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Anjos, M.R. dos1 / Carvalho, L.R.2 / Pedersoli, N.R.N.B.3 / Pedersoli, M.A.4 / Alves, J. C. C.5
/Tartari, R.6 / Lourenço, I H.7 / Souza, M.S. de8
1
Universidade Federal do Amazonas, Laboratório de Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro do Vale do Rio
Madeira – LIOP / IEAA, e-mail: anjos@ufam.edu.br; 2Universidade Federal do Amazonas, Laboratório de
Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro do Vale do Rio Madeira – LIOP / IEAA, e-mail: lauramlk2@gmail.com;
3
Universidade Federal do Amazonas, Laboratório de Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro do Vale do Rio
Madeira – LIOP / IEAA, e-mail: natia_braga@yahoo.com.br; 4Universidade Federal do Amazonas,
Laboratório de Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro do Vale do Rio Madeira – LIOP / IEAA, e-mail:
mizapedersoli@yahoo.com.br; 5Universidade Federal do Amazonas, Laboratório de Ictiologia e Ordenamento
Pesqueiro do Vale do Rio Madeira – LIOP / IEAA, e-mail: joaocarlos2145@hotmail.com; 6Universidade
Estadual de Maringá, Departamento de Meio Ambiente, – UEM/ DAM, e-mail:
rodtartari@gmail.com; 7Universidade Federal do Amazonas, Laboratório de Ictiologia e Ordenamento
Pesqueiro do Vale do Rio Madeira – LIOP / IEAA, e-mail: igorhisteragro@gmail.com; 8Universidade
Federal do Amazonas, Laboratório de Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro do Vale do Rio Madeira – LIOP /
IEAA, e-mail: moisesantos@gmail.com.
Resumo
O desflorestamento de áreas protegidas na Amazônia implica em uma série de fatores socioambientais deletérios, dentre
os quais destacam-se conflitos sociais, empobrecimento da biodiversidade, degradação do solo, comprometimento de
bacias hidrográficas, além dos serviços ambientais oferecidos, que ainda hoje não são considerados em estudos de
impactos ambientais e quando estudados, não são valorados economicamente ou acabam por ser subdimensionados,
implicando em perdas de oportunidades econômicas associadas ao uso sustentável de recursos naturais e de áreas de
interesse para a conservação. Este estudo buscou apontar atividades ilícitas no interior e entorno da área especial de
proteção ambiental (APA) Rio Madeira em Rondônia de acordo com o disposto no Termo de Referência, Nº 001/CAO-
AMB/MP/2006, com ação e apoio dos órgãos interinstitucionais BPM/PM, SEDAM, SIPAM, INCRA, IBAMA e
EMBRAGEO para que se pudesse entender a dinâmica do desflorestamento em unidades de conservação e terras
indígenas do estado. Observou-se que a presença de áreas de assentamento, fazendas, perímetro urbano de Porto Velho e a
hidrelétrica de Sando Antônio no entorno da APA Rio Madeira, têm influenciado na perda de cobertura vegetal desta.
Também podem influenciar mudanças na dinâmica do ecossistema da UC e presença de espécies animais e vegetais.
Material e Métodos
A APA Rio Madeira, localiza-se no município de Porto Velho, capital do estado de Rondônia
(Figura 1). Encontra-se entre os segmentos dos paralelos de 8º a 9º S e meridianos de 63º 00’ a 64º 30’ W
(RADAMBRASIL, 1978). Encontra-se em estado de intensa urbanização, com estradas de acesso presentes
tanto nos limites da UC quanto em seu entorno (Figura 2A). Sua zona de amortização localiza-se na região
zoogeográfica ZZ1 a Noroeste do Estado de Rondônia, dentro dos limites políticos administrativos de Porto
Velho. As referências geográficas estão compreendidas entre as coordenadas do canto superior esquerdo
(63° 57' 52" W / 08° 37' 10" S) do canto inferior direito (63° 53' 23" W / 08° 48' 44" S) (RONDÔNIA,
2002) (Figura 1).
Figura 1. Localização da APA no Estado de Rondônia quando criada em 1991.
Figura 2. (A) Estradas de Acesso a APA Rio Madeira. (B) Limites da FERS e Categorias de cobertura
vegetal da região de entorno (2006).
CLASSES HECTARES
Corte Seletivo 0
Campo Natural 14.6831
Solo Exposto 933.8095
Floresta Natural 3655.6059
Regeneração 1307.9608
Água 1091.0764
Tabela 2 – Distribuição da Área de Proteção Ambiental Rio Madeira por classe e dimensões em
ha.
Por meio do Sistema de Informações Geográfica (SIG) Área total da APA, utilizando o Sistema de
Informação Geográfica (SIG), é de aproximadamente 7003.14 hectares. Fonte: SIPAM (CTO/PV).
A Área de Proteção Ambiental do Rio Madeira apresenta vários focos de antropização (polígonos
de desmatamento com até 759 ha), sejam áreas de solo exposto ou áreas em regeneração/pastagens, no
entanto, convém esclarecer se estas áreas são particulares, onde a conversão do solo é permitida observando-
se os critérios de uso da APA ou da união, onde o desmatamento é ilegal. Ainda, deve-se observar também
que pelas dimensões do Rio Madeira (largura > 600 metros), a faixa de preservação permanente ao longo do
rio deve ser de 500 metros a qual, segundo consta na imagem, não é respeitada (Figura 3).
A distribuição espacial dos fragmentos de desflorestamento está presente em toda a extensão da
APA (Figura 3), mostrando visualmente o aumento da perda de cobertura vegetal na área. Outro fator de
impacto sobre a fauna e flora presentes na unidade de conservação pode ser facilmente observado em sua
porção sul, região de impacto direto da construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio (UHE Santo
Antônio).
Este impacto ocorre com a diminuição de áreas de terra por consequência da formação do lago do
reservatório à montante da barragem, mas também pelo alargamento do leito do rio no primeiro quilômetro
à jusante da barragem. Ambos os fatores influenciam não só na perda de terra firme para o curso do próprio
rio, mas também é possível observar que os igarapés que são afluentes do rio Madeira nessa área também
têm seu leito alterado tornando-se mais largos, como mostrado nas imagens da figura 3.
A possibilidade de exploração dos recursos naturais foi observada durante a interpretação visual
das imagens de todos os anos analisados, de tal forma que desde o ano de sua criação no ano de 1991 já fora
identificado diversos pontos de desmatamento, que representava uma área de 1,09 hectares que representa
16,19% da extensão territorial da UC. Quando analisado os anos de 1991 a 2017 o aumento da área
desmatada foi de aproximadamente 0,5 vezes do ano de criação da APA (Figura 4).
Parte dessa perda de área florestada da APA no ano de 2017 é evidenciado no gráfico não apenas
pelo aumento de desflorestamento, mas também a maior cobertura de terras inundadas, que apresenta um
crescimento de aproximadamente 5% em relação ao ano de criação da unidade. Deve-se considerar que uma
parcela destas terras inundadas é pertencente ao lago reservatório da UHE Santo Antônio, portando
permanecerão submersas de forma perene (DIAS et al., 2015), outra parcela pertence a corpos d’água que
sofrem influência direta do reservatório, tendo seu ciclo modificado juntamente com a dinâmica do rio.
Figura 4: Evolução do desflorestamendo na APA Rio Madeira ao longo de três décadas desde a sua
criação.
A região de entorno da APA, assim como a própria unidade de conservação podem sofrer impacto
direto dos procedimentos de soltura de animais silvestres, provenientes do resgate de fauna na fase de
enchimento para formação do reservatório da UHE Santo Antônio (DIAS et al., 2015). Já que a soltura dos
animais resgatados era realizada de forma que esses indivíduos permanecessem o mais próximo possível aos
locais de captura e consequentemente a sua área de vida original (DIAS et al., 2015).
Esse processo pode acarretar em uma elevação no processo natural competição intraespecífica por
recurso alimentar, abrigos e parceiro. Já que a população aumentou de forma abrupta contrariando os
fatores naturas de controle populacional. Gerando uma pressão sobre o meio e outras espécies, tanto animais
quanto vegetais (ANJOS et al, 2017).
Considerações Finais
Dentre os prejuízos elencados ao meio ambiente constataram-se a derrubada de floresta em Áreas
de Preservação Permanente como a margem de rios, nascentes e olhos d’água, (mata ciliar). Considerando
que a APA Rio Madeira está localizada a margem deste mesmo rio, que tem dimensões de largura superior
a 600m, como consta na Lei 4.771/65 observa-se que a legislação não se faz cumprir onde o mínimo
necessário seria 500m de largura de mata ciliar para cada margem, o que por si só já traz prejuízos
significativos a toda a área que sofre inúmeros outros impactos de diferentes magnitudes. Tais crimes são de
difícil valoração, visto que suas consequências são difusas.
Entre as principais consequências destacam-se a polarização do ciclo hidrológico, acarretando no
deflúvio mais acelerado das águas. A erosão e o assoreamento dos corpos d’água decorrente da supressão da
vegetação natural das APPs deixando o solo desprotegido e mais suscetível aos processos de erosão, levando
ao empobrecimento de nutrientes e compactação do solo. O material erodido, por sua vez, é carreado para os
corpos d’água, que por consequências desse fenômeno têm o aumento da turbidez que reduz a produtividade
primária afetando toda a biodiversidade, e alterando sobremaneira toda a dinâmica natural da bacia,
inclusive com alterações no microclima.
A existência de uma série de Projetos de Assentamento e a criação de vias secundárias de acesso
aos mesmos, também são determinantes no que diz respeito à supressão de floresta nativa acarretando no
comprometimento dos mananciais da A.P.A e seu entorno, culminando em alterações drásticas em diversos
serviços ambientais dos quais destacam-se os ciclos hidrológico, do carbono, do nitrogênio, do enxofre, do
fósforo e do oxigênio e suas interdependências que não são considerados nos estudos de zoneamento
ecológico econômico nas áreas de interesse para a conservação.
Assim acabam por criar gradientes ambientais promovidos pelo processo antrópico nas atividades
desenvolvidas que alteram significativamente toda dinâmica sistêmica das áreas e trazem passivos
socioambientais não só para os ocupantes da unidade mais também para a área de entorno desta onde se
localiza os limites do município de Porto Velho (ANJOS et al, 2017).
Áreas protegidas devem servir de base de dados para que possam ser formuladas políticas públicas
no sentido de garantir a conservação ambiental unida ao desenvolvimento sustentável, levando a uma
diminuição do desflorestamento na Amazônia (ANJOS et al, 2017).
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei n.º 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII
da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras
providências.
DINIZ, Alexandre MA. Migração e evolução da fronteira agrícola. Anais do XIII Encontro da
Associação Brasileira de Estudos Populacionais, Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil. p. 1-26, 2002.
DINIZ, Marcelo Bentes et al. Causas do desmatamento da Amazônia: uma aplicação do teste de
causalidade de Granger acerca das principais fontes de desmatamento nos municípios da Amazônia Legal
brasileira. Nova Economia, v. 19, n. 1, p. 121-151, 2009.
NASCIMENTO, Cláudia Pinheiro; BASTOS, Ana Paula Vidal. O Papel da Fronteira no Processo
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Avaiable. Disponível em: < https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid/.>. Acesso em: 23 set. 2000.
RADAMBRASIL. Levantamento de Recursos Naturais, Vol. 16. Folha SC.20 – Porto Velho. Rio
de Janeiro: Ministério das Minas e Energia, Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), 1978.