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RELATÓRIO

PORTO SEGURO - CARAVELAS


Sumário
1. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA.................................................................................................................3

2. ARCABOUÇO GEOLÓGICO..............................................................................................................4

3. FACIOLOGIA DO GRUPO BARREIRAS.............................................................................................6

4. INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO......................................................................................................9

5. CONCLUSÃO.................................................................................................................................12

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................13

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1. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA

A área de Porto Seguro – Caravela (Figura 1) localiza-se na porção extremo- sul do estado da
Bahia e abrange parcial e/ou totalmente os territórios de 10 municípios inseridos na região. São os
seguintes municípios: Alcobaça, Belmonte, Caravelas, Eunápolis, Itabela, Itamaraju, Nova Viçosa,
Porto Seguro, Prado e Santa Cruz Calábria.

Figura 1. Mapa de localização da área Porto Seguro – Caravelas, Bahia-Brasil. Fonte: Companhia Baiana de Pesquisa
Mineral, 2017.

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2. ARCABOUÇO GEOLÓGICO

A estrutura do geológica do Brasil é em grande parte herdada da orogênese brasiliana, evento


tectônico que ocorreu no final do pré-cambriano. Os crátons, poupados por este evento foram
separados por uma rede de faixas brasilianas. A área (Figura 2) está inserida no domínio
denominado Faixa Araçuaí, a qual ocorre no limite sudeste do cráton São Francisco, e é
representada, predominantemente, por Coberturas Superficiais Cenozoicas (Grupo Barreiras).

Tendo em vista sua situação geológica, limítrofe entre as províncias estruturais São Francisco e
Mantiqueira (Almeida et al., 1977), o embasamento na área estudada apresenta um panorama
bastante controverso. Vários autores incluíram, total ou parcialmente, as rochas pré-cambrianas, no
cinturão móvel costeiro Atlântico (Mascarenhas, 1973, 1979), na faixa de dobramentos Araçuaí
(Almeida, 1978), na região de dobramentos Araçuaí (Inda & Barbosa, 1978), no domínio estrutural
marginal ao Cráton (Litwinski, 1985); e na subprovíncia Araçuaí da província geológica Mantiqueira
(Silva et al., 1987). Recentemente, Barbosa & Dominguez (1996) consideraram os gnaisses kinzigíticos
e gnaisses migmatíticos como pertencentes ao cinturão Itabuna, tido como integrante do
embasamento arqueano-paleoproterozóico do cráton do São Francisco, e relacionaram os
metassedimentos xistosos e quartzíticos à faixa Araçuaí-Piripá. Entretanto, para Soares & Pedreira
(1996) tanto as rochas gnáissicas quanto os litótipos xistosos estão inseridos na faixa Araçuaí.
Segundo esses autores, as primeiras representam o embasamento da faixa, de idade arqueana a
paleoproterozóica, ainda que retrabalhado durante o ciclo Brasiliano, enquanto os xistos são
identificados com o Grupo Macaúbas, constituído por metassedimentos neoproterozóicos.

A unidade geológica de maior expressão na área de estudo, o Grupo Barreiras, recobre


discordantemente todas as unidades pré-cambrianas, sendo sobreposta localmente pelos
sedimentos das Planícies Quaternárias. Na Bahia, a maior parte das informações sobre o Grupo
Barreiras, é proveniente de estudos realizados nas imediações de Salvador ou na porção nordeste do
Estado. Na região extremo sul do Estado, são raros os estudos sobre o Grupo Barreiras, podendo-se
citar os trabalhos de Pedreira (1971a, b), Menezes Filho (1972), Silva Filho et al. (1974) e de Silva et
al. (1987). Mais recentemente, Menezes Filho (in Arcanjo, 1997) mostra um enfoque atual sobre a
faciologia do Grupo Barreiras no sul da Bahia, assinalando que a grande lenticularidade das camadas
e as bruscas mudanças laterais e verticais das litologias inviabilizam o rastreamento de horizontes-
guias para correlações, mesmo em regiões circunvizinhas.

O Grupo Barreiras apresenta espessura bastante variável, em função da paleomorfologia do


embasamento, chegando a atingir, a partir de observações de seções estratigráficas, até 70m na área
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em estudo. Todavia, dados de subsuperfície obtidos pela Companhia de recursos hídricos e de
saneamento da Bahia, CERB, próximo a Porto Seguro, indicam espessura de até 212m, de sedimentos
aparentemente dessa unidade. Os dados de subsuperfície obtidos de poço perfurado pela Petrobras
em Cumuruxatiba (Barreto & Pinto, 1972), somados às observações de campo, permitem inferir uma
espessura média de 70 metros para o Grupo Barreiras naquela região. Apesar da ampla distribuição,
boas exposições ocorrem apenas nas falésias costeiras ou nos vales talhados pelas drenagens que
cortam a unidade. Na área, observa-se que no âmbito do Grupo Barreiras é marcante a alternância
de depósitos pelíticos e psamo-psefíticos, dando ao conjunto um aspecto grosseiramente
acamadado. Os sedimentos são predominantemente arenosos, mal selecionados, com baixa
maturidade textural e mineralógica, evidenciando que o transporte a que foram submetidos foi curto
e aparentemente torrencial.

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Figura 1. Mapa geológico da área Porto Seguro – Caravelas, Bahia-Brasil. Fonte: Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, 2017.

E por fim, encontram-se as planícies quaternárias que ocupam as áreas mais baixas da região
bordejando a linha de costa e adentrando os grandes vales presentes nos tabuleiros costeiros.
Constituem as planícies quaternárias os depósitos continentais, transicionais e recifes de coral que se
sobrepõem discordantemente ao Grupo Barreiras. Estes depósitos tiveram sua acumulação

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controlada pelas variações do nível relativo do mar que afetaram a costa brasileira durante o
Quaternário.

3. FACIOLOGIA DO GRUPO BARREIRAS

Por ser a unidade geológica de maior expressão e responsável pelos depósitos da região, a
frequente variação faciológica (Figura 3) é relativamente pequena, as litofácies presentes no Grupo
Barreiras, nessa área, serão brevemente descritas a seguir:

i. Litofácies de arenitos maciços com grânulos e seixos dispersos (Am) – Os arenitos


seixosos são de coloração creme com tons avermelhados, granulometria média a grossa,
de aspecto maciço, compostos de grãos de quartzo, e, subordinadamente, feldspatos
caulinizados, com baixa maturidade textural. Apresentam matriz argilo-siltosa e contêm
seixos e grânulos de quartzo esparsos. O aspecto maciço, característico dessa litofácies,
evidencia que o processo que atuou no transporte dos sedimentos foi o fluxo de detritos.
A maturidade mineralógica dos seixos e a relativa homogeneidade de tamanho, em
contraste com a imaturidade textural destes sedimentos, sugere tratar-se de depósitos
ressedimentados em sistema deposicional do tipo leque aluvial.
ii. Litofácies de argilitos maciços (Agm) – os argilitos maciços de colorações roxa, creme,
esverdeada e avermelhada ocorrem sob a forma de níveis e camadas lenticulares,
contendo fração silte, às vezes mica, além de grãos e grânulos de quartzo com baixa
maturidade textural. Essa litofácies, quando ocorre associada a depósitos de fluxo de
detritos, tem sua origem atribuída a fluxo de lama, podendo também ocorrer associada a
litofácies fluviais; nesse caso pode representar depósitos de transbordamento ou ainda
depósitos de lagos, situados numa planície aluvial.
iii. Litofácies de arenitos com estratificações plano-paralela e cruzada (Ae) – ocorre sob a
forma de camadas de espessura métrica, sendo formada por arenito de cor creme com
tons amarelados e avermelhados, de granulometria média a grossa, com grãos
subangulosos a subarredondados, composição subarcosiana, e, subordinadamente,
minerais pesados, contendo ainda matriz argilosa. Esses arenitos são considerados como
depósitos de sistema fluvial.
iv. Litofácies de arenitos grosseiramente estratificados com níveis conglomeráticos (Agec)
– apresenta-se sob a forma de camadas lateralmente persistentes, mas com tendência à
lenticularidade. São arenitos conglomeráticos de granulometria areia média a muito

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grossa, colorações creme e avermelhada, contendo grãos de quartzo e,
subordinadamente, feldspatos caulinizados, com baixa maturidade
v. Litofácies de arenitos finos a médios, bimodais, com estratificações cruzadas (Ab) – é
formada por arenitos de cores creme e esbranquiçada, granulometria média a fina, com
boa seleção granulométrica (bimodal), compostos de grãos subarredondados de quartzo,
feldspatos e minerais pesados. Apresentam, às vezes, estratificação cruzada acanalada
de pequeno e médio porte e raras lentes submilimétricas caulínicas. Essa litofácies exibe
características da ação eólica e de correntes e pode representar porções distais de
depósitos fluviais ou de enxurrada em lençol, retrabalhados pelo vento em planície
aluvial.
vi. Litofácies de argilitos arenosos laminados (Agal) – trata-se de litofácies de distribuição
pouco expressiva, composta de argilitos de colorações variegadas, finamente laminados,
localmente físseis, contendo fração de areia fina a silte, além de grânulos pingados de
quartzo e às vezes mica. Intercalações de lentes de arenito fino podem ocorrer. Essa
litofácies é considerada como de origem lacustre.
vii. Litofácies de arenitos arcosianos granulosos a seixosos com cimento silicoso (Aas) –
ocorrem sob a forma de camadas lenticulares. Trata-se de arenitos arcosianos, de
colorações creme e cinza, granulometria de areia média a grossa e contendo
subordinadamente grânulos e pequenos seixos, mostrando baixa maturidade textural,
aspecto maciço e às vezes grosseiramente estratificados, contendo cimento silicoso.
Feições erosivas podem ocorrer na base e associadas a elas observam-se seixos com até
cinco centímetros de argilito. Outras estruturas que podem estar presentes são:
gradação normal em geral pouco conspícua, marcas de carga e estruturas de fluidização.
viii. Litofácies de argilitos arenosos coesos (Agac) – é formada por argilitos arenosos cinza-
claro, coesos, exibindo ora laminação planar, ora aspecto maciço. São compostos por
argila e grãos de quartzo e, mais raramente, de feldspato, de granulometria areia média,
subarredondados a subangulosos. Apesar da grande persistência lateral, suas camadas e
níveis mostram tendência à lenticularidade. Essa litofácies pode representar depósitos
de transbordamento em áreas intercanais numa planície aluvial ou alternativamente
depósitos lacustres.
ix. Litofácies de arenitos maciços com grânulos e seixos de argilito (Amag) – apresenta-se
sob a forma de camadas às vezes lenticulares, mostrando feições erosivas na base. É
formada por arenitos de cores variadas, granulometria fina a média, exibindo baixa
maturidade textural, aspecto maciço e contendo grânulos e seixos de argilito.

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Intercalações lenticulares de argilitos são freqüentes. Essa litofácies é interpretada como
sendo de origem fluvial de rios entrelaçados.
x. Litofácies de arenitos laminados com seixos de argilito (Alsag) – formada por arenitos
de colorações creme e avermelhada, com tênue laminação planar, granulometria fina a
grossa, mostrando baixa maturidade textural, matriz argilosa, contendo grânulos e seixos
dispersos de quartzo e argilito. Essa litofácies, que exibe feições erosivas na base, pode
representar depósitos de sistema fluvial entrelaçado ou ainda depósitos de enxurrada
em lençol.

Além das litofácies descritas, é frequente a presença de níveis irregulares com impregnações
ferruginosas, formando estruturas liesegang, carapaças lateríticas ou ainda arenitos ferruginosos. Ao
longo da costa, em algumas falésias, observa-se o caráter secundário e irregular dessa ferruginização,
que se dá ora coincidindo com o acamadamento, ora truncando-o ao longo de descontinuidades
(fraturas etc.).

Amador (1982) ressalta que a alteração dos feldspatos nos arenitos da Formação Pedro Canário
(por ele considerada base do Grupo Barreiras) deve-se basicamente a processos pós-deposicionais. O
referido autor, ao discorrer sobre as condições paleoambientais vigentes durante a deposição desses
sedimentos, conclui que a continuidade dos depósitos na plataforma continental, em profundidades
superiores a 100m sugere a existência, durante a deposição, de nível de mar abaixo do atual, em
medidas que podem oscilar entre 100m e 200m.

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Figura 3. – Coluna A: Seção medida do Grupo Barreiras a norte da cidade de Santo André. Coluna B: Seção medida do
Grupo Barreiras, 1km a norte de Porto Seguro. Fonte: Compahia Baiana de Pesquisa Mineral, 2000.

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4. INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO

Localizada numa região costeira, a área é dominada por grandes drenagens onde é possível,
visualizar o deslocamento do potássio (K) no sentido W-E, altas concentrações de Tório (Th) e Urânio
(U) também ocorrem próximos as drenagens. A partir dos mapas gamaespectométricos (Figura 4)
individualizados dos canais Th, U e K, foi possível atribuir valores (Tabela 1) para os domínios
descritos no mapa ternário (Figura 5). No domínio 1 encontram-se valores médios para ambos os
elementos, no domínio 2 os valores são altos para todos. Por estar numa região com alto percentual
de K e padrão de drenagens que intensificam processos erosivos e intempéricos são esperados
alguns depósitos de caulim no domínio 2. Comparando ao mapa do campo magnético total (Figura
6), nota-se que o domínio 1 encontra-se numa região com maior susceptibilidade magnética, já o
domínio 2 corresponde a baixos valores. No mapa da primeira derivada vertical, foram traçados AA
lineamentos, os quais não foram relevantes para a análise, pois a principal ocorrência da região serão
depósitos supergênicos relacionados a areia, argila e areias pesadas, que estão principalmente
ligadas ao padrão das drenagens e distância da linha de costa. É de se esperar a separação de
depósitos de areias pesadas no domínio 1 por apresentar campo magnético anômalo relevante
quando comparado ao 2.

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Figura 4. Mapas gamaespectpmértricos dos canais de K, eTh e eU individualizados.

  Alto Médio Baixo


K(%) 0.3-0.7 0.2-0.3 0-0.1
eTh(ppm) 38.5-74.6 11.5-35.5 1.9-10.9
eU(ppm) 3.88-6.76 1.17-3.43 0-1.09
Tabela 1. Valores de domínios extraídos dos mapas da figura Y.

Figura 5. A esquerda mapa ternário da região. A direita interpretação dos domínios litogeofísicos.

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Figura 6. A esquerda: Mapa Campo Magnético anômalo total, nota para região central que corresponde ao domínio 2 com
valores de campo com valores de campo mais baixos quando comparado as áreas adjacentes. A direita Mapa da primeira
derivada vertical com a interpretação de lineamentos estruturais mais superficiais.

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5. CONCLUSÃO

Por estar na região de costa e relacionada a depósitos supergênicos, no campo da prospecção


geofísica quando comparado ao estudo geológico da região, pode-se apenas constatar que,
provavelmente, a área apresenta potencial para extração de areais e argilas pra amplo uso na
construção civil, por exemplo, estudos adicionais relacionados a geoquímica ou difração de raios-X,
podem ajudar na separação dos tipos de argilas presentes na região, caso seja de interesse ao
solicitante desse relatório.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, JOHILDO SE; SABATÉ, Pierre; MARINHO, Moacyr Moura. O Cráton do São Francisco na
Bahia: uma síntese. Revista Brasileira de Geociências, v. 33, n. 1, p. 3-6, 2016.

COMPAHIA BAIANA DE RECURSOS MINERAIS. CBPM: Porto Seguro- Caravelas. Disponível em:
http://lagfba.cbpm.ba.gov.br/Home/IndiceSelecao/18. Acesso em: Setembro, 2020.

DE RECURSOS MINERAIS, CBPM–Companhia Baiana. Projeto Costa do Descobrimento. Salvador:


CBPM, 2000.

MENEZES, Rita da Cunha Leal et al. Geoquímica e geocronologia de granitos anorogênicos tonianos
(ca. 914–899 ma) da Faixa Araçuaí no sul do Estado da Bahia. Geonomos, 2012.

TROMPETTE, Roland R. et al. O Cráton Brasiliano do São Francisco: uma revisão. Brazilian Journal
of Geology, v. 22, n. 4, p. 481-486, 1992.

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