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6.2.

3 Clima e hidrografia

Clima

Morro do Chapéu possui um clima tropical de altitude e é classificado na


escala climática internacional de Köppen como Cwa. Com temperaturas suaves
para a região com baixa latitude, por volta de 18 a 28 °C, no verão. E no
inverno, já foi registrada temperatura mínima abaixo de 10 °C, embora ocorram
muito raramente. E por apresentar um verão úmido e mais fresco que as
cidades do entorno, moderada principalmente pela altitude acima dos 1000m e
pelas chuvas de verão que se apresentam torrencialmente ou advindas do
oceano. Possuindo invernos relativamente frios e mais secos e verões úmidos
com dias quentes e noites mais frescas.

A cidade apresenta duas estações bem definidas: A das chuvas vai de


novembro a abril e a da seca vai do final de abril a outubro.

Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), referentes ao


período de 1961 a 1970 e a partir de 1977, a menor temperatura registrada em
Morro do Chapéu foi de 7,2 °C em agosto de 1963, nos dias 24 e 31, [8] e a
maior atingiu 36,8 °C em 3 de dezembro de 2015. O maior acumulado
de precipitação em 24 horas foi de 124,8 milímetros (mm) em 27 de dezembro
de 1977. Outros grandes acumulados iguais ou superiores a 100 mm foram:
122,2 mm em 18 de novembro de 2014, 111 mm em 16 de março de 1969,
109,4 mm em 27 de março de 1997, 105,3 mm em 22 de dezembro de 1963,
104,5 mm em 9 de março de 1987 e 101,4 mm em 2 de abril de 2017.

6.2 Caracterização Geoambiental da Região de Estudo

6.2.1 Geologia e Geomorfologia

x.Geologia
A comunidade Quilombola Barra II fica localizada na zona lítica do
Município de Morro do Chapéu onde é caracterizada pela predominância de
litótipos representantes do grupo Chapada Diamantina, formação Morro do
Chapéu, formação Bebedouro e formação Salitre. Na porção oriental do
município, encontra-se ainda o complexo Mairi. Coberturas Quaternárias
constituídas por areia argilosa e argila, areia com níveis de argila e cascalho e
crosta laterítica, além de brecha calcífera e calcrete, ocorre em segmentos
isolados. O grupo Chapada Diamantina está representado pelas formações
Tombador (quartzoarenito eólico com intercalações de arenito mal selecionado
e arenito conglomerático; e arenito, arenito conglomerático e pelito) e Caboclo
(laminito algal, calcarenito silicificado, pelito e arenito laminados e
estromatóloito colunar; siltito e argilitos rítimicos e quartzoarenito, com lentes
de laminito algal, calcarenito, estromatólito colunar, arenito conglomerático e
siltito).

A formação Morro do Chapéu, repousa diretamente sobre a formação


Caboclo, em contato erosivo, e é caracterizada pela ocorrência de
conglomerado, arenito conglomerático e quartzo arenito, na base, passando a
arenito fino a médio, em parte feldspático e quartzoarenito fino a médio bem
selecionado, no topo. A formação Bebedouro é constituída por diamictito, pelito
e arenito, enquanto a formação Salitre sobreposta é caracterizada pela
presença de calcilutito, calcarenito e tapetes algais, na base, seguida por
calcarenito, calcilutito e calcissiltito odorosos; e calcilutito e calcarenito com
níveis de silexito, dolomito, arenito e pelito, além de calcarenito, calcissiltito e
calcilutito pretos e odorosos, calcarenito quartzoso, arcóseo e siltito na base e
calcarenito oncolítico, calcirrudito e calcilutito, no topo da seqüência.

Do ponto de vista estrutural, vale ressaltar que toda a seqüência


encontra-se dobrada. A presença de rochas cristalinas na porção oriental,
caracteriza-se pela presença de gnaisse kinzigítico e anfibolito, e ortognaisse
migmatitico, tonalitico-trondhjemitico-granodioritico, com enclaves máfico e
ultramáfico do complexo Mairi. A figura abaixo mostra o mapa geológico do
município.
Figura x. Esboço Geológico . Fonte

X. Aspectos Fisiográficos

O município está incluído no denominado “Polígono das Secas”,


apresentando clima semi-árido e seco a subúmido, suscetível a ter prolongados
períodos de estiagem. Os solos foram identificados como dos tipos latossolos
ácricos, distróficos ou eutróficos, cambissolos eutróficos, argissolos eutróficos e
neossolos litólicos e areias quartzosas. Os tipos de vegetação mais
representativos são os seguintes: caatingas arbórea ou densa (sem palmeiras),
florestas deciduais montana ou estacional semidecidual, contatos cerrado-
floresta estacional, caatinga-floresta estacional e ainda gramíneo lenhosa e
refúgio ecológico montano. O relevo, em sua maior parte, está configurado por
chapadas e patamares, cortados pela drenagem, onde os rios principais
(Jacuípe e Jacaré) servem às bacias hidrográficas Jacuípe e São Francisco.

8.4.3 Recursos Hídricos

8.4.3.1 Comunidade Barra II

A área de abrangência de estudo se enquadra nas águas superficiais do


Município de Morro do Chapéu possui drenagens que pertencem a três
grandes bacias hidrográficas. A oeste, as drenagens fluem para a bacia do rio
São Francisco (sub-bacia do rio Jacaré), ao norte as drenagens estão inseridas
na bacia do rio Salitre e a sul e leste drenam as águas para a bacia do rio
Paraguaçu. Dentre as drenagens que cortam o município, destacam-se: o rio
Jacaré, o rio Salitre e o rio Jacuípe (CEI, 1994f). O rio Jacaré é uma drenagem
intermitente que flui para nordeste e faz o limite municipal oeste com América
Dourada, João Dourado e São Gabriel. O rio Salitre ocorre ao norte da área
municipal, sendo que suas nascentes estão ao norte da cidade de Morro do
Chapéu. Trata-se de uma drenagem intermitente com direção de fluxo para
norte. O rio Jacuípe flui na direção leste e ocorre no extremo leste da área
municipal. Apresenta caráter intermitente, em grande parte do trecho em que
corre no Município de Morro do Chapéu, adquirindo perenidade nas
proximidades da divisa com o Município de Piritiba.

x. Águas Subterrâneas

No Município de Morro do Chapéu, podem-se distinguir cinco domínios


hidrogeológicos: formações superficiais Cenozóicas,
carbonatos/metacarbonatos, grupo Chapada Diamantina/Estancia/Juá,
metassedimentos/metavulcanitos e cristalino (Figuras 4 e 5). As formações
superficiais Cenozóicas, são constituídas por pacotes de rochas sedimentares
de naturezas diversas, que recobrem as rochas mais antigas. Em termos
hidrogeológicos, têm um comportamento de “aqüífero granular”, caracterizado
por possuir uma porosidade primária, e nos terrenos arenosos uma elevada
permeabilidade, o que lhe confere, no geral, excelentes condições de
armazenamento e fornecimento d’água. Na área do município, este domínio
está representado por depósitos relacionados temporalmente ao Quaternário
(coberturas residuais) e Terciário-Quaternário (coberturas detrito-lateriticas). A
depender da espessura e da razão areia/argila dessas unidades, podem ser
produzidas vazões significativas nos poços tubulares perfurados, sendo,
contudo, bastante comum, que os poços localizados neste domínio, captem
água dos aqüíferos subjacentes. Os carbonatos/metacarbonatos constituem
um sistema aqüífero desenvolvido em terrenos com predominância de rochas
calcárias, calcárias magnesianas e dolomiticas, que têm como característica
principal, a constante presença de formas de dissolução cárstica (dissolução
química de rochas calcárias), formando cavernas, sumidouros, dolinas e outras
feições erosivas típicas desses tipos de rochas. Fraturas e outras superfícies
de descontinuidade, alargadas por processos de dissolução pela água
propiciam ao sistema porosidade e permeabilidade secundária, que permitem
acumulação de água em volumes consideráveis. Infelizmente, essa condição
de reservatório hídrico subterrâneo, não se dá de maneira homogênea ao
longo de toda a área de ocorrência. Ao contrário, são feições localizadas, o que
confere elevada heterogeneidade e anisotropia ao sistema aqüífero. A água, no
geral, é do tipo carbonatada, com dureza bastante elevada. O domínio
hidrogeológico denominado grupo Chapada Diamantina/Estancia/Juá, envolve
litologias essencialmente arenosas com pelitos e carbonatos subordinados, e
que tem como características gerais uma litificação acentuada, forte
compactação e intenso fraturamento, que lhe confere além do comportamento
de aqüífero granular com porosidade primária baixa, um comportamento
fissural acentuado (porosidade secundária de fendas e fraturas), motivo pelo
qual prefere-se enquadra-lo com mais propriedade como aqüífero do tipo
fissural e “misto”, com baixo a médio potencial hidrogeológico. Os
metassedimentos/metavulcanitos e cristalino têm comportamento de “aqüífero
fissural”. Como basicamente não existe uma porosidade primária nestes tipos
de rochas, a ocorrência de água subterrânea é condicionada por uma
porosidade secundária representada por fraturas e fendas, o que se traduz por
reservatórios aleatórios, descontínuos e de pequena extensão. Dentro deste
contexto, em geral, as vazões produzidas por poços são pequenas e a água,
em função da falta de circulação, dos efeitos do clima semiárido e do tipo de
rocha, é na maior parte das vezes salinizada. Essas condições definem um
potencial hidrogeológico baixo para as rochas, sem, no entanto, diminuir sua
importância como alternativa no abastecimento nos casos de pequenas
comunidades, ou como reserva estratégica em períodos de prolongadas
estiagens.

Figura 5 – Domínio hidrogeológico do município.


Há alguns anos atras havia uma política de construção de barreiros no
território de Barra II onde tem-se baseado no conceito de que, desde que a
ausência de água era por definição um problema de falta de água, a situação
deveria ser resolvida com a acumulação de água em grandes quantidades, o
que tem sido chamado de "solução hidráulica". É de chamar a atenção o fato
de que, até bem pouco tempo, a grande maioria dos barreiros ou trincheiras
tem sido escassamente usada, porque não se pensam mais seriamente de que
maneira essa água chegaria a todos os usuários da comunidade. Argumenta-
se, nesta região de Barra II, que um dos aspectos negligenciados pelos
planejadores físicos tem sido a natureza disseminada da demanda de água
que torna inconveniente a concentração da oferta em um limitado número de
grandes poços particulares ou apoio público para com as famílias da
comunidade.

A Lagoa Doce, como mostra a figura abaixo, tem origem natural e está


situada em depressões de rochas impermeáveis na comunidade Barra II,
produzidas por causas diversas e sem conexão com o Rio Piauí. Essas águas
são provenientes da chuva, de uma nascente local de cursos de água chamada
Lagoa Grande essa no período de cheia desagua na lagoa doce. Contudo
antes dessa água chegar a comunidade Barra II , proprietários privados fizeram
barreiras para que as águas da mesma assim interferindo no fornecimento de
água das mesmas na comunidade e nas lavouras próximas, assim havendo um
pequeno barramento.

Fig. 52 e 53. Lagoa Doce que abrange a comunidade Saco.


Acervo de pesquisa, 2021.

A localidade Barra II possui um tanque chamado popularmente de


“Tanque do Baixão” localizado estrategicamente próximo a produção agrícola
da família XXX logo atrás das principais residências da comunidade. Este
tanque foi construído com intuito de dar água aos animais silvestres e
domésticos, banho de pessoas e prevenção de combate à seca na região.

Fig. 54: Tanque da Comunidade Saco

Acervo de pesquisa ,2021.

A comunidade saco está inserida numa das áreas de menor precipitação


do semiárido nordestino, conhecida como “polígono da seca”. A área de estudo
se insere na sub-bacia do rio Canindé na região hidrográfica do Parnaíba”
(AGUIAR; GOMES, 2004). Contudo possui um lençol freático fértil, a
comunidade é abastecida por um poço artesiano que fica localizado na região
central da área da sede da comunidade Curtume, a qual tem uma boa elevação
239 m, com coordenadas 0798824° 9077769°, próximo a PI-141.
Fig. 55: Principal poço da comunidade Curtume.

Acervo de pesquisa, 2021

8.4.3.2 Comunidade Barra II

A Comunidade Barra II tem sua economia concentrada na agricultura


familiar, avicultura e mais recentemente, no comércio, sendo assim uma das
comunidades que tem sua importância no município. Para seu abastecimento
d’água, possui dois principais poços de profundidade entre 100 e 150 metros,
com amplo abastecimento, um localizado próximo à casa de farinha e outro
próximo ao leito do Rio Piauí.

Segundo a Associação Caatinga (2021):

A maioria dos rios na Caatinga é intermitente, ou seja, correm apenas


durante o período das chuvas, ficando sem água corrente durante a estação
seca. Os rios perenes, aqueles que permanecem com água corrente o ano
todo, são menos frequentes. Um rio perene de grande porte e bastante
conhecido é o rio São Francisco. Na formação dos rios, as nuvens de chuvas
vindas do litoral são barradas pelas serras e as chapadas mais altas, onde a
água da chuva se infiltra e escoa, originando nascentes de encosta e pés de
serra úmidos.
Esta área de limite do território quilombola é caracterizada pelo o
encontro de três formações agroambientais como córregos, tanques e leito do
Rio que passa dentro da comunidade, cada uma delas com propriedades que
influem no acesso e disponibilidade das reservas hídricas subterrâneas,
impactando diretamente na quantidade de poço e vazão de cada localidade.

Figs. 56 e 57: Poços artesianos localizados na sede da comunidade (A)


e próximo ao Rio Piauí.

Acervo de pesquisa, 2021.

As principais atividades econômicas e de subsistência (produção de


alimento) da comunidade, consistem principalmente na pesca artesanal,
agricultura de pequena escala, complementadas por criação de animais. Essas
na qual sofre influência nas proximidades do Rio.

A pesca na comunidade Curtume é bastante difundida em ambas as


culturas, ocorrendo geralmente de forma mais artesanal, ou seja, não utilizam
barcos por conta do baixo nível da água, utilizam algumas técnicas a beira do
rio como as técnicas de pesca bastante diversificadas, incluindo redes de
pesca de vários tipos (espera, arrasto, dentre outras), anzol e linha, espinhel
(vários anzóis atados a uma corda), tarrafas e armadilhas diversas, utilizadas
para capturar várias espécies de peixes.
Apesar da variedade de petrechos utilizados, as redes de pesca,
principalmente as redes de espera confeccionadas com material sintético
(nylon), têm sido muito utilizadas por pescadores do Território e ribeirinhos.

Segundo Campos (2019):

A popularização dessas técnicas possivelmente se deve a seu maior


rendimento em relação ao esforço de pesca na comunidade, pois a rede pode
ser mantida na água por várias horas, sem a presença do pescador, que pode
se dedicar a outras atividades (ou mesmo utilizar simultaneamente outras artes
de pesca).

Apesar de sua pequena escala, a pesca artesanal na comunidade


Saco não é impactante, e ainda vale ressaltar que a pesca comercial quase
não existe na comunidade. A pesca que ocorre na área é apenas para fornecer
alimento para consumo interno e não para comercialização, sabendo assim os
ribeirinhos quilombolas a importância do leito do Rio próximo a comunidade.

Fig. 58. Leito do Rio Piauí que passa dentro da comunidade.

Acervo de pesquisa ,2021.


Fig. 59: Leito do Rio Piauí que passa dentro da comunidade.

Acervo de pesquisa, 2021.

A área em estudo localiza-se na região do Semiárido Brasileiro (SAB), uma


delimitação geográfica do território nacional, oficialmente definida em 2005 pelo
Ministério da Integração Nacional (MI), através da Portaria nº 89, para fins
administrativos. Neste documento, o Semiárido Brasileiro corresponde a um conjunto
de municípios que atende a, pelo menos, um dos critérios: precipitação pluviométrica
média anual inferior a 800 milímetros; índice de aridez de até 0,5 no período entre
1961 e 1990; risco de seca ou prolongamento da estação seca, de um ano para outro,
maior que 60%, tomando-se por base o período entre 1970 e 1990 (BRASIL, 2005).

Essa delimitação do SAB feita pelo Ministério da Integração Nacional, antes era
de competência da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE),
extinta em 2001. Essa autarquia adotava desde 1989 apenas critérios de precipitação
anual igual ou inferior a 800 mm. No entanto, MI considerou insuficiente o critério de
utilização somente da precipitação pluviométrica no processo de inserção de
municípios no SAB, adotando mais critérios para tal inclusão na última atualização de
2005, abrangendo assim, mais áreas que se beneficiariam de isenções fiscais e
políticas de crédito voltadas para essa. Como essa delimitação é uma estratégia de
diminuição das desigualdades regionais e apesar dessa alteração nos critérios, o
processo ainda prioriza fatores climáticos dos municípios.

Considerando aspectos para além do clima, Ab`Saber (1999) caracteriza a


região do Semiárido Brasileiro como uma área de depressões interplanáticas entre
maciços antigos e chapadas, constituída de muitas colinas, estas formadas de xistos e
gnaisses. Um solo raso, com pouca decomposição química das rochas, resultante do
clima quente e relativamente seco da região. Segundo o autor, as colinas são
contornadas por rios intermitentes, que em decorrência dos baixos índices de
precipitação e elevados índices de evapotranspiração, são característicos da região
semiárida.

Em relação à geomorfologia, Ross (2011), situa o semiárido dentro de duas


unidades morfoesculturais, anteriormente citada como depressões interplanálticas:
Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba e Depressões Sertanejas e do São
Francisco. Esta última, área que compreende este estudo, apresenta altitudes de 200
a 500 metros e abrange uma extensa área rebaixada e aplanada, com uma superfície
de erosão que secciona uma grande diversidade de litologias e arranjos estruturais,
além de uma superfície com inúmeros relevos residuais, chamadas de inselbergues,
associados às rochas cristalinas, quer sejam metamórficas ou intrusivas.

Sobre a estrutura morfológica do Piauí, Lima (1987) mapeia seis


compartimentos regionais no estado: Depressões Periféricas, Chapadões do Alto-
Médio Parnaíba, Oriental da Bacia do Maranhão/Piauí, Baixos Planaltos do Médio-
Baixo Parnaíba, Tabuleiros Pré-litorâneos e Planície Costeira.

Dentre os compartimentos do relevo do Piauí destacados por Lima (1987), os


territórios quilombolas do estudo estão sob as Depressões Periféricas. Este
compartimento localiza-se nas áreas do sudeste e sul do Piauí, na unidade estrutural
do embasamento cristalino, datado do Pré-Cambriano. Topograficamente,
corresponde a uma área deprimida, com um nível de base local de aproximadamente
300m de altitude, entre os bordos da bacia sedimentar Paleozóica e as Formações
Cretáceas dos planaltos que ocorrem nos limites sudeste do Piauí com os Estados do
Ceará e Pernambuco e ao sul com a Bahia. Compreende uma área de
aproximadamente 39.000 km² correspondente a 15,6% da área total do Estado.

No compartimento de Depressão Periférica, os processos de pedimentação e


pediplanação são explicados como anteriores à instalação dos domínios
morfoclimáticos atuais, foram elaboradas a partir de um passado remoto, Pré-
Siluriano. Uma vez que iniciaram o fornecimento de detritos para a formação da bacia
sedimentar, submetendo-se ora com maior intensidade, ora com menor intensidade às
perturbações tectônicas, oscilações do nível do mar e variações climáticas
continentais e possíveis de comprovação através dos registros deixados nos
ambientes, como as linhas de pedras, cascalheiras, lateritas e sílex, entre outros.
(LIMA, 1987).

O contexto geológico do município de São João do Piauí é constituído por


rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba, representadas pelo Grupo Serra Grande
(arenitos e conglomerados) e formações Pimenteiras (folhelhos e siltitos) e Cabeças
(arenitos e conglomerados), além dos Depósitos Colúvio-Eluviais (areias, argilas e
lateritos). As rochas do embasamento cristalino afloram, apenas, numa pequena área
localizada no sul do município e são representadas por filitos da Unidade Barra Bonita
(AGUIAR, 2004).

Fig. 10: Esboço Geológico de São João do Piauí

Fig. 11: Ao fundo, área geológica correspondente à Bacia Sedimentar do Parnaíba

AGUIAR, 2004, p. 4.

Acervo FUMDHAM apud VIEIRA, 2015, 37.

Sobre os solos das terras secas do Nordeste, Ab`Saber (1980), afirma que,
entre os componentes básicos das paisagens sertanejas, os solos regionais são os
que melhor caracterizam a região como semiárida., porém com uma característica
peculiar em relação aos solos de outras regiões de semiaridez, por estarem numa
província ecológica de caatingas dotadas de uma biomassa importante em termos de
tapete vegetal e não sujeitas a salinização e concrecionamento, sendo a região do
país que menos apresenta o domínio brasileiro de pedalfers (que concentra carbonato
de cálcio).

O autor divide os solos dessa região como: solos escuros e castanhos, com
argilas expansivas (Vertissolos), comuns nas plataformas interfluviais correspondentes
às superfícies aplainadas modernas dos sertões; solos com horizontes B solonético,
restrito a manchas nas baixas encostas de determinadas áreas sertanejas do Ceará e
do norte da Bahia; solos vermelhos dos sertões, com horizonte B prismático (e ou, em
blocos subangulares. Situados, via de regra nos setores interfluviais mais elevados
das colinas interplanálticas sertanejas; Solos esqueléticos e litossolos (Entissolos), das
"serras secas" e das caatingas rochosas, em áreas de lajedos, "boulders" e
"inselbergs".

6.2.2 Biodiversidade

O uso da terra pelo homem causa impactos para a fauna e flora em geral
devido a transformação do habitat, principalmente em função do aumento
populacional. A redução de habitat e a consequente perda de riqueza de espécies são
duas consequências do processo de transformação de áreas naturais contínuas em
fragmentos (MARTINS FILHO et al., 2019). Além disso, a diminuição da capacidade
de dispersão, alteração no tamanho de áreas e aumento da taxa de predação, são
também influenciados pela fragmentação, sendo que estes podem ocorrer em eventos
isolados ou não, resultando no desaparecimento local de algumas espécies das
regiões afetadas (OLIVEIRA et al., 2016).

Para o planejamento de conservação, tem sido altamente difundida a


confecção de listas de espécies ameaçadas para delinear as taxas em riscos de
extinção, identificar processos de ameaças, suportar legislação de proteção dos
grupos animais e vegetais, informar prioridades de conservação e subsidiar relatórios
de impacto ambiental. Porém, é importante levar em consideração o conhecimento
dos riscos regionais dos padrões de extinção e as grandes lacunas de conhecimento
(GILLESPIE et al., 2011). Em estudos ecológicos, é amplamente discutido e aceito
que a subdivisão biogeográfica de continentes e regiões simplifica e integra a
complexidade de ecossistemas naturais e variação de espécies, sendo recentemente
suportado na literatura um método único de abordagem biogeográfica para a análise
de risco de extinção de espécies de acordo com a categoria da International Union for
Conservation of Nature e critérios em nível regional (IUCN, 2020).

Nesse sentido os levantamentos para compor listas de espécies em


empreendimentos de impacto ambiental no Brasil podem se tornar uma ferramenta
bastante útil no refinamento de ações de conservação da biodiversidade,
principalmente na forma de monitoramento que envolvam diferentes regiões, biomas e
tipos de ecossistemas (VERARDO; OLIVEIRA; SILVA, 2020). Dessa forma, pode-se
avaliar a perda de espécies entre diversos tipos de ecossistemas com distintas
pressões de degradação ambiental. Como ferramentas para essas ações tem-se as
diversas técnicas de inventário e monitoramento da biota, especialmente da fauna
terrestre, impactadas por empreendimentos de geração e transmissão de energia
elétrica propostas por diversos pesquisadores (CAVALCANTI, 1999).

Considerando o exposto, para atender às premissas expostas na fase de


avaliação de impacto da Linha de Transmissão e no complexo 500 kV Graviola I – São
João do Piauí e entender os impactos da implantação de empreendimentos lineares
sobre a fauna e flora, foi realizado um levantamento de dois grandes grupos
encontrados nos territórios quilombolas Riacho dos Negros e Saco/Curtume, sendo: a
avifauna e Caatinga arbórea e Caatinga arbustiva, por se apresentarem mais comum
nas áreas.

Na região de estudo das comunidades Quilombolas, existem muitas áreas de


AAPs preservadas e nascentes. Segundo o Código Florestal, as nascentes são
determinadas como APP, e devem ser protegidas em um raio de 50 metros, porém,
esta norma não se enquadrou em nenhuma das nascentes avaliadas, contribuindo
para o péssimo grau de preservação. A vegetação do entorno dos recursos hídricos
propicia uma maior infiltração da água das chuvas no solo, realizando a recarga dos
lençóis freáticos e conservando os mananciais (MEDEIROS et al., 2015).

Os territórios quilombolas Riacho dos Negros e Saco/Curtume apresentam sua


principal biodiversidade na Caatinga, uma das 37 grandes regiões naturais do planeta.
Contudo, ainda existe controvérsia se a Caatinga realmente enquadra-se nessa
categoria, dado seu atual nível de perturbação, afetando a suas nascentes e riachos.
Ab`Sáber (1999) classifica essa vegetação em: arbustivo, arbóreo-arbustiva e muito
dificilmente arbórea, com folhas pequenas e trocos espinhentos, caducifólia e espécies
xerófilas como o mandacaru, xique-xiques, entre outras.

De acordo com Rodrigues (2004), as ações antrópicas comprometem a


capacidade quantitativa e qualitativa das nascentes, seu reabastecimento e sua
produção de água ficam alterada, principalmente em ambientes de contribuição natural
de infiltração em seu entorno e na área de recarga do lençol freático. Essas
interferências antrópicas ocasionam aspectos negativos para a preservação desses
locais visto que a grande parte está desprovida de vegetação ciliar.

6.2.3 Clima e hidrografia

O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica é diretamente


proporcional a suas características geomorfológicas (forma, relevo, área, geologia,
rede de drenagem, solo, etc.) e do tipo da cobertura vegetal existente (LIMA, 1976).
Assim, as características físicas e bióticas de uma bacia possuem importante papel
nos processos do ciclo hidrológico, influenciando a infiltração e a quantidade de água
produzida como deflúvio, a evapotranspiração, os escoamentos superficiais e
subsuperficial, dentre outros. Além disso, o comportamento hidrológico de uma bacia
hidrográfica, também, é afetado por ações antrópicas, uma vez que, ao intervir no
meio natural, o homem acaba interferindo nos processos do ciclo hidrológico
(TONELLO, 2005).

O Piauí, por se encontrar numa faixa de transição entre as condições


climáticas de elevada umidade da Amazônia e a semiaridez do Nordeste Oriental,
apresenta variações na ocorrência e na circulação das águas em seu território, mesmo
tendo cerca de 80% de seu espaço localizado numa estrutura geológica de rochas
sedimentares (LIMA, 1987). Para o atendimento do objetivo proposto, a pesquisa
realizada teve natureza bibliográfica em associação a observações de trabalhos de
campo realizados no espaço sanjoanense. Como apoio ao tratamento, espacialização
e discussão dos dados e observações, foram utilizadas registros fotográficos e
imagens de satélites disponíveis online trabalhadas em ambiente digital, por meio do
geoprocessamento, gerando mapas locais.

Nesse sentido, realizamos a caracterização geoambiental, particularmente


morfométrica, da Bacia Hidrográfica do rio Piauí, abrangendo as Comunidades
Quilombolas de Riacho dos Negros e Saco/Curtume, localizadas na zona rural do
município de São João do Piauí do estado do Piauí, a partir de identificação de
variáveis geométricas, rede de drenagem e do relevo, como possibilidade para
conhecimento da dinâmica ambiental da referida área.

A análise das características do relevo de bacias hidrográficas é importante,


pois está diretamente relacionado ao risco de erosão do solo, tendo em vista que com
a mecanização, o relevo apresenta-se como um aspecto ambiental significativo por
estar diretamente relacionado ao escoamento superficial e a velocidade da água,
portanto, ao transporte do solo, nutrientes, dejetos e agrotóxicos para os cursos de
água.

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