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CORRESPONDÊNCIAA LASCNIPHAN/SP 13/09/2012

São Paulo, 13 de setembro de 2012

REF Relatório Final de Resgate Arqueológico do Sítio Santa Mana lll

Pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Prospecção e Resgate


Arqueológico AlphaVille Votorantim
IPHANnPHAN-SP
01506.005395/2012-51
Município de Votorantim / SP / /20]2

Portaria IPHAN n' 163, de 30 de julho de 2007 11


Portaria IPHAN n' 15, de 17 de maio de 2012 (renovação)
Portaria IPHAN n' 21 , de 19 de julho de 2012 (retificação de renovação)

Processo IPHAN Ro01506.000590/2007-27

Prezada Senhora Superintendente

Cumprimentado-a, vimos encaminhar o Relatório Final de Resgate Arqueológico do Sítio


Santa Mana 111, no âmbito do Programade Arqueologiado empreendimentoAlphaVille
Votorantim, condomínio residencial e comercial que está sendo instalado no município
homónimo.

Acompanhao relatórioimpressoum CD contendovia digital do documentoe de seus


anexos.

Gostaríamos de esclarecer alguns pontos relevantes deste prometo

Nas etapas anteriores da pesquisa arqueológica foram encontrados três sítios arqueológicos
no âmbito deste empreendimento:

Denominação Coordenadas UTM Tipologia


Sítio Santa Mana l 247.598E/7.392.225 N SÍtiolÍtico

Sítio Santa Mana ll 247.689E/7.391.572 N Sítio Lítico

Sítio Santa Mana lll 247.416E/7.391.111 N Sítio Cerâmico

Em 2009 foi realizado o resgate arqueológico dos sítios Santa Mana l e Santa Mana IV,.visto
que estes estavam localizados na área destinada à primeira fase de construção do
condomínio de AlphaVille.

A LASCA CONSULTORIA E ASSESSORIA EM AKQUEOLOCiA LTDA.


Rua Bruno Lobo. 86 - Butantã - 05578-020 - São Paulo- SP
fone/Fax: (1 1) 3205-0864 Fine: (1 1) 3722-0864
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'ALASCA
A R Q U E O L O G,LA"'-"'.\
r'iPt-!P.Fi/ SP \

Os resultados das pesquisas nesses sítios foram apresentados a essa Superintendência do


lphan em São Paulo, que se manifestou através do Parecer Técnico n' 332/09 - 9'
SR/IPHAN/SP, de 06 de outubro de 2009, aprovando esses estudos e liberando as obras da
Fase l do empreendimento.
Com a conclusão do resgate do Sítio Arqueológico Santa Mana lll se encerram as
pesquisas arqueológicas no âmbito desse empreendimento.
Dessa forma. vimos solicitar a anuência desse órgão às Fases 2 e 3 do referido
empreendimento. pois não existem outros sítios arqueológicos a ser pesquisados no local.

Aproveitamos para informar que as atividades de educação patrimonial vinculadas ao


'1 programa arqueológico estão sendo desenvolvidas e deverão ser apresentadas brevemente,
em relatório especíülco, complementar a este.

Colocamo-nos à disposição para maiores esclarecimentos

Atenciosamente
/

MS. LÚCiA DE JESUS CAkbOSb


v v 0LiVEtRA JULIANA
Arqueóloga Responsável

ARQUITETA ANNA BEATRIZ AYROZA GALVÃO

Superintendente do IPHAN em São Paulo


Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional

Superintendência do IPHAN em São Paulo

Avenida Angélica. 626 - São Paulo -- SP

A LASCA CONSULTORIA E ASSESSORIAEM ARQUEOLOGIA LTDA.


Rua Bruno Lobo. 86 - Butantã - 05578-020 - São Paulo- SP
Fine/Fax: (11) 3205-0864 Fine: (11) 3722-0864
RELATÓRIO TÉCNICO

PROGRAMA DE ARQUEOLOGIA PREVENTIVA


PROGRAMA DE PROSPECÇÃO E RESGATE ARQUEOLÓGICO
ALPHAVILLE VOTORANTIM

RESGATE ARQUEOLÓGICO DO SÍTIO SANTA MARIA III, MUNICÍPIO DE

VOTORANTIM / SP
RESPONSÁVEL TÉCNICO MA. LÚCIA DE J. C. OLIVEIRA JULIANI

PORTARIA nº 163, de 30 de julho de 2007


PORTARIA nº 15, de 17 de maio de 2012 (renovação)
PORTARIA nº 21, de 19 de julho de 2012 (retificação da renovação)

Processo IPHAN nº 01506.000590/2007-27

SÃO PAULO, SETEMBRO DE 2012

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A LASCA ARQUEOLOGIA

EMPREENDIMENTO
AlphaVille Urbanismo S.A.
COORDENADAS UTM DA POLIGONAL DO SÍTIO SANTA MARIA III (SAD69)
23K 247410 E / 7391136 N
23K 247440 E / 7391136 N
23K 247440 E / 7391046 N
23K 247440 E / 7391046 N

EMPREENDEDOR
Itaiti Consultoria Ambiental
Av. Lacerda Franco, 1147 – Cambuci
CEP: 01536-000 – São Paulo – SP
Fone: (11) 32085447

APOIO INSTITUCIONAL
MUSEU HISTÓRICO SOROCABANO
PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA – SECRETARIA DE CULTURA
Rua Theodoro Kaisel, 883 – Vila Hortência
CEP: 18020-268 – Sorocaba – SP
Fone: (15) 3211-2911 / 3227-2825

EXECUÇÃO
A LASCA CONSULTORIA E ASSESSORIA EM ARQUEOLOGIA LTDA.
REPRESENTANTE LEGAL: LUIZ FERNANDO DE OLIVEIRA JULIANI
Rua Bruno Lobo, 86 – Butantã
05578-020 – São Paulo – SP
Fone / Fax: (11) 3205-0864 / 3722-0864
E-mail: < contato@alascaconsultoria.com.br >

EQUIPE
 MA. LÚCIA DE JESUS CARDOSO OLIVEIRA JULIANI – COORDENAÇÃO GERAL
 WANDERSON ESQUERDO BERNARDO – COORDENAÇÃO DOS TRABALHOS DE CAMPO E
LABORATÓRIO E RELATÓRIO
 MICHELLE RIBEIRO SILVEIRA – ARQUEÓLOGA (CAMPO)
 ANDRÉ GUILHERME - TÉCNICO EM ARQUEOLOGIA (CAMPO)
 ME. DANILO ALEXANDRE GALHARDO - RELATÓRIO
 LUIZ FERNANDO DE O. JULIANI – GESTÃO DE PROJETO
 MARCIA DE SOUZA MENDES – APOIO OPERACIONAL

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A LASCA ARQUEOLOGIA

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4
2. LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDIMENTO.................... 5
3. CONTEXTO AMBIENTAL DA ÁREA DO EMPREENDIMENTO ......................... 7
3.1 Geologia ................................................................................................... 8
3.2 Compartimentação do relevo .................................................................. 8
3.3 Recursos hídricos superficiais ............................................................... 8
3.4 Cobertura vegetal .................................................................................... 9
4. CONTEXTO ARQUEOLÓGICO E ETNOHISTÓRICO REGIONAL ................... 10
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 22
6. TRABALHOS REALIZADOS E RESULTADOS OBTIDOS .............................. 30
6.1 Localização e Características Gerais do Sítio ..................................... 30
7. ANÁLISE DE LABORATÓRIO .......................................................................... 51
7.1 Preparação para a análise dos materiais ............................................. 51
7.2 Codificação e triagem do material cerâmico ....................................... 52
7.3 Análise dos Atributos Morfológicos, Tecnológicos e Decorativos da
Cerâmica ............................................................................................................. 53
7.4 Outros Materiais..................................................................................... 68
8. CONCLUSÕES ................................................................................................. 68
9. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 71

ANEXOS
I. Tabela de análise do material cerâmico.

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A LASCA ARQUEOLOGIA

1. INTRODUÇÃO

O presente relatório traz os resultados do Programa de Arqueologia Preventiva –


Resgate Arqueológico do Sítio Santa Maria III. O referido programa foi autorizado
pela Portaria nº 163, de 30 de julho de 2012, renovado pela Portaria nº 15, de 17
de maio de 2012 (retificada pela Portaria nº 21, de 19 de julho de 2012), Processo
IPHAN nº 01506.000590/2007-27.

O sítio está localizado na área destinada à implantação do empreendimento


imobiliário da AlphaVille Urbanismo S/A., Fazenda Santa Maria, no bairro
Voçoroca, em área do município de Votorantim, estado de São Paulo.

Na fase de Diagnóstico Arqueológico, os procedimentos de levantamento


arqueológico de superfície, aplicados intensivamente na Área Diretamente Afetada
do empreendimento e parcialmente na Área de Influência Direta, permitiram a
localização de três sítios arqueológicos, além de quatro ocorrências arqueológicas
isoladas, apresentadas no quadro a seguir (A LASCA, 2006).

Tabela 1.1- Resultados do Diagnóstico Arqueológico.


Denominação Coordenadas UTM Tipologia
Sítio Santa Maria I ADA 247.598 E / 7.392.225 N Sítio lítico
Sítio Santa Maria II ADA 247.689 E / 7.391.572 N Sítio Lítico
Sítio Santa Maria III AID 247.416 E / 7.391.111 N Sítio Cerâmico
Oc. Arqueológica 1 ADA 247.605 E / 7.392.177 N Cerâmica
Oc. Arqueológica 2 ADA 247.675 E / 7.391.972 N Lítico
Oc. Arqueológica 3 ADA 247.681 E / 7.391.909 N Lítico
Oc. Arqueológica 4 AID 247.175 E / 7.391.090 N Cerâmica

A partir desses resultados procedeu-se à prospecção, realizada através do


caminhamento sistemático por eixos pré-selecionados (transectos), com
equidistâncias de 120 m para a verificação de material cultural na superfície e a
escavação de poços-testes com quadrante de 50 cm e um metro de profundidade a
cada 60 m nos transectos. Foram realizados 477 poços-teste, todavia, apenas
quatro apresentaram material arqueológico em subsuperfície (A LASCA, 2008):

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A LASCA ARQUEOLOGIA

Tabela 1.2 - Poços-teste positivos durante a Prospecção.


Poços- Profundida
Localização Coordenadas UTM Vestígios
teste de
L0206 AID 246.000 E / 7.390.680 N 0-30cm Material recente
L0603 AID 246.240 E / 7.390.420 N 20-70cm Louça
L2214 AID 247.160 E / 7.391.040 N 20-80cm Telha
L4210 ADA 248.360 E / 7.392.480 N 10-50cm Cerâmica

Nos três primeiros poços-teste do quadro anterior foram identificados vestígios de


atividades contemporâneas, como ossos de boi, telha, louça, vidros e tecidos,
enquanto que, no poço-teste denominado L4210 foram encontrados 19 fragmentos
de cerâmica, evidenciando uma antiguidade maior. A pesquisa foi ampliada
próxima a esse ponto, com a escavação de uma sondagem de 1x1m e vários
outros poços, confirmando a existência de um sítio arqueológico, possivelmente do
período colonial. O sítio foi denominado “Santa Maria IV”, seguindo a sequencia
numérica dos outros sítios identificados anteriormente.

Entre os meses de maio e junho de 2009 a empresa A Lasca realizou o resgate


arqueológico dos sítios arqueológicos Santa Maria I e Santa Maria IV que seriam
afetados pela primeira fase de construção do condomínio de Alphaville.

2. LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDIMENTO

O empreendimento que já foi implantado na primeira fase localiza-se na área da


antiga fazenda Santa Maria, bairro Voçoroca, município de Votorantim/SP. A obra
realizada pela AlphaVille Urbanismo S.A. consiste na implantação de um
empreendimento imobiliário, em área de aproximadamente 100 ha.

A área em estudo localiza-se na parte sul do município de Votorantim, cujo acesso


principal é feito pela Avenida Gisele Constantino. Parte do imóvel está situada na
bacia do rio Itapeva e parte na bacia do rio Ipaneminha, ambas pertencentes à
bacia do rio Sorocaba, afluente do rio Tietê.

As obras de infraestrutura iniciadas em 2009 contam, já concluídas, com as


urbanizações Fase 1 e 2. A Fase 3 em questão é onde se localiza o sítio Santa
Maria III e para a implantação do empreendimento, além da prolongação dos
acessos existentes, estão previstos movimentos de solo para a demarcação dos
lotes e implantação de arruamento, preservando-se a vegetação e, portanto, as
características originais do solo superficial nas áreas de APP (Área de Preservação
Permanente). A planta do projeto já executado das fases 1 e 2 do empreendimento
e os acessos abertos, podem ser observados na Figura 2-1.

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A LASCA ARQUEOLOGIA

Ainda, caso o sistema de esgotamento sanitário da área em estudo venha a ser


interligado ao sistema público de Votorantim, haverá necessidade de efetuar
modificações no sistema, a fim de adequá-lo para receber a nova carga de
efluentes.

A cobertura vegetal natural existente na área limita-se, basicamente, às áreas


ribeirinhas, ao longo dos cursos de água, sendo que em alguns trechos esta
escassa vegetação apresenta-se muito degradada. Assim, para possibilitar um
processo equilibrado de regeneração natural das áreas de vegetação nativa e a
conservação permanente destas áreas haverá a necessidade de recuperação de
vários trechos, além do reflorestamento de outros.

Como a região do entorno do empreendimento está bastante alterada, ocupada por


indústrias, loteamentos e áreas destinadas às atividades agropecuárias, a relação
entre as áreas de vegetação nativa e os indivíduos da fauna assume especial
importância, principalmente para um novo projeto de parcelamento do solo, que
deverá manter as áreas existentes e, na medida do possível, aumentá-las e / ou
enriquecer o meio ambiente com espécies que possam melhorar o suporte à fauna.

A área da Fazenda Santa Maria destinada à Reserva Florestal Obrigatória,


conforme determina o Código Florestal, deveria ser de 63,63 ha, 20% da área total
do imóvel. Porém, não existem remanescentes florestais fora de APP para serem
destinados a compor a Reserva Legal e o pré-projeto elaborado inicialmente antes
das implantações das fases anteriores não previu área para esta destinação.

Considerando o artigo 5º da Portaria IPHAN nº 230/2002, a implantação do


Programa de Prospecções Arqueológicas, abrange também os compartimentos
ambientais de maior potencial arqueológico da área de influência direta (AID) do
empreendimento e os locais que sofrerão impactos indiretos potencialmente lesivos
ao patrimônio arqueológico.

Os locais que sofrerão impactos indiretos ao patrimônio, ainda de acordo com o


artigo 5º da Portaria supracitada, são aqueles de reassentamento de população,
expansão urbana ou agrícola, serviços e obras de infraestrutura. Para o caso deste
empreendimento, fora considerada AID a totalidade da Fazenda Santa Maria, por
apresentar terrenos preservados, em contraste com as propriedades de entorno,
parcialmente urbanizadas.

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A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 2.1 - Projeto do empreendimento imobiliário AlphaVille (ADA), em Votorantim,


SP.

3. CONTEXTO AMBIENTAL DA ÁREA DO EMPREENDIMENTO

A abordagem ater-se-á basicamente aos aspectos ambientais da área em questão


e seu entorno imediato, buscando detectar as características gerais do local
relevantes como indicadores da presença de sítios arqueológicos.

O Município de Votorantim está situado na região sudoeste do estado de São


Paulo e tem como municípios vizinhos Sorocaba, Araçoiaba da Serra, Salto de
Pirapora e Ibiúna, sendo cortado pelas bacias dos rios Itapeva e Ipaneminha,
pertencentes à bacia do rio Sorocaba.

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A LASCA ARQUEOLOGIA

3.1 Geologia

As observações de cunho geológico realizadas para a prévia implantação das


primeiras fases do projeto na área da antiga fazenda Santa Maria mostraram a
presença de dois tipos litológicos contrastados. Na área próxima onde se localizava
a sede da fazenda ocorrem blocos de granito em meio ao pasto. Trata-se de biotita
granito, de coloração cinza rosada, leucocrático, de granulação grossa, porfirítico,
com megacristais de feldspato de 3 a 4 cm de eixo maior.

Em outra área da fazenda, em porção que é atingida por erosão (voçoroca), abaixo
da caixa d’água e na drenagem limítrofe da propriedade, ocorrem rochas
metassedimentares, principalmente quartzo-xisto e xistos suavemente dobrados.

Os solos residuais são principalmente silto-arenosos e micáceos quando


resultantes da alteração do granito e areno-siltosos quando provenientes da
alteração de quartzo-xistos. Tais solos são tipicamente conhecidos por serem muito
vulneráveis à erosão.

3.2 Compartimentação do relevo

A área da antiga Fazenda Santa Maria é francamente dominada por uma


morfologia de morrotes em que as declividades situam-se acima de 15%, com
amplitudes inferiores a 100 m, lembrando que este atributo da paisagem refere-se
ao desnível entre o fundo das principais drenagens e o topo das elevações.

Os topos dos morros são arredondados e se ligam às drenagens através de


vertentes retilíneas a convexas. A rede de drenagem organiza-se de forma
dendrítica e apresenta bom desenvolvimento de planícies aluvionares notadamente
nas maiores drenagens.

3.3 Recursos hídricos superficiais

A área do Loteamento está dividida em duas regiões distintas, se analisada sobre o


ponto de vista de escoamento de suas águas pluviais. Essas regiões escoam para
duas sub-bacias hidrográficas, a saber:

A região norte da antiga Fazenda Santa Maria, onde foi implantado uma fase do
empreendimento, cujo divisor de águas situa-se na latitude 7.391.400 E, escoa
para a sub-bacia denominada Itapeva. O loteamento está situado nas cabeceiras
desta sub-bacia, a qual está próxima ao aglomerado urbano de Votorantim.

A região ao sul do loteamento escoa para a sub-bacia hidrográfica do Ribeirão


Ipaneminha, estando também situado próximo às cabeceiras.

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A LASCA ARQUEOLOGIA

Esta sub-bacia reveste-se de importância, pois o empreendimento proposto estará


situado nas cabeceiras do Córrego Santa Maria, um dos formadores do Ribeirão
Ipaneminha, e seu afluente na margem direita. O Córrego nasce na cota de 680
metros e percorre uma extensão de aproximadamente 5,5 quilômetros,
encontrando o Ribeirão Ipaneminha na cota de 590 metros. A sua bacia drena uma
área total de 9,5 km².

3.4 Cobertura vegetal

O município de Votorantim e seu entorno encontram-se dentro da região


fitoecológica, onde ocorre o contato entre a Savana (Cerrado), a Floresta Ombrófila
e a Floresta Estacional Semidecidual. Portanto, trata-se de região em que há
contato de mais de um tipo de vegetação, caracterizada por vegetação de transição
entre as tipologias ocorrentes.

Esta variação de tipos de vegetação, com suas gradações de transição, associada


ao fato de que a vegetação nativa da área e da região foi praticamente dizimada
restando apenas alguns remanescentes, dificulta a definição, com precisão, da
tipologia da vegetação nativa original. Contudo, se forem consideradas as manchas
de vegetação das áreas vizinhas, principalmente àquela situada no limite oeste da
Fazenda, pode-se inferir que a vegetação original predominante era de Floresta
Estacional Semidecidual em transição para Savana, com a possibilidade de
ocorrência de manchas de Floresta Ombrófila.

A vegetação encontrada ao longo dos cursos de água é conhecida como mata


ciliar, ou ainda mata de galeria. Neste trabalho utilizou-se a designação “mata ciliar”
para qualquer formação florestal presente ao longo dos cursos d’água. Essa
decisão foi adotada considerando o caráter mais genérico e de uso popular
consagrado do termo “mata ciliar”.

Contudo, é importante discernir que o termo mata ciliar refere-se a uma situação
física (Zona Ciliar) e não a uma unidade fitogeográfica com características próprias,
já que na faixa ciliar ocorre desde florestas não aluviais (nos trechos de barranco),
como florestas ciliares sob condição aluvial, florestas paludosas e até áreas com
campos úmidos ou “varjões”, cada qual com suas características ambientais
próprias. Dessa forma, dentro dessa definição trata-se tanto de comunidades
ecológicas bem definidas até formações de transição entre essas comunidades
ecológicas adjacentes (ecótono ciliar) e ainda áreas de enclaves vegetacionais,
cada qual com suas particularidades florística e ecológica, definido assim grande
diversidade para a zona ciliar.

Apesar da ocorrência de três tipologias de vegetação nativa na área em estudo, as


matas ciliares da antiga Fazenda Santa Maria apresentam maior semelhança com
a floresta estacional semidecidual aluvial. A fazenda é quase toda ocupada por

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A LASCA ARQUEOLOGIA

pastagens, mas ainda restaram várias árvores isoladas, a maioria eucalipto, porém
há também algumas espécies nativas de espécies comuns na região.

4. CONTEXTO ARQUEOLÓGICO E ETNOHISTÓRICO REGIONAL

O município de Votorantim, que deverá receber as infraestruturas projetadas pela


Alphaville Urbanismo S.A., está situado em local estratégico de ocupação humana,
no interflúvio entre as bacias hidrográficas dos rios Tietê e Paranapanema, ambas
drenagens de expressão que atraíram grupos humanos diversos desde períodos
bastante recuados no tempo.

Nos municípios que compõem a bacia hidrográfica do rio Sorocaba foram


registrados vários sítios arqueológicos, mesmo que nunca tenha sido implantado
um programa de levantamento sistemático para a área. Muitos desses achados
ocorreram de modo eventual, fortuito, outros, porém, foram identificados tanto por
pesquisas acadêmicas como em decorrência de estudos ambientais necessários
ao licenciamento de empreendimentos modificadores do meio físico, o que vem
demonstrar a importância das exigências referentes aos recursos arqueológicos na
apresentação de estudos e relatórios ambientais. Essas diversas evidências
encontradas sugerem uma alta densidade de sítios arqueológicos para esse
espaço geográfico.
Os achados de material cerâmico na região de Sorocaba, a qual pertence a cidade
de Votorantim, referem-se a urnas funerárias e alguns recipientes. Foi a partir de
1995 com o Projeto Gêneses Sorocabana que os materiais arqueológicos
provenientes dos achados casuais nessa região começaram a ser catalogados e
estudados cientificamente (BERNARDO, 1997).
O mencionado projeto pesquisou e registrou 13 sítios cerâmicos em 350 km²,
sendo a principal concentração na zona urbana de Sorocaba que congrega cinco
assentamentos antigos.
Nesse estudo, realizado pelo arqueólogo Wanderson E. Bernardo, para o Museu
Histórico Sorocabano, com base nas urnas funerárias indígenas (igaçabas)
encontradas, conclui-se que as aldeias indígenas de Sorocaba estavam
implantadas nos seguintes lugares:

 Na região do Cerrado foram localizadas quatro urnas funerárias com


decoração corrugada e com tampas simples (não decoradas), uma delas
contendo uma vasilha com decoração ungulada, isto é, feita pela
compressão das unhas sobre a cerâmica.
 O sítio pré-histórico do Cerrado é um dos maiores pela sua extensão,
abrangendo vários bairros. Os achados, pela sua semelhança de confecção,
foram agrupados na denominação antiga e geral para aquela região, que vai
do Itanguá ao atual bairro do Campolim.

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A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 4-1 - Mapa dos sítios arqueológicos de Sorocaba e região adaptado de Bernardo (1997) e atualizado em 2010 pelo próprio autor.

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A LASCA ARQUEOLOGIA

 No Bairro do Mineirão, onde as primeiras urnas foram achadas, em


fragmentos, por ocasião da terraplenagem da área para construção do
presídio. Outra foi localizada praticamente inteira, a algumas dezenas de
metros do ponto do achado inicial, no atual Jardim Santa Mônica.

 No Parque das Laranjeiras, onde foram achadas três urnas funerárias,


duas do tipo corrugada com tampa e uma terceira, provavelmente com
pintura, todas com tampas pintadas interiormente em preto e vermelho
sobre fundo branco, formando desenhos geométricos.

 No Parque São Bento, no qual foram encontradas três urnas


fragmentadas, sendo duas simples e uma com pintura geométrica
policrômica. No Bairro do Caguaçu, onde se localizou uma urna do tipo
corrugada com tampa simples, por ocasião da terraplanegem da antiga
estrada de terra para Porto Feliz. Na Região do Éden, no qual se uma
urna e sua tampa pintadas de preto e vermelho.

Artefatos confeccionados de pedra polida e associados a esses grupos


detentores de tecnologia cerâmica também são encontrados em Sorocaba,
como aquele localizado no Jardim Simus, referente a uma ponta de flecha.

Além daqueles identificados por Bernardo (op. cit.), foram registrados, ainda na
região de Sorocaba, por ocasião de outros estudos, mais alguns sítios
arqueológicos (Tabela 4.2).

Tabela 4.2 - Sítios arqueológicos identificados na região de Sorocaba.


MUNICÍPIO SÍTIOS SÍTIOS SÍTIOS
CERÂMICOS LÍTICOS HISTÓRICOS TOTAIS
Alambari - - 1 1
Angatuba 2 - - 2
Votorantim 2 2 4
Tatuí 2 - - 2
Iperó - 2 1 3
Alumínio - - 1 1
Salto de
Pirapora 3 3
Porto Feliz 1 2 4 7
Sorocaba 1 - 3 4
Total 8 6 13 27

Também no município de Sorocaba, o historiador Aluísio de Almeida (Mons.


Luiz Castanho de Almeida) encontrou referências, nos antigos jornais da
cidade, ao achado de urnas funerárias indígenas na Aparecidinha, informações

12
A LASCA ARQUEOLOGIA

confirmadas por ocasião da abertura da ligação entre as rodovias Raposo


Tavares e Castelinho. O sítio ali encontrado recebeu o nome de Pirajibu.

O resgate efetuado pela pesquisadora L. Panachuk (2006) no Sítio Harmonia


extraiu uma urna através de uma escavação circular, impossibilitando o registro
estratigráfico e comprometendo a possibilidade de expansão da escavação,
indicando-se que a intervenção “obedeceu a formatação sugerida pela
estrutura (circular portanto e não quadrada)...” (PANACHUK, 2006, p.22).

No espaço circular escavado, além da urna com tampa foram encontrados


mais de 120 fragmentos nos primeiros 15 cm de profundidade com
variabilidade morfológica e decorativa. O fato levou a Superintendência do
IPHAN/SP a embargar a área para que a prefeitura de Sorocaba
providenciasse a continuidade do estudo arqueológico antes da construção da
praça. Até hoje nenhum recurso para tal estudo complementar foi designado e
a área caiu no “esquecimento” das autoridades competentes, onde os
moradores do bairro utilizam atualmente esse espaço para o cultivo de
mandioca, milho e criação avícola, impactando e destruindo o que restou do
sítio que deveria ter sido protegido e estudado.

Foto 4.2 - Sítio Pirajibu, decapagem 2A Foto 4.3 - Sítio Vila Harmonia, exumação
na quadra B16. Imagem de Wanderson da urna em escavação circular. Imagem
Esquerdo. do Museu Histórico Sorocabano.

Regionalmente, as aldeias rodeavam o morro do Araçoiaba, localizando-se,


pelo que se conhece até o momento, nos atuais municípios de Araçoiaba da
Serra (centro e bairro do Cercado), Capela do Alto (bairro do Porto), Sarapuí,
Tatuí e Iperó (centro e bairro do Corumbá). Estas últimas são consideradas as
mais importantes, pela quantidade das peças e elaboração dos desenhos
geométricos no interior das tampas das urnas funerárias.

Nas imediações do Morro de Araçoiaba, que servia de referência geográfica


para a rota indígena designada por Peabiru (cujo tronco principal
corresponderia à trilha que passava respectivamente por São Vicente,

13
A LASCA ARQUEOLOGIA

Piratininga, Sorocaba, Itapetininga, Itapeva e Itararé) e que mais tarde foi


apropriada pela rota dos tropeiros, responsável pela origem e fundação de
Sorocaba no século XVII. Algumas das trilhas do Peabiru passavam pela atual
área urbana de Sorocaba. A presença desses caminhos estava diretamente
relacionada à existência de áreas de assentamento humano pré-colonial, ou
seja, de aldeias indígenas.

Figura 4.4 - Urnas funerárias encontradas, respectivamente, nos sítios arqueológicos


do bairro do Porto, em Capela do Alto, em Iperó e no bairro do Cercado, em Sorocaba
(imagem de Wanderson Esquerdo, 1996, In: Frioli e Bonadio, 2004b).

Uma ocupação mais antiga, relacionada a grupos de caçadores-coletores que


habitaram a região desde cerca de 8 mil anos atrás, deixou o seu registro em
artefatos de pedra lascada, como aqueles localizados no Jardim Prestes de
Barros (FRIOLI, BONADIO, 2004) e na Fazenda São Carlos, no Barreiro
(BARTOLOMUCCI, 2004), município de Sorocaba, SP. Nesta, além de pontas
de projétil, foram encontradas lascas de sílex e fragmentos de cerâmica não
decorada, sugerindo tratar-se de um sítio arqueológico multicomponencial,
remanescente de duas ocupações distintas. O sítio estava implantado no
interflúvio do Córrego do Barreiro (bacia do rio Pirajibu), a leste e do Córrego
Aparecidinha, a oeste, ambos seguindo o padrão regional de drenagem em
direção ao rio Sorocaba, no sentido sul-norte.

14
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figuras 4.5 e 4.6 - Ponta de projétil lascadas sobre sílex, Fazenda São Carlos, Distrito
de Barreiro, zona rural de Sorocaba (BARTOLOMUCCI, 2004) e Ponta de projétil
lascadas sobre sílex, Fazenda São Carlos, Distrito de Barreiro, zona rural de Sorocaba
(BARTOLOMUCCI, 2004).

Outras ocorrências líticas foram mapeadas no município de Sorocaba nas Vilas


Jardini e Barcelona e no Bairro das Pedras (FRIOLI; BONADIO, 2004),
contudo, sem se ter a precisão de estarem associadas a grupos horticultores
ou caçadores-coletores.

Em pesquisas arqueológicas realizadas nos trechos duplicados da Rodovia SP


300 (ZANETTINI, 2003), no trecho que intercepta os municípios de Itupeva,
Cabreúva, Itu, Porto Feliz, Jundiaí e Tietê, permitiram a identificação de 30
ocorrências arqueológicas: 12 associadas ao período pré-colonial e 18 à
ocupação pós-contato índio/europeu.

Tabela 4.3 - Sítios Arqueológicos pré-coloniais identificados na duplicação das


Rodovias SP 300 e SP 127; e em sua totalidade – pré-coloniais e históricos
identificados na área de pesquisa do presente relatório (Fonte: ZANETTINI, 2003,
2004; CNSA, 2012).
Tipo Coordenadas UTM (m) Município
Lítico 271.914E / 7.426.910N Itu
Lítico 227.267E / 7.437.530N Tietê
Cerâmico 269.925E / 7.424.692N Itu
Cerâmico 228.297E / 7.441.406N Tietê
Cerâmico 246.239E / 7.434.979N Porto Feliz
Lítico 235.090E / 7.418.845N Porto Feliz
Lítico 235.782E / 7.419.371N Porto Feliz
Histórico 235.601E / 7.418.875N Porto Feliz

15
A LASCA ARQUEOLOGIA

Tipo Coordenadas UTM (m) Município


Histórico 249.529E / 7.428.344N Porto Feliz
Histórico 235.452E / 7.418.936N Porto Feliz
Histórico 235.863E / 7.419.443N Porto Feliz
Cerâmico 264.239E / 7.434.979N Salto
Cerâmico 271.914E / 7.426.917N Itu
Lítico 226.140E / 7.474.127N Piracicaba
Lítico 221.892E / 7.458.296N Tietê

Entre as ocorrências pré-coloniais foram reconhecidas tanto peças isoladas


quanto sítios arqueológicos constituídos por áreas de concentração de
utensílios de pedra lascada. Essas ocorrências representam áreas de
ocupação de grupos caçadores-coletores que habitaram a região até cerca de
8.000 anos A.P. (antes do presente), conforme atestam algumas datações
adquiridas para sítios correlatos.

Ainda situados no período pré-colonial estão presentes materiais indígenas


representados por “restos de recipientes cerâmicos, fragmentos de lâmina de
machado polido e urna funerária, relacionados a assentamentos de
horticultores ceramistas” (ZANETTINI, 2003).

Na duplicação da Rodovia SP 127, entre Capão Bonito e Rio Claro, por


exemplo, as ocorrências arqueológicas identificadas produziram um cenário de
ocupação bem menos diversificado. Dos sítios localizados, três estão
relacionados à ocupação pré-colonial, sendo caracterizados como sítios líticos
associados à Tradição Arqueológica Umbu (caçador-coletor) e os demais estão
relacionados ao processo de ocupação mais recente do século XIX e XX.

Em Itu foram conhecidos dois sítios pré-históricos, identificados em função do


“Programa de Prospecções e Resgate Arqueológico Loteamento Residencial
Parque Terras de Santa Cecília” (ZANETTINI, 2006). Ambos relacionados a
grupos de caçador-coletores, tendo sido denominados Santa Cecília I e V.

Cita-se também a área do presente projeto, que durante trabalhos


arqueológicos realizados pela empresa ALasca (2006b, 2008), na área de
implantação do loteamento da AlphaVille Urbanismo S/A, identificou quatro
sítios arqueológicos pré-coloniais, Santa Maria I, II, III e IV. Os dois primeiros
sítios foram caracterizados como sítios líticos, enquanto os Sítios Santa Maria
III e IV como cerâmicos.

16
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figuras 4.7 e 4-8 - Artefato nucleiforme de quartzo encontrado no Sítio Santa Maria I:
foto e representação gráfica mostrando os negativos de lascamento (A LASCA, 2008).

Figuras 4.9 e 4.10 - Ponta de projétil com negativos de façonnages unifaciais


encontrada no Sítio Santa Maria I: foto e representação gráfica da morfologia das 4
faces da ponta projétil (A LASCA, 2008).

Os sítios arqueológicos históricos remanescentes na região estão associados à


ocupação histórica regional, ainda no século XVI, com a exploração mineral do
Morro de Araçoiaba, em local atualmente pertencente à Fazenda Ipanema e,
posteriormente, com o tropeirismo.

17
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 4-11 - Mapa do sítio arqueológico de Araçoiaba (LANDGRAF, TSCHIPTSCHIN


E GOLDENSTEIN, 1995).

A Fábrica de Ferro Ipanema, primeira siderúrgica brasileira, foi criada em 1810


na Fazenda Ipanema, tombada em 1964 pelo Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional. Atualmente a área compõe uma unidade de conservação,
a Floresta Nacional de Ipanema.

Para marcar a ocasião, foram fundidas três cruzes de metal. Duas delas
permanecem na Fazenda Ipanema, uma no alto da Pedra Santa, e a outra
perto da casa da Sede Administrativa. A terceira encontra-se no Museu
Histórico de Sorocaba.

Das tentativas iniciais de mineração de ouro e de ferro na Fazenda Ipanema,


restaram estruturas coloniais registradas pela pesquisadora Margarida
Andreatta como o Sítio Arqueológico Afonso Sardinha, onde foram
identificadas: estruturas de refugo e de combustão (fogueira, forno, fogão),
vestígios de edificação, alinhamento de pedras, manchas pretas, canais tipo
trincheiras, valetas e buracos de estacas. Além destes, foram encontrados
materiais cerâmicos e líticos polidos.

Junto a Represa Itupararanga, por ocasião de trabalhos de campo voltados ao


licenciamento ambiental da Adutora Itupararanga-Cerrado, do SAAE Sorocaba,
um funcionário do SAAE apontou um local com restos de construções e a
presença de vidro e louça. O local foi vistoriado e identificado como sítio

18
A LASCA ARQUEOLOGIA

histórico, recebendo o nome de Sítio do Clemente, em homenagem ao


funcionário (Figuras abaixo).

Figuras 4.12 e 4.13 - Sítio Arqueológico do Clemente: garrafa e fragmentos de vidro e


louça localizados em área de descarte de lixo. Canal. (ALASCA, 2008b).

Ainda no município de Sorocaba, durante o Diagnóstico Arqueológico para


implantação dos empreendimentos Morada das Águas, Morada das Artes e
Trilhas do Bosque foram identificadas ocorrências líticas lascadas e restos
construtivos históricos (ALASCA, 2008b).

No município de Alambari (antigo distrito de Itapetininga) há um sítio histórico


no qual sobressaem artefatos de pedra lascada, produzidos historicamente
pelas populações rurais, que confeccionavam pederneiras de fuzis,
comercializadas até meados do século XX (MAXIMINO, 1986). No século XIX
essa indústria foi documentada por Saint-Hilaire (1972):

“Na ocasião de minha viagem, Itapetininga possuía um


pequeno movimento comercial, que por certo desapareceu
posteriormente, do qual constituíam objeto pedras para fuzil,
talhadas em suas vizinhanças (...) Essas pedras (...) são de
ótima qualidade e de cor mais escura do que as provenientes
da França e da Suíça. Pessoas pobres as cortam e talham
com o auxílio de pequenos martelos chatos, de ferro, com 6
polegadas de comprimento, uma de largura e ¼ de polegada
de espessura, martelos fixados num cabo de madeira. Um
operário pode fabricar duzentas pedras, diariamente, e cada
cento é pago a 8 vinténs. Grande quantidade das mesmas é
vendida até nos portos de mar, onde são mais apreciadas do
que as que vêm do estrangeiro.” (SAINT-HILAIRE, 1972: 255;
257).
Nesse sítio arqueológico histórico, além dos artefatos de pedra lascada,
também foram registrados fragmentos de vasilhas de cerâmica, usados

19
A LASCA ARQUEOLOGIA

cotidianamente pelas populações da região. A cerâmica histórica apresenta


características europeias nas formas e nos apêndices em forma de asa e
características indígenas nos tipos decorativos plásticos: corrugado, escovado
e digitungulado.

Além deste, em estudos realizados ao longo da Rodovia Raposo Tavares, no


trecho entre Vargem Grande e Sorocaba, diversas são as referências à
presença de bens arqueológicos históricos. No município de Vargem Grande
(na altura do km 40 da Raposo Tavares), foi indicada a presença da antiga
sede da Fazenda Maracanduva e da comunidade de São Pedro, composta por
descendentes de escravos.

Em Alumínio foi registrado um sítio arqueológico histórico constituído por


estruturas de taipa de pilão, no Sítio Água do Bugre, antigo Bairro do Brejo,
além de outras ruínas de taipa, do alinhamento da antiga estrada dos tropeiros
que atravessava o bairro e da Capela de Santa Cruz do Brejo. Na propriedade
vizinha pertencente à Cia. Brasileira de Alumínio, foram localizadas outras
estruturas de taipa de pilão, referidas como ruínas de uma senzala.

Com relação à existência dessa outra ruína em taipa de pilão localizada nas
proximidades desta (propriedade da CBA), Lemos (1999), quando define o
partido arquitetônico desses imóveis, aponta para um complexo rural:

“Em poucas palavras, podemos dizer que o partido


arquitetônico do complexo rural unifamiliar colonial paulista,
dito bandeirista, foi caracterizado primordialmente pela
pulverização ou fragmentação, do programa em várias
construções, tendo como centro de interesse a casa de
moradia da família titular do estabelecimento. Não se sabe com
precisão se houve critérios preestabelecidos nas disposição
das construções satélites em torno da sede” (LEMOS, 1999,
pg. 46).
Em Brigadeiro Tobias, Distrito de Sorocaba, foram também coletadas
informações orais que indicaram várias ocorrências de moradias antigas nesta
área que foi ocupada por cafezais, confirmando uma ocupação antiga no
entorno do distrito de Brigadeiro Tobias, já demonstrada pelo edifício sede do
Museu do Tropeiro, edificado em taipa de pilão e protegido por legislação de
tombamento estadual. Segundo os informantes, a maioria destas moradias já
foi demolida e as restantes encontram-se muito alteradas, sendo que várias
delas eram construídas em taipa ou pau-a-pique, outras construídas com
alvenaria de tijolos, e algumas tinham alicerces com alvenaria de pedra.

Na Chácara Almenara, no Bairro Passa Três, a sede antiga foi demolida no


início do século XX e no seu local ainda se encontram um muro de pedras e
um poço. No mesmo bairro, no Sítio Virgínia, havia uma antiga fazenda,

20
A LASCA ARQUEOLOGIA

provavelmente contemporânea à casa do Brigadeiro Tobias (atual Museu do


Tropeiro). O casarão foi desmanchado em 1952, e possuía alicerces de tijolos
(com marcas diversas, entre elas “B.T.”), paredes de taipa de pilão, lajotas de
barro e telhas coloniais do tipo capa e canal. No local foi localizada cultura
material visível em superfície: louça branca, borrão azul, vidro azul, fragmentos
de telhas e tijolos, metal, etc., constituindo outro sítio arqueológico histórico.

O contexto arqueológico regional é riquíssimo ainda no que se refere a sítios


do período histórico, com exemplares relacionados ao processo da ocupação
europeia entre os séculos XVI e XIX. Entre as referências sobre sítios
arqueológicos relacionados ao período histórico identificados na região,
encontra-se, por exemplo, nos municípios de Capela do Alto e Tatuí (JULIANI;
FERNANDES, 2003), os sítios Iperó I e II e Guaporó II.

No município de Itu também se apresentam inúmeros sítios arqueológicos


relacionados ao período histórico, dois foram identificados durante o
Diagnóstico Arqueológico da PCH Jurumirim / SP (DOCUMENTO, 2003), cinco
pelo Programa de Prospecções e Resgate Arqueológico Loteamento
Residencial Parque Terras de Santa Cecília (ZANETTINI, 2006) e quatro pelo
Programa de Levantamento Arqueológico Rodovia das Colinas (ZANETTINI,
2003).

No Sítio Iperó I localizado na lateral direita do km 125+450 m da SP 268, foram


encontrados fragmentos de cerâmica em superfície. O material arqueológico
ocorria desde a superfície até os 45 cm de profundidade, com dimensões de
12.500 m2, o sítio estava localizado na área a ser afetada pelo gasoduto
estudado à época. Os dados fornecidos pela análise dos vestígios
arqueológicos coletados indicaram que o sítio representava uma unidade
doméstica ocupada possivelmente no período entre o final do século XIX e o
início do século XX.

O Sítio Iperó II, também localizado na lateral da rodovia SP 268 (km 125+450
m), apresentou material arqueológico constituído de fragmentos de cerâmicas,
louças, vidros e de uma panela de ferro. O material arqueológico localizado em
superfície abrangeu área de 5.000 m². A análise do acervo da louça coletada
possibilitou situá-lo na primeira metade do século XIX.

No km 40+200 m, na lateral esquerda da rodovia SP 141 foi localizado, no


ponto de intersecção desta com o rio Guarapó, no município de Tatuí, o sítio
arqueológico histórico denominado Guarapó II. O Sítio apresentou dimensões
de 2.500 m2, área onde foram encontrados fragmentos de cerâmicas, de louças
decoradas e brancas e possíveis lascas de sílex. Os tipos decorativos
identificados nas louças e uma marca de fabricante situaram a ocupação do
local na primeira metade a meados do século XIX.

21
A LASCA ARQUEOLOGIA

O Diagnóstico Arqueológico realizado no município de Salto de Pirapora


(ALASCA, 2007) identificou a presença de sítios arqueológicos históricos,
como: Sítio Forno da Capuavinha, Sítio Forno da Curupava e Sítio Forno dos
Olivais, outro bem de interesse histórico relatado foi o “Bairro do Cafundó” –
remanescente quilombola com área de oito alqueires, na saída da respectiva
cidade, que foi tombado pelo CONDEPHAAT em 1990. Neste mesmo trabalho,
ocorrências lítica e cerâmicas foram confirmadas junto à coordenada (23k
246.220E / 7.385.654N), tratava-se de lâmina polida de morfologia trapezoidal
e fragmentos cerâmicos, segundo informações de um autóctone havia
associação entre os diferentes artefatos, no entanto, os dados não foram
apurados pois, o local não estava no escopo da pesquisa. É válido salientar
que outras informações, quanto a ocorrências e bens não confirmados, foram
levantadas em campo e podem ser consultadas no relatório técnico
supracitado.

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os sítios arqueológicos são definidos como lugares onde existem evidências


físicas geradas pela atividade humana pretérita. Essas evidências podem
manifestar-se de diferentes formas, dependendo da natureza do local e de
quem criou os objetos ou traços reais de objetos (BURKE; SMITH, 2004).

A observação e estudo do contexto arqueológico, ou seja, a relação entre os


materiais em um lugar determinado, tipos de artefato e seus padrões de
distribuição fornecem importantes informações sobre as atividades realizadas
no local. No entanto, os artefatos observados em um contexto não
necessariamente correspondem ao lugar de uso ou fabricação do mesmo. Por
isso, o estudo arqueológico vai mais além de um contexto, sendo necessário
muitas vezes que possível, procurar determinar as operações que levaram à
existência desse produto final, desde a obtenção da matéria-prima para o seu
fabrico até o seu descarte, ou seja, sua “cadeia operatória”, conforme
conceituado na Antropologia cultural francesa (LEROI-GOURHAN 1943,1945;
MAUSS [1935], 1991), e desenvolvido por vários outros arqueólogos
(LEMMONIER 1986, 1992, SCHIFFER 1975, 1976, SCHIFFER; SKIBO 2001,
DOBRES 2000).

As etapas entre a fabricação, uso e descarte final pode ocorrer dentro de um


mesmo sítio em áreas diferentes ou mesmo fora do sítio. Por isso, segundo
Schiffer (1972), deve-se contemplar o contexto sistêmico (processo de
utilização do artefato) e o contexto arqueológico (processos pós abandono do
sítio, por parte dos produtores dos artefatos em questão). Por isso, esse autor
defende que a deposição de um objeto no contexto observado é influenciada
não somente pelo próprio objeto (tamanho, forma e orientação), mas também

22
A LASCA ARQUEOLOGIA

pelas características da geografia, geologia ou ação dos homens e dos animais


(SCHIFFER, 1983).

Por isso, na definição dos métodos de pesquisa, levaram-se em conta as


especificidades técnicas do tipo de empreendimento e o tipo de sítio, valendo-
se das experiências obtidas em projetos similares a fim de tentar responder as
questões anteriormente levantadas.

Conforme salientado por Shiffer; Gummerman (1977), levantamentos


arqueológicos associados a empreendimentos desenvolvimentistas são
condicionados por uma variedade de fatores específicos de cada projeto,
incluindo os problemas de gestão e de pesquisa a serem resolvidos, estágio
em que se dá a investigação, estimativas iniciais da base de recursos
arqueológicos, etc. A pesquisa arqueológica ligada à Gestão de Recursos
Culturais, dizem os autores "demanda a aplicação criativa e flexível de teoria e
método arqueológicos modernos, não havendo possibilidade de aplicação de
receitas prontas e infalíveis" (SHIFFER; GUMMERMAN, 1977, p.85).

No caso do sítio arqueológico Santa Maria III, a definição da metodologia


considerou a experiência das escavações anteriores de dois sítios na mesma
área do empreendimento, Santa Maria I e Santa Maria IV (A LASCA, 2009),
além dos dados levantados na fase anterior de prospecção do sítio em
questão.

Portanto, a metodologia de resgate do sítio Santa Maria III consistiu em:

1) Definição da malha do sítio para a nomenclatura sistemática das


intervenções;

2) Ampliação da malha de tradagens iniciada na fase de prospecção


para detalhamento da frequência de material e

3) Escavação de quadras de sondagens em lugares estratégicos


para estudo e recuperação do material.

Entende-se o desafio constante da arqueologia de contrato, limitado


principalmente pelo reduzido tempo destinado às pesquisas. Portanto, o
emprego da metodologia mais eficiente tem por objetivo a otimização da
pesquisa que deverá levantar o maior número de informações no tempo
requerido, de acordo com a amostragem necessária para o entendimento do
espaço estudado.

 Definição da malha do Sítio

Para poder realizar as escavações de resgate foi necessário definir


previamente uma malha e sua nomenclatura correspondente, já que a

23
A LASCA ARQUEOLOGIA

nomenclatura realizada na fase de prospecção foi própria daquela atividade,


não podendo ser aplicada ou reproduzida nesta fase de resgate.

O primeiro passo foi localizar as tradagens e sondagem escavadas na fase


anterior, já que as mesmas seriam incluídas na nova malha (figura 5.1).

A nova malha definida foi orientada nos eixos N-S e E-W e o ponto “0” desse
plano cartesiano foi estabelecido fora dos limites prováveis do sítio. Nessa
nomenclatura, a quadra de sondagem de 1 x 1m escavada na fase de
prospecção ficou denominada 565N200W.

A nomenclatura de cada posição definida foi formada primeiramente pela


orientação Norte (distância em metros do ponto “0” seguido da letra N) e logo,
sem espaço, a orientação Oeste (distancia em metros do ponto “0” seguido da
letra W).

Todas as intervenções tanto de quadras de sondagens como as sondagens


com cavadeira articulada “boca de lobo” foram referenciadas conforme a
nomenclatura da malha empregada, tanto as realizadas na fase de prospecção
como as da presente fase de resgate. As distâncias foram medidas com uma
trena de 50 m e a orientação estabelecida através da bússola (figura 5.2).

Em cada ponto foi colocada uma estaca de madeira sinalizada com fita
zebrada (figuras 5.3 e 5.4). Os primeiros pontos determinados foram as
tradagens com boca de lobo realizadas na fase anterior de prospecção, 14
tradagens mais uma quadra de sondagem de 1x1m.

Figura 5.1 - Quadra escavada na fase Figura 5.2 - Estendendo a malha de


anterior de prospecção. sondagens com a utilização da trena e da
bússola.

24
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 5.3 - Marcação na fita zebrada do Figura 5.4 - Ponto sinalizado para
posicionamento do ponto para tradagens. tradagem.

 Tradagens com boca de lobo

Para uma delimitação mais detalhada do sítio, verificação da profundidade do


solo cultural e elaboração de um gráfico com a frequência do material para
determinação de onde abrir as quadras de escavação, procedeu-se a
ampliação da malha de tradagens com boca de lobo, iniciada na fase anterior
de prospecção. Naquela fase, foram realizadas 14 tradagens tendo como
referência uma quadra de sondagem de 1x1m denominada anteriormente
como “sondagem 1”. Seguindo o eixo norte-sul, foram abertas 7 tradagens para
o sul a 5, 15, 25, 35, 45, 55 e 65 m de distancia da sondagem 1 e 3 tradagens
para o norte a 5, 15 e 25 m de distância da mesma sondagem 1.

Outras 4 tradagens foram abertas no eixo leste-oeste tendo como referência a


tradagem a 25 m ao sul da sondagem 1. Foram escavadas duas para o oeste a
5 e 15 m de distância da citada tradagem e outras duas para leste a 5 e 15 m
de distancia da mesma tradagem.

Na presente fase de resgate foram traçadas três novas sequências de


tradagens, consistindo em três linhas paralelas ao eixo norte-sul escavado na
fase anterior de prospecção. Nesta ampliação da malha as novas linhas distam
uma das outras em intervalos de 10 metros. As tradagens foram escavadas
com 40 cm de diâmetro e 100 cm de profundidade, ou com maior profundidade.
O material arqueológico encontrado durante as tradagens foi coletado e
registrado.

Para uma adequação e uniformização das intervenções na fase de resgate, foi


necessário determinar uma nova nomenclatura para o eixo das tradagens
realizadas na fase de prospecção que passou a ser denominado 200W. As
linhas adicionais projetadas para conformação da malha de sondagens foram

25
A LASCA ARQUEOLOGIA

traçadas paralelamente a linha 200W e denominadas 180W, 190W e 210W.


Nelas foram localizadas 10 tradagens em cada linha equidistantes 10 m uma
das outras.

Em resumo, foram determinadas para escavação 30 novas tradagens com


boca de lobo perfazendo um total de 44 tradagens (14 na prospecção e 30 no
resgate). Estes conjuntos de tradagens formaram uma malha sistemática sobre
uma área de 2.700m² (30 x 90m), suficiente para abranger a totalidade do sítio
delimitado na fase de prospecção (figura 5.5).

26
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 5.5 - Localização das tradagens com boca de lobo nas fases de prospecção e
resgate.

 Quadras de sondagem de 1 x 1m

O trabalho de resgate começou depois de se conhecer o resultado das


tradagens e gerado o gráfico de frequência de material para a determinação da
localização das quadras de sondagem de 1x1m.

A nomenclatura das quadras seguiu a mesma adotada para a malha de


tradagem, ou seja, dentro do quadrante norte e oeste (N e W). O ponto de
referência de cada quadra de sondagem de 1x1m foi a esquina sudeste e todas
as quadras foram orientadas no eixo norte-sul (figura 5.6).

Figura 5.6 - Nomenclatura das quadras de sondagens.

Previamente a abertura das quadras, a vegetação (pastagem) foi suprimida


com o uso da enxada (figura 5.7). As quadras foram marcadas com o auxilio da
bússola, trenas métricas, estacas e barbante de algodão (figura 5.8).

O registro fotográfico foi efetuado em todos os níveis escavados, começando


pela superfície. Previamente o registro fotográfico, o piso de cada nível
escavado era varrido com uma escova pequena. As quadras foram
fotografadas juntamente com uma lousa pequena com as informações do
projeto e da quadra escavada posicionada fora da quadra e uma flecha
impressa e plastificada posicionada com orientação norte (figura 5.9).

27
A LASCA ARQUEOLOGIA

A escavação foi realizada em níveis artificiais de 10 cm até atingir um piso


estéril. Como o sítio é de pouca profundidade, segundo os dados levantados
nas tradagens e na escavação da sondagem 1 da fase anterior de prospecção,
nenhuma atingiu a profundidade de 1m. No entanto, a sondagem com maior
número de material foi escolhida para continuidade da escavação até a
profundidade de 1m.

O controle de cada nível durante as escavações foi realizado pelo instrumento


“nível automático” (figura 5.10).

O solo foi escavado com enxadeco e recolhido com pazinha de plástico para
baldes de 12 litros e transportado até as peneiras (figuras 5.11 e 5.12). Durante
a escavação registrou-se a textura e se determinou a cor do solo através da
tabela Munsell (figura 5.13).

O sedimento foi peneirado em peneiras de feijão, onde o material cultural foi


separado em cada nível, classificado por tipo de material e contabilizado (figura
5.14). Os materiais foram embolsados em sacos plásticos de diferentes
tamanhos (sacos maiores para quantidades maiores de materiais). Em cada
saco plástico com material colocou-se uma etiqueta com os seguintes dados:
nome do empreendimento, nome do sítio, nome da quadra de escavação,
nível, tipo de material, data e iniciais do pesquisador responsável pela quadra
de escavação. Estas etiquetas estavam protegidas por outro saquinho plástico
para evitar que a umidade ou a fricção com o material armazenado danificasse
as mesmas ou apagassem o seu conteúdo.

No termino da escavação os perfis mais representativos foram desenhados em


papel milimetrado (figura 5.15, procedendo-se posteriormente ao aterramento
figura 5.16).

Figura 5.7 - Supressão da vegetação. Foto 5.8 - Marcando as quadras de


sondagens.

28
A LASCA ARQUEOLOGIA

Foto 5.9 - Fotografando o final de um nível. Foto 5.10 - Controle do nível na área de
escavação.

Foto 5.11 - Escavação das quadras. Foto 5.12 - Remoção do sedimento em


baldes de 12 litros.

Foto 5.13 - Determinação da cor do solo Foto 5.14 - Peneiramento do sedimento.


pela tabela Munsell.

29
A LASCA ARQUEOLOGIA

Foto 5.15 - Desenho de perfil. Foto 5.16 - Aterramento de uma quadra de


sondagem escavada.

6. TRABALHOS REALIZADOS E RESULTADOS OBTIDOS

6.1 Localização e Características Gerais do Sítio

O sítio Santa Maria III encontra-se dentro do empreendimento AlphaVille,


município de Votorantim/SP. O mesmo corresponde a um sítio cerâmico
localizado na média vertente de uma suave colina, em área de pasto,
coordenada de referência UTM 23K 247.416E / 7.391.111N, onde alguns dos
vestígios foram visualizados em superfície de carreadores e terrenos com solo
exposto.

O lugar pertencia a fazenda Santa Maria e o sítio encontrava-se dentro de uma


extensa área de pastagem onde a paisagem foi visivelmente alterada para
esse fim. Fileiras paralelas de acúmulos de terra sobre o terreno e com
orientação norte-sul foram construídas para controle de erosão. O sítio
encontra-se no intervalo entre duas filas de terra (figura 6.1-1).

Conforme apontado no relatório de outros dois sítios (Santa Maria I e Santa


Maria IV) na área do mesmo empreendimento (A LASCA, 2009):

“O solo encontra-se impactado e alterado por máquina


pesada. O bosque que existia no lugar foi derrubado e os
tocos das árvores arrancados com máquina de esteira.
Em muitas áreas o solo superficial foi empurrado e
acumulado em lugares diferentes de sua origem,
formandos leiras de terra”.

30
A LASCA ARQUEOLOGIA

Essa é uma situação comum em sítios encontrados em fazendas onde o solo


foi alterado. Mas o grau de impacto varia de um sítio a outro conforme a
intensidade (manual ou mecânica) e o tempo de intervenção e a utilização do
solo (tipo de atividade, lavouras, pastagem, eucaliptais, etc.).

Figura 6.1-1. Localização da malha do sítio no contexto das fileiras de terra para
controle de erosão. Fonte da imagem: Google Earth, 2012.

31
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 6.1-2. Localização da malha do sítio, seus vértices e respectivas coordenadas


UTM.

 Trabalhos Realizados na Fase Anterior de Prospecção

As intervenções necessárias para a delimitação do sítio na fase de prospecção


levaram em consideração a necessidade da preservação do mesmo, não
esgotando-o, para que o mesmo pudesse ser objeto de estudo mais minucioso
numa atividade de resgate posterior. Além dos procedimentos de investigação
de superfície (caminhamento sistemático pela área do entorno), foram
efetuadas intervenções de subsuperfície com a abertura de sondagem
arqueológica e poços-teste, conforme ilustrado pela figura a seguir:

32
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 6.1-3 - Intervenções realizadas no Sítio Arqueológico Santa Maria III,


considerando as figuras geométricas alaranjadas (circulares e quadrada) como
positivas e as vazadas como negativas. Fonte: A Lasca (2008, p.70).

A sondagem arqueológica (renomeada no resgate para 565N200W) foi aberta


sob as coordenadas UTM 23K 247.420E / 7.391.111N, a cerca de 3m de
distância, rumo Norte, do ponto do carreador onde os vestígios cerâmicos
foram identificados aflorando em superfície. Como resultado foram recuperados
24 fragmentos de cerâmica, 19 no nível 0-10cm e 5 no nível 10-20cm. A
profundidade máxima de escavação dessa sondagem 1 foi de 50cm.

Os poços-teste (tradagens com boca de lobo) foram dispostos no eixo Norte-


Sul em relação à sondagem arqueológica, sendo que a maior concentração de
vestígios arqueológicos foi encontrada no poço-teste 5S (renomeado no
resgate para 560N200W). A partir desse poço-teste, alinharam-se novos poços,
em eixo perpendicular a esse, a fim de se determinar a dimensão Leste-Oeste
do sítio. Cinco das 14 tradagens realizadas resultaram positivas:

05S (560N200W): 7 fragmentos cerâmicos


25S (540N200W): 1 fragmento cerâmico
35S (530N200W): 4 fragmentos cerâmicos

33
A LASCA ARQUEOLOGIA

45S (520N200W): 4 fragmentos cerâmicos


05N (570N200W): 4 fragmentos cerâmicos

No total foram recuperados 44 fragmentos de cerâmica na fase de prospecção


(20 fragmentos nas tradagens e 24 fragmentos na sondagem de 1x1m).

6.2 Trabalhos realizados na fase atual de Resgate

Na fase de resgate foi definida uma malha de sondagens e se adequou uma


nova nomenclatura específica para a atividade desenvolvida. Também se
procedeu a abertura das quadras de sondagens para recuperação do material,
estudo da estratigrafia e contexto do material.

 Levantamento topográfico da área

O levantamento topográfico, primordial para o entendimento do sítio, ocorreu


antes do trabalho de escavação. Para essa atividade foi utilizado o nível
automático e os pontos definidos e conhecidos para o registro da altura foram
aqueles das tradagens que cobrem uma área de 2700m². No entanto, duas
linhas adicionais foram marcadas exclusivamente para o levantamento
topográfico, ambas paralelas ao eixo norte-sul já existentes e equidistantes 10
m das linhas mais próximas.

O levantamento topográfico cobriu uma área final de 4500m² (50x90m), onde


foram levantados 50 pontos equidistantes 10 m um do outro.

 Escavação de uma malha de tradagens com boca de lobo

Na fase anterior foi escavada uma única linha completa no eixo norte-sul, com
10 sondagens a intervalos equidistantes de 10 m. Essa linha foi denominada
200W, conforme sua localização em relação a um ponto zero localizado fora da
área do sítio, ou seja, a exatos 200 m a oeste do ponto zero.

Para realizar uma malha com o intuito de abranger uma superfície ampla
englobando todo o sítio, procedeu-se nesta fase de resgate a ampliação das
tradagens realizadas em fase anterior. Foram duas linhas paralelas no lado
leste da linha 200W, respectivamente linhas 190W e 180W (distantes 10 e 20
m da linha 200W respectivamente).

Uma terceira linha foi traçada paralela do lado oeste da linha 200W a 10 m de
distância, a qual foi denominada por sua posição 210W.

Em cada linha foram determinadas 10 sondagens em intervalos equidistantes


de 10m, a 500m, 510m, 520m, 530m, 540m, 550m, 560m, 570m, 580m e 590m
ao norte do ponto zero de referência.

34
A LASCA ARQUEOLOGIA

 Resultado das tradagens com boca de lobo

Das 44 sondagens escavadas (14 na prospecção e 30 no resgate), apenas 7


resultaram positivas (tabela 6.2-1). Com o resultado das escavações das
tradagens foi produzido um gráfico de frequência da cerâmica para a decisão
de onde proceder com a abertura das quadras de escavação de 1x1m. O
gráfico gerado (figura 6.2-1) indicou duas áreas pequenas com material
cerâmico, áreas que foram denominadas A e B.

Tabela 6.2-1. Detalhe da escavação das tradagens.


PRO
VEGE VERTENT DECLIV TEXTUR COLORAÇÃ
PONTO F. OBS
T. E E A O
(cm)
marrom
acinzentado,
marrom a Matéria
500 180 leve areno- marrom orgânica
N W pasto média p/SW argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom a Matéria
510 180 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média SW argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom a Matéria
520 180 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
530 180 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
540 180 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
550 180 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso avermelhado 100 até 10cm

35
A LASCA ARQUEOLOGIA

PRO
VEGE VERTENT DECLIV TEXTUR COLORAÇÃ
PONTO F. OBS
T. E E A O
(cm)
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
560 180 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso avermelhado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
570 180 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom a Matéria
580 180 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
590 180 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom a Matéria
500 190 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média SW argiloso avermelhado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom,
marrom
avermelhado Matéria
510 190 Leve p/ areno- a marrom orgânica
N W pasto média SW argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom,
marrom
avermelhado Matéria
520 190 Leve p/ areno- a marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom,marr
om
avermelhado Matéria
530 190 Leve p/ areno- a marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm

36
A LASCA ARQUEOLOGIA

PRO
VEGE VERTENT DECLIV TEXTUR COLORAÇÃ
PONTO F. OBS
T. E E A O
(cm)
marrom
acinzentado,
marrom,
marrom
avermelhado Matéria
540 190 Leve p/ areno- a marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom,
marrom
avermelhado Matéria
550 190 Leve p/ areno- a marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado, 1
marrom, fragment
marrom o de
escuro a cerâmica
560 190 Leve p/ areno- marrom entre 10-
N W pasto média W argiloso avermelhado 100 20cm
marrom
acinzentado,
marrom,
marrom
avermelhado Matéria
570 190 Leve p/ areno- a marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom,
marrom
avermelhado Matéria
580 190 Leve p/ areno- a marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom,
marrom
avermelhado Matéria
590 190 Leve p/ areno- a marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
Antes
65S.
marrom Materia
500 200 Leve areno- escuro a orgânica
N W pasto média p/W argiloso marrom 100 até 10cm
marrom Antes
escuro a 55S.
510 200 Leve areno- marrom Materia
N W pasto média p/W argiloso avermelhado 100 orgânica

37
A LASCA ARQUEOLOGIA

PRO
VEGE VERTENT DECLIV TEXTUR COLORAÇÃ
PONTO F. OBS
T. E E A O
(cm)
até 10cm

Antes
45S.
Incidênci
a de
carvão
marrom entre 20-
escuro, 80cm.
marrom a Atingiu
520 200 Leve areno- marrom laterita a
N W pasto média p/W argiloso alaranjado 160 160cm
Antes
35S. 4
fragment
os de
cerâmica.
Incidênci
a de
carvão
entre 60-
marrom 80cm.
escuro, Cascalho
marrom a de
530 200 Leve areno- marrom quartzo a
N W pasto média p/W argiloso alaranjado 180 120cm
marrom, Antes
marrom 25S. 1
alaranjado a fragment
540 200 Leve areno- marrom o de
N W pasto média p/W argiloso avermelhado 170 cerâmica
Antes
15S.
Matéria
550 200 Leve areno- orgânica
N W pasto média p/W argiloso marrom 100 até 10cm
Antes 5S.
7
fragment
os de
marrom cerâmica.
escuro, Incidênci
marrom a a de
560 200 Leve areno- marrom carvão a
N W pasto média p/W argiloso alaranjado 120 60cm
Antes
5N. 4
fragment
os de
570 200 Leve areno- marrom cerâmica.
N W pasto média p/W argiloso escuro 100 Matéria

38
A LASCA ARQUEOLOGIA

PRO
VEGE VERTENT DECLIV TEXTUR COLORAÇÃ
PONTO F. OBS
T. E E A O
(cm)
orgânica
até 10cm

marrom
escuro, Antes
marrom 15N.
alaranjado a Carvão
580 200 Leve areno- marrom entre 60
N W pasto média p/W argiloso avermelhado 180 e 80cm
marrom Antes
escuro, 25N.
marrom a Matéria
590 200 Leve areno- marrom orgânica
N W pasto média p/W argiloso alaranjado 100 até 20cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
500 210 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média SW argiloso alaranjado 110 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
510 210 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média SW argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
520 210 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom
escuro a Matéria
530 210 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom 3
acinzentado, fragment
marrom os de
escuro a cerâmica
540 210 Leve p/ areno- marrom entre 80-
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 90cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro,
marrom
alaranjado a Matéria
550 210 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso avermelhado 130 até 10cm

39
A LASCA ARQUEOLOGIA

PRO
VEGE VERTENT DECLIV TEXTUR COLORAÇÃ
PONTO F. OBS
T. E E A O
(cm)
marrom
acinzentado,
marrom
escuro a Matéria
560 210 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 até 10cm
marrom 1
acinzentado, fragment
marrom o de
escuro a cerâmica
570 210 Leve p/ areno- marrom entre 20-
N W pasto média W argiloso alaranjado 100 30cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro,
marrom
alaranjado a Matéria
580 210 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso avermelhado 100 até 10cm
marrom
acinzentado,
marrom
escuro,
marrom
alaranjado a Matéria
290 210 Leve p/ areno- marrom orgânica
N W pasto média W argiloso avermelhado 100 até 10cm

40
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 6.2-1. Identificação das áreas A e B segundo a frequência da cerâmica


recuperada nas tradagens com boca de lobo.

41
A LASCA ARQUEOLOGIA

 Escavação das quadras de sondagens de 1x1m

Conforme o resultado obtido na escavação sistemática da malha descrito


anteriormente, optou-se por concentrar as escavações na área A no entorno da
sondagem 1 (agora denominada 565N200W). Naquela primeira sondagem
foram recuperados 24 fragmentos de cerâmica, 19 fragmentos no nível 1 de 0-
10cm e 5 fragmentos no nível 2 de 10-20cm de profundidade.

Área A

Por tratar-se de uma área pequena de aproximadamente 20m de diâmetro, as


primeiras 4 novas quadras de sondagens de 1x1m na Área A foram abertas a
um metro de distância da sondagem 565N200W nas quatro direções cardiais,
aumentando assim o raio de ação da intervenção.

As novas quadras abertas foram denominadas no eixo norte-sul: 561N200W e


563N200W. No eixo leste-oeste: 565N198W e 565N202W.

Todas as quadras foram escavadas até 30cm de profundidade, conforme os


resultados indicados tanto nas tradagens como na quadra anterior da fase de
prospecção e ainda conforme os resultados obtidos nessas quadras de
sondagens.

Duas quadras adicionais de 1x1m foram abertas na Área A, no eixo norte-sul,


para completar as escavações (559N200W e a 561N200W). A ampliação foi
decidida segundo os resultados obtidos com as primeiras quadras escavadas.

A quadra de sondagem 563N200W foi escolhida para a continuidade das


escavações até 1 m de profundidade para comprovação do solo a maior
profundidade e estudo da estratigrafia, complementando os resultados já
levantados com as tradagens próximas que também foram escavadas a
profundidade de 1 m. A escolha da mencionada quadra obedeceu ao critério de
maior quantidade de material recuperado em relação as demais quadras em
seu entorno, além dessa ser a única onde o material foi encontrado a maior
profundidade em relação também as demais.

A figura 6.2-2 apresenta a planimetria de todas as quadras de sondagens


escavadas na Área A.

42
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 6.2-2 - Planimetria das quadras de sondagens de 1x1m na área A.

Área B

Duas quadras de sondagens foram abertas na área B, eixo norte-sul onde


foram recuperados nas tradagens a maior parte do escasso material
arqueológico indicado para essa área.

As sondagens abertas foram 529N200W e 531N200W. O fraco resultado


dessas intervenções não apontou a necessidade da continuidade das
escavações nessa área.

A figura 6.2-3 apresenta a planimetria de todas as quadras de sondagens


escavadas na Área B.

43
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 6.2-3 - Planimetria das quadras de sondagens se 1x1m na área B.

 Resultado das quadras de sondagens de 1x1m

As duas quadras abertas na área B (529N200W e 531N200W) resultaram


negativas, apesar da localização das mesmas, no eixo da linha 200W onde
houve uma sequencia de três tradagens positivas: 520N200W com 4
fragmentos de cerâmica, 530N200W também com 4 fragmentos e 540N200W
com um fragmento de cerâmica, todos recuperados nos primeiros 10 cm de
profundidade.

Em contrapartida, a totalidade das quadras de sondagens realizadas na Área A


resultaram positivas. A tabela 6.2-2 detalha a quantidade de cerâmica por
quadra e por nível.

Nas 7 quadras escavadas (figura 6.2-8) foram recuperados 182 fragmentos de


cerâmicas, sendo 32,97% proveniente da quadra 563N200W (60 fragmentos).
A figura 6.2-4 expõe a relação em números absolutos da quantidade de
cerâmica recuperada por quadra de sondagem. Nota-se que a maioria das
quadras escavadas manteve uma média de 20 a 30 fragmentos de cerâmica.

Também é notório o fato da maior parte da coleção recuperada na escavação,


cerca de 61%, proceder dos primeiros 10 cm de profundidade. O restante da
coleção encontrava-se entre 10 e 20 cm de profundidade (37%) e uma mínima
quantidade (2%) no nível 20 a 30cm (figura 6.2-5).

Um gráfico final foi gerado com os dados provenientes da escavação, definindo


assim a frequência do material na Área A (figura 6.2-6), inferindo-se ao

44
A LASCA ARQUEOLOGIA

observar a localização das quadras escavadas que as mesmas cortaram a


porção central do sítio no sentido norte-sul, dado amostral que garante a
eficiência da metodologia de pesquisa proposta e a confiabilidade dos dados
recuperados.

Os resultados confirmaram inclusive o tamanho da mancha com material


cultural prevista para a Área A, através dos resultados preliminares da
escavação da malha do sítio, quando se estipulou um tamanho aproximado de
20m de diâmetro.

Tabela 6.2-2. Detalhe da quantidade de cerâmica recuperada por quadra e nível.


NÍVEL
ÁRE
QUADRA TOTA
A
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 L %
559N200
W 10 0 0 10 5,49
561N200 11,5
W 21 0 0 21 4
563N200 32,9
W 11 45 4 0 0 0 0 0 0 0 60 7
565N200 13,1
A
W 19 5 0 0 0 24 9
565N198 16,4
W 22 8 0 30 8
565N202 12,6
W 19 4 0 23 4
567N200
W 9 5 0 14 7,69
529N200
W 0 0 0 0 0,00
B
531N200
W 0 0 0 0 0,00
TOTAL 111 67 4 0 0 0 0 0 0 0 182 100
60,9 36,8 2,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
% 9 1 0 0 0 0 0 0 0 0 100

70
60
50
40
30
20 cerâmica
10
0

Figura 6.2-4 - Total de cerâmica por quadra escavada.

45
A LASCA ARQUEOLOGIA

Nível
0-10 10-20 20-30
2%

37%

61%

Figura 6.2-5 - Porcentagem de cerâmica recuperada por nível.

Figura 6.2-6 - Frequência final da cerâmica na Área A.

46
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 6.2-7 - Final da escavação na área B. Figura 6.2-8 - Final de escavação na área A.

 Topografia e estratigrafia do Sítio e textura do solo

O sítio encontra-se em média vertente de um dos pequenos morros com


declividade suave espalhados pela região. A altura do sítio varia entre 638 e
640 m, com leve declive para o oeste inferior a 10°.

Conforme levantamento topográfico efetuado no sítio e em seu entorno,


geraram-se graficamente os cortes nos eixos norte-sul e leste-oeste na altura
da área A do sítio. Além do declive geral do sítio para o oeste, conforme o corte
norte-sul, nessa orientação o terreno segue nível relativamente plano com leve
declive nas suas extremidades (figura 6.2-9). No entanto, cabe indicar que a
área sofreu alterações visíveis para implantação do pasto, sendo o lugar
destinado anteriormente para criação de gado bovino.

A superfície do terreno foi modificada por máquina e parte do solo, depois de


nivelado, foi acumulado em fileiras paralelas a cada 50m, técnica utilizada para
controle de erosão em terrenos com declive.

Durante as escavações das tradagens que atingiram um metro de


profundidade, além da observação e registro do solo nas quadras de
escavação, constatou-se certa uniformidade na disposição das camadas
estratigráficas do solo.

A primeira capa de aproximadamente 5 a 10 cm é altamente orgânica com


muitas radículas e raízes do pasto cultivado no lugar. O solo nessa camada é
geralmente areno siltoso girando em torno do bruno a bruno acinzentado
escuro (10YR 4/3 e 10YR 4/2).

A partir dos 10 até 30 cm de profundidade o solo passa a areno argiloso de cor


bruno escuro a bruno forte (10YR 3/3 e 7,5YR 4/6).

47
A LASCA ARQUEOLOGIA

Entre 30 e 80 cm o solo continua areno siltoso e passa a um tom mais


avermelhado classificando-se conforme a tabela de cores de Munsell em
vermelho amarelado (5YR 4/6) e finalmente entre 80 e 100 cm de profundidade
o solo aumenta a quantidade de argila, embora ainda continue areno argiloso e
de coloração vermelha (2YR 4/8) (figura 6.2-13 e figura 6.2-14). A variedade do
solo foi observada e registrada também nas tradagens com boca de lobo
(figuras 6.2-15 a 6.2-18)

Figura 6.2-9 - Topografia e cortes de perfil do sítio Santa Maria III.

48
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 6.2-10 - Quadra 563N200W, Estratigrafia do Perfil Norte.

49
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 6.2-11 - Vista do entorno do sítio. Figura 6.2-12 - Escavação de tradagem ao


lado de um acúmulo de terra para controle
de erosão.

Figura 6.2-13 - Quadra 563N200W, Perfil Figura 6.2-14 - Tradagem 580N210W.


Norte.

Figura 6.2-15 - Tradagem 500N190W. Figura 6.2-16 - Tradagem 530N180W.

50
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 6.2-17 - Tradagem 590N180W. Figura 6.2-18 - Tradagem 560N210W.

7. ANÁLISE DE LABORATÓRIO

A análise do material arqueológico procedente do sítio Santa Maria III seguiu o


mesmo padrão metodológico empregado para o material proveniente do
mesmo sítio na fase anterior de prospecção.

No entanto, apesar da tabela de análise, Anexo 1, fotos da cerâmica e


reconstrução das bordas referirem-se ao material proveniente do resgate, por
tratar-se de uma análise final do sítio, o material será contabilizado
conjuntamente com aquele já analisado proveniente da prospecção, com suas
devidas indicações.

7.1 Preparação para a análise dos materiais

Em laboratório os materiais provenientes das escavações passaram pelo


processo de limpeza, que consistiu em lavá-los com água (figura 7.1-1). Os
materiais armazenados em bolsas plásticas, classificados por procedência e
nível, foram lavados sistematicamente. O conteúdo de uma bolsa plástica foi
lavado separadamente dos outros também em bolsas plásticas, evitando assim
qualquer possibilidade de mistura de materiais.

O sedimento aderido à superfície das peças fora removido com o uso de


escovas suaves e, ainda, a pressão sobre a superfície dos materiais foi
pequena a fim de evitar danos com possibilidade de prejudicar a análise
dessas peças. Entretanto, nas quebras – voltadas ao material cerâmico – a
pressão com a escova foi pouco mais elevada, visando a exposição de maneira
mais contundente e assim, facilitar a análise da pasta (aspectos voltados à
antiplástico, granulometria e cocção) durante a análise de laboratório (figura
7.1-2).

As peças foram secas ao ar livre - posicionadas sobre papel jornal para


acelerar o processo de secagem - sendo que, cada conjunto apresentando

51
A LASCA ARQUEOLOGIA

mesma procedência e nível fora agrupado com sua respectiva etiqueta de


identificação (figura 7.1-3). Na atividade seguinte de acondicionamento das
peças – após essas estarem completamente secas - as bolsas plásticas
anteriormente utilizadas foram descartados e substituídos por novas e limpas e
as etiquetas de identificação foram novamente introduzidas junto ao material
correspondente.

7.2 Codificação e triagem do material cerâmico

Antes de proceder com a codificação, os fragmentos menores a 1cm² foram


separados em outros sacos plásticos, contabilizados e mantidos no final junto
com as cerâmicas da mesma procedência. Estes fragmentos menores foram
separados principalmente por apresentarem restrições à análise e também pelo
insuficiente espaço para a colocação do código proposto.

A codificação nas peças maiores consistiu na colocação de um código


sequencial alfanumérico. O código de 08 caracteres (incluindo os hífens de
separação) carrega as iniciais do sítio (SM3) seguido da abreviação da
intervenção (T para tradagem e Q para quadra de sondagem), e finalizando
com a sequencia numérica ascendente começando pelo número 01.

Exemplificando: um fragmento proveniente de uma tradagem: SM3-T-06.

O código foi gravado sobre a superfície da cerâmica previamente à aplicação


de um esmalte comum incolor para uma melhor aderência da tinta nanquim.
Depois de gravado o código, outra aplicação de esmalte foi passada para evitar
que o código se apague.

Ainda durante esse processo ou ao término do mesmo algumas peças foram


coladas ao identificar que as mesmas foram quebradas, tanto no processo da
escavação como anterior a mesma, provavelmente muito antes, durante a
remoção do terreno por máquina.

Portanto, foram separados 65 fragmentos menores a 1cm². Foram remontadas


algumas peças quebradas, restando para a análise 104 fragmentos, uma
diminuição de 38,46% da coleção. O mesmo ocorrendo com a análise dos
fragmentos provenientes da prospecção, os quais somaram 44 peças, mas 26
foram analisadas (um decréscimo de 40,9% da coleção inicial) (tabela 7.2-1 e
figura 7.2-1).

52
A LASCA ARQUEOLOGIA

Tabela 7.2-1. Detalhe do tamanho dos fragmentos de cerâmica.

Tamanho Prospecção Resgate Total

menor a
1cm² 18 65 83

maior a
1cm² 26 104 130

Total 213

Tamanho da cerâmica

menor a 1cm²
39%
maior a 1cm²
61%

Figura 7.2-1. Gráfico de porcentagem do material analisado enquanto a


tamanho

7.3 Análise dos Atributos Morfológicos, Tecnológicos e Decorativos da


Cerâmica

Seguindo a mesma metodologia empregada anteriormente no material


proveniente da prospecção, utilizou-se bibliografia especializada sobre
indústrias cerâmicas para a análise dos atributos morfológicos, tecnológicos e
decorativos, a saber: La Sálvia; Brochado (1989), Rye (1981), Meggers; Evans
(1970) e Laming-Emperaire (1967).

Os fragmentos cerâmicos foram analisados quanto a:

 Categoria - porção que representa da peça (borda, parede, base, entre


outros);
 Técnica de manufatura (acordelada, modelada);

53
A LASCA ARQUEOLOGIA

 Composição da pasta (antiplástico, composição e espessura do


antiplástico, aspecto do quartzo);
 Queima (completa, incompleta);
 Estado de conservação (não erodido, erodido na face interna ou externa
ou em ambas as faces);
 Tratamento dado a superfície (alisamento, engobo, marcas, decoração);
Sinais de uso;
 Características da borda (morfologia, inclinação e espessura da borda,
forma e espessura do lábio, diâmetro da boca);
 Espessura do fragmento.

Foi utilizada uma ficha de análise para isso, contendo ainda:


 Numeração da peça;
 Procedência do fragmento (sondagem, poço-teste, nível).

Os fragmentos que apresentaram potencial para determinação de formas foram


desenhados. Como o único elemento em potencial foram somente bordas,
procedeu-se reconstituição das formas. Por último, as peças foram
fotografadas para registro.

Figura 7.3-1 - Limpeza do material, Figura 7.3-2 - Utilização de escava suave


processo de lavagem com água. para a limpeza.

Figura 7.3-3 - Secando o material em Figura 7.3-4 - Aplicação do esmalte prévia


bandejas e sobre papel jornal. codificação.

54
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 7.3-5 - Codificação do material Figura 7.3-6 - Registro do material e


com tinta nanquim. desenho.

Figura 7.3-7 - Controle da espessura dos Figura 7.3-8 - Desenho da borda de uma
fragmentos com paquímetro. cerâmica utilizando instrumento
“calibrador de contorno”.

 Categoria

Dos 130 fragmentos cerâmicos analisados (26 prospecção e 104 resgate), 115
correspondem à porção da parede do recipiente, representando 88% da
amostra e 10 correspondem a borda. Também foram verificados 1 base, 2
fragmentos de aplique e 2 barros cosidos amorfos (tabela 7.3-1 - 1 e figura 7.3-
9).

Tabela 7.3-1 - Detalhe da categoria do material

Categoria Prospecção Resgate Total


borda 1 9 10
amorfa 0 2 2
parede 22 93 115
base 1 0 1
apliques 2 0 2
Total 130

55
A LASCA ARQUEOLOGIA

apliques
Categoria base 2%
1% amorfa
1%
borda
8%

parede
88%

Figura 7.3-9 - Gráfico de porcentagem do material analisado enquanto categoria.

 Técnica de Manufatura

A técnica observada no material cerâmico é a acordelada, conforme explicado


na análise do material proveniente da prospecção, “Esta técnica de manufatura
foi bastante utilizada entre as comunidades indígenas brasileiras, tendo sido
adotada, posteriormente, pelas comunidades coloniais” (A LASCA, 2007, p.84).

 Composição da Pasta

O antiplástico em todas as amostras foi mineral, todos de quartzo e raramente


mica.

Referente a granulometria, porcentagem presente na pasta cerâmica e grau de


arredondamento dos grãos de quartzo, novamente utilizamos o modelo de
Mathew et. al. (apud. Orton et. al., 1997) conforme figura 7.3-10, a seguir
apresentada.

56
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 7.3-10 - Gráfico para análise de antiplástico cerâmico, de acordo com Mathew
et al. (apud. Orton et al., 1997).

Assim como se concluiu na fase de análise do material proveniente da


prospecção, se confirmou também no material recuperado no resgate. A
granulometria do antiplástico (quartzo) e a quantidade presente no fragmento
cerâmico (representada pelas letras A a I) resultou na totalidade das mostras,
predominado a pasta fina a média.

 Queima

A análise da queima se realiza através da observação no ponto de ruptura do


fragmento, Ela pode ser incompleta quando apresenta um núcleo cinza ou
cinza escuro enquanto se observa duas faixas finas nas proximidades das
paredes interna e externa. Pode ser também uma faixa fina mais clara em uma
das paredes.

A maior parte das amostras apresentaram queima incompleta nesta fase de


resgate e a totalidade das coleções provenientes de ambas fases, prospecção

57
A LASCA ARQUEOLOGIA

e resgate indicaram uma queima incompleta em 86% das amostras enquanto


que o restante 14% foi completa (tabela 7.3-2 e figura 7.3-11).

A grande porcentagem de queima incompleta se explica pelo fato dos


recipientes terem sido submetidos a uma queima em ambiente oxidante, ou
seja, a céu aberto. Neste caso, a tonalidade da queima e a própria queima em
uma mesma peça pode sofrer variações na exposição ao calor por conta do
cozimento desigual nesse tipo de ambiente aberto.

Tabela 7.3-2 - Detalhe da queima da cerâmica.

Queima Prospecção Resgate

completa 1 17

incompleta 25 85

Queima

completa
14%

incompleta
86%

Figura 7.3-11 - Tipo de queima observado na amostra.

 Estado de Conservação

Referente ao estado de conservação observado nas superfícies dos


fragmentos de cerâmica, 74% da coleção proveniente de ambas as fases de
pesquisa (prospecção e resgate) apresentaram algum grau de erosão (figura
7.3-12).

58
A LASCA ARQUEOLOGIA

Das peças erodidas, 77% apresentaram nas duas faces, interna e externa,
11% só na face interna e 7% só na face externa. A porcentagem restante
apresentou erosão parcial em ambas as faces (tabela 7.3-3 e figura 7.3-13).

O péssimo estado de conservação dos fragmentos inviabilizou a constatação


do tratamento dado à superfície na maioria da amostra. Só 26% do total da
amostra não estavam erodidas.

Conservação

não erodida
26%

erodida
74%

Figura 7.3-12 - Estado de conservação das amostras.

Tabela 7.3-3 - Detalhe do estado de conservação da cerâmica.


Conservação Prospecção Resgate Total

erodida 2
faces 24 49 73

erodida face
int. 0 10 10

erodida face
ext. 0 7 7

semi-erodida 0 5 5

não erodida 2 31 33

59
A LASCA ARQUEOLOGIA

semi-erodida
5% Erodida
erodida face
ext.
7%

erodica face int.


11%

erodida 2 faces
77%

Figura 7.3-13 - Grau de erosão da amostra total de ambas fases de trabalho.

 Tratamento de Superfície e Decoração

O tratamento de superfície foi observado em 26% da amostra geral proveniente


de ambas fases de pesquisa.

Do total analisado (59 fragmentos), 70% correspondem a superfície lisa. É o


tratamento comum empregado nesse sítio, alisamento que uniformiza a
superfície interna e externa do recipiente, fazendo desaparecer as saliências
da técnica do acordelado na confecção oleira (tabela 7.3-4 e figura 7.3-14).

Em apenas 5% das peças analisadas foi possível identificar algum tipo de


engobo (branco e alaranjado), podendo originalmente ter sido maior, já que a
maior parte das peças recuperadas nas escavações apresentam grau
avançado de erosão nas suas superfícies.

É significativa a informação de que 25% das peças apresentem algum tipo de


decoração, onde 58% das peças decoradas são do tipo escovado (10
fragmentos).

Dentro desse tipo escovado, 40% apresenta também decoração digito


ungulada que consiste na impressão tanto da unha como da ponta do dedo do
artesão. Apesar da fragmentação das amostras, essa decoração digito
ungulado foi impressa em uma banda no gargalo do recipiente no ponto de
flexão da parede (figura 7.3-16).

A decoração acordelada apareceu em 2 fragmentos (12% da coleção


decorada), um também com decoração ungulada.

60
A LASCA ARQUEOLOGIA

Outros dois fragmentos apresentaram resquícios de pintura vermelha na


parede externa (figura 7.3-21) e mais outros dois fragmentos decoração
plástica (aplique). Estes últimos provenientes da fase anterior de prospecção,
sendo que em um deles, “possivelmente representando a asa de uma vasilha,
foi possível observar-se marcas digitais e unguladas como decoração plástica”
(A LASCA, 2007, p.88).

Tabela 7.3-4 - Detalhe do tratamento de superfície da cerâmica.


Trat.
Superfície Prospecção Resgate Total
Liso 1 40 41
Engobo
alaranjado 1 0 1
Engobo branco 2 0 2
Decorado 0 15 15
Total 59

Tratamento de Superfície

Decorado
25%

Engobo branco
3%
Liso
Engobo 70%
alaranjado
2%

Figura 7.3-14 - Tratamento de Superfície da amostra total de ambas fases de


pesquisa.

Tabela 7.3-5 - Detalhe da decoração da cerâmica.


Decoração Prospecção Resgate
Escovada e digito ungulada 0 4
Escovada 0 6
Acordelada 0 1
Acordelada e ungulada 0 1
Ungulada 0 1
Pintura vermelha 0 2
Aplique 2 0

61
A LASCA ARQUEOLOGIA

Decoração Escovada e
Aplique digito-
12% ungulada
23%
Pintura
vermelha
12%
Ungulada
6%
Escovada
Acordelada e
35%
ungulada
6% Acordelada
6%

Figura 7.3-15 - Decoração da amostra total de ambas fases de pesquisa.

Figura 7.3-16 - Cerâmica com decoração Figura 7.3-17 - Detalhe da peça com
escovada proveniente da quadra decoração escovada.
563N200W, nível 2.

Figura 7.3-18 - Borda e fragmento Figura 7.3-19 - Bordas proveniente da


decorado proveniente da quadra quadra 565N202W, nível 1.
565N198W, nível 1.

62
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 7.3-20 - Fragmento com Figura 7.3-21 - Fragmento com resquícios


decoração ungulada, proveniente da de pintura vermelha proveniente da
quadra 563N200W, nível 1. quadra 567N200W, nível 1.

 Espessura da cerâmica

A espessura dos fragmentos analisados variou entre 4,6 e 13,1 mm conforme


detalha a tabela 7.3-6 e o gráfico 7.3-22. Neste último, a maior parte da
amostra possui de 8 a 9 mm, semelhante as medidas que a antecede e a
sucede.

Tabela 7.3-6 - Detalhe da espessura dos fragmentos.


Espessura (mm) Prospecção Resgate Total
4,6 a 5,9 0 5 5
6,0 a 7,9 7 32 39
8,0 a 9,9 12 36 48
10,0 a 11,9 6 24 30
12,0 a 13,1 1 5 6
Total 128

63
A LASCA ARQUEOLOGIA

Espessura dos fragmentos


60

50

40

30

20

10

0
4,6 a 5,9 mm 6,0 a 7,9 mm 8,0 a 9,9 mm 10,0 a 11,9 mm 12,0 a 13,1 mm

Figura 7.3-22 - Variação da espessura da amostra total de ambas as fases de


pesquisa.

 Forma do Recipiente

Na fase de prospecção foram recuperados 1 fragmento de base e um


fragmento de borda, “O primeiro, indicou tratar-se de recipiente com base
plana, espessura de 1,1mm e diâmetro de 10 cm” e “o segundo fragmento
apresentou morfologia direta, inclinação interna e espessura normal. O lábio
caracterizou-se como plano com espessura de 0,7mm. O diâmetro da boca era
de 28cm.” (A LASCA, 2007, p.89 e 90) (figuras 7.3-23 e 24).

Figura 7.3-23 - Fragmento de borda Figura 7.3-24 - Reconstituição gráfica da


encontrado na tradagem 45S vasilha de cerâmica a partir do fragmento
(520N200W), nível 0-10cm (A LASCA, encontrado na tradagem 45s (520N200W)
2007). (A LASCA, 2007).

64
A LASCA ARQUEOLOGIA

Dos 9 fragmentos identificados como borda na fase de resgate, 6 foram


reconstruídos tridimensionalmente para a análise morfológica (figuras 7.3-26 e
7.3-27).

Enquanto na morfologia estrutural, as reconstruções indicaram tratar-se de


recipientes com contorno simples e de labiado arredondado, sendo todas as
bordas na figura 7.3-26 e a primeira da figura 7.3-27 de recipientes de forma
restritiva (fechada), enquanto que, os dois últimos da figura 7.3-27 pertencem a
recipientes de forma irrestritiva (aberta).

A exceção dos dois últimos desenhos da figura 7.3-27, todos os demais são
provavelmente de recipientes globulares possivelmente de base arredondada.

A borda SM3-Q-77 da figura 7.3-26 é do tipo extrovertida enquanto as demais


diretas.

O diâmetro da boca em todos as bordas provenientes das fases de prospecção


e resgate (11 bordas) variou entre 11 e 30 cm, sendo: 40% entre 16 e 20cm
seguido de 30% de 10 a 15 cm, portanto a maior parte das bordas recuperadas
(70%) pertencem a vasilhas com diâmetro da boca entre 10 e 20 cm (tabela
7.3.8-1 e figura 7.3.8-2).

Tabela 7.3-7 - Detalhe do diâmetro das bordas.


Diâmetro Boca Quantidade
11 cm 1
12 cm 2
16 cm 1
18 cm 2
20 cm 1
28 cm 2
30 cm 1
Total 10

Diâmetro da borda
26 a 30cm
20%
10
a15cm
21 a 25cm 30%
10%
16a 20cm
40%

Figura 7.3-25 - Variação do diâmetro das bordas.

65
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 7.3-26 - Sítio SM3. Reconstrução das bordas de cerâmica.

66
A LASCA ARQUEOLOGIA

Figura 7.3-27 - Sítio SM3. Reconstrução das bordas de cerâmica.

67
A LASCA ARQUEOLOGIA

7.4 Outros Materiais

Durante as escavações de resgate foram encontrados também materiais


modernos, metal e plástico. Os mesmos foram registrados e coletados como
evidência da alteração do sítio em épocas mais recentes.

O objeto de metal refere-se a um prego de cerca para fixação do arame. O


mesmo foi recuperado na quadra de escavação 561N200W no nível 1.

Dois objetos de plástico foram encontrados nas escavações, uma conta de


colar oval e translúcida (quadra 565N198W, nível 2) e uma pequena letra “B”
(561N200W no nível 1), esta última coletada (figura 7.4-1).

Figura 7.4-1 - Objetos recuperados na


escavação de resgate - metal e plástico.

8. CONCLUSÕES

O material de análise foi quadruplicado na fase de resgate, no entanto,


considera-se o sítio com baixa densidade artefatual, onde soma-se uma
coleção total de 213 fragmentos, dos quais 130 foram analisados. Essa
exiguidade artefatual, aliada ao grau de alteração no contexto, sem dúvida, traz
importantes dificuldades para um melhor entendimento sobre o sítio
arqueológico em questão.

De acordo com o que foi exposto, a frequência da cerâmica resultou baixa, 21


fragmentos/m², considerando ainda que quase 40% consistiram em fragmentos
de tamanho muito pequeno igual ou menor a 1cm². Tal fragmentação pode ter
sido o resultado da movimentação do solo por máquina durante a derrubada do
bosque e a retirada das raízes das árvores, terraplenagem da superfície e
construção de barreiras contra a erosão em filas paralelas de aterros a cada 50
m uma das outras.

68
A LASCA ARQUEOLOGIA

Outro ponto a considerar é o fato de 61% do material recuperado concentrar-se


nos primeiros 10 cm de profundidade, em estratigrafia altamente orgânica (com
muitas raízes e radículas). Outros 37% foram recuperados no nível de 10 a
20cm de profundidade. Esses 98% de material concentrado nos primeiros 20
cm de profundidade puderam ser afetados a cada manutenção do pasto, já que
a área fui utilizada para a cria de gado.

No entanto, as conclusões acima só foram possíveis depois de um trabalho


minucioso de estudo campo/laboratório, justificando plenamente a pesquisa
realizada e a coleção de material recuperada.

Embora ainda não seja possível apontar uma filiação cultural definitiva, o
material recuperado e a análise realizada permanecerá como precedente e
referência para outras pesquisas de nível regional.

Além da prática comum da construção das vasilhas pela técnica de acordelado


e a queima a céu aberto, chama a atenção o uso de engobo branco e
alaranjado e a decoração observada em vários fragmentos diagnósticos:
escovada com faixa digito ungulada próximo a borda, acordelada externa e
pintada (vermelha).

Como já indicado na fase de análise do material proveniente da prospecção, o


tratamento de superfície com engobo branco foi “bastante empregado em
indústrias cerâmicas atribuídas à Tradição Tupiguarani” (A LASCA, 2007).
Aumenta-se a possibilidade de afiliação a essa tradição, pois tem-se histórico
na região de 15 sítios tupiguarani identificados e catalogados pelo Museu
Histórico Sorocabano.

No entanto, a análise não define completamente o material como tupiguarani,


devido a presença de alça e base plana na coleção proveniente da etapa de
prospecção, citando novamente as conclusões daquela análise:

“A presença de um fragmento de asa, a qual foi aplicada


na parte proximal da borda da peça, apresentando
marcas dos dedos e unhas da (o) oleira (o), conferindo
um tipo decorativo e a ocorrência de base plana na
amostra é outro traço diagnóstico que pode indicar tratar-
se de outra Tradição Arqueológica” (A LASCA, 2007,
p.91). Qual a página da citação???

Entretanto, Prous (1991, p.396), sobre a Tradição Tupiguarani relata que: ‘As
alças e asas costumam ser atribuídas à influência européia; no entanto, são
pré-históricas na bacia amazônica, e na fase Cambará do Paraná ’. Também
sobre a presença de base plana, o autor escreve: ‘Nota-se a ausência, nos
sítios anteriores ao século XVI, de fundos planos (...)’” (A LASCA, 2007, p.91).

69
A LASCA ARQUEOLOGIA

Por isso não se descarta inclusive a possibilidade do sítio ter sido colonial,
onde as técnicas de manufatura indígena persistiram entre as populações
coloniais.

Considerando os resultados do resgate arqueológico no Sítio Santa Maria III, a


análise do contexto e dos bens artefatuais coligidos, concluí-se que os
trabalhos na área diretamente afetada estão concluídos, sendo assim,
recomenda-se ao IPHAN/SP que a área seja liberada para o início das obras
do empreendimento.

Vale ainda ressaltar que já está sendo desenvolvido o Programa de Educação


Patrimonial, contemplando o empreendimento como um todo. Os resultados do
programa serão posteriormente apresentados a esse IPHAN em forma de
relatório técnico.

70
A LASCA ARQUEOLOGIA

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Relatório Final. 2004.

73
A LASCA ARQUEOLOGIA

ANEXOS

74
A LASCA ARQUEOLOGIA

ANEXO I
Tabela de análise do material cerâmico

75
A LASCA ARQUEOLOGIA

CERÂMICA
TIPO DE NÍ- DIÂME PASTA
PROCE- CATE-
CÓDIGO ESCAVAÇÃ VE -TRO GRANU- CONSER- SUPER- ESPES OBS
DENCIA GORI ANTI- QUEIMA
O L DA LOMETRI VAÇAO FICIE -SURA
A PLÁSTICO
BOCA A
559N- incomplet
SM3-Q-01 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 11,2
559N-
SM3-Q-02 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina completa erodida 2 faces indeterm. 7,8
559N- incomplet
SM3-Q-03 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida face int. lisa externa 7,1
559N-
SM3-Q-04 200W Quadra 1x1m 1 borda 28 cm quartzo fina completa não erodida lisa 9
559N- erodida face
SM3-Q-05 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina completa ext. lisa interna 8,1
559N- incomplet
SM3-Q-06 200W Quadra 1x1m 1 borda 16 cm quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,3
4
559N- fragmento
200W Quadra 1x1m 1 s ‹ 1cm
561N- incomplet
SM3-Q-07 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 9
561N- incomplet
SM3-Q-08 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,5
561N- incomplet lisa face
SM3-Q-09 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida face int. ext. 8,4
561N- incomplet
SM3-Q-10 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,7
561N-
SM3-Q-11 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina completa erodida 2 faces indeterm. 6,9
561N- incomplet
SM3-Q-12 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a não erodida lisa 11,5
561N- incomplet
SM3-Q-13 200W Quadra 1x1m 1 borda 30 cm quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 10,1
SM3-Q-14 561N- Quadra 1x1m 1 borda 18 cm quartzo fina incomplet erodida 2 faces indeterm. 8,3

76
A LASCA ARQUEOLOGIA

CERÂMICA
TIPO DE NÍ- DIÂME PASTA
PROCE- CATE-
CÓDIGO ESCAVAÇÃ VE -TRO GRANU- CONSER- SUPER- ESPES OBS
DENCIA GORI ANTI- QUEIMA
O L DA LOMETRI VAÇAO FICIE -SURA
A PLÁSTICO
BOCA A
200W a
561N- incomplet
SM3-Q-15 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8,4
561N-
SM3-Q-16 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina completa erodida 2 faces indeterm. 8,2
561N- incomplet
SM3-Q-17 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8
561N- incomplet
SM3-Q-18 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,3
9
561N- fragmento
200W Quadra 1x1m 1 s ‹ 1cm
decoração
escovada
e digito-
ungulada
(mesma
SM3-Q-
563N- incomplet 20, SM3-
SM3-Q-19 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a não erodida interna lisa 12,3 Q-28
563N- incomplet
SM3-Q-21 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,3
563N- incomplet
SM3-Q-22 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8,2
decoração
escovada
(mesma
563N- quartzo e incomplet SM3-Q-
SM3-Q-23 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina a não erodida interna lisa 11,7 24)

77
A LASCA ARQUEOLOGIA

CERÂMICA
TIPO DE NÍ- DIÂME PASTA
PROCE- CATE-
CÓDIGO ESCAVAÇÃ VE -TRO GRANU- CONSER- SUPER- ESPES OBS
DENCIA GORI ANTI- QUEIMA
O L DA LOMETRI VAÇAO FICIE -SURA
A PLÁSTICO
BOCA A
decoração
escovada
563N- incomplet e digito-
SM3-Q-26 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a não erodida interna lisa 11,7 ungulada
563N- incomplet decoração
SM3-Q-27 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a não erodida interna lisa 8,9 escovada
563N-
SM3-Q-29 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina completa erodida face int. externa lisa 7,3
563N- quartzo e incomplet decoração
SM3-Q-30 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina a não erodida interna lisa 10 escovada
563N- quartzo e incomplet
SM3-Q-31 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina a erodida 2 faces indeterm. 10,2
563N- quartzo e
SM3-Q-32 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina completa erodida face int. externa lisa 9,1
563N- quartzo e
SM3-Q-33 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina completa erodida face int. externa lisa 9,6
563N-
SM3-Q-34 200W Quadra 1x1m 2 borda 12 cm quartzo fina completa erodida 2 faces indeterm. 5,3
decoração
escovada
563N- incomplet e digito-
SM3-Q-35 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a não erodida interna lisa 11,8 ungulada
563N-
SM3-Q-36 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina completa erodida 2 faces indeterm. 5,9
563N- incomplet erodida face
SM3-Q-37 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a ext. interna lisa 8,5
563N- barro
SM3-Q-38 200W Quadra 1x1m 2 amorfa mica fina cosido
563N- quartzo e incomplet decoração
SM3-Q-39 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina a não erodida interna lisa 10,5 escovada

78
A LASCA ARQUEOLOGIA

CERÂMICA
TIPO DE NÍ- DIÂME PASTA
PROCE- CATE-
CÓDIGO ESCAVAÇÃ VE -TRO GRANU- CONSER- SUPER- ESPES OBS
DENCIA GORI ANTI- QUEIMA
O L DA LOMETRI VAÇAO FICIE -SURA
A PLÁSTICO
BOCA A
563N-
SM3-Q-40 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina completa erodida 2 faces indeterm. 5,5
563N- quartzo e incomplet decoração
SM3-Q-41 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina a não erodida interna lisa 10,5 escovada
563N- quartzo e incomplet decoração
SM3-Q-42 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina a não erodida interna lisa 11,1 escovada
563N-
SM3-Q-43 200W Quadra 1x1m 2 borda 11 cm quartzo fina completa erodida 2 faces indeterm. 7,5
563N- quartzo e incomplet
SM3-Q-44 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina a erodida face int. externa lisa 7,4
563N- quartzo e incomplet
SM3-Q-45 200W Quadra 1x1m 2 parede mica fina a erodida 2 faces indeterm. 10,2
22
563N- fragmento
200W Quadra 1x1m 2 s ‹ 1cm
563N- incomplet
SM3-Q-46 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a não erodida lisa 12
563N-
SM3-Q-47 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina completa erodida 2 faces indeterm. 7,3
563N- incomplet erodida face
SM3-Q-48 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a ext. interna lisa 12,3
563N- incomplet
SM3-Q-49 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8,2
decoração
ungulada
563N- incomplet e
SM3-Q-50 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a não erodida interna lisa 12,2 escovada
563N- incomplet
SM3-Q-51 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8,3
SM3-Q-52 563N- Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina incomplet erodida face interna lisa 11,1

79
A LASCA ARQUEOLOGIA

CERÂMICA
TIPO DE NÍ- DIÂME PASTA
PROCE- CATE-
CÓDIGO ESCAVAÇÃ VE -TRO GRANU- CONSER- SUPER- ESPES OBS
DENCIA GORI ANTI- QUEIMA
O L DA LOMETRI VAÇAO FICIE -SURA
A PLÁSTICO
BOCA A
200W a ext.
4
563N- fragmento
200W Quadra 1x1m 1 s ‹ 1cm
563N- incomplet
SM3-Q-53 200W Quadra 1x1m 3 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8,9
563N- incomplet
SM3-Q-54 200W Quadra 1x1m 3 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,7
563N- incomplet
SM3-Q-55 200W Quadra 1x1m 3 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 6,3
563N- incomplet
SM3-Q-56 200W Quadra 1x1m 3 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,9
565N- incomplet
SM3-Q-57 202W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 9,2
565N- incomplet
SM3-Q-58 202W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 13,1
565N- quartzo e incomplet
SM3-Q-59 202W Quadra 1x1m 1 borda 18 cm mica fina a erodida face int. externa lisa 6,5
565N- incomplet erodida face
SM3-Q-60 202W Quadra 1x1m 1 parede quatzo fina a ext. interna lisa 10,9
565N- quartzo e
SM3-Q-61 202W Quadra 1x1m 1 parede mica fina completa erodida 2 faces indeterm. 6,6
565N- quartzo e incomplet
SM3-Q-62 202W Quadra 1x1m 1 parede mica fina a não erodida lisa 10,1
565N- incomplet
SM3-Q-63 202W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8,4
565N- incomplet
SM3-Q-64 202W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 9,9
565N- quartzo e incomplet
SM3-Q-65 202W Quadra 1x1m 1 parede mica fina a não erodida lisa 7,7

80
A LASCA ARQUEOLOGIA

CERÂMICA
TIPO DE NÍ- DIÂME PASTA
PROCE- CATE-
CÓDIGO ESCAVAÇÃ VE -TRO GRANU- CONSER- SUPER- ESPES OBS
DENCIA GORI ANTI- QUEIMA
O L DA LOMETRI VAÇAO FICIE -SURA
A PLÁSTICO
BOCA A
decoração
565N- acordelad
SM3-Q-66 202W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina completa não erodida lisa 8 o
565N- quartzo e incomplet
SM3-Q-67 202W Quadra 1x1m 1 parede mica fina a não erodida lisa 7,7
565N- incomplet
SM3-Q-68 202W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a não erodida lisa 10,5
565N- quartzo e incomplet
SM3-Q-69 202W Quadra 1x1m 1 parede mica fina a não erodida lisa 7,2
565N- incomplet erodida face
SM3-Q-70 202W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a ext. interna lisa 6,3
565N- barro
SM3-Q-71 202W Quadra 1x1m 1 amorfa quartzo 24,1 cosido
4
565N- fragmento
202W Quadra 1x1m 1 s ‹ 1cm
565N- incomplet
SM3-Q-72 202W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a não erodida lisa 10,2
mesma
565N- peça
SM3-Q-73 202W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina completa não erodida lisa 10,5 SM3-Q-75
565N- incomplet
SM3-Q-74 202W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,5
decoração
acordelad
565N- incomplet o
SM3-Q-76 202W Quadra 1x1m 2 borda 12 cm quartzo fina a não erodida interna lisa 7,1 ungulado
565N- quartzo e incomplet
SM3-Q-77 198W Quadra 1x1m 1 borda 20 cm mica fina a erodida 2 faces indeterm. 8,2
SM3-Q-78 565N- Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina incomplet não erodida lisa 8,7 decoração

81
A LASCA ARQUEOLOGIA

CERÂMICA
TIPO DE NÍ- DIÂME PASTA
PROCE- CATE-
CÓDIGO ESCAVAÇÃ VE -TRO GRANU- CONSER- SUPER- ESPES OBS
DENCIA GORI ANTI- QUEIMA
O L DA LOMETRI VAÇAO FICIE -SURA
A PLÁSTICO
BOCA A
198W a ungulada
565N- incomplet
SM3-Q-79 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida face int. externa lisa 9,2
565N- incomplet
SM3-Q-80 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 10,2
565N- incomplet
SM3-Q-81 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a não erodida lisa 9,4
565N- incomplet
SM3-Q-82 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8,8
565N- incomplet
SM3-Q-83 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8,6
565N- incomplet
SM3-Q-84 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,2
565N- incomplet
SM3-Q-85 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8
565N- incomplet
SM3-Q-86 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida face int. externa lisa 9
565N- incomplet
SM3-Q-87 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,3
565N- incomplet
SM3-Q-88 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a não erodida lisa 9,1
565N- incomplet
SM3-Q-89 198W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a não erodida lisa 9,3
9
565N- fragmento
198W Quadra 1x1m 1 s ‹ 1cm
mesma
565N- incomplet peça
SM3-Q-90 198W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 7,1 SM3-Q-93

82
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CERÂMICA
TIPO DE NÍ- DIÂME PASTA
PROCE- CATE-
CÓDIGO ESCAVAÇÃ VE -TRO GRANU- CONSER- SUPER- ESPES OBS
DENCIA GORI ANTI- QUEIMA
O L DA LOMETRI VAÇAO FICIE -SURA
A PLÁSTICO
BOCA A
565N- incomplet
SM3-Q-91 198W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 9,1
565N- incomplet
SM3-Q-92 198W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 6,7
565N- incomplet
SM3-Q-94 198W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 5,1
565N- quartzo e incomplet erodida face
SM3-Q-95 198W Quadra 1x1m 2 parede mica fina a ext. interna lisa 9,7
3
565N- fragmento
198W Quadra 1x1m 2 s ‹ 1cm
567N- incomplet
SM3-Q-96 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 10
567N- incomplet
SM3-Q-97 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 8,8
567N-
SM3-Q-98 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina completa erodida 2 faces indeterm. 4,6
567N- incomplet
SM3-Q-99 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida face int. externa lisa 8,5
SM3-Q- 567N- incomplet
100 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a não erodida lisa 7,9
SM3-Q- 567N- incomplet
101 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a erodida 2 faces indeterm. 9,2
SM3-Q- 567N- incomplet
102 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a não erodida lisa 8,1
8
567N- fragmento
200W Quadra 1x1m 1 s ‹ 1cm

83
A LASCA ARQUEOLOGIA

CERÂMICA
TIPO DE NÍ- DIÂME PASTA
PROCE- CATE-
CÓDIGO ESCAVAÇÃ VE -TRO GRANU- CONSER- SUPER- ESPES OBS
DENCIA GORI ANTI- QUEIMA
O L DA LOMETRI VAÇAO FICIE -SURA
A PLÁSTICO
BOCA A
pintura
SM3-Q- 567N- incomplet vermelha
103 200W Quadra 1x1m 1 parede quartzo fina a semi-erodida interna lisa 7,7 interna
SM3-Q- 567N- incomplet
104 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a não erodida lisa 7
SM3-Q- 567N- incomplet
105 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a não erodida lisa 6,1
pintura
SM3-Q- 567N- incomplet vermelha
106 200W Quadra 1x1m 2 parede quartzo fina a semi-erodida interna lisa 6,8 interna
2
567N- fragmento
200W Quadra 1x1m 2 s ‹ 1cm
mesma
peça
540N- quartzo e incomplet SM3-T-02
SM3-T-01 210W Tradagem 9 parede mica fina a semi-erodida lisa 10,5 e M3-T-02
540N- quartzo e incomplet
SM3-T-03 210W Tradagem 9 parede mica fina a semi-erodida lisa 11
560N- incomplet
SM3-T-04 190W Tradagem 2 parede quartzo fina a semi-erodida lisa 10
570N- quartzo e incomplet
SM3-T-05 210W Tradagem 3 parede mica fina a não erodida lisa 11,4

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