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MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA

Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral

Serviço Geológico do Brasil – CPRM

Departamento de Gestão Territorial - DEGET

Ação Emergencial para Delimitação de Áreas em Alto e Muito Alto Risco a


Enchentes, Inundações e Movimentos de Massa

Palhano- CE

Junho –2015
Ação Emergencial para Delimitação de Áreas em Alto e Muito Alto Risco a Enchentes e
Movimentos de Massa

Município de Palhano – Ceará


Junho de 2015

Introdução e Objetivos

Anualmente inúmeros eventos decorrentes de desastres naturais ocorrem por todo


o país, como as inundações de Alagoas e Pernambuco em 2010, Santa Catarina em
2011 e das chuvas catastróficas ocorridas na região serrana do Rio de Janeiro em
janeiro de 2011, bem as fortes chuvas em janeiro de 2012 nos estados do Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Espírito Santo e em fevereiro de 2012 no Acre, que acarretaram a perda
de milhares de vidas humanas em suas totalidades e ultrapassaram todas as
expectativas das previsões dos sistemas de alerta existentes. No Ceará, inúmeros
eventos decorrentes de desastres naturais já foram registrados, tais como: inundações e
movimentos de massa na região do Cariri, nos anos de 2004, 2009 e 2011; no Maciço de
Baturité e nos municípios inseridos na Bacia do Rio Acaraú, em 2009.

O crescimento acelerado das cidades aliado à ocupação desordenada, tem sido


o principal responsável pelos eventos naturais com consequências catastróficas que se
sucedem nos grandes e pequenos núcleos urbanos. Ocupação de encostas sem
nenhum critério técnico ou planejamento bem como a ocupação das planícies de
inundação dos principais cursos d’água que cortam a grande maioria dos municípios
brasileiros tem sido os principais causadores de mortes e das grandes perdas materiais.

Desta forma, visando uma redução geral das perdas humanas e materiais, o
Governo Federal, em ação coordenada pela Casa Civil da Presidência da República e
em consonância com os Ministérios da Integração Nacional, Ministério das Cidades,
Ministério de Ciência e Tecnologia, Ministério da Defesa e o Ministério de Minas e
Energia firmaram convênios de colaboração mútua para executar em todo o país o
diagnóstico e mapeamento das áreas em risco.

O programa, que teve início em 2011, está sendo executado pelo Serviço
Geológico do Brasil – CPRM, empresa do Governo Federal ligada ao Ministério de Minas
e Energia, com o objetivo de identificar, descrever e classificar as áreas em risco alto e
muito alto, com caráter potencial ou instalado, a enchentes e movimentos de massa.

Os dados resultantes deste trabalho emergencial são disponibilizados em caráter


primário às defesas civis de cada município e os dados finais irão alimentar o banco

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nacional de dados do CEMADEN (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, que é o órgão responsável pelos
alertas de ocorrência de eventos climáticos de maior magnitude que possam colocar
em risco vidas humanas, e do CENAD (Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e
Desastres), ligado ao Ministério da Integração Nacional, que como algumas de suas
atribuições tem o monitoramento, a previsão, prevenção, preparação, mitigação e
resposta aos desastres, além de difundir os alertas nos estados e municípios.

O Município de Palhano foi um dos selecionados pela defesa civil estadual para
ser setorizado segundo os aspectos de risco geológico a inundação no ano de 2015.
Ficando sob a responsabilidade dos geólogos Filipe de Brito Fratte Modesto e Juliana
Gonçalves Rodrigues, realizar a setorização das áreas de alto e muito alto risco no dia
25/06/2015.

Contexto Geológico-Geomorfológico Local

Do ponto de vista geológico, observa-se um predomínio de rochas do


embasamento cristalino, aflorando gnaisses e migmatitos diversos de idade pré-
cambriana, além de sedimentos detríticos, inconsolidados, arenosos e areno-argilosos
do Terciário/Quaternário, e sedimentos aluvionares de idade quaternária.

O relevo tem as formas suaves e pouco dissecadas da Depressão Sertaneja,


produto da superfície de aplainamento em atuação a partir do Cenozóico; as altitudes
do terreno são inferiores a 200 m.

Planossolos, areias quartzosas distróficas e podzólicos são os tipos de solos


encontrados na região. A cobertura vegetal apresenta-se como espécies de caatinga
e de mata serrana nos tabuleiros, caatinga arbustiva aberta e mata ciliar (floresta mista
dicótilo-palmácea) ao longo da drenagem de maior porte.

Contexto Hidrológico

Águas Superficiais

O município de Palhano contribui para a bacia hidrográfica do Baixo Jaguaribe e


possui, como principais drenagens superficiais, o rio Palhano e os riachos das Pedras,
Riachinho e Umburanas, este último na divisa com o município de Beberibe.

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Águas Subterrâneas

Pode-se distinguir três domínios hidrogeológicos distintos: rochas cristalinas,


coberturas sedimentares e depósitos aluvionares.

As rochas cristalinas predominam totalmente na área e representam o que é


denominado comumente de “aquífero fissural”. Como basicamente não existe uma
porosidade primária nesse tipo de rocha, a ocorrência da água subterrânea é
condicionada por uma porosidade secundária representada por fraturas e fendas, o
que se traduz por reservatórios aleatórios, descontínuos e de pequena extensão. Dentro
deste contexto, em geral, as vazões produzidas por poços são pequenas e a água, em
função da falta de circulação e dos efeitos do clima semi-árido é, na maior parte das
vezes, salinizada. Essas condições atribuem um potencial hidrogeológico baixo para as
rochas cristalinas sem, no entanto, diminuir sua importância como alternativa de
abastecimento em casos de pequenas comunidades ou como reserva estratégica em
períodos prolongados de estiagem.

As coberturas sedimentares tércio-quaternárias correspondem a manchas isoladas


de sedimentos detríticos que, em função das espessuras bastantes reduzidas, têm
pouca expressividade como mananciais para captação de água subterrânea.

Os depósitos aluvionares são representados por sedimentos arenosos e areno-


argilosos recentes, que ocorrem margeando as calhas dos principais rios e riachos que
drenam a região, e apresentam, em geral, uma boa alternativa como manancial,
tendo uma importância relativa alta, do ponto de vista hidrogeológico, principalmente
em regiões semi-áridas com predomínio de rochas cristalinas. Normalmente, a alta
permeabilidade dos termos arenosos compensa as pequenas espessuras, produzindo
vazões significativas.

Resultados Obtidos e Sugestões

A visita técnica de campo foi realizada em parceria com o Ouvidor Geral do


município, o Sr. Jeilson Souza de Santiago, juntamente com o Chefe da Divisão de
Limpeza Pública, o Sr. Clodoaldo Rodrigues de Lima, ambos indicados pelo Secretário
de Infraestrutura, o Sr. Valdoberto Rodrigues da Fonseca.

O presente trabalho resultou na seleção de três áreas: duas consideradas de risco


muito alto e uma, em risco alto a inundação. Essa seleção se deu em função das
ocupações e dos fenômenos naturais que ocorrem em épocas chuvosas. Em linhas
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gerais, essas áreas são representadas por uma ocupação inadequada do leito do rio e
de sua planície de inundação, ficando assim submetidas a enchentes e inundações.
Tudo isso é resultante de um processo histórico de crescimento do município, sem
controle e planejamento.

Ressalta-se que dentre todas as ações sugeridas, devem ser foco no município
em função da situação de risco apresentada os seguintes setores:

1. Beira Rio, Oteiro, Centro, Caucaia, Conjunto São Vicente e Vila Nova – Esse setor

compreende as localidades de Beira Rio, Oteiro, Centro, Caucaia, Conjunto São

Vicente e Vila Nova. Todas situadas na extensa e larga planície de inundação do

rio Palhano. Essa região apresenta baixa declividade, o que favorece o processo

de inundação durante período de chuvas intensas, como no ano de 2009,

quando ruas e casas foram invadidas pelas águas. Observou-se a implantação

recente de casas nos locais que foram bastante atingidos na última cheia do Rio

Palhano, de forma que essas residências encontram-se em risco iminente, no

momento de uma nova época chuvosa. Constatou-se também, que por conta

do histórico de inundações, as moradias estão se adaptando: utilizando

aterramento das áreas para elevação da base das moradias.

2. Lagoa de Trás – A localidade de Lagoa de Trás está situada em uma região de

baixada, na planície de inundação de um dos tributários do Rio Palhano, a

jusante do açude da cidade. Segundo relatos, o Parque Integração e a casa de

taipa já ficaram inundados em épocas de elevada pluviosidade, como no caso

de 2009. As casas de alvenaria foram construídas após o último evento chuvoso,

por isso ainda não apresentam reclamações sobre inundações, porém estão em

risco iminente, dependendo apenas de uma nova época chuvosa. Importante

ressaltar sobre a necessidade da constante manutenção e monitoramento das

condições do açude a fim de evitar os transtornos à população com seu

rompimento.

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3. Canto da Cruz – A localidade denominada Canto da Cruz está situada do lado

direito, na extensa e larga planície de inundação do rio Palhano. Essa região

apresenta baixa declividade, o que favorece o processo de inundação durante

período de chuvas intensas, como no ano de 2009, quando ruas e casas foram

invadidas pelas águas, com nível d’agua atingindo 0,5m dentro das residências.

Segundo relatos, o translado dos moradores da localidade ate o centro de

Palhano era feito por meio de canoas. Observou-se a implantação recente de

casas nos locais que foram bastante atingidos na última cheia do Rio Palhano, de

forma que essas residências encontram-se em risco iminente, no momento de

uma nova época chuvosa. Constatou-se também, que por conta do histórico de

inundações, as moradias estão se adaptando: utilizando aterramento das áreas

para elevação da base das moradias.

Dessa forma, apresentamos sugestões estruturais/ não-estruturais:

 Campanhas de sensibilização da população para apoiar a Defesa Civil nos


momentos de emergência, entendendo a necessidade de evacuações
imediatas ou permanentes. Palestras em igrejas, praças e escolas, bem como
distribuição de cartilhas e sessões de vídeos com situações de emergência
podem colaborar para o entendimento, bem como conscientização da
população sobre os riscos de construções feitas de forma incorreta e sem
conhecimento técnico;

 Obras de melhorias na infraestrutura urbanística, como, implantação de sistema


eficiente de drenagens de águas pluviais para aumentar a velocidade de
escoamento das águas para fora da área de inundação. E também
implantação de sistema de coleta e tratamento de esgoto, para que cesse o
lançamento do mesmo à céu-aberto, o que tende a colocar em risco a saúde
da população;

 Controle urbano para evitar construções e intervenções inadequadas em áreas


de inundação;

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 Implantação do sistema de aleta para chuvas anômalas, e monitoramento dos
açudes a montante para que quando necessário, os moradores possam ser
removidos temporariamente do local com antecedência;

 Formação de líderes comunitários para apoiar a Defesa Civil Municipal;

 Vistorias efetivas e periódicas por profissionais da área de engenharia e/ou


geotecnia, com realização de obras adequadas e dimensionadas para o
município.

Ressalta-se a importância da elaboração de um plano de ordenamento territorial


do município, visando o planejamento de ocupação urbana e rural de forma
adequada e sustentável.

É importante observar que a consolidação de uma Defesa Civil Municipal


agregando profissionais experientes de diversas áreas como engenheiros, geotécnicos e
campanhas de sensibilização junto às comunidades (palestras, cursos, campanhas
preventivas antes da época das chuvas), além da formação de líderes comunitários
que possam apoiar nas horas de emergência, constitui um ponto fundamental na
questão de segurança pública do município.

Contato municipal

Órgão Municipal: Defesa Civil Municipal / Secretaria de Infraestrutura.

Responsável: Valdoberto Rodrigues da Fonseca

Telefone: (88) 3415-1015 / (88) 99287-4317

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Agradecimentos Especiais

O Serviço Geológico do Brasil – CPRM agradece aos profissionais que


acompanharam aos trabalhos de campo pela dedicação e comprometimento,
abdicando de sua carga de trabalho para nos propiciar a execução dessa tarefa. Sem
esta valiosa contribuição, nada teria sido possível.

A todos, a nossa gratidão.

Equipe Técnica:
Geólogos - Pesquisadores em Geociências da CPRM (Unidade Residência de Fortaleza)

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Filipe de Brito Fratte Modesto

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Juliana Gonçalves Rodrigues

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