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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DA HUÍLA

ISCED-HUÍLA
MESTRADO DE ECOLOGIA E GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS

GEOPROCESSAMENTO APLICADO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO


HIDROLOGICO COMO PARTE INTEGRANTE PARA MITIGAÇÃO DA SECA
NO SUL DE ANGOLA . "CASO DE ESTUDO – CHIBIA"

Américo R. Mande(a), Anastácio D. Mucuamby (b), Benvinda Sacho (c), Liudmila


Capelão (d ),Solange A.S. Assunção (e), Vanusa E. M. Papel (f).

(a)amemandw@gmail.com, (b)amucuambis@gmail.com, (c)benvindasacho@gmail.com,


(d)liudmiladosanjos@gmail.com,(e)solvladi@gmail.com,
(f)vanusamuhonda87@gmail.com,

Resumo

Uma situação de seca pode resultar num desastre natural se não existir capacidade de
gestão dos recursos hídricos para minimizar os seus efeitos nefastos. Em muitas regiões,
nomeadamente dos países em desenvolvimento, as consequências das secas alcançam uma
magnitude tal que, com frequência, são classificadas como catástrofe, causando fome,
mortes e êxodos de população. Este artigo tem como objectivo propor a elaboração de um
modelo hidrológico na zona da Chibia para ajudar a mitigar os impactos provocados pela
seca na referida zona. No final, são identificadas e propostas algumas bacias hidrográficas
com ajuda do recurso do Geoprocessamento digital de imagens que podem ser postas em
prática para prevenir e mitigar os impactos da seca.

Palavras-chaves: Seca, Chibia, Geoprocessamento, SIG.

Introdução

O Sul de Angola sofreu uma seca severa desde a época de chuva fraca em 2012/2013 até à
chegada da estação chuvosa de 2019, afectando as províncias do Cunene, Namibe e Huíla.
As chuvas esporádicas durante este período trouxeram algum alívio, mas não foram
suficientes para iniciar uma recuperação. Algumas zonas do Sul de Angola, bem como
outras partes do Sul de África, registaram a temporada mais seca em 35 anos em
2015/2016, um pico de gravidade ligado ao efeito El Niño.

As situações de seca são fenómenos naturais que se fortalecem lentamente, desencadeando-


se de forma quase imperceptível e podendo afectar vastas áreas durante um período de
tempo longo. A atenção dedicada à problemática das secas tem vindo a aumentar, em
consequência de uma maior vulnerabilidade devido ao crescimento contínuo das
necessidades de água face às disponibilidades limitadas deste recurso. Este artigo enquadra-
se, assim, no planeamento para a gestão e prevenção de situações críticas, provocadas pela
diminuição das disponibilidades por efeito da ocorrência de situações de seca.

Diante desta problemática, o Geoprocessamento apresenta um enorme potencial de


utilização que tem permitido a extracção de novas informações a partir da integração e do
cruzamento de planos de informação oriundos de diferentes fontes. Com isto, a utilização
do Geoprocessamento tornou-se uma ferramenta em estudos que envolvem problemas
geoambientais (Camara et al., 2001).
O SIG pode gerar novas informações a partir do processamento de informações espaciais e
dados alfa-numéricos. Segundo Cowen (1988), o SIG pode ser entendido como um sistema
de suporte às decisões envolvendo integração de dados espaciais georreferenciados, sendo
que a parte mais importante na definição do SIG é a ênfase na sua capacidade de integração
de dados e combinação de mapas com dados de sensoriamente remoto ou outras formas de
dados espaciais.

CONCEITOS

Geoprocessamento

Segundo Rodrigues (1993), Geoprocessamento é um conjunto de tecnologias de colecta,


tratamento, manipulação e apresentação de informações espaciais voltados para um
objectivo específico.

Pode-se citar que Fujihara (2002) definiu Geoprocessamento como a tecnologia que aplica
o tratamento e manipulação de informações espaciais, englobando técnicas de colecta e
informação espacial; armazenamento da informação espacial; tratamento e análise da
informação espacial e uso integrado de informação espacial (SIG). Segundo o mesmo
autor a utilização de tecnologia de informação como ferramenta de análise espacial,
tornou-se uma ferramenta em potencial através do Geoprocessamento e dos Sistemas de
Informações Geográficas (SIG).

Câmara et al. (1996) aponta cinco dimensões principais onde o geoprocessamento é


aplicado em procedimentos ambientais, sendo eles: mapeamento temático, diagnóstico
ambiental, avaliação de impactes ambientais, ordenamento e zoneamento territorial e
planos de ações.
SECA
A seca é um fenómeno natural de origem climatológica e meteorológica, devido
essencialmente a um défice nas condições de precipitação, que se verifica todos os anos em
diferentes regiões do globo, sendo portanto uma característica recorrente do clima e não um
acontecimento raro. Devido à complexidade deste fenómeno, não existe uma definição
rigorosa e universalmente aceite, mas genericamente pode ser definida como uma anomalia
transitória, mais ou menos prolongada, das condições de precipitação, quando abaixo dos
valores normais para o período e área (Maia et al., 2006).

METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho usou-se as ferramentas de Geoprocessamento dos software


QGIS, na qual foi possível fazer a manipulação dos dados tendo em conta a caracterização
do meio físico, os seguintes componentes fisiográficos: os elementos litológicos, bem
como os rios de regime permenante e não permanentes que delimitam a zona de
intervenção e perceber o comportamento hidrológico e as intervenções antrópicas. Neste
sentido, a temática deste trabalho permitiu englobar a ferramentas de apoio na gestão de
recursos naturais e na detecção de áreas mais susceptíveis a seca com base aos indices de
vegetação e na construção de um modelo hidrólogico.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


Chibia é um município da província da Huíla, em Angola, cuja sede está localizada a 42 km
a sul da cidade de Lubango, capital da província. Tem 5281 km² e cerca de 133 mil
habitantes. É limitado a Norte pelos municípios do Lubango e de Cacula, a Este pelo
município do Quipungo, a Sul pelo município de Chiange, e a Oeste pelos municípios de
Virei e Humpata. O município é constituído pelas comunas de Chibia, Kapunda-Kavilongo
(ex-Olivença-aNova), Quihita e Jau. A área em referência é definida pelos Meridianos
13º30´, 14º00´ Este e paralelos 15º00´, 15º30´ Sul. O aglomerado populacional mais
importante é a Chibia, sede do município (ex-Vila João de Almeida). Diversas rodovias e
atravessam o município, sendo a mais importante a que liga Lubango a Onjiva, e que
seguidamente se prolonga até à fronteira de Angola com a Namíbia.

Mapa 1- Caracterização do município Chibia (Fonte: Própria)

O território do município agrega um conjunto de superfícies planálticas do interior


angolano com altitudes entre os 1000 e os 2300 metros. O clima da região, de acordo com a
classificação de Koeppen, é do tipo tropical seco, onde predominam duas estações bem
definidas durante o ano: época chuvosa que decorre de Setembro a Abril, tendo como
média anual pluviométrica 700 mm.(Medeiros, 1976).
Os solos encontrados no município são fundamentalmente de 5 tipos: a) Ferralíticos,b)
Fersialíticos, c) Os Paraferralíticos, d) Psamíticos e Cromopsamíticos, são geralmente
pouco férteis, apresentam sobretudo interesse para o pasto, predominando na Sede; e) Solos
Argilosos.No que concerne à flora e à fauna da área em estudo salienta-se que, no passado,
se apresentava mais rica em termos de cobertura vegetal bem como na vida animal, sendo
actualmente mais restrita em função das transformações antrópicas. Na comuna da
Kapunda Kavilongo encontram-se árvores como a muiumba e girassonde que fornecem
madeira de excelente qualidade.
Hidrografia
A rede hidrográfica compreende no município dois grandes rios: o Kaculuvar, que nasce no
município do Lubango, passando pelo sector da Lufinda e pela comuna da Quihita indo
depositar as suas águas no rio Cunene; o Tchimpumpunhime, que nasce no município da
Humpata, conhecido como rio Nene, tomando o nome de Tchimpumpunhime a partir de
Chinquerere, comuna do Jau, passando pela vila da Chibia e desaguando no Kaculuvar na
área do Nombuaneno, comuna da Quihita. Com menor importância, destaca-se ainda o rio
da Huíla com um carácter intermitente, que banha a comuna sede e é afluente do rio
Kaculuvar, desaguando neste, na área do sector do Kangolo (Relatório da Administração
Municipal da Chibia, 2008).

Mapa 2- Modelo de distribuição dos rios ao longo do município da Chibia com um buffer
de 5km das sedes comunais (Fonte: Própria)
DISCUSSÃO - RESULTADOS

Nos últimos tempos verifica-se que a desertificação e a seca cíclica têm atingido níveis
mais alarmantes no sul de Angola, onde teve o período mais crítico nos anos de 2019-
2020, nos últimos 40 anos em consequência do fenómeno “El Niño” um dos principais
factores que faz com que as populações residentes na Chibia a migrarem para outros locais
é a procura de novas zonas de cultivo para a sua subsistência, devido a perda e a ocupação
das terras de pasto pelos fazendeiros nos últimos anos que é um dos factores
preponderantes para a migração das populações nessa região.

Mapa 3: Raio X da Seca, média de fevereiro de 2021; Fonte:página do Facebook do LAOT

Face as consequências que as alterações climáticas acarretam, a seca está associada as


mudanças climáticas (menos chuvas),alterações na cobertura vegetal (faz com que água
não se infiltre, corre a superfície e não abastece os aquíferos),o abate de árvores para o
carvão, a não construção de sistemas de retenção de águas (barragem, chimpacas, açudes).

Fazendo a análise do Mapa 2,observou-se alguns rios de regime intermitente que são
abastecidos pelas quedas pluviométricas que vêem a decrescer ao longo dos anos devido as
mudanças climáticas globais com o auxílio das ferramentas do QGiS elaborou-se um
Buffer de 5 km que é 1 raio de distância entre as linhas de água próximas as sedes ou os
principais aglomerados populacionais, onde mostra que os centros urbanos das comunas
existentes no Município da Chibia localizam-se a uma distancia considerável das linhas de
agua existentes o que obriga as populações a deslocarem-se dezenas de quilómetros para as
mesmas, razão pela qual influencia grandemente as actividades socioeconómicas das
populações nativas que dedicam-se principalmente á pecuária e a agricultura ganha um
plano secundário devido as condições climo-edáficos da região.

Gráfico 1: Termo pluviométrico da Chibia

Climograma da Chibia
35 174 200
30 139 148 160
136
25
Temperatura (°C)

20 99 120

Chuva (mm)
15 53 80
10 39
5 40
2 0 0 0 4
0 0
iro ei
ro
ar
ço ril ai
o
nh
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os
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o
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a ne er M Ab M Ju Ju g m tu m m
J ev A te Ou ve z e
F Se No De
Meses do ano

Chuva (mm) Temperatura média(°C)


Temperatura mínima(°C) Temperatura máxima(°C)

O gráfico termo pluviométrico da Chibia, espelha o comportamento anual das chuvas e da


temperatura ao longo do ano. Onde mostra que chove durante 7 meses de forma irregular,
sendo os meses mais chuvosos Janeiro e Março; o município regista uma média
pluviométrica anual de 66 mm3 (constitui seca severa), o que é pouco expressivo para
reabastecer os rios e o aquífero, uma vez que a média anual normal varia de 800-
1200mm3.

Após os estudos feitos identificou-se que os rios não atravessam todos os aglomerados
populacionais, ao longo dos cursos de água existem varias represas fazendo com que a
água não chegue a algumas áreas populacionais devido ao baixo índice pluviométrico que
afecta o caudal dos rios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A região sul de Angola está a sofrer a pior seca dos últimos 40 anos. O Sistemas de
Informação Geográfica, quando usados para fins de análise e construção de modelos
hidrológico transformam-se em uma importante ferramenta para investigadores, gestores
públicos e privados, auxiliando a tomada de decisão. A análise do modelo hidrológico
mostrou-se eficiente, pois, permitiu combinar variáveis e elaborar o mapa síntese final que
permitira para futuro estudos uma a análise qualitativa e quantitativa hidrológica
permitindo analisar os factores e variáveis que mais influenciam na Seca, na área de estudo.

Em suma, é relevante realçar que é importante desenvolver trabalhos de investigação que


permitam aprofundar o tema em estudo e descobrir as relações de interacção entre os
factores que podem explicar o desencadear deste tipo de fenómenos em toda zona sul de
Angola.

Diante dos resultados obtidos constatou-se que o metodo utilizado respresenta a realidade
de maneira satisfatoria a partir das observações feitas em campo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÂMARA, G. et. Al. Anatomia de Sistemas de Informações Geográfica. Campinas,


UNICAMP. 193p. 1996.

CÂMARA, G.; DAVIS JR, C.A.; MONTEIRO, A.M.V. Introdução à Ciência da


Geoinformação. INPE, 2001.

CÂMARA, G. et al. Anatomia de Sistemas de Informação Geográfica Campinas:


UNICAMP, 1996.

FUJIHARA, A. K. (2002). Predição de erosão e capacidade de uso do solo numa


microbacia do oeste paulista com suporte de geoprocessamento. Dissertação de Mestrado
em Ciências Florestais. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
Maia,et al. (2006). Crescimentoda parte aéria de plantas cultivadas em vaso, submetidas á
irrigaçao subsuperficial e a diferentes graus de compactaçao de um latossolo Vermelho-
Escuro distrófico. Revista brasileira de ciencia do solo, 30, 31-40.

RODRIGUES, Marcos. Anais da quarta conferência latino-americana sobre sistemas de


informação geográfica/segundo simpósio brasileiro de geoprocessamento. São Paulo:
Epusp, 1993.

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