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RELATÓRIO GEOLOGICO-ESTRUTURAL DA SERRA DE

CANAVIEIRAS E ÁREAS ADJACENTES.

MARCELO NOVAIS MAFRA


GEÓLOGO (CREA-BA 34666)

JACOBINA – BA, MARÇO 2009


SUMÁRIO

1.0 Introdução/Objetivo 1
1.1 Localização e acesso 1
2.0 Geologia Regional 1
2.1 Modelos aluviais 4
2.2 Mineralização à ouro do Grupo Jacobina 5
3.0 Geologia Local 5
3.1 Formação Rio do Ouro 6
3.2 Formação Serra do Córrego 8
4.0 Tectônica 10
4.1 Corpos ultramáficos 10
4.2 Falhas 11
4.3 Dobras/brechas 13
4.4 Furos de sonda 13
5.0 Proposta de evolução tectônica 17
6.0 Conclusões e recomendações 19
7.0 Agradecimentos 27
8.0 Referências Bibliográficas 28
9.0 Fotos & mapas
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1-INTRODUÇÃO /OBJETIVO

A bacia de Jacobina foi preenchida por sedimentos predominantemente


clásticos durante o Proterozóico Inferior e foram metamorfisados na fácie Xisto-
Verde Alto. Esses sedimentos, depositados na base da bacia, formaram rochas
quartzitíticas e metaconglomeráticas que se alternam para originar a Formação
Serra do Córrego. Na Formação Rio do Ouro, depositadas logo acima, formaram
apenas rochas quartzíticas. Na parte superior formaram-se rochas
metaconglomeráticas intraformacionais, quartzíticas, além de andaluzitas,
agrupadas na Formação serra da Paciência. Essas três formações pertencem ao
Grupo Jacobina, que por sua vez, se encaixou no embasamento durante o
fechamento da bacia.
Esses metassedimentos ainda preservam nas suas estruturas informações
sobre a dinâmica de fluxo dos sedimentos daquela época como também as marcas
de sucessivos eventos geológicos.
O objetivo desse trabalho é confeccionar um mapa que compartimente os
blocos da serra Canavieiras ainda não lavrados e correlacioná-los à áreas
adjacentes, através da análise estrutural entre a superfície da área estudada com a
malha de furos de sonda já existente, levando-se em consideração as possíveis
fontes de mineralização à ouro, a fim de que se possa melhor adequar os trabalhos
mineiros.

1.1-LOCALIZAÇÃO E ACESSO

A cidade de Jacobina, localizada na região centro norte do Estado da Bahia,


nas coordenadas, latitude: 10° 57’ e longitude: 40° 56’.Dista 330km de Salvador, e o
acesso é feito pela BR-324 e BR-116, passando pelas cidades de Feira de Santana
e Capim Grosso (Fig.01).

2.0-GEOLOGIA REGIONAL

O embasamento do estado da Bahia é dividido pela faixa Jacobina-


Contendas-Mirante com trend geral (N-NE). Nessa faixa, antiga calha de sedimentos
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FIGURA 01 – Acesso Salvador Jacobina


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se encontram atualmente o Cinturão Contendas-Mirante, ao sul, e o Greenstone Belt


Mundo Novo em contato com Grupo Jacobina, ao norte.
O Grupo Jacobina com predominância de sedimentos clásticos engloba as
Formações Serra do Córrego de origem fluvial na base da bacia, Rio do Ouro de
origem marinha e, no topo exibe a Formação Serra da Paciência com sedimentos
clásticos associados a lentes de sedimentos finos, característicos de ambientes
litorâneos. Todas essas seqüências foram depositadas numa bacia, cujo os modelos
geológicos mais recentes são apresentados em duas versões: tipo rift, segundo o
modelo (Mascarenhas & Conceição Filho,1996) para um ambiente plataformal de
forte energia ou bacia de antepaís, segundo(Ledru et al.,1997) para um ambiente de
flexura da litosfera à frente de uma cadeia de colisão, paralela a uma margem
continental não estabilizada.
O ambiente rift para o Grupo Jacobina já havia sido defendido por Sabaté et
al.(1990) e Pedreira(1991).Segundo eles, durante a separação dos blocos Jequié e
Gavião, se formou o rift, que posteriormente migraria para um ambiente arco-de
ilhas, para finalmente, através de subducção, evoluir para uma colisão tipo
continente-continente com a injeção de granitos transamazônicos durante o
fechamento. As estruturas imbricadas que compõem o Lineamento Contendas –
Jacobina são balizados, fora a fora, por esse conjunto de leucogranitos
peraluminosos que constituem os marcadores da evolução tectônica entre 2,15 e
1,88 Ga(Sabaté et al.,1990 a,b; Fernandes,1992; Sabaté, 1993). A origem crustal
desses granitos está claramente caracterizada pela petrografia, petroquímica e pelos
dados isotópicos de Sr e Nd, sendo que as idades-modelo Sm-Nd apontam para
valores situados entre 2,42 e 3,26 Ga.Os melhores candidatos para fonte potencial
desses granitos são os terrenos TTGs do Bloco Gavião(Sabaté et al.,1990b;Cuney
et al.,1990). Dentro dessa série de intrusões, existem intrusões graníticas que
apresentam deformação dúctil com a presença de layering e estruturas magmáticas
conservadas e relacionadas a descontinuidade tectônica da borda E, que atestam a
sua colocação precoce em relação aos esforços de encurtamento E-W, a exemplo
do granito Cachoeira Grande. Existem também granitos grosseiramente
arredondados situadas na borda W, a exemplo do Granito de Campo Formoso com
núcleo homogêneo e bordas com deformação dúctil progressiva que fixou
marcadores cinemáticos anti-horário da massa magmática. A colocação deste é
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datada de 1969 ± 29 Ma (Sabaté et al.,1990b) e marca a passagem do regime


transpressivo ao regime transcorrente no Cinturão Jacobina.

2.1-Modelos de depósitos aluviais

A sedimentação aluvial em bacias de regiões mais interiorizadas, é controlada


por processos relacionados às características da área-fonte, descarga, suprimento
sedimentar, clima e tectônica(Blum & Törnqvist,2000).Na atualidade existem alguns
modelos equivalentes para o conceito de tratos de sistemas para depósitos aluviais
em continentes:
Shanley & McCabe(1993), apresentaram modelo em que os tratos de
sistemas sofrem a influência das variações eustáticas ou flutuações relativas do
nível do mar e subdividiram os sistemas em três diferentes tipos, na direção da base
para o topo:
- Lowstand Systems Tracts(LST)- ocorre em áreas restritas e caracteriza-se
por depósitos de tração amalgamados(multistory) com preenchimentos de canais,
grano e estrato-crescentes.
-Transgressive Systems Tracts(TST)- ocupa uma área mais extensa,
constituído por depósitos mistos( tração + suspensão), arranjados em bedset com
grano e estrato-decrescentes.
-Highstand Systems Tracts(HST)- ocorre em áreas restritas, onde se forma
depósitos de suspensão, devido ao baixo gradiente topográfico.
Um segundo modelo foi lançado, quase que simultaneamente com o modelo
anteriormente descrito, por Wright & Marriot (1993), relacionando variações do nível
de base e espaço de acomodação subaéreo com a arquitetura fluvial e
desenvolvimento dos solos.
Currie(1997), propôs um modelo genérico em que os tratos de sistemas não
são necessariamente controlados por oscilações do nível do mar, dando destaque à
granulometria, elementos arquiteturais e o fácies:
-Degradational Systems Tracts- sedimentos com granulometria grossa
depositados em vales incisos com fácies de arenitos e conglomerados de canais
braided, além da presença de espessa zonação de paleossolos de canais
contínuos, às margens destes vales.
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-Transitional Systems Tracts- sedimentos com granulometria grossa a fina


depositados em canais lateralmente contínuos que migram verticalmente pra canais
isolados, como por exemplo, transição do fácies arenitos de canais braided para
canais meandrantes.
-Agradational Systems Tracts- sedimentos dominantemente finos com canais
fluviais preenchidos por sedimentos grossos, além de canais lenticulares,isolados e
com abundância de fácies lacustre.

2.2-Mineralização à ouro do Grupo Jacobina

O ouro presente nos quartzitos silicificados, veios de quartzo ou relacionados


a prováveis intrusões de diques máficos são encontrados principalmente nas
imediações do contato Greenstone Belt Mundo Novo(GBMN) com a Formação serra
da Paciência na altura do município de Pindobaçu. Difere do ouro encontrado no
município de Jacobina nos conglomerados mineralizados da Formação Serra do
Córrego que, por sua vez, apresenta três vertentes para sua gênese:a primeira, de
origem puramente sedimentar, depositados concomitantemente com sedimentos
clásticos grossos, a outra de origem hidrotermal, e a última defende que parte do
ouro depositado na matriz arenosa juntamente com seixos poderia ter sido
remobilizado, através de fluidos hidrotermais e redepositados nas fraturas das
rochas adjacentes ou simplesmente nas fraturas dos próprios conglomerados Tanto
os conglomerados como os quartzitos do Grupo Jacobina apresentam marcas de
eventos que se sucederam desde a deposição dos sedimentos até o fechamento da
bacia.São eles,enumerados em ordem temporal: silicificação, fuctização, piritização,
aurificação(remobilização do ouro para um sistema fechado) e por fim, a oxidação.

3.0- GEOLOGIA LOCAL

A área em estudo está inserida no Grupo Jacobina, localiza-se na serra de


Canavieiras, em locais ainda não lavrados e no extremo sul da serra do
Córrego.Inclui parte das Formações Rio do Ouro e Serra do Córrego.
A geologia inclui metassedimentos metamorfisados na fácie Xisto-Verde Alto
e elementos geologico-estruturais como falhamentos, intrusões de corpos máfico-
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ultramáficos, como também a interferência do intemperismo fisico-quimico-biológico


nas litologias, que conjuntamente favorecem a formação do relevo serrano.
Os conglomerados oligomíticos da formação Serra do Córrego que foram
estudados anteriormente resultou na elaboração da coluna estratigráfica (Fig.02).
Nesta coluna foram agrupados em Conglomerado Superior, Quartzito Intermediário
e Conglomerado Inferior. Dentro das unidade do topo e da base, são exibidas
alternâncias entre níveis conglomeráticos e quartzíticos. Os seixos pertencentes aos
conglomerados foram classificados de acordo com seus tamanhos ( VL=very
large,>64mm; L=large,32-64mm; M=middle,16-32mm; S=small, 4-16mm; VS=very
small,<4mm).Daí, a denominação dos referidos conglomerados em relação ao
tamanho dos seixos, como por exemplo, LMPC (Large Middle Peeble
Conglomerate). Aqueles níveis conglomeráticos que são mineralizados são
considerados REEFs.

3.1-Formação Rio do Ouro

A formação Rio do Ouro é representada no local predominantemente por


metarenitos e quartzitos à fucsita com granulometria média a fina, onde os
mergulhos na superfície variam de 52° a 85° respect ivamente, da base para o
topo.Esse aumento gradativo dos mergulhos em direção a E, associada a estrias
deixadas nas marcas de ondas nessa mesma direção, confirma a presença de
falhas de empurrão (Fault Thrust), na direção E-W.
As estruturas sedimentares primárias na base dessa formação tais como marcas de
ondas com pequenas distância entre as cristas, estratificações cruzadas de pequeno
porte indicam para uma bacia com uma lâmina d’água rasa..
Os veios de quartzo presentes são brancos leitosos. Apesar de não serem
mineralizados, eles fornecem informações sobre os eventos tectônicos que se
sucederam durante o fechamento da bacia e estão distribuídos principalmente em 5
famílias:
-A primeira família se aloja principalmente nos quartzitos da base da formação, e
estão dispostos preferencialmente na direção N30 com mergulho subvertical, entre
zonas de cisalhamento (ZC) com direção N-S. O tamanho desses veios variam de 10
até 50 cm de comprimento por 2 a 5 cm de espessura, raramente encontra-se veios
com comprimento métrico, são denominados veios tensil. Nas proximidades foram
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FIGURA 02 – Coluna estratigráfica da Formação Serra do Córrego


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encontrados alguns destes mesmos veios cortados por ZC mais recentes e


redistribuídos na direção N-S e outros formaram gashes com movimento destral,
denominados veios de cisalhamento. Todos pertencentes a mesma família, porém em
diferentes fases do regime cisalhante.
- A segunda família de veios se localiza paralelamente aos falhamentos antitéticos
destrais que aponta duas direções preferenciais N80 e N90 com mergulhos sub-
verticais a verticais.
- Há veios presentes em diversos furos de sonda que se alojam no topo e/ou base
de rochas intrusivas que preencheram falhamentos.Esses veios podem ser produtos
da sílica provenientes da fricção dos blocos quartzíticos durante a movimentação
destes e que, por ventura, se associaram ao material máfico-ultramáfico intrudido.
- No extremo sul, apresenta uma família de veios de quartzo métricos
preferencialmente na direção E-W, bastante fragmentado que ressalta os processos
tectônicos de compressão e alívio a que foram submetidos os quartzitos daquela
região próxima a grandes falhamentos.
- E por fim, foram observados veios que estão inseridos no contato dos blocos que
foram submetidos a falhamentos de acavalgamentos com trend grosseiramente de S
p/ N.
3.2-Formação Serra do Córrego

. A formação Serra do Córrego alternam níveis quartzíticos com


conglomerados mineralizados à ouro ou não, granodecrescentes. Os conglomerados
presentes na superfície da serra de Canavieiras apresentam mergulhos que pode
chegar a 80° no limites do vale, no extremo W dessa serra até 50° no topo dessa
formação. Esse mergulho acentuado(80°) também se en contra na base do
Holandês, no lado E do vale Canavieiras, na Serra do Córrego e volta a diminuir em
direção ao embasamento. Também foi observado em campo que as direções dos
acamamentos podem variar em até 25° no extremo sul de Canavieiras, por
influência de falhamentos de pares conjugados com σ2 na vertical.
A sedimentação da Formação Serra do Córrego é adaptável ao modelo
genérico proposto por Currie(1997). Alguns conglomerados presentes, por exemplo,
são mais espessos e lateralmente contínuos(canais tipo braided) e apresenta-se
com selecionamento dos seixos razoável na base e evolui para bom em direção ao
topo, enquanto que outros tem o formato de lentes(canais meandrantes), são menos
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espessos e são mais localizados e apresentam geralmente o selecionamento dos


seixos bem melhor. Para um ambiente tipo braided intercalado a canais
meandrantes é interessante lembrar a relação entre os tamanhos dos seixos
oligomíticos e velocidade de transporte desses detritos. “Basta apenas dobrar a
velocidade do fluxo de transporte para que se possa quadruplicar o tamanho dos
detritos grosseiros transportados”. Sendo assim, é esperado encontrar nos
extremos, como por exemplo, num ambiente de energia maior que decresce
paulatinamente, o transporte e deposição do conjunto de seixos que varia do
tamanho VL(>64mm) até seixos do tamanho L(32-64mm) com raros seixos M(16-
32mm), como acontece geralmente na base dos canais braided. Partindo dessa
mesma relação, para um ambiente de baixa energia é comum encontrar seixos do
tamanho M(16-32mm) associados a seixos do tamanho S(4-16mm), como acontece
nos topos dos canais braided e também nos canais meandrantes. Como os
tamanhos dos seixos desses conjuntos apresentam os valores máximos e mínimos
múltiplos e obedecem a relação transporte/velocidade, então é possivel observar
que para depositar os sedimentos no sentido da base até o topo, tanto nos canais
braided como nos canais meandrantes, basta apenas diminuir da velocidade do
fluxo de transporte pela metade para que se possa obter todas essas seqüências
obedecendo a granodecrescência. Neste caso, a deposição está mais influenciada
pela diminuição do fluxo de energia do que pelo gradiente topográfico. Gradiente
este, que tende a diminuir a medida que os sedimentos se aglomeram e
transbordam a bacia.
Na mina de Canavieiras Norte na unidade do Conglomerado Superior foram
lavrados principalmente os reefs Liberino,Piritoso,M.U e L.U.Os dois primeiros
poderiam ser classificados como canais meandrantes e apresentaram teores médios
em torno de 6.1g/ton e 9.5 g/ton, respectivamente, enquanto que os dois últimos que
são mais extensos e poderiam ser classificados como canais tipo braided e
apresentaram respectivamente teores médios iguais a 3.2g/ton e 2.2g/ton. Essa
comparação, a nível regional, também se aplica a unidade do Conglomerado
Inferior, onde o Main Reef poderia ser considerado como canal meandrante com
teor médio de 6.0 g/ton, os conglomerados Hangwall e Footwall como canais tipo
braided e o Basal Reef como os primeiros sedimentos que se depositaram nos
vales incisos.
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4.0-TECTÔNICA

A tectônica regional é o fator limitante que atinge o Grupo Jacobina tanto a


Leste como a Oeste, através de falhamentos paralelos bem marcantes. Na borda
Oeste a Falha Jacobina acompanha-o de Norte a Sul, enquanto que Leste do Grupo
Jacobina é limitada tectonicamente com o Greenstone Belt Mundo Novo(antigo
Complexo Itapicuru) através da Falha Pindobaçu-Itaitu e, ambos conjuntos
litológicos repousam sobre o Complexo Mairi, que se localiza entre os blocos Jequié
e Gavião.Segundo Melo et al.(1991),esse complexo consiste em rochas tonalito-
granodiorito-graníticas(TGG) migmatizadas e gnaissificadas com remanescentes
isolados de sequências supracrustais,além de anfibolitos e corpos estreitos de
rochas mafico-ultramáficas.
A tectônica predominantemente rúptil ainda engloba outros sistemas de
falhas, zonas de cisalhamentos rúpteis e dúcteis, brechas, intrusões de corpos
máficos e ultramáficos dispostos ao longo de toda sua extensão ,além da presença
de corpos graníticos sin e tardi-tectônicos principalmente ao longo da borda W do
Grupo Jacobina.

4.1-Corpos ultramáficos

Durante uma provável fase pré-rift, é bem possível que a descompressão


seja a responsável pela formação de magma que se alojou em câmaras
magmáticas, instaladas logo abaixo dos blocos prestes a entrar em deriva. Após o
preenchimento da bacia por sedimentos e posterior fechamento, os
metassedimentos foram imbricados até atingir um considerável encurtamento. A
partir daí, criou-se então, um sistema de falhamentos regionais denominadas ZC (N-
S). Essas zonas de fraqueza favoreceram provavelmente a intrusão por escamas de
rochas ultramáficas, parcialmente fundidas pelo aumento de temperatura.Essas
escamas atingiram todas as formações, seguindo um paralelismo entre si.
Formaram-se também prováveis sistemas de dutos que alojaram a intrusão desses
corpos nos metassedimentos. O duto principal preenchido por essas rochas na área
em estudo, poderia ser considerado o vale de Canavieiras, ou seja, escama de
rocha ultramáfica com alguma presença de textura cumulática ainda preservada,
enquanto que os dutos secundários seriam aqueles que partiram subparalelamente
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do duto principal em direção à superfície, atingiram tanto a Leste, a serra


Canavieiras como a Oeste, a serra do Córrego, e seriam preenchidos por esse
material fundido, ou seja, intrusão em estado plástico. Esse sistema de dutos
(principal + secundários) provavelmente deve aparecer paralelamente ao vale
principal, ao longo das formações que compõem o Grupo Jacobina. As principais
evidências locais desses corpos que preencheram os dutos secundários terem
intrudidos em regime plástico são:
-Na superfície: recristalização das paredes das encaixantes através do aumento da
temperatura; participação como matriz de brechas disposta na direção N-S, que
indica concomitância entre a intrusão e o cisalhamento coexistentes durante essa
fase.
-No cross-cut 577: presença de metamorfismo de contato, com desenvolvimento de
minerais do grupo do espinélio, sob a forma de auréola, dentro do próprio corpo
intrudido, além de presença de drag folds.
Todas essas evidências foram encontradas na parte superior do contato das
rochas intrusivas com as encaixantes.Eventualmente, aparece indícios de passagem
de fluidos hidrotermais, vistos principalmente em furos de sonda, raramente visto
nos afloramentos.Quando isso acontece aparece turmalinização também no contato
superior com a encaixante.
Os falhamentos antitéticos tipo strike-slip (NE-SW) que cortam a serra de
Canavieiras foram preenchidos por rochas intrusivas, provavelmente ultramáficas,
que se apresentam geralmente bastante intemperizada, às vezes limonitizada ou
talcosa.Na direção N90 (jog fault dilational) ocupa os espaços vazios gerados pelos
falhamentos e se alternam sucessivamente com as brechas que estão na direção
N80 (jog fault contrational), que a tem como matriz, sustentando os fragmentos de
quartzito e/ou conglomerado.

4.2-Falhas

Quando um pacote de metassedimentos, por exemplo, é empurrado contra o


embasamento durante o fechamento de uma bacia, automaticamente gera
problemas de espaço para acomodar todo esse pacote. Numa bacia relativamente
rasa como é o caso da bacia de Jacobina, a fácie Xisto-Verde alto denota P e T ,
não muito elevadas. Isso facilita a quebra das litologias envolvidas quando são
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submetidas ao limite do stress, salvo os casos em locais que a pressão e a


temperatura foram bastante elevadas e influenciaram no desenvolvimento de Zonas
de Cisalhamento Dúctil(ZCD).
Essas ZCD apareceram , ora paralelas a falhas de acavalgamentos(S-N), ora
paralelas a outras ZC na direção(N-S), ambas com matriz quartzítica com
fragmentos quartzíticos com sombra de pressão.Também apresentou-se em
falhamentos antitéticos(NE-SW) com desenvolvimento de quartzito em forma de
boudin, imersos numa matriz de rocha intrusiva. Seguindo essas particularidades
dentro de um ambiente comprovadamente semi-rúptil foi possível mapear no local:
falhas de empurrão(E-W), de retro-empurrão(W-E), antitéticas(NE-SW),
acavalgamentos(S-N), Zonas de Cisalhamento(N-S). Raramente, foram encontrados
falhamentos expressivos com slickensides. Surgiram apenas em ZC(N-S) de baixo
ângulo(18°p/N0),como também em falhas de acavalgame nto no vale do CAN115
(80p/N125) numa colisão entre blocos .
Todas as medidas das principais falhas obtidas em campo foram efetuadas
através do método dip/dip-direction com seus respectivos valores máximos e
mínimos em destaque dentro dos intervalos:
- Falhas de empurrão(Fault Thrust): dip(20°-70°) e dip-direction(80°-110°)
- Falhas de retro-empurrão(Back Thrust ),com dip(34°-60°) e dip-direction(260°-
270°).
-Falhas de pares cisalhantes(Strike-Slip Fault) com σ2 posicionados na
vertical;dip(78°-80) e dip-direction(350°-10°) e di p(45°-80°) com dip-direction(155°-
180°). .
-Falha de acavalgamento(Fault Thrust) onde dip varia(50° a 82°) e dip-direction(180°
a 220°).
- Zonas de Cisalhamento(Shear Zone) com trend N-S;dip(65°-75°) e dip-direction(75-
90°).
-Falhas antitéticas(Strike-Slip composta por contractional fault jog e dilational fault
jog) respectivamente em duas direções principais,: NE-SW com dip (65°-90°) e dip-
direction(340°-350°) e E-W dip(45°-72°) e dip-direc tion(170°-195°).
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4.3-Dobras/Brechas

As dobras num ambiente semi-rúptil são raras, fato esse que ocorre na serra
de Canavieiras. Durante o mapeamento foram encontrados pequenos dobramentos
de arrasto (Drag folds) no extremo sul das serras Canavieiras e do Córrego num
local de extremo encurtamento dos metassedimentos, como também no cross-cut
577 (Canavieiras Norte), neste caso, a intrusão plástica foi suceptível aos
movimentos tectônicos reinantes no local.
As brechas presentes no maciço subdivide-se em 2 tipos distintos:
O primeiro tipo são aquelas que se apresentam em zonas de ambiente dúctil,
paralelas a grandes falhamentos com pouca espessura e limites bem marcados,
onde os fragmentos dessas rochas desenvolveram indicadores cinemáticos(sombras
de pressão) devido a deformação progressiva, obedecem preferencialmente
movimentos destrais. As matrizes dessas brechas que sustentam esses fragmentos
são, ora de origem quartzítica, ora de rochas intrusivas.O surgimento delas está
diretamente associada aos eventos tectônicos em zonas de intensa pressão dentro
da bacia,que por sua vez respondeu com os primeiros falhamentos.
Cronologicamente, poderíamos citar: brechas desenvolvidas ao longo das zonas de
cisalhamento(N-S); em seguida, brechas desenvolvidas em função dos falhamentos
antitéticos( jog fault contractional).
O outro tipo de brecha se densenvolveu como reflexo de grandes falhamentos
regionais. São caracterizadas por fragmentos de rocha de tamanhos variados
imersos numa matriz de cristais de quartzos leitosos a translúcidos, facetados e
pouco desenvolvidos, na forma de drusas,sem direção preferencial, desenvolvidas
num ambiente rúptil e estão relacionadas aos eventos tectônicos tardios de alívio de
pressão.Geralmente essas brechas, mesmo aquelas que cortam os reefs, não são
mineralizadas.

4.4-Furos de sonda

Os furos de sonda em terrenos de rochas metassedimentares revelam sobre


as litologias presentes em sub-superfície e suas análises detalhadas podem trazer
informações importantes sobre a mineralização, sedimentação, estruturas, eventos
metamórficos e hidrotermais que atingiram a região.
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Alguns furos foram determinantes para o compreendimento de alguns eventos


que deixaram feições impressas nas rochas da serra Canavieiras:
- A seqüência em leque dos furos SCO(107,108 e 109), localizada na borda
W do vale Canavieiras, na serra do Córrego, mostra zonas bem marcadas de
recristalização (0.0-13.30m), lixiviação (0.00-41.00m); (63.00-97.50m); (112.50-
123.00m), sendo os dois últimos intervalos pertencentes ao SCO108 e silicificação
na metragem restante dos furos.Esses furos também apresentaram na sua
totalidade, de forma clara, conglomerados com matrizes com seixos de tamanho M e
S, bastante angulosos depositados ao lado de seixos tamanho L, arredondados.
-Nos furos de sonda (SCO 01,55,64,75,107,108,109 e 110), localizados ao
longo da serra do Córrego foram encontrados regularmente a certa profundidade,
rocha intrusiva ( provável duto secundário), sub-paralela com a ITV do vale
Canavieiras(duto principal) com mergulho para leste.
-Os furos de sonda CANs 122 e 125 (Fig 03 e 04) com respectivos azimutes
p/E e SCO109 com azimute p/W, localizados próximos ao Vale Canavieiras, são
exemplos em que foi possível observar a variação de mergulho dos sub-blocos, a
partir de medidas de C.A(core angle), efetuadas nos planos de falhas preenchidas
por ITV ou não e principalmente nos contatos litológicos.A região do CAN 125 é um
exemplo de pequeno bloco que foi deslocado em direção ao Vale Canavieiras.
Enquanto que furos como o CAN120 e CAN123, CAN115 submetidos as mesmas
medições, apresentaram pouca variação ou nenhuma.O CAN 123 apresentou ao
longo do furo vários níveis de brechas e faixas com Tensão Elevada In Situ (TEIS) e
litologias bastante silicificadas, condizente com ambiente de rampa de
acavalgamento. O furo SCO 109 com dip -22.74°, apre sentou nos nos primeiros
98m, medidas de core angle de falhas entre 20° e 70 °, e entre esses falhamentos,
os mergulhos verdadeiros das camadas variaram entre 20° e 80°. Essa alternância
constante de mergulhos se deve provavelmente ao fato de ser uma zona frontal de
colisão do pacote metassedimentar contra o embasamento com presença de
intrusões graníticas locais, onde os imbricamentos já haviam desenvolvidos flats e
ramps durante a fase de acomodação.
O CAN131-A , situado no extremo sul do bloco D, apresentou poucos níveis
conglomeráticos, tornando-se muito provável a possibilidade de rotação acentuada
desse bloco.
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FIGURA 03 – Perfil CAN 122


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FIGURA 04 – Perfil CAN 125


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5.0-PROPOSTA DE EVOLUÇÃO TECTÔNICA

-Inicia-se o fechamento oblíquo(SE-NW) da bacia do Grupo Jacobina.O Fechamento


nesta direção deve favorecer a formação dos falhamentos sinistrais N-S(Fx) e
destrais E-W (Fy), através da decomposição vetorial da Força(F).

-A continuidade desse movimento provoca a diminuição do espaço dentro da bacia e


então inicia-se o empurrão do pacote de metassedimentos sobre o embasamento
com intrusão de alguns corpos graníticos e provável desenvolvimento de
imbricamentos e geração de flats e ramps.

- No contato inferior do pacote metassedimentar, a fusão parcial das rochas


ultramáficas instaladas no assoalho são favorecidas, devido ao aumento da
temperatura causado pelo aquecimento friccional das rochas do pacote em contato
com as rochas do assoalho do rift, durante o empurrão. Forma-se então ZC (N-
S))Fig05) desenvolvidas depois da bacia ter alcançado a compressão máxima. As
rochas ultramáficas intrudem nessas ZC (N-S) de alto ângulo, sob a forma de
escamas recobertas de material fundido. Esse material plástico preencheram
falhamentos menores, sub-paralelos, os chamados dutos secundários, responsáveis
por falhamentos que mergulham com ângulos médio a alto para E na serra do
Córrego e por falhamentos que mergulham com altos ângulos para W na serra
Canavieiras. Essa zona de pertubação mais intensa está localmente compreendida
entre o Topo da Formação Serra do Córrego, na serra Canavieiras e a base no nível
conglomerático Holandês, na serra do Córrego.

-A partir da implantação do sistema de dutos as rochas agora deslizam com maior


eficiência. Inicialmente no extremo norte do morro da Viúva, um par de falhamentos
(FyR1) empurra por centenas de metros as Formações Rio do Ouro e Serra do
Córrego contra o embasamento a ponto de gerar possíveis estruturas de
dobramentos. Na região da serra de Canavieiras e serra da Rainha(Morro do Vento
Extensão Leste) devido a predominância do movimento cisalhante forma-se uma
estrutura quilométrica tipo sigmóide denominada Zona de Cisalhamento
Anastomosada na direção N-S(Fig 05). Essa estrutura tipo sigmoidal é cortada por
falhamentos antitéticos locais(FyL) que influenciados ainda pela transcorrência
18

FIGURA 05 – Zona de cisalhamento Anastomosada em vermelho, empurra possíveis faixas de dobramentos em azul
19

sinistral do pacote escalonam destralmente os blocos(Mapa 01) na direção NE-SW,


concomitantemente ocorrem acavalgamentos longitudinais de médio a alto ângulos
entre os blocos pertencentes a essa estrutura na direção inicial de Sul p/ Norte,
favorecidos principalmente pelo truncamento dessa estrutura com o embasamento
no extremo norte do morro da Viúva. Os falhamentos antitéticos atingem também as
extremidades da borda W da serra de Canavieiras e alguns blocos ficam
proeminentes dentro da intrusiva do vale Canavieiras.

- Por fim, os falhamentos antitéticos de âmbito regional (FyR2),deslocam o extremo


sul da serra Canavieiras por centenas de metros e em menor intensidade o extremo
norte. Da mesma forma atinge o sul da Serra da Rainha(Morro do Vento Extensão
Leste), separando-se da serra de João Belo também por centenas de metros.

6.0 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

CONCLUSÕES GEOLÓGICAS:

-A serra de Canavieiras foi afetada por sucessivos eventos tectônicos que deixaram
marcas nos seus respectivos conjuntos litológicos.As estruturas sedimentares
primárias e os indicadores cinemáticos em zonas de cisalhamento de espessura
restrita ainda preservados estampam um ambiente de contraste, característico de
regime de deformação semi-rúptil.Temperatura e pressão moderadas, característico
de uma fácie Xisto-Verde Alto.Estudos revelaram uma temperatura em torno de 380°
para a bacia de Jacobina.

-Os modelos de tratos de sistemas elaborado por Shanley e McCabe(1993) e


Currie(1997) são equivalentes, então se torna possível fazer uma analogia a nível
regional com a Formação Serra do Córrego que, no sentido da base para o topo,
poderia ser interpretado da seguinte forma:
Degradacional- Basal Reef.
Transgressive- Zona do Main Reef incluindo os níveis Footwall e Hangwall até o
topo da unidade do Conglomerado Inferior.
Agradacional-Quartzito intermediário até a altura do Xisto Guia.
20

Degradacional- A partir do topo do Xisto Guia até o topo de SPC, localizado na base
da sub-zona.
Transgressive- Do topo do SPC até o topo da Formação serra de Córrego, inclui os
Reefs L.U, M.U, LVLPC,Piritoso e Liberino, além dos níveis conglomeráticos
Holandês, Maneira e SPC(último nível conglomerático a ser depositado).
Agradacional-Do topo do SPC até o discreto xisto que delimita o topo da formação
Serra do Córrego.

-Os Reefs com os teores de ouro mais elevados foram identificados como aqueles
lenticulares, limitados lateralmente, espessura de no máximo 3m e classificados
como canais meandrantes, de baixo gradiente topográfico e que apresenta seixos
bem empacotados e um selecionamento que varia entre bom e muito bom. São
alguns exemplos:Liberino, Piritoso, 4 A e 4B.O Main Reef , apesar de ser
lateralmente extenso, é representado por seixos M e S, que significa uma
sedimentação num terreno de baixa declividade e baixa energia, por isso pode ser
considerado como um canal meandrante ou uma rede de canais meandrantes.A
presença de ouro junto com esses seixos de quartzo, principalmente dos tamanhos
M e S neste local se deve a uma provável fonte estar próxima.

- Os Reefs com teores de ouro menores e economicamente lavráveis, espessura


entre 3 e 25m, lateralmente contínuos são classificados como canais tipo braided,
gradiente topográfico geralmente mais acentuado e nível de energia oscila entre
médio e alto. Maior no início da deposição, depois migra para um ambiente de
menor energia, por isso são considerados granodecrescentes. Esses níveis são bem
definidos apresenta seixos comumente bem empacotados e bem selecionados
principalmente no topo. São alguns exemplos:M.U, L.U. O reef LVLPC apesar de ter
uma espessura entre 1 e 3m, pode ser considerado como braided, pois apresenta
seixos de ambiente de alta energia. A presença de ouro neste neste reef se deve a
relação entre a densidade elevada do ouro com o tamanho dos seixos de quartzo,
principalmente L e VL . A fonte pode estar próxima ou não.

-Os níveis conglomeráticos Maneira e Holandês geralmente não são considerados


Reefs, com exceção destes mesmos na região da serra do Córrego, regionalmente
apresentam raras amostras com teores de ouro, e se encaixam também no perfil de
21

canais tipo braided, espessura entre 40 e 60m, apresenta variação de energia


repetida vezes , pois é comum encontrar níveis individualizados de conglomerados
com seixos de variados tamanhos com um grau de seleção muito ruim,
principalmente na base, intercalado a vários níveis quartzíticos com seixos ou até
mesmo com GRIT, o que pressupõe uma sedimentação em forma de
pulsos(enxurradas), apesar dos estratos, a grosso modo, obedecerem a
granodecrescência em direção ao topo.

-Os garimpos existentes no Holandês na serra do Córrego, se situam próximos ao


duto secundário 2, acompanham na superfície o mergulho acentuado das camadas
(~80°). Seguindo a linha hidrotermalista estes cong lomerados podem ter sidos
mineralizados por fluidos favorecidos pela instalação de ZC sub-verticais paralelas
ou sub-paralelas ao acamamento. Há registros de garimpos em quartzitos
cisalhados. Os furos SCO(107 a 109) reforçam essa idéia, pois foram identificados
zonas de recristalização,lixiviação e silicificação nestes furos,o ouro visível
encontrado no furo SCO 107 entre 8,86 e 8,90m está depositado ao longo de
fraturas. A única informação que fortalece a corrente para origem sedimentar nesse
nível conglomerático vem das características dos seixos. Alguns são angulosos do
tipo M e S, translúcidos e outros são arredondados com seixos tipo L , são brancos
leitosos e podem ter sido fornecidos por fontes diferentes durante tectonismo
atuante na bacia e trazidos junto ao ouro.Mesmo assim, não é possivel descartar a
hipótese de que fluidos hidrotermais terem reagido com maior intensidade com
seixos de quartzo translúcidos.

-A presença de ouro na matriz dos quartzitos se torna possível quando a


sedimentação for rápida, num terreno de declividade acentuada com fonte da
mineralização próxima. No caso de ouro nas fraturas, somente através de
remobilizações.Como exemplo, podemos citar o ouro presente nos quartzitos
existentes entre os níveis conglomeráticos do M.U 2 (Canavieiras Norte).

-Com base nas atuais evidências, a mineralização aurífera na Formação Serra do


Córrego segue a corrente que a maior parte do ouro depositou conjuntamente com
os sedimentos clásticos grosseiros e se acumulou principalmente nos canais
meandrantes, que uma pequena parte desse ouro encontrados nos reefs sofreu
22

alguma remobilização e que também existem fortes evidências de contribuição


hidrotermal através de condutos em ZC(N-S) de ângulo acentuado na região da
serra do Córrego.

CONCLUSÕES ESTRUTURAIS:

Foi possível identificar 4 tipos de padrões condizentes com o encurtamento seguido


de cisalhamento sinistral sofridos pelos metassedimentos da bacia de Jacobina:

Padrão dos vales- Os vales dos CANs 115,120 e 123 seguem o mesmo
padrão(contrational jog fault + dilational jog fault) compatíveis com o movimento
destral para posteriormente serem acavalgados inicialmente na direção S p/
N.Apenas no vale do CAN 122, não foi possível encontrar esse padrão, mascarado
por causa do acavalgamento.
Os vales Canavieiras e Serra da Rainha, paralelos entre si, seguem o padrão
influenciado pelo deslocamento escalonado à direita,ou seja, estrangulado em uma
das extremidades, obrigatoriamente opostas.

Padrões dos blocos e sub-blocos rotacionados- Existem três tipos de rotação para
os blocos e sub-blocos que compõem a serra de Canavieiras:
-Os sub-blocos localizados fora da estrutura tipo sigmoidal, entre o vale Canavieiras
e a intrusiva (duto secundário 1), apresentam um padrão diferenciado de rotação ao
longo da superfície da serra Canavieiras, geralmente são mais rotacionados a Sul e
menos rotacionados a Norte, dentro dos limites dos seus respectivos blocos.
Movimento este favorecido por uma junção de falhamentos que compreendem as
componentes do movimento antitético destral (NE-SW) e falhas de empurrão,
responsáveis pela compartimentação destes numa área delimitada por
cisalhamentos N-S. Durante a formação da estrutura tipo sigmóide, falhamentos
antitéticos destrais que originaram os principais vales(NE-SW) compartimentaram os
blocos longitudinalmente e impuseram nessas áreas adjacentes rotações
diferenciadas nesses sub-blocos. Naqueles em que uma das componentes dos
falhamentos antitéticos segue a mesma direção do empurrão, como por exemplo,o
sub-blocoD3, que está situado no extremo norte do bloco D, havia pouca ou
nenhuma rotação no mergulho das camadas, pode ser comprovado através do CAN
23

115.Naqueles em que uma dessas componentes é contrária ao movimento do


empurrão, se encontram mais rotacionados e estão localizados no extremo sul deste
bloco, como por exemplo, sub-bloco D1, comprovação pode ser feita através do
CAN131-A e medida de mergulho em superfície de acamamento a 80° nos
conglomerados próximos a esse furo. Esse padrão de rotação dos sub-blocos
também se repete nas bordas de outros blocos e são comprovados pelos furos CAN
122 no extremo- sul do bloco C que apresenta rotação maior, medidas de 70° na
superfície e no furo e CAN123 no extremo norte deste mesmo bloco que tem rotação
menor, medidas de 60° na superfície e no próprio fu ro, que neste caso, pode ter dois
motivos principais:ou o bloco está realmente menos rotacionado por influência
favorável de uma das componentes do movimento destral ou o bloco está menos
rotacionado por estar saindo da área de influência dessas ZC(N-S).
-A este padrão longitudinal de rotação de sub-blocos, descrito anteriormente soma-
se a influência das falhas de retro-empurrão geralmente preenchidas por ITV (dutos
secundários) em sub-superfície que os atingiram. A presença delas gera um outro
padrão e faz com que haja sucessivas mudanças de mergulho das camadas a
medida que se aprofunda, subdividindo esses sub-blocos em sub-blocos ainda
menores, como por exemplo, sub-blocos C1a,C1b e B5a a B5 e (Fig 03 e 04). Essa
alternância é comprovada através das medidas de core angle principalmente nos
furos CANs 122 e 125.Esse padrão explicaria a lavra do Liberino, Piritoso, 4 A e 4B
no extremo norte de Canavieiras, onde esses reefs foram lavrados com mergulhos
maiores nas bordas(40°-50°) e mergulhos menores (~2 0°) no centro da Mina
Canavieiras.
-O último padrão foi encontrado através do mapeamento de superfície, onde foram
identificadas variações no dip-direction dos acamamentos, principalmente numa
área que compreende limites de norte a sul do bloco A até o limite sul do blocoB.
Esses falhamentos rotacionaram horizontalmente os sub-blocos em até 25° através
de pares cisalhantes com σ2 na vertical. Pequenas rotações de blocos ainda
ocorrem ao longo da serra de Canavieiras.

Padrão dos falhamentos:Toda a serra Canavieiras é fatiada por 5 famílias de


falhamentos principais (Mapa 02), a saber: Falhas de empurrão(E-W) (F1); Falhas
de retro-empurrão (W-E) (F2); Falhas antitéticas(NE-SW) (F3); Falhas de
acavalgamentos(S-N) (F4); Falhas de cisalhamento (N-S) (F5).
24

No mapeamento de superfície foram encontrado sucessivas alternâncias de


blocos com mergulho de acamamentos decrescentes na direção (E-W) com blocos
com mergulho crescentes nessa mesma direção (Fig 06), esse fato fortalece a
hipótese da presença de leques de imbricamentos. Então, as duas primeiras falhas
seriam respectivamente a causa e a consequência dos imbricamentos do Grupo
Jacobina a nível regional, responsável pela geração de flats e ramps, que teria como
consequência blocos fatiados na serra Canavieiras com mergulho para W.
Enquanto as três últimas seriam as responsáveis pelo cisalhamento anastomosado
que engloba a nível regional a serra Canavieiras e a serra da Rainha (Morro do
Vento Extensão Leste), pois ambas as serras seguem esses mesmos padrões de
cisalhamento.Reforçando a idéia de que houve primeiramente o transpurrão dentro
da bacia para depois haver a transcorrência, fato esse, já registrado pela evolução
dos corpos graníticos de Cachoeira Grande e Campo Formoso.

Padrão dos blocos acavalgados(S-N):Os blocos maiores A,B,C,D e E que estão


dentro da estrutura tipo sigmóide sofreram acavalgamentos inicialmente na direção
S p/ N. Mas, provavelmente a colisão entre os blocos D e E, que resultou num
acavalgamento de alto ângulo, e pode ser comprovada através de: medida bem
marcante de slickenside a 80° p/ N125, na parede no rte do bloco D; no mergulho
acentuado do vale entre esses dois blocos, que varia entre 70° e 82° p/ S, além da
atual topografia que indica um desnível entre eles de pelo menos 40m. Esse
episódio tornou o bloco D como anteparo e consequetemente forçou os demais
blocos C, B e A a acavalgarem para NE respectivamente a 50°, 60° e 68° com dip-
direction p/ SW. No extremo norte do bloco E foram encontrados falhamentos
lístricos em pequena escala que diagnosticam o empurrão de S p/N sofrido pelo
bloco.Esses falhamentos seguem a tendência de se verticalizarem em direção ao
centro desse mesmo bloco.

-O bloco F, situado no extremo norte da serra Canavieiras, foi empurrado contra o


vale Canavieiras, a ponto de estrangulá-lo, por influência direta de falhamentos
regionais (FyR),que ainda teve como consequencia os deslocamentos de parte da
estrutura tipo sigmoidal, como também de uma possível estrutura dobrada.
25

FIGURA 06 – Perfil A-B no extremo Sul de Canavieiras indicando a variação de mergulho das camadas em superfície.
26

- As medidas de core angle de falhas e acamamento colhidas nos furos de sonda


forneceram informações importantes que fez com que pudesse inferir sobre a
influência das falhas sobre o comportamento dos sub-blocos em sub-superfície. É
possível que as rotações acentuadas de alguns sub-blocos alternadas a rotações
menores de outros, ao longo da serra de Canavieiras, transmita a falsa impressão
de abatimento destes.Mas, não é totalmente descartável a hipótese de abatimento,
pois os sub-blocos situados dentro da área estudada são limitados lateralmente por
ZC(N-S) e na base por rochas ultramáficas parcialmente fundidas intrudidas naquela
época.

-Existe uma zona de pertubação mais acentuada dentro do ambiente de


imbricamentos impostas aos metassedimentos do Grupo Jacobina. Essa zona se
situa, dentro da área estudada entre o topo da Formação Serra do Córrego e a base
do Holandês, no sul do vale Canavieiras. A intrusão do corpo ultramáfico em forma
de lasca próxima a intrusão do corpo granítico no contato com o embasamento, fez
com que metassedimentos já imbricados durante o fechamento da bacia, sofressem
rotações diferenciadas que são mais evidentes quando estão próximas do vale
Canavieiras e menos intensas ou inexistentes quando se distanciam desse vale.
Essa suspeita é comprovada através da comparação dos furos realizados dentro do
vale com azimutes tanto a leste como a oeste com furos realizados no topo da
Formação Serra do Córrego.

RECOMENDAÇÕES:

-Existe a necessidade de furos para fins estritamente estruturais ao longo do maciço


de Canavieiras, para que se possa facilitar as possíveis interpretações. Tanto na
área da malha de furos para reforçar ou descartar as atuais interpretações, como em
áreas que precisam ser mais estudadas como o extremo Norte de Canavieiras.

-Como todo o acamamento da Formação Serra do Córrego mergulha para E, as


medidas de core angle dos contatos litológicos realizados nos testemunhos confirma
o basculamento ou não dos blocos ou sub-blocos em sub-superfície, porém as
medidas de core angle dos falhamentos deixam a desejar, pois os testemunhos não
são orientados e essas medidas não passam de meras suposições. É preciso retirar
27

o máximo de informações dos testemunhos, e o investimento realizado em


testemunhos orientados seria retribuído com as interpretações mais seguras a
respeito, como por exemplo, do comportamento dos reefs próximos a zonas de
intensos falhamentos.

-Se faz necessário a marcação de furos exploratórios em áreas que aparentam a


ausência da Formação Serra do Córrego, levando em consideração a possibilidade
de mergulhos acentuados para as litologias envolvidas, como também marcar furos
em zonas de contato da estrutura anastomosada com o embasamento.

-A alternância constante de mergulhos dos sub-blocos ao longo da serra Canavieiras


aliado as dificuldades impostas pelo relevo causam um empecilho durante a fase de
programação dos furos a serem executados na superfície. Esses problemas
poderiam ser amenizados em parte, caso os furos fossem marcados, na medida do
possível, com azimute para W.

- É preciso melhor entendimento de como a Zona de Cisalhamento Anastomosada


influencia nos possíveis dobramentos no extremo norte da serra Canavieiras.E
relação de ambas com a duplicação das Formações Rio do Ouro e Serra do
Córrego.

7.0-AGRADECIMENTOS:
Ao grupo da Exploração pelo apoio recebido,ao grupo da Mina pelas informações
repassadas e em especial aos heróis da resistência: Assis, Carlos Francisco,
Delvan, Eduardo, Erick, Franklin, Gildásio, Isael, José Roberto, Mário, Nilson e
Renato.
8.0-BIBLIOGRAFIA

-MASCARENHAS,J.F; LEDRU, P; LEAL DE SOUZA, S; CONCEIÇÃO FILHO, V.M;


MELO L.F.A; LORENZO,C.L; MILÉSI,J.P; DUARTE, F.B(Organização e
Síntese)1998.Geologia e recursos minerais do Grupo Jacobina e da parte sul do
Greenstone Belt Mundo Novo.Série Arquivos Abertos,p.31-32

-SGM, 1996-Superintendência de Geologia e Recursos Minerais.Mapa Geológico do


estado da Bahia-Texto Explicativo,p.210-213; 303-304.

-SEVERIANO RIBEIRO, H.J.P; ASSINE,M.L; HACHIRO, J; MARTINS, J.L;


LOUREIRO ANTUNES, R; MELO, J.H.G; GUIMARÃES NETO, R; TRIGÜIS,
J.A;MEDEIROS DE ARAÚJO, L; PERINOTTO, J.A.J; FERRUCIO FACCINI, U;
PAIM, P.S.G; CUNHA LOPES, R; LAVINA, E.L.C. SEVERIANO RIBEIRO, H.J.P
(Idealizador e organizador), 2001. Estratigrafia de Seqüências- Fundamentos e
Aplicações, p.357-363.

-DAVIS, G.H; REYNOLDS, S.J. Structural Geology of rocks and regions 1996, p.297-
306.

-SIBSON,R.H Seismogenic Framework for Hydrotermal Transport and Ore


Deposition, Society of Economic Geologists, 2001, p. 30-31.
9.0-FOTOS & MAPAS
1 2 3

4 5 6

7 8 9

10 11 12

13 14 15

FALHAS
1-Formação Rio do Ouro com mergulho sub-vertical(visada p/ S); 2-Drag folds em encurtamento expressivo
no extremo sul de Canavieiras; 3-Slickensides de baixo ângulo na direção N-S na parede lateral do bloco
CAN115( visada p/ E); 4-Slickensides de alto ângulo na direção E-W na parede frontal do bloco D( visada p/
S); 5-Sistema jog dilatational com presença de ITV preenchendo o espaço vazio no vale do CAN115; 6-
Sistema jog contrational com presença de brecha na parede sul do vale CAN115 com falhas de retro-
empurrão com mergulho p/ W; 7-Plano de falha de acalvagamento(Fault thrust) com a presença da capa e da
lapa no vale CAN123; 8-Zona de Cisalhamento Dúctil com fragmentos com movimento destral no vale do
CAN123; 9- Lapa da falha (rampa) de acavalgamento(Fault thrust) no vale do CAN123(visada p/E); 10-
Capa da falha de acavalgamento(Fault thrust) no vale do CAN122; 11-Lapa da falha(rampa) de
acavalgamento (Fault thrust) do vale CAN122; 12- Falha de acavalgamento (Fault thrust) com brecha na
capa e mergulho acentuado no vale do CAN120, acima do duto secundário(ITV); 13- Falha de
acavalgamento (Fault thrust) no vale do CAN120,abaixo do duto secundário(ITV); 14-Falha de retro-
empurrão com mergulho p/ W no vale CAN120(visada p/N ); 15- Planos de falhas e garimpos com mergulho
acentuados p/E(visada p/NW)
16 17 18

FALHAS(Continuação)
16- Planos de falhas com mergulho p/W (visada p/S); 17-Relevo imposto por falhamentos N-S em
forma de degraus na formação SCO(visada frontal p/E); 18- Acavalgamento dos blocos da serra
Canavieiras (visada p/SE).

19 20 21

22 23 24

25 25a

ZONAS DE CISALHAMENTO DÚCTEIS/ BRECHAS/FALHA LÍSTRICA


19-Veio de Quartzo bastante fragmentado; 20- Brecha com fragmentos de quartzito e veios de quartzo
imersos numa matriz fina e oxidada; 21-Brecha com veios de quartzo e drusas no extremo sul de
Canavieiras; 22-Zona de Cisalhamento Dúctil com quartzito boudinado imerso numa matriz de rocha
intrusiva; 23- Zona de alívio com preenchimento de rocha intrusiva que acompanha o movimento destral
das encaixantes; 24-Pequeno bloco de quartzito rotacionado com movimento destral imerso numa matriz
de rocha intrusiva (prosseguimento da fig.4); 25-Brecha com blocos métricos sustentados numa matriz
de rocha intrusiva na direção N-S; 25 a-Falhamento lístrico em bloco empurrado de S p/ N.
26 27 28

29 30 31

ESTRUTURAS EM PEQUENA ESCALA QUE REFLETEM O REGIONAL


26-Falhamento em dominó em nível conglomerático; 27-Zona de Cisalhamento Anastomosada em quartzito
com movimento sinistral; 28- Zona de Cisalhamento Dúctil em conglomerado com movimento destral; 29-
Lentes centimétricas de conglomerado mostra migração destes pequenos canais meandrantes em Morro do
Vento; 30-Pequeno xisto existente no topo da Formação Serra do Córrego; 31- Nível conglomerático com
mergulho acentuado(70°) na margem E do vale de Canavieiras.
34
32 33

35 36

ESTRUTURAS REGIONAIS
32-Falha que separa por centenas de metros a serra Canavieiras do Morro do Cuscuz; 33-Vale Canavieiras,
duto principal(visada p/NE); 34-Zona de Cisalhamento Dúctil com bastante veio de quartzo paralela a rocha
intrusiva presente no cross-cut 577(Mina Canavieiras Norte); 35-Xisto-guia no Morro do Vento com veio de
quartzo; 36-Embasamento gnáissico com dobramentos isoclinais cortados por pegmatitos.

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