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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

GABRIEL ARAÚJO
LARISSA PEREIRA
LUCAS GOMES
NATALIA COUTO
RAFAEL SILVA

Caracterização da Bacia do Rio Munim (MA)

VITÓRIA
2022
Gabriel Araújo
Larissa Pereira
Lucas Gomes
Natalia Couto
Rafael Silva

Caracterização da Bacia do Rio Munim (MA)

Pesquisa desenvolvida durante a disciplina de Hidrologia,


pertencente ao curso de Geografia do Centro de Ciências
Humanas e Naturais – UFES, no semestre 2021/2, sobre a
orientação do Professor Fabian Sá.

VITÓRIA
2022
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. ASPECTOS ECONÔMICOS
3. GEOLOGIA
4. CLIMA
5. VAZÃO
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
7. BIBLIOGRAFIA
1. INTRODUÇÃO

Este relatório teve como objetivo analisar os dados de vazão e de precipitação do


rio Munim, localizado no Nordeste maranhense, assim como entender as dinâmicas
socioambientais deste afluente e as problemáticas de sua gestão. O trabalho foi
realizado a partir das séries históricas das estações fluviométricas e pluviométricas
do Rio Munim, de 1991 a 2020, dados que foram disponibilizados na plataforma da
Agência Nacional de Águas (ANA).

A partir de uma breve pesquisa bibliográfica sobre o afluente e da análise de


imagens de satélite da região no período analisado, este relatório buscou traçar as
principais variáveis que expliquem o aumento da vazão do rio Munim, que saltou de
uma média anual de 25m³/s em 1991 para mais de 50 m³/s em 2020. De posse dos
dados mencionados, mais outras informações que serão apresentadas em seu
decorrer, objetiva-se compreender as etapas que estão relacionadas a
disponibilidade dos recursos hídricos, assim como a problemática de sua gestão,
bem como quais são as variações históricas deste rio ao longo do tempo, visto que
este foi desenvolvido com séries históricas de estações fluviométricas e
pluviométricas.

A Bacia do Rio Munim faz parte de um conjunto de outras 12 bacias hidrográficas do


Maranhão com rios perenes, ou seja, que mantém durante todo o ano o curso de
água. Deste modo, o MAranhão é o único Estado do Nordeste que não compõe o
semiárido brasileiro, com grande potencial hídrico e inexistência de cenários de
seca.

No entanto, a ocupação das margens dos rios maranhenses, a inauguração de


grandes investimentos realizados sem planejamento adequado, desordenada
extração mineral, com elevados índices de desmatamentos e queimadas, aliada a
despejos de esgoto e outras atividades prejudiciais na manutenção da bacia têm
ameaçado os recursos hídricos da região (COSTA, DUTRA, BUNA, ALMEIDA,
SANTOS, GOMES,, SILVA, 2017).
A bacia do rio Munim abrange uma área de 15.817,4 km² – cerca de 4,8% do
Maranhão –, onde se distribuem 30 municípios com população estimada em
1.036.621 habitantes. Ele nasce próximo à divisa com o Piauí, no município de
Aldeias Altas, no Leste do Maranhão, e percorre 275 quilômetros até desaguar na
baía de São José, entre as cidades de Icatu e Axixá, no Norte do estado.

2. ASPECTOS ECONÔMICOS

Geralmente, bacias hidrográficas são importantes para a vida das pessoas do


entorno também considerando o aspecto econômico e social, afinal, o rio também é
parte de uma cidade, de uma comunidade, e quem vive em seu entorno faz uso do
mesmo para diferentes atividades. Não é diferente com o rio Munim, que, segundo
Júnio et.al (2008) tem agricultura, extração vegetal e pesca como atividades de
subsistência e econômicas de maior importância.

Portanto, quando há utilização indevida ou falta de cuidado com o manejo de um


recurso natural, existe o risco de afetar economicamente todo um grupo de pessoas
que dependem deste rio para sobreviver. Uma área com recursos hídricos deve ter
como foco principal o atendimento a demandas básicas, como a proteção dos
ecossistemas. Se estas forem atendidas, a expectativa é de que estes se tornem
um insumo básico fundamental para a evolução econômica da região à sua volta.

Desta forma, seria necessário conscientizar a toda a comunidade, bem como


reforçar mecanismos de proteção ao rio. Valcarcel (1992) afirma que deve se
considerar a bacia como uma unidade geomorfológica com propriedades peculiares,
que devidamente conhecidas, podem permitir um melhor rendimento hídrico
(quantidade e qualidade), econômico e social, contribuindo para a melhoria do
padrão de vida de seus usuários.

Considerando todos estes aspectos e a crescente devastação da vegetação ciliar


tem ocasionado diversos problemas como assoreamento dos rios e diminuição da
biodiversidade, relatadas por Júnio et.al (2008), bem como a ocorrência de
problemas ambientais em outras bacias pelo Maranhão, o projeto União pelas
Águas foi proposto para, primeiramente, qualificar a comunidade, gestores públicos
(...) inseridos nas Bacias Hidrográficas do Maranhão para utilizar os recursos
hídricos de forma sustentável e contribuir na organização de futuros comitês de
bacias, conforme afirma Júnio et.al (2008).

A necessidade de desenvolver um projeto também se apresenta a partir de outros


cenários que são visualizados no entorno do rio Munim, como o da produção
agrícola e do aumento massivo da produção de soja, por exemplo. Por sua vez, a
atividade em questão provoca desmatamento e assoreamento dos cursos d’água, o
que prejudica as atividades de subsistência primeiramente mencionadas, como a
pesca. Sendo a agricultura também uma forma de sustento das pessoas, é
necessário equilibrar os interesses: Conscientizar e lembrar da importância de
conservar ao máximo num aspecto ambiental as características principais do rio,
propondo uma agricultura sustentável, que não prejudique a bacia hidrográfica nem
os pescadores que utilizam as águas.

O projeto citado envolve um comitê que tem representantes também de órgãos


governamentais, o que também traz à tona outro aspecto importante deste debate,
que é a participação do estado nesse cuidado, não apenas ambiental e de
conservação do corpo hídrico objeto deste trabalho, mas também econômico, de
crescimento, conservação dos índices e da renda per capita de todos que
dependem do rio para sobreviver. As ações, neste caso, estão intercaladas:
conservar um para conservar tudo que está envolvido no processo.

A extração de areia ilegal do fundo do rio Munim é outro problema sério que vem
sendo apontado, prejudicando as características naturais do corpo hídrico. Os
moradores do entorno da bacia hidrográfica tem afirmado que a diferença é notável
e perceptível, tendo o rio se tornado mais ‘’fundo’’: Conforme pesquisa realizada em
artigo de Mendonça et.al (2012), 73% consideram que houveram alterações no leito
e na margem do rio. A exploração em questão favorece a construção civil, tanto
para quem faz a retirada em pequena escala, para uso pessoal, quanto para quem
faz em grande escala, visando uso em obras de larga escala. Essas agressões já
foram registradas em reportagens feitas por grandes veículos de comunicação, ou
seja, é um problema conhecido, que a longo prazo poderá causar impactos ainda
mais significativos.

Projetos como o União pelas Águas visam combater estes problemas, bem como
formar um comitê com integração de todos os envolvidos com a bacia hidrográfica
de alguma maneira de forma a mitigar essas questões, permitindo que as atividades
econômicas não sejam prejudicadas, bem como o social também não acabe sendo
afetado por uma degradação contínua do rio, visto que tudo está conectado e ligado
de forma direta.

http://www.sinageo.org.br/2012/trabalhos/2/2-486-325.html

https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2012/09/extracao-de-areia-no-rio-munim-
sera-inspecionada-pelo-ministerio-publico.html

3. GEOLOGIA

A bacia do Rio Munim está, predominantemente, localizada em um território da


Formação Itapecuru – do tupi, “água que caminha entre pedras”, e da Formação
Codó. A Formação Itapecuru foi definida pela primeira vez por Campbell (1949),
sendo representada por arenitos finos a médios, siltitos e argilitos. O perfil
intemperítico da bacia é composto de saprolitos sedimentares com intercalações de
camadas arenosas e argilosíltico, intensamente intemperizadas, com grau de
resistência branda.

Já a Formação Codó é constituída “de terrenos sujeitos a processos cársticos


devido à dissolução química dos calcários, promovendo abatimentos e colapsos da
superfície”. Entre as potencialidades econômicas destas formações, como
constatamos a pouco na descrição dos aspectos econômicos do rio Munim, está a
construção civil.

“Além dos aquíferos cársticos, existem os porosos, oriundos de camadas


arenosas, com porosidade e permeabilidade moderadas, propícios à
captação de água subterrânea. Presença de concreções ferruginosas e
cascalho laterítico com alto potencial para uso em obras de infraestrutura e
com o piçarra na construção civil. Assim como existência de espessas
camadas de arenito intercaladas com argilito, com alto potencial para
exploração de areia e argila”. (CPRM, 2019)

4. CLIMA

A bacia do Rio Munim está localizada em uma região de clima subúmido com duas
estações bem definidas pelo regime de chuvas, com uma estação chuvosa
entre dezembro e maio e outra seca de julho a novembro.

Este perfil climático é a transição entre o clima tropical úmido, predominante, por
exemplo, na região amazônica; e o clima tropical com inverno seco, mais comum no
Norte do Maranhão.

O clima subúmido apresenta temperatura média do mês mais frio sempre superior a
18ºC, apresentando uma estação seca de pequena duração que é compensada
pelos totais elevados de precipitação.

A análise das precipitações médias anuais da bacia do Munim indicam certa


estabilidade do volume de chuvas, com um coeficiente médio de 4,42 mm/h durante
o ano, baseando-se nos dados de 1991 a 2020.

Nestes 30 anos, a média anual variou de 2,49 mm/h no ano de maior estiagem, em
1992, a 6,72 mm/h, no ano com maior volume de precipitação, em 2009, como
mostra o gráfico a seguir.
Gráfico 1: médias pluviométricas anuais do Munim.

O mês de abril é, nos últimos 30 anos, o mês mais chuvoso na bacia hidrográfica,
com média de 11,40 mm/h. Foi em abril, também, o maior pico de precipitação nesta
série histórica, com uma média de 21,96 mm/h registrado no ano de 2011. O
volume, quase duas vezes maior do que o esperado, registrou enchentes
consideráveis, com grande número de desabrigados, coincidindo também com um
aumento de vazão do rio Munim no período.
Gráfico 2: Média das precipitações mensais do Munim.

5. VAZÃO

Os dados de vazão média do Rio Munim entre 1991 e 2020 demonstram que em 30
anos o volume de água fluvial dobrou. É possível relacionar este crescimento, que
tem um salto vertiginoso em 2006, com o aumento populacional na região e, com
ele, o aumento da extração de areia do leito do rio.

No início da série histórica, pode-se observar certa constância na variação dos


ciclos hidrológicos, com intervalos bem definidos de períodos mais secos, com
períodos mais úmidos, na análise das médias anuais. A média medida em 1991,
primeiro ano da série, foi de 29,94 m³/s.
Gráfico 3: vazões médias anuais do Munim

O ponto mais fora desta curva acontece no ano de 2009, quando a média anual de
vazão alcançou o pico de 87,75 m³/s. É deste período também, como destacamos
ao falar das extrações minerais no leito do rio Munim, que começam a surgir
denúncias de retiradas ilegais de areia e maior desmatamento da mata ciliar. Esta
situação, aliada a um volume de precipitações maior, como vimos no gráfico 1, são
fatores que explicam o pico alcançado.

A exemplo das médias de precipitações, os meses de abril e maio representam os


períodos de vazões mais elevadas do rio Munim, seguidos de um período de níveis
mais baixos do rio, como mostra o gráfico 4.
Gráfico 4: média das vazões mensais do Munim

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa bibliográfica disponível da Bacia do Munim e com os


dados das precipitações e vazões da região nos últimos 30 anos, é possível
perceber um aumento gradual da vazão do rio, que atinge um crescimento mais
acelerado nos últimos 15 anos.

A questão da extração ilegal de areia do leito do rio, tanto para a construção civil
para as comunidades ribeirinhas (feita em pequena escala), quanto de empresas de
capital mais elevado, que utilizam dragas e chegam a retirar até 40 caçambas por
dia de areia, é um fator que deve ser considerado para investigar esse fluxo mais
elevado de água e seus impactos.

Um dado importante que também pode auxiliar no entendimento dos problemas


enfrentados pelos gestores da bacia é o crescimento populacional nos 30
municípios, que estão inseridos na região do Rio Munim. De acordo com dados do
Censo Demográfico do IBGE, em 1991 estes 30 municípios contavam com uma
população de 521.120 pessoas. No Censo de 2000, este número passou para
578.388 pessoas, aumento de 11%. Já em 2010, passaram a ser contabilizadas
719.004 indíviduos na região, salto de 24%. A última estimativa populacional do
IBGE, de 2021, aponta para uma população de 1.036.621 habitantes na área.

Em uma análise superficial, dá para subentender que a tendência é de aumento


populacional e, possivelmente, da vazão do rio nos próximos anos. Com impactos já
sendo observados sem grande dificuldade, com desmoronamento de encostas no
rio, atingindo povoados ribeirinhos, além de crescente número de desabrigados a
cada mês de abril, quando a precipitação atinge seu ponto mais alto, se faz
necessário uma política mais atuante na fiscalização das atividades econômicas ao
longo da bacia e de melhor planejamento urbano para dar uma condição de vida
mais digna para as comunidades ribeirinhas.

6. BIBLIOGRAFIA

Relatório Final - Rio Munim


Documentos:
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MUNIN
https://www.proceedings.blucher.com.br/article-details/caracterizao-ambiental-da-ba
cia-hidrogrfica-do-rio-munin-26853

Mapa geodiversidade da bacia do Rio Munim, MA


https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/21512

DEGRADAÇÃO DO SOLO NO MÉDIO CURSO DO RIO MUNIM, MUNICÍPIO


DE CHAPADINHA-MA
http://lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/4/172.pdf

Programa União Pelas Águas — Gestão Participativa para Elaboração


e Formação do Pró-Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Munim
https://abrh.s3.sa-east-1.amazonaws.com/Sumarios/16/e80d6e2a1d9212b754cbcf7
e20f9ae84_7c8785bb7fa926a9ef48b367fd93b5ec.pdf

Gráficos:
Precipitação Munim
https://drive.google.com/file/d/1M4-C8TsF2xZrkSdAnB7wrQeU0spiTlzk/view?usp=sh
aring

Vazão Munim
https://drive.google.com/file/d/1TCTQvpy9QO-PMxTJ63Q3t_hGaz-S1n4H/view?usp
=sharing

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