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ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS NA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO DA CENTRAL DE

TRATAMENTO DE RESÍDUOS REGIONAL VALE DO JAGUARIBE

PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO

Projeto apresentado à Superintendência do


Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – IPHAN/Ceará, com fins de
solicitação de licença de pesquisa
arqueológica.

Fortaleza – CE
JANEIRO/2018
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS

Figura 1Localização dos municípios de Limoeiro do Norte e Tabuleiro do Norte. (Fonte:


www.wikipedia.org). ...................................................................................................... 10
Figura 2 Área do empreendimento e municípios vizinhos. (Fonte: Secretaria de Cidades,
2016). .............................................................................................................................. 12
Figura 3 Localização da área da Central de Tratamento de Resíduos Regional Vale do
Jaguaribe. (Fonte: EIA, 2014). ......................................................................................... 14
Figura 4Área de Influência (AI) - representação esquemática das diferentes escalas de
abrangência dos impactos e as áreas de influência de um dado empreendimento. .... 18
Figura 5 Biotita-feldsapato gnaisse com textura granoblástica e veio de sílex
concordante com a foliação principal. (Fonte: EIA/RIMA, 2014). .................................. 24
Figura 6Rocha metabasica com veios de quartzo preenchendo zonas de fraturas e .... 25
Figura 7 Planícies dos rios Banabuiú e Jaguaribe. (Fonte: EIA/RIMA, 2014). ................. 28
Figura 8Relação em Mapa dos principais recursos hídricos próximos a área. (Fonte:
EIA/RIMA, 2014). ............................................................................................................ 29
Figura 9 Equipe durante atividade de caminhamento na área da CTR JAGUARIBE. (Fonte:
Arqueosocio, 2017)......................................................................................................... 31
Figura 10 Equipe durante atividade de abertura de sondagens na área da CTR
JAGUARIBE. (Fonte: Arqueosocio, 2017) ........................................................................ 31
Figura 11mapa das estradas do gado. (Fonte, Arqueosoio, 2017) ................................ 41
Figura 12 Exemplos de pinturas rupestres do Lajedo de Soledade. (a) Figuras
geométricas. (Fonte: PORPINO; SANTOS JÚNIOR; SANTOS, 2002) ................................ 49
Figura 13 Gravuras rupestres do sítio arqueológico Pedra Pintada – Círculos concêntricos
radiados. Município de Caraúbas – RN. Fonte: SANTOS JÚNIOR, 2009. ....................... 50

TABELAS

Tabela 1Área do empreendimento. (Fonte: EIA/RIMA, 2014). ...................................... 12


Tabela 2 Poligonal da área do empreendimento. Sistema de Coordenadas: UTM; Datum:
SIRGAS 2000; Zona: 24 S. (Fonte: EIA/RIMA, 2014). ...................................................... 13
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Programa de Monitoramento – FASE III
Tabela 3 Sítios registrados no CNSA até o dia 11/01/18. (Fonte:
http://portal.iphan.gov.br/sgpa/?consulta=cnsa) ......................................................... 47
Tabela 4Modelo de ficha de Monitoramento (Fonte: ArqueoSocio). ............................ 55
Tabela 5 Cronograma de execução das obras. Os espaços delimitados em vermelho
serão alvo de acompanhamento arqueológico. Os espaços em amarelo não serão
acompanhados. (Fonte: Secretaria de Cidades, 2017)................................................... 56
Tabela 6 Cronograma das atividades (Fonte: ArqueoSocio, 2018). ............................... 65

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Programa de Monitoramento – FASE III
SUMÁRIO

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES ............................................................................................... 2

1 IDENTIFICAÇÃO .......................................................................................................... 5
2 EQUIPE TÉCNICA ........................................................................................................ 6
3 APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 7
4 LOCALIZAÇÃO, IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO ....... 10
5 OBJETIVOS ............................................................................................................... 15
6 ÁREAS DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO...................................................... 17
7 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................... 18
8 SÍNTESE DOS ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS REALIZADOS NA ÁREA CTR JAGUARIBE 30
9 LEVANTAMENTO ETNO-HISTÓRICO ........................................................................ 32
10 CONTEXTUALIZAÇÃO ARQUEOLÓGICA ................................................................... 46
11 CONCEITOS E METODOLOGIA ................................................................................. 52
CONCEITOS ................................................................................................................. 53

METODOLOGIA DE CAMPO ........................................................................................ 53

CRONOGRAMA DE OBRA ............................................................................................ 56

12 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS............................... 58


DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS .................................................................................... 61
13 LEGISLAÇÃO ............................................................................................................. 63
14 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES .............................................................................. 65
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 66

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Programa de Monitoramento – FASE III
1 IDENTIFICAÇÃO

EMPREENDEDOR

Razão Social: Secretaria das Cidades - GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

Endereço: Rua General Afonso Albuquerque Lima, Ed. SEPLAG, 1º andar, Cambeba.

Município: Fortaleza - CE
Contato: (85)3221.6360

CONSULTORIA EM ARQUEOLOGIA

Razão Social: ArqueoSócio - Consultoria em Arqueologia e Sociologia LTDA.


CNPJ: 12.656.152.0001/26

Endereço: Rua Paulo Morais, 396, Papicu


Município: Fortaleza - CE

Responsável legal: Luís Augusto Oliveira Mafrense

Responsável técnico: Marcela Albuquerque

Telefone: (85) 30302.2097 / 9912.0144


E-mail: contato@arqueosocio.com

ENDOSSO INSTITUCIONAL

Razão Social: Instituto de Arqueologia e Patrimônio Cultural do Ceará – INSTITUTO


TEMBETÁ
CNPJ: 20.099.869.0001/42
Endereço: Rua Gervásio de Castro, n. 302, Benfica

Município: Fortaleza - CE

Responsável legal: Marcus Pompílio

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Programa de Monitoramento – FASE III
2 EQUIPE TÉCNICA

ARQUEÓLOGO RESPONSÁVEL E DE CAMPO


Nome Completo: Marcela Castro e S. A. Albuquerque
Formação: Graduação em Arqueologia (UFPE)
Endereço: Rua dos Operários, 181, Torre, Recife - PE
RG: 9800201136
CPF: 09633178495
Contato: (81) 99961-0907

GEÓGRAFO

Nome Completo: José Bruno Rodrigues Frota


Formação: Geógrafo (UECE) – Mestrando em Políticas Públicas (UECE)
Endereço: Av. Visconde do Rio Branco, 3081, ap. 106 Joaquim Távora
Cep: 60. Fortaleza-CE
RG: 2000002205980 SSP/CE
CPF: 033.630.853-11
Contato: (85) 8623 3247 - prof.brunofrota@gmail.com

ASSISTENTES DE PESQUISA
Nome Completo: Luís Augusto Mafrense
Formação: Bacharelado em Direito (UNIFOR)
Contato: (85) 9 9912-0144

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Programa de Monitoramento – FASE III
3 APRESENTAÇÃO

O Programa de Monitoramento Arqueológico na área de instalação da Central de


Tratamento de Resíduos Regional Vale do Jaguaribe baseia-se nos procedimentos legais,
a que toda obra de engenharia está sujeita, para licenciamento da área. E refere-se à
terceira das três fases dos estudos arqueológicos para licenciamento da área e
concessão da Licença de Operação (LO).
O projeto está apoiado na Constituição Federal de 1988, especificamente nos
artigos 20 (Bens da União, incisos IX a XI) e 216 (Patrimônio cultural brasileiro material
e imaterial), na Lei Federal 3.924/1961, a qual prevê a necessidade de estudos
arqueológicos antecedentes à execução de empreendimentos. Na Lei Federal 6.938/81,
a qual versa sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e das Resoluções do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nos. 237/97 (regulamentação dos aspectos de
licenciamento ambiental) e 01/86 (critérios básicos e diretrizes gerais para avaliação de
impacto ambiental ) . Apoia-se também e segue as determinações da Portaria 230/2002
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que dispõe sobre a
conciliação das fases de obtenção da licença ambiental com as de pesquisa arqueológica
(licenças prévias, de instalação e de operação).

O Termo de Referência da SEMACE de nº. 2722/2013 é datado de 14 de outubro


de 2013, portanto anterior à publicação da Instrução Normativa 001/2015, que rege os
procedimentos relativos ao licenciamento no âmbito da Arqueologia. Por isso o
enquadramento deste programa nas diretrizes regulamentadas pela Portaria nº.
230/2002, que prevê os estudos arqueológicos em três fases distintas, onde o projeto
em questão visa dar continuidade à pesquisa desenvolvida nas fases anteriores.
A fase de Monitoramento Arqueológico tem como objetivo o acompanhamento
das obras de engenharia ligadas ao empreendimento. Nessa etapa de trabalho, onde há
grande movimentação de sedimento e abertura de poços e valas por maquinário, o
monitoramento arqueológico torna-se uma ferramenta importante na identificação e
resgate de bens arqueológicos. Já que, a movimentação de sedimento pode revelar
sítios, que se encontravam enterrados e não foram identificados durante a fase de
prospecção. Ainda mais, considerando-se a região da instalação das Linhas de

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Programa de Monitoramento – FASE III
Transmissão e Distribuição, onde foi encontrado um número importante de sítios
arqueológicos (VIANA et al, 2008; ALBUQUERQUE, 2011).

O monitoramento é, portanto, uma medida preventiva importante para


salvaguardar o patrimônio arqueológico. Chmyz (2004: 74) ressalta que o
monitoramento arqueológico nas obras de engenharia “configura-se como uma prática
complementar aos trabalhos de salvamento e deve ser considerada como indispensável
na estruturação de projetos”.

Embora a Central de Tratamento de Resíduos em questão seja localizada, na sua


grande parte, no município de Limoeiro do Norte, o empreendimento atenderá também
os municípios circunvizinhos de Alto Santo, Ererê, Iracema, Morada Nova, Quixeré,
Russas, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte, Potiretama e Palhano, todos
localizados no estado do Ceará.
O empreendimento será composto por um Aterro Sanitário, Usina de
Compostagem, Unidade de Tratamento de Resíduos da Construção Civil (RCC) e de
Tratamento de Resíduos de Serviço de Saúde (RSS). Uma pequena parte do terreno que
abrigará o empreendimento avança sobre a limítrofe do município de Limoeiro do
Norte, alcançando os municípios de Morada Nova e Tabuleiro do Norte. A área em
questão representa menos que 10% da área total do empreendimento.
Aterro sanitário pode ser conceituado como uma técnica de disposição de
resíduos sólidos sobre uma superfície previamente tratada e impermeabilizada de modo
a não causar danos ou riscos à saúde e à segurança ambiental, minimizando os impactos
sobre o ambiente, utilizando princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos
à menor área possível e reduzi-los ao menor volume, cobrindo-os com uma camada de
terra na conclusão de cada jornada de trabalho ou intervalos menores, se necessário.
Atualmente, os resíduos sólidos urbanos coletados nesses municípios são
conduzidos a lixões administrados pelas municipalidades, onde são dispostos
diretamente no solo, sem nenhum tipo de tratamento. A prática de disposição de
resíduos em lixões gera uma série de prejuízos socioambientais e sanitários, tais como
a poluição do solo, dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos e do ar, e a
proliferação de vetores de doenças, ratos, moscas, mosquitos e baratas, pondo em risco

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Programa de Monitoramento – FASE III
a saúde pública e comprometendo a qualidade de vida e do meio ambiente a nível
regional.
O estudo em questão tem sua viabilidade financeira assegurada pela SECRETARIA
DAS CIDADES DO ESTADO DO CEARÁ, órgão ligado ao Governo do Estado do Ceará,
enquanto parte da política estadual de gestão integrada de resíduos sólidos.
Os resultados dos estudos da referida solicitação serão apresentados sob a forma
de relatório técnico com vistas a demonstrar o contexto arqueológico da área de estudo,
através de dados primários e fontes secundárias, bem como, a avaliação das
consequências da implantação do empreendimento no que diz respeito ao patrimônio
arqueológico.

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Programa de Monitoramento – FASE III
4 LOCALIZAÇÃO, IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO
LIMOEIRO DO NORTE

O município de Limoeiro do Norte dista 198 Km da capital Fortaleza e está


situado na mesorregião do Jaguaribe, no estado do Ceará, cuja a localização apresenta
as seguintes coordenadas geográficas: 5º 08’ 45” S e 38º 05’ 52” O. O seu território
limita-se com ao Norte com os municípios de Russas e Quixeré, ao Leste com o município
de Governador Dix-Sept Rosado-RN, ao Sul com Tabuleiro do Norte e São João do
Jaguaribe e ao Oeste com Morada Nova.
Segundo o IBGE (2015), atualmente, o município de Limoeiro do Norte possui
área de 750,068 Km² e população aproximada de 58.175 habitantes, majoritariamente,
residente na sede municipal. A densidade populacional é de 74,91 hab./km², IDH-M de
0,682 (PNUD 2010) e PIB per capita de R$ 13.577,31 (IBGE 2013).

Figura 1Localização dos municípios de Limoeiro do Norte e Tabuleiro do Norte. (Fonte:


www.wikipedia.org).

O setor terciário representa a principal atividade econômica do município. O


comércio e a administração pública lideram a fonte de renda e geração de vagas de

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Programa de Monitoramento – FASE III
emprego na área. O turismo vem obtendo significativo avanço, porém ainda é pouco
explorado na região. O setor primário também representa uma parcela significativa do
sustento das famílias. Destaca-se a lavoura de banana, castanha de caju, coco, goiaba,
mamão, limão e uva. Na pecuária destacam-se os rebanhos de bovinos, equinos,
caprinos e suínos (IBGE 2015).
O setor secundário é a terceira maior atividade econômica da região. No
município estão localizadas cerca de 40 indústrias. Treze delas são de produtos
alimentares, uma extrativa mineral, duas de madeira, quatro metalúrgicas, uma têxtil,
uma editorial e gráfica, uma de mobiliário, dez de produtos minerais não metálicos, três
de serviços de construção, quatro de vestuário, calçados e artigos de tecidos, couros e
peles.

CENTRAL DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS REGIONAL VALE DO JAGUARIBE

Conforme informado anteriormente, o empreendimento em questão, refere-se


a construção da Central de Tratamento de Resíduos Regional Vale do Jaguaribe que
atenderá aos municípios cearenses de Alto Santo, Ererê, Iracema, Limoeiro do Norte,
Morada Nova, Quixeré, Russas, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte, Potiretama
e Palhano. Composto por aterro sanitário, usina de compostagem, unidades de
tratamento de RCC e de RSS, a ser construído dentro do mesmo terreno, localizado no
município de Limoeiro do Norte, no estado do Ceará. Conforme a imagem a seguir,
pode-se observar que a maior parte do terreno do empreendimento está situado no
território de Limoeiro do Norte.

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Programa de Monitoramento – FASE III
Figura 2 Área do empreendimento e municípios vizinhos. (Fonte: Secretaria de Cidades, 2016).

Tabela 1Área do empreendimento. (Fonte: EIA/RIMA, 2014).

EMPREENDIMENTO ÁREA EM HECTARES


Central de Tratamento de Resíduos 93,87 Ha
Regional Vale do Jaguaribe

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Programa de Monitoramento – FASE III
O acesso à área a partir da sede municipal de Limoeiro do Norte, dá-se pela CE-
265 em direção à BR 116, após aproximadamente 8 km na BR 116 em direção a Tabuleiro
do Norte, no lado direito, segue por uma estrada secundaria aproximadamente 2,3 km
até a área do empreendimento.
A área da Central de Tratamento de Resíduos Regional Vale do Jaguaribe se
encontra localizada nas proximidades das comunidades rurais Sitio Barrocão, em
Tabuleiro do Norte e Café Queimado, no município de Limoeiro do Norte. A área
indicada situa-se fora do perímetro urbano e distante aproximadamente 13,5 km do
centro de massa regional (Limoeiro do Norte) no ponto de coordenadas planas
aproximadas UTM 9.424.510 S e 585.615 E.

Tabela 2 Poligonal da área do empreendimento. Sistema de Coordenadas: UTM; Datum:


SIRGAS 2000; Zona: 24 S. (Fonte: EIA/RIMA, 2014).
Poligonal X Y
1 584785 9425884
2 584409 9425577
3 585458 9424291
4 585710 9424366
5 586002 9424557

Segundo os Estudos de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto de Meio


Ambiente do empreendimento, elaborados em 2014, de autoria da SANEBRÁS
PROJETOS, CONSTRUÇÕES E CONSULTORIA LTDA, a área do empreendimento dispõe de
infraestrutura como rede elétrica e vias de acesso em bom estado de conservação,
entretanto a estrada secundária não dispõe de pavimentação. A propriedade é
particular e foi bastante modificada pelo homem com registros de retirada de areia,
provavelmente para uso em construção civil e desmatamento.

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Programa de Monitoramento – FASE III
Figura 3 Localização da área da Central de Tratamento de Resíduos Regional Vale do Jaguaribe.
(Fonte: EIA, 2014).

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Programa de Monitoramento – FASE III
5 OBJETIVOS

Este projeto está em conformidade com as determinações da portaria do


Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)/Ministério da Cultura
(MinC) nº 230/2002, que dispõe sobre a conciliação das fases de obtenção das licenças
ambientais com as de pesquisa arqueológica (licenças prévias, de instalação e de
operação). Com base no exposto, o estudo tem como objetivo o desenvolvimento do
Programa de Monitoramento Arqueológico na área de instalação da Central de
Tratamento de Resíduos – CTR REGIONAL VALE DO JAGUARIBE.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Para efetivação do Programa de Diagnóstico e Prospecção Arqueológica na área
de instalação da Central de Tratamento de Resíduos - CTR REGIONAL VALE DO
JAGUARIBE, serão observados os propósitos a seguir:

 Caminhamento e vistoria das áreas que sofrerão atividades de extração e


movimento de sedimento;
 Acompanhamento da abertura de valas, buracos e qualquer atividade que
envolva a retirada de sedimento;
 Acompanhamento das atividades de supressão vegetal;
 Isolamento de áreas, que se julgarem necessárias, para melhor vistoria do local;
 Mapeamento da área que sofreu intervenção em superfície pela engenharia de
obras do empreendimento;
 Identificação de possíveis vestígios arqueológicos que, porventura, possam
surgir no decorrer das intervenções em subsolo e/ou revolvimento de
sedimento. Em caso de identificação de possíveis vestígios arqueológicos, a obra
deverá ser paralisada, a área interditada e o órgão responsável informado para
que se possa iniciar a elaboração de um projeto de resgate do material;
 Realizar atividades de educação patrimonial, com ênfase na equipe de obras, já
que o Programa de Monitoramento Arqueológico é realizado em consonância
com as atividades de engenharia. Necessitando assim, de entrosamento e

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Programa de Monitoramento – FASE III
harmonia de ideias e conceitos acerca da preservação do patrimônio
arqueológico.
 Produzir dois relatórios técnicos parciais durante o período de monitoramento
das atividades;
 Produzir um relatório final, detalhando a metodologia, resultados e
interpretações das atividades realizadas.

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Programa de Monitoramento – FASE III
6 ÁREAS DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO

O Artigo 5º da Resolução CONAMA nº 001/86 define que o estudo de impacto


ambiental deve atender à legislação, em especial aos princípios e objetivos expressos na
Política Nacional do Meio Ambiente, e definir a área geográfica a ser direta ou indiretamente
afetada pelos impactos de um dado empreendimento, denominada área de influência do
projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza.

Em outras palavras, a área de influência de um empreendimento é definida enquanto


a área cuja qualidade ambiental é passível de ser direta ou indiretamente afetada causando
alterações em consequência da sua implantação. Portanto, a área de influência só é passível
de ser apreendida a partir da compreensão das especificidades do empreendimento, das
ações para a sua implantação e, principalmente, da identificação dos impactos ambientais e o
alcance dos seus efeitos sobre cada componente ambiental considerado.
Neste sentido, a Área de Influência (AI) corresponde aos locais passivos de percepção
dos efeitos de um dado projeto, de acordo com a compreensão dos aspectos físicos, bióticos
e socioeconômicos da área. Devem ser considerados os impactos gerados em todas as fases
(planejamento, implantação e operação).
Assim sendo, a área de influência se define a partir da abrangência geográfica dos
impactos e varia de acordo com o meio sobre o qual eles se processam. Especificamente, para
o estudo em questão, a Área de Influência (AI) é formada pela Área Diretamente Afetada
(ADA), Área de Influência Direta (AID) e Área de Influência Indireta (AII).
É importante ressaltar que para o processo de delimitação destas áreas pode haver
uma variação de acordo com o meio analisado já que as interferências sobre os elementos do
meio físico, biótico e social são distintas e, portanto, apresentam espacializações
diferenciadas. Em todo caso, considera-se a delimitação da bacia hidrográfica em que se
insere, além das peculiaridades do empreendimento, tipologia dos impactos ambientais
decorrentes e, em alguns casos, o raio de alcance destes impactos/efeitos.

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Programa de Monitoramento – FASE III
Figura 4Área de Influência (AI) - representação esquemática das diferentes escalas de abrangência
dos impactos e as áreas de influência de um dado empreendimento.
Portanto, são definidas a seguir as áreas (ADA, AID e AII) impactadas de acordo com a
implantação da Central de Tratamento de Resíduos – CTR Regional Vale do Jaguaribe:

 A Área Diretamente Afetada (ADA) corresponde a toda a área do terreno escolhido


para sediar o empreendimento, onde se darão as transformações ambientais diretas
e imediatas. Neste caso, corresponde a uma área de 93,87hectares na zona rural do
município de Limoeiro do Norte;
 A Área de Influência Direta (AID) compreende o espaço onde as alterações nos fatores
ambientais resultam clara e diretamente dos processos e tarefas inerentes à
implantação, operação e desativação do empreendimento. Os limites desta área irão
variar de acordo com aspectos ambientais analisados, mas para maior facilidade de
representação cartográfica, definiu-se para a Central de Tratamento de Resíduos
Regional Vale do Jaguaribe que a AID será a área do empreendimento e seu entorno
próximo, sendo representada pela ADA somada às áreas formadas pelo raio de
100mdo entorno;
 A Área de Influência Indireta (AII) corresponde ao município de Limoeiro do Norte-CE.

7 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL

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Programa de Monitoramento – FASE III
Todas as informações acerca da caracterização ambiental do município e das áreas de
impacto do empreendimento são frutos de uma síntese do relatório de ESTUDO DE IMPACTO
AMBIENTAL – EIA e do RELATÓRIO DE IMPACTO DO MEIO AMBIENTE – RIMA, contratados pela
SECRETARIA DAS CIDADES DO GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ e inseridos dentro do
PROJETO EXECUTIVO DE ENGENHARIA PARA IMPLANTAÇÃO DE ATERRO SANITÁRIO, ESTAÇÃO
DE TRANSFERÊNCIA, ESTUDOS AMBIENTAIS E REVISÃO DE PLANO DE GESTÃO, RELATIVOS AO
GRUPO DE MUNICÍPIOS DE ALTO SANTO, ERERÊ, IRACEMA, LIMOEIRO DO NORTE, MORADA
NOVA, QUIXERÉ, RUSSAS, SÃO JOÃO DO JAGUARIBE, TABULEIRO DO NORTE, POTIRETAMA E
PALHANO NO ESTADO DO CEARÁ, datado de meio de 2014eelaboradospela empresa
SANEBRAS PROJETOS, CONSTRUÇÕES E CONSULTORIA LTDA., sob coordenação do engenheiro
civil Francisco André Martins Pinto.
Estas informações ajudam a compreender a área e o potencial arqueológico a qual o
empreendimento será instalado. É fundamental que estes dados acerca do levantamento
ambiental sejam previamente conhecidos pela equipe de Arqueologia para que possam ser
usadas como base para a escolha da metodologia mais adequada para realização de estudos
que visem à identificação de bens culturais arqueológicos.

ECOSSISTEMA LOCAL
O município de Limoeiro do Norte está situado na região semiárida do nordeste
brasileiro, cerca de 209 km da Capital, Fortaleza. A sede municipal apresenta coordenadas 5º
08' 44" S e 38º 05' 53' W, com altitude média de 30,22 m e temperatura média anual variando
entre 26º a 28ºC (IPECE, 2012).
De acordo com IPECE (2012), o clima da área indicada para instalação da Central de
Tratamento de Resíduos Regional Vale do Jaguaribe varia entre Tropical Quente Semiárido, a
pluviosidade média do município está em torno dos 720,5 mm e caracterizada por possuir
uma estação chuvosa que vai de janeiro a abril.
Baseado nas características geomorfológicas do município, Limoeiro do Norte está
inserido na Depressão Sertaneja, possui elevações cristalinas inferiores a 200 metros de
altitude em ralação ao nível do mar, a leste encontra-se localizada a Chapada do Apodi e
terraços fluviais ao longo do Rio Jaguaribe (IPECE, 2012).

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Programa de Monitoramento – FASE III
A vegetação presente na área do empreendimento é composta por espécies rasteiras
e pioneiras mescladas numa vegetação de caatinga arbustiva aberta apesar da presença de
algumas espécies arbóreas. A existência de algumas espécies de cactáceos é bastante
presente.
A propriedade apontada para implantação da Central de Tratamento de Resíduos
Regional Vale do Jaguaribe (ADA) possui no entorno áreas produtivas, áreas abertas ou
desmatadas para o destino do plantio de culturas antrópicas, porém, com algumas parcelas
de vegetação em regeneração e na área de influência algumas porções de fragmentos
visualmente impactados pela exploração de jazidas.
De acordo com o levantamento realizado das espécies para ADA e AID, verificou-se
que os representantes que compõem a cobertura vegetal da propriedade e áreas de entorno
apresentam uma fitofisionomia comum para outros ambientes deste Bioma, sendo possível
registrar indivíduos botânicos como a PiptadeniamoniliformisBenth. (catanduva),
AnadenantheramacrocarpaBenth. (angico), Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. (jurema-preta),
Piptadeniastipulacea (Benth.) Ducke. (jurema-branca), Mimosa caesalpiniifoliaBenth. (sabiá),
Commiphoraleptophloeos (Mart.) J.B. Gillett. (imburana), Caesalpiniaferrea Mart.
(jucá/pauferro), Zizyphusjoazeiro Mart.(juazeiro), CrotonsonderianusMuell. Arg.
(marmeleiro/marmeleiro-preto),Aspidospermapyrifolium Mart.
(pereiro),Auxemmaonconcalyx (pau-branco/louro-branco), Bauhiniacheilantha (Bong.) Steud.
(mororó),CombretumleprosumMart. (mofumbo) e AnacardiumoccidentaleLinn. (cajueiro).
Com relação à cobertura de solos, a área apresenta solos evoluídos, incluídos na classe de
solos argissolos. Em geral, são solos extremamente ácidos, profundos e apresentam perfis
com sequências de horizontes. Localmente, apresenta-se com profundidades maiores que
dois metros e meio e horizontes texturais ricos em minerais como hematita e goethita,
coloração variegada ou mosqueada e drenagem imperfeita.
Geomorfologicamente, a área situa-se dentro da depressão sertaneja, entretanto se
encontra margeada pela planície Fluvial do Rio Jaguaribe. No entanto, este último setor
comporta-se como mal drenado sem rios e corpos hídricos próximos e livres de declives
acentuados. As principais drenagens da área encontram-se distantes aproximadamente 710
metros a sul da área em estudo. Estas participam dos afluentes do rio Jaguaribe.

20
Programa de Monitoramento – FASE III
Pelo fato da área encontrar-se em um divisor de águas e com solos permeáveis,
admite-se que seria improvável a área em questão apresentar inundações sazonalmente.
Com relação aos recursos hídricos próximos à área de estudo, apresenta drenagens
naturais e córregos, o mais próximo deles está a aproximadamente 710 m da área em estudo.
Todos de natureza sazonal com pouca influência em rios de 3ª ordem, salvo em épocas de
grandes chuvas. Em geral, existem poucos corpos hídricos permanentes tais como açudes e
lagoas. O mais próximo encontra-se a 950 metros da área em questão e é alimentada por
pequenas drenagens de sudeste a noroeste.
A área apresenta-se livre de níveis freáticos acima de 2 metros. A partir de medições
de poços amazonas locais, verificou-se que esse nível se apresenta em torno de 8 a 10m de
profundidade. Pela presença de argilominerais no horizonte B textural dos solos presentes, a
água tende a infiltrar, porém com pouca facilidade. Entretanto o coeficiente de
permeabilidade do solo nesta área se torna um fator positivo, já que se encontra dentro da
norma vigente.

CARACTERÍSTICAS GEOMORFOLÓGICAS

A geomorfologia da área de influência direta e indireta do empreendimento comporta


a influência de fatores litoestruturais, dos processos morfodinâmicos atuantes e das heranças
paleoclimáticas.
A sede do Município de Limoeiro do Norte está situada a 30,22 m acima do nível do
mar. O relevo é plano, possuindo praticamente todo município inserido nas planícies fluviais
dos rios Banabuiú e Baixo Jaguaribe. Entretanto, há ocorrência de outras formas de relevo
como depressão sertaneja e pequenos maciços residuais a oeste do município, chapadas a
oeste, esta última representeada pela Chapada do Apodi, na qual representa a feição limítrofe
entre o Estado do Rio Grande do Norte e Limoeiro do Norte.
Os eventos geológicos causadores de amplos arranjos estruturais e de expressivas
ocorrências litológicas geraram grandes conjuntos de forma de relevo, que constituem na
taxonomia adotada, os Domínios Morfestruturais. Os domínios morfoestruturais
compreendem os maiores táxons na compartimentação do relevo. Ocorrem em escala
regional e organizam os fatos geomorfológicos segundo o arcabouço geológico marcado pela
natureza das rochas e pela tectônica que atua sobre elas.

21
Programa de Monitoramento – FASE III
A região em estudo compreende o Domínio Morfoestrutural dos Depósitos
Sedimentares Quaternários, Faixas Móveis Neoproterozóicas e das Bacias e Coberturas
Sedimentares Fanerozóicas. De modo geral estes compreendem extensas áreas
representadas por planaltos, alinhamentos serranos e depressões interplanálticas elaborados
em terrenos dobrados e falhados, incluindo principalmente metamorfitos e granitoides
associados. De acordo com Ab'Sáber (1977) a região encontra-se nas áreas de Depressões
Intermontanase interplanálticas semiáridas.
Os Depósitos Sedimentares Quaternários constituem áreas de acumulação
representadas pelas planícies e terraços de baixa declividade. Os Cinturões Móveis
Neoproterozóicos compreendem extensas áreas representadas por planaltos, alinhamentos
serranos e depressões interplanálticas elaborados em terrenos dobrados e falhados, incluindo
principalmente metamórfitos e granitóides associados. Por fim, as Bacias e Coberturas
Sedimentares abrigam planaltos e chapadas desenvolvidos sobre rochas sedimentares
horizontais a sub-horizontais, eventualmente dobradas e/ou falhadas, em ambientes de
sedimentação diversos, dispostos nas margens continentais e/ou no interior do continente
(IBGE, 2010).

PLANÍCIE FLUVIAL

Estas planícies se desenvolvem nas porções laterais dos cursos d'água, sendo
resultantes da deposição de sedimentos aluviais. Essas áreas de depósitos aluvionares são
compostas de areias de granulometria de média a grossa, associadas a seixos de quartzo. Na
região da planície fluvial do Baixo curso do Rio Banabuiú e médio curso do Rio Jaguaribe
encontram-se depósitos aluvionares Holocênicos, com solos aluviais.

DEPRESSÃO SERTANEJA

A Depressão Sertaneja caracteriza-se por superfícies aplainadas que discorre sobre


rochas do Embasamento Cristalino, recortando os mais variados tipos litológicos formando
extensas rampas pediplanadas com caimento suave para os fundos vales ou litoral. Sua
topografia varia de plana a ligeiramente ondulada, embora o processo de dissecação possa
deixar relevos colinosos.

22
Programa de Monitoramento – FASE III
Em geral, as depressões apresentam topografias que variam de planas a levemente
onduladas, compreende superfícies de aplainamento truncado pelos processos erosivos
configurando variados tipos de rochas.
Nesse contexto, em termos mais específicos pode-se inserir o território de Limoeiro do
Norte dentro do Sertão do Baixo Banabuiú. Correspondendo a superfícies de aplainamento
conservadas, por vezes colinosa e moderadamente dissecadas em colinas rasas, com topos
convexos em interflúvios tabulares. Normalmente são ambientes de transições com
tendências a instabilidades em função das degradações.

PLANALTOS SEDIMENTARES

Os planaltos sedimentares são caracterizados como feições geomorfológicas em forma


de mesa. Possuem topos planos e elevados em relação ao seu respectivo nível de base de
erosão. Em geral, são feições entalhadas em rochas sedimentares Fanerozoicas e são
resultantes de reativações de falhas marginais, elevando blocos de rocha a altitudes mais
elevadas. À oeste da área em estudo encontra-se a chapada do Apodi, composta
principalmente de arenitos da Formação Açu e calcários da Formação Jandaíra.

GEOLOGIA LOCAL
A compartimentação geológica local referida à área de estudo e sua respectiva área de
influência, direta e indireta, foi descrita buscando identificar as linotipos presentes, bem como
suas respectivas estruturas. No entanto, a área apresenta uma baixa variação de tipos
litológicos, entretanto foi possível descrever rochas relacionadas ao Complexo Jaguaretama,
Formação Faceira e depósitos Holocênicos oriundos da ação fluvial.

COMPLEXO JAGUARETAMA

Localmente o complexo Jaguaretama apresenta-se como rochas de natureza


metatexítica, ambos de origem derivada e ortoderivada. Nesse contexto, o complexo
Jaguaretama apresenta quatro principais litologias: Biotita-feldspato-gnaisse, Biotita gnaisse
com porfiroblastos de k-feldspatos biotita-plagioclásio gnaisse com granada e muscovita
quartzito

23
Programa de Monitoramento – FASE III
O Biotita-feldspato gnaisse localiza-se principalmente na porção nordeste da área e
representa um litotipode textura granoblastica grossa, com grãos de feldspato e quartzo entre
0,2 a 0,5 cm. Apresentam-se pouco foliados, entretanto a foliação principal é marcada pela
biotita e estiramento de grão de feldsapato e quartzo. Apresentam, por vezes, pequenos veios
de sílex concordantes com a foliação principal.

Figura 5 Biotita-feldsapato gnaisse com textura granoblástica e veio de sílex concordante com a
foliação principal. (Fonte: EIA/RIMA, 2014).

Outros corpos aparecem em formas lenticularse ao longo dos flanos de foliação das
rochas ou sobreposta aos gnaisses, entretanto de forma mais restrita. Litologicamnente esses
corpos são classificados como muscovita quartzito. São encontrados principalmente dentro
da área de interesse e a sul, servindo de embasamento para as rochas da Formação
Faceira.Não obstante, outros corpos lenticulares menores tais como veios, podem ser
encontrados em todos os litotipos, concordante ou discordante da foliação. Estas feições
estão relacionadas a resultantes da percolação de líquidos hidrotermais nas fases finais de
deformação. Preenchendo espaços intrafoliaisou fraturas na forma de diques de silexitos e
quartizitos.

FORMAÇÃO FACEIRA

A Formação Faceira ocupa quase toda área de influência direta e sul da área de
influência indireta da área em questão. Formada por arenitos médios a grossos,
moderadamente selecionado e cimentado por calixe do tipo ferricrete. Possuem lentes

24
Programa de Monitoramento – FASE III
conglomeráticas, matriz sustentada de seixos de quartzo, quartzito e basalto, arredondados,
de baixa esfericidade e granodecrescência para o topo.
Essa formatação litológica com as estruturas presentes indica um paleoambiente de
fundo de canal fluvial, controlado por paleocorrentes de 32 azimute. Essa paleocorrente foi
fornecida por embricamentos do eixo C de seixos de quartzo. A presença de grão espaços de
quartzito e basalto, arredondados e de baixa esfericidade, indicam a distância da área de
sedimentação em relação à área fonte, bem como o ambiente de alta energia, marcada pela
moderada seleção, no arraste de carga de fundo de granulação entre 0,2 a 5 cm.

Figura 6Rocha metabasica com veios de quartzo preenchendo zonas de fraturas e


Lente de Quartzito presente a Oeste da área de interesse.

PEDOLOGIA LOCAL

Em escala local, foram encontrados dois tipos de solos, os argissolos e os neossolos.


Ao neossolos são principalmente encontrados na porção norte da área de influência,
relacionados as rochas cristalinas do Complexo Jaguaretama. Já os Argissolos, são
normalmente encontrados na porção sul relacionados as rochas da Formação Faceira,
característica essa que dificulta uma separação nítida do horizonte R. No entanto, este último
preserva características da rocha mãe como o alto teor de óxido e hidróxido de ferro. A seguir
esses tipos pedológicos são descritos.

ARGISSOLOS

Localmente esses solos são caracterizados como juvenis sem processos pedogenéticos
avançados, podendo apresentar uma espessura de até 2 metros. Em escala local eles são

25
Programa de Monitoramento – FASE III
encontrados principalmente em situações topográficas mais baixas, possibilitando sua
lavagem e posterior lixiviação.
São constituídos por cinco principais horizontes de espessuras variáveis, ricos em
óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio. Ao topo há a presença de um horizonte A, bastante
fino, não passando de cinco centímetros misturados com o horizonte O, sobre o qual
representa o horizonte com material orgânico em processo de decomposição.
Seguindo no perfil de solo estão abrigados os horizontes E e B sobre o qual não
possuem uma distinção muito nítida, provavelmente devido à baixa maturidade pedológica
desse tipo. Já o Horizonte E, chamado de horizonte de eluviação, apresenta material
acinzentado, este é pouco espesso e quase imperceptível ao olho desarmado. O horizonte B
representa um horizonte rico em argila do grupo da montemorilonita. Perfaz também um
horizonte amarelado e agregando blocos subangulares de material parental.
Os horizontes C e R são difíceis de serem visualizados devido a semelhança das
características do solo com a então rocha matriz.

NEOSSOLOS

Os Neossolos são solos rasos com textura argilosas, apresentando fertilidade média,
baixa aptidão agrícola e o seu uso contínuo para culturas anuais pode levá-los à degradação.
O perfil pedológico apresenta horizonte B bem visível, encoberto por um horizonte A pobre
em matéria orgânica. Esse tipo de solo apresenta Horizonte R raso e composto principalmente
por gnaisses e quartzitos.
Segundo o SiBCS os neossoloslitólicos são solos com horizonte A ou O hísticos com
menos de 40 cm de espessuras. Os mesmos encontram-se rasos sobre a rocha. Em geral,
apresentam condições topográficas acidentada, sendo pouco espesso. Esses solos estão
presentes onde há afloramento de rochas ocupando áreas de remoção de material.

CARACTERÍSTICAS HIDROGRÁFICAS

A caracterização hidrológica tem por base dados e informações secundárias constantes


em documentos diversos, principalmente da Caracterização da Bacia Hidrográfica do
Banabuiú e Médio Jaguaribe - COGERH (2010) e Diagnóstico do Município de Limoeiro do
Norte – CPRM (1998).

26
Programa de Monitoramento – FASE III
O estudo da disponibilidade hídrica através da análise integrada se faz necessário, uma
vez que o conjunto das características climáticas (temperatura do ar, ventos, umidade relativa
e insolação), pedológicas e fitoecológicas atuantes interferem nos ciclos hidrológicos pelo qual
estabelece a circulação e a renovação das águas superficiais.
Neste contexto, o município de Limoeiro do Norte insere-se oficialmente dentro de
duas subbacias: Sub-Bacia Hidrográfica do Baixo Jaguaribe e do Rio Banabuiú, sendo esta
últimamenos abrangente no que se refere o perímetro municipal de Limoeiro do Norte. Logo
será considerado nesse estudo somente ao que compete a sub-bacia do médio Jaguaribe, uma
vez que, os principais cursos hídricos presentes no município são geridos pelo Comitê desta já
citada.
O município é abastecido principalmente pelo manancial disponível pelos açudes
públicos de Orós (capacidade de 2 bilhões de metros cúbicos, sendo 200 km do município) e
Banabuiú (capacidade de 1,7 milhão de metros cúbicos, 110 km do município), que são
localizados fora do Município.
A água do municípioé originada principalmente pela perenização dorio Jaguaribe, pelo
açude Castanhão e pelo Rio Banabuiú, representando curso fluvial contribuintes das
barragens dos Orós e Banabuiú.
O Rio Jaguaribe atravessa todo o Município, sul a norte,drenando um canal a oeste
(esquerda) e o outro a leste (direita), cujo braço é denominado de Rio Quixeré. Devido a sua
grande extensão é frequente variações em termos litológicos, morfológicos, de tipos de
vegetação, de solos e rede hidrográfica. O Jaguaribe apresenta rede de drenagem pouco
expressiva na margem direita, constituída de pequenos cursos vindos das escarpas da chapada
do Apodi. Os sistemas flúvio-lacustres ocorrem principalmente no conjunto dos tributários da
margem esquerda do Rio Jaguaribe.
O Rio Quixeré, já perenizado possui duas funções importantes: suprimento de água
que abastece o Projeto de Irrigação do Jaguaribe e abastecimento d'água da sede municipal.O
Rio Banabuiú, principal afluente da margem esquerda do Jaguaribe, atravessa todo o e
desemboca abaixo da Cidade de Limoeiro do Norte.
O Município também é beneficiado pelo canal do Projeto Tabuleiro de Russas, que
transecta as terras do município, a oeste, na região do Distrito de Bixopá. Devido ao tipo de

27
Programa de Monitoramento – FASE III
topografia plana, apresenta um número muito pequeno de açudes, particularmente de médio
e grande porte.
Em escala local, os recursos hídricos mais próximos a ADA, são caracterizados por
cursos hídricos sazonais, bastante ramificados e de baixa descarga hídrica. À noroeste
encontra-se o Riacho do Livramento, o Riacho Santa Rosa e o Córrego da Concunda, ambos
afluentes do Rio Banabuiú. Já a sul encontra-se o Riacho das Lajes, afluente do Rio Jaguaribe.
Também há a presença de pequenos corpos hídricos estáveis como açudes e barramentos a
noroeste e a sul, esses alimentados principalmente pela descarga hídrica.

Figura 7 Planícies dos rios Banabuiú e Jaguaribe. (Fonte: EIA/RIMA, 2014).

28
Programa de Monitoramento – FASE III
Figura 8Relação em Mapa dos principais recursos hídricos próximos a área. (Fonte: EIA/RIMA, 2014).

29
Programa de Monitoramento – FASE III
8 SÍNTESE DOS ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS REALIZADOS NA ÁREA CTR JAGUARIBE

Para melhor compreender a dinâmica da área onde será instalado o CTR JAGUARIBE,
é fundamental considerar as observações e identificações feitas nas etapas anteriores,
durante as fases de Diagnóstico e Prospecção.
Tomando como base RELATÓRIO FINAL - PROGRAMA DE DIAGNÓSTICO E PROSPECÇÃO
ARQUEOLÓGICA NA ÁREA DE INSTALAÇÃO DA CTR JAGUARIBE, de autoria do arqueólogo
Everaldo Dourado, foram feitas as seguintes observações acerca do histórico das pesquisas
arqueológicas na área pesquisada:
Ao todo, as atividades de campo foram realizadas no mês de maiode 2017. As
atividades de Diagnóstico e Prospecção ocorreram de forma concomitante na área do
empreendimento. Ao todo foram efetivadas 47 sondagens e 07 pontos de observação. Em
todas as intervenções realizadas, nenhuma identificou material arqueológica em
profundidade. É importante também destacar que nenhum material foi encontrado em
superfície durante o caminhamento na área, conforme a seguir:

Durante o percorrimento na ADA e AID do


empreendimento nenhum vestígio arqueológico foi identificado
em superfície, porém foi possível perceber, grosso modo, uma
nítida divisão de relevo a qual norteou o restante da pesquisa,
sobretudo a realização das sondagens. Seria a presença de um
terraço fluvial, nas cotas altimétricas mais baixas localizadas no
extremo norte e noroeste e com vasta quantidade de seixos em
superfície, ocupando ¼ da área total do empreendimento (setor 1);
outra forma de relevo identificada é caracterizada pelo morro e
suas vertentes que ocupam o centro e demais direções da área
(setor 2) (DOURADO, p. 59)

30
Programa de Monitoramento – FASE III
Figura 9 Equipe durante atividade de caminhamento na área da CTR JAGUARIBE. (Fonte:
Arqueosocio, 2017)

Figura 10 Equipe durante atividade de abertura de sondagens na área da CTR JAGUARIBE. (Fonte:
Arqueosocio, 2017)

31
Programa de Monitoramento – FASE III
9 LEVANTAMENTO ETNO-HISTÓRICO

Para realização desse relatório, partimos da premissa de que a etnohistória enquanto


“história de inevitáveis e permanentes contatos culturais, tornou-se assim, o estudo dos
grupos étnicos e de suas interações mútuas” (FERREIRA NETO, 254, 1997), dessa forma a
etnohistória aplicada aos estudos arqueológicos pode dar subsídios para compreender a
dinâmica de ocupação do território em questão, numa temporalidade que se dilata desde
períodos anteriores à colonização até sua ocupação mais recente, observando a diversidade
étnica, suas formas de interação e sua influência nos processos históricos que se
desencadearam.
Em nossa pesquisa usamos tanto fontes primárias, como os textos dos primeiros
cronistas que incursionaram pelo território cearense e adentraram na região em estudo,
quanto fontes secundárias expressas em artigos da Revista do Instituto Histórico do Ceará,
trabalhos acadêmicos e outras referências bibliográficas pertinentes.
Em relação à escrita dos cronistas, consideramos que esses “diários de viagens”, são
marcados pelo olhar eurocêntrico, comum aos primeiros viajantes e, portanto, deixam
transparecer em sua escrita uma visão inferiorizante dos povos nativos. Ainda assim, eles dão
importantes testemunhos que nos permite compreender os primórdios da colonização, nos
informando sobre a postura da coroa em relação à capitania do Siará Grande, a atuação dos
padres jesuítas, dos costumes, das relações que se estabeleceram entre os europeus e as
várias etnias indígenas, da apropriação, por parte dos colonizadores, do conhecimento
geográfico indígena, dentre outros aspectos.
Dentre os documentos que datam do inicio do século XVII destacamos aqui a Relação
do Maranhão, escrita pelo padre Luís Figueira na ocasião em que os jesuítas, acompanhados
por índios tupis, incursionaram pelas terras do Jaguaribe a fim de chegar à serra da Ibiapaba;
Soma-se a este, os diários do médico e naturalista Francisco Freire Alemão que presidiu a
Comissão Científica de Exploração, criada pelo governo imperial em 1856. Os diários de
Freire Alemão foram publicados recentemente em dois volumes e fazem um relato não
só de fatores ambientais e das paisagens, mas dos costumes, da estrutura das pequenas
vilas e das pessoas que encontrara em seu trajeto.

32
Programa de Monitoramento – FASE III
Da mesma forma, as Revistas do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do
Ceará, publicadas desde o ano de sua fundação em 1887, são fundamentais para a pesquisa
histórica do estado, pois além de agregar a produção de vários expoentes intelectuais, seus
membros tiveram o cuidado de publicar ali alguns dos mais importantes documentos
coloniais, muitos deles oriundos de acervos na Europa. No início do século XX há, no Instituto,
uma intensificação de pesquisas voltadas para questão indígena e, embora elas também
estejam permeadas por um olhar eurocêntrico, consistiram em um importante esforço a fim
de registrar a presença desses grupos.

Destacamos os trabalhos de Carlos Studart Filho com obras como Vias de


comunicação no Ceará Colonial (1937), A rebelião de 1713 (1963) e Os aborígenes do Ceará
(1962 e 1963), referências obrigatórias para qualquer pesquisador que se dedique aos estudos
dos povos indígenas no Ceará.

Vários fatores influenciaram a ocupação tardia do território cearense em relação a


outras capitanias, o que de fato só ocorreu no século XVII com o desenvolvimento da pecuária,
atividade que demandava pouco investimento para sua implementação. A princípio foram
instaladas as fazendas de criar e, em seguida as oficinas de charque margeando os principais
rios: Jaguaribe, Acaraú e Coreaú (GIRÃO, 1994a; 1994b). A demanda de comercialização do
gado ajudou a trilhar as primeiras estradas, a do sertão de fora dominadas pelos
pernambucanos e a do sertão de dentro, pelos baianos (ABREU, 1996; 1998).

O avanço da economia pastoril e a expansão da ocupação territorial geraria um


quadro de intensificação dos conflitos entre colonizadores e povos indígenas, que se viam
cada vez mais espoliados. Francisco Pinheiro (2007) relaciona o processo de distribuição de
cartas de sesmarias, o fortalecimento da pecuária e diminuição do absenteísmo à agudização
destes conflitos, que se configuravam como um choque entre dois mundos distintos. A maior
expressão desse cenário de violência foi a “Guerra dos Bárbaros”, que para Puntoni (2002),
representou o maior esforço no sentido de exterminar e submeter os povos indígenas
experimentado no decorrer do processo de colonização.

Os autores citados acima são fundamentais para compreender os fatores históricos


que influenciaram a dinâmica territorial da região em que está inserida Limoeiro do Norte. O
rio Jaguaribe foi o principal polarizador do ciclo econômico do gado, que corroborou para

33
Programa de Monitoramento – FASE III
formação do que Capistrano chamou de “civilização do couro” (1998) cujos resquícios são
percebidos até hoje. Também foi nas imediações do rio que ocorreram os conflitos mais
sangrentos entre povos indígenas e colonizadores.

Essa referências se somam a uma produção regional mais recente, que tem como
centro difusor o curso de História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos –
FAFIDAN/UECE, localizada no próprio município.

PRESENÇA INDÍGENA E OS PRIMÓRDIOS DA COLONIZAÇÃO NO BAIXO E MÉDIO JAGUARIBE

O Rio Jaguaribe figura como um dos principais marcadores da paisagem do Ceará,


tendo importância desde os primórdios da colonização. Transcorrido já nas primeiras
incursões coloniais pelas terras do Siará Grande, através do caminho que Carlos Studart Filho
(1937) designou como “Estrada Velha”, que ligava, através da faixa litorânea, as zonas
canavieiras em franco desenvolvimento e o Maranhão e, portanto cruzava o Jaguaribe:
“transpondo o Jaguaribe pouco acima de sua foz, a velha estrada demandava Natal, passando
em Amargoso e Guamoré, nas costas de Macau, depois costeando o Atlantico como um
immenso debrum, alcançava a Paraiba” (1937, p. 16).

A “Estrada Velha” servia de referência não só para as expedições oficiais da coroa e


para as missões jesuíticas, mas, para aventureiros que estabeleciam comércio com os grupos
indígenas da região. Carlos Studart (1937) recupera ainda o fato de que a Estrada Velha não
passava de uma pequena vereda que se abria entre a mata sobre o terreno arenoso e que era
perceptível apenas ao olhar sagaz dos povos Tupi. Tal afirmação remonta ao processo de
ocupação do território cearense por um imenso contingente de povos indígenas, bem como
o modo como esses povos tinham domínio e transformavam esses espaços.

Reconhecer e dar visibilidade a esse processo se faz pertinente, pois embora a


historiografia venha há tempos denunciando o processo de invisibilização das diversas etnias
que aqui viviam (e vivem), pouco se tem feito no sentido de produzir um discurso eficaz que
conteste esse quadro. Ainda hoje é corriqueiro o discurso que apresenta o sertão colonial
como um vazio, composto por uma natureza virgem que, se não nega a presença indígena,
destitui-lhe do poder de transformar o meio, contrapondo uma paisagem natural – na qual se

34
Programa de Monitoramento – FASE III
situam os índios e uma paisagem cultural que se constitui apenas com o avançar da
colonização e que foi amplamente registrada pela cartografia (CORRÊA, 2006).

As crônicas e documentos coloniais que versam sobre o Ceará nos apontam um


sentido completamente oposto: a intensa presença indígena, seu conhecimento, apropriação
e transformação do espaço, bem como as inúmeras estratégias de resistência que foram
empreendidas por esses povos no decorrer do avanço colonial, processo marcado não só pelo
esbulhamento de seu território tradicional, mas também pela imposição de um modo de vida
completamente diverso.

Foi com base na documentação colonial e nos textos dos primeiros cronistas que Carlos
Studart Filho (1962;1963a), membro do Instituto Histórico do Ceará, elaborou um quadro da
ocupação indígena na província, ressaltando que além das etnias que viviam aqui desde tempo
pretéritos, o Ceará recebeu um contingente de outros povos oriundos das capitanias vizinhas,
que realizavam deslocamentos territoriais a fim de se afastar das áreas de colonização
avançada. Desta forma, na região do médio e baixo Jaguaribe estariam presentes os seguintes
povos1:

 Jê, representados pelos Aruá:

Os povos Aruá, segundo Studart Filho (1962), seriam os únicos representantes do grupo
Jê no Ceará, habitando uma região que se estendia por entre o rio Jaguaribe e Itaim. Todavia
são escassas as informações sobre essa etnia.

 Tupi, representados pelos Potiguar:

Carlos Studart Filho (1962;1963a) ressalta a grande marcha realizada pelos povos Tupi,
sendo relativamente recente a sua chegada aos solos cearenses, onde se instalaram na região
do baixo Jaguaribe e, posteriormente, na faixa litorânea que se estendia até o Rio Ceará. Esses
deslocamentos teriam sido conseqüência do avanço colonial e da violência empregada pelos
europeus contra os indígenas, que então passaram a ver no Ceará - cuja colonização foi tardia

1
Carlos Studart agrupa as etnias cearenses em seis grupos, a partir de características linguísticas e culturais. Desse
modo temos: Tupi (Tabajara e Potiguar); Tremembé; Cariri (Ariú, Cariri, Cariús, Cariauaês, Caratius, Curema,
Isus e Inhamu); Tarairiú (Canindé, Janduin, Jenipapo, Paiacu, Arariú, Quixelô, Tocarijus, Aperiús, Camaçus,
Javós, Jenipaboaçu, Quitariús e Quixerariús); Jê (Aruás) e; de filiação duvidosa (Azimis, Acocis, Aconguaçus,
Acriús, Anapurus, Apujarés, Calabaças, Chibatas, Icós, Icozinhos, Jaguaribara, Jaguaruana, Jucá, Peba, Tocaiú,
Anacé, Xixirós e Pimpões)

35
Programa de Monitoramento – FASE III
em relação às demais capitanias do que hoje constitui o nordeste - a possibilidade de
manterem suas formas de vida.

Entretanto, aqui a brutalidade para com os indígenas não seria diferente e se fez
sentir desde a primeira tentativa de ocupação efetiva do solo cearense, na expedição
comandada pelo Capitão-Mor Pero Coelho de Sousano ano de 1603. A expedição foi motivada
pelo risco eminente de perder o território, sobretudo para os franceses que há muito vinham
questionando os domínios portugueses e estabelecendo relações com os indígenas. Tendo
como ponto de partida a Paraíba, adentrou o Ceará pelo rio Jaguaribe, contando com uma
comitiva composta por 65 soldados e 200 índios Tupi “mansos”. Essa expedição teria sido
responsável por uma nova dispersão dos Potiguar, pois, Pero Coelho teria sido
responsável pelo aprisionamento e morte de vários indígenas, impulsionando a fuga
desses povos para a direção oeste.

O fracasso da expedição dado a falta de apoio da coroa, o flagelo da seca e a


resistência dos grupos indígenas, que se rebelavam contra o tratamento brutal a que
eram submetidos, provocou novo abandono do solo cearense pela coroa e, apenas em
1607 ocorreria uma nova expedição, comandada pelos padres Jesuítas Francisco Pinto e
Luis Figueira. Os missionários buscavam cumprir a missão da igreja católica, evangelizando
os índios do Ceará e do Maranhão, além de vencer a resistência dos indígenas para com os
colonizadores, sobretudo após a expedição de Pero Coelho. Vale salientar, que a igreja teve
um papel fundamental na expansão colonial, agindo no sentido de garantir ideologicamente
a conquista (PINHEIRO, 2007).

Os padres chegaram ao Ceará em fevereiro de 1607, desembarcando no Rio Jaguaribe,


onde os índios que lhes acompanhavam partiram em busca de seus parentes que haviam se
“embrenhado no mato” para fugir de Pero Coelho. Do Jaguaribe a expedição seguiu por terra
em direção a serra da Ibiapaba, onde se estabeleceram junto aos Tabajara por alguns meses,
buscando manter relações com os índios do Maranhão. Após sofrerem ataque dos índios
Tocarijú, que resultou na morte do Pe. Francisco Pinto, Luís Figueira desce a serra da Ibiapaba
seguindo pelo litoral (FIGUEIRA, 1903).

36
Programa de Monitoramento – FASE III
Os Potiguar voltariam a aparecer nos relatos coloniais a partir de Martin Soares Moreno2, que
os “pacificou” e contou com seu apoio na primeira experiência de ocupação efetiva da
capitania. Soares Moreno havia participado da expedição de Pero Coelho, no entanto
estabeleceu boas relações com os indígenas, sobretudo com os Potiguar, de forma que
encontrou menos resistência ao seu intento.

Após fundar forte de São Sebastião3 nas margens do rio Ceará concretizando o primeiro núcleo
de povoamento colonial, Martin deixa o Ceará com a finalidade de combater os franceses no
Maranhão, retornando apenas em 1621, o que não duraria muito, uma vez que novamente
foi convocado para guerra, desta vez contra os holandeses, partindo em 1631 para
Pernambuco. A saída de Martin Soares Moreno representou a decadência e abandono do
forte de São Sebastião, que, na ocasião da invasão holandesa em 1637 não tinha condições de
apresentar qualquer resistência.

É importante notar que os Potiguar também travaram relações ambíguas com os


holandeses e que, se antes eles haviam sido fundamentais para a consolidação do forte de
São Sebastião ao lado de Martin Soares, anos mais tarde, em 1634 iriam apoiar os Holandeses
em sua primeira tentativa de se instalar no nordeste, numa amistosidade que não durou
muito, pois, pouco tempo depois os neerlandeses foram expulsos pelos mesmos índios,
voltando a receber seu apoio novamente em 1649. Esse cenário no qual as alianças com os
europeus - sejam eles portugueses, franceses ou holandeses - rapidamente são reformulados,
denota que os grupos indígenas, diferente de uma suposta passividade ou aculturação, agiam
de maneira perspicaz a fim de assegurar uma melhor condição dentro de um contexto que se
mostrava avassalador.

 Tarairiú, representados pelos Paiacu e Janduim:

Os Tarairiú figuram nas crônicas e documentos coloniais como povos extremamente


belicosos, empregando grande resistência ao processo de expansão colonial. Viviam pelos
sertões com incursões pelo litoral a fim de captar alimentos e possuíam uma rica cultura

2
A figura de Martin Soares Moreno foi mitificada no romance Iracema de José de Alencar. A historiadora Ivone
Cordeiro, ao fazer uma análise sobre as representações acerca dos indígenas e do sertão na literatura brasileira do
século XIX, ressalta o quanto o romance entre a índia Iracema e Martin Soares e o nascimento de seu filho Moacir,
corroboraram para afirmação de um discurso de extermínio dos povos indígenas, envoltos na alcunha de caboclos.
Sobre o assunto ver: BARBOSA, Ivone Cordeiro. Entre a barbárie e a civilização: o lugar do sertão na literatura.
3
No local onde Pero Coelho havia instalado, anos antes, o forte de São Tiago.

37
Programa de Monitoramento – FASE III
material, dominando a olaria e a agricultura. Eram ainda, exímios caçadores e pescadores
(STUDART FILHO, 1962).

Os Paiacu foram certamente os que empreenderam maior resistência aos


colonizadores, estando envolvidos nos principais conflitos ocorridos na capitania. Tal
afirmativa é reforçada por Antônio Bezerra (1901) e por Carlos Studart (1962) que os
consideravam um

obstáculo sério ao comércio entre o Ceará e as outras Capitanias do Nordeste


Oriental, e, o que é mais grave, constituiem-se, depois, em um estôrvo
constante ao povoamento da ribeira do Jaguaribe e terras vizinhantes
(STUDART FILHO, 1962)
Em 1666, sob a alegativa de que os Paiacu atacariam o aldeamento Potiguar da
Porangaba, o Capitão-Mor João de Melo Gusmão autorizou uma investida contra a etnia, que
sofreu grandes prejuízos e se refugiaram na Lagoa da Precabura (STUDART FILHO, 1958). Já
fragilizados, aceitaram em 1696 ser aldeados em Monte – Mor o Velho4. Ainda assim os Paiacu
voltariam a sofrer represálias dos colonos, quando o bandeirante paulista e mestre de campo
Manuel Álvares de Morais Navarro comandou o “massacre do Jaguaribe” que culminou com
a morte de cerca de 400 Paiacu e o aprisionamento de outros 300, no ano de 1699 (PINHEIRO,
2007).

Em 1713 novamente os Paiacu se rebelariam contra os colonizadores, desempenhando


papel central no ataque a Vila de Aquiraz, evento que ficou conhecido como a “Rebelião de
1713”, no qual se agregaram aos Paiacu os índios Anacés, Jaguaribaras, Ariús, Jenipapo,
Canindés e Tremembés.

Na época a Vila de Aquiraz, criada em 1713, constituía o principal núcleo de


povoamento no qual se adensavam fazendas destinadas ao cultivo da cana-de-açucar e a
pecuária. Estima-se que foram mortos 200 moradores e um grande número se refugiou na
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. A “Rebelião de 1713” não teve maiores
repercussões entre os portugueses por que fora combatida pelas tropas de João de Barros
Braga, que após sair do Jaguaribe, conseguiu afugentar os índios e derrotá-los nas imediações
do rio Choró (STUDART FILHO, 1963b).

4
O Aldeamento Monte-Mor o Velho deu origem a Vila de Guarany que atualmente é o município de Pacajus.

38
Programa de Monitoramento – FASE III
João de Barros comandou ainda, outros ataques aos índios, agindo de forma brutal,
sendo complacente apenas com os Tremembés sob a alegativa de que estes teriam sido
impelidos a lutar contra os brancos sob a ameaça de serem eles mesmos mortos. O desfecho
do levante de 1713 foi cruel para os índios, que foram mortos, escravizados e perseguidos. Em
alguns casos o aldeamento foi a única alternativa para minimizar as perseguições e garantir
uma relativa proteção.

Da mesma forma, os Janduim que viviam nos sertões do Rio Grande do Norte,
Pernambuco e Paraíba e esporadicamente realizavam incursões pelo rio Jaguaribe, eram
considerados “terríveis combatentes e inimigos ferrenhos de nossos colonizadores a quem
causaram sérias atribulações e infringiram graves derrotas militares no correr do século XIX”
(STUDART FILHO, 1962, p. 62).

Os Janduins tiveram uma posição de destaque no episódio que ficou conhecido como
“Guerra dos Bárbaros” ou “Confederação dos Kariris”, quando, em fins da década de 1680
atacaram os colonos da região do Assu, no Rio Grande do Norte. O conflito se alastrou pelo
Ceará, sobretudo entre os indígenas da região do Jaguaribe, chegando aos sertões do Piauí,
Paraíba e Pernambuco e perdurou até o primeiro quartel do século seguinte (PUNTONI, 2002).

A peculiaridade da “Guerra dos Bárbaros” foi a constituição de uma coligação entre


povos que tinham divergências entre si, mas que com o avanço da pecuária se viam cada vez
mais ameaçados, uma vez que “para viabilizar essa atividade econômica, era fundamental,
para o projeto colonial, ‘limpar’ a terra, isto é, restringir o espaço dos grupos indígenas que
ocupavam a região” (PINHEIRO, 2007, p. 27-28). No Ceará, participaram da Guerra dos
Bárbaros os índios Paiacu, Cariri, Icós, Anacés, Quixelôs, Tremebé, Jenipapo, Canindé, Arariú,
Acriú, Jaguaribara, Icozinhos e Crateús.

Como resposta a ameaça indígena, o governo português não mediu esforços para,
não só conter o conflito, como exterminar os grupos indígenas, num quadro de violência que
chegou ao seu ápice com a vinda dos bandeirantes paulistas, dos quais merecem destaque
Domingos Jorge Velho e Manuel Alves Morrais Navarro. Vencida a “Guerra dos Bárbaros”,
os portugueses conseguiram se assenhorar dos sertões.

 Cariri, representado pelos Cariús:


39
Programa de Monitoramento – FASE III
Os índios Cariris também realizaram um longo percurso até se estabelecerem no Ceará,
tendo se adensado preferencialmente na chapada do Araripe, com algumas manchas
demográficas em outras regiões, como é o caso dos Cariús, localizado entre serra do Pereiro
e terras entre os Bastiões e Cariús. De uma cultura rica, no qual as mulheres “exerciam uma
espécie de matriarcado”, tinham uma agricultura bem desenvolvida e dominavam a cerâmica
(STUDART FILHO, 1962).
Ao lado dos Janduim e Paiacu, empreenderam forte resistência aos colonizadores, tanto
que a referida etnia nomeou a “Confederação dos Kariris”. Paulinho Nogueira, em seu
“Vocabulário Indígena em uso na província do Ceará” registra que “esses índios eram
extraordinariamente rapinas e tão pessimo conceito conquistaram que os colonos
converteram-lhes o nome de cariri em caro, ruim” (NOGUEIRA, 1887, p.48). O autor recai em
um discurso corrente que é permeado pelo olhar eurocêntrico que desqualifica as populações
indígenas, bem como deslegitima a sua luta em defesa da manutenção do seu território e
cultura.

O GADO E A VILA DE SÃO BERNARDO DE RUSSAS

Como é sabido, foi a introdução do gado e a implantação das fazendas de criar que
possibilitou a ocupação colonial no Ceará. As ribeiras dos rios foram fundamentais, de modo
que a distribuição de sesmarias, ocorrida apenas a partir de 1678, partia do litoral seguindo
os cursos dos principais rios (BEZERRA, 1901). A importância dessas bacias hidrográficas são
salientadas também por Clóvis Ramiro Jucá Neto, que as organiza em vertentes:

As principais bacias hidrográficas cearenses podem ser agrupadas em três


vertentes; a sudeste, a norte e a oeste [...]. A vertente sudeste é a mais
importante e está inteiramente inserida nos limites territoriais do Estado. Ela
compreende as bacias do Jaguaribe, do Pirangy, do Choró, do Pacoti e do
Ceará. (2011, p.6)
Se entre os anos de 1679 e 1720 haviam sido doadas 261 sesmarias, com a expansão
da pecuária há um aumento significativo, e entre 1700 e 1740 são doadas 1.700 sesmarias
sendo que cerca de 90% delas se destinavam à pecuária (PINHEIRO, 2007).

Diferente da cana-de-açucar, o gado, a princípio, se destinava ao comércio interno. As


fazendas se instalavam nas margens dos rios e davam origem aos primeiros povoados. O gado
era transportado por estradas que seguiam esses cursos naturais e promoviam a integração

40
Programa de Monitoramento – FASE III
territorial entre sertão e litoral (ABREU, 1998; GIRÃO, 1994a). Na região em estudo, o gado
era transportado através da Estrada Geral do Jaguaribe, que partia do rio Salgado, passando
por Icó e Russa até o Aracati, onde era escoada através do porto.

O mapa a seguir foi elaborado por Clóvis Ramiro Jucá Neto, tomando como base as
informações contidas no artigo de Carlos Studart Filho (1937). A tracejado verde corresponde
a Estrada Geral do Jaguaribe e o ponto 8 a Vila de São Bernardo de Russas,com destaque
nosso assinalando a área em estudo:

Figura 11mapa das estradas do gado.


(Fonte, Arqueosoio, 2017)

Embora, em um primeiro momento a atividade pastoril não gerasse grande


lucratividade, sobretudo se tomarmos como referência as zonas canavieiras, elas funcionavam
como vetor de expansão, agindo no sentido de interconectar os territórios ocupados e
garantir um maior domínio da coroa sobre suas posses (JUCÁ NETO, 2012). Com o
desenvolvimento das oficinas de charque ocorreu uma incrementação da economia pecuária,
pois além de se aumentar a lucratividade com a venda da carne seca, se adentrava no modelo
econômico colonial com a exportação do couro. A região do Jaguaribe ocupou uma posição
de destaque em tal atividade, que, segundo Valdelice Carneiro, foi iniciada em Aracati (1994b).

41
Programa de Monitoramento – FASE III
Em 1777 a freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Russas já apontava a sua
importância no adensamento populacional com um número de 1.027 fogos e 4.525 pessoas
desobriga (JUCÁ NETO, 2012). Em 1788 “possuía a ribeira do Jaguaribe número de currais
suficiente para que fosse exigido dos sesmeiros uma contribuição à construção da igreja, da
hoje cidade de Russas” (GIRÃO, 1994a, p. 38). A freguesia de Russas manteve, ao longo do
ciclo do gado, a sua posição de destaque, pois de

1777 a 1778, as cinco maiores arrecadações ocorreram, por ordem crescente


de grandeza, nas freguesias do Acaraú, Russas, Icó, Quixeramobim e Seara.
No ano de 1782, nas Vilas de Sobral, Quixeramobim, Russas, Icó e Coreaú. No
triênio de 1783 a 1785, nas Freguesias de Icó, Russas, Quixeramobim, Sobral
e Serra dos Cocos [...] As principais vilas setecentistas da Capitania cearense
estavam exatamente nestas freguesias de maior arrecadação. Além da Vila
do Aracati, localizada na freguesia de Russas, e o Icó, a Vila de Sobral
começava a despontar nos últimos vinte e cinco anos do século XVIII como
uma importante vila na capitania do Ceará” (JUCÁ NETO, 2012, p.190).

Com o adensamento populacional e a crescente importância econômica da província,


a coroa via como estratégia de ordenação da justiça e de controle da economia a criação de
vilas, foi assim que em 1801 foi criada a Vila de São Bernardo de Russas.

A vila de Russas foi descrita por Freire Alemão que viajou pela região do Jaguaribe
entre março de 1859 e junho de 1860, passando por Russas em setembro de 1859:

Russas é uma alegre povoação assentada no vale do Jaguaribe, mas em um


ponto elevado de sorte que nem o rio a cobre; na grande cheia de 1842 a
enchente tocou algumas casas nas extremas mais baixas das ruas. As matas
ou tabuleiros que rodeiam esse sítio são planos e rasos, de modo a formar
um horizonte oceânico. A igreja está no meio da grande praça quadrilátera;
as casas, dispostas em duas fileiras laterais e uma na frente, são pela maior
parte térreas, mas têm alguns bonitos sobrados (ALEMÃO, 2006, p. 111).

Além de dar informações sobre a paisagem, os costumes - sobretudo alimentares,


Freire destaca a quase inexistência da agricultura e a atenção dada pelos moradores à
indústria do gado e da cera de carnaúba. Aponta ainda para a configuração étnico-racial da
população que “de ordinário são trigueiras, pela maior parte pardas, cabra e negras; há pouca
gente de raça americana” (ALEMÃO, 2006, p.112).

42
Programa de Monitoramento – FASE III
A presença negra na região do Jaguaribe também é um fator a ser considerado para os
estudos etnohistóricos. Assim como os indígenas, esses povos também foram invisibilizados
sobre a alegativa de que o modelo econômico da província não absorvia grande contingente
de mão de obra negra e que o Ceará fora o primeiro a abolir a escravidão. Esse discurso
promove a associação perversa entre os negros e a escravidão. Já no início do século XVIII os
negros e pardos livres somavam 60,7% da população, enquanto os negros e pardos cativos
representavam apenas 15,8% da população. No fim deste século, a expansão da lavoura
algodoeira ao lado da pecuária iria absorver a mão de obra africana, tornando-se um atrativo
para a população oriunda de outras áreas do nordeste (FUNES, 2007).

Os dados sobre a presença negra na vila de São Bernardo de Russas foram


sistematizados por Pedro Alberto de O. Silva (2011, p. 73) e reiteram a afirmação de Funes de
que os negros não deveriam ser associados apenas ao trabalho escravo, uma vez que ali
também figuravam entre a população livre. Tomando como base o ano de 1813 registra-se
um contingente populacional de 1.134 negros livres e 2.568 mulatos livres, enquanto a
população cativa era composta por 886 negros e 528 mulatos.

A VILA DE LIMOEIRO

A primeira solicitação de sesmaria na região do Jaguaribe data de 1681, feita pelo


capitão-mor Manoel de Abreu Soares e outros quatorze companheiros, todos provenientes
do Rio Grande do Norte (BEZERRA, 1901). Essas terras se estendiam da foz do rio Jaguaribe ao
“Boqueirão do Cunha”, localizado no alto sertão do Jaguaribe e, devido a sua extensão, foi
dividida em 15 datas. Foi em uma dessas datas5 que se instalou a fazenda Limoeiro
pertencente a uma importante família proprietária de charqueadas no Aracati, a família
Rodrigues, de modo que a fazenda Limoeiro se consolidou como um entreposto para as
boiadas (Chaves, 2009).

A família Rodrigues foi fundamental para a formação do pequeno povoado, sobretudo


em função de um dos filhos dos proprietários do sítio Limoeiro – Vicente Rodrigues da Silva

5
De acordo com Elisgardênia Chaves (2009) as terras em que a fazenda Limoeiro se instalou faziam parte da data
de Florência Dorneles, essas terras haviam sido doadas anteriormente a Pedro Silva Cardoso, contudo, há um
vácuo documental não sendo possível compreender como essas terras tornara-se posse da família Dorneles.

43
Programa de Monitoramento – FASE III
ter-se ordenado padre e assumido a função de administrador dos sacramentos na freguesia
de Russas. Foi a mando dele que, em 1821, se erigiu um pequeno altar no qual se rezavam as
missas. Apenas em 1844 o oratório foi reformado e transformado em capela por Bonifácio
José Carneiro, tendo como padroeira Nossa Senhora da Conceição de Limoeiro. Não tardou
muito para que a capela alçasse a condição de freguesia através da lei provincial nº 1.081 de
1863, passo fundamental para se emancipar de Russas e tornar-se Vila, o que de fato ocorreu
em 1871(Chaves, 2009).

Antes mesmo de sua ascensão a condição de vila, o povoado de Limoeiro foi percorrido
pela “Comissão de Exploração” em 1859. Na ocasião Freire Alemão registrava o contingente
de moradores e a quantidade de casas, ressaltando ainda a construção da capela:

Limoeiro é uma povoação nova junto à margem direita do Jaguaribe, que em


42 a alagou, tem 40 casas de telha, com 140 a 150 habitantes, e em roda nas
palhoças haverá ainda uns 100 habitantes; de escravos talvez haverá 20. A
igreja é boa e nova, não concluída ainda porém feita de maus materiais, está
já arruinada, e o padre tenciona consertar e acabar [...] Há gente branca na
povoação e notei já do meio do caminho em diante nas choupanas muita
gente e meninos brancos, alvos, corados, loiros. Daqui se avista a serra do
Apodi e o serrote pedregoso da Jurema (ALEMÃO, p. 118).
Além de registrar a presença de escravos, Freire destaca características da população
branca em tom de exaltação, remetendo ao modo como os negros, índios e mestiços eram
corriqueiramente detratados. Em sua passagem por Limoeiro, a Comissão de Exploração foi
recebida pelo padre Francisco Ribeiro Bessa, que além do cargo religioso foi deputado
provincial por sucessivos mandatos entre 1862 e 18646 e cuja influência contribuiu para
emancipação de Russas e elevação de Limoeiro à condição de Vila e em 1897 à cidade (Chaves,
2009).

Outro aspecto eminente trazido por Freire Alemão foi o registro das enchentes, pois
banhada pelos rios Jaguaribe e Banabuiú, ambos intermitentes, Limoeiro teve de conviver ora
com períodos de estiagem e todas as mazelas advindas com as secas, ora com as cheias dos
rios, cujo efeito também se mostrava catastrófico.

Após a elevação a condição de cidade a Câmara de Vereadores adotou uma série de


medidas que tinham a finalidade de dar contornos mais urbanos a Limoeiro, de forma que foi
realizado reparos no mercado público, adotadas padronizações para o traçado urbano e

6
Mas precisamente os mandatos de 1862-1863, 1870-1871, 1872-1873 e 1876-1877.

44
Programa de Monitoramento – FASE III
medidas de limpeza urbana, proibição da circulação de carros, mudança dos dias de feira,
dentre outras ações (CHAVES et al, 2014).

A criação da Diocese de Limoeiro do Norte também foi fundamental para o


desenvolvimento urbano da cidade. Após disputar com Aracati e Russas a localização da
diocese do à ser criada, Limoeiro do Norte, em função de vasta articulação política e
eclesiástica e da captação de recursos necessários ao custeio das despesas e construção do
palácio episcopal, venceu a disputa. A Diocese do Jaguaribe foi criada em 1938, numa época
em que existia apenas a Arquidiocese de Fortaleza e as Dioceses de Sobral e do Crato.

Dom Aureliano Matos, primeiro bispo da diocese de Limoeiro, soube se coligar a elite
local a fim de constituir uma estrutura de desenvolvimento social básica que se alicerçava na
saúde, educação, trabalho e religião de modo que em pouco tempo, o bispo se tornou a figura
principal da cidade, ofuscando inclusive o papel do prefeito.

Datam desse período a fundação da Maternidade São Raimundo, a articulação política


para trazer para Limoeiro o atendimento do Serviço de Assistência ao Menor – SAM, a
construção do Grupo Escolar Padre Joaquim de Menezes, a Escola Normal Rural, o
Educandário Padre Anchieta, o Patronato de Santo Antônio dos Pobres, dentre outras obras.

A atuação de Dom Aureliano de Matos em Limoeiro do Norte era permeada pelo


trabalhismo pertinente ao período Vargas. Aliás, o próprio bispo Mantinha relações com o
interventor Menezes Pimentel o que facilitou as suas ações de desenvolvimento social. Além
disso, seu bispado foi marcado pelo “combate ao perigo comunista”, de modo que a diocese
adotou os preceitos da Encíclica Papal RerumNovarum, publicada pelo papa Leão XIII em 1891,
em um contexto no qual o catolicismo perdia devotos, sobretudo com a emergência o
movimento operário e a aproximação destes com o Partido comunista, bem como pelo avanço
das igrejas protestantes. Deste modo, era preciso que a igreja traçasse estratégias a fim de
manter seus devotos, sobretudo no campo, onde a igreja ainda mantinha forte influência
(FREIRE, 2016). Ainda assim, a construção da diocese e a atuação de Dom Aureliano Matos
contribuiu significativamente para estruturação da cidade de Limoeiro do Norte.

45
Programa de Monitoramento – FASE III
10 CONTEXTUALIZAÇÃO ARQUEOLÓGICA

Durante o levantamento bibliográfico para a elaboração desta contextualização


arqueológica, verificou-se que, até o presente momento, há registros sobre a presença de dois
sítios arqueológicos no município de Limoeiro do Norte. São eles Sucupira I e Sucupira II,
ambos assentes sobre afloramentos calcários.

46
Programa de Monitoramento – FASE III
Segundo as fichas do CNSA/IPHAN, os sítios Sucupira I e Sucupira II foram registrados
durante as atividades de Diagnóstico e Prospecção Arqueológica realizadas ao longo da Linha
de Transmissão 230 KV Aracati-Cumbe/Russas, passando pelos municípios de Aracati,
Itaiçaba, Palhano e Russas, no estado do Ceará.
O sítio Sucupira I é descrito como sendo multicomponencial, com ocorrência de
artefatos líticos lascados (lascas, microlascas, núcleos e batedores) e fragmentos cerâmicos
(bordas, bases) decorados. O sítio Sucupira II, por sua vez, seria marcado pela ocorrência de
raros artefatos líticos lascados.
Entretanto, foram identificados,nos municípios-limites com Limoeiro do Norte, sítios
arqueológicos históricos e pré-históricos. Na tabela abaixoestão relacionados os sítios
arqueológicos registrados no CADASTRO NACIONAL DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS com o
município em questão:

Tabela 3 Sítios registrados no CNSA até o dia 11/01/18. (Fonte:


http://portal.iphan.gov.br/sgpa/?consulta=cnsa)

ANO DE
MUNICÍPIOS NOME DOS SÍTIOS CATEGORIA
REGISTRO
LIMOEIRO DO NORTE– CE SUCUPIRA I PRÉ-HISTÓRICO 2001
LIMOEIRO DO NORTE – CE SUCUPIRA II PRÉ-HISTÓRICO 2001
APODI - RN SOLEDADE RUPESTRE 1963
APODI - RN LAJEDO DE SOLEDADE CALCÁREO 1993
APODI - RN PRADO RUPESTRE 2001
MORADA NOVA UIRAPONGA I PRÉ-HISTÓRICO 2001
MORADA NOVA UIRAPONGA II PRÉ-HISTÓRICO 2001
MORADA NOVA UIRAPONGA IV PRÉ-HISTÓRICO 2001

No município de Morada Nova, que faz fronteira com Limoeiro do Norte, há registro
de três sítios cadastrados no IPHAN, conforme a tabela a cima. Os sítios Uiraponga I, II e IV são
descritos como pré-históricos e unicomponenciais, apresentando líticos lascados.
Embora até o dia 08 de agosto de 2016 ainda não constasse no banco de dados do
CNSA nenhuma referência à presença de sítios arqueológicos no município de Quixeré, é
sabido, através do levantamento de DIAGNÓSTICO ARQUEOLÓGICO NA ÁREA DE
INTERVENÇÃO DO EMPREENDIMENTO DE EXTRAÇÃO E BENEFICIAMENTO DE CALCÁRIO

47
Programa de Monitoramento – FASE III
CALCÍTICO DA ITATIBA MINERAÇÃO LTDA., NO DISTRITO DE LAGOINHA, EM QUIXERÉ- CEARÁ
(FASE I), coordenado pela arqueóloga Karlla Soares em 2014, que um sítio arqueológico
denominado Lagoinha I foi registrado junto ao órgão.
O sítio localiza-se na AID de um empreendimento que será instalado numa área de
extração de rochas e é classificado como pré-histórico, com presença de lascas e de
fragmentos líticos, além de materiais líticos com indícios de polimento e/ou com prováveis
marcas de uso.

No sítio Lagoinha I, em meio aos materiais líticos em calcários de


textura média mais adequados ao polimento ou aproveitamento
de seixos cuja forma já propiciasse eventual utilização, também
pudemos observar a presença de lascas e fragmentos que se
configuram como produto do lascamento efetuado sobre
matérias-primas assemelhadas a calcedônia. (SOARES, 2013)

Além de um sítio pré-colonial, foram também identificadas três áreas de ocorrências


durante a execução das atividades de campo do Projeto do referido projeto.
No que diz respeito aos municípios do estado vizinho do Rio Grande do Norte, sabe-se
que no oeste Potiguar, até 2008, havia 10 sítios arqueológicos com presença de grafismos
rupestres (SANTOS JÚNIOR, 2008, p. 518). Na microrregião da Chapada do Apodi, também são
encontrados sítios arqueológicos rupestres, sendo um dos mais conhecidos o Lajedo da
Soledade, no município de Apodi-RN, descrito como “uma área de aproximadamente 3 km2,
constituindo a maior exposição de rochas carbonáticas da seção inferior da Formação
Jandaíra, Cretáceo Superior, Bacia Potiguar” (BAGNOLI, 1994, apud PORPINO; SANTOS
JÚNIOR; SANTOS, 2002, p. 404). Ainda segundo esses autores, a beleza cênica do lugar deve-
se não somente às feições cársticas das formações rochosas, mas também ao grande número
de pinturas rupestres no local. Além dos registros rupestres sobre calcário (MILLER, 2009, p.
10), também foram encontrados fragmentos cerâmicos (com decoração ungulada, corrugada,
incisa e escovada) e líticos polidos (PORPINO; SANTOS JÚNIOR; SANTOS, 2002, p. 406).As
pinturas são assim descritas pelos autores:

As pinturas foram elaboradas predominantemente na cor vermelha,


aparecendo de forma minoritária as cores amarela e preta. Foram utilizadas
cinco técnicas de execução: utilizando a ponta dos dedos, pequenos galhos
48
Programa de Monitoramento – FASE III
de vegetais, pincéis primitivos, bastões de ocre ou carvão e com as mãos
carimbadas. Essas pinturas, com representações temáticas voltadas
predominantemente para a elaboração de grafismos puros (registro rupestre
que não permite qualquer tipo de interpretação e/ou reconhecimento ante
a nossa realidade sensível segundo Martin, 1999) e raras manifestações
zoomorfas, podem ser vistas somente em determinadas ravinas do Lajedo,
que teriam sido preparadas previamente com a quebra de suas bordas
(PORPINO; SANTOS JÚNIOR; SANTOS, 2002, p. 407).

Figura 12 Exemplos de pinturas rupestres do Lajedo de Soledade. (a) Figuras geométricas. (Fonte:
PORPINO; SANTOS JÚNIOR; SANTOS, 2002)

O sítio Soledade, conforme descrição que consta na ficha consultada, trata-se de um


sítio de pinturas e gravuras rupestres em um abrigo rochoso de formação calcárea.
O sítio Lajedo de Soledade também é descrito como sendo um sítio de pinturas e
gravuras rupestres sob abrigos calcários resultantes das formações Jandaíra - Açu,
apresentando várias ravinas, grutas, abrigos e cavernas onde foram executadas pinturas e
gravuras rupestres. Comentários e descrições anteriores sobre este sítio, bem como sobre
outros aspectos arqueológicos locais, também tinham sido elaborados por pesquisadores
como Lamartine (1960), Cabral e Nasser (1964).
A área do sítio Lajedo de Soledade também é portadora de potencial paleontológico,
conforme informações recorrentes na literatura especializada das últimas cinco décadas.
As primeiras referências ao Lajedo constantes na bibliografia especializada têm mais
de 90 anos e podem ser encontradas em trabalhos pioneiros sobre a geologia da região
Nordeste do Brasil. Crandall (1910) e Sopper (1923) mencionaram o Lajedo, porém sem fazer
referência aos fósseis. Rosado (1957) foi o primeiro autor a registrar a ocorrência de material
paleontológico no local (osteodermos isolados de Glyptodontidae). Posteriormente, Souza-

49
Programa de Monitoramento – FASE III
Cunha (1966) corroborou esse registro durante uma exploração realizada em diversos
depósitos fossilíferos pleistocênicos do Rio Grande do Norte (PORPINO; SANTOS JÚNIOR;
SANTOS, 2007).
O sítio Prado, por sua vez, seria composto por vários painéis de gravuras ao longo do
riacho Prado5. Segundo informações fichas do CNSA sobre o sítio Prado, as inscrições ali
existentes não são facilmente visualizáveis entre as rochas ao longo do curso do riacho.
Atividades de reconhecimento em locais com características semelhantes, ao longo desta
pesquisa, demandariam atenção especial, portanto.
Com base nestas informações arqueológicas prévias, obtidas através de
levantamentos preliminares acerca dos antecedentes da pesquisa em municípios cearenses e
potiguares circunvizinhos ao município de Limoeiro do Norte- CE, pode-se antever o potencial
arqueológico da área.
Além do Lajedo da Soledade, existem outros sítios rupestres no Oeste do Rio Grande
do Norte, como “as gravuras do riacho Olho d’Água do Milho, em Carnaúbas e as inscrições
da Furna do Letreiro, em Baraúnas”, ambos os municípios do oeste do Rio Grande do Norte
(SPENCER, 2004-05, p. 12).

Figura 13 Gravuras rupestres do sítio arqueológico Pedra Pintada – Círculos concêntricos radiados.
Município de Caraúbas – RN. Fonte: SANTOS JÚNIOR, 2009.

50
Programa de Monitoramento – FASE III
De acordo com Santos Júnior, a maior parte dos registros rupestres do Oeste Potiguar
é formada de gravuras “elaboradas através das seguintes técnicas de execução: raspagens
simples, picotagem (percussão) e com posterior polimento (fricção)” (SANTOS JÚNIOR, 2009,
pp. 1-2; SANTOS JÚNIOR, 2013, p. 89). Os locais escolhidos para as gravuras, ainda de acordo
com este pesquisador, são lajedos graníticos ou formações rochosas graníticas e calcárias
rentes ao solo, próximos a olhos d’água ou pequenos riachos, cuja perfuração na rocha fica
em torno de 1 a 3 mm, sendo frequentes as sobreposições de desenhos. No entanto, não há
muitos registros em regiões mais altas, como a Serra de Santana ou a Serra de Martins,
conforme apontado pelo mesmo autor em trabalho anterior (SANTOS JÚNIOR, 2008, p. 517).
Nos sítios encontrados no Oeste Potiguar, a predominância é de motivos geométricos, embora
Santos Júnior aponte a presença de figuras reconhecíveis de zoomorfos nos municípios de
Upanema, Campo Grande e Itaú (SANTOS JÚNIOR, 2009, p. 10).
O presente levantamento visa situar a esta pesquisa no contexto arqueológico onde a
área estudada está inserida, portanto é de fundamental importância que estas informações
sejam consideradas no levantamento de campo e, através deste, obter maiores informações
acerca da ocupação pretérita da região e dos municípios circunvizinhos à cidade de Limoeiro
do Norte.
Assim, este levantamento apresenta uma caracterização prévia, que será melhor
aprofundada no decorrer do processo da pesquisa arqueológica em questão. Para tanto, a
equipe continuará lançando mão de pesquisas bibliográficas para a consolidação e
comparação com os resultados obtidos em campo.
Estas informações serão coletadas, processadas e analisadas. Seus resultados serão
inseridos dentro do mesmo tópico do relatório final referente ao contexto arqueológico do
município de Limoeiro do Norte.

51
Programa de Monitoramento – FASE III
11 CONCEITOS E METODOLOGIA

Todo trabalho científico é regido por conceitos e metodologia adequada à realização


da pesquisa e aos objetivos da mesma. Para o Programa de Monitoramento Arqueológico na
área de instalação da CTR JAGUARIBE, procura-se utilizar, sempre que possível, os mesmos
conceitos que já havia sendo utilizados nas etapas anteriores.
Em atendimento às diretrizes do IPHAN, relatados Portaria 230, é necessário que a
metodologia de campo esteja em conformidade com atividades que relacionem
monitoramento das atividades de engenharia do empreendimento e resgate de bens
arqueológicos, que podem ser revelados durante o revolvimento do solo feito pela obra.
Entende-se, portanto, que essa fase da investigação arqueológica está intrinsecamente
ligada às atividades, tempo e ritmo de trabalho da equipe de engenharia da obra. E como tal,
deve haver uma conformidade e consenso, entre as partes, para início, pausas e términos das
atividades que se julgarem necessárias em prol da identificação e resgate de bens do
patrimônio arqueológico.

52
Programa de Monitoramento – FASE III
CONCEITOS

Inicialmente é preciso definir, de forma precisa, quais os conceitos chaves que


norteiam esse trabalho. Para tanto, utiliza-se autores com publicações reconhecidas acerca
dos trabalhos de campo em arqueologia.
O conceito de sítio arqueológico e ocorrência arqueológica foram bem definidos no
Relatório Final do Projeto de Prospecção Arqueológica Intensiva na Área Diretamente Afetada
(ADA) da CTR JAGUARIBE:
 Sítio arqueológico – “unidades espaciais físicas dispostas sobre a superfície e
subsuperfície de solos/sedimentos que contenham vestígios materiais (...)7 de
relevante interesse arqueológico” (BROCHER, 2004);
 Ocorrência arqueológica – vestígios arqueológicos que sofreram intensos
processos pós-deposicionais, que não podem mais gerar informações espaço-
temporais de origem;
 Artefato – qualquer objeto móvel utilizado, modificado e/ou fabricado pelo
homem (RENFREW & BAHN, 2011: 51-72);
 Ecofato – resto orgânico e meio ambiental, não artefatual, que possui
relevância cultural (RENFREW & BAHN, 2011: 51-72);
 Estrutura – artefato não transportável (RENFREW & BAHN, 2011: 51-72).

METODOLOGIA DE CAMPO

As atividades de monitoramento arqueológico, nas áreas que irão sofrer intervenções


de maquinário relacionadas à execução das obras do empreendimento, segue-se metodologia
dotada dos seguintes procedimentos:
 Acompanhamento e observação das atividades que envolvam revolvimento do solo.
Durante essa atividade devem-se fazer registros em fichas, gerais e específicas, acerca
de cada trabalho executado. Na ficha geral de monitoramento os critérios que devem
ser anotados são: tipo de atividade realizada pela engenharia; observações

7
Grifo e exclusão de parte da citação nossa.

53
Programa de Monitoramento – FASE III
arqueológicas e estratigráficas em locais devidamente georreferenciados por meio de
aparelho de GPS (Sistema de posicionamento geográfico)8 – portanto, as coordenadas
desses locais é um critério a ser preenchido na ficha geral. As fichas específicas devem
conter o tipo de material arqueológico encontrado e as observações quanto ao
contexto (espacial e estratigráfico) de cada peça ou estrutura;
 Registro fotográfico dos locais de observação e dos perfis estratigráficos expostos,
assim como dos materiais e estruturas arqueológicas encontradas evidenciadas;
 Desenho de perfis estratigráficos expostos;
 Acompanhamento das atividades de supressão vegetal. Atividade realizada também
como procedimento comum de observação das atividades executórias no
empreendimento. Em caso de identificação de material arqueológico, realizar o devido
registro imagético georreferenciado e uma prospecção nas proximidades do vestígio,
por meio do percorrimento a pé com distância de 05 metros entre os membros da
equipe orientados pelo método de transects radiais ou paralelos (CHARTKOFF, 1978;
BICHO, 2006). Registro das atividades no diário de campo.
Em caso de identificação de ocorrências ou sítios arqueológicos durante as atividades de
monitoramento na área de impacto direto do empreendimento, as obras serão paralisadas e
o trecho onde as ocorrências foram identificadas será interditado. Um novo projeto com título
de Resgate será elaborado e protocolado na sede da superintendência do IPHAN no Ceará,
com a finalidade de resgatar os possíveis materiais identificados.
Durante a realização da limpeza do terreno, terraplanagem e eventuais sondagens
para a instalação da referida estação de transbordo de resíduos sólidos, será utilizada uma
ficha de monitoramento que fornecerá informações precisas sobre cada intervenção,
contendo espaços para o preenchimento de data, observação sobre a vegetação, registro
fotográfico e coordenadas, conforme o modelo de ficha a seguir:

8
Os locais para esse tipo de procedimento devem ser a priori arbitrários, distantes entre si de forma regular e/ou
locais com pontos de deflexão. Havendo necessidade, esse procedimento pode se estender para locais que se
julgar necessário.

54
Programa de Monitoramento – FASE III
Tabela 4Modelo de ficha de Monitoramento (Fonte: ArqueoSocio).

Ficha de Monitoramento Arqueológico – CTR JAGUARIBE


Intervenção
Município:
Data
Coordenadas da intervenção
Profundidade
Zona X Y Z
24M
Contextualização Ambiental

Pedologia/Estratigrafia

55
Programa de Monitoramento – FASE III
Registros Fotográficos
Superfície Profundidade

Material Arqueológico

CRONOGRAMA DE OBRA

Conforme as informações fornecidas pela Secretaria de Cidades do Estado do Ceará,


as obras civis para instalação da CTR JAGUARIBE terão prazo de 12 meses, porém, as fases de
instalação que necessitarão de acompanhamento arqueológico são: limpeza do terreno,
terraplanagem, pavimentação e rede de água e esgoto, demandando o prazo de 120 dias,
conforme a tabela abaixo (demarcado em vermelho). O cronograma oficial, fornecido pela
Secretaria de Cidades, encontra-se anexado a este projeto.
Assim, embora o prazo de instalação da obra seja de 12 meses, serão acompanhados
apenas 120 dias, ou seja, 4 meses, pois as apenas as atividades de limpeza do terreno,
terraplanagem e escavação das trincheiras demandarão o acompanhamento arqueológico.

Tabela 5 Cronograma de execução das obras. Os espaços delimitados em vermelho serão alvo de
acompanhamento arqueológico. Os espaços em amarelo não serão acompanhados. (Fonte:
Secretaria de Cidades, 2017)

56
Programa de Monitoramento – FASE III
RELATÓRIOS PARCIAIS
Dado o curto prazo em que a obra de instalação do empreendimento demandará,
serão previstos a elaboração de apenas dois relatórios parciais mensais desde o primeiro dia
de acompanhamento das obras e um relatório final, com todos os dados obtidos em campo
concatenados com as conclusões finais da atividade de monitoramento.

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Programa de Monitoramento – FASE III
12 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS
A Educação Patrimonial é concebida pelo IPHAN como todos os processos educativos
que objetivem à construção coletiva do conhecimento sobre o patrimônio cultural material e
imaterial.
A educação patrimonial é capaz de fornecer condições para a criação de uma
consciência preservacionista ligada às questões de cidadania, memória e de identidade. Desta
forma, o patrimônio cultural deve ser percebido, por meio da educação patrimonial, como um
fator interligado ao passado das pessoas e que, por isso, deve ser preservado. Segundo Pessis
e Martin (2002), qualquer estratégia destinada à preservação do patrimônio “deveria incluir
uma vigorosa ação educacional em torno dos valores da cultura e sua importância para a
comunidade”.
Nas atividades de educação patrimonial, considera-se que trabalhar educacionalmente
com o patrimônio cultural não pode ser apenas tarefa de passagem de informações e
discursos pré-fabricados. É preciso levar o sujeito ao processo de conhecimento, tornando-lhe
crítico e capaz de ressignificar termos como cidadania, participação, responsabilidade e
pertencimento. Estimulando, por fim, o envolvimento afetivo com o patrimônio, que além de

58
Programa de Monitoramento – FASE III
valorizá-lo, promove a construção de uma sociedade menos volátil em relação aos seus
hábitos de consumo. (CASCO, 2005).
No caso desta fase específica do estudo arqueológico, daremos continuidade às
atividades realizadas pela equipe de Educação Patrimonial, concentrando as ações nas
mesmas escolas onde as atividades foram realizadas nas fases anteriores: Escola de Ensino
Médio Arsênio Ferreira Maia e Escola de Ensino Infantil e Fundamental Ester Guimarães
Malveira, além do corpo técnico que realizará as obras de instalação do empreendimento.
PÚBLICO ALVO

ESCOLA NÍVEL TURNO


ARSÉNIO FERREIRA MAIA ENSINO MÉDIO MANHÃ E TARDE
ESTER GUIMARÃES MALVEIRA ENSINO FUNDAMENTAL MANHÃ E TARDE
CORPO TÉCNICO DE ENGENHARIA MANHÃ E TARDE
OBJETIVOS
 Comunicar por meio de uma perspectiva multidisciplinar o patrimônio cultural
local para a comunidade situada na Área de Influência do empreendimento,
enfatizando nesse processo a importância dos vestígios materiais na
elaboração de uma História Regional que evidencie a participação de diferentes
atores;
 Sensibilizar o público alvo no tocante às questões envolvendo a preservação e
conservação dos bens materiais, além de estabelecer uma ponte com os
pesquisadores;
 Executar ações de educação patrimonial nas escolas públicas das áreas de
interesse versando sobre a importância do patrimônio arqueológico para a
sociedade;

METODOLOGIA
A metodologia adotada neste projeto visa responder às demandas de uma realidade
coletiva, proporcionando possibilitando a apreensão e recriação de conteúdos e conceitos
transmitidos em um contexto, a partir de perspectivas e experiências de mundo diversas.

59
Programa de Monitoramento – FASE III
Segundo, a autora, Maria de Lourdes Parreiras Horta (1999, P.06): “a Educação
Patrimonial busca levar as crianças e os adultos a um processo ativo de conhecimento,
apropriação e valorização de sua herança cultural. ”
Assim, embasado em autores como HORTA, 1999; GRUMBERG, 2007; FUNARI, 2006;
CARNEIRO, 2009, as atividades de Educação Patrimonial serão executadas a partir da
promoção de palestras, oficinas, exibição de filmes e exposiçõesde material arqueológico;
tendo por finalidade preservar a diversidade cultural dos povos a partir de seu
reconhecimento. Assim, as atividades de Educação Patrimonial serão desenvolvidas e
direcionadas à cada faixa etária e público específico.
A partir das respostas positivas das instituições consultadas, as ações educativas
serão planejadas de acordo com o público – alvo e a estimativa de faixa etária. Desta forma,
apresenta-se a seguir, a proposta de realização das intervenções educativas para cada público
– alvo:

 Alunos: Exposição de fotos,exibição de vídeos para demonstrar as atividades ligadas a


Arqueologia,oficina de criação de potes cerâmicos com massa de modelar e montagem de
quebra-cabeça, prática de desenho sobre o meio ambiente pretérito e atual, exibição de
filmes, realização de palestras e conversas em salas de aulae exposição de material
arqueológico;
 Professores: Pretende-se desenvolver diálogos com os professores apresentando a
metodologia diferenciada da Educação Patrimonial aplicada a Arqueologia, para que a mesma
possa ser inserida nos planejamentos e atividades curriculares ao longo do ano letivo.
 Corpo Técnico: Pretende-se desenvolver diálogos com os profissionais apresentando
a metodologia de trabalho da equipe Arqueologia, a importância do acompanhamento da
obra pelos profissionais envolvidos e quais possíveis tipos de materiais podem ser
encontrados durante a execução das atividades de engenharia.

ATIVIDADES POR ESCOLA

Público 1° Atividade 2° Atividade 3° Atividade


Estudantes ensino Exposição de material Exibição: Exposição Oficina: Montagem
fundamental arqueológico de fotografias.. de panelinhas com
massa de modelar.
60
Programa de Monitoramento – FASE III
Estudantes ensino Exposição de material Exibição: Exposição Palestra “O que é
médio arqueológico de fotografias. Arqueologia? ”
Corpo Técnico Palestra “Metodologia Exposição de Exibição: Exposição
do Monitoramento material de fotografias.
arqueológico.” arqueológico

INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Todas as atividades educativas serão acompanhadas por arqueólogos e pedagogos que


analisarão, ao mesmo tempo que desenvolvem as atividades, a forma que cada grupo
específico estará absorvendo e reagindo às informações propagadas.
É importante a sensibilidade e percepção destas informações, por parte da equipe que
desenvolverá as atividades, para que as mesmas não sejam realizadas sem que os grupos
(alunos, professores e corpo técnico) tenham absorvido de forma satisfatória todas
informações necessárias para a conscientização da importância da preservação do patrimônio
arqueológico.
Todas as atividades serão desenvolvidas com a finalidade de formação e
conscientização do papel da Arqueologia de acordo com as faixas etárias e níveis de instrução,
por isso a importância de desenvolver atividades diferentes direcionadas a cada grupo.
As atividades serão discutidas e analisadas de acordo com a percepção dos
profissionais envolvidos. Os resultados serão debatidos e estudados um a um entre os
profissionais que compõem a equipe de Educação Patrimonial com a finalidade de melhor
compreensão sobre a absorção das informações repassadas durante as atividades.
Um dos objetivos deste Programa de Educação Patrimonial é avaliar como cada grupo
recepcionou e reagiu às ações educativas. Os resultados destas avaliações nortearão a equipe
sobre a necessidade de melhor aprofundar alguns temas, realização de novas atividades ou
ajustes nas abordagens pedagógicas implementadas.
Todas as atividades e avaliações referentes às ações desenvolvidas serão descritas,
ilustradas com fotografias e interpretadas no Relatório Final previsto por este projeto.

DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS

A divulgação dos resultados obtidos na pesquisa arqueológica tem como objetivo


sensibilizar e informar a população sobre do Patrimônio Arqueológico.

61
Programa de Monitoramento – FASE III
É dever do pesquisador produzir conhecimento e desenvolver o senso crítico das
comunidades locais, transformando-as em agentes multiplicadores e replicadores destas
informações.
Despertar o sentimento preservacionista, procurando a valoração da identidade
cultural de determinada localidade é o objetivo primordial das ações de extroversão do
conhecimento e Educação Patrimonial.
Desta feita, além de ações mediadas no programa de educação patrimonial, os
resultados obtidos na pesquisa em tela também poderão compor artigos científicos, cartilhas
informativas, trabalhos acadêmicos, entre outros meios de comunicação como mídia digital e
catálogos.

62
Programa de Monitoramento – FASE III
13 LEGISLAÇÃO
Nesta seção, são apontados os instrumentos e normas legais que embasam e
direcionam o trabalho arqueológico ora proposto.
 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – A Carta Magna apresenta já
a importância do patrimônio arqueológico como bem a ser protegido por todos os
entes federativos devido à sua importância para a cultura nacional. A seguir serão
elencados os artigos que apresentam esta postura.
Art. 23: É de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
III- proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico, e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV- impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de
valor histórico, artístico e cultural.
Art. 24: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
Art. 216: Constituempatrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
artístico-culturais;
63
Programa de Monitoramento – FASE III
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
 Lei Federal 3.924, de 26 de julho de 1961 – Esta lei foi criada especificamente para a
proteção do que ela chama de monumentos arqueológicos e pré-históricos,
resguardando-lhes especialmente da exploração econômica que lhes cause dano.
Deixa bem claro no seu artigo 1º, parágrafo único, que “a propriedade da superfície,
regida pelo direito comum, não inclui a das jazidas arqueológicas ou pré-históricas,
nem a dos objetos nela incorporados...”, resguardando, assim, os bens patrimoniais
arqueológicos de usos econômicos indevidos. Nessa mesma lei, no capítulo III, é
tratado o procedimento para realização dos trabalhos arqueológicos por particulares,
instituindo a necessidade de permissão do Governo Federal para sua execução. Da
mesma forma, versa sobre os casos de achados fortuitos e remessas de material
arqueológico para fora do território nacional.

 Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA


Nº 01/86: Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto
ambiental. No artigo 6ª, inciso I, alínea “c”, essa resolução considera os sítios e monumentos
arqueológicos como elementos a serem considerados nas diferentes fases de planejamento e
implantação do empreendimento: c) o meio socioeconômico - o uso e ocupação do solo, os
usos da água e a socioeconomia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos
e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos
ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.
Nº 237/97: Dispõe sobre a revisão e complementação dos procedimentos e critérios utilizados
para o licenciamento ambiental, em acordo com os quais deverá estar a pesquisa arqueológica
 Portaria IPHAN Nº 230, de 17/12/02 – Esta portaria define as fases das pesquisas a
serem realizadas durante as diferentes etapas de licenciamento de obra. A Fase I,
diagnóstico, à qual se reporta esta proposta, corresponde à fase de Licença Prévia
(LP)/EIA-RIMA, cujo produto norteará as Fases II (Programa de Prospecção/Licença de
Instalação) e III (Programa de Resgate Arqueológico/Licença de Operação). O objetivo
é associar os trabalhos de arqueologia aos de licenciamento ambiental e o cronograma
da obra.

64
Programa de Monitoramento – FASE III
14 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
A previsão para realização do projeto é 04 (quatro) meses - 120 (cento e vinte) dias
para o acompanhamento de todas as atividades de instalação do empreendimento que
demandam o monitoramento arqueológico e 01 (um) mês - 30 (trinta) dias para as atividades
de educação patrimonial e de gabinete, necessárias na análise, tratamento e consolidação dos
dados arrolados nos trabalhos de campo.

Tabela 6 Cronograma das atividades (Fonte: ArqueoSocio, 2018).

ATIVIDADES CAMPO GABINETE


Atividades de Campo
- Acompanhamento das atividades de engenharia; 120 dias
- Registros fotográficos;
Atividades de Educação Patrimonial
- Palestras; 10 dias
- Oficinas.
Atividade de Gabinete
- Elaboração de mapas
- Elaboração do levantamento etnohistórico 20 dias
- Elaboração de desenhos técnicos
- Elaboração do Relatório Final
TOTAL 120 dias 30 dias
TOTAL FINAL (DIAS) 150 DIAS
TOTAL FINAL (MESES) 05 MESES

65
Programa de Monitoramento – FASE III
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