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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS - CAMPUS MORRINHOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AMBIENTE E SOCIEDADE

INCÊNDIOS FLORESTAIS NA MICROREGIÃO DO VÃO DO PARANÃ: DINÂMICA


ESPACIAL ENTRE 1987 E 2017.

Maíra Iaê Savioli Rocha

Morrinhos - GO

2018
INCÊNDIOS FLORESTAIS NA MICROREGIÃO DO VÃO DO PARANÃ: DINÂMICA
ESPACIAL ENTRE 1987 E 2017.
3. INTRODUÇÃO

O fogo há muitos anos é usado como ferramenta no manejo de diversas atividades


humanas. No Brasil os incêndios florestais estão relacionados, principalmente, com atividades
agropecuárias. O uso incorreto do fogo para renovação de pastagens e limpeza de restos de cultura
nas propriedades vizinhas são exemplos de práticas que ocorrem frequentemente em áreas rurais,
muitas vezes próximas a unidades de conservação. Apesar de comum, nem sempre é um método
seguro, tendo em vista que são, em muitos casos, desconsideradas as características de cada
ambiente como vegetação, relevo e clima. Ou seja, ao se desconsiderar as variáveis ambientais,
aumenta-se, consequentemente, a chance de se perder o controle sob o uso do fogo, resultando,
nesses casos, em grandes desequilíbrios ambientais.
O cerrado é o segundo maior bioma do país em área contínua e possui
particularidades, como o fato, de ser um ambiente pirofítico, ou seja, dependente do fogo para
manutenção do seu equilíbrio (Pivello 2011). A ausência do fogo nesse bioma alteraria a vegetação
e os processos ecossistêmicos além de possibilitar a ocorrência de incêndios de maiores proporções.
O uso indiscriminado na expansão das fronteiras agrícolas tem causado danos irreparáveis ao meio
ambiente (Nunes, 2005). Esses grandes incêndios podem causar distúrbios nos sistemas naturais,
como por exemplo: lançamentos de gases de efeito estufa, perda da biodiversidade,
desflorestamento e desertificação (IBAMA, 2017). É importante definir politicas de prevenção e
combate ao incêndios florestais. Mas para isso é preciso saber as causas, localizar os eventos e
periodiza-los.
Ao considerar que o fogo é elemento essencial para a manutenção da vida no
Cerrado é fundamental que ordenamento espacial, em áreas de ocorrência do bioma, seja pensado
também a partir dele, principalmente, em áreas mais vulneráveis, como aquelas próximas às
unidades de conservação (Medeiros, 2004). Para que isso se torne possível as pesquisas cientificas
sobre essa temática devem ser estimuladas, já que apesar da importância do tema exista um déficit
no que diz respeito a literatura, principalmente na Geografia. Dessa maneira as populações do
cerrado poderão continuar coexistindo com o fogo, como é sua tradição e, ao mesmo tempo, nesta
inovada co-evolução (Porto Gonçalves, 2003 ) com o meio ambiente enquanto totalidade, como
parte dele. O impedimento do manejo com fogo é a solução? É preciso, antes de mais nada,
reavaliar o manejo.

Nesse sentido, optou-se por estudar a Microrregião do Vão do Paranã, por se tratar de uma
das áreas mais endêmicas do estado, com ocorrência de áreas protegidas e de interesse ambiental:
Reserva da Biosfera do Cerrado – Fase II; o Corredor Ecológico Paranã-Pirineus; as Áreas de
Proteção Ambiental (APA) do Pouso Alto, da Serra Geral de Goiás e das Nascentes do Rio
Vermelho; e o Parque Estadual de Terra Ronca. Segundo mapeamento realizado pelo Ministério do
Meio Ambiente (MMA) 2015, 35 % da região estão inseridos nas classes de alta e muito alta
prioridade para preservação da biodiversidade, fato que reafirma a importância de se estudar a
região do ponto de vista do planejamento ambiental.
A microrregião localiza-se no nordeste goiano e devido a sua aptidão para manejo de
gado, a atividade pastoril foi consolidada ao longo dos anos. A ausência de políticas públicas
adequadas pode facilitar a expansão da fronteira agrícola vinda da Bahia e do sudeste de Goiás
(Ponciano, 2017). Portanto, é de extrema relevância que estudos sejam realizados no intuito de
viabilizar uma gestão territorial mais eficiente a partir da compreensão do ordenamento espacial,
minimizando ou, talvez, contribuindo numa reeducação coletiva sobre os impactos negativos
causados pelo mau uso do fogo.

Figura 1 – Localização da área de estudo


4. OBJETIVOS
O objetivo geral da pesquisa é avaliar a dinâmica da paisagem da microrregião do Vão do Paranã
com ênfase nos regimes do fogo que acompanham a sua evolução.
1.1. OBJETIVOS ESPECIFICOS
1.2. Espacializar os dados já disponíveis e aqueles a serem obtidos
1.3. Definir unidades de paisagem para ressaltar as relações do meio físico
1.4. Analisar a mudança histórica da estrutura da paisagem
1.5. Identificar melhor uso e ocupação para cada unidade
1.6. Apontar por meio de evidências históricas e ecológicas, a importância do fogo para a
conservação das fisionomias do Cerrado

5. MATERIAIS E MÉTODOS

A evolução da maior parte das fisionomias do Cerrado ocorreu na presença do fogo e dele
dependem para manter seus processos ecológicos. No entanto, o seu como ferramenta de manejo,
quando não controlado, pode afetar profundamente o equilíbrio do bioma, gerando impactos
negativos. De acordo com Pivello(2006), regimes de fogo inadequados podem degradar a vegetação
e o solo, resultando em perda da biodiversidade. Fisionomias como cerradão ou cerrado sensu
stricto vem sendo descaracterizadas devido a esses regimes que ocorrem, principalmente, para
atender às demandas das atividades pastoris (Gottsberger & SilberbauerGottsberger 2006).
Para que o fogo coexista de maneira equilibrada com o bioma é essencial analisa-lo sob a
perspectiva do Planejamento Ambiental. A preservação e a conservação do ambiente devem ser
garantidas, a partir da análise integrada, afim de. Além do levantamento de informações, a
sistematização e analise das mesmas são imprescindíveis para alcançar tais objetivos. A análise
geográfica integrada e de abordagem sistêmica, através da Geoecologia das Paisagens, oferece
subsídios para o ordenamento do uso e ocupação das terras (Trombeta e Leal, 2016).
A Geoecologia das Paisagens é um fundamento teórico e metodológico, e surge junto com o
planejamento da paisagem, que defende uma abordagem sistêmica e integrada em todas fases do
planejamento ambiental (Rodriguez e Silva 2013). Segundo essa perspectiva o paradigma do
pensamento fragmentado não se aplica aos estudos ambientais. Seus fundamentos são elaborados no
final do século XIX por Dokuchaev que analisou a natureza considerando o homem e a sociedade
sob o enfoque paisagístico ( Rodriguez, Silva, Leal, 2012). No entanto, apenas na década de 1930
Carl Troll concebe a Geoecologia como disciplina cientifica. Ele propôs a concepção de uma
ciência sobre os sistemas naturais, considerando as relações dos seres vivos e o ambiente na
formação das paisagens (Rodriguez e Silva 2013).
A Geoecologia tornou-se reconhecida por estudar as paisagens e os geossistemas em
diferentes escalas: global, regional e local. Esses estudos têm como objetivo alcançar a harmonia
entre qualidade ambiental o bem estar da sociedade através do planejamento ecológico que devem
colaborar com o planejamento territorial. Segundo Faria (2011, p. 23):

A avaliação espacial precisa de padrões de organização dos elementos que compõe


a paisagem tem sido favorecia pelos avanços das geotecnologias como as
metodologias de sensoriamento remoto e dos Sistemas de Informações Geográficas
(SIG), que associados aos métodos da Ecologia da Paisagem vêm possibilitando a
integração e manipulação de várias informações e a construção de modelos e
análise da paisagem em diferentes escalas temporais e espaciais. Tais associações
estão cada vez mais apropriadas para quantificar a estrutura da paisagem, através
de métricas ou indicadores de paisagem, possibilitando uma melhor compreensão a
complexidade e forma de determinadas relações geoecológicas.

Autores como Coelho Netto et al. (2007), apontam o geoprocessamento como ferramenta
para as análises geoecológicas no intuito de se compreender a estrutura, a função e a dinâmica dos
elementos da paisagem. O geoprocessamento torna-se progressivamente ferramenta decisiva para as
analises geoecológicas com o emprego do Sistema de Informação geográfica(SIG) . A interpretação
das imagens possibilita o mapeamento de geossistemas, onde são representadas as unidades de
paisagem do território de acordo com sua homogeneidade.

Ao considerar os incêndios, no caso, como fenômenos modificadores da paisagem é


importante pensar formas de estudá-los a partir de uma análise integrada Nesse contexto, identifica-
se a prioridade do bioma por planejamentos eficientes que tenham, como objetivos, a conservação e
o desenvolvimento que considerem as questões ambientais no processo, além do monitoramento
continuo. Identificando as áreas mais suscetíveis aos incêndios é possível indicar o manejo mais
adequado para cada unidade de paisagem, desde que estes conhecimento dialoguem de fato e sejam
apropriados, humana e pedagogicamente, pelas pessoas que conviveram, historicamente, com o
fogo. pessoas que conviveram, historicamente, com o fogo.
O desenvolvimento da pesquisa se dará a partir das seguintes etapas principais: seleção e
leitura do arcabouço textual sobre a temática escolhida; produção e análise de mapas; ida a campo;
identificação das unidades de paisagem e analise integrada das mesmas; prognostico e propostas
para área de estudo.
O levantamento teórico ocorrerá durante toda a pesquisa, com mais intensidade, nos
primeiros meses, momento em que será construída a base teórico-metologica para iniciar, de fato, a
pesquisa. Paralelamente será realizada a aquisição de dados cartográficos da área pretendida, a
partir do sistema de informação geográfico (SIG). Num segundo momento, serão produzidos mapas
estruturais e funcionais, a partir de variáveis ambientais, da área de estudo, que terá como resultado
um mapeamento geoecológico, orientado pela analise das unidades de paisagem identificadas.
Serão realizadas idas a campo em dois momentos: no período da seca e no período da chuva (já que
o clima é uma variável decisiva para o regime do fogo) para fazer reconhecimento de padrões,
registros fotográficos e entrevistas. Finalmente, depois de reunir as diversas informações sobre a
estrutura e dinâmica da paisagem, analisa-las do ponto de vista da Geoecologia e realizar o
diagnóstico ambiental serão sugeridas propostas e ações para a área estudada.

Figura 2 – Fluxograma com os Procedimentos Metodológicos

6.MÉRITO CIENTÍFICO E/OU TECNOLÓGICO DA PROPOSTA

O fogo é um elemento necessário para a manutenção do equilíbrio do bioma cerrado.


Entretanto, sua presença, quando mal direcionada, pode resultar no desequilíbrio do mesmo,
afetando de maneira negativa a flora e fauna. O manejo com o fogo deve ser, portanto, repensado,
levando em consideração as peculiaridades de cada ambiente. Apesar dos incêndios florestais serem
recorrente no cerrado, a literatura sobre o fenômeno ainda é pouca, tendo em vista a sua
importância. Nesse sentido, pode-se considerar que a dissertação contará com um tema original e
que necessita de novas formas de investigação. A orientação inicial se dará a partir de trabalhos já
desenvolvidos com a atenção voltada para se evitar réplicas, a partir de um discurso claro e
procedimentos confiáveis.
A microrregião do Vão do Paranã é uma das mais endêmicas do estado, além de possuir
grande área destinada à conservação. Espera-se que a pesquisa auxilie, por exemplo, na criação de
políticas públicas que concebam o uso e ocupação do solo de maneira mais segura e racional. As
famílias que tem como atividade principal a agropecuária poderão, a longo prazo, aumentar a sua
produtividade. As áreas prioritárias de conservação serão menos afetadas pelo manejo do fogo em
áreas vizinhas e até mesmo dentro das próprias unidades. Para tanto é necessário que o
conhecimento acadêmico dialogue durante todo o processo com o saber popular, para que os
resultados da pesquisa sejam realmente incorporados por toda a sociedade.
O intercâmbio de conhecimento científico será fundamental para se construir uma tese bem
fundamentada. Os resultados parciais darão origem a artigos que serão apresentados em eventos,
como congressos e seminários durante o período de desenvolvimento da tese. Por fim, se provará a
importância do fogo para a evolução do cerrado e serão apontadas melhores de maneiras de se
conviver com ele e a partir dele, melhorando a relação dos povos que habitam o cerrado com seu
ambiente.
2019 2020
Atividades
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D

Disciplinas
Pesquisa Bibliográfica
Ida a campo
Elaboração dos mapas
Análise e interpretação
dos dados
Elaboração da redação
provisória
Discussão e reformulação
da redação
Qualificação
Redação definitiva

7.CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Para a realização da pesquisa será seguido o seguinte cronograma:

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO NETTO, A.L.. “A Geoecologia e a Arquitetura da Paisagem do Rio de Janeiro no século
XXI: da degradação à reabilitação funcional da cidade e da Floresta Atlântica Remanescente”. In:
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Disponível
em:< https://www.ibama.gov.br/prevfogo#sobre-o-prevfogo> Acesso em: 20 de setembro de 2018.

FARIA, K. M. S. Paisagens fragmentadas e a viabilidade de recuperação para a Sub-Bacia do Rio


Claro (GO). Dissertação de doutorado. Universidade Federal de Goiás. Instituto de Estudos Sócio-
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METZER, J.P. O que é Ecologia de Paisages. Biota neotropical, v.1, n.1, p.1-9, 2001
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NUNES, J.R.S. FMA - Um novo índice de perigo de incêndios florestais para o estado do Paraná-
Brasil. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná.Curitiba.2005.

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Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Goiás. Programa de Pós-Graduação em Ciencias
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