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DESLIZAMENTOS
RESUMO
O crescimento mundial do número de catástrofes naturais vem acarretando diversos
prejuízos. A década de 90 foi instituída pela ONU como a Década Internacional de
Redução de Desastres Naturais e visou direcionar e fortalecer programas de prevenção e
redução de acidentes naturais, incluindo assim, os deslizamentos. As formas inadequadas
de ocupação do meio, pela população, potencializa a deflagração desses processos em
áreas urbanas. O estudo da percepção sobre como a população percebe e vivencia os
processos de riscos naturais é uma ferramenta que pode ser utilizada para direcionar os
trabalhos do poder público no que se relaciona à gestão dos riscos, por meio de
intervenções estruturais e/ou, principalmente, por meio das não-estruturais como a
comunicação adequada sobre os riscos e processos de ensino-aprendizagem. A
comunicação de risco tem como objetivo conscientizar a população quanto à prevenção
de acidentes buscando a redução ou minimização dos problemas, no controle de
formação de novas áreas de risco e na convivência com o perigo. Acerca dessa temática
são apresentados dois estudos de casos.
Palavras-chave: Percepção; Deslizamento; Gerenciamento de Risco.
ABSTRACT
The increasing numbers of natural disasters has been causing several troubles and
damages. ONU has instituted 90´s as decade to International Strategy for Disaster
Reduction (ISDR) in order to improve programs about prevention and reduction on natural
accidents, including landslides. Inadequate land use on urban areas contributes to
deflagration of process. The perception on how population perceives natural hazards can
be a tool when it comes to guide public administration toward risk management by
structural or non-structural interventions as communication and learning process.
Communication on risks has the purpose to give consciousness to population about
prevention as a way to reduce or minimize problems, controlling new occupations and how
to live facing hazards.
Key words: Perception; Landslide; Risk Management
INTRODUÇÃO
R = P(A) x C(V)/G
250
228
200
M OR TES 166
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ANO
Figura 1: Número de mortos por acidentes de deslizamentos no Brasil. Fonte: IPT (2007).
PERCEPÇÃO
A relação entre a população e a forma adotada para ocupar o meio potencializa a
deflagração dos processos de deslizamentos em áreas urbanas. Dessa forma, entende-se
que a população, além de ser a maior vítima dos processos é, também, a sua maior
protagonista. Sendo assim, o estudo da percepção acerca dos riscos naturais apresenta
grande importância quando dirige seu olhar a trabalhos com o propósito de preservação
da vida humana. A seguir são apresentadas considerações acerca da percepção
ambiental e de risco, sobre a atuação desta como formadora de políticas públicas e na
prevenção de acidentes e alguns estudos de caso.
Percepção Ambiental e de Risco
Percepção é um substantivo originário da palavra latina percípere (per = bem + cárpere =
apanhar, pegar, captar) que significa apreender bem um fato a partir do perceber. A
percepção de forma alguma está desvinculada de suas relações com o meio circundante e
deve ser tratada de forma aprofundada e séria utilizando-se da capacidade de
experimentações, conceitualizações e pensamentos, uma vez que esta representa o
primeiro passo em direção a formação do conhecimento.
A percepção ambiental tomou impulso a partir dos trabalhos da Geografia do
Comportamento e da Percepção ainda na década de 1960. De início, a Percepção
Ambiental preocupava-se com a ocupação humana nos ambientes sujeitos às flutuações
naturais extremas (Pompílio, 1990). Neste enfoque, a União Geográfica Internacional
(UGI) criou em 1968, a Comissão Homem Ambiente encarregada de promover estudos
sobre os riscos naturais e suas conseqüências para o homem.
Oliveira (1977) afirma que a percepção é uma interpretação que visa restituir a realidade
objetiva, por meio da atribuição de significado aos objetos percebidos. Posteriormente, o
mesmo autor (Oliveira, 1978) define percepção como o conhecimento que adquirimos por
meio do contato atual, direto e imediato com o objeto e seus movimentos, dentro do
campo sensorial. Pompílio (1990) afirma que percepção é uma função psicológica que
habilita o indivíduo a transformar o estímulo em experiências coerentes e organizadas.
Rio (1996) acredita que a percepção é um processo mental de interação do indivíduo com
o meio ambiente que se dá por meio de mecanismos perceptivos de estímulos externos,
pelos sentidos, e cognitivos que compreendem a contribuição da mente e inteligência
como ativos na construção da realidade percebida e na conseqüente definição da conduta.
Apoiado em White (1974), Macedo (2001) declara que as pessoas reagem ao meio de
acordo suas percepções, que são entendidas conforme suas experiências anteriores, não
sendo relevante o conceito do que é percebido. Sendo assim, no escopo das ciências
naturais, os pesquisadores tendem a não sobreestimarem os mecanismos psicológicos da
percepção e sim, restringirem-se ao estudo ”do que” é percebido.
Lave & Lave (1991) apresentam as principais possibilidades de reação das pessoas que
vivem em áreas de risco frente a determinados perigos como sendo a tentativa de ignorar
ou reprimir o perigo, transferir-se para uma área de menor risco, reduzir os danos com
medidas de emergência e/ou, adaptar-se ao perigo por meio de medidas estruturais.
Park (1993) apud Xavier (1996) considera os fatores que influenciam as respostas
humanas diante de uma área de risco apontando a incerteza perante a temporalidade da
ocorrência de um evento e sua área de influência, a falta de perspectiva no caso de
necessidade de relocação de moradias e a conseqüente necessidade de busca de novas
acomodações, empregos, escolas, etc.
O fato de a dinâmica da ocupação ser extremamente rápida também acaba por mascarar
a percepção, pois a passagem entre um grau considerado de alta probabilidade de
ocorrência de processos pode passar para baixo apenas com a implantação de algumas
obras, e o contrário também pode ser esperado quando uma intervenção inadequada é
imposta em uma determinada área anteriormente livre de problemas.
Os fatores que influenciam em um maior ou menor grau a percepção das pessoas frente
aos riscos são citados por Nölke (1999) como: a capacidade de avaliação do risco levando
em conta os fatores intelectuais individuais, as próprias experiências pessoais frente ao
perigo, a disponibilidade de informações, a possibilidade de se reprimir o perigo, a
culpabilidade remetida a fatores externos, as vantagens e desvantagens de estratégias, a
noção dos danos possíveis e o grau de adaptação das pessoas frente às situações de
perigo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos são os trabalhos com enfoque técnico que estão sendo desenvolvidos e praticados
no Brasil no intuito de recuperação e mitigação de áreas de risco, no entanto ainda
existem lacunas a serem preenchidas sobre questões relacionadas à comunicação de
risco, educação ambiental e o estudo da percepção populacional sobre os problemas de
deslizamentos e possíveis soluções. A melhoria na qualidade da percepção dos
moradores das áreas de risco em relação aos problemas evidenciados representa um
salto na capacidade de autogestão dos riscos, implicando na prevenção de futuros
acidentes e no gerenciamento integrado dos acidentes entre a população e técnicos.
Existe grande número de bibliografias sobre a percepção dos processos de inundações,
secas, terremotos e ciclones, porém, ainda não são muito comuns às abordagens sobre o
ponto de vista da percepção dos deslizamentos. Muito há de ser pesquisado com relação
à aplicação dos estudos da percepção de risco nos cenários de gestão pública,
gerenciamento de riscos, educação ambiental e capacitação técnica.
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