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Universidade Estadual do Ceará - UECE

Centro de ciências e tecnologia - CCT

Curso: 005 – Geografia Bacharelado

Disciplina: Pedologia

PROFESSOR (A) : Tarcísio Holanda

Alunos: Jônatas Gomes do Nascimento

Gabriel Saboia Bezerra

Antonio Ruan Moreira dos Santos

Degradação ambiental do Ceará: Áreas desertificadas – ASD Jaguaribe; ASD Iraçuba e ASD
Inhamuns

2022

FORTALEZA – CE
Introdução

Os conceitos de Desertificação são amplos, que de forma simplista, é o processo no qual a


terra é degradada de forma intensa ou leve. Além disso, todos os cientistas que estudam este
fenômeno estão em consenso de que as ações antrópicas são uma das várias causas que influenciam
e aceleram este processo, que por vezes pode acontecer naturalmente, como em ciclos climáticos
que alteram toda dinâmica de uma região. Dentre os conceitos existentes e suas causas, se destaca o
utilizado pioneiramente por Aubreville em 1949 em seu livro chamado Climates, forets et
désertification de l'Afrique tropicale para designar áreas sofrendo o processo de degradação devido
ao mau uso de recursos, e que também destaca dois fatores principais efeitos na caracterização
formação de uma área desertificada, a erosão dos solos e o agravamento do déficit hídrico
(AUBREVILLE, 1949), no entanto, este fenômeno é bem mais antigo, com relatos históricos
mencionando a região da Mesopotâmia onde os solos foram esgotados devido a ação humana em
função da intensidade da agricultura e dos métodos utilizados no cultivo das lavouras, no
mediterrâneo existem registros sobre áreas estéreis devido a retirada da cobertura vegetal para
construção e criação de terras para a agricultura (DREGNE,1987) e no planalto de Loesse na
África, a intensa seca dos anos 70 na região do Sahel chamou atenção do mundo sobre os
problemas da degradação do solo e desertificação, sendo que a partir deste evento, foi considerada a
necessidade de um debate acerca do problema, ocorrendo uma conferência em Nairóbi, capital do
Quênia, conduzida pelas nações unidas onde o termo desertificação foi oficialmente adotado.
Devido a crescente preocupação dos países com meio ambiente, a criação de mais reuniões e
conferências internacionais no qual a problemática da desertificação ganha destaque, levou a
formação de programas e convenções que abordam o assunto diretamente, dentre eles a Convenção
das Nações Unidas para o combate à desertificação (CNUCD) em 1996. A seca tem efeitos sobre
agricultura, ecossistema e economia, mas ela não é a causa da desertificação, o problema principal
encontra-se no uso inadequado da terra. Na Europa, a Espanha é um dos países mediterrâneos que
mais sofre com a desertificação, causados principalmente pelo pastoreio intenso e exploração
madeireira (HASSAN 1985) diferente de outros territórios áridos e semiáridos do novo mundo a
terra vem sido usada de forma inadequada há vários séculos após a segunda guerra mundial,

No Brasil os primeiros estudos sobre o assunto passaram a ser desenvolvidos na década de


70 por Vasconcelos Sobrinho e outros autores como Ab’Saber, Moreira, Nimer, Rodrigues e Conti
com um certo foco na região nordeste por ser uma região semiárida estes estudos contribuíram para
criação do PAN-BRASIL o Programa Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca (NASCIMENTO 2006).
No Ceará, existem 3 áreas com grande risco a desertificação, englobando também áreas já
desertificadas, que compreendem a região de Jaguaribe, Iraçuba e Inhamuns, a região do Jaguaribe
e sua área de planejamento, vale do jaguaribe possuem uma importância enorme para todo o estado,
sendo essa a região do seu principal curso hídrico (o rio Jaguaribe), que alimenta não só as regiões
próximas e promove o balanço do ecossistema, mas também alimenta todo um sistema de
integração e segurança hídrica presente no estado, além disso, há toda a herança histórica, cultural e
afetiva do estado e da população com o rio, portanto, considerando todo o contexto apresentado, é
de extrema importância o estudo dessas áreas desertificadas, com o objetivo de recuperar tais áreas
para uma melhoria da qualidade de vida dos habitantes próximos, no sentido de possibilitar a
agricultura familiar a melhoria do abastecimento de água dessas regiões, proteção dos cursos
hídricos, recuperação da biodiversidade e etc. A região de Irauçuba e de Inhamuns também tem sua
importância dentro do estado, por se configurarem como centros culturais sertanejos, a sua
biodiversidade do bioma caatinga

Objetivo

O objetivo deste estudo é investigar e caracterizar a ocorrência de áreas suscetíveis a


desertificação e áreas desertificadas na ASD – Jaguaribe, ASD – Inhamuns e ASD - Irauçuba

Desenvolvimento

Com exceção de Minas Gerais e Espírito Santo, todos os estados com áreas suscetíveis a
desertificação se localizam no nordeste brasileiro. No Ceará existem três grandes áreas suscetíveis
a desertificação que são: Irauçuba / Centro-Norte, Inhamus e Jaguaribe, sendo que a área que será
estudada neste trabalho – Jaguaribe – apresenta uma compartimentação pedológica com a presença
de Luvissolos, Planossolos, Argissolos, Neossolos litólicos, neossolos regolitos e neossolos
flúvicos, A seguir, temos três mapas que caracterizam melhor a região para começo de nossos
estudos.

1.1 1.2
Figura 1.1: Mapa representando as áreas desertificadas de nosso estado. Figura 1.2: Mapa
representando as bacias hidrográficas e os cursos hídricos de nosso estado.

Na região de Irauçuba, podemos notar uma forte


presença de solos do tipo Bruno não-cálcico, Planossolo
solódico, Solos litólicos eutróficos e uma porção de
Podzólicos Vermelhos; A região de Inhamuns apresenta a
mesma composição de solos, com uma presença maior de
solos litólicos eutróficos, Bruno não-cálicos e pouca
presença de Podzólicos Vermelhos na região desertificada
essas informações estão presentes a seguir no mapa do
Ipece retirado do site GeoInterativo (GeoInterativo: Mapa
de Solos do Estado do Ceará (interargeo.blogspot.com)
(Acesso em 27/09/22)

Nos mapas apresentados acima pudemos ver que


a área desertificada ou suscetível a desertificação da
região Jaguaribana encontra-se entre três regiões de
bacias hidrográficas (Bacia do salgado, Alto e médio
Jaguaribe) portanto, reforça ainda mais o argumento da necessidade de se recuperar essas áreas para
a estabilidade hídrica da área, que também influenciam nas outras duas regiões

Em relação as atividades econômicas exercidas na área Jaguaribana, foi realizada uma


pesquisa no Instituto de Pesquisa e estratégia econômica do Ceará, e com base nos mapas que
também estão disponíveis no site “Ceará em mapas” (Ceará em Mapas - 5 - Atividades Econômicas
(ipece.ce.gov.br), foi notável que há uma presença forte da atividade pecuária em grandes
latifúndios, relacionando o tamanho das propriedade rurais e os tipos de cultura (com forte ênfase
na cultura de Ovinos e Bovinos), em comparação as agrícolas, que não estão muito presentes nessa
área, por isso, outra informação presente nos mapas é que a região concentra os municípios com a
maior produção de leite do estado. Este fato evidencia que, muito possivelmente, boa parte das
terras que estão sobre condições de desertificadas são ou foram utilizadas como pastoreio, causando
uma forte compactação do solo, além de toda a cobertura vegetal, já deficiente, que foi retirada para
ter a possibilidade de exercer essa etapa da produção pecuária, causando o déficit de nutrientes.
Respectivamente, Figuras 1.3, 1.4, 1.5 e 1.6 que mostram as atividades econômicas pecuaristas
mais presentes na região e que podem estar relacionadas ao processo de desertificação.

Outro ponto importante a ser destacado é a influência do regime pluviométrico nas áreas,
que estando inseridas no contexto de semiárido das depressões sertanejas, sofrem com a escassez
hídrica durante muito tempo. Buscando o índice pluviométrico das principais cidades dentro das
zonas de desertificação, pode-se perceber que o índice pluviométrico continua extremamente baixo
em algumas cidades, representando um enorme entrave tanto no quesito da recuperação do solo
quanto na expansão de culturas na região.

Zona ASD Cidade Índice Pluviométrico


Pereiro 914 mm³
Jaguaribe
Jaguaribe 701 mm³
Tauá 599 mm³
Inhamuns
Arneiroz 506 mm³
Irauçuba 539 mm³
Irauçuba
s/d

Tabela 1.1 - Índice pluviométrico de cidades de cada zona

A mesma metodologia foi utilizada na investigação das causas nas outras ASD’s, trazendo
informações bastante parecidas, no entanto, parte das outras áreas tem muito mais influência dos
fatores pluviométricos do que da ocupação pela pecuária em sí, mas não excluindo ela dos fatores
causadores.

Através dessas informações que nos foram cedidas, através dos mapas por exemplo (vide pg.4) nós
temos parte da noção da estrutura fundiária da região e como são distribuídas as atividades
econômicas mais influentes, que no caso são da pecuária.

Conclusão

Em conclusão, é que visto que a desertificação afeta boa parte da região cearense, tanto por
fatores antrópicos como a agropecuária, quanto por fatores naturais como o baixo índice
pluviométrico nas regiões de ASD. Infelizmente o crescimento desenfreado dos rebanhos de
bovinos, ovinos e principalmente galináceos, acabam não mostrando um progresso nessas questões
ambientais. Para que haja um controle nesse processo, é necessário haver uma rápida regularização
na agropecuária cearense que aumenta anualmente. Reflorestamento das áreas usadas como
pastoreio junto com a recuperação da mata ciliar é umas das principais medidas para recuperar parte
dessas áreas desertificadas.

Se a problemática não for controlada e impedida, o avanço continuará aumentando de forma


muito acentuada nessas porções (as áreas de desertificação e as áreas suscetíveis a desertificação,
como é visto na figura 1.7 e 1.8 a evolução da mesma), no entanto, quanto mais rápido forem
tomadas as medidas para resolver o problema, menos áreas são afetadas, já que trata-se de soluções
com efeito a longo prazo.

Figura 1.7 índice municipal de alerta de desertificação no Ceara (2004)

Figura 1.8 Áreas desertificadas atualmente no Ceara


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