l e, foulmenre. o .1lcanç,1. Em ourr.1s p:d.1-
Observ.1-.-.e um .Hr.l.\O no tempo 'N, = 10
propriedades. A grande va.ncagem desse: pomo de vista é que ele vras, a dept:n<lên..:iJ da densidadt: começ.1 sempre com uma suh- a== O.t
na resposCJ dJ popul.içJ.o :1 ~ua pró- b=2
coloca indivíduos e populações em uma perspectiva biológica mais comperhJ"r:io e, Jepois, p.ua valores nuis altos de ,V,, Lompema
pria densidade, causad.1 por um arra-
re.tlisra. Primeiramente chegam os indivíduos: as taxas de natali- perfeic.1meme. Portamo, o modelo é limitado quanrn ao ripo de
so na resposta de seus recursos. F.:,se g'" 4
compt:riçJo qt1e é capaz dt: produzir, e rndo o que podemos dizer
"'"
1.fade individuais, as de mortalidade: e as suscetibilidades ao aden- comporramenro do modelo modifica-
samenrn estão sujeitas à. sdeçã.o nJtural e evoluem. As populaçõe..,; até o rnomcnco é que este tipo de competiçJ.o leva a uma regula-
do é o seguinte:
vêm somenre a seguir: a capacidade de suporte de uma população ção de popubções muito forrememe controlada.
é apenas uma de muitas caraccerísrlcas que rdlecem os valores R < 1,33: aproxim.1-se direramence do equilíbrio i:~dvel;
dess:is propriedades individuais. R > l ,33: oscilaçóe~ amorcc:cidas nJ. direç.io de ui equi-
5.8.3 Atrasos no tempo
As propriedades do modelo da líbrio.
Log, 0 N,
Equaç:ío 5.12 podem ser observadas Unu modificJç:lo simples que pode ser feira é flexlbilinr a
r:i.-::ce10 nia:s
na Figura 5.19 (da qual derivou o mo- prernissJ de que: as populações respondem insuncaneamentt: Comp1rativamence, a Equação 5.12 originJ.! sem um
s,mp!es FIGURA 5.21 Competição intra-específica inerente à Equação 5.19.
delo) e na Figura 5.18 (que mostrJ às mud.1.n~Js em sua própria densidade, ou -.eja, que a dt:nsi- atrJso no tempo deu origem a uma aproximaçJ.o direu JO equi- A 1nchr.ação hnal é igual ao valor b na equação
líbrio, para rodos os v:1.lores de R. O arraso no tempo pru\·o-

l
148 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: COMPETIÇÃO INTRA-ESPECÍFICA 149

peito da dinâmica de populações narurais. O método macemáci- 5.8.5 Caos [ht,dJ do caos náo é apropriada aqui, mas alguns pontos-chave: uma função da seqüência de abundâncias em quatro momen-
co pelo qual esu e outras equações podem ser examinadas foi devem ser compreendidos. tos anteriores sucessivos: N 1 • 1, Nr_ 2 , /\',.,, 1VH (o mesmo nú-
descrito e discutido por May ( I 975a), mas os resultados da análi- Assim, um modelo construído sobre a base de um proce::.so dc:- mero de "atrasos" quantos s.l.o os elementos do sisrenu origi·
se (Figura 5.22) podem ser apreciados sem estender-se na análise pendeme da densidade e supostamente regulador (comperiçJo I. O rermo "caos" pode ser enganoso, se milizado para indi- na!). O atrator desse sistema atrasado de abundâncias é, en-
propriamente dira. A Figura 5.22b apresenta os diferences pa- incra-específica) pode levar a uma ampla gama de dinâmicas de cu uma flutuação sem absolutamente nenhum padrão dis- tão, uma reconstruçJo precisa do atrator do sistema original,
drões de crescimemo e dinâmica de populações que a Equação populações. Se uma população-modelo tem uma taxa de repro- cernívd. A dinlmica caócic.i não consiste em uma seqüên- que determina suas cJ.racrerísticas.
5.18 pode gerJr. A figura 5.22a expõe as condições sob as quais duçáo liquida fundamental moderada (e não é exagerada a capa- cia de números aleatórios. Ao contrário, existem tesres (em- Na prática, isso si~nifica romar uma seqüência de abun-
cada um desse'.) padrões ocorre. Observe primeiro que o padrão cidade de deixar 100 [= RJ indivíduos para a geração seguinte c:m bora nem sempre seja fácil colocá-los em prática) concebi- dâncias Je, digamos, uma espécie e encontrar o modelo ''me-
de dinámicJ depende de dois ,tspectos: (i) b, o tipo exato de com- um ambiente sem comperiçâo) e uma reação dependente: da den- dos para distinguir flumaçóes caóricas de aleatórias ou de lhor", em termos esucísricos, para prever Nt como uma fun-
petição ou de dependência da densidade: e (ii) R, a caxa de repro- sidade que sobrecompensa mesmo de forma moderad.1, enr;to, ourros tipos. ção de abundâncias atra'.>dd.1s e, depois, investigar esse arraror
duçfo líquida efec,va (levando em coma a mortalidade indepen- longe de ser estável, o seu número de indivíduos pode Autuar 2. As flutuações em sistemas ecológicos caóricos ocorrem en- reconstruído como um meio de invesrigJr a natureza da dinâ-
deme da densidade). Por outro lado, tl não determina o ripo de amplamente sem a ação de qualquer farnr extrínseco. O significa- rre densidades superiores e inferiores definíveis. Assim, no mica do sistema subjacente. Infelizmente, as seqüências eco-
p,tdrã.o, mas apenas o nível em que ocorrem as ílum:1.çóes. do biológico disto é a force indicação de que, mesmo em um modelo de competição inrrJ.-c:specífica que discucimos, a lógicas de tempo (comp.uadas, digamm, com as da física) s.l.o
Como mostra a hgura 5.22a, os \'J.lores baixos de b e/ou ambiente rnralmence consrame e previsível, as qualidades intrín- idéiJ de "'regul.tção" náo estJ totalmente afastada, inclusi- pJ.rticub.rmeme curtas e ruidosas. Assim, os mérodos para :cien-
R !ev,1m a popul.i.çúes que '.)e dproxim.1m do seu tamanho de secas de uma popu!Jção e Je seus individuas podem, por si só. ve nJ. regiJ.o caótica. tificar o modelo ''melhor" e .1plicar o teorema de T1ken, e em
equilíbrio sem flumar em Jb,olurn ("amorcecimenro monóto- origuur uma dinâmica com fluw.1çóes ampl.LS e e.tiva até cil1ti- 3. Entrcc.111ro, de rn.rneirJ. distint.t do comportJmenrn de sis- ger;il p.trJ identitlc.u o L,Ins em c:cologiJ. r(°m sido "o foco Jc
no"). bso ji haYia ~ido insinuado Jlcl Figura 5.18. Nda, uma c.1s. As conseqüêná1s da compc:tição intr.H::specífica cndeme-- cc:mas ,·crdadeirJmenre regul.t<los. as crajerórias <le duas po- comínuo.'i dcb.1res e rdl11.1mentos metodológicos (Bjorn:it.1d e
popubção que se comporuva em conformidJde com a Equa- menre não estJ.o limitadas :1 ·'regulaç:ío ah.unenre comroladJ.. pulações similares em um sisrenu c.1óti(o não tenderão a Grenfdl. 2001). Em vl'ita disso, quJlquer.. sugest.l.o dt· um
çâo 5. l 2 se aproximava directmeme <lo equilíbrio, indepen- Isso nos leva a duas conclusõe::. imporrames. A primeir.t C: convergir ("ser .tcraidas para") na mesma densidade de equi- método Jdequado em um livro-texto. como esre, est~i 4u.1se
dememence do Yalor de R. A Equação 5.12 é um caso especial que os atrasos no rempo, as elevadas taxas de reprodução e a de- líbrio ou no mesmo ciclo-limite (ambos são atratores "sim- cerramenre fadada ,1 se cornar obsolera j.í na primeira leitura.
da Equação 5.18, em que b = 1 (compensaç:io perfeica); a Figura pendência sobrecompensadora d.1 densidade são capazes (sozi- ples"). O comporramenm de: um sistema caótico, ao con- Apesar dessas diticuldades técnic::i.s, no emanco, e ades-
5.22a confirma que, para b = l, o amortecimento monótono nhas ou em combinação) de produzir todos os ripos de flurua- trário, é governado por um ·'auamr esrrJ.nho". Inicialmen- peito de dc:monsrrações ocasionais de caos aparente em am-
é a regra, seja. qua.l for a raxa de reprodução líquida eferiva. çõc:s na densidade da população, sem invocar qualquer CJ.LL)a ex- te, J.S trajetórias muirn similarc:'.> divergirdo enrre si de modo bientes artificiais de laboratório (Consrantino et ai.. 1997), é
À medida que os valores de b e/ou R aumentam, o com- trínseca. A segunda, igualmente imporranre, é que este fato se exponencial com o tempo: os sisrc:mJs caóticos exibem uma crescente o consenso segundo o qual o caos não é um padr;lQ
porrJmenro da população passa primeiramente por oscilaçóes tornou J.parenre por meio da análise de modelos matemáricos. "sensibilidade extrema às condições iniciais". dominante na dinâmica de sistemas ecológicos naturais Por
amortecidas, que se aproximam de forma graduJ! do equilí- Mesmo os sistemas ecológicos -i. Porranto, o comporramento futuro, de longo prazo, de um isso, uma tendência cem sido procur.u enrender por que o
brio, e depois por '·ciclos de limites esd.veis", em que a popu- simples podem conter a semente do sistema caótico é impossível de prever, e a previsão roma-se caos pode niio ocorrer na natureza, apesar de str gerado ~:1cd-
lação flurna ao redor de um nível de equilíbrio, revisitando caos. O reconhecimento desse foco fez progressivamence inexata à medidJ. que avançamos para o fo- mente por modelos ecológicos. Por exemplo, Fussmann e
cada vez os mesmos dois, quatro ou aré mais pomos. Por fim, com que o caos se comasse um tópico rnro. ivfesmo que tenhamos observado o )istema em um esta- Heber (2002) examinaram populações-modelo inseridas em
com valores elevados de b e R. a população flutua de uma de inreresse por pane do, ecólogos (Schaffer e KOl. 1986; Jo anterior determinado - e saiba.mos com exatidão o que teias alimentares e verificaram que, J medidJ que as teia."> ,1d-
maneira aparenremence irregular e caótic.i. Hastings et ai., 1993: Perr)' t'f ai., 1000). Uma exposiç}o dera- aconteceu posteriormence da úlrima \"ez -, diferenças iniciais quiriam mais características obsern.das na narnreza {ver C.1-
diminutas (ta.Jvez imensurá\"eis) aumenrarã.o de: maneira pro- pírulo 20), o caos se tornava menos pro\'ável.
grc:ssiva. e a experiência passadJ rer:Í cada vez menos valor. Desse modo, a importância po-
tencial do caos em sistemas ecológi-
(a) (b) :\ ecologia tem como objetivo ser uma ciência preditiva. cos é cl.ira. A partir de um ponrn de
Os ::.isremas nos colocJm diante de alguns dos desafios mais \ºJSta fundamencal, preci,amos avaliar
/,
J \ /r--_/ /\
Jifíceis p.ua alcançar ta! objetivo. Por isso, h.i um intere:ise
Lurnpreensí\·el em re~ponder J. pcrgunca: "Qu.10 freqüentes são
que, .'ie ti\"amos um sisrcm.1 reL.itivarnente simplts. apesar dis-
/ ·,; Caos
o~ sistemas caúricm . .se .1lguma vez o são?" No emanro, as tc:n-
\O de pode gerar unu dinâmiC1 caóuca complexa; e que, ,;;e

obsc:rvarmos uma dinâmica complexa ..1 explicaçJ.o '.',Ubj.Ktn-


uti\·,1s p.1r.1 responder .1 es,a perguma, embor.1 com resulu.dos te'" pode, mJ.1via, ser ~imples. Do pomo de \"isr.1 aplicado. se .1
\
/ ~~cl.1rc:cedores, não têm sido ddlnitivas. ecologi.1 deve tornar-se umJ ciência prediti\·a e manipul.1ti\,L
A\ renuov.1~ mais recences p.1u então neces~ic:11110, conhC"cl:'1 o gr.1u com que .1 previ):10 J ion
Ciclos de l!m1tes estave1s detecrar o c.ws em )i'.>tema:i ecológi- go prazo C .11ne,1ç;id.1 por um.1 dJs car.1crerístic.1s nu.is di.'itinci-

Oscilações
amortecidas /
r-~ cos basei.un-se em um av.111ço mJ;e-
mácico conhecido como teorema de
\"JS do cao~ - J. semibilid.1dc exrrem.1 às condições ini .. uis.
Contudo. a pergumJ. pr.itic.i chJ.ve - ··o quJ.o comum é o cios~ ..
Oscilações amortecidas
Ti1km. Segundo ele. no LOmexro de ecologia, mesmo quando - perm:rnece c:m grande p,ute sem respo~ra.
um ~istema compreende muito) elementos inttrarivos. as sua'.>

1 ~
Amortec1mento c.n.icterisrius (se ele é caótico, etc.) podem ser deduzidJs J
monoiono
pJrtir de uma seqüênci.t tempor.11 de ahundjnc,.is de apen.1s
1111 11111
Amortecimento monotono um desses elementos (p. ex., umJ espécie). Isso é denominado
10 100 1.000 Tempo "reconsrrução do atrator". De modo mais específico: imagine- O moddo construído e d1~curido na Seçáo 5.8 tra :1propr:ado
R mos, por ext."mplo. que o comporramenro de um siscemJ. é para populJ.çõe'.> com esuções de reprodução J,screras e, ?Or-
<lcrerminado por inter.ições enrre quatro elementos (para sim· ranro, pode ser Jescrito por equ:1çôc~ que cre.'icern em passm
FIGURA 5.22 (a) Gama de flutuações das populações (mostradas também em [bl) geradas pela Equação 5.19. com inserção de diferentes p!ificJ.r, quatro espécies). Primeiramc:nre. expressa-.'ie a abun- discrerc..h, isto é. por equ.1ções ·'em diferença'.>". No cmanro.
combinações de b e R(segundo May. 1975a; Belfows. 1981) d.inciJ. de apenas uma dt::.s.1s espécic:s no tc:mpo r. ,V,. como u1s modelos n.l.o são apropriados par.t J.qudas popubçóe:i em

-- - -~-- - ~----
l 5Q PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: COMPETIÇÃO INTRA-ESPECÍFICA l 51

que os nascimentos e morces são contínuos. Escas são melhor

=~· l ,~j;~
descritas por modelos de crescimenro contínuo ou equações Densidade baixa Densidade média Densidade alta
Primeira colheita 60 ..-, 1.440 m-2 3.600m-2
"diferenciais", que serão considerados a seguir. , (duas semanas
a partir da
A ,axa líquida de aumenro de emergência)
uma população desse tipo será indi- ~a:rN(K~N)
cada por dNldr (que se lê "dN por dl K

dr"). Isso representa a "velocid.ide"


com que uma população aumenta de tJ.manho, N, à medi-
N
':i ' m ,1 ~
1-. '
da que passa o rempo, t. O aumento de ,amanho da popu-
lação como um cedo é a soma das comribuições dos vários
l
10
0
4 1016
íl
.-rr1·
,.., i f 1
28
.
40 4 1016
.
-,, 11 I ! r-
28 40
ci
4 1016
ln·
28
·
40

~IL'
indivíduos que a compõem. Assim, a raxa média de au-
mento por indivíduo, ou a "caxa de aumenrn per capita", é 1 Peso das plantas {mg)

fornecida por dNldr (IIN). Porém. j:i vimos na Seçío 4.7


il Segunda colheita 40
Tempo(t) 1 {seis semanas ~
que, n.1 ausência de compecição, essa é a definição da ··raxa 1 a parhr da
emergênoa) ~ 30
imrín::.eca de aumenco narural", r. Assim, FIGURA 5.23 Aumento exponencial ( ~ ) e s1gmoidal ( ) da - - - - ~ .õ.
densidade (N) com o tempo, para modelos de reprodução continua A i
L~--
20
JNr _!__)~,
dr ,N
(5.19)
equação logist1ca é a que dá o aumento s1gmo1dal
.5z 10

corpor.ir unu gama de imensidades comperlrivas à Equação 80 240 400 80 240 80 240
160 320 160 160
5.12, isco n.lo é fácil de conseguir com a equação logística. Por Peso das plantas (mg)
isso, .1 logísrie:.1 está fadada a ser um moddo de dependência
dN ~,N. (5 20) da densic.-Llde perfeiumente compensadora. Todavia, apes.u Colheita final 40
dr (matundade)
dessas limir1ções, ela será um componence integral dos mode-
30
A Figura 5.23 mostra uma população aumentando em tama- los us,idos nos Capírulos 8 e IO, e desempenhou um papel
nho sob a influência da Equação 5.20, com r > O. Não é sur- central no desenvolvimento da ecologia.
ti! FIGURA 5.24 Competição e distribuição as-

~~
presa que se produza um aumento ilimitado "exponencial". f simétrica dos pesos das plantas. Dístribui-
ções de freqüência dos pesos das plantas
De faro, a Equação 5.20 é a forma conrínua da Equação 5.8 individuais em populações de linho (Linum
exponencial em diferenças e, conforme discutido na Seção 4.7. 5. ·i O Oi ferencas individuais: competição '-'-'-'-'-'-'-'-'-'--'---L
usitat,ssimum) semeadas em três densida-
assirnéirica o.a 1.6 2.4 J.2 o.8 1.6 2.4 o.8 1,6 2,4 des e colhidas com três idades diferentes. A
ré simplesmence log,.R. (Leitores com bons conhecimentos barra preta é o peso médio (segundo Obeid
ma.temáticos observará.o que a Equação 5.20 pode ser obtlda Peso das plantas (g) et ai., 1967).
derivando-se a Equação 5.8.) R e r ~ão claramente medidas do 5.10.1 Desigualdades de tamanho
mesmo conceito: ·'natalidade mais sobrevivência" ou "natali-
dade menos mortalidade"; a diferença entre R e ré meramen- Aré 1gora. nos concentramos no que aconcece com a popula-
te uma mudança de moeda. ção como um rodo ou com o indivíduo médio que a represen- J3 comperiçáo) do bacalhau (Gadw mor/ma), vivendo ao lon- 5.10.2 Apropriação de recursos
Para dar realismo, a competição u. Indivíduos diferences, cncreranco, podem responder à com- go da cosra da Noruega (Figura 5.25).
imra-especít'ica deve obviamente ser peciç:lo incra-específica de maneiras diferences. A Figura 5.24 Uma indicação sobre o modo com que a competiçáo pode exage-
adicionada à Equação 5.20. Isso pode mosrra os rernludos de um experimenco em que o linho (Li- De maneira gerJI, podemos di- rar as desigualdades subjacentes em uma população provém de
ser alcançado de modo mais simples 11u1n 11Úta!ÍSJ:mu1n) foi semeado com rrês densidJ.des e colhi- zer rambC:m que um.t nuior comperi- observações de uma população nacural adensada de lmp,ztit'm
por um método exaumeme equiva.1ente ao milizado na Figura do em m:-. eupas de desenvolvimento. registrando o peso de ção aumenca o grau de d~sigualdade pa!f1d.a, espécie vegetal anual do sudesce da Pensilvânia. Por um
5. l 9. dando origem a: c.1da plJnca. Isso permiriu monicorar os efeitos da competição dos ununhos dentro d,1 popubção. isco é. o guu com que J período de oito semanas, o crescimento foi muim mais rápido
cre~ct.:nce ndo .1penJs como resulu<lo dJ.s \·ari-1çõe.s <l,1 densi- hinma<;SJ tocJI se di~tribui desiguJ!mt"nte emre os Jiferenres em planras gr.tndes do que em pequenas - na realidade. as pi.in-
d:\ i ~· -N dade de ,ernl'Jdur1, mas umbém como resultado do cresci- indivíduos (\X1einer, 1990). Re;ulcados ba\C.rncc ~emdhames cas pequenas não cresceram tocalmenre (Figura 5.26a). Isco a11-
Jr ~ rS\_ ----;:-)- (5.21) menro d.t~ pl.rnus (entre a primeira e a úlcima colheica). Qu.rn- rem sido obtidos em algumJs outras populaçóes de Jninuis menrou de maneira significativa ;:i desigualdade de camanhrn, den-
do J. comper1ç.io intra-específica foi menos intema (na menor (lJchmamki, 1985) e plantas (Uchmansk1, l '1,,S: Weiner e rro da população (hgura 5.26b). Assim, quanto menor o ,ama-
Esta e! conhecida como equação logiscica (criada por Verhulsc, densid.ide de colheit:1. após somente duas semanas de cresci- Thomas, 1986). Em geral, as populações suhmerid.lS à com- nho inicial de uma planta, mais ela era aferada pelas virinhas. As
l 838). A Figura 5.23 mostra uma população crescendo em menco). O'> pe::ios individuais das phnt.:ts se disrribuiram de perição mais incensa têm a maior de~igualdade lie rJm.rnhos e plancas estabelecidas antes se apropriaram do espaço ou o "capm-
tJ.manho sob a influência desca equ.1ção. forma <;Ímêrric..1 JO redor d.1 m~dia. Conrudo, quando a. com- com freqüe'ncia exibem uma discribuiçJ.o de c.rnunhos com raram"; subseqüencemence, foram pnuco aferadas pela cornperi-
A equação logísrica é o equivaleme conrínuo da Equa- periç:io foi nuis incen.s.1, :1. disrribuiç.ío ficou bJ.stanre desloca- muitos indivíduos pequenos e poucos indivíduo::i grandes. Evi- ç}o intra-específica. As plantas que emergiram mais carde pene-
ç.io 5.12 e, por isso, possui rodas as caraccc::ríscicas essenciais e da. p,1u .1 esquerda: havia muitos indivíduos pequenm e pou- Jenremenre, é possível que a caracrerizaçáo de um.1 população traram em um universo cuja maior p:trre do espaço disponível já
codas as deficiências que esra apresenta. A equaçáo 5.12 des- cos indivíduos gra.ndes. A medida que a intensid.1de d.1 com- por meio de um indivíduo "médio" arbitrário ~ej;1 muirn en- escava ocupada; por isso, das foram basrame afecadas por compe-
creve um.1 curva de crescimento sigmoidal que se aproxima de periçJ.o aumenrava. gradualmente, o grau de assimetria da dis- ganosa em cais circunstâncias e pode desvi.ir J ar~rn;..l.o do fato tiç:io intra-específica. A competição foi assimétrica: houve uma
uma capacidade de suporte estável. mas é a.pen.is uma das tribuicJo urnbém aumentava. O decr<:scirno do tamanho - de que a comperição incra-específica é uma forç.1 que afeta os hierarquia. Alguns indivíduos foram muito mais afetados do que
muiras equações razoiveis que fazem isso. Sua principal van- ma.s o ,;,rnmenro da assimetria em tamanho - também se consi- indivíduos, embora seus efeitos possam rnuirH vezes ser de- oucros e, oico semanas mais tarde, pequenas diferenças iniciais
ragem é a simplicid.ide. A.lirn disso, enquJnto era possível in- dera as-;nciado ao aumento da densidade (e presumivelmente tectados na população como um rodo. foram cransformadas por comperiçio em difc:renÇJS muim maiores.

1
152 PARTE l - ÜRGANl5M05 CAPÍTULO 5: COMPETIÇÃO INTRA-ESPECÍFICA 153

por exemplo, escudaram a competição entre salamandras lar-


vais (Ambystoma tigrinttm nebulomm), que se mantiveram ou (a)
(a) 1,0 Assimetria
.___ .. isoladas, ou agrupadas com compecidores. O tamanho das lar- 10

vas sobrevivenres maiores não foi afetado pela competição Plantas 15


o. que morreram
o o (P == 0.42), mas as larvas menores ficaram muico menores
(P < 0,0001). Isso enfatiza que a competição intra-específica
-1,5 Densidade não só é capaz de exagerar as diferenças individuais, mas um-
bém é forcemence afetada por cais diferenças individuais.
1960 1970 1980 1990
Em uma escala temporal muito mais longa, a competi-
ção assimétrica foi observada em uma população da planta her-
(b) bácea perene Anemone hepatica, na Suécia (Figura 5.28) (Tamm,
(\ (\ Oens,dade (\ 1956). Apesar das plántulas que passaram a fazer parte da po-
pulação em 1943 e 1952, é evidente que o faror mais impor-
a.
o
-1
V \J - \]\)~(\}·\r tante na dererminaçáo dos indivíduos sobreviventes até 1956
foi se eles estabeleceram-se ou nJ.o em 1943. Dos 30 indiví-
Assimetria duos que alcançaram um tamanho grJnde ou intermeJiirio ------------
em 1943, 2.8 sobreviveram aré 1956, e alguns deles r.ir111fic.1-
1960 1970 1980 1990
ram. Por oucro lado, das 112 plantas que eram pequenas em
Ano
1943 ou que apareceram posteriormente como plàmulas, J.pe- Massa (g)
nas 26 sobreviveram até 1956, e nenhuma delas ficou suficien-
FIGURA 5.25 Valores de ass1metna (na d1strrbuição de freqüência de (b) 50
temente escabelecida para florescer. Em populações de árvore!>, 50 FIGURA 5.26 Competição assimétrica em
compnmentos) e densidade (a) e de assimetna e comprimento médio (b)
Inicio Fim uma população natural de lmpat,ens pallida.
são expressos como desvios-padrão dos valores médios nos anos 1957 podem ser observados padrões semelhantes. As tax1s de sobre- 40 40 (a) Aumento de massa de sobreviventes de
a 1994, para o bacalhau (Gadus morhua), de Skagerrak. ao longo da
vivência, as taxas de natalidade e, portJnco, a eficácia biológica tamanhos diferentes, em um período de oito
costa da Noruega. Apesar das acentuadas flutuações de ano para ano 30 30
dos poucos adulros estabelecidos são altas; os valores das numero- semanas, e distribuição dos tamanhos iniciais
{resultantes, a maioria, de variações meteorológicas), a assimetria foi
dos individuas que morreram durante o mes-
claramente maior em densidades mais altas (r = 0,58. P < 0.01 ), quando sas plâmulas e árvores jovens são comparativamente baixos. 20 20 mo período. O eixo horizontal é o mesmo em
os comprimentos foram menores (r = - 0.45, P < O.OS), isto é, quando a Tais consideraçóes ilustram um 10 cada caso. (b) 01stnbuição dos pesos 1nd1vi-
competição 101 mais intensa (segundo Lekve et ai., 2002). 10
ponto importante e geral: as assime- duais no inicio (coeficiente de G1ni, uma me-
dida de desigualdade, 0,39) e no final do pe-
trias tendem a reforçar os poderes re- 10 15 20 10 15 20 riodo {coeficiente de Gim, 0.48) (segundo
Se a comperição é assimétrica porque os compecidores su- guladores da competição incra-especí- Massa (g) Thomas e We1ner. 1989).
periores se apropri;im dos recursos, encão é mais provável que ela fica. As pia.mas estabelecidas por Ta.mm tiveram êxito como
seja J..Ssimétrica quando ocorre por recursos mais sujeicos a serem competidoras ano após ano, mas as plantas pequenas e as plân-
apropriados. Espec1tiC1mence, pode-:ie esperar que a competição tulas fracassaram reperidameme. Assim, ficou garantida uma
d.is plantas pela luz, em que um competidor superior pode sobre- constância aproximada no número de plantas estabelecidas
pujar e sombrear um inferior, seja mais útil à apropriação de re- entre 1943 e 1956. A cada ano havia um número quase cons-
curso do que a competição por nurriences ou água do solo, em tante de "vencedores", acompanhado por um número variável
que as raízes, inclusive de um competidor inferior, cerão um aces- de "predadores", que não somente não cresciam, mas em ge-
so mais imediam do que as raízes de seus superiores a pelo menos ral. no devido tempo, acabavam morrendo.
algum.1 parte dm seus recursos disponíveis. Essa expecr:uiva é 1

confirmada pelos resulcados de um experimento em que indiví-


duos de ipomé1a ( lpomoea tricolor) foram cultivados de diferences
maneir.15: cada planta no seu vaso ("sem compecição''); cada plama
enrai1.,1d.1 em um va.'lo, mas com seus caules encrdaçados em uma A rerricorialida<le é um fenômeno particularmente irnporr:m-
ó
26
úniCJ est.1ca ("caules competindo"): vária..;; plantas enraizadas no te e propagado que resulr.:i. em competição inua-específici as-
mesmo vaso, mas cum seus caules crescendo isoladameme em simécrica. Ela ocorre quando existe interferência ariva enrrt' 24 ,t FIGURA 5.27 Quando os 1nd1viduos de 1po-
suas escacas ("raízes compeúndo"); várias plancas enraiza.das no indivíduos, de maneira que uma área mais ou menos exclusi-
mesmo vaso e com :ieus cJu!es em relaçados na mesma escaca ("cau- e
va, o tc:rricório, defendida concra os intrusos me<liame um pa- -' 5 ..... 22 1 mé1a competiram. a competição das raízes
foi ma,s eficaz na redução do peso médio
les e raízes competindo") (hgura 5.27). Embora a competição
das raízes fosse mais imensa do que a dos caules, pois ela provo-
dráo de comportamenco reconhecível. 20
..
~
o das plantas (todas as comparações ent,·e os
tratamentos foram significativamente d1st1n·

.J
Os indivíduos de uma espécie
18 tas. P < 0.01, exceto em [cJ com [d!). mas a
cou um decréscimo muito major no peso médio das plantas indi-
viduais, foi a comperição dos caules pela luz que levou a um au-
territorial que .'ião incapazes de obter
um cerritório com freqüência náo pres- 16 u .
~
competição entre os caules frn mais eficaz
no aumento do grau de desigualdade oe ta·
manhas, medido pelo coef1crente de varia-

·-
menm muito ma.ior <la desigualdade de tamanhos. cam qualquer contribuição às gerações futuras. Portamo, a cer-
As distribuições asc;imérricas re-
presentam uma das possíveis manifes-
ritorialidade é "corneio". Exiscem vencedores (os que conse-
guem dominar um território) e perdedores (os que não conse-
....1
14

12 u
º
~
ção do peso (diferenças s1gnilicat1vas entre
os tratamentos (a] e [bJ, com P < 0,05, e en-
tre [a) e [d]. com P < 0.01) (segundo Weiner.
(a) Sem (b) Caules (c) Raízes (d) Caules e 1986)
tações de compecição assimétrica e guem), e a rodo momenrn pode haver apenas um número li- competição competindo compelindo raizes competindo
hierárquica, mas exi.'ltem muicasourra.<.. Ziemba e Collins ( 1999), mirado de vencedores. O número exaco de territórios (vence-
154 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: COMPETIÇÃO INTRA·ESf>ECÍFICA 155

ce do cerricório para alimencação (Figura 5.30a). Os descen-


(a) dentes emancipados são muitos mais numerosos nos pares re-
;; sidences do que nos salcadores (Figura 5.30b), pois os primei-
~

~
l ros encregam muito mais alimento aos seus filhoces (Figura

FIGURA 5.28 Apropriação do espaço por


~
~
-g
0.5 I j
!
5.30c). Desde a mais cenra idade, os filhores residences acom-
panham seus pais às rerras lamacentas das praias, ingerindo
uma planta perene, Anemone hepaflca. em cada presa ráo logo ela é capturada. Por oucro lado, os filhotes
uma floresta da Suécia. Cada linha represen. -~ salcadores ficam presos em seu território para nidificação ames
ta um individuo: linhas retas continuas, para ;
:§ --0.5 de poder voar; todo seu alimenco é transportado por YÔO. É
indivíduos não·ramiflcados; linhas ramifica-
g_ muiro melhor cer um território que possibilice acuar como um
das, se a planta teve ramificação; linhas gros- ~

sas, se a planta floresceu; linhas tracejadas, ~ -1 residente do que um que exige atuar como um saltador.
se a planta não foi observada no ano em
~
questão. As do grupo A estavpm vivas e eram
grandes em 1943; as do grupo B estavam
vivas e eram pequenas em 1943: as do gru-
1
1
a. -1,5

Diâmetro do fragmento (celutas)


11
5.12 Auto-atenuação (self-thinning)
po C apareceram em 1944: as do grupo O 1
apareceram em 1945: e as do grupo E apa- (b)
O 10 20 30 O 10 20 30 40 50 60 receram depois. presum1velrnente a partir de Ao longo desce capículo. vimos que a compeciçáo incra-especí-
D E plãntulas (segundo Tamm, 1956) fica pode influenciar no número de mortes, no número Je
~ nascimentos e no grau de crescimento dencro de uma popuLi-
e çio. Em geral, isso tem sido iluscrado considerando os resulu-
o
·• dos finais da compecição. Porém, na prárica, os efeicos s;lo
dores) em geral é um tanto inde[erminado em um certo ano e
certamenre varia de ano parJ ano. dependendo das condições
nuis rerrirnriais em geral gasram energia para parrulhar e marcar
seus territórios; esses cusws energéticos devem ser menores do I.. muitas vezes progressivos. À medida que uma coorte amadure-
ce, os indivíduos crescem em tamanho, suas necessidades cres-

.
ambienrais. Conrudo, a nacureL1 de disputa da cerritorialida- que os heneficios, se a territorialidade é favorecida pela seleção u cem e, por conseqüência, eles compecem cada vez com maior
de assegura, como o que geralmeme faz a competição assimé- nacural (Davis e Housmn. 1984; Adams, 2001 ). intensidade. Por sua vez, isco rende a aumentar de modo gradual
>-
rrica, uma conscància comparativa no número de indivíduos PrJw e Grane (1999), por exemplo, investigaram os cus- seu risco de morrer. Todavia, se alguns indivíduos morren:, ocor-
sobrevi\'entes e reprodurores. Por esse motivo, uma conseqüên- tQ'.) e: m benefícios ao peixe ciclídeo Archocentrus nigrofizsciarns 11 re então um decréscimo da densidade e da imensidade de:: compe-
ci.1 importante da cerricorialidade é a regulação populacional para dc::fender territórios alimentares de camanhos diferences. Diâmetro do fragmento (células) ciçáo - que afeca o crescimento, que atêca a competição, que a fera
ou. mais parcicularmenre, a regulação do número de domi- À mc:dida que: o tamanho do território aumentou, a quantida- (e) a sobrevivência, que afeta a dc::nsidade, e assim par diance.
n,rnces de um território. Assim. quando os propriecários de de de .liimenro consumido pelo seu detênsor aumenrou (o 1.S
um rerricório morrem, ou sJ.o removidos experimentalmente, benefício; Figura 5.29a), mas a freqüência de perseguição aos
seus lugan:s costumam st'.'r logo ocupados por recém-chega- intrusos (o custo; Figura 5.29b) também aumentou. A evolu- 5.12.1 Linhas dinâmicas de atenuação
do,. Por exemplo, em populaçõC"s do chapim-real (Parw ma- ção dc:\'eri,1 favorecer um camanho terrirorial intermediário
jor), os cerrirôrios florescais vagos são reocupados por aves pro- em que o balanço (trade-ojf) entre custos e benefícios fosse Os padrões que emergem nas coortes de indivíduos em cresci-
cedenres de vegecações arbuscivas onde o êxiro reprodutivo é otimitado, e onde os defensores alcançassem realmenre a maior
! mento e adensadas foram originalmenre o foco de atenção espe-
sensivelmente menor (Kreb'i, 1971). tJ.x.1 de crescimenro (Figura 5.29c). I cial em populações vegecais. Por exemplo, o azevém perene (Lo-
Alguns aucores consideram que as conseqüências regula- flor oucro lado, a explicação da rerrirorialidade em ter- lium perenne) foi semc::ado em diferentes densidades. e as amos-
dor JS da rerrirorial1dade deviam ser as causas em que se basc-a- mo~ de um benefício liquido para o proprietário do território cras de cada densidade foram colhidas após 14, 35, 76. 104 e 146
v1 a evoluçâo do comportamento territorial - a cerrirorialida- vem a ser como a hisróril sempre escrita pelos vencedores. Existe dias (Figura 5.3 la). A Figura 5.3 la tem os mesmos eixos logarít-
- 1 , s ~ ~ - - - - ~ - - ~ - ~ - - --
<le sendo favorecida porque J. população como um rodo .'iaía ourrJ questão. possivelmente mais ardilosa, que pJrece nJ.o rer 11 micos - densidade e peso médio das plantas - que a Figura 5.1,
beneficiada pelos efeitos do racionamenm. uma garantia de sido respondidJ - não seri1m m:tis benefici:idos os indi\"íduos D1ãme!m do fragmento (celulas\ mas é mais importante .ivaliJ.r as dit'erença.s emre amhas. NJ Figura
q~te ,l popul.,çâo nJ.o sobre-exploraria seus recursos ( p. ex., sem um rerricório se desatiassem com m:tis freqüência e d~ter- 5.14. cad.i linh.1 representava uma relaç.io produçáo-densidade
\\.\·nne - EdwJrll.s, 1962). Todavia, existem razões poJc:rosJ.s m1n.tç,lo os proprieririm do território~ FIGURA 5.29 Tamanho terntonal ot1mo para o peixe c:1cl1deo Archocen· separada para diferences idades de uma coorte. Os pancas suces-
e {umb111c:m.1Í:-. p.ua rejeiur e~SJ explicaç.1.o de ''seleção de: gru- /rus n1grofasc1atus. (a) À medida que o tamanho do iragmento (terntóno) sivos ao longo de um:i linha represema\'am diferences demidades
~J[ura!menre, descre\"t:r rerriro-
al.:mentou. a quanbdade de ahmento 1r,gendo por um defensor {escore z
po .. (essenci.1\mc:nre, estende J reori:i evolutiva mais :tlém dos ri.t!1d.1de .ipen:is em rc:rmos de ··ven- padronizado) também aumentou. mas nivelado aos tamanhos maiores iniciais de semeadura. Na Figura 5.31. cada linha represt:nra uma
li mires razoáveis): a causa final da territorialidade deve ser bus~ cedores·· e ··\'encidos" ~ umJ. simplift- (hnha continua. regressão linear. , 2 = 0.27,_ P = 0.002; hnha tracejada. densidade de .'iemeadura diference, e os pomos succ"ssivos ao lon-
c.tda Jenuo dos domínios da seleção nacur:il, em alguma van- regressão quadrática: ,2= 0,33, P = 0,003). A medida que o tamanho do go de uma linha representam populações com a mesma densid.1-
c.1çJo e:..L.essiva. Em geral, existem os
fragmento (território) aumentou. a taxa de perseguição dos defensores
ragc:m que:: possa resulcar para o indivíduo. primeiro:-., os segundos e uma gama de do território aumentou (regressão hnear: , 2 = 0.68. P < 0.0001). (c) À de inicial de semeadura, mas em idades diferentes. Portamo, as
Naturalmenre, qualquc::r bendi'cio prêmios de consolação - nc:m todos os territórios são de igual medida que o tamanho do fragmento (terntóno) avmentou, a taxa de linhas são rrajerórias que: seguem uma coorte acra\'és do rempa.
que:: um indivíduo obtenh.1 da rerrimri- crescimento dos defensores do território (escore z padronizado) tornou- Isso está indicado por seras, que partem de muitos indivíduos
v,l\or 1,so cem sido demonstrado, de uma m.1neira t::XtrJor<.ii-
se a mais alta em terntór:os de tamanho 1ntermed1drio (regressão qua·
alidade deve ser confronrado com os cus- nJnJmeme significauva, em um escudo com ostreiras (f{itr!- drálica. , 2 = 0.22, P = 0,028) (segundo Praw e Grant. 1999) pequenos e jovens (abaixo, à direita) até poucos indivíduos maio-
tos p.ara defender o território. Em J.lguns m,z:opw astralegw) na casca holandesa, onde os pares de aves res e mais velhos (acima, à esquerda).
anim.us, essa defesa implica um combate violemo entre com- defendem ranro os cerrirôrios pan nidificação no nurisma O peso médio das plancas (em uma decerminada idade)
peciJores, e em outros há um reconhecimento muito mais smil como os territórios para alimenuçlo nas rerras lamacenras dJ'.) rio p.1.ra n1dificaçáo: eles formam uma unid,1Jc- espacial. No c:ra sempre maior nas populações com densidade mais baixa
<los competidorc:s, mediante sinais de aJerra (p. ex., cama ou odor). puÍJS (Ens et ai., 1992). Para algum:.1s aves C're'.)identes"). o enc.rnro, para outros pares Ccom saltos"'). o terri[ório para ni- (Figura 5.3 la). Também ficou claro qu< as populações com
,\,te:-.mo quanJo :o chance'.) de dano físico sáo mínima.\, os ani- território f.Hra alimenraçio é apenas um.1. excensâo do rc:rricó- dificação é cominencJl e, porc:1.nco, fica separado cspacialmen- de;sidade mJ.is alra eram as primeiras a sofrer uma morralida-

1
1,

156 PARTE 1 - ÜRG>NISMOS CAPÍTULO 5: (OMPETIÇÁO INTRA-ESPECÍFICA 157

(a) (b)
(a)

§ lo"

~
õ.
8.
~
~:>.
i 1cr' ~ ' , , lnchnaçào .1
FIGURA 5.31 Auto-atenuação em Lollum
ê perenne semeado em cinco densidades
il. •>.
1 .000 ( 5.000 ( •). 10.000 (•). 50.000 ( •)
~ e 100.000 (•) "sementes~ m·2 , em: (a) 0%
sll \\'~
----
de sombra e (b) 83% de sombra. As tinhas
_______,,,,..------., 10-2 unem as populações das cinco densidades

----~~
, / ! ~
de semeadura colhidas em cinco ocasiões
sucessivas. Portanto. elas indicam as traje-
g tórras. no tempo, que essas populações te-
,1'. riam seguido. As setas indicam as direções
das tra1etonas, ou se1a. a direção da auto-
10' 10' 10' atenuação Para mais detalhes ver texto
(segundo Lonsdale e Watkinson, 1983)
Densidade de sobreviventes (m- 2 )
FIGURA 5.30 (a) Uma área costeira na Ho·
landa que proporciona territórios tanto para
nid1f1cação quanto para ahmentação dos os-
-·-·----> '------ treiras. Nos terntórios dos ·'residentes" (som-
breado-escuro), as áreas para rndrhcação e
para ahmenlação são adjacentes. e os hlho- unu \'tz que a densidade (A0 está relacionada com o peso médio linh,LS-limices das populações, oda uma das quais define os limites
tes podem ser transportados de uma para ou- ( il'), segundo a equação: de uma populaçáo particular dJ espécie em questão em um am-
tra em uma idade tema. Entretanto, as aves bienre especifico (Sachille Hamilmn er ai., l 995).
(e) ~com saltos" têm territórios separados para lng lU = log c - 3/2 log N (5 22)
nidificação e alimentação (sombreado-claro) Assim, uma. população com aum-
~ (b) e o alimento é transportado por võo, antes acenuação se aproxima da sua linha-

~
o
:;:-1

~
0.8

0.6
33

31
50

42
r:rj
ai

e
8

6 1ª ·116
4
~2

16 / ,
• ~
que os filhotes se emancipem. (b) Os resi-
dentes (e) proporcionam um número maior
de filhotes emancipados do que os saltado-
res (e). {e) Os residentes (•l entregam mais
alimento por cada evento de maré (gramas
ou

em que e é consume.
(5 23)
limite e depois se desloca ao longo
dela, que, como uma trajetória, cha-
maríamos de sua linha dinâmica de
atenuação - mas esta náo é necessariamente também a linha-
E o.4 39 47 7 ~ 1 :,V. 7 de peso seco sem residuo mineral - g AFDW
ash-tree dry weigh{) do que os saltadores ( •) Observe, entreta.mo, que existem problemas esracísticos ao limire d.t c:spécie. Por exemplo, o regime de luz, a fertilidade
~ 0,2
2
-- 12~;~25
} O O'--'--~M-a,~o--'--JLun-h"'o--'- ~ ºCO
<(
x1.000
~ 2 000 3.000 4 000
Estes entregam mais altmento aumentando
o esforço (de vôo), mas não conseguem en-
usar ~L~ Equações 5.22 e 5.23 p.1.ra estimar a inclinação da relação
(Weller. 1987). Em particular, já que ,u é geralmenre esrimado
do solo, a dispo'iiçáo espacial das plâmu!as e outros fatores
podem alterar a linha-limite (e, como conseqüência, a linha
U: tregar tanto alrmento como os residentes (se-
Data de f1nallzacão de cada ninhada Tempo de vôo (s) como 8/N, em que B é J biom.tssa total por unidade de .írea, 1l' dinâmica de atenuação) para uma populaçJo em particular
gundo Ens et ai., 1992)
e ,'\' estâo inevitavelmente correlacio11J.dos. e mda :1 relação entre (Wdler, 1990; Sackville Hamilron er ai., 1995). Em diferen-
des. acé certo ponro, é faJs;1.. Por esse motivo, é preferível usar a tes estudos, por exemplo. tem sido veriflcJdo que a ferrilidJ.de
relação equivalente, que nece~:,ita de aumcorrebçáo: do solo altera a inclinação da linha dt' atemução, ,l imerseção,
de suhsc:1ncial. No em.rnco, o que chama mais .1 atenção t: tão progrediram ao longo dela. Observe tJ.mbém que a Figur.1 nenhuma delas, ou ambas (Morris, 2002).
log B = log e - 112 log /V (5 24) A iníluênci.1 da luz é dign.1 de ser
que, ao tlnal, em rnd.1s .1~ coorte'.'>, ,1 densid,1de diminuí.1 e o 5.3 l foi elaborada, segundo a convenção, com o log.1rim10 d.1
peso médio d.1.s pl.rnt-b .1.umenu,·,1 de maneir:1 harmônica: .1s densidade no eixo x e o logaritmo do peso médio no eixo )'. com,idt'rada em mais detalhe, pois da
ou
pnpuhçôes progredi-1111 .1~1rox1m,1d.1memt' .10 longo da mes- Isso náo significa que a densidade é J. vari.-ível independeme ressalta uma caracrerísúc.1-chave d.t li-
ma linha. reu. Diz-'.'ic l.J_Ue ,\'i popuL1çót::, experimenuram um.1 dJ qu.11 depende o peso médio. De faro, pode-se argumenur (5 25) nha de arenuaç5:o e da linlu-!imire. Um.1 rnclin.1ç.lo de Jpr0xi-
auro-J.tenuaçáo (ou :,e1J.. um declínio progressin) d.1 den~id.1- que o peso médio Jumema naturalmente durante o cresci- n1J.damente -312 indica que o peso médio d.1s pLuua, está au-
de de um::i. popul.1çáo Lk indivíduo,; em crescimenro); a linlu mento vegeral e que isso determina o decréscimo da dc:nsid.1- mentando mais rapidamente do que a den'.'.lidade e_c;rá dimi-
5.12.2 Linhas-limites das espécies e populações nuindo e, ponanco, a bion1:1.\sa rnral está .u1menrJndo (uma
dJ qual ebs ~e aproxHnam e sobre .1 qu,i\ depois progridem é de. O enfoque mais satisfatório é aquele em que a densidade e
conhecid:1 como um.1 !111/i,1 dinilnuó1 deatemu1çiio (Weller, 1990). o peso médio são roulmenre inrerdependenres. De fam, nos vários casos em que a relação biomassa-densidade indinaçlo de -112 em um gráfico da biom,1ss.1-demid.1de rn-
Quanto mais baixa é a densid.1Lic de semeadura, m.1is Tem sido diw muitas vezes que tem sido documentada, não foi seguida uma única coorte ao lon- rai). Porém, finalmeme, isso deve ce~s:1r: ,l hiomassa mcal nJo
tarde começ:1 .1 auro-,Henuaçio. Em todos os casos, contudo. as populações vegetais (se semeadas em a lei da potõ:nc1a go do tempo, ma.., sim foram comparadas popubções com densi- pode crt'scer de formJ indefin1d.1. Em vez d1s.,o, pode-se espe~
as popu!Jçôes seguir.1111 1nici.llmenre uma trajetória quase ver- densidades suficit'ntememe elevadas) de -3:2 1.fades diferentes (e possivdmenre com idades diferentes). Em tais rar que a linha de atenuaç.io mude: pJra unu indi,uç.ío Jc: -l:
tical, isto é, apresenuram pouca morulidade. Após, :t medid.t se :1proximam e logo seguem uma li- ca.sos, é mais correto falar de uma !inh,1-limite c&1 ey>écie - uma ist0 é, a pada pela morralicLi.de é equilibrad..1 com exJ.ttdão
que se aproximavam d.1 linha de ::w:nuJção, as populações so- nha dinâmica de acenu.ição. Por muiros anos, tais linhas fo- linha além d:1 qual cert~ combinaçôes de dt:nsidade e peso mé- pelo crescimento dos sobre,·i\·entes. de modo qw: a biomJ.ssa
freram .1.urnemo d:1s LlX,IS de morra!ida.de, de modo que as ram :1mplamente entendidas como tc.-ndo uma inclinaçáo em dio n.ío são possíveis par.1 a espécie ('X'eller, l 990). Já que é pos- torai permanece constante (uma linha horizonta.1 sobre um grá-
inclinações de tod.1s as rujerórias de aurn-arenuação se apro- torno de - 3/2, e a rebçáo foi muitas vezes reft'rida como J sível para uma espécie variar de acordo com o J.mbience em que fico da biomassa-densidade). Isso é u que se observou quando
ximar:1111 gradualmeme dJ linh:1 dinâmica de atenuação e en- "lei da potência de-3/2" (Yoda era!., l 96.l; Hu,chi11gs, l 983). vive, na verdade, a suJ linha-limite abungerá roda umJ série de: populações de Lofium pae1111t' (Figura 5.31 b) foram (ulriv.1das

---
158 PARTE l - ORGANISMOS CAPÍTULO 5: CoMPH1ç;,o INTRA-ESPfcíFlcA 159

com imensidades luminosas baixas. Um limite (e a linha de dade de área de terreno) não segue crescendo. Ao contrário, além eni que b também é uma consrance. Unindo as Equações 5.26 e do modo que crescem os sobrevivences. Vimos (ver Seção
acenuação) com uma inclinação de - l era aparente com densi- de um cerco ponco, ele permanece consrante, independentemen- a 5.28. obremos: 5. lO) que a competição é, com freqüência, altamente assimé-
dades muico mais baixas do que seria de outro modo. Fica cla- te da densid,de das plantas (N). De faro, é precisamente a parei, trica. Se codos os indivíduos que morrem em uma coorte são
ro, o regime de luz pode alterar a linha-limire da população. desce pomo que a população segue a linha dinâmica de arenua- iu = b (lia)-'. N 312 (5.29) predominantemente os muico menores, enrão a densidade (in-
Isso também enfatiza, encrecanro, que as linhas-limites com ção. Isco pode ser expresso da seguime forma: divíduos por unidade de área) declinará com mais rapidez à
inclinações negativas mais íngremes do que -1 (sejam elas ou Isco é estrmuralmente equivalente à lei da porên..::ia de~ 312 da medida que a coorre cresce, e a inclinação será mais rasa, em
não exacamente -3/2) subentendem limites às combinações L = }uV = constante (5.26) Equação 5.23. na qual a constante de inrerseçfo. e, é dada por especial nos estágios iniciais de auto-atenuação. Essa concep-
admissíveis de densidades e pesos médios das plantas que se ma- /, (Lia)'"· ção é sustencada por uma comparação da auco-acenuaçáo em
em que À é a área foliar média por planca sobrevivenre. Nu
nifestam antes que a biomassa máxima de uma área de terreno Porramo, é evidente por que em geral ~e pode esperar que planras normais de Ambidopsis th,zliana com a auco-atenuação
emamo, ,l áre.i. foliar das plantas individuais aumenra à medi-
tenha sido alcançada. As razões possíveis são discutidas a seguir. ;L, linhas de acenuaçJo possuam inclinações de Jproximadamence em mutantes que sobre-expressam o ficocromo A. reduzindo
da que cl.1s cre~cem e, portanto, o mesmo aconcece com sua
média. À. É razoável que À., sendo uma área, esceja relacionada
-V2. Além disso, se as relações das Equações 5.T e 5.28 fossem muico a sua tolerância à sombra e comando mais assimétrica a
.iproximadamente as mesmas para rodas as espécies vegetais e se comperição entre elas (Figura 5.33a) .
5.12.3 Uma linha-limite única para todas as com dimensóes lineares de uma planta, como o diâmetro do
cu1..Le; as plantas alcançassem aproximadamente J mesm.1 área fo- Parece possível também usar os desvios dos pressupostos
espécies? caule, D. medianre uma fórmula do tipo:
E.1r por unidade de área do terreno (L). entio ,1 consranre e seria utilizados na construção das Equações 5.26 a 5.29 para expli-
Dr forma curiosa, quando as linhas de arenuaçio e as linhas- Â = alY' (5TI .1p1m.inudamc::nce :1. mesma p~ira rodis as espéoes. Por outro Lido, car ao menos algumas dJs variações da regra "geral" dos -312.
limite de rodos os tipos de plJncas sã.o representadas na mes- ,uponha que L n.io é consc::uue p.ira Jlgunus e~pt'.ci-::::. (\·er Equa- Osawa e Allen ( 199.3) escimJram vários dos parimecros das
ma figurJ. p.uecc:: que têm Jproximadamenre .1 mesnu incli- em que ,1 é umJ conscance. A1ulogamente, é rJZO.Í\·d esper.u ,.;;i.o 5.26). ou que os expoentes das Equ,1çõe-'> 5.2- e -S 18 n.io são equações a p.urir de dados de crescimenco de indivíduos de
nação e que possuem rambém interseções (isco é, valores de e que o peso médio da planta, 1Ti, esteja rebóonado com D peb 1..·x.uamenre 2 ou 3, ou que as consrances des.sJS equJçôes (a e b) foi~1-da-monranha (Nothofogw solandri) e do pinheiro verme-
m Equação 5.24) que ficam dentro de uma faixa emeira (Fi- formul.i: vai-iJm entre as esp<!cies, ou n,1 re-.tlidade não s.l.o l'nl .ibsoluco lho (Pinus dewiflora). Eles estimaram, por exemplo, que os
gura 5.32). No extremo inferior à direira na figura esrão as ..::onsrante~. As linhas de atenuação reriam enr.ío mdinações di- expoentes das Equações 5.27 e 5.28 não eram 2 e 3. mas 2,08
populações de plantas pequenas com densidade alra (ervas (5 28)
\·c::rgentes de -3/2, e as inclinações e as interseções Yariariam de e 2, 19 para a faia-da-montanha, e 1,63 e 2.41 para o pinheiro
anuais e plantas perenes com panes aéreas de vida curra). e no espécie para espécie. É fácil perceber por que. de Jcordo com o vermelho. Esses expoentes sugerem inclinações de atenuação
excrc:mo inferior à esquerda se enconcram populações esparsas .1rgumenco geomécrico. exisre uma ampla semelhança no com- de -1,05 e - l ,48, no primeiro e no segundo casos, respecriva-
de plamas muito grandes, incluindo as sequóias da cosra (Se- 10~ ponamenro de espécies diferentes, m.lS também por que, em um mente. Tais valores são significarivamente comparáveis aos das
31
quoia sempervirem), as árvores mais alcas conhecidas. As mo- , 30 exame mais dera.lha.do, existem variaçõe:::. entre e'.lpécies e não há inclinações de -1,06 e -1,48 (Figura 5.33b). As semelhanças
29
das mudam em ciência como em todos os campos de arivida- 27 .ilgo tal como uma linha de atenuação única e "ide.11". entre os valores estimados e os observados rambém foram im-
de. Houve tempo em que os ecólogos, ao observar a Figura
5.32, viam uniformidade - todas as plantas marchando no
'º' 28
25
26
Além disso, concr.1namente ao
simples argumenro geométrico, a re-
pressionanres para as constantes de interseções. Esses resulta-
dos mosrram, portamo, que podem ocorrer linhas de arenua-
ritmo de -3/2 (p. ex., White, 1980), sendo os desvios da nor- ,os /
20 laçáo produçfo-densi,hde de uma ção com inclinações diferentes de -3/2, mas estas podem ser
24 -- ,
ma considerados como "ruído" ou apenas de menor interesse. 23----- coorte em crescimento n:'io necessaria- explicadas a partir da biologia detalhada da espécie considera-
22 ,
Posceriormente, uma séria dlívida foi lançada sobre a concor- ,o• 21 -,9 mente:: depende apenas do número de indivíduos que morrem da - e mesmo quando ocorrem inclinações de -3/2, calvez
dância das inclinações individuais com -3/2, bem como sobre §
~ 18 17 ----16
a concepção geral de um~t únlca linha de atenuação ideal (\X'e- -g
o. 10' 15
14
ller, 1987, 1990; Zeide, 1987; Lonsdale, 1990). Mesmo as- g_
sim, não existe realmente qualquer conrradição. Por um lado,
13 (a) 103 (b)
o
.1s linhas da Figura 5.32 ocupam uma porção muito menor do
gráfico do que seria esperado ao acaso. E\"lsre apart:ntemence
~
E
o
u
"" 12
11

.1'gum fenômeno fund.1mencal vinculando esse espectro roca! " ' ' it---- "ec
de ripos vegetais: náo se rraca de uma "regra" invariável. m:1.s ~
a. 'ºf Tempo\ , 10

' 9
E
~
~~
~
0
~

de uma tendência fundamenul. Por outro lado, as vari.1.ções ,e ~ ,o•


entre :1.s linhas são reais e importantes e necessitam de ranra "
§
m
10'
+ -~-- o

r .-.- ""
explic.1ç.io quanto a rendênci.1 ger.d.
,o,
3
4
~
.

~
5.12.4 A base geométrica da auto-atenuação 10-{ ::;

Iniciaremos pelo exame das bases possí 1.reis para a tendência 10'~~~~~~~~~~~~~~~~-

geral e depois analisaremos por que diferences espécies ou po-


1~ ,as
10 10' ,o• ,os
Densidade (plantas m-2) Densidade-de caules (ni m·2 )
pulações podem apresentar suJs própriJs variações com rd.1- Número de plantas por m2
ção a este renld comum. Para a rendênc1a, são proposcos doi')
ripas gerais de explic.1ção. A primeira. (e por muicos anos, a FIGURA 5.33 (a) Relação entre a biomassa total e a densidade de duas linhagens selvagens da espécie vegetal Arabidops1s thallana (:..:.:: e •)
FIGURA 5.32 Auto-atenuação em uma ampla diversidade de ervas e e uma hnhagem mutante sobre-expressando um f1tocromo A(•) 15, 22 e 33 dias apôs a semeadura {de baixo para cima). Os dados são
úniCJ) é geométrica; a segunda é b:1se:ufa na alocação de re- árvores Cada linha corresponde a uma espécie diferente. e a própria representados pelas médias (± 1 EP. n = 3) Em cada caso. as hnhagens foram semeadas em duas densidades 1nicia1s; as linhas continuas
cursos em plantas de tamanhos dit<:rences. linha indica a faixa sobre a qual foram feitas as observações. As se- pretas de regressão são apresentadas em cada caso oara a densidade mars alta A linha tracejada preta mais ingreme tem uma rnclinação de
tas, dispostas apenas sobre as linhas representativas. 1nd1cam a dire- -1/2 (1nd1cativa da auto-atenuação de -3i2). e a l1nt"la rasa. uma 1nclmação de -1/3 (md1caliva da auto-atenuação de -4/3) Também são
O argumemo gc::omécrico se processa como segue. Em umJ
ção da auto-atenuação ao longo do tempo A figura baseia-se na Fi- mostradas as trajetórias de compehção assrmétr:sa ( --·) e simétrica(· - -) A linhagem mutante exibiu linhas de atenuação mais rasas.
coorte de plantas em crescimenco, à medida que a massa dJ po- gura 2 9 de White (1980), que fornece também as fontes ong1nais e indicativas de competição mais assimétrica (segundo Stoll et ai., 2002). {b) Lmha-hmite da espécie para populações do p1nhe1ro vermelho
pulação aumenta, o índice de á.rea foliar (l, :1. área foli.ir por uni- os nomes das espécies dos 31 conjuntos de dados (Pmus densiflora) (1ncltnação = - 1,48), do norte do Japão (segundo Osawa e Allen, 1993).

l
160 PARTE 1 - ÜRGANISMOS CAPÍTULO 5: COMPETIÇÃO INTRA-ESPECÍFICA 161

ocorra por urna raZJ.o "equ1vocJda", como no caso do pinhei- seus dados basearam-se nos pesos totais das plantas (folha,, Descrevemos os efeitos da competição intra-específica Esses efeirns, em nível individual, levam sucessivamenre
ro vermelho (-2.41 / l,63, em vez de -3/2). caules e raízes). Os conjunto, de dados de Enquisr e colabora- sobre as taxas de mortalidade e fecundidade, distinguindo sub- a padrões e cendências reguladoras, em nível populacioiul. A
dores(] 998) foram concentrados nas densidades máximas Je compensação, sobrecompensação e dependência da densida- capacidade de suporte é definida, e suas limitações são expli-
um grande número de espécies, e outras análises enfariLaram de exatamente compensadora. Entretanto, explicamos que a cada~, com a natureza convexa das curvas de recrutamento
5.12.5 Uma base de alocação de recursos para o processo de auco-atenuação, que ocorre baseante ames que o densidade em si é, em geral. apenas uma expressão convenien- líquido e a natureza sigmoidal das curvas de crescimento po-
os limites de atenuação limi[e global de determinado recurso renha sido alcançado. te do adens,tmenro ou da escassez de recursos. pulacionaL
Outra vez, portanto, pode nJo haver conrradição entre as duas Descrevemos os efeitos da comperiçáo intra-específi-
O reconhecimento cresceme de que pode ser esperada uma abordagens. ca sobre as taxas de crescimento, explicando a "lei da pro-
variedade de \'Jlores de inclinações, mesmo no argumento ge- dução final constante", em especial em organismos modu-
ométrico, junumeme com dificuldades escarísricas para esti-
mar as incli,uções, tem aberro o caminho a explicações alter- 5.12.6 Auto-atenuação em populações animais (a)

§
1
05
º[ lares.
O uso de valores k na quantificação da comperiç:lo in-
cra-específica é descrito, e as competições desorganizadas e de
nativas para a própri,l tendência subjacenre bãsica. Enquisr e
colabor..1dores ( 1998) utilizaram o modelo muito mais geral Os animais, sésseis ou móveis, precisam também ·'auro-ace- corneio (comest) são discinguidas.
d.e West e colabor.1Jores ( 1997), que consideraram os deline- nuar-se", na medida em que os indivíduos em crescimento dl.' o Introduzimos o uso genérico de modelos maremáti-
amentos mais c:fi..::.1zes da arquitetura dos organismos (nâo só uma coorre competem progressivamente emre .-.i e reduzem
L cos em ecologia e, após. desenvolvemos um modelo de uma
E I
de plama'.)) par,1 a di:,tribuiçJo nele:, dos recursos a<lljuiridos. :-.ua própria densidJde. N.io existe 1uJa em comum entre to- ~ ---0.5 popubç:J.o. com estJções de reproduçJ.o discretas, suj.:ic.1 :1
Ele!, sugenr.un que .1 taxa de uso de recursos por indivíduo, u, dos os animais, como o ~ a necessidade comp.1nilhada de rn- compeciçJ.o intra-especifica. O modelo ilusrr.1 a cendêni.:i.1
deveria esr.ir rel.1c1on.1Ja ao peso mé<lw da planta, tl', de acor- terceprar a luz que agrupa rodas as plam:as. Desse modo, '-: 1,5 2.0 2,5 3,0 3.5 de <Hr J.sos no tempo (tone> !,1v) em provocar flumações po-
do com a equaçin: menos provável a existência de umJ "lei" geral de auro-.nenu- log densidade (1nd1viduos m-2) pulacionais e que tipos diferentes de comper1ção podem
ação para animais. Por outro lado, como as planra.s, poJe-st· determinar tipos diferentes de dinâmicas de populações,
U=tlt/i 1·'·i (5 30) considerar que os animais sésseis adensados precisam acondi-
(b) soo incluindo padrões de cJos determinísrico, dos quais s:io ex-
cionar "volumes" abaixo de uma área aproximada.mente cons- plicadas a natureza e a importância. Também é desem olvi-
em que a é uma cone)tame. Na verdade, Enquiste colaboradores
tante: os mexilhões, por exemplo, seguem urna linha Je ate- 100 do um modelo com reprodução contínua, li=vJndo à equa-
( 1998) puderam r,mbém encontrar sus-
nuação com uma inclinação de - l ,4, e as cracas, uma linh.1 50 \ ção logística.
temaçio empírica para essa relação.
com uma inclinação de-1,G (Hughes e Griffühs, 1988). Já a É explicada a importância de diferenças individu.tis nJ
Eles argumentar.1m que J.:-. plantas evoluíram par,1 utili-
aurn-atenuação no runicado gregário P_111tr,1 praeputialú, n.1 geração de assimetrias na competição, bem como a impord.n-
zar plenamenre os recursos disponíveis e, assim, se Sé a taxa
de suprimento de recursos por unida.de de área e N 111,1., a den-
sidade mixima admissível de pl.rntas, entáo:
costa do Chile, segue uma inclinação de apenas -1,2; mas.
quando a análise foi modificada para reconhecer que os mver-
.

~
10 cia da competição na geração de diferenças individuais. As
assimetrias rendem a aumentar a regulação; a rerritorial1dade
tebrados de cascão rochoso são mais ''tridimensionais" do que .:g é um exemplo particularmente importante disto.
(5.31) pbnras e podem ocupar mais do que uma camada em um.1
a.
~ Os efeitos progressivos da comperiçáo no crescimento e
;Írea totalmente ocupada (em oposição ao constante índice Je na morralidade podem freqüentemente estar imerligados no
0.5
ou, da Equaç."in ~ .10: área foliar de plantas). enrJ.o a inclinação estimada passou ,1 ',.\. proces.1,0 de auro-arenuJçáo, que tem sido enfatizado em po-
ser-1,5 (Figura 5.34a). pulações vegetais. Explicamos as linhas din3micas de atenua-
S = a 1V,,,,/\ zl' V; (5.32) Para os animais móvei~. foi sugerido que a rebção entre 0.1 ção e a. lei de potência de -3/2, quando coortes únicas são
raxa metabólica e tamanho corporal poderia gerar linhJ..., de o.os acompanha.das, bc:m como linhas-limites da espécie: e d:1 po-
Porém, quando <is pi.incas chegaram ,l um equilíbrio com a
atenuação com inclinações de -4/3 (Begon et ai., 1986). Con· pulação, quando umJ série de popul.1çõc=s ademadas é obser-
rax.1 de supnmenro de recur<sos, S deveri.1 ser constante. Por
tudo, a generalização para Isso provavelmente é aind.1 rn.1i . . vada em densidades diferences. Questionamos se existe um.1
comeqüência: o.o,L
question..ível do que :1.s "regr,1s" em pia.mas, d.id.ts as vari.1çóe.~ 10 50 100 SOO 1.000
!inh;1-!imire única p.ua todas as espécies.
5
!l'= /, ?\' (5.33) no suprimento de recursos e nos coeficiemes das relações fun- E:-.clarecemos como foram propostos dois tipos amplos
Densidade (peixe 60 m- 2 )
damentais e as possibilidadLs de auto-,ttenuaçJ.o dependente:-. de explicação para a tendênci.i. consistenre enrre espécies; ;;que-
em gue h é unu ourr.t consr.1nre. Resumindo, a indtnaçio do componamenrn rerritori,1!, em vez d.1 ~lmples disponibili- les b.1seJdos na geomecria e aquele~ h.1sc:.1dos na alocJ.ç:\O de
e,;;pcr.Jll.t de ufll l1r111tc de popul.1ç.l0 n:s:-.e argumt·nrn C -4/J, dade de :1.limenro (.Steingrim-;son e Cram, 1999). Conrndo, FIGURA 5.34 (a) Auto-atenuação no tunicado gregârio Pyura praepu· recur~os. em plantas de ramanhos diference.1,.
nafts. onde a densidade foi mod1hcada para incluir uma ··área efetiva··
l.'111 \ez Je -512 cadJ \·ez mais têm sido registrad.i.s e\·idênci.is Je auro-arenu.i.- que incorpora o numero de camadas nas colônias dos arnma1s. A 1n·
Po1 fim, examinJrnos .1 .rnW-J[enuaçáo em popul.1çôee)
Enquisr e colahor.1dorn c.om1Jer.1um os dado . . disponí- çJo, embora sem uma base segura (p. ex., Figura 5.34b). chnação estimada é-1.49 (95% Cl-1,59 a-1,39. P< 0,001) (segun- animais e concluímos que JS plantas não são cão consistentes
vel . . nuis consi . . cemes pdía sustentar su,1 previsão de uma in- do Gu1Rez e Castilla, 2001 ). (b) Linhas dinâmicas de atenuação. em em seus padrões de auto-atenuaçáo como se pensava, e 05 :ini-
As plJnras nio sio cão consistente.1, em seus padrões de
23 anos sucessivos para a truta (Salmo trutta), em um riacho do Lake
clinação <le -4/3 do que o rn:lÍ.'i com·enciorul -312. Entretan- auco-arenua.ção como se pensavJ. Pode ser que os anim.11s es- 01stnct na Inglaterra: as setas indicam a posição da hnha média de
mais se a.cham tão suje1rns às regr:is "gerais" de amo-atenua-
to, essa n.ío tem :-.ido J conclusão extraída de levantamentos tejam táo sujeiras Js regras ''gerais" de aurn-atenu;.1çáo qu:inro regressão (inclinação = -1.35) (segundo Elliott, 1993). ção quanto a.s plantas.
de dJdos anteriores ou da an:il1se de experimenros posteriores as plantas.
(p. ex., Figura 5.\h: Sroll et ai., 2002). Em parte, a discre-
páncia pode cer ~urgido porque o argumemo geométrico está
centrado na obrenção de luz, e os dados coletados para testar Rs;su:no
tal rêm igualmeme enfocado as panes .iéreas das plantas (teci-
do forossinrérico ou tecido de SLJ'itemaçJo); além disso, o ar- A competição intr:1-específic.1 é definida e explicada. A explo-
gumenrn de Enquisr e co!Jbor,1dores ( 1998) a respeito da ob- ração e a interferência são distinguidas, além de ser enfatiL:id.1
tenç.io de recurso,;; rE muico mai,; geral, e J.O menos alguns dos a namreza comumente unilareral de competlçJ.o.
CAPÍTULO 6: ÜISPERSÁO, ÜORMÉNCIA E METAPOPULAÇÓES 163

(a) (b)

ºº·º ºº·º
[17 i:::
Oso.3
Oso.6
Oso9 I
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Oso.s
S0.25

D so.1s
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S. ·1 lnirodução enfaciu que J di.\persã.o pode se referir ao processo pelo qual O.\
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individum e-;c..1p..1m do ambiente imediato dos~seus pJis e vizi- ~VJ )

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Todos os organismos na naturi:za são encontrados em de(er- nhos; por ourro Lido. a dispers.l.Q muitas vezes pode também en-
minados locais porque eles se deslocaram acé lá. Isro é verda- voh-er uma gr.rnJe dose de descoberta ou mesmo exploração. Ê ~~
deiro mesmo para os mais aparenremence dos organismos sés- adequado. igu,1!mc"me, fazer a. distinção entre dúpersiio ,uual e
seis. como ostras e árvores. Seus movimenros variam desde o diJpt•náo reprodutirw (Cloberr et aí., 200 l }. A primeirJ. se refCre
cransporce passivo, que afeta muitas semences de plancas, aré ao movimento entre ,1 área. onde o individuo nasceu e onde ocor-
ações aparentemente intencionais de muitos animais móveis. re a primeir.1 reprodução. Este ripo só é encontrado em plantas. A
Dispersão e mi'gmçdo são cermos utilizados para descrever os dispers:io reprodutiva se refere ao movimenrn entre duas áreas
aspecms relacionados ao movimento dos organismos. Eles são reproduciva., sucessivas.
definidos para grupos de organismos, a despeiro de que é o
indivíduo que realmente se move.
A dispersá.o está relacionada ao 6.2 Dispersões ativa e passiva
discanciamenro dos indivíduos enrre si
e, por isso, é uma descrição apropriada Como a maioria. das caregorias biológicas. a distinção encre
para v.irios cipos de movimemos: (i) de organismo~ com dispersão :uiva e organismos com dispersão
sementes ou larv:is de escrdA-<lo-mar que se discanciam umas das passiva se sobrepõe em pane. A dispersão passiva pelo venco,
omras e de seu.,;; progenirores; (ii) de racos silvesues se deslocando por exemplo, n:í.o esrá rescrira :is p\ancas. As aranhas jovens
de uma área de campo para oucra, geralmente deixando residen- que alcançam IL1g.ues mais alcos e enrão liberam fios de seda
tes para trás e sendo equilibrados pela dispersão de oucros indiví- que .1s rr;rn~portJ ao venm, ficam à mercê das corrences de ar; FIGURA 6.1 As densidades das formas aladas do afideo Aphis fabae, na primavera. resultam, em grande parte. de seu transporte pelo vento
(a) Os ovos de A fabae são encontrados sobre indivíduos de evõrnmo (spindle plants) e a sua distribuição no Remo Untdo. durante o inverno.
duos em outras direçÕõ; e (i1i} de aves rerrícolas se deslocando ou sej.1, J "~Jdrrid.1" é ativa no início deste processo, porém o coincide com a das plantas (log 10 da média geométnca de ovos por 100 gemas de evônimo). (b) Na primavera, no entanto, embora as
entre ilhas de um arquipdago (ou de afideos em uma unidade de.sloc11ne1Ho em si é efetivamente passivo. Nksmo as asds de densidades mais altas se encontrem nas regiões onde as plantas ocorrem. os afideos se dispersaram através do vento por todo o território
misca de plantas) na busca de um h.íbicar apropriado. inseto~ represenurn freqllememence um auxílio ao que é efr~ (log 10 da densidade aérea média geométrica) (segundo Compton, 2001; de Cammell et ai.. 1989).

A migração é mJis frequencemente considerada como mo- rivarnenrt: lllll rrnwimc'ntO passivo {Figura 6.1).
vimenms direcionais em m:t'ii'\..l de um ar:rnde número de indiví-
duos de unu e.\pécie de um lo(al p,1r.1 ;urro. O termo, pon,rnw. t'.,tc: mesmo [ipo <le dispersa.o. Por exemplo ..i d1:iper).lO d:1 cias curus", Jfirnundo com isso que mui{J.s sJo "perdid.1s"
maioria dos orgJni::.mos hJbiunces de L1gm ou a~uJc~ que nio duramc' o deslocamenrn. Cerumeme, os poucos esrndos sobre
~e apliCJ às clá.ssic.15 m1gr.1çOC,; de determinados .mim.tis (em:.1- 6.2.1 Dispersão passiva: chuva de sementes
mcs de gafanhotos. viJgens inrerconrinenta.ls das aves), ma~ tam- Jpri:sentam um esrágio de:: vôo livre depende de ntrururas re- dispers.1.o por discâncias longas sugerem que a densidade de
hém a outros exemplos menos óbvios, como os movimentos de ir sistentes ao vemo (como. por exemplo, gêmul.h Je c'sponj;is, sememes declina muiro lemameme em discâncias maiore~ a
A nuiori.1 d.is semenres cai próximo às pbncas-m.1.e e a densi-
e vir de animais cosceiros, seguindo o ciclo das marés. Seja qual d.tde Jd,1~ d1minu1 conforme se :1.fasram da ongem. Esre ê o
cisros de camarões de água salgada). panir da planr::i.-mãe (Figura 6.2b), e mesmo alguns orga.nis-
for o caso, nem~ capítL1lo ~er..í. J.dequado dividir o processo de C.t'.o p.1ra ~ememes dispersas pelo Vc'nm e p.u.1 aquelas que são
A densidade das semenres imedi:.1tameme ab.úxo da plan- mos dispersados por distância longa podem 'ier cruci.lÍs na.
dispersão em rrõ fases: pttrrida, movimento e chegada {South et u-m.J.e é freqüenremence baixa, alcança um mJx1mo nas pro- invasão ou recolonização ( ver Seção 6.3.1 ).
ejecad.1s ariv.unenre pelo órgio m.lterno (por exemplo, muira.s
{ri., 2002) ou, em oucros rc"rmos. em1graçllo, tr:msferê11ci,1 ~ imz- 'XimiJades dela e, após, exibe uma queda íngreme i medida
legummn),1sl. U desrino final d.1 prole dispersada i decermi~
gmção (lms e Yoccoz. 1997). Esras crês fuses diferem (e as pergun- que a distância aumenta (Figura 6.2a). Não ob~unrL, exiscc"m
n.1do pd.1 loca!1uç.ío da planca-mãe e pela relação entre a den-
tas que formul.imos sobre elas cambém) ramo do ponto de vista sidade de -.emc"nces e a discànc1a. da planra-mle; porém o mi- problemas práticos imensos no escudo dJ disperli.'in Je semen- 6.2.2 Dispersão passiva por um agente
comporcamemal (o que desencadeia o início e o fim do movimen- cro-h,íbiur deulh.tdo do destino é devido .ao acaso. Esce ripo
tes (ou seja, no "acompanhamenco" das semenrcs), que se ror- mutualista
ro?, etc.) quanro <lo pomo de ·:isca demográfico (a discinç.io enm: Je di~per,.Jo nJ.o ::1.presema um cadcer explor:uório; a dc"sco- nam progressivamenre insolúveis com o aumenrn d.1 distância
perda e ganho de indivíduos, eH.:. ). A divisão em fases tambt:m em relação às fonres. Greene e Calogeropoulo:i : 2\)0 l) propu- A incenez.i de direçáo na dispersão pJ.ssiva pode ser reduiida
heru é unu quesr:io de cha.nce. Alguns anima.is apresentam
.'ier;1m a noçáo de que "a maioria das semenres p-:rcorn: Jisrân~ se um agence .1civo estiver envolvido. As sementes de muÍtJ.s

L_

l
164 PARTE 1 - ÜRGANISMOS CAPÍTULO 6: ÜISPERSÃO, ÜORMÉNCIA E METAPOPUIAÇÔES 165

des...:obrem locais adequados para ovopositarem: partida. mo- uma muceira de gramínea ou para um cipreste a compecição
vimenro e parada são rodos comporcamemos ativos. deve ocorrer muito fonemenre enrre panes da própria planta.
O crescimento clonai é mais efetivo, em termos de dis-
- .- Frax,nus persão, em ambientes aquáticos. Muitas plantas aquácicas se
----- Lonchocarpus 6.2.4 Dispersão clonai fragmentam facilmente e as panes de um único clone se dis-
- ..... _ Plat'ypod,um
persam independentemente, pois náo são dependentes da pre-
- - Betula
Em quase rodos os organismos modulares (ver Seção 4.2.1), wn sença de raízes para manter suas relações hídricas. Os princi-
- - Pinus
genera se ramifica e expande suas panes ao redor de si, enquanto pais problemas com plantas invasoras aquácicas no mundo são
- - Ti/ia
cresce. PortJnro, há um consenso que uma árvore ou um coral causados por plantas que se multiplicam como clones, frag-
~m desenvolvimento dispersa arivamenre seus módulos no am- mentando-se e desagregando-se à medidJ que crescem: lenti-
hienre circundante, no qual re-.Jiz.a a sondagem. Muitas vezes, as lha-d'água (Lm111,1 spp.). aguapé (Eichhornin cmssipes), elodéia
interconexões de ral clone se desfazem, de modo que ele se roma (Efodea C{lnadensis) e salvínia (Sa!vinia).
represenrado por algumas das panes dispersadas. Pode resultar,
120 por fim, que o produto de um zigoro seja represemado por um
D1stànc1a (m) ..:lone de idade avanç,1d.1. que é propagado a grandes distâncias. 6.3 Padrões de distribuição: dispersão
(b) F'.lt!llt.1-se quL .tlguns clones da sa.numbaia rizomarosa Pterit!ium
100 r ·!qu,:/i,w111 tenlum m.ii~ de 1.400 anos e se escen<lam por uma Os movimentos dos organismos ateram o padrão esp,1cial d.1
jr~.1 de cerca de 14 h.1 (Oinonen. 1967). sua discribuiçã.o (sua dúpersiio) e podemos reconhecer crês prin-
1
Em um comimwm de esuarégias cipais pa.Jrões de dispersão. embora eles igualmente formem
FIGURA 6.2 (a) Densidade de sementes dis- ;·__,e;r•il:3S e na dispersão clonai, podemos reconhe- parte de um continuo (Figura 6.3).
persadas pelo vento a partir de árvores soli- .. 3,.ta(1a
tárias no interior de florestas. Os estudos ti- cer dois extremos (Loverr Doust e Lo- A dispersdo ao acaJO ocorre quan·
rJ1s'.r1:,:.:;J9.3 J.J
veram uma quantidade razoável de pontos vett Doust. 1982; S.,ckville Hamilron do há uma probabilidade igual de um
JCaS,) -~·;1;!.:H e
de amostragem, as árvores da mesma es- t't ,d. 1987). Em um extremo, as conexões entre os módulos organismo ocupar qualquer pomo no ":Qf':!;J3j}
pécie não estavam prôximas e a árvore-fon-
te não se situava nem em clareira nem na ~ao longas, e estes ficam bastante espaçados. Estas formas são espaço (independenremenre da posi-
borda da floresta. (b) Dispersão de semen- chamadas de "guerrilhas" porque elas dão a uma planta, hi- ção de outros organismos). O resultado é que os organismos
tes de longa distância, pelo vento, a 1 ,6 km dróide ou coral, um caráter que lembra uma tropa de guerri- são distribuídos desigualmente devido aos eventos de chance.
de uma área-fonte florestada (segundo Gre·
ene e Calogeropoulos, 2001, onde os dados U1.1. Fugitivas e oporcunistas, el·,ts estão em consranre movimen· A dispersão regular (r.tmbém chamada uniforme, constante
D1stància (m) originais também podem ser encontrados). rn, desaparecendo de alguns cerrirórios e peneuando em ou· ou sobredi,persiio) ocorre quando um indivíduo possui uma cen·
tros. No outro extremo, existem as formações do ripo "infan· dência de evitar outros, ou indivíduos especialmente muito pró-
r:.ui:."', assim denominadas em analogia aos corpos das infan- ximos a mnros morrem. O resultado é que os indivíduos são mais
rarias romanas. firmemente reunidas e prmegidas por seus es- uniformemente espaçados do que o esperado pela chance.
espécies herh;keas pmsuem espinhos ou ourras emergências 6.2.3 Descoberta e exploração ativas cudos. Neste caso, as conexões s:io curras e, os módulos, fir- A dispersão agregrzda (rambém chamada conttZgiosa, agru-
que ,lllmt'rtt.lm .1 cll..lnce de serem cransporradas passivamente memente unidos; os organismos expandem seus clones lenta· pada ou subdispersiio) ocorre quando os indivíduos rendem a
sobre o pêlo do.-.. .1nim.1is. As sementes podem, enrão. ficar 1Vfuicos omros animais não podem ser considerJdos exp!orJdo- mente, retêm seu loc.11 de ocupaç.ío por períodos longos, e, ser atraídos (ou sobrevivem mais) para locais particulares do
conce11tr,1das em ninhos ou roe.is arrum.1das pelos próprios res, nus eles cercamente concrobm sua decisão de onde se esube- c0mpacros, n.1.o pent:rram rapidamente nas plantas vizinhas ambiente ou quando a pre,;;ença de um indivíduo arrai (ou dá
anim,lÍs. O, frutos de muitos arhusros t_' de árvores d;i parte lecer ("parada", ver Seç.í.o 6.1.1) e cessam o movimento somente nem são facilmence penetr1dos por elas.
int"erior do dossd ...,,-HJ suculentos e arr:Hl\'O::i p:1ra a. . aves, sen- quando enconrram um local aceitável. Por exemplo, a maioria i\[esmo entre as árvores, é f;ícil observar que a maneira
do .1 . . ca,;cas d.1s :.e111eme:. resi .. rcnres à digesrâo no imes(lno. dos afídeos, mesmo em sua forma alada, tem poder de vôo dem.1- com .1 qual Js gemas são dispost;ts confere a elas uma fornu de
O local onde ,l :,emcme ~ <li,per:-..1 t nui.<. incerto. dependendo siadamenre fraco para se opor às forças dos vemos predominan- (re,;;cimenco do ripo guerrilha ou infantaria. A disposição densa
<lo compon.tmencu Jc ddCc.aç."io cL1 ,n·e. Cer.ilmenre. presu- tes. Porém, de~ controlam sua p.ircida do seu loc.U de origem, Jl' módulos d,1s parces aéreas (shoot modules) em espécies como
ílle-:,e t]Llt' ui:. .1,~oci-1~õe::-. . . c:-j.1m '·mutu-1list.1s" (bendlc.1 .1 bem como comrolam sua sa.ícLi da corrence de vento; muira~ n:- cip,cstes (Cuprôws) produz 11m,1 copa do ripo infam.iria, rela-
.11nli.1:, .t, p.1rce\ - ver C:ipírulo 1_l): .1 \e[lll'llfc' é d1sper,.1 de ze~ des re:tlizam \·Ôos Jd1cionais de pequen,1 escab, se o seu loc.d CÍ\,lmenre ...:umpacu e 1mpenetr,Í\"el. Por outro bdo. 11H1Íta,;;
forrn.1 ma1.-. ou me1w~ prcvisí\·el e o di::ipcr,or consome J polpa encomrado é insarisfatório. De forma análoga, as larv35 de mui· .irvores LHifol1.1Jas frouxamente e,;;trutL1r.1Jas (At([Cza. Bt'tula)
como ''recompens.i·· ou .mi mern10 uma propon./io dJ~ sementes ros invertebrados de rios usam o fltLxo da coluna de água parJ ~e podem ser consider.tdJs como copJ.s em guerrilha. portando
(.1;-, que ele encomr.1 110\·:imeme). d1spersJr dos locais de eclosão para micro-hábitacs apropriJdos genus amplamente dispers.1s e p,Htes aéreas que .'.le mi•mlf:1m
Existem rambêm C;\emplns imporr.uHe::i em que os Jnimais ("deriva de invmebrados") (Brinain e Eikeland. 1988). A disper- com as gemas e os r.1mos de árvores vizinhas. A~ li.mas, em
'iio disperso\ por um .1gente .1rivo. ror exemplo, h:í muitas c'spé- são Jos afrdeos por meio dos ventos e a dos invercebrados em umJ florestJ, ,tpresenram formas de crescimento do ripo guer-
rilh.i por excefênci11, dispersando sua folhagem e gemas por dis-
i.:::it:;-, de JG1.rm que ::,e di,pers.101 de uma porçáo de c=xcremenws a cur~os d'água, porcanco, envolvem uma "descoberra'', sobre a qual
... .;._..
omro ou de um org.1ni..,mo em decompu,içJ.o a omro, ao pren-
der-se a besouros necrót~1gos. Ger.dmentc, eles se prendem a um
possuem um cerco controle, embora limitado.
Ourros animais re.Uizam sondagem do ambiente, visirando
r:rnci.is imensas, tanto vertical quanto l.uer.ilmenre.
A rnane1rJ com ,l qual os organismos modulares disper- --
besouro adulro recén1-emergido e o .1bandonam quando este chega muirns locais ames de retornarem ao que for mais adequado. Por ),lm e exibem seus módulos afetJ J. sua inceraçáo com seus
rizinhos. Aquc:les do tipo guerrilha continuamente se encon·
·. Agregado
a uma nov:1 porçáo de excrernenro.., ou carniçJ.. E,;ra relação, iguJ.1- exemplo, ao contrário dJ..S suas larvas carregadJ..S pela corrente, J Ao acaso Regular
mence, é murualisra: o::, .ícaros ganh.un um agente dispersor ativo maioria <los insetos adultos de água doce dep:nde do vôo para se tram e competem com outras espécies e genetas co-específi-
e muius espécie.\ deks .1uc.1.m L Lnnsomem ovo, de moscas, po- dispersar encre corpos de água ou em direção às cabeceiras dos cos. Com J esrrurura em infancaria, entretanto, a maioriJ. dos FIGURA 6.3 Três padrões gerais de d1stnbu1çâo espacial que podem
renc1.1is cornpetidore.., do.., besouro\. encontros reali1a-se entre módulos de um único genera. Para ser exibidos pelos organismos ao longo de seus háb,tats
rios. Eles realizam sondJgem do ambienre e, se bem-sucedidos,
166 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 6: DISPERSÃO, ÜORMÉNCIA E METAPOPULAÇÓES 16 7

origem a) um ourro. O resulrado permice que os indivíduos fi- r.1lmeme distribuídos em manchas, ramo no espaço como no produto em pé das cigarras quando a densidade estava baixa, mas
quem mais próximos do que o esperado pela chance. tempo. Dependendo de onde e quando essas manchas ocor- somente 15 a 40°/o quando as cigarras alcançaram o pico de den-
Comudo, o modo como esres padrões se manifestam a um .. rem, existe um custo (é pago em tempo evolurivo) associado à sidade. Após, a predaçáo subiu para quase 100%. à medida que a
observador e a sua relevância para a vida de oucros organismos 1.fopersão acé estas áreas. Entretanto, exisrem ourr.as m:ineiras densidade das cigarras decrescia novamenre (Figura 6.5). Argu-
dependem da escala espacial na qual são vistos. Considere a dis- específicas nas quais os organismos podc:m gJnhar por se apro- mentos equivalentes podem ser aplicados a muitas espécies de
tribuição de um a.fideo que vi 1:e em uma esp<:cie particular de ximJrem de seus vizinhos no tempo e no espJi.,:o. árvores, especialmente em regiões temperadas, que exibem anos
árvore em uma tloresca. Em uma escala ampla, os afídeos pare- A reorla que idcnritlcou uma sincrónicos de produção massiva de sementes (ver Seção 9.4).
aç·egação e
cem esta.r agregados em partes parciculares do mundo, isco é, em -íebanho ego1sta· vancagem seletiva para os indivíduos
macas, em comparação a ourros tipos de hábirars. Se as amostras que se agregam uns com os outros foi
forem menores, elas ainda podem escar agrega.das, mas agora sobre sugerida por Hamilton ( 1971) em seu escudo ··ceometria do 6.3.3 Forças que diluem a agregação:
suas espécies arbóreas hospedeiras, em va de árvores em geral. rebanho egoísta". Ele argumenrou que o risco di.; um indiví- dispersão dependente da densidade
Enrreramo, se .is amostras forem menores ainda (25 cm 2, aproxi- duo ~er predado pode ser diminuído se for colocado outro in-
Tempo 1 Tempo 2
madamenre o tamanho de uma folha) e coletadas na copa de (b) Jiv{duo como presa potencial encre ele e o precbdor. A conse- Existem também forces pressões selecivas que podem acu1r con-
1
~'r:I :
1 tra a agregação no espaço ou no tempo. Para algumas espécies,
uma li.nica árvore, os afídeos deverá.o revelar uma distribuição ao qi.kncia de muitos indivíduos se componarem .1ssim é a agre-
um grupo de indivíduos pode realmence concentrar a atenção


acaso. Em uma escala menor ainda (cerca de I cm·:!). poderíamos gaç;\o. A '·2011.1 de perigo" pJra indivíduos de um rebanho si-
ru.1-:;e n,l bord.1, de modo 4ue um indi\·íduo tc:~1.1 \·.1nugc:m se do predador (o efeito oposto do "rebanho egoísca"). Comudo.
Jetecrar um padr3.o regular, uma vez que os ;tfídeos se e\'itam
X.-- as princip.tis forças que diluem J Jgregação são cerc.1menre a
mutua.meme sobre uma mesma fol!u. )eu Jt,uw social lhe permirisse uma posi</10 no (L'JHrn do reba-
nho. Indivíduos subordinados, encáo, cle\"em )C"í forçados a se competição incensa sofrida pelos indivíduos adensados (ver
po,;icionar nos locais de 111.1ior perigo na bordJ do grupo. Esse Capírulo 5) e a interferência direta entre os indivíduos, mes-
x_:,.,- mo não havendo escassez dos recursos. Uma conseqúência
6.3.1 Distribuição em mosaico p.irece ser o caso dJ rena (Rangifú tara11dw) e Jo pombo tor-

Na prática. as populações de rodas as


J_ Terrµ, S
c:12 (Columba pt1lumbw), em que um indivíduo recém-chega-
do pode se juncar ao grupo. se posicionando na periferia do
provável é que as maiores taxas de dispersão ocorrerão em di-
reção oposca às manchas mais adensadas: dispersão por emi-
gr1çáo dependente d1 densidade (Figura 6.6) (Sutherland et
espécies são disrribuídas em mosaico em \ -~-' 1: mesmo e só se posicionando em uma zona m.us prmegida de-
-~e.:;.· alguma ordem de escala, mas é impor- pois que houver a incer1ção social (Murcon rr ,zi.. l 966). Os ai., 2002), embora, como será visco adiante, :i dispersão de-
Tempo 5
tame descrever a dispersão em escalas re- indivíduos cambé:m podem cer \·ancagens em \ iver em grupo, pendente da densidade não seja uma regra geral.
FIGURA 6.4 O grão de um ambiente deve ser observado a partir da
levantes para o esrilo de vida dos organismos em questão. A este perspectiva do organismo em questão. (a) Um organismo pequeno se i)CO ajudar a encontrar alimento, ad\"errir-sc: de preJ.1dores De qualquer forma, concudo. os cipos de distribuição
respeito, MacArthur e Levis ( 1964) introduziram o conceico de ou que se move pouco provavelmente percebe o ambiente com de ou servir para repelir um predador (Pulliam e Caraco, l 984). !:.Obre manchas disponíveis encontradas na nacureza tendem
grão grosseiro: ele experimenla um único tipo de hàbitat dentro de a reproduzir os compromissos entre forças opostas acuando
g,.,ío ambiental. Por exemplo, o dossel de uma floresta de carva- seu ambiente por longos períodos ou talvez por toda a sua fase de O princípio do rebanho egoísta, como descrito p.ua a agre-
lhos e nogueiras, do pomo de vista de uma ave, como sanhaço- vida. (b) Um organismo maior ou que se move mais pode perceber o gação de organismos no espaço, é rambém apropri.lCfo para o sobre os indivíduos (agregação ou não). Como veremos nos
escarlace (I'mmga olwaceae), que forrageia indiscriminadamente mesmo ambiente como de grão fino: ele se move freqüentemente próximos capírulos, cais compromissos são convencional-
.tparecimento sincroniz.ado de indivíduos no tempo. Um indiví-
entre tipos diferentes de hâbllat e os ut1hza. portanto, na proporção mente identificados como a discribuiç:ío "livre ideal" ou
em ambas as espécies, é de grão fino: ou seja, o ambiente se apre- em que eles ocorrem no ambiente como um todo. duo que é precoce ou tardio no seu aparecimento, fora da..s nor-
senta em mosaico, mas as aves exp<:rimencam o hábitat como nus da sua população, pode ter um risco maior de predação. em outras distribuições teóricas (ver Seção 9.6.3).
uma miscura de carvalhos e nogueiras. No entamo, o hábirat é de c0mparaçáo com aqueles indivíduos conformi)L.b que parcicipam
grão grosseiro para insetos desfolhantes, que atacam preferencial- sejJ muirn diferente para um verme e para uma ave) e entre dis- d.t ··saruraçáo do mercado" e assim diluem seu próprio risco. En-
6.4 Padrões de migração
meme carvalhos e nogueir.I.S: eles experimentam o hjbirat como persão por renol',lÇiio (turnover) e dispersiio por inwuâo (Bullock et tre os exemplos mais noráveis de sincronia, e~r:í.o JS "cigarras pe-
uma mancha a cada momento, movendo-se de uma mancha pre- ai., 2002). :\ dispersão por renovação em escala local descreve o riódicas" (insetos), cujos :1dultos emergem simu!t.tnt.'3.menre após 6.4.1 Movimentos de marés, diários e sazonais
ferida para OU[CJ (Figura 6.4). mov1memo pJ.r,l uma clareira a partir de hábitat ocupado locali- 13 ou 17 anos de vida subterrânea como ninfas. \X'illi,uns e cola-
A distribuição em mosaico pode ser uma caracceríscic.1 1ado no encorno imediam dela; uma clareira tamhC::m pode ser 0<,radores ( 1993) escudaram a morcalidade de populações de ci- Indivíduos de muitas espécies se movem em massa (rodos) de
do ambiente fisico: ilhas circundadas por ~igua, afloramentos invadid.1 ou LOloni1..ada por indivíduos procedentes de outros lu- g;irr,ts com período de 13 .1nos que emergiam no noroesce do um h;.ibitat a outro e rerornam repecidamenre durante sua vid:i.
rochosos em p.incanos, e assim por diante. Igu:.1lmeme impor- g:ires d.1 comunidade circundante. Em escaJJ de pai~agem, s1mi- --\rkansas (EUA) em 193::;_ As aves con\umir.un tJU,tSe codo o A escal.1 de tempo en'"olvida nisso pode .ser de horas, diJs,
tante, :1. disrribuiçáo em mosaico pode também ~er cria.da pe- brmeme ..1 dispersão pode' ser parte de uma reno\"açáo comínu:1
1.is acivlJ.1<le~ dm próprios org.1nismos. pelo :;eu pasrejo, de- Jc cxtÍrH.,.í.o e recoloniz.i.çJ.o <le mancha... ocupi\"eis inseridas em
pósiro <le e~crume. pisoceio ou <lepleçJ.o de igu.1 e ourros re- um.1 nuErrL de h.ibirars desfavoráveis (exemplo, ilhas em um rio:
cursos minerais. As manchas ambienr.lÍ~ que ~ao criadas pel.1 "dín,i.m1(.1 Je mctapopulações'" ~ ver Seçjo 6.9, a ~egu,r). Adis- 6.000 100
:.uividade de organismos rêm históri,ls de vida. Uma clareira per~áo pode t.unbém resultar na invasão de um hibir1r por uma
criada em um.1 floresta pela queda de uma árvore é colo11Lz.ada ··nov,i'" e~pecie expandindo :i disrribui<;áo espacial. 80
e se desenvolve, passando a comer ârvores maduras, enqu:inro
outras clareiras são formadas. A morte de uma folh1 em uma
! 4.000
60
;:
área campesrre é um fr.1gmenco para a coloni1.1çáo de um,1 6.3.2 Forças que favorecem a agregação (no ~
%
~
série de fungos e bacrt:ri.1s, formando uma sucess..io de orga-
nismos, até a exaustão do recurso, mJ.s novas folhas mona~
espaço e no tempo)
z
l 2.000
40
a.

20 FIGURA 6.5 Mudanças na densidade de uma


s.lO encontradas e colonizadas, em um processo conrínuo. A explic.H,:w evolutiva mais simples para a di.scribuiçã.o em população de cigarras com penod1c1dade de
Distribuição em mosaico, dispersão e escala estão mtima- mosaico dJs populações C: que os organismos se <1gregJ.m quan- 13 anos no noroeste de Arkansas. em 1985.
e as mudanças na porcentagem ingerida por
meme interliga.das. Uma terramenra útil é a que aLLx.ili.1 J distin- do e onde encomram recursos e condições favoráveis à repro-
Junho aves (segundo Williams et ai, 1993)
guir entre escalas local e de paisagem (considerando que ''locaJ'" duç.io e i ~ohre\·ivencia. Esses recursos e condições es[ãO ge-

l
l 68 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 6: D1sPERSÁO, DoRMÉNCIA E METAPOPULAÇôEs 169

unu pequena a~e pernalra que se reproduz em áreas remotas se reproduza e morra (embora adultos em desova e ovos nun-
(a) (b) Dispersão observada das rundras do Arrico e º'hiberna" nos verões do hemisfério sul. ca renham sido capturados lá). A enguia americana (À.ngw/la
75 ~o mínimo cinco subespéoes parecem ter divergido no final do rostrata) realiza urna viagem semelhanre, desde as Guianas, no

·/ t
"
êo
50
Plei'.>roceno (baseado em evidências genéticas do seqüenciamen-
ro de'.' Oi',;A miwcondrial), apresenrando notáveis diferenças
qu.,nto JO padrão de dimibuição e de migração (Figura 6.7).
sul, até o sul da Groenlândia, no nane. O salmão realiza mi-
gração semelhanre, porém os ovos e os juvenis é que se encon-
tram em águas doces, enquanro os adulros amadurecem no
oceano. Estes, depois, retornam aos rios e riachos para de!lo-
A migração a longa disrância é igualmente uma caracte-

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1

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16
~

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§. 25

1 000 2.000'
rímca encontrada em ourros grupos. As b.ileias no hemisfério
.1,u! 'ie movem mais para o sul no verão, para se alimenrarem
0 ,1s .iguas ricas em alimento da Anrárrica. No inverno, elas se
mo\·em para o narre para se ac.isa.l.irem (mas se alimentam
es.:J.'!SJmenre) em águas tropicais e subtropicais. O caribu (Ran-
var. Após a desova, todos os salmões do Pacífico (Oncorhyn-
chw nerka) morrem, não rerornJ.ndo ao mar. Muitos salmões
do Arlânrico (Salmo salt1r) também morrem após desovar, po-
rém, alguns sobrevivem e retornam ao mar, desovando m-1.i.<.
uma vez quando voltam aos rios.
Número de la1Vas por mm2
Número de casais
gi}cr tilrtmdw) se desloca várias centenas de quilômerros a cada
,mo. das flore.sras serenrrionais até a rundra e rerorna. Em w-
d11'.'> ..:sces exemplos, o indivíduo que migra rerorna v.íria~ vezes 6.4.3 Migração de "somente uma via"
FIGURA 6.6 Dispersão dependente da densidade (a) As taxas de dispersão de larvas do borrachudo (S1muhum vltfatum) recém-eclodidas
crescem com o aumento da densidade (dados de Fonseca e Hart. 1996). (b) A porcentagem de machos Juvenis de gansos da Gorenlând1a dc'.'S'.>.tS viagen:,, ao longo de sua vid.1.
(Branta leucopsis). dispersando-se de colônias de reprodução em ilhas no Mar Bált1co para locais onde não há reprodução. cresceu à medida 1\lu1u.1, migrJçóe.1, de longas dis- Em algumas espécies migr.rntes. a viagem p,1r.1 um indivíduo
que a densidade aumentou (dados de van der Juegd, 1999) (segundo Sutherland et ai., 2002) ráncias, cmreranw, realizam apenas é de somente uma viJ. N.1 Europa, as borboletas Cofias uo-
um retorno dura.me .<.u,1 vida. Eles nascem em um determina- Ct'US, Vtmt'ssfl aral,uu,1 e Vanessa cmdui se reproduzem nas dL1as

do h~ibirat. crescem em outro loca!, porém remrnam para se extremidades de suas migrações. Os indivíduos, ao alcança-
meses ou 1nos. Em a.lguns caso~, esses movimentos têm o efei- gando em populações densas duranre um determinado tem- reproduzir e morrer no mesmo local de sua infancia. Enguias rem a Grã Bretanha no verão, se reproduzem e sua prole se
ro de manrer o organ.._ismo em um mesmo cipo de ambiente. po, para. enrão, se separarem e viverem isolados em ,1m- ='.>,limões são exemplos clássicos. A enguia européia (Angui!Íil desloca para o sul, no outono, e se reproduz na região do Me-
Esrc é o caso do movimento de caranguejos na linha de cosra: bienre terrícola. a;wuilla) se mo\'imenca desde rios, acudes e lagos europeus, direrràneo - sendo que a prole desces indivíduos volta para o
eles se movem com o .ivanço e a retração da maré (movimenro cr::za o Arlânrico até o lvtar de S.trgaç,o, onde acredita-se que nane no verão seguinte.
de marés). Em outros ca.sos, a migração diária. pode envolver o
rnovimenrn entre dois ambientes disrinros: os nichos funda- 6.4.2 Migração de longa distância
mentais dessas espécies someme podem ser satisfeitos pela al-
ternlncia de vida em dois hábirats d1srinros em cada dia. Por As mudanças mais marcanres de há-
exemplo, algumas algas planctônicas, ranro mJ.rinhas quanto birar são aquelas que envol\'em odes-
de água doce, de~cem .ué as profundeza::, à noite, mas retor- locamento por disrâncias muito longas. 1\1uiras espécies de ave:,
nam à superfície durante o dia. Elas acumulam fósforo e ral- cerrícolas no Hemisfério Norte se movem para regiões mais ao
\"e?. outros nurrienres na água mais profunda à noire, anres de nane na primavera. quando os suprimentos alimentares setor-
\·oirar a realizar fotm.'>Íntese próximo J. superfície dur.mre as nam abundantes dur.:mte o período quente de veráa, e se mo-
45'
horas de luz (Salonen et ,lÍ., 1984). Outras espécies se agre- vem para as savanas ao sul durante o outono, quando o ali- \ ,so~
gam durante um período de descanso e se separam quando mento se rorna abundante somente após a passagem d.1 e.<,ca- 1

'.180º
saem par<1 se <1limemar. Por exemplo, a mJiori.1 dos caracóis ção chuvosa. Ambas s3o regiões em que estações de sacieJadc
rerrícolas se agrupa em micro-hábirars lunidos duranre o dia, e fome se alrernam. Os migrantes, com isso, conrribuem par.1
rnas se separam J. noice para bmcar alimento. tl diversidade da fauna local. Das 589 espécies de ,tves (ex- 140~

J'..,1uitos org;inismos realizam migrações sazonais - nova- cluindo as aves marinhas) que se reproduzem na regÍJ.o Pae-
mente, par.1 t:'.ncontr.lí um hábiu.r fa\·or.ivd ou se beneficiar Lírcica (Europa e :\sia rempt:TJ(bs), 40°;0 pa)\J o mverno cm
45
de h.íbiuts diference-,, complementares . .-\. migração altirud1- outros locais (More.1u, 1952). Desc1s espécie'.> que deix.un .1
rul de aninui,;; p.1,udnrcs em regiões monranhos.ts é um exem- região no inverno. 98% se dirigem p,trJ o sul. p.u.t .1 .~friu.
plo. Gnu espicie de \'e.ido-mula ( Cerl'W claplius) e o alce ame- Em uma escala airn.Lt maior, o crim.1-réi,; <lo Amco (Stand p,zm-
ricano (Odocotlcw l,rmw11w), por exemplo, se movem para di)am) a cada ano viap das 1.on.lS de reprnduçio do Ánico .w: :1 60·"·
cima em área.s moncanhosas no verão e descem em d1reçJ.o aos Antártica e rerorna nov..1.menre - cerca dt: l 0.000 milhas ( 16. ! 00 iii) Area para reprodução
vales no inverno. AtLl\'és da migração saLonal, os animais es- km) em cada viagem (emborJ diforenrernence de muitos omro~ ~ Ârea de parada
capam das principais mud.rnç:.is no suprimemo alimentar e migrantes, eles podem se alimcmar durante o percurso). D Área de hibernação
no clima que enconcr.iriam, caso permanecessem no mesmo A mesma espécie pode ~e comporrar de maneir.1.<. Jife- 8 Áreas de parada e de hibernação
loc.1\. Isro podesa comparado com a "migr.içJ.o" dos anfí- renres em locais distincos. ToJos os cordm europeus (Fruhttcw • Corredores migratónos
bios (ris, sapo-", cricões) enrre um h.íhirar .1quárico de re- rubecu/11) deixam a Finlândia e a Suécu no inverno, ma.s ius
produção, na pnman:r.1, e outro ambiente terrestre duran- Ilh.is Canárias a espécie é residente durante rodo o .1110. '.\J;i
te o resto do ano. Os jovens (girinos) se desenvolvem na maioria dos países onde a especie se desloca, uma pane J.1 po- FIGURA 6.7 Oistribwção global e padrão de migração das espécies de maçancos (Calidns spp) As áreas em marrom são de reproduç~o; Js
água com um recurso alimentar diferente daquele que irão locais com l,stras horizontais 1nd1cam áreas de paradas. usadas apenas durante as migrações norte-su! e sul-norte; os locais com linhas
pulação migra enqu.inro J outra permanece res1denre. Em alguns
cruzadas indicam áreas usadas tanto para paradas como para hibernação; os locais com linhas verticais designam áreas us~das somente para
ingerir m:.iis tarde no .1mbienre terrícol.t. Depois, rc:rorna- casos, cais variações estão cl.1rarnenre associ.1das .1 um:.i divergên- hibernação. A área acinzentada indica os corredores que são usados nas rotas migratónas; os corredores trace1ados em cinza 1ndrcam tenta-
rJ.o ao mesmo h.ibirac ,tqu.irlco pJr,t se acasalarem, se agre- cia evoluriva. Isto é v;ilido parc1 o m.1ç;.1rico ((tl/idm m1111~w), tivas de rotas m1gratónas sugeridas na literatura (segundo P1ersma e Davidson, 1992).
170 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 6: D1SPERSÁO, DORMÊNCIA E METAPOPULAÇÔES l 71

A maioria das migrações ocorre sazonalmeme na vida dos seu desenvokimenrn {cerca de cinco semanas a 0°C, ou por A dormência em plantas, conmdo, nJo é restrita às se-
indivíduos ou dJs populações. Elas geralmente parecem seres· um período um pouco mais longo a uma temperatura ligeira- menres. Por exemplo, à medida que cresce, a cipericea da areia (a) 60m' 100
rimuladas por algum tipo de fenômeno sazonal externo (por mence mdis alui (Richards e Walofl; 1954). Isro assegura que Carex arenaria rende a acumular gemas dormentes ao longo 15.000
,e_-
o
exemplo, a mudJnça no comprimenro do dia) e às vezes tam- os ovos não se1J.m ,ü"erados por um curco e inesperado período do seu rizoma predominancemence linear. Essas gernJs podem (b) 150m2 100 ~
o
bém por um relógio fisiológico interno_ Ebs são muitas vezes quence no inverno, seguido por condições normais frias e pe- permanecer vivas, porém dormentes, por longo cempo após as 7.500
j
precedidas por profundas mudanças fisiológicas, como o rigosas. lsro significa rambém que ocorre um aumento da sin- partes aéreas (com as quais elas foram produzidas) cerem mor- (e) 3SOm 2 100 õ
acúmulo de gordura no corpo. Estas migrações representam cronizJção do desenvolvimento subseqüente da popul.ição rido. Nobel e colaboradores (l 979) enconcraram para esra es- 20.000 o !
~
escrarég1as que evoluíram em ambientes onde evenrns sazonais. como um todo. Os gafanhotos ''migram no [empo" no final pécie 400-500 gemas por m' Elas desempenhdm um papel (d) 170m' 100

como mudanças cíclicas na temperatura ou precipitação plu- do verão acé .1 primavera seguinre. anáJogo ao do banco de sementes produzido por outrlS espécies.
3.000 o ~
viométrica, são repetidas ano a ano. Há. contudo, um cipo de A diJpaus,1 é umbém comum em De faro. o hibiro de deciduidade. amplamence difundi- (e) 40m' 100 8.
o
migrJçâo que é tática, forçada por eventos como as superpo- espécies que apresenum mais de uma
a 1mpor:ànc1a do
íotoperis,:!o do entre as plantas, é uma forma de dormência exibida por
3 700
(I) 150m' 100
i
pulJções, não aparenrando nenhuma regularidade ou ciclo. Esre
ripo de migração é mais comum em ambientes onde as chuvas
geração por ano. Por exemplo, a mos-
ca-das-frutas (D1füophi!t1 obscura) passa por quarro gerações por
muitas árvores e arbusws perenes. Em dererminados perío-
dos, geralmence com temperaturas baixas e níveis luminosos
12.000 o i
nJ.o s.i.o sazonais. São exemplos as migrações de gafanhotos em
regiões .iridas e semi-áridas, cJu:..adora:i de devascações no am-
ano n,l Ingbrcrr.i, mas entra. em diapausa duranre apenas uma
del..1s l Begon, ! LJ:76). Esta diapausa. ftculriuiua comp,urilha ca-
haixos, os indivíduos esrabelecidos perdem as folhas e redu-
zem a arividade mer.1bólica.
Três cipos de" dormê11ci,1 rêm sido
(g) 150m'
12 000
(h) 150m2
100
o
,ao
1
t-

bience, muicas vaes trJzendo c.1mbt'm d.mos econômicos. rJcterísrH....h impurr.1mes com a diJpaus.1 obrig.1córiJ: ela au- 12.000
men ca a :.obre\"ivênciJ dur:rnce um período de in,·erno pre,·isi- di~ringuidos: 1 1 1 1 1 1 1 1
\·elmence .1Jn'.r~o. e é experimentad.1 por adttltos d.e diapJttSJ 1990 1995 2000
Ano
ô.5 Dormência: migração no tempo resistente. ,.,om desenYolvimenco gonadJI interrompido e gr:m- 1. A donnência mata é um esrado em que há unu nc:cessida-
des qu.rnrid.ades de gordura abdominal esrncada. I\iesse caso, a de absoluta de um estímulo exrerno e~peciJl par.1 reativar
FIGURA 6.8 Os ciclos de oito clones da vara-de-ouro do M1ssouri
Um organismo ganha em Jirness .10 dispersar su.1 prole por sincroniz.:1ç:io S: conseguida não somente durance .1 diapausa, o processo de crescimento e desenvolvimento. O esrímulo (Sof,dago missouriensis) (linhas de a-h). Para cada clone, a área an-
canto cempo que possibilire que ela renha descendentes. Simi- mas rambém Jll(es desra. Os adulcos recém-emergidos reagem pode ser a presença de água, remperacura baixJ, luz, foto- tes da desfolhação (m 2 ) e o numero estimado de rametas são mostra-
larmenre, um organismo aumenta seu Jimess recardando sua aos dias curcos d.o outono por meio do depósito de gordura e período ou um balanço apropriado de r.:1<li.1ções verme- dos à esquerda. Os painêis mostram um registro de 15 anos da pre-
sença (sombreado) e ausénc1a de rametas em cada territóno de clo-
acividade, contanto que o retardo aumente suas chances de ter da enrrada no e:>udo de diapausa; eles recomeçam o desenvol- lho-próximo e vermelho-distante. As plàntulas de rais es- ne. As cabeças de setas indicam o início da dormência, produzida por
descendentes. Isco será o caso quando as condições no futuro ,·imenro corno respost.1 aos dias mais longos da primavera. As- pécies tendem a surgir em manifesraçóes súbirJ'i de germi- uma erupção e desfolhação de Tnrhabda canadensis. A reocupação,
se apresentarem melhores do que as do presente. Assim, um nação quase simultânea. A deciduidade é umbém um por ramelas de pós-dormência. de segmentos inteiros ou parciais dos
sim, como muir.is outras espécies, comando com a previsibilid.1-
territórios onginais dos clones ê expressa como porcentagem do ter-
rerJrdo no recruramenco de um indivíduo em uma população de do fornperíodo p.lía o desenvolvimenco sazonal. D. obsrnm exemplo de dormência inata. ritório original de cada clone (segundo Morrow e Olfett. 2003)
pode ser considerado como migraçâo 110 tempo. entra em um escado de diapausa preditiva confinada àquelas ge- 2. A dormência forçada é um estado imposro por condições
Os organismos, na maioria das vezes, passam pelos pe- rações que ine\·irnvelmenre passam por condições adversas. externas (ou seja, eh é uma dormência subseqüenre). Por
ríodos de recardo em um estado de dormência. Esce estado A dormen..:ia subseqlleme pode evoluir em ambientes reb- exemplo, J vara-de-ouro do Missouri (So/idago 1ntiSOttrie11- não conseguissem germinar no campo. Wesson e Wareing
rdati\·amenre inativo apresenta o beneficio de conservar ener- tivJmente impre\"isíveis. Em tais circunsrâncias, ser.i uma des- sis) emra em um estado de dormência quando Jt,lCada pelo ( 1969) tiveram uma idéia inovadora ao coletar amostras de
gia, a qual pode ser usada duranre os períodos subseqüences vantagem responder às condições adversas somente .1pós elas re- besouro Trirhabclz cmwdensú. Oito clones. idenrific1dos solo do campo à noite e levá-las ao laborarório no escuro. As
ao rerardo. Além disso, a fase de dormência de um organismo rem ap.irecido, ffiJ..S pode haver compensação pelas \"Jntagens de: por marcadores genéticos, foram acompJnhados anres, du- amostras exposcas à luz produziram uma grande quanridade
freqüentemente é m.lis tolerance às condições adversas que (i) rõponder is condições favoráveis imediatame11te J.pós elas rea- rame e após um período de desfolhaç:10 sevefd. Os clones, de plântulas. Este tipo de dormência induzida é responsável
prc:valecem no ambienre durante o retardo (isco é, tolerante a pan:cen.:rn e (ii) entrar em um esrado de dormência somence se .is que variaram de 60 a 350 ml em dimensão e de 700 a pelo acümulo de grandes populações de sementes no solo. Na
seo, temperaturas extremas, pouca luminosidade e assim por condições .1dvers,1s re-a.lmenre ocorrerem. Desse modo, os muitos 20.000 rizomas, não conseguiram crescer .1cinu do solo natureza, elas germinam somente quando são levadas à su-
diante). A dormência pode ser prerlit1t·i1 ou rnbseqliente (Múl- mamíte'.ros emram em hibernação (após uma fase preparatórÍJ (ou seja, ficaram dormentes) na esuçáo segui me ao de')fo- perfície do solo por minhocas ou animais que fo.zem tocas, ou
ler, 1970). A dormência prediúv{t é inici.1da .rntes das condi- obrig;uóriJJ em re~posra direta às condições adversas. Tendo a..l- lhJmemo e aparentemente morreram. Porém, eles reapa- por exposição à luz após a queda de uma árvore.
ções Jth·ersas, e e muitas vezes enconcrada em ambienres pre- c.111çaJo a '"rc:sisrênLia" por poupar energia, por meio da diminui- rei.::eram l a l O anos .1pós terem desaparecido, e :-.ei, dos
\·i~ívcis, sazonais. Ela é geralmence referidJ como di,1pawa em çJo d.1 remper.Hur.1 corporal. e tendo periodic.rn1eme emergido e oiro ressurgir.un vigorosamenre em urn.1 un1c.1 esnç.í.o A dormênci.1 em sementes pode ser induzida por radia-
,rnimJis e como dormê:ncia primá na ou inata em plantas (Har- mon1tnr:1do ~eu ,1mbienre, eles finalmenre rodem Ce')sar a hiber- (Figura 6.8). Gera.lmenre, a prole de uma únic.1 pLrnta com ç:í.o que contim uma razão rdaciva111eme J\c.1 de comprimen-
pt.:í, 1977). Dormc'.nci.1 Jllhfeqt1t·11re ou St'omrlâri,1, por ourro ,u~.í.o qurndo .1:-. J.d.\ersidades desapJrecem. dormênci.1 forçadJ pode ser dispers.1 duranc.: .ums, déc.1- ro~ Je ondJ de vermelho-lfocanre (750 nm) p.uJ vermelho-
lado, é iniciad.1 em rcsposca :ts condições adn:r,as. d.1s ou mesmo séculos. Sementes de Che11uporino11 ,dh11m, próximo (Jprox1m:.1<lamente GGO nm). um.1 composiç:í.o es-
coletadJ.s de escavações arqueológiDs, se moqr.1r;trn viá- pectral caracterísuca de luz fütrad.1 na passagem pel.1 folha-
6.5.2 Dormência em plantas veis com 1.700 anos de ,Jade (0dum. 1965). gem do dossel. Na 1ucure-1a, i:;w deve- rer o efeiro de reter r:m
6.5.1 Dormência em animais: diapausa 3. Donntnda induzida é um estado produzido em unu sc:- estado lacence as sementes ~ensíveis mantidas no solo sob um
A dormC:nciJ de sementes~ um fenômeno ampbmence difun- mente duranre um período de dormência forç;1J.1, em que dossel, liberJ.ndo-as para a germinaç:ío somente quando desa-
A diJpausa tem sido mais intensarnc:nte esrudada em insems, dido c:m p!Jnus florírCr,ls. O embrião jovem cessa o desenvol- ela adquire alguma nova necessidade ances d.e poder germi- parc:cer a cobertura vegeul sobre elas.
cuios exemplos ocorrem em rodos os escigios de desenvolvi- vunento enqu,lflto ;linda escá ligado :i pLmta-m.íc:, perdendo nar. As sementes de muiras erv:.1s-dJninha..s em cultura.s 1grí- 1Yluicas J.as espécie') de plantas que possuem semenres
mento. O gafanhoto comum do campo Chorthrppus brwmew muHo de ~llJ igua e tornando-se dormente em uma condiç5.o colJ.S germina.m sem um estimulo luminoso, quJndo libe- resistentes e que persistem no solo são anuais ou bienais. Essas
é um exemplo típico. Esu espécie J.nual passa por uma dla- de des~ech;:í.o. Em determinadas espécies de plJntas superio- radas da planc.i.-nüe; porém, após um periodo de dormên- espécies são principalmence herbáceas - oporrunisras à espera
pausa obrigatdria em seu esdgio Je ovo, que, ao parar seu desen- res. ni~ cnmo J!gumas de mangue, um período dormenre ine- cia forçada, elas precisam de expo~·iç.í.o à luz p.lía germin.1r. (liceralmence) de uma clareira Elas nlo dispõem de car:.1cre-
volvimenro, roma-se resistente às ..:ondições de inverno rigo- xiscc:. m.is isrn ~ urna exceção - quJse todJ.s JS ')ementes são Durante muirn tempo, foi um enigma o faro Je .unmcr1s rísricJS que JS dispersem exrensi,·am<'.'nte no esp:.1ço. As semences
roso, LJpaz de macar J.S ninfas e os adultos. De faco. os ovos dormenct'.~ quJndo se desprendem da plama-m.íe e requt'."rem Je solo rrazidas para o laboratório gerarem pronramenre de árvores, ao concrário, gerJlmence apresenram curtos perío-
necessiram de um longo período de frio antes de reiniciar o cerros estímulo) p.1ra recornar a um esrado ~uivo (germinaçJ.o). enormes quJntidades de plâ.nculas, embor J e:>S,h sementes dos de dormência no solo, sendo diflCil estocá-las por ma.is de

l
172 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 6: Ü1SPERSÃO, ÜORMÉNCIA E METAPOPULAÇÓES ] 73

um ano. As sementes <le muicas árvores tropicais são parri- no fenótipo de alelos deletérios recessivos. Com dispersão li- ocorrem com os progenicores. Isso foi discutido em um estu- dispersão (dispersão efetiva) foram menores em altas densid.1-
cularmeme de vida curra: algunus semanas ou mesmo dias. mitada, torna-se mais provável a endogamia e, desse modo, a do clissico por Hamilron e May, em 1977 ( ver também Gan- des (relação inversamenre dependenre da densidade) (Figura
Entre as árvores, a longevidade que mais chama atenção é en- sua eviração é uma força que favorece a dispersão. Por ou[ro don e Micha!Jkis, 2001). Eles demonsrraram que, mesmo em G.10). Para os machos, isto ocorreu prlncipalmence por cau.~a
contrada naquelas espécies que retêm as sementes em pinhas lado, muitas espécies mostram adaptação locaJ ao seu ambien- hábicacs muiro esrávei'>, rodos os organismos estarão sob uma de que eles se moveram menos entre a independência juvenil
ou frutos secos, soltando-as após eventos de fogo (muitas es- re imediara (ver Seção 1.2). A dispersão por longJs disráncÍJs, fone pressão seletiva p.1ra se dispersar da sua progênie. lmagi- e a reproduç5.o. Para as fêmeas, isco ocorreu porque a taxa Je
pecies de Euc,dyptw e Puws). Esre fenômeno de serorinia pro- porcanco, pode reunir genótipos adaptados a diferemes sittu- nt' uma população cujJ maioria dos organismos tenha um ge- sobrevi\·ência foi menor em novos locais habitados, quando a
tege as semenres contr.1 riscos sobre o solo aré que o fogo crie ções locais, cujo cruzamento origina descendentes de baixo nótipo não-dispersivo, O, mas com um raro genótipo muran- população se enconrrava em alw densidades (Jones, 1988).
um Jmbienre favor.ivd pJ.ra o seu rápido estabelecimenro. fimm, adaprados a nenhum hibirar. lsru é chamado de '"de- re, X. que numém alguns descendences no hábicar, mas in-
pressão exogâmica", resultante do surgimenco de combinaçües cumbe oucros J dlspers:ío. O dispersar X não sofrerá competi-
co-adapcadas de genes - uma força aruJndo contra a disper- ç:ío com o seu parente próximo O, mas sim com outros orga- 6.6.3 Filopatria
6.6 Dispersão a densidade são. A sicuação se complica ainda mais quando a depressâo nismos tipo O não-aparenudos. O dispersar X direcionará a
endogâmica é mais provável entre populações que normalmente nuioria de seus efeitos competitivos para organismos náo-apa- A dispersão ef"etiva não C: exatamence dependence da densida-
A emigração dependente da densidade foi considerada na Se- se cruzam exogamicamence, uma vez que a própria endog.1- renudos (com genótipo 0), enqu.rnro O direcionará todos os de, J.O menos em pane, porque existem cambém forças sdeti-
ção 6.3.3 corno urna re'.'!posca freqüente ao sobre-adensamen- mia depura as populações de seus recessivos deletérios. Entre- ,eus esforços comra seus parente~ (também com genócipo O). vas em favor da não dispers3.o, mostrando, em vez disso, J a\-
co. Recomamos c.~rJ que::irJo da di:,persJo sendo dependeme da tanto, pode-se esperar que ,l seleç5.o nacural favoreç.1 um p.1- Com isso, X renderá a aumentar sua freqüc"=ncia 11J popul.iç.io. sim chJmada filopauia ou comporcamento "caseiro" (Lambin
Jensidade e umbt:ni ljll,IÍ\ .'láo as forç,ts e\·olucivas que podem Jrão de disper.<.áo qut:. de certo modo. :-,ej.1 intermediário - Por nutro l.1do, se a nuiorÍ;1 d.1 popul.içJ.o for do lipo X, com t:t ,d.2001 ). Esre comporramenco existe porque h.í cenas v.rn-
rer conduzido esc,1 Jcpendênc1a. Assim procedendo, C: 1mpor- nuximiz,.1.ndo o fiou·ss :10 evir:11 tanro unu depress.lo endug)- U \t.:11do raro, e~te nJ.o .wment.uia. uma. vez qu:: O náo conse- ragem de <;e pcmunecer no ambiente familiar; 0L1 os indl\ í-
c.1nce ter em memc .1 quescão inicial (vej.L Seção 6.1.1 ): que a mica quanw exogâm1u. embora esras cLu.1.m1.::nte não si:ráo .1s guiri.1 desloCJ.r X de St'US locais, compecindo com dispersares duo'.:I podem cooperar com ourros (ou ao menos serem prep;i-
dispersão "efc:ci\·a" (<le um local a outro) requer emigraçJo, crans- únicas forças seiecivas agindo :-,obre a dispersão. muiro próximos .1 ele. no seu locJI de origem. A dispersão, ra<los pJ.ra se colerarem) da mesma família, que possuem alta
ferência e imigraç..lo. A.-. dependências de densidade nJ.o precisam Cercamente, em planras, existem J,versos exemplos de pnrc.rnto, é enurad.1 como sendo uma estratégia evoluciva es- similaridade genética; ou os indivíduos que dispersam podem
se dar iguaJmeme em rodos estes três processos. depressões endogâmlca e exogimica, qu,.1.ndo o pólen é uan'.,- e;l\ d ( EEE; ESS, de t'uofutwnari~)' ftabl,· stmtegJ•) (Maynard- ser confruncados com uma "b.trreira soci.1!" de agressões ou
ferido de doadores próximos ou discantes, e, em alguns casos. Smirh. 1972; Parker, 1984). Uma população de indivíduos incolerânclas de grupos nâo-aparencados (Hescbeck, 19821.
ambos os efeitos podem ser demonstrados em um único expe- !Úo-dispersados cendt'rá J. evoluir para um comportamento EstJ.S forças, igualmence, podem corrur-se mai~ incensas à me-
6.6.1 Endogamia e exogamia rimento. Por exemplo. quando a prole da espora (Delphinium di'.,persivo; por curro lado, uma população de indivíduos dis- did.1 que o ambience fica mais saturado. Por exemplo, Lambin
nelsonii) foi gerada por meio de polinização induzida de pbn- per!>ados tender.í a n:í.o perder esc:1 característica. Evitar a com- e Krebs ( l 993) descobriram que, com o raro silvescre de Town-
Muiw desce capímlo é devorado para as conseqüências demo- ras disranciadas a l, 3, 10 e 30 merros (Figura 6.9). ranro .1 pcriç.l.o parema! e a endogamia, porranro, se consegue via pro- send (Afiaotfü townsendii), no Canadá, os ninhos ou centros
gráficas ou ecológic.1s dJ dispersão, mas há também conse- depressa.o endogâmica quanco a exogâmica foram aparentes. ccs'io de emigração quando as populações se enconrram em <le atividctde das fêmeas mais próximas eram de parentes próx:-
qüências genéricas e e, olucivas imponanres. Qualquer '·con- :dcas densidade<;, momento em que elas são mais incensas. mos (m:i.e~ e filhas, irmãs de uma mesma ninhad.t), compar.r-
seqüência" evoluciv.1 C, 11acuralmence, força seletiva pocencial- H.i, de faco, e\·idênciJ.s par.1 que a competição exerça
mence importante favorecendo p.1drões específicos de disper- 6.6.2 Evitando a competição parental um papel a fim de que J prole se disrancie do seu hJbirat natal
sa.o ou a tendência de se disper.<.ar. Particularmente, quando (Lambin et ai.. 200 l ), sendo, no enranro, muiras delas de for-

ºl ºl
indivíduos aparentados ~e reproduzem, sua prole provavelmen- Evitar a endogamia não é, <le faro, J. única força a favor d.1 ill.l indireta. Por exemplo, no camundongo dJ Califórnia (Pe- (a) Baixa densidade Alta densidade
te sofre uma "depress.l.o endogâmica'' no Jiwess (Charles1,vorth dispersão natal da prole. Tal fato pode também ser favorecido rom_J1ffus californicus) a distânci.t média de dispersão aumenca 2 2

e Charlesv..·onh, 1987), resultante e.<.pecialmente da expressão uma vez que diminua o resultado dos efeitos compecirivos que com o ramanho da prole em machos e, dentre as fêmeas, com
o aumento no nümero de irmãs nJ nlnhad.1 (Ribble, 1992). ]
_g 10 10
Q_uanro maior o número de parentes circundando um jovt"m
indi\·íduo, maior é J SLIJ dispersão. i
E
(a) (b) (e) ~
0,9 L1mbin e colabor.1dores (2001) concluíram em sua revi-
\:lo, LOnrudo, que, onde há cbra t\"idência para a emigraçáo
z
o o

i!7º~ 60
I4 _.......,..
,.,..-'I 0.8
0.7
"" dependenre dJ de111id.1de (,er Seção G..l.3J. hi pouca evi·
d~ncu par.1 que a dispers:ío ''eferiv.t" (emigraç.io. tr.msferên-
(b)
o
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·,"' 2 0 L
o 50 o :,-' 0.6 A, ci.1 e irnigr.tçâo) sej.t dc:pendenrc d.1 densidade. Isto em pane é 20l
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a 3 " e ..:JU'.,Jdo porque .t imi~raç:io (e CJ!Ye7. J. rr.rn':.ferênci.1) possa ser ~
§ • .. 2
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inibida em densid.tdes muiro alus. Por exemplo, em um esru-
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,;: 0.3 anos com densidades v.iriad.1s. a dispersão foi monit0r:1.dJ ini-
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201 § 0.2 cialmente após os juvenis tomarem-:ie independentes dos seus o~gggg
~íí~~
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lO O,l pais, e novamente após sua sobre ivência e primeira reprodu- :;:; § ~ :;:; § §
~
(:. o.o ção. Este roedor ocupa um complexo sis[ema de túneis con-
lO 30 10 30 10 30
rendo reservas de Jlimento e esres túneis permanecem mais ou
menm constantes em número: as altas densidades, desca for-
O,stàncla percorrida para
o primeiro acasalamento (m)
D1stãnc1a do cruzamento (m) Distância (m) Distância (m)
:11a, levam a um ambiente s.tturado e com incensa competiç5.o
FIGURA 6.10 Dispersão efetiva inversamente dependente da dens,-
FIGURA 6.9 Depressões endogãm1ca e exogâmica em Delphmium nefsonii: (a) tamanho da prole no terceiro ano de vida: (b) longevidade da
(fones et ,d., 1988). A densidade 11;\o teve nenhum efeito em dade para o rato·canguru (Oipodomys spectab1l1s): (a) machos. {t)
prole e (e) !Jtness geral da prole. parâmetros em que todos foram menores quando a prole foi o resultado de cruzamentos de pólens tomados rdaç-1.o à dispeisão pós-independência juvenil, (ou seja, na fêmeas As distâncias para a dispersão natal foram maiores em ba ·
de 1 a 30 metros da planta receptora As barras verticais indicam os erros-padrão (segundo Waser e Price. 1994). emigraç5.o); porém. p.1ra .1 primeira reproduç:io, as taxas de xas e não em altas densidades (segundo Jones. 1988)
1 74 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 6: D1sPERSÃO, DoRMÉNCIA E METAPOPUtAÇôEs 175

dos aos de oucros graus de parentesco (irmás de outras ninhadas, e.as sementes (um:i. a crês) de tamanho gr:i.nde (em aquênios), J. 6.7.2 Diferenças relacionadas ao sexo te dependente da densidade. Especialmente o fato das altas
tias e primas). Outros ninhos não-aparentados escavam mais dis- parrir de flores que permanecem fechadas abaixo da superfície do raxas de dispersão em baixas densidades favorece o argumenco
cantes ainda. Em um estudo com os esquilos de Belding (Spermo- solo. Essas semences germinam no mesmo local da planca-mie. ~fachos e fêmeas muiras vezes diferem na sua necessidade de da pressáo seletiva a favor de se evicar a endogamia.
phi/w helding,), mesmo quando as fêmeas se dispersavam, elas O siscema de raízes das plánculas pode aré crescer para baixo, se dispersar. As diferenças são especialmente grandes em algu-
tendiam a se fixar próximas às suas irmãs (Nunes et ai.. 1997). arravés do "c.rn.11" de raízes mortas da planta-mãe. Porém, essas m.1s espécies de inserns, em que o macho geralmence é mais
i\1ais ainda, há exemplos de fimess sendo maiores quanm ma.is mc:smas pbmas rambém produzem sememes pequenas acima do ~uivo na di!:.persão. Por exemplo, no caso da m.1riposa <lo in- 6.8 O significado demográfico da dispersão
próximos dos pais. Por exemplo, Lambin e Yoccoz (1998) mani- solo, com p.1pus plumoso, o que lhes permite a dispersão pelo verno (Operophrera brwmun), J.S ft:meas Slo <iprerJs e os m.1.-
pularam o parencesco de grupos de fêmeas do roedor M. tow1He11- venro. Em anos muico secos, são produzidas apenas )emenres sub- chos são alados. Em um escudo pioneiro, Greenwood (1980) O fato ecológico da vida identificado na Seção 4.1 enfatizou
dii, rea.l1zando uma situação em que a população apresentou re- rerràneas não-dispersadas, porém, em anos mais úmidos, as plan- comparou a dispersão relacionada ao sexo em .1\·es e mamífe- que a dispersão pode ter um efeito pronunciado sobre a dinâ-
cruramenro filopátrico seguido por uma alca sobrevivência ("alco tas crescem vigorosamente e produzem um grande número de ros. Encre as aves, é comum que as fêmeas se Ji-;per:iem, mas, mica das populações. Na prática, contudo, muicos escudos
parentesco") e omra na qual a população experimencou baixo sementes .1.cima d..1 superfície do solo. as quais são expastas à dis- c::ncre os mamíferos, a dispersão é freqüente p..1.ra os machos. deram pouca atenção à dispersão. A razão muitas vezes dada é
recrucamenm filopácrico e alta morcalidade encre os recrutados persão (Koller e Roch, 1964). Por um lado, as explicações e\·olurivas para uma tendência que a emigração e a imigração são aproximadamente idênricas
("'baixo parenresco"). A sobrevivência dos filhoces, especialmente H.í muitos exemplos de dimor- c::nrre um dos sexos enfatizam as vancagen~ em minimizar a e que, porranro, neucralium-se mucuamence. Uma suspeita,
logo após nascer, foi significacivamenre mais alta na primeira si- fismos em sementes entre as plantas ~ndogamia, mas, por outro, as particularidades do sistema de contudo. é que a real razão reside no faro de ser exuemamence
rnação ("alto parentesco"), comparada 3. segunda manipulaçá.o. floríferas. Trnto .is sementes dispersa- .1-..:a_.;alamento podem gerar uma assimerri.1 entre os cuscos e difícil de se quancific..1r a dispersão.
Resumindo, enrão, .1 rel.içáo emre <lispers.lo e densidade d..1.s qu.rnco .1:i "c.i:,,eir.1s" ('"sttl_Y <ll fwme") produzem proles dj,;. ht:nc.fícim da di:.;persão e filoparria entre os se,o:i (L.ambin et A natureza do papel da dispersáo
<lcpender.i, como rcxias as ourril) .1<l.1ptações, dos compromi)SOS pers,td.t:i e '·c.1)ciras". Além di)so, a semente ··uscir.1'" é muiu, 1d.. 200 l ). Üüse modo, p.u.1. a, .wes, ,l compeei~.ío pelo~ rerri- sobre a dinâmic.1 da!i popul.1ç&s depen-
evolurivos enrre forças conflirances, e rambém de qual é o foco de \"aes produzid:1 subcerraneamence por flores aucopolinizadas rorios é mais incensa encre os machos. Eles teriJm, porra.mo, de de como nós definimos uma popula-
atenção para o .1specrn da dispersão (emigração, dispersão efetiva, ou por flores fechadas, enqu:1nco as semc-1;Ce) dispersadas re- n1Jis a ganhar através da filopatria, em termos de familiariza- ção. A visão mais simples diz respeim a um grupo de indi\·íduos
etc). Não é de se surpreender, como \·eremos a seguir, que oba- sultam freqUenremenre d.1 polinizJçáo cruzada. Portanro, a ten- ç:í.o com seu hábitat nacal. Já as fêmeas (muitas \"ezes monogâ- distribuídos mais ou menos cominuamence sobre um crecha de
lanço adaptativo funcione ditêrentemence para diversos grupos: dência à dispersão esrá ligada 3. posse de no\-os genótipos. re- :11ic.1s) levam vanragem na possibilidade de escolha com qual hábitat adequado, sendo uma entidade indivisível. A dispersão,
machos e fêmeas. idosos e jovens, e assim por diante. Tais varia- combinantes ("'experimentais"), enquanto a prole "c.tseira" é, com m,teho irá se acasalar. Em mamíferos, os m.Khos (muitas vezes então, contribuirá com o aumenm (imigração) ou decréscimo
çõc:s cambém se revelam contra generalizações amplas, sugertndo maior prob.1bilid.1de, o produco da aucopolinizaç.lo. poligamos) podem competir muito mais por uma p.uceira do (emigração) <la população. Muitas populações, conrudo, são de
que a dispersão ocorra "tipicamente" em densidades de pré-satu- O dimorfismo de organismos dispersados e não-dispersa- que por um rerritório e, com isso, é n1.1.is vamajoso conseguir fato merapopulações, isto é, coleções de mbpopulações.
ração (ou seja, ames que a limiração pelo recurso seja incensa) ou dos é r.1mbem um fenómeno comum emre os afídeos (prole ala- ire-.lS para se dispersar com um maior número possível de fêmeas. Vimos, na Seção 6.3.1, a ubiqüidade da fragmentação em
que ocorra em densidades de saturação (Lidicker, 1975). da e prole ápcera). Como esta diferenciação ocorre <lurame a fasç ecologia e a importância da dispersão em unir um fragmemo a
de cre.-.cimenro populacion.tl quando a reprodução é parrenoge- outro. Uma subpopulaçã.o, então. ocupa um fragmento de hábi-
nécica . .is formas aladas e jpreras são geneticamence idénricas . .-\.,; 6.7.3 Diferenças relacionadas à idade tat disponível nJ paisagem, correspondendo, isoladamenre, àquela
ô.7 Variação na dispersão dentro formas abd.is sJo claramence mais capazes de se dispersar para descrição mais simples do conceito de uma população. Porém, a
de popuiações no\"os h.ihir,us, tendo, no emamo, um cempo de desenvol\"imen- Cr..1.nde pane da dispersão é natal. ou sej..1, dispersJo por ju\"e- dinâmica de uma metapopulação como um cada é decermlnada,
to maior, f{'.cundidade mais baixa, menor longe'"idade e, portan- nis ames que se reproduzam pela primeira vez. Em muitos em grande parte, pela taxa de extinção de cada subpopulação e
6.7.1 Polimorfismo da dispersão to. re<luzid.1 taxa intrínseca de crescimento (Dixon, 1998). Nâo é táxons isco é constitucional: como já discutido, J. dispersão de pela taxa de coloniz.1ção - pela dispersão - de fragmentos inabi-
de :ie surpreender, por isso, que os afídeos possam modificJr a semences é típica naral. Do mesmo modo, muiws invertebra- ráveis. Destaca-se. contudo, que não significa que só porque uma
Uma fome de variabilidade de dispersão dentro de populações é proporç.lo de formJS aladas e ápreras como uma resposta imedia- dos marinhos possuem um esd.gio adulw sc'.ssil (reproduriva) população de uma espécie qualquer que ocupa mais do que um
um palimorfismo somácico entre a progênie de um mesmo indi- ta ao ambieme no qual se enconcr.un. O afídeo da ervilha (Aqr- no qual larvas são lançada!:. (idade pré-reprodum·a) p.ira a dis- hábirat, c.1da um desce suportando um determinado nível popu-
viduo. Isco escá muico associado com hábicacs que são variáveis tholtplw11 pis1,111), por exemplo, produz m ..iis form.1.,; aladas na pre- Fer<ío. Por oucro lado, a maioria dos insetos possui um estágio lacional, esca seja considerada uma metapopulação. Conforme
ou imprevisí'"eis. Um exemplo clássico pode ser visco na planta sença Je predadores (Figura 6.11 ), presumivelmente como um.1 sé~sil e um escágio :idulro apto à dispersão. Em gc:r.11. para es- discutiremos a seguir, o umw "clássico·• de mecapopulJçâ.o é con-
anual do deserto Gy,mzmrhena micramha. Ela porca muiro pau- re~po.-.r..1. de escapç J um ambienre adverso. picies ireróparas, a dispersão ocorre através da fase de vida adulta, ferido somence quando a excinçâ.o e a recolonização desempe-
-!nte,; e após o primeiro episódio reprodutivo; iuu e,pécie, se- nham um papel principal na dinâmica global.
rndp.uas. ,1 dispeVião é ine\'icavdmcnre nau!.
:\\·e:,, e m.imíferos. unu \ez emplumado.-. ou de:imama-
(a) (b)
,J\h c indepcndenres de ,u.1s m:io, po:-.sucm Lnnb..:111 o poren- 6.8.1 A modelagem na dispersão: a distribuição
80 80
;.:,tl p.irJ se dispers.1rcm por rndo o re~to Je ~u.1~ \ 1J.1s. :\J.o de manchas
70 70 '-*,:"') ob~r.tnre, muirn d.1 dispers5.o ncsce caso umbém é rural (\X'olff.
~ l 997). De: foro. rendências para J <li!:.persâo entre os sexos e Os modos com os quais a dispersão incer\"êm na dinâmic.1 d.ts
T
•.
'.6 60 60
T e111 rdaçáo às idades, e forç..1.s p,1ra e\"it.u endog..1.m1J, compeci- populaçõc:s podem ser examinados ou Jté modelados nurem.1·
T
m 50 50
T \·,io e filoparrí=t, estão wdas incerligadas em rel.1\:10 Jos pa- ricamemr: de crês diferences maneiras ( ver Kare1va, 1990; Kee-
~
40 40 drões de dispersão obser\"ados c"ntre os m.1mifc>ro). Por exem- ling, 1999). A primeira é utilizando uma abordagem de "ilha"
~ T
FIGURA 6.11 A proporção média {z erro-
~ 30 30 padrão) de íormas aladas do afídeo da erv1- plo, em um experimenco com o rato silvestre da uudJ cinzen- ou "espacialmenre implícita" (Hanski e S,mberloff. 1097:
i T T lha (Acyr1hosiphon p,sum) produzidas após u ()vficrotw cmzicaudus). 87 ~10 dos macho) ju\"en1;; L" 3-'./h:i das Hanski, 1999). A idéia básicl é que uma proporç.ío de ,ndiví·
m
20 20 drns períodos separados de exposição a drns
",;,. predadores (a) larva de d1ptero s,rtideo e
fê'.me,1s juvenis se dispersaram dentro de quJcru semanas de duos saia de seus locais de nascimento (manchas), consriruin-
10 10 {b) larva de neuróptero. As barras escuras upmras iniciais. em situações de baix.1 densi<l,1dc:, sendo que do-se em um grupo de dispersos que são então redisrribuídm
1nd1cam o tratamento com predador e as ,tpen.1s lGq,o e 12°/o. respectiv:1mence, o fizer..1.m :::m siru.1ções entre J.S manchJs disponiveis. geralmence ao acaso. ~este mo-
barras ctaras indicam o controle (segundo
Periodo 1 Periodo 2 Período 1 Período 2 Kunert e Weisser. 2003)
Je .ilra dc-n!:.idade (\Volff ,•t ,d. 1997). A disper-..í.o fo1 massiva, ddo, as manchas nJ.o possuem qualquer especifi.cilÍJ.de ~sp.1-
p,tnicuLi.rmenre encre os machos, com um et"eiw 1n\"ers.1men- cial. A princípio, rodas as manchas podem ganhar ou perder

------
l
l 76 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 6: 01SPERSÁO, DoRMÉNCIA E METAPOPULAÇÓES 177

indivíduos arrav<::s da dispersão, sendo todas as manchas igual-


mente disrame:, umas dJs ourras. 1\tluiros modelos merapopu-
lacionais, inclumdo o primeiro na lireramra (modelo de Levin,
ver a seguir), se encomram nesca categoria, e, a despeiro da sua 0,8

simplicidade (manchas reais possuem uma localização no espa-


ço), ele rem promovido importantes descobertas, em pane pela
facilidade de an..1lis.u os dados envolvidos. 0,6

Por ourro Lic.iu, os modelos que levam em consideração a


i!.
o
quesrão espacú! sa.bem que as disdncias variam entre as man-
lg
chas, influenci,1ndo assim nJ. troca de indivíduos arravés da
dispersão. O primeiro moddo, desenvolvido pela genética de . 0,4

populações, foi o de '·rrampolim" lineM, em que a dispersão ~ 0,2


ocorre someme encre manchas adj,Kentes se estes se encontra-
rem inseridos dentro de um determinado "caminho" (Kimura
e \Veiss, 1964). :\Li1s recenremenre. aborda.gens espJciais rêm
envoh-ido modelo:. ··c:111 Lntrelaç.1menco", 1~os quais as nun- o
o.o 0.2 0.4 0.6 0,8 1.0
ch.ts est.1.o .1rr.rnj.1J.t) dencro de um.1 grade {geralmente qua- Perda de háb1tat (D)
drangular) em rnd1\·íduos se dispersJm para aquelas manchas
mais próxim.1:, - mais prov;1\·dmeme entre os quatro circun-

•••
dJnres, ou oiro, incluindo movimenrns diagonais (Keeling,
1999). f~ claro que. J despeiw de le\'J.r em consideração o espa-
.1922
ço, estes modelo, S:iu caricamrJs dos reais arranjos encontra-
dos nJ. narureza. NJ.o obsrame, res.salr:un os p1drões dinâmi-
.1930 D 19s2

cos que devem ser incorporados, não somente em relaçáo ao


ITJ 1935 D 1960 FIGURA 6.13. Expansão do besouro do

espaço (\'er, por exemplo. a Seção 10.5.G). mas também em


D 1945 ~ 1964
Colorado (Leptinotarsa decemlineata) pelo
continente europeu (segundo Johns:rn.
relação Jo tempo, incluindo, por exemplo, a cresceme proba- 1967).

bilidade de extinção global de rnerapopuL1ções quando o hábi- FIGURA 6.12 Numa série de modelagem. quanto mais se aumenta a
rat é destruído (Figura 6.12). l\1odelos espaciais mais recentes fragmentação do háb,tat (eixo x). a fração de locais ocupados (eixo y)
dimrnui até que se tenha extinção global A linha diagonal pontilhada
se propõem cl ser mais ''realísticos" (ver Hanski, 1999). incluin- mostra a relação de um modelo espacial em que todos os locais es- 6. l-4). Porém não houve muda.nçJ na distribuição de C edenw!tr duos que ocupam esta posição são tão reais quanro aqueles que se
do informações ,t respeito da real geomerria ou fragmentação da tão igualmente conectados. Os pontos mostram o rend1m~nto de um
-10 longo do tempo. Em vez disso, um grande nümero de semen- siruam n.1 média. lsro também ocorre com a dispersão. Por mui-
paisagem. Um dele:,, o "modelo de fi.mção de incidência" (Hanski, modelo em entrelaçamento: os valores representam a média de cinco
réphcas (o modelo é probab1listrco. cada trajeto é um pouco diferen- tes produzid,ts na zuna próxima ao nur foi dispersado para J.S us razões, é razoável caracterizar as taxas de dispers.1.o e as disd.n-
l 994b) será apresem.ido a seguir (Seção G.9.4). te). Três exemplos do modelo em entrelaçamento são apresentados jre:is eira.das. De faro. as planta..'. germinadas nestas duJ.S zonas cias percorridas em termos do que é típico. Porém, quando o
Finalmerne. a rerceiu abordagem trata o espaço não como abaixo do gráfico, com 0,05, 0.40 e 0.70 dos fragmentos destruídos
(or.im provenientes de sementes dispersas, comparadas às plantas foco está direcionado para a expansão de uma espécie em um
manchas (com ou \Cm hábir:u). mJs .sim como faixas conrí- {preto). Com baixo mvel de destruição (à esquerda), um modelo que
leve em consideração o espaço parece dispensável, uma vez que os rt"'iidenres. A disrribuicio e abundância de C edentuía deveram- lübitat que não esrava previamente ocupado, aqueles propágulos
nu,1s e homogCnea:, de maior a menor qualidade de hibirar, fragmentos permanecem razoavelmente bem conectados. Porém. ')C: direnmenre à dispt:;são d.ts sementes pelo vemo e pelas ond~1s. que se dispersam além do esperado podem ter um,1 grande rde-
com :i. disper~ãu wm:mdo parte de um ~istema de reaç:io-difu- conforme se perde mais háb,tat. as manchas tendem a se tornar mais
Provavdmenre ,l conseqüênci.1 mais fundamental da dis- váncia. Neubert e Ca.swdl (2000). por exemplo, aidisaram a taxa
s.ío, no quJ.l a din.imica em um dJdo local no espaço é consi- isoladas. sendo mais improvável a recolonização. permanecendo as
mesmas muito mais desocupadas do que o modelo prevê (segundo ptl),lo para J dinâmica de popubçôes únicas é o efeito regul.i- de expansão de du:ts espécies de pia.mas, Cr!,ulJetr ovm1de11m e
deradJ. a "re.1çáo" e_ J dispers:i:o, ,l "difusão". EstJ. .1bordagem Bascompte e Sole, 1996) dur dJ emigração dependente dJ densidade (\·er SeçJ.o G.3.3). f)1psacru l)'luestris. Em ambos os casos, eles descobriram que :1
tem sido mais útil em ourrJs j_reas da b1ologi.1 (por exemplo, a Em um.1 escJ!a loc.11, o que foi d1scurido no C..1.pítulo 5 em t.LXJ de expansJo foi fortemente dependente da distância máxima
biologia do de:,en\'ül\'lmrnto). N'áo ob'.)unte o grande nível de rd.1ç:io à morulidade dependeme da densidade se ,1pl1cJ. igu:11- de disper-;;10, enquanto as \'Jriações no padrão médio de disper-
emend1mcnro m,uern:ítico de uis modelos. estes sáo muito ti1r_,r1 defl•mlineatil) no Canad.i, a rax.1 médi,1 de emigr.1çJ.o de
menre à emigrJ.çJ.o dependente dJ densid.ide. Em uma e.'.cJl.1 5.lo. a di.sc.lncias menores, tivaarn pouco deico
-tdequadrn em denh)Jl'~rr.lf" como .1 \';iri,H;,lo e,;pJ.ci..1.I (ou sejJ, a .1Julros recém-eclodidm foi de 97°(i (Harcourt, 19-1) E,te sloli.il. ,l\ con,eqü2'1h.:ia:. d:'.' amhm podem ser mu1rn difere11- A probabilidade de uma espécie irn·.ldir um novo h.íb1r:H
frJgmemaçáo) pode :ier ger.ufa. intei n.trnenre. demro de um sis- cbdu .1judou a emender a :-:ípid.1 exp.rnsJ.o do besouro ru Eu- r:;;s. :\ perda de indidduos pode ser par:t sempre, no tempo t' tem nuis .1 \'er com a dispersào a longas distâncias (e, portanto,
tema. csse11c1,llrnence homogêneo (K.1reiv.1, 1990; Keeling, 1999). ropa em meJdos do século p.1s,;ado (FigurJ G.13). no espJço. Com ,l emigraçJ.o, J perda de umJ populJção pode com a oporrunidade de in\·Jdir) do que com a proximidade de
Um profundo efeito d.t dispersáo sobre a dinâmic.1 de unu çignitlcar o g.1nho de umJ outra. uma populJçJo-fonre, e com a performance do indivíduo que se
população foi \"Ísm em um esrudo sobre Cakile ede,md:7, unu desloca até :1quele local. Por exemplo, foi estudad.1 a invasão de
6.8.2 Dispersão e demografia de populações planta anua.] de verão que cresce sobre :L'i dunas da Marriniquc \ 16 manchas de um urzal de baixJd.1 no sul da f ngbrerra. r1 or
únicas Ray. Nova Escócia. A popubc,.Jo se concemra.va. no meio tb.'. dLt- 6.8.3 Dinâmica de invasão espécies arbustivas e arbórf.".ts, durante os períodos de 1978 a 198 7
nJs, sendo enconrrados menu<i indivíduos em direçJo unto cio (Figura G.15) e de 1987 a 1996 (Nolan et ai., 1998; Bullock <'t ,ri..
Os estudos que tC:m d.1do acençJo ,1 dispersá.o têm remado mJ.r quamo ao continente. jomeme na :Írea em direçJo .10 m.u. Em quase rodos os :tspecros do ciclo de 2002). H.1via quatro tipos Je urza.is - seco, pouco úmido, bem
confirmar J sua imporr.i.ncia.. Em um longo e inrensi\'o esru- conrudo, é que a produçáo de sementes era suticiememenre :1!r.t \'ida, há um caro perigo em imaginar úmido ~ IJ.macenro - e dois períodos, produzindo-se oito con-
do de uma populaçJ.o do ch:1pim-re:1l (!'arus mttjor) próximo a e, a. morta.lida.de, baixJ. o sut!c,enre par.1 que a popubção -;e m.rn- que .1qutlu que é comum ou "normaJ" juntos de d1dos nos quais uma análise foi re:tlizada. P.ua seis des-
Oxford, Reino Unido, foi observado que )7% <los adulros tivesse ano apó,; ano. Nos lnc1is em meio J.s dunas e próximos .w n.1 narurez,1 :-.ej:1 um faro universal, e o tes. um.1 proporçáo significJtiva da \'ariJçâo na perda d:is espécies
reprodutivos eLtm 1migranres (Greenwood t't td .. 1978). Em commeme, a monalid.tde excedia a produção de .'.emente'i. Por que é incomum ou exc2.-ntrico pode ser perdido ou ignorado. TodJ originais pelas espécies invasoras póde ser explic.1dJ. A.s \'arián:is
uma popul.t~ão do bcsouro-d.1-b:1ur.1-do·Color.1do (Leprino- Isso. ,e esperava que ,1 populJ.ç:10 viesse .1 se mm.ir extima. ( Figun a Jisrribuição cstarisric.1 pmsui unu "cauda", e d(ludes indivi- mais imporunres que explKam o comport,imenro dos d:idos fo-
178 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 6: ÜISPERSÁO, ÜORMÊNCIA E METAPOPULAÇÓES 179

Próximo ao mar Meio das dunas Próximo ao continente MÚdança na cobertura de espécies art>óms
e a,bustivas em um fragmento de urzal
Mortalidade Mortalidade
o Decréscimo
Mortahdade Natalidade e • Sem mudança
e emigração 1m1graçâo Natalidade e
~Aumento
______ 1mi9raç:ã_o

Natahdade
Natalidade
Nataltdade

N" Densidade --+ N" Densidade ______. Densidade--+ ~~ L, ~·~J-_

(N". onde Natalidade= Jmortabda~ )1


\+ em1graçao (N". onde ,~~hdad~) =
+ 1m1graçao
mortalidade)
·~;'-:.:...
'"i
FIGURA 6.15 A invasão (ou seja, o aumen-
to na abundãncia) na maiona dos 116 frag.
mentas de um urzal de baixada em Oorset,
Reino Umdo, por espécies de arbustos e
Esperado sem migração de ârvores. entre 1978 e 1987. A região costei-
Com migração de
sementes ra localiza-se ao sul e. o limite do mun1ci-
sementes em direção ao
continen1e - padrão p10, ao leste (segundo Bullock et ai.. 2002)
real de densidade
observada

somem apenas uma ou poucas espécies vegerais com d1scribui- Essas idéias são desenvolvidas a seguir, no Capímlo 2 l, na
PróX1moaomar Meio das dunas Pró,:imo ao çiio em manchas. Thomas e colaboradores (1992) constataram discussão sobre biogeografia de ilhas.
contrnente que- is manchas que permaneceram inabicadJs eram menores Ma.is ou menos na mesma época que o livro de MacAnhur
FIGURA 6.14 Representação diagramática das variações da mortalidade e produção de sementes em Cak1'e edentula em três áreas ao longo e isoladas das fontes de dispersáo: a borbolera !'hlebe;11s argus e Wilson foi publicado. Levins (l 969. l 970) propôs um modelo
de um gradiente ambiental de zonas abertas costeiras {próximas do mar) a dunas densamente vegetadas (mais para o interior). Ao contràno era capaz de colonizar vircualmence todos os loCJ.is hJbicáveis simples de dinâmica de "metapopulações"'. Como MacArchur e
das outras âreas. a produção de sementes foi maior no local próximo ao mar. Os nascimentos, contudo. diminuiram com a densidade. e, onde 1 menos de l km de populações exisrenres. Na verdade, a ha- Wilson. ele procurou incorporar no pensamento ecológico a frag-
estes foram iguais â mortalidade. uma densidade de equilíbrio pode ser prevista. Nº Nos locais para o interior, as mortes sempre excederam
os nascimentos resultantes das sementes locais. porêm as populações foram persistentes por causa da dispersão da maioria das sementes bit.ibilidade de alguns desses locais isolados (prev1ameme de- mencação inerenre do mundo ao nosso redor. ~1ac.Archur e Wtl-
produzidas pelas plantas próximas à praia. Com isso. a soma dos nascimentos locais mais as sementes rmigrantes podem contrabalançar a sabicados) foi demonstrada quando a borboleca foi inrroduzi- son escavam mais interessados nas comunidades de espécies como
mortalidade nos locais distantes da praia, resultando em um equilíbrio em densidades apropriadas (segundo Keddy, 1982: Watkinson, 1984) da com sucesso (Thomas e Harrison, 1992). Este é o teste um mdo e imaginaram um "concineme" que pudesse propiciar
Jecisivo para se saber se um local é realmente h.1h1rá\·el ou não. uma fome regular de colonizadores para as ilhas. Levins enfocou
populações de uma única espécie e não concedeu a qualquer uma
das suas manchas o status especial de cominence. Levins introdu-
raro aquelas relacionadas à abundância das espécies invasoras na indivlduos não conseguiram se dispersar aré elas. P.ua demom-
6.9.2 O desenvolvimento da teoria de ziu a variável p (t), fração de manchas de hábitat ocupada no
vegetação que circundava as manchas. As invasóes e, assim, a tr.u qut' Lsto é as.1,im. precisamos ser capazes de identificar lo-
metapopulações: ilhas e metapopulações cempc r, reAecindo a aceitação de que nem todas as manchas
dinâmica subseqüente de manchas foram sendo dirigidas pelas cais hJb1tfreis qur rüo estão habirados. Só multo raramente:
hJ.bicáveis são sempre habiradas.
ações iniciais da dispersão. isw tem sido renr:.1do. Um modelo implica na identificação de
O livro clássico A Teoria da Biogeografia de í/1,as, de MacAr- A raxa de mudança na fração de
caracrerísric1.1, de manchas de h.íbirat às quais um.1 espécie é
rhur e Wilson ( 1967), foi um catalisador imporunce llJ. mu- hábi[l[ ocupado (manchas. p) é dada
re:.rnra e, depois. nJ dererminação da distribuição e abundãn-
dJnça radical da teoria ecológica em geral. Os aurores desen- no modelo de Levins como:
6.9 Dispersão e a demografia de ci:t de n1.u11..hJs simil.1res cuja ocorrencia dJ. espécie poderi.1
volveram suas idéias no conrexm da dinâmica dos .munais e
metapopulações ser e,per.1d.1. O r.ttJo-d',ígua (Arvicola rerresrris) vive em mar-
pl.1ntJ.S em ilh&s reais (marítimas), que eles imerprerJ.rJ.m como dp I dt = mp( l - p) - µp. (GI)
gens dé' rios e, cm um levJ.nrarnento de .19 seções de margem
rdlerindo um equilíbrio entre forças oposus Je extinções e
6.9.1 O desenvolvimento da teoria de de rio em :\orch Yorkshire. Reino Unido. 1O cunrinh.1m colô-
colonizaçóes. Eies enfatizaram que algum:1, e'>pécio (ou po- em queµ é a raxa de excinçáo loc&I de manch.ts em é a ux.1 de
metapopulações: manchas habitáveis 111J.S de r.ir{1es em reproduçáo (locais-nllcleos). 1) for.mi visi-
pulações loc1is) gastam a maior parte do seu tempo 'ié' recupe- recolonização de m,rnchas vazias. [sro significJ que a rax.1 dê'
inabitadas tada:. ptn r.1róes. nus que nio se reproduziram ne.1,ses loc.ti,
rando de dcsgJsres do passado ou em fases de 1nva<ío de no- recolonização aumenta com a fração de manchas vazias pro-
(locJis perit'-=ricm). e 14 aparememenre nunca foram usadas
vo:-. tcrrirórios (illus). enquanro outros usam e:i"><: tempo na pensas à recolonização ( l - p) e com a fração de manchas ocu-
O reconhecimento de que muiras populações são de faro mera- ou \'Ís1ud.1s Um,, an.ílise de "componentes princ.ipJis" foi mi-
SUJ capacidade de suporte ou próximo a eL1. Ess.ts du.1s excre- padas capazes de fornecer colonizadores, p, enquanto a uxa
populações foi fortemente estabelecido por '"Olta de l 970. mas l1nd.1 p.uJ CJ.racrerizar os locais-núcleos e, com b.1se nessas
midades de um conrimwm são as espécies r e A~ d.1 Seção 4.12. de extinção cresce simplesmeme com a fração de manchas pro-
houve um recardo de cerca de 20 anos ames que ele fosse traduzi- c.1rJ.Lccrí:-.cius. foram idenrifica<los adicionJ.lmeme l2 locais
Em um exrremo (r-escracegisras), os indivíduos ::,Jo bons colo- pensas à. excinçáo, p. Reescrevendo estJ. equaç5.o, Hanski
do rm &ção e um número crescente de esrudos coloClSSe a dinâ- de . . ucupctdos ou perit~ricos que seri.1m apropri:1<los pJ.ra r;1-
nizadores que favorecem o crescimento popuLii.:ion,il rápido ( 1994&) mosrrou que eh é esrruturalmeme idêntica à equ:ição
mica de mecapopulações em um esrágio ecológii.:o de desraque. rões c:m r.::produç.lo (ou seja, locais habir.ivt'is). Aparencemen-
em um hibitat VJ.zio. Na ourra excremidJde do c.ontínuo (K- logísrica (ver Seção 5.9):
Hoje em dia, o perigo não ê ranro <le negligência, m.15 de que rt', cerca dt' .30(% dos loc;iis habitáveis njo SJo habitados por
estratrgisras), o-; indivíduos não sã.o c:lo bons colonizaJores,
todas as populações sejam reconhecidas como meripopulações. rarõt.'.s por serem demasiad.1menre isobdos p:1ra ,1 colonizaç.10.
m.1s têm caracreristicas que favorecem a persisrênci.1 a longo- dp!dt=(m-µ)pll-pi[l-(mlµ)JI. (úlí
simplesmenre porque o mundo esrá esrrururado em mosaico. ou, em .dgun, casos, por sofrerem níveis alms de predaçá.o
pr.120 em um ambiente adensado. As espécies K, portanto.
O cenuo do conceiro <le uma merapopulação é a idéia. pd1 ns.l.o ( LJ.'.vton ..- \'foodroffe, 1991).
po,suem cax.is de colonização e extinção re!J.civamcnte batxas, Ponanco, desde que a ta..xa inrrínsec.1 de recoloniz.1.ç.lo
enfatizada por Andrewartha e Birch (l 954), de que manchas Fr.1gme11rns h,1bit.iveis podem ser c.imhém identificados
rnquanro para as espécies r essas taxas são relati\'Jmemc: 1lus. exceda J raxa inrrínseca de extinção [(m - µ) > O]. a merapo-
habidveis poderiam esrar inabicadas simplesmente porque os para muiu:. espécies rans de borbolc:us, pois su.ts Luvas con-

1
180 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 6: DISPERSÃO, DORMÊNCIA E METAPOPULAÇÔES l 81

pulaçâo rotai aringiri um equilíbrio esr~ivel, com uma fração, sincrônicas. Haveria, afinal. pouca expeccaciva de escabili<lade
1 - (µ/ m), dos fragmenrns ocupados. se wdas as subpopulaçóes fossem excinras quando uma o fos- (a) (b)

A essencia desta imerpreração a se. Certamente, a assincronia garanre que, à medida que uma
partir de uma perspectiva de mecapo- é excinta (ou mesmo diminui), exisram provavdmence outras
pulação, que emerge mesmo dos mo- que prosperam e geram indivíduos para a dispersão, promo-
delos mais simples, é que da pode per- vendo o "efeiw do salvamento" (Brown e Kodric-Brown, 1977)
s1srir, escavelmenre, como resultado do
balanço encre extinções e recoloniza-
dos primeiros pelos úlcimos.
Algumas mecapopubçóes po- J .-·
ções aleatória:., mesmo que nenhuma das populações seja, por
si só, est.-ível. Estt? caso é exemplificado na Figura 6.16, em
dem se ajuscar ao conceiw ''clássico",
fontes e drenes

em que todas as subpopulaçàes cem uma chance realística (e


~ e . '7
1973/ , - ~ ~ .. · ~
que, dentro de unu mera população persiscenre alrameme frag- aproximadamente igual) de excinção, mas em outros casos pode e ·1 e
:.? e .'
menrada da borbolecJ fririliria Glam·ille (A!e!itaea cinxia) na haver uma variação significativa no tamanho ou na qualid.ide .) ,- ', •.
Finlândia, mesmo a:, populações locais maiores tiveram uma de manchas individuais. Desse modo, as manchas podem ser lkm
e, o e e
e,:::,,._ e lkm
probabilidade .dra de declínio aré a extinção em dois anos. divididas em "fomes" (manchas doadoras) e "drenas" (m,rn- e
Em oucras palana.-... :ie quisermos entenda a persistência de chas receptoras) (Pulliam, J l)88). Em manchas fomes em equi-
umJ populaç:io J longo pr.1zo ou a dinâmlc1 de ral população, líbrio, o número d<:'. nascimenros supe1.1 o número de mom..'),
podemos preLi~.u ol!1J1 ,1lém da'i t,txa.'i de narali<l.1de e morta- enquanto em manchas drenos aconcece o in\'erso. Porr,rnrn.
lidJde (e o que ,b Jerermin.1). ou mesmo as taxa<; locais de populações fontes sustentam uma ou mais populações drenm
imigraçJo e e1rng1-,1ç.:io. Se .1 população como um rndo funcio- demro de uma mecapopubção. A persiscênci.1 da mecJpopu- FIGURA 6.17 Duas populações da borboleta azul sdver·studded (Pfejebus argus) em North Wales. (a) em um ambiente calcáno no Ou!as
na como umJ mec.ipopuLiçâo, .is caxas de exrinçâo e coloniza- laçã.o depende não só do bal.mço ger.il entre extinção e recolo- Valley, onde havia um número grande de populações locais persistentes (freqúentemente maiores) entre populações locais menores e muito
rrta1s efêmeras; (b) em um hábitat de urzal em Sauth Stack Clíffs, onde a proporção de populações menores e efêmeras fot muito mais alta.
ção da subpopuL1çâo podem ser ao menos de imporc.i.ncia com- nizaçáo, como no moddo simples, mas c,1mbém do balanço Contornos cheios= presença em 1983 e 1990; contornos vazios= ausência nos dois momentos; e= presença só em 1983 (extinção presumi·
par;ível. enrre fomes e drenas. da); c = presença sô em 1990 (colonização presumida) (segundo Thomas e Hamson, 1992).
Na prárica, naturalmente, é prodvd que exista um con-
tinuo de tipos de metapopubção: de conjuntos de populações
6.9.3 Quando urna população é urna locais quase idênticas, rodas igualmente propensas à extin- rodo o caso, pode ser inrerminável. Porém, como qualquer são; ver Capítulo 16). As extinções, na maioria das vezes, ocor-
rnetapopulação? ção, até merapopulações em que há uma grande desigu,d- o urro sinal, uma palavra só é efetiva se o receptor compreende rem quando a vegecação em uma mancha atinge um estado de
dade encre populações loc.lis, algumas das quais são, por ,i o que o emissor cenciona. O recomendável é que os usuários desenvolvimento não mais adequado para as espécies em ques-
Dua.'i car,lCterísrica.<i necessárias de uma população j~i foram só, efetivamente estáveis. Este conrr.1ste é ilustrado na hgur-1 Jm cermos devessem ter o cuidado de confirmar se a excinçâo tão, e esta mancha, por isso, rambém não é ,1dequada para a
demonstradas aqui: Ljlle subpopulaçóes individuais têm uma G.17, para a borboleta azul si/1.•er-studded (Plejebw fllg11,)'. e111 e a recolonização de manchas são demonsrradas. recolonização pela mesma espécie. Isto é '·fugJ do h,-íbicac" ("ha-
chance realística de experimenur ramo a extinção como are- Norch Wales. O problema de identificação de bitat tracking") (Harrison e Taylor, 1997), em vez de excinçJo
"'::'17:S,Jpu 3-:5-~s
colonização. A estJ~. podemos adicion,u uma rerceira, implí- O fato de unu população ter distribuição em manchas. '3 o:ant;:is?
mecapopulações é especialmente evi- e colonização repetidas do mesmo hábicat, que C: cencral para
cita n.1 discusSJ.o Jté .1qui. As dinimícas das subpopulações comudo, n.ío faz com que necessariamente ela seja unu meu- denre para plantas (Husband e Bar· o conceit0 de uma. metapopulaçáo.
Jiferenres deveriam ser totalmenre independenres, isro é, não populaçáo (Harrison e Taylor, 1997: Bullock et ai., 2002). rctt, 1996; Bullock et ai., 2002). Não
Em primeiro lugar, um.:1 populaç.ío pode exibir distribui- hJ dúvida de que muitas plamas ha-
ção em manch.1s, mas a dispersá.o enrre as manchas pode sei bitam ambienres em mosJÍco, e a extinção aparente de popu-
rão grande que as dinimic.1s das nunchJs individuais n.ío lJçóes locais pode ser comum. hto é ilusrrado na Figura 6.18 30

J
::.ão independentes: sáo um.1 única. população, embor.1 ocu- p,1ra a planr.1 aquática anu.11 Eu-hhornia pmzicu!ata, vivendo
pem um hibitat hererogêneo. Alrernati\'amente, as m.rnch<h em poças e valas rempor.íriJs de: regiões áridas do nordeste do
§
§
podem escJ.r cão isoladas um.is das outras, que a dispers.J.o en-
tre elas é insignitlcJnte: são umJ. série de populações d~ri\·,1-
menre separad.1.<.
ílusil. Entretanto, ,1 aplicabilid:idc d:i idéia de recolonização
seguindo uma exrinção genuína é quescionjvel em algumas
espécie . . vegetais que apre)enram b,rncos de sementes enrerr.1-
.
·~3
20

1
~

!l.
~
Por fim. e tah·a mai\ comumenre, wdas ,1s m.rnch.h
podem cer uma ch.rnce Jc'.'s~1rezi\·el de extinção, ao menos crn
dos. Em E p,mirul,:ra, por exemplo. as sementes pesadas qua-
.~c: :.cmpre caem 11.1 \"1z111hJnça imedi,ttJ da planra-nüe, em vez .
~
8.
10
1 e'ic.1Lts de rempo ohserv;Í\·ei~. Isco significJ. que su.1s din,lmi- Je serem d1)persadas p,1r.1 omras manchas. ''Excinções" tipic.1-
"
~ 2 2 2 ca.<. podem ser influenc1ad.1s ~1or nacalidade. monal1d.ide. imi- rnence resultam da perd.1 catastrófic.1 de hábitat (observe n,1
g
-~ '.::CT..):::.
gração e emigração - mas n.ío em algum grau signitlcati\·o por h:-;uu 6.18 4ue a chance de extinção eferivamente não tem .l
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-1
extinção ou recolonização. Est,\ úlrima (Jtegoria ,e ,tproxim.1
de uma verdadeic1 mecapopuL1çáo, podendo h;iver poucJ dü-
qu.dquer rebçã.o com o tamanho popul.icional prévio) t' ''re-
colonizJçócs" são quase sempre simplesmenre o resuludo da 16 64 256 1.024
l
.
4096
j

Log do tamanho populacional em 1991 vida de que o tíetilo dado .i muitas populações fr.1gmenuda,,; germinação <le sementes seguinre à restauração do hábirac. A Tamanho populacional
se a1usre a esta descrição. Nacuralmenre, pode ser perigmo pro- recolonizaçJ.o por dispersá.o, um pré-requisito para uma ver-
FIGURA 6.16 Comparação dos tamanhos populacionais locais em reger excessivamente a pmeza ths definições. Que prejuízo pode dadeira merapopulação, é exrremamenre rara. FIGURA 6.18 Das 123 populações da planta aquálica anual Eichhor-
Junho de 1991 (adultas) e agasto d.e 1993 (larvas) da borboleta fnt1lã· haver se, imedida que o conceiro de mer.apopul.ição cresce, n Além disso, como <,,1lien[Jram Bullock e colaboradores ma pan;culata no nordeste do Brasil, observadas durante um ano,
ria Gtanv1Ue ( Mel,taea crnxa). em Aland lsland, Finlândia Os pontas 39% foram extintas, mas a tamanho inicial médio destas (barras es-
de dados múltiplos são indicadas oor número::; Vánas poputações de
pr6prio rermo é em::ndido a uma variedade mais ampl.1 de (2002), dos cscudo'J com vegerJ.is 4ue documentaram extin-
curas) não foi significativamente diferente do das populações não·
1991. 1nclu1nda muitas das maiores, foram extintas até 1993 (segun~ cen.irios ecológicos~ TJ!vez nenhum - e a expan.<.áo <lo u)o do ções e coloniaçóes de m;rncha::i, J grande maioria foi realizadJ extintas (barras claras) (Mann-Whitney U = 1 925. P > 0,3) (segundo
do Hansk1 et ai 1995) termo para popul.tções onginJ.lmente além do seu alcance, em cm nunch.1s rt:centemenre surgidas (escigios iniciais de suces- Husband e Barrett. 1996)
182 PARTE l - ORGANISMOS CAPÍTULO 6: ÜISPERSÃO, ÜORMÉNCIA E METAPOPUlAÇÔES 183

6.9.4 Dinâmica de metapopulaçâo


(a) (b) (e)
O modelo simples de Levins não considera a v~riação em ca- '·º
manho de manchas, suas localizações espaciais nem as dinâ-
micas das populações dentro de manchas individuais. Náo é
surpresa que os modelos que consideram todas esras variáveis

.........
4.500~---------
altamente relevantes se tornem matemacicamence complexos Rede de
•.
... ,
manchas 191219n 19891991
(Hanski, 1999). Contudo, a nacureza e as conseqüências de 4.000
aono,te
algumas dessas modificações podem ser compreendidas sem 3.500 '·º Intermediária Intermediária

1Na,,~, ,!1[
~·:
·:..
0.8
que se enm:: em detalhes da macemáclca.
3.000
Imagine. por exemplo, que as manchas de hábicac ocu-
ê
padas por uma mecapopulação variam em tamanho e que ";;' 2.500
manchas grandes sustentam populações locais m.iiores. Isco ;; ·.. ·.•
~ 2.000 manctias 197219n 1969 1991
permite a persistência da mecapopulação, com taxas meno- __ de pos,çào
õ
res de colonização, como result.1do das t.1xJs mais baixas de
extinção sobre manch.is nuiores (Hanski e Gyllenberg. Fração de fragmentos ocupados, p
1.500
..••
\.:
•...• • 1ntermediana
'·º
08
Sul

1.000
1993). Na verdade, quanto maior a variação no tamanho • •• Rede de
manchas
da mancha. maior e a probabilidade de persistência da po- FIGURA 6.19 Distribuição de freqüência b1moclal de ocupação de 500
pulação, manrendo-sc: iguais os oucros aspeccos. As varia- manchas (proporção de manchas hab1tâveis ocupadas. p) entre dife-
1972 1977 1989 1991
rentes metapopulações da lnhlâria Glanv1Ue em Aland lsland, F1nlãn- Oo'---,soo,1-,--,-'.ooo.,,..-1".soo'=-=--=-2ooo"=-=--:-2-'-soo~J.ooo
ções no tamanho de populações locais podem ser, alrerna- 200 400 600 800 1.000
d1a (segundo Hansk1 et ai.. 1995)
rivamenre, resulcanres de variações na qualidade e não no Oistáncia (m) Tempo (anos) T~(anos)
tamanho da mancha: de modo geral, as conseqüências se-
r1a.m as mesmas. FIGURA 6.20. Oinãmica de metapopulação do ocótono americano (Ochotona pr,nceps). em Bodie, Califórnia (a) Posições relativas e tama-
A probabilidade de excinção de populações locais de- ção (ver C:apículo 15). especialmence quando o equilíbrio nhos aproximados das manchas habitáveis. bem como as ocupações nas redes de manchas ao norte, em posição intermediâria e ao sul, em
1972. 1977, 1989 e 1991. (b) Dinâmicas temporais das três redes, com a população inteira tralada como uma entidade Unica. usando o modelo
clina ripicamenre à medida. que aumenta o tamanho da po- mais baixo ocorre para p = O, sugerindo que a ameaça de
.je função de incidência de Hanski (1994b). São apresentadas dez réplicas de simulações. cada uma começando com os dados reais em 1972
pulação local (Hanski, 1991). Além disso, à medida que a extinção p:HJ. qualquer metapopulação possa aumentar ou (c) Simulações equivalentes a (b), mas cada uma das redes simulada isoladamente (segundo Moilanen et ai., 1998).
fração de manchas ocupadas pela metapopulaçáo. p. aumen- diminuir subiumenre, 3. medida que a fração de manchJs
ta, em média deveria haver mais migrantes, mais imigração habitá,·eis ocupadas desloque algum valor limiar para bai-
par.1 as manchas e, porcanro, populações locais maiores (re- xo ou para cima. prl.'.cisão esses padrões em dinâmica temporal, J. despeiro Finalmenre, essas simulações nos
sulcados confirmados. por exemplo, para a fricilária Glan- Um escudo de Moilanen e colaboradres ( 1998). reunin- Jc: ser baseado apenas em dados espaci.tis. F.m especial. foi conduzem a um rema que se repete -::Gc::1:::-:,::,s ;c::1::,:-;,
ville - Hanski et ai., 1995). Assim, a caxa de excinção, µ, do muius linhas anteriores, examinou a dinâmica de uma su- previsto que a rede ao sul sofresse um col.tpso periódico a(é através desce livro. Os modelos sim- s~r .:::i•ca-ica,.:!·Js
não deverlJ ser constante como é no modelo simples, mas posta mcupopubção de um pequeno mamífero, o ocórono a extinção coral, mas que fosse salva pela ação dJ rede de pies freqüentemente enfocam equilí-
declinaria à medida que p aumenta. Os modelos que incor- americano (Ocl,otona princeps) na Califórnia. (0 adjetivo "su- posiçáo inrermediária, apesar da sua ocupação baixa, como brios alcançados a longo prazo. Porém, na prática, cais equilí-
poram esce efeico (Hrnski, 1991; Hanski e Gyllenberg. posta" é ncce,;;~ário porque a dispersão entre manchas de hábi- um degrau dJ rede ao norte, dotada de umJ c..1.pacilL1de de brios raramente podem ser alcançados. No presente caso, equi-
l 993) freqüentemente originam um valor limiar de p. ins- cac foi suposu, e não d"erivamence observada [veja Clinchy et ~usrenraçáo muito maior. Esra imerprecaçáo é corroboudJ líbrios esc:íveis rapidamence podem ser gerados em modelos
r.ivel e intermediário. Acima desse limiar. os tamanhos de ai.. 20021 1 .~ meupopula~ão cocal pode ser dividid., em redes pelos resultados quando as três redes .;J.o simuL1d.1s isol.t- simples de mera populações, mas ,1 dinâmica observável de uma
populações locais são suficientemente grandes e sua cax:a de ao narre, cm pos1çio intermedi:íria e ao sul. e a ocupação de d.11nente (Figura G.20c). A rede ao norte pertnJllt"Ct" com espécie muita:, veze'i pode ter m.tis relação com o comporca-
extinç;io suficientemente baixa pJra a metapopulação per- manchas em (Jtb uma foi determinada em qua.trn ocasiões um.i ocupação alta e esdvel; desprovida d(' rnigr..1.mes do menro "rransirório"de :,uas metapopulações, disranres do equi-
sistir em uma fração de manchas relacivamenre .1.lta, como enrre 1972 e 1991 (Figura 6.20a). Esses dados puramente es- norcc:, a rede de posição inrermediária. pr-:-\·i.,1\·c!mcnr~. de- llbrio. Tomando um oucro exemplo, a borbo\era .'ialradora nl-
no modelo simples. Abaixo do limiar, conrudo, o tamanho pac1.11s forJm u'iadm ao lado de uma informação mais gerJl clina rapidamenre; e a rede ao sul. t.'.'mbor.1 n.J.u elo 1n.,;ci\·el. l't'r-.·pott1'd (He,peria com ma) decli1:ou cercamc:nre na Gr:i-Rrc:-
mêdio de populações locais e demasiad.1menre baixo e sua sobre a blti!ugi.1. Jo ocócono, para fornecer v.tlores paramerri- fin.:1lmence .sofre o mesmo destino. Segundo C'>Ll ,·i<lo. den- t.rnh.1. dl'. uma di:.tribuiçâo .unpl.1 sobre a m..1.ion,1 de morro'>
u...;a de t"\.tinção. portamo. demaslad:.in1eme ,1lu.. A meta- CO'.'> p.1r.:1 o moJe\o de funç5.o de incidenci.1 de Hanski ( J 9t)4b).
rro de uma mecapopulaç.lo como um rnJo ..1 rede' ,11J iwr re c.1k.iríos c.'m 1900, p.:1ra 46 ou mcnm loc.1lidades-refügio (po-
popubção Jc:clina até um equilíbrio esrá\·el .1lcernativo para Este foi (TLLio us.1Jo para estimul.u a din:1mica total de cada é uma fome, e JS redes de: posi~.io intern1c:d:úi:.1 e .10 :,ul pul.tç0t"s loc.ús) em l O regiões no início da décad.1 de 1960
p = O (excinç.io de roda a metapopulaçâo) ou um nível em unu JJs rc:dcs, LOrn um grau re.1lisrico de \·ariJção esrocástic.1 sáo drenos. Desse modo, não hi necessid.1de de recorrer ,l (Thomas e Jones. 191.JJ). As rJ.zóes prodn·i~ foram mud~rnÇJS
que p é ~'lJixo, no qual essencialmc:nte apenas as manchas incorpor,1da. partindo de uma siruação observada em 1972 e qualquer mudança ambiental para explicJr o dedin10 na no uso da terra - .rnmenro do emprego do arado em campos
mais favorávt"Ís são ocupadas. trar.mdo .1 metapopu!Jç.:ío inteira como umJ entidade única reJ.e ao sul; t.iis declínios sáo ptc:vi:,tos me:,mo em um .un- n.lu-mdhorJdos e pmoamenrn rc:duziJo com anim.1is domés-
Poderia ser esperado que me- (Figura G.20h) ou simulando cada uma das redes isoladamen- bience in:.1\terável. ricos pJsradores - e a diminação virtual de coelhos pela mixo-
"•.:::, ~s:a·íe,s rapopulaçóes diferences, da mesma te (figurJ (1.20cl. Fundamentalmente, esses result.idos ilL1str.1m como nurose, com suas conseqüentes profund..1.s alceraçócs d..1. vege-
espécie. ocupassem uma fração alta Os próprios dados (Figura 6.20J) moscram que a rede metapopulações integrais podem ser esdvei:'I qu1nJo 1iu.1s uçJo. Duramc todo esse períodu de nJ.o-equilíbrio ..1~ ra.xJs
ou baixa de suas manchas h:1bidveis ao norre manteve uma ocupaçío alta durante o período de subpopulações individuais não o .são. Além Ji:-.so, J compJ- dt" ex:rinçãn loc.1\ geralmenre superaram as de: recoloniz.1ç.ío.
(os equilíbrios esdvc:is alrern::icivos). mas não uma fraçáo escudo, ,l rede de posição inrermediária ceve uma ocupação ra~Jo das redes ao norte e de posiçáo Ínt~rm~ddriJ (..1.mb..1.'i NJ.~ décaJ.1s de l 970 e l 980, conrudo, J n:inrroduçJo da pe-
intermediária (junco ao limiar). Tal distribuição bimodal é, mais v.u1-ivd e rnuico n1Jis baix:1, enquanco a rede ao sul estáveis, mas com ocupações muito difcrc'nre~) mo.,ru como cu.iria e a recuperação ,Jos coelhos levar.nn a um aumento do
n:1 verd.tde, evidente parJ a fritilária Glanville na Finlândia sofreu um declínio consrante e sub~tancial. A resposta atra- a ocupação pode: depender do tJm..1.nho do p,Jo/ d:: i11d1ví- p<1sreio. e o número de h.ihitacs ap~opriJdos cresceu ourra \·a.
(FigurJ G. l 9). Além di~so, esses equilíbrios alrernacivos po- vês do u,o do modelo de função de incidtncia (Figura duos di:,persados, que em si pode dc:pender ,Jo tJm.mhu e A recolonizaç:io superou a exrin,çjo !oc1l, mas J expansão de
ten.:ialmente cêm implicações profundas para a conserva- G.20b) foi mu1co .rnim.1dora no senrido de espelhar com do númc:ro das subpopulaçôe~. f-! comm.1 pcrm..1neceu lenr..1., especi..1.!menre p.1r..1. locJ.is isot.J.-

1
184 PARTE 1 - ORGANISMOS

dos dos refúgios da década de 1960. !\lesmo no sudeste da direção das dependências da densidade, incluindo especial-
[nglacerra, onde J densidade de refúgios foi m1ior, prevê-st:: mente a importância em evitar a comperição entre parenres,
que a abundância <la borboleta aumencJLÍ apenas lentamen- por um lado, e as atrações da filopacria, por outro.
te - e permanecer.í distante do equilíbrio - por pelo menos Descrevemos uma diversidade de tipos de variaç:io den-
100 anos. tro de populações: polimorfismos e diferenças relacionada; ao
sexo e à idade.
Voltamos à significância demográfica da dispersdo e in-
Resumo troduzimos o conceito da merapopulaçáo composta de mui-
tas subpopulações. A dispersão pode ser incorporada à dinâ-
Fizemos a disrinçJ.o entre dispersão e migração; dentro de dis- mica de populações e modelada de rrês maneiras diferenres:
persão, foi examinad.1 a diferença entre emigração, rransferên- (i) uma "ilha" ou abordagem "espacial mente explícita·; (ii) uma
cia e imigração. abordagem espacialmence explícica que reconhece que as di,-
São de.<.criras diferentes categorias de dispersóes ativa e câncias entre as manchas variam; e (iii) uma abordagem que
pa.<.siva, abordando especialrneme a dispersão passiva na chu- trata o espaço como contínuo e homogêneo.
\'J de semences e a.<. esrrar~gia'i de guerrilha e de infantaria de Provavelmente, a conseqüêncla importante d.i dispersio 7.~. Introdução redor do mundo com conseqüências negativas para os ecossis-
organismos don.11.., d1spas3.Joc>. para a dinâmica de populações únic.1~ é o efeito regul.idor d.i rem.is n.uivos e' levado um gr.rnde número de espécies ú beir,l
São expl1e1d,,,., .1.<. disuibuições ..10 acisu, regular e agre- emigração dependenre d.a densidade. Contudo, é rele\·ame A cresceme população hum:rna {Figu- J.1 exci nção.
g.1Ja, e é enfacizad~l a imporrância da escala e da estrutura em também reconhecer a imporrância, 11.1 din.àmica de inva-;Õe'i, ra 7. l) rem criado uma grande varie- Um enrendimenrn da excensão dos
mosJ.ico na percepção de rais disrribuições, especialmente no dos raros organismos dispersados por longas distâncias. dade de problemas ambientais. Nossa problemas que enfrenramos e dos
contexto do ''gr:io" ambiental. São deulh.idas as forças que A teoria de mecapopulações se desenvolveu a parnr do espécie não é a única que esgota e con- meios de que dispomos para agir con- ,xc,lóg1co
favorecem e enfr,1quecem as agreg;1çõe~. incluindo a teoria do conceito inicial da mancha habitável não-habitada. Sua ori- ramin.i o ambiente, mas, certamente, tra eles e resolve-los depende inteira-
rebanho egoísra e a dispersão dependente d;i densidade. gem como um conceito em si mesmo foi o modelo de Levins. somos os únicos que usam o fogo, os mente da correra compreensão dos fundamentos ecológicos.
Descrevemos J!guns dos principais padrões de migração que estabeleceu a mensagem mais fundamencal: que a meca- combusrívei.<i fosseis e a fissão nuclear para produzir energia Na primeira parte deste livro, rracamos da ecologia em níYel
em uma gama de escalas - de marés, diária sazonal e intercon- população pode persistir, estável, como resultado do balanço para a realização de trabalho. Essa geração de força tem resul- individual e de populações de uma única espécie (as inrera-
tinental - incluindo aquelas que voltam repetidamente e as entre extinções e recolonizações aleatórias, ainda que as subpo- udo em conseqüências de longo alcance para o estado de con- ções interespecíficas serão o assunto da segunda pane). I\."esre
que ocorrem um.1 só vez. pulações não sejam esráveis. :-.er,·ação do solo, dos ecossistemas aquáticos e da atmosfera, capítulo, enfocaremos como esse conhecimenrn pode bendi-
Examinamos J. dormência como um,1 migração no tem- Como nem todas as populações com diHribuiçJo em com dramáticas repercussôes no clima global (ver Capítulo ciJr os gesrores ambienrais. No final da segunda e da terceira
po, tanro em anirn.1is (especialmente diapausa) como em ve- mosaico são merapopulações, formulamos a pergunta "Qu,rn- 21. Além dis . . o, a energia gerada tem dado ao homem o poder panes desce livro, aborddremos de maneira semelhante a Jpli-
getais. É enfarizada a imporrância do fot0período no rirmo da do uma população é uma metapopulação~", que pode ser p,ir- de rransform ..u pais.1gens terrestres (e aqu.íclcas) por meio da caçá.o do conhecimento ecológico no nível das interaçõe~ in-
dormência. ricularmenre problemática com populações vegetais. urbanização. da agricultura industrial. da silvicultura, da pes- rerespecíficis (Capítulo 15) e das comunidades e ecossistemas
A relação entre dispersão e densidade é examinadJ. em Por fim, exploramos a dinâmica de mera populações quan- ca e da mineração. Temos poluído o solo e a água, destruído (Capírulo 22).
detalhe. São explicados os papéis da endogamia e exogarnia na ro à provável importância de equilíbrios estáveis alrem,nivo, grandes áreJ~ de quase rndos os tipos de ambienres nJturais, A ~lsiologia dos org..rn1smos lhes da !eur:a ciJ
sobre-explorado os recursos naturais, rransportado espécies ao permite tolerar certas vanações nas
condições físico-químicas do ambiente
e' determina suas necessidades por determinados recursos (ver

os Capírulos 1 e 3). Dess.1 forma, a ocorrência e a discribuiç.io


das espécies depende principJlmence de sua ecofisiologia e,
100 10 par.1 os animais, também de seu repertório comportamental.

.

,=
80
Incremento populac1ona!

"'', .
~
Esses J.')pecrns da ecologia das espécies escão inseridos no con-
ceito de nicho (ver Capíru!o 2). Temos observado que as espé-
cies nJ.o ocorrem em wdos os loc..ús onde JS condições ;im-
B.
I hiemais e os recursos são .1propri.1dos p.ira sua existência. Con-
60
~
"~ ~
rudo, a.s esrrarégias de m;inejo em geral se baseiJm na c.1~iaci-
d.1de dt: prever onde as e,pécies prospe-rJrão, seja qu:indo de-
o 1
~ 40
Tamanho 8. sejamo:-.. resuurar hábirar~ degradados, preYer a fmurJ. di:;tri-
E

~
~ íXJpulac1orial i buição de espécies invasnras (e por meio de medidas de bios-
20
~ . i
....
segurança prevenir sua chegada) ou conservar espécies ame:1.-
çadas em novas reserva::i. Port..1.mo, a teoria do nicho fornece o
fundamenro essenciJI pJ.ra muicas ações de manejo. Discuti-
1750 1800 1850 1900 1950 2000 2050
remos este assunto na Seção 7 .2.
Ano
A bionomia de uma espécie (ver
Capírulo 4) é outro as~cco bisico que
FIGURA 7.1 Crescimento da população humana mundial desde 1750
pode guiar o :>eu manejo. Por t:xemplo,
e aumento previsto até 2050 (linha sólida). Os histogramas represen-
tam os aumentos populac1ona1s a cada década (Fonte Nações Uni- ser anual ou perene, com ou sem estágios dormc'nces, grande ou
das. 1999) pequenJ, gencralisu ou e:-.peci,tlisra pode influenciar J prob..1.hi-

J
186 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APUCAÇÓES ECOLÓGICAS NOS NivEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 187

Iidade de uma espécie (a) represe mar uma parte de sucesso em gos .uualmenre conduza pesquisas aplicadas (isco é, direciona- ,enum um valor especial. Anronovics e BuJsh.1w ( 1970) vel para degradar o TNT (2.4,6-trini-
um projeto de rescauração de um h:íbicat, (b) ser um invasor das para a resolução desses problemas) e publique os seus re- foram os primeiros a norar que a inrensidade de seleção trocolueno) e são promissores na res-
problemácico ou (e) ser um candidaco à exrinção e. dessa for- sulrados em periódicos científicos especializados. Mas em que contra genóripos intolerantes muda de forma abrupra na cauraçáo de depósicos de lixo bélico.
ma, merecedor de prioridade na conservação. Yolraremos a proporc;ão esse trabalho é assimilado e usado pelos gestores borda de áreas conraminadas, e que as popula.ções nessas Lembre-se que os microrganismos
essas idéia.s na Seção 7.3. ambientais? Ques[Íon.írios realizados por dois periódicos es- :íreJs contaminadas podem diferir muito em sua rolerância também são usados para a remediação
Uma caracceríscica parcicularmence imporrance do com- pecializados, Co11servatio11 Biology (Flashpohler et ai., 2000) e aos metais pesados em disrâncias pequenas, de apenas 1, 5 m em casos de poluição.
porcamenco das espécies, sejam elas animais ou vegetais. é o jounwl of ,lpplied Ecology (Ormerod, 2003). revelaram que fp. ex., o capim-doce {Anthoxanrlmm odorarwn]). Posterior· Às vezes, o objetivo dos gestores ambientais é restaurar a
seu padrão de deslocamento e dispersão {ver Capículo 6). O 82 e 9996 dos aurores emrevistados, respectivamente, faziam mente, cultivares de gramíneas roleranres a metais foram paisagem para o benefício de uma dada espécie. A lebre euco-
conhecimenco acerca do comporramenco migratório dos ani- recomendações de manejo em suas publicações. Desces, é selecionadas para a produção comercial no Reino Unido péia (Lepus europaeus) é um exemplo. O seu nicho fundamen-
mais pode ser especialmente importante em cencacivas de res- animador salientar que mais de 50o/o declararam que seu para serem usadas em solos neucros ou alcalinos contami- ral inclui paisagens criadas pela atividade humana ao longo
tauração de hábicacs danificados, previsão e priorização de es- trabalho h.1via sido urilizado por gesrores. Os resultados nados por chumbo ou zinco (Festuca rubra cv 'tvlerlin'), dos séculos. As lebres são mais comuns em áreas culrivadas,
pécies invasoras a serem combatidas e planejamento de unidades dos trabalhos publicados no journal of,-Jpplied Ecology, en- rejeiros acidíferos de chumbo ou zinco (AgroJtlS capi!laris mas suas populações rêm diminuído onde a agricultura é mui-
de conservação. Tais aspectos são apresemados na Seção 7.4. rre 1999 e 200 l, mais comumenre utilizados pelos gesto- cv 'Goginan') e rejeicos acidíferos de cobre (A. capill11ns cv to intensiva. Por isso, a espécie esrá arualmence proregida por
A conservação de espécies ameaça- res, por exc-mplo. envolviam o planejamento de esrratéglJs 'Parrs') (Baker. 2002). lei. Vaughan e colaboradores (2003) fizeram uma pesquisa por
das requer um extenso emendimenrn de con~C'í\',lÇ.ÍO pJr.1 espécies e h.íbirars imponances, o con- Como as plant.1s n.l.o podem loco- correspondência junco a producores rurais ( 1.050 respondc::-
d.1 dinãmica dt: pequen.1s popu!Jções. cruk di: i:sp1.<ies-pr.1g,L o lllJnejo de sÍ:">tem~1s J.gtoLcológi- mover-se-. muitJS opL(ie, que s.ío ca- ram) para invesrigJr a rebção enrre J abundinci.i de lebres e o
NJ SeçJ.o 7.5. discurimos J a.bordJgem cos ..1 regu!.1ç.í.n <le (ios e- o planejJmenm de u...nidades :1c raccerí.scicas de solos mec.1!ífcros desen- manejo ,nua\ da terr.1. Seu objetivo era esrabdecer as caracre-
ch,mada análise de viabilidade populacional (AVP), uma de- con:-.cn\1ç.lo (Ormerod. 200J). volveram sisrema~ bioquímicos para a ríscicas-chave das duas dimensóes mais imporuntes do nicho
terminação das probabilidades de excinção que depende do obrenç.io de nutriences, desincoxicação e controle de condi- das lebres, isro é, a disponibilidade de recurso., (culturas con-
conhecimento das tabelas de vida (ver Capítulo 4. especial- ~ões geoquímicas loca.is (de faro, elas ajudam J cri.ir as condi· sumidas pelas lebres) e a disponibilidade de hábitat, para, en-
menre a Seçáo 4.6), das raxas de crescimento populacional 7.2 A teoria do nicho e o manejo ções apropriadas ao seu nicho fundamencal). A fíforremedia- tão, propor ações de manejo para manter e restaurar paisagens
(ver Seção 4. 7), da competição intra-específica (ver Capículo çdo envolve o estabdecimenco dessas plamas em solos conra- benéficas para a espécie. As lebres eram mais comuns em ter-
5), dos facoces dependentes da densidade (veja Seção 5.2), das 7.2.1 Restauração de hábitats impactados por min:1dos, a fim de auxiliar na redução das concentrações de ras aradas, em especial naquelas cultivadas com trigo e beter-
capacidades de suporce (ver Seção 5.3) e, em alguns casos, da atividades humanas metais pesados e outras substâncias róxicas. Ela pode ser reali- raba e onde havia cerras de pousio (áreas não-utilizadas para.
estrurura da metapopulaçáo (se a espécie sob risco de extinção zada de várias formas (Susarla et ai., 2002). A firoacumuúzçiio culrivo por um cerco período). Elas eram menos comuns em
ocorre c::m um conjunto de subpopulações inrerligadas - ver r\ expre:-.são "ecologia da restauração" ocorre quando o conraminador é absorvido pehs planras, mas pastagens, mas sua abundância aumenrava se houvesse pasto
Seção 6.9). Como veremos na Parte 2 deste livro (em parci- pode ser u~adJ, praricamence sozinha, não é degradado rápida ou complernmenre: essas pi ancas, como 'melhorado' (arado, semeado com uma miscura de gramíne-Js
cular na síntese fornecida no Capículo 14), a detc::rminação pJra englob.u quase rodos os aspecrns a erva Thlaspi caernlesam, que hiperacumub o zinco, são cul- e ferrilizado). algumas culwras aráveis ou áreas arborizadas
da abundância e, conseqüencemenre, a probabilidade de ex- da ecologia aplicada (recuperação de rivadas para remover o contaminador e, depois, subsciruídas. (Tabela 7. 1). A fim de aumentar a dimibuição e a abundância
tinção de uma populaçáo não dependem apenas de pro- esrnques pesqueiros sobre-explorados, remoção de espécies in- A f'itotJ·tabiliwçiio. por ourro lado, aproveira a capacidade dos das lebres, as recomendações de Vaughan e colaboradores
priedades inrrínsecas das espécies (uxas de natalidade e mor- vasoras, revegetação de corredores de hábitar p3.ra auxiliar a ex.sudados de raízes de precipitarem os merais pesados e, as- (2005) incluíram a provisão de forra-
talidade, etc.), mas também de suas imerações com outras es- dispersão de espécies ameaçadas, ecc.) (Ürmerod, 2003). sim, reduzirem sua disponibilidade param seres \·ivos. Final- gem e coherrura anual contra a raposa
pécies na sua comunidade (competidores, predadores. parasi- Aqui, restringimos essa expressão à rescauração de p,ÚSJ· ITit'me. a f,rotmnsfo1rw1çiio envolve a dimin.Hi.ÍO de- um conra- ( Vulpes vu/pe;) em rodas as fazendas,
ros. mutualistas, ecc.). Contudo, a AVP em geral utiliza uma gens terre,ues, marinhas, fluviais ou bcustres. cuja narure· min.idor pela ação de enzimas vegetais; por exemplo. álamos a provisão de áreas arborizadas, pas·
abordagem mais simplista e não lida explicitamente com estas za. fisica fui .ü"ecad.1 por atividades humana.s, e rratamos es- híbridos PopuÍlts de!totdes )( P uigra tém uma capacidade noci- ro melhorado e culturas aráveis nas
complicações. Por essa razão, esse tópico é tratado no presente pecific.imente da miner;1çã.o, da agricultura inrensiva e d.1
capírulo. c::ipc.1ç.io de .ígua dos rios.
Um dos maiores desafios do fum- O :-.olo que- foi danificado pela TABELA 7.1 Variáveis do hãbitat com potencial para determinar a abundãnc1a de lebres (estimada por meio da freqUénc1a de avistamentos),
'J d': ro para as espécies, os ecólogos e os m1ner.1çio t: normalmente instável, analisadas separadamente para terras aráveis e pastagens A análise não foi realizada para aquelas variáveis nas quais menos de 10%, dos
produtores rurais responderam (-). Para aquelas variáveis que foram signihcat,vamente relacionadas à presença ou à ausência de lebres
gcscores ambientais é J. mud1nça cli- su1eiro :l cros.lo e desprovido deve- segundo os produtores rurais(·. P< 0.05, ••. P< 0.01: ···, P< 0.001). os descntores associados com a maior freqüência de avistamentos
mirica global (ver Seçâu 2.9). Tenca- geuç.lo. Tnn_\· Br.1dsh.1w. o pai d:1 são mostrados em negrito (segundo Vanughan er ai. 2003)
ti\,lS de micigJção d.as muJJnças climáticas prc\·isus rêm uma ecnlogi.1 tL1 re~cJuraç:ío. obsen·ou que a soluç.l.o nuis sim- Vanáve/ Descritor da variável Ter:as aréiveis Pastagens
d1mens.ío ecológica (p. ex .. plantar nui::. ;irvore~ para absorver plo pJrJ .1 recuper:1çáo du solo ti o restabelc:cimen[O d.1 Tngo Tngo Tnt,cum aest1vum 1não, sim)
p.ure do dióxido de carbono exrr.1 produzido peb queima de L·obcrtuLt vegeul. porque- ela esrabiliz.a a superfície. é vi- Cevada Cevada (não, sim)
combustíveis fosseis). embora a mitigação também deva enfo- su.ilmencc .ur.1ente e auco-suscendvel e provim a base p.tra Cereal Outros cereais (não. sim) NS
Pr1mavenl Qualquer cereal cultivado na primavera? (não. sim)
car as dimensões econômicas e sociopolícicas do problema. a :;uce,sã.o narnral ou maneia.da até o estabelecimento de Milho Milt',o {não. sim) NS
Isso é discucido no Capítulo 22 devido à.s quesrões rdevances unu comunicbde mais complexa (Brad_~ha\\', 2002}. As plan- Nabo Nabo Brass,ca napus (não. sim)
relacionadas ao funcionamenco do ecossistema. Toda.via, o pre- c.1, canddaus à. recuperaçJ.o são aquelas rnlerancc-s à pre· Legumes Erv1lha/fei1ão/trevo Tnfo/,um sp (não. sim)
Linhaça Unho Linum usitaftss,mum (não, sim) NS
sente capítulo aborda como podemos usar o conhecimento sobre senç.1 de metais pesados tóxicos; tais espécies são caracre- Horticultura Safras de horticultura {não. sim) NS
a ecologia e.las espécies para pre\"er e manejar as conseqüências da ri\ricJ'i de -"olos naruralmence metalíferos (p. ex., Alysrnm Beterraba Beterraba Beta vulgaris {não. sim)
mudança climácica global. como a prop3vc.raçáo de doenç.1..S e ervas br:rro/01/l!, espécie endCmica de solos serpenrinos irali,1nos) Arável Presença de sairas aráveis (ver texto. não, sim)
Gramíneas Gramíneas {incluindo fey. não-permanente) (não, sim) NS
daninhas (ver Seção 7.6.1) e a localização geográfic.i de unidade... e tC:m nichos fun<lamencais que incorporam condições ex- Tipo de pasto Ley, melhorado, sem1melhorado. sem melhona NS
de conservação (ver Seção 7.6.2). trenus. Além disso, os ecótipos (genótipos de uma espécie Pousio Presença de terras desocupadas/de pousio (não, sim)
Devido à. urgência dos problemas ambientais que enfren- qLie possuc-m diferenres nichos fund.unc:nuis - va Seção Arbonzação Presença de áreas arbonzadas/pomares (r.ão. sim) NS
tamos, não~ de surpreender que um grande:: número de ecólo- 1.2. ! ) que Jcsenvolveram resisrência a .íre.1s mineradJs apre- NS -= não-signihcat1va

l
l
188 PARTE 1- ORGANISMOS
CAPÍTULO 7: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS NOS N1VEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 189

múlriplas medidas de secções transversais dos riosL a profun- junco de espécies de peixes - 1 l nati-
(a) didade e a largura de um rio começam a diminuir abrupta- vas e l 4 invasoras - se rebcionam a fa-
4,5 tores ambientais em múlciplos locais ao
meme com descargas abJixo de uma certa porcentagem da
;;- 4,0 longo de um rio com fluxo regulado na
descarga média ( l 0% em cerws rios) e esre ponto de inflexão
i ~ 3.5 é, J.s vezes, usado como base para determinar a descarga míni- Califórnia (Figura 7.3). Ficou cl.1ro que as espécies nativJ.S e inva-
;j 3.0
ma. Finalmente, os métodos de avaliação do hábitat baseiam- soras ocuparam diferences parces do nicho: a m,Úoria das espécies
! e 2.s nacivas ocorreu em locais associJdos a descargas médias mais J.lra.s
il ~
2.0
1,5
sc:: n.is descargas que acendem a critérios ecológicos específi-
co<;, como uma cerca quantidade de hábitat de alimencação (m3 çl }, boa coberrura do dossel (níveis mais alros de porcenta-

para determinadas espécies de peixes. Os gestores precisam gem de sombra), menore'i concencraçóes de nutrientes vegcr.1is
1,0
romar cuidado com as suposições simplistas inerentes a essas (menor condurividade. µS), cemperacura.s mais baixas (ºC) e me-
v.í.rias abordagens, pois como vimos no caso das carpas-gigan- nos hábitars de remanso no riacho (isto é, maior porcc:ntagem de:
3
o 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,Q 3,5 ccs do Colorado. a incegridade de um ecossisrema fluvial pode hábicacs de água corrence, rJSOs e de ctscata). Ess<1 combinação de
ln(dorofila) (mg m-2) variáveis reflete as condições namra_js do riacho.
(e) ~cquerer algo mais do que a mera determinação de um,t des-
(d)
carga mínima, como descargas infreqüenres. mas com capaci- O padrão observado entre as espécies imroduzid,1s foi geral-

..
30
mente o oposrn: a.s espécies Invasoras foram favorecidas pela arn,ll
~ 1908-1942 dade para transporur os ,edimenros finos.
o
e f
25 combin.1ç.l0 de condições resulc.urn.:!> dJ rcgul.1ç:io d,1 .lgua. E!>s,1
D 1966-2000 _J
,i 20 reo-ulJçJu reduziu ,1 descarv,l e aumemOLI .1 represenraciYid.ide de
hiliitats de remanso com ~uxo mais lenco, removeu a vegetaçâo

.~
u
o
15

10
7.2.2 Lidando com as invasões

~ão é possível visualizar o nicho mul-


ri pária, causando a dev;-1çáo da temperarnta do rio, e aumentou a
concentração de nucrienrc:s pelo escoamento .tgrícola e domésri-
1 tidimensional de uma espécie quando co. Marchecti e Moyle (2001) concluíram que J restauração dos
~ mais de [rês dimensões estão envolvi- regimes de fluxo mais narnrais é necessári.1 para limitar o avanço
C D das (ver C:apirulo 2). Contudo, uma dos invasores e escancar o declínio contínuo dos peixes nacivos
A
ln(b1omassa de peixes) (g m-2J -Jusante Montante- rfrnica matemática chamada ordenaçtlo (discutida em mais de- nessa parce do oeste dos Estados Unidos. Não se deveria inugi-
ralhe na Seçâo 16.3.2) nos permite analisar e represemar múl- nar, contudo, que os invasores inevitavelmente não se dJ.o úo
FIGURA 7.2 Inter-relações entre parâmetros b1ofâgicos medidos em um conjunto de braços do rio Colorado, a fim de determinar as causas tiplas espécies e variiveis ambientais simulraneamence em um bem em regimes de fluxo ''n.uura1". A truta marrom inva:,ora
básicas do declinío da distribuição das carpas-gigantes do Colorado. (a) Biomassa de invertebrados x biomassa de algas (clorofila a). (b) mesmo gráfico, cuja . . duas dimemões combinam as mais im- (Salmo truttt1) parece se d.ir melhor do que J.!guns peixes narivos
Biomassa de peixes que servem de presa das carpas-gigantes x biomassa de algas. (e) Densidade de carpas-gigantes x biomassa de pe1xes-
porranres dimensões do nicho. E~pécic::s com nichos semelhan- da farníli.1 G:1laxiidae nos riachos da Nova Zelândia em situaçóes
presa (estimada pela taxa de captura por minuto por meio da pesca elétrica). (d) Intervalo médio de recorrência de descargas necessârras para
produzir uma mobilização geral do feito do no e remover o lodo e a areia que seriam acumulados em seis braços do rro Colorado (para os quais res aparecem próximas no gráfico. Os fatores ambientais in- de alta descarga (Townsend, 2003).
existem registros h1stórrcos) durante períodos recentes (1966-2000) e antenores à regulação (1908-1942). As linhas acima dos histogramas fluentes aparecem como seras que indicam a direção na qual Demre os táxons invasores respon-
mostram os mterva!os de recorrência máximos (segundo Osmundson et ai .. 2002).
aumentam dentro d.1s duas dimensões do gráfico. tv[archerri e dveis por perdas económicas, os pei-
Moyle (2001) usaram um método de ordenação chamado aná- xes representam um componente re-
lise de correspondência c.rnônica para deKrever como um con- lativamente insignificJnte. A Tabela
pas[agens e a provisão de trigo, beterrabJ. e [erras de pousio 111Jvera com freqüência produzia fluxos de descarga com força 7 .2 analisa as dezena::. de milhares de invasores exóticos nos
nas fa1_endas advcis. para mobilizar o leira dos rios e remover .1 maior parte do lodo EUA demro Je uma \'J.riedJde de grupos laxonômicos. Enrre
Uma das influeno,1s humanas mais comuns sobre os ec.os- e da areia que se acumulavam. Em decorrência da regulaç.ío dcs, J. re!!oru star thisr!e (Ct'ntaure{l solstiti,lÍh) é uma erva da-
sisrenus fluviais cêm siJo a regulaçJo de sua descarga. Assim, dos rios, contudo, o intervalo médio de recorrência dessas des- ninha ~1ue domina mais de 4 milhões de hectares na CalirOr-
a rescauraçáo dos rim com frequênciJ. envolve o restabeleci- cargas aumentou de uma vez a cada l ,3 a 2, 7 anos para apenas nia, provocando a perd,1 rntal de pastagens ora produtivas.
mento de aspectos do regime de fluxo natural. A c1pração de uma vez a cada 2,7 a 13,5 anos (Figura 7.2d), o que causou Estinu-se que O'.'I raros de,;rroem USS 19 bilhões, cm grãos ar-
Temperatura
igua para uso agrícnLi, induscrial e domés[ico mudou a hidro- um aumenro no período de acúmulo de sedimentos finos. mJzen.1dos por ano no~ Estados Unidos, além de caus;uem
gr.ü[,1 ( padrões <le de~carga) dos rios tanro pda reduçJo Je suJ
JesLarga (volume ror unid,tde de rempo) quanto pda altera-
çJo Jo:, padrões de fluxo di.inos e s.1zo1u1s. A rara c.1rp.t-gi-
game do Coloradu, (P1:)'chocl,ei!w !uczw), é um peixe piscí\·o-
Grandes descargas também podem influenciar os pei:,.:e::.
de ourras maneiras, como mantendo e.mais e outros elemen-
tos <l.1 heterogeneidade do h.íbir.u e mdhor.rndo JS con<li~õt:~
do subscraro para a de~ova (elemenrns Jo nicho fundamental
u
u
<(
o
w
o ---
Cordut1v1ctade __.. Descarga

-~Sombra
rncênd1os ao roerem fios elétricos, poluírem gêneros alimend-
cio,, e">pallurem docni..;a:i e predan:m espécies nariv,1s. A for-
miga ]Jv,1-pés \'ermellu (Soltnopns 11n•tcta) mau .1ves don~é..,-
ric.ts. bgJrros, ~erpenre::. e Jves que nidificam no solo; apenas
ro (comedor de peixes) que est.Í agora resmtJ às cabeceir.1s do de algumas espécies). Os gesrores devem visar J. incorporaçJ.o -1 no Texas seu J.rno nas criaçõe::. de animais domésticos, 11.1 'iJa
Remansos
rio Colorado. Sua dis(ribuição .nua! esd correlacion.1da posi- de aspectos ecológicos importantes da hidrografia natural Je :-.elvagem e 11.1 saúde pública é cstim,1<.io em cerca <le USS-100
tivamente à biom.1ssa de suas pres,1s. a qu,tl depende d.1 bio- um rio nos esforços de rescaurJção fluvial. m;.is isso é mJ.is ficil milhões por ano. o qu,d é somado aos USS200 milhões gas-
massa de invertebrados dos qu.1is os peixes se alimenum, e de ser dito do que feito. Jowert ( 1997) descreve rrés Jborda- cos em .'..eu controle. Grandes popul.ições do mexilhJo-ze-
esta, por sua vez, csd posirivJrnente correLKioru<la com a bio- gens geralmente ucilizadas par.1 definir JS descargas rnínimJs: hra (Drl'l_,.,.t'Utl poh•morp/,a) ame.lÇJlll os mexilhões n.iti,:os
Eixo ACC 1
massa <le .1lgas, ,1 b.1,;e <la teia alimenrar (Figura 7.2a-c). Os- o fluxo histórico. a geometria hidriulica e a avaliação do hjbi- e uucro\ compon~ntes d.1 fauna, não .1penas por meio da
mundson e colaboradores (2002) sugerem que a raridade de tac. A primeira abordagem assume que um.i dererminada por- reduçáo da d1sponibilidJde de alimenrn e m.:igên10, mas tam-
FIGURA 7.3 Piotagem rjos resultados da análise de correspondência
P luciw pode ser tr.1ç:1da até o acúmulo de sedimenro fino cencagem da deKarga média é necessiri.1 p.1rJ m,rnter um canônica (do1s primeiros eixos ACC) mostrando as espécies de pei- hém pelo ~eu sufocamento. Os mexilhões também im·a-
(que reduz a produtividade das algas) nas regiões à jusante du ecossistc::ma fluvial "saudável": 30o/o são cm geral usados xes nativos (;,)_as espécies 1ntroduz1das invasoras ( ) e cinco va- Jem e ohsrrucm e.mos de captJçâu de ;ígua, e milhões de
náveis amb1enta1s influentes (as setas representam a correlação
rio. O, sedimento:-. finos não fazem parte do nicho funda- como norma prática. Os métodos hidriulicos relacion.1m a dólares sio gJHOS nJ. suJ extração de estJções de tratJmen-
das variáveis físicas com os eixos canônicos) (segundo Marchet11
mental de P lucius Hi)toriCJmenre, o degelo dJ. neve na pri- descarga à geomerri:i hidráulic.i dos cMuis (com base Lrn e Moyle. 20011 co de .ígu,t e u,ina,;; hidrdérricas E,n gerJI, as pragas de
190 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APuCAÇôEs EcmoG1cAS NOS Nive1s IND1v1DUAL , POPULACIONAL 191

TABELA 7.2 Custos anuais estimados (em bilhões de dólares) associados às espécies invasoras nos Estados Untdos. Os grupos nico. Shea e Chesson (2002) usam a expr<ssão oport11md.1de de cudes (> 2.890 m), volradas para o
taxonõmicos estão organizadas em ordem decrescente de seus custos totais {Segundo Pimentel et ai.. 2000)
,úcho - em cermos de uma alca disponibilidade de recursos e con- sul ou sudoeste e distances, no máxi- ~!L.:::!1 n.c;~-. sem;:~e
Número de Perdas Custo do Custo ::c,,c,c\~ cJ;-:-, 3s
controle total
dições físico-químicas apropriadas (jumamenre com a ausência mo, 400 m de cursos de água (Figura
Tipo de organismo espécies invasoras Principais culpados e danos
ou escassez de inimigos naturais) - para descrever o pocencial de 7. 5). De acordo com o grau de apro-
Micróbios (patogêrncos) > 20.000 Palógenos de culturas agrícolas 32.1 9, 1 41,2
37,2 ND 37,2 uma dada região em permitir que um invasor tenha sucesso. Eles ximação das áreas com as caracterís-
Mamiferos 20 Ratos e gatos
Plantas 5.000 Ervas daninhas de culturas agrlcolas 24,4 9,7 34,1 observam que as acividades humanas freqüentemente aheram as ticas ócimas do hábicac d.as monarcas no f\...1éxico central e con-
Artrópodes 4.500 Pragas de culturas agrícolas 17,6 2.4 20 condições ambientais, fornecendo oportunid:.1des de nicho para siderando o desejo de minimizar a inclusão do principal hábi-
Pombos 1,9 ND 1,9
A11es 97
Manscos asiáticos. Mexilhões-zebra 1,2 0,1 1,3 os invasores - a regulação dos rios e um exemplo. Nem melas as tac para a atividade de c:xrração de madeira, um sistema de
Moluscos 88
Peixes 138 Carpa "grass~. etc. 1 ND 1 espécies invasoras causam prejuízos ecológicos e perdas econômi- informações geográficas (SIG) foi usado para delinear três cená-
Répteis e anfíbios 53 Serpente arborícola marrom 0,001 o.aos 0.006 GlS óbvias; na verdade, alguns ecólogos distinguem as espécies rios. Esses cenários apresentaram diferenças de acordo com a
NO = dados não·d1sponive1s. cx:ócicas que se esrabdecem sem conseqüências ~ignificarivas da- área que o governo poderia aceitar disponibilizar para a con-
c,udas que eles consideram "verd.adeirameme invasoras" - cujas servação da borboleca-monarca (4.500 ha, 16.000 ha ou uma
Populações aumencam "explosivamçnce" em seu novo ambienre, área ilimitada) (Figura 7.6). Os especialistas preferiram o ce-
culmras agrícolas, incluindo as ervas daninhas, os inserns e os o\obam irc1s onde o homem mora ou trabalha passuem uma c.1usando impactos significativos sobre as espécies loc.iis. Os ges- nário sem limitação da dimensão d.a área, o qual resulrnu na
a.gemes pJrngênicos, provocam os maiores custos econômi- ~aior probJbi11d.1Je <le serem cransporcada.s para novas regiões. tores precisam distinguir os novos inv:.1~ores potenciais t:.1mo em necessidade de 21.727 ha de reservas (Figura 7.6c). Apesar do
cos. :\.lém disso, a imporrJç:10 de org.111ismo~ 4ue ca.u~am doen- onde tender.lo a .,er <lepmic.1d,1s em h.ibic.u::. semdlunce::. àqudes rd.1çJo i sua probabilid.lde de estabelecimento. ~e des chega- faco de sua recomend.tçJ.o ter recaído sobre a opç:lo de maior
ç.ts no homem, principa.lmenre os vírus HIV e da gripe. cus- Je ::.u.1 re!c!;i.io de origem .. -\ssim, um m.llor número de espécie:-. rem em umJ no\·a regilo (em grJnde p.uce Jependeme das cusrn, ela foi aceica pelas aumridJdes.
tam US$7,5 bilhões em cracamenco e causam 40 mil morces in\'asoras .___~ encontrado em hábirars perrurbad.os próximos a cen- ne..:essidades de seu nicho), qu.11Ho à sua probJhi!id..1de de pro- A elucidação do nicho fundamental das espécies que fo-
por ano (ver Pimencel et ai., 1000, p.ua maiores detalhes e tros de rr.i.nsporre. e um menor número é encontr.i.do em áreas vocu conseqüências dramáticas nJ comuniJJde receptorJ (isrn ram conduzidas a uma raridade extrema não é fácil. O "rahake"
referências) momanhos.15 remoras (Figura 7.4a). AJ~m disso, mais invasores s.:rá tratado no Capírulo 22). As esrrarégias de manejo neces- (Porph_yrio hochstenen), um frango-d'água gigante, é uma das
As plamas alienígenas das Ilhas Bri- chegam de locais próximos {p. ex., Europa) ou de locais remoras .dri.is para a eliminação de pragas invasoras normJlmence exi- duas únicas espécies de uma guilda de grandes aves herbívoras
rânicas iluscrarn um número de aspec- cujo clim.1 (e, conseqllencemence, o nicho do invasor) assemelh.1- gem um encendimento dJ dinimic.1 das populaçôes envolvi- que não voam que dominavam a paisJ.gem da Nova Zelândia
tos acerca das espécies invasoras e dos ~ àquele encontrado na Inglaterra (Figura 7.4b). Observe o pe- d.ts. Esse assunto será discucido no Capíwlo J 7. pré-humana (Figura 7.7). De fato, acreditava-se que ela estava
nichos que das ocupam (Godfray e Cra- queno número de plantas alienígenas de a.mbienres tropicais; es- extinca até a descoberta de uma pequena população localizada
wley, 1998). A:; espécies cujos nichos en- sas espécies em geral sáo incapazes de sobreviver ao inverno bric.i- nas remocas e climaricamence excremas Moncanhas Murchi-
7.2.3 Conservação de espécies ameaçadas de son no sudeste da South lsland, em 1948 (Figura 7.7). Desde
extinção então, grandes ~sforços de conservação têrn envolvido o ma-
nejo de seu hábirac, sua reprodução em caciveiro, solruras nas
(a) A conservação de espécies sob risco de Momanhas Murchison e áreas próximas e rranslocação para
.: -:cs·1vg:a co
Lixão :1-J extinção com freqi.Jência envolve o es-
e a .:,e19ç,:::·.:: ilhas a pouca distância da praia que não possuem os mamífe-
Cercas V1vas e arbustos "':: ur.,Jades ::e cabeiecimenrn de área..s protegidas e, ros introduzidos pelo homem, os quais estão dispersos acual-
Terras cultiváveis e Jardins
Rochas e paredes
J.s vezes, a translocaçlo de indivíduos meme por todo o continente (Lee e Jamieson, 2001). Alguns
Floresta para novos locais. AmbJs as aborda- ecólogos argumentam que, devido ao faro do "tahake" ser um

--
Costas ~ens deveriam ser embasadas em considerações .1cerca das ne- especialista em pastagens (couceiras alras da gramínea do ge-
Beira de rio
Pântano e lagoa
~essidades d.o nicho d.as espécies em quesc.io. nero Chionochloa são o seu principal alimento) e estar adapca-
Gramado O hábitat, no México, onde as borboleta\-mon.trca (Da- do à zona alpina, eles não se dariam muiro bem fora deste
Uneal i ,. H,rus plexippus) passam o inverno é absolucarnenre crítico parJ. nicho (Mills et ai., 1984). Outros profissionais baseiam-se no
Montanhas
~ i.:IJs, que se reproduzem no sul do Canadá e leste d.os Estados registro fóssil, o qual indica que a espécie foi oucrora comum
0.2 0.4 0.6 o.e 1
Proporção de espécies alienigenas na flora total
Unidos. As borboletas formam densas colóni.1s em florestas e ocorria principalmence em alrirudes abaixo dos 300 m (com
de aberns (Abies religiosa) em l 1 mom.1nh.1.s \ep.HadJs no Mé- freqüência em áreas costeiras - Figura 7.7) onde escava asso-
(b) xico cenrr:il. Um grupo de especi.1lisc1s to1 urganizado para ciada a um mosaico de floresta, capoeiras e campos. Estes ecó-
definir objecivos, le\·anrar e anaiis.1r os JJdo~ disponín~is e logos defendem que o "rahake" pode esur bem-JJapCJdo parJ
Medlterrãneo
produzir soluções alternativas viáveis Jü problem,t d.1 maximi- viver nas ilhas livres dos mamíferos invasores. De faco, os céti-
Ásia zação da proteção dos hábirars de invern<.1 con(omiranremc:n- cos escavam errados ao pensarem que as populações cransloca-
Aménca do Sul te i minimização da inclusão de terras de vJ!'.Jr para J indús- das par:i. as ilhas nJ.o se tornariam auco-suscencáveis (o "ca.h.ike"
China
Turquia e Onente Médio
tria madeireira (Bojorquez-TapiJ er ai., 200.3). Como c:m j.í foi introduzido com sucesso em quatro ilhas), m.b parece
Âfnca do Sul muicas ,ireas dJ ecologia aplicada, critérios ecológicos e eco- que escavam certos ao acreditar que as ilhas não forneceriam
Nova Zelãndia nómicos devem ser avali:idos t'.'m conjumo. :\~ dimensões crí- um hábirac ótimo: as aves das ilhas apresentam um menor
Japão
Austraha
FIGURA 7.4 A flora alienígena das Ilhas Bn· ticas do nicho de inverno das monarcas lncluem cond1çóes sucesso de incubação e criaçáo de ninhegos do que as aves das
tãnicas. (a) segundo o upo de comuntdade relJcivamence quemes e úmidas (permicindo :i sobrevivência e montanhas (Jamieson e Ryan, 2001 ). O nicho fundamental
Aménca Central
(observe o grande número de alienígenas
Ilhas do Attãnheo a conservação de energia para a vi::i.gem de recorno ao norte) e do "tahake" provavelmente engloba uma grande parce da pai-
nos hàb1tats abertos e perturbados prôx1mos
Trópicos
lnd1a
aos assentamentos humanos) e (b) segun· a disponibilidade de cursos de água (recur.;;o) em que as bor- sagem da South Island.. mas a espécie ficou confinada a um
'--~~,Joo~~~,~00~~~300'--~~40~o~~~soo do a origem geográfica (refletindo a proxi- bolecas bebem água em dias ensolarados e qucncc::s. A maioria nicho eferivo muiro mais escreito pdos humanos que a caça-
midade. o comércio e a semelhança chmà-
Número de espécies ahenigenas 11ca) (segundo Godlray e Crawley. 1988) das áreas com colônias conhecidas escá loc.diZJda em flo- ram e pelos mamíferos invasores, como o cervo-vermelho ( Cer-
, rescas dt'.' encosta com incliruçlo mrn.ieraJJ. em J]t,ts :dei- vus elaphm scoricw). que compere com ela por alimento, e o

í
l
1
,..,____

T
192 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS NOS NiVEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 193

(a) (b)
30 60 Sims, Mansons, Sone Caves ,Anapa1

1
25

.
50
Honeycomb Hill
20

1
>i 40

i 15
i1 :I

11
Wai,au
-\11.1' . 30
10

1 i i'l,.
j a
! 20

10

1 11 1'" '
.:!!1
2-6 7-10 11-14 15-18 19--22 23-26 27-30 31-35
, \-............,
,' ~ lWeka Pass
Timpendean
Inclinação (C) 2.29~ 2.448- 2.596- 2.744- 2.892- 3.040- 3.188r 3.336- Wa1para
2.447 2 595 2 743 2.891 3 039 3.187 3.335 3.483 . "\ Pyramid Valley
Elevação (m) Murchison Mountams Watkan Cave
(população atual) / ~
(e) (d) ~ \ _.,..,......., Op1h1 A1ver, Totara Valley
601 100
/ \ K.ngs =-- Cave
1i} ~---Sit,os de Tuarang1 Stn
50 1

.
y' \ MI Harns, Kapua
/
. ·
80
·i (\l \ '1 ~- 1Ngapara!Totara
l
40
:~ t~}} :"\l---J'\/;}
lJ'. i 60 -r-~:;~-A~::! Enf1eld

i1i
30

U
/2:·t---Aoss'sRocks
20 ! 40 O
Earnsc!eugh

) ------ Macraes
· :,-....... J Warrington, Wai!ati
I Long Beach. Ka,kaós Beach
10 Castle Rocks ~
s,I
·.-i 20 Pahia-~-,.~:. .~False 1.
Wakapatu~· ~~ --......--..J Pounawea
N-NE NE-L L-SE SE-S 5-50 S0-0 O-NO NO-N
Aspecto
o Colac BayP·. ,
,
',,, . Cannibal Bay
· Tokanni Mouih
0-200 401- 801- 1 201- 1 601- 2 001- 2.401- FIGURA 7.7 Localização de ossos foss,h-
600 1 000 1 400 1.800 2 200 2.600 J Foresl Hill zados de "tahake" na South lsland da Nova
Proximidade de cursos de água (m) Green~ills [ McKerchers Cave Zelàndia (segundo Trew1ck e Worthy, 2001)
'.IGUR~ 7.5 D1stnbu1~ão de frequências observ:adas de 149 colõnias de inverno de borboletas-monarca no México central em relação à/ao (a)
1nclrnaçao, (b) elevaçao, (e) aspecto e (d) proximidade de cursos de água (segundo Bojorquez-Tapia et ai.. 2003)

(a) (b) (e)


7.3,1 Características das espécies como seu ciclo de vida (como a germinação, a floração e a dispersão
prognósticos para a restauração efetiva de sementes). As gramíneas com melhor desempenho toram
FIGURA 7.6 01stnbuição ótima de reservas Fcstuca rubrt.1 e Trúetum flavescem (índices médios de desem-
de inverno para as borboletas-monarca nas Ppvdl e colaboradores (2003) reuni- penho de 0.77 nos quJtro anos); e. entre as Jórbs. especial-
montanhas do México central (áreas colori-
r.tm os resultados rublicados de 25 ex- mente Leucamhemum uulgare (0,50) e Achillea mt:Llefolium
das) segundo três cenânos· (a) ârea l1mrta-
da em -l.500 ha. (b) ârea hm1tada em 16 000 pçrimentos que vi':iaram à resuuraçio (0,40) tiveram sucesso. As gramíneas, as quais apresenrarJm
ha e (e) sem hm1tação da dimensão da ârea de cJmpos ricos em e)pécies a partir pouc.1.s relações entre as caracceríscicas <las espécies e m seus
(a área incluida tem 21.727 ha). As hnhas
d-:: terras que h:.iviJ.m sido ·'me!hora- desempenhos (apenas a ruderalidade e.'>teve positivamente cor-
alaranjadas representam os hm1tes entre as
áreas de represamento de nos. O cenâno J,ts'' para servirem de p.1stagem ou ma- rel.1eio11Jda), superaram aç forbs. Dentre esras últimas, o bom
(e) foi aceito pelas autoridades para o esta- d.1s para agriculrur,L Eles descja\·,1m reL1cionar o desempenho estabde(imento esre\·e ligado à capacidade de coloniza~ão, !1
belec1mento da ··Reserva da Biosfera da
dJs planta.' 3.s suas bionomias. Com b.1se nos resultados do:. porce1Hagem de germinaç3.o das sementes, J. germinaç:io de"
Borboleta-Monarca·· do México (segundo
Bo1orquez-Tap1a et ai. 2003) f)ílmc!ro.., quJcro .mos da resr.1urJçáo, eles ca!culJram um ín- outono, J.o crescimento veger,uivo, :, longevidade do f\Jnco
dice de de':iempenho pdra gramíneas ( 13 espécies) e farbs (-!5 de sementes e ao há.bico generalista em rdaçâo ao hábiur, e a
espécies; Jà1 bs são definidas como plantas herbáce..is que não capacidade comperitivd e a uxa de crescimento das pLir~rulas
arminho {.i\Iustdla trmmt:il), que a preda. A distribuição Jtual )e parecem com gramíneas) norm.1lmente semeados. O índl- aumentaram em imporrcincia como dererminanres de suces;so
de espécies como o "rahake", .1s quais rêm sido empurradas LC:, cJlcubdo para cada um dos quatro dnos, foi b.1seado na ao longo do tempo (TabelJ. 7.3). Os roleranres ao estresse, m
para muirn próximo JJ exrinçJ.o, poJe fornecer informação Vimos no Capítulo 4 que cerras combinações de cJncrcrísti- proporção de parcc!tlS (0,4 x 0,4 m ou n1Jiores) que conti- especialistas em háb1tar e as espécies de hábirats inférteis tive-
incompleta sobre os requisito'> de seu nicho. É provavel que CJS ecológicas ajudam a determinar os padrões de fecundidJ- nham a espécie em rrar..imenrns onde aquela espécie era seme- ram um mau desempenho (em parte como reílexo da :i.ltJ CÍ)po-
nem JS 1\tlontanhas Murchison e sequer as ilhas próximas à de e sobrevivência, os quais, por sua vr:z, dererminam a Jisrri- ada. A anilise dJ bionomia incluiu 38 caracteríscic1s das plan- nibilidJde de nurrientes residuais de muitos campos restaurados).
costa (com pastagens, c-m vez de rouceiras de gramíneas) coin- buiçáo e a abundância das espécies no espaço e no tempo. tas, abrangendo a longevidJde das sementes no b::rnco de se- Pywell e colaborJdores (2003) acreditam que a eficiéncia JJ res-
cidam com o conjunto ideal de: condições e recursos do nicho Nesra seção, considerJremos a possibilidade de que cc:rus c:.1- memes, a viabilidJde da semente, a raxa de crescimento da tauração poderia ser melhorada pela semeaJura apenas de espé-
fundamenul do ·'uh.1ke" Reconsrrucões históricas da discri- racrerísricas podem ser úreis ,lOS gesrores preocupados com a pl,i.nrula, a forma de vida e a esrrarégia bionómica (p. ex., com- cies com JS CJiacterísticas ecológ1Cas idenrificadas. Contudo, comu
huição de espêcie'> ameaçadas podem a~xiliar os gestores a iden- resuur:ição, a biossegurança e o risco de extinção de espécies petitividade, rnlerância ao estre.<1se e habilidade de colonização isso c.tu.saria uma uniformidade entre os campos restaurado~. eles
tific:ir os melhort.''i lou.is para o estJhdecimenrn de reservas. raras. [ruderalidJdej) (Grime er ai.. 1988) e a época dos eventos de também sugerem que espêcies desej:íve1s, mas que:: apresc:::Ham
19 4 PARTE l - ÜRGANl5MOS CAPÍTULO 7: APUCAÇÓES ECOLÓGICAS NOS NIVEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 195

TABELA 7.3 Características ecológicas das forbs que apresentaram uma retação s1gnd1cat1va com o desempenho das plantas entre e Richardson, 1996). Na Nova Zelândia. há um registro premo cluíam apenas uma cacegoria de alimento em sua diera (isco
o 1a e o 4-sl anos após a semeadura em experimentos de restauração de campos. O sinal indica se a relação foi positiva ou negativa
(segundo Pywell et ai .. 2003) dos sucessos e fracassos nas tenrarlvas de inrrodução de aves. é, 100°/o p:.,cívoros, insecívoros, herbívoros ou decricívoros
Sol e Lefebvre (2000) observaram que o sucesso da invasão em concrapartida a onívoros que ucilizam duas ou mais ca-
Caracteristica n Ano 1 Ano2 Ano3 Ano4
aumema com o esforço de introdução (número de cenca[ivas e cegorias de alimenco) apresenraram uma. maior probabili-
Ruderahdade (capacidade de colonização) 39 +. NS NS NS
Germinação no outono 42 NS NS NS número de indivíduos desde a colonização européia), o que dade de excinção local. Seria possível supor que os preda-
Germinação (%) 43 + •• NS não é uma surpresa. O sucesso de invasJo também foi maior dores de copo de cadeia correriam maior risco de excinção
Taxa de crescimento da plântula 21 NS para espécies nidffugas cujos jovens não são alimenudos pelos do que as espécies de níveis tróficos mais baixos, cujo su-
Capacidade competitiva 39 + •••
Crescimento vegetativo 36 + .. pais (como as aves cinegécicas), espécies náo-migra.tórias e, em primenco alimencar é mais estável. Em um escudo sobre
Longevidade do banco de sementes 44 especial, aves com cérebros relarivamenre grJn<les. A relação espécies de besouros em hábicacs florestais experimencal-
Tolerância ao estresse 39 com o tamanho do cérebro é em parce uma conseqüência mente fragmentados (comparados à floresca concinua).
Hábito generalista 45 + ..
das espécies nidífugas cerem cérebros maiores, mas prova- Davies e colaboradores (2000) detectaram que. dentre as
• = P < O.OS: •• = P < 0,01: ••• = P < 0,001; n = numero de espécies na anâhse: NS = não-s1gnif1cattva velmente cambém reflita uma maior flexibilidade compor- espécies cuja densidade diminuiu, as carnívoras ( l O espé-
t.11nencal; os invasores bem-sucedidos possuem mais regis- cies. redução média da população de 70%) de faco declina-
rros Je utilização de novos alimentos ou dJ. Jdoção de no- ram mais do que as espécies que se alimentam de madeira
um bJixo desempenho, deveriam ser ,iuxiliadas por meio de 1·ulgari.i e o um Rtlttus n1ttus). induzindo-nos a perguntar .1,e ,·as técnicas de alimt.'ncação cirado.1i llJ !irer.1turJ (média p.ua marca ou oucro ripo de decrito (cinco espécies, redução
sua incroduç.lü drios Jno~ após o inicio d.1 resr.1uraçáo. quan- os in\",lSore, dL' .\lKnso c.om~urrillum C.tr;Kterísric.is que au- 28 e.,pécie_..c:: l ,96. de!l,·io-padr:ío=.1,21) do ljllC .t\ cspt:cies média d, popul.1çfo de 25%).
do as condições .1mbienrJÍ.s s.l.o 1na1s f.t\'Orá\'eis ao seu esrabe- me1H.1m :\U:1~ Lh,1ncc:\ de 1n\',1são bem-sucedida (i\L1ck et ai., que nJo obriver.,m sucesso (médi.1 p.1r.1 --tS npéc1es=Ü. 58. Um padrão que se tem reperido
lecimenco. 20001. Se fos.1ie possí\·d produzir um.1 lisc.a de caraccerísricas desvio-padrão= 1,01 ). é que o risco de extinção tende a ser
associad.1, ,1 im·asão bem-sucedida, m ge.1irores reriam boas Apesar de indicações de previsibilidJde do sucey,o <le inva- mais alco para aquelas espécies com
condiçõ<:s <l<: Jvaliar os riscos dé' esrab~lecimenco e, assim, üo para alguns cáxons relacionada à alta fecundid.1de (p. ex., maior camanho corporal. A Figura
7.3.2 Características das espécies como poderiam priorizar os porenciais invasores e delinear procedi- produção de sememes nos pinheiros) e a nichos !Jrgos (p. ex., 7.9 ilustra esse padrão enrre os mar-
prognósticos para a definição de menrm .1dequ.1dos de biossegurança (\Vircenberg e Cock, flexibilidade comportamental nas a,·es), as exceções a essas "re- supiais australianos que foram exrin-
prioridades de biossegurança 2001). O SLh.:esso de alguns táxons invasores tem um elemen- gra:·t são comuns, e exisce um número muirn mJior de casos ros nos últimos 200 anos ou que estão atualmence ameaçados.
ro de previsibilidade. Das cerca de 100 espécies de pinheiros :io~ quais nenhuma relaçáo foi encontrada. Esce faro levou A.lgumas regiões geográficas (p. ex., zonas áridas comparadas
Um grande número de espécies cem ::a.~a ;:::,s;aoe!ecer inrroduzidas nos EUA, por exemplo, o conjunto que invadiu \Villiamson ( 1999) a indagar se as invasões saiam mais previ- a mésicas) e alguns cá.xons (p. ex., potoroos, bettongs, bandicoots
invadido locais muico distantes no pla- com sucesso O'> h.íbitats nJcivos é caracterizado por semenres sí\·eis do que os cerremocos. O melhor prognóstico J3 proba- e bilbies) ti:m sofrido com taxas de extinção/ameaça mais alcas
neta (p. ex., o arbusto La,uana cama- pequenas. um curro inrervalo enrre sucessivas produções ma- bilidade de sucesso de invasão de uma espécie é o )eu sucesso do que oucros, mas a relação mais force é entre o camanho
m [Figura 7.8], o estorninho Stun1lti ciças de semences e um curto período juvenil (Rejmanek e anrerior como invasor em outro local. Porém, isso Jpenas for- corporJI e o risco de extinção (Cardillo e Bromham. 2001).
nece dicas úreis aos gestores responsáveis prn controlar JS in- Lembre-se que o tamanho corporal é parce de uma síndrome
,·J.1,ões para priorizar os potenciais invasores de su.1s respecci- bionômica comum (essencialmence r/K) que associa o grande
vas regiões. tamanho, a maturidade sexual rardia e a baixa alocação de
energia para a reprodução (ver Seção 4.12).
Cortes (2002) explorou a relação entre o tamanho corpo-
7.3.3 Características das espécies como ral, a idad \a maruridade sexual, o tempo de geração e a [aXa
prognósticos para o estabelecimento de finita de crescimenco populacional À (referida na Seção 4.7
prioridades de conservação e de manejo conio R) por meio da elaboração de rabeias de vida com esuu-
de exploração curaçâo etária (ver Clpículo 4) para 41 populações de 38 espé-
cies de tubarões e,;rudadas ao redor do mundo. Uma plota-
Os gestores seriam nui) cap.1zes de gem rridimensional de À em relação ao cempo de geração e à
prioriz:1r as e~pécie':> que necessitam idade da macuridJde sexual mostra o que Cortes (2001) cha-
de irHen·ençóes dt cun)Ct\'JÇ5.0 Se' nu de um contmuum "rápido-lemo", no qual a~ espécies c.1-
fosse possí\'el prn cr. u)lll h.1\e n.1s racteriz.1d.1s por uma nururidade precoce, um tempo de ger.1-
CJraderísc1.:-as J.1s n~1Jc1c:5, :1q uel.1s çio curco e: gc:ralmenre um alro À se sicuam no extremo do
que enfrenrJm o maior risco de extinç:io. Com isro em men- IJdo rápido do espectro (canto inferior direito da Figura 7. J Ü.l).
te', Angc:rmeier ( l 995) analisou :is carJC[erI<;tius de l 97 As espécies siruadas no lado lento do espectro apresencJ.ra.m o
01924 t)pC:cie...s de peixes de água doce hiscoricamc:nre nativos do padrão oposrn (Figura 7. lüa, à esquerda), além de mosrrHem
e!IC1do da Virgínia, EUA, observ.rndo em f1 Jrricular J) ca- uma tendência a possuírem um grande camanho corporal (Fi-
ncteriscicas de 17 espécies auulmenre excinras no estado e gura 7.1 Ob). Cortes (2002) avaliou, ainda, a capacidJde de
de outrJs nm·e consideradas ameaçadas de\·ido a uma redu- váriJs espécies de responderem a mudanças na sobre,·ivência
çáo significariva de suas áreas de ocorrênLÍJ. A mJ.ior vul- (devido. por exemplo, a perturbações humanas. como J po-
ner:1bilidade das especies especi:1l1Has foi p,uticularmence luiçâo e a pesca). Os tubarões "rápidos"', como Sphyrna riburo.
inreressanre. A:,sim, as espécies cujo nicho incluía apenas podiam compensar uma perda de 1Oo/o na sobrevivC:nci.1 de
FIGURA 7.8 O arbusto Lantana camara, um exemplo rte invasor muito bem-sucedido. foi transportado deliberadamente de sua área de ocor- um tipo geológico (dos vários presentt.'s n.1 Virgínia), aque- adulto,; ou juvenis aumencando a c.ixa de na[alidade. Por ou-
rênc,a ongmal (área sombreada) para regiões subtropicais e tropicais muito distantes. onde se disseminou e aumentou em número até atingir las restritas à água correnre (em concr1parr1JJ à ocorrência cro lado, deve-se ter um cuidado especial ao considerar a sícuJ.çáo
proporções de praga (segundo Cronk e FuUer, 1995) de espécies geralmente grandes, de: crescimc:mo lenro e de vida
t.tnro em água corrente quanto parad.1) e ,14uebs que in-

1
196 PARTE 1 ~ ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS NOS N1vE1S INDIVIDUAL E POPULACIONAL l 97

40 (b)
1
~ Outras espécies - - - - ' º e - º - - - 20'L
35
D Extintas e em perigo
~
u
30 D Exllntas

125
.g 20 60"N
e
-~ 15
Z 10 FIGURA 7.9 Freqúência de distribuição do
tamanho corporal da fauna de marsupiais SO"N
terrestres da Austrália, incluindo 25 espé-
cies extintas nos últimos 200 anos (larania-

Log 10 peso corporal (g)


escuro). Dezesseis espécies atualmente
consideradas em perigo são mostradas em
cinza (segundo Cardillo e Banham. 2001)
40'N •
e f

~~~"""-'
(e) (d)

(a) (b)

60"N 60'N

SOºN SO'N

40ºN 40'N

(e)

20

. FIGURA 7.11 Distribuição histórica de


quatro raias localmente extintas no no·
roeste e nordeste do Oceano Atlãn1,co·

FIGURA 7.10 Taxa de crescimento populacional~- média de 41 populações de 38 espécies de tubarão em relação a (a) idade na maturidade
sexual e tempo de geração e (b) idade da matundade sexual e comprimento total do corpo (segundo Cortes, 2002)
i.
~
(a) raia-barndoor Oipturus laevis, (b)
raia-comum O. batis, (e) raia-branca
Rostroraja alba e (d) raia-long-nose D
10
~ oxyrh1nchus. e = área de extinção local
§ e?= possível extinção local: p = presen-
z te em recentes 1nventános de pesca. ?
-= situação desconhecida: a barra de es-
long,l, como Cuc/,,n·/,:;111:J" leu(if.,. Ne:i,e:i ,._·,bo~, are mesmo rc- cala representa 150 km. (e) D1stnbu1ção
de freqUéncias do tamanho corporal das
duçÓes moderad.1., J,1 :.obre\·ivtnci.1 dt.' ,1du!ros ou, especial-
raias - as quatro espécies localmente
meme, <le joven:, e\1gem um nível de compensJçáo em camos 7 .4.1 A restauração e as espécies migratórias o
o 50 100 150 200 250 300 extintas são mostradas em laranja-es-
de fecundidade ou ~ohrevivenci.1 logo ,1pÓ) o nascimento que curo (segundo Dulvy e Reynolds, 2002)
Tamanha corporal (cm)
uis espécie~ njo co1beguem JcenJer. As í~l!JS {Rajidae) forne- As espécies que passam parte de suas vida.sem um h..íbitat (ou
cem uma ilusrr.1çJ.o gd~lc1 do aleru de Cortes. Das 230 espé- região) e parte em outro (ver Seção
cies <lo mundo. h.i ~videncias de que .1pen.1s quJtro so~reram 6.4) podem ser ~fetadas seriamente pécies são anidrom.1s: os adulcos sobem os rios costeiros parJ idemiftCJram os períodos de migração como "pico" (> 1.000
n:tinções loc.lÍs ou uma re<luçJu .-.ignificariv.1 de MIJ.S áreJ.s de pebs atividades humanas que influen- desovar em l.1gos no pc::ríodo que vai de março a julho, e os peixes por semana·!) ou "total"(> 30 peixes por semaru- 1, ob-
ocorrencia (Figura-. l l.1-d). E eL1s est:io enrre as m.1iores de ciam sua capacidade de deslocamento pi::ixes jovens permanecem na água doce por 3 a 7 meses anres viamenre incluindo o "pico""). Ao medir simultaneamente uma
seu grupo (Figuía 7 .1 le). Dulvy e Re'.;rw!<ls (2002) sugerem entre eles. As populações em declínio Je migrarem para o oceano. Yako e colaboradores {2002) co- gama Je variáveis físico-químicas e bióricas, eles prerendi.u~
l.{LLe ourras sete espécie~. tJ.o gr,inde3 ou maiores que as loc.11- dos arenques de rio (,-l/osa pseudoha- ler.uam amosrras de arenques de rio rres vezes por ~emanJ. entre idenrificar os farores que serviriam par.i prever a época de mi-
menre extintas. de\·erum ser priori2.1das par.1 um moniror.1- rengw e .A.. aestivalis) no nordeste dos junho e dezembro no rio Santuit, a jusante do Lago Sanruir, o gração dos jovens (Figura 7.12). Dessa forma, determinaram
menrn cuidadoso. EUA s3.o um bom exemplo. E~sas es- qu.1l contém o único hibicH de desova no reservatório. Eles que os picos <le migraçio tinham maior probabilidade <le oc,1r-
198 PARTE 1 - ORGANISMOS
CAPITULO 7: APUCAÇóES ECOLÓGICAS NOS NivEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL l 99

uma boa conectividade física entre o hábitar de reprodução des Lagos). Outros métodos possíveis envolvem a utilização
(a) órimo e os hábicacs de dispersão. de siscemas de filuo duranre o carregamento da água de lasrro
e o rcacamenro a bordo por radiação ultravioleta ou pelo calor
\., 0,35
liberado pelos mowres do navio.
1 ~:: 7.4.2 Prevendo a propagação de espécies Os invasores mais prejudiciais não sá.o aqueles que apenas
~ 0,20
invasoras chegam em uma nova parce do mundo; seu padrão e velocida-
~ 6:!~ de de propagação também são importantes para os gescores
o o.os
Uma abordagem de larga escala para ambientais. O mexilhão-zebra (Dreissena polymo,pha) tem apre-
(d) prevenir a chegada de porenciais in- prooa~aç3,J de semado um efeiw devastador (ver Seção 7.2.2) desde sua che-
vasores passa pela identificação das és:iec,o?s ..h asaras gada à América do Norre acravés da roca comercial Mar Cás-
f 1.00 A
pio/Grandes Lagos. A expansão por via aquática de sua discri-
,g' 0,75 - principais raras de "migração", como
~ 0.50 pegar carona na correspondência ou em outras carga'.), em aviôes buição ocorreu com rapidez ao longo de todas as águas co-
·ã_ 0,25 .,. A --
1 0,00 _ PPA
FIGURA 7.12 Variação nas variáveis fí-
e n.wios, e gerenciar os riscos associados J. elas (\'i:-'irtenberg e
Cock. 2001 ). Os Grandes Lagos da América do 1-sone já fo-
mercialmente navegáveis, e sua dispersão por via rerrescre
até lagos interiores, principalmente encrustado em barcos
sicas e bióticas no no Santwt. EUA. du- rJm invadidos por mais de 145 espécies exóric,l.), muita) d-is de passeio, cem sido muiro mais lenta (Krafc e Johnson,
Jul Ago Sei Oul
rante o período m1gratôrio dos arenques qu,1is chegJ.ram com a igu.1 de b~cro dos n.1\ io,;. Por exemplo, 2000). Os geógr.1fos desen\'olverJ.111 os ch;im.1Jos modelos
(e) (f) de no. (a) descarga. (b) temperatura. (e)
um conjunco complero de in\'asorc's recentes (incluindo pc::Í- de "gravidade" pJ.ra prever os padrões de disper!)JO humana
""Õ 25
;, a
A
~ .. A
., a>

~ ~
A~
~
v1s1b1!1dade medida com disco de Sec-
chi (valores baixos 111d1cam pouca trans- Xc'.'S, mexilhóes, anfi'podes, cladóceros e CHJCÓÍ:::,) cem origem baseados na distância e na atratividade de pontos de desci-

!u Cheia
~
~ ~ " li ~s ,s
20 missão de luz devido à alta turbidez), {d) nJ outra ponta de uma imponance rara. de comérc10 nos ma- no. Bossenbroek e colaboradores (200 l) adouram esu téc-

.. "
A
A
• ~ S 10
~
... precipitação, (e) ciclo lunar e (f) densi-
dade de Bosmina. P indica periodos mi-
1cs Negro e Cáspio (Ricciardi e i\1aclsaac, 2000). Um n.1vio nica para prever a propagação do mexilhão-zebra act: os la-

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Nova Pa
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AiJ o~ 5 • PPA
. gratórios de "pico" (>1.000 peixes por se-
mana), P e A juntos indicam "todos" os
cargueiro oceânico cheio de água de lascro antes de -'>er carre-
gado nos Grandes Lagos pode despejar 3 milhões de litros de
gos inreriores dos Escadas de Illinois, Indiana, !viichigan e
Wisconsin nos Estados Unidos (um tocai de 364 conda-
<ll o períodos de migração (> 30 peixes por
Jul Ago Sei Oul igua que contêm vários esrágios vi[ais de muÍCOZI dxon:::, ve- dos). O modelo possui ués etapas que envolvem (i) a pro-
semana) (segundo Yako er af., 2002)
getais e animais (e, até mesmo, a bacréria cau~.1dora da có- babilidade de um barco viajar até uma fonte de mexilhão·
ler.1, Vihrio choíerae) originários do local onde .1 água foi zebra; (ii) a probabilidade do mesmo barco fazer uma via-
(aptada. Uma solução é dererminar que o Je:::,pcjo da água gem posterior até um local ainda não-colonizado pelo me-
rência durante períodos de lua nova e quando a densidade de fora dele e permanecem períodos em uma área de "dispersão'' de lasrro seja feiro obrigaroriamenre (não de nuneira vo- xilhão-zebra; e (iii) a probabilidade do mexilhão-zebra es-
presas imponances (Bosmiua spp.) no zooplâncron esrava bai- muiro maior (1 a 3 km 2 ). e os jovens dispersam de forma per- lumária) no mar ,1berro (esse é o caso atuJlmenrr.: nos Gran- tabelecer-se no lago ainda inabirado.
xa. Considerando rodos os períodos migratórios em conjunto manenre dentro dessa área (a Seção G. 7 rracou da vari.1ção in-
(30 a l .000+), foi possível detectar que eles tendiam a ocorrer crapopul.1ciorul da dispersão). Reunanen e colabor;.tdore~
quando a visibilidade da água era baixa e durance períodos (2000) .:om pararam a esrrucura da paisagem em volta das áreas
Hábitat de reprodução Hábitat de reprodução mais dispersão
com diminuição da precipiração. Não é incomum que as mu- de vida conhecidas de esquilos-voadores (63 locais) com área.,
danças na fase lunar influenciem o comporra.mento animal ao selecion.1d,1s ao actso (96 locais) para dererminar os padrões
funcionar como dicas ambienrais que disparam eventos do floresrai'i que: favoreciam os esquilos. Eles dereccaram, primel-
..:ido de vida dJs espécie~; no caso do~ arenques, a ocorrência ramemc. que os ripas de paisJ.gem podiam ser divididos em .·. 4 ..:-.
de migração próxima à fase de lua nova, qu ..rndo as noites são h.ibirac de reprodução ócimo (florestas misras de espruce e
cscttrJS, pode reduzir o ri:::,co di.: predaçáo por peixes e aves decídu.1~). !ühic:ir de dispersão {florestas de pinheiros e flores-
piscívoras. A queda na d1sponibilidade Jo alimento preferido c:is jovens) e hihiut impróprio (áreas de regener.1ção recente, 1 OOOm Pteromys
Jo:. arenques também pode desempenlur um p.ipel no estí- h,ib1ur'.) ,1hertos. igua). A Figura 7.13 ;i_presenra a quantidade
mulo :1 migração, e isso pode ser exacerhado pela incerferênci;.1 to ,Hr-rnjo c-:,,p,1ci:1\ do h.íbHac de reprodução e do hábit.H dt:
J,1 ,iguJ mrva que dificulc.1 o seu ti.HrJgeio ,·isu.1\. i\{oddos de d1~pc:rs,.l.o Lomo exemplos Je um local típico de esquilos-voa-
pre\·1sJo. como o do:::, arenque:::, do rio. pnJ~m ,1judar os ge.:::,to- Jore-. e um l(>L,t! de floresta .tle.Hóri,t. /\:o ger,11. a'.) p-1isage11:,,
ít.:S J. iJtnrific.u os perlodüs nos qu,1i,; .i desCJrg.1 do rio precisa dlh __.~quilo~-\·c1,1dores cont1,·er.1m crês \·ezes m.m h.íbi rat-; .1pro- FIGURA 7.13 Arran10 espacial das parcelas

.
;,er manriJa para coincidir com a migr,11.;J.o. pri.:tdo<i dt ~eproduçio em um raio de l km do que 1s paisa- (preto) de hàbitat de reprodução (painéis à

As populações de esquilos-voado- gens sdecion.1,bs ao acaso. As paisagens dos esquilos também . - ··-·------~~
1111..-,
esquerda) e de habitats de reprodução mais
dispersão (painéis à direita) em uma paisa ·
.., -~ .
.,fc,-,C- ..:-·~:;-- --••
-=:::,·:s .:r e. n:~ (Ptaom_ys 1·0Í,111s) rêm diminuído conrinh.un cerc.1 de 2.3°10 mais hábitars de disperslo do yue as ·- ..... ~,.~~ gem típica contendo esquilos-voadores (Pre-
dramacicamence desde J décad.1 de pais.1gen~ ale.1[Ôn,1s, mas ..-linda mais s1gnitic.1civa, foi .l obser- ." ' / · ' . ~ ., 1 • - ~ :-: 1 -~.~
romys) (pa1né1s superiores) e em uma flo-
resta aleatória (painéis inferiores) Essa pai·
1950 na Finl.india, em especial devi-
do J perda. à fragmencação e à redu-
,·Jçlo de que o hábitar de disperSJ.o escava muito melhor co-
necrado (menos fr.1gmenrns por unidade de áre.1) do que as ,:-~~>;f' ~- · , is\ sagem dos esquilos-voadores conlém 4% de
hàbitat de reprodução e 52.4% de háb1tat
çio da conecriviJade do hábitat asso-
LtJd.1s a pr.íticas de silviculmra incensivas. As .ireas de floresra
pai'i,tgem ,tleacórias. Reunanen e cobboradores (2000) reco-
menJ,1m ,105 gc:srores flores[J.i-; restaunr e manter uma mistu-
l COO'TI r' Alealoflo
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de reprodução mais dispersão comparados
a 1. 5 e 41.5% na paisagem aleatôria. O há·
..,,,.. '_.,.0., ~--··
.;:;,,, bilat de dispersão na paisagem dos esqui·
n..1rural estão agora separaJJ.s por ,ireas <lesmatadas e em rege-
neração. O hibitJt cemr,tl para a reprodução dos esquilo:::,-
\'0.1dores ocupa apenas um poucos henares, mas os indivi-
ra de: e~pécits ._decíduas, especialmeme em floresras dominadas
por e-.pruce. par.1 Jumenrar J. disponibilidade de h.ibitat de
reproduç.lo úrnno. Em relação ao comporc.1menro de disper-
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los-voadores está muito mais conectado
(menos fragmentos por unidade de área) do
que na paisagem selecionada ao acaso {se-
gundo Reunanen et ai., 2000)
duo<;.. especialmeme os machos, deslocam-se para dencro e para -'>J.o, é p.1rri-._ul.1rmeme imporr.rnre que os gesmres assegurem

___J

1
200 PARTE 1- ORGANISMOS
CAPÍTULO 7: APUCAÇÓES ECOLÓGICAS NOS NivEIS l,;01v1DUAL E POPULACIONAL 20 l

Barcos n3.o-inft::stJdos viajam aré um lago ou reboque já sico-químicas do lago (p. ex., dos elemencos-chave do ni- cas. A forma com um:1 única rainha (monoginia) e a forma cudes para sobreviver, mas as unidades de conservação acuais
colonizados e ir1Jdvenid.rn1enre adquirem mexilhões. O cho fundamental dos mexilhões) e de elemencos estocásci- COl11 múltiplas rainhas (poliginia) dif"erem nos padrões de re- náo suprem tal necessidade. Os pand:1s possuem uma dieta
número de barcos, T, que viaj.1m do condado i até um lago cos. No modelo, uma nova colônia é recrutada se Q, for produção e modos de dispersão. As rJ.inhas de co_lônias mon~- excremamentc: especializadJ, que inclui, principalmence,
ou reboque, j, é c:-.rima<lo por; maior que um limiar de colonizaçáo f oínicas panicipam de vôos de acasa\Jmenro e tundam colo- umas poucas espécies de bambu. No período de junho a
~ias independentes, e as rainhas de colônias poligínicas são setembro, na Província Qinling, os pandas consomem Far-
T:i • A: O; \VJ e!/ -0 Para gerar uma distribuiçáo probabilística de lagos colon1- adoradJs em ninhos escabelecidos após o acasalamento. Como gesia ipathacea, a qual cresce em locais com altitudes entre
ZJ<los pelo mexilhão-zebra, 2 mil ensaios foram realizados resultado, as populações monogínicas dispersam três ordens 1.900 e 3.000 m. i\las, à medida que o período mais frio
em que ..-1 1 é um fator de correção que assegura que todos durante 7 anos, e o número de lagos colonizados em cada Je magnitude mais rápido que as colônias poligínicas {Ho- inicia, eles deslocam-se para as alcirndes mais baixas e, de
os barcos do condado i cheguem em algum lago, 0 1 é o condado foi escimado pela soma das probabilidades indi,·i- lwav e Suarez, 1999). A capacidJ.de dos gc:srore~ ambientais de outubro J m,lÍo, alimentam-se principalmente de Bmhania
número de barcm no condado i, w,;
é a atratividade do duJis de colonização de cada b.go no condado. Os resulrados, pri~rizJr invasores pmenci:1lmence problemáticos e elaborar fargesii, espécie que cresce em locais com l.000 a 2.100 m
local j, c,1 é J. disd.nci,1 do condado i Jté o local j e a é um mostrados na Figura 7.14, são bastante correlacionados com esffatégias para conter sua propagação devem melhorar com de alrirnde. Loucks e colaboradores (2003) usaram uma
coeficiente de J1sc:in...:iJ. o p:.idráo d~ colonização que re:.ilmenrc: ocorreu até 1997, o um completo emendimento Jo seu comporramenro. combinaçáo de imagens de sardice, trabalho de campo e
2 Barcos infesradm viaj;im acé um lago 115.o-colonizado e li- que permite confiar nas predições do modelo. Contudo, o análise de SIC para identificar uma paisagem que suprisse
beram mexilhôe\. O número Je barcos infostJdos, P, con- modelo previu que as áreas do centro do esrado de Wisconsin
1
a~ necessidades de longo-pr,120 da espécie. O processo de
siste naqueles bJrqueiros que vi.1jJm do condJdo i ar é uma e do oes[e do estado de Nlichigan seriam colonizadas, nl.ls 7.4.3 Conservação de espécies migratórias sele<;.·J.o de hibiracs porenci1i~ primeirameme excluiu .ts ireas
fome de mexilhôe~-Lebra . .;;om.1dos p.1r.1 cJd.1 condado .10 nenhuma Lolôni,1 foi .Hé agorJ Jocumentad.1 nessds regiõc_·s. sem pand.t.':i. 05 bloco"' <le flnresr~1 menorc.:'> que )O km 2 (a
longo de tod.1:-. .1.~ torHes de me"Xilhõcs-LebrJ. (::i' t:mão. é o Rossenbroek e cobhoradores (200 l} sugert"m que J irn-a~.lo Llm en[c:ndirnento do comportamen- úea mínim,1 neces5.iria paL1 :.usrcntar um cas.d de pand.1s-
número <le barco:-- infesudos que vi.1jam do condado i acé possa es[ar na iminênci.1 de ocorrt'r nessas úea..~ e que, portan- ro das espécies sob risco de serem ex- giganres a curto prazo) e as floresus corradJs por rodovias
um lago náo-coloniz,tdo 1r to, elas deveriam ser o foco de esforços Je biossegur.i.nçJ e cincJs rambém pode auxiliar os gesco- ou as floresta~ culrivadas. A Figura 7.15 m..1peia o hábitat
campanhJs educaovas.
1:., = A/'. \\':,C,,,·" res na elaboração de esrrarégias de con- de verão (1.900 a 3.000 m de alrirndc; com a presença de
Narnralmente, nem rodJs as espécies invasoras dependem servação. Surherland ( 1998) descreve F spathacea), o h.íbitat de outono/inverno/primavera ( 1.400
O número rural de b.1rcos intesrado~ que chegam até um do agenciamento humano: muir.1s dispersam por conta pró- um caso incriganre, em que o conhe- a 2. 100 m de altitude; com a presença de B. fi11gesii) e uma
cerro lago n,lo-coloniLado é somado ao longo de w<los os pri.1. A formigJ lava~pés vermelha (So!e11opsis inviaa) se esp.1- cimento do comportamenro migratório e de dispersdo se mos- pequena quanrida<le de hábirar anual ( 1. 900 a 2. 100 m de
condados (Q,J. lhou rapidamente por grande parre do sul dos EUA com con- ~rou crítico. Um esquema foi elaborado para alrerar a roca mi- alrirnde, com a presença de ambas as espécies de bambu) e
3 A probabilidade de que os indivíduos tr.rnsportados esca- seqüências econômicas drásticas (ver Seção 7.2.2). A espécie:. gratóriJ do ganso-pequeno-de-resu-brJ.nca (Awer e1}thropus) identifica quJtro <lreas de h.i.birar essencial para 05 p:1ndas
beleceráo uma nova colônia depende das caraccerísricas fí- originária da Argentina, ocorre em duas formas sociais distin- do sudeste da Europa, onde eles em gerJI são caçados, para (A a D) que atendem às suas necessidades migrarórias. So-
p.1~s:.1r o inverno na Holanda. Uma popu!Jção de gansos-de- brepostJS à Figur.1 7 .1 5 encontram-se as reservas amais; é
faces-brancas cativos (Brmua !eucopús) reproduz no Zoológi- perturbador observar que el.is cobrem apenas 4So/o do há-
co de Estocolmo. mas passa o inverno na Holanda. Alguns birar essencial. Loucks e cobboradores {2003) recomendam
(a) (b) gansos-de-faces-brancas foram le\'ados para a Lapônia, onde que as qu;Hro :ireas de hábitJC essencial identificadas deve-
nidificaram e receberam ovos do ganso-pequeno-de-cesta-bran- riam ser incorporadas a uma rede de unic.bdes de conserva-
ca para criar. Os jovens ganso-; da espécie ameaçJda então vo- cão. Além disso, eles salienum a importância de promover
.u J.m com seus pais ado ri vos para d Holanda para passar o ~ conexão enrre as zonas, pois a extinc;Jo em qualquer área
ín,·erno, mas na primavera seguinre retornaram para :1 L1pô- {e em rodas elas combinada'.'.>) é mais provivel de ocorrer se
nia e reproduziram com membros de ma própria espécie. pos- as populações estiverem isoladJs um.is d.1~ outras (ver Se-
teriormente recomando p;ira a HoLrnda. Ourro exemplo en* ção G. 9, ;i qual trara do comportamento de merapopuia-
,·olve ,1 n.:inrrodução de indivíduos cri.1dos em cativeiro da çôes). Assim, eles também idenrificam duas importantes
e,pécie Pl,as(ogillc Mpoiu,zfa, um marsupial carnívoro. Soder- zon.1s de ligJç;i.o a serem protegidas, um.1 entre as ireas A e
qui~r ( 1994) observou que quando nuchos e fêmeas eram li- B, onde a ~topografia acidentada resulrnu nJ existência de
hcra<los juncos. os machos d1spers.1\·.u11. e .1s fêmeas nlo con- poucas rodovias, e outrJ cnrre as úeas R e D, por meio de
"'t"guiam encontrJr um p.uceiro para ,1Cas,1br. Um esquema de flore.'}tJ.s de gr.1ndes alticude:--.
)oltur.t ··prnn-'=iro JS dJn1.1s'' nbce,·c: um :-,uce::,so muiw m.1ioc

o
Lagos infectados -
de permitiu que .1s fêmeas e~ubelecc,.,sern SUJS áreas de vidJ
.., ::: '}. c:::._~,.:1ica J:: '.-'eql;~na·:, i~>Jpi.il::côes?.
·o
0--0.25 ,rntes da chegad:.1. dos mxhos. que, emâo, se jum.1v;:1m J das.
0.25--0.5
Q_uando se rrata de espécies mi- 3 -::-:n~er'l3!?ãc~ '.i~ espéci~s ameaçad8s
!Sr:HóriJs, o esu.belecimenrn de uni-
li) 0.5-1 dades de conservação deve consi<le- A extinção :-empre foi parte d,1 vida na Tetra. mas a emrJ.da em

:BJ1-3 rJr os sc:us deslocamentos sazonais.


A Pro\·ínci.1 Qin\ing. nJ. China, é o lar de cerca de 220
cen.t dos seres humanos injetou novidades na lista de su.1s cmsas
A sobrc:-exploração por meio 1.Lt caça é pro,·a\"elmenre ,1 primeira
il),4 O
'----'
100 km
p,111d~H-gig:1ntes (~i!uropoda nu!ano!euca), o que reprc:sen- delas, nus mais recencememe uma ampb g;unJ de ounos impac-
CJ. por volCJ de 20~/o da populaçâo selvagem de uma das ro, foi criada. incluindo a descruiçáo dos hibirJts, a introdução
espécies de mamíferos nuis .1mea~acÍJs d~ extinção do mun- de espécies exóricas e J. poluiçJ.o. Não é surpresa que a conserva·
FIGURA 7.14 (a) A d1st,1bu1çã~ prevista (com base em 2 m1I iterações de um modelo de ~gravidade" estocástico de dispersão) de lagos do. Um Jspecto de p.uticul.u impordncia é o fato de que çJ.o das espécies remanc:scentes JSsumiu grande impordncia. Tra·
interiores colonizados pelo mex1lhã?·Zebr~ em 364 condados dos EUA; o la~o grande no meio do mapa é o Lago Michigan. um dos Grandes o-; pand:.is, ness,1 regido, ~1presentam migraçJo altirndin;il, uremos agurJ dJ conservação de populações, deixando o manejo
Lagos da Aménca do Norte. (b) A d1stnbu1ção real dos lagos colonizados ate 1997 (segundo Bossenbroek et ai .. 2001)
necessitando de hibitars loc.1liudos em baixJs e a!tJS alei- de cornu;iJ,1dt"s e ccossisremas para o Capíru!o 22
202 PARTE 1 - ORGANISMOS
CAPÍTULO 7: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS NOS NivEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 203

c:xistemes para outros. o que faz com que os p.1drões apre- 20 anos ou em l O gerações (a medida que for mais longa). e
,;cnrados na Figura 7.16 devam ser visws com um bom grau criticamente em perigo, se em um prazo de cinco anos ou duas
de C("ticismo. Por exemplo, devem haver sérias subesrima[i- gerações o risco de extinção for de, pelo menos, SOo/o (FigurJ.
vl.i J[é mesmo para as bem-esmdadas Jves e mamíferos, 7 .17). Com base nesses critérios, 43% das espécies de ver-
porque muicas espécies tropicais ain~a não receberam a aten- tebrados têm sido classificadas como sob risco de extinção
-:"ío criteriosa necessária para a ceroficação de casos de ex- (isto é, elas se enquadram em uma das categorias descritas)
~inçJ.o. Segundo, um número muito grande de espécies (Mace, 1994).
nunca foi registrado e nunca saberemos quantas delas se Com base nessas definições, governos e organizações náo-
c:xcinguir.im. E, finalmente, a diminuição no número de governamenrais rêm elaborado listas de espécies sob risco de
exrinções registradas na segunda rne[ade do século XX pode excinção (a base das análises como a apresentada na Tabela
.::spelhar um cerco sucesso do rnovimenco co1l.'lervacionisu. 7.4). Essas listas fornecem o ponto de partida para o estabele-
i\1.ls ela rambém pode estar apenas refletindo a convenção cimento de prioridades para a elaboração de planos de ação,
.:k que umJ espécie é considerada excinra somente após um visando o manejo das espécies. Todavia, os recursos para a
peri'~do de 50 anos sem ser registrada. Ou. Jinda, ~la pode conservação sã.o limitados. Assim, gastar a maior pane desse
indiL.lr que muitas das espécies mais \"Ldner.iv.:is J,i estio dinheiro com espécies que apresentem as mais alt.1.s probabili-
~:\t!nt.1:.. 8.1\mford e col.1bor.1Jorcs (200_)) '>uge1ern que nos- dades de extinçJ.o ser.í uma fals,1 economi.1 se uma espécie
,.1 ;HençJ.o não deveriJ. enfoc.1r as r:.ix.1.1, de extrnçJ.o, mas parricularmenre bem-classifica.da necessitar de um esforço gi-
qu~ uma visá.o mais significativa da escal.1 do problema d1s gan[esco para sua recuperação, ma: com poucJ..'l chances de
FIGURA 7 .15 Hàb1tats essenc1a1s para dp~cies sob risco de extinção surgírj de urn.1 ,1v:1liaçJ.o de sucesso (Possingharn et ai.. 2002). A semelhança de todas as
Hábital essencial
o panda {A a D). os quais suprem suas
longo prazo das mudanças (com freqüênci.1 reduções mar- áre:1s da ecologi1 aplicada, as prioridades de conservação têm
Háb1tat de verão necessidades anuais de migração alt1-
Escala 1.800.000 dimensões ecológicas e econômicas. Em épocas de desespero,
Habitat anual tud1nat na Provinda Oinhng, na China cantes) na abundância relati\·a das espécies í que ainda não
O 10 20 km
Hâbitat de outono- As reservas existentes (hachurado).
esr.ío excinras) ou de seus hábitats. decisões dolorosas rêm de ser ramadas acerca das prioridades.
inverno-primavera com seus respectivos nomes. estão
Unu importante l1ç.ío do registro Um.a analogia com facos ocorridos durante a Primeira Guerra
D Reservas naturais sobrepostas no mapa (segundo Louck:s
et ai. 2003) fóssil é que a esm.1g.1dor.1 maioria das Mundial pode nos ajudar a entender a delicadeza da situação.
espécies a.ruais, pro\-avelmence todas. Os soldados feridos que chegavam aos hospitais de campo eram
um dia será exti[l[,l - m.11s de 990/o das sujeitos a uma avaliação de rriagem: prioridade l - aqueles
.:'ip<.:cies que um dia existiram na Terra estão extintas (Simp- que provavelmente sobreviveriam se submetidos a uma rápida
7.5.1 A escala do problema reduçá.o de l O vezes em comprimemo há uma riquez.i de es- .1,011. 1952). No encanto, dada J esrimaciv,1 de que .1.s espécies intervenção; prioridade 2 - aqueles que provavelmente sobre-
pécies l 00 vaes maior. Se o padrão observado é extrapoL1do dur.1rn, em média, enrre l e 10 milhões de anos (Raup, 1978) viveriam sem uma rápida incervençáo; prioridade 3 - aqueles
Para julgar a escala do problema que os biólogos da conserva- p.ua baixo até animais cujo comprimento é de 0,2 mm. che- e lc:v.1ndo em consideração um número rotai de espécies sobre que provavelmente morreriam com ou sem intervenção. Os
ção enfrenram, é preciso conhecer o número roral de espécies garíamos a umJ. estimativa global apenas para os animais ter- a Terra da ordem de 10 milhões, estimaríamos que apenas biólogos da conservação freqüenremence enfrentam os mes-
que existem no mundo, a taxa n.1. qual estão desaparecendo e rícobs d.1 ordc::m de 10 milhões de espécies. Uma quarta abor- ente< 100 e 1.000 espécies (0.001 a O.O 1%). cm média, deve- mos tipos de escolha e precisam demonstrar coragem para
como essa raxa se compara àquela de tempos pré-humanos. dagem é baseada. em estimacivas da riqueza de espécies de be- riJm ser exrintJs a cada século. A ca.xa de extinções de cerca de desistir de casos sem esperança e priorizar aquelas espécies pJ.ra
lnfelizmence, existem consideráveis incertezas nas esrimacivas souros (nuis de mil espécies já foram registra.das em uma úni- : 0 ·o por século observada para aves e mamíferos arualmence é as quais algo ainda pode ser feiro.
de rodas estas variáveis. ca. :írvorel n.1 copa de árvores tropicais (cerca de 50 mil espé- cem .1 mil vezes maior do que a tJxa ''narur1!" de extinções de As espécies que estão sob alto ris-
Cerca de l.8 rnilhio de espécies j:i cies), consíderJ.ndo suposições acerca da proporçáo de artró- fundo. Além disso, a escala da influência hunun.1 mais pod.e- co de ex[inção são quase sempre rar~ts. ~~l/~~,~~~1 ~:~~"~~
quant3::, espec1es foram denominadas pelos cientistas podes n.:io-be.'louros que também estarão presentes na copJ ro,.1, ,1 descrui~J.o do hábitar. continua a J.umenur, e .1 lisu Não obscanre, espécies raras, .1penas raras
existem na Terra? (Alonso et ai., 2001 ), mas o número real adicionados de omras espécies que não ocupam a copa. T.11 por sua rarid~1de, ná.o estáo necessaria-
dJ.'l espécies ameaçad.1.s de muitos grupos uxonômteos é ex-
é muim ma.lar. Virias estimativas têm J.bord.1gem produz. uma esrimaciv.1 de cerca de 30 milhões de trt.'mamence long1 e ;1larmanre (Tabela 7.4) ~:i.o podemos ser mente sob risco de extinção. É provável que muitas, calvez a
sido calculadas de diversas maneiras (ver May, 1990). Urna abor- arrrópo<lc, tropicais. Como \·imos, as incerteZ~b nJ esrimati\.t 1..omplacenrcs . .-\... -::vidência. J..111d.1 inconclus.1 dn-1do à ine\"lt.Í.- maiori.1, das espécie::. sej.1 natur..1\mence rara. A dinâmica po~
d.1gcm está baseada n.1. obsc:rvaçáo geral de que para cadd mamí- d.1 riquez.1 global de espécies sã.o enormes, e nossas melhores \ d JiflculJ.1de em ~e fa7_er e.'ltim.HÍ\"J.S pre.:1s.1~. sugere que pulJcional de tais espécies pode seguir um padrJ.o car1cterísri-
fero ou .1.ve de região remperada ou hore,tl (táxons onde J. maiori.1 e::.c1m.1civ.1, \,uiam <le .3 a 30 milhões ou nuis. 111),,os íilhos e nc::ros poder.lo viver cm um.1 época de c:xtin- co. Por exemplo, de um grupo de qu.Hro c:-.péc1e:. de lírios do
d,b espécies lparememenre já foram descritJ.s) exisre umJ. comra- l!ma an.illsc: tbs exrmçôes registra- çõc:~ de es.pCc1es compcUàvel às cinco excin\Ót:"s 1..·m m.1~::..1 ··1u- vê-nero Ci1/ochort11s, d.l California, umJ ~ Jbundance e tr2-s sJ.o
parcida de aproximadamente duas espécies [ropicais. Se assumir- dJ.s duunre o período moderno d.1 [urai::."" evidemes no registro geológico (ver o C.1pirulo 21). ~us (Fiedler. 1987). As espécie, r1r.1s cem bulbos maiores.
mos que isso também é verdade em relação aos insetos (dos quais hiscóriJ. d,1. hun1Jnid:1<le indica que: a m..1s produzem menos frums por planta e rêm uma menor
hrstóricas e
existem muiras espécies ainda não-descriras), o cora.l geral seria da m.tiorí,1 ocorreu em i!hJ.s, e que as aves rnoderras probJ.bilidade de sobrc::vivência acé a idade reprodutiv1 do :lue
ordem de 3 a 5 milhões. Omra abordJ.gem usa informação J.cerca e os m.1míferos, em e-speci.11, foram 7.5.2 Onde deveríamos enfocar os esforços de a espécie:: comum. Todas as espécies raras podem ser clJ.s.,;1hc:i-
da taxa de descoberta de novas espécies para fazer projeçóes para sc:verJmentc: atê:cados nc:c;ses J.mbienre.'l (Figur.1 7.1 G). Uma. d- conservação? d.1s como espécies-clímax que estão restritas a tipos de mio
cada grupo caxonàmico e chega a escimarivas mrais de aré 6 a 7 p1da olh.1da n.o.'l d.1dos sugere que J porcentagem das espécies incomuns, e a espécie comum é coloniZJdora de hibic1cs per-
milhões de espécies no mundo. Um.i terceira abordagem escá ba- a[U.lJs envolvidas p.1rece c;er bem pequen.1. e, além disso, a rax.1 V.irias caregon.1s de risco de excinçjo J.1s e,picies têm sido turb:tdos. Os táxons raros podem geralmente apresentar uma
seada em uma relação entre camanho das espécies e riqueza de de exrinçio pan:~ce ter caído na segunda metade do século XX. definidas (Mace e Lande, 1991 ). lima espécie pode ser descri- rendencia à reprodução assexuJ.da. um menor esforço repro-
espécies. tendo como pomo de parrida o faco de que se formos 1'Lis qual .1 cont,abdidade desses dados' ta como vu/,u.,.,foef ,e hou\·er uma. pro- dutivo geral e menores capacid,1dc:s de dispersJ.o (Kunin e ~as-
descendo de animais rerrícobs cujas dimensões lineares são d.1 ~o,,.Jmenre, essas estimativas sã.o compromeri<l.is pela in- babilidade de 10°0 Je que ela seja ex- ron. 1993). Na ausênci.i de interferência humana, não h.a ra-
ordem de uns poucos mecros .1cé .1qudas espécies com cerca de certeZJ. Em primeiro lugJ.r, os dados referentes a ::ilguns gru- tintJ nos próximos cem ;:mos, em pen- zão para esperar que os tipos mais r.1.ros aprese[l[em um risco
l cm, há uma regra empírica de aproximação de que parJ cada pos uxonômi(os e regiões s.:io muito melhores que os dados go, '>e ,1 probabdi<lade for de 20~-0 em de extinç.J.o substancialmente mais elevado.

1
204 PARTE 1 - ÜRGANISMOS CAPÍTULO 7: APUCAÇÓES ECOLÓGICAS NOS NivEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 205

das à genérica (Seção 7.5.3) e à dinâmica populacional !Se-


(a) (b) 200
80 40
Fora de/
/ /
i ção 7.5.4). Trataremos agora desses aspeccos.
Oceano Atlànt1co e ilhas América do Norte

:
1 150 pengo, I

1~
, Oceano Austral e 11has América do Sul
60 Oceano Pacífico e ilhas 30 ~r Europa ! / 7.5.3 Genética de pequenas populações:

.
1
! j... / significância para a conservação das
Oceano Indico e ilhas
J :1 Norte da Âfnca e Oriente Médio
Álnca Í
~ 100
Vulneravel : '
1
1
espécies

i.
-o
40 20 • Ásia
.à.. Auslralasia
i
1 ! 50 _/ _____ ------Em-~~n~:/______ _ A teoria diz que os biólogos da con-
servação devem estar acentos aos pro-
DOSSl'Je,s
Ürobler.ias
o

-~
z
20 10

) . ·'
Lc.-:~----~/// Crrlicamente
em Pengo blemas genéricos que podem surgir
pela perda de variabilidade nas peque-
genet1cos ern
pequenas
populações
~·u,.. 0.2 0,4 0.6 0.8
é nas populações. A variaç.ío genérica é
r-==--=- --=-=.--=.---~-=,V------"IO'"-- ,.1 -~~l--. -~ir·-,--.,-'-".,."~. Probabilidade de elrtinção
determinada principalmence pela ação conjunta da seleção
1600 1700 1800 1900 2000 1600 1700 1800 1900
natural e da deriva genérica (em que J freqüêncÍJ de genes em
Ano Ano FIGURA 7.17 Níveis oe risco de extinção em função do tempo e da
probabilidade de extinção {segundo Akçakaya. 1992) uma popu!.1çáo é determinada ao JCJ.SO. e não por vantagem
(e) (d) evolmivJ). A imporrànci.1 relativa d.1 JerivJ genética é mais
0.4
0061 J!ta em populações pequenas e isoladas, as quJ.is, por conse-
Moluscos Peixes
Crustáceos Anltb!OS
guinte, rendem a perder variabilidade genérica. A taxa na qual

.
t 0,06 Insetos 0.3
.u
Répteis
Aves
·J 8 mpu".:,das
...:_~,-?. a r2.~•Ul':le
Concudo, enquanrn algumas es-
pécies já nascem raras, outras são
empurradJs para J. raridade. Sem
ISSO ocorre depende do tamanho eferirn da população (N).

Este é o tamanho da população "idealizada geneticamente" à


qual a população real (M é equivalente em termos genéricos.

i
o
0.04 0,2
n. Mamíferos 1

dúvida, a ação do homem rem redu-


z.ido J abundância e J área de ocorrência de muiras espécies
Como uma primeira aproximação, lV( é igual ou menor que o
número de indivíduos reprodutores. N,. é em geral menor, com

'i
UJ 0.02 0,1
(incluindo espécies narnralmenre raras). Uma revisão dos
t"Jtores responsáveis pelas exrinções de vertebrados regis-
freqüên-ci.1 muito menor, que N, por uma série de razões UOr-
mulas detalhadas podem ser abridas em lande e Barrowclou-
rrJdJs mosrr,l que a perda de hábirars. a sobre-exploração e gh. 1987):
as invJsões de espécies exócicas apresencam grande signifi-
.____:::::::- -·--'·----::._j .,;----l-- ~ dncia, embora a perda de háblta[ seja menos proeminente Se a razão sexual não é 1: 1; por exemplo, com 100 machos
1600 1700 1800 1900 2000 1600 1700 1800 1900 2000 no caso dos répteis, e a sobre-exploração, menos importan- reprodutores e 400 fêmeas reprodutoras, N=500, mas
Ano Ano te no caso dos peixes (Tabela 7.5). Em relação às espécies N,.=320
atu..1lmente sob risco de extinção, a perda de hábitac é, em 2 Se a distribuição d:1 prole enrre os indivíduos não é aleató-
FIGURA 7.16 Tendências no registro de ext1nçào de espécies animais desde 1600, para aquelas com uma data conhecida, (a) nos princ1pa1s
oceanos e suas ilhas. (b) nas principais áreas continentais. para (e) invertebrados e (d) vertebrados (segundo Smith et ai., 1993).
geral. a maior ame.1ça, sendo que o risco de sobre-explora- ria; por exemplo, se cada um de 500 indivíduos produzir
ção permanece muirn alto, em especial p1ra mamíferos e um descendente para a próxima geração, em média, N=500,
rêpceis. A probahilidade de extinção pode ser agravada em mas se a variância na produção da prole for 5 (com varia-
~1equenas populações por duas rnões diferentes relaciona- ção aleatória seria 1). então N,.= 100.
TABELA 7.4 Números e porcentagens atuais de espécies animais e vegetais descritas nos pnnc1pais grupos taxonõm1cos que se acredita que
este1am sob risco de extinção Os valores mais altos associados às plantas. às aves e aos mamíferos podem refletir nosso maior conhecimento
a respeito desses taxons (segundo Smith et af.. 1993) TABELA 7.5 Revisão dos fatores responsáveis pelas extinções de vertebrados registradas e avaliação dos riscos enfrentados atualmente
pelas espécies classificadas como globalmente em perigo. vulneráveis ou raras pela União Internacional para a Conservação da Natureza
Número de espécies sob Número total aproximado Porcentagem
(UICN) (segundo Reide Miller. 19891
Táxons nsco de extinçào de espécies sob nsco
Porcentagem devida a cada causa·
Animais
Moluscos 354 10 5 0.4 Outra Desconhec,da
Grupo Perda de hâb,tat Sobre·exploraçãot Introdução de espécies Predadores
Crustáceos 126 4 X 10 3 3
Insetos 873 1,2 X 10 6 0,07 Extinções
Peixes 452 2,4 X 10 4 2 Mamiferos 19 23 20 36
Anfibios 59 3 X 103 2 l.ves 20 11 22 37
Répteis 167 6 X 10 3 3 Repteis 5 32 42 21
Aves 1.029 9,5 X 10 3 11 Peixes 35 30 48
Mamiteros 505 4.5 X 10 3 11
Total 3 565 1,35 X 1Q'5 0,3 Ameaçados de extinção
Mamíferos 68 54 6 12
Plantas Aves 58 30 28
G1mnospermas 242 758 Répteis 53 63 17
32
Monocotiledõneas 4.421 5,2 X 10 4 9 Anlib1os 77 29 14
Monocot,ledôneas Palmeiras 925 Peixes 78 12 28
2 820 33
D1co11ledõr.eas 17 474 1,9 X 1QS 9 "Os 'lalores ino1cados representam a porcentagem de espec1es que são influenciadas por um dado ratar Algumas espec,es podem ser influenciadas por mais de
Total 22.137 2,4 X 1QS um !ator. assim a:gumas l•r.has podem uilrapassar os 100%
I A sobre-exploração 1nch;1 a caça comercial. esportiva e de subsisténcia e a captura de ar1ma1s vrvos com qualquer finalidade
206 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APUCAÇÓES ECOLÓGICAS NOS NivEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 207

Se o tamanho da população varia entre as gerações. encáo e cerca. de 500 J. l.000 indivíduos seria.m necessários pa.ra man·
N.- é influenciado desproporcionalmente pelos ramanhos cera pocencial evolutivo por mais cempo (Franklin e Frankham, (a) (b)
25 80
menores; por exemplo, para a seqüência 500, l 00. 200. I 998). TJis normas prácicas deveriam ser aplicadas com cui·

..
....·..
900 e 800, o N médio é 500, mas N,=258. dado e tendo em mente a rdação enrre N,, e N; o tamanho 20 o 70

., .....
mínimo da população N deveria ser estabelecido provavdmence j ]
:.:;r:2c d~ pc:~ ~c:al A preservação da diversidade gené- em umJ ordem de magnicude acima de Nr (5.000 a 12.500 õ. 15 8. 60
~·; :u, .t·J cica é importante por causa do poten- indivíduos) (Franklin e Frankham, 1998). 8. ~
j ••
f
É inceressance observar que nenhum exemplo de extinção 10 50
cial evolutivo de longo prazo que ela ~
proporciona. Formas raras de um gene (aldos), ou combina-
ções de alelos, podem não conferir nenhuma vantagem ime-
diata, mas poderiam cornar-se muito apropriadas no futuro
devido a problemas genéticos é eirado na Tabela 7.5. Talvez J
depressão endogimica renha ocorrido, embora não renha sido
detectada, como parte do "ruído da morre" de algumas popu·
Ji
40

30
..... . '

º10 100 1.000 10000 10 100 1.000 10.000


em resposta a mudanças nas condições ambientais. As peque- laçóes morihundJs (Caughley, 1994). Assim, um;i população
nas populações que perderam alelos raros. por meio da deriva pode cer sido reduzida a um tamanho bem pequeno por um
(e) (d)
genética, possuem um menor potencial de adapração. ou mais dos processos descricos. e isso pode ter levado a um
Um problema potencial mais ime- .rnmc:nro n.1 frequênciJ de acas.1lame11cos entre pJrentes e ru
1 500 1 1.5

.... ..
dia to é a depressáo endog:unica. expres<í.n de Jldos rec~ssinJs deletérios na prole, píO\'OCJndo
g
~1.200 3 <Íl
Quando as popubções são pequenas. uma di111inu1ç.lo n.l sobrevivência e ru fecund1d.1de, o que, a
õ. g ~ 1.0
.8. o 2 FIGURA 7.19 Relação obseNada em 23
há a tendência dos indivíduos acasa- por su.1 vez. re~ulcou em uma população ain.da menor - o cha- 900
larem com parc:nces. O endocruz.amenco reduz. a hecerozigosl· mado espir,I d.1 excinção (Figura 7.18).
.. li populações de Gentianella germanica
entre o tamanho populacional e (a) o
i•
...
dade da prole muito abaixo daquela da população como um EvidênciJs do papel dos eteitos
600 :i ~ número médio de frutos por planta, (b)

todo. Ainda mais importante é o fato de que todas as popula- genéticos sobn.· a persisr~ncia das po- ~; o número médio de sementes por fruto

ções carregam alelos recessivos que são deletérios. ou mesmo


letais, quando em homozigose. Os indivíduos que são força·
pulações for .rn1 apresentadas em um
escudo com 2.3 populações locais de
"' 300

º10 100 1.000 10.000


.
~
t-
0.5

10 100 1.000 10.000


e (c) o número médto de sementes por
planta. (d) Relação entre a taxa de cres·
cimento populacional de 1993 a 1995
(razão de tamanhos populacionais) e o
dos a reproduzir com parentes próximos apresencam uma maior uma pLrnra rJLI. Gentianella gerrnani· tamanho populacional (em 1994) (extraí-
Número de plantas na população Número de plantas na população
probabilidade de gerar descendentes que recebam os mesmos ca, em campos d.1s montanhas Jura, na fronteira emre Suíça e (escala logarítmica) (escala logarítmica) da de Fischer e Matthies, 1998).
alelos recessivos de ambos os progenitores e que, porcanto, Alem.rnha. Fischer e 1\fanhies ( l 998) observaram uma corre·
expressem seu efeito deletério. Existem muitos exemplos de IJçâo neg.uiva enrre o desempenho reproduri\·o e o tamanho
depressão endogâmica - os criadores escão conscientes há muito populacionJI (Figura 7.19a-c). Além disso, o tamanho popu-
tempo da redução de fercilidade, sobrevivência, raxas de cres· lacional diminuiu entre l 993 e 1995 na maioria das popula-
cimento e resistência a doenças -, embora altos níveis de en· ções esrndadds, mas esse decréscimo foi mais rápido nas popu- por causa d.a rupcura das imerações planca-polirnzador (popu- 22.4); ou deveriam identificar as espécies sob maior risco de
docruzamenco possam ser normais e não.deletérios em algu· lações menores (Figura 7. i 9d). Tais resultados são consisten- lações pequenas podem ter baixa fecundidade por causa de extinção e agir para mantê·las vivas? O ideal seria que fizésse·
mas espécies animais (Wallis, 1994) e muitas plantas. tes com J hipótese de que os efeicos genéricos resultam em uma baixa freqüência de visitação por poliniz.aJon.-,). Para de· mos cudo isso, Contudo, em geral, a maior pressão escá rela-
Quancos indivíduos são necessários uma redução do ajuscamenrn evolutivo (fitneH) nas pequenJs rerminar se as diferenças genéticas foram reJ.lmencc: respons,i- cionada à conservação das espécies. Por exemplo, as popula-
1•_.,,er,:.s para manter a variabilidade genética~ popul.tções. >o'o entamo. eles também podem ter sido caus.1- veis, sementes de cada população foram semeadJs sob condi- ções remanescentes de pandas, na China. ou de pingüins·de-
Franklin (l 980) sugeriu que um ta- dos por diferenças locais nas condições do hábitat (pequenJs ções padronizadas em um jardim experimental comum. Após olhos-amarelos (Megadyptes antipodes), na Nova Zelândia, se
manho efetivo da população de cerca popul.1çôes podem ser a~sim por apresentlrem menor fecun- 17 meses, havia significarivamenre m.ús plJnra.:. cm florJ.ção e tornaram tão pequenas que, se nada for feito, as especies esca·
de 50 provavelmente náo sofreria com depressão endogâmica, d1d:1de cm dcLorrência de um hábitat <lc bdiXJ quJli<lade), ou mJis flores (por semente plantada) d.ts semt'mes colhidas nas rJo extintas em poucos anos ou décadas. A resposta à. crise
populações grandes do que das sementes origrnir1.1s d.1s po- exige que dediquemos recursos escassos para identificar algu-
pulaçóes pequenas. Podemos conclwr que os eteicos genC:ticos mas soluções especiais; abordagens mais gerais precisam ser
sJ.o irnporrances para ,1 pers1scênci,1 d.is popubçúc, de,sJ plJn· gu.ardad,1s em ''banho·maria"
tJ rau e precisam ser consideudos 11.1 dahor.1..;.'ill de: unu es- A dinámica das pequenas popuiJ-
LrJc~gi.i de nuncjo parJ ;1 su,1 comerv.1ç.io. ções é governada por um alto nível de
incerteza, e a~ grandes populações po·
dem ser descritas como sendo gover-
7.5.4 Incerteza e o risco de extinção: a dinâmica nadas pela lei das médias (Caughley, 1994). Três tipos de in-
de pequenas populações certeza ou variação que apresentam grande 1mporcància para
o destino de pequenas populações podem ser identiticada>.
A biologia da consen'JÇão é, em grande pJrte. urn.1 di~ciplina
d:t crise, l),; gescores inevitavelmente enfrent.1:n mulrns pro· lnceneza demogrific:1: variações alearórias no m'imero de
blemas e dispõem de poucos recursos. Eles de\ e riam enfocar indivíduos que nascem machos ou fêmeas ou no número
FIGURA 7.18 Os esp1ra1s {ou vórtices) sua atenção sobre as \-:Írias forças que \eYam 1, c,pécie.:. à ex- que morre ou reproduz em um dado ano ou na quJ!idade
da extinção podem d1m1nu1r progressi-
vamente o tamanho das populações. le- nnçáo e rencar persuadir os governos a .igirem p.1n reduzir sua (genotípica/fenocípica) dos indivíduos em relação às suas
vando-as inexoravelmente â extinção prev:1.lência: ou deveriam restringir suas ari\·i1..!ades nJ 1denrifi· capacidades de sobrevivência e reprodU[iva podem contri·
(segundo Pnmack. 19931 ca'rio de .íreas com alra riqueza de e.)pécie~ 011de podem ser buir muito para o destino das pequenas populações. Supo-
estabelecidas unidJdes de conservaçlo protegidb (·,:er Seç.io nhJ que um casal reprodutor produza uma ninhada cons·

l
208 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APUCAÇóEs EcoLóGICAS NOS N1•1E1s INDIVIDUAL E PoPulACIONAL 209

rimída apenas por fêmeas - cal evento passaria despercebi- dos Unidos (Simberloff, l 998). Essa :':.J3t~ad3S ~~· · 0 ,uam reprodutores regulares (Diamond, 1984). É possível extinta em um determinado período? Ou, de outra maneira,
do em uma grande populaçáo, mas seria o ülrimo suspiro ave já foi extremamente comum nos consrruir um cenário de freqüentes excinçóes locais, as quais quão grande sua população deve ser para reduzir suas chances
de uma espécie composta apenas por esse casal. escadas do tv[aine à Virgínia. Por ser em alguns casos são contrabalançadas por recolonização a de extinção a um nível aceitável? Freqüentemente, essas são as
2 Incerteza ambiencal: mudanças imprevisíveis nos facores altamente comestível e fácil de caçar (e também suscetível panir do continente ou de outras ilhas. Exemplos como perguntas centrais do manc"jo para a conservação. A aborda-
ambientais, sej.1.m elas "'desastres" (como enchentes, tem- aos gJws domésticos e afetada pela conversão de seu hi.bi- esse fornecem uma fonte rica de informações sobre os farn- gt:m experimemal clássica, a qual envolveria o esrabelecimen-
porais ou seca'> de magnitudes que ocorrem apenas muito cac de campo em fazendas), da havia desapJrecido do con- res que afetam o destino de pequenas populações em geral. co e o monitoramento de populações de: diferences tamanhos
raramente - n=r Capítulo 2J ou alterações multo menores tinente em 1830 e podia ser encontrad.1 apenas na ilha de A compreens.ío adquirid:.1 é perfeitamente aplicável a espé- por vários anos, não esr;i disponí\"el àqueles preocupados com
(v.1ri.1ções anuai,;; na temperatura ou precipitação médias), Marrha's Vineyard. Em l 908, foi estabelecida uma reserva cies sob risc.:o de extinção em nível global, já que a extinção espécies sob risco de exrinção, pois esras esráo em uma sicua-
também podem selar o destino de uma pequena popula- para as últimas 50 aves, e, em 1915, a população tinha au- global é nada mais nada menos que a extinção local final. ç.ío de muita urgência, com muito poucos indivíduos para
ça.o. tvlesmo qu.rndo a precipitação média de uma área é mentado para vários milhares de indivíduos. No entanto, :\.ssim, dos farnres de alto risco associados às extinções lo- trabalhar. Como, então. decidiremos o que constitui uma po-
conhecida com precisâo, devido ao fato de os registros te- 19 l G foi um ano ruim. Um incêndio (um desastre) elimi- ois. à área de hábicar ou ilha é provavelmente o mais di- pulação mínima viável (P,\IV)' Três abordagens são discuti-
rem sido coletados durante séculos, não é possível prever nou grande parte da área de reprodução; houve um inver- fundido (Figura 7.2 l ). Não há dúvida de que a principal ra- das: (i) a busca por padrões J:Í observados em estudos de longo
se o próximo .ino )erá médio ou extremo, nem mesmo se no p.irticularmenre rigoroso junramente com um influxo zjo da vulnerabilidade das populações habitantes de pequenas prazo (Seç:ío 7. 5.5. l ); (ii) a avaliação subjetiva baseada no co-
estamos enrrando em um período de ;mos cujas condições de açores (Accipiter gellfilis) (incerteza ambiental); e, por áre.1s é o fato de que as próprias populaçõt:s são pequenas. nhecimento de especialistas (Seção 7.5.5.2): e (iii) o desenvol-
seráa p.1rticuL1rmeme secas. Uma pequena população tem fim, uma doença de aves Jom~sticas entrou em cena (outro (.'.nu exrinçJ.o local de uma espécie endêmica em uma ilha vimenco de moddos populacionais, ranco ger.iis (Seção 7. 5. 5.3)
maior prob,1bd1d.1de de .1.er reduzid.1 .1 zero kxrinçJo) ou a desasrrt'). Neste ponto, a populaçâo renunescence esu\·.l remou é equ1valeme it extinção globdl, j:i que J recolonizaç,ío quJ1uo específicos para cercas espécil.'"::i de imeresse (Seçdo
nl1meros tão h.1ixos que su.t recupa.1çlo sc-jJ. impossível sujeira a sofrer incenela demogdJic.1: por exemplo, apen.1,;; é impossível. Esta é .1 principal razão dJs altas rax.1s de extin- 7. 5. 5.4). "fodJ.s as Jbord.1gens têm suas limitações. as qu.iis
(quase-extinçdo) em consequência de condições adversas duas das 13 aves que escavam vi\"as em lCJ~S eram fêmeas. ç;ío global observada) em ilhas (ver Figura 7.16). discutiremos a seguir. utilizando exemplos. Mas antes dne-se
do que uma gr.rnde população. Uma única ave estava viva em 1930, e .t e-'>pécie se extin- salientar que o campo d.1 AVP tem avançado muito além da
Incerteza espacial: muÍ[JS espécies )áo compostas por guiu em l 932. simples estimativa de prohabilidades e períodos de excinçJo
um conjunto de subpopulações que ocorrem em parce- A galinha-do~urzal fornece um exemplo de uma excin- 7.5.5 Análise de viabilidade populacional: a para enfocar na comparação de prováveis conseqüências {em
las de hábitat m.11s ou menos discretas (fragmencos de ção global relariv.imente recente. Em um.1 escala distinta, aplicação da te~ria ao manejo relação às probabilidades <le extinção) de estratégias de mane-
hábitat). Considerando-se que .is subpopul.1ções sejam extinções locais de pequenas populações em paredas de hâ- jo alrernativas.
provavelmenre diferentes em relaça.o à incerteza demo- bitats insulares são eventos comuns para diversos táxons, O foco da análise de viabilidade po-
gráfica e os fr.1gmenros ocupados por elas diferentes em ficando em ramo de 10 a 20°10 por ano (Figura 7.20). Tais pulacional (AVP) é diferente de mui-
rebção à incerce1..1 ambient.d, é possível esperar que a extinções também são observadas em ilhas de verdade. Os tos modelos populacionais desenvol- 7.5.5. 1 Dicas de estudos de longo prazo acerca
dinâmica de extinçáo e recolonizaçJ.o local das manchas registros detalhados coletados de 1954 a 1969 acerca das vidos pelos ecólogos (como aqueles dos padrões biogeográficos
renha uma grande influência na probJbilidade de ex- aves que escavam se reproduzindo n.1 B.1rdsey Island, um.1 discutidos nos Capítulos 5, lü e 14), pois o seu objetivo é
tinção da meupopulação (ver Seção 6.9). pequena ilha ( l ,8 km') localizada a oeste da costa da Grã- prever eventos extremos (como a extinção), em vez de tendên- Conjuntos de dados como os mos-
Bretanha, reveb.ram que 16 espécies se reproduziam codos ciJs centrais, como os tamanhos populacionais médios. Dadas trados na Figura 7.22 sáo incomuns,
Para ilustrar a.Jgunus <less:1s idéias, consideremos a morce os anos, duas espécies originais desapareceram, 15 ficavJm J.') circunstâncias ambientais e as características bionômicas de porque dependem de um envolvi-
dJ g.dinha-do-urz~al ( Tj 1mpm1_J1chus cupido cupido) nos Esta- indo e vindo e quatro inicialmente inexistiam, mas se cor- um..1 cerra espécie rara, qual a probabilidade de que ela seja mento de longo prazo no monitora-

(a) (b) (e)


0,010 0,015 0,25

0,008 0.20
0,010
0,006 0,15
Ervas perenes (barranco) ' '11•, W
..
li
- - - - - ~ Algas (rochas entre-marés) 0.004 0,10

0.002
0.005
' O.OS
~ ~.!li:~ ,,
o
I 10 10' 103 10--' 10 10' 10- 2 10 2 10' 10'
Er1as ::i1anua1s
r(dunas deª'"'ª cos1e;,as)
Área (km2) Área (km 2) Area(km2)

(d) (f)

...
(e)
1 0,5
j 0.04, 0.150
0,125
Artrópodes (locais com vegetação

..... ,
0,4
0.03
herbacea) 0,100
'
Anlrb1os (lagoas)
' ~ Aves (fragmentos florestais)
0,02 11:·'
' ..
· ª:ii
'
0.3
0.2
0.075

J '
0,01

o
. . 1:
'
11" ~. =-
li
'
0.1
o
,.. o.aso
0.025
\ Pequenos mamíferos 10--2 10--' 1 10 10-2 10' o1 10 10'
) (fragmentos florestais) FIGURA 7.20 Frações de populações lo- Área (km2) Área {km 2) Área (km2)
0.2 0.4 o.a cais que se tornam extintas a cada ano
0.6
em parcelas de hábttat (segundo Fahrig FIGURA 7.21 Taxas de extinçào percentuais em função da área de hábitat para (a) zooplâncton em lagos do nordeste dos Estados Urndos. (b)
Taxa anual de e11t1nções tocais e Merriam. 1994). aves nas Ilhas californianas Channet. (c) aves em ilhas européias setentnona1s. (d) plantas vasculares no sul da Suécia. (e) aves em !lhas da
Finlândia e (f) aves em ilhas no Lago Gatun. Panamá (dados reunidos por Pimm. 1991)

---- - ----- ~- -
,.
l
21 o PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APUCAÇÔES EcmóGICAS NOS NivEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 211

TABELA 7.6 Relação entre o tamanho inicial da população e sua pro-


bab1hdade de persistência para um conjunto de espêc1es de aves das pE E(pE) S

---·-----
• 101+
ilhas californianas Channel (segundo Thomas, 1990).
Tamanho
populac1onal (casais)
Período de
tempo (anos)
Porcentagem
que persistiu
Status quo
~ptdem1a

....
_____ _

, 0.9 Sem_ep1de~- __ _
0,45
0,86 O

A 51-100 o.as
1 a 10 80 61
• 31-50 10 a 100 80 90
O 16-30 100 a 1000 80 99
100 0,45
!... 1-15
1000+ 80
0,86 0.84 3,0Sm
0.98


__ 0.6~odE:madetra
0,9
30 uma est.Híscica vital suficlt'."nremenre semelhante àquda das Nova reserva
0.69 1,BOm
20
espécies do escudo, bem como se os regimes amb~entais forem ~,9_:4 Pro.!_~~ª- 0.37
semelh.1nte<;, faco que raramente se pode assumir com segu-
10 Expansão __0_:2 ~p~~a 0,9
rança. ~-~~N! ____ ~.2 EJ:~~~~
0'-~--'~~-'-~~-"---~-"1>--~...-~___J 0.9 0.53 1,0Bm FIGURA 7 .23 Ar.tore de decisões para o
10 20 30 40 5-0 60 70 -~~~g~d.?
Intervenção
1
0.37 manejo do nnoceronte de Sumatra. • :::
Tempo (anos) 0,2 Doença
~Construção pontos de decisão; • = eventos aleató-
0.95
7.5.5.2 Avaliação subjetiva por especialistas 'de cercas rios. As probabilidades dos eventos alea-
0.55 0.60m tórios são estimadas para um período
FIGURA 7.22 A porcentagem das populações do carneiro-de-gran-
0.45 de 30 anos; pE = probabilidade de ex-
des-chifres da Aménca do Norte que persistem ao longo de um pena-
A infornlJ~·.lo que pode ser relevame 0,1 Sucesso
0,75 tinção da espêcie em 30 anos; E(pE) =
do de 70 anos é reduzida de acordo com o tamanho inicial da popula-
ção (segundo Berger. 1990). pMa a soluç;io <le um problema de , _!ranslocaçâo_ --~· 0.93 1.01 m valor esperado de pE para cada alter-
0,9 Fracasso nativa. Os custos são calculados com
conservJ~do não está presente apenas 0.95
Reprodução 0,8 Sucesso base em valores atuais para um perío-
na licerJtura científica, ela também o do de 30 anos descontados de 4% ao
em cativeiro
menco de um número de populações - nesse caso, o carnei- existe: na mence dos especialistas. A reuni.lo de especialisus - - - - - - ----l:I 0.19 3,69m ano; m = milhões de dólares america·
0.2 Fracasso
ro-de-grandes-chifres nas áreas de deserto da América do em worksl,ops de conservação pode permitir uma cornada de 0,95 nos (segundo Maguire et ai., 1987).

Norte. Se escabelecermos uma definiçáo arbicrária da PMV decisôes bem embasada em conhecimento empírico (já consi-
necessária para garantir uma probabilidade de persiscência deramos um exemplo dessa abordagem nJ seleção de reser\"JS
de no mínimo 95% por l 00 anos, podemos explorar os de inverno para as borboletas-monarc.i - Seção 7.2.3). Pac1
dados sobre o destino das populações do carneiro-de-gran- iluscrar os poncos forres e fracos dessa abord.1.gem na esrimari- çôes representam os cenários al[ernacivos que poderiam ocor- sulcante com alimentação Sllplemenrar e cuidado veterinário.
des-chifres para fornecer uma resposca aproximada. Todas va de probabilidades de extinção, usamos como exemplo os rt'.T. e os números em cada ramificação indicam JS probabili- Nesse caso, a doença é um imporcanre perigo: a probabilidade
JS populações com menos de 50 indivíduos foram extintas resulr:idos de um workshop sobre o rinoceronte de SumacrJ dJdes escimadas para os cenários alterna[Ívos. Assim, para a de uma epidemia foi escimada como sendo maior do que na
(Dicerorhú1w )ltmatrewis). opção status quo foi estimada uma probabilidade de 0.1 de opção st,ltl/$ quo (0,2 contra O, l ), porque a densidade seria
em menos de 50 anos, e apenas 50% das populações com
5 l a 100 carneiros sobreviveram por 50 anos. É evidence Essa espécie persiste apenas em ljUe uma doença epidemica ocorreri.1 nos próximos 30 ano~ e, maior. Além disso, se houvesse uma epidemia, a pE seria maior
e ·:aso ,:J:. por conseguinte, uma probabilidade de 0,9 de que n.í.o have- (0,95), pois os animais seriam transferidos de subpopulações iso-
que precisamos de uma PlvfV com mais de 100 indivíduos; subpopuLtçóe.s pequenas e isoladas em
nesse estudo, tais populações demonstraram um sucesso pró- um hibicac em processo crescence de Sumatr3. ri,1 epidemia. ladas para a área cercada. Por curro lado, se o isolamento civesse
ximo a 100°/o ao longo do período máximo de duração da fragmentJÇ}o em 5Jbah (leste da Ma- Se ocorrer uma epidemia, a probabilidade de ernnçfo (pE) sucesso, a pE esperada cairia para 0.45, produzindo uma E(pE)
pesquisa (70 anos). lásia), nJ (ndoné'.'>ia. no oesce da tvfalási:1 e, calvez ramhém, na eestimada em 0,95 (isto é, 95% de probabilidade de exonç:io geral de O, 55. A área cercada custaria cerca de US$60 mil para ser
Uma anilise semdhance de registros de longo pr..1zo de aves TaiHndiJ e cm Durma. O h:íbirac ~em proteção é ame;içado em 30 anos), e, sem a epidemia. o \"Jlor de pE J 0,85. A esci- estabdecidJ e USS 18 mil por ano na sua manutençáo, resultan-
nas ilhas californianas Channel indica uma PMV entre 100 e pela exrr_içJn de madeirJ, pelo Jssemamenro hununo e pelo m.ui\·.1 geral de excinção da especie para uma opç:io, E(pE), é, do em um total de USSGOO mil ao longo de 30 anos.
l.000 casais de aves (necessária para prover uma probabilida- desenvolvimenm hidrelétrico_ Existem apenas umas pouc.1::; 1.:nrão, dererminad,l por: Para o esrabelecimenro de um programa de reproduçáo
de de persisrt?ncia enrre 90 e 99º/o durance os 80 anos do escu- reser\":-tS, JS I...\Lu1, rambém e::.r5.o rnjeiras J. explor.1.ção, e .1pe11.1'.'> em cJriveiro, os animais ceriam de ser capmrados na nacurezJ,
do) (Tabela 7.6). dai::. indi\·iduoc> cr.1m m:.rn[idos em cativeiro na época da real1· t')pEl=pn1habílid,1dt.: J.1. prim("Ír.1. opçJ.o x pE d., prii.1e11.1 opç:w t o que deveria resulcar em um Jumento do pE par1 0,95 se o
Escudos como esses sJ.o raros e \',l- zaçJ.o do w11r{,,/,r,p prob.1bilt(hd(" tb '.'>cgund,\ opçJO x pE d,1 ,t.:~LliHLi tlfh).o. program.1 falhasse. No enranw, pE diminuiria para zero c;e o
liosos. Os dJ.dos de longo prJ.zo estão .'\ vulner.1bdid.1de do nnocerome de Sumatra, J. maneir-1 pwgram.1 riveS<;t'. suces:,o {em relação à persistência a longo
disponíveis por causa do inceresse ex- como ui vulner.1bilidaJ.e varia sob diferences opções de m.rn1.·- ljlle, no caso d.1 opção st,trus quo, é prJZO da popul.1çáo em cativeiro). l\fas o cusro seria alro, pois
rraordinário que as pessoas têm na caça jo e a opç.l.o de manejo mais ,1propriada, levando-se em cons1- essa opção envolveria o desenvolvimento de infrJ-estrurura e
(carni::1ro-de-grandes-chifres) e na observação de aves (aves ca- <lera-;:ão \·.irios cricáios, foram avaliados por uma cécnic.1 ..:o- E(pE) = (O, 1 , 0.95) + (0.9, 0,851 = O.SC, técnicas llJ Malásia e Indonésia (cerca de USS2.0G milhões) e
lifornianas). Seu valor para a conservação, no encanco, é limi- nhecidJ como andlise de decúôes. Uma irvore de deci<;Ões h:i.- .1mdhoria daquelas j;i exiscences nos Esc.1dos Unidos e Gr:t-
rado, pois st: rracam de espécies que geralmence não estão seada n.lS proh.,b11idJdes es[imadas de que a espt'cie seja excin- Üs \·alares de pE e E(pE) para as opções de 1mer\·cnç:w :,,lo Bretanha (USS l,63 milhões). A probabilidade de sucesso foi
ameaçada:,. O risco de us.í-los p:tra produzir recomend.1.ções ta em um reríodo de 30 anos (o que equivale a aproximad,1- olculados de maneira semelhante. A última colun.1 nJ Figura estimada em 0,8. Por essa razão, o E(pE) geral é de O, 19.
e
p.1.r:1 o manejo de espécies em perigo de excinção nosso. Será menre du.1s ger.1çóes de nnoceroncc~) é mosrrada nJ Figur_1
7 .23 \isca os custos estimados das \-árias opçõe~ L
De onde vêm essas diferenres probabilid.1des? A resposta. é
remador informJr ao gestor ambienral que se ele tiver uma 7.2). :\ irvore tüi construída da seguince maneira: os dois qu.1- Vamos considerar .1gor.1 duJ::, da5 de uma combinação de dados. de seu uso adequado, de uma
populaçáo de mais de l 00 indivíduos de uma espécie de ave drados 'i.lo ronW'i de decis.io; o primeiro di,ringue a inrc:rven- ·. ~- ._., __ ~'° opções de nunejo imern.:nuonisca em cerrJ .1divinhação embasada em experiências em sicuações se-
ele esrar.í acima do limiar mínimo viável. N.1 verdade, cal ç.:io :1 favor d0 rinoceronte e .1 não-intervenção (status quo), e maior detalhe. A primeir.1 ~ ..:ercar unu melhantes e <la experiência com espécies -'>emelh.1mes. Qual
:1firmação reria o seu valor, mas seria uma recomendação o segundo Ji,ongue as virias opçóes de manejo. Para cJd,1 :irea em uma rescrvJ pi::~xbcenrc ou sena a melhor opção de nunejo? A resposta depende do crité-
recém-cria.da, mJ.11ejando 1 alu densidade de rnwccronce~ rc- rio uriliudo n1 definição de "melhor .. Suponha que nossa
segura apenas no e.isa de a espécie em questão apresentar opçJ.o, .1 linr1J )e divide em um pequeno círculo. :\s ramificJ-

----
1
21 2 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APLICAÇÔES ECOLÓGICAS NOS N1vE1S INDIVIDUAL E POPULACIONAL 21 3

incenção seja apenas minimizar as chances de extinção, inde- são da taxa intrínseca de crescimenro, para fornecer uma c~ti- mero de descendentes no período de tempo acuai. O progr:1-
pendenremence dos cust0s. A melhor op~áo seria a reprodu- mariva explícita, T, do tempo médio de extinção como uma Estocasllc1dade, ma é rodado muitas vezes, e cada vez produz uma rrajecóriJ
ção em cativeiro. Na prática. contudo, os cusrns dificilmente função da capacidade de suporte, K (brevemente revisad.1 por demográt1ca
populacior1J! diferente devido aos elemenrns randômicos en-
são ignorados. Enráo, precisaríamos idenrificar uma oucra Caughley. 1994). Por meio de uma série de aproximações (p. Estocastic1dade ambiental volvidos. Os resulrados, para cad.i conjunro de parâmetros do
e desastres
opção com um E( pE) .1eeiravelmence baixo, mas também com ex., que a incerteza demográfica é inconseqüenre e que ré f> V,. modelo utilizados, incluem estimativas anuais do tam.rnho po-
um cusro aceicâvd. constante, exceto quando a população está na capacidade de pulacion.11 e a probabilidade de extinção durante o período
r\ abordagem de avaliação subjeti- suporte, quando ré zero), Lande (1993) produziu umJ das modelado (representada pela proporção das populações simu-
pontos io:-tes Ja va dos especialistas deve ser elogiada. equações mais acessíveis: ladas que foram exrinras).
a,1ai1ação
s.;b1e::va dos Ela faz uso dos dados disponíveis, do Na Austrália, os coai.is (P/,ascofarc-
espe.:1al:stas conhecimenm e das experiências em T=-2 ( -K·- --1\ n K ) tos cinerew) sã.o considerados quase
siwaçóes que necessitam de uma de- Vc , ameaçados em nível n.icional, pois o
cisão e quando não hi tempo parJ a realização de mais pesqui- .,., / Estocast1c1dade ambiental estado de conservação das populações
e desastres
sas. Além disso, da t:xplora .1.s <liferenres opções de uma ma- em que: f< v,.. de diferentes parres do país varia de fora de perigo a vulner;Í-
neira sistemática e nJ.o renega .i verdade lamentável, embora \"eis ou extincas. O principal objetivo d,1 esuatégia de manejo
e= 2r/ V - 1.
inevitável, de que" os recursos serão limiraJo,:;. nacional é mancer popul.içôes vi..íveis ao longo de rnda a sua
Tamanho populacional
Contudo. d,1 também po:>sui ris- ré ,1 uxa 1nrrínseca de aumenro e V é J vJrijnci,1 em r rnul- Jisrribuiç,ío narur.11 (ANZECC. 1998). f'enn e col.,boradorcs
cos. ~.1 ausência de rodm os J1dos t:i.nce da variaç:io nas condições ambiemJis ao longo do rempo. ( 2000) us.1ram um.1 ferramenta amplJmt'nte disponível de
EssJ equaçâo é ,1 base das curvas sólidas.da Figura 7.2·k JS FIGURA 7.24 Relação entre o tempo de pers1stênc1a da população e
necessários, a melhor opçáo recomen- previsão demográfica, conhecida como VORTEX (Lace;·,
o tamanho populacional. ambos em escalas arbitrárias. quando a po·
dada pode simple:::.menre esrar errada. Com o benefício de com- quais indicam que o tempo médio de excinção é maior par.1 os pulaçâo é sujetta à incerteza demografica ou à mcerteza ambiental/ 1993). para modelar du.1s popul1ções em Queensland, uma
preender mais tarde o que deveria ter sido feiro (e com certeza maiores tamanhos populacionais máximos (K), para as mais desastres (segundo Lande, 1993) que se acreditava esrar em declínio (em Oakey) e outra consi-
alguns especialisra, em rinoceromes que não participaram do alras raxJs intrínsecas de crescimento populacional e qu.1ndo derada fora de perigo (em Springsure). A reproduçã.o inicia
workshop reriam sugerido esce resuludo alternacivo), podemos as influ<?ncias ambientais na expressão de r são menores. A.o aos dois anos, nas fêmeas, e aos rres. nos machos. Os outros
agora declarar que cerca de USS2,5 milhões foram gasrns no conuário de afirmações anceriores de que os desastres ale.1tó- uma populaçã.o reJ.l <le cercJ <le 5 mil indivíduos foi aconse- valores demográficos usados nas du,ls AVPs tiveram origem a
processo de captura de rinocerontes de Sumatra. Desces ani- rios impunham uma maior ameaça do que as menores vari.1- lhada. Dado o hábitat disponível, foi concluído que esses ma- partir de um extenso conhecimento das duas populações e são
mais, três morreram duranre as capturas, seis morreram de- ções ambientais, essa análise indica que o que realmente im- çacos não poderiam atingir um ramanho populacional de ) mostrados na Tabela 7. 7. Observe como a populaçâo de Oaker
pois da capcura e apenas um dos 21 rinoceromes que arual- porta é a relação entre a média e a variância der (Lande, 1993; mil a 8 mil indivíduos. Além disso, Kjnnair<l e O'Brien consi- tinha uma mortalidade de fêmeas um pouco maior e menos
meme :::.e encontr;rn1 em cativeiro deu à luz, porém ela já esta- Caughley, l 994). A relação encre o tempo de persisténcia e o daam improvável que essa espécie nJruralmente rara e rescrica fêmeas deixando descendentes a cada ano. A população de
va prenhe quando foi opturada (dados de N. Leader-Williams tamanho populacional apresenta uma curva acentuada p;:1r.1 tenha algum dia possuído uma popubção desse tamanho. Ou os Oakey foi modelada desde 1971, e a de Springsure. desde 1976
eiradas em Caughley, 1994). Leader-W'i!liams sugere que os cima (isro é, ela tem influência apenas para tamanhos popu!.1- Jados eram deficiences (p. ex., a variaç:io amhienra.1 em r pode ser (datas <las primeiras estinunvas de densidJ.de disponíveis), e
USS2,) milhões poderiam ter <;ido empregados com maior cionais pequenos ou intermediários) se a taxa média de Ju- menor do que a esrimad.1 ,;;e des forem capazes de a1cerar sua dieta as trajetórias do modelo de farn indicaram um declínio e um.1
cficiencia na prote(,áO de 700 km 2 do principal hábir:H dos mento for maior do que a variância. Por outro lado, se .i \"J- cm 1esposta a mudanças no hibirar), ou o modelo é muirn geral estabilidade, respeccivamenre. Ao longo do período modela-
rinocerontes por y_ua~e duas décadas. Teoricamenre, essa :irea riância for maior do que a média, a relação é convexa - fozen- p.u.1 st:r utilizado de forma adequada em casos específicos. É pro- do (Figura 7.25). a probabilidade de extinção da população
poderia mamer um,1 populaç:io de 70 rinocerontes de Suma- do com que, mesmo sob grandes tamanhos populacion::m. a d\'el que esta última opção seja verdJdeira. Contudo, isso ná.o de Oakey era de 0,380 (isto é, 380 de mil iterações acabaram
tra, a qual, com uma r:Lxa de cre:,cimenro de 0,06 por indivi- incerteza ambienral ainda iníluencie no provável tempo de deve desmerecer o valor dos ecólogos que cominuam a buscar em extinção), sendo que essJ probabilid,1de para a populaçáo
duo por ano (apresentadJ por outrJ.S espécies de rinocerontes persisrência. Isso tudo faz um bom sentido inruirivo, mas pode generaJizações acerca <lo:::. processos que formam a bJSe <los pro- de Springsure era de 0,063. Os geswres preocupados comes-
sob regimes de prote1./io adeqtudos), tt:ri.1 permitido o 1usci- ser urilizado na prática? blenus enfrenrados pelos biólogos da comervaçáo. pécies criticamence em perigo em geral não têm a possibilida-
menro de 90 fi!hores durante este período Em seu escudo do mangabei-do- pns·a él ::ire'.~ de de monitorar as popubções para chec.tr a precisão de sua'i
rio-TanJ ( Cercocebus galeritui galcri- pre\'isóes. Por outro lado, Penn e colaboradores (2000) for.U11
tw}, no QuêniJ, Kinnaird e O'Bricn ( 1991) usaram uma equ.1- 7.5.5.4 Modelos de simulação: análise de capazes de comparar as previsões de su.l."> A\'Ps com as crajetóri,b
7.5.5.3 Um modelo matemático geral do tempo ção semdhanre p.ua estimar o umanho popubcional (A- J nt.'"- viabilidade populacional (AVP) reais dJS popu!Jçóes, j.i que ;i::, popubçõt'.s de coab são monitor:i·
de persistência populacional cessário p.ua propiciar uma probabitidJ.de de persistênci.1 dç das conrinuJmente desde .1 Jécada de 1970 (hgurJ 7.25). A:;
95°,o por 100 anos. Esse primau em perigo está confü1Jdo :1, o~ modelm de simulaçJ.o fornecem rra1eróri.1s previ.~ras estiver:1111 próxinus d.is rendt'ncias popub-
ÜJ m.111cira mais :.1mplc:s pos,;;ível, es- flore,ras inundá\"eis de um único rio, onde sua população di- umJ mane1rJ alrernariv.1 e mais espc- cionais reais, em especi.d par.1 ,l popuLição de O.ikey, e isso forne-
per.1-~e que o pnw.ivd tempo de per- minuiu de 1.200 para 700 indivíduos entre 197 3 e 1988 1pe- cífic.1 de deraminar a \·iabilidade po- ce uma conf1Jnç.1 adicionaJ n.1 ,1bordJgem de modelagem.
,;;i,rêncÍ.l de umJ população, T. seja in- sar d.1 criação de uma unidade de conservação. Seu h.íbir.H puLicionaL Em geral, eles incluem as A preciSJ.o dJ.s previsõe::. do \'ORTEX e de outras ferr,1
íluenci,1<lo por seu CJmanho, ,V, sua naturalmente Ji~rribuído em manchas tem sido ainda m.11:::. raxas de sobrevivência e de reprodu- mencas de modelagem Je ·iimulações também foi alu em
r.ixa intrínseca de crescimento, , , e a \-ari.inci:1. em r resultante fragmenudo progressivamenre pda exp,rnsJ.o da agricultur.1. ção em popuLições estrurur.tdJs em cL1sses etárias. As vJria- rrabalhn desenvoh·ido por Brook e col.1bor,1dores (2000'
da variação nas conJições :imhienrais ,lO longo do cempo, V Os pHâmerros do modelo, escimados com base em alguns ções Jlearórias nestes e!L'menros ou em K podem ser emprega- com bJ.se em conjuntos de dados de longo prazo de 21 es
Esper.1-se que a incem::LJ demográfica tenhJ influência :1.penas dados populacionais reais, foram consi<ler:1dos como r=Ü, ! 1 e d.1.,;; para represenuro impJcrn da variação ambienraJ, incluindo pécies animais. Como cais modelos podem ser utilizados no
em populações muito pequen.as; o tempo de persistência au- V=O.:W. Este Lílcimo valor C: especialmc:nce incerco, poi:, m os de~asrres com freqüênci.1 e intensidade conhecidos. A de- manejo? Os governos locais cm Ne\v South Wales ~ão obriga-
mentJ de um b:uxo nível quando hj um nllmero muiro pe- dados disponíveis cobrem apenas um período de poucos anm. pendCncia da densidade pode ser imroduzida, se necessário, dos a prep.uar amplos pl.inos de manejo de coabs e a assegu-
queno de indid<luos, mas aproxim.1-se do infinito em popula- A subsríruição desses valores no modelo produziu uma P.\.I\' bem como a exploraç,lo ou a suplemenração da população. rar que os desenvolvimenrisus realizem um lev;lnt.tmenco de
ções rel.uivamencc: pequt"nJs (cun·.1 tr:tcej:1da na Figura 7.24). de 8 mil indivíduos. Usando J norma prática padrão descr!c.1 "º.<. modelos n1Jis sofiHicados, cada indivíduo é craca<lo sepa- coalas nos hábltJrs apropriados quando soliciram licençJ. para
Vários pesqu1s.1dores rêm m.inipuL.i.do a macemárica do .interiormente, de que para evit.1r problemas genéricos seria ne- rad.1menre em relação ;i. probabi[idJde, com sua incerceZJ aco- a conscrução de um prédio que afere unu área maior do que 1
crescimenrn popu!JLÍonal. adicionando a incerteza na expres- cessário um tamanho populacional eferivo de 500 indivíduos. plada. de que sobrevi\"erá ou proJuziri um determinado nú- ha. Penn e colaboradores (2000) defendem que a modebgem
214 PARTE 1- ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APUCAÇÓES ECOLÓGICAS NOS NiVEIS INDIVlDUAL e POPULACIONAL 21 5

TABELA 7.7 Valores ut11tzados como en1rada para as simulações d~s pop~lações de_coal~ e~ Oakey (em declinio) e Sprinsure (fora de divíduos sobreviverão durante as próximas décadas fora das
perigo), Austrália. Os valores entre parênteses representam o desv10-padrao devido a vanaçao .ambiental; o procedimento de modelagem
irc:as com alto nível de segurança, principalmente devido à
envolve a seleção de valores aleatórios dentro da amplitude observada. Assume-se que as c~ta_stroles _ocorrem. com uma certa .
probabihdade; nos anos em que o modelo seleciona uma catástrofe. a reprodução e a sobrev1venc1a sao reduzidas pelos mult1phcadores perda de hábicac e à caça para rc:cirada de marfim. Para os seus
mostrados (segundo Penn et ai., 2000). modelos de simulação, Armbrus,er e Lande ( 1992) decidiram
Variâvel Oakey Sprinsure repre,enm a população de elefantes em 12 cl.1sses de idade
12 12 discreus de cinco anos. Os valores de sobrevivência para cada
Idade mâxima
Razão sexual (proporção de machos) 0,575 0,533 classe ecária e as taxas reprodutivas dependenre~ da densidade
Tamanho da ninhada de O (%) 57 (• 17,85) 31 (± 15,61)
69 (± 15,61)
forJm derivadas de uma excensa base de dados do Parque Na-
Tamanho da ninhada de 1 {%) 43 (• 17,85)
Mortalidade de fêmeas na idade O 32,50 (± 3.25) 30 (• 3) cional Tsavo, no Quênia, porque a sua nacuraJ semi-árida
Mortalidade de fêmeas na idade 1 17,27 (± 1,73) 15,94 (± 1,59) cem as caracceríscicas gerais das terras planejadas para o esta-
Mortalidade de fêmeas adultas 9,17 (• 0,92) 8,47 1• 0,85)
belecimento das reservas de caça acuais e fururas. A esrncasti-
Mortahdade de machos na idade O 20 (±2) 20 (± 2)
22,96 (• 2,30) 22.96 (± 2,30) • cidade ambiental, talvez uarada melhor como desastres, foi
Mortalidade de machos na idade 1
Mortalidade de machos na idade 2 22,96 (± 2,30) 22,96 (± 2,30) ia...:orporada como evenros possíveis de seca que afetam dife-
Mortahdade de machos adultos 26,36 (± 2.64) 26.36 (± 2,64)
rencemence a sobrevivência das classes sexuais e eririas - mais
Probabilidade de catástrofes o.os o.os
0,55 0.55 uinJ vez se utiliZJndo dados reais de Tsa\·o, ba'.)eJdos em um
Multiplicador para reprodução
Multiphcador para sobrevivência 0,63 0.63 -:ido Je seCJs le,·e:,, de cerca de 1O anos sobrepü~to a um ciclo 0·0001 ~--2~00~--400~--soo~-~aoo~--1000..,
50 50 0
% de machos no con1un10 reprodutor n1.1is grave de 50 anos e a um ciclo de 250 ano~. Jinda mais
Tamanho populacional inicial 46 20 Tempo (anos)
70 (• 7) 60 (±6)- ar.1ve. A Tabela 7.8 mostra a sobrevivênciJ de fêmeas sob con-
Capacidade de suporte. K
Jiçõe~ "normais" e sob as três condições de \t'C.l. A relação
FIGURA 7.26 Probabilidade cumulativa de extinção da população de
entre área de hábicac e probabilidade de excinçlo foi exa- elefantes ao longo de mil anos em seis áreas de hábitat de diferentes
minada em simulações de mil anos com e sem um regime tamanhos (sem seleção) (segundo Armbruster & Lande, 1992).
AVP pode ser usada para determinar se qualquer esforço A população dos elefantes-africa-
de seleção. Pelo menos mil repetições foram re:1lizadas para
em prol da proteção de um hábitar ser:í recompensado por nos (Loxodonta africana) em geral esrá
ca<la modelo, e muito mais repeciçóes (Jcé .30 mil), para
uma população viável. em declínio e prevê-se que poucos in-
acingir uma confiabilidade esraríscica aceitá\"C:-1 nas meno- sensibilidade" mostra que a probabilidade de extinção é pani-
res Probabilidades de extinção associadas com úeas de há- cularmente sensível a pequenas variações nesses parâmetros.
biGH maiores. Uma extinção ocorria quando nenhum indi- Apenas 35o/o dos parques e reservas de caça existentes na Áfri-
víduo sobrevivia ou quando apenas indivíduos de um sexo ca Cen<ral e Meridional são maiores do que 2.600 km'.
(a) 60 permaneciam na populaçáo. Muiros aspectos da bionomia das
Os resultados indicam que uma área de 1..100 km 2 é ne- pi.incas apresencam desafios especiais
-+- Obserwdo
- VORTEX
l cessária para produzir uma probabilidade de persistência de
99% por mil anos (Figura 7.26). Esse resulrado consavador
para a modelagem de simulações, in-
cluindo a dormência das sementes, o
foi escolhido devido à dificuldade de res<abelccer populações recrucamenco alcamente periódico e o
viiveis em áreas isoladas onde ocorreram extinçóes e devido crescimento por clones (Menges, 2000). Contudo, assim como
ao longo rempo de geração dos elefantes (cerca de 31 anos). ocorre com os animais sob risco de extinção, diferentes cená-
N.1 realidade, os pesquisadores recomendar.mi .ws ges;rnres am- rios de manejo podem ser simulados de maneira útil em AVPs.
bientais uma estinucivJ ainda mais conservadorJ de área mí- A apanha-moscas-real (Si/me regia) é uma planta de vida lon-
ninu para reservas, de 2.600 km 2. Os dados '.)JQ menos con- ga, icerópara perene de prad.uia cuja distribuição geográfica
10 !lfreis para a sobrevivência. dJ classe etária m.11:; jovem e para foi reduzida drama<icamente. Menges e Dolan ( l 998) cole,a-
o regime de seca de longo prazo. Além disso, um..1 ··análise de ram dados demográficos por até sete anos em 16 populações
o ,, ,,., ,~ .,,.,
,OJ~
," ," ,">'" ,"' ,"'" li" ,OJ
"'"
,OJ ,""'" ,<f'' ,<f'" ""
,OJ
"'
,°' TABELA 7.8 Sobrevivência de 12 classes etárias oe elefantes em anos normais (ocorrem em 47% dos períodos de cinco anos) e em anos
Ano com ciclos de seca de 10 (41% dos períodos de c1rico aros). 50 e 250 anos (10 e 2% dos períodos de c,nco anos. respectivamente)
(b)
(segundo Armbruster & Lande. 1992)
60
Sobrev,vênc,a de fêmeas
50 Classes etânas (anos) Anos norma,s Secas de 10 anos Secas de 50 anos Secas de 250 anos
~

8,'l 40 • Oa5 0.5 0,477 0.25 0.01


5 a 10 0.887 0.877 0,639 0.15
30 10 a 15 0,884 0,884 0,789 0.2
~
5 20
• 15 a
20 a
20
25
0.898
0,905
0.898
0,905
0,819
0.726
0,2
0.2
z ____ l-'--'---- FIGURA 7.25 Tendências observadas 25 a 30 0,883 0,464 0.1
0.883
da população de coalas (+) em campa· 30 a 35 0,881 0.881 0,475 0,1
10
ração com as tra1etónas ( .. ± 1 OP) pre· 35 a 40 0,875 0.875 0, 138 0,05
vistas por mil iterações de VOATEX em 40 a
o
,">
,., ,# ,"~ ,# ,<f'"- ,"<f>
(a) Oakey e (b) Spnngsure. EUA (segun· 45 a 50
45 0,857
0.625
0.857
0.625
0.405
0.086
0,1
0,01

L
do Penn et ai 2000) 50 a 55 0,4 0.4 0.016 0.01
Ano 55 a 60 o o o o

1
21 6 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APUCAÇÔES ECOLÓGICAS NOS NiVEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 21 7

do meio-oesce dos EUA (número de adulrns nas populações cremenrar populações-alvo, a criação de unidades de conser- em seis manchas remanescentes de h.íbitac de pântano den!>o
variando de 45 a 1.302}, as quais estavam sujeitas a diferentes 1,8 vação maiores, o aumento da capacidade de supone por meio (Figura 7.28). Como os emu-wren são maus voadores, os cor-
regimes de m.rnejo. A espécie apresenta alta sobrevivência, cres- dJ suplementação alimentar, a rescrição da dispersão pela cons- redores com vegeração apropriada entre as manchas são pro-
cimenro lento, floração freqüente e semenres sem dormência, 1,6 rruçáo de cercas, a adoção de filhotes pelo homem (ou a ado- vavelmente imponantes para a persisrência da merapopula-

mas recrucamenco muito episódico (a maioria das populações i ção de filhotes por espécies aparenradas), a redução da morra- ção. As estratégias de manejo que ~'estphal e colaboradores
não produz plântulas em muitos anos). Foram elaboradas
macrizes, como a ilustrada na Tabela 7.9, para cada população
. ~
".!!!
1,4 lida<le pelo conrrole dos predadores ou caçadores, ou por meio
dt: vacinação e, obviamente, a preservação do hábitat.
(2003) avaliaram foram o aumenm das manchas de hábitat
existenres, a conexão das manchas por meio de corredores e a
e ano. l'v1últiplas simulações foram, então, rodadas para cada
matriz para determinar a caxa finita de aumenco (À, ver Seção
4.7) e a probabilidade de extinção em mil anos. A Figura 7.27
.
§
.tl
1,2

7.5.6 Conservação de metapopulações


criação de uma nova mJncha (Figura 7.28). O "cusm" de cada
esrracégia foi padronizado para ser equivalente a uma áreJ re-
planeada de 0,9 ha. O modelo de otimização verificou cada
-1! 1,0
mostra a media1u da taxa finita de aumento para l G popula- ação de manejo individual e rnmbém comparou uma vaneda-
~
,, Observamos na Seção 7.5.4 que as ex- de de trajetórias de cenJrio de manejo (p. ex., construir pri-
ções agrupadas pdo tipo de regime de manejo em anos com 0,8 ~
ocorrência dt' rccrutJ.mento de plântul.1<; e em anos sem recru- ~ tinções locais são eventos comuns. Des- meiro um corredor da maior mancha até a sua mancha vizi-
umenco. Todos os locais onde À foi m.lior que 1,35, quando sa forma, os biólogos da conservação pre- nha; então, no próximo período, aumencar o tamanho da maior
0.6
hou\·e recrutamento. foram manejado, com fogo, e alguns ram- cisam estar conscienres da importância crítica da recolonização mancha: posteriormeme, criar uma nova mancha, etc.) para
bém com ceifa: nenhuma des),15 populJçôes te\"e previsão de dos fr.1gmenros de h.ibicar .)e desei.11em que .1::. populações frag- encontrar aqueles que .1presentam a m.1ior reduçJ.o do risco
0.4~-~-----~----~--
exrinçJo durJntc: o pc:rloJo modelado. Por outro bdo, as po- Fogo e ceifa Fogo Sem fogo mcnradas persisram. Por isso, precisamos dar uma arenç.Jo espe- de exrinção em um prazo de .30 anos.
pulações não-nunejadas, ou cujo mJnejo nâo incluía o fogo, .:i.il às relações emre os elemenrns <la paisagem, incluindo os cor- As decisões de manejo mera.populacional órimas depende-
Regime de maneio
apresenraram valore) mais baixos Je 1~. e todas, exceto duas, redores de dispersão, no que diz respeito às caraccerísticas da dis- ram do atual estado da população. Por exemplo, se apenas as
tiveram probabilidades de extinção previsrJs (ao longo de mil persão da espécie-foco (Fahrig e Merriam, 1994). duas menores manchas esrivessem ocupadas, J. mdhor ação
FIGURA 7.27 Mediana das taxas finitas de aumento de populações
anos) de 1O a l Oüo/o. A recomendaç.lo de m.inejo óbvia é pres- de Silene regia em função do regime de manejo em anos com ( .., ) e Wescph,I e colaboradores (2003) seria aumentar a área de um deles (mancha 2; estratégia E2).
crever o uso de fogo para dar oporrunid:1de de recruramenro sem ( ) recrutamento de plàntulas. Os regimes de maneio sem o construíram um modelo de ocupação Conrudo, se apenas a mancha grande mais resisrente à exrin-
fogo incluem apenas a ceifa. o uso de herbicidas ou nenhum maneJo ção esrivesse ocupad.1, a opção ótima incluiria a sua conexão
de plinrulas. As baixas taxas de estabelecimenro de plânru- estocástica de parcelas para o passeri-
las no campo podem ocorrer devido à frugivoria por roe- forme cri ricamente em perigo southern com manchas vizinhas (estratégia CS). A melhor dessas ema-
dores ou formigas e/ou à competição por luz com a vegeta- sabem disso, e é imponante que os biólogos da conservaçJ.o emu-wrt•n (Stipiturus ma!aclmrw inter- régias fixas reduziu em até 30º/o as probabilidades de extinção
ção esrabelecid.1 (Menges e Dolan. 1998) - áreas queima- rambém renham essa consciência. Considerando a ine\·ich'd mediw) (baseados em matrizes realís- em 30 anos. Por outro lado, as escrarégias ótinus dependentes
das prova,·elmenre reduzem um de)tes efeitos negativos ou limiração da falra de conhecimenrn e da falra <le tempo e opor- ricas de excinção e recolonização) e, então, usaram uma técni- do esrado. em que cadeias de diferences ações foram modeladas
ambos. Enquanro o regime de manejo foi o melhor prog- runidades para colerar dados, o exerdcio de modelagem nJo ci conhecida como modelagem dinâmica estocástica para iden- ao longo de períodos de rempo sucessivos, reduzir<un as probabi-
nósrico de persisrenci.1, é imeressante observar que as po- passa de uma racionalização do problema e uma quantificaçáo cific.1.r soluções ótimas para seu fururo manejo. A metapopu- lidades de exrinçâo em 50 a 80º/o em comparação aos modelos
pulações com m.1.Íor diversidade genérica também apresen- das idéias. Além disso, embora tais modelos produzam resul- laç.:ío da região de 1\!1ounr Lofry, no sul da Austrália, ocorre sem manejo. As, rrajerórias de cenário Ótimas variaram de .1cor-
taram maiores medi,rnas de ).. tados quanricacivos, o bom senso nos diz para confiar nos re-
Em um mundo ideal. uma AVP sultados apenas em seu aspecto qualitativo. Não obstante, os
permitiria produzir uma recomenda- exemplos anteriores mosrram como podemos conscruir mo-
N
çio específica e confiável do tamanho delos que permitem fazer o melhor uso possível do~ dado::. (1,6 ha)

t
4
populacional cn1 da área de reserva disponíveis com base na teoria ecológica discutida nos Capí- Ma,or mancha Nova mancha {E7)
necessirios p.1.rJ um,1 espécie ameaça- rulos 4 a G e que podem nos dar confiança na seleção dJ me- ~cs
da de exrinção, o, quJÍs permitiriam sua persisrência por um
cerro período de rempo e com um d:1do grau <le prob.1bili<la-
lhor opção de manejo disponível e idenrificar a impordnciJ
relJtiva dos facores que .imeaçam uma popuL.1ção (Reed ct ai..
~
(1,4 ha)
2
l
o
',,\,
de. ivhs isso é nramentc atingido, porque os dados biológico) 2003). Os tipos de manejo intervencionista que podem ser ~oihaJ
em geral c.uece111 d,1 qual1d.1de nece~sir1.1. Os modeladores recomendados incluem a tr.rn~locação de indivíduos p,tra in- 1 C2 C2
(8.4 ha)
1
mancha mais conectada
TABELA 7.9 Exemplo de uma matnz de proieçào para uma determinada população de Srlene reg,a de 1990 a 1991, assumindo
recrutamento Os números representam a proporção de rnd1viduos que mudam do estágio apresentado na coluna para o estágio
apresentado na linha (os valores em negrito representam plantas que permanecem no mesmo estágio). ··v1vo indelrnido" representa
6
individuas sem dados para tamanho ou floração. normalmente como resultado de ceifa ou herbivona. Os números na pnme1ra linha - - - - - - - Corr-rS(CSJ (5,2 ha)
1nd1cam as plântulas produzidas por plantas em floração. A taxa de aumento ftnita À. para esta população é de 1,67
Corre®< 2 (C2)
O local é manejado com prescnção de fogo (segundo Menges e Oolan. 1998).
· ..........................._, ___ Corredor 3 (com criação da mancha E7)
1
Plântula Vegetaflvo i Floração pequena Floraçâo média Floração grande Vivo mdet1n1do
Plântula 1 - - 1
5,32 12.74 30,88 1

Vegetativo 1
0,308 0,111 : o o o o Estrategias.
Aumentar a mancha 2 (E2)
Tamanhos relativos das manchas·
5>1>6>4>2>3 FIGURA 7.28 Metapopulação do passe-
Floração pequena! o 0,566
1
1
O.SOS 0,137 0, 167 0,367 Aumentar a mancha 5 (ES) riforme southern emu-wren. mostrando
Cnar mancha e corredor (E7) o tamanho e a locahzação das manchas
Floração média 1
o 0,111 1 0.210 0,608 O, 167 0,300 Corredor 1 (C2) de há.bital e corredores. Ver texto para
Floração grande i o o ! 0.012 0,039 1
0,667 0,167
Corredor 2 {CS) 0,5 1 km maiores detalhes (segundo Westpnal et
ai .. 2003)
Vivo 1ndef1mdo ! o 0,222
1
0,198 0,196 o 0,133
218 PARTE 1 - ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS NOS NivEIS INDIVIDUAL E POPULACIONAL 219

do com o estado inicial da metapopulaçáo e são mostradas na seqüência de ações é crítica, e a identificação de uma se- sas deveriam nos a.uxillar a faz.er um uso órimo desses re- co viajante humano que carregue o vírus para desencadear um
Figura 7. 29. qüência ótima só pode ser atingida por meio de uma abor- cursos escassos. surro da doença. De Wec rtal. (2001) usaram o conhecimen-
Esses resulcados contêm uma série de liçóes para os bió- dagem como a modelagem dinâmica esrncásrica (Clark e ro dos nichos fundamentais das duas espécies de mosquiro em
logos da conservação. Primeiro, decisões ótimas são muirn tvfangel. 2000); será difícil chegar a normas práticas sim- suas áreas de ocorrência natural (em relação à temperatura e à
dependentes do estado e devem contar com conhecimento ples em se trJrando do manejo de merapopulações. O mais 7.6 Mudança climática global e manejo precipitação) juncamente com cenários de mudança global para
acerca da ocupação das manchas e com um bom encendi- imporr.1nce é que, devido ao fato de os recursos disponÍ\'eis prever as áreas com maior risco de invasão do vetor e de esta-
menro das caxas de extinção e recolonização. Segundo, a para a consav.1ção serem limitados, ferramenras como es- · -:...:c::,·:.5 c:e Dados os aumenros pre\·iscos n.i con- belecimenro da doença. Sob as condições climáticas atuais, é
,, .: :1.•1-;;2 ci·-- :,.·
- ~. 02 ........ :.':!
centração de dióxido de carbono e improvável que A. aegyprí seja capaz de se estabelecer em qual-
oucros gases do efeito estufa na atmos- quer pane da Nova Zelândia, e A. albopictw poderia invadir a
fera, acredira-se que a [emperarura da pane norce da Nonh lsland (Figura 7.30a). No cenário de
Unha báSICa
(a) Apenas a maior mancha ocupada Terra aumenrará, até o ano, 2100 en- mudança global mais extremo previsco, a maior pane da Nor-
tre 1,4 e 5,8ºC em re\Jçio aos níveis

~-~-~
rh Island e uma porção da Souch Island correriam risco de
observados em 1990 (IPCC. 200!). Os efeiros de rais aumen- invasão por A. afbopictus. Sob o mesmo cenário, a área da
ro'i poderão ser profundos, por meio do derretimento das ge- Grande Auckland, no norre da Nonh lsland, onde vive uma
leirJs e caloras pobres e do subseqüenre aumemo do nível do grande proporção da população humana, ficaria suscetível à
nur e..Kinu de cu<lo. por meio de rnudani.,,I<; Lk L1rgJ-t:sc.1l.t invasáo pelo \t:ror mais eficiente do \'Írus, o A. t1egypti (Figur.1
110 dima globJI. Alterações n.1 cemperJtur.1 e em ourro.'t .1spec- 7 .30b). Uma fiscJlizaçJ.o de fronreir.1 vigilJnte é essencial, com
r,Js do clinu pro\·ocam uma mudança no padrão físico-quí- maior ênfase nos porcos de entrada do norte, principalmente
(b) Apenas as duas menores manchas ocupadas mKo sobre o qual os nichos das espécies esc.trão sobrepostos Auckland (responsável pela chegada de 75% dos passageiros

~-CD-~-~
no fururo. Em outras palavras, as unidJ.des de LO/l')ervação já de viagens aéreas, 74°!0 da carga porcuária e SOo/o da impona-
ôtabdecidJ.s parJ proteger certas espécies poderão estar nos ção de pneus, os quais fornecem a principal roca de transporte
locais errados, e as espécic:s arualmeme Jpropri.1das para pro- para as larvas do mosquim) (Hearnden et ai., 1999).
jeco.'l de restaurJ.ção podem ná.o prosperar mais. Além disso, é A acácia-espinhosa (Acacia nifotic
provável que cada região do mundo estejJ sujeitJ a um novo indica) é uma planca leguminosa le-
i coniunro de espécies invasoras, pragas e doença,. nhosa cuja distribuição nativa englo-
ba parte da África e se esrende acé o
C9-~ lesre da Índia. Ela tem invadido muitas panes do mundo, in-
(e} Todas as manchas ocupadas
7.6.1 Prevendo a disseminação de doenças e cluindo a Austrália, onde foi introduz.ida originalmente para
outros invasores em um mundo em fornecer sombra ou forragem ou servir como ornamencal. Ela
G=::> -CD-@-~ mudança se disseminou amplamente e hoje é considerada uma praga
nociva, pois reduz a produção de pastagem e impede a reu-
Estamos apenas em um escjgio preco- nião dos rebanhos e o acesso à água. Com base nas condições
i ce das tendências projc'ud,1s em rei 1-
ção à mudança clim~ltica global, mJs
de sua área de ocorrência nacural, Kricicos e colaboradores
(2003) decerminaram o nicho fundamemal da espécie em re-
já exiscem evidências de respostas da lação aos limites de tolerância mínimos e máximos e ao ótimo
~-G:=:>-~-~ flor:i e da fauna. Assim, a produção de broros (broumenro) e em termos de temperatura e umidade e aos limiares de escre)se
a lloraçJ.o de uma variedade de plJntJS e'.->r.í ocorrendo mais por frio, calor. seca e excesso de água. Eles, então, modelaram
(d) Apenas as duas maiores manchas ocupadas cedn. rnuir;1s aves. borboletas e anfíbios estio reproduz.indo o potenciJI invasor da acácia espinhosa sob dois cenários de
~-Q0-~-CD r.ui, cedo e mudJnças nJ. distribuição de espécies rêm sido
deteccad:1s ramo em diíeÇáo aos póim quanrn em direção a
mudança climárica. Ambos assumiram um aumento de tem·
peratura de 2°C. junramenre com um aumento ou um decn~s-
i altitudes mais devadas (\X'alrher er ai., 2002: Pannesan e: Yóhe, cimo de lOº;ó na precipitação, rendo em visca que h.í umJ

Estralé<jas:
-~ FIGURA 7.29 Tra1etôrias de cenáno de
maneio ótimas para drferentes contigu·
rações iniciais da metapopulação de
southern emu-wren. Cada círculo repre·
200)). Podemos esperar mudanças muiro m.rn dr:isttcJs na
di~tribuiçio potencial de espécies n.1riv.1s e lrl\",hOr.l'i no pró-
ximo século.
A dengue é uma doen..;J virai po-
tencialmente faca! limtLHL1 hoje .tos
cons1derin·l 1ncerreza sobre os cfeiros da mudança global sobre
J precipiução nJ Auscrália (Figura 7.31 ). A disrribuiçâo ~nu..11
real dJ acic.i.1-espinho5,a esci espalhada demro d.1 regiJ.v indi-
cada pelo modelo, mas ela ainda não se disseminou por roda..,
as ireJs ~:,revistas. Quando a mudança climárica é consi<l.:r:1-
ES: aumente o tamanho da mancha malOI' senta uma ação. Círculos concênlricos
E2: aumenl8 o iamanho da mancha mais países tropicais e suhtropicais onJe da, sua .1brangênu..1 de invasão evenrual poderia. ser muito
mostram a execução repetida de uma
~(mencw)
estratégia antes da implementação da
existe o mosquito \"e~or Nenhum maior, em parricular porque a planta pode ser mJ1s eficiente
C2: corredor da mancha mais conectada mo,quito :1rua.lmenre existente na Nov:1 Zel.ln<l1,l p.irece ca- em seu uso da água como resultado do efeiro de tercilização do
para as manchas vizinhas estratégia seguinte Observe que cada
I
l CS: corredor da maior mancha até tra1etôna acaba com uma ação ~não faça paz de ser o vetor doença. Em todo o mundo. os Jo1s vetores aumenco do dióxido de carbono acmosférico. Assim. o Ju-
nada" quando o estado da metapopula-
. manchas,mnhas mJis imporrantc:-s são A.edes aegypti e A. albopt(tw. Ambos já mento da concentração atmosférica pode ter tanto efeicos in-
!
,.....-
E7: crie tma nova mancha e depois a ção é tal que a ausência de uma ação
de manejo não produz uma probabilida- forJm interceptados na fronteira da Nova Zdându, e o últi- direrns. por meio da mudança climática, quanrn efeicos dire-
I ON:nãolaça.-,nãoésy-,ficativamente de de ~xt1nção sign1ficat1vamente pior do mo. o qual é rolerante a condiçõc-s rdativamc:nte fr1.1s. invadiu ws sobre o desempenho e a disrribuição das planras (Volk
I póor que nenhuma estratégia que qualquer estratégia de ação {segun·
recememc:nce a Itália e J AméricJ do ~one. Se: umJ popub- et ,1/., 2000). Uma maior difusão da espécie poderia ser comi-
do Westphal er ai.. 2003).
1 ç.10 do rnosquim veror se escabelecer, d,1 precis.1,.i de um úni- da, porque as árvores podem ser removidJ.s fisicameme e a

1
~

1
220 PARTE l - ORGANISMOS CAPÍTULO 7: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS NOS N1vE1S INDIVIDUAL E POPULACIONAL 22]

FIGURA 7.31 (dlfe1ta) Distribuição prevista da acácia-espinhosa na


Austrália com base (a) no clima atual, (b) em um cenário com um
(a) (i) aumento médio de 2°C na temperatura e um aumento de 10% na
precipitação e (c) um aumento de 2ºC na temperatura e uma diminui-
ção de 10% na precipitação. As distribuições previstas em (b) e (c)
também assumem uma crescente ef1c1ência no uso da água pela acá-
cia-espinhosa devido ao eleito de lertihzação do aumento no dióxido
de carbono atmosférico (segundo Kriticos et ai.. 2003)

distribuição porencial das espécies se contraiu ou expandiu


em vários cenários. Com base no cen.írio mais extremo ( um
a.umenro médio de temperatura de 2,0ºC e uma reduçáo de
I 5ºío nJ. precipiução}, é evidente que mais de metade dases-
p~cies que esráo arualmenre rescritas à reserva poderão ser ex-
Oceano D ~ lmpropno tintas. Há Jinda J pre,·is,ío de que uma segunda c.uegoria de
1 - Marginar
2
D
L_I ' ; Margina!
,=:J Adequado
\j C,Krns, CUJJS distribuiçõc,; ,ltLLJis esrâo quase igual111eme !oc.1.-
li1.Jd.1s denrro e for.1 da resen·.1, rer.í unu redu~·.Jo de SUJ'> .ire.1s
L~
D D Muito adequado de ocorréncJJ de tJI fornu que suas <li.'itribuições ficarão quJse
5 - Moderado
6
D
D
D
( (b)
exclusJ\'amente confinJdJs à reser\'J. Uma lÍlcima categoria de
espécie.-., cujds di.-.tribuições J[Uais sJ.o muirn mais abrangen-
D tes, também sofrerá uma redução, mas essas espécies, no futu-
D ro, ainda poderão estar distribuídas denrro e fora da reservJ.
10-Ótimo D
No caso desres c.1eros, emão, J localização da reserva parece
prover de forma adequada as necessidades das alterações po-
(b) (i) (ii) tenciais de sua distribuição.
Observamos que o desempenho d.1 borboleu H)'pochrr-

\)
\~~
FIGURA 7.30 Mapas de risco de den-
gue em decorrência da invasão da Nova
Zelànd1a por (a) Aedes albop1ctus sob
(i) condições climáticas atuais e (i•J um
cenário de mudança climâttca extrema
>ops ha(yetus não depende apen.is de sua própria fisiologia e
comportamento, mas também de uma interação mucualisra
com formigas. Além disso, enquanto as discribuições dos cac-
tos sáo fundamenralmente dependente.'i de condições físico-
químicas apropriadas, é prov~ivd que elas também sejam in-
fluenciadas pela competiçáo por recursos com outras planras e
em 2100, e (b) A. aegypt, sob (1) um
\ por suas interações com as espécies que os utilizam como ali-
cenáno de mudança climática extrema
em (i) 2050 e (ii) 2100 (segundo de Wel
et ai. 2001)
\j menrn. Na segundJ seção do livro, enfocaremos nossa atenção
à ecologia das incerações entre popuL1.ções.
(e)

di!,persão liJ!i semcmes (n,1s feze!, do:. .mimais domésticos) pode distribuições de 13 espécies serJo reduzidas em mais de 20~,1
ser prevenida, desdt: que os animais náo sejam transportados Em mJior risco esr:i.o aqudas, como HJ,pochrysops ha{yetw, qul'. Os ecólogos ç os gescores ambtenc.lÍs preLisam idencífior m.1.-
de maneir,t indi.1icr1n11n,1da. Um componence crucial par.1 con- nio apenas sâo e.-.pec1al1stJS em rdaçâo ao seu alimento \·egc::- neir.1.s d"ecív,1.s de aplicar o conhecimento ciencírico pJrJ. lid.1r
cer a invasão .1,eri.1 u111 ,lllmenro n,1 consClentizaç<io pública em r;1.I. ma.'i que também dependem da presença de formigas p.tLl com ,l ampla g.1.ma de problenu~ amhienr.1.is que enfrenr.1-
rda<,:w .1 o:.a pr.1~,1 e como co[l[roLí-L1 ( Kri["1cos et ,zl., 2003). unu inceraçáo munulisu. Ü,; modelos sugerem que H. h,1(!-1·- rnos. Neste capírulo, di.'!cutimo~ ,1pliuçõcs ecológiu,;;; cl.i :eo-
tus, ,1 qual é restrÍ{d ,1 urzai~ cosceirus no OC.'ite da Au<irr.il1.1 riJ e do conhecimento nos ni\'cis indi\·idu,11 e popuLICion.1!.
perderá entre 58 e 99~10 dJ. ,irea atual de ocorrl'.'ncia que ;1pre- E:.te é o primeiro <le um trio Je c.1.píwlo~; os outros Jboid.1.-
7.6.2 Manejando espécies sob risco de extinção senta as condições clim:íricJs adequadas. Além disso, men()~ rão de uma maneir.i semellunte a aplic.1ção dos funJamen·
de 27o/o de sua disrribuiçâo geográfica prevista para o futu- tos da ecoloai,1. no nível dJs interações inrerespecífic1s (Ca-
;-\ remperarnra e a umidade também têm uma forre intluência ro ocorrem em ioCJis J.tualmenre ha.bicados por ela. Est~· pítulo 15) c~no nível das comunidades e ecos.'iistemas (Ca-
no ciclo de viJ.1 Ja:. borboletas. Beaumom e Hughes (2002) resultado salientJ um Jspecto geral para os gestores: esfor- pímlo 22).
us.1ram a abord·,igem ,1plic.1da p.1rd a acicia-espinhosa para
prever o efeito d.1 mudança climática
ços regionais de conservação e 3.'i atuais unidades de con-
servação podem acabar em locais impróprios em um mun- \j .-\s cstra.tégias de mJnejo em ger.11 .'!e baseiam na h,1bil1dJ-
de de prever onde as espécies se <1dapt<1r:l0 melhor. sej.1 no cJso
sobre a distribuição de 24 espécies de do em modificJção. de desejarmos realizar a revegeraç:io de .solos cunr.uninadm.
borboletas australianas. i\1esmo sob Téllez-Valdés e Dávila-Aranda (2003) exploraram ess., restaur:u hibiut.'i degradados de espt'cie,; .rninuis, prc:\·er a 3is-
um conjunw de condiçõe.-. modeu- questão em rda.çio JOS c.tccos. form:.1 vegetal <lominanre 11.1 cies Jtuai~ e .1ssumindo um de três cenirios climáticos fucu- mbuiçjo futura de e:pécies im·Jsor.1s (e, por meío dt.' med,dJ"
das a longo prazo (;mmento de tem- ReservJ da Biosfera Tehuacín-CuicarLín, no 1Vléxico. A panir ros, des previram a:-. disrribuiçôes futurJs das espécies em rela- de biossegur,rnça. evitar '>ll,1 chegada) ou conservJr espé::ies
perawra de 0.8 a l .4"C: aré 2050), as do conhecimento dJ base biofísica <l.t distnbuiçio das e.-.pé- çJ.o J. localt1.1çJ.o d.1 resc:rv:1. A T.ibda 7.1 O mostr,1 como a soh riKo Je exrinção em 11m·.1s unid.1.des de con~c:rv.1.çJ.o. De:,-
222 PARTE 1 - ÜRGANtSMOS

TABELA 7.10 Distribuições centrais (km2) potenciais de cactos sob as atuais condições climáticas e sob três cenário~ de mudança
climática, no México. As espécies da primeira categoria de cactos estão hoje completamente restritas à Reserva da Biosfera
Tehuacán-Cuicatlán, de 10.000 km2. As da segunda categoria têm uma distribuição atual equilibrada dentro e fora da reserva. A distribuição
atual das espécies da última categoria se estende muito além dos limites da reserva (segundo Têllez-Valdés & Dávila-Aranda, 2003)
+1.(YC -10% +2,(f'C -10% +2,Cf'C -15%
Categoria Clima atual precipitação precipitação precipitação
Restrita à reserva
Cephalocereus columna-trajam· 138 27 o o
Ferocactus flavovirens 317 532 100 55
Mammillaria huitzilopochtl1 68 21 o o
Pachycereus hollianus 5.130 1.124 486 69
Polaskia chende 175 87 o o
Polaskia chich,pe 157 83 76 41
387 106 10 o
01stribu1ção intermediária
Coryphanth"a pycnantha 1.367 2.881 1.088 807
Echmocactus pfatyacanthus f. grandis 1 285 1.046 230 1 148
Ferocactus haematacanthus 340 1.979 1.220 170
Pachycereus weber, 2 709 3.492 1 468 1 012

01stnbuição ampla lfHRODUÇÃO cias do consumo" em termos da dinâmica de populações do


Coryphantha pai/ida 10.237 5.887 3.459 2.920
3.220 3.638 1.651 151 predador e da presa. Essa é a pane da ecologia que tem a maior
Ferocactus recurvus
Mammillana dixanthocentron 9.934 7 126 5 177 3.162 A atividade de mdo indivíduo muda o amhiencc em que ele relevância p.1ra os que se dedicam ao manejo de recursos
Mamm,llaria polyedra 10.118 5.512 3 473 2.611 vive. Ele pode alcerar as condições. como quando ,1 u.anspiração naturais: a eficiência da exploração (seja de peixes, baleias.
Mammillaria sphace/ata 3.956 5 440 2.803 2.580
4 943 3.378 1.964 de uma árvore refresca a atmosfera, ou pode .1dicior1Jr ou sub- pastagens ou pradarias) e os controles biológico e químico
Neobuxbaumia macrocephala 2.846
Neobuxbaum,a tetetzo 2.964 1 357 519 395 rrair recursos do ambiente, que poderiam fit..Jr disponíveis a de pragas e ervas daninhas - temas de que nos ocupamos no
Pachycereus chrysacanthus 1.395 1 929 872 382 ourros organismos, como quando uma ár\'ore projeta sombra Capitulo 15.
Pachycereus fulviceps 3.306 5.405 2.818 1.071
sobre oucras plantas abaixo dela. Além disso. contudo, os or- A maioria dos processos escudados nesta pane envolve in-
g.rnismos interagem quando os indivíduo.<i influem n.1 vida de terações genuínas encre organismos de espécies diferentes.
outros. Nos capítulos seguintes (8 .1 15). comideraremos di- Entreranco. quando organismos mortos (ou partes morras de
crevemos como nosso entendimento da teoria do nicho for- A conservação de espécies sob risco de extinção requer um vers;1s interações entre indivíduos de espécie, diterences. Dis- organismos) são consumidos - decomposição e derritivoria -
nece a fundamentação básica para muitas ações de manejo. entendimento profundo da dinâmica de pequenas populações. tinguimos cinco categorias principais: comperiçáo. predaçio, a relaçáo é muito mais unilateral. Conmdo, como conforme
A bionomia de uma espécie é outra característica básica A teoria diz que os biólogos da conservação devem estar aten- p~trasitismo, mucualismo e detritivoria, embor.1. como a maioria descrevemos no Capículo l l, esses processos incorporam com-
que pode guiar o manejo. Cenas combinações de característi- tos aos problemas genéticos das pequenas populações, os quais d.1s categorias biológicas, estas cinco caregon.is n,l.o sejam es- petição. parasirismo, predaçáo e mutualismo: microcosmos de
cas ecológicas ajudam a determinar os padrões vitalícios de precisam ser considerados durante a elaboração de planos de cminhos perfeiros. wdos os principais processos ecológicos (exceco a forossíncese).
fecundidade e sobrevivência, os quais, por sua vez, determi- manejo para ;t conservação. As pequenas populações também Em termos muito amplos, a "competiç.J.o'· é uma 1meraçJo O Capitulo 12, ,.Parasitismo e Doença", aborda um tema
nam a distribuição e a abundância das espécies no espaço e no são sujeitas a certos riscos demográficos que aumencam sua em que um organismo consome um recurso que e.'itariJ dispo- que, no passado, foi muitas vezes negligenciado pelos ecólogos
tempo. Consideramos o caso de determinadas características probabilid.1de de extinção. Enfocamos uma abordagem cha- nível para o consumo de ou(ro organismo. l !m organtsm,i - e pelos texros de ecologia -, e no encanto mais da metJde
(como o tamanho da. semente, a taxa de crescimento, a longe- mad.1 análise de viabilidade populacional (AVP) - uma deter- privJ um <mtro e, como con.<icqüenciJ, este cre,ce mais lenr.1- das espécies conhecidas pertence à categoria dos parasitas. O
vidade e a flexibilidade comporramencal) serem úteis para os rnin.1çJ.o dJs probabilidades de extinção que depende do co- menre, cem menos de,cendemes e corre um risco nuior de próprio parasiri,;mo apresenr:1 limites imprecisos. particular-
gescores preocupados com a probabilidade de uma espécie re- nhecimento dJs tabelas de vida, das taxas de aumento popub.- mane. Essa priv.1..,.·ão pode ocorrer enrre dni., membros dJ. mente onde ele se funde com predação. Porém, enquanrn um
presentar uma pane de sucesso em um projcco de restaura- cion.tl, da competição intra-específica, da dependência da den- rnesm.1 esp~cie ou enrre indivíduos de espécie~ difcrenre:::.. [\;u pred:idor em geral consome uma parte ou rndo o corpo dé
~·J.o de um h.íbitar, ser umJ exótica problemática ou ser uma sid.1dc.-. das cJ.p.1cldades de suporte e, quando apropriado, d,1 Capírulo ), foi ex,uninada a competiçJ.o 111u.H:.<ipecific.t e. no muira~ pre:-.as individuais, um parJSÍto nornn!mente obtém
crndid:1ta a extinção e, dess.1 forma, merecedorJ de prioridade estrucurJ J..t mctJpopulaçio. Uma análise cuidadosa dJs po- C.1pículo 8. escuJ.1mos a compeciçJ.o n1terespecí~lc.1 seus recursm de um ou de poucos hospedeiros e (como mui-
J.e con,erv.1ção. O tamanho corporJ! se mostrou um indica- pulaçóe,;; de Jererminad.1s espécies sob risco pode ser u.s;1cL1 Ü<; C.1pírul(ls 9 e l O '.>JO ded1c.1dos .1 Jn crqn .1,pcctO'i d.1 tos predadores p.1sradores) rJramc::nre nuca seu hospedeiro ime-
dor p.Hcicularmence imponame do risco de extinçJo. p.tr.1 su~erir .1borcl.igem. de mJnejo que" apresemem ,l nuiur ··prc:d,1çJ.o .. , embora (enh.1mos ddlni<lo ~Hnl.t,)o de modo diacament~. :::.e é que cheg.1 j nud-!o
Um.1 caracreriscic.1 Je particular influência no compona- prnb.1bllid.1<le d.e assegurar sua perslsrencia. .unplo. Agrupamm aquelas sitlla(,"Õe, em que um org.rnlsmo Enqu.rnco os capírulos iniciais desca pane se dedicam
memo dos indivíduos. sejam animais ou plantas, é seu padrão Um dos maiores desafios do futuro para as espécies, os consome ourro e o mata (ui como uma conq,1 predJndu um amplamente .10 conflito entre espécies, o Capículo 1.1 trJcJ
<le deslocJmento e dispersão. O conhecimento do comporra- ecólogos e os gestores ambientais é a mud:rnça climática glo- camundongo) e JqueL1s em que o consumidor x;:.tcJ. ..1.pc:n.b das inceraçôes mucualisus, nas quais ambos os org<rnismos
menro migr:uório e do comportamento de dispersão em um b.1!. Lidamo,; com a maneÍrJ pelJ qual podemos utilizar oco- um:1 p,utt' de suJ presa, a qu.11 pode cre<;cer novJ.mc'nte e pro- experimentam um benefício líquido. Concudo, conforme ve-
ambiente fragmentado pode dar suporte a tentativas de res- nhecunento :-.ubre :1 ecologiJ das espécies, juntamente com a.<i porcion.u uma nova porção em ourn ocJsiJ.o Í~H\Cejn). Reu- remos, um conflito muiras vezes locJliza-se igualmente no cerne
cauraçã.o de hibit:1.cs danificados e subótimos, bem como ao mudan.;a.'i gl(lbais previsus nos padrões das condições físico- nimos rJmbém herbi\"ori..1. (animais comendo vegc:ui:::.J e <l~1s interações muru;.tlisras: cada parcicipante explorando o
planejamento de unidades de conservação. Além disso, um qulmic.1s JO redor do globo tc'rrescre, para prever e controlar a c.1mivoria (animJis comendo Jninuis). i\"o CJpirulo 9, rr.n.1- outro, de moJo que o benefício líquido aparece somente por-
encendimenco detalhado dos padrões de cransmissão de esp~- dissc"minJçJo de espécies tr.rnsmissoras de doenças e omra<; mos da namreza da predJçJ.o, isrn é. o que .1co1Hece com o que, de forma geral. os ganhos superJm as perdJs. Tal como o
cies pela ação do homem nos permite prever e conter a disse- inv,1sorJs e p.1.ra determinar a localização ;.1propriada para .1s ' predador e com a presJ., ded1L,rndo Jtenç.l.u especi.d à parasitismo, .1 ecologia do mucua\ismo frc:qüencemence cc:m
minação de esp~cies invasoras. unid.tdes de" consc-rvação. 1 herbivoria, devido à.<i sucilezJ.s que caracreri-1 .ir.1 a respo,u J.e sido d~sconsiderJda. Entretamo, mais uma vez es:::.a negligên-
[ umJ pi.inca ao ara4ue. Discutimo, (ambém o cornport.rn1enw ci.1 é inju,;;ciftcadJ: a maior parte da biomassa do mundo é
l dos predadores. No C.ipírnlo l O. ex.11nin.11w1~ .is ··..:011:::.eqüen- compostJ por murualisras.

l
1
224 PARTE 2: l,mRAÇÔES

Os ecólogos freqüentemente têm resumido as interações diciais (p. ex., uma toxina), estando presente ou não o or-
entre organismos milizando um código simples que represen- ganismo porencialmence afetado.
ta cada um dos parcicipanres da interação por 111:eio dos sinais Embora os capítulos iniciais desca parte tracem isolada-
"+","-"ou "O", dependendo de como ele é afetado pela inte- mente dessas diversas incerações, os membros de uma popula-
ração. Assim, uma interação predador-presa (incluindo uma. ção estão sujeitos simulcaneamence a muitas delas, com fre-
interação herbívoro-planta}, em que o predador se beneficia e qüência de rodos os cipos imagináveis. Assim, a abundância
a presa é prejudicad:i, é simbolizada por + -; e a interação de uma população é determinada por sua gama de interações
parasim-hospedeiro é também claramente+-. Oucro caso claro (e, na verdade, condições ambientais e disponibilidade de re~
é o mutualismo, que, de modo geral, é + +; se os organismos cursos), codas acuando de comum acordo. Porranco, as [enta-
não apresentam qualquer tipo de interação, podemos simbo- rivas para compreender as variações em abundância deman-
lizar por O O (sirnação às vezes chamada de ''neurralismo"). A dam uma perspectiva de espectro igualmente amplo. Adota-
derritivoria deve ser simbolizada por + O. pois o derricívoro se mos essa abordagem no Capírulo 14_
beneficia, enquanto o seu .tlimenco (j.í mono) não é afetado. Finalmente, no Capículo I 5 são discutidas as aplicJções
O rermo oeral aplicu!o às interações é "comensalismo", mas dos princípios desenvolvidos nos capítulos precedemes, rendo
p.1r.1dm::al~1ence ele nJo coseu nu ser us.1Jo par J os detrirívoros como enfoques o controle de pragas e o manejo de recursos
Em \·o. d1)So, e'.'l'.'le tL·rmo é reser\·.1do pJ.r.1 aqueles casos, afins n.uurais. Quamo ao primeiro, a espécie-praga é um comperÍ·
,lO p.1usirisrno. em q_ue um organJ'.'llllO (o ·'hospedeiro") for- dor ou um predador da espt:cie desef.íve! (p. ex., planu,; de
J.1 lniroauçáo sobreposição em alriru<les intermediirias. Em riachos onde uma
nc::ce recurso) ou um abrigo parJ outro organismo. sem so- lavoura), e _..01110.<1 predadores das nossJ.Si)íÓpri.1s prag.1s ou
frer d"eicos prejud1:...:i.1is perceprívei~. A competição é geral- manipulamos seus predadore,; naturais em nosso benefício espéCLe ná.o está presente, a outra expande seus li mires, indicando
:\ essênci.1 da competição interespecífica é que os indivíduos que a disrribuição pode ser mantida por competição (isro é, c.1d.1
mente descrita como uma inceraçao - -, mas muitas vez.es (controle biológico). Com o último, mais uma \'eZ .<iomo)
de uma espicie sofrem redução em fecundidade, crescimento espécie sofre e, porramo. é excluida de cerros locais, na prcsenç:1
é impossível demon'.'ltrar que ambos os organismos são pre- predadores de recursos nacurais \'i\'OS (árvores exploídvei)
ou sobrevivência como resultado da exploração de recursos ou de outras espécies). A temperatura da água, um faror abiórico
judicado). Tais inrer:i.ções assimécricas podem, então, apro- em uma floresr.1. peixes no mar), nu~ o nosso desafio é es-
inrerferêncía de indivíduos de uma outra espécie. Essa com- com conseqüencias profundas na ecologia de peixes (já discucid.1
ximar-se de um.1 cla)sificação - O, em geral referida como tabelecer uma relação esrávd e susrc::mável com a pres.1, g:i-
p1=rição provavelmence afeta a dinâmica de populações das es- na Seção 2.4.4), aumenta a jusante.
"amensJlismo". Os casos verdadeiros de amensalismo po- ranrindo posteriores explorações sacisfacórias para as gera-
pécies competidoras, e a dinâmica, por sua vez., pode influen- Por meio de experimencos em riachos artificiais, Taniguchi
dem ocorn:r qu.rndo um organismo provoca efeitos preju- ções seguintes.
ciar as distribuições das espécies e sua evolução. Naturalmen- e Nakano (2000) demonstraram que, quando cada espécie foi
te, a evolução, por szuz vez, pode influenciar as distribuiçõe) e tesrada isoladamenre, as temperaruras mais elevadas causaram um
dinâmicas das espécies. Neste capítulo, enfocamos os efeicos aumento nos encontros agressivos. Porém, este de"iro foi inverti-
da competição sobre as populações de espécies, enquanto o do para S ma/ma quando na presença de 5. leucomaenis (hgura
Capitulo 19 examina o papel da competição interespecífica (jun- 8. la). Como reflexo disso, indivíduos de 5. ma/ma foram impe-
t.unenre com a predação e o parasirismo) na escrumração de co- didos de ocupar posições favoráveis no forrageio quando indiví-
munidades ecológicas. Existem diversos cernas introduzidos nes- duos de 5. Leucomaenis estavam presentes e riveram t.L'<as mais
te capículo que são abordados e discuridos de modo mais profun- baixas de crescimento e menor probabilidade de sobrevivência.
do no Capitulo 20. Os dois capítulos devem ser lidos juntos para Assim, os experimentos apóiam à idéia de que 5. 111alma
uma coberrnra completa da comperição interespecífica. e 5. Leucomaenú competem: uma espécie, ao menos, sofre dl-
reramenre pela presença da outra. Elas coexistem no mi:smo
rio, mas em uma escala mais detalhada suas disuibuiçóes se
.3.2 Alguns exemplos de competição sobrepõem muito pouco. Especificamence, 5. leucomaenis pa-
interespecífica n:ce eliminar e excluir S. maLma dos locais a jusance. A ~alJo
desse limite superior de S. Leucomaenis permanece dcsconheci-
_,,j,-:Jc= Existem muitos c:studos sobre compe- dJ, à medida que ela não sofre pela prescnçc1. de 5. nw!nu em
tição inrerc:specífica entre espécies de temperaturas mais baix.1s
todos os ripo). Inicialmenre, escolhe-
mos seis, para ilustrar muitas idéias importantes.
8.2.2 Competição entre cracas

8.2.1 Competição entre peixes salmonídeos O segundo esrudo diz respeico a duas
espécies de crJcas na Escócia: Cht!Jt1-
Salvelinw nwlnuz (Dolly Varden) e S. let1- ma/11s szel!at11s e Ba/an11s balanoides (Figura 8.2) (Connell,
sa:monide,::s. comaenis (white-spotted) são peixes da 196 I ). Essas espécies freqüentemente sJ.o enconcr.1das junras.
família Salmonidae morfologicamente nos mesmos costões rochosos aclânricos Jo noroeste da Euro-
~imilares e intimameme relacionados. As duas espécies são en- pa. Contudo, os adulto, de C stefluw em gerJI ocorrem em
comradas juncas em muicos riachos em Hokkaido I.sland, no Ja- uma zona entre-marés acima da dos adultos de B. balmwides,
pão, mas S. maLma é distribuída em aJcicudes mais elevadas (mais embora os jovens de C sreL!,ttw se estabeleçam em gr.rnde
d1.sunce, a momante) do que 5. !cucomaems, com uma zona de número 11a zona de B. b{zf,moides. Na rc::ncariva <le compreen-
1

1
_L
·~----- --~------ - -
226 PARTE 2: INTERAÇÕES CAPÍTULO 8: COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICA 227

(a) Simpatria Alopatria

S. ma/ma Bala nus Chthamalus

: ] S leucomaenis

Baixa Alta Alta

(b)
FIGURA 8.2 01stnbu1ção entre-marés de
NMBM -•---,s--+----- adultos e de larvas recém-estabelecidas de
Bafanus bafanoides e Chthamalus stellatus.
NMBV ----'-----.,___-+------<==--~--~---+--------- com uma representação diagramática dos
Adultos La,vas Oessecaçáo ~:'.':S::'.f,ca i Ad,l!os La,vas Oessecaçáo Competição efe,los relativos da dessecação e da com-
ab 1nterespec1fica petição. As zonas são indicadas à esquer-
I com B balano,des da: NMPV (nivel médio de preamar. maré
viva) até NMBV (nível médio de baixa-mar,
Efeitos relativos 01stnbwçao Eleilosrelatrvos maré viva); NMR = nível médio de maré; N =
destes fatores destes fatores maré morta (segundo Connell, 1961)

Ba,xa Baixa Alta

(e) 8.2.3 Competição entre gálios (Ga/ium spp.) ras, que, por sua vez, viviam em farinha de aveia renovada
regularmeme (Figura 8.3a).
0,2 A. G. Tamle\·, um dos mJ.is famosos Quando Gause cultivou P. aure!it1 e P. cauda.tum junras, P
"fundadores" .da ecolo~i.1 vegetal, c:sru- caudatum foi reduzida aré o ponto de extinção, ficando apenas P.
FIGURA 8.1 (a) Freqüência de encontros
agressivos iniciados por ind1víduos de cada d0u a competição entre duas espécies de g,ilio (Trnsley, 1917). moe/ia (Figura 8.3b). P. cazul.tm,m normalmenre não teria chega-
espécie de peixe. durante um experimento Ci:diwn hercynicum é uma espécie que cresc<: narnralmeme em do a morrer tão rápido como aconteceu, mas o procedimenro
de 72 dias em canais de riachos artificiais,
0,1 solo~ ácidos da Grá-Brermha, enqua.nro G. p1111:i!um é limitada J experimental de Cause envolveu a remoção diária de l 0°/o da
com duas réphcas de 50 individuas de Sal-
velinus ma/ma) ou 50 indivíduos de S. lev- solos mais calcários. Tansley verificou que quJ.ndo culcivava as culrura e de animais. Assim, P. aurelia foi bem-sucedida na com-
'! comaems. sozinhos (alopatria) ou 25 indiví- espécies separadamente, ambas podiam crescer r:mm em solo áci- pecição, porque, perto do ponto em que o tamanho de sua popu-
duos de cada espécie 1untos (simpatria). (b)
do de um local de G. herqnicwn quanto em solo cakirio de um bção se esrabilizava, ela seguia aumentando em 10º/o por diJ (e
Freqüência de forrageio. (e) Taxa de cresci
menta específico em compnmento. As letras loc.1! de G. punulum. Porém, se eram cu!tlvadJ., ium,L,;;, apenJ.S G. pndia se opor à morra.lidade imposra). enquanto P. cm,tluwn au-
Baixa Alta
diferentes indicam que as médias são signi- herqnicum crescia satisfatoriamenrc: em solo ic1do e somenre G. menrava apenas cerca de l ,5o/o ao dia (Williamson, 1972).
ficativamente diferentes entre si (de Tan1gu-
p:1111iÍllm crescia sarisfaroriamente em solo ...:,ildno. Portanto, Ao conrrário, quando P. caudtttum e P. bumtri,1 foram culti-
Temperatura do tratamento ch1 e Nakano, 2000).
qt1Jndo crescem juntas, as duJ.5 espécies competem, e uma espé- vadas juntas, nenhuma delas sofreu um declínio até a exrinçâo -
cie g.mh.1, enquanto a outra fica cão desfa\·or,.\.:iJ.1 que é excluída elas coexistiram. Porém, suas densidades esdveis forJm muito
competiriv.In1ente do local. O resultado depenJc dn h.ib1ur em mais baixas do que quando cresceram isoladamente (FigurJ 8.3c).
lllle ocorre J competição. m<licando que das estavam em comperiçlo (i::.ro e, d.1s ··sofre-
d.:r ,:s~.1 zon.u;.iu. Conndl mo111wrou .1 ~ot,ie, i\·ênci:1 Je C r.mre .t) C.\[,h/H~:i de crescimento m,lÍ,;; r.ípido de R. ha/11110,dc.1. ram"). Contudo, um.1 observJção mais derJJh.1dJ rc,dou que,
Jtc!!dtus 1oq~ns 11.1 zon,1 dl' B. ÍMÍil1wid,·.,. DurJntc: um ,mo. de A!ém d1,:.o. º-" poucos indivíduos dc- C. stelúrrw que sohrevi\·e- embora vivessem junras no mesmo mbo. elas esr~wam esp.Kial-
rl~J.l12ou censos: suce:>S1\·os de indidduos nupeado:i e, nuis r.irn um :1110 no Jdensamento dc- B. b1d,mo1dcs eram muim me- í 8.2.4 Competição entre espécies de menre separadas, (orno os peixes de Taniguchi e Nakmo e .is
imporc::uue. cm alguns locais gJrJm1u ciue joven:i de C. srcl!.1- nore~ do que os que não se submeteram a essa situJçio. Uma ,·a Paramecium CíJ.(JS de Connell. P. rnudamm tendia a alimentJr-se das bacré'.-

rw esubdecidos na zona de B. b,t!anoides se manriverJ.m li- que a~ cr.1CL~ produziram menos descendc:nres, ficou evidente que rias suspensas no meio, enquanto /l. bursaria se concentrJva nas
vres de comato com indivíduos Jesca espécie. Ao concdrio do .1 compt.·ciçJ.1, inrercspecífica rambém reduziu a fecundidade. O qu,1rro c-xemplo \ cm Jo trabalho células de levedura do fundo dos cubos.
p,1dr.lo normal. tais indivíduos sobreviveram bem, indepen- Porcrnrn, B. balmwide)· e C. stel!atw comperem. Essas clássJCo do grande s:Lulogo russo G. E
denrememe do nível enrre-m.1rés. Assim, a c1usJ normal d.1 espéció coexisrem no mesmo costáo, mas como os peixes da 1 :'; p_~ -º
Cause, que esrndou ,l competição em
morralidade de jovens de C srel!atm aparencemente nio foi o seç.lO Jncerior. c:m uma escab mais detalhad.t suas distribuições experimenros de labontório, utilizando [~c'.s espécies do pro- 8.2.5 Coexistência entre aves
aumento dos rempos de rnbmersão dJs zonas mais baixas., mas se sobrepõ<:rn pouco. B. baLrnoides reduz e exclui C. stel!aru) 1 rozoário Ptzrameâum (Cause, I 93'l, l 935). TodJ., JS tr~s espê-
J competição de 8. bal,moides nesses loc1is. A observ.tção di-

reCJ. confirmou que." B. b{rlm10ides reduziu, ~upl.rnmu ou sub-


dJs zonJ~ inferiores; conrudo, C. ste!larw pode sobreviver nas
zona\ superiores, onde B. b,zlanoides não tem essa capacidade, l c.es cresciam bem i.<.oladamenre, J.icJ.nç,rnJo cJp.1cidades de
::.uporte esráveis em tubos com um meio li'-iuido Nesse!> ru-
Os ornirologisras sabem que espécies
de aves incimamencc: rdacionada.s com
··.-e- :l,23
~

jugou C scelf.tuw, e J. morulidade mais alt.1 desta ocorreu du- devido :, "ua ...:omparariva semibilid.1de J dessecação.
t bu,;:, o Pammecium consumi.1 célul.ts: b.1et::-ri,w.1" uu ele leve<lu- frc:qüênci.1 coexistem no mesmo hábir.u. Cinco c:spécies de

i
L
228 PARTE 2: INTERAÇÓES CAPÍTULO 8: (OMPETIÇÁO INTERESPECÍFICA 229

8.3 Avaliação: algumas características


200
(a) gerais da competição interespecífica
o
'3. 'i" 200 200 200 8.3.1 Esclarecendo aspectos ecológicos e
, ,
E! E
evolutivos da competição
&~ 150 P aurel!a 150 P caudatum 150 P bursar,a
P = 0,83
• _Q
~ 8_ 100 100 100 Os exemplos anteriores mosuam que os indivíduos de
".
""
~~ 50 50 50 t:.spécies diferentes podem competir, o que não é surpreenden-
P=0,02 P=0.04

a;.§.. re. Os experimentos de campo com cracas e espécies de Vermi-


o o

,~~L
o 12 16 20 24 12 16 20 24 i·or,l também mostram que espécies diferences competem na
Dias Dias n.uureza (isto é, houve uma redução interespecifica mensurá-
,d da abundância e/ou fecundidade e/ou sobrevivéncia). Além -200 c___ _L __ _ J L __ _ _J___ _. . . L _ _

(b) (e) inc n,d n,d


disso, parece que JS espécies competidoras poJem excluir-se
f------- r- V. virgm,ae------J
~·&~
V. celara----i
P. caudatum P. cauda/um mumamenre de determinados hábitars. de modo que não coe-
3§ P. aurelia P. bursana xi)ram (como com os gálios, a.<. Jiaromáceas e o primeiro par
75
150 JL" e.".ipécies de Arr,1meoum). ou podem coexisür, talvez utili- FIGURA 8.4 Diferença porcentual nas taxas de alimentação (mé-
dia~ EP) de Vermtvora celara e V. v1rgm1ae. em parcelas em que

...
• _Q
~ 8_ 100 50 undo o h:íbitar de unu maneir.1 um pouco diference {p. ex., as uma das espécies foi retirada experimentalmente As taxas de ali-
"• "º 25
..:rac1s e o segundo par de espécies de Pammecium). mentação (visitas ao ninho com alimento, por hora) foram medidas
~ u 50 Todavia, o que dconcece com os chapins coexistentes? durante o período de incubação (taxas de machos se alimentando
f ..§. e de fêmeas incubando no ninho) e durante o penado de nict,fica-
o o o C::rcamente as cinco espécies de aves coexistem e utilizam o ção (taxas combinadas de alimentação e nidificação dos dois pro-
o 4 12 16 20 24 o 12 16 20
hibicat de um modo um pouco disrinrn. Porém, isso tem al- genitores). Os valores P provêm dos testes·t da hipótese seg>Jndo
Dias Dias a qual cada espécie teve taxas de ahmentação mais altas nas par-
guma rdaçáo com J competição? É possível que sim. Pode ser
celas em que a outra espécie fora retirada. Esta hipótese fo, confir-
:1ue as cinco espécies de chapim coexistam como resultado de mada para V. virginiae. mas não para V celata (segundo Martin e
FIGURA 8.3 Competição de Paramecium (a) P. aurefta. P. caudarum e P. bursaria estabelecem populações quando cultivadas separadamente em
respostas evolutivas à competição incerespecífica. Isso requer Martin. 2001)
meio de cultura. (b) No mesmo meio de cultura, P. aureha provoca a extinção de P. caudatum. (c) No mesmo meio de cultura, P. caudatum e P
bursaria coexistem. embora com densidades mais baixas do que as apresentadas separadamente (segundo Clapham. 1973; de Gause. 1934)

clupins (Pan,s), por exemplo, ocorrem juntas em florestas de ção. No caso de V virginiae, a taxa de alimemação também
lacifoliadas inglesas: chapim-azul (P. cat'l"u!eus), o cha.pim-real aumentou em parcelds das quais a outra espécie fora retirad.1
(a) A. formosa sozinha (b) S. ulna sozinha
(P. major), P. p1t!ustris, chapim-do-salgueiro (P. montmws) e (Figura 8.4).
30 10' 30
chapim-carvão (P. arer). Todas estas espécies possuem bicos -

~·· .. ·----
/
- - - - '
curcos e procuram alimento principalmente em folhas e ga- /
10'
lhos, mas às vezes no solo; todas se alimentam de insetos ao 8.2.6 Competição entre diatomáceas 20 20 -õ

* H>'.
longo do ano, bem como de semenres no inverno; e rodas
nidificam em c;1vidades, geralmente de árvores. No enr:rnco, O úlrimo exemplo procede de unu
10' ! ~ E
2,
.9
10 10 _g
quanrn nuis ex:rn1in.1rmos os deralhes da ecologia dessas espé- pesquisa de laboratório com duas es-
üi
cies coex1stenccs. nuis provavelmente encontraremos diferen- pécies de diaromáceas de água doce:
s,as ecológicas - por exemplo, no loc.:d exarn onde se J.!imen- Auerionella formosa e Sp1r:dr,1 ub111 10'
t.lm dentro das :in·ores, no ramanho do inseto-presa e na du- (Tilman et ai., 1981). E.<.sJs JuJs espécies nece!-isium Jc:: 10 20 30 40 50 o 10 20 30 40 50

ro.t d.l.\ sementes que consomem . .-\ despeirn de sua . . seme- silicato para consrruir su.ls pJ.redes celulares. E'>'>e e-:peri-
(e) Competição interespecifica
lhança,, podemo.) ,er tenudos a concluir que .1s l'spécies de mento foi incomum, poi.'>. ao mesmo [empo em que foram
dupim competem um pouco, mas coc,i,;tl'm dc\·ido .1 inges- monitorJdas JS <lensidJ<les popu!Jcion.11.'>. real1zou-)t' o rc
10'.

r:io Jc..: rn.. urso.'> diferentes de nuneir.1s b:isunte p;1reciJ:1s. Con~
cudo, uma abordJ.gem com rigor científico, p.ua dererminJ.r o
pJpel da compctiçJo em curso, requer -1 rerirJd:a de uma ou
gi~rro do impacw J,lS t:spécie . . sobro;.· o seu reu1rso lirrnun-
te (o silicato). Q_u.rndo un1.1 espécie er.1 culriv,1dJ isul:.idJ
mente, em um meio de culcurJ ao qu;1! eram Jdicionado~
t- :::t' ~~.__.,,_ ___,__ ::
R,
"ª ~ 103 ~ .--......_~ ....
, ·•
.)

10•

10'
,'/;~~·r-,-~
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20
]
.s
mais espt:cies competidoras e o moniroramemo dJs rcsposcas n::cursos de forma contínu.1, se ,:dunçava uma capacid1d~ ~ i ~ '',_ " ; _Q FIGURA 8.5 Competição entre d1a!omà-
ceas (a) Quando cultivada isoladamente
das que permanecer.1m. i\.farrin e J\1artin (2001) fizeram exa- de suporte estável, mantendo-se o si!icaro cm unu concen- 'll !,!. 10'~ . '
10 1 10
~ em um meio de cultura. Astenonella for-
tamente isso t'.m um eswdo com duas espécies muico simila-
res: as aves e.mor.Is i 't:nnivonz alara e V virginiat:, cujos cerri-
tração baixa constante (Figura 8. 5:1. b). Contudo, JO ex-
plorar este recurso, 5. ufnil reduziu a concentração de -.il1-
J L ··.., 10'. üi
mosa estabelece uma população estável
e mantem o recurso. o silicato. em um ni-
10• ~·,_._&L.._~.,__...L 10•
o 10 20 30 40 50 vel baixo constante. (b) Para Synedra ulna
tórios de reproduçJo se sobrepõem n,1 região cencul do Arizo- caco até um nível mais baixo do que o pro\-oc::ido por A. O 10 20 30 40 50
cultivada sozinha, observa-se o mesmo.
Tempo (dias) Tempo (dias)
na. Em p.1rcelas com a presença de apen;1s uma das espécies, V. formosa. Em conseqüência, qu:rndo as duJs espécies for1m mas o silicato é mantido em um nível mais
baixo (e) Quando cultivadas 1untas, em
cefata e V. 11úgúude c:mplumJrctm entre 78 e 129~/o mais filho- culcivadas juntas, 5. u!,uz manteve a concentração J um ní- . . . _ . Aster,onella
Silicato duas réplicas. S. ulna leva A. formosa à
tes por ninho. respectivamente. Esse de,;c:mpenho melhor foi vel demJsiado baixo para J sobrevivência e a reprodu~,io de _- Synedra ext,nção (segundo Titman er ai .. 1981)
devido ao maior .iccsso aos loc.iis preferidos para nidificação e 11. formosa. Portanto, S. u!na excluiu comperirivamente ,1
ao conseqüente decréscimo de perd,1s de filhotes por preda- farmorn de cultura.'> mi5us (Figura 8. 5c).

........_
'
230 PARTE 2: INTERAÇÕES CAPÍTULO 8: COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICA 231

uma explicação m.tis extensa. Como já vimos, quando duas de espécie_.., por competição no passado, com a evita.ção e\·olu- ~ndoras, igualmente certos produtos inibidores transportados vávd onde há uma diferença muito grande de tamanho entre
espécies comperem, os indivíduos de uma ou de ambas po- civa de compecição no passado e com a evolução independen- pc:la água têm sido implicados como um meio de inrerferência as espécies competidoras. Experimentos sobre exclusJ.o recí-
dem sofrer reduções de fecundidade e/ou sobrevivência. Os te de espécies não-competidoras. De faro, para muitos con- (raiva o caso mais escável seja o de um.1 alga produzida nas fezes proca têm revelado que os ungulados pasrejadores (a ovelha
indivíduos mais ajustados de cada espécie podem ser aqueles juntos de dJdos. não há métodos fáceis ou concordantes que de uma rã comum [R.ana r,:mpomnfll, que inibe o sJpo aranzeiro doméscica e o cabrico-moncês espanhol [Czpm pyrenairn]) re-
que (em rermos relativos) escapam da competição porque U[Í- permitJm fozer distinção entre essas explicações (ver Capírnlo [Bufo c,t/amita] Beebee, 1991; Griffirhs et ai.. 1993]). mas aqui duzem a abundância do besouro herbívoro Timarcht1 lugem
lizam o hábitat de modo diference do que fazem os indivíduos 19). Assim. no rescance deste capitulo (e no Capítulo 19), mJis uma vcr nio está clara su<1 importância nJ natureza (Pe- em vegetação arbusciva, na Espanha, por comperição de ex-
da outra espécie. A sdeçáo natural favorecerá, então, tais indi- quando eXJminarmos os efeitos ecológicos e especialmente os rr,nk.i. 1989). Nacuralmence, a produçáo. por fungos e bactérias, ploração (e em parte por predação incidental). Contudo, não
víduos, e, por fim, a população pode ser consriruída inceira- efeitos evolucivos da competição, precisamos ser mais caucelo- de subscâncias químicas que inibem o crescimemo de microrga- há efeico de exclusão dos besouros sobre o desempenho dos
menre por eles. As duas espécies evoluirão, comando-se mais sos do que de cosrurne. nismos parencialmence competidores é muito reconhecida - e ungulados (Gomez e Gonzales-Megias, 2002).
dife'rences enue si do que eram anteriormente; elas competi- i:xplorad.1 na seleçJ.o e produção de anribióricos
rão menos e, assim, terão mais probabilidade de coexistir.
A dificuldade de uma explicação 8.3.2 Competição de exploração, cocnpetição 8.3.4 A competição por um recurso pode
desse ripo para os chapins é que não de interferência e alelopatia 8_3.3 Competições simétrica e assimétrica influenciar a competição por um outro
existem provas. Precisamos ter caute-
la ao e:<Jminar .1 expressão de Connell Por or:::i, comudo. que omras caracce- A competiçJ.o imerespçcífic.t (como a Por fim. é importante ressaltar que a competição por um re-
( 1981 ). que in"ocou de modo üo crí- rísricJ<; ~eu1s emergem de nossos competiç.l.o inrra-e<;~1cuflul é muitas curso muicas \·ezes .1feta ,1 capacidade de um organismo p.1rJ
úco o "fanr,lSma <l.1 comperição pa::.- exemplos~ Como com J competiçJ.o vezç_.., .1lt.1mc'nte -1ssi111C:cri-::.1 - as con- expiar.ir um omro rc-curso. Buss (1979). por exemplo, mos-
sada'·, pois não podemos retroceder no rempo p.ira comprovar inrra-espeófica. pode-se escabelecer uma..discinção b.ísica en- seqüências com freql!êi1cu 11Jo s.ío as trou que nas incerações entre espl!cies de briozoários (animai~
se a.s espécies alguma vez competiram mais do que arualmen- tre comperiç;"l.o de interferência e comperiçâ.o de exploraçáo mesmas para amh,1::-. ,l\ e'.-,pécies. i\o coloniais, modulares) parece haver umJ. interdependência en-
re. Uma inrerpreraçáo pbusívd é que, no curso de sua evolu- (embora em uma única interação possam ser enconrrados ek- CJSO da.,; cracas de Connell, por exemplo. B. b,d,11w1rles excluiu tre competição por espaço e por alimenco. Quando uma colô-
ção, uma espécie renha respondido à seleç.ío natural de ma- mencos de Jmbas) (ver Seção 5.1.1). Na exploração, os indiví- C. >"tt!latus da sua zona de sobreposição potencia!, mJS o d"eiro nia de uma espécie entra em contato com uma colônia de
neira disrinra, m.is inreiramenre independente. Tratam-se de duos inreragem entre si indirecamenre, respondendo a um ní- de C stel!atus sobre B. balanoides foi ln.')ignific.rnte: B. bafi1- uma outra espécie, ela interfere nas corrences alimentares aucoge-
espécies diferences que possuem caracreríscicas discinras. Po- vel de recur . . os que foi reduzido pela acividJde dos competi- ;1111dti ficou limicada pela sua própn.1 semibilidade J desseca- rada.s das qua.is dependem os briozoários (a competição por espa-
rém, das não competem nem nunca competiram; elas apenas dores. O tubalho sobre diacomáceas proporciona um exem- ção. Uma situação análoga é proporcionJdJ. por duas espécies ço afeta a alimentação). Porém, uma colônia com escassez de ali-
são diferences. Se tudo isso fosse verdadeiro, .1 coexistência plo claro disso. As cracas de Connell. ao contrário, fornecem <le c.tboa em charcos de P.,1ichigan; TJ 1pha /,uifolur ocorre prin- mento, por sua vez, terá uma capacidade muito menor de com~
dos chapins não reria nada a ver com competição. Mais uma um exemplo claro de competição de interferência, B. balmo1- cip.1lmeme em águas mais r.isas, enquanto T. .rngwrifo/ia ocor- petir por espaço (por meio do crescimento por sobreposição).
vez alcernarivamenre, pode ser que no passado a competição des, em p.1rticular. incedêriu direta e fisicamenre na ocupaçlo ~em em águas mais profundas. Quando culriv:.1das junras (em Encre as plancas com raízes, po-
renha eliminado várias oucras espécies, deixando para trás ape- po, C. sre/1.uw do espaço limiudo no substrato rochoso. simpatria) em lagos artificiais, as duas espécie) retlecem suas dem ser enconcrados exemplos com-
nas aquelas que são diferentes na sua utilização do hábitar: :\ interferência, por outro lado. di<;rribuições nacurais. com T latifalia ocupando principalmen- paráveis. Se uma espécie invade a copa
podemos ainda ver a mão do "fantasma da competição passa- nem sempre ,tcontece de maneira cão te zonas em profundidade entre O e 60 cm ab1ixo da superfí- de outra e a priva de luz, a espécie su-
da". mas atuando como uma força ecológica (eliminando es- direr.1 Entre as planras, freqllememence se diz que a Ínterfe- C!e <Ü água e T angustifolia principalmente entre 60 e 90 cm primida sofrerá direcamenre a redução da energia luminosJ
pécies) e não como uma força evolutiva (modificando-as). rênci.1 ocorre por meio dJ produção e liberação no ambiente' (Crace e Wetzel, 1998). Quando crescem isol.,damence (alo- que obcém, o que reduzirá também a taxa de crescimento de
Portanto, o escudo dos chapins e as dificuldades que dele de suhscjncus químicas tóxicas para outras espécies, mas nio pJcria), a distribuição de T a11g11stijÕ/ia de:,,[oc.1-se marcada- suas raízes; porcanco, ela seri menos capJZ de explorar o supri-
derivam ilustram dois ponros gerais importantes. O primeiro pau os produtores (o que se conhece como alelopaciJ). NJ.o mente para. águas mais rasas. T. !atifo!ia, .w concr.irio, mostra memo de água e nucrienres do solo. Isto, por sua vez, reduzirá
~ que devemos dedicar uma atenção especial, e separada, aos hJ dú\'id.1 de que as subsràncias químicas com t.1is propricd.1- Jpe,us desloca.menco pequeno para profundid.ides maiores na J. taxa de crescimento de suas folhas e cJules. Assim, quando
efeitos ecológicos e evolutivos da competição incerespecífica. des podem s~r extraídas de plantas, mas é difícil estabelecer ausênci.1 de comperição inrerespecífica.. as espécies vegerais competem, as repercussões fluem em am-
Os efeitos ecológicos, de maneira geral. consisrem na possibi- um pJpd p.1ra elas na n.nureza ou que elas evoluí um po1· c,w- De um pomo de \·isr.1 mais amplo. parece que os etsos bos os semidos, enrre as raízes e as partes aéreas (Wíl~on,
lidade de eliminação de espécies de um h,ibitar por competi- :ill d.os ,;;eu~ efeitos alelopicicm. Por exemplo, extratos de nui.;; a!camente assimétricos de competição inren:_·,;pecífic1 (em que l 988a). Di\'ersos pesquis.1.dores têm tentado separar os i:feicos
ção de indivíduos de ourras espécies ou, se as espécies compe- de 100 er\JS tbninh..1s comuns foram registrados como tendo um.1 espécie é pouco aferadJ) em geral ').ÍO mJi) numeroso<; do da competição da copa e da competição das raízes, mediJnce
ridoras coeXJ'.'ltem, que os indi\-íduos de uma deb.s ao menos potc11<..:ict! ,1ldoricico contra pl.1nc.1s de la\'OUra (Foy e Indc"r- quem casos sirnécricos (p. ex. Keddy e Shipk:,·. 1989). Con- um delineamento experimenr.1! em que duas espécie!'.> sã.o cul-
sofram reduções de sobrevivênci:1 e/ou fecundidade. Os efei- jir. 2001 l. rn.is os c'Studos ger.1\mente envolvc"ram biocnsJÍm wdo. o ponto nu.is imporunre é que exi'ite um co11rinuum (lvad,1s: i) sep:ua.damente: (ii) jumas; (iii) no mesmo solo, ma~
rm evoluri\'OS '.'lignificam que .1s espécies diferem entre si mais l.1bor.1tnri,m nJn-rurunis. em \'ez de experimcnms de campo ljUt: .,-ai desde us usos de compecição perfrH.uneme siméoic.1 corn sua5 partes aére;1s sep.uadas; (iv) em solos separados, m.1s
do que fariJm por outros motivo~ e. porcant0, compett:"m re.di~t.1~ De uma n1.1neiu semelhJnte, V:.1n<lern1eest e cobbn- ,lti os usos de conu1ec1..::ão forc~mence b.1~u1nc- Jssirnétric.1. A com ::is parce<; JéreJs JUIHJS. Um exemplo disso é urn é'srndo
menos ( ver Seção 8. 9). radorcs (:!00~! mostraram no bbor..ttório que um extrato de (Ompetiçio .1ss1mé;nc1. re~uha da capal-i<la.Jl" difnencia\ de com o milho (Zea may)·) e ,l ervilh.1 (Pirnm satiuttm) (Semere e
O sc-gundo ponto, contudo, é fol!u:.. d.1 (JSt.rnheir:i a.mericana (Ct1Jt1mea dcnt,ua) impediu .1 espécies c:m ocupar posiçóes nuis alcas em um.1 hier.uqui.i com- Froud-\X-'illiams, 1.0a°l). Em comperiçJ.o coral, com raízes e
"''° que existem profundas dificuldades germin.1çJ.p Je .\ementes de unu espécie de aulêia (Rhododt·n- pcticiva. Em plantas, por exemplo, i.sso pode resulrlí de d1fe- panes aéreas entremeando-se. a produção de biomassJ (nucé-
para invocar a comperição como um.1 dron mdx11m1m). A c.:ist,rnheir.1 american,l era uma d.1s árvores rer.ças em alrura, com uma espécie sendo capaz de sobrepujar ri;i seca por planta, 46 dias após a semeadura) do milho e d,
explicação para os padrões observados mais comun:-. da floresrJ decídua no leste do~ EUA, até ser cvmpleu.menre uma oucn e ter aces~o :t luz. lFreck!ewn e WJ- ervilh.1 diminuiu, respectivamente, em 59 e ) j %, em rebçio
e especialmeme im·ocá-la como uma c:xplicação evoluciva. de•.:Jsuda pda prJga da casunheira ( C,J,phonearur p,1nrsitici1) tkinson. 2001 ). Em unu linha simlb.r. Desfuli e colaborado- à. biomassa "controle", em que as planc.1s forJm cultivJ1.hs i~o-
Como vimo~ com as espécies de Venmvom, uma manipulação Vandermc'e~t e colabor.1dores concluiram que a expamão de res (2002) .trgument.1.ram que pode ser esperJ.da ;:..ompc:oção ladamente. Qu.rndo apenas as rJ.Ízes escavam entremeadas, .1
experimental (p.ex., a eliminação de uma ou mais espécies) popuL1çôes de ,ualéia durante o século XX pode ter sido devi- assimétric.1 entre espécies de p,1rasirns que ocup.un po:,,1çõe_,;; produção de biomJ.ssa da ervilha foi reduzida a :;7q,o do vJlor-
pode indicar a presença de compe(içJ.o no presente, se ela pro- da tJ.nto J. cess.1ç.ão da influência J!elopáric.1 da cascanhc:1r;i quan- '>eqüc-nc11is no sistema J1gestór10 do seu hospedeiro, com um controle. mas quando somenre as partes aéreJs se enrrem..-a-
vocar um aumento da fecundidade, d.1 sobrevivência ou d..1. to J inv.1s.ío Je cb.reir;15 (m.Us comumeme citJda) .ipós a ação da parasito de escômago reduzindo os recurso-; e influenciJndo vam, a produção de biomassa representou 90% do controle
abundância da espécie remanescente. lüdavia., os resultados praga, da Jerrubada em Luga e.-.cala e do fogo. No enranro, suJ ad\·c:rsJment::: um p.1ra:.ito intestinal loc.tliado a 1mance, mas (hgurJ 8.6). Esses resultados indicam, portJnto, 4ue os re-
neg:Hivos seriam igualmencc: comp..1.rívc-is com a eliminação hipótese rlJo pode ser te~t.1d.1. Enrre os girinos de espécies com- n;lo •;ice-\·ers.1. A competição Jssimétric,1 é espec1<1.lme11te pro- cursm do solo (nmrientes minerais e igua) foram mais llmi-

1
232 PARTE 2: INTERAÇÕES CAPÍTULO 8: CüMPETIÇÁO INTERESPECÍFICA 233

e no caso da segundJ espécie: - muito mais importante neste contexto - também é verda-
Cultivadas Compet,ção CornpettÇão entre Competição entre raízes
separadameri!e en!re'a1zes partes aéreas e entre partes aéreas
deiro quando:
dN, = ,,N, (K, - N, - a.,N, i (8.4)
dt - - K, (8 GJ
Esras duas equaçóes constituem o modelo de Locka- que pode ser rearranjada como:
Volterra.
P1ra apreciar as propriedades des- (8.7)
o cor.1port2rr,er.::J se modelo, devemos formular a seguinte
c,J modelo ~is Em outras palavras, em qualquer ponto da linha reta que esta
pergunta: quando (em que circunstân-
L:::::ka-Voil~"'l s equação representa, dNJ dt = O. A linha, por isso, é a isolinhJ
1r; ,est1ga:lc ci.1s) aumenca e diminui a abundância
FIGURA 8.6 Competição de raizes e de par- 7ero para a espécie l, e, como se rrata de uma linha reta, ela

1~~~ tes aéreas entre individuas de milho e ervi- ,.,:.i,zando de cada espécie? Para rc-spondê-la, é ne-
.
· so:,r.r.as !.·.:- e: pode ser traçada enconrrando dois de seus pomos e unindo-
. 53%
lha. Acima estão as plantas. expenmenta1s
utilizadas, abaixo estão os pesos secos de
cessário construir diagramas em que se
os. Assim, na equação 8.7, quando:
indivíduos de erv!lha após 46 dias. em por-
possam mostrar rod;,;; as combinações
···_f:~{
-"\l,'_- centagem daqueles alcançados por plantas [Jü~~Í\'eis da abundância dJ.s espécies 1 e 2 (ou seja, co~as as com-
.··.''.•
~ crescendo separadamente (dados de Seme- bin.1çóe::. possí\·eis de :V1 t'. íV). Nesses diagramas (Figuras 8.7 e N =0. N, f.:_,_ (ponro A. Figur.1 8.7a) (8.8)
re e Froud-Will1ams, 2001)
S.9J. 1V1 ::.er.í regisrr,1do no L"Íxo horizomaJ, e ,V~. no erxo vertical. ª·-
de ral modo que os números baixos de ambas as e~pécies ficam
e quando:
pJra a parte inferior i e,;;querda. e os números altos de ambas as
cspl-cies, para J pane mperiur à direitJ, e assim por diante. Certas N, = O, N, = K(ponro B, Figura 8.7a) (8 9)
rames do que a luL, um achado comum na !i[erarura (Snaydon, que incorpora canto a competição incra-específica qu.1nto J.
(ombinações de N 1 e N?. originará.o aumentos da espécie l e/ou
l 996). Eles também apóiam a idéia de que as competições inrerespecíftca. e a uniáo desses dois pontos origina a isolinha zero par.1 a
Ja espécie 2, enquanto outras combinações provocarão diminui-
entre raízes e entre partes aéreas se combinam na geração de O tamanhn da população de unu espécie pode ser indi- espécie 1. Abaixo e à esquerda dela, o número de indivíduos
ções da espécie l e/ou da espécie 2. É importante observar que,
um dêirn geral, em que a redução total na biomassa vegecal cado por N 1, e o de uma segunda espécie, por /\/?.. Suas cJ~1.1- de ambas as espécies é relativamenre baixo, e a espécie l, su.iei-
por isso, deve haver também ·'isolinhas zero" para cada espécie
(em 53%) ficou próxima ao produw das reduções de apenas cídades de suporte e suas taxas intrínsecas de aumento s,lu A' ,
ta a uma competição apenas fraca, aumenca sua abundância
1
(linhas ao longo das quais não ocorre nem aumento nem dimi-
raízes e apenas p1rre aérea (90% de 57% é 5 l .3%). IQ., r1 e r2, respectivamente. (as setas na figura, representando esse aumento, se dirigem da
nuição), que separam .lS combinações que levam a um aumento
SuponhJ que 10 indivíduos JJ esquerda para a direica, umJ vez que N 1 está no eixo horizon-
daquelas que levam a uma diminulçâo. Além disso, se a isolinha
espécie 2 exerçam, entre eles, o mes- rai). Acima e à direita da linha, o número de indivíduos é alto,
zero é dcsenh.1da em primeiro lugar, existirJ.o combinações que
8.4 Exclusão competitiva ou coexistência? mo efeito competitivo inibidor sobre a comperição é force e diminui a abundância da espécie 1 (se-
kvam a um aumento em um lado da linha e combinações que
a espécie l que o de um único indivíduo da espécie l. O et'eirn ras da direita para a esquerda). Com base em uma derivação
produzem uma diminuição no omro lado dela.
Os resulrados de experimentos como os descrirns nesre capí- competitivo total sobre a e::.pécie l (inrra-específtco e interes- equivalente, a Figura 8. 7b mostra combinações que levam a
Para desenhar uma isolinha zero para a e::.pécie 1, pode-
culo manifestam uma quesrio crítica do estudo dos efeitos eco- pecífico) será então equivalente ao efe1co de {1V1 + lv'/l O) indi- um aumento e a uma redução da espécie 2, separadas pela
mos usar o faco de que sobre a isolinha zero dN,ldt = O (por
lógicos da compecição imerespecífica: quais são as condiçóes víduos da espécie l. A consrance (nesse caso, 1/ l O) é chamad.1 isolinha zero da espécie 2, com as seras em sentido vereio!.
definiçio), isco é (segundo a Equação 8.3):
gerais que permitem a coexistência de competidores e que cir- de coeficience de competição e é simboliz.ida por o. 12 . Ela mede igual ao eixo de N 2 .
cunscâncias levam à exclusão competitiva? Os modelos mate- o efeito competitivo per capita da espécie 2 sobre a espécie I (8 5) Por fim. com objeti\'o de determinar o resulrndo da com-
máticos cêrn propiciado uma visão perspicaz a respeico. Assim, ao mulriplicu /'../?. por a. 12 • o converte em um número petição nesse modelo, é necessário fundir os gráficos a e b da
de "equivalenres de 1V1". (Observe que a 12 < 1 significa que o\ Isso é vndadeiro quando a raxa incrínseca de aumenco Figura 8.7. permitindo predizer o comporcamenro de uma
indivíduos da espécie 2 têm um et'eiro inibidor menor sobre o:; (ri) é zero e qu,rndo o ramanho da popubção (1\) é zero, mas
populaçJo misra. Para is.-.o, deve-se ob,;;ervar que as seras da
8.4.1 O modelo logístico da competição indivíduos da espécie l do que o de indivíduos da espécie I hgura 8.7 são na realidade vetores - com uma imensidade,
interespecífica sobre outros indivíduos de .'Ilia própria espéoe, enquanto a 1 , além de umJ. direção - e que para determinar o comporra-
> 1 significa que os indivíduos da espécie 2 exerc._.m um efeito menrn ele uma população mista de 1V1 e iY:,., devem ser aplica-
O modelo de ''l.ocka-Volcerr.1" da comperiçáo incerespecíficJ. inibidor maior sobre os individuas da espécie I do que rêm o~ das as regras normai::. da adição de verores (Figura 8.8)
(VolterrJ, l 926; Lmb, l 932) é unu exrensão da equJção lo- indivíduos da espécie l sobre si me.11rnos.J (a) (b)
A hgura 8.9 mo~cra que, de foro,
gística descriu 1u Se~.lo 5.9. Como ui, ele incorporJ todas as O elemento crucial do modelo é K, A t.:Xiscem quJtro maneiras ddêremes de
deficiências da logí·mca, mas perm1re construir um modelo a subsriruiçáo de 1V1• no parenerese d.1 a;; ordenar a.-. duas isolinhas zero, uma em
útil que traz um esdarecimento sobre os facores 4ue determi- equação logística, por um termo que relação à outra, e que o resultado da com-
nam o resultado de uma interação competitiva. signifique ''1V1, mais equiv.1!enres de perição sed distinto em cada caso. Os
A equação logí:.rica: ,v1", isro é: diferences casos podem ser definidos e distinguidos pelas imcr-
~ecções das isolinhas zero. Na Figura 8.9a, por exemplo:
dN rK-N\ (S 21
--::::;rN ---j (81) K, K-/a,,
dt , K ; N,- (8.10)
ou
contém, encre p,trênteses, um termo re~ponsável pela incor- FIGURA 8.7 lso!inhas zero geradas pelas equações para a competi-
isto é:
porJ.ção d.1 competiç.lo intra-específica. A base do modelo de ção do modelo de Lotka-Volterra. (a) lsol1nha zero para N,. a espécie
Lorka-Volrerra consiste na substiruiçJ.o desce termo por outro ~....!.::::;r/V (K 1 -1V 1 -u /\'J ,8 ..l) 1 aumenta abaixo e â. esquerda da 1solinha e diminui acima e â. direita
(8 1l)
1
dr ' A-. dela. tb) Jsol1nha zero equivalente para N2 .
234 PARTE 2: INTERAÇÓES CAPÍTULO 8: COMPETIÇÁO INTERESPECÍFICA 235

cer um efeirn maior sobre a espécie 2 do que a espécie 2 sohre agressiva frente aos indivíduos da ourra espécie. Conforme rance considerar essa siruação do ponco de vista da teoria do
População si mesnu. Assim, a espécie l é uma competidora incerespecífi- 1 moscra a figura, a conseqüência é uma combinaçáo de N 1 e nicho (ver Seções 2.2. e 3.8). Lembre-se que o nicho de uma
N,. _____________________________ conj~~~
ca forre, enqu.1nco a espécie 2 é uma competidora inrerespecí- .~ N 1 em equilíbrio estável (onde as isolinh,1s se cruz.i.m) e dois espécie na ausência de compeciçáo de outras espécies é seu
fica fraca, e, como mostram os verores da Figura 8.9a, a espécie J p~nros escáveis. No primeiro desses pomos esrá.veis, a espécie nicho f,mdament,zl (definido pela combinação de condições e
l conduz. a espécie 2 à extinçáo e alcança sua própria capacida- l J.kança sua capacidade de supone com a excinç:\O da espécie recursos que permice que a espécie mancenha uma população
de de suporte. A siruaçâo ~ inverrida na Figura 8.8b. Porcanto, 2; jJ. no segundo ponto, a espécie 2 alcança sua capacidade de viável). Contudo, na presença de comperidores, a espécie: pode
a Figura 8.9a e b descreve casos em que o ambiente é cal que suporte com a extinção da espécie l. Na verdade, .1 chegada a ficar limitada a um nicho ej'etivo, cuja nacureu exata é deter-
uma esp~cie invariavelmente elimina a oucra por compecição. um desses dois resultados é determinada pelas densidades ini- minada pelo tipo de espécies competidoras presentes nele. Essa
Na Figura 8. 9c: ciais: a espécie inicialmente em vamagem conduz.irá a outra distinção realça que a competição incerespecífica reduz a fc:-
espécie à extinção. cundidade e a sobrevivência, e que é possível haver parces do
K Finalmente, na Figura 8. 9d: nicho fundamencal de uma espécie em que ela já não conse-
N, K. > __.:... e K, >K, (8.12)
a,, ªc1 gue sobreviver e reproduzir-se com C:xiro, como resultado da
FIGURA 8.8 Soma vetorial. Quando as espécies 1 e 2 aumentam da
(8 14) comperiçâo inrerespecifica. Estas partes de seu nicho funda-
maneira indicada pelas setas N 1 e N2 (vetores). o aumento da popula- isto é:
mencal faltam em seu nicho efecivo. Assim, recomando à Figura
ção conjunta é determinado pelo vetor ao longo da diagonal do retân-
gulo. gerado por vetores N 1 e N 2 . (8.13) 8.'la e b. podemos dizer que o competidor inrerespecífico fra-
ou ~eja:
co carect: de um nicho efeti\·o, quando em competição com o
18 15) competidor mais forre. Os exemplos reais de competição inre-
Assim. os individuas de ambas ases-
A primeira desiguladade (K1 > K, a,,) re5pecifica escudados anreriormenre podem ser reexaminados
pécie) sJo competidores mai) fortes
indica que os efeitos inibidores imrJ- agora em termos de nichos.
sobre os indivíduos da outra espécie Neste caso, ambas :is e'.)péciõ exer(em
específicos que a espécie I pode exer- No caso das espécies de diaco-
do que sobre si mesmos. Isso ocorre, um efeito competiri,·o menor sobre a os co~;Jet1dores
cer sobre si mesma são maiores que os máceas, os nichos fundamentais de :: .. e C')SXISte~.
por exemplo. quando cada espécie pro- ourra espécie do que sobre ebs mesnu.s.
efei[os incerespecíficos que a espécie 2 ambas foram providos por condições i:-iu,tas vezes
duz. um.1 substância tóxica para a ou- :ie~"õ-~:. O resultado, como moscraa hgura8.9d.
pode exercer sobre a espécie 1. A se- de laboracório (ambas as espécies se de-
rra espécie, mas inofensiva para si pró- 12.s ]2-s,ja::i2s
é uma combin,tç.lo da.-. <luas espécies em
gunda desigualdade, conrudo. indica que a espécie l pode exer- senvolveram quando cultivadas sepa·
pria, ou quando cada espécie é mais equilíbrio estável, J. 4u.1I rendem a se
radamence). Porém, quando as duas ere::v'.)S
aproximar rodas as popubçOCs mistas.
espécies competiam, Synedm ubw dis·
Por isso, de modo geral. o modelo de Lotka-Volrerra da
punha de um nicho efetivo e Asterionella formosa não: houve
comperição interespecífica é capaz. de gerar uma g.una de re-
exclusão competitiva de A. formosa. O mesmo resulcado foi
(a) (b) sultados possíveis: a exclusão previsível de llnlJ espécie por outra,
registrado por Cause, quando P. aurelia e P. caudatum compe-
a exclusão dependenre das densidades iniciai,;; e a coexistência
ri,1m; P. rnudarum carecia de um nicho realizado e foi excluída
K, estável. Cada uma dessas possibilidades seri discuClda suces~i-
comperitivamenre por P. aurelia. Por oucro lado, quando P.
K,
Uiz
', / / vamenre, junco com os resultados das i11\'esrig1ções de campo
e: de laboratório. Veremos que os crê,;; resulr~11.fos do modelo
caudatum e P. buruzria competiam, ambas as espécies cinham
K, ~ / correspondem às circunscâncias biologicamenrc r:noáveis. Por-
um nicho efetivo, mas esses nichos eram visivelmente diferen-
ces: P. muckmmz vivia e se alimencava de bactérias no meio de
~~/1
"
N, N,
K, ranco, apesar de sua simplicidade e de ,;;u,1 incap:1cid.1de de re-
Oi2
~
/ fletir muitas dJ..'> complexidades d.1 dinjmic.1 dJ competição
cultura, e P. bursaria se concencrava nas células de levedura no
fundo do rubo. Portanto, a coexistência escava associada a uma
/ K~/ / no mundo real, o modelo serve como um prnpósiro útil.
diferenciação dos nichos efecivo5 ou a uma "partição" de recursos.

//
K2'021
"'~""/
K,
/
/
"""'
K, K/u 2 ,
Contudo. J.nre) de seguir adiante,
de">·emos desrJc1r unu Jdfoência par-
ricular do modelo de I orka- Volrerra. O
Nos experimemos com Galirmz, os nichos fundamentaLs
Je .1mbas as espécies incluíam solos ácidos e solos calcário::,.
Conrudo, na competição encre elas, o nicho efetivo de G. her-
N,- N,-- resuk1.do d.1 compenção no modelo depende de /,...', e a..s, nus não
cyuicmn era re.1icrico a solos ácidos, enquanco o de G. pumi!um
(e)
ders, as c.1xas imrínseos de aumenco. E.sc~b Jecc:rrrnrum ,, \·doci-
(d) .\e limitav,t a solos calcários - um,1 exclus:lo compeciriva recí-
J,1Je com que o rcsulcado e.ilcançado. m.1<, n.\o r) 1::sulraJo em si

·~
proc1. i\'enhum dos h:íbiu.rs permitiu uma diferenciação do'i
K,1 mesmo. Conrudo, essa parece ser uma c1rcunsLln...:1.1 especific.1 da
nichos e fomemou a coexisténcia.
la,,:\/ competição unicamenre entre dua.~ espécies, urn:i \·ez que nos
Entre°' salmonídeos de T.rniguchi e Nakano. os nichos

~
modelos de comperiç.io enrre crês ou mals espéue), o resultado
l K, ~
/ /
N,
K, ~ / FIGURA 8.9 Resultados da competição ge-
depende das combinações de K,., as e" (Sirobeck. i 'J7l).
fundamentais de cada espécie se escenderam por uma gama
ampl.J de alcimdes (e temperamras). m.1.s ambas fica.ram res-
N,a,, /
/~ / rada pelas equações de competição de
rrius a um nicho efeti\'O menor (Salt•eli,,us mrtlma em Jlcirn-

// ~ / /\ /
Lotka-Volterra para as quatro passiveis dis-
posições das isolinhas zero de N 1 e N,. Em
geral. os vetores se referem às populàções
8.4.2 O princípio da exclusão competitiva
des maiores e S. le11co1J1t1e11is em ,1lricude) menores).
De modo an.ilogo. entre as cracas de Connell. o nicho
fundamental de Chrhamalm su/luus baixou até a z.ona de Ra-
/ "'~
Ki/az, K,
/ \" ~ con1untas e são obtidos conforme o indica-
do em (a). Os Circulas cheios indicam pon-
tos de equilibrio estável O circulo vazio em
A Figura 8.9a e b descreve Cl)OS em que
um compecidor 1mere'.)pecifico force
1,wm balanoides, mas a comperiçáo de B. balm10ides resrringiu
C. stefl,uw a um nicho efetivo na pJrce superior do costâo. Em
(e) é um ponto de equilíbrio instável. Para
N,-- mais detalhes. ver o texto
elimina invana.\dmence ur:1 ,._ompe- ou eras palavras, B. balanoides excluiu competiciv:1.mente C ste-
tidor imerespecíficu fr.11.. 0. É impor- ÍÍium das zonas inferiores, mas parJ a própri:1 B. b,dano1des

1
236 PARTE 2: INTERAÇÓES CAPÍTULO 8: COMPETIÇÁO INTERESPECÍFICA 23 7

nem sequer o s.::u nicho fundamental se estendeu até a zona de dois competidores coexistem, é muicas vezes difícil confirmar TABELA 8.1 Predaçào recíproca (uma forma de antagonismo TABELA 8.2 Competição entre Tribolium contusu'!1 e T. castaneum
mútuo) entre duas espécies de besouro da farinha, Tribohum em uma gama de climas Uma espécie é sempre eltminada, e o clima
C. stellaws: sua sensibilidade à dessecação a impediu de sobre- com exatidão que há diferenciação de nichos, e, o que é pior, confusum e T. castaneum. Os adultos e as tarvas comem ovos e altera o resultado, mas em climas intermediários o resultado é provâ-
viver, mesmo na ausência de C stel!atw. Portanto, de maneira é impossível comprovar que não há. Náo enconrrar cal dife- pupas. Em cada caso, e d_e mane1ra geral_. é_ind1ca~~ a preferência vel, e não definido (segundo Par, 1954)
geral, a coexiscência dessas duas espécies escava também asso- renciação poderá significar apenas que o lugar observado ou o de cada espécie por ind1v1duos de sua propna espec1e ou da outra
Porcenragem de vencedores
espécie. A predação 1nterespecifica é mais acentuada do que a
ciada à. diferenciJçâo dos nichos efetivos. procedimenro estavam errados. Evidt:ncemence, é possível a predação intra-especifica (segundo Park et ai., 1965) Clima T confusum T casraneum
O padrão que surge desses exem- ocorrência de problemas merodológicas baseante reais para e:,- ··Predador~ ·Mostra preferencia por.. Ouente-úmido o 100
plos tem sido descoberto em muitos tabdecer a perrinência do Princípio da Exclusão Compecici\"a Temperado·úmido 14 86
Adultos que T confusum T confusum
ourros e fol elevado à categoria de prin- em qualquer caso em particular. comem ovos T. castaneum T. confusum
Frio·úmido 71 29
Ouente-úmido 90 10
cípio: o ''Princípio da Exclusão Compe- O Princípio da Exclusão Competitiva se rornou ampla- Temperado-seco 13
Adultos que T. confusum T. castaneum 87
ririva" ou "Princípio de Gause". Ele pode ser expresso da seguinte mente aceito porque: (i) há muiro boas evidencias em seu fa- comem pupas T. castaneum T. confusum Frio-seco 100 o
maneira: se duJ.S espécies competidoras coexistem em um am- vor; (ii) parece incuirivameme lógico; (iii) exisrem fundamen-
Larvas que T. confusum T. castaneum
bieme está\'el, das assim procedem como resultado d.i diferencia- ros teóricos que lhe dão credibilidade (o modelo de Lock..- comem ovos T castaneum T casreneum
ção dos nichos, isrn ~. da diferenciação de seus nichos efecivos. Volterra). Todavia, sempre surgirão casos em que ele n:io pode T conlusum T castaneum
Larvas que Os ;unbientes em geral são um mosaico <le hábiracs favoráveis e
Conmdo, se não houver diferenciação ou se o hábirar a impede, ser estabelecido positivamente; e como na Seção 8.5, existem comem pupas T castaneum T confusum
desfavoráveis; as manch,15 do mosaico com freqüência só esc:io
uma das espécies cornperidor.ts eliminJd ou excluirá a outra. muiros outros casos em que ele simplesmente nâ.o se .1plic1. Em gera! T confusum T castaneum
disponíveis rempor.ui;.1.menre e cosrumam aparecer em n:iom~n-
Porranm, a exclu~ão ocorre quando o nicho efeti\·o do competi- Resumidamente, a compeuçâo incerespecífica é um p10...:e,su T casraneum T confusum
tvs e locais impn~visívcis. f\."lesmo quando ocorre compctiçJ.o m-
dor superior preenche por completo aquelas parces do nicho fun- com freqüênciJ associado, ecologica e evolurivamenre, a urn
rerespecífica, ela nem sempre continua até J conclusão. Os siste-
damental do compe[idor inferior que são fornecidas pelo hábirac. padrão particular (diferenciJçáo de nichos), mas a competi-
mas nJ.o alcançam necessariamente o equilíbrio. e os compt.'."tido-
Quando há coexistência de com- ção incerespecífica e a diferenciação de nichos (o proce:,.so e o O moddo de l.orka-Volrerra mos- res superiores nem sem predispõem de cempo par.1 excluir os co'.11-
petidores, a diferenciaçáo de nichos efe- padráo) náo são ligados de forma insolúvel. A diferenciação trado na FigurJ 8.9c sugere que as con- petidores inferiores. Assim, uma compreensão d:i. comperiç.l.o lfl-
tivos é às vezes considerJda como fruro de nichos pode surgir por meio de oucros processos, e a com- seqll.êncus do antagonismo mútuo são teresp-ccífica por si só nem sempre é suficiente. Muitas vaes, é
da competição atual (um efeito "ecoló- petição interespecífica não necessarÍJmence leva à diferencia- essencialmente igu.iis, seja qual for seu necessirio consider:i.r também como a competição inrerespecífica
gico"), como no caso das craca.s. Contu- ção de nichos. mecanismo exaro. Uma vez que as espécies são mais afetadas pela é influenciada por, e interage com, ambienre inconstante ou im-
do, freqüemememe acredira-se que a diferenciação do nicho sur- competição imerespecífica do que pda intrJ-específica, o resulca- previsível. Oito de oucra maneira: Ks e Ct.s sozinhos podem derer-
giu como conseqüência da eliminaç.lo no passado das espécies do é muito dependente das abundàncias relativas das espécies minar um equilibrio. m.15 na natureza os equilíbrios freqi.Jeme-
sem nichos áeti\"os (deixando apenas aquelas espécies que exi- 8.4.3 Antagonismo mútuo competidoras. A pequena agressáo intra-específica revelada por mente não são alcançados. Assim, a velocidade com que um equi-
bem diferenciação do nicho- um ourro efeim ecológico) ou como um.1 espécie rara exerce um dê:ico relacivamente reduz.ido sobre líbrio é .Ucançado torna-se imponanre. Ou seja, como já observa-
um efeito euolutwo dJ competição. Em qualquer destes casos, a A Figura 8. 9c, derivada do modelo de Lorka-Volterra, descre- um compecidor abundame, mas .1 grande agressão mostrada por mos em outro comexro, na Seção 8.4. l, não só Ks e Ct.s são im-
competição preseme pode ser desprezível ou ao menos impossí- ve uma situação em que a competição incerespecífica é. par.1 uma esptEcie abund ..rnre pode provocar facilmente a extinção lo- porranres, mas rs igualmente desempenhJ sua p.ure.
vel de detectar. Consideremos, mais uma vcr, a coexistência dos ambas as espécies, uma força mais poderosa do que a compe- (al de uma espécie rara. Além disso, se as abundânci~lS esráo equi-
chapins. A, espécie, coexistiam e exibiam diferenciação de seus tição inrra-específica. Essa .-.iruação é conhecida como antago- libradas, uma mud ..rnça pequena da abundância relaciva será sufi-
nichos efetivos. Porém, não sabemos se ela,;; atualmente compe- nismo múmo. ciente para transferir a vantagem de uma espécie para a outra. O 8.5.1 Clareiras imprevisíveis: o pior
tem, ou se a.1gum.1 vcr competiram, ou se oucras espécies foram Um exemplo exrremo de umJ resultado da competição será então imprevisível - qualquer espé- competidor e o melhor colonizador
excluídas comperiti\·amence no passado. Ê impossível dizer com situação desse ripo é proporcionado cie poderia excluir .1 outra, dependendo das densidades que apre-
certeza se o Princípio da Exdusâ.o Competitiva foi perrineme. Se pelo trabalho com duas espécies de sentam no começo ou que alcançam. A Tabela 8.2 mostra que As ''cl.ireiras" de espaços desocupados ocorrem de maneir.t
dS espécies de foco competem amalmenre, ou se outras espécies besouro da farinh:.1: Tribolium confu- es;te é precis.tmenre o ca5o dos besouros da farinha do esrudo de impre,·isívd em muitos ambientes. Incêndios, deslizJmenros
estão sendo ou fonrn excluídas competirivamenre, então o Prin- sum e T castrmeum (Park, 1962). (),,, P.1rk. Hou\"e semp1e um único vencedor, e o equilíbrio enrre as de terra e raios podem criar clareiras em áreas tloresradJs; rnr-
cípio é percineme no sentido mais esrriro. Se elas comperiram experimenros que Park realizou nas décadas de 1940, J tJ50 l' espécies mudou com as condições climáticas. Contudo, em to- menus marinhas podem criar clareiras em zonas costeir,1s; e
;ipenas no passado, e tal competição le\·ou à diferenciação do seu 1960 esrão enrre os que exerceram a maior influência n.1 con- dos os clima.<i imermediários, o ffrnltado em provável e não defim- o.s predadores vorazes podem criar clareirJs em rodas a, p,u-
nicho, em.lo o Pnncipio é pertinente, nus apen;is se a coex:iscên- cepção de idéia:, sobre a competiçJo inrerespecífica. Ele criou rln. 1\ [esmo o coinperidor inerenremence inferior alcançava algu-
1
res. ln\·Jriavelmenre, es,Js clareirJs ~lo recolonindas. Porém,
c1a de '"competidor.is"' .-.e aplJC,I por extensão à coexisrencia de os besouros em recipientes ~imples comendo farinh:1, m qu.1i, m.i:, vezes um.1 densidade na qual poderia excluir comperiri\"a- .1 primeirJ espécie a coloniú-!a-. nJo é necess.1riamenre J mais
'·espécies que s.l.n oujimun alguma /Jt'Z competidora.,;;"_ Se as espé- forneciam nicho~ fundamenr.1is e muit:1) vaes. ramhé111. ni- mente J outr.1 espeuc. cip,Kiuda pM,l excluir ,IS outras espécies a longo-praw. :\s-
cies mrnu comperium, enrá.o o Principio é totJ.lmence imperri- chos efeti\"m pJ.ra os ovo:,, Li.n·as, pupas e adultos de amh.1s ,h
sim, de:,dt: que as clareiras sepm criadas com a freqüência .1pro-
nenre. Fica claro que .1 comperiçã.o inrerespecífica náo pode ser espécies. Cerramenre houve exploração de recurso, cornun,;
priadJ, é possí\"d a coexisrenci.1 de uma espécie_"fugirivJ·· com
estudada pelJ rnerJ. dncumentaçdo d.1.'i diferença.,;; inrerespecíftcas pelas dua.s espécies; mas .•1lém dl.sso, os besouros se devor:ivam '.l,5 :-ieterogc,,19idade. colonizarão
uma espécie altamente compecitiva. :\ esp~cie fugitiva re,1de a
acuais. uns aos ourros. As larvas e os aJulros comiam ovos e pupa:,. a competição de apropriaçao ser J primeira a co\onÍLJí as dJreiras; da se esrabele~e e ~e
Por oucro lado, no estudo das com comportamento de canibalismo :,obre a própri,1 espécie e
Neste pomo é necessário emítir um,1 reproduz. A OLHra espécie costuma ser mJis lenu para 111vJ<l1r
aves do gênero t,érmivom realizado por atacando também a OLltra espécie e '.'.IU:1 progênie, conr-orn1c:
nota de advertência. Aré agora. neste ,IS clareiras, mas, umJ vez rendo começado a fazê-lo, compete
Martin e Marrin, as duas espécies com- resumo na Tabela 8. J, O ponco a desucar é que, de m.rneirs1
capírulo, admitiu~se que o ambiente é e finalmente exclui da :irea em questão a espécie fugiri,·a.
petiam e coexistiam, e o Princípio da geral, os besouros de Jmbas as espécies comiam mais indiví-
P~·,J~ suficientemente conscame para que o O esboço traçado romou corpo
Exclusão Competiriva sugeriria que duos da omra espécie do que da sua própria. Assim, um mec..t- ;'-:',;';!'Ci-:l ~J.
,1.,1c,,en'C;.;; resultado da compeciçâ.o seja determi- 4uantitacivo em um modelo de simu-
isso era o resultado da diferenciação nismo crucial da interação de:,sas espécies competidoras foi J ;:e!:ê~.:;;c·
nado pelas capacidades competitivas das lação em que a espécie ··fugitiva" é uma
de nichos. Porém, ainda que pareça ra- predação recíproca (isto é, :rnragonismo mútuo), e é facil per- "C0"3·c1---: ~::,
espécies comperidor.15. Concudo, na rea- planta anual e o competidor superior
zoá\·el, cal diferenciação não foi comprovada, pois ela não foi ceber que ambas estavam mais afecadJs pela predJção inreres-
lidade, uis situações não são ur~1,·ersa.1s. é uma planta perene (Crawley e 1\lay, l 987). Ü modelo é um
observad,1 nem demonstrou ser efetiva. Desse modo, quando pecífica do que pela intra-espc:dfica.
2 38 PARTE 2 INTERAÇÕES CAPÍTULO 8: COMPfTIÇÁO INTERESPECÍF!CA 239

dos que, em número crescente, combinam as dinâmicas [em- Um exemplo disso se refere a duas espécies de caracóis pul-
poral e espacial em que as interações ocorrem denrro de célu- 100 monados que vivem em charcos no nordeste de lndiJna, EUA. A
las individuais de um recículo bidimensional, mas também
com movimencos encre elas (ver também· !nghe. 1989;

e•o."'
o
e
ai e=
o., 0.8
·- -·
·- alteração artificial da densidade de uma ou oucra espécie no cam-
po mostrou que a fecundidade de ?hysa gyri11a diminuía signifi-
~ 80
E • o- cativamence pela competição incerespecífica com Lymnae11 e/odes,
Dycham, 1994; Bolker et ai., 2003). Nesse modelo, cada uma g,g ~ 0.6 ~ ie
das células pode se enconrrar vazia ou ocupada por um único -= ~ ~ §E mas o efeirn não era reciproco. L. e/odes era clara.menre o compe-
i 8~ • .!'.
tidor superior quando a competição continuava duranre o ver-ão.
indivíduo da espécie anual ou por um único ramera da espécie o E-;;; 60
0.4
'ª"jiij cri§
perene. Em cada "geração", a planca perene pode invadir as
células adjacenres àquelas que já ocupa mesmo se das estive-
rem ocupadas por uma planta anual (um reflexo da superiori-
~~ ~
ii: ~ ~ 0.2 .
1
• o
-o o
,g
,"'~
-~ ~
.
~
40
Comudo, P. gyrina se reproduzia mais cedo e com menor rama·
nho do que L. e!ocús, e em diversos charcos que secavam no co-
meço de julho era muitas ve1..es a única espécie que naquele ma-
dade compeririva da planra perene) -, mas os ramerns indivi- memo já havia produzido ovos resiscemes. Por isso, as espécies
duais da planta perene também podem morrer. Contudo, a
0,8 1.6
cE'
2.4 3,2
ª•
u
20
coexistiram na área como um codo, apesar da aparente inferiori-
espécie anual pode colonizar qualquer cC:lula vazia, o que é dade de P. gyrina (Brown. 1982). Encre rãs e sapas. par oucro
feito por meio do depósico de "sementes" dispersadas ao aca- lado, os girinos de Scaphiop11s holbrooki, compecicivarnenre supe-
FIGURA 8.10 Em um retículo espacial. uma planta anual fugitiva típi-
so, cuja quantidade reflete a abundância da espécie anual. Sem riores. têm mais sucesso quando os charcos secam. porque apre·
ca pode coexistir com uma planta perene competrtivamente superior. 10 20 30
\e,·.1rmos em coma os decalhes, a espécie anual pode coexisrir sempre que cE' > 1 (em que e representa a fecundidade da planta senr.1111 período) brvais mais curros do que os competidores mais
Retardo na mlrodução
com J sua competidora superior. desde que o produro (e.E*) anual e E' e a proporção. no equ11íbno. de células vazias no retículo) de B. ng,dus fracos. u.l como Hyúr cl11) Josafis (Wil-
1

Para valores maiores, a fração de células ocupadas pela planta anual


dJ fecundidade da planca anual (e) e a proporçáo no equilí- aumenta com e~ (segundo Crawley e May, 1987).
bur, 1987).
brio de células vazias (E") seja suficientemente grande (Figura FIGURA 8.11 Efeito do tempo na competição Bromus ng,dus tem
8.10), isto é, concanco que a espécie anual seja uma coloniza- urna contribuiçào muito maior ao peso seco total por parcela. após
126 dias de crescimento, quando semeada simultaneamente com B.
8.5.5 Distribuições agregadas
dorJ suficiencemenre cap:iz e qui: exiscam oportunidades sufi-
zação de um espaço desocupado, a competição rarameme é madritens1s. Porém. como a introdução de B rig1dus e retardada, sua
cientes para a colonização. De faw, quanto maior for cE", mais contnbuição d1m1nui. A produção total por parcela não frn afetada pelo
Uma rota mais sutil, mas de aplicação
eqüitat1v:1. É provável que os indivíduos de uma espécie che-
o bJlanço no equilíbrio misw se desloca em favor da espécie retardo na introdução de B. ngidus (segundo Harper. 1961) mais geral para a coexistência de um
guem ao esp.1ço, ou nele germinem a partir do banco de se-
anual (Figura 8.10). competidor superior e ouuo inferior
mences, Jntes dos indivíduos de outra espécie. Esse farn, por
Um exemplo disso é proporcio- em um recurso em mosaico e eternem,
si só, pode ser suficience para desloc:1.r o equilíbrio competiti-
-. ·. ;;·"'r-:: -, .:..·_· nado pela coexistência da alga parda bientes simples com uma margem aparencemence pequena para baseia-~e na hipótese de que duas es-
vo em fa"or da primeira espécie. Se a apropriação do espaço
Poste!úa pafmaiformis e do mexilhão .1 diferenciação de nichos. Hucchinson sugeriu 4ue o ambien- pécies podem ter distribuições inde- ·:w
for friu por espécies diferences em clareiras diference~. a coe-
· >l -: ·-.e: '_.-:: lvlyti!us ca!ifonúanus na cosca de Wa- xisrénci.1 e possi\'el, mesmo quando uma espécie sempre ex· te, embora simples, escava mudando <le maneira contínua. es- pendentes e agregadas (isco é, agrupa-
shington (Paine, 1979). ?. palmaefor- pecialmente com um padr5.o sazonal Assim. emborJ em um das) sobre as manchas disponíveis. Isso
clui a ourr1 em compecição "em rermos de igualdJde''.
mis e uma espécie anual que precisa reescabelecer-se a cada momenrn decerminado o ambiente rendesse a promover a ex· significaria que os poderes do competidor superior seriam diri·
A Figura 8. l l, por exemplo, mostra os resulc:1dos de um
a.no, para persistir em um decerminado local. Para canw, ela clus:10 de cerras espécies, ele poderia se alrerar ou ca.lvez aré gidos principalmenre contra os membros de sua própria espé-
experirnc:nco de competição enrre as gramíneas a.nuais Bromw
se fixa em uma rocha nua, em geral em clareiras no leiro de foxorecer essas mesmas espécies antes da ocorrênciJ Ja exclu- cie (nos grupos com densidade elevada), e que o compecidor
madritensis e B. ngidus. que ocorrem juntas em pasragens da
mexilhões. criadas pela ação das ondas. Contudo, os próprios s.1.o. Em ourras palavras, o resu!CJdo de t:quilíhr10 de uma in- superior agregado não estaria presente em muitas manchas -
Califórnia (Harpcr, 1961 ). Ao serem semeadas simuluneamen-
mexilhôes lencamence acabam por ocupar esses espaços, pre- teração compeciriva pode não ser de importânclJ suprema se nas quais o compecidor inferior escaparia da compecição. Um
ce em uma mistura com proporções iguais. B. rigidw conrri-
enchendo-os de modo gradual e impedindo a coloniz.açâo por o ambiente costuma mudJr basrance ames que ul equilíbrio competidor inferior poderia, encão, ser capaz de coexistir com
bulu nnuro m.1.is à biomassa da população misca. Conrudo,
pane de P. palmaeformú. Paine verificou que essas espécies co- sej.1 alcançado. um competidor superior que o excluiria rapidamente de um
retardanJo a introdução de B. rigidus nas misturas, o equilí-
exi,;ci:im Jpenas nos locais em que havia uma ta.xa média rda- ambienre contínuo e homogêneo. Há vários modelos que com-
brio se deslocou decisivamente em favor de B. madritensis.
rivJmence a.Ira de formação de clareiras (cerca de: 7º/o da área provam cal fato (ver. por exemplo, Ackinson e Shorrocks, 1981;
Ponanro. é errôneo pensar que o resultado da competição é
de .\ttperfícic: por ano) e onde esca caxa se mantinha quas.e a 8.5.4 Manchas efêmeras com existências Krei,man et ai., 1992; Dieckmann et ai.. 2000). Um modelo
sempre lÍl'tt:rm1n,1do pelas capacidades comperitivas inerentes
mc:snu J cada ano. Onde a taxa média era inferior, ou variJvJ variáveis de ,imulaç:ío (figura 8.12). por exemplo, mostra que a persis-
das esp~c1-:s envolvid.l.'). i\ksmo um competidor º'inferior" pode
consi<lcravdmc:nre de ano para ano. constatava-se (de modo [ê11ci.1 de cal coexistência emre compecidores aumenca com o
excluir um compeodor superior, -;e d1spu:-er de unu \·ancagem
regul.u ou ocasional) uma falc,1 de rochJ nua para coloniza- Por su.1 própna 1uturez,1, muHO'> Jlll- c•rau de aore"J.Ç.3.0 (medida pdo parâmerro k <la discribuiçJ.o
inici.1l ,ui!::.:i:..'nt-:. Isso pode" fomi.:ncar .1 coe\i'>tt°n...:ia. quando
çJ.o. l,;:,,o !t·,·ou :1 exclusão geral de P. pttfmaeformis. Por OlHro bienre~ nJo s.lo :1pr::n,i,; '>,m,i,·e1s, mas ~binomiat'n~;aO\',l.. ), acé que. em nÍ\'eis alcos de :1greg3çá.o, a
ocorr~ um.1 co!on1uçáo reperid.1 em um ,1mbienrc cm mo<lifi-
lado, emborJ. ?. pabll(zeformis fosse tinalmence excluídJ de ca<l:1 sim efêmero). Entre o~ e:,,.;:rnplos mais cocx.iscência sej,1 aparentemente permanenre, embora isso nada
caç;l.o ou 1mpre\·isível.
clJreirJ, ha,·ia po::,sibilidade de se escabelecer uma. coexisrl!ncia evidenres esrão os corpo-; em decom- cenh.a a ver com a <l1ferenciaçá.o do nicho. Uma vez que muicas
no local como um todo. se as clan;iras fossem criadas com posição (carniça), esterco, frutos e fungos putref.uos, hem como espécies apresenram distribuição agregada na nacurna, essi:s
sufic1cnce freqüência e regularidade. 8.5.3 Ambientes flutuantes pequenos lagos remporários. Todavia, observe que igu::ilmente resultados podem ser amplamente aplicáveis.
uma folh.1 e uma planta anu,ll podem ser visras LOmo man- É imporume observar, entretanto, que embora ral coe-
De fato. o b.danço entre espécies com· ch.1s efémeras, em especi,ll se são pa!Jrive1s p.-1.rJ -;eu comurni- xiscê:ncia de compeúdores nada renha a ver com a diferencia-
8.5.2 Clareiras imprevisíveis: apropriação do peti<lorJ':i pode ser deslocado repetida- dor por um período limi~J<lo. fvtuiras vezes . .:')SJj mJnchas çio do nicho. ela~ escão vinculadas por um rema comum -
espaço mente e, por isso, fomentar a coexis- efêmeras têm uma existência variável - um ped.1ço de frum e que a comperição incraespc:cífica é m:1is freqüente e mais in-
cénci.1 . .1pen.1s como resulrado de mudanças ambienr::iis. Esse O'i insetos que a atacam, por exemplo, po<lc:m ser comldos a censa do que a compeciçáo inrerespecífica. A diferenciação do
Quando duas espécies competem em foi o argumento uciltzado por Hutchinson ( 1961) p.ua expli- qu.1lquer momento por uma ave. Nesces ,.:asos, é facil 1mJgi- nicho é um meio possível pelo qual isso pode ocorrer. mas as
cermos de igu<1ldade, o resultado cos· car o ··p,1r.1doxo do plàncmn", segundo o qual num~rosas es- n.1r a coexistência de duas espécies: um compettJur supc:rior e .1grc:-gaçôes tem por.irias podem originar o mesmo fenômeno -
cuma ser previsível. Porém, na coloni- pécies Je al~,i.5 pLrncrônic.1s com freqi.iênci.1 coexistem em am- um competidor inferior que se: reproduz nu.1-.. -..edo. inclusive parJ o ...:ompecidor inforior.

1
240 PARTE 2: INTERAÇôES CAPÍTULO 8: COMPETIÇÀO INTERESPECÍêlCA 241

minado a cada passo por um conjunto de regras. Nesse c.1so, manchas locais, em vez da média das densidades em tl1<l.1 a
150 as regras baseavam-se no estado acuai da célula, no esrado das populaçâ.o, argumenta novamente em favor da importância do

. células vizinhas e na probabilidade de que urna espécie cm 900 reconhecimento da heterogeneidade e.'ipacial. Coomes e cola-
(a) Capsella bursa-pastor1s
uma célula vizinha substituísse a sua ocupanre arnal. Essas ta- boradores (2002), por exemplo, invesrigaram a comperição en-
g xas de subsriruição de uma espécie por outra basearam-se nas Ao acaso tre duas espt!cies vegetais de dunas, Aim pmecox e Erodi um ci-
100
observações de campo (Thórhallsdóuir, 1990). ~.~ Agregada rntarium, no noroesre da Inglaterra. A espécie menor, A. orae-
'8*
..
x
600
Quando a disposição inicial das espécies sobre o retículo cox, tendeu a se agregar, mesmo nas c::scalas espaciais me~ores.
foi aleatória (sem agregação), as rrês espécies competirivamc:n- E. âcutarium, por sua vez, apresentou uma agregação modera-
"
,o te inferiores se extinguiram rapidamente e, das sobre\'Ívenres, da em manchas de 30 e 50 mm de raio, mas em manchas com
50
[ A. stolonifem (com uma ocupação de mais de 80°/o das célul.is) 300
I O mm de raio ficou de cerca forma uniformemenre espaçada
" '"'- rapidamente dominou H. /,watus. Contudo, quando .1 dispo-
siçâ.o inicial foi em cinco bandas da mesma largi1ra e com uma
11 (Figura 8.14a). Conrudo, na menor escala espacial, as duas
espécies exibiram uma associação negariva enrre si (Figura
o P.1 1
o só espécie em cada um.i delas, o resultado mudou de maneira 8. I 4b), indicando que ..-1. pmecox rendeu a ocorrer em grupos
10 ~- l
k da binomial negat1va drásriCJ: (i) a exclusão competitiva foi nicidamenre recardada in- pequenos monoespecíficos. Por isso, A. pmecox mostrou-se mui-
clusive para as espécies menos compemivas ( C crist,ztw e L. pe- 1001 (b) Cardam1ne h,rsuta
to menos propens.i à competição de E. cicut,1rium do que: se ehs
rem,e); (ii) H. lwacw chegou a ocup;ir nuis de G0 1YO dJ.) ..:élul.1s. cstÍ\\:sscm distribuídas ao .1c1so, justificando a aplicação por Coo-
FIGURA 8.12 Quando duas espécies competem por um recurso d1s-

~~
lribuido de modo cont·nuo. uma excluiria a outra ao final de cerca de em um periodo (600 p,1ssm <le tempo) em que estan,1 pró\inw J. mes e c._olahoradores de modelos de simubç.ío Je compeciçáo, cm
1O gerações (conforme 1nd1cado pela seta) Contudo. quando estas extinção, se a discribuiçâ.o inicial fosse alea[.ória; e (iii) o própr !u que as resposras locais foram explicic,:unenre incorporadas.
mesmas espécies competem por um recurso em mosa,co e efêmero, Nesta seção, vimos repetidamen-
resultado dependeu muito da dispmiçâo rel,uiva no começo e,
o número de gerações de coex1stênc1a aumenta com o grau de agre-
gação dos competidores, medido pelo parâmetro k da distnburção porca.nrn, de quais espécies competiam iniciJlmeme entre si. te que a narureza heterogênea do am-
··b1nom1al negativa" Os valores supenores a 5 são distnbuições 50 biente tem fomentado J. coexistência
Naturalmente, não exisce indício de que as espécie) for-
efetivamente aleatórias; os valores 1nlenores a 5 representam d1s-
mem bandas largas uniespecíficas nas comunidades nJturai) ~ sem haver uma marcada diferenciaçâo
tnbu1ções progressivamente agregadas (segundo Atk1nson e Shor-
rocks, 1981) mas tampouco é provável enconcrar comunidade cuj..1.'i espé- ' de nichos. Portanto, uma visão realistJ. da competição inreres-

.J
cies se misturem ao acaso, de modo que n.ío há organizaç-lo 9 pecífica deve reconhecer que freqüentemente esta ocorre não
o
esp.1cial para se le\"ar em conta. O modelo enfatiza os perigos si Tl
'• !
de maneira isolada, mas sob a influencia de um mundo frag-
de se ignorar as agregações (porque elas deslocam o equilíbrio g mentado (e com suas restrições), não-permanente ou imprevi-
Conmdo, na tentativa de justi~~tcu a aplicabilidade des- para a competição lncr.i-específJCa em detrimento da interes- o 300 - sível. Além disso, a heterogeneidade nJ.o precisa estar nas di-
i' (e) Poa annua
mensões de tempo e espaço que consideramos até agora. A
ses modelos ao mundo real, uma pergunta em especial precisa
ser respondida: é realmenre provável que duas espécies simila-
pecífica, promovendo, portanto, a coexistência), mas urnbém
os perigos de se ignorar a justaposição das :1gregações. já que i
.'l
variação individual na c.tpacidade competiti\·,1 dentro de uma
res renham di'irribuições independentes sobre as manchas de estas igualmente podem servir par.1 manter as espécies compe- espécie também pode fomentar a coexisrência esrá\"el nos casos

..
200 em que um comperidor superior nâ.o-variável excluiria um com-
recursos dtsponívei ... ? Essa perguntarem sido dirigida median- riri\'amence subordinadas afastadas das espécies comperiti\·a-
te o exame de um grande número de d.idos oriundos de estu- menr<:: superiores. " peridor inferior não-variável (Begon e Wall, 1987). Isso refor-
dos com dípteros. ;m especi.1! moscas drosofilídeas - que ovo- Apesar do vasro corpo de teoria e modelos, exi . . rem pou- § ça um pomo que reaparece ao longo desce livro: a heterogenei-
posiram e desenvolvem brvJ.s em nunchas efêmeras (fruros, cos escudos experimentais que tracem cií dade (espacial, temporal ou individual) pode exercer uma in-
100
fungos. flores, c:rc.). De faro, h..í pouca.'i evidências sobre a in- diretamente do impacto de padrões es~ fluência estabilizante sobre as interações ecológicas.
dependência nas agregações de espécies coexisrenres (Shorro- paciais sobre a dinlmica de popu!J-
cks er ai, 1990; ver rambém Wonhen e l\!cGuire, 1988). Con- çóes. Srnll e l'rari (2001) desenvolve-
tudo, as '.\imuLições com uso de computador sugerem que, ram experimentos com pbntas reais, em um esmdo que tem oI 8.6 :::ompetit;ão aparente: espaco
enquJmo urna .1ssociaçáo po.;;icivJ. enrre as espécies (ou seja, muito em comum com o rrar:lmenco teórico de Silverrnwn .;em inimigos
uma rendênciJ de Jgregação nas mesm:1s manch.1s) torna mais
difícil .1 coex1srénLÍ.t, o 11Íl'eÍ Je associ.1ção e agregaçào que se
Eles restaram J. hipótese de que a .igregação inrra-e ... ~1eci~IL,l
pode promover a coexistência e, assim, manter alra .1 riyua,1 2 000
f,., Slellarra m~dia

Outro mor1vo de cauteL"I em nossa discuss.lo ..,obre competi~ão é


.1 cxi-,rênci.1 do que Holr ( 1977, 1984) denominou "competiçdo
enconrr.1 na re.d1Jade ger.tl aind.1 lc\·ari.1 J coexistência. Jo passo em espécies em comunidades experimenuis de qu,Hru c.'\pé-
que em um .imb1e1ue homogêneo h.1ve1 ia cxdmclo (Shorrocb cies rerríco!Js .rnuais: Capse!fa bursa-p,zstoris, Cardam:l!t' l·1r- ap:ueme", e o que outro~ .wrore,;; chanur Jm de "compctiçãn por
e Rosewell. 19,F) mta, Poa llnnua e Stcf!aria media. S. mtdia é reconhecid.1 como 1 um espaço sem inimigos" (Jeffries e Lrn ron, 1984. 1985).
i -r:
A importància da agregação para
a coc,istência também é apoiada por
outro modelo espacialmente explícito
urna competidora .'iuperior enrre essc1. . . espécies. Réplic.is de
misrnras de rrês e quatro espécies foram semeadas em den,;;i-
dade alta; as sementes foram dispostas compleramente .to .1ca-
10001 :'! <I1
···1
J
_.'j
1

~
FIGURA 8.13 Efeito da agregação intra-específica sobre a biomassa
,:,!
b,1seado em um rerículo bidimt!nsio-
nal de células {,er Seção 8.5.1). Cada urna das células podia
ser ocupada por umJ de cinco espécie'i de gramíneas: Agrostis
so ou as sementes de cada espécie foram agregadas em rnbpar-
cdas dentro das -lreas experimentais. A agregaçJ.o intr.i-c:spe-
cífica piorou o desempenho de 5. mc?dw na.s misturas, enqu.111- o l_____c 'i1
.,
l '",_J1
1
.:'.J
1
';!
:1
·'c1
acima da superfície do solo (média :t EP) (-). para quatro espécies
vegetais cultivadas por 6 semanas em misturas de três e quatro es·
pécies (quatro réplicas para cada) Stellarra media (Sm). uma compe-
tidora normalmente superior. teve um desempenho pior quando suas
srofonifera, CJ'110:,1trus crisratu:i, Hofcus fanatus, Lolwm paenne rn, para as três competidoras inferiores, em .1pen.1s um ca.'io .1 Cbp Cbp Cbp Ch Cbp
sementes ficaram agregadas do que quando dispostas ao acaso. Ao
Ch Ch Pa Pa Ch
e Poa trivirt!ts (Silverrown et ,1Í., 1992). Tratava-se dt! um mo- agregação não melhorou o desempenho (Figura 8.1 J). contráno, as três espécies compet1t1vamente inferiores - Capsella
Pa Sm Sm Sm Pa
Sm bursa-pastons. (Cbp), Cardamme hirsuta (Ch) e Poa annua (?a) -
ddo de "amômaco celular'', em que e.ida célula pode exisrir De modo geral. o sucesso das .ibordagens da "vi1inh,rn- exibiram um desempenho quase sempre melhor quando as semen·
M1sturas
em um número l1micadu de esudo) discretos (nesse caso, qual ça" (Pacala, 1997) no esmdo de comperição vegeral, em que o tes ficaram agregadas Observe as escalas drterentes nos eixos ver·
.1 espécie era .i ocupante), sendo o esudo de cada célula derer- enfoque é a competição experimencada pelos indivíduos em t1ca1s (de Stoll e Pra11. 2001)
242 PARTE 2: INTERAÇÓES CAPÍTULO 8: COMPfTIÇÁO INTERESPfCÍFICA 243

(a) A. prolcox E. c,cutap,um


Competição Competição aparente
1995 1996 1997 1995 1996 1997
(a) lnterterênc1a: (b) Exploração (e) Interação (d) Interação inchreta FIGURA 8.15 Em termos dos sinais de suas
2,5 uma interação inleração Indireta indireta mediada por outra interações, os seguintes casos não podem
direta mediada por mediada por espécie no mesmo ser distinguidos uns dos outros: (a) duas es-
um recurso um 1rnmtgo nível trôfico pécies interlerindo diretamente (competição
2,0 Ní11el trófico compartilhado compartilhado de interterênda), (b) duas espécies consu-
0

Jg' 1,5
Inimigos naturais (1)
(herbívoros.
mindo um recurso comum (competição de
exploração); (c) duas espécies sendo ataca·
das por um predador comum ("competição

.
i
11,0
parasrtos.
;:i,atógenos)
eonsumidores (C) C,~ e,
aparente" pelo "espaço livre de inimigos"); e
(d) duas espécies ligadas por uma terceira
que compete com uma e mantém uma rela·
ção mulualista com a outra. ( - - ) = inte-
Recursos limitantes (A) rações diretas; (- - -) = interações indire-
0,5 (luz. água. minerais, tas; as setas indteam influências positivas e
..,,ti:tminas, etc.) os círculos indicam influências negativas (se-
gundo Holt. 1984; Connell, 1990).
10 30 50 10 30 50 10 30 50 10 30 50 10 30 50 10 30 50
Ra,o(mm)

{b) t:spécies hospedeiras no sisrema, o pJrasiróide cn·e um im- ves era aparememenre nula, havia apenas poucos predadores e
pJcW maior sobre a espécie docada da tax.1 inrrínsec,1 de densidades altas de gastrópodes.
1,6 FIGURA 8.14 (a) D1stnbu1ção espacial de
1995 1996 1997
crescimenro mais baixa (E. kuelmiella). Esce hospedeiro As densidades dos dois grupos de presas foram inversa-
duas espécies vegetais de dunas. Aira prae-
mostrou oscilações populacionais crescenres e invariavel- menre correlacionadas, mas havia poucos elemencos da sua bio-
1,4 coxe Erod1um cicutarium. em um local no no-
roeste da Inglaterra. Um índice de agrega- mence foi levado à excinção, Por meio de Sc.'U e.xperimenro, logia alimenrar para sugerir que escivessem competindo por
1.2 ção de 1 indica uma distnbuição ao acaso. Bonsall e Hassell puderam demonmJr o efeico da compe- um mesmo recurso. Por ourro lado, quando os bivalves foram
Índices superiores a 1 indicam agregação tiçáo ::iparence. em uma situação em que a competição por inrroduzidos experimentalmente nas áreas quase sem espaços
o
i 1,0 dentro de manchas com raios conforme es-
recursos entre espécies de lagartas foi excluída. de fissuras, aumenrou o número de predadores que se congre-
·i pecificado; valores inferiores a 1 indicam uma

.
"~
0,8

0.6
distnbuição regular. As barras representam
intervalos de confiança de 95%. (b) Associa-
ção entre A. praecox e E. cicutarium em cada
Ao mesmo cempo em que a express.Jo ··compeciçáo apa-
rente" é bastance apropriada, às vezes é imporcanre considerar
o ·'espaço livre de inimigos" como o recurso limíranre pelo
gavam, as taxas de mortalidade dos gastrópodes cresceram (mui-
tas vezes aparenremence associadas à predaçáo pela lagosta ou
pelo polvo) e as suas densidades diminuíram (Figura 8.1 ?a,b).
.í um dos três anos. Um lnd1ce de associação
superior a 1 indica que as duas espécies ten-
qu.11 as espécies de presas (ou hospedeiro..;) competem. Isso A manipulação experimemal dos gastrópodes (móveis) mos-
0,4 01..orre porque a persistência da espécie J.e presa 1 )ed favore- trou-se impossível, mas os locais quase sem espaços de fissurJs
deram a ficar juntas mais do que sena espe-
rado so pelo acaso em manchas com raios
cida por evitar ataques do predador, que umhém ::ilrer.l apre- com densidades altas de gastrópodes sustentaram densidades
0,2
conforme especificado; valores 1nfenores a '.>J 2. Claramente, a presa I consegue isso peb ocupação de mais altas de predadores, e as taxas de morcalidade dos bivalves
1 indicam uma tendência a encontrar uma um hábitar, ou pela adoção de uma forma ou um p,1drJ.o com- introduzidos experimentalmente foram mais elevadas do que
10 30 50 10 30 50 10 30 50 espécie ou a outra. As barras representam purramental, suficiencemente diferenre daquele da presa 2. Em nos locais com densidades rdarivamenre baixas de gasrrópodes
intervalos de confiança de 95% (segundo
Aaio(mm) resumo, o "'ser diference" {isro é, difrrenciaçio de nichos) mais (Figura 8.1 ?c). Nos raros locais de alto-relevo sem o bivalve C
Coomes et ai., 2002)
unu vez favorecer:í a coexisrência - nus isso aconcecerá assim ,trmna, as densidades dos predadores foram mais baix.is do que o
por causa da redução da competiçio aparenre ou da competi- normal e as de gastrópades foram mais altas (Figura 8. l 7d). P.1re-
ção por e~paço livre de inimigos. ce claro que cada grupo de presas afetou adversamente o curro
Uma rJr:.l demonstr.h;:io experi- por meio de um aumenro no número de predadores e, porran-
Imagine uma úni(:,l espécie Je senc~ 1..a~n. nio parece haver um recurso limiranre, daí. pur· mental d.1 compeciç.J.o ap.,renre pelo ro, medi.rnce uma maior mortalidade mduzida pelo predador.
predJ.Jor ou p;:irasico que ..1c..1ca duJ.s rantu. ,1 e,press:ío "comperiçJ.o Jp,1- espaço livre de inimigo:. en\·olve dois Um experimenco com um obje-
espécies de presas (ou hospedeiro). renc," grupos de presa~ que \·i, em em recifes ti\·o semdh.Jme envoh·eu a remoção
Amb.1s as espécies de presas slo preju- f:m um experimenro envolven- rochosos de submaré~ em Santa Caulin.1 bl.rnd, C.diforn1a. de uma mosca comum minadora de
dicad.1s pdo inimigo. e esre se henefi- do um p.uasicóide (J vespa Ventttria O primeiro grupo compreende rrês espécies de gasrrópodes folhas (Calycomyza sp.) e sua planrJ
cia de :imbas as espécies de presas. Por- CtlllciCe11s) e duas lagarus hospedeiras mó,·eis: Tegu!a ttureori11ct,1. T. eisenr e Am;leil r111do:ü1; o '.>egun- hospedeira Lepidaploa torruosa (Asre-
rJnro, o aumento de abundância que (f>!odu u1terpw1cte!la e Ephestia kueh- do compreende biv:ilves sésseis, domin.1dos pelo nurisco Cha- raceae). em locais replicados em umJ
o inimigo .tlcJ.nça ao consumir a pre- we!!,:,. Bons.111 e Hassell ( 1997) per- l!!ll ,trcmw. Ambos os grupos eram pred:idm por uma lagosra comunidade florestal rropical de Belize. Améric1 C:encral.
sa l aumenta seu d.1110 sobre a presa mirium o trinsito livre do p.1rasitóide emre as espécies hosp<.:- (Pawdints ;,uerrnptus). um polvo (Oaopw bt111arnlarw) e um Outras espécies de moscas minadoras de folh:1s, que compar-
2. Por isso. indireramenre a presa l afera de maneira adversJ. J de1r.1s, mas mamivc:r.1m os hospedeiros separados para evirJr a búzio (Ke/letia kelleti1), embora esses pred.1<lures mostrassem ti l hava.m inimigos nacurais (vespas puasiróiJes) com
pres..1 2 e vice-versa. Essas interações estio resumidas na Fiou- pos~ibili<l.1de de comperição por recursos. Quando as d.m.1- llíllJnírida preferência pelos bivalves. Em ire.is carJcreriZJdas Ca~ycom_yza, mJS cujas pbmas hospedeiras eram diferences,
fJ 8.15, qual rnosrra que do ponro de vista das duas espécies
J r:1.S e'<perimenr.1is continham apenas uma espt!cie hospedeir.i por maracães e muicos espaços de fissur:is ( "1lro-relevo··), ha- demonstrJ.ram redução do parasicismo e aumenro da ::ibun-
de presa., os sin . us das interações são indistinguíveis dos que se e o pJra,itólde, ambJs persisciram e exibiram oscil.1çút"~ vi:1 densidades altas de bivalves e pred:1.dor,.-s. nus densidades dância (um ano depois) nos locais de remoç.:io, em comparJ.-
produziriam na inceraçá.o indireta de duas espécies comperln- ,unonec1das no ramanho populacional. tendendo a um equ1- apc-nas moderadas de gasrrópodes; comuJu. nJs área..; de bai- çã.o como os locai~-concrole CY1orri,; et ai., 2004). Essl.:'.s resul-
dn por um único recurso (compecição de exploração). No pr~- líbr10 -=srivel (Figura 8. 16). Porém, com a presença das Ju,1:-, xo-relevo, qu;ise sem esp;iços de tlssur.1s, J µn:sençJ de bivai- cados apóiam a~ previsões dJ comperição aparente, envolven-
i
i
l
l._

l
244 PARTE 2: INTERAÇÓES CAPÍTULO 8: COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICA 245

(a) Hospedeiro 1 (a) (b)


160

('
~. ,~ 1; ~~120
o :a E
.,_' 300
u '
~. 8.o o o
" e. 80
-4~--~--~--~~-
o 20 40 60 ; ~ ~
§ -g.§
Hospedeiro 2
z 0,5 150 ~ .s
o 40

Panulirus Octopus Kelletia Tegufa Teguia Astraea 22 44 65


interruptus bimaculatus kellettil e,seni aureotincta undosa
Tempo transcorndo (dias)
Hospedeiro 1 Hospedeiro 2 Predadores Gastrópodes

FIGURA 8.16 Competição aparente media-


20 40 60 da por parasito. por meio de uma vespa pa- (d)
ras1tó1de. Ventuna canescens. que ovopo-
(b) HospedeJro 1 + 2 s1ta em duas espéci_es de lagartas hospe-
deiras. As organizações experimentais es-
1 tão ilustradas à esquerda. e as d1nãm1cas

~
das populações do parasitóide (linhas pre-
tas tracejadas) e das espécies hospedeiras (e)
40
(hospedeiro 1. Plod1a interpunctelfa [linhas Ê E
marrons}; hospedeiro 2. Ephest,a kuehme- ;' -~--::- o
e.
lla [linhas pretas continuas)). à direita. (a) 0,6 8.o
-4
~--~--~--~~
o 20 40 60
Na presença de apenas um hospedeiro, este
e o parasitôide coexistiram com dinàm1ca es-
tável. (b) Quando o parasitó,de teve acesso
E
;'
8.
o
§
z 20
l:ii
aos dois hospedeiros, o hospedeiro 2 mos-
Tempo (dias)
trou oscilações divergentes e sofreu extin- ~
§
0,3 '"
ção {de Hudson e Greenman. 1998. segun·
z
Hospedeiro 1 Hospedeiro 2 do Bonsall e Hassell. 1997).
'.-'-.;

Presença de C. arcana Ausência de C arcana Predadores Gastrópodes


Predadores
do um inimigo na rural comum, em unu situação em que pode exemplo. mostrava que a eliminação de Artemisia de uma am-
não ocorrer competição incerespecifica por planras hospedei- pla área do Arizona permitia o cre.<.CÍmenrn muito melhor de
FIGURA 8.17 Evidência da competição aparente por espaço livre de predadores. em Santa Catahna lstand. EUA. (a) A densidade depredado-
ras entre espécies de moscas. 22 espécies de herbdceas, em compJração com o crescirnenw res (número por 10 m 2 , com os erros-padrão) e a mortaf1dade de gastrópodes (número de conchas "recentemente mortas" por local, com os
Para compleur o quadro, ex1sre uma outra interação in- obser\'ado em locais náo-perrurbados ou em locais onde .ilrfl'- l':!rros-padrão) aumentaram. em relação aos controles (barras em cinza). quando os bivalves foram ad1c1onados aos locais sem espaços de
fissuras dominados por gastrópodes (barras marrons). (b) Isso determmou um declínio da densidade de gastrópodes {são indicadas as barras
d1rt'.ra enrre du,1s espécies, qualificad.1 pela expressão ''compe- múia de hábito arbustivo, fora removida em faixas estrcir:ts de
dos erros-padrão). {c) A densidade de predadores (número por 10 m 2 • com os erros-padrão) frn mais alta nos locais sem espaços de fissuras
tição ,lparenre'' (Figura 8.1 Sd), em que as espécies I e 2 exi- 3 m. Isso foi original,nenrc interpretJdo como uma grJnde com densidade elevada (ba'ras marrons) do que nos locais sem espaços de fissuras com densidade baixa de gastrópodes {barras em c11za}.
bem irnpacws neg.Hi\'O'.) recíproco,;;, e as espé.:ies 2 e J rêm redução da competição pela exploraç.ío d,1 água, no primeiro tanto na presença quanto na ausência de C arcana (d) As densidades de predadores (número por 10 m 2 • com os erros-padrão) foram mais
baixas. e as deris1dades de gastrópodes {número por m 2 , com erros-padrão), ma,s altas nos locais de alto-relevo sem C arcana (barras
impactos posirtvos (mutualísus) (ver Capírnlo 1.3). :\s espé- caso (Roberrson, 1947). Contudo, nJ d.íeJ maior, as pLrnus
marrons) do que naqueles com ela (barras em cinza) (segundo Schmitt 1987)
cie.<. l e .3, então, apresencam irnpacros negat1\'0S indiretos re- herbáceas também expenmenraram uma grande redução d.1 pre . . -
ciprocas. ,em cornrurtilhar um recur~o comum ou, nesre caso. são do pastejo pelos cer\'oS. roedores e insetos, para os qu.1is ns
um pred.1dor curnum. EL1s exibem cornperiçâo ap.trente, em- indivíduos de Arte111iú,1 represemavam n..lo apenas urna fonrr de dt uma ampla varicdJde de processos, e que uma cumprc"en- rem sido dedicadJ à própria competiçJo c0nvencio1ul. Jj des-
bor:i n.lo por e. . pJço 11\Te de inimigos (Connell, 1990). a.limenro, mas também um loc1l dt" refúgio. Por isso, é igt1J.lmen- .<..Jo JpropriJd,1 requer que os distingamos~ náo ,ipenas discrimi- r,lcamos ,h dificuldJdes n.1 incerpreu~J.o d.1s e,·i<lência.s que
Os exemplos mencion.1dos :ir~ te provável que o resulrado tenha sido produzido pela reduç:io d.1 nando entre compc:nçôes conven(ional e aparenre. ma.<. também ::.J.o mer.1menre observações ( ver Freckleton e \X.'.ukinson, 200 l },
agora .<.e referem à competição aparen- comperiçâo aparenrc". e~pecificando os mecanismos denrro, digamos, da competição e é por essa razão que nwims eswdos sobre efeitos ecológicos
te em animais. Connell (1990) reali- Isso enfatiza que não se juscifica convencional (um ponto ao qual retornaremos na Seção 8.1 O}. da competiçâo inrerespecífic.1 r~m adotado uma J.bordJgem
zou unu reaL1!t.1ç:lo parricubrmente a rel:.uivJ negligência a respeiw da experimental. Por exemplo, vimos experimentos de campo en-
escbrecedora de 54 c:xemplos de experimenros de campo pu- competição aparente no pJssado, mas volvenJo manipulação de craca.s (ver Seçlo 8 . .2 ..2), aves (ver
blicJdos sobre .. comperiçâo" em \'egc-r.lis, em que os autores também realça que, no contexto da compecição interespecifl- in;-J:-.:.0:· ·. ,,, Seção 8.2.5), raboas (vn SeçJ.o 8.J.JJ e caracóis (vc"r Seç..lo
originais afirm,iv.tm haver demonstrado comperiçáo inreres- ca, é importante a distinçJo emre padrões, por um lado. e e;.cps:itr~c:ntai.3 8.5.4), nos quais a densidade de um.1 ou de amba,;; as espC:cies
pecífica convencio11Jl em 50. Uma anilise mais arenu revelou proLessos ou mecanismos, por outro. No passado, os pJJrõc:s foi alterada. (em geral reduzida). Sub)eqlienten1eme. foram rno-
que, em muiros desses esrudos, J coleta de informações não foi de diferenciaçio de nichos, bem como do aumento dJ abun· :\pesar das interações ímporrances en- nicoradas a fecundidade. a sobrevi,·êncta, a abundància ou a
,ufiLienre para possibilitar ..1 d1st1nç3.o cnrre competiçJo con- dància de uma espécie na ausência Je outra, eram incerpren- tre comperição t' heterogeneidJde am- U(il1zaçâo de recursos das esp~cies restantes. Apó<;. os resuln-
\·encional e competiç:lo aparente; e cm muitos outros a infor- dos como evidência da compeciçJo demasiado fociL Agor.1 b!enraL e das complicações da compe- dos foram comparados com a siruaçJo .tnrerior i manipubçlo
maçâo estava disponÍ\'el. m.1s era ambígua. Um e,;;ruJo, por podemos constatar que rais padrões poJern surgir por meio tição ap:uente, unu gr::1nde arençJ.o ou, melhor ainda, com uma parceh-conrrole comparável na

.;r
246 PARTE 2: INTERAÇÕES
CAPÍTULO 8: COMPl'TIÇÁO INTERESPl'CIFICA 247

qual não ocorreu qualquer manipulação. Tais experimencos cêm ras: 100 da espécie A e 100 da espécie B. 150 A e 50 B. O A e
fornecido informaçóes valiosas, mas eles são tipicamente mais 200 B. erc. Ao final do período experimental. seria monitora-
.à.. Panicum - Glycme 1
fáceis de execucar com alguns cipos de orga.ni~mos (p. ex., or- da a quantidade de sementes ou a biomassa de cada espécie (a)
ganismos sésseis) do que com oucros. em cada mistura. Tais séries de substituição podem encão ~er 60 (b)

O segundo tipo de evidência experimental é procedente estabelecidas pJ.ra uma gama de densidades cocais. Na prática, -Rhizobium + Rh1zobium

de rrabalhos reJlizados sob condições arcificiais conrrobdas conmdo, a maioria dos pesquisadores usa apenas uma única
60r
(com freqüência em laboratório). Novamente, o elemento cru- densidade tmal, o que tem provocado uma crírica considerá- / ... - + Rti,zobrum
// - - Rti,zobrum

~
cial cem consistido em geral em uma comparação entre as res- vel ao ddineamenro, pois isso significa que o efeito da compe- Produção de n1trogên10
postas de espécies que vivem isoladamente e suas resposta quan- tição durante virias gerações - quando a densidade total ine- • Produção de maténa seca
do em combinação. Tais experimentos apresentam a vanta-
gem de serem comparacivamence fáceis de executar e contro-
vitavelmeme se alteraria - não pode ser previsto (ver Firbank
e Wackinson, 1990).
f-~
ll.
30 .I 30r

lar, mas cem duas desvantagens imporcanres. A primeira é que De qualquer maneira, as séries de subsriruição cêm sido
as espécies são examinadas em ambiences diferentes daqueles muico v.1.liosas para elucidar aspecros da natureza da competi-
em que vivem naruralmente. A segunda é a simplicidade do
J.mbience: ele pode impedir a diferenciJ.çáo de nichos porque
rüo possui dimensões do nicho, que em ourras circunsc.incias
seriam imponJrm:::,,. De quJlquer form.1, e~ses experimentos
podem proporcion,1r indícios importantes sobre os prováveis
deiws da competição na natureza.
ção incerespecífica e os fatores que influenciam na sua incensi-
dJde (Firb.rnk e \'ückinson, 1990). Um dos primeiros em.tis
influentes e~rndo.-. foi o Je \Xi'it e colaboradores ( i 966) sobre .l
competiçJ.o emre a grJ.minea Ptmicu111 1n,1ximum e ~l legumi-
nosa G[Ytflll' Jtll't11tica, que freqüencememe formam pasragens
misr.1s llJ. Ausrrilia. P. maximum adquire todo o seu nitrogênio
.L~ L~
O
B
2 4 P O
G B
2 4 oº~----"------'.
8 OG
p

J.penJ.s do solo, mJ.s G. jt1va11ica adquire parte do seu nitrogê- FIGURA ~.18 Experi~ent? d~ subst1tu1ção sobre a corn~e!1ção 1nterespecil1ca entre Pan1cum maximum (P) e Glycine javanica (G). na presença
e na ausenc,a de Rh,zob,um. (a) diagramas de subst1tu1çao, (b) produções totais relativas (segundo Wit et ai. 1966)
nio a p.utir do J.r. por fixação desse nucriente, por meio da
8.7.1 Experimentos de prazos mais longos associação de suas raízes com a baccé:ria Rhizobiu,n (ver Seçáo
13.10. l ). Os competidores foram cultivados em séries de sub.s-
A maneira mais direta de descobrir o resultado da competição tirniçJ.o com e sem a inoculação de Rhizobium, e os resulrados problema com os experimemos de adição é que J densidJ.dt con- que, como pode-se observar, estão relacionadas à Equação 5.17
entre duas espécies no laboratório, ou sob outras condições são apresencados uma sob forma de diagramas de subsciruiç.lü juma e a.s proporções das espécies variam simulrJ.neamenre. Por (ver Seção 5.8. I - o modelo básico da compeciçâo imra-espe-
concrolad~1.s, é colocá-las juncas e deixá-las por si mesmas. Des- como sob forma de "produções cocais relacivas" (Figura 8. \8). isso, foi demonstrado que é difícil separar o d"eiro da erva dani- cifica) e à Equação 5.12 (ver Seção 8.4. I - a incorporação da
sa forma, uma vez que mesmo a competição mais unilateral A produção relariva de uma espécie em uma mistura é a razão nha sobre a produção do culcivo do simples efeirn de aumenrar a competição interespecífica). Desse modo, N -\ e N são os
provavelmente ocupe algumas gerações (ou um período razoá- de sua produção na misrura em relação à produção da espt:cie densidade cocaJ (culci\'o mais er;a daninha). A Figura 8.19 mos- números iniciais das espécies A e B; N_-\ e /\'l:··repres~~tam os
vel de crescimenm modular) anres de produzir-se por comple- sozinhJ. nJ. série de substimição, eliminando quaisquer difo- tr.1 um exemplo que descreve os efeicos de duas ;rvas daninhas, números das espécies A e B após a mortalidade; é a produ- t\
co, essa abordagem direta é mais fiei\ e cem sido usada com renças de produção absoluta enrre as espécies e referindo-as :1 Ca.Jsúz obtu.sifo!ia e o caruru (Amamnthus ren-of!exus), sobre a. pro- ção (sememes ou biomassa) da espécie A; me a represencam a
mais freqüência em algumas espécies do que em oucra.s. Ela mesma e.-.cah. A produção coral relativa de umJ. mistura parti- dução de algodão no Alabama (Buchana er ai.. 1980). À medida susceribilidade ao adensamenco; ~ e a são os coetlciemes de
cem sido aplicada mais freqi.tentemence para insetos (como no cular é em.ío a soma d:lS duas produções relativas. A p:irrir J,ts que aumentava a densidade de ervas daninhas, diminuí.1 J. pro-
exemplo do besouro da farinha, na Seção 8.4.3) e microrganis- séries de subscirnição (Figura 8.18a), parece clJro que ambas .1s dução de algodão, sendo este efeiro da competiç.lo inrerespedfica
mos (como no exemplo do Ammiecium. na Seção 8.2.4). Ob- espécies, mas especialmente C. javanica, tiveram melhor de- mais pronunciado com C obtu..sifolúz do que com A. rarojlexus.
serve que nem as plamas superiores, nem os vertebrados e nem sempenho (foram menos aferadas pela competição inrerespe- Nos delineamentos Je subsritui-
ção, as proporções do~ competidores 2.5~
os invertebrados grandes se prestam facilmente a esca aborda- cítlca.) n.1 presença do que na ausência de Rhúobium. Conru-
gem (embora um exemplo com vegeul seja discmido na Seçáo do. is.-.n ficJ. ainda mJ.is claro .1 parrir das produções cocais reb- são vJriad.1s, mas a densid.1<le roral é
8. IO). Devemos c:sur cientes que isso pode di~rorcer nossa vi-
s:í.o a respeito da narureza dJ. comperição interespecífic:1..
tÍ\";h (Figur.1 8.18b), que na ausência de Rhi.::obiwn nunca ,1.:
:1fast.u.1m signiticativamente de l, mas n.1 .sua presença foram
consi,rentemente superiores 1 1 Isso sugere <~ue a diferenci.1-
manrida constJnce. enqu.rnto nos de-
lmeamenros de adição JS proporções são vJri.idJs, mas a den-
,;;1dade de um competidor fica consranre. TJ.h-ez por isso seja
.
"
!jl 2.01
bem-\'inda ,t proposu e a .1plicação d;.1 'º111.il1se de superfície g_
8.7.2 Experimentos de uma única geração
çã.o dr: nichos nlo foi possível ,;;em R'1izobiu111 (umJ. segund.1
e,.,pécic poden.1 :1iusur-se somente por redu~J.o compe1b~HÓn.1 de_ resposraº'. em que duas espécic"s s.ío pl.rnr.1d.1:i sep.tra<l.1s e .
o
Cr~sc1merito com

Dados esses problemas, a abordagem :ilternati\'a de "laborató-


do renJimento d.1 primeira); contudo a ditêren..:iaçJ.o de nicho.-.
ocorreu na presença de Rhizobi11m (as espécies produzir:i.m m.1i,
llH~tltrJ.das em um.1 :.1mpla g.1ma de Jensi1.Ltde"' e proporções
(Figura 8.20) (Firb.1nk e \X.'.ukinson. 198); Lnv e \VJ.ckinson. 1 _ A retroflexus

rio", milizada especialmente com pbnras (embora os métodos em conlunro do que separadamente). 1987; Bullock ct ,d., l 994b; embor.1 es.-.e ültimo sr: rdlra a .~ 1,5
Crescimento com
tenh.1.m sido oc.1sionalmente us:1.dos com animais), em geral Üm:i.segundaabordagem, popu- ~--:-~- ,_ dones dJ mesma esp~cie). Em conjunrn, e.-.sês cscudos suge- a e obrus,tolla
rem que as equações apropriadas para de~cre\·er o d"eico com-
íl
rem consistido em acompanh.1r as populações durante apenas br nn pa"'sado, consisce no uso de um à:
uma geração, comparando as "encradas" e as ·'saídas" Diver- ddine1memo '"de a<liç:io", em que uma peririvo de uma espécie (A) sobre outr:i (B) sJo, nu c.1so de
morralidade:
sos delineamentos experimemais têm sido empregados. espécie (ttpic1mence uma planra de cultivo) ~ semeaJJ. com 1 ·º o:------,,~o----~20_____30J......C
Nos experimentos "de substitui- um.1 dcnsidJde cunst.:rnte, junw com um gam.1 de densidade,
çio", é explorado o efeico da variaç:ío de uma segunda espécie (tipi(J.menre umJ. crv:i daninha) . .-\ N, e N,.\ [I + 111 (N, ..\ + ~N,s)J-1 (8 IG) Densidade de ervas daninhas por m2

da proporção de cada uma de dtus juscifi...:J.civa desse ddineamenco é que ele imita a sicuaçlo n.1-
e p.trJ a fecundiJade: FIGURA 8.19 Experimento de compe11ção com um ··delineamento de
espécies, m.inten<lo constJnce a den- tur:il de um cultivo int'escado por uma .:rva dJninhJ. e. por isso, adição": produção de algodão 9m oarcelas plantadas com densidade
siJade rocal (Wi,, 1960). Assim. em uma densidade wcal de. fornece' mformaç.ío sobre o efeito provável de diversos nívei~ constante. infestadas de ervas daninhas ( Cassía obtuslfol,a e Ama·
por exemplo, 200 plantas, se estJbdeceria uma serie de mistu- de" 1nfesr.1ç:i.o (FirbJ.nk e \X'.nkinso, 1990}. Entretanro, um 1 (3 17) ranthus retroflexus) com densidades diferentes (segundo Buchanan
et ai., 1980)
1
l._
1
248 PARTE 2· INTERAÇôES CAPÍTULO 8: (QMPETIÇÁO INTERESPECÍFICA 249

O crabalho sobre duas espécies


(a) (b) de gerbos (roedores) que vivem nas
dunas cosceiras de Israel (Abramsky e
Sellah. 1982) proporciona um exem-
plo de liberação competitiva natural. No norte de Israel. a
projeção da cris(a do Monte Carmel em direção ao mar separa
100l
10 a estreita faixa cos(eira em duas áreas isoladas, uma setentrio-
nal e oucr,1 meridional. 1vleriones tristami é um gerbo que co-
1 lonizou Israel a partir do narre. Acualmenre, ele ocorre as-
o· o. sociado a dunas ao longo de roda a costa, incluindo as áreas ao
FIGURA 8.20 Superfície de resposta da
1 norte e ao sul do ;\fonce Carmd. Gerbil!w aflenbyi é um oucro
+
2 t 24 . . . competição. indicada pela produção de se-
4
...,~ 10 '(g 110 ~ · . mentes por rec1p1ente, entre (a) Phleum are- oerbo, também associado a dunas, e se alimenta de sementes
20 narium e (b) Vulpia fasciculata semeadas :imilares às consumidds por 1\1/. tristami; porém, essa espécie
2
,si~
..... 20100 "'C'I
~ 40
~íS 100 em separado e em misturas com uma gama
o:i
de densidades e freqüências x, e x2 são as
colonizou hrad a partir do sul e náo cruzou a barreira do
'6~ 200 ~J.._J.._J.._L___j___J_____l_ '8- 200 1 ! 1 1 1 1 1 1
1 2 4 10 20 40100200 1 2 4 10 20 40100200 densidades de semeadura de P. arenanum 1\[once Carmel. Ao narre do i\1once Carmel, J\,f. trúwmi vive
e V fasc1cufata. respectivamente (segundo ,ozinha e~ enconrrada tJnco nJ areia das dunas como em ou-
x 1 (escala log) x2 (escala log) Law e Watkinson, 1987)
[rm tipos Je solo Enrrec.1.nro, ,lO sul do ivfonte CJrmel. ela
0n1pa vários ripas de solo, ma:, não as dunas. pois nelas ocorre
,1pcnas e. ,zllenkyr.
comperiçào; R_\ é .1 cax.1 reprodurivJ hásica da e::ipécie A (e, J distribuição de cercas espécies porencialmenre competidoras Esse parece ser um caso de exclusão compeciciva e de FIGURA 8.21 Areas de distribuição geográfica natural (1 a VII} de
Herpestes 1avamcus (J). H. edwardsii (e) e H. smithii (s) (de S1m-
portanto, 1\'.,,.._R.\ é .1 produçJ.o na au::.ênci~t de comperiçio); e b é cal que elas às vezes ocorrem junras (simp.irria) e ;ls vezes liberação compeririva: exclus.lo de Aí. tristnmi por G. allazbJI
berlott et ai. 2000)
decermi na o tipo de dependência da densiJ.1.de (assumida como separadas (alopacria). Esses ''experimencos na.curais" podem for- aas dunas ao sul do Nlonce Carmel; liberação de /vi. trútami
igual J. l para a morralidade - compensação perfeica}. Os da- necer informação adicional sobre a comperiçâo incerespecít'i- ao norre. Contudo, trata-se de uma exclusão competitiva do
dos como os apresenrados na Figura 8.20. obcidos durance CJ, e especialmence sobre os efeitos e\·olucivos, já que as dife- presente ou de um efeiro evolurivo' Abramsk-y e Sellah esrabe-
umJ única ger,1ç;l0, podem, assim, ser usados para ajustar os renç.1s entre populações simpárricas e alopárricas sã.o muius !c:ceram uma série de parcelas ao sul do Nfonce Carmel. elimi- tamanho. Isso provavelmenre reduz a incensidJde de competi-
valores (mediante um programa de computador) aos parâme- vezes de longa dara. Os experimentos nacurJ.i:i se tomaram 11.rndo delas G. allenbyi. e compararam as densidades de M. ção com outras espécies do mesmo gênero, porque os preda-
tros das Equações 8. l G e 8 .17, e :is equações, por sua vez, arraenres, em primeiro lugar, porque eles são n,Hurais - eles '>t tt"Útami nessas parcelas com as de diversas parcelas semelhan- dores menores tendem a atacar presas menores, em relação
podem ser utilizadas para prever o resulcado da comperição referem a organismos vivendo em seus hábitJ.t~ narurais - e. ri.='> do concrole. Eles monitoraram as parcelas por um ano, aos predadores maiores. Na área onde H. javmticus ocorre iso-
encre as espécie~ duranre muitas gerações - o que não é possí- em segundo lugar, porque podem ser ''realizados" simple:,memc mas a abundância de 1\f. tristami permaneceu essencialmente ladamenre, seus dentes caninos são muito maiores.
vel c.rnco com os ddineamencos de substituiçáo quanco com por meio da obsen·açáo - não sâo necessárias manipulaçóe'.'> inalterada. Parece que, ao sul do Nlonre Carmel, lY!. tristami É de inrc::resse parocular que o pequeno mangusm da
os de adição. experimentais difíceis ou impraticáveis. Entrecanco, su.1 des- evoluiu paL1 selecionar Jqueles hábicats nos quais evirJ a com- Índia (enha sido introduzido há cerca de um século em mui-
Por outro bdo, L1w e \X,'.ukimon ( 1987) verificaram que vantagem está nJ falta de populações "cxperirnenclls" e petição com G. allen~vr, conservando sua preferência fixada tas ilhas fora da sua área de ocorrência narnral (muiras vezes
poderiam obter um ajusce melhor :is ~uperfícies de resposta "controle" verdadeiras. Idealmente, deveria haver :i.pe1us _:;eneticamtnte mesmo na ausência de G. allenbyi. Conrudo, como p.1rce de uma cencativa ingênua de controlar rot:dores
utilizadas em seu experimenco ca~o usassem uma equação em uma diferença entre as populaçõe:,: a presença ou a ausên- como sempre, por invocar o fanrasma do pa.ssado, essa inter- incroduzidos). Nesses locais, as espécies maiores de mangus-
que os coeficientes de competição não fossem fixos, mas sim cia de uma espécie competidora. Na prática. contudo. ,ls pretação pode ser sólidJ e st::nsível, mas não é um faco com- ros competidores não esr:ío presentes. Em 100 a 200 gerações,
\'::triassem com .i freqüência e .t densidade·- embora o seu sig- populações em geral diferem também em oucros aspecto), provado. o pequeno mangusro da Índia aumentou de tamanho (Figura
nifio.do, em termo) de "comportamento vegeul", não sej,1 simplesmenre porque ocorrem em locais distintos. Por isso, lim caso de aparente desloca- 8.22), de modo que as dimensões dos lndivíduos insulares sâo
claro. Porc~into. ·"' .rn.ílises de superfícies de respost:1s, ao re\',e- os experimentos 11Jtur:1is devem ser menco de caráter morfológico provém anulmente intermediárias entre aquel.1s cb região de origem
Lirem ª" complexilhde~ potenciais J,is incer.1ç(-)eS entre espé- interpretados sempre com cautela. de um trabalho sobre mangusros J.1. (onde eles coexisci.tm com outras espécies e eram pequenos) e
cies compt:tido1 J\, r.lmbém ren:Lim que o conhecimento ou .1 A evidência d.1 comperiç.ío nm Índi.L N.1s p.irtes ocidenCJis da sua área aqueb-' do lesce. onde eles ocorrem isoladamente. N1s .lhJ~.
~He\·i,:to do'.'> re.\uludo\ din:lmico, pode ser J.pe1us uma parce experimenrm n.1turais geralmente pro- de ocorrCnci.1 natural. o pequeno man- eks exibem umJ variaçio consis(ente com a ''liberação e:oló-
d.1 hi~rc·iria Sei i.1 neces:.ário umbém compreender o-, rnec:::i- \·ém Ja cxpansjo do nicho rl.l ausl'n- gLlSCO d.1 fndi.1 (Hapótesj,w,m1cw) coexiste com urna ou dua~ giCl., d,1 competição com espécies mainre:,
nJ.,1110'.'> :.ubj,1cemcs {,·er Seçdo 8.10) cia de um comperidor (Lonhecicb espécies um pouco m.1.!ores do mesmo gênero (f!. cdwardsit e Um outro exemplo é o d,1s po-
como lrbemçilo competitiua) ou simple~menre d.1. diferenç;i du H. mritl,ii), nus estas nJ.o esr.lo pre.~en;es 11..1.s parres orienrais pulações de espinhe!J.s (Gasterosreu:;
nicho efecivo de uma espécie encre populações )Ímp.írric1s e J.i sua área Je ocorrência lfigurJ 8.21). Simberloff e colabo- acuÍetltw) de origem marinha, que vi-
alopárricas. Se essa diterenç:1 vem acompanh.ida por mudJn- r.1dores (2000) examinaram ; variação de camanho do dente vem em lagos de água doce n.1 British
,; ::2 ças morfológicas, emão o efeico é refendo como um dt·slocrr- c.inino superior desses animais, elemento imporranre para ma- Columbia, Ca.nad..í, onde perm.1neceram aparentemente em
mento de cm:iter. Por oucro Lido, J.S car.1Cterístic1s fisiolOgic1s. ur suas presas (observe que JS fêmeas dos manguscos sio me- conseqüência do soerguimenco da Terra, há cerca de 12. 500
8.8.1 Experimentos naturais componamenCJis e morfológicas prm·Jvelmence e~rio e~vol~ nores do que os machos). A le~re, onde ff. ;avanicw ocorre ano), ou apfo as subseqüemes elevaçJ.o e rccraçã.o dos niveis
vidas nas interações competitivas e são um rdlexo do nicho sozinho (jrea VII da Figura 8.21 ). os machos e as fêmeas pos- do mar. h;i cerca de l l.000 anos (Schlurer e McPhail. 1992.
Vimos que J compeoçJo incerespecí- derivo de uma espécie. Encre essas três características, é possí- suem caninos maiores do que nas área~ a oeste (III, V, VI), 1993). Como resulcado dessa ''dupla invasão", em alguns la-
fica cosrum,1 sc-r esru&1dJ. por um ex- vel que as diferenças morfológicas sejJ.rn o resulrado m.Ii) e\"i- onde ele coexiste com as espécies maiores (Figura 8.22). Essa gos arualmenre enconrram-se duas formas de G. acufeatus '.em-
perlmemador mediante a comparação dence da mudança evolutiv.i, mas, como veremos, os ··car:tnt"- conscataçáo está de acordo com J opinião de que, onde está.o bora ainda não renham recebido seus próprim nomes ciencífi-
de esp~cies isol:1.das e em combinaçJ.o. res" fisiológicos e comporumentais sJ.o também sujeiros ,lll presenres predadores similares. mJ~ maiores, o ap..1.raro de cap- cos), enquanro em outros ocorre apen,1s uma. Onde quer que
A naruren com frequência proporciona inforrn:1ç.l.o des(e ripo: "deslocamt"nto compecicivo" tura de pres.is de ff. javanicw foi seleciorudo para redução de as du.1s formas ocorram. uma é sempre "limnécica" e a oucrJ é
1

!i
~
250 PARTE 2: INTERAÇóE5 CAPÍTULO 8: COMPETIÇÃO INTERE5PECÍFICA 2 51

e C mias). Quando as duas espécies 8.8.2 Experimentando com experimentos


ÁSla Ili de caracóis do barro \·ivem separadas, naturais
seus tamanhos são prJticamemc:: iguais;
Asta V mas quando coexistem, seus tamanhos Como j.í. vimos com os gerbos, às ve-
são sempre diferemes (Figura 8.25a) zes, os experimemos naturais podem.
ASla VI
(S.1.loniemi, 1993). e elas tendem a consumir pJrtículas ali- por si mesmos. proporcionar uma
Ásia VII menrares de tamanhos diferenres (Fenchel, 1975). Os besou- oportunidade para uma manipulação
ros exibem um padrão morfológico similar (Figur.18.25b) (Ka.- experimemal posterior - e mais infor-
StCroix \Vano, 2002). Por isso. esses dados sugerem enfacic.imenre o mativa. Em um desses casos, foi in-
deslocamento de carácer, permitindo a coexisrênciJ. Encretanro, vestigada a divergência do nicho no rrevo, Trifalium repem,
Hawa11 mesmo um caso aparentemente exemplar como esse dos cara- como resulrado de sua compeciç.:io com a gramínea Lolium
cóis do barro esc.i aberro à discussão (Saloniemi. 1993). Na peren11, (Turkingron e Mehrhoff. 1990). O trevo foi examinJ-
Oahu
Finlândia, os hábicars simpácrico~ e alopárricos n<l.o erJm idên- do em dois locais: (i) um com ·'duas espécies'', em que alcan·
ticos: H. ulvat e H. 1•r:11t1füa coexistiam em corpos d "água abri- çava uma cobertura do solo de 48o/o e a gramínea alcançava
Maunhus FIGURA 8.22 Diâmetro máximo (mm) do
canino supenor de Herpestes 1avanicus em gados rara01eme aferados pel,l JÇ3o das marés. H. ufrae foi uma cobercur.1 de 96°/o (as duas juncas ulcrap:.1ssaram 100%
V111 Levu sua area de ocorrência natural (dados ape· enconrud.1 ~ozinha em Jrnbientes relJti\·,tme1He e;1..p{)stos porque SLIJS folhas podem se sobrepor); e (ii) um em que o
nas para as áreas Ili, V. VI e VII da Figura
<le substra[Os l.1.macenco~ <le nurés e marirnu::-: fl. l't'iltrosa m:vo alcançava unu cobenur.1 de 49%. nus !.. peren1u· cobria
8 21) e em locais onde a espec1e foi intro-
Okinawa duzida Os símbolos pretos representam os foi encontrada sozinha fora da zona de nuré!>, em lJgunas e apenas 4°/o (um local com praticamente ··apenas trevo"). Fo-
tamanhos médios para as fêmeas e os sím- ch;trcos. Além disso, H. ulvae naruralmenre alcJnÇJ tama- ram realizados crês experimc:nrns de cransplanre (em um ou-
bolos de cor laranja representam os tama- [íO local) e três experimentos de reimplame (no mesmo local)
2,25 2,5 2.75
nhos maiores em h.ibirats sob menos inílut:nci.1 de marés. e
3,25 3.5 3.75 nhos médios para os machos (de S1mberloff
et ai. 2000) !f. ventrosa pode crescer bem menos neste tipo <le hábitaL (os experimentos escão descritos e numerados n.1 Figura 8.26a).
01àmelro do canino (mm)
Este faca poderia ser responsável pelas diferenças de tJm.1- T. repens. procedente de ambos os locais. foi plantJda em (i)
nho entre simpauia e alopatria ness.1s espécio. Is::.o enfati- parcelas do local de "duas espécies", nJs quais foi removida
zJ o principal problema dos experimento'.) n.nurJis como apenas T. repem; (ii) parcelas do local de "duas espécies", nas
os que parecem demonstrar o deslocamento de c.1drer: po- quais foram removidas T. reprw e L. pere1111e:, e (iii) pareei.is do
"bencónica". A primeira concentra sua alimencação no plânccon ( Figura 8. 24 J. EssJ constatação está de acordo com a hipóte- pubções simpátricas e alopátricas podem ocorrer em con- local de "apenas trevo". nas quais T. repens foi eliminado. O
de águas aberras e possui filcradores de brânquias correspon- se segundo a qual a competição é reduzida quando ocorre di- dições ambientais diferentes, sobre as quais o observador grau de supressão ou liberação competitiva foi avali.1do a par-
dentemente longos (e regularmence espaçados) que filtram o vergênciJ. enue espécies competidoras. nJ.o tem qualqua concrole. Às vezes. podem ter ~1<lo essas rir da quanridade de crescimenco alcançado pelas diferemes
plâncron da corrente de água ingerida. A segunda, com filcra- Dois exemplos finais e plausíveis de deslocamento de diferenças ambientais, e não a comperiç:io, '-lue provoca- plantações de T. repew. Isso permitiu deduzir o grau de evolu-
dores de brànquias muito mais curcos, consome presas maio- caráter S.lo proporcionados pelo trabalho sobre caracóis do r.lm o deslocamenco de CJ.ráter. ç:io da divergência do nicho enrre as populações de T. repew
res, localizadas na vegec.1.ção ou nos sedimenros (Figura 8.23b). bJ.rro n.i Finlândia (Hydrobia ulvae e H. ventrosa) e besouros nos locais de ·'apenas trevo" e de ''duas espécies", bem como
Contudo, sempre que ocorre apenas uma forma em um lago, rinoceronte-gig.rnce no sudeste da Ásia (Chalcosoma caucasus entre T. repe11i e L. pere1111e.
esca explora ambos os tipos de recursos alimentares e é morfo- Aparentemente. a população de T. repms do local de "duas
logicamence intermediária (Figura 8.23a). Presumivelmente, espécies" divergiu da popubção de L. perewze (com a qual co-
0.15
após a segunda invasão, evoluiu um Jesloc.amenco de carácer exisrla e, de outro modo, competiu fonememe) e rambém da
ecológico, o que promoveu a coexiscência do par de formas ou
foi um fator necessário para o sucesso da segunda invasão. A
t 0.12 população do local de "apenas trevo" (FigurJ 8.2Gb). Quan·
do, no local de "duas espécies", foi removid.t apenas T. rqo1i,

1
evidência genética, baseada nJ análise do DNA micocondrial (.J
0,09 os indivíduos reimplamados desra espécie cresceram melhor
(a) Uma forma
de virios pares de espécies, apóia a idéia de padrões repetidos i do que os indivíduos t1"1111>"p!J.ntados (crJt.unencos I e 4. res-

".,,~.,
Q O 06
de radiação adaptaciva em lagos individuais (Rundle et ai., ")-~ :!) :g pecÜvJmente; f> = 0,086. quase signitic.1ci\·a). sugerindo que
20001. ')"1 'lj E

:l
o JS plamas transpbnr.1dJs er:im mJis competicivas com L. pt-
Se n desloomenro de c.u~iter, ern última análise, t= cau-
s.1Jo peL1 comperíçio, encJo os d~icos deqJ deveriam decli- (b) ÜL,as formas "~~ reJlllt' residente. Além disso, cnqu,rnto :i remoçio de L. perm-
111.' nJ.o repercuriu sobre o crescimenro de T. n·pew do local de
nar com o grau de deslocamenco. As espinhelas de riacho ( Cu- ~
u ·'du:is espécit'.'s·· (uJtamentos 4 e ); P > 0.9), produziu-,e um
.] } j-~
l"eil mconst,tm). que em bgos do Canadi :são simpátricas com -0.03 _______J
grande aumento do crescimenrn das pbm:is procedenre, do luctl
L______
S1mpatncos Alopátncos
uma oucra espécie de c:splnhela (Pungitius pu11gitiw), possuem -o 5 -0.3 -0,1 0.1 0.3 0.5 de "apenas trevo" (rr:ua.mentos I e 2; I' < 0,005). A remn~.;ão
diferenças significativas em relaç.lo a indivíduos alopátricos Compnmento media dos ltl!radores de brânqwas (mm) adicional de L. pr:rnme também levou a um mdhor crc,,cimenm
FIGURA 8.24 Médias (com erro-padrão) de cresc1r:iento \log natu-
da sua espécie: filtradores de brânquias mais curcos, maxilas <las plantas procedentes de "apt'nJs crevo", em compaCJ.çá\J com
ral da massa final do peixe em cada recinto d1v1d1do pela massa
mais longas e corpos mais fones. Gray e Robinson (2002) FIGURA 8.23 Deslocamento de caráter em espinhela (Gasterosteus 1n,c1a1 do grupo) de indivíduos simpátricos de C mconstans repre- ,lS do local de ·'du.:ts esp6:ies'' (rrarJnt(!nros 2 e); f> < 0.05)
consideraram os indivíduos alopácricos de C. tnCOJHtans como acufeatus) Lagos pequenos localizados na costa da Bnt1sh Colum- sentando !enótipos em pós-destacamento (barra escura) e 1ndiví· que sugere que somence as plamas da população ·'Jpen.l..'i rrevo"'
bia mantêm duas formas de espmhelas (b). em que filtradores de duas alopâtricos da mesma espécie representando fenótipos em
fenócipos em pré-deslocamenrn. e os indivíduos simpácricos, foram liberadas da compecição em ausência de l. perenne. Final-
brànqu1as da forma bentônica ( •) são sigrnficattvamerte mais curtos pré-deslocamento (barra clara); os dois t1pos de 1"ldividuos de C
como fenótipos em pós-deslocamenrn. Quando cada fenóri- do que os da forma !imnét1ca ( = ). enquanto aqueles das formas de mconstans foram colocados na presença de 1nd1viduos de P. pun- meme, no IOCll de "apenas crevo", os trevos oriundos do local de
po foi colocado separadamenre na presença de />. pzmgitius, os esp1nhelas ocorrentes sozinhas em lagos comparáveis (a) são inter- gitius. Em competição com individuas de P. pung1t1us. o crescimento "duas esp<!cies" não cresceram melhor do que:: no seu local ongi
mediànos em comprimento. Os comprimentos dos filtradores de brãn- dos fenótipos em pós·deslocamento !01 s1gnif1cat1vamente maior
indivíduos alopácricus de C. ini:omtaw cresceram bem me- nal trratamencos 4 e 6; [> > 0.7). enquanro .ts plantas Jo loc:il de
qu,as foram a1ustados para levar em consideração as diferenças em do que o daqueles em pré-destacamento (P = 0.012) lsegundo Gr3.y
nos do que os indivíduos simpácricos da mesma espécie tamanho das formas (segundo Schluter e McPha1I. 1993) e Robinson, 2002). ··apena5 trevo'' cresciam mdhor do que com a presença <la gramí-

1
252 PARTE 2 INTERAÇÕES CAPÍTULO 8: COMPETIÇÁO INTERESP:CÍFICA 253

(a) (a) (b) Local de


Local de "duas "apenas
espêcies" ----'--trevo" -----
Local de "apenas trevo" Remoção Remoção de I Remoção
Ausência natural de Lol,um perenne
de T repens g~a~~~=~ e I de T. repens
5

0y
H. ulvae 3 6
1

1 FIGURA 8.26 (a) Deflneamento expenmen·


§ tal para testar a evoluçào de Trifolium repens
;a
H ventrosa 1
(T) em competição com Lohum perenrie (L)
1 g 2
1 As populações autóctones de T. repens. e

6 i .
o
o
~
1 às vezes também de L. perenne. foram re-
o movidas. T. repens foi removido da zona si-

0.2
1.5 4, 1 4.3 10, 7 26,3 40.3 84.1 93, 1 97,5
2, 1 4.3 9,3 24.2 27.5 45 92.2 93.3 -T
2
-T-L
•, Cl.
1
tuada na base da seta e transplantado, ou
replantado, na zona situada no topo da seta.
Porcentagem de H ventrosa
,~__) ~I Os números dos tratamentos correspondem
·-:..:· .... 1
(b) Local de ··duas espécies'" aos ut1l1zados por Connell {1980) (b) Os
Local dominado por Lolium perenne resultados deste experimento estão repre-
90
C cauca:>ds sentados em termos do peso seco total por
parcela, alcançado por T repens nos dife-
rentes tratamentos Os níveis de s1gn1f1cân-
c1a para as comparações entre os pares são
80 fornecidos no texto (segundo Turk1ngton e
e atlas Número de tratamento Mehrhoff. 1990)
Ê
-S
;a
70
:l.
8o
chamados de "liso" (SM. s111ooth), "rugoso" (zvrinkly ,prea- exceção - \x.'S repele a invasão de FS - que le\'C à elimiin-
~ dcr) (WS) e "flocoso" (fi,zzi• spmzder) (FS). com base na rs.
eo. 60
ção de pois este ripo pode invadir culruras de Si\!. que,
FIGURA 8.25 Deslocamento de caráter no
morfologia de suas colônias em plac..1.s com meio sólido. por sua vez, pode invadir culturas de WS. Em geral, contu-
~ Em meio líquido, elas também ocupam partes bem dife-
u tamanho corporal. (a) Caracóis do barro na do, a seleção experimental do aumento da diferenciação do
Finlândia (comprimentos médios de Hydro- rentes do frasco de cultura (Figura 8.28a). Em frascos con· nicho encre espécies competidoras parece ser fruscranremen-
50 bia ulvae e H. ventrosa, dispostos em or-
dem crescente da porcentagem de H ven-
rinuJ.mente agiL1dos, de modo a impossibillcar o escabele- te ilusória ou crisremence descuidada.
trosa) (segundo Saloniemi. 1993) (b) Be· cimenro de nichos separados para os tipos diferences, uma

40
o
" "'eo ;; -~ . . z. . 1 ~

l • • .. o
souros rinoceronte-gigante no sudeste do
Âsia (compnmentos médios de Chalcosoma
culcura de indi\"Íduos SM inicialmente pura manreve sua
pureza (Figura 8.28b}. Porém. na ausênciJ de agit;içáo, os
o

u
" a. [ ;
w
;
"' U)
~ U)
;a
::;
0
ui
~

....2 {:. ....
2
:;;
! 3!
3
u, U)

z
;:.
3
e
~
:1
11
:1 :1
caucasus e C. atlas) (segundo Kawano .
2002). Em cada caso em alopatna. os ta-
manhos corporais se sobrepõem amplamen-
te, mas em simpatna eles são sigmficat1va-
mutantes WS e FS invadiram e se esubeleceram (Figura
8.28c). Além disso, foi possível determinar as capacidades

" Locais
0 0 ui 0 :;; mente diferentes.
LOmpetitivas do~ tipos diferences, quJ.ndo raros, de invadir
culrnras pur:1s dos ourros ripas (Figura 8.2d). Cinco das
Pode-se imaginar que o progresso cienrífico ~e produz forne-
cendo resposus às perguntas. De faro, o progresso muius ve-
,eis possíveis im·,1sôe~ são favorecid,1s. É improvável que a zes consisce em subsrirnir unu pergunt.1 por oucr..i, mai\ perri-

neJ no local dt' "duas espécies" (tr:uamenros l e 3; P < 0,05). sos, uma espécie respondeu à pressão de seleção aplicada a
Desse modo, o ucvo Ja populaç:to Jt'. "duas c-spt'l..:ies" pratÍCJ.- uma segunda espécie competidora, aumencando sua ··capaci-
(a) (b)
111enre n.i.o compete com L pnc1111t' (com J. qu.1! coexiste), .w d:1de comperiti\·:i", no st.:nti<lo de aumentar ~ua freqüênci,1 1 80

~
conrr.ino do d.1 pnpul.1ç.io d~ ",1peru,;; rrcq_i", e só o fez qu.ut- dencro de uma populaçJ.o conJunu. A Figura 8.27 mostra um
100 70 FIGURA 8.27 Aparente evolução da capa-
do tr,1n:,pla11udo para o local de "d.u:1s espécies" conjunco com duas espécies de Drosophifa. No entanto, cais
resulrados não evidenci<1m nada sobre os meios pelos quais got 60
cidade compet1t1va em Drosoph1/a serrata
(a) Das duas populações experimentais que

~~ t
esses aumentos apa.rences fora.m Jlcançados (p. ex., se foi um coexistem (e competem) com O nebulosa.
l 50
uma {I) teve um aumento nítido de sua fre-
8.8.3 Experimentos de seleção resulcado da diferenciaçáo do nicho). ~
60 40 qúênc1a após cerca de 20 semanas (b) Os

Para o experimentador, o modo mais


Para encontrar um exemplo de um aumenco demons-
trável na diferenciJção do nicho que dá origem à coexis-
i
ci 50
40 ~ 30
indivíduos dessa população posteriormente
se desenvolveram melhor em competição
direro de demonsrr.ar os efeitos evolu- tência de competidores em um c:xperimenco de seleção, 30 20
com O. nebulosa ([ J=média de cinco
populações) do que os individuas da popu·
tivos da competição entre duas espé- 20
devemos mudar da comperiçã.o inrerespecífica no sentido 10 lação fl ([ J = média de cinco) ou do
10
cie, consiste em induzir tais efeims - mais esrriro para a competição entre três tipos da mesma que os 1nd1viduos da mesma cepa que não
haviam sido previamente submetidos à com-
impor a press5.o de selcçJ.o (competi- espécie de bactéria, PuudomonaJ· f!rtorescens, que se com-
o 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 12 petição interespecif1ca {[ ] = média de
çio) e observ:1r o resultado. "fakez seja surpres;1 que poucos portam como espécies St"paradas porque se reproduzem J.S- cinco) (segundo Ayala, 1969).
Semanas Semanas
são os e:xperimt:nrns desse ripo bem-:,ucedi<los. Em .tlguns ca- sexuadamente (R.iiney e Trevlsano, 1998). Os crês tipos são
254 PARTE 2: INTERAÇÕES CAPÍTULO 8: COMPfTIÇÁO INTERE5PECÍFICA 255

ficaremos que rodas as espécies que coexim:m são diferences - ces. Assim, a é muito pequena quando exisce uma separação
sem que isso renha qualquer relação com a competição. Por- considerável entre as curvas adjacentes (d! w >> 1; Figura 8.29a)
ranro, uma pergunta mais percinence seria "existe um grau mí- e fica perto da unidade à medida que as curvas .se ;proximam
nimo de diferenciação dos nichos que deva ser ~uperado para uma da outra (dlw < l; Figura 8.29b).
a ocorrência de uma coexistência estivei?", ou :,eja, exisre um Que grau de sobreposição das curvas ad1acenres é com-
limite para a semelhança de espêcies coexistentes? patível com a coexistência estável? Suponhamos que duas es-
Uma tentativa inílueme de respondc:r J essa pergunta, pécies periféricas tenham a mesma capacidade de suporce (A;,
quanco à competição de exploração e baseada em variantes do que representa a adequabilidade dos recursos disponíveis pJra
modelo de Lorka-Volrerra, foi iniciada por 1'.lacArchur e Le- as espécies l e 3) e consideremos a coexistência de oucra espé-
vins (1967) e desenvolvida por May (1973). Analisada de cie entre elas (capacidade de suporre K,). Quando dia· tem
(b) (e)
maneira recrospecriva, cal abordagem cercamente escá aberra a um valor baixo (a tem valor elevado e a~ espC:cies são simila-
10 10 1010 quesrionamenro (Abrams. 1983). Comudo. se examinarmos res), as condições para a coexistência são exrremamence rescri-
primeiro essa abordagem e então suas objc:ções, poderemos rivas em cermos da raz.ão K 1 : K!., mas essas restrições desapa-

.
I
.à,
10' 10• aprender muito a respeito do "problema da semelhança limi-
t.rnce" Aqui, mais uma vez, os modelos podem ser instrurivos
recem rapidamente à medida que dlw se aproxima da unidade
e a supera (Figura 8.30). Em OLHras palavras, J. coexisr~ncia t'
i 10' 10'
~em :,er "corrc:cos". possível quando dlw é baixo. nus somente :,;e as adequ.1bilid.1-
~ lm.1ginemu, rrê) espécic:s com- des do ambiente para cad.1. espécie estiverem muito bem-equi-
o
petindo por um rc:curw unidimensio- libradas. Além disso, se supormos que o ambiente varie, enrão
~
z
10' 10'
nal e de disrribuiç.:io conrínua; o ta- as flutuações provocarão variaçóes na razão K 1 : K,. e a coexis-
i _.:;,,.J2·2. s .~-,~,e:: manho do J!imenrn é um exemplo cla- tência agora só será possível se houver uma amPla gama de
10'
10
10'
10 ro disso. Cad:1 espécie possui seu ni- razóes K1 : K!. que levem à esrabilidade, isco é, se, aproximaJ.t-
cho eferivo próprio nessa dimensão única, que pode ser repre- meme, d/ w > l.
Tempo (dia)
!>Cntado por uma curva de utilização de recursos (Figura 8.29). Esse modelo, portanto, sugere
FIGURA 8.28 (a) As culturas puras de três
A [axa de consumo de cada espécie é máxima nu centro do seu que exúte um limite para a semelhan- ,~o:::'..:r
(d)

,/
.,-cYEJ---
. 1
tipos da bactéria Pseudomonas ffuorescens
(liso= SM; rugoso [wrinkly spreader'j = WS:
e flocoso (fuzzy spreader'j = FS) concentram
nicho e cai até zero em ambas as extremidades, e quanro mais
as curvas de ucilizaçáo das espécies adjacemes se sobrepóem,
ça dos comperidores coexístences e
que cal limite é esrabelecido pela
s-··c;,,

seu crescimento em partes diferentes de um


<o. i ",., meio de cultura liquido. (b) Em frascos de
ranto mais cais espécies competem. Na verd.1de, admitindo condição d!w > l. São essas as rcsposras correras? De faco.

? ....~' o
cultura agitados, são mantidas as culturas
SM puras. As barras representam os erros·
padrão. (c) Entretanto, nos frascos não-agi·
que as curvas sejam disrribuiçóes "normais·· (no sentido esca-
cí~tico) e que as espécies diferences renham cun·as de forma
similar, o coeficiente Je competição (aplicável a ambas ases-
parece pouco provável que exista um limite universal de
similaridade, ou mesmo um que seja amplamente aplid,·el
e que se possa expressar de uma maneira cão simples como
tados, com culturas inicialmente puras de
SM (e). mutantes de WS (•)e FS (ª) sur- pécie adjacentes) pode ser expresso pela seguinte fórmula: d! w > 1. Abrams (l 976, l 983) enfatizou que os modelos
1
1 ••
gem. invadem e se estabelecem. As barras de comperição em várias dimensóes, com curvas alrernari-
representam os erros-padrão. (d) Capacida·
\ //' -~-:._~---- ',,~ i (8.18) vas de utilização de recursos, encre oucros, levam a limites
\ ~ __ _..,-----· -'-.. "'- '! des competitivas (taxas relativas de aumen-
de similaridade alcernacivos, e muitas vezes a valores d/ w
EY •
' EJ
4

!
to) quando um tipo inicialmente raro (base
da seta) invade uma colônia pura de um
outro tipo (topo da seta). Portanto, valores
> 1 indicam capacidade de invadir (compe·
c:m que w é o desvio-padrão (ou, aproximad.imeme, a "'largu-
ra relativa") das cur\"aS e d é a distância c:nrre os picos adjacen-
muicos mais baixos, comparíveis com coexistência estável e
sólida. Em ou eras palavras, "d/ w > l" é uma propricd.1de
tidor superior. quando raro), e valores < 1.
" incapacidade (segundo Rainey e Trev1sano,
1998. Reproduzido com permissão do pe·
nód1co Nature)
(a) (b)

,___ d------,-+-- d --:

Esp•me Espec1~ ~ spec1e Espécie Espécie Espec,e


ci.1~,l.o do<; nichos permiriri a coc:xi!>rênciJ e.srivel dos compe- 1 2 3 1 2 3
ncme e mJis des.1fiadora. Nesra seção. trata.mos de um con-
texto em que e:.ct> f! o caso: a,;; perguntas sohre quiio ditCrenres ridores Dessa forma, em uma rentariva de descobrir se isso
são os compecidores coexistenres e que grau de distinção deve cr.1 ··verd.1detro'', a pergunta "é necessârio que sejam <liferen·
ha.ver enrre espécies coexistentes para que .a comperiçáo não ce~ para coexisrir de forma estável?" foi um poderoso estímulo
\:
leve à eliminação de: uma delas. pJra as mentes dos ecólogos durante a década de 1940 (Kin· \i ,.'!'_~
O modelo de Lorka-Volcerra prevê uma coexisrencia es- g,land, 1985). /. \
civel de: competidores em siruJ.ções em que a compc:cição in- Contudo. amalmenre é fácil re- 1 / \ r '\

rerespecífica é. para ambas as espécies, menos imponanre do conhecer que a pergunta nio é .1pro- :-L........'....~~~~~'>---
Estado do recurso (p ex., tamanhos das part1culas alimentares) Estado do recurso
que a competição inua-específica. É evidente que a diferen- pri-1da, pois não define de forma pre-
cÍJÇ:Í.o dos nichos tenJerá a concenrrar mais os efeiros compe- cisa o -.ignificado de "diferences''. Vi-
FIGURA 8.29 Curvas de utihzação do recurso para três espécies que coexistem ao longo de um espectro umd,mensional de t1m recurso d é a
ririvos dentro das espécies do que encre elas. Porcanto, pode- mos ;1Jguns exemplos em que a coexisrência dos compecidores
distãncia entre os picos de curvas ad1acentes e w é o desvio-padrão das curvas. (a) Nichos estre11os com pouca sobreposição (d> w'I, isto é.
~e considerJr que o modelo de Locka-Volrerra e o Principio de esr.i aparencemenre associadJ a um cerro grau de diferenciJ.- com uma competição interespecífrca relat1varni?nte pequena. (b) Nichos mais amplos com maior sobreposição (d < w) ou se1a, com uma
Exclusão Competitiva indicam que qualquer grau de diferen- ç:io Jos nichos, mas. se examinarmos com mais atenção, veri- competição interespecílica relativamente intensa
;

i
_L

l
256 PARTE 2: INTERAÇÕES CAPÍTULO 8: COMPETIÇÁO INTERESPECÍFICA 257

pende". Modelos distintos, baseados em diferentes mecanis- baseac.:ét r:os Omra maneira importante de os
mos subjacentes do processo compericivo, prevêem que a evo- rect.:rsos e nas nichos se diferenciarem baseia-se nas 400
cond,çõe.5
lução leva a nichos mais amplamente espaçados, a nichos reu- condições (Wilson, 1999). Duas espé-
nidos de maneira mais compacta ou a uma disposição de ni- cies podem uriliza.r exatamente os mes-
chos basrance semelhante àquelas previstas pelos processo:. eco- mos recursos, mas se suJ capacidade para fazê-lo é influencia-
lógicos por si só (Abrams, 1990)_ da pelas condições ambiencais (como coscuma aconcecer), e se
Portanto, desca discussão emergem dois pontos. O pri- das respondem de forma diferences a cais condiçóes, então
meiro é que ela tem sido inteiramente teórica. Isso é um refle- cJ.da uma pode ser compericivamence superior em ambientes
xo do segundo pomo, em que remos observado progresso - distintos. Isso rambém pode expressar-se como uma dife~
mas em termos de perguntas sucessivas que subscicuem a5 an- renciação de micro-h.íbicars, uma diferença na distribuição
teriores, em vez de respondê-las. Os <lados proporcionam res- geográfica ou uma separação cemporal, dependendo se as
postas - o que remos observado é um refinamento das per- condições apropriadas \'ariam em uma escala espacial redu-
d/w guncas. Parece que, em última instância, as tentativas para res- Lida, em uma escala espacial ampla ou com o tempo. Nacu-
ponder às questões referenres à "'similaridade de nicho" rêm r.dmente, em vários cctsos (em especial com vt'gerais) não é
FIGURA 8.30 Garria de caracteristicas favoráveis do hâbitat (indi- dt' ser postergadas até que saibamos mJis sobre as distribui- f.icil distinguir enrre condiçóes e recursos (ver Capítulo 3).
cadas pelas capacidades de suporte K: e KJ. em que K, = K) que çóes de recursos, as curvas de uri!izaç,lo e, de maneir.1 nu1" Os nichos poJem ser diferenciados em:io rendo por bJse
permite uma comunidade de três espécies em equiHbno com diver- um fator (-.:orno ,l iguJ) que e tJnro um recurso qu.rnw
geral, os mecanismos subjacentes nJ competição de explou- Mmuart1a undlora
sos graus de sobreposição dos nichos (d1 w) (segundo May. 1973) 200
ção. A estes pontos é que voltaremos a seg1:tir. uma condi~ão. e

Exi:.tem muitos t'Xemplos de se- "oe.


sep2r2ç2-:. paraçio, no espaço ou no tempo, de ~
de um [Ípo Je modelo de an.ílise, mas na.o de outros e, 8.10 Diferenciação do nicho e mecanismos espécies competidoras, envolvendo ~ 100

assim. não dJ nJcurezJ como um wdo. Além disso. já vi- de exploração tamo plantas como animais. Por exem- ~ ' : ; , , : ; : _ ; ' . [ , ~ - ) Plànlula
mos que por causa da heterogeneidade ambienral e da com- plo, os ginnos de duas espécie~ de anuros (Hyla crucifer e Bujõ ·~-~--~ -~-: _..;. '.,,-.-~~ ~lo~~ç1ciª
perição apareme. enrre outros. a competição de exploração A despeito de todas as dificuldades para escabelecer umJ cone- tl'oodhousii) de New· Jersey, EUA, possuem uma defasagem em 1o 12 14 Matundade
e qualquer diferenciação de nicho a ela associada não cons- xão direta enrre a competição inrerespecifica e a diferenciaçJ.o ~eus períodos de ai i mentação de cerca de 4 a G semanas em Profundidade do solo {cm)
tituem necessarÍJ.menre toda a história quando se uaca da dos nichos, não há dúvida de que esta última é muitas vezes .r cada ano, ;iparencemenre associada a respostas diferenciais às
coexistência dos competidores. Isso rambém representa um base da coexistência das espécies. condições ambienrais e não às mud::i.nç.1s snonais dos recur- FIGURA 8.31 Zonação de 1nd1víduos, de acordo com a profundidade
argumenro contra a idéia de um limite universal. Os nichos podem ser diferencia- sos (Lawler e Morin, 1993). Duas espécies coexistenres de ca- do solo. de duas espécies vegetais anuais. Sedum smalfii e Minuama
dos de muitas maneiras. Uma delas é 1 diíe'e.~...: 12::,tr.., mundongos espinhosos de desenos rocho:ios de Israel exibem vniflora. em quatro estágios do ciclo de vida (segundo Sharrtz e Mc-
Por ourro Ltdo . .is informações gerais fornecidas pores-
c::cis ~ cn:Js Cormick. 1973)
<;es modelos iniciai:. -linda sáo válidas, a saber: (i) no mundo a partição dos recursos ou, de modo uma separação diárict: Acomys cahirinw é noturna e A. nwatw
real, com roda su.1. v.mabilid,1de intrínseca, provavelmente exis- mais geral, a urilização diferencial dos é diurna, embora a última ~e torne noturna se sua congênere
tt'/Jl limites à similarid,1de de organismos coexistentes que mos- recursos. Isso pode ser observado ;:, '.ac:.1 J::: for removidJ (Jones et a!., 200 l ). Dois besouros da casca, lps
1r.-.ag r-3~ er1
tram competição de exploração; e (ii) cais limites refletirão quando algumas espécies que vivem ar1rna1s. mas
duplicatw e !. rypographw, consumidores do íloema do espru- Contudo, a descrição do resulrado da compecição - 'uma
náo apenas as diferenças enrre as espécies, mas também a va- exatamente no mesmo hábirat utili- í':"'~n'JS '?I. ce da Noruega, enconrram-se separados em seus locais de ali- espécie coexisre com ou exclui a ourra'' - e mesmo sua associação
riabilidade dentro deL1.,;;, J natureza <lo recurso, o ripo de cur- zam, todavia, recursos diferentes. Uma ,ege;a1s mc."ntação em um escab espacial muiro pcquenJ, segundo o com a diferenciação do nicho, seja baseada nos próprios recmsos
va de utilização, t'rL. vez que a maioria dos recursos dos anl- ddmerro do tronco, embora o motivo desse comportamento ou nas condições ou em meras diferenças espaciais ou temporais,
Porém, é realmeme a pergunta nuis são os indidduos de omras espécies (dos qtui,;; hJ literal- n.ío esreja de rodo esclarecido (Schlyrer e /\nderbrandr, 1993). nJ real1d::i.de nos propKiJ pouco enrendimemo do processo com-
sobre a simiL1rid.1de limitante a melhor mente milhões de tipos) ou partes de indivíduos, em princi- Todavia, é emre as plamas e omros organismos sésseis que as peririvo. Como [emos repetidamente ob,ervado neste capíndo, é
que se pode propor? Queremos com- pio não há dificuldade em imaginJr como os animais compe- 'it'.'parações espaciais e temporJÍs provavelmente sejJm de im- por isso que devemos enfocar m::i.is os mecani::,mos da exploraç.fo.
preendc-r o gr.rn de diferencia~ão do ridores podem repartir cais recursos emre si. :\~ plantas, po1 ronância p:Hricular, por cau,a J,1 sua margem limic:idrt p,tn a Como, exatamenre, uma espêcie pode levar \'antagem sobre outrJ
nicho emre ,1:i c."'-pt:c1n coexistente .... Se .1s espécies estivessem ourro lado, têm necessidade~ muito semdhJnre.s dos mc:-1110'> urilização diferencial dm rt'cur.<,m, no mesmo local e no mes- nJ explorJçjo e na (ornpctiçáo~ Como dois consumidores podem
:ic:mpre di:.~1mta:, LL ~ornn mai:. ,1ju:i[.1d.1 pos\Ível, então pre~u- recur~os potencialmeme limir.uios (\-er Capirnlo _)), e e,i·m.· mo insranre (\'er H.1rpe~. J lJ7"7). Enrreuntu. como sempre. LOexi:.rir J. parm <le <lo1s recurso:. limirantes, qu.rndo .1.mbo) ...:io
miveimence das diferin,1m pel.1 mínima. (l1mir.1.nre) quantida- umct margem muirn menos aparente: pJLl a partiç:ío dm me:i- unu coisa. é demonstrar qu~ JS e\pécies diferem em sua <lism- .1bsoluc.unenre essenciais p.tra os dois consumidores?
de. f'.!Js por que devniam fazê-lo dcss,1 maneira? Volcamos, mos (m.1.s ver a seguir). buiç:i.o t'spaci.il ou temporal e outra basLHHe diferente é pro- .-\km disso, como -1 ilman ( l 990)
mais uma \·ez, :1 di:.unç:ío entre as conseqüências ecológicas e Em muiros casos, os recursos, u:.ado<i por espécies ecolo- \",lí que isso tem algo a ver com J competiç::io. A:. taboJs d.1 salientou, enquanrn o monicoramen-
JS consequênci.1s evolutivas da competição (Abrams, l 990). gicamente similares estão separados espacialmence. A urdiza- S.:)-.ÍO 8.3 . .? proporcionam um exemplo de plantas que com- ro da d m.im ica das popul.1ções de duas
Os efeims ecológicos consistem cm que .1., espécies com nichos ç:io diferencial dos recursos enrão ser.í expressa na Jiferenci,1- petem e estão separadJs esp,1cialmenre. Outro exemplo é :tpre- espécies compeci<lorJs pode fornecer
"inapropriados'' ser:l.o eliminadas (ou repelidas, se tentarem in- ção de micro-hábitar entre ::i.s espécies (p. ex., espécies diferen- St:"nc::i.do na FigurJ 8.31. a respeito d::i.s espécies anuJis Sedum um cena poder <le previsJo para a pró-
vadir), e a pergunu sohre a simibri<l.Hie limitante fica reduzi- ces de peixes alimenrJndo-se em profundidades disrintas) ou ;ntallii e Afmuartid wuj?om que dominam a vt'gecação que xinu \·ez que compir.im, n:io será de gr.mde ajuda para prever
da a: quanus espécies podem ,;;er ·'amonroadas"? Todavia, os mesmo na diferença na distribuiç:io geográfica. De form:i al- cresce sobre atloramenws graníticos no sudeste dos EUA. As como c.a<l.i umJ reagiria contra uma tercelr.1. espécie. Por oucro
compeci<lores coexisccntes t.unhém podem evoluir. Em geral, rernaciva., .1 disponibilidade dos diferentes recursos pode estar pLmtas adulras exil:iem uma zonaçáo e,;;peci.1.lmenre clarJ .1:.so- Ll<lo, se compreendermos J dinâmica dJ incer:1ç.ío de tod,ts as
observamos os et~iros ecológico:. ou uma combinação de efei- separada no tempo; por exemplo, os diferences recursos poJem ci,H.b à. profund1d.1.de do solo (por sua vez, bastante correlJ- e~pécies com seus recursos limitantes que compJrtilh:1m, en-
rns ecológicos e evolutivos? Eles diferem? Não podemos tentar estJr disponíveis c:m discintos mamemos do <li;i em diferente:> ciun~1d;1 com a umidade do solo), e os resultados experimen- cJo poderíamos ;;c:r cap.ues <le prever o resulrado da compecl-
responder à. primeir.1 pergunta :.em re:.ponder à segunda, e a
resposta a esta últtmJ parece ser, rakez ineviravelmenre, "de-
esrações do a.no. O uso diferencial dos recursos pode em.lo ser
expresso como uma separ.ição temporal encre J.S espécies.
uis reforçam a hiplítese de que é .1 compeciçio, e nâo JS meras
<liferenç:1s dt'.' roler:incia, que di origem a e'.'>Sa zonaçio.
çâo de exploraçâo entre qualquer par dei.is. Portanro, volu-

me, ''"" , ,1,,m,, ,'"'"'," '"' esellw , coc" "'"'" ª'_ . j


---- ----- --~ -
258 PARTE 2: INTERAÇÕES CAPÍTULO 8: COMPETIÇÁO INTERESPECÍFICA 2 59

espécies que compecem pelos recursos limirantes e que explici- 1991 a. 1991 b). Cmco espécies de gramíneas foram culrivadas
camenre consideram não apenas a dinâmica das espécies com- isoladamente sob uma gama de condições ambientais, que. (b) (e)
N-nivel 1 N- n1vel 1 N-nivel 1
petidoras, mas também a dinâmica dos próprios recursos. Mais por sua vez. originaram uma gama de concencrações de nitro- 400
do que entrar nos detalhes dos modelos, examinaremos seus gênio. Du.1s espécies, Schizachyrium scoparium e Andropogon 200
..1speccos gerais e algumas das conclusões mais imponanres. gaardi, reduziram consistentemente as concentrações de ni- 100
50
rraco e amônio nas soluções do solo a valores mais baixos do
20
que os alcançados pelas outras três espécies (em todos os solos, 10
8.10.1 Exploração de um único recurso exceco naqueles com níveis muito mais altos de nitrogênio). 5 .
Das outras três espécies, Agrortis scabra deixou concentrações
Tilman ( 1990) moma. para diversos mais aJras do que as outras duas, Agropyron repem e Poa pratewis. 1
o~~~~~~~~~~--'
modelos, o que foi demonstrado em- Quando A. smbm cresceu com A. repeus, S. rcoparium e A. ge1tir- Plâ~tu\as 1986 1987 1988 Plãntulas 1986 1987 1988
piricamence na seção 8.2.6, que, quan- di, os resultados. especialmente em concentrações baixas de ni-
do duas espécies compecem mediante trogênio. onde era mais provável que esse elemento fosse limit.m-
exploração por um recurso limicance, o resultado é determi-
nado pda espécie exploradora capaz de reduzir o rc"curso até a
re, estiveram de acordo com a teoria da competição de exploraçio
(Figura 8.5::'.). Sempre ganhou a espécie capaz de reduzir o nitro-
E ~Er N- n;vel 2 . ~
;:(-n,vel 2
100r
N - nivel 2

concemr..1çáo de equilíbrio mais baix.1, R•. (De modo satisfa- gênio J co11centraçJ.o n1Jis baixa - A. seitbnr foi sempre dcsloc.1JJ

1~
tório p.1ra a competição aparente o invc-rso é verdadeiro: a presa compeririv,1mente. Um resultado semdhJnte foi abrido par.1 o PJ 20
ou hospedeiro capaz de= suscenr..u a abundância maior de pre- geco (Ht•11útl1cry!wfie11atw), uma espécie deJagarrixa insetívora m 10

dadores ou parasiros é o vencedor [ver, por exemplo, Begon e noturna inva.<.ora de h.íbitars urbanos na baciJ. do Pacífico, onde ~ 5
cii 2
Bowers, 1995] - uma previsão que vimos confirmada na Fi~ é re!>pomávd por declinios populacionais do geco nativo Lepido- 1
gura 8.17) di1crylw lugubrú. Perren e Case ( 1996) verificaram que os inserns
Plâitulas 1986 1987 1988 Plântulas 1986 1987 1988 1987 1988 1989 1990
Modelos disrimos. baseados em deralhes diferentes sobre o represencam um recurso limitante para ambas as espécies. Em
Ano Ano Ano
mecanismo de exploraç.í.o, originam dit'ê::remes formulas para R·. recintos expenmentais fech.1dos. H..Ji'e11atus é cap.u de exaurir os
mas mesmo o modelo mais simples é revelador, proporcionando: recursos (insetos) a níveis mais baixos do que l. lugubns, sendo 209'.
50%
que, em comeqüência, esca última sofre reduçóes na condiçáo 80'%
(8.19) corporal. na fecundidade e na sobrevivência.
VocJ.ndo às gramíneas de Tilman, as cinco espécies fo-
Em que m 1 é a taxa de mortalidade ou de perda da espécie ram escolhidas de vários ponros de uma seqüêncid de sucessJ.o FIGURA 8.32 Resultados de experimentos de competição em que Agrostis scabra (hnhas pretas) foi deslocada competitivamente por (a)
Sch,zachynüm scoparium, (b) Andropogon geradi e (e) Agropyron repens (linhas cor de laranja), a dois niveis de nitrogénio (ambos baixos) e
consumidora i; C1 é a concentração do recurso na qual a espé- ripic.1 de campos abandonados em Minnesora (figura 8.330).
em função da densidade inicial de semeadura: 20%, 50% ou 80% Em todos os casos, A. scabra exibiu valores mais baixos de R" para nitrato
cie r alcança a taxa de crescimento e reprodução por unidade e é evidente que as melhores competidoras por nitrogênio são e amônio (ver texto). O deslocamento fot mais lento em (e), na qual o diferencial era menos marcado (segundo Tilman e Wedin, 199b)
de biomassa (caxa relativa de aumenro, TRA), que é igual à as encontradas mais CJrde na seqüência. Estas espécies, e em
metade de sua TRA máxima ( C1 é, desse modo, a mais elevada parricu\.ir S. ffoparhm1 e A. gerardi, rinham alocações mais
nos consumidores que necessitam de mais recurso para crescer altas p.ua as ra.ízes, mas taxas de crescimenro vegerarivo acim.1
rapidamente); e g 1 é a TRA máxima alcançável pela espécie i. da superfkie do solo e alocações reprodutivas mais baixas (p. do com a competição intra-específica, podemos definir uma as concentrações dos recursos até o "ponto de oferta", mostra-
ls.so sugere que os competidores exploradores bem-sucedidos ex., FigurJ 8.33b). Em outras palavras, elas alcançaram \'Jlo- i5olinha de crescimento zero para uma espécie utilizando dois do na fi~ura.
(R,s baixa) são aqueles que combinam a eficiência de uriliza- res ha1xos dt: R~ mC"diante uma alta eficiência de utilizaç.ío dt: recursos essenciais (ver Seção 3.8). EssJ isolinha é o limire en- Pa;a passar da comperição incra-especifica para a útteres-
çáo do recurso ( ( baixa), taxas de perdas baixas (m1 baixa) e recursos qut: as suas ra.ízes proporcionavam ( C1 baixa, Equ.1- tre as combinações de recursos que permicem J ::.obrevivêm:ú pecífica, é necessário sobrepor as isolinhas de duas espécies no
t,LXJ.S de Jumento alras (g1 alta). Por outro lado, é possível que çio 8 19), t"mbora pareça que pagaram por isso com uma rt'.'- e ,l reproduçâo da espécie e .1s combinJções de re(ur:>os que mesmo diagrama (Figura 8.35). As duas espécies presumivel-
um organismo não possa combinar, digamos, C 1 baixa con1 g 1 duçJo 11-t'> ux:1s de crescimenm e reprodução (g, nuis b.llxa). nío permitem (Figura 8.34). Porcanco, da representa o limite mente terão taxas de consumo diferentes, mas continuará ha-
Jlu.. O crescimento dt' uma pl..intJ será mais estimulado pela De fuu. leundo ern COIHJ rodas as espécies, um máximo de do nicho da espécie nessas duas dimensões. P.trJ. o:, presentes vendo um só ponto de oferta. O resultado depende da posição
de')riiução de matéria e energia p.ua suas folhas e para a foros- -.3~,') d.t \·.ui.inci.1 na concencraçJ.o final de nicr;ito no solo cn propósitos, podemos ignorar as compliuçOe~ (.b sobrecom- desse ponco de oferta.
c;Íncesé' - nus. p.1r.1 incensifiur -;u.1 eficiénci:1 n:.i ucilizaçâo de expl1c.d.1 ~wl..'.) uri.1çõcs da nussa de rJ.ízes ( filnun e \X'edin. pcns,tçáo. do caos, ecc.. e assumir que J compcriç,J.o intrJ.-es- Na Figura 8.35a, a isolinha da es-
nurrieme::., elJ deH·rÍJ destin.í-!os às 1.tízes. üm.1 leoa seria mais 199 l .1). l1oru11to, pJrece que nessa sequência dt" suco;;,10 (Yer pccífica leva a populaçâo a um equilíbrio e~c.ivd. Aqui, comu- pé'-ie A se situa mais próxima J ambos
cap.1z <le .rnbsisrir com densidades baixas de presas medid1He a Seção I G."-i p,ua um.1 discussâo mais Jprofundad,1 .')Obre su..._~~- do, o equilíbrio cem dois componentes: canto o um:.inho d:1 o~ eixos do que a isolinha da c::.pécie B.
velocidade e a maneabilida.de - mas isso seria difícil. pois com '.\.Ío) ,b c'>pt:Lies que uescem e se reproduzem m.1is rjpido s.ío população como os níveis de recurso~ dc:veri.1m permJnecer O ponto de oferta pode ser encontrado
frequC:nci.1 ela ..1.umencJ de peso por Cdusa das gestações. Por subsrituíd.b por explor.1<loras e competidoras efioenres e po- Lonscances. O tamanho da população é consume (por defini- em três regiões. Caso se encontre na região l .•1baixo da.,; isolinha.s
isso, a compreensão <lo êxito na competição de exploração pode derns.1'). çio) em rodos os ponrns da isolinha, e Tilman es[3beleceu que de ambas JS espécies, nunca haveria recursos suficiemcs e nenhu-
exigir, em úlrima inscincia, a compreensão de como os orga- existe apends um ponto da isolinha em que os níveis de recur- ffid das espécies sobreviveria. Caso se enconrre na regia.o 2. abaixo
nismos alcançam uma relação (trade ojf) entre características sos são também constantes (ponto s·
na Fígura 8.34). Esce da isolinha da espécie B e acima da isolinha da õpécie A, a espé-
que originam valores baixos de ~ e características que favore- 8. 10.2 Exploração de dois recursos ponco, que é o equivalence de !(- quando exi . . cem dois recur- cie B nJ.o seria capaz de sobreviver, e o sistema se equilibraria
cem oucros aspectos da eficácia biológica. '.)OS. represenra um balanço entre o consumo de recursos pelo sobre a isolinha dJ. espécie A. CJ.SO o pamo de oferta se encontre
Um tesre raro dessas idéias é pro- Tilman (1982. 1986; ver umbem Se- consumidor (que leva as concentraçôes dos recurrns pdía a na região 3, o sisrema se equilibraria igualmente sobre a isolinha
''-""-' porcionado pelo trabalho de Tilman ção 3.8) também considerou o que parte inferior esquerda da figura) e a renovaçlo nJmra! dos da espécie A. De maneira análoga ao caso de um único recurso, a
e.;-, 1 êJ:; sobre p\Jncas terrícolas competindo acontece qu.1ndo dois organismo:, recursos (que leva as concentrações para J. pane superior direi~ esfXcie A excluiria compc:ritivameme a espc:cie B. devido J. sua
por nitrogênio (Tilman e ~'edin, competem por dois ré'cursos. Inician- ta). De faca, na ausência do consumidor, a renovaçio lé'\'Jri,1 capa.cidade de explorar ambos os recursos até os níveis em que a

l
260 PARTE 2: INTERAÇÕES
r
:11 CAPÍTULO 8: COMPETIÇÃO lNTERESPECietCA 261

,· f Parece então que as duas espécies podem competir por


(a) (b) A. scabra S scopaflum dois recursos e coexiscir, desde que duas condições sejam
25
cumpridas.
1
Poa pratens1s
1. O hábim (isto é, o ponto de aferra) deve ser tal que uma
j y
das espt:'.cies seja mais limitada por um recurso e a ourra
Sct>,zachynum >, espécie por outro recurso.
scoparium l lsolinha de 2. Cada espécie deve consumir mais do recurso que !imita
Agropyron
repens
crescimento seu próprio crescimento. Assim, é possível, em princípio.
Andropogon
"':;--J - }..-.- ~- liquido zero
compreender a coexistência de plantas competidoras com
gerard1 o o
o 300 600 900 1 200 o 300 600 900 1 200 base na utilização diferencial dos recursos. A chave parece
Agrosfls
scabra A repens A. gerard, ser umJ consideraçJo ex:plícira da dinâmica dos recursos,

i
. bem como da dinâmica d.is espéoes competidoras. Como
t'm ouuos casos de coexistência por diferenciaçdo dos ni-
Idade da sucessão (anos) 6 FIGURA 8.34 lsolmha de crescimento zero de uma espécie potencial- chos, J essência baseia-se no farn de que, para ambas JS
1 m~nte J1m1tada por dois recursos (X e Y), que separa as combmações
de recursos que per;-n1tem a sobrev1vênc1a e a reprodução da espécre
oaquelas que nào permitem Neste caso. a isollnha é retangular por-
espécie~. ,l compcri~do intra-especítlc.1 é uma forç.1 nui:,,
poderosa do que a Lompetição mrerespecíílca.
que X e Y são recursos essenc1a1s (ver Seçào 3.8.1 ). O ponto S é o
unico da 1soo1nha em que também nào existe mudança liquida das con- ..\ melhor evidi:ncid da validade do modelo procede do 1r.1ba-
:entrações dos recursos (o consumo e a renovação sào iguais e opos-
o lho expetimenral de laboratório do próprio Tiln1Jn sobre a
o o
tos). Na ausência do consumidor, a renovação do recurso levaria a
o 300 600 900 1 200 300 600 900 1.200 concentrações dos recursos até o "ponto de oferta'' mostrado. comperição entre as diatomáceas Asterionell11 jàrmos11 e C)'do-
P. pratens,s Nitrogênio total (N) cio solo (mg kg-1)
tel!a meneghiniana (Tilman, 1977). Para ambas as espécie~.
Tilman observou direramente as rax:is de consumo e as isoli-
regiJo 3. ao contrário, ambas as espécies são mais limicadas nhas p.1r J o fmfato e os silicaros. Ele utilizou esses <l.1do" para
por Y do que por X. Porém, a espécie A pode reduzir o nível prever o resultado da competição com uma gama de pomos
dt' Y a um ponro de sua própriJ isolinha abaixo da isolinha de de oferta dos recursos (Figura 8.35). Finalmente, ele efetuou
H, onde esra espécie nJ.o pode exisúr. De maneira contrária, vários experimenros de competição com diversos ponc.._1s de
~).tra os poncos de oferra d.1 região 5, ambas as espécies são mais oferca. cujos resultados estão ilustrado::, na Figura 8.3(í. N;i
limicadas por X do que por Y, mas ,1 espécie B reJuz o nível de maioria dos casos, os resultados confirmaram as previções. t\os
o~~~~~~~~~
X a um ponrn ab.i.ixo da isolinha d.1 espécie A. Assim. nas re- dois casos em que não ')e ajustaram, os pontos de oferu esta-
O 300 600 900 1.200 giões 3 e 5 ..1 ofen.1 de recursos favorece uma espécie ou a oucra vam muiro próximos ao limitt' region.il. Porcanm, os re:;;ufra-
Nitrogênio total (N) do solo (mg kg- 1 )
e há exclus.í.o competitivJ. dos são alenradores. Contudo, foi muiro difícil transferi~ essa

FIGURA 8.33 (a) Abundâncias relatrvas de cinco espécies de gramíneas durante as sucessões de campos abandonados em Cedar Creek
Natural H1story Area, Minnesota. EUA. (b) As razões raiz: parte aérea geralmente foram mais altas para as espécies encontradas mais tarde na
sucessão e declinaram à medida que o nitrogênio do solo aumentava (segundo Tilman e Wed1n, 1991a)
(a) (b)

e~pécie B não poderi.1 sobreviver. N:uuralmeme. o resulrado seria espécie A se encomra mais limitada pelo recurso X do que
o irwerso. se JS pos1eJ)eS <la.'i Í:,olinh.ls fossem in\'errld,lS. pelo recurso Y. eni..Juanw a espécie 8 é mais limitada pelo ir:-
NJ F1gurJ 8.35b. as isolinhas dJs curso Y do que pelo X. Toda\·ia, a espc'.cie A consome m.ti::i X
1) 0,,, '~
Ju.l:, espé-ocs se sobrepõem e existem do que Y, ,lü p,1sso que J espécie B t:onsome nuis Y do que:\.
seis regiôe~ em que o ponto de oferu Uma \'eZ que cada espécie Lonsome mais do recurso que lirrn- ICLZ 8
'
,' ,,... ,~·
podcri,l ser encontrado. Os pontos da CJ m.1.is o seu próprio crescimenro, o sistema se equild,n 1u
~-,::-_:_ --------~-1cLz ..
regiio 1 se encontram abaixo das duas inrersecção das duas isolinhas. e es.'ie equilíbrio esr;l\·el: ,t.'i e ®
- - - - - ~ --- ICLZ,., (i) 1
isolinhas e niu permiririam a exiscên- espécies coexistem. - - - - - 1 C L Z9
cia <le nenhum;1 d.1~ du.1s espécies; m da região 2 esrão abaixo Trata-se de diferenciação dos ni-
y
dJ im!1nhJ d.1 r:spécie B e permiririam a exiscência apenas da chos. mas de um ripo sutil. Em vez de
espécie A; e os JJ região 6 se encomrJm abaixo da isolinha da as duas espécies explorarem recursos
espécie A e permiriri,un a cxim~ncia apenas <la espécie B. As diferentes, a espécie A se aurnlimiu FIGURA 8.35 (a) Exclusào compet1t1va. a 1sollnha da espécie A (1solinha de crescimento liqwdo zero. ICLZA) s,tua·se mais próxima aos eixos
dos recurs~s do que a isol1nha da espécie B (ICLZ 8 ). Se o ponto de ofe0a do recurso. se encontra na região 1. nenhuma das esp~cies pode
regiões 3, 4 e 5 ~e loc.ilizam demro dos nichos fundamentais desproporcionalmente pe!J. sua explo- ex1st1r Porem. se o ponto de oferta do recurso está na região 2 ou na reg1ào 3. a espécre A reduz as concentrações dos recursos ate um ponto
de amb.ts as espécies. Concudo, o resukado da competição ração do recurso X, enquanto a espé- da sua própria 1sohnha (em que a espécie 8 nào pode sobreviver nem reproduzir-se). a espécie A exclui a espécie 8. (bJ Coex1s1ênc1a potencial
depende da regiao cm que o pomo de aferra esti situado. cie B se autolimira desproporcional- de dois competidores limitados por dois recursos essenciais. As 1so1tnhas das espécres A e B se sobrepõem, produzindo seis regiões de
interesse. Com os pontos de oferta na regiào 1, nenhuma das espécies pode existir: com os pontos nas regiões 2 e 3. a espécie A exclui a
A regiio mJL\ ..:ruciJI d.1 figura 8.35b é a 4. Par.1 os pon- meme pela sua ex:plorJção do recurso Y. O resultado é a coexl,- espécie 8. e com os pontos nas regiões 5 e ô, a espécie 8 exc!u1 a espécie A. A regiào 4 contém pontos de oferta situados entre os li'Tlttes
ro,,, <le ofrrra .'iÍcuados nda, os níveis <le recursos são tais que J tência das espécie competidoras. Par.i os ponrns de ofcrcJ LiJ def1n1dos pelas duas linhas traceiadas. Com os pontos de oferta na região 4. as duas espécie coexistem. Para mais detalhes. ver o texto

J
262 PARTE 2: INTERAÇóE5 CAPÍTULO 8: COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICA 2 63

é basrance dominada por uma única espécie, o índice ficará


próximo a l; quando a biomassa de duas espécies coexis-
tentes se iguJla, o índice é 2; etc. De acordo com a teoria
da compec1çáo por recursos, portanro, esse: índice deveria
aumenrar em proporção direta ao número de recursos limi-
rantes do crescimc:nro. A Figura 8.37 apresenta os padrões
espaciais e cemporais da diversidade ficoplanctônica nos três
lagos, para 1996 e 1997. Os principais recursos limicanres
ao crescimenco do ftroplânccon são o nitrogênio, o fósforo,
o silício e a luz. Esses parâmecros foram medidos nas mes- ~~ 15
mas profundidades e simultaneamence às amostragens do §
ficoplânccon; foi observado onde e quando qualquer um ê
a. 30
dos farores limit.rnres potenciais realmentt ocorreu em nl- FIGURA 8.37 Variação na diversidade em
espécies htoplanctônicas (índice de Simp-
vc:is abaixo dos limices limiares para o crescimento. Em
son) em dois anos. de acordo com a profun-
conformid.1Je com a recria da comperiçáo por recursos, a didade de três lagos grandes na região de
20 40 60 80 100
di\·ersid,1de cm e~pécies crc:sceu à medida que a 4uJntidade Yellowstone, EUA. O sombreado indicava-
Concentração de S,02 (µmoJ l- 1)
riação em profundtdade-tempo, em um total
de recur~os em níveis fisiologicamente limitantes aumen-
de 712 amostras discretas: a áreas em la·
C. menegh,niana vence tou (Figura 8.38). ran1a-escuro denotam diversidade em espé-
A formosa vence Esses resulrados sugerem que mesmo nos ambienres al- M A M A S Índice de cies alta e as áreas em cinza indicam diver-
96» 97>> diversidade de sidade em espécies baixa (segundo lnter-
,. Coexistênoa estável camente din.imicos de lagos, onde as condições de equilíbrio Simpson
---· - - · - · -·----· ___: Mês landi e Kilham. 2001)
são raras, a comperição por recursos desempenha um papel n.1
contínua esrrurnração da comunidade ficoplanctônica. É ani-
FIGURA 8.36 As isolinhas observadas e os vetores de consumo de mador que os resultados de experimemos execurados no mundo
duas espécies de diatomâceas, Asterionelfa formosa e Cyclotelfa
meneghiniana, foram utilizados para prever o resultado da competi· arrificial do laboracório repercutam em um ambiente natural podt:m rer evoluído independencemenre e, de fato, nunca u:- de competição no passado e com a evolução independente de
ção enlre elas por silicatos e fosfatos. As previsões foram depois tes- muiro mais complexo. r::'.'111 competido. no presence ou no pJss.1do. Cma manipula- espécies não-competidoras.
tadas em uma série de experimentos. cuias resultados estão repre- '.':osso exame da competição inrerespecífica é concluí- çJo <.:xperimenral (a remoção de uma ou mais espécies, por Os modelos macemácicos, entre os quais o mais notável
senlados pelos símbolos explicados na legenda. A maioria dos expe-
rimentos confirmou as previsões, com exceção de dois casos situa- do com a convicção de que necessitamos compreender mui- ._,\.:-mplo) pode indicar a ocorrência de comperiçJ.o presence se é o de Lorka-Volterra, rêm proporcionado importantes dis-
dos 1unto ao limite regional (segundo nlman. 1977. 1982). to mais .1 respeico dos mecanismos subjacentes às inrer.1- d.t kv,1r a um aumento da. fecundidJ.de, d.1 sobrevi\·ênci,1 ou cernimentos sobre as circunstâncias que permitem a coexis-
ções entre consumidores e seus recursos. Se esses recurso,;; d.i abundànciJ das espécies remanescenct:s. Porém, ri:~ulcados tência de compecidores, bem como sobre as que levam à ex-
sJ.o vivos, normalmenre nos referimos a cais interações como nt'g,tcivos seriam igu.1lmenre compatívei.'I com :1 eliminação clusão competitiva. Contudo, as suposições simplificadas do
predação; e se eles já foram vivos, mas agora estão morros. passJda de espécies por compeciçlo, com a e,·iução evolucivJ modelo de Locka-Volcerra limitam a sua aplicabilidade às si-
abord.1gem do bborarório, onde os pontos de oferca podem nos referimos a elas como derritivoria. Portanto, poderiJ tuações reais na nacureu. Constatamos, por meio de outros
ser manipulados. para as populações naturais, onde é impraci- parecer que a distinção normalmence fc:ica enrre competi- modelos e experimentos, que o resultado da comperição ince-
dvd a manipulação e pracicamence impossível a estimativa ção e predação é artiftci1!, em um sentido basca me real (Til- respecífica pode ser baseante influenciado por ambientes hete-
dos pomos de ofen.1 (Sommer, 1990). Existe uma necessida- man, l 990). N.lo obsrance, rendo natado aqui da competi- rogêneos, inconstantes ou imprevisíveis. Pode haver a ocor·
d<: considerável de consolidação e extensão desse trabalho a ção, em umJ série: separada de capírulos, voltaremos à pre- rência de um competidor superior e um inferior em um recur-
T
e
ourros ripos de vegerais e animais. dação e J derritivoria. o so fragmencado e efêmero, se as duas espécies tiverem distri-
~
2
1l. r =0996

~v
E buições independentes e agregadas sobre os fragmentos dispo-
ui
~ 3 :r l.
níveis.
8.10.3 Exploração de mais do que dois recursos Descrevemos a gama de .ibordagens usadas para escudar
os efeitos ecológicos e evolucivos da compeciçlo incerespecífi-

i:~
"' ;r
V11110s como as espécies de diarom:i-
ceJ::. podem coc:xistir no laboratório
'.\".1 cornpe(1~Jo imerespecífica. os individuas de uma espécie
sofrem rcdu~.í.o na fecundid.1de, no crescimenro ou 1u sohre-
j c1. dedicando arençá.o especial aos experimencos no lahoraró-
rio ou no campo (p. c:x., experimemo,;; de subscimiçâo, experi-
explorando dois recursos limitanres co- \"tvênci.1. como consequência da exploraçJo de recursos ou in- mentos de ;:idiç:io, análise J.e superfície de resposta) e a experi-
muns. De faro, a teoria sobre compe- cerferênc1a por indi\·íduos de omra espécie. As espécies com- mentos naturais (p. ex., comparação de dimensões de nichos
riçjo de: recursos de Tilman prevê que: pe;tidor.1~ podem excluir uma outra de h.íbicats particulares, de espécies em simpacria e alop:nria). Vimos que a importJnte
J d,ver,;idade de espécies coexistentes deve ser proporcional ao de moJo que elas não coexistam, ou podem coe;xiscir, talvez 1 2 3 pergunta sobre a necessidJ.dc: de um grau mínimo de diferen-
número rotai de recursos em níveis fisiológicos limitances de mediante :1 urilização do hábicar de maneiras um pouco dife- n = 23 n =100 n = 14 ciação de nlchos para a coexistência estável é mais fácil de
um sistema: quanto mais limitanres são os recursos, mJis os rc"nte~. A competiç:lo incerespecífica é muitas vezes alramc"rHe Recursos ltm1tantes medidos formular do que responder.
competidore~ coexistem. lncerbndi e Kilhan (2001) testaram assimérriCJ. O capírnlo cermina com o reconhecimenco da necessi-
essa hipótc:se direramence t'"m crês lagos da regiio de Yellows- Ernhnra as espécies po.ssam não estar comperindo no FIGURA 8.38 Diversidade htoplanctônica (rnd1ce de S;mpson; média dade de considerar não apenas a dinâmica populacional dJs
rone de 'X'yoming. EUA, utilizando um índice (índice de Simp- presente. sc-us ancestrais podem rer sido competidores.As e.'\- :t EPJ associada a amostras com quantidades diferentes de medi· espécies competidoras, mas rambém a dinâmica dos recursos

_J
son) da diversidade de espécies do fooplâncron (diacomáceas ções de recursos llm1tantes Foi possível executar eSI?- análise de 221
pécies pudem ter desenvolvido características que garanrem pelos quais elas está.o compecindu, se desejarmos alcançar uma
amostras a partir daquelas ex1b1das na Figura 6.14 E apresentado o
e OLHras espécies). Se uma espécie depende de si própria. o que el.t.'I ...:ornpiram mc:nos, ou nem compitam, com outras número de amostras (n) em cada classe de recursos l1m1tantes (de compreensão completa da competição inrerespecit"ica e da co- 1
índice é igual a l; em um grupo de c-spécies em que a biomJ.s~a espécies. Ak:m disso, as espécies cujos nichos se diferc:nciaram lntertandi e Ki\ham. 2001)

"'"'º''' J,, ""'"'º -

1
CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÁO 265

siros", como os afídeos e a.s larva::., são tracados neste e no pró- narnral favoreceu padrõe.':i particulares de comporcamenro cm
ximo capículo, no qual os reunimos com predadores, pasrado- circunstâncias especiais (como, do pomo de vista comporta·
res e parasitóides, sob o termo colecivo de "predador". meneai, os organismos se adapcam ao seu ambience). Em se-
O grupo dos parasicóides é cons- gundo lugar, os distintos aspectos do comporcamenro preda-
ticuído principalmente por insetos da tório podem ser vistos como componentes que se combinam
ordem dos himenópceros, mas inclui também muicos dípte- para iníluenciat a dinâmica de populações do próprio predo-
ros. Os adultos sã.o de vida livre, mas ovoposicam em, sobre ou dor e de sua presa. No próximo capitulo, a ecologia de popula-
perco de outros insecos (ou, mais raramence, em aranhas ou ções da predaçJo será cracad.1 de maneira muito mais completa..
isópudes). O parasitóide larval se desenvolve no incerior ou na
superfície do seu hospedeiro. Inicialmente, a larva causa. um
d.mo pouco aparence ao hospedeiro, mas por fim o consome 9.2 Herbivoria e plantas individuais:
qu.t.':ie rncalmente e, porcanro, acaba matando-o. Um parasirói- tolerância ou defesa
dc .t<lulro emerge do que aparencemente é um hospedeiro em
dt:-1.:nvolvimenro. 1\luitas vezes, apenas um parasiróide se de- Os efeicos da herbivoria sobre uma plant.1 dependem dos herbí-
sen\-olve em cad.1 hospedeiro. porém. em muicos c.1sos, vários voros en\'olvi<los, das pJ.rtes d.1 pbmJ .1t"euda.s e do mamemo do
inJH·íduos com~unilhJm um hospedeiro. Assim, o:,, parJsicói- ,uaque com rd.1<.;Jo .10 de~em·okimemo da pl.11H,1. Em .dgu:nJs
9.; lntroauçao: tipos de predddores vidJ, nlJtJ.m muicas ou difúentes presJ.<., com freqüênci,1 con- ~ln Lstlo innmameme J::..':ioci.ido~ com um único hospedeiro interações inseto-plam.1. para produzir I g de bionuss.t de in.:,,eCO
sumindo-as na sua rotalidade. A mJioria~dos carnívoros m.1is tcomo os parasiros) e n.io caus.un J. morre imediata deste (como são neccs.s;irios até 140 g de cecido vegerJ..I e, em outros casos,
Os co11sumidore\ .1fcr,u11 a distribuição e a abundànci.1 do que conhecidos, como os tigres. :íguias, bt'souros cocindídeos e pl.111- os parasirn<.; e os pascadores), mas o seu efeito letal é inevitável .1prox_jm,1damence 3 g (Gadoski, 2000a) - fica evidcnre que' al-
consomem e vice-\'ersa. Esse,; efeitos têm uma imporrância cas carnívoras, são predJ.dores verdJ.Jeiros, mas também o <lo !wmo os predadores). Par.1 os parJs1tóides, e também para mui- guns herbívoros exercerá.o maior impacco do que ourros. Além
cemral em ecologi,1. Contudo. nuncl é uma tarefa fácil deter- os roedores granívoros, as formigas granívoras, as b.1leia:,, ccrn- ros inseros herbívoros que durJnre a fase larval se alimemam disso, as ações de mordiscar folhas, sugar a seiv.1, fazer mi:ias.
minar quJis são e'ises efeitos, como eles variam e por que va- sumidoras de plàncton, etc. de plantas, a taxa de "predaçâo" é determinada em grande par- danificar flores e frutos e cortar raízes provavdmenre não diferem
riam. T.lis tópicos ~eráo tratados neste capírulo e nos próxi- Os pasradores tamb<::m acacam um re pd.1 taxa em que .ts fêmeas adulcas ovoposicam. Cada ovo é quanrn aos efeitos provocJ.dos nas pia.mas. Ademais, a desfo1ha-
mos. Iniciaremos propondo as seguinres questões: "Qual é a grande número de presas durante a sua um "ataque" sobre a presa ou hospedeiro, embora quem se ali- ção de uma plântula tem conseqüências que provavdmeme não
narurez.1 da precbçJ.o?", "Qu.11s são os efeitos da pred.ição sobre vida, mas reriram para consumo apenas uma pane de cada indi- mentJ seja a larva que se desenvolve a partir do ovo. são :lS mesmas verificadas em uma planta produzindo semenres.
os próprios consumidores e !:luas presas?" e "O que determina víduo-presa. Seu efeito sobre um indivíduo-presa, embora tipi....:.1- Os parasicóides poderiam parecer um grupo incomum de Uma vez que a plantJ em geral permanece vi\'a por um período
onde predar e o que predar~" No Capímlo 1O, retornaremos mente nocivo, raramente é lt:ca1 a curto-prazo e nunca pre\·isin-:1- importância limirad.1. No emamo, esrim.1-se que eles represen- curto, os efeicos da herbivoria são também decisivJmence depen-
às conseqüências d.1 predação para as dinâmicas das popula- mence letal (caso contrário, eles seriam predadores verdadeiro'>). tem 10% ou m"is de rodas as espécies do mundo (Godfray, 1994). dentes dJ resposu da planta. As planras podem exibir mlerànci.1
ções do predador e da presa. Entre os exemplos mais conhecidos de pascadores, esrão os gran- E.-."c va.Jor não é surpreendente. pois existe um número muiro a.o dano causado pela herbivoria ou resistência ao araque.
Em uma definição simples, apre- des vertebrados herbívoros como os ovinos e bovinos. mas, )L- 5rmde de espécies de inserns, sendo a maioria deles atacada por,
d.1ção é o consumo de um organismo (a gundo essa definição, as moscas que picam vertebrados e .lS s,in- .10 menos, um par~lSitóide; os parasitóides, por sua vez, rambém
presa) poroutro organismo (o predador), guessuga.s que chupam o seu sangue indubiravelmente c;unbirn podem ser atJcados por parasitóides. Inúmeras espécies de parasi- 9.2.1 Tolerância e compensação nas plantas
em que J. presa está viva quando o pre- são incluídas nesta categoria. tóidcs cêm sido escudadas imensivamence por ecólogos, propor-
dador a ataca pela primeira vcr. Isso exclui a derririvoria, o consu- Os p,nasicus, da mesrn.1 fornu cirnundo uma riqueza de informações sobre a predação em geral. A compensação é um termo de refe-
mo de 111Jréria org.lnica morra, que será discucida no Capírulo que os pastadores, consomem parres No resr.1nce dt'sce capículo, examinaremos a narureza da rência do grau de colerâ.ncia exibido
11. De qualquer forma, essa definiçJo .1brange uma variedade de suas presas (seus "hospedeiros'') e são tipicamente nocivo). prcdação. Esmd.uemos os efeico\ da predaçJo sobre a presa peLis pbmas. Se as planc:1.~ d.rnificJ-
ampla de imeraçôes e uma gama exrensJ. de predadores. embora raramenre letais a curco-prazo. Encreramu, difc""renrc- individual (Seção 9.2), sobre o conjunto da população de pre- Jas têm maior valor adJ.pc1civo (fitnesi)
Existem dois modos principais mente dos pastadores, seus ataques sJo concentrados em um "" (SeçJo ') ..1) e sohre o próprio predador (Seção 9.4). Nos do que as nJ.o-danificada~. elas J-obre-
de classificJr o~ predadores. Nenhum ou muirn poucos indivíduos durante sua vida. Existe, portan- c.1::.os de Jtaques por predadores verdadeiros e parasiróides, os (ompen,am a herbivoria; se o seu valor ,1eL1ptarivo for nuis
é perfrirn, m.1s ,trnbos podem ser úr<.::is. w, unu ímima assoc1aç:l0 entre parasiros e seus hospedeiros. o l.'feitos ::.obre .is presa:-. individu.1is são muito direto::.: .1 presa baixo, cl.1s mbL0111ptwam (Strau'.'>S e Agraw:il, 1999) . .-\s pbn-
A das~ificação m.1is óbvia é a "raxo- que não ,;e observ.t nos \·erdadeiros predadores e nos pa . . udu- morre. Por ism, na Seção 9.2 centraremos nossJ. .1cençJ.o na ras podc-m compensar de diversas m,rnelí.lS <.Vi efeitos d:1 her·
11ómic.i"· o.-. c1rnívoros conrnmem res. As r0nia.':i, .is fa)cíOIJ..':i hep.üic.1s. o \'lrus <lo sarampo. a b.1(- pri:,a sujeira .1 um .iuque de um p.1srador ou um pJrasiro. hi\·ori.1. E.m primeiro lug.H, ;1 iemoç.lo dt' folhas somhrc:.1.d,1,;
1n1rnai~. os hnbívoros (.Onsomem ,·egerai.-. e o.s oni\·oros con- réria d.1 tuberculose e as moscas e vespas que fornum mina.':! r: sendo a herb1\·oria o foco pnncip.11. Além de ser imporunte I com uxas de: rc:spíraçio norm,iis, m.1s com ux.1~ de form,in-

somem ambos (ou, n1Jis correramenre, os oní\·oros consomem galhas nas plantas s:ío exemplos claros de parasirm. Exisre urn- pur si só, a herhi\·ona serve como um veículo útil para adis- [ese b.uxas; ver Capítulo 3) pode melhorar o b.1lanço entre
presJs Je mais de um nível trófico - vegeuis e herbívoros ou hém um número considerável de plam.1s, fungos e microrg.1 Clbsão das suri!ezJs e varí,1çóes dos efeitos que os predadores focossinrese e re..,piraçJ.o d.1 planra como um rodo. Em segun·
herbívoros e carní\·oros). Urna ::drernctriva, contudo, é uma podem exercer sobrt" suas presas. d.o lugar, uned1acamenre após um ataque: de um herbívoro,
nismos que parasitam plantJs (freqüentemenre denominadm
cbssific1ção "funciurul" do ripo já esboçado no Capítulo 3. ·'ficopacógenos"), incluindo o vírus do mosaico do rabaco, .1) Posceriormenre neste capítulo, voltaremos nossa acençJ.o muitas planras fazem uma compensação uol1zando as rc::-servJs
Neste caso, há Ljll,Hro ripas princip,tis de predadores: preda- pJrJ o comporcamenrn de predadores e discutiremos o que armazenadas em diferentes tecidos e órg.los ou alter:mdo a
ferrugens e as ervas-Je-pass.1rinho. Além disso, há muitos her-
dores verdadeiros, p:btadores, parasic<'iides e p.u,1<.;itos (csra bívoros que podem )er considt'rados parasitos. Os afídeos, por determina a suJ. dieta (SeçJ.o 9.'5), bem como onde e quando discribuiçáo dos produtos da fornssímese n;seu interior. O d:mo
última c.1tegori.1 pode st:r dividida em micropara.<.itos e ma- exemplo, extraem a seiva de uma ou muiro poucas pLrnta), m predadores forrageiam (Seçâo 9.G). Esses tópicos são de in- por herbivoria pode, ramhém, levar ,l um aumento Ja raxa de:
croparasiros, conforme é explicado no Capículo 12). rc:res,;e especi1l em dois comexrns amplos. Em primeiro lugar, tOrnssínrese por unidade de: .irc-a d.1s folh.ts sobreviventes.
com as qu.iis des entram em contato íntimo. Até mesmo .1~
Os predadores verdadeiros ma- o forrageio é um aspecro do comporramenrn animal que está 1'vluius vezes, ocorre um novo crescimenro compensatório de
larvas muitas vezes baseiam seu desenvolvimenro em um.1 Únt·
predadores !iujeirn ao exame minucioso dos biólogos evolucionistas, den- plantas desfolhJdas, quando JS gemas que estJnm dormentes
camas suas presas quase imc:diatamente ca planta. Os firnp,uógenos e os Jnim~tis que parasitam ourro\
verd2de:rcs
.1pós arad-Lts: durante o seu tempo de tro do campo geul Ja '"c.:cologi:.1 comporcamencal". De um :,,io estimuladas a se desenvoker. Comumente. h,i t.1mbém um.1
animais serão escudados no Capítulo 12. Os herbívoros "'p,ua-
e
modo simples, o ob1eti\·o cencar compreender como a seleç.ío redução da taxa de morc.1li<l.1de das p.ntes SLll:irevivences d.1
266 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÁO 267

planta. Desse modo, há várias maneiras pelas quais as plantas esrudtosO) que pensava. o concrário. Por exemplo, eles verifica- metabólicos secundários e inibidores de proteinases ao se ali-
individuais compensam os efeitos da herbivoria (discucidas mais ram que a maioria dos esrudos em laboratório revelou apenas
(a) menrar dessa planra, mas também a induz a liberar composcos
adianre. nas Seçóes 9.2.3 a 9.2.5). Porém, uma compensação efeitos Jd\"ersos pequenos (menos do que l l %) sobre caracce- orgânicos voláceis que atraem o percevejo predador generalis-
ta Geocoris pallens, o qual se alimenta de larvas com movimen-
perfeica é rara. As plancas em geral são prejudi~adas pelos her- res como o tempo de desenvolvimento larv.1! e o peso das pu-
to lento (Kessler e Baldwin, 2004). Usando técnicas molecu-
bívoros, mesmo quando as reações compensacórias rendem a pas, e que muitos dos esrudos que prerendiam demonstrar um
se opor aos efeitos danosos. et~ico maior aJ.m e::.taciscicamence falhas. Enrretanco, exis· lares, Zavala e colaboradores (2004) puderam moscrar que. na
tem rambêm vârlos casos, muitos dos quais publicados depois ausência de herbivoria. os genócipos de plantas que produzi-
d.1 re\"islo de Fmvler e Lawcon, em que as respostas vegetais ram pouco ou nenhum inibidor de proceinases cresceram mais
9.2.2 Respostas defensivas das plantas parecem ser genuinamenre prejudiciais aos herbívoros. Por rápido. adquiriram mais altura e produziram mJ.is frutos (cáp-
sulas) do que os genótipos producores de inibidores. Além disso,
exemplo. quJnJo indivíduos de lariço forrn1 desfolhados pela
A pressão de seleção evolutiva exerci-
da pelos herbívoros provocou uma di-
versidade de defesas físicas e químicas
mariposa do lariço (Zeiraphera diniana), a sobrevivência e a
fêcundid.1de das m.iriposas foram reduzidas durlJl.ces os 4 .1 5
anos subseqúemes, como um resulcado combinado do retar-
• o
"o
º?
.
e
em um experimenco de laborarório, genóripos nacurais prove-
nientes do Arizona, sem a capacidade de produzir inibidores

E
das plantas que resistem ao ataque {ver damc'nto na produção de: folhas, da maior dureza destas, do
~
Seçõe::. 3.7.3 e 3.7.4). Essas defesas podem cer presença e efeci- nuiur rc:ur de fibrJ.s e dJ elevada concemração de resina,;; e (b)
(a)
\·id.1de concinuJs (det~sa consrirnciv.1) ou o Jumento da sua 11i\e1::. menores Je nirrogênio (BJlremweiler a ,d, 197~). Unu
0,2 Pc:c 0.02 15

.,,.
produç:io pode ,er induzido pdo acaque (defesa induzível) oucr,1 resposr.1 comum JO J~rno fo!iJr é a ab::.cisJo precoce ("que-
l I
(Karban et ai., 1999). Assim. a produção do ácido hidroxàmi-
co defensivo é induzidJ quando os a.fídeos (Rhop,zlosiplmm
da") de folh.1s danificadas por insecos min.1dores; no caso do
inseto minaJor Ph)'IÍ01w1yaer ~PP·· de folha::. do salgueiro (Sa-
"~
.1: ] 10
Conlrole
Controle
~ do dano
h\· ÍttJio/epts), a abscisão foliar precoce foi um imponame facor
padi) acac.1111 o trigo selvagem ( Triticmn tmiaristatum) (Gia-
noli e Niemayer, 1997), e os espinhos das amoreiras silvesrres de morralidJ<le de mariposas - 1sro é, os herbívoros foram
~
~ !. :-TI Induzido

s.
0,1
comidas pelo gado são mais longos e mais agudos do que os prejudicados pela resposca (Preszler e Price, 1993). Como um so
das planras vizinhas não-acacadas (Abrahamson, 1975). Tem
sido dedicada uma .uenção especial às defesas passíveis de in-
dução rápida, no que se refere à produção de substincils quí-
exemplo fir1.1l. uma ação de poucas sem.1nas de cJracóis (Litto-
rina ob:usat.l) sobre a alga parda marinha Ascoph•llum nodo-
sum induz um aumento subsrancial nas concenu;ções de tlo-
u
i ·<
6 de abnl 20 de abnl
micas no incerior da plane.a que inibem as proceases dos herbí- rotaninos (Figura 9.1 a), que reduzem um consumo posterior ºo Ptantas-controle Plantas previamente
(b)
\'Oros. Essas mudanças podem ocorrer dentro de folhas indivi- por pane dos caracóis (Figura 9.1 b). Nesre caso, o simples não·pasteJadas pasteiadas
duais. no interior de ramos ou na planta inteira, podendo ser corre das plancas não cem o mesmo efeiro d.1 ação do herbh·o- 11
!_ 40
derectadas em poucas horas, dias ou semanas, e permanecer ro. De faro, o pasceio por um omro herbívoro, o isópode /do- FIGURA 9.1 (a) Contelldo de florotanino em 1nd1v1duos da alga Asco·
Jurance poucos dias. semanas ou anos; cais resposras foram tea gra11rdo.,il. também não conseguiu induzir a defesa quími- phyflum nodosum após exposição à herb1vona simulada (remoção de
1nd1víduos com um trado) ou paste1ados por herbívoros verdadeiros
regiscradas em mais de l 00 sistemas consrituídos por plantas e ca. Os cJracóis podem permanecer sobre o mesmo indivíduo
de duas espécies. São mostrados as médias e os erros-padrão. Ape·
herbívoros (Karban e Baldwin, 1997). \'egetal e consumi-lo durante períodos longos los isópodes s.1o nas o caracol Littorina obtusata exerceu o electo de 1nduz1r o aumento
Existem, contudo, muicos pro- muito m.us móveis), de modo que as resposcas induzidas que nas concentrações do defensivo quimice na alga mannha. As letras
diferentes indicam que as médias apresentam diferenças estat1Slica·
blemas ao interprecar essas reposcas dem.rndJm tempo para se desenvolver podem ser dêtivas na re- mente significativas (P < O.OS). (b) Em um outro experimento, os ca·
(Schulcz, 1988). Em primeiro lugar, duç..10 de d::mo) causados pelos caracóis. racóis toram colocados drante de algas procedentes do controle e de 20 de abnt
6 de abnl
d.i.s são "resposCJs" ou meramenre uma conseqüênciJ inciden- .-\ pergunra final - '\1s p\Jncas se tratamentos pastejados por caracóis em (a); o consumo de plantas
Datas das amostragens
com conteúdo alto de florotanino é s1gn1ficativamente menor (segun·
tal do novo cre,;cimento do tecido, que possui propriedades bern.:ficiam de :-uJs respostas defensi-
do Pavia e Toth. 2000). (e)
difeíences daquele eliminJdo pelos herbívoros? De fato. esse vas i11duz1d.1.•/" ~ difícil de responder
cerna é essencialmence semãnrico - se as respostas metabólicas e apenJ:, ,tlguns esrndos de campo bem delineJdos foram exe-
de uma planta à remoção de um tecido forem defensivas, a cuc.1dm IK.trb.rn et ,d., 1999). Agr,1wJ\ (l998) esrimou o \,t-
~lcção narnral JS favorecerá e refor<r·Jrá o seu uso. Um outro pro- lor a.d.1pr1t1\o de ind.1víJuos do r. .ab,rnete sel\·agem (~1pli1111;u tência, causadl pelo pastejo por lar\"a~ de !'. mp,u•, .lumentou
blenn é mwco mais ::.ubstancul: as subsr.inciJ.S química., induzi- J1ttt1 tu) \-.um o número de )emences produziJ.1s rnultiplic.1do ~ignitic.mvameme a eficácia em mJis de 6(Y'0. cm compara-
ch, :-.lo de faro defensivas no sentido de rer um efeiro ecologica- pd.1 m.1::,,~J d.is '>emences) <lisrribuídos em um Jos rrês tr:HJ- ç;to com o comrole. Contudo, o conrrole do d.11w foli.u (cor-
menre significativo ::.obre os herbívoro;; que parecem rer induzido menro,: pl.rnus p.1stej.1dJ.s (sujeitas JO pJscejo por brv.1::. d..: te com podáo) reve uma c:fic.ícia 38°10 mais b.uxJ do que os
J ::.uJ produção? Por fim, e de n1Jior significa.do, elas sã.o verdJ- Piais r.zp,le), comroles Je d:tno, foliares (equi\',tlenre J quan- conrroles cotais, indic.rndo o efeito negati\'o d;:i pt:rd3 de teci-
deiramence defensivas no senrido de exercer um impacto mensu- cid.1de de bioma,sJ. recir.1d.1 pelo uso de podâo) e conrrolcs dos sem os benefícios da indução (Figura 9.2c1.
rl\'el e positivo sobre a planrJ que ,lS produz, especialmente após wt:11s hem d.i.no). As repostas inJuzidJ.s pelo dJno, tanto quí- O benefício à eficácia do rabanete selvagem ocorreu ape-
Tratamento
serem considerados os cuscos de organização de cal resposta~ micas lluanto físi-.as. incluír.1m o aumento das concentrações nas em ambientes que concinh.1m herbívoros; em ::.ua ausên-
fowler e LJwcon ( 1985) enfocJ- de gluco}inolaco, e aumenrn das demidades de cricomJS (es- ci1, uma resposta defensiva induzida era mapropriada, e as
FIGURA 9.2 (a) Porcentagem de ã.rea foliar consumida por herbivo·
rJm o segundo problema - '°J.s respos- rrutur:1.:. Jo cipo pêlos). As ce-ntopéi.1s (Fo,ficu/a spp.) e outros plancas sofriam reduçâo do valor adapc.trivo i' K.1rb.rn et ai., ros mastigadores e (b) número de afideos por planta, medido em duas
r:i.s são prejudici.1ls aos herbívorost - herbi\"oros rna.stigadores causaram 100°/o mais d.1no foliar sobre 1999). Um benefício à eficácia semelhante foi comtacado em datas (6 e 20 de abril), em três tratamentos de campo: com controle
um experimento de campo com o CJbaco sd\"agem (1VIcotit1na total. com controle do dano (tecidos removidos com tesoura) e induzi·
medianre ;1 revisio dos efeitos das rc:s- o controle e pLrnras com folh:t.S cortadas artificialmente do quc- do (causado pelo pastejo de larvas de Pieris rapae). (e) Valor adapta-
posras vegerais passíveis de in<luçáo rápida, e não enconrn- subre pl.rnt:1s pastej.1d.1s, e houve 30<Yo mais de: afideos sugado- attenuata) (Baldwin, l 998). Um consumidor e~pecialisra do tivo das plantas nos três tratamentos. calculado pela multiplicação do
r.1m um.1 evid~nó.1 in..:once)t.ivel de que das sJ.o etecivas con- res do pe::.segueiro (:\t(v:w perúcae) sobre plantas-controle e tJbaco selvagem, a larva Je A.fandurn Jexta. tem um compor- número de sementes produzidas pela média da massa das sementes
ramenco norável, pois não apenas induz uma Jcumulação de (em mg) (segundo Agrawal, 1998)
trJ os insetos herbívoros, ;1pesar da opinião da maioriJ dos p!Jncas de folhas corcadas (Figura 9.2J,b). A indução da resis-

1
268 PARTE 2 - INTERAÇóES
f
1
CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÁO 269

de proceinJSeS, foram mais danificados e suscenraram um cresci- associada a mudanças na biomassa da:i raízes, coerente com ,l
mento maior de A!anduca, em comparação com genótipos pro- manutenção de uma razão constante parte aérea : sistem,1 sub- 0.5 0.5

dutores de inibidores provenienres de Utah (Glawe et ai., 2003). terrâneo. Muitas plantas compensam desta maneira, median-
Fica claro, a panir dos exemplos com o rabanete e o ta- te a alteração da distribuição de produtos da forossíncese em 1
baco sdv,tgens, que J evolução de respostas passíveis <le indu- partes distintas da planta. Assim, por exemplo, Kosola e cola- o a ,g 1 ~j
çJO (pLiscicas) envolve custos significHÍ\'OS para a planca. Po- boradores (2002) verificaram que a concentração de açúcare:i ·•
rr r
1
-0,5 -0.5
demos esperar que as respostas passíveis de indução sejam fa- solllveis nas raízes jovens finas (brancas) de álamos (Popu/11,;
~
vorecidas pela sdeção someme quando a herbivoria passada é
um predimr seguro do risco futuro de herbivoria e se a proba-
canademis) desfolhados pela larva da mariposa européia (L1•-
mm1tria dúpar) foi muico m.1is baixa do que em árvores não-
8
-1l -1,0
.
8
"O -1,0
bilidJ.de de herbi\·oria não é constante (a herbivoria conscanre
selecionaria um genótipo defensivo fixado que é melhor para
desfolhadas. Para raízes mais velhas (mais um mês de idade), o
efeiro da desfolhação não foi significativo. 1 j
-1.5 -1,5
aquele conjunto de condições) (Karban et ,,!., 1999). Narural- Freqüenremente, há uma dificuldade considerável em
mence, nJo JpenJ:-i os custos de defesas p.1s.síveis de indução estimar a excensJ.o real da desfolhação, da refolhação e, portan- 8 napus 25% B napus. 75%
podem ser comp,1rados aos benefícios ao valor adaprarivo. As to, do crescimento líquido. Um monicoramento minucioso de -2,0 -2.0
dd"es.1s conscicurl\·.1:i, como espinhm, tricomas ou substâncias besouros da folha do nenúfar ([)yrrllirlta n_ymphaeae) pascejJn-
0.5 0,5
químic.1:i (cm p,11 ticulJr na:i família:::, Sola1uceae e Br.1ssica- Jo sobre folhas desu espécie (Nup/,,ll" !11tr:u111) ren::lou que: .1,
ceae1. rambêm .1presenram cmros que rêm :iiJo medidos (em folhJs eram eliminad.1s rapiJ.unenrc:, nus que folhas no\'J:i c-ra111
:.,1
fenótipo:::. ou genórtpos sem d(.Jes.1), em termos de reduções umbém rapidamenre produzidas. Mais de 9Dq 0 das foHu:i nur-
.•
;
1

o ;~
no cre-.cimcnro ou 11.1 produ1yão de flores, frurn:i ou sementes cadas de plamas pasce1.1das desapareceram em 17 dias, enqu<1mo o
·•
(ver reviüo de Scr.w"'s et ílÍ.. 2002). as folhas marc.1das de plantas não-pastejadas perm<rneceram i~
-0.S 1 -0.5

9.2.3 Herbivoria, desfolhação e crescimento


intactas (Figura 9.4). Emrecanro, as comagens simples de fo-
lhas de plantas pa.stejadas e náo-pasrejadas indicaram um., per-
da de apenas 13% das folhas devido à herbivoria.
..~
"O -1.0
..1
"O

u
-1.0
li!

FIGURA 9.3 Compensação da biomassa


vegetal As plantas mais colerantes ao pastejo, em especial o exer- s foliar (média ± EP: (loge da biomassa de
~ .~
planta desfolhada] - [loge da média :iara
cido por vertebrados, parecem ser as gramíneas. Na maiori,1 -1.5 -1,5
Apesar do excesso de substâncias qui- plantas-controle]) de ptàntulas de Brassica
das espécies, alguns meristemas se en-
micas e estrumras defensivas, os her- napus e Sinapis alba. com 25 ou 75°-0 de
r.er~ conrram quase no nível da superfície S alba 25% S. alba 75%
desfolhação por três espécies de insetos
·~P.C1 · bívoros :únda assim comem plantas. A -2.0 -2,0 (ver legenda da figura) em um ambiente con-
do solo, entre as bainhas foliares ba- 14 21 28 14 21 28
herbivoria pode interromper o cresci- trolado. No eixo vertical, o zero corres;xin-
sais. e, por isso, essa zona principal de Dias após a desfolhaçào Dias após a desfolhação
de à compensação perfeita. os valores ne-
menro vegetal, exercer um efeito insignir1c.111te na taxa de cres-
crescimento (e de broramenco) geral- 1 gativos representam a subcompensção e os
cimenrn e ter um efeiro mtermediário qu.1lquer enue esses dois positivos a sobrecompensação. As biornas·
mente é protegida do pascejo. Depois da desfolhação, são pro- Phyllorrera cruc,ferae
excrernos. A compens.1ção veger.11 pode ser represenrada por sas médias das plantas desfolhadas que d1·
duzidas folhas novas, usando carboidrarns armazenados ou pro- Pturella xyloslefla 1
uma resposra geral ;} herbivoria ou pode ser específica a deter-
minados herbívoros. Gavloski e L1mb (2000b) testaram essas
dutos da forossíntese de folhas sobreviventes, e com freqüên- /J Mamestra configurara I ferem significativamente dos controles cor·
respondentes estão indicadas por um aste-
risco (segundo Gavlosk, e Lamb, 2000b).
cia são produzidas também novas panes aéreas.
hipóteses alcen1.1riv.1s, por meio da medição da biomassa de
A gramíneas não se beneficiam diretamente da ação dos
duas espécies de: cruciferaÇ (Bramór napus e Sil1(1pis alba) em
seus pa.<.cadores. Porém, é provável que ehs sejam ajudada.\ por
resposra a O, 25 l' 7 5°,0 de desfolhação de plâmulas, exercida
eles em suas inreraçõc:':'.'I comperirivas com outras planca:i (que são
por crês l'spécies de herbívoros com peças bucais picadoras e
mais fortemente afetadas por eles), o que é responsável pel.1 pre-
ma:itigaJorJs - adulto.\ de besouros-pulgas (Plyllotreta crucift- 9.2.4 Herbivoria e sobrevivência das plantas posa Lymantria dispar levou a uma taxa
domin"lncia de gramínea~ em muitos hibitats nJ[Urais que so-
r,1t') e l.uvJs d.1.<. m.mposas P/urcl/ir .\:;loslt'//.a e Afmnestm confi- de morulidade de apenas 5%, enquan-
frem pastcjo imenso pelos vertebrados. Esse é um exemplo d.1
gumt,1. De nune1 r.1 n:lo-surpreendence, .1:i duas e<;pécies vege- Em geral. os herbí\·oros aumenram J to três desfolhações intemas consecu-
razão mais difundida para J herb1vori.1 ter um c-ft'.ico mais ddsri·
rai~ compens,uam rndhor a 2) 0 ·o do gue :t 75°0 de desfo!ha- suscc:ribilid,1de de unu pbnta p.líJ J tivas provocaram uma r.1xa de mor-
co sobre espC.:cies inrolerames ao pastejo do que parece inicial·
~J.o. l\n 1:.'.IH,tnro. embora co111 o mern10 grau de desfolhação, mortalidade em vez de matá-la direu- tal idade de até 80% (Stephens,
meme- a inreração enm: herbi\·ori.1 e compeciç.io vegeca.1 {a g.1ma
ambac'.I .1s espécie~ cen<lcram a ter a maior compensaçJ.o quan- meme. Embora o besouro-pulga (A/- \ 971). A mortJlidJde de plantas estabelecidas, no enr.rnco,
de conseqüências pmsíveis foi discucid.1 por P:1.cala e Cra\\:ley,
do desfolhadas pel.t m.uiposa A/ conf(r;urata e a menor quan- tua wb!icata), por exemplo, tenha reduzido a uxa dt: cresci- n.ío está necessariamenre associada a desfolhações n1.1~s1-
1992; ver cambém Hendon e Briske, 2002). É importante obser-
do Lksfo!hJdas pelo hesouro P cruciftrae (Figura 9.3). A com- mento do s.1lgueiro-dc-dunas (Sa/1x cordata) em 1990 e 1991 vas. A recirada de um anel da casca de árvores realizad.t por
v,1r rambém que os herbívoros podem ter d'eims não-consumi·
pensação herbí\·oro-e'ipecífica pode rdlerir n:sposras vegetais J. (Figura 9. 5), somence em 1991 ocorreu mortalidade signifi- esquilos ou porcos-espinhos, por exemplo, é um dos caso~ mais
vos severos sobre as pi.incas, quando ele,; arnam como verore'i de
pJdró<:'.s de desfolh.1.<-;.ÍO um pouco diferentes ou a subsrinci,1s caciva, como resulrado do estresse pela seca. Depois. conrudo, extremos em que .1 remoção de uma quanridade pequen., de
fooparógenos (bacténdS, fungos e, especiaJmente, vírus) - o que
químic.h Lforinus na saliva, 4ue suprimem o crescimento de a suscetibilid.1de foi hastanre influenciada pe!J herbivoria: 80~,Q reciJm tem um efeito desproporcionalmente profundo. A u,n~
os herbívoros riram da planta é muito menos importa.me do que
nuneirai comrasrante'i (Gavloski e L1mh, 2000b). das plantas morreram em um uatamenro com herbivoria in- tinuidade do floema• é rompida, de modo que o transporte
o que eles dão a da! Por exemplo, os besouro, escolitídeos que se
No exemplo mosrrado anteriormenre, a compensação, tensa (oico besouros por plama), 40% morreram com quarro de carboidratos entre folhas e raízes é inrerrompido. Üc"sse
aJimenram de galhos do olmo amam como vetores do fungo que
em geral completa cerc.i de 21 dias após a desfolhação, esrava besouros por plama, mas nenhuma das plantas-controle: sem modo, essas pragas de planrações florestais frc"qüentemC"nte
causa a doença holandesJ nesta espécie. Esse fungo matou um
visco m'imero de olmos no nordeste dos EUA na década de 1960 besouros morreu (B.,ch, 1994).
• N. Je T. O termo· uw.:1tú.1" é util113Jo como .1lternaciv.1 par:1 o nome e virrualmenre os erradicou no sul da Inglaterra na décad.1 de A desfolhação repetida pode ter um e feiro especialmemc- • N de T. O flo{!nll é um dus ..:omrirnintes d.1 ch.1m.1da casc.1 Y1 1·a. ~
otic1.1l J.1 brnili.1 hor.'tn1L l Br..t:i.\1,.:,1ceie dristico. Assim, .1 desfolhação ünica de carvalhos pela mari- mas cdulas condurorl.'i cr.i.nspürLlm :i.ubsünciJ.S c!J.boraJas pda..,; plam.t'
1970 e no inicio da década de 1980.
270 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÁO 271

É evidente que a predação de sementes tem um efeirn As plantJ.S podem rambém ser longevidade de cais plantas, pois seu único evenro reprodurivo

•::ejadas ~Past~
prejudicial e previsível sobre as plantas individuais (ou seja, as
próprias sementes). Davidson e colaboradores ( 1985) demons-
:J~ a reí'.CJ(ao ae afetadas mais dire[ameme, peb remo-
ção ou demuição de flores, gemas flo-
é seguido quase invariavelmence da mone (ver Capículo 4).
Poa annua, em um gramado, pode se tornar quase imorra.1 por
crarJm os impactos dramácicos que as formigas e os roedores rais ou sementes. Assim, as larvas da meio de cortes semanais, enquantO nos hábirats naturais em
l 100
gunívoros cem sobre a composição de bancos de sementes de grande borbolera azul (Nlaculine,1 rebt/z) consomem someme que pode florescer ela é comumente anual - como o seu nome
? 80 plantas ··anuais" nos desertos do sudoeste do EUA e, porran- as flores e os fruros de Ge11tia1111 auciata, uma e~pécie rara, o indica.

1
E
~
60
co, sobre a composição d.i comunidade vegetal. que provoca uma redução do número de semen tü por frum
(de 120 para 70) (Kery et ai., 2001). Muitos estudos, envol-
Em geral, o momenro da desfo-
lhação é crítico na determinação do


§
m
~
40

20
9.2.5 Herbivoria e fecundidade das plantas
vendo a exclusão arrificial ou a remoção de predadores de se-
menres, rêm mostrado uma fone influência dJ predJção de
sementes na pré-dispersão sobre o recrU(amento e J densidade
efeito sobre a fecundidade vegetal. Se
as folhas são eliminadas antes da formação das inAorescências,
o grau em que a fecundidade é reduzida depende evidente-
';'!
" Os dêitos d.1 hl:'.'.rbivoria sobre a fecun- de espécies aracadas. Por exemplo, a predação de sementes foi mente do grau com que a planra é capaz de compensar o pre-
1
(26 de Julho) " 17
(11 de agosto) didade dJs plantas são, em grande par- um fator significativo no padrão de abundinciJ do arbusto juízo produzido. A desfolhação precoce de uma planta com
Dias após a marcação re, um reflexo dos efeiros sobre o cres- H,zplopappus sq11mTosw ao longo de um gradiente Je Jltirude produção seqüencial de folhas pode exercer um efeiro insigni-
cimento vegetal: ::is planras menores a parrir da costa da Califórnia, onde a predJçáo de semenres ficante sobre a fecundidade; mas se a desfolhação ocorre mais
FIGURA 9.4 A sobrev1vênc1a de folhas de plantas de nenúfar. pasteja- pro<luLc'nl rneno~ sememc:s. Emreran- n.1 pré-dispersão foi mais Jlca. are as montanh.is (l.oud.1. 1981); tarde ou se a produção de folhas é sincrônica, a íloraçJo pode
das pelo besouro da folha de nenúfar. foi muno mfenor a das plantas
co, me~mo quando o crescimc:nro pa- e ,1 restrição da Cardamiue tord,jôlia is sirn;i,çôc~ ~ombreadas ser reduzida ou mesmo completamente inibida. Se as folhJ.S
nâo-paste1adas Efetivamente. todas as folhas desapareceram ao fi-
nal de 17 dias. apesar de as estimativas M1nstantãneas" realizadas rece ser tmalmente compensado, a pro- n;;.s Montanhas Rochosas em grande parte foi mociv:ida pelos são removidas após a formaçáo das inflorescências, o efeiro
durante o periodo citado sugerirem uma perda por herb1voria de cer- du'i,·lo pode ser reduzida devido a uma níveis muito mais alros de predação de sememcs na prt~-dis- em geral consiste em aumentar o aborto das semenres ou re-
ca de apenas 13% (segundo Wallace e O'Hop, 1985)
tramfer2nciJ <le recursos dos órgãos reprodutivos para os cau- persão em locais não-sombreados (LoudJ e RoJman, 1996). duzir o seu tamanho.
les, foltus e r.üzes. Essa siruaçâo é exemplificada pelo estudo É imporranre perceher, contudo, A genciana ( Gentianel/.a campeJtris) fornece um exemplo
mo.str.1do na Figura 9.3, em que a compensação em cresci- que muitos casos dt> "herb1voria'' de em que o momento é imporranre. Quando a herbivoria sobre
mJ.cam árvores jovens eliminando muico pouco tecido. As les- JTit'tHo foi LOmplera após 21 dias, mas a produçâo de sememc_.s tecidos reprodurivos slo 11.1 realidade esta espécie bienal é simulada pelo de~baste da merade da sua
m.1s que se alimentam na superfície podem rambém provocar foi ,tind:i significarivamenre mais baixa nas planras danificad.1s mucualis[as, beneficiando ramo o her- biomassa (Figura 9.6a), o resultado depende do momento do
um dano maior às populações de gramíneas recém-esrabeleci- por herbívoros. Além disso, a herbivoria. indireramenre, por bívoro quanto J planta ( ver Capítulo desbaste (Figura 9.6b). A produção de frutos teve um grande
das do que seria esperado considerando a quamidade de ma- meio dos seus efeitos sobre a área foliar ou pelo consumo dire- l3). Os animais que "consomem'' pó- aumenro em relaçáo ao controle quando o desbasre ocorreu
terial que elas consomem (Harper, 1977). As lesmas masti- to de esrrurnra.s reprodutivas, pode afer.u as car.icrerísricas flo- len e nécrar em geral transferem inadvenidamenre o pólen de entre 1° e 20 de julho, mas, quando executado mais tarde, a
gam .t parte aérea jovem junco à superfície do solo; elas dei- rais (dümetro da corola. comprimento do mbo floral, número uma planta para ourra; e existem muitos animais frugívoros produção de frutos foi menor nas plantas desbastadas do que
xam sobre o solo as folhas não-ingeridas. mas consomem a de flores) e rer um impacro adverso na polimzação e no con- que cambém conferem um benefício líquido à pl..1.nra-mãe e às no controle (mantido intacto). O perlodo em que as plancas
região merisremácica da base dos caules, a partir da qual a junto de sernernes (Mothershead e i\!arquis, 2000). Assim, in- sementes individuais denrro do fruro. A mJion.1 dos vertebra- mostram compensaçáo coincide com o momento em que nor-
planra pode rebrocar. Ponanro, as lesmas eferivamenre des- divíduos de Omorhera maa-ocnrpa "pasrejados" experimemalmence Jos frugívoros, em especial, ou comem o fruto e descarram a malmente ocorre o dano por herbívoros.
troem a planta. produzir.mi 30°/o menos flores e 3:3% menos sememes. ~cmenre ou comem o fruto e expdem a semente com as fezes.
bso dispersa a sememe, raramente a prejudica e com freqüên-
cia aumenta sua capacidade de germinação. 9.2.6 Um pós-escrito: defesas químicas
Por outro lado, é muito pouco provável que os insetos antipredador em animais
que arncam fruros maduros ou frutos em desenvolvimento exer-
(a) 19 de 1ulho - 17 de agosto (b) 10 de agosto - 21 de agosto
çam um efeim benéfico sobre a planta. Eles nJ.o fazem nada Não se deveria imaginar que as defe-
para fomentar a dispersão e podem inclusive rorn.u m frutos sas químicas antipredador são resrricas
• Semhe"'1vooa menos paladveis para os vertebrados. No enranco, J.[guns ;:mi- ~1~ plantas. Diver.'>JS defesas químicas
• Herbivona baixa mais de gunde porre que em geral m.1um as serrn:nte~ podem de animais foram descritas no Capirulo 3 (ver Seçfo 3.7.4).
Hert,,vo,;a intensa ! represenur r:1.mbém um;i parre na dispersão dd.1, e. por isso, é incluindo as defesas químicas das pbma.s que os herbívoros
pns~i\·d que exerçam um efeito pelo menos p.ircí,drnenre be- seqüesuJr~1m do ~eu alimento de origem vegec~1I (\'er Seçlo
néfico. Exisrem algun1Js espécies, LOmo algun\ nquilos, que .J 7.4). As dd"es.1-. químicas podem ser especialmente impor-
Jcumulam semenres espalhando-.1s e encerrando-JS em diver- unres em animais modulJres, como as esponjas, que não cem
)o,; loc1is; e existem outras, como os CJmundongm e rJtoS, que a capacid.1de de escapar dos seus predadores. Apesar do seu
:tgrupam JS sementes em alguns esconderijos. Em Jmbos os valor nucncional alto e da falta de defesas químicas, a m ..uoriJ
c1sos, embor::i muirns sementes sejam consumidJs. JigumJs s:lo das esponias marinhas parece ser pouco aferada pelos pred.1do-
dispersadas, ficando protegidas do ataque de outros predado- res (Kubanek et ai., 2002). Nos últimos anos, vários glicosí-
res, e muir.1s delas jamais serão novameme localiudas pelos deos triterpenos rêm sido exrraídos de esponjas, incluindo a
animais que JS esconderJm (Crawley, 1983) Eáyopl.aita ferox, no Caribe. Em um escudo de campo, extrJtos
Número ao clone Os herbivoros rambém influenciam de omr as maneiras em escada narural de glicosídeos tricerpenos refinados, retira-
a fecundidade. Uma das resposras ma.is comuns ao .uaque dos dos desra esponja. foram oferecidos em substracos alimenrares
FIGURA 9.5 Taxas relativas de crescrmento (mudanças em altura. com erros-padrão) de mu1tos clones d!ferentes do salgueiro-de-dunas (Salrx
herbívoros é o retardo na floração. Por exemplo. n.1s espécies a.rriflciais para assembléias na rurais de peixes de recifes nas Baha-
cordara). (a) em 1990 e (b) em 1991, sem herbivona, com herbivona bao::a (quatro besouros-pulga por planta) ou herb1vor1a intensa (0110 semélparas de vida longa, a herbivoria freqüenremenre retarda mas. Foram detectados forces efeitos antipredatórios, quando
besouros por planta) (segundo Bach. 1994) J flora\âO por um ano ou mais, e isso em gera! aumenta a comparados aos subsrraros-concrole (Figura 9.7). É imponan-

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1
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2 72 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÀO 2 73

Com referência a esce último as- caça reduziu a densidade, houve diminuições compensatórias
(a) pecto, se, por exemplo, o recrucamen- na competição inrra-específica e na morcalidade natural, bem
rn das plantas não se encontra limita- como uma imigração de aves, dependente da densidade, para
do pelo número de sementes produzi- tirar vancagem do alimento não utilizado.
das, é improvável que os insecos que Na verdade. sempre que a den-
reduzem a produção de sementes exerçam um efeico impor- sidade é suficientemente alta para
rsnte sobre a abundáncia da pl.rnta (Crawley. 1989). O got- ocorrer comperição intra-específica, os
gulho (Rhinocy!!ur conicw), por exemplo, não reduz o recruca- efeitos da ptedação sobre uma popu-
n1enro do cardo ( Carduus 1mtans) no sul da França, apesar de lação deveriam ser melhorados pelas
impor perdas acima de 90o/o. De fato. a semeadura de mil conseqli.ences reduções nesse cipo de competição. Por isso, as
(b)
sementes por m~ não levou a um aumenco observável do nú- conseqüências da predaçáo podem va.riar com a relativa dis-
30 mero de roseus do cardo. Porranro, parece que o recrutamen- ponibilidade de alimento. Onde a quancidade ou qualidade
;:o não esri limitado pelo número de sementes produzidas; de alimenco é maior, um decerminado nível de predaçâo pode
25 embora não esreja claro se de escá limitado pela predação sub· não levar a uma resposra compensatória, porque o alimento
FIGURA 9.6 (a) O desbaste de genciana seqüente das semente~ ou das pLi.nculas, ou pela disponibili- nJ.o é limitante para as presas. Essa hipótese foi cescada por
para simular a herbivona. causa mudanças d.1de de loc.11-" par,1 a germinaç.io (Cra,vley, 1989). (Entrecan· Oedeko,·en e Joem {2000), que moniror.1r<1m ,l sobrevivênciJ
Não-desbastada Desbastada na arquitetura e no número de flores produ·
zidas. (b) Produção de frutos maduros (h1s· w. foi obsen·ado em OlltLlS siruaçües [ver Seção 9.2.5] que a do gJfanhoto (A.geneotettix deorum) dentro de g,tiolas dispos-
togramas mais ctarosl e imaturos (h1stogra· predaçâo de sementes na pté~dispersão pode afetar profunda- cas no campo. na presença ou não de ar.mhas do grupo dos
i 15
mas mais escuros), em plantas sem e com
~ mente o recrutamento de plânmlas, a dinâmica de populações l1cosídeos (Schiwcow spp.). Algumas parcelas de solo conten-
desbaste, em drferentes ocasiões, de 12 a
§ 18 de julho de 1992. Médias e erros-padrão locais e a variação na abundância rdaciva ao longo de gradien- do gaiolas foram submetidas à fertilização para aumentar a
Z 10
são mostrados. Todas as médias são sign1· r~s ambientais e através de micro-h:íbitats.) qualidade do alimento; outras permaneceram sem fertiliza~
ficativamente diferentes entre si (P < 0.05) O impacto da predação com fre- çáo. Com a qualidade alimentar do ambiente (sem fertiliza-
As plantas desbastadas em 12 e 20 de JU·
lho produziram significativamente mais fru- qüência é limirado por reações com- ção, símbolos precos), a predação pelas aranhas e a limiraçJ.o
tos do que as não·desbastadas (controle) pensatórias entre os sobreviventes, alimentar foram compensatórias: os mesmos números de ga-
As plantas desbastadas em 28 de julho de- como resulrado da redução da com- fanhotos (traramenros com e sem aranhas) foram encontrados
senvolveram sigmficativamente menos fru-
tos do que as deixadas intactas (segundo perição incra-específica. Assim, em um ao final dos 31 dias de experimento (Figura 9.8). Entrecanto,
Antes do desbaste Lennartsson et ai., 1998). txperimenco clássico em que um número elevado de pombos com maior qualidade alimentar (adição de fertiliz.mte nitro-
rorcJz ( Co/11mba pal11111b11s) foi abstido, o nível global de mor- genado, símbolos colorido,), a predação pelas aunhas reduziu
talidade no inverno não aumencou, e a interrupção dos abati· o número de sobrevivemes, em comparação com o controle
111enros provocou o aumenrn na abundância de pombos (i\t1ur- sem aranhas: uma resposta não-compensacória. Sob condições
te mencionar queº" glicosídeos crirerpenos também aferaram mais descendentes, ou outros predadores podem acacar menos con et ai.. 1974). Isso aconreceu porque o número de pombos ambienrais após a predaçáo pelas aranh.1s, como conseqüênc.ia
adversamcnre os compeüdores da esponja, incluindo os orga- presas. Em outras palavras, enquanto a predaçâo é ruim parJ sobreviventes foi deterrninJdo não pela caça. mas basicamen- da reduçio da competiçâo, os gafanhotos sobreviventes dis-
nismos "que sujam" crescendo sobre da (bactérias, invertebra- as presas que são apanhadas, da pode ser boa para aquelas que te pda disponibilidade de alimento. Dessa forma, quando a pusnam de mais alimento per capita e viveram mais. Todav1.1,
dos e algas) e outr,ts esponjas (um exemplo de aleloparia - ver não o são. Além disso, a predaçá.o tem menor probabilidJ.de de
Seção 8.3.2). Tüdos esses inimigos aparentemente foram inibi- afetar a dinâmica da presa, se ela ocorrer em um estágio do Liclo
das pelo conraro com as substâncias químicas, e não pelos et"ei- de vida que não rern um efeito significativo na sua abundânciJ.
ros causados pdo mo\'imento da água (Kubanek et ai., 2002).

---e-- Sem aranhas, sem fertilizante

(a) (b) --o-- Sem aranhas. com lertihzante

Retornando aos preJ...1dores em geral. pode parecer que o d'ei-


to imediaco Ja prcd.1ç-lo ·mbre unu população de presas seja
previsi\·dmente prcjudici,ll, umJ vez que os efeitos dos preda-
,g'OOL.
!
;
"t!
ao
60
40
T

. ·'. -
1
----.--- Com aranhas. sem fertihzanle
---?-- Com aranhas. com fertilizante

dores .~ão prejuditÍJts à presà individual. Contudo, esses d"ei-


tos nem sempre são tJo previsiveis, por uma ou ambas de duas
2: ~J
Controle Tratado
razões importantes. Em primeiro lugar, os indivlduos monas
(ou danificados) nem sempre representam uma amostra alea-
FIGURA 9. 7 Resultados de estudos de campo estimando os eleitos FIGURA 9.8 Trajetónas numéricas de gafa-
tória d.1 populaçdo como um rodo, e pode ser que aqueles com antipredatórios de compostos da esponJa Ectyoplasra ferox com as- nhotos sobrevrventes {mêdia .= EP) a com-
potencial mais baixo sejam os que contribuam para o futuro sembléias naturais de peixes de corais nas Bahamas. As médias (+ binações de tratamentos (ver legenda da ii-
da popul.tçio. Em segundo lugJr, pode haver mudanças EP) são mostradas em porcentagens de substratos alimentares art1f1- gura), resultantes de um experimento ae
ciais consumidos em controles (não contendo extrato de espon1a) em 00~~~~~~~10~~~,Ls~~~20,---~--c2~s~~-----c30~~~~3s campo em que gaiolas foram dispostas na
compensatórias no crescimento. 11.1 sobrevivência ou na repro- comparação com: (a) substratos contendo extrato de espon1a em es· Arapaho Praine. Nebraska. EUA (segundo
duçio das presas sobreviventes: elas poQem experimenrar re- tado natural (teste-t. P = 0,036) e (b) substratos contendo glicosideos Tempo (<ias) Oedekoven e Joem. 2000)
duçâo na compecição por um recurso limitante ou produzir triterpenos da espon1a {P = 0,011) (segundo Kubanek et ai., 2002)
1

l__
27 4 PARTE 2 - INTERAÇÓE5 CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÁO 27 5

os gafanhotos civeram menos limicaçáo alimencar quando a De m:ineira geral, é evidente que dade. lsso, afinal de comas, está implícito em qualquer dis- da população de consumidores pode comer, um limite para a
qualidade do alimento foi maior, de modo que. após a preda- nJ.o é fácil passar da etapa da constara- cussáo sobre competição incra-específica encre consumidores extensão do dano que em um cerro tempo ela pode provocar à
ção, a liberação de alimento adicional per capita não fomen- çáo de que as presas individuais são le- (ver Capículo 5): as densidades elevad,s, que implicam em sua população presa e um li mice para o grau em que a popula-
rou a sobrevivência (Oedekoven e Joem, 2000). sada.s por predadores individuais para qu;incidades pequenas de alimento por indivíduo, provocam ção de consumidores pode aumentar de tamanho. lsso será
Volcando à distribuição não- a demonscraçáo de que a abundância raxas de crescimento baixas, taxas de mortalidade elevadas, e discucido de modo mais complero na Seção 10.4.
aleacória que os predadores prescam das presas é adversamente afetada. De um cocal de 28 escudos assim sucessivamente. De forma semdhance, muitos dos efei- O exemplo mais notável de uma
às presas de uma população, é pro- em que os insetos herbívoros foram experimentalmente excluí- tos da migração considerados anceriormeme (ver Capítulo 6) população inteira de consumidores
vável, por exemplo, que a predaçáo dos das comunidades vegetais mediante o uso de inseticidas, 50% rdlecem as respostas de consumidores individuai.') à distribui- sendo sa.ciados simultaneamente é pro- y::,, .~- -~-, '; j
dos grandes carnívoros se concentre forneceram evidências de um efeico sobre as plamas, em nível de ção da disponibilidade de alimenco. Concudo. exiscem muicas piciado por muitas espécies vegetais ··_.-·_.·- --"'
nos velhos (e fracos), nos jovens (e popul,çáo (Crawley. 1989). Todavia, como Crawley obserrnu, maneiras pelas quais as relJçóes entre ta.xa de consumo e os que apresencam anos com grande pro-
ingênuos) ou nos doentes. Um escudo no Serengeci, por cais proporções devem ser consideradas com cautela. Existe uma benefícios para o consumidor podem ser mais complicadas do dução de sementes. Esses anos são
exemplo, demonstrou que os guepardos e os cães selvagens tendência quase inevitável de os resultados "negaci\·os" (ausência que inicialmente parecem. Em primeiro lugar, todos os ani- ocasionais e neles se observa a produção sincronizada de
macavam uma quancidade desproporcional de gazelas de de et"eiro na população) nio serem registrados, com o argumemo mJis necessitam de uma cerra quantidade de .1limenco sim- um grande volume de sementes, com freqüência em uma
Thomson das classes ecárias mais jovens (Figura 9.9 a), por- de: que n:to há "nad.1" par.1 informar. Além disso, os escudos <le plesmente para sua manutenção e, a menos que superem este ampla área geográfica; encre esses anos, existem oucros em
que: (i) esses anim.lis jovens eram mais fáceis de capcurar exclusJ.o muicJ.S \·ezes demandam sere anos ou m.1.is p.1.ra mosrrar limiar, eles não seráa capazes de crescer e se: reproduzir; conse- que a produção de semences é escassa (Herrera et nl., 1998:
(Figur.1 9.9b); (ii) eles possuí.1111 um~1 lllc"nor capacidade de .1.lgum imp.1eto sobre ,lS pl.mr.tS: é possível que muitos do'.l- c.'~tu- l(Lkncemente, não contribuirão para JS geraçôc:s fucuras. Em Koenig e Knops. 1998: Kelly et ,,!., 2000). Esse fenómeno é
rc:siscência e eram menos velozes; (iii) eles não eram tão dos "neg.ui\os" simplesmeme tenham sido terminJ.dos de111.1.,ia- ou eras p:ilavras, as taxas de consumo baixJs, em , cz de leva- parcicubrmc:nce freqüente em espécic:s arbórc:Js que em geral
hábeis para se esquivar dos predadores (Figura 9.9c); e (iv) damence ceda. PesquisJ.S muico mais recemes cem demonstrJdo rt:m a uma diminuição do benefício para o comumidor, sim- sofrem imensidades alcas de predação de suas semences (Sil-
eles podiam inclusive ser incapazes de reconhecer os preda- et"eicos nítidos da predação de sementes sobre a abundância, ege- plesmeme alteram a taxa com que este passa fome até morrer. vercown, 1980). Porcanto, é muim significativo que as proba-
dores (FiczG,bbon e Fanshawe, 1989; FiczGibbon, 1990). cal (p. ex .. Kellv e Dyer, 2002; Maron et nl., 2002). No outro excremo, ndo pode ser bilidades que as sementes cêm de escapar da predação sejam
De qualquer maneira, essas gazelas jovens não haviam dado esperado que as taxa~ de nJcalidade, muito mais akas nos anos de grande produção do que nos
nenhuma concribuição à reprodução da população e, por- crescimento e sobrevivência de consu- outros. Anos com grande produção de sementes parecem ser
canco, os efeicos desse nívd de predação sobre a população 9.4 Efeitos do consumo sobre o;;; midores ind1viduJis aumentem inde- especialmencecomuns na florada Nova Zelândia (Kelly. 1994),
de presas seria menor do que se poderia esperar. consumidores finidamence, à medida que cresce a disponibilid,1de de J.limen- onde este fenômeno foi registrado para espécies de gramíneas
Em populaçóes vegetais, também podem ser observa- co. Em vez disso, os consumidores se comam sa.ciJdos. A taxa em rnuceira (cespicosas) (Figura 9.10). Os predadores indivi-
dos padrões similares. A morcalidade de indivíduos madu- Os efeicos benéficos que o alimento de <.:onsumo acaba aringlndo um platô, no qual eb independe duais de sementes ficam saciados em anos de grande produ-
ros de Eucalyptlff na Auscdlia, em conseqüência da desfo- exerce sobre o~ predadores individuais da quantidade de alimento disponível e, porranco. o benefício ção, e as suas populações não podem aumentar com rapidez
lhação causada pela mosca porca-serra (Paropsis atomaria), náo são difícc:is de imaginar. Em ter- para o consumidor também alcança um platô. Assim, existe suficiente para explorar a abundância de alimenco. Isso é ilus-
ficou rescrita quase inteiramente às árvores debilitadas de mos gerJ.i~. um aumenro na quanri- um limite para a quantidade de alimenro que uma decermina- trado na Figura 9.1 l: a porcentagem de espiguetas da gramí-
solos pobres ou àquelas que sofreram danos nas raízes ou da.de <le alimenco consumido leva a
alterações nJ drenagem em conseqüência dos trabalhos de uma elevas.J.o d.1s ta.'Xas de crescimento, desenvolvimento e nJ·
culcivo (Carne, 1969). ra.lid:ide. bem como :i uma diminuição das taxas de morcali-

C. rubra \
C seretofoj,a
e ng,da
(a) (b) (e)

O I
E 80
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Mortas po, gueta<dos

Mortas por cães selvagens


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-1.s~--------- • C pallens J
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FIGURA 9.10 Taxa de floração de cinco es-
1 pec,es de gramineas cesp,tosas do gênero
1

~~,,:~.
Ch1onochfoa. entre 1973 e 1996. no Fior·
1 dland National Park. Nova Zelândia. Os anos
1
FIGURA 9.9 (~) As proporções_ das diferentes classes de idade (determinadas pelo desgaste dental) nas gazelas de Thomson predadas por
1 • . -..•
de grande produção de sementes são alta·
mente sincronizados nas cinco espécies.
guepardos e caes selvagens sao bastante diferentes das suas proporções na populaçâo como um todo. (b) A idade influi na probabilidade de
escape ~~s gazelas de Thomson. quando per_seguidas pelos guepardos. (e) Quando as gazelas correm em ziguezague para escapar da
! 1975
.......
1980 1385
' / •,.
..._4,,c ...~~~
.

1990 1995
aparentemente em resposta a temperaturas
altas na estação anterior, quando a floração

l
persegu,çao dos guepa;dos, a idade da presa 1ntlu1 na d,stânc,a média em que os predadores erram em seu ataque {segundo FítzG1bbon e Ano é 1nduz1da (segundo McKone et ai .. 1998)
Fanshawe. 1989; F1tzG1bbon. 1990).

1
l
2 76 PARTE 2 - INTERAÇôES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÃO 277

nea Chionochfoa pai/em a[acadas por insecos permanece abai- vamence curco tendem a seguir o ritmo das Aucuações da quan- 111c"nos um..1 capacidade limitada para afetar a dinâmica das Especialmente no caso dos herbívoros, é possível que um ,rni-
xo de 20% nos anos com grande produção, mas chega a 80% tidade ou abundância de seu alimenrn ou de suas presJs, en- populações vegetais em comunidades de deserro, mas o po- mal esteja aparencemence rodeado por seu alimento e que ao
ou mais nos anos não-produtivos. Uma provável conseqüên- quanto os consumidores com um tempo de geração re!Jriva- tencial de controle dessas plantas alimentares sobre a dinâmi- mesmo tempo experimence uma escassez de comida. Podemos
cia da forre sincronia nos anos de grande produçâo que C. meme longo demoram mais para responder aos aumento~ da ca dos insetos herbívoros é muito maior (Ayal, 1994). compreender o problema, se imaginarmos que nós mesmos
paflem e quatro omras espécies de Chwnochfoa apresenram é o abundância de suas presas e para recuperar-se quando reduzi- No Capítulo 3, salientamos que :,amos providos de uma diera perfeitamente balanceada - di-
aumento do benefício para cada espécie em rermos de escape dos a densidades baixas. .:: ~ualidaoe jc a quantidade de alimento consumido luída em uma piscinJ enorme. A piscina conrém cudo de que
s de;
da predação de sementes nesses anos. O mesmo fenômeno ocorre em pode ser menos importante do que sua precisamos e podemos vê-la frente a nós, mas é possível que
-.:;<.1e sua
Por outro lado, a produção de urna grande quantidade comunidades de deserto, onde as va- J,Ja:-,t1dad·~. JOQ~ qualidade. De faco, a qualidade do ali- Jcabemos morrendo de fome ames de poder beber a quantida-
de sementes exige uma grande dem:.inda de recursos internos riações das precipitações de um ano .:i~r ,je exc·..c.,-.12. menro, que rem aspectos positivos de de água que nos permire extrair os nmrienres necessários
da plam.1. Em um ano de grande produção de sementes, o para outro podem ser consideráveis e ,:c,-.,rc;": (como a concenrração de nutrientes) e p.ira nos mantermos com vida. De modo similar, os herbívo-
crescimento médio anual de um espruce é 38% inferior ao dos imprevisíveis, levando a variações si- negativos (como a concenrraçáo de ros podem muitas vezes se confronrar com uma piscina de ni-
outros anos, e o aumento do anel de crescimemo anual das árvo- milares na produtividade das plantas. Nos raros.anos de pro- mxinJs), apenas pode ser definida razoavdmeme em termos crogênio disponivd, cão diluído que fica difícil processar uma
res pode fiCJr cão reduzido em um ano de grande produção de dutividade vegetal alta, após um ou mais anos de produrivida.- do) deitos do alimento sobre o animal que o consome; e isso é quantidade suficiente de material para excrair o que necessi-
sementes quanto sena devido a um ataque incenso de larvas de baixa, os herbívoros são Clpicamente pouco abundames. esp.=cialmenre pertinente no caso dos herbívoros. Por exem- tam. Os surtos de insetos herbí,·oros podem estar rdaciona..-ios
causadoras de desfolhação. Por isso, os anos de escassez de se- Assim, é provável que os herbívoros fiquem saciados em cJis plo, \'imos n:i. Figura 9.8 como. mesmo na presença de Jranhas às elevações rarJs Ja concc:ntr.1ç.l.o de nirrogênio disponível nas
menres ...,Jo e:,<ie11c1almence ,1nos de recuperaç.ío d,1s plantas. :rnos, permirindo às plantas um incremenw consider:frd i:m predador.1s. o incremenm na qu.1lidadc: .i.limentar provocou au- pL.1mJs lJUe lhes sc:rvem de J!imenrn ( ver Sc:çJ.o 3.7 .1), ral\eL
Além <le ilustrar a imporrância suas re~ervas, calvez pelo .1umenro dns seus bJncos de semen- menrn da subre\"i,·ê11ci..1 dos gafanhuros. Ne.<isa linhJ, Sincla1r .1ssoci,1d.1s J condições secas ou úmid.1~ incomuns (\'V'httt:,
potencial da saciação do predador, o tes enterradas ou dos seus órgãos subcerràneos de reserva (ArJl, \ 1975) examinou os efeirns da qu.ilidade da pastagem (con- 1993). Obviamente, os consumidores preci~am adquirir recur-
exemplo da grande produção de se- 1994). A Figura 9.12 apre~enta o exemplo da produçlo. Je teúdo prorétco) sobre a sobrevivê:nciJ Jo gnu no Serengeti, .'iOS - m..1s para se beneficiar imegralmenre deles, precisam a.<l-

mentes destaca um ourro ponto rela- frucos de Asphodelw ramosw no Jeserco de Negev, em Israel. Tanúni.1. Apc.:sar de selecionar macerial vegetal rico em protei- quiri-lm em quantidades e formas apropriJ.das. Os principais tó-
cionado às escalas de tempo. Os pre- O percevejo mirídeo (CapJ·odes infwcaws) se alimenta de A. nJ.<i (Figura 9.13a), o gnu consumia durante a estação seca um picos da.s duas próximas seções são as estratégias comporramen-
dadores de sementes são incapazes de ramoJw, exibindo uma preferência especial pelas ílores em dt- alimento que continha um nível de proteína bem abaixo do uis que: rêm evoluído freme às pressões que isso impô:.
extrair o benefício máximo da grande senvolvimento e por frutos jovens. Por isso, porencialmeme necessário parJ a manucenção (5 a 6% de proteína bruta), e::, a
produção de sementes (ou de provocar nelas um dano máxi- ele pode exercer um efeito profundamente prejudicial nJ pro- julgar pela depleção das reservas de gordura dos machos mor-
mo), pois possuem tempos de geração demasiado longos. Uma dução de frutos da planta. Porém, ele apresenta apenas um,t ros (Figura 9. I 3b), esta foi uma causa imporcante de morrali- 9.5 Amplitudes e composicó~s da3 ;Jiei,3
hipotética população de predadores de sementes que pudesse geração por ano, e, portanto, sua abundância nunca se ajusra <lade. AJém disso, é alramenre relevante que .is necc::ssidades
apresentar várias gerações durante uma esração seria capaz de à da sua planta hospedeira ( Figura 9 .12). Em 1988 e 1991, a protéicas das fêmeas durante as úlcimas fases de gest.ição e lac- Os consumidores podem ser cbssifi-
aumentar exponencial e explosivamente como resposta ao ano produção de fruros foi elevada, mas a abundância de mirídcos taç.io (dezembro a maio no gnu) sejam de crês a quatro vezes c_ados em monófagos (se alimentam de
de grande produção de sementes e desrruir esta produção. Em foi relativamente baixa; o rendimenro reprodutivo dos mirí- ')Upc::riores ..10 normal. Fica claro, portanto, que a escassez de um único tipo de presas), oligófagos
tc:rmos gerais, os consumidore.<i com tempo de geração relari- deos foi conseqüencemenre alto (3,7 e 3,5 ninfas por adulco. J.!imento de alra qualidade (e não meramente a escassez de ali- ('ie alimemam de poucos ripas de pre-
respectivamente). mas a proporção de frutos danificados foi menco em si) pode exercer um efc::ico drástico sobre o cresci- sas) ou polífagos (se J.limemam de muims ripas de presas).
relativamente baixa (0,78 e 0,66). Por outro lado, em 1989 e mento, a sobrevivência e .1 fecundidade:: de um consumidor. Uma distinção igualmente apropriada é entre especialistas (de
1992, quando a produção de frucos caiu até níveis muirn nuis
baixos, a proporção de frutos danificados foi muico mais ,tira
BJ 1 (0,98 e 0,87) e o rendimento reprodutivo foi mais baixo (0,30
ninfas por adulro em 1989; valor desconhecido em 199~).
(a) (b)
Tudo isso sugere que os inseros herbívoros podem ter pdo
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FIGURA 9.11 ?redação de espiguetas de Chionochloa pallens por
1
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NDJFMAMJJASO NOJFMAMJJASO
insetos, em anos de grande produção sementes (n = 3) e anos não ºa, 88 89 90 91 92 93
o
produtivos (n = 7). de 1988 a 1997. em Mount Hutt, Nova Zelândia. Ano
Um ano produtivo é definido. neste caso. como aquele com uma pro- FIGURA 9.13 (a) Qualidade do alimento. medida como porcentagem de proteina bruta disponível ( ~.) e consumida ( 9} peta gnu no Serenget,
dução de espiguetas por louceira 1O vezes maior do no ano anterior. durante 1971. Apesar da se!eção (~comido" > "disponível""). a qualidade do alimento consumido durante a estação seca caiu abaixo do nível
A diferença s1gnrficatrva em dano por insetos sustenta a hipótese de FIGURA 9.12 Flutuações na produção de frutos de Asphodelus ramo· , necessârio para a manutenção do equilíbrio de nitrogênio (5 a 6% de proteína bruta). (b) Conteúdo de gordura da medula óssea da população
que a funçào da grande produção de sementes é saciar os predado- de machos _vivos(')) e de machos encontrados mortos por causas naturais (e). As linhas verticais mostram os limites de confiança de 95%

l
sus ( •) e o número de ninfas ( •) e adultos ( ..à.) de Capsodes. no local
res de sementes (segundo McKone et ai, 1998) de estudo no deserto de Negev. Israel (segundo Ayal. 1994). (segundo S1ncla1r. 1975)
278 PARTE 2 - INTERAÇÓE5 CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÃO 2 79

modo geral, monófagos e oligófagos) e generaliscas (polífa- ,u narurez.i a preferência alimentar, é necessário não ape- :""1é.i.S r;1,J!l')S Para muitos con'iumidores, en- rência pelos alimentos. Por exemplo, a ingesráo de matêria
gos). Herbívoros, parasiróides e predadores verdadeiros po- nas examinar a dieta do animal (geralmente pela análise do consum,dores tretanto, especialmence pJra herbívo- seca por gambás de cauda em anel (Pm,docheiru; peregrúws)
-r.ostram urna
dem fornecer exemplos de espécies monófag_as, oligófagas e conceúdo inrescinal), mas também estimar J. "disponibili- ros e onívoros, nenhumJ hierJrquiza- da Aumália, que se alimentam de folhas de Euca!yptm, reve
::omb1na,;:2o 0-3
polifagas. No encanco, a distribuição das amplitudes das die- dade" dos diferentes tipos de alimento. O ideal seria efetu- J;efe~ênc:as ção simples é apropriadJ, pois nenhum uma correlação forcemente neg:iriva com a concentração de
tas difere encre os diversos tipos de consumidores. Existem ar tal decerrninaçáo nJo por meio dos olhos do observador .1..,al1ta: ~1 as ::: dos alimemos disponíveis satisfaz as sideroxilonal, uma mxina enconrradJ em folhas de Eum(yp-
ea .... d1brao2s
predadores verdadeiros com diecas especializadas (p. ex., o mi- (isto é. não mediante a simples amostragem do ambiente), necessidades nucricionJis do consumi- tus, mas não relacionada a características nutricionais como
lhano [Rostrahamm sociabilis] se alimenta quase exclusivamence mas J. pJrtir dos olhos do próprio animal. dor. Por essa razão. uis necessidades nicrogênio ou celulose {Lawler et ai., 2000).
de caracóis do gênero Pomacea), mas a maioria dos predadores :\ preferência por um alimento pode ser expressa em dois só podem ser satisfeitas ou por meio da ingc::.c.í.o <le grandes De maneira geral, concudo, seria um equívoco dar a im-
verdadeiros cem dietas relacivamence amplas. Por outro lado, concexrns bJsunce diferentes. Pode haver uma preferência por quantidades de alimento e eliminação de grande pane desce pressão de que as preferências esrão claramente ligadas a uma
os parasicóides são tipicamente especializados, podendo mes- irens mais \'.tllosos encre os disponíveis ou por itens que pro- pJra obter uma quancidade suficiente do nutriente em .<,upri- explicação ou oucra. Thompson ( l 988). por exemplo, revisou
mo ser rnonófagos. Os herbívoros estão bem-represencados porcionam uma parre incegral de uma dieta mista e equilibra- menro mais limitado (os afídeos e as cochonilhJs, por exem- a relação entre as preferências de ovoposição nos inseras fitó-
em codas as categorias, mas, enquanto os pascadores e "preda- dJ.. Essas preferências são referidas como qualit.uivas e equili- plo, excretam vastas quantidades de carbono presenre em uma fagos e o desempenho de sua prole em termos de crescimento,
dores" apresentam em geral dietas amplas, os "parasitos" mui- bradas, respecriv.1mente. Nos termos usados no Capítulo 3 substância açucarada para conseguir nitrogênio suficiente da sobrevivência e reprodução, nas plancas que lhes Servem de
tas vezes são altamente especializados. Janzen (1980), por (Seção 3.8). no qual os recursos foram classificados, os indivi- '-tiva vegetal) ou pela ingestão de uma combinJção de alimen- alimento. Muims estudos rêm demonstrado uma boa associa-
exemplo, examinou 110 espécies de besouros que, na fase duas exibem preferências qualitativas ao Jiscrinwur enue ti- to~ que se ajuste às necessidades do consumidor. Na verdade. çáo (isro ~. as femeas ovoposicam preferencialmente nas plan-
l.ir,·al. se: J!imenu.m no inrerior d.1s semences de dico[ile- pos Je recursos que são .. perfc.itamcnrc subsrituí\·eis" e mos- muirns Jnimais exibem ambos os tipos de repost.l.'i. Eles sele- tJs em que a sua prole cem um rendimento melhor), mas em
dôneas dJ Cosra Rica ("parasitando-J.s''). Ele verificou que tram prdÚênoJs equilibradas encre os tipos Je recursos que cionJ.m um J!imenro que é geralmenre de alu qu.1l1d,1de (de muiros omros a associação é pobre. Em uis casos. não sJ.o
83 espécies atacavam somente uma espécie vegetal, 14 ata- são "complementares". modo que a proporção eliminada é mínim.1), m.1s também poucas as hipóteses para explicar esse comporraml!nto aparen-
cavam apenas duas, nove atacavam crês. duas atacavam qua- As preferências qualitativas cos- selecionam itens para sarisfazc:r necessidade.., ..:specíficJs. Os temente inadequado. ainda que muitJ.s vezes das sejam ape-
rro, uma atacava seis e outra atacava oiw das 975 espécies tunum ser mais evidentes encre os car- ovinos e os bov111os. por exemplo, mostram preferência por nas hipóteses não-testadas.
vegetais da área. nÍ\"oros. A hgura 9.14, por exemplo, .1!imenrn de alta qualidade, selecionando folhJ.\ em vez de c1u-
mostra dois usos em que alguns car- les, matéria verde em vez de material seco ou \·elho; e, do ma-
nÍ\'oros sdt.'cionaram arivamence pre- cerial disponível, em geral selecionam aquele com ceares mais 9.5.2 Permutação
9.5.1 Preferências alimentares sas que erJ.m as mais vancaiosas em ter- alros de nitrogênio, fósforo, açúcares e energia, e mais baixos
mos de ingesráo de energia por uni- em fibra. De fato, os restes experimentais que proporcionam As preferências de muitos consumido-
Não devemos imaginar que as espé- dade de tempo investido na "manipulação" delas. Esses rernl- :1.m herbívoros generalisras uma escolhJ Jiqe rngerem a exis- res são fixas; em outras palavras, elas
cies polifagas e oligófagas façam uma tados refletem o fam de que o alimento de um carnívoro fre- rência de uma hierarquia na taxa com que ele:-. con~omem di- são mantidas independentemente das
escolha indiscriminada dentro de qüentemente varia pouco em composição (ver Seção 3.7.1 ), fcrenres alimentos vegerais {Crawley. 1983). disponibilidades relativas de tipos ali-
uma ga.ma aceitável de alimentos. Ao mas pode variJr quanto ao tamanho ou à acessibilidade. Isso Por outro lado, rJmhém é mui- mentares alternativos. Porém, outros
contrário, quase sempre se mand'es- permite uolizar uma única medida (como "energia obtida por ro comum a preferência equilibrada. mudam suas preferências, de modo que os alimenros sáo inge-
ra um cerro grau de preferência. Diz-se que um animal exi- unidade de tempo de manipulação") pJ.ra caracterizar os ali- Em um ambience com uma dieCJ de ridos desproporcionalmeme quando abundantes e ignorados
be uma preferência por um cipoi parricul.ir de alimento mentos e permite, portanto uma hierarquização destes. Em -:: ·::·sõ:S ·"E!:>:C<:3 duas espécies de microalg:.is incrustan- desproporcionalmente quando raros. Os dois tipos de prefe-
quando a proporção de ral alimenro na sua dieta é mais alta outras p.ilavras, a Figura 9. l 4 mostra alguns consumidores e"Xi- tes, uma correspondendo a 60 13/o e rência são comparados na Figura 9.15. A Figura 9. l 5a mosrra
do que no ambiente em que ele vi\'e. Por isso, para medir bindo unu preferência ativa pelo alimentO de alro valor. ourra a 40o/o, a lapa Acmaea scutwn, por exemplo. seleciona de a preferência fixa exibida pelos caracóis costeiros predadores,
maneira quase independente das proporções com que o ali- .1os quais foram oferecidas duas espécies de mexilhões como
menro está disponí\·el (Kitting. 1980). JJ os car!bus, que, no presas, em uma gama de proporções. A linha da Figura 9.15a
in\"erno, sobrevivem de liquens, desenvolvem um.1 deficiência foi traçada supondo que os caracóis apresenta!lsem a mesma
de sódio durante a prima\·era, que eles super,1m bc.>benJo ~ígua preferência em rodas as proporções. Essa supo..,içáo está jusri-
(a) (b) do mJr, comendo neve contaminada de urina l' roendo os chi- fic.1d.1: independentemente da disponibilidade, os caracóis pre-
D Moscas selecionadas fres desprendidos (Sraaland et ai.. 1980). É ,,í nlh.mnos par.1 dadores mostraram a mesma preferência significaciva por 1\,~J1 -

~
D Moscas disponíveis nôs mesmos. seres humanos. para \'ermos um exemplo em que ti/zn rdu/is. de concha fina e menos protegida, quedes pode-
Valor en~rgetico o .. renJimenrn" é muiro melhor com um-1 Jieu mi'ita do que ri:tm explor.1r com maior eficíci.1. Ao conrririo, a Figur.1 lJ. l )h
com unu dieta pura, mesmo da "melhor" comid.l mosrr1 o que Jconreceu quando alguns gupis (uma espécie de
- 6 une,g.,a.
-- . je s~~ Existem du.1s ourras r;izôe.'i importanr::.-s dJ preferência peixe) puderam escolher como pres.1s entre moscas-das-fruus
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por uma dieta mista. Em primeiro lugJr. o~ consumidores e vermes rubificídeos. Os gupis exibiram uma clara permur.1-
i 2 , 2eê podem aceitar alimentos de baixa qualidJde simplesmence ção de su:ts preferências e consumiram uma quarui<la<le de~-
~ . 1 ~ 8 porque, umJ vez os rendo enconrr:ido. é rn.lis benéfico comê- proporcion:1lmente alra do tipo de presa m.1i.-.; abund:.111te.
~ OO 10 20 30 40 O ~ 10 5 10 los (por pobres que sejam) do que ignorá-los e concinuar a Existem muius situações em que
Comprimento do mexilhão (mm) Compnmerito da presa (mm) Compnmento da presa (mm) busca. Esse temJ é discutido em deralhe nJ Sc.>ç:í.o 9. 5.3. Em a permutação pode surgir. ProvJvel-
segundo lugar, os consumidores podem ser bendlciados por mence, a mais comum é quando ripas
FIGURA 9.14 Predadores comendo presas "vanta1osasM, isto é. predadores mostrando em suas dietas uma preponderãncia daquelas presas umJ diera mista porque cada tipo de alimenrn pode comer distintos de presas são encontrados em
que lhes proporcionam mais energia. {a) Quando foram oferecidas a carangue1os ( Carcmus maenas) quantidades iguais de seis classes de um produto químico róxico indesejivel e diferc"nte. Uma die- micro-hábicats diferences e os consumidores se concentram
mexilhões (Myt,fus edulis). eles tenderam a mostrar uma preferência por aqueles que proporctonavam o maior ganho energético (energia por
ra mista manceriJ as concentrações de wJas t.'\'i<l\ subsd.ncias nos micro-hibirars mais proveimsos. Esse foi o caso dos gupis
unidade de tempo de manipulação) (segundo Elner e Hughes, 1978) (bl Entre as moscas do grupo Scalophagidae dispomveis. as alvéolas
malhadas (Motac,lla alba yarre//it) tenderam a selecionar aquelas que proporcionavam o maior ganho energético por unidade de tempo de dentro de limites aceitáveis. Esse cercamente é o caso <las toxi- na Figura 9. l 5b: as moscas-das-fruras fluruJ.vam na superfície
manipulação (segundo Oa,.,.1es. 1977; Krebs. 1978) 1 nas, que podem representar um papel imporrJnte na prefe- da água, enquanto os rubificídeos se encontravam no fundo.

1
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1
280 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 9: A NATU,EZA DA PREDAÇÁO 281

FIGURA 9.15 Permutação. (a) Ausência de per- 1. O comporcamenw de busca de ali-


(a) (b) mutaçào: os caracóis mostram uma preferência
consistente entre os mexilhões Mytifus eduhs e
• menco exibido pelos animais a ruais
é aquele que foi favorecido pela se-
/ M. californianus, independentemente de sua

·.~·
100 leção natural no passado, mas que
(
.
É
~
80 o
~ 0.6
abundànc1a relativa (médias mais erros-padrão)
(segundo Murdoch e Stewart-Oaten. 1975). (b)
Permutaçào em gupts alimentados com tub1hci·
-
cambC:m aumenra a sua eficácia no preseme.
2. Uma eficácia elevada é alcançada mediante uma :ilca raxa
•~ 60
o/
/ ~::.__ Esperado sem ~
§
/.__:___ Esperado sem
deos e moscas-das-frutas· eles consomem uma
quantidade desproporc1onat do tipo de presa que ro -· /.'/ .·
líquida de ingescão de energia (isco é, a ingestão de energia

/*~--
~ 0.4 bruca menos os custos energéticos para obrer tal energia).
~
preferência se encontra mais disponível (médias e amplitu- 0.1

1 40 / // preferãnc1a

~ 20

QL·~~~~~~~~~
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~
0,2 /;:/

o~'./~~~~~~~~~
des totais) (segundo Murdoch et ai.. 1975). (e)
Preferências mostradas pelos gupis em (b)
quando oferecidas quantidades iguais dos dois
tipos de presas: os 1nd1viduos se especializa-
~
z
3. Os animais escudados experimentalmente sâo observados
em um ambiente ao qual seu comportamento de forrageio
esd ajustado, ou seja, trata-se de um ambienre muiro se-
O 20 40 60 80 100 o 0.2 0,4 o.s o.e ram em grande parte em um ou outro tipo de
0,01 e •. melhante àquele em que evoluíram ou de um cenário c:x-
M. edul,s oferecido('%) Proporção de tubificideos disponíveis
presa (d) Permutação de espint,elas que se ali-
o.a perimencal semelhante ao ambiente narural em seus as-
mentam de uma mistura de Gammarus e Arte-
mia: em conJunto, consomem uma quantidade
0.2 0,3 0.4 0,5 0.6 0.7 º· 9 pecros essenciais.
(d) Tamanho relativo da carena
desproporcional do que se encontra mais d,s-
ponivel Contudo, na primeira série de ensaios.
ao d1m1nu1r a d1spon1bdrdade de Gammarus {s1m- Esus suposições nt:m sempre ser:i.o juscificadas. Em pri-
FIGURA 9.16 Relação entre tamanho relativo da carena de urnas de
bolos cheios). os peixes dos ensaios realizados Sarracema purpurea e nitrogênio adicionado por aspersão em parce- meiro lugar, OLuros aspt:ctos do comportamento de um orga-
no primeiro dia ( .;i) tenderam a apanhar mais nismo podem 111fluenciar mais em sua t'ficácia do que o forra-
las do MoUy Bog. Vermont. As linhas trace1adas indicam intervalos de
Gammarus do que os peixes usados nos ensar- confiança de 95% Um maior tamanho relativo da carena correspon-
os do terceiro dia ( 11). enquanto. ao aumentar a geio ótimo. Por exemplo, o benefício de evic.u os predadores
de a um investimento reduzido em órgãos de captura de presas (se-
disponib1l1dade de Gammarus, os peixes do pr1- gundo Ell1son e Gotelli, 2002). pode ser rão grande que os animais busquem alimento em um
me1ro dia ( =i tenderam a apanhar menos Gam- local e em um período em que o ri.1.co de predaçâo sejJ mais
marus do que os do terceiro dia (::,).Os efeitos
0.5 da aprendizagem são evidentes (segundo Hu- baixo, e em conseqüência obtenham seu alimenco com uma
Proporção de Gammarus disponíveis ghes e Croy. 1993) eficiência menor do que teoricamente é possível (ver .')eção
ceu, enquanro as caxas de forossíntese mixima aumentaram. 9. 5.4). Em segundo lugar, e igualmence importance, para
Na verdade. as pl..1nras mudarJm o esforço da captação, do muicos consumidores (em particular herbívoros e onívoros) a
nitrogênio para o carbono, quando mais nirrogênio era dispo- obtençâo eficiente de energia pode ser menos crícica do que a
A permucação rambérn pode ocorrer (Bergelson, 1985) quan- peixes. O processo de aprendizagem fica evidente na Figur-1 nível em seu ambiente. de outro consciminre da dieca (p. ex., nitrogênio), ou é possí-
do exisre: 9.1 )d, ao comparar a mJ.Jor inAuência da mistura dicrécic.1 pn:- vel que o consumo de uma dieta misra e equilibrada seia de
via sobre os peixes no primeiro dia de ensaio do que no rerceiro. grande importância para o forrageador. Em tais casos, o
l. Um aumento na probabilidade Je oriencar a busca até o É interessante constacar que a permutação muirc1s \'l'- 9.5.3 O forrageio ótimo e a amplitude da dieta valor da cearia do forrageio ótimo é limitado. Conrndo,
ripo de prt'sa comum, isrn é, os consumidores desenvol- zes parece ser uma conseqüênciJ da mudança da proporção em circunsrâncias em que cabe esperar a aplicação da pre-
vem umJ "imagem de busca" do alimenrn abundance (Tin- de especialistas dentro da população, e não de um.1 mu- Sem dúvida, predadores e presas se missa da maximização energética, a teoria do forrageio ó~imo
bergen, 1960) e se concencram em sua presa "imagem", dança gr:idual das preferências dos indivíduos consumido- iníluenciaram mucuamente no proces- permite compreender o significado das "deci::.ões" do forra-
com a exclusão relativa da presa não-imagem. res. Isso é ilustrado na Figura 9. l 5c para os gupis. Quando so de evolução. Essa influência pode geio mmadas pelos predadores (para revisões sobre o assunto,
2. Um aumento na probabilidade de perseguir um tipo de os ripos de presas eram igualmente abundantes, o::i gupi:. ser observada nas folhas repugnantes ver Stephens e Krebs. 1986; Krebs e Kacelnik. 1991; Sih e
presa comum. individuais não eram generalistas - em vez disso, hou\·;: ou venenos.1s de muiras plantas. nos espinhos dos ouriços e na Chrisrensen, 2001 ).
3. Um aumenw na prob.1bilidade de caprura.r um ripo de pres.J números aproximadamente iguais dt.: especi,disras em mo<;- 1..nlonçâo de camuflagem de muicos insetos presas; e pode ser É caracteríscico da teoria do for-
comum. cas-das-fruc.1s e em tubificídeos. Clbserv,1da nos rohuscos ovopo,icores das ve::ipas da madeira, rageio ócimo o desenvolvimenrn de
4. Um aumento n.1 efidcia de manipulação de um ripo de Pode ser uma surpresa o fato de no estõmago com \-árias câmaras do gado, e no movimento prev1sôes, sobre o comportamento de
presJ comum umJ planra exibir um comporcamen- sigilo::io e clpacidade sensorial Ja~ corujas. -Iàl espt'cializaçâo busu de alimt'nro, basc:'adas em mo-
to próximo à permucaçâo. ;\ planu c\·idencia, no ennnto. que pos~1velmente nenhum predador delos macemáricos corl\cruídos por
Em ca<l.1 ci~o, o Jumemo de presas comuns gera um com folhJs em forma de urnJ Sarraa- \L'j.1 c.1paz ,..ft.· con:.umir codm os tipo,;; de presas . .\lgunus re.1.- teórico, d.1 ecologia, que são onisci-
uncimenco no imcr~~~e e/ou )llCt'S'iü por p.1.ne do predador 111a pwpurt.'(l vive em pinranos pobres c:m nmrienres. c1rcuth rrições e~trururais \irnple~ impt:dem que os musaranhos cu- cnres ( ··,;;,1hem mdo") com reL1ção ao ~t:u ecos~i'>tema-modelo.
e, porranrn, uma elt:\ .1ção da uxa de consumo. A permucaçJo tinc1Js consideradJs favorá\'ei~ à urni\'oria em plant:is ..-\.:. e'.>- num corujJ'> (embora os musJrJnhos sejam carnívoros) e que Por is.,o, surge a pt'rgun[:1: é neLe:,,sirio que o forrageador real
ocorreu, por exemplo. n,1 esp1nheb (Spinachia spinachia) que pécies cdrnívoras, como 5. purpurea, invesct'm um exct:::i<io e\,._· o:-. beija-flon:s conum sementes. sej.1 igualmenre onisciente e matemánco para adon.r J esc~Jré-
5it: alimenrava dos crustáceos Gvnmarw e Artemia como pre- carbono (captado na fotossinrese) em órgãos e'.:.pecialiZJ.Jos n.i Desconsiderando suas rescrições; esrrurnrais, a maioria giJ apropriada. ótima.? A respmra é ''não". A teoria simples-
SJS alternativa'.:. (Figur,1 9.1 Sd), como resultado da aprendiza- captura de presas inverrebradas (efeti\'amenre, cscrurur.1.1. de dos animal::i consome urna gama de tipos de alimentos mais mente diz que se há um forr.1geador que de alguma maneira
gem e da melhora na eficácia de captura e manipulação, espe- capração de nitrogênio). A Figura 9.1 G mostra como o uma- estreita do que a su.1 morfologia lhes capacitJ. Na tentativa de (de qualquer maneira) consegue fazer o correm nas cirnins-
ciJ.lmente de Gamm,zrus. Os peixes fonm alimenrados com nho rdati\'o da carena da urna responde à. adição de nirrogt"- compreender o que dert'.'rm1na a dieu real de um consumidor càncias apropriadas, ent.ío ele :.ed favorecido pda seleção n:1-
uma diera de Gmnmarus por sete diJs, que foi substituído por nio ao substrato das paredas do iV1olly Hog, Vermonr, EU,-\ deruro do seu amplo potencial existeme, os ecólogos rem con- turJI; e se suas capacidJdes são herdadas, esta:,, podem se ex-
A.rtemia, em erap:lS de 10%, Jti que J dieca consistisse 100°/o Qlianrn mais nitrogênio foi aplicado, ranto maior foi o tarnJ- cenrrado c:1.da vez mais a rna .itenção na teoria do formgew pandir, no cempo C"volucivo, por toda a população.
em Arternia. Esra dietJ foi então mantida por sere dias, quan- nho rdJcivo da carena - isso corresponde a um aumenro de:' rJtimo. A finalid.1de da reoria do forrageio órimo é prever a A reoriJ. do forngeio órimo n.ío especifica precisamc'.'nre
do o processo foi in\'ertido aré uma diccJ de 100º/o de Gmn- tamanho da carena náo-carnívora da urna e a um decrt'.1.cinw esrrarégiJ. de busca Jc alimento que cabe esperar sob condi- como o forr.1geador deve tomar a::. dt'cisões corretas e não exi-
marus. Cada "eupa" do processo de suhstituição dur:wa uês de tamanho do rubo de caprura de presas. Assim, com ni\·ei:- \Ões especificas. Em ger.il. eb e::ic.ibelect' tJis pre\'isões com ge que ele realize os mesmos c.ilculos que o especialista cons-
di..1.S, durante os quais era registrado o componamenco dos crescenres de nitrogênio, a capaCldaJe de carnivoria decrn- base n.is seguintes supo:.ições: trutor do modelo. i\lais .1diante nesre c.tpírulo, considerare-
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282 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREOAÇÁO 2 83

mos um outro grupo de modelos "mecaniciscas" (ver Seção Em o urra~ palavras, um predador deveria continuar acres- móes na Baía de Bristol, no Alasca. Quando a disponibili- pela seleção nacural e afirma que os animais mais próxi-
9.6.2). que temam mosrrar como um forrageador, conside- cemando pres..1s menos provei cosas em sua dieta enquanro fosse dade de salmão era alta, os ursos consumiram menos bio- mos a esta estrarégia serão os mais favorecidos. Sob esse
rando que não é onisciente, conseguirá responder por "regras sarisfeira J EquJção 9.1 (isto é, enquanto com isso aumente massa por peixe capturado, concentrando-se nos peixes pomo de visra, a correspondência encre os dados e a teoria
empíricas" à limitada informação ambiental e, -desse modo, sua taxa cocal de ingestáo energética). lsso servirá para maxi- energecicamence ricos (aqueles que não tinham ovoposira- da Figura 9.17 parece muito mais sarisfatória. Sih e Chris-
mosuar uma escrarégia favorecida pela seleção natural. Porém, mizar su.i raxa rnr.11 de ingestão energérica, Él(s + /;). do} ou em parces do corpo ricas em energia (ovos, nas fê- rensen (200 l) revisaram 134 estudos a respeito d..1 teoria
é a cearia do forrageio ótimo que prevê a natureza da estraté- Este moJdo de dieta ótima leva a diversas predições. meas. e cérebro, nos machos); em essência, suas dieras tor- do forrageio órimo, enfocando a quesráo sobre quais faco-
gia que deveria ser favorecida. naram-se mais especializadas quando as pres.is eram abun- res podem explicar a capacidade dessa teoria em prever die-
O primeiro artigo sobre a cearia do forrageio ótimo 1. Os predadores cujos tempos de ',e, ~ C:•, .1•.:v, ':;:, '";~
dantes (Gende er ai., 2001). tas corretamente. Contrariando a sua pre\'isão 11 priori, gru-
(MacArchur e Pianka, 1966) procurou compreender o que manipulação s;"io ripicamenre cur- t:us:-ar;, rJe·,c, 3~' 4. A Equação 9.1 depende do beneficio do irem i (E/h), dos pos de forrageadores (inverrebrados versus verrcbrados ec-
dererminava a "ampliwde" da dieta (a gama de tipos de ali- ros, em comparação com seus tem- benefícios das presas já presentes na dieta (É/ I;,) e dos tem- cotérmicos versus vertebrados endocérmicos) não difer(!m
menros consumidos por um animal) dentro de um hábicac. pos de busca, deveriam ser genera- pos de busca das presas já presences quanto à probabilidade de corroborar a teoria. A conclu-
Mais carde, o modelo se desenvolveu, sobretudo por Charnov listas. porque, no tempo curto empregado par~ manipular '·. º • na dieta (J) e, portanto, da sua abun-
0
sáo principal dos autores foi que a teoria do forrageio óri-
( l 976a), até uma forma algébrica mais rigorosa. MacArchur e uma presa jj enconcrada. eles mal podem iniciar a busca dância. Porém, náo depende do rem- mo geralmente se aplica bem a forrage-.tdores que se alimen-
P1anka argumentavam que, para obrer alimenco, codo o pre- por outra presa. [Nos termos da Equação 9.1: E,lh, é gran- po de busca do item i, s,. Em o urras tam de presas imóveis ou relativamenre imóveis (folhas, se-
d,1dor deve investir rempo e energia, primeiro para buscar sua de (h 1 é pequeno) p_ara uma gama ampb de tipos de presas, palavras, os predadorc>s deveri.1m igno- mentes, larvas do besouro da farinha. zooplànccon relaciona-
pres.1 e então para nunipul.:í-la (isco é. persegui-la, s.ubmerê-la enqu.uHo E!(; + /,) é pequena (J é gr.rnde) mesmo p-tr.1 rar aqueles tipos de .1limenros meno.<. pro\·t'1tosos, mesmo do a peixes), mas com freqüênci,1 não consegue predizer die-
e cunsum1-L1). Enquanco bu~c.l. C: possível que um predador se dieus .HnplJ.)]. E.<.sJ prc'.'visã.o p.lrece ser confirmad.1 pel.is que abundJntes. Re-examir1.1ndo os exemplos da Figura tas de forrageadores que atacam presas móveis (peqt1enos m.1-
encontre com uma ampla variedJde de irens alimentares. Por diec.1s .i.mp!Js Je muicas aves insetivoras gue se alimencam 9.17, podemos observar que Jmbo~ se referem J casos em míteros, peixes, zooplânccon relacionado a in::.c::cos predado-
essa razão, l\facArrhur e Pianka consideraram que a amplicude em ;ín·ores e arbustos. A busca gasca sempre um rempo que o modelo da dieta ótima prediz que as pres;is menos res). Isso pode acontecer porque as variJ.çõe::, entre as presas
da dieta dependia das respostas dos predadores depois de haver moderado. mas a ma.nipulaçáo de insecos diminucos n:- proveirosas deveriam, de fato, ser compleumence ignora- móveis em vulnerabilidade (caxa de enconrro e suce:s:iO de cap-
enconrrado uma presa. Os generalistas perseguem (e logo sub- quer um rempo insignificance e é quase sempre bem-suce- das. O comporramenro do forrageio foi muito similar a [Ura) são mui[as vezes mais importantes n.1 dc"rerminaçáo das
merem e consomem) uma grande proporção de ripas de presas dida. Por isso, uma ave com essas caracrerísricas cem algo a essa previsáo, mas em ambos os casos os animais romaram dieras dos predadores do que as variações nas escolhas :uivas
que enconcram; os especialistas cominuam buscando, até en- ganhar e virtualmente nada a perder pelo consumo das de modo consisrente uma quanridade um pouco superior que estes fazem (Sih e Christensen. 2001).
conrrarem uma presa do tipo específico que preferem. presas que enconrra, e o benefício rotai é maximizado com à esperada dos ripas de alimento menos proveitosos. De 5. A Equação 9.1 também proporciona um contexto para
O "problema" para qualquer for- um..1 dier.1 ampla. faco. esse ripo de discrepância cem sido encontrado reperi- compreender a escreira especialização de predadorc-s que
rageador é o seguinte: se ele é um es- 2. Por oucro Lido. os pred.1dores cujos damenre e existem diversas razões para que isso ocorra, vivem em associação íncima com suas pres;1s, espcci.linien-
pecialista, só perseguirá presas provei- tempos de manipulação são longos que podem ser resumidas dizendo que os animais não são re quando um predador individual se acha ligado J uma
tosas, mas pret:isará expender muico em rei.lçJ.o ,10s seus tempos de bus- onisciemes. No encanro, o modelo da dieta ócima não pre- presa individual (p. ex., muitos parasiróides e herbívoros
tempo e muira energia para buscá-las. Se ele é um generalista. ca den~ri.rn1 ser especialistas. Isso vê uma correspondência perfeira entre o observado e o es· parasitos - e muitos parasitos [ver Capítulo 12) ). Uma vez
dedicará à busca um tempo relarivamence pequeno, mas per- signifLcl qu<:., se S é sempre peqL:eno, e_ntão ÉIU + Íl) t' perado. Ele prevê o ripo de esrratégia que será favorecida que rodo o seu estilo de vida e seu ciclo vital são ..1jusrJdos
seguiri tipos de presas mais variados e menos proveirosos. Um similar J E.Ih. Assim. maxlmiZJr El(s + h) é o mesmo que
forrageador que busca otimamente seu alimento deveria equi- nu.x1m1zJr E!i, o que evidenrememe é akançado incluin-
librar os prós e os contras .t fim de maximizar sua raxa coral de do na dieu somente as presas mais proveirosas. Os leóes.
ingesüo energérica. MacArchur e Pianka expressaram o pro- por exemplo, vivem de um modo mais ou menos constan-
blema da seguinte maneira: dado que um predador já. inclui re J vi.<.ra de suas presas, de maneira que o tempo de busca (a) Centrarquideo (lepomis macrochirus)
Densidade baixa Densidade média Densidade alta ~
um cerro número de itens proveitosos em sua dieta, deveria é despre?ívd; por oucro lado, o tempo de manipulação e, O O 4 0.8
O 0,4 0.8 O 0.4 0,8
ampliá-la (e, com isso, reduzir o tempo de busca) mediante a e.<.peci.ilmenre, o rempo de perseguição podem ser longm FIGURA 9.17 Dois estudos sobre a es-
(e com consumo de energia devJdo). Como conseqüên- Razão Presa grande (G
inclusáo de irens um pouco menos proveitosos. Presa média (M) colha da dieta ótima que mostram uma
encontrada ' G clara. porém !Imitada. correspondâr.cia
Podemos chamar este irem "um pouco menos proveito- cia, o::. k(-Jes se especializam em presas que podem ser per- Presa pequena (P)
com as previsões do modelo da dieta ót1·
'º" como item i. E//, é, emáo, a lucr;uivida<le do irem. sendo seguid.1s de m.rneira mJÍS proveicm.L as imJcuras, ;ts lesio- Previsão da ma de Charnov (1976a). As dietas são
teona da M
E1 seu comeúdo e~e;gét1co e h, seu tempo de manipulação. nad.t.) L' ,t-; ve!hJs.
dieta ótima
mais especializadas quando as der.s1da-
Além d1::..so, [li; e! a lucratividade rnédi.1 Ja dieta '"awal" (isco 3. Se o~ dc.·m;us fatore::, nJ.o variam, des das presas são mais altas. mas se
mcluem nelas mais presas pouco provei,
é. d.1 d,i:u que inclui rodos m cipus Je prc~.1 mJis proveirosos um pri::'.J.1dor de\ eria cer umJ die- Razão
observada tosas do que o previsto pela teona. (a) O
1 ;
do que i, mas que não inclui o próprio tipo de presai), e Sé o t.l n1Jis .1mplJ em um Jmbiente na dieta centrarquídeo (Lepomis macrochirus)
t('mpo médio de busca para a dierJ Jwal. Se um predador improduri\'O (onde as presas s.io predando em diferentes classes do? tama·
nho de Oaphnia: os histogramas mos;ram
persc'gue uma presa do ripo i, sua ca.xa esperada de ingestlo rdat1\·amence rar.ls e S é rdativa- {b) Chapim-real (Paru$ majof'J as proporções de taxas de encontro com
i::nergécica é E/ h 1 • Porém, se de ignora e.sra presa e persegue mence dev.1Ju) do que em um ambiente produtivo (onde S cada classe de tamanho em três densi-
aquelas mais proveitos.i~. pode-se esperar que cominue bus- C menor)_ Essa previsão esd amplamente confirmada pe- dades distintas. Juntamente com as ra-
zões pred1tas e observadas na dieta i'se-
cando duramc ~m outro), passado o qual sua raxa de ingestá~ los dois .;'.':\emplo~ mosrr1dos nJ Figura 9.17: em cenário:- Proporção gundo Werner e Hall, 1974). (b) O cha·
encontrada
energética é Elh. O rempo roca! gasto nesce último caso é S + h expertmencai.s. o cencrarquídeo (Lepomú macrod,irus) e o p1m-real (Parus major) predando peda-
e. porcanro, J taxa coral esperada de ingestão energérica é chJpim-real (!'ttntS ma1or) apresentaram dietas mais espe- Proporção ços pequenos e grandes da larva do be-
prevista na souro da farinha (segundo Krebs et ai..
El(s +/;)_A esrrarégia mais proveicos.a. ótima, para um preda- cia!iZJdas quando a densidade de presas foi mais 1lu. Foi dieta 1977). Neste caso, os histogramas se
dor será seguir a presJ. i se, e somence .se: relaudo um estudo de caso a es~e respeiro, realizado com Proporção referem às proporções dos dois tipos de
observada presas (segundo Krebs. 1978).
pred..1Jores em :seus ambientes namrais - ursos pardos e' na dieta
E/h, ~ EIU + h) (9.1) prerns {Ursas a retos e U america,wi) alimentando-se de s.i.1- 1

l
1
284 PARTE 2 ~ INTERAÇÕES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDACÁO 285

com precisão a~s de su.1 presa (ou hospedeiro), o tempo de do forrageio ótimo. Especificamenre, a permucação ocorre A influência modificadora de reduzir.1m suas taxas cocais de forrageio, nus diminuíram ram-
manipulação (h) é baixo~ mas is:,o impossibili[a seu ajuste com freqüência quando os diferentes tipos de presas ocu- predadores sobre o comporramento de bém o risco de predação (Townsend, 2003). No caso de nu-
preciso a ouuas espécies de presas. para as q_uais. porranro, pam micro-hábitats diferentes, enquanta o modelo do for- forrageio foi estudada por Werner e mít'eros que se alimentam à noi{e, incluindo camundono-o
o cempo de manipulação é muico alro. Assim, a Equação rageio órimo prevê o comportamento dencro de um mes- colaboradores ( l 98_lb), que trabalharam com o centrarquideo porco-espinho e lebre, o rempo dedica.do à alimencaçJo p~~
9.1 se aplica somente ao grupo sobre o qual o predador se mo micro-hábitar. Além disso, a maioria dos casos de per- tltpomú macrochirw). Eles estimaram o rendimento em ener- ser reduzido em noites enluar:ida,, quJndo o risco de prcd.1·
especializa, nus não a qualquer ourro irem alimentar fora mutação implica em mudança nos benefícios obtidos das gi:1. líquida do forrJgeio desse peixe em rrês diferences hábitacs ção é mais alt0 (Kie, 1999).
desse grupo. presas à medida que suas densidades variam, ao passo que de laboratório - em água aberra, entre as plantas aquáticas e Uma estrJtégia de forrageio é
no modelo do forrageio ótimo os benefícios são consrJn- sobre sedimenw nu - e examinar.1m como as densidades das uma pane integral de um padrJo de
Por outro !ado. a polifagi.1 possui vantagens defini- tes. Na verdade, em caso de permuração, a presa mais abun- presas variavam em hábiurs narurJ.is comparáveis de um lago, comporcamenco ger.t! do animal. A
das. Os custos de buscd (s) em geral são baixos - o alimen- dante é a mais proveitosa, e em tal caso o modelo do forra- no rranscurso das estações. Eles puderam prever o mamemo esrracégia é b.1stanre i11fluenciad.1. pelas pressões sdetiv.1s que
co é fácil de enconcrar - e um indivíduo dificilmence mor- geio ótimo prevê a especialização e:m qualquer que seja o em que o peixe deveria passar de um hábitat do lago para ou- favorecem a maximização da eficiência do forrageio, mas da
rerá de fome por causa das flurnaçôes na abundância de ripo de presa mais provei rosa (isco é, na que sejp mais ,1hun- rro, J fim de maximívr seu rendimento energético cotai líqui~ pode rarnbém ser influenciada por outras demandas. possi\·d.
um dos seus tipo~ de .ilimenros. Além disso, os consumido- dante; em outras palavras, permuc.1ção). do. Na ausência de predadores, os peixes de três tamanhos se mente conflitantes. É rambém importante salientar um omro
res polífagos podem, naturalmente, construir uma dieta comportaram de acordo com as previsões (Figura 9.18). Po- .1specto. Os locais onde os animais ocorrem, onde eles apre-
bJ.lancead,1 e m.rnrer tJl equilíbrio vari.rndo as preferênciJs rém. em outro experimento de c.1.mpo, dessa vez com a pre- sentJm abundánci.1 m.ixlm.1 e onde escolhem 'ieu alimento
cm funçJo das .ilrcraçõt:s circunstanci.tis e podem evirar o 9.5.4 O forrageio em um contexto mais amplo ~ençJ. de pr<:'JJdore) ( percas ameri1..a11.1s de bo...:a grande). os ..,J.o rndm co111ponemes-ch,1ve do) c>em ''nichos eferivm". Vi-
consumo de qu.1nrid.1des grandes de uma roxina produzida peixes peque11l)S re.srringirJ.m seu forrageio :10 h,ibicar com pl,m- mos, no CJpímlo 8, que º" nichoc> d~tÍ\'OS podem st'r alta·
por um dos seus upos de alimenrn. Ess.lS consideraçôes são É imporunre assinalar que as esrr.1- ta, aquáticas (Figur.1 9.19) (\X'erner et ai., l 983a). Naquele mence resrringidos pelos comperidores. Aqui, vemos que esse
ignor.1das pela EquaçJ.o 9.1. régias de forrageio nem sempre se- local, os peixes ficaram relativamente a sako de predaçáo, fenômeno tJmbém aconrcce. Isso r.1mbém é obsen·ado nos
•,J.1---.,·-·
De forma geral, pois, a evolução rão escrJrégias para maximizJr a efj. embora só pudessem alcrnçar uma taxa de ingesrão energérica et'eiros da predação pela coruja-de-igreja ( lj,to alba) rnbrc o
pode ampliar ou restringir as dietas. ciênci.1 da alimentação. Ao contrá- d.1ramente submáxima. Os peixes maiores, ao contrário, ficJ- comporcamento de forr.1geio de crês espécies de roedores he-
Quando as pres.is exercem pressões rio, a seleção narural favorecerá os r.1m menos sujeitos à predação pdas percas e continuaram a reromídeos, o camundongo de bolso do ArizonJ (Perogmuhw
evolutivas que exijam respostas mor- forr.1.geadores que maximizem seus benefícios líquido). e, forragear de acordo com as previsões do forrageio ócimo. De amplus), o camundongo de bolso de Bailey (!'. bai/ep) e o rato
fológicas ou fisiológicas por parre do dessa forma, as estratégias serão modificadas por aurras de- modo simi!Jr, as ninfas de diversas espécies de efemerópteros canguru de Merriam (Dipodomys m,~rriami) (Brown d ai.,
consumidor, a resrrição pode ser ex- mandas conflicantes dos indivíduos. Em particular, .1 ne- algívoros restringiram bastante seu forrageio às horas de escu- 1988). N,1 presença de coruj,ts. t~>das .1s rrês esp<!cies se dec>lo-
trema. Todavia, quando os consumidores se alimentam de icens cessidade de evitar os predadores freqüentemente aferad o rid;io em cursos d'água com a rrura marrom; com isso, elas caram para micro~hábirats que apresentavam um risco menor
individualmente inacessíveis, ou imprevisíveis ou carentes de comporramenro de- forrageio de um animal.
certos nutriemes, J d1era com freqiJênci.1 permanece ampla. Isso foi mosrrado em um trabalho sobre o compona-
Uma idéia arrarivJ e muito discutida é a de que determinados menco de forrageio das ninfas de um insera aquárico preda-
pares de espécies de predador e presa n.í.o apenas evoluíram, dor, o noronecco (iVotonecttl hoffmt1n11i) (Sih, 1982). Es,es
mas coevoluíram. Em outras palavras, cem havido uma ·'corri- animais passaram por cinco ínsrares ninfais (sendo f o mais
jovem e menor e V o mais velho), e, no laborarório, m três
---- Água aberta I
da armamentista" evolutiv,l. em que cada melhora na capaci- - - - Sedimentos

dade: do predador rem sido seguida por uma melhora na capa- primeiros ínsrares ficaram Stl)eiros à predação pelos adulros da ··· Vegetaçào I
cidade dJ presa p.ud e\·icar ou resistir au predador, que tem mesma espécie, de modo que o risco relarivo de predação por (a)

sido seguida por um.1 nova melhora na CJpacidade do preda- patte dos adultos ficou: 0.8
0,8 Mediano Grande

~ :n 0,81
dor, e assim suce'.'lsivamente. A longo prazo, em uma escalJ de
tempo evolurivo, 1'.'l~o pode se:r .Kompanhado por especiação.
de modo que, por exemplo, espécies de borboletas Jparenra-
l > 11 > lll > IV" V'= sem risco. ".
"~
o-

it
o o.
0.6

0.4
0.6

0,4
0,6

0,4
d.1'.'I se encomnm ,1'.'lsociadas com espécies de pl.rnus ..1parentJ- É possível que esses riscos modifiquem o comporcamenro das -§.!!!
0.2 0,2 0.2
d,1s ~ toda, .is espécie:'> de hdiconídem se alimentam de mem- ninfas, à medida que elas remam evit.1r tt.1.nco em b.borarório d( L.L'~~~·~-~-~
. ······ ...... ·
lnos d,1 farnílía P.is"itlnrace.1.e (Ehrlich e Raven, 1964; Fucuy- como no c.1mpo) as .:iguas cenrrais do, corpos d'águJ. onde :1
concentração de adultos é m,lior. De faro. o grau re!ari\·u Je (b)
ma e ~:Lly. 1992). :\ cocvoluç:i:o cerumenre pode ser um..1 for-

't
eviução foi o me.')mo que o risco rel.1.rivo de predaç,í.o pdos 100 100
ça .1dicion.d em fosor d.1 re'.'ltriç:í.o da diec.1. No momento. con-
cudo, a evidência coi1tundeme c:m favor da coevo\uç3.o preda- adultos: 80 80
~~
0,.9
dor-presa ou herbívoro-planta é difícil de obter (Furnyma e 60 60
Slatkin, 1983; Futuyma e May, 1992). 1 >li> li!> IV= V'= sem evitaçao. i ~i
À prÍm<:'ira visu, parece que exi.<.te uma conrradição
~".
o
0."
40 40 40

Contudo, ess.1.s áreas centrais contêm cambém a maior con- 20 20 20


<:'ntre JS predições do modelo do forr.1geio ócimo e a per-
muração. Nesc~1 ui rima, um consumidor muda de um ripo ce:ntração de presas para as ninfas. Assim, ao evitar os preda-
15 31 15 31 15 30 15 31 15 31 15 30 15 31 15 31 15 30
de presa parJ outro, qu.rndo mud.1m as densidades debs. dores, as ninfas dos instares f e I[ mo.<.traram uma reduç:í.o da
Jul Ago Sei Jul Ago Sei Jul Ago Sei
Porém, o modelo do forr.1ge10 ótimo sugere que sempre se caxa de alimenraçio na presença dos adultos (embora JS nin- 1
deveria consumir o ripo mai, proveitoso de: presa, indepen- fas do instar não apresentassem essa redução}. Como resulta~
FIGURA 9.18 Padrões sazonais em (a) os benefícios previstos do hàb,tal (taxa liquida de ganho dR energia) e (b) a porcentagem real da dieta
dentemente de ,ua densid.1de ou d.1 densidade de qualquer do da eviração da predação. as ninfas jovens exibiram um.1
denvada de cada hàbitat. para três classes de tamanho do centrarquídeo (Lepom,s macrochtrus). Não havia arnma1s p1scívoros. {0 hàb1tal com
presJ J.lterruriva. Todavia. é e,;perado que a permutação ta..xa de alimentação inferior à m;íxima, mas um aumenro d.1 ~vegetação"' é omrtldo em (b) para uma maior claridade - apenas B a 13% da dieta procedia deste habitat nas três classes de tamanho de
Peixes.) Exrste uma boa correspondência entre padrões de (a) e de (b) (segundo Werner et ai .. 1983a)
ocorra em circumr:in..-:1as em yue não se aplique o modelo sobrevivência. 1
J
L
286 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÃO 287

Os ecólogos rêm um interesse parricular pelas prefe-


(a) Com predador rências de manchas de consumidores, cujos ambienres va- (a) (b)

i
25

20
riam quanto 3 densidade de alimenw ou presas. Exiscem
muicos exemplos em que os predadores exibem uma "respos-
ta de agregação", dedicando mais cempo em mJnchas que
40
1~ _g 10


./ i.
~ 15
1 I

. ••
e 10 contêm den::.idades altas (porque esres sáo os ambientes mais • !
~
..::...-------•.
/
proveiwsos) (Figura 9.20a-d), embora cal dependência di-
z rera da densidade nem sempre seja o caso (Figura 9.20e). //
No Capíwlo l O, cracamos das resposras de agregação com
(b) Sem predador
mais detalhe. e o nosso foco será sua imporcância na dinâ·
o ..
o 2.000 4000
50 mica de populações e parcicularmence seu potencial em Afídeos por folha NUmero do anlipode C. volutator(m-2)
45 proporcionar estabilidade à dinàmica de predulores e pre-

.• 40
35
s.1s. Por ora, nos concenuamos no comportamento que leva
à agreg.1çio dos predadores (Seção 9.6.1 ), ao uso d.1 man-
(e)
50
(d)
601
(e)
100

~ 30 cha stgunJo ,l ,lbordagem do forrageio ócimo (Seç.lo 9.6.2) so 1-


e 25 e .ws ~1.1Jrõc::. d(" distribuição que provJn:lmence re.<1ulum
1 ,al 80

z
i 20 quJndo ::..lo ..:onslderadas as cend<:ncias opostas dos preda- 30
ri 60
15 dores quJnw ;l ,1gregação e às incerfert"nc..iJs recíprocJ:. (Se- -~ 20 30
40
10 ção 9.6.51. ;;; 20 r
O. 10
10 20

20 40 60 80 100 o o
Porcentagem do hàbtlal com vegetação 9.6.1 Comportamento que leva a distribuições 10 15 20 25 o 200 400 600 800 1 000 o 200 400 600 800
onde o centrarquideo preda agregadas Densidade de hospedeiros por mancha Densidade de hospedeiros por mancha Den&dade de hospedeiros por mancha

FIGURA 9.19 (a) Ao contráno do que acontece na Figura 9.18 e em Existem vários tipos de comporcamen- FIGURA 9.20 Respostas de agregação: (a) As larvas do coccinelldeo (Coccinella septempunctata) passam mais tempo nas folhas com dens1-
(b), quando as percas (que predam centrarquideos pequenos) estão :tades altas da sua presa. o afídeo Brevicoryne brass1cae (segundo Hassell e May. 1974); (b) Tringa totanus se agrega em manchas com
tos que consciruem a base das respos-
presentes, muitos centrarquideos predam em áreas com porcenta- densidades mais altas de sua presa. o antipode Coroph1um volutator (segundo Goss·Custard, 1970); (c) dependência direta da densidade,
gem alta de vegetação, onde estão relativamente protegidos da pre- tas de agregJção dos consumidores, quando o parasitó1de Deha radicum ataca Trybhographa rapae; e (d) dependência direta da densidade, quando o parasitóide Aspidiot1phagus
dação (segundo Werner et ai., 1983a) mas eles podem ser agrupados em duas c.uegorias lmplas: m c1trinus ataca F,orinia externa. (e) Mas a dependência direta da densidade nem sempre é o caso: dependência inversa da densidade, quando
comporcamencos en,·olvidos com a localização de manchas o paras1tóide Ooencyrtus kuwanai ataca Lymantria d1spar ((e a e] segundo Pacala e HassaH, 1991 ).

proveirosas e .1queles que represenram as resposcas dos consu-


de predação e onde eles reduziram sua acividade de forrageio. midores uma vez dentro de uma mancha. A primeira catego-
Comudo, o fizeram em grJus variados, de forma que a manei- r!J englobJ. wdos os exemplos em que os consumidort:s perce- pas11 em relação às manchas das presas apresenca tJmbém um 9.6.2 O uso de manchas segundo a abordagem
ra de parrição dos micro-h:íbirats emre eles foi compleramen- bem, a urru cerr,1 distância, a exiscência de heterogeneidade elemenco de busca restrica à área: se enconcrar al1menro (que do forrageio ótimo
ce diference na presença ou na ausência de corujas. na disrrihuiç.l.o de suas presas. pode ser consumido mesmo sem uma rede) no primeiro local,
Na segunda cacegona - respos- há probabilidade de que ela teça uma rede (Figur, 9.21 al. Em As vantagens para um consumidor em passar mais cempo
tas dos consumidores dentro das man- geral. portamo, em uma mancha rica, é mai:i provável que em manchas com proveico mais alco são fáceis de observar.
9.6 Forrageio ~m um ambiente em mosaico chas - ob:,en J.m-se dois aspectos prin- uma rede seja conscruída e menos provável que ela '.-eja Jban- Contudo, a alocação detalhada do tempo nas diferentes
cipJi::. de comportamento. O primeiro é umJ mudança no donada. Esses dois comporramencos explicam ,l rc::spostJ de manchas é um problema suril, pois depende dos diferen-
Para codos os consumidores, a discri- p.1drão de busca do consumidor após o encomro com seu .1\i- .1gregação diretamenre dependente da dc-nsidJde observada ciais exacos de aproveicamenrn, do aproveüamenco médio
buiçáo do alimenco é em mosaico de menro. Em p::uúcular, com frc-qüC:ncia h,i uma diminuiçJo da <luranre grande p.trce do ano no ambieme n.uur:tl de um riJ- do ambiente como um codo, da discância entre- :is man~
manchas. As ll1Jnchas podem ser obje· vdoc1d.1de do movimenco e um aumento da ux.1 de- r.::-corno cho (Figura 9.2lb). chas. erc. O problema cem sido objern de atenção espc::ci.11
tos físicos narurais e discrt:tos: uma imc-diaumente ,lpc)s J inges[Jo do alimenrn, .unbm le\·Jndo o A diferença 1us LtX,b de ah.m- por parte dJ reori:.1 do forrageio ótimo. Em particular. rem
moica carregadJ de bagas é uma mancha para uma ave frugívo- consumidor a permanecer llJS proximiJJde:, do úlrimo .di- dono de manchds com Jpro,·eiumen- sido direcionado um grande inceresse à sicuaçJo muico co-
ra; uma folha coberta de afídeos é uma mancha para uma joa- menro ing<:'r1Jo (busca restriCJ à .íre.1). Alcemariva ou aJicio- to alco e baixo pode ser .1icrnçadJ de mum em que os próprios forrageadores esgocam os recur-
ninha predadora. De maneira alcemariva, uma "mancha" pode n.1!mt:nte. é possi\"el que O') consumidores simplesmenre ab.111- muitas mane-iras, mJs duas são especi,1\mt:nre f.iceis de .1n,1li- sos de uma mancha, causando, com o tempo, um declínio
exiscir apenas como uma área definida de forma arbitrária em donem JS nunch.1s nio-proveicosas com mais rapidez do que: sar. Um consumidor pode deixar uma m.rnch.1 yu.111do '\UJ do aproveiramenrn deste ambience. Enrre os numerorns
um ambiente aparencemence uniforme; para uma J.Ve pernalca as proveicosas. Ambos os ripas de- compurtJmenw evidencia- 1 C:IXJ. de- consumo cai aba.ixo de um nivd limiar. ou i possível exemplos dessa sicuação, encontram-se os inseros insc-cívo-
que se alimemJ em uma praiJ arenosa, áreas disrinras de 10 m.! ram-se quJndo as larvas !carnívoras e recedoras de n:ia.s) do que de possua um tempo de ab.1ndono - de poJe Jhandonar ros que capcuram suas presas sobre- uma folha e as abelhas
rricóprero (I'!tarocnemia cowpersa) se 1limencar:1m de larvas
podem ser consideradas como manchas que conrêm diferences
de quironomldeos (mosquito-pólvora) em um riacho de labo-
1 umJ m.111cha sc-mpre que passar um decermin.1do intavJ!o de que consomem o néctar de uma flor.
densidades de vermes. Em qualquer caso, contudo, uma man-
cha deve ser definida pensando em um decerminado consumi- racório. Os mcópceros, colocados em su,1s rede,, rc:cehcram
l rempo sem cer sucesso na capcura de- alimenco. Sc:ja quJ[ for o
mecanismo usado, ou se o consumidor simplesmenrt :iplica a
Charnov (l976b) e Parker e Sruarr (1976) produziram
modelos similares para prever o comporcamenm de um ani·
dor. Uma folhJ é uma mancha apropriada para uma joaninha, uma pre~.i no início do experimenro e depois rc-ceberam ra- busc.1 restrita à área, as consequ~nc1as serão JS rnc-sm:is: os in- mal com forrageio ótimo em cais simações. Segundos esses
mas, para uma ave insetívora maior e mais aciva, l m:! de fo- ções diirias de- zero, uma ou crês presas. A rendencia. em aluo·
1 divíduos passarão mais cempo nJs manchas mais proveitosJs, aucores, o cempo órimo de perman<:ncia em uma mancha de--

l
lhagem ou mesmo uma árvore inceira pode represencar umd clonar d rede foi mc::nor com as taxas de- :.1\imc::nuçâü mJÚ alus e, de.1osa formJ, essas manchas geralmcnre comer.lo nuis con- veria ser definido em termos da raxa de excraçâo de energia
mancha mais apropriada. (Tmvn~c-nd c Hddrew, l 980). O comporcamento de:: />. ww- sumidores. experimenrada por um forragc::ador no mamemo em que ele

1
2 88 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREOAÇÁO 289

lf~--~ ~uii.11
(a) (b) (a)
Alimentadas (n = 38) Não-alimentadas (n = 42)
FIGURA 9.21 (a) Ao chegar em uma man-
Movimento amplo
cha, larvas de quinto instar de Plectrocne.
i 4 ·_ : m,a conspersa, que encontram e consomem
um exemplar de qu1ronomideo no inicio do
___ Mancha com produtividade alta e/ou al!a
8_ 3 ·. ., i f ef1c1énc1a de forrageio

, L:3Qm,o ,
0.5 : O5 ~ 2 ·~ "1
expenmento (Mal1mentadas"). rapidamente
param de vaguear e começam a construção 1 '- Mancha com produhv1dade baixa e/ou alta

~
~ .
:
-:
io
~
1 . . . 1
de teta As larvas que não conseguem en.
centrar uma presa (não-alimentadas) exi-
(

i' /><-.:
~,. / _____ - - - - - et1c1i!nc1a de forrageio

° l';~ . . -) i ~,,, -.. . .__________


~o-,
o
,m
1 2
Construção de teia
1 2 O 10 20 30 50 +
Biomassa de presas por
amostra (mg de peso seco)
bem movimentos muito mais amplos duran-
te os pnmeiros 30 minutos do expenmento
e são muito mais propensas a deixarem o
fragmento. {b) Resposta de agregação d1·
o ----
I,/· /, --------=== ~;~~::~! Mancha com produhvidade alta e/ou alta
1
;;:~~r~idade baixa e/ou alta
ef1c1énc1a de forragelO

J' r-=Qm,o
os lJ'_Om~,n~ retamente dependente da densidade por
larvas de quinto instar em um àmb,ente na-
tural. expressa como o número médio de
predadores em relação à biomassa de pre-
Entra na mancha
Tempo

(b)

o ---~-
Tempo (h)
sas, composta por qulfonomideos e plecóp-
teros. por amostra de 0.0625 m 2 de leito do
riacho ( n :::: 40) (segundo H1ldrew e Town-
send, 1980: Townsend e Hildrew. 1980)
.
u
ê E~,~~ ____ _ --------------------- --- -- -'
g ---

deixa a mancha (o '\·alor margi11.1l" da mancha). Charnm· cha- Consideremos, em parcicular, o forrageador da. Figu-
mou os resultados obtidos de ''ceorema do vJ!or marginal". ra 9.22b. Ele está forrageando em um ambiente onde o ali-
Os modelos foram formulados macem.uicamente, m.1s suas menm se encontra distribuído em mosaico (em manch.1s) e
características mais imporrantes são mostradas em um gráfico onde algumas manchas sáo mais proveirosas do que ourra'i.
na Figura 9.22. O tempo médio de deslocamenco entre as manchas é r1 . Por- Tempo
A primeira suposição do modelo dil que um forrage- tanto, este é o tempo que o forrageado, pode esperar des- t,+~

ador ótimo maximizará de modo global sua ingesüo cocal pender, em média, após deix.H umJ manch,1 e an(es de en-
de um recurso (geralmente energia) durante um episódio contrar uma outra. O forra.gea.dor da Figura 9.22b chegou (e) (d) (e)
de forrageio. De faro, a energi.1 será extraída de modo des- a. uma manchJ média de seu ambiente e, por essa r,tzáo. Mancha com
produtividade
contínuo, porque o alirnenw é distribuído irregularmenre; segue uma curva média de extração. Com a finalida.di..· d;,__'
?aua
o forrageador se mon~rá J.s vezes entre manchas, e, durante ter um forrageio ótimo, ele deve maximizar sua taxa de 111- ~ Média
o deslocamento, a rngest3.o de energia ser.í nula. Porém, gesrão de energia n.Jo apenas para. o período que pa.ss,1 n.1 /:l I
_,.--
/ ,':

·r,
uma vez em uma nuncha, o forrJ.geador extrairá energia da mancha, mas também para todo o período desde que ab,rnJo- ; , Média alta _/ .
maneira descrit.1 pel.1s curvas da Figura 9.22a. Sua taxa ini- nou a úlrima mancha (isto é. para. o período tr + s, em que" s ~ l/ / / : / Média baixa

cial de extração ,;er;i aira, ma,;, à medld.1 que o cempo passa


em recursos sâo csgorados, a taxa de exrração diminuiri de
o tempo de permanencia. nJ m,rncha).
Se de abandona. rapidamente a mancha. es~e período
,,
'"/ / · :
1 /o I
1
:...-- Mancha com
produt1v1dade
baixa i
// r
( t

modo regular. ~awr.ilmeme, ,t tJ.XJ. dependerá dos conteú- será curro (r{ + s~urro na Figura 9.22b). Porém. ao mesmo
; 1 1
t,,.' : '
dos iniciais da m.rnch,1, assim como <l.1 eficltnciJ. e mot1v.1- rempo, extrairá pouca energlJ (EP""'-l\'t: 1,J. A taxa de cxrr,1ç:Jo
ção do forrageador (Figura 9.22a). (para todo o período, r1 + s) será dada pela inclina.ç5.l> d.1
O problenu ,l ,;er considerado é: linhJ OS [isto é, E ,,.,iucij(t 1 + \ur:)]. Por outro !Jdo, .<.e:
1
em que momenro um forr.t;ea<lor pernunecer nJ. mancha por um período longo 11 FIGURA 9.22 Teorema do valor marginal (a) Quando um lorrageador entra em uma mancha. sua taxa de extração de energia é inicialriente
alta (em especial em uma mancha altamente produtiva ou onde ele tenha uma alta eficiência de forrageio). mas essa taxa d1m1nu1 com o tempo.
de\·e- -1h,1ndona1 unu m.rnch.1~ Se forrJgeador exrrair,i mui.co m.Iis energi.1 U\r.inJ, i; m.b .i Ll\.l a medida que a mancha se esgota A ingestão de energia cumulativa se aproxima de uma assíntota. (b) As opções de um forrageador. A :urva
.1h.1ndon,lf roJ.1s J.'i nunch,b irned1,1- totJI Je extr.tçJ.o (a 1ncl1r1.içJo de OL) mudar.i pouco. f\11·.1 laranja continua é a energia cumulativa extra ida de uma mancha média. e !1 é o tempo médio de deslocamento entre manchas. A taxa de
ramc:nte após chegar ,l elas. de p.1:i- maximizar a taxa. de extração ao longo do pt:riodo r; . . .i. é extração de energia (que deve ser maximizada) é a energia extraída dividida pelo tempo total, isto é, a inclinação de uma linha reta traçada
desde a ongem até a curva. As permanências curtas na mancha [1ncllnação:::: Epequen/{lr+ scunoll e longas [1ncllnação = E ,a~(t1+ s.o,.,90)]_ têm taxas
saria a maior pMte do tempo se deslo- necessário max1miZJr J inclinJção dJ linha a partir de: O de extração de energia mais baixas (inchnações menos acentuadas) do que uma permanência que conduz a uma hnha tangencial
1
:urva a
cando enrre as nunchas, e sua L1.xa total de ingestão seria bai- até a curva de extraçio. ls,;o se consegue fazendo com que ,1 (S81 ,m 0 ). Portanto. s0 1.rr·o é o tempo ótimo de permanêncra que proporciona uma taxa máxrma global de extração de energia. Todas as manchas
xa. Se: permanecesse em roda . . .is manch.1s por um período linha seja uma rangente <l.1 curva (OP na Figuu 9.22b). deveriam ser abandonadas quando o forrageador alcança a mesma taxa de extração de energia (a inclinação da linha OP) (c) As manchas
com produtividade baixa devenam ser abandonadas apôs permanências mais curtas. ao contrário das manchas de produtividade alta. {d) As
considerável, de Je...,pcnderia pouco rempo se <lesloc.1ndo, mas Nenhuma linha a parcir de O até a curva po<le ser m,lÍ, manchas deveriam ser abandonadas mais rapidamente quando o tempo de deslocamento é curto (e) As manchas devenam ser abandonadas
p:tssaria muito tempo em manchas esgoudas, sendo sua taxa inclinada e. por isso. o cempo de permanência associado J el.t mais rapidamente quando a produtividade global média é mais alta
coral de inges(ã.o umbém baix,1. Por isso. o rempo ótimo de é ótimo (\cm,)·
permanência teriJ duração inrerme<l1aíia. Além disso, contu- A solução ó cima para o forragea-
do, o rempo ócimo Je perm,rnência deve ser evidencemente dor da Figura 9.22b. porramo, con- ponto P. De faro. Charnov e P.1rker e Stuart verificaram que a "valor marginal"). Essa c:Lxa. de exuação é dada pela inclinação
maior parJ as mJnchJs provc:1to~.1s do que pJ.rJ J.qudas nJ.o- siste em a.banJonar ra.1 mancha quan- .'.O\ução ócim.1 p.1r,1 o forr.1geador é abandonar rodas as m.1n- d.1 tangente à curva de exrraç.ío médi.1 (p. ex., Figura 9.22b) e,
proveiwsa.s, e deve dept:nder do potc-ncial dt: :tproveiumenro do su.t ra..xa de exrrJç:io é igual (can- chas. independenrcmenre da suJ capacidade de J.proveicamen- dessa forma, é a (axa. roral média ni.ix1m.1 pJra o ambiente
do ambic:nte como urn rodo. genciJ!) à inclinação de OI~ ou seja., deveria abandoná-l.t no ro, J.O alcrnçar a mesmd caxa de extrJção (isto ~, ao mesmo como um rodo.
290 PARTE 2 - INTERAÇóES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREOAÇÁO 291

O modelo, porcanco, confirma mais .1.1usradas) do que o outro. Para cada ave em cada hábicac,
que o rempo ótimo de permanência Cowie mediu o tempo médio de deslocamento e a curva de (a) (b)
8.000 0,003
deveria ser maior nas manchas mais ingestão cumulac1v.1 de alimento em cada mancha. Ele utili-
produtivas do que nas menos produ- zou, enrão, o reorem.1 do valor marginal para prever o tem- g 7.000
tivas (Figura 9.22c). Além disso, para os fragmenms menos po de permanênci:1 ótimo em hábicars com diferenres tem- FIGURA 9.24 Quando Anaphes victus (um
~
produtivos (nos quais a ra.xa de extração nunca é cão alta quanto pos de deslocamento e comparou ess.is previsões com os
16000
l parasitóide) atacou o besouro Listronotus

.
0,002 oregonensis em manchas de 16 hospedei-
OP) o rempo de permanência deveria ser zero. O modelo pre- tempos de permanência observados no experimento. Como : 5000 ros (com uma porcentagem variável já pa-
diz, também, que codas as manchas deveriam ser esgotadas aré mostra a Figura ~.23, a correspondência foi baseante próxima, j 4.000 48 h §
rasitada), os parasitóides permaneceram
mais tempo em manchas mais proveitosas:
o pomo em que a taxa final de extração fosse a mesma em principalmente quando Cowie considerou o fato de que havia 'à
~ 3.000 aqueles com porcentagem menor de hos-
cada uma delas (isro é, aré que o "valor marginal" de rndas uma perda líquida de energia com o deslocamento das aves ~
a 0,001
pedeiros parasitados. {b) Contudo, a taxa de
m
elas fosse o mesmo); e que os tempos de permanência deve- emre as manchas. i
8.
2.000
-~ -......_ 48 h
ganho marginal em eficácia - o nUmero de
progênie produzida por minuto. nos 1O mi-
riam ser mais longos em ambientes onde o tempo de deslo- As previsões do teorema do valor marginal r.ambém fo- ~ 1.000
2
a. nutos antes finais de abandonar uma man-
camenco entre as manchas é maior (Figura 9.22d) e maio- ram examinadas por meio do comporcamenco do parasi róide cha - fot mais alta nas manchas inic,almen-
res quando o ambiente como um rodo é menos proveitoso Am1phes vtctw aucando o besouro lisrronotm oregonewis em 25 50 75 100 25 50 75 10() te mais proveitosas. As barras representam
os erros-padrão (segundo Boivin et ai ..
(Figura 9.22e). um experimento de laboratório (Boivin et ai., 2004). o~ fr:1g- Porcentagem inicial de
hospedeiros parasitados
Porcentagem 10tcial de
hospedeiros paras11ados 2004).
É alenrador que as evidênciJs de mt:tHtlli diferir.un em qu.1.lidade devido às proporçõc~ V,l-
vários casos apóiem o reoremJ do va- riad,ts de hospedeiro-. já p.1.rasitados no começo do experi-
lor marginal. Em um dos primeiros mento, e, em concordància com as previs.óes do teorema,
resres da reoria, Cowie (1977) exami- m par.isicó1des permaneceram m.iis tempo nas manchas mais predJçáo é baixo) e em um hábiw de borda de tlorcsrJ (onde meira mancha encontrada fosse uma indicação satisfatória da
nou a previ!:ião iluscrada na Figura 9.22d: que um forrageador proveico~as (Figura 9.24a). Contudo, ao contrário de uma o risco de predação é alro). Nos dois ripas de h.íbirats, eles qualidade ,oral).
deveria permanecer mais tempo em cada manchd quando o oucra previsão, a taxa marginal de ganho em eficácia (cax.1 de colocaram "manchas" (recipientes) com 4 g dt'. sememes de Todavia. a despeito da sua informação limitada, os ani-
rempo de dcslocamenro fosse mais longo. Ele urilizou cha- produção de progênie nos l O minutos finais antes de abando- painço em 1 1 locais de forrageio; e, também nos dois hábi- mais muitas vezes parecem se aproximar baseante da estratégia
pins-reais em um grande aviário fechado e acoscumou as aves nar unu mancha) foi superior nas manchas inicialmente mai~ racs, alguns locais eram relativamente aberto.., e outros fica- previsra. Ollason (1980) desenvolveu um modelo mecanicista
a forragear pedaços pequenos de larvas do besouro da farinha proveiros:is (Figura 9.24b). vJm sob arbustos. Após, eles moniroraram a sobra de gráos no para explicar esse comporcamenco no escudo com os chapins-
escondidas em copos de pliscico cheios de serragem - os co- Da mesma forma que J. teoria da momento em que as manchas foram abandonad.1s em dois dias reais realizado por Cowie. A proposra de Ollason é a de um
pos eram as "manchas". Em todas as ocasiões, as manchas con- dieca órim,1, é possível que o risco de Jisrinros. Seus resultados (Figura 9.25) apóiam a, previsões de modelo de memória. Segundo o modelo, um animal tem uma
tinham o mesmo número de presas. Porém, o tempo de deslo- predaçJo modifique as conseqüências --iue as taxas de abandono das manchas seriam mais elevadas em "lembrança do alimenco passado.. , que Ollason compara a uma
camento era manipulado cobrindo-se os copos com tampas previstas da utilização ótima d.1 man- h;ibitars de borda vulneráveis do que em hábitat~ tlorõrais mais banheira sem um tampão. A lembrança recente flui a cada
de cartolina, que se ajustavam aos copos de maneirJ. variada e, cha. Tendo em mente este faro, r,...ior- protegidos; o abandono foi sempre maior em locai e; abcrms (onde momento em que o animal se alimenta. Porém, da escoa tam·
porcanto, exigiam tempos distintos para serem retiradas. As ris e Davidson (2000) compararam o "risco de preddçáo era mais alto em cada hábiut) bém conrinuamence. A ca.xa de encrada depende da eficiência
aves forrageavam sozinhas, e Cowie usou seis indivíduos no abandono de ambientes por meio das taxas de extração de Uma revisão muito mais com- de forrageio do animal e da produtividade da área em que ele
totl!, submetendo-os a dois hábitacs. Um desses hábitars ti- alimento realiz.idas pelo camundongo-de-patas-brancas (A·- pleta das provas do teorema do valor esd se alimentando. A taxa de escoamento depende da capa-
nha sempre um tempo de deslocamento mais longo (ramp:.is rnmyscus leucapw) em um h:íbicat florestal (onde o risco de marginal é proporcionada. por exem- cidade do animal em memorizar e do alc1nce da lembrança. A
plo, por Krebs e Kaceln,k ( 1991 ). Elas lembrança desaparece rapidamente, por exemplo, quando o
indicam que a correspondência é alen- :ilcance é grande (nível da água alto) ou a capacidade de me-
tadora, mas não perfriu - muito se- morização é pobre (banheira alra e emeita). O modelo de
(a) (b) (e) melhante ao balanço doe; resultados
apresentados aqui. A principal raz.áo da imperfeiçJ.o baseia-se
96
no foco de os animais, ao contrário dos idealiz.1dor~s do mo-

~
o
E

}
:tl;. '
80

64
delo, nJ.o serem oniscienres. É possível que o, ~.unundongos-
de-patas-branc,1s do exemplo citado pre(isem de'>pender um
(erto tempo realiundo ourras ati\'idade~ que nJ.o o forrageio
e
o
e~
o
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.-. :'[
,,• !!! 2.S
Borda

Floresta
Arbusto
Aberto
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(p. ex., evir,mdo predadores). Os forrageadoró podem neces- 2
~~
48 siur de um tempo para aprender e conhecer o .unb1enre: en-
g • E 1.S <1

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! 32 32
cretanm, é prová\'el que: comecem a forragear mtulldos de uma
informação imperfeita sobre a distnbuiçâo dos ::.eus hospedei- 1~ 1 "·l
::: ~1 ·:1 ·.j
i

16 16
ros. Para os parasitóides da Figura 9.24, por exemplo, Boivin
e colaboradores (2004) sugerem que eles base1.1m ::.ua JYalia-
o
~-se ,::; ,]j .y,""j

çio da qualidade do hibirar roral na qualid.,de Jo primeiro º'ª


16 24 32 16 24 32
fragmento que encontram; isco é, des "aprendem". mas sua
Tempa de deslocamento (s)
avaliação aprendida ainda pode ser errada. Contudo, cal estra- FIGURA 9.25 A massa de sementes de pamço remanescente (densi-
tégia seria adaptariva se houvesse uma variaçio considerável dade de abandono de sementes, g) foi mais alta em manchas abertas
FIGURA 9.23 (a) Uma ~ârvore'" experimental para chapins-reais, com três manchas (bi Ternpo ótimo previsto em uma mancha. em relação ao (maior nsco) do que naqueles situados sob arbustos (maior prote-
tempo de deslocamento ( -- --). Juntamente com os tempos médios observados (:t EP) para seis aves, cada uma em d01s ambientes. (e) Os
em qualidade entre gerações (de modo que cadd geração tives- ção). e foi mais alta em hâbitat de borda de floresta (predação maior)
~;·:,5
~os pontos e o tempo previsto. considerando o custo energético de deslocamento entre as manchas (segundo Cow1e. 1977; de Krebs.
8
se que aprender novamente), m.lS pouca variação qualitativa do que no interior da floresta (predação menor) (segundo Morns e
emre manchas dentro de uma geração (de modo que a pri- dav1dson, 2000)

l
292 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÃO 293

Ollason propõe srn1plesmente que o animal deveria permane-


cer em uma mancha até que a lembrança cessasse de aumen-
tar; e deveria .1b.rndonar uma manchJ. quando sua ra.xa de en-
96
.• Porém, é possível obter algum significado a partir dessa varia-
çáo nos padróes?
Em uma primeira tentaciva para
em quem é o coeficiente de interfen!ncia e k é umJ ''consume
de normalização", de modo que as proporções, p1 , constituam
l. Agora é possível observar como a discribuição dos pred.ido-

~
trada de alimc::maçJ.o fosse mais lenra do que sua raxa de dimi- 80 e um equ.11b::o conseguir esse intento, foi proposco res nas diferentes manchas pode ser determinadJ de maneira
-:eit~e forças de
nuição das lembr.rnças. que, se um consumidor forrageia oci- conjunta pela incerferência e pela seleção das manchas incrin-
E /
a.:raçãc e de
Ao forr.1gear de acordo com o E 64 // repulsão mamenre, o processo de redistribui- secamence vantajosas.
modelo de O!lason, um animal se com-
1 48 º• /' ção continuará aré que as vantagens Se não há interferência encre os predadores, então m = O.
porta de uma maneira muirn similar
ao que é previsto pdo recrema do va-
~
o
e
• ,• de mdas as manchas sejam iguJis (Frecwell e Lucas, 1970; l'a-
rker, 1970 ). Isso .1comecerá. porque, enquanto exisrirem van-
Todos deveriam explorar apenas aquela mancha com a densi-
dade mais al,a de presas (Figura 9.28), ficando sem predado-
lor marginal. Isso é ilusrrado p,1ra o ciso dos chapins-reais de & 32 ! 1 tagens desiguais, os consumidores deveriam abandonar as res aquebs manchas cuja densidade é mais baixa.
Cmvie na Figur:.i 9.26. Tal como assinala o próprio Ollason,
~
,__
' l manchas menos vantajosas e ser atraídos para as mais vanrajo- Se a inrerferência é pequena ou moderada (isto é, m > O,
isso demonsrra que para forragear em um ambleme em mosai- ! SJS. A discribuição conseqüente desse processo foi chamada mas m < 1 - um inren·alo biologicamente realista), em.lo a::.
co, com uma r~Lxa que se aproxima da ótima, um animal não
16
1 por Frerwell e Lucas de distribuição livre ideal: os consumido- manchas com densidade alta de presas arrairiam ainda um
precisa ser oniscieme, nem amostr.1r, nem fazer anilises numé- o res são "ideais" em seu julgamento de vanragem e ''Ji\"res'' para número desproporcionJI de predadores (Figura 9.28). Em ou-
ricas p,1r,1 enco1irr.11 os m.íximm de funções com muitJs v.iri:í- o 16 24 32
"~ desloc.tr de um.1 nuncha para ourra. Nksmo assim, os con- tras pabvras, haveria uma resposcJ Je Jgregaç.lo dos predJJo-
\'l'.Í:i: meio o qu.: prl'....:Ís.1 t:ller e lembrJ1. e ab.111don.1r c.tdJ frag-
Tempo de deslocamento (s)
mmidores são comiderJdos iguJi::.. Porcrnto, em um.1 discri- rc:s, que é náo apen,lS diretamenre dl..'pendenre dd dens1d.1de.
memo. :,e n;lo t~)fr.1ge.1r t.lo r.1pid,1rnt'.me qu.rnco se recorcb. buição lint: ideal. e: considerando que rod.is JS m.rnchJs ofere- nus acderad.1 com o Jumenro Ja densidade <le presas n,1 nun-
FIGURA 9.26 Dados de Cowre ( 1977) sobre o chapim-real {'1er Figu-
Como Krebs e [),n·1es ( l 995J sJliemJm, isso nâo deixa de ser ra 9 23). comparados com as previsões do modelo mecanicista da
çam a me'.)mJ vancagem, rodos o:i consumidores apresenram a cha. PorrJ.nro, espera-se: que o risco de predação de uma presa
tJ.o surprecndc:nre como considerar que essas me)ma.<. aves po- memória elaborado por Ollason (1980) mesma GlX,l de consumo. Existem alguns c.1505 simples nos \eja diretJmenre dependente da densidade: maior risco de prc:-
dem voar sem um.1 gualificaçáo formal de aerodinâmica. quJis os consumidores parecem se ajustar a uma discribuiçJo dação nas manchas com as densidades m.iis altas de presas
Os moddos mecJ.nicisus têm sido desenvolvidos e testa- livre ideal. contamo que se distribuam de modo proporcional (como os exemplos da Figura 9.20c e d).
dos para uma g,tma de padrões de J.taque de parasiróides (como em unu manchJ. Para o chapim-real e os parJsitóides, porc.rn- Js vanragens das diferenres manchas (p. ex:., Figura 9.27a), Com um pouco mais de inrerterencia (m ::= 1), a propor-
aquele na FigurJ 9.24) (ver Vos ct ai., 1998; Boivin et ai., 2004). co, os modelos do forrageio órimo e mecanicista sã.o conside- mJs mesmo em tais casos é provávd que se viole alguma das ção d.1. população de predadores em uma mancha ainda deve-
E.'>ses modelos res)alram a irnporranre distinção emre o com- rados compatíveis e complementares, para explicar como um suposições iniciais (p. ex., Figura 9.27b - nem todos os con- ria aumentar com a proporção de presas. mas, nesse caso, de-
ponamenro "empírico" ("rulc ofthumú" ), em que os animais predador alcançou seu padrão de forrageio observado, e por sumidores sJ.o iguais). veria fazê-lo de maneira Jproximadameme linear e de uma for-
seguem regras inaus e invardveis, e o comporcamento apren- que esre padrão foi favorecido pela seleção nacurJ.I. As primeiras idéias foram bastan- ma não-.icelerada, de modo que a razão emre os predadores e as
dido, em que .1:, reg;ras estão sujeiras .1 modificações levando Por fim, os princípios do forra- te modificadas. considerando, por presas fosse aproximadamcme a mesnu em todas as manchas
em consideraç;l.o a experiênciJ 1mc:diJc,1 do forrageador. As evi- geio ótimo sáo t.imbém aplicados às exemplo, a desigualdade emre os com- (FigurJ 9.28 e, por exemplo, Figura 9.20a). Aqui, por essa rJLio.
dências sugerem que o aprendizado desempenha ao menos al- in\"escigações sobre as estrarégias de pecidores (\'eras revisões de Milinski espera-se que o risco de predaçáo seja o mesmo em rodas as m;:in-
gum p.1pel na m.Iioria das decisões do t(:>rrageador. Existe tam- aprovisionamenro dos nurriences por e: P:uker, 199 l; Tregenza, 1995). Em particular, .1 reoria livre chas e, portJnro, independente da densidade de presas.
bém unu disunç:10 imporunce enrrt: componamemos '·de parte das plantas (tema revisado por Hmchings e de Kroon, ideal foi colocada em um concexro mais ecológico por Suther- Finalmente, com muita interferência (m > 1), as man-
.tcréscimo" ("n1o·t•111emtd") e "de decréscimo" (''decreme11taf"). 1994). QuJndo é proveicosa a produção de eswlões longm Lrnd ( 1983), que in<.:orporou expliciramcnre os tempos de chds com densidade mais alra de presds deveriam apresentar ,l
No primeiro ripo. uda ataque bem-sucedido em uma mancha que se esrendem rapidamente de uma mancha para outr.1? nunipulaç:lo do predador e a interferência múcua entre os razão mais baixa entre predadores e presas (figura 9.28). Des-
aumenta a chance de permanência do forrageador. Esse com- Qu.indo é proveiroso concentrar o crescimento das raíze::. den- pn:dadores. Ele verificou que os predadores deveriam distri- sa forma. esperJ.-se que o risco depredação seja o mais alro nas
portamento pro\'an:lmente é Jdaptati\'O quando há uma con- rro de um volume limitado, explorando recursos de umJ man- huir-se de modo que a '.)UJ proporção no local i,p 1 • esraria reb- manchas com a densidJde mais baixJ de presas e, port1nro,
sider:h·el variaç.l.o qualirari,·a t'rHre m.rnchas, porque de esri- cha até quase esgotá-la? Certameme, é proveitoso esse inca- cionJda com .1 proporç:lo de presds (ou hospedeiros) no local inversamenre dependente da densidJde (como os dados da Fi-
rnul.1 rempo~ de permanência nuis longos em mancha::. de me- câmbio imelectu,1! através das divisões ra.xonômiGis. t. h1 , por meio da equ.1çJ.o: gura 9.20e).
lhor quJlid.1de. >lo comporc,tmenco "de decréscimo". com cada Fica cl.1ro, portamo, que a gama de padrões para o, dJ.-
.uaquc bem-sucedido em um.1 m.incha decresce a chance de p,. k (/,' ••) (9 2) dos mostradm na Figura 9.20 reflete um equilíbrio que se move
permanência do f(>rr.1geador Es::.e comporGtmento prov,1ve!- 9.6.3 Distribuição livre ideal e outras
meme é ad.1pr,tri\·o qu.rndo tod.1s ,IS manchas .1presenram apro- relacionadas: agregação e interferência
\irn.1d,1me11re .1 rnt:mia qualtd.,dc, porque de esrimul.1 os for- (a) (b)
r.1geadores a .1b.1ndonar em rn,rnch;:is e\got.1d.1s. Podc:mm ob:,erv.u qut' os consumido-
Assim. o rnodelo de OIL1\0n parJ o chapim-real 111corpo- res rendem .1 Jgreg.ir-se em m.rnchas 18 ~
rou o comport.unemo empír101, de acréscimo. Boivin e cobbo-
radores, por ourro l<tdo. veriflcuam nos seus parasitóides um com-
proveiro::..is, onde ~t sua ra.xa esperada
de consumo de J!imenro é a mais alrJ. Contudo, podemm :g
15r14 FIGURA 9.27 (a) Quando 33 patos foram
t:imbém esperar que os comumidores tLnd.1m a competir ~ ahmentados com pedaços de pão em duas
portamenro .1prendido, de decréscimo: por exemplo, um parasi- ã 12 estações de um reservatório (com urra r3.·
róide que at.1c.1s~t' um hospedeiro s.1dio tinha urna probabilidade inrerferir uns com outros (temJ discutido no Capímlo 10/, ~ 10 ' ~- zào de vantagem de 2 1 ), o número de
l .43 vez maior <le ah<mdonJr um fr.1gmenro depois disso; um
parasitóide que rcjeira::.se um hospedeiro i~i. atacado rinha uma
reduzindo assim su.1 rax.1 de consumo pa orpua. Disco se de-
duz que JS manchas inicialmente mais proveiro)aS se comam
I
z
B
6 •
animais na estaçào mais pobre. mos:rada
aqui. rapidamente se aproximou de um ter-
ço do total. em aparente concordãncia com
probabilidade l. l l vc.-z maior Je ::ih.rndonar uma mancha. Vos e imediararnenre menos VJntajosas. porque atraem a maioria dos as previsões da teona livre ideal. (b) Contu-
~ 2 •
do. contrariamente às suposições e a ou-
colaboradores ( J l)<)8J, ao conrdno, constataram um comporra- consumidores. Porta1Ho, pudemos esperar que os consumi-
mento de Jcré'.)cimo quando o parasitóide Cotesia gfomaata ata- dores se redistribu:1m, e talvez por isso não surpreend,1 quc-
~ 1 1 !•~!~f,• tras previsões da teona srmples. os patos
ºo 60 120 1so 240 300 360 420 ABCDEFGHIJKLMN nào eram todos iguais {segundo Harper,
cou seu hospedeiro, .t larv,1 da borboleu Pii:ris bnwime: cada en- os padrões observados de discribuiçJo dos predadore:i 11-1~ 1982. de M1hnsk1 e Parker, 1991)
Tempo(s) Indivíduos ordenados segundo o éxrfo
contro bem-'.)uced1Jo aumc:nrou .su.1 rc-ndência em perm.mecc-r manchas de presas v.uiem subsrancialmenre de caso J caso.
294 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 9: A NATUREZA DA PREDAÇÁO 295

encomra-se no tempo desperdiçado pelos parasitóides nas buição encre as manchas de presas é aleacória. Isso resulta va exercida por herbívoros cem levado a uma variedade de de-
manchas com densidade alra de hospedeiros, dado que os em uma dependência inversa da densidade na taxa de mor- fesas físicas e químicas por pane das plantas que resistem ao
m =0.3
hospedeiros ji parasitados nã.o foram removidos da man- tJlidade entre as manchas intermediárias e boas, e em uma ataque. Essas defesas podem estar presentes com continuida-
cha e podem ainda auair outros parasitóides (difereruemen- relação "em domo" para codo o intervalo de densidade de de efetiva (defesas constitutivas) ou o aumento da sua produ-
re das presas, que são verdadeiramenre predadas) (Morrison presas (Figura 9.30b). Quando o cusro de migração é mui- ção pode ser induzido pelo ataque (defesas passíveis de indu-
e Srrong. 1981; Hassell. 1982). Assim, os primeiros parasi- co elevado, o deslocamento entre as manchas ná.o é benéfi- ção). Não é fácil determinar se as supostas ''defesas" realmente
cóides e~m um.i mancha podem interferir de maneira indi- co. independenremente de onde se enconrrem - a morrJ.li- têm efei cos negativos mensuráveis sobre o herbívoro e con-
reta nos que chegaram posteriormente, pois a presença pré- daJe é inversamente dependente da densidade em rodas as seqüências positivas para a planca, em especial após serem
via de um p.uasitóide em uma mancha pode reduzir a taxa manchas (Figura 9.30c). considerados os custos de montagem da resposta. Foram
eferivJ com que os que vieram depois atacam hospedeiros Evidentemente, não faltam causas pocenciais para a am- discutidas as dificuldades de revelar cais efeicos e revisadas
não-parasitados. Esse efeirn cem sido denominado "pseudo- pla gama de ripas de dimibuições de predadores e de raxas de as relações encre herbivoria e sobrevivência e fecundidade:
inrerferência" (Free er Ili.. 1977); seus efeiros por.encialmenre morralidade entre as manchas de presas (ver Figuras 9.20 e das planras.
Proporção de presas na mancha 1-êsima (h) 9.29). Suas conseqüências, em termos de dinâmica dr.: popu-
imponanres sobre :1 dinâmica de populações serão discutidos De maneira geral. o efeiro imediam da predação sobre
no Capirnlo l O. lações, serão cracadas no próximo capículo. [sso ress.1.lta a im- uma população de presas nem sempre é pre,·isivelmence pre-
FIGURA 9.28 Efeito do coeficiente de mterferênc1a, m. sobre a distri-
Ü) p.1drúes esperados são Jinda portância fundamenral das ligJções entre ecolugi.1 compona- judicial. primeiro porque os individuo~ mortos podem não
buição esperada dos predadores entre manchas que contém uma pro-
porção variável do total de presas na população (e. portanto. em sua mod1f1i.:-1do'i ,e incorporarmos o mentJI e ecologiJ de popul.1çóes conscimir um.1 amostra .dearóri,l (e eles podem rer o po-
11antagem ~intrínseca~) (segundo Sutherland, 1983) .lprendizJdo por parte dos predadores renci,tl mais baixo de contribuir a.o fururo da popu!Jção) e,
ou os cu'.'>WS d.1 migração emre manchas (Betnscc:in t't ai., l 988, em segundo lugar, devido às mudanças compensatórias em
1991 ). Com um ,·.ilor realista de m (= 0,3), a resposca de agre- Resumo crescimento, sobrevivência ou reprodução das presas sobre-
entre as forças de arração e de repulsão. Os predadores são gação Jus pre<l.tdores é diretamence dependente <lJ densidade viventes (em especial mediante a redução da competição
atraídos para as manchas mais vantajosas; mas são repelidos (como é esperado), desde que a resposta de aprendizado dos Predação é o consumo de um organismo por outro, em que a por um recurso limitante:). Do ponto de vista do predador,
pela presença de oucros predadores que rém sido arraídos da pred.1.dorcs sejJ fone em relação à ca.xa com que eles podem presa escá viva quando o primeiro predador a .1.caca. Os predd- pode-se esperar que um aumento da quantidade de alimento
mesma maneira. esgoc.u .1s mJnchas. Toda\'ia. se sua resposta de aprendizado é dores podem ser classificados de duas maneiras principais. A consumido leve a aumentos das taxas de crescimento, de-
Entretanto, esta descrição da re- fraca, é possi\"el que os predadores sejam incapazes de perce- primeira é "raxonômica" - carnívoros consomem animais, her- senvolvimento e natalidade. e decréscimos das taxas de mor-
lação entre a dimibuiçáo dos preda- ber as mudançJs na densidade de presas que resultam do esgo- bivoros consomem vegetais, etc. - e a segunda é "funcional", calidade. Contudo, exiscem muicos fatores que complicam
dores e a disrribuição do risco de pre- tamenco das mJnchas. Sua distribuição, então. será indepen- em que se distinguem predadores verdadeiros, pastadores, pa- essa simples relação entre taxa de consumo e beneficio do
dação cem sido ceinperada com expressões do ripo "ide espe- denre da densidade de presas. r:isitóides e parasitos. consumidor.
rar que". A razão disso ~ que a relação também depende de De forma análoga, quando o custo de migração é b.1i- Os efelcos da herbivoria sobre uma planu dependt'm de Os consumidores podem ser classificados em um co11ti-
uma gama de facores acé o mamemo não considerados. A Fi- xo, a resposca de agregação do predador p~rmanece direta- quais herbívoros são envolvidos, de que parres dJ pbnn são 11tmm, desde a monofagia (um LÍnico tipo de presa) até a poli-
gura 9.29, por exemplo, apresenta um caso em que o parasi- mence deprndenre da densidade (com m = 0.3). Conrudo, 2fecadas e do momento do ataque em rebção Jo de-.envulvi- fagia (muitos tipos de presas). As preferências de muims con-
tóide Trichogrnmmn prrriornm forma agregados em manchas quando o cusm de migração aumenta, para os predadores nl('nto da planta. Podemos esperar que .1ç6es de mordiscar sumidores são fixas - elas são mantidas, independentemente
com densidade alta da sua mariposa hospedeira, mas o risco em manch.1s mJis pobres a.inda pode ser vancajoso se deslo- folhas, sugar a seiva, form:lr minas, danífiCJr flores e frutos e das disponibilidades relarivas de ripas de alimenros alcernari-
de parasitismo para a mariposa é maior nas manchas em que car, nus para outros os custos de migração podem superJr corur raízes renham efeitos diferences sobre JS p!ancas. Uma vos. Porém, muitos outros mudam sua preferência, de modo
.'r.e acha com densidade baixa. A explicação provavelmente os porenciJis ganhos de: deslocamento. Pa.ra estes, a disrri- vez que a planta em geral permanece viva por um período que cercos itens alimentares muius vezes são consumidos des-
curto, os efeims da herbivoria são também JecisivJmence de- proporcionalmence quando se comam comuns. U'ma dicra
pendentes da resposta da planta. A pressão d.1 seleç:ín evoluri- misra pode ser favorecida porque, c:m primeiro lugar, cada tipo

(a)

(a) (b) (e)


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200
Densrdade de presas Densidade de presas Densidade de presas

FIGURA 9.30 Efeito do custo de migração em predadores j1str:bu1dos em manchas de presas. em um modelo de s1mutação. O coeficiente de
FIGURA 9.29 (a) Resposia de agregação do paras1tó1de de ovos Trichogramma pr.g!Josum. que se agrega em manchas com densidades alias interferência. m, é 0,3 e !evana a uma dependência direta .::a densidade na ausência de um custo de migração (a) Custo de rn1graçâo baixo· a
de sua presa, Plod,a ,nterpunctella (b) Distnbu1ção resultante dos efeitos adversos os hospedeiros em parcelas com densidade alta têrn dependência direta da densidade é mantida. (b) Cus:o 1nter-ned1ano: uma relação ~em domo" (c) Custo alto dependência inversa da densida-
menor probabilidade de serem parasitados (segundo HasseU, 1982). de (segundo Bernstein et ai.. 1991).

l
296 PARTE 2 - INTERAÇÕES

de alimenro contém diferences substâncias químicas tóxi- mos os comporcamenms que levam a discribuições agrega- :
cas indesejáveis. De modo geral, uma escrarégia generalista das e a nacureza dos padróes de distribuiçáo resuluntes. As
seria favorecida se um consumidor tivesse mais a ganhar do vantagens de um consumidor em despender mais tempo
que a perder em .1ceicar itens de qualidade baixa enconrra- em manchas mais proveitosas são fáceis de observar. Con-
dos, em vez de ignorá-los e concinuar sua busca. Discuti- tudo, a alocação deralhada de tempo em diferentes man-
mos esse tem1 no contexto da cearia da dieta ótima, cujo chas é um problema sutil, dependendo dos diferenciais pre-
objetivo é prever a. estratégia de forrageio a ser esperada sob cisos em vanragem, do proveiro médio do ambiente como
condições especificadas. um rndo, da distância entre manchas, etc. Esse é o domí-
O alimento em geral apresenta distribuição em mo- nio da teoria do uso ótimo da mancha. As previsões da teo-
saico, e os ecólogos têm um inceresse especial sobre as prc:- ria do forrageio ótimo e da teoria do uso ótimo da mancha
ferências de consumidores pelas manchas que variam na são modificadas quando existe um risco simultâneo de um
densidade de alimento ou presas que conrêm. Descreve- consumidor ser predado.

10.1 Introdução: padiões de abundância e a uma compreensão razoável dos componente~ - neste ca~o.
necessidade de sua explicação populações de predadores e populações de presas. l'ortanco,
esce capítulo dedica-se à.s conseqüências das inceraçóes pred,1-
Trataremos agora dos é'teiros da predação sobre a dinâmica das dor-presa para d dinâmica das popul.1ções em quesrâo.
populações do predador e de sua presa, ern que um levama- Inicialmente, será enfocado o uso de modelos sin'ples
menro mesmo limiudo dos d:.idos revela um variado rol de para deduzir os efeitos produzidos pelos diferentes compo-
pJdróes. Existem cercamente ca~os em que a predaçâo exerce nentes das interações, examinando os efeitos separados anres
um efeico profundamence nocivo sobre a população de presas. de tentar compreender os efeicos combinados. Após, serão
Por exemplo, a joaninha ''vedalia" (Rodo/ia cardinalis) é bas- examin.1dos dados de campo e experimentais, para ver :ie as
camc conhecida por haver virrnalmente erradicado a cochoni- deduções são confirmadas ou refutadas. De faco, os modelos
lha-australiana (Icerya purchaH), uma praga que ameaçava a simples são mais úteis, quando suas previsóes não são susren-
indústria cítrica da Califórnia no final da década de !880 (ver radas pelos dados reais - sempre que a razão da discrep.inci.1
Sê''r,lo 15.2.5). Por outro lado, há muirns casos em que os pre- puder ser logo descoberra. A confirmação das previsões de um
dJdores e os herbívoros não exercem um efeirn aparence sobre modelo permite a sua consolidaç:ío; sua refutação acompJ-
a dinâmica ou a abundância de suas presas. O gorgulho (!Jpion nhada de uma explicação posterior representa um progre,so.
•dicú), por exemplo. foi introduzido em muitas panes do mun-
do na tentativa de cone rolar a ahundância do rnjo ( Ufex euro-
p,1t'us), romando-st:, com freqüência, um insern bem-estabeleci- 10.2 A dinâmica básica dos sistemas
do. Emreranro, a sirn.1çâo no Chile é compleumente típica, onde, predador-presa e planta-herbívoro:
,lpl'.~.1r de o in.-;ern comer em médi:.i a metade ou às vezes aré 94% uma tendência aos ciclos
d.ts sementes pro<luzidJS, não houve um impacro apreciável sobre
., c1pacidade invasora do tojo (Norambuena e Piper, 2000). Foram desenvokidas duas séries principais de modelos p.tr-t
Existem umbCm exemplos que parecem mostrar popu- tent.ir compreender a dinâmica predctdor-presa Ambos \t.-r.lo
bções de prelÍJdores e presas unidas por oscilaçóes conjuntas examinados neste capírnlo. O primeiro (Seção lü.2.1) ;:sü
~m SUJ abunJdncia (Figura 10.1 ). mas há muito mais exem- b,1seado em equdçóes diferenciais (e, portamo. se apliu !Tli'i
plo~ em que .1s populações de pred.1dores e presas exibem flu- tdcilmenre Js popubções cuja reproduç;10 ~ LOIHÍ11u,1J. m.1) )t'
ruJçôes de sua abundância apJrt:ntemenre independenres. h.iseia baseante em modelos gráficos simples (Rosenzwe·~ e
Evidenremcnre. uma das principais rarefos dos ecólogos \;lacArthur, 1963). O segundo (Seção 10.2.J) uti!iZJ equ.,-
f consisre em remar compreender os padrões da abundância pre- ções em diferenças para representar interações hospedeiro-pJ·
rasitóide com gerações discretas. Apesar desra limitação U\.O-

l
dador-presa e explicJr as d1ferenç.1s entre um exemplo e o pró-
ximo. É iguJlmente evidente, contudo, que nenhum desses nômica, estes modelos po.<.suem a vantagem de terem sidu ex-
I pares de populaçóes de predadores e presas existe isoladJmen- plorados maremaricamenre com rigor. (Observamos ancer,or-
te, mas como partes de sisrenus com múlrip!Js espécies, e que meme que existem muiras espécies de parasHóides impon1n-
I
t rodas essas espécies são aferadas por condições ambientais. Esses
remas mais amplos sobre o que <lerermin.1 a .1bundâncú de
res.) Embora sejam explicadas separaJamente . .is duas séries
de modelos têm, naturalmente. um objetivo comum (ava.ni.;.tr
uma espécie serio abordados nm·amence no Capítulo 14. To-

I
nossa compreens.io sobre a dinàmica predador-presa), e c!Js
d,1via, como acontece com rndo o processo complexo da ciên- podem ser vistas como exrremidades de um espectro de abor-
ciJ, não podemos compreender a complexidade integral sem dagens maremáúcas que vai do Jis(rern ao contínuo.
'

l
298 PARTE 2- INTERAÇÓES
CAPÍTULO 1O: A ÜINÁMICA DE POPULAÇÓES DA PREDAÇÁO 299

seu alimento em descendentes do predador. Por isso, a taxa de mas. Isco, encão, conduz a uma escassez de alimento para os
(•) naralidade do predador é faPN e. de modo geral: predadores e a um decréscimo da abundância dos mesmos, 0
160 que provoca um abrandamenco da pressão de predação e um
- - Lebre americana I dP / Jdt = faP1\" - qf' (10.4) aumento da abundância de presas, que leva a um aumento da
- - - - Unce abundância de predadores e assim sucessivamence (Figura
I0.2d). Desse modo, as populações de predadores e presas são
As Equações 10.2 e 10.4 consriruem o modelo de Lmka-'volrerra. submetidas a "oscilações acopladas" em abundância, que con-
/, 1\1 As propriedades desre modelo podem ser invesrigadas pela cinuam indefinidamence.
1 \, 1 descoberra das isolinhas zero. Na Seção 8.4.1. as isolinhas zero O modelo de Lotka-Volterra é
1 ~ \ ' '. 3
/ 1 '. J/\
1 'J;'
foram descri,as para os modelos de comperiçáo de duas espécies.
Aqui, existem isolinhas zero separadas para pred.1Jor e presa, sen-
adequado para mostrar a tendência
subjacence nas inceraçõcs predador-
,>
1925 do que uma é representada em um gráfico d..1 densidade da presa presa, de forma a gerar ílucuaçóes na
Ano (eixo x) em relação à densidade do predador (eixo yl. Cada uma população da presa que são seguidas
representa uma linha de uniáo das combinações das densidades por Autuações da população do pre- ,'::;!,""-,'•"
(b)
5.0 do predador e da presa que levam a uma população in.therável de dador. Encretanro, o comporcamenm
1 presas (d1V !dt = O; isolinha zero da presJ) ou .1 um.1 população
in.drerável do predador (dP / dt = O: isolinha zero <lo predador).
deralhado do modelo nJ.o deve ser

~~ ~
muico considerado, porque os ciclos que ele exibe são '"estru-
1 1' L'.ima vez representada a isolinha zero para J presJ. '.'.>abemos que as curalmeme escáveis", mostrando "estabilidJde nemra", isto é,

iH\_u vJ
..-~.-"'·\) ••·.
<.>:::.. J\.1 '>_,-\;·-':..>
combinações a um lado desta conduzem à dimi1ll1Í\,lo d..1 presa,
enquanto as combinações no outro lado conduzem a um aumen-
m. Desse modo. e corno veremos adianre, se represemarrnos no
mesmo gráfico as isolinhas zero para a pre'.'.>a e para o predador,
podemos começar a decerminar o p;idráo d.1 dinJ.mica das popu-
as populações seguem precisamente os mesmos ciclos. indefi-
nidamence, mas até que alguma influência externa as deslo-
quem para novos valores, após o que seguem indefinidamente
novos ciclos (Figura 10.2e). Naturalmente, na prática, os am-
bientes mudam, e as populações seriam continuamente "des-
O 10 20 30 FIGURA 10.1 Oscilações con1untas da abun-
dância de predadores e presas. (a) A lebre l.1çóes conjuncas do predador e da presa. locadas para novos valores". Uma população seguindo o mo-
Tempo (dias)
amencana (Lepus americanus) e o ltnce ca· No caso da presa (Equaçáo 10.2). quJndo· delo de Locka-Volterra, por isso, não exibiria ciclos regulares,
(e) nadense (Lynx canadensis), conforme deter-
mas sim flucuaria erraticameme, devido a perturbações repe-
minações baseadas no número de peles Ob·
tidas pela Hudson Bay Company (segundo dN / dt = O, ,N = aPN ( 10 5) tidas. No mesmo instante em que iniciasse um ciclo, ela seria
MacLulick. 1937). (b) Aotíferos femininos par- desviada para um novo ciclo.
tenogenéticos (Bracionus calycillorus) {pre-
ou: Para que uma população exiba ciclos regulares e reco-
dadores,•) e a alga verde unicelular (Chio-
refia vulgaris) (presa.:), em culturas de la- nhecíveis, cais Ctclos, por sua vez, devem ser escáveis: quando
boratóno (segundo Yoshida et ai., 2003). (e) [' = ,- / {t (10.6) uma influência externa muda o nível da população, deve ha-
O parasító+de ( Venturia canescens) ( - - )
ver uma cendência a volcar ao ciclo original. De faco, como
e sua manposa hospedeira ( Pfodia interpunc-
telfa) ( - - ) em culturas de laboratório (se· Assim, como r e a são consranres, a veremos posteriormente, os modelos predador-presa (mais
Tempo (semanas) gundo BJornstad et af., 2001 ). '·º . .::: -:,12s :-:e isolinha zero da pres.1 é um,1 linhJ para além das suposições forcemence limitantes do modelo de
a qual Pé un1J. consunce (hgura Locka-Volcerra) são capazes de gerar uma ampla gama de pa-
I0.2a). Abaixo dela, a abundáncia do pred.1Jor e b.1íxa e a da drões de abundânci:i: pomos de equilíbrio escável, ciclos mul-
presa aumenta; acima del1, a abundânci,1 do pred..1dor é alta e cigeraclonais, ciclos de uma geração, caos, ecc. - uma gam;i
10.2.1 O modelo de Lotka-Volterra d.1dor-pres,1. Os encontros aumemarão com o número de prc"· a da presa diminui. repetida em exames de populações reais. O desafio é descobrir
d.tdores {[') e com o número de presas {íV). No encanto. o Da mesma forma, para os predJ.dores. qu,rndo· que luz os modelo" podem lançar sobre o componamenrn de
O moddo com equação diferencial nuis simples é conhecido número exJ.to de presas enconcradJ.s e realmenre consumid,1s populações reais.
(como o modelo de compecição imerespecífica) pelo nome dependn.í tb eficicia da bu~ca e do ;itaque do predador: a. :1) d!' I dr = O. f,,PN = ql' ( 10.7)
dos !)em cri.idores: Lorka-VolrerrJ (Volrerr.1. 1926; Lurk,1, \·e·tes urnbém chamJ<l.1 de "taxa de araque" :\ uxa de consu-
l 9Y2}. Esce modelo constitui um ponto de parcida muno úri\. mo d-1 pres..1, Jssim. seri aP/\/ e, de modo ger:il: ou: 10.2.2 Atraso na dependência da densidade
O moddo possui dois componentes: I', o número de indiví-
duos pn;:~enres em uma população de preJadores (ou consu- d.V/ rlt = r;V - tf!'1\/ (10 2) N= qlfa (10.8) O meCdnismo básico que gera as osci-
m1dores), e 1V, o número de indivíduos ou biomassa existente lações acopladas é uma série de "res-
t:íil unu. população de presas ou em uma população veget.d :\.1 ausCncia de pres;is, ;idmire-se que o número de pre- Portamo, a 1solinha zero do predJdor e= uma !inh..1 ao longo po$t/lS 11wnérict1s'' com a.erasas no cempo, ou seja, mudanças na
Inici.ilmenre, J.dmirimos que, na aus<:ncia de consumi- J,1dores no modelo diminua exponencialmenre por inaniçJo: da qual N é consrance (Figura l 0.2b). Para a "querda. a abun- abundância de uma espécie em resposca à J.bundJ.ncia d.1s ou-
dores, a popubç.ío de presas :iumenca exponencialmeme (ver d:rncia de pn:sas é baixa e a de predadores diminui; para a direita., tras espécies. Primeiro se dá um atraso no tempo entre "mui-
Seção 5.9): d!' i d,= -qr. (10.3) I a abund.ància de pres;is é alc:i. e a de pred..1Jore::, .1umem;i_ tas presas·· e "muiros predadores" (que surge porque a resposta
1 A junçáo das duas isolinhas (Figura 10.2c) momo o com- da ;ibundància dos predadores à abund.incia alta de presJS mio
dN! dt= rN (10.1) em que q é a tJ..XJ de mortJlidade dos predadores. Ele é con-
rrJpo:-ro pe!J. natJlidade de predadores, cuja caxa se supõe que
i portamenm das populações conjunus. :\ ,lbundància de pre-
d..1Jores aumenra quando há um grande número de presas,
pode ocorrer insc.1.ncaneamente). Pode produzir-se encão um
outro arraso no rempo entre "'muicos pred.1dores" e "poucas
f>orém, os indi,,iduos-presa são eliminados pdos pre(L1Jores
com uma taxa que depende d.1 freqU.ênci1 dos encontro:; pre-
J,:penJe ,;;() de doís aspectos: a tJXJ com que o alimento <::
con'.'.>L1m1d0. ,1Pl'-l, e :.1 eficácia do pr("dador, f. para converter
I
I
mas isso leva a um aumento da pn::sSJ.o de preda~áo sobre as
pre. . :i.s e, desse modo, a uma redução da abund.1.ncia das mes-
presas", e posceriormenre enrre ··pouc;is presas" e" "poucos pre-
dadores", e as.sim por dianre. Porc..1nrn. na prárica, mesmo onde

l
1
300 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 1O: A DINÂMICA DE POPUlAÇÔES DA PREDAÇÁO 301
.
(a) (b)
l'· (a) (b)
p
Jf 50
1,0

l
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~ ·,)
o 130 0

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+ t t ~ 20
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np .
eo
j 0,5
.. .... ·
··
.
il' FIGURA 10.2 O modelo de Lotka-Volterra
"-
10
!tJ ...... , '· . FIGURA 10.3 Atraso na dependência da

ti
\ densidade. (a) Modelo de parasitó1de·hos·
para a dmãmica predador-presa. (a) lsolt-
OL_-!.L.C'-'..c:.•.,._'~·--__J_ __J__

í 1.0
nha zero da presa. com a sua abundãnc1a pedeiro seguido durante 50 gerações: ape-
+ 10 20 30 40 50 -0.5 0,5 1.5 2,0 sar das oscilações, o parasitóide tem um

1l / r (IV) aumentando {sela da esquerda para a


d1re1ta) quando a densidade do predador é Gerações logantmo da densidade efeito regulador sobre a população do hos·
<

+ tr 1 mais baixa (P baixa) e d1m1nuindo quando


as densidades do predador são mais altas
(b) lsohnha zero do predador, com a abun-
(e) (d)

1,0
do hospedeiro pedeiro. {b) Para o mesmo modelo. o valor
k da mortalidade da geração representado
em função do logaritmo da densidade do

(e)
Abundãnc1a da presa ((1/J .9..
ta
N dância de predadores aumentando {setas
apontando para cima) quando as densida·
des da presa aumentam e diminuindo quan-
-:;
1.0l ' > ~
' .
~ 0.6
0,8
hospedeiro: não se verifica uma relação ela·
ra da dependência da densidade. (c) Os
pontos de (b) unidos em série de geraçào
p do as densidades da presa sào mais bai-
xas (c) Quando as 1sol1nhas zero são com- i 05 , ' _: \ : • 1 0,4
para geração. eles descrevem um espiral no
sentido ant1-horáno - uma característica do

·71 ~ (d)
binadas. as setas também podem ser com-
binadas, e estas seta, conjuntas progridem
em círculos no sentido anti-horàno. Em ou- o
• , • ...~~:- ". •a,. ,.
.. :_;.;.~~: •..._-1.._....L_
0,2
o ..
atraso da dependência da densidade :se·
gundo Hassell, 1985) (d) O valor k da mor-
talidade da geração representado em fun·
-0.5 O 0.5 1,0 1,5 2.0 -0.4 0,4 0,8 1,2 1,6 ção do logaritmo da densidade do hospe
tras palavras, a população coniunta sedes-
loca com o tempo desde uma situação com Logaritmo da densidade Logaritmo da densidade do
de1ro duas gerações antes. novamente é
poucos predadores I poucas presas (parte do hospedeiro hospedeiro duas gerações antes
aparente uma clara relação do atraso da
~
N
1nfenor à esquerda. em [c]). para poucos pre- dependência da densidade
dadores I muitas presas (parte inferior à d1·
fÇ~ l: p
re,ta), para muitos predadores/ muitas pre-
sas. para mwtos predadores I poucas pre-
sas e de novo para poucos predadores /
N Tempo poucas presas Observe. contudo. que a densidade, mas quando represemamos os valores k da mona- dância. Por ora, conrudo, esta discussão destaca a relação cn-
abundância mais baixa da presa (''às 9 em lidade induzida pelo predador, em função do logaritmo da
(e) rre "regulação" e "estabilidade" nas interações prcdador--prtsa.
ponto"") aparece um quarto de um ciclo an-
Perturbação tes da abundância mais ba1xa do predador densidade da presa nessa geração (Figur1 l 0.3b). nenhuma As populaçóes naturais de predadores e presas rendem a exibir
("às 6 em ponto .. - no sentido anti-horàno) rd.tção clara é apareme. Por outro lado, quando os pomos sã.o flutuações menos violentas e menos regulares do que aquelas
(d) Representação numérica. em função do unidos emre si, umJ. geração atrás da outra (Figura I0.3c), geradas por modelos mais simples. A maior parte do que resca
tempo, destes ciclos acoplados da abundàn-
/~· ob:-.erva-se que eles descrevem um espiral no senrido anri-ho- desce capítulo descreve a busca de explicações para esses pa-
N• /!\ cia do predador e da presa, os quais cont1·
/ ', ~
nuam 1ndefmidamente Contudo. como mos· rário. Esce (raçado em espirJ.l é característico do auaso na de- drões e para as variações na dinâmica dos padróes de caso a
p trado em (e), estes ciclos exibem uma esta- pendência da. densid:ide. Neste c1so, uma vez que as oscila- caso. Uma população que permanece aproximadamente cons-
bilidade neutra: eles continuam indefinida-
mente se não forem perturbados. mas cada çõe:-. são amorrecidas, os pomos percorrem um trajeto para o ume em carnanho fornece uma evidencia da existência de for-
perturbação que leva a uma nova abundàn- inrc:rior da espiral em <lireç;io ao ponro de equilíbrio. Além Ç.15 ranro reguladoras quanto escabilizadoras. A dependência
c1a m1cia uma nova sérre de ciclos com es· disso, quando representamos os valores k da morrali<lade rn- J.crasada da densidade de uma interação pred.1dor-presa ''re-
tabil1dade neutra, ao redor das mesmas
médias. mas com uma amplitude diferente duzida pdo predador em função do logaritmo da densidade gula", no senrido que atua fortemente ~obre as populações gran-
Tempo
da presa du,lS gemçôe'! ,mtes (FigurJ. 10.3d), o arraso na depen- dc"s e apenas fracamenre sobre ,ts populações pequenas. Toda-
dt'.ncia da den\i<lade se manitêsra claramenre pda relação po- v1J., como já vimos, dificilmente se pode dizer que, tipicamen-
siti\·a caraccerí~tica d.1 dependência da densidade em geral. Na te, e!J atue para estabilizar qualquer das popul.1çóes. Porran-
verdJ.de, o faco de um atraso de dua~ gerações dar uma melhor cn, o que segue na conunuaçã.o deste carímlo é, em grande
C\1,um mcda~l)t_..'i ,11... 0pL1Jas. ,l fornu L'XJta delas pro\·a\·t'l- relaciona.do não à abundànci.1 cm cur:-.o (que seri,I rln·('{,t· rd.1ção de ,1jusce, em reL1ção a .Hr,1sos nuis curros ou nuis
111cnre rdlece <i, .irr·.1rns \·,1rudos. l' rt,_.,is(ências, d,h dife- 111 ,:,,re dependenre cb densidade). nus :1 abuncbncia cm .11- l d Ih · p,1ne, ,1 busca d.1s forç:is nt:1bdizadorJ.'i que poderiam com-
ongos, nos moscra yue uas geraçóes é .1 nos.')a me or esu- pkmenur as forç.1s reguladoras (acrJ.sJ.d,1s) que inerenremen-
rentes resposu~ 11L1mériu~. C:crumenre, em popuLtções uum momenro do p.t'isJdo. Com~JJuda com deperllkn-
.l maclva do atr;bo ne~re caso.
reJ.Í) .•1~ forn1Js da.;; .ip-Hc.:nc-:.) osc1L1ç?:,es -.icopladas S:to v;i.- te ocorrem na interação predador-pn:,;J.
~ia direta da densidade, é relariv.rniente difícil demon,tr,ir É relativamente râcil revelar os efeitos reguladores da
ri.1d.1s. e nem wd,b .'lÍniétriCJs como ,1quelas ger.1d.1s pdo o atraso na dependt'ncia dJ. densidade. P:HJ entender c:-.ce dependêncü arrasada da densidade nd. popula<i-áo-moddo como
modelo de l.otk.1-\'olterr:i (ver Figura 10.1). Jspecw, podemos examinarª~ o~cilaçõcs acoplada::, proJu- na Figura 10.3. pois ela não está submetidJ. a flutuações do
Estas resposus sâo dependen- zidas por um modelo dererminado de parasiróide-hospe- j b. I · · · d d d 10.2.3 O modelo de Nicholson-Bailey
am 1enre rurura, não esra SUJeltJ 1 araques epen entes a
res da Jens1d.1de (ver Seç:io 5.2): elas .J,,.ro, mostrado nJ F,·g,,ra I0._1a (I--1.isselL 198)-). Sem en- d d d d · ·d d
Jtu.un pau redu1.ir o umanho Je po-
pulações rc!Jtivamenre grandes e
'.... ..., . .. ..
tru em decalhes do modelo, observe gue J.S oscdaçoe.\ e'>t,IO
,Imorcecidas: ao longo dü _tempo, e\Js se cornJ..~ g_raJu.~~-
J
I
ensida e de qualquer ourro pre a or, às tnexatt ões os
erros de amostragem. e assim por dianre. Enrreranro, esta
quJ.lidade de dados r.1ramenre estJ sempre disponível quan-
Retornando agora aos pJ.rasi[ó1des, o modelo básico (i'<i-
cho!son e Bailey, 1935) nJo é cão reJ.lisca, embora seja uma
permitir o crescimenro de popula- b.1se razo:ível como ponto de partida. SejJ. H: o nllmero de
mente menores. até que sep. a_[c_ançado um equilibno _cst~l- i do se crata de populaçóes naturai:i. ou mesmo experimen-
hospedeiros e P, o nllmeru de parasicóides na geração t; 1 é
çües reL.i.rivameme pequenas. Varley vel. A população de presas, stqeira a Jtraso na dependenci,i f cais. No Capítulo 14, rernrnaremos J qut:::scão da revelaçâo
a taxa intrínseca de crescimento namr.11 du hospedeiro. Se
( 1947) introduziu os rermos ",icraso da dens idade apresenta um tamanho reotdado
0 pelo flfeJ.1- l d ·
f· d d -, · d d d ·
ru dependência d.1 densidade" par.1 de.s,crevê-las. A inrensi-
d.tde J.e um efeirn ,HrasJ.do dependenre da densid.1de está
' · . .

dade ao representar os valores k em tunçao do loganrmo da


.· l
Jor. Na Seção "1.6, demonstramosª .Jep:ndenclJ. d~ d e n s t - l d a d e :m
e inreoraçao os e eHos 1 ependencta arrasa a a enst-
um càmpuro geral sobre o que derermin.1 a abun-
H 1 é o nllmero de hospedeiros acJ.cados pelos parasicóid~:>
(nJ. geração t), .1J.mitindo que não h.i compecição intn-
302 PARTE 2- INTERAÇÓES CAPÍTULO 1 O: A ÜtNÁMICA DE POPUlAÇÓES DA PREDAÇÁO 303

específica encre os hospedeiros (crescimento exponencial - 10.2.4 Ciclos de uma geração


ver Seção 4. 7 .1) e que cada hospedeiro pode suscencar ape-
D
nas um parasicóide (o caso mais comum): As osci!Jçóes acopladas geradas pelos modelos básicos de
Locka-\'olcerra e Nicholson-Bailey consistem em ciclos mulci- Uma geração de hospedeiros

H,, 1 = é (H, - ff,). (] 0.9) geracionais. ou seja, exi!item várias gerações entre os picos (ou
depressões) sucessi,·os e tais oscilações slcuam-se no centro da e
pi.l =H,, (10.10) maioria d.1.s centacivas para compreender a dinàmica cíclica
predador-pres,1. No encanto, outros modelos de sistemas hos-
Em ourras palavras, os hospedeiros que não são acacados se pedeiro-par.1!.iróide (e hospedeiro-pacógeno) são capazes de
reproduzem e os que são atacados não produzem hospedeiros. gerar oscila~ões acopladas durante apenas uma geração de hos-
pedeiros (Knell, 1998; ver a Figura 10.lc, por exemplo). Por
:i
~
mas sim parasitóides. ''J
Para derivar uma fórmula simples para H,,. considere-se outro Li.do. rais ''ciclos de geração" podem tamb4m ocorrer em _~
Uma geraçào de paras1toides ou o tempo
E1 como o número de encontros hospedeiro-parasicóide na uma popu!.lçâo por outras razões qut." não uma inreraçáo pre- decorrido desde a infecção ate a liberação
geração t. Se A é a eficiência de busca do parasicóide, enrão: d.1dor-pres.1 - t."specificamente como resultado de competição de parhculas do patogeno
entre dJsse, de idade dentro de urna populJçáo (Knell, 1998).
E,= AH,!', ( 10.11) Os ci...::lm de gerações predador-prc:sa se produzem es-
Tempo -
senci.drnc:>nre qu.mdo o tempo Je ger;1.ção do consumidor é
aproxin1Jd..1.rneme a metade do de seu hospedeiro - como fre-
AGURA 10.4 Representação esquemática de como um paras1tóide ou patôgeno pode gerar ciclos acoplados na abundãncia do hospedeiro e de
qüememenre ocorre. Qualquer pequeno pico na abundância si próprio, que representam aproximadamente um periodo de uma geração de hospedeiro. Para isso, o parasitó1de ou patógeno precisa ter um
E,fH, = AP, (10.12) do hospedeiro rende .1 gerar um pico adicional nJ. abundância periodo de geração de aproximadamente a metade do de seu hospedeiro. Ouakfuer aumento na abundância do hospedeiro (A} primeiramente
do ho::.pc"dciro na. gt."raçâo posterior desce. Porém, qualquer Cará origem a um aumento da abundância do paras1to1de na geração seguinte deste (B), bem como a um aumenlo na abundância do hospedeiro
na sua geraçâo seguinte (C). Todavia, o pico do paras1tó1de em B também originará uma depressão coincidente do hospedeiro, que provocará
Observe a semelhança com a fórmula da Equação 10.2. pico assoei.ido de abund:i.ncia do consumidor ocorre ao final uma depressão do parasitóide em C, fortalecendo o pico do hospedeiro naquele ponto. Este fortalecimento mútuo continuará até que os ciclos
Lembre, contudo, que estamos tracando de parasiróides e que, de um período com a metade do tempo de geração do hospe- persistentes com duração de urna geração do hospedeiro, O, se tornem estabelecidos (segundo Knell, 1998; de Godfray e Hassell, 1989).
portanto, um único hospedeiro pode ser atacado várias vezes, deiro, criando uma depressão da abundância do hospedeiro
embora apenas um enconrro leve ao parasitismo com êxito (isrn enrre os picos gémeos. Esta depressáo do hospedeiro cria uma
é, somente um parasiróide se desenvolve). Os predadores, ao adicional <lepressáo deste na geração seguinte, mas uma de- As oscilações regulares na abundância da lebre e do lince dador-presa são saliencados pelo faco de o hospedeiro cambém
conuário, eliminariam sua presa e impediriam reencomros. pressão <lo consumidor coincide com o próximo pico do hos- canadense mostradas na Figura l O.la têm sido consideradas exibir ciclos com duração da geração. quando mantido sozi-
Se admitirmos que os encontros pedeiro. A:.,im, os consumidores passam por alternância de para resumir os ciclos predador-presa. Recenremenre, contu- nho sem quaisquer inimigos nacurais, e também quando man-
(ou ataques) ocorrem mais ou menos ·'banquetes" e "penúrias", que acenmam os pequenos picos e do, as evidências têm indicado de forma progres..;iva que mes- tido com um oucro inimigo, um granulovírus (Figura 10.5).
aleatoriamente, as proporções dos hos- Jepre,;sóes originais da abundância do hospedeiro. e, portan- mo este padráo aparente não é rãa consranre como parecia. As Concudo, usando mécodos similares aos aplicados à série tem-
?. 7c:,::.:··os pedeiros aracados zero, uma, duas ou to. promoH"m ciclos de uma geração (Figura 10.4). manipulações realizadas no campo constimem um.1 ferramenta poral lebre-lince (Bjornscad et ai., 2001), foi possível confir-
mais vezes são dadas pelos termos su- poderosa para sugerir quais as forças que normalmente acuam: mar que os ciclos na Figura l 0.1 c são realmente oscilações
cessivos de uma "distribuição de Poisson" apropriada (ver se essas forças forem retiradas ou exageradas, o ciclo é elimina- acopladas. Os ciclos só do hospedeiro têm no seu interior sim-
qualquer livro-texto de estatística básica). A proporção que 10.2.5 Ciclos predador-presa na natureza: do ou aumentado? Uma série completa de experimencos coor- plesmente a assinatura de competição intra-especifica, e o ví-
não C: acacada, p0 , seria dada por e·FrlHr, e, desse modo, a pro- existem? denados realizados no campo indicou que a lebre cíclica n.:io é rus parece modular este padrão, mas não alcera sua estrutura
porção que é acacada (uma ou mais vezes) é l - eErlH1 • O nú- simplesmente uma presa do lince (e de outros predadores na básica (ou seja, os padrões na Figura l O. 5 uão são ciclos pre-
mero acacado é, encáo: A tendenc1.1 in~rence que as inreraçóes predador-presa rêm de comunidade), nem simplesmente um predddor dos seus re- dador-presa). Encrecanco, os ciclos do bospedeiro e do parasi-
ger:1r oscibçóes acopladas da abundânciJ criou um.1 expecca- cursos alimentares vegetais: o ciclo só pode ~er compreendido tóide na Figura 10.lc mantêm a mesma e mais complexa assi-
(] 0.131 rivJ de ocorrêncla de rais oscilações em populações reais. Con- sr levarmos em consideração .suas imerações como uma pre"a natura que indica uma interação predador-presa fortemente
tudo, existem muitos J.speccos imponanres da ecologia de prc· e corno um predador (Krebs et ,il..1001 ). Além Ji»o. a análi· acoplada (ver cambém Seção 12.7.1).
Usando estJ equ.1ção e a 10.12 par.1 subscicuir nas Equações d.1dores e presa-. que n.ío rem sido considerados nos modelos se escarísrica mod<:rna da série cempoLd de abund;lnoas cc:>nde Retorn.uemo.s à questão de ciclos na Seção 14.6, sendo
10.9 e 10.10, obremos: der1,-.1dm .Hé Jgor.t. E. conforme seri mosrrado nas st:'."çóes sub- J confirmJr isto: a série d.1 lebre manrém umJ '"e:.crucur.1" rdJ- parte de uma exploração m.tis ger,il de como os r:nores bióci-
seque,m.:s. n:.es aspecros podem modificar basunre nossas ex- tivamence complexa, ~ugerindo J influênciJ do) :.eu:. pre<lJ- cm e ,1bióticos, i:m coda a su.a gam.1, se reúnem para determi-
Hl+l = He''·.<I',,
I
(10.14) pc<.:unn.':>. Cs:rumeme, ainda qw: uma populaç.:io exiba osci- dores e do seu alimt:'."nto, enquanto a série do lin(e cem uma nar o nível e o padrão de uma abundância de população. Na
laçóe5 regul.ue,;, isco náo necessariamenre fornece uma sus- escrucura mais simples, sugerindo a influ~11c1a .1penJs d..1. sua verdade. alguns desses ciclos são discutidos anteriormente.
P,., = H, (]- e'·-'1'") (10.15) cencaç.lo p1r..i os modelos de Lorka-Volrerra, de Nichoison- presa (lebre) (Scenserh et ai., 1997; ver também Seçáo 14.'í.2).
8Ji!e_\· ou yualquer outro modelo simples. Na Seção 5.8. exa- O que tem sido cão freqLi.entemence descrito corno um ciclo
Esce é o moddo básico de Ni- minamosº" (leios gerados por competição incra-específica. e. predador-presa parece com mats exatidão rraur-sc de um pre- 1 0.3 Efeitos do adensamento
cholson-B.1iley de uma interação em opírnlos subseqüentes, veremos diversas outras rocas p.Ií.1 dador ligado a uma espécie que é predador e prnJ.
hospedeiro-parasiróide. S<:u compor- cidu'i (ver t.1mbt!m Kentbll ec ,1/., l 999). Neste pomo, contu- Os ciclos de umJ geraç:io, apa- A partir das interações predador-presa modeladas até agora,
tamenco faz lembrar o do moddo de do, e imporunce mencionar que. mes- r-ar p-::52.-,, -2 00., rentemenre acoplado!>. ligando uma calvez J. omissão mais óbvia renha sido reconhecer que a abun-
ª

i"""
1
mo qu.rndn 05 predadores ou as pre- '-ri ços "--is mariposa hospedeira (f>/od111 tnter-

l1
Locka-Volrerra, mas esre é ainda menos estável. Exisce a dànciJ de presas pode ser limitada por omras presas e a abun-
possibilidade de uma combinação no equilíbrio das duas sas exiber:1 CH.:los regulares de abun- prmcte!fa) e seu para!>ILOtde ( Vé,uwra d.incia de predJdores por oucros predadores. As presas são pro- j

O, P"'""':·~":_j
populações, mas mesmo a mínima penurbaçâo a p ..ucir desce d:inc1.1, nunca é fácil demonstrar que ~ane,cen,) foram mosrrado, na Figura 1U I e :-;esre caso, os gressivamenre afetadas pela competição incra-especff~ca, à j
equilíbrio leva a oscilações acopladas divergentes. de:. . . ao ciclo,; predador-presa.
d, ro"d"" p,u,p,ud,"""" ""' "'" "" codos O" ""'''' ""' "" ,b""'"""' ,om,"u

1
304 PARTE 2- INTERAÇÓES
CAPÍTULO 1 O: A ÜiNÁMICA DE POPUlAÇÓES DA PREDAÇÃO 305

sumo por predador com o aumenm da densidade de predad 0 •


(a) (a)
res. A Figura 10.6a, por exemplo, mostra uma redução expres-

-·~ !!ÍVa na taxa de consumo com a abundância, mesmo em demi-

~
dade baixas do caranguejo Carcinus aestuarii forrage.tndo O

l:
1 caranguejo

~~
mexilhão lvfwculzsta senhousia. Na Figura l 0.6b. por outro 2 caranguejos
4 carangue1os
lado, observa-se que a taxa de abate exibida pelos lobm I Canis

O 10 20 30 40 50 60 70 80 90
lupw), predando o alce americano (Aices alces), em fsle Royale
National Park, Michigan, EUA, foi a mais baixa com a maior
....
.. -·
FIGURA 10.6 (a) lnterterênc1a mutua entre
caranguejos. Carcinus aestuam, consumin-
do mexilhões, Musculista senhous,a. +, 1 ca-
100 200 ranguejo; •. 2 caranguejos; .à, 4 carangue-
(b) quantidade de lobos.
Densidade de mexilhões jos. Ou~nto maior a quantidade de carangue-
.'.';: JOS, ma,s baixa é a sua taxa de consumo per
(b) capita (segundo Mistri, 2003). (b) lnterterén-
(e)
10.3.1 Adensamento no modelo cia mútua entre lobos. Canis lupus, predan-
2,5 2,5 do o alce americano, Alces alces. (e) Os

...'.,
de Lotka-Volterra mesmos dados, mas com a taxa de abate
2.0 2.0
:i ex1b1da pelos lobos representada em função
Os efeit0s da competição intra-e!ipecífica e de um declínio na • E ..... • E
.g,
da razão alce americano:lobo A curva a1us-
!E 1,5
• .8
1.5
tada assume que a taxa de abate depende

\<}F-+-:
r.1x.1 de consumo de um predador com a densid.1de de preda- u o desta razão. mas também que os lobos po-
Tempo (semanas)
dores podem ser investigados através d:1 modificaçJ.o d,1\ isol1-
nhas do modelo de Lmka.Volterra. Os d,:.u\hes da incorpora-
2;
"o 1,0

~i 0,5
~i
~i
1,0

0.5
dem se tomar "saturados" em densidades
elevadas de alce amencano (ver Seção
FIGURA 10.5 Ciclos do hospedetro com duração da geração na ma- 10.4 2). Esta curva se ajusta melhor do que
ção da competição intra-especifica ,u isolinha zero da presa o.o qualquer outra para a qual a taxa de abate
riposa Plod1a interpunctelfa (a) sozinha (tinha preta) e (b) com um
granulovirus (linha marrom). Estas dinãmicas podem ser compara- foram descritos por Begon et ([/., (1990), mas o resul,ado final
o 10
(18)
20 30 40 50 º·ºa 50 100 150 200 depende da densidade de predadores (~ar
(37) (55) (74) (92) Razão alce amencano:lobo
das com as da Figura 10 1c. A despeito de uma semelhança superii- (Figura 10.7:1) pode ser compreendido sem reft'rência .1 esses exemplo, [b]) ou da densidade de presas. (;b,
cial em padrões, a analise indica que aqueles em (a) são gerados por Número de lobos (lobos 1.000 km-2) e] segundo Vucetich et ai., 2002)
competição intra-específ1ca; aqueles em (b) são simplesmente ver·
detalhes. Em densidades baixas de presas não há competiçáo
sões moduladas daqueles em (a) e. portanto, não representam ciclos inrra-específica e d isolinha da presa é horizonral no modelo
predador-presa Contudo, aqueles na Figura 10 1c são ciclos preda- de Lotka-Volterra. Todavia, à medida que a densidade aumenra,
dor-presa (segundo BJornstad et ai.. 2001)
progressivamente as densidades das presas abaixo da isolinha
(aument0 de presas) devem ser colocadas acima da iso!inha trJp.issada para que os predadores aumencem em abundân- do que K,-- Portanto, para interações em que há adensamen-
(diminuição de presas), por causa dos efeiws da competiçjo c-i.i: uma isolinha zero em diagonal, passando pela origem to, parece haver um concrasce enrre aquelas em que a densid1-
mente, provavdmeme são limicados em densidades altas pela intra-especifica. Portanto, a isolinha é progressivamente d1- (Figura 10.7c). A evidencia da pred:1ção dependente dara- de de predadores é baixa, a abundância de presas é pouco afo-
disponibilidade de locais de repouso ou de refúgios, comple- minuída até que alcance o eixo da presa na capacidade de su- záo é ilustrada, por exemplo, pelo estudo dos lobos e alces rada e os padrões de abund.lncia são estáveis, e aquelas em que
ramenre des\·incui.ld3 de sua inreração com seu recurso mais porte, K.v· Isto significa que a presa pode apenas escassamenre americanos n.1 Figura 10.6c. a densidade de predadores é mais alta e a abundjncia de presJs
óbvio, suas pn:sJ'>. se manter, mesmo na ausência de predadores. Os efeitos pro\"á.veis do adensamento em cada uma é reduzida mais drasticamente, mas os padrões de abund.inciJ
De maneira mais geral. nos mo- Como vimos, a isolinha do pre- das duas populações podem agora ser deduzidos pela com- são menos estáveis. (A Figura 10.?d não usa a predação de-
delos discuridos até aqui, assume-se dador no modelo de Locka-Volrerra é ~;~'t 1
;,:~:·:."· binação da irn!inha de predador e presd (Figura 10.7d). As pendente da razão, mas uma isolinha do predador com uma
que os predadorrs consomem presas em uma raxa que depen- vertical. Ist0 por si só reflete a suposi- ;:'? ~:i:K-i·\/::'.:>.. oscilJções são ainda aparentes na maior parte, mas estas inclinação mais íngreme em um modelo dependence da razJo
de apenas da ,1bundJncia destas (na Equ.1ção l 0.2. por exemplo, ção que a capacidade de uma popula- nJo exibem esuhilidade neutra. Em vez disso, ebs s:í.o amor- [predação mais eficiente) pode ser equiparada, para as finali-
:1 t:Lu de comumo por predador é simplesmeme a/V). Na rea- çáo de predadores para aumentar em abundância é Jecermi11.1- Lecidas, de modo que convergem para um equilíbrio está- dades presemes, a uma isolinha que surge junro à origem r.J
l1Jadc::. a rax,1 de comumo muiras n~zes dependerá também da da pela abundância absoluta da presa, independc::nre do núme- vel. As inreraçóes predador-presa, em que uma ou ambas as figura - ist0 é. a curva [i] em \·ez da cur\'a [ii].J
abund;lnci.1 dm próprios predadores . .\bis obviameme. a es- rode predadores. Enrretanrn, se a interferência múrn.1 encre os pvpulJ.ções sio sub.<.uncialmente aurolimiradas, portJ.nto, Conclusões essenci.1lmente semelh,111tes emefl7em das
cassez de 1l1ml'.nrn ·- .1 Jbundânc1a Je presa por predador - pred.1dores aumenrar, enráo a ca.xa de consumo indi\·idual de- rêm probabilidade de exibir padrões de abundância relari- modificações do modelo de Nicholson-Bailey, qu: inco~-
comumenrc re.\ulur .i em uma reduç.lo na raxa de consumo clinad com ,l abundância de predadores, e presas aJicior1.1is vJmenre esr.heis. isco é, em que as fluruaçõcs em abundân- pora os efeitos simplt~ (logísticos) do adensamento enoe
por indivíduo. :1 rnt'<lida 4ue .1 den~id.1de de predadores au- seráo necessárias para mantt'í uma população de predadores de eia .<.,lo relativamenre leves. os hospedeiros ou J interferênci.1 múru.1 entre os predado-
mt'nu. No cncrnrn. mesmo quando o alimenro não é limita- qu,1lquer tdmanho. A imlinh.1 zero do predador irá afasur-sc ~1ro- ~'lais pJrticularmente, quando o re, (Hassell. J 978).
do . ..1 ca.xa de con)umo pode .\CT reduzidJ por vários processos grc.si\·amenre da \·errical (Figura 10. 7 b) . .t\lém disso. em demi- pred.1dor é rebrivamence ineficiente, Sen.J difícil citJr exemplos de dJdm que proporcion.1111
conhec1dm coleriv,rn1enre como inrertúêncl.l mútua (Hassell. :fades elev.1das, a competiç:i~ por ourro, recursos imporá um li- ou seja, quando são necess:irias mui- a influência esrabilizame d.1 aut0-lirnicacJ.o sobre J din:im!u
l 978). Por exemplo. muitos con~umidores exibem um com- mire superior à população de predadores (uma isolinha horizon- tas presas p.Ha manter uma população predador-presa. simplesmenre porque s~ria impossivd com-
portJ.mento inter,1rn·o com outros membros de sua popul.a- cal), independentemente do número de presas (Figura !0.7b). de predadores (curvJ [ii] na Figura !0.7d). as oscilações sáo parar as dinâmicas de: populações com e sem ral auro-limit.1-
ç,i.o, lev.rndo menos cempo p:ua se alimenrar e, porc.rnro, abai- Uma modificação alternattvJ é amortecidas rapid.1mente, mas a abundância de equilíbrio de ção. Por outro lado, populações de predadores e presas com
x,rndo a t.L'Gl gerJ.! de altmenução. Os beija-flores, por exem- abandonar completamente:: a suposi- pr~sas (1V*) nJo é menor Jo que o equilíbrio na ausência de dinâmicas relativamente estiveis são comuns, como o s.lo .is
plo, defendem ,1tiva e ,1gressivamente JS fontes ricas em néc- ção de que a rax.a de consumo depen- -1 ::~ ~ pred.1dores ( k~\) Ao conuano, quando os predadores são mais forças estabilizantes de aurolimitação que discurimos aqui. Pan
rar. Alcernativamenre, um aumenw na densidade de consu- de somente da disponibilidade abso- efic1enres (curva [t)). N" e matS baixa e a denstdade de equ,lt- tomar um exemplo mais especifico, exisrem dois grupos de
midores po<le lev,u .1 um Jumenco n,1 t:1xa de emigraç.io ou no
roubo de alimento entre os consumidores (como em muitas
luca de presas, e assumir, em vez disso, umJ. predação depcn-
dente da razão (Ardiri e Ginzburg, 1989). embora estJ .1lter-
nJriva renha sido criticada (ver Abrams, l 997; Vucetich ct ,,!.,
l brio de predadores, P-, é mais alra - mJs a interação e menos
esrávd (as oscilações s:ío mais persiscenres). Além disso. se os
pred,1dores forem muito fortemente aurnlimi{ados, a abun-
roed_ores primariamente herbívoros com distribuição ampl.i
no Arcico: os roedores microríneos (lemingues e raros silve!i-
rres) e os esquilos dJ rerra. Os microríneos são célebres por
gaivotas) ou JS própriJs pres.1s podem responder a presença de
consumidores e :.e cnrnar menos disponíveis para a caprura. 2002). Neste caso, a taxa de consumo depende da razão del'.ància pode absolutamente não oscilar (curva {iiij): mas P'" suas dram.íricas flutuações dclic1s em abundância (ver Capí-
Todos estes meL·J.rnsmos originam um dc:clinio da t1xa de con- '"""' '"' , «<la<lo "' , "" ,a "''° op«ófi<a ,=•sa "' ,J • . ""d"i "'' WO". '"'' "' o<o N' reod,d " " ' >o m "''° m, ""' tulo 14), mas os es4uilos d:1 terra apresenum populações qu::::

,;.
J
306 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO l O: A D1NÃMICA DE PoPUlAÇóEs DA PREDAÇÃo 307

Em um tom de cau(e!a, entre-


(a) (b)
a .nte..--feré"'C1c! tanto, Umbanhowar e cobboradores
f"'"' .'.La r'a e~.::::~ I
(2003), por exemplo, não consegui-
------- ram encontrar evidência de interfe-
p rência mútua em estudo de campo do parasicó1de Tachl-
nom_yia similú atacando seu hospedeiro, a mariposa Orgyia
tWWta. A força da interferência múcua pode muiras vezes
ter sido exagerada, ao forçar predadores a forragear em Jm-
Densidade de presas (N'J N bientes artificiais, sob densidades muito mais alrJs do que Células alimentares (x 1os mL- 1)
(e)
p
JS experimentadas na natureza. Esta advertênciJ é impor-
rance. pois uma força ecológica potente em modelos ou no FIGURA 10.8 Resposta funcional do tipo 1 de Daphnia magna. em
laboratório, pode, enrrecanro, muitas vezes ser trivial. na diferentes concentrações da levedura Saccharomyces cerev1siae (se-
pricica., em populações naturais. Contudo, há poucas dú- gundo Rigler, 1961)

vidJs de que a autolimicação em suas variadas formas fre-


qüentemente desempenha um papel-chave n,1 ri..irmubi;:;10
d,1 din.imica predador-pre~.l. célulJ.s variava. Isw acontecia porque as células de levedura
er .1m extraídas por D. magna de um volume:: constante de água
N
(d) que passava arravés de um aparelho de filrragem e a quanrida-
10-4 Respostas tuncionais Je extraída, por isso, aumentava linearmente com a concen-
p
,, (,)
'" tração de alimento. Acima de 10" células mL· 1, no encanto,
.,>::",'-. Tendo examinado anteriormente a relação entre ,l u.x.1 de con- D. magna não era capaz de deglutir rodo o alimenco que fil-
P(:l
l' _. -P rnmo de um predador e a abundância do próprio predador,
recomamos agora ao efeico da abundância da presa :,obre esta
uava. Porcanco, ela ingeria o alimenco a uma caxa máxima
(platô), independencemence da sua concentração.
N taxa de consumo, a chamada resposta funcional (Solomon,
1949). A seguir, descreveremos os crês tipos principais de::
Nt;I N Tempo resposta funcional (Holling, 1959), antes de considerar como 10.4.2 Resposta funcional do tipo 2
podem modificar a dinâmica predador-presa.
p (n) (11)
A resposta funcional observada com mais freqüência é a do
-~
P(;I
__________ ::;:_/
>'-
_. N
10.4.1 Resposta funcional do tipo 1
"ripo 2", em que a caxa de consumo aumenca com a densidade
d.1 presa, mas desacelera gradualmente até alcançar um platô,
no qual a rax.a de consumo permanece constanre, indepen-
..____.,/ - p
Sendo a mais básica, a resposta funcional do lÍpo l é Jquela dente da densidade da presa. (De maneira realisra, mesmo uma
:.issumida pelas equações de Lorka-Volterra: a caxJ de consu- resposta do tipo l deve apresentar um platô, como no exem-
N Tempo mo cresce linearmenre com a densidade de pre.s.:is (indicada
N(~l plo anterior. A distinçáo esrá entre a desaceleraç:io de uma
p pda conscance, tl, na Equação 10.2). Um exemplo e\(;Í ilustra- resposra do ripo 2 e a linearidade da resposra do ripo l _) .-\
do na Figura l 0.8. A ta.'<a com que Daphnia m,zgna consumia Figura 10.9 mostra respostas do cipo 2 para um carnívoro, um
N
células de levedura crescia linearmente quando J densidade de herbívoro e um paras,itóide.

L ----P
(a) (b) (e)

.
Tempo 40
-,

Jt
0,5
0
FIGURA 10.7 (a) Uma 1solinha zero da presa sujeita ao adensamento Em densidades mais baixas de presas. esta é igual à isol1nha do modelo "E e
o 30
àiê
de lotka-Volterra. mas quando a densidade alcança a capacidade de suporte (K1J a popt..lação pode apenas escassamente se manter, mesmo
na ausência completa de predadores. (b) Uma isolinha zero do predador su1e1ta ao adensamento (ver texto). (e) Uma ,sohnha zero do predador. ...
o.
u
• =
E ,!! ã1 -
:;,8.
0,4

quando existe uma razão presa:predador dependente da predação. (d) lsol1nha zero da presa combinada com as isollnhas_zero do ~red~dor.
com niveis crescentes de adensamento. (1), (ii) e (m). P é a abundância de equil1bno de predadores e N* é a abundância de equitibno de
presas. A combrnação (i) é a menos estável (oscilações mais persistentes) e tem o máximo de predadores e o mínimo de presas: os predadores

õ."
• o
<>.!!
"-
X

1
ü
20

10
-", _.ê: ~ 0,3
~~
~ ~ 0,2
são relativamente eficientes. Predadores menos eficientes, como em (1i), originam uma d1mtnu1çâo na abundância de predadores, um aumento
na abundância de presas e oscilações menos persistentes. A fone auto-hm1tação de predador~s (i11) pode eliminar completamente as oscila-
i~
-o o
o o
i &0.1

ções. mas P é baixa e N* fica próxima à KN' z o


o~~~~~~~~~~
40 80 o 50 100 150 200 250 O 0,5 1, S
Densidade de presas B,omassa (g m-2) Número de hospedeiros d,sponiveis por m2

permanecem nmavelmenre constantes ano após ano, especial-


mente em campina aberta e cundra. De maneira significativa,
nesses locais, os esquilos da terra parc::cem ser fortemente auto-
limindos pel.1 d1Sponibilidade de alimento, por h:íbirars ade-
lluJ.Jos p,HJ [1L.:r suas cocas e pdo seu própno componamen-
to espacial (!<areis e Boonma, 2000)_ l
í
FIGURA 10.9 Respostas funcrona1s do tipo 2. (a) Ninfas da. mosca lshnura elegans no décimo instar comendo Daphnia com tamanhos aproxi-
madamente constantes (segundo Thompson. 1975). (b) Bisão (B,son b1son) consumindo a ciperâcea Gare~ atherodes apresentada em uma
gama de densidades de biomassa desta espécie vegeta! rs~gundo Bergman et ai, 2000). (e) O parasilóide M1cropl1tis croce1pes atacando fJ
sem, rn o=• 00 rnMc, (H-~ ·~=•><•oeaoo ,.,,m,o , ~s,

1
308 PARTE 2- INTERAÇÓES
CAPÍTULO I O: A DINÂMICA DE POPUlAÇÓES DA PREDAÇÃO 309

A resposra do ripo 2 pode ser nefício variável, então em altas densidades é possível que a dieta
explicada pela observação que um pre- renda a uma redução no número de itens altamente proveitosos (a)
dador rem de dedicar um cerco cempo (Krebs et ai., 1983), ou é possível que o predador se rorne confu-
de manipulação para cada presa que so e menos eficiente. 2
de comome (isco é, perseguição, dominaçã.o e consumo do
irem da presa, e depois preparação parJ a busca seguinte). À
.-
íi
:g &.
320

240
- - - ~ Blanna
Pe~omyscus
,,,..-~-.
medida que a densidade de presas aumenca, a descoberta <leias 10.4.3 Resposta funcional do tipo 3 ªE
l:l ~ 160
roma-se progressivamente fácil. A manipulação de um irem da i ~
o E 80
presa, concudo, sempre tem J. mesma duração, e a manipula- A Figura l 0. l Oa-c ilustra respostas funcionais do tipo .1. Quan- iii õ
do as densidades de presas são altas, estas respostas são seme-
§ e.
ção cocal, portanto, roma uma proporção crescente do tempo z 200 400 600 800 1.000
do predador - aré que, em densidade alras de presas, o preda- lhantes à do ripo 2 e as explicações para os dois ripas são as
dor efecivamence gasra todo o seu tempo na manipulação de- mesmas. No enranco, quando as densidades de presas sJ.o bai- Número de casulos por acre (1.000 s)

las. A taxa de consumo, portamo, .1vança e atinge um máximo xas, a resposta do tipo 3 cem uma fase de aceleração dur.rntt' a
(b) (e)
(platô), determinado pelo número mi.ximo de tempos de ma- qual um crescimento da densidade leva a um aumenrn nuis
150 10,0
nipu!açJ.o, que poJc:m ser ajustados ao tempo mui disponível. do que linear na taxa de consumo. No coral. portanto, ,l r1..''i-
0.9
PoJemo) den\·J.r uma re!J.çJo emre f',. (número de irens
d.1 pres;'I ingeridm por um predador durante um período de
tempo Je bu.sc1, T) e 1V, a densidade dos ircn.s da presa (Ho-
po:'.lt.l do ripo 3 é em "form.1 de S" ou ''sigmóide".
Uma m.1neiu imporunre em
que uma resposca do ripo J pode ser
o
"
i
100

0.6
.
o
"-
7ü -;
FIGURA 10.10 Respostas func1ona,s do tipo
3 (sigmó1de). (a) Os musaranhos (Sorex e
8/anna) e o rato veade1ro (Peromyscus) res-
50 pondendo a mutáveis densidades de campo
lling. 1959). P, Jumenta com o tempo disponível de busca, gerada é através da permutação por pane do pred.1do1 (\er ~ ~ .g
de casulos do vespão do pinheiro europeu,
§ o~
aument.1 com a densidade de presas e aumenta com a eficácia Seção 9.5.2). As semelhanças entre as Figuras 9.15 <: 10.lO z 25 0.3 ·~5. Neodiprion sertder, em Ontário. Canadá (se-
de busca ou a. tdxa Je ataque do predador, a. Assim, sdo bem evidentes. A diferença entre elas é que as discus)ôes 8. ~ gundo Holling, 1959). (b) Mosca azul da :ar-
e
a. ne ( Calliphora vomitaria) alimentando-se de
sobre a permuração enfocam a densidade de um tipo de presa o' gotículas de açUcar (segundo Murdie e Has-
O 100 200 300 400 16 24 32
(10.16) em relação às densidades de presas alcernariv.1.s, enquanto ,1s sell, 1973). (e) Vespa (Aphelinus thomsom)
resposcas funcionais se baseiam apenas na densidade absoluta Goticulas de açúcar por arena Densidade de atideos
atacando afídeos de plátano (Orepanosiphum
platanoidis): observe o aumento dependen-
Conmdo, o tempo disponível para a busca será inferior ao de um único ripo de presa. Concudo, na pricic:1, as densid.1- te da densidade da taxa de monalidade de
(d) (e)
rempo roral, T; devido ao rempo dedicado à manipulação da pre- des absolucas e relativas provavelmente estão escreicamente cor- presas em densidades baixas de presas ( - -

·-º··l:,~
relacionadas e, portanto, é provável que a permuução uindu- -) dando origem â. fase acelerante da CL.rva
sa. Pareamo, se 7~, é o tempo de manipulação de cada irem d:1 de resposta(-) (segundo Collins et ai., 1981)
za com freqüência a uma resposta funcional do ripo 3. "1'.
presa, então TJ', é o tempo total gasto em manipular as presas, e: ~.g ., {d) Base da resposta em (b) a eficácia na
De modo geral, uma resposra fun- busca de G. vomitor1a aumenta com a densi-
cional do ripo 3 surgid sempre que um
~f 0,2 o·,.--)--.).--·- --~ dade da Mpresa" (gotícula de açUcar) (segun-
T. 0 T-Tl (10 17) c.9-
E e do Murd1e e Hassell. 1973) (e) Base da
crescimento na densidade de alimenro
Subsúruindo esrr.: \'.1lor na Equaçáo 10.16, obremos: leve a um incremento na eficácia de bus- ~~ o a 1s 24
resposta em (e): o tempo de manipulação em
A thomsoni decresce com a densidade de
ca do consumidor, a, ou a um decrésci- Gotículas de açúcar por arena Densidade de afídeos afideos (segundo Colhns et ai.. 1981).

!', e a(T-- T,.f')N (10 18) mo no seu ccmpo de manipulação, T1,, uma vez que estes dois
fatores determinam a taxa de consumo (Equação 10.19). De'.'o'ie
ou. rearranjando: modo, os pequenos mamíferos na Figura 10.lüa parecem desl.'n-
vokcr uma imagem de busca dos cJSulos do vesp.ío, à medida de presas. Em termos de isolinh.ü, isto su,1 isolinha zero serÍJ .1 mesm,1 para rodas as densidades de
(! O 19) que eles se tornam mais abundantes (aumentando a dlcki.1) .A signi~lcJ. que presds em densidades b:1i- presas. Conforme mostra a Figura 10.11 b. isto pode poten-
mosca azul Ja carne (Càlliphom uomaoria) (Figura 10. lOh) t:m- x1s podem \'ÍrtuJlmenre ;iumenrar em cialmente fazer com que os predadores regulem a popula~ão
Ob:'.lerve que ,1 equaçáo descreYe a quamidade ingeridJ du- prega un1.1 proporção crt'scenre do seu tempo na husca da "p1e- :ibundànci:i., independente J.i densid:i- das presas ,Hé um nível de :ibundánci.1 b.11xo e estivei.
rante um período de tempo derermin.1do. T, e que se :.1dmire que sa", J medida que a densidade de presJ.S :iumentJ (Figur.1 1O. iíld1. de do preJ.1dor. e que .1 isolinh.1 zero Um exemplo evidente disco é pro-
a densidade de pre)J.S, f'v'. permanece constante durante rodo o aumenrando t.imbém J dic.ícia. Por outro l.1do, a ve)p,1 Api11 h- da pres.1. poru1Ho. cre'\cer.i ven1..:.1lrnenre em densidJ.des bai- porcio1udo pelm esrndos sobre os ciclos
período. ~os experimentos, e.~rJ úlrinu condição pode is \·aes Jlllf rhommm (Figur.1 10.!0l) exibe uma redução do tempo m__:-
x:is Je pres.t) ( Figur,t 10.11 a). bm pode proporcionJr esubili- de raros silvestres nJ Europa (Hansk_j ct
ser g.u:mrida recoloundo as presas que )áO comidJS. Porém, são dio de manipula.ção, à medida que aumentJ a densidade de '.'ollJ <lade consider.ivel (hgura 10.11 a. curv.t [i]), mas par.1 isso o ai., 1991:,·errambémSeçáo 14.G.4). Na
necessários modelos mais sofistlc1dos, se a densidade de presas é presa. o afideo do plátano (figura 10.1 Oc:-). Em c:ida (J)O, o resul- pred:1dor teria de ser .1lcamenre dlc.1z em densidades b..1.ix.1s de Lapônia finlandeSJ. subárcica existem ci-
esgmada pelo predador. Tais modelos são descritos por Ha.ssell tado é uma resposta funcionJl do ripo 3. pre'\Js (cap:iz de ~e m:inrer facilmente), o que conrr1diz J idéia clos regulares de 4 ou 5 anos, com uma raz.1o de densidades má-
(l978}, que, a partir de um conjunto de dados, cambém discme de uma respo,ra do tipo 3 (ignorando presas em densidJdes xima: mínima de ratos silvestres geralmenre superior a 100. No
métodos para estim.1r r.1.xas de ataque e tempos de m.mipulaç.."l.o. baixas). Porcanto, é mJÍs provável que seja válida a curva (ii) da sul da Suécia, os pequenos roedores nlo mostram ciclos mulriJ-
(Trexler e colJboradores. 1988, discurem o problema geral do 14.4.4 Conseqüências das respostas funcionais Figura 10.11:i, e ,1 influênci.1 esubilizanre Ja respostJ do opa nuaiç regubres. Toc!Jvia, entre os exm:mos. indo do norre ao ~ui
,1jusre das curvas de respostas funcionais :i.os conjuntos de dados.) e do efeito Allee para a dinâmica das 3 na prática pode 'ier de pouca impordncia. da Fenoscindia, há um gradiente de decn:'.scimo da regularidade,
Seria errJdo, entretanto, imagi- populações Por outro lado. se um predador rem uma resposra do da amplicude e da duração do ciclo. Segundo Hanski e colabora-
nar que: a existência de um tempo de ripo 3 a um ripo parcicular de presa porque permuta seus ata- dores, este gradiente está correlacionado com um gradienre de
: :n 2 manipulação é a explicação única ou Os diferentes tipos de resposta funcional exercem efeitos J1, ques enrre diversos tipos de pres.1s, cncão a din,imlca da popu- densidades crescentes de predadores generalistas (r:tpos:is verme-
completa para rodas as resposus fun- cimos sobre a dinâmica das populaçóes. Uma resposrJ do ripo lação do predador seria independente da abundáncia de qual- lhas, texugos, gatos domés(Ícos. busardos. corujas castanha) e
cionais do npo 2 Por exemplo. se as presas representam um be- 3 significa uma ca.xa de pretbção baixa em densid.ide.s b.lix.15 1
quer cipo pa.rtÍLtilar de pres.1, e, porunrn, J posiçJo vercical da
1 corvos). que realizam pennuus entre presa.\ alcern.1tivas. à medi-

1
J__
31 Ü PARTE 2- INTERAÇÕES
CAPÍTULO 1 O: A ÜINÁMICA DE POPULAÇÓES DA PREDAÇÁO 311

Concudo, para que uma resposta do ripo 2 renha este minado momento, pareceu e acreditava-se muito que: (i) os pre-
efeico, os predadores teriam que sofrer reduções drásticas na dadores geralmente investiam a maior parre do tempo em man-
(a)
sua taxa de consumo em densidades de presas muiro abaixo chas que continham densidades altas de presas (porque essas eram
l•I
\ daquelas em que as próprias presas sofrem bastante com a com- as manchas mais vantajosas); (ii) par isso, esperava-se encomrar
/~ ~
petição. lsro é improvável. Os efeiros pocenci.1lmenre desesta- mais predadores em tais manchas; e (iii) as presas em cais man-
p bilizadores de respostas do ripo 2, portanto, podem r1mbém chas eram, portanto, mais \-ulneráveis à predaçáo, enquanco aque-
~ ser de pouca imporrância prâtic.1. las em manchas com densidade baixa eram relativamente prore·

t. ,, N
O papel desestabilizador do efeiw Allee aparememence não gidas e rinham mais probabilidade de sobreviver. Cerramence,
"
......._,..../
\..'.:), Tempo
cem sido confirmado para qualquer inreração pred.1dor-presa ·'na- existem exemplos para sustencar as primeiras duas desca.s proposi-

-- ,---
o
rural". Por ourro lado, quando nós mesmos somos os predadores ções (ver Figura 9.20a-d). demonstrando uma "resposta de agrega-
'
@~(")
"O
'
1 (11) FIGURA 10.11 (a) A 1sohnha zero da presa (explorando populações de peixes, por exemplo), muitas vezes ção" pelos predadores. a qual é diretamente dependente da densi·
.~ é aquela apropriada quan~o a taxa de ~on-
1"
~ /
)- ºD· .?
~
N
sumo é particularmente baixa ~ara densida-
des baixas das presas, devido a uma respos-
ta funcional do tipo 3. a uma resposta de
remos a capacidade (ism é, a tecnologia) de mancer a predação
efetiva em densidades baixas de presas. Se a popubção de presas
rambém exibir um efeito Allee, a combinação disso com J preda-
dade (predadores gasrando mais tempo em manchas com densi-
dades altas de presas. de ral modo que as densidades de presas e
predadores sâo correlacionadas posicivamence). Entretanto, este
agregação (e um refl.Jg10 parcial). a um re-
p ção persistente pode. igualmente. conduzir rapidJmenre uma nem sempre é o caso. Além disso. concrariameme à terceira pro-
fúgio real, ou por causa de uma reserva de
matenal vegetal nào-palatável Com um pre- populaç.io à extinção (Stephens e Sutherl,nd. l 999i hw a Seção posição. a.s revisões das interações de hospedeiros e parasiróide-;
Abundãncia da presa (Nj Tempo dador relattvamente 1nel1c1ente. a 1solinha 15J.5). Isco signifiCJ. que a noss.t isolinhJ pode mrer(_cprar a d.1 (por exemplo. Pactlae Hassell, 1991) têm mostrado que presas (hos-
zero do predador (11) é apropriada e o resul-
presa bem à esquerda da sua curva em corcova. pedeiros) em manchas com densidade alta não são necessaria-
tado é simrlar ao da Figura 10.7. Contudo.
(b) um predador relativamente eficiente serâ mente mais vulneráveis ao ataque (dependência direra da densi-
ainda capaz de se manter quando as densi- dade): o parasitismo porcencual pode rambém ser inversamence
~·P dades das presas são baixas. A 1solinha_ zero
do predador (i), portanto, será apropriada.
10.5 Heterogeneidade, agregação dependence da densidade ou dependente da densidade entre man-
levando a um padrão estável de abundân- e variação espacial chas (ver Figura 9.20e). Na verdade, as revisóes sugerem que so-
~

t1-'_,___,/_________
cia em que a densidade da presa é bem in- mente cerca de 50o/o dos esrudos examinados mosrram evidência
ferior à capacidade de suporte e a densida-
N de do predador e relativamente alt~. {b)
Aré agora nesre capículo, foram ignoradas as heterogeneidades de dependência da densidade e em apenas aproximadamente 50o/o
Quando uma resposta funcional do tipo 3 ambiencais e as respostas variáveis de preci,.orõ e presas a rais destes a dependência da densidade é direta. Contudo, a despeito

.
.g Tempo surge porque o predador exibe comporta-
mento de permutação, a abundância do pre-
hererogeneidades - no capítulo anterior, vimos que rodas elas sáo
comuns. Não podemos continuar a ignorá-las.
desta variação em padrão, permanece verdadeiro que o risco de
predação freqüentemente varia basrance emre manchas e, por-

i~
dador pode ser independente da densidade
de qualquer tipo particular de presa (figura
principal) e a 1solin~a zero do pred~dor. por-
tanto, emre presas individuais.
Muitos herbívoros também osren-
tanto. pode ser honzontal (não vana com a
densidade da presa) Isto pode levar a um
10.5.1 Respostas de agregação à densidade tam uma marcada tendência à agrega- ~:rp~~;;:,;:~~~:~" 1

padrão estável de abundância (inserção à de presas ção e muiras plantas exibem uma nírida '.-,~1~s r-:s;:-;s:2;
direita). com uma densidade da presa bem variação no risco de serem atacadas. O ' --:-:,:··~?, a:Js
1
:,

inferior à capacidade de suporte afídeo da couve (Brevicoryne brasúcae) '-;:-':::,: n, y;


Abundãncia da presa ( fll) Devido à.s conseqüênci.1.s pmc:nc1a.is para
a dinâmica de populações, os ecólogos forma agregados em dois níveis (Way e Cammell. 1970). A, nin-
rêm mostrado um incerõse C'.:ipecial em fas formam rapidameme grupos quando isoladas sobre a superfí-
preferências por manch.,~. sendo que cie de uma única folha e as populações sobre uma única planta
da que as densida.des relaóvas desras se alreram, e de aves preda- a formJ. de domo (Jmmp). Isco ocorre estas variam nJ. densidade d.e .1.limemo rendem a se restringir a dererminadas folhas. Quando os afídeos
doras especialistas (especialmente ourras espécies de corujas e fal- porque ex1..,re uma gama de densidades ou de irens de pres.1.s que contêm (\·er Seção 9.GL Em um derer· aracam apen,l.S uma folha de um individuo de couve com quatro
cões europeus) que, cendo uma arividade .1.mpla. fazem permutas imermedián.1s de presas em que os pre-
~nrre âre-.is alrern.aivas. Em ambos os casos. a dinâmica dos pre- d1dores se rornam menos eficientes em
d.1dores seria derivamenre independeme da abundância do-s ra- uma demid.1de crescente delas, mas os
ros s1kesm:s. adicion.1ndo esrabilidade .10 sisrc-ma. conforme ilus- d"eiro:'.I ._ti compec1ç.io c:-nrre as mesmas ,.,
tr.1Jo na Figura 10.l lb. De tàw, H.1nski e colaboradores foram nJ.o C)3o 1memos. A form.1 de domo também surge se ,l5 p1c~.lS
op.12es de avançar na construção de um modelo simples de pre- t:sciverern ~l1jeius a um ·'ett'1ro A.llee", em que eLL'> possuem uma
SJS (rams silvescres) que imeragem com predadores especialistas
ra.,.1 de r~cruumenrn desproporcionalmente baixa quando :iUJ. I N p
FIGURA 10.12 Os efeitos passiveis de uma
(mustelídeos: arminhos e doninhas) e generalisras (que realiza- própria JemidJ.de é baixa. calva porque seja difícil encontra_r º.~
pan.c:-iros p.1ra o J.CJ..Sa.lamenro ou porque um ·'número críc'.co
L ______ isolinha da presa em forma de Mdomo~ como
resultado de uma resposta funcional do tipo
va.m permutas). Sua argumentação geral foi suscemada: à. medida
2 ou de um eleito Altee (1) Se o predador for
qw: o número de predadores generalisras aumentava, as oscilações dev,1 ~er ulcup,u....,ado antes que um recurso po:,sa ser convernen-
altamente ehctente. com sua 1sol1nha inter·
na abumHncia de ratos silvesrres e muscelideos (que podiam ser cememe c"xp\orado, isto é. em densidades popuhcion.ús bai:--J.5 ceptando à esquerda da cur,a em forma de
ou nJ.o a base do ciclo dos racos silvescres) diminuíam em duração exi~ce umJ. depend~ncia inversJ. d:i. densidade (Courchamp er ai.. domo. a curva pode ser desestab1hzadora e

e: amplitude. As dens1dadc::s suficiemememe grandes de generalis-


ras que realizavam pcrmuras estabilizavam compleramente o ciclo.
Recomando às respostas <lo ripo 2, se o predador apre.senta
1999). Se .i isolinha do predador incerceptar à direita da curva em
formJ de domo, 1 dinàmica populacional da imcração será pou-
co aft"ud.1. Porém, se .1 1solinha lmerceptar à esquerda. da curvJ.. o
l N
levar às oscilações persistentes de um ciclo
limite (inserção superior à direita). (1i) Toda·
v,a. se o predador for menos eficiente. in-
terceptando à drreita da curva. esta tem efe1·
to pequeno sobre a dinâmica· as oscilações
uma resposta que alcmç.i seu pl.uõ e densidades de presas relaci- rc:sulc1du .ser.ide oscilações persisremes e não de oscilações c o n · 1 convergem (inserção inferior à dlíe1ta)
Densidade da presa (N) K,-. T"""°
vamence baixas (bem abai..xo de Í'\), a 1solinha zero da presa exibe '""''""· "" "' ,, , o"'"'"" ,.; ,Moab,t.,,~ 1""'" W >é l ' '

1
31 2 PARTE 2- INTERAÇÕES
CAPÍTULO 1 O: A DINÂMICA DE POPUIAÇÓES DA PREDAÇÁO 313

folhas (como o fazem naturalmeme), as outras três folhas sobre- deria ser descrita por um modelo escacíscico especial, o bino-
vivem; mas se os afídeos aracam em igual número a.s quacro fo- mial negativo. Neste caso (ao contrário da Seção 10.2.3), a
lhas, todas elas são demuídas (Way e Cammell. 1970). O com- proporção de hospedeiros não encontrados é dada por:
portamento em agregação dos herbívoros oferece proteção à planra
roda. Porém, como rais hecerogeneidades podem influenciar a
(l O 20)
dinâmica das intcraçó~s de predadores e presas~

em que k é uma medida do grau de agregação; agregação má-


10.5.2 Heterogeneidade no modelo gráfico
xima para k = O, mas uma distribuição ao acaso (recuper:içJ.o 0.2 0.2 .• .·
do modelo de Nicholson-Bailey) para k = 8. Se isto for incor-
Nós iniciamos pela incorporação nas iso-
porado ao modelo de Nicholson-Bailey (Equa,ões 10.14 e
linhas do modelo de Lotka-Volterra de o
10.15), obremos emão:
alguns ripas relativamente simples de he- (e) (d) FIGURA 10.13 O modelo de agregação hos-
terogeneidade. Suponha que em um refúgio exisca uma parte da pede1ro-paras1tó1de de May (1978). que in-
popuhçJo de preus: por exemplo, caracóis da costa amomoados
em fend..is de rochedo~ íngrc:mes, longe do ataque de aves, ou
H,_, k
= H,e ·[ 1 + AP ]-· (10.21 í
corpora a auto-llm1tação do hospedeiro, es-
clarece que a agregação pode reforçar a es-
tabilidade e originar estab1hdade em valo-
pl.1mas que nuntê'm unu re.serv;i subrerrànea de material isema res baixos de q = 1-r / K. Na área escura
da :i.ção de herbí\uros. Em cais casos, a isolinha zero da presa cheia, há uma aproximação exponenc,al ao
f APl')
' = H.·t1- [\+ --'-j
equllibno; na área com hachura, há uma
devam-se verricalmeme para den)idades baixas de presas (nova- r r (l O 22) aproximação oscilatóna ao equilibno, tora
mente, ver a Figura l 0.11), pois prc::sas em densidades baixas, k J
destas áreas, existe instabilidade (as osci-
escondldas em seu refugio, podem aumentar a sua abundância lações divergem ou se mantêm). As quatro
independente da densidade de predadores.
O comportamento de uma versão figuras correspondem a quatro valores de
deste modelo, que também inclui uma k, o expoente da drstribu1ção binomial ne-
A situação em que os predadores rendem simplesmeme gativa do modelo: (a) k = 8: sem agregação,
a ignorar as presas em fragmemos de densidade baixa, como raxa de crescimento do hospedeiro de- menos estabilidade; (b) k = 2: (e) k = 1 a
vimos em algumas resposcas de agregação (ver Seçáo 9.6). as- pendenre da densidade, é apresentado na Figura 10.13, onde fiu Taxa de aumento da presa (r) maior agregação (segundo Hassell, 1978).
evidence que a incorporação de níveis expressivos de agregaç"Jo
semdha-se à de presas em refúgio, no se ruido de que os preda-
(k = 1) aumema a esrabilidade do siscema. É parricularmeme im-
dores não as aucam (cm vez de.: não poderem). Por isso, pode-
porcante a existência de sistemas estáveis com valores baixos de
se di?.er que as presas têm um ·'refúgio pJrcial" e, nesse perío-
do, pode ser esperado que a isolinha delas eleve-se quase verri-
H' / /{; isto é, a agregação parece capaz de gerar abundánci,IS aumenra, sua taxa de auque efetiva (e, ponamo, sua taxa de hospedeiro:parasiróide é a mesma em cada mancha de hospedei-
estáveis do hospedeiro, bem abaixo da sua capacidade de suporte n.1.ralidade subseqüenre) declina com rapidez - um efeito dire- ros, o risco provavelmente é igualmente o mesmo em cada uma
calmeme quando JS )uas abundàncias slo baixas.
normal. Isro coincide com a conclusão obrida da Figura l 0.1 1. t.nnenre dependente da Jcnsidade. Isro provoca um amorceci- desras manchas. Assim, a dependência espacial posiriva da densi-
Vimos anreriorn1ente, na discussáo sobre as resposras fun-
menco das mcilações narur:tis unro da densidade do parasirói- dade não conduz necessariamenre à agregação de risco e não re-
cio,uis do ripo .3. que as isolinhas têm a tendência de esrabiliz.ar
de como do seu impacto sobre .a mortalidade do hospedeiro. força forçosameme a esrabilidade. Por outro lado, quando a rela-
as interações. A"> análises anteriores dos sistemas de Lotka-Volterra
10.5.4 Agregação de risco e dependência Em resumo, a agregação de ris- ção de dependência da densidade é diretJ e se intensifica (Figura
e Nicholson-Bailev (e as edições anteriores desce livro) concorda-
ram com esta co~dusJo: que as heterogeneidades espaciais, e as espacial da densidade UJ esubiliza as inreraçõe:i hospedeiro- 10. I4b), parece que se produz um risco de agregação, o que po-
parasitói<le mediante a 111tensificação deria reforçar a esrabilidade (Hassell e May, 1973); mas se isco
respmta.<; de predadores e presa.\ em rdaçJo a elas, esrabillz.am a
Como aparece esra estabilidade a par- J,is dependênciJs diretJS (náo em atra- aconcece assim ou não assim depende da resposra funcional do
dinâmica preJador-pres.1. muitas vezes para densidades bai.xa.s de
tir da agregaçio? A resposca b;iseia-se )o) com relação J densidade que já parasicóide {Ives, I 992a). A maioria das análises assume que J.
presas (Heddingmn l'l ai., 1978). Entreunco, conforme veremos
no que se tem denominado "pseudo-inrerferênci,i" (Frce d 1d. existe (Taylor, l 993). Portanto, o poder estabilizador deste esrabilidJde é reforçada com uma resposta do tipo 1. Porém, com
a segutr. m desenvnlvirnenms subseqüentes têm mostrado que os
1977). Com a inrerferência múrua. à medida que :rnmenu ,1 fenômeno e~pacial, J agregação de ri,;co, não surge de uma uma resposta do tipo 2, mais rea1isca, os J.umenros inici;lÍ) de
efeims da herero~..:neidade sJ.o mais complexos do que se supu-
sua densidade, os predadores empregam progres,;;ivamenre nuis dependência e'ip:ici.il dJ densidade, mJ\ Je sua traduçJ.o em Jgregação, dependentes d.1 dens1d.1de a p.1rrir de um vaJor zero de
nha: os eteiws d.1 hercrngenei<.Üde variam com o tipo de preda-
tempo na inreração com outros indivíduos. de modo que ,u.1 umJ depen<lêncl,t temporal d1ret,1 da demid:1de. ,tgregaç~to, diminuem J. agregaçJo de ri'\co e sJ.o dese'\tahili?~1do-
dor. com o tipo de hererogeneid.1de, e as"1m por diante
CJ.XJ de ataque diminuí. Com J. pseudo-imerterêncÍ,l, J taX,l ~te iV[as corno d agregaç.lo de risco ~e reb(iona J. agregaçlo dos re). Someme os níveis elevados de agregaçJ.o dependenrõ d.1 d..:n-
acaque rambém declina com o aumento da densid.1Je de p.u.t- par .isiróides~ E .1s re,postJS de agregação e a agregação de risco )iJade s.io esrabiliz.1dores.
sicóides, m.1.s como resulrado de uma fração crescente de: e11- necessariamente levam .a um aumento da estabilidade? Podemos Além disso, fica claro na Figura
10.5.3 A heterogeneidade no modelo de
conrros desperdiçados com hospedeiros que ji renham '>tdu responder e.'!tas pergunras examin,lildo a Figura 10.14, lembran- 10.14c e d que pode produzir-se uma
Nicholson-Bailey
aucados. O ponro crucial é que esta "agregação de risco" enrrc do da SeçJ.o l).6, em que os predadores ,1gregados náo passam considerávd agregação de risco quan-
os hospedeiros rende a incrementar a quJmidade de pseuJo- necessariamence J maior pane do tempo forrageando em frag- do há uma dependência e'ipaciJ! inversa d.1 densid.1de ou quJn-
A maior parte dos avanços no esclare- 1
imerferênLia. Com densidades baixas de parasicóides, pro\'J- memos com densidade alt:i de hospedeiros (dependência espacial do não há dependência espacial de qualquer ripo com relação
cimento desses efeiros refere-se :tos ,;is- 1
velmenre um parasicói<le não cem sua raxa de ataque reduzid.1 i; da densidade). o tempo de forrageio pode também esrar correla- :1 densidade - e esces efeirns não seriam conrrapmros por uma
remas compostos de hospedeiros e pa-
como conseqüência da agregação. Porém, com densidades m:1i~ cionado negarivamente com a densidade do hospedeiro (depen- resposta funcional do ripo 2. Porcanco. um.1 resposta parcial
rasiróides. Um bom pomo de partida é o modelo concebido
altas, parasiróides em agregações (onde está a maioria dd.:~) dtnCla inver,a da densidade) ou ser independente desta. Co- .is duas perguntas colocadas anreriormenre seria que a:, res-
por lvlay ( 1978), em que o autor ignorou detalhes exatos e 1
m,:cemos com J. Figura 10.14J. A distribuição de parasitóides pmra.s de a.gregaçâo de dependt:'ncia espacial da densidade pro·
demomrrou simplesmente que ,1 distribuição de encomros de
hospedeiros e pJrasiróides não ocorria ao acaso, mas sim era
progressivamente fará.o frente a manchas nas quais os hospe-
deiros (na maioria ou codos) já se encontram parasitados. EPl i
1
sobre mdnchas de hospedeiros :'>eg;ue unu rel.1çâo dependente
d.1 den.,;idade perfe1umente line,11. Todavia. como J. razão
vavdmenre não levem a uma .1.gregaç.lü de risco e, por isso,
não conrribuam p:1r.:1 reforçar a esrabili<lade.
conseqüência, à medida que ·.1 densidade de par.isitói<lo
agregadJ. Em p.ir~icular, ele J'i:'>Umiu que esta disrribuiçlo po-

1
___..j__.
--- - ~ - - - - - - - -
314 PARTE 2- INTERAÇÓES CAPÍTULO 1 O: A DINÂMICA DE POPULAÇÓES DA PREDAÇÁO 315

FIGURA 10.14 Respostas de agregação dos


mencam que geralmente ocorre na prática), a estabilidade dimi- diferença nos valores dos parâmecros
(•) (b) parasitóides e agregação de risco. (a) Os nui. A esrabilidade só aumema se a dependéncia for m3.Ís forre do encre as manchas leva a uma assincro-

.
parasitóides se agregam em manchas com que se observa tipicamente na natureza. nia nas flutuações nas manchas. Por-
uma alta densidade de hospedeiros, mas a
Oucras formulações contínuas no tempo menos "extre- ranco. uma população no pico do seu
~
, razão parasitóide:hospedeiro ê a mesma em

/
I todas as manchas (uma relação hnear per- mas" ([ves, l 992b), ou aquelas que combinam gerações dis- ciclo inevicavelmence tende a perder por dispersá.o mais do
1lm
·;;;.:: feila) e, portanto, o risco para os hospedei- cretas com rediscribuiçáo dentro d.is gerações (Rohani et ai., que a ganhar, e uma população na depressão rende a g•nhar
~g
mm • ros é aparentemente o mesmo em todas as
1994). produzem resulcados intermediários entre o ··excremo mais do que a perder, e assim sucessivamente. Por conseqüên-
o.e

I
manchas. (b) Neste caso, a agregação dos
~E
i, paras1tóides nas manchas com densida- de Nicholson-Bailey" e o "extremo de Murdoch-Scewarc-Oa- cia. a dispersão e a assincronia juncas originam uma depen-

ime
c'l
q) .----// de elevada de hospedeiros se acelera com
a densidade crescente destes, de modo
que os hospedeiros em manchas com den-
cen". Contudo. parece cerco que, no passado. umJ preocupa-
çáo com modelos que não incorporavam o movim~nto dentro
dência cemporal da densidade em caxas líquidas de migração,
contribuindo para a estabilidade.
sidade elevada aparentemente correm um de uma geração levou a uma sobre-avaliação do significado da A siruação fica muito mais complexa com a inclusáo do
risco maior de serem parasitados: existe agregação nos fragmentos com densidade altJ de hospedeiros comporramenrn de agregação, uma va. que as próprias tixas
agregação de risco. (c) Càm uma depen-
dência perfeitamente inversa da densida·
p1ra a esrabilização das inceraçóes hospedeiro~p.HJ.SÍtóide. de dispersáo se comam uma função muito mais complexa das
(e) (d)

.
o
,
de (isto é, a agregação de paras1tóides nas
manchas com uma densidade baixa de
hospedeiros). os hospedeiros nas man-
10.5.6 A perspectiva da metapopulação
densidades ramo do predador quanto da presa. A agregação
parece exercer dois efeitos oposros (Murdoch er ai., 1992). Ela
cende a aumentar ,l assincroni.1 emre JS flurua<;ões da abun-
"Ei,s . chas com densidade baixa aparentemen-

..
'"
~g te se acham sujeitos a um risco mu!IO
maior de serem parasitados: novamente
dáncia do predJdor (Jcentuando a escabilidade), mas a reduzir

".
o.E As abordagens de ripo contínuo e discreto nu cempo diferem a assincronia enrre as flutuações da presa (reduzindo a escabili-
existe agregação áe risco. (d) tnclus1ve
~E
!, sem uma resposta de agregação (depen-
cüramence, mas comparcilham uma perspeuiv.1 comum ao dade}. O balanço entre estas forças parece ser sensível à imen-
::onsiderar que as incerações predador-pres.1 ocorrem denuo sidade da agregação, mas calvez mais sensível ainda às suposi-
~E
·~ Ili

c'l
'.' dência da densidade) os hospedeiros apa·
rentemente estão expostos a um risco maior
de serem parasilados (estão su1eitos a uma
de uma única população, embora se trate de popubções com ções incorporadas aos modelos (Godfray e Pacala, 1992; lves,

"" razão maior parasitóide:hospedeiro) em algu-


mas manchas do que em outros: neste caso.
variabilidade incerna.Uma alternativa é a perspecciva de uma
··mecapopulaçáo" (ver Seção 6.9). na qual as m.111chas ambien-
1992b; Murdoch et ai., 1992). A agregaçáo pode esrabilizar ou
desestabilizar, e, ao comrário das análises anteriores, ela não exer-
Densidade de hospedeiros Densidade de hospedetros
igualmente, existe agregação de risco tais suscenram subpopulaçóes que possuem su.1s próprias di- ce um efeito claro sobre a densidade da presa, pois seus poderes
em uma mancha em uma mancha
námicas internas, mas que se ligam a ourras subpopulações escabilizadorc:s náo escão vinculados à eficiência do predador.
por meio de deslocamentos encre os fragmenros. O craramento de uma interação
Muitos estudos têm invescigado modelos de merapopula- predador-presa espacialmence hetero-
Naturalmente, na prática, com conjuntos de dados reais de qu.Uqucr imervalo de tempo encre te t + l ), e que encáo -~O-
ção de predador-presa, geralmente com dinâm1C.1s insdveis den- gênea como um problema de dinâmi-
(como os da Figura 9.20), a agregação de risco freqüenremen- frem as conseqüências desta discribuiçlo aré o inicio da próxima
tro das manchas. As dificuldades macemiticis freqüemememe ca de merapopulações foi levado a um
re surgirá de uma combinação de respostas de dependência ger.1ç.l0. Comudo, suponhamos que nos deslocamos no rempo
têm limirado a análise dos modelos de duas mancha.s, nas quais, estágio mais avançado por Comins e colaboradores (1992).
espacial da densidade (direra ou inversa) e de resposras inde- comínuo ~ que é apropriado para muitos parasitá ides, bem como
se :1s manchas são iguais e a dispersá.o é uniforme, a escabilidade Eles construíram modelos em computador de um ambieme
pendenres da densidade (Chesson e Murdoch, 1986; Pacala e para muicos outros predadores. Neste caso, deveríamos assumir
nJ.o é afecada: a fragmentação e a dispersão nJo exercem um efei- consistindo em um mosaico de quadrados, que de faco pode-
Hassell, 1991). Pacala, Hassell eco-aurores chamaram as pri- que .1 agregação também ocorre sobre uma ba.-.e concínua. Os
to em si mesmas (Murdoch et ai., 1992; Holc e Hassell. 1993). riam ser visualizados como cais (Figura l 0.15). Em cada gera-
meiras de componenre "dependente da densidade do hospe- predJdore.s em uma mancha esgocada ou mesmo em processo de
Concudo. as diferenças entre .1.s manchas, por si mes- ção, ocorreram dois processos em seqüência. Em primeiro lu-
deiro" (HDD. host density depmdent) e as últimas de compo- esooramenm dc"veriam abandoná-la e redisrribuir-se (ver Seção
mas, rendem a escabilizar a inter1ção (ln:), l 992h; Murdoch gar. uma fr.1.ção Pr de predadores e uma fração µ,\'de presas se
nenre "independenre da densidade do hospedeiro" (HDI. ho,t 9.6.~). -fod.1 :1 base da pseudo-interferência e, portanto, a esrabi-
rt ai., 1992; Holt e Hassell. 1993). A uz.ín é que quJlquer dispersavam de cada quadrado para os oiro quadrados vizinhos.
demity independem). e descreveram métodos que permaem, J. lid.1Je (:1 :-.1ber. os ataques inúcei.s do pred.1dor em nunchJS com
parcir de conjuntos de dados reais como os da Figura 9.20. a densidade." J.lc.1 de predadores} rende a desaparecer.
divisão da agregaçáo de risco em seus dois componences. Em Murdoch e Srewarr-Oacen (1989)

-. ..•.••r:-:.: -••••.•:1:
..•••••
uma Jnáli.se interessante de 65 conjuntos de dados, repre.sen- ador:H.1m. ulvez. o exrremo oposco .10
(a)
c.rndo 26 combinações diferences de hospedeiro-parJsitóiJe que terno'.> comidendo, consrruindo um (e) 1 • • :" • : •
(P.1c.1la e Hassell. l 99l). moscr.1ram rer .1greg.'.lçio de: risco ,u~ moJe\1) corHÍnuo no rempa em que J.S

::·:::::::::.-
.. ...... ·····I.
pre~.lS '>C de'.'>!oc.1n.m inst:1nc.1ne.1meme p.1ra os fragrnenrn".,, subs-

I........
ficience para est.1biliz.1r ~uas incerJçôes. PorC::m. em 1--i dc~rt:,;
18 caso,1,. a maior contribuiç.io foi a variação do componence tituindo JS pre"..J.S que haviam sido consumidas. Os pred.1dores '>e."
HOI. com a qual fic.1 enfraquecida qualquer supo:.ra lig:1ção des!ouvam insc.UltJneamenre para as mJ.nch:b, a fim de mami.=r

r:~ -~·~.=.=::=;·:=::.=:
..........~.1
enrre a dependênci., espacial da densidade e a esrabilidJde. um p.1drio consistente de co-variação predador-presa no espaço.
O efeito Jesce modelo, que representa um modelo de Lotka.-'vol-
terr.1 de e~rabi!idade neutra, concra.,;ra fortemente com os que
10.5.5 Heterogeneidade em alguns modelos nmos m~criocmente. Em primeiro lugar, a .1gregaçio Jo precb-
contínuos no tempo dur independenre da densidade local da presa nâo rem efeiro nem I · •·... · 1··.:.:.li
.sohre .1 e:-.cJbdidaJe nem sohre a densidade da pr:::sa. Conmdo, ,l
Temos dado arençáo aos parasicóides e aos hospedeiros e, assim agregaç:io do predador direcamente dependence da densidade lo- FIGURA 10.15 Mapas instantâneos da densidade de populações em s1mulações do modelo de dispersão de Com1ns e colaboradores (1992)
procedendo. em nossas análises, temos mantido cercas caracreris- c.U d.1 presa tem um áeiro que está em funÇío da imensidade com uma dinâmica local segundo o modelo de N1cho!son-Bailey Os diferentes níveis de sombreado representam densidades distintas de
hospedeiros e paras1tóides. Os quadrados pretos representam fragmentos vazios; as sombras escuras tornando-se mais pálidas representam
cicas esrrucurais que agora deveriam ser reconsideradas. Concr:::- desu dependência~ embora sempre diminua a densidade da pre-
manchas com densidades crescenles de hospedeiros: as sombras claras até brancas representam manchas com hospedeiros e densidades
camence, temos admicido que os par:isiróides se disrribuem s.1 (porque J. ehcicia do predador aumema). Se esra dependência crescentes de paras1tó1des. (a) Espirais µN = 1 µ., = 0.89: (b) caos espacial:µ,= 0.2. µP = o.a9. (c). um ~entrelaçamento cristahno"· µN= 0,05:
suhre as mancha., de hospedeiros no começo de uma geraçio (ou Ja Je1ui1.üde for fraca (cal como ;\1urdoch e SrewJrr-Oacen argu- LJp = 1 (segundo Comins et ai.. 1992)

1
316 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 1O: A DINÂMICA OE POPULAÇÕES DA PREO>.ÇÁO 31 7

Ao mesmo rempo, os predadores e as presas dos oico quadra- Dentro de uma faixa estreita de valores para os parâmetros, ocupada somence por predadores, geralmente ocorreu a morte rosque vivem na parte mais profunda do seu meio alimentí-
dos vizinhos se dispersavam p;ira o primeiro quadrado. Assim, com predadores altamente móveis e presas relativamente st~ dos predadores antes que seu alimenrn civesse chegado. Em cio estão fora do alcance dos parasiróides guc tentara ovoposi~
por exemplo, a Jinámica da densidade da presa! N,.r•I' no qua- dentárias, pode inclusive ocorrer "entrelaçamentos crisralinos" cada mancha, porranrn, predadores e presas foram, por fim, car neles. Na ausência deste refúgio, em um meio alimcnticio
drado i e na geração t + I, foi dada por: escáricos, enfatizando que inrernamente podem ser gerados condenados à extinção. Porém. globalmente, em qualquer pouco profundo, esca imeração hospedeiro-par.1sitóide é incJ-
padrões dencro de uma população, mesmo em um ambiente momenco havia um mosaico de manchas não-ocupadas, paz de persistir (Figura 10.1 Sc), ainda que o hospedeiro so,i-
(10.23) intrinsecamente homogêneo. manchas comendo presas e predadores ruma.ndo para a ex- nho rapidamente persisra (Figura 10.ISd). Entretanto, na pre-
Existe alguma mensagem geral que possa ser extraída a tinção e manchas sa.uc.Líveis, com presas; esse mosaico foi sença. de um refúgio, em um meio alimentício mais profundo,
partir deste corpo de cearia? Certamente. não podemos dizer capaz de manter populações persistentes de predadores e o hospedeiro e o parasiróide aparentemente podem per.'liscir
ou:
que "a agregação exerce um efeico x sobre as inrerações preda- presas (Figura 10. !Gc). juncos indefinidamenre (Figura 10.18a).
(10 24) dor-presa". Podemos dizer, no entanro, que a agregação pode Subseqüenremenre, outros auto- Não obstanre, de fato as dis-
ter uma variedade de efrirns. e saber qual deles seja provavel- res demonstraram igualmente o poder tinções entre tipos diferentes de he-
em que /V1_1 -E J densidade média dos oiro quadrados vi- mente aplicável requer um conhecimenrn detalh;ido da biolo- da estrutura de uma mecapopulação terogeneidade espacial podem não
zinhos i na ger;içio t. A segunda fase enráo consisria em uma gia do predador e da presa conforme a interação em questão. em promover a persistência de popu- ser ráo bem definidas em sistemas
geração da dirümiu-p.1drâ.o de predJdor-presa, seguindo as Em particular, temos visro que os et"eiros da agregação depen- lações acopladas de predadores e pre- reais como o são em modelos marem.íticos. Ellner e cola-
equações de Nicholson-Bailey ou uma \·ersJ.o discreta no rem- dem da resposta funcional do predador, da capacidade de JUW· sas, quando suas d111âmica~ são instáveis em subpopulações boradores (2001 ), por exemplo. examinaram um sistema
po dJ.'.) equaçlie:-. de Lorka-VolterrJ (iV[Jy, J 97 3). As simula- regubçio do hospedeiro e assim por diante - car,1crerístic:i_., i1h.lividuai~ . ..-\ Figura 1O. l 7a, por exc-:mplo, exibe esta sicuação de ácaros predadores (Pl~yto)·eiulw pasimi/is) se alimentJ.n-
ções começJram com populações J.!eacóriJs do predador e dL1 que examinamos separ~1damente. Conforme salientamm 1111 pJra um parasiróide .itacando seu besouro hospedeiro. A Figura do de icaros herbívoros ( 7êtmnuchus urttcac), que se J!i-
presa em uma üniu mancha, com rodas as outras manchas início des[e capítulo, para compreender os processos comple- IO.I7b mostra resulradu.,;; similares para presas e predadores menravam do feijoeiro (PhaJ·eolzu lunllttH). Baseado em pbn-
xos, é necessário isolar conce1rualmeme os diferentes compo- ciliados (proriscas), onde, em apoio do papel da estrutura de tas individuais e em um ''continente .. LÍnico de 90 plantas
vazias.
Sabemos que demro do.') quadrJ.dos individuais, se eles nences. Todavia, em última mstânciJ, é preciso também re- um.1 metapopulação, foi possível demonstrar assincronia na (Figura 10.l9a), o sistema não persisriu a longo prazo 1'.Fi~
existissem de m:rne1r.1 isolada, a dinâmica seria instável. Po- combinar rais componentes dinâmica de subpopulações individuais e freqüentes extinções gura. IO.l9c). No enranco, quando foi estabelecido um de-
rém, denrro da fr:1grnentação de quadrados como um codo, e recolonizações de presa; locais (Holyoak e lawler, 1996). lineamento de oito ilhas de 10 plantas, conectadas por pontes
podem ser gerados rapidamente padrões estáveis ou, pelo me- A Figura l 0.18 ilustra um estu- que limitaram o poder de dispersão dos ;ÍCaros (Figura l 0.1 <Jb),
nos, altamente persÍ'i(entes (Figura l 0.15). A mensagem geral 10.5.7 Agregação, heterogeneidade e variação do que apóia a idéia do poder estabili- a persistência aparenremenre foi ilimitJda (Figura I O. l 9d. e).
é similar à dos resultados que já vimos: que a estabilidade pode espacial na prática zador de um refúgio físico. Tal escudo Seria fácil chegar à conclusão precipirad,1 de que a estabilidade
ser gerada por <lispcrsJ.o em me(apopulações nas quais as ditC- baseia-se no mesmo siscema hospedeiro-parasicóide de Pladia- ,lllmenrou através da escrumra de metapopulação de oiro ilhas.
renres manchas flutuam de modo assíncrono. Neste caso, ob- O que se pode dizer então sobre o papel da variação esp.icial l 'entttria mostrado nJ Figura l 0.1 e. Neste caso, os hospedei- rorém, Ellner e colaboradores, quando examinaram moddos
serve especialmeme que uma manclu experimenta um ganho na prática? Os efeiros esrabilizadores da heterogeneidade fo-
líquido de migrantes quando sua densidade é mais baixa do ram demonstrados admiravelmenre por Huffaker (1958; Hu-
que a média das oiro manchas com as quais se conecra (Equa- ffaker et ai., l 963). escudando um sistema em que um .-í.c.uo
(a) (b)
ção 10.24 ), mas experimenta uma perda líquida quando sua predador se alimentava de um ácaro herbívoro, que se alimen-
dc"nsidade é nui) alu - um ripo de dependência da densidade. tava de laranjas espalhadas encre bolas de borracha em umd
Observe, igualmente, que a assincronia se origina no presente bandeja. Na ausência do seu predador, a presa manteve um.1
população flucuance, mas persiscence (Figura I0.16a); nus,
caso porque a população se expandiu de uma única mancha
inicial (rodas as m:i.n...:has são inicialmente iguais) e que se man- qua.ndo o predador foi adiClonado durante os estágios inici.1is 80 !
do crescimenro populacion,11 da presa, ele rapidamenre dU-
tém porque a J1sper.':idO se .1cha limira.dJ a manchas nzinhas
(em vez de ser uma força poderosa cap.1z de homogeneizar mentou seu próprio tamanho populacional, consumiu rnJ.1) lg
ro<l.is as manch:i~). as suas presas e, depoi.'>, tornou-se a.urn-exrinm (Figura 10.1 úb). o
'~
~

Além disso, os aspectos explici- No emanco, a interação foi alterada quando Huffaker tornou 40 ~

~ ~
ramente. esp.tciai.'> deste modelo, lice- seu microcosmo m.lis "em mosaico" (criando. efeuvamt:1He
ralrneme, r~rn :iJicionado uma outra uma metapopubção, embora o cermo não tenha sido aind,1 - .
d1rnen,:-10 ,tm re,ulr.1dos. Ot:pendendo das fraçôe'i de disper- proposto naquda época). Ele afastou :is laranjas emre si t: i:-o-
)áO e J.1 taxa reproduciva do huspedeiro. poJern ser geradas lou parciJlmenre umJs das ourras, pela disposição <le um .u-
.-"--~_J.__l~L___L_J_____L~
º~º~
muitas estruturas e)paciais completamente dif"erenres (embora ranjo complexo de barreiras de vaselina na bandeja, as qu:tis 20 60 100 20 60

das tendam a se confundir umas com muras) (Figura l 0.1 Sa~c). os ác1ros não poderiam cruzar. Ele facilicou a dispersdo d.1s
·) Typhlodromus Eoretranychus !
Pode ocorrer "caos esp.icial'', em que se produz um conjunto presJ.s pela inserção de muitos bastões verticais, de onde d<l\ (e) --- j

complexo de frentes de onda que incer,1gem, cada uma das poderiam se arremessar por meio de fios de seda conduzidos FIGURA 10.16 Esconde-esconde· interações
quais persiste só brevemente. Com valores dm parâmetros Jigo por correntes de ar. Por isso, a dispersão entre as mancha'> foi predador-presa entre o ácaro Eotetranychus
diferenres. e especial menre quando o predador e a presa são muito mais fácil para as preSJ..'l do que para os predadores;;. Em sexmaculatuse seu predador, o ácaro Typhfo-
uma mancha ocupada por ambos. os predadores consumiram dromus occrdenta/ls (a} Flutuações popula·
muito móveis, os padrões s;lo mais estruturados do que caóti-
ciona1s de E. sexmacufatus sem seu preda-

l
cos, com ''ondJs espirais" girando em corno de pontos focais rndas as presas e depois foram exrinros ou se dispers.iram
dor (b) Oscilação única do predador e a da
'
quase imóveis. Pon.into, o modelo as'iÍnala de modo muico
gráfico que a pet·si'itência em nível de roda uma população
(com uma taxJ de sucesso baixa) p.1ra uma nova mancha.
Em manchas ocupa_<las apenas por preSJ.s, houve um cre)~i· 1
.
,. presa em um sistema simples. (e) Oscilações
sustentadas em um sistema mais complexo
80 120 160 200
náo envolve necessariamence nem a uniformidade .itravés mento r.ípido e ininterrupm, acompanhado por uma J1.'t- f (segundo Huffaker, 1958)
Tempo {dias)
<lJ. popul.1ção nem :1 esrabilidJ.Je 1ns p.uces individuais dela. p«sfa bem-"•="id, pm """' m,och,s Em .,m, m",ch,

J
31 8 PARTE 2 - INTERAÇÓES
CAPÍTULO 1 O: A ÜINÁMICA DE POPULAÇÓES DA PREDAÇÂO 319

..................
.... ..
(•) (b)
30 (a} • • • • • • (e)
~ 120 30
"
i. 25 b.c .9

..................
§_ 3 25
• b ~

·i• -h
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--
e- 1 ~ ......
~ 1 ~ .....
.'
e- 1 .... 1 A.
1 1
50 100 150
SemdMsão Sem- 30 180 270 750 ·senes
'"""" com 4 células com 49 celitJlas com4 céUas com 49céUas Tempo (dias)
Tratamento Volume do microcosmo (mLJ

(d) 40 (e)
FIGURA 10.17 A estrutura da metapopulação pode aumentar a pers1stênc1a de interações predador-presa. (a) o.parasitó1de. Amsoptero-
malus calandrae, atacando seu besouro hospedeiro. Caflosobruchus chinensis. vivendo sobre fe11ões. em "celu!as~ pequenas únicas j 40
(tempo de pers1stênc1a pequeno, à esquerda) ou em combinações de células (4 ou 49), que ltv~ram acesso l1_vre enlre elas, de mo?o que
elas efet1vamen1e constituíram uma população única (tempo de pers1stênc1a não aumentou s1grnflcat1vamenle, a d1re1taf. ou teve mov1mento
30
i 30
o
limitado (1nlreqüente) entre células. de modo que elas constuuíram uma metapopulação de subpopulações separadas (aume.n~o do ;;;
tempo de persistência, ao centro). As barras mostram os erros-padrão {segundo Bonsa!l et af., 2002). {b) O c1l1ado predador, ~1d1_nium 20 .)à
nasutum. se alimentando do ciliado bacterívoro, Colpidium striatum. em frascos de volumes diversos. onde o tempo de pers1stenc1a i 20
..
variou pouco. exceto nas populações menores {30 mL). cujos tempos foram mais curtos. e também em ~séries~ ~e 9 ~u 25 frasco~ de 30
ml hgados (metapopulaçôes). onde a persistência foi bastante prolongada. todas as populações pers1st1ram ate o final do expenmento 10
2
.~
.... i . Í
10
ÍJ...· ~ . . 1+1,r,,
V.*
( 130 dias). As barras mostram os erros-padrão: letras dtferentes acima das barras 1nd1cam diferenças s1gniflcat1vas entre os tratamentos
(P < 0,05) (segundo Holyoak e Lawler. 1996). ~ i" MJ-W
~ •;4,_,i.4- ..
100 200 300 400 100 200 300 400
Tempo (dias) Tempo (dias)

(a) ~ Hospedeiro (b)


FIGU.RA 10.19 D1nàmica populacional de um ácaro predador (Phytosewlus persimilis) e sua presa, um ácaro herbívoro (Tetranychus urt1cae).
3.0 Parasiié>tde 3,0
Eles mteragem (a) em um continente Unice de 90 1nd1viduos de lei1oe1ro e suas d1nãm1cas são mostradas em (c) ( .l, predadores; _. presas).
2,5 2.5 ou (b) em u,:na metapopula~ão de oito_ ilhas de 10 indivíduos vegetais. Para esta segunda situação. as dinâmicas são mostradas em (d) e (e).
onde a persistência (estab1hdade) é nitidamente aumentada (segundo EUner et ai., 2001)
2.0 2.0

1.5 1.5
maremáricos do siscema que permitiu que dtferenres aspec- (sete gerações) duas espécies de moscas do grupo dos cefn-
l1 1,0 i .1 1,0
ro~ do desenho aherado fossem investigado~ um por um,
! 0,5
1 .1
·I 0,5 nJ.o detectaram efeito significacivo de cal e:-.rrurura. Em vez
cídeos que atacam os cardos e as guildas de parasiróides que
atacam as moscas. Para um hospedeiro, Terei/ia serratulae
i ,
\.)
e disso, eles sugeriram que o aumenro da esubilidade se ori- (Figura l0.20a), de .ino para ano houve evidência da de-
~ º·ºo 50 300 350 400 º·ºo 50 100 150 200 250 300 350 400 500 ginou de um aspecto diference: uma reduçáo da capacid.ide pendência da densidade na taxa global de parasitismo (Fi-
(d)
do predador em detectar e responder J surto) de presas sobre gura 10.20b), mas não uma evidência force de níveis signi-

F\
~ 2,5
__; 2.0

1.5
3l
2.5

20~

1.5t
planras individuais - um efeito de "refl.Íg10'' d,1 presa que
poderia surgir na au)ência de qualquer esr;-urur:1 esp.1ci:1l
explíciu.
Uma gunde d1(i'-u!d:1de em
emitir opiniões sobr-: o p.1pel esr.1-
fic.uivos de agregaçáo dentro das gerações. canro no con-
junro {Figur<1 10.20() como para cad.i espécie de parasitói-
de indi\·idualmenre. Para a oucra espécie, Uropl,or:t s~]'Íar,1
(Figuu 10.~0d). n.io se nunifesrou uma depend.=nci.1 tem-
poral da Jensid,1de, mas uma boa evidênciJ dJ ,1gre~.1"ráo
biliz:1dor da agregaç,l(, de rÍ.Ko é que, de rnco (Figura !0.20e. f), e, repetindo um padrio que \'Í·
10~
10t como vimos. emb0r:1 h:1j.1 muitos le- mos anreriormenre, o componente HDI foi o que nuis con·
0,5t .,. 0.5
vanramenco.s de d.HÍO'i sobre distri-
/" crlbuiu p.ira a hetc:rogeneidade. Conrudo, n:10 se pode dizer
buições espaciais de acaques. esses dado<; g~rJ\rnence pro~
º·ºo 50 100 150 200 250 300 º·ºo 50 100 150 200 250 300 350 400 450 SOO 550 600
que os padrões deste esrndo, no global, se ajuscem nitidamen-
vêm de estudos de duraçáo muirn curca - frcqi.iencemenre te J. reori.1 que apresentamos resumidamenre. Em primeiro
Tempo {dias)
de .1penas uma geração. Náo sabemos se m padrões e.'>pe- lugar, ambos os hospedeiros foram acacados por Jiver<;.1.'> c:spé-
FIGURA 10.18 D,nãmica a longo prazo de populações de laboratório de um hospedeiro (Plod1a mterpunctelfa) com e sem seu paras1tó1de cüis observados são típicos de'itJ interação: tampouco sa- cies de parasnóides - não apenas umJ., conformt:'" .i<lmice .t
( Venturia canescens). (a) O hospedeiro e o paras1tóide em um meio protundo exibem ciclos de abundância acoplados. com duração bemos se a din.lmica da populaç:io .1presenc:1 o gr.rn de es- maiori:i dos modelos. Em segundo lugar, os nívei, de agrega-
aproximada de uma geração do hospedeiro. (b) Hospedeiro isolado em um meio profundo. (c) O hospedeiro e o parasitôide em um meio tabilidade que se prevê a panir dos p.1dróes espaciais. Uma
pouco profundo são incapazes de persistir. (d) O hospedeiro ,solado em um meio pouco profundo ê capaz de persistir. O meio profundo ção (e até cerro ponro 35 conrribuições dos componencc"s HDI
proporciona um re!Ug,o de ataque para uma parte da população do hospedeiro que não estâ presente no meio pouco profundo (ver Seção invescigação que examinou .1s dmimic.is populacionais e JS ou HDD) variaram consideravelmente e Jparencememe ao
1O 5 2). Todos os con1untos de dados foram selecionados a partir de diversas replicas que mostram os mesmos padrões (segundo Begon distribuições c:spaciais duranre viri.is gerJçóes é a de Redt"ern acaso, de: um ano para oucro (Figura 10.20c. f): não houve
et at, 1995).
e colaboradores ( l 992). que esrud.iram dur,tnté' sere ano:-. um ano rlpico e nenhum único ''tiro repencino'' pode: ser

1
320 PARTE 2 - INTERAÇÕES
CAPÍTULO 1 O: A ÜINÁMICA DE POPULAÇÕES DA PPEDAÇÁO 321

(b) (e)
(a) (a) Refúgio (b) RefúglO

1
0.6

0.5
70

60
1986
1982
.
~ 0,4
9- Controle
-~~~~formigas _J
1 ,+
~ ~
o l so ~ 0,3 "E
.s 0,4 :§
~i
.
"' g 40 1983 1984 •
·[ 0,2 i'

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0,3

0.2
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f
30

20 1987
1988
>
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o .----.:.i·~·_L·___:
(e) Extenor
:l,__ .- > l F 1~--~-~--~---'--~~-~

(d) Extenor
0,1 10
3 1985
________.,l___. _____j___,
1

1982 1984 1986 1988 ºo 0,1 0,2 0,3 0.4 0.5 0,6
Densidade 00 T serratulae (por capitulo)
Ano

1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988


• ,ol
E•
Ano ~~ i
(e) (1) "E
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1984
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1982
A io1T1 iA1M1 J i J i A s1011d
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.l!:! 0,3 ~ 1988
1986 1984 1985 1984 1985
! 5
1985 ô
; 0,2
!' f
a. 10 1983
2
FIGURA 10.21 Resultados de um expenmento de campo para testar a hipótese segundo a qual o parasltó1de Aphytis mellltus mantém a
abundância da cochonilha vermelha da Califórnia (Aomd1ella aurantu) em níveis oaixos estáveis. devido a um refúgio parcial de ação parasitá-
§' 0,1 5 4;, ,,,~, ria em porções internas de plantas citncas, onde formigas interierem com os parasilóides. Quando formigas foram ret1radas de blocos de
. ---- ----- -- .:.~·rtJ:------- plantas (a época de remoção está indicada pela seta). a fração parasitada no refúgio tendeu a ser mais alta (a). e a abundância da cochomlha
1987
0 101 mais baixa (b), mas fora do refúgio ("exterior'') a fração parasitada 101 mais variável apenas marginalmente (e), e a abundância de cochoni·
1982 1984 1986 1988 o o.5 1.0 1,5 2.0 2.5
lhas 101 apenas mars variável durante um periodo relativamente breve e tendeu a ser mais baixa do que sobre as plantas-controle (d) (segundo
Ano Densidade de U stylata (por capitulo) Murdoch et at.. 1995).

1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988


Ano

isro era alcançado: sobre a casCJ de árvores, as taxas de parasi- ampla poderia incorporar tanco as resposras de agregaçáo
FIGURA 10.20 Ataque de parasitó1des sobre moscas do grupo dos tefritideos ( Terei/ia serratulae e Urophora stylalfJ) . .que atacam capitulas de
rismo eram muirn baixa.i e, as densidades de cochonilhas, al- como os efeitos da metapopulação. Eles propuseram que os
cardos. As dinàm,cas das populações são apresentadas para T serratulae em (a) e para U. stylata em (d). A de~end~nc1a temporal da densidade
dos ataques dos paras1tó1des sobre T serratulae (b) é sign1ftcahva (~ = 0,75: P < 0,05), mas para U. stylata (e) nao o e (r2 = 0,44: P < 0,05): amb~s tas, aparentemente como resulrado das atividades de formigas insecos do tipo cochonilha e outros homópreros, e jcaros
as curvas se a1ustaram segundo a equação y = a+ b log, 0x. Contudo, enquanto para T. serratulae (c) n~s d1fe~entes ano~ existe_ pouca agregaçao que inrerferiam na busca dos parasitóides. Murdoch e colabo- (como os de Huffaker), que podem rer muitas gerações den-
de risco do ataque de paras1tóides (medido como CV 2 > 1 por agregação). para U. stylata existe muito mais agregaçao de risco, sendo que o
rctdores, em.lo, tescJra.m esta hipótese, mediante um experi- tro de uma mancha, são muitas vezes estabilizados por as-
componente HOI (parte não-sombreada) contnbuiu mais do que o componente HDD (parte sombreada) (segundo Redfern et ai.. 1992).
menco de campo em que as formigas eram retiradas de vá- sincronias na dinâmica de manchas diferenres; lepidópce-
riJs árvores. No refúgio, as raxa.s de açJ.o parasitária a.u- ros e himenópreros. por curro lado. que ocupam tipica-
menrararn e a abundância de cochonilha.s declinou (FigurJ menre uma. mancha por apenas parte de um Lrnic.1 geração,
capturado de quJlqucr das interações. Por fim, enquJnto .1 rrolar ul praga (ver Seção l 5.2.5). De um bom agente de lO!l- 10.21 ). Houve ev1dênci1s de que a~ taxas de ação pJ.rasidriJ. podem freqUentemenre ,er estabilizados por unu re~posu
JinimicJ. relatÍ\".1men(e estávci de T. Ji:rmrnlae pode rer re- trole hiológico, se exige que ele seja capJ.7 de reduzir a pres.1 t: .1 Jbund.lncia de cochonilhas foram mJ.is vJriáveis na popu- de agregação. De faca. com o controle biológico, geralmente
fletido a dependênci.1 d1rera da densiJ,1de ma.is demonstrá- {praga) a uma abundância estivei bem abaixo do seu nivd Lição como um rodo. Todavia, e~~e.s efe1tos foram apenas leves como J dinâmica predador-presa, ,t construçáo de ligJções
vel no parasitismo, isto pareLe estar completamente des- normal, prejudicial, e, como sugerem algumas análises teóri- ~ Jparemememe de curta duração, e cerramenre não houve convincentes entre padrões na estabilidade populacion.d de
\·inculado a. quaisquer diferençJs na agregação de risco. cas, é isto precisamente que as respostas de agregação ajud.1m e\'idência. de que d abundância torai de cochoni!has aumen- populaçóes naturais e mecanismos especiais de estabi;iza-
Os efeitos das heterogeneidades a gerar. Emretanro, o escabelecimenro de cal relação nJ. pricic..1 (J5Se por qualquer diminuição do efeito do refúgio. ção - ou combinações de mecanismos - permanece um
espaciais sobre a. estabilidade <las di- não tem se mostrado mna carefa fácil. i\,lurdoch e colaboradores Murdoch e colaboradores ( 1985). além disso, demuns- desafio para o futuro.
nimic.h de predadores e presas não são ( 1995). por exemplo, observaram que a cochonilha vermellu rraram que, em geral. 1s populações de pragJ.s persistem
apena:,, de interesse meramente cientí- da Califórnia (Aonidiella auranti1), um insero-praga de pLrnras Jpós o controle biológico bem-sucedido não como resulra-
fico. Eles cêm sido também rema de cítricas em várias partes do mundo, parecia manter-se em densi- do de respo~cas de agregação, mJs devido à criação escocás- J.3 ::..1 1Ji11,).~\u.~
debJres acalorados (Hawkins e Cornell. 1999) ao considerar dades baixas e nmavelmence estáveis no sul da Calitõmia por rica de manchas d-: hospedeiros por colonização e sua ex- >-1:-:-1 _J:-; _:;-,__,:-
as propriedades e a nJrureza de .1genres de controle biológico: um parasitóide, Aphytis mellitw, incroduzi<lo para controlá-la. rinção subseqüente quando descobertos pelo agenre: essen-
inimigos natura.is de uma praga que são inuoduzidos em uma A existência de um refúgio parcial para a cochonilha, livre da cialmente, um efeito da metapopul:tção. \X.'aage e Greathe- Quando as populações de predJdores e presas interagem, pode
ação parasitária, mostrava-se uma hipótese pb.usível sobre como 1 haver, às vezes, mudanças repencinas na abundincia de um ou
úea, ou, de outro modo, ajudados e favorecldos, a fim de con- ad { 1988), contudo, sugeriram que um:t perspectiva. mais
i
1 1

~ J
-- ------- - - - -
3 22 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 1 O: A DINÂMICA DE POPUlAÇÔES DA PREOAÇÁO 323

(b) 50
(a) (b) (e)
(a)
~ ~·
~ 40
j .. /

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...
l l
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r ; 300 30 m
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í X/ 2 ~ N i 200 1'
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20 E
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1 z p o
'1l,
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~ ~ 100 A7,/. 10 10
Abundância da presa (N)
"' Abundância da presa ( N) Tempo l -" -~
-o---- .,- -
1954 1955 1956 1957
º.':-c-'cc:::':c-c-:'="'-,-~=::-'C"'"-c-~~--'~~-'
1958 1959 1960-1 1965-6 1970-1 1975-6 1980-1 1985-6 1990-1

FIGURA 10.22 Modelo de 1solinha zero predador·presa com equilibnos múltiplos. {a) A 1sol1nha zero da presa tem uma secção vertical em Ano Gerações
densidades baixas e uma secção em forma de ~corcova": portanto. a isollnha zero do predador pode cruzá-la três vezes. As intersecções X e
z são eqwlibnos estáveis. mas a intersecção Y é um *ponto de inflexão" 1nstave1. a partir do qual as abundâncias con1untas se deslocam para (e)
a intersecção X ou para a intersecção z. (b) Tra1etóna fact1vel que podem seguir as abundâncias con1untas. quando su1e1tas às forças apresen· Invernos rigorosos
tadas em (a). (e) As mesmas abundâncias con1untas representadas em função do !er:ipo, mostrando que uma interação com caracteristicas 5 000 1

que não mudam pode levar a ~surtosft aparentes de abundância


4 soo
,, ' '
1 1
.l l
4.000
g
de ambos os parceiros: surros ou choques. Nacuraimente, isto se desloc1 de um equi\ibrio em densidade baixa para um ~ 3 500
pode refletir uma mudança igualmente repentina no ambien- equilíbrio ern densidade alta e vice-versa. Esca erupção não 8 3.000
te, m.is os ecólogos que trabalham em campos muitos dife- é, em abrnluto, um reflexo de uma mudança igualmemc" j
rentes têm percebido que não existe necess.uiamente uma marcadJ no ambience. Ao contrário, ela é um padrão de e 2.500
só combinação de equilíbrio de popul,ções de predadores e abund.i.ncÍJ gerado pela própria interação (mais uma qu.rn- i
presas (ao redor da qual pode haver ou não o,cilaçóes). Em tidJde pequeru de "ruído" ambienta!), e em p.ucicular re- ê 2.000

vez disso, pode haver "equllibrios múltiplos" ou "escadas está- flete a existência de equilíbrios múltiplos. Podem ser invo- z
~ 1.500
veis alcernJrivos". c.1das explicações similares para esclarecer os padrões apa-
1.000
A Figura l 0.22 é um modelo rentemente complic.1dos da abundânci.1 na naturez.1.
com equilíbrios múltiplos. A isoli- Existem cerramence exemplos de populações narurais 500
nha zero da presa cem uma secção que exibem .rnrros de abundância a partir de níveis que nor-
vertical em densidades baixas e uma secção em forma de nulmen[e ~.lo baixos e aparencemente estáveis (Figur.1 1=30 ~ M ~ ~ 40 a«•~ 50 a 54 sa 58 w a 54 sa saro
corcova. Isto poderia refletir uma resposta funcional do ripo l0.2.h), bem como existem oucros exemplos em que J~ Ano

3 de um predador que cem também um tempo de manipu- populdções parecem ter alcernância entre duas densidades
l.1ção longo. ou calvez a combinação de uma resposta de esdve1s (Figurd 10.23b). Todavia, disso não se deduz que FIGURA 10.23 Exemplos possíveis de surtos de abundãnc1a e equ1!1bnos múltiplos (a) Avaliações médias da abundância relativa do psilídeo
c.1d.1 um destes exemplos é necessari1menre um.1 inceraç:i.o do eucahpto (Card,aspina a/bitextura), em três áreas de estudo na Austráha {AS, A? e A9) (segundo Clark, 1962). (b) NUmero médio de ovos da
agregação e de um efeiw Allee na presa. Como conseqüên-
mosca branca (Aleurotrachelus 1elineki1) por folha de viburno (planta arbustiva). em Silwood Park. Berksh1re. Reino Unido. Não foram coletadas
ciJ., a isolinh.1 zero do predador intercepta a isolinha zero com equilihrios múltiplos. amostras entre 1978 e 1979, nem entre 1984 e 1985 (segundo Southwood et ai., 1989). (c) As mudanças na abundãnc1a da garça real (Ardea
d.1 prcs.1 em rrês poncos. Os tamanhos e as direções das Em .dgun) c1sos, pode-~e apre- cmerea) na Inglaterra e no País de Gales (medidas pelo número de nínhos ocupados) são facilmente atnbuiveis a alterações nas condições
ambientais (em particular. aos invernos rigorosos) (segundo Stafford. 1971)
ser.1s n.1 Figura l 0.21a indic:1m que Jo,s desces pontos (X e ~enc.u um .lfgumenrn plausível em
Zl sáo equilíbrios bastante esd.veis kmbora haja osciLições fo.\Or <lo'> equilíbrios múltiplos. Isco
.w redor de cJda um deles). Contudo, o terceiro po1Ho (Y) é \·er(.L1J~i1u, por exemplo, p.ira o
t' 1nsfiq."\: .is populaçõe~ próximas a ele se moverão p.ira o [(Jbdlrn de Cl.irk (1%4), nJ Aus- ri rdÜrç.1Ja por um modelo que prevê º" 1nc,n1o'i p.1drões represencad.1 n.1 Figura I0.22: qu.rndo p.1ssam J uma siruaçJo
ponco X uu p.ira o ponto Z. Além di~~o. existem popula- crj\i.i, solir,. . o psilideo do eucalipro pau cal população (Souchwood et ai., 1%') 1 de biomassa baixa, as planc1s podem cer muico pouco nu-
çóe~ con1unca.s próximas ao ponro X, onde as seras .ipon- (Card,,1,p;11!l ,t!bitexntrt1), um perce· O,; estados esrá\'eis ahemar1H)S (êm ,;ido c.1mbém pro- terCal acima da superfície do solo e, porunro, um poder
tlm pJra J zona JO redor do ponto Z, e populações próxi- veio (hguu 10.23a). Esses inseros pdíeLern Pº-""Uir um equi- poscos p.ira muiras interações envolvendo pl.rnt.b e herbívo- muito li mie.ido de rebrocar imediJCamence. Esce é um ·'efeito
mas ao ponto Z, onde as setJs apontam de volca par.1 J líbrio cm dt:nsidade baixa, mantido por seus predadores na- ros, freqüencemenre onde a pressão do pasrc:-jo p.trtC;;'.' rer pro- Allee" clássico - a presa sofrendo de uma abundáncia de,
zona ao redor do ponto X. Mesmo :is pequenas perrnrba- rura1s lc:'>pc:culmente ave~). e um equilíbrio muirn mc"no, vocado o ·'colapso" da vegecação. Esta p.1sc;.1 de uma biomdssa masiadamente b,úxa - levando a uma forma de "domo'' ní-
çõe~ J.mb1entJis poderiam coloc:ir um.1 popul.ição nas pro- esc;ivc:\ cm Jcr.sidade :1\ca, rdlecindo a comperiçâo incr.1- elev;:ida para uma multo mais baixa., a qu:11 pemunece enrio tida em sua isolinha. Entreranto, pode ser também que os
x1midadt:s do ponto X em direç:ío :10 ponco Z e vice-\'erSJ. específic1 1 :i descru1çlo da folhagem d.1s árvores hospedei- estivei no semido de que n:ío ocorre o retorno Jo estado ini- problemas da biomassa vegecal ba1x.l escej.im .1ssoci.1dos a
O comporramenco de uma população hiporérica, com- ras Jererm1n.1 reduções da r'ecundid.1de e sobrevivência). cial (de bioma.ssa elevada), mesmo quando a press:ío do paste· derenoraç.io do solo - erosão, por exemplo - introduzindo
p,uivel <.om as setas d.1 Figura l 0.22a, é represenudo na De um equilíbrio pdía oucro, podem ocorrer surtos qu.rn.- io é drasticamente reduzida (van de Koppd er ai., 1997). São no sisrema um feedback positivo :idicional: pasrejo alto le-
Figura l0.22b em um diagrama conjunrn de abundàncla, e do o ccrnpo de reação dos predadores ao aumento de densi- i:~emplos os campos d.1 regi:ío de S.thel na .-\iric.i. pastejados vando l biomassa vegetal baixa. produzindo condições de cres-
n.1 Figura l0.22L como um grático do número de indiví- dade do, psilí<leos :idulros é bem curro. SimiLHmente, .t pelo gado, e as plantas .ínicas ao longo da cu.;;u eia Hudson cimento mais pobre), levando 3 biomassa vegetal mais balxa.
duos em funç.io do rempo. A população de presas, em par- obst:r\'.tçio de dois equihbrios altern1civos na Figur.1 10.2Jb. B.i.y no Canadá, consumidas por gansos. A ~xplicdção provocando condições dt! crescimento ainda mais pobres. e
ticular, mostra uma ··erupção" de abundància. à medid.1 que para J. mo~u br:inca do viburno (Ale11rotr11Chc:lus jelrneki:). conv::ncional (Noy-Meir, l 975) cem sido es~encialmenre aquela assim por diante (van de Koppel e/ aí., 1997).

1
324 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 1 O: A ÜINÀMICA DE POPULAÇÕES DA PREDAÇÃO 3 25

Por outro lado, existem muirns casos em que mudanças Muirns modelos macemácicos ilustram uma tendência são espacialmente dependentes da densidade com menor Na prárica, têm sido demonstrados os efeitos estabili-
repenrinas na abundância são claramence reflexos precisos de subjacenre de populações de predadores e presas passarem por probabilidade levam à agregação de risco e aumenram a es- zadores da estrutura da mecapopulação e dos refúgios, e a
mudanças repentinas no ambiente ou em uma fonte alimen- oscilações conjunras (ciclos) de abundância. Explicamos o mo- rabilidade. Os modelos com movimento dentro da geração imporrância geral das respostas à heterogeneidade espacial
tar. Por exemplo. o nllmero de garças reais que nidificam na delo de Lorka-Volrerra, que é o mais simples modelo preda- adicionalmente debilitam a significância das resposras de na escolha de agenres de controle biológico é rema de de-
Inglaterra e no P.iís de Gales normalmence flucua em corno de dor-presa de equação diferencial, e, usando isolinhas zero, mos- agregação na esrabilização das inrerações hospedeiro-para- bares acalorados.
4.000 a 4.500 pares, mas a populaçfo declina niridamenre tramos que neste caso as oscilações ;icopladas são esrrutural- siróide. Uma perspecriva de merapopulação enfatiza que as Por fim, os sistemas predador-presa com mais de uma
após invernos parricularmenre rigorosos (Figura l 0.23c). Essa mence instáveis. O modelo também ilusrra o papel, na gera- diferenças entre manchas podem se estabilizar através da combinação de equilíbrio de predadores e presas são exa-
espécie de ave se alimenta. de peixes e é incapaz de enconrrar ção de ciclos, de resposus numéricas arrasadas dependences assincronia, e também que as inreraçóes predador-presa po- minados como uma base possível de surtos de presas (ou
alimenro suficience quando as águas conrinencais ficam con- da densidade. Explicamos, igualmenre, o modelo hospedeiro- dem gerar padrões espaciais e temporais. predadores).
geladas por períodos longos, mas isto não é um indicio de que parasiróide de Nicholson-Bailey, que rambém exibe oscilações
os níveis populacionais mais baixos (2.000 a 3.000 pares) se- insráveis.
jam um equilíbrio alternativo. Os choques populacionais são Nestes dois modelos, os ciclos se estendem por várias
simplesmence o resultado da monalidJde dependente da den- gerações de presas (hospedeiros), mas outros modelos desiste-
sidJde. da qu,11 .1.<. g.uça.<> reais se recuperam rapidamente. mas de hospedeiro-parasiróide (e hospedeiro-parógeno) são
capazes de gerar oscilações conjuntas com a duração <le exJra-
mente uma geração de hmpedeiros.
Perguntamos se há uma boa e,·idência de ciclos predJ-
dor-presa na namreza, enfocando especialmente um sisrema
Os modelos matenLiricos m,lÍs simples das incer,1ções pred.1- constituído de lebre e lince e uma mariposa atacada por dois
dor-presa produzem oscilaçóes acopladas que sã.o .:i.lramenre inimigos naturais. iv[esmo quando predadores e presas exi-
insráveis. C.:onrudo, adicionando a es.<.es modelos elementos bem ciclos regulares de abunddncia, nunca é fácil demonstrar
diferentes do realismo, é possível evidenciar as propriedades que esres são ciclos predador-presa.
das verdadeir.ls relações predador-presa que provavelmente Iniciamos um examt:' dos efeicos sobre a dinâmica de
concribuem para a sua estabilidade. Um discernimento adi- farores desde modelos mais simples que examinam o aden-
cional proporcionado pelos modelos é que os sistemas preda- samento. Para os predadores, a interferência múrua é a ex-
dor-presa podem existir em mais de um estado estável. Vimos pressão mais imporranre disso. Examinamos os efeirns do
que uma variedade de padrões de abundância de predadores e adensamenco no modelo de Lorka-Volrerra, incluindo a
presas, tJ.nro na narnreza quanto em laboratório, concordam predação dependente da razáo: o adensamento estabiliza a
com as conclusões derivad;1s dos modelos. Infelizmence, raras dinâmica, embora esre efeiro seja mais intenso quando os
ve1.es remos condições de aplicar explicações específicas a de- predadores são menos eficientes. Conclusões essencialmente
termin.1dos conjuntos de <lados, porque poucas ve1.es são efe- similares emergem de modificações do modelo de Nichol-
tuadas as experimencações e as observ,tç<les críricas para com- son-Bailey. Conrudo, na natureza, existe pouca evidência
provar os modelos. As populações naturais são afetadas não so- direra desses efeitos.
menre por seus predadores ou suas presas, mas rambém por mui- A resposta funcional descreve a abundância de presas
rns ourros fatores ambientais, que servem para "rur.rar as águas" sobre a taxa de consumo dos predadores. Os rrês tipos de
quando são feiras comparações diretas com m modelos simples. resposra funcional são explicados, incluindo o papel do rem-
Além disso, a :Ht:'nção dos pesquisadores qut:' propõem mo- po de manipulação na ger,1ção de respostas do ripo 2, bem
ddos e dm que colecam dados (nJ.o necessariamente devem ser como das variações no tempo de manipulação e eficácia n:1
dittren ces) está progressivamenre se afastando dos sistem:is de uma busca na geração de respostas do tipo J. Explicamos as conse-
ou duas espécies, indo n;i direção daqueles em que m\ espécies qüências dos diferentes tipos de resposus funcionais e do "'t.:friw
interagem. Por exemplo, um pacógeno que auca um predador, Allee" (diminuição do recrutamenco em abundânci:1 baixa)
que pur -"lia \·a aracJ uma presa, ou um par:lSitóide e um patóge- pJr.1 a dinâmica predador-presa. As respostas do ripo 2 (en·
no que ,H,K,lm pre::.a e hospedeiro. Ê inrertssame c.0nstat.1r que dem d desestabili1.ar e, .1s respostas do cipo 3, a est.1bili1:ar, mJs
em vários desces sisrem~lS emergem propnedades dinimiGlS ines- na prática estas não são necessariamente importantes.
perad.ts que não são cxatameme a combinação esperada das inte- Os predadores freqüentemente exibem uma respo,ta
raçócs das du.ts espécies componentes (Begon t't ai.. 1996; Holt, de agregação. Examinamos os efeitos de refúgios e refúgios
1997). No Capimlo 14, volr.uemos aos problemas da "abundán- parciais no modelo de Lorka-Volcerra, sugerindo que as he-
cia" em um contexto mais amplo. rerogeneidades espaciais (e as respostas a elas) estabilizam l
dinâmica predador-presa, freqüentemente em baix;is den-
sidades de presas. Entrecanco, um trabalho posterior, espe-
cialmente com sistemas hospedeiro-parasiróide e o modelo
Nicholson-Bailey, mostra que os efeitos da heterogeneida-
As populações de predadores e presas mostram uma variedade de são complexos. A estabilidade surge através da '"agreg:1-
de p.1drões dinàmtcm. A principal tarefa dos ecólogos é expli- ção de risco", fonalecendo as dependências direrJS J.1 den-
car .is diferen"i-J.S de um exemplo para o próximo. sidade já existenres. Porém. as resposras de agregação qut:'
CAPÍTULO 11: DECOMPO~TORES E DETRITÍVOROS 327

Assim. uma dererminada molécula de nutriente pode ser 11.2 Os organismos


imobilizada e mineralizada sucessivamente na repetição da
ciclagem de nutriences. Nos Capítulos l 7 e 18. discutire- 11.2.1 Decompositores: bactérias e fungos
mos o papel geral desempenhado pelos decomposlcores e
pelos decritívoros nos fluxos de energia t." nutrit."nres em nlvel Se os decrirívoros não removerem um recurso imediatamente
de ecossistema. No preseme capítulo, imroduzimm os organis- após ..a sua morre (como as hienas consumindo uma zebra
mos envolvidos nesses processos e examinamos de forma deCJlha- morra), o processo de decomposição costuma iniciar com a
da os modos como eles lidam com seus recursos. colonização por bactérias e fungos. Ao mesmo tempo. há
Náo só os corpos marcos de ani- possibilidade de ocorrer oucras mudanças: as enzimas dos
ç~co2.::::Js1c5.J
mais e plantas servem de recursos para tecidos marcos podem começar a aurólise e decompor os
os decomposicores e derricivoros. A carboidraros e as proteínas até formas mais simples e solú-
matéria orgânica morra é produzida veis. A macéria morta também pode ser lixiviada pela chu-
continuamente durante a vida dos animais e d.is plantas, po- va ou, em ambientes aquáticos, perder minerais e compos-
dendo constituir um recurso importante. Os orgJmsmos uni- rns orgânicos solúveis, à medida que forem dissolvidos na
drios se desprendem de panes mortas à mediJa que se dest."n- água.
\·oh-em e crescem - as películas dJ.s IJryas de:: .1nrópodes e a As bactériJs e os esporos dos fun-
pele das .,erpemes, J pele, J. pelugem. ~1s pen.is .:- os chifres de gos são onipre.senres no ar e na água e,
11.1 Introdução ro), nu~ nJ.o o oposco. Isso difere fund.1mental111ente das im~-
outros verrebrados. Os consumidores especi.1lista:-. com fre- em geral, presentes sobre a matéria (e
raçóes pre<l.1dor-presa verdadeiramente in-terati\·Js (ver Capí-
qüência são associados a esse:-. recursos desc.irc.1dos. Entre os com frequência no intt."rior dda) mes- n1c:a:s da mate::·,'::!
Quando as plantas e os animais mor- rulo 10}. Entrecanro, enquanro geralmente n.:ío existe um o:gàn,cs: 'ece,-,~-
fungos, enconcram-se especialistas decomposirores de penas e mo antes que ela esteja morra. Eles cos-
rem, seus carpas se tornam recursos para ftedback direto enm:: decomposicores/decritívoros e a matéria. mort2
de chifres, e existem artrópodes que se especializam em pele rumam ser os primeiros a rer acesso a
outros organismos. Naturalmente, em morCJ consumida (e, assim, aplica-se a dinâmica controla.da.
desprendida. A pele humana é um recurso pJra os ácaros um recurso. Esses colonizadores iniciais tendem a usar mate-
cerro senrido, a maioria dos consumi- pelo doador), é possível perceber um efeico "murualisra" indi-
domésticos, que são habitantes onipresemes da poeira das ca- riais solúveis, em especial aminoácidos e açúcares, que se di-
dores vive de matéria morra - o carnívoro capcura e mara sua rero medi.1me J. liberação de nutrientes da serrapilheira em
sas. causando problemas a muitas pessoas alérgicas. fundem livremente. Eles carecem do rol de enzimas necessá-
presa, e a folha viva apreendida por um herbívoro está morta no decomposição, que em última análise, pode afetar a taxa com
O desprendimento contínuo de rias para digerir matérias estrucurais, como a celulose, a ligni-
mamemo em que a digestão inicia. Os herbívoros, os carnívoros que as árvores produzem mais serrapilheira. De faco, é na ci-
partes marcas é cuacterísrico de orga- na, a quicina e a queracina. Muitas espécies de Penici/hum,
e os para.sitos se distinguem de forma decisiva dos organismos clagem de nutrientes que os decomposirores e derritívoros de~
nismos modulares. Alguns pólipos de Mucor e Rhizopus, os chamados "fungos do açúcar" no solo,
estudados nesre capículo par afecarern diretamence a taxa com sempenham seu papel fundamemal (ver Capículo 19). De
uma colônia de hidróides ou de corais crescem com rapidez nas fases iniciais da decomposição. Jun-
que seus recursos são produzidos. Seja um leão devorando uma modo mais amplo, naturalmente, as cadeias alimentares asso-
morrem e se decompõem, e outras partes do mesmo geneca camente com as bactérias que possuem fisiologias oportunis-
gazela, uma gazela comendo ervas ou as ervas parasitadas por fun- ciadas J decomposição são típicas daquelas baseadJs em pbn-
conrinuam regenerando novos pólipos. A lllJ.Íori.1 das plantas tas semelhantes, eles tendem a apresentar explosões popula-
gos causadores de ferrugem, a ação de capturar o recurso prejudi- ras vi\",lS: das têm muitos níveis tróficos, incluindo pre<la~
perde as folhas velhas e forma novas; a queda sazonJl da serra- cionais sobre os ... ubstraros morms recencememe. À medida
ca sua capacidade de gerar novos recursos (mais gazelas ou mais dores de decompositores (microbívoros) e de derririvoros, e
pilheira sobre o chão da íloresra é a mais imporcame de mdas que os recursos livres disponíveis são consumidos, essas popu-
folhas de ervas). Diferenttmeme desses grupos, os saprócrofos consumidores desses predadores, além de exibirem uma gama
as fonres de recursos para os decomposicores e detridvoros, lações entram em colapso, deixando densidades muito altas
(organismos que utilizam matéria orgânica morra) não contro- de incerações cróficas (náo só concroladas pelo doador).
mas os produtores não morrem nesre processo. Nas raízes das de estágios residuais, a partir dos quais podem ocorrer novas
lam a taxa com que seus recursos se rornam disponíveis ou se A imobilização ocorre quando
pLrntJ.s superiores também hi desprendimenro contínuo das explosões populacionais, cão logo se coma disponível um ou-
regeneram; des depc-ndem da taxa com que alguma outra força um elemento (nutriente) inorgâni-
coifas e das células corricais à medida que esses órgão:-. crescem tro recurso recém-marco. Enrre os decomposirores, rais popu-
(senescéncia, doença. luta, queda das folhas das árvores) libera o co é incorporado a uma forma orgâ-
no interior do solo. Esta oferta de matéri.1 orglnica .1 partir lações podem ser consideradas ··r-estrategisras", oportunistas
recurso do quaJ vivem. E:ciscem exceç&:s encre os parasirns necro- nica - c'm especial durante o crescimento d.l'i plantas ver~
das raízes produz a rizosfeni. muito rica em recur:-.os. Os teci- (ver Seção 4.12). Um oucro exemplo é proporcionado pelos
tróficos (ver Gpítulo 12), que macam e posteriormente conci- des. A de...:omposição, ao conrr.irio, envolve a liberação de
Jos \·eger.1is em geral são perrni:âvcis. de modo que os açúca- colonizadores iniciais do néctar das Aores, predominantemente
nu.1m a extrair recursos do hospeJeiro mono. Assim, o fungo encrgi,1 e ,l 1JÚ11eralizaç,ío de nurriences químicos - con\"er-
res e compostos nitrogen.1dos solLívei.., camhém -;e torn.1m dis- as leveduras (fungos simples do açúcar); eles podem prop.1g:1r-
Bvrntts CIIIITM Jt,1c1 as folhas vivas do feijoeiro, mas continua o sio de demenrns da fornu. orgânic.1 p.trd a inorgânicJ.. A
poníveis 1u superfície d.1s fo]h,1s, suscenr,rndo u ..::re:-.cimenm se até os frutos maduros, onde acuam sobre o açUcar do '>UCO,
.u.1q.ue após :1 morte do hospedeiro. De maneira aniloga, as br- decompo"1ç.l.o. definida como a dc:,;incegração gradual d.l
U.t\ hacrérias e fungos d.1 filn4~m. produzindo ,ilcool (como acomece na produção induscri.11 do
\"J~ da mmc.1-varejeiu de ovinos (luá/"1 rnpri,w) podem parasi- 111.1tériJ or".inic.1 morca, é reJ!izJda por .1gemes físico, r..;
0
[\n fim, .1:-. fae) dm an1ma1s, se- vinho e Ja i.:ervej.i).
tar e nucar seu hospedeiro e depois cominuam a 3.limemar-se do biokigico.,. Ela culminJ com J. ruptura das ~oléculas com-
j.1m da) produzid.1,; pnr detrirívoros, N.i narureza, tal como nos pro-
cad.iver. Nestes C.lSOS, pode-se dizer 4ue o saprócrofo tem um plexJ;, ri'-a~ em energia, por parce de seus consumidore.., aeccrr;::,os1:~·,
m1Lrohivoros, hcrbh-oros, cuní\·oros cessos induscriais de elaboração do vi-
cerro controle sobre a oferca do seu n:curso alimentar. (decomposicores e de[ricívoros). re ... tdtando em dióxido d~
ou parJ.siws. constituem umJ. oucra categoria de recursos para nho ou do chucrute, a atividade dos 11dustr;al
Distinguem-se dois grupos desa- carbono, :ígua e nutrientes inorgânicos. Alguns dos elemen-
os decomposirore~ e decrirívoro'.<>. f\.1.5 são <.:onscirnid.l.'i de m.1ré- colonizadores ini..:iais é dominada pelo
prótrofos: decompositores (bactérias e tos químicos permanecerão reridos durante certo tempo
ria orginica morra. quimicamenre rdacionJJ,i com o aJimenro metabolismo dos açúcares e forcemence iníluenciada pc-lJ Jt'-
fungos) e detrirívoros (animais consu- como pure <la estrucura corporal dos organismos decom-
<lm seus produtores. rJ.ção. Quando o suprimento de oxigênio é abundante. os açú-
midores de matéria morca). Pimm posirores: J energia presente na matéria org:inic.1 será utili-
O restante de~te c1pfrulo está dividido em duJ., panes. Na cares sâo mecabolizados a dióxido de carbono pelos micróbio:-.
( 1982) descreveu a relação que geral- zad.1 p.1r.1 realizar trabalho e acabará perdidJ como calor.
Seção 11.2, descrevemos os ''amres" da ''pey1" s.1protrófica e estu- em crescimento. Sob condições anaeróbicas, as tCrmencaçôes
mentt: exisre encre decomposirores ou Por fim, a ini.:orporação da energia solar na focossínrese e a
damos os papeis relativos Ja, b.Krérias e fungo,. por um lado, e produzem uma. decomposição menos completa dos açúca-
decritívoros e seu alimento como control.1d11 pelo doador: o doa- imobilízaçio dos nutrientes inorgânicos na biomassa sJ.o
dos deuicívoros, por outro. Em seguida, na Seç.lo 11.3, conside- res, resultando em subproducos como o álcool e ácidos or-
dor (presa; isto é, macéria org:inica morra) concrola a denslda- equilibradas pela perda de energia calorífica e de nucrien-
ramos os problemas e processo~ relacionados ;w ...:on,umo de de- gânicos, que alteram a nacureza do ambiente para os colo-
dt." do recepcor (predador; isrn t!, decomposicor ou derricívo- res orgânicos quando a matéria orgânica é mineralizada.
triws vegetais, fezes e carniça por pane dos derri~(\ oros. nizadores subseql.lt."nte.s. Em especial, a diminuição do pH pela

J
l
3 28 PARTE 2 - INTERAÇóES CAPÍTULO l l: DECOMPOSITORES E Dm,rívmos 329

produção de açúcares rem o efeito de favorecer a atividade dos ou ficarem aderidos a esse folhiço. Eles podem disper- Os organismos capazes de utili- e fungos e excluir os detritos sobre os
fúngica, oposca à atividade bacreriana. sar-se dentro dos tecidos, crescendo de uma célula para ourra 1·: c.J1Ja"1s, zar compostos progressivamente mais quais estes se desenvolvem. A explora-
(Figura 11 Ib). d::-','"':.;.,__,::,i,_ difíceis de decompor na matéria vege- ção dos dois grupos principais da mi-
::, :;J Os hábicacs anóxicos são ca- Após a colonizaçáo da matéria tal representam uma sucessão natural que começa com os sim- croflora requer técnicas alimencares
racceríscicos de solos inundados e, es- vegetal terresrre pelos fungos e bac- ples fungos do açúcar (principalmente ficomiceros e fungos muico distintas, em especial por causa
pecificamente, de sedimentos oceâ- (érias "do açúcar", e calvez também imperfeitos), em geral continua com fungos septados (basidi- das diferenças da forma de crescimento. As bactérias (e as levedu-
nicos e lacustres. Os sedimentos
aquáticos recebem um suprimento contínuo de: matéria or-
gânica morra provc:nienre da coluna de água acima, mas a
após a lixiviação pela chuva ou den-
cro da água, os recursos residuais não
são passíveis de difusão e resistem mais aos ataques. Em ter~
f1
;'
omicetos e accinomicetos) e ascomicecos, que são de cresci-
menrn mais lento, produzem menos esporos, estabelecem ín-
timo contaro com seu substraro e possuem um metabolismo
ras) exibem uma forma de crescimento colonial que surge peb
divisão de organismos unicelulares, em geral sobre a superfkie de
partículas pequenas. Os especialistas consumidores de bactérias
decomposição aeróbica (em especial por bactérias) rapida- mos gerais, os principais componenres da matéria orgânica mais especializado. A diversidade da microflora que decom- são ineviravelmeme muico pequenos; entre eles se encontram pro-
mence esgota o oxigênio disponível, pois este só pode ser terrestre morra são, em uma seqüência de resistência crescente põe uma folha caída tende a decrescer à medida que os últi- tozoários de vida livre, como as amebas, tanrn no solo como em
1 ambientes aquáticos, e o nematódeo cerrícola Pelodera, que não
fornecido por difusão a partir da superfície do sedimento. à decomposição, açúcares < (menos resistences que) amido < mos e mais resístences reslduos são atacados por um número
Assim, a uma certJ profundidade, que vai do zero até al- hemiceluloses, pecrinas e proteínas < celulose < lignina'i < su- menor de espécies altamente: especializadas. consome a.s panículas inreira.s do sedimenco, mas sim as baccériali
guns cenrímerros abaixo da superfície, dependendo princi- berlnas < cucinas. Portanto, após uma clivagem inicial rápida A natureza murável de um recurso durante sua decom- sobre a superfície delas. Diferentc:meme da maioria das bactéril.'.i,
palmente da c.irgJ de macéri-1 orgânica, os sedimencos são <lo açúcar, a decomposição prossegue mais lentamente e en- po~içáo é ilustrada na F1gur:.1 l l .2a. para a serrapilheira de faia os fungos s:io filamenrosos, produzindo hifus extensivamente ra-
compleumenre .1nc)x1cos. r\bJixo deste nível, encontra-se voke especialisus microbianos, que podem usar celulose e lig- sobre o solo de unu floresr.1 decídua temperada, no Japão. Os mific1d.1s. que em muitas espécies são capazes de penetrar n,1
uma variedade de tipos baC[erianos, que empregam dife- ninas e decompor compostos mais complexos, como proteí- politenóis e cJrboidrarn~ solúveis de~apareceram com rapidez, matéri;1 orgànica. Alguns especialistas consumidores de fun-
rences formas de re:.piração anaeróbica - isto é. em seu pro- na~, suberina (sllber) e cutículas. Esres sáo compostos esrruru- mas os componentes escrucurais resistentes, a holocelulose e a gos possuem esrileces perfurames, sugadores (p. ex., o nema-
cesso respiratório, eles usam acepcores terminais de elétrons rais, e sua decomposição e metabolismo dependem do conra- !ignina foram decompostos de modo muito mais lemo. Os ródeo Diry,fenchus), que são inseridos nas hifas. No encanto, .l
inorgânicos, em vez de oxigênio. Os tipos bacterianos ocor- co muico ímimo com os decomposirnres (as cdulases, 11.1 sua fungos responsáveis pda decomposição foliar seguiram uma maioria dos animais fungívoros pastejam sobre as hifas e a,;
rem segundo um padrão previsível, com as bactérias desni- maioria, são enzimas de superfície que requerem um efetivo .su..:e~são que esrá associada à natureza murável do recur~o. A
trificantes na parte superior, as bactérias redutoras de en- contato físico entre o organismo decompositor e seu recurso). freqüência de ocorrência de espécies iniciais, como Arthrinium
xofre logo abaixo e as bactérias mecanogênicas na zona mais Os processos de decomposição podem depender, enráo, da sp. (Figura l l.2b), esuva correlacionada às diminuições das
(a)
profunda. O sulfato é comparacivamence abundante na água taxa em que as hifas dos fungos penetram de célula a célula ..:oncentrações de holocelulose e carboidratos solúveis; Osono
do mar, razão pela qual a zona das bactérias redutoras de através das paredes celulares lignificadas. Na decomposiç.lü dJ e Takeda (2001) sugerem que elas dependem desses compo-
enxofre é parricularmente ampla (Fenchel, l 987b). A con-
centração de sulfato em lagos, ao contrário, é baixa e, por-
canto, a metanogênese desempenha um papel mais impor-
madeira pelos fungos (principalmente homobasidiomiccros),
podem ser reconhecidas duas categorias principais de decom-
positores especialistas: as podridões pardas, que podem de-
nentes para o seu crescimento. Mui[as espécies tardias, como
Aforttere!!a rani11nnian,1, parecem concar com açúcares libera-
dos por outros fungos capazes de decompor lignina.
~
. ·:r
~
• L1grnna

tante (Holmer e Srorkholm, 2001). compor a celulose, mas deixam um resíduo pardo consnrnído As espécies de decompositores ~ • Holocelulose
~
J
Lm force componente de casualidade decermina quais predominantemente de lignina, e as podridões brancas, que microbianos não são bioquimicameme • Carboidratos solúveis
a.
espécies serão as primeiras a colonáar uma matéria recém- decompõem principalmente a lignina e deixam um resíduo muirn versáteis; a maioria delas pode ' Polilenó1s
1
morra, mas, em alguns ambientes, existem especialistas com celulósico branco (Worrall et ai., 1997). As früsrulas dur.i, de urilizar apenas um número limitado de o 12 18 24 30 36
atribums que aurnc:nram suas chances de chegar em primeiro diatomáceas morras, ricas em silício, presentes nas comunida- substratos. É a diversidade de espécies
lugar. A matéria vegeral que cai nos riachos ou açudes com des firnplanctônicas de lagos e oceanos, são semelhantes à ma- en\'olvidas que possibilita a decomposição dos tecidos (estrutural (b}
freqüência é colonizada por fungos aquáticos (p. ex., hifo- deira de comunidades terrestres. A regeneração do silicio é ~ quimicameme <..omplexos) do corpo mono de um animal ou de

l~~
miceros), que possuem esporos com extremidades pegajo- crucial para o crescimenw de novas diammáceas, e a decom- uma planta. Emre elas, uma variada microbioca de bactérias e
sas (Figura 11 la) e, muitas vezes, exibem formas curiosas posiçáo das frllsculas é efetuada por bactérias especialitadas fungo~ é capaz de executar a degradação completa da matéria
l
~
que parecem maximru.r suas chances de serem rransporra- (Bidle e Azam, 2001) mona, ramo de plantas quanrn de animais. Entretanto, na práti- i
ca, rarameme elas atuan1 sozinhas, e, se assim o fizessem, o pro-
ces)o seria muico mais lcnco e incompleco. O principal fator que .
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30 36
retarda a decomposição cle re:.íduos orgânicos é a resistência das
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p,1redes celulares vegt'tais - um decompmimr encontra bem me- (e)
(a) (b)
nos hJrrc:iras no corpo de um animal. O processo de decomposi-
§
ção vegeuJ é bastJ.nte acelerado por qualquer atividade que tritu-
re e fragmente os cecido~. como acontece com a ação de mastiga-
~ão dos decritívoros. [sro rompe as células e c:xpõe ao ataque os
comelldos e as superfícies das paredes celulares.
i :t o 12 18 24 30
1
36
Tempo (meses)

FIGURA 11.1 (a) Esporos (conid,os) de lun· 11.2.2 Detritívoros e microbívoros especialistas
gos h1fom1cetos aquáticos presentes na es- FIGURA 11.2 (a) Mudanças na composição da serrapllheira de faia
puma de um rio. (b) R1zom1célio do fungo (Fagus crenata) (em coletores de malha) durante a decomposição sobre
aquático Cladochytnum replica tum dentro da Os mtcrobívoros são aninnis que operam junto com os detritívo- um solo de floresta, no Japão. por um periodo de 3 anos. Os valores
epiderme de uma planta aquática Os cor- são expressos como porcentagens das quantidades 1nicia1s. {b.c) mu-
ros, podendo ser difícil d1snnguir os dois grupos. O nome micro-

____J
pos circulares são zoosporãngios (segundo danças na freqúênc1a de ocorrência de espécies de fungos represent_a- .
Websler. 1970). bívoro é reservado para animais diminutos que se especializam tivas de- (b) espécie inicial (At1hnnium sp) e (e) espécie tardia (Mo,t1e· Í
em alimentar-se Je microflora. sendo capazes de ingerir bactérias
eMm~•-><-a•~ ~- "'"~'· =>< __
330 PARTE 2 - INTERAÇÓES
CAPÍTULO 11: ÜECOMPOSITORES E DETRITIVOROS 331

consomem roralmenre. Em alguns casos, existem escreicas perfície do solo. A parcir de então, valores desca ordem de
relações murualisras entre besouros, formigas e cupins e es- gra.ndeza têm sido confirmados em diversas ocasiões. Além l'M/Hsii::iHHM 1'1 11·11::1+ 2:M
pécies de fungos caracrerísricas. Esses mur1:1alismos são dis- disso, nem wd.1.s as espécies de minhoca depositam seus ex.
Bacténas 100µm 2mm 20mm
cucidos no Capículo 13. crememm na. superfície, de modo que a quantidade cocal de
Observe que os microbívoros consomem um recurso vivo e solo e maréria. qui: elas movimentam pode ser muiw maior do . Fungos I''
não podem ser considerados organismos controlados pelo doa- q_ue es,a. Nos locJis onde as minhocas são abundantes, elas '
dor (Lukso tt ai.. 2000). Em um escudo sobre a decomposição encerram -1 serrapilheira, misturam-na com o solo (e assim a !
Nematódeos ~ 1
!

~
de plancas herbáceas e ftcoplânccon de água doce, em condições
de laboracório, Jurgens e Sala (2000) acompanharam o descino
expóem a ourros decomposicores e decritívoros), criam cocas
(aumemando, dessa forma, a aeração e a drenagem do solo) e ~
P,otozoa~~ j
l
i:

de bactérias (decomposirnres) na presença e na ausência de pro- deposir.tm fez.es ricas em matéria orgànica. Não é surpresa que ~
risras consumidores de bactérias, a saber: Spumelkz sp. e Bodo uzf- os especi.1liscas em agriculrura ecológica se preocupem com as j : Ácaros
'----
· '
~
:
-----1....
1
1
tmzs (microbívoros). Na presença dos microbivoros, houve uma pr.ícic.b que reduzem as populações de minhot:as. },::. ! Colêmbolos ~ :
redução de 50 a 90% nJ biomassa bacceriana, e a comunidade Os <lecritívoros ocorrem em rodos os tipos de hábitats . __ 1 -------- 1 \

bacrerianJ tornou-se dominada por formas grandes e resistentes rerrc:scres e com freqüência são encontrados com notá\'el ri- :
I
~~~-~
i_,,,_, /
, :1
ao pasrejo. incluindo b.tccéria.s filamenrosas.
QuJnro maior é o ,mimai. menor ê .l ~ua <...--apacidade pJra
qua.1 em espécies e em mímeros muico gr.rnJes. Assim, por
exemplo, 1 m~ de solo de tloresca remperada pode conti:r mil
I
:
o,pluros'~
- . ~,,,_ ~ :1

! S1nlolos ;:=;==> 1
disringuir enrre a microflora (como aiimemo) e o derriro vegerJ.I
ou animal sobre o qual está crescendo. De faro, os derricívoros
animais envolvidos na decomposição de matéria orgânica marca
espécies de .mimais, com populações superiores J. 1O milhões
de nem.uódeos e procozoários. 100 mil de colêmbolos e .ica-
ros de ,olo e caca de 50 mil de outros i1l\'ertebrados (Andcr-
- --1---

~:qu1treid:eos
1
e 1

!
1
Ouelonetos I
___ _ J _ _ _ _ 1
são, em sua maioria, consumidores generalisras, ranro do próprio son, l lJ78). A importância relativa da microfouna, da meio-
derrico como das populações de microflora associadas a ele. f.iun.1 e d.1 mJcrofauna nas comunidades terrestres varia ao ls~~elos ~ l
Os protistas e invertebrados que longo de um gradienre laticudinal (Figura 11.4). A microfau- ~
: -~n\
: Op1hões
:.ass·f·:;;:.-::,;1·: Ge parcicipam da decomposição de macé- na é re\Jriv.unence mais importante nos solos orgânicos em
:!i-::omp:,s,tores
rias monas, vegetal e animal, constituem florest.1':i boreais, tundra e deserco pobr. Neste, a matéria or- Q;;WW
: lsopodes
;Je J :a!:-ar\-,J e~ 1 1
um grupo taxonomicameme discinco. gânica abundante estabiliza o regime de umidade do solo e : Anlipodes : ~
terrestres Em ambiences terrestres, eles em geral proporcionJ micro-há.bitats apropriados pJra protozoários, ne- 1
Ou1l?podes ~ •... ,/
~
são classificados de acordo com seu ta- ffiJtódcos e roriferos, que vivem nas películas intersticiais da
manha. Não se trata de um critério arbitrário de classificação, .igua. Os solos minerais quentes e secos dos crópicos têm pou- ' ~-"'-
~1pres~
pois o tamanho é um atriburo imporra.nce para os organismos cos animais desses tipos. Os solos profundos de florestas rem- ~~~~!los (vermes terric~as) ~
que alcançam seus recursos escavando ou rastejando encre as aber- perad.1s têm um car.icer incermedi:irlo; eles m~mrêm as m:1io-
turas e fendas da serrapilheira ou do solo. A 1mLTofiumt1 (incluin- res popuL1çôes de'. meiofauna de icJ.ros da serrapilhelra. co- \ 01pteros ~ ~
do os microbívoros e~pecialistas) abrange os protozoários, os ver- lêmbolo, e enquirreídeos. A maioria dos demais grupos de : Coleópteros
mes nemacódeos e os rotíferos (figura 11.3). Os principais gru- anim:.1is do solo diminui numericamente em direção aos tró- :----...4·.a,,s,-..:.c...
Araneideos
pos da meiofauna (animais com uma largura corporal encre pico.~ mais si:cos, onde são substituídos por cupim. A menor 1

100 f!m e 2 mm) são os ácaros da serrapilheira (Acari), os colêm- diver':iid:tde da meiofauna nessas regiões tropicais pode esrJ.r Moluscos
FIGURA 11.3 Class1flcação do taman~o
bolos (Collembola) e os enquirreídeos (Enchytr.1eidae). A m,zcro- relacior1Jd..1 à falra de serrapilheira, devido J decomposiç.l.o e pela largura corporal de organismos em
faima (largura corporal de 2 a 20 mm) e, por úlcimo, a ,nega.fi1ltn,r teias alimentares de decompos1tores terri-
consumo por cupins, refletindo ranco a baixJ abundâncü de 16 32 64 128 256 512 1 024 2 16 32 64 colas. Os seguintes grupos são totalmente
(> 10 mm). incluem os isópodes (lsopoda), diplópodes (Diplo- recur'.-1).S quanrn a poucJ disponibilidade de micro-hábic.us (J. carnívoros: opihões (ahmentam-se de artrô·
poda), minhocas (Megadrili). caracóis e lesmas (Mollusca), e a.s i'vL .-\nderson, comunic.1çáo pessoal). µm podes), quilôpodes (centipedes) e aranei-
larvas de cercas moscas (Díprera) e decerminados besouros (Cole- T.1111hém em um,l e:,cal.t nuis localizad.1. .t nawreza e J Largura corporal deos (aranhas) (segundo Sw,tt et ai .. 1979)

opt~ra). Esses animais são responsáveis principa.lmeme pela crirn- JO\ 1d.1Je d.1 comunid.1Je de decomposicores dependem d.1s
raç:10 de restos \'egeuis. PdJ sua .1ção, des podem provocar um.t C()!1i..ÍlÇÕt.', t:m que ui; org.rni:imos \ l\'em. :\ temper-1turJ tL"lll
redistribuíçio em gr..mde escala dos detritos e, assim, cunmbuir um p.t~)cl fundJmencal na dccermin.t~.l.o da t,lX.t de Jecompo-
direumence para o de:.envolvimemo da escrurura do .solo. É im- sÍljo_ -:. . .dem disso ..t espessurJ d.is làmin.ts de igu;1 sobre o que a escassez de oxigênio. mais do que a d1sponibilid.1de de res em cursos d'água. os fragmenradores - como .ts LuvJs dm
porta.me observar que a microfauna, com seus i..::urcos períodos de m.ueri.11 em decomposição estabelece limites absoluros sobre âgua, exerça um domínio sobre as viJas do') orgJ.nismos. tricópteros Ste,wph_ylax .spp., os camarões de água doce ( Gmt-
geração, opera na mesma escala das b::iccéri:tS e pode trilhar adi- .1 m1crofaur1.1 e J microflora móveis (procozoirios, nem1c1)- Em ecologia Je âgua doce, o es- mantJ spp.) e isópodes (p. ex., A;e/lw spp.J - alimenum->e de
nâmica de populaçóes bacterianas, e a meiofauna e os fungos .sJo deos, ror1ferns e aqudcs fungos que Jpresencam esr.ígios mó- e de acordo c:on tudo dos derrirívorm rem sido menos folhas caídas na água. Os coletores se alimentam de fin.1s parti-
~· :-'.ao,w a::rner:ar culas de matéria orgânica (menores do que 2 mm). Os C(lleto-
de vid.i mais longa. Os decricívoros m::iiores e de vida mais longa. \'eiS c:m seL1s ciclos de vid.1). TJis organismos inexistem vir- ~r:, a~':J·en:es
concencrado no tamanho dos organis~
ao contrário. não podem ser finamente seletivos em sua dieu, CLJJ\memc: em solos secos. Pode ser reconhecido um contiuuum 2ccJa::·:cs mos do que nos modm pdos quais des res-apanhadores obtêm partículas orgânicas morus dos resi-
mas escolhem manchas com atividade decomposimr:i alta (j. M. desde c:ond1ções secas, passando pelos solos :11Jg:1dos aré os
1 obcêm seu alimento C:ummins ( 1974) duos e sedimentos do leico do curso d";igua. e os coletores-fil-
Anderson, comunicação pessoal). verd ..H.ie1ro,; ambiemes .1quJticos. Nas primeiras, .1 quamidJde Je classificou em quacro categorias principais O) invertebrados tradores filtram panículas pequenas da coluna de água corren-
ChJrles Darwin (1888) estimou que, em algumas pasu- jgua e .1 espessura das lâ.minJS de água ,ao exrrerna.mente irnpor- consumidores que vivem em cursos d'água. O, fri1gmeutadores te. A Figura 1 1. 5 mostra alguns exemplos. Os pmtadores-1.ns-
gens próximas à sua casa, as minhocas formavam um.J. nova umes; nus. i medidJ que p<=rcorremos um continuum. as condi- sã:o decritívoros que consomem matéria orgànica de panículas padores têm peças bucais apropriadas para raspar e consumir :1
1 grosseiras (partículas com tamanho superior a 2 mm), alimen- camada orgànicJ. fixada às rochas: esta ca.mada orgânica concrm
camad:1 de solo de 18 cm de espessura em 30 anos, acumulan- ções mudJm, rornando-se cad.t vez mais semelhantes às exisren·

1
do por ano cerca de 50 rondadas ha· 1 de excremencos na su- te.'i nu leiro de uma comunidade de .1guJ aberra, onde é possi\'d tando-se mda vez que fragmenram o mareriJ.l. :\\uiro Freqüen- algas, baccérias, fungm e maréria orgânicJ. morra adsorvidJ à.

l
330 PARTE 2 - INTERAÇÓES
CAPÍTULO 11: ÜECOMPOSITORES E ÜETRITÍVOROS 33 l

consomem totalmente. Em alguns casos. existem estreitas perfície do solo. A partir de então, valores desta ordem de•
relações murnal1scas entre besouros. formigas e cupins e es- grandeza têm sido confirnudos em diversas ocasiões. Além Microflora e mlcrofauna
pécies de fungos cJr J.Cterísricas. Esses muma.lismos são dis- disso, nem rodas as espécies de minhoca depositam seus ex-
2mm 2Qmm
Bacténas 100 µm
cutidos no Capítulo l 3. cremenros na superfície, de modo que ;i quantidade tocai de 1
'
1
1
Observe quem microbívoros consomem um recurso vivo e solo e matéria que e!Js movimentam pode ser muito maior do Fungos 1 1

'
Nematodeos ~ : 1
não po<lem ser considerados organismos conrrolJ<los pelo doa- que essa. Nos locais onde as minhocas são abundantes, elas .,.. 1
\ 1
dor (Lukso et ai., 2000). Em um estudo sobre a decomposição encerram a serrapilheir.1. misturam-na com o solo (e a:.sim a 1
~I I 1
de plant,ts herb;íceas e fimplânccon de dgua doce, em condições expõem a outros decomposirores e derrirívoros), criam tocas Protoz=i0 1

de laborJtório, Jurgen.'.! e Sala (2000) acompanharam o destino (aumentando, dessa fornu, a aeração e a drenagem do solo) e
'·1: 1
1

~ 1 ''
de bactérias (deco111posimres) na presença e na ausência de pro- depositam fezes ricas em matéria orgânica. NJ.o é surpre,<,,1 que A1 - ~ '
:Acaros · ,.
1
1 1'
risras consumidores de bacréri.ls, J saber: Spum~!l.a sp. e Bodo sal- os especialistas em agricultura ecológica se preocupem com as 1
1
tdm (microbívoro.'.!). Na presença dos microbívoros, houve urna práticas que reduzem as populações de minhocas. :~os~
1

reduçáo de 50 a 9ܺ'o na biomJ.<.sa b,1ereri.1na, e a comunidade Os decricívoros ocorrem em rodos os tipos de hábirars 1 1 '
1
I Proturas~ 1
1
bacteriana rnrnou-:.e dominad.t por form,lS grandes e resiscentes terrestres e com freqüência sJo encomrados com not.i\'d ri- 1 ·------ ,:_;,_._;/
''
ao pastcjo. incluindo h,1C[érias tlbmencos.1:1.
(Juanw 111.11\ll 1._: (J ,mim.d. menor é,! sua cap.1ciJaJe par,l
queza em espécies e cm nlÍmeros muito grandc.'l. As~im. por
exemplo. 1 m.:: de solo de florestJ temper.1d.1 pude conter rnil
D1pluros ~ - -
-----~{-"
Sml1los~
""' 1
''
__ J _ _ 1
d1sci11guir encre a rniuorlora (corno alrmenco) e o derriro vegetJ.J espécies de animais, com populações c<1uperiores .1 1O milhões 1

ou animal sobre u qu.1l escá crescendo. De faw, os detrirívoros de nemJ.tódeos e protozoários, 100 mil de-colêmbolo, l' ica- ~~~~os~ ' 1
1
1
,t11ima1s envolV1Jos n,1 decornposíç:io de nuréria orgãnica morra ros de solo e cerc.1 de 50 mil de omrm invertebrados (A11de1- Ouelonetos 1
1
~:lo, em sLu m,lÍori,1, consumidores generalistas, tanro do próprio son, 1978). A importância relativa da microfaunJ, d,1 meio- ' ~ 1
derrim como d.is popul.1çóes de microflora associadas a ele. fauna e da m.1crofawu nas comunid.1des terrestres vari.1 ao l_sopl~ ~:
Os protiscas e invertebrados que longo de um gradieme latirudinal (Figura 11.4). A microfau- 1 . Opihoes 1 ~ 1-

'''.,ss· parricipam d.1 decomposição de maté-


rias morras, vegetal e animal, comrintem
na é relativamente mais imponance nos solos orgânico:. em
Aorestas boreais. tundra e deserto pobr. Neste, a matéria or-
:,~ ' -- 1

um grupo r~uonomicamente distinro. gânica abundante estabiliza o regime de umid.ufc do .'lolo e \ Anf1podes \ ~
Em ambientes rerresues, eles em geral proporciona micro-hibitars apropriados para protozoáríos. rn:- : <d"
são classificados de acordo com se~ ta-
rnanho. Não se trau de um critério arbitrário de classificaçáo,
pois o tamanho é um atribuw irnporunte para os organismos
matódeos e rotíferos, que vivem nas películas imerstici,1i:. da
água. Os solos minerais quentes e secos dos trópicos têm pou-
cos animais desses tipos. Os solos profundos de floresr.1s tem-
+~
Dipllpodes ~

Megadnlos (vermes !errico.las) ~


que alc:..1nç,1m seus recursos escwando ou rasrejando entre as aber-
turas e fend.ts d.1 serrapilheira ou do solo. A rmcrofauua (incluin-
peradas têm um carirer inrermediário; eles mantêm ª°' m.lio-
res populações de meiofouna de ácaros da serrapilheira, co-
: Oip!eros
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0 -
~
1
do os microbívoro.<. especí,Uiscas) .1brange os protozoários, os ver- lêmbolos e enquirreídeos. A maioria dos demais grupo" de I Coleópteros
1 -
me~ nem.uódeos e os roríferos (hgura 11.5). Os principais gru- animais do solo diminui numericamente em direção ao, tró-
pos d,1 meiofaun.1 {.1nimais com um.1 largura corporal encre
100 µm e 2 mm) ,;;Jo m ,Ícaros da serrapilheira (Acari), os colêm-
picos mais secos, onde são substituídos por cupins. A menor
diversidade da meiofauna nessas regiões tropicais pode C'.->t.tr
É-rk
~
FIGURA 11 .3 Class1f1cação do tamanho
pela largura corporal de organismos em
bolos (Collemhola) e os enquitreideos (Enchy"aeidae). A man-o- relacionada à. faltJ de serrapilheira, devido a decomposiçJn e 1 1
teias alimentares de decompos1tores tem-
jàuna (largura corporal de 2 a 20 mm) e, por último, J megafuma consumo por cupins, reAetindo tanto .1 baix:1 Jbundânci.1 de 16 32 64 128 256 512 1.024 2 16 32 64 colas. Os segurntes grupos são totalment.e
( > 20 mm), mcluem o, isópodes ([sopoJa), diplópodes (Diplo- re(.ursos quanto a pou..a disponibiiid.tde de micro-hibitaf\i (J. carnívoros: opiliões (alrmentam-se de artr~-
mm podes), quilópodes (centipedes) e arane1-
pod.1), minhoca, (,\legadrili), car:icóis e lesmas (Mollusca), e as M. Anderson. comunicaçJo pessoal). µm
deos (aranhas) (segundo Sw1ft et ai. 1979)
Largura corporal
!Jrvas de ccr us mo'>us ! Díprer.1) e deterrnir1.1dos be.1,ouros (Cole- TJ.mbém em uma escala mais louliz.ida, a 11.1turez.1 La
oprer.1). Esses ,tnim,lÍ~ ,;,-10 respons.í\·eis principalmente pel.i rriru- ari\'IJ,1Je da cornun1ci.tde de decomposicores dLpendem d.is
,.tç.ío de re.<.rm \·eger.u,. Pda su,L ,l')-.lO, ele,;; podc:m provocar um:i condições em que o, organi,.,rnos vi\·em. A rLmper.nur.1 t1._·rn
red1scribu1ç:io em gr,mde escala do.'l dernros e, assim, contribuir um papel fundamentJl na derermill'JÇJ.o JJ tax.J Je decompo-
que .1 ôcassez de oxigê:nio, mais do que a disponibilidade de res em cursos d',i.gua, os fragmenradores - corno ,1~ Luvas dr.h
Jirerameme par:i o de~en\·o!vimenm da esrrmur,1 do solo. Ê im- sição, e, além disso. a espessura das l!trnina,., Je águ.1 sobii: o
rncópreros Sre11ophylax spp., o, cam.uóes de águ~1 doce (Gdm-
porranre observar que J rnicrofauna, com seus curtos períodos de mJ.terial em decomposição estJbdece limites absoluws ~ohre ;ígua, exerç.1 um domínio sobre as vidas dos organismos.
Em ecologia de águ;i doce, o es- marns spp.) e isópodes (p. ex .. Ase/111, spp.) - alime~tJm-se d~
geraçJo, opera na mesm.1 escal;i dJs bactéri.1., e pode trilhar adi- .1 microfauna e a microflora móveis (protozoários. nem.uó-
:: ~~ c~orc..~ tudo dos demtívoros tem sido menos folhas caídas na água. Os coletores se alimenu!Tl de hn,1s pJrti-
rümica de populaçõe:; b,1creriJnas, e a meiofauna e os fungos são deos. rotífero,;; e ,1queles fungos que apresenr.1m esr.ig1os mó-
concencrado no tJmanho dos organis- culas de nucéria orgânica (menores do que 2 mm). Os coÍl'IO-
Je vida mJis longa. Os decrlcivoro:. maiores e de vida m.lis longa, veis em seus ciclos de \·ida). Tais organismos inexistem nr-
mos do que nos modos pelos quais eles rehtpanhadores obtêm parricu!Js orgânicas mortJ.S dos resí:
ao contrário, não podem ser finamente sderivos em sua <lietJ, ru.tlrnenre em solos secos. Pode ser reconhecido um comllwum duos e sedimentos do leira do curso d'água, e os i:olerores-fii-
ohtém seu alimento. Cummins ( 1974)
mJs escolhem mancha-" com Jtividade decomposiwra ak1 (J. J\f. desde condições secas, passando pelos solos alagados .1ri: os trttdores filcram panículas pequenas da coluna de águ.1 corren-
Anderson, comuniuç:io pessoa.1). verdadeiros ambientes Jquátic<-h. N,is primeiras. a quanricbde de classiílcou em quatro categorias principais os invertebrados
te. A figura 11.) moscra alguns exemplos. Os pmtt1dores-1_·fü-
ChJrles Danvin ( 1888) estimou que. em algum:is pasta- água e a espessura das lâminas de água são exrrern.uneme impnr- consumidores que vivem em cursos d' água. Os fragmenmdores
são dcrririvorm que consomem matéria orgànica de parrícu!Js pr1dores têm peças bucais apropriJdas para raspar: ~onsumt~ ,1
gens próximas :1 sua cas,1, JS minhocJs form.1vam uma nova t,mres; m;ts, à medida que percorremos um coJJtimwm, as condi- camada ora.inic.1 fixada às rochas; esta can1Jd.1 organJCa comem
c.imada de ,;olo Je 18 cm de espessura ein 30 anos, ..i.cumulan- ções mudam, tornando-se c.ad.1 vez mais semelhantes às exisren- grosseiras (partículas com ram<rnho superior J 2 mm), .1limen-
algas, bacr;ri.is, fungos e nuréria org~inica morra adsorvid.1 :1
do por ano cerc.1 de ')() rnneL1J.1s ha· 1 de excremencos na su- res no leim Je uma comunidade de água aberta, onde é pos~i\ d cando-se rodJ vc:z que fragmentam o marerial. Muito freqüen-
332 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 11: ÜECOMPOSITORES E ÜETRJTivORos 333

superfície do substra[Q. A última categoria de inverrebrados é insuficiente para uma fo[Qssíntcse apreciável, mas onde h.í
Macrofauna a dos carnívoros. A Figura 11.6 apresenta as relações entre es- uma entrada de matéria orgânica oriunda das comunida-

.~
ses grupas de inverrebrados e rrês categorias de maréria orgâ- des vegetais próximas. O chão da floresta e os cursos d'água
nica morra. Esse esquema, desenvolvido para comunidades de sombreados recebem a maior parce da sua matéria orgânica
"·- riachos, cem correspondentes evidentes em ecossistemas cer-
resrres (Anderson, 1987), bem como em outros ecossistemas
como folhas caídas das árvores. Os leitos dos oceanos e la-
gos estão sujeitos a um depósito contínuo de decri[Qs pro-
aquáticos. As minhocas são imporcances fragmencadores, no cedentes de zonas superiores. As cavernas recebem matéria
solo. e vários crustáceos desempenham o mesmo papel no lei- orgânica dissolvida e paniculada, que percola através do
ra marinho. Por outro lado, a filtração e comum enue os or- solo e das rochas, junco com o material levado pelo ven[Q e
a.:1.nismos marinhos, mas não enrre os rerríco\as. os resíduos dos animais migrantes.
:;, As fezes e os corpos de inverrebrados aquáricos são, em
···."' geral. processados pelos fragmentadores e pelos colemres, jun-
camence com a maréria orgânica morta que provem de oucras 11,2,3 Os papéis relativos dos decompositores e
Microtauna
fonres. Nem mesmo as fezes grandes de vercebrados aquáticos dos detritívoros
p;irecem possuir uma fauna característica, prova\'elmenre por-
quç ;.:-s,;,;15 fezes coscumlm fragmentar-se. sendo disper~adas com Os papéis dos decomposicores e dos
Deserto Floresta Campo Floresta Floresta Tundra Oesarto
lrOpteal trop+eal temperada boreal polar
r:tpiJez, como resultado do movimenco da âgu.1. A carniça detrirívoros n.1 decomposição da ma-
FIGURA 11.4 Padrões da variação latitudi- também não possui uma fauna especializada - muitos inver- téria orgânica marca podem ser com- ,d u' ~.-..

<~,a de decompos,ção da se,rap,lheira

Acumulação de V
nal na contribuição da macrofauna, da meio-
fauna e da microfauna nos ecossistemas ter-
rícolas. A acumulação de matéria orgânica
no solo (MOS) (inversamente proporcional
à taxa de decomposição da serrapilheira) é
favorecida pelas temperaturas baixas e pelo
tebrados aquáticos são onívoros e se alimencam. na maior par-
te do tempo, de detricos vegetais e de fezes com seus micror-
ganismos associados, mas sempre esrâo pronrns para apanhar
um pedaço de invenebrado mono ou de peixe, quando há
oporcunidade. Isso difere de sicuaçáo verificada no amb1enre
parados de diversas maneiras. Uma
comparação numérica revelará uma
predominância das bactérias. Isso é
-'-'--- '~>,

quase inevitável, pois escamas contando células individuais. A


comparaçáo da biomassa fornece um quadro complecamence
alagamento, que reduzem a atrvidade micro-
biana (Switt et ai.. 1979) terrc'itre, onde canto as fezes quanco a carniça rêm suas formas discinco. A Figura 1 1. 7 moscra as quantidades relacivas de bio-
derricivoras especializadas (ver Seções l l.3.3 e 11.3.5). massa represenradas em diferences grupos envolvidos na de-
Algumas comunidades animais composição da sercapilheira do chão da floresca (expressa como
são compostas quase exclusivamenre as quantidades relativas de nitrogênio). Na maior parte do ano,
.e , . ,. ~· ·J:., por decricívoros e seus predadores. Isso os decomposicores (microrganismos) foram responsáveis por
Fngmentadof'H Coletores-apanhadores Pastadore5""raspadores é válido não apenas para o chão da ílo- biomassa cinco a dez vezes mais abundante do que a dos derri-
restJ.. mas também para os cursos d'água sombreados, as pro- cívoros. A biomassa dos decritívoros variou menos ao longo do
fundez.as dos oceanos e lagos, bem como para os residentes per- ano, porque elc=s são menos sensíveis às mudanças climáricas, e

~
manentes de cavernas: em resumo, em rodos os lugares cuja luz é em um período do inverno foram até predominanres.

- lncoptero

Folhas de árvores. etc. --------+- MOPG ~

1 "--.._ -9~ F,agmentado.es ~


~~V
i1 r',10 ~-?)
\
\
L,xiv1ação '

\
-?)~~~ \.
1 ~;..º~,,.,,.(' \

i
' Floculação
~~~-z~
... '
i
f
MOO - - · - - - - - - . . - MOPF - - Coletores -----------+ Carnívoros

·=~~
Coletores-filtradores Carnívoros 1
,!
, Açaom,cmb,ana/~~:-------' ,,'

. . _.':~t \
/( l ~'31i-!arvada
S
i
a<dulegaste, ,, mosca-do-am,e,ro
1
rva óe 1,bélula i
Gioss,plronia 1
l
~
FIGURA 11 6 Modelo geral de fluxo de energia em um curso d agua Uma fração de matéria orgânica de partículas grosseiras (MOPG). por

1" "~
Hydtopsyd,e
- larva de tngana tecedora
e sua redefittradora II llx1v,ação passa rapidamente para o compart1mento de matena orgânica d1ssolv1da (MOO) O restante e convertido em matena orgânica de
partículas finas (MOPF) mediante três processos. (1) ruptura mecânica; (ii) ação de m,crorganismos, causando uma partiçáo gradual; (lu)
fragmentação por partes dos íragmentadores. Observe também que todos os grupos animais contribuem com a MOPF pela produção de fezes

FIGURA 11.5 Exemplos de diversas categorias de consumidores invertebrados em ambientes de água doce.
t (hnhas trace1adas). A MOO 1ambêm é convertida em MOPF pelo processo fisico de tlocuiação ou pela ingestão dos microrganismos. A camada

00•""' ,, .~... ~ '"" •• '""" ..... °""'' '" "'" .. ~, • "' ~~ ~-- ••• ·= =·· ···-

l
334 PARTE 2 - INTERAÇÓE5
CAPÍTULO 11: ÜECOMP051TORE5 E ÜETRITIVOR05 335

Lillebo e colaboradores ( 1999), diuescório de um isópode. Ali ele encontra uma nova flora A madeira morra coloca desafios
ucilizando comunidades criadas arti- m~robiana, a incesrinal, e é submetido às enzimas digestivas especiais à colonização por microrga-
ficialmence em laboratório, tentaram do isópode. O fragmento deixa o corpo do isópode, alterado nismos, devido à sua repJrcição desi-
distinguir os papéis relativos de bac- devido à sua passagem pelo traco digesrório. Ele agora faz parte gual e à sua rigidez externa. Os insetos podem ,H1mencar J
térias, microfauna (p. ex .. flagelados) e macrofaunJ ( p. ex., das faes do isópode e é acacado muiro m.1is facilmente por colonizaçáo fúngica da madeira morrJ. mediJ.nre u transpom:
caracol Hydrobia ulv,re) na decomposição de Spartina mariti- microrganismos, pois foi fragmentado e parcialmente digeri- dos fungos para o seu "alvo'' ou mediante o incremento do
ma, uma espécie típica de marisma. Ao final do escudo de 99 do. Enquanto o~ microrganismm estiverem colonizando-o, é acesso de propágulos fúngicos dispersados pelo ar até o floe-
dias, 32ºtó da bioma.iSa de folhas de S marítima permaneceram possível que ele seja novamente ingerido, ralvez por um co- ma e o xilema, por meio de perfurações na casu externa do
no tratamento com bactérias, e apenas 8º/o permaneceram q uan- lêmbolo coprófago, e arravesse o novo ambiente do intestino caule. Muller et ai. (2002) distribuíram pedaços-padrão d.,
do a microfauna e a macrofauna rambém escavam presentes (Fi- desce animal. Algun.<. fragmentos completamente digeridos madeira de espruce (Picea abies) sobre o chão de uma floresr.1
gura l l .8a). As análises separadas também revelaram que as bac- podem ser novamente eliminados, desra vez nas fezes do co- na Finlândia. Após dois anos e meio, foram registrados o~ nú-
térias foram responsáveis pela maior pane da mineralização dos lêmbolo, ficando ainda mais acessíveis aos microrganismos. Em meros de '·vescígios" (perfuração e mordida), os quais se corre-
conteúdos de carbono, nitrogênio e fósforo das folhas, mas a mi- sua rr,tjetória desde um pedaço de recido morro até seu destino lacionaram com a perda de peso seco da madeira (Figural l .9a).
crofauna e, especia.Jmeme, a macrofauna Jumencaram as raxas de inevirável de tomar-se dióxido de carbono e minerais, o frag- Essa correlação acontece por causa do consumo da biomass,1
mineralização do carbono e do nitrogénio (Figura I L8bJ. menro pode passar por \'ários outros rrarns digescórios. pelos insecos, mas também, em uma proporção de'iconhecida.
A decomposição d.1 maráia moru não se dr:ve Jpen,i:, ~l A fngmenraçJo pelo~ decrirívo- peb ação fúngica esrimubda pela acivid.1de dos insecos. Assim
som.1 das atividades dos micróbios e dos derridvoros: em gra11Je ros Je~empenha um p.1pd-ch3ve nos a raxa de infocçJ.o fúngica sempre foi alCJ, ljllando houve mai~
-- Nemalodeos
pane, ela é o resultado da interação entre as dois grupm. A
ação fragmentadora dos derririvoros, como a do caracol Hydro-
J-·~ ambientes rerresrres, devido à rigidez do que 400 vestígios por pedaço de mJdeira, deixados pelo
f
001~~~
.JFMAMJ ASOND bia 11/vae no experimento de Lillelo e colaboradores ( 1999),
característica das paredes celulares dos
decrirns das plantas vasculares. O mesmo acontece em muitos
besouro ambrósia comum Tripodendrou liueawm (Figura
11.%). Esta espécie perfura profundamente o alburno e pro-
geralmente produz partículas menores com uma .irea de su- ambientes de .ígua doce, onde o folhiço rerrescre constitui a duz galeriJ..s de cerca de l mm de diâmetro. AJgumas das espé-
Tempo (mês)
perfície maior (por unidade de volume de serrapilheira), au- mJioria dos decriros disponíveis. Por outro lado, os detritos no cies de fungos envolvidas provavelmente foram cransmiridas
mentando, assim. a :írea de subsrrato disponível para o cre.<.ci- nível crófico inferior nos ambienres marinhos consiscem em pelo besouro (p. ex., C:ratocyJtis piccae), mas a invasão de outros
FIGURA 11.7 Importância relativa da microflora sobre a decompos1·
ção da serrapilheira de floresta, em comparação com artrôpodes. mi- mento dos microrganismos. A atividade dos fungos pode ser célu!J.s do fitoplâncton e das algas; as primeiras apresentam tipos, dispersados pelo ar, provavelmente foi promovida pelas
nhocas e nematódeos. expressa em termos do seu conteúdo relativo estimulada pela ruptura, mediante pascejo, das redes hifais com- umJ. devada área de superfície, sem necessidade de destruição galerias abandonadas pelo besouro.
de nitrogênio - uma medida da sua biomassa A atividade microbiana pecidoras. A1ém disso, a a[ividade tanto dos fungos quanrn f°i.:.i(a, e as algas. por n.io possuírem os polímeros estruturais O aumenco da respiração micro-
é muito maior do que a dos detntívoros, mas a última é mais constan-
te durante o ano (segundo Ausmus et ai., 1976) das bactérias pode ser Jumentada peb adição Je nutrienres das paredes celulares das plantas va:,,culares. são propensas à biaru por ação dos decrirívoros foi re-
minerais por meio da urina e d.is fezes (Lussenhop, 1992). fragmentação por fatores fislcos. É provável que a decomposi- gistrado também na decomposição de
Os modos pelos quais os decom- ção r.ípida dos derriros marinhos seja menos dependente da frag- carcaças de pequenos m.1.miferos. Dois
positores e os decricivoros interagem mentação pelos inverrebradus: os fragmentadores são raros nos grupos de carcaças de roedores, sem insetos e pesando 25 g,
Infelizmente, a biomassa dos difc-remes grupos de de- podem ser esrndados seguindo um ambicnres marinhos, em comparaç:io com os ambientes cerres- foc1m expostos sob condições experimentais em um campo, na
composirores é, por .'IÍ só, uma medida insarisfarória dJ. sua fragmenro foliar ao longo do processo tres e de água doce (Plante et ai., 1990). lnglacerra, no ournno. Em um grupo, as carcaças mantiveram-
imporrância relariv;i no processo da decomposição. As popu- de decomposição, concentrando a atenção em unu parte <l.i
lações de organismos com vidas curtas e atividade imensa po- parede de uma única célula. Inicialmente, quando a folha cai
dem contribuir mais pdLl as atividades na comunidade do que ao solo, o pedaço de parede celular está protegido do ataque
as espécies maiores, lenu.s e de viLfa longa (p. ex., lesmas~). que microbiano porque se encontra dentro do reciclo vegetal. :\
têm maior concribuiçáo para a b1omas~:-i.. folha é em seguida mastigada, e o fragmento penetra no tr3to
(a) (b)

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Vestig,os de insetos (número por m-2) Vestig1os de T. hneatum (numero por m-2)

Macrofauna + Microfauna + Bactênas Macrolauna + MICtofauna + Bactérias


m1crolauna + bactenas microfauna + bactênas FIGURA 11.9 Relações entre (a) a decompos1ção de pedaços-padrão de madeira morta de espruce por um periodo de dois _anos e mei?, na
bacténas baclérias Frnlând,a. e o número de vestígios de insetos, e (b) a taxa de infecção fúngica (número de isolados fúng1cos por pedaço-padrao de madeira) e
o número de vestigios deixados peta besouro Tripodendron !ineatum. A perda de peso seco e o número de vestígios de insetos em (a) foram
obtidos pela subtração dos valores para cada amostra de madeira mantida em uma caixa permanentemente fechada com rede de malha bem
FIGURA 11.8 (a) ~erda de peso de folhas de Spartina mant,ma durante 99 dras. na presença de (1) macrofauna + m1crofauna + bactérias. (11) fina do valor correspondente para sua réplica mantida em uma caixa-controle que perm1t1u a entrada de 1n~etos Em algun~ caso~. a perda de
microfauna + b~cterias ou (111) bactérras sozinhas (média .!: desv10-padrão). (b) Porcentagem dos conteúdos iniciais de carbono, de nitrogénio peso seco da amostra de madeira da réplica foi menor. de modo que a porcentagem da perda de peso 101 negativa. lsto e passivei porque o
e de fosforo. mineralizados durante 99 dias nos três tratamentos {segundo Llllelo et ai., 1999) número de visitas de insetos não explica totalmente a variação na perda de peso seco (segundo Muller et ai. 2002)
t::
336 PARTE 2 - INTERAÇÕES 337
A
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CAPÍTULO 11: DECOMPOSffORES E DETRITÍVOROS

se intactas. Nos corpos do segundo grupo, foram feitos túneis rurajs constituem ainda um componente expressivo das teles dos
anificiais mediante perfuração repetida com agulha de disse- derririvoros. Químicamente, as fezes dos decritívoros e o tecido (•) (b) (e)
cação, a fim de simular a ação das larvas da mosca-varejeira nas vegera.1 rêm muico em comum, mas os conteúdos em proteínas e 0,1 ....
carcaças. Os resultados desce experimento se equiparam aos do
escudo da decomposição da madeira referido; aqui, os rúneis
lipídeos dos derricívoros e dos decomposirores são significativa-
mente mJ.Ís altos do que os das plantas e das fezes.
MICf081gas
Plantas de água doce
c__r;
--Clr- - '\····
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Plantas anfíbias ~-
intensificaram a atividade microbiana (Figura 11.10), por meio A taxa de decomposição da ma- Macroajgas
Angiospermas marinhas
0,01
....'(,~;,.
.. . ,..
..,.,.~.,. . '
~

da dispersáo da microflora e do aumento da aeração da carcaça. téria orgânica morca depende muico da Gramíneas
C1peráceas
s ~

composição bioquímica desta. Isso se


deve aos elevados conteúdos em nirro-
Plantas de mangue
Folhas de labfoliadas deciduas
Arbustos
--::r=..:r 0.001
,~!;~. .:·.t..;.
11.2.4 Estequiometria ecológica e a composição gênio e fosforo do tecido vegetal. in· Conileras -;]-·

química de decompositores, detritivoros dicarivos de demandas altas desces nu- F~s de latifoliadas perenif6'1as ::-:r-..:-=--=--·
0.0001 ~ - ~ - - ~ - - ~
e seus recursos rriences. De maneira geral, as relações esteq.uiomécricas de 0,0001 0,001 0.01 0.1 0,01 0,10 10 0,001 O.Q1 0,1 10
carbono:nirrogênio (C: N) e carbono:fosforo (C: P) nos de- Taxas de decompoS1çào (d,a · 1 J Nitrogénio(% do peso seco) Fósforo(% do peso seco)
A estequiometria ecológica - definida composicores são 10:l e 100:l, respectivamente (p. ex., Gold-
por Elser e Urabe ( 1999) como a aná- nun et ai., l 987). Em outras palavras, uma população micro· FIGURA 11.11 (a) Diagramas em blocos, mostrando as taxas de decomposição registradas para detntos de diferentes fontes A taxa de
lise dJs rescriçôes e conseqüências nas biJn.1 Je 111 g pode desenvolver-se ~omeme se houver Ji"po· decomposição está expressa como k (em unidades logantmicas por d,a), derivada da equação W, =w0 e·"'. que descreve a perda do peso seco
vegetal (v\1 com o tempo (t) desde o inicio das medições. Os blocos abrangem os valores de 25 e 75% de todos os dados registrados na
interações ecológicas do balanço de mas- nibilid.1de de 10 g de nitrogênio e l g de fósforo. :\s pLincas b1bhografia para cada tipo de planta. A linha central representa a mediana, e as barras abrangem o lim1te de confiança de 95%. São apresen-
sa de elementos químicos múlciplos (em rarícolas apresentam razões muico mais_elevadas, variando de" :~das também as relações entre ~ taxa de decompos1çào e as concentrações iniciais nos tecidos (% do peso seco) de (b) nitrogênio e {e)
particular as razões carbono:nicrogênio e carbono:fósforo) -é uma 19 a .315: 1, para C:N, e de 700 a 7.000: l, pars C:P (F.nriquez fosforo. As hnhas referem-se_aos aJustes das retas d_e regressão, e os circulas vazios e cheios representam a decomposição dos detritos sobre
o solo e submersos. respectivamente (segundo Enr1quez et ai., 1993).
abordagem que pod.e esclarecer as relações entre recursos e consu- ec ai., l 993). Conseqüentemente, esse material pode susrenu.r
midores. Muitos esrudos têm enfocado as relações planta-herbí- apena~ uma biomassa limitada de organismos decomposicores
voro (Hessen, 1997), mas a abordagem é também importante e, por isso, wdo o andamenco do processo de decomposlçáo
quando se consideram os decomposirores, os detricívoros e será \imiudo pela disponibilidade de nutrientes. As plantas 111~1· nutrientes sob forma orgânica, que sJ.o uciliudos pdos decom- Quando os organismos mortos ou suas parres se decom-
seus recursos. rinhas e de água doce rendem a rer razões mais semelhantes às pasimres, e estes mineralizam o material orgânico de volta a uma põem dentro do solo ou sobre ele, eles começam a adquirir a
Existe uma grande diferença encre a composiçáo química dos decomp;sirores (Duarte, 1992) e suas taxas de decompo· forma inorgânica., que pode novamente ser usada pelas plantas. razão C:N dos decomposirores. Em geral, se um material com
do tecido vegetal morro e a dos tecidos dos organismos hetero· sição são correspondencemence mais rápidas (Figura 11. l la). Enm:canco, as restrições esrequiométricas sobre o carbono e nu· um conreúdo de nitrogênio inferior a 1,2 a 1,3% for adiciona-
tróficos que o consomem e o decompõem. Enquanto os polissa- A Figura J l. l l b e c ilustra a force relação emre as concenrra- trientes rambém levam à competição entre as plantas e os decom- do ao solo, rodos os íons amônia disponíveis sáo absorvidos.
carideos escrumrais são os principais componences dos tecidos ções iniciais de nirrogênio e fósforo no tecido vegetal e sua ra..xa posirores (em geral por nitrogênio, cm comunidades terrestres, Se o material cem um conteúdo de nitrogênio superior a 1,80/o,
vegetais, especialmente das suas paredes celulares, nos corpos dos de decomposição para uma ampla gama de decricos vegetais com freqüência por fósforo, em comunidades Je água doce, e os íons amônio rendem a ser liberados. Uma conseqüência disso
microrganismos e dos decritívoros eles têm um significado ape· provenientes de espécies rerricolas, de água doce e marinhas. nitrogênio ou fósforo, em comunidades marinhas). '"' é que as razões C:N dos solos tendem a ser baseante constames,
nas pequeno. Encretamo, por serem mais difíceis de digerir do A raxa de decomposição da ma- Daufresne e Loreau (2001) de- com valores em torno de 10; o sistema dos decompasirores é, em
que os carboidracos e as proteínas, os compostos químicos estru- rérÍJ. orgln1c1 morra é influenciada senvolveram um modelo que incorpo· geral, notavelmeme homeosrárico. Entretanto, em situações ex·
umbém... por nutrientes inorgânicos. ra relações muru.1.lisras e comperirivas, cremas, em que o solo é muito ácido ou está inundado, a razão
em especial nitrogênio (como amônio formulando a seguinte quesráo: "que condições devem ser en· pode chegar a 17 (o que indica que a decomposição é lenta).
ou nitrara), que se acham disponíveis no ambience. Assim. a comradas para a coexisrência de plantas e decomposirnres e Não se deve cogitar que a única atividade dos decompo·
150 absorção de nitrogênio do exterior permite susrentar uma m.1ssa para que o ecossistema persista inregralmente~" Esse modelo sirores microbianos da matéria mona seja a de eliminar o car·
Carcaça mtCrobiana m.iior, e a decomposição procede mais rapidamen- mostrou que o sistema planra-decomposicor é. i.:m geral, per· bano pela respiração e mineralizar o resrante. Uma conseqü~n·
/ / perlurada
--~/ art1f1c1almenle
ci.: :\ matéri,1 vegetal herbácea, por exemplo, se decompõe com sistente (ambos os comparcimenros, pLrnca e decomposirnr, al- eia imporrance do crescimento microbiano é a acumula<;áo de
ma is rapidez nos cursos d'água da. Nova ZdindiJ que correm cançam um est<1do esracíonário positivo e e~civdi somente se subprodutos, em particular celulose fúngica e polissacHídt"os
pelos (:Jmpos melhorados p:ira o pastejo (onde a água é. em 0 crescimento do decompo-.itor for limic.H:io pd.1 Jisponibi\i- microbianos, que podem ser lencamenre decomposcos e con·
con\eqüenci,1. mais rica em nirr.1to) do que no, cursos d'.i,:::u.1 dJde de carbono no dernrn - e esta condi~.l.o püde ser J.tingida uibuir para a manutenção da estrutura do solo.
"n.l.1)·m~lhor.1dos·' {Young t'f aí., 1994). ,omenre :-e .1 upJcidJ.de competitiva dos decompusicores para
Carcaça
intacta
LºmJ. conseqüênciJda c.1.pacidade um nutriente limic.rnte (p. ex., nitrogênio) for ~rJnde b.1sun-
dos decompositores de usar nmriemes te. comparJ.dJ. com J Je pb.ncJ-., para manter-se em um estado 11.3 Interações detritívoro-recurso
/ inorgânicos é que, apüs a adiç.ío de ma- de limiraç.:íu do carbono. QuJndo o'i decompo">HOrcs não fo-

~/__ ,
renJ.l vegera.l ao solo, o nível de nitrogê-
nio no :solo tende a baixar rapid.unenre
J medid.i que de é incorporado :t massa microhiJJu. Este dc'ito é
rem suficientemente competitivos. des se torn.im limirados
pelos nutrientes, e o sistema, por fim. emra em co!ap-.o. D.iufres·
ne e Loreau (200 l) observam que os poucos e:scudo, experimen·
11.3.1 Consumo de detritos vegetais

Dois dos principais componentes inorgânicos dJ.s folhJs e


10 15
Tempo {dias) evidente em e'ipecia.1 na agricultura, em que J. J.\50 de enrerr:tr os cais até J.gora reJ.lizadm mostram que .L'i bacrài.b podem, Je fato, madeira:, morr3.s sio a celulose e a lignina. Esses constituintes
restolhos pode provocar uma deficiência de nitrogênio para J cu!- cornperir com plancJS por nucrienres inorg:inic.o-; impõem problemas digestivos considc:d.veis .ios consumido·
FIGURA 11.1 O Evolução do dióxido de carbono (CO,). uma medida de curJ sub">equente. Em muras palavras, os decomposimres compc> Diferentemente das plane.is terríco\as. Ch c0rpos de J.ni· res animais, pois a maioria nâo é capaz de produzir a maqui-
at1v1dade microbiana, de carcaças de pequenos marTllferos colocadas tem com J~ plant1S pelo mcrogêmo morg.imco Isso suscita u/llJ 1 m.11:. têm razões de nutriente" ,;;emelh.1.nres J-. dJ. h1nmassa mi· naria enzim:.itica para desdobrá·los. O catabolismo da celulo-
em c1hndros de "respiração" e protegidas dos ataques de insetos. Um
que-.;t 10 ~1g111ficanva e algo paradoxal Vimos qtie 1:, plantas e os crob1an.1, por 1~~0 :sua decomposição nJo e lim1ca<.ÍJ pda dls- se (celulólise) requer enzimas do ripo celulas,. Sem das, os
grupo de carcaças se manteve intacto, e o segundo grupo foi perf1..;rado 11
repetidamente com agulha de a1ssecação, para simular a ação dos tú- Jecompü:'!itorD esráo ligados por um ,rmrzu1'1Jnto md1reto. mc:- ponibdid.ade de nurnences, e os corpos arnmJ.is rendc:m a se detritívoros sã.o incapazes de digerir os compunenres celulôsi-

1
neis abertos pelas larvas da mosca·varejeira (segundo Putman. 1978a) d1aJo pela c1d.1gc::m de numenrt'S- as plantas fornceem energ1J e decompor mu1cu mab rip1do do que o mJkri 1! \egetal cos dos detritos e, porcanro, não podem extrair deles n~m ener·

l
338 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 11: DECOMPOSITORES E DETRITÍVOROS 339

gia para realizar crah.1lho, nem os módulos químicos mais sim- Encontram-se exemplos claros de material de construção das plantas "pela mesma razão que são p.tlmenre de esporos e hifas de fungos, junco com te"Zes de inv~r-
ples para a síntese de seus próprios tt."cidos. As celulases de murualismo obrigatório entre cerras es- construídas casas de concreto em áreas com elevada atividade tebrados (em especial as fezes de enquitreídeos recememcnre de-
origem animal rêm sido identificadas de maneira definitiva pécies de baratas e de cupins que depen- dos cupins". Portanto, ele considera o uso da celulose como posiradas). Nas profundidades mais baixas, suas diera; consisri-
em pouquíssima, espécies, incluindo uma espécie de bJrata, dem de bactérias e procozoários sim bió- uma defesa contra o ataque de organismos superiores, quera- am principalmente em material micorrízico (os colêmbolos co-
alguns cupins supc:riores da subfamília Nasurirermirinae (tvfar- ticos para a digestão dos polissacarídeos estruturais dJ.S pLrnta.s. ramente podem digeri-la sem ajuda. De uma perspectiva dife- meram a parte fúngica da associação do fungo com a raiz ,·eg('ul)
rin, I 99 l) e o verme-de-navio { Teledo H,tva!is), um molusco Nalepa e colaboradores (2001) descre\"em a evolução de mutua- reme. sugere-se que a capacidade celulolítica é incomum ape- e detritos de plantas superiores (em especial derivados de raízes)
marinho bivalve que perfura os cascos dos navios. Nesses or- lismo digestivo entre Dicryoprera (baratas e cupins), a partir de nas porque se rrata de uma. característica raramente vantajosa Houve claras diferenças inrerespecíficas ramo nas disrribuiç6es
ganismos, a celu!úli~e não coloca problemas especiais. ancestrais semelhantes à barata do carbonífero superior, que se para os animais que .1 possuem (Marrin, 1991 ). Por um lado, verticais quanco na imporrància relaciva dos diferences compo-
A maioria dos detrirívoros náo alimentavam de vegetação em putrefação e dependiam de u01 comunidades bacterianas diversas se encontram comumenre nentes da dieta, e algumas espécies revelaram-se consumidores
possui celu!ases próprias e, por isso, "rume externo". Os próximos estágios envolveram inrernaliz.tção no intestino posterior, e is~o pode ter facilitado a evoluçáo da mais especializados do que outros (p. ex., lsotomielfa minor LO-
depende dJ pro<luç.áo dessas enzimas progressiva da microbiora associada a detritos vegetais, desde a celulólise mediada pela simbiose. Por ourro bdo, as dieras dos meu apenas fezes, e Wi!lemia aspinata comeu apenas hífas de fun-
por <lecomposicores associados ou, em coprofagia indiscriminada (consumo de fezes por várias espécicS consumidores de vegetais em geral têm um suprimemo limi- gos). Contudo, a maioria consumiu mais do que um dos poren-
alguns casos, por prornzoários. As in- derritívoras) até níveis crescentes de comportamento socia.1 e grc-- tado de nutrientes críticos, como o nitrogênio e o fósforo. do cüis componentes da dieta, e muiras se mostraram notavelmente
terações abrangem desde o mutualis- gário que garanri~tm aos recém-nascidos receber inoculações Jpro- que de energia. que a celulólise liberari,L Isso impõe a neces- generalistas (p. ex., Protap/Jorura eichhomi e A!esaphorum yolit)
mo obrigatório emre um derrirívoro e priadas da biora intesrin.11. QuJndo a rransferência direr.1 de flui- silbde de processar volumes elevados de mareria.l para extrair (Ponge. 2000) .
uma microflor.1 ou 1nicrofaun,1 Ínte:irin.il especifica e pernu- dos do inrestino posterior, JJ bols.1 reul Jo prog,enicor p.trJ J •b qu.rnrid.1des exigid.1s de nucrie11te.'), em vez da eficieme ex-

nente, passando por um m11walúmo /tcultatit:o, em que os boca do recém-nJ.Scido, evoluiu em cerras baraus e cupins infe- rr.1ç:l0 Je energia a partir Je pequenos volumes de ma.reria!.
animais uriliZJ.m celulases produzi<l.1s por uma microflou in- riores, alguns micróhios fár:un caprurado.s e &e tornJram ecologi- Devido à. freqüeme associação ex- 11.3.2 Consumo de frutos caídos
gerida com detricm imedida que p,tssJ. por um imesnno não- camente dependenres do hospedeiro. Este esrado especiJl1z:1do tremamente íntima enrre micróbios,
especializ.ido, ~ué .1n1nuis que ingerem os produms metabóli- assegurou a transferência direta do rume interno, em parricubr detritos vegecai"i e fezes anima.is. é inevi- NJturalmente, nem todo detrito vege-
cos da rnicroflor.1 exrc.·Tna, produtora de cdulase assoei.ida a daqueles companences que degenerariam se expostos ao ambien- r.ível que exisc.un muitos consumidores ral é tão difícil de digerir para os detrití-
restos vegetais ou às fezes em decomposição (hgura 11.12). te externo. Nos cupins inf'eriores, como, por exemplo, Eutt'l"nteJ, generalistas que ingiram todos esses re- voros. Os frucos caídos, por exemplo,
Uma .1mpla gama de derrirívo- os prowzoários simbióricos constiruem até mais de GOo/o do peso cursos. Em outras palavras, muitos ani- são facilmente explorados por muiros tipos de consumidores opor-
ros parece ter de depender de organis- corporal do insero. Os prorozoários si ruam-se no intestino poste- mais simplesmente não conseguem capturar uma porção de um tunistas, incluindo insecos, aves e mamít'eros. Encretanro, como
mos exógenos para digerir a celulose. rior, que é dilatado e forma uma bolsa retal. Eles ingerem par- recurso sem ingerir os outros. A Figura 11.13 ilustra os diversos rodos os detritos, os frutos em decomposição rêm uma microflo-
Os invntebrados consomem m detri- rículas finas de madeira e são respons.íveis por uma ampL1 ,Hi- componentes dos conteúdos inresrina1s de 45 espécies de colêm- ra associad.1, nesce caso dominada principalmente por leveduras.
ros vegetais parcialmente digeridos \'idade celulolítica, que coma também com o envolvimenro bolo1 (rodas as espécies combinadas), colerad,Ls em diferenres pro- As moscas-das-fruras (Dro;ophila spp.) se especializam em alimen-
juncameme com as b,Ktérias e os fungo.<:. associados. obtendo, de bactérias. Os cupins que se alimentam de madeira geral- li.md,dades na serrapilheira e no solo de tloresras de faia da Bélgi- tar-se dessas leveduras e de seus subprodutos; e em uma compos-
sem dúvida, uma expressiva proporção de energia e nurrienres mente mostram efetiva digestão de celulose, mas nâo de ligni- ca. As espécies ocorrentes nos 2 cm superiores viviam em um ragem doméstica de frutos, na Austrália, foram encontradas cin-
neces'iários, gra<r,t'- à Jigesrão da própria microflora. Pode-se na, exceto para Ret,cu!uames, que digere 80°/o ou mais d.1 lig- h.íbirat derivado de folhas de faia em estágios distinws de decorn- co espécies de Drosophifa com prd'erências por determina.das ca-
dizer que esses animais, corno o coltmbolo Tomocerus, utili- nina presente em seu alimenro. posiçâo microbi.rna, onde também erJ.m comuns microalgas, te- tegorias de frutas e hortaliças em decomposição (Oakeshort et ai.,
zam um "rume exrt:rno" para obter nutérias assimiláveis a panir Considerando ,t aparente versati- zes de lesmas e isópode~. bem como grãos de pólen. Suas dieta.<.; 1982). Drosophila hydei e D. imm1grans preferem melões,
de resros vegetais rnJigeríveis. Esse proce.')SO alcança sua espe- lidade do processo evolurivo, é surpreen- continham rodos os componentes locais, mas pouco da serrapi- D. busckii é especializada em hortaliças em decomposiçâo, e
cial1nçáo m;í.xim,1 no besouro ambrósia e em cerras espécies dente que rão poucos animais consumi- lheira de faia, espécie muito abundante nos locais de esrudo. Em D. úmufans consome uma variedade de frurns. Entretanto, D.
de formigas e cupins. que ''cultivam" em honas especialmente dores Je vegetais sejam capJ.Ze.') de produzir suas própri:1..~ enzi nu... profundidades inrermedi.írias (2 a 4 cm), se aJimenra.vam princi- mel.mwgaster, bastante comum, mostra uma clara preferência por
escavadas (ver C,pírulo U). de celulase. Segundo Janzen ( 1981 ). a celulose é o principal

l 400
Ingestão de
celulose
pelo delritivoro ê 1 200
~ Intestinos vazios

··--
;;;
~1.000 ~M,comzas
Rume interno
LJ Material de plantas supenores j
2 Celulaseslocalózados
produzidas po, ª Celulases
1 pela prodtmdas 4Sem
simbóontes
permanentemente em OOlél
região modificada do
mócrollora ingerida
durante sua passagem
pelo intestino . '
I . ativasno
1
' ~ Microalgas
lt!!iiJP6'en i
D
___J
intestino não-especiaiz.ado Material túngico
·---- - ----·--------
1 illFezes

1
FIGURA 11.13 Distribuição de categonas de

1
1 conteúdos intestinais de colémbolos (n "'

-- ~ Celulôlise '
FIGURA 11.12 Gama de mecanismos ·1ue
os detritivoros adotam para digerir a celuio-
I 12-13
l...=:...=....L
14-15
6.255) (CoHembola; todas as espécies com-
binadas) em relação à profundidade na ser-
rap1lhe1ra/solo de florestas de faia na Bélg1·
ca (segundo Ponge. 2000)
'" ''"'"""'"'"""oo°'"" "'"' '"'"' Profundidade (cm)
340 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 11 : ÜECOMP051TORES E ÜETRITIVOROS 341

uvas e pêras em decomposição. Observe que os frucos em decom- casos, entretanto, é provável que não a ·ca;:i·:J.'ag:a Chrdorw sphaaicw, as fozes do quironomíd~o ::-..-io muico Jtraci- ruras sáo alras ( Davis, l 996). A remoção dos excremenros ram-
posição podem ter um elevado teor alcoólico. As leveduras são exisram nítidos benefícios nutricivos pode ser rr.a1s ,...;. Em geral, esca c::s~ie se enconcr.1 a.ssociJd.1 .1 essas fcres e bém ocorre com taxas mais elevadas em sicuações de boa lu-
vai;osa c:.ian·:L' prov.1,·dmeme depende delas como fonte alimemici.1. Esse crus-
comumence os primeiros coloniz.adores, e os açúcares dos frutos no consumo de fezes, em comparação minosidade e é mais rápida em solos arenosos do que em solos
q:..iaf1dade do
são fermentados a álcool. que em geral é róxiéõ, às vev:s mesmo com o de decricos dos quais as fezes r;íceo .1preende as pelocas de teze..,
do quironomíJeo com a valva argilosos mais duros e compactados (Davis, 1996). Uma am-
para as próprias leveduras. Drasophila melanagasrer tolera esses foram derivadas. Assim, o isópode dt' su.1 carapaçJ e JS f.u gir.1r en4uanm raspa ... u.1 supt:rfície, cau- pla gama de animais parcicipa dessa atividade . incluindo mi-
elevados níveis de álcool porque produz grandes quantidades de Porc~l!,o scabar ceve um ganho menor pelo consumo de suas ·.\.·/ SJ.nJo sua desintegração gradua.L No IJboracóno. foi demonstra- nhocas, cupins e, em parcicular, besouros.
álcool desidrogenase (ADH), uma enzima que decompõe: ecanol fezes, mesmo quando elas foram inoculadas experimencalmente do que a presença do crusdceo acelera. dr.lSticunenre a transfor- Os excrementos dos defanres proporcionam um bom
a mecabóliros inofensivos. As horcaliças em decomposição com micróbios, do que pelo consumo direto da serrapilheira mJ~Jo de pelota.s grandes de Clúrouo11w; em pJnícu!Js menores. exemplo do papel predominante dos besouros. Podem ser reco-
produzem pouco álcool, e D. busckii, que se associa a elas, produz foliar do amieiro (Aln11S glutinara) (Kautz et ai., 2002). Por O dt'Gtlhe final e mais imrigance da hisróri.1 é 4ue ;1.., ~ezes frag- nhecidos dois padrões principais de decomposição, relacionados
muito pouco ADH. As espécies que preferiam melões modera- outro lado, no caso das folhas do carvalho ( Querrnr rabur), menc:1.das do quironomídeo (provavdmence mi<-;rurad.IS com as às estações úmida e seca. Ourance a época de chuvas, em pouco..'>
damente alcoólicos produziram níveis intermediários de ADH. com menor preferência OU[ricional, as fezes inoculadas propi- tell's do crusráceo) agora são ~quenas o base.une para que ele minmos de depósico de excrementos, a área fica. cheia de bôou-
Drosophila melanogaster a.ssocia-se também aos resíduos da elabo- ciaram um aumenco pequeno, mas significativo, na taxa de possa us;.i-las novamente. É pro\'J"d que as l.1rYJ.\ de C/,imnomru ros. Os besouros que se alimentam de excremencos encerra.n1 cam-
ração do vinho. crescimenco, em comparação com o macerial foliar da planca- !uguhris cresçam mais rápido nJ presenç.1 Je C\,t!orw )pl111t•ricru bém grandes qu~mcidades deste marerial junco com seus ovos,
mãe de carvalho. A coprofagia pode ser mais valiosa quando a dc,·ido à disponibilidade dt: material feca.J adequ.1do para comer. para fornecer a.limemo às larvl.) em desenvolvimenm. Por exem-
qualidJde do derrico é particularmente baixa. A imeraçJ.o beneficiJ .unbm. m p:1rricip.1ncc.. plo. o grande besouro africano coprófago. Heliocopris dilloni, cor·
11.3.3 Fezes de invertebrados como alimento Um c3...,o notável de coprofagia foi la unu porção de e>...crc:mencm fre.'>CU.'> e J faz rolar. pJrJ enterrâ.-b
revel.1Jo em alguns pequenos lagos da J vários merros distJnres d;1 pilh.l original onde o material forJ
Uma grande proporção da matéria zona panranosa do nordeste da Ingla- 11.3.4 Fezes de vertebrados como alimento depositado. Cada besouro emerra uma grande quantidade de ex-
orgânica morta nos solos e em sedi- terra (1YL1Clachlan et ai., 1979). Esses crementos suficiente para vários ovos. Uma vez enterrados os ex-
menrns aquáticos consiste provavel- corpos d'á.gua escuros têm penecraçáo Os excremenw:. Je \ e1 tc:b1 .idos c.1rní- crememos, o besouro d.i a forma de tJ.ça a uma pequena qua.n-
mente em fezes de invertebrados, que rescrita J.e luz, devido às substâncias voro~ s.lo relariLrn1c::me de b.ti:u qua- ridJde e a recobre com cerra; um único ovo é deposicado. e
os derricívoros generalistas coscumam húmicas dissolvidas provenientes da curfelra do encorno, sendo lidade. Os urní\·orlh .t~~imil.1111 seu logo mais excrementos são J.dicionados. atê produzir umJ es-
incluir em suas dietas. Algumas das fezes derivam de insccos car.i.ctensricamence pobres em nucriences para as plancas. A pro- •1limenco com Jlu dlciencia (em ge- fera qu.1se inceirJ.mentc coberta por uma finJ camadJ. de solo .
pasradores. Em laboratório, as fezes das larvas de Operaphthem duçáo primária é insignificante. O principal aporte orgânico con- ral digerem SU 0 o ou nui~) e su.1s fe;es Uma pequena ,ire.1 na pane superior da bola, junco à locali1.1-
fagata que consumiram folhas de faia (Fagw ,ylvatica), sob a siste em parrículas de turfeira de baixa qualidade, resulrames da retêm ape11.1s m componentes menos digerÍ\ ei:, .. -\\ém disso, çã.o do O\'O, não fic.1 coberrJ. de cerra, possiYelmence para faci-
influência da lixiviação e da degradação microbiana. se de- erosdo das margens. No momenco em que a turfeira deixa o esta- O-'> c.trnívoros sJ.o necessariamente muico menos comuns do lir;ir o inrercímbio gJ-'>Oso. Após a eclosão, com um movimento
compuseram com mais rapidez do que a própria serrapilheira do de suspensão para depositar-se, da foi coloniza.da principal- lJUt' os herblvoros, e é provável que \eus excrl·mencos n,\o se- Je rotação, a bn·~1 se alimenta dencro da bola de excrementos.
foliar; no encanto, a ra.xa de decomposição foi muico aumen- menre por bactérias, e seus conteúdos calórico e protéico aumen- jrn1 .1.bundame-'> o .'>uficience p.1r.1 su . . tenur unu fo.un.1 derrití- esca,·ando um buraco e incidentalmente consumindo suas pró-
tada quando os isópodes decrirívoros (Pareei/ia rcabar e Onis- taram em 23 e 200%, respeccivamence. Essas pequenas parriculas vor.1 especialisra. Os e,;cassos resultados de pe,,,quis.1. sugerem prias fezes, bem como ,lS do elefance (Figura 11. I 5). Quando
cw mellw) se alimentaram de fezes (Figura 11.14). Assim. as são consumidJS por larvas detritivoras de Chironomus luguhris, qu;: a decompo~içJ.o i eferuJdJ quase que imcrr.unencc por todo alimento fornecido pelos seus progenicores é consumi-
taxas de decomposição e de liberação de nurrienres para o solo, um mosquiw-pólvora não-picador. As fezes produzidas pelas lar- baccéria.s e fungos (Pucman, 1983). do. a larv.1 cobre o imerior da cavidade com uma pasta dabo-
a parrir de fezes de pasradores, podem ser aumentadas me- vas ~o colonizadas de modo completo e abundante por fungos; As fezes dm herhi\(_nos, ao con- rJd,t com suJs própri:1.s fezes e entra na fase de pupa.
diante a atividade alimentar de derrirívoros coprófagos. sua atividade microbiana se intensifica, e elas poderiam constiruir tr.írio, contêm .1.inc\.1 um.1 grande Os besouros tropicais coprófagos
As fezes de decritívoros são comuns em muitos ambien- um recurso alimentar de alra qualidade. Porém, principalmence quanridJde de m.tt~íl.t org:rnic.1. A dJ família ScarJ.beidae rém um compri-
tes. Em alguns casos, a reingestão das fezes pode cer uma gran- por serem demasiado grandes e duras para as peças bucais dJS .mcocoproL1giJ {rt:ingc~r:io '-Lls pró- menco que variJ de poucos milímetros
de imporcância, pelo fornecimento de micronucriences essen- LlfvJ.s de Clnronomw, as fezes não sâo reingeridas. No encanco. pria:. ~ele:.) é um h:íhito ;impb.memc dihindt(.k] l•tlfrt..• h.:rbí- .ué O.'i 6 cm de Hdrocoprú. Nem codos
ciais ou de recursos alcamence assimiláveis. Na maioria dos p:1.u outro habitante comum do lago, o pequeno crustáceo \"Ofü.', numíferos de porre pequeno a médio. ~.:.'ndn regisrrJd.1 remmem t:xcrememos e os emerram a umJ. cerrJ disr:rncia J.1
em coelhos e lebres, roedores. nur . . upiais e u111 prim.HJ (Hi- pilh.1. Alguns e\u,·am Sl?US ninhos em profundidades variJdas
rak.iwa, 2001). Muitas espécies produzem foe~ 111.tci.1~ e du- imediac:mit:me Jbaixo (.b pilha de excrementos, e omros comri-
r.is. :.c.:11Ju ,1s primeir.b ricas em vir.,min,b t: ~1ro(...'Ín.1s micro- tuem ~u.1s c.lm.u.1s <lemro d.1 própri.1 ~1ilha. Os besouros de ou-
100 biJn.1s, cm gcr:i.1 rei11gerid.1s (Jireuml"rHc: do :t:llt\J. (Ju.1.ndo rr.1\ famili.1~ nJ.o fornum dmar.1s, m.1s ~implcsmcnrc depmium
;;_..---- Fezes +- 1sopodes
impeJiJo, Je r~in~e,c:"10. muirn\ anim.11, c·,1h1.:"111 ,1rHom.1, dt: ,1..·u, O\"O.'i nn~ excremcnro,. e' su.1s l.1n·,1~ :..e .d1111em.1111 e cre~ccm
llt."'>llUtri1.,-.-lO e cres("em m.1.is knr.1memc.: d(.:ntro dt:s,a 1n.1s,a ar~ o pleno desem·okimenco. 4u.rndo ~t.' .tf:l'i-
l 80
:: ,'!' Serrapi!he1ra ... 1sópodes Os e,crc"mt:1w1~ do\ hcrbíYOfO-'>
apresenc:1111 um.1 disrr1hui....lo mtlcien-
um p.ua pa~,.u a fast.' de pup.1 no solo. Os besouros ,l.\\0Ci.1dn, .1
e:,.;cn:memo, de defame durante a esuç:"10 lunida podem rerir.1r
~ 60 ,.,,. Fezes
G
remente dens.1 no arnlw:me para su.<i- l 00° 10 da pilh,l desse maceri.11. Qualqut.'r resíduo de excrementos
" r- .... ::::-
1 rentJr suJ própria bu11.1 ur.1crerlsn-
ca. que con'>istc em 111L1Íto'i vi~itantn
pode ser proce~s..tdo por outros derricívoros, como .1.~ mo<;(";JS e os
cupim, as~im como por decomposicores.
l
40
--
:1~~::a1;~:r!;~~~r: f~:~~~
ocasionais, mas 1...\.Hl1 \ .u tu\ cunsun11- Os e:-..cremencos deposicadm nJ e~uç.ío se1..·.1 s.lo coloni-
-11
,f 20 ,,
.,~----
.·,
-
1
~!iad: dore~ específicos. A remoç:lo dos excremenrns \'.lt s.tzonal e i,1 zados por reb.ri\'ameme poucos besouro:. (llS J<lulros emer-
.., " .. Serrap1lheira
das fezes de larvas pastadoras (Qpe-
rophrhera lagata) na presenç.:i e na
espacial mente. N.1s re~iõe~ rropicJÍ~ e 11.b rc111pn.1d.1s quen-
tt'\. ,I .1.rivid.idc pr..:dominanrc ocorre Jur.1nre .1~ ..:lnn·.1s deve-
gem apen.1s dur.111ce J) chu,·as). Obsen·~1-se .1lgunu :.uiv1JJJe
m1crubia11.1. que. no <::ntanm, diminui com rapidel ~1 medidJ
o ~ ausência d! for~ageio por isópodes Os ( fio. Jj 1lllS dimas do tipo mcdirerr.incci. ,, remoc.\0 doe> cxcre- que ,ts f°e-Le, )ec1m. O reumedecÍmc"nW durJnte a~ chuvJs esri·
o 12 erros-padrao sao mostrados (segundo ·
Tempo (semanas) Zimmer e Topp, 2002). l ~ 1 e n r o s i 111:tb :1!t.1 dur.1.nre J prim.1'::~·r.1 .. 1pl·,, ,h chuv.1s de m ul.i no\·J.meme ,l ~Hi\ 1d.1de micrubi:rna. m.h m besouros não
nn-erno. e no,·,rn1ente 110 meio do \·er.io. ljllJnd(i .,~ t;:mper:1- exploram Lxcr~menco~ velhos. De fuo. uma pilha d<:: ex:cre-

1
342 PARTE 2 - lsTERAÇÓE5 CAPÍTULO 11: ÜECOMP051TORE5 E ÜETRITÍVOR05 343

prirm:ira noite após sua colonização. A espécie menos apro- mence apresentam razões mais a.Iras do que os cerrícola-"J e do
priada. O. viridua!w. utilizou vários dias conscruindo um tú- pêlo de raposa (uma vez que as assinarnras dos isótopos de carbo-
nd e só começou a enterrar o estrume após G a 9 dias. no de tecidos do predador refletem as razões da presa consumi-
d.1). A Figura 11.16 mostra que, em três dos quacro anos de escu-
do, a assinatura do isótopo <le amostras de pt:lo de raposa aumen-
11.3.5 Consumo de carniça tou muico no inverno - resultado esperado, pois a carniça J.e
focas era o principal componeme da dieta. No inverno de I 994,
Ao considerar a decomposição de cor- encreranto, nJ.o foi observada uma clara mudança e~ imporcance
-r:::,5
pos morros, é opormno distinguir rrês destacar que a densidade de lemingues foi elevada nesse período.
categoriJS de organismos que araca.m G1r- Parece que as baleias passaram a consumir c.1rniça de foca quan-
caças. Antes de cudo, os decomposito- do a formação de gelo marinho permitiu, nus apenas se as presJS
res e os derri[Ívoros invercebrddos rêm papéis a desempenhar. Por :tlcernativa.s nJ.o esrivessem disponíveis.
c:Xemplo, os besouros cenebrionídeos íl.rgoporú apim!is e C0,pta- Os papéis relativos de..'iernpenha-
tli11J tarsa!is são especiaJrnente abundames em ilhas do Golfo da <los por decomposicores, in\'ertebrados
(J!ifornia. onde grandes colônias de aves n1.1rinhas nidificam; e vercebra<los são influenciados por fa-
nt':.~t:~ 101..ais, o~ besouro~ ~e J!imencam de carc.iças de aves, bem rores que afec.irn a velocid.1de com que
como de resws de:: peixt:s associados :1s colónias de:: aves (Sanchez- as carcaças são descobena~ por consumidores, em relação à ra.'<.:a
P1nt:ro e Polis. 2000). No caso do consumo de carniça, mdavia, com que elas desaparecem de\'ido às arivid.ides microbianas e de
os wrcebrados :i.lo muic.1:, Yezes rambém de imporcincl.l conside-
riYd. J\luicas cJrcaças de tamanho surlcienre para uma tÍnica re-
fei(/IO de um ou poucos desses derrití\·oros consumidores de c.:u-
(a)
niç.1,erão removidas completamente logo após J morce, resrando
nad.1 para bacré1 ias, fungos ou invercebr.idos. Esse papel é desem-
(b)
penh.1do, por exemplo, por raposas árticas e gaivotas-rapineiras
em regiões polares, por corvos, glmões e texugos em áreas rempe-
.
~712
16
14

rJd.is e por uma ampla variedade de aves e mamíferos nos crópi-


rn~, incluindo papagaios, ch.ICais e hienas.
!!
uc.
10

A composiçio química da dieta • o


~~
6
FIGURA 11.15 (a) Um besouro africano co·
prófago arrastando uma bota de excremen·
tos (cortesia de Heather Angel). (b) A !ar1.1a do
besouro Heliocopns escava um buraco à me·
dos consumidores de carniça é com-
pleumenre distinta da de outros detritivoros, o que se retlere
no seu complemento de enzimas. A arividade de carboidrara-
o.-
;;;·=i
e e 4

d1da que se alimenta dentro da bota de excre· 1994 1995 1996 1997
ses i fraca ou nula, m;is a .1tivid.1de de:: proreases e lipa.ses é
menlos (segundo Kmgston e Coe, 1977). Ano
intema. Os derricívoro.~ consumidores de carniça possuem ba-
(b)
..;icamt'nte .1 mesma maquinaria enzimárica dos carnívoros, re-
ílcrindo ;i ideno<lade química do seu alimento. Na realidade, -17
decidido, em 1963, introduzir n.1 Auscr;ilia besouros de origem PE!k:1 de inverno (dieta de verão)
rncrno'> depm1udu::i n,1 esuç,lo sc:c,t pode persistir por mais de muiras espécies de carnivorm (como os leões, Pm1thera leo) são -18 Pêk:1 de verão (dieta de inverno)
dois ,wos, em crn11p.11.1ç.lo com .1qud::i.::i formadas dur.rnte as .1fric.111a, capazes de consumir estrume bo\·ino, nos locais n1~~ r,1mbérn con.rnmidore~ de carniça oportunistas (DeVaulr e
imporunrt.:s e sob as condiçóes prevJ..!ecenres onde esses anlln,us -19
clw,·.t.'I, que perrn.u1e...:i.:111 por 24 hor,lS ou menos. Rhudes. 2002), e os d.íssicos consumidores de carnica (como as
O es(rume honno (em c.1us.1do são cri.idos (\X'aterhouse, 1974): mais de 20 espécies foram imro- hieru.... Croaa,z crocuta) JS ve?es agem como CJmívo;os. -20
um problem.1 cxtLtordin.í.rio e econorni- duziJJs (Doube ct ai.. 1991 ). As raposas .írticas (,-l/opt..X l.trgopu:i) -21
'"ªmenre muiw imporume n,1 Au,;;rr.i- Akm des~t' problem.1, a Au~cr.íli.l é infescad,1 pel.i m1):'l1...1 iluscr:im como .1 dieta dos consumido- \;'
-o -22 19
li.i. Dur.1nr-: m úlrnum dois '>éudo::,, .1 n.niva (JfoJa 1•Nwtisú11u) e pel.i n10sc1-do-bllf.do (H{1t'm.rro- r_.., de c.1rniça faculucivos pode \·.1ríar 10

pnpuLll)l> de , ,lct'> .1ullll'.IHOL1 <le cx,H,l- bit11rnw1u exigu,1), quL ovopmic.tm sobre o e~trurne. A!-> L!nJ'i com J disponibililÍJ.dede a.Jimenros. Os -23 25
10
lllt'llte -"ete 111di\ idit(>'> ((r.1ziJo:,, pc:lm primeiros coloniz..H.-i.(ire::, em nlo conseguem sohrev]\·er no estrume que foi enrerndo por lc:rningues (Dicro;toJJ_vx e lmmws spp.) :'Ião as presas viv.is das 27 48
-24
J 788) p.1r-1 u:-rc.1 de.)() milhüc.·,. b:-.e-" hovinm produzem d1:1rÍJ- bôourns, cujJ presença rem-se mostrado eferiv.1 na reduç:io ,.Li rJ.pma~ em grande pane dJ sua área de vid.1 e dura.me nniíto
abundáncia das moscas (TynJale-Biscoe e Vogcr. 1996). -~ re- -25
meme um.t or:J.nde qu.urn<lac.it: Je estrume. cobrindo seis milhõe::, rcmpo (Elmhagen et ai., 20001. F.nrrcranro, populações dele-
.
35

. .. . "'g: ~
M ~ ~ ~

~
m m
Jç .Krcs po:ano. () depósito d(,_' t:Sffll!Ht' bm·ino por si só n,lü duCJo é bem-sucedid.1 se o esrrume for enterrado com acê ccr- mingues p.1~am por dramáticos ciclos (ver C,1pírulo 14). forç.:m- ~ m m
~ ~
CJ de seis <li.is de:: produção, que é o tempo par.1 .1 eclos:i.o dos ~ ~ u ~ u ~ ~
represcm.t um prob!enu nu mundo. onde tsses animais existem do as rJposas a buscar ;ilimencos alrernafr,,o,;, como aves migrató- o
-~ "oe o o g o
·~ o
oYos da mosca (deposir.1m sobre o escrume fresco) e seu descn- ~ ~
j
h.í milhóe::i de .1110:::. e r-:'.m uma flllnJ as..,ociad,1 qw: explor.1 os
rt'cur~os f('ui~. Entn:unto. os m-11orn hcrh1\"oros da :-\usrrili.1, rnlvimenro ao esrágio de pupJ. EdwarJs e Aschrnborn ( l '!87)
ri.lS e seus ovm (Samclius e Alis..iuskas, 2000). No inverno, os
alimemos marinhos se rnmJ.m disponíveis quando as raposas po~
~
i ~ _s ~
1 ~

,Hê ,1 coloná..t<;.ão t'uropéi,1, t'rJlll rn..irsupiais. como os cangurus. examinaram, no sul dd África. a niJdic1ção de 12 espécie-; di dem deslocar-se para o mar gel.ido e consumir carcaças de focas FIGURA 11.16 (a) Mudanças anuais da densidade de Jemingues no
o~ <le(rÍci\·oros rum m. que se nutrem de pelmas secas e rlbrosas besouros do escrume percencenres ao gênero Omús. Eles con- morras por ursos polares. Roth (2002) investigou até que ponto verão, próximo ao Cape Churchdl, Man1toba, Canadá, e (b) razões
dos rsótopos de carbono (média ± erro-padrão) de pêlo de raposa. no
dJquek~ herbí\·oros. 1úo podem J.tr coJH,t do esrrume bovino cluíram que O. 1mcÚhrtW era a pnncip;1I candi<l,Ha a ser incro- as rapmas pas.sar.1m a consumir carniç.1 no inverno, medi.ime inverno (refletindo a dieta de verão) e no verão {refletindo a dteta de
deposiraJo ~obre .1 p,L''>t,1gem, cuj.1 perd.1 rem imposto um enor- duLida nJ Auscráli.1 para controlar .i moscJ, um.1 vez que a com par Jção Ja5 razóc:~ dos isócopos de carbono ( 1 "C: 1:'.C) inverno) Os números nas barras 1nd1cam os tamanhos das amostras
me ônus económ1co :'t .1griculrnr.1 ,1w,trali,rna. Por essa r;.11...lo, foi quanrid.1Jes substanciais de escrume foram enterra.d,t) nJ de .1limenco suspeirn (os organismos marinhos caraccerisric.1- (segundo Roth. 2002)
344 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 11: DECOMPO~TORES E DETRITÍVOROS 345

inverrebrados. Isso é ilus,rado para as carcaças de pequenos roe- especializados em chifres e penas. Os cadáveres dos grandes ani-
dores, cujo desaparecimenco/decomposição foi monimrado na mais são os que geralmente fornecem a mais ampla variedade de 1
zona rural de Oxfordshire nos períodos de vecão-oucono e de recursos e, assim, atraem a maior diversidade de consumidores de ~·

verão-primavera (Figura 11.17). Exiscem dois pomos a serem res- carniça (Doube, 1987). A comunidade consumidora de carniça
salcados. Primeiro, a taxa de eliminação das carcaças foi ma.is rá- associada a lesmas e caracóis marcos, ao contrário, consiste em ~---
pida durante o verão e o outono, reflecindo uma maior atividade um número re\J.tivameme pequeno de moscas das famílias Sar-
1
dos consumidores de carniça durante esse período (presumivel- cophagidae e Calliphoridae (Kneidel, 1984). [,
mente por causa de densidades populacionais mais elevadas dos Um grupo de inverrebrados con-
consumidores e/ou taxas de consumo mais elevadas - estes fato- sumidort'.s de carniça merece espeClal
res não foram monimrados no escudo). Em segundo lugar, uma atenção - os besouros enrerradores
porcenragem maior de corpos dos roedores foi eliminada no pe- (Nicrophorw spp.) (Scon, 1998). Es- !
ríodo de inverno-primavera, embora por um tempo mais longo. sas espécies vivem exclusivamente sobre carniç2, onde cum-
No período de maior lencidáo da decomposição microbiana, ro- prem su.1 exuaordinárla história de vida. Os Niaophorw adul-
JJ.S as carcaças persistiram pelo tempo suficiente para serem en- rns, usando seus quimiorrect'.pmres sensíveis, chegam acé a
contradas pelos seus consumidores. Durante o verão e o oucono, carcaça de um pequeno mamífero ou ave dentro de unu ou
J decomposiçJo foi muirn mais rápida, e wd.1 carcaça náo-descu- duas hor.is .ipú'.) sua morre. O besouro pode di!Jccr.ir a c-1rne
berr.1 em 7 ou 8 dias era decomposr.1 e elimin.1da por bactérias, do cadi\'er e comê-la ou. ~e a decomposição for suficiente-
i
fungos e detritívoros invertebrados. mente ,lVanç.1da, consome as larvas da mosca-varejeira. No i
Certos componentes dos corpos
animais são especialmente resiscences
enunrn. <;e o besouro encontra um cadáver completamc:nre
fresco. de o enterra no mesmo local do encontro ou pode:
i
ao ataque e demoram mais para desa- arrasrar o corpo (com peso muitas vezes superior ao seu) por
parecerem. Enrrecanco, algumas espé- vários metros, amt'.S de começar a escavar. Ele trabalha por
cies de consumidores possuem as en- baixo do cad.i\'cr, escavando cuidadosamente e enterrando
zimas necessárias para decompô-los. Por exemplo, as larvas de pouco a pouco o pequeno mamífero. até que esce fique com-
espécies da mosca-varejeira (Lucília) produzem uma colage- ple<amence sob o solo (Figura 11.18). As diferences espécies 1
FIGURA 11.18 Enterro de um rato por um par de besouros do género Nicrophorus (segundo Milne e Milne, 1976)
nase que pode digerir o colágeno e a elasrina presentes nos de 1VicrophorltS variam quanro ao tamanho corporal (e, por
tendões e nos ossos mais fracos. A queratina, principal com- conseguince. o camanho do cadáver ucilizado), ao período re-
1
ponente de pêlos e penas, constirni a base da dieca de espécies producivo {e, assim. a estação de atividade), ao período diirio
características dos últimos estágios da decomposição da carnl- de atÍ\'id..1de (algumas são diurnas, oucras crepusculares e: al- 1 permanecem na câmara para cuid.1r das larvas. Uma depres- capacidade de engolir quancidades de alimenco muiro além do
ça, em particular de mariposas do grupo dos tineídeos e be- gum.is nornrr1a3} e ao hábitat utilizado (Aoresta de coníferas. são cônica é preparada na parre superlor da bolJ de alimento, que é normal para os anfípodes. Assim, Para/ia//,, possui uma
souros do grupo dos dermescídeos. O intestino médio desses florestJ. de: la ri foliadas, campo. banhado ou generalistas) (Scort. na qual são regurgi{adas gatinhas de alimenrn parcialmence parede corporal mole, que pode ser escendida quando da in-
insetos secreta agentes muiro reducores que rompem as resis- l 998). Algumas espécies, como N vespilloides, apenas cobrem digeridas. As larvas mais desenvolvidas são cap.1zc=s de se auto- gescáo de um alimento grande, de modo a se rornar duas ou
cemes ligações de união das cadeias peptídicas da queratina. o ca&:íver. e outras, incluindo N. germanicus, podem encerrá-
1 alimencar, mas somente se sua descendência e3tiver pronca para três vezes maior do que seu tamanho normal; o inrestino mé-
Algumas enzimas hidrolícicas se encarregam, então, dos resí- lo até 20 cm de profundidade. Durante a escavação, é prová- iniciar o estágio de pupa, quando os adultos ,1brem caminho dio de Hirond,lla se expande para encher quase roda a cavida-
duos. Os fungos da família Onygenaceae são consumidores vel o dparecirnc:nto de: oucros besouros emerradores. Os indl- através do solo e se afastam voando. de abdominal, onde pode ser armazenado o alimenco.
YÍduos compc:tidores da mesma espécie ou de outras espJcies Conforme já mencionado, nos
sio \·igorosamence repelidos, o que às vezes provoca a mom~ ambiences de água doce, ;1 carniça não
de um dos combatemes. Por outro lado, um possível p.tr é apresenta uma foun.1 especializada. No '.1.:} Conclusão
100 encanto, são encontrados especial1scas
aLc:Íto e, enc.io. o macho e J fêmea trabalham em conjunto.
Decomposição completa.
O corpo é'nrerrado é muim menos suscetí\·el ao atJqut
1 consumidores de carniçJ no fundo marinho. rus p.uces muito As comunidades de decompositores, em sua composição e ati-
!
..
verão e outono
i:o 80 por outros invercebrados do que se permanecesse sobre .1 ,;u- profundJs dos oceanos. ,~ medid.1 que os detr1tm \Ubmergem vidade. são rã.o ou mais diversas do que quaJquer umd das co-
perftcle Jl) '.-.O!o. Em cerras circunscâncias. é proporcion.1J.1 Jtravés dJ igua profunda, excetuJndo .ts parríu1L1s maiores. munidades mais comumenre esrndadas pelos ecólogos. Fazer
roda a lllJtén..1 org.inica é decompo)ca .une~ dc> ...:heg,u .10 fun-
5 60
Verão e outono
unu proteção .1Jicional pd.1 relaçlo mutualísrica entre os bc--
souros:: uma espécie de ácaro, Poecilochirw necrophori. Ne3sa do. Por oucro lado, ocas1onalmenre, o corpo ,.ic: um peixe. de
generalizações sobre elas é exrrem..1.menre difícil. pois a gama
de condições experimentadas em suas vidas é muiro vari;ida.
,'l Inverno e pnmavera
o rd.tçáo. o ica.ro infes[a os besouros e, assim, t: cranspon.1Jo um mamífero ou de: um inverrebrado grande: ,e Jc:posir;.1. no Como em todas as comunidades na rurais, os habitdntes nJo só
~ 40
~ par:i urn.1 fonre de carniça .1dequad:.1. Quando a carcaça é c:n- fundo do m..1r. Embora com densidades baix.1s, i..i a1sre uma r~m demandas especializadas de recursos e cond1çõc:s, mascam-
E ccrr:1J.1, o besouro elimina si~[ematicJ.mence os pêlos, e isco a diversilbdt'. significativa de consumidores de c.irn1ça, dotados bém suas atividades alteram os recursos e as condições dispo-
lÜ 20 de várias característi~as ajustadas a um ripo de viJJ. em que os
li\'n de ,·irrua1s ovos de mosca-varejeira. Encrecanco, se a c.ir- níveis para outros. A maioria desses acontecimenrns é o..:uluda
caç.1 é e:mc"rra.da apenas superficialmente, as moKas ovopo,i- alimenros são bem-disrribuídos no espaço e 1w tempo. Dahl da vista do observador, nas fendas e reentrâncias do solo e dJ
ram mais. e .1s suas larvas comperirão com as larvas do besou- 0 979), por exemplo. descreveu v:irios gênt'í(h Je crusdceos serrapilheira, bem como nas profundezas do~ corpos de :igua.
'º 153
Tempo (dias)
20
ro. É neste momc=nro que a presença de ácaros tem um d~itO gamarídeos das profunde1..as marinhJs que:, diferc'ntementc: dos A despeim dessas dificuldades, podem ser escabelecidas
henéfico. Os .i.caros penetram e consomem os ovos <las mos~ sc:us parentc:s das a'.guas menos profunJJ.s e d.b iguas doces, algumas generalizações:
c.1,. o que: nuncém a carcaça livr<:: dos competidores do besou- possuem densos feixes de pêlos quimiossensori.1i) rxposcos, pJra
FIGURA 11.17 Taxa de eliminação de cadáveres de pequenos mamí-
feros na zona rural de Oxfordshire (Remo Umdo). em dois periodos. ro e" mdhou acentuadamente o sucesso reproduror deste {\Vil- localiz..u o alimento, e mandíbulas afiddJs, que ~loJeni dilace- l. Os decompositores e derrirívoros rendem a cerníveis de
verão-outono e inverno-primavera {segundo Putman, 1983). son, i 91)6). Os progeniwres, ou às vezes apenas as fCmc:.1s. rar grandes pedaços de carniça. Esses :.111im.1is c.i.mbém rêm a acividade baixos quando JS cemperJmras s.'io baixas. a

l
346 PARTE 2 - INTERAÇôES

aeração é pobre, .1 água é escassa no solo e as condições fungos) e derrirívoros (animais consumidores de matéria rnor-
são ácidas. ta). Estes não concrolam a taxa com quem seus recursm são
2. A estrutura e ..1 porosidade do ambiente (solo ou serrapi- disponibilizados ou regenerados; eles dependem da taxa com
lheira) são de importância decisiva, não só porque .1fecam que uma OLHra força (senescência, dot'.nÇJ, qued.1 das folh.1.s)
os farores mencionados no ponto l, mas também porque libere o recurso do quJI eles vivem. Eles são doadores contro-
muiros dos organismos responsjveis pela decornposiçlo pre- lados. Todavia, é pos:.ívd obsnvar um d""eiro "mucualist.1" in-
cisam n.idar, arrastar-se, crescer ou abrir caminho no meio dirern, por meio da liberaçJ.o de: nucrie1ues dJ serrapilheira
em que seus recursos estão dispersos. em decomposição, que pode .iferar a uxJ. com que as án·ores
3. As arividades dm decomposicores e dos derricívoros são produzem mais serrapilheira.
intimameme rdacionad,1s e em alguns casos podem ser si- A imobifiwção ocorre quando um nutriente inorg:wico
nérgicas. Por essa razão, é muito difícil revebr sua impor- é incorporado em uma forma orgânic.1 - em especial duunre
tância rdariva nu processo de decomposiçJo. o crescimenro de plantas verdes. De modo contrário, ,l de-
4. Muirns dos decomposirores e decrirívoros são especialisc.is, composição envolve a liber.1ç.l0 de energia e a 111inerafiz.rtçiio
e a decomposição de mJcéria orgânica morra resu!u das de nurriemes qulmicos - umJ. conversão de elemenms de uma
atividades combirudas de orgJnismos com escrumras, for- form,l orgânica para uma inorg;inica. A decomposição é defi-
m.1.s e h.íbito\ .1limenures muito diferente.'!. nida como a desimegraç.l.o gr.1Jual Je m.uéri.1 org:rnica mor{J
5. A sub.<ir,i.nci.is org,lnicas podem exibir ucl.1.gem repetidJ arra- e é eferuadJ por agemes físicos e químicos. F.l.i culmin.1 fre-
Yés de uma :-.uces.'iJ.o de micru-hJ:biurs, dentro e fora <los in- qüenrememe após uma suct:S);ÍO mais ou 1uenos previskd de
1'.2. ·1 Introdução: parasitas, patógenos, e:,,pécies Je p.1rasitos. Além disso, muitos p.trJsirm e p.uógenm
te<;tlrlO) e das rt.7.es de organismos diferentes. à medida que decomposicores colonizadores. com moléLul,1s complex.1\ ri-
infecção e doença e:...:ibem unu especificidade de hospedc:iro ou, a.o meno.'i, ré-m
são degra&1das desde esrrururas altamente orga11izadas até seu cas em energia sendo decomposcas em dióxido Je carbono, uma. gama limirada de ho~pedeiros. Portanto, ine\·irJvelmen-
destino finaJ como dióx.ido de carbono e nutríemes minera_js_ No C,1pírulo 9, definimos um pJrasiro como um organismo re, conclui-se que mais de )()q1o das espécies e muim nuis de
jgua e nurrienres inorgâ.nicos.
que obtém seus nutrientes de um ou de muito poucos indi\'Í- 50°16 do.s indivíduos sobre .t superfície terrestres.lo p,ua.'iito.\.
6. A atividade dos decompositores libera os recursos mine- iv1uicos decomposirores microbi,rnm são bem especiJli-
rais. como o fosforo e o nitrogênio, que estão fixados na duos hospedeiros, normalmente provocando dano, mas sem
zados, como os minúsculos consumidores de bactérias e fun-
mJ.téria orgânica mona. A velocidade da decomposição camar morre imediata. Neste capírnlo, abordaremos esse tema
gos (microbívoros). mas os detricívoros com freqüência s;lo
determinará a r.ixa com que são liberJ.dos cais recursos par.i generalisras. QuJnrn maior o derrirívoro, menor a sua cap.1o.:i-
com aJgumas outras definições, un1J vez que há muitos termos 12.2 A diversidade de parasitas
as plantas em cre.<icimenm (ou se rornam livres para difun- frequenremence mal-empregados, o que é importante evirar.
dade de disringuir encre micróbios como alimentos e o deu iw
dir-se e, assim. serem perdidos no ecossisrema). Esse tópi- Quando os parasims colonizam um hospedeiro, diz-se A linguagem e os termos especializados usados pelos ficopac,J-
sobre o qual estes estão crescendo. Discutimos os papéis icl.i-
co será esmdado no Capítulo 18. que este abriga uma inftcçtlo. Somenre se a infecção ocasiona logistas e pelos z.oopatologistas sâo, com freqüênciJ, rnui:o
civos de decomposicores e derricívoros n.t decomposiçáo em
7. 1Vfuiros recursos morros são distribuídos irregularmente no .'iÍntomas claramente prejudiciais ao hospedeiro pode-.'le dizer diferenres. Exisrem também diferenças importante~ nos mn-
ambientes rerresrres. de água doce e marinhos.
que este rem uma doenç,1. Para muitos parasicos, existe a supo- dos como os animais e as planras servem de hábirac para parasicus
espaço e no tempo. No processo de colonização, opera um A caxa com que a macériJ orgânica morra se decompÓL' t'
sição de que o hospedeiro possa .sofrer algum d.1no, mas, como e como eles respondem à infecção. Porém, para os ecólogos, JS
elememo de JC1~0; o primeiro a chegar dispõe de um re- muito dependente da sua composição hioquímica e da di\po-
:únd.1 não foi identificado qualquer sincomJ e.<ipecífico, não dit"erenças são menos significuivas do que as ~emelhanças e. por
curso rico para explorar, mas a espécie melhor sucedida nihilidade de nurrienres minerais no ambiente. Os dois prin-
hJ doençJ.. Patógcno é o termo que pode ser aplicado a qu.1!- es,;;e motivo, os dois remas serão esrudados juncos. No encanw,
pode variar de uma pilha de excremenrns para omr.1, e de cipais componentes d.e folhas e madeira morras são a celulose
quer parasito que provoca uma doença (ou sejJ., ele é "parogê- uma discinçâo adequada é aquela enrre microparasitos e macro-
um cadáver para ourro. A dinâmica da competição entre e a lignina. E,;;ras são respon.dveis por constderávei'i proble-
nico"). Desse modo, .'larampo e ruberculose sJo doenças infec- parasirns (Figura 12.1) (M,,)" e Anderson, 1979).
exploradores desse mosaico de recursos necessita de mode- mas digestivos de: animais comumidore,;, muitos dos quai\ -;J.o
ciosas (combin,1ções de sinromas re.sulranres de infecções). O Os 111icropnrasitos .'iá.O pequenos,
los matemáticos específicos (ver Capírnlo 8). Uma vez que incapazes de produzir a maquinaria enzimiric1 para decom-
sarampo é o resultado de umJ. infecção vir.ti; a tuberculose é o com freqüência, inrracelul.irc:s e se mui- ~:crooar3s1tos e
o derriro c.om frey_uênci.1 é LHTld "ilha" em um mar de hábi- pô-las. A m.1ioria dos deuicívoros deper1t.i.e de organi.\nll>S
resulu<lo de urna infecção hacceri:1na (A/ycoh,1ctcrium tuber- ri plicam diretamente dentro do seu hm- rna.c~op2.~2.s1tos
cacs complecamenre <li.\tinro.\, seu escudo é conceicualrnenre microhianos para di~erir celulose. em um;i varieJade de ,1,\ü-
mlosú). O vírm do sarampo e AI. wbacufo1Ú são patógenos. pedeiro, onde muitas vezes são exrrem,1-
.'iemelhance ao discutido no C.1pírulo 21 no tópico d.t bio- ciações progressi\·,1menre íntinus. Os decririvoros lidam 111.1is
geografia de tlh:b (ver Seção 21.5). Os pJr:1.s1ros comtirnem um grupo importa.me de org.rnis- meme numerosos. Portanto. em geral é dificil e inapropri.1do e,-
factlmence com fruros niorcos
8. Por fim, ulvez ~ep instrutivo não enfarinr o êxim com que o.;; mos r\1ilhões de pessoas morrem anua.lmeme por cauSJ. de dit'e- tinur o número de micropar.1siros em um hospedeiro. O nllrm:-
A:-. fezes e .1 carniç;i s:-iu rc"cursos org.inicos morro,;
decomposicorc\ e os decricívoros explor.un seu . . recurso-.;. Afi- r::-nces tipm de infecç;"io. e muito~ ourrm milhões ficam debilira- ro de ho:,,pcdeirü.'i inft'crados, em \·ez do número de parasims, C: o
,1bund,rntes em rodos os ambientes e. mais ._uma \"el, o, or-
d.1~ ou defornudJ..S (aru.Umenre, 250 milhót's de ca~os <le elefan- par:'unerro comumenre esrud.1do. O e.'itudo <le umJ. epidemi.1 de
nal de com:1.',, foi :1 inCJpaodade dos org:rnismos pJra decom- gJnisrnos microhi.ino.'i e derritíYoros Jesempenha.m p.1p(·1)
por a madeir;i que mmou possível a ex, . . cência de floresras! Os tÍJ.'ie, mais de 200 milhões de casos Je esquistossorníase, e a !isca '.->.trampa, por exemplo, envokerá d contagem do número de c.-
imporranres. 1\tuicos decrirívoro.<i se ;i\imencJm Je fezt''>, e
depósitos <le cmfa, dt.: carvão e de pecrúleo s.lo outros teste- os excremenro:,, <le herbívoros (mas não Je carnívoros) \ll'.>-
v.1i ad1ame). Se: forem .tLrescenrados os efeims dos pJ.rasiros sobre sm d.1 doenç,1. e não o número de p.trrícul.is do vírus p.uogt'nl..:o.
munhos dessas deficiências de decompmição. m animais domésricos e o.<i cultivm, o cw.co cm termos de sofri- Os macroparasitos rêm uma biologia compleumc:nte Ji,-
tenram sua própri:1 fauna caracterísrica. De maneirJ Jn:i!n-
mento humano e perdas econômic..1s rorna-~e imenso. Evidente- rinra: eles crescem, n1.1s não se mulciplium no inrerior dJ
ga, muirns carnívoros são comurnidores oporrunisras de cu-
mente, os seres humanm faciliram .t J.Ç:iO dos parasicos ao vive~ ho,;;pedeiro. e depois produzem estágios infeccio.\u'i espc:ci.1!1-
niça, mas existe rambém um.1 f.rnn,l especializad.1 no urn-
rem em populações densas e agregJdas e ao imporem o mesmo zados (os microparasims nJ.o ,1gem desu maneir.1), que s:io
sumo de carniça.
cornporramenro aos animais domesticados e às plantas cultiva- lib~rados flJra infectar novo.\ hospedeiros. Os rnacmpara,;;1ros
Em sua. composição e acividades, :1s comunidades de de>
das. Uma das questões-chave que abordaremos nesre capírulo é; dos animais vivem principalmenre sobre o corpo ou em c1n-

l
Discinguimos dois grupos de organismos que ucilizam macé- composirores são cão ou mais diversas do que qualquer umJ
riJ orgânica moru (saprócrofos): decomposirores (bactérias e '';m~ que ponto .is populações animai~ e vegerais são em geral afe- dades do corpo (p. ex., no tmesrino) e n.io d.entro de célul.is
das comunidades mais comumeme eswd.1dJs pdos ecólogo:-.
radJ_, por parasitismo e doença"~ Jo ho.<,pedc:iro. >!os vegetais, eles .'ião normJlmence intercdu-
! Os p.1ra.'iirns são numericamente importantes. Em um 1.ires. Em geral. é possívd conrar ou, ao menos, e<;tim.1r o nl1-

""h''"" """'"·é'"" "m "'S'"''"'" 0"' """ ,büg"' sfoas m,m d,"""""""''"'"'""""" mh" ""' h o , e , ~
348 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E DOENÇA 349

ex., os vermes no intestino ou a~ lesões sobre uma folha.). O Algun~ \"etüres s:l.o J.pe11Js nansporrJdores, nus muirns são 12.2.1 Microparasitos vida indiretos. As cênias, por exemplo, são parasicos intesti-
epidemiologisca podi: estudar tJnco o número de parasitos rambCm hospedeiros intc-rmediários. no incerior do~ qu.1is o nais no estágio adulco que absorvem nutrientes do hospedeiro
quando o número de hospedeiros int"ecrados. par.1.:::,irn cri..:~...:e e/ou Se" multiplica. Na verd.1de, os parasims É provável que os microparasitos mais óbvios sejam as bac[érias e diretamenre através de sua parede corporal e proliferam ovos
Além da discinção enrrc: micro- com (idos de vida indirecos podem ir além da simples discin. os vírus que infectam os animais (corno o virllS do sarampo e a que são evacuados nas fezes do hospedeiro. Os estágios larvais
parasims e macroparasims, os parasi- ção entre micropJr.1sicos e 111.tcroparasicos. Os parasiros d.1 es. bactéria do [ifo) e as plancas (p. ex., os virus do mosaico amarelo prosseguem em um ou dois hospedeiros intermediários, antes
d:reto e :r.d ·-2;:i
ros podem ser subdivididos naqueles qui~cos~omüsc: pass.1m pJrce do seu ciclo de vida dencro de eh becerraba e do comate, e a doença bacteri.rnJ denominada ga- que o hospedeiro definicivo (nesses casos, o homem) seja rein-
cransmiridos diretamente de hospedei- um molw.co e p.1m: no imerior de um ,·errebr1do (em alguns lha da coroa). Outro grupo imporrante de micropJ.r;isicos que fectado. Os esquisrnssomos, como vimos, infectam alcernada-
ro para hospedeiro e nos que necessium de um vemr ou hos- casos. o homc"m). No molusco, o par.1sito se multiplica e, as- :ifecam os anima.is é o dos prornzoários (p. ex., os rripanossomos mente moluscos e vertebrados. A esquiscossomíase humana
pedeiro intermediário para a transmisSJ.o e, por isso, possuem sim, ~e com~1ort.1 como um rnicrop.lrJsico; no n:rtebrado in- que causam a doença do sono e as espécies de Pl,umodium causa- afeta a parede intestinal. onde os ovos ficam alojados, e tam-
um ciclo de Yida indireto. O termo '"vetor" refere-se a um ani- fe...:r.1do. o p.1r:lsirn cresce e produz ovos, mas não se mulripli- doras da maLíria). Em hospedeiros vegecais, alguns dos fungos bém afera os vasos sangüíneos do fígado e dos pulmões, se os
mJI que rransporca um par:1sito de um hospedeiro para outro. c.i. com~1orundo-5e. dc,,se modo, como um nucropJr.1siro. mais simples se comporram como microparasicos. ovos ficarem igualmence retidos neles. Os nemacódeos da fila-
A transmissão de um microparasiro de um hospedeiro ríase são parasitas humanos de vida longa, que necessicam de
para outro, em alguns casos, pode ser quJ.se insc~rntâ.nea, como um período de desenvolvimenrn larval no interior de um in·
(a)
em doenças venéreas. além dos agemes infecciosos de vida curca seto sugador de sangue. Wucheria bancrofti causa a filaríase de
rransporcJdos pelas gotículas de água da tosse e <lo espirro (gri- Bancrofr pela acumulação de adulcos no si~tema linfático (o
pe, sJ.rampo, ecc.). Em outras e~p~cic:~. o p.trJ.sim podt: p~1s~ar por que conduz trJdicionalmente, mJs apenJ.s em raros casos à
um longo período de dormC:nci.1. ··esperando" pur .;;eu novo hos- elefanríase). As larvas (microfilárias) sJo liber.1das no sangue e
pedeiro. Este é o caso da ingestão de alimento ou água conrami- ingeridas por mosquitos, que também as cransmirem de volta
nados com o promwário Entamoeba hiJro(ytica, que c.msa a di- ao hospedeiro mais desenvolvidas e infecciosas. Um outro ne-
senteria amebiana, e do parasito vegetal Plumodwphom bra.mCae, matódc"o da filaríase, Onchocerca vofvulw, que provoca a "ceguei-
4uc: causa a ''doença da raiz deformada'' de crucíft:r.IS. ra dos rios'', é transmitido por borrachudos adultos (cujas !JIYas
De modo alternativo, um microparasico pode depender de vivem em rios - por isso o nome da doença). Nesce caso, todavia,
um vetor para a sua dispersão. Os dois grupos economicJJTiente são as microfilárias que causam o dano mais grave, quando são
mais imponantes de procozoários cransmicidm por um vetor e liberadas no cecido cucâneo e chegam acé os olhos.
que parasitam animais são os cripanossomos. rransmitidos por Além desses, existem piolhos, pulgas, carrapatos, ácaros
diferentes vecores, incluindo as moscas tsetsé ( CioH11u1 spp.). cau- e alguns fungos que acacam animais. Os piolhos passam rodos
sJdoras da doença do sono em humanos, e a na~an:1., em animais os estágios do seu ciclo de vida sobre seu hospedeiro (um ma-
domésticos (e sel\'agens); e as diferences espécie; de Plzsmodium, mífero ou uma ave), e a transmissão geralmente ocorre por
transmitidas pelo mosquito anófele e cJ.usadoras da malária. Em comam físico direto entre hospedeiros individuais, muitas ve-
:1mbos os casos, os insecos amam como hospedeiros incermediá- zes enrre a mãe e a prole. As pulgas, ao contrário, ovoposi[am
rlos, ou seja, o pamsico se multiplica no seu interior. e passam seus estágios larvais na "casa" (em geral o ninho) do
Muitas viroses vegetais são transmitidas por afídeos (pul- seu hospedeiro (novamente, um mamífero ou uma ave). O
gões). Em algum:is espécies "não·persi~cences'' (p. ex., o vírus adulto emergence se fixa, após, a um novo hospedeiro, com
do mosaico da couve-flor), o vírus é viável no vetor em cerca freqüência saltando e percorrendo distâncias consideráveis.
de apenas uma hora e com freqüência ,;;ó ~ cr.1mporcado sobre Os macroparasiros de plantas incluem os fungos supe-
a~ peças bucais do afídeo. Em ourr.lS e~pécic:s "c1rcuLrnces" (p. riores causadores dos mofas e das ferrugens, os inseros forma-
ex .. o vírus da necrose amarela dJ alface), o \·íru:i pac'.l~J do 111- dores de galhas e os minadores, bem como algumas plantas
tc:scino do afídeo parJ. seu sistema círcubcório e de li p.ua suas floríferas que:: parasitam outras pbncas.
gljnJulas salivares. Aqui. há um pcríodu LHentc antes que o A cransmissão direta é comum entre os fungos macropa-
\·i:wr se come infeccioso. nus depois pcrm.rnece neste escada rasicos de plancas. Por exemplo, no desenvol\'imento do míl-
por um período longo. Finalmencc:. e\.1,tc.'.in m virus "propaga- dio em uma lavoura de trigo. a infecç:i.o implica o concaco
ri\w," (p. ex., o \'Írm do c:nroLimenw d.1 fo\lu J.1 b.HJ.r.1), que entre um esporo (geralmente dispersado pelo venco) e um:1
se muhip\i(J.m dc:ntro d.o afídc.:o. Os \ erme, nt:macódeos ram- superfície foliar. Em seguida, ocorre a penecraçâo do fungo
bém sjo vetores comuns de virose, vegeuts nas células do hospedeiro ou nos seus espaços inrerceluhres.
onde começa a crescer, corrundo-se, por fim, aparente, comv
uma lesão do cecido alcerado do hospedeiro. Essa fase de inva-
FIGURA 12.1 M1croparas1tos e macroparasitos de vegetais e am-
12.2.2 Macroparasitos são e colonização ancecede um escágio infeccioso, em que a
mats. (a) Um microparas1to de animal: partículas do granulovirus lesão amadurece e começa a produzir esporos.
Plod1a mterpunctella (cada um dentro do seu envoltóno protéico) o~ vermes hdmínticos paci.-;íticos são O') pri:1.:1p1is macrop,l- A transmissão indireta de macroparasitos de plancas, via
no interior de uma célula do seu inseto hospedeiro (b) Um micro·
rasirn;'.I do~ animais. ToJo.;; os nema~ôdeus Je humanos são um hospedeiro intermediário, é comum entre os fungos da
parasito de vegetal· ··doença da raiz deformada' de cruciferas. cau·
sada pela mult,phcaçáo de Plasmod1ophora brassicae (c) Um ma· aansmitidos Jiretamence e. c:mre os parJ:Úrns intestinais, CJ.I· ferrugem. No carvão-do-caule, por exc:mplo, J infecçáo é rrJns-
croparas1to de animal· têma (d) Um macroparasito de vegetal: le· vez sejam os nuis imporrJnrc:s, c.J.nto no número de pessoas m icida de uma gramínea anual hospedc"ira (em especial os ce-
s?es pelo mild10 pulverulento {powdery m,ldew) Imagens reprodu·
inf.:ctJ.dJs quanto no seu pocc:ncial de causJ.r danos à saúde. reais cultivados, como o trigo) para a uva-espim (barherry:
z1das com permissão de (a) Dr. Carolme Gnffiths. (b) Holt Stud1os/
Baberis vulgaris) e desca novamente para o trigo. As infecçóes
N_rgel Ca!tl1n (e) Andrew Syred/ Science Photo L1brary; e (d) Geotf
K1dd/Sc1ence Photo L1brary i Exiscem, também, muitos tipo:i de macropJrJsiros J.nimais im-
purunres do ponto Je v1st.1 midico que apre~ent:Jm ciclos de no cereal são policídicas, ou seja, em uma esraçlo os esporos

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1
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1
350 PARTE 2 .. INTERAÇÔES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E ÜOENCA 351

podem inf~c(ar e fornur lesões que liberam esporos, os quais, chamado de parasitismo social), em que os parasnos u,am p~uJsitadas terem maior probabilidade de criar com sucesso ao Os parasicos necrocróficos mascaram a clara discind0
por sua vez. infecum outros cereais. Essa fase de imensa mul- os operários de uma espécie, em ger.11 aparentada. p.u.1 criar menos algumJ pane de su.1 própria prole. entre parasites, predadores e .<.aprótrofos (ver Seção \ 1.'~ ).
riplicação do p.tr,1sito é respons:ível pdos surtos epidêmicos ,ua própria progênie (ChoudhJry et ai., 1994). Esse fenóme- Enue os parasicos de prole, evo- Como a morte do hospedeiro freqüencemc::nce é inevitávd e às
da doença. Por outro !ado, B. vu!gans ê um arbusro perene, e no é melhor conhecido encre .is .1ves. luíram rel.ições polimórficas com o vezes bastante rápida, os parasirns necrotróficos s;lü verd.idei-
a ferrugem persisce no seu interior. Porunrn, essas plamas in- As aves parasicos de prole põem hospedeiro -alrameme específicas. Por ramence predadores e, uma vez que o hospedeiro está morco.
fecradas podem sef\'tr corno focos persisremes para a disper- seus ovos nos ninhos de outras aves exemplo, o cuco Cucufus canorum pa- eles são saprótrofos. Porém, enquanrn o hospedeiro esriver vi\O,
-'>âo dJ frrrugem em bvouras de cereais . (Figura 12.2), m quais sáo incubados r~1siCJ muicas espécies de hospedeiros diferemes, mas exiscem m necroparasiros parrilham muic.is carac(erísricas com outros
._ Em algumas famílias vegetais, e criJdos por estJs. Em geral, elas re- di ... rinus cepas dencro das espécies de cucos. As fêmeas de uma ripas de parasirn.
existem espicies que se especi:lizam duzem o sucesso reprodutor do hospedeiro. O par~1süismo de cepa escolhem apenas uma espécie hospedeira e põem os ovos Par~1 um parasico biocróhco, J morre do seu hospedeiro sig-
como parasiros de omras pl.mras flo- prole intm-e:Jpecífico parece ser muim comum entre m p,HOS. que se ajusram complecamence à cor e às marcas dos ovos do ni~ica o final da sua vida ati\·~1. Os parasirns, na sua maioria, s;l.o
ríferas. Ne'.:lse grupo, distinguem-se Emretanro, a maior parce do p.1rasitismo de prole é mterc,peci- hospedeiro preferido. Assim, as fêmeas de cuco exibem uma biotróficos. A mosca-varejeira de ovinos, Lucilia cuprina, enrre-
dois ripas bem diferemes. Os holvpanwtOJ, como a cuscuca /ica. Cerca de l 'ró de rndas as espécies de aves sJ.o .par;1sicos de níridJ diferenciação encre as cepas yuamo ao seu DNA miro- ramo, é um necropc1.ra.sico sobre um hospedeiro animal. A mosca
( Cltscutd spp.). carecem de clorofila e dependem roulmeme -prole, incluindo aproximadameme soq;i das espécies de cucos, con.Jrial, que é passado some me de fêmea para fêmea, mas não ovoposica sobre o hospedeiro vivo, e as larvas consomem sua cJr-
da plJnra hospe<leir.1 p,1r;1 o seu suprimemo de água, de nu- dois gêneros de temilhôes, cinco espécies de mo!ocros (cowú1rds; ~m loci ''micnhs,uélitc" dencro do DNA nuclear, que contém ne e podem mará-lo. As larvas cominuam J explorar a cuc;1~a
rriemcs e de c.trbono t!xado. Por ou(ro Lido, os honipanwtos, ,'vfofoLthn,i ssp.) e uma e)pécie de p.ito (P,1yne. 1977). Em ge- 111.Hl.°rial dos genitore.<, paremos, os quais nâo rescringem cru- Jpós a morte, nus J.gora eL1s s.J.o derricívor.1s, e não para.sirns ou
como ,l) erv.i,-Jc-~1.1.,,.u inho (l>/101i1,,zdendrol! spp.). realil,llll r,1\, d.1s põem um ürnco ovo no ninho do ho:-.peJeiro ~ pollcm ZJ!ll(nt0s denc10 d:i m,t própri;t cep,1 (Gibbs tttlÍ., 2000). Pun- predadores. Entre os necropJ.rasitos de plantJs, encontram-,e
,l focossinre,;e, m,h 11,lo possuem LtÍLes ou esr.1s são pouco de- aimtar o c.imanho <l.1 ninlud,1 desre d1mi1undo um do-. .-.eus ncn ( 1933) . . ugeriu que Í.<,:-.O é pos)ível porque os genes con- muiws que aracam o esdgiu vulner,ívd de pl.inrula e causam o
)c11volvid.1s. Eles :::.e umt·ce;un u>m .1s raízes ou os caules de ovm. O parasito em de~envolvimenro pode.. desalojar o:::. ovos croL1dores da moldagem dos ovos estão .)icuados no cromosso- seu "apodrecimento". BonJ1wjàbi é um rípico necrop:.1rasico fon-
outras espécies e rcriL1m do ho:-.pedeiro roda ou a maior p.irre ou tllhmes do hospedeiro e preju<lic.1r J!guns ~obrevivc:mes, mo\\,,~ porrado apen,1s por fêmeas. (Oiferenremenre dos ma- gico de pi.me.IS. Ele se desenvolve 11.1s folhas da fava, Viciit foba, e
da igua e dos nucriemes minerais de que necessir.1m. monopolizando o cuidado paremo. Ponanro, m parasito~ de miíúos, nas aves, as ft'.meas são o sexo heterogamécico.) Isso maca suas células, em geral .rnres de penerrar nelas. Sobre as fo-
prole potencialmente exercem profundos e.feitos sobre a dinâ- foi Jemonscrado recememenre, embora no chapim-real, Pa- Jh,15 e as v.1gens se formam pomos e manchJS de tecidos morms.
mica de populações da espécie hospedeir,L Concudo, a frequên- i"W majm; que não é uma espécie de parasirn de prole (Gosler O fi.mgo cominua a se desenvolver como um decomposicor, for-
12.2.3 Parasitismo de prole e parasitismo social cia de ninhos parasicados é normalmence muito baixa (interior et ai .. 2000). As fêmeas produzem ovos que se assemelham aos mando e dispersando esporos a parrir do tecido morro, mas nJ.o
a 3g,o). e, nesse sentido, Ltck ( 1963) concluiu que "o cL11._·o é de ~uas mães e .1vós macemas (de quem elas herdaram seu cro- enquamo o tecido hospedeiro estiver vivo.
A. primeir.1 visca. um,1 seção :,,obre cucos, nesre capírnlo, unu causa quase desprezível de perdas de O\"OS e filhote.-; na musmmo W), mas n.lo aos de stus avós paternas. Narural- Os necroparasi ros. em sua
pareceria fora de propó)ito. Em ger.tl. um hospedeiro e seu reprodução de aves na Inglaterra". Toda\"ÍJ, algum sin,t! d.1 menre, se as femeas de cucos produzem ovos parecidos com os maioria, podem, portamo. ser consi-
parasito provêm de grupos sistem~icicos muito distances (ma- 1mpon~tnci.i potencial de pJrasicos de prole se manifesr.t no d.1 espécie com a qual elas foram criadas, é necessário também derados saprótrofos pioneiros. Esses
míferos e hacréri.,:,,, peixes e rt'.nias, pla11cas e vírus). O p,1- farn <le as pegas (fim pica), em popul.1ções que coexiscem com qui.: d,L<; ponham ovos. inevicavdmente ou ao menos preferen- organismos têm vamagem sobre seus
rtlfitismo dt' prole, ,W conrr:írio, ocorre entre espécies inci- os grandes cucos manchados ( Cfamator gl,111dariw), nJ Euro- cialmente, nos ninhos daquela espécie. É mais provável que isso comperidores porque podem maur o hospedeiro (ou partes
mameme aparenrJ<la:-. e Jté entre membros da mesma espé- pa. invesrirem seu esforço reprodutivo n.t produção de quami- )ej,I o resulcado da "impressão" inicial (ou seja, uma prefCrência dele) e, desca nuneira, ser os primeiros a ter acesso aos recur-
cie. Apesar disrn, o fenômeno enquadr.1-se muito bem na dades bem maiores de O\'Os (no emanro, menores cm L1m.1- Jprcndida) dermo do ninho (Teuschl ct ai., 1998). so, do corpo morro. A resposta do hospedeiro aos necropar.t-
ddlniçáo de paras1ri::.mo (um p,1rasito de prole "obcém seus nho) do que JS que vi\"em livres de p,nasicismo de prole siws nunca é muito sotisricadJ.. Fnrre os hospedeiros vegetai::.,
nuuiences de um ou poucos hospedeiros. normalmente crn- (Solc::s et ttÍ., 2001). A suposic;.áo de:: que isso sep um.1 re)- a resposta mais comum é o desprendimenrn das folhas infec-
.s.rndo d.1no, nus n.lo ,1 morre imediara"). O p,trJsitismo de posca evoluciva às perd.1s sofrid.1s moti\"ada) pelos cucos é -.u.<.- , '.'.'.l Hospi:!deiros como nábitats tadas ou :1 formaçJ.o de barreiras especializad.1s que isolam d.
prole é bem de.;;c!l\ oh·ido em Ínseros sociais (às vezes, é cencada pelo fato de .1s pegJ.<. que produ?em nuiores ninlud.ts infecção. As hacaras, por exemplo, formam crosras subserosJs
A ditúença essencial entre J ecologia de parasiros e a de orga- sobre J superfície do wbérculo. que isolam as infecções pro-
nismos de vida li\'re é que os háhicJrs dos parasicos são vivos. vocadas por ~ctmomJ1as scahúf.
l'm hábitat vi\O é capaz d..- crescer (em nllmero e/ou rama-
nhol; ele é potencialmencc reativo, ou seja, pode responder
a:i{l,nnenre à. presenç.1 de um p.ua.<.1rn mudando sua n.uureza, 12.3.2 Especificidade ao hospedeiro: gamas de
1ie:::.erl\"olYen<lo reaçõe~ imunológicas ao pua~irn, digerindo- hospedeiros e zoonoses
º· i~olando-o ou ,1pri,1on,111do-o: ele é c1p,12 de evoluir; e, no
..:,1s0 de muitos parasiros animai,. de é móvel e pos.rni padrões Nos capítulos sobre JS interações entre predadores e :,,ua pre.<.,1 •

i Jc movimento que afec:im dr;isric.1menre :J dispersão (rrans-


r:,issJ.o) de um hospedeiro hahit,Í\Tl p.1ra mHro.
vimos que freql.lenremenre existe um alrn grau de especiali7.1-
çJ.o Je uma espécie de predador em uma espécie de pres,1 (mo-

i notàgi.1). :-\ especi.tliza<yio de par.1sitos em u111.t ou pouyuís.'i-


nus espécies hospedeiras é aindJ mais surprei.:ndente. P.tr.1
i 12.3.1 Parasitos biotróficos e parasitos qu.ilquer t'.spécie de parasiro (sejJ uma tên1.1. um vírus, :1m
necrotróficos protozo.írio ou um fungo), os hospedeiros pvct:nciais repre-
1
sencam umJ parre diminm,1 da flor.1 e da fauna disponí,eis. A
A respo.<.ca mais óbvia Je um hospedeiro a um parasim é a sua grande maioria dos oucros organismos é roralmente incapal
morre. Na verd.1dc::, é possívd e.)tabelecer unu discinçáo entre de :iervir cumo hospedeiro: muius vezes, nJ.o sahemos por que.
FIGURA 12.2 Um cuco no ninho Repro-
auz1da com permissão de FLPA/Mart1n B o~ p<1rasitos qut: maCJ.m e cominu.tm a viver sobre o hospedei- Con(udo. cxisrem alguns padrões par,l es.s.1 especificid.1-
Withers ro marco (pamiitos necrornyicos ou neaopt1rt1sitos) e aqueles de. Parece, por exemplo, qw.: quanro mais ínrima ..1 associJçJo
par J os quais o hosped:::iro deve esr.u vivo (p,m1Jif()j biotróficos). do parasiro com um hospedeiro particular, maior é ,1 probabi-
1

_1__
352 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E DOENÇA 353

!idade de que ele fique rescrim a esta única espécie de hospe· narurais. Nos EUA, populações de marmotas (Cynomysspp.), tam- 12.3.4 Hospedeiros como ambientes reativos: dentro do hospedeiro e desencadeiam uma force resposta
deiro. Assim, por exemplo, os piolhos das aves, que passam bém roedores, sáo regularmente aniquiladas por epidemias de resistência, recuperação e imunidade imunológica. As resposcas imunológicas desencadeadas por
suas vidas sobre um hospedeiro, exploram uma.única espécie peste, o que se mrnou um cópico imporcame em conservação. muitos dos macroparasirns e protozoários microparasirns.
de hospedeiro, e as moscas do piolho, que se movimenram Porém, exiscem também outras espécies, de parentesco discante Toda reação de um organismo à pre- ao contrário, cendem a ser mais fracas. Por isso, as infec-
acivamence de um hospedeiro para oucro, podem utilizar vá- com os hospedeiros narurais, nas quais a peste não-cratada é em sença de outro depende da sua capaci- ções cendem a ser persistentes, e os hospedeiros podem es-
rias espécies de hospedeiros (Tabela 12. 1). geral, e rapidamente, facal. Encre estas. estáa os humanos. A razão dade de reconhecer a diferença entre o que é "próprio" e o que tar sujeicos à reinfecção repetida.
O estabelecimenco dos limites do de cal padrão de virulência diferencial ocorrer tão freqüentemen- ·'não é próprio". Nos invertebrados, populações de células fa- Na verdade, as respostas a mi-
hospedeiro de um parasico, emrecanco, te (baixa virulência no hospedeiro coevoluído, elevada virulência gocíticas são responsáveis por grande pane da resposta de um croparasicos e helmincos parecem
nem sempre é tão direco como se pode em alguns hospedeiros náo-aparencados, mas incapazes mesmo hospedeiro aos invasores, mesmo que sejam partículas inami- muitas vezes ser dominadas por rocas
imaginar. As espécies fora dos limites do de causar uma infecção em outros) é uma imporrame questão nadas. Nos insecos, os hemóciros (células da hemolinfa) iso- diferences denuo do siscema imuno-
hospedeiro são relativamente de f.icil ca- não-resolvida na biologia hospedeiro-pacógeno. O tema da coevo- lam o macerial infeccioso por meio de uma variedade de rocas, lógico (Mac Donald n ai., 2002). Es-
raccerização: os parasitas não padem causar uma infecção no in· luçáo hospedeiro-patógeno é abordado novamenre na Seção 12.8. especialmente a encapsulação. Essas respostas são acompanha- sas rocas podem exercer regulação mútua: a infecção por hel-
rerio, delas. Porém, pata aquelas dentro dos limites, a resposca dJs pela produção de alguns composros solúveis no sistema minro pode, portanto, aumentar a probabilidade de infecção
pode variar de uma patologia grave, seguida de morce, até uma humoral. os quais reconhecem e respondem ao nuterial não-- microparasítica e vice-versa (Behnke et ai., 2001 ). Assim, por
intêcçlo sem simomas claros. É mais comum a ocorrencia de 12.3.3 A especificidade de hábitats dentro dos próprio, sendo que alguns também operam na barreira. do inces- exemplo, o uacamenco bem-sucedido de infecções por vc:r-
hospt:deiro '"n~uural" de um parasito, ou sejJ., aquele com o qual hospedeiros tino médio na auSc:ncia de hemócitos (SiYa-JQ[hy t't aL 2001). mes, em pacientes que foram tambt:rn inf~ctados com H[V
c:scc: cocvolui e cuja infecção é :i..ssintomácica. Nos hospedeiros Em vercebr.1dos. !d também provoca umJ. queda significativa na carga virai do HIV (Wol-
"acidentais". a infêcçáo provoca uma pamlogia freqüencemence A maiortJ <los parasicos é cambém espec'-3.\iuda em \·in-::r uma resposta fagocírica ao m.1.ceri.d day et ai., 2002).
fatal. ("Acidemal" é um rermo apropriado nesse caso, pois esses apenas em pJrtes específicas do seu hospedeiro. Os parasi- que não é próprio, ma.s seu "arsenal'' A estrutura modular das plantas,
hospedeiros com freqüência são cerminais e morrem tão logo a tes da mal.íria vivem nos ericrócitos de vercebrados. Os é representado por um proct:sso mui- a presença de paredes celulares e a au-
infecção se escabdece, de forma que o pacógeno não pode evoluir parasito~ <lo gênero Theilaia, de bovinos, ovinos e capri- to mais elaborado: a resposca imunológica (Figura l 2.3). sência de um verdadeiro sistema circulatório (como o do san-
com eles e. portanm, náo pode adapcar-se a eles.) nos, YiYem nos linfócitos e nas células epiceliais e, mais tar- Para a ecologia de parasitas, uma resposta imunológica pos- gue ou da linfa) transformam em proteção ineficiente qual-
Esses cernas têm imporcância não de, nas células da glândula salivar do carrapato, que é o sui duas características vitais: {i) pode permitir que um quer forma de resposca imunológica. Em vegetais, não há po·
apenas parasicológica, mas cambém mé- vecor da doença.. entre outros exemplos. hospedeiro se recupere de uma infecção; e (ii) pode dar a pulação migratória de fagócims que possa ser mobilizada para
dica, no caso de infecções ZfJOnótictlS'. in- Por meio de cransplance de pa- um hospedeiro infectado uma "memória" que muda sua enfrencar os invasores. No encanto, existe uma evidência cres-
fecções que circulam nacuralmente eco- rasirns de umJ. pane do corpo do hos- reJ.ção se o parasito atacar novamente, ou seja. o hospedei- cente de que as plantas superiores possuem siscemas comple-
evoluíram em uma ou mais espécies de pedeiro para oucra, é possível demons- ro fica imune à reinfecção. Em mamíferos. a transmissão xos de defesa conrra parasicos. Essas defesas são classificadas
vida selvagem, mas que também apte- trar que muiros parasitas vivem nos Jc imunoglobulinas para os descendentes pode, às vezes, como constirucivas - barreiras físicas ou biológicas contra or-
sencam um efeim pamlógico em humanos. Bons exemplos disso hábiCJ.ts-.1lvo. Quando os vermes ne- escender a proteção à geração seguinre. ganismos invasores, as quais escáo presentes independememence
são a pesce bubônica e a pneumónica - doenças humanas causa- matódeos (JVippostrongylw brasiliemis) Para a maioria das infecções virais e b.1ccerianas de da presença do parasito - ou induzidas, que surgem em resposta
das pela bactéria Ytninia pestis. Esca espécie de baccéria circula foram cra.nsportados do jejuno para as partes anterior e posce- \"C:rtebrados, J. colonização do hospedeiro é um episódio ao araque do parógeno (Ryan e Jagendorf, 1995; Ryan et ai..
mturalmente em populações de algumas espécies de roedores sel- rior do inrestino delgado derams, eles migraram de volta para o breve e transitório na sua vida. Os para~iros -~t: multiplicam 1995 ). Após a planta ter sobrevivido a um ataque patogênico,
vagens: por exemplo, no gerbo (Rhombomy, opi111,s) nos desercos seu hibirn original (Alphey, 1970). Em outros casos, a procura
da Ásia Central, e. provavelmente, em populações de cacos-can- de hábicats pode envolver crescimenrn, em vez de movimento
gurus (D1podomys spp.) em hábitats similares no sudoeste dos corpora.!. Por exemplo, o carvão-nu-do-crigo (o fungo Usúlago
EUA. (Ressalte-se que pouco é conhecido sobre a ecologia de Y n·itici) infecta os õtigmas expostos das flores do rrigo e logo cres-
Natural {"não-especifico··) Adaptativo
pew~ nos EUA, a.pesar da sua nacurez.a. comum e ameaça püCen- ce, fornundo um sistema filamentoso que se estende até o int~-
cial [ver Biggins e Kosoy. 200 l J.) Nestas espécies, os sinmmas são rior do emhrião jo\'em. O crescimemo cominua na plântula, t.' n FIGURA 12.3. A resposta imunológica. O
Bloco Neutralização do
mecanismo mediador da resistência à infec-
poucos ou inex.iscem na mJioria dos casos de infecção. Encrecan- micélio acompanha o ritmo de crescimenm do caule. Por fim. o Use (bacténas) bloco de entrada (toxina)
ção pode ser d1vid1do em ~natural" ou "não-
co. existem outras espé:cies em que a infecção por Y pestis t! devas-
tadorJ. Algumas desras são pa.remes próximos dos hospedeiros
fungo cre,;cc: rapid.uneme no interior das flore,; em desen\'oh-i- lnte~eron
L1soz1ma
"
V 1 r u s /rCom--ple-...,--,~/• A!waçao
í especilico" (à esquerda) e ~adaptativo~ (à
direita), cada qual composto de elementos
mento, conn:rtendo-.1s em massas de esporos. 0 0
celulares (metade inferior) e elementos hu·
Algumas _________ /--- • \ \ \e 0c,a morais (isto é. hvres no soro ou fluidos cor-
bactenas // J ~óc porais. metade superior). A resposta adap-
- • \ 1. tativa começa quando o sistema imunolog1-
TABELA 12.1 Especialização de ectoparasitos que se ahmentarn de aves e mar.1deros (segundo Price, 1980) ~ Inflamação - - ~ .. -t-'_[,,.' co é estimulado por um antígeno que é ab-
Porcentagem de espécies restrrtas a ~ aguda~/,( sorvido e processado por um macrófago
(MAC). O antigene é uma parte do parasi-
Número de 2 ou 3 Mais do que 3 to. como uma molécula superficial. O antí-
Nome cientifico Nome popular e estilo de vida espeCtes hospede,ro hospedeiros hospedeiros
~~@;t geno processado é apresentado aos hnfó-
c1tos Te 8. Os hnfóc1tos T respondem esh-
Ph1lopteridae

Strebhdae
Piolho das aves (passam a vida
inteira sobre um hospedeiro)
Moscas sugadoras de sangue
122

135
87

56
11

35
Algumas~"'..,

bactena;-; ~~- • T'Q'> v1rus etc) mulando variados clones de células. alguns
dos quais são ci!otôxicos (NK. natural k1//er
cells - célutas assassinas naturais). e outros
(parasitam morcegos) cronica,.·+r \ estimulam os linfócitos 8 a produzir anhcor-
Oestridae Mosca-pica-boi (fêmeas voam de
um hospedeiro para outro)
53 49 26 25 , "
Fagocitose
" ,.
C•toloxicidade
pos. O parasito que porta o antígeno pode
Hystrichopsyllidae agora ser atacado de diferentes maneiras
Pulgas (saltam de um hospedeiro 172 37 29 34
PMN = polymorphonuclear neutrophil (neu-
para outro) Tecidos Células miefoides Linfocitos
Htppoboscidae trófr!o polimortonuclear} (segundo P1ayfa1r,
Moscas do piolho (são altamente móveis) 46 17 24 59
1 1996)

l
1
354 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12 PARASITISMO E DOE!>;ÇA 355

a parcir dela pode ser desencadeada uma "resiscéncia siscemá- nam se um indivíduo ainda expressa uma cena suscetibilidade
cica adquirida" a ataques subseqüenres. Por exemplo, planras ou adquiriu imunidade à infecção. (g)
do tabaco, com infecção foliar pelo vírus do mosaico do taba- Para um.a população, essas diferenças individtllis def[.

~
(f~
co, podem produzir lesões localizadas que restringem a área nem a sua esrrucura, em termos do número de indivíduos nas
da infecçáo. EssJs pl:tnras se rnrnam resistentes a novas infec- diferemes classes. Ivluíms modelos nucemáticos da dinâmicJ
ções, não só pelo mesmo vírus, mas tJmbém por outros para- hospedeiro-pacógeno, por exemplo, são referidos como mo-
siros. Em alguns casos, o processo implica a produção de "eh- delos 5-I-R, pois seguem os números muráveis de indivíduos
citinas", que foram purificadas, mostrando que induzem res- suscetíveis, infecciosos e recupera<lm (e imunes) na popub-
(h} O} (1)
postas defensivas vigorosas por parte do hospedeiro (Yu, 1995). çâo. As variaçóes em nível populaclonal são, porcanco. cru-
P.ira a comprttns.í.o de tod.15 as res-
posras defensivas de hospedeiros a para-
sitos, é fundamenraJ acreditar que cais
respostas têm um custo - que a energia
e a matéria invesmb.'> na resposra. precisam ser desviadas de ourras
imporcames ti..rnções do corpo - e que, portanto, deve h.iver um:.1
compem:1ção (tr,,dl'-o/F) emre a respo,[.1 e oucros aspectos da
ciJis na moldagem das caracrerísricas no âmago d.1 ecologia
no que diz respeito às distribuições e abundâncias do org.mis-
mo. A panir da Seção 12.4.2 retomaremos essas que!)tóes rd.1-
civas ao comportamento epidêmico.

12.3.6 Mudanças no crescimento e no


comportamento induzidas por parasitos
(l '

hi::.tóri.1 <.k viJd: qu.1mo m.ús é 1m·e::.cido em um. unro menos (m} (n} (o} (p} (q} (s}

pode ser investido no::. ourros. Em \·enebr.idos, a evidência de~J. Alguns para.sitos induzem uma nov.1 mudatlÇJ prognzmad,., nci •:t:

~i;r
\ ~... ~ ~ - j

abord.1gem é revi~ta por Lochmiller e Derenberg (2000), que ilus- desenvolvimento do hospedeiro. Os in'>etos agromizídeos, ci.:ci-
tram, por exemplo, u preço energético (em rermos de um au-
menco na taxa ,rn::rabólica em repüuso) p.igo por muicm verre-
domiídeos e cinipídeos, formadores de galh.is em plantas supe-
riore~. são exemplos noc.íveis. Os insews ovoposicam no cc..:ciJn
t~-~;:,
brados para esrabdecer uma resposta imunológica (Tabela 12.2). hospedeiro. que responde por meio de um novo crescimento. A,
galhas produzidJ.S resulcam de uma respostJ. morfogenética., com-
pleramenre difereme de quaJquer esrrurura que a plama co .. rnmJ ~IGURA 12.4 Galhas em carvalhos (Quercus petraea, O. robur, O. pubescens ou O. cems). formadas por vespas do gênero Andncus. Cada
12.3.5 As conseqüências da reação do produzir. A simples presença do ovo do parasito, por um cc.:rw figura mostra uma se~ão a traves de uma ga!ha induzida por uma espécie diferente de Andricus. As áreas escuras eoi ondas representa 11 o
1ec1do da galha. e as areas centrais mais claras são as cavidades que contém a larva do inseto (de Stone e Cook, 1998)
hospedeiro: S-1-R período, pode ser suficience para di.::sencadea.r, no tecido ho~pe-
deiro, uma seqüência morfogenérica, que continua mesmo Se' .1
As variações nos mecanismos utili1..1dos por diferenres tipos larva em dest::rwolvimemo é ri.::movida. Entre os formJdore::. de.:
de organismos no combare à infecção são, obviamente, im- galhas qut:: atacam carvalhm (Quercw spp.), ca.dd um prmw.:.1 1111naJos até .1 boc.1. As vezes, o comportamento de hospedei- -:oncr.1do em muiras monoculrur.ts \·eget.1is sujeiras i1 crm-
porrances para medicas, veterinários e parasitologistas. Elas uma única resposta morfogenérica do hospedeiro (figura 12.-1). ros infecc.1dos parece maximizar .1 chance de o parasito chegar pecição inrra-específic1 (\·er Seç:io 5.5.1).
são também imporcames para ecólogos que trabalham com Os fungos e nematódeos parasi- J um hospedeiro secundúio ou \·eror. Foram observados indi- Encretanto, <10 menm em inverce-
sistemas especiai::., em que é essencial o entendimemo d.1 cos de planras rambém podem induzir \·íduos de louva-a-deus se deslocando até a beira de um rio e brc1.dos, de\·emos ser cautelosos .10 incer-
biologia geral. Porém, da per::.pecriv,1 de um panorama eco- respostas morfogenéticas, como uma grande ampliaçJ.o ce!u- Jp,1remememe ~e jogando nek em um minuto dentro d.1 jouJ, prerarmos cai.'> resulrados simplesmente
lógico, para os ho,pedeiros. as conseqüências dessas res- l:ir, a formação de nódulos e outras "deformações". Após a in- um verme górdio ( (JOrdiw) emerge do à nus do lou\"a-a-d~us. -:omo uma conseqüência da competição
postJ'i sdo mais 1mporranres. tanto em nível de organismo fecção pda bactéria Agrobacteriurn wmefaciew, o tecido d,t ~·l· E.. se \erme é um p.uasim de insi.::ros rerre~rre, m;H depende de inrrJ-específicJ. por recursm limir.1dus. uma \"t'Z que J inremid.t-
quanto de pop11l.1çJo. Em primeiro lugar, essas resposras lha pode ser exrraido do hospedeiro. que, embora n.lo com1.·- urn hospedeiro aquirico parJ um.1 pane do si:u ciclo de "ida. de da re1çâo imunológicJ dici.1d.1 do própno hospedeiro depen-
determinam onde o, indivíduos se situam no espectro: desde nh.1 o p;;1,rJsito, já mudou seu novo padrão de comporume11ru P,1rece que o hospedeiro infecr.1do desem·o!ve un1.1 hidrofilia de ripicameme d.1 abund.i.nc_i.1 de para... icos. Unu rar.1 renr.uiva
"totalmente suscctí\·eis" até '·roralmente resísremes" e, um.1 morfogenétJCO e cominua produzindo tecido de ga!h.1. :'-ies<;c l\Ut' g:1.rame .w para'.'>ito chegar ao hibirat aqu.irico. O, indi\"1- de sep.ir.u esses doi:. efeirn, urilizou a disponihílid,H.ie de r.tto'>
vez infectados, dt:sde mortos por infecção Jté assinrnmári- caso, o p,1rasito induziu uma rramformaçâo genéC1ca das 1..élu- dum de !mi\ .1-.H.--feu . . que.: er:1m resgatados rerorn.1v.1m ctrJ J. mutantes desprovidos de um,1 resposta inrnnolôgic.1 ef('.riva i P.1-
cm. Segundo, n() c.irn de vercebr.l<los, as respostas <letermi- las do hospedeiro. Alguns fungos pMasíricos rambém ··.1..,)u- O,:i1·.1 do rio e 'il' jog.1\·am nele 110\'.lmente. ierson e \'iney, 2002). E::.::.e) ram .. - junumeme com outros. nor-
mem o controle" d.1 sua plant.1 hospedeira. castrando-a ou L"'>fé'- m.lÍ'> komrnk) - tliram :,ubmetido, :t inFec~.l.o e:,.;pnimL"m,11 c:,111
riliz.ando-,l. O fungo Ep1d1/oc rvp/,init, que parasit.l gr~uníne.1, .. ,, 11m nenLH(Kit-o Stm11gyloid·, 1,!rtt. :,egundo unu gr.1d.1\°:J.U de: t!o-
TABELA 12.2 Custos cr.erget1cos estimados (aumento percentual na impede de tlorescer e de produzir .<,t::memes - a gr.1míneJ se [r,rns,- 12.3.7 Competição dentro dos hospedeiros .,e::.. Qu.1lyué'1 reduç,i.o 110 desempL"nho do p.tr.1:,irn cJu:,ad.1 pcLi
taxa metabólica em repouso, em relação aos controles) para d1feren· dose nos rato~ normais poderi.1 ser atribuídJ à competição inr,:i-
forma em um '"eunut.o" vegerativamenre vigoroso, produ1indo
tes vertebrados, ao estabelecerem uma resposta ,munológ1ca a uma
gama de "'desafios· que induzem tal resposta (segundo Lochmiller e descendentes <lo par:1siw, mas n.io seus próprios de:-.cendenrc5. l_;nu vez que os ho,pedeiros s:i.o as espeófiu e/ou .1 unu respo . . u imunológic:1 que .wmenta com .1
Oerenberg. 2000) A m.1ioria da::. re~postas de orga- m,rnclus de hábiur::. par.1 seus para- dose; nos r.Hm mutantes, obvi,m1eme, ape11.1 ....1 primeir.1 dd.t., e.:
Espec,e Desafio imunológ,co Custo(º{,) nismos modulares :10s p,1rJ.sicos (e J siros, nJ.o é surpre\,J que comperi- possí\·d. De faro. não se observou r-:'spmu nos r.tms mm.rnte,
outros esdmulos ambientais) envolve çoes inrrJ-e~pecífic1 e inrerespecífica, ob<;ervadas em ou- ( Figur.1 12.6), indicando que nessas dosô. que eram similar(':-, :1s
Homem Sepsia 30
Seps1a e dano 57 mudanças no crescimento e ru form.1. tLb e~pécies ~m ourros 11.lbiut~. umbém podem ::.er \"eri~l- nbserv.t<l.1s n.uur.1lmence. não hou\"e e\"id2:n..:i.1 de comperiçJo
Vacinação t1fó1de 16 Nos organismos unir.írios, porém, a ..:aJ,1\ em parasicos dentro do~ seus hospedeiros. Existem inrr.1-especific.1, e '--JUe o p.idrio obserY.1do no., r.Hos normais re-
Rato Infusão de interceul1na-1 18 resposta dos hospedeiros à infecção implica rruis freqüenrc- mu!rns exemplos dJ queda no desempenho de par.1sicos -"ulca inrc.-iramenre de uma respo ... r.1 i11111nológic.1 dependente J,1
Inflamação 28 mt"nce a mudança de comportJ.menrn, o que muitas vezes .1u- \lenrro de um hospedeiro, reLic1onada ao aumento gc-r,d da densidade. É i.::videnre que 1::.so 1úo signiíiu que mu1c.1 h.i com-
Camundongo ln1eção de hemoc,arnna da 30 menra a chance de transmi,;s.ío do p..ua::.ico. Em hospedeiro, Jbundância de p.ud~1ros, (Figur.1 l~.5a) e do rendimento periç;.ío inrra-específica emre p.1rasiros <lt:nrro Jos hospedi.::iros,
:apa ("'keyhole limpet'") geul de p.1r,hitos alc.1nçando um nível de saturJ.ç:io (Figu- rnas en[1tiza as smilez.1s que surgem quando um Jijbnat de um
infectado<; por vermes. a irnraçio do ânus estimula o aw 1.k

.
Ovelha Endotox1na 1()-49 r.t 12. 5b), reminiscência d:1 '"produção final const.rnt{' en- organi)mo é seu hospedeiro re.uin)
coçar, e os ovos são rr:1.mportados pelos dedos e unhas conr.L-

,-
'
356 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12: PARAsmSMo E DOENÇA 357

nesse efeito (Figura 12.7b). Portamo, a competição encre os dois É narural que espécies diferences
(a) (a)
para.sitos é basrance as.simétrica (como acontece freqüememenre de parasicos sejam rransmiridas de ma- .;; ;-,,:.: r-:::a· J..;;e'"". e.5
1

...,,. 1.<':1 ~ ... 1J. e ::e


300 com competição incerespecífica; ver Seção 8.3.3): J especialisca P. neiras distintas emre os hospedeiros. A
.c:é!::;
10 000 ,uarcticus é uma exploradora mais poderosa do seu hospedeiro distinção mais fundamental talvez seja
~ o
2
à 250
:g (reduzindo-o a densidades mais baixas mediante seu efeiro sobre encre parasiros que são rransmicidos diretamente de hospedeiro
8. e 1.000 a fecundidade) e uma competidora mais forte. A cüc'.xiscência emre para hospedeiro e os que necessiram de um vetor ou hospedeiro

11~
200

20 colonizadoras
ª'
o
e
~
100
as duas espécies ocorre, presumivelmente, porque J mosca-hos-
pedeira proporciona imegralmeme os nichos fundamemal e d"e-
intermediário para sua rransmissão. No primeiro grupo, podería-
mos também disringuir aqudes cuja infecção é por concaro físico
civo de P nearcticttS, enquanto ela fornece apenas pane do nicho entre hospedeiros ou por um ageme infeccioso de vida muito
~ 100 i
a: 10 efecivo de H aoronymphium. curta (expelido na tosse ou no espirro, por exemplo) daqueles
e
~ 50 - 50 colornzado<as cujos hospedeiros são intêccados por agentes infecciosos de vida
2 longa (p. ex., esporos dormentes e persisremes).
100 1.000
o lmoo da incubação Meto da ruô.hcaçao Final da rlldl6caçâo 'º Dose (vermes)
,2.4 Oi;;tribuicão •transmissão) e o:3oersão Pela nossa própria experiência, estamos basranre familiari-
(b) de parasítos 'entre hospecÍeiro3 · zados com a narureza dessas distinções encrc: parógenos de ani-
(b)

r 500 12.4.1 Transmissão


ma.is, mas, na essência, os mesmos padrões se aplicam às plamas.
Por c:xemplo, muic.1s doenças causadas por fungos de solo são

i
.g
400
Janzen ( 1968) desracou que poderia-
rransmiridas de uma pia.ma hospedeira para oucra por contaras
de raízes ou pelo crescimento do fungo através do solo, a partir de
300 " mas, de maneira proveicosa, pensar em uma bao;e escabelecida sobre uma planra que fornece a ele os re-

o
200 ·i
~ 0,1
hospedeiros como ilhas colonizadas cursos para aracar ourra. O fungo cor de mel (Armi/laria me/1,a)
~ por parasiros. Usando esse mesmo vocibul:irio, cal idéia colo- se propaga pelo solo como um cordão "rizomorfo" e pode infec-
~ 100
"' cou a relação enue hospedeiro e parasiro no mc:smo campo de tar um ourro hospedeiro (geralmenre uma árvore ou arbusro le-
~ 1 2 escudo da biogeografia de ilhas de MacArthur e Wilson ( 1967) nhoso) quando encontra suas raízes. Em comunidades nacural-
Níveis de 111lecção (ver Seção 21.5). Um ser humano colonizado pelo parasito da mence diversas, cal expansão é relarivameme lema, mas, quando
malária, nesse sencido, é uma ilha ou mancha habitada. As as plantas ocorrem como "continenres" de comaros comínuos, J
0,01 10
FIGURA 12.5 Respostas dependentes da densidade de parasites 100 1 000 ch:1.nces de um mosquito vecor uansporcar um parasim de um infecção tem muito mais oportunidades para se propagar. Para as
dentro dos seus hospedeiros. (a) Relação entre o número de pulgas Dose (vermes)
hospedeiro a outro corresponde às disrâncias varíáveis enrre doenças dispersadas pelo vemo, os focos de infecção podem se
Ceratophyllus galfinae (~colonizadoras~) acrescentadas aos ninhos do
chap,m-azul e o número de descendentes por pulga (média ± erro- ilhas diferences. Assim, as populações de parJ.siros )áo manci- estabelecer a grandes distâncias da origem; mas a taxa com que
padrão). Quanto maior a densidade. menor é a taxa reprodutiva das FIGURA 12.6 As respostas imunológ1cas do hospedetro são neces- das por uma colonização conrínua de novas m,incha) de hos- uma epidemia se desenvolve localmente depende muito da dis-
pulgas. Esse d1ferenc1al aumentou a partir de uma estimativa feita no sárias para a dependência da densidade, em rnfecçôes do rato com o
nematódeo Strongyloides ratti. (a) O rend1mento reprodutivo geral pedeiros à medida que as manchas amigas infectadJs (hospe- tância emre os indivíduos. Para os propágulos dispersados pelo
1nic10 da incubação dos ovos do chapim-azul. até o frnal da nidifica-
ção (segundo Tripet e Richner. 1999). (b) O peso médio de vermes aumenta de acordo com a dose inicial em ratos mutantes sem uma deiros) morrem ou se rornam imunes a nov.ts infecções. A vemo (esporos. grãos de pólen e sementes), é caracrerísrico que a
por camundongo infectado alcança uma "produção final constante~. resposta imunológica ( ..J =1nc~nação não difere significativamente de população de parasicos no rodo é uma "metapopulação" (ver disrribuição alcançada pela dispersão seja, em geral, basrame "lep-
após uma infecção dehberada (em diferentes niveis) com a tênia Hy- 1 ), mas com uma resposta imunológ1ca ( ) ela é quase independen-
te da dose 1nic1al. ou seja, ele está regulado {inclinação = 0.15, sign1-
Seção 6.9). com cada hospedeiro suscencando um:1 subpopu- rocúrrica": poucos propágulos percorrem uma distância muico
menolepis microstoma (segundo Moss, 1971).
f1cahvamente inferior a 1. P < 0.001) (b) A sobrevivência é indepen- laçáo desse total. grande, e a maioria é depositada próximo à origem.
dente da dose 1nic1al em ratos mutantes sem uma resposta imunolo-
gica ( j = inclinação não d1fere s1gniflcativamente de O), mas com
uma resposta 1munológ1ca ( ) ela declina (inclinação= - 0.62, sign1-
Vimos, no Capirulo 8. que a. diferenciação de nicho e. ficat1vamente 1nfenor a O, P< 0,001) (segundo Paterson e Vmey. 2002)
principalmeme, as espécies com maior efeito sobre suas pró- (a)

.
(b)
pri.ts populações do que sobre as de competidores porenciais i.§_ 0.4

'.!
29 13 11
\e simJm no centro da nos'.'ia compreensão da coexistência de :\lgunu e,·idência de competição
compecidore\. Vimos umbt'm que os p.u,tsicos geralmemc '-e'
c-,peciJlizam em loc.lis ou recido) especiJis denrro dos ~em
inccre\pec!fl ....1 entre p:uJSiros, md;nÚ.
pron:111 ,Je um e. . rndo de du.is espécie:\
E
0.3
~21
~lo
"";~

l j
!. =t 40 11 46
40

~"S

1llL I'; 1
hospedeiros, sugerindo ampla oporrunidade de diferenciação de nem.trodeo~. f/01ct1rtfolir 11oro11_ym- ~ 0.2 .
30 83
Je nicho Em vercehr.tdos, ao menos, .1 ..-specificidade da. res- phr11n1,: R11,lJ1t:, le11chus 11earaiors, que infect:im a mosca-da-frm.1 1l "
10,1
1

posu 1munolôgica ~ignific.i que cada parasico tende a cer seu Dm..-opl,,-l; l"t'Cl:"1/í (Perlman e j:it"nike. 200 l ). Dessas duas espé- ~ 20
ití! 1
m1ior efeito .1dverso sobre suas próprias populações. Por ou- cies, P 11M1-rricu)· é urna especi,ilisc:1, encontrada apenas em D.
~
>-
.• z" 10

200
:
400 800
tro lado, muiros parJsims rêm recidos do hospedeiro e recur- rean,. e f-f aoro11ymphium é generalista. capaz de infectar uma
VenT1es-mães por mosca Tratamento
sos em comum, e é facil observar que a presença de unu espé- ganu de: i:spe"cies de Droiophilz. Além disso, !! ne,ffcti~-ui .ite{.l
cie de p:.1c1sim p,..1de tornar um hospedeiro menos vulnerável prohmd.Hncncc: o seu hospedeiro, esterilizando J.S fêmeas, e H
FIGURA 12.7 (a) Tamanho médio~ erro-padr.3o (mm 2 . área da secção longitudinal) de vermes-mães de HowarduJa aoronymph,um em hospe·
.10 ataque <le um:1 seguncb. espécie (p. ex., como resulcado de ,wro1~1-111phn1111 p.uece reduzir a fecundidade do hospedeiro cm de1ros de uma semana. Orosoph1/a recens, em infecções simples e mistas. O tamanho é um bom índice de fecundidade de H. aoronymphium
n:sposu.s induzidJs em planras) ou mais vulnerivel (simples- ~omente o..erc.1 de 2)% (embora ism ji repre~c:nte uma redução Os hospedeiros continham um. dois ou três verme-;.mães de Howardula aoronymph1um: estes foram criados em uma dieta contaminada com
mence por cau:-..l do estado de debilidade do hospedeiro). De dr.isrtcJ. t1() de:iempenhu do hospedeiro). É ca.mbém :1parence 4ue. H aoronymph,um (barras escuras) ou em intecçàes mistas (H. aoronymph,um e Paras,tylenchus nearcr,cus. barras claras). O tamanho (fecun-
didade) frn consistentemente ma,s baixo e~ 1r.lecç6es mistas (b) Número de descendentes de P nearct,cus (isto é. fecundidade) ~ erro
moJo gerJI. não e'. surpresa que a ecologia dJ competição de en4uJrHn H ,wronymphiwn é profundamente Jfeuda por !! ne- padrão. em infecções simples (barras escuras) e rr1stas !barras claras) Os números acima das barras indicam os tamanhos das amostras de
pJ.n~itos dcnrro de hmpedeiros sej.l um rema com muir:is q ucs· act:011. quando ,is duas coexistem demro do mesmo hospedeiro moscas: os números dos tratamentos se referem ~os números de nematódeos acrescentados â dieta A fecundidade não foi reduzida em
cões 11-lo-resolv1d,1~ em inr".:1..çóes nperimenrais (Figura l2.7J.), náo hi reciprociJade infecções mistas (segundo Pertman e Jaenike, 200;)

l
358 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO l 2: PARASITISMO E DOENÇA 359

12.4.2 Dinâmica da transmissão a taxa de produção de novas infecções Em segundo lugar, p.5./. e regular, de modo que os suscetíveis estão sujeiros mais ou me-
= e. p. 5. (f!N) ( 12.2) p'.S./!1Y são cada vez mais reconheci- nos à mesma probabilidade de contato com um indivíduo in-
A dinâmica da transmissão, em um sen(ido bem real, é a força dJs (p. ex., McCallum ct ai., 2001) feccioso, 1/N. No enranw, a realidade é que, em um.t popula-
propulsora por rrás Ja dinâmica de:: populaçôeS de patógenos, Precisamos renrar incerprerar e e //!v' sucessivamente. como referência - em relação às quais exemplos reais de rrans- ção, há hot spots de infrcçlo - onde !!1V é elevada - e zon,1s
mas muitas veze~ eLi é o aspecro sobre o qual dispomos de iniss.io poderiam ser medidos, em vei. de descricores exaros da correspondentes sem tensões. Porranro, a transmissão frequen-
menos dados (comp·Jrando com a fecundidade de parasiros din,imica - ou talvez como extremidades de um especrro ao remente origina ondas espaciais de infecção que pas.<,am por
ou a taxa de mortalidade de hospedeiros infecr,dos). No en- 12.4.3 Taxas de contato: transmissão longo do qual termos reais de transmissão pudessem ser reuni- uma população (p. ex., Figura 12.9), e não simplesmenrc umJ
ranro, podemos traçar um quadro dos princípios fundamen- dependente da densidade e da freqüência p
do,. Por exemplo, a aplicaçáo do rermo 5\/1· J dinâmica de devação geral na infecção atribuída a um termo de trJnsmis-
tais da dinámica da transmissáo (Beson et ai., 2002). .i rr.111smissáo dJ infecção por granu!ovírus em larvas da mJ.ripo- são global como PSI. Isso ilustra um ponto de carácer mai;1
A tJxa de produção de novas infecções em uma popu- Para a maioriJ das infecções, muitas vezes se aceitJ que J ra.xa sa P!odit1 interpunctcl!a revelou que o melhor ajuste não foi a geral na modelagem, a saber, o preço pago pelo realismo dimi-
lação, resulcanre dct cransmissão, depende da taxa de trans- de concaco e aumenra em proporção à densidJde da popula- ··pur1" transmissão dependente da densidade, ~SI, mas a rwído, quando um processo complexo é reduzido a um termo
missão pn capir,1 (raxa de cransmissão por hospedeiro- "alvo" ção, N!A, em que A é a áte.1 ocupadJ pela popvlaçáo, i,to é, p-5 11 ~/U-t (Figura 12.8). Em ourra.s palavras, J transmissão foi simples (como PSI). Comudo, como veremos (e já vimos e111
::,uscetível) e do número de hospedeiros suscetíveis exisren- quanro mais densa a população, canto mais hospedeiro\ en- m.lior do que o esperado (expoente superior a 1) em <lensida- ourros conrexms), sem esses termos simples para nos ajudar, .<,eria
rc.-s {que podemos chamJr de 5). Por suJ n:z, a taxa de crans- tram em contato enrre si (ou vetores contatam com hospedei- de5 mais ele,,adas de hospedeiros suscetíveis. provavelmente impossível o progresso na compreensão de processos complexos.
missJ.o per capu,1 ~ gerJlmente proporcio11JI, primeiro, à ros). Admitindo, para simplificJr, que íl permane<;,I comun- porque ncssJ.s densidades os hospedeiros tiveram menos ali-
ux.1 de com,Ho, /.:, L·i1t1e hospedeiro:. :iu:.cerívels e n1do que" rc, m .V selo em.lo .'IL1pri111idos d.1 equ.1ç.J.o e rod.1.<, as uu[rJs lllt'IHO, mm·er.1m-se 111.ti.<, e conseguiram mai, rnarc:ric1I int"ec-

rran . . porrc a int~cç:Jo. Ela t.1mbém dcpendc J~1 probabili- consumes podem ser combin.1dc1'.> et11 jo~o. TodJ.n.1, ela foi menor do~ que o c,perado (expoc:ntc 12.4.4 Diversidade de hospedeiros e propagação
dade, p, de que um co1uaro que podena transmitir a infec- um.1. única constante p
(o "codicienre inferior J. 1) t'lll densidades mJÍs eli::vadas de cJ.d..íveres hospe- espacial da doença
çJo, de faco, procede dessa torma. Claramente, esta proba- de transmissão"), e a equação roma-se: dt"iros infecciosos, provavelmente por c.1.usa da grande" diferen-
bilidade" depende do poder infeccioso do parasito, da sus- ÇJ de suscetibilidade entre os hospedeiros, de modo que os CJuJ.nro mais isolados enrre si os hospedeiros estiverem, m.1is
ceribilidade do ho.',pedeiro, C' assim por diante. Juntando a raxa de produção de novJs infecções= í3 S. ! 1 1~.31 mais susceríveis foram infectados, mesmo em densidades bai- remoras são as chances Je um parasirn se propagar en:re
esses três componentes, podemos dizer que: XJS de cadáveres, mas os menos suscetíveis pcrmarn:ceram nJ.o- eles. Talvez não seja surpresa, portanro, que JS principJ.is
Isso é conhecido como transmúsiio dependewe da dewu-1,ult'. int~crados, mesmo com o ,1umenco da densid,lde de cadáveres. epidemias conhecidas em plantas tenham ocorrido em cul-
a taxa de produção de novas infecções = k.p.S ( 12.1) Mudando da taxJ de contato, e, rivos que não são ilhas em um mar de outra vegetação, mas
Por outro lado, para doenças rra.mmitidas .<,exualmenre para o termo !IN, geralmente se su- sim ''continentes" - grandes áreas de cerra ocupadas por
Os detalhes da taxa de contam, há rempo sabe-se que a taxa de contato é consr.rnre: J freqLiên- põe de modo simplificado que isso pode ser baseado em nü- uma única espécie (e muiras vezes por uma única variedade
k,são diferentes para diferentes tipos cia de comaros sexuais é independen- :neros de um.1 popul.tção como um todo. Na realidade, entre- d.1 espécie). Inversamente, a propagaçáo espacial de uma
de cransmi.<,sJo. te da densidade da população. Nesse tamo. a transmissão costuma ocorrer localmenre entre indiví- infecção pode ser diminuída ou mesmo cessada por mistu-
caso, a equaçJ.o coma-se duo\ próximos. Em ourras palavras, o uso de ral termo admire ras de espécies ou variedades susceciveis e resisrences (Figu-
Para parasiros [ransmicidos direumC"nre de hospedeiro para gue rodos os indivíduos de uma população se misturam livre- ra l 2.1 O). Um efeiw um canto semelhante é descriro r1.1
hospedeiro, cornideramos a taxa de contato entre hospe- ,l tJxa de produção de nov.1s infe'.cçôes mente. ou, de maneirJ um pouco mais realista, que a disrri- Seção 22.3.1.1, pata ,l doença de Lyme, nos Estados Uni-
deiros infectados e hospedeiros suscetíveis (não-infectados). = ~·- s. (f!N) ( 12 ~ J huiç.ío dos indivíduos 11.1 populaçáo é aproximadamente dos, onde algumas espécies de hospedeiros incompetentes
• Para hospedeiro:, infectados por agentes infecciosos de vida
longa que sáo i:.olados dos hospedeiros, essa é a ra.xa de em que o coeficiente de transmissJ.o novamente combiru to-
cnmarn entre estes t hospedeiros su<;ceríveis. das as outras consranres, mas, nesse caso, adquire um prim1·,
(a)
• Com parasito:-. rr.rnsmirido" por verore.<,, comider.1mm a p·, porque a combinação de constantes é um pouco diferente. (b)

t,lXa de contam cnrre ho.<,pedeiro e ,·ewr (a '·r~Lxa hospedei-


ro-picador"), e Í'>so determina duru ux;1s de rransmissJo-
cha\·e: de ho.<,pedciros 111Fecr.1dos par.1 \TCUres suscetíveis. e
Je verores infé'cuJos pcua hospedeiros susceríveis.
(sso é conhecido como trt1/Jjm/J's,lo d(·pendcntc dtt freq1ú110,1.
Cada vez mai~. encreranrn, rornou-se ev1dcme que~ in-
correc.1 :1 simples corrc'.>pondCnci.1 admitida encre rr;llblllJ'.',\fo
se:\lIJI e dependência da freqüência., por um lado. e rodo:- Ll)
.•
o
~

~
:'t'º"" ,. ,. O.S

0.4

O yue deterrn1iu, ~1orétn, .1t,lXJ. de (OlltcHO per i-,1pita


cnrre smceríveis e infecudo.<,~ Par;:i .1.genres infeccio.<,OS de
outros ripos de infecção e dependência d.1 dcnsid;ide. pu1 nu·
tro. Por e)l.emplo. quando .1 dependên..:i.1 J.1 demid.1dc t.: .1 ,k-
pendência da freqüência forJm comp.1.rad,t;) como des:;crir,11~'\
.
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""
0.3;
1
0.3
Y"' O. 661x ,.oo,,·

~
viJ.1 long.1. em gt.'r,1l se c1dmice que a 7.1xa de contato é Je- da dinâmica da rr.tnsmissão do vírus dJ. v.1ríob bovin.i. que
tt"rminad.1 essencialmente pela densidade desses agentes. não é transmitido sexualmente, em populJ~·óes n,1tur.1h JL· ilº
()
02~
i
0.2

Para transmissão direta e rran~missáo promovida por vecor, roedores (Clet/,nonotn_J'S g!areo!w). a dependência J;i frequên-
entreumo, a cax.1 de contam precisa ser decompostJ. tam- cia revelou-se superior (Begon t'l ai., 1998). oJ1 0.1

bém em dois componentes. O primeiro é a ra.xa de contaco :\ dependência dJ. freqüência pJrece ser um descr!cnr 1

emre um hospedeiro 1ndivi<lu,d .<,mcecível e todos os outros melhor do que a <lept.>ndência da densidade t.1mhém p.1r.t
muicas infecções (n.'io-sexualmenre trJnsmicidJ.s) de in\eco,
o c!------t- ~~~~~~-----'~~~-'L._____
10 15 20
o_oL--~---.....L_____. L . . ~ ~ ~ . . . L - -
hospedeiros (rr.1nrn11ssJ.o direta) ou codos os vecores; isso
Deris1dade de hospedeiros Densidade de cadaveres 1nfecc1osos
pode ser denominado e. O segundo é, enrão, ,1 proporção (Fenton et aí., 2002). Em tais c.1sos, uma provável expliur.;-Io
desses hospedeiros ou vetores que sJo infecciosos; isso é é que o contaro sexual não é o li nico aspecro comportclmt.'nt.II

_t""'' ' ~" "'


denominado Ili\', em que/ é o nllmero de infectado.), e JY, ara O tjll,tl a ra.xa de contato \",Iria pouco com a den,idalk d.t FIGURA 12.8. A est1mattva do coeficiente de transmissào em densidades diferentes de (a) hospedeiros suscetíveis e {b) cadáveres infecciosos
P dur~nte a transm~ssâo d_e um granulov1rus enrr~ mar:posas. Pfod1a 1nterpunctefla, mostrou um aumento com os primeiros e um decréscimo com
o número total de hospedeiros (ou vetores}. Nossa equação popul.1.çio: muiros comaro:-i sociais, como ,l defes.1 de terrirú- os uH1mos. Isso e contrario às expectativas de transmissão dependente da densidade (um coeficiente aparentemente constante em ambos os
cxp:rndicb é agor.1 cio. P"' c<ecoplo. podem eooo•drn, " ,., "'""" """"'' , <M,c ",, CS~I
360 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E DOENÇA 361

pedeiros se recuperaram. Fica claro, por exemplo. mesmo sem


S9dia (a) dados explícitos sobre a distribuição de parasitos entre os hos-
400
pedeiros, que os parasitos da Figura 12.9, em qualquer mo-
1
~rt
menco, estavam agregados em intensidades altas ao rt:dor dJ.
frente de incidência - mas ausenres ances e depois dela.
;'~) i~ 300

~ f •.
·y~·1 1;
12.5 Efeitos de parasitas na sobrevivência.
•-
t
j 200
no crescimento e na iecundidade de
~ 100
hospedeiros
. ; _.. ~
~·~---~- ~
De acordo com a definição restrita, os parasicos causam dano
º• 10 12 14 16 ao seu hospedeiro. Todavia, nem sempre é fácil demonscrar
esse d_ano, que pode ser dereccávd somence em algum estágio
Tempo (dias)
FIGURA 12.9 D1slnbwção espacial da doença do apodrecimento em uma população de rabanetes (Raphanus sativus) causada pelo fungo
Rh1zocton1a solam. Seguindo o inicio da doença em plantas isoladas (quadrados claros). a epidemia se propaga rapidamente para plantas (O) peculiarmence sensível da história de vida do hospedeiro ou
v1z1nhas (quadrados escuros). resultando em manchas de plantas apodrecidas (imagem a d1re1ta) {cortesia de W. Otten e C A G1tllgan. Cam- sob circunsráncias particulares (Tofr e Karrer. 1990). Na ver-
bndge Un1vers1ty) dade, há exemplos de "parasitos" que se alimentam de um
hospedeiro, mas aparencemence não causam dano. Por exem-
plo, em populações naturais do lagarto sonolenco da Austrá-
na rransmissio de patógenos espiroqueras "diluem" a uans- signifiuci\·.1 nJ sobrevivência de plânculas, I'ythium sp., foi
lia, Tiliqua rugosa, a longevidade não estava correlacionada ou
missáo enrre membros da espécie mJis compereme. isolado delas (Figura 12.1 lc). escava associada posicivamence com sua carga de carrapacos
Na prácica agrícola, cultivares resistentes oferecem um eccoparasicos (Aponomma hydrosauri e Amblyomma limbatum).
desafio para parasirns em evolução: os murantes que podem Não houve evidência que os carrapatos fossem prejudiciais ao
atacar a planta resiscence cêm um ganho imediato em eficácia. 12.4.5 Distribuição de parasitas dentro de hospedeiro (Buli e Burzacott, 1993).
Novas cultivares resistentes à doença, por isso, tendem a ser populações de hospedeiros: agregação Encretanco, exiscem exemplos em que se demonstra um
adotadas de modo amplo na prárica comercial, mas elas fre- efeico danoso de um parasito sobre um hospedeiro. A Tabela
qüencemence sucumbem, quase sempre de forma repentina. a A u;msmiss:io namralmenre origina uma disper~ão sempre mu·
12.3, por exemplo, mostra uma compilação de estudos em
uma raça diference do parógeno. Uma nova cultivar é logo tá,·el de parasiros dentro de uma população de hospedeiros. Po-
que a manipulação experimental das cargas de animais parasi-
usada, e no momenco oportuno emerge uma nova raça de pa- rém. se congelarmos a imagem (ou, mais correcamence, se exami-
cos revelou efeicos na fecundidade ou na sobrevivência dos
rógeno. Esse ciclo de "desenvolvimenrn e fracasso" (boom 1111d narmos o perfil de uma população em um decerminado momen-
hospedeiros. (E. enquanto um efeito na fecundidade pode pa-
bttit) é ri.::petido indefinidamente e mantém o patógeno em rn), ger:i.-se encio a distribuição de parasicos dentro de uma po-
recer menos dráscico do que na mortalidade, isso não é aplica-
uma condição de conrínua evolução, e os firntecnistas, per- pul.içio de hospedeiro. Raramente cais discribuições são alea.tó-
do quando se pensa na morte de números pocencialmente ele-
manentemence ocupados. Uma saida desse ciclo pode ser ob- ri;is. ParJ uma determinada espécie de parasito, é comum que
vados de descendentes.)
tida por uma mistura deliberada de variedades, de modo que muiws hospedeitos abriguem poucos parasicos ou nenhum, e que
Por outro lado, os efeitos de pa-
J. lavoura não é dominada nem por uma raça virulenta do poucos hospedeiros abriguem muitos deles, ou seja, as distribui-
rasitos são muitas vezes mais sutis do
pacógeno, nem por uma forma suscetível &1 própria cultura.. ções em geral são agregadas ou agrupadas (Figur.1 12.12).
que uma simples redução em sobrevi-
F~GURA 12.1 O. Eleito de formas resistentes na d1m1nu1ção da disper-
Na namreza, pode haver um ris- Em rais populações. a densidade
sao de ep1dem1as de apodrecimento causadas pelo fungo Rh1zocto· vência ou fecundidade. Por exemplo,
co particular de dispersão de doença médi.1 de para.sitos {número médio por ma sofani. (a) Progresso de epidemias em populaçóes após a intro-
o papa-mosca~ malhado (Ficedu/11 hypoleuca) migra de uma
de plantas perenes para plántulas Ja hospedeiro) pode ter pouco significado. dução de R. solam em uma população suscetível (rabanete. Rapha-
nus sativus = 4). uma população parcialmente resistente (mostarda, sicuaçáo cropical do oeste da África até a Finlândia pJn se
mesnu espécie crescendo próximo a e\Js. Se esse fosse o ca.'.>() Em uma popul.tção hununa em que S,naps1s alba= :'!) ou uma mistura 50.50 das duas ( ) (b) Uma si- reproduzir, e os machos que chegam antes tém sucesso no aca-
comum, haverll concribuição :t riquaa em e~pécies de comu- .1pe11J . . unu pe . . . . oJ. é infecc.ada. com .tncrJ.Z. J deosiJJde média de mulação mostrando que. quando 40% das plantas em uma popula-
salamenco. Os machos infenJ.dos com TrJ'Pm10sonu1, parJsiro
rnlbdes por impedir o desenvokimento de monoculturas. Isso B.10/!u.,, 1;ahn1áJ co1i....cimi um.1 peça. de inform:.1ção c:speci.Jmen- ção pertencem a uma variedade resistente. a dispersão de uma epi-
demia de apodrecimento pode ser evitada apôs a sua introdução. Oua- do sangue, possuem caudas mJ.is curtas. tendem a cer Jsas me-
c::111 sido chamado de efe1rn J.rnren-Connell. Packer e CIJ\· re se111 uti\id.1Jr.:::. Lm.1 ôtJ.tÍscic.1 m.us .1propri.1J,1, princip,1lm1.:n-
d~ados brancos representam plantas resistentes. quadrados pretos nores e chegam à. Finlândia mais rarde. de modo que presumi
(2001)) reJliz.uam um tescr: completo desse dl"ito e na .1mor;- re p.u.1 microp.1r:i.siws. é a premli11ot1 d.1 infecçJo: .1 proporção sao infectadas e quadrados cinzas são suscetíveis .A. rnfecção pode
velmence acasalam com menor freqüência (Figura 12.13}.
preu, I'nmw )·aot111I1, em uma floresu em lnJúna. Os resul- ou pnrcen[J.gem de uma população hospc:deira que é infecrJda. ser transm1ttda somente para urna planta adjacente (compart1thando
um "lado"). Aqui. a epidemia não tem possib1hdade de longa dispersão Ourro exemplo é propiciado por piolhos que se alimenr.un
cados for1m, primeiro, que a probabilidade de sobrevivência Por outro Ltdo, a infecção pode frequemememe v:1.ria.r em grJ.vi-
(cortesia de W. Otten, J Ludlam e C. A. G1Uigan, Cambridge University). nas penas de aves e são comumence considerados como para-
de plânrnlas foi menor próximo às suas plancas-mãe (Figura d.tde emr:: os indivíduos e muius \ ez.es escá dar::uneme rel.icio-
sitos ''benignos", com pouco ou nenhum efeico no desempe-
12. l lJ); segundo, que foi algo no ~ola próximo 3.s pbnca~- 1udJ .w número de parasims que de'> abrig.1m. O número de
nho dos seus hospedeiros. Entretanto, uma comparaçio a longo
mJ.es que reduziu a sobrevivência (Figura 12. l l b), embou p:trJ . . 1ms em ou sobre um hospedeiro é rd"r:riJo como a imew1dd- duo,;; v.iriam em sua exposição :1 parasirns (\Vilson êt ai., 2002). pr.110 dos efeicos de piolhos em pombos-sdvagem-dos-roche-
isso fosse ap.1.rence 1pcnas em alca. densidade de pl.imulas, e L) d<' J.1 infecç.lo. A mtemidade méditz é, port1mo, o número médio Es[a ülrima siruação é prová,·el de acontecer por causa da dos ( Columbtz lwia) mostrou que os p.1rasicos reduriram a pro-
efeito poderia ser eliminado por esterilizaçá.o do solo. Isto su- de pJ.nsiws por hospedeiro em uma populaçáo (incluindo aque- nacureza local da transmissão e em especial qu.indo os hos- teção cérmica fornecida pelas penas; em conseqüência, as aves
gc:'re que .1 açio patógeno C: ampliada e estendid.1 a outras plânm- les hospedeiros que náo esrio intêccados). Agregações de parJsi- pedeiros são relacivamente imóveis. A infecção, encio, ten- fortemente infectaJas ficaram sujeiras aos cusros de caxas me-
1.ts. devido às densidades alta.s de plânrulas próx.ima.s às planras- ms podem surgir dentro de hospedeiros individuais. porque e~tes de a ser concenrradJ, J.o menos inicialmente. junto à. sua tabólicas mais dev.1das, parJ. mancer suas cemperacuras corpo-
mJe. De faco, foram observJdJS plinculas morlbunJ.J.s com sin- vJ.ri.rn1 t:m m.1 suscecibilidade à infecç.:io (seja devido a facores fome original, e :1 nJ.o ocorrer em indivíduos de .íreas Jin- rais (Booth et ai., t 993), e gastarJm mais cempo na limpeu
comas de:' "apodrecimento .. , e o fi.mgo causador <le uma reduçlo genéciL.os. comportamentais ou arnbienrais) ou porque os indiví- dJ não-infectadas ou onde ji houve ocorrC:ncu ma . . os hos- das penas, para manta a populaç:ío de piolhos sob concrole.

1
362 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E DOENÇA 363

TABELA 12.3 Impacto de diferentes_ parasitas na fecundidade e na sobrev1vênc1a de animais selva~ens_. demonstrado por meio de marni)ula-
(a) (b) (e) ,;ão experimental de carga de parasitas (segundo Tompkins e Begon. 1999, onde as referências ongrna1s podem ser encontradas).

'
100 Hospedeiro Parasito Impacto

~100 Gerbo de Andersen ( Gerbillus anderson,) Synoternus cleopatrae (pulga) Sobrevivência reduzida
500

~ 400
,.
- 90 !· Andorinha norte-americana ( Hirundo rustica)
Andonnha-do-penhasco ( Hirundo pyrrhonota)
Ornithonyssus bursa (ácaro)
Oec,acus v1carius (percevejo)
Fecundidade reduzida
Fecundidade reduzida
~ 80
e ,- Estorninho europeu ( Sturnus vulgans) Oermanyssus gallinae (ácaro) Fecundidade reduzida

.
-
l
.
70
i Ornithonyssus sylvarium (ácaro) Fecundidade reduzida

--
300
i 60 ro 40 Chapim-real (Parus major) Ceratophyllus gallinae (pulga) Fecundidade reduzida
n
e 200 ~"'"'I í Andorinha-de-casa ( Oelichon urbica) Oeciacus h1rundinis (percevejo) Fecundidade reduzida

~ <i : • Densidade alta l


~
Tordo (Margarops fuscatus) Philinus decepttvus (mosca) Fecundidade reduzida
Z 100
1 30
<••·l'üo-eslrizadoj , j
20 Andorinha arroxeada (Progne subis)
Galo-selvagem-vermelho (Lagopus lagopus)
Lebre americana (Lepus americanus)
Dermanyssus prognephilus (âcaro)
Trichostrongylus tenuis (nematódeo)
Fecundidade reduz da
Fecundidade reduz da
00 2ºLP-ro~,,-m-o~~~~~~~-o,-s1Lan~te Obeliscoides cumculi (nematódeo) Sobrevivência reduzida
O- 5- 10- 15- 20- 25--- CIC2,.P1P2P3 Ovelha ( Ovis anes) Teladorsag1a clfcumcmcta (nematódeo) Sobrevivência reduzida
4.99 9.99 14,99 19.99 24 99 30 Oistãnc1a da pfanta-mãe Tratamento
Distância da planta-mãe {m)

FIGURA 12.11 (a) Relaçào entre distância da planta-mãe. estágio inicial de plântula ( J>) e probabdidade de sobrevivência de plântulas ao longo do \"e!:!:eral que cem uma forte' prdt'rénci.1 por 5i~t!icomia em um n1.t- Úursariw) e .10 míldio penugento (Brt111it1 /11cruc.1t), de\·1do ;1
I i.);1u Jo sul dJ Ca!ifOrniJ, ~ a.krn1t'nte LÍ[il 11.1 dt:cermin,1çJ.o do
tempo (linhas trace1adas = após 4 meses ..... = após 16 meses): n = 974 plàntulas sob seis árvores (b) Efeito da d1stânc1a da planta-mãe. da
dois gt:nt'~ fonememe lig.ido:i. Os f..ur.t.sito:i forJm comrol.1-
densidade de plântulas e da esterilização do solo sobre a sobrevivência de plàntulas. quando as plàntulas foram cultivadas em vasos contendo solo
coletado próximo ou distante das suas plantas-mãe Em tratamentos com densidade alia, a sobrevivência foi signif1cativaTente. maior a~os o ~ola resultado Ja compe[ição emre Stl1mmia e oucra.s csp~cies n:ge- <los por aplicações sem.uuis de inseticidas e fungicidas. ~J)
coletado próximo à planta-mãe ter sido esteril!zado. (P< 0,0001 ). (e) Sobrevivência de plântulas em tratamentos controles e com 1nocu!açao patoge- uis dentro de vária.'> zonas desse ambieme (Figura l 2.14). formas re.<.isti:ntes de alface, eles produziram menos gema\ axi-
no (n = 40 por tratamento). Controle 1 (c1) = apenas solo misturado; controle 2 {c2) = 5 ml de meio de cultura fú~g,_ca estéril nco em nutrientes mais
Esses últimos exemplos levam.1m !Jres do que nas suscetíveis (Figura t2.15), e este cusro de
solo misturado: P1. P2 e P3 = trés réplicas de 5 ml com inoculação mais solo misturado. A sobrev1vêncra foi s1gn1f1cat1vamente mais baixa nos
tratamentos com patogeno. em comparação com os controles. após 19 dias (X 2 = 13,8, g.l. = 4, P< 0,05) (segundo Packer e Clay, 2000.) um pomo imponJnte. Os parasiros resistência foi mais acentuado quando as pbncas tiveram um
freqüentemen[e afetam seus hospedei- pobre crescimento por causa da deficiência nutricional. Na
ros não em Isolamento, mas por meio de uma inreração com narurt:a, os hospedeiros devem estar sempre :iicuados entre os
Com unu Lendência similar, a infecção pode tornar hos- manência de uma espécie associada mais fraca. Por exemplo, Jlgum outro fator: infecção pode tornar um hospedeiro mais custos dJ. suscetibilidade e os custos da resisti:ncia.
pedeiros m.tis susceríveis à predação. Por exemplo, o exame de dois lagartos do gênero Ano/is que vivem na ilha caribenha n1I nerável à competição ou predJçJo; ou competição ou es- A demonstração de que parasicos têm um efeico prejudici.U
pós-morre de galo-selvagem-vermelho (Lagopus lagopw JCotÍ- de St. Maanen, A. gingi1Jinus é o compecidor mais forte e pare- c.1Ssa de alimento pode tornar um hospedeiro mJ.is vulnerá- sobre características de imporrância demográfica dos hospedeirns
cw) mostrou que J\'ts mon,ls por predadores panavam quan- ce excluir A. wartsi da maior parte da ilha. Todavia, o parJsiro vd à infecção ou aos efeitos da infecção. Isso não significa, no é um primeiro passo crítico para confirmar que eles têm infL1ên-
tidades do nemacódeo parasítico hidJOJtrongy/w tt·nuis signifi- da malária I'lasmodwm azurvphi/um muitas vezes afeta .,--L gm- encanto, que os parasitos desempenhem um papel apenas se- cia nas dinâmicas de populações e comunidades de seus hospe-
cativamente nuiort.'.'."i do que J. amostra presumivelmente mui- givinw. mas raramente afeta A. warrsi. Onde o parasito infecta cundário. Ambos os parceiros na inreração podem ser cruciais deiros. Porém, isso é apenas um primeiro passo. Um parasito pode
co mais aleatória de: aves que foram alvejadas (Hudson er ai., A. gingivi11us, A. wartsi esri presenre; onde o parasito não e,tá 11:1 determinação n:i.o somente <lJ força gerJI do efeito, mas aumentar a mortalidade, direta ou indireramenre, ou diminuir a
1992 a). De forma Jlternati\·a, o efeito do parasitismo pode presente, ocorre apenas A. gi11givi1111s (Schall, 1992). De 111.1- c.unbérn de quais hospedeiros são afetados. fecundidade, sem que isso .1fete os níveis ou padr~s de abundân-
enfraquecer um competidor agressivo e, assim, permitir a per- neira semelhante, a cuscutJ (Cuscura saíiua), um holoparasirn Os organismos resistentes a parasitos evitam os custos cia. O efeito pode simplesmenre ser tão insignificante pan cer
Jo parasitismo, ma:i, da mesma forma que a resistência a ou- uma influência mensurável em nível populacionaJ, ou outros fa-
tros inimigos naturais. a. resistência por si só traz um custo. tores e processos podem agir de maneira compensatória - por
hro foi testado com duas cultivares de alface (Lacruca sarwa) exemplo, a perda. por parasitismo pode levar a umJ reduçJ.o de
(a) (b)
resistentes ou susce{Í\'eis .10 afídeo Ja raiz d<1 alface (Pemphigus morraJid.1de dependente Ja densidade em um esdgio posterior

m
300 - Aleatória
~ B,nomial negativa

CJ Observado 1
'
l
~ 80

100

"-""~" ç'/- .. -:;...,'"/ ,'.,/, (a) 1989


30
(b) 1990 (e)

1
200
1
m
60 Mesoendém1ca /

33
10 2l
g
D
31

.; / 25 20 o.4
. "l
ü: 35
m _. m
40 n
100 s "
! :g @ O 3
í 1
.
gi 20

------
Hiperendémrca

.•
i
11J
~ ~

l l.
1 1 20 w

Número de parasrtos por hospede1r0


10 ~12
o
o 10
Numero de vermes por mg de pele
100 1 000
u

o
15

10
37
IG
o
~ 10

23
·"' º·l
"il,

~"
'~ 8
§ 0.1
32
34

à:
Não-infectados Infectados Não-infectados Infectados Inicial Tardio
FIGURA 12.12 Exemplos de drstribu1ções agregadas de numeras de parasito por hospedeiro. (a) P1tu. Orconectes rusticus. infectado com o
Tempo de chegada padronizado
platelmrnto Paragonimus kefl,cott,. A d1stribwção difere significativamente da aleatória (X 2 = 723, P < 0.001 ). mas se ajusta bem a uma ~bino-
mial negativa~. que é apropriada para descrever distribuições agregadas· x2
= 12. P"" 0.4 (segundo Stromberg et ai., 1978; Shaw e Oobson,
t 995). (b) 01stnbu1çào de vermes Onchocerca vulvulus. que causam oncocercose ou "cegueira do rio" em comunidades humanas Yano~a~, FIGURA 12.13 Data media de chegada (1 Q de maio) na Finlândia de machos de papa-moscas malhado (F1decula hypoleuca) infectad?s e não·
no sul da Venezuela Novamente, as distribuições, plotadas como freqt.iêncras cumulativas (lmhas pretas). a1ustam-se bem a uma d1str1bu1çao infectados com Trypanosoma·. {a) 1989 e (b) 1990. ~=machos adultos; _ = machos de um ano. Os tamanhos das amostras sào 1~d1~ados
binomial negativa (lir.has coloridas), se1a a imensidade típica de infecção baixa (htpoendêmica). moderada (mesoendêm1ca) ou alta (h1peren- junto às barras do desvio-padrão. (c) Proporção de machos infectados com Trypanosoma entre grupos de m1gran1es chegando a F1nland1a em
dém1ca) (segundo Vivas-Martinez et ai., 2000) tempos diferentes (segundo Ràtt1 et ai 1993)
364 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E DOENÇA 365

do ciclo de vida. Os efeiros de epidemias raras dev .15radora.s, em uma abordagem mais "ecológica", ao considerarmos os efeitos
(•) seres humanos, oucros animais ou plamas, são Eiceis de observar; de parasiros na abundância de hospedeiros de uma maneira
mas. para parasicos e patógenos mais rípicos. endemicos, o movi. muico mais afim à convencional dinâmica predador·presa.
Llmile Arthrocnemum·Sallcorma menco de um hospedeiro individual para uma população hospe-
Zona de dom1nânc1a de Sahcorma
• Forte impacto do parasilo deira oferece um imenso desafio.
• Forte preferência do parasito • Forte impacto do parasito
• Forte corr.petição simétnca • Forte preferência do para51to 12.6. 1 A taxa reprodutiva básica e o limiar de
• Forte competiçáo assimétrica
• Forte efeito indireto positivo
• Forte eteito 1nd1reto positivo
transmissão
Cuscuta 12.ô A dinâmica de populações da infecção

Sal,com,a
~
~
···~ Arthrocnemum
-:/
Cuscuta
',,; Em princípio, os ripos de conclusões que forJ.m eiradas no
Em rodos os esrudos da dinâmica de
populações de parasicos ou sobre a ex·
R .. a :axd
~e~prcidL,::va bés:ca
Salicorma ..-..-... L,momum Capírulo I O, quanco à dinâmica de populações de predador- pansáo da infecção, exiscem vários
Frankenia
presJ e as interações herbívoro·planra, podem ser escendidas canceicos panicularmence fundamencais. O primeiro é a taxa
parJ parasitas e hospedeiros. Os parasirns prejudicam hospe· rep,.odutiva bdsica, R0 • Para microparasicos, uma vez que os
deiros individuais, que eles us.1.m como um recurso. A m1nei- hospedeiros infeccados consrituem a unidade de esrudo, aquela
rJ e-m que isso afeta suas populações \·ariJ com as densidades é definida como o número médio de novas infecções que sur·
c,llHO de p.1ra.siros quJ.ntO de hospedeiros e com os deralhes da giram de um único hospedeiro int~ccioso introduzido em uma
inrcr.1.ç:ío. Em e,pecial, hospedeiros infrcr.1<lo~ e n.ío·infecta· população de hospedeiros susceríveis. Para rnacroparasicos. é
dos têm possibilidade de exibir reaçóes compensatórias que o número médio de descendentes, es[abelecidos e reproduti-
(b) 1 podem reduzir basrance os efeicos na popula,;Jo hospedeira vamence maduros, produzidos por um parasirn maduro durance
.Não-tnfectada · - lnlectada I (e)
..:orno um rodo. Teoricamente, pode ser previ'ira uma gama de sua vida em uma população de hospedeiros não-infectados.
100 25 conseqüências: graus variados de redução ru densidade da O limiar de transmissão. que deve
Sahcom,a Arthrocnemum
população hospedeira, níveis variados de pre\·.1.lt'.ncia de para· ser cruzado se uma int"ecçáo se propaga,
80 20 siros e diferences tluruaçóes em abundância é, então, dado pela condição R0 = 1.
§
l. Uma infecção finalmente desaparecerá R0 < 1 (cada infecção atual

li
Com parasirns, encreranto, exis-
80 l 15

..
tem problemas panicubres. Uma di- ou parasico leva a menos do que uma infecção ou parasito no
~ ~
ficuldade é que paras1ros freqüenre- futuro), mas se expandirá para R0 > 1.
~

1
4-0 10
u menre causam uma redução na "saúde" ou ''morbidez" do seu lnsighr, sobre a dinâmica da infecção podem ser obtidos
::;;

11
20 hospedeiro, em vez da sua morre imediatJ. Por isso, em geral é ao considerarmos os vários decerminames da taxa reprodutiva
difícil separar os efeitos dos parasicos daqueles de outros faco- básica. A seguir, abordaremos com algum detalhe os micropa-
1994 1995 1994 1995 Não-infectada Infectada rcs com os quais eles interagem (ver Seção 12.5). Um outro rasicos direcamence transmitidos e, após, trataremos de mexi.o
problema é que, mesmo quando parasitos causam uma morte, breve dos remas relacionados a microparasitos indiretamente rrans·
isso pode não ser óbvio sem um exame deu.lhado pós-mone micidos e a macroparasitos direca e indirecameme transmitidos.
FIGURA 12.14 Efeito da cuscuta ( Cuscuta saltna) na competição entre Salicorma e outras espécies em um mansma no sul da Califórnia (a) fcspecialmeme no caso de microparasiros). AlC:m disso, os bi-
Representação esquemâtica das princ1pa1s plantas da comunidade. nas zonas superior e média do marisma, e as interações entre elas (linhas
continuas: efeitos diretos; linhas tracejadas: efeitos indiretos). Salicomia (a planta com menor crescimento relativo na figura) é a mais atacada ólogos autodenominados parasirnlogis[as rendiam no passado
e a mais afetada pela cuscuta (que não está representada na figura). Quando não-afetada, Salicornia compete forte e simetncamente com .1 esrnd:1.r a biologia do seu parasico escolhido sem levar mui· 12.6.2 Microparasitos diretamente transmitidos:
Arthrocnemum no limite Arthrocnemum·Salicomia: na zona média (dommãnc1a de Sahcornia), ela é um competidor dominante sobre Limonium
e Frankenia. A cuscuta. entretanto. altera signihcat,vamente os balanços compet1t1vos. (b) Ao longo do tempo. em parcelas infectadas com
ro em consideração os efeitos nas popubçtle..- hospedeiras R0 e o tamanho populacional crítico
cuscuta. a cobertura de Salicornia d1m1nu1u, e a de Arthrocnemum. aumentou (e) Manchas grandes de cuscuta suprimem Salicornia e favore- como um rodo, e os ecólogos tendiam a ignorar os parasi·
cem Llmonium e Frankema (segundo Penrnngs e Callaway, 2002) cos. Fi[oparologis[as e parasicologisCJs médico, e vererin:i· Para microparasiros com transmissão direta, dependente da
rios, por sua vez, em geral escudam pansitos com conheci- densidJde (ver Seção 12.4.3), pode-se dizer que R11 aumenta
mento dos gra\'es efoicos '-{llC CJr:1cceri 1aiomenre existem com: (i) o período de tempo médio durante o qual um hospe-
em densJ.s e: agregadas popul.lções de: ho:-.pc-lk1ros, deJican· deiro infeccado permanece infeccioso, L; (ii) o número de in·
do pouct .nenç:to aos efeirn\ 111.lÍ) dpicu) de p.1r;1s1ros em divíduos susceti\'eis na população hospedeira. 5. porque nú-
(a) (b) populações de hospedeiro . . de ··\'id.1 )c:h ,igem" A du..:ida· meros maiores oferecem mais oponunidades para [r.1.nsmis~ão
800 1.400 çã.o do p.1.pel de pJ.rasirns na din21mic.1 ho,pc:deiro·popula· do parasim; e (iii) o coeficiente de cransmissdo, p(
ver Seç,lo
ção é um dos principais desafios d.1 ecolog:a. 12.4 3). Portanto, de forma gerJI:
.
~
600
1

1
1200

1.000
Aqui. iniciamos pel.1. observação dJ din.imíca da infec·
ç.lo dentro de populações hospedeirJs, sem considerar qu.tis· R,, = SJ3L ()!.5)
~ i
1 1 800 quer efeirns possíveis na abund.incia de hospedeiros. Essa abor·
~ 400 1 ' 1
1 dagem "epidemiológica" (An<lerson. 199 li rem dominado es· Observe que. por esra definição, quanco maior o número de
e
.~
z 200
,>,'i
:,. •. ···
--:,;~-.~-'
'
1
:::1
~".~~;·
800

400
FIGURA 12.15 Número de gemas produ·
pecialmence o estudo de doenças humanas, em que geralmence
se considera que a .1bundância coral i derermiruda por um
hospedeiros suscetíveis mais alta é a taxa reprodutiva bisica dc1
infecção (Anderson, 1982).
. -.,. 200 z1das por genótipos resistentes e susceti· e,.,pectro inregr.:tl de facores e J, portanto, ct('riv:i.mence indc:· O limiar de [ransmissão pode
,;:/L - ~ ... j ) veis de duas cultivares de alface, (a) e (b). I pendente da prevalência de qualquer infrc,;fo. A infecção ape- agora ser expresso em cermos de um
Suscetivet Resistente Suscetivel Resistente Sabre as barras. z 2 EP (segundo Bergel- ;JCP.J·a•:1on3!

1
Genot,po Genótipo son. 1994). n~) d.feca a divi::..ío dessa populaçio nas ~eguintes classes: sus- tamanho populacional aítico, ST' em c,:t1co
cc:rível (não-infectada). infec[ada e ouu1s. As,umimos,·então, que:

1
1r
366 PARTE 2 - INTERAÇÕES

Sr= ll(PL). pois R,, = 1 no limiar. (12.6) sltórias em hospedeiros individuais (l pequeno), e el.1~ com
freqüência induzem imunidade duradoura. Assim, uma
r
-._.,,r·

Não é surpresa que, quanto mais alro o valor inicial de


R11 , unto mais rápida sed a elevação da causa epidêmica. To-
CAPÍTULO 12: PARA51Ti5MO E DOENÇA

(Figura 12.1 ?a), coqueluche a cada 3 a 4 anos (figura 12.1 ?h),


difreriJ J cada 4 a 6 anos, erc (Anderson e 1v!Jy. 1991).
367

Em populações com número.'i de suscetíveis infúiores a este, a doença como o sarampo, por exemplo, rem um ranunho d.1vi.1, isso também provocar:í uma eliminação mais rápida de Há infecções que não induzem uma resposu imunolô-
infecção desapJ.recerá (R0 < l ). Com números superiores a crí,ico da população de aproximJdamenre 300 mil indiví- hospedc:iros suscetíveis da popul.tçã.o e, como conseqüência, gica efetiva; ao contrário, elas rendem a ser mais duradour.is
este, ,t infecção se expandirá (R0 > 1). (Sr é muiras vc:zes refe- duos e é improvivel que até recentemenre tenh.1 sido de um final ancecipado da epidemia: valores mais altos de R0 ten- dentro de hospedeiros individuais, mas também nJo rendem
rido como o tam.rnho crítico da comunidade, porque de tem grande importância na b1ologia humana. Entrera,uo, e!a dc-m a originar curvas m1ls cun.is e mais fechadas. Além disso. a originar o mesmo tipo de fluruações em Se Rw Desse modo,
sido aplicado princ1p.1lmence ,1 "comunidades" human.1s, o que gerou imporrances epidemias em cidades em crescimento o desaparecimento rotai da infecçJo (ou seja. o fim da epide- as infecções por procozoirios, por exemplo, tendem a ser mui-
pode ger;i.r confusão em um contexto ecológico mais amplo.) do mundo indusrrializado nos séculos XVlll e XIX. e nas 1 mia) depende muiro da ta..xa com que suscetíveis novos se mo- ro menos variáveis (menos cíclicas) em sua prevalência.
Essas simples considerações nos permitem dar sentido a al- crescentes concentrações populacionais no mundo em de- 1 vem para a população ou estão nascendo nela, uma vez que
guns padrões hem b~ísicos na dinâmica da infecção (Ander- senvolvimento no século XX. Cerca de 900 mil óbitos mo- is.')o decc:rmina por quanto tempo a população permanece abaixo
son, 1982; Anderson e May. 1991). civados por infecçáo do sarampo ocorrem anualmente no de Sr Se essa taxa for demasiado baixa, a epidemia simples- 12.6.5 Microparasitos diretamente transmitidos:
Consideremos primeiro os üpos mundo em desenvoh·imenrn (Walsh, 1983) .. 1 mence acabará. Porém, um ingresso suficiencemence rápido de programas de imunização
!
de populJçáo em que podemos espe- novos hospedeiros suscecíveis prolongaria a epidemia ou acé
rar encontrar diferences classes de in- permitiria que a intt'cç..ío se estJbelecesse endemica.meme na po- O reconhecimento d.i importância dos tamanhos popula-
t"ecçãu. Sem microp.trasicos s.lo alramC'nte infecciosos (0s gr.m- 12.6.3 Microparasitos diretamente transmitidos: pulação, após a epidemia inici ..iJ ter passado. cionJis críticos também or1enra programas de: imunização. em
Je) ou origin.tm períodos longos de int"-=cçio (ls grande}, en- a curva epidêmica que hospeJeiros .'lll~cetíve1~ ~J.o COll\'ertido'.') em nJ.o-.-.uKet1\"eis
r:io eles ter.lo \·alares de R0 rd.uivamLnte ,1Jcos, mL.<imo em s,em nunca rerem ficido doentes (r11o"'[rJ11<lo sinromas clinicm),
populações pequ-:-n,1s, e. por is,o, serão capazes de persistir (Sr O valor de R0 em si também está reLlcionado à nJtureL.1 da 12.6.4 Microparasitos diretamente transmitidos: geraJmenre medianre c:xpmiçJ.o 3 um p..uógeno morro ou attnu-
é pequeno). Invers.unente, se os parasiros são de infectividade curvJ epidêmica de uma infecção. Esta é a série de tempo se- ciclos de infecção Jdo. Os delcos diretos aqui são ób\·ios: o organismo imunizado é
baixa ou cem períodos infecciosos curcos, ele.1. terão valores de guinte à incrodução do parasito em uma populaçio de hosp.:- protegido. Porém, pela redução do mímero de suscecíveis, tais
R11 rd.uivamenre baixos e serão cap3.zes de persistir apenas em deiros. Admitindo que exisrem hospedeiros susceríveis sufi- hso nos lev.1 n:1turalmente J conside- programas ra.mbém têm o efeico indireco de reduzir Rrr N.i \'erda-
popubçôes grandes. iv1uicas infecções de vertebrados causadas cientes pdra a im·asão do parasito (isro é, o tamanho cri rico da rar os p ..Hlrões a prazo mais longo na de, considerando nesses termos, o objetivo fundamenraJ de um
por protozoários. e tJmbém algumas viroses, como a herpes, população, ST' é ultrapassado), o crescimento inicial da epid.:- dinâmica de ripas diferences de infec- programa de imunização é claro - manter o número de sus(eÚ-
sdo persistentes denrro de hospedeiros individuais (l grande), mia será rápido, à medida que o parasito se move arravé:, da çJo endêmica. Conforme descriro, a veis abaixo de 5,. de modo que Ri, permaneça menor do que 1.
muitas vezes porque a resposta imunológica a elas é ineficaz popul.ição de suscedveis. Porém, à medida que esses hospe- imunidade induzida por muitas infecções bacterianas e virais Fazer isso significa proporcionar imrmidule à populaçâo.
ou de vúb curta. Muiras doenças de plantas, também, como a deiros suscetíveis morrem ou recuperam a imunidade. sc:u reduz 5, que reduz R(i' que, porranrn, tLnde a levar a um declí- De faw, uma simples manipulação da EquJção 12.5 ori-
da raiz deformada, rêm períodos muiw longos de intecciosi- número, 5, declinará e, logo, também R0 (Equação 12.5). Por nio nJ incidência da própna infecç.lo. Encreranco, no mamemo gina umct fórmula para a proporção crítica da população, p.._.
dade. Em cada caso, o tamanho crítico da população, porcan- isso, a raxa de aparecimencu de novos casos será mais lema e, ck\"i<lo, e ames que a infecção desapareç.i roralmente da popu- que nccc-ssira ser submetidct ao programa, a fim de proporcio-
to, é pequeno, explicando por que eles podem sobreviver en- depois, diminuirá. E se 5 ficar abaixo de Sr e permanecer ne"'- la,;io, é provável o influxo de no\'OS suscetíveis na população, nar imunidade (no máximo, reduzindo R0 J um máximo de
demicamenre, mesmo em populações hospedeiras pequenas. se ponto, a infecção desaparecerá - a epidemia cerá termi1u- um crescimento subseqüente de Se R0 , etc. Com rais infec- 1). Se definirmos 50 como o mínimo típico de suscetíveis Jn-
Por outro lado. as respostas imunológicas a muitas ou- do. A Figura 12.IG mosrra dois exemplos de curvas epidêmi- ções, há, porranco, au:ncuada tendência de gerar uma seqüên- tes de qualquer imunização e ob-.ervarmos que S1 é o número
tras infecçõc-s hununas nra1s e bacterianas são suficiente- cas: para a doença do legionário, na Espanha, e par,t a febre cia de "muirm suscerí\·eis (R0 alu) ··, para "incidencia alra". para ainda suscecível (não-imunizado) logo que o programa para
mente poderosJs para garantir que d.is sejam apenas tran- afrosa, no Reino Unido. "poucos suscetíveis" (R0 b.iixa)", para "incidência baixa", para atingir R.0 == l se tornou 1nregralmenre estabelecido, então a
''muitos suscc-ríveis", erc. - exarainenre como qualquer muro proporção imunizada é:
ciclo pred.idor-presa. Isso, sem dú\·ida, fundamenta a incidên-
cia cíclica observada .:m muitas doenças humanas, com os com- (12.7)
(a) (b)
primentos diferences de ciclos rdlerindo as características di-

ªº1 t~renres da.<. doença.<.: sarJmpo com picos a cada I ou 2 anos A fórmula para ST é dada na Equ,1çã.o 12.G, e para \.
da Equa~âo 12.5, t' simplesmence RiJPL, em que R11 ~ J
7°'
601 60

~
.
.
~ 40
501_
1. "e
50

40 1 • ~! (a)
-;;-
(b)

z
~ 30

20 z
~
30

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8
::. 45
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~
35
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~::: [
ü3500~ 1
~~~~~~~~~~c~~~~~~1
X'l> X0.J. ~~~ ~~ ~\. ~\.. ~'$~~ )V~ ':l )V )J, 't-~'t-<f 't-cf c:l e:,0'
~
20
2.500 f. '1-~,''1 "
_!', FIGURA 12.17 (a) Casos registrados desa·
1
,'.
15 rampa na Inglaterra e em Gales. de 1948 a
Periodo de not1hcação
i 10 1.500

.
1 1968. antes da introdução de vacinação em
5 :..j 1i ~ 1 .,,.....
massa. {b) Casos registrados de coqueluc,e
o .·1 :'I
FIGURA 12.16 (a) Curva epidêmica para um surto da doença do leg1onáno em Múrcia, sudeste da Espanha, em 2001 (segundo Garcia·
ü
o 0 ) l l l I na Inglaterra e em Gales. de 1948 a 1982 A
1948 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 1948 52 56 60 64 68 72 76 80 84

l
Fulgueiras et ai., 2003) (b) Curva epidêmica para um surto de febre aftosa (afetando pnncrpalmente bovinos e ovinos) no Reino Unido. em vac,nação em massa fo, introduzida em 1956
2001 São mostrados os locais infectados (fazendas), desde que a infecção foi transmitida de fazenda para fazenda. e. uma vez infectadas. Ano Ano (segundo Andersen e May. 1991)
todos os animais que foram eliminados por fazenda (segundo Gibbens e Wllesmith, 2002)
368 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E DOENÇA 369

taxa reprodutiva básica da infecçáo ances da imunização. 12.6.7 Patógenos de cultivos: macroparasitos
Em conseqüência: considerados como microparasitos (a)
1983 1984
100 100

(l 2.8) A maior p.irre da firnpatologia tem-se ocupado com a dinâmi-


ca de doenças dentro dos cultivos e, por conseqüência, com a
Isso reitera a afirmação que, para erradicar uma doen- propagação de uma doença dentro de uma geração. Além dis-
ça, não é necessário imunizar roda a população - apenas so, embora os fit0patógenos mais comumente estudados se- 60
uma proporção suficiente para rnrnar R0 inferior a l. Além jam m.icroparasirns, conforme definição anteriormente apre-
disso. mostra que essa proporção será mais alta quanco maior sentada, dc"s c"m geral são tratados como microparasitos, em ,· 40
for a rnxa reprodutiva básica ''natural" da doença (sem imu- que a doençJ é monitorada com base em algum parâmetro dt:
nização). Essa dependência geral de p, em relação a R0 é gravidade - com freqüência, a proporção da população infec-
20
ilumada na Figura 12.18, com os valores estimados de al- tada (isrn é, a prevalência). A proporção afetada por lesões é
gumas doenças humanas nela indicadas. Observe que ava- referida como _y,, no tempo t; portanto, ( l - _y,) é a proporção __ ,
0o ~~1~0~-1Ls-~20-~2s
ríola. a única doença em que a imunização parece ter leva- da população sem lesões e, assim, suscerível à infecção. Em 10 15 20 25
do à erradicação. apresenta valores de R0 e P~ exrraordina- geral, com os firnpatógenos é necessário considerar de forma Tempo (dias)

ri.1mence baixos. expllcJC.1 o período !atente (duração p) entre o mamemo em (b)


que começ,1 .1 lesão e o momento em que ela se torna infeccio- 100 100
sa (formaçJ.o de esporos), em cujo estado ela permanece por Não-tratado! Não-tratado
12.6.6 Microparasitos diretamente transmitidos: um período adicional !. Portanto, a proporção dJ população 80 ~Esterilizado j 80
~ Aquecido artificiattnente
FIGURA 12.19 Curvas em 1orma de s· da
transmissão dependente da freqüência .aferadJ por lesões mfecciosas no tempo t é()\_ -_}\ p- 1). Assim. a
taxa de aumento na proporção de uma popufação \'egetal afe-
tada por lesões (Vanderplank, 1963; Zadoks e Schein, 1979;
.
l
!! 60 60
progressão de doenças em cultivas, a partir
de um inóculo inicial até uma proporção as-
sintôtica da população total infectada. (a) Puc-
Suponha, encrecanco, que a transmissão é dependente da fre-
qüência (ver Seção 12.4.3), como é provável acontecer com Gilligan. 1990) pode ser representada por: i ,-----.---- cini'a recondita atacando o trigo (cultivar Mar-
rocos) e a trit1cale (derivada da hibridação do
doenças sexualmente transmitidas, por exemplo, cuja crans- ~
!!
40 40 trigo e do centeio), em 1983 e 1984. (b) Fu-
sarium oxysporum atacando tomateiros. em
missáo ocorre após um indivíduo infectado "procurar" (ou ser dy/dr = D( 1- y,HY,-p - },.p_,) (12.10) a.
experimentos comparativos de solos não-tra-
20
procurado por) um indivíduo suscerível. Então, não há mais a
mesma dependência do número de susceríveis, e a taxa repro- que é essencialmente uma formulação ~SI, com D sendo a ,•... 20 tados com solos esterilizados e solos não-tra-
tados com sotos aquecidos artificialmente (se-
gundo G1l11gan, 1990, onde podem ser encon-
dutiva básica é simplesmente dada por: \'ersão de um coeficienre de transmissão para o fitoparologis- ºo 12 16 20 24 28 32 ºo 12 16 20 24 28 trados as fontes de dados originais e os mé-
ta. Essa formubção dá origem a curvas em forma de S para a Tempo (dias) todos empregados para o ajuste das curvas).
(129) progressão <la doença em um culrivo, as quais em geral se ajus-
cam aos dados derivados de muiros sistemas cultivo-patógeno
Aqui, aparentemente, nâo há tamanho limiar da popu- (Figura 12.19).
lação, e tais infecções, por isso. podem persistir, mesmo em Na progressão de tais infecções, os firopacologlstas reco- pbnras hospedeiras de candelária branca, Szfene a/b,1, por in- (R0 = 1) depende de uma razão de densidades verochospedeiro.
populações exuemamenre pequenas (onde, em uma primeira nhecem rrês fases: seras polinizadores, que ajustam suas distâncias de vôo para Para que uma doença se estabeleça e se propague, a razão deve
aproxi m.ição, as chances de comaco sexual para um hospedei- compensar mudanças na densidade da planta. De~se modo, a superar um nível crítico - ponanro, as medidas de controle da
ro infectado são as mesmas que em populações grandes). l. A fase "exponencial", quando ocorre a rápida aceleração da taxa de transmissão é efetivamence independente da densida- doença são habirualmente dirigidas à redução dos números
pre\·alênci.a do parasirn, embora raramente a doenç.1 sej.1 de do hospedeiro (Figura l 2.20a). No enranto. c:-sa taxa de- de verores e só indiretamente ao parasito. Muitas doenças
detecr.ín:!. PortJnto, essa é a fase em que o concrole qullni- creo;ce de maneira significativa com a proporção suscetível da virais de culcivos, e doenças do homem e do gado cransmi-
cn seria mais efetivo, mas. na prácica, esce coscunu :ier apli- população: a transmissão é dependence da freqüência (Figura tidas por vetores (malária, oncocercose, etc.), são mais con-
c.1Jo nJ fa:ie ~. Em ger.11. consider.1-se arbitr.1riamente que 12. 20b), fa\·orecendo, como já vimos, a persistênci:1 dJ doen- troladas por inseticidas do que por produtos químicos des-
.1 Lise exponencial cerminJ. quando _Y = 0,05; elite é .1pro- ça, mesmo em populações com ba.ixa dcnsiJ,idt:. F. e\·idcme tinados ao parasito; naruralmente, o controle de cod1s es-
xim.1tLuneme o nível de infecção da epidemia que uma pes- que se traca de mais um cJso de cransmi.,s.í.o depenJenre da s.1s doenças depende de modo d.:cisi\·o do conhecimento
:io.1 rlJ.o-e~pec1afo.ra poderia dt"reccar (o limiar de pc:Tcepçjol. freqüênci:.1 em uma <loença sexualmente transmtrtdJ - exceto complero da ecologia do veror.
2. A segunda fase, que se estende até y = 0,5. (E'ica é, às \'eze:,., que, nesse c.1so, o conrato sexual é indireto, em \'ez de inrirno. A taxa reprodutiva efetiva de Llm
zn.1dequ;1damenre denominada fase "\oglstica", embora cod:i macroparasiro diretamente rransrnicido
0,4 -
Persistência a cur\'a seja logística.) (sem hospedeiro intermediário) esci di-
3. A fa'ie rermin1I, que conrinua até que y se aproxime de 1 12.6.8 Outras classes de parasitos rerameme relacionada com J. dur::ição de
0.2
~essa fase, o rratamenrn químico é virtualmente inútil - seu período reprodutivo no interior do hospedeiro (isto é, nova-
no cnunrn, i neste estágio que ocorre o maior dano J. pro- Para os micropara.slcm que geralmen- mente L) e com sua taxa de reproduçáo (taxa de reprodução de
ºo 10 1s 20 2s 30 35 40 Juç.lo do cuhivo. estágios infecciosos). Ambos os fatores estáo sujeicos às limitações
te sá:o propagados de um ho)pedeiro
fl, para outro mediante um ,·ecor (em que impostas pela dependência da densidade, as quais podem surgir

1"
[)or outro lado, algumas doenças de cultivas não são rrarH- o veror não compensa ..1s ;:1udJnç:1s de em decorrência da compeciçio entre parasicos ou. muitas vezes,
FIGURA 12.18 Dependência do nível critico de cobertura de vacina-
mitidas simplesmente por uma propagação passiva de pani- densidade do hospedeiro, como no exemplo .rnrenor), as ca- da resposta imunológica do hospc-deiro (ver Seção 12.3.8). A in-
ção ~x:1g1do para deter a transmissão. P~, em relação à taxa reproduti·
va .::ias1ca. R 0 , com valores para algumãs doenças humanas comuns
(segundo Andersen e May, 1991).
cul.1s int~cciosas de um hospedeiro para outro. Por exemplo, o
fungo carv.ío-da-anrera (Ustdago violaua) é propagado entre
I racreríscicas do ciclo de vida do hospedeiro e do vewr entr,rn1
cilwlo <l, Ro Em pml,,,lu, a ''""" ,1, """"'"""
tensidade desses dois fatores varia com a disrrihuiçio da popula-
ç:io do parasico entre seus hospedeiros e. como já \imos, a agrega-

1
3 70 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E DOENÇA 371

(a) (b) (a)

~ 0.5 0,5 '-


1.000

.i
"e
0,4

0.3

z
~ 0,2

10 20 30 40 50 60 0,2 0,3 0,4 0,5 0.6 0.7 0.8 0,9 1


Densidade de flores suscetíveis Freqüência de flores suscetíveis
por parcela expenmental

FIGURA 12.20 Transmissão dependente da freql.lénc1a de uma doença sexualmente transmitida Número de esporos de Usfllago violacea
depositados por flor de 51/ene alba [transformado segundo log, 0 (x + 1)]. os esporos são transfendos por insetos polinizadores. (a) O número
é independente da densidade de flores suscetíveis (saudáveis) nas parcelas expenmenta1s (P > O.OS) (e mostra sma,s de decréscimo com a
densidade. em vez de aumento. talvez à medida que o número de polinizadores se torna hm1tante) (b) Entretanto. o número decresce com a
trequênc1a de suscet1ve1s ( P ~ 0.015) (segundo Antonov1cs e Alexander. 1992)

Ano

çâo dos par.isitos 11.1 condiç.í.o mJ.b comum. Isso significa que as densidades das popul.tçôes hurnan.1s, a esquiscossomÍJ.\e com (b)
um.1 grande popubçáo de parasims se encontra em densidades freqll.ência é conrrolada pela re<luçlo da densidade <la~ popula-
ções de caracóis com moluscicid,ts, em uma. temarivJ dt.' redu-
3 ~
devJ.d..is, em que c1s limirações são m.tis incens.is e, sem dúvida,
essa dependê:ncia táo forcemence controlada pel.1 densidade aju- zir R0 abaixo dc1 unidade (o limiar de transmissão). r\ dificul- FIGURA 12.21 (a) As notificações semanais
2.5 do sarampo para 60 cidades na Inglaterra e
d.1 a explicar a e~rJ.bilid.i<le observadJ na prev·.1lenci.1 de muit.i.s dade dessa abordagem, enueranro, se deve i1 grande c.ip.Kida- em Gales. combinadas. são apresentadas
infelçóes de helmimos (como ancilósmmos e nernarelminros), de reproduciva dos caracóis, permirindo uma rápidJ recoloni- 8. abaixo, para o periodo de 1944-1994 A li-
e 2 nha vertical indica o início da vacinação em
mesmo diante <le percurbações induzidas por mudanças dim~íci- ZJÇio de ambiences aquácicos quando cessa o rr;.uamento com
cas ou intervençâo humana (Andersen, 1982).
Os helmimo~ diretamente cransmicidos, em sua maioria,
moluscicidas. Além disso, as limitaçóes impostas pela haix.t den-
sidade das populações de caracóis sâo compensadas em gr,rnde
i
~ 1,5
massa. por volta de 1968. Os dados para as
cidades 1ndiv1dualmente (tamanho da cida·
de no eixo vertical) são ex1b1dos acima, como
têm uma enorme capacidade reproduciva. Por exemplo, a t"ê- medida pela longa expec[Jtiva de \·ida do par;isito em hum.mo.l um ponto para cada semana sem uma not1-
~ ficação do sarampo. (b) Persisténc1a do sa·
mea do ancilóscomo Necator, parasico humano, produz cerca (l tem valor alrn): a doençJ. pode permanecer endêmic.1, .1 des-
~ 1 rampa nessas cidades no período pré-vaci·
de l 5 mil m·o~ por n~rme por dia, e o nemacelminm Ascarrs peito <las ampl..LS flutuações na abun<lància dos caracói,;. nação (1944-1967). em função do tamanho
pode produzir duriamenre mais de 200 mil ovos por verme. 1
o 0,5
populac1onaL A medida de persistência é in-
versa ao nUmero de "desaparecimentos gra-
Portamo, .ts densidades limiares criticas para esses parasitas duais" por ano. sendo o desaparecimento
sio multo ba1xa<i, e eles ocorrem e persiscem endemicamente 12.6.9 Parasites em metapopulações: sarampo gradual aqui definido como um período de
em popubçóe~ humanas de baix.t densidade, como as comu- o o 100 200 300 400 soo três semanas ou mais sem notificação. para
considerar os casos nào-reg1strados (segun-
nidades de uça<lore'.!-Colewres. Como em outras áreas da. ecologia. com a dinâmica hosped.ciro- Tamanho da população (1 000 s) do Grenfell e Harwood. 1997)
A dependéncia da densidade parasirn, há um crescenre reconhecimento, que as popul.tçõc, não
dentro dos hospedeiros cambém de- podem ser vistas como algo homogeneo ou isolado. 1'. l .lis c:\.HJ-
sempenli,l um papd cruci,1! na epi<le- mence, os hospedeiros em ger.11 são <listribuidos em um,t sêrie Ji:
miologiJ de nucroparasicos indireu- subpopul.ições. ligadas entre ~i por dispersão, e que. juma~. cnns- maiores nâo fic.tram sujeius ao freqüence "desaparecimento ção (e na.o são consideradas JS ligações J. outra.s ~ubpopul.1çóes
mcnre transnll[iJos, como os esquisrnssomos. t\es~e caso, en- rnut'm uma ·'metapopubção" (\·er Seção 6.9). A.s'iim, con,ide- ;r.1dual estodstico" (stoch,utic j,Ú(t'-out) (Jesaparecimento da dentro d.1 metapopubçJ.o maior).
trer.uno, JS lirniuçóes reguladora, podem ocorrer em um ou r:111do o Jrgumento (ver Seção 12.4. I) que cJdJ. hospedeiro sus- doença, quando alguns ind1viduos rnfeccimos remanescentes
em J.rnbos m ho~pedeiros: ,l sobre\'l\'~nci.t <los vermes Jdulms cenca uma subpopul.tção e uma população hmpedeir.1 .~US[;.·nu 11,!o conseguem rr,insmiri-Ld, em especial durante as depres-
e :1 w.1 produçáo de ovo~ sio influs.:nci:1d.1s de uma maneir.1 unu merapopu!Jç.J.o <le pJrasicos, os sistemas hospc-deiro-p.u ,1s1- SÔt:'.l Jo ciclo: a 1dé1.1 de um t,1manho populacional crítico, de l 2 . ."" ,...1ara3ito3 2 a din2mica ,je popuiaç-;,.,...::.:
dependente da JemidJde no hospedeiro hum.mo, mas a pro- to s.í.o ripic.m1enre metapopulaçôes de mecapopul.1\Ôt~. .1proximadamence 300 mil a 500 mil t:. por isso. bem-funda- je hospsdeiros
dução de estigios infec.ciosos no C.H,tcol {hospedeiro interme- T1I perspectiva. mud.1 imed1.1umence nossa vis.lo do que mc:nrada (Figura. 12.21 b). Ües.,,e modo, em uma mt:rapopula-
e
diário) virruJlmenre independente <lo número de estágios é exigido de umJ populJç:10 hospedeira se ela ttver de ,;ustt.'nrar çJo considerada globalmente, os padrões de dinâmica podem Cma quescão-ch.1ve e não-resolvida em ecologia Je populações i
infecciosos d1stimos que nde penetr.1111. Assim, os níveis de uma populaçJ.o persistente de parasitas. Isso ficou cvidemc J ser evidentes, e a persÍs[ência pode ser previslvd. Todavia, é sobre o papel, se houver aJgum, desempenhado por par;LSÍcos e
pre\·a!ência dos esquiscossomos tendem a ser estiveis e resi~- partir Je uma an..ílise d,t <linâ.mica do sarampo em 60 cid.1Jes provável que, em subpopulaçôes individuais, em especial se patógenos na <linimic1 de seus hospedeiros. Existem dadm (ver
remes às perrurh:içóe~ de mfluêm.ias extenus. na Ingl.uerra e em c.ue~, de 194--í a l 994: 60 suhpopuLh.,úes. e!Js são pequenas, os padrões sejam bem menos claros. O con- Seção l :2. )) mostrando que os para'iitos podem afeur cara1....:erís-
O limiJr pau a propagaçio Ja infecçâo depende direra- compondo unu. metapopulação global (Figura l 2.21 l (Ct.:n- junro de dados sobre o sarampo é tncomum, comparando com cica.'.l dos hospedeiros de imporcància demográtiLJ ltaxas de tUtJ.-
meme d.t .1bumLi.ncia tanto de seres humanos como de cara- fell e Hanvood, 1997). Considerada globalmente, .1 meu po- a informação que remos para metJpopulaçóes e subpopulações lidade e morrali<lade), embora rais dado,;; sejam rebti1,amence in-
cóis {1srn C:. um produto, em lugar d:.1 razão que era .tpropnada pulaça.o exibiu ciclos regulares no número de casos <le sar.1m· individuais. Em muicos oucros casos, é bem provável que o comuns; e exiscem modelos matemácico) mostrando que os para-
pau m para~icos transmitidos por um veror). Isso se dá porque po, e essa doença esreve sempre presenre (Figura 12.2 Li). J.O principio se1a similar, nus dispomo,; de dado,; apenas parJ a sicos cêm o potencial de exercer um imp.Kto importante na dinâ-
a transmi~sá.o em .1mbas as direções se d"ema mediame estágios menos ames da \·acinaçáo em m,bsa (por volra de 1()68). Po- rnctapopulação (e n.ío é esrinudo o número de desaparecimen- mica de: seus hospedeiro'.!. Porém, chegou-)e a e:<.>St' ponco ante'.! de
infecciosos Je vida. l1He. Assim, já que é inapropriado reduzir rém, entre as subpopul.içóes individuais, somente JS muJCO tos graduais em partes menores dei.t) ou p.Ha uma subpopula- uma erapa de consisrênci,l suficiente para <lc:monsrnr que .is di·
372 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E DOENÇA 373

nâ.micas são de faro afecadas. Existem, cercamente, casos em que Figur:1 12.23 para a mariposa de alimenros armazen.idos /'iodia deiros em populações infectadas são movidas por uma incera- Tais resultados, obtidos a partir de modelos, sustentam
o parasito ou o pacógeno parece reduzir o ramanho populacional inte,pmtcte!IA e seu granulovírus (PiGV) (mencionados brevemen. çáo encre Plodia e PiGV, a "dimensionalidade" de,sas dinâmi- um papel para os parasitos nos ciclos do galo-selvagem, mas
de seu hospedeiro, por exemplo. O uso correme e intensivo de cena Seção 10.2.5). A diferença nas dinâmicas do hospedeiro na cas (essencialmente, a complexidade do modelo estatísrico são insuficientes como um tipo de ··prova'' que pode surgir de
sprays, injeções e medicamemos n.is práticas agrícola e veterinária presença e na ausência do vírus é apenas smil (Figura l 2.2Ja, e), exigido para descrevê-las) seria maior do que .1.:, populações um experimenrn controlado. Uma simples modificação do
acesca a perda de produção induzida por doença que resulcaria na e. para cenrar compreendê-la é necessário uma análise estatistica não-inteccadas. De faw, embora a fecundidade do hospedeiro modelo na Figura 12.25, no entanto, prevê que, se uma pro-
sua ausência. Conjumos de: dados de ambientes controlados em deralhaJJ De maneira simplificada, se as dinâmicas dos hospe- seja reduzida, o seu desenvolvimento retardado pelo drus e a porção suficience (20%) da população fosse craradJ contra ne-
laboratório também esrão disponíveis há mulcos anos (Figura sua abundância mais variável, a dimension.ilidaJe (b dinjmi- matódeos com um ancelmíntico, os ciclos desapareceriam. Isso
12.22). Emrecamo, uma boa evidência de populações naturais é CJ ficou inalcerada (Figura l 2.23d): o vírus modulou as taxas escabelece o cenário para uma manipulação experimencal em
muiro rara. Mesmo quando um parasico ocorre em uma popula- vicais do hospedeiro, mas não interagiu com ele, nem alterou escala de campo. delineada para cescar o papel do parasiw (Hu-
(a)
ç..í.o e não em outra, a população livre de parasico está destinada a a nacureza subjacence da sua dinâmica (Bjornscad ct ai.. 2001 ). dson et ai.. 1998). Em duas populações, os galos-selvagens fo-
,-\o contrário, quando Plodia interagiu com um outro inimigo ram tratados com anrelmíncicos nos anos em que se esperavam

(t::=
viver em um ambienre discinro daquele da população infeccacla; e
é provável que cambém seja infectada com algum outro parasi- natural, o parasitóide Ventmút cmuscem, o padráo b,b:ico dos duas quedas sucessivas da população; em outras duas, os galos-
m ausence ou de prevalência baixa na primeira população. To- '"'cícios de geração" (ver Seção 10.2.4) permaneceu inracro, mas selvagens foram tratados apenas no ano cm que se esperava
davia, como vimos, existem conjunrns de dados de campo em a dimensionalidade dinâmica do hospedeiro foi significariv.1- uma queda; ourras duas populações foram monitoradas como
que um parasico está forcemente envolvido na dinâmica deta- o 10 20 30 40 so 60 70 ao 90 menre aumenfJda (da dimensão 3 para)): o hnspedeiro e o comroles não-ma.nipulados. A .1bundãncia de galos-vermelhos
lhada do seu hospedeiro. seja como resubdo de manipula- par.isiro imerJgiram. foi medidJ pelos ··regi)tíO) <le c1ç;i°': o número ....de animais aba-
(b)
ções em esca!J de campo ou mediante o uso de d.idos sobre os tidos. Fica cl.1ro 4.ue o antelmlncico rem um eteiro no experi-

J:l~M~
efeitos de para.sitos em hospedeiros individuais, a fim de "pa.- mento (Figura 12.24d) e, por isso, ê igualmente claro que os
ramecrizar" modelos matemáticos que podem então ser com- 12. 7.2 Galo-selvagem-vermelho e nematódeos parasitos em geral têm um et'eico: ou seja, os parasicos afetaram
parados com dados de campo. a dinâmica dos ho)pedeiros. A natureza precisa do efeiro, en-
~~st:i seção, enfocaremos o galo-selvagem-vermelho - de inreres- tretanto, conrinu.1 sendo motivo de controvérsia. Para Hud-
o 10 20 30 40 so 60 70 ao 90 se, por tratar-se de uma ave caçada por "esporte·· e. portamo, son e colaboradores, o exp~rimenro demonstrou que os pa.rasi-
12. 7.1 Dinâmica do hospedeiro acoplada objeto da reivindicação de proprietários de terrJ ingleses, que cos foram "necessários e suficientes" para os ciclos dos hospe-
(e)
(interativa) ou modificada? buscam o direito de realizar tal prática. Além diss:o, é uma outra deiros. Outros estudiosos consideraram que a demonstração

Primeirameme. uma questão imporrame, mesmo quando um


efeito de um parasito na dinâmica do hospedeiro renha sido de-
1:~---···_.·-·--
.3 1 , ~. ,_. ~..,.. '. ;.
espécie que freqüentememe exibe ciclos regulares de abundincia.
(Figura 12.24a). As causas subjacenres desses ciclos têm sido dis-
pucadas (Hudson et ai., 1998: Lambin et ai.. 1999: :V1ougem et
ai.. 2003), mas um mecanismo que vem recebendo fone a. .poio é
do experimento não foi alcançada e sugeriram, por exemplo.
que os ciclos podem cer sido reduzidos em amplimde. e não
eliminados, especialmente quando os números muito baixos
em geral 'ºobservados" em uma depressão ( 1 na sua escala loga-
monstrado, é se o hospedeiro e o parasico interagem, de forma o I

que suas dinâmicas sejam acopladas da maneira geralmente con- O 10 20 30 40 50 60 70 80 90 J influência do nematódeo parasito T,·icl10stro11gy!1u tt'!luis, que rícmica equivale a zero) são o resulrado da ausênci.1 de abate
siderada para ciclos ·'predador-presa", ou se o parasico simples- Tempo {semanas) ocupa o ceco (pane do intestino) da ave, reduzindo a su.1 sobrevi- quando a abundância é baixa (Lambi et ai., 1999; Tompkins e
mente modifica a dinâmica subjacente do hospedeiro, sem que vência e o seu desempenho reproduci,·o (Figura 12.2-lb, c). Begon, 1999). Por ourro lado, tal controvérsia não deveria ser
haja qualquer foedback dececcável enrre as dinâmicas do hospe- (d)
0.25
A Figura 12.25 moscra um modelo par:1 es~c ripo de in- visca como uma diminuição da imporrância de experimemos
deiro e do parasiro, e, portanto, sem qualquer interação efetiva rerJ~áo hospedeiro-macroparasirn. Sua an.ílise '.)ugcre que os em escala de campo. na investigação dos papéis de parasiros na
entre os dois. Essa quescio é ilustrada pelos dados mostrados na ciclos regulares de abundância de hospedeiro e de número dinâmica de populações de hospedeiros - nem, na verdade, os
médio de pJrasitos por hospedeiro serão ger.tdos se· papéis de outros fatores. Por exemplo, uma subseqüente mani-
> 0,15 pulação de campo apoiou a hipótese altern.uiva de qut' os ci-
u ô> ak í 12.11) clos do galo-selvagem-vermelho resulcam de mudJnça.s na agre~-
~

50 0.1 sividade (depene.lemes da densidade) e do comporumenrn rer-


Em que Õ é .1 redução da fecundiJ.ide do hospedeiro indt1zida nrorial de machos (Mougeot et a!.. 200)). Esse sistema ê nova-
o.os pdo par:isiro (dependência da JensidJde rd.ui\·.tme11ce retar- mente examinado na discusSJ.o geral de ciclos, na Seçáo 14.6.2.
P1(Vc)
dad.1: desescabilizando), a. ê" t.na de mort.1!tdade do hospt:-
dciro induzíd,1 pdo pJr.1s1m (JepenJê'11c1.1 d.1 den~iJ.lde tdJri-
'/c(P1) nmenre d1rer.1: t::StJbilizando) e k ê o ··p.H.lmetro de aureua- 12.7.3 Rena de Svarlbard e nematódeos
Ordem
çlo" para a distribuição binomial negariv.1 (.1.)sumid.1) de~a~a-
FIGURA 12.23 Omãm1ca da mariposa hospedeira. P!od1a interpunc· sitos encre hospedeiros. Os ciclos surgem quando os efeiros Nesta seção, permanecemos com nematódeos. ma:s mud.1mos
tella. ( a ) ( - - - ) sozinha, na presença do paras1tó1de Ventuna ca· desestabilizadores da fecundidade reduzid1 superam os efeitos para um mlmlfero, a rena de Svarlbard (Rm,grjêr r,m1wiw plt1-

.- . . ...,_ ___ ._._,..


nescens (b1 ( · - ----) e (c) na presença do granulovirus Pfodia inter·
punctella ( ). As séries mostram rephcas representativas (uma
de três) de cada tratamento. para as primeiras 90 semanas do expe·
esrabiliz..1dores do aumento da mortalidade e da ,1greg.1çiio de pa-
'-' ....
rasitos (propiciando um '"refúgio par{.ia..l"' p.1ra o,;; hospedeiros)
thyry11c/ms), na ilha d< Sv,rlbard (Spiczbergen). nort< da No-
ruega (Albon et aí.. 2002). O sistema é atrativo, pd.1 'iua sim-

ld _ . ..,.
nmento (d)Esttmativa da dimensionalidade ou kordem" da dependên- (ver Capítulo 10). Dados de um estudo )obre ciclo) dt' popu!J- plicidade (os efeitos podem ser Yisíveis, isento~ de farores com-
cia da densidade da dinâmica, para cada tratamento (todas as réph· ções, no norte dJ lnglaterrJ, indicam que ess.1 condiç:í.o é real- plicadores): (i) não lü mamífero.s hc:rbívoros comperindo com
600 1.200 cas) que pode aumentar conforme o numero de elementos 1nterag1n· 1 a ren.a por alimento; (ii) não hi mamíteros preda<lore!i; (iii) a
do no sistema Quanto mais baixo o valor de .;!,,CV melhor o ~a1ustew meme satisfeitJ.. Por outro bdo, 3..." populações c.k galo-sdvagem
Tempo (d'8s)
as barras do erro representam 1 EP. As ordens melhor ajustadas (cir- que não conseguem exibir ciclos r~lares ou só os exibem muito cornunid.ide de parasims da rena é muito simples, dominada
cundadas) sã~ 3 p(aP,a[Gºv]hlospede iro sozinhho iedPi) e O hospedeiro dn~ i esporadlcame:ce com freqüência são aquel.ts t'rll que os nt'mató- por dois nematódeos gastrinrestinais. nenhum <los quais hos-
FIGURA 12.22 Depressão do tamanho de uma população do besouro- preserça do v1rus 1 • mas 5 para o osp e,ro na presença
da-fannha. Tnbolium casraneum. infectada pelo protozoáno parasito paras1to1de (P,[Vc}) e 5 tamb~m para o parasitó1de ao qual ele está . eos nao podem se estabelecer (Si· excede a abu11<l.mc1a c1p1e:1 do pedeiro alternarivo, e apenas um, Ostarttgit1 gruelmeri, apr~-
Adelmd tnbofi: • = não-infectada; .Ã. = infectada (segundo Park, ~ 948) acop;ado (Vc[P,j) (segundo B1ornstad et ai. 20011- hospedeiro) (Dobson e Hudson. 1992; Hudson a ,d.. 1992 b). senca um efeito patogênico demonscr~frel.

1
3 74 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E DOENÇA 375

(a)
60
a ô
(Taxa de natalidade (Redução da
de hospede1ms) tecunchdade
de hospedeiros
1nduz1da por
parasitas)

(b)
OL_L__J__l____J__L.....J.-----'-~-'----J_~~~-----'~
1976 78 80 82
Ano
84 86 88 90
100

10 000
t______,_
H
(População de hospedeiros)

B _i
FIGURA 12.25 Diagrama de fluxo (acima) re·
presentando a dinàm1ca de uma infecção por
macroparasito. como o nematódeo Tnchostron-
gylus tenuis, na galo-selvagem-vermelho. em
que o parasito tem estágios 1nfecc,osos de vida
livre. e as equações do modelo (abaixo) que
descrevem a dinàm1ca. Pela ordem, as equa-
ções descrevem· (1) o aumento de hospedei·

iJJ ~
ros (H) corno resultado da natalidade (depen-
b+ qH a m dente da densidade) (que. entretanto, é redu·
(Taxa de (Taxa de mortalidade (Taxa de mortahdade z1da a uma taxa dependente do nUmero mé-
~ l ººº mortalidade natural) 1nduz1da por parasitas) de paras1tosl dio de parasitas por hospedeiro. P!H), e sua
dim1nu1ção como resultado da mortahda:::le.
~ µ
(Taxa de 1nlecçâo por parasitas) ~ - - - ~
tanto natural (dependente da densidade) quan·
,8 100 to induzida pelo parasito (novamente depen-
~ W ,. (Taxa de natalidade dente de P!H); (1i) estágios de parasitas de vrda

osll
0.4
§
z
10
(Estâgios de
parasilos
devida livre)
'4- de parasitas) livre ( W) aumentando. por serem produzidos
por parasitas em hospedetros infectados. e sua
d1m1nu1ção, como resultado da mortalidade e
0.2 do consumo por hospedeiros; e (iir) aumento
de parasrtos dentro de hospedeiros ( P). por se·
o -~~~~"-'-'~~~~~~~~~ rem consumidos por hospedeiros, e sua dimi-
100 1.000 10.000 nuição. como conseqüência da própria morta-
Numero médio de vermes por adulto lidade dentro de hospedeiros. da mortalidade
(e) (Taxa de mortahdade)
natural dos própnos hospedeiros e da mortali-
10 dade de hospedeiros induzida por doenca

I
1
Este termo final é dependente da distnbuição
(a-i) H- (b+qH+~) H do parasito enlre hospedeiros - nesse caso.
seguindo uma distribuição binomial negativa
),P-yW-PWH (assumida). parãmetro k. e que fica incorpora-

PWH-(m+b+qH+a[1+~·~)ip I da mediante a expressão entre colchetes (se


gundo Andersen e May, 1978. Dobson e HL.d-
son. 1992)

10

A. krn disso. a ,Ü>Lrnd.incia dos nenuródeos foi significativa e:: posi- de rerus, o modelo preve densid.1des de renas muito próximJs
?987 88 89 90 91 92 93 94 95 1996 civJrnenre rebcio1uda com .i densidade de rerus nos dois ,mos dJquelas observadJs (cerca L{e 1 .1 J km· 2). Na Jusência de urn
Intensidade media do verme ( 1.000 s) Ano anreriores (Figura 12.26c). Port.rnw, :1umenms n.1 abund,lncia ett'iro do nematódeo na produç:w de filhores, o modelo pre·:~
do~ hospedcir:l, p.treccrn le,Jr (:!pós um recardo) .1 ,turnenm.<; n.1 crescimenro ilimirado. As.,ím, junros, experimt"mch e oh,cr-
FIGURA 12.24 (a) Ciclos regulares da abundànc1a {fêmeas reprodutoras por km 2) do g~!o-selvagem-vermeJho ( - - - ) e do número :nédro
de nematódeos. Tnchostrongylus tenu,s. por hospedeiro ( ). em Gunners1de. Reino Umdo (b) Tnchostron~ylus ten'-!,s reduz a sobrev1-
,iburni:mcia dn, par.1,irn,; aumenrn,; na abunJ,l1KÍJ Jm p.H,1.,icos v,1ções de c.1mpo, e um nw<ldo mate'm.ícico. fornecem urn
vênc1a do galo-selvagem-vermelho. em 10 anos {1980-1989). aumentou s1gnihca1Jvamente (P < 0,05) com o numero media de vermes por part·cem derc-11rnn,1r (.1pó:. um reruJo m.lis longo) reduções 11.1 ,1poio poderoso p;.ira o papel dos nem,Hódeos 11,1 dinâmiu l'.,1
adulto (e) T. renws reduz a fecundidade do galo-selvagem-vermelho em cada um de 0110 anos. fêmeas tratadas co~ uma d~oga para ma~ar fenm<lid,1de dm hmpedeirns. e esras: claramente rêm o potencial rena de Svarlbard.
nematódeos ( .}: representando valores médios) tiveram menos vermes e filhotes maior.es (com 7 semanas) do que femeas nao-tratadas ( l
([a-e] segundo Dobson e Hudson, 1992. Hudson et ai.. 1992). (d) Mudanças oopulac1ona1s do galo·sefvagem-vermelh?, representadas por de provocar reduções na abundjnci.1 dos hospedeiros.
me,o de registros de caça em dois 1oca1s-controle (acima). duas populações com um tratamento cada contra nematodeos (meio) e duas Para sJber :.e esse ciclo foi complecado, de tal modo gue
populações com dois tratamentos cada (abaixo). Os asteriscos representam os anos de tratamento, quando as cargas de vermes em galos- o para:.iro tenh,1 regu!.1do a abundjncia de ren,ts, essas dife- 12.7.4 Raposas vermelhas e raiva
selvagens adultos foram reduzidas por um ante!míntico (segundo Hudson et ai., 1998)
renrc-s rel.içõe:.. juntamente com ourr,1s, foram urilizad.ts como
v,1lores param~cricos c::in um modelo de interaç.i.o rena-nema- A raiva é uma doença vira! Je vercebr.idos. incluindo o~ serc,;
Por um pi::ríodo de seis Jnos, a~ renas foram cratadas ram raxas de prenhez significJtÍvamenre mais b.Iix,1s, confor- tódeo. Os resulrados ,;ão mosrrJdus na Figura l 2.26d. Três humJnos, direcamenre rrammirid.1. que ar:act o siscenu ne1-
com um anri-helmírnico em cadJ primaverJ (abril), sendo me acompanhamento da variação a uda ano (X~ .= 4.92, P-= conse'qüências ,ão possíveis: a população de renas é levada voso central. Ela é remida t,IrHo pdos sincom::i.s desagradjve1s
registrados os efeirns dc:sre traumenco nas c.ixas de prenhez 0,0.l; Figura 12.26a), um efeiro que foi manrido nos dados da a e"Xrinção, ou mosrr.1 crescimento exponencial ilimitado. como peb. elevada probabilid.tde de morre 4ue oc1sion.1. I'.'.1
u; ,lflO após, bi::m como na sub~eqüence produção de filho- produção de filhoces. A dimensão des:,e efeito cresceu signifi- ou ê reg:ul.td,1 para o<; números por quilômetro quadrado Europa, recenremente, o foco de interesse rc:111 sido a inren-
tes. A intêcçâo p.ireceu não ter qualquer ettico na sobrevivên- cativamente com aumentos na abunJ.inci;.1 dos nem;Hôlkos mosrrados na figura. De m.rneira Jnimadora, dentro das çJo entre a raiva e a rapos.1 vermelha ( Vidpó l'u/pt:s). Desde
cia, mas as ft'meas ndo-rr~uadJs (isto~. infecudas) apresencJ- no oucono amerior (F1 .-+ == 52,9. P == 0,002~ Fig.ur.1 l 2.2Gb}. Jrnplirudes oh~erqd,1s de .<.obrevivênci.1 de filhore:. e adultos 1940, prop.1ga-se unu epid1..·m1,1 na,., rJpos.1~. que se expand.::
376 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 12: PARASITISMO E ÜOE,<ÇA 377

(a) (b)
152!
a
6 5 24 34 (Taxa de nataildade)
11 26 · 28 ·

. 0,8
2646
.
<•
o.!!
0.3

0.2 y
5
i
. i~
~

0.6
(Hospedeiros
j! 0.1 suscetiveis)
(Taxa de
transmissão
(Hospedeiros com
infecção latente)
": 0,4 .g'i o_? _____ ·---------------------- da doença) FIGURA 12.27 Diagrama de fluxo (acima),
representando a dinâmica da infecção da
"' 0.2
º"
~~ -0,1 ~

b+ qN b+ qN
raiva em hospedeiro vertebrado (como ara-
posa) e as equações do modelo (abaixo) que
(Taxa de mortalidade o descrevem a dinàmica. Pela ordem. as equa-
--02 •
10 000 11 000 12.000 13.000 14.000 15.000 16.000 dependente da densidade) ( Taxa de aparecimento da doença) ções descrevem: (i) aumento de hospedei-
1996 1997 1998 1999 2000 2001
ros suscetíveis (S). como resultado da nata-
Ano Abundãnc1a de O. gruehneo lidade (dependente da densidade) apenas da
classe de susce1íve1s. e sua diminuição tan-
(d) to em conseqúência de mortalidade natural
(e)
(Hospedeiros
(dependente da densidade) como por torna-
inlecc,osos) rem-se infectados mediante contato com
20 000
hospedeiros infecciosos; (i1) aumento de hos-
pedeiros com infecção latente (não·1nfeccio-
~ sos) ( Y). como resultado da infecção de sus-
i 15 000 3 Crescimento cetíveis, e sua diminuição tanto em conse-
§, J 0.9 populacional
iltm1tado
b+ qN
(Taxa de mortahdade qUência de mortalidade natural (dependen-
o 2 induzida pela raNa) te da densidade) como por sua conversão
j 0.8

..
em hospedeiros infecciosos (à medida que
-8

~
10 000

"
0,7 I i = aS-(b+ qN)S- ~SI
a raiva aparece): e (iii) aumento de hospe-
deiros infecciosos (1). resultante do desen-
volvimento da doença em hospedeiros com
§ 0.6 ~eg~çâo da população'
·i>
**
~ infecção latente, e sua diminuição em con-
5000
0.5 Extinção
-%f = ~51-(b + qN + o)Y seqüência de mortalidade natural e de mor-

o'--~~-L~~--'-~~--'~~--'
~ 0.4 =oY-(b+ qN + a)/
talidade induzida pela doença. Por fim, a
equação para a população total de hospe-
0.5 1,5 2.5
"' 0.4 0.5 0.6 0.7 0,8 0.9 deiros (N = S + Y + /) ê derivada da soma
Densidade de renas adultas + JQ\lens Sobrevivência de renas com no mimmo = aS-(b+ qN)N-a I das equações para S, Ye I (segundo Ander-
com um ano (km- 2). por ano,_ 2 8 anos de idade (S~) sen et ai.. 1981).

FIGURA 12.26 (a) Taxa de prenhez estimada, em abril-maio. em renas-controles (barras brancas) e tratadas com antelminticos ~2 meses
antes (barras marrons). Os números sobre as barras indicam o tamanho d~ amostra de a~tmais com status de prenhez ~et~rmmad~. (~)
Diferença na produção de filhotes de renas tratadas com antelmínticos no penodo de abril-maio anterior e controle~. em relaça_o a ab~~danc1?
raiva. O modelo sugere que esse limiar Se.' c."nconcr.1 próximo a cuja aplicação sugere que a vacinação reria sucesso para densi-
estimada de Ostertag,a gruehneri em outubro. (c) Abundãncia estimada de O gruehner1 em outubro. em relaçao (regressao cuN1hnea)_ a
densidade de verão. de renas adultas e com um ano, de 2 anos anteriores, em dois locais· Colesdalen ( it) e Sassendalen ( ) Os erros·padrao uma densidade de l por km~. o que é unu informação de dades naturais de raposas de até 5 km- 2. Portanto, a vacinação
(a-e) representam limites de confiança das est1mahvas de 95% (d) Resumo do rendimento a partir de um m~e_lo da dinàmica de popul~ções grande valia. dada a credibilidade do modelo pela. suJ. capaci- seria bem-sucedida, por exemplo, em grande pane da Grá-
da rena de Svarlbard. usando a amphtude de passiveis valores de sobrevivência anual de !1lhotes e de sobrev1venc1a _de renas com no m1rnm':
dade de recriar a dinâmica ob~erv.1da. Conforme .l discmsâo Bretanha, mas ofereceria pouca esperança de controle cm mui-
oito anos de idade. As linhas continuas estabelecem os limites do parâmetro espaço. onde a população de hospedeiros torna-se extinta ou e
regulada ou exibe crescimemo 111mitado As hnhas tracejadas estabelecem a combinação de valores do parâmetro na zona de regulação,_ que mais aprofund,tda <lo C.1pímlo 15 (no cnntcxw J,1 explorJ.- tas áreas urbanas. Na realidade, mais de ::?.O anos após o de-
representa uma média da densidade populac,onal (de adultos+ iovens com um ano) de 1, 2. 3 e 5 renas por km 2 . As barras cruzadas 1nd1cam ç.io), o problema dC"sse ripo de ab,ues sderivo:, n.:periJos é que, senvolvimenco do modelo apresentado na Figura 12.27. a
amplitudes de valores estimados (segundo Albon et ai., 2002) com a reduç.io da densid:lde, se :uenu:1 a pres5.lo d., '-·ompelÍ- r.iiva ainda náo se prop.1gou para a Grâ·Bre[anh:1, e o uso
çio mu:.t-e'ipecífica, provocando aumenws d.is tax.is de n.HJ.- de vacinas orais cada vez mais aperfeiçoadas parece [er de-
p.u.1 o oe~(e e o sul .1 p.irur J.1 fronceir.1 russo-polone~J.. Em- Jen.un sL'r Lo1;1:i.d.1s medid:1s prevemlvJs e como c:-b. pod.:'r i.t l1dade e dedll1io~ d.is ux.1s de n10rt.tlid.1de 11.Hur.11. ·\:,:.,im, o riJo a su.1 propJg..1ção 11.1 Europ.1 e acé me~mo eliminado-a
bor.l .1 .1mt'.11.,.a diret..1 par.1 os humanos sej.1 quase insignifican· ser d11111n.1JJ ündt' j.í exisce? ab.lce corna·se rapidamente nuis prohlem.Ít11.:o qu.rnco m;iior 1u Bélgic.1, em Luxemburgo e em grande p.irce dJ. Fr.rn.;a
te. exi-'te uma cransmissão de niva economic.unenre significa· A Fi::;ura 12.27 mostrJ um modelo simples da din;lnú.:.1 e J. dis...:rcpâ.ncia entre a densidade norma! e .1 Jen~1d.1de-alvo (Pasrnrec e Brochier, 1999).
civ.1, d.is raposas p.ira os bovinos e os ovinos. As auro...riJade~ rapu".la·~.ii:·,i.. F.s\e modelo parece captar com sucesso a essê:n· (nesce caso, l km..-'). Pareamo, o abace pode ser c:xequível com
da Grâ-Brecanha estão especialmente preocupad..1s com J. rai- ciJ d:i. 111 teL1Çlo. pois, com vJ.lores para os diversos p,uâmecros densidades naturais de aproximadamenre apena:, 2 km·~. ~o
va. pois, ~mbora. a doença aind,1 não renha atravessado o Ca- biológico., rom.1dos de dados de campo, ele prevê ócios rcgu· enunro, um.1 vez que as d.emid.1des nJ. GrJ-Breunh.1, por ~. C.:J~·Jolu:.:2'.J ·:::-, ;JJ..':tsitos 2 s~u~; hos-
nal da i\fancha, há um fone desejo em elimin~i-la a panir d.1 !Jrô Je ,ibund.i.ncia das rapos;1s e d.a prevalência da raiv.1. com exemplo, muiras vezes apresem::im um valor méJ.io de: 5 km· 2 e p2d~iros~
sua pro(edência no concinenre europeu (P~coret e Brochier. dunçlo de ,lprnxinudamence q11acro J.nos ~ exJ.tamencc! l me'>- podc:m chegar a 50 km· 2 em algum.lS áreas urban.b. _ih.nes de
l ()99). Nesse ca~o. primeiramence usamos um modelo para ma dma~:i1) cúnscat.ida em .1lgumas áreas on<le a raiv.1 C\C.Í uma imensidade suficiente em geral serão inaka11çjveis. Pode parecer que os parasirns em uma
cape.ir a dinâmica hospedeiro·p.uógeno no campo (e, assim, esubekcid.1 (Ander'ion a ai., 1981). O segundo método potencial de controle ~ a \"Jcinação população sempre sejam selecionado~
dar credibilidade ao modelo) e então questionamos se essa di · Existem dois métodos que possuem uma chance real de - neste ciso. a colocação de vacina oral en1 1)..:a.) que sejam para a evolução de hospedeiros mais resiscemes, que, por su..1
n:imica pode ser efetivamente manipubd.1. Isto é: conhece- comrol..ir ,l rJ.Í\'J. em raposas. O primeiro consisce em maur de acraentes para as raposas. Esse mérndo pode ~er Jplicado a vez, sáo selecionados para parasims mais intt!cciosos: uma clis-
mos suficiemememe .1 dinâmica de populações de raposa-rai- maneir1 ..:onc1nu.1da um cerco número de raposas, de modo .1 cerca de 80fl'C1 de" uma popubção de raposas. 1.;;)n é suficiente~ sica corrida armamemisra coevoluriva. Na realidade. o pro· J
vJ.. p.ira sugerir o limite de propagação da doença em que: po- mama ,l '>U.l Jbund.lncÍJ. abaixo do limi.ir de cransmissão dJ A formulJ. para J resposta já fo1 fornecida nJ cqll,1,./10 12.7,
m,o "'"é""'""'""'"" <>o dfrcw. ernbo" " " ~
1
1
1
'
~

1
3 78 PARTE 2 - INTERAÇÓES

existJ!ll exemplos em que o ho:-.pe<leiro prt!ssiona a evolução vírus isolados do cunpo recebeu gram III e IV, lllt'.'nO~ \·iru- declinam. Portanto, houve seleção conrra os graus I e II e a rias (Figuro 12.29): cada qual foi conduzido pela seleção dire-
do pJras1ro e vice-versa. Um <los exemplos mais nurcanres lencos. Ao mesmo cempo, Jumenrou :1 resistência da po~nda- favor de graus menos virulentos, dando origem a períodos mais cional de uma corrida armamentista. Todavia, isso foi apt:nas
envolve o coelho e o \·írus do mixoma, que causa a mixomato- ção de coelhos no campo. Quando injecados com um,1 cep,l longos de infecciosidade do hospedeiro. Na outra extremida- aparente, porque roda a cepa baccerianJ (de uma das l 2 répli-
se. O vírus se originou no codho .1ielvagem da América do Sul, de vírus de grau li I, as amosrras de campo em 1950 e 19'11 dé' da escal.i de virulência, comudo, os mosquitos são erans· ca~) foi cestada comra rodas as l 2 cepas de fago, e as cepc1s de
5_y/uil,igus bmsiltt'WIL par.1 o qual J doen(,:a é branda e r.ira- revelaram uma monali,fade de coelhos de quase 90q·,>. qu~ missares improváveis do gr,lll V do vírus, porque esre produz fago foram tesrndas de maneira semdhame. No final do expe-
mente mortal. F.nrretJnco, es.1ie drus ger.tlmenre é faral quan- diminuiu para menos de 3QtYo em <1penas oiro anos {JVLu~l1JI! p.trrícula.s lllLllto pouco mfeccios.1s na pde do hospedeiro que rimenro (Tabela 12.4). quando a resisrência de cada cepa bac-
do infecca o coelho europeu (O,ycwl11gw cwuculw). Em um e Douglas, 196]) (Figura 12.28). possam concJminar a.s peças bucais do vetor. A situação com- reriana foi resrada conrra cada cepa de fago, ficou claro que JS
dos exemplos nui.1i importantes sobre o comrole biológico de É fácil compreender a e\·oluçáo da resiscêncÍJ. no codho plicou-se no final da década de 1960. quando um vetor alter- bacrérias foram quase sempre mais resistentes (e muicas vezes
uma pr.iga, o virus do mixom,1 foi introduzido na Austrália, europeu: os coelhos resisrences ~ao favorecidos pela sdeção rucivo da doençJ, a pulga·do-coelho, Spilopiy/11!:f cwzicu!i (o rotalmenre resiscenres) à cepa de fago com o qual el.1s coevo·
11.1 décad.1 de 19)0. p.1ra controlar o codho europeu. que se nJcural na presença do vírus <lo mixomJ. A sicu.1çáo do \·írus, principal \"etor na Ingl.uerra), foi introduzido na Austrália. luíram. Houve, porcanco, di\"ergênciJ C\'oluriva exrensiv,1 en-
tornJra uma pr.1g:1 em áreas de pasu:jo. :\ doença se propagou no entanto, é mais sutil. O contrasce encre J virull:'."nci.1 do Existe alguma evidência de que ,ls cepas mais virulentas do cre as cepas - ou subpopubções - e polimorfismo extensiYo
rapid,unente em 1950-1951, e ,ts populações de coelhos sofre- vírus do mixoma no coelho europeu e sua falra çle viru\~·nci:1 virus podem ser f.H"orecidas quJnJo a pulga é o vecor princi- dentro da merapopulação como um todo.
r.1m uma drástica reduç·ão - mJis de 90o/o, em alguns locais. no hospedeiro americano com o qual ele co-evoluiu, combi- p.il (ver discussão em Dwycr et ai., 1990). Assim, encerrJmos esre capículo, .1propriadamenre,
Ao mesmo rempo, o vírus foi introduzido na Ingla[erra e na nado com a arenuação da su,1 virulên<.:iJ na Au~tdlia e 11.1 Eu- No gcr.tl. enrJ.o, houve seleção no siscema codho-mixo- com unu oucr.1 aJvent'.ncia, de que, a despeirn de ~t:rt.'m
Fr Jnça. onde umbém ocorrt'.'r;1m enorme, n~duções de popu- ropa .1pós sua introdução. :.iju·aa-se :1 visão comumente dden- m.uose, n.lo por decréscimo da virull:'."nci.1. mas por aumento rel.iriv.unente negligenciados pelos ecólogos no pJssa<lo, os
L1çôes de codho:,. A,, mu<.Lrnç.1:- t\·ulu[i\·,1:, 4ue ocorreram 11.1 did.1 de que o~ pJrasiro'i evoluíram p.1r.1 tnrn,1rem-sc beni~no~ d.r tr,m.1;111)Ji/Jil,d11dt.' (e, porr.rnco. Jumcnro do v,tlor adJ~Hati- pJr.1~ito) ót.lo progrl.'S~!\,Ullente sendo reconhecidos como
Ausrr.íli.1 foram ,1L·ompanf1.1d.1~ der,dhad.rnicme por fenncr e p:1ra m seus hospedeiros; com i~:,o, O\ ho~pnkiro~ s.lo prc~tr· \·o) - quL· .\Colltece p.ira que esse ~i~[enu ~ej.1 maximiz.ido em imporrances p,uricipJnre) n.ts dinâmicas ecológic1 e e\·olu-
colaboradores (f·e1111cr e Rarcliffe. 1%5: Fenner, 198)). que \·ados e. J~sim. os h~ibirJrs dos pJrJ:,.1tos s}.o mJnri<llh. EssJ 6rJus incermedi.írios de \"irult'.nci.1. 1\luitos pMasitos de ime- riva dos ~eus hospedeiros.
[Íverarn a brilh,rnre percepção ao cs[Jbdecer as linhas genéti- visão, no encanto, é complet:Hnence crr.1d.1. Os p.uasíros Ln"()- ws com:.im com a rnonc do seu hospedeiro par,t a rr.rnsmissão
us de bJse das cep,1.~ tanto dos coelho:,, como Jo vírus. Eles recidos pela seleção n.1.rural :,Jo os de maior \·,.dor .1<lapc,Hi\·o dúiva. f\:c:,~e caso, J virulênci.1 muiro alca é fa\"orecida. Em
tLtilizaram essJs cep,1::i par.1 medir mu<.bnças suhseqüences na (de n1Jneira geral. maior taxa reproduti\"a). Âs \·ezes, i::i::io é ouuos casos. Jinda, ;l seleção n;irural acuando sobre parasims
virult'.nciJ do víru:,, e na resistl:'."ncia do hospedeiro, .l medida obtido mediante um declínio da virulênci.1, nus :1s vezes, n,lo. rern fovo1ecido cl.uamente a virulênciJ muito baixa: por
que evoluíam no campo. O vírus do mixoma na~ce no s~mgue e é rransmicido (_k· exemplo, o vírus do herpe~ simples cm humanos pode causar Jnic1Jmos pela definição de parasirn, infecçâo, parógeno e
Quando a. Jocnç.1 foi introduzida inicialmente na Aus- hospedeiro para hospedeiro por insetos verort:s hema[ófago). d.rno muito pouco palpável ao seu hospedeiro, mas eferi- doença. A diversidade de p:1rasitos de animais e de \·eger.iis é
rr.iliJ. ela matou 111Jis de 99% dos coelhos infectados. Esse Nl Austrália, nos primeiros 20 anos .1pós sua incroduçJo. m \·,1rnenre provoca infecção permaneme. Esses detalhes refle- depois delineada, com bJse nas disrinçôe.) cnrre micropJ:-.1si-
"cJso de mortaltd.1de'' cJiu pJr.1 90~,0 dentro de urn ano e de- verores principais foram mosquicos (em especial A11opl1di'' tem diferençJs nas ccologias subjacemes de hospedeiros-para.sí- ros e macroparasitos e encre os com ciclos de vida diretos e os
pois declinou aind:.1 nuis (Fenner e Rarcliffe, 1965). A viru- 1m11ulipe:f) que se alimentam somente em ho~pedeiros \"i\·o~. ros, mJ.s o que os exemplos rêm em comum é que houve evolução
lência de isolado:::. do vírus amosrrados no campo foi classifica- O problema do.') vírus dos gr.1us I e II é que, por matarem u 11.t direção do .wmenro do valor adaptacivo (jiweH) do p.1rasim.

d.1 de acordo com o rempo de 'iobrevi,·ência e a t.1xa <le moru- hospedeiro táo rapidamence, h.i apenas um período muico curto Em mnros casos, a coevolução é
(a)
lidadc de coelhO'i-conrrole. O vírus original, altamente viru- em que o mosquico pode [rJ.nsmi[i-los. Uma rransmissÂo d~·- definicivameme mais anragônica: au-
lemo ( l 950-19) 1), n:cebeu gr.1u I e foi ~ que mawu 99% dos tiva pode ser possível com densidades muiro J.l[as de hospL·· menco da resiscência no hospedeiro e
coelhos infrcr.1do:, un laboracório. Em 1952. a m,1ioriJ dos dciros, mas ela não é mais pmsível logo que as denstd.,dL·\ aumenro dJ mfecciosidJde no parasito. Um exemplo clássico
é., inceraçâo enrre plantas Je imere.')se agrícola e seus patôge-
nos (Burdon. 1987), emborJ. nesce caso os hospedeiros resis-
ri:mes com freqüência sepm inrroduzidos por intervenção
humJna. Pode haver até me~mo um antagonismo gene-a-gene,

,oon
(a) Austráha

' 1950---51
(b)

100
Grã·Bretanha
cum um aldo de virulência parricuL1r no p,uógeno, que, por
~u.1 \·ez, é sdecion,1do p.u.1 oucros alelos diferentes do alelo
original no p.Hógeno, e ,1s:,im por di:rnre. Além disso, essa coe· (b)
o
o 10 20 30 40 50

o~-19s2-ss 1953 ';olução po<lt'.' originar polimorfirn10 no p.uasito e no hospe- 0.8

~
~
12== Jeiro, sei,1 cornn resuludo de .1klos diferences sendo fo\·oreci- ô
O.ô
do~ em suhpupuL1çôes d1~rinu,. )ej.i porque: v.irios alelos es- ~
~
r.lu s1111ult.rnt'Jlllence em um e . . r.,do de flu:-..o dentro da ~ua u
~
u 0,4
1962 popuL1çJ.o, ud.1 um ~endo fo.\"ore<.ido {e seu .1lelo antagônico ~
e;
110 ourro parceiro) quando é raro. i'::i realid.1de, tais processos
~
0.2
detalhados tém revelado diticuldade de observaçfo, a qual tem
.;;ido re,liiz.1d.1 em um sis[ema composro de unu bactéri.t, f'seu- o
o 10 20 30 40 50
FIGURA 12.28 (a) Porcentagens em que d1· domo11fli J!uorescew, e )eu parasiro \"Ír.11. o bacteriófago (ou Numero de rranslers
ferentes graus do vírus m1xoma foram en· fago) SBW25Ô2 (Buckling e R.,iney. 2002)
contrados em populações selvagens de coe·
i\1ud.1m;.1s no hospedeiro e no parasito foram monimra- FIGURA 12.29 (a) Por um período evolutivo (1 transfer ~ 8 gerações
lhos na Austrália. em épocas diversas. de
1950 a 1981. O grau I é o mais virulento (se· das por um período evolu(ivo. à medida que 12 réplicas de bactenanas). a res1stênc1a bacteriana ao fago 3umentou em cada uma
.=-~5--81 gundo Fenner, 1983). (b) Dados sernelhan· populações coexisrerHes de b.tcréri.1 t' fago eram rransferidas das 12 réplicas bacterianas A resistência ·média" foi calculada consi-
0L'~---"~:::::=-~~--'-~--"'--~ tes para populações selvagens de coelhos
Je um frasco Je culwra pJra outro. Ficou e\·idenre que as bac-
derando os 12 isolados de lago a partir dos respectivos pontos do
Ili IV na Grã·Bretanha. de 1953 a 1980 (segundo tempo (b) De maneira semelhante. a infecciosidade do fago aur.,13n-
Grau de v1rulénc1a May e Anderson, 1983; de Fenner. 1983) c~rias em geral .se tornJrJm rnais resistenres Jos fogos. ao mes· tou. sendo a sua "média·· calculada considerando as 12 réplicas bacte-
i rnu rempo em que e~rcs ~e rornJ.ra111 nuis infecciosm às hacré- rianas (segundo Bucklmg e Ra,ney. 2002)

_L
380 PARTE 2 - INTERAÇóES

TABELA 12.4 Para cada uma das 12 réplicas bacterianas (81 a 812) e suas re~pect1vas 12 réph:as de fagos (cbl a 012), as e~tradas na.tabela
representam a proporção de bactérias resistentes aos fagos ao fmal de um per1odo de coevoluçao (50 ~ransfer~"' 400 geraçoes bacte.nanas).
Os pares em coevolução são mostrados em negnto ao longo da diagonal. Observe que as cepas bacterianas sao geralmente mais resistentes
à cepa de lago com a qual elas coevoluíram (segundo Buckling e Rainey, 2002).
Réplicas bactenanas

Réplicas de fagos 81 82 83 84 85 86 87 88 89 810 811 812

0,8 0.9 1 1 1 0,85 0,85 0,75 0,65


Ql
0.1 1 0.3 0,85 0.25 0,85 0,9 0,8 0,65
o2
0,75 0,75 1 1 0.9 1 1 0,85 0,9 0,9 0,65
03
O, 15 0,9 0.8 1 0,85 0,6 0,6 1 0,85 1 0,85 0,35
$4
1 0.9 1 0,8 0,85 1 0,8 0,65
os 0.25 0,9 1 1
0,9 0,85 0,75 0,45 0,25
0,8 0,85
•ª
o7
0,2
0,2
1
0.75
0,85
0,6
0.8
1
0,75
0,4 0,45 1
o.a
0,9 0,85 1 0,75
0,7
0.35
0,25
Q8 o 0.95 0,55 0.95 0,35 0.25 1 0,85
1 O, 1
o9 o 0.7 0.55 0,45 0,7 0.35 0,85 Ô.5
0,5 0,4
o 0,7 0.9 0,7 0.55 0.9 1 0,7 1
•10
o 0.5 0.9 0.75 0.7 1 0.95 0,75 1 1 0.35
011
012 o 0,15 o 0.1 0.65 0.35 1 0,7 0.8 0,85 0,4

1J.·'. :n:Jc.:Licão. 3irr:~1oi'"';lS.s .... ·' 1·; 1 ~;.; partes se beneficiam:"++") ou parasíticas (uma ganha, uma
com ciclos de vid.1 indiretos lutilizam \'t'COrt:s). O caso parri~ portam.:: ~1ar.1 compreender a disrinçJ.o erHre prevalênci.1, in- com2nsai3 2 engenheiro3 sofre: '' + -"). Em primeiro lugar, não é possível demonstrar,
cular de parasitas sociais e parasiros de prole (p. ex., cucos) é rensidade e intc"nsidade média. com dados consistentes, que cada um dos participantes ou se
rambém discutido. DisLuttmm os efeicos de parasicos n.1 sobrevivénci,1. no Nenhuma espécie vive isolada, mas, com freqüêncÍ:t, ,1 asso- beneficia ou sofre. Além disso, existem muitas interações en-
Explicamos J Jifaença enuc p.uasims biotróficos e ne- crescimento e 11.1 t'ecundidade de hospedeiros. Os efeirns são ciJ'rão com ourra é particularmente fechad.J: p:uJ muiros or- rre duas espécies em que a primeira proporciona um hábirat
crotróficos (sapróuofos pioneiros) e ucilizamos uma discussão freqüencemence sutis, afnando, por exemplo, as inceraçóes de ganismos. o hábirat ocupado é um indivíduo de ourrJ espécie. para a segunda, mas, como conseqüência, não há indício real,
sobre zoonoses (infecções da vida selvagem uansmissÍ\'eis ao hospedeiros com oucras espécies. Os parasiros vivem dentro de cavidades do corpo ou mesmo em qualquer parâmetro mensurável, de que ela se beneficia ou
homem), para ilustrar a nJrnreza da especificidade de hospe- Após, examinamos a dinâmica da infecçJ.o dencro de Je células dos seus hospedeiros; as bacréri,1s fo:adoras de ni- sofre. As árvores, por exemplo, propiciam hábitacs para mui-
deiros encre parasicos. populações de hospedeiros. Os conceicos fundamencais neqe s:rogênio vivem em nódulos localiz.1.dos nas rJízes de legumi- tas espécies de aves, de morcegos e de animais trepadores. ro-
Os parasitos são ambientes reativos: eles podem resistir caso são a uxa reproduciva básica, R0 • o limiar de transmissão 110:-..1s. encre outros exemplos. Simbiose ("vivendo junrn") é o das ausemes em ambientes sem esses vegetais. Liquens e mus-
ou se recuperar ou (em vercebr;1.dos) adquirir imunidade. Des- (R0 == l) e o umanho populacional crítico. Esses forma.m uma termo que cem sido empregado para cais associações físicas gos se desenvolvem sobre troncos de árvores; plancas trepadei-
crevemos as resposcJs conrrasc.rnres de venebrados aos micro esrrucur.1 p.1r.1 microparasicos direcamence cransmicidos que fechadas encre espécies, em que um "simhionre .. ocupa um ras. como hera e figueiras, que embora renham raízes no solo,
e macroparasicos e as comparamos sucessivamente com as res- esclarece os tipos de populaçóes em que podemos esperar en- h,íbim fornecido por um "hospedeiro". usam os croncos d.is árvores como apoio para estender a sua
postas de pl.rnras à infecç:io. O cusm elevado da defesa do comrar tipos diferences de infecçáo. a namrezJ da curva epi- De fato, os parasiros são excluídos da c.Hegoria de simbion- folhagem acé o dossel. As árvores. por isso, s:ío bons exemplos
hospedeiro contra ataques é enfacizJ.do. Os parasitos podem dêmic.1 Je uma infecção, os padrões dinâmicos de diferenres tes, que<:'. a reservada para incerações nas quais existe, ,lü menos, dos chamados "engenheiros" ecológicos ou de ecossiscernas
também induzir mud.mça" profundas no crescimento e no tipos de parJsirns e o planejJ.menco de programas de imuniia- um indício de "mucualismo". Uma relação mmu:Uisu é simples- (Jones er ai., 1994). Pela sua presença marcante, elas criam,
componamt"nCO do hospt"deiro. ção com ba,e no principio da "imunid,1de da popu!J.çio''. mente aquela em que organismos de espécies difeíemes inrera- modificam ou mancêm hábitats para os ourros. Em comuni-
Explicamos por que pode ser difícil distinguir os efeitos Também s;lo abordadas as dinâmicas de pa[ógenos ata- g.:m em seu bc-nefício mútuo. Ela em geral envoke a troca direta dades aquáticas, as superfícies sólidas dos organismos maiores
da compecição imra·e~pecifica encre parJ.sicos a parcir dJs res- cando ..:ulcivos, de infecções rransmicidas por vetore,; e de bens ou serviços (p. ex., alimemo. defesa ou tr:rnsporre) e ripi- são comribuinces aré mais imporcames para a biodiversidade.
poscas imunológicas de hospedeiros dependentes da densida- mJ.croparasiro, e de parasitos infectando metapopulaçóes camenre resulca na aquisição de c.1pacidades nov:1.~ .10 menos por As algas marinhas normalmente crescem apenas onde podem
de de p.uasitos, e os p.u.hões as~oci.ldos J. competição inreres- Je hospedeiros. um pJ.rceiro (Herre et ai., l 999). Porcanro. o mutualismo nâo ser ancoradas sobre rochas, e seus ralos foliáceos, por sua vez,
pecífica são observ~heis CJnro em pJ.r,tsicos quanto em outro~ E'\J1111n.1mos o papel que parJsicos e p.1cógenos de- implica necessariamente uma associação física tt".clud:1: mutualis- são colonizados por algas filamentosas e por vermes cubifor-
organismos. semi.)enh.un nJ dinâmica dos seus hospedeiros. Ex:1min.1- tas n.io precisam ser s1mbiomes. Por exemplo, muir.1:, pl.rncas con- mes (Spirorbú). Cercos animais modulares, como hidróides e
. . As distinçôe!- emre os tipos diferentes Je tr,msmiss,lo de mo~ primeiro ,c.: rts dinjrnic.1s de hospedeiro e p.uasito ~J.u ~guem di:,fXTsar suas sementes ao oferecer unu rccompensJ J. briozoários, umb<:'.m colonizam algas marinhas. das quais de-
p,uJ'iirns são descritas. e é dese1n-olvidJ J de\criçáo fornul J.1 .1LopLlJ.1,;. ou :,e o parasirn simpk:,mente modific.1 .1 din.i- a\·es ou mamít'eros, na forma de frutos c::trnO\O\ ..:omesríwi,. e pendem p.ira ancoragem e acesso :1os recursos pro\'eniences d('
di1ümica Je rran'\mi~s.i.o. uriliL.111do .1 form.1 da caxa de com.i- mic1 "ubpcenre do hospedeiro. ,;em luver qu.1lquer Fedúatk muic.is pLrnr.1s ..1Sseguram J poliniz.1ç.io efeci,·.1 ,\O oferecer .1os águ.1 do m.1r c:m movimcnro.
ro p,tr.l distinguir a tr;1mmi,s.i.o dependeme d;i densidade ,.b Jececr:i\·el. Após. umJ série de escudos de CJ~O enf.Hiza que insecos visit~1nres um recurso de néctar em su.1s flores. Essas sJ.o .. De mJneira geral. é provável que muicos desses exem-
transmiss.io dependenre d.1 freqü2ncia, embora seia enf.uiz.1- os d.1Jos guc: .1póiam um p.ipd dos p:u.1siros nJ Jinâmic.1 inrer.1çóe-. murualisr..15, n1.1s não ,.io simbioses. plos sejam "'interações" comensais (um parceiro g.1nha, o ou-
do que amb.1.~ possam ser .1penas JS C"Xtremiclldes de um es- dos seus hospedeiros são esp~trsos e muiu:, vezes sujeiros J Seria errado, enrrecJnto, ver as tro não é prejudicado. nem beneficiado: "+ O''). Cerra mente.
pectro. Pode h.iver (.lmbém uma gr.rnde vari.1çáo espJcial na imerpret.lÇÕt'S alcernaÚvJ.S. inrerações mutuJ\i'.-.u.;; :,implesmente aquelas relações em que o prejuízo para o hospedeiro de um
vdocid.1de com que um.1 infecção se propaga. seja como co11- Pnr fim. consideramos a coevoluç.i.o de parasicos e seu:, como relações sem cunnicos, em que ·'parasico" ou o benefício para um "mucualisra" nâo podem ser
seqllt!nci.1 de focos mfecciosos ou por uusJ de miscurJs espJ· hospedeiro,;. ,;.tlienrando que nJ.o hJ qualquer ''acomod.H.;.Jo · -~ ;-·.,,-;-. ' :tpenas coisas boas fluem pJra J.mbos demonstrados de\'eriam ser classificadas como comensais ou
ci:lis de t"spécies ou v:uied.1des sus(eríveis e resistentes. ..:onfon.ível". m.1s sim que as pressões seletivas em ambos os os parceiros. Ao comr:irio. o pensa- de "hospedeiro-hóspede'', tendo em mence que os hóspedes,
A distribuição de para~iw,; demro de popubções de hos- c.1sos - i.nr.hico e hospedeiro - favorecem a nuxirnizaçâo do mento evolutivo amai vê os mucualismos como ca-;os de ex- como em outras circunstâncias, são indesejáveis quando os
pedeiros em gerJI é agregada. Isso a wrn.1 especialmente im- .1jusce 1nd1vidu.d. piar ação recíproca, em que, todavia, cada pJrceirn é um bene- hospedeiros estão doences ou sofrendo. Os comensJis cêm sido
ílciirio líquido (Herre e Wesc. 1997). muirn menos esmdados do que os pJrasitos e os mucualisras.
As imeraçóes em que uma espécie propon:iona o hábitat embora muicos ddes cenh.1m modos de vida bastance espe-
parJ outras não sáo necessariJ.mente mutuali)us \ambas as cializados e fascinJmes.

l
l
382 PARTE 2 - lsffERAÇÔES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 383

Os muruJ.li'.'.>mos cêm sido muitas vezes negligenciados. em interações limpador-cliente (Bshary, (a) (b) Perda do limpador
comparação com outros tipos de inceraçóes, embor.1 eles consci- 2003). Quando os limpadores saíram 20
naturalmente da mancha de recife (de Peixe limpador
ruam a maior p.irte da biomJ.SSJ do mundo. Qu~e. rodas as plan- I

tas que dominam os campos. os urzais e as florestas possuem modo que a mancha ficou sem limpa- _ ~ S~m peixe fim~dor /
***
raízes em íncin1.1 .1.s.sociaçáo nrnrualisra com fungos. A maioria dor) ou foram removidos experimentalmente, a diversidade
dos corais depende de a.Jgas unicelulares dencro de su.IS células, (número de espécies) Je peixes no recife caiu de maneira drás-
tica, embora isso fosse signiílcarivo somente após 4 a 20 me- .,
muitas plJnras floríferas necessicam de insetos polinizadores e
muitos a11im.1is urregam comunidades de microrganismos em
seus intestinos. nece.<.s.irios para a SUJ dêciva digesrão.
ses, não após 2 a 4 semanas (Figura 13.1 b). Enrret,nro. quan-
do os limpadores se desloc.1ram para - ou foram acrescenudos
t: .
X, 0,8
-40~----------
O re.<.tatHe dc.<.te capírnlo esr.i organizado de rnaneir.1 pro- em - um,1 mancha que não hJbiravam anteriormente, a Ji\·ersi-
dade aumemou de fomu sionificariva. mesmo em poucas st.:rna-
! 0.6
Natural 'Expenmental Combinado
gres.<iiva. Iniciamo::. com mumalismos que nJo impliquem uma
simbiose ímim.L Antes de wdo. a .1,.socÍJç,ío é :unpb.mence com- nas (Figura 13.1 c). Curios~11ente. esses deiros se.. aplicun nã0 i 0,4 T (e)
60
Imigração do limpador
**
iá 0,2
apenJs J5 e~pécies clic:nres, m.1s umbêm Js não-cliente<;.

l
porCJmcnral: isco é. cHfa JXJ.r(eiro :,e comportJ de rnodo a pro- 0 o
.
lI I
po,ciorur um beneficio líquido .10 ourro. t\',1 SeçJo 13.5, ao Jiscu- De faro. vários 111um.1lismos componamemJis são encon-
rir murn,dismos cmr1._' .rninui:. e J. mlcrobiota vÍ\'enJo em seu~ rr.1Jos c:mre o::. fubir.mces de recifes de corais rrnpicai) {onde o::,
i11re"rinm, c\(.llL"llJu\ nru<.Lu1do :1, ,1::i,0Li,1çón m.1i::i fech.1d.1.::i prúpiim cor.ti::, ~ju 111uru.di"t.1~ - \CI" ~c~:w 15. 7 1). () p1.:Í\l'-p.i- ~ 0,8

(um pJrceirn \ i\·endn denrro do oucro), e n.1::i seçóe" 1_1.6 .t lluço (/i.;11p/11pno11). ~1or exemplo, ,·i\·e iunro :1 -1111.'.'.mon.H.!u-lll.lr [ 0.6

l 3.1 O e:cunin.ucnHJ\ simbimes -1ind,1 nuis íntimas. em que


um p,1rceiro se loc1li1:.1 entre cdubs do ouuo ou penetra rn:--
(p. ex .. Pl~)')"Obn1d11~1, Ritd1tmrl1w) e se Jbrig,L.c:ntre os tenu(u!o::i
delJ sempre que pressente o perigo. Sob ess.1 proreç.1o, o pei\t
~
~
0,4
O2
T :tJ
..,1

1ecebe uma cobt'rrur.1 de muco que o procege dos nematoc1sro~ 0 o


..-. ~
l.1::i. NJ Seção 13. ! l, interromperen10s ,1 progressão para con- 14 15 16
-20 ~ - - - - - - - - - -
Natural Expenmental Combinado
'>iderJr bre\"emenre moddos m,Hem,iricos de mmualismos. Por irrír:rntes d,1 :111émona (a ti.1nçJo nornul da mucilJgem <l,1 ant'- Recife

~lm, n,1 SeçJo 13.12 - par.1 compleur, embor.1 o tenu nJ.o seja mon.1. é e\'Ír.1r descJrga de nem.uoci~tos. quando temáculO\ y1zi-
FIGURA 13.1 (a) O peixe hmpador realmente limpa seus clientes. Número médio de parasites gnat1ideos por cliente (Hemigymnus melapterus)
esrrir.unence "ecnlógt...:o" -, examin.1.re111os a siruJ.ç;lO em que nhos se rncJm). O peixe obrém proreç;ío dô.S,1 rel.içJ.o, 111;1., .1
em cinco recifes; em três rec,fes ( 14, 15 e 16), os limpadores (Labroides d1midiatus) foram experimentalmente removidos. Em um experimento
orgJnebs diferente'> entram em sfirtbios·é-r1õ- íiuihü dentro ariêmolITTJ.rnbém se beneficiJ. pois o pelxe-palhJço arac.1 oucro~ '"a longo prazo", clientes sem limpadores tiveram mais parasitas após 12 dias (diagrama superior: F = 17 .6. P = 0.02). Em um experimento
das cdubs dos ,eus rnuirns hospedeiros 4ue ,üo p;trece sensa- peixes que se aproximJ.m, incluindo esp~cies que normJ!menre "a curto prazo"", clientes sem limpadores não tiveram signtfrcahvamente mais parasitas ao amanhecer, após 12 horas (diagrama central· F =
1.8. P= 0,21). presumivelmente porque os limpadores não se alimentam à noite; mas, a seguir, no período diurno de 12 horas, a diferença foi
se alimentam de Jnêmonas-Jo-mJr.
rn comider;i-la:i como organismos disrinrn::i. significativa (diagrama inferior: F= =
11.6, P 0,04). Sobre as barras estão representados os erros-padrão (segundo Grutter. 1999). (b) Os
hmpadores aumentam a diversidade de peixes no recife. Mudança (em porcentagem) no número de espécies de peixes presentes, seguindo a
perda natural ou expenmental de um peixe hmpador, L. d1mld1atus, de um fragmento de recife (ou a combinação dos dois tratamentos). a curto prazo
(2 a 4 semanas. barras mais claras) e a longo prazo (4 a 20 meses, barras mais escuras). (c) Mudança (em porcentagem) no número de espécies de
13.2.2 Mutualismos entre formigas e plantas
peixes presentes, segurndo a imigração natural ou experimental de um perxe limpador. L. dimidiatus, para um fragmento de recife {ou a combinação
dos dois tratamentos), a curto prazo {2 a 4 semanas. barras mais claras) e a longo prazo (4 a 20 meses. barras mais escuras) As colunas e as barras
13.2.1 Peixe limpador e peixe cliente A hipótese sobre rcl.1ções murualisras entre plJnt.1s e formiga'> dos erros-padrão representam medianas e interquart1Jes. • = P < 0,05; •• = P < 0,01; ••• = P < 0.001 (segundo Bshary, 2003).
foi proposu por Belt (1874), .1pós observ.u o comport",lllll'IHO
Ü::, peixe::. "limp.tdore,;", dm qu.iis ,e conhece ao menos 45 de forrnig.1s agressivas sobre espécies de rluláa que pmsuem
espécies, se Jlimenr,1111 de ectopar.1sims, b,Krérias e tecidos ne- c:spinhos engrossados e ocorrem na América Centr:d. Es,;,1 re- monstrar. Eles evidentemente atraem formigas, às vezes em liares. Coníliros preparados experimencalmence e conquistas
cróticos d.1 ::,uperficie do corpo de um peixe '"cliente·'. Na ver- L1ç.io foi descritJ. de modo m:1Í::, com piem por Janzen ( J 1)6 7 ). grande número, mas são necessários experimentos cuidadosa- naturais indicaram uma hiaarquia de dominância enrre as e<;-
J.1de, o::. !imp;:idor-.:s muir.1s \·eLcs nuntêrn territórios com "es- parJ J ac.íci.1 chifre-Je-rouro (Awcia cornigc!il). e ::iua for111ig.1 mente delineados e controlados para mostrar que as pbmas se pécies de.' formigas. Crematogaster 4ouedti foi a principal dorni-
uções de lirnpe,.1- ljllt' seu.\ clicmes \'is.1t.1m - e \'isitam mais ,bsociad.1, Aeudon~1 m1cxfcrrugi11cd. A pbm,1 possui espinho.\
1 henefici.un, ui como o escudo sobre Tachigali m_yrmecophi/11, nanre, seguida por C mÍntO)ile, C. nigriet•pJ e Tetraponem pm-
freqücnremerue qu,rndo tr,rnsportam muirns p.trasitos. Os lim- oco~. que s.io us,1Jm pela\ formigas como !oc.1is de niJific.1- ,Ír\"ore componeme do dossel de: florestas amazônicas, que abriga zigi. Independentemente de qual espécie de formlga colonizou
p.1dores obrém unn fonte de ,ilirnc:nw. L' O\ clientes sJ.u prote- çjo; nos jpices de ~u.1s folh.1s. existem "corpos belrianos" rinh a formiga Aeudom_ynnex concolor em estruturas ocJs especiali- um determinado individuo de acácia, as árvores ocupadas ren-
gidos de 111f..:cçjn. [k [uo, ncm :iemprc é Lícil ~)ro\·,ir 4ue os em proteírus (Figu1,1 l.L2) yue JS formiga.~ coler.1111 e uri!t,.1111 :udas (Figur.1 13.3). :\.s formigas foram eliminadJ.s de planus deram a crescer mais rápido do que as não-ocupadas (Figura
du..·nrc::i s1._· hcndlcurn. nu~ i.:m t:xpc:1Í111t.:1Ho::. peno da Lizard como .1limemo . .-\lt:m di~m ..1 pLrnu ,1pre~enu nectário,; ~cde- selecionadas: csca::i Jpresentaram 4.J m.iis inseras füófogos do 13.4.1). Isso confirmou. de modo geral. J n;:icureza murnali·)r,l
bl.111d. 11.1 ( ;n..·.1t 8,ir11er Rcd. ,-\usr1.ili.1, Cructer ( 109<)J co11- (O!"t.'\ de ,1çüc1r em :-u,1:- p.1rres \·eger.uív,1.,, que u111bém .1c1.1e111 que as planr.i::,-conrrolc: e sofreram um imp:1.crn muito maior JJs inrer1çóes. PorC:m, lll.lh sutilmenre, .1s mudanças n.1 out·
"egu1u demomrr.1r que o peix..: limp.1dor L,rhroidc) rlm1rrli,mu ,h for rnig.i::.. E~r.1::,, por c\Ll,l \·e,. protegem L'::i~.1s pequen.1, ,H\ o- d;:i herbivoria. As folhas d.is plantas com uma popubçJ.o de: a
p.1çJ.o das formigas em d.ireçJo hierarqui.1 da domlnânciJ (con-
1._ome isópode., ~n.:wideo~. p.ir,1siHh do peixe clieme Hn111- r("), corr.rndo ativ.uneme os r.1mos Je ou(rJ'I e~p~cies cornpl"ti- formigas tiver,1m unu sobrevivenciJ duas \·ezes superior à dJs quista por uma espécie mai, dominante) ocorreram sobre pl.1.n-
gy11111us mt•laptl'l"w Os clientec<1 apresenur.un significati\-amente dor;ts. além de evitarem ;1 ação de herbí\·orn~ - art: mc:smo hi.:1 · plantas sem formigas e qu,ise 1,8 vez superior à &1s plJnras nas tas que cresceram mais dpido do que J média. e as mmbni;.1..s
(3,8 vezes) mais p.u,1.<,itos l 2 di.1s após os limp.1dores serem exclu- b1\oros CJr:rndes (wrrebrJdos) podem sc.:r inibido::.. quais as formigas for.1m ddiberad.imente eliminadJ:;. em direçJ.o oposta à hierarquiJ. ocorreram sobre plJntas qtie
ídoc<1 <.hs g.uol.ts C'\perimemais (FigurJ 13. l.1, di.1grama superior); 1'.~ realidade. os muruali,mos A relJção mucualisra, nesse caso cresceram mais lemamente do que J. média (Figura l 3.4b).
mas me,;;mo em período curro C1té l dia), embora com remoç.:io formiga.-pl.rnra C\'oluíram muiras \'e- enrre formiga e uma espécie vegetal, Tais dados, porranco, sugerem que as conquiscas s-lo
J.o,; ]imp.1dorec<1 (que ,t: .1limenum ;1pena.~ durante o dia). nJ.o zes (inclusive rc:pecid..1meme 11.t mcs- não deveria, entretanro, ser conside- basrante diferenres sobre árvores de crescimento rápido t.:
houve d"eim qu.mdo .1 \eritlc.u;.10 foi tt'it:1 -10 am,rnhecer (diagra- nu famili.1 de pl.rnus); e os n.:cr.írios e::,r.lo pre::ientes n.1s p,ures rada isoladamente - um cemJ que sed kn rn, embora os decalhes permaneçam espccularivos. É pos-
lTIJ. central); no período diurno seguinte, o número de parasiros vegeucivas de ptrnc1::, de. no mínimo. 31) famíliJs e em nwit,h retomJdo nrne capítulo. Palmer e colaboradores (2000), por sível, por exemplo, que as árvores de crescimento mais r.í-
foi significuiv,tmem.: nuior (4.1 \'ezes) (di;i_grama inferior). comunidades por rodo o mundo. Os necr.irios sobre .ts tlor(,; exemplo, estudaram a comperiçáo entre quacro espécies de for- pido também produzam "recompens.1s" às formigas a uma
Experimcnrns pmreriorc~ os.indo ,1 mesma espécie de ou no interior Jd:i,;; ::,ão faci!memc: imerpreudos como di:'.'· migas que pmsuem relações murualistas com ..-1.cacur drepano- wxa mJÍ.<> alca e sejam escolhid.1s JcivJmenre pda5 espécies
peixe limp:i.dor, 111.1.s cm um recift:: Jo :\f.1r \'c.·rmelho no Egito. menros dt' ,HrJçJ.o p.tra os poliniudores, mas o papel de 11<.:cr.i- lobium, em La1kipia, Quênia, nidificando no interior de espi- de formigJs dominantes; ji as :írvores de crescimento lenro
<:nforizar.1m J imporr.inci.1 Jo ununho eh comunidade nc:s,.1s rio,; exrr.ülor.iis sohr.: ~urres \·egetati\·,b t: m.lis difícil de d.:- nhos engrossJ<los e se alimentando de necririos ,us bases fo- são mais rapidamente abandonadas pel.is c:spécies dominan-
j

l__
384 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 385

(a) (b)
(a) (b) FIGURA 13.4 (a) O aumen10 do crescimen-
to médio foi significativamente maior (P <

0,06 f oJ 0,0001) para individuas de Acacia drepano-


fobium ocupados continuamente por formi-
I
~
1}).}J~? 0 l
0.04
gas (n = 651) do Que para 1nd1viduos não-
habitados (n = 126). Os indivíduos "ocupa-
dos cont1nuamen1e· foram habitados porco-
~
~
0,04
;,jif' i lõnias de formigas tanto no levantamento ini-
cial quanto no realizado seis meses mais tar-
~ de Os individuas não-habitados mantive-
~ ·_,·:-\ ram-se desocupados por ocasião dos dois
~ 0,02
levantamentos. (b) Os aumentos do cresci-
,l mento relativo foram significativamente maio-
----0.02
res (P < 0,05) para indivíduos submetidos a
FIGURA 13.2 Estruturas da acâc1a chi-
fre-de-touro (Acacia cÕrnigera) que ~ transições na ocupação em direção à hie-
rarquia compelit1va das formigas (n == 85) do
atraem sua formiga mutualista. (a) Cor- ] --004r

r
que para aqueles contra a hierarquia (n =
pos beltianos ncos em proteina nas ex- 48). O aumento do crescimento foi determi-
tremidades dos folíolos (© Oxford Sei· -0.06 nado em relação aos indivíduos ocupados
ent1hc Films/M1chael Fogden). (b) Espi- e pela mesma espécie de formigas. quando
nhos ocos usados pelas formigas como --0.0B'------------ estas não foram removidas. As barras dos
--0.0 2 '---C-om-,o-rm-,-ga-,--s-.-m-fo=,=--m-,g-as~ Contra h1erarqwa Com hierarquia
locais de n1d1f1cação (© Visuais Unl1mi- erros representam os erros-padrão (segun-
ted/C. P. H1ckman) Ocupante Tipo de transição do Palmer et ai. 2000)

dos caçadores-coletores indica em ceru med1cü .1 vantagem res foram excluídos e os efeims da proceção das formigas sobre o
ces. com suas demandas por recursos muito nuiores. De l.i,a ::le p1aí:tas ds ia•1oc1: 0L1 recíproca para o Homo sapiens. Mesmo St'lll restar experimen- afídeos poderiam, emâo, ser viscos isoladamente, os afídeos pro-
maneira alternativa, as espécies de formigas competitiva- .;,\3:::ão de animais t.1lmence, podemos facilmente imaginar as conseqüências que cegidos pelas formigas apr~ncaram pior crescimenco e foram
mente superiores podem ser capazes de detectar e colonizar J excinção do homem reriam sobre a popul.içJo mundial de menos fecundos do que aqueles onde as formigas e os predadores
pn.:ferencialmente as árvores de crescimento mais rápido. 13.3.1 Agricultura p!Jntas de arroz ou o efeito da extinção do armz rnbre a popu- foram excluídos (Figura l3.5b).
O que fica evidente é que essas imerações mutualistJS não bçJo humana. Comendrios similares se aplic.1111 d domestica- Um oucro murualismo de criação
são relações agradáveis entre pares de espécies que pode- Ao menos ern cermos de extensão geográfica, .tlguns dos mu- çJo de bovinos, ovinos e ouuos animai~. clássico é aquele emre formigas e mui-
mos separar de uma ceia de incerações mais complexas. Os ru.1\ismos m.1is dramiticos são aqueles da agrlculcura. Os mí- Mutualismos "de criação" similares se de:-cm·olveram em tas espécies de borboletas do grupo Ly-
custos e benefícios resulcantes para os diferenres p:uceiros rnero..; de pLrnus individuais de trigo, cevada, ;iveia. milho e sociedades de cupins e formigas, onde os cri.tdores podem pro- caenidae. Em alguns casos. as larvas se alimentam de suas plant.i.s
variam no espaço e no tempo. induzindo dinâmicas com- arroz e .is Út".ts ocupad.1s por esses culcivos excedem ampl.1- {ç"ger de competidores e predadores os indi\·íduos que eles ex- preferidas aré seu rerceiro ou quarto inscar, quando se expõem ao
plexas entre espécies de formigas competidor.1s. que, por meme ,10 (jllt'." reria existido se elas nJ.o tivessem sido submeti- plorJm, podendo aré uansportá-los ou vigi.i-lm. forrageio das formigas operárias, que as J.panhJm e as transpor-
sua vez, determinam o balanço final par.1 as .1dcias. das ao pl.rnuo. O .\umento da população humana desde ,l época tam para os seus ninhos- as formigas as "adocam". Lá, as formi-
gas "ordenham" uma secreção açucarada de uma glândula espc:-
13.3.2 Criação de insetos por parte de formigas ciaJizadJ. das larvas e, em troca, as protegem de predadores e para-
siróides duranre o restante de suas vidas larval e de pupa. Por
As formigas criam mun.is espécies de outro lado, em oucras incerações encre formigas e borboletas do
afídeos (homópreros), em troca de :-.e- grupo Lycaenidae, o equilíbrio evolucivo é bastante difererne. ,..\s
(a) Folhas superiores Folhas inferiores (b)
creções doces rica . . em .1çúc.u. Os ··reb;t- larvas produzem sinais químicos que imitam subscâncias quími-
3.0 ,;- 100í
:!! 2.5 T I )º[
2.5 o
T
o

-T 1 I so\
_
' 1
nho:i" de afídeos se beneficiam, sofrendo ux.ts de.· morcJ!idade
nuis baix.b causadJs por predadores, moscrando .lLirllé'IHO dJ..'i
cas produzidas pelas formigJ.s, o que induz escas a cransporcar
.is larvas p.1ra seus ninhos e permicir que elas permaneçam li

j uxas de alimenuçáo e secreçju e formJndo colôni.1s m.linrcS. Dentro dos ninhos. as larvas podem atuJr como parasirns so-


2.0

1.s J·
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il - ::~ i ~
60~

1
40t--
ToJ.1,·iJ, 'i<.'.fi.1 um erru i111Jgin.1r llue es::>,l é unu rd.1ç.-10 .1gr.1d.l\·d.
com benefícios para ambos os \Jdm: os afídeo~ csr:ío sendo marn-
ci.iis ("cu(o:-", ver seção 12.2.3). sendo alimenud.1s pcbs for-
migas (isto é, d borboleta azul-grande (i\[aculineii it:bef,') que

l::~ t
'l,
pulados - exisce. porcamo, um preço que eks p.tgJm .1 ser lanç.1- se .1limenca dJ genciana (Ge11titmt1 crucz,rn1) e cujJs lar\"as mi-
~;
5

SNJMMJSNJ
19BB 1989 (990
1.0~
0.5
0 11111
SNJMMJSNJ
1988
1111

1989
_ _:__LI

1990
3 2:-~-~~-~~~-~-
Con!role
(20)
Expenmental Não-ocupadas
(22) (17)
do no ourro lado do balanço (Sr.1dler e Dixron. 1998)' Essa ques-
t:lo tem sido ex.tminada em colônias do 1fídeo Tubt•intÍaws q11er-
cical1 protegido pela formiga da sequóia (Fornllc.r _yes)·e1tsH), ru
ilha de Hokkaido. norte do Japão (YJo ct,,I., 20()0) Conforme o
esperado, na prescnç.i de predadores, as colórn.1s de afideos ti\·e-
metizam as larvas da formiga Aiyrnúm schenkii. ou podem sim-
plesmente pilhar as formigas (p. ex., uma outra borboleta .uul~
gr.rnde (M. arion) que se alimenta de romilho s<hagem ( Th)'·
111,r; serpyllrmr) (Elmes et ai.. 2002).

Mês Tratamentos
ram sohrevivência significariva.menre mais long.1 quanJo proce-
FIGURA 13.3 (a) Intensidade da herb111oria foliar sobre 1nd1viduos de Tach1ga/1 myrmecoph1fa naturalmente ocupados pela form,ga Pseudomyr· gidas por formigas do que quando escas foram excluídas, por meio 13.3.3 Cultivo de fungos por besouros e formigas
mex concolor ( e. n = 22) e sobre individuas dos quais as formigas foram expernnentalmente eltminadas ( •, n ::: 23) As folhas 1nfenores de aplicação de repelente na base da.-. .írvore:, de (.,trvalho sobre as
estavam presentes no início do experimento. e as folhas superiores surg1raí'1 poster1ormerte. (b) Lcngev1dade das folhas das plantas de T
myrmecoph,la ocupadas por P. concolor (controle) e das plantas das quais as formigas foram expenmentalmente elimmadas ou onde não
í! qu.lis os .1fídeos viviam (Figura l.~.5:1). Enrreunro. IJom·e um- Um:1 gra1;J.e pa.rcc: Jos tecidos vegec.1is, incluindo a madeira. é
bém custos para os .1fídeos: em um amhience do l! u.-J os pre<lado- indisponível como fome direu de alimento parJ .1 maiona
houve ocorrência natural de formigas. As barras dos erros representam~ o erro·padri.o (segundo Fonseca. 1994). '
1
i
1
_í__

1
386 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 387

(a) penas de todo ,rnimal que entra em contato com eles. fr;,;-
(a) (b) qüenremenre, eles causam uma irritação ao animal. que 111'.IÍ-
• 1 ras vezes se limpa e os elimina quando possível, mas em ger,11
Com proteção
·~ o.a pelas torm1gas após transporrâ-los por cerra disrância. Nesres casos, o benefí-
> cio é para a plam:i (que investiu recursos em mecanismos de:
~ 0,6
fixação), e não h,i recompensa para o J.nimal.
] 0,4 Com exclusão

.
c:i

f--
0.2 ,das formigas Bem diferentes sJ.o os verdadei-
ros munulismos entre pi.incas supe-
rion~s e aves e OlHíOS animais que se
O 2 4 6 8 10 14 18 22 26 30
alimentam de fruros carnosos e dispersam as sememes. N.uu-
Dias apos o 1nic10 dos experimentos Periodo Período
r,ilmente, pJra a relação ser mucualisra, é essencial que o ani-
mal consuma a parte carnosa do fruro. e n:io as semenres, que
FIGURA 13.5 (a) As colónias do afideo Tuberculatus querc1cola. com exclusão de formigas. tiveram maior probabilidade de extinção do que as de\"em permanecer viáveis qu::rndo regurgitadas ou dt=fecadas.
protegidas por formigas (X2 = .15,9. P < 0,0001). (b) Mas na ausência de predadores. as colônias com exclusão d~ formigas tiveram melhor Defesas espess.1s e forre,;; que proregem os embriõe:, são comu-
desempenho do que as protegidas por formigas São apresentadas as médias do tamanho corporal do afídeo (compnmento do fêmur posterior, (b)
=
F =6.75. p-= 0.013) e os números de embriões (F = 7, 25. P 0,010), ::::. EP, para drns períodos (23 de JUiho a 11 de agosto. 1998. e 12 a 31 de
mente pane do pre<;o p,tgo peL1 pLrnra pJra J dispersão por
agosto. 1998) em um ambiente sem predadores = tratamento com exclusão das formrgas: • = tratamento com proteção pelas formigas f1 ugínJros. O reino \·egeta! rem t:xplorado um,1 g.1111.1 e:.plên-
(segundo Yao et ai. 2000) did.1 de v.irlJções morfológ1c.i~ n.1 e\·oluç:io de fruros carnO\üS
(figura U.7)_
Os mutualismos refrrenres a ,mimais que consomem
dos animais, pois -.:s(e) n:io dispõem Je en21rnJs capazes de fungo ganha com a associação: ele ~ comido e Jisper~.1do frutos carnosos e dispersam as sementes rJramence sâo muito
digerir celulose e !ignin,is (ver Seções 3.7.2 e 11.3.1 ). No en- pelas formigas corcadeiras de folhas e nunca é encontr-1.do específicos à espécie de ,1111m..1l envolvida. Em parte. isso
tanto, muitos fungo) pmsuem essJs enz1m.1s, e um animal que fora dos seus ninhos. A formiga fêmea reproduti\"a trJn.\- ,iconcc::ce porque esses mucualismos em geral envolvem av~s
pode consumir tais fungos adquire acesso indireto a um ali- porca sua última refeição, quando eLt deixa urna colOru.1 e mamíferos de vida longJ, e, mesmo nos trópicos, exisre:n
mento rico em energia. Alguns murnalismos altamente espe- para encontrar eu(ra. poucas espécies vegetJis que frurificam durante todo o ano
cializados se desen\"ol\"eram enm~ animais e fungos decompo- A maior parte dos insetos firó- e proporcionam um suprimento alimentar para qualqua
)imres. Besouros do grupo Scolytidae cavam túneis profun- fagos tem dieras bastante resrrir.1s - possível especialisra. Conrudo, rambêm. como ficari evi-
dos na madeira de árvores more.is ou moribundas, e fungos os insetos herbívoros, na grande dente quando considerarmos o:, muru,ilismos de poliniz,i-
gue s,lo específicos de espécies de besouro crescem nesses abri- maioria, são, na verdade, monófagos FIGURA 13.6 (a) Ninho parcialmente escavado da formiga cortadeira ção, a seguir. uma ligação mutualista mais exclusiva exigi-
de folhas Atta vollenwerden no chaco do Paraguai. A pdha de material
gos e são comirnumeme pastados pelas larvas do besouro. escriros (ver Seçáo 9.5). Pela sua po-
depositado sobre o solo. pela escavação das formigas. tinha pelo
ri.1 da planta uma recompensa para ser protegida e rejeiu-
Esses besouros "':tmhrosiJ" podem rr.tnsportar esporos do lifagia, as formigas corradeiras de folhas são extraordi rü- menos 1 m de altura. (b) Formiga rainha de A cephalotes (com uma d.1 por ourra espécie anim:11: isso é muiro mais ficil para o
fungo em seu rr.iro d1gesrivo, e algum.is espécies apresen- rias entre os inseros herbívoros. Formigas de um ninho de operária acompanhante em seu abdome) sobre um cultivo jovem de néctar do que para o fruto. De qualquer maneira, .1 espe-
fungos no laboratório. mostrando a estrutura do tipo celular do culti-
tam tufos espec1JlizJdos de pêlos sobre suas cabeças, os quais A.tta cepl,a!otes exploram de 50 a 70°10 das espécies vegeLlÍ) ci.tlização pelo animal é imporranre na polinização, porqLe
vo, com pequenos fragmentos foliares e hifas fúng,cas cimentantes
sen·em para cransporur os esporos. Os fungos servem como na sua vizinhança. Em geral. a.s formigas corradeiras de fo- (Cortesia de J.M Cherrett) trJnsferencias interespecíflcas de pólen s.ío desvamajosas, e
.i!imenrn para o hcsouro e dependem dele p,1ra su.l di.;;per- lhJs podem explorar 17% dJ produção foliar rotai em flo- com frutos e sementes é necessário somente que eles sej.un
:..1.o atê nm·os níne1:,. resta tropical e se tornar os herbívoros ecologicamenre du- dispersados para longe da planta-nüe.
As formigas ndc1v:1doras dr fungos sJ.o enconcrad,1s so- rninances na comunidade. É a sua polifagia que lhes confi:- rn tiL1menroso. as,ociado :1 ~upcrficle <l,1s formlg.1s, é dis-
menre no No\·o 1\lundo, e JS 210 espécies descritas parecem re este exrraordinário status Conrndo, ao contrário do\ per,,1do para novm cu!rinJS por r.unh,1,;; \'Írgcns em st=u vôo
(('r c\·oluído de um ancestral comum: !:,to é, a característica adulros de A. cepha!otes, as hrv:1,;; parecem 3er especi,di~u~ nupci.11. e:" .1s formig.1s podem ar~ eL1bor.1r produtos quími- 13.4.2 Mutualismos de polinização
ap,ireceu apt:na:, um.t n-:z na e\·o!uç:io. As espécies mais "pri- excremos quanro à dieta, ficJndo rescritas a corpos nurriri- co~ que prorno\'t'!TI o cre,;;cimenco do ,Kcinorniceto. Esre,
mitiv,i3" urilizam t1p1cimente resros vegetais mortos, .t:.sim \·os (gongylidi,1) produzidos pelo fungo A.ttmn_vces hrom.in- por su,1 \·cz, p1oduz um ancibiúcico com efeiru,;; inibidores ,-\ nuioria JJ~ flores poltniz:1d,1s por ,rninuis oferece nécur,
(omo fezes e cad,I\ e~e.;; de imecm. para Jduhar su,1s honas; os /icw, cultivado pelos adulros e que decompõe os fragm,:n- e~pi:c1ali1.1<los e pore11te., ._·onera F,t"o!'oJhf_.. b~ po"Í\·el, .1in- pólen ou .1mhos como recompen~.l aos .seus visicanres. É po,-
;ênern\ !i·.rd1ym_1n11cx e Scn(11mvm11?.\ uqm matéria vegetal 105 foliares (Cherrett et ai .. 1989). d.1. que ele p1nrej.1 .1' torrnig,is dl:.' p.Hógcno\ e ~1romm·J o -'l\·el que o nécr.ir 11:to rc:nlu ourro \·.ilor para .1 pl.111u do que 'J
morra: e -::,pécics du5 doi:, gênerns ma1:\ derivados (e\"oluri\·a- Além disso, assim como m cul- ..:r('~1...-imenro dos fungos utltl\·,1do\ ICur1ic, 2001J. Porun- de: arr.11r anim,lis, e isso rem um cu~ro p,1ra a pL11HJ. poi) (',,
memc- "'_1vanç:i.do:,"' 1. Aaom)'nllcx e ;-/u,r, <io "corc:tdeirJs de ti\·os re:dizados pelo homem podem ro, Ücrn·npJii s:nfrenwu um nrncu,dirnrn de rrt', espécies: cacboidratos do ninar poderi.im ser us.1dos no cre_;:cirncnru
fo!hJs", uci!i?J.ndo prin.:.ip.il.mentc: folhas e ílorcs frescas (Cur- ser a.u.c.1dos por pragas, as formigas forrnig:H. fungos culti\.idos e .icrinomiceros. ou em algum,1 oucr.1 Jti\·1d-1Je.
rie, 2001 ). As formit2,H conadeirJs de folha,;; sJ.o as m,lÍs notá- culrivadoras de fungos precisam Presumivelmente, J e\oluçJo de ílorl:.'s espec1.iliz.1d..1s e •J
\·ei:> cultivadora\ de ,_fungm. Ela, esca\am cavidJ.des de 2 a 3 combater ourras espécies de fungos en\"olvirn~nro de polinizadnres aninuis têm sido bvorecido-',
licros no solo. onde um fungo hasidiomiceto é cultivado sobre que podem devastar seu culrivo. Os porque um ..1nlnul pode .ser capaz de reconhecer e Ji)tinpur
folhas que sJo corud.1, dJ :egeu\ãO vizinha (Figura 13.6). A pacógenos fúngicos do gênero Escovopús sJ.o especiJliz,1Jo~ ditúenres tlore) e, ,issim, rr.rnsporcJr pólen p,1r.1 flure:. t.fa me)-
colónia de formig-,h pode depender complec.unente do fungo {só encontrados em culrivos de fungos) e \·irulentos: ern 13.4.1 Mutualismos de dispersão de sementes 111.1 espécie. A tran.sferênci,1 p.1:,síva Je pólen, pdo vento 011

p.trl a nurriçdo de 'itll) Lir\'as. ,-\s operá.riJs bmbem as colô- um experimento, nove de I G colônia; da formiga corradei- pela água, por exemplo. não permire ral Jiscriminaç5.o e t:,
nias de fungos e removem h ifas engrossadas especia\izadJs, que ra Atta colombica. rraudas com doses maciçJs de esporo, i\fuiu,;; espécie\ \·eger.1i~ uriliz.im aninuis par,1 di~pers,1r suas porranro, muito mais di,;;pendiosa. Na realidade, onde os vc-
sJ.o agregad.is em ''cJcho-"., de t.tmanhos que possam ser mor- de Escovopsis, perderam seu culrivo em três semanas de tu- seme1He:, e st:u pólen. Cerca de 10( 1,v <le rodas as plantas com mres t: as flores são alumenre ::speci:diz.1do ... como no c..1so dt
disCJ.dos. Esre~ cachos <"io comido, pelas larvas e essa ''poda" ramenro {Currie, 200 l ). Porém, as formigas possuem ou- flores pt1ssuem semenre\ ou frutos dorados Je ganchos, .ues- muius orquide.1s, virtualm,:nre n.i.o h.í dnper<lício de pólen,
do fungo pode t:"srimul.ir um novo crescimento fúngico. O tra associ,1çã.o murualística para ajudá-l.1s: um accinomice· C:H ou :,ubsràn(i,1s \"Í:-cO'iJS que .1derem ,lOS pêlos. cerdas ou indusi\"e 11.1s flores de ouru:, espécies.
~

388 PARTE 2 - INTERAÇÓES


•,' l CAPÍTULO 13: S1Ms1os, E Muru,uSMo 389

·í dores das flores de candelária-branc.1 tSilene 1dba), e.: em plan- ourras espécies (embora na pr.ítica muitos generalistas 'iejam de
Ovário us infectadas as anreras ficam chei,1s de esporo~ de fungos. fato ''especialistas seqüenciais", forrageando preferencialmenre cm
/.,.. ._ _ Parede ex1ema coriâcea do ovâno SUpero l\.1uitos ripas de animais têm esta- uma espécie vegecal par horas ou dias). Os nectários proCt.--gidos
(exocarpoi

@w
belecido relações de polinização com têm a vamagem de transferência eficiente de pólen por especialis-
Parede mlema carnosa do ovário plamas com flores. emre o, quais Se" en- tas pa.ra outras flores da mesma espécie, mas dependem de quan-
(endoca,po)
:r a -e s.:~ e, J.: 13 :2.s contram beija-flores, mom:gos e, inclu- tidades suficientes desses animais.
Laranja (Rutaceae) sive, pequenos roedores e marsupiais Charles Darwin (1859) reconheceu que um nectário lon-
(Figura 13.8) . No entanto, os polinizadores por excelé11cit1 são, go, como em Aquilegia, forçava o inseto polinizador a um con·
Tomale sern dúvida, os insetos. O pólen é um recurso .il1menrício nutri- caro estreiro com o pólen. A seleçáo nacural pode então favo-
(Solanaceae)
ciunalmence rico e. nas flores mais simples poliniz.:td.ts por inse- recer neccários ainda mais longos, e, como uma reação evolu-

.//1! Teixo (Gimnosperm°' Taxaceae)


ros. de é oferecido em abundância e livremente a rndos e variados
visitantes. Para a polinização, as plamas dependt:m de: inset<?S que
:üo sejam ru[almence eficiemes no consumo de pólen. rranspor-
tiva, as probóscides dos polinizadores seriam selecionadas para
atingir um comprimento maior - um processo recíproco e
progressivo de especialização. Nilsson ( 1988) deliberadamen-
~~ Semováno
[Jndo consigo o excedente de Jlimenro de pLmra p.1ra phma. Em te encunou os rnbos dos necrários de Pl.ntanthera, uma orquí-
flores mais (ülllplexJs, é produzido o nécur (unu :,,ulu<i,-.lo de <1çll- deJ de cubos longos. e demonstrou que as flores produziam
c.m'."s) como um.1 recompen~.l adii..:io11-1l e .drern,Hl\ ,L N:t.".I nui:,, muito menos s<..:mcme:,, - pri.=sumivdmc:nte porque o poliniza-
:,,imples emre esras. os nc:cc.írio.".I slo despmn:gido~, nus. com cre~- dor n:to er,l forç.1do a assumir unu po~içáo qut' m<1ximiz:1ssc: a
c.eme especializ.1çáo, eles s.1o envolvido:~ por c·:-.rrucuras que res- eficiência da polinização.
Aquérno

-~---- J
~------- Receotacu1o { tringem o acesso ao néctar a apenas pauc.1s espt'oe<; de vi~irado- O florescimento é um evento sa-
{fruto seco com
uma semente) re.".I. Ess..1 gama de SÍ[Uaçóes pode ser obser.-ad.1 nJ família RJ.nUn· zon.d na maiori.1 das plantas. e isso im-
eC'e..o,<i L (.ulace:.ie. Na tlor simples de Rammodus fic1n·ril. 0.".1 nectdrios fi- põe limites estrims ao âmbim em que um polinizador pode
"% . .,;! Sépala
cJm exposms a mdos os visi[ances, mas, n.~ flor nuÍ.".I especializada tornar-se um especialista obrigatório. Um polinizador só pode
""'°"sa •,, de: R. bulboHtS, existe um tipo de ramp.1 :,,obre o nect.írio. e em mrnar-se completamente dependente de flores especificas como
Endoca Elr"o Moranguinho Aquilegi,z os neccáflos se desenvolveram em wbos longos e so- recurso alirnencício, se seu ciclo de vida ajustar-se à e~taçáo de
· rpo (Aosaceae)
menre visitames com probóscides longas (linguas) podem akan- florescimenm da plantJ.. Isso é praticável para mui cos insems

'-, G)
çar o néctar. No gênero Aco11itum, roda a flor t''it,\ estruturada de de vida curta, como borboletas e ma.riposas. É mais provável
modo a permitir o acesso apenas a insecos com fornu e tamanho que os polinizadores de vida mais longa, como morcegos. roe-
Carpelo
nã,o.fert1hzado ~--cc-1~~~~,)
(!)'--:_,'!}_ dererminados, os quais sã.o forçados a raspar as -1nter.ts e apanhar
o pólen. Os nectários desprotegidos têm a vanc-1gt'm de unu pronta
dores ou Jbelhas com sua.,; colônias de vida longa, sejam gene-
ra.lisras, indo de uma flor relativamence não-especializada para.
Eslllete prõença de polinizadores, mas como esses animai, n~o sã.o espe- outra durante as estações ou consumindo alimencos complera-
I
Maçã cializados. eles transferem grande pane do pólen p,tra as flores de mence diferences quando o nécrar não está disponível.
(Rosaceae)

(a) (b)
Pacede e<1emaQtll
carnosa ,·r
do ováno - ,,..--....,_

Amora-preta
Parede 1ntem~. /
~.,
~
·'--''. :
(Aosaceae)
dura do ovano ~ -

_, ,-_::::~·-
~

A
Sepalas carnosas

-Ovano

Sepata ..._

'
Sepala k'0
'
Amora Cereja
(Moraceae) (Rosaceae)

FIGURA 13.7 Uma vanedade de frutos carnosos envolvidos em mutualismos de c1spersão ae sementes. •lustrando as espec,ahzações morfo-
lógicas i/1'lplicadas na evolução de estruturas carnosas atratrvas.

Existem, comudo. custos proveniemes JJ J.doção de pons.ívet:-. pelJ tr:tnsmiss:io de doenças sexu.lls (Shykoff e
.111imJis como mucu:.distJ.S na polinizaç,lu de flores. Por Buchdt, 1tJ95). O p,uógeno fúng1co Alrao?onyum uio!a- FIGURA 13.8 Pohnizadores· (a) abelha comum (Ap,s mel/ilera) sobre uma flor de framboesa: e (b) o pássaro Promerops cafer sobre Prorea
ext:mplu. animais u.1n~porradores de pólt:n podem ser re~- le:011, pur exemplo, ~ rr:in,micído por visitantes poliniza- ex1m1a (cortesia de Heather Angei)

l
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3 90 PARTE 2 - INTERACôES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 391

13.4.3 Polinização em locais de criação: los geram uma combinação de semenres viáveis (que benefici- reprodutivo de uma mariposa fêmea adulta, portanco, não 13.5.1 Intestinos de vertebrados
figueiras e yuccas am a figueif.l) e vespas dos figos adulcas (que ob,úmente be- esd vinculado .10 de uma yucca individu.;i.lmenre, do mes-
neficiam JS vespas, mas também beneficiam as figueir.is, já mo modo como ocorrem com os das vespas fêmeas dos fi- O papel fundamental de micróbios na digesráo de cdulosc
'.\lem rnda pl.tmJ polinizada por inse- que elas SJ.o seus poliniz.tdores). Seguindo uma outrJ seqüên- gos e as figueiras. por vertebrados herbívoros tem sido avaliado há muiro rem-
roc; fornece apenas alimenco ao seu cia de desenvolvimenro de vespas, JS fêmeas fertilizadas em~r- Thompson ( 1995) realizou uma revis:io detalhada da po, mas agora acredira-se que os rraros gasrrincesrinais de to-
polinizador. Em muims casos, as plan- gem no outono, e uma diversidade de outros animais come o dispersá.o de sementes e dos mutualismos da polinização, pro- dm os vertebrados são povoados por uma microbiora mutua-
us tJmbém proporcionam um hábitar e alimenro suficiente fruto e dispersa as sementes. As vespas emergemes no outuno porcionando uma apreciação completa dos processos que po- listJ (re\'isado em Stevens e Humo, 1998). Prorozoários e fun-
para o desem-olvimenro das larvas dos inseras (Procrnr ec ai., ovoposir.101 no terceiro ripo de receptdculo contendo apenas dem levar J evolução de rai) murualismos. gos estão normalmente presentes, mas os principJis contri-
1996). Os casos melhor esrud.idos são as imerações comple- flores neucras. das qua.is as ve~pas emergem no inverno para buintes para esses processos de "fermenraçâo" são as bactérias.
xas e J.mp!amenre esp~cie-especítlcas entre figueiras (Ficw) e iniciar o ciclo outra \'ez. Sua diversidade é maior na região do intestino, onde o pH t
vespas dos figos (Figura 15.9) (Wiebes, 1979: Bronse<Ín, 1988). Esse GtSO, c:ntão, .:1lém de ser um.1 relativamente neurro e os períodos de retenção de alimemo
As figueirJs .1prese11um muitas flores Jiminuras fixadas a um peça fascinante de história narur.il, é são relarivamenre longos. Em pequenos mamíferos (p. ex., ro-
receprjculo engros'.'IJdo com unu abenur J esrreir,1 para o ex- um bom exemplo de um mutualismo Grande parte dos mutualismos discutidos aré aqui dependeu edores, coelhos e lebres), o ceco é a principal ci.mara de ter-
terior; o rect>pr,iculo t(Hna-se enrJo o fruto carnoso. A espécie em que os interesse) dos dois p,1rrici- de paJrões de componJmento em que nenhuma das espécies menração, e nos mamíferos nJ.o-rumin.inres maiores, como
de que rr.:mo:. mellwr co11hecimenco é u figo comesúvel, Ficus pJmes. no cmanro. parecem 11.lo coincidir. EspecitlcJmc:me, ,1 '1-ive inteiramente "denrro'' do seu p.uceiro. Em muitos oucros os ca\·alos. o colo é o local principJl. como o é nos elefantes.
1·,li"h1.r. Algum.h foi !llJ.\ cu!riuJ.1~ :..í.o inrLir,unenre pi)cilad.1s proporçJ.o órin1.1 de flores que ~t: dcst:il\ ol\'t.' em sc:mc:ntn de muru.1!ismm, um dos p.irce!rm é um eucarioto unicelular ou que:. como os coelhos. prarium ,l coprot\gia {consumo J,1:-,
e n.lo nece.-.sit.rn1 de poliniz.t\-.l.O p.tr:1 o dL''icrn·okimenro do figo e <le ,·l·spa~ do~ figm é Jd'ereme p.tr.i JS du.1s p.ine~, e .'lei 1.1 urn.1 hacréri.1, que esr~l integrada quJse pernunenrememe :1 própri.i~ fezes) (Figura l .3. ! O). Em rumin.rnres, como bovi-
fruru. 111;h em F c,1rÍ(t1 .-.ekdgem ):tu produzidos três tipos de: razO..Í\·el esperar umJ corrdação negativa entre. JS du.1s: sernc:n- ca\ (d.ide corpor:i! ou mesmo às células do seu parceiro mulri- 110), ovinos. cangurus e outros marsupiais. a fermentação ocorre

recept<ículos em d1fercmes época:. do ,HlO. (Outras espécies res produzidas às expem.1~ de vespJs e vice-\-er\.t (Herre e \\".:='.lt, cduLH. Os reprcsenunres dJ microbiota que ocupam partes em esróm.1gos especializados.
sâo menos compliud.1:>, mas o odo de vidJ é semelhanre.) 1997). Na realidade, :.1 detecç:w dessa correlação neg.1riv.1, e, de dikrentes canais alimentares de animais são os simbionres A ba:.e do mutualismo é direta. Os micróbios rece-
No inverno. as tlorc:s s.lo princip.1lmenre neutras (pistibdJs porranto, J <lemonstrJ)<lo do confliro Je imeresse revdou-SL' exrracdulares melhor conhecidos. bem um fluxo constante de substratos parJ o crescimento,
estéreis), com poucas flore) estaminadJs perto dJ abertura. Fê- enganosa por r:1.zões que com fieqüência se aplicam ern esrn-
me.1s diminutas d.1 vespa Bl,zstoph,tg,1 fft'!Jej invadem o recep- dos de ecologia evolutiva. As duas variáveis rendem a ser corre-
t;icti!o, ovopositarn 1us flores neutras e depois morrem. Cada lacionadas poútivamente, já que ambas rendem a crescer com
l,1rv.1 de vespa. encdo. completa seu de)em·olvimenro no ová- duas vari.iveis ''confundíveis": o tamanho geral do fruw e J
(a) (b)
rio de uma flor, mas os machos eclodem ames, abrem cami- proporçJ.o geral de flores em um fruto que sáo \'Ísiradas pci~
nho nJs sementes ocupaJJs peb.'. fêmeas e .1cJsalam com elas. vesp:.1s. Herre e W'esr ( 1997). em recanto, .10 analisarem daJú.,
'.\lo começo do \"erão, .1.<. têmeas emergem, recebendo pólen na de no\·e espécies de figueira~ do Novo ivlundu, puderam supe-
entrJdJ d.is flores e.-.unrnudas, que abriram pouco antes. rar isso de uma maneir,1 que em geral é ap!tcá\·el em t,1is .-.itu.1-
As femeJs têniliz.1da:. transponam o 11ólen para um se- çóes. Por meio de .1lreração das variáveis confundíveis, eles con-
gundo tipo de recepcü_ulo, contendo flores nemras e pisrila- rroLuam esraristicamenre (pergunrJndo. r1.1 prárict, quJI seri.1
das, onJe el.1s O\·opll'.IH,llll As flore.-. neutr:is. inc.1pazes de pro- a relaça.o entre qu.rnridades de sementes e \·espas em unl fruro
duzir sementes. rCm um esúlece curto: JS \-espas podem che- de tamanho constante, em que uma proporç:io conscame de
g.u, par a ovoposir.u no~ ov.írios, onde se desenvolvem. As flo- flores foi visitada) e depois puderam revelar uma correl.iç.lo
res pisriladas, conrn<lo, possuem estiletes longos, de modo que negativa. A figueira e a vespa do figo parecem cer evoluído cm
,l'i vespas não conseguem alcançar os o\·ários, e seus ovos não uma baralha quase evolutiva.
~e desenvolvem, nus ao deposirarem es)e.'i ovos, elas forrilizam Um conjun-co semelhance de O 10 cm O 50 cm
,ls flores. que prodw_em s,erneme~. Port.HHO, esses receprácu- mutualismos, e também muito esrn-
dado, ocorre entre as 35 a 50 espécies
de Vitew. plJnras que \'i\·em nas Amé- (e) (d)

ric1s do Norte e Centrdl, e as 17 e.'ipécics de muipos:.1s de


rucca~. 13 das qu:tis foram recentemente descrita:., .1 partir ..._J..._·
1999 (Pdlmyr e Leebens-1\fack, 2000). Lnu maripos.1 frml",I
L1tiliZJ 'ºte1wículos" especializJdm para coler,tr .~imulraneamemt'.
grãos de pólen de virias .rnreras de urna flor. os quais ela coltl- FIGURA 13.10 Os tratos digestivos de ma·
ca. após, na flor de outrd infloreKência (promovendo .t repro· míferos herbívoros são comumente mod1(1.
cados para proporcionar cãmaras de fermen·
dução), onde ovoposita nos ovários e cuiJddos.1menre dcpo.,;1 ·
lação habitadas por ncas fauna e flora ou
ra o pólen, nm·amenre m:rndo seus tentáculm. O Jesenvoki· m1crorganrsmos. (a) Um coelho. com uma
menro das IJrvas d.1 m.1ripm.1 requer umJ polinizaçJo exiros.1. câmara de fermentação no ceco expandtdo
(b) Uma zebra. com càmaras de fermentação
uma vez que flores nã.o-poliniuJ.1s morrem rapidJmente, nu~
no ceco e no colo. (c) Uma ovelha, com fer·
as larvas também consomem sementes na~ su.1s cercania.s, em- mentação no 1ntestrno anterior em uma por·
bora muitas omras sementes se desenvolv.1m plenJmenrc. PJr.1 çào ampltada do estômago. do rume e do retí-
culo. {d) um canguru. com uma câmara de fer-
completar seu desenvokimenro, as ldn'as e.tem no solo p.1r.1 mentacào alongada na porção pmx1mal does·
FIGURA 13.9 Vespas de f1qos sobre um figo em desenvolvimento. Re- arr.1vessar o esudo de pupa, emergindo um ou mais anos m.u, O 20 cm o 10 cm
tômagO (segundo Stevens e Hume. 1998)
pmduz1do com permissão de Gregory D1m111an !Sc1ence Photo LJbrary tarde. durante .1 esraçJo de flores..:imenrn da :·ucu. O suces~o
392 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 13: '.>MBIOSE E MuTUAUSMO 393

em forma de Jlimenro ingerido, mastigado e parcialmente te p.irJ rr~rnsfenr material para o abomaso. Apenas partícu- 13.5.3 Refecação delra. Os cupins primitivos se alimentam direrJmence da
homogeneizado. Eles vivem dentro de uma câmara com las com um volume de cerca de 5 mL ou menos podem madeira, e grande parre da celulose, das hemiceluloscs e
regulação de pH e temperJtura (em :.1.nimais.endotérmicos). pass.u do rerictdo para o omaso; o animal regurgita e mas- O consumo de fezes é um tabu entre os humanos, presumivel- possivelmente das ligninas são digeridas por mutualistas no
e as condições anaeróbicas sáo mantidas. Os hospedeiros cigJ nuvamenre as panículas maiores (processo de rumina- menre devido a alguma combinação de evoluç.'io biológica e cul- imescino (Figura 13. l I ). onde a panç:i (pane do ceco seg·
veuebrados. em especial os herbívoros, são nutridos por çJ.ol. ~o rume, esrão presentes densJs populações de bJc- tural em resposta a riscos parJ a saúde imposros por micróbios meneado) forma uma câmara de fermentação microbian~.
alimento que, de certo modo, seria indigerível para eles. As céri:is (10" 1 J 10 11 ml: 1) e procozo:irios (10' a 10" ml 1, patogênicos, incluindo muitos que são relaciva.mentc.:: inotensivos No encanco, os cupins avançados (75% de ,odas as espé-
b.,ccérias produzem ácidos graxos de cadeias cunas (SCFAs. nus ocup.mdo um volume semelhanre ao das bactérias). As no incotino posrerior, mas patogênicos em muitJS regiões ante- cies) dependem muito mais fortemente da sua própria ce-
Jhort-cl,ain fat~y acids) pela fermentação da celulose e do comunidades bacterianas do rume são composcas quase ex- riores. Entretanto, para muitos venebrados, micróbios simbion- lulase (Hogan et ai., 1998). Os cupins de um cerceiro gru-
amido da dieca do hospedeiro, além dos carboidracos en· c\usiv.tmence por anaeróbios obrigatórios - muitos são mor- tes que vivem no intestino posterior, além de regiões onde é pos- po (Macrorermicinae) cultivam fungos digestores de mJ-
dógenos contidos no muco do hospedeiro e das células epi- ros de modo lnsra.ncâneo por exposição ao oxigênio-, mas sível uma efetiva absorção de nutrientes, são um recurso que tam- deira. os quais eles consomem junco com a própria madei-
teliais desprendidas. Os SCFAs são muicas vezes a princi- eles d.:"sempenham uma grande variedade de funções (sub- lxm é bom para consumo. Assim, coprofagia (inge::ic.l.o de te1.es) ra, cuja digestão é auxiliada por celulases fúngicas.
pal fonte de energia para o hospedeiro; por exemplo. eles sistem sobre umJ grande variedade de substricos) e geram ou refecação (ingestão das próprias tC1.es) e uma prárica regular Os cupins pracicam refecaçáo, de modo que o nucerial
suprem mais do que 60°/o d:1.s necessidades energéticas de urn:i amplJ gJma de producos (Tabel:i 13.1). Celulose e em muitos pequenos mamíferos herbívoros. Es::ie processo é rdl- alimentar passa ao menos duas vezes pelo intestino, e os mi-
manutenção de bovinos, e 29 a 79°/o, de ovinos (Stevens e outras fibrJs sio os consciruinces imponances da dieta Jc nado em espécies como coelhos, que exibem um ··mecanismo <le cróbios produzidos durante a primeira passagem podem ser
Hume, I 998). Os micróbios também convertem compos- rumin,rnrc:s, e esres não dispõem dJs enzimas p.ua digeri- sc:p,HaçJo no colo", o qual lhes permite J produç:lO separ.1dc1 de digeridos nJ segund.1 vez. O princip,11 grupo de microrg.rni.-.-
(0'.'., <le nirrogênio (aminojc.:idos que escap,tm da abson;.io 1.i~- :\., .1tind.tJe:-. celulolím.:.1s da microflor.1 Jo rume <i.o, por- pdot.u, rec.1.Ís St'CJ.S (nJ.0-nutritiv.1.:,) C JlULia::i (m.lÍ'.'., nutririv.1~). a., mos nJ panç.1 <le cupins primiti\'o~ são protozoirios tl.1gd.1-
no inresrino médio, uréi.1 não-excretada pelo hospedeiro. r.umJ. Jr: imporr.incia decisiv.1. Todavia. nem rnd;1s ,ts b.1crt:- qu.1is eles consomem sep;,1rad.1meme. E::.r.1::i coruêm ní,·eis ,1lcm dos Jnaeróbicos. As h:1créri;1s ramh<:'.m es[Jo presemes. n1.1s
muco e células desprendidas) em amôniJ e proteína micro- rias s.l.o cduloli'ricas: muitas subsistem sobre subsHaros (bcr.,- de SCFAs. proteína microbiana e vicamin.1 R. podendo fornecer não podem digerir celulose. Os procozoários engolem p.1ní-
biana. conservando nitrogênio e água. Além disso, eles sin- ro, hidrogt!-1110) gerados no rume por ourras bacrérias. .10º/ó das denuncias de nitrogênio de um coelho e:: m.1Ís vitaminas culas de madeira e fermemam a celulose denrro de SUJ.S célu-
tetizam vitaminas B. A proceína microbiana é úcil ao hos- Os protozoários no inresrino B do que eles necessicarn (Bjiirnhag, 1994: Sce,·ens e Hume. 1998). las, liberando dióxido de carbono e hidrogênio. Os principais
pedeiro, se ela puder ser digerida - por fermencadores do con,·riruc'm r.1mbém uma mistura produtos absorvidos subseqüentcmence pelos hospedeiros, são
inrestino anterior e seguindo a coprofagia em fermentado- complexa de' especialistas. A maio- SCFAs (como em venebrados), mas nos cupins a absorção é
res do inrestino posterior-, mas :1 amônia geralmente não ria s.ío ci!1.1dos holócricos e encodi- 13.5.4 Intestino dos cupins sobretudo do J.cido acético.
é útil e pode até ser tóxica ao hospedeiro. niomorfos. Poucos podem digerir A população bacceriana do intestino dos cupins. é menos
celulose. Os ciliados cdulolíricos possuem celulases incrín- Os cupins são insetos sociais dJ ordem boptera, muitos conspícua do que a do rume, mas parece fazer pJrte de dois
dos quais dependem de muruali . . c.1::. pJra .1 digesr.io d.1 ma-


seLJs, cmbor.1 alguns oucros protozoários possam usar sim- mutualismos distincos, que veremos a seguir:
13.5.2 Intestinos dos ruminantes bionre::. b.1ccc'rianos. Alguns consomem bactérias: em su.1
ausênci.1, o número de bacrérias cresce. Alguns dos enrnJi-
O estômago dos ruminantes compreende estômago ame- niomorfos consomem ourros prorozoários. Desse modo, os
rior de rrês partes (rume, recículo e omaso), seguido de um din::rsos processos de comperiçáo, depredação e de mutua-
abomaso secrecor de enzimJ.S, que é similar ao esrôma.go da
maioria dos varebrados. O rume e o retículo são os princi-
pais locJis de fermentJçáo, e o omaso serve em grande par-
lismo, .t!ém das cadeias alimentares caraccerísricJs de co-
munidJdcs rerrícolas e aquáticas na natureu, estão presen-
tes dentro do microcosmo do rume.
• o..
TABELA 13.1 Diversas espécies de bactérias do rume, ilustrando sua ampla gama de funções e a ampla d1vers1dade de produtos gerados
por elas (segundo AUison. 1994; Stevens e Hume. 1998)
Espécie Função Produtos
8acteroides succionogenes C. A F. A, S
Rummococcus albus c.x F. A. E. H. C
R llavefaciens C,X F. A. S. H
8utyrivibno ftbrisolvens C. X. PR F. A. L. B. E. H. C
Clostridium lochhead11 C PR F. A. B. E. H. C
Streptococcus bov,s A. SS. PR L. A. F
8. amyfoph,fus A. P. PR F. A. S
8. rumimcofa A. X. P. PR F.A. P. S
Succmimonas amylopytica A, D A. S
Selenomonas rummant,um A. SS, GU LU. PR A. L. P. H. C
Lachnospira multtparus P. PR. A F. A. E. L. H. C
Succinivibr,o dextnnosolvens P. D F. A. l. S
Methanobrev1bacter rum,nantium M.HU M
Methanosarcina barkeri M.HU M.C
Spirochete spec,es P. SS F. A l. S. E
Megasphaera elsdeni, SS. LU A. P. B, V. CP, H. C FIGURA 13.11 M1crograf1a eletrônica de uma
Lactobac,llus sp ss l secção fina da pança do cupim Ret1cufiter-
Anaerov1brio lipolyt,ca L, GU A. P. S mes flav,pes Grande parle da flora é com-
Eubacterium rummanr,um ss F.A. B. C posta de agregados de bactérias. Entre elas
podem ser v1stas bacterias formadoras de
Funçõ~s: A= arTlllolitica, C = celukll1tica. O= deldnnol,tica: GU e:: uso de ghcerol; HU = usua:•a je hr.orogén10. L = hpol1t1Ca LU = uso de lacrato. M:: metanogênica. P
= pect,nohttca. PR = proteol1hca. SS =principal fermentadora de açucar solúvel X =;,;.,1ar.c11!1ca
endósporos (E). espiroquetas (S) e proto-
PrOdutos· A = acetato. B = but1r3to: C = d1ox1do de cart>Ono. CP = caproaro, E -= etaí'CI r = !or:-ria:o H = h1drogêrno: L = lactato, M = metano. p = propkJnato. S e: zoários (segundo Breznak 1975)
succ1nato. V = valerato

1
394 PARTE 2 - INTERAÇóES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 395

1. Os espiroqueras cendem a concentrar-se na superfície dos bióticos, quando os últimos são providos de: codos o:. ami-
Filogenia dos afídeos Filogenia bacteriana
flagelados. Os espiroquera~ possivelmente recebem nurrien- noácidos essenciais, mas esrabelecendo outras funçõn nu-
Ra
tes dos flagelados, e estes .1dquirem mobil~dade dos movi- tricionais indefiníveis.
mentos dos espi1oquecas: um par de mucualisras vivendo A interação afídeo-Buclmera pro- Pv --- --- -- - - - - - -
86__
dentro de unn terceira espécie. porciona também um excelente exem-
Ec -
2. Algumas bacráias no imescino do cupim são capazes de fixar plo de como uma associação ínrima FIGURA 13.12 Filogenia de afideos selecio-
nitrogênio gasmo - aparenrememe o único exemplo estabele- c:ntre mutualistas pode ligá-los em ní- 100 _ nados e seus correspondentes endoss1mb1-
cido de forma clara de simbionres fixadores de nitrogênio em veis ecológico e evolutivo. As Buchnerrz rêm transmissáu tran- ontes primános. Outras bactérias são mos·
tradas para comparação A filogenia dos alí-
insems (Douglas, 1992). A fixação de nitrogênio pára quan- sovariana, ou seja, elas passam da mãe para sua descendência deos (segundo He1e. 1987) é apresentada a
do são aplicados .incibiócicos ancibaccerianos (Breznak, 1975), em seus ovos. Portanto, uma linhagc:m de afídeos suscenu uma Pb esquerda. e a das bactérias. à direita. As li-
e a t.l.'<J de fixação de nirrogênio diminui de forma brusca, se única linhagem correspondente de Buclmem, e esta é, sern dú- nhas tracejadas conectam os afideos e bac·
---- Mv térias associados. São incluidas na filoge-
houver aumento do conteúdo de nitrogênio da dieta. vida, a razão das filogenias esrriramenre congruinces de espé- --~6_ 199
nia !rês espécies de bacténas não-srmbion-
cies de afídeos e de Buchnera: cada espécie de afídeo tem sua Cv tes. Ec = Escherichia coli: Pv = Proteus vul·
própna espécie de B11clmem (ver, por exemplo, Figura l .l 12). garis: Ra = Rummobacter amyfophifus (um
On simb1onte do rume). As distâncias Junto às
Além disso, esses esmdos moleculares, que permitem recons- 100 ram1f1cações estão apresentadas de ma·
. , "· l ' , . , . , ' :, • ' ! . ~ :. ' - . ~. Ap
truir a filogenia de Buclmeltl, também sugerem (\Ue m .lridt'.'us ne1ra aproximadamente proporcional ao
tempo (segundo Mora et ai.. 1993). Espé·
adqu1rirJ.m Buclmem apenas uma vez em sua históri.1 ê."\ oluci- Us c1es de afideos: Ap = Acyrthos,phon pisum.
j\;.15 simbioses <le miccróciros emre microrganismos e insetos, os va, aparenremenre há 160 a 280 milhões de anos; is.':.O ocorreu Cv = Cha1tophorus v,mmalis; On = 01uraph1s
1111crorgan1smos hcrd.1Jos marernalmenre são encontrados den- após as llnicas du;ls famílias de afídeos sem simbime de rnice- Mp nox1a: Mp = Myzus persicae. Mr = Melaph,s
rro do cirnplasm.1 de células especializadds (micerócirns), e a cócicos, Philloxeridae e Adelgidae, cerem divergido d,t linha- rho1s: Mv = Mmdarus v1ctoriae, Pb = Pem-
Rp ph1gus betae: Rm = Rhopalos,phum maid1s;
inreraçJ.o é inquesrion.ível. Esra é neces:...íria aos inseros pelos gem principal de afideos (1VIoran et ai., I 993). Proporcionan- Rp = Rhodafosiphon pad,; Se = Schlecten-
97
Rm
benefícios nurricion.1is aos microrganismos, como fornecedo- do uma tendência final, os únicos ourros afídeos sem Bud111('- dalia chinensis: Sg = Sch1zaph1s graminum
res-chave de aminoácidos, de lipídeos e de vitaminas essen- m (na família Hormaphidid.ie) parecem cê-las perdido secun- Us = Uroleucon sonch,.
Sg
ciais, as:.irn como para a própria existência dos microrganis- dariamente na sua história evoluciva, mas funcion,Im como
mos (Douglas, 1998). As simbioses são encontradas em uma hospedeiros para leveduras simbiócicas (Douglas, 1998.l. Pa-
grande variedJde de tipos de inserns e são universalmente - rece mais provável que as leveduras desalojaram compemi\·J-
ou quase - presentes em baratas, homllpreros, percevejos, pio- mente as bactérias, em vez de estas terem sido perdida5 l'. pos- necessidades de oxigênio. Ela pode também usar alimento 13.7.1 Corais construtores de recife e
lhos sugadores, muscas csérsé, besouros lictídeos e formigas [eriormence as leveduras terem sido adquiridas. org.inico. No em.i.nrn, quando a HJ,dra é manridJ no escu- descoramento de corais
camponmídeos. Elas evoluíram de maneira independente em Por fim, Douglas (1998) cambém salienca que codos Ho- ro. sendo suprida diJriamence com alimenro orgânico, uma
grupos discirnos de microrganismos e seus inseros parceiros, moprera que se alimentam da seiva do floema nurricional- populaça.o reduzid.1 Je algas continua existindo, ao menos Em termos de biomassa, ji observamos que os mutualismos
mas em rodos O'> casos os insetos vivem com dietas nurricio- mence deficiente têm simbioses de micetóciros, incluindo o:-. Jurante sei5 meses, e rewrnJ à ,nuaçáo normal denno de dominJ.m os ambientes do mundo. Os recifes de coral propor-
n;:dmente pobres ou não-equilibradas: seiva Hoemárica, san- afídeos descritos. Já os que muJaram secundariJmente em rn.1 dois diJs de exposiçõo à luz (Muscacine e Pool, 1979). As- cionam um exemplo importante: os corai.s construtores de re-
gue: de vertebrados, nu<leira, entre outros. Na maioria das ve- hisrória evolutiva, para se alimentar de células vegetais inuc- sim. na presença dos seus ~imbionres e dependendo das con- cife (um OLuro dramático exemplo de engenhari.1 aurogênica
dições e recursos louis, J H_ydnr podt'.' ter comportamento de ecossi.sremas - ver Seç;\.O 13. l) represenram de fato assocja-
zes, os simbionrc.s sJo diferences tipos de bactérias. embora ras, perderam a simbiose. Isso é, então, uma ilusrr.ição de' umJ
em alguns imecos esre1am presenres as leveduras. perspectiva evoluciva comparariva que, mesmo em sirnbio)es r,Into autotrófico quanto hererorrófico. Admire-se então a çóes mutualistas enrre Cnid;iria hererocróficos e dinotlagela-
Entre essJ.s simbioses, as inre- claramente murualistas como essas. o benefício é llquirlo. Ao tXÍ)tênci.1 dt processos reguladores harmonizando o cresci- dos fornrróficos do gênero Spnúiodinium. Esse tipo de recJe
raçõe . . entre afideos e bacrérias do mesmo tempo que as exigencias do in.sc:m são reduzidas, como memo do cn<lossimbionte e do .'lt:ll hospedeiro (Douglas e ilusrra, também, a vulncr.1bilidade pocenciJl da mais prepon-
gênero Buchnem (Douglas, 1998) na rnudanç.1 de dieca, o equilíbrio dos custos e beneficim dm Srnirh, l 984), como presumivdrnenre em todas .1s simbio- daantc: dJs característic.1s "engendr:1das" J.e hábiur Desde que
~.\.o as que n1Jis . . e conhecem m dt'.'ralhes. Os micetócitos. simbiontes também é alrer:1do. Neste GISO, os cusros cl.1r:1- se:. de.':..Se ripo. Se nJo fos,e assim. os simbionres crc:sceriJm foi descriw pelJ primeira Yez. em l 984, houve regisrros de
~ao encontrados no hemocelo do .tfideo, e ,ls b:ictérias ocu- excc:sSt\'Jmcnce e m,1t,1riam o hospedeiro. ou n.io con,egui- ''J.escoramenro de cor.iis". ou seja, o br.inqueamenco de corai:-.
mcnre sobrepujam O.':. benefícios em uma dieu altc:rJLÍJ: .iquc:-
p.1111 cerc:.1 de Gü< 1·0 do ciropbsm.1 dos micetóciws. As bac- les inscws que perdfm seus .\imbionres têm sido t:n·orc""cÍtÍü) nam aco111p.u1h.H o crescimento do hospedeiro e tlcHÍ.rn1 resultante da perda dos endoss1mbionce . . e/ou dos seus pig-
rêri.1s n:'iu pode111 ser produz1JJ.\ cm cu!rnra no l.1bor,uório di!uídm ne~re. memos forossinréricos (Brown, 1')97!. O de.<,cor.1111enro ocur,
por ~eleç.\.o n.uur;il.
e nun(a toram enco11tr.td,1:, t:'.nl outro~ loc.iis além dos mi- Ex1.\Cc:111 mu1m-" reg.i:.no~ d.._· ín- n: em especi,d como re'>po:.u a rempcr,Hur,1s extr:10rdin.ir1.1-
cc:tócitos de afídc:o.<,, mas a exrens:io e J nacurez,1 do benefí- tim.1 .1ssm:iaç.í.o entre: .1lgJs e prow- menre ele·,.1dJ.s (como a.':. obser\·ad.1:. em í 1 hukct, na Tailjnd1J:
cio que elJs trazem a estes podem ser e~rndadas a partir da ·13_7 Siinhic,~ tes fo~ossintéticos jenu·:1 zo:irios no pl:incron marinho. No ci- Frgura. l 3. l 3l), nus também como respo'>f.l a incensiJ.1de:. .,1-
remoçáo de Buch'laa, mediJrHe trac.1menro dt'.'stJS com an- in'·í2;1>~ÜíJdos aquátic·::.; liJdo ,tfrwrluuum rubrum, por exemplo, ohser\".tm-,e "clo- us da r.1di:.1ç5.o .solar ou mesmo ..1 doenças. Desse modo, pare..:c:
ribióricos. Tais ,1fídeos "apossimhiócicos' crescem muito len- ropl..isro~" que: p,uecem ser J.lgJ-" simbiótic.I'>. O con<;Órcio provável quem episódios de descoramenro se rnrnem progrcs-
tamente e se desenvolvem em adultos que produzem pouca As algJs sio c:ncontradas dc:ntro de murualista de protist.l'i e .1lgas pode flx.1.r dióxido de LJrbo- si\·amente freqüemes ;1 medida que ,lS cempcr:uuras globais au-
ou nenhum.i descendência. A função mais fundamenr;il exe- 110 e .1hsnr\·c:r nmriences minerais, formando com fn::qüê'.n- menram (Figura l3.13a; ver Seção 2.8.2). o que é uma c.iusa
tecidos de uma variedade de animais,
cutada pebs ba-:rt.'.ri.is é produzir amino,icidos essenciais au- cia dens,1s popul.ições conhecid.i:. como ··maré:. vermdh,ts" p,uticular de preocupJç:ío, pois alguns desses episódios rê:n
parcicularmenre no filo CnidJ.ria. Nas simbioses de ambien-
. . ences na seiva do floema de Jminoác.idos não-essenci.iis, te de âgua doce, Chloretfa é em geral a c1.lga simbionre. Em (p. ex., Crawtord et ai., 1997). Em uis populJções cém .sido seguidos de morcalid.1de cm m:1s,;;.1 de ("OrJis. Isso se torna
como glunmaco; o rratamenro antibiótico confirma que os sido registrad.1s taxas de produçJo exrraordinariamente al- ;iparenre em Phuket, por nemp!o, junc:unenre com os cpisó-
HJ'dra i·iridú. por exemplo, células de Chfore!la esr:io pre-
afídeos nJ.o podem, sozinhos, o:ecutJr tal função. Além dis- t,lS (superiore.':. a 2 g m·' h· 1 de carbono), que prov,lVelmen- d,os de descoramenco de l ')91 e 1995 1 Figura IJ.13b). (Por
sentes em grand..:s qu,rnri<lades (l ,5 x IOí por hidróide)
re S.l.o o~ nÍ\ eis mJis alros de produtividade prim;lria regis- 011tro lado, um:.1 perd.1 m,us c;iusrrófica ocorreu cm J l)87, como
so, conrudo, 811d1nera parece fornecer outros benefícios, dentro de céluLis digescivas da endodermc:. Na luz, J f/ydr,1

1
0

rrad,1 em popubções de microrg.rnismos aqu.ítÍ<..os. rc:sultJdo n.í.o de de.':.cor-1rnc:nro, 111.1, de :Hi\"ida<le de drag1-
pois os .1fídeo5 'i!!llbiórico . . aindJ. superam afídt'.'os apossim- recebe foros,;;int.HOS das alg.1s além de 50 a 100%, d.is )ll,l)
396 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 397

(a) (b)
FIGURA 13.13 (a) Temperaturas médias men. 0,8
(a) (b) sais na superfície do mar (TSM) (SSTs. sea M annulans
31
t
70
60
surlace temperaturas). em áreas de Phuket, ...
30
~
Tailândia. de 1945 a 1995. É mostrada a hnha
~
;;, 50 de regressão para todos os pontos (P< 0.001 ).
~
0,6
í
"'
"....
29 1-8
~
40
30
20
A linha tracejada traçada a 30, 11 9 C represen-
ta uma tentativa de limiar de descaramento.
Os anos que superam esse limiar são apre-
sentados: o descaramento foi observado em
.
~

i
T

0,4

1
28 L___j
~ 10 1991 e 1995, mas não-monitorado antes da-
~
'O e 20-30cm 1-3,Sm 4-5.Sm 6-7m
i
u
quele ano. (b) Porcentagem méd,a da cobertu- i Um taxon Doos taxons Três táxons
., ~ g: .,
~ ~ ra de coral {± EP) nos planos interno ( - - ) .
~
ii: ~ ~ ~ :ll'" gi '"O>O> g:
<D ~

~
'
<D ~ O>
O> O> O> O> O> :ll médio ( ) e exlerno ( - - - ) do recife 0.2 A+B A+C B+C
~
Ano Ano em Phuket, Tailândia. no período de 1979 a o AO (à Q A-8-CQ
<121 ()
o
1995 (segundo Brown, 1997) .•

Inicio 27°C 34·c


ªº
ce
1 2-2:1 ()
>2:1 () G
(}
G
A,8-CQ

(e)
gem; e o declínio em cobcrrur:1 no inicio d.1 d~cad.1 de 1990 descor.1rnt'nco. enrrer.rnro, foi r.uo nos louis nuis r.1sos e nm 60
;;-
f}arLceu ser conseqüênci.1 de um~1 ÚJtaaplO enrre descorJmen- mais profondm. nus foi n1.1is Jparenre na,; colôni:b mais rasa, o 50
ru e umJ variedade de disrúrbios humanos locais.) <le ioc.1i:-. sombreJdos e em colônia.s mJis P..rofund.1s <le loc.us 40
Evidenremenre, nâ.o podemos expo)ro,. L:nu comp.iração de amosrras adjacenres Jntes e apó~ 1. 30
ser complacenres a respeiw dos etei- o descor Jmc:nco propicia uma explicação (Figura l 3. l 4c). O g 20
tos do aquecimenro global nos recifes descorJmcnco resulrou de perda seleciva de ~ymbiodútimu C. .õ
E 10
de coral - e é provável que sempre exis- Ele p.1rece ter ocorrido em locais que mantêm a espécie C e cii
tilll/ disrúrbios humanos com os quais os efeitos de descora- uma ou as ourr.1s duas espécies, perro do limite de irradiànci.1
memo podem imeragir - mas também sabemos que os corais de C sob condições não-descorantes. Em locais de água pro- Comuntdades B + C Comunidades A + e ABC
de' recife são capazes de se aclimatar J.s mudanças das condi- fund.1 sombreadJ, dominados por C, as cemper1ruras alcas em
FIGURA 13.14 Aclimação de corais e recuperação do descoramento. (a) Densidade de algas em amostras do oeste (barras ma,s claras) e do
ções que podem induzir descoramenro e de recuperar-se de 1995 n.ío furam suficiences para expor C às condições de des-
leste (barras mais escuras) do coral Goniastrea aspera, antes e após exposição à temperatura elevada (J4VC) e ambiente (2?9C), por 68 h. São
episódios de descoramenco. Sua adapcabilidade é ilumad, por caramento. O'.,, locais mais rasos foram ocupados pelas espécie~ apresentados os valores médios; as hnhas dos erros representam 1 DP (n = 5) (segundo Brown et ai., 2000). (b) Comunidades s1mbiontes em
um oucro escudo em Phukec. Durante o episódio de 1995, foi A e B, que 1üo eram suscecíveis ao descoramenro nessas tem- outro coral, Montastraea annu/ar,s, coletadas em Janeiro de 1995, ao longo da costa do Panamá. Cada símbolo representa uma amostra
que continha táxons de Symbiodm,um A. B ou C. ou mistura de táxons sumarizadas de acordo com o código mostrado abaixo. As colunas
observado que o descaramento no coral Goniasrrea aspera ocor- peramr.1s. 0o enranco. ocorreu descoramenrn quando C esca-
nos dados representam colônias 1ndiv1dua1s de corais (a profundidade cresce da esquerda para a direita) e as fileiras representam locais
reu predominancemenre nas superfícies voltadas para leste. As va iniciJlmente presente, mas foi deslocada para ;1lém dos seus de irradiãncia mais alta (fileiras 1 e 2) e mais baixa (fileiras 3 e 4). como definido no diagrama à esquerda (segundo Rowan et ai., 1997). (c)
superfícies voltadas para oeste sofrem maior exposição à ra- lim1ce~ pc-lo .rnmenco da temperarura. Nesses locais, a perda de Comunidades s1mb1ontes correspondentes próximas à região de descaramento de Symb1odinium Cantes úane1ro de 1995) e durante (outubro
de 1995) um episódio de descaramento de coral Densidades de A (cinza), B (branco) e C (laranja) antes e duranle descaramento (barras
diaç.ío solar, que também tende a causar descaramento. Isso, C tipicamenre ficou perrn de l 00°/o, B decresceu em torno de:
esquerda e direita de cada par. respectivamente) em amostras registradas em comunidades B + C (3 a 1O). A + C (3 a 7) e ABC (segundo
porranto, sugere que nos corais voltados para oeste foi desen- l 4q'O, nus A mais do que duplicou em três de cinco insrâncias. Rowan et ai., 1997)
volvida uma rolerância ao descoramenco. Tal diferença de ro- Ponanro, parece que, primeiro, o mutualismo coral-~ym-
lcr~inci.1 foi confirmada experimenralmence (Figura 13.14); biod11úu111 t:n\'oln: um.1 g~HnJ de endossimbionces que permirL
houve pouco ou nenhum descaramento nas superfícies volta- quem corJ1s se desenvolvam em um.1 faixa mais ampla de h:i- ceps, o fungo d.1 cravagem, e E'pichloe, a dot·nça do ··estrangula- água são limicanres. Porém, no severo mundo das comunidJ-
J.1.., p.1ra oeste ''.1d.1pt.1das" a altas cemperacuras. bitars do que seria possível. Segundo, observando o mutualis- menco" de gramíneas). oucrns que são claramence mutualistas e des vegetais, as simbioses, se não esrrirameme obrigatórias,
Enqu.mm isso. um outro esrudo mo pe!o LH.lo d.1 alga, os endossimbionres precisam estar cons- um grande nümero com cusros e benefícios incenos. Os micélios sâ.o "ecologicamente obrigatórias". Ism é, elas são necessárias
de descoramenro de corais adiciona à r.uHemence empenhados em uma baralha compeririv.1, cujo c.u.tcreristicamenre se desen\'olvem como fibmenro, rJmiftudos para a sobrevivência dos indivíduos nJ natureza (Buscar et ai.,
cresceme percepç:i.o que mumalismos equilihrnJ ~e .tlrcr.1 nn e~p.1ço e no rempo (\'er Seç.ío 8.1). Poi de m.rneira e~parsa acr.\\'és Je csp.1ços inrerceluLuc) .10 longo do 2000). O regiscro fóssil sugere que as primeiras plantas rerrí-
Jparenremenre simples. envolvendo fim. o dL'\C(1r.1mento k a subsequenre recuperaç:io) e possivd- eixo de folha... e c.1Ules, ma'.,, não . .J.o encomr.11.los crn r.1íze~. ,\lui- colas tJ.mbt'.m foram muico infecrndas. Essas espécies n:ío dis-
duJs e~pic1es. podem ser mais complc- rlh.:'!He u111hén1 -1 '·alhpca~ão" do ripo dc-scriro podem ser ,·i:,- tos dos fungos simbióricos produzem pudermo.-; .dc.dóiJes cóxi- punhJm de pêlos de raízes - em alguns casos, até mesmo dé:
\(h r.: ,uti., do que ~r.: pude inuginar. o~
corais caribenho . . A/on- co:, 1._01110 m.rn1t~'>r.1~()e:, dess.t b.Halha compcriri\',t: n.lu decom- L'OS que co11t~rem algum.1 prott\3.o üJ1Hr.1 -1nim.1i:. pred,1dores r.1ízes -, e a colonização inicial <la cerra pode ter dependido da
r,,_,mtt'if i1111111/.rn., e /i/. j,ú·eol,w1, ecologicamence dominantes, posiçôl.:'~ e l l'c.omrruções de 11m.1 simples assoclaç:in Je duas espt'- (essa evidência~ revista em Clar, 1990) e. ukl~l m;lÍ~ imporr.1n- presença dos fungos, para escabelecer o íntimo contato neces-
ht 1sped.u11 rrês "espécies" ou '·filoopo( de ~J'mbiodi11iu111 com- cÍe:,, 111.1:-. rnudanç.1S em unu comunidade simbióri..:a complex.1. re, desencoraj.rn1 predadores de :.ememes (Knn'-h r:t ai., l lJ93). sário c:ncre plantas e substrarns.
pler,1111enre separada~ (designadJs A. 8 e C e distinguíveis ape- Em rai'zes, ocorre um murnalis· Em geral. são reconhecidos três principais ripas de
n.1s por méwdos gent'.cicos). Os filoripos A e B são comuns em mo complecamenr.: diference de fun- micorrizas. As micorrizas arbusculares são encontradas em
h.ibn.us mais rasos, com irradiância alr.1, e C predomin.1. em '13.B 11,,utua!ismos envolvendo plantas gos com pl.rnras superioro. A maioria mais de dois terços de codas as espécies veget.1is. incluindo
loc.u, mJ1~ profundos. com irradijnci.1 mais baixa. o que é ilus- su~eriores e fungos das pl.rnras rnperiores rem rnicorriza::. a maioria das espécies não-lenhosas e árvores rropic1is. Fun-
tLhlo por compar.1çóes de colônias de diferenre.s profundida- - murualismos íntimos enm:: fungos e recido dJ r·iiz. As plan- gos eccomicorrízicos formam simbioses com muitas jrvo-
dn .: de amostras de ditC:n:nres profundidade~ denrro de uma Di,·er~JS ,b~ociações simbióricas s:io formJdas entre pLrnras supe- tas de apenas poucas famílias, como a~ Crucifrne, sJ.o umJ res e arbuscos, dominando ílorescas boreais e temperadas,
colóni.1 (FigurJ 13.14b). No outono de 1995. após um perÍo· riores e fun::\OS. O imporr.uue grupo de fungos A. .comiceros, J,1 exceção. De modo geral. as redes fúngicas em micorrizas reti- bem como algumas íloresras fluviais tropicais. Por fim, as
do prolongado acima da temperatura média m;ixima de verão, famíli., C\.1\·Kipiuceae, cresce em tecidos de muitas espécies de ram nutrientes do solo e os rr.rnsporcam p.na as plantJ.s em micorrizas ericóides são enconuadas nas espécies dominan-
c11.:orr::::-u descoramenm em 1\,f. ,mmt!aris e A/. fweolam em reci- grJmíneas e Je poucas espécies de cipedceas. A família inclui troca de carbono. 1Vluitas espécies de planr.1s p(idem viver sem tes dos urzais do hemisfério norte (Ericaceae) e da Auscr.íli~1
tes m.11:. afa~rados cb cosc1 do PJna.m.í e em outro lugJr. O gênero:, fa..:dmenre reconhecidos como p.uasicos (p. ex., Cltl'I- seus fungos micorrízicos em solos, on<le nem rlL!rri;::nte'.,, nem ( Epacridaceae).
1

i
~ ...
1

1
398 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 399

13.8.1 Ectomicorrizas disponível principalmente como amônia. Dessa forma. é crucial ros). métodos genécicos modernos têm revelado unu diversi- des diferenças na imensidade de infecção micorrízica narurJI
para as árvores florestais que os fungos ECiv1 possam ter ,tce~so ao dade rnuico maior de fungos MA, e existe uma evidência cres- ('«'esr et ai.. 1993). Em um rr.tramenro. foi ,plicado fosfato e.
Estinu-se que 5 mil ,1 (i mil espécies de fungos BJsidiomicecos nirrogênio org:i.nico direramenre mediance a degradação enzimá- cenre de difert:11Ciaçáo de nichos entre des. Por exemplo, quJn- em outro, foi usado o fungicida bt'nomyl para conrrolar J in-
e Ascomicerns formem ecromicorrizJs ( ECMs) em raízes de tica, milizar amónio como fome preferencial de nirrogênio inor- do 89 amostras de raízes foram retiradas de três espécies de fecção fúngica. A fecundidade da gramínea foi muiro pouco
irvores (Bu.1.cor er ,d. 2000). As rJÍze.1. infecradas em geral es- gânico e envolver as zonas de esgotamemo de amónio por meio grJmíneas que coocorriam n.1s mesm,1s parcelas dt' um experi- aferada por qualqutr um dos crar.imenros. Uma ~xplicação foi
tão concentradas n.1 camada de serrapilheira. Os fungos for- de crescimenro extensivo das hifas. Comudo, a idéia de que c,sa menro de campo e ::.em fungos MA foram caracterizados utili- propiciada por um ourro conjunro de experimentos (Figur.1
num uma h,1inha ou capa de espessur.1 vardvel ao redor das relação emre os fungos e suas plamas hospedeiras seja mutua- zando-se um mt'rndo genérico- polimorfismo do comprimen- 13. i 7b). em que plánrulJs de Vidpia foram cultivadas com
r.Üzes. A partir desse re\'estimenrn, as hifas se estendem Jté a meme explorariva, em vez de "agradável", é enfacizada pela .'IUJ. to do fragmento por restrição terminal (termina! restriction um fungo de J\1A (Glomw ~p.), com um fungo patogênico
.scrrapilheira, e:,.;ff,tindo nucriences e iguJ, e rambém produ- receptividade às circunsr5.ncias em mudança. O crescimento ECM fri1gme11t !eugtli po(ymo1phism) -, houve uma nítida separação Froarium ox_ysporum, com ambos e sem qualquer fungo. O
zindo grandes corpos frutíferos que liber.1m uma grande quan- é diretamente relacionado J ta.xa de fluxo de hexases procedemes emre as cepas de !v1A cnconrc1<l.1s em diferentes hospedeiros crescimento não foi intensificado por Glomw sozinho. ma,
tidade de esporos disper.1.ados pelo vento. O micélio também da plama. Porém, qu.rndo a disponibilidade direta de nirr Jto (Figura 13.16). foi prejudicado por Fwariro11 na ;iusência de G/0JJ11ts. QuJndo
se estende p.1r.1 o imcrior d.1 b.1inlu, penetnndo emre as cdu- para as planras é alra, se1a nacur:1lmente ou por meio de suple- Há umJ rendênci,1 em enfatizar .1mbos escavam presentes, o crescimento retornou .10s nívei,
1.i.'i do córtex da raiz, p.1r.1 propici.ir um íntimo comam célub- mentação artificial. o meraboli::.mo vegeral se afasta d.1 produ- a fociliuç.io da absorção de fósforo normais. Ficou evidente que a micorriza não benefi(iou a eco·
a-célula com o hospedeiro. e estJbelecendo uma interface com ç.1.o (e exportação) de hexases e é direcionado para a síntese de como o princip,d benefício às plantas nomia de fosforo de Vrdpit1, mas a protegeu dos efeiros d.mo
unu grande úea de <;t1perfíci1: p,HJ J rroca de forn-assimila- .iminoicidos. Como conseqUê1Kia. a ECivl se degrada; as pLrn- de simbioses de i\1A (o fósforo é demento alcameme imóvel sos do pJtógeno. (No experlmenrn pré,·io, o benomyl prtsu-
dos ..igu.1 do solo e nuti it.'nre, t.'IHft.' ,l pbnu ho\pedeira e :-..:u t,l'i pJrt:(em suslent.u ,1 EC.\I apen.t.\ r.rnrn qu.rnto for no ::.olo, que, por isso, é freqüenremcnre limiunce ao cresci- mi\·elmenre n:io afernu o d1.:,empenho. ~1oi, conrrolou o fun
fungo p,1rce1ro. O fungo ger.dmenre indut alrerações morfo- necess.íno p.u.i el.1s. menro n~geral). nu.'I .i realid.ide pJrece ser m.1is complnJ. Os go micorrízico e o pacogc'.nico).
gc::nt'ricas na:-. r.lÍze<, Ju:. hospedeiro:,,, que ces::.am ::.eu cresci- benefícios umbém rêm sido demomrrados n.1 .1bsorção do .. É possível que a diferenç.1 scj,1
menw .ipict! e perm.rnccem curtas (hgllra JJ.15). As raítes nitrogênio. nJ proreç.ío contrJ pJtógenos e herbivori,1 e na que a Vu!pr11, ao contrário d,1 campai-
que penerram em c.rnudJs mais profundas do solo, menos 13.8.2 Micorrizas arbusculares resistência a metJis cóxico::. (New::.hdm et ai., 199)). Cerca- nha, possui um sistema de r.iízes .11[.t-
nCds org.rnio.meme, cominuam .i alongar-::.e. menre, t:xisrem caso:, em que o influxo de fósforo esc:í forre- menre rJmiflcado. Nesse semido, Newsham e colahoradoró
Os fungos EC,\ l (para revis:í.o, ver Buscm et ai., 2000) são As micorrizas arbusculares (i'v[As) nJo formam umJ bJinh.1, menre relacio11Jdo ao grJu de colonização de raízes por fun- ( 1995) propuser.1m um cu,ui,wum de funçJ.o de iv1A em rda-
dlc.J.Zes na exrraçáo de supnmenros esp,m,os e fragmenr.idos de nus penetram nas rJízes do hospedeiro, sem. no enranto. alte- gos de MA. N.1 campainha (H_y11ciJu/1oidCJ 11011-scripú1), foi de- ção à arquirerura das raízes, com Vit!pia e H_11t1ci11t/ioidcs volra-
fosforo e, em espec1.tl, 11irrogênio d.1 canuda de serrapilheir.1 da rar a morfologia destJ.s. As raízes tornam-se infêccadas pelo monstrado como a colonização progride dur<rnre sua fase de das para os dois exrremos ..-\s plantas com raízes finamente
floresra. Sua a1ta divr.:rsiJ.1dc: em espécies presumivelmente reflete micélio preseme no solo ou por rnbos que se desenvolvem Jç crescimento subterrâneo. de agosro a fevereiro, até sua fase ramificadas cêm pouca necessid,1de de capturar fósforo suple-
uma diversidade com:'.'iponJeme de nichos nesse ambieme (em- esporos assexuais; rais rnbos SJ.o muico grandes e produzido,; fornssinri.=cica posterior acima do solo (Figur.113. l 7a). Na ver- menrar, nus o desenvolvimenro desta me.'lma arquitetur.1 de
bora essa diversidade de nichos náo poss.i ser demonsrrada). O em pequenas quanridades - um grande conrr.iste com os fun- dade, as camp.iinhas cultivadas sem fungos de iv!A são inca- r.1ízes proporciona múlriplos ponros de enrrada de t'itopacóge-
carbono flui <la pl.rnu p,1rJ o fungo, principalmeme na forma gos ECivl. Inicialmence, o fungo cre::.ce entre as célul.1s do p.tzes dt absorn:r fósforo mediante .'leu si::.cem.1 de raízes po- nos. Em r.1i.'I casos, a.'I simbioses de i\1A, por Í.'lso, provavelmenrt
de açllcares simples: .1<, hl"\Oses glicose e frurose. O consumo fún- f10spedeiro, mas após penecrJ t;elas e fornu um "arbúsculo" brememe rami~icado (~1lerr~'\veathcr e Firrer, 199)). evoluíram com enfase na proreç;lo vegetal. o~ sisrenus de raí-
gico desses açúctres pode represenr.u nuis de 30º/o d.1 t,L'(J líqui- intracelular finamente ramiticado. Os fungos responsáveis per- Por mirro lado, um conjunro faroriJI de experimenrm zes com poucos meri::.renu:. l.aerais são rdacivamenre invul-
da de produçJo de forossinc.uos dJs pl.u1tas. As plmtas, no entanto, rencem a um filo discinrn, Glomeromycora (SchüEler ,d.,·r exJminou o crescimenro da gramíneJ anual Vidp1t1 olillttl ssp. nt'dveis ao .iuque p,aógeno. mJs .;;lo pobres forr,1geadore.-. de
sJo limitadas por nirrogCnio, pois nJ serrapilheira da floresta as 2001 ). Embora originJlmente divididos em cerca de apena~ ,m,b,gua, em locais no leste da Inglaterra, constatando gr.in- fósforo. Nestes, simbioses de MA prova\"elmenrt: evoluíram
uxas de miner,Uiz,tç:io dnte elemeruo (conversâo de formJs or- 150 espécies, sugerindo uma foica de especificidade ao hospe- com ênfase nJ captura de rê:hforo. N.uuralmenre, mesmo essJ
gJ.nic.is em inorgânicas) ",lo baix:lS, Lo nitrogCnio inorginico está deiro (uma Yez que existem muito mais espécies de hospedei- visão mais sofisricad.1 da função de iv[A pode nJo representJr

. .. ..
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rod.1 a história: outros aspeuos dJ ecologi.1 de 1\1:\. como ;i
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• A. cap,llans
•; ~~~;:ns,s j
_______ I
proteç.ío conrra herbívoros e metais róxico::., pode exibir v.1-
riações nlo-relacionadas com ;i .irquirerura das raízes .

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13.8.3. Micorrizas ericóides
. -·
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l),; urz.11;\ 01..oirem -:rn .1mhic11tc:,, ur.1Lter1z.ido:> por ~olos cu111


r1i\·c1~ b.1Í:\.Lh de d1,po1iibiliJ.1dc de mirne1ne-; p..1r.t .is pl.rn
t.l), com frc:quc"-nci.1 como rr.:rnlr.1do de queinuJJs rt'guLtrl'~
(p. ex .. m::11~ de Sü<~o do 11itrogênio a(umul.ido emre queinu-
··. ....tmt\; d,b pode ser perdido). Porr.111to, n.lo t: surpre~.1 que os urz.iis

-......-- FIGURA 13.16 S1m1landade entre 89 comunidades fúng1cas de m1-


corrizas arbusculares (MA) obtida de ra1zes de três especies de gra-
mineas coexistentes (Agrostls cap1/fans. Poa pratens1s e Festuca ru-
sdo domm.1dos por muicas pL1m.h que de.'lcnYnln'.r.1111 u111.1
,tsmciJçâ.o com fungo.'I micorrízicos ericóides ( ReJJ, J <Jl)(1)
(s~o f.t..:iltu c1 t.'l~s J. cxrr.H,:.in d~ nirrogênio e fó\foro de canu-
das superrlciais de detriros gcT.1dos p~l.1s pl.im.is. N.1 vt:rd.1de.
FIGURA 13.15 M1corr1za do pinheiro (Pinus bra) caracterizada pelo metada do pol,mcrt1smo do comprimento do
fragmento por restrição terminal. Cada terminal da ·'árvore" é uma a consen·aç;Io de urz,ti.'I 11Jtura1s csc.i ame.1ç.1da por rnplemen-
syfvestns) A estrutura 1ntumesc1da. oas1an-
te ramificada. é a parte da raiz modificada amostra diferente. sendo mosrrada a espécie de gram1nea da qual uç,lo de nHrogên10 e co11crole <le queinud.is, que permitem .t
envolvida por uma espessa bainha de teci- e!a se originou. Amostras mais semelhantes estão mais próximas na
colonizacio e dominàncu por {Tr,uníneas ..b qu.m, ~e isso n:l.O
do fúng1co (cortesia de J Wh1trng. fotogratra árvore A s1milandade dentro, e a disr,nçào entre. das comunidades
fúngicas MA associadas com hospedeiros d1strntos sào nitidamente .1..:onrece;:>e, n.1.o .'leri.1111 cJp.il;: de ocorrer nes~..:~ .1mb1enct::-
de S. Barber).
aparentes (segundo Vandenkoornhuyse et ai 2003) empobrccido,.

i
_...,,____
400 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 401

Dessa forma. os pares (e crias)


(a) mucualiscas em liquens proporcionam

/~<,
60
admiráveis paralelos com plantas su-
periores. Exisce um paralelo escrucural: em plancas, os cloro-
50 plascos focossintéticos (ver também Seção 13.12) estão simi-
/ .·· larmente concencrados junto às superfícies voludJ.S p:.1r.1 a luz.
Exisce cambém um paralelo funcional. A economia de uma
(b)
/ planta depende do carbono produzido amplamente nas folhas
e do nitrogênio absorvido principalmente acra\"é.<. das raizes.
/
l
o.
-1
/
I Uma escassez relaciva de carbono provoca o crescimento da
pane aérea às expensas das raízes, e a escassez de nitrogênio
leva ao crescimento das raízes às expensas das panes aéreas.
[)a mesma maneira, a sinrese de células focobiomes fixadoras
de carbono é inibida por uma escassez relaci,·a de nicrogênio
no micobiome, mas é escimula<la quando o .suprimenco de
Sei 1 Dez 1 Mar 1 Jun 1
c,líbono é limitante (Palmqvist, 2000).
A liquenização, encão, confere ao micobiome e .10 forn-
b1once o papel funcional de plantas superiores. mas ,1ssim pro-
FIGURA 13.17 Curvas ajustadas às taxas de influxo de fósforo ( eixo à esquerda) e colonizaçâo das raizes por-fungos de m1cornza
arbuscular (MA)(~ . eixo à direita) na campainha (Hyacmtho1des non-scnpra). durante uma única estação de crescimento (segundo Mer· cedendo da escende a amplimde ecológica de .1mbus os par-
ryweather e F1tter. 1995; Newsham er ai., 1995). (b) Efeitos de uma comb1naçào fatorial de Fusanum oxysporum (Fus) e um fungo de MA, ceiros sobre substratos (superfícies rochas.is, troncos de árvo-
Glomus sp. (Gim). no crescimento (compnrnento de raízes) de individuas de Vulp,a Os valores são medias de 16 réplicas por tratamento: res) e até regiões (áíldas, árcicas e alpin:.1s) que üu \"edadas às
sobre as barras estão os erros-padrão. o aslerisco denota uma diferença s1gnif1cat1va (P < O.OS), em comparação de pares pelo teste de Fischer
(segundo Newsham et ai., 1994, 1995) plantas superiores. Na verdade, tem sido afirmado que os lí-
quens dominam 8º1ó das comunidades rerrrsrres, tanto em
dbundància quanto em diversidade de espécies. Entretamo,
A raiz da micorriza ericóide é anacomicamenre simples, r,1m Jo seu modo de vida normal para uma .1.ssociação mu- todos os liquens crescem de forma lema: os colonizadores de
em comparação com o urras micorrizas. Ela é caracrerizada peb CL1Jli.<.u com um ''focobionce". Em cerca de 90°;ó das espé- superfícies rochosas raramence se estendem mais rápido do
redução de seus reciclas vasculares e corricais, pela ausência de cies de líquens, o focobionce é uma alga, que fornece com- que 1 a 5 mm por ano· 1• Conrudo. eles são J.Cumuladores
pêlos e pela presença de células epidérmicas inmmescidas ocu- posrn, de cubano ao micobionte por meio da focossíncese. muico eficience!s dos cátions minl!rais que caem ou gotejam
padas por fungos micorrizicos. Como resulcado. as raízes in- Em algum, casos, o fombionte é uma cianohactéria, que sobre eles, e isso os roma parcicularmence sensí\"eÍs J. contami-
dividuais são escrucuras delicadas, com freqüência referid.ts pode também fornecer nitrogênio fixado J. associaç.ío. Nas nação ambiental por mecais pesados e fluorew. Por isso, eles FIGURA 13.18 Uma diversidade de espécies de hquens sobre um
tronco de árvore. Reproduzido com permissão de Vaughan Ftem1ng/
como úraízes-pêlos"; colerivamenre, as raízes-pêlos formam um espC:cies de líquens "críplices" (rebcivamenre poucas, em wr- cscão entre os mais sensíveis indicadores de poluição .1.mbiencal.
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siscema fibroso denso, concentrado na pane superior do perfil no de )00), unro uma alga como um..1 cianob.1ecéria estão ,.\ ''qualidade'" de um ambience em regiões úm1d.1s pode ser julga-
do solo (Pace, l 994). Ao conrrário das plantas isoladamente, pre.<.emo. Os fungos liquenizados percencem J. grupos ta- da de maneira baseante acurada pela presenç.i ou ausi:ncta do cres-
os fungos são eficazes na absorção de nicrarn, amônio e íons xonômico-" d1scinros, e as algas mucualisras representam 27 cimento de líquens sobre rochas e croncos de ir\"ore,;;. cesso de e,·oluçio, pois esce elemento cem um suprimemo
fosfato mobilizados por outros decomposirores no solo (ver gênerm diferences. Prt'.'sumi\·elmeme, o hábirat do:-. liquens Um acribuco exruordin.írio na limlcame em muiws hJbita[s. Enuec.1nrn, a capacidadt: de
Capítulo 11 ), mas cruci.iimence eles são também ·'saprocrófi- evoluiu muitas vezes. vida do fungo liquernudo é que su.1 fixJr nicrogênio é .1.mpla, embora irregularmence distribuí-
cos". Por isso, eles são capazes de competir diretamente com Os fornbionres têm localização excraceluLu entre as hi- forma <le crescimento~ em ger.11 pro- da. entre as eubacrC:rias ("verdadeiras·· bactérias) e J.s ar-
os outros decomposirnres na liberaçio de nitrogênio e fósforo t~1s, em unu c,1m.1.d.1. delgad.1 próximo .l. supcr~-ície .<.uperior. fundameme alrerad.1 qu.rnJo a alga queobaccC:rias. e muicas delas têm sido observadas em esri
oriundos dos resíduos orgânicos em que a maioria desses de- Junrn.<., os Jl)is componc:nces form.1m um ··ralo'" inrcgraJo, nus está presente. Qu.rndo os fungos sâo veis nwcualismos com grupos de eucarioros sisremaricamen-
menros esd retida nos ur1.Jis (Reld, 1996). Assim, um mutu· o fntobiontt.' crnbmui aperus .3 J. IO<H:i du peso dn conjunro. :\ cultiva.dos sep.1r.1.do~ dJ.<. alg.1.s, di:s crt'.':-.cem lenumence em te bt'm diferenr~s Presume-se que cais ~imbio.<.es evoluíram
,1lismo pode ter sido, mais uma vez, integrado a uma tei.1 maior \ .111c.1gem p.1r.1 o focobionté' ne,sa as,ociaçáo, se houver, aind.1 colóni.1s compacus, basranre reL1Cionad<1s com fungm Je vid.i i:m époc,I.<. indcpendemes. Elas s.io de enorme signir'iudo
de inccr~1çõ~s: o simbionce .1umenta sua conrribuiçáo JO hm- 11:l.u fo1 den10n,rnJ.1 d.1r.1memé'. T0d.1<i .1s espt'cit.''i de .1lg:.\', livre: m.1,, na pre.,..ença de algas .<.imbionre~. c'.lc'-" .1~sumcm uma ecok1gico por c.1us.1 da imporr.l.ncia freqüenre Jo nicrogê-
peJciro Jo fazer uma in\-escid:.1 compecitiva prcemp[i,·a por liqu__-ni1.1d.1~. p(ir e,emp!o. podem cer ,·id,1 line ti.n.i d.1 a::,:-o- \.1r1eda<le de morfologi.1s (rigur.t 13. l 8). que >.io c.1.raoeri:.. ci- nio í.'Spn.:nt e ~prenr. 1990).
recursos inorgjnico-" escassos, e, por .<.UJ. vez, sua própri,1 CJpJ- ci.1çJo ..:um seu micobionre. É po~sí\d que das sej.1m "CJpru- c1s de parceri.is cspecÍficas d~ alg.1s e fungm. Oc f.uo, as algas As b.Krái.1s tlxadoras de nitro-
cidade compeririva é presumivelmence incensificad.1 pdo su- rad.1s·· e e...:plor::idas pelo fungo sem 4u.t!quer recompensa. No e,;;rimubm respostas morfológicas rào precis.i:-. 11t)S fungos que gênio cncomracbs em simbioses (não
porte fisiológico proporcionado por seu hospedeiro. enunro. <t!gunlJs das espécies <le algas (p. ex., no gênero Tre- os líquens s.io classificados como espécies di~c1nt.1s, sendo que ;1ece~sdíiamencc: murualista) são mem-
bo11x1,l) -;â.u r.1ras n.1 form.1 de vida l,vre. m,1s muito comuns uma cianob:.1ctéria e uma alga, por exemplo, podem dicítar bros do:; sc:guinces cjxons.
cm liquem. sugerindo que existe .1.lgo ::special. do qual elas morfologtas complecamence <liferemc:s do mc~mu tl.1nglJ.
13.9 Fungos com algas: os líquens nece.<..<.ÍrJm. n.1 vidJ com ,;;eu micobiome. AJém d1:-.so, já que l. Rizóbios, que fixam nirrogênio nos nódulos de raíz,:\ da
os 1niner.1Ís. incluindo o nirrogenio. s.lo bJst.ince "capmrJ- nuioria d.is kguminosas e apenas uma n.i.o-lcguminu,a.
Das cerca de 70 mil espécies de fun- dos'' do 4ue ~ Jeposiudo direc:unence sobre o ll4uen (com i 3. i Cl Fixaçao de nitrogênio atn10,iérico em l~m1iponit1 (Ulmaceae, família dos olmos). Ao menos m~.<.
,-y,·c.s gos conhecidas, aproxima<lamenre frt'.'qüt:"ncia d.1 ;iguJ da chuva e Jo fluxo~ gocejamenro sobrem plantas mutualistas oêneros s.lo reconhecidos: Rlnzobium. Br.1d} rhi-:.0'1u,o: e
1

20<!o s.io ''liqueniza.cbs" (Palmqvisr, ramos c.bs .if\ ores) e consider:rndo que .1 superfície e a bio- ~wrll!:;o/;ium. r,'iü disclnms que calvez de\es,;;.em ser cl.1s,;;1-
2000). Os líquens sJ.o fungos nurricionalmente especiali- ma):,,d ,;,l.o preJnminancemenre füngic.1s. o micobinnte de,·e A lncap.1cidade da maioria das planras e anim.us pJra fixar t'ic1Jos em famílt.1s diferente".<. (Sprenr e Sprenc, 1990). e
1
ZJ.dos (o chamado componr:nte '"micobion[e"), que escap.1- conmbuir l.0111 grande ~um~ des:-.e:-. miner:i.i:-.. ni[rogênio .umosférico é: um dos malore::. enigm.is no pro- enrre eles poJé' h,1\·er nuis de 10 mil esp~i.:ies.

1
1
J
J
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1
402 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 403

2. Acrinomiceros do gênero Fnmkia, que fixam nitrogênio quando a raiz original entra em senescência. Nas espécies com
nos nódulos (actinorrizas) de v.írias náo-leguminosas, prin- crescimento ''determinado", como a soja (Glycine J1Jax), ocorre o
contrário; os bacteróides sobrevivem à senescência da raiz e po- S1s!ema vascular
cip,1lmente plantas lenhosas, como o .1mieiro. (Abms) e a
murra-do-brejo (Mvrirn). dem, após, invadir oucras raízes (Kiers et ai., 2003).
Ponto de emergência do nódulo da ra,z
3. Azornb,Kteriaceae, .que podem fixar nicrogênio de modo No hospedeiro, se desenvolve um si.s.cema vascular e~pe-
aeróbico e .\ão comumence encontrados sobre supafícies cial, que supre o tecido do nódulo de produtos da forn.<isínre~e Menstema do nódulo
de folhJs e raíze~. e rerira os compostos de nitrogênio fixado para outras partes Região de bacteró,des em
4. BacillJceae, como Clostridium spp., que ocorrem nas fezes da planta (Figura 13.19). A enzima nitrogenase fixadora de desenvolvimento Região recém-infectada
de ruminantes. e lJeJtt/jÕtomaculum spp., que fixam nicro- nirrogênio represenra até 40°10 do conteúdo protéico nos nó- Filamen!o de infecção
gênio nos inresrino'.) de m,1míferos. dulos e, para sua atividade, depende de uma censão de oxigê:-
5. Emeroba.creriaceae, como Enterabacta e:: Citrobacter, que nio muico baixa. UmJ camada-limire de células densameme
Menstema do nódulo _
ocorrem reguLumente em floras intestinais (p. ex., de dispostas dencro do nódulo ama como uma barreit..1 à difus.lo formado de células corttea1s
cupins) e ocasíonalmeme em superfíci~s foliares e em nó- do oxigênio. Dentro dos nódulos, forma-se uma hemoglobi· Células do primórdio do nódulo, ____!

dulos de raízes na (leghemoglobina). e naqueles ativos a cor se torna rosa1.Lt. agora infectadas e em d1terenc1ação

6. Spirillaceae, corno ,)/Jirillum !ipiffmm. que é um .1t'.'róbio Eb pos.,ui unu elevJtb Jfinid.tde pelo oxigênio e permite que
obrig.ttóno enLoncuJo sobre raíze'.) ck grJmÍneas. a.s. bactéri.1s simbiótica:. respirem <le 111.rneir.1 .tt'róbica 110 ,1111- Filamento de intecção FIGURA 13.19. Desenvolv1rnento da estru-
~ Ci.u:ob.1créri.b d.1 famtlia Nosrnc1eeae. ~que são enconrra- bienre vinualmenre J11.1eróbico do nóJulo. N:1 verdade, 01Hle tura nodular da raiz durante o curso de de-
senvolvimento da infecção de uma raiz de
Celulas coi11ca1s internas - _J
Ja'.:. em ,bs.oci.1ç,í.o com um,i norávd g.ima (embora com quer que ocorram simbioses fixadoras de 1Üuogênio. ao me- leguminosa por Rh1zob1um (segundo Sprent,
estimuladas a se d1v1d1r
pouc.1s e:.pécies) de plJnras floríter:.is e não-floríferas (ver nos um dos parceiro'i tem propriedades e:-.rrumrais especia1\ (e 1979)
Seç~w L). \ 0.3) e que recentemt'.'nce encontramos como fo- geralmente também bioquímicas) que protegem do oxigênio
rnbionres em líquens. a enzima nirrogenase anaeróbic.t, e não obsunte permitem .1
ocorrência da respiração aeróbica norm.11 em ramo dela. r.1111 hacteróide'.) podem fixar nitrogênio. mas nJo se reprodu- <le oxigênio) foi subsricuído por aproximadamente 80º/o de
De todas e~~as. simbioses, a .1ssociaçJ.o dos rizóbios com z.ir. Ponanco, des não podem beneficiar-se Ja simbiose, um:i argônio, 20°/o de oxigênio e cerca de apen:is 0,03% de nitro-
!t'.'guminosas é a mais minuciosamente estudada, devido à enor- vez que o "benefício'' de\·e se expressar, essenciJlmenre, como gênio, reduzindo a taxa de fixação de nitrogênio para m.iis OLl
me imporcânci.1 Jgricol.i dos cultivos de espécies dessa família. 13.10.2 Custos e benefícios de mutualismos um aumenrn d.1 ra.xa reproduciva (aptidão). No filamento de menos 10% dos níveis normais. Desse modo, a cepa de rizó-
envolvendo rizóbios infecçáo, m riz.óbios têm capacid:.ide reprodutiva (e, por isso, bio foi forçada 3 enganar. Em experimentos com a pbnra in-
e~ráo aprns J st bendlc.tar), mas n:to podem fix.1r nitrogênio e, reir:i, com panes da rJiz e com nódulos individuais, o sucesso
13.10.1 Mutualismos de rizóbios e leguminosas Os custos e beneficios do mutualismo precisam ser conside1.1- como conseqüência, não estão envolvidos em uma imeraçJ.o reprodurivo de rizóbios nJo-cooperanres decresceu em 50%
dos cuidadosamenre. Do ponto de visra da pbnu, é necessúio murn,1list,1. Toda.via, os bacteróides e as célubs no filamento (Figura l 3.20). O moniror.imenro n:io-inv.isi,·o das plantas
O estabdecimenro d.1 ligação entre ri- comparar os custos energéticos de processos alrernarivos pelos de infecção são pJrte J.1 memu entid.tde genérica. pois os ri- indicou que houve aplicaçáo de sanções por rerençJo de oxi-
zóbios e kguminm.ts avança median- quais os suprimentos de nitrogenio fixado podem ser obtid11""1. zóbios s.Jo clonais. Porc.1nco. por su:-,tenrar a planu e ger.u um gênio dos rizóbios. Engan.u rüo compens..1..
ll.'. um.1 . . ~rie de p,hSOs recíprocos. As A via para a maioria das plantas é direra .1 partir do solo, como fluxo de foro~stncatos, os b.1creróides podem benefic1Jr ,IS cé-
b,tGérias ocorrem em um esudo de vida livre no solo e ~âo ians nitrato ou Jmônio. A via metabólica n1Jis barata consisti." lulas do fi!Jmenrn de infecçJ.o e, conseqüentemente, benefi-
estimuladas ,1 se multiplicar pd,ts exsud.1,;óes de rJízes e de no uso de ions amónio. mas na maioria do~ solos esses íons :,.lo ciJr o clone como um rodo. da mc:snu forma que uma asa de 13.10.3 Mutualismos de fixação de nitrogênio em
cdul.ts desprendida~ da.., r:iizes. :1 medid.1 que estas C!t:'.:.Cem. rapidamente convertidos em nirraro por arividade microbiJn.t .we pode traz.er benefício :1s célula>i que produz.em seus ovos - não-leguminosas
E.1is.1s e'\sud,1çóes. 'ião tJmbém re<;ponsi\·e1s. pda auvação de (nirrificaçlo). O custo energt'fico da redução de nitram J p.1r- e, portanto, 3 .1,·e como um rodo.
um conjunw complexo de gene~ nos rizóbm<; (genes nod}, os rir do solo até amônia é de aproximadamente 12 moles de adl."- Um enigma, ro&t\'ia, é por que A disrribuição de simbiomes tl.x:idores de nitrogênio em
qu.1is são conrrol.dorcs do proce:.so que induz a nodulação nosin,1 crifosfoco (ATP) por 1110! de amônia Formada. O pro- os clones individuais n:io ·'enganam", plantas superiores nJo-perrencentes à família das legum1-
11.1s raízes do hospedeiro. Em um caso ripico, unu colôni:i cesso murnali~ra (Incluindo os cusros de manmençio dos h.1..::- uma vez que os rizóbios .Hrn..:1ados no)as é fragmentada. Um gênero de Jcrinom1cews. Franki,1,
bacrerÍJna ,e de~ell\ olve <;obre um pêlo de raiz, que começa a reróide<;) é, do ponto de \·ist.1 energético, um pouco mats dh- com um.1 derc-rmin.1J.1 pl.rnca s:lo r1pic.u11enre um.1 misrur.1 fo1111.1 'iimbioses (:ictinorriz.ts.) com membros eh: ao meno,;
i:nro\C.tr-S(' e é penecr.1do pdas lnctérias. O hospedeiro res- pendioso à planu: cerca de 1.),) moles de ATP. Encreramll. de clones: isco é. ob[er henefícios J.1 plam.1, que ohcém bene- oito famíli.1s Je plantas florífer.1.\, qu,rndo qu;ise rod.ls .s.íu
ponde::. dc.:pn">Ítandu um.1 parede qut: cn\'nh-e .1.s b.1ccéri:ü. e aos cusrn, d,1 fix.tç,í.o do nitro~('nio devem -;er adicinn.Hlo~ t), fício'.:. dos rizóhin~ em ~cral. ~em enr1ar tnt.ilmeme no empre- .1rbusros ou .in·ores. o~ nódulos são geralmenre duro~ 1.'
furm.1 um "fd.rn1enco dt inttcçJo". denrro ,Jo qual os rizóbios custos. de fornução e manuren~Jo dos nódulo\, que podl'.111 endi111emo Ji)pendwso de t!x;u 111trog~nio. N.1 \"ad.ide, po- lenhosos. Os hospedeiro<; melhor conhecidos são o ,1mieiro
prolit"er.1m de modo exrr:icelubr. Es,e ti lamento cres.ce dencro repre)entar cerc1 de 12°10 d.1 said,1 forossinréric1 torai d.1 pl.rn- demm ver que t')\a quc,t,ío de t'11g1111i11" se aplica .1 muiros mu- (.i/11us), o s:1nguinheiro (Hippophtté"). o muru-do-breio
do córrex da 1.1iz do hmpede1ro. As cdul.L, do hospedeiro se r.1. S.io esses cusrm yue rnrnam J fixação de nitrogênio ener~e- tualim10s, qu..1ndo reconhecemos que eles são. em essência. (:\,fvriCt1), :1 c1suari11.1 (Ca.1u11rin11) e os .ubusros arrico-alp1-
d1\'idern .1nrecip.1d.1meme a ele, comn;ando :1 formar um nó- rictmt'nte indicientt.'. :\ energia, contudo, pode ser muiro nui:, casos de exploração mÜtuJ. Seria um.1 \'<llltJgem evolm1vJ em no\ /1raoJ'tllpl,)'los e D1ytu. Os indivíduos do gênero Ctono-
dulo. Os rizóbio, no tll.imenco de infecç.lc, n.ío podem fixar rapid.1mente disponí\'el para ,is plantas verdes do que o nirro- explorar sem ser explor:i.Jo. Talvez a respostJ mai3 ób\'ia para tlno, qut'.' form.tm populações exren~as em chaparral d.1 C,1-
nitrogénio, rnJ<; .1lgun.;; s.í.o libeudo,;; no incerior de célul.b rne- ginio. N;to é um mau negócio comprar um produto raro e a planr.1 (neste c.1so) seJJ mon1wrar o de<;empenho dos rizóbi- lifornia, umbém desen\'Ol\'em nódulos com Fr.rnkia. Dife-
risttrn-,íricas do ho,pedeiro. l .í.. c1rcund:1dos por um.1 mtm- \'Jl1o'io (nirrogCnio fix.1do) com unu moeda barJU (energul. os e .1plicar "'s,rnções", ~e des :1 enganarem. Isso, namralmente, renreme,ue dos rizóbio'.:., as espécies de Fr,111.~Íil s.í.o tlt.1
br.uu peribacteróide deriv,lda do hospedeiro, eles se diferen- Por ouuo lado. qu.rndo uma legumino'.:.a nodulada é supnd.1 fornecerá escabi!iJ.1de cvoluriva ao murualismo. ao eviur en- mentO.\JS e produzem esrrumras especi,1liz.1da.s . ..:omo vesí-
ci,rn1 em .. bacreróides'' que podem fiXJr nitrogênio. Em .1lgu- de nltr;uos (isco é, quandn o nituro não é um produrn raro) ..1 ganos do esc.1pc da imerJ.çio, e o n1Lau.1lismo leguminosa- culas e esporângios qut' liberam esporos. Enquanrn os rizó-
m.1s. espécies, .1quel.b com cre'.)cimento ··indeterminado''. como fixa.ç.:io de ni[rogênio dtclin:.i r.1pid.1mente. nzóbio tem C:\'idenci..1Jo ral sanção íKiers et ,d, 2005). Uma bios dependem da planta hospedeira p.1n proteger su.1 ni-
os riz_óbtos da erYilh.1 (P1,1tm i.tt11:11111). m b.t...reróides são incapa- Oo ponto de \·is.ta. evolurivo, os benefícios para os flt(1- cepa de rizóbio em ger.11 muru.1lisu foi imped1dJ de cooper:ir trogenase do oxigênio, Fimdút1 provê su.1 própri.1 proteção
ze~ de se reproduzir 111.J\"amente. Apen,t'i rizóbios mdiferenc1a<los hios s..ío m.tis problemiricos. t'!l1 especial para aqueles co111 Ulx:iç.lo Je nicrogênio) por meio do cultivo do seu hospedeiro n.1s paredes das vesícub:., que '.'lá.O exrrem.1mc'nte espessada~
s:ío liberados de vo!u .10 sulo p.1r.1 '.:.t' .1~soo.1r com outra raiz. crescimemo indecermin.1do, no'.:. qu.lÍs .iqueles que se com.1- (soja) em unu .1rmosfer.1 CUJO Jr (800,o de nitrogênio e 20% com ~ué 50 monocamadJs de lipídc'os.
404 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 405

(a) Experimento com a planta inteira -R--N +R--N -R +N +R +N


8 de 1unho
0,6 2,0 50

~ 40
.!!. 1.5
·.,
z
i
0,4 .N202
.=:; ARO, 30
1,0
g_
~ 0,2
g 0.5
a:
(e) Expenmento com nódulos md1vidua1s
FIGURA 13.21 Crescimento de soja ( Glyci-
Nódulos Raizes Areta ne soja, G. ) e uma gramínea (Paspalum,
P, e). cultivadas separadas e em cultivos
10
(b) Expenmenlo com partes das raizes

8000 1.5 \·-- f .[ mistos com e sem fertiltzante nitrogenado e


com e sem inoculação com Rhizobium fixa·
dor de nitrogénio. As plantas foram cultiva·
das em recipientes contendo Oa 4 1nd1víduos
b
da gramínea e O a 8 indivíduos de Glycme A
.!!. 6000
escala horizontal em cada gráfico mostra a
1,0

L
massa de indivíduos das duas espêc1es em

L cada recipiente -R-N = sem Rh,zobium e

1••
4000 sem fertilizante; +R-N = com Rhizobwm e
g_
~
0.5
1: ·-·-·~
O 2-P40 2----P40 2----P40
~b
2----P4
sem fertilizante. -R+N = sem Rhizobwm e
com fertilizante; +R+N = com Rhizobium e
{i 2000 8 G-4 O 8 G-4 O 8 G-4 O 8 G-4 O com fertilizante (segundo Wu et ai., 1966).
(1

Nódulos Raizes Água x 10 P0t Por massa


nódulo do nódulo
As leguminosas podem usar uma fonte de ni(rogêmo como nio nesses locais pode diminuir novamente a um nível em que
FIGURA 13.20 O número de rizób1os alcançou valores maiores quando foi perm1t1da a fixação de nitrogênio em ar normal (N 2 • 0 2 ) do que substituta da outra. As gramíneas, entrecanco, respondem ape- a leguminosa volta a rer vancagem competitiva. No caso de
quando ela 101 impedida por manipulação da atmosfera (Ar : 0 2 ). Os asteriscos denotam diferenças s1gmficat1vas. (a) Quando os tratame~tos nas ao fertilizante. Por isso, quando as espécies competiram uma leguminosa esrolonífera, como o trevo branco, a planta
foram aplicados à planta inteira, registraram-se valores maiores dentro dos nôdulos (esquerda; P < O. 005), sobre a superfície das ra1zes
(d1re1ta; ambos P < 0,01) e na areia circundante (P < 0.01). n = 11 pares: erros-padrão sobre as barras. (b) Quando os tratamentos diferentes
na presença de Rhizobium sozinho, a leguminosa contribuiu "migra" conrinuamenre através do campo, deixando atrás de
foram aphcados a partes distintas do mesmo sistema de raízes. registraram-se valores maiores dentro dos nódulos (esquerda; P < 0.001) e na muito mais para a produção rntal do que a gramínea: em uma si fragmenros dominados por gramíneas, enquanto coloniza e
água c1rcundante (direita: P < 0,01). mas não foram significativos sobre a superfície das raízes n = 12 plantas: erros-padrão sobre as barras. sucessão de gerações, a leguminosa reria suplancado a grami- enriquece com nitrogênio novos locais cujo nível desse de-
(e) Quando os tratamentos diferentes foram aphcados aos nódulos 1nd1v1dua1s do mesmo sistema de raizes. registrarai:i-se valores maiores
por nódulo (P < O.OS) e por massa do nódulo (P < 0.01 ). n = 6 experimentos; erros-padrào sobre as barras (segundo Keirs et ai.. 2003). llc:'.'a. No encanto, quando elas competiram em solos suplemt:'.'n- menm rornou-se baixo. A leguminosa simbionre irnpulsionJ.
cados com fertilizante nitrogenado. na presença ou não de Rhi- não só a economia do nitrogênio nessas comunidades, mas
znbium, foi a gramínea que teve a contribuiç.J.o principal: a também alguns dos ciclos que ocorrem dentro do seu mosaico
As cianobJ.ctérias formam simbioses com três gêneros por nitrogênll) fixado (íons nitrato ou amônia no solo). Ale- longo prazo, ela teria suplantado a leguminosa. de espécies (Cain et ai., 1995).
de briófius (A.ntlioceros, Bimia e Cf,w1(11Íaria), com um.1 pre- guminos.1 nodulada eYita essJ. con:ipecição graças ao acess~ J Fica. bem claro encão que, em ambit:'.'ncc:'.'s com deficiên-
ridúfira (A.zo!lt1, aqu.irica ílucuanre), com muitJ.S cicad.íceas uma fonte:'.' únic:1 de nirrogênio. E nesse conrexro ecológico eia de nitrogênio, as leguminosas nodulad.1s cêm uma grande
(p. ex.., EnccphafartoJ°) e com codas as 40 espécies do gênero dt: que os muru.1\ismos tixaJores de nicrogênio obcêm sua princi- \·ancagem sobre outras espécies. Porém, sua J[1\·1dade eleva o 13.10.5 Plantas fixadoras de nitrogênio e
Cu1111t·r,1, mas com nenhuma oucrJ. pl.rnra ílorífera. NJs brió- pai \·,rnugc.:m. :'\o c:ntJ.!HO. onde o nitrogênio é .1bunJance, os níYe\ de nlrrogênio fixado no ambiente. :\pós a morte, .1s le- sucessão
fius. J cianob1ctt'.ri.1 1\'0itoc vive em ca\·idades mw.:ilJ.gino.'IJ.'i. custo'> c:nergJcicos de" fix:.ição deste demenrn frequentemente guminosas aumencaram o nível de nitrogênio do -.olo em uma
t.' ,l pL111t.1 re.1g:c:'.' a ~UJ prt:st:nç.1, d~sc:-nvolvendo til.111,;ncos fi- ...:alocam ,1:, p!.rnus em dt'.!Vantagem compericiY:.1. l.'.'icala bem-localizada, com um arraso de: 6 .1 12 me..,es à medi- Uma sucessão ecológica (rraradJ. m.1is deralh.1d:.1rnence no C.1-
no~ qul..' m.1ximium o conurn com da. i\~;.,toc é encomrado ,\ hgur.1 13.21. por exemplo. d,l que se decompuseram. Assim, sua vantJ?em e.'. pt:'.'rdidJ - pítulo 17) é .1 subsciruição diit:cwnal de t:-"pécies por oucrJ.~
11.1 b.1s.t: d.Ls folhJs de Cmll!era. nas raízes lareuis de muius moqr,1 us íe.'iulrados de:'.' um t.'xperi- das melhoraram o ambience dos seus compecidor~s. e o cres- em um dererminado loc.11. A e:icassez <le nirrogênio fixado
cicadiceas e em bolsas nas folhas de ,Jzo/l,. menrn cLíssico em que .1 soja (G(ycine cimento de gramíneas associadas será favoreciJo ne.'i:ic:s locais. comumence impede os primeiro~ e~r.ígio.s d.1 coloni?.Jç.ío do
JO)tl, umJ leguminosa) fo, cultivada Portanto, os organismos com capacidade de fixar ni[rogénio solo por parte de vegeração: os eH.ígios inici.ii.1, Je um.L succ:'.'~-
junco com P.rsprrlum, uma gramínea. Os culcivos mi,;tos rei...:e- atmosférico podem ser considerados suicidas lou1s. E.,,;J e uma 5.J.o sobre o solo descoberrn. Uma parre do nicrogênio fix.1do i
13.10.4 Competição interespecífica baam nicrog~nlo minerJI ou foram inoculados com R/Jlzo- razão pela qual é muico difícil estabelecer repetid,1menre culti- pode ter chegado na chuva após as cormenr:.is, e ourr.1 p.1rtc:'.' i
1
bmm, ou rt:ceberam ambos. O experimenro foi delineado como vos puros de leguminosas em prática~ agrkol.is. :.c:m que as pode ser rransporrada de outras jrcas j.í estabdeci<l.1s. m.1s o~ 1

Os muntJ!ismos de rizóbios e leguminosas (oucros mutualis- uma "série de subsrirníç:io" {ver Seção 8.7.2.), que permite com- ervas indesejáveis invadam o ambienre enriquecido com ni- organismos fixadores de nitrogênio, como b.1Lrt:íia~. ciJno-
mos fixadores de nitrogênio) não devem ser considerados como par.u O ...:rc:scimenrn de popu!Jções puras da gramínea e eh trogênio. Isso pode rambém explicar por que legurrnnosas her- b.iccériJ.s e líquens, são irnporcances colonil.l<lores pioneiros. 1


inr~raçõe~ isoladas en~re bactêrias e suas plancJs hospc:'.'deiras. leguminosJ com seu desempenho na presença da omra plJ.n- báceas e arbóreas cm geral não conseguem furn1.1r vc:geu.ções As pi.incas superiores com simbionces fixadores de nirrogêniü,
Na natureza, as leguminosas normalmente formam agrupa- u.. ~as populações puras de soja, a produção aumenmu sub:i- dominantes na narureza. c:'.'ntrecanrn, raramente são pioneiras. A raz.J.o p.1rc:'.'ce ser que o
solo descoberto em geral é colonizado primeiro por plancJs 1
mt:mos mistos em a~sociação com omras planras não-legum1- c1ncialmeme tdJttn por inocu!Jção com Rhizobium como por Os animais past.ldores, por outro lado, re:nO\·c:m conr1-
nosJ~. Esras são competidoras porenciais com as leguminos;l.'i aplicaç.l.o de ferrilizanre nitrogenado, ou por receber ambos. nuamente a massa verde d.1s gramíneas, e o stdtus Jc: nitrogê- com sernemes leves. facilmente dispersjvc:'.'is. Um.1 pl.lnrub de

j
1
,.. .T
406 PARTE 2 - 1NTERAÇôES CAPÍTULO 13: SIMBIOSE E MUTUALISMO 407

leguminosa, rod:1vi.1, depende do nitrogénio fixado em suas ser alterado - com mudanças das condições, mudança, dos
(a) (b)
reservas na semence e no solo, ,um:s que possa alcançar um níveis de recursos, J.bundància de um dos parceiros e a presen-
Competição mtra·especihca por recurso
estágio em que sej.i capaz de nodu!Jr e fixar nitrogênio por si ça ou abundância de ou eras espécies. Portanto, mesmo O) mo- /~
Competição por outras
mesma. Por isso, é provável que .1pen;1s as leguminosas com delos mais simples não deveriam ter termos significando uma fontes de alimento (e)
sementes grJndes Jrmazenem uma qu;rntidJde suficiente de "contribuição positiv:i", mJ.s termos que pudessem ser positi- ';>--,,
nitrogênio fixado p.1ra permitir o esrabdecimenco até cal esd- \·os ou negativos de acordo com o estado de algunu outra (
,
Ave
/
)-<=-===-==
Outr~s fontes
8 Sem mutualismo

gio, e as espécie~ com tais sementes (grandes) não rerifo a dis- parte da comunidade-moddo: de modo algum comp,uados ~ Um mutualismo forte
persibilidade ne1..ess;.íria para serem pioneiras {Grubb. 1986; aos modelos descritos, e Úteis, dos capítulos anreriores. ; Abelha ~= :- __ _ .°~~ de ahmento
g 3.000
~ Um mutuahsmo

-Dos~
' 1 Outras fontes ...- ê-.Jl ê 2594
Em cerro semido, porrn.nro, re- ~ ~~
ver umbém Sprrnr e Sprem. 1')90).
Por fim. ob:'.>ervc: que, pelo fam de a fixação sirnbiótica de correr a modelos prova ser de grande
ajuda neste ponm. Os modelos de pre- ~~
,l..____.,/~

3
de alimento
à:,'
1

2.a.
) ) - - . ~ CD Outras lantes .2
i
0
2 500

2.000
: ! Dois mutuahsmos fortes

niuogênio ter uma grande demanda de energia, não é surpreen-


!~;.-~º!
1
\ de alimento
.<=-----==-=-=· ~
1
1
Abelha 1547
dente que muius d..t:i espécies de pl.intJS superiores que abrigam dador-presa e pares de competidores •
):: 1.500
mumalis(JS fixa.dore~ de nitrogênio sej.1m inrolerames à sombra, isolados captam a essência das interJ.- o ' g 923 1025
gue é c.iracceríscica dos escági~s tardios de sucessões. As planras ções de predador-presa e competitivas. Planta I ·~ t 000 831 ---j
.. 1
superiores com muw ..tlis[J.S flx.tdores de nitrogênio são rara.s no O faro de que os moddm de p.ires i)o- ~
W soo
início de umJ .'>Uu:~<io e di~icilmcnre persistem até o tin.t! bdos de ··mucualist;b .. 11.ío podem pro-
ceJc:r .1ssim reenfatiza l}Ue o mutualismo é, em termm de J1- Competição intra-especifica
Planta 1 Planta 2,

nâmica de populações, ts::,·e11cit1Ínu:me unu. . imer.1çlo que de- por recurso

\·eria ser vista apenas dentro de um contexto m,tis amplo de


um.1 comunidade maior. Neste capítulo, vimos isso. por exem- Competição intra-especifica por recurso
i\:luicos dos c1piwlos anteriores gue abordam interações in- plo, em formiga~ e afídeos na presença e ausênci.1 de pred.ido-
cluírJm uma scçio sobre modelos matemáticos. Esta é talvez res de afídeos, em táx:ons de SJ 1mbiodi11ium coexisrin<lo em FIGUR~ 13.22 (a) Modelo de :nutualtsmo envolvendo duas e~péc1es, abelha e planta. Ambas as espécies são também sujeitas à competição 1ntra-
coral e no mutualismo legumi;10s.1-Rhizobium, que rra1. ~ua específ1ca. As setas cheias rndicam uma interação pos1t1va. seJa uma interação recurso--} consumidor (extremidade pontiaguda) ou uma ,nteraçâo de
uma boa oporrunidade p.ira lembrar por que isso aconceceu: poltrnzaçâo (extremidade Clícular); as setas vazias indicam interações negativas, seja uma competição consumidor--} recurso ou uma competição
porgue os modelos, ao separarem a essência do detalhe, foram gra.nde vantagem para a leguminosa, quando eLl se enconu.1 intra-especifica. {b) Abelha e planta 1nsendas em uma comunidade com outra planta e uma ave predadora das abelhas. As plantas sofrem competi-
capazes de proporcionar discernimemos que não seri.1111 apa- em compeoçJ.o com algumas outras plantas (p. ex., u111.1 gr.1- ção 1ntra-especif1ca, mas não competem uma com a outra. As aves sofrem competição intra-especifica. mas as abelhas. não. As abelhas rellram
mínea) por nirrogênio limitJ.do no solo. polen e néctar de ambas as espécies vegetais e não conseguem pollrnzá-las (predador-presa) ou pollmzam-nas com sucesso (mutualismo). Na
remes a partir de uma lista de exemplos reais. Para o sucesso figura. a interação com a planta 1 é do tipo predador-presa. e com a planta 2 é do tipo mutuahsta, mas foram examinados casos em que nenhuma.
de uma modelagem, portJ.nto, é imperativo gue a "e.'>sência" Esse ponto foi capmr:1.do em um uma ou ambas eram mutualistas (c) Comparação de persistência nas assembléias passiveis em (b) A persistência de uma assembléia é a manuten-
seja correcJmente idemificada. O que é a essência de um mu- modelo matemático, em que um mutua- ção de todas as espécies em densidades populac1ona1s positivas. As barras indicam o número que persistiu, quando as dinâmicas de cada assem-
lismo envolvendo duas espécies - a.be- bléia foram simuladas 10.000 vezes. sendo as forças de cada interação dadas por valores gerados ao acaso dentro de hm1tes definidos. Em um
rnalismo? Pode-\e imaginá-la como cada parceiro tendo uma "mutualismo forte", a força de ,nteraçâo pode ser até duas vezes aquela em um "mutualismo~ Os mutualismos aumentaram murto as chances de
influência positiva n.1 adequação do outro parceiro. À primei- lhJ e planca (Figura l 3.22a) - foi inseri- persistência. teste tde pers1stênc1a versus ausência de mutuahsmo. um mutuat1smo (t= 4,52, P< 0,001 ). um mutuaítsmo forte (t = 2.21, P< 0,05). dois
r.1 visc.1, porca.1Ho, poderíamos imagin,u que um modelo apro- do em uma comunidade que rambém continha uma outra e~pé- mutualismos (t = 30.46, P < 0,001 ). dois mutualismos fortes (t = 14,78. P < 0.001} (segundo A1ngel et ai., 1996)

priado para uma 1nteraçJ.o mutualista simplesmente substi- cie de plama e uma espécie de ave predador:1 de abelha., (Figur:1.
tuiria conrribu1çõe~ negativas em modelos de comperição de 13.22b) (Ringel et ai., 1996). As abelhas podem re,irar nécw e
<lu.1s espéCles (ver C.1pírulo 8) por contribuições positivas. En- pólen das pbmas, mas n.10 conseguem polinizá-las (predador- 13.12 Evolucao de estruturas subcelulares 1996) na .. teoria dJ. endossimbiose sucessiva·· (Figura l3.23a).
rretanro, tal modelo levJria ,1 soluções absurdas em gue amhas presa) ou podem poliniz..í-las com sucesso (mutualista). O mode- a partfr de simbiose O objecivo é compreender J.s relações enue os rrês "domínios"
as popul.ições atingiriam tamanhos ilimitados explosivos (~1ay, lo do par mumalista simp\e, (Figura l 3.22a) foi. como descriro, do org:rni)mo vi\'O: as argueob,Ktérias (muitas das guai.) sã.o
1981), pois de 11:ío impõe limites :1 c.1pacidade de suporce de inrrinsec.1menre insdvel. O p,u pode persisúr somente se ,1 for~.1 \'imm. nesre upíwlo, que ex1)tc um.1 nodvel \·ariedade nos agor.1 ··excremó~iL1s", \'Í\'endo cm temperJmras alras, pHs bai-
nc:nhunu d.is e:;pt::cies, que. portanto, Jumenrariam indefini- da competição imra-espedtlc.1 exceder i1 do mutualismo: quanro ripas de ;1.~-;ociaçõe~ que podem ,er con...,iJeradas simbiótiCJ.'> ~ xos, ecc), .ts "\'erdadeir.1s" bactérias (Eubactéri,ts) e os euc.1rio-
damt:nre. l\J pr.-írio, a competiç:ío inrra-específica por recur- mais mumalisu a inceraçJ.o, mais instável da é. Tomando um muirH d.1s qu,1i, ~e: re\'ebm cl.1r.tmenre mumJ!i~ras. Elas se ro, (K~H7.. 1998). Foi sugerido gue o primeiro passo (que pro-
)OS limiuntes de\·e çonseguenrememe determinar uma c.1p.1- v,1lor da fuce, tais resultados parecem ~ugerir gue os mun1.1l1,;;rnos c,rendem de p1dróes de comporumenrn que lig,rn1 dois orga- \",t\'elmente ocorreu h.i c<.:rc.t de 2 hilhóes de anos) foi a fusâo
cicL1de de suporte miximJ pM,l rnd,1 populaç:i.o mutualista, ser;\o raros (embon tenhamos vi,co gue não). um:i. Ya que .lS n1·rn1m muico difert'ntt'~ -- gue p.1s~.tm p,ure~ de <,uas v1d,h de célul.1s argueobacten.rnas e bacreriJnas (esp1roqueus) em
n1e)mo ~e ,1 popul.tçJo do p.1rceirn murn.1li-;ta e'iriver em ex- condições parJ sua exisrênci.1 s:io rescriu.'> ~epa1.1do, emrc si - [)Or LomuniLbde, m1crohi.111.1'\ do ime,ti- uma simh1o)e .uueróbic.1. As prirneir.I) comr1buír.1rn com .~eu
cesso (Dean. 198j)_ Assim, uma plJnrJ cujo cre)cimento é Um guadru compleumence diference se manitt'\r.1, cn- no Jc \'errehraJos (e.\m umeme e.,rcnu, dos recidos corpo- nudeocirnpbsnu, e as últimas, com sua mobilid.1dc 1ur.uó-
li mirado pel.t e,1....1s.,a de nitrogênio tlx.1do pode aumentar seu rretanro, quando o par esti inserido na ,1ssembléi.1 m:iior ( Figl1- rais) :ué .1s ecror111cornz.1s inrerc-:luLues e liqucn). os dinofla- ri.1, explicando, .1ssirn . .t narnreza quiméricJ - .1 rniscun Je
cre)cÍmenrn plH meio de muru,tlismo com um p.uceiro fixa.- ra 1.).22b). Usando um.1 Y.uied.:1.de de medida), uma d.is gu.1is gelados imr.1cdubres de corJ.is e u-; miLetócirm bJcteri:rnm c.uacreríscicas arqueob,11..terianas e bacrerianas - da.'> prnrci-
dor de nitrogêrno, mas seu crescimenro mais rápido logo deve é ilusrrada e explicada na Figur,1 1.1.22c, rnrnou-se ap.uente de imeros. Finalizamos e\te capículo pelo exame de como uma n.1s e do material genético dos eucariotos mais primicn·m_
ser refreado pel.1 esu)sez de algum outro recurso limicanre (p. que os mutualismos render,1m a aumentar as chances Ja per- inreração ecológica - muruali·rn10 - pode fazer p.ute da essên- Posteriormente, ;1lgum.1..'> dess.1s guirnerJs incorporaram b.tc-
ex., ..ígu.1. fosLico, energtJ radi,rnce). SÍ)tência da assembléia. Cl.1rameme, não h;i um p:1radoxo nc- cia de p;1drôes hio!ógicos gue operam em csc.1las temporais rérias :1.eróbicas precursorJs das mitocôndrias. até corn:irem-
Isso nos leva de volra J. ponms tr:itados no início doca- Ce)sirio entre a ocorrência .1mp\J de inceraçóes mumali\Lts n.1 t'\'oluov::is m.1i.s longas. )e euc.uiocos Jeróbico\, a partir dos quais todos os outros
pírnlo: gue J essê:nciJ do n1uwalismo é mais sutil do que o narureza e seus efeitos no modelo de .1ssembléias de e,pécie,. Arualmente, é h.1sr.rnte ,1ceiro eucarioros evoluíram. Alguns desces últimos .1Jquirium ci-
"benefício múrno" Cercamente, em \·ez de considerar cad.1 Conrudo, fica evidente t.tmbém gue os modelos de .1ssem- que a origem dos vúios tipos de euca- :inob.icrérias forocróflcas precursoras dos cloroplasros, pro-
parceiro como um benefício para o omro, sem qualificação, é bléi.1 são inevicavelmenre simples (p. ex., apenas cinco espé- rioto.s a p.1rcir de ancestfJis nuis pri- porcionando o tronco .1 partir do guJI as algas e as plJnus
melhor pc:rhJr que oda parceiro explora o outro, com benefí- cies), mas os efeitos de inreraçóes mucu.ilistas na naturez.1 po~ mitivos progrediu, ao menm em par- superiores evoluíram.
cios ,l serem ohridu, e rambém cusros .1 serem pagos. E reco- dem ~er facilmente julgadm de maneira incorreta, ~e ele.'> t~i~ te, arravé..'> d.1 fusJo emremeada de parceiros em unu simbiose. De foro. a reorÍJ d,1 endossimbiose sucessivJ é meramen-
nhecer r.imbérn gue o equilíbrio de benefícios e cusros pode r:1m denuuiado simples (.isro é, o par murualisra isol.ido). Essa idé1.1 foi dde'ndid.1 espeu.1lr11ence por ;\ ÍJrgulis ( 1975, te uma d.1s várias renrati\·.1s de unir os tris domínios e recri.u
!
!
i
~
408 PARTE 2 - INTERAÇÕES
CAPÍTULO 13: ~MBIOSE E MUTUALISMO 409

de corais como resulrado da perda dos endossimbiontes - e gênio são de enorme importância. Abordamos a gama dessas
(a) (b) sua possível relação com o aquecimento global, assim como bactérias, mas destacamos os mutualismos de rizóbios e leou-
,--.___ . Bactérias Eucariolos Arqueobactérias enfatizamos a natureza multiespecífica desses e de muitos ou- minosas, descrevendo os passos envolvidos no esrabelecim~n-
""· N'-, ~=,-· rros mucualismos. co da ligação, os custos e benefícios de ambas as parces e O
..
/ o
Aquisição de --....:
-'7/EI Uma ampla variedade de associaçóes simbióticas é for-
cloroplasta ___
_... / -------;;/'.• papel do mutualismo na determinação da conseqüência da
":? / mada entre planras superiores e fungos. Concentramos a aten- competição entre leguminosas e outras planras, Isso levou a
Arqueobac1éria Espiroquela Endossambiose: Eucariolo com
com membfana mobifidade flagelo
/ ,/ ção nas micorriz.as - mutualismos íntimos encre fungos e teci- uma discussáo sobre a pane desempenhada por planras fixa-
de nudeóide eucarióttc:o dos de raízes - encontradas em muitas plantas. Descrevemos doras de nitrogênio em sucessões ecológicas.
as eccomicorrizas, as micorriz.as arbusculares e as micorrizas Examinamos brevemente alguns modelos matemáticos
<_//<~/>//
_)
, '>-- __ ,;·-··A
;----- , / Origem de núcleo.
ericóides, observando a gama de benefícios que elas podem
cr:uer.
de mucualismos, que reenfatizam a importância de encarar as
duas espécies em foco em um contexto mais amplo.
, de microtUbulos e A biologia de liquens foi descrita, discutindo as associa- Por fim, discutimos a possibilidade de que a origem dos
de mitocôndrias ções íntimas encre fungos micobiontes e ficobiomes, na maio- vários ripas de eucariocos, a parcir de ancestrais mais primici-
Eucano10 Bacteria Endossimbtose Eucarioto com rÍJ, algas. Sã.o enfatizados os paralelos com planca.s superiores.
aerôblea respração mirocôndnas ~os, tenha progredido ao menos em parte por meio de uma
Os mutualismos entre pia.mas e b.1ecérias fix.idoras de nitro- tusão entremada de parceiros em simbioses mutualistas.
FIGURA 13.23 (a) Os primeiros dois passos na teona da endossimbiose sucessiva para a ongem da célula eucanótica Fe = flagelo do eucarioto, Mt
= mitocõndna; N = núcleo. {b) Modelo para a ongem de eucariotos, indicando a s1mb10se entre linhagens arqueobacterianas e bacterianas. e a
~ssivel ongem simultànea de nUCleos, de microttibulos e de m1tocõndrias em eucariotos. As linhas mais grossas representam os limites das
hnhagens; as linhas mais finas são genealogias de genes: as setas trace1adas indicam possíveis transferências taterais de genes 1nd1viduais (segun·
do Katz, 1998)

as origens dos eucariotos (Katz, 1998), A hipótese, por exem- isso, d.is próprias se alimentam de parces especializadas dis
plo, de que os eucariotos mais primitivos perderam as mito- plantas, embora sejam necessários experimencos minuciosos
côndrias, em vez de nunca terem possuído cais organelas, le· para demonsrrar que as plantas se beneficiam.
vanca uma questão sobre toda a natureza seqüencial das ori- ~1uiras espécies, incluindo o homem, culrivam pbmas
gens dos eucariocos. É possível também que a "cransferência ou criam animais para sua alimenraçáo. As formigas criam
lateral" de genes individuais (de uma linhagem evolutiva para muitas espécies de afídeos em uoca de secreções ricas em açü·
outra) tenha sido mais difundida no tempo evolucivo do que car, embora experimentos demonstrem que pode haver cuscos
se imaginava, de modo que a árvore da vida é de faca muito e benefícios para os afídeos. Muitas formigas e besouros culri-
mais do que o emaranhado de uma ceia (Figura l3,23b), Não vam fungos que lhes proporcionam acesso a material vegetal
há dúvida, à medida que novas evidências se acumulam, de indigerível, e em alguns casos é estabelecido um mutualismo
que essas reorias competidoras evoluiráo por meio de avanços de cr~s vias, com accinomicecos que protegem os fungos de
e transferência lateral de idéias. O que elas comparcilham, en- pacógenos
rrecanco, é a idéia de que as simbioses mutualistas, além da sua Diversas espécies vegetais utilizam animais para dispcr·
imporcància ecológica, se situam na essência de alguns dos sar mas sementes e grãos de pólen. Enfatizamos a imponân(ia
passos mais fundamencais dJ evolução. dos inseros polinizadores e as pressões coevolucivas que ger.1m
um espectro desde generalistas até ultra-especialistas. Discll(i-
mos umbém polinizações em locais de criação, de figueir,1s t'
-;:_.·_ yuccas. pur vespas (para figueira) e mariposas (para yucca).
que cri.1m !>UJ.s larvas nos fruws Ja planta polinizada.
!tuci.1mos fazendo .1 disrinçlo entre mutu.tlismo, simbiose e t-.1uiros .:inimais sustentam uma microbiotJ. mumal1su
c.omc:ns.1lismo, enbrizando que nnHuJ.lismu é mdhor vi,;;co dentro Jl' seus 1nrescinos, especialmente imporranre na diges-
como exploração recíproca, ndo uma p,m:eria agrad.ivd. tJ.o de ..::dulose. Descrevç:mos a gama de sítios ativos e J comu-
O!> mutualismos sáo examinados em uma progress5.o: a ntd,tJe complexa de mutualistas, dentro dos incestinos de unu
panir d.1qudes em que a .1ssociaçâo é comporc.1menul, pas- diversidade de verrebrados e de cupins, enfocando especul-
!>J.ndo por simbioses intimas em que um parceiro fica. enm: as mcnte m· ruminantes e destacando a imporcãncia em muitos
cdu!Js do outro e penerra. nelas, até aqueles cuja$ organel.1s usos Je refecação. Descrevemos, também, simbioses de mice-
estJbdecem rlo íncin1.1s simbioses dentro d.1s células dos seu:'.I tóc,rn:,, de insetos, em especial aquelas entre afídeos e espécies
hospedeiros que ndo podem ser considerados 1Jrganismos dts- de Buch1!era. por meio das quais microrganismos, na maioria
ttncos. b.1ccén.h. que vivem em célubs especializ.ada.s uazem benefí-
O peixe "limpador" alimenta-se de ecrop;irasitos, bacté- cios nutricionais aos seus hospedeiros insetos.
rias e tecido necrótico da superfície corporal do peixe "clien- ,\luiros dos invertebrados aquáticos estabelecem associa-
te'." Os limpadores obtêm uma fome de alimenro, e os clien- ções mu(uJ.ltsras com algas focosslncéricas, as ma.is imporc:rn·
1
tes sio proceg1dos de infecçao. ~1uiras esp<:cies de formigas tes da:, 4uJis calvez sejam os corais conscrurores de recifes.

1
proti:::gem as pi.Incas di::: predadores e ...::ompetidores. Enquanro DesuCJmos o "descaramento de corais" - o branqueamento

1
CAPÍTULO 14: ABUNOÁNCIA 411

a.-: incensid~1des alta.,;; da doença "podridjo tJrdia", nJ. folhagem nhóes (1vficropus apw) nJ J!deia de Selhorne, no sul da lnglJ-
superior das IJvouras de batatJ, ocorrem em geral l 5 a 22 dias terra (Lawron e May. 1984). Em um dos primeiros trJbJlhos
ap<Ís um período em que a temperatura mínima não é inferior a sobre ecologia. Gilberc \X'hi[e. que vivia na aldciJ. e)creveu
10· 1C e a umidade rebriva é supc:rior J 75%, por dois dias conse- sobre os andorinhões, em 1778:
cutÍ\"OS. Essa correlação pode alertar o J.griculror para a necessida-
de de empregar uma fumigaçJ..o procewra. Eu confirmo a opinião de que todos os anos, invariavel-
As corre!Jções podem ser usadas também para sugerir rela- mente, temos o mesmo número de pares; pelo menos, o
ções causais, embora não as provem. Por exemplo, pode ser de- resultado da minha pesquisa tem sido igual duranre muito
monstrada uma correlação entre o tamanho de uma população e tempo. O número que eu encontro constantemente s.lo
su.1 taxa de crescimento. A correbçá.o pode insinuar que o tama- olro pares, sendo que cerca dJ metade reside na igreja e o
nho JJ população é que causa uma mudança na taxa de cresci- restante em telhados de cabJn.1s situadas mais abaixo.
mento, mas, em última análise, :i "causa" requer um mecanismo. Pois bem, se esses pares - descomando os acidentes -
Pude acomecer que, quando a popub.çJ.o é ele\'adJ., muitos indi- reproduzem a cada Jno mais oito pares, o que acomece
viJuos morram por inanição ou não consigam se reproduzir ou anualmente com este aumenm:
st' mrnem Jgre)sivos e expulsem os membros mais fracos.
Conforme- j.í descacm1os, muitos L.1wtot1 e 1\Ll)' ,·i~ir.iram ,1 .tldei,l l'."111 198_1 e CllCOlltr.1-
Jos estudos que discutimos neste e em r,1111 muJJnças impon.11He'> nesses 200 anos, desde" 4ue \'('h1re
14.1 ]ntíOdL1C3'.:.· sej.1 .1propriJda no cempo e no espaço, e a .tdt'qua.;.1.o de .imbo,
outros capítulos esrã.o rel.Kionados com .1 descreveu. É improvâvel que o~ andorinhões renh.1111 niditl-
em geral exige um gr.mde inve~rimenrn de c~mpo e de dinheiro.
a Jececç.1o de processos "dependemes d.1 densidade", como se J cado na torre dJ igrej:i nos últimos ')Q anos, e a~ cabanas com
Por que .ilgumJ~ npéc1e'.) são r.1r.1s e oucra::. comuns~ Por que O tempo de vida dos pesqu1~.tdores. a pressd c-m produzir um
Jemidade por s1 só fo ...se a causa dJ.s mudanças nas raxas de nata- cems Je palha desapa.receram ou os cerns foram cobertos com
uma esptcie ocorre Lom denstdJJes pupuL1cionais bai.x,ts em [rabalho publicável e o pequeno financi.unenrn J.1 nuiuri.1 do~
l1J:1de e morr.t.lidade e111 uma popul.tção. Porém, i::iso raramente metal. Apesar disso, foram encontrados nJ aldei.t 12 pare~ de
alguns locais e com densidades ~dras em omros? Que fatores programas de pesqui::.a desesrimulam os especialisu:> a inici,tr es-
(ou nunca) ,Konrecer.í: os organismos não detectam e respon- 1ndorinhões se reproduzindo regularmente. Em vista das
causam flumaçôes n.1 abundância de uma espécie? Essas sio tudos por períodos longos de rempo. Além disso, à medid.i que
dem à densidJ.de de suas populações. Eles respondem em geral à muitas mudanças ocorri<lJs nesses dois séculos, esse: número é
questóes fundament,lÍs. P..1ra oferecer respostas completas, mes- cresce o conhecimento sobre popubçóe'>. t..1mbt'm cresce- ç )é'
esc.bSLz de recursos causada pelos vizinhos ou por agressão. Não nocavelmenre próximo ao encomrado por White.
mo parJ uma única espécie em um único local. precisamos modific.1 o número de arribucos de imeresse; em rodo o e,rndo.
somos cJ.pazes de identificar qu,ús indivíduos sáo responsáveis Outro exemplo de uma população que mostr:i uma r:1u-
conhecer, idealmemt', c1s condições físicas e químicas. o nível os dados correm o risco de se cornar obsolem) cão logo o rr.ilulho
peki dano causado a outros, mas precisdmos lembrar-nos comi- dança rd.uivameme pequena no número de adultos de ,1110
de recursos disponín·1s, o ciclo de vida do organismo e a in- inicia. Em geral - em especial tecnicamente - é uma tarefo formi-
mumeme de que a "densidJde" é muiras vezes uma abstraç.1.o para ano é observJ.do em um escudo de oirn .mos realizado n,1
fluência de comperidon.:s, Je predadores, de parasims, erc. A1ém d.ivel acompanhar os indivíduos de um.t populaçJ.o durame _qi:b
qu\.' eKonde o mundo cal como os organi)n10) reais o vivenciam. Polónia com A.Jtdro:;acc :;epte11trio11alis, unu espécie vegetal anual
disso, necessitamos emender como todos esses aspecros influen- vidas. Muitas vezes, um estágio crucial do ciclo de vida fio for.1
A observação diret:i do que está acomecendo aos indiví- de dunas (Figura 14.la). A cada ano, houve um grande fluxo
ciam a abundânciJ por meio dos sc-us dtims sobre as t.Lxas de da vis;.l.Q do pesquisador - os ftlhmes de coelho demro de sua.,
duos pode sugerir ainda mais fortemente o que causa uma mu- dentro dJ população: apareceram entre 150 e mil novas pl.ln-
natalidade. de mona.lidade e de movimemo. Em capítulos anre- mcas ou ,lS sementes no solo, por exemplo. É possível nurc.1r J~
d.rnça na abundância global. A incorporaçJ.o de observações culas por m 2 , mas J mort.:ilidade reduziu J popubçJ.o entre 30
rlores, exarnin.1mm c.11..·b um de~ses rópicos separadameme. Nes- aves com anéis numerados, acompanhar o deslocamento de ctr-
dos indivíduos .10~ modelos matemáticos de populações e a e 701}0. No entanto, a população pareceu mamer-se dentro de
te capírnlo, faremos uma JniJise conjunta, para remar descobrir nívoros com transmissores de r.-idio ou as sementes com isótopo~
de,coberta de que a população-modelo se campana como a certos ltmices. Ao menos 50 plJncJs sobreviveram a[é frutifi-
que famres são re;ilmenre imponames em exemplos concretos. radioativos, mas as espécies e o número de indivíduos que podem
população real podem rambém proporcionar unu sustentação car e produzir sememes parJ estaç.io seguince.
Em geral. a matéria-prima para o ser esmdados dessa mJneira sJ.o bastJme limirados.
consiscenre para um.1 determinad;1 hipóresc:. Contudo, o resre O estudo a longo prazo das garças que nidificam n.is Ilh.L'>
esrndo de abundância é .t1guma estinu- Uma grande parte da teoria de
decisivo surge quando há possibilidade de realizar expcrimen- Britânicas, registrado na Figura l 0.23c, revela um.1 imagem de
riva do tamanho populacio,ul. Em SLl.l popul.ições depende de rd.tri\·amenre
tn\ de campo ou nunipul.tção. Se suspeitJrmos que predado- uma popubção de: aves que permaneceu constante duranre pe-
fornu ma1'i )Ímples, cl.t consiste .:ipenas em uma conr.igem, mas poucJs exceçóes, cujas JiflculJ.1des lo-
res ou competidores determin;im o tJnunho de uma popula- rícxlos lonoos. Por~m. nesse caso, por terem sido fe1us estim1ti-
pode oculrar crês 1nformaçóe) virais. Como exemplo, imagine gísticas for.tm superadJs l T.1ylor,
ç.:io, podemos indag.u o que acomece se os removermos. Se vas repernLs. fica evidente que houve esrações com condições
crês populações hum.rnas conrenJo o niern10 número de indi,·í- 1987). Oe fato, a maiori.1 Jm e':>tLLdO\ de abund;inci,1. rc.d-
~uspeiurmos que um recurso limiu o ramJnho de umJ popu- dimitic1s advers.t::., qu.-i.nJo a popubç.10 declinou abrupt.1meme
duo:. Urna dess.b popLtbçõe, e'.)t,i em urn,1 ;ire-.1 re:-.idenciJ.I para mente de longo prazo ou geogr.1tlc1mence extemo'>, [em ,ido
bç:10, podemos a<liLioná-lo ao .unbience. Além de indicar a Os camundongos. n.1 Figura 14.1 b, ao conrr.irio, ci\·erJm perío-
pe:-.soas td(1,,1s, a ,ç~und.i t: uma popubç.:io de cri,rnç.1) pequen.is feiu com organismm de imporr.lnci.1 econômic1. com<) .rni-
.1de~u.1~.i.o de noss.1s hipóteses, os re<,1dradm de uis expc.-nmen- dm extensos de Jbund.inci.1 rel.uiv.unencc h.lix.1, interrompido)
e .1 tt.:rceir.t ~ unu pllpul,tç;lü com mi,rur.i de idade. e de ::.exos. 111.11<; .tpreci.ldos por su.1s pde), ,1,·e'> di: u~a. pr.1gs1:,. ou .!ni-
tn~ podem mostr.tr que remos o ptJder de determ11ur o tam.mho por irrupções esporidius c.- dr.u11jnc.1..'>.
Nenhum.1 t~nt.uin de correlJÇío com fatores externos à) popu- nuis cujas penas e pebgem despertam o interesse ck r1.Hur.t-
de unu populJç.ío: Jo reduzir ,1 densidade Je uma pr:iga ou de
l.içóe'.> revd.1ri.1 que ;1 primeira e'>r,1,·a conderuda à excinçâo (a list.1s am.1dores. Portanto, sempre que surgem generaliz.1~ôes.
uma planra mdesejivel ou ao aumentar a densidade de umJ espé-
menos que fosse nuncid.1 por imigraçJ.o), que J. segunda cresceria é necessário tratá-las com outda.
ciL' .1meaç:1d:i. A ecoloa1a se torna umJ ciência da previsão quan- 14.2.1 Determinação e regulação da abundância
r.1pid.1menre. m.Ls só ,1pós um cerro tempo, e que a terceira. con-
do pode prognosticar: mrna-se urn:i C1ênci:1. de mJnejo quando
cimuria a crescer de modo consume. Ü'> estudos mais decalhJ-
poJe determinar o furnro. Ao examinar esses escudos e muirns ourro~ semellumn ,1
dos, portamo. Lfl\(J]vem o reconhecimenro de indivíduos de di- 14.1.1 Correlação, causalidade e experimentação
eles, algum pesqui<;aJore) enfariz,1r.un a ap.ucme con5t.tn-
ferentes idades, snos, ramanhos e dominJncias, além da disrin-
cia de tamanhos populacionais, e outros ress,1lur.1111 as flu-
ç.1o de variames genéricas. Os dados de abundânciJ podem ser utiliudos par.1 e:>tabdeccr
1.:;.2 Flutuação ou estabilidade? cuações. Os defensores d.1 constânci.1 ;1rgumentJr.1m que' é
Com freqi..1ênci.1. temos de trarar corrdações com fatores externos (p. ex .. dim;Íticos) ou curreb·
necess~írio observ.H JS for...:as esrJbilizadoras dentro d.1s po·
com e)tÍ macivas de J.bun&inciJ deficien- ções emre caracceríscicas dos próprios dJdos de Jbundánci.1 lp
Talvez as obser\',1çóes diretas de abun- pulações, para explicar po,r que elas n.lo Jur~1cnc1m ilimiu-
tes. F.rn primeiro lugar, os dados podem ex., correi.lção enue os d.1Jos de primaver.1 e os de outono). A:-.
dância q_ue cobrem o maior período J:1.mence ou declinam .Hé ,1 extinçJ.o. Os ddcn~ores das tlu-
sn ilw,órios, .1 menos que a amostragem correb.ções podem ser usadJs para fazer pre\"isóes. Por exempll1 .
de tempo sejam .1qudJ:i dos andori- cuações dcscacarJm os fHores excc-rno'i, como os clim.iti-
412 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 14: ABUNDÂNCIA 413

FIGURA 14.2 (a) Regulação polenc,al cem:


(i) natahdade independente da densidade e
(a) mortalidade dependente da densidade. (ii)
natalidade dependente da densidade e mor-
lnloo da germinação talidade independente da densidade: e (i1i)
Germinação máxima
..a. -;;:,...,.·"' . natalidade e mortalidade dependentes da
-Y
• Final da fase de plântula 1 ·1 densidade. O tamanho da população aumen-
Crescimento vegetativo ta quando a taxa de natalidade supera a taxa
• Floração de mortalidade. e decresce quando a taxa
• Frutificação 1 de mortalidade supera a taxa de natalidade.
Portanto, N" é um tamanho populacional em
1 equilibrio estâvel. O valor real do tamanho
i populacional em equilíbrio é entendido como

.
""o 600
1
(b)
1
b
~----
____d..!
~
dependente da magnitude da taxa indepen-
dente da densidade e da magnitude e incli-
nação de qualquer processo dependente da

1
z 1
1
.
1
1
1
."-.
!""____ d,
,_
1 ·- "~
densidade. (b) Regulação da população com
natalidade dependente da densidade. b. e
'
400 ~
~
---'-·
1 1
1
-
-"'
1
1
E
'!
mortaltdade independente da densidade, d.
As taxas de mortahdade são determmadas
"" 1 por condições físicas. que diferem em três
200 ~
>- N( N,' No
"e
>-
locais (taxas de mortalidade d1 • d2 e d) Em
conseqúênc1a. o tamanho populacional em
Tamanho populacional equilibno varia (N1*, N2 ". N3 *)
1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975

Ano

(b)
300 mJs depende de condições físicas que diferem em rrês lo- O ourro ponro de visra teve
cais. Exisrem três populações em equilíbno (~ i · N 2 , N 5 ), como precursores os ecólogos austra-
250 que correspondem a três raxas de morra!idade, que, por lianos Andrewarrha e Birch (1954),
sua vez, correspondem às condições físicas nos rres ambic:n- cuja pesquisa escava relacionada principalmente ao conuole
~ res. As variações na morcalidade independente <l.1 densida- de insecos-praga na natureza. Ponanco. é prodxd que suas
g 200
de (como na Figura 14.2) foram as principais responsiveis, opiniões cenham sido condicionadas pela necessidade de pre-
~ por exemplo, pelas diferenças na abundànc1.1 d.l gr.1mínea ver a abundância e, especialmente, o ritmo e a imensidade de
~ : 1
FIGURA 14.1 (a) Dinâmica de uma popula- anual Vulpia fascicufaw, em partes diferentes de um am- surtos de pragas. Eles acrediravam que o fator limitanre m;:iis
150
.i: ção de Androsace septentrionalis durante um
B estudo de oito anos (segundo Symonides.
biente de dunas em Norrh Wales, Reino Unido. A repro- importante para o número de organismos em populações na-
1 100
1979: em Sllvertown, 1982, encontra-se uma dução foi dependenre da densidade e regubdora. nus va- rurais era a falta de tempo, quando a taxa de aumento da po-
análise mais detalhada desses dados). (b) Ir- riou pouco de local para local. As condiçôes físicJs apre- pulação era posiriva. Em ourras palavras, as populações po-
rupções irregulares na abundância do camun-
dongo doméstico (Mus domesticus} em um
sencaram fortes efeiros dependences da densidade sobre a dem passar por uma seqüência repetida de retrocessos e recu-
50 hábitat agrícola de Victoria. Austrália, onde mortalidade (Warkinson e Harpet, 1978). Porranco. deve- perações - uma visão que cercamente pode ser aplicada a rnuims
essa espécie se torna uma praga. quando ir· mos observar a determinação da abundànci,t, pHa enten- insecas-praga que são sensíveis a condições ambientais desfavud-
rompe. O \nd1ce de abundância" é o número
de capturas por 100 armadilhas. No outono
der como uma certa população exibe umJ ceru .1bundjn- veis, mas são capazes de recu~rar-se rapidamente. Eles rqeitJ·
de 1984, o indice frn supenor a 300 (segundo cia e não outra em um dererminado temro. nm rambém quaJquer subdivisão do ,UTibience em "farores" de-
Ano S,nglelon et ai., 2001 ). pendemes e independemes da densidade. como fora proposto
por Nicholson. Em vez disso. eles preferiram wr ,IS populaçóes
14.2.2 Teorias de abundância situ;:1das no centro de uma reia ecológica, cuj.i. essência eram o:,
dt'iw.s de inreraçát's de forores e proc~sos diver,;;;os ~ohre el.is
cos, por exemplo. p-tr.t explicJr .1s mud.1nç:1s. As divcrgên- suludo de um ou mais processos dc:pendemes da densidade qu~ O ponro de \·i:,u cb ·.:,Ltbil1d.1Je'· rem An.ili.s.rndo recrmrecrlvamcn-
ci:1.s c:ncn:: os doi:, campos domln.uam boa parte da ecologi.1 JWJ.lll sobrL J<; c.axas de n.ualid.1de e/ou morralidade e/ou ~uas origens ~:m .-\. J. \:1..::holson. um r~, p.1recc: cl.uo que a primeir.1 cor-
no século XX. Ao c:xaminar alguns desses argumenrns. :,er.i movimento. Diferences processos porencia.lmence dependentes d.1 pe,;quisador .1usrraliano dediudo à eco!ogi.i :rnim.1L teórica e renrc: de opiniJ.o es[ava preocupada
facil apreciar os deCJlhc:s do consenso moderno (ver [J.m- den:>ilbde foram discucidos em Qpimlos anteriores sobre com- l.1boworial (p. ex., Nicholson, 1954). com o que regul.1 o tamanho popu-
bém Turchin. 2003). petição. movimento. predaçáo e parasicismo. PonJI1to. devemos Segundo de, as inrer.1ções bióricb Jepc:nde1He:> da den· i.1cional. e a segunda, com o que
Em primeiro lugar. no encanw. é obser.'ar J regulaçJ.o p:1ra emender como uma população rende .1 ~ida.de, desempenham o p1pd princip.il na d"'rerm!naç.lo do determina o tamanho populacional
lmportIDte encender cl.i.ramenre a dife- pc;rmJnecer demro de limices sufXriores e inferiores definidos. ram.i.nho populaciona.l. sustencando populaçóe, em um csu- - Jmbas consticuem interesses per-
n:nç.i entre questões sobre as maneira.~ Por nurro \J<lo. a .1bundância ex,Ha de indivíduos ser.í do Je: equilíbrio em seus .1mbienres. ~.Hur.1lmente, 0ichol- feHamenre válidos. F. possível que a divergênci,1 renh.1 .sur·
~las quais a abundância é determimuÍil derermi 1uJ.1 pelos c:feitos combin.1dos de todos os proces- son reconheceu que "facores livres da lntlu~nc1..1 dJ den:,idade gido devido a alguma sensação, na primeira correnre d:::
e como eiJ é regulada. Regulação é a cen- sos que .,feum uma população, sej.lm eles dependen[eS ou podem produlir efeicos profundos sobre da" (,·a hgur.1 14.2), opiniao, de que rudo que regula tamhCm derermin.1: e
dência de uma população em diminuir de camanho. quando el.t independentes da densidade. Isso é moscrado diagramari- mas ele considerou que a dependênCla d.1 <lens1LLlde "é mera- alguma sensação. na segunda corrente, de que .1 dect:n11i1u-

"'"''':J
esrj acima de um dererminado nível. e de aumencar, quando se c.1mcnr:: e: de: maneir.1 muirn s1mplitlcada na Figura 14.2. mence :.1.frouxada de rempo em tempo e depois rewm:1da, per- ção d.1 abundància, para finalidades pr.icicas, é o qu~ reJI· ,
enconrra abaixo desse nível. Em outras palavras. a regulação dc: Nec'lte L-l'ill, 1 tJX:l de nat.1\idade é dependence d:1 den:iid.1- manecendo a influência que ajusta densidJde,; populacionais mente importa. Seja como for. é indiscutível que nenhurn:1 j
um.i. população pode ocorrer. por definição, somente como re- <le. e .1 u:-..,1 dt" mortalidade é inJependenn: dJ. densidade, em relaçáo ao fuvorecimenco ambiencal".
P"P""''° pode,;,,, ,bso,m,rneo« '''" de

1
4 14 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 14: ABUNOÁNCIA 415

longo prazo, nâo se conhece crescimento popul.1cional de- 14.2.3 Abordagens para a investigação de u: "Mais imporrance para quê?" A abordagem mecanística (Se- baseada no uso de valores k (ver Seções 4.5.1 e 5.6). Um
senfreado, e os Jeclínios desenfre.1do'> que levJm à extinção abundância ç:ío 14.4) busca relacionar variações na ta.xa de crescirnenco exemplo, para o besouro-da-batata-do-Colorado, Leptino-
são rJros. Além disso. seria equivocada rodJ a proposta se- Jirecamente com variações em fatores específicos - alimenro, rarsa decemlineata, é mostrado na Tabela 14. l (Harcourr.
gundo a qual os processos dependentes da densid.1de são Sibly e Hone (2002) distinguiram rrés temperarura, erc. -que podem ter influência sobre ela. A abor- 1971 ). Nessa espécie, os ''adulcos de prim,1vera" emergem
raros ou ger.1lrnente apen..is de menor importância. Um abordagens amplas que têm sido usa· dJgem por si só pode abranger desde o estabelecimento de da hibernação mais ou menos na metade de junho, quando
número muito gr,rn<le <le estudos tem .<.,ido realizado com das para rratar de questões sobre de- correlações até a reJlizaçáo de experimenros de campo. Por as plantas (caules e folhas) de barata começam a desponcar
v.irios tipos <le ,rnimJÍs, em especial insews. A dependência terminação e regulação da abundân- tim, a abordagem da demid1de (Seção 14.5) busca relacionar acima do solo. Em 3 ou 4 dias começa a ovoposição, que
da densidade nt'm sempre cem sido detectada, mas é comu- cÍd. Eles colocar.im a taxa de cresci- ,·ariações na taXJ. de crescimenrn a variações na densidade. Ela continua por cerca de um mês e alcança seu pico na pri-
menre observaJ;.i q uan<lo os escudos .são continuados por mento populacimul como rema ct:mral. pois ela resume os representa um ins[rumenco conveniente a ser usado no exame meira quinzenJ de julho. Os ovos são posrns em grupos
muitas ger.1ções. El.1 foi derectadJ, por exemplo, em 80°/o efeiros combinados ~obre a abun&inciJ de naralidJde, de mor- de alguns dos muiros estudo'.) que rêm sido re-alizados. Encre- sobre a superfície inferior da folha, e as larvas rasrejam pJr;1
ou mais do.-. estudos com insetos realizados por mais de l O t<1lidade e de movimento. A abordagem demogrdfica (Seção unto, como o trabalho de Sibly e Hone (2002) deixa claro, o copo da planta, onde se alimenram durante o seu desenvol-
anos (Hassel et ai., 1989; Woiwod e Hanski, 1992). 14.3) busca variações de parciçâ.o nJ. taxa de crescimento po- muiros esrndos sJo híbridos de duas ou mesmo de rodas as vimento, passando por ljUatro ínstares. Quando estão madu-
Por outro Lido, no úpo de óru<lo t:nfocado por An- pulacional como um rodo, entre as fases de sobrevivênc1.1. de m:'.s abordagens. A falta de e~paço nos impede de examinar ras, el.1s caem no solo e formam pupas. Os ·'adulros de verão"
<lrew.1rrha e B1rch, .1.s condições cl1már1cas foram tipicamente natalidade e de movimenro que ocorrem em estágios difen:n- rodas as diferemes variantes. emergem no começo de agosrn, .1limenram-se e logo voluma
os princip.1i~ determin:rnte'.) J.1 abunJ.incia, e oucros fatores res do ciclo de vid,1. O objetivo é idc.:nrific-ar as fases nui) im- penerrar no solo no início de secembro. p.ira hibernar e torn,1-
tÍ\'er,un imporr.inu,1 rd.Hi\':1rneme menor. Por ôemplo, em pon,rntes. No encanro, como veremos, bSO mor1\·,1 a per~l!!l- rem- . . c' ·'adulto'.) de primavera'" na próxinu e~uç.i.o.
um farnmo e'.>cudo Je urnJ pr.1ga, o trip'.)e-Ja-nucíeira ( Thrips 14.3 A aoordcigem d2mográ1'1c,1 O programa de ttrnostragem forneceu esrimarivas J-1
imagJJll.,), as condições clim.írÍ(,lS forJm respom;iveis por 78~/o população em sere estágios: ovos, larvas iniciais, larvas rardi.1s,
da v.triac.i.o no número desses insetos (Davidson e Andrewar- 14.3.1 Análise do fator-chave pupa), adulros de ver.ia. adultos hibernanres e adulros de.- pri-
rha, 1948). ParJ prever a Jbundâncta do rripse, as informa- mavera. Uma outra categoria foi incluída, "fêmeas x 2'', para
çóes sobre o dinu ).lo de extrema importância. Portamo. fica Por rnuiws ano'.), a <1borcbgem demo- levar em coma codas as razões sexuais desiguais encre os adul-
·;mres-c'
claro que o clinn regulador do ra.m.111ho de uma populJçáo gráfilJ. foi representada por uma téc- cos de verão. Na Tabela 14.1. esrão listadas essas estimativas
não necessariamente: também determina o seu tamanho na nica denominada m1dlúe do fotor-cha- para uma única escação. Ela cambérn fornece as principais cJ.u-
maior pJrte do tempo. Seria também equivocado arribuir à l't. Como veremos, encontram-se deficiências nJ técnica e cêm sas supostas da morralidJ.de de cada estágio. do ciclo de ':ida.
reguhtç~10 ou i1 depenJtncia (Ü densidade algum ripo de pri- siJo propostas modificações Úteis. Tod.1viJ, como um modo Assim, o que é essencialmenre uma técnica demográfica (tra-
mazia. Elas podem esrar ocorrendo de modo pouco freqüeme de explicar princípios gerais imporranres e por motivos histó- tando de fases) adquire o caráter de uma abordagem mecrnis-
ou intermírence. E mesmo quando ocorre regulaçáo, da pode ricos. iniciaremos com a an.ílise do faror-chJve. NJ verdade, a tica (pela associação de cada fase ao ··farnr" proposto).
est,H levJndo J .1bundJncia pJ.rJ. um nível que, por sua vez, técnica esd denominada inadequadamenre, uma vez que ela Os valores médios de k. deter·
esti mudJ.ndo em resposra à Jlreração dos níveis de recursos. começa, ao menos, pela idencificaçáo de fase.>-chave (em vc:z minados para uma única população
É provJ\"d que nenhuma população natural esteja sempre ver- de fatores) na vida do organismo em questão. durante l O estações. esfJ.o apresenta-
dadeiramenre em equilíbrio. Em vez di)so, é razoável esperar P.1ra realizar uma análise do fa- dos na terceira coluna da Tabela 1-1.2.
na n.uureza .dgunus popu!Jções que estej~1m quase sempre se tor-chJ,·e, são necessários dados orga- Esses valores indicam as forças relarivas dos diferences fatores
recuperando do último desastre (Figura l4.3a), oucras que es- niZJdos sob a forma de uma série de que contribuem para a ta..xa roca! de morcalidade dentro de
tão em geral limiradas por um recurso abundante (Figur.1 ubelas de vida (ver Seção tf.5) 1 partir de muitas diferentes uma geração. Assim, ;1 emigração de adultos de verão exerce o
14.3b), ou por um recurso e".icas~o (hgura l4.3c), além de coortes da populaç:ío em exame. Assim, desde o seu desenvol- maior efeiro proporcional (kr, = 1.54.3). e a morte por fome de
ouuas qLte e'.)tão em geral em declínio, <1pós episódios repenti- \'imento inicial (i'vlorris, 1959; Varley e CrJdwell, 1%8). a lJrvas mais m.1.duras, a mortalidade de adultos hibernJnres
nos de coloniZJç:10 ( Figura l 1L3d). ubeb de vi<l,1 tem sido utilizadJ mais comumente para espé- induzida pelas geadas, a '"não-deposição" de ovos, os efeitos da
Exi.sre um-1 fone tendenci.1 por insetos quanto J.O con- c1c.'s com gerações di'icreus ou onde as coorte~ poJem ser pron- chuva sobre as larvas jovens e o canibalismo de ovos desempe-
junw de Jados disponíveis para ;l :u1.ílise da regulação e da r.1mente discinguid:1s. Em pJrricul:ir, essa é uma ctbordagem nh,1m também papéi,;; importantes.
decern1111Jç.lo Jo c.unanho popuLu.ional. e t·nrre esces há
unu preponder.ln...:i.1 de e'.)rndos sobre espécic.:s-pragas . .-\
(d) TABELA 14.1 Con1unto tipice de dados da tabela de vida, coletados por Harcourt (1971 ). do besouro-da-batata-do-Colorado {neste caso. para
111form.H/1ü li1111ud.1 de ourro.~ grupo.., sugere que os verrc-
Memale. Canadá. 1961-62)
bradm rerricol.1s pudem rer populaçõ.:s signific1ti\·.1mence
Número por 96 Números de
menos \·,nijveis do que as de artrópodes. e que as popula-
\ md1v1duos ·mortos·

\
lnrervalo de idade monriculos de batata Fator de mortalidade Log 10 N Valor k
ções de aves sáo m.11s con".iunres do que as de mamíferos.
0·1os 11.799 2 531 Não-depositados 4,072 0,105 lk ,1
Os numíferos rerrícolas de grande porte parecem ser regu- 9 268 445 Inférteis 3,967 0,021 (k :Ji
lados mais freqLientemenre pelo '.)eu suprimento de alimen- 8.823 408 Chuva 3,946 0,021 (k.,I
8415 1 147 Canibalismo 3,925 0,064 (k,j)
to; pJ.r.1 mamíferos pequeno . . , a únic.1 grande cama de re- Tempo
7 268 376 Predadores 3,861 0.024 (k: .. l
gulaç:io p.1rece ser a exclusJ.o (dependente da densidade) de Larvas iniciais 6 892 o Chuva 3,838 o (k .)
juvenis J:1 procri.tç:io (Sincla1r, 1989). Para aves, a escassez FIGURA 14.3 Diagramas idealizados de dmâm1ca de populações (a) Larvas tardias 6.892 3.722 Fome 3,838 O 337 (k)
dinâmica dom,nada por fases de crescimento populacional após de· Células da pupa 3.170 16 O. doryphorae 3,501 0,002 (k_l
de alimento e a competição por territórios e/ou sírios para
sastres: (b) dmàm1ca dominada por limitações da capacidade de su- Adultos de verào 3.154 126 Sexo (52% ~) 3,499 -0,017 (kJ
nidificação pare(e!11 ser mais imporranres. Tais generaliza- ~ X 2 3.280 3 264 Emigração 3,516 2,312 (k.)
porte do ambiente - a capacidade de suporte é alta; (e) igual a (b),
çóes, no entanto, podem ser muito mJis um reflexo das mas a capacrdade de suporte é baixa, (d) dinâmica. em um local ha- Adultos hibernantes 16 2 Geada 1,204 0,058 (k I
Adultos de pnmavera 14 1,146
preferênci:1.s na ~deç.ln de espécies pJ.r.1 estudo e da descon- bitável. dommada pelo declínio populacional após ep1sód1os mais ou
2,926 (k,)lill)
sideração de seus predadore~ e puasnos. menos repentinos de colornzação.

_J
4 16 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 14: ABUNDÂNCIA 41 7

TABELA 14.2 Resumo da análise da tabela de vida de populações canadenses do besouro-da-batata-do-Colorado. b é a inclinação da
regressão de cada fator k sobre o logaritmo dos números precedentes de sua ação. r2 é o coeficiente de determinação. Para explicação
(a)
ad1c1onal, ver o texto (segundo Harcourt, 1971)

*
Fator de mortalidade Va.,or médio de k Coeficiente de regressão sobre k 10 ,a, t2 .
"- '
Ovos não-depositados k,. 0,095 -0.020 -0.05 0.27 !
Ovos inférteis
Chuva sobre os ovos
k,,
k"
0,026
0,006
-0.005
0,000
-0,01

º·ºº
0.86
0,00
)
) "-
Canibalismo de ovos k,, 0.090 -0,002 -0,01 0,02
Predaçáo de ovos k" 0,036 -0,011 -0,03 0,41 .,l' 2
Larvas 1 (chuva) k, 0,091 0,010 0.03 o.os / /",;
Larvas 2 (fome) k, 0,185 0.136 0,37 0,66
Pupas ( O. doryphorae) k, 0,033 0,029 -0,11 0,83 /
Razão sexual desigual k, -0,012 0.004 0,01 0,04
Emigração k, 1,543 0.906 2,65 0,89
Geada k, 0,170 0,010 0.002· 0,02 / /
2,263 ",;;
~04i!il

k,

Encr~c.rnro, o que esSJ. colunJ dJ Tabd.1 14.2 não manitêsca () que '-~ tmporcame na regula-
ó O1
.>é"
::1 k, •
- - '~- k~-
k,

k,
",,

k,
k,
---;-k'

",

é 3.importância relaciva desses farores como dererminances das ção da população? Para obrer uma o ---;;--·------ k5
",
jlutwzçõer da mortalidade de ano-a-ano. Podemos fucilmeme ima- resposta, examinamos a dependência ___L___l_ k~
-O 1
61-62 62-63 63--64 64-65 65--66 ô&-67 66-67 67-68 67-68 ~ 9
ginar, por exemplo, um famr que elimina repecidamence uma de densidade de cada fator piorando os valores k em relação ao
Menvale Ottawa R1chmond
proporção significaciva de uma população, mas que, ao permane- log 10 dos números presences ames do fator acuar (ver Seção Aco
cer constante em seus efeims, desempenha uma pane pequena na 5.6). Ponanro. as úlrimas duas colunas da Tabela 14.2 con-
(b)
dererminaçáo da raxa de morralidade parricular (e, assim. do <a- têm as incl1naçôes (b) e os coeficientes de determinação (,-)
manho parricular da populaçáo) em um dererminado ano. No das diferences regressões dos valores k sobre seus apropriados
encanco, isso pode ser estimado a partir da coluna seguinte da "Jog 10 das densidades iniciais". Três f.uores parecem merecer
3 0.8
Tabela 14.2. que fornece o coeficiente de regressão de cada valor um exame mais deralhado. A emigração dos adulcos de ,·er.ío
k individuaJ sobre o valor mcaJ da geração, k 1.,,.J·
Um faror de monalidade impor-
(o fawr-chave) parece acuar de forma sobrecompensadora de-
pendente d.1 densidade, já que a inclinação da regressão (2,65)
'\, . k,
0,6
FIGURA 14.4 (a) Mudanças temporais dos
diversos valores k de populações do besou-
cance na decerminação das mudanças é consider::i\'elmence superior à unidade (ver cambém Figura 0,4 ro-da·batata·do-Colorado, em três locais no
populacionais terá um coeficiente de re- 14.4b). AsStm, o fator-chave, embora dependenre da densida- Canadá (segundo Harcourt. 1971) (b) Emi-
gressão próximo à unidade, pois seu va- de, não regula ranco a população, pois a leva a flucuações ,·io- 0,2 gração dependente da densidade dos adul-
tos de ..verão'' do besouro·da·batata-do-Co-
lor k renderá a Aucuar jumo com o kmrJ.l' canto em tamanho como lem,ts de abundãncia (devido à sobrecompensação). Na ver-
O",,-'--~~-'-''-'~~..L.~
•' lorado (inclinação = 2,65) (à esquerda) e
em direção (Podoler e Rogers. 1975). Entretanro, um faror de dade, o siscema formado pelo besouro-da-bacara e pelas plan- o morte por fome de larvas. dependente da
o 2,5 3,5 O 2.5 3,5 densidade (inclinação= 0,37) (a direita) {se-
morcalidade com um valor k que varia alea.toriamence com rela- tas hospedeir.1s seria extinco, se estas não fossem concinu.1-
LOQ1o dos adultos de verão Log 10 das larvas tardias gundo Harcourt. 1971).
ção ao kcm.!I cer.í um coeficiente de regressáo próximo a zero. Além menre repl.rnCddas lHarcourc, 1971).
disso, a soma de rodos os coeficientes de regressão demro de uma Da mesma forma, a taxa de moru.lidade das larvas por
geraçã.o serâ sempre igual à unidade. Portanto, os valores dos coe- fome parece exibir uma dependência subcompensadora em
ficientes de regressão indic.uão a força rdariva da associação encre re!açJ.o à densicildc (embora não seja escarisricameme signifi-
farores difê:rences e as Aumações da monalidade. O coeficiente de C.HÍ\'a). No enunw, um exame da Figura I4.4b mostra que a dJ J.hundincia em cada região (segundJ. colunJ. de Jados). Isso 14.5; ver também Figura 14.la), foi constatado que as ~e-
regressão nuis elevado escad associado com o J:w:ir-chavt! causa- rd.1çJ.o tlc1Cia muico rndhor representad,1 por uma cun·J, e resulcou, em grande parre, de variJções anü-,hlnl) da chu\'.t mentes no solo conscituÍ:lm a fase-chave determinante d,l
dor d.1 mudança populacional. n.i.o pur un1.1 regressão lineJr. Se tal curva for ajustJ<l..1 .10s duranre o período brval. Em anos de precip1uç.lo h.lix:i. os abundância. No entanto, mais um.l vez a morcalid1dc n-ln
~o exemplo do besouro-da-batar:1-do-Color:1.do, fica claro dJdos. o ...:cKfioenre de determinação aumenca de 0.66 :ué O. <r'. açudes podem ter sec.ido complcTamenre. reJuzn1dtJ a sobre- operou de uma mant'irJ dependente tlJ densidade, e .1 mor-
que J cmigução dos .1dulrns de verJo, com um cor.:ticieme de e .1 1nclHU)-.lo (ulor h) Jlc.rnçadJ em Jensid.1des ele,·..1.d.1s ~eri:1 ' i,·ênci.1 lar\·al a níveis catastróficos, às 1,ezes -..orno resuk1do talidade de plântul..1s, que nJo era a fase-chave, foi depen-
reg;re~são de 0.906. é o futor-cha\'e. Outros tàrores (com a passivei de" 30.9) (emhou, narur.1lmence, ela seja muito inferior. 11.1 de uma infecção bacceri.ind. No emanto, ui murul1d.1de nãu dence da densidade. As semenres que emergir.1m primeiro
exLeçJ.o da morre larval por fome) exercem um efeito desprezi\'el gama Je dens,d-1Jcs obser\'adas). Portanto, é bem passivei que ,;e relacionou de maneira consistente com o ramJnho d.1 popu- na estação tiveram muito maior probabilidJdc: de sobrc,·i-
sobre as mud.rnç..1.S n.1 morr:.ilidade da geração, embora alguns J morre da-; Luvas por fome desempenhe um papel irnporran- lação larval (um açude em l\·faryland e um:1 signirlcánci;i ape- vência.
pm.suJm \'aJores médios de k razoavelmente altos. O simples exa- te na regu\JçJ.o da população, ancerior .10s efeitos desestJbtli- nas aproximada na Virgínia - terceira coluna d<:'.' dados) e. por- Em geral, porcanro, a análise do fator-chave (à pane seu
me.- dos gdficos das Aucuações dos valores k com o tempo pc:rmi- zadore) do p,ua.sitismo de pupas e da emigração de .1.dulto~. tanto, teve pouca imponância na regul.ição Jos tamanhos das nome algo enganoso) é úcil na identificação de fases impor-
re chegar a uma conclusão semelhante (Figura l4.4a). :\ an.í.l1se do farnr-chave tem sido populações. Em duas regiões, durante a fase adu!CJ. ,l moruli- un tes dos ciclos de vida de org:rnismos em escudo. Ela é titil
Assim. enquanto os valores médios de k indicam as for- aplicac.ÍJ J. multa) popu!Jções de inse- dade foi clar:imence dependente da densidJde e. por isso, regu- igualmente na distinção da variedade dos modos pelos quJ.is
ç;:is médias de diferences farores como causas de morcalidade cos, nus .1 pouc.1s populações de verte- ladora (1parencemenre como resultado da compt>tÍçáo por ali- as fases podem ser imporcances: concribuindo de" maneir:i sig-
em cada geração, a anllise do famr-chave indica sua concri- brados ou plantas. Os exemplos referentes a essas populações slo memo). De faro. em dua.:-. regiões, a morcalldade foi também mJJs nificaciva para a soma global da morcalidade. para as variaçües
buiçio rdariva às ,m,dançru anuais nd mortalidade da geração mosrrados na T.1hela 14.3 e na Figura l-f. 5. Em popul.içóes da ri- incensa na fase aduJCJ. (primeira coluna de dados) na morralidade (e, ainda, na deternÚntlÇtio JJ :1bundància) e
e, porcJnro, mede sua imporcânci.1. como dererminances do d.1-nudeira Vlma ~v!i atim) em três regiões dos Escados Unidos
1 Em uina população polonesJ de Androsatt' sepu,uno- para a regula.çâo da abund.incia devido à dependência dJ den-
rJmanho populacional. (Tahel.1 l'Í. l). o período larval foi a fa.se-chave na dererminJ~Jo nafis. uma espécie vegecal JnuJl de dun.1 Jrcnu~a (Figura sidade que: a morcali<lade Jpresenca.

i
--~

1
4 18 PARTE 2 - l.~TERAÇÓES
..
,....,
CAPÍTULO 14: ABUNDÂNCIA 419

TABELA 14.3 Analise do fator-chave (ou fase-chave) para populações da rã-da-madeira de três regiões dos Estados Unidos: Maryland (dois buíd:.1 inapropriadameme a diferences fases, porque a rodas as absolutdS dd mesma magnicude em fecundidade. Além di\SO,
açudes. 1977 a 1982), V1rgima (sete açudes. 1976 a 1982) e Michigan (um açude, 1980 a 1993). Em cada região, a fase com a média mais alta
do valor k, a fase-cnave e toda a fase que mostre dependência de densidade estão destacadas em negrito (segundo Berven, 1995)
fases da hisrória de vida é dado um peso igual, embora das À pode ser sensível a um elemento n.1 m.:itriz, mesmo se tal
possam diferir em seu poder de influenciar a abundância. Esce elemento assume o valor O (porque as semibilidades medem o
Coeficiente de regressão Coeficiente de regressão sobre log
Intervalo de idade Valor médio de k sobre k 10141 (tamanho populacional) é um problema particular para popu!Jções em que as gerações que aconteceria, se houvesse uma mud.rnça absoluta em seu \'.l-
sr sobrepõem, pois .is mones (e a fecundidade) tardias no ci- lor). Concudo, essas deficiências são superadas medi.rnte o uso
Maryland
Período larval 1,94 0,85 Açude 1: 1,03 (P = 0,04) clo de vida estão deHlnadas a rer um efeito menor sobre a taxa da elasticidade de cada elemento para decermi11.1r sua contri-
Açude 2 0,39 (P = 0,50) global de crescimenco populacional do que aquelas de fases buição à À, pois isso mede a mudança proporcional na I~, re-
Juvenil: até um ano 0,49 0.05 0,12 (P= 0,50) iniciais. De faro, a análise do faror-ch.ive foi concebida para sulrance de uma mudança proporciona! no elemenro. Conve-
Adulto 1 a 3 anos 2,35 0,10 0,11 (P= 0,46)
Total 4,78 espécies com gerações discreras, m.is ela. tem sido :iplicada a nienremence, com ess:i formulação de rnarriz, as elasticiJ,1des
espécies com gerações sobrepostas; de qualquer modo, rescringi- elevam-se a 1.
Virgínia
Período larval 2,35 0,73 0.58 (P = 0,09) !J à primeira situação é uma limir:ição da sua ucilidade. A análise da elasticidade, portan-
Juvenil: até um ano 1, 10 0,05 -0,20 (P = 0.46) A alrernariva de Sibly e Smirh ( 1998) à análise do faror- to, oferece um caminho especialmen-
Adulto 1 a 3 anos 1,14 0.22 0,26 (P = 0,05)
ch.1Ye, a an.ílise da contribuição dJ À, supera esses problemas. )~ é te direto par.1 o manejo de abundân-
Total 4,59
:.1 raxa de crescimento populaciorul (e'') rd'eriJ.1 como R no Capl- cia de plantas. Se quisermos aumen-
Michigan
Período larval 1,12 1,18 (P= 0.33)
CL1io 4, nus. ne.'>te c.1.,,0, conser\'amos o símbolo us.1Jo por Sibly e tJr a abund:incia de unu espécie ame-
1,40
Juvenil· até um ano 0.64 1,02 0.01 (P = 0.96) Srnich. Seu máodo, por su.1 \·ez, atribui um peso J., fases do ciclo ,tç.1Ja (manter A e;l.o .1lu qu.uuo pos.,,hd) ou reduzir .1 abu11-
Adulto 1 a 3 anos 3,45 -1,42 O, 18 (P = 0,005) dr.· vida, comado d,1 análise de sens1bilid.1de e ebsricidade (De djnci.1 de unu pr.1ga (rn.HHt'r f~ cjo b-1ix..1. qu.t1Ho possi\'d),
Total 5,21
Kwon er ai. 1986; Benron e Gram, 1999; Ca.swell et ai., 2001; que fases do ciclo de vid.1 ,;;eria.m prioritárias em nossos esfor-
n:r (Jmbém ·'modelos incegrais de projeção", p. ex., Childs et ai., ços? Resposta: aquelas com as dasticid.tdes mai-'> ,:dta}. Por exem-
2003), que é um aspecto importante da abordagem demográfica plo, ,l Jnálise de elasricH.bde da ranaruga-marinha-de-K~mp
.1u esmdo Je .ibund.incia. Por isso, tratJJ110S primeiro. brevemen- (Lt.'pidoche(ys kempi) no sul dos Estados Unidos, mosrrou que
r..:. da análise de sensibilidade e ela.srici<lade antes de examinar a J sobrevivência de indivíduos mais velhm, cm especial s..ibJ-
Morlahdade da geração
4,0t ,rnálise d.1 concribuiç.io da I~. dulros, foi mais críric.1 para a manurençâo da abundânci.1 do
k,C(dl 3,Q Os deralhes do cálculo de sensi- que ou a fecundidade ou a sobrevi\·ência das crias (Fi;ura
bilid.ides e elasricidades esrão além do 14.Ga). Dessa forma, programas que dominaram a pr~írica de
2.0
nosso objerivo, mas os principais po- conser\'açJo durante a dJc.1da de l 980, segundo os qualS os
1
k, .O [ Sementes nào-produzidas dem ser melhor compreendidos por ovos eram incubados cm oucro lugar (México) e importados,
Mortahdade de p!ântulas k 3 meio do rerumo à mamz de projeçJo da população, imrodu- parecem destinrtdos a ser uma opçJ.o de manejo de retorno
o.o[ - - - - - . {0,03)
0,5 zid.1 na SeçJ.o 4.7.3. Lembre-se que os processos de natalidade haixo (Heppell et ai., 1996). O preocuprnre é que cais progr.1-
J,O Sementes que não germinam (l .04)

k, t/~~~ 0,4
t' ,;obrevivência de uma população podem ser resumidos sob
forma de marriz, conforme segue:
nus rêm se propagado e, aré o momenco. parece provável qut'
esta conclusão se aplique a c.urarugas em gerJ.l.
2,0
A análise da elascicid.1de foi aplicada também a popula-
1,0t Mortahdade de p!ântulas 0.3~---~---- m, ções do cardo-almiscareiro (Carduus 1111tans), wn.1 erv.1 d.mi-
k, 2,0 2.5 3,0 mi
o o
o.o
k, 0,5[
0,0
Mortalidade vegetativa
(--0,40)

{0.15)
Log do numero de plân!ulas

l"g~
P,
g!
o
g.,
g.2
"'']
h
o
nha na Nova Zelândia. A sobrevivência i:. a reprodução de pl.111-
ra, Jovens eram muito m.lÍs imporrances para a c:1x.1 de cr::sci-
menro populacional gloh.11 do que aquelas dos individuos mai~
vdhos (Figura 14.Gh), nus, de modo de:i:ilencJdor, embor.1 o
k; 0.5 [ Mortahdade durante a floração
o.o {0,03) em que, para uda eupa no tempo, m, C: .1 fecundidade do programa de controle hio!úgico na Nova Zelindia renha c,bjc:-
k, O 5[ Mortal!dade durante a trut1f1cação
esd.g,o x (para o primeiro e... dgio), g, é a cax:i de sobrevivência Ú\'ado corrt:ramenre es:i.1s fases por meio d.1 introduçáo do
0,0 {0.05) t' crescimenrn do esrigio x par.a o próximo escágio e p,. é a taxa gorgulho granívoro, Rlwwqllw comrnL os niveis máximo, ob-
dt' persi . . cênci.1 de1Hro do e<;tjgio x. Lembre umhém que À ,;erv:1.dos de predJção de ~ememes (e. 491,i)) for.un mais h.1i..:m
1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975
Ano
fiode sa i.:.dcubd.1 d1rn,1memt' dc,;;r.1 m.trriz. CLu.unence. o do qu~ o~ pro)t't.1Jm Lomn neu:,;;s.írios p.1r.t tjllt.' ). tl(.t.\~C 1nL:rior
\,dor ~eral de À reflete qs Y.tlorc-; dos Jiver~os demencos na .1 1 (69('.·o) (She:1 e Kell:·, 1998) Confo1m-:' o prngnos(ic1tlo. o

rn,Hri1:. mas m.1 conrrihuiç.ío J ),.~ n.J.n é igu.11. A senjibi!tdade, progr.1m.1 de LOntrole [e\·e um suce,;so ,1pena. . limiud.o.
FIGURA 14.5 Análise do fator-chave de Androsace septentnona//s, uma espécie vegetal anual de duna arenosa A mortalidade total da ger3ção
Wo,aJ e os diversos fatores k estão representados graficamente. Os valores dos coeficientes de regressão de cada valor k individual sobre k:ou, pois. <le cad.1 elemenro (i::;ro i. e.ida processo biológico) é o Oessc modo, as J.11,ll1<;es de elJs-
estão 1nd1cados entre parênteses. O coeftc1ente de regressão maior denota a fase-chave e está representado pm uma linha colonda Ao lado >~
montante com que se alteraria p.1rJ uma decerminada mu- ticíd.ule s~10 \·a!iosJs par.1 1denritlcar
observa-se cada valor k que varia de maneira dependente da densidade (segundo Symonides. 1979; análise em S1!vertown, 1982)
dança ahsoluu do \'Jlor do elemento da nutriz, quando ova- fases e processos imporranres 11.1 derer-
lor de roJos os outros clemenros ~e m,1mivesse consc:inre. As- miruç:'i.o de :1.bundjncia. mas d.is .1s·
,;;Jrn, a.:. sensibilidades são mais J.!tas para aqueles processos que sim procedem enfocando valores típi-
14.3.2 Sensibilidades, elasticidades e análise da e Smirh, 1998). Enrre essas críricas. possuem nuior poder de influenciar À. cos ou mêJios e, nes . . e sentido, procu-
S'.,;)-c:r:a.n·j')
contribuição da À são imporrances (i) J maneir.1 incon- 2'J2:~'"12.S 1:2 Encreranco, enquanto os elemen- r,tm o r.1m.1nho cipico de um.1 popul.i't.lo. Cüntudo, um rro-
venience com que os valores k tratam ~·13..'1.s2 c:o far:-:-- tos Je sohrevive'nci,t (gse ps, nôce caso) ce:i.\O com um.i d.1sricid.1Je pequena, n.1 práric.1, pode ter ain-
Embora J. análise do farnr-chJ.ve seja útil e amplamente utili- da fecundid.ide: um valor é calculado ílcam rcsrr!cos J. siru.1r-se entre O e l, d.1 :1.ssirn unu pequeru p.trticipaçJo n.1s \·,1ri;1çóc:"s de :1bundàn-
uda, ela rem sido objero Je críric.:is per~isrenres e váJid.lS. al- para nascimencos '·:1usenrçs", em relação ao mímero mixímo a~ tecund1d.1de, nio, e f .. porcanrn, rende :.1 ,;;er mais sensível a cia de ano p.u:.1 .mo ou de loc,11 parJ !oc.d, se ui processo (mor-
gumas técnicas (imJ ::, esurísricas) e algumas conu:icuais (Sibl~, de nascimentos pos-;ívd; e (i1) a "imporrjnci.1" pode ser .1rn· mudanç.1s .1bso!ucas 11.1 rnhrevi,.ência Jo que a mu<lanç:i,; ulidade ou fecundid:idel mostrJr pouc.1 \·.1ri.1ç:lo cemporal ou
;-;.r
f •
420 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 14: ABUNDÂNCIA 421

pelo número limicado de valores diferences nas colunas k,. e 14.4 A abordagem mecanística
mxda rabeia, mas as sensibilidades da À a tais valores são nacu-
(a)
ralmence discincas para idades discincas (as influencias iniciais A seção ancerior cracou de análises direcionadas em fases do ciclo
0,6
sobre a À sáo mais forces), excemando que a À é igualmence de vida, mas escas com freqüência acribuem os efeitos ocorrences
__ Banos sensível à morcalidade em cada fase anterior à primeira repro- em fases determinadas a furores ou processos (alimento, predação
o.s
12 anos dução (uma vez que é tudo "morte antes da reprodução"). As etc.) que operam durante aquelas fases. Uma alternaciva tem sido
0,4 RI 16anos conseqüencias dessas sensibilidades diferenciJ.is são aparentes o estudo de facores particulares na decerminação direta da abun-
nas duas colunas finais da tabela, as quais resumem os resul- dância, relacionando o nível ou presença do fator (a quantidade
0.3 tados das duas análises mediance a apresentação dos coeficien- de alimento, a ptesença de ptedadotes) à própria abundância ou à
res de regressão de cada uma das fases em relação a krorll e taxa de crescimento populacional, que é obviameme o decermi-
0.2

1 1
À.coul' respectivamente. A análise do facor-chave identifica a nante imediam de abundância. Esta abordagem mecaníscica cem
BS p M G reprodução nos anos finais de vida como o faror-chave e. ain- a vanragem de enfocar claramence o fator parcicular, mas, assim
0.1
BS s, m, m, m, d.1, a reprodução nos anos precedentes como a próxima fase procedendo. é fícil petder de visra a importância relariva de tal
p g, m, m, m, mais imporrance. Em situação compleramente conrrascance, faror comparado com oucros.
F1tho1es Juvenis Subadultos Adultos Fecuncl1dade M o g, o na anilise da concribuiç:io da À, as sensibilid.ides baixas da À à
Sobrev1vénc1a animal G o g, g, o 11J{alidade ness.1.s fases finais relegam-nas a umJ insignificân-
cia relaCl\'a - em especial a úlcim1 fase. A sobren\·ência na fase 14.4.1 Correlacionando abundância aos seus
mais inicial de vida, na qual há maior sensibilid.1de, torna-se o determinantes
fator-chave, seguida pela fecundidade nos ·'.1.nos inrermediá-
rios", nos quais esca é a mais alra. Assim, J. .rnilise da conui- A Figura 14.7 apresenca quarro exemplos em que a taxa de
95
-· --
33°0 3%
M G
buição da À reúne as virtudes do faror-chave e da.s an.ílises de
elasticidade: discingue a regulação e a determindção de abun-
dância, identifica fases ou facores-chave. a. . !>im como leva em
crescimenrn populacional aumenta com a disponibilidade de
alimenco. Ela cambém sugere que, em geral. tais relações escão
provavelmence equiparadas aos níveis mais alcos de alimento
ú30%
'-..__..../
1%
conta sensibilidades diferenciais da raxa de crescimenrn (e, por-
ranco, da abundância) às fases diferences.
onde algum oucro fator ou facores coloca um limite superior
na abundância.

FIGURA 14.6 (a) Resultados de análises da elasticidade para a tartaruga-mannha-de-Kemp (Lepidochelys kemp1), mostrando as mudanças
proporciona1s na À. resultantes de mudanças proporcionais em sobrevivência e fecundidade anuais estág,o-especificas, adm1tmdo três está-
gios diferentes de maturidade (segundo Heppell et ai., 1996). (b) Parte superior. representação diagramática da estrutura do ciclo de vida de TABELA 14.4 As colunas 1 a 4 contêm dados da tabela de vida de fêmeas de uma população do cervo-vermelho, Cervus efaphus, na ilha de
Carduus nutans na Nova Zelândia; BS é o banco de sementes e P.M e G são plantas pequenas, médias e grandes. s é a dormência das Rhum, Escôcia. _usando dados colelados entre 1971 e 1983 {Clutton- Brock et ai., 1985): x é a idade; 1. é a proporção sobrevivente no início de
sementes. g é o cresc1men10 e sobrevivência aos estágios subsequentes e m e a contribU1ção reprodutiva ou ao banco de sementes ou a ~ma classe d~ idade. kX' poder de morte. 101 cal~ulado mediante uso de logaritmos naturais: e m•. fecundidade. refere-se à natalidade de
plantas pequenas imediatamente após a germinação. Parte média malnz de pro1eção da população resumindo essa estrutura. Parte inferior filhotes femmmos. Esses dados representam medras calculadas durante o período, sendo os dados brutos coletados de duas maneiras·
os resutlados de uma análise da elasticidade para uma população. em que as mudanças porcentua1s em À resultantes de mudanças percen- acompanhando individualmente os animais reconhecivers a partir do nascimento e os animais velhos à morte. As duas colunas seguintes
tuais em s. g e r são mostradas no diagrama do c,clo de v,da. As transições mais 1mportar.tes são mostradas em negnto. e as elasticidades contêm as sens1b1l1dades da À. (a taxa de crescimento populacional) a k. e m. em cada classe de idade. Nas duas colunas finais. as contribui·
menores do que 1% são omitidas (segundo Shea e Kelly, 199-8). ções das diferentes classes de idade foram agrupadas conforme mostrado. Essas colunas exibem resultados contrastantes de uma análise do
!ator-~have e uma análise da contribuição da ), por mero dos coeficientes de regressão de k. e m. sobre k:o1ai e Àioiar· respectivamente, em que
''1oiar e cada ano de desvio em relação ao valor med10 total de tango prazo (segundo Sibly e Smith. 1998. onde também podem ser encontrados
detalhes dos cálculos)
esp.Kial. Para grandes mamíferos herbívoros, há evidências de emprega os valores k para quancificar morcalidade, mas pode usar Idade (anos) Coeficientes de regressão Coeficientes de regressão
que os processos com el.1sricidade alra cendem a variar pouco fecundid:1dc:-, direrameme, em va. de convercê-las em "morres da no inicio da Sens,b,l:dade Sensibihdade de kX' ã esquerda, em•. de kx. a esquerda. em,.
.10 longo do rempo (p. ex .. focundidade do temeas adultas), os de.scen<lC:ncÍJ t.•m gescação" E, crucialmente, as concribuiçóes de classe. x !., k, m, de). a k, de À a m, à dlfeita. sobre kro1a, a direita. sobre i.total
com elascicidade baixa (p. ex .. sobrevivência de juvenis) v.1- cocL1s .u morcalid,llies e fecundidades são ponderJ.das por suas 1,00 --0, 14
0,45
º·ºº 0.16 0,01,- 0,32.-
riam muiro mais (Gaillard ct ai., 2000). A influência r~al de
um processo sohre \·ari.1çóes en1 abund."mcia dependerá <la ela . . -
'>ensibilid,1<..Ít:'.:.. Porranro, muito propriamence. onde as gerações
se sobrepút":Tl, as chances das úlcimas fases serem idenciticad..l.'>
0.64
0,59
0,08
0.08
O.DO

º·ºº
-0,14
-0.14
0,09
0,08 } 0,01.- 0,14,-

ric1J.1dt" t' J.1 v.1ri.1çJo no proces~o. C.tilLud e colaboradores suge- com 111n t:nor-1..hJ\·e sio correspondentemente mais b,tixJ.s 11.1 (on-
mbu11..;j() d.1 i. Jo que n.1 an.i.l1se do fator-cha,·e. Em come4ué11-
O 54
0.53
0.03
0.03
0.22
0.22
-0.13
--0 11
0,07
0,06 } º·ºº· 0,05 O 03. 0.04
h.:m qué .1 .1usenci.1 rd.1tí\',l de ,·.1ri.1ç:i.o nos pnKe,sos "1rnport.111- 0,51 0,04 0.35 -O 10 0,05
tc:s" pode ser um caso de ·'c.rn.tliz.;.1çJo ambiental'': evoluç.ío. nas
fa~es mais importJ.nres p.1rJ o .1jusce, de um.1 cap.icid.1de d-e: man-
ci.1. .1 ,\n.ili.,c ,i.1 cnntribuiçâo da). pode ser urilizad.1 com muiw
m.ii_, ..:onf-1.rnça. qu.rndo as gerações se sobrepõem. A invescigaç.ío
0.49
0,47
0,04
0,04
0.35
0.35
-0.08
-O 07
0,05
O 04
} --O.DO, 0,03 0.08. 0.16

rer .t constànci.1 relaciv.1 <liame de permrb.1çôes ambit"nt.IÍs. sub .. equcrHt <le dependéncias da densidade procede eXJ.tameme 0,45 0,06 0.37 -0,05 0,04

)
0.42 0.06 0,37 --0 04 0.03
Em comparação com as an~ilises d.1 me,m,1 nune1r1 ramo na aná1isc: da comribui'rJ.o da f. como 10 0,40 0,06 0,37 -o 03 0,03 0.00, 0,15 0.09. 0.12
da el.1scicidade, .1 a..n.Üi~c: do famr-chave n.1 ,máli'.'!t.' ~io fator-chave. 11 0,38 0,06 0,37 --0,02 0.02
busca especificamente: compreender as ...\ T.1hd.1 14.4 comparJ os resultados de duJ.s análise.., 12 0,35 0.06 0,37 --0.02 0,02
variações temporais e espaciais em abun- :1pl1ud.1:s J. J.u.ios da rabeia de vida, coletados na ilha escoces.1 13 0,33 D,30 0.30 ·O 01 0,02
dância. O mesmo é \'erclideiro para a análise da concribuiçâo da de Rhum, e:Hre 1971 e 198.3, par.1 o cer\'O-\'errndho (Ct'rt!W 14 0,25 0,30 0.30 --0.006 0,01
15 0,18 0.30 0.30 -O 004 0.008
)., de Siblv e Smirh, à qual rerornamos. PO<ismos observar pri- ei:rpl uJ) iClunou-Brock era/., 1935). Durante o período de vid.1
1

0.01. --O.DO
16 0,14 0,30 0.30 -0.002 0.005 --0,05. 0.80
meir.1mence que esra análise traca das comribuiçóes das diferen-
tt:s- Fases nJ.o a um valor k global (como na J.nálise do fucor-chan:).
dt.' l lJ ,mo.., do cervo, as raxas de sob revi vencia e r1Jralidade foram
(.".~timJ<l..b :::m ··blocos": ano O. anos l e 2. anos :3 e 4, anos 5 J 7,
17
18
0,10
0.07
0,30
D.30
0,30
0.30
-0.001
-O 001
0,004
0,002
)
in.1s J. À. um dererminJ.nte Je 1bundância muiro mais óbvio. Ela ano, X J ; ..!. ~ JllO'i 13 a 19. Essa di\·isão em blocos é respons:í\'d 19 0,06 0,30 0.30 -0.000 0,002

1
422 PARTE 2 - INTERAÇôES CAPÍTULO 14: ABUNDÁNCIA 423

14.4.2 Perturbação experimental de populações medida que as plantas apresentam crescimenw clonai. di-
vidindo-se em fragmenros que são dispersados. Salvi}//,1 mo-
Como mencionamos na introdução deste capículo, as correla- lesta, uma pteridófita aquática, por exemplo, é origindria
ções podem ser ~ugesrívas, mas um reste muito mais poderoso
da imporrânci.1 Je um faror panicular é manipulá-lo e mo-
do sudeste do Brasil e. a partir de 1930. propagou-se para
Jiferentes regiões rropicais e subtropicais. Ela foi regiscu-
.-
·-.,,. . .,,.,.....,· ·-~·-
nitorar a resposta d.1 população. Pred.1dores, comperidores ou da primeiramente na Ausrrália, em 1952. e se prop.igou
~~~l;::;~~
alimenro podem ser :i.crescenudos ou retirados e, se eles são muito rapidamente - sob condições ótimas, 5. molt'sta tem
importantes na deret mi nação de abundância, isso seria evi- um tempo de duplicação de 2.5 dias. Aparentemente. ess1
dente em compJrações subseqüentes de populações-controle espécie não tem pragas e parasicos significativos. Em 19:78,
e manipulada. A ~eguir, serão discutidos exemplos, quando o lago Moon Darra (Queensland setentrional) experimen-
examinarmos o que pode governar os ciclos regulares de abun- cou uma infescaçio de 50 mil toneladas de peso fresco de S.
d.i.ncia exibidos por .ilgumas e!>pécies, mas devemos regiscrar ma/esta. cobrindo uma área de 400 ha (Figura 14.8).
de imediara que experimenros em esCil.1s de campo requerem Entre os possíveis agentes de conrrole coletados nJ
invesrirnenrns m.1iores em tempo, esforço e dinheiro. Unu área de ocorrência natural de 5. molesta, no Brasil, obscr-
distinção cl.uJ cmre controlcS i.: rraumenms experimenrJis é \'OU-se que o gorgulho prern de rrombrJ-longa, Cyrrol1i1-
ine\·ir.1Yelmeme 111uict1 nuis difícil de a!c.rnç.u do que em b- gow sp., .dimenrJ-~e aperus d.tquel,1 espécie. Em 3 de iu·
bor.1tório ou em em1fa nho de 1980, 1.500 adulcos foram solros em ga10L" L'lll
Üm concexro em que pre<lado- uma enseada do lago, e unlJ. outra soltur.1 foi realizad.1 em
re<; são ,lcrescenrados a umd populJ- 20 de janeiro de l 98 l. O gorgulho e~t.1\·.1 livre de qu.li'>-
çJ.o é quando :.igenres de controle quer parasitas ou predadores que pudessem reduz.ir suJ den-
biológJCo (rnimigos naturais de uma sidade, e, em abril de 1981, por rodo o lago, S,1/vi11111 cor-
praga - n~r Se~·ãu 15.2.5) são liber:1dos na tentativa de con- nou-se marrom-escura. Amosrras dessa plJnra more.a con-
trolar pr:.1g:.1s. Encreunro, como a motivação cem um cará- tinham cerca de 70 gorgulhos adulros por metro quadr.1do,
rer prárico, em vez de ser um exercício intelectual, um de- sugerindo uma populaçJ.o torai de l milhão de besouros no
lineamenro experimental perfeito em geral não tem sido a lago. Em agosro de I 981, esrimou-~e que menos do que 1
prioridJde. Hi mu1us ocasiôn, por exemplo. em que plan- ronelada de 5. molestíl saíra do lago (Roorn er ai., 19811.
tas aqu,íticas experimentam explosões populacionais mas- Esse foi o sucesso mais rápido de qualquer lentatlva de con-
sivas após sua introduçJ.o em no\"OS h;íbitacs, provocando trole biológico de um organismo pela introdução de outru
prohlemas econômicos signiflc1tiYos ao bloquear canais de [sso dc:monscra a importância do gorgulho na abund.lnci.1
navegJçJ.o e bomb.1,; de irrigação, além de prejudicar arivi- persistentemente baixa de 5. molesw, tanto .1.pós a incrodu· ---- - - - ~ - - ' - t - ~
d.tdes pesqueirJ'i. :-\~ explosões populacionais ocorrem à ção deste animal na Austrália quanto em seu ambieme n.1-

(a) (b)

"t
g_ 0.8 FIGURA 14.8 Lago Moon Darra (O~eens!and
e • 0.2 :
setentnonal. Austrália) (a) Ccberto por po·
~ ~ o 0.6
0.4 pulações densas de Salv,ma molesta. Jma

.
~~ -0.2 ~ ptendófrta aquática. (b) Apos a 1ntrod:Jçáo

li
0.2
-O 4 ' de gorgutho. Cyr1obagous spr {cortesia de

"X o. -06 1' -0,2 ' P. M. Room).


~
O
a. 1
-0.4 ~} '
-0.8 -0.6
-1 " ;_ -O 80
•,
o 200 400 600 800 1 000 10 20 30 40 50
U\"O. Este é um exemplo de é'Xperimemo contro!Jdo, esten- imporr:rnci.1 dos nematódeos. norm.dmc>11re. na reJuç.!t1 da
(e) (d)

·-
dido J ourros Ligo,; com grandxs populações de Sah,i11ia. .1bundincia do galo sel\"agern, jusciflc.rndo n csfor<;u ,1ue

...._. .
0.2 -
-
~ ..
Á)
~~
>il
0.5
• ---~ªº O poder e os problemas de ex· tem sido feiro para a manipulaçlo. ToJan.1, como ,·inio.\.
0.1

.. ~}t.,:..'~----
,, :.i•
-0.5
. ... FIGURA 14.7 Aumentos da taxa de cresci·
menta populacional anual (r ::: ln /.) com a
d1sponib1hdade de alimento (biomassa da
pastagem (em kg ha 1]. exceto em (b). onde
-::·:n;;i:
,. ~ ,Jc,,
perimenros em e'icala de c.1mpo sâo
.1 seguir ilustrados por um exemplo
j.i discucido n.1 Seçlo 12..7 .2, em que
_ipesar desse esforço, permaneceu a dúviJ.1 se os nem:1ró-
deos comprovadamente erJm a causa Lln-. ..::iclos (nL·sre c.1so,
o~ desastres residuais menores eram eco." moribundos} ou
-1 ~ ....
-0.1 se considerou a abundância e em (c). onde um "predador'' (neste c.1so, um pa- se, em vez. di~:,o, o experimento JpenJs provou um p.ipd
se considerou a d1sponibihdade per cao1ta)
-1,5 •
(a) Canguru-vermelho (de Bayliss. 1987) (b1
r.bito) não foi JCrescenudo, mas reriraJo. Quando Hud- Jos nem:uódeos na determinação da amplitude do ciclo,
-0,2
-2.i Coruja-de·rgreja (segundo Taylor, 1994) (cJ son e colaboradores ( 1998) trJ.cJram popul.ições cíclicas do deixando o seu papel em um ciclo incerto. Os expenmen-
-o.J o~·-s~o--1~00--1so~-2~00-2~so--30Lo - 2,5 o Gnu (de Krebs etal.. 1999). (d) Porco-selva· gJlo-selvagem-vermeho, Lrgopw l,lgopw. conrra o nema-
200 400 600 800 1 000 1 200 1.400
rns sdo melhores que correlações, mJs qu:.rndo eles envol-
gem (segundo Choquenot, 1998). (segundo
01sponib1hdade de alimento 01spornbtlidade de ahmento S,bly e Hone. 2002)
ródeo Tric/,vitrong_: /us rornH, J amplitude do "dcs.1srre" do
1
vem sistenus ecológicos no campo, ,1 din1111.1ç.lo de an•bi-
galo selvagem foi \uhsuncialm~nte n.:duzida. Isso prova a güidade nunca é garJntida.
424 PARTE 2 - INTfRAÇóES
CAPÍTULO 14: AaUNDÁN(IA 425

14.5 A abordagem da densidade ximo d. Por fim, ur representa flutuações de ponro-cempo a


(a) (b)
ponto-tempo impostas de fora da população, independentes
As correlações com densidade não estiveram tocalmence au- da densidade. É mais fácil entender essa abordagem quando
sences das abordagens que consideramos até agora·. Na verda- X,s representam desvios da abundância média a longo prazo,
11:
de, a dependência da densidade desempenhou um papel cen- de tal modo que m desapJ.rece (o desvío médio a longo prazo !i
cral em nossas discussões dos determinantes de abundância em relação à médía é obviamente zero). Portamo, na ausência 'i
(natalidade, morralidade e movimento) em capículos anterio- de qualquer dependência da densidade (todos os P zero), a ll, o 'i
res. Alguns escudos, encreunco, têm enfarizado as dependên- abundância no rempo t refletirá simplesmente a abundância
cias da densidade. Em parcicular, muitos desses escudos têm no rempo c- 1 mais codas as flucuações ''externas" u 1; por oucro
sido delineados para tentar evidenciar as dependências da den- lado, rodas as tendências reguladoras serão refletidas em valo-
sidade, direta e um atmw (ver Seção 10.2.2). É um problema, p
res de menores que zero.
por exemplo. que as análises convencionais da tabela de vida Aplicando essa abordagem a uma
sejam incapazes de detectar a dependência da densidade série rempor:il de abundância (isco é, ...- ~ ~ - - 01mmuição da dependência direta da den5'dade
simplesmente porque das não foram delineadas para cal (Tur- uma seqü~ncia de valores de Xr). em
chin. l 990). Uma análise de s<:fie~ temporais populacionais geral o primeiro passo é determinar o modelo esra.ríscico (X, FIGURA 14.9 (a) Tipo de d1nãmica de população gerada por um modelo auto-regressivo (ver Equação 14.1), incorporando dependência direta
pJra 14 espécies de: insetos de AorescJ deri.:crou dependência como a ,:arífrd Jependenre) com o número ótimo de rerJ.r- da densidade. p1, e dependência em retardo da densidade. ~2 . Os valores dos parâmetros fora do tnângulo levam à extinção da população
Dentro do triângulo. as d1nâm1cas são ou estâveis ou cíclicas e, dentro do semicírculo. são sempre cíclicas, com um período (compnmento do
direta dJ densid.1de de modo e\'idenre em ,tpenas cinco, mas dos em rempo: um que alcance o melhorequilibrio encre o ,óm- a
ciclo) conforme mostrado pelas curvas de nível. Portanto. conforme indicado pelas setas. o periodo do ciclo pode aumentar medida que p2
dc:pendência em arraso da densidade em sere das nove resran- puco parJ. :ts \"ariaçõc:s de X, e a não-inclusão de.atrasos em dema- decresce (dependência em retardo da deAsidade mais intensa) e espeClalmente à medida que p, aumenta (dependência direta da densidade
tes (Turchin, 1990). É possível que uma proporção similar de sia. Essencialmeme, retardas adicionais são incluídos enquamo menos intensa). (b) Locahzações dos pares de valores estimados de P, e p2 • de 19 séries temporais de roedores m1crotineos da Fenoscãnd1a
A seta indica a tendência de latitude crescente na origem geograftca das sénes temporais, sugerindo que uma tendência no período do ciclo
populações, classificadas a partir das suas tabelas de vida como eles são respons.íveis por um dememo adicional da variação ~ig- com a latitude de aproximadamente três para cerca de cinco anos é o resultado de uma redução da intensidade da dependênc,a direta da
sem dependência da densidade. escejam de faro sujeitas à de- P
nificacivo. Os vJ.lores de no modelo ótimo podem, enrão. reve- densidade (segundo BJornstad et ai., 1995).
pendência em arraso da densidade de um inimigo narural. 1.i.r a maneira. pda qual a abundância é regulada e determinada na
populaç:io. A Figura 14.9 ilustra um exemplo que resume análi-
ses de 19 séries temporais de roedores microtíneos (lemingues e Porém, além disso, tais dados sugerem que as ra2ões dos padrões As dependências da densidade para esses retardos são ilustradas
14.5.1 Análise de séries temporais: dissecação ratos silvestres) de difrrences latirudes da Fenoscindia (Finlândia. se enconrram na estrurura das dependências da. densidJde: por na Figura 14.1 Oa. Para as lebres, a dependência direta da densida-
da dependência da densidade Suécia e Noruega) amoscrados uma vez por ano (Bjornstad et ai., um lado, uma fone dependência em arraso da densidade em roda de foi fr:icameme negativa. (lembre-se que a inclinação moscradd
1995). Em quase rndos os casos, o número órimo de acrasos foi a região, tal como resulcaria das ações de predadores especiJ.listas. P
é 1 + 1) e a dependência da densidade com um retardo de um
Várias abordagens relacionadas têm dois e, desse modo. a análise foi realizada sobre a base desses dois Por outro lado, um declínio significarivo dJ imemidade dJ dc:- ano foi insignificante, mas houve significativa dependência da
buscado dissecar a "estrutura" depen- atrasos: (i) dependência direta da densidade: e (ii) dependência pendência direta da densidade em função da larirnJe. c.iJ como densidade com um rerardo de dois anos. Para o lince, a depc:n-
~,<VtSSc ,:J:T'::
,,"12 - ':,..,].,-~. , j - dente da densidade da dinâmica de po- da densidade com um arraso de um ano. resulta de uma escassez imediata de alimento ou das açõc-s de dência direta da densid.1.de foi eferi\'ameme ausente, mas houve
:"C:!;-r,:::c e-1 :~'.::!r-:Jo pulações por meio de uma análise es- A Figura 14. 9a expõe a dinâmica previsca, em geral, de po- predadores generalistas (ver Figura 10.1 lb). Como veremos na force dependência da densidade com um
cacíscica de séries temporais de abun- pulações governadas por essas duas dependências de densidade Seção 14.6.4 (ver também Seção 10.4.4). isso apóia a hipótese da arraso de um ano.
dãncia. A abundância em um determinado ponto no cempo (Royama, 1992). Lembre-se que a dependência em atraso da den- "predaçáo por especialisra" para ciclos de mlaoríneos. Contudo, lsso. combinado com o conheci-
duas a1rr~r.sóes
pode ser vista como um reflexo de abundâncias em diferentes sidade é refletida em um válor de P, menor do que O, e a depen- o pomo imporcance nesce caso é que este exemplo mosua J utili- mento detalhado da comunidade da
épocas no passado. Esca análise rdlece a abundância no passado dência dire[a da densidade é reflerida em um valor de ( l +P 1i dade de cais análises, enfocando as próprias ,1bunJ.inc1:1.s, n1J.s quál a lebre e o lince fazem parte (Figu-
imediato, evidememence no sentido de que a abundância dopas- menor do que l. Assim, as populações não-sujeiras à dependên- sugerindo meca.nismos subjacentes. ra 14.IOh. e). proporcionou o fundamemo para Stenseth e col.1-
sado deu origem diretamente à abundância do presente. Ela pode cia em arraso da densidade não rendem a exibir ciclos (Figura boradores ( l 997) construírem um modelo de crês equações para.
também refletir a abundância no pass~1do mais discante, se, por 14.9a). Porém. os válores de P, menores do que O geram ciclos. as lebres e um modelo de duas equaçõe_,; para os lince..,;. Especifi-
exemplo, aquela a.bundincia deu origem a um aumtmo da abun- cujo período (comprimemo) rende a aumemar à medida. que J. 14.5.2 Análise de séries temporais: calculando e camente, o modelo para o lince compreende apenas os lince!', e .1s
dJ.ncia de um pred.ldor. que no devido tempo afetou a abundân- dependência em acraso da densidade se torna mais imensa (para caracterizando retardas lebres, poi.-,, estas s.lO incomparavdmence as presa.s ma.i~ impor-
ci.1 do presente (isco é. uma dependência em recardo da densida.- baixo no eixu vemcal) e especialmente i me-d ida que .1. dependên- rames dos lini...es (Figura 14. lüb). O modelo para as lebres com-
dt") P,1rricubrmeme. e sem enrrar em detalhes cécnicm. o logJ.- ci,i d,reu d.1 densi<l.ide ~e rorn.1 mc:nos inren~a (d,t esquerd.t p.1r.1 Em oucrm (asos rdacionados. " enfo~e ,;e <l::.\lod p.1r.1 :1 ol:,- preende elas própri.ts. "\'egecaçJo" (uma ,·ez que a:,, lc:bres ~e ,J1-
rirmo dJ abundinciJ de uma popubção no rempo t, ,"(. pnJe ;er a direir.1 sobre u eixo horizonul} tt:nçáo do modelo escJtísrico órimo, pois o número de rcr.u- memJm inJ1scnminaJ.1meme de uma ,unpb g.mu JL" ,·cgeu-
expresso, a.o menos aproximadamenre, como: Os resuludos d:1 anilisc:: de Rjmns- dos nesse modelo pode fornecer 111dlcius dt: comu .1 1bund.in- ç,10) e: ··predador~s" ( uma vez que uma ampb ganu de pr:..~.1do-
tad e col.tboradores estão apresentados (ÍJ escá sendo determinada. Isso pode sc:r fc:1ro porque o rcore- res se alimem1 de lebre, e consome outras prc-sas na :lu::.énci.1 de
na Figura l 4.9b. Os \'Jlores esrimJ.dos ma de Ta.ken (ver Seção 5.8.5) indic.1 que um '>Í::.[ema que lebres. adioon.1.ndo um forte- elemenco Je auco-regulJçlo demro
de P2 pJrJ. a., 19 séries remporais não pode ser representa.do com crês retardas. pur ::.·xemplo, com- da guilda de predadores como um todo) (Figura 14.!Uc).
uma equação que capra, em urna forma h.mcional pa.rncular, a mostraram qu,Uqucr tendência à medi- preende crês elemencos funcionais inter:1.gindo,:: dois reta.rdos Por fim, e nov:1rneme sem entrar em deralhes rêcnicos. Sren-
idéia da abundânciJ do presente ser dererminada por abun- p
da que .1 bmudc: .rnmema\'a, mas os valores de 1 aumemanm envolvem apenas doi'.:I elementos. etc. sech e colaboradores for.tm ..:.1.pazes de redistribuir os moJdo::. l1e
dáncias passadas (Royam.i, 1992; Bj0rnstad et ai.. 1995; ver signific,uivamence. Os pomos combinando esses pares de P~ s;lo Üm exemplo <le'.:lr:t .1bord.1g~m duas e cre's equJçóes do lince e d.1. lebre nJ forma ger.tl de retardo
rambém Turchin e Berryman, 2000). Assim, m reílere J. abun- mosuados na. figura, e a tendência com a lacitude crescenre esci (um outro é descrim na Seç,lo 12.-. l) é no tempo da. EquJÇ.Ío 14. l. Oc:ssa forma. eles foram c.i.pazes cam-
Jincia média em rnrno <lJ qual ocorrem flucuaçôes ao longo indic.1da pc!J. sera. A parrir dos próprios dJdos. já se sabia, o esmdo de Stenseth e colaboradores ( 199') sobre o '-istenn le- bém de n:discribuir os \·a.lares de p nas equações de arraso no
p
do tempo; 1 reílere a força da. direra dependência da densida- ances da. .1,ülise. que os roedores exibiam ciclos na h:nosdn- bre-lince no Canadá, jí mencionado brevemc:nre na )eçJo 10.2.5. tempo como combinaçóes apropri.1dJ.S JJS forças de interação
de:; e outros Brefletem JS forças da!i dependéncias em retardo diJ e que o comprimemo do ciclo aumenca.va com a bcicude. Os Li, observamos que o modelo ócimo par.l :i. sáic tempora.l da entre e demro de grupos de lebres e linces. Aninudor;:imcnce, des
J.1. densidade, com diferences retardas em tempo ar<:: um mi- dados dJ F1gur_1. l-f.9b indic1m precisamenre os mesmos padrõc:s. lebre 5ugeriu três rc:urdo.'), e o moddo par:1 o lince ~ugenu dois. descobriram que ess<O combinaçóe!I eram inceirameme consis-

1
426 PARTE 2 - INTERAÇÔES CAPÍTULO 14: ABUNDÂNCIA 427

(a) Lebre americana

o '.
~ -1 J:-- 21- ~~k~::.::
-1 ,
: ':..;-:~

+ -2 -"" -2 . ,

-3 -3
-2
-4 ' -4
-'----'----L
-3 -2 -1 O 1 -3 -2 -1 0 1 -3 -2 -1 O 1
X" Xa, x,,
Lince
2 .
FIGURA 14.10 {a) Funções das equacões
auto-regressivas (ver Equaçào t 4 1) para a
lebre americana. acima c·trés dimensões"·

~ -~ -~~'c~s~>~
dependência direta da~dens1dade e retardos
?{ _, de 1 e 2 anos). e para o lince. abaixo (duas
dimensões: dependência direta da densida-
:: -2
de e um retardo de 1 ano). Em cada caso.
-3 portanto, a 1nclinaçào md,ca os parãmetros
-2
estimados. 1+ ~ 1 . P2 e U3 . respectivamente.
-4 refletindo a intensidade da dependência da
1.5 -1 --0.5 O 0,5 1 1.5 -1.5 -1 --0.5 O 0.5 1 1,5 densidade. Também são mostrados os inter-
X,_, X,-.. 2 valos de conf1ança de 95%. (contmua)

remes com as inclinações (ism é, os valores de~) da Figura l 4.1 Oa. Ourros escudos examinaram séries temporais precisamente, ,1
,.\ssim, os elememos que parecem decerminar J Jbundinci:1 de fim de entender como fatores dependenres e independenres
lebres e lince" foram primeiro concados (nt':s e dois, d.1 densidade se combinam para gerar padrões panicuLue.1, de
respecciv,1mente) e depois carJcterizados. O que cemo.1, aqui, por· abundância. Leirs e colaboradores (1997). por exemplo. cx,1-
unro, é um hibrido poderow de uma an~ilise escacíscica (séries rnin.1ram a din.imica do r.tro mulcimarnarn, /t.f,Htomp 11arir-
cemporais) de densidades e lH1lJ abordagem mecanística (incor- lewis, na Tanzânia. Usando uma parte de seus dados para con.,-
poraçJ.o das i meDçôes específius c.bs e.1ipécies em·olvid.1s ao co- cruir um modelo previsor (Figura 14.1 la), e uma segund:1 pane
nhecimento Je moddos maremáricos). para testar o êxito do modelo (Figura 14. l l b), eles consrau-
Finalmente, observe que os mérndos relacionados de rJm, na construção do modelo, que as ,·JriJ.ÇÕC<; de <;ohrc\ 1·
análise de séries temporais cêm sido U.'l,idos na procura do caos vência e maruração foram muito melhor explic.1d,1:,, utili?anllo
em siscemas ecológicos, conforme descri cu n.l Seçáo ) .8. ). As as densidades e a precipicaç,10 precedenre como previstHi.:<; llo
mmivaçôes nm doi.1, casos, n,nura!menre, s::i.o um pouco JLs- que pelo emprego de uma Jdas sep,uadamente. As proh.1bili·
rlmJs. Enrreranro. ,1 busc.t do caos ~- <le caro modo, um.1 d.ides de sobrevivC:ncia de suba<lulrns (F1gur-1 14. J \,._I 11.lo
renr;ui,·J. de: idencitic.1r popuLtçóes qu-:, J primeir:1 \"iq,1, p,1re- rnoscr.uam rendenci:1s c!ar.1.1, com ,1 Lhuv.1 ou a den'>id.Hic kr11-
Ervas Grêlrr:ineas Betula do pànlano Salgueiro c1nzen10 Saboe1ro Espruce bnnco Choupo balsàm1co Alamo
cern .'ier rudo. rneno.1, "reguL1d.11i". hor:1 ele<; rende<;<;em .1 ser m.11.<; .1!ws em densid-1des nui" _.Ji:\ .1 ·
d.1s), m,1s .1s raxas de marnr.tç.ío cresccr,1m de form.1 ,1u~mt1.1·
da com a chuv,t (e foram .is mais baixas em densiJa<le" ,Jc."\ -1- FIGURA 14.1 O (continuação) (o) Pr,nc1pa1s espêc1es e grupos de espécies na comunidade florestal boreal da América do Norte. cor.i as
interações troftcas (quem consome quem) indicadas por linhas hgando as espec1es. as interações que afetam o lince sào mostradas por 5etas
14.5.3 Combinando dependência e d.1<; seguintes .1.0,;; meses ümílios), e a sobrcvivênci.1 de ,1Julr1 ))
em negnto {c) A mesma comunidade. mas com as interações da lebre mostradas em negrito (seg1.,ndo Stenseth et ai., 1997)
independência da densidade foi consiscemememe m.1is h.iixa em densiJ..1J.es nuis ele\·;1J,h.
- clima e interações ecológicas Estimariv-1s <le padmecros demogdficos (sobrevi,·L·nL 1.1.
m.uuraçáo), a p,urir do modelo esracísrico, foram Jepor<; u~.1-
A busca do ex.1me minucioso das con- das p.tra consuuir um modelo de marriz do tipo de<;cr1w nJ .1<; aburd,tgens de dcm1da.de, mec:rnisric1 (precipir,1ção) e de- NJrura.lmence, nem codos os
cribuições relat1vJs da depenJ~ncia di- Seção 14.3.2. o qual foi milizaJo, por su.i vez, p.ar.1 pre\"::r mográfica ,e combina.m parJ proporcionar inúghrs na deter- et"eiros do clima são roralmenre esco- ~i JS') ·~···
rec:1 e d.a dq1endênci.a em .urJso d,1 abund,lncia no sc::gundo conjunto (sep:1rado) de dado, (Figt!- minação d.1 abundlncia de rato<;. Esse exemplo adverte que uma císticos no ~encido de ~erem imeir.t·
densidJde. conru<lo, poderia ser vis- ra l4. l l b), usando J precipitaç.fo e a densidade par:i. pre,·er compreens3o adequada dos p;1drões de abundância provavelmeme mente imprevisíveis. À parre das vari,1ções s.izonais óbvias. vi-
to como pré-julg.unenco dos determirunces de abund.íncia um mês J. frente. A correspondênci;i entre os v:1lores ob"er, .1- necessite iiKorporar os ereirns determinísticos e bióticos depen- mos, na Seção 2.4.1. por e"emplo. que exiscem muiros pa-
por enfocar dem,1.siad.1menre os processos dependentes da dos e previsms não foi perfcira, mas foi cerramente escimuLrn· dentes da dcnsid,1de, bt=m comn m d"eirns dimáricos (freqüence- drões climáticos oper.1.n<lo em grandes esc1las espaciais e com
den~idade, em oposição Jo.1, 1ndependemes d.1 densidade. te (Figura 14.1 ld). Portanto, podemos observ.u agur,1 crn1i.1 meme esrnd.-mcos) independeme J..1 densidade. ao menos um cerm grJ.u de reguLmdade cempur.11. em especial
11

428 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 14: ABUNOÂNCi. 429

queles que meramente variam com a densidade. Igualmente, (Dobson e Hudson, 1992; Hudson tt ai., 1998). Outros enfa-
(a) será imporcante tencar discinguir os farnres que afetam a den- tizaram um processo incrínseco, por meio do qual um aumen-
;idade (embora em uma populaçáo cíclica) daqueles que real- co de densidade leva a mais interações encre aves masculinas
mente impõem um padrão de ciclos (ver cambém Berryman, não-aparentadas e, portanto, a interaçóes mais agressivas. Isso
Sobrevivência de St;badultos
2002; Turchin, 2003). decermina, por sua ve:z, um espaçamento terricorill mais am-
0,75
plo e uma redução do recruramento, com um recardo. cal si-
ruação se mantém no ano seguinte (Watson e t...1oss, l 980;
20,25 14.6.1 Detectando ciclos Moss e Warson, 2001 ). Logo, os dois pontos de vista se ba-
seiam em uma dependência em recardo da densidade para ge-

L,5
-8
Maturação de subadultos
(d)
400
O carácer definidor de um ciclo ou oscilação populacional é a
regularidade: um pico (ou depressão) a cada x anos. (Nacural-
mente, x varia de caso a caso, e um cerco grau de variação ao
rar as dinâmicas cíclicas (ver Seçáo 10.2.2), embora estas sur-
jam de diferenres modos.
Já observamos, nas Seções 12.7.4
(b) -8 redor de x é inevirável; mesmo em um ''ciclo de 3 anos" é e 14.4.2, que mesmo os experimencos
-~
Ê :ã 0.25 l.'.'Sperado o intervalo ocasional de 2 ou 4 anos. Os mécodos em escala de campo não cêm sido capazes de decerminar com
.s 200
600
~ s o i:scarísricos aplicados a unu série remporal. para dererminar se cerceza o papel dos nematódeos. É bem provável que eles re-
i !
450
~ à: Sobrev,vênoa de adultos

."> 200 J Jlegaç.ío de "ciclicidade" pode ser jusriflc.í\·d, cm gerJl en- duzam a densidade, e os resulrados do experimenco reforçam
E
·~o 100 300
l 0,75 ~
vokem o tmprego de uma função de autocorreL1çJ.o (Roya- a idéia de quedes também geram os ciclos. Porém, os resul-
11i i n1J, 1992, Turchin e Hanski, 2001). Esta realça as correl.,ções tados rambem demonstram que os nemaródeos decerminam .1
~
à:
150
~ 0.25 corre pares de abundância separados por um imcrv,tlo de tem-
po, por dois intervalos de cempo, e assim sucessi\·amc-nce. (Fi-
amplitude dos ciclos, mas não os originam.
1- Em um oucro experimenco de
.,.,, .... Sol ,.. .... Sol 200 400 gur.1 l 4. l 2a). A correbçáo entre abundâncias separadas por campo, foram resrados aspecros da al-
1994 1995 1996 Observado :,:omenre um incervalo de cempo com freqüênci.1 pode ser alca cernariva "parentesco" ou "comporta-
Mês e ano
apenas porque uma abundância levou direramente .1 próxima. menco cecritorial" (Nlougeot et ai.,
Como conseqüência, uma correlação alcamente posiciva entre 2003). Em machos estabelecidos em áreas experimentais, fo-
FIGURA 14.11 (a) Dados de séries temporais para ratos muttimamatos (pontos) e prec1p1tação (barras) na Tanzãnia. usados para derivar um pares separados por quatro anos, por exemplo. indicaria um ram feicos implantes de cescoscerona no início do oucono, quan-
modelo estatist1co, a fim de prever a abundância desses animais. (O traço horizontal 1nd1ca a linha de corte entre densidades "elevadas~ e
"baixas".) (b) Dados de séries temporais subseqüentes utilizados para testar o modelo. (e) Estimativas(:! EP), a partir do modelo, dos efeitos cido regular com um período de quacro ar10s; ji uma posre- do ocorrem as disputas terriroriais. Isso aumentou sua agressi-
de densidade e chuva sobre o tamanho populacional. (d) Relação entre tamanhos populac1ona1s previstos e observados nos dados do rior correlação alramenre negativa entre pares separados por vidade (e, porcanro, o tamanho dos seus territórios) em densi-
teste (r2 = O, 49, P< 0,001); a linha de igualdade também é mostrada (segundo Le,rs et ai. 1997) dois anos indicaria um grau de simetria no ciclo: picos e de- dades. que normalmence não gerariam ral comporcamenco. No
pressões cipicamente separados por quatro anos; com picos final da oucono, em relação às áreas-controle, ficou claro que
riplcamente dois anos a partir das depressóes. o aumento da agressão dos machos mais velhos reduziu o re-
a fl Ni,ía-Souchem Osci//ario11 (ENSO) e a Norrh Arl,mric Os- para derect3r os efeitos dependentes da densidade que poden, Deve ser lembrado, no entanto, crutamento dos machos mais jovens: o tratamento com res-
ci//atio11 (NAO). Lima e colaboradores ( 1999) examinaram a exi5cir e inteorá-los com os efeitos independentes d.1 densidJ.- que não só o p:.1drão de urna função rosterona reduziu de forma significativa as densidades de ma-
dinâmica de uma outra espécie de roedor, o camundongo ore- de em uma ;;,álise geral de abundância. Além disso, os ciclos de aurocorrelação é importante, mas chos e parricularmenre reduziu a razão de machos jovens (re-
lha-de-folha, Phyllori, darwini, no Chile. Eles seguiram um regulares consrirutm um padrão com uma razão de "sinal" cambém sua significância escatíscica. Mesmo uma única e cla- centemente recrutados) em relação aos machos maduros,
caminho !iimilar ao de Leirs e seus colegJs, no senrido de com- para "ruído" relativamente alta (comparada, digamos, à flucu- ra elevação e queda em uma série cemporal re!Jtivamente cur- embora não houvesse efeim consistente sobre as densidades
hinar os efeicos da variabilidade de precipitJção governada pela açôes coralmenre erráticas) que podem parecer ser principal- ra pode insinuar um ciclo (Figura l4. l2b). Porém, esse prt- de fêmeas (Figura l 4. l 3a).
ENSO e a dependência em retardo d.1 densidade nJ responsa- menre ruído). UmJ vez que cada a análise de abundância Jráo reria Je ser repetido em uma série muito mais longa, Além disso, no ano seguinte, os machos jovens nâo re-
bilidade pelos padrões de abundáncia observados. prova\·elmence husque explicações p.ua o sinal e o ruido :1s ames que as aumcorrelações fossem significarivJ.s, e somente rornaram, embora os efeitos direcos da restoscerona {enham
perrurbaçôes e~rocásricas, obviamente é proveicoso saber com emão se poderia dizer que o ciclo foi i<lentifiudo k requer desaparecido (Figura l 4.13a). Também, por causa da explo-
basr:rnte cbrezJ o que é sinal e o que é ruído. explic.1ção). Não t'. surpresa que os nuiores Ínn'.stlmenrns em são dos jovens p,tremes, os níveis de parencesco foram prova-
14.5 Ciclos populacionais e suas análises As c:xp!tuções par:.1 os cidos ge- tempo e esforço são exigidos para escudar os e ido, em popula- vdmenre mais baixos em áreas experimentais do que em área~-
Ldmenre enLnlz.tm ou os farores ex- 1.róes namr,ii~. Mesmo onde rem havido inv~scímemo~. as sé- conrrole. Porc.rnco, J hipórese do parentesco pren:' que o 1e-
Os CH..los regulJres na abund.íncia aninul foram primeir.1meme rrlmc:u,c) ou os incrínseco~. Os primei- ric-s rempor.iis "c:cológicas" resultanres são nui~ Llirr.1s do que cruramenco e a densidade nas áreas experimencais reriJ.m per-
obsen·.idos nos regiscros de longo pralO de companh1.1S de ros, ,HUJndo c"Xternamence à popula- J((Uelas comumence geradas, digamos, nJ fisic1 - e mais cur- manecido mais baixos durante o ano seguime: isco é, parenre::,co
comércio de- pele e de guarda-caça. Os ciclo!) cêm sido tam- çáo. podem ser J!imemo, prtdadores ou p.irasitos. ou alguma tas do que aquelas provavelmente imagin:i.das pelos estacísci- mais baixo le\·a a mJ.is agress.1.o, que leva a cerritórios maiort.-s.
bém registrados para muitos escudos de ratos silvesues e le- fluruaç:lo penódic.1 no próprio amhiente. EHores intrínsecos cos que planejaram métodos para analisá-las. o~ ecólogos pre- que leva a recrutamemo m:iis baixo, que leva :1 demic.bdc mJi,;
mingue~ e em cercos Lepidopcera de floresr.is (1\:lp::rs, l lJ88). são mtH.l.111çJs nos fenótipo,; dos próprios org.inismos (que cisam sempre cer cautela em suas inrerprecaçlle\ baixa. Essas previsões foram confirmadas (Figur:i 14. l3h).

1
Esse assumo tem arraido os ecólogos ;\OS menos desde qut poJ~m. por ~u,1 vez, reíle[ir mudanç1s no genóripo): mudJn- Porcanm. esses resulc.idos demonstram, .10 menos, o po-
Elron dedicou Jtc:nçJ.o a des, em l ()24. Em parte, essa t1Sci- ç:is 111 agressi\·idade, na propc:nsJ.o a se dispersar, no rendi- tc:ncial dos processos inrrínsecos em rer efeitos I re(.1rdados)
n.1ç.lo i atribuivd à narureza admir:ível de um fenómeno que menco rcprodt.lCivo, ecc. A seguir. examinaremos esmdos sobre I 14.6.2 Galo-selvagem-vermelho dependences da densidade sobre o recruramenro e, assim, gc'-
tem grande necessidade Je uma explicaç.ío. Porém, exiscem ciclos popubc1onais em rrês sistemas, rodos já rraraJos Jntc"- 1 rar ciclos no galo selvagem. Em uma publicação nesse sencido,
umbim razões inteiramence cienríficas para rJl preocup.J.ção. riorm~me: o _galo-selvagem-vermelho (Seçã~ 14.~. 2), a leb~e A explicação para os ciclos na dinâmica do g.1lo-~e\~1gem-ver- Matehiopoulos e colaboradores (2003) demonstram como as m,1-
Primeiro, as populaçóes cíclicas, quase por ddinição, ocorrem (e o lince! \)tção 14.6.3) e os roedores mLcrorn1eos (Seç.10 melho (LagoptH l.izgopus scoticus), no Reino Unido. toi tema de danças em agres:.ividade podem causar ciclos populacionais. Como
em diferences C:::pocas em uma Jmpla ganlJ de densidades. Ebs 14.6.~ ). Em cada ciso, sed 1mporc.1me separar .1 causa do efei- concrovérsiJ. duranre décadas. Alguns aurores enfauzarJm um ~[ougeoc e colaboradores observim, concudo, é po~ln:l que". os !
oferecem, ponanco, bo.1s oporcunid.ides (poder escatísrico alto) rn: ic)w é. dis(inguir facores que modificam a densidade (.Li- facor excrínseco, o nemaródeo parasico Hic/1os:ro11gyluf temas parasicos e o cornpoH.1.menco rerricorial conrribuam para os ci-
l
1

_J
1
430 PARTE 2 - INTERACÓES CAPÍTULO 14: ABUNOÁNCIA 431

(a) População 1 População 2


_ Por outro !Jdo, ex~erimenros em que ou os predadores
Hospedeiro
foram excluídos ou eles foram excluído:,, e o alimenro foi um-
100
bém suplemencado tiveram efeiros muico m.1is dr.un;iticos No
:---="-..- 100
esrudo de Krebs e colaboradores ( 1995). re.1liza<lo em Kluane
(a)
:~\'- :~ :-:-=------~ Lake, Yukon, Canad,í (figura 14. J 5a), a combi11Jç:io dos dois
2.8
: ------."~: t---"'

~.
\ 1;\ -: . tratamentos e a predação incomparavelmenre d~sempenhararn

ª"
~
2.4
13 19 25 31 37 43 49
:: ·..__.
---..... \, : : '"'' 1
··,,,~
o papei principal na sobrevivênciJ.
Além disso, a suplemc:ntação alimentar reduziu levemenre
o
o declinio inicial na fecundidade anres dos picos de densid.1-
1.6 Parasito
"O
des (Figura 14. l 5 b), mas a combinação de suplement.tç.Io
,1liment.u e exclusão de predadores elevou a fecundidade a ni-
o veis quase máximos na f.1se de fecundidade m.1is baixa seguin-
u
a re ao pico de densidade. Infelizmente. n.ío foi possível medir a
o
0.4 í"ecundtdade em um tr,Hamemo em que a.penJs o alimento foi
<;uplementado - um c1xe111plo d.is frustrações que qt1J:,,e inn·i-
15 22 29 36 43 50 57 13 19 25 31 37 43 49 rJvdmemt .1eompanh.1m m gr.1mks ôf1crimenm, Je c.rnipo -,
100
Tempo (semanas) Número do retardo (semanas) 100 de modo quem c:feitos Je .dimento e pred.1dore~ náo pude-
(b) ram .')C:r de~membradm,. Seri.1 possí,·d. concudo. que um .1u-
,, inemo d.t freql.lênci.1 <le interação com predadores reduzis)e .1
_...
-.---,
I'
t'ecundidJde por meio de seus efeitos fl';iológicos sobre as le-
bres (reduçáo dJ energiJ ou aumenro dos níveis de hormônim
0.5 1i Vi ------
·, c1ssociados a.o escresse).

.
o

~ \
:.......1 1

~
!
J -
i J --- 10~======~~======~10
Ago Dez Ago Dez Ab, Ago Dez Age Dez Ab,
Assim, esses resuludos de expe-
rime[l{os de campo ohcidos com difi-

'--------------------
o 2000 2001 2002 2000 2001 2002 culdade e as análises de séries tempo-
u
--0.5
a Ano rais concordam, essencialmence, ao sugerirem que o ciclo dJ
o
~
2'---~-~-~-~-----<~-'---~--'- lebre resulrJ. de interações com seu alimenro e 5eus predado-
1980 82 84 86 88 90 92 94 96
(b)
~-=-= Área-controle ! res, sendo que os úlrimos possuem um papel preponder.11~tt .
Ano Retardo ...=: Área experimental j
( umbêm digno de nota que, ,10 menos duranre alguns perío-
! 2,0
População 1 População 2
dos, houve uma correLtçâo :t!ta <::nrre o ciclo da lebre e o ci:::lo
de l O anos d.i atividade dJ mancha solar, que afeta os padrões

FIGURA 14.12 (a) Osctlações con1untas na abundància da mariposa. Pfod,a interpunctella, e seu paras1tóide. Venruna canescens, (P e V
8_
o
1.5
fºf
e.
o
1,5 climáticos gerais (Sinclair e Gosline, l 997). Esse tipo de foror
extrínseco e abiórico foi inicialmence um forre candidarn a
respectivamente). e. a direita. uma análise da função de autocorrelaçâo (ACF. autocorrefation tunct,on) desses dados {hospedeiro acima.
parasitóide embaixo) As ltnhas inclrnadas mostram os níveis que as barras devem ultrapassar para haver s1gn1f1cância estatística (P < O.OSi
Os períodos do c1clo (~ são de 6 a 7 semanas. com correlações s1gnil1cat1vas em/, 21, etc., e correlações negativas significativas em O.SI. 1.51,
etc. (segundo Begon et ai.. 1996) (b) Séries temporais para a abundância do vespão Euura las,olep,s (à esquerda) e uma anâl!se ACF desses
i~
1.0 i
§
1,0
desempenhar um papel importante n.1 conduçáo de ciclos po-
pulacio1uis em geral (Elron, 1924). No entanto, subseqüen-
dados (à direita). Existe uma insinuação de um ciclo de oito anos (correlação positiva com um retardo de oito anos: correlação negativa com um
retardo de quatro anos). mas isso não configura uma significância estatist1ca (ultrapassando as hnhas) (segundo Turchin e Berryman 2000.
seguindo Hunter e Price. 1998)
] 0.5

i o.o~---~- 2001
1
~'---~
2002
.
~

~
0.5

o o'------~--~
2001 2002
remenre, ele recebeu pouco J.po10. Em primeiro lugar, muims
c.iclos popuhcionais s.io do perioJo indevido e sJo rambt'.m
vari.iveis no período (vn. por exemplo. o, roedores micrurí-
Ano Ano
neos, 11.1 próxima seção). Ern segundo lugar, os ciclos popub-
cimuis s,lo muius \·ezes nuis pronunci.1dos do que os ciclo'.'>
FIGURA 14.13 {a) Mudanças nas quantidades do galo selvagem (ma-
cln\ oh~en·;idm :\.1 n:rd;idc. m dois processos podc:m interagir: uma únicJ espêcie. O ciclo do lince, por ou[ro bdn. 1:.:,.·d.t extrínsecos proposros com(, 'it'US ··c..HJ\adores" Da mesnlJ. for-
chos [galos] ~azão galo jovem galo maduro. e fêmeas [galinhas]) em
o~ pJr,1.-,icm. por __,,ernplo, n:Juzcm o coniporc:1menro rt:rrirori.11 rea!menre ser gerado por su,1'.:l imerJçóes com J khre. areas-con!role ( ) e em areas experimentais com implante de testos- nu. mesmo quando é demon~rr.1d.1 urn,1 corrcLiç.ío. como .w
( fox t" Hudson. 2001 l. Cernrnt.·nte. n.í.o h_í gJrancia que um.1 dJ.\ fs:.o apóia outros result.1dos obtidos por mt'1os expn1111en- terona ( 1) em duas populações A barra cinza representa o periodo prc:,ente u~o. ÍS\O simplcrn1enre su,ct[J .1 que~rJ.o :e.obre o que
durante o qual os machos receoeram implantes. {b) O recrutamento per
cxplic:H,.óes altem.iri\·a, seJJ decl.tr.1d.1 '\·encedora". tais muito m.1is diretos. rt"visros por Krebs e colabora<lore~ (20U J 1. lig;i os dois c1dm: pre~um1\·drneme é o clima .uu.rndo sobrL
capita nas duas Populações foi mais alto nas âreas-controle do que nas
Os padrões demográficos que fundamemam o ciclo d.i lebre áreas expenmenta1s, em 2001 imediatamente após o tratamento e um .1lgum.1 comh111açJ.o do., f.uores ciue j:i coll.')iderJmos -- preJ.1-
SJo rebcivJmenre bem-definidos: a fecundiJade e J sohr·,:\·i- ano depois {segundo Mougeot et ai. 2003) dores. alimenro e cJr.1l.ferÍ.')ricas incrínsec.1s da própri.1 popu-
14.6.3 Lebres \'ência começam a declin.u bem antes ciue os pico.') de den.'.,td,1des lação -, embora nJo renha sido comprovada nenhuma b:1,;e
sejam alc.rnçado~. chegando am -;eus mínimos dois ou nni,; Jm1s niecanístil.a pJrJ tJl liga<)o
Os ciclos de" 1O :u1os · da. lc:hre e do linl.e também for.1m exa- após o começo do declínio da densidade (Figura 14.14). ral. ou a qualidade Jo ,1limento foi nunipubd.1 por ferrili- Clohalme[l{e, porc,1nro, o trabalho com lehre~ ilusu.1
minados em .\t'Çôes Jnceriores. Vimo), por exemplo, da análise Primeiramenre, podemos pt:r- z.1mes ou por :1b:1re de :irvores pJra disponibiliz.tr ramos dt como diferences mero<lo!ogí,ts podem ser reunidJs na pesqui~:1
Je séries cempor.lls de 5'tenseth e cobbor.1dores ( 1997) (ver gunrar: "Nesses padrões, que papel alu qu.1lidadc, todos apontaram na mesma direçáo. A su- pira explicar um padrão cíclico. Ele também fornece umJ .1J-
Seç.io l4.5.2), que, ,1pesar de tornar-se um exemplo de "livro- desempenhJ ·,1 inrerJção dJ lebre p!cmenraç.io :diment.u pode melhonr a condiçJo indivi- \'Lrtência basrJ.nce ponderaJ.1 das diftculd.1des logísticas e pr.í-
texro" de oscilaí/'les cnnjunras predador-presa, o ciclo da lebre com seu alimento?". Em uma série 1 dual e, em alguns c.1~os, levJ.r J. densidades mais altas, nus tts:Js - ,l coleu em séries rtmporais longas. o empreendimenro
1
mostra ser de faro gc:r:ido pelJs 1nrcr.1çót'.'.:l com seu alimenco e de experimencos de campo. em que foi acrescenrad1) .ili- o J!imenrn em si par<::ce não exerc<::r influênciJ discernívd de experimencos Je campo gr.111de~ - que necessium ser .1dml-
seus predadores ..tmbos considerados como guildas, em ...-ez de menco arrifici.1!, houve um suplemento de' al1menro 11.1ru- nu padrJo cíclico (Krel1\ a a!., 2001 ). riJ.1s e superadas, a fim de e~t.1belecer ui, explic1ções.
1

_J_ ____ _____J


43 2 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 14: ABUNDÂNCIA 433

comporcamenco suicida que cem sido cão gros:ieiramente exa- fenômenos, quando remam explicar o comporramenrn popu-
(•l (b) gerado (para dizer o mínimo) em nome da licenciosidade poé- lacional de roedores. Todos esses efeitos c!!m sido encontrados
20 1.0 cica de cineascas, condenando todos os lemingues à imerpre- ou reivindicados por ecólogos especialistas em roedores (p. ex.,
Sobrev1vénc1a
caçio popular errônea (Hentrnncn e Kaikusalo, 1993). Lidicker, 197; Krebs, 1978; Gaines et 111.. 1979; Chriscian.
'
~ 0.9 ·/ de adultos
Por muicas décadas, a mesma 1980). Porém. permanece uma questão em aberro: se algum
>•
;i 0,8 gama de famres extrínsecos e intrínse- deles desempenha um papel crítico na explicJção do compor-
.gg cos. proposta para explicar os ciclos de tamento de populações de roedores na nacurez.1.
~ 8_ 0.7 microcíneos, cem sido dirigida a ciclos Em primeiro lugar, vimos, nas
0,6 populacionais em geral. Dada a variedade de espécies e hábi- Seções 6.6 e 6.7, as complexidades, cm
cacs. calvez seja improvável neste caso a existência de uma úni- roedores, das relações entre densidade,
1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 C3 explicação que abranja todos os ciclos. 10davia, existem dispersão, parencesco e, por fim, a so-
Ano Ano algumas caracceríscicas dos ciclos que apresentam uma expli- brevivência e o sucesso reprodutivo. Além disso, todo esse tra-
cJçáo ou um conjunco de explicações. Primeiro, peb simples balho cc:m .sido realizado com espécies que exibem ciclos. Por-
FIGURA 14.14 {a) Variação do esforço reprodutivo por ano (pontos) à medida que a densidade (hnha contínua) muda dur~nte um ciclo da lebre, observação, percebe-se que algumas populações são cíclicas, e canco, existe pouco suporce para quaisquer regras universais,
em Alberta central, Canadâ. (b) Variação da sobrevivência durante dois ciclos da lebre. em Kluane Lake, Yukon. Canada. Muito poucas lebres outra.s, não. Além disso, existem caos (especiJ!mence nJ Fe- mas parece haver tendências de a mJ.ior parce da dispersão ser
foram capturadas para estimar a sobrevivência entre 1985 e 1987 (segundo Krebs et af.. 2001; [a] seguindo Cary e Keith. 1979)
nosc:índi.1) onde v.iri.1s espécies coexistem, mui[.ts ve2e~ apa- natal (logo após o nascimento). de os machos se dispersarem
rentemente com ecologias bem discinr.1s. roda) com ciclos mais do que as fêmeas, de a dispersão efeciva (acomecimenco,
sincronizados. Às vezes, há tendênciJs cl.1 ras no período em vez de uma simples expectativa de deslocamemo) ser mais
14.6.4 Roedores microtíneos: lemingues e ratos JJ fenosclndiJ; lemingues (Lemmw spp. e Dicrosto11yx spp.),
dos ciclos, principalmente com a lacicude cre:-.cenre (sul para provável em densidades mais baixas e de o ajuste ser maior
silvestres 11.t mndra dJ América do Norte, Groenlãndi.1 e Sibéria; rJtos
narre) na Fenoscândia (ver Seção 14.5.1). onde foi procu- quanto maior o parentesco dos vizinhos. Isso cem levado al-
sih·e)cre~ \C!ethrion011~ys rufocanw), em Hokkaido, Japão se-
rada mais intensivamente uma explicação, mas também em guns autores a manifestarem que o "júri ainda escá for,1 de épo-
Não há dúvida que mais esforços têm tencrional. racos silvestres comuns (Alicrotw arva/is). nJ Euru-
Hokkaido, Japão, onde o comporumenco cíclico aumenta ca" (Krcbs, 2003), mas oucros simplesmente duvidam de qual-
sido dedicados ao estudo de ciclos PJ CentrdL e ratos silvestres de campo (i\,Jicrotus agrtstú). n.i.
muirn de sudoesce para nordesce (S,enserh a ai .. 1996). e quer papel desses processos na regulaçáo de populações de roe-
populacionais de roedores micrmíne- IngbterrJ secencrional. Por outro lado, existem muiras outras
na Europa Central, onde ele aumenta de norre par, sul (Tka- dores. em especial diante da freqüente dependênci,1 inversa dJ.
os (racos silvestre e lemingues) do que populações de microtíneos que náo evidenciam ciclos mulria-
dlec e Sccnseth, 200 l). densidade (Wolff, 2003). Cerramemc. enquamo as variações
de qualquer ou,ro grupo de espécies. Os períodos dos ciclos nu.tis, incluindo ratos silvestres na Fenosc.india meridional,
Uma perspectiva adequJda como entre indivíduos podem estar associadas a diferences fases do
são lipicamente de 3 ou 4 anos, ou. muico mais raramence, de nJ Inglaterra meridional. em qualquer lugar da Europa.: em
ponco de parcida é reconhecer, como ciclo, não significa dizer que elas escão goveruando os ciclos. Se
1 ou 5 anos ou mesmo mais longos. Essas dinâmicas cíclicas mu"º' locm da América do Norce (Turchin e Hanski. 2001 ).
já vimos, que os ciclo~ dos roedores os indivíduos se dispersam mais em determinadas fases do ci-
têm sido identificadas convincentemente em uma gama de É importante enfatizar também que um padr..ío completamente
são o resulcado de um processo de "se- clo, digamos, ou se são maiores, é provável que isso seja um.1
comunidades. incluindo: ratos silvescres (Microtm spp. e C/e- diferente de irregulares e espetaculares irrupçõ~s de abundán-
gunda ordem" (Bj0rnstad et ai.. 1995; Turchin e Hanski. 200 l) resposta a um nível presente ou passado de alimenco ou de dis-
thrionomy, spp.). na Fcnoscândia (Finlândia. Noruega e Sué- ci::1 e moYimenro de massa é mosuado por apenas poucas po-
(ver Seção 14.5.1); isw é, eles refletem os efeiros combinados ponibilidade de espaço, à pressão depredação ou à intensidade
cia); lemingues (Lemmus Íemmw), em hábüats montanhosos pul.tçóes de lemingues, em especial na Lapônia finlandesa. É esse
de um processo com dependência direta da densidJde e de um de infecção. Isco é, as variações inrrínsecas explicam com mais
processo com dependência em recardo d.i densidade. Isso ime- probabilidade a natureza deralhada das resposcas, e os famres ex-
diacamente nos alerta. para. o fato que, ao menos e111 princípio, trínsecos são mais prováveis para explicar as causas das resposras.
os processos direto e em rerardo nJo precisam ser os mesmos No encanto, ao menos em um
(•) (b)
em cadJ. população cíclica: o imporrante é que os dois proces- caso, foi proposta uma causa inuínse-
D Controles sos amem em conjunto. ca para a dependência em recardo da densidade. lnchausri e
i Alimento Iniciamos com as ceonas "intrlnseCJ)". Não é surpreen- Ginzburg ( l 998) construíram um modelo com um ·'ettirn

. i '"[
g 1.00

. - --~----,,..,__ ~ Cercado + alimento dt:nre que rJtoS silvesrres e lemingue\. cap,iz.:::s de .1lcJnçar ca- materno;,;-, em que as mães transmitem fenocipicamente ,ua
8_ 0.95 ""_-.::-_::-;;.--.:::'"' o'.l 18

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x.1-" de crescimento populacional com um potenc1JI extrenu- condição corporal :is suas filhas, ou da primavera .10 ourono,

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3 3 .~ menre alro. possam experimentar período-" de .'>nhre-a.densa-
rnento. Timpouco seri.1 surpreendente se o sobre-.,den . . amen-
ou do oucono à primavera. e isso, por sua \·ez, determina sua
r.na de crescimenco per capit11. As.:.im. nesse caso. a qu:1lidade
J; 0,80
~
~ s._ 12 I rn depois pro<lulisse muda.nças fis1olclgic.1::; e -:omporramen- intrínseca de um indivlduo é na verdade uma re~post.l a uma
J ,ar,I i 1 LJÍs. A .1gre,;Slo múrua (e me:imo a luta) podt: rnrndf-se mais demidJde passada e, porcanro, à. disponibilidade de recursos
..
~ 0,75
-
1

lL
1

:~
comum e ter conseqUênci:h na fisiolog1J dus I ndiv!duo~, espe- passada, sendo responsável pela dependência em retardo da

~
0,70
...." 1
cialmente no equilibrio hormon;il. Sob circun:it.incias dife- densidade. Além disso, quando lnchausci e Ginzburg. enfo-
0,65
remes, os indivíduos podem crescer mais ou .1maJurecer mais c.rndo a Fenoscândia, ali menearam seu modelo com o 1..-{Ue acre-
o 89 91 93 94 95
89 90 91 92 93 94 95 96 1988 90 92 tarde. Pode haver aumento de pressão pJra llll.:' alguns 1ndi\·í- ditavam ser valores razoáveis de ca.u de crc:sc1mento popub-
Ano Ano duos defendam seus territórios e parJ que oucro, escdpem. cion,ll e o efeiro materno, J.mbos decrescendo com a Lmmde.
Indivíduos .1parencados e n3o-aparencados se comportam di- foram capazes de recriar ciclos com períodos variáveis de .1 a 5
FIGURA 14.15 {a) Sobrevivência de lebres monitoradas (com mtervalos de confiança de 90º'o) durante um ciclo de 1988 a 1996. em Kluane ferencemence entre si quando escio adensados Podem ser ge- anos (Figura 14.16). Turchin e Hanski (2001) cricicarJm as e,ri-
Lake. Yukon, Canadá. As barras representam as densidades: as hnhas mostr3m a sobrevivência nos controles(•) com exclusão dos predado· radas poderosas forças locais de seleção narnraL que favore· ma.civas dos parâmetros (em especial as d::1s caxas de crescimento)
res mamíferos e.:.) e com ex.clusão de predadores mamíferos e suplemer.tação ahmentar (.:..) (b) Rendimento reprodutivo (hnha contínua) e afirmaram que o modelo do efeiro materno de fator previa ci-
cem alguns genótipos (p. ex., agressores ou .:"s.::ipistJ.s). Exis-
durante um ciclo de lebres de 1988 a 1995, em Kluane Lake Foi possi';e! comparar valores-controle com aqueles dos tratamentos de suple·
mentação alimentar em 1989 e 1990 e com aqueles em que houve supleme'.ltação alimentar e exclusão dos predadores mamíferos em 1991 rem respostas que:: reconhecemo . . facilmenrc: '-·rn ~ocieda.des ..:los de dois anos, divergentes daqueles obsnvados. Ergnn e l'.ola-
e 1992 (segundo Krebs et ai.. 2001; (a) seguindo Krebs el ai., 1995). human.1s .1densadas, e os ecólogos rêm prncuLhÍu os mesmos horadores (2001) verificaram com raros silvesrres do c.1mpo.

1
434 PARTE 2 - INTERAÇÓES CAPÍTULO 14: A8UNDÀNOA 435

que recentes avanços técnicos cornaram seu esrudo um.1 pos- dos por Hanski et ai., 2001), apresenta as seguinres caraccerís- predadores generalistas fornecem, pois. uma foll(e adi(ion2.I
{a) sibilidade séria. Permanece a ser verificado que papd, se ti.:as-chave: (i) crescimento populacional logístico da presa de dependência direta de densidade que pode v,triar para si-
e
~
o Jlgum, eles desempenham.) Já começamos o exame dt: pre- (microtíneo), para reflecir os efeirns da escassez de alimento mular seu conhecido declí1110 em abundlncia com a latiru<le.
e
dadores nas Seções 10.4.4 e 14.5.1. Su.1 imporrónci.1 nos direumente dependentes da densidade sobre os microtíneos, Quando o modelo é transfor-
~
-1l
:t' ciclos de microcíneos, expn:ssa como a "hipótese da pr,·da-
çáo por t•,peciaÍisftl", recebeu consider.ivel apoio desde a dC:-
impedindo o crescimenro demJsiado de suas populações an-
tes da "caprur;,°' por predadores especialistas; (ii) predadores
mado em parâmetro com dados de
campo d~1 Fenoscindia, ele pode re-

i
2 -
cada de 1990, a parcir de umJ série de modelos man:mári- especialistas (doninhas) com uma ta..xa de crescimento popu- criar um número impressionante de caracrc:rísric:1s <l.i di-
cos e experimentos de campo. em especial de pesquisado- lacional que declina à medida que aumenta a razã.o de preda- nâmica observada. Os cidos são aumentos d;1 amplitude e
~ re) que ~e dedicaram aos ciclos na Fenoscândia. A hipórese, dores especialistas em relação às presas; {iii) diferença~ sazo- período corretos, e tanto o período quanto a amplitude Jo
75 80 85 90 95 100
formulada em [ermos simplc"s, propõe que os predadores nJi~ na reprodução de ratos silvesrres e doninhas no verão e ciclo aumentam com a larirude à medida que a densi<l.tde
{b) especialistJS são responsáveis pela depend~ncia em rerJrdo no inverno; e (iv) predadores generalisras-generalistas, mamí- de predadores generali:stas decresce, conforme observado
~
e da densidade, e os predadores generalistas, cuj.a irnporrân- feros que mudJm de lugar ou aves especiJ!isras com amplo nJ. natureZJ (Figura 14.18). Um modelo reL1cionado p,ua o
o de<docamenco (nômades) que arnJm de uma maneirJ direta-
e cia varia com a latitude, constiruc:m a fonte princip.d de lemingue-de-colar, Dicroston_yx groenlandJCus, predado por

.
~ dependéncia direta da densidade . mente dependenre da densidade mediJnre resposra imediata um predador especialista (o .uminho, ,\,lustela erminea) e

!"' J
u Os experimentos inii.:iais de is mud.rnc;as n.1 densid.1de de microtíneos. Observe, pomrn- crês gener.ili,ras (Gilg er ,d., 2003), foi rambém capdz de
rn
(.1mpo em que o~ pre<lJ.Jore.'I for.lm w. que: o mm.Ido inclui dois Jo~ nui-" ncuJ,1Jo-" Lnurn ex- recriar ciclm ob:sen·JJo::- 11,1 Groc:nl.indiJ uma va u.1nst(ir-
removidos {ru Feno,c.ind!,t e em rrín::-~cos: prnfadores e alimenro. O .dimenro fornece .l b,1se nudo cm p.tr:imerro com d.tdo.'> de campo.
-2 -
outros lugares), embora tipicamenre lev~ssem ,l ;H1111e1Hos da dc:pendênciJ direta da densidJde; os pred.1dores especialis- Por ourro lado, nem rodos os esrndos rem-se ajustado i1,
75 80 85 90 95 100 de 2 J 3 vezes na densidade de raws silvesrres. for.tm .1.u1ei- rJ~ proporcion,1m a dependênci.1 cm rer.udo JJ densidade. Os previsões do modelo ele predJçáo por especialisra:i. Lambin e
(e)
ros a diferentes críticas no seu delineamento experimentJI: cobborJdores (2000) descreverJm ciclm regulares de rarns sil-
eles eram de curta duração, ou de pequena escala, ou des vesrres do campo em floresu de Kielder, l~glacerra setenrrio-
s ctfetaram em demasia, ou muiro pouco, as espêcies de pre- nal (55ºN). com um período de 3 a 4 anos e uma diferença de

i dJdores, e eles muiras vezes envolveram o erguimento Je aproxin1.1damenre l O vezes entre densidJ.des de pico e densi-

J
(a)

-1l cercas proreroras que provavelmente .1fetaram ~s movimen- 800 dades de depressão {uma difúença de I em uma escala logJ-
rn
tos <las presas (ratos selvagens) (Hanski et ,i/., 2001 ). hp,·- rítmica, como na Figura 14.18). No entanrn, pJ.rametrÍZJndn
i]? -1 - rimenros conclusivos sâo uma necessidade, mJs isso não o.; rn 600 o modelo Je predação por especialistas com J imensidade es-
.à -2 roma mais fáceis! Além disso, experimentos mais recentes "'oo. rin1Jda de predaçJ.o por generalistas, nessce local não J13veri,1
"' 75 80 85 90 95 100 originam alguns dos mesmos erros. No oesrt: da Finlândia.
rn
·g 400
previsdo de ciclos - como h.tveria com a larirnde. Além disso,
Tempo (anos) Klemola e colaboradores (2000) excluirJm rodos os pred.1- ~ 200
um programa rigoroso de reduçáo do número de doninhJs;
dores de quatro áre:1s cercadas de l ha, durante dois ano"i. .à (isto é, predadores especialisras) cm grades n,lo-cercadas den-
FIGURA 14.16 Comportamento do modelo do efeito materno de ln· As populações de raros silvesrres nos cercados aumentJr.1m "' rro do local (de aproximadamente 60C}o em comparação com
chaust1 e G1nzburg ( 1998) com valores divergentes da taxa reproduti- mais do que 20 vezes em abund.incia, comparadas com -.is locais-controle) aumentou .1 sobrevivêncid de raros silvestres
va anual máxima. R. e do efeito matemo, M. por meio do qual a qua- grades-controle, até que as cJrências de alirnenrn CJ.U\JS- J S N J M M J S N J M M adulros em cerca de 25°/o, m,1s nJo ceve impacto J.preciável ru
lidade de filhas em uma estação é afetada pela quahdade das mães 1996 1997 1998
na estação anterror (outono ou primavera) As simulações partem de sem a rl.:'.dução (Figura I4. I 7a). Porém, os efeitos de espe- dinâmica cíclica (Graham e l.ambin. 2002).
Ano
75 ~anos~ para a1us1ar a um padrão regular. (a) R = 7,3. M = 15. (b) R = cialistas e generalist-.is estiveram inevitavelmente comhina- Lambin e seus colaborados concluíram desses esrudm
(b)
4,4; M= 10 (e) R= 3 5; M= 5 (segundo lnchaush e G,nzburg. 1998). dos em ral delineamento; e, ao mesmo rempo que rernl- que os predJdores generalisus não podem, afinal, ser respon-
t.l<los como esses indicam um papel imporcame dos pred.1- Ano sávei~ pelo gradiente no comprimento do ciclo \·erificado 1u
dores na sobrevivênci.1 e na abundància de r.uos silvestre,, Ft:nosd.ndiJ; e que os ciclos do.\ ratos silvt:stres náo preci:iJm
A1io-otw agreuts. de popul.içôe'.:. LÍcllCJ'>, que, ao transferi-los eles não podem provar um papel na c1u~a (de maneira O~)O:i- ser o n:sulc.1do do impacto JJ predação por cspecialisr1s (isro
encre loc.lÍs contr.1sumcs, eles aJquinram rapidamence carJc- ra, d1g.11110s. na .1mpl1ficaçJo) dos ciclos dos 1,uos sel\'J- é, a doninhJ) (uma \"CZ que ele, parecem n.io esrar em Kiel-
rerísricas m:us Jpropri:id,ls às sua::. nov.ü do que Js SUJS n:lh.1s gen"i. Korpimaki e colaboradores ( 2002) trab:1[har.1111 IH ~- derl. Lembre-se, cJmbém, que ü'i result:1dos JJ.s .11úlises e J.l)
populações - e cen.rn1emc n,lo ,H.-JUt:b:-. de suas nües. TodJv1J, mesma área, rnJ.s us.1r.1m qu.Hro áre:1:i rüo-cercad.i,. 111L1tto ~éries rernporai~ (va SeçJn 14. 1.1} e os esrndn:i d.1 remoç:"iu de
os resulr.1dm de lnchJ.uso e Gi11?burg, em comparaçáo com a maiores (2.5 a ..3 km~), por crês Jnos:. Eles redu1.iram a ahun- --~*-- predadores n,1 Fenos(:rndiJ :i.ío coc'."renres com J hipóce-'>e' Jc
hipótese dJ predaç:i.o pur espeu.disras (ver Seç:ío 14.5. l e a <lânc1.1 de pred.1dores duranre o \·erJo, mas ná.o no inverno· predaçáo por especialistas, m.1, nâo a comprov:.1111. Em
AJAODFAJAOOFAJAO
-'>eguir), enf.uizam corno o me-'>mo padr:lo (aqui, o graJieme musrelídeos. por meio de .unudilhas., e aves pre<ladur,1s. 1997 1998 1999 comp.uctc;.io, a resposca J. esses resultados de p:1rridirios J,1
LnirudinJ!) pode ser akançJdo por meios compleramence di- por meio da remoçio natur,1! e arrificial de locais de nidifi- Ano hipótese de pred;.1çJo por especialistas (p. ex .. KorpinJki a
feremes. Eles rambérn mostram que J.S teorias inrrínsecas per- caçáo. A redução dos pred.1dores quJ.druplicou .1 dc"nsi(L1de ai.. 200.3) enfariu que os ciclos de Kie!der silo diferentes
rnJ.necem ··c"rn ariv1d.1Je", na busca contínua de uma c'."xplicJ- de ucos silvestres no primeiro (baixo) :mo; .1cderou urn1 FIGURA 14.17 (a) Abundâncias médias de ratos silvestres(± EPJ em d,1queles na Fenoscin<lia setenrrional (.1mplirude nuis bai-
çJo panos oclos do, microtínco-'>. duplilaçio na densidJ<le no 'iegundo ano; e duplicou a Jcn- quatro grades pequenas com exclusão de predadores (•J e quatro XJ em Kidder, densidades mJi.\ :i.ltas nas deprl'S'>Õt:s. menos

Rerorn.u1do aos fatores extrín- grades-controle ( =), no oeste da Finlândia (segundo Klemola et ai
si d ade de outono no rerceiru (pico) .mo ( F igura l 4 .17 b 1 1 2000) (b) Densidade de ratos silvestres (r.umero media de 1nd1v1duos sincronia espacial e apenas um.1 espêcie de r,Hu silvesrre en-
:Jr·.JC?.·~10 ~J- secos, exisrem dois candidatos prin- Porem, nov.1menre especialistas e generaliscb nJo for HTI capturados :: EP em abnl 1unho agosto e outubro) provenientes de voh·ida). Ou seja, eles susrerHam que os rcsulc.1dos em Ki-
9;J~; ~- .:;(3.:; cipais: predadore, e :tlimc:nco. (Pa- dis(rnguidos e O padrJo temporal de .1bund,i.ncia mante\ e- quatro locais grandes com redução de predadores (e) e quatro lo elder podem nos di7.er pouco ou n;ida sobre ciclos nJ Fe-
usiros e parógeno,; despauram o in-
teresse de Elcon tmediJCJ.menre .1pós seu :.1.rrigo origin1l. de:
se essenc1.1l menre tn drerado
O modelo de pred1cao por espec1altscas, aperk1ço tdo
1::rr:~n!~!e~(e) d~~n~:s~evi:ã: :
1
!~d~:n:.::1ii~~
1
~a~!r:J:i~~=:
tenderam a igualar se aos n1ve1s do controle durante o inverno (se
nosdndi.L Embora possJrnos nos empenhar p,1ra impedir
isto. mesmo os esmdos precisos s:ío muiu-" vezes aberros a
1924, nus des foLun depois ampl-.imentc" ignorJ.dos, até com ex1to em uma :serie Je escudos (o-'> refinamentos são tílc..l- gundo Korp1mak1 et ai 2002) inrerpretdçóes .d(ern:Hi\".1.'>.
436 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 14: ABUNDÁNCIA 437

proporcionar a dependência em retardo da densidade, neces- vamos em exemplos particulares por que uma c:.pécic: é rara ou
(1) (b) sária para gerar ciclos de "segunda ordem" na abundância de por que uma outra varia em abundância Je local para lrn.:al.
G:O ACF ACF microtíneos. Porém, se as dinâmicas forem de um "rebrota- Porém, não devemos esperar que a resposta seja a mesma para

~
2,5
!, §
2,5

l__tl
menm" (ism é, uma resposta inicial rápida, desacderando até mdas as espécies - principalmente quando iniciamos um novo

:~
2.0 2,0
ser alcançada uma abundância de sacuraçáo), encJ.o coda a de- escudo de uma espécie que demanda nossa acenção, raiva pda
~ ~:~
g' 1,5 __tl___
- 1,0 O pendência da densidade ser:í direta em vez de em retardo. Nesse su.1 abundância excessiva (uma praga) ou pela diminuiç.io Ja
0,5
o
o 10 15 20 -1
0.5
o
o 10
v'
15 20 -1 ~ caso, a interação microcíneo-alimenro pode desempenhar uma
pane integral nas dinâmicas cíclicas (como acontece, por
abundância (um alvo para conservação). Enrreramo, é crucial
que renhamos uma idéia clara de quais são as resposca.\ possí-
exemplo, na hipótese da predação por especialistas), mas ela veis e como podemos obter tais respostas. O objecivo desce

L
"' 2,5 n.ío pode ser a força motriz de segunda ordem. Decisivamen- capítulo foi examinar essas possibilidades e a maneira de dis-

:~
~ 2,0 te. as plantas consumidas por raros silvestres parecem exibir tingui-las. No próximo capítulo, voltaremos a alguns do'.'. exem-
gt 1,5
urna rápida dinâmica de rebrotamenm deYido à grande pro- plos prementes de populações, cuja abundância necessita.mos
- 1.0
0,5 . porção de partes não-consumidas, muitas das quais se encon- compreender, a fim de aplicar alguma medida de concrole - se-

tl~ .~
o -1
tram encerrad~.:;. Em comparação. os musgos são por narure1.J jam pragas ou recursos naturais que desejamos explorar.
O 5 10 15 20
rmalmente disponÍ\·eis aos seus consunudores e. uma \"t'Z de-
\'J.')tJdo~ pdm lemingue~, e~te.'l muiu'.', \·ae.'l t'.',CJ\"J.111 o )olo J.
2.5 25

1~~
~ procura de rizom:.is e igualmerm: os destroem. [\Humo, ave-

:~
2.0 ~ 2.0
· Ruotsala
g 1.5 . · - _; 1 ' getação onde vivem os lemingues prov,wdmenre exibe din.i-
9 ::~ - 1.0 o,.J·~., ..i'!·,~ mica logística: rápida someme após um começo lemo. Reunimos tópicos de capítulos .rnceriores, bu,;c.1ndo explic.u
0,5 0.5 . ,
o ' ' ' ' Com base nisso, Turchin e Baczli rorn.1r.1m parâmetro variações em abundjncia.
o
O S ,o 15 20 -1 O 5 10 15 20 -1 um modelo para microtíneos e um suprimento alimentJr com Os ecólogos podem enfatizar a esCJ.bilidade ou a.'l flutuJ-
crescimento logístico, usando os &idos disponi\ei'.'. p.na o le- ções. Para esclarecer essas perspectivas contrastantes, é neces-

L
Zvemgorod
2.5 2.5 mlngue marrom (Lemmw sibiricw) e sua \"eger.,çJ.o em Bar- sário distinguir claramente emre famres que detern11nam e
~ ~ 2.0

·~
2.0 ro\\·, Alasca (Baczli, 1993). Os resulrJdos foum .rnimadores, aqueles que regulam a abundância. Assim procedendo. re\·isa-
oi 1,5 o, 1,5 l i ·, '
.9 1 O
o j - ..
.Q
1,0 º·~·]~
1 ~
.,j·-·.'I
embora sem ser representações perfeic.1s dos p,1Jrôe'.'. ob:>erva- mos conflicos históricos entre os pontos de vista de Nicholson
a:~ -1
:lj . '
0.5
oo -1
dos: as amplicudes dos ciclos for.1.m demasi.1do b.1ixas (400,
em ,·ez de 600 vezes) e long.1s (seis, em \"t'"l. de qu.1tro .1nos).
e Andrewarcha e Birch. Oescre\·emos, então, em linh.1s gerais,
as abordagens demográficas mecanística e de densid.1de para él
O 5 10 15 20 10 15 20
Por outro lado, a incertev e, em alguns casos. o desconheci- investigJçáo de abundância.
Wytham Wood
2J mento cerc..uam vários dos padmetros ohsen·.1dos. Será Inici.rndo com a abord.1gem demogd.fica, explicamos a

·~
o1 >
. l -
1 •
~ 20~
~ :~
0,5
-- :~
necessário um cuidadoso trabalho de ca.mpo, -:speci.1lmenre
para obter escima.rivas de p.irâmetros de inverno sob a neve,
para determinar se cal critica é jmtificad.1 pel.1 \·çr.1s.::íd,1de sobre
J. biologia de lemingues.
análise do fator-chave, seus usm, mas t.1mbém suas deficiên-
cias. Por conseqüência. explicamos também a an:íli,;e da con-
tribuição da)~, que \Upera alguns dos problemas com .1 .rnilise
do famr-chave, e, ao desenvolver essa explic.1ção, descrevemos
o
-1 o 5 10 15 20 -1
Os ciclos de microtíneos têm sido e,cudJ.dos por mais e aplicamos a análise da elascicídade.
Retardo Tempo (aros) Retardo
ti.:mpo e com maior imensid.ide do que quaisquer outf3.s espé~ A abordagem mecaníscica. relaciona. o nível ou pre~ença
cie-s e têm gerado mais cearias para explicí-los e nuis di,·er- de um fator (quancidade de :.1\imenm. presença de pred,1do-
FIGURA 14.18 {a) Dados amostrados gerados pelo modelo depredação por especialistas e as funções de autocorrelação associadas (ACFs). gências encre defensores em debac<::. No momento di.: escre,·er, res) com a própria abundância ou ,l UXJ de crescimento po-
para diferentes valores de abundãnc1a de predadores generalistas. G. À medida que G aumenta. aumenta o periodo do ciclo e dim1nu1 a
amphtude do ciclo: em valores suficientemente altos. as dinâmicas são suflc+entemente altas para que os ciclos desapareçam por completo. (b) parece ter-se chegado próximo .1 um comemo de q11c ê nece~- pul.lcional. ls'io pode simplesmeme uatar-se de correl.1çúes, m.i..-.
Sénes temporais comparáveis de cinco locais de observações de campo K1lp1s1arvr (69ºN período = 5), Sotkamo (649 N; período = 4), Ruotsata s.ir1a uma conjunçio de dependênci.i o..lire[J e renrdo d,1 den- pode, alrern.1ti,·Jmenre, envolver .1 perrurhaç:iu experimenra.l dc
(63~N: período= 3), Zvenigorod (57'1N. período= 3) e Wytham Wood (51~ N. penod1c1dade nâo-s1grnhcativa) (segundo Turchin e Hanski. 1997) ,;\<lade par.1 explicar os pJdrões observados: e m.us .1po10 ~ ...:on- popul.1çõe,;. Verific.tmos que a inrmJuç:'io de um agcnre <lt: con-
quíscado J conrrovérsiJ de que os prc-J.Hfore~ ...,,,pt>LÍ.1l1st.1s for- rrnlc biológico é um exe111plo p.1rricul.u Jess.1 .1bord.1~em
nçcem :1 dependênci.1 em 1eurdo <l.i dcn,,iLbde. r.._' -1 e'>c.t.,,ez de ..\s corro::Ll<;Cie" com densidade 1üo esr.í.o Juso::nr~~ crn
Rcrorn.rnJo t'inalmence J.o p.1pd nJ.o rcin .1um,:mado a .1bund.incia <lesses anim.1i:- (embor,1 c:,- ,tlimenm e p1eda<lores gener.1!1stJS e~uhdece111 .1 Jq)endência oucr.t'.'. aborJ.1gen~. m.ts :1 .1bord:1gem d.1 de11:.iJ.1de t.:'.:1~(11_,1 .1s
do alimento, unw a, oh'iervações de perimencos tt.:'.nhJrn sidu frustrados pelo "efeirn da despensa··. <liretJ da densidade. No t:IH.rnto. md.t) .is "condu,õe, cientí- dependC:ncia) dJ dens1d.1<le em <;j mernl.l Explicamo, uHno
campo como os experimenros sugerem por meio do qual os predadores s.ío auaídos por a!tJS densiJ.1- ficas" são pro,·isóri,1s. e J.-.. mod::is mudJm em nt'."111..1.1 como em as :in.ilises de série~ tempora.is buscJm d1"\~ec.tr a.s dq1L'11<..ién-
que seria imprudente admitir que as me!>mas forças atuam sobre des de r.1tos silvestres, contnriando os efeicos da suplemcnu- tudo. Resta saber t1uJo cons1srences e univers.1:, compro\"Jm cus d.1 densidade. em especial JS forças 1d:.iti\·.1<; de Jepc.:nd~n-
r.Ho'> sdvagens e lemingues (Turchin e Bar1.li, 2001). Em pri- çio). Os lemingues, por-0urro lado, nos picos d.is densid.u.ks. ser as expl1c.1i;ões acu.tis. ci,i. direta e em rerardo d.t demid.1Je. qu.rnJo a. abund,in(la
mt'1ro lugar, os rams silvesues úpicamenre consomem umJ remo\"-:m m;:m do que 50°/o e, J., vezes, encre 90 a 100~-o da Em uma .tbonL1gcm ~er.11. ini- cm um d.ido tempo é exprc:ssa como reílexu de :thun . . i:i.n,·i:1s
gama de pl.rntas VJ..'icub.res, incluindo graminóides (gramíne- vegeta<-;..iu disponível. ciamos este opírulo u)m unu 'iáie de cm cempos diferenres no pass.1do ("°recirdos 110 ci.:mpo"J. i\!(1-.-
as e ciperáceas), e os lemingues se alimentam de uma misrnra Alim dis'.'.o. mediante um.1 análise de modelm, Turchin perguntas. Por que algum.1'.> espécies sã.o r:1r,1s l' ourr:.i, ,;.loco- tnmos, .1lém disso, como análise,;; reL1cion~1d.1S po . . km ser
de musgos e graminóides .... Os raros silvestres parecem rara- e B.1czl1 l200 l) mosrrar.1m que o papel que a vegetação pode muns~ Por que um.i espécie ocorre com Jen~id,1des popu!Jcio- \·,1liosas nJ. contagem e 11.1 caracterizaç.lo <le n-.:c.m.lm em uma
meme consumir uma porcenugem baixa do material vegetal desempenh.1r em dinâmicas cíclicas depende decisivamente da nais baixas ::!111 alguns locais e com densid.1des .ilus t.:'.m omros? dúcriçJ.o órim,1 de uma série rempoul. ,: também n.1 .t\·.1\1.t-
disponívd (embora, naturalmente, a qualid.1de do alimento narureu d.t própria vegetJ.çáo, em especial da dinâmica de Que famres caus;m flutu.1ções n.1 abunJ,i.n,.:i,1 de um.i. esp~cie? çáo J.1s respeuivas contribui...;-ôes Jr: proce~sos d('w,1d.1de-J.e
dtsponível possa ser mais import:mte do que sua quantidade - vegeraçio <ipÓs um consumo significativo por herbívoros. Se Tendo cheg:ido ao fin.1\ <lo capírulo, dt.:'.\·enJ ticar cl.uo que pendcntcs e Jensid.1de-indepenJentt.'S (espcciJlrnence diin,i-
ver, por exemplo, Baczli, l 98J): e J suplementação allmenc;u I
a.s din.irnicas forem logísticas (isto é, em forma de S), isso pode nenhunu dessas perguruJs tem um.1 respo . . u <;1rnple,;. Oh.ser- tico_~) n.1 determin.1ç.i.o d.1 abund.lnci.1

l
1
438 PARTE 2 - INTERAÇOES

Os ciclos regulares e de mulugcrações rêm sido de mui- \emingues) do que em qualquer outro gru~o de e::.pécies.
tas maneiras, e por rnuims Jnos, os marcos referenciais em Descrevemos as tendências geográficas dos ciclos e J 111.·ces-
relação aos quais os ecólogos têm testado sua capacidade de sidade de uma explicação de suas ca.usas. Observamos que
entender a dererminaçáo de abundânci..-i.. Explicamos como os tal explicação deve reconhecer que os ciclos são o resultado
ciclos podem ser idenrificados dentro de séries temporais e, de um processo de '"segunda ordem": uma combinaç;lo de
depois, examin::unos crês estudos de caso em detalhe. ., um processo com dependência direta da densi~ade e ~m
Os ciclos do galo-selvagem-vermelho ilustram as d1h- processo com dependência em rec.1rdo da densidade. Em
culdades de distinguir explanações alternativas - parasiros e seguida, examinamos três conjunrns de explicações, que
parencesco/coniportamenco cerricorial -, ambos com suporte. diferem quanto à fonte de dependência em recardo Ja den-
O trabalho sobre ciclos em lebres ilustra a reunião de sidade: (i) as teorias "incrínsecas", incluindo efeitos mater-
análises detalhadas de séries temporais e resultados abridos nos; (ii) a "hipótese depredação por especialistas", apoiada
por meios experimenrnis muito mJis diretos. Ele também for- por modelos matemáticos e experimentos de ~mpo, embora
nece uma advertência ponderada das dificuldJdes logísricas e a.mbos tenham sido sujeicos à crítica ou evidência c.onrra.-
práticas que necessic,1m ser admicidas e superadas para estabe- ditória; e (iii) as teorias enfocadas no alimento, que c.1m-

lecer expl1CJções bém apresenram alguns problemas.


;\ Liis esforco\ têm sido dc:dic.tdos .10 estudo de ciclo~ Concluímos reconhecendo que nenhunu das pe'rgunt..1.s
l';ll
popul.1cion,1i'.) rot:dores micrutÍneos (raros ::.ilvescres e: formu!Jdas no início do c.1.pículo rern resposta'.) simpln.
15.1 Introdução peixes do mar mai::. rapidamente do que as populaçóes rem..1.1lt'~-
cenres rêm condi<;ões de subsciruí-los.
():.. seres humJnm fazem pane de rodo.-. os ecos)1stemas. ;\s Assim, a susrentabiliJadc cem-se wrnado um dos con-
\·ezes, 110'.)S,h arivid.1de.-. nos motiv..1.m J. conduzir espécies iden- ceitos cemrais - tJlvez o conceito cencral - da crescence preo-
rificadJs corno prag,ts rumo à exrtnção ou .1 matar indivíduos cupação em relação ao de~tino da Terra e das comunidJdes
Je espC:cie.'. que exploramos como fonte de .ilimenrn uu ~ibra.s, ecológicas que J habitam. Em nossa definição de sustentabili-
JC! mesmo tempo em que garancirnos a pe'rsistência de suas dade, utilizamos a expressão '·fucuro previsível" porque, q.1an-
populações. Da mesma formJ., podemos alocar esforçm parJ do uma arividade é descrira como susrentável, isso é feiro com
prevenir a exrinção de espécies que acrediumos estarem ame- b.ise no conhecimento dJ época. Porém, muitos fatores per-
açadas. Os resultados esperado'.) pelos profissionais envolvidos manecem desconhecidos ou imprevisíveis. Uma dererminJ.d.1
com o conrrole de pragas, o manejo de exp!or~1çáo e ,1 biologia siruação pode piorar (como ocorre quando condições oce.tno-
d.t consen'J.Ção sáo muirn diferemes, ma<; rodos ele'.) necessi- gráficas adversas comprometem um esroque pesqueiro já ame.1-
tam de esrracégias de nunejo b..1.sea<las nd reoria. da dinâmica çado pela sobre-exploraçio) ou algum problen1J. adicional im-
populacional. Devido ao faro de gr,rndc ~urre da::. ferramentas previsto pode ser descoberm (como o desenvolvimento de: re-
desenvolvid,1s pJrJ. manejJr espt:oes amc:açadJs estar b,1seadJ sistência a um pesricid.i potente). Por outro lado, avanços
ru din.imica tk su.1.s populaçõe::. isoladamc:'.nre, rracamos da tecnológicos podem permirir que uma atividade que aré entJo
c.onservaçJo das espécies no Capírnlo 7, ,10 fina.[ da primeira pareci.1 ino:;usrenrável se come sustenrávd (novos ripas de ~es-
seção do livro, a qual considerou a ecologia cm níveis indivi- ricid..1s que sejam mais especiJ.lizados no combare a uma de-
dual e popul.1cion..1I. Os ge.-.core.-. .1.mbienrais responüveis pelo rerminada praga e que sejam inofensivos a outras espécies podem
conrrole de pragas e pdo nunejo Jt explor<1ção, por ourro ser Jescoberro.s). No encanto, também há o perigo real de ohei-
l.ido, devC"m em ger.d trar.u exp!ic1r.1mc-nre d.1'.) interações que varmos os inúmeros avançm tecnológicos e Liemificos alcJnç,1-
envolvem muiras e .. pécies, e ,eu rrabalho dt've ser embasado dos no pJ.'>sado e agirmos com a crença de que sempre haverj um
n., reori.1 rd~re'nre :1s inrerações mcerc:specít'icas cohcrus nJ ·comerm" tecnológico para resolver nosso) problerrus .tru.tis. rri-
se,;unJa seçJ.o du li\ ro (C.ipírn!o, d J 1-t). O conrrok de pra- rica~ uv;;uscenr.ivei::. ,imple'.)menre não podem ser .1ce1r.1,;; com b.bc
g.h e o rnant'jo de Lxploraç.ío '.">.ÍU (Ópicos desre c.tpírnlu. 11.1 creni.;a de que O'.> ava.nços do fururo a:, rorrur:ío susrencJ,·(i,.
A imporc.lncia do concrnlc de pr.1g.1'.'> e Jo nuncjo de cxp!o- () reconheLimenro d.1 importânci.1. da susrenr,1bi!id.1Je C( 1 11 1t)
r.11..).0 cresceu exponcnciJlrrn:nct: ..::om o rnmenco <la populaç:to umJ ideia unificadora 11.1 cxologia .1plicada cem crcsodo gr.1dtul
humana (ve'r SeçJ.o 7 1), e L.ida um ddC"s esci cm-olvido com um mente, 111.1.s remos de lembrar que a sustenCJbilidade só n.L,.._eu,
.1,,pecm diít'renrc da. ·\ustenr.1bilid::1JC"". de fato, em 1991. Foi quJ.ndo J Socied,ide American.1 de F...:{)!t,-
s:.;sten:ao'lrC:ade"
:.;m ObJet1v0 do Dizer que unu aciv1d.1de é ·'sustc:'.nt:ívd" gi.1 (Ecologic.il Sociery of Arnerica) publicou "A i11iá.1ti\ J. ~,.1r.1
-::Jnlrole de orages signifiu que c:'.IJ poJe conrinuar. ou ser uma bio·ierJ SLL'itendvc:'.I: uma.agenda de pesquis,1 ecológi.:..1". unu
': ao mane:o je repecidJ no fururn previsívd. No cnran- ·cunvocaç.:io às arm.1s p.trJ rodos m ecólogos" redigid.1 púr l G ;::o-
:cxplo~acão
rn, dC"vi<lo ao faro de bo.1. parte das a.tivi- autores (Lubchenco et ai., 1991). E, no mesmo .100, ,t União
J,1Jcs human,1s não '.t'r obviamcnre 'il!Stenr.íve!, há umJ crescen- Mundial para a Natureza (IUCN), o Progr.1n1.1 d.ts Naçát:s Lrú-
re preocupaçjo JcercJ de seu impacto sobre os recursos narnrais. d.is para o Meio Ambiente (PNUi\L\) e a ReJe W\VF (antes
i'iJo podemos concimur ucdiundo os me:::.mo, pe.-.cicidas se um conhecid..1 como Fundo Mundial para a N,1turez.1) publicar.mi
número crescc:nre de praga) é resistente ,1 cic:'.s. Não podemos (~e em coniuruo Cuid,mdo da íenn. Un11t Et,;uéguz pam .t Via:, 5:[j-
pretC"ndemo, ra peixe para comer no futuro) cominuar recirando tent,iw! (IGCN/UNEP/\V\VF. 1991 ). Os conteúdos decalhadns
440 PARTE 2- INTERAÇÕES
CAPÍTULO 15: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS AO N1VEL DAS INTERAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES 441

desses documentos são menos importanres do que a sua exisc:ên- necessidJ.de de um concrole adicional (o nível de prc:juízo econô- já é muito ra.rde para começar a con- do sido amplamente substicuídos, em particular devido à sua
cia. Eles indicam uma preocupação crescente com a susrencabili- mico ou NPE). Nossa discussão está baseada principalmente na crolá-la. Então, o limiar económico instabilidade quando exposros à luz e ao ar. Concudo, uma
dade, comparcilhada por cienriscas, organizações 11~0-governamen- cearia abord,da no Capítulo 14, a qual cracou de uma combina- (LE) é ainda mais imporrante: a den- gama de piretróides sintéticos com estabilidade muico maior.
cais e governos. e o reconhecimento de que grande parte do que ção de fatores que de[erminam a abundância média de uma espé- sidade d, praga na qual se deve agir como a permecrina e a deltametrina, substimíram outros ti-
fazemos náo é suscencivel. j\..fais recentemente, a ênfase mudou cie e su.1.> tluruaçóes ao redor dessa média. O NPE para uma para prevenir que ela atinja o NPE. Os LEs são prognósticos pos de inseticidas orgânicos (descritos a seguir) devido à sua
de uma perspectiva puramente ecológica para uma perspectiva praga hipotética é ilusuado na Figurn l 5.1 a: ele é mJ.ior do que baseados em análises de cusco-beneficio (Ramirez & Saunders, relaciva seletividade contra pragas em oposição a espécies be-
que incorpora as condições sociais e econômicas que influenciam zero (a ar.1dic.1ção não é vancajosa), mas também esrá abaixo da 1999) e em estudos detalhados de surros passados ou, às ve-z.es, néficas (Pickecc, 1988).
a sustentabilidade (Milner-Gulland & Mace, 1998) - a qual é, às abundância média e típica da espécie. Se a espécie for natural- em correlações com regiscros climáticos. Eles podem levar em Os hidrocarbonetos clomdoi são venenos de contato que
vezes, referida como o "tripé" da sus«ntabilidade. mente aurnlimicada a uma densidade abaixo do NPE, então nunca consideração não apenas o número de indivíduos <la espécie- afecam a transmissão de impulsos nervosos. Eles são insolú-
Neste capítulo, cracaremos da aplicação da teoria popu- haveriJ. umJ razão econômica para se aplicar medidas de "concro- praga, como também as populações de seus inimigos naturais. veis na água e possuem uma grande afinidade com gorduras,
lacional ao controle de pragas (Seção 15.2) e ao manejo de le", e a especie não poderiJ, por definição, ser considera.da uma Por exemplo, a fim de concrolar o afideo-pimado-da-alfafa rendendo, assim, a concencra.r-se no tecido adiposo dos ani-
recursos narurais (Seção 15.3). já vimos como os detalhes da "praga"' (Figura 15.1 b). Contudo, existem outras espécies que pos- ( Therioaphi, trifalir), na alfafa forrageira da Califórnia, medi- mais. O mais conhecido é o DDT: um Prêmio Nobel foi con-
estrururação espacial das populações podem afetar sua dinâ- suem unu cap..1cidade de suporte acima do NPE. mas que têm das de controle tiveram de ser adocadas em decerminadas épocas cedido ao seu descobridor em 1948, mas o seu uso foi suspen-
mica (ver Capitulas 6 e 14). Com isso em mente, a Seção i 5.4 uma abun<lJ.ncia rípica que é mantida abaixo do NPE por inimi- e sob as seguinces circunsrâncias (Flint & van den Bosch, 1981 ): so nos EUA, exceto em casos de emergência, desde 1973 (em-
fornece exemplos da aplicação de um.1 per~pccciva merapopula- gos iurur.u:,, \Figura 15. lc). EssJs s.ío pr.igas em porc:ncial. po- bora ele continue sendo usado nos p~íses mais pobres). Ou-
cional no controle de pragJs e no manejo dt:' explorJçáo. JenJo wrnJ.1-<;c.: pr1gas rçJ.Ís ~ os seu~ inim1gm frHt.'m removiJos. l. Quando a população de afídeos .ninge 40 mdi, íduos por tros hidrocarboncw~ cloradas em uso incluem mxafeno. al-
Discurnnos no Capirnlo; como se espera que a mudan- :\o enunro. quJndo unu popubçJ.0-prJ.g.1 acinge uma caule na primavera. drin. dieldrin, lindano, mecoxicloro e clordano.
ça climácica global pre\'Ísra afere os padrões de discribuição densid.ide n.1 qual esrá causando prejuízo &onómico, em geral 2. Quando a população atinge 20 afideos por caule no \'erão Os orga11ofa,fomd0i também são venenos que atacam o
das espécies. Tais conclusóes foram baseadas no mapeamento e no oucono, mas os crês primeiros cortes de forrageira não sistema nervoso. Eles são muito mais tóxicos (para inserns e
dos nichos fundamencais das espécies em visca de novos pa- são tracados se a taxa de joaninhas (coleóprt:ros preda.dores mamíferos) do que os hidrocarbonecos clorados, mas em geral
dróes globais de remperamra e pluviosidade. Não enfocare- de afídeos) por afídeo for de um adulto para cada 5 a I O são menos persistentes no ambiente. Exemplos incluem o
(a) afideos ou três larvas para cada 40 afídeos em alfafas em pé
mos esse fenômeno nesce capímlo, mas devemos observar que malacion, o paracion e o diazinon.
1

50 afídeos em rescolhos.
i ~-----------------'--------
a mudança global rambém impaccará os parâmecros popula- ou uma larva para cada Os CllrbamatOi cêm um modo de ação semelhante Jo dos
cionais, como as taxas de natalidade e monalid.ide e a época 3. Quando há 50 a 70 afideos por caule dur.rnte o inverno. organofosforados, mas alguns são muito menos cóxicos aos
"Abundãnc,ade
mamíferos. Contudo, a maioria é excremamenre tóxica a abe-

H- --- ------------- ---- =::~·. .


reprodutiva (p. ex., Walther et ai., 2002; Com, 2003), com g- eqwl1bno"

implicaçóes pJra J dinâmica das populações das espécies-pra- lhas (necessárias para a polinizaçáo) e vespas parasitóides (os
ga e d.is espécies explorad:.1s (e sob risco de extinção). 15.2.2 Pesticidas químicos, ressurgência de prováveis inimigos naturais dos insetos-praga). O carbamato
pragas-alvo e pragas secundárias mais conhecido é o carbaril.
Os reguladorei de cre:icimento de imetos são produros quí-
(b) Os pesticidas químicos são uma parre-chJ.\'e Jo drsenal dos micos de vários tipos que mimetizam hormônios e enzimas
1 profissionais responsáveis por concroL1r pragas, m.is eles de- naturais dos insetos e. assim, interferem no seu crescimento e

~
lima espécie-praga é aquela que os se- '. 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,.~ a, ,_,,. vem ser utilizados com cuidJdo, pois a reoriJ populacional desenvolvimento normal. Eles são geralmente inofensivos aos
econômico (veja, em particular, o Capítulo 14) prevê respostas indesejá- vertebrados e às plancas, embora possam ser tão efetivos con-
res humanos consideram indesejávd.
Essa definlçio cobre uma ampl.i g-:1ma -:~.Q~~- veis à sua aplicação. A seguir, discutimos uma gam.1 de pesticidas tra insetos que são inimigos narnrais de urna praga quanto à
e:.' herbicidas químicos antes de continuarmos a considerar aJgu- própria praga. Os dois principais cipos que rém sido efeti-
de "pecado-."': os mosquitos são pr.1gas porque são vetores de
doenças ou porque suas picadas provoc:1m coceira; Aílit1111 spp. ~ [~----------~---- ----
"Abundância de
equ1l1bno"
mas conseqüências indesejáveis de seu uso. vamente utilizados são (i) inibidores da síntese de quirina. como
o diílubenzuron, que impede a formação de um exoesqueleco
são pragas porque quando colhidas com o trigo dão gosto de
cebola ao p:ío: raws e camundongos <ío pragJ.s porque atacam apropriado quando o inseto realiza a muda; e (ii) anâlugo'i de
esrnques de .1limenco; carnívoros mustelídeos üo pragas na 15.2.2. I lmeticidas hormônios juvenis, como o metopreno, o qual impede os in-
lnim,gos
No,·a Zel.indi.1 porque são Ín\'JSore::. indc-sej.ívei~ que caçam naturais sems-praga de realizarem a mudd para a vida adulca, reduz.in-
a.\"C'i e iibetos nJtÍ\'os; c-rvJ.s d.minlus de pr<lim sáo prag:is por
removidos O uso de inorgânico) d:n;i do início do do. dessa forma, o tamanho populacional dJ geração .subsc.:-
1
r.1zõc:s e:,,tt:t1us. As pc.;.so.is querem ~e livrar de: rocÜ'i d.h - - - -- ----r-- ---·--- -- ---- N1ve1 de pre1u1zo conrrole Je pr;1ga,, t.'. JUIHJmeme com quenre.
\ econômico os produtos \'egeuis. ele~ erJm .is ar- o~ sr:mwquimico, não são coxin.1.s, nus produtos quími-
' mas químic.as dü cre~cente armJmen- cos que provocam umJ mud.in\-a no comportamc-nco da pr.1-
15.2.1 Nível de prejuízo econômico e limiares ro de combate aos insetos-praga do século XIX e rnício do ga (lic~ralmenre, "sinais químicos""). Todos têm base em ,ub~-
econômicos Tempo século XX. Eles são normalmence compostm merilicos ou sais tàncias de ocorrência namral, embora em ;1lguns caso" (enh.1
d.e cobre, enxofre, arsênico ou chumbo - e: ,:ío primordiJ.1- sido possível simerizar os próprios semioquímicos ou ::.eu} an.í-
A economia e J. ~mtencJbilidade esrio FIGURA 15.1 (a) Flutuações populacionais de uma praga hipotética mente venenos estomacais (isco é, eles s.lo indlcienres como logos. Os ferornônios agem sobre os membros da mesmJ es-
intimJmence ligadJS. As forçJS do mer- A abundância flutua ao redor da -abundànc1a de equilíbrio"" estabele- venenos de concJ.co) e são, portanto, efe(ivo) :ipen:is contra pécie; os aleloquímicos sobre os membros de: mHra e..,pécie
cida pelas interações da praga com seu alimento. seus predadores. inserns com aparelho bucal masngador. Este farn, juncamente Feromónios de acraçáo sexual são ucilizados comercialm-;:nre
cado asseguram que as pdtica.s nã.o-eco- etc Faz sentido económico controlar a praga quando sua abundância
nômictS nJ.o sejam sustenc:iveis. Alguém excede o nivel de pre1uizo econôm1co (NPE). Sendo uma praga. sua com seu legado de resíduos med.licos alrameme tóxicos e per- para concrolar populações de mariposas ao incertefirem no aca-
poderia im.tginJ.r que o objetivo do con- abundànc1a excede o NPE durante a maior parte do tempo (assumin- sistemes, rêm resultado em seu abandono virrn.11 (Horn, 1988). salamento (Reece, l 985). e o feromônio de alarme dos afídeos ~
do-se que ela nâo este1a sendo controlada) (b) Por outro lado. uma Producos vegetais nacurais com propric::J::i.des 1nsericid.1s, usado para aurnencar a eficiência de um fongo patogênico conrra
trole de pragas seja sempn.' J. erradicação esp1::!cie que nâo pode ser uma praga serr.pre flulua abaixo de seu
mui Ja prag.1. m.ts estJ. n.ío é .t regra gaal. Em vez dis.so, o obje- NPE (cJ Pragas ··potenc1a1s"" normalmente rtutuam abaixo de seu NPE. ou but,ínicoi, como a nicotina do tabaco e o p1rerro dos crisân- afídeos·praga. em escufa.s na Grã-Bretanha, por meio do .wmen-
tivo é rt:duzir :1 popuh.;.ío <la praga J. um ní\'el no qual nio h.i mas e ultrapassam na ausência de um ou de vários inimigos naturais temos, seguiram um caminho semelhante aos inorg.inícos, cen- co dJ. mobilidade dos .ifideos, os quais. por su.1 ve:L, aumt'nram

1
442 PARTE 2 - INTERAÇÓES

sua caxa de co,uarn com os esporos do fungo {Hockland et ai., gência. Um exemplo é o asulam, muito usado para o concrole
CAPÍTULO 15: APLICAÇÓES EcmóGICAS AO NivEL DAS INTERAÇóES ENTRE PüPULAÇóES
441
1986). Esses semioquímicos, junramence com os reguladores de pasto em planrações e também eficiente em reíloresrJ.men- (a) Controle Azodrin
de crescimento dos insetos, são às vezes chamados de inserici- tos e plantações de árvores de Natal.
das de "terceira geração" (seguindo as coxina~ inorgânicas e Os tiocarbamato, (p. ex., dipropilriocarbamato de S- 4 0 L P o p u l a ç ã o de lag:~ª\,atamento! !
orgânicas). Seu desenvolvimenm é relativamente recc"me (For- ecil.1) formam ourro grupo de herbicidas pré-emergência 30 30
rester, 1993). incorporados ao solo que inibem seleci\'amence o cresci-
20 20
menco de raízes e broros que emergem de semences de er-
vas daninhas. 10 10

15.222 Herbicidm Encre os herbicidas nitrogenados heterocíclicos, as triaú- o


23 30 6 13 20 27 5 23 30 6 13 20 27 5
nas (p. ex., o merribuzin) provavelmente sejam os m.lÍs im- Ago Set Oul Ago Sei Out
Nos herbicidas, também, os morgáni- porrances. Esses herbicidas são eficiences bloqueadores do
O CC!r!Cl-1'.0 1;€- População de predadores

õ-500L 400500t
her~1,::;;rJa:, cos já foram importantes, embora a transporte de elécrons e são usados, principalmence, por sua
maioria tenha .<.ido subsciruída, prin- atividade pós-emergência.
.9:-~ 400
cipalmente de\·iJo ,l uma combinação de problen1Js de persis- Os denvtzdol fenólico:i, em particular os nitrofenói,. como a e ,
'o= E" 300 '
1 300
tência e falra de e.:ipecificidaJe. ~o enunco, por essa.<. mesm.1s o 2-mecil-4,G-dinlcrofenol. <io químicos de e.amaro que .1pr-:-
~ ~ 200 200
r.tzõe.<., 0:, horaw,;. por exemplo, O.<. qu,lÍ.1o sJo absorvidos pdas scmam uma coxiciJ.ide c!t: ,1mplo c,;~1ectro que se cscende d.t'>
ã:ººM 100 100
raí1.es lb.<. planr.1) L' rrJ.ns!ocados p.iu .ts panes .1<:re.1.1,, ainda pbnra) aos fungos, Ín)etos e mamífero:>. Ele.-. .1gem por mL·10
o
são às vezes urdi?ados para provocar uma esrerilidade semiper- do desligamento dJ fosforil.,ção oxidativa._ 23 6 21 28 6 23 21 28

:~L
Ago Set Oul Ago Sei Out
nunente em ireas 4ue devem ser manriJas comple[arnente livres Os bipindi/ws comem dois imporramcs herbicidJs. di-
de qu:ilquer npo de vegeução. Ourros incluem uma gama de quat e paraquat. Eles são produtos químicos de comaro pode- Casulos danificados

:~[~~
ar . . ênicos, sulfamJms Je amónio e dor.1tos de sódio (Ware, 1983). rosos, de ação muiro dpid:1 e ampla toxici&1de, que .i.gem pnr
Os arsêmcos 01gdnicos são mai.'. amplamente usados (p. ex., meio da descruição das membranas celulares. 40 40
o merilarsonJ.to <lissódico). Eles em geral são aplicados como Finalmente, também é imporcame mencionar o gf,jàJ"tlto 30 30
tratamentos pomuais (já que nJ.o são sderivos), nos quais sáo (um herbicida glici11a substuuz'da): um produto químico rlJo- 20 20
rransloc.1dos par.1 os tubérculos e rizomas, onde comprome- selecivo, não-residual, translocado e aplicado Js folha:. que é 10 10

tem o crescimento. popu!Jr por sua atividade em qualquer escágio do crescimenro O 23 30 6 13 20 27 5 O 23 30 6 13 20 27 5


Em contra,;;ce, os altamente bem-sucedidos fenóxz ou hor- vegeral e em qualquer époct do ano. ~ Age Sei Out Age Set Out
(b)
minuos herbicidas .-.3o cranslocados por toda a planta e tendem
a .-.er muito nuis seletivos. Por exemplo, o 2.4-D é altamente .i, j100 : .:i., Bidnn usado contra Lygus
Datas de aphcação: Jun 8,
seletivo conrra er\'as daninhas de folhas largas, e o 2,4,5-tri- 15.2.2.3 Ressurgência de pragas-alvo J: g 80
Jun 17, Jun 28, Jul 14
dorofenoxiecanóico (.2.4.5-T) é usado principalrnenre para ~i • Sem tratamento
~8 60
concrolar plJnus d:rninha.s lenhosas perenes. Possivelmenre, Um pescicida ganha um mau nome se, ?.s :xa,;as
'C~

eles agem peh inibição da produção de enzimas necessárias à como normalmente é o caso, maca re;ornam ;:,ar:: ~j 40

coordenação do crescimento \'egetal. levando, em última ins- mais espécies do que apenas a espécie seus :nim::ios ~ ~ 20
cincia, à morte d.l planra. para. o qual foi urilizado. Conmdo, no
011""i11:'.aCJ'.)S
~8 Oc_--,:.cm!IL~ccmrz__-,-_.IL----'C.-IIL__:_
o..., amidas rnb)·tituídos cêm diversas propriedades bioló- contexto da susrenrabilidaJe da agri-
gicas. Por exemplo, o difc:namida é muirn eficieme conrra plàn- culrnra, o mau nome é justificado especi:1!menre se ele m,IrJ (d) 98

.
(e)
1966
culJs, em vez de pLmc.1s esrabdecida . . , e é, portanto, aplicado os inimigos naturais da pr:1g,t e J\sim contribui para de.-.fazer o 180
D
.
90
ao solo em volta de plantas c:srabelec1cL1s como um herbicida que deveri.1 tcT sido feito. Dess,1 forma. o número de inJi\·í- 'C
160 Controle
~
o
'·pré-emergênci.1'" que impede o :1.parecimento de ervas dJni- duos da espécie-pr,1g.1 à.s vezes aumenta r:1pidJrneme ,1lgu1n 140 • Tratamentos com toxaleno-OOT " 1960
1968
~
'C
120 ;;
nhas. O prop.rnd, por ourro LlJn. tem sido urilizado exrensi- tempo após a aplicação de um pesticid ..1. Esse fenómeno é co-
-~ 100 ~1 0ois tra!amenlOS e 50
\,trnc:1m: em pl.rnu<..,Úe\ de ,llT07. corno um .1gence . . eletivo pós- nhecido como a "re'>surgêncu da pr.1ga-.1ko"' e ocorre qu.111Llo aor ~ 1969

ernergênciJ.
A.-. 1únnant!t11as (p. e:,..., c1 rrifefluralina) sáo um outro
o tratamenw mau gr.mde~ número . . d:1 prag.1. e grande, nú-
meros de seus inimigos narurais (um exemplo C: apresenudn .1
~
- 60r
40
20
10
grupo de herb1ud.1~ pré-emer~ência de u.-.o rnuiro comum que seguir, na figura 15.2). Os indivíduos da t:spécie-pr.tg,l y::t.: 2
Jul 6 Jul 15 Jul 22 Jul 29 Age 5 Ago 12 0,01 0,1 10
sJ.o incmporada..., .10 solo. Elas agem, sderivameme, por meio ~obreviveram ao pesci<..:ida ou que migraram para a área m.iÍS
Azodnn (rng 1ndtvíduo-t)
da intbi"i-5.o do creKtmc:nrn de raízes e brotos. r:irde se enconrram em um ambiente rico em recursos J!im-:11-
A\ uréúts Jttbstitu/daJ (p. ex., o monuron) são, princip.il- rares e com poucos ou nenhum de seus inimigos naturais . .-.\
rneme. herbicid.1\ pré-emergência nâo-selerivos, embora al- população da praga pode. encão, explodir. É provável que ,IS FIGURA 15.2 Problemas com pesticidas ut1lrzados para combater pragas do algodão no San Joaqum Valley, Cal1fornia. (a) Ressurgência da
praga-alvo as lagartas do algodão (He!ioth,s zea) ressurgiram, porque a abundância de seus predadores naturais 101 reduzida - o núm8ro de
guns renham mos pós-emergência. Seu modo de ação ocorre popula.çóes dos inimigos naturais eventualmente se n:,r:1bek- casulos danificados foi maior. Aumentos (b) das lalsas-med1deiras-da-couve ( Trichoplusia ni) e (e) das lagartas da beterraba (Spodoptera
pt::lo bloqueio do (r:tnsporce de elétrons. ç.1m, mas o tempo que demorará para que isso ocorra depen- exígua) foram observados quando pest1c1das foram aphcados para combater os percevejos-sugadores-das-folhas-alvo (Lygus hesperus) -
Os carham,ztos foram descritos emre os pescicidas, mas de ranco da roxicidade relativa do pe~cicida para a espécie-a.Ivo ambos são exemplos de surtos de praga secundários (d) Aumento na resistência de percevejo-sugador-das-folhas ao Azodnn • (segundo van
den Bosch etaf.. 1971)
alguns sJ.o herbicida.-. que m.1ram ,ts planras ao cessar a divisão e para as demais quanro d.1. persiscéncia do pesticida no arn-
celular e o crescimenro dos recidos vegetais. Eles são, princi- biente, algo que varia dra.'.ticamence de um pesticida para ou-
palm1::11(e, ma.radares de ervas daninh.1s sderivo, e pré-emer- tro (Tabela 15.1 ).

--~_J
444 PARTE 2- INTERAÇÓES
(APÍTLJLÜ 15: APUCAÇÓES ECOLÓGICAS AO NivEL DAS iNTERAÇÓES ENTRE POPULACóES 445

TABELA 15.1 (a) Toxicidade para espécies não-alvo e persistência de alguns 1nsetic1das As taxas possive,s variam de um mirnmo de 1 (o qual
comperem com a planução, sem, contudo, apresenrar os efei- narural. É praticameme cerro que e!J
pode incluir toxicidade zero) a um máximo de 5. O maior dano é causado por inseticidas que combinam persistência com toxicidade aguda às
espécies não-visadas Isso claramente pode ser aplicado. de certa forma, a cada um dos seis primeiros inseticidas (de amplo espectro) ws adversos na própria bererraba. ocorrerá quando números enormes de
(segundo Metcalf. 1982; Horn. 1988) A ançarinha-branca (Chmopodium 11/bwn), uma pi.inca que indivíduos de uma população geneti-
ocorre em rodo o mundo, é uma erva daninha que se espera que camence variável são morros de form.1
Rato Peixe Ave Abelha Persistência seja afetada negarivameme pelo culcivo de culrnr.1s genencamen- sisremácica pelo pescicida. Uns poucos indi"iduos podem apre-
re modificadas (Givt); mas a.s sememes d.1 ;111ç.1rinhJ-branca são sen:rar uma resisrência incomum (talvez porque possuJm uma.
Permetrin (piretróide) 2
OOT (organoclorado) 3 uma imponame fome de alimento de i1werno p.1ra a.-. aves do enzima capaz de eliminar o efeiw do pescici<la). Se o pescicid.1
L1ndano (organoclorado) 3 4 campo, incluindo a comvia (Alwcúr arl'ensú). \'C,ukinson e cola- é apli~ado repetidamente, cada geraç.ío subseqüence da prag:.1
Paration etilico (organofostorado) 5 5 2
boradores (2000) aproveicaram o faw de a ecologia populacional possu1d uma proporção maior de indivíduos resistences. Em
Malation (organofosforado) 2 4 1
Carbaril (carbamalo) 2 4 1 da ançarinhJ-branca e da cotovia ter sido bem-e. . wd.1d.1 e incor- geral, as pragas possuem uma alca taxa intrínseca de reprodu-
Dtflubenzuron (1n1b1dor da síntese de quitina) 1 1 pararam ambas as espécies em um modelo dos 1mp.1eros da. be- ção, de cal forma que uns poucos indivíduos em uma geração
Metoprene (análogo de hormônio juvenil) 2
rerrJba GM sobre as populações das áreas ett!ti\·,1Jas. As comvias podem deixar cenrenas ou milhares de descendentes pJra a
Bacillus thuring,ens,s
forrageiam preferencialmente em c.ampos com erYJS d.minhas e geração seguinte. Assim, a resistência se espalha muito rapid.1-
:1presemam agregações locais em resposta à abund.inciJ de se- mente nJ. popubção.
mentes desrds plamas. Assim, o impacm da hece1 r.1h.1 G,\ 1 sobre Esse problema em geral era ignorado no pas~ado, apesar
15.2.2.4 Pragas secuuddrias ,~~ \"CZt:~. os efeitos im·oluntirio~ as .1Yes dependerá muim do grau de mfluéncu ~obr-: ,l.S pJrcdas do primeiro caso de resisrência ao DDT cer sido reoisrrado ji
d.1 .1p!ic.1.;Jo de pesricid.1s rem sido ..:om alc.1 densidade de erYas dan111ha,. \X'Jtkinson e." col.iborado- em 1946 (em moscas domésricJs, (Afusw do11tt:lric:) na Sué-
Os efei(os colaterais de um pescicidJ muirn menos ".>LHis do que a ressurgên- res incorporaram os possíveis efeitos da densidJde de :.ementes de cia). A dimensão do problema está ilustrada na Figura 15.4, .1
podem envolver reações aind.1 mais su- cia de pr.1g.1s-alvo e pragas secundárias. O potencial para a ervas daninhas sobre as práticas JgrícolJ.,;. Seu modelo assumiu: qual mostra os aumentos exponenciais no número de inverre-
tis. Quando um p<:'.sricida é aplicado, ocorrênciJ de um desasrre é ilusrrado pelo ca~o da aplicaçáo !i) que, ames da incrodução da recnologia G~t .1 m.1iona das brados, ervas daninhas e patógenos de vegerais resistc-nres aos
pode ser que nJ.o apenas a praga-alvo de enormes doses do inseticida diddrin em grandes áreas Jc tàzendas tinha uma densidade de _çemenres de erYJ.S d.1ninh.is re- pesticidas. O escudo das pragas do algodáo descrito anterior-
ressurja. Juncamen(e com a espécie- fazend.1, do es,.1do de Illinois, EUA, enrre 1954 e 1958, com lativameme baixa, com um pequeno número de fazendas apre- mente rambém fornece evidência da e,·olução da resisrência a
alvo há a possibilidade de que isso ocor- a finalidadt: de "erradicar" uma praga das pastagens, o besou- semando densidades muito akas (linha comlmu n.l Figura l 5.3a); um pesricida (ver a Figura l 5.2d). Aré mesmo os roedores e os
r~1 com um número de espécies-praga po(enciais que haviam ro japonês. O gado bovino e ovino das fazendas foi envenena- e (ii) que a probabilidade de um agriculror JdotJr as culruras GM coelhos, Oryaolagus cuniculm, rêm desenvolvido resis(ência a
sido mantidas sob controle por seus inimigos narnrais (ver Fi- do, 90~ 10 dos garos e um número significa(ivo de cães morre- está relacionada à densidade do banco de semente".> por meio de cercos pescicid.1s (Twigg rt ai., 2002).
gura 15.lc). Se o pesticidJ destrói esses inimigos narnrais, as ram e, t:nrre os animais selvagens, 12 espécies de mamíferos e um parâmetro p. Valores positivos de p indicam que os agriculco- A evolução da resistência a pes-
pragas em potencial podem tornar-se pragas reais - e são cha- 19 espécies de J\'eS sofreram perdas (Luckman & Decker, res apresemam uma maior probabilidade de adoção LÜ tt:cnolo- cicidas pode ser reduzida pela subsri-
nudas pragas secundárias. Um exemplo dramático é o dos in- 1960). Resulrados corno esse saliencam a necessidade de uma gi.1 onde as densidades de semences sáo arualmeme .-Jras e há um tuiçlo de um pes(icida por outro em
setos-praga do algodão no sul dos EUA. Quando a maciça dis- abord.1gem cuidadosa em qualquer exercício de manejo de potencial de redução de perdas de produção em decorrência das uma seqüência repetida e rápida o su-
semina.ção dos inseticidas orgânicos iniciou, em 1950. havia praga. Tais desastres não deveriam ocorrer no fururo, em de- c-rvas daninhas. Isso leva a um aumenco nJ abund.lnc.ia relativa ficiente para que a resistência não renha tempo para surgir
duas pragas principais: o curuquerê do Alabama e o bicudo- corrência do aumenrn no conhecimento sobre a toxicidade i:: J de campos com baixa densidade (linha pomilhadJ na Figura (Roush & McKenzie, 1987). A cegueira do rio. uma doença
do-.1lgodoeiro (Anrhonomm grandis), um invasor originúio do persi~[ênciJ dos inseticidas e do desenvolvimento de pesrici- l 5.3J). Valores negativos de p indiCJm que os .1gricu!tores rêm dev~stadora que foi eficientemente erradicada de grandes áreas
lvléxico (Smith, 1998). Os inseticidas organoclorados e orga- das mais específicos e menos persiscenres. maior probabilidade de adoção da tecnologia onde ,l.'.\ densidades da Africa, é transmitida pelo borrachudo Simulium dm11110-
nofosforados (ver Seçio 15.2.2.1) eram aplicados menos de de sementes são arualmenre baixas (fazendas muito manejadas), sttm, cujas larvas vivem em rios. Um esforço imenso de pulve-
cinco vezes ao ano e, inicialmente, pareciam apresentar resul- ralvez porque uma hisrória de controle eferivo de crv,L<; dJninh.ts rização de pesricidas com auxilio de helicópteros em vários
rados mihgrosos - a produção de algodão aumentou baseante. 15.2.3 Herbicidas, ervas daninhas e aves do esteja correlacionada com a disposição em J.dorar nm-~Lç tecnolo- países africanos (50.000 km de rios foram ,macios seman.tl-
Contudo, m!s pragas ~ecund~irias emergiram em 1955: a lagar- campo gi.ts. Isso levJ a uma diminuição nJ freqi.iênci,l de c.1mpo~ dc- mence c-m 1999; Yameogo t:t ai., 2001) iniciou com o uso de
r.1-<..lo-algod.J.o, o :.1fídeo do algodão e a falsa !agarra rosada. As b.1ixa densidade (linha rr.11.:ej.1da na hgura 15.JJ). Ob~cf\·e que p Temefós, mas ,1 re-sisrência ap.1receu em cinco a.no:. (T.ibeb
;1p\ic.1ções de inseticida, então, aumentaram para 8 a 10 ao Os herbiciJ.1s sã.o usados em quanti- n.lo é um p~uàmerro ecológico. Em vez disso. de rdlcre um.1 respos- l "5.2). Enrio. Temefós foi sub,rirnido por ourro organofosfo-
,rno. Isso reduziu o problemJ com o .1fídeo e a fahJ Llg,1rta dJde" mww gr,rndes e em escala mun- t.1 socioet.:onômica à incroduç:l.o dJ nov.1 tct.nolo!c;Í,1. A nuneir.1 rJdo. Chlorphoxim, mJ.s a resi ... tênci.1 a esse 110\"0 pescicid.1
ros.1d.1. ni.1s provocou a emergênci.1 de outras cinco pragas se- di.1\. Eles sã.o .uivos comra plancas-pra- como os Jgriculrores responderão n;lü d1spens.1 l"'\~llicJç.lo e pre- r.1mbém J.pareceu rapid:imente. A estrJr~gi.1 de us.tr t1111.1 g.1ma
CL1nd:iri.1s. Na décaJ.1 de 1960. o número de espécie".>-pr::1.g.1 Jo g.1 e qu.rndo uciliz,1dos em LIXJ'i co- c.Í-'>a :.er induid:1 como um.1 \·an;ivd no modelo. ( \ .-orie que .1 d;: pe:.ricid,b em rodízio tem impedido o surgimento de re:.i~-
algod.lo .1umenwu d.1s du.1s e".>pécies urigi11Jis para 01tu e, em ma...::i.iis p.1recern provocar poucos rel.1ção entre os Jrn.ii~ nívei:-. de ervas d,rninlus e -1.1d0Cl.o d.1 nov.1 cência e, <ü~im, haviam poucas popul.1çóes que ai11Ja er.rn1
média, eram realiudas 28 aplicações insustenr.h·eis Je insetici- efeirm signitic.mvos nos anim:.1is. A tecnologia (p) é tão imporunre par:1 a densidJde p;ipulacional resisremes ao Temefós em 1994 (Da\'ies. 1994).
d..1 por ano. Um esmdo no S.rn Joaquin Valley, estado d.1 CJli- poluiç:io do ambiente por herbicid.1s não provocou, an: recen- da_1; ~wes quamo o impacto direto da tecnologia :,nh1"t.: ,1 .1hund.in- Comudo. se os pesticidas lJUÍmico-. ndo tin~~sem rr::.ul-
ti:)rni.1, revelou a ressurgência da praga-alvo (nesre caso, J b- remenre . .IS reações observadas em relação aos inseticida~. cia das ervas Janinhas (FigurJ l 5.3b), o que e;1fwz..1 J necessidade rado em nada além de problemas - se seu uso fosse insu,renrá-
g.1rca-do-algodáo era a espt::cie-alvo; Figura l 5.2a) e surras de ConmJo ..1u1.1!menre os conservacionisras se preocupam com dos gestores ambiencais pensarem em relaçJo .10 mpé da susren~ vel ínrrinsecamenre e de forma agudJ -, encJ.o des já n;í.o se-
pr.1g;1s secund.irias em ação (as populações Je falsas-medidei- .1 perJ..1 Je "en·as daninhas" que servem de alimento para l.t- tabilldade com su..1.s dimensões ecológica.<., soei.li~.-. t..x:onômicas . riam nuis usados c"m larga escala. Isso nJ.o ,IConreceu. Ao con-
ras-da-couve e de lagartas d.1 beterraba cresceram após J apli- gJrr.1s de borbole[as e outros insecos, e cuias çemences repre- tr.írio, :.uJ r.na de produção Jumenrnu r,1pid.1mc."nrc. A r.1zão
c.1ção do inseticida conrra ourra espécie-.1lvo, o percevejo-su- ;c-num o princip.1.l componente da dle(a de muius aves. L'm custo-benefício p.1ra o produtor indiviJual ~m geral permane-
gador-das-folhas; Figur;1 l 5.2b. c). A melhoria no desempe- desem·o!vimento recenre da agricultura cem sido a modiftca- 15.2.4 A evolução da resistência aos pesticidas cc-u a favor do uso dos pesticidas. Al~m disso. o pmspecrn de
nho do manejo de pr.1gas depc-nderá de um completo emendi- çio gen~rJC.1 das culturas, como a alteração d,1 beterrabJ p.1ra 1 uma fome em m.1ssa imineme ou de unu doença epiJl!mica
memo das incerações emre ,1$ espécies-prag.1 e não-pr:1.;,o-a, bem produzir resistência ao herhicida náo-sekcivo glifosaco (\"er i Os pesricidas quími~os perdem seu 1-npd nJ .1~riculrura sus- nos pa.íses mJis pobres é tão assusrador que os cmtos sociais e
como de um conhecimemo detalhado. por meio de" experimen- SeçJ.o 15.2.2.2). E<i.sa .Ureraçáo permite que o herbicicL. sejJ u.'.\.t- l renrável se as pragas desenvolverem resisrênc1,1. A t>voluçio de de- saU.dc- re!J.cionados ao uso de pe:.ricidas rêrn sido ignora-
ws. da aç:lo de pescicid.1~ C"m p0rC"ncia.l concrJ v:irÍJ.<:i espécies. do crer1\"JI11ente pJrJ concrohr .b erv~ JaninhJs que em ger.il resisrêncla .1os pescicid.1S nada mais ido que :1. .1ç.l.0 d.1. sdeção dos. Em gera!. o uso de pe.;;ricidas rc:m sido juscifi...::Jdo por
f
i
1
446 PARTE 2 - INTERAÇóES
CAPÍTULO 15: APLICAÇÓES ECOLOGICAS AO NívEL DAS INTERAÇóES ENTRE POPULAÇÓES 44 7

500
(a) 0.010
• Insetos e ácaros
- Patógenos de vegetais
V Ervas daninhas

0.008

0,006,
- - - Maior adoção onde as densidades de ervas daninhas são altas .
l,
;;;
300
a
0.004 .
~
~

200
.,
"!. ~

0.002
.__ Maior adoção onde as densidades de ervas "
~
100
.J "'
~
~
daninhas são baixas
FIGURA 15.3 (a) D1stnbuição de freqúênc1as ~

de densidades médias de sementes em fa- z FIGURA 15.4 Aumento no numero de artró-


200 400 600 800
zendas antes da introdução da beterraba GM podes {insetos e acaros). patógenos de ve-
Densidade de sementes de ervas daninhas (m- 2
) após o controle
(linha sólida) e em duas situações nas quais o ' getais e ervas daninhas que desenvolveram
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
a tecnologia têm sido adotada. onde a tec- res1stênc1a a. pelo menos. um pesticida (se-
nologia e adotada prefilrenc1almente em fa- Ano gundo Gould, 1991 J
(b)
zendas. onde a densidade de ervas daninhas
é atualmente alta (hnha pontilhada) e onde
ela é atualmente baixa (linha traceJada) (b)
Densidade relativa de cotovias em campos
durante o inverno (e,xo vertical. a unidade Por outro lado, o co,uroÍt' biológ,co COJ/ffrvacionisftl en- levado J indú.:,tria da lar.rnja próxima ao colapso. Os ecólogos
1nd1ca o uso do campo antes da introdução
das culturas GM) em relação a p (eixo hori-
\·olve manipulações que JUmt'.'mJm a densidade ou a persis- iniciaram uma troca de correspondênciJS em nível internacional
zontal; os valores positivos s19mflcam que rência de populações de inimigos nJrurais generaliscas nativos para remar descobrir sua área de origem e seus inimigos namrais,
os fazendeiros apresentam maior probab11!- da nova área de ocorrência da pr.Jga (Barbosa, 1998). o que eventualmente levou à importação, pda Califórnia, de cer-
dade de adotar a tecnologia GM onde as
densidades de sementes são atualmente al-
e
A inoculaçâo semelhante J. introdução, mas requer a ca de 12 mil indivíduos do díptero parasitóide Oyptochae:um
tas. e os valores negativos indicam que isso liberação periódica de um agente de controle onde ele é inca- "P·, da Aw,crália, e de 500 Joaninhas pred..1.doras, Rodolúz mrdina-
ocorre onde as densidades de sementes são paz de persistir ao longo de codo o ano, com o propósico de !is, da Ausrrália e da Nova Zelândia. fnici,1Jmence, os parasiró1des
º·ª atualmente baixas) e à redução aproximada
conrrol.u umJ única ou poucas geraçôes. Uma vari,1çã.o da ino- pareceram simplesmente desaparecer, ma.s as joaninhas predado-
da densidade do banco de sementes de er-
0,6 vas danmhas devido à mlrodução de cultu- culação é o ··acréscimo", o qual envolve a liberação de um ini- ras experimentaram uma explosão populacional rã.o violenta (jlle
ras GM ( r; terceiro eixo; valores realistas são migo natural nativo com .1 finalidade de suplementar uma po- rodas as infesrações de cochonilha-auscra!iJ.na da CalifórniJ. esta-
0.4 aqueles menores que 0.1) Observe que o
-1 parâmetro espacial que se espera que os
pulação preexisrence. Ele também é realizado repetidamence, 1·am sob comrole no final de 1890. Embora as joaninhas tenham
sistemas reais ocupem é a ufat1a~ do d1agra em geral pJr.i impedir um pt:ríodo de rápido crescimenro po- geralmente recebido a maior parte, ou, Jté mesmo, rodo o crédi-
0.2 ma mais próxima do leitor, onde pequenos pulacional da praga. to, os resultados de longo prazo mostram que as joaninhas .'.>.ÍO
valores positivos ou negativos de p produ-
zem densidades de cotov,as bem diferentes
FinaJmt:nce, a iwmdaçâo é a liberação de grandes nlÍmeros importantes para controlar a cochonilha no interior do estado,
(segundo Watkinson et ai.. 2000). de um inimigo namraJ com o objerivo de mJrar aqueles indiví- mas que Ciyptochaetum sp. é o principal Jgeme de controle na
duos da espéctt'-praga exisrcmes no momento, mas <;em qualquer regi.lo costeira (Flint & v:rn den Bosch, J98l).
expectJtiva de fornecer um controle de longo prazo como resul- E\se exemplo ilustra uma série de importantes aspectos ge-
r,1do de um crescimento ou ma..nmenção dJ popu!açjo do agente uis. As espécies podem wmar-se pragas simplesmente porque
muiro menos: o controle biológico Je controle. Em analogiJ ao U.'.O de produtos químicos. os agen- ao colonÍ7~1rem uma nm'J área. elas esCJp.1m .10 comrole Je \~m
medidas objetiva~- cumo o ''número de vidas salvas", J "efi-
(J. manipulação dos inimigos nuu- tes usados dt':iCJ. maneira s.íu eh.miado . . de pesricid.is biológicos.
ciência econôm1c1 da produção de alimentos-· e ,1 "quJncidade
rJ.Ís d.is prJgas). O CtHHrole h1olt)gi- Os Írl.'.>t'CO:i têm ~ido os prtn(ip1is 1genres Je controle
rou! de .1l1me1Ho produzido" \lesse, J'>pecrns fundamenuis.
LO envolve a aplicação dJ rc:or1.1 re- biológico contra imerns-praga (contra os quais pJ.rasiróides TABELA 15.2 Históna do uso de pesticidas contra as larvas aquáti·
seu u:io pode ser dc:scrico como :iustentivel. Na pdrica, a sus-
ferente às inceraçõe, entre a'.) esp~Lies e seus inimigos 11.uu- [t:m sido especidlmenre úteis) e ervJs Janinhas. A Tabela 15.3 cas dos borrachudos. vetores da cegueira do rio na África. Após uma
tenubi11dJde depende do desenvolvimento contínuo de no-
rJ.ÍS {ver Capítulos 10, l2 r: l---1) p.trd limirar .1 densid.1lk resume a amplitude ,u qu,d eles tém sido utiliza.dos e J pro- concentração 1mc1al de Temefós e Chlorphox1m, aos quais os 1nse•.os
vos pesricid.1s que se mantêm um passo d. freme d.1s prJgas: desenvolveram resistência. os peshcrdas foram usados em uma base
populacional de dererminaJ,1s espéues de praga. Há unl<l porção de casos em que o ;::subelecimento de um agente redu- rotativa para prevenir a evolução da resistência (segundo Davies. 1994)
pesticidas que :,;'io menos persistentes, hiodegr,1dáveis e mais
variedade de tipos de controle biológico. ziu drasricamenre ou, me:imo, eliminou a necessidade de ou-
eficientemente especírlcos conrra as pragas. Nome do pesticida Classe do quim1co H1stófla de uso
O primeiro é .1 uurad11çán de um 11_iimigo natural de rras medidas Je controle (Waa.ge & Grearhead, 1988).
Temefos Organofosforado 1975 a:é o preserte
ourr:1 região geogri.fiu - com fre~LiêncJJ proveniente: ...L, Provavelmente o melhor exemplo 1980 a 90
Chlorphox1m Organofosforado
,irea de origem da praga ames Je ela alcançar este staw.- ~ de controle biológico ''clássico" é, em si Baciflus Inseticida biológico 1980 até o presente
15.2.5 Controle biológico thurmg1ens1s H14
com o objetivo de que o agen[e Je conrrole persista e, Jc:s,.1 mesmo, um cláss1co. Seu sucesso mar-
Permetnn P1retroide 1985 até o presente
forma, mantenha d praga abaixo de seu limiar econômico -.i cou o início do comrole biológico em 1985 ate o presente
Os surtos dt' pr J~J-; ocorrem reperidamenre - por isso a Carbosulfano Carbamato
necessidade de se apltur os pesricid.LS. No encanto, os biólogos longo prazo. Esse e um ca.rn de 1nv.1sáo desejada de um,1 um sentido mcx.:lerno. A cochonilha-aus~ Pyradofos Organofosforado 1991 até o preser.te
tr..1.lian,1 (lu1J 1fl p11rch,lJ1) foi <lescoberra como uma praga dos po- Fox1m Organofosforado 1991 até o presente
podem, is vezes, subsrírnir os produtos químicos por ourra ferra- espêcie exórica e é freqúentemt'.'nte ch.unado de controlt' hf(J· 1994 até o presente
Etofenprox P1retro1de
lógJCo clássico ou imporMção m~tres de laranjetrlS c1lifomianos em 1868. Em 1886, e!J tinha
menc:.1 que faz o mesmo rr:.ibalho e que frequentemente custa
448 PARTE 2- INTERAÇÔE5
! CAPÍTULO 15· APUCAÇÓES ECOLÓGICAS AO NtVEL DAS INTERAÇÓES ENTRE POPULAÇÓES 449
11
1
TABELA 15.3 Registro de insetos como agenles de controle b1ológ1- Esse é um exemplo de ''controle biológico conservacionis- América do Norce para conrrolar cardos exóricos, Cardzws que as medidas de controle sejam adequadas a c.1dJ carn,
co contra insetos-praga e ervas daninhas (segundo Waage & Grea-
ta" em ação (Barbosa, 1998). sp., ataca mais de 30º/o dos cardos nativos (dos quais exis- salientando que não existem dois problemas iguais, nem
thead. 1988)
A "inoculação" como mecanis- rem mais de 90 espC:cies), reduzindo suas densidades (em mesmo em plantações adjacenres. Assim, o 1'.ilP freqllenre-
Insetos-praga E/Vãs daninhas
mo de cone role biológico é amplamen- 90o/o no caso do cardo "Plane" Cirwim canescens) e cau- mence envolve o desenvolvimento de softwares especializa-
Espécies agentes do con1role 563 126 sando impaccos negativos também sobre as populações da
re uciliudJ no cone role de ircrópodes- dos que podem ser utilizados pelos produtores rurais pJ.ra
Espécies de pragas 292 70
Países 168 55 praga em esruf.is. uma sicuação na qual mosca Paracantha culta, que se alimenta das sementes dos diagnosticar problemas com pragas e sugerir açôes apro-
Casos nos quais o agente se 1063 367 JS culturas são removidas juncarnence com suas pragas e seus cardos (Lauda et ai., 2003a). Lauda e colaboradores (2003b) priadas (Mahaman et ai.. 2003).
estabeleceu inimigos nacur.tis .10 final da estação de crescimento (van revisaram l O projecos de controle biológico que incluíram
Sucessos substanciais 421 113 A lagarta da craça-da-bacaca
Sucessos como uma porcentagem 40 31 Lenceren & 'X-roers, 1988). Duas espécies de inimigos naturais a ecapa incomum, porém vanrajosa, de moniroramenw dos (Phthorimaea operrnle//a) em geral
dos casos de estabelecimento panicularmence imporrances usadas dessa maneira são PhytoseiuÍM efeicos sobre espécies não-alvo e concluíram que JS espécies danifica plantações na Nova Zelân-
persimil1S, um :icaro que preda o ácaro-rajado (Terra11ychw ur- aparentadas com a espécie-alvo apresentavam a maior pro- dia. A rraça-da-baraca é um invasor originário de um país
time}, uma praga do pepino e de outros vegetais, e Encarsrá babilidade de serem atacadas, e as espécies nativas raras eram subtropical temperado quente e que l<m efeito mais devas-
formosa. uma vespJ da família Chalcidae parasicóide da mos- particularmente suscetíveis. Suas recomendacões de mane- tador quando as condições são quenres e secas (isro é, quan-
inimigos naturais (.i hipótese dJ libera- ca-branca Trialeurodts uapomriorum, uma praga principalmente jo incluíram o eviramenco do uso de agenc;s de controle do as características do ambiente coincidem baseante com o seu
ção do inimigo) (Keane & Crawley, do torn.11c e do pepino. Ate! 1985. cerca de 500 milhões de generalistas, uma expansão dos restes de especificidade de nicho ócimo - ver Ca.pímlo 3). Podem ocorrer até 6 a 8 gerações
2002). O comrole biológico por impor- indivíduos de cJd,1 espécie eram produzidos por ano na Euro- hospedeiro e a necessidade de incorporJr ma1~ informações por ano, e diferences gerações a[acam folhas. caules e rubérculos.
caç.ío é, porranro, a restauração do Jta- pa Ocidcnt,11. ecológicas na avaliação de potenciais agencc.;; de controle As !agarras ficam protegidas dos inimigos namrais (parasicóide~)
tus quo de umJ imeraç.ío predador-presa específica (embora o A "inund.1ç.ío" com freqüência biológico. e dos inseticidas quJndo es[áo nos tubérculos. Por isso. o conrrole
comexco ecológico geral seja cerc;1mence diference daquele en- envolve o uso de pacógenos de inseros deve ser aplicado sobre as gerações que at.Kam as folhas. Segundo
contrado pela espécie-praga e por seu agente de controle na sua para controlar inseros-praga (Payne, Herman (2000), a escracégia do MIP para a traça-da-batata en-
região de origem). O controle biológico necessita das habilidades 1988). O patógeno campeão de utili- 15.2.6 Manejo integrado de pragas volve: (i) moniroramemo (armadilhas de feromônios femininos
clássicas dos ta.x:onomisras para encontrar a praga em seu hábitac zação e importância é a bactéria Bttci- são estabelecidas semanalmente desde o meio do verão para atrair
nativo e, especialmente, para identificar e isolar os seus inimigos !lus thurh1gie11sis, a qual pode ser facilmente produzida em meio Uma variedade de implicações de machos e estimar a sua abundância); (ii) mérodos culmrais (o
naturais. Isso é, com freqüência, uma tarefa difícil - em especial artificial. Após sua ingestão pelas larvas dos insetos, os sucos nosso entendimento da d1nimica solo é culcivado para evitar que seque e quebre, é aplainado mJis
quJndo o inimigo natural apresenta o efeico desejado de manter gástricos desces liberam coxinas poderosas que causam a mor- populacional das pragas para o ma- de uma vez e é mantido úmido): e (iii) uso de inseticidas. mas
a espécie-alvo sob baixa densidade papulacional, e, assim, tanto a te dos indi\·í<luos em um período de 30 minutos a 3 diJs. nejo foi apresentada nas seções an- apenis quando absoluramence neces.s.irio (em geral, o orga.nofos-
espt:cie-alvo quanto o seu agente de controle são raros em seu Exisce umJ gamJ de \·ariedades (ou "pacótipos") de 8. thuri11- teriores. Conrndo, é imporrantc: se forado meramidofos). Os produmres rurais seguem .1 .írvore de
hábitac natural. Contudo, a taxa de retorno do investimento em giewis, incluindo uma variedade que é específica .10 combare a adotar uma perspecriva mais ampla e considerar como as decisões moscrada na Figura 15.5.
sua procura pode ser akunenre favorável. No caso da cochoni- lepidópceros (muitas pragas da agricultura), outra conrra díp- diferences ferramentas à disposiçáo dos profissionais res- lmplicira na filosofia do MIP está
lha-auscraliana, o controle biológico foi posteriormente transferi- teros, especialmente mosquitos e borrachudos (os vetores d.1 ponsáveis pelo controle de pragas podem ser desenvolvidas a idéia de que o controle de pragas não
do para outros 50 países, e .1 economia resultante cem sido imen- malária e da oncocercose), e uma terceira contra besouros (mui- de maneira mais eficienre, tanto para maximizar o benefí- pode ser isolado de outros aspecros da
sa. Além disso, esse exemplo iluscra a imporrância do estabeleci- cas pragas d.1 .1griculcura e de produtos armazenados). Baci/110 cio econômico da redução da densidade das prag:ts quanro produção de alimenco e que ele está es-
mento de vários inimigos, de preferência complementares, para thuri11gie11slf é usado como um insecicida microbiano via inun- para minimizar as conseqüências adversas para o ambiente pecialmente ligado às técnicas de ma-
concrobr uma praga. Finalmente, o controle biológico clássico, dação. Suas vanugens incluem a porence toxicidade conrr.1 e d saúde. Isso é o que o manejo integrado de pragas (MIP) nutenção e melhoria da fercilidade do solo. Esses sistemas agrico-
como o controle natural. pode ser desestabilizado pelos pescicidas insetos-alvo e ausência de coxicidade contra ourras espécies prerende acingir. Ele combina o controle físico (p. ex .. sim- las sustentáveis mais amplos, incluindo sistemas agrícolas inre-
químicos. O primeiro uso do DDT nas plantações de laranjeiras (incluinJo o próprio homem e a maiori.1 dos inimigos narn- plesmente impedindo a chegada dos invasores, mJntendo grados nos Estados Unidos e agriculrur.1 e ambiente de baixa en-
d.1 Califórnia, em 1946 a 1947, contrd. a "citricob" CocctlS psell- rais d.is pr.1g,1s). As plantas. incluindo o algodão (Cu.1):1·- as pragas longe das culturas ou coletando-JS manualmente rrada na Europa (lmernacional OrganisJtion for Biological Con-
dom11g,10/iamm prowKou um surro da emão rara cochonilha-aus- prnm /11r:,1aum). c~m sido modificadt1s genericaJllente pJrJ quando aparecem). o conrrole cultural (p. ex .. reJl!zando a trai. 1989; National Research Council. 1990), têm vantaoens em
crali.uu quando o DDT quase eliminou as joaninhas. O uso do expre,,;.1r .l wxina de B. tf,uringtemis (proteína CrylAc in- roração de culturas em uma área para evirar que as pragas termos da redução de riscos ambiencais. !\.1esmo assim, ~o ,ai.1
DDT foi interrompido. ~e-ricid.lJ ....\ \ohrn·iv~nc1a d,t lav.irt:1-rosada, Pecti11i1phor,1 J.umemem em número ao longo dos ano!)), o c.onrrole bio- r.uoável sugerir que eles fossem adotados amplamente. a menm.
1\1uic.1s pragJs tém uma \·ar1e- go,J:1prc//tl. em ,1lgodáo genetica~enre modificado era 4G J lógico e químico e o uso de varied.1des resi)rence'i. O i\11 P que rambém sej.am .atrativos em re-rmos econômicos. Nesse con-
d.1dc Je inimigos n.trurai~ que ii l OO"·o m,11s h,li:,,:,1 do ciue em algoJão não-moJ1fii.::Jdo {Lui "urgiu como parte de uma reJçJo conrn o U)O irr.1..::1011.il Je texto, J Figura 1).6 comp.u.1 a produç:lo de nuç.'ls em )ISfelll.l:-.
ocorrem em sua vizinhinça. Por a tlÍ., 2001) ...\ ampb inserção de Ht em culcura.s comer- pesticidas químicos nas déc.1das de 1940 e l 'hÜ. produtivos orgânicos, convencionais e imegrados no e~rado d<:
exemplo, os Jfídeos-praga do trigo ciJ1"> genecic.1menre modificadas cem preocupado devido à O MIP cem base ecológicJ e depende muito dos Luo- Washington de 1994 a 1999 (Reganold rtal.. 2001). () nunejo
(como SitobJOn ,1t·ent1e ou Rhnprrlasiphum spp.) são atac1- crescence proh1bi!idade de desem·olvimento de resistência res n.Hurai~ de mortalidade, como as incempérics e os ini- orgânico exclui as entradas convencionais de pesricid.1s e renili-
dos por coccinelideos e ourros besouros, heterópteros, cri- J um Jo" insetÍ<..i<las "naturais" disponíveis mais eficientes. migos. e visa causar a mínima permrh::1çáo pmsí\·d J esces zances sincéricos, e a agricultura integrada m.1 quancid:1des redu-
sopídeos, larvas de sirfideas e aranhas - codos perrencences O controle h,ológico pode pa- últimos. Ele visa controlar as pragas abaixo do ~ PE e depende zidas de químicos por meio da integração das abordagens orgj-
a um grande grupo de predadores especiJliscas em afídeos e recer unu abordagem .1mbienral- <lo monirnramenco de sua abundânciJ e da ahund.iric!J de seus nica e convencional. Os rrês sistemas resultam em produções de
geneu\istas que os incluem em sua dieta (Brewer & Elliorc, mente correu Jo controle de prJgas, inimigos nacurai~. Ele u.sa vários mérodos de concrole como m:1.çã semelhantes, mas os sisrenus orgânico e im~gr:1do Jpre.~en-
2004). i\'luicos desses inimigos nacur.iis passam o inverno mas \'ário~ e,emplos 1êm sido iden- pJnes complemencares de um programa geral. Em c::-special, taram solos com qualidade superior e impacros ambientais pu-
cm áreas com gr.1míneas próximas J.s plantações de trigo, cifio.dos em que mesmo introduções os pesticidas de amplo espectro, embora n.io seJJm excluí- rencialmence intêriores. Quando comparado aos siscem..l.'i con ·
de onde podem dispersar e reduzir as populações de afí- cscolhid." com cuidado e aparente- dos. são utilizados apenas muito raramenre. E, nas raras vencional e integrado, o sistema orgânico produziu maç.is m.Ii1,
deos na bordJ dis plantações. A criação de faixas com gra- mente bem-sucedidas de agenres de controle biológico cau- ocasiões em que os pescicidas químico" sio uri!iu<lo", isso doces, maior rentabilidade e maior eficiência energérica. Obser-
míne:1.s dentro das plantações pode beneficiar essas popub- SJm 1mpacw) sobre e~pécies não-alvo. Por exemplo, um é feito de maneira J minimizar os cuscos e ª" quJnridJJes ve, contudo, que apesar de algumas crenças muito d:fon<li<l.lS, ,t
ções naturais e ,1 csc.1b de seu impacto nos afídcos-praga. gorgulho gr.in\vuro (Rhwoq!lw conicu:i), introduzido 11~1 apli..::idJ.~. A essênci.1 da abordagem do :\iIP é fJ,:er ·com agricultura orgânica não é toca.lmcntt: livre Je consequenci.is arn-

1
450 PARTE 2- IMERAÇÓES
CAPÍTULO 15: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS AO NivEL DAS INTERAÇÓES ENTRE PoPuLAÇÓES 451

quisas que comparem os ripos e a magnitude das conseqüêr1ei.1s podes que :::.e fixou próximo à descarga de um escJ.beleci- que a população pode suporr.1r, e uma culrura de alimenro.
ambienrais de várias abordagens urilizadas no manejo agrícob. menro de aquaculrura de ab<ilones na Califórnia (Culver & por exemplo, que apresenre menor produção do que o 111.:ces-
Estágio de Kuris, 2000). Sua biologia populacional era suficic:nremenre sário, ameaçando ramo <1 saúde dos potenciais consumidores
Pré·luberculo crescimento
N da plantação? conhecida para se saber que ele era um parasito específico e o sustento de rndos os empregJ.dos na operação de t.:olheira.
Â
o 15.2.7 A importância do controle precoce dos de gascrópo<les, que duas espécies de Tegu!t1 eram sc:us princi- Conru<lo, como veremos, a melhor posição a ocupar enrre es-
p invasores p,1Ís hospedeiros na área e que os caramujos grandes eram mais ses dois extremos não é fácil de ser determinada, já que d.1
u Época susceríveis ao parasico. Voluntários removeram l ,6 milhâo de precisa combinar motivos que não sáo apenas biológicos (o
L Antes de fevere110
do ano? hospedeiros de tamanho grande, reduzindo, assim, o nú- bem-estar da população explor,1da) e econômicos (o lucro r<::sul-
V ivluiras pragas surgem como espécies
E
R invasoras. A melhor maneira de lidar mero de hospedeiros suscetíveis abaixo da densidade ne- rance da operação), m.i.s também sociais (níveis locais de emprego
1
com o problema dos invasores poren- cessária para a cran'imissão do parasirn (ver Capírulo 12), o e a mJ.nurenção de comunidades humanas cradicionais e seu) es-
z
E Condições ciais é entender seu potencial de imigração (ver Seção 7.4.2) e qual se exringuiu. tilos de vida) (Hilbom & Walrers, 1992: Milner-Gulland & Mace.
Fnolúmtdo
ambientais? No entanto, nas palavras de Simberloff (2003), respos- 1998). Iniciamos. no entanto, com a biologia.
prevenir sua chegada com cuidadosos proce.:isos de biosseguranç1
nos pomos de entrad.a de um país ou ao longo das rotas comer- ras rápidas a invasores ret.:entes frequenremente "se assemelha-
ciais (Winenlxrg & Cock. 200 l ). No enranco. exisrem ramm r.ío J um auque estúpido, ao invés de um golpe cirúrgico".
População im·asores porenciais que não seriJ realisca esperar que wdos ~e- Ele observa. por exemplo, que uma corrente de erradic.1çõe.:i 15.3.1 Produção máxima sustentável
Crescendo
de TB?
rÍJm impedidos <lc: emrar no país. A.Jém dis.1,0, muir;ts e:::.péue:-. bc:m-suce<l1JJs de pequen.b popuL.tçüc.::, de ervas dJninhJ.:i,
p exóticas 11;\o se esrabelecerJo, e muitJ.:i daqudas que ::.e esubelcce- como o capim-do.')-pJmpas lCortadaw srf/0,rn,1) <:: a ca.:inelu, O primeiro ponto a compreender
u rem não terão consequenci;ts ecológicas Jr.rn1.itic.LS. Os gesrorcs; (Senecio jt1cobac'a) de ilhas da Nova Zdindia (Timmins & Brai- sobrt:: a teoria d::i explorJção é que
L
Camada V ambiemais precisam enfocar os casos re.tlmence problemáticm. rhwaice, 2002), foram eficiente::, poique J ação foi ron1Jda pre- :ilrns níveis de produção sio abridos
supenor Rachando E
do solo? R Assim, J próxima erapa na esrracégia de manejo de espécies exúti- cocemente com o uso de métodos brurais. De maneira seme- em populações mantidas abaixo,
1
z cas é priorizar aquelas que poderiam chegJr (ou que j;.i for.un lhante, a mariposa 01Jgyú1 tl~)'ellmtl, descobena em unu r<::- com frequênc.ia bem abaixo, da ca-
E gião suburbana de Auckland, Nova Zdân<liJ, foi erradicada (a pacidade de suporte. Es~e padrão fundamental é caprnr.1do
inrroduzidas recencememe) segundo sua probabili,bde de pcrsi.'->-
Uso pDssivet
de controles Se não for possível
cência, esrabelecimemo de grandes populações. dispersão na nm·a :1m custo de USS5 milhões) por meio da pulverização com pelo modelo populacional apresentado na Figura 15.7. Nele,
culturais? área e porencial para causar problemas significativos. [sro não é Baci!lus thuringiemú (Clearwater. 2001 ). A única informação o recrutamenro líquido natural (ou a producivid..1de líqui-
uma rarefa fácil, mas cerca.s características bionômicas fornecem biológica disponível dJ. popul.1ção era a de (!Ue as femeas atraem da) dd. populaç.to é descriro por uma curva em formJ de n
dicas úteis (tracadas na Seção 7.3.2). Veremos no Capírulo 22 os nuchos com seu feromônio, conhecimento que foi uriliZJ- (v<::r Seção 5.4.2). A taxa de recrutamcnw é baixa quando
FIGURA 15.5 Quadro de decisão de fluxo para o manejo integrado de que uma avaliação do pmencial para causar problemas em níveÍ\ do pJ.ra cJptllr.H os machos e determinar dS Jrea.s que nccessi- cxisrern poucos indivíduos e quando existe uma inrens.1
praga da traça-da-batata (TB) na Nova Zelândia. As frases nos qua- t.-cológicos ::.uperiores (comunidade/ecossistema) também pod~ u,·am uma nova puh:enzação. A errJdicação dt:: uma espécie competição incra-especítlca. EIJ é zero n.1 capacidJ.de de
drados sào perguntas (p ex .. "qual é o estágio de crescimento da
plantação?"). as palavras nas setas são as respostas dos fazendeiros ser úril na priorização de espécies exóticas a serem tracadas com exótica rect::memenct:: esrabelec1d.1. conhecida como invasora :-.uporre (K ). A densidJde que resulra na raxa de r<::cn:ra-
a essas perguntas (p ex . ··antes da formação do tubérculo") e a ação atenção especial (ver Seç.ío 22.3.1). em outra parce do mundo, em ger.11 não pode e não deveria menro líquido mais alca depende da forma da competiç3.o
recomendada é mostrada no retângulo vertical ("não pulverize a plan- A inrrodução de: uma espécie aguardar novos estudos populacionais. inrra-específica. Essa densidctde é K/1 n.i equJção logísric.1
tação~). Observe que o més de fevereiro representa o final do verão
na Nova Zelánd1a (segundo Herman, 2000). Fotografia {) lnternational exórica com alca probabilidade de se Uma vez estabelecid.1 e disper.,a na nova área, e conside- (ver Seç:fo 5.9), mas é apenas um pouco menor do que A.'
Palato Center (CIP) torn:H uma espécie invasora signifi- rada uma prJga, unu esp<:'.cie invasora é apenJ.s outro alvo con- c-m muitos mamíferos de grande porre, por exemplo (ver
cativa deveria juscificar uma açáo ur- tra o qual o arsenal do profissional responsável pelo seu mane- Figura 5 .1 üd). Enrreranro, a raxa de recrucamenco líqu,.do
gente, pois esce é o esráglo no qual .t erradicação ~ _unto jo deve s<::r direcion:ido. sempre C: mixíma em uma densidade ·'intermediária", me-
blemai'i .i<lYer::,as. Por c:-.emplo, algum pes(icidas aprovados são realizá\.el qua.nco fácil de justificar economicamente. As ve- nor do que K.
t5o prejudicia.is qu.uiro l)!I põricidas ::,iméncos, e a aplicaç.:io de zes, essas campanhas baseiam-se em conhecimenro fund.t· A Figura 15.7 rambém ilu::.cra três possíve1".i "es(r:.ité-
,tJuho :1.nirn,1! poJe pro\·oc..u nívei::, indesejáveis de escoamento menral sobre a ecologÍJ populacional. Um exemplo ~ .1 15.3 Manejo de 8X::Jlora~~io ~ias" de explonção, emhorJ em cadJ caso exista uma r,rxtl
de nicr1w p,tra os curso-; J"água, 3. semdhança do que ocorre com erradic.1çâo do poliqueru sJ.belídeo sul-africano, Terebnzsahtf!i1 de e:-.ploraç.ío fixa, isco é, um número fixo de indivíduo:,
o, frnilizJ.me::. s1mé[IC1 h (Trew;t\·,ts, 2001). SJ.o necessária.1, pc.s- heu:rounâ1Mra, um parasito do .1b.1lone e de outros g.ts(r<·>- A explor.,ç.ío de populações pelo ho- 1emovidos duranre unl d,tdo pníodo - a rot11 fixa. Q_u:rndo
mem~ obví,uneme um c:xemplo <lc in- c1, linha:, de exploraçáo e recruumenco ::.e crunm . .1.; t:l\.lS
rer:iç.10 pred.idor-presJ, e o manejo de: de exploray.lo e recrur;1111enro ,;;lo igu.lÍ-., e npmu,: o ntim<::-
J-:.: ('\plor.l\-;""io ba::.eiJ-se na ceori.1 Ja di- ro remo\'ido por uniddde de rc:mpo pelo ge:::.tor é 1gu.d JO
300 n.i.mica pred.1dor-pre.:i.1 (ver Capítulos número recruudo por unidJ.de de rempo pe!J popubçío
250
D Orgàmco 10 e 14). (J_uJndo unu popubçJ.o n.uur:i.l é explorada por PanicuLumenre 1mporunce é a rax.1 <le explouçJ.o h,.,, ,i
o C: Convenc1onal colheira dirc:u ou por separação Jc: ourr.1s espécies - sejJ no linha que cruza (ou, nd v<::rdade, apena:::. roc.1) J cun·.1 d.1
~

200 O Integrado
e
o caso da remoçio de bJleias ou peixes <lo mar, da capcura de taxa de recrutamenro no .::,<::u jpice. Essa C: a rnáxlnu r.tX.l dt>
o
,o
.111nnais silve.seres na-. s,1nnas ,1friCJ.na.1, ou dJ. remoçio de ár- explora<.;ão que uma populaçio pode suscenrar com seu pró-
150
o
u
vores de umd floresu ·-, é muito nuis fácil dizer o que quere- prio recrura.menrn. Ela é conhecida como .i produç.io má-
o
à:
100 mo:::. evirar do que precisar o que: desejJ.mos conseguir. De um :-.ima susrendvel (Pr.15) ~. como o nome indica, é a m.íxi-
lado, queremos evicar a sobre-exploração, em que mwrns in- rna quancidade que pode ser removidJ d.1 populaçJo em
50
divíduos sJo removidos, e .J popul.1çio é colocada em perigo uma base regular e repetidJ (n.1 verd-1de, in<ldlnida). E!J é
FIGURA 15.6 A produção de frutos em três biológico ou 1nsignitlcânua econômic.1 ou, talvez. ameaçadJ igual :t taxa de recruramenro m,íxinu e é ohcida. da popul.1-
1995 1996 Acumulado sistemas de produção (segundo Reganold
{1995a 1999) de extinçio. i\1as os gc:smres umbém querem evirJr a subex- çio pela iUJ extração dJ d<::n.'iidade na ciu,d a cun·J da r.1x.1
Ano et at, 2001).
ploraçJo, em ciue muico menos indivíduos são explorados do de recruumento arrnge o seu .ipice
f
452 PARTE 2- INTERAÇÕES CAPÍTULO 15: APLICAÇÕES EcOLÕGICAS AO N1vEL DAS INTERAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES 453

coca fixa é fornecido pela pesca da anchovera ( EngmuÍIJ' rin- iluscra a relação geral esperada entre o esforço e a produção média
ge,li) (Figur1 15.8). De 1960 a 1972, essa foi a espécie mais em um ca.so simples como esre: há. aparentemente, um esforço" óti-
- Taxa de recrutamento pescada no mundo e represemava um dos principJis .setores da mo" resultando em uma PMS, Em' e na qual esforços maiores ou
- Taxa de expk>façâo economia peruana. Os especialistas em gesráo pesqueira acon- menores que esce esforço "órimo" resultam em menores produções.
FIGURA 15.7 Cotas fixas de exploração. A selharam J adoção de uma PMS de cerca de 1O milhões de A adoção de Em é uma estratégia muim mai~ segura do que
figura mostra uma única curva de recruta- wndadJs por ano, e as capturas foram limiudJs de: acordo a fixaçáo de uma cora PMS. Agora, ao contrário dJ Figura 1\7.
mento e três curvas de exploração com co-
com essa recomendação. Mas a capacidade de ca.prura da frota se a densidade cair abaixo de Nm (Figur.1 I 5.9a), o rec;uta.menco

.
tas fixas: cota alta (hª), cota média (hm) e
cota baixa (f\,) As setas na figura referem- pesqueira aumentou, e, em l 972, a pesca da Jncho\'eCJ entrou ultrapassa a taxa de exploração, e a população se recupera. De
.,- . se a mudanças esperadas na abundànc1a em colapso. A sobrepesca pJrece rer sido, no mínimo, uma faro, é preciso haver uma considerável superescimariva de Em an-
- n,
sob a influência da taxa de exploração mais
/ próxima da sela. • == eqwlibrios Em ha, o
importante causa do colapso, embora seus efeitos renham sido tes que a população seja levada à excinção (E0 na Figura l 5.9a).
único "equilíbno" é atingido quando a popu- J.Cumulados com a influência de profundas fluruJ.ções climáti- Comudo, devido à existência de um esforço fixo, a produção
lação é levada à extinção. Em h0 , há um cas. Uma moratória sobre a pesca teria sido uma etapa ecologi~ varia com o tamanho populacional. Em particular, a produção
equilíbrio estável em uma densidade relati-
(amence sensível, mas não era politicamente execll[á..,.eJ: 20 mil será menor que a PMS sempre que o tamanho populacional cair
vamente alta e também um equ1librio instá-
vel em uma densidade relativamente baixa.
A PMS é obtida em hm porque ela toca no
pessoas dependiam dos empregos na indüsrrÍJ da anchova. O abaixo de « 11
como resultado de flumações naturais. A re-Jção
estoque levou mais de 20 anos para se recuper.u (hgur.1 15.8). apropriada !.eria reduzir um pouco o esforço ou, ao menos, man·
pico da curva de recrutamento (a uma den-
r~-\o consta.me enquamo J. populJçJ.o !.e recuper.t. Porém. umJ
s1dade Nm)· populações maiores que N,.., são
K re-.1ção compreensível (embora mal-orientada) serij compensJr J
reduz1das a Nm· mas populações menores
N do que Nrn são levadas à extinção. 15.3.3 Uma alternativa mais segura: esforço fixo diminuição na produção com um aumento no esforço. Isso. con-
de captura cudo, poderiJ reduzir ainda mais o canianho populacional (E, na
Figura I 5.9a); dessa forma, é fácil imaginar a população sendo
O risco associado às coras fixas pode ser reduzido se houver levada à extinçáo à medida que aumentos graduais no esforço
O conceito de PMS é cencral régiJs de manejo de populações exploradas por meio do e:-.;une uma regulamemaçáo do esforço de captura :-\ produção de comprometem estoques cada vcr menores.
para a maior parte da teoria e da pr.í- deu.lh,i<lo Je virias fa]h,s da PMS. uma exploração (H) pode .,er vista, de mJ.ncirJ simplificada. Exisrem muitos exemplos de explorações que sáo maneja-
tica da exploraçáo. Isso rorn.i essen- como sendo dependente de três aspecros: das com base em regulamentações legislativas de esforço, e isso
cial o reconhecimento das seguinces falhas no conceito. ocorre apesar do faca de que o esforço normalmence despreza
15.3.2 Modelos simples de exploração da PMS: H= qEN ( 15.1.) medidas e controle precisos. Por exemplo, a liberação de um de-
l. Ao tratar a população como um número de indivíduos se- cotas fixas terminado número de licenças de caça deixa a acurácia dos caça-
melhantes, ou como uma biomassa indiferenciada, ela ig- A produção, H, aumt:"nt..i. com o tama- dores sem concrole; e a regulação do camanho e composição de
nora rodos os aspectos da estrucura populacional, como as A Jensid,de d,i PMS (N.) é um equi- nho da população explorada. N: com o uma frota pesqueira não leva em consideração o clima. No enran·
classes de tamanho ou ecárias e suas diferentes taxas de 1,brio (ganhos=perdas). mas quando a nível de esforço de CJprnra, E (p. ex., o to. J exploração do veado-mula, da ancilocapra e do alce no esca-
crescimento. de sobrevivência e de reprodução. As alrerna- e
exploraçio baseada na remoção de número de "traineiras-di.1"' em uma da do Colorado, EUA, foi concrolada por meio da liberação de
uma cota fix.1, como na Fi!!,ttra l 5. 7. • r3 ~· _,·~
0 :::,. escaçJ.o de pesca ou o número de "es-
civas que incorporam a esrrucura da população são consi- um número limitado, mas variável, de licenças de caça (Pojar.
deradas a seguir. S é um equilíbrio muiro Írágil. Se a pingJ.rdas-dia'' em rd.1~io .1 uma popu- 1981). No manejo do imporcance escaque de hipoglosso do Paci-
2. Ao ser base:1da em uma única curv.i de recrutamento, ela d~~sid.1de ultrapassa a densidade da PMS, enrão hm excede .1 lação cinegética); e com a eficiência de CJprur.1, q. Considerando fico, o esforço foi limicado por épocas de fechamenco sazonais e
trata o ambiente como invariivel. ra:-..1 de recrutamento, e a populaçáo diminui em direç.to à que essa eficiência permanece constJ.nte, a Figura l 5.9a moscrJ zonas de santuário - embora um invescimenm pe53.do em embar-
3. Na prática, pode ser impossível obter uma escimaciv;.1 con- i'v'rn· hso, por si só, é saci.sfacório. l\.-bs. se por acaso a densid;i- umJ população explorada sujeita a crês possíveis esrratégiJS de cações de proteção do estoque pesqueiro tenha sido necessário
tiável d1 PMS. de for um pouco menor que 1\'m, /,m novamc:1w: excedc:r.i a explor,1ç.ío com diferente.., esforços de: caprnr:i. :\ hgura 15.9b para garantir o respeirn a essas limirações (Pircher & Han, 1982).
4. Alcançar uma P~1S não é o único, nem. necessa.rlJmence. ra;,;:J de rc:cruumenco. Nc:sse CJso, a dc:nsidade declinará arndJ
o melhor critério pelo qual o sucesso no manejo de uma m.lÍs . .::. se a cora tl.xada ao nivel dJ PJ\.IS for m.mcid.1, a popu-
opcr;içJ.o de exploraçio den:n.1 ser ju\gJdo (p. ex., ver Se- b..;.l.u Jedinarj acé ser extinu. :\lérn Jisso. 'ie a 11:\15 for um 15.3.4 Outras abordagens de PMS: explorando
çio 15 ..>.9) puu..:u )t1pere,cim.1ciJ. :i ux.1 de: explorJç.io sempre .:'.xceded .1
rJ\.i di: rs.:duumc:1Hu (/, n.1 Figur.1 J ')_7J ...\ C\tinç.lo :ier.1,
..
u
,sr uma proporção fixa ou permitindo um
escape constante
Apes.u Je wd.l.'> c~.1., d.ifi(uldJdes, o Lüll- -:m:iu, o ~eu dt:'it1no. i11<..it'penJ;mc:me11te de: su,t Jensid.1de •

ceiw de P('.\S dominou. por muitos
Jnos. o m.rne;10 de n:cuMs nJ gesrJ.o pes-
1n1..::í,d. E:n resumo. umJ cou fixa ao ní\-el d.1 P(vIS p0Jer1.1 :,.er
Je..,ej.i-. d e I JLO.i\'d em um mundo completamente prc:\·i"'ln:l .
,'i
•O
.e
10
Duas outras esrr.1régias de manejo sáo
baseadas na idéia de disponibilidade
de uma produção excedente. Primei-
e?'..'':
queira, o manejo florestal e o manejo de sobre o qu.il tivé'\semo, um conhecimemo perfeito. Nl.1.s no
foun.1. Ames de 1980. por exemplo. existiam 39 .1gênci.1s para o mundo real Je Jmbiences rlucuames e coniunw . . de: dJdos im-
1 ro, unu proporção constante da po-
mJnejo de recursos pesqueiros marinhos.<: rodas elas devia.m nu- pcrfrHus, (Sl,b coras fi.xJs s:io convites aberto"' .lü desJstre.
~ s pub.ção pode ser explorada (isso é o equivalente à dererminJ-
[ ção de uma cJxa de mortalidade por caça e deveriJ ter o mc:s-
neja.r com base em um objetÍ\'O de' P;\IS Sc"gundo a c...nn\'ençJ.o TuJa\·1.1, urnJ esrr.1cégi.1 de cou
fi,,1 tem sido frequemementc' emprc:-
1 1
mo efeito d,1 exploração com um esforço constante) (.\tilner-
que J estabeleceu (Clark, 198 l ). Em muitas outras ire:1s, o con-
ceito de P~vlS a.inda é o princípio nom:aJor. Além disso, .10 a~u- g.1d.1. Em um diJ derermirudo do .mo,
~ o~~~~-~-~~-'!-'~,-~-~-~~ Gulland & Mace, 1998). Assim, 3 a 5% das populações de
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
mir que as nvtSs são desej.íveis e .uingfvc:is, um conjunto de prin- : pesc.1 (ou .1 escJ.çio de uç.1) t:: abenJ, cuibu e rnuro-almiscar.ido podem ser caçadJ.s por Jno no:'.,
Ano
cípios bisicos dJ c:xploraçJo pode ser expliudo. Assim, vJmos e .1 cJprnr.1 .tcumulada regi:"1tr.1dJ ...\pós. ~orrhwesc Tc:rrimries do Canadá (Gunn, 1998), un13 estrJté-
iniciar explorJndo o qut: pode ser aprendido dJs an.ilises b.t'\c:a<l.1s qu.rnJu .1 cot.1 (estim.1da n.t P;'VfS) ~ J.tingida. o perlodn Jç gia que envoh-e a realização de censos pré·explor JÇJ.o p.1r.1 de-
FIGURA 15.8 Desembarques de anchoveta desde 1950 (segundo Jen-
ru Pi\1S, para, após. olh.ir com m.ti~ profundidade p.1ra ;u c'Stra- pc:sL.1 é encerr.1do pelo rc:sro do ano. Um exemplu do u:-.o d.t nongs et ai.. 2001; dados da FAO. 1995. 1998) rc:rminH o número de indivíduos que podem ser cJçados.

1
_J
l
454 PARTE 2- INTERAÇÓES CAPÍTULO 15: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS AO NiVEL DAS INTERAÇÓES EMTRE POPULAÇÓES 455

·. - Taxa de recrutamento - - - Taxa de expklração ( 35 000


(a) (b)
30 000
;,

! . '\
PMS -------~
i 25.000
~
,,
l 1

i.


20 000
'
1
1

'
,,

~ 15.000
/ E
5
FIGURA 15.10 Capturas mensais de !ulas

I
10.000 Lof1go sp. por embarcações ltcenciadas nas
g- Ilhas Falkland, onde uma estratégia de ma·
u ne10 de escape constante é utihzada. Obser·
5.000
ve que existem duas estações de pesca a
cada ano (fevereiro a maio e agosto a outu·
Eº o bro). As linhas pontilhadas (1984 a 1986) re·
1983 presentam capturas estimadas. em vel de
Esforço
Ano capturas reais (segundo des Clers, 1998)

FIGURA 15.9 Esforço fixo de exploração (a) Curvas, setas e pontos conforme descntos na Figura 15.7. A produção máx11]1a sustentavel (PMSJ
e obtida com um esf~rço de Em. levando a um _equilíbrio estavel em uma dens1dad~ Nm ca:m uma produção de hm. Com um esforço maior (E).
a densidade de eq~il1bno e a produção são mais baixas do que com Em. mas o equ1libno ainda e estável Somente com um esforço muito maior
(E0 ). a população e levada à extinção (b) Relação geral entre o nível de esforço frxado e a produção média. des cardumes que seguem caminhos migrarórios escereoripa- como um re~ultado de apenas um aumemo muito pequeno no
Jos, os qu.1i::. podem ser imerceptJdos por barcos pesqueiros esforço, coma.ria a taxJ de exploração maior do que a taxa de
com rede de arrasro. Seja com compensação reversa ou com recruramemo. A população estaria a caminho da extinção. Além
Uma outra estratégia deixa um níveis de uma populaçáo não-caçad..1. Eles observJ.ram que o li- uma eficiêrKÍJ de exploração nuis alu em b.iixas densidades, di3SO, urna vez que a população esreja ne~sa ladeira escorreg.i.diJ,
número fixo de indivíduos reprodu- miar de exploração resulrou nas produções médias mais alcas jun- pequenas superestimacivas de E111 sJ.o cJ.pazes de levar à sobre- será necessário muico mais do que uma pequena redução no es-
tores ,to final de cada esraçio de caça ramente com um risco de extinção J.ceiravelmenre baixo. Comu- e;,.p\oraçáo ou mesmo à evenrual extinção. forço para revener o processo. Este é o pomo cruci.U e pdcico
(escape constante), uma abordagem do, a imrodução de um erro, associado J. realiz•.1ção de censu\ No t::nramo, ainda mais importan- sobre os equilíbrios múlciplos: uma mudança muito pequena de
que envolve um invesrimento ainda menos freqí.Jences (a cada triênio, em vez de ,rnualmeme), k\·ou ,l te é o faro de que essas interações po- componamento pode conduzir a uma alreraçáo completameme
maior Je moniroramenro conrínuo ao longo da est.1ção de uma variância maior nas produções e a umJ probabiliJ,1Je de dem rer "equilíbrios ml1lriplos" cruciais desproporcion.tl no resulrado, à medida que o pomo de atração
caça. O escJ.pe consume é uma opção panicul.trmence segu- exrinção muiro mais ,1fra (Scephcns et ai., 2002). isso enfariza .1 (ver Seção 10.G). Observe os dois pon- do sistema muda de um esr.1do estável parct outro. ivludança.sdris-
ra, pois eviu a remoção Jcidemal de rodos os indidduos re- importância da ret.Jizaçáo de censos freqüentes para que as e)(U· ros em que a linha de exploração cruza a ric.."tS na abundância dos estoques podem ocorrer em decorrência
produrores antt'~ do período reprodurivo. O escape consranre régias de escape cons[anre cenham sucesso. curva de recrur:unenro na Figura 15. l Ia. de pequenas aJterações na estrarégia de exploração ou no ambiente.
l'. e\peci,1lmenre úril p.1ra espéues Jnu.1Ís. pois das carecem do O ponto Sé um equilíbrio estável, mas
umpáo represent.1do pelos indivíduos imaruros em espécies o pomo U J um ''ponto de ruptura'' ins-
de vida rmis longa (Milner-Gulland & ,vLice, 1998). O go- 15.3.5 Instabilidade de populações exploradas: dvel. Se a população C:: conduzida para um.1 densidade um pcuco 15.3.6 Instabilidade de populações exploradas:
verno das Ilhas falkLrnds (llh.1s 1\1.11'-in;h) usa uma esrraréoia equilíbrios múltiplos abaixo (iJ densidade da PJ\15, ou mesmo para um nível um pou- flutuações ambientais
de escJpe constante para J. lul.t I.o/1go sp. anual. O rJnunho co ,Kim.i Je /\.,·'._ 1 (um ponro de ruprura} ela rerorna para a densida-
do, e~roques é deterrnin,tdo ~cmanalmente ,I p.nrir d.1 meia- 1' fesmo com a regulamenraç:io Jo esfor- de d.1 1'1\15 (Figura 1).11 .1). i\L1s umJ diminuição um pouco f--~ remador atributr todos os co!Jpso~ de eswques pesqueiros
c:sr,1ç.l.o. e J. pesc.1 ~ t:ncerrad.1 qu:rndo .1 razão de estoque~ na ço. "J. explorJção próxim,1 .10 ní,·d da maior na densidade, ;iré urn nível kn:menre abaixo de N 0 , ralvez ~implesmenre à sobrepesca e :i ganância humana. No enranco.
presença e n.1 au . . êncic1 de pe~u cai pau 0,3 a 0.4. :\pós I O P,\15 pode provocar um desastre. A [;L'<,l
.rnos de emprego desse regime de m,rnejo, o estoque de lubs de recwtamenro pode ser parcicular-
mmrr,1 hons sin.1!~ de \UStenr.ihilid.1de (hgur;1 15.10). menre b,1ixa nas menore-s popul:t\ôes (um pldrão conhecido CU!ll(l
Sreplie11.1, e col.1hor.1Jore~ ( 2002) compe-11.1ttçiio n.·1 1ersi1; Figur.1 J ') 11,1); por e;,.emplo. o recrut.unen· (a) (b)

us.trJm moddo, d'-' s1mul.iç5.o ~)an com- rode ,.ilmões jove-ns C baixo t'lll h.1ixas densidades em decorrên-
parar m rõulrado, do uso de cm.1 fixa, cia de uma imens,1 pred<1ção por peixes maiores, e o recruramen-
FIGURA 15.11 Equilíbrios múltiolos na ex·
do esforço frxo e do limi.1r de explora-
ção em uma populaç.:ío de rn.1.rmora.1,.
.1lpin.1s (;\,/annot,r m,rrniota). No último uso, :i exploraç.l.o só
ro de jm·ens baleias pode ser b,iixo em baixas dens1d.1de~ simples·
mente devido à redução d.1 prolubilid.1de de encontro <le m,tchm
e teme-.1s, o que compromece as chances de acasalamento. ~o
...
s
ptoração. (a) Quando a taxa de recrutameri
to é particularmente baixa em baixas dens1·
dades, o esforço de exploração que resulta
na PMS (Em) não tem apenas um equ!11hno
ocorreu Jurante n~ .mos nos qu,Ú,; a popuLH.;ão excedeu nm de- enunro, a compensJç:ío revers.1 é aparentemente bem rara; !\fyer, estavel (S), mas ta~bém um ponto de rup!u·
ramin.1<lo limiar e .1 e,ploraç.ío continuou .ué atingir esse !1111.1ar
k::-.sencialmerrn:: unn JborJJgem de esc.1pe const:rnre). Es.'ies ma-
mfferos sociais sáo uç.1dos em a!gum.1.S p:1rres da Europa, mas o
e co!Jboradores ( 1995) a derectaram em apenas rrês b;1.Ses de' J.1·
Jos de estoques pesqueiros - com pdo menos 15 Jnos de dJdos
disponÍ\-eis - de um roral de l 28 avaliadas. Por outro bdo, .1
..
"
ra instável ( /../) a uma densidade abaixo da
qual a população declina até a extinçàc. A
população também pode ser levada à extm
~ ~-~~~~~~-~~~~- ção por esforços de exploração { E0 ) não
moJdo foi <lesem ol\ ido com um.1 exrensa b.1se de dados dispo- dlciência de explor.1çâo pode aumentJr em pequenas popuL1çõó muito supenores a E.n· (b) Quando a ehcén·
N N
(Figura 15.1 lb). Por exemplo. muiws clupeídeos (sa.r<linh:h, ~rn- eia de exploração declina em altas dens1da·
··- - Taxa de recrutamento - - - Taxa de exploração des, comentários semelhantes àqueles em
chovas e JrenquesJ ~.lo especialmente ficeis de c..1pmrar em b.úx.1-; (a) são apropriados.
· ~- d,: T. Porç:tu d.i popul.11,fo ljtt<: sübrc:\·ive .10 proces,o dt' c.1pmr.t densid.1des, porque eles formJm um pequeno número de gr.rn-
456 PARTE 2- INTERAÇÕES CAPÍTULO 15: APLICAÇÕES Ecmo01cAS AO NivEL DAS INTERAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES 457

r.11 componamenco seria uma super-simplificação que não aju- fria e o baixo recrmamento em ambos os estoques (Islândia e
(b)
daria a mudar a siruação. Não há dúvida de que a pressão de Noruega) no final da década de 1960 e, novamente, no esto- Fêmeas maduras de primavera

:J
do arenque norueguês
pesca exerce um grande impacm sobre a habilidade das popu- que norueguês em 1979 a 1981, época na qual o estoque da
lações naturais de susrencar níveis de recruramenco que com- Islândia já escava excinto (fêmeas maduras de primavera) ou se
pensem caxas gerais de perda. Porém, a causa imediata de um
colapso- em um determinado ano - é freqüencemence a ocor-
rCncia incomum de condições ambientais desfavoráveis. Além
disso, quando esre é o caso, há uma maior probabilidade de
enconcrava muito para oesce. Parece provável que a água fria
anormal renha levado a um recrutamento baixo e incomum, o
qu1l desempenhou um papel muirn importante nos colapsos
ocorridos por cada um desses escaques. -1
·,ffjF\·
.r· ...• .'
' .
',
.
•j ;·.
i.- .._i,:

recuperação da população (uma vez que as condições rernr- No enranto. isso não pode ser responsabilizado por ro- -2
nem a um estado mais favor.ivel) do que ocorreria se o colapso do, os deralhes apresentados na Figura l 5. l 2b - em especial -3~~~~~~~~~~~~~~

tivesse sido apenas em decorrência da sobrepesca. pela sucessd.o de anos com baixo recrucamenca nos escoques Arenque islandês
Fêmeas maduras de pnmavera
Antes de seu principal colapso, noruegueses na década de 1980. Para isso. é necessária uma
de 1972 a 1973, a anchoveta (ver Fi- explicação mais complexa, a qual provavelmente envolve ou-
gura I 5.8) havi.1 sofrido uma queda uas espécies de peixes e, talvez, escadas estáveis alternacivos
no aumento crescenre de caprnras em meados da década de (Bevcrton. 1993). Todavia, aind.1 é óbvio que os perigos da
1960 como resulc.1.do de um "e\'enrn E! Ni,lo": J incursão de sobrepe.-.c.1 nâo devem ser negados. nus eles não devem ser
.igu.1,;; tropicais quentes do norre reduziu sever Jmenre a res-
surgência oceânica e. assim, comprome[eu a produtividade na
visto~ no contexco das variações nawrai~ marcantes e freqüen-
temenre imprevisíveis. Dados os prováveis efeitos das condí-
·".j
fiú. corrente peruana que vem do sul (ver Seçlo 2.4. l ). Em çóes .m1b1cnt:1ls sobre as taxas vi[ais de populações exploradas.
197 3, no encanrn, devido a um aumento muiro grande na confi<u em modelos com ta.xas virais constances é ainda mais ar- 2 Fêmeas maduras de verão I
imensidade de pesca, os efeirns de um evemo EI Nifto pos[e- riscado. Engen e colaboradores ( l 997} argumentam que as me-

r ~' \l..w::1·-1-';'}.----cw+,,--7T'"
t '' '
rior foram muito mais severos. Além disso, enquanto o esw- lhores cstrarégia5 de exploração para cais popul:içóes alcamente
que pesqueiro mostrava alguns sinais de recuperação, de l 973 variávei.-. envolvem o escape constante (\·er Seção 15.3.4). o
a 1982, apesar da pressão de pesca em geral mantida conscan- -1 J \'j ?'
re, um outro colapso ocorreu, em l 983, associado a ou[ro even- -2 ',
to EI Niflo. Obviameme, é improvável que as conseqüências 15.3.7 Reconhecendo a estrutura em populações
dessas perturbações namrais aos padrões comuns de fluxo das exploradas: modelos de estoque (e)
correntes seriam tão severas se a anchoveca não civesse sido dinâmico
.,
+1
e_xplorada ou civesse sofrido apenas uma pressd.o de pesca leve.
E igualmence óbvio, portanco, que a história do escoque pes- Os modelos simples de exploração que
~
o , j li
queiro da anchovera não pode ser adequadamente compreen- foram descrirns até agora são conheci-
dida apenas em relação à sua exploraçáo, mas também deve dos como modelos de ··produção ex-
f
~
levar em consideração os evemos nacurais. -1
cedente". Eles são úreis como um meio
Os três escaques pesqueiros de de e~rabelecer alguns princípios bási-
arenque da Noruega e da lslândia tam- cos (como a P~1S) e são bons para in- 1950 1960 1970 1980 \990
Ano
bém entraram em colapso no início vestigar as pmsíveis conseqüencias de diferences cipos de es-
dJ décad.1 de 1970, e haviam cenJmence sido submetidos a tracégus de exploração. tvfa.s eles ignoram a escrutura popub-
uma imensidade de pesca crescente anres disso. J\fais uma vez. ClonaL e isso é urna falha grave por duas razões. A primeira é
contudo, uma anomalia oceinica escava envolvida (Beverton, 4ue o .. recrutamento" é, 11.1 prática, um processo complexo FIGURA 15.12 (a) Caminho percorndo por uma grande massa de água fna e com baixa salinidade nas décadas de 1960 e 1970, rnoslrando
sua presença no Mar Norueguês em meados da decaoa de 1960 e no penodo de 1977-1982 {b) Diferenças anuais entre as médias gerais e
1993). No mew da década de l %0. uma massa de água fri.i e que inLorpou J ~obrevivência e a fecundidade do~ adultos, a o lotJantmo de recrutas por fêmea madura em três estoques de arenque no Mar Norueguês. e (e) a temperatura no Mar Norueguês. O estoque
com bJixa ,;a\inidade d.t Bacia. do Ârrico se formou no norte sobrevivênci,1 e o crescimenro do.i jovens, etc .. os quais po- de fêmeas reprodutoras de primavera da tstândta -1unca se recuperou do colapso do inic,o da década de 1970. o qual foi precedido por um
Ja l~bndiJ. é.Li se deslocou par.1 o sul ;ui que ficou presa no dc-rn respon,Jer de forn1.1s diferente<; ;,s mudanças ru densida- barxo recrutamento na decada de 1960 (Segundo 8e·1er1on. 1993)
c.._;ult SrreJm drios ano.s m.iis t.ude e, então, deslocou-se pJra de e nJ e,[r,nt'.gi.1 <le exploração. A segunda razão é que a maio-
o norte no\'amence - embora usando uma rota bem ao leste ri,l d.-ts prciric:1s de explor;1ção esrá inreressada principalmenre
do c..iminho percorrido Jté o sul. Ela. evenrnalmence, desapa- em .1pt·n.1:1 uma porção da população explorJdJ (p. ex .. án·o- Diferentemente dos modelos de pro<luç.lo tx(-.·Jen[e, es.s:1 pro- disponível ou for necessária). Contudo, em co<los os caso.-.. a
receu na Noruega, em l 982 (figura 15. L~a). Os d.Jdos refe- re.-. ou per.x:::.s maduros que são grandes o suficience para serem duçáo de biomassa não depende apen.ts do 11úrncro Jc: indiví- abord.tgem básica é a mesma. As informações disponíveis ( umu
rences ao número de "recrutas p~r f~mea madur1", essencial- vendidos}. :\ abordagem que [ema levar em constderaçio ô- duos capturados, mas também de sc:u tJnunhu '.crc.·,cimemo pas- [e-órica.s quanro empíricas) sJo incorporaJ.is de nune1r.l .1 re-
mence a ta.'<a de nascimenrn, esr;fo ilustrados na Figura l 5. l 2b sas compliCJ.çôes envolve a conscruçáo dos ch.imados moddm sado). A quanridade de biomas::.J. c:xplor:ívd l!\co é, que p0de ,;cr fletirem a dinâmica da escrurura populacion ..tl. ls~o, ent:ío. per-
para a estação reprodutiva da primavera noruegu~sa e para ,l de ··e~coquc dinâmico" capcurada) não depende apen.L\ do .. re>..ruumenro hquidu". rn.1~ mice es[imar a produção e a resposcJ da popu!Jção ,l dit:::relHt'.S
esração reprodutiva de primavera e verão da Islândia, enue A esrrurnra ger1l de um modelo de estoque dinâmico é também de uma combinaçlo explíclu de moru!iJade n.nurll. esuarC:gias de exploração, o que devena permitir .1 formul.1ç:io
1947 e 1990. em rebçáo à diferença enue o valor anual e a ilusrrada n.1 Figura 15. l 3. Os submodelos (taxa de recrura- morcalid:1de decorrente da explonçâo. cre-.;cirncnm mdividual e de uma recomendação ao respons;l\"e\ pda gc:st:lo pt'squeirJ.
média geral. As diferenças anuais de cemperamra no mar no- menw. t.L\.l de crescimento, taxa de mortalidade na[ural e c,L'\a recruramemo nas cl.ISse::. erârias de interesse p.u.1 .i ciprura. O pomo crucial é que no caso da abord.tgem do e.-.wque dinâ-
rueguês c~mhém estão ilustradas, refletindo a passagem d.1 massa de pesi.:a do csrnque explorado) são combinados para decermi- Fxisrem muiras variantes do rema gcr.d 1 ;:i e>-.., os sub- mico, uma esrratégia de t'xploraç:io pode rnduir. J\ém da in-
de água tria anômala em dir~áo ao sul e:, posreriormence, em n.1r a bioma.,s.1 explodvd do estoque e para entender como o modelos podem sa tratados separadamc:nce t'rll L.1Ja cla::.sc: remidade de exploração, umJ deciSJ.o Je como o e::iforço deve-
direç..io .10 norte. Houve uma boa correspondência encre a água procedirnenco a.fera a produção de umJ comunidade pesqueira. ecária e podem ini.:orpurar tanta inforrna..;:io qu.rnrn estlv:::r ria ser d1v1dido t'ncre as diversas class;:-s c:r;ín,ls.

1
458 PARTE 2- INTEIIACOES CAPÍTULO 15: APUCAÇÓES ECOLÓGICAS AO NivEL DAS INTEIIAÇÓES ENTRE PoPUtAÇÓES 459

A segunda possibilidade é que os ecólogo) se concentrem


-----~ Intensidade
de pesca Tamanho da malha exclusivamente na ecologia e cheguem a uma recomem!Jç5.o
Variáveis
ambientais, p. ex .. Variáveis ' 800 desenvolvida para satisfazer unicamente os crit~rios ecn!óoi.
temperatura 26~0 cos. QuJ!quer modificaç.io dessa recomendaç:io por g~,co~s
·,-----~- . ~
600 ou políticos seria, então, arribuída à ignor.inci,1, dc:sum:1.nid.1-
de, corrupção polírica ou algum outro pecado ou defciro hu-
·130mm
.... Taxa de Taxa de
400 mano. O problema com essa acirude é que é irreal ignorar os
+ crescimento recrutamento
facores sociais e econômicos em qualquer atividade hum,rn~1.
FIGURA 15.13 A abordagem de estoque di-
200 A terceira alternativa, então, en-
Reprodução
Sobrev,vênc,a de ovos nâmico aplicado a exploração e gestão pes- \'Oive os ecólogos realizando avaliações
Sobrevivência e queiras é ilustrada corno um diagrama de flu- ecológicas ráo acuradas e realista:,
10 15 20 25

h""l~
crescimento de alevrnos xo. Existem quatro ~submodelos" principais:
a taxa de crescimento de incl1viduos e a taxa quanto possfvel, mas assumindo que
Sobrev1vênc1a e 160~
crescimento de recrutamento na população (as quais sâc 33°0 /
~- __, / elas serão incorporadas em urna gama mais ampla de farnres
prê-recrutamento ad1c1onadas à biomassa que pode ser explo- para a cornada de decisôes de gestJ.o Ambiental. Além disso,
145mm
Biomassa explorável rada). e a taxa de mortalidade natural e a
do estoque taxa de mortalidade em decorrência da pes-
e~4oo-,:
~w . , ess<1s avaliações já de\'eri<im levar em consideraçã.o o forn de
ca (as quais esgotam a biomassa explorá- 5B -~ 130 mm
ljlle J.S imer.tções ecológic.1s que d.is an.1\i~.un induem P ho-
vel) As linhas continuas e setas relerem-se g- ~ 200 mem (.Omo uma das espécies interagentes, e gue o homenl é
Fatores
a mudanças na biomassa sob a influência ü
desses submodelos. ~s linhas pontilhadas e aferaJo por forças sociais e econômicas. Finalmence, comide-
ambientais
setas relerem-se às influências de cada sub· o 20 25 rando-se gue os critério..; ecológicos, económicos e saciai;; de-
modelo sobre o outro. do nivel de biomassa
5
'º 15
vem ser alinhados, a C)colh,1 de uma únicJ. e "melhor" opção
sobre um submodelo ou de !atores ambien- 600
Taxa de Taxa de tais sobre um submodelo Cada submodelo
-l5"o provavelmence ser.í vista por alguns Jtores envolvidos na deci-
mortalidade mortalidade pode ser d1vid1do em sistemas mais comple· são como uma opinião b,1scada no coniunto específico deva-
pela pesca natural xos e reais. A produção para o ser humano é 400
lores do proponente. Como conseqüência, n..1. prática, umJ.
estimada sob vários regimes caracterizados 160mm
Manejó
por certos vatores inseridos nos submode· "--/
tínica recomendação é muiro menos úcil nc:sse diálogo do que
200 J elaboração de uma série esrt.uiflcada de possíveis planos de
los. Esses valores podem ser produzidos teo- . !1~ !"m
Produção Predadores ricamente (em cujo caso eles representam 130mm
ação com suas conseqüências ..1.ssociad.1s.
para o ser humano , j "suposições") ou a partir de dados de cam-
No concexto aruaL porranro, desLnvolvemos esta tercei-
po (segundo P1tcher & Hart, 1982) 10 15 20 25
Ano deste regime ra alternativa em primeiro lugJ.r ao olhar p.lía além da Pêv-15 e
incluir crirérios que incorporJm o risco, J.S conseqüências eco-
FIGURA 15.14 As pr~d1ções de Garrod & Jones (1974) para o esto- nórnic.1s e sociais e etc. (Hilborn & Waters, l 992). Então,
que de bacalhau do Artice sob três intensidades de pesca e com três
Um exemplo clássico de um mo- A intensidade de pescJ nunca caiu .1brtixo de 45tYo, e c1prnrc1s brevemente, exJ.minarnm a maneira pela qual os paràmerrns e
diferentes tamanhos de malha (segundo Pitcher & Hart. 1982).
delo de estoque duü.mico em ação diz de 900 mil rondadas foram reali1.adas no final d., déuda do variáveis cruci,lis são estimados nas populações naturais, já que
respeito ao esrnque de bacalhau árti- l 970. Talvez não renha sido surpresa quando levanc.1memll~ ,lO determinar a qualidade da informJ.çJo disponível, estel de·

co-norueguês, o escoque mais seten- realizados no final de l 980 mostraram que esses eswqw:s de reconsiderar nJ.o 3penas os objerivos dos programas de explo- terminam o grau de confiança com a qual as recomendações
trional do Atlântico (Garrod & Jones, bacalhau, assim como outros escoques do Adânrico Norre. e~- ração, ma~ umbém os critérios pelos quais o manejo bem- podem ser feitas.
1974). A esm1tur.1 erária do final da década de ! %0 foi uri- ravam seriamente esgotados, como resulu<lo d:1 sobrLpt'\C.l. sucedido de\·eria ser julgado e o papel dos ecólogo~ no manejo
l1z:i<l.1 pJr.1 prc\·.:r os efeirns de médio prno de diferences O bacalhau do Mar do Narre .ninge a n1Jrnrid.1de ~exu.11 por em geral. Corno Hdborn & Walters l 1992) salienrarJrn, exis-
111tensidades de pt:\ca e diferemes r.tmanhos de nulha das volr,1 dos quatro anos de id,1de, nus J. espécie foi rio explor.1d:1 [crn uês amudes ahern,Hivct:. que os ecólogos podem adorar - 15.3.9 Fatores econômicos e sociais
redes sobre ,l produção. Algun.'> dos resulrados siio mostrados que alguns indivíduos com um ano de idade têm sido 1...,Lp!u- rndas têm s1lio populares, mas apenas uma é s.ibi.1. ~a verda-
11.1 Figuta 15.1-1 () pico remporário observ.1do .1pós cerci d;:'.' rados, e quase rodos os Indivíduos com dai, J.nos de id.1Jr s.~ll de, es~a.<i são consiJeraçúes c.LdJ vez rn.1i:. imporrames que se T.1kez o problema mais ôb\'10 de um.1
urh.:o .mos é um re"ulrado do Jc..,envolvimenrn dJ classe .urna! explorados atualmente, o que deixa apen.1s 40/o dos ind1\ Íl~uo) ,1p!icJm n.lo .-,omence J gesrJ.o pesqueira, m.1s cJmbém ,l qual- abordaoem unicamente ecológica \ej,1
de 1CJG•J, que fo1 111u1rn grande. Fm ~cnl. contudo. é cL1ro de urn ,rno par.1 sobre1,iver acé O.<i qu.urn .1.nm (Conk c>t Ili., 1tJl}"7 \ ciuer entr,1J.1 dos eLólogos 11.1 :m.:na pllblic.L ~ua fall~.l em reconhecei que :1 explo-
quL" O\ melhore) prmpec;os de longo~ pr;un t"or,1m previs[Os As rart,ms (palme1ra.s espinhm.1s rrepJde1r.b cujo 1...,1uk ( A primcirJ. .1r1rnck envolve a r,1ç.lo de um recurso 11.wiral é norm,tl-
por uma b.1ix.1 uuensidJde de pesca e um grande camJnho de usado para tecelagem e confecção de móveis no suJesre d,t :-\::,i.11 .1firnuç:10 de que as interações eco- mente um empreenJimc-nro comer·
malha. Amho<; dJo maior oporcunidade .10s peixe,;; para cres· esc:io ;1.me:içadas com a sobre-exploraçjo de maneira semdh.un..:. lóg1c..1.s \,lo muito complexas e que ciJ.I, no quJ! o valor do produro Jen· .-,cr cúmp.uado ,10.-, cu,-
cer (e reproduzir) .rnres de serem capturados, o que é impor· pois JS pessoas que .is explonm corram caules muiro joven, .: nosso entendimento e nmsos dados ros de su.1. obtenção. 1\íesmo que no.-, d[sr:rnciemos Jc l1u,1l-
unte. pois a proJuçJo é med1J.1 em biomassa, não apenas em reduzem sua capacidade de rebrotar U\·LtcK_jnnon, 1998). !>:io insutlciences p3r;1 que f.1.çamo, quer preocupJç.lo com o ·'Jucro", não faz semido se e-.forçar
número.,. lnten)iJ::i.Jes de pesu m,1is pesad.1,;; e malhas de 1.30 qualquer ripo Je pronunc1amenrn pJra ohter as últimas poucJ.S cone!J.d.1.\ de uma Pi\lS se o Ji-
mm lev.uiam :, 'iobre·exploraçJo do esroque. (por medo de estarmos errado)). O problema com essa ati- nheiro gasto nesra ativid.1Je poJeriJ ser inYes[iJo de m.rne1r_a
fntelizmente, as recomendações 15.3.8 Objetivos para o manejo de recursos i1 rude é qut:, .se os ecólogos escolherem permanecer em si- muito mais ef"icienre em ourras maneiras de produç:io lk ali-
1 mento. A idéia básica está ilu.-,trJdJ. na f-ig.ur.1 15.15. N:io procu-
de Garrod & Jones foram ignorad3s exploráveis lêncio devido a um..1. alta sensibilidade frente 3.s dificulda-
pdas pe)~oas que possufam o poder des, sempre haver;i algum outro profissional, provavelmen- ramos maximiur a produç.:io mui. mas o valor líquido - a Jife-
para determinar as escracégi,1s de expio· Se trJtJrmos o exemplo de GJrrod & Jones como típico, po- 1 te menos qu.dificado e com menor conhecimento. pronto rença encre o valor bruco Jo produto e .1 soma <los custos fixos
raç.áo. O tamanho d.1 malha nJ.o foi aumentado até 1979, quan· deríamos, então, concluir que os biólogos propõem - 111.1<; th p.1ra fornecer respostas diretas, para nJo dizer volúveis, para (pagamento de juros parJ n:n·im ou fahrKas. ~eguros. etc.) e dos
do foi deterrn111.1do um aumento de apenas 120 para 12 5 mm. gesrnres dispõem. E,te é, portamo, um ponro apropriado par,1
1 pergunus provavelmente Ímprópri:is. cu~ros vardveis, os quais :iumem:un com o csíorço de eÀplonçáo
!

l
460 PARTE 2 - INTERAÇÕES CAPÍTULO 15: APLICAÇÕES ECOLÓGICAS AO NivEL DAS INTERAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES 46 l

quanw um peixe deixado no depósito marinho. No emanro 15.3.10 Estimativas derivadas de dados
mesmo em casos como este, o desconto fornece um argumen~ 120 empíricos: o manejo na prática

PEO ----Y:
Produção liquida

Custo total
to econômico para se fazer capcuras maiores de um esrnque do
que seria desejável.
Além disso, naqueles casos em que o esmque é menos
100

,.
.
1895
1892
l8 94 1893
,.
1891
,.
O papel do ecólogo no manejo de um
recurso natural está na avaliação doesto-
Custos variáveis
produtivo do que a tJxa de desconto - por exemplo, muiras 1896 que:. fazer previsões quantitativas sobre
b..1leias e um número de peixes de vida longa -, parece fazer a resposta da população biológica frente
Produção a escolhas alternativas de manejo e abor-
senrido, em termos puramence econômicos, não apenas so-
___.- bruta
brepescJ.r o esroque, mas, também, capturar todos os peixes ~ 60 y dar questões relacionadas à possibilida-
1889

~
1897
Custos fixos ("'liquidar o esrnque"). As razões para náo se fazer isso sã.o par- 1890.._ de de dada incensidade de pesca levar ao declínio no camanhu do

. escaque, ao tamanho da malha e à recuperação da caxa de recruca-


cialmenre éticas - ecologicamente, isso por certo seria uma ,- 40 1887
Esforço • 1900 1888 .-
1898 A
falta de visão e uma maneira arrogante de se cracar das bocas 188ó mento do estoque etc. No passado, freqüentemente se assumia
1899
fominras J. serem alimenradas no fururo. Mas também exis- 20 1885 que isso poderia ser feiro apenas com um monitoramento cuida-
FIGURA 15.15 A produção economicamente ótima (PEO). aquela que 1884 ·f1;i.e3!
maximiza o ~lucro", é obtida à esquerda do pico da cuiva produção- tem razões práticas: empregos devem ser criados ou encontra- -1se2 doso. Por exemplo, à medida que o esforço e a produção aumen-
contra-eslorço, em que a diferença entre a produção bruta e o custo dos p.ira .1que!as pessoJs que antes eram empregadas pela in- tam em um esroque cresceme, ambos são monicorados, e a rela-
total (custos fixos mais custos variáveis) ê maior. Neste ponto. as ção emre os dois é plmJda até que pc1.r~a que o ápice dt: umJ
dü:.rriJ pe'i\.:jlK'Íí:l (ou .::.llJ.S famílias de\·erão ser .1uxili.1dJ.)). fon- 200 400 600 800 1 000 1 200 1 400
linhas de produção bruta e custo letal possuem a mesma inclinação
te~ al[c-rn.1riv,1s de ..1lime"nto devem .,er encomrJ.dJs, e .1ssim Tamanho do rebanho curv.1 como aquela apresencada. na Figura l 5.7 seja alcançado ou
(segundo H1lborn & Walters. 1992)
por <li.rnre. Em primeiro lugar, isso enfatiza a necessidade do ultrapassado, o que idencifica a PMS. Essa abordagem, comudo,
surg1menw de uma ''nova economia", que dê valor nã.o apenas FIGURA 15.16 O tamanho da frota que caçava a foca no Pacifico é muim falha. como pode ser visto na Figura 15.17. Em 1975. a
Norte (predadores) respondeu ao tamanho do rebanho de tocas (pre-
(combustível, gascos com a cripulaçJ.o, etc.). lsso sugere, de às coÍSJ.') que" podem ser compradas e vendidas - como peixes Comissão Incernacional para a Conservação do Acum do Adàn-
sas) entre 1882 e 1900 exibindo uma espiral predador-presa ant1·hO·
imediJW, que a produçáo economicamence ótima (PEO) é ou bJrco::, -. nus que também valorize encidades mais ab.'irra- raria (segundo Hilborn & Walters. 1992; dados de Wilen. 1976, obser- cico (ICCAT. em inglês) usou os dados disponíveis (1964 a 1973)
menor que a PMS e é obtida por meio de um esforço ou uma tas, como a sobrevivência de baleias ou ourras '"'espécie'.>-ban- vações não-publicadas) para piorar a relação produção-esforço para o atum-de-barbata-
cota. menor. No enranrn, a diferença entre a PEO e a PMS deira.. (Hughe,r et ai., 2002). Isso também salienta o perigo de na-amarela ( Th,mnus a/bacam) do Atlâmico ocidental. A comis-
é míninu em empreendimentos nos quais a maioria dos uma perspectiva econômica com visá.o muito estreita. Em uma são acreditava que havia atingido o ápice da curva: uma produção
custos é fixa (a linha de "cusro rocal" é praticamente pla- esferJ mJis abrangente, a rencabilidade de um estoque não J.iguma isco é uma regra geral. Os caçadores de focJ mudaram sustencável de cerca de 50 mil mneladas (5.1 x IOº kg) e um
na). Esce é o caso especialmenre das operações com alco poJe ser isobda das implicações de seu manejo. para a pesca de hipoglosso, mJ.s cais mudanças frequencemence esforço ótimo de cerca de 60 mil dias de pesca. Encreranto, a
investimenro e altamence tecnológicas, como a pesca em Os famres "sociais" entram de duas não sáo fáceis de serem realizadas, em especi:1.l quando há um ICCAT foi incapaz de impedir um aumenm no esforço (e produ-
grande profundidade, a qual é, conseqüenremence, mais m .rneiras diferences nos planos de ma- grande investimento em equipamento apropriJ<lo ou quando ç.í.o) e logo ficou claro que o ápice da curva não havia sido atingi-
propensa à sobrepesca mesmo quando o manejo visa o óti- nejn dos re"t:ursos nacurais. Primeiro, po- a atividade envolve ancigas tradições. Nas palanas de Hilborn do. Uma reanálise com o uso dos dados até 1983 sugeriu uma
mo econômico. líricas Jeveri.1m determinar. por exemplo. que uma grande fraca & Walrers ( 1992): "Princípio: a coisa mais d1ficil de ser feira produção sustencável de aproximadamente 110 mil toneladas
Uma st:gunda consideração eco- de pequenos e ineficientes barcos individuais seja mantida em na gestão pesqueira é reduzir a pressão de pes..-:a". ( 1.1 x 108 kg) e um esforço de 240 mil dias de pesca.
nômica imponance diz respeico ao urnJ úea onJe não existem outras fomes de emprego. Além dis- A substituição é um aspecco do comportamenro predatório Isso ilustra o que Hilborn & Walter> ( 1992) descrevem como
"desconco". Isso se refere ao farn de so, e a.inda mais imponante, é necessário que os pia.nos de mane- do explorador - sua resposta funcional (ver C:.1pirnlo 10). Os ou rro princípio: "Você não pode dererminar a produção pmen-
que, em termos econômicos, um pás- jo levem complecameme em consideração o modo como os pes- exploradores em geral também "aprenderáo" quando há uma ten- cial de um estoque pesqueiro sem sobre-explorá-lo". Ao menos
saro na m.lo agora (ou um peixe n.1 cadores e gestores se comportarão e responderá.o frenre a mud.rn- dência inevi{ável em favor da melhoria tecnológica. Mesmo sem parce Ja razão disso é a tendência, já observada, da variabilidade
redt') v:ile nuis do que um páss.uo ou peixe semelhante algum ças, em vez de assumir que eles simplesmente se ajustJ.r:io às ne- isco, os exploradores normalmente aumentarão sua eficiência à na produção aumentar à medida que nos aproximamos da PMS.
cempo no fmuro. A razâo e basicamenre que o vJlor da capcu- cessidade,; para akançar os ótimos ecológico ou econômico. ,..\ medida que aprendem mais sohrt' o seu esrnque - apesar dos Além disso. se também lembrarmos da dificuldade já menciona-
ra Jmal pode ser colocado no banco e render juros, fazendo C"xplor . lç.J.o envol\'e uma interação predador-pre'.>.1: n.10 fuz senti- pressupostos dos modelos slmples de esforço fixo. da de se reduzir a pressão de pesei, fica claro que, na prática, os
-.::om que o seu valor tocai aumence. De faco. um.t taxa de des- do b,lsear os planos na dinâmtca da presa apenas, enquamo sim-
conco comumence utilizada para os recursos na rurais C l 0% ple.')memc ,,,.: ignora a dinâmica do pred.1dor (nó,!).
ao .1110 (90 peixes no presence cem o mesmo valor que lOO :\ idei.1 do explor.1dor como pre-
pei;1,es tbqui J um .rno). apesar (b. diteíença enrre as r.1xas de d.1Jnr é rc:hm.:,1d.t n.t Fivura l -S.16. a
82
juros nos b,rncos e a tJX,t de infL1ção ser normalmeme de 2 J l.jll,il mo,tu t;m,1 cl.b,ic~ espi;al pre-
5% (dados rdl!rentes aos Escadas Unidos). A juscificaciva dos tbdor-prcsa . rnri-horária (ver Capítu- 78 79

.
75 - --.·.
lo l Ol p.1r3. .1 caça da foc.1 do Pacífico 77·
economistas para cal faro é o desejo de incorporar o "risco". 75 • _• 80
83 Análise
atual -1a
lJm peixe pescado agora jí foi c:1.prurado: um outro que ainda ~orre nus Li!rimos anos do século XIX. A figur . 1 ih1scrJ umJ
" ICCAT
esceja na âguJ poder.i ou não ser pescado - um pássaro na mão rc:spmra numáica do predador - embarc.1çó~.::, excras encr.un ; (1985)
realmenci;: vale dois no mato. n,t froCJ quando o escoque é abundanre, mJs J <leix.1m qu:1.ndu :f: 69 72,
1 §. 50 -- --~~----:__:._._~~
Por outro lado, o peixe pescJdo está morro, e o peixe de esci hJ1:...o. M.1s J figura umbém iluscra a inevitâ·:el l.u.:ni:Íl ·~ • • - ; ~ 71 -- (r~latono ICCAT. 1375)
66 FIGURA 15.17 Relações estimadas entre
que está na :íg:ua pode crescer e reproduzir (embora. ele ram- (111H:.T\·:1.!t1 Je rcrnpo) dessJ n:,;post.t. Assim, inli::"pendc:nccmcnre 67

bém possa. morrer). Porcanto, na realidade. cada peixe náo· do que um modelador ou um gestor possa propor, é muito e
"-
64. ·ss
7
produção e esforço para o arum-de·barba·
tana-amarela ( Thunnus albacares) do Atlân·
capturado valer:.í mais do que "um peixe'º no futuro. Em parti- improvi\ d que se alcance uma sincroniZJç.ío pc:rfe1u. :::m um tico ocidental. com base nos dados de 1964
equilíbrio. c:nrre o tanunho do estoque e o esforço. Além dis- a 1973 (ICCAT, 1975) e 1964 a 1983 (IC·
cular, se o esroque deixado na :igua crescer mais rápido do que 1 ºo 50 100 150 200 240 CAT, 1985) (segundo Hunter et ai, 1986:
a tJ.xa Je desconm, como normalmente é o cJ.so, então um so. c:nquanrn os caçaJores de foca da figura . .ieixar1m o c-srn- Esforço (d,as de pesca ,e 1.000) H1lborn & Walters, 1992).
p<:ixe 'ºdepositado" no banco não é um investimento tão rencávd quc: n.t rnc)ma vdocid.1Jc com que entrJra.m nele, de: m.rnc1r.1
1

J_
1
462 PARTE 2- INTERAÇÕES
CAPÍTULO 15: APUCAÇÔES ECOLÓGICAS AO NivEL DAS INTERAÇÓES ENTRE PoPUlAÇÔES 463

TABELA 15.4 Estimativas de parâmetros em três a1ustes da séne temporal de captura por unidade de esforço (CPUE) para O atum-de-

!
gesrorc:s provavelmenre terão de enfremar uma combinaç.ío de

~g--g
barbatanas-amarelas mostrada na Figura 15.18. ré a taxa intrínseca de crescimento, K é a capacidade de suporte (abundância de equihb~io na
desafios que en\'olvem dificuldades de e~cimJriva, relações ecoló- ausência de exploração) e q é a eficiência da exploração. O esforço e medido em dias de pesca: os valores de K e da produção máxima
gicas (neste caso, cnrre produção e previsibilidade) e fatores so- 120[ sustentável (PMS) estão expressos em toneladas (segundo H1Uborn & Walters, 1992)
-
ci0cconômicos (Jqui relacionados à regulaç.1o e redução do esfor- ()~
Numero de ajuste K (x 1.000) q {x 10- 7) PMS {x 1.000) Esforço na PMS {x 1.000) Soma dos quadrados
ço). l"emos avanç.1do basranre em relação aos modelos simples de .9 0,18 2.103 9.8 98 92 3.8

l
- Oc_------'-------~~
esforço fixo mencionados na Seção 15.3.3. 0.15 4.000 4.5 148 167 3,8
0.13 8.000 261

i
2.1 310 3.8
As dificulcbdes prácicas de escirnativa dos parâmetros
também csrão ilusrradas n.i FigurJ l ).18, a quJ.I mosrra a série
temporal de captura rotai, esforço de pc:sca e captura por uni-
dade de esforço (CPUE) entre 1%9 e 1982 para o acum-de-
barbacanas-anureL1s em rodo o Oceano Arlânrico. À medida
C[L-''---'---'----'1------'----~-~ l
1
f
urn senrimenro de desesperança. Decisões de manejo de,:em ser
wrnadas, e a melhor avaliação possí\"d dos esrnques deve formar
qüenremenre ocorrem. Os gesrores ambientais precisam en-
tender as implicações dessa estrumra heterogênea da p.iisa-
que o esforço ,1umentou, a CPUE diminuiu, prova.velmenre • 1
1 a base - emborJ não a única base - para essas decisões. Ê lamen- gem para tomar su.is decisões. Várias abordagens estão <li~-
como reflexo da diminuição do estoque pc:squeiro. Por oucro r.-Í\'d que n,lo renhamos um melhor conhecimento, mas o pro- poníveis par.-1 melhor.ir o nosso enrendimenro das popul.1-
lado, a pesca conrnwou a crescer ao longo desse período, su- bknu seria maior se fizéssemos de conr.i que sabemos mais. Além ções em paisagens complexa:., duas das quais considerart.:-
ge1 indo que ul\'ez o eSCOljue aindJ nJ.o esrivesse sendo sobre- di,so, anili,e, ecológic:i.,;;, c'conõm1os c' do comportamento hu- mos n:is próximas seções. Em primeiro lug.tr. paisagens com
pe~cJdu (isto é..1 !l\lS aind.t rüo h.1r.1J sido ,uingiJ.1). Esses nnno são irnporunre<; - como o ~;lo wdas .is ,rn.íli,es - par:1 difererHe~ graus de per<l.t de hibicats e fragmemação po-
dado:; ap,uecem prov.1velmeme d.1 forma di.)ponívd mais co- w idenoflcar o que 11,lo s.ibemos, tc'ndo em \'1sr.1 que, munidm dem ser criada.) anifici:1lmc'1He em esc.1l.1s ;1propriad.1s p.11.1
::,
mum ~ a chan1.tJ.1 série tempor.il de ··mão única". Mas eles
podem sugerir um.1 PJ\fS e o esforço necessârio para atingi-la?
"-
u ... --.-..___ Jc~se conhec1menro, podemos fazer um pbnejamenro para oh-
ier .1s inform.1ções m.1is LÍreis de que necc:ssit.1.mos. EscJ aborda-
.ts populações que pretc'ndemos esrudar, e seu cumpurc.1-
menro pode ser avali.1do por meio de experimentos co11cro-
Cenamcnre, exi~rem mécodos para realizar os cálculos neces- gem tem sido chamada de "maneio adapurivo", pois, medi,tnre lados cuidadosamente (\·er SeçJo 15.4.1 - no contexto do
s:írim, mas esses mérndos precisam as- urna esrrarégi.1 ··arivamenre adapt.1t1v.1", eb procura determinar controle biológico de praga::.). Segundo, modelos determi-
e,.:,: P,:.: ::.umir pressupostos acerca da dinâmi- uma oriemaç.l.O que ofereç.a algum babnço emre J. aquisição de nÍs[icos simples podem auxili;1r na idencificaçâo dos r.Ho-
ca b.ísica da população. informação (txperimemaçáo direcionada), por um lado, e caute- res que precisam ser le,·ados em consideração no manejo
O pressuposto mais usado fre- oL_~~~~~~~~~~~~~ !.1 em relação JS perdas nJ. produç}o de curro prazo e devido à de populações em um hábicar disrribuído em parcelas (ver
1968 1983
qüentemente descreve a dinâmica da sobrcpcsca de longo pr,lZo, porourro (Hilbom & \Valrers. 1992). )eção l 5.4.2 - no concexro da criJ.çáo de áreas proregiJ;1s
Ano
biomassa do e::.roque, B, como: N.1 verdade, há um forre argumento que diz que as imperfeições pa.ra a gestJo pesqueira). Ta.mbém vimos (n~r Seção 7.5.6 -
dm dados e d.1 reori.1 ,1umenram proh.111d.-1.menre a necessidade no contexco de uma reserva fragmentad<1 para proreger uma
FIGURA 15.18 Alterações na captura total. no esforço de pesca e na
captura por unidade de esforço (CPUE). entre 1969 e 1982. para o atum· dt.: ecólogos: quem mais pode levar em consideração as incenezas espécie ameaçada) como modelos de simulaç:1.o esrocásric.1
dR , B ·
~=rBII-
dr \ /,,
-1-H (15.2.) de-barbatanas-amarelas, Thunnus albacares. no Oceano Atlânt1co . .4. fi-
gura também mostra três curvas separadas a1ustadas a séne temporal
e inrerpreci-1.L'> produzindo recomendações adequadas? podem ser usados para comparar cen,irios de manejo onde
Conrudo, é preciso reconhecer t.:xistem suhpopuLlções em uma metapopulaçJo.
da CPUE pelos métodos descritos no texto. cuias parâmetros são apre- ,a:1eio s>?r:'
sentados na Tabela 15.4 (segundo Hilborn & Walters, 1992) ',e.dos ~uan~·:: de form:i. realisca que o manejo da
(Schaefer, 1954), a qual é simpksmerm..: .1 equação logística do
'~O 8(1S\ei"'"', nuioria dos escoques pesqueiros ma-
Capírulo S (t~L\a intrímeca de crescimenro, t, capacidade de c;5trrria:1vas 15.4.1 Controle biológico em uma paisagem
rinhos p:.HJ. obrer produções ô rimas di-
~upone, K) com a incorporaç:1.o de unu taxa de exploraçáo. A mente, não há um único conjunto º'mdhor" de valorô dos
; 2;pc,:11·:c,s-;
fragmentada
fic il mence ser:í atingido. Em geral.
ülcima pode .)er c:1lculada, seguindo .1 Equação l S. l lver Se- parâmetros. A Tabda I 5.4, por exemplo, mostra os parimerrus existem muiw poucos pesquisadores para re:ilizar as pesqui-
ç.io 15.3 ..1). por HcqEB, em que q é J eficiênci.i de explora- par:1 três curvas separadas ajustadas aos dados da Figura 15.18, ,Sabc:mo~ que a hererogeneidade e~pa-
SJ'I, e, em muiras puce~ do mundo. nenhum pesquisador.
-;.Io, e E. o esforço de exploração. Por JerlniçJo: que fornecem ajustes igualmente bons (a mesma soma de qu.1- cial pode escabilizar as inrerações pre-
\ie~sa" ~iruações, uma abordagem prec.n,ida n,1 gesráo pesqueira
draJosJ, mas com \·alores dos parâmetros muiro difererm:!:i. l )e dador-presa (p. ex., Capitulo 10). No
poderia c::n,·oker a proteç:io de urn.1 proporçJ.o d.ts comunida-
( 15.3) fato, exisre um gra.nde número de explicações alcern.iti\"a) 1gu.d- t'ntJ.nro. J. dinâm1c1 das pr,1g.1s e de
de~ costeiras ou de rt.:Life) de corais. c:m unid.1cks de conserva-
mcnce boJs para m (fados da Figura 15.18. Em algum.t:- JC"l.1~. ç.l.(l marinhas (H:111. 1998). O termo manejo sem dados rem ~eus Jgentes de controle biológico
Const:qllenLetllL'lllc" por exemplo, a popub.çio tem uma baixa capacidade de ~uporre, pode ficar desesrabilizad.1. produzin-
sido apli...:.1do a ~iru-1çôes em que o, h,1hiranres d.1s ,·ilas se-
ma-" um.1.t!u r.n.1 incrímec.1 de crescirrn:mo e é explor,1d.1 dlciL·11- guem prc:'>cri,,:{Jes ...,imple, p:1r_1 .1t1lllc'1Har :i p1oh,1bilid.1dc dJ do surro, d.1s. pragas, ,e ;1 ,ilreraç.1.o Jo
( 1í.·4 l temente, e, em outra:;, da tem un1.1 a.tu c1p.1eicfade de ,uporrc. !dbir.H ocorrer em um,1 e'ILJ.l.1 que inredira no comporcaint'n-
~uc>Lenr.1bilid,1Je. Por exemplo. o..., moradores dJ. Ilha V:rnuatu.
uma baixJ u.xa de crescimenrn e é explorad.1 com menm dlcit'n- co de forrageio do agente de con(role (Kareiv.t, 1990)
no PacHlco, .1prenJer.1m .ilguns princípio'\ de manejo simples
e ,l E4u.1çJo 1S 2 pode ser reescrü.1 em relaçJo à CPli"E com ci.1. No primeiro caso, a Pr\15 provavelmente j.-í foi .uing1d.1 c'.:11 \X'Hh e colaborJdores (2002) cri.1r.1m répiios de p-11-
para :1 explor.1çáo do molusco g.1::,cr(ÍpoJe Ttctw 11ilotiuts (os
ff ou E como v.HÍJ\·eis e com r, q e K como p;trâmetros. Para. 1980; no segundo, a.s captur;1S prova\"dmeme poderiam :-.er du- s.1.aens (parcelas) de rrevo-,·ermelho ( Trifrdiom pmlc'nse) cum
estoques deveriam ser nploradm :1 udJ crês a.nos e ficar livres
e,tc' modelo, ,l P.\!S é dada por rK/4, e o esforço necessário brad.lS com impunidade. Além disso, em cadJ um desses CJS(!S, de exploração nos anos imermediirios), com resultados apa-
16 x 16 m que diferiam em rdaçlo à :~bunJ.l11ci:1 do ::revo
p.tra acingi-b, por ri 2q. assume-.)e que a população se comporrJ em conformidade com .1 ( l O, 20, 40, 50, 60 e 80% T pmtellH'). St.:u objecivo era
1 renremente hem-sucedido, (Johannes, 1998).
Existem inllmeros mérodos para Equação l 5.2, a qual pode n.io ter nacLi a \"Cr (Om o assunm. ,ivaliar se limiares na escrumrJ da pJÍ:,,agcm .1ce!er.1vam li-
se obrer estimariv.1s de'\scs padmetros miares semelhantes na. disrribuiçJ.o de um afídco-pr.1g;1
'-;ri;:;cs.t "; ~, f:-~ óbvio, porunro, mesmo p.-tr-
J. '.:.S.3c_:>:;
1
a parrir de dado:') de campo; uiva o (Ji.c_yrthrhtphon pisum) e descobrir como ,l estrutura da pJ.i-
r'l-?,nor - n~~s :.:::. rir dessa sdeçáo limirada de exemplos, eJ--:eí.'.:.:1-:; G 15.4 A perspectiva metapopulacional
melhor deles seja o ajuste de curv.1s a que existem grandes limirações em rda- s 8 ,,:3.::,- s.iaem J.fetJ o comportamento de forrageio de duJs espé-
:--2. no manejo
séries remporai\ (Hilhorn & \X-'alter.s, ç.ío J. avaliação e aos planos de manejo .;,.:;o,,: ~:;s ci;s de joaninhas preda.dor.1s de afídeos, ~ma agenre de con-

l
1992). No encanru, quando a série dos estoques, as qu.iis são impo.)US por dados inadequJdos e: pcÜ Um rem,1 reincidente no,; capírnlos a.nreriores foi .1 frag- trole biológico introduzida. Harmo11Ítl a.9 1 ridl1, é: uma es-
temporal é de mJo única, como vimos que ela é freqüente- m;meirJ. como eles sã:o anaJisados. Isso não significa, no emanco. mencaçJ.o esp-1ci.1I 11.1 gLul as inter.1çües popuL1cionais fre- pêcie nJ.tÍ\",l. Col~omegtflt1 1twcu!,rti1. A colonização pelos
r

464 PARTE 2- INTERAÇóE5 CAPÍTULO 15: APLICAÇÓES ECOLÓGICAS AO NivEL DAS INTERAÇÓE5 ENTRE POPULAÇÓE5 465

afídeos e pelas joaninhas ocorreu por imigração na rural encre 15.4.2 Planejando redes de reservas para a TABELA 15.S Comportamento de forrageio (caça) de Joaninhas introduzidas e nativas em diferentes escalas em paisagens experimer.tais de
trel/O. Os valores são médias± 1 erro-padrão Cada parcela com 16 x 16 m conlém 256 c~lulas (1 m 2 cada); células de trevo são aquelas nas
as parcelas. gestão pesqueira quais.~ trevo estava presente. P~ra cada i.oan1nha que realizou_ pelo menos cinco transições de células. o deslocamento nas parcelas foi
A lacunaridade é um índice de agregaçáo derivado da quant1hcado em relaçao ao compnmento media do movimento e a taxa de deslocamento. A taxa de deslocamento é calculada pela divisão do
geometria de fraccal que quancifica a variabilidade na discri- :\o longo da última década, aproxi- deslocamento líquido (distância em linha reta) pelo comprimento geral do percurso (segundo With et ai., 2002)

buiçáo dos tamanhos dos vazios (distâncias encre as parcelas madamence, foram criadas reservas Escafa e medida comportamental Harmonia axyndis introduzida Coleomeg1lla maculata nativa
de trevo na paisagem). A distribuição do trevo nas paisagens marinh.1s costeiras e zonas de exclu- Dentro das células de trevo 0,80 • 0,005 1.20 ± 0,07
experimentais mostrou um limiar em 200/o de hábirac, indi- são de pesca visando a gescão pes- Hastes v1s1tadas por minuto

cando que os vazios ficam maiores e mais variáveis abaixo des- queir1 ( p. ex., Holland & Brazee, Entre as células de trevo
Células visitadas por minuto 0.22, 0.07 0,10 • 0.04
ce nível (Figura I 5. I 9a). Esse limiar foi semelhance para os 1996). Esre é outro exemplo em que Pnncipal tipo de deslocamento Voar Rastejar
afideos (Figura l 5. l 9b) e foi seguido forcemence pelo agence um encendimenro da estrutura da Deslocamento nas parcelas
de controle exócico (H. axyridis), mas náo pelo predador naci· paisagem e da dinâmica mecapopulacion~I seráa necessá- Comprimento médio do deslocamento (m) 1,90 • 0.21 1,10±0.04
rios para elaborar estratégias de manejo. E.. provável que as Taxa de deslocamento 0.49, O.OS
vo ( C. m,,culata) (Figura I 5. l 9c, d). 0.19 • 0.03
Embora a joaninha nativa forrageie mais ativamente en- quesrões mais fundamentais acerca do planejamento de re-
tre os ramos dencro das parcelas de trevo, em geral ela foi me- serv.1s se1:..m a fração da região costeira que deveria ser pro-
nos móvel e deslocou-se menos enrre .1s parcelas na paisagem ceg1dJ e o rJmanho (e número) .1propriado de reservJ~ ne- O problen1.1 dJ PMS pode ser enunci.1dn corno "<lc:cermine
<lo que .t jo.minha imroduzida, a quJ.! mostrou uma maior ,:e~s.iri.1.;; t'nl reL1çJo JO pocenciJ\ <le di~persJo d.1 c:sp~cic:- o 111\·d de" recençJo de larvas dentro dJ~ re)cí\,b, F p.uJ prc::~c::r\·.1r
ren<lênci1 de voar Cf.1beb 15.5). Com sua maior mobilid.1dc". .d\·ll. l-LC'ungs & Bocsford (200j) desenvulver.1m um mo- J espécie, e 1jusre J fraçJ.o dJ região costeir.1 L'l!l re~er\'.lS, e p,1ra :\ susrenrabilidade é o conceito central na preocupaç.i.o cres-
a espécie introduzida foi mais eficiente em localizar os afídeos Jelo <lec..:rmi,nístico .simples para responder a. essas quesróes maximizar o número de larvas que se est,1hdecc:m for:1 ddJS (dis- cente em relação ao destino da Terr,1 e das comunidades eco-
quando eles ocorriam em baixa abundância n,i parcela, um pJu um,1 t'.'~pécie hipotiticJ com caractaístic1s que provJ- ponível para a produção)". Observe que. de,·ido ao faro de F lógicas que a ocupam. Neste capículo, rraramos de dois aspec-
pré-requisito para o controle biológico bem-sucedido (;,..1ur- velmen[e a fariam ser beneficiada por zonas de exclusâ.u de permanecer constante (algo que os moddadorc:~ Jssumiram). uma ms-chave do manejo de recursos naturais - o concrole de pra-
doch & Briggs, 1996). pc::sc1: unu espécie com adulcos sedencjrios e larvas com alteração em e represenca uma mudança nJ 1Jrgura das rt'servas. gas e o manejo de exploração de populações selvagens. Cada
Resultados como esses têm implicações canto para a se- d1spc:rs.l.o J.tiv.1. A abordagem desses aurores ba.seia-se na Suponha que um valor de F de 0.35 seja necess.irio para manter a um deles depende de um entendimento das incerações popu-
leção de agentes de concrole biológico eficientes quanto para idCi-1 d..: que a alceração no esp.1çamenco e na largurJ das espécie. A linh.a cominua na Figura 15.20b rno)[r,1 como e e a lacionais (discuridas nos Capiculos 8 a 14) e c1da um cem a
o planejamento de sistemas agrícolas, os quais podem precisar reserva'i muda a fração de !.uvas que é retida dencro das largura da reserva precisam mudar para manter um Fde 0.35. Os suscemabilidade como principal objecivo.
ser manejados para preservar a conectividade dos hábitats e, mesm,E ou exponada (Figura 15.20). Obviamente, é ,l ex- detalhes matemáticos do modelo não precisam no~ preocupar - Pode-se imaginar que o objecivo do comrole de pragas seja
assim, aumentar a eficiência dos inimigos naturais e/ou dos portJçJo de larvas que fornece a base par;1 a produção sus- embora a maior produção seja obtida quando as reservas rêm o a erradicação cotai, mas esta em geral é rescrica aos casos em que
agences de controle biológico (Barbosa, 1998). tentJ\-d d.is áreas localizadas fora das reservas. menor [amanho passível (a seca na Figur.1 l '5..10h) -, pois &zem uma nova espécie exótica invadiu uma região e um rápido esforço
com que a exportação de larvas p.ua as :íre,b de:: pesca seja maxi- é invescido para eliminá-la complecamence. Normalmente, a mera
mizadJ, a produção é apenas levemente reduZtJ,1 1 medid.i que a é reduzir a população da praga a um nível no qual não vale ma.i~
configuração da reserva se distancia do seu ótimo. :-\ssim, Hastin- a pena investir recursos em mais controle (o nível de prejuízo
gs & Boc~ford (2003) deduzem que considerJçõc:s práticas, como econômico, ou NPE). Dessa forma, podemos ver que a econo-
(a) (b) o escabclecimento de reservas grandes o suficieme p:..ra serem apai.i- mia e a susremabilidade estão intimamente ligadas. Quando a
das, podem representar um.i pa.rre principal nu planejamento de população de uma praga acinge uma densidade na qual escá c.1u-
\
i
~[
' ~ reservas, comamo que as reservas não sejam cJo grandes (além do sando prejuíw econômico, no encanto, em geral é muico carde'
"cotovdo" da curva da Figura l 5.20b) a ponto dt' reduzir signifi- para começar a controlá-la. Então, o limiar econômico (LE) é
J
.~
~
~
-~
IIo 10
~
20 30 40
----+-~-+----------------4

50 60 70 80
.
"'
]
o 10
--~,-.
20 30 40 50
.,
/,>-.. ___ ~

60 70 80
cariva.menre a produçáo.
Embora o moddo seja uma simplifiuçJ.o grosseira, prin-
cipalmente em relação à falta de qualquer i11,..:eneza ou hetero-
geneidade temporal ou espacial. ele é úrd p.1r.1 chanur :1. aten-
çâo J(erca de algunus considerações ger.us imporr.intes e for-
mais imponance. O limiar econômico é a densidadt: da praga 11;1
qual J ação deveria ser realizada para impedi-la de atingir o NPE.
Descrevemos o conjunto de ferramentas representado pe·
los pescicidas e herbicidas químicos. Eles são uma parte-cha\c:
do Jrsenal dos responsá\·eis pelo controle de pragas, mas dc:-
(d)
60 í nece um ponco de: pMrida para modelos m.m ,nfisric:..dos e
es~1écie-específicm p.lía J\',dt.u se'.' .is redr.'..\ d~ re\c:-rv:h ser.:io
\·em ser usados com cuidado devido à possibilidJde de ·'rt'.'S-

. , surgênci.1 da praga-alvo" {quando o rr.1.camc-nco a~f:ra m.ii:- m


(e) 50 -
-;: úrci~ p~tr,l a gesr:lo pesqueir.1
1J
inimigos n.uur.iis do que a própria praga) é: de "surtos Jc: ~'r:I
.,
i
Em cada seção Jesre capíru\o, procuramos expliur con~ gas secundárias'' (quando os inimigos naturais de pragas "em

.jA. :r
' ceicos reLuivamenre simples por meio dJ .1d1ç.ío gr.1dual de potencial" são fortemente afetados, o que perm1re que ,b pr.1-

~f
m.tis demencos reais los c::xemplos discutiJm. Conmdo. de- gas em potencial se comem pragas reais). As pragas t.tr11bêm
".
~
s
........_____
~
"
10
~ -
ve-mos lc-mbr1r que mesmo os exemplos m,us complexos ,Hn-
da carecem de redismo em rdação JO conjunrn de inrer:1ções
são capazes de desenvolver resiscé':ncia aos pesticidas.
Uma alcern1riva aos pesticidas químicos é .1 mJnipul.lç:in
-~ '!--------+---...--+-----·
o inrerespt'.'cíficas dentro do qual esú.o inserida., .1s e~pécies-alvo. biológic.1 dos inimigos naturais das prag:L'i. O concrnlt'.' biolúgi(.ú
o 10 20 30 40 50 60 70 80 o 10 20 30 40 50 60 70 80 De fato. muiras soluções de manejo devem cnfocJr níveis mais pode envolver: (i) "introdução", com a expeccariva de persi·m:'n·
Abundância de hábltat (% de trevo) Abundância de hábltat (% de trevo)
de\'Jdos de: organização ecológica - comurndades com muiras eia a longo prazo de um inimigo natural de omra regi:10 geogr ili·
espécies t'.' ecossistem:1s inteiros. Tratamos d.1 ecologia de co- ca (freqüenremence da região de origem da especie-praga); (ii1
FIGURA 15.19 Padrão de d1stnbuição (índice de lacunaridade- uma medida de agregação) do (a) trevo (isto é. háb1tat) e das populações de
(b) afideos·praga. {e) joaninha introduzida (Harmonia axynd1s). que serve corrio agente de controle. e (d) joaninha nativa (Coleomegilla macu·
munidades e ecossistemas nos Capírnlos l (l ,t 21, .1nces de con- manipulJçáo de predadores naturais j.i presenres ("'controle bio-
lata). As plantas de trevo foram agrupadas nesles experimentos, em vez de serem dtspersas ao longo da paisagem As barras de erro indicam siderarmos as aplicações ecológic.ts ne)re nívd ecológico no lógico conservacionista''); (iii) lih<:ração periódica d~ um Jgentc'
~ 1 erro-padrão (segundo With et ai., 2002) C,pirnlo 22. que é incapaz de persistir durante co<lo o ano, mas que rdiLJ. o

1
466 PARTE 2 - INTERAÇÓES

(a)

(b)
1.0

0.9
0.8
o.a
0.7 FIGURA 15.20 (a) Representação esquemá-
tica de uma rede de reservas marinhas (bran-
0.6 06 co) e áreas de pesca (cinza) A fração da re-
gião costeira nas reservas é e, a fraçào de
0.5 larvas produzidas nas reservas é F e a ira- lilTRODUÇÀO .1.mbieme fí:iico-qulmico que forncle condições de sobrevi\'f'.11-
ção de larvas produzidas nas reservas que é ciJ e acua ramo como fonte quanto dreno de energia e mati-
0,4 0.4 exportada é 1 - F. (b) A combinação de valo-
res da tração da região costeira em reser- :\a narurezJ, ireas de cerra e volumes de .igu,1 contêm assem- ria. No Capírnlo l7, ,1bordaremos p,1drões em grande csLILl
vas. e, e da largura média da reserva (em bléias de diferentes e5pécies, em diferente) proporçôe:i e de- de: produtividade primária, os farorô c.iue limitam a produti-
unidades de distância média de dispersão) sempenhando diferentes funções. [5sas comunidades de orga- vidade e o ::.eu desci no em contextos terrícolas e aqui.rico,. No
produz um valor de 0,35 para a fração de lar-
vas que é retida dentro das reservas. F. Jun- nismos possuem propriedades que sáo :1 soma d.is proprieda- Capítulo 18, Lonsideraremos as forma:i pelas quais J hiot.1 acu-
tamente com combinações semelhantes para des dos indivíduos residenres mais suas interações. As intera- mula, rransforma e move a matéria entre os diversos compo-
0,1
outros valores de F. A seta indica a configu- ções são o que fazem da comunidade mais do que a soma de nentes do sistema.
ração que resulta na produção máxima de
o pesca fora das reservas (segundo Hastmgs suas panes. Assim como é um objetivo razo<l\·el de um fisiolo- No Capírulo 19, rernrnaremos a algunus inceraçõe:i popu-
o 0.5 1,0 1,5 2.0 2,5
Largura da reserva (em unidades de dispersão)
& Bo1slord. 2003). gista escud:u o comportamento de diferenres tipos de células e lacionais básicas esrudadas em capírnlos anteriores desce li\ ro
reciclas, remando, após, uolizar o conhecimento de suas inte- e consideraremos as nuneiras pela\ guJis a competição, a pre-
rJções parJ explicar o comporramenco do organismo inreiro, dação e o parasicismn podem moldar comunidades. No Capl-
o ecólogo pode ucilizar o conhecimento dJs interações t::mre wlo 20, n:conheceremo,; que a influencia de umJ espécie em
organismos para rentar explicar o comportJmenro e a estruru- particular freqüememenre se ramifica para alem de um deter-
controle durante urnJ ou poucJs geraçõe:i ("inoculação"); ou (iv) O conceiro de produçáo máxima suscenrivel (Pl\tS) tc.:m
r.1 de uma comunidade como um codo. Ecologia de comuni- minado competidor, presJ ou popuL1çio hospedeirJ, através
liberação de um grande número de inimigos (os quais nJ.o persis- representado um princípio norceador do manejo de explorctç,l.o.
J,tdes. portanto, é o estudo de p.ldrões na estrutura e no com- de roda a reiJ .1limenrar. O escudo de reias alimentares sirna-sc
cirâ.o) para mJtJr apenas aqueles indivíduos da espécie-pragJ pre- Descrevemos as diferences abordagens parJ obter uma PiV1.) -
porramenro de assembléias de espécies. Ecologia de ecossisce- n;1 incerface entre ecologia de comunidade e eLoloai,1 de c.:cos-
,;;ences no momento ("inundação", às vezes chamada, por ~rnalo- adotando LUTIJ cot.1 fr(a, regulando o esforço de exploraçáo, '-"\-
mas, por outro hdo, é direcionJda para a esrrururJ e o com- sisrem~1. e como ui focaremos camo em dinâmic.i ~opulauo-
gia, de pesticidcts biológicos). O controle biológico não é, de for- piorando umJ proporç.1.o constance ou permitindo um esc.1pe
portamenw dos mesmo~ sistemJ), mas com foco no fluxo de nal de espécies inrerarivas na comunid.lde quanro na5 cumc-
ma alguma, sempre amhiemJ.lmeme correm. F..srão sendo acu- conscame - e chamamos a .uenção para as limicações de e.ida
energia e macéria. qüências para processos ecossiscêmico,;;, c.lis como produr1, i-
mulados exemplo:i em que imroduçõe:i aparenremente bem-su- uma delas. Abordagens mais confiáveis para a explora\ão susten-
Consideraremos inicialmenrl'. .1 1ucureza da comunidade. dade e fluxo de nutrientes.
cedidas de agentes de comrole biológico cuidadmamente t'SCO- tável também são discutidas, incluindo os modelos de e\toque
dinâmico (os quais reconhecem que rodos os indivíduo:i na po-
O inreresse dos ecólogos de comunidades é saher como agru- No Capítulo 21, tem.iremos fazer um,1 síntese geral dm
!hidos impaccar:im c:ipécie:i nJ.o-alvo, tanro pela influência sobre
p,1mencm de espécies esrjo dic;rribuídos e Js m.1.neiras pel<1s brores. unro abióticos LJUanto biúrico.\, que Jerermin:.irn J
espécies não-alvo reLKionadas i espécie-pr.1g.i quanto pela iníluên- pulação explorada não são equivalentes e incorporam ,I esuutura
quais rais :igrupamenros podem ser mtluenci.ufos tJ.nto por riqueza de espécies. ,\:i r.1zões que decerm1n.1.m ,I v,Hl.lÇ.id do
ci.1 :iobrc omr:i:i espécies que interagem em reias alimenures com da popul.lçio nos modelos popubcionais) .-: abord.igens que rn-
firorô abH)cicos qu.rnro bióticos. ~n C,1pímlo 16. iniciaremm 11Ümero de espt'cie~ de uin lool pJcl outro e de um nwmemo
,is esp~cic.:s não-,Jvo. corporam. explicirJ111enre. O'> farnrô económicos (rr.u.rndo ~b
com unu op!iCJ.ção de ..:umo a e,crLUur.i de comunid-ides pode p.1r.1 nutru )-lo quesrôn imere:i:iantes por ::.i :-.ll .•1km d.1 \LU
Ü ITIJllCJu integudo de prag,1s ti\IlP) é uma filosofia produção economic.imeme ()tima. PEO. em vez de simplesm,:n-
.ser medida e descriu. focalizaremm então os p,1drõe~ de estrum- imporr.lnc1:1 pr,iric1.. Veremos que uma comprs:enün cornpk-
práticJ de ma11i.~JO que é baseada na ecologia, mas quL usa ro- re da PMS). T.1mbém ob::,nv,1mos que n:10 existem d.1do.~ J1spo-
r:i de comurndades no espaço. no tempo e, de forma mais com- u dos pJdrôes de riqueza em espécio tem <le ser baseJd,1 n.t
dos o.<. méwdos de controle, incluindo os químicos, quando niveis para muicos <los i::scoques pesqueiros mundiais, em e:ipeo,11
plexa, mas m,tis reaJ1st.l, em um Lonrexro espaço-temporal. comprcensJo <los tópicos ecológicos vi\ro\ em c.ipirulos ancc-
,1propn.1dos. Ela b.1seia-se fortemente nos fatores de rnortali- nm países em desenvolvimenm; nesses casos, princípios :iimpks
Comunid.ides. ,1ssim como cmiJ,1des biológicas, necessi- riores deste livro.
dad~ namral. corno as condições climiricas e os inimigos na- de manejo "sem dados" podem repre~emar o melhor que os ecó-
tam de marériJ parJ suJ construçJ.o e energi.t para sua.r., ativi- Fi11almenre. na úlrinu Je nos5a mlog1a Ji; capítulos abor-
rnra1s. logos podem propor.
d.1des. Exanwuremos as formas pd.1:i quais unu grande varie- dJn<lo aplic.1ções de ceonJs ecológic1,. cn11sider.uemo~. no C.1-
Sempre c.iue uma população natural é explorada, existe o Finalmente, muitas popuL1ções (incluindo ;iquebs de pu-
dade Je consumidores e seus alimentos são agregados em uma pírnlo 22, a .1plic.1çJo de teorias ...rd1Lionad,1s a sucessão. eco-
nsco de sobre-exploração . .t\fas os responsáveis por sua explo- gas e populações exploradas) existem em ambientes hecerogeneos.
reiJ .1limenrar <le elemencos inrerarivos, arravés da quJ! a ener- logia de tei.ts alimenrare,;, funcion;imenro Je eLossi:irernJs e
ração também querem evitar a subexploração, na qual consu- à.'i vezes como mecapopulaçôes. Os gesmres ambientais precis.1m
gia (Capir.ulu 17) é a m.uér.ía (Capir.ulo 18) são movidas. Essa biodiversidade. Concluiremos com o rc:conhecimenru de c.iue
midores porencia1s sJ.o privados do produto, e os empregados esrar ciences dessa possibiliJJJe, por exemplo, na decerminaç."io
abordagem ecossistemica envolve produrores primirios, <le- aplic1çóes de reorias ecológicas nunc.1 ~.lo frir.1s isobd.unc:me
nessa ,HividJ.de ficam subempregados. Assim, como em mui- de qual agente de controle biológico usar em uma paisagem .1grí-
1...ompo:iitores e decririvoros, um comparrimenro de maréri.1 - o uso :.u~renr,h·d de recursos narurJi.\ requer que incor~.,ore-
tas áreas da ecologi,1 aplic1da, existem imporunres perspecri- cola ou no pl.mejamenro dL uma rede de zonas de exclusJ.o de
orgjnica morra. herbívoros, carnívoros e parasitas além do mos perspecriv,1s econômicas e sociopolítios.
\·as econômiCJ.s, sociais e políticas a considerar. pesc.i como parce de uma e5crarég1.1 de gestao pesqueira.

1
_i
468 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS

No prosseguimento de uma analogia introduzida anterior- são construídos e padrões na maneira que se comportam. Entre-
mente, o esmdo da ecologia no nível comunidade/ecossistema é tamo, para emender como funcionam, eles devem ser desmonta- '
um pouco parecido com o de fazer diterenres relógios. Pode ser dos, escudados e remontados novamente. Encenderemos a natu-
feira uma coleção e uma classificação dos conmidos de cada um. reza de comunidades naturais quando soubermos como recriar
Poderemos reconhecer caracceríscicas em comum na maneira que aquilo que, inadvenidamenre muitas vezes, temos desmamado.

1°,.' ;r;,r,Jduçáo predação e comperiçio. A nacureza da comunid.1.de é obvia-


mente mais do que a soma de suas espécies constituintes. As-
Os ecofisiologisca~ e os ecólogos comporra.menuis trabalham sim como nos casos em que escamas interessados no compor-
primaridmeme com organismos individuais. o~ indivíduos tamento de misturas complexas, exiscem propriedades emer-
coexisrences de uma mesma espécie possuem LJ.racrerísricas - gentes que aparecem quando a comunidade é o foco de aten-
como densidade, razão sexual, estrucura. edria, t.L'GlS de nara- ção. Um bolo possui características emergentes de texrura e
lid1de e imigração, morcalidade e emigraçáo - que são únicas sabor que não são aparentes nos ingredientes. No caso de eco-
parJ. populações. Explicamos o componamenrn de uma popu- logia de comunidades, os limites de similaridade entre espé-
laçáo em termos do comporramenro dos indivíduos que a cons- cies competidoras (ver Capírnlo 19) e a estabilidade de ceias
ticuem. Por sua vez, atividades em nível populacional têm con- alimentares frente à perturbação (ver Capículo 20) são exem·
seqúência para o próximo nível acima - o de co1111ozidade. A pios de propriedades emergentes.
comunidade é uma assembléia de populações Je espécies que A ciência em nível de comunidades impõe problemas de-
ocorrem juntas no espaço e no tempo. A ecolugi.t Je comuni- sestimuladores, pois os bancos de dados podem ser enormes e
dades procura enrender J maneira como agrupamenros de es- complexos. Um primeiro passo em geral adocado é procurar
pécies são distribuídos na natureza e as form.1s pelas quais tais
agrupamentos podem ser iníluenciados pelo amhieme abióti-
co (Parte 1 deste livro) e pelas interJçóes emre as populações
das espécies (Pane 2). Um desJfio para ecólogos de comuni-
Compartimento lotal de espêc1es
dades é discernir e explicar padrões emergente'.'> de~sa ampla Aestnções
ambtenlais
g;ima de influências.
Em termos OJ.st.rnre g;erais. as es- --·· 1 '... -----~-~·-·-·---- Aeslrições à
dispersão
pecie~ que se reúnem p,ua formar uma Compartimento
de habitat
comunidade sâ.o Jererm1naJ1s por: (i)
Compar11mento
restrições em disper~:!n; (iil re~crições eco!og1co
Compart1menro
geograi1co
ambient::i.i.'i; e ( ii!) dir<Hrnc.t, inrenus D1nãm1ca interna
I rigur1 l ú. l) (Bdy.:"J e L1n(a.:-rer. l 9lJ9). U, :·:...., dogo.'! procu-
ram regras de montagem de comunidJ.des. [)bcuciremos tais
-~z. -~1
regrJs neste caplndo e em diversos Ol1cros (p.tru.:tdarmente ~~J
Capirnlos l 9 J 21 ).
Uma comunid1de é ,.:omposc.1 por
individuas e popul.tç()e_.., -.:. como tal,
podemos 1denrific:u e csmJ:.1r proprie- FIGURA 16.1 Relações entre cinco tipos de compart1men1os de espé·
dade col~riv,u dtreCJ.'!, uHno <liversid.1- c1es· o comp;;in.1mento do total de espécies em uma reg1ao. o compar·
de em espécies e b1on1:.1ss,1 d.1 comuni- timento geografico (espécies com poss1b1lrdade de chegarem em um
tocai). o compartimento de hábttat (espécies capazes de pers,shrem
dade. Entrecanro, j.i 1,·tmos que orga- sob as condições abiôticas do local).o compartimento ecológico (o
nismos da mesnu e~pécie ou de esp~- coniunto superposto de espécies que podem tanto chegar quanto
cies diferentes inrcT 1~em encre si em pers1st1r) e a comunidade (o compartimento que permanece em face

1
de interações b1ó11casJ (adaptada de Belyea e Lancaster, 1999; Booth
processos de muru.1l1,mo, parJsit1smo,
e Swanton. 2002)

1
470 PARTE 3- COMUNIDADES E Ecoss,sTEMAS CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÓES NO ESPAÇO E NO TEMPO 4 71

plera. Se a co~unidade é definida de forma bem restritiva (p.


80
ex., a comunid:1de de aves canoras de uma m.1ta). as n1nra-
~

1 60
Comunidade A gens de números de indivíduos em cada espécie podem ~c:r
suficientes para muitos propósitos.

.~
e Enrreranro, se escamas interessados em
wdos os animais de maus, a enorme
1
.
40

Comunidade B
disparidade em ramanho significa que
simples contagens podem ser enganadoras. Surgem tJn1l",ém
"~ 20
problemas se remarmos contar plantas (e ourros organismos
.§ modulares). Devemos conrar o número de caules, folhas, ra-
z
0o~--400~--aoo~-,-2Loo--,-.sLoo- mos, rdmeras ou generas~ Uma forma de contornar esse pro-
Número de indivíduos na amostra
blema é descrever a comunidade em termos de biomassa por
espécie por unidade de áreJ.
FIGURA 16.3 A relação entre riqueza em espécies e número de 1nd1- A medida mais simples para caracterizar a comunidade, e
viduos em duas comunidades hipolet1cas. A comunidade A possui uma que le\·a em consideração canto o padr:10 de .1bundinci:.1 (ou
riqueza total em espec1es consideravelmente superior à da comuni- biom.1ss.1) quanrn a nquc:za de espécie), é o índice de diversi-
Comunidade de Flora e fauna do dade B.
invertebrados em uma mteshno de dade de Simpson. Ele é ulcul.1Jo obrendu-se. pJrJ cada t'spé-
Biorna de floresta cavidade che,a de água uí'fl cervo cie, a proporção de indivíduos ou biomassa em rd.ição ao to-
!emperada na de um 1ndNiduo de laia
rai da amostra, isrn é, a proporção P, para a 1-é,ima espéc.e:
Amenca do Norte moscra dos orgJnisrnos em uma dfta pode sn conraJa. O nú-
mero de espécit:s regisrr:.1d.1s depende, port.rnro. do número
FIGURA 16.2 Podemos 1dent1ficar uma hierarquia de hâbitats. aninhados um dentro do outro: u~ biorna de floresta te,:nperada na América do de amostras obridas. ou do \"O!ume do hábicar que foi explora- 1
índice de S1111pson. D~ -,-- • (16 1)
Norte; uma mata de faia-bordo em New Jersey; uma cavidade em árvore contendo água. ou o intestino de um mam1tero Em qualquer uma
dessas escalas, existem comunidades e compete ao ecólogo escolher qual delas estudar
do. As espécies mai~ comuns pro\'avdmeme serio observadas
nas primeir.1~ amosrras e, conforme mais amoscras são obti- I~
das, espécies mais raras vão sendo adicion.1das à lista. Em que
ponto deve-se cessJr .1 amosrr.1gem? Idealmente. o invesciga- em que 5 é o número total de espécies n.1 comunidade (isto é,
padrões nas propriedades coletivas e emergentes da comuni- Os ecólogo~ de comunidades às dor deve conrinuar com a ammrragem até o número de espé- riqueza). Como desejado, pa.ra uma dada riqueza, D aumen-
.t
dade. Os padrõe~ são consiscênc1as repc"cicivas, como o repeti- vezes cons1derar11 rodos os organi~mos cies ,tlcançar um plarô (Figura 1G.3). No mínimo, as riquezas ca com :i equabilidade, e para uma dada equabil,dade, D 1u-
do enconuo Je agrupamencos de formas de crescimento simi- presenres c:m uma área, embora isso em espécies de diferences comunidades devem ser comparadas menra com a riqueza.
lares em locais diferences, ou tendencias repetidas em riqueza raramente seja possível '.'.lem uma equi- usando-se um mesmo tamanho de amostragem (em termos A eguabilidade cambém pode ser
ern espécies ao longo de diferentes gradienres ambientais. O pe grande de raxonomisus. Outro~ de ;írea de hábitat explorado, tempo g:1sco nJ. amoscragem ou, guancif,cada (encre O e 1). obrendo-,e
reconhecimento de padrões leva, por sua vez, à consrrução de restringem su.1s ~trençôes a um único ,1 melhor sirnação, mímero de indi\'íduos ou módulos incluí- J proporção entre o índice de Simp-
hipóteses sobre as su.1s causas. As hipóre~es podem encão ser grupo ca.xonómico dentro de comunidades (p. ex., ,lves, inse- <lm n:i.s amostras). A anáJise de riqueza em espécies em situações .<,Qn e o valor máximo que este assu-
tesrad:1s por meio de observações .:i.dicionais ou por experi- tos ou árvores) ou a um grupo com um.1 arividade em particu- concrasra.nres aparece de modo proeminente no Capítulo 21. miria caso os indivíduos fossem distribuídos uniformemente
mentação. lar (p. ex., herbívoros ou derrirívoros) entre as espécies. De fato, Dm.L, = S. Porranco:
Uma comunidade pode ser definida em qualquer escala den- O restante de~te capiculo contém seis seções. Iniciaremo,
tro de uma hier..i.rquu de h:íbit.:i.ts. Em um extremo, podem ser explicando como a escrucur,l de comunidades pode ser med1- 16.2_ 1 Índices de diversidade
reconhecidos em umJ escJl.1 globaJ pa<lrúes ger:iis na distribuição d.1 e de'.'.lcrita tSeçJ.o I G.2). Após, foc:11i7.aremos os padrões <..k equahilidade. E~_!!__~ __J_ x .1- ( 1G 21
de tipos de comunid:i<les. O biorna de tloresc:i.s temperad:is é um estrucur.1 de comunidades: no esp:.iço (ScçJo l 6.3), no tempo
(Seçóc:s 16.4 a 16.6) e finalmente em um concexrn combinan-
l,;m :tSpecro imporcance da estrurura de '" IP ,\
[J ' ~

exemplo: sua amplirude de disrribuiç5.o n-1 América do ~Jorre é comunid.1des é complecamenre ignora-
mosrr:.ida nct Figura 16.2. Nessa esc.1b, os ecólogos ger;tlmeme do espaço-ternpo (Seçáo l(i.7). do quando .1 composição da comunid:.i-
reconhecem que o d1m,1 é o farnr 111.11 . . imponanre na derermin.1- dt.' é Je~criu ~implesmenre em rermos Urn omro indice frequenremcnce urilizado e que po~..,u1
ç.Jo dos limites de tipos de n:gctaçáo. Em urnJ esc.11.1 m.us deu- do número de espécie-. pre:.eme'.'.I. Ignora-se a informaçáo de gue essencialmente as mesma" propriedJdes é o de Shannon, H.
!had.i. o bionu de tlore'.'.lta temperada em ;'\;ew Jersey é represen- algumas espécies sJo r .ira.. . e outr,h comuns. Considere uma co-
Novamente, uriliza-se o conjumo de v.1lores de I'_ Assim,
tado por comunidades de duas espécies de ár.·ores em p.imcular, munidade de IO tspécies com número igual de indivíduos para
fai.1 e horda, iuntJmente com um grande número de outras espé- cada uma delas. Con,idere também uma segun<l.1 comunid.ide,
cies menm compícuas de pbnras, anim.us e microrga.nismos. O Uma form.1 de caracterizar um.1 comu- rambém consistindo t::m l O t'spécies, mas com mais de 50% dos diversidJ.de, H:::: - Ir ln I' I IG 3i
e~mdo de comunidades pode ser fac.ido nesta escaJa. Em um.J. nid.1de é ~unplesmeme conur ou lis- indivíduos penencerrn:s à espécie mais comum e menos de 5%
escalJ aind,i mais detalhada, pode-se esrndar a discmta comuni- tar JS espécies pre~emes. P.uece um em c...ida um.1 das ourr.t'> no\"e e~pécies. C.:i.da comunidade possui
dade de invertebrados que hJ.biram cavid.1Jes que comem água procedimento f.ícil e objetivo de~cre- a mesma riqueza em e\pécies, mas J primeira, com uma distribui-
em indivíduos de faia, ou aind.1 a flora e fauna incestin:11 de cer- ver e comparar comunidades por meio ção mais 'equirariv;i' de <1bundà.nc1.1s. é daramenre m.tis di11ena
de suas 'riquezas' em espécies (isso é, equabilid:ide, ( 16.4)
vos na floresta.. Encre essas diversas escal~ de csrudo de: comuni- do que J segundJ.. Riqueza e equabilidade combin~m-se para de-
dades, nenhum.1 é mais legítima do que outr,t. A escala de inves- o número de espécies presemes). N:.i pdrica, entrer.:i.nro, is'.'.IO é rerminar a diversidade de uma comunidade.
tigação apropriada depende do~ tipos <le questões que õtâo sen- ~urprec:ndencemc:nte difícil, em pane devido a proh!em.ls cJ- Conhecer o nt'1mero de indivíduos presentes em cada es- Um exemplo dt' J.nilise de diversidade é d.ldo pdo incrí\el
do propostas. xonômicos. m.1s CJmbém purque em geral .1pen.1s um.1 '.'.IUb"J.- pécie pode rambém ndo ser suficlen(e p:.ira umJ. resposta com- e~cudo de longa dur.içáo que vem sendo frito desde 1856 em

-----·----- - -
4 72 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÕES NO ESPAÇO E NO TEMPO 4 73

As demats levam em consideração aspectos das relaçóes entre


(a) (b)
as condições. os recursos e os padrões de abundâncias dases-
pécies (modelos nlcho-orienrados) e provavelmente são mais
úteis em auxiliar a compreender os mecanismos envolvidos na
10-'
10- 1 l •
: ~~:. :-:
organizaçio de comunidades (Tokeshi, 1993). llumaremos a 10·2
diversidade de: abordagens pelas descrições das bases de qua- '. DD
MF
tro modelos nicho-orienrados de Tokeshi ( ver Tokeshi, 1993, ,o-3
10-2
~ . RF
para um rraramenco completo). O modelo de dominância por
ocupaçâo (dommance-preemption). que produz a menos equi- .
i BS
10~

,a-s
iE 10-J · RA
rável disuibuição de espécies, conta com sucessivas espécies CM
ocupando uma porção dominanre (50% ou mais) do espaço ,o--3
de nicho restante; a primeira, espécie mais domiRante, ocupa <
10~
..
"--
mais dc: 50% do espaço de nicho disponível, a seguinte mais GS
LS ,o-7
FIGURA 16.4 01vers1dade de espécies (HJ e equabihdade (J) de uma de 50% do quc: restou, e assim sucesslvamenre. Uma discri- LN 10~
parcela-controle e de uma parcela que recebeu fertilizantes no expe·
nmento 'Parkgrass' em Rothamsted (segundo Tilman. 1982). buiçJ.o um pouco mais equitativa é represemada pelo modelo 10-s
• DP
fn1çil.o-,1Íe1rrOl"u (mndom fmcrtoit model), em que sucessi,·.1s es-
10 20 30 10 15
pécies in\".1Jc:m e ocup.im uma porção arbicráriJ do esp.1~0 de Posição da espécie PoS1çào da espécie
uma área de campo em Rorhamsred, Inglarerra. Parcelas expe- nicho de qu.1lquer espécie já presente. Neste caso, indepen-
(e)
rimentais vêm recebendo craramencos com ferrilizanres apli- dencemcnce do sr,rtu:i de dominância, todas as espécies estão
cados uma vez ao ano, enquanco parcelas que não recebem sujeiras J. divisJ.o de:: nicho com igual probabilidade. O modelo
fenilizances sJ.o mJ.ntidas como controle. A Figura 16.4 mos- fracion,ino de 1'vlircArdmr (AfacArthurfractio11 mode/), por ou-
"ª tro bdo ..1~surne que espécies com maiores nichos cêm maior
como a diversidade de espécies (H) e a equabilidade (])
das espécies de plancas mudaram encre 1856 e 1949. Enquan- probabilidade Je ser invadidas por novas espécies; isso resulta .. FIGURA 16.5 (a, b) Padrões de abun·
dâncias relativas de vários modelos.
to a área sem fertilizantes permaneceu essencialmente inalte- em umJ distribuição mais equitativa do que o modelo fr.1çJ.o-
Dois deles são baseados em distribui·
rada, a área adubada mostrou um progressivo declínio em di- alearória. Por último, o modelo de dernimento de donlfmincia ções estatisticas (LS e LN). enquanto os
(domi11,ma-dr:ei~y model) é o inverso do modelo de dominitn- demais podem ser descritos como ni-
,·ersidade e equabilidade. Uma possível explicaçáo seria que a
cho-orientados. (a) BS = vara quebrada
alu disponibilidade de nurriences ocasionou alras taxas de cres- cia por ocup..içâo. em que o maior nicho em umJ. Jada a.'>Sc"m-
(broken stick); GS = série geométrica;
cimento populacional. fazendo com que as espécies mais pro- bléia sempre est.i sujeirn a uma subseqüente divisão (ale::uó- LN = log-normal; LS = log·série. (b)
dutivas dominassem a área e. cakez, excluíssem competitiva- ria). Desse modo, neste modelo espera-se que a próxima espüie CM = composto; DD = decaimento de
1949 dominância; OP = dominância por ocu-
mente as outras espécies. a im·adir a comunidade colonize:: o espaço de nicho ocupado pela
1919 pação; MF = fracionârio de MacArthur:
espécie mais abundame, produzindo a mais equirável disrribui- RA = mistura aleatória; RF = fração alea-
ção de espécies de todos os modelos. 1903 tória (c) Mudança no padrão de abun-
1856 dâncias relativas (com uma série geo-
16.2.2 Diagramas de abundâncias relativas Os diagramas de abundâncias re- 1872 1862
métrica ajustada) de espécies de plan-
Lui\"as, assim como os índices de ri- tas em um campo experimental sujeito
Naturalmente, as tentativas de descrever a escrurnra complexa queza, di\"ersid.1de e equabilidade. de- à adição continua de tert1hzantes desde
1856 até 1949 ([a·cl segundo Tokesh,,
de comunidades por um único acribuco, como riqueza. diver- vem ser ,·isros como ab,;;crações da es- Posição da espec1e 1993) ( Continua)
sidJde ou equabilidade, podem ser criticadas, devido à grande rrurur J Jltamcnce compkxa <las comu-
perda de informações valiosas. Um quadro mais completo da nidade-'> que podem ser Úteis quando
discribuiçâo de abundânci.is das espécies em uma comunida- fazemos comp.1r-1çóes. Em principio, a idéia é que, encontrando
de utiliza. o conjunro completo de valores de !',, por meio de o modelo que melhor se ..lJUSta aos d.1dm, esre poderiJ fornc:- provê mais nichos potenciais, do que cm um.1 pl.rnu c:strutu- microrganismos hetc::rorróticos e animais. Esrndos orientados
di;-igramas nos qua.is se inserem os valon:s de I', em rebçlo ao cer 1milc10:. dos processos .'>ubpcente) e. (a!vez, de: como uis nlmence simples, Spargarúum emerrnm. Os d1aguma.s de abun- dessa forma podem inici.ilmeme descrever a ceia alirnent.ir e.
posrn de domin.i.ncia dJs e~pC::cies. Assim, primeiro insere-se o f'íOCt'~\\)\ e:,[é''\ \',HÍJITT de lill1..l JrTIOS[f.1 p.trJ OllU:1. (.) pro;rn- ddncia.5 re!Jrivas Je :unhas Sdo m.lis próximos do modelo fr.1- após. ddlnir J biomassa em cada nív::1 trófico. Além disso.
valor de !'1 dJ espécie mais comum, seguido pe!J segunda es- SO .Hé o momenrn. entreunco, tem sido límitJdo. cancu <le\·i- çJ.o-aleacóna do que do modelo fracionário de ,\L1cArrhur. podem descrever os fluxos de energia e matéria, provin<l.1) dlJ
pécie nuis comum, e a.ssim sucessivamente acé a inclusão da do Jü) problenus de incerpretaçJ.o qu.rnto J.s dificuldado prj- Por fim, a Figura 16.Se mostra como Jssembléi.1s Je b,1ccérias ambiente físico, que passam por organismos vivos t~ rerorn.,m
espécie mais rara. Di.1gramas de abundâncias relativas (ra11k- uca:. em te,ur qu.11 modelo melhor se .1jusca aos J.1do, (Tokohi. coioni7.lndo ljminas de microscopi.1 (biofilme-;) em um lago para o ambience físico. Ta[ abordagem pode possibilitar a de-
1dnmd,mce diagrams) podem ser feitos para número de indiví- 1993). Encrc:-unto. alguns eswdos têm rido sucesso em focar J mudam de uma distribuição log-normal para um p.1drJo de cecção de padrões enrre comunidades e ecossisrem.1s que nio
duos, área coberta por indivíduos sésseis ou pela biomassa com atençJ.o em mudanças Je domin;i.ncia/equabilid,1<le em reb- série gc:omécrica conforme o biofilme envelhece. possuem qualquer semelhança ta.xonõmica. Essa :ibordJgem
que cada espécie contribui para a comunidade. ;..io :1 muJ.1nças ambienrais. Assumindo que um.1 série geo- A composição r1xonômi..::.1 e a di- será discutida nos Capítulos 17 e 18.
Algumas das diversas equações que mécri..::.1 pode ser a.propriadamente aplicada, a Figura l G. 5c versidade:: de c::spécies sáo apenas duas lim considerável esforço tem sido empregJdo para enten-
têm sido ajusradas a diagramas de mosrr1 corno a dominincia aumenta regularmente enqu.rntn das muitas formas possíveis de descre- der a llgação enrre riqueza em espécies e: funcionamento de
abundância relaüva são mostradas na a riyuelJ de e~pécies decresce dunnte u experimenro de longa ver uma comunidade. Um.1 alternati- ecossistemas (producividade, dc::composição e dinâmica de
Figura 16.5. Destas, duas têm origem dur.1çâo em c..impos de Ruth.1msced descrico anteriormente. A i
1
va ( não necessari..irnencc: a melhor. mas nucrienres). Entender o papel da riqueza em espêcies nos pro-
estacísti..:.1 (iog-séne e log-normal) e Figura. 16. ) . .i mostr1 como J. rique1.a de espécies de inverce- bc::m diference) é descre\ er comunida- cessos ecossiscêmicos é de parcicul.1r importância n:1 compreen-
nJo possuem qualquer base sobre
como as esp~cies interagem entre si.
br..1Jos e a <.:quahi\id.1de foram maiores em uma pLtm.1 de ru-
cho com .trquirc:rura complexa, Ranu11rnlus yao~mú. e que
i des e ecossistemas =m termos de produro em pé.: t.L\:.l de pro-
dução de biomassa. pelas plantas, e seu uso e ..::on\·as.io por
são de como os humanos respond.:m à pc=rda de biodiversid.1-
d.e. Discutiremos esse imporrance cópico n.1 Seção 21.7.

1
i
--L
1
~-
4 74 PARTE 3 - COMUNIDADES E Ecoss1STEMAS f CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÕES NO ESPAÇO E NO TEMPO 4 75

(d) 1 (b) 6.000


(Florestas boreais)
5.500
Florestas de laia
1 Tipo mésico Tipo úm,do
(a) 5000
HB
GB
woc
ROC 4.500

'
ROC 4.000
FIGURA 16.5 (continuação) (d) Compa-
ração de padrões de abundânc1a5 rela- OCH
p
f
OCF
tivas de espécies de invertebrados as- OCF
1 3 500

Posição da espec1e
sociados â. planta de riachos estrutural-
mente complexa Ranuncillus yezoens1s OH
OCH
OH
;;,
3 000 ~
.
.
( .!.. ) e à planta simples Spargantum
t~ Capoeira

í
(e)
emersum ( ); linhas ajustadas repre- de pinheiro
sentam o modelo frac1onârio de /l.1acAr- 2 500
lhur ( . a de cama para R. yezoens1s

.
;;; o
~ O1 e a de baixo para S. emersum) e o mo-
2 000
i 9 ~ _g
~~
delo fração-aleatória ( ~ . a de cima Floresta

1 0,01
para R. yezoensis e a de baixo para S
emersum) (segunOo Tan1gush1 et ai 1.500
~ ~
a: •
ii
ou
o.
de pinheiro
da Virgínia
E 2003) (e) Padrão de abundâncias rela Barrancos P1anic1es Oechves Declives Cumes
"' 0,001 tivas (baseado em um índice de biomas-
sa) de assembléias de bacterias em b1-
Deshladeiros Planos protegidos
Ravinas
expostos
NE LO S N
Posição da espécie Posição da espécie of1lmes de lagos com diferentes idades NO SE SO
(os símbolos. da esquerda para a direi- Mais seco------------------- - - ----· Mais Umido
· Oia2 Dia 7 Dia 15 • Dia 30 ta, representam os dias 2. 7, 15. 30, 60\
(segundo Jackson et ai.. 2001)
(e)
45
17
40

.
ambas as Figuras. l G.Ga e b, são baseada\ na descriç;lo Ja 35
vegeMçiio. Encretanco, a Figura 16.Gc refina o foco, con- 18
16.3.1. Análise de gradiente

A Figura 16.G mostra .is divers:b formas de descrever a discri-


cencrando-se no padrão de distribuição de cJda ópéot' in-
dividualmente. Fica imediacJmente óbvio que existe cnrhi-
dedvel sobreposiçlo em suas distribuições - não existem
.
~
u
E
30

25
12

14

buiçáo da vegetação empregadas no cLíssico esrudo das Mon-


tanhas Greac Smoky (Tennessee), EUA, onde espécic:s de ár-
limites bem-delimitados. As várias espécies de árvores . . :i.o
visus agora como alinhadas ao longo do gradiente:, corn J'.', f
2
,f
20

15
vores dão à vegec.1ç;lo sua car.icrerísrica principal. A Figura caudas de suas distribuições sobrepondo-se. Os resuludo'.', 16
1G.úa mo~tr,l JS ur.tcterísric.1'\ associações de árvores domi- dessa ·análise de gradiente' mo.sera que os limites de di.qri- 15
10 10 11
nantes nas escarp.is <.Li monranha, desenhadas como se asco- buição de cada espécie 'nJ.o terminam subiu.mence, r1Lt--
munidades rivessem !![nices bem-definidm. A eKarpa da mon- lennmente'. !v1uicos outros estudos de gradientes mo:,ri.im 13

ranh:.1 11.1 verdade prmê uma .1mpla gamJ de condiçóes para rt.'..rnlrados similares
crcscimenro de pLrnns. Duas dc,sas condiçôes. ,tlcimde e umi- Talvez J principal cricica :1 an.ílise o __J
1 10 11 12 13
d.1<le, podem ser p.1nicularmeme imporunces n.1 dc:cermin,1- de gr,1diences como um modo de de- Nível de umidade
ç,lo d.1 discribui,;J.o de \·jrias espécies de .in ores. ,-\ FigurJ l ú.6b tec(Jr padrões c:m comuniJJJc:s é que Vaie Planos Declives protegidos NE - - - - - - Declives e)(postos - - - - - - - - - - - - SW
mostrJ J.S associJ.,,/1e.~ dominanres figurad.1s em termos des::.as a escolha do gradic:nce ê qu.1:ie sempre Mais seco - - - - -- ---- - -- ------ ---- -- - ------ --- --- --- - ---- - - - - --- ---- - - -------- Mais úmido
duas dimen~óes Jmhientais. Finalmenre, ,l hgura 16.Gc mos- :iubjetiva. O pesquis.1Jor procur.1 por alguma caracrerisric1 do
tra a abundância rn<l1\"idual de cada espécie Je ,irvore (expres- ambiente que parece ser imporunre para os org:.inismos e de
FIGURA 16.6 Três descrições contrastantes das d1strrbu1ções de ârvores dominantes características nas Montanhas Great Smoky, Tennessee
sa como a porcenragem de wdos os caule'.) de irvores presen- pois organiZJ. os dados das espécies de incerc:sse J.O longo do {a) 01stnbwçâo topograf1ca de tipos de vegetação sobre uma face-leste montanhosa idealizada e um vale. {b) Diagrama idealizado com o
tes) em relaçJ.o J aperus um gr.1d1ence de urrndJde. gradiente daquele fator. Ele n.lo é nece~~.uiamente o faror msiÍ) arranjo de t,pos de vegetação de acordo com elevação e aspecto. (e) Oistnbu1ções de populações de ârvores (porcentagem de caules presen-
tes) ao tango de um grad1en:e de umidade npos de vegetação: BG = clareira de faia: CF = floresta de barranco: F = iloresta de abeto.
A Figura i6.6J é um.1 análise subjetiva in<licmdo que a Jpropriado par.1 se: c:scolhc:r. O fato de JlgumJs espécie, Je
GB -= campo ralo, H = floresta de Tsuga; HB = capoeira rala; OCF = floresta de castanheira e carvalho; OCH = capoeira de castanhe•ra e
vegera.;io de ,ÜeJs em parcicu\Jr Ji- uma comunidade poderem ser Jrranj.1<las em umJ seqüênci-1 car,alho; OH = carvalho e h1cóna; P = floresta de p1nhe1ro e urzal, ROC = floresta de carvalho vermelho e castanheira; S = floresta de espruce.
fere de forma cJracteríscica dJ. de ao longo de um gradience de algum fator ambiencal nâ.o pro\'.t SF = floresta de espruce e abeto. WOC = floresta de carvalho branco e castanheira. Esp9cies mais importantes: 1 = Hales,a mont,cula:
2 = Aesculus octandra; 3 = T1/1a heterophylla. 4 = Betula al/eghaniens,s; 5 = L1riodendron tulipifera; 6 = Tsuga canadens,s; 7 = B. lenta: 8 = Acer
outra'\ úeas. [sso poJc:riJ implicar que es:ie faror escolhido é corrddcion.i<lo com o que realmen-
rubrum; 9 = Comus llonda; 1O = Carya alba; 11 = Hamame/Js virginiana; 12 = Quercus montana; 13 = O. alba; 14 = Oxydendrum arboreum;
que as v,-írias comunidJdes são fin.1- te interess,1 na vida das c:spécic:s envolviJ.1s. A análise de gr.1- = = =
15 Pmus strobus; 16 O. coccinea: 17 P virginiana; 18 = P. rígida (segundo Whittaker. 1956)
mente delimicad,ts. A Figura IG.6b dience é apenas um pc:queno passo no caminho da descriçlo
dá a mesma impressão. Observe que: objeciva de comunidades.
4 76 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÓES NO ESPAÇO E NO TEMPO 477

(a) (b)
,n 16.3.2 Classificação e ordenação de bienrais. Obviamenre, o sucesso do mécodo neste caso depen-
comunidades de da amostragem de variáveis ambienrais apropriadas. Esse é
um detalhe imporcance no procedimento - rah-ez nJo tenha-
Técnicas escaciscicas objetivas rêm sido desenvolvidas com o mo~ medido os atributos do ambiente que: ~ão mais relcvJn-
incuíco de remover a subjetividade na descrição de comunida- tes. A.s relações entre a comunidade de rotlt"eros e diversos fo-
des. Essas técnicas permírem que os dados obtidos de esrudos rores físico-químicos são mostradas na Figura 16.7c. O do
de comunidades identifiquem por si só padrões, sem a innuên- enrre classificação e ordenação pode ser compn:endido notan-
cia de idéias pré-concebidas do pesquisador sobre quais espé- do-se que comunidades aglomeradas nos grupos A J H. obci-
cies rendem a se associar ou qual variável ambiemal é mais das a partir da classificação, sáo separadas de fornu rebciva-
fortemente correlacionada com as distribuições dJ.s espécies. mence distinta no gráfico de ordena-
Uma de tais técnicas é a classificação. ção da CCA.
A cl!wificação comcçJ com a pres- As comunidades das classes A e B
.: e: e,::,.:.- L.:;·, -::.'; suposição de que comunidades con- rendem a associar-se .i águas baseante
e siscem em entidades rei.uivamente dis- rransparenres ('profundidade do dis-
creras. Ela produz grupos de ;::omuni~ co de Secchi'). enquanto aquelas dos
d.ides rdJcion.id.1::i poi meio de um grupo::i G e H estão associadas com

íl
1

processo conceirualmcnce similJr à alcas concenrraçóes de fosforo tocai e clorofila: os grupo., res-
i classificação raxonômicL Em raxono· tantes aparecem em posições inrermediánas. Os lagos sujeitos
i 1 •
mia, indivíduos similares são agrupados em espécies, espécies a um grande aporre de fercilizances usados na agriculmra ou

O 100 km
Y1 1 .
similares em gêneros, e assim sucessivamenre. 1',;,1 clJ.ssificação
de comunidades, aquelas com composição de e)pécies seme-
que recebem esgoco são descrico~ como eucróficos. Eles ten-
dem a. cer alca concencração de fósforo, levando a níveis mai~
L__J ]D ihances são agrupadas em subconjunros, estes podendo ser pos- elevados de clorofila e menor transparência (uma maior abun-
]E reriormence combinados caso seja de inceressc ( ver Ter Braak dància de células de ficoplânccon). Evidentemente, as comu-
]F
e Prencice, 1988. para decalhes do procedimento). nidades de rocíferos são muico influenciadas pelo nível de eu-
(e) 4
F rerm,na1rs t
Lrt=-} As comunidades de rotíferos de diversos lago,;; na Ilha do
Norte, Nova Zelândia (Figura I G.7a), foram sub~metidas a uma
técnica de classificação chamada análise de ;igrupamenrn (Du-
trofizaçio ao qual o lago esta sujeito. Espécies de rocíferos ca~
raccerísticas de condições parcicularmence eucrôftcas, como Ke-
mulla tecta e K rropica (Figura 16.?d), foram fortemente re-
e dossWl'IIJS

.•.e.
A ...
T iong,seta B

-- EB ~
~T:l'-~-=~c~~:_::::._._:__:_=-":~~-
T :ous.ra
~._: C O ~- ~
H

•::::;;H
H

70
~}
80 90 100
ggan rr ai., 2002). Oiro grupos ou classes for.im identificados
(Figura 16.?b). cada um baseado simplesmenre no conjunco
de espécies presentes e suas abundâncias. A distribuição espa-
presencadas nos grupos G e H, enquanw aquelas associa.das
com condiçóes mais naturais, como Conochi!uJ 1micornis e AJ·-
comorpht1 ova/is, foram comuns nos grupos A e B.
40 50 60
c ~s,sC~r /~ -,~!>t - -G G K /rop,c.A cial de cada grupo de comunidades de rotiferos dos l.igos da O nível de eutrofização, entretanto, não é o único facor
-1 P doJ,c"tOp(.r.i • 't: : e ,'G" . . ~ K r«ra Medida de s1m1laridade de Bray·Curt1s
Nova Zelândia é mostrado na Figura 16.7.c Obsen·e que exis~ significari\'o na explicação da composiçáo das comunidades
CoMOttle<:a sp , 1 e e ~s~nen.s,s
-2 q; B calyoflorus
re pouca relação espacial consistente; as comunid.1des em cada de rocíferos. O grupo C, por exemplo, embora característico
, : K sldd<• F /onglsela
hsu (d)
-3
A
grupo estão dispersas por roda a ilha. Isso ilustra um pomo de concentrações intermediárias de fósforo. pode sc'r diferen-
positivo de classificação. Os métodos de class1tic1çâo mostram ciado ao longo <lo eixo 2 de acordo com a (Oncenrraç:í.o de
a e::itrutura dentro de uma série de comunid:ide,; sem a neces- oxigênio dissolvido e a cemperJcura do lago (ambas relaciona·
sid.ide de indicar. tl priori, alguma variávd :1mhtenc1l suposra- das negativamente devido à solubilidade do oxigênio <limi·
mt:nce relevante, um procedimemo neces,irío n.1 an,íl1se de nuir com o aumento Ja temperatura).
gr.idienre. O que esses resulta.do~ indicam~
oo: Conoch1/us umcom,s Ascomorpha oval,s Orrt'enaçiio é um rr.1u111enro m.ne- Primeiro, e mais especificamente, as
Lorg,tudl! 8
mático que permite qu1.: ,.-omunid.,Ji:s correlaçóes com hrores ambi<:'.'mais. re-
1 A ~~a.dMie~ ~C '>
:,ejJm urg,rniz.ul.i~ em u111 ~1.ific.o de \·ebd.i:- pelas anili,e~. fornecem .1igu-
~ °'~º-~-~~~... ~:-·:-~.~-
TP modo qut'" aqudJ::i rn.1i, s1rnil.1re::i en- mas b1póccses ,l ~erem Ct.:'St.1d.1s sobre as reb'°õcs emre cornpo·

ü
'" e tre si cm composi~J.u de: espécies e sição d:i comunid.tde e fatores Jmhienr;w; subj,u.:<:ntl:"S. ( Lem·
-1 'e
abundâncÍJ re\Jriv.1 .1r,1reç,rn1 em ln- breque corrd,1çJ.n não necess.1riamenre implica. .:m umJ rd.1\Jü
-2
cais próximos. Por outro bdo, ,1que- cJusa.1. Por exemplo. oxige"nio dissolvido e composíçjo <lJ. comu-
-3 las comunidades que Jifuc:rn muiru nidade podem variJr iuncos devido a uma respasu comum ,l uu-
-4
na imporc:incia rel.Htv.1 das espécies tro fator ambiental. Uma lig.içáo causal direu só pode .sc:r pro·.ta-
-3 -2 -1
compartilh.1das, ou que possuem composições de e:,pécies algo da por meio de expaimenraçáo conrroladJ.)
Eixo 1 Keratella tecta Keratella rrop1ca
distintas. serão posicionadas em locais discames. :\ Figur.1 16. 7c Cm segundo e mais genérico ponto é rdevance par,l adi~-
mostr1 a aplicaçáo de uma cécnica de orden.içJ.o ch:1mad.1 .ini- cusS.lo da narureza da comunidade. O, resulr:1dol enfattz.:un
Figura 16.7. {a) Trinta e um lagos na Hha do Norte, Nova Zelândia. onde comunidades de rotíferos (78 espécies no total) toram amostradas e
descritas. (b) Resultado da análise de agrupamento (classif,cação) dos dados de composrção de espécies dos 31 lagos (com base na medida lise <l<: correspondência canônica (canonical . ·o,.,.e:iprmde11ce que, sob um conjunto pJ.rcicular de" con1..liçó~s. r: pro 1.ávd a
de similandade de Bray-Curtis); comunidades mais similares entre s1 são agrupadas e 0110 grupos podem ser identificados (A a H). (e) Resul· anaÍyfÚ, CCA) às comunidades de roritúm tTer Br.uk & ocorrência de uma as::ioci.lç.io previsí\"el de e:-.péLÍl:"s. isso mo::i·
lado da análise de correspondénc1a canônica (ordenação). As posições no espaço de ordenação são mostradas para os lagos (1nd1cados com SmiÍJuer, 19981. A CCA rambém possibiiHJ que padn-,e, ,le rra que ecólogo,;; Je comunidades possuem mail do que um
as letras A a H, que correspondem ao resultado da classificação). para as espécies de rotíferos (setas laranjas no painel superior) e para os
fatores ambientais {setas laranps nc painel inferior) (d) Silhuetas de quatro espécies de rollleros (segundo Duggan et ai., 2002) comunid..1des sejJm examinados em reL1çJ.o J varii\c'is am- conjunco Jrbicdno e mal-JàiniJu de espécies p.tra e::irudar.

1
4 78 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÕES NO ESPAÇO E NO TEMPO 4 79

16.3.3 Problemas de limites em ecologia de visto que individuas passam seu ciclo de vida em um contexrn aberca por uma perrurbaçáo não pode
comunidades Efeitos. em escala pequena. de mudança sazonal. .À.s vezes, a composição da comunidade necessariamence se manter nela. Nes-
de raízes. partículas - - +
orgânicas e estrutura • - - - - muda devido a uma mudJnça física externa, como o acerra- ses casos, as perrurb.1ções podem le-
Talvez exisram comunidades separadas do solo menro de um nurismJ. que acaba sendo substituído por uma var a seqüências razoavelmente previ-
umas das ourras por limites claros e floresta. Em outros casos, padrões temporais são simplesmen- síveis de espécies, pois diferences es-
hem-def111.1dos, em que grupos de es- Efeitos, em escala de te reflexos de mudanças em recursos-chave, como o que ocor- pécies rem diferentes estratégias de ex-
parcela até escala de
pécies discribuem-st: de forma adjacen- campo, de animais - - + re na seqüência de organismos hererotróficos associados com ploração de recursos - espécies iniciais
te, sem se interprerarem. Se elas exis- escavadores, plantas• - - -- dc:pósirns fecais ou carcaças à medida que escas vão sendo de- são boas colonizadoras e crescem rapidamente, enquanw es-
1nd,vidua1s e comunidades
tem, elas sJ.o excepoo1uis. O encontro do ambiente terrestre vegelais composras (ver rigura 11.2). A explicação para cais padrões pécies tardias podem tolerar níveis baixos de recursos e crescer
com o ambienre aqu;üico pode parecer um limite bem-defini- temporais é um ramo direta e, porranro, nâ.o nos deteremos are'. a maruridade na presença de espécies iniciais, excluindo
do, m,1s sua arcitlcialidade é indicada por lontras e rás que ;;:::~::·t:~u~=~ala ~ no :.i.s . . unro aqui. Também náo aproh.lndaremos a discL1Ssão sobre escas úlrimas competirivamenre. Essas situaçôes são conhec,-
regul,umente o Jtraves~Jm, e os muitos insetos aquáticos que carbono do solo. •---- v:uiações de abun&incia de espécies em comunidades de um ano dJs pela expressão illú'Hiio ecológica, definida como um pttdriio
topografia e sistemas
passam rna vida l.irvJI n.1 águ.1, mas que o estágio alado adulrn de vegetação para o outro, visco que populações individuais respondem a uma de coloni211ção e extinçllo de popul.ações de espécies nllo sazonal.
vivem na rerrd ou no ar. Na terra, ocorrem limites rdariva- infirndade de fatore.'. que influenciam a reprodução e a sobrevi- direcionado e contínuo em um dado local.
menre bern-dclimiudo'.', entre tipos de ,·egera(;ão sobre rochas FIGURA 16.8 Determinantes de heterogeneidade espacial de comu·
vência (abord.1dos nos Capírnlos ), Ge 8 .1 I 4). '
.kid.1, b.is1c.1s ondl'. v: encontram ,ülor.1mcmo::., ou onde es-
1._' nidades de organismos de solo 1nclu1ndo bactérias. fungos nemató1· Fnfuc..1renws os paJrõe::. de nHt<.Lrnças nJ LomunidJde que
rjo iusupmu'> roch.1" Jo (1po se1penri11a (um [ermo aplicado des. ácaros e cotêmbolos (segundo Ettema e Wardle_ 2002) acontecem .1pó::. uma perrurbJ.ç:w. definiJ,1 como um evento 16.4.2 Sucessões primária e secundária
a um miner.11 rico em "ilic.Ho de magnésio) e nâo-serpenrina. discreto que remm·e organismos (Townsend & Hildrew, 1994)
Entretamo, mesmo em uis slrnJções, minerais são lixiviados e ou imerfere nJ comunH.iJde por meio de influênci.1. na dispo- Nos~o enfoque é nm pa<lr<ies suces-
ulrrap.1ssam os limites. que se wrnam progressivamente mais nibilidade de espaço ou recursos al1111enrares, ou por mudan- sionais que ocorrem após a exposição
(enues. A afin11.1ção 111Jis segura que podemos fozer sobre li- dencro de uma série de escalas aninhJda.s. r\ hgur:1. 16.8. por ças no ambienre fi'sico (Picken e \'(/hire, I 985). Tais perwrba- de novas áreas. Se a .irea exposta não
mites <le comunidades é que provavelmeme eles não exis[am, exemplo, mosrra padrões de hererogeneid.1de espacial em comu- ções são comuns em roJos os tipos de comunid..1des. Em flo- haviJ sido previamente influenciada
embor.1 alguns sejam muiro mais bem-delimitJdos que ou- nidades de or!Ll.nismos de solo acontecendo em escalas de heuJ- restas. elas podem ser Cl.USJ.<.Üs por ventos forces. terremotos, por comunidades, a seqüência. de es-
tros. Um ecólogo pode rirar mais proveito enfocando as for- res a milímer;;,s quadrados (Eccema e Wardle. 2002). Na e,cab defantes, madeireiros ou simplesmente pela morre de uma ár- pécies é denominada de sucessáo pri-
mJs pelas quJ.1S as comunidades se interpenetram do que pro- maior, esses organismos reflerem padrões em f.nores .unbienuis vore devido a doenças ou id..1de a,·ançada. Agemes de perrur- mária.. Escorrimento de laYa e planícies de pedra-pomes cau-
curando por limites carcográficos fino~. relacionados à ropografia e à distribuição de diferentes comuii:- b,1ção em campos incluem geadas, anim.iis fossori.iis e os den- sadas por erupções vulcânica, (ver Seção 16.4.3), crateras cria-
No primeiro quarto do século XX, dades vegetais. Porém, no omro extremo, podem estar pn:sentes te:,, patas. excremencm ou cucaças de ,rnim.iis pastadores. Em das após o impacco de meceoros (Cockdl & lee. 2002). subs-
houve consi<ler.ivel debate sobre a na- padrões em escalJ. menor, re:,ultantes d.1 loc.Uiz.1çáo individual de costões rochosos ou recifes de corais. as perrurbações podem rracos expostos após o rerraimenco de geleiras (Crocker &
rn reza <l.i comunidade. Clements rJ.Ízes ou propriedades locai:, do solo. As fronceiras enrre t'\~c."$ resulc..1r da JÇâo de ondas forces durante' furacões. tsunamis, Major. 1955) e dunas recenremence formadas (ver Seção
(1916) idealizou a comunidade como padrões das diferences escalas provavelmente ram~m sâ.o têntH:::.. batimento de troncos ou barcos :1.rKorados, ou pelas nadadei- 16.4.4) sáo exemplos. Nos casos em que a vegetação de um,1
um tipo de Juperorganúmo. cujas es- Se comunidades possuem ou não ras de mergulh;1dores pouco cuidJ.Josos. áreJ foi parcial ou completamente removida, mas permane-
pécies componentes seriJm muiw unidas, ramo no presenre fronreiras base.ante ou pouco definidas cem solos bem-desenvolvidos, com sememes e esporos, a se·
quanrn durante suas his[órias evolucivJs compartilhadas. Por- é uma questao imponanre, embora ela qüe'ncia de espécies que se sucede é ch1mada sucessão secun-
r:uHo. populações e comunidades individu,lis comp:1rcilhari- não seja a consideração fundamental. 16.4.1 Comunidades controladas por fundação e dária. A perda localizada de árvores devido a doenças, venrrn
J.lll relações entre si Je forma semellunre i1quel.:is observadas Ecologia de comunidades é o esrndo do nível de 01g,uú.?..1t(,ío por dominância fone,;, fogo ou mmba.mento pode ocasionar J sucessão secundá·
entre células, tecidos e organismos. de comunidadeJ" e njo o esmdo de uma unidade espaciJI ou ria, assim como o abJ.nJono após cultivo em propriedades rura1~
O conceit0 i11dn·1d!f11!tsra imaginado por Gleason ( 1926) remporalmeme ddinível. El,1 rraca da esrrucurJ e J.civid.1dc LLl Podemo.':> pmruLir dois diferentes [Í- (a ch1m.ida suce. . sJo em cun pos abando111dos - \·er Seção I6.4. )) .
e outros autores Jo ctlnrrário, via JS reL1çóes enrre espécies ;issembléia de espécies, em geral em um pomo no esp,l\º e 1HJ pos fund.1.rnencais de resposta de co- As suce'isÕes em ireas recentemente expostas tipicamente
coexisrenre, .tpenJs 1..omo resultado de SLL,l.':> similaridades quan- tempo. Não é necessário h:1ver lirnitc::s discrerm enrre ClH1IU111· munidade_·<; J perrurhaçôes de acordo levam divers.1s cemenas de :inos para J(ing1r sua conclusão
to ,l exigêncí,1s e: toler."tnc1.1:, (e parciJlmentt.' de\·ido .1.0 ,lCa.':>o). JJ.des parJ se esrudar ecologia <le comuniJades. ...:om .,s rel.1.'lócs <..ompericivas exibida~ Emreunro, um processo ~rn.:cis..1men-
Adorando es,,1 \·i:,.'io, f10meira.':> de comunid.1Jes não precisa- pelJ::. e'.'.>pêue\ componenres conrro- ce .rn;ilogo ocorre enrrc: anim;lÍs e .1!-
ri.tm :,er hem-delimir.id.1 .... e .1ssoc1.1çóe:,. de c:.'>pécies seriam mui- 1.id,i-; por fu11d.1.,.10 ou conrrol.id.1s por gas sobre p.1redes rochas.is íl't.ém-dcs-
w mcno:-. pre,'i.':>Í\'et.\ do que poderbmos e:.perar do conceito dom1n.inci..1 (YuJ,.is, 19~ú). :\... comunid~ides (OJ1troladm por nudad:is 11.1 zona m,1nnh,t do infrali-
de superorgani.':>mo. fimd.1t,fo ocom:r,ío :.e <l1\ ers.,.,, espécie~ forem aproxim.1d..1ment~ roral, emhor.1 es:,.1 suce::isJ.o ocorra den-
A visJo ;uu.1! é próxinu do conceito 111di\·idual1sra. Os re- Assim como as imporr.âncias rebtivas das espécie::. v.uiJm 110 equivJlenrc,; em su.1s up.1c1d,1de~ de coloniZJr uma dare1r.1 rro de mais ou menos unu déc.1da
::iulcados de análises <l1r-.'us de grJdienre, ordenação e clJssifi- esp:1ço, os p.1drões de ahundància podem mudar no rempo. <leix.1d,1 por unu percurb,-tçJ.o. forc:m bem-adJ.ptadJ.s ao Jfll- (Hill et ai.. 2002). O período de vid.1
ução indicam que um.1 dada localidade, em virmde princi- Em ambos os casos, um.1 espécie ocorrerá Jpenas onJe e qu.tn· hienre Jbiócico e puderem ,;e m.rnrer no !o...:a.l Jté su.1 morte. como pesquisJdor Je um ecólogo é suficienre para abr~mger
palmenre de suas ci.racrerísricas física.'., pos . . ui uma associ.tçã.o do: (i) elas forem capaz de akançJ.r um.1 locJ.lidade: (ii) exi:-.tir Nesse caso, o re,<;uludo de umJ. perrnrh,1ç,lo é essenciJ.!menre um.1 sucessjo no infr.1liroral, mas ndo p;1r.t aquela :ieguindo o
de t:.':>pécies r:i.zoavelmenre previsivel. Entreranto, uma dada condições e recursos apropria<l<h; e (iii) n.:ío forem impediJ,1.':> uma loreri.1. A ganh<1dor.1 é ,1 e.':>péue que por J.CJ.::.O consig,1 rc:u:iimenco de geleiras. f;eliLmenre, enrreunco. informações
espécie que ocorra em UlllJ <1ssociaç;ío prevlsín~-1, provavelrneme por competidores, predadores e p.1r.1.siws. Uma seqüência tern- chegar e se esc.1bdecer pnmeiro no !oc:1[ pcrturba<lo. As Jinâ- podem ser obtid.is mesmo das mais long.1s es..::;ibs temporais.
rambém ocorre com outros grupos de espécies sob condições por:1! no aparecimenro e desapart.:c1menrn de espécies, porr.rn- rnicas de comunidades conrrnbda.s por fundação são discuti- Com freqú.~ncia, estágios sucessionais no tempo podem estar
diferentes em outro\ !oc.Jis. m. necessitaria que condições, recursos e/ou a iníluência ,k das na Seção 16.7.4. represenrados por gradientes de comunidJdes no esp1ço. O
Um pomo adicio1ul dc"Ye ficar daro quando consideramos a inimigos variassem com o tempo. As comunid,1des co,1rrolad11J" por rlommiincir1 SJ.o aque!Js mo de mapas históricos, daraçáo com carbono ou oucras téc-
questJu dJ. hererogeneid.1de e dos limites ambientais. A heteroge- PJra muirns organismos. panicuiarmeme aqueles Je vid.1. em que Jl~umJ'.'.> espécies ,<;;'io competmvamence superiore:-. a mc1s possibilium e'itima.r J idade da. comunidade <le'.)<le a ex-
neidade espacial na distribuiçJ.o de comunidades pode ser vista curta. suas impordncia::i relativJ.s mud.1111 com a époc.1 do .mo. outr.b, de moJo que um coloniza.Jur rnicia.l de unu cl.treirJ posição da jrea. Um.1 série de comunidades presences hoje em
1J
480 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÓES NO ESPAÇO E NO TEMPO 48 l

dia, mas correspondentes a diferenres períodos de tempo des- indivíduos baixos de amieiro (Al1111i sieboldiana). Nas parcelas 'J de) mostram um padrão claro de sucessão primária em dire- É comum pensar que espécie sucessionais iniciais em dunas
mais J.migas, 113 táxons foram registrados, incluindo samam- ção à floresta (Lichcer. 2000). A gramínea das dunas Ammo- facilicam espécies cardias pda adição de matéria orgânica ao solo e
de o início da sucessão, podem ser usadas para inferir o pro-
cesso de sucessão. Entretanto, deve-se julgar ç~m caucela se as baiJ.S, ervas perenes, lianas e árvores. De maior importância phila breviligulata domina os topos das dunas, mais jovens e pelo aumenro da disponibilidade de umidade e nicrogênio (assim
diversas comunidades dispersas no espaço realmente represen- nessa sucessão primária foram: (i) o sucesso em colonização 1
1
ainda móveis, embora os arbustos Prunus pumila e Sa!ix spp. como na sucessão primária vulcânica). Entretanto, adições expe-
tam os vários estágios de sucessão. Devemos lembrar, por exem- da lava nua por amieiro, planta fixadora de nirrogênio; (ii) a também escejam presences. Dentro de l 00 anos, espécies são rimentais de sememes e experimentos com transplantes de plân-
facili,ação (por meio da melhora na disponibilidade de nitro- substituídas por arbustos perenifólios cais como juniperus com- culas têm mosrrado que espécies cardias são capazes de germinar
plo, que em áreas temperadas do hemisfério nane a vegetação
podr ainda estar sofrendo recolonização e respondendo a gênio) de Prunw speciosa, intermediária na sucessão, e Nlachi- munis e pela gramínea cespirosa das pradarias Schizachyrium em dunas jovens (Figura 16. IOa). Enquanro o solo mais desen-
mudanças climáticas da úlrima era glacial (ver Capítulo 1). !us thrmbergiz, arbórea perenifólia sucessional tardia (iii) a for- scoparium. Coníferas como Pinus spp., Larix !aricina, Picea volvido de dunas ancigas pode propiciar melhor desempenho de
mação de uma floresta mista com tendência a excluir A. sie- strobm e Thu.ja occidenta!is iniciam a colonização das dunas espécies sucessionais tardias, o sucesso de colonização em dunas
boldiawz e P. speciosa; e (iv) finalmente, a substituição de 1\,f. dos topos após 150 anos, e um misto de floresta de Pinm stro- jovens é resrrito principalmenre por limicação na dispersão de
16.4.3. Sucessão primária em lavas vulcânicas thunbergi1 por Castanopsis siebo!dii, uma espécie arbórea de bw e P resinosa desenvolve-se enue 225 e 400 anos. Árvores sementes e predação de sementes por roedores (Figura 16. !0b).
ciclo mais longo (Figura 16.%). caducifólias como o carvalho ( Quercus rubra) e o bordo (Acer A. brroiligulata em geral coloniza dunas jovens e a,ivas por meio
rubrum) não se comam componemes imporcances da floresta de crescimemo vc:getativo horizoncaJ. 5. scoparium, uma das do-
A sucessão primária em derrames ba- antes de 440 anos. minantes em dunas ainda aben:as, precedentes ao desenvolvimento
sálticos vulcânicos na Ilha Miyake- 16.4.4. Sucessão primária em dunas costeiras
iima. Japão, foi inferida a partir de
uma cronosseqüência conhecida (lG, UmJ cronossequêncla extensa foi ob-
37. 125 e> 800 anos de idade) (Figu- tida J partir de dunas em topos de
(a)
ra 16.9a). No derrame de 16 anos de mames litorâneos na costa do Lago 0.5
idade. o solo era bem esparso e não ivlichigan, nos EUA. Treze copos de
continha nitrogênio; a vegetação inexistia, excem por alguns idade conhecida (30 a 440 anos de ida- ! :·;:; A. brev,ligulata
·;; S. scopanum
0

~ 0.4 P. strobus

(a) Derrame de lava de 125 anos de idade


1
i ;}j
P. resinosa

i 0.3

!:
0,2
j
.
õ.
i

'
0.1

~
w

30
1 60
",ij
150
"" 400

Idade da duna (anos)

(b)
0.5

Predação de sementes
Sem predaçâo

P< 0,0001

FIGURA 16.9 (a) A vege1ação 10; des·


(b) cnta para derrames de lava ocorridos há FIGURA 16.10 Plântulas emergentes
o 16 37 125 800 16, 37 e 125 anos na Ilha M1yake-J1ma, (médias + EP) de sementes de espécies
ano de anos de anos de anos de anos de Japão. A análise do derrame de la11a de características de d1ferer.tes estágios su-
idade idade idade idade idade
16 anos foi não-quant1tal1vo (nenhum cessionais adic,onadas a dunas de qua-
Solo ll"'dh1iduos Floresta de Floresta de sitio amostral é 1nd1cado) Os locais de tro idades (b) Plàntulas emergentes de
desco- baixas de A. M. thunberg11 e e amostragem em outros derrames sào
_P. spec,osa
SiebOldii quatro aspécies (Ab == Ammophila bre·
berto siebold1ana
indicados como circules laranja Os lo- v1figulata; Ss = Sch1zachyrium scopa-
cais fora dos três derrames possuem num. Ps = P,nus strobus; Pr = Pinus re-
Colonização de A Facilitação pela fixação de N por A. siebok:hana Desaparec1mento de A pelo menos 800 anos. (b) Caracteris!i- sinosa) na presença e na ausência de
s1ebok1iana e Colornzação de P. spec,osa e M. thunbergi, s1eboldiana e p spec,osa cas principais da sucessão pnmária em Ab Ss P, roeaores predadores de sementes (se-
Reynoutna Acumulação rápida de biomassa Colanizaçào de e s,eboldú relação ao tempo desde o derrame de
Espéoe gundo Llchler, 2000).
acima da superfioe da solo lava (segundo Kaml]O et ai.. 2002)

1
482 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÕES NO ESPAÇO E NO TEMPO 483

de floresta, possui caxas de germinação e estabelecimemo de plân-


r,. TABELA 16.1 Uma matriz de transição de árvore-por-árvore de 50 TABELA 16.2 Porcentagens de composição em espécies previst 3 s
i anos segundo Horn (1981) A tabela mostra a probabilidade de para uma floresta constituida rnicialmente por 1OO~o de betula
nilas não mdhores que PimtS, embora suas semences não sejam substituição de um rnd1viduo por outro da mesma ou de outra cinzenta (segundo Horn. 1981)
predadas. A.Jém disso, S. Koparimn possui a vanragem de atingir --v- Artemes1a scopaoa ----- Seraria vmd,s espécie após 50 anos
--- Lespedeza davunca - Sr,pa bungeana
Idade da floresta (anos)
rapidameme a maturidade e poder continuar a produzir semen- Ocupante após 50 anos Dados da
res em uma taxa alta. Essas espécies iniciais acabam sendo excluí-
das comperirivamence conforme árvores se estabelecem e cres- (O 0,7
- Artemesia gmehn11 --.- Bothnochloa ischaemun

Ocupante atual
Bêtula
cinzenta Blackgum
Bordo
vermelho Faia
Espécie
Bêtula cinzenta
o
100
50
5
100 150 200
1 D
-o floresta ant ga

cem. Lichcer (2000) considera que a sucessão em duna~ é descrita -~ 0.6


Bétula cinzenta 0.05 0,36 0,50 0,09 8/ackgum o 36 29 23 18 5
melhor em termos de dinâmicas transitórias de colonização e des- 8_ 0,5 Bordo vermelho o 50 39 30 24 9 4

. 8/ackgum D.OI 0,57 0.25 0,17


locamemo comperirivo, e não como o resultado de facilitação .S o.4 Bordo vermelho O.O D, 14 0.55 0,31
Faia o 9 31 47 58 86 93
Faia D.O 0,01 0,03 0,96
por espécies iniciais (mdhorando as condições de solo) seguidas ~ 0,3
por deslocamenro competitivo. ~ 0,2
0,1 Visco que modelos de i\Lukov parecem ser c.1pJzes de ge-
uma árvore adulta refleri..t .1 probJbilidaJe de uma árvore in-
rar previsôes um unto acuradJs, ek~ poderiam ser ferramen-
di\-ldual ser substirniJa por umJ d.tquelas espécies. Utilizando r,1s llreis na formuL1çJ.o <le planos de manejo de floresrJs. En-
16.4.5 Sucessão secundária em campos Estagias da sucessão
L'S),t forrnul.1ç.lo, de L'Srimou a probabilid.1de de,, após )O anos,
abandonados rreranro, os modelos sJ.o s1111plisus, eº" pressupostos de que:
um loc3.1 hoj<: ocup.hlo por unu d.1d.1 espécie ~er ocupado por
FIGURA 16.11 Variação na 1mportânc1a relativa de seis espec1es du- .is prob:1hilid.1de.1. de tr.1ns1ção perm,rnecer:l.o consumes no c:s-
rante sucessão em campos abandonados no Plató Loess na China
uurrJ espécie ou ..1111d.1. ser ocup.Klo pd.t mesma óp~Lie (1~1bd.1 p,1ço e no tempo e que n.io ser.lo afeuJas por fotore<; históri-
A '.)ttces~dn nn umpos J.bandon;idos
(segundo Wang, 2002). JG. ! ). A.ssi111. por exemplo, h.i )(!·o de chance Je um local ocu- cos, como J con<liçáo bióoc.1 inicial e .1 ordem de chegadJ J,1s
têm sido parcicubrmente bem-escuda-
p.1du aru.1lmente peL1 hétub c111?enra ainda ter essa espécie espécie~. são prova\·elmenre errôneos em muiros ca.1,os (Facdli
da .10 longo <l.1 parte leste dos EUA.
após 50 anos, enqu.1.nto h.í 36°10 de chance de ele ser ocupJ<lo e Picke[[, 1990). Hill e colaboradores. (200c) a vali.iram a que,-
onde muitas propriedades foram aban-
anuais e bianuJis com grande produçJ.o de semenres. Apó) 26 por b/ackgum. 50% pdo bnrJo \'l'rmelho e 9°,() pela faia. t.ío de variação espaço-temporal n,1s probabilidade~ de sub.'ti-
donadas por fazendeiros que se mu-
anos, a ervJ. perene L. dauuric.z, com .üla c.1.pacidadr de sr ex- Iniciando com a discribuiçáo observad.1 das espécies <le tuição de espécies em um processo de sucess:to de comunida-
daram par.1 o oeste após a expansão
pandir lareralmente por meio Je crescimenrn \·egeutÍ\"O e um do,sel em um.1 m,H,l em New Jer~ey, EUA, que tinh.1 25 anos, des emre-marés incluindo esponjas, Jnêmonas Jo m:ir, poli-
de fronceira. no século XIX (Tilrnan, 1987, 1988). A maioria
bem-desenvolvido si~rem.1 de raízes, subsricuiu A. ffOp(trlil. :\ Horn moJelou as mud.1nçJ.1, em composiçJo de espécies ao quetas e algas encrusranres. Nesse caso, as sucessões previstas e
das florestas mistas de coníferas e latifoliadas pré-coloniais
parcela de 46 anos de id.1de foi caracterizada pela maior rique- longo de divc:rsos séculos. E~se processo é ilustrado de forma os resuludos fin,lÍs foram semelhantes, independememente
destruídJ, mas a regeneração foi rápida. Em muitos locais,
za de espécies e pela diversid.1de de estracégias de históri.i de: símplificadJ na Tabela IG.2 (que trata de apenas quatro J.1s do uso de probabilidades médias de subsrimição ou probabili-
estão disponíveis par.1 esrudo muitos sítios abandonados por
vida, sendo dominad.1. por estilos de \·ida perenes. A domi- espécies presentes). O J.vanço desse ripo hipmérico de suce~- dades realísticas sujeiras a \·ariações espaciais e temporais. O
diferences períodos, e p.tra os quais existem registros. A se-
nância de B. lichaemuJl em 149 anos foi relacionad,1 ~t su.1 SJ.o possibilitJ fazt:r divers.1s previ<;ões. O bordo vermelho deve resultado de rodos os rrês modelos foram b.1stame semelhan-
qüencia típica de vegetação dominante é ervas anuais, plantas
natureza perene, à cap,tcidade de se expandir por meio de clo- dominJ.r rapidamente, enquanro .1 bérula cinzent.t desa~ure- tes J. estrutura da comuniJade ob..,ervadJ (Figura 16.12).
herbáce;is perenes, arbustos, árvores sucession:iis iniciais e ár-
nes e à gr:inde capacidade competitiva. As<;Ím como nos e~ru- cer.í. A fai.1. deverá .rnmenrar dev,1gar, até tJ.rdiamente ser do-
vores sucessionais urdias.
dos de Tilman (1987. 1988) na Aménca do Norte. a quan,i- minante, e b!rtrkgum e bordo \·e(rnelho devem persistir em
A sucessâo em campos abandona-
dade de nitrogênio no solo aumencou durante a suces::..io e baixas abundâncias. Todas essas previsões são comparadas com o
dos rambém tem ;)ido esrudada no pro-
pode ter facilitado algumas espécies nJ sucessão. Wang con- que- acontece em uma sucessáo reJI (colun.1 final).
dutivo Plarô Loess, na China, que du-
rante milênios rem sido afet.1do por cluiu que a gramínea B. 1Schaemw1 é a espécie clímax naqudes O aspe.:to mais interessante do
hábitats do Platô Loess, e que, portamo, parece prodvel que modelo <lt.· Horn, conhecido como Apesar das vanragens dos modelos sim-
atividades humanas, dl' modo que restam poucas áreas com
a vegetação renda a ser a estepe, e não a tlore<;ta. cadei.1 de .\-1arkov, é que, em tempo ples de 1'1arkov, uma teori,1 de suces-
vegetação rutura\. O governo chinês iniciou alguns projeros
sutlc.ienre, de converge p.1r.1 um e~u- sáo idealmente deve n.lo apenJs pre-
de conservação focados na recuperaçáo de ecossistemas im-
do c.:sucion,írio com composiçJo de es- \"Cr, ma,;; umbém expllc1r. P,1ra ramo,
pacrados. Uma gunde quesrão é saber se a vegecição dím.1x
pécie.'> esr:íwl e que~ independente da precis.rn10s cons1deur J h.1se !uológirn dos valores de sub,:i-
do Platô será estepe ou floresta. \Xt'ang (2002) esrudou a vege-
compo,1~.lo ir1ici.1l da floresu.. O re- wiçJ.o no modelo. Temo) llu.1s ,1bordJgens ,1ltL-rn.1uvas J con-
tação em quJtro p.ncelas abandonad:is por fazendeiros por
sulrado fin.11 é inevir.in:l (de 'iÓ depent.le d.1 m.miz <le prnb.1- s1der.u
diferentes períodm conhecidos (3, 26. -íG e 149 anos). Ele foi
Um modelo de sucessJ.o desen\·olvido hilidade~ de :,ubstirn1ç;Io) e ;)er:í .1k.lilç.1do n.io 1mporundo :.e
capu de .ivaliar .t iJ.1de de .\LU~ p.ucd.h de m.1neira pouco
por Horn ( 1981 j \J.nçou .ilgum.1 luz o poll(O Ílllcul er,1 !l}Oºo hétul.1 (Í111enta ou IOOº·o faia, 50 1!0
ll.',u.11 C.:m1(érim 11a China :-;Jo ~,1gr.tdm, e :nividades huma-
sobre o processo de sucess:w. Esse J.u- b/,l(kgum e 50° 0 hnrdo \-ermc:lhn ou quJlquer outrJ combinJ-
1

16.6.1 Balanço entre competição-colonização e


n.1s são proib1d·.1.1, .10 .~eu redor - regisrro, nas lipides indicam
rnr percebeu que em cornunidJdes flo- ç:io (Jssum111do que exisurn .írea) .idJ.Kemes 4ue forneçam mecanismos sucessionais de nicho
por quanto tempo .1 áre:1. deixou de ser usada para produção
rescJis hipotéticas seria po'>sívd prever .1.ememes d.1.s espécies não pre)entes no início). Kororkov e
agrícola.. De um roul de 40 espécie.;; de- planras idenri~icadas,
mudança-" na composição de árvores, col.tborJdore:, (2001 J usar,un uma abord.1gem similar :l mo- Rces e coLibora.dores (2001) .wali.-1ram
diversa~ foram consider:1das dominames em quatro esdgios
considaando dois Jspectos. Primeiro. debg:em de :\Lukov, a fim de prc\·er o tempu necessário pJra de forma conjunta diversJs .1bordagens
sucessiona1,;; (em termos de abundânci.1 relariva e cobertur.1.
seria necessário conhecer, par.l cada espécie de .írw,re, a pro- se Jtingir o e~udo de clim.1x .1 p,lrrir Je d,Feremes esrágio) e:>..perimencais, companrins e reóricü
relativa do solo). No primeiro est:igio (FJLendas abandon.1das
babilidade de que, dentro de um incervJlo de tempo em parci- ::.ucessionais de umpos antigos, cu!min,rndu em floresta mi.1.ta p,tra produzir generalizações sobre di-
recentemenre). Artemi~ia scop,zrúz e Sa,irú, viridli foram as mais
cubr, um indivíduo fosse sub~tiruído por outro da mesnu c.:s- de coníferas e lJ(ifolia<las n.1 RússiJ Central. A. partir do aban- 11.im1ca de vegetação. Planr:is iniciai,;
caraccerísricas: ao<; 26 .mos, Lespt'dez.1 dm·urica e S. viridis do-
pécie ou de outra espécie. Segundo, urna composição inici.11 dono do CJmpo até o clímax, de) pre\·ir.-1m serem necessários dl) proce!>SO de succsSJ.o po~suem urna série de: c.tracrerísrios
minaram; aos 46 anos, St1pa bunge,wa, Bothriochloa ischae-
teria de ser assumida. 480 a 540 anos. enquanro a p.1rrir de um esr.ígio intermediá- corrdaciorudas, incluindo alu tecundid.H.ie, bo.1 c1pacidJde
mun, Artt:misia gmelinii e L. davurica foram as mais impor-
Horn considerou que a representativid.1.Je proporcion;d das rio <le floresu <le bémlJ com sub-bo~que Jc: espruce deveriam de dispers."io, cresc1menro rjpiJo \quJndo os recursos sio abun-
cames; e, aos I 49 anos, 8. ischaemun e A. gmelinii foram do-
várias espécies de indivíduos jovens esrabelecid.1s ,lb.uxo de ser necess:irius 320 a 370 anos Jté o clímax d.rnres) e- crescimenm lemo e b,uxa :.obrevivênc1J quando U)
minantes (Figura l G.11) As espécies sucessionals iniciais eram

__J
484 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPITULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÓES NO ESPAÇO E NO TEMPO
1
485

(a) recursos são escassos. As espécies cardias na sucessão em geral petição-colonização, o recruramenro de plancas competitiva-
0.04 possuem CJracceríscicas oposras, incluindo capacidade de cres- mente dominanres deve ser decerminado em grande medida
cer, sobreviver e comperir quando os recursos são escassos. Na pela taxa de chegada de suas sementes. Isso significa que herbí-
ausência de penurbação, espécies tardias reduzem os recursos voros que reduzem a produção de semenrl!S prova\'elmence redu-
60
para níveis abaixo do que aqueles requeridos por espécies ini- zem a densidade de competidores dominances mais incensamen- ~
ciais, excluindo-as por meio de compecição. As espécies ini- re do que de espécies subordinadas. Lembre que isso é exatamen- -b,

--~4
ciais persistem por duas razões: (i) porque sua. capacidade de
dispersão e alca fecundidade permitem colonização e estabele-
re o que aconteceu no escudo de dunas descriro na Seção 16.4.4.
Em uma tendência similar, Carson e Roor ( 1999) mostraram
r 40
i
i cimenrn em locais recentemente percurbados antes da chega-
da de espécies CJrdias; ou (ii) porque crescimento rápido em
que após a remoção de insecos predadores de sementes, a vara-
de-ouro (Solidago a/,i,sima), em geral aparece após cinco anos
'!!
i
condiçõt:s com alra. disponibilidade de recursos possibilita, ct:m- em uma sucessão de campos antigos, se rornou dominante E 20
porariamente, a exclusão competiriva de espécies tardias mes- ::1pós apenas crês anos. lsso aconteceu devido ao faro de, na ~
~
mo que ambas cheguem ao mesmo tempo. Rees e colaborado-
res ch..1m1m o primeiro mecanismo de balanço competiçâo-co-
ÍoJ1iwç,ío e o segundo de nic/,o wce)sio11llÍ (condições iniciJis
ausência de predadores de sementes, ela poder excluir compe-
ririvamt:nre espécies iniciais de maneira mais rápida.
Assim, além do balanço compecição-colonização, do ni-
.
~
'O

~
10 20 30
fa.cilic.1m cspé...:ics iniciJi~ de\·ido J seus rc:querimenros dL' ni- cho sucesslonal e da facilitação, devemos .1d1c1011Jr um quarto
(b)
...:ho). O b.d,rnç:o comperiçáo-coloniz.1.çáo é forCJlecido por um mecanismo - imeraçáo com inímigm - 'ie qui,ermos enten- -20
0.04
inevitin:I aspecto fisiológico. Oit"erenças.muim grandes em der complecamence a sucessão vegecal. Abord,1gens experimen- o 10 15 20 25

produç:í.o pa eirpira de semences entre espéCÍt:'.'S de plantas são tais, como aquelas empregadas na compreensão do papel de PPFD integrada (mol m-2 dta-1)
inver),1mente correlacionadas com variJções igualmente mui- predadores de sementes, rambém cêm mostrado que a nature-
co grande'i em camanho de semenres; planras que produzem za de ceias alimentares no solo (Gange e Brown, 2002), apre- FIGURA 16.13 Taxa de crescimento relativo (durante a estação de
semenres pequenas tendem a produzir muico mais que plan- sença e a perturbação da serrapilheira (G,1nJde e Brown, 2002), crescimento Julho a agosto de 1994) de âlamo tremedor{..-). carvalho
vermelho(•) e bordo sacarina ('.J) em relação à densidade de fluxo
tas que produzem st'.'mences grandes (ver Seção 4.8.5). Ponan- e a presença de mamíferos que consomem \·egecaçáo (Cade- de lótons fotossintéticos (photosynthetic photon flux density, PPFD)
co, Rees e colabor,1dores (2001) ressaltam que espécies com nasso et aí., 2002) às vezes são imporrante.<. na decerminação (segundo Kaelke et ai.. 2001 ).
sememes pequenas são boas colonizadoras (muicos propágu- da seqüência sucessional.
los). nus competidores fracos (poucos recursos ali meneares nas
sememc:sl, e o contrário para espécies com sementes grande). em nurriences, embora com grande disponibilidade de luz.
16.6.4 Hipótese da razão de recursos Como conseqüência da entrada da serrapilheira e da atividade
de organismos decomposirores, a disponibilidade de nucrien-
16.6.2 Facilitação : -. ii';:; ::;··:S~ É válido examinarmos um exemplo
J·::C tes aumenra com o tempo - podemos esperar que isso seja
10 20 30 -·ln'.;:r' s :;::;-~ adicional de nicho sucessional sendo particularmente marcante em sucessão primária que inicia com
(e) Casos de baLrnço comperição-coloni- .-,:,...--,-, . . ~ . . -:-:.-e responsável por subscimição de espé- solos bastante pobres (ou mesmo sem nada de solo). Encre-
0.04
zação e/ou relações de nicho sucessio- cies. O álamo tremedor (Popufus tre- tanco, a biomassa cotai de plantas cambém aumenta com o
na\ sâo proeminentes em praticamente todos os casos de su- mu!o,des) é uma árvore que, no pro- rempo e, em conseqüência, a penecração de luz que chega ao
ce,;SJ.o <lcs...:riros, incluindo mdos aqueles da seção anterior. Adi- cesso de sucessão na Améric:1. do Nor- solo diminui. As idéias de Tilman estão iluscradas na Figura

.
~

~
cionalmente, \'imos cJsos em que espécies iniciais podem mu-
dar o .1mbieme abiócico de tal forma (p. ex., aumento de ni-
trogênio no solo) que facilic.1.m o estabelecimenrn de espécies
ce, aparece antes do Clf\·alho verme-
lho (QuerC1i, rubra) ou do bordo sacarina (Acer sacch,zrum) .
Kaelke e colaboradores (2001) comp,1raram o crescimento de
16.14 parJ cinco espécies hipotéticas. A espécie A passui a me-
nor exigência de nucriences e a maior demanda por luz que chega
ao solo. É uma planta curta, com forma de crescimento prosrra-
E 0,02 c..1.rdiJs. Porr.tnro. J. facditação deve ser adicionada à lista dt= plântulas das rrês espécies quando plancad.1s ao longo de um do. A espécie E. que é um competidor superior em situações com

..
,'!
o
~
fenômeno~ envolndos em alguns processos de suce~são. Não
podemo,; d11er o quão comum esse mecanismo é. Enrret.rnco.
gradiente de disponibilidade de luz, desde o sub-bosque ílo-
resral (2,6% dJ luz coral) .ué pequenas clareiras (69% dJ luz
muitos nucrienres e pouca luz, possui a menor demanda por luz e
a maior exigencia de nutrientes. É uma planta alta e ereta. As
o 1n, <:.'r,o com cerra:1 n.lu é incomum: porr.111ro. muiu., e,;pé- toc1l). O á!Jmo sobress:1iu-)e em rd.tçâo aos demais qu.rndo a espécies B. C e D são intermediárias quanro às suas exigên-
cies de: pLtrH.b alteram o ambiente de moJo a torn:í-lo m.ll\ disponibilidade rel.Ht\·a de luz excedia 5°:o. Enrrec.1nto, houve ciJ.s, e cad.1. um:1. atinge seu pico de abundância em dif(°rence:;
adequ:1do a si próprias (Wilson e Agnew, l 992). Assim, por uma inversâo de ordem em locais muico \Ombreados; neste pomos ao longo do gradiente nutriente-luz. Existe espaço para
cxç_·mp!o. :1 \t::gec:1.çJ.o lenhosa pode arm.uenJr .íguJ J. partir de caso carvalho e bordo, típicos de esdgios ~ucessionais tardios, resces experimenuis adicionais da hipórese de Tilman.
10 20 30 cern~:í.o ou .uenuar geadas, melhorando as condições para o cres- crescerJ.m mais t: sobreviveram melhor do que o ibmo (Figu-
Tempo (anos) cimenro Jas espécies em quescáo, enquamo os relvados herb.í- rJ 16.13). Em sua htpórese d, nwío de rernr,os, Ti\m,1n (] 988)
ceos podem interceptar ,igua corrence superficial e crescer melhor enfatizou o papel de capacidades competicivas flutuantes con- 16.6.5 Atributos vitais
FIGURA 16.12 Simulação da d1nàmica de recuperação (modelos no solo Umidn que é cri.1do. forme as con<li.:;óes mudam lenr:1.menre com o cempo. Ele bn-
de cadeia de Markov) de três espécies const1tu1ntes de uma comu-
çou a hipótese de que J dominància de e,;;pfrles em qualquc:::r Noble e S\aryer ( 1981) também se in-
nidade entre-marés a partir de 100% de rocha nua com probabili-
dades de subshtu,ção vanando no espaço, no tempo ou com pro- ponto do processo de sucessão é muirn influenciad.1 peb dis- teressaram em definir as caracrerísti- sequr,do ,:\JJbls- e
bab1hdades lixas: (a) o briozoário Cris1a eburnea. (b) a anémona 16.6.3 Interações com inimigos ponibilidade relaciv::1 de dois recursos: n.io apenas luz (como cas que dererminam a posição de uma s1.i:·,e:
do mar Metnd,um senile e (e) alga coralina encrustante. Os pontos •_.r· .:.::ç:-:;i
·~::,,;,;"1tS demonmado por KJe\ke et ai., 2001). mJs umbém por um e.<.pécie na sucessão. Eles chamaram
no fim de cada diagrama (%: 95% intervalo de confiança) são as
abundàncias observadas em um local no Golfo do Maine. EUA (se- Ree, e: cobborJdores (2001) ressalraram ;::~'.:-1 :Jr-?::?.c3. ·, nurriente limicame no solo \ger.1.lmence nicrugênlo). No iní- ess.1s caracrerísricas de ,w·ibuto!i vitaú. Os dois mais imporcan-
gundo Hill et ai . 2002) :;"" ss::,n':!n!<:::,,. res são relacionados a: (i) o método de r<!cuperação após uma
que. c:m conseqüên,:ia do b.ibnço com- cio da sucessão. as pl.inrub.) estao sujeius J h.1httacs pobres

l
486 PARTE 3- COMUNIDADES E EcoSSISTEIMS CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÔES NO ESPAÇO E NO TEMPO 487

área por meio de dispersão de sementes). Em ambos os ca_1,os, ela TABELA 16.3 Características f1s1olôgicas de espécies de plantas sucess1onais iniciais e tardias (segundo Bazzaz, 1979)
ac:abaria substituindo ourras espécies e formaria com oucrJ~ a w- Atnbuto Plantas sucessionais iniciais Plantas sucessiona,s tardias
getaçáo 'clímax'. Noble e SLuyer argumentam que seria possível Dispersão de sementes no tempo Bem dispersadas Pouco dispersadas
A g, e ,E classificar codas as espécies em uma área. de acordo com e~es dois Germinação de sementes

. acribums virais (aos quais talvez se pudesse adicionar longevidade aumentada por
~
luz Sim Não
como um terceiro). Dada essa informaçáo. previs&:s basrame pre- S,m
temperaturas flutuantes Não
"il cisas podem ser feiras sobre a seqüência da sucessáo. NO'J alto s,m Não
~ Fogos iniciados por raios produzem perturbações naturais re- inibida por
~ gulares em muicos ecossisremJ5 em regiões áridas do mundo. Du.'l'i luz vermetho-d1s1ante Sim Não
ê concentração alta de C0 2 s,m Não?

..
i
"
síndromes de resposta ao fogo, análogas às duas classes de recupe-
ração após perturbação propostas por Noble e Slacyer, podem ser
identificadas. As planras com capacidade de rebrotunemo pos-
Intensidade de saturação da luz
Ponto de compensação da luz
Eficiência em intensidade luminosa baixa
Alta
Alto
Baixa
Baixa
Baixo
Alta
.a" suem slsremas de raízes bem-desenvolvidos e bastame profundo.s Taxas fotoss1ntéticas AI las Baixas
[ e são capazes de sobreviver na forma de indivíduos. Por oucro
Taxas de respiração Altas Baixas
d lado. indivíduos de plantas sem capaciJJde de rebrotJmento em
Taxas de transpiração Altas Baixas
Res1stênc1as estomât1ca e do mesofllo Baixas Altas
ger.tl morrem após queimadas, embor.1 con,;;igam se resubc.·lecer Res1stênc1a ao :ransporte de água Baixa Alta
Recuperação a partir de lim,tação de recursos Rápida Lenta
por germinação de sementc:s cuiJ dorm~nciJ. é quebra&.1 pdn fouo
Taxas de obtenção de recursos Rápidas Lentas?
(Bdl. 2001 ). A proporção de espécies que podem ser classitícad:,
Tempo
como rebrocadoras é maior em florestas e em vegetação arbu'itÍvJ.
no sudoeste da Austrália Ocidental (clima tipo iV(edirerr:ineoJ
FIGURA 16.14 A h1potese da razão de recursos na sucessão segun- do que em regiões mais árid.1s do continente. Bell sugere que ;:c- botânico. Existem razões óbvias par.1 isso. As planra::, gcral- alro. Em ambos 0'.) casm, os organismos possuem um efeito
do Tilman (1988) Assume-se que cinco espécies h1potét1cas de plan- meme fornecem a maior pane da biomassJ e a estrutura física quase supremo sobre o ambiente abiórico e "conrrolam" as
tas são d1ferenc,adas quanto a suas exigências de um nutriente de
isso se deve ao faro de comunidades da Austrália Ocidemal
solo em quantidades limitantes e luz. Ourante a sucessão, o hâb1tat serem mais freqüentemente sujeiras a queimadas do que as da, comunidades; além disso, elas não se escondem ou fogem, vidas dos outros org.rnismos dentro dele. As comunidades de:
inicia com um solo pobre em nutriente, mas com alta dispon1b1lidade outras áreas, de acordo com a hipótese de que intervalos cur- facilitando a construção de lista de espécies, determinação de recifes de corais (dominadas por um animal, embora com urna
de luz. mudando gradualmente para um hábitat com solo nco. mas abundància e detecçJo de mudanças. A enorme contribuição planta simbionce) são tâo estrumradas, diversificadas e din:i-
com baixa d1sponib1lidade de luz na superfície do solo. As capacida-
cos encre queimadas (em média, 20 anos ou menos em muiu~
des competit1vas relativas mudam conforme a variação nas condi- áreas da Austrália Ocidental) promO\'t'ffi o sucesso de plJntJ:i que as plantas fazem decerrninando .1s caracceríscic1s da co- micas quanto uma floresta tropical.
ções, fazendo com que primeiro uma e depois outra espécie passe a rebroradoras. Por outro lado, intervalos maiores entre quei- munidade não se de\'e apenas ao seu papel como produroras O faro de as plantas domin,uem a maioria J.1 escrurur.1 t:'
ser dominante primárias, mas rambém como resultado da lentidáo de sua sucessão da comunidade nâo significa que animais sempre se-
madas possibilitam o acúmulo de mrtior biomassa combuscí-
vel, fazendo com que as queimadas sejam mais intensa:,,, ma· decomposiçáo. As plantas não contribuem apenas com bio- guem a comunidade ditad.1 pel.1s plantas. Isso geralmente acon·
tando as plantas rebrocadoras e favorecendo aquelas com es· rn.1s,;a para a comunidade, mas c.1.mbém são dS maiores contri- tece, é claro, pois as planras fornecem o ponto inicial p.1r.1.
percurb.1çdo (quarro class{'.S sJ.o definidas: disseminaçJo vege- trarégia de recuperação por meio de sementes. buintes de nccromassa . .-\ssim, a mc:nos que a atividade de mi- roda!> as teias al1menrares e determinam muito das caracterís-
tativa, V; pulso de pLi.nrulas do banco de sementes, S; pulso Considerando de um ponro de vista evolucivo, pode-\c.' su- crorganismos e derritívoros seia ripida, a m:uéria vegeral mor- ticas do ambienre físico em que os animais vivem. Existem,
de plànrulas di::ipersas abundantemente de áreas próximas, O; gerir que cerros atributos vitais são de tJ. .1cumula como serrapilheira ou turfa. Além disso, a domi- entretanto, siruaçóes em que animais determinam a esrrutur.1 da
sem qualquer mec.rnismo especial, com apenas disperSJ.o mo- provável ocorrência conjunta. com fre- nância de ár\'ores em tantas comunidades acomece porque comunidade de pl.1.ncas. Jj vimos que insecos e roedores predado-
derada de um pequeno banco de sememes, N); e (ii) a capaci- qüência maior do que se poderia es- e,;;t,1s a.cumul.1m marC:ria morra; a maior parre do tronco c ga- res de'. sementes podc:m desacelerar a sucessão em campos ab.rn-
dade de indivíduos se reproduzirem em face a competiçio (de- perar ao acaso. Podemos presumir duas lhos é constirnída por tecidos morros. A tendência, em mui- donados e dun;t,;; por caus.1rem maior mortalidade de semenres
finida em termos de roler.lnci,i, T, em um excremo e inrole- alternarivas que podem aumentJ.r a eficácia de um organismo n.1 rns h.ibiu.rs, de árvores succ:derem vegetação hcrb.ícea vem de plantas tardias n.1 sucessJ.o. Um exemplo particularmente
d.ncia, I. no ourrn). :\:-.sim, por ex-:mplo, uma espécie pode sucessão (Harper, l 977): (i) a espécie reage à pressão de seleç.lo dJ em grande ~une de sua cap:1cid.1Je de m.rnrer uma cop.1 n1Jrcance do papel de animais. em uma escala baseante ampl.i.
ser classificada como SI se perrnrbaçóes desencadei.1m um pulso competição e desem-olve caraccerísricas que pos)ibilirem-11.1 per- com folhas (e :,,isrem.1s de raÍLes) )obre um esqudeco de sus- v-:m das savanas cm Ndara. no Quênia. A veget.1çâo de savan.i
de plântulas a parrir do banco de sementes, e se as plamJs são sisür por mais tempo na suce.ssio, ism é, da responde à sde(l.o K: ccncaçáo prc:dnmin,rnremenre Clln~tituído de tecido morro geralmc:nte é controlada por pasradores. A exclusão expc'.l"Í·
inrnleranres à L0111fH:'.tÍçáo (sendo i11cap.1z de germirur e cre~- ou (ii) da pode desenvolver mecanismo::, m.iis dlcierues de e"c.ipe {o ci..:rne da nudeiD). menul de defanrcs <le um.1 pJrcda da savana durante:- l O .HW)
cer quJndo em comperiç,lo com indivíduos mais vdhos ou da sucess,lo e descobrir e colonizar ourrm locais adequ.idn'i Plllic Corpo.\ Je Jnim.us decompõem m.1is 4ue crip!1cuu a densid.ide de árvores ( rrab:1lho de Ü\\erc-
111J1s avan~Jdos, unw de sua própria e~p~cie qu.111to de ou- .1 sucessáo esteja em estágio irncial, isco é. ela responde :i ,~k·-;.ío r muirn mJis r.1pid.1me1m:, embor.1 exis- gh,i,,-\fu11d.1duul1. publicodo elll Deshmukh, 1986).
tras). As plJ.nrulas Je ui espécie poderiam se estabelecer ape- ( ver Seção 4.12). Porra.mo, de um ponto de vista evolucivo. d~\-e- tam siru.1çócs em que suas carcaças, J.s- [\.[.1is frequcnterneme, entretanto, animais são segui<lorô
nas imc:diaramente Jpos uma parnrbaç.io, quando competi- mos esperar que bons colonizadores sej.1m comperiJon.:s fr.1cos,: sim como J!) Jc plamas, podem deter- p.issivm <la suct:ss.ío que ocorre encre planc.1s. Isso cerum.:nrc-
dores são raros. Com cerreza, um pulso de plânmlas ajusra-)e vice-versa. Isso é evidente na Tabela i 6J, que lista alguma..,;; c.1r.1t.:- minar a escrurnra t" a ::iucessio de uma é o caso em espécies de aves passeriformes nJ !)ltCess.ío de cJm-
bem com cal exi)tênci.1 pioneira. Um exemplo~ a planta anual terísricas fisiológicas que rendem a ser comparrilhJdas em pLmtJ..'i comunidade. Isso acontece quando o p,)::i abandonados (Figura 16. l 5). Fungos micorrizicos a,bus-
Ambrosia arrenwiijàlM, que frequentemente aparece no início iniciais e tardias na sucessão. esqueleto do .mim.d resiste à decomposiçáo, como é o caso da culares (ver SeçJ.o 13.8.2), que mostram unu seqüência cLir:i
d.1 sucessão em umpos abandonados. Em contraste, J faia acumulaç;10 de esqueleco calcifio.do durante o crescimento de subsricuiçio de c:spécies em solos associados com umJ Sll-
ãmericana (Fagw grandifolra) poderia ser classificada como V[ de corais. Lim recife de coral. assim como uma floresta ou cessJo em campos abandonados (Johnson er ai.. 199 l), tJ.m-
(capaz de regener.1r vegetativamenre a parrir de fragmentos de 16.6.6 O papel dos animais na sucessão umJ turfeira, obtém sua estrurur.i e determina sua suces)áo bém podem ser ::.eguidorc:-s pa~sivos das planras. Porém, is,o I
raízes, e mleranre à compeciç.J.o, visco ser c.tpaz de se esCJbdecer e por meio do xümulo de seu passado morto. Cor .1.is formado- ruo .'iignifica que as aves, que se Jiimenram de semc:nres, ou os !
reproduzir quando em competição com indivíduos mais velhos A estrutura de comunicl.tdes e J suces- res de recifes, Jssim como árvore::, em florestas, obtêm sua do- fungm. que: .1fetJ.m o crescimento e a sobrevivência das pbn- J

ou mais avançado!) de su..i própria espêcie ou de omras) ou NT


(se nenhum fragmento permanecer, ela invaJiria lemJ.meme a
são que se passa dentro delas cc:m sido
tratada como um assunto essencialmen-
min,i.ncú em 'ill.lS respecciv;.is comunidades por numerem suas
pJrces assimilJdons sobre tecido morro progressivamente mais ::;j"~:,,;:'."'""m orn,- <l, '"'""" El<e 0 ' ~

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488 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÕES NO ESPAÇO E NO TEMPO 489

de qualquer mudança ser impercepcível para nós. Nesse con- Fundamental para a perspectiva de dinâmica de m.rnchas
texco, a sucessão em substram rochoso da região entre-marés é o reconhecimento da importância da migração entre mJn-
ilustrada na Figura 16.12 é incomum pelo faro de a conver- chas de hábirars. Isso pode envolver indivíduos adulrns, em-
Tordo norte-americano gência para um clímax cer levado apenas alguns poucos a.~os. bora muiro freqüentemente o processo de m.úor importância
A sucessão em campos abandonados pode lev.ir 100 a )00 seja a dispersão de propágulos de imacuros (sementes, espo-
.. ---- -- ·, ;"? anos até chegar a um "clímax". Entretamo, duunce esse pe- ros, larvas) e seu recruramenro em populações dentro de man-
Ave canora ( warbler') cnstada
ríodo, a probabllidade de ocorrência de queimadas ou fura- chas de hábims. A ordem de chegada e o nível relarivo de
cões é tão alta que raramenre o processo de sucessão chega .1 se recrutamento de espécies individuais podem decerminar ou
Tangará de verão completar. Se levarmos em consideração que comunidades flo- modificar a nacureza e o resulcado de inceraçóes incerespecifi-
restais em regiões temperadas do norte, e provavelmente tam- cas da comunidade (Boorh e Brosnan. l 995).
bém nos uópicos, ainda escáo se recuperando d.1 úlcima glaci- Na Seção 16.4. l, idemificamos dois ripos fundamenral-
Ave canora das pradanas ação (ver Capítulo l), é questionável a idéia de que vegetações mente diferences de sicuaçóes denrro de comunidades: aque-
atinjam o clímax freqüentemente na natureza. las em que algumas espécies são competidores muito superio-
res são controladai por domlná11cit1 (equivalente à sucessão) e
Cardeal
aquelas em que rodas as espécies possuem habilidades compe-
. :.J riti\·as equivalentes são co,uroladas por fimdar;iio. Dentro da
Pardal do campo '., J. -)! . abordagem de dinâmica de manch.is, J.S dinâmicas dessJ.s duJs
,_- 1 r;1~rrq,;~ ·~\~ i""'."!d~Ci'.2~ sicuações são diferences e serio examinadas a seguir.

Pardal manchado
Uma floresra (ou um c.lmpo) que pa-
rece cer acingido uma es[rucura de co- 16.7.1 Comunidades controladas por dominância
munidade estável quando esrudada em
urna escala de heccares, ::.empre será um Em modelos de dinâmica de manchas
FIGURA 16.15 Acima: d1stnbu1ção de mosaico de sucessões em miniacura. Continuamente árvores em que algumas espécies são competici-
espécies de aves ao longo de um gra-
diente de sucessão na região P,edmont caem ou uma couceira de grama morre, .ibrindo uma nova vamence superiores às outras, o efeito da
~--- --- da Geórgia, EUA. A intensidade da cor dareira, na qual uma nova sucessáo se inicia. Um dos rraba- percurbaçáo é crazer a comunidade de
indica abundância relativa das aves. (se- !hos mais influentes na história da ecologi.1 foi intitulado Pa- voka a um esrágio inicial de sucessão (Figura 16.16). O espaço
Scutellospora spp. gundo Johnston e Odum. 1956; de Ga-
threaux, 1978.) Abaixo: distribuição de drões e procersos em comunidades de plantas (\X-'acr, 1947). Al- Jberto é colonizado por um ou mais grupas de espécies oparru-
micorrizas arbusculares-vesiculares nos guns dos padrões de urna comunidade são causados por pro- nisras e caracreriscicas do início do processo de sucessáo (p 1, P:!•
solos associado a uma sucessão em cessos dinâmicos de morces, subscicuições t: micro-sucessões erc., na Figura 16.16). Com o passar do rempo, mais espécies
Glomusspp campos abandonados em Mmnesota. A
intensidade da cor indica abundância re- que em urna visão multo ampla podem ficu obscurecidos. aparecem, freqüemememe aquelas com baixa capacidade de dis-
lativa de esporos das espécies nos gê- Porranco, embora possamos distinguir padrões na composi- persão. Escas acabam amadurecendo e dominando o estágio in-
Acaulospora efegans neros Scutellospora, G/omus e Acaulos- ção de comunidades no espaço (ver Seção 16.3) e no rempo cermediá.rio de sucessão (m 1, m:!, ecc.). enquanto muita., ou mes-
pora (segundo Johnson et ai., 1991)
(ver Seção 16.4), com freqüência faz mais senridu considerar mo rodas as espécies pioneiras são excincas. Ainda mais carde. a
espaço e tempo conjuncamence. comunidade readquire o estágio clímax quando rodos os compe-
Já vimos que percurbações que tidores mais eficientes (c 1, c2 , erc.) eliminam seus vizinhos. Nessa
abrem ela.reiras são comuns em rndo, seqüência, a diversidade é inicialmence baixa, aumenta no t.:stágio
16.6.7 Conceito de clímax mtL'i: des..1.fiou muitos ecólogos. entre os quais Tansley ( l 939), os tipos de comunidades. A formação incermediário e em geral declina novamente no clímax. A clareir.1
foi proem1nence. A escola po!idlmtL"( de pensamento reconhe- de clareiras é obviamence <le conside- essencialmente sofre uma minissucessáo.
A sucessão chega a um fim~ Ê claro que um equilíbrio escável cia que o dim,Lx local poderiJ ser determina.do por um facor dvd imporr.incia p.tr.l t:spécies sêsse1s Algumas perturbações são sincro-
id ocorrer se indivíduos que morrem são subscirnídos um-.-1-um ou combinaç.lo de fatores: clima, condições de solo, rnpogra- ou sedenrárias que necessitam de espaço lint:. Emrecanro, das nizadas, ou esrio em fase, sobre gran-
por jovc:ns da mesma espécie. Em um nível um pouco mais fl.1, fugo, t:cc. Porr,rnto, um:i. única .irea dim,irica pu<leri,1 fa- também têm se mostrado imporrames p.in e,;pécies vágeis. des. áreas. Uma queimada em uma flo-
complexo, modelos de Markov (ver Se<;-âo 16. 5) mostr,1m que cilmcnre conter diversos tipos específicos de clímax. Posre- como invertebrados em leicos de riachos (iVLlnh.1.::::1 e Tmvn- resc.1 pode destruir uma gr:i.nde fração
uma composição de espécies estacionária deve, em reoria. ocor- riormence. Whi[[aker (l 953) propôs sua hipócese de padrões send, 2000). O conceito de dinâmica de manchas de comuni- da comunidade clímax. A área como um rodo procede através
rer caso as probabilidades de substituição (de uma espécie por de dím.n. E!J consisciJ em urna continuidade de tipos de: dades vê o há.bicar como um mosaico, com rn:i.nchas sendo de uma sucessão pracicamenre sincrônica., com a di\er:-.,J.1Je
elJ própria ou por qualquer uma das outras) permanecerem dim.1.-...:, vJ.rundo gradualmente ao longo de gradiente,;,; Jnt- percurbados e recolonizados por indivíduos de diferences es- aumentando duranre a fase inicial e em seguida d1minui11do,
consranres no tempo. bientJ.Í\ e nâo necessariamente separáveis em unidades dis- p~cies. Implícito na visão de dinâmlc.1 de manchJs é o papel devido à exclusão compeciciva conforme o clímax é aringido
O conceito de clímax possui uma longa história. Um dos cre(as de clim.tces. (Esra é uma extensão da ;ibordagem de fundamental de perturbações como um mecJ.nismo de reini- Outras perturbações são muito menores e produzem um mo-
pioneiros no estudo da sucessão, Frederic Clements (l 916}. w·hicuker p.1ra análise de gradienres de vegeta<;-·Jo, discucid.1s cialização (Picke[[ e Whire, 1985). Uma mancha individual saico de manchas de hibicacs. Se esc:i.s percurba~f.es n;fo :-.ão
defende a hipótese de que um clímax único irá predominar na Seçfo l(i 3.1.) sem migraçáo é, por definição, um sistema fechado, e qual- sincronizadas, a comunidade resulc.inte é formada por um mo-
em uma dada região dimática, sendo o pomo final de cada De faro. t! difícil identificar uma quer extinção causada por perturbação seri.1 permanente. saico de manchas em diferences estágios de sucessão. Um mo-
sucessão, não importando se o processo iniciou-se a partir de comunid.1Je dimác1ca estável no cam- Encrecanro, exrinções dentro de uma manch.1 cm um siste- saico em clímax, produzido por perturbações n.ío-sincroniz.a-
uma duna, um campo amigo abandonado ou mesmo um lago po. Em genl, não podemos fazer nada ma abeno não representam necessari.imen(e o fim d::i his- d.LS, é muito mais rico em esp~cies do que uma ir:::a grande
pequeno que gradualmente foi aterrado e progressivamenre rnaic'I Ju y_ue dizer que .1 ra..xa de mu- rória, devido à possibilidade de reinva~ão proveniente de náo-perrurbada durante um longo perlodo e ocupaci..1 por .1pe-

l
tendeu a atingir um clímax tc::rrescre. Essa visáo de monocli- d:mç,t na ~ucessio diminuiu ao ponco outras manchas. na~ uma ou poucas espécies domin.rntes chmácic.1.s.Tmvne

1
4 90 PARTE 3- COMUNIDADES E EC05SISTEMAS CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÕES NO ESPAÇO E NO TEMPO 491

Alta
Taxa de perturbação

/,/, / /
--------- -------------------- -----------
Clareira!~~
Frequente lnlermediàna

L=_,/
Rara

P,--m,--c,

/
f. 1
Clareira 2 L - - · ~ - ~ ~ - ~ - 1_ /~ 1L/_,_-- - - - - -

Baixa"---------------------------------------'---
logo apos uma perturbação Muito tempo após uma perturbação
Tempo
1 Clare,ra3~ / _,-, ~l·- FIGURA 16.17 Representação diagra-
mática da riqueza em espécies ao lon-
go do tempo em três clareiras e na co-
Comunidades sucess1ona1s pioneiras e m1c1a1s

P- P,
P,
Estágios sucess1ona1s medias

e, m,
m,
e, e,
Clímax

comu~~~:: L~·~- l___ Tempo_.


munidade como um todo. em três fre-
quências de perturbaçào. As perturba-
ções nào são sincronizadas. As linhas
trace1adas indicam fases de exclusão
competrtiva quando o clímax está próxi-
mo de ser atingido.
m, m, e,
m,
e,
P, P, C3 e, e, .1ção de ond.1s perrurba mais frequenremenre os matacães pe- classes de ramanho/susceribilidade a perturbações foram avJ-
P2 P2 e,
P, quenos do que os grandes. Utilizando uma seqüência de foto- liadas em quatro ocasiões. A Tabela 1G.4 mostra que a porcen-
m, e,
/ m, /
' graÍlas, Sousa estimou a probabilid.1de de que um dado macacão
seriJ movido durante o curso de um mês. A classe composta. por
tJ.gem de espaço nu diminuiu de macacães pequenos para gcrn-
des, indicando o efeito de maior frequência de penurb.1çJ.o
m.uacâes pequenos (que necessiram de uma força menor que 49 em macacães pequenos. A riqueza média de espécies foi me-
FIGURA 16.16 M1nissucessào hipotética em uma clareira. A ocupação da clareira é razoavelmente previsível No inicio, a d1vers1dade é baixa
e é composta pela chegada de algumas poucas espécies pioneiras (p.); ela atinge o máximo em estágio 1ntermed1ário da sucessão. quando
N para serem movidos) cinha uma probabilidade mensal de mo- nor nos m.uacães pequenos regularmenre perrurbados. Estes
coexistem. em mistura, espécies pioneiras, sucessionais intermediárias (mJ e cfimácicas (e.): e então diminui novamente devido à exclusão vimentação de 42°10. A classe intermediária (que neces.sirava de eram geralmente dominados por Ulv11 spp. (e cracas, CJJth11-
competitrva causada pelas espécies chmácicas uma força de 50 a 294 N) rinha uma probabilidade de movimen- ma!us fissus). Os maiores valores de riqueza em espécies foram
raçáo muito menor, 9o/o. A úlrima ciJsse, composta principal- consistentemente regiscr.1dos na classe de m.uacáes interme-
mente por maracã.es grandes (que necessitavam de forças > 294 diários. A maioria rinha uma misrnra de três a cinco especies
(2000) monno1ot1 J~ plama::, que se estabekcerJm em prada- aberu.s. Nesse conrexro, a hipórese da perturbação imerme- N) cinha uma probabilidade de movimemação de O. 1% por mês_ abund3.ntes de rodos O'i estágios sucessionais. Os matacães
rias onde grandes ungulados foram mortos (principalmente diária (Conndl, l 978; ver também a contribuição pioneir.1 de" A "suscecibiliJ,ide a perturbações" dos macacáes teve de ser avalia- maiores rinham uma média de riqueza em espécies menor que
bisão, Ro)· btSon). o~ carniceiros remover.mi 3. maior parte dos Horn, 1975) propõe que a maior diversidade é manriJ.1 cm da em termos da forçJ necessiria p:1.r:l movê-los, e não simples- a classe intermediária, embora umJ. monoculrnr:1 tenh.1 ocor-
recidos das carca<;.,b, embora qu.rnrid.1des consideráveis Je flui- níveis intermediários de percurbaçã.o. Imediatamente dpó, tinu meme da área da superfície superior. Isso porque algumas ro- rido em apenas poucos matacães. G. mna!icufat,1 cobriu a maior
dos corporais e produros da Jecomposiçáo tenham ,;e infilrra- perturbação severa, propágulos de umas poucas espécies pio- chas que pareciam ser pequenas n.t verdade eram panes dr parce d.1 superfície da~ rochas.
do no solo. A Je~cuga Je nurriemes combinada com J. morte neiras chegam .10 espaço aberto. Se penurbações po~teriore-; m.nacã.es m,lÍores p.1rci.1lmenre enterrados, enquanto alguns Esses resulta.dos oferecem fone suporte para J hipótese da
d.1 vegeraçáo anterior produziu .irea . . perrurbJ.Jas sem cornpe- ocorrem freqüentemente, as clareiras n;'ío progredirão além ,fo maracães gr.rndes rinham forn1:1.s irregulares e eram movidos perrurbaç?ío inrermedián:1., de.-.de que estejamos interessados
ridore.-.. 11.1s quai,; m recursos aam excepcionalmente .1bun- estágio de pioneiras na Figur:i 16.16. e a diversi<l.1de d.1 comu- com forças rdarivamenre brand,1s. As três cLisses de maracães, na freqLiência de aparecimento de clareiras. Enrreranrn. cl-:,·e-
J.1me.-... As manLha,; umbém eram cxr.:efx·ionais poryue o solo nidade como um rodo será baixa. Conforme os intervalo~ en- (< 49, 50 a 294 e> 294 N) podem ~er vi<;t:J.s como fragmenrns mos ser cuidadosos e n.ío e.-..quecer o f.Ho de que isso é um
n.ío foi perrnrbJdo (como reria sido no caso de um campo tre perturbações aumentJm. a diversid.1de t.1mbé111 ,1u111e1H.t, npostos .1 freqüênci,1s decrescentes de penurbaçJ.o por rob- processo altamente estocisrico. Apenas por .Kaso :1.lgun:i rn.1-
uilri\·Jdo rer sido .1bJ11JonJ.do ou um rexuuo ter feiro rüneis): pois exi'ire tempo cfoponível para irffasões de mais espt:cic, gem causad.1 por ond.t'> Jurante tempesudes. t.Kães pequenos n:io for.im revirados durante o períod(, de
porunw, .1s pl.rnu.-.. colnniz.aJnr.1s n.lo <:.e de,;nvolveram .1 partir Em freqüência.-. muiw b.1ixas de perturbação, a maior p,irre d.i A rique7..,l em espécies aumentou durance estágios iniciais de estudo. Estes poucos foram dominados pela espécie dim.L\ e;_
do b.rnco de <:.ementes local. :\ nJturez·J incomum d.is nun- comunidade ;1lcanç.uá e se nunrerá em clímax, com exclu.<.:10 suces<:.ão. quando hou\·e LolonizJ.çio por J.Jgas verdes pioneiras c,lJlalicu!,ua. No senrido opo<;to, dois maracíes gr:1nde-i. n:1
chas pcrrurhadJ.-.. 111d.1c.1 que rnuHas Jas espécies pioneiras são competiriva. produzindo baix:1 diversidade. Isso é mostr:h.!o c,- do gênero U!w e por viri,is outras algas. nus declinou novamen- .ivaliac5o feita em maio, foram revirJdos e dominados pel.1
rJras nas pradJ.nJ . . como um melo, e, ,und:i. que:: locais com quemaricarnenre na Figura 1G.17, que ilustra o padrão de n- te no clímax <le\'ido à exclusão compeririva infligida pela alga pionetra Uiva. Em médi.1, entretamo, a riquaa em espécies e
c1rcJças contribuem para a div.:rsidJde de espécies e hereroge- queza em espécies esperado resulranre de freqüências ,dr.1. vermelha perene Gig,1rtintZ canaf:cukzta. f: importante observar a composição em espécies seguiram o p.1drão prt','Ísro.
ne1dJde d.1 comun1Jade dur_rnre munos <rnos. imermedi.íria e:: baixa Je formJções não-sincroniz.1das de d,m:i- Esse estudo abordou uma única comunidade com·en.en-
que J mesma sucessão ocorreu em pequenos maracães que for.un
ras, em manchas separadas e na comunidade como um rodu. arrificialmenre esrabiliz.ados. Portanto, variações nas comunida- remente composra por nunchas identific;freis ( nut.KJ.es) que
A influência cb frequênciJ Je for- des associadas à superfície de mJtacáes de diferences umanhos \e tornJ.vam cl.1reiras (qu.rndo revirados por ondas) em inter-
16-7_2 Freqüência de formação de clareiras mação de clareiras foi estudad-1 no sul não eram devidas simplesmente a efeitos de ramanho, mJ..'i sim valos curtos, intermediários e longos . .-\ re-coloni2.1ç.ío ocorreu
da California por Sousa ( l 979a, devido a diferenças na freqüênciJ com principalmente a partir de prop:igulos derivados de outros fr:ig-
A influênciJ. de perrnrbaçõe~ ~obre l 979b), em uma comunidade de al- que eles eum perturbados. mentos na comunidJde'. Devido ao pJdrJo de pc:rcurbaçJo,
a comunidade depende muiro da i
gas associadas a maude~ de diferen- 1 Comunicbdes em maracães não- essa comunidade de m,Hacães misra é mais dive-rsa do que se-
freqt1e'ncia com tr1e clJreiras são tes tJmJnhos na regi.lo entremarés. A 1
n1Jnipulados em CJdJ uma dJs três riJ outrJ composra apen,is por marJcle.-.. gran<l;:s.

~
492 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÓES NO ESPAÇO E NO TEMPO 493

TABELA 16.4 Padrão sazonal de espaço nu e riqueza de espécies em matacães em três classes, categonzados segundo a força (em Newtons) mudança de muitas espécies que habiram clareiras criadas pela TABELA 16.5 Medidas de área, perímetro e razão perímetro: área de
necessária para movê-los (segundo Sousa. 1979b) clareiras expenmentais criadas em dois experimentos em coslões semi-
Jção de ondas. As clareiras podem aparecer virwalmente em expostos no sudeste do Brasil (segundo Tanaka e Magalhães. 2002)
Riqueza em espécies qualquer lugar e podc::m exisrir durante anos como ilhas em
Classe do matacão Porcentagem de Area Perímetro Razão
Datas do censo (N) espaço descoberto Média Erro-padrão Amplltude
um mar de mexilhões. O tamanho dessas clareiras por ocasião (cm') (cm) perímetro : ârea
de sua formação varia dc:sde um simples mexilh.ío aré centenas
Novembro de 1975 < 49 78,0 1,7 0,18 1--4 Efeitos do tamanho
de metros quadrados. Em geral. um mexilhão ou um grupo de da mancha
50-294 26.5 3,7 0,28 2-7
> 294 11,4 2.5 0,25 1-6 mexilhões torna-se frágil ou machucado devido a doenças, pre- Quadrado 25 20 0,8
dação, idade avançada ou, mais freqüencemenre, pelo efeim de Quadrado 100 40 0.2
Maio de 1976 < 49 66,5 1.9 0,19 1-5 Quadrado 400 80 0.2
50-294 35.9 4,3 0,34 2-6 ondas durance tempestades ou pelo bacimenco de troncos. O
> 294 4,7 3,5 0,26 1-4 preenchimenro de clareiras inicia assim que e!J.S são formadas. Efeitos da forma
da mancha
Outubro de 1976 < 49 67,7 1,9 0,14 1-4 Em um escudo expc:rimencal envol- Quadrado 100.0 40,0 0,4
50-294 32,2 3,4 0,40 2-7 e 1,.- " vendo leitos do mexilhio Brachidon- Círculo 78,5 31,4 0,4
> 294 14,5 2,3 0,18 1-6 Retãngulo 112,5 45.0 0,4
tes JoÍisimws e B. d,trtl'miw no Brasil,
Maio de 1977 Setor 190,1 78,6 0,4
< 49 49,9 1.4 0,16 1--4 Tanaka e l\.1agalhães {2002) avaliaram
50-294 34,2 3,6 0.20 2-5
> 294 6.1 3.2 0,21 1-5
os diferences efeicos de camanho de frJgmento e .1 raáo encre
perímerro: área na dinâmica de suces~J.o. Em um c-xpaimen-
ro sobre um cascão moderadamerue exposro. ek·, criar..im cl.1- que B. darwmiws dominaria gradualmente o cosrJo inceiro se
rdras quadradas com diferences áreas {de\·ido :is form;:is idên- não fossem os evenms ocasionais de recrutamento maciço de
Percurbações em riachos freqüen- Os leicos de mexilhões da zona entren;arés consciruem ex 4
ticas, quadrados maiores tinham razôes mcnore.-, de perímetro B. sofisianw.
remence acontecem na forma de mo- celenre, oporcunidades ao escudo de processos de: formaç.io e : área) (Tabela 16.5). Em uma praia próxim.1 e t1sicamenre O padrão de colonização de clareiras em leicos de mexi-
vimencos do leito duranre períodos de preenchimento de clareiras. N.1 ausência de percurbaçóes, os muico semelhante, eles criaram manch.1s de:' quJuo formas lhões é repetido em quase mdos os de-
alta vazão. Devido a diferenças no re- leicos de mexilhões podem persistir como monoculcuras ex- diferences e escolheram áreas parJ. c;:ida um de forma a pro- ralhes durante a colonização declarei-
gime de fluxo e no subscraro do leito de riachos, algumas co- censas. i\ tais freqüencemence. eles são mosaicos em concínu,t duzirem razões de perímecro: área idêncicJ~ ( F1gur J l G. l 9a). ras criadas por animais cavadores de túneis ou manchas mor-
munidades de riachos são percurbadas com mais freqüência e Observe que um círculo possui o maior pc:rimecro por unida- ras por urina em regiões campestres. Inicialmeme, a clareira
de forma. mais ampla de que outras. Essa variação foi avaliada de de área entre qualquer ripo de:' forma. Os tamanhos das recebe folhas pendentes de plancas adjacentes. O processo de
em 54 trechos de riachos no Rio Taieri, na Nova Zelândia clareiras escavam dentro da amplitude de vari.1ção observada colonização encâo inicia. por meio de av.mços clonais a parcir
(Townsend et ai., l 997), registrando-se a freqüência com que (a) em clareiras nacurais, e não eram diferemt"s entre as duas prai- &1s bordas, fazendo com que clareiras muico pequenas sejam
pelo menos 40% (escolhido arbirrariamente) do leim se mo-
vem e a porcenragem média de movimenro (avaliada em cin-
co ocasiões duranre um ano, usando panículas pioradas do
.
~
:t •
1

1
as (Figura l 6. l 9b).
A.Iras densidade.-, d.1 Lip.1 • herbívo-
ra Coliúel!,1 subrugos,z forJm observa-
fechadas muico rapidamente. Em clareiras maiores, novos co-
lonizadores podem aparecer na forma de sementes dispersJ.s,
ou germinar a parcir do banco de sementes no solo. Após 2 a 3

•1 • 1 • •
tamanho daquelas no leim do riacho em quesráo). O padráo ~
e- - 1 d..1.s nas clareiras menores durante os anos a vegecaçáo começa a adquirir as c;1racceríscicas que tinha
de riqueza em espécies de inseres seguiu aquele previsto pela ii

f:~ •• '"."·:O-/ seis meses após J. formaçjo d.is clarei- ances da formação da clareira.
hipótese de perrurbaçáo incermediária (Figura l 6. l 8). É pro-
vável que a baixa riqueza em altas freqüências e intensidades • ~ • •
ras (Figura l6. l 9c). Clareira.< peque-
nas, comparadas a clareiras médias e grande.-,, Dmhém foram
As clareiras criadas em florestas variam muico em tama-
nho. Clareiras induzidas por raios em
de perturbação reflitam a incapacidJde de muiras espécies per-
sistirem em cais sicuações. Se a baixa riqueza em baixas fre-
'ºo 0,2 0.4 0,6 0,8 1.0 mais rapidamente colonizadas por melo de migr,1çJ.0 laceral floresras de mangue na República Do-
Frequência da perturbação das duas espécies de mexilhões. mas com predomínio de B. minicana, por exemplo, variam de 200
qüências e lncensidades de percurbação é decorrence d.1 exclu- darwiniw. Após seis meses, JS d.ireiras mJÍores tinham .tltas a 1.600 m' ou mais (Figura l 6.20).
são compeciciva, como propo::,co pela hipótese de percurbaçâo (b)
densidades da craca Chthllmalw biHlfU11t:t1 e abriga\'Jl11 mJ.is Raios quase :iernpre matam grupos de árvores em um círculo
incermediária, é algo que ainda permanece por ser cestada. lapas em suas bordas, enquanco a, áreas cc:'nrra1s tinh.lm mais de ~O .a 30 m, restando árvores monas em pé por virias anos.
Brachidonrt:s, recruudo~ a parrir de l..1.r\',ü I figu1 a ! 6. I 9J). Em uma floresra dominada por mangue vermelho (R/,izophom
.-\.s cbreíras com rnóes perímerro : úc:a id2-nriu.-, c1\·eram m,11fg!e) e nungue branco (Lagw1cul.zria rttn·n10H1). e com al-
16.7.3 Formação e ocupação de clareiras p:idróes de coloni1.:.1..;ãn muico ,emelhJnrt, ..q'e'>.tr J.1,; d1- guns m,rngue~ pretos (Avrü•111úa ger111Íl1t111)), Shc:rnun e col.i-
ferençJs em c.imanho, o yue c11f.1r:1.. 1 l}lle .1.-. J1rümic.1s Je hor.1dores COOO) compararam o desempenho d.is rrês espé..::ie)
ClareÍrJS de d,terences tamanhos po- em clareira~ abc::rcas por raios e sob a. copa da floresta. A dens1·
colonizaç.ío são derermina<lls princip.dmenre peL1 J1sdn-
dem inAuenciar na esrrucura da comu- d.ide de ptintulas em clareiras e em tlorescJ im:.iLC,l n;lo dit"erill,
cia das fonres adjacenres Je coloniladores
nidJJe de formas dlscimas, devido aos
As lapas são prova\'elmence a~sociadas i, hordJs de man- embora a densidade de plantas jovens e .1 raxJ de crescimento
mecanismos concrascances de recolo- Freqüéncia da perturbação (% média do leito removido) chas, pois nesces locais ebs cscão meno::, ,.-ulnc::ri\ei.-. :.1 preda- de rodas a.s cr~s espécies [enham sido muito mJiorô 11.1.s darei-
nÍZJ.ç:io. Os cencros de grandes clarei- r:.1.s (Tabd.1 16.6). Encreranco. a regenc::r;:i1;.l.o de cLueir.1s foi
dores visualmente oriencJdos. A relaçJn nq;,uiv.1 entre :1 dis-
ras possuem maior probabilidade de ser colonizados por espé- FIGURA 16.18 Relação entre riqueza em espécies de invertebrados e dominada por R. milngle, pois a sua raxa Jc:: monalidJJc:: nc::ssc::
rribuiç:10 de lapas e cr:.1,.:as pode ser Je\·!d.1 ao bco do primt:Íro
cies que produzem propágulos que se dispersam por grandt:s (a) freqúênc1a de perturbação - avaliada como o nllmero de ocasiões
deslocar esra úlcima do subisrraco. Tanaka e t\ LlgalhJes con- ambiente é muico menor do que as d;:is outras espécic::s. Sher-
di>it.l.ncias. Tal mobilidade t: menos imponante em clareiras durante 1 ano em que mais de 40°10 do leito foi movido (anàhse de variân-
c,a s1gn1f1cativa com P < 0,0001 ); e (b) 1ntens1dade de perturbação - cluíram que o mexilhão B. darwimw é um colontzJ.Llor mais man e colaboradores (2000) verificaram que a vegeraç.ão ras-
pequi::nas, onde a maioria dos propágulos recolonizadores será porcentagem media do leito que fOI movido (regressão polinomial ajusta- efetivo de m.inchas percurbJdJ.s do que B. solii1,l1l/t:, e sugert"m teira (pe,tt mal) da florc::scl geralmente desapare..:ia após danm
produzida por indivíduos c::scabe\ecidos nas J.djacências. As da. r~lação s1grnf1cativa com P < 0,001) em 54 nachos estudados na
por ralos, resulcando em aum~nto nn 111\·d Je águJ. p.1rJda.
menor~s clareiras podem ser colonizadas simplesmente por bacia do Rio Taien'. Nova Zetàndia. Os padrões são essencialmente ()5
mesmos: intensidade e freqi.Jênoa de perturbação são fortemente corre- Eles sugerem que: o sucesso de: R. 111,mglt· em dan:iras é devido
movimc::nco'i larerais de indivíduos do enrorno. lacionadas (segundo Townsend er ai., 1997) ' N. Je T. Também conh.:cid.l ;.'opub~m.::Hr.: 1-'()r ~h.1pn111nho·c:hiné~ 3. ,u.1 J\ca rnler;Jncia J condiçát.:s de ilag;1mento.

_j_
1
494 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÓES NO ESPAÇO E NO TEMPO 495

mente tolerantes às condições abióricas e podem impedir que


(a)
~] í>.
,---..__
16
14
Tamanho médio= 724 m2
ourras espécies se estabeleçam durante seu período <lc: viJa.
então a probabilidade de haver exclusão compecirivJ (.'. bastan-

•"-J,
Diâmetro médio = 30.4 m
1....
L:::_
12 te reduzida em ambientes em que clareiras aparecem de maneir.t
10 comínua e aleatória. Uma condição adicional para a coexis-
tência é que o m'imero de jovens que invadem e ocupam .1 . .
(e) clareiras náo seja consisrenremence maior em populações pa-
Chthamalus b1smuatus renrais que produzem maior prole. Caso isso aconteça, ·J espé-
30 ---+- PequenJ t}--49 50-99 100--400 > 400 cie mais produtiva iria monopolizar o espaço mesmo em um
- - Média I Tamanho da clareira (cm2)
g g g g g o
~
ambiente continuamente perturbado.
j
1
o
~
-..-Grande
l
~
Se essas condições idealizad.1s são
~
20

l a: ~
' § i i cumpridas, é possível prever como a
ocupação de uma séria de clareiras
10 Tamanho da dare1ra (m2) mudará ao longo do tempo (Figura
l6.21). Em cadJ oca.silo que um organi ... mo morre (ou é mc1r-
FIGURA 16.20 01stribu1ção de freqüências de clareiras criadas por
raios em uma floresta tropical de mangues na República Dominicana ro) a dareir.1 ( ri:Jbcrc.1 p.irJ im·.1sJ.o. Todas as substirniçócs
I segundo Sherman e/ ai 2000) 1maginán::i.s sJ.o possín~is, e a riqueza de e~pécies :ieri numiJ.1
Colhse/la subrugosa em um nível alto. Alguma5 comunidade5 de peixes de recites
0.6 nos trópicos podem se encaixar nesse modelo (Sale. 1977,
1')79). Elas são excremamenre diversas. Por exemplo, o núme-
o
a Outros org.rnismos além de pl.rnta.'i também podem ser ro de espécies de peixes nJ Grande Barreira de Corais vana
~ DA
.~uper-representados em dJreiras. Em um estudo de floresta desde 900, no sul, até L 500, no norte, com mais de 50 espé-
l crupical pluvial na Cosca Rica, Levey ( 1988) observou que cies residemes sendo regisrr.1das em uma única manchJ de re-
i 0.2 i a,·es nectarívoras e frugívoras eram mai ... abundantes em da- cife de 3 m de diâmetro. É provável que apenas uma propor-
§ rcir:is aberca:i por queda de árvores, reflerindo o fam de plan- ção dessa diversidade seja devida à partição de recursos alimen-
a us de sub-bosque em clareiras cenderem a produzir mais fru- rares e espaço - de faco, as dieras das muiras espécies coexisten-
rns Jurante um período mais longo do que indivíduos coespe- tes são hastame semdhames. Nessa comunidade, espaço habi·
Brach1dontes sohsianus
cíficos frutificando sob um:i copJ t"echada. t~l\·el livre parece ser o famr limitante crucial. Tais espaços são
produzidos de forma imprevisível no espaço e no [empo quan-
do uma espécie morre ou é morta. As estrarégias de vida d.is
16.7.4 Comunidades controladas por fundação espécies se encaixam nesse ripo de situaçJo. Elas se reprodu-
zem freqüentemente, algumas vezes ao longo de todo o ano, e
Em comunidade ... cone roladas por do- produzem numerosas forma.s dispersaras, como ovos ou lar-
minância., discutidas nJ. Seção 16.7. l. vas. Pode-se dizer que as espécies competem em uma loteria
8rach1dontes darwm1anus
80 havia .1 dicoromia familiar de seleção por espaço habitável em que larvas são os tíquetes. que os pr.-
r e K, n.1 qual a capacidade de coloni- m~iros J. chegarem no espa<;o livre conquisum o local, crescem

18
~
60 'r--4 Laçio e o sllltus competinvo eram 10-
versameme rdacionaJos. Em comu-
r Jpidamenre e o dominam dura me todo o .;;eu período de vida
Tr~s espécies herbívora<; de peixes pom.1centrídeos co-oco1-
nid.tdes conrrobdJ.\ por fund.1çl.o, por re111 na face rnperior do Recife Heron, p.irre da GrJnde Bar -
"
1 40 (Jurro Lido. cnd.ts JS espécies 'iJ.o boas colonizadoras e pos-
,uem t'.'iSenciJlmente .t me.\nl.l cip.1cidaJe compeririva; por-
reira de CorJ.i . . a leste da :\ustdlia. Dentro de rn.rnc/1Js, J
esp:iço d1sponh·d é ocupJdo por uma série de territórios con-
~ 20 t.uHo. dentro Je umJ m.1nd1.1 .1beru por umJ. perrurhJçâo, ríguos yue geralmente não Se' sobrepóem. cad.1 um co!ll ,Írc.1
/1 l'sper.1~se que ch.:orr.t uma locen.1 competiciv.1 e não uma .su- de :lté 2 m.:., nunriJo por ind1\-í<luos de E11pmnt1u·11trw ap1(,1-
{---
,;;:::,._.;.--- -- ---=--:- cessáo previsível. Se mu1u. . espécies s.'io .1prox1mad:1mente equi- !u. f>l,·crroglyphidodo11 laopntuus e f'omaCt·wn,J· U'1ll"rli. o~ in-
Sei Nov Jan Mar Ma1 Jul Set \·ale1He\ em suJJ c:1p.1cidaJc:s p.ira 1,waJir cl.lfeiras, são igua.1- didJuo:i mantêm os territórios durante as fases iu\"enil e J.d.ul-
1994 1995
Ano

TABELA 16.6 Tamanho 1n1cral e taxas de crescimento e de mortalidade. durante o período de um ano, de plantas iovens de três especies de
FIGURA 16.19 (a) As quatro formas usadas no experimento de mancha-forma· quadrado. circulo. retângulo e Msetor" (ver Tabela 16 5) (b) mangue em clareiras abertas por raios e em florestas de mangue com dossel intacto (segundo Sherman et ai., 2000)
O,stnbuiçâo de tamanhos de clareiras naturais no leito de mexilhões. {e) Abunctãnc1a média (± EP) de quatro espécies colonizadoras em Diâmetro mic,al da planta Taxa de cresc1mento-aumento
clareiras experimentais pequenas. médias e grandes. (d) Recrutameoto de três espécies na pentena (dentro de 5 cm a partir da borda da
clareira) e no centro de clare,ras de 400 cm 2 (segundo Tanaka e Magalhães. 2002) i 1ovem (cm .r EP)

Clareiras Oossel
de diâmetro (cm ± EP)

Clareiras Oossef
Mortalidade (%)

Clareiras Oossel

1 Rh1zoohora mangle 1.9 ± 0,06 2.3 ± 0,06 0.58 ± 0,03 0,09 ± 0,01 9 16
0,11±0,06 32 40

l
Laguncu/ar,a racemosa 1.7±0,11 1,8 ± 0.84 0,46 ± 0.04
A v1cenn1a germ,nans 1.3 ± 0.25 1,7±0,45 0,51 ± 0,04 56 88
496 PARTE 3- COMUNIDADES E EC05515TEMA5 CAPÍTULO 16: A NATUREZA DA COMUNIDADE: PADRÔE5 NO ESPAÇO E NO TEMPO 497

sos, os ríquetes da loceria são plantas jovens ou sementes (tanco sagem emergence da perspectiva de dinâmica de manchas e de (a)
no ato de dispersão quanto como componences do banco de sua correspondence em escalas maiores, a "ecologia de paisa-
sememes persistentes no solo). Quais semences ou plantas jo- gem" (Wiens et ai., 1993), enfarizando a imporr:incia da esca- Controle

vens se desenvolvem em plancas estabelecidas e, porcanco, quais la espacial em que observamos comunidades e a n1cureza aberca N
250l fa.--·11
~a; 200 '17
_(
~
espécies ocupam a clareira, pode depender de um elemento da maioria delas. Observe a forre ligação enue a visão de dinâ-
< 19
Tempo
aleatório, visto que muitas espécies se sobrepõem em suas neces- mica de manchas para organização de comunidJdes e a teoria ü150
D
.. ;-
25 \ ·...:,---
5
.- ./ 7
sidades de crescimento. As plantas que obrêm sucesso estabele-
é s ci A 8 s cem-se upidamente, mantendo o domínio sobre o fragmento
de metapopulaçóes, que crara dos efeitos na dinâmica de po-
pulações quando a dividimos em fragmenros (ver Seção 6.9).
100 35 -..,/
~~- e D e_ .!! A_ durante seu período de vida de maneira similar aos peixes de reci- Em um modelo combinando dinâmicas de excinçio-coloniza- (b)

e e A _D tes descriros acima. ção (a abordagem de merapopulações) com a dmimica de su- 250 DDMM
cessão em manchas, Amarasekare e Possingham (2001) mos-
A e _B
uaram que a persistência de uma espécie n.._a paisJgem depen-
N
o 200
8 e e D E. A 16.ô Conclusões: a necessidade de t ...,'3 de: (i) da taxa líquida em que manchas adequaJ:i,; surgem em •
<(

:1::>rs~ecti\/8 da paisagerr. relação d capacidade de colonização da espécie; assim como g 150


FIGURA 16.21 Lotena competitiva h1potét1ca· ocupação de clareiras
que penodicamente se tornam disponíveis. Cada uma das espécies (ii) da longevidade dos esrâgios dormentes (p. ex .. b.1nco de
A a E possui a mesma probabilidade de ocupar uma clareira. inde- .-\ hipórcsl'. d.: loreri:i e a noçio de co- semenres) em relJçJ.o à freqüt'.ncia <le percurbJ..;iv.
pendentemente da identidade do ocupante antena, A riqueza em es- muniJa1..ic::, comrobd~1s por fundaç.ío O Jesenvoh·imenrn futuro de (e)
pécies permanece alta e relativamente constante.
fora_m pJ.sso~ 1mporcames no desenvol- idéias sobre dinâmica de manchas pro- 250 DMDM
vimento de nossa compreens.io da.s v.1- vavelmente abordar:i as comeqüências
riJ.dJ.s din.imicas de comunidade que de múlriplas classes de perrurbação.
N
o 200
t1, defendendo-os comra uma ampla gama de espécies predo- podem ocorrer. Entretamo, elas devem Steinauer e Collins (200 l) fiz.eram uma conrrihu1çlo inicial
a
<(
minantemente herbívoras. incluindo coespecíficos. Parece não ser vi.<.tas n:io como regras rígidas e rápidas às quais as comunida- mostrando que perturbações causadas por depósiro de urina e g 150
existir rendênci.1 de um espaço inicialmente mantido por uma des escão sujeicJS, mas sim como extremos em um conti111a11n pastejo por bisão (Bos bisou) interagem enm:; si. As abundân-
espécie ser ocupado, após sua morce, pela mesma espécie. Tam- enrre conuoles por dominância e fundaçáo. Comunidades reais cias de quatro espécies comuns de gramíneas, e de rodas elas
bém não existe qualquer evidência de uma seqüência succssio- podem esrdr próximas a um ou outro extremo desce continurmt. combinadas, aumentaram em manchas com urinJ em prada- (d)
nal (Tabela 16. 7). [' wardi ramo recrutou quanto perdeu in- embora na realidade as espécies ou manchas componentes pos- rias não-pascejadas. Entretanto, a abundância da gr.1mínea An- 250
divíduos em uma caxa maior do que a das duas outras espé- sam ser conrrolaclis por dominância ou fundação dentro da mes- dropogon gerardii. e de rodas as gramíneJs combi,udJ:., dimi-
cies, embora todas as três espécies pareçam ter recrutado em ma comunidade. Por exemplo, Syms e Jones (2000), em um es- nuiu em manchas com urina em pradarias p-tscej.1dJs. A mu-
N
o 200
um nível suficieme para compensar suas taxas de perdas e man- a
tudo de manchas de recifes na GrJ.nde Barreira de Corais. reco- dança de dinâmica reflere o faro de bisões prefc'firem pascejar <(
ter uma população de indivíduos reprodurivos residences. nheceram que mais da metade da variaç..1.o em composiçáo de em manchas com urin:1. Adicion.-1.lmente, .-ire.1s p.1:.rejadas ini- g 150
Desse modo, a manutenção da alta espécies de peixes dentro de recifes não pôde ser explicada, sendo, ciadas em fragmentos com urina rendem J. 'ié expandir para
diversidade em recitê;s depende, ao portanto, acrihuída a fatores esrocáscicos como aqueles enfatiza- bem além da área com deposíçio de urina, .1urnemando o ta-
100
menos em parte, da imprevisibilidade dos na hipó(ese de loreria. Emretanto, uma proporção significati- (e)
manho e a severidade d.1 perturbação por pasre10.
do suprimento de espaço habirável; e va da variação pode ser explicada por necessidades específicas de Por fim. assim como podemos fa-
concanto que todas as espécies ganhem em alguns momencos e hi.biut da.~ espécies consriruintes. cilmente ver como as dinj_micas de co- 250f
em alguns locais, elas concinuaráo a produzir larvas para o De maneira geral, nenhuma comu- munidades podem n.riJr de a.corda o 200
plincmn e, portanto, para a lmeria dos novos sírios. Uma si- a
nid.1de é verdadeiramente o siscema
mação análoga foi proposta para os alramente diversos campos homogêneo e cemporalmence inva.riá-
com a ordem em que c:.péi..:-ics coloni-
zadora:, aparecem ,lp(i" um.1 percurba-
üo
<(

gredosos da Grã Bretanha (Grubb, 1977) e mesmo para árvo-


res em clareiras de florestas temperadas e tropicais (Busing &
Brokaw. 2002). Qualquer pequena clareira que aparece é rapi-
ye\ des...:rirn pel.1 macemitica simples
do modelo de Locka-Volcerra e c'xem-
ção, podemo~ ob:,en·Jr que .1 ordem cm que dit'ercnces tipo"
de percurbações ocorrem também podem :1fc:cu o rcsulr.1do
:::t o 50 300 350 200
OCA eixo 1
250 300 350
plific.tdo por expaimenros de microcosmos em laboracório. final. Fuk.1m1 (2001) av.1liou esse tópico incro1..!uzindo dua'i
Lbmente explorad,t - por unu semente, em um i..:-ampo, e, com embou J.!gunus sejJm menos \·arifreis do que oucras. N:1 m.i10- classes de percurb.1.ções {;;eca_, ou :1di~.ín Je L1L\ ,L, de mo:,qui-
freqüência. por unu pl.uu.1 jovem em unu floresrJ. ~esses ca- riJ d.1:-. ...:o;nunid,1des reais, a dinJmica das popul.içóes sacÍ es- FIGURA 16.22 Mudanças temporais na composição de espécies e
rns predadores) em dri.1s sequêncus ern m1cnll._l):..r110'i de pro-
abundância relativa de m1crocosmos compostos por uma mistura de
pai..:-1J.lmenre distribuída. e a \';HÍ,tção temporal esta.ri preserut?. tiscas e pequenos meuzo.írios (Jnâlogos c1 comun1J.1des na.cu- prot1stas e rPetazoános. A mudança é expressa em diagramas de or·
Em um si:..cema fechado composto por apen.1s uma 1nant.h.1, rais em ocos de bambu.<. quebrados) l'!ll L1bo1 ,HÚno. Sequên- denação produzidos por •Jma técnica chamada análise de correspon·
exrmçóc'S de espécies podem ocorrer devido a duas razões hem cias diferenres de permrbaçôes levar;1m o:, rnii..:-r{KOsmos a tra- dênc1a destendenc1ada ( detrended correspondence analys1s. OCA)
TABELA 16.7 Número de 1nd1viduos de cada espécre observada ocu·
(Lembre que ordenação é um tratamento matemático que poss1b1hta
panda !ceais, ou parte de locais. que ficaram desocupados devido à diference:-.: (i) como resultado de instabilidade biótica cau:-.JJ.1 jetórias sucessionais difrrerues. algum.is \"t::7<:'\ r::,u!undo em que comunidades sejam organizadas em um diagrama d~ tal forma
perda de espécies residentes durante o 1nter·periodo imediatamente
anterior aos censos Os locais desocupados devido à perda de 120
por exclus:io competiriv:1, superexploração e ourras inceraçôes divergentes composições fin.11~ de comunid.1des I unm em ri- que aquelas mais semelhantes em composição em espec1es e abun-
encre espécies fortemente desestabilizadoras; ou (li) como re- queza cm espécie~ quanro em abundâncÍJ rebtiY.t J.i:, esp~cies dànc1a relativa se1am pos1c1onadas em locais próximos. Por outro lado.
residentes foram reocupados por 131 peixes; a espécie do novo ocu-
comunidades que diferem substancialmente na importância relativa
pante não é deoendente da espécie do residente anterior su!c.1do de instabilidade ambienral causada por perturbações componentes). Isso é ilustrado graticamente por dtagramas dt! de um grupo similar de espécies, ou que possuem grupos de espé-
Reocupado por imprevisíveis e mudanças em condis:ões. Quando integramos ordenação (ver Seção 16.3.2.) que mu,;rram .1 sequência de po- cies muito d1fererites. se1am posicionadas em loc3is distantes.) C?s
fragmenrns insdveis desses dois tipos em um si~tema aberro pontos no diagrama são dados médios dos escores de ordenaçao
Residente perdido E apicahs P lacrymatus P wardi siçôes da.<. comunidades no mesmo e<;~1.11,o de orden.-1çâo em
obtidos em dias diferentes do experimento (do dia 5 ate o dia 35). A
Eupomacentrus ap,calis 9 3 19
de umJ gr.rnde paisagem (consistindo em muitas manchas em que foram aplicados experimentos com diference.'> seqútnci.1s letra O 1nd1ca periodos de perturbação por seca. e a letra M. pertur~a-
Plectroglyphidodon facrymatus 12 5 9 ditúcnres fase;;). podem resuitJr comunidades ricas em espé- de perturb;içôes (Figura 16.22). T.tlvez :,.:1,1 frequentcmence o ção por mosquilos (a a e) Resultados do controle e d~s perturbaçoes
Pomacentrus ward1 27 18 29 cies I DeAngdi.:i e \'v'arerhouse, 198":'). Isso é a principal men- caso de necessic.1rmos ,.iber a hi)cória de percurluçúes para 1:-;1postas em ,:1'ferentes seqüências (segundo Fukam1. 2001 ).

i
1
.-L

1
498 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS

prevermo~ as respmus das comunid.1des às perturbações a se- Assim como as imporcânciJs relativas das espécies variam
rem impmras no furnro (como mud.mç:is globais de clima). no espaço, os padrões de abundâncias variam no cempo. Uma
espécie c:m parcicular pode ocorrer em locais onde ela é opaz
de chegar, onde existam condições apropriadas e recursos e
Resumo onde competidores, predadores e parasitas não impeçam sua
ocorrência. Uma seqüência cemporal no aparecimento e desa-
A comunidade é um.1 assembléi.1 de populações de espécies parecimento de espécies, ponanro, necessita que condi~ões,
que ocorrem junt...1s no espaço e no rernpo. A ecologia de co- recursos e/ou influência de inimigos variem com o tempo.
munidades procur.1 entender a manein pel.i qual grupos de Enfatizamos e explicamos padrões de comunidades após uma
espécies .são distribuídos na natureza, e como eles são influen- percurbaçáo. AJgumas vezes esses padrões são previsíveis (su-
ciadas pelo ambiente .tbiórico e por inrerações encre espécies. cessão, controle de dominância); em outras, sáo alcameme es-
Iniciamos explic,indo como .t esrrurura de comunidades tocásticos (controle por fundação).
pode ser medid.1 e de,;criu, em termos de composição de es- Embora possamos discernir e freqüencemence explicar pa-
pécies, riqueza em espécies, Jiversidade, equabilidade (regula- drões em composição de comunidades no espaço e no tempo,
rid..i<leJ e diagr.rnus de .1bun(.Linci.1 relativa. é desejável considerar espaço e tempo con1untamence. O con-
O e:.rndo de p:tdrôe) de comunidades no espaço progrediu ceito de dinimica de manchJ::. de co111t1111dJ<le:, incerpretJ a
Ja<; sub1eri·...is ".rn.ili,cs de gr,1die1m::::.'' p;uJ :ibord.1gens mace- paisagem como em mosaico, com mancha:, sc"nJo pcrwrba-
terncnce, um outro cerna premente estimulou novamente .1
miricas objeci\'a:, c·.._t.n.,ifiuçáo" e "ordenação"), as quais per- dos e recolonizados por indivíduos de v.irÍJs-espéc1es. Implíci-
ação da comunidade ecológica. O desm.uamenro, a queima
micem a t;xploração :.i:-renüticJ d.1s relaçõt;S encre composição tos nessa visão são os pJpéis criticas de perturbação como um
TodJs a:, emid.tde.'> biológicas nece:>sitam de matéria par.1 suJ de combu~cíveis fosseis e oucras influências humanas difusa,;
de espé(.ies e farorc::. ahióclcos. Ob:,,en'JrllOS que ;1 maioria das mecanismo de reinicialização, e de migrJção entre fragmemus
con:irrução e energia pdrJ :iuas acividJdes. bro é verdadeiro esc.lo causando mudanças dristicas no clima globJ.I e na com-
comunidades não é ddinidJ por limites nítidos, em que um de hábirar. As dinâmicas de comunidades em pJisJgens em
não apenas para os organismos individualmence, mas também posição armosférica, podendo, por sua vez, influenciar os pa-
grupo de espécies e abrupcameme reposrn por outro. Adicio- mosaico de manchas são forcemence influenciadas pel.i fre-
para as populações e comunidades que eles formam na nacure- dróes de producividade em escala global. t\foiro do uabalho
nalmente, uma d.1da espécie que ocorre em uma associação qüência de formação de clareJr.1s e pelo tamanho e forma de:,,-
za. A importância intrínseca dos fluxos de energia (Capírnlo em curso sobre produtividade cem um objetivo principal de
previ:,ível possive!menre também ocorrerá com outro grupo ras clareiras em relação às propriedades <le colonização e com-
17) e de ma,éria (Capirulo 18) significa que os processos das fornecer a base para prever os efeicos de mudanças no cli-
de espécies sob condições diferemes em OlHros loc.1is. petição das espécies envolvidas.
comunidades são fortemente vinculados ao ambiente abióti- ma, composição atmosféricJ e uso da terra sobre ecossiste-
co. O tc:rmo ecosústem,1 é usado para denour a comunidade mas terrestres e aquáticos (aspectos que serão tratados no
biológica jwuo com o ambiente abiótico em que ela escá estJ- CJpírulo 22).
belecid,1. Assim. os ecossistemas normalmente incluem pro- Nas décadas seguinres .io clá.ssi-
durores prim:irios, decomposirores e derrirívoros, uma certa lO trabalho de Lind....emann, ocorreu
quanrtdade de matéria orgânica mona, herhívoros, carnívoros um avanço progressivo em tecnologia
e: para.sitos m,ÚJ o ambiente fisicoquímico que proporciona as pan estimar a magnimde da produci-
condições para a ,·ida e dtllJ como uma fome e um dreno para vid.1de. Os primeiros cálculos em ecos-
energi.1 e matériJ. Porunco, como acontece com todos os ca- sistemas cerrescres envolveram medi-
pículo.;; na Parte 3 deste livro, nosso craramenrn se apóia no ções seqüenciais da biomassa de plantas (geralmence apenas J.s
conhecimento de organismos individualmente em relação ~s p..1nes acima da superfície do solo) e esrimacivas da eficácia de
condições e .10s recursos {[\1rte 1), junto com as diferences transferência de energia entre níveis tróficos. Em ecossistemas
incer.1çôes que .1.<. popu!:1çõe-. têm entre si (Pane 2). aquáticos, as estimativas de produção se basearam em mudan-
Um arcigo clássico de Linde- ça . . nas concenrrações de oxigênio ou dióxido de carbono me-
m.urn ( 1942) lançou os fundamenws did.1s em ambienres experimentais fechados. A crescencc so-
de uma ciência Jenominada energéti- fiscicaç.ío d.1s medições, in sm,, das concenrr:it;ões de clorofil.1
ca ecológica. E!e tentou qu,rncificJr o e dos gJses envolvidos na focossíncese, associ.1da ao desenYol-
conceito de cadeias e teias .1limenca- \'Ímenro de cécnic1~ de ~ensuri,m1ento remorn por imagem de
res. consider,rndo J. eficiência de rr.rnsferência enrre níveis tró- :>J.télire, permitem .1rn.1lmence J extrapolação de resultados
ficos - Ja rJdiJ~.io incidenrc recebida por um:1 comunidade, locais para a escJLt global (Fidd erilÍ., 1998). Assim. os s.:nso-
pJ.<,s.rndo por \U.l capt,h)O por planca-; verdes em focossíntese, res de satélite podem medir ,l cobercura vegetal sobre o ,..:onri-
:ué su.1 urilizaçJ.o subseqüente por herhívoros, carnívoros e Je- nente e as concenrrações de clorofilJ no mar, a p.1rrir das qu:lÍs
composirnre:,,. () :1.nigo de Lindem:inn foi um caulisador im- a.s t.txas de absorção da luz sJo calculadas e, baseado em nosso
portante para o Progr:i.ma Biológico lnrernacion:1! (IBP, lnrer- encendimenco sobre J focossinrese, estas s.ío convertíd.1s em
na!Íon,tÍ Bio!ogtcai I'rogMmnu:), que:, com a vi::.áo voluda parJ e,rima,ivas de produrivid.1de (Geider et ai.. 2001).
o bem-esrar humano, Hnha como propós,w compreender :1 Anres de prossegulr, é necess:i-
base biológica dJ pro<luovidade de úeas continentais. de água rio definir ..ilguns novos termos. Os
doce e marinh.1 (W'orchingrnn, 1975). O IBP propiciou ao, corpos dos organismos vivos em uma
biólogos de todo o mundo ,l primeir.1 oporrnnida<le de traha- unidade de área constituem unu t·o-
lhJrem juncos nJ direçdu de um objetivo comum. Mais recen- !herltl em pé de biom.1ssa. Por biomm-
1

J
500 PARTE 3- COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO l 7: Ü FLUXO DE ENERGIA ATRAVÉS DOS ECOSSISTEMAS 501

sa entendemos a massa de organismos por unidade de área de a PPB. No encanto, é imporcante observar que um ecossiste- TABE~A 17.1 Produção pnmâria liquida (PPL). por ano. para os princ1pa,s biornas e para o total do planeta (em unidades de petagramas de C)
(de Ge,der et ai., 2001)
solo (ou por unidade de área ou unidade de volume de água) e ma pode receber matéria orgânica de outras fontes além da
Aquáticos PPL Terrestres
ela é geralmente expressa em unidades de energia (p. ex., J m· 2 ) sua própria focossínrese - via importação de matéria orgânica PPL

ou matéria orgânica seca (p. ex., t ha· 1) ou carbono (p. ex., marca produziJa em outro local. A matéria orgânica produzi- Oceanos tropicais e subtropicais 13.0 Florestas pluviais tropicais 17.8
Oceanos temperados 16.3 Florestas caduc1fóhas latilohadas 1,5
g C m·2). A grande maioria da biomassa em comunidades é da pela forns.sínrese denrro dos timices de um ecossistema é co-
Oceanos polares 6.4 Florestas mistas de lat1fol1adas e de folhas aciculares 3,1
quase sempre fotmada por plantas, que são os produtores pri- nhecid.1 corno autócront', e a importada é denominada alóctone. Costeiros 10.7 Florestas peren1fôhas de folhas aciculares 3,1
mários de biomassa devido à sua quase única capacidade de A sc:guir, trataremos primeiro dos padrões de produtivi- Mansmas/esluários/plantas marinhas 1,2 Florestas caduc1fóllas de folhas aciculares 1.4
dade prim.iri.1 em grande escala (Seção 17.2), antes de consi- Recifes de coral 0.7 Savanas 16.8
fixar carbono na fotossíntese. (Falamos em "quase única" por- Campos perenes 2,4
que a focossíncese bacteriana e a quimiossíncese podem tam- dera.r os fatores que limitam a produtividade em comunida- Arbustos latiloliados com solo descoberto 1,0
bém concribuir na formação de biomassa.) A biomassa inclui des ,errescres (Seção 17.3) e aquácicas (Seção 17.4). Depois, Tundra 0.8
Deserto 0,5
os corpos dos organismos, mesmo que partes deles estejam rewrnaremos ao destino da produtividade primária e conside-
Cultivas 8.0
mortas, o que e importante lembrar-se quando consideramos raremos o fluxo de energia arravés de ceias alimentares (Seção
Total 48.3 Total 56.4
comunidades tlorescais, cuja biomassa predominante é consci- 17.5). enfJc!zJndo a importância relariva de sistemas pasreja-
ruída do cerne e da casca mona das árvores. A fração viva de dores e decompositores (no Capiculo 20, voltaremos às ceias
bionussa representa o capital ativo capaz de provocar interes- .ilimeJHJre~ e suJs imeraçóes popul.icion;iis decalhad.is). Por
se sob forma de novo crescimento, e a fraçJo morca é incapaz t'im, rewmarc:mos J.s vJri.1ções, sazonais e de pr.1zo nu.is lon-
local e akeraçóes associadas ao microclin1.1. A mc:smJ rendên- 17.2.2 Tendências sazonais e anuais na
de novo crescimento. Na prática. incluímos na biomassa to- go. no t1u'\o Je enagiJ JCrJ\·és dos ecossistc:ma..'I.
cia britudinal (e variações locais) é observad.1 na produrivida~ produtividade primária
das aquelas panes, vivas ou monas, que escão vinculadas ao de acima da superfície do solo de comunid:ides campestres
organismo vivo. Eles deixam de ser biomassa quando sedes- (Figura 17.1 ). Observe as diferenças consider:i.veis na impor- As grandes amplitudes nJ produtivi-
prendem e se tornam serrapilheira, húmus ou mrfa. 1i'.2 ?a,j;·ões de produtividade p,i,nária dncia relativa da produtividade acimc1. e abaixo d.1 superfície dade na Tabela 17.2 e os amplos in-
A produtiiiidade primdria de uma do solo nos diferences biornas campestres. Tecnicamente:, é tervalos de confiança na Figura 17. l
-:-;s comunidade é a caxa com que a bio- A produçio primária líquida do pla-
difícil estimar a produti,·idade abaixo da superfície do solo, e enfatizam a variação considerável que
massa é produzida por unidade de área neta é e)tinnda em cerca de 105 peta-
-· .::.2:, .:-:.
os primeiros regiscros da PPL muicas \'ezes ignorarJm ou existe em uma decerminada categoria de ecossistemas. É im-
pelos vegetais, os produtores primá- gramas de carbono por ano ( 1 Pg = subestimaram os valores reais. No que se refere J.s comuni- porcante observar também que a produtividade varia anual-
rios. Ela pode ser expressa em unida- 10" g) (Ceider et ai., 2001). Deste dades aquáticas, é evidente uma rendencia lacirndina.l em mence em um único local (Knapp e Smith, 2001). Isco é ilus-
des de energia (p. ex .. J m-~ dia- 1) ou cocal, 56.4 Pg C ano· 1 são produzidos
lagos (Brylinski e Mann, 1973), mas não em oceanos. onde trado na Figura 17.2 para uma lavoura em clima temperado.
de macéria orgânica seca (p. ex., kg ha- 1 ano· 1) ou carbono (p. em ecoc)si~temas terrescres, e 48,3 Pg
com mais freqüência a produtividade pode ser limitada por um campo tropical e uma savana tropical. Sem dúvida, cais
ex., g Cm·~ ano· 1). A fixação total de energia pela focossínrese C ano· 1, em ecossistemas aquáricos
uma escassez de nucrienres - produtividade muito alta ocor- flucuaçóes anuais refletem J variação. anualmente em dias sem
é referida como producividade primária bruta (PPB). Uma (TJbeLi l 7. \).Assim, embora os oceanos cubram cerca de dois
re em comunidades marinhas onde há ressurgenciJs de águas nuvens, na temperatura e na pluviosidade. Em uma escala tem-
parte desce torai é conrinuamence respirada pelos vegecais (au- cerços da superfície do globo. eles são responsáveis por menos
ricas em nucriemes, mesmo em larirudes elev:idas e tempe- por.1.l menor, a produtividade rdlece variações sazonais nas con-
tótrofos) e é perdida pela comunidade como calor respiratório do que .1 mecaJe da sua produção. Por outro lado, as florestas
raturas baixas. dições, especialmente em relação às conseqüências da tempe-
(RA - respiração autotrófica). A diferença entre PPB e RA é plu\"ÍJÍ~ tropicais e as savan.is represencam cerca de 60'1'0 dJ
As tendências gerais relacionadas à laticude sugerem que rarura para a duração da escação de crescimemo. Por exemplo,
conhecida corno produtividade primdrúz liqruda (PPL) e re- PPL terre.'lcre. refletindo as grandes áreas cobertas por estes
a radiação (um recurso) e a temperatura (uma condição) po- o período em que a PPB diária é alra persiste por mais tem-
presenta a ca.xa real de produção de nova biomassa que fica biornas e seus níveis elevados de produtividade. Toda ativida-
dem muitas vezes limitar a produtividade de comllnidades. po em sicuaçóes temperadas do que em boreais (Figura
disponível para o consumo de organismos hecerotróficos (bac- de bi0!ógie1 é essencialmente dependence da radiação sob.r
Todavia, outros fatores freqüenremence restringem a produti- 17.3). Além disso, a estação de crescimento é ma.is extensa,
térias, fungos e animais). A ta.xa de produção de biomassa por receh1d.1, ffiJ.'I a radi:1ç.io solar sozinha não determina a produ-
vidade denrro de limites ainda m:iis esrriros. nus a amplirnde da muda.nça sazonal é menor em pereni-
heterótrofos é denominada produtividade secwu.úirill. tividade p1imiria. Em termos bem amplos, o ;ijuste entre u-
fólias de coníferJs do que nas suas correlatas caducifólias
Um.1 OtHra maneira de conside- di.1ç.lo mLu e: produti\·id,1Je esri longe de ser pc::de'im, porque
(onde a eHaç:ío de cre.,cimenco é encurtadJ pela queda de
rar o fluxo de energi.i em ecossistemas a rJdi,1~J.o incidente pode ser capturada eficienremence )Ó
folh.is no omono).
envoh-e o conceico de prodttrwidade qu.rndn a .iguJ e os nutrienres estão disponíveis e as remper;1-
liquid,1 do eroi:iistema (PLE, usando as curas ~~t.ín ru f.Ii:u 3.propriJ,.ÍJ ao crc:scimenro vc:geral. ;\fuitas TABELA 17.2 Produt1v1dade pnmána bruta (PPB) de florestas em dife-
.írc-.1~ d~ rc:rr,t recl"bc:m r.uli.1ç.lo .1bunJ,rnre, mas carecem dt rentes latitudes na Europa. na América do Norte e na Arner:ca do Sul.
mesm,ls unid,ldes d.1 PPB ou PPL). 17.2.3 Produções autóctone e alóctone
estimada pela soma da produtividade liquida do ecossistema e respffa·
lsto reconhece que o carbono frc1Jo qu.rnciJ.1Je~ .tJequ.tJJ.., de" .í~ua, e: J maiori.1 J,ts ireas occ:.i.111- ção do ecossistema (calculadas a partir dos fluxos de CO., medidos nos
nJ PPB pode s.iir do sistema como CJs é defi..::1ente em nucric:ntec) minerais. dossé,s dessas florestas - apenas uma eshmattva de f!Õresta tropical Todas as comunidades biócicJs depen-
foi incluída pelos revisores) (dos dados de Falge et ai .. 2002)
cMbono inorg.inico (geralmeme dióxido de carbono) via rc:s~ dem de um fornecimenro de energi.1
Gama das Média das
piraçJ.o aurnuófica {RA) ou, após consumo pelos heterócro-
fo.s, via re)piraçdo heterorrófirn (RH) - esta úlcima consisrindo 17.2.1. Tendências latitudinais na produtividade
! est,mat,vas da PPG estimativas
pJra suas aciv1dades. Na maioria dos
eco~sisremas cerresues, esse forneci-
Tipo de floresta (g e m-2 ano- 1; (g em -2 ano- 1)
em respiração por bactérias, fungos e animais. A respirttçtl.o do mento recebe contribuição in situ da fows"ímese de- pbncas
Floresta fluvial tropical 3 249 3 249
ecossurema (RI:.), na sua coulidJde. ~ a som.1 de RA e RH. A Nos binmJs tloresrJis <lo mundo. pode Floresta decídua 1 122-1 507 1 327 verdes - esca é uma produção Jurócrone. No enr.inro, exi~tem
PLE. encão, é igual a PPB-RE. Quando l'PB excede RE. o sc:r ohser\.1.J.1 um1 tendt:nci1 laricudi- temperada exceções. parricularmence onde anim:tis coloniais de-posi-
ecossistema fixa ...carbono mais rapidamenre do que o libc-ra. e. n.il de produtivi<l.1de cre~cc:nce, par- Floresta de coniferas 922-1.924 1 499 ram fezes proveniences de alimento consumido a uma cerra
temperada
portanto, atua como um dreno de carbono. Quando RE excc:- tindo ..._fa~ condições boíeais, passan- Floresta caduc1fóha 903-1 165 1 034 Ji,;üncia da colónia (p. ex., colónias de morcegos. aves nu-
de Pl'B. o carbono é liberado rmis rapidamente do que é fixJ- do pel.,, rc:mper.10...bs. ,ué .i.s aopicais (Tabela l 7.2l. No enr111- 1 temperada fria rinh.1s em zonas cosreiras) - o guano é um exemplo de ma-
do, e o ecossistema é uma fonte líquida Je carbono. Pode pa- m, c:xi..,cc: c.u11bém urna variação considerável, devido princi- F!oresla boreal de 723-1.691 1 019 cáiJ org:i.nica alócrone (mJte;ial orgânico mono formado
recer paradoxal que a taxa de respiração e.lo ecossisrem:i. supere p.1lrnc:r1re às dit~renças na disponibilidJde de jgua, topogrJ~lJ
1 coníferas
fora do ecossisrernJ).

l
1
502 PARTE 3 - COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
CAPÍTULO l 7: o FLUXO DE ENERGIA ATRAVÉS DOS Ecoss1STE,'MS 503

de algas pbnctônicas ou fixas ou de plancas superiores aL1u.iticas.


(a)
À medida que o riacho se alarga a ju.sa.nce, a sombra das jrvores
fica rescrita às margens e a produção primária aucócrone J.umen- ,oof
·:,. ~. tJ. Ainda mais adiance a jusante, em águas mais profundas e cur-
VJ.S, a comribuição das plmras superiores enraizadas é muico me-
600 Lavoura

500
nor, e o papel do ficoplâncmn microscópico se coma mais impor-
.• .-:-.
:t tante. Quando os grandes rios se acham ca.naJiados denrro de 400 l
uma planície de inundação, com meandros e banhados associa-
dos, a matéria orgânica dissolvida ou parciculada de origem alllc-
tone pode ser rramportada pJra o rio durante episódios de inun-
i 300~
Savana FIGURA 17.2 Variação 1nteranual na produ-
(b)
dações (Junk et 1tl., 1989; Townsend, 1996). :t 200 ~ Campo
trv1dade primária liquida (PPL) em um cam-
po em Oueensland, Austráha. (PPL acima
1 000
A seqü~ncia desde lagos pequenos e rasos acé lagos gr.tndes da superlície do solo). uma la1Joura em lowa.
o 100 EUA, (PPL total, acima e abaixo da superfí-
e e profundos compJrrilha algumas das caraccerísricas do conrínuo
o
cie do solo) e uma savana tropical no Sene-
do rio há pouco discucidas (Figura l7.5). Um Ligo pequeno pro- oI gal (PPL acima da superfície do solo) As
v,welmence obterá uma grande parte dJ suJ enc.·rgia das árc.t~ rer- 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 linhas honzontais pretas indicam a PPL
n:strõ circund.mres, porque seu perímetro é grande t:m rel.1~.ii :1 média para todo o período de estudo (se-
Ano
gundo Zheng et ai. 2003)
su.1 .<,upc-rfície. Além disso, m L1gos pequenos cusrum.un ~L·t uso,;,
de modo que a produçá.o ltcora.J Ínrerna é nuis imporr.1mc do
que J do fimplâncton. Por oucro lado, um lago grande e profun-
do obrer.í pouca matéria orgànica do exterior (perímetro peque- nd.1 pda. produti\"td-.ide (o recurso de capiral que é manrido pé (B). para uma gama de tipos de comunidades, são plocados
no do lago em relação à sua .írea de superfície) e a produ~.lo lim- pdos ganho'.>). Globalmente, existe uma Jrástica dift'.rc:nça na na Figura 17.6. É evidence que um determinado valor dJ Pl'L
ral, li mirada às margens rasJS, .'>erá umbém baixa. As enrr.1d.1s de biomass.1 torai exisrenrc nos conrinemes (800 Pg). em comp.1- é produzido por uma biomassa menor, quando se comp.tr.un

'l matéria orgânica na comunidade poderão ser atribuídas. enrJo, r.1~·áo aos oceanos (2 Pg) e água doce(< O,\ Pg) (Geider et al, sistem.1s cerrestres nio-florescais com florestas, e a bionussa
quase completamente, à focossímese do fitoplâncton. 2()01 ). Tomando por bJse a área, a btonussa continental varia envolvida é ainda menor, quando são considerados sisrenus
Os eswários são freqll.enrememe siscemas alcamence prn- Jc 0,2 a 200 kg m 2 ; nos ocea.nus, el.1 \'aria de menos do que aquáticos. Assim, as razões PPL:B (quilooram.1s de m.uéri.1
it 3 000 durivos, recebendo macerial alóctone e um suprimemo rico de U.001 a 6 kg m· 2 , e na Jgua doce geralmence ela é inferior a
(J. I kg m- 0 (Geider et ai.. 2001 ). Os ,·alores médios da produ-
seca produzida por ano por quilograma 1
colheica em pé)
nucrientes dos rios que os a.Jimentam. A contribuição awtlccorit.' apresentam médias de 0,042 para floresr.1s, 0,29 para oucrus
Estepe Estepe Estepe Savana Savana
mais importance para a sua base energética é vari~ivd. O foo- C1vidade prim,íriJ liquida (Pl'L) e dJ biomass.1 da colheica em sistemas terrícolas e 17 para comunidddes aquácicas. É quJse
!na temperada úm,da úmida
plâncmn rende a dominar nas bacias esruarinas grandes com um
FIGURA 17.1 (a) Posição dos 31 locais de estudo dos biornas cam- incercimbio rescrico com o mar aberco e com perímecrm pt:que-
pestres incluídos nesta anãhse. {b) Produtividade primária liquida aci- nos de marismas em rdação à. área. As algas marinhas, ao corrn ;Í-
ma da superficie do solo (PPLC) e produtividade primária liquida abaixo
da superfícre do solo (PPLB) para cinco categorias de biornas cam- rio, dominam em algumas bacias aberc.15 com conexões exren:-J~ Floresta Floresta
pestres (PPLB não-disponível para estepe temperada). Os valores com o mar. Por ourro lado, as comunidades da plataforma comi- dec,dua de coníferas
em cada caso são médias para 4-8 estudos. A técnica envolveu o
somatório de incrementas na biomassa de plantas vivas. matéria morta
nemal obcêm uma parte da sua energia de fomes rerrícolas kspc- •oot
75
temperada temperada

permanente e serrapilheira entre amostras no período de estudo (mé· cialmente através de escuários) e sua pouca profi.1ndid.:1de permire
50
dia de 6 anos) (de Scurlock et ai, 2002) muit:is vezes uma produção signific:itiva por pane d,l.S comurii-
dades litorais de a..lgas. De faro, :1lguns dos sistemas mais produci- 2sl
i~;..~-
\·os se encontram entre os b,rncos de algJ5 mJrinhas e os rl:"Lit~·~.
~
Em comunidJdes aquáticJs, a
entr,idJ autóctone é proporcio11.1d.1
Por t"im, de certo modo, o ocean~ abc-rto pode ,;,er Je~u 1to il
E
º1~·-~
como o maior e mais profundo '"lago". A entrada de materi-11 CD 60 120 180 240
a. 300 360 60 120 180 240 300 360
peb fotossíncese de phnras de grande orgãnico proveniente de comunidade:-. raresm::s é despraí\·el. ~ :1 a.
porte e: ,ilg.1s f1x,1s loe1.l1z.1d.1s em águas
super~iciais (zon.1 licor.1!). e por tim-
grande profundidade impos~ibilica a focossímese 11.1 obscurid.ide
do fundo marinho. Os org.mi~mos flrnpl..rnctônicos s;lo. pt11 un-
.
o
'O
100 [
1

i
Floresta
dec1dua
boreal
Flor8sta de
cond~r.:is
boreal
pl.inccon, cm águ.1 .1berca. Encreranrn, unu parte suhsrancial 75 '. _
m, importantíssimm como produtores primários
d.i nurén.1 org.i.nic1 em comunid.ides aquáticas provém do 1

50 L
m.Herial alóccone que chega em rios, via área subterrânea ou
carregada pelo venco. A imporr:rnci.1 rdaciva d.1s duas fomes 17.2.4 Variações na relação entre produtividade J
aucóctones (licoral e pl.1nccónic1) e a fonre .1.lóctone de mate-
rial orgânico em um siscem.1 aqu.ítico dependem das Jimen-
e biomassa J 1

sóes do corpo (i'.ígua e dos ri pus de comunidade cerresrre que Podemos relacionar a produrividadc de 60 120 180 240 300 360 60 120 180 240 300 360
depositam material orgânico nestes Jmbienres. uma comunidade com a biomassa d,1 Tempo (dras) Tempo (dias)
Um riacho pequeno que corre .1.rravés de uma bJcia hi<lro- colheit.1 em pé que a produz (a raxJ 1
gráfic.i arborizada obtém a maioria da sua entrada de energia <l.1 de inceresse do capiCJI). A!tern.uiv:i.- FIGURA 17.3 Desenvolvimento s~zonal da produtividade pnmária bruta (PPB) máxima diána para florestas caduc1tól1as e de coníferas em
serrapilheira provenienre d.i vegecação do encorno (Figura l 7.4). locdis temperados (Europa e Amenca do Norte) e boreais (Canadá. Escandinávia e lslãnd1a) Os símbolos diferentes em cada grafice se
mence. podemos comiderar a colhei-
1 relacionam a llorestas d1st1ntas A PPB diána está expressa como a porcentagem do máximo alcançado em cada floresta durante 365 dias do
A sombra. das ;irvores impt:de qualquer crescimenco significativo ta em pé como J biomassa que é m.rn- ano (segundo Falge er ai., 2002)

1
1
~
504 PARTE 3 - COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO 1 7: O F,uxo DE ENERGIA ArRAvEs oos Ecoss1STEMAS 505

Entrada de Produção pnmana Entrada de Produção pnmána

Riacho
ongem terrestre Litoral

10,l .;t/(:,i{J
/C.:(:)~
Planclônica
Esluário aberto °'o 100: o[ngem terrestre Utoral Planctônica

pequeno % 50 com conexões "


com mala \ ::·, ~ir: 1 extensas com
·.;..·n .
o os oceanos

1
RtOs mêdios Estuários grandes OO [
e grandes % 1:[ com intercâmbio % 50
restrito com
o oceano O ----------
Maténa orgânica morta
proveniente do ambiente
terricola c1rcundanle
Lago
100[ Plataforma
100[
50 50
pequeno continental

o o

Plantas
Fitoplãncton
Lago 1:[ Oceano
100[
Algas fixas aquáticas grandes % % 50
FIGURA 17.4 Variação long1tud1nal na na- grande aberto
tureza da base energética em comunidades
Aguas de cabeceira - - - - - - - - - - - - R i o pnnc,pal fluviais. o o

FIGURA 17 .5 Variação da importàncra da entrada de matéria orgãrnca de origem terrestre e da produção pnmàna htoral e planctõnica em
comunidades aquáticas contrastantes
cerro que a razão principJ.l disso se baseia no fato de uma grande nio-fotossincecizances e mortos, e, como conseqüência, sua
proporção de biomassa florestal escar marca (e permanecer as- razão l'PLB é baixa.
sim por um longo cempo) e cambém que muico do cecido de Qu.indo a atenção é dirigida às árvores, observa-se um presente nos gases atmosféricos com uma concencração de máximo possível. A eficiência focossiméric..1. cem dois componen-
sustentação vivo não é fotossintécico. No campo e em comu- padrão comum em que a PPL acima da superfície do solo aproximadamente 0,03°/o. A mistura e a difusio turbulentJ.S ces - a eficiência com que a luz é imercepcadJ pelas folhas e a
nid.-ide arbustiva, uma proporção maior da biomassa esrá viva aringe um pico no início da sucessão e, depois, gradualmence, impedem que a concencração do COJ varie muirn de local eficiência com que a luz interceptada é convercida pel:i focossín-
e envolvida na fotossíntese, embora a metade dela ou mais declinJ em corno de 760/o, com uma redução média de 3--l9o para local, exceto na vizinhança imed-iata de uma folha. O ceseem nova biomassa (Scenberg era/, 2001 ). A Figura 17.8 moscra
poss.1 ser formada de raízes. Em comunidades aquáticas, par- (T,belJ 17.3). Sem dúvida, as reduções são resulcances de umJ CO, provavelmence desempenha um pequeno plpel nJ de- a amplirude de eficiências focossinrétiC.1S líquidas em termos glo-
ticularmente quando a produrividade é devida principalmen- mudança de cecldos fotossincecizances para respiratórios. Além ter~inaçáo de diferenças entre as producividJdes de comuni- bais (porcem:igem da entrada da radiação forossincecicamcnte aciva
te ,lO fimplâncron, não h.i reciclo de sustentação, não existe <li,so. J limiração de nutrientes pode cc::r um significado m;iiur dades diferences (embora seja possível prever que os aumentos - PAR, phorosynthetically active radiatio11 - incorporada à PPL
necessidade de raízes para absorver água e nutrientes, as célu- m.lis carde na sucessão, ou os ramos mais longos e os caules globais na concencraçio do CO 1 cenham efeiros profundos - acima da superfície do solo), em sete florestas de coníferas, sete
bs monas não se acumulam {elas geralmente sáo ingerida.s m.tis alrns d1s árvores maduras podem aumentar a resisrênciJ p. ex., DeLucia ec ai., 1999). Por oucro IJdo, a qualidade e ílorescas caducifolias e oico comunidades de deserco, estudadas
Jntes de morrer) e a saida fomssintética por quilograma de à corrence de transpiração e, assim, limitar a fornssíntese (Go- quantidade de luz, a disponibilidade de águ..i e Je nutrientes e como pane do Programa Biológico lmemacional (ver Seção 17.1 ).
biomassa é. porranto. muito elevada. Ourro fator que ajuda a wer a ,d. 1996). Arvores características de esciglos diferemes a temperatura variam drascicamente de um !oc.1! para outro. As comunidades de coníteras tiveram as eficiências mais altas,
nplicar as elevadas uzõcs PPLB em comunidades firnpbnc- da suct'sSJ.o exibem p:idrões distimos de PPL de acordo com J Todos esces facores são crndidJcos ao papel de limitame. Qu,tl mas situadas apenas entre l e 30/o. Para um nível similar de entrJ-
rúntcas é .1 renovação rápida da biomassa (os tempos de reno- 1d.1<ie da flore'it.1. Em uma Aoresta subalplna de coníferas, por deles de faro estabelece o limice para a prodmivid.1<le primária? da de radiaçáo, as florestas caducifolias alcançaram O, 5-1 % e, apesar
v.1<,;io da biomassa em oceanos e em ambiemes de águ.J doce exemplo, o pinheiro-de-casca-branc.t (I'inu>· albicaufis), do iní- de receberem mais energia, os desercos furam CJpazes de conver-
.1p1e,;;enr.1m médi:1s de 0.02-0.0G anos, comparJdos a 1-2.0 anos cio de sucessão akJnçou um pico de PPL acima da superf!cie ter em biomassa somence 0,01-0,2% da PAR.
em ,._ominences; Geider er ,d., 2001). A PPL a.nua( mostr:1da do ,olo em mais ou menos 250 anos e depois declinou; o 1be- 17.3.1 Uso ineficiente da energia solar O foco de a radiação nao ser efi -
n,1 figura é. na \·erdade. prndu7.i1.b por J.lgumas ger.1çóes firn- rn sub.d pino (Abit's !asiocarp11), tolerante à sombra e ta.rdio ru c1encemente usada, enrrecanrn, nJo
pLrnctôn((::J:,, \Obrepü\LIS, e J biom:1ss;1 dJ colheir:1 em pé é ,uc..:s".íu, .,1...-JnÇtrn seu miximo Jpós 400 anos (Figura 1- -) Dependendo J.1 po)11..).o. ;dgo emre O e implica por si só que ela não limice
:.1pena_.., a mé<li.1 pre~ente em um dererm11udo instame. A e\p~cic rJrdi.1 no processo de sucessão alocou quase o dobro 5 joules de energi.1 \Ol.tr Jtinge cada produtividade da comunidade. Pre-
As razões da PPL em reL1ç.io à de biom.1ss1 em \UJS folhas, em relação à espécie inicla.l. (: metro quJdr:ido da superfície da Terra a cisariamos saber se, ao aumentar JS
biomassa tendem a diminuir durance m,uHcve um.1 alta razão fornssíncese:respiração em um.1 i,.ück cada minum. Se rnda es.<.a energia fosse intensidades de radiação, a produti-
J ~ucessã.o. Isto Jconrece porque ases- m,us J.Y.rnçada (Ca\laway et ai., 2000). convertida em biomJ.SSJ vegetal pela fo- vidade cresce ou permJnece inalterada. AloumJ e,·idência
pC:cies pioneiras na sucessão são repre- ro~íncese (ou sejJ, se J eficiência forossintétiCJ fosse de 1001hi), apresencada no Capítulo 3 indica que a inr~nsidade de lm.
semadas por plantas herbáceas, de cres- havc::ría uma extraotdrnária ger:ição de matefrJ vegeu.l, de uma. durante parte do dia é inferior ao ótimo para a forussínrese
c1menro rápido e com uma quantidade rebtivamence peque- ou duas ordens de grandeza maior do que os valores registrados. do dossel. Além disso, no pico das intensidades luminosas,
na de tecido de sustenc1ção (ver Seção 16.6). Assim, no início No entanto, grande parte dessa energia solJr n.io e.<.tá disponível na maioria dos dossC:is, as folhas mai.'i inferiores aindJ si-
d.1 rncessão, a raz:ío PPL:B é alta. Já as espécies que dominam para ser utilizada pelas pb.nta.s. Em especial. .<.omcnre cerca. de tuam·se em sombra relativa, e é muito provável que foros-
m,tis tarde J sucessão. em geral. são de crescimento !enw, mas A luz )ü\Jr. o dióxLdo de carbono (C0 1 ) , a água e: os nutrien- 44% da radiação de ondas curtas incidentes ocorrem em compri- sintetizariam mais rápido se a intensidade de luz fo:s)e mais
posreriormence .ik.rnçam um tamanho considerável e J.caba.m L-.'S do soln s.ío os recursos necessários p-ara a Produção primi-
i mentos <le onda apropriados para a forossíntõe. Conrudo. mes- alta. Para as plantas C 4 , parece que nunca ~ Jlcançada J
mo11opolizando o espaço e o rnprimento de luz. Sua estrutura ria na tern, e a temperiturJ (um1 condiçáo) tem uma forre i mo quando isrn acontece, J produtividade ~lc1 bem abaixo Jo sacucaçã.o da intensidade de radiação e, porunm, a produ-
envolve um grande invescimento em tl'ciJos de sustenuçio intluen(Íl sobre a uxa de fornssimese. OCO..'. geralmente esd
1

j_
1
506 PARTE 3 - COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
1
1 CAPÍTULO 17: O FLuxo DE ENERGIA ATRAVÉS oos Ecoss1mMAs 507

TABELA 17.3 Produt1v1dade primária liquida acima da superficie do solo (PPLC) para seqüências etárias de florestas em biornas diferentes
(segundo Gower et ai.. 1996)
Fa,xa das idades das unidades PPLC (t massa seca ha-' ano-')
OA Oceano aberto . BM Banhado e marisma AA Comunidades arbórea
PC Plataforma continental · FTP Floresta ph.Mal tropical e arbustiva
em anos (nQ de unidades
ZR Zona de ressurgência FET Floresta estacionai tropical S Savana 81oma/espéc1es Local mostrado entre parênteses) Pico Mais velha ºó de mudança
BAR Bancos de algas e recifes FPT Floresta pererntólia temperada CT Campo temperado
Boreal
E Estuârios FDT Floresta decídua temperada TA Tundra e zona alpina
FW Lagos e nachos FB Floresta boreal OSD Deserto e sem1deserto
Lanx gmelinif Yakutsk, S1béna 50-380 (3) 4.9 2.4 -51
de água doce TC Terra cultivada Picea ab,es Russ1a 22-136 (10) 6,2 2,6 -58

Temperado !no
Ab1es baisamea New York. USA 0-60 (6) 3.2 1.1 -66
Pinus conforta Colorado, USA 40-245 (3) 2,1 0,5 -76
Pmus densdlora Mt Mrno, Japan 16-390 (7) lô, 1 7,4 -54
2.0 BAR BM
Populus tremuloides Wisconsin. USA 8-83 (5) 11,1 10.7 -4
E .
Populus grandidentata Michigan, USA 10-70 4,6 3.5 -24
E 1,0 Pseudotsuga menz,esú Washrngton. USA 22-73(4) 9,9 5.1 -45
o,

o
ZR Temperado quente
"~ 0,5
PC Pmus elfiott11 Florida. USA 2-34 (6) 13.2 8.7 -34
o
e AD
eº" Pmus radiara Puruk1 NZ (Tah1) 2-6 (5) 28.5 28.5 o
o 'i>-o..l>?,\\ (Rue) 2-7 (6) 29.2 23.5 -20
e5. 0.2
OA (Toru) 2-8 (7) 31.1 31, 1 o
! 0,1
Tropical
Pmus canbaea Afaka, N1gér~a 5-15 (4) 19.2 18,5 -4
.g"o.os Pmus les,ya Meghalaya, Jndra 1-22 (9) 30,1 21.1 -33
tL
e Floresta pluvial tropical Amazônia 1-200 (8) 13.2 7.2 -45

0,02

primenro d1 esração de crescimento e um deirn negarivo através nos acentuada no local montanhoso e parece provável que o
0.002 o.aos 0.01 0.02 o.os 0.1 0.2 º· 5 10 20 50
do aumenro da evapotranspiração em temperarnras mais altas. rerreno mais íngreme nesra região resulrnu em uma taxa mais
Biomassa {kg m- 2)
Uma vez que a temperatura é o principal fator que resrringe a alta de esco.1menro superficial da água e, assim, em um uso
FIGURA 17.6 Relação entre valores médtos de produt1v1dade primária liquida e valores médios de bmmassa da colheita em pé. para uma gama produrivida<le na extremidade fri.1 dos gradientes, espera-se um menos eficiente da precipitaçao (Jobb.igy et ai.. 2002).
de ecossistemas (dados baseados em Whittaker, 1975). aumenm dJ. PPL à medida que nos deslocamos dos loca.is mais Observa-se um fenômeno rela-
frios para os mais quentes. No enranro, existe um valor térmico cionado, quando a produçáo florestal
.1cima do quaJ a esração de crescimemo não se prolonga e o efeito sobre solos arenosos bem drenados é
tivid.1de pode de taw ser l1mitJd:.1 por uma escassez da PAR. água disponível para as plantas; toda a água superior à c1p.1ci- dominante da temperaturJ crescente é agora o de aumentar a comparad.1 com a de solos constituí-
me'.'.!mO sob radiJç:lo natural mais intensa. dade de campo será drenada, se houver possibilidade. 1'.1 Fi- evaporranspir:1ção, reduzindo, assim, a disponibilidade de água e dos de parcícula.s de ram.rnhos meno-
NJo há dúvida, enrretanro, de que a rJdiação disponível gura 17.9, também pode ser vista uma rela.<rão positiva entre diminuindo a PPL (Epsrei11 et ai., 1997). res. São disponíveis dados sobre a acumulação, ao longo do
seria usadJ mais eficienremenre se ourros recursos fossem abun- produrivida.de e remperacura anual média. No enranro, podem A esc.issez de .igua tem efeitos di~ (empo, de biomassa vegecal em alguns locais onde roda, .is
d.mtes. Os valores de produrividade muiro mais a.lrns regisrra- ser esperados padróes complexos, porque, por exemplo, rcm~l(:ra- reros sobre a tJ.X.a de crescimento vege- irvores foram removida~ por um distúrbio 1ucural ou por in-
dos em sistemJs .1grícol.1s atescam esta afirmativa. tura.s mais alras esrão associadas à perda mais rápi&1 de :ígua acr:i- ul, mas eb tambt!m provoca o desen- terferência humana. Para floresras ao redor do mundo, Johnwn
vés da evapotranspiração; a escassez de água pode, enrJ.o, corn,1r- volvimento de uma vegetação meno<; e colaboradores (2000) registraram a rel..1çio entre o acúmulo
se limic.inre mais rapidamente. densa. A vegcução esp.usa incercepn menos luz (grande pane dJ de bioma~sa J.lÍffiJ. do solo (um índice bruto de PPLC) e o,
17.3.2 Água e temperatura como fatores críticos P.ira decalh.u a relação entre pro- qu,11 incide'.' sobre o solo <lescoherro). Este desperdício Je radiaçJo graus-di,1s (degn:e-da}s) acumulados n:1 esraçáo de crescimen-
ducivid.1de, precipiraçio e temperatura, soL1r é a C:lUS.1 princip.1! J;i produri\·idade baix.1 em muitas áreas to (idade do aClÍmulo em ,mo,; x temper:uura da esr.1ç:lo de
A Figun 17.9 ilustrJ. a relaç:lo erure a é mais recomend.ivel concemrar-se em .irid;ts, e rüo .t reduL1da uxa forns . . inrética de pl.rnrJs :tferadJs crescimento x é'sraçáo de cre'.'.!cimemo cumo urna propor(i0
P PL de urnJ ,1mpla gama de ecossiste- um único ripo de ecossistema.:\ PPL ac'ii11.1 d.1 superfície du :-oln peLi sec.1. Che,ga-,e a ess.1 conclus.l.o pel.1 cornp.1r:ição da produci- Jo ano). Com efeito, "o, graus-di..1~ d,t ca,tç.ío de cre,cinL·fl-
mas no p!Jtó tibetano e J pluviosicLi- foi csrimad.1 em alguns locais do p.1.mp.1 Jrgentino, .10 longo de \·idade por un1dJde de pe,;o &1 bionIJ..~s.1 foliar. em \·ez de faze-lo w" combin.1111 o período para o qu.11 a unid.1de \'Cíll ,1cumu-
de e temperaturJ. ,\ .ígu:1 é um recur- dois gr:1dienres de precipiraçáo no sentido oeste'.' par:i. leste. L:111 por unidade de áre-J. do solo, para os esrudos mostrados na FigurJ. lando biom,hs.l com a cemper.uur,1 m(Jia no local em que,·
so e'.'.!senci:il p.1ra ,1 consríruiç:io da.s célula.., e para J fotossínte- des!le!l gradientes localiz.1va-se em região monranhosJ. e, o outro. 17.8. A flore.st.t de conífa.1s produziu 1.64 g g·! ano· 1••1 floresta rão. A Figura 17.11 moscrJ que ,1 produtividade de florc~r.1s
se. Grandes qu.-1.nriJ,1des de água s.ío perdid.1s na transpiraçJo na pLrnície. A Figura 17. l O mostra a relaçJo entre um índice de caducifólia, 2.22 g g· 1 , Jno I e. o deserco, 2.33 g g· 1 ~rno- 1 • !arifoliadas gernlmente ~ muim mais b.1ixa, para um dererini-
- especialmente porque m estômatos precisam ficar a.berros PPL acima da superfície do solo (PPLC) e precipitaçao e tempe- nado valor de c,raus-di.1s da estação de crescimento, LjU,111d 1J 0
por longos períodos par d a enrr.1da do C0 2 . Nâo surpreende ratura para os dois conjuntos de locais. H;i relaçóe,; forremenre .'>Olo florestal / arenoso. TJis solos cem c.ipacid,tde,; de reren-
que a. pn:cip1r.1çáo de uma regiâo esteja inrimJmenre correla- positivas enrre PPLC e precipitaçJ.o, mas as 1nclinaçf,es das rd.t- 17.3.3 A drenagem e a textura do solo podem cJo de umidade meno, f.1,·or.íveis e. em um.t cerc.l mediJ.1,
cwnada com su.1 produtividade. Em regiões áridas, existe um çõcs diferiram emre os Jois gradientes ambientai5 (Figura 17.1 Oa). modificar a disponibilidade de água e, i.sto é responsável pelJ su.1 produtividade nuis pobre. Além
aumento aproxirnad,1mence linear na PPL com o a.umenco da As relações enrre PPLC e temperatura são sirniLues p;1r.1 portanto, a produtividade disso, a rerenção de nutrientes pode ser menor em .-.olos de
precipiuçáo, ma.'. em climas florestais mais úmidos observa-se dois outros gradientes ambienrais (duas rr1nsecções elevaçJo no granulomerria m.tior, reduzindo a producividade compJrJdJ J
um plJ.tÔ, além do qual a prodt1tivid.1de não condnua J cres- semido norre para sul) na Figura 17. lüb - ambos exibem um ~.1 FigurJ 17.10, observJ-se unu diferença notável nJs incli- solos com rexrura mais fina. Isto foi confirmado por Reich f
cer. Observe que uma grande qu.mtidade de precipitação não padrão em forma de "domo" Jçw provavelmente re'.'.!ulu dos dois nações dos gráficos Ja PPL cm rel.tção à precipir.1çJo para os colaboradores ( 1997). que, em sua compilação de dados p,n
é necessariamente et..juivalt:'.'nte a uma grande quamidade de efeims da temperarura crescente: um efeiro positivo sobre o com- locais de montanh.1 e de planície. A 1ncli11Jçáo foi muito me- 50 floresr.1s da Améric.1 do Norre. verificar,un que .1 dispo:1i-
508 PARTE 3 - COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO 17: Ü FLUXO DE ENERGIA ATRAVÉS DOS ECOSSISTEMAS 509

vavdmc:nre, não há sistema agrícola que não responda com au-


mento da produtividade primária ao nicrogênio aplicado. e isco
pode ser igualmente verdadeiro para a vegetação nativa. Os ferci-
e e
lizances à base de nitrogênio adicionados aos solos de Aorestas
E e e
e quase sempre esrimulam o seu crescimento.
~ Cf Cf Cf Cf A deficiência de ourros elementos pode também mancer
-~ 0,5 Cf Cf Cf a producividade de uma comunidade bem abaixo do que ela
~ seria ceoricamenre capaz. Um exemplo clássico é a deficiência
!g 0.2 De
de fosfaco e zinco na Austrália Meridional, onde o crescimen-
co de florestas comerciais (pinheiro·de-Moncerey. Pinus nzdi-
"!! 0.1
~ ata) rnrnou-se possível apenas quando houve um suprimento
w C Floresta de cooiferas '
artificial desses nucriences. Além desses nucriences, muirns sis-
o.os CI Floresta decidua
FIGURA 17.7 Produt1v1dade primária líqui- De Deserto
da anual ac1ma da superficie do solo (PPLC)
cc:mas cropicais são limitados essencialmente pelo fósforo.
(Mg maténa seca ha· 1 ano· 1 ) em unidades 0,02
de idades diferentes de uma floresta subal-
De
p1na de coníferas. Montana. EUA" pinhe1ro- 0.01 ~----~-----'----.....L-~
de·casca·branca, espécie do 1níc10 da su- t 000 000 2 000 000 3 000 ººº 4 ')00 000 17.3.6 Resumo dos fatores limitantes da
oo'-----1.Loo----2~00-------'300'-----•.Loo---~soo cessão: abeto subalpmo, espécie tardia na Radiação fo1oss1ntet1camente ativa produtividade terrícola
sucessão; e PPLC total (segundo Callaway ahng,ndo a comunidade (kJ m·< ano· 1 }
Idade da unidade (anos) et ai., 2000).
O limice definicivo sobre a producividade de uma comunida-
FIGURA 17 .8 Ehciêncta fotossintétcca (porcentagem da radiação fo- de é decerminado pela quancidade de radiação incidence que
tossinteticamente ativa incidente convertida em produt1v1dade pnmá-
na liquida acima da superflcie do solo). para três tipos de comun,da· ela recebe - sem isro, nlo pode ocorrer fotossíntese.
bilida.de de nitrogênio (escimada como a caxa anual líquida de temperarnra de abril/maio foi a mais baixa (4,24°C) (Figura des nos EUA (segundo Webb et ai.. 1983) A radiação incidente é usada de maneira ineficiente por
mineralização do nirrogênio) foi realmence mais baixa em solos J 7. \ 2.t. h). ,-\s cemperaruras de primaver.1 equivalentes em 1994 rodas as comunidades. As causas dessa ineficiência podem ser
mais arenosos, bem como conscacaram que a PPLC foi mais bai- e 1997 foram de 6.67 e 5,93°C. A diferença no comprimemo enconcradas em: (i) escassez de água, restringindo a taxa de
xa por unidade de nitrogênio disponível em sicuações arenosJ..S. da est.1ç:í.o de crc:scimenco nos quacro anos de escudo pode ser nutrienres minerais essenciais. As condiçõó geológica.'! que de- forossíntese; (ii) escassez. de nutrientes minerais essenciais. que
cscimJdJ J partir do padrão da PLE cumulaciva (Figural 7. l2c). terminam a inclinação e o aspecto do solo ramlxm determinam diminui a velocidade da caxa de produção de cecido focossin-
Durante o inverno e o começo da primavera, a PLE foi negaciv.l, sua formação, além de cer uma grande influência. embora não cécico e sua eficácia na forossíncese; (iii) remperamras letais ou
17.3.4 Comprimento da estação de crescimento porque .1 respiração do ecossistema superou a sua prod.utivii.lu..lc: coralmenre domin.1me sobre o seu comelldo minc:r.al. Por esta demasiadamente baixas par..1 o crescimenco; (iv) profundidd-
brwa. A PLE mrnou-se positiva mais cedo em anos mais quente~ razão. desenvolve-se dencro de um regime climático parrlcular de insuficience do solo: (v) cobercura incompleca do dossel. de
A producividade de uma comunidade pode: ser sustencada so- (e,,pecialmence l 998). de modo que o cocal geral de carbono se- um mosaico de níveis diferemes de prodmindadc da comunida- modo que grande pane da radiação incide sobre o solo e não
mente para o período do ano em que as plancas possuem fo- qticscrJdo pelo ecossiscema nos quatro anos foi de 144, 80. 116 e de. De rodos os nutrientes minerais, o que tc:in J. mfluência mais sobre a folhagem (isco pode ser devido à sazonalidade na pro-
lhagem forossincecicameme ativa. As árvort's decíduas têm um 290 g C m· 2 ano·'. para 1994. 1997 e 1998. respeccivamence. imponance na prod.ucividade da comunidade é o nitrogênio fixa- dução e queda foliares ou ao desfolhamenco por :.1nimals pas-
limite auco-imposro sobre o período em que elas exibem fo- N,1 discussão J.nterior sobre o esrndo das comunidJ.dcs do (e de ~ parcial ou principalmeme biológico n.1 origem, não- tejadores, pragas ou doenças); e (vi) a baixa eficiência com
lhagem. Em geral, as folhas de espécies decíduas forossimeci- do p.1mpJ. .1rgentino {ver Figura 17.10), observamos que a PPL geológico, como resultado da fixaç.io por microrganismos). Pro- que as folhas focossintc:tizam - sob condições ideais é dificil
zam rápido e morrem jovens, e as espécie:'.~ perenifólias têm m.iis alt.1. 1üo só foi afetada diret.imente pela precipitação e
folhas que: forossinrecizam lenramence, mas por um período pd.1 remperaturJ, mJs também parcialmente decerminada pdo
mais longo (Eamus, 1999). As .ir\·ort"s pc:rc:nifoli.ls 111.incem compnmenrn d.1 escação de crescimento. A Figura 17. l 3 mos-
um dossd por rodo o ~mo, mas durame .llgumas estações elas u.1 que o comt"ÇO Ja estação de crescimenm relacionou-se po-
podem fomssincetiz.1r escassamente ou mesmo respirar mais '.)it1\·:1merHe LOITI a remperatura mc:!dil ,rnual (de modo seme-
rápido do que focosslnretiz.ar. A.., coníferas pc:renifóli.1s ten- lh.rnre .10 e~cuJo d.1 floresta boreal aCÍmJ), e o fin:.il da esc.1-;lo
dem a dominar em condiçôes fri.1s e pobrt'S cm nutrientes. <le crescimenro foi determinado parcialmente pela cem per.nu·
ralve1 porque em outrJs sicuaçõe.., su.1s pl.inrnlas sc:iam preju- r:1, m,b umbém pd,1 precipiuçáo (c:la terminou m:ll.:> cedo. 20
dic;,.d,u por c01npetidorJs decidu.1s de crescimento nuis r.ipi- com c..:mpcr,Huus altJs e prec1pir.1çio b.ú:o). Novameme,
do (Beckcr. 2000). ob:.erY,lnHJ'i umJ inceraçã.o complt'XJ. entre disponibilid:.1de de 16
Os padróes Luirndin.1is na pro- .igu., e temper.Hur:.1. i
duciviJade florestal ob..,ervados ames J" 12~
(ver Taheb 17.2) sJo resultantes de
diferenças no número <le di.1.s. em que
há focossíncc:se aciv.1. Neste conrexrn,
17.3.5 A produtividade pode ser baixa devido à
deficiência de recursos minerais
i& 48 ~~ ~
':-~:,ifr,r.
. ~·- .· .. ·.. ·.: 1:
.... -_--
FIGURA 17.9 Estudos em ecossistemas no
Black e colaboradores (2000) medir,m platô tibetano, estabelecendo uma relação
1 .. · : entre prndut1vidade pnmána liquida total (M~
por quatro anos a produtividade líqui· i\k~mu gue o ,oi brilhe incensamencc:. a matéria seca ha· 1 ano· 1 ) e prec1p,taçào e
i o . . . . .
da dos ecossistemas (PLE) em uma floresca decídu.1 boreal no chuva ui,1 .:om freqüêná1 e J. tempera- 1 temperatura anuais. Os ecossistemas in-
-S - 1 ~
cluem florestas, comunidades arbóreas. co-
C.1nadá. A primeira emergência foliar ocorreu bem nuis cedo
em l 998, quando a cemper.icura de abril/m,\lo foi .1 nuis .1lt,l
tur.1 'iej.1 regubr ..1 prodmividade serâ
b.ux.1 '.)t: n.\o houver solo na comunid.1-
i Ternperatura médra anual í 'C ! 11 15 munidades arbustivas. campos e deserto
(segundo Luo et ai.. 2002)
(9.89°C). e um més mais wde em abril de 1996, quando a de terricol.1 ou se de for defü.ieme em
1

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1
51 Ü PARTE J - COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS CAPÍTULO 17: o FLUXO DE ENERGIA ATRAVÉS DOS ECOSSISTEMAS 511

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