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0 - Volume II


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 1

Organizadores
Marcos Norberto Boin
Patrícia Cristina Statella Martins
Maria Helena Pereira Mirante

GEOTECNOLOGIAS APLICADAS
ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS

Volume II

1a Edição

TUPÃ - SP
ANAP
2017
2 - Volume II

Editora

ANAP - Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista


Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos
Fundada em 14 de setembro de 2003
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América,
Cidade de Tupã, Estado de São Paulo.
CEP 17.605-310
www.editoraanap.org.br
www.amigosdanatureza.org.br
editora@amigosdanatureza.org.br

Editoração e Diagramação da Obra


Sandra Medina Benini; Jeane Aparecida Rombi de Godoy Rosin

O conteúdo desta publicação é de inteira responsabilidade dos organizadores e


autores. As ilustrações (fotografias, mapas, entre outros) utilizadas neste livro
são de inteira responsabilidade dos autores.

B681g Geotecnologias aplicadas às questões ambientais / Marcos Norberto


Boin; Patrícia Cristina Statella Martins; Maria Helena Pereira Mirante
(org.) v. II – Tupã: ANAP, 2017.

118 p ; il. Color. 21,0 cm

ISBN 978-85-68242-58-2

1. Meio Ambiente 2. Geotecnologia 3. Planejamento Ambiental

I. Título.

CDD: 900
CDU: 911/47

Índice para catálogo sistemático


Brasil: Geografia
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 3

Conselho Editorial Interdisciplinar

Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE


Profª Drª Angélica Góis Morales – UNESP – Campus de Tupã
Prof. Dr. Antônio Cezar Leal – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM
Prof. Dr. Antonio Fluminhan Jr. – UNOESTE
Prof. Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto – UFMS
Prof. Dr. Daniel Dantas Moreira Gomes – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Daniela de Souza Onça – UDESC
Prof. Dr. Edson Luís Piroli – UNESP – Campus de Ourinhos
Prof. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto – UEFS
Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCAR
Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UFMS
Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia– FCT/UNESP – Campus de Presidente
Prudente
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto – UEA / CEST
Prof. Dr. Joao Osvaldo Rodrigues Nunes– FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Jorge Amancio Pickenhayn – Universidade de San Juan – Argentina
Prof. Dr. José Carlos Ugeda Júnior – UFMS
Prof. Dr. José Manuel Mateo Rodriguez – Universidade de Havana – Cuba
Prof. Dr. José Mariano Caccia Gouveia – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Junior Ruiz Garcia – UFPR
Profª Drª Jureth Couto Lemos – UFU
Profª Drª Kênia Rezende – UFU
Prof. Dr. Luciano da Fonseca Lins – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Maira Celeiro Caple – Universidade de Havana – Cuba
Profª Drª Marcia Eliane Silva Carvalho – UFS
Prof. Dr. Marcos Reigota – Universidade de Sorocaba
Profª Drª Maria Betânia Moreira Amador – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG
Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA
Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Pedro Fernando Cataneo – UNESP – Campus de Tupã
Prof. Dr. Rafael Montanhini Soares de Oliveira – UTFPR
Profª Drª Regina Célia de Castro Pereira – UEMA
Profª Drª Renata Ribeiro de Araújo – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. Ricardo Augusto Felício – USP
Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UNICAMP
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Profª Drª Roberta Medeiros de Souza – UFRPE – Campus Garanhuns


Prof. Dr. Roberto Rodrigues de Souza – UFS
Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – Unifal
Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD
Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araújo – UFMA
Profª Drª Rosa Maria Barilli Nogueira – UNOESTE
Profª Drª Simone Valaski – Universidade Federal do Paraná
Profª Drª Silvia Cantoia – UFMT – Campus Cuiabá
Profª Drª Sônia Maria Marchiorato Carneiro – UFPR
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Sumário

Apresentação 06

Capítulo 1 10
GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO ESTABELECIMENTO DE UNIDADES DE
PLANEJAMENTO COMO SUBSÍDIO À GESTÃO AMBIENTAL
Rogério Hartung Toppa; Marcos Roberto Martines; Maria Alice Garcia

Capítulo 2 31
ANÁLISE MULTITEMPORAL DA MUDANÇA DA PAISAGEM E SUAS INFLUÊNCIAS
NA EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM BONITO, MATO
GROSSO DO SUL
Waldir Leonel; Mercedes Abid Mercante

Capítulo 3 46
DETERMINACIÓN DE LA RELACIÓN USO/POTENCIAL PARA LAS TIERRAS DEL
MUNICIPIO GUISA, EN CUBA, CON EL APOYO DE LAS GEOTECNOLOGIAS
Adonis M. Ramón Puebla; Eduardo Salinas Chávez; Leusnier Martínez Quintana;
Célida Suarez García

Capítulo 4 73
APLICAÇÃO DA ABORDAGEM DE ANÁLISE MULTICRITERIAL NA ELABORAÇÃO
DE MAPA GEOECOLÓGICO PARA O RECONHECIMENTO DE ÁREAS COM
FRAGILIDADE E POTENCIALIDADE AMBIENTAL
Lucas Prado Osco; Ana Paula Marques Ramos

Capítulo 5 93
COMPATIBILIZAÇÃO DE DADOS CARTOGRÁFICOS NA ELABORAÇÃO DE CARTAS
DE UNIDADES DA PAISAGEM PARA O TURISMO DE NATUREZA
Bruno de Souza Lima; Charlei Aparecido da Silva; Marcos Norberto Boin
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Apresentação

O livro Geotecnologias aplicadas às questões ambientais, além de ir ao encontro da


missão da ANAP e de sua editora, contribuirá significativamente com estudos relacionados à
temática ambiental com apoio das geotecnologias, bem como com o planejamento
ambiental, sobretudo no que diz respeito a metodologias e processos apresentados, que
certamente poderão ser utilizados em outros trabalhos.
Trata-se de um livro diverso nos temas, e também no que diz respeito aos autores e
instituições presentes. O município de Guisa, em Cuba, é o objeto de estudo dos
pesquisadores Adonis R. Puebla, Leusnier M. Quintana, Célida S. García e Eduardo S. Chávez,
dos quais os três primeiros são de Organo de Montaña, em Sierra Maestra - Cuba, e o
último, professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFGD. No capítulo
“Determinación de la relación uso/potencial para las tierras del municipio Guisa, en Cuba,
con el apoyo de las geotecnologias”, os autores avaliam a relação uso/potencial em um
município eminentemente montanhoso e estabelecem as potencialidades agropecuárias e
silvícolas do território como linha base.
O estado do Mato Grosso do Sul é cenário dos capítulos de Jederson Martins,
Adelson Soares Filho e André G. Berezuk, que são da Universidade Federal da Grande
Dourados – UFGD; Waldir Leonel e Mercedes Abid Mercante, docentes da Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS e Universidade Anhanguera – Uniderp,
respectivamente; Rafael Medeiros e André Pinto, o primeiro doutorando em Geografia pela
UFGD e o segundo docente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS; e
Bruno de Souza Lima, docente da UNEMAT, Charlei Aparecido da Silva e Marcos Norberto
Boin, docentes da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD.
O município de Bonito/MS, que é conhecido internacionalmente pelo turismo de
natureza, em função de seus rios de águas cristalinas e cavernas, é a área de estudo de
Waldir Leonel e Mercedes Abid Mercante. No capítulo dedicado à região, os autores Leonel
e Mercante analisam, de forma multitemporal, a dinâmica da mudança da paisagem e suas
influências na evolução do turismo na cidade.
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Três Lagoas/MS é o objeto de estudo de Rafael Medeiros e André Pinto no capítulo


“Avaliação da influência do uso, cobertura e manejo da terra na qualidade das águas
superficiais da bacia hidrográfica do Córrego Moeda”, que teve como objetivo avaliar uma
possível interferência do uso, cobertura e manejo da terra na qualidade das águas
superficiais da bacia.
A análise das relações entre as características físicas e o uso da terra na Unidade de
Planejamento e Gerenciamento do Amambai é apresentada na pesquisa de Jederson
Martins, Adelson Soares Filho e André G. Berezuk.
A faixa central da Serra de Maracaju, localizada também no Mato Grosso do Sul, é
cenário do capítulo dos autores Bruno Lima, Charlei Silva e Marcos Norberto Boin. Nesta
seção, os autores demonstram a importância e a necessidade de se ajustar dados
secundários com trabalhos de campo, a fim de evitar distorções nos resultados finais de
cartas de unidades de paisagem. Além disso, demonstram de que maneira realizaram a
compatibilização de dados na região de estudo, ressaltando a importância de se cruzar as
informações relacionadas às análises de campo, imagens de satélite e cartas topográficas na
elaboração de cartas de Unidades da Paisagem para o Turismo de Natureza.
O estado de São Paulo aparece nos trabalhos de Felipe A. S. Zanatta, Cenira M.
Lupinacci e Marcos Norberto Boin, os dois primeiros da Universidade Paulista “Júlio
Mesquita Filho”, UNESP de Rio Claro, e Boin da UFGD; Rogério H. Toppa, Marcos R. Martines
e Maria A. Garcia, da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar Sorocaba; Rodrigo C.
Oliveira, professor do Centro Universitário Toledo Prudente; Maria H. P. Mirante, Ana Paula
M. Ramos e Lucas P. Osco, as duas primeiras, docentes da Universidade do Oeste Paulista e
o terceiro, doutorando da mesma instituição. Jean F. de A. Silva e Rafael de C. Catão,
respectivamente, mestrando no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE e bolsista de
Pós-Doutorado da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. Zanatta, Lupinacci e Boin
escrevem sobre uma sub-bacia do Rio Santo Anastácio, localizada no município de Marabá
Paulista/SP, e discutem a erosão do solo e suas etapas de desenvolvimento, além de
apresentarem uma possibilidade técnica de identificação das formas erosivas através de
anaglifos, pelo mapeamento das feições por meio de esteroscopia em meio digital. Como
resultados, os autores definem critérios para a identificação das formas erosivas: feições que
indicam erosão laminar, sulcos, ravinas e voçorocas.
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O capítulo “Geoprocessamento aplicado ao estabelecimento de Unidades de


Planejamento como subsídio à gestão ambiental”, dos professores Rogério H. Toppa, Marcos
R. Martines e Maria A. Garcia, demonstra que o estabelecimento de unidades de
planejamento para a caracterização de temas específicos é a base para o planejamento com
foco na sustentabilidade territorial, voltada à tomada de decisão. Os autores apresentam um
estudo de caso sobre Araçoicaba da Serra/SP.
O município de Anhumas/SP está presente no capítulo “As geotecnologias e as
chaves de interpretação como auxílio em levantamentos da paisagem”, que apresenta as
técnicas de geoprocessamento e o emprego de chaves de interpretação utilizadas como
ferramentas no mapeamento das unidades da paisagem no referido município. A pesquisa
conclui que as geotecnologias baseadas na interpretação visual, por meio das chaves de
interpretação aplicadas à analise integrada da paisagem, podem ser uma ferramenta útil na
identificação de ambientes de fragilidade ambiental.
O reconhecimento de áreas com fragilidade e potencialidade ambiental também foi
tema do capítulo de Lucas Osco e Ana P. M. Ramos, que apresentam as etapas
metodológicas aplicadas durante o mapeamento geoecológico, realizado segundo a lógica
Fuzzy, e comparam o mapa geoecológico com o mapa de cobertura da terra na área de
estudo – bacia do Rio Santo Anastácio, localizada na região do Pontal do Paranapanema, a
extremo oeste do estado de São Paulo. Os autores concluem que o mapa geoecológico
produzido com auxílio da lógica Fuzzy é uma alternativa viável, e a implementação desta
técnica favorece a integração ou síntese de dados ao produto final.
O estudo de áreas urbanas aparece no trabalho intitulado “Análise espacial dos
registros de escorpião em Presidente Prudente”, que avalia o crescimento e a distribuição
espacial do escorpionismo na área urbana de Presidente Prudente, nos anos de 2012 e 2013.
Este estudo contribui para a identificação das áreas com maiores incidências do
escorpionismo e para a tomada de medidas de controle e prevenção de tal ocorrência no
município.
Em função da edição e tamanho do livro, o mesmo foi dividido em dois volumes. No
volume 1 estão presentes os capítulos “Avaliação da influência do uso, cobertura e manejo
da terra na qualidade das águas superficiais da bacia hidrográfica do córrego Moeda, Três
Lagoas/MS”; “O uso de anaglifos na identificação de feições erosivas: estudo de caso em
área rural degradada”; “Análise espacial dos registros de escorpião em Presidente
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 9

Prudente/SP, 2012-2013”; “Geotecnologias e as chaves de interpretação como auxílio em


levantamentos de paisagem: uma análise do município de Anhumas – SP”; e o capítulo
“Análises das relações entre as características físicas e o uso da terra na unidade de
planejamento e gerenciamento do Amambai, Mato Grosso do Sul”.
O volume 2 traz os capítulos “Geoprocessamento aplicado no estabelecimento de
unidades de planejamento como subsídio a gestão ambiental”; “Análise multitemporal da
mudança da paisagem e suas influências na evolução do desenvolvimento do turismo em
Bonito, Mato Grosso do Sul”; “Determinación de la relación uso/potencial para las tierras del
municipio Guisa, en Cuba, con el apoyo de las geotecnologias”; “Aplicação da abordagem de
análise multicriterial para a elaboração de mapa geoecológico para o reconhecimento de
áreas com fragilidade e potencialidade ambiental”; e “Compatibilização de dados
cartográficos na elaboração de cartas de unidades da paisagem para o Turismo de
Natureza”, de Bruno Lima, Charlei Silva e Marcos Norberto Boin.
Considerando que a aplicação das geotecnologias em questões ambientais é um
tema de extrema importância, acredita-se que este livro contribuirá muito para o
desenvolvimento de futuras pesquisas na área ambiental, pois aponta questões relevantes
para a temática e interessantes metodologias, processos e problemas, que poderão ser
aplicados de diferentes maneiras em diferentes casos, além de indicar outras questões
pertinentes à temática ambiental.

Marcos Norberto Boin


Patrícia Cristina Statella Martins
10 - Volume II

Capítulo 1

GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO ESTABELECIMENTO DE


UNIDADES DE PLANEJAMENTO COMO SUBSÍDIO À GESTÃO
AMBIENTAL

Rogério Hartung Toppa


Professor Doutor, UFSCar-Sorocaba, Brasil
toppa@ufscar.br

Marcos Roberto Martines


Professor Doutor, UFSCar-Sorocaba, Brasil
mmartines@ufscar.br

Maria Alice Garcia


Licenciada em Geografia, UFSCar-Sorocaba, Brasil
maria.alicega@gmail.com
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 11

GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO ESTABELECIMENTO DE


UNIDADES DE PLANEJAMENTO COMO SUBSÍDIO À GESTÃO
AMBIENTAL

Rogério Hartung Toppa


Professor Doutor, UFSCar-Sorocaba, Brasil
toppa@ufscar.br

Marcos Roberto Martines


Professor Doutor, UFSCar-Sorocaba, Brasil
mmartines@ufscar.br

Maria Alice Garcia


Licenciada em Geografia, UFSCar-Sorocaba, Brasil
maria.alicega@gmail.com

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é parte integrante do projeto intitulado “Análise ambiental de


áreas de interesse para o estabelecimento de Unidades de Conservação para a proteção dos
mananciais do município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo”, sob coordenação dos
docentes do Núcleo de Estudos em Ecologia da Paisagem e Conservação do Campus
Sorocaba da UFSCar (http://www.sorocaba.ufscar.br/neepc), em parceria com a Prefeitura
Municipal de Araçoiaba da Serra, e com apoio financeiro do Governo do Estado de São
Paulo, por meio do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), da Secretaria de
Saneamento e Recursos Hídricos.
O propósito deste capítulo é contextualizar o leitor na aplicação de técnicas em
ambiente SIG (Sistemas de Informação Geográfica) para o planejamento de recursos
hídricos, por meio da apresentação de um estudo de caso do referido projeto. A ideia central
é apresentar os procedimentos metodológicos para a delimitação semiautomática de sub-
bacias, e descrever as características da rede hídrica de Araçoiaba da Serra (SP), ilustrando o
potencial das técnicas de análise espacial para subsidiar o planejamento para conservação
de mananciais.
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O processo de planejamento é um meio sistemático de determinar o estágio em


que você está, onde deseja chegar e qual o melhor caminho para se chegar lá. No caso do
Planejamento Ambiental, tem-se por finalidade a conservação dos elementos naturais e a
qualidade de vida dos seres humanos (SANTOS, 2004). Diversos trabalhos destacam a
importância das bacias hidrográficas como unidades de planejamento (ALMEIDA, 2015;
ALBUQUERQUE, 2012; PORTO; PORTO, 2008; SANTOS, 2004; SANTANA, 2003), e o seu papel
em relação às ações humanas sobre o ambiente e suas consequências sobre o equilíbrio
hidrológico (ALMEIDA, 2015).
O Geoprocessamento aplicado ao planejamento ambiental e à gestão territorial
auxilia no entendimento dos componentes do ecossistema e das relações naturais,
principalmente por se tratar de uma das abordagens holísticas mais importantes quando
fundamentadas em procedimentos e técnicas em ambiente SIG - Sistemas de Informação
Geográfica (LANG; BLASCHKE, 2009).
A integração entre SIG e o planejamento para a conservação de recursos hídricos é
fundamental frente à complexidade ambiental e socioeconômica intrínseca às bacias
hidrográficas, e permite comparar essas dimensões por meio da espacialização dos
fenômenos observados nas unidades de planejamento. Dessa forma, em linhas gerais, o SIG
se aplica ao mapeamento, medição, monitoramento, modelagem e gerenciamento
(LONGLEY et al., 2013), aspectos fundamentais para a consolidação de planos de bacias
hidrográficas, demanda observada no município de Araçoiaba da Serra.

OBJETIVO

O presente trabalho tem por objetivo descrever as etapas de processamento digital


usadas na delimitação de sub-bacias como base de unidade de planejamento, e a sua
aplicação como alternativa ao estabelecimento de estratégias para a conservação de
recursos hídricos.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 13

MÉTODO DE ANÁLISE

Área de aplicação do modelo para delimitação de sub-bacias

O município de Araçoiaba da Serra localiza-se no centro-leste do estado de São


Paulo (Figura 1), aproximadamente a 120 km da capital e a 17 km da cidade de Sorocaba,
inserindo-se na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Limita-se com os municípios de
Sorocaba, à leste; Capela do Alto, à noroeste; Salto de Pirapora, ao sul; Sarapuí, à sudoeste;
e Iperó ao norte. A principal via de acesso é a Rodovia Raposo Tavares, pelo km 112, além da
via que liga o município à Capela do Alto, Rodovia Estadual - SP 268. As principais estradas
municipais são: Estrada de Ipanema, Estrada do Ipatinga, Estrada do Rio Verde, Estrada de
Jundiaquara e Jundiacanga.
Segundo os dados disponibilizados pela plataforma on-line IBGE Cidades, Araçoiaba
da Serra possui uma área de aproximadamente 255km2, com uma população de 27.299
habitantes. O município possui um IDH de 0,776, e a população estimada para o ano de 2015
era de 31.321 habitantes.
No contexto das Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI), o
município se localiza na UGRHI 10 (Figura 2). Segundo os dados do Relatório Técnico nº
104.269-205 - 12/328 (IPT, 2008), a área da UGRHI 10 totaliza 11.827,824km 2, e a área da
Bacia Hidrográfica Sorocaba/Médio Tietê está subdividida em seis sub-bacias, sendo três
delas compostas por drenagens de pequeno e médio porte que levam as águas para o Rio
Tietê, e outras três que compõem a bacia do Rio Sorocaba: 1. Médio Tietê Inferior; 2. Médio
Tietê Médio; 3. Baixo Sorocaba; 4. Médio Sorocaba; 5. Médio Tietê Superior; e 6. Alto
Sorocaba. O município de Araçoiaba da Serra se encontra nas sub-bacias do Baixo Sorocaba
(SB3-BS) e Médio Sorocaba (SB4-BS), e possui sede na SB4-MS (IPT, 2008).
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Figura 1. Localização do município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo

Figura 2. Regiões hidrográficas associadas ao município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo. Destaque para a sub-
bacia do Tietê-Sorocaba, Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos, UGRHI 10
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Organização dos dados

Para este estudo, as informações foram obtidas por meio do Plano Cartográfico do
Estado de São Paulo, organizadas pelo Instituto Geográfico e Cartográfico de São Paulo (IGC),
em escala de 1:10.000. As cartas topográficas foram trabalhadas em meio digital (ambiente
SIG) e para a elaboração do plano de altimetria, as informações foram vetorizadas em tela,
em escala de 1:5.000, possibilitando uma maior precisão na obtenção do plano de
informação (Figura 3). Para a apresentação do estudo de caso, foram vetorizados os dados
de altimetria com o uso de 19 folhas do IGC, que compõem os limites do município de
Araçoiaba da Serra (SP), conforme descrito no Quadro 1. Além dos dados de altimetria,
também foi vetorizado o plano de informação referente à hidrografia, para a realização dos
ajustes do processo de delimitação das sub-bacias e para a caracterização destes dados.

Figura 3. Altimetria do município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo

Fonte: IGC. Plano Cartográfico do Estado de São Paulo, 1978.


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Ao final da vetorização, os planos de informação registrados em UTM zona 23 Sul,


Datum Córrego Alegre, foram reprojetados para UTM zona 23 Sul, Datum SIRGAS2000,
conforme os dispositivos estabelecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que é responsável pela definição, implantação e manutenção do Sistema Geodésico
Brasileiro (SGB). O objetivo era incorporar os dados no Banco de Dados Araçoiaba (BDA). A
Figura 4 sintetiza os procedimentos adotados nesta etapa do trabalho.

Quadro 1. Folhas do Instituto Geográfico e Cartográfico do estado de São Paulo referentes à área de cobertura do
município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo

Articulação Nomenclatura Folha


89/89 Bairro Getuba 1 SF-23-Y-C-I-4-SO-D
90/88 Capela do Alto SF-23-Y-C-I-4-SO-E
90/89 Bairro do Morro SF-23-Y-C-I-4-SO-F
90/90 Araçoiabinha SF-23-Y-C-I-4-SE-E
90/91 Bairro da Terra Vermelha SF-23-Y-C-I-4-SE-F
91/88 Bairro Capanema SF-23-Y-C-IV-2-NO-A
91/89 Bairro da Campina SF-23-Y-C-IV-2-NO-B
91/90 Araçoiaba da Serra SF-23-Y-C-IV-2-NE-A
91/91 Sorocaba III SF-23-Y-C-IV-2-NE-B
92/87 Fazenda Rancho Alegre SF-23-Y-C-IV-1-NE-D
92/88 Bairro Campo do Meio SF-23-Y-C-IV-2-NO-C
92/89 Bairro Jundiacanga SF-23-Y-C-IV-2-NO-D
92/90 Jundiaquara SF-23-Y-C-IV-2-NE-C
92/91 Fazenda São Marcos SF-23-Y-C-IV-2-NE-D
93/87 Fazenda São Judas Tadeu SF-23-Y-C-IV-1-NE-F
93/88 Bairro Cercado SF-23-Y-C-IV-2-NO-E
93/89 Fazenda Santo Antônio da Bela Vista SF-23-Y-C-IV-2-NO-F
94/88 Bairro São Bento SF-23-Y-C-IV-2-SO-A
94/89 Bairro da Barra SF-23-Y-C-IV-2-SO-B

Figura 4. Diagrama conceitual dos procedimentos adotados na sistematização dos dados para a delimitação de sub-bacias
do município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 17

Para as análises de superfície foi criado um conjunto de dados de Rede Triangular


Irregular (TIN - Triangulated Irregular Network), visando a modelagem da representação da
morfologia da superfície do terreno, com base nos dados de altimetria. Os arquivos TIN são
dados geográficos digitais baseados em vetores, e construídos por triangulação de um
conjunto de vértices (pontos). Os vértices estão conectados com uma série de arestas,
formando uma rede de triângulos por meio de métodos de interpolação. Assim, o produto
TIN corresponde a objetos vetoriais em intervalos de classe de elevação altimétrica (classes
hipsométricas). Ou seja, trata-se de um produto referente à própria hipsometria, porém no
formato vetorial (FITZ, 2008).
Após essa etapa, o arquivo TIN foi convertido em um arquivo matricial no formato
raster (Modelo Numérico de Terreno - MNT (Figura 5) - tamanho do pixel: 2,5 m), através de
um processo de interpolação (natural neighbors) que produz um resultado mais suave do
que uma interpolação linear. Tal interpolador se utiliza de um sistema de ponderação em
função da área nos nós mais próximos no TIN, encontrados em todas as direções ao redor do
centro dos pixels de saída (LONGLEY et al. 2013).
18 - Volume II

Figura 5. Modelo digital de representação de sombras e níveis de radiância solar sobre o terreno (Hillshade) do município
1
de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo

Procedimento para extração de sub-bacias

A delimitação das sub-bacias no território do município foi estabelecida como


orientação para definir unidades de planejamento. Para a extração das sub-bacias
associadas à rede de drenagem do município de Araçoiaba da Serra, foi utilizada a extensão
Arc Hydro Geoprocessing Tools do ArcMap, versão 10.2.1. O processamento para obtenção
das sub-bacias envolveu 12 linhas de comando. Com a finalidade de sintetizar o
processamento em ambiente SIG, a Figura 6 ilustra os procedimentos adotados para
obtenção do plano de informação “sub-bacias”.

1
Observa-se um realce do relevo que possibilita a identificação de feições estruturais, feições planas, áreas de morro e
padrões de dissecação. No modelo gerado, foi possível observar o domínio estrutural geológico, determinando os
processos de geração das feições estruturais por meio dos processos erosivos. O modelo permitiu inferir pelo menos três
grandes domínios estruturais: (1) um ao norte, com estrutura geológica resistente, marcado pelos canais curtos e
ramificados ao longo das linhas de fraqueza - esta zona está em contato com a FLONA Ipanema (ver Figura 1); (2) à
nordeste, uma zona aplainada, ligada a estruturas sedimentares com canais hidrológicos retilinizados; e (3) na porção sul,
com estruturas mistas, entre maiores e menores resistências, onde se destacam os canais dentríticos e algumas anomalias
que se configuram a partir da heterogeneidade estrutural.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 19

Figura 6. Etapas de processamento para delimitação das sub-bacias (ESRI, 2011). Amostras de
Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo

Em linhas gerais, o processamento é iniciado com a entrada do MNT, gerado com


base nos dados de altimetria extraídos do plano de informação “Curvas de nível”, e seguiu as
seguintes etapas:

1. O primeiro passo consistiu em preencher as depressões da matriz (imagem


raster). Se um pixel é rodeado por pixels de elevação superior, a água que está
presa na célula não pode fluir. A função Fill Sinks modificou o valor de elevação
para eliminar estes problemas;
2. O segundo passo foi aplicado para determinar a direção de fluxo (Flow Direction).
Essa função se baseia na matriz de entrada (MNT) para calcular a matriz numérica
de direção de fluxo correspondente. Os valores nos pixels da matriz de direção de
fluxo indicaram o caminho da descida mais acentuada;
20 - Volume II

3. A função de acumulação de fluxo (Flow Accumulation) utilizou como entrada a


matriz de direção de fluxo (Flow Direction Grid). Essa função calculou a matriz de
acumulação de fluxo associada (Flow Accumulation Grid), que contém o número
acumulado de pixels a montante de um pixel, para cada pixel na matriz de
entrada;
4. Para gerar a Definição de Fluxo (Stream Definition), foi utilizada como entrada a
matriz de acumulação de fluxo (Flow Accumulation Grid), com a finalidade de
criar uma matriz de corrente (Stream Grid), tendo em vista um limite definido
pelo usuário. Este limite é definido quer como um número de células (padrão de
1%) ou como uma área de drenagem, em quilômetros quadrados. Para esse
processamento, foi utilizado o padrão estabelecido pela extensão Arc Hydro;
5. A função Segmentação de Fluxo (Stream Segmentation) foi aplicada para criar
uma matriz de segmentos da hidrografia, para que cada elemento da hidrografia
(rios) tenha uma identificação única. Todos os pixels em um segmento particular
têm o mesmo código de rede, específico para aquele segmento.
6. A função para delimitação de uma matriz de captação (Catchment Grid
Delineation) foi aplicada para criar uma matriz na qual cada pixel carregasse um
valor (código de rede), indicando a qual captação a célula pertencia. O valor
correspondente ao valor transportado pelo segmento de fluxo que drena a área
foi definido na matriz de entrada de ligação (produto de saída da função Stream
Segmentation);
7. O Processamento de Polígonos de Captação (Catchment Polygon Processing) foi
realizado utilizando-se como entrada a matriz de captação (Catchment Grid), e
esse processamento a converteu em uma feição de captação poligonal
(Catchment). Os pixels adjacentes na matriz, e que têm a mesma matriz código,
são combinados numa única área, cujo contorno foi vetorizado. Os polígonos de
pixels individuais e os polígonos "órfãos", gerados como os artefatos do processo
de vetorização, são dissolvidos automaticamente, de modo que, no final do
processo, exista apenas um polígono por captação;
8. Essa etapa (Drainage Line Processing) consistiu em processar as linhas de
drenagem, cuja função coverteu a matriz de entrada de fluxo em classe de
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 21

formato vetorial (polilinha). Cada linha transporta o identificador da bacia em que


reside;
9. O Processamento de Bacias Adjacentes (Adjoint Catchment Processing) teve por
finalidade gerar as bacias hidrográficas a montante dos agregados da feição de
captação. Para cada bacia hidrográfica que não é uma captação de cabeceira, um
polígono representando toda a área a montante de drenagem para o seu ponto
de entrada foi construído e armazenado em uma feição denominada "Adjoint
Catchment". Esta feição foi usada para acelerar o processo de delimitação, para
processamento dos pontos de drenagem associados às bacias hidrográficas;
10. O comando Drainage Point Processing se refere à etapa para geração de pontos
de drenagem;
11. A Batch Point Generation permitiu a criação, em lote, de uma feição em formato
de ponto, e a criação de novos pontos nesta mesma feição, com o objetivo de
delimitar as sub-bacias;
12. Watershed Delineation é a etapa para a delimitação das sub-bacias.

Após o processamento automatizado de delimitação das sub-bacias foi realizado


um ajuste manual das feições poligonais geradas, com base na interpretação da hidrografia e
nas curvas de nível vetorizadas das cartas do IGC, utilizando-se como máscara para
delimitação de ajuste o polígono dos limites do município de Araçoiaba da Serra. Todos os
passos descritos acima foram baseados nos processamentos definidos no “Tutorial de
ferramentas do Arc Hydro” (ESRI, 2011).

Análise espacial: planejamento para a conservação de recursos hídricos

Com base na delimitação das sub-bacias, foi realizada uma análise espacial de forma
a identificar os aspectos hidrográficos do município de Araçoiaba da Serra. Para isso, foram
extraídos dados do plano de informação da hidrografia para cada unidade de planejamento
estabelecida no território municipal. Foram calculados os dados da área de cada sub-bacia, a
descrição dos principais corpos d’água, a extensão e os tipos dos canais (perenes e
intermitentes), número e área de lagos e represas, e o número de cabeceiras para cada
unidade de planejamento.
22 - Volume II

RESULTADOS

Foram delimitadas nove sub-bacias (Figura 7), e os dados sobre os aspectos


hidrográficos identificados para cada sub-bacia estão compilados nas Tabelas 1 e 2. O
município encontra-se na cabeceira do manancial do Rio Iperó e sua malha hídrica tem como
rios principais o Rio Ipanema e os rios Pirapora e Sarapuí, além de inúmeros cursos d’água
de menor porte e diversas represas e lagos (Figura 8). Destacam-se ainda o Rio Verde,
Ribeirão Iperó-Mirim, Ribeirão Capanema, Ribeirão Iperó, Ribeirão Ipanema, Ribeirão
Jundiaquara, Ribeirão Jundiacanga, Ribeirão do Lageado, Córrego do Poço Fundo, Córrego
Nho-Tó, Córrego do Barreiro, Córrego do Colégio, Córrego do Cercado, Córrego da Passagem
ou Restinga, Córrego da Olaria, Córrego dos Farias, Córrego Cafundó, Córrego Ipanema,
Córrego Aguadinho, Córrego Guaxinduba, Córrego Jundiacanga, Córrego Vacariu, Córrego do
Barulho, Córrego Iperó-Mirim, Córrego Jundiaquara.

Figura 7. Sub-bacias do município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 23

Figura 8. Hidrografia do município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo


24 - Volume II

Tabela 1. Dados sobre as sub-bacias do município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo. Área em hectares (ha), rios
(R.), ribeirões (Rib.) e córregos (C.), comprimento dos segmentos que compõem os canais hidrográficos, número (Nº) e
área em hectares (ha) de lagos e represas, e número (Nº) de cabeceiras por sub-bacias
Rios (R.), Hidrografia Área de lagos
Sub- Área Nº de lagos e Nº de
ribeirões (Rib.) (canal em e represas
Bacia (ha) represas cabeceiras
e córregos (C.) metro) (ha)
Sub-
1360 Sem dado 25.825,41 34 22,79 32
Bacia 1
C. do Poço Fundo
C. Nho-Tó
Sub-
4016 C. Vacariu 73.917,60 91 62,53 141
Bacia 2 R. Ipanema
R. Verde
C. do Barreiro
C. do Colégio
C. Ipanema
Sub- C. Jundiaquara
4436 91.209,36 94 28,66 146
Bacia 3 Rib. do Ipanema
Rib. do Lageado
Rib. Ipanema
R. Ipanema
C. Cafundó
Sub- C. do Barulho
2208 72372,84 41 6,79 159
Bacia 4 C. dos Farias
C. Guaxinduba
C. do Barulho
Sub-
1621 C. Jundiacanga 57.219,10 18 3,12 114
Bacia 5 R. Sarapuí
C. Aguadinho
Sub-
2199 C. do Cercado 63.738,48 36 5,05 117
Bacia 6 R. Sarapuí
C. da Olaria
C. da Passagem ou
Sub-
3361 Restinga 111.797,36 142 15,51 239
Bacia 7 Rib. Jundiacanga
R. Sarapuí
Sub- Rib. Capanema
1433 52.941,78 87 11,87 113
Bacia 8 Rib. Iperó-Mirim
C. Iperó-Mirim
Sub-
4933,23 Rib. Iperó 147.395,69 224 43,30 234
Bacia 9 Rib. Iperó-Mirim

A Figura 9 descreve as informações compiladas na Tabela 1, e apresenta dados


sobre a área das sub-bacias, o número e área de lagos/represas, e o número de cabeceiras
por sub-bacia, com base no total de dados obtidos em todas as sub-bacias e seus respectivos
valores percentuais.
As maiores sub-bacias delimitadas nesta análise são: a Sub-Bacias 9, com
4.933,23ha (19,33%); a 3, com 4.435,45ha (17,35%); a 2, com 4.015,22ha (15,70%); e a Sub-
Bacia 7 com 3.361,12ha (13,15%) (Figura 9A). Estas quatro sub-bacias juntas correspondem
a 65,50% do território de Araçoiaba da Serra.
Em relação ao número de represas/lagos por sub-bacia, destaca-se a Sub-Bacia 9,
que contribui com aproximadamente 30% (224 represas/lagos) do total observado no
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 25

município (Figura 9B). Apesar desta sub-bacia apresentar o maior número desse tipo de
corpo d'água, a Sub-Bacia 2 é a que mais contribui em relação à área ocupada por
represas/lagos, com mais de 30% do total da área de ocupação territorial para o conjunto de
sub-bacias, correspondendo a 62,53ha (Figura 9C).
Sobre a frequência de cabeceiras, destacam-se as sub-bacias 7 e 9, com um total de
239 (18,45%) e 234 (18,06%), respectivamente. Estas sub-bacias, em conjunto com a Sub-
Bacia 3, possuem aproximadamente 50% do total de cabeceiras mapeadas no município
(Figura 9D).
Essas observações ficaram bem evidentes nos mapeamentos, através dos quais se
observam represamentos e lagos de grande destaque na paisagem, principalmente nas sub-
bacias 2 e 9, sendo que na primeira foram observadas as maiores áreas de represamento
encontradas no município, e na segunda o maior número de lagos e represas,
provavelmente influenciados pelo tamanho e tipos de atividades humanas da sub-bacia.
Chama a atenção a alta quantidade de represamentos próximos às cabeceiras.
Para o estabelecimento de estratégias conservacionistas e para subsidiar o plano
diretor do município de Araçoiaba da Serra, a análise espacial é de extrema importância, e as
sub-bacias destacadas merecem uma atenção futura, porém, sem desconsiderar as demais
sub-bacias delimitadas. Vale salientar que foram mapeados 767 lagos/represas no município
de Araçoiaba da Serra, totalizando uma cobertura de 199,62 ha, além de um número total
de 1.295 pontos de cabeceiras.
26 - Volume II

Figura 9. (A) Área das sub-bacias e percentual de ocupação das sub-bacias em relação à área do território municipal; (B)
Frequência de ocorrência de represas/lagos por sub-bacia e valor percentual por sub-bacia, em relação à área total do
território municipal; (C) Área de represas/lagos e valor percentual por sub-bacia, em relação à área total de represas/lagos
no município; (D) Frequência de ocorrência de cabeceiras por sub-bacias e valor percentual por sub-bacia, em relação ao
número total de cabeceiras no município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo

Em relação aos tipos de canal (intermitente e perene), destacam-se a Sub-Bacia 9,


com a ocorrência de 112 canais perenes e 295 canais intermitentes (totalizando 407 canais
hidrográficos); a Sub-Bacia 7, com 51 canais perenes e 237 intermitentes (totalizando 288
canais hidrográficos); e a Sub-Bacia 3, com 54 perenes e 143 canais intermitentes
(totalizando 197 canais hidrográficos). Porém, vale salientar a importância das sub-bacias 5 e
6, que compreendem a sub-bacia do Rio Sarapuí, um importante corpo d'água no território
municipal, assim como a Sub-Bacia 2, que compreende as microbacias do Rio Verde e do Rio
Ipanema.
Esta observação se fundamenta, principalmente, nos valores de extensão de canais
perenes nas sub-bacias destacadas acima. Apesar da baixa quantidade de canais perenes
observados nessas sub-bacias, observam-se altos valores de extensão desses canais, com um
total de 55.863,76m na Sub-Bacia 2, 32.469,76m na Sub-Bacia 6, e 30.596,72m na Sub-Bacia
5 (Tabela 2; Figura 10).
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 27

Tabela 2. Tipos de canal hidrográfico, por sub-bacia, do município de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo
Extensão do canal
Sub-Bacia Tipo de Canal Total de Ocorrência
(m)
Intermitente 27 9.775,13
Sub-Bacia 1
Perene 27 16.050,29
Intermitente 67 18.053,84
Sub-Bacia 2
Perene 130 55.863,76
Intermitente 143 46.503,15
Sub-Bacia 3
Perene 54 44.706,21
Intermitente 157 43.265,21
Sub-Bacia 4
Perene 30 29.107,63
Intermitente 114 26.622,38
Sub-Bacia 5
Perene 26 30.596,72
Intermitente 115 31.268,72
Sub-Bacia 6
Perene 19 32.469,76
Intermitente 237 66.461,92
Sub-Bacia 7
Perene 51 45.335,44
Intermitente 115 31.770,88
Sub-Bacia 8
Perene 26 21.170,90
Intermitente 295 88.638,19
Sub-Bacia 9
Perene 112 58.757,50
Fonte: IGC, 1978 (adaptada).
28 - Volume II

Figura 10. Classificação temática da hidrografia em canais perenes e intermitentes, distribuídos nas sub-bacias do município
de Araçoiaba da Serra, estado de São Paulo

CONCLUSÕES

A análise de temas complexos como a hidrografia demanda a sistematização de


dados. Tal sistematização deve propiciar uma visão espacial para o planejamento integrado
entre as diferentes políticas públicas e normativas legais que regem os planos diretores
municipais, planos de bacia ou, ainda, zoneamentos, como p.ex., o Zoneamento-Ecológico-
Econômico (ZEE).
Assim, fundamentações e métodos aplicados ao ambiente SIG são de extrema
importância para compreender os padrões e dinâmicas de uso e ocupação das áreas de
interesse, auxiliando no planejamento e na gestão ambiental para um ordenamento
territorial sustentável.
As técnicas de processamento digital utilizadas no presente estudo de caso se
apresentam como uma alternativa viável quando não se dispõe de pares estereoscópicos
para a delimitação de sub-bacias. Quanto às análises espaciais aplicadas, possibilitaram
espacializar e descrever as características da rede de drenagem, organizando as informações
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 29

geradas em unidades de planejamento que poderão ser incorporadas em novos ciclos de


gestão do poder público municipal.
Para contextualizar a importância desta análise espacial em relação ao
planejamento ambiental, as informações extraídas nos mapeamentos poderão subsidiar o
cruzamento de dados sobre a cobertura florestal associada aos corpos d’água, como por
exemplo, na construção de um indicador para a seleção de áreas de interesse para a
proteção de mananciais. Dessa maneira, os atributos da hidrografia poderão auxiliar na
definição de regiões de cobertura (buffers) para as diferentes tipologias hidrográficas, com
base em critérios estabelecidos no código florestal (BRASIL, 2012), permitindo mapear essas
áreas e avaliar as intersecções com a cobertura florestal. Isto possibilitará aos tomadores de
decisão avaliar e determinar áreas de interesse para a conservação ambiental, integrando
ambientes terrestres e aquáticos, além de possibilitar a visualização de trechos de conflito
com a legislação ambiental, permitindo estabelecer estratégias que poderão ser
incorporadas em planos específicos para a conservação da natureza. Nesse contexto, espera-
se com este produto estabelecer uma base descritiva para auxiliar os tomadores de decisão
no planejamento ambiental e no estabelecimento de estratégias conservacionistas dos
recursos hídricos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, A.R. da C. Bacia hidrográfica: unidade de planejamento ambiental. Revista


Geonorte, v.4, n.4, Edição Especial, p.201-209, 2012.

ALMEIDA, M.I.S. de. A bacia hidrográfica como unidade fundamental de análise da paisagem: a bacia
do Pacuí e a sua relação com a bacia do São Francisco. Revista Cerrados, v.13, n.1, p.95-110, 2015.

BRASIL. Lei no 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, altera
as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de
dezembro de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de
1989, e a Medida Provisória nº 2.166- 67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 28 maio, Seção 1, p. 1, 2012.

ESRI. Arc Hydro Tools - Tutorial Version 2.0. New York, 2011.

FITZ, P. R. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. 160p.

INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS. Plano de bacia da unidade de gerenciamento de recursos


hídricos do Sorocaba e Médio Tietê (UGRHI 10) - revisão para atendimento da deliberação CRH 62.
2008. Disponível em: http://www.sigrh.sp.gov.br/public/uploads/documents/7099/smt_rpb.pdf.
Acessado em 22/08/2017.
30 - Volume II

LANG, S.; BLASCHKE, T. Análise da paisagem com SIG. São Paulo: Oficina de Textos, 2009. 424p.

LONGLEY, P. A.; GOODCHILD, M. F.; MAGUIRE, D. J.; RHIND, D. W. Sistemas e ciência da informação
geográfica. Porto Alegre: Bookman, 2013.

PORTO, M. F. A.; PORTO, R. L. L. Gestão de bacias hidrográficas. Estudos Avançados, 22 (63) p.43-60,
2008.

SANTANA, D. P. Manejo integrado de bacias hidrográficas. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo,
2003.

SANTOS, R. F. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 31

Capítulo 2

ANÁLISE MULTITEMPORAL DA MUDANÇA DA PAISAGEM E SUAS


INFLUÊNCIAS NA EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
EM BONITO, MATO GROSSO DO SUL

Waldir Leonel
Professor Doutor, UEMS, Brasil
waldir.leonel@gmail.com

Mercedes Abid Mercante


Professora Doutora, Universidade Anhanguera-Uniderp, Brasil
mercante@terra.com.br
32 - Volume II

ANÁLISE MULTITEMPORAL DA MUDANÇA DA PAISAGEM E SUAS


INFLUÊNCIAS NA EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
EM BONITO, MATO GROSSO DO SUL

Waldir Leonel
Professor Doutor, UEMS, Brasil
waldir.leonel@gmail.com

Mercedes Abid Mercante


Professora Doutora, Universidade Anhanguera-Uniderp, Brasil
mercante@terra.com.br

INTRODUÇÃO

Bonito, no estado do Mato Grosso do Sul, está localizada na região sudoeste, na


borda meridional da bacia do Alto Paraguai, na microrregião geográfica da Bodoquena (MRG
09), com área territorial de 4.934km e altitude média de 315 metros. Segundo Vargas (2001),
o núcleo habitacional que compõe a cidade de Bonito teve início nas terras da Fazenda
Rincão Bonito, propriedade particular, adquirida em 1869, sendo seu proprietário
considerado o desbravador da localidade.
Nesse município, verificou-se, em curto intervalo de tempo, o desenrolar de
grandes transformações socioespaciais. Tradicionalmente, sua economia, que era baseada
na pecuária e agricultura, juntou-se ao desenvolvimento do turismo e é possível afirmar que
tais alterações se deram em virtude desta atividade, fortalecida nos últimos 30 anos.
Os atrativos naturais da região estão associados à riqueza em biodiversidade do
Cerrado (floresta semidecídua ou estacional) e das matas de galeria. Os principais rios do
município são: Miranda, Formoso e da Prata, todos da bacia hidrográfica do Alto Paraguai
(PNRH, 2006).
Os rios da região são cársticos, desaparecendo no subsolo em alguns trechos.
Boggiani et al. (1999) destacam que a área possui um maciço rochoso calcário elevado, no
Planalto da Bodoquena, onde as águas infiltram e ressurgem na planície abaixo, formando os
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 33

olhos d’água e rios transparentes. Estes elementos, aliados à infraestrutura turística para o
município, trouxeram o destaque à região para que se tornasse objeto nacional e
internacional, por meio das belezas cênicas, de um potencial ecoturístico.
Em termos geotécnicos, a cidade é caracterizada pela presença litológica do
calcário, com relevo definido basicamente em duas unidades: Planalto da Bodoquena e a
Depressão de Miranda.
A Serra da Bodoquena é parte do planalto que circunda o Pantanal, planície
ocupada por fazendas que desenvolvem atividades turísticas, geralmente, com área superior
a 2000 hectares e, na maioria das vezes, administradas pelos próprios proprietários. As áreas
em Bonito variam de três a 700 hectares, com implantação de pluriatividades, tendo o
turismo como uma das principais atividades ao final da década de 1980. Entende-se que com
o auxílio do uso de geotecnologias, poderá contribuir para os estudos turísticos na região do
Pantanal.
Segundo Behr (2001), a gruta do Lago Azul, em Bonito, foi o primeiro atrativo a ser
formatado e adequado para receber visitantes. Em 1986, foi criado o Conselho Municipal de
Meio Ambiente – CONDEMA. Em 1987 e 1988, a Prefeitura desapropriou a área, onde
atualmente está localizado o Balneário Municipal. Em 1989, foi instalada a primeira agência
de turismo, a Hapacany.
A atividade turística ganhou maior impulso a partir do biênio 1992/1993, como
destacam Vargas (2001) e Boggiani (2001). Boggiani (2001, p. 156) afirma que a Expedição
Franco-brasileira, Bonito 92 e o primeiro curso de formação de guias são “fatos que podem
ser considerados como marcos do início do processo que tirou a região do amadorismo e a
colocou no caminho da profissionalização da atividade turística”.
Nesse contexto, o município se destaca pela necessidade de estudos e análises
sobre os fortes contrastes em sua configuração espacial, uma vez que esteve sustentado por
uma lógica na qual o turismo ecológico é o fator primordial para a manutenção da qualidade
ambiental na região.

OBJETIVO

Compreender a dinâmica de evolução do turismo no meio rural e urbano do


município de Bonito, a partir da década de 1980, por meio da identificação de aspectos
34 - Volume II

relacionados às mudanças da paisagem. Especificamente, pretendeu-se elaborar mapas de


épocas distintas, sendo um referente a 2014 e outros, pretéritos (1984, 1994 e 2004), para,
assim, realizar uma análise comparativa da mudança da paisagem no decorrer deste
período.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a análise do uso e ocupação do solo de Bonito, a primeira etapa consistiu na


aquisição das imagens de satélites do referido município, obtidas no catálogo de imagens do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e que se encontram disponíveis para
download no formato TIFF aos usuários cadastrados. As imagens orbitais são do
satélite/sensor LandSat 5/TM, referentes à órbita e ponto 226/74 e 226/75, passagem de 18
set. 1984, 10 jun. 1994 e 05 jun. 2004, intervalo de tempo considerado suficiente para
identificar as mudanças na paisagem. Para o ano de 2014, utilizaram-se imagens do satélite
LandSat 8/OLI, disponível no site da United States Geological Survey (USGS), órbita e 226/74
e 226/75 de 21 set. 2014 (Tabela 1).
Na obtenção das imagens, buscou-se um padrão. Optou-se, assim, pela escolha de
meses em que fosse observado o intervalo máximo de três meses entre as datas, para haver
menos interferência de estações secas e chuvosas. Não foi possível encontrar imagens mais
próximas das datas por conta da ocorrência de nuvens na área de estudo.

Tabela 1. Satélite, data da imagem, órbita, ponto e bandas utilizadas em cada imagem no mapeamento

Satélite/Sensor Data da imagem Órbita; Ponto Bandas utilizadas

Landsat 5/TM 18/09/1984 226; 74 e 75 3,4 e 5

Landsat 5/TM 10/06/1994 226; 74 e 75 3,4 e 5

Landsat 5/TM 05/06/2004 226; 74 e 75 3,4 e 5

Landsat 8/OLI 21/09/2014 226; 74 e 75 4, 5 e 6

Fonte: LEONEL, 2016.


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 35

Geoprocessamento e sensoriamento remoto das imagens

Os processos utilizados para o período de 1984 a 2014 foram feitos no software


SPRING®, versão 5.2.6, um Sistema de Informações Geográficas (SIG) livre, desenvolvido pela
Divisão de Processamento de Imagens do INPE, e de aquisição gratuita por meios eletrônicos
e também do ArcGis 10®.
As imagens de 2014, foram primeiramente georeferenciadas, no Software ArcGis
10®, baseado numa imagem Geocover, corrigida da NASA S22-20-2000 (GLCF, 2013).
Em seguida, as imagens foram recortadas a partir de um Shapefile do limite do
município. Dispondo das imagens devidamente recortadas, foi realizada então a composição
das bandas, utilizando as bandas 3(B), 4(G) e 5(R), para a melhor diferenciação dos
elementos para as três primeiras décadas e, no caso de 2014, utilizou-se das bandas 4(G),
5(R) e 6(B). Antes da composição colorida, aplicou-se contraste histograma sobre cada
banda monocromática. A segmentação foi executada pelo método de crescimento de
regiões (SCHOENMAKERS et al., 1991). Optou-se pelo nível de similaridade 08, com área
mínima ou limiar para segmentação de 20 pixels. Após a segmentação, efetuou-se o
treinamento do sistema, por meio do qual foram obtidas amostras de regiões
representativas de acordo com suas áreas de segmentação, para cada uma das classes
definidas. Em seguida, foram submetidas à análise da matriz de confusão para ajustes.
Posteriormente, efetuou-se a classificação das imagens, com a utilização do
classificador de histograma com limiar de aceitação de 99%. Para a definição das sete
classes: área de lavoura temporária (agricultura), vegetação de pastagem, solo exposto (área
com superfície do solo nu, com mineração ou áreas desmatadas), área de várzea (áreas
alagadas ou úmidas), área urbana (construções residenciais, comerciais, rodovias), corpo
hídrico (rios, córregos, lagoas intermitentes e permanentes, nascentes), utilizou-se o Manual
técnico de uso da terra (IBGE, 2006), com pequenas adaptações nas classificações, devido à
escala utilizada e à área bastante diversificada (Figura 1).
36 - Volume II

Figura 1. Chave de interpretação de classes utilizadas e suas descrições

Fonte: MANUAL TÉCNICO DE USO DA TERRA (IBGE, 2006).


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 37

Para as áreas de atrativos turísticos (foram analisados os locais em que se


encontram os atrativos turísticos) e com a finalidade de refinar o mapa de uso do solo,
procedeu-se à edição matricial e a pós-classificação, permitindo, assim, transformar a
imagem classificada em uma imagem de modelo temático (Tabela 1). Por fim, foram
confeccionados mapas temáticos a partir das imagens classificadas, gerando os mapas de
uso e ocupação do solo dos anos de 1984 a 2014, utilizando o módulo Scarta 5.2.6.

Trabalho de campo

O trabalho de campo realizado no mês de junho de 2016, período de estação seca,


também chamada de verdade terrestre2, teve como objetivo a identificação das
características espectrais encontradas na imagem e a comparação destas com os tipos de
cobertura e uso do solo existente na região. Para essa fase da pesquisa foram utilizados
como apoio os seguintes materiais: caderno de campo, GPS (Global Positioning System),
imagem reproduzida na escala de 1:450.000 contendo interpretação preliminar via Google
Earth, máquina fotográfica Nikon EH-69P 42X Optical Zoom. Além disso, foram levadas em
consideração informações sobre a área e roteiro de percurso para observações dos alvos a
serem identificados segundo os padrões de forma, cor, arranjos e texturas, e ainda, foi
realizada a contratação de guia local para acompanhamento das áreas identificadas e
contextualização de informações sobre os aspectos ou modificações ocorridas nos pontos
analisados.
Após o trabalho de campo e com base nas informações observadas, aliadas aos
registros fotográficos (Figura 2), realizou-se o processo de interpretação da imagem de
satélite.
Para Florenzano (2011), a relação de interação do homem com a máquina e o
conhecimento sobre o objeto (ou tema) de estudo (relevo, vegetação, área urbana, turismo)
facilitam o processo de interpretação e aumentam o potencial de leitura de uma imagem
sobre a área geográfica

2
Para qualquer tipo de classificação, seja visual ou assistida por computador, com qualquer algoritmo que se possa utilizar,
sempre irão aparecer dúvidas com respeito à classificação obtida. Para sanar este problema, o procedimento usual é visitar
o local, para a verdade terrestre. FLORENZANO, T.G. Iniciação em sensoriamento Remoto. Oficina de Textos, 2007, p. 37.
38 - Volume II

Resultados e discussão

A partir da metodologia selecionada foi possível realizar mapas temáticos


representando a evolução do processo de uso e ocupação do solo de Bonito – Mato Grosso
do Sul, de acordo com a Figura 4.
Analisando as imagens de uso e ocupação do solo (Figura 4), assim como a
quantificação da evolução das áreas (Tabela 1), observam-se grandes mudanças na
paisagem da região realizadas pelo processo de ocupação do espaço ao longo das quatro
últimas décadas.
Em 1984, os recursos não eram utilizados como atrativos, enquanto em 2004 e
2014, a maior parte dos atrativos de Bonito já estava em operação. Em porcentagem de
crescimento da área de atrativos turísticos, nota-se uma taxa de quase 100% entre as duas
décadas, indo de 3,32km2 em 2004 para 5,78km2 em 2014.
Concomitantemente, observa-se um acréscimo da área urbana, que em 1984
apresentava 2,50km2 e em 2014, 6,36km2, um aumento de 39,30%. É importante notar que
alguns loteamentos foram implantados após 2004, como o Loteamento Tarumã e o
Loteamento Portal do Rio Formoso (Foto 1), assim como o Loteamento Solar dos Lagos, que
foi uma obra embargada por mais de oito anos, devido à fragilidade da área – o local é
conhecido como “Calcarinho” (Foto 2).
Por outro lado, as classes que destacam o valor de conservação ambiental
demonstraram resultados referentes à perda de vegetação natural florestal, mostrando uma
redução de aproximadamente 800km2 entre as décadas de 1984 e 2014, bem como,
referente aos corpos hídricos, uma redução de quase 8km2. E ainda, o aumento de área de
solo exposto em 2014, em uma área aproximada de 4,21km2.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 39

Figura 2. A Foto 1 corresponde ao Loteamento Tarumã e a Foto 2 ao Loteamento Solar dos Lagos

Foto 1 Foto 2

Fonte: LEONEL, 2016.

Figura 3. Chaves de interpretação: 1) Solo exposto, e ao fundo plantação de Eucaliptus (Eucalyptus sp.); 2) Área de lavouras
temporárias – milho (Zea mays), e ao fundo empreendimento turístico; 3) Corpo hídrico – Córrego Anhumas; 4 e 5)
Empreendimento turístico; 6) Corpo hídrico – Rio Formoso; 7) Contraste de tonalidade entre tipos de pasto, à beira da
estrada observa-se um misto de capim braquiária (Brachiaria decumbens) e capim rabo de burro (Andropogon
condensatus); 8) Corpo hídrico – Rio Miranda (Divisa de municípios)

1)

2)

Fonte: LEONEL, 2016.


40 - Volume II

Na Figura 4, podem ser observados os mapas temáticos referentes ao uso e


ocupação do solo do município de Bonito, além da implantação dos atrativos turísticos, para
os anos de 1984, 1994, 2004 e 2014.

Figura 4. Mapa do uso e ocupação do solo, e atrativos turísticos do município de Bonito/MS

Fonte: LEONEL, 2016.

Referente aos aspectos do surgimento de outras economias, os dados


demonstraram um acréscimo substancial de áreas de pastagens e lavouras temporárias, esta
última com um acréscimo de 160km² (Tabela 2).
Os mapas apresentam um aumento considerável da área urbana. Chama a atenção
o acréscimo de vegetação de pastagens em detrimento da vegetação natural do município,
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 41

fato preocupante, considerando que a natureza é o produto vendido pelo ecoturismo da


região.

Tabela 2. Evolução do uso e ocupação do solo no município de Bonito/MS, nos anos de 1984, 1994, 2004 e 2014

1984 1994 2004 2014


Classes de Área Área Área Área
Área Área Área Área
Uso do Solo (Km²) (Km²) (Km²) (Km²)
(%) (%) (%) (%)
Vegetação
2.786,15 56,50 2326,97 47,19 2163,63 43,88 1994,93 40,45
Natural
Florestal
Vegetação
2073,07 42,04 2497,98 50,66 2670,96 54,17 2699,95 54,75
de
Pastagens
2,50 0,05 3,85 0,08 5,46 0,11 6,36 0,13
Área Urbana
Áreas de
0,00 0,00 1,52 0,03 3,32 0,07 5,78 0,12
Atrativos
Turísticos
Áreas de
4,67 0,09 10,86 0,22 35,16 0,71 162,51 3,30
Lavouras
Temporárias
Corpos 28,77 0,60 28,54 0,58 22,54 0,46 21,76 0,44
Hídricos
Áreas de 35,73 0,72 61,12 1,24 29,82 0,60 35,39 0,72
Várzea
Solo 0,00 0,00 0,05 0,00 0,00 0,00 4,21 0,09
Exposto
4930,89 4930,89 4930,89 4930,89
100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Leonel, 2016.

A maior pressão sobre a vegetação pode ser explicada levando-se em consideração


o fato de a atividade pecuária ter se desenvolvido nas últimas décadas. Conforme dados do
IBGE (2004), o plantel de cabeças de gado cresceu de 58.523 em 1970, para 236.267 em
1985. Em 1995, havia 303.506, em 2004, 350.923, e em 2010 foram contabilizadas 401.933
cabeças de gado (SEMAC/IMASUL ,2010). A lavoura cresceu 35 vezes, enquanto a pastagem
cresceu 1,3 vez. Pode-se verificar, portanto, que houve grande alteração no uso do solo ao
correlacionar a evolução das classes mapeadas no período analisado, sobretudo, no que
tange o uso do solo como área urbana e áreas de atrativos naturais (Figura 5).
42 - Volume II

2
Figura 5. Comparação da área em km , e das classes temáticas de uso e ocupação do solo, entre 1984 e 2014

Fonte: LEONEL, 2016.

O aumento da área urbana justifica-se uma vez que ocorreram grandes


loteamentos para construção de residências, havendo também a abertura de vias terrestres,
como avenidas, ruas e logradouros. Assim, os principais contribuintes para essas mudanças
foram: a mudança da população do centro para regiões periféricas, a abertura de
loteamentos e a construção de condomínios. A diminuição dos recursos hídricos pode ser
justificada pelas obras de canalização e construção de vias terrestres sobre os principais
córregos.
Rezende (2004) procura realçar o caráter de fenômeno social do turismo,
envolvendo a prestação de serviços, em estreita relação com meio ambiente, que é capaz de
produzir impactos com dimensões positivas ou negativas de natureza tanto físico/ambiental
como econômico e cultural. Destaca, ainda, que tais impactos podem ser minimizados
através de planos que produzam ações voltadas para potencializar as suas dimensões
positivas e neutralizar as negativas.
Para Barioulet e Vellas (2000), um dos fatores que deve ser integrado ao
planejamento turístico são os indicadores de impactos sociais. Sendo de grande importância
selecionar percentuais que possam permitir uma mensuração da contribuição do projeto ao
desenvolvimento dos níveis socioeconômicos e educacionais das populações locais.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 43

Muitas vezes o processo de planejamento do turismo nas cidades tende a ser algo
mais simples, ou mesmo inexistente. De acordo com Hardy et al.(2002), é comum que as
destinações turísticas sejam criadas por empreendedores, empresas privadas ou mesmo
pelo governo nacional, e que todo o planejamento seja elaborado pelos mesmos.
Ressaltando, assim, que o ponto crítico dessas formas de planejamento é que todos os
afetados pelo plano devem ser efetivamente trazidos para o processo, e não incorporados
de forma meramente simbólica, pois dessa forma poderão gerar impactos negativos
futuramente.
Portanto, o processo de uso e ocupação do solo no município de Bonito deve
ocorrer de forma planejada, ou seja, seguindo diretrizes urbanísticas e de planejamento
ambiental e turístico, garantindo o máximo de proximidade à dinâmica natural dos sistemas,
pois consequentemente evitarão problemas relacionados à redução de vegetação e recursos
hídricos, elementos essenciais no uso de recursos para a sustentabilidade dos atrativos
comercializados em Bonito.

CONCLUSÃO

Podemos considerar o uso de geotecnologias na análise das modificações da


paisagem, a exemplo do estudo realizado nas imagens de 1984 a 2014. Cabe ressaltar a
importância de se levantar os impactos e os riscos ambientais de uma determinada região.
A análise das imagens realizada com o auxílio do software SPRING e ArcGIS
mostrou-se uma importante ferramenta para a avaliação da qualidade ambiental, visto que
conseguiu diferenciar as alterações ocorridas no decorrer das décadas, ou seja, diagnosticar
a realidade referente às classes estudadas, cabendo destaque para os atrativos turísticos.
Pode-se verificar visualmente uma grande alteração no uso do solo, com
decréscimo de vegetação, dos corpos hídricos e aumento do solo exposto e da área urbana.
A maior pressão sobre a vegetação advém de investimentos em suas maiores economias,
pecuária e agricultura.
Este estudo poderá ser utilizado como referência para futuros trabalhos que
tenham a intenção de comparar a qualidade ambiental no município, bem como
compreender a evolução das atividades implementadas na localidade. Cabe aqui destacar
44 - Volume II

que a presente pesquisa verificou que a pecuária e a agricultura – atividades que levam à
deterioração dos recursos naturais, como vegetação, recursos hídricos e surgimento de solos
expostos – têm se destacado, em detrimento das atividades turísticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Montréal: Groupe Développement, 2000. 21 p.

BEHR, M. F. V. Serra da Bodoquena: história, cultura, natureza. Campo Grande: Free, 2001. 143p.

BOGGIANI, P. C. Ciência, meio ambiente e turismo em Bonito: a combinação que deu certo? In:
BANDUCCI, A.; MORETTI, E. C. (Eds.). Qual paraíso: turismo e ambiente em Bonito e no Pantanal.
Campo Grande: Chronos, 2001. p. 151-165.

BOGGIANI, P. C.; COIMBRA, A. M.; GESICKI, A. L.; SIAL, A. N.; FERREIRA, V. P.; RIBEIRO, F. B.; FLEXOR,
J. M. Tufas Calcárias da Serra da Bodoquena. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T.;
WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. (Edit.) Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. 1999. Disponível
em: <http://sigep.cprm.gov.br/sitio034/sitio034.htm>. Acesso em: 05 set. 2015.

FLORENZANO, T.G. Iniciação em sensoriamento remoto. São Paulo: Oficina de Textos, 2007, p. 37.

FLORENZANO, T. G. Imagens de Satélite para estudos ambientais. 3 ed. São Paulo: Oficina de Texto,
2011, 114p.

GLCF. Global Land Cover Facility. Earth Sciense. Data Interface. 2014. Disponível em:
<http://glcfapp.glcf.umd.edu:8080/esdi/index.jsp>. Acesso em: 15 set. 2013.

HARDY, A.L.; BEETON, R.J.S. & PEARSON, L. Sustanible tourism: na overwiew of the concept and its
position in relation to conceptualization of tourism. Jornal of Sustainable Tourism, Clevedon, v. 10,
n. 6, p. 475-496, 2002.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manuais técnicos em geociências. 2ed. Rio de
Janeiro: IBGE, 2006. n. 7. 91p.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mapa de Biomas e de Vegetação. Brasília,


[Online], 2004. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/21052004biomashtml.shtm>. Acesso em: 09
set. 2014.

PNRH. Plano Nacional de recursos hídricos: prioridades 2015-2015. Brasília: CNRH/CTPNRH, 2006.
120p.

REZENDE, C. F. Ecoturismo como instrumento de desenvolvimento: limites, desafios e


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Lavras, Lavras, 2004.

SCHOENMAKERS, R. P. H. M.; WILKINSON, G. G.; SCHOUTEN, T. E. Segmentation of remotely-sensed


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Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 45

Symposium, 1, 1991, Espoo. Anais… Espoo: IGARSS`91, 3-6, 1991. Digest. Piscataway, IEEE, v.2,
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SEMAC/IMASUL. Secretaria de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia e


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VARGAS, I. A. A gênese do turismo em Bonito. In: BANDUCCI JÚNIOR, Á.; MORETTI, E. C. (orgs.). Qual
paraíso? Turismo e ambiente em Bonito e no Pantanal. São Paulo: Chronos/UFMS, p. 127-149. 2001.
46 - Volume II

Capítulo 3

DETERMINACIÓN DE LA RELACIÓN USO/POTENCIAL PARA LAS


TIERRAS DEL MUNICIPIO GUISA, EN CUBA, CON EL APOYO DE LAS
GEOTECNOLOGIAS

Adonis M. Ramón Puebla


Órgano de Montaña Región Sierra Maestra, Cuba
adonism@granma.inf.cu

Eduardo Salinas Chávez


Programa de Posgraduación en Geografía, UFGD, MS, Brasil
esalinasc@yahoo.com

Leusnier Martínez Quintana


Órgano de Montaña Región Sierra Maestra, Cuba
omsm@granma.inf.cu

Célida Suarez García


Órgano de Montaña Región Sierra Maestra, Cuba
omsm@granma.inf.cu
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 47

DETERMINACIÓN DE LA RELACIÓN USO/POTENCIAL PARA LAS


TIERRAS DEL MUNICIPIO GUISA, EN CUBA, CON EL APOYO DE LAS
GEOTECNOLOGIAS

Adonis M. Ramón Puebla


Órgano de Montaña Región Sierra Maestra, Cuba
adonism@granma.inf.cu

Eduardo Salinas Chávez


Programa de Posgraduación en Geografía, UFGD, MS, Brasil
esalinasc@yahoo.com

Leusnier Martínez Quintana


Órgano de Montaña Región Sierra Maestra, Cuba
omsm@granma.inf.cu

Célida Suarez García


Órgano de Montaña Región Sierra Maestra, Cuba
omsm@granma.inf.cu

INTRODUCCIÓN

Los Sistemas de Información Geográfica (SIG) son cada vez más utilizados en los
procesos de planificación económica, territorial y ambiental. En el proceso de la
determinación de los potenciales agropecuarios y silvícolas de un territorio, y su relación
con el uso actual, los SIG constituyen un instrumento indispensable. Hoy en día, es imposible
imaginar un plan de gestión y ordenación del territorio, a cualquier escala, sin la utilización
de esta herramienta, que brinda la posibilidad de direccionar el proceso de ocupación
territorial, respetando las potencialidades y las restricciones de los recursos naturales.
En este contexto, los SIG ofrecen la posibilidad de que una misma base de datos
numéricos y cartográficos pueda ser articulada y manipulada de forma eficiente y fácil, en
función de determinar las potencialidades de los recursos naturales y evaluar los conflictos
que se producen en los escenarios actuales de ocupación del territorio. A tenor con esto, los
SIG posibilitan modelar diferentes escenarios y evaluar los resultados de las políticas que se
48 - Volume II

piensan aplicar, y de esta manera, determinar las consecuencias probables de una


determinada política de gestión ambiental o territorial.
Es a partir de esas oportunidades que brindan los SIG, en conjunción con los
sensores remotos – que ofrecen imágenes actualizadas de alta resolución –, que se decidió
realizar una evaluación de los potenciales agropecuario y silvícola del municipio Guisa, y su
relación con el uso actual del recurso suelo. El municipio Guisa, ubicado al este de Cuba, en
la provincia de Granma, ocupa principalmente áreas de montañas de la Sierra Maestra,
constituyendo un territorio de grandes contrastes, donde interactúan lo complejo y lo
diverso, con limitaciones y dificultades para su asimilación económica. Sin embargo, la
región tiene una capacidad propia de desarrollo a partir de condiciones y recursos
naturales que permiten usos muy particulares, y la presencia de un tipo de economía
diferente en el contexto regional, además de sus variados y destacados valores ecológicos e
histórico-culturales.
Si realizamos un análisis acerca de los principales conflictos y problemas
ambientales que se manifiestan en este territorio, se puede señalar que los mismos están
relacionados con la forma en que se ha llevado a cabo la asimilación socioeconómica, la
intensidad del uso que se ha dado a sus recursos y la eficacia de los resultados obtenidos a
partir de ello. En este municipio, caracterizado de forma general por una ocupación y uso
del suelo en el que predominan elevados niveles de explotación y producción agrícola y
forestal, sin tener en cuenta los potenciales naturales y las limitaciones de sus suelos, se ha
producido una degradación ambiental que repercute en problemas de deforestación,
erosión y perdida de la capacidad agro-productiva de los suelos. Lo que a su vez condiciona
la reducción de los beneficios económicos obtenidos por el uso de sus recursos naturales y
lleva a que se empiece una nueva ocupación económica del territorio.
En ese sentido el análisis de la relación uso/potencial permite comprender una
de las causas que originan la problemática ambiental de un territorio determinado. Pues de
no existir diferencias sustanciales entre el uso que hace el hombre del suelo y el potencial
del mismo, los problemas de utilización se limitarían a la forma (intensidad, alcance,
aplicación de tecnología y capacidad de gestión) y no se presentarían incompatibilidades
por la sobrexplotación de los recursos que ofrece el territorio, ni tampoco se
desaprovecharían espacios que hoy pudieran producir los beneficios económicos y sociales
que requiere el municipio.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 49

Partiendo de lo anterior, y en vistas de la entrega de tierras consideradas ociosas


para la producción agropecuaria y silvícola que se viene realizando en el municipio Guisa, se
decidió que el objetivo de este trabajo fuera determinar el potencial agropecuario y
silvícola del territorio con el apoyo de las geotecnologías, y con ello, la función productiva
de cada espacio de acuerdo a sus propiedades naturales y sus limitaciones – que sería la
línea base para establecer qué se puede y qué no se puede hacer en cada área.
Posteriormente, se compara esta línea base con el uso actual que se le está dando a cada
área, para obtener los niveles de intensidad de uso, con la finalidad de brindarles a los
decisores del territorio un estudio y cartografía del mismo, que les sirva de herramienta para
direccionar la entrega de tierras a nuevos solicitantes y la rectificación del destino de las
parcelas de tierras que ya han sido entregadas en el contexto de esa nueva ocupación
agropecuaria y forestal del municipio.

METODOLOGÍA

La evaluación de la relación uso/potencial se enmarca en la estrategia de


planificación del uso de la tierra, mediante la cual se busca la localización óptima de las
actividades, el manejo de los recursos naturales y de las áreas protegidas, la gestión de las
áreas sometidas a presiones inadecuadas, el desarrollo de sistemas productivos sostenibles,
y la adecuación y recuperación de tierras. Constituye el eje fundamental de esta evaluación
la optimización del uso actual del territorio, consolidando las formas de uso compatibles con
las cualidades y aptitudes del mismo e incentivando la búsqueda de alternativas para
aquellas que son inadecuadas.
Por otro lado, estos estudios se basan en la concepción del potencial de las
tierras empleado por diversos especialistas y organismos internacionales desde hace
algunas décadas, y que forma parte de una amplia concepción de los estudios complejos y
de síntesis del territorio, desarrollada de forma destacada por los geógrafos alemanes en la
llamada Escuela del Potencial – llamada Síntesis del Paisaje por especialistas de la ex-
Checoslovaquia, Polonia, España y Rusia (HAASE, 1991, MANNSFELD 1983). Esta concepción,
además, guarda relación con la Planificación Ecológica de los franceses y con los estudios de
vocación del suelo de los norteamericanos, que puede ser definido como: “la capacidad
productiva, informativa y regulativa de los paisajes según la asociación de determinadas
50 - Volume II

posibilidades y condiciones actuales para diferentes tipos de utilización, con el objetivo de


satisfacer las necesidades de la sociedad” (SALINAS, 1991).
Para este trabajo, el potencial agrícola y silvícola se define como:

aquellos territorios que por sus características generales, relativas a elementos


específicos (pendientes, suelos, altura, humedecimiento, y otros), presentan
valores destacados que permiten el uso agrícola o silvícola con altos niveles de
productividad y eficiencia, sin que ello conlleve a su degradación y la perdida
de otros valores de importancia como son: calidad del agua, suelos, etc.
(SALINAS, YANES, ARCEO, 1990; ARCEO, SALINAS, 1994)

Las técnicas de trabajo aquí propuestas se basan en la amplia difusión y aplicación


de la Percepción Remota (MONTAS, RIVERA 2003) y su aplicación a los estudios ambientales,
la cual está avalada por múltiples trabajos. Pompa (2009), por ejemplo, realiza un análisis
de la deforestación en ecosistemas montañosos del noreste de México y las
especificaciones técnicas que da CONAFOR (2007) para el monitoreo de la cobertura de la
vegetación, basado en imágenes de satélite MODIS entre otros (ROSETE, et. al., 2014).

El uso de los Sistemas de Información Geográfica (SIG) para la realización de esos


estudios es de gran ayuda. Los SIG permiten contar con una serie de elementos, tanto en el
almacenamiento y actualización de la información de los componentes, como la creación
de una base cartográfica única para cada uno de ellos, dándonos la posibilidad de integrar,
modelar y analizar toda la información necesaria con la exactitud requerida. Conviene decir
que estos sistemas tienen ya una larga historia en los estudios territoriales y ambientales, y
permiten el procesamiento, análisis y cartografía de diversos fenómenos y procesos
naturales, económicos y sociales, y su distribución espacial, siendo considerados como un
sistema de información complejo y de gran eficacia, capaz de dar respuestas a cuestiones
actuales del uso de los territorios, así como orientar futuras actuaciones de agentes públicos
y privados, facilitando la toma de decisiones que afectan al medio ambiente (BOSQUE,
1996; BUZAI, BAXENDALE, 2012; MIRAGLIA, CALONI, BUZAI, 2015).
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 51

Área de estudio

El municipio Guisa, con una extensión de 588.1km2, se localiza en la porción


noroeste de la provincia Granma (Figura 1), estando caracterizado según Viña, et al. (2000)
por una estrecha llanura premontañosa hacia el norte del municipio, que se va
transformando escalonadamente, en dirección sur, en alturas y montañas que van desde los
150m hasta más 1500m de altitud, formadas por rocas vulcano-sedimentarias y
carbonatadas en menor medida. Desde el punto de vista climático, la región está bajo la
influencia de los vientos alisios con humedecimiento alto y estable, baja evaporación y
temperaturas frescas.
La hidrografía es rica y variada, estando formada en lo fundamental por dos ríos de
primer orden y más de quince de segundo y tercer orden, así como presenta tres embalses,
uno de estos destinado al abasto de agua a la población y el resto a la agricultura. La
cubierta pedológica está caracterizada por la presencia de suelos pardos, aluviales y, en
menor medida, fersialíticos de alta agroproductividad hacia las zonas llanas y de
premontañas, y suelos ferralíticos lixiviados y rojo amarillentos de baja agropoductividad
hacia las montañas bajas y medias. En las zonas llanas con carso desnudo y fuertes
pendientes asociadas a las montañas bajas y medias se encuentran suelos esqueléticos de
baja agroproductividad.

Figura 1. Situación geográfica del área de estudio

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.


52 - Volume II

La vegetación está formada en un 65.6% por bosques con diversos niveles de


degradación, que van desde los semideciduos en las zonas más bajas del territorio hasta el
monte nublado y la pluvisilva montana en las montañas. El resto de la vegetación lo
conforman cafetales, matorrales secundarios derivados de la degradación de las áreas
boscosas, y el abandono de zonas de cultivos y pastizales. En menor medida, hay áreas de
cultivos y pastizales en las zonas llanas de mayor agroproductividad.

Evaluación de la relación uso/potencial en el municipio Guisa

El procedimiento utilizado se basa en la determinación, en primer lugar, de los


potenciales agropecuario y silvícola, mediante el análisis de las variables implicadas en las
potencialidades y en las limitantes para el aprovechamiento económico del territorio,
buscando que el uso del mismo se adecue a las normas ambientales vigentes en el país.
Realizando para ello el análisis de las variables: inclinación de la pendiente, características
de los suelos y cobertura forestal actual. Posteriormente, se determinó la faja forestal
hidroreguladora de los embalses, ríos y arroyos del territorio, estableciendo las limitantes
para el uso de los mismos, así como las áreas protegidas declaradas bajo régimen de
protección estricta. Finalmente se realiza la comparación entre el uso actual y el potencial
para evaluar la situación actual del uso de los suelos en el territorio, como se ilustra de
forma general en la Figura 2.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 53

Figura 2. Procedimiento metodológico para la determinación de los potenciales agropecuario y silvícola

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.

Generación del mapa de inclinación de la pendiente

El mapa de inclinación de la pendiente se generó a partir del modelo digital del


terreno con un pixel de 30m, tomando como base los rangos de pendientes establecidos
como limitantes para el uso agrícola y forestal en la Ley No 85 “Ley Forestal”, publicada en la
Gaceta Oficial de la República de Cuba (1998). También se tomó nota de la Norma Cubana
66 del año 2000, “Calidad del suelo. Suelos forestales. Utilización y Clasificación”, de la
Oficina Nacional de Normalización (2000), la cual establece para la silvicultura de
producción y protección en Cuba el tipo de suelo e intervalo de pendiente para los suelos
54 - Volume II

montañosos y premontañosos, donde el factor limitante es la pendiente. Y por fin, se ha


tenido en cuenta las limitantes y rangos para los distintos cultivos y pastizales en zonas
montañosas, que se establecen a partir del Manual técnico para las actividades
agropecuarias y forestales de las montañas (2003), y de las indicaciones tomadas de
Benítez, Ramírez, Machado (2006) y Garea, Soto, Vantour (2007).

Agrupamiento de los suelos en función de su aptitud agropecuaria

Los tipos de suelos, tomados del mapa de suelos 1: 25 000, del municipio fueron
agrupados en 2 categorías (para facilitar el análisis dentro de los SIG): suelos óptimos, que
agrupa los suelos aluviales, pardos, fersialíticos, rendzinas; y los poco óptimos, que agrupa
los ferralíticos rojo-amarillentos, ferralíticos rojo lixiviados y los suelos esqueléticos.,
Siempre partiendo de su aptitud natural y sus limitaciones (acidez, poca profundidad,
lavado y pedregosidad, entre otras) para los distintos tipos de usos agropecuarios.

Determinación de la cobertura vegetal predominante

La cobertura actual se determinó a partir de las imágenes satelitales Landsat 8


LDCM del año 2014, las cuales están constituidas por bandas independientes en formato
TIFF. La imágenes fueron importadas para generar un solo archivo y hacer posible su
manipulación con el software ERDAS, mediante la aplicación de técnicas de clasificación
digital, tanto del tipo no supervisado (por isodata) como supervisado. Esta última implica
una fase de edición de firmas o muestreo de pixeles de entrenamiento, y una fase de
asignación con apoyo de información de campo.

Determinación de las fajas hidroreguladoras de los embalses y ríos

Las fajas hidroreguladoras se delimitaron a partir de la red hídrica del


territorio para los ríos y embalses principales, mediante la determinación del área buffer
(área de influencia) en función de las regulaciones establecidas por la Norma Cubana 23
de 1999, “Fajas forestales de las zonas de protección a embalses y cauces fluviales”, de la
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 55

Oficina Nacional de Normalización (1999). La Norma establece el ancho de la faja forestal


obligatoria para cada categoría de río y embalse con las dimensiones siguientes:
 En los embalses de abasto a la población: 100m, medidos en proyección
horizontal a partir del Nivel de Aguas Máximo (NAM);
 En los embalses dedicados a otros usos: 30m, medidos en proyección horizontal a
partir del NAM;
 En los ríos de primer orden: 15m en ambas márgenes, medidas en proyección
horizontal a partir del borde del cauce natural;
 En los ríos de segundo orden en adelante: 10m en ambas márgenes, medidas en
proyección horizontal a partir del borde del cauce natural.

Delimitación de las áreas protegidas del territorio

La delimitación de las áreas protegidas se obtuvo a partir del inventario existente


en el Centro Nacional de Áreas Protegidas y aquellas áreas que por su categoría excluyen las
actividades agropecuarias, automáticamente se excluyeron del análisis de los potenciales:
agropecuario y forestal productivo independientemente de la pendiente o el potencial
agropecuario de los suelos.

Establecimiento de los potenciales para el territorio

Para la determinación de los potenciales, se hizo una valoración integrada de las


características climáticas y pedogeomorfológicas del territorio, así como de la cobertura
actual del suelo, los tipos de cultivos y las actividades agroproductivas y silvícolas
tradicionales y no tradicionales que pueden desarrollarse. Quedaron excluidas de las áreas
productivas, aquellas áreas incluidas dentro de un área protegida de categoría estricta y las
áreas correspondientes a las fajas forestales de las zonas de protección a embalses y cauces
fluviales, las cuales se incorporaron a las de protección independientemente de la pendiente
y de la aptitud de los suelos.
56 - Volume II

Evaluación uso/potencial

Para obtener la evaluación del uso del territorio, se toma como referencia el trabajo
realizado por Ramón, Salinas, Acevedo (2011), que compara las aptitudes de uso (usos
potenciales) y los usos actuales a partir del análisis de la concurrencia espacial de
actividades agropecuarias y forestales incompatibles, evaluando el nivel de conflictos en
función de la propuesta de clasificación que se detalla en el Cuadro 1.

Cuadro 1. Propuesta de clasificación de los conflictos de uso


Nivel de conflicto Descripción
Óptimo El uso actual refleja la aptitud potencial del territorio
Subutilizado El uso actual está por debajo del potencial de uso del territorio
Incompatible El uso actual lo hacen completamente incompatible con la vocación del territorio
Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.

RESULTADOS

Los rangos de inclinación de la pendiente para la determinación del potencial


agropecuario, mostrados en el Cuadro 2, se establecieron a partir del Manual técnico para
las actividades agropecuarias y forestales de las montañas (2003), y de las indicaciones
tomadas de Benítez, Ramírez, Machado (2006) y Garea, Soto, Vantour (2007). Como sigue:

Cuadro 2. Rangos de inclinación de la pendiente para la determinación del potencial agropecuario


Rango de pendiente Uso potencial recomendado
0-8% Hortalizas, granos y viandas
8-10% Malanga, calabaza y boniato
10-25% Pastizales para la ganadería
25-30% Café y cacao
30-50% Café y cacao en suelos óptimos con fuertes medidas de conservación del suelo
Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.

Para la actividad silvícola se establecieron rangos a partir del análisis de la Ley


Forestal Nº 85 (1998) y de la Norma Cubana 66, del año 2000 (Cuadro 3).
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 57

Cuadro 3. Rangos de inclinación de la pendiente para la determinación del potencial silvícola


Rango de pendiente Uso potencial recomendado
0-25% Silvicultura mecanizada de producción
25-50% Silvicultura no mecanizada para la producción
> 50% Silvicultura no mecanizada para la protección

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.

A partir de estos parámetros, se reclasificó el modelo digital de elevación del municipio en


los rangos de uso potencial que se muestran en la Figura 3.

Figura 3. Rangos de pendiente para cada uso potencial

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.


58 - Volume II

Establecidos los rangos idóneos para cada actividad, se procedió a analizar la


aptitud de los suelos en función de su aptitud natural y sus limitaciones (acidez,
profundidad, lavado y pedregosidad, entre otras). Para aquellos suelos que fueron
clasificados en función de estas variables como óptimos, se recomienda la actividad
agropecuaria; mientras para los suelos con baja aptitud para la actividad agropecuaria,
clasificados entonces como poco óptimos, se recomienda las actividades silvícolas (Figura
4).

Figura 4. Agrupamiento de los suelos según su aptitud para la producción agropecuaria y silvícola

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 59

A continuación, se le resta a las áreas agropecuarias y silvícolas de producción las


fajas hidroreguladoras de los ríos y embalses en función de las regulaciones establecidas por
la Norma Cubana 23, de 1999. Se establece, así, para el embalse Guisa una faja forestal de
100m, de 30m para el resto de los embalses, 15m para los ríos Bayamo y Cautillo, y de 10m
para el resto de las corrientes fluviales del municipio (Figura 5).

Figura 5. Faja forestal hidroreguladora de los principales ríos y arroyos del municipio

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.


60 - Volume II

Luego se les restan a las zonas agropecuarias y de producción silvícola, las áreas
protegidas del municipio. En este estudio fueron identificadas en el territorio tres áreas
protegidas, las cuales se encuentran aprobadas a nivel nacional y forman parte del Sistema
Nacional de Áreas Protegidas (SNAP): la Reserva Florística Manejada (RFM) “Monte
Cupaynicú”, la Reserva Ecológica (RE) “El Gigante”, y el Parque Nacional “La Bayamesa”
(Figura 6). Todas con categoría de manejo estricto, lo que limita el uso agropecuario y
silvícola.

Figura 6. Áreas protegidas del municipio

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 61

Posteriormente, se determinaron los tipos de cobertura a partir del mapa de


formaciones vegetales y de la interpretación de la imagen Landsat 8 LDCM del 2014,
sometida a un análisis multiespectral y a la aplicación de reglas de decisión basadas
estadísticamente para la identificación de la cobertura del suelo de cada pixel en la imagen.
Esta tarea fue acompañada de trabajo de campo para la comprobación, en el terreno, de
los tipos de cobertura identificadas en la imagen satelital.
Para el caso de los cafetales, por no ser posible su identificación por los métodos
anteriormente señalados, se procedió a la toma de esta información a partir del mapa de
uso del suelo del año 2014, y su comprobación y actualización en el terreno. Obteniéndose
la siguiente distribución de coberturas: 38 436.5ha de distintos tipos de bosques; 5
158.4ha de cafetales; 2 682ha de cultivos, pastizales naturales y herbazales; 9 639.5ha de
matorrales y vegetación arbustiva; 1 229ha de superficie hídrica; y 1 687ha de zonas
urbanas y asentamientos, como aparece reflejado en la Figura 6.
62 - Volume II

Figura 6. Tipos de cobertura del suelo

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.

La importancia de contar con un mapa de cobertura actualizado radica en conocer


qué cobertura predomina en los distintos espacios del municipio, y de ahí, teniendo en
cuenta los parámetros anteriormente analizados, definir cuáles pueden ser las posibles
intervenciones a realizar. Por ejemplo, en los sitios que exista cobertura boscosa y los suelos
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 63

y la pendiente sean óptimos para la actividad agropecuaria, la misma no será remplazada


para desarrollar dicha actividad, se abogara siempre por proteger los recursos forestales y
recomendar, en estos, actividad silvícola acorde a la categoría del bosque.
Finalmente, se procedió a realizar la superposición de las diferentes capas en el
SIG y el análisis integrado de todas las variables obtenidas, con lo cual se determinaron para
cada sector del municipio los potenciales agrícola y silvícola, dándole prioridad a los
potenciales relacionados con la producción de alimentos. Se estableció, así, un margen de
flexibilidad en los tipos de potenciales recomendados, siendo posible establecer en una
unidad de baja inclinación de la pendiente cualquiera de las actividades agropecuarias o
silvícolas que se encuentran por encima de ella en cuanto a la inclinación de la pendiente,
no recomendándose este comportamiento a la inversa. Es decir, se pueden establecer
cafetales en pendientes de 0-8%, pero no se recomienda cultivar hortalizas, viandas y
granos en sectores con pendientes de 25-30%. Quedan excluidas dentro de la
determinación de estos potenciales las áreas protegidas y las áreas correspondientes a las
fajas forestales de las zonas de protección a los embalses y cauces fluviales.
La Figura 7 muestra la distribución de los potenciales agropecuario y silvícola
determinados para el municipio Guisa. En la leyenda se encuentran identificados con
números y colores los potenciales determinados en el territorio. Su extensión y parámetros
tomados en cuenta para su definición se detallan a continuación:

Potencial agrícola

 3154.6ha de tierra son aptas para el cultivo de hortalizas, granos y viandas en


pendientes entre 0-8% y suelos óptimos, ocupados actualmente por herbazales
y/o matorrales o campos de cultivos ya establecidos;
 548.8ha de terrenos son aptas para el cultivo de malanga, calabaza y boniato
(que admiten dentro de las hortalizas y viandas un grado mayor de inclinación de
la pendiente), con pendientes entre 8-10% y suelos óptimos, ocupados
actualmente por herbazales y/o matorrales y campos de cultivos ya establecidos;
 3325.4ha de tierra tienen aptitud para el desarrollo de la ganadería en
pendientes entre 10- 25% y suelos óptimos, ocupados actualmente por
herbazales y/o matorrales y campos de cultivos ya establecidos;
64 - Volume II

 548.3ha de terrenos son aptas para el cultivo del café y el cacao en pendientes
entre 25-30% y suelos óptimos, ocupados por herbazales y/o matorrales y
campos con cultivos ya establecidos;
 1592.8ha de terrenos tienen potencial para el cultivo de frutales, café y cacao,
con pendientes entre 30-50% y suelos óptimos, ocupados actualmente por
herbazales y/o matorrales y campos de cultivos ya establecidos. En este caso, se
requiere la aplicación de fuertes medidas de conservación de los suelos en las
plantaciones que se establezcan.
o Existen en el territorio áreas que deben mantenerse. Dentro de estas,
tenemos:
 614.9ha de plantaciones establecidas de café y cacao en pendientes entre 0-30%
y suelos óptimos;
 968.9ha de plantaciones establecidas de café y cacao en pendientes entre 30-
50% y suelos óptimos, en terrenos que requieren fuertes medidas de
conservación de suelos.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 65

Figura 7. Distribución del potencial agropecuario y silvícola en el municipio Guisa

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.


66 - Volume II

Potencial silvícola

En el caso del potencial silvícola, en algunas áreas de cafetales que se


encuentran en tierras poco adecuadas para su rendimiento óptimo, aquí se contabilizan:
 357.4ha de tierra en las que se recomienda el remplazo de las plantaciones de
café por la silvicultura, para la producción, en áreas con pendientes de 0-25% y
suelos poco óptimos;
 796.8ha de tierra en las que se recomienda el remplazo de las plantaciones de
café por la silvicultura, para la producción, en áreas con pendientes de 25-50% y
suelos poco óptimos;
 103.5ha de tierra en las que se recomienda el remplazo de las plantaciones de
café por la silvicultura, para la protección, con especies predominantes de la
formación boscosa, en áreas con pendientes superiores al 50% y suelos óptimos
y/o poco óptimos, así como las correspondientes a las fajas forestales de las
zonas de protección a embalses y cauces fluviales. De estos, 25.85ha
corresponden a las fajas forestales de los ríos del municipio.

Dentro de las áreas con potencial para la reforestación, existen en el territorio


áreas que carecen de cobertura boscosa y no son aptas, por sus condiciones edafo-
geomorfológicas, para la actividad productiva. Dentro de estas, tenemos:

 4ha de tierra para la reforestación con especies predominantes de la formación


boscosa original, para la producción, en áreas con pendiente de 0-50%, suelos
poco óptimos y cobertura de herbazales, cultivos, pastizales y matorrales;
 5165ha de tierra para la reforestación con especies predominantes de la
formación boscosa original, para la protección, en áreas con pendientes
superiores al 50%, suelos poco óptimos y cobertura de herbazales, cultivos,
pastizales y matorrales; a las cuales se suman las áreas protegidas y las
correspondientes a las fajas forestales de las zonas de protección a embalses y
cauces fluviales. De estos, 56.1ha corresponden al río Bayamo, 75.8ha al resto de
los ríos importantes del municipio, y 80.8ha a los embalses del municipio.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 67

Las potencialidades silvícolas para las áreas que conservan la cobertura boscosa
con distintos niveles de degradación, por su ubicación y niveles de pendiente, son:
 9560.6ha de bosques aptos para la silvicultura mecanizada con especies de la
formación boscosa, para la producción, en aquellas áreas con pendiente inferior
al 25%;
 12758.2ha de bosques aptos para la silvicultura no mecanizada con especies de
la formación boscosa, para la producción, en aquellas áreas con pendientes entre
25-50%;
 16238.5ha de bosques aptos para la silvicultura no mecanizada con especies de
la formación boscosa, para la protección, en aquellas áreas con pendientes
superiores al 50%, así como las incluidas dentro de áreas protegidas y las
correspondientes a las fajas forestales de las zonas de protección a embalses y
cauces fluviales.

Evaluación de la relación uso/potencial.

Para la realización del análisis de esa relación, se tomó como punto de partida
el mapa de uso del suelo del municipio, confeccionado por la empresa GEOCUBA
Investigación y Consultoría 2013. Este mapa se ha elaborado a partir de la combinación de
dos fuentes principales: imágenes satelitales SPOT-5, del año 2009, y una generalización de
los datos contenidos en el Catastro Nacional, de los años 2008 y 2013 (Figura 9).
Esta información se superpuso con el mapa de potenciales del municipio,
obteniéndose que: de la superficie total del municipio, en el 62.4% existe
correspondencia entre los potenciales determinados y el uso actual; en el 26.6% de la
superficie resulta incompatible el potencial con su uso actual; el 3.5% de la superficie se
encuentra subutilizado; y el resto del territorio se corresponde en pequeños porcientos con
área de explotación minera, recursos hídricos y asentamientos poblacionales (Figura 10).
68 - Volume II

Figura 9. Mapa de uso del suelo del municipio Guisa

Fuente: GEOCUBA INVESTIGACIÓN Y CONSULTORÍA, 2013.


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 69

Figura 10. Mapa de relación uso/potencial de las tierras del municipio Guisa

Fuente: MARTÍNEZ; RAMÓN; SALINAS; SUAREZ, 2017.

Al realizar un análisis más detallado, se puede apreciar que dentro de la relación


uso/potencial considerada como óptima, unas 36 695.3ha, al 5.27% de esta área –
correspondiente a la zona central del Consejo Popular Macanacú y la parte central del
Consejo Popular de Corralillo – se le recomienda valorar su uso actual. Eso pasa porque, a
70 - Volume II

pesar de que tiene potencial para la siembra de granos, cultivos varios, viandas y hortalizas
(el potencial más limitado en el municipio), esta área se utiliza actualmente para pastos y
forrajes, habiendo otras zonas del territorio con potenciales para el desarrollo ganadero y la
siembra de pastos y forrajes.
En el caso donde la relación uso/potencial es incompatible con su estado actual,
correspondiente a 15 657.5ha de la superficie del municipio, eso se debe a la presencia de
usos agropecuarios en pendientes superiores a las establecidas para esos usos, o por
tratarse de las fajas hidroreguladoras de los ríos y embalses. En estos casos, se recomienda
medidas tendientes a evaluar el uso actual que se le está dando a las áreas,
fundamentalmente en el Consejo Popular Victorino, para su corrección y/o mitigación.
Por otro lado, 2 078.1ha del territorio se encuentran subutilizadas. En este caso la
relación uso/potencial está por debajo del uso que puede admitir, concentrándose
fundamentalmente en la zona norte del Consejo Popular de Macanacú y en la zona este del
Consejo Popular de Corralillo, territorios donde se encuentran los mayores potenciales
agropecuarios y ganaderos del municipio y en la actualidad están cubiertos de herbazales y
matorrales espinosos.

CONCLUSIONES

Las condiciones físico-geográficas le confieren al municipio de Guisa características


particulares que requieren un profundo análisis para su adecuado aprovechamiento en
función de la producción agropecuaria y silvícola.
La metodología propuesta y su interrelación con las herramientas que ofrecen los
SIG y la Percepción Remota, permiten modelar y estimar con bastante exactitud los lugares
adecuados para el desarrollo agropecuario y silvícola en un territorio dado, así como
determinar la relación uso/potencial.
Los análisis realizados permitieron evaluar y determinar el estado de las fajas
hidroreguladoras de los embalses, ríos y arroyos del municipio, constituyéndose en una
valiosa herramienta para los decisores que intervienen en su protección y rehabilitación.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 71

Se determinó que el territorio a pesar de ser montañoso, cuenta con


potencialidades para el desarrollo agropecuario y silvícola sin violar lo legalmente
establecido en la normativa y legislación ambiental cubana.
Finalmente, se determinó que de la superficie total del municipio, el 62.4% de las
áreas con potencial agropecuario y silvícola se corresponden con su uso actual; en el 26.6%
de la superficie del territorio hay incompatibilidad entre los potenciales determinados y el
uso actual; el 3.5% de la superficie del territorio se encuentra subutilizado; y el resto del
territorio se corresponde, en pequeños porcientos, con área de explotación minera,
recursos hídricos y asentamientos poblacionales.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFÍCAS

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Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 73

Capítulo 4

APLICAÇÃO DA ABORDAGEM DE ANÁLISE MULTICRITERIAL NA


ELABORAÇÃO DE MAPA GEOECOLÓGICO PARA O
RECONHECIMENTO DE ÁREAS COM FRAGILIDADE E
POTENCIALIDADE AMBIENTAL

Lucas Prado Osco


Doutorando, UNOESTE, Brasil
pradoosco@gmail.com

Ana Paula Marques Ramos


Professora Doutora, UNOESTE, Brasil
anaramos@unoeste.br

INTRODUÇÃO

Em análises ambientais, tais como as de zoneamentos ou fragilidade ambiental, é


recorrente a aplicação de inferência geográfica para a elaboração de produtos cartográficos
(ex.: mapa síntese) que oferecem suporte ao processo de tomada de decisão. Conforme
Câmara et al. (2004), a inferência geográfica é uma técnica que permite obter uma nova
informação sobre determinada área, a partir de outra(s) informação(s) dessa respectiva
área, e que pode ser aplicada por diferentes métodos, entre os quais a lógica Fuzzy. Todavia,
a aplicação da inferência por lógica Fuzzy, no mapeamento geoecológico, é ainda pouco
explorada. Um mapa geoecológico consiste em uma síntese dos diferentes elementos da
paisagem natural (MATEO-RODRIGUES et al., 2013) e sua função é comunicar se
determinado meio tem capacidade de resistir, ou não, às intervenções antrópicas que
podem ocorrer nesse ambiente.
Entende-se que o ambiente natural recebe impactos negativos constantes das
atividades humanas, o que acarreta em uma série de degradações de seu estado original. A
remoção da vegetação por queimadas e desmatamento, a salinização do solo por manejo
inadequado, e a contaminação dos recursos hídricos por meio de despejo de poluentes são
74 - Volume II

exemplos comuns dessa relação com os recursos naturais. No entanto, é preciso levar em
consideração que o meio natural também possui fragilidades intrínsecas, e processos como
os de intempere, erosão, atividades sísmicas, dentre outros, atuam constantemente e
afetam os constituintes da natureza. Diante disso, o meio ambiente apresenta reações
diferentes ante os impactos, devido à própria capacidade de resiliência (MATEO-
RODRIGUES; SILVA; CAVALCANTI, 2013).
A ciência Geoecológica, ao derivar das correntes anglo-saxãs geomorfológicas
(ABREU, 1983), surge como um suporte ao entendimento da capacidade do meio em tolerar
os impactos provenientes da atividade antrópica (MATEO-RODRIGUES; SILVA; CAVALCANTI,
2013). A Geoecologia consiste-se na interpretação das complexas relações ambientais por
meio de uma observação holística, objetivando diagnosticar os problemas decorrentes das
atividades humanas sobre o meio físico e, a partir desse diagnóstico, oferecer suporte ao
planejamento ambiental (AGA, 2005; SILVA, 2012).
Dentre as mais variadas formas de planejamento, está o uso de geotecnologias
voltadas para o auxílio do monitoramento do ambiente, as quais têm beneficiado e
otimizado o processo de tomada de decisão por parte dos órgãos e entidades responsáveis
(CÂMARA; MONTEIRO; MEDEIROS, 2004). A EMBRAPA (2014) define geotecnologias como
um conjunto de técnicas e métodos científicos aplicados à análise, à exploração, ao estudo e
à conservação dos recursos naturais, considerando diferentes escalas e a informação
espacial. As geotecnologias também são usadas para estudar a paisagem (topografia,
hidrografia, geologia e geomorfologia) e variáveis ambientais, bem como analisar e auxiliar
na prevenção de desastres naturais, além de gerenciar e de monitorar a atividade humana.
Diante disso, o emprego das geotecnologias na análise ambiental promove avanços nos
campos de diagnóstico de áreas, como no caso da fragilidade do meio natural (AMARAL;
ROSS, 2009). A produção de mapas com temática ambiental envolve a integração de dados
que representam as diferentes características físicas e geográficas da área, porém, esse
processo de integração de dados, de diferentes formatos e/ou fontes, requer,
primeiramente, uma fase de compatibilização, também denominado de padronização de
dados.
Câmara, Monteiro e Medeiros (2004) relatam que a combinação de dados espaciais
para descrever e analisar interações em um meio ambiente possibilita a redução nas
ambiguidades das interpretações, que normalmente ocorrem quando da análise individual
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 75

dos dados, e isso favorece o processo de tomada de decisões por especialistas. Os autores
relatam que a integração de dados multifontes e/ou formatos, para a geração de novos
produtos cartográficos, pode ocorrer pelo emprego de diferentes técnicas de análise
geográfica, denominadas de métodos de inferência geográfica. Dentre esses métodos,
destacam-se: inferência por lógica Booleana, na qual o mapa síntese consta de uma
representação temática qualitativa com duas classes somente (ex.: favorável e não
favorável; apta e não apta); e os métodos que geram mapa síntese quantitativo, tais como a
inferência por média ponderada, por lógica Fuzzy, inferência Bayesiana e por Redes Neurais
Artificiais.
Os dados em conjuntos Fuzzy podem ser manipulados por métodos lógicos, com a
intensão de selecionar e combinar estes com outros dados de variados conjuntos. As
operações básicas de subconjuntos Fuzzy consistem em uma generalização das operações
básicas de lógica binária, que podem ser utilizadas para se obter um dado resultante da
sobreposição dos demais dados (CÂMARA; MONTEIRO; MEDEIROS, 2004). Destacam-se,
entre as operações Fuzzy, os operadores: AND, OR, Soma Algébrica, Produto Algébrico,
Gama e Soma Convexa. O uso da lógica Fuzzy foi proposto por Lofti Zadeh, em 1960, como
uma forma de modelar incertezas da linguagem natural (zonas de transição), pois a natureza
não é booleana (0 e 1) (CÂMARA; MONTEIRO; MEDEIROS, 2004). Portanto, esse método
auxilia na tomada de decisões, uma vez que não se restringe apenas ao verdadeiro ou falso,
mas leva em consideração os diferentes níveis de verdadeiro e falso (JUNIOR, 2015).
Na literatura, diversos estudos são encontrados a respeito do emprego da
inferência Fuzzy na integração de dados, com o objetivo de produzir novas informações que
auxiliem o processo de tomada de decisão em estudos ambientais. Como exemplos de
temas de trabalho, tem-se: a fragilidade ambiental em municípios (DONHA; SOUZA;
SUGAMSOTO, 2003); a escolha de áreas para implantação de aterro sanitário (NUNES et al.,
2011); zoneamento de áreas susceptíveis à deslizamentos (JÚNIOR, 2015); a identificação de
zonas vulneráveis à erosão costeira (SILVA et al., 2013); a detecção de áreas com fragilidade
ambiental (GONÇALVES; ARAÚJO; IMAÍ, 2016); dentre outros.
Destaca-se, ainda, que em estudos que envolvem análise multicritério, isto é, a
consideração de diferentes fatores que contribuem para a tomada de decisão, como é o
caso daqueles desenvolvidos no campo da geoecologia, a necessidade dos especialistas é
determinar a contribuição relativa de cada um desses critérios (ou variáveis). Para abordar
76 - Volume II

este problema, Thomas Saaty propôs, em 1978, uma técnica de escolha baseada na lógica da
comparação pareada, denominada Técnica AHP (Processo Analítico Hierárquico - Analytic
Hierarchy Process) (SAATY, 1990). Conforme Câmara, Monteiro e Medeiros (2004), o método
oferece a possibilidade de se estabelecer e organizar um modelo racional para a integração
dos dados, uma vez que possibilita avaliar a importância relativa entre critérios. Segundo os
autores, atribui-se uma evidência para cada mapa de entrada. Esta evidência recebe um
peso diferente em relação à sua importância para com a hipótese. Como resultado, o mapa
ponderado pode ser ajustado com o intuito de refletir melhor o julgamento do especialista,
de acordo com os pesos de importância previamente definidos para cada um dos critérios.
Depois da comparação par-a-par dos mapas de entrada (variáveis) pelo método
AHP, no qual um critério de importância relativa é atribuído ao relacionamento entre estes
mapas, conforme uma escala de importância pré-definida (ex.: 0 a 5, 1 a 9), o mapa síntese é
gerado pela combinação linear ponderada das variáveis e seus respectivos pesos gerados
pela técnica AHP. O mapa síntese é, assim, caracterizado como um mapa quantitativo que
descreve a variação contínua do fenômeno em estudo no espaço. Para tanto, uma vez que
os dados se encontram padronizados com a lógica Fuzzy, ainda é necessário ponderar os
fatores que contribuem com a decisão. O método aplicado no presente trabalho emprega a
normalização das variáveis por meio da lógica Fuzzy, a ponderação entre essas variáveis a
partir do método AHP e, em última instância, a aplicação da álgebra de mapas para realizar
uma combinação linear ponderada das variáveis e de seus respectivos pesos. O resultado
final é um mapa síntese quantitativo, que descreve a variação contínua e numérica do
fenômeno no espaço.

OBJETIVO

Apresentar o procedimento metodológico empregado na elaboração de mapa


geoecológico, utilizando inferência geográfica apoiada por análise multicritério, para a bacia
hidrográfica do Rio Santo Anastácio.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 77

MÉTODO DE ANÁLISE

Área de estudo

A bacia hidrográfica do Rio Santo Anastácio encontra-se inserida na UGRHI-22


(Unidade Hídrica de Gerenciamento de Recursos Hídricos), na região do Pontal do
Paranapanema, ao extremo oeste do estado de São Paulo. Esta bacia (Figura 1) ocupa uma
área total de 2.106,7km², abarcando a porção territorial de 13 municípios. Na cabeceira da
bacia, encontra-se um reservatório responsável por abastecer aproximadamente 30% da
cidade de Presidente Prudente (JUNIOR; LEAL; DIBIESO, 2012). Além disso, a bacia é
considerada a mais susceptível do estado de São Paulo aos processos erosivos (IPT, 1994;
GUEDES et al., 2008), o que contribui para a sua fragilidade natural.

Figura 1: Localização geográfica da bacia hidrográfica do Rio Santo Anastácio, SP

Fonte: OSCO; RAMOS (2017)


78 - Volume II

Compilação dos dados cartográficos

Para a elaboração do mapa geoecológico, utilizaram-se os seguintes dados


cartográficos:

a) Dados cartográficos da geologia, geomorfologia e pedologia da UGRHI-22, na


escala 1:250.000, disponibilizado pelo Comitê de Bacias Hidrográficas do Pontal
do Paranapanema (CBH-PP), no projeto Relatório Zero da Bacia Hidrográfica do
Pontal do Paranapanema (CPTI, 1999);
b) Rede de drenagem para o estado de São Paulo, na escala 1:50.000, ano de
2010, disponibilizada pela Coordenadoria de Planejamento Ambiental da
Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (CPLA/SMA);
c) Modelo Digital de Elevação (MDE), com resolução espacial de 30 metros,
disponibilizado pela National Aeronautics and Space Administration (NASA).

Todos os dados foram processados no ArcGIS 10.2 e organizados em um banco de


dados geográficos, adotando sistema de referência SIRGAS 2000 e sistema de projeção UTM
(Universal Transverso de Mercator), fuso 22 Sul e meridiano central de -51 graus.
Inicialmente, fez-se um recorte dos dados a partir de uma máscara (arquivo
vetorial), para abranger apenas a área da bacia hidrográfica em estudo. Em seguida, iniciou-
se o processo de padronização das variáveis por lógica Fuzzy.

Padronização das variáveis por Funções de Pertinência Fuzzy

Para a padronização do conjunto de dados de geologia, geomorfologia e pedologia


da bacia em estudo, em primeira instância, fez-se a transformação desses dados no formato
vetorial para matricial; processo denominado de rasterização. Considerou-se o tamanho da
célula (pixel) equivalente a 50 metros em razão das escalas dos dados (1:250.000). Na
sequência, fez-se a transformação de mapa temático qualitativo em um mapa temático
quantitativo. De acordo com Câmara, Monteiro e Medeiros (2004), a transformação de um
campo temático (mapa temático qualitativo) para um campo numérico (mapa temático
quantitativo) recebe o nome de ponderação, e essa transformação é normalmente aplicada
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 79

quando há a exigência de se determinar ou associar um valor, indicando um peso a cada


uma das classes temáticas representadas. Conforme os autores, o valor 0 (zero) corresponde
a uma hipótese testada não satisfeita, enquanto o valor 1 (um) corresponde a essa hipótese
satisfeita.
No presente estudo empírico, adotou-se a amplitude binária para padronizar as
classes temáticas, isto é, os mapas de entrada (variáveis) utilizados na composição do mapa
síntese, que representa o estado geoecológico da bacia em estudo. Essa padronização foi
realizada por funções de pertinência Fuzzy, na qual a aproximação do valor 1 (um) condiz
com a hipótese de maior fragilidade ambiental. Optou-se por utilizar a lógica Fuzzy na
padronização dos dados por sua característica intrínseca de considerar zonas de transição
entre duas classes temáticas avaliadas. Assim, aos dados de geologia, geomorfologia e
pedologia da bacia, atribuíram-se valores (Tabela 1) correspondendo aos níveis de
fragilidade das classes temáticas identificadas em cada mapa, sendo que o valor 0 (zero)
representa um meio totalmente estável, e o valor 1 (um), um meio totalmente fragilizado.

Tabela 1: Pesos atribuídos às feições geológica, geomorfológica e pedológica da bacia em estudo


Pedologia Geologia Geomorfologia
Classe temática Peso Classe temática Peso Classe temática Peso
LV29 0,3 KaV 0,7 111 1,0
LV49 0,3 KaIV 0,5 212 0,3
PVA1 0,5 KaI 0,3 213 0,5
PVA2 0,5 Ksa 0,9 234 0,7
PVA4 0,5 Kc 0,1
PVA5 0,5
PVA10 0,5

Fonte: OSCO; RAMOS (2017)

Pedologia: No mapa pedológico (CPTI, 1999), as classes PVA1, PVA2, PVA4, PVA5 e PVA10
pertencem aos grupos dos solos Podzólicos Vermelho-Amarelos, denominados como
Argissolos Vermelho-Amarelos (EMBRAPA, 1999), enquanto as classes LV29 e LV49
correspondem aos Latossolos Vermelhos. Os valores (Tabela 1) para as classes de solo
variaram pouco devido às semelhanças que ambos os solos possuem em relação à
composição textural. O Argissolo, contudo, possui valores maiores devido à sua
espacialização, que ocorre normalmente sobre um relevo mais acidentado, como também
devido à sua menor profundidade, menor quando comparado ao Latossolo (NUNES, 2002). O
80 - Volume II

Latossolo, por sua vez, concentra-se mais nos topos do relevo, sobre áreas com menor
declividade, favorecido, portanto, pelo processo da pedogênese local.

Geologia: No mapa geológico (CPTI, 1999), as classes KaV, KaIV e KaI pertencem à Formação
Adamantina (ALMEIDA et al., 1981). Nessa Formação, em específico nas Unidades KaV e KaIV,
existe a presença de acúmulos de água devido à diferenciação litoestratigráfica do material
rochoso, que afloram sobre as encostas mais íngremes (OLIVEIRA, OSCO, BOIN, 2015;
NUNES, 2002). A classe Ksa remete à Formação Santo Anastácio, caracterizada pela
irregularidade de sua estrutura (MELO; STEIN; ALMEIDA 1982). Atribuiu-se o maior valor a
essa classe dentre as demais formações, pois a irregularidade ocasiona menor coesão à
rocha, tornando-a mais frágil aos processos erosivos. Por último, a classe Kc correspondente
à Formação Caiuá, e recebeu valor baixo devido a sua composição estrutural, de resistência
intermediária em relação aos processos da intempere.

Geomorfologia: No mapa geomorfológico (CPTI, 1999), as classes encontradascorrespondem


às Planícies Aluviais, Colinas Amplas, Colinas Médias e aos Morrotes Alongados e Espigões
(IPT, 1981). As Planícies Aluviais possuem o valor mais elevado devido à proximidade com os
recursos hídricos. As Colinas Amplas, por apresentarem maiores distâncias entre os
interflúvios do que as Colinas Médias, e por coincidirem com um relevo menos acidentado,
receberam valores mais baixos. Os Morrotes Alongados e Espigões, apesar de controversos
ao relevo da região (ROSS, MOROZ, 1997; NUNES et al., 2011), concentram-se em áreas da
bacia com relevo mais acidentado, justificando o valor apresentado na Tabela 1.

Declividade: Os dados do Modelo Digital de Elevação (MDE), com resolução espacial de 30


metros, foram utilizados na elaboração do mapa de declividade da bacia hidrográfica em
estudo. A grade MDE foi reamostrada para 50m, e os valores de declividade encontrados
variaram entre 0% e 52%. A padronização do mapa de declividade para o intervalo 0 e 1 foi
realizada aplicando-se a função de pertinência Fuzzy sigmoide crescente (Figura 2), por meio
da seguinte equação (1) (KAINZ, 2007):
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 81

(1)

Figura 2: Função sigmoide crescente

Fonte: OSCO; RAMOS (2017)

Optou-se por esta função por promover uma transição suave entre os valores (KAINZ, 2007).
Os dados de declividade devem ser baixos para corresponderem a um ambiente mais
estabilizado. Na região da bacia, valores de declividade acima de 15% proporcionam a
exposição de freáticos locais e afloramento de Neossolos Litólicos, conforme descritos em
Carvalho (1997) e Oliveira, Osco e Boin (2015). Valores de declividade superiores a 15%,
normalmente, revelam um relevo mais acidentado e acabam por oferecer riscos de erosão.

Drenagem: Quanto à padronização do conjunto de dados da rede de drenagem,


inicialmente, deve-se destacar que o dado se encontra em forma vetorial, na geometria de
linha. Assim, no programa ArcGIS 10.2, aplicou-se uma ferramenta de geoprocessamento
que calcula a distância euclidiana entre as linhas. No produto, já em raster, atribuiu-se o
valor de 50m para o tamanho da célula (pixel). Os valores encontrados variaram de 0 a
2.791,45m. A padronização dos dados da rede de drenagem foi realizada aplicando a função
sigmoide crescente (Figura 3), considerando os valores entre 0 e 1. Na equação que descreve

deve-se assumir o valor 1 à va


82 - Volume II

(2)

Figura 3: Função sigmoide decrescente

Fonte: OSCO; RAMOS (2017)

Esta função sigmoide consiste-se no inverso da equação anterior (1). Para o estudo de caso,
foi a mais apropriada, uma vez que para distância da drenagem, quanto mais próxima do
canal d’água, maior a fragilidade (portanto, valor mais próximo de 1). Escolheu-se uma
distância mínima de 200 metros em razão da recomendação da Portaria MINTER 124/80,
que determina que quaisquer atividades altamente impactantes devem se encontrar a, no
mínimo, 200 metros de coleções hídricas.

Ponderação das variáveis pelo Método AHP

O método de comparação pareada AHP, proposto por Saaty (1990), tem por finalidade
organizar e avaliar diferentes níveis de importância entre critérios distintos, medindo a
consistência dos julgamentos (CÂMARA; MONTEIRO; MEDEIROS, 2004). Deste modo, o
modelo requer uma estruturação hierárquica, e deve comparar os critérios de acordo com a
importância relativa, as preferências e a probabilidade entre dois critérios. Para tanto,
utiliza-se uma escala de valores, conforme apresentada na Tabela 2, a seguir.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 83

Tabela 2: Escala de valores para a comparação pareada pelo método AHP

Intensidade Importância Explicação


1 Igual Ambos os fatores contribuem igualmente
3 Moderada Um fator é ligeiramente mais importante que o outro
5 Essencial Um fator é claramente mais importante que o outro
7 Demonstrada Um fator é fortemente favorecido e sua relevância foi demonstrada
9 Extrema A evidência que diferencia os fatores é da maior ordem possível
2,4,6,8 Intermediário Valores intermediários entre julgamentos

Fonte: CAMARA; MONTEIRO; MEDEIROS (2004)

O valor dos pesos obtidos pelo método AHP indica a importância relativa dos
critérios analisados e permite regular a compensação entre eles. Neste estudo, foram
comparados os dados da distância da rede de drenagem, da declividade, dos tipos de solos,
das formas de relevo e da distribuição das rochas aflorantes na bacia hidrográfica (Tabela 3).
Esta comparação resultou em uma Razão de Consistência (CR) igual a 0,097, um valor
considerado aceitável uma vez que menor que 0,01 (CAMARA; MONTEIRO; MEDEIROS,
2004). Os pesos adquiridos com o método AHP foram computados no programa Spring
5.4.3, e a combinação linear dos fatores analisados foi aplicada na calculadora raster
disponível no programa ArcGIS 10.2.

Tabela 3: Comparação pareada entre os fatores e cálculo dos pesos


Fatores Drenagem Declividade Pedologia Geomorfologia Geologia Pesos
Drenagem 1 0,193
Declividade 5 1 0,530
Pedologia 5 3 1 0,083
Geomorfologia 5 2 1 1 0,081
Geologia 5 5 3 2 1 0,113

Fonte: OSCO; RAMOS (2017).

Álgebra de mapas para a elaboração do mapa síntese

O mapa síntese foi obtido através da representação do estado geoecológico da


bacia hidrográfica do Rio Santo Anastácio, a partir da combinação linear ponderada entre as
variáveis padronizadas (mapas), no intervalo de conjuntos Fuzzy definido, e seus respectivos
pesos gerados pelo método AHP (Tabela 3).
Cinco classes temáticas quantitativas foram definidas para a legenda do mapa
geoecológico, visando representar o estado geoecológico da área de estudo. Os valores de
84 - Volume II

tais classes correspondem a: estado Homeostático (em equilíbrio), de 0 a 0,2; estado


Moderado-Homeostático, maior que 0,2 a 0,4; estado Intermediário, maior que 0,4 a 0,6;
estado Moderado-Fragilizado, maior que 0,6 a 0,8; e estado Fragilizado, maior que 0,8 a 1. O
intervalo de valores dessas classes foi definido conforme abordagens da literatura (OSCO,
2015; MATEO-RODRIGUES, SILVA, CAVALCANTI, 2013).
Deve-se ressaltar que a elaboração de um mapa geoecológico pode abranger outros
componentes da paisagem natural, como o clima e a distribuição da vegetação. Entretanto,
no caso do presente estudo, o clima foi descartado em razão de sua influência mútua (BOIN,
2000) ao longo da extensão territorial da bacia do Rio Santo Anastácio. Em relação à
distribuição espacial da vegetação, esta pode ser obtida a partir de um mapeamento do uso
e cobertura da área. Porém, neste caso, optou-se por utilizar o mapa de uso e cobertura da
terra da bacia na validação dos resultados do mapa síntese. O mapa de uso e cobertura
utilizado é o disponibilizado gratuitamente pela Coordenadoria de Planejamento Ambiental
da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (CPLA/SMA). Os dados
correspondem à época em que a drenagem foi mapeada (ano de 2010), e foram obtidos a
partir da classificação de imagens do satélite Landsat 5, sensor TM, na escala 1:100.000.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 4 apresenta o mapa geoecológico produzido para a bacia hidrográfica do


Rio Santo Anastácio. É nítida a concentração de maiores valores (próximos de 1) nas áreas
ocupadas pela rede de drenagem, revelando maior fragilidade. A preocupação com este
recurso está relacionada à contaminação ou alteração da qualidade da água, à redução da
biota aquática e ao assoreamento dos cursos d’água. Além disso, o padrão da drenagem
também é uma evidência da distribuição dos diferentes tipos solos – afloramentos rochosos
– da forma do relevo, o que justifica a maior preocupação com este recurso em relação aos
demais.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 85

Figura 4: Estado geoecológico da bacia hidrográfica do Rio Santo Anastácio/SP

Fonte: OSCO; RAMOS (2017).

Através da Figura 5, nota-se que os índices de maior fragilidade (acima de 0,6)


encontram-se em áreas próximas aos cursos d’água, sobretudo, nas cabeceiras a leste da
bacia, local próximo à nascente do Rio Santo Anastácio, e na região a oeste da bacia, onde o
curso d’água recebe um grande volume de água ao aproximar-se de seu exutório. Isso
ocorre em razão da influência dos pesos geológicos e geomorfológicos sobre essas áreas,
uma vez que as nascentes a leste se encontram sobre rochas da Unidade Ka V, enquanto o
exutório a oeste coincide com as Planícies Aluviais, áreas dotadas de maior fragilidade. Nota-
se, também, que as demais parcelas da bacia hidrográfica se encontram bem definidas no
que diz respeito às classes intermediárias (de moderado-homeostático à moderado-
fragilizado). Estas áreas correspondem aos setores ocupados por relevos menos
acidentados, com baixos índices de declividade, e compostos por solos mais profundos. Cabe
destacar ainda que as áreas que remanescem em equilíbrio ou em estado de homeostasia,
localizadas no centro-sul e no extremo noroeste da bacia hidrográfica (Figura 4). Estas áreas
apresentam menor densidade de drenagem, com um relevo plano e pedogênese mais ativa
quando comparada à morfogênese. A região centro-sul é reconhecida como uma depressão
86 - Volume II

do ponto de vista geológico (GUEDES et al., 2008; PAULA e SILVA, CHANG, CAETANO-CHANG,
2003) ou um planalto formado por lagoas (STEIN, 1999).
As cinco classes dos estados geoecológicos podem ser analisadas quanto às
diferentes formas de uso ou cobertura das áreas da bacia, possibilitando a indicação da
aptidão ou inaptidão em resistir aos impactos das atividades antrópicas. Assim, o mapa de
cobertura (Figura 5) pode ser considerado uma forma de complementar o diagnóstico da
área da bacia hidrográfica em estudo. Na Tabela 4 é apresentada a extensão, em hectares
(ha) e em porcentagem, da área da bacia ocupada por cada classe temática de uso e
cobertura. Na Figura 6, tem-se uma representação gráfica dessa relação.

Figura 5: Cobertura da terra da bacia hidrográfica do Rio Santo Anastácio/SP

Fonte: OSCO; RAMOS (2017).


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 87

Tabela 4: Quantidade de área ocupada por diferentes coberturas

Estado geoecológico
Classe temática Homeostático M-Homeostático Intermediário M-Fragilizado Fragilizado
ha % ha % ha % ha % ha %
Arbórea 8,6 4,3 36,9 4,3 66,2 10,2 80,8 23,5 15,7 30,4
Herbácea arbustiva 166,9 83,7 715,1 83,2 513,5 79,3 233,0 67,7 30,9 59,7
Solo exposto 22,3 11,2 75,4 8,8 40,3 6,2 16,8 4,9 2,1 4,1
Área Úmida 0,7 0,3 3,4 0,4 4,3 0,7 1,7 0,5 0,3 0,6
Área Construída 1,0 0,5 28,1 3,3 21,4 3,3 8,3 2,4 1,6 3,1
Corpo d'água 0,0 0,0 0,5 0,1 2,1 0,3 3,8 1,1 1,1 2,1
Total 199,4 100,0 859,4 100,0 647,8 100,0 344,4 100,0 51,7 100,0

Fonte: OSCO; RAMOS (2017).

Figura 6: Gráfico dA relação (em %) entre o estado geoecológico e a cobertura da terra

Fonte: OSCO; RAMOS (2017).

Os resultados (Tabela 4) indicam que nas áreas de estado geoecológico fragilizado


apenas 30,4% estão protegidas, isto é, pertencem à classe temática “arbórea”, o que
denuncia a necessidade de uma maior proteção local, com práticas de reflorestamento e
preservação desses setores. As áreas da bacia correspondentes às classes “herbácea
arbustiva” e “solo exposto” encontram-se em maior porcentagem sobre os estados
geoecológicos homeostático (83,7%), moderado-homeostático (83,2%) e intermediário
(79,3%). Esta condição se deve, principalmente, às características dessas áreas que, por
apresentarem um relevo plano e pouco acidentado, favorecem o uso de maquinários
pesados no cultivo de culturas, temporárias ou permanentes, e a prática da pecuária.
Entretanto, atrelado ao uso de maquinários pesados estão as implicações causadas pela
88 - Volume II

predominância da monocultura, impactando direta e indiretamente o solo e os recursos


hídricos, pelo uso e aplicação indevidos de fertilizantes e defensivos agrícolas (agrotóxicos) e
pela redução de biodiversidade.
As classes temáticas “área úmida”, “área construída” e “corpos d’água”
representam uma porcentagem menor da cobertura total da área da bacia (Tabela 4). Para
as classes “área úmida” e “corpos d’água”, esperava-se uma presença maior nos estados
fragilizado e moderado-fragilizado em razão da proximidade com a rede de drenagem,
expectativa comprovada em campo, conforme mostra a Tabela 4. A classe que representa as
áreas construídas, por sua vez, encontra-se sobre as áreas mais frágeis devido às próprias
características de expansão e avanço territorial da região no decorrer dos anos, que
privilegiou sua proximidade com a linha férrea (MONBEIG, 1984).
As linhas férreas, por estarem sobre os divisores de água ao norte da bacia,
coincidem com as cabeceiras de drenagem dos cursos d’água, responsáveis por abastecer o
Rio Santo Anastácio. Isso, somado às características do relevo acidentado da área a leste,
assim como pela presença da malha urbana de Presidente Prudente, maior cidade da região
do Pontal do Paranapanema, permitiu a diferença na ocupação das últimas classes. A
fragilidade nesses setores pode, ainda, ser explicada pela presença de Altos Estruturais e
Altos Topográficos (NUNES, 2002).
A maioria das áreas construídas remanesce sobre as cabeceiras de drenagem
(Figura 6), o que sujeita tais zonas a um impacto negativo na qualidade dos recursos hídricos
disponibilizados pela bacia. Em razão da fragilidade atribuída a esses setores, as áreas
ocupadas por construções encontram-se em elevado risco, uma vez que a movimentação
constante de solos arenosos e o impacto gerado pelas atividades urbanas locais intensificam
o processo de degradação do geossistema.
Torna-se evidente, portanto, a necessidade de práticas voltadas ao planejamento
ambiental da bacia hidrográfica do Rio Santo Anastácio, uma vez que a possibilidade de
retorno em forma de recursos naturais, sobretudo dos recursos hídricos do Rio Santo
Anastácio e de seus afluentes, beneficiaria a região. Apesar da importância do reservatório
no abastecimento da cidade de Presidente Prudente atrair maior atenção dos órgãos e
entidades ambientais, não se deve negligenciar a proteção dos demais cursos d’água,
responsáveis por alimentar o rio principal.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 89

CONCLUSÃO

A aplicação da álgebra de mapas, pela combinação linear ponderada de variáveis


ambientais, permitiu obter um mapa síntese que integra dados referentes a diferentes
características físicas da bacia hidrográfico do Rio Santo Anastácio. A normalização das
variáveis, por meio de funções de pertinência Fuzzy no intervalo 0 e 1, e a seguinte
ponderação dessas variáveis a partir do método AHP, mostrou-se um procedimento eficaz
para se considerar os distintos componentes da paisagem natural, visando compreender as
fragilidades e potencialidades da área estudada.
Cabe ressaltar que embora o caso empírico utilizado não tenha tido por finalidade
discutir quais variáveis (critérios) seria melhor utilizar no mapeamento geoecológico, deve-
se lembrar que o resultado do mapa síntese é diretamente depende da inclusão, ou
exclusão, de cada variável e da atribuição dos pesos a cada uma. Não obstante, o uso de
variáveis como a geologia, geomorfologia, pedologia, rede de drenagem e declividade
demonstra-se satisfatório para identificar setores ambientalmente fragilizados ou
resistentes, a partir da concepção geoecológica. Isto se deve ao tipo de informação que está
contida nesses componentes, os quais representam uma síntese da relação sistêmica entre
os mais diversos processos naturais, que podem ser explicados por meio da teoria
geoecológica.
Conclui-se, por fim, que o uso de mapas representando as fragilidades ambientais
de uma área, tal como uma bacia hidrográfica, pode ser empregado na análise territorial, no
Zoneamento Ecológico Econômico, na definição de aptidão a diversas atividades antrópicas,
dentre outras. Tais mapas oferecem suporte a ações de ordenamento territorial para
quaisquer áreas, como, no caso analisado, áreas de bacia hidrográfica, com destaque para o
gerenciamento dos recursos hídricos. Sendo assim, o resultado dessa técnica representa
praticidade para os estudos envolvendo o planejamento ambiental.

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Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 93

Capítulo 5

COMPATIBILIZAÇÃO DE DADOS CARTOGRÁFICOS NAELABORAÇÃO


DE CARTAS DE UNIDADES DA PAISAGEM PARA O TURISMO DE
NATUREZA

Bruno de Souza Lima


Professor Mestre, UNEMAT, Brasil
bruno_mxsl@hotmail.com

Charlei Aparecido da Silva


Professor Doutor, UFGD, Brasil
charleisilva@ufgd.edu.br

Marcos Norberto Boin


Professor Doutor, UFGD, Brasil
boinmar@hotmail.com
94 - Volume II

COMPATIBILIZAÇÃO DE DADOS CARTOGRÁFICOS NAELABORAÇÃO


DE CARTAS DE UNIDADES DA PAISAGEM PARA O TURISMO DE
NATUREZA

Bruno de Souza Lima


Professor Mestre, UNEMAT, Brasil
bruno_mxsl@hotmail.com

Charlei Aparecido da Silva


Professor Doutor, UFGD, Brasil
charleisilva@ufgd.edu.br

Marcos Norberto Boin


Professor Doutor, UFGD, Brasil
boinmar@hotmail.com

INTRODUÇÃO

O turismo, enquanto disciplina da área das ciências sociais aplicadas, cada vez mais
é alvo de estudos voltados às diversas temáticas que compreende as atividades turísticas e
seus segmentos de mercado. Dentre tais temáticas, o planejamento apresenta-se como uma
das bases para o desenvolvimento do turismo, estudo que se faz importante para o
ordenamento e gestão dos diversos segmentos que compõem as práticas turísticas.
Dentre os elementos que são analisados no planejamento, a paisagem surge como
o suporte para o desenvolvimento de diversas atividades para o turismo, ou seja, estabelece
elementos base para a atratividade turística, seja pelo seu caráter cênico, seja pela
funcionalidade física dos diferentes elementos que as compõem. Portanto, compreender a
estruturação das paisagens é um importante procedimento para o reconhecimento de
potencialidades para diferentes segmentos turísticos.
Por outro lado, reconhecer tais estruturas requer uma abordagem para além do
âmbito empírico, ou seja, deve-se primar pelo levantamento de dados concretos acerca dos
elementos que formam as paisagens. Os dados cartográficos, assim, podem ser tomados
como base para realização de tal levantamento, de maneira que, por meio da espacialização
de dados secundários disponibilizados por diversas fontes – tais como IBGE, CPRM, IBAMA,
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 95

ICMBio, dentre outros –, seja possível realizar análises sobre o fenômeno em questão, neste
caso, sobre a importância da paisagem para o turismo.
Apesar da consistência do uso da cartografia para a representação e análises de
diversos fenômenos, é importante reiterar a necessidade da compatibilização dos dados
utilizados. Chama-se a atenção para tal fato uma vez que, para que os produtos derivados de
tal construção possuam coerência, é necessário considerar as escalas das diferentes
informações utilizadas na materialização das cartas ou mapas temáticos, conforme indica
Santos (2004). Elaborar materiais cartográficos sem considerar o uso de escalas compatíveis,
bem como a veracidade dos dados utilizados com relação à realidade, pode comprometer os
resultados finais da pesquisa.
O tema escala, amplamente debatido pela ciência geográfica, longe de ter sido
esgotado, ainda apresenta uma série de equívocos e incoerências em sua aplicação empírica.
Definir a escala possibilita a análise de um determinado fenômeno a partir de sua
significância, apresentando-o da maneira que traga maior sentido ao tema abordado
(CASTRO, 2014 p. 88). Ainda de acordo com Castro, op cit, “a escala é o artifício analítico que
confere visibilidade à parcela ou dimensão do real”. Neste mesmo sentido, acrescenta que
se trata de uma escolha subjetiva, que revela uma percepção do espaço total e dos
elementos escolhidos. Dessa forma, os diferentes levantamentos – sejam eles, dos
elementos abióticos, bióticos ou antrópicos – focam em determinados componentes que
lhes atribui um valor, ou elemento, o qual lhe dá sentido segundo a percepção do
pesquisador.
No caso das pesquisas de abordagens sistêmicas, como a análise da paisagem em
uma concepção estrutural, nas quais as inter-relações e interações de seus componentes são
de vital importância, a compatibilização da informação entre os diferentes temas ou áreas
do conhecimento é primordial, principalmente quando o objetivo é especializar
informações.
O impasse entre as informações coletadas e a escala utilizada pode ser resolvido
com a escolha de dados em uma mesma escala de representação e/ou com critérios de
levantamento nos quais as informações são condizentes com a escala, ou seja, informações
condizentes com a precisão gráfica3 da referida escala. Como naturalmente os dados
(shapes) são produzidos por distintos profissionais e objetivos diferentes, sempre há a
3
É a menor grandeza medida no terreno, capaz de ser representada em desenho na mencionada escala.
96 - Volume II

necessidade de compatibilização das informações. Aqui fica claro a necessidade e a


importância de compatibilizar as escalas em função dos objetos e objetivos idealizados no
processo de espacialização dos dados.
Tendo isso em vista, o presente estudo propõe uma reflexão sobre a
compatibilização de dados geográficos para a delimitação de unidades de paisagem para o
turismo de natureza, temática discutida a partir da análise da faixa central da Serra de
Maracaju, localizada no Mato Grosso do Sul. Na pesquisa em questão, notou-se que dados
como a litologia e as formas de relevo apresentavam incompatibilidade na representação do
quaternário e das planícies, além disso, observou-se a distribuição dúbia dos polígonos de
ambos os layers. A comparação entre as imagens de satélite, as cartas topográficas e os
demais layers temáticos, permitiu a identificação dessas inconsistências.
Por meio do uso do software ArcViewGis foi possível realizar tais correções de
dados, compatibilizar as bases de dados encontradas nos layers de solos e remanescentes de
vegetação nativa, os quais demonstraram ser condizentes com a realidade apresentada nas
paisagens da Serra, identificadas em trabalhos de campo. Os ajustes em laboratório
permitiram a compatibilização dos dados e, consequentemente, as informações se tornaram
aptas para cruzamento e elaboração de unidades homogêneas coerentes.
Visando ampliar as discussões dos temas que envolvem a compatibilização de dados
aqui tratada, o item a seguir busca contextualizá-la em relação ao turismo, ao turismo de
natureza, paisagem e dados secundários.

A RELAÇÃO ENTRE PAISAGEM E TURISMO: O USO DE DADOS GEOGRÁFICOS


NO LEVANTAMENTO DE POTENCIALIDADES TURÍSTICAS

O turismo, enquanto atividade econômica e social, permeia cada vez mais o


imaginário das pessoas, uma vez que é percebido enquanto prática que possibilita o
distanciamento dos afazeres cotidianos, visando diminuir o nível de estresse, gozar de
períodos de descanso, buscar adrenalina e radicalidade, ou simplesmente desprender-se das
atividades rotineiras do dia a dia.
Nesse contexto, o crescimento dos fluxos turísticos é uma realidade em diversas
partes do território brasileiro, e a natureza se apresenta como um dos principais pilares de
estruturação desse processo, afinal, trata-se de um excelente produto turístico. Em geral, os
consumidores privilegiam destinos que denotam aproximação com a natureza, como um
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 97

“retorno às origens”. Segundo Soldateli (2005), essa busca pelo contato com a natureza em
atividades turísticas é um fenômeno, o qual ganhou impulsão através do movimento
ambientalista iniciado no fim dos anos 1960.
Para Ruschmann (2005) e Luchiari (2007), o turismo contemporâneo é um grande
consumidor da natureza, uma vez que busca no contato com os ambientes naturais a
possibilidade de recuperação do equilíbrio psicofísico, contato o qual propicia a sensação de
liberdade, o contato sensorial, a educação ambiental, ou pela simples busca da natureza
enquanto locus de suas práticas de lazer. Além dessas premissas na busca por ambientes
naturais no turismo, o modismo e o status também podem ser ressaltados enquanto fatores
motivadores desta prática.
Perante tal concepção da apropriação de áreas naturais para atividades turísticas,
Eichenberg e Silva (2013) indicam que a natureza passa a ser cada vez mais utilizada
enquanto produto, sendo consumida por turistas que em geral possuem ligação com áreas
urbanas. Os autores destacam que estes turistas buscam áreas pouco alteradas pela ação
humana, as quais atuam como refúgios dos ambientes encontrados no cotidiano das
cidades.
É importante ressaltar que a natureza tratada aqui diz respeito à condição de
ambientes que remetem ao contato com estruturas formadas por elementos físicos, pouco
antropizados, ou seja, áreas com remanescentes de vegetação nativa, contato com corpos
d’água, pontos com afloramentos rochosos, áreas com relevante concentração de espécies
de fauna e flora, dentre outros aspectos, visto que tem se tornado cada vez mais difícil
encontrar áreas essencialmente naturais, ou seja, com pouquíssima alteração advinda de
ação humana.
A busca por tais áreas suscita a discussão de alguns termos como “turismo na
natureza”, “turismo de natureza”, “turismo de naturaleza”, “nature-based tourism”,
“turismo alternativo”, “ecoturismo”, “turismo verde”, entre outros; os quais são utilizados
para designar as várias atividades desenvolvidas na natureza. A denominação do turismo em
áreas naturais vem sendo abordada por autores como Lima(2017), Urry (2001), Ceballos-
Lascuráin (1996), Azevedo (2003), Galvão (2004), Silva (2006), dentre outros. Entretanto, o
que cabe ressaltar é o fato de que, no turismo de natureza, a paisagem exerce papel
fundamental nas práticas do segmento, seja por seu caráter cênico, seja por suas
98 - Volume II

características físicas, as quais permitem o desenvolvimento de diferentes atividades nos


ambientes naturais.
Por outro lado, é importante se ter claro que a paisagem, enquanto categoria
analítica, mantém intrínseca relação com o aspecto temporal, como indicam Ab’Saber
(2003), Santos (2006) e Martins (2012). Para estes autores, a paisagem pode ser entendida
como a representação das relações entre objetos do passado e do presente; a paisagem é,
de fato, o registro mais claro do acúmulo do tempo, seja na escala geológica, seja na escala
humana. Por tal razão, a paisagem pode ser tomada como uma herança, deixada ao longo
dos tempos, resultado dos processos fisiográficos e biológicos, herdada enquanto
patrimônio coletivo dos povos subsequentes, os quais devem (ou deveriam) primar pela
integridade de tais construções cênicas.
Além disso, Maximiano (2004) e Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007) indicam que,
apesar da paisagem ser estudada por meio de diferentes ênfases, os geógrafos em geral
concordam que a paisagem resulta da inter-relação entre os elementos físicos, biológicos e
antrópicos. Esta concepção permite compreender a paisagem não apenas como o resultado
dos elementos naturais, mas por meio de uma concepção sistêmica, deve-se observar a
paisagem enquanto comunidade territorial, caracterizada pela homogeneidade e inter-
relação dos elementos que compõem tal conjunto, sejam eles naturais ou socioculturais.
Compreendendo, assim, que a paisagem pode ser tomada como herança – formada
por meio do conjunto de inter-relações de seus elementos ao longo dos anos –, é possível
indicar a importância da investigação da paisagem quanto às possibilidades de sua
exploração, tanto estética quanto funcional, para a prática de atividades ligadas ao turismo
de natureza. Sobre a importância do estudo da paisagem, autores como Vilás (1992b),
Santos e Longhi (2008), e Chávez e Puebla (2013), apontam que este tipo de investigação
permite a realização de diagnósticos ambientais, preservação e manutenção das paisagens,
bem como norteia a avaliação e planejamento do uso adequado dos territórios, indicando
possíveis usos e ocupações das diferentes atividades, incluindo-se o turismo.
Avaliações das paisagens podem ser realizadas por meio da delimitação de
unidades homogêneas, as quais, em função da estruturação dos elementos que compõem
tais unidades, considerando seu funcionamento, inter-relação e interação, seja possível
designar conjuntos de paisagens com características semelhantes, permitindo relacionar
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 99

esses conjuntos com os diversos usos passíveis de serem desenvolvidos nestas unidades,
conforme indicam Vilás (1992a), Dalbem et al. (2005) e Soto-Bayó e Pintó (2008).
A delimitação das unidades de paisagem deve partir, então, do reconhecimento de
cada um dos elementos que as compõem e, posteriormente, por meio da estruturação da
paisagem, deve ser observada de que maneira esses elementos se inter-relacionam na
formação das paisagens. A segmentação de áreas homogêneas permite organizar pontos
dos territórios com características e funções em comum, delimitação realizada por meio de
critérios previamente estabelecidos, podendo indicar índices de fragilidades, potencialidade
ou outros apontamentos acerca das paisagens. Neste processo, a cartografia se apresenta
como produto, representando a espacialização dos dados, realizada por meio de métodos de
estratificação das diferentes feições de paisagens (SANTOS, 2004).
Assim, como discorrem Vilás (1992b), Ross (1994) e Azevedo (2003), o
levantamento de potencialidades ou fragilidades das unidades de paisagem mantém relação
com os diferentes elementos que as compõem, variando em função dos tipos de litologias,
formas de relevo, tipos de solo, rede de drenagem, remanescentes de vegetação nativa,
clima, fauna, uso e ocupação, dentre outros aspectos. Outrossim, é possível indicar que a
delimitação de áreas homogêneas pode ser utilizada no levantamento de potencialidades
turísticas das paisagens de uma determinada localidade.Para Vilás (1992a), é preciso
reconhecer as características físicas necessárias para o desenvolvimento dos diversos
segmentos turísticos possíveis.
Ressaltando a importância das paisagens para o turismo, Castro (2002), Milagres
(2009), Marujo e Santos (2012), e Vieira e Oliveira (2012) lembram que o ideário de cenários
paradisíacos, despertado em grande parte das pessoas, é explorado pela atividade turística,
de modo que, cada vez mais, as diferentes paisagens são utilizadas como matéria prima para
impulsionar os fluxos turísticos, seja por seu aspecto cênico, seja por sua capacidade física e
cultural enquanto suporte para o desenvolvimento de atividades ligadas aos diversos
segmentos. Para Milagres op. cit. (p. 47):

As paisagens turísticas, então, geralmente são associações de elementos naturais


(clima, vegetação e formas de relevo) e de elementos culturais (festas populares,
museus, arquitetura e monumentos públicos) acrescidos de apelo e valor
econômico. O crescente aumento da demanda do mercado turístico é um dos
fatores responsáveis pela produção e pelo consumo dessas paisagens, o que
significa uma alteração do próprio espaço geográfico onde estão inseridas.
100 - Volume II

Portanto, compreendendo a relação das paisagens com a atividade turística, é


importante que a exploração desses locais seja pautada em planejamento prévio, buscando
implementar práticas de manejo adequado, bem como dispor de equipamentos e
infraestrutura que ofereçam suporte para o desenvolvimento dos diferentes segmentos
turísticos e, consequentemente, possibilitando maior longevidade do turismo nas paisagens
em que está inserido (LIMA, MARTINS, SILVA, 2016).
Ao propor a delimitação das unidades de paisagem para investigar sua relação com
as atividades turísticas, como já salientado, é importante levar em consideração a escala de
abordagem. Para Castro (2014), a escala é utilizada como uma ferramenta que possibilita a
análise de um determinado fenômeno levando em consideração a sua referida significância,
ou seja, aplicando uma abordagem que permita entender seu sentido. Na visão de Santos
(2004), por meio da escala, espera-se que cada fenômeno seja representado em função de
suas dimensões reais e período correspondente, em uma determinada localidade. Assim,
todo fenômeno possui uma dimensão de ocorrência, de observação e de análise mais
apropriada. Conceituando a escala, Castro op. cit. (p. 90) cita que:

A escala é então a escolha de uma forma de dividir o espaço, definindo uma


realidadepercebida/concebida; é uma forma de dar-lhe um significado, um ponto
de vista quemodifica a percepção da natureza deste espaço e, finalmente, um
conjunto de representaçõescoerentes e lógicas que define modelos espaciais de
totalidades sucessivas e nãouma progressão linear de medidas de aproximação
graduais.

Para Santos (2004), a escala utilizada pode variar em função dos elementos que são
tomados como referência em determinado levantamento. Por exemplo, a autora diz que,
em pesquisas onde o relevo é utilizado como elemento base, as escalas geralmente variam
entre escalas amplas, de 1:1.000.000, até escalas de detalhe, como 1:25.000 ou 1:10.000,
embora as escalas mais comuns variem entre 1:250.000 e 1:50.000. Outro elemento muito
utilizado como base de planejamentos é a vegetação, para o qual as escalas variam entre
1:250.000 e 1:5.000, dependendo do nível desejado da investigação. No Brasil, a ausência de
trabalhos na escala de detalhe torna o processo de pesquisa e/ou proposições de
planejamento, e mesmo de identificação de atratividade turística, um grande desafio.
Diante de tais concepções, Santos (2004) lembra que um mapa é uma importante
ferramenta para avaliar a distribuição de um determinado fenômeno, entretanto, são os
levantamentos de campo que permitem interpretar e analisar sua intensidade e condições
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 101

em uma determinada área. Além disso, a escala temporal também deve ser considerada,
uma vez que é necessária a observação da compatibilização de dados que possuam
coerência na sua relação temporal, ou seja, o uso de informações disponibilizadas em
períodos diferentes pode comprometer os resultados da investigação em questão. De fato, o
maior desafio na escolha das escalas a serem utilizadas transita sobre o limite em que a
representação pode ser extrapolada sem que haja perda da representação real desejada.
Em consonância com a escala, devem ser observadas as fontes de obtenção de
dados secundários. Na delimitação de unidades de paisagem, a atenção às escalas das
informações utilizadas para o cruzamento de dados é substancial para os resultados que
serão obtidos, uma vez que o uso de dados com escalas discrepantes pode ocasionar a
distorção das unidades encontradas e, consequentemente, divergir da realidade da área de
estudo. O mesmo pode-se dizer em relação aos aspectos do meio físico que são mapeáveis
na escala escolhida, e que devem comparecer nos levantamentos cartográficos (a precisão
gráfica).
Sobre tal fato, percebe-se que, em muitos estados brasileiros, a disponibilidade de
dados secundários a serem utilizados em pesquisas é limitada, há pouca oferta e a gama de
escalas de trabalho é reduzida, dificultando o desenvolvimento de diversos estudos. Mato
Grosso do Sul é exemplo desta limitação, visto o baixo mapeamento em escalas de semi-
detalhe, principalmente dos diversos componentes físicos que estruturam as paisagens,
empecilho o qual, em muitos casos, implica na necessidade do ajuste de tais informações e
compatibilização de bancos de dados de fontes diversas.
Considerando que as unidades de paisagem resultam do cruzamento de dados dos
diferentes elementos que formam esses conjuntos paisagísticos, a presente investigação
tem como objetivo demonstrar a importância da adequação dos dados secundários para a
delimitação de tais unidades, considerando que, por meio da observação das discrepâncias
que os dados secundários podem apresentar, bem como por meio do apontamento de como
realizar as correções destas falhas, seja possível delimitar de maneira mais confiável as áreas
homogêneas encontradas em uma determinada área de estudo.
O objetivo proposto surge em função da crescente disponibilidade de dados
secundários oferecidos por diferentes órgãos responsáveis: IBGE, CPRM, EMBRAPA, INPE,
dentre outros. Esses dados, em muitas ocasiões, são utilizados de maneira indiscriminada,
não sendo observados os critérios de reprodução das informações, seja em função da
102 - Volume II

incompatibilidade das escalas de trabalho, seja por conta da falta de cuidado na averiguação
da veracidade das informações em relação à realidade. Ressalta-se a importância do cuidado
no manuseio de dados secundários, para que os produtos gerados por meio dessas
informações possam apresentar-se como materiais qualificados em relação à temática a ser
abordada.
No caso da criação de mapas e cartas de unidades de paisagem, tais produtos
devem apresentar o conjunto de unidades homogêneas, as quais, por sua vez, devem
apresentar como resultado a inter-relação dos componentes que formam as paisagens.
Nesse sentido, a compatibilização entre os diferentes temas que compõem o meio físico,
levantados por meio de shapes, revela-se como uma importante etapa na delimitação das
unidades de paisagem, visto que, sem a compatibilização, os elementos não terão
correspondência, resultando em falsas unidades homogêneas, incondizentes com a
realidade.

Área de estudo, o ensaio e o desafio

Nesta pesquisa, a área escolhida como a qual serve de objeto de estudo está
localizada no estado do Mato Grosso do Sul. Trata-se de uma área na porção centro-oeste
do estado, entre os planaltos e chapadas da Bacia do Paraná, a depressão do Rio Miranda e a
planície do Pantanal. Compreende uma área de, aproximadamente, 8.600 km², envolvendo
parte das feições da Serra de Maracaju e do pantanal de Aquidauana-MS, cujas coordenadas
UTM dos pontos extremos são: 603512 Km – 7622155 Km e 656844Km – 7787848 Km, fuso
21 (Figura 1).

Figura 1: Mapa de localização da área de estudo

Fonte: dos autores, 2017.


Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 103

A área em questão é estruturada por litologias que impõem a ocorrência de trechos


com variadas faixas de altitude e declividade. Na porção nordeste da área, as formações
Furnas e Aquidauana, assentadas sobre a formação Cuiabá, suscitam o desenvolvimento de
relevos escarpados, com declividades que variam entre 20% e 75%, caracterizados pela
composição de neossolos, e denotam maior concentração de remanescentes de vegetação
nativa. O clima desta porção apresenta temperaturas mais amenas nos pontos de maior
altitude, e condição climática mais quente e abafada nos pontos de menor altitude. As
chuvas podem variar entre 1.200 e 1.300 mm anuais.
Já a área noroeste/norte, onde encontram-se as feições do pantanal de
Aquiadauana, nota-se a formação de depósitos aluvionares quaternários. A área está ligada
às grandes planícies de inundação, de declividades entre 0% e 8%, e altitudes que variam de
100 a 200 metros, condição propícia para a formação de grandes banhados e concentração
de solos hidromórficos. A estrutura física possibilita a concentração de grandes áreas de
pastagem, com entrepostos de savana arborizada, savana parque e floresta estacional. O
clima desta área é quente e úmido, conforme indica Zavattini (2009), com pluviosidade que
varia entre 1.000 e 1.200 mm anuais, e as temperaturas entre o inverno e o verão que
variam de 0°C a 35°C.
A faixa central da área de estudo tem como base as formações de Aquidauana e
Botucatu, que propiciam relevos de superfícies aplainadas retocadas ou degradadas,
domínios de morros e serras baixas, domínios de colinas amplas e suaves, planaltos e
planícies de inundação com depósitos aluvionares quaternários nos principais rios. Esta
condição do relevo, com declividades entre 0% e 20% e altitudes que variam de 200 a 400
metros, privilegia a concentração de grandes áreas de pastagem, justificando os poucos
agrupamentos de remanescentes de vegetação nativa. Quanto aos solos, nesta área
sobressaem os argissolos e latossolos, havendo concentração de solos hidromórficos onde
estão presentes os cursos d’água. O clima apresenta-se abafado nos pontos mais baixos, já
as maiores altitudes propiciam temperaturas mais amenas.
O sudeste da área de estudo compreende parte da feição da Serra de Maracaju,
onde, em função dos traps e intertraps das formações Serra Geral e Botucatu, o relevo da
Serra é distribuído entre os degraus estruturais e rebordos erosivos, domínios de colinas
amplas e suaves e chapadas e platôs, apresentando declividades entre 8% e 75%, bem como
altitudes de 200 a 600 metros. Tais condições possibilitam a ocorrência de neossolos nas
104 - Volume II

partes altas e de latossolos em seu entorno, principalmente nas chapadas e platôs, onde se
nota a ocorrência de grandes áreas dedicadas à agricultura. A concentração de
remanescentes de vegetação nativa é maior nos pontos mais altos da Serra, em
contrapartida, seu entorno é composto por relevantes áreas de pastagem. Com respeito ao
clima, Zavattini (2009) aponta que esta área é caracterizada por usa instabilidade climática,
apresentando índices pluviométricos que podem chegar até os 2.000 mm anuais.

Métodos, procedimentos e materiais

Apesar das características apresentadas anteriormente sobre a área de estudo, o


levantamento de cada elemento que compõe a paisagem – assim como as suas interações e
inter-relações – é necessário para a compreensão das diferentes unidades homogêneas que
irão compor a paisagem, a verificação da compatibilidade dos dados cartográficos
existentes, seus traçados e unidades mapeadas. A falta de relação com a realidade física dos
elementos que compõem a paisagem gera incoerências que alteram as unidades de
paisagem existentes, criando unidades abstratas em total desconformidade com a realidade.
Nesse sentido, conforme indica Chavez e Puebla (2013) e Amorin (2016), os Sistemas de
Informações Geográficas (SIG’s) são softwares capazes de auxiliar, por meio da
espacialização de informações, o entendimento do fenômeno em questão, neste caso, a
estruturação das paisagens. Além da organização individual de informações sobre cada um
dos elementos, estes programas dispõem de ferramentas de integração dos dados, os quais
oferecem, efetivamente, a possibilidade da geração de mapas e cartas de unidades de
paisagem.
Ao utilizar esses SIG’s para a construção cartográfica acerca das temáticas que
envolvem as diversas pesquisas, é necessário a obtenção da base de dados a ser utilizada,
seja ela em formato vetorial ou raster. No caso da presente pesquisa, a investigação das
paisagens da área de estudo teve como base as informações obtidas pelo IBGE, CPRM, INPE,
IMASUL, CANIE e USGS. A escala de trabalho utilizada foi de 1:250.000 para ambos os dados,
considerando que tal condição possibilitaria a identificação das unidades de paisagem e sua
relação com as potencialidades para o turismo de natureza. A espacialização dos dados foi
realizada por meio do software ArcView GIS 10.2, o qual permitiu a criação de cartas
temáticas.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 105

Apesar da disponibilização de dados secundários apresentarem escalas


correspondentes entre si, é necessário observar a coerência das informações obtidas, uma
vez que os diferentes órgãos usados como fonte de dados utilizam, em muitos casos,
critérios diferentes de mapeamento dos temas, podendo assim ocasionar discrepâncias no
resultado do mapeamento, as quais não correspondam com a realidade do meio físico.
Nesta situação, após o cruzamento das informações dos diferentes órgãos, são geradas
unidades de paisagem que não condizem com a realidade.
Com relação aos dados utilizados na presente pesquisa, observou-se a incoerência
de informações acerca da temática litológica e de relevo obtidas junto a CPRM, quando
comparadas com os dados de mapeamentos do IBGE (vegetação e solos). Um dos aspectos
fundamentais para a identificação de tais incongruências foi a conferência dos dados em
questão, feita em relação com a imagem de satélite Landsat do USGS, bem como por meio
da carta de declividade, construída através das imagens de radar SRTM, do INPE.
Considerando a possibilidade de erros nos dados litológicos e das formas de relevo,
foram realizados ainda trabalhos de campo, os quais auxiliaram, por meio da observação dos
elementos in loco, na confirmação do equívoco dos dados. Assim, uma vez constatada a
discrepância entre os dados apresentados na carta geológica (Figura 2A) e de relevo (Figura
2B) em relação às cartas de solo (Figura 2C) e de vegetação (Figura 2D) – nas quais não havia
correspondência das informações dos depósitos aluvionares (Figura 2A) e de planícies
fluviais (Figura 2B) com os solos hidromórficos (Figura 2C) e a vegetação, com floresta
associada aos cursos de água (Figura 2D) –, passou-se a aplicar os procedimentos
metodológicos sintetizados no roteiro de estruturação de análise do meio físico, para
compatibilização de suas informações, apresentado na figura 3.
106 - Volume II

Figura 2: Espacialização de dados antes da compatibilização das informações

Organização: dos autores

A forma como a investigação das unidades de paisagem da área de estudo foi


estruturada pode ser verificada através da Figura 3, na qual, por meio da análise dos
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 107

elementos que compõem o geossistema4 (a saber: componentes bióticos, abióticos, solos,


cobertura e uso da terra), se pode observar como cada elemento atua na composição das
paisagens. Ao espacializar as informações dos shapes de cada tema, e verificada a
inconsistência de dados (as faixas de quaternário do layer litológico e das planícies do layer
das formas de relevo não apresentavam uma sequência lógica de disposição de dados),
acentuou-se a necessidade de verificação da veracidade das informações tratadas.
Dessa maneira, por meio da comparação com a imagem de satélite e os dados de
declividade, assim como através das observações de campo, as informações levantadas
foram corrigidas. Estas correções foram efetuadas, sistematicamente, em todos os
componentes da paisagem (hidrografia, litologia, relevo, solos, vegetação e uso da terra),
através das observações da imagem Landsat e dos levantamentos realizados em campo,
conforme indica a figura a seguir. Essa compreensão sistemática é relevante, considerando
que, entendendo a paisagem como um conjunto de elementos que se inter-relacionam,
portanto, o resultado destas paisagens se dá em função da correspondência dos diferentes
componentes que às formam, revelando assim a necessidade de coerência entre estes.
Portanto, considerar tal coerência se faz fundamental para a delimitação de unidades de
paisagem, de modo que, não havendo a preocupação com este aspecto, os resultados finais
podem ser comprometidos, ocasionando a construção de áreas homogêneas que não
condizem com a realidade.

4
De acordo com Troppmair (2000), o geossistema é um sistema natural, complexo e integrado, o qual permite a circulação
de energia e matéria, e se caracteriza pelo locus de ocorrência de exploração biológica, inclusive aquelas praticadas pelo
homem.
108 - Volume II

Figura 3: Estruturação da análise da paisagem

Fonte: Vilás (1992, p.127)


Adaptação: dos autores, 2017

O procedimento de averiguação utilizado para validação dos dados a serem


utilizados está representando na Figura 4, a qual ilustra o comparativo dos dados
secundários (geologia e relevo com a imagem Landsat e a carta de declividade), bem como
aponta as informações levantadas através da observação de campo. Por meio das figuras 4
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 109

(A, B, C e D), percebe-se que as áreas correspondentes aos depósitos aluvionares do


quaternário (Figura 4A), assim como as planícies fluviais e flúvio-lacustres (Figura 4D) são
interrompidas abruptamente. Enquanto isso, tanto na imagem de satélite (Figura 4B) quanto
na carta de declividade (Figura 4C), é possível perceber a continuidade dos depósitos
aluvionares e das planícies fluviais e flúvio-lacustre – pelas características das feições da
imagem de satélite e pela baixa declividade (0 a 3%) –, constituindo relevo plano. Este fato
foi comprovado através do registro de campo, indicado com uso de um ponto nas figuras 4
(A, B, C e D).

Figura 4: Análise dos dados secundários litológicos e das formas de relevo

Organização: dos autores

Constatado o equívoco dos dados, foi necessária a realização de ajustes dos mesmos, visando
apresentá-los de maneira que condigam com a realidade observada e, consequentemente,
110 - Volume II

resultem na delimitação de unidades homogêneas (de paisagem) coerentes. Observou-se


ainda que, contrastando com os dados litológicos e de formas de relevo que se mostraram
discrepantes, os dados como os de solos e de remanescentes de vegetação nativa (figuras 5 -
A, B, C e D) apresentaram-se condizentes com a imagem de satélite, e também com as
informações de declividade e com os registros de campo da área de estudo, conforme pode
ser observado na Figura 5.

Figura 5: Análise dos dados secundários dos tipos de solos e dos remanescentes de vegetação nativa

Organização: dos autores

Através da figura 5, é possível perceber que, ao contrário das formas de relevo e da


litologia, as florestas estacionais semideciduais aluviais (Figura 5A) e os solos hidromórficos
(Figura 5D) mantêm sua continuidade ao longo do trecho observado, conservando a
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 111

coerência com a imagem de satélite (Figura 5B) e com a declividade (Figura 4C). Com a
confirmação desses dados, foi possível realizar os ajustes dos temas litológicos e das formas
de relevo, considerando que as porções onde se dispuseram os solos hidromórficos e as
matas de galeria correspondem à continuação das faixas de quaternário e das planícies
fluviais, não existentes nas cartas da CPRM (figuras 2 A, D e 4 A, D).
O ajuste foi realizado através do software ArcView GIS 10.2,que permite a edição de
dados por meio da seleção do layer correspondente. Assim, primeiro foi selecionado o layer
de solos e, posteriormente, foi habilitada a opção Editor. Utilizando esta ferramenta, foi
executado o comando Start Editing e selecionada a opção de edição da camada referente
aos solos. Após tal procedimento, selecionaram-se as feições do layer de solos a serem
duplicadas. As feições selecionadas foram: plintossolos, gleissolos e os neossolos
quatzarênico hidromórfico. Após a cópia das feições de interesse, foi finalizada a edição do
layer de solos.
Em seguida, habilitou-se novamente a função Editor, desta vez executando o
comando Start Editing no layer da litologia. Nesta edição, foram inseridas as feições
recortadas do layer de solos. Após encerrar o procedimento no layer litológico, o processo
foi reproduzido na camada das formas de relevo.
Posteriormente à realização dos ajustes dos dados, as cartas litológicas e de formas
de relevo apresentaram informações que foram confirmadas com os trabalhos de campo e
se mostraram coerentes com a realidade da área de estudo, passando a estar aptas para o
procedimento de cruzamento com os demais dados e, consequentemente, proporcionando
a delimitação das unidades de paisagem da porção pesquisada, delimitação de unidade
homogêneas amparada pela abordagem de Ross (1994), Santos (2004) e Amaral e Ross
(2009). Para encontrar essas unidades homogêneas, antes do cruzamento de dados,
realizou-se a reclassificação dos layers de litologia, relevo (formas de relevo + declividade),
rede de drenagem, declividade e remanescentes de vegetação nativa, estabelecendo pesos
para as diferentes feições de cada uma das camadas temáticas. A escolha das temáticas para
cruzamento se deu em função da relevância dos elementos para as atividades do turismo de
natureza, possibilitando estabelecer os pesos de cada feição em relação à sua importância
para tais práticas.
Por fim, considerando os elementos de maior relevância para o turismo de
natureza, foram integradas tais informações (considerou-se como determinantes e
112 - Volume II

relevantes para o turismo de natureza: litologia, formas de relevo + declividade e os


remanescentes de vegetação nativa), acarretando na delimitação das unidades homogêneas
presentes na área de estudo, ou seja, as unidades de paisagem com potenciais para
atividades ligadas ao turismo de natureza.

RESULTADOS E DISCUSSÕES, À GUISA DAS PROPOSIÇÕES

Realizados os procedimentos de correção dos dados secundários discrepantes, foi


possível apresentar resultados a partir de dados condizentes com a realidade e,
consequentemente, oferecer bases com maior nível de detalhamento para o procedimento
de cruzamento de dados e geração de unidades de paisagem da área de estudo. Ainda sobre
o ajuste, é possível compreender através das figuras 2 e 6 as alterações realizadas nos layers
de litologia e de formas de relevo.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 113

Figura 6: Espacialização das informações após as correções de dados

Organização: dos autores

O comparativo entre as figuras 2 e 6 ressalta o ganho de detalhamento obtido após


os ajustes nos dados secundários de litologia e de formas de relevo. Além da coerência com
os demais layers temáticos, as informações ajustadas foram comprovadas in loco através dos
114 - Volume II

trabalhos de campo, demonstrando que, apesar da disponibilização dos dados secundários,


a escala de mapeamento desconsiderou feições mapeáveis nas escalas aplicadas, tanto
litológicas quanto de compartimentação de relevo.
A preocupação com a qualidade dos dados utilizados foi reforçada em função da
necessidade do uso de tais informações para a delimitação das unidades homogêneas de
paisagens. Portanto, a observação da condição sistêmica dos elementos, ou seja, da maneira
como os elementos interagem e se inter-relacionam na composição das paisagens foi de
suma importância para a constatação das falhas que os dados litológicos e as formas de
relevo apresentavam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a importância dos dados secundários em diversas pesquisas


científicas, nota-se que, em muitos casos, as informações são utilizadas
indiscriminadamente, sem os devidos cuidados e conferência acerca de sua coerência com a
realidade. Essa condição suscita na elaboração de estudos em que a espacialização de dados
acaba por comprometer os resultados obtidos.
Tendo isso em vista, a presente investigação apontapara a importância da
compatibilização cartográfica, ou seja, para a necessidade do cuidado no trato de dados
secundários, considerando que, independente dos órgãos os quais disponibilizam
informações, as escalas e métodos de abordagem utilizados em seus mapeamentos podem
distorcer informações acerca das várias temáticas a serem tratadas.
Nesta pesquisa, demonstrou-se que a etapa de verificação e validação das
informações permitiu uma construção cartográfica amparada pelo maior nível de
semelhança com a realidade, a qual pôde ser desdobrada em novos procedimentos, no caso,
na delimitação de unidades de paisagem, não comprometendo os resultados obtidos.
Ressalta-se, ainda, que o emprego de geotecnologias, tão disseminadas nos dias
atuais não valida as informações dos mecanismos de construção de representações
cartográficas caso não se recorra aos exaustivos trabalhos de campo, para o esclarecimento
da realidade.
Geotecnologias aplicadas às questões ambientais - 115

Espera-se que, por meio desta discussão, as pesquisas que venham a ser
desenvolvidas, independentemente de sua finalidade, despendam maior atenção ao trato
dos dados secundários, para que sejam elaboradas a partir de dados confiáveis e, assim,
apresentem resultados com maior relação com a realidade dos fenômenos estudados.
Acreditamos que o dado e a informação de qualidade, no âmbito da pesquisa, é essencial
para qualidade da análise e para as proposições; foi com esse segundo esta perspectiva que
o texto ora apresentado foi elaborado. Que possamos pensar e dialogar mais sobre as
questões expostas e discutidas aqui neste ensaio.

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