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MATERIAIS E MÉTODOS
Para a análise da regeneração da vegetação após queimadas, foi selecionada a bacia hidrográfica
do Rio Manso no estado do Mato Grosso (Figura 1), tendo-se obtido os correspondentes mapas anuais
de uso da terra no período de 2011 a 2019 por meio da plataforma MapBiomas, Coleção 6. Para
identificar as áreas de queimadas, utilizaram-se mapas de monitoramento do INPE para o mesmo
período. Porém, não foram encontrados mapas de queimadas para os anos 2012 e 2016, sendo estes
desconsiderados no período. A natureza das alterações no uso e cobertura da terra foi estudada
mediante a comparação entre as imagens e a utilização de um algoritmo construído no software
Dinamica EGO 6.
O código elaborado no Dinamica EGO 6 realiza a leitura de duas imagens de entrada
(mesclagem) de um mesmo local, mas em datas diferentes que possuem a mesma resolução espacial.
O sistema permite comparar pixel a pixel por meio da análise dos códigos de uso da terra
especificados em cada uma destas imagens, e como resultado dessa comparação gera uma tabela com
os códigos e a área, em hectares, de cada transição ocorrida na bacia, bem como mapas que
evidenciam as transições de uso e cobertura da terra. Com isso, foi possível quantificar as mudanças
ocorridas e avaliar a natureza das alterações através do local onde elas ocorreram.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 a seguir mostra, em termos absolutos, o quanto de área (em hectares) permaneceu
queimada e o quanto foi regenerada ou convertida a outros usos da terra, em cada intervalo de tempo
considerado (anual ou bianual, lembrando não haver dados de queimada disponíveis para 2012 e
2016):
Tabela 1 – Áreas submetidas aos processos de queimada, de regeneração e de conversão de uso da terra
Período Total queimado (ha) Manteve queimado (ha) Regenerado ou convertido (ha)
2011-2013 15317,64 33,21 15284,43
2013-2014 5042,16 0 5042,16
2014-2015 4332,06 332,73 3999,33
2015-2017 6332,76 184,68 6148,08
2017-2018 8698,50 241,29 8457,21
2018-2019 5012,37 181,98 4830,39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A modelagem dinâmica com o uso do software Dinamica EGO mostrou-se uma excelente
ferramenta para análise dos processos de regeneração vegetativa e de evolução do uso da terra em
áreas previamente submetidas a queimadas, as quais demonstraram potencial de recuperação ao longo
dos anos. Todavia, a avaliação de impactos na vazão média depende do uso de ferramentas
complementares, sendo que o estudo de correlação apresentado é apenas um primeiro passo neste
sentido.
Em média, o percentual de regeneração das áreas queimadas no período de 2011 a 2019 foi de
60,96%, tendo sido maior entre 2011 e 2013 (68,97%) e menor no intervalo de 2015 a 2017 (45,83%).
Ainda que a capacidade de recomposição da vegetação nativa seja relativamente alta, há de se
ressaltar que incêndios frequentes debilitam muito os ecossistemas, devendo ser combatidos. Os
impactos das queimadas sobre as vazões médias do Rio Manso não ficaram evidentes, tendo-se obtido
baixa correlação entre esses eventos e as referidas vazões. Contudo, observa-se que a dispersão e a
baixa representatividade das áreas incendiadas em termos percentuais com relação à área total da
bacia hidrográfica podem justificar a baixa correlação, lembrando que esta não constitui causalidade.
Entretanto, a literatura fornece elementos para supor que os efeitos das queimadas sobre os regimes
hídricos sejam de natureza predominantemente indireta, uma vez que elas alteram a paisagem,
causando mudanças no uso e cobertura da terra e, consequentemente, na vazão – o que foi corroborado
pela alta correlação entre esta variável e as transições para pastagem e agricultura. Ainda assim, é
possível que a representatividade espacial dos diferentes usos da terra tenha afetado os resultados de
correlação estatística, sendo inevitável a busca por mais respostas e modelagens aproximadas dos
efeitos locais e progressivos das queimadas sobre os corpos d’água.
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