Você está na página 1de 9

Rev. IG, São Paulo, 2(1) :21-29,jan.jjun.

1981

GEOLOGIA DA FOLHA DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA

LIDIA KEIKO TOMINAGA*

RESUMO
Na Folha de São João da Boa Vista, ocorrem rochas do Grupo Pinhal de
idade pré-cambriana superior, representadas por um complexo migmatítico-graní-
tico, e rochas sedimentares do Grupo Itararé de idade carbonífero superior a
permiano inferior, constituídas por arenitos, siltitos e diamictitos.
Ocorrem também, uma pequena intrusão alcalina (tinguaito) e vários corpos
de diabásio sob forma de "sills" e diques.
A cobertura cenozóica é aqui dividida em dois tipos, de acordo com as
prováveis épocas de deposição: Terciário e Quaternário.
O Terciário é caracterizado por sedimentos areno-argilosos inconsolidados
que ocorrem formando colinas de encostas convexas, com espessuras da ordem
de 10 a 15 m e o Quaternário representado por depó$itos aluviais associados às
linhas de drenagens atuais.

ABSTRACT
ln São João da Boa Vista topographic sheet occur Pinhal Group (upper
Pre-Cambrian {formed by migmatite-granites complex, and Itararé Group (upper
Carboniferous -lower Permian) mac,leup by Slandstones, siltstones and diamictites.
Small alkali intrusion (tinguaite) and diabases sills and dikes are also present.
The cenozoic sediments belong about two different depositional periods:
Tertiary and Quaternary. lhe first one is characterized by unconsolidated sedi-
ments (sands and muds) most of themcovering the hills. The 1east is represented
by alluvial deposits on river terraces.

INTRODUÇÃO Localização e Vias de Acesso: A


área mapeada abrange a folha topo-
Este trabalho de cunho geológico, gráfica de' São J08.0da Boa Vista, na
constitui parte do "Projeto de Levan- escala de 1:50.000, editada pelo IBGE
tamento Geológico de Formações Su- (SF. 23-V-C-VI-3) em 1972, cobrin-
perficiais", cuja área de estudo, lo- do uma área de aproximadamente
caliza-se na porção Centro-Nordeste 715 !{m2. Situa-se na região centro.:.
do Estado de São Paulo, abrangendo a nordeste do Estado de São Paulo, entre
fdfua topográfica de São João da Boa os paralelos 21° 45' e 22° 00' Sul e os
Vista, na escala de 1:50.000, na qual meridianos 46° 45' e 47°00' a Oeste de
se encontram rochas sedimentares e Greenwich tendo como principais cen-
metamórficas, além de intrusivas bá.- tros urbanos, as cidades de São João
sicas.
da Boa vasta e Vargem Grande do Sul.
Tem como objetivo a caracteriza-
ção das unidades geológicas e sua re- Suas principais vias de acesso são:
presentação cartográfica. as rodovias SP-344 e SP-340 que ln-

* Geólogo - Seção de Estudos Geológicos - Instituto Geológico.

21
Rev. IG, São Paulo, 2(1) :21-29, jan.jjun. 1981

terligam os municípios de Aguaí, São ciço de Guaxupé, com várias fases


João da Boa Vista, Vargem Grande do atribuídas ao Pré-Cambriano Médio,ao
Sul e Caconde. Pré-Cambriano Superior e ao Fanero-
zóico.
Trabalhos Prévios: São numero-
sos os estudos relacionados à geologia Com relação aos sedimentos da Ba-
da região nordeste e leste paulista e cia do Paraná destacam-se os seguintes
sul de Minas Gerais, que abrangem a trabalhos:
área de São João da Boa Vista. Na .
parte do Pré-Cambriano destacam-se PETRI (1964), propõe o agrupa-
0S seguintes: mento de todo o complexo glacial do
Grupo Tubarão, constituídos por are-
EBERT (1968). realizou estudos nitos, siltitos, tilitos, varvitos, argilitos,
na região sul de Minas Gerais e adja- conglomerados e calcários sob a deno-
cências, dividindo a área estrutural, minação Subgrupo Itararé e, Tatuí pa-
metamórfica e estratigraficamente. A ra os arenitos finos e siltitos pós-gla-
divisão estratigráfica proposta compre- ciais.
ende três grupos de idade pré-cam-
briana sup€rior: Paraíba, Andrelândia LANDIM (1973), emprega o termo
e São João DeI Rey. Estruturalmente, Formação Itararé, para o ciclo glacial
o Grupo Paraíba corresponde aos "in- do Grupo Tubarão, constituído por
ternides" e Os Grupos Andre.Jândia, arenitos, siltitos, ritmitos, mistitos e
São João DeI Rey e ainda partes do camadas centimétricas de carvão.
Paraíba aos "externides" de uma gran- Admite-,porém, que ela venha ser des-
de faixa orogênica de idade pré-cam- membrada em outras formações com o
briana supe-riorque se amolda em tor- desenvolvimento dos estudos.
no do Craton de São Francisco.
SOARESe-talii (1973), estudando
Esse mesmo autor (1968, 1971, a região nordeste do Estado de São
1974). correlacionou essas unidades Paulo, descreve-m na área, o Permo-
criadas com as caracterizadas poste- Carbonifero, o Mesozóicoe Cenozóico.
riormente em São Paulo, elaborando Utilizam a designação Formação Aqui-
um mapa geológico-estrutural do sul dauana para os arenitos, lamitose dia-
de Minas Gerais e leste do Estado de mictitos de idade carbonífero superior
São Paulo. a permiano inferior, contemporâneos
aos da Formação Itararé.
WERNICK (1978a), dividiu o Pré-
Cambriano do leste do Estado de São BRASIL-DNPM (1979) - Projeto
Paulo e áreas vizinhas nas seguintes Sapucaí, adota definições de MUHL-
unidades: Grupo Amparo, de idade MAN et alii, e-levando O termo Grupo
Transamazônica, que corresponderia Tubarão para a categoria de Supergru-
ao Grupo Paraíba englobando os Gru- po Tubarão, dividindo-o nos Grupos
pos Andrelândia e Itapira; Grupo Pi- Itararé e Guatá. O Grupo Itararé per-
nhal de- idade Brasiliana; Formações manece indiviso no Estado de São
Eleutério e Pouso Alegre, também de Paulo, sendo caracterizados na áre-a
idade Brasiliana e definiu o Grupo Pi- deste Projeto, por sedimentos essencial-
nhal como uma unidade migmatítica- mente arenosos, de granulometria va-·
granítica. resultante da profusa intru- riável, com diamictitos de cor verme-
são de- granitos em rochas do Grupo lho-tijolo.
Amparo. Metodologia: Foi executada pes-
Estudando ainda, (1978b), Osgru- quisa bibliográfica e' levantamento
pOsacima mencionados, descreve a es- aerofotogeológico preliminar da área,
trutura dos complexos graníticos- em fotografias aéreas na escala de
migmatíticos, constantando uma evo- 1:25.000, levantadas pelo IBC -
lução estrutural policíclica para o ma- GERCA em 1971.

22
Rev. IG, São Paulo, 2(1) :21·29, jan.jjun. 1981

Os trabalhos de campo tiveram mente 850m,ocorrendo principalmente


com.obase,·a folha topográfica de São numa faixa de direção NW,ao longo do
João da Boa Vista na escala de contato com a Bacia do Paraná e nas
1:50.000, e consistiram em observações imediações da cidade de São João da
e descrição de afloratnentos, estrutu- Boa Vista.
ras, texturas, contatos, etc., com cole-
ta de amostras para análises granulo- O segundo tipo ocupa principal-
métricas e petrográficas. mente a parte E-NE da folha, for-
mando morros muito acidentados e es-
A partir dos dados coletados no carpas íngremes nas serras da Fartu-
campo. acrescidos ainda, de uma foto- ra e da Forquilha, atingindo cotas de
interpretação geológica e de análises até 1.400m, e apresenta alta densida-
granulométricas e petrográficas, foi de de drenagem.
possível organizar o mapa geológico.
No lado Oeste da folha, ocupado
pelos sedimentos do Grupo Itararé e
ASPECTOSGEOGRÁFICOS Cenozóico, desenvolveu-se um relevo
suave com predominância de densida-
Devido a variação topográfica da de de drenagem média e subordinada-
área de São João da Boa Vista, de re- mente baixa, com cotas variando de
levo suave a muito acidentado, com 600 a 700 m· Áreas mais planas, com
altitudes de 600 aI. 400m, seu com- densidade de drenagem muito baixa,
portamento térmico enquadra-se no ti- são formadas pelos depósitos cenozói-
po Tropical, mas com duas categorias coso
climáticas: subquente e mesotérmico
brando NIMER (1977). As temperatu- Destacam-se na superfície suavi-
ras médias anuais variam, respectiva- zada dos sedimentos, as intrusivas bá-
mente de 20 a 22°C e de 18 a 20°C. sicas sU'stentando um relevo mais sa-
liente com altitudes de até 870m.
Da . mesma forma que ocorrem
dois tipos de relevos e duas categorias Na divisão germorfológica do Es-
climáticas. também a vegetação apre- tado de São Paulo, a área ocupada
senta duas formações distintas: Flo- pelas rochas cristalinas enquadra-se na
restas Subcaducifólia Tropical e Cer- Zona Cristalina da Província do Pla-
rado (ALONSO1977).Estas formações nalto Atlântico e ,a parte- das rochas
vegetais são as primitivas, das quais sedimentares, na Zona Mogi-Guaçu da
pouco restam. Sua fisionomia foi sen- Província da Depressão Periférica
do alterada, conservando-se apenas (ALMEIDA,1964).
poucosTemanescentes, pois essa região
foi intensamente ocupada pelo homem. A bacia hidrográfica da área é for-
mada pelo rio Jaguari Mirim, princi-
No aspecto topográfico a área, em pal afluente do rio Mogi Guaçu, des-
questão, apresenta grande he-terogenei- tacando-se ainda, o rio Verde e o Ri-
dade. devido a diversidade de rochas beirão dos Porcos que correm ao longo
ocorrentes. do contato das rochas pré-:cambrianas
com as da bacia do Paraná.
As rochas cristalinas do Pré-Cam-
briano, ocupando quase dois terços da ESTRATIGRAFIA: Na parte Les-
área, enquadra-se numa zona de tran- te da folha de São João da Boa Vista
sição entre as terras altas do sudoes- ocorrem rochas pré-cambrianas, repre-
te mineiro e a região rebaixada da sentadas principalmente por migmati-
Depressão Periférica. Forman dois ti- tos. O lado Oeste é ocupado por sedi-
pos de relevo: um acentuado com mentos do Grupo Itararé, Super-Grupo
morros arredondados e pouco íngre- Tubarão. de idade permo-carbonífera,
mes, cortados por densa drenagem, al- constituídos, essencialmente de areni-
titudes variando de 700 a aproximada- tos, siltitos e diamictitos. A cobertura
23
Rev. IG, São Paulo, 2( 1) :21-29, jan.jjun. 1981

cenozóica caracterizada por sedimen- mente, predomina sobre a microclina,


tos arenosos e/ou argilosos inconsoli- é representado por oligoclásio ou ande-
dados, capeando partes do Grupo Ita- sina.
raré e das rochas pré-cam brianas têm
maior expressão na parte' Oeste ~ N0- Quando a rocha é mais rica em
roeste da folha. Qs aluviões recentes plagioclásio, a microclina ocorre sob
ocorrem associados à rede hidrográ- forma anhedral preenchendo os in-
fica. terstícios, Se a microclina é predomi-
nante, pode assumir formas subhedral
nos megacristais e anhedral nos cris-
PRÉ CAMBRIANO tais menores da matriz, exibindo gemi-
nação em grade.
As rochas pré-cambrianas são
constituídas por um complexo migma- Os máficos estão representados,
tíco-granítico denominado Grupo Pi- principalmente por biotita e hornblen-
nhal, resultante da profusa intrusão
da. A biotita de cor marrom clara apre-
de granitos, durante o ciclo Brasilia- senta forma lamelar com bordas mais
no, em rochas do Grupo Amparo de ou menos irregulares, podendo ocorrer
idade Transamazônica, WERNICK
cloritização nos bordos. A hornblenda
(1978a) . de cor marrom esverdeada aparece sob
o Grupo Pinhàl é constituído, forma colunar e/ou irregular. A com-
principalmente, por rochas migmatíti- posição destas rÇJchas granitóides va-
cas e granitóides, WERNICK e PE- ria de quartzo-diorítica a granítica
NALVA (1980), que se encontram in- (WERNICK e PENALVA op. cit.).
trinsecamente associadas. Os termos
granitóides englobam granitos equigra- Os migmatitos são de cores cin-
nu lares e porfiróides. Os equigranula- zenta e rosada, exibindo estruturas
res com granulação variando de fina a "Schlieren" "Schollen" nebulítica
grossa, localmente com textllra peg- oftalmítica .e, menos frequentemente:
matóide, são de coloração cinzenta, acamada. Nesses migmatitos predomi-
rósea ou esbranquiçada. Apresentam, na o neossoma sobre o paleossoma que
com frequência, gnaissificação inci- se apresenta difuso, entretanto. encon-
piente. Nos porfiróides, os fenocristais tram-se leitos de paleossoma, em ge-
predominantes são de microclina e se- ral, constituídos por biotita-gnaisse,
cundariamente de oligoclásio, com for- com espessuras desde centimétricas,
mas retangulares, ovaladas ou irregu- até 1 m. como se observa na pedreira
lares, de cores cinzenta ou rosada, com a 2 Km a Sude·ste de São João da Boa
tamanhos variando, mais frequente- Vista.
mente, de 3 a 6 em. Em geral, estes
fenocristais encontram-se fracamente Estes migmatitos são complexos e
orientados. A matriz tem também co- polifásicos, resultantes da interferên-
res cinzenta e rosada e·sua granulação cia de auréolas migmatíticas contí-
varia de fina a grossa. guas, ('VERNICK e PENALVA op. cit.).

Os granitos equigranulares e a A 16 Km a Leste de Vargem Gran-


matriz dos Kranitos porfiróides são de do Sul em corte da estrada que li-
compostos principalmente por quanti- ga esta cidade a São Roque da Fartu-
dades variáveis de· quartzo, plagioclá- ra, foi encontrado akerito, já C:escrito
sio, microclina e máficos. O quartzo por FREITAS (1956). Macroscópica-
apresenta-se sob forma anhedral, exi- mente. o akerito apresenta cor cinza
bindo com frequência extinção ondu- esverdeada, estrutura compacta, com
lante, ocupa posição intersticial e às cristais de feldspato de tamanhos va-
vezes constitui megacristais. O plagio- riáveis de 0,5 mm a 2 em. São visíveis,
clásio, de forma subhedral com gemi- também quartzo granular de cor cin-
nação polissintética que frequente- zenta de tamanhos milimétricos, Ao

24
Rev. IG, São Paulo, 2(1) :21-29, jan.jjun. 1981

microscópio, exibe entrelaçamento hi- A idade do complexo granítico~


pidiomórfico e textura micrográfica. migmatítico do Grupo Pinhal, confor-
Esta rocha contém, como componentes me WERNICK (1978a e 1980L é re-
essenciais: ortoclásio micropertítico, ferível às várias fas€'s do ciclo Brasi-
oligoclásio, quartzo, alanita, barkevi- liano (500 - 650 m.a.).
cita (hornblenda), mirmequita e clori-
ta; como acessórios, contém magneti-
ta, apatita. zircão e turmalina (lâmina GRUPOITARARÉ
descrita: pelo prof. DI'. Ruy Ozório de
Freitas) . É . caracterizado por sedimentos
essencialmente arenosos, siltitos e dia-
As rochas do Grupo Pinhal acham mictitos de cor vermelho-tijolo. É pos-
se cortadas por pequenos veios de quar- síve'l que se trate da Formação Aqui-
tzo e de pegmatitos com espessuras dauana, inicialmente descrita corno
centimétricas a decimétricas. "Série Aquidauana" por ALMEIDA
(1954) e BEURLEN (1956) na borda
A gnaissificação é mais evidente oeste da bacia do Paraná.
nos migmatitos, enquanto que nos gra-
nitos porfiróides e equigranulares é in- SOARES et alii (1973) emprega-
cipiente. Apresenta .predominante- ram o termo, Formação Aquidauana
mente, um sistema noroeste, com di- para os sedimentos semelhantes aos
reções variando de N 15° - 40° W e acima citados, ocorrentes na região
N 65° - 75° W e mergulhos de 30° - nordeste do Estado de São Paulo.
60° SW e subordinadamente. um sis-
tema nordeste, com direções de N 50° Estudando as regiões de Araras,
- 80° E e mergulhos de·45° SE e sub- Conchal e Mogi Guaçu. SOAnES e
vertical. LANDIM (1973) constataram sedi-
mentos avermelhadosda Formação
As rochas do Grupo Pinhal se Aquidauana interdigitados com os da
situam na parte leste desta folha, Fm Itararé de coloração acinzentada.
ocupando aproximadamente dois ter- Os sedimentos, presumive'lmente
ços da área. Afloram sob forma de ma- da Fm Aquidauana constituem-se,
tacões ou em cortes de estradas, sen-
do melhor expostas em duas pedreiras, principalmente, de arenitos e siltitos
marrom ave·rmelhados e, subordina-
uma localizada na Faz. Paulopéia a damente de diamictitos e argilitos da
1,5 Km a noroeste de São João da Boa mesma coloração. Encontram-se nos
Vista e outra a 2 Km a sudeste da mes-
ma cidade. arenitos, lâminas de coloração esbran-
quiçadas e arroxeadas. e muito rara-
mente acizentadas.
o contato entre as rochas migma-
títicas e granitóides é extremamente A granulometria dos arenitos va-
difuso. pois estas ocorrem intimamen- ria de muito fina a grossa, predomi-
te' associadas. O akerito permite uma nando a fração fina a média, pobre-
individualização aproximada das ro- mente a muito pobremente seleciona-
chas migmatíticas e graníticas. Ocon- dos, com abundante· matriz síltico-ar-
tato do Grupo Pinhal com a bacia se- gilosa.
dimentar do Paraná, faz-se através de
uma superfície erosiva e irregular, co- Os arenitos apresentam-se em
mo o verificado em afloramento a 6 corpos tabulares com estratificação
Km a oeste de São João da Boa Vista, plano paralela, estratificação cruzada
ao longo da estrada que liga esta ci- planar e tangencial na base, de pe-
dade ao Bairro Cantagalo, estando no queno porte e algumas vezes,micro es-
restante da área, encoberto pelos sa- tratificação cruzada e em bancos maci-
los residuais e/ou coluviais e pelos se- ços. Contém ocasionalmente, pequenas
dimentos cenozóicos. intercalações de· camadas e lentes de
25
Rev. IG, São Paulo, 2(1) :21-29. jan.jjun. 1981

siltitos de espessura muito variáveis, erosiva e irregular. Numa pequena


menores que 0,50m, como observado área mais a sul deste afloramento, o
próximo ao Córrego Bela Vista a SU'- contato está encoberto por solos resi-
doeste da folha. duais e/ou coluviais.
Os siltitos são predominantemente DAEMONe QUADROS (1970) estabe-
argilosos, menos frequentemente po- leceram a idade da Fm Aquidauana
dem ser arenosos. A cor marrom aver- como sendo Carbonífero Superior.
melhada é dominante, apresentando SOARES (1972) verificou a contempo-
por vezes manchas ou faixas esbran- raneiedade do Aquidauana com as fá-
quiçadas por efeitos epigenéticos. Ocor- cies Superiores do Itararé do Permia-
rem em bancos maciços e, às vezes, no inferior.
com laminação incipiente. Em geral,
encontram-se intensamente fratura- O ambiente' de deposição da Fm
dos, tornando-se friáveis.É comum a Aquidauana é continental, predomi-
presença de pequenas lentes e lâminas nantemente fluvial, com depósitos de
de areia nos siltitos. canaL e transbordamento.

Os diamictitos são menos frequen- Os diamictitos. podem ser resul-


tes aflorando somente na porção Sul- tantes do retrabalhamento de depósi-
Sudoeste. Contém principalmente sei- tos glaciais por rios, torrentes e cor-
ridas de lama, conservando uma pe'-
xos e as vezes blocos em pequena pro- qttena proporção de seixos em relação
porção, em geral de 5 a 10%-.Os seixos à matriz lamítica ou arenosa. A co-
em geral, são alongados e apresentam-
se subarredondados de constituição, loração avermelhada indica a condi-
predominantemente quartzítica, graní- ção oxidante do processo sedimentar a
tica e subordinadamente' de outras ro- que foi submetido esse mate·rial
chas metamórficas e· sedimentares. A (SOARESet alii, 1973).
matriz é lamítica de cor marrom aver-
melhada contendo grânulos angulosos CENOZÓICO
de quartzo. Os diamictitos exibem, às
vezes uma laminação incipiente, mas Os sedimentos cenozóicos situam-
não apresentam acamamento e rara- se principalmente na parte Oeste da
mente podem conter níveis ou peque- área, onde o relevo é mais suave e re-
nas lentes arenosas. baixado. Estes sedimentos são aqui
divididos em Terciário e Quaternário.
A Formação Aquidauana ocorre
no lado Oeste da Folha, ocupando em O Terciário constitui-se de sedi-
superfície, cerca de um quarto da área mentos areno-argilosos de coloração
total estudada. predominantemente avermelhada, mal
selecionados, contendo grânulos an-
Na parte Norte da área>-o contato gulosos de quartzo. São inconsolidados,
entre a Formação Aquidauanae as ro- aparentemente desprovidos de estrutu-
chas cristalinas, acha-se encoberto por ras sedimentare-s, apresentam-se verti-
sedimentos Cenozóicose ao Sul o con- calmente homogêneos, assemelhando-
tato está mascarado pela presença de se a solo. Frequentemente, na base des-
um espesso "sili" de diabásio (vide ma- ses depósitos, ocorrem linhas de seixos
pa geológico anexo). ou até mesmo cascalheiras de pequeno
O contato direto da Fm Aquidau- porte, constituídos de seixos €' blocos
ana com o cristalino foi verificado so- predominantemente de quartzito e
mente em um afloramento a 6 Km a quartzo.
Oeste de São João da Boà Vista, na Estes sedimentos ocorrem sob a
estrada que liga esta cidade ao Bairro forma de amplas colinas de encostas
do Cantagalo, no qual o diamictito convexas. capeando formações mais
assenta-se sobre rocha alterada do pré. antigas, com espessura que variam de
Cambriano, através de uma superfície 10 a 15 metros.
26
Rev. IG, São Paulo, 2(1) :21-29, jan./jun. 1981

Os sedimentos Terciários a Oeste e dique alcalino está associado à intru-


Noroeste de Vargem Grande do Sul, são alcalina de Poços de Caldas, cuja
apresentam fração arenosa dominante idade situa-se no Cretáceo superior
tornando-os muito porosos e permeá- AMARALet alii, in CPRM (1979).
veis. A Sul da mesma cidade, verifi-
ca-se a predominância da fração
argilosa nE*ites sedimentos. Na Faz. GEOLOGIA ESTRUTURAL
Cachoeirinha, 4 Km a Sul de Vargem
Grande do Sul, ocorre uma camada de Grandes lineamentos fotogeológi-
argila branca com 3 metros de espes- cos com direções predominantemente
sura, contendo moldes de folhas vege- NE e subordinadamente N-S, NW e
tais, os quais estão em estudo. E-W, que controlam o p.adrão da dre-
nagem, são visíveis na área do Pré-
O Quaternário constitui-se de de- Cambriano. O rio Jaguari Mirim tem
pósitos de areias, argilas e· casca- seu curso fortemente controlado por
lhos, de cores marrom avermelhada e essas direções estruturais. O Ribeirão
variegadas, encontrados nos vales dos Bonito tem seu curso alinhado na dire-
rios. Ocorrem de maneira expressiva ção NE, onde se verificou a presença de
nos vales dos Rios Verde e Jaguarí-Mi- rochas cataclasadas, constituindo uma
rim. zona de falha.
Rochas lntrusivas: Na folha, em No extremo Sul da Folha, 6 Km
estudo, são assinaladas rochas intrusi- a Sudoeste de São João da Boa Vista,
vas básicas na bacia sedimentar e al- encontrou-se na Fm Aquidauana, uma
calinas no Pré-Cambriano. pequena dobra simétrica com amplitu-
de de aproximadamente 1,5 m e cerca
,Na região centro-sul da área, de 4,0 m de comprimento. Essa dobra
acha-se um grande "sill" de diabásio pode ser resultante de movimentação
de 4 a 6 Km de largura e aproximada- adiastrófica penecontemporânea à de-
mente 12Km de comprimento, posicio- posição ou de pe·rturbações provocadas
nado entre a Formação Aquidauana e pela intrusão do "sill" de diabásio a
o Pré-Cambriano; outros de menor Oeste. O mergulho das camadas da
porte aparecem na parte centro-oeste Fm Aquidauana, quando não pertur-
e sudoeste. Diques de diabásio com di- badas por intrusões, é de aproximada-
reções N 30° W e N 60° W, foram en- mente 0° 30' para W-NW. Nesta For-
contrados a sudoeste da área. Essas mação não se nota a presença de fra-
rochas básicas são de cor cinza escura e turas relevantes.
preta, com textura fane'rítica, granu-
lação fina a média e estrutura maciça. O "sill" de diabásio encontrado na
Normalmente, encontram-se alteradas parte Centro-Sul apresenta em alguns
formando "terra roxa". trechos de seu limite·, contatos retilí-
neos, porém não se observam evidên-
A intrusão destas rochas básicas cias de movimentação ao longo desses
está associada ao Vulcanismo básico planos, devido à cobertura coluvial.
que atingiu a Bacia do Paraná durante
o final do Jurássico a Cretáceo, com
idades que variam de 90 a 150 milhões CONCLUSÕES
de anos AMARAL et alii. (1966).
1. As rochas pré-cambrianas
A ocorrência das rochas intrusivas constituídas por migmatitos e grani-
alcalinas restringe-se a um dique aflo- tóides, pertencem ao Grupo Pinhal de
rando sob forma de um pequeno morro idade brasiliana (Pré-Cambriano supe-
(500 x aOOm)no extremo leste da fo- rior). Os termos granitóides englobam
lha. São representadas por tinguaito, granitos enquigranulares e porfiróide-s.
rocha de cor cinza-escura, estrutura O contato entre estes tipos litológicos
maciça e textura sub fane'fÍtica. Este é difuso, pois ocorrem em associação
27
Rev. IG, São Paulo, 2(1) :21-28,jan./jun. 1981

íntima, dificultando sua individuali- 5. A parte ocupada pelas rochas


zação. do Grupo Pinhal é a que apresenta
maior número de alinhamentos estru-
2. Localmente, ocorrem akeritos turais re-presentados por fraturas. Es-
de composição minera lógica variável tes alinhamentos são de-direções pre-
entre quartzo-montonito e quartzo-so- dominantemente NE e subordinada-
da-sienito, contendo como principal mente N-S, NW e EW.
componente, ortoclásio micropertítico.
3. Os sedimentos permo-carbo- 6 . Os recursos econômicos exis-
níferos são representados, presumivel- tentes, são representados pelas rochas
mente, pela Formação Aquidauana, do Grupo Pinhal e argilas do Cenozói-
constituídos de are'nitos, siltitos e dia- eo. A rbchasdo Grupo Pinhal são ex-
mictitos, cujo ambiente de deposição ploradas para uso na construção civil,
é continental, predominantemente, sob forma de britas, em duas pedrei-
fluvial. ras, uma localizada na Faz. Paulopéia
a 1,5 Km a noroeste de São João da
4. Os sedimentos cenozóicos Boa ViSitae·outra a 2 Km sudeste des-
(Terciário) ocupam regiões de relevo ta cidade. As argilas brancas do Ce-
suave, formando amplas colinas con- nozóico constituem uma ocorrência
vexas, com espessuras pequenas (10- restrita na Faz. Cachoeirinha, 4 Km
15m), capeando as formações mais a sul de Vargem Grande do Sul, sendo
antigas. Foi possível distinguir duas destinadas para o fabrico de refratá-
zonas: uma arenosa e outra argilosa. rios.

AGRADECIMENTOS

A autora agradece ao Prof. DI'. Ruy Osório de Freitas pela orientação con.
cedida na e-xecuçãodeste trabalho. Agradece também ao geólogo Geraldo Hideo
Oda, pelas críticas e sugestões apresen tadas.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, F. F. M. de - 1954 - Geologia BEURLEN, K. - 1956 - A geologia pós-


do centro-leste Mato-Grossense. Rio de algonquiana do sul do Estado de Mato
Janeiro, Departamento Nacional da Grosso. Rio de Janeiro, Departamento
Produção Mineral. Divisão de Geologia Nacional da Produção Mineral. Divi·
e Mineralogia, 1954.97 P. (Boletim, 50) são de Geologia e Mineralogia. 137 p.
(Boletim, 163).
----- - 1964- Fundamentos geológi-
cos do relevo paulista. In: SÃO PAULO BRASIL. DEPARTAMENTONACIONALDA
INSTITUTO GEOGRÁFICOE GEOLÕ· PRODUÇÃOMINERAL. - 1979- Pro-
GICO. Geologia do Estado de São jeto Sapucaí, estados de Minas Gerais
Paulo. São Paulo. p. 169-263.(Boletim, e São Paulo; relatório final de geo·
41). logia. Brasília, DNPM/CPRM. 299 p.
(Série Geologia, 4 - Seção Geologia
ALONSO,IM.T. ALVES -1977 - Vegetação. Básica, 2).
In: BRASIL. FUNDAÇÃOINSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ES- DAEMON, R.F.; QUADROSL.P. - 1970-
TATíSTICA. Geografia do Brasil; Re- Bioestratigrafia do Neopaleozóico da
gião Sudeste. Rio de Janeiro. v. 3 Bacia do Paraná. In: CONGRESSO
p.91-118. BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 24.°,
Brasília. Anais. Brasília, Sociedade
AMARAL,G. et alii - 1966- Potassium Ar- Brasileira de Geologia. p. 359-412.
gon ages of basaltic rocks from Sou-
thern Brazil. Geoch. Cosmoch. Acta, EBERT, H. - 1968- Ocorrências da fácies
Oxford, 30(2):159-189. granulítica no sul de Minas Gerais e

28
Rev. IG, São Paulo, 2( 1) :21-29,jan.jjun. 1981

em áreas adjacentes, em dependência FICO E GEOLóGICO. Geologia do Es-


da estrutura orogênica: hipótese sô- tado de São Paulo. São Paulo. p. 56-63.
bre sua origem. An. Acad. Bras. Ciênc., (Boletim, 41).
Rio de Janeiro, 40:215·229.Suplemento.
----- - 1971 - Os Paraibides entre SOARES, P.C. - 1972 - O limite glaoial-
São João DeI Rei, Minas Gerais e !ta- pós glacial do Grupo Tubarão no Es-
tado de São Paulo. An. Acad. Bras.
pira, São Paulo, e a bifurcação entre Ciênc. Rio de Janeiro, 44:333-341.Su-
Paraibides e Araxaides. In: CONGRES- plemento.
SO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,25.0.,
São Paulo. Resumo das Comunicacões.
São Paulo, Sociedade Brasileirá de et alii - 1973 - Geologia do
nordeste do Estado de São Paulo. In:
Geologia. p. 177-178.(Boletim especial. CONGRESSO BRASILEIRO DE GEO-
1).
LOGIA, 27.0, Aracaju. Anais. Aracaju,
----- - 1974- O Grupo Eloeutério e Sociedade Brasileira de Geologia. v. 1
a falha de Jacutinga Nordeste de SP. p. 209·228.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
GEOLOGIA, 28.°, Porto Alegre. Resu- ----;' LANDIM, P.M.B. - 1973 -
mo das Comunicações. Porto Alegre, Aspectos regionais da estratigrafia da
Sociedade Brasileira de Geologia. p. deste. In: CONGRESSO BRASILEI-
726-730. (Boletim, 1). Bacia do Paraná no seu flanco Nor-
RO DE GEOLOGIA, 27:0., Aracaju.
FREITAS, R.O. de - 1956 - Um A.kerito Anais. Aracaju, Sociedade Brasileira
da Serra do Mirante, S. Paulo. São de Geologia. v. 1 p. 243-256.
Carlos, Universidade de São Paulo.
Escola de Engenharia de São Carlos. -----; ----- - 1976- Depósi-
26 p. (Publicação, 6 - Geologia, 1) tos Cenozóicos na região centro-sul do
/ Separata do Boletim da Sociedade Brasil. Not. Geomorfol., Campinas, 16
Brasileira de Geologia, 5(2) set. (31):17-39.
p. 77-90./
LANDIM,P .M. B. - 1973- Contribuição ao WERNICK, E. - 1978a- Contribuição à es-
estudo dos mistitos do Grupo Tuba- tratigrafia do Pré-Cambriano do leste
rão no Estado de São Paulo. São Car- do Estado de São Paulo e áreas vizi-
los, Universidade de São Paulo. Esco- nhas. Rev. Bras. Geoc., São Paulo, 8
la de Engenharia de São Carlos. (3) :206-216.
198p. (Publicação, 175- Geologia, 17).
----- - 1978b- Contribuição à geo-
NIMER, E. - 1977 - Clima. In: BRASIL. logia do Maciço de Guaxupé, SP e
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO- MG. An. Acad. Bras. Ciênc., Rio de
GRAFIA E ESTATÍSTICA. Geografia Janeiro, 50(3):337-352.
do Brasil; Região Sudeste. Rio de Ja-
neiro. v. 3 p. 51-89. -----; PENALVA. F. - 1980- Con-
tribuição à geologia do Grupo Pinhal,
PETRI, S. - 1964- Grupo Tubarão. In: SP e MG. Rev. Bras. Geoc., São
SÃO PAULO. INSTITUTO GEOGRÁ- Paulo, 10(1):43-62.

29

Você também pode gostar