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TWIN CITIES – Solos das Regiões Metropolitanas de São Paulo e Curitiba

Geologia de Curitiba e arredores


A. P. Fiori
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil
E. Salamuni
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil

RESUMO: Os aspectos geológicos do sítio urbano de Curitiba e arredores estão ligados, princi-
palmente, à Bacia Sedimentar de Curitiba, de idade oligo-miocênica, relativamente rasa e com
área restrita, e ao embasamento da bacia, ou Complexo Atuba. A Formação Guabirotuba, que
preenche a referida bacia é formada, no centro, principalmente por sedimentos friáveis argilosos,
siltosos e com lentes arenosas e, na periferia, por sedimentos mais grossos, que podem chegar a
tamanhos de seixos e calhaus. O Complexo Atuba, por sua vez, é formado por rochas cristalinas,
bem estruturadas e firmes, mas cuja alteração química-intempérica no contato entre os sedi-
mentos superiores torna-as igualmente friáveis. Condicionantes geológico-estruturais controlam
aspectos geomorfológicos importantes, os quais, por sua vez, em adição às características petro-
lógicas dos sedimentos, influenciam boa parte das características geotécnicas locais.

1 INTRODUÇÃO de a região que Maack (1967) denominou de


Primeiro Planalto Paranaense, sendo limita-
Grandes e médias cidades são regiões onde, do a leste e sudeste por maciços graníticos
no presente, se concentra cerca de 70% da que formam os contra-fortes da Serra do
população mundial. No Brasil, a tendência da Mar, e a oeste e noroeste pela Serra de São
concentração urbana se dá nesses aglomerados Luiz do Purunã, que também recebe o nome
urbanos, que impressionam pela área ocupada de Escarpa Devoniana, pertencente à Bacia
e pela sua expansão acima da média mundial. Sedimentar do Paraná. A antiga superfície de
Por razões históricas, a maioria das grandes erosão, de idade holocênica, presente nestas
cidades brasileiras, em geral capitais de estado, regiões foi denominada Superfície de Curiti-
está localizada na porção oriental do território ba por Bigarella et. al. (1961).
e, inclusive, boa parte delas é litorâneas. O Planalto de Curitiba é formado por
Tal posicionamento geográfico carre- áreas pouco elevadas com cristas alongadas,
ga variadas consequências sociais e físicas. morros arredondados e vales de drenagem
Uma delas, de fundamental importância no pertencentes às cabeceiras de duas das mais
dia a dia dos cidadãos e de órgãos de plane- importantes bacias hidrográficas do sul do
jamento urbano, é a peculiaridade geológica país: as bacias do rio Ribeira do Iguape e do
que possuem essas regiões ocupadas desde a rio Iguaçu. Correndo para lados opostos, o
colonização do país. primeiro em direção ao oceano e o segundo
Em geral, a porção ocidental do país, em direção ao rio Paraná, esses rios vêm pro-
além da sua região litorânea, é dominada por vocando a dissecação do Planalto expondo,
zonas montanhosas e planaltos intermonta- inclusive, os horizontes mais basais do ter-
nos, formados por agrupamentos rochosos reno. Não raro geram depósitos aluvionares,
muito antigos, cortados por rochas ígneas que podem constituir importantes depósitos
intrusivas e sobrepostos por formações sedi- de agregados para a construção civil.
mentares mais recentes, relativamente espar- As características geológicas de uma re-
sas, inclusive aquelas depositadas pelos rios gião são determinantes para o desenho de sua
que recortam a região. paisagem, incluindo-se nesse princípio tanto
Do ponto de vista geomorfológico o sítio as unidades estratigráficas, que compõem o
geológico de Curitiba e arredores compreen- terreno, quanto as estruturas que lhes dão for-
ma espacial.

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O sítio urbano de Curitiba encontra-se em ela ocorrem manchas esparsas de sedimentos
um sítio geológico em forma de bacia sedi- pleistocênicos da Formação Tinguis, além
mentar, constituída por uma capa de rochas de sedimentos e terraços aluvionares atuais
sedimentares posicionada sobre um substrato ou holocênicos. O sítio geológico, como um
rígido e firme que, em geral, torna o terreno todo, recebe o nome de Bacia Sedimentar de
estável. Essa característica estratificada per- Curitiba, que engloba aproximadamente 95%
mite que sejam individualizadas pelo menos da área do município, mas também boa par-
duas unidades geológicas fundamentais: a te dos municípios vizinhos. A caracterização
primeira, estratigraficamente inferior, con- desse sítio é fundamental para explanar a ge-
templa um conjunto de rochas cristalinas ologia do município e suas circunvizinhanças.
denominado de Complexo Atuba, enquanto o O mapa geológico de Curitiba e arredores
segundo, representa uma cobertura sedimen- é mostrado na Figura 1 e a coluna estratigrá-
tar, constituída pela Formação Guabirotuba fica na Tabela 1, enquanto as relações entre as
e depósitos aluvionares atuais. Do ponto de unidades geológicas e os diferentes tipos de
vista geológico, as características dos tipos solos são mostradas na Tabela 2.
rochosos (ou litotipos) são determinadas Por outro lado, o entorno mais afastado
pela sua composição mineralógica e por suas de Curitiba registra igualmente a presença de
estruturas. Em boa parte do sítio urbano de grandes manchas aluvionares, também de
Curitiba o embasamento da bacia é aflorante, sedimentos da Formação Guabirotuba; de
com exceção da região centro-oeste, onde se diques basálticos juro-cretácicos; siltitos e
concentra a maior parte dos sedimentos da conglomerados da Formação Camarinha,
Formação Guabirotuba. Na porção sudoeste neoproterozóicos a cambrianos e rochas me-
verifica-se a maior quantidade dos depósitos tassedimentares de idade neoproterozóica do
aluvionares recentes do rio Iguaçu. Grupo Açungui (Formação Capiru), além da
Os solos são aqui considerados como continuidade do Complexo Atuba.
correspondendo aos sedimentos aluvionares, Em seguida são descritas as característi-
tanto associados a depósitos recentes como cas das unidades geológicas locais, a partir
a terraços, os solos transportados por ação da mais antiga para a mais nova.
da gravidade (colúvios) e os solos residuais
e saprólitos, relacionados às diferentes for-
mações geológicas. Com exceção dos dois 2.1 Embasamento: o Complexo Atuba
últimos, foram denominados genericamente Como referido anteriormente, o embasamen-
de solos transportados para efeito, principal- to da Bacia de Curitiba é constituído pelo
mente, na caracterização de unidades geotéc- Complexo Atuba, que aflora em diversos
nicas. Apresentam importância pelo fato de pontos do município de Curitiba e pode ser
cobrirem diferentes rochas da área, na maior mais bem visualizado nas diversas pedreiras,
parte com espessuras significativas, e dire- que outrora forneciam brita para a indústria
tamente sobre os quais se dão as atividades da construção civil. As mais notáveis são as
antrópicas. pedreiras Paulo Leminski, do Tanguá e do
Atuba (Figura 2), que empresta o nome ao
complexo.
2 CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS O Complexo do Atuba é formado por
DO MUNICÍPIO DE CURITIBA gnaisses bandados e migmatitos (Figura 2),
cujas características petrológicas permitem
A geologia do sítio urbano de Curitiba, e seus separá-los em (a) gnaisses com melanossoma,
arredores imediatos, são resultantes dos pro- formado por biotita-anfibólio gnaisse e leucos-
cessos de formação e deformação de rochas soma cuja composição é tonalito-granodiorítica
cristalinas do Complexo Atuba, constituí- e (b) gnaisses graníticos bandados com presen-
do por rochas metamórficas de médio a alto ça restrita de biotita. Os gnaisses são derivados
grau metamórfico, de idade paleoproterozóica de rochas granodioríticas, graníticas e anfibo-
(cerca de 1,8 bilhão de anos). Há cerca de 20 líticas. Também ocorrem intercalados diversos
milhões de anos, no Cenozóico (Oligo-Mio- outros litotipos, tais como paragnaisses, quart-
ceno) um evento deformacional abre espaço zitos, quartzo xistos e micaxistos.
para a deposição de sedimentos inconsolida- Os migmatitos podem ser heterogêneos
dos da Formação Guabirotuba. Sobreposta a ou homogêneos. Os heterogêneos, em geral,

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apresentam um aspecto bandado e dobrado, to gnáissico e o leucossoma (bandas claras)
e caracterizam-se pela alternância de bandas de composição quartzo-feldspática e com as-
claras e escuras subparalelas, de espessu- pecto granítico. Os migmatitos homogêneos,
ras centimétricas (Figura 3) a decimétricas por sua vez, são rochas cinza clara, averme-
(Figura 4). Tais bandas são o melanossoma lhadas até cinza escuras, de granulação gros-
(bandas escuras) com associação mineraló- sa, compostas essencialmente por quartzo e
gica composta por hornblenda, muscovita, feldspatos, de aspecto granitóide ou gnáissi-
quartzo e plagioclásio, geralmente de aspec- co, possuindo um bandamento difuso.

Figura 1. Mapa Geológico (Modificado de Salamuni et al. 2004).

Figura 2. Gnaisse migmatizado, mostrando o paralelis- Figura 3. Aspecto do migmatito heterogêneo, com alter-
mo entre as injeções graníticas (leucossoma) e as faixas nância de níveis ou bandas mais escuras, que compõem o
gnáissicas (melanossoma). Pedreira do Atuba, BR-476 melanossoma gnáissico, e intercalações de material mais
(Fonte: Liccardo et al. 2008). claro, quartzo feldspático, que compõe o paleossoma.

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Figura 4. Aspecto do migmatito heterogêneo do Comple- Figura 5. Solo residual (saprólito) derivado da decompo-
xo Atuba, onde são bem evidentes as bandas claras gra- sição de gnaisses do Complexo Atuba (pedreira Central,
níticas, alternadas com bandas mais escuras, gnáissicas. BR-277).

Tabela 1: Coluna estratigráfica regional.

SIGLA UNIDADE IDADE DESCRIÇÃO RESUMIDA


Sedimentos areno-síltico-argilosos depositados em am-
Quaternário
QHa Aluviões atuais biente fluvial, intercalados com camadas de areia fina a
(Holoceno)
grossa e cascalhos
Sedimentos areno-síltico-argilosos depositados em am-
Terraços Quaternário biente fluvial, intercalados com camadas de areia fina a
QHt
aluvionares (Holoceno) grossa e cascalhos, posicionados acima do nível atual da
planície de inundação
Terciário Sedimentos da Bacia de Curitiba, incluindo argilas,
Formação
QPg (Oligo- arcósios, areias e cascalhos, depositados em ambiente
Guabirotuba
Mioceno) semi-árido com rios e lagoas efêmeras
Intrusivas Jurássico-
JKd Diques de diabásio e diorito pórfiro
Básicas -Cretáceo
Cambriano Conglomerados polimíticos, matriz argilosa, coloração
Formação
PSCc / Neorotero- avermelhada. Siltitos com intercalações de argilitos e
Camarinha
zóico arenitos arcosianos
Metacalcários dolomíticos, geralmente maciços, de cor
Formação Capiru Neoprotero-
Psacd cinza. Às vezes aparecem corpos acamadados, com alter-
(Grupo Açungui) zóico
nância de camadas cinza e cinza-escuro.
Metapelitos, geralmente avermelhados, deformados tec-
Formação Capiru Neoprotero-
Psacm tonicamente de forma heterogênea; são comuns estruturas
(Grupo Açungui) zóico
sedimentares em rochas menos deformadas
Formação Capiru Neoprotero- Quartzitos de cores cinza, intercalados e gradando para
PSacq
(Grupo Açungui) zóico filitos. Por vezes aparecem intercalados nos metacalcários
Unidade granítico-gnáissica: gnaisses graníticos ou gra-
nodioritos com frequentes augen-gnaisses.
Unidade migmatítica: migmatitos bandados, com mela-
nossoma de gnáisses anfibolíticos, metamáficas e metaul-
tramáficas; leucossoma de composição quartzo-feldspáti-
Paleoprote- ca em injeções pegmatíticas; milonitos e blastomilonitos.
Picgg Complexo Atuba
rozóico Quartzitos (ou zonas de silicificação com quartzo
recristalizado), quartzo-xistos, em geral relacionados a
lineamentos tectônicos.
Rochas metaultramáficas em camadas decimétricas a
métricas, intercaladas em gnaisses e migmatitos, predo-
minantemente de composição básica

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Tabela 2: Relação entre Unidades Geológicas e a tipologia dos Solos.

UNIDADES GEOLÓGICAS SOLOS


Aluviões atuais Hidromórficos sobre aluviões
Terraços aluvionares Hidromórficos sobre terraços aluvionares
Formação Guabirotuba Residuais e transportados sobre a Formação
Guabirotuba
Intrusivas Básicas Residuais sobre diabásio
Formação Camarinha Residuais e transportados sobre a Formação
Camarinha
Formação Capiru - Grupo Açungui Residuais sobre unidades carbonáticas da Forma-
ção Capiru
Formação Capiru - Grupo Açungui Residuais e transportados sobre metapelitos da
Formação Capiru
Formação Capiru e Complexos Atuba e Granito- Residuais e transportados sobre rochas quartzíti-
-Gnáissico/quartzitos cas da Formação Capiru e dos complexos Atuba e
Granito-Gnáissico
Complexo Gnáissico-Migmatítico Residuais e transportados sobre o Complexo
Atuba
Complexo Granítico-Gnáissico Residuais e transportados sobre o Complexo
Granito–Gnáissico

Os corpos de rochas máficas e ultramáficas, de blocos junto à superfície e são friáveis quan-
encaixados nos migmatitos, têm algumas deze- do fortemente intemperizados.
nas de metros de espessura, podendo, em alguns A estruturação predominante no emba-
casos, atingir dimensões suficientes para serem samento da Bacia de Curitiba é uma forte
representados em mapas, como é o caso dessa orientação planar dos minerais com carac-
unidade, que aparece nas proximidades do mé- terísticas dúcteis nos granitóides (leucogra-
dio curso do rio Verde. Quando pouco alteradas, nitos), gnaisses granulíticos e gnaisses ban-
são rochas maciças, de coloração esverdeada, dados migmatíticos (Siga Jr. et al., 1995).
de granulometria média a grossa, com cristais Esta superfície apresenta geralmente altos
de piroxênio preservados. Às vezes, essas ro- ângulos de mergulhos, ora orientados para
chas apresentam-se intensamente deformadas, NW ora para SE. Uma xistosidade anterior é
quando associadas a lineamentos geológicos, observada, porém apresenta-se pouco preser-
adquirindo um aspecto xistoso e brilho sedoso. vada nos litotipos observados.
Veios de quartzo em zonas de cisalhamen- As rochas do Complexo Atuba conferem
to são relativamente frequentes nas rochas uma grande resistência ao substrato geológico
desse complexo. É comum a presença de ma- da cidade, tornando-o muito estável e, quan-
tacões e megablocos dispersos no solo, muitas do in situ e não intemperizadas, com possibi-
vezes com cristais de feldspato potássico com lidades quase nulas de deslocamento, mesmo
até 10 cm de comprimento. quando submetido a cargas elevadas.
Os quartzitos associados ao Complexo Atu- Em relação aos solos residuais, essa uni-
ba, que ocorrem nas cabeceiras do rio Itaqui, dade é constituída predominantemente por
imediatamente a oeste-noroeste da divisa do solos residuais e, secundariamente, por co-
Município de Curitiba, formam cristas alonga- lúvios situados na meia encosta. Ambos são
das, em geral, de direção nordeste, sendo mui- separados por uma linha de seixos de quartzo
tas vezes aproveitados como fonte de saibro. subangulosos, com espessuras centimétricas.
São rochas resistentes, de coloração cinza cla- O solo transportado ou coluvionar é silto-
ra, de granulometria média a fina e constituídas so, de coloração castanha clara a amarela, com
essencialmente por quartzo, bem recristalizado, espessuras inferiores a 1 m. Segundo Salazar
às vezes com impregnação de óxidos de ferro. Jr. et al. (1999), apresenta resistência à pene-
Como característica, apresentam concentrações tração baixa e peso específico dos sólidos com

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uma média em torno de 2,76 g/cm3. Os limites 2.2 Conformação e morfologia do embasa-
de liquidez (LL) e de plasticidade (LP) são, mento
respectivamente, de 56 e 35,6%. A permeabi-
lidade é baixa com cerca de (10-6 cm/s). A Bacia Sedimentar de Curitiba, do ponto de
O horizonte B pode ser maduro ou jovem, vista morfológico, é uma calha cujas altitudes
e nesse caso, quando ainda é possível verifi- mínimas em torno de 820 m sobre o nível do
car algumas características da rocha original, mar, porém suas altitudes médias estão na fai-
apresenta espessuras frequentemente inferio- xa dos 870 m. As ombreiras aflorantes da bacia
res a 5 m, de cores avermelhadas e textura ar- possuem altitudes médias entre 890 e 900 m,
gilosa, com predomínio de caulinita e gibsita alcançando até 1140 m nas áreas mais altas a
entre os argilo-minerais, baixa resistência leste e sudeste do núcleo urbano principal. Es-
à penetração e peso específico em torno de tas últimas representam as vertentes ocidentais
2,74 g/cm3. O limite de liquidez (LL) varia da Serra do Mar que determinam um alto estru-
de 35,5 a 54,9%, enquanto o limite de plas- tural significativo em termos regionais.
ticidade (LP) de 26,6 a 37,8%. A permeabi- Na porção centro sul, onde o rio Barigui
lidade média é da ordem de 10-4 a 10-5 cm/s. conflui para o rio Iguaçu, há uma área mais
O saprólito (Figura 5) caracteriza-se pela rebaixada na topografia, significativamente
presença de estruturas da rocha original ain- mais espraiada, alongada na direção leste-
da preservadas, como bandamento, veios de -oeste, que muda a conformação da própria
quartzo e xistosidade, dada pelo alinhamento calha da bacia sedimentar.
das micas. É de cor rósea a amarelada, argiloso, Não obstante a conformação central aba-
com predominância da caulinita, e em menores tida da bacia, há ocorrência de altos inter-
proporções a ilita. A espessura é muito variá- mediários, correspondentes a blocos do em-
vel, desde menos de um metro até mais de uma basamento adernados por falhas, por vezes
dezena de metros. Como características físicas, expostos, que promoveram o isolamento de
apresentam baixa resistência à penetração, po- depressões entre os altos, porém de diâme-
rém aumentando em profundidade, permeabili- tros são reduzidos (Figura 6).
dade da ordem de 10-4 a 10-5 cm/s e peso espe- O relevo da superfície da bacia mostra di-
cífico de 2,82 g/cm3, em média. ferenças significativas em relação ao relevo

Figura 6. Morfologia do embasamento da Bacia Sedimentar de Curitiba. As


porções mais escuras são as mais profundas (Salamuni, 1998).

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do embasamento. No geral, as porções mais predominantemente por depósitos argilosos
altas do relevo estão posicionadas a nordeste e sílticos esverdeados (Figura 7). A argila
do núcleo urbano e as mais baixas a sudoeste. predominante é a esmectita, comparecendo,
No vale espraiado, localizado a sul da bacia, em menores proporções, a ilita e a caulinita.
onde se encaixa parte do rio Iguaçu, há uma Como característica principal, no processo
depressão rasa na porção central e que reflete de alteração, essa argila dá origem ao em-
uma alteração da morfologia atual em fun- pastilhamento e formação de trincas relativa-
ção de movimentação diferencial do substra- mente profundas em forma conchoidal devi-
to, que pode estar gerando dois fenômenos do ao seu ressecamento quando exposta ao ar
importantes no local: (a) alinhamentos mor- livre, o que a torna altamente desagregável,
fológicos noroeste-sudeste, que facilitam a propiciando a rápida instalação de processos
dissecação dos sedimentos que preenchem a erosivos. Segundo Felipe (1999), pesquisas
bacia e (b) represamento natural do rio Igua- indicam que a grande erodibilidade desta for-
çu, gerando um padrão meandrante em vá- mação se dá em função da expansibilidade
rios trechos. Meandros abandonados sofre- da esmectita (2:1), ou seja, em contato com
ram atividade antrópica de extração de areia água ou em ambientes com elevada umidade
que resultaram um longo campo de cavas do ar as esmectitas se expandem e quebram a
preenchidas por água. estrutura original das camadas sedimentares
No que tange ao relevo do embasamento, locais provocando desagregação do maciço.
uma das características mais notáveis da Bacia Os depósitos argilosos gradam para sedi-
Sedimentar de Curitiba é a pequena profundida- mentos mais grossos de forma interdigitada
de de sua calha. A Figura 6, mostra um modelo ou abrupta, dependendo das características
digital (2D) com a topografia inferida do em- estratigráficas e estruturais locais. Há inter-
basamento. As porções mais escuras refletem calações de areias arcosianas e, mais rara-
a maior profundidade do topo das rochas do mente, de cascalheiras com predominância
Complexo Atuba. Se analisado o contexto do de seixos de quartzo. Também há lentes sil-
município de Curitiba, observa-se que há pelo tosas esparsas, além da frequente ocorrência
menos três domínios (com direção nordeste- de caliche, sob a forma de impregnações de
-sudoeste) mais evidentes: (a) região norte com carbonato de cálcio em quantidades subsidiá-
profundidades menores, entre 0 e 15 m; (b) re- rias, esparsas nos depósitos argilosos.
gião sul, com profundidades do embasamento
entre entre 20 e 55 m e (c) a porção central com a. Argilas inconsolidadas e depósitos de la-
profundidades maiores, entre 35 e 80 m. mas - na periferia da bacia os depósitos ar-
gilosos são menos frequentes que no centro,
onde ocorrem suas maiores espessuras. Ge-
2.3 Formação Guabirotuba ralmente se apresentam bem compactados
A Formação Guabirotuba é o principal de- e com texturas maciças, possuem cores que
pósito sedimentar da Bacia de Curitiba. Os gradam das tonalidades cinza-esverdeadas
trabalhos pioneiros dessa unidade geológica a esbranquiçadas, granulação muito fina e
são de Bigarella e Salamuni (1962) e Becker compostas por grãos de areia esparsos em
(1982), que definiram suas características se- sua massa. Em alguns locais, observa-se a
dimentológicas, bem como sua estratigrafia e individualização de diferentes camadas.
seu paleoambiente. Quando alterados, os pacotes argilosos fre-
A área de ocorrência da Formação Guabi- quentemente apresentam colorações rosadas
rotuba abrange toda a Bacia de Curitiba, com (mosqueadas) a ocres, que seriam resultantes
cerca de 3.000 km2 (Figura 1). A espessura de laterização incipiente. A ocorrência de ho-
é diferenciada, variando desde métricas nas rizontes lateríticos não é rara, podendo ser ob-
bordas até decamétricas na região central. Ca- servadas crostas ferruginosas, em geral limoní-
racteriza-se pela presença de um relevo aplai- ticas, cuja espessura média é de cerca de 5 cm.
nado, com colinas baixas e convexas e baixa
densidade hidrográfica. Quando alterados, ge- b. Depósitos carbonáticos (caliches e areias
ram solos de coloração vermelho tijolo. carbonáticas) - esses depósitos apresentam-
Os depósitos da Formação Guabirotuba -se dispersos lateralmente em profundidades
estão assentados de forma discordante e irre- rasas na Formação Guabirotuba. São bancos
gular sobre o Complexo Atuba. É composta descontínuos, tabulares, esbranquiçadas a

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creme, com espessuras centimétricas a métri- d. Depósitos de cascalhos - são geralmen-
cas, geralmente maciços, mas podendo ocor- te pouco espessos compostos por seixos de
rer de forma foliar (Figura 8). quartzo com matriz argilosa. Na porção sudo-
No interior das areias arcosianas, a im- este e oeste da bacia seixos ou grãos são em
pregnação pelos carbonatos encontra-se na sua maioria de quartzo e quartzito, enquanto
forma de cimento friável e descontínuo e po- que na porção nordeste, leste e sudeste, os
dem ser produto de processos pedogenéticos cascalhos são formados por quartzo e felds-
recentes. Além dos depósitos tabulares, os pato alterado, além de fragmentos rochosos,
caliches ocorrem como vênulas, correspon- tais como granitos, migmatitos e diabásios,
dentes a pequenas fraturas preenchidas na bem como camadas ferruginosas. Os tama-
forma de calcretes, aleatoriamente distribuí- nhos são variáveis desde 1 ou 2 cm até 5 cm,
dos. Também foram observadas vênulas com e também grânulos, com formas alongadas
recristalização de sílica, ou silcretes, em aflo- ou subesféricas, podendo ser angulosos ou
ramentos onde está exposto o contato entre não (Figura 10). Em afloramentos na borda
a Formação Guabirotuba e o embasamento. da bacia, foram verificados calhaus entre 10 e
As estratificações de caliche caracterizam 50 cm, mas nas imediações da Serra do Mar,
depósitos que seguem o padrão geométrico a leste, inclusive no município de Piraquara,
das camadas arcosianas, apresentando-se há depósitos espessos que mostram matacões
lenticulares em grande escala, mas localmen- esparsos em meio à matriz de calhaus e sei-
te com aspecto tabular. xos (Figura 11).
Em média a espessura da Formação Gua-
c. Depósitos arcosianos e areias arcosianas - for- birotuba é de cerca de 40 m, porém não apre-
mam depósitos pouco consolidados, compostos senta valores constantes, variando desde 1 m
por clastos de quartzo, quartzito e feldspato, os até um máximo de 80 m. As maiores espes-
quais possuem tamanhos variados, desde sub- suras estão localizadas na porção central e
milimétricos até centimétricos, geralmente an- centro-sudeste da bacia, principalmente nos
gulares e subangulares. A matriz é areno-siltosa bairros do centro sul e sudeste do município,
e, por vezes, argilosa chegando a apresentar, onde se posicionam as principais depressões
segundo Becker (1982) entre 20 e 40% de felds- que formaram a calha principal da bacia.
patos. Apresentam cores com predominância de
tons avermelhados até esbranquiçados. e. Estruturas e processos sedimentares nas
A granulometria das areias arcosianas é va- formações Guabirotuba - nos litotipos da For-
riável desde médias e finas no centro e sudoeste mação Guabirotuba é comum a observação de
da bacia, ao passo que as mais grossas são mais estruturas primárias tais como estratificações
abundantes na sua porção nordeste e leste da ba- plano-paralelas e cruzadas, bem como níveis
cia dispostas em lentes descontínuas, onde, por granodecrescentes. Igualmente ocorrem mar-
vezes, há estratificação cruzada. O acamamento cas onduladas decimétricas, acamamento len-
é tipificado por meio de estratos cruzados, rara- ticularizado, laminações convolutas e estrutu-
mente acanalados, que podem se apresentar em ras de carga.
sets até 20 cm de espessura, embora normalmen- Nos sedimentos mais arenosos, as estrati-
te não ultrapassem poucos centímetros. ficações plano-paralelas e cruzadas são nor-
As areias arcosianas estão presentes em malmente de pequeno porte, mas em alguns
toda a bacia, ocorrendo em extensões laterais pontos foram observados estratos cruzados de
variáveis de decimétricas a hectométricas, en- até 2 m de espessura. Além dessas estruturas,
quanto que a espessura varia do decímetro a há níveis segregados com os mais grosseiros
dezenas de metros. Variações destas camadas na base e os mais finos no topo, constituindo
arcosianas se traduzem em areias inconsoli- parte da gradação normal. Em geral, no entan-
dadas, compostas exclusivamente de grãos to, a deposição parece ter sido bastante aleató-
de quartzo e matriz siltosa. São depósitos de ria, havendo uma predominância de grossei-
pequena espessura e lenticulares, mais sele- ros na periferia da bacia e de silte e argilas e/
cionados e trabalhados do que os puramente ou lamas onde se estima estejam localizados
arcosianos (Figura 9). os depocentros.
Apresentam permeabilidade média a bai- Foi constatada também a presença de
xa e erodibilidade baixa, conforme observa- estruturas deformacionais sindeposicionais,
do em campo. tais como marcas convolutas e estruturas de

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carga. Igualmente ocorrem fraturas atectô- gráficos, denunciando a existência de leques
nicas, que em geral são conchoidais, de di- colúvio-aluvionais de sedimentos detríticos,
mensões centimétricas a decimétricas, com com ativações intermitentes que, por sua vez,
superfície lisa e brilhante, sem orientação estariam afogando leques mais antigos.
definida ou padrão geométrico claro. Segundo Lima (2010), o ambiente fluvial
A presença esparsa de estruturas típicas de que teria alimentado as lagoas relativamente
canais mostra que a Bacia de Curitiba sofreu efêmeras que constituíram a Formação Gua-
uma influência de ambientais fluviais típicos, birotuba, evidencia pelo menos seis diferentes
sem continuidade espacial ou temporal. A For- associações de fácies: Associação A, com rios
mação Guabirotuba, na área central da bacia, cascalhosos, entrelaçados e sinuosos, localiza-
apresenta predominantemente associações que da na borda leste e sudeste da Bacia de Curitiba;
revelam tanto processos por suspensão quan- Associação B, rios sinuosos com barras alterna-
to processos por evaporação (ou diagenéticos), das, localizada entre a borda e o depocentro da
caracterizando ambientes dominados por lagos. bacia; Associação C, com rios duradouros en-
Esparsamente ocorrem sedimentos que caracte- trelaçados e rasos, igualmente entre as bordas
rizam tanto fluxos gravitacionais quanto trativos. leste e oeste e o depocentro; Associação D, rios
Estes últimos são provavelmente o resultado da dominados por inundações laminares arenosas
sedimentação de rios efêmeros alimentadores já na porção central da bacia; Associação E,
dos lagos no centro da bacia e foram referidos, com rios cascalhosos, dominados por correntes
anteriormente, como lentes de areias arcosianas da tração e Associação F, com rios cascalho-
por Bigarella e Salamuni (1962). Nesse caso -arenosos meandrantes, sendo as duas últimas
há, também, depósitos de barra e de planície de associações localizadas entre a borda oeste e
inundação, que mostram a riqueza dos processos noroeste e o depocentro da bacia.
de sedimentação no paleo-ambiente local. Os sedimentos rudáceos, ou seja, os mais
As argilas, por sua vez, caracterizam uma grossos caracterizam as áreas fontes, margi-
deposição por suspensão, com pouca ou ne- nais à calha da Bacia. Estão pouco consoli-
nhuma energia de transporte, atestando um dados e geralmente possuem matriz síltico-
provável ambiente lacustre, como resultado -argilosa, que sustenta seixos e grânulos
da acumulação sazonal de água nas porções quartzo-feldspáticos e/ou quartzíticos e xisto-
mais aplainadas da Bacia. sos. A distribuição dos sedimentos corrobora a
Em localização intermediária entre as zo- interpretação de que uma das principais áreas
nas onde predominam os processos gravita- fontes é a província granítica Serra da Gracio-
cionais e aquelas onde ocorre deposição por sa, pertencente ao conjunto da serra do Mar
suspensão, há em vários pontos da bacia ocor- (Machado, 2009).
rência de feições características de processos
sedimentares fluviais trativos. Nestas áreas f. Problema da idade da Formação Guabiro-
poderia ter ocorrido a maior concentração tuba - Almeida (1952) posicionou as “cama-
de canais e rios efêmeros, com deposição de das de Curitiba” no Plioceno em função da
areias finas e das areias arcosianas. correlação com as “camadas de São Paulo”,
Por outro lado, é frequente a ocorrência de corroborando as ideias de Carvalho (1934),
associações sedimentares com depósitos de Oliveira e Leonardos (1943) e Maack (1947).
material grosso, devido a processos de fluxo Bigarella e Salamuni (1962) e Azevedo
gravitacional (debris-flow), intermeados por (1981) atribuem a idade plio-pleistocênica
processos fluviais. É possível que os mesmos para os depósitos da Bacia de Curitiba como
tenham sido depositados em corpos de geome- sendo a mais provável em função da sua dis-
tria lobular, a partir da área fonte, podendo ter posição em relação à superfície de erosão de
sofrido uma estratificação em função dos pró- idade inferida, mas não descartaram a pos-
prios processos gravitacionais, os quais podem sibilidade de ampliação destas idades até o
ter sido reorganizados (ou retrabalhados) por Terciário Médio. Becker (1982), por sua vez,
meio de rios cascalhosos entrelaçados (associa- posiciona a sedimentação e o retrabalhamen-
ção de fácies A, segundo Lima, 2010). to dos sedimentos da bacia entre o Plioceno
Isso ocorre quase que exclusivamente Inferior (Formação Guabirotuba) e o Pleisto-
na periferia da bacia, principalmente na sua ceno Inferior (Formação Tinguis).
borda leste-nordeste, vizinha aos maciços Com base em uma ocorrência fossilífera
da Serra do Mar, em diversos níveis estrati- de palinomorfos, na porção centro-leste da

53
bacia, em meio às argilas cinza-esverdeados 2.4 Formação Tinguis
típicas, Salamuni et al. (1999) sugerem que
a deposição da Formação Guabirotuba tenha Becker (1982) propôs a existência da Forma-
iniciado no mínimo entre o Paleomioceno e o ção Tinguis, porém, até o momento não foi
Mesomioceno, podendo inclusive ser oligo- delimitada formalmente, ocorrendo na forma
cênica. Sua finalização pode ter ocorrido já de depósitos inconsolidados e esparsos, de-
no Mesopleistoceno. positados sobre a Formação Guabirotuba.
A Formação Tinguis é composta por de-
g. Solos residuais e transportados pósitos síltico-arenosos imaturos, com matriz
Esta unidade tem maior expressão na parte silto-argilosa em meio a clastos não trabalha-
centro - leste da área. Constitui uma asso- dos, bastante angulosos e pouco heterogê-
ciação de materiais residuais e transportados neos. Também há depósitos argilo-arenosos
(colúvio), com predominância do primeiro e lamíticos imaturos. A espessura média é
tipo. Os solos residuais (Figura 12) são ma- de 5 m, e em geral não ultrapassa os 10 m.
duros, textura argilosa, com predomínio do Seu contato com a Formação Guabirotuba é
horizonte B, coloração avermelhada a violá- erosivo, sendo fácil a diferenciação entre am-
cea e espessuras que variam de 0,5 a 3 me- bas. Exceção se faz em alguns locais, parti-
tros, conforme a posição na vertente, sendo cularmente nos contatos com as porções mais
tanto mais espessos quanto mais próximos do grossas da Formação Guabirotuba.
sopé da mesma. Apresentam grãos de quart- A Formação Tinguis foi depositada em pe-
zo e de feldspatos alterados, de coloração es- quenos vales ou depressões rasas, como resul-
branquiçada. O argilo-mineral predominante tado do retrabalhamento da Formação Guabi-
é a caulinita e é comum a presença de níveis rotuba, ou seja, sua alteração, desagregação e
centimétricos de laterita. A permeabilidade posterior transporte, que por ser curto não pos-
desses solos é baixa e apresentam resistência sibilitou boa seleção dos sedimentos. Isso difi-
média à penetração. culta a existência de estratificações bem defini-
Os solos transportados (colúvios) apre- das, a não ser por incipiente granodecrescência
sentam cores escuras devido à matéria or- da base para o topo.
gânica incorporada e espessuras inferiores
a 1,5 metros (figura 12). São solos argilo 2.5 Depósitos Aluvionares Atuais
- arenosos, porosos e de baixa resistência à
penetração. São facilmente identificados no Os maiores depósitos de sedimentos aluviona-
campo pela existência de um nível de seixos res recentes ocorrem ao longo dos rios Iguaçu,
de quartzo entre a camada de solo transpor- Iraí, Palmital, Atuba, Miringuava, Passaúna,
tado o solo residual subjacente (stone line). Itaqui e Verde e caracterizam-se por serem
Segundo Salazar Jr. et. al. (1999), o solo muito planos, com declividades entre 0 e 5%.
residual possui capacidade de troca de cátions As maiores espessuras giram em torno de 4
variando de 6 a 23 cmol/kg para a argila e 3 metros, caracterizando-se por sedimentos are-
a 12 cmol/kg para o solo, conforme ensaios no-siltico-argilosos inconsolidados e moles.
de adsorção do azul de metileno. Apresenta
peso específico dos sólidos de 2,70 a 2,89 g/
cm3, limite de liquidez (LL) de 50 a 70% e
limite de plasticidade (LP) de 32 a 46%.
Já o solo transportado tem capacidade de
troca de cátions menor que 10 cmol/kg para
a argila e 5,5 cmol/kg para o solo, conforme
ensaios de adsorção do azul de metileno e
permeabilidade baixa. Apresenta peso espe-
cífico dos sólidos de 2,70 a 2,89 g/cm3, limite
de liquidez (LL) entre 50 a 70% e limite de
plasticidade (LP) variando de 32 a 46%.
Figura 7. Clássicas argilas inconsolidadas (mencionadas
comumente como argilitos) da Formação Guabirotuba.
São depósitos maciços, pouco estruturados e esverdea-
dos até avermelhados.

54
Figura 8. Camadas de argilas compactas esbranquiçadas,
com espessuras centimétricas a deciméticas intercaladas Figura 12. Solo residual sobre sedimentos argilosos da
com camadas de caliches e areias carbonáticas de espes- Formação Guabirotuba.
suras centimétricas. Afloramento na Av. Juscelino Ku-
bitschek de Oliveira (Bairro CIC – Curitiba).

Figura 13. Solo poroso, orgânico, de cor escura sobre


Figura 9. Banco areno-siltoso caracterizando um paleo- camada de argila e siltito cinza.
-canal fluvial em meio aos depósitos argilosos típicos da
Formação Guabirotuba.

Figura 14. Aspectos da sequência granito-gnáissica do


Complexo Atuba.
Figura 10. Depósitos rudáceos (conglomeráticos) com
seixos e grânulos, típicos de borda de bacia sedimentar.
Afloramento na Av. Juscelino Kubitschek de Oliveira
(Bairro CIC – Curitiba).

Figura 15. Aspecto gnáissico de granito do Complexo


Granito-Gnáissico.

Figura 11. Em primeiro plano, depósitos rudáceos com


seixos e calhaus, também de borda de bacia sedimentar e
ao fundo depósitos arfilosos da Formação Guabirotuba.
Afloramento em corte na Cidade Industrial de Curitiba.
(Fonte: Liccardo et al. 2008).
55
É comum a presença de camadas de areia
grossa e de conglomerados intercalados, es-
tes últimos com seixos subarredondados e
subangulosos de quartzo. No vale do alto rio
Iguaçu, os depósitos aluvionares possuem
cerca de 2 km de largura, com frequentes me-
andros abandonados, onde se deu intensa ex-
ploração de areia para construção civil, desde
as primeiras décadas do século 20.
Os depósitos aluvionares podem estar
Figura 16. Linha de seixos separando o solo residual, recobertos por solos hidromórficos, periodi-
embaixo do solo transportado (colúvio). A linha de sei-
xos é constituída por fragmentos de quartzo angulosos, camente renovados, de cores escuras, ricos
de vários tamanhos. em matéria orgânica e geralmente bastante
férteis. São de textura argilosa, bastante po-
rosos, com 1 a 2 metros de espessura e muito
baixa resistência à penetração. Em Curitiba
esses solos, que de fato são turfas, eram uti-
lizados como combustível para iluminação e
fornos simples.
Os terraços aluvionares apresentam de-
pósitos similares aos aluviões recentes, po-
rém situam-se alguns metros acima do nível
da atual planície de inundação conferindo-
-lhes um caráter mais antigo. Ocorrem pre-
Figura 17. Linha de seixos separando solo residual de ferencialmente ao longo dos rios Iraí, Palmi-
solo coluvionar no domínio do Complexo Atuba. Ob-
servar o aspecto diferente dos dois tipos de solos, mais tal, Belém, Maurício, Miringuava e Iguaçu,
argiloso em baixo e mais arenoso em cima da linha. com extensos afloramentos de sedimentos
síltico-argilosos inconsolidados, alternados
com camadas centimétricas a decimétricas
de bolsões arenosos, frequentemente em for-
ma de lentes, com pouca continuidade lateral
(Figura 13). Camadas de argila cinza escuro
ou cinza claro são comuns e, como principal
característica, apresentam elevada plastici-
dade e porosidade. Há transição gradual de
bolsões arenosos a sílticos, e desses a argilo-
sos. Ocorrem, no entanto, passagens abruptas
indicativas de bruscas mudanças no regime
fluvial que originou aos depósitos. São fre-
quentes também, nesses depósitos, camadas
Figura 18. Solo residual de gnaisse granítico, de cor cla- de seixos conglomeráticos, de espessuras não
ra, com fragmentos de quartzo. superiores a 0,5 metros, com abundantes sei-
xos de quartzo.
Como no caso anterior, esses depósitos
são recobertos por solos hidromórficos, de
cores escuras, ricos em matéria orgânica, tex-
tura argilosa, porosos, e espessuras entre 1 e
2 metros. Igualmente apresentam resistência à
penetração mecânica muito baixa.
Sobre os depósitos aluvionares recentes,
bem como sobre os terraços e as áreas ala-
gadiças, ocorrem solos hidromórficos, em
geral associados aos fundos de vales, onde o
nível freático está a profundidades inferiores
Figura 19. Blocos de Granito-Gnaisse preservados den-
a 2 m. Trata-se de solos mal ou muito mal
tro do saprólito oriundo da mesma rocha. drenados, com abundante matéria orgânica,
56
que lhe empresta a cor escura característica, Do início do Terciário até o Terciário supe-
sendo por vezes turfosos. A textura é argilo- rior (entre 60 e 15 milhões de anos), as pesqui-
sa, são porosos, muito moles, de baixa per- sas têm indicado a ação de processos recentes
meabilidade e de elevada plasticidade. O de movimentação, ou de neotectônica. Isto
argilo-mineral predominante é a caulinita e, reforça a necessidade de cuidados em relação
em proporções menores, a montmorilonita à presença de linhas estruturais onde normal-
e a ilita. A espessura varia de 1 a 2 m, com mente se encaixam os rios, perenes ou não, por
resistência à penetração extremamente baixa. se tratarem de linhas de instabilidade tectônica.
Sob a camada de solo orgânico escuro há,
com frequência, uma camada de argila cinza,
plástica, mole a muito mole, porosa e de bai- 3 GEOLOGIA DO ENTORNO DO MU-
xa permeabilidade, com espessura da ordem NICÍPIO DE CURITIBA
de 1 m, interdigitada ou assentada sobre cor-
pos lenticulares de areia grossa, compacta, de
cor cinza claro, com permeabilidade média a 3.1 Sequência granítica-gnaissica
elevada e espessura da ordem de 1 m (Figura
13). A espessura média dessa unidade, como A sequência granito-gnáissica ocorre em
um todo, é de cerca 5 m. manchas esparsas pela área, a maior das
quais é o Granito Guajuvira, situado a nor-
te do rio Iguaçu, entre os rios Passaúna e
2.6 História Geológica do sítio urbano de Verde. Outras manchas menores dessa se-
Curitiba quência aparecem na parte leste da área, em
plena Serra do Mar. Compõem-se por rochas
O Complexo Atuba, que caracteriza o subs- gnáissico-graníticas, sendo comum a presen-
trato rochoso da região de Curitiba, possui ça de augen-gnaisses, com cristais de felds-
uma intrincada e antiga história geológica, pato potássico de até 5 cm de comprimento.
que remonta a mais de 1,5 bilhão de anos. Também ocorrem rochas ortoderivadas, ou
Trata-se de uma sucessão de eventos que granodioritos e granitos de coloração cinza
tranformaram a rocha original em maciços clara, homogêneos e de granulação média a
de com alto grau de cristalinidade. grossa (Figura 14), em geral não deformados,
Tais maciços foram posteriormente reco- intrusivos nas rochas da sequência gnáissico-
bertos por sedimentos da Bacia do Paraná, -migmatítica.
ainda quando havia um continente único, o Os gnaisses dessa unidade são deriva-
Pangea. Na separação entre as Placas Tectôni- dos dos granitos e granodioritos pela maior
cas Sulamericana e Africana iniciou um lento intensidade de deformação a que foram sub-
proceso de dissecação do terreno que resultou metidos, adquirindo um aspecto xistoso ou
um amplo planalto. Esses procesos ocorreram gnáissico, devido a processos de estiramento
entre cerca de 300 e 60 milhões de anos, e com orientação de minerais em condições de
se caracterizaram pela ocorrência de grandes deformação dúctil (Figura 15). Essas rochas
fraturamentos da crosta e consequente insta- são cortadas por veios de quartzo leitoso, tar-
lação de um enxame de diques de dibásio (há di ou pós-tectônicos.
cerca de 140 milhões de anos) que, grosso A exemplo do Complexo Atuba, a se-
modo, demarca a bissetriz de um arco suave quência granítico-gnaíssico é constituída
da crosta denomiando de Arco de Ponta Gros- predominantemente por solos residuais e,
sa, bem como por procesos de erosão tanto em secundariamente, por colúvios situados na
clima árido quanto tropical úmido. Entre 60 e meia encosta. Ambos os solos são separados
50 milhões de anos a região, como um todo, por uma linha de seixos de quartzo subangu-
passou por um período de pouca ou nenhuma losos, com espessuras centimétricas.
atividade tectónica e, assim, uma extensa su- O solo transportado ou coluvionar é sílti-
perficie plana é desenvolvida. Denominada de co–arenoso, de cor castanho-clara a amarela,
Superfície Sulamericana, trata-se de extenso com espessuras geralmente inferiores a 2 m.
peneplano que só começa a ser descaracteri- Seu limite basal é marcado pela presença de
zado como tal com a retomada de procesos uma linha de seixos de quartzo subangulosos,
tectônicos, mesmo que de pouca intensidade, de espessura centimétrica e traçado irregular,
concomitantes a consequentes procesos natu- que reflete a paleotopografia vigente na épo-
rais de erosão e de sedimentação. ca (figuras 16 e 17). A resistência à penetra-

57
ção desse solo é baixa e o peso específico é e em camadas menos deformadas podem ser
em torno de 2,82 g/cm3. A permeabilidade é observadas em estruturas sedimentares pre-
média, da ordem de 10-4 cm/s. servadas, como estratificação cruzada, mar-
O horizonte B desse solo apresenta espes- cas de ondas e acamamento gradacional.
suras inferiores a 5 m, é de textura siltosa, Os metacalcários formam espessos paco-
com predomínio da caulinita e gibsita entre tes lenticulares, de estrutura maciça (Figura
os argilo-minerais. A permeabilidade é alta, 20) e mais raramente acamadados. São relati-
da ordem de 10-2 e 10-3 cm/s e a resistência vamente comuns estruturas estromatolíticas,
à penetração é baixa e o peso específico é de originadas por algas do gênero Collenia (Bi-
2,75g/cm3 em média. Os limites de liquidez garella e Salamuni, 1959; Fairchild, 1982).
(LL) e de plasticidade (LP) situam-se entre Essas rochas ocorrem sob a forma de metado-
41,5 e 46,5% e entre 33,1 e 34,7%, respec- lomitos e, secundariamente, como lentes de
tivamente. metacalcário calcítico, de cores cinza clara,
O saprólito apresenta cor rósea a casta- mas níveis mais escuros são frequentes. De
nho-amarelada, textura siltosa, com estru- um modo geral apresentam-se bastante fra-
turas da rocha gnáissica original ainda bem turadas e com formas de dissolução ao longo
preservadas e grãos de feldspatos cauliniza- de fraturas, quando podem se formar caver-
dos, e blocos de rocha (Figuras 18 e 19). A nas ou abertura de planos. No topo dessas
espessura é variável, desde menos de um até camadas, formas cársticas são desenvolvidas
mais de uma dezena de metros. A permeabi- e preenchidas por solo residual vermelho.
lidade varia de média a alta (10-3 a 10-4 cm/s). Dependendo do grau de fraturamento, po-
O peso específico é em média de 2,75 g/cm3 dem ser excelentes aquíferos, especialmente
enquanto os limites de liquidez (LL) e de em locais onde há dolinas e outras áreas que
plasticidade variam de 35,5 a 39,7%. sofreram dissolução.
Instabilidades geotécnicas na Formação
Capiru são bastante comuns e na grande
3.2 Formação Capiru (Grupo Açungui) maioria das vezes são o resultado de caracte-
A Formação Capiru ocorre na porção norte rística inerente à própria rocha calcária. Não
e noroeste da área, estendendo-se desde Co- obstante, obras humanas mal conduzidas
lombo até as cabeceiras do rio Itaqui. Soares podem acelerar os fatores de instabilização
(1987) dividiu a formação em três associa- originando depressões circulares ou semicir-
ções litológicas, ocorrendo da base para o culares, a partir de colapsos localizados.
topo as associações metarenito-pelítica, me- Por outro lado, as cavidades geradas pela
tapelito-dolomítica e metapelítica, metamor- dissolução das rochas carbonáticas possibilita
fizadas em fácies xisto-verde (zona da clorita que a agua subterránea circule com facilida-
e/ou biotita) e Fiori (1991) completou essa de naquele local e permaneça armazenada em
subdivisão, utilizando o conceito litoestrati- volumes suficientes para caracterizar a região
gráficos de sequências, nas sequências Juru- como excelente aquífero, regionalemnte de-
qui, Rio Branco, Morro Grande e Bocaina. nominado de Aquífero Karst. Os poços tubu-
Os conjuntos litotípicos encontram-se lares na região, em geral são rasos, entre 60 e
bastante deformados como resultado de pelo 100 m mas, apesar de possuem grande produ-
menos três eventos deformativos superpostos tividade, é necessário um controle rigoroso da
(Fiori 1991). O primeiro está relacionado à extração da água devido a riscos iminentes de
tectônica de cavalgamento, o segundo a um acidentes geotécnicos, especialmente colap-
generalizado dobramento e o terceiro à tectô- sos, como tem se verificado na área.
nica transcorrente. Fiori et al. (1985), basea- Outro importante conjunto de rocha na
do nas características estruturais da unidade, região são os filitos, que se distribuem em
sugeriu uma estruturação em duplex para a pacotes espessos, e como característica prin-
mesma, com cisalhamento de baixo ângulo. cipal, exibem uma marcante foliação ardo-
É constituída por filitos, metacalcários e siana disposta paralelamente ao acamamen-
quartzitos intercalados, derivados de um me- to sedimentar e desenvolvida em posição
tamorfismo regional relacionado ao primeiro plano-axial de dobras associadas ao primeiro
evento de deformação e que atingiu o fácies evento de deformação. Salamuni et al. (1991)
xisto-verde, zona da clorita. A deformação, descreveu os filitos como sendo geralmente
entretanto, não é homogênea em toda a área alterados, com predomínio de cores amare-

58
ladas e acinzentadas, compostas essencial- a. Solos residuais e colúvios sobre os meta-
mente por grãos de quartzo de granulometria calcários são de cores com tons avermelha-
média a fina, geralmente recristalizados. Há dos, mas cores amareladas e castanhas tam-
rochas com tons cinza-claro e cinza escuro, bém estão presentes. Localmente aparecem
frequentemente rítmicos, alternando bandas linhas de seixos (stone lines), compostas por
de espessuras submilimétricas a milimétri- fragmentos angulosos de quartzo e de meta-
cas. Podem ocorrer frações sílticas e are- pelitos, indicando a recorrência da formação
nosas, nas quais é possível a observação de de depósitos coluvionares, formados ou nos
gradação granulométrica. Estruturalmente sopés de morros ou associados a formas cárs-
apresentam uma foliação normalmente tabu- ticas. Não é rara, porém, a transição direta
lar ou levemente anastomosada. O quartzo com o metacalcário. Nas pedreiras podem
demarca uma lineação de estiramento hori- ser observadas reentrâncias irregulares na
zontal. Nos locais mais próximos ao traçado forma de “V”, no topo rochoso, resultado da
principal da Falha da Lancinha, a foliação se dissolução cárstica, com o solo residual pre-
encontra bastante lenticularizada, podendo enchendo as cavidades. Como consequência,
estar localmente crenulada nas porções mais o solo residual apresenta grande variação de
pelíticas da rocha. espessura, como mostra a Figura 21.
Apresentam-se, na maioria das vezes, Esses solos possuem textura argilosa a
semi-alterados e quando o teor em grafita é muito argilosa, variando para siltosa, com a
mais elevado adquirem cores avermelhadas, caulinita predominando entre os argilo-mi-
cinza-claras, cinza-escuras ou pretos. Granu- nerais. Apresenta alta porosidade (50,5%),
lometricamente correspondem a areia muito permeabilidade média a baixa (10-3 cm/s) e
fina, silte e, mais raramente, a argila. Dentre resistência à penetração (SPT) variável de
as estruturas sedimentares mais comumente baixa a média. Os limites de liquidez e de
encontradas destacam-se a estratificação pla- plasticidade mostram valores de 55 e 37%,
no-paralela e a estratificação cruzada de pe- respectivamente. O peso específico dos grãos
queno porte. A estratificação plano-paralela é situa-se em torno de 2,85 g/cm3 e a erodibili-
evidenciada pela presença de níveis ou ban- dade do material é baixa a alta.
cos de colorações, composições e espessuras
diferentes, podendo ser ou não gradacional, b. Solos residuais e colúvios sobre metape-
enquanto a estratificação cruzada é melhor litos: incluem os solos residuais de filitos,
observada em níveis mais arenosos, sendo meta-argilitos, metassiltitos, metarritmitos
geralmente de pequeno porte, e com sua ori- e xistos, com pequenas inclusões de solos
gem ligada a algumas formas de marcas de transportados (colúvios).
onduladas.
Já os quartzitos ocorrem como intercala- O solo residual é de cor castanha-clara
ções métricas a até cerca de uma centena de a amarelada, com espessura inferior a 1 m.
metros, tanto nos filitos como nos metacal- Apresenta textura argilo-siltosa, porosidade
cários. São comuns gradações dessas rochas alta e permeabilidade baixa (10-6 cm/s). Nes-
para filitos e, por serem mais resistentes, for- se tipo de solo, predomina a caulinita entre os
mam cristas alongadas no relevo. A estrati- argilo-minerais. O peso especifico dos grãos
ficação plano-paralela é a estrutura primária varia de 2,74 a 2,97 g/cm³, o limite de liqui-
mais comum nessas rochas, não sendo rara a dez é de 58%, enquanto o limite de plastici-
presença de níveis granodecrescentes e estra- dade é de 39,7%.
tificações cruzadas de médio porte. Quando Já o solo transportado (colúvio) é de cor
muito alterados, dão origem a solos arenosos marrom escura, poroso, síltico-argiloso, de
ou argilo-arenosos. Exibem colorações em pequena profundidade, geralmente com es-
tons esbranquiçadas e sua granulação é fina pessura inferior à 1m. Apresenta baixa re-
à média. Ocorrem também veios de quartzo sistência a penetração, peso específico entre
leitoso, com espessuras centimétricas dispos- 2,69 e 2,85 g/cm³. O limite de liquidez varia
tos subparalelamente à foliação principal. de 51,5 a 62%, enquanto o limite de plastici-
Os solos residuais e coluvionares sobre dade varia de 35,2 a 37,4%.
a Formação Capiru englobam os solos sobre O saprólito é de coloração vermelha a
metacalcários, metapelitos e quartzitos, sen- amarelada, apresentando forte bandeamento,
do descritos a seguir. com inclinações variando de 30 a 90 graus e

59
espessura variável de 3 metros a mais de 10 cruzadas e planares. Marcas de onda e estrutu-
m. A textura é siltosa a argilosa, com a cau- ras do tipo ball–and–pillow também se fazem
linita predominando entre os argilo-minerais. presentes. Intercalados nos siltitos aparecem
A porosidade é alta (44,8%) e a permeabili- níveis de argilitos, em estratos centimétricos
dade é baixa (10-4 cm/s). O limite de liquidez a decimétricos. Camadas de arenitos não são
é da ordem de 31,7%, enquanto o de plasti- frequentes, mas aparecem também em estra-
cidade é de 24,4%. O peso específico seco tos intercalados nos siltitos. Sua granulometria
situa-se em torno de 1,6 g/cm³ e a erodibili- varia de fina a grosseira, mal selecionados, ar-
dade do material em talude é baixa. cosianos e muitas vezes com estratificação gra-
c. Solos residuais sobre quartzitos: apre- dacional e cruzada, de dimensões decimétricas.
sentam solos pouco desenvolvidos, predo- Os solos associados a essa formação são
minando rocha alterada em relação ao solo rasos e pouco desenvolvidos, predominan-
propriamente dito. Aparecem nas encostas do o regolito sobre o solo propriamente dito.
de cristas onde são comuns blocos e lajes de São abundantes blocos ou matacões de silti-
quartzitos. Trata-se de solos do tipo areias tos e conglomerados e, da mesma forma que
quartzosas, de cores esbranquiçadas a amare- nos demais casos, ocorrem zonas de solos
ladas, granulometria fina à média, geralmen- transportados (colúvio) associadas a encostas
te soltos e espessuras inferiores a 0,5 m. de vertentes, porém de espessuras reduzidas.
Os solos dessa unidade sobre siltitos indicam
textura argilosa, peso específico dos sólidos de
3.3 Formação Camarinha 2,84 a 2,96 g/cm3, limites de liquidez de 45% e
A Formação Camarinha ocorre na parte oeste de plasticidade de 30%, permeabilidade média
da área mapeada, restrita a uma pequena faixa a baixa (10-5 cm/s) e comportamento erodível.
de ocorrência, situada no sopé da Serra do Pu-
runã, em contato direto com a Formação Fur- 3.4 Intrusivas básicas
nas que lhe é sobrejacente (Figura 22).
Caracteriza-se pela ocorrência de sedi- Os diques de diabásio são de idade Juro-cretá-
mentos de grau metamórfico muito baixo ou ceos e ocorrem segundo a direção geral N50-
anquimetamórficos, relacionados a bacias tec- -70W, com espessuras aproximadas entre 10 e
tônicas Eopaleozóicas, formadas no Cambria- 40 metros. Ocorrem esparsos por toda a área
no, ao final do ciclo Brasiliano. É constituída mapeada, porém em maiores concentrações
por pacotes de siltitos e metaconglomerados, podem ser vistos na parte norte, especialmen-
de espessuras diversas. te nos municípios de Colombo e Almirante
Os conglomerados da Formação Cama- Tamandaré, e na parte sul, no município de
rinha apresentam coloração vermelho-cas- Araucária. As rochas são de coloração escura,
tanha, com clastos centimétricos e grânulos, granulometria fina, maciças, muito resistentes,
por vezes arredondados e / ou subangulosos, e quando alteradas, dão origem a um latossolo
indicando maior ou menor grau de retraba- vermelho característico. Como diagnóstico da
lhamento, imersos em matriz variando de presença dessas rochas, é comum a presença
argilosa a arenosa. Os clastos e grânulos são de blocos arredondados, com foliação esferoi-
de composições as mais variadas, incluindo dal, de cores amareladas, preservados no meio
argilitos, siltitos, arenitos, quartzo, filitos, do solo residual de cor vermelha.
quartzitos e granitos, principalmente, oriun- Os diques são facilmente distinguíveis
dos de litotipos do Grupo Açungui e dos nas fotos aéreas quando apresentam resis-
complexos Atuba e Granito-Gnáissico. Os tência ao intemperismo maior que as rochas
conglomerados apresentam-se bem litifica- encaixantes, formando cristas. Quando sua
dos onde, provavelmente, a sílica é o cimento resistência é menor do que as encaixantes,
predominante. Lentes arcosianas intercala- formam vales e são mais difíceis de serem
das são feições comuns nesses litotipos. identificados nas fotos aéreas.
Já os siltitos dessa formação são de colo- Esses solos ocorrem ao longo de cristas
ração predominantemente castanho-averme- e de vertentes associadas, geralmente íngre-
lhada, variando para arroxeada quando bem mes e convexas, bem visíveis em fotogra-
intemperizados, exibindo estratificação planar. fias aéreas, mantidas por diques de diabásio.
Apresentam geralmente estrutura maciça, sen- Distribuem-se por faixas de alguns quilôme-
do comum a presença de microestratificações tros de comprimento por algumas centenas

60
de metros de largura. São comuns as franjas
de colúvios nos sopés de vertentes, que che-
gam a atingir larguras da ordem de dezenas
de metros, englobando fragmentos e blocos
arredondados de rocha básica alterada, geral-
mente de cores amareladas, mostrando uma
típica esfoliação esferoidal (Figura 23).
Tratam-se de solos maduros, de cor cas-
tanha clara a avermelhada, com espessuras
da ordem de 1 ou 2 m. Apresentam elevada
susceptibilidade magnética devido à presen-
ça da magnetita, que frequentemente se con-
centra numa espécie de areia preta, junto com
a areia normal de sílica, em trechos de es- Figura 22. Solo residual, derivado da alteração de meta-
coamento de águas de chuva. Possuem peso calcário da Formação Capiru, associado a formas cárs-
específico variando de 2,8 a 3,1 g/m3, porosi- ticas.
dade alta, permeabilidade baixa (10-6 cm/s) e
com limites de liquidez (LL) e de plasticida-
de (LP) de 65 e 46%, respectivamente.
O saprólito é de cor avermelhada pardacen-
ta ou variegada, com textura silto-argilosa, e es-
pessura às vezes superior a 5 m, com frequen-
te presença de blocos arredondados de vários
tamanhos. O argilo-mineral predominante é a
caulinita, a porosidade é alta (65,6%) e a per-
meabilidade é baixa (10-4 cm/s). A resistência
à penetração (SPT) desse material saprolítico é
média a alta, com peso específico variando de
2,8 a 3 g/m3 e limites de liquidez (LL) e de plas-
ticidade (LP) de 50 e 43%, respectivamente. Figura 23. Contato entre as Formações Furnas (sobre-
jacente) e Camarinha (subjacente), em afloramento na
Sua erodibilidade em talude é de média a baixa. serrinha de São Luís do Purunã (Campo Largo).

4 GRANDES TRAÇOS ESTRUTURAIS

As estruturas geológicas podem ser primá-


rias, quando se originam ao mesmo tempo
que as rochas ígneas e/ou sedimentares, ou
secundárias quando estão ligadas à deforma-
ção das rochas em geral.
Na Bacia de Curitiba há dois conjuntos
de estruturas secundárias importantes. O pri-
Figura 20. Metacalcários estratificados da Formação Capiru. meiro conjunto é representado por foliações
e bandamento gnáissico nas rochas do Com-
plexo Atuba, que são estruturas geradas no
Paleo e Mesoproterozóico, ou seja, entre 1,8
e 1,6 bilhão de anos atrás, sob regime me-
tamórfico de alta temperatura, média pres-
são e deformação dúctil. Do ponto de vista
prático a estruturação foliar e/ou bandada da
rocha torna-a mais suscetível aos processos
intempéricos, facilitando sua desagregação
química e física, principalmente na presença
Figura 21. Solo residual de diabásio, blocos arredonda- da água. O posicionamento dessas estruturas
dos de diabásio com esfoliação esferoidal. apresenta uma tendência geral para a direção

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nordeste-sudoeste, no entanto ocorrendo em uso do solo e do subsolo, como é o caso do
outras direções de maneira menos frequente. planejamento de obras de porte, o que feliz-
O segundo conjunto de estruturas secundá- mente oblitera a falsa sensação de que a ci-
rias é composto essencialmente por planos de dade já se desenvolveu na plenitude do seu
fraturas (juntas e/ou falhas), que criam descon- recorte espacial.
tinuidades tanto nos sedimentos da Formação Curitiba possui uma geomorfologia re-
Guabirotuba quanto no maciço rochoso do lativamente simples se comparada a cidades
Complexo Atuba, sendo mais notável no últi- como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e mes-
mo (Salamuni et al., 2004). mo São Paulo. Mormente a expansão urbana
Os traços de fraturas – lineamentos - para a periferia externa ao município, como
apresentam-se em direções variadas (Figura se constata hoje, terá influências ambientais,
1), mas as maiores tendências encontradas inclusive radicais no cotidiano da cidade,
estão nas direções nordeste-sudoeste, no- principalmente no que diz respeito aos re-
roeste-sudeste e norte-sul, cujos valores de cursos naturais, como a água – superficial e
mergulho são bastante variáveis, mas com subterrânea – e a oferta de agregados para a
importantes sistemas de falhas na posição construção civil.
vertical que, nesse caso, caracterizam falhas Assim sendo, quando se busca precisão
transcorrentes. Tais descontinuidades são de para oferecer mapeamento geológico de su-
extensões ou escalas variadas, desde local até perfície e subsuperfície para o planejamento
regional e podem caracterizar zonas de inten- urbano, objetiva-se que a engenharia e a ge-
sa cataclase (quebramento) até a formação de otecnia tome em consideração peculiaridades
brechas. geológicas importantes, tais como o perfil das
Invariavelmente as fraturas criam planos diversas “camadas” geológicas e suas impor-
de instabilidade por onde, facilmente, per- tantes heterogeneidades locais. Em vista disso
cola água e outros efluentes potencialmente é que se requer como documento preliminar
perigosos (principalmente os de postos de de qualquer obra a sondagem subsuperficial
combustíveis) para o maio ambiente, a tal do terreno e em Curitiba tais investigações
ponto de, na presença de clima úmido como (vide Talamini Neto, 2001; Kormann, 2002)
no presente caso, se instalarem rios de grande apontaram irregularidades fundamentais nas
a médio porte. camadas sedimentares, constituídas de uma
profusão de diferentes litotipos e estruturas
geológicas – primárias e secundárias (Salamu-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ni e Bigarella, 1962; Salamuni et al., 1999; Sa-
lamuni et al., 2003; Lima, 2010), que podem
baratear, encarecer e até inviabilizar projetos
A breve síntese, aqui apresentada, sobre as
de médio e grande porte.
unidades geológicas que constituem o subs- O exemplo mais presente de tais assertivas
trato do município de Curitiba e seu entorno é o projeto do metrô, que a princípio requer
pode ser complementada com a leitura de solução híbrida entre os sistemas de transporte
trabalhos (artigos científicos, teses e disserta- aéreo, o sistema cut and cover e o sistema de
ções) que têm sido produzidos intensamente túneis. A solução não é uma escolha singular da
a partir do início da década de 60. engenharia, mas uma dependência da tipologia
Todavia, é possível se ter uma visão pre- do solo e subsolo da cidade de Curitiba, que
cisa a respeito da geologia local e sua estru- obviamente é dependente das características
tura geológica e, inclusive, de sua geomor- geológicas locais.
fologia. Dessa forma, pensar que as camadas su-
O aspecto físico que intrinsecamente está perficiais do terreno, em quase toda a exten-
ligado ao processo geológico (latu-sensu) são areal do município são constituídas por
sem dúvida determina aspectos da ocupação sedimentos inconsolidados da Formação
e uso do solo. Quando isso é desconsiderado Guabirotuba e que, em adição ao problema
instala-se um princípio de ocupação caótica, das instabilidades laterais nas aberturas de
como, por exemplo, a ocupação em fundos trincheiras, há ainda a se considerar a gran-
de vale mais relevantes do ponto de vista ge- de heterogeneidade litológica com um fator
omorfológico. complicador adicional nas obras de engenha-
O conhecimento da geologia, no caso de ria neste comportamento.
Curitiba, pode orientar novas demandas do

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