Você está na página 1de 15

Revista Brasileira de Cartografia (2014) N0 66/1: 137-151

C Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto


B ISSN: 1808-0936
S

ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DE BARÃO DE


COTEGIPE, RS: POTENCIALIDADE PARA O ORDENAMENTO DO
TERRITÓRIO

Ecological-Economical Zoning of Barão de Cotegipe, RS: Potentiality to the


Territorial Ordering

Franciele Francisca Marmentini Rovani;


Maria da Graça Barros Sartori (in memorian) & Roberto Cassol

Universidade Federal de Santa Maria – UFSM


Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências
Av. Roraima, nº 1000. Prédio 17. Sala 1132. Bairro Camobi, Santa Maria/RS, Brasil CEP: 97105-900.
{franciele.rovani, mgbsartori}@yahoo.com.br, rtocassol@gmail.com

Recebido em 12 de Junho, 2013/ Aceito em 15 de Agosto, 2013


Received on June 12, 2013/ Accepted on August 15, 2013

RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo analisar a vulnerabilidade natural à perda de solo e o potencial social do município
de Barão de Cotegipe, RS, e integrá-los no mapa de zoneamento ecológico-econômico. Para tanto, criou-se um banco
de dados espaciais em um ambiente de Sistemas de Informações Geográficas com auxílio do software Spring versão
5.0.6. No mapa de vulnerabilidade natural à perda de solo utilizou-se como base as informações referentes à geomor-
fologia, geologia, solos, vegetação/uso e ocupação da terra, e o mapa de potencial social foi elaborado de acordo nos
potenciais natural, humano, produtivo e institucional, ambos por meio da álgebra de mapas. Como resultado destaca-se
o mapa de vulnerabilidade natural à perda do solo que representou unidades estáveis com predomínio dos processos
formadores do solo, e unidades moderadamente vulneráveis, prevalecendo os processos erosivos. O mapa de poten-
cial social apresentou um equilíbrio entre o dinamismo e a restrição, ou seja, não foram identificadas unidades com
potencial alto, nem baixo. No mapa de zoneamento ecológico-econômico prevaleceram às unidades produtivas de
expansão (59,08%), possibilitando o desenvolvimento do potencial produtivo de maneira sustentável e dinâmica, e as
unidades críticas de conservação (40,21%), caracterizadas pela elevada vulnerabilidade natural e baixa potencialidade.
Com relação às unidades produtivas de consolidação, consideradas ideais, estas representaram somente 0,05% da área
municipal, enquanto que as unidades críticas de recuperação representaram 0,66%, devido ao alto potencial social e a
elevada vulnerabilidade natural.
Palavras chave: Cartografia Ambiental, Cartografia Temática, Vulnerabilidade Natural, Potencialidade Social.

ABSTRACT
This study aimed to analyze the natural of vulnerability soil loss and the social potential of the city of Barão de Cote-
gipe, RS, and integrate them into the map of ecological-economical zoning. To this end, we created a spatial database
in an environment of Geographic Information Systems with the help of software Spring version 5.0.6. The map of
natural vulnerability soil loss used as base information concerning the geomorphology, geology, soils, vegetation/land
use and occupation, and the map of social potential was prepared according on potential natural, human, institutional
Rovani F. F. M. et al.

and productive, both through map algebra. As a result, there is a map of natural vulnerability to loss of soil, which
represented stable units with a predominance of soil forming processes, units and moderately vulnerable, prevailing
erosive processes. The map of social potential presented a balance between dynamism and constraint, ie, there were no
units with high potential, not down. On the map of ecological-economical zoning, synthesis of information, prevailed
productive of expansion units (59.08%), enabling the development of the productive potential of a sustainable, dynamic
and critical of conservation units (40.21%), characterized the high vulnerability and low natural potential. About the
productive of consolidation units, considered ideal, represented only 0.05% of the municipal area, while the critical of
recovery units represented 0.66%, due to the high potential and high social vulnerability natural.
Keywords: Environmental Cartography, Thematic Cartography, Natural Vulnerability, Social Potential.

1. INTRODUÇÃO a distribuição espacial dos fenômenos naturais


Atualmente, as questões ambientais se e culturais, suas relações e suas mudanças
tornaram objeto de estudo de muitas pesquisas e de através do tempo, eles buscam, na Cartografia,
discussões na sociedade, devido, principalmente, a representação geográfica da dinâmica do meio
à realidade das condições ambientais. Com ambiente.
o desenvolvimento acelerado do processo A Cartografia Ambiental, “como segui-
produtivo, a exploração dos recursos naturais mento específico da Cartografia Temática, procura
tornou-se mais intensa e, em decorrência disso, representar graficamente as complexas relações
surgiram preocupações referentes à problemática existentes entre o meio abiótico e biótico, onde
do equilíbrio ambiental, da conservação e está incluído o homem, ser social, dando origem
preservação dos ambientes, e de seu manejo às cartas ambientais que servem, principalmente,
adequado. de base para verificação e reflexão das questões
Desta maneira, os estudos sobre o meio do ambiente, onde está presente a sociedade”
ambiente, com o objetivo de compreender as (SOUSA, 2009, p. 4). A análise dos diferentes
relações entre a sociedade e a natureza de forma elementos ou dados geográficos apresentados por
integradora, holística, precisam se preocupar não meio da Cartografia Ambiental está inserida, de
somente no levantamento de problemas ambientais acordo com Martinelli e Pedrotti (2001), dentro
causados pela sociedade e como solucioná-los, de uma proposta de Cartografia crítica, no qual se
mas também no estudo do grau de fragilidade tornam evidentes os processos desencadeadores
dos diversos ambientes às interferências da dinâmica da sociedade e natureza de uma
antrópicas (LIMA; MARTINELLI, 2008). determinada realidade espaço-temporal.
Destaca-se ainda, que a intervenção humana no Desde modo, desenvolveram-se diversos
ambiente provoca consideráveis mudanças nos instrumentos de pesquisas para análise dos
elementos que constituem a paisagem, alterando componentes sociais e ambientais de maneira
assim sua dinâmica. Lima e Martinelli (2008) integradora destacando-se o Zoneamento
enfatizam que inúmeros problemas ambientais Ecológico-Econômico (ZEE) que pode ser
são decorrentes das ações antrópicas, e, quanto entendido como um “instrumento técnico e
maior a complexidade das relações sociais, maior político de planejamento das diferenças, segundo
será a necessidade da utilização dos recursos critérios de sustentabilidade, de absorção de
naturais e, consequentemente, as degradações conflitos e de temporalidade, configurando
ambientais. um processo dinâmico, que deve ser revisto e
Diante disso, a ciência geográfica, na sua atualizado periodicamente” (MEDEIROS, 1999,
preocupação em analisar os processos sociais e p. 3). Esse instrumento visa expressar o resultado
sua relação com a natureza, procura compreender de dois processos dinâmicos que integram o
as relações advindas dos processos homem- território: os processos naturais, compreendidos
natureza. Os geógrafos, com sua visão holística, como sendo aqueles parâmetros geobiofísicos
conseguem desenvolver análises integradas do que compõem o ambiente, e os processos sociais,
meio com vistas a ações de planejamento e gestão que dizem respeito à dinâmica socioeconômica
do território. Com isso, para retratar e investigar e aos objetivos políticos (CAMPAGNANI;
SANTOS, 1998).

138 Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014


Zoneamento Ecológico-Econômico de Barão de Cotegipe, RS: Potencialidade para o ordenamento

Conforme Campagnani e Santos (1998), al. (1998, p. 4) salienta que “o conhecimento


o ZEE apresenta informações sobre o território da vulnerabilidade natural é fundamental para
necessárias para planejar a sua ocupação prever o comportamento futuro dos sistemas
racional e o uso sustentável dos recursos naturais diante do processo de ocupação e
naturais, integradas em uma base geográfica adensamento da atividade social”. Além disso,
de dados. Além disso, é possível identificar enfatiza que “a análise da potencialidade social
áreas do território, segundo potencialidades e deve buscar identificar a capacidade das unidades
vulnerabilidades, fundamentais para o processo territoriais em construírem-se em espaços de
de compreensão do cenário atual, integrando mudança, isto é, gerar, difundir e absorver
políticas públicas e colaborando para o processo inovações que promovam o desenvolvimento
de tomada de decisões para ordenamento do endógeno...” (SIMÕES et al., 1998, p. 4).
território. Assim, justifica-se a necessidade de
Nesse sentido, destaca-se a metodologia desenvolver estudos que analisem a paisagem sob
para o ZEE desenvolvida e aplicada inicialmente o enfoque integrado, que priorizem a dinâmica
à Amazônia Legal. Esta proposta visava integrar da paisagem e representem cartograficamente os
aspectos naturais, por meio da avaliação aspectos sociais e naturais, servindo como guias
da vulnerabilidade da paisagem natural, e de orientação e implementação para planejadores
aspectos sociais e econômicos, considerando a municipais. Para tanto, esta pesquisa visou
potencialidade social. De acordo com Becker e identificar e diagnosticar as potencialidades e
Egler (1996), a carta de vulnerabilidade natural, fragilidades do município de Barão de Cotegipe,
baseada no princípio da ecodinâmica de Tricart RS e representá-las no mapa de vulnerabilidade
(1977), considera os processos de morfogênese natural à perda do solo, no mapa de potencial
e pedogênese a partir da análise integrada (solo, social e integrá-los no mapa de zoneamento
rocha, vegetação). A carta de potencialidade ecológico-econômico. A área de estudo se
social considera a relação entre os fatores localiza ao norte do estado do Rio Grande do Sul
dinâmicos e os fatores restritivos de acordo e compreende um território de aproximadamente
com os dados econômicos, sociais e políticos. 260 km2 (Figura 1).
A integração de ambas as cartas resulta em uma 2. MATERIAIS E MÉTODOS
carta-síntese de acordo com a potencialidade ou
vulnerabilidade da paisagem. 2.1 Materiais
Em outra aplicação da metodologia de
ZEE ao Médio Vale Paraíba do Rio de Janeiro, Para o desenvolvimento desta pesquisa
destacando as considerações acima, Simões et foram necessários os seguintes materiais: cartas

Fig. 1 - Localização do município de Barão de Cotegipe/RS.

Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014 139


Rovani F. F. M. et al.

topográficas elaboradas pela 1ª Divisão de o desafio da elaboração de modelos, da definição


Levantamento (1ª DL), que compreendem o das categorias de análise, e dos processos de
território municipal: Aratiba – Folha SG.22-Y- abstração e representações espaciais (VICENTE;
D-I-3, Campinas do Sul – Folha SG.22-Y-C-VI-2, PEREZ FILHO, 2003).
Erexim - Folha SG.22-Y-D-VI-1 e Erval Grande Deste modo, orientados pela perspectiva
– Folha SG.22-Y-C-III-4; uma imagem de satélite sistêmica, as interações sociedade e natureza,
sem correção geométrica do satélite Landsat 5 transformadoras do espaço geográfico, foram
(bandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7), sensor TM, órbita 222, analisadas sob uma visão holística, ou seja,
ponto 79, data da passagem 01/09/2011 adquirida os fenômenos espaciais foram discutidos em
junto ao Instituto Nacional de Pesquisas sua totalidade (SANTOS, 1997). Os estudos
Espaciais (INPE); mapas temáticos de Geologia realizados por Moreira (2009) e Arruda (2011),
(IBGE, 2003a), Geomorfologia (IBGE, 2003b) e também de caráter investigativo e de enfoque
Solos (IBGE, 2003c), obtidos junto ao IBGE na ambiental, foram igualmente norteados pela
escala 1:250000, Folha Erechim/Lages SG.22- abordagem integradora, buscando a interação da
Y-D/Z-C; e dados socioeconômicos referentes sociedade com a natureza, na qual a sociedade
ao censo demográfico de 2010 (IBGE, 2011b) e se apresenta como sujeito das transformações
do censo agropecuário de 2006 (IBGE, 2011a). do espaço.
Utilizaram-se os softwares Spring versão Assim, para que o estudo tivesse êxito e
5.0.6, módulos Impima, Spring e Scarta, para a conservasse o caráter investigativo das pesquisas
elaboração do banco de dados, edição e álgebra geográficas, utilizou-se a proposta metodológica
de mapas e o CorelDRAW X4, para a edição final de André Libault publicada em 1971, sob o título
do layout dos mapas. Os Quatro Níveis de Pesquisa Geográfica.
2.1.1 Criação do banco de dados no SIG 2.2.1 Base Cartográfica
De posse dos dados previamente coletados, A base cartográfica municipal foi elaborada
o procedimento seguinte correspondeu à por meio da digitalização das informações
elaboração do banco de dados geográficos no contidas nas cartas topográficas, previamente
SIG Spring versão 5.0.6. No software, criou-se georreferenciadas por meio de pontos de
um banco de dados e um projeto referente à área controle. Criaram-se categorias e PIs para
de estudo. cada um dos temas editados: limite municipal,
O banco de dados armazenou todas as rede de drenagem, rede viária, curvas de nível
informações, sejam no formato raster (matricial) e toponímia. As curvas de nível, em especial,
ou vetorial, em planos de informação (PI), de foram editadas na categoria Modelo Númerico
acordo com as categorias pré-estabelecidas do Terreno (MNT), permitindo assim a geração
(Temática, Imagem, Cadastral, Modelo Numérico de uma grade triangular (TIN) e, a partir dela,
do Terreno), e ainda permitiu a atualização dos uma malha quadriculada. Deste modo, gerou-se
dados e a geração de interações espaciais entre um PI com as variações altimétricas importantes
eles. para a análise do tema geomorfologia.
2.2 Métodos 2.2.2 Álgebra de Mapas
A pesquisa seguiu o encaminhamento da A álgebra de mapas teve como objetivo
abordagem sistêmica, possibilitando analisar principal integrar os dados referentes aos mapas
as interações entre os sistemas ambientais e temáticos de solos, geomorfologia, geologia
os sistemas sociais e econômicos, juntamente e vegetação/uso e ocupação da terra (temas
com a compreensão do sistema de organização físicos) ao mapa cadastral de UTBs. Além
espacial, contribuindo para a elaboração de disso, possibilitou integrar os dados dos mapas
propostas de planejamento e desenvolvimento de potencial natural, humano, produtivo e
sustentável (CHRISTOFOLETTI, 1999). Assim, institucional (temas socioeconômicos) ao mapa
partindo-se da análise geográfica e da utilização cadastral dos setores censitários, e, por fim,
de tecnologias informacionais, tem-se como integrá-los no mapa do zoneamento ecológico-
pano de fundo e origem na abordagem sistêmica econômico.

140 Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014


Zoneamento Ecológico-Econômico de Barão de Cotegipe, RS: Potencialidade para o ordenamento

Para tanto, a álgebra dos mapas foi pedogênese, e da potencialidade para estudos
executada através de programas de Linguagem integrados das imagens de satélite Landsat, visto
Espacial para Processamento Algébrico que permitem uma visão sinótica e holística da
(LEGAL) no SPRING. Dessa forma, cada paisagem (CREPANI et al., 1996).
tema foi analisado individualmente, de acordo De acordo com a metodologia,
com a relação morfogênese/pedogênese primeiramente se elabora um mapa de unidades
(temas físicos), e foi atribuído um grau de homogêneas de paisagem, obtido através
estabilidade/vulnerabilidade a eles, já, para os da análise, interpretação e classificação da
temas socioeconômicos, observou-se a relação imagem de satélite, denominado de Unidades
dinamismo/restrição e atribuiu-se um grau de Territoriais Básicas (UTBs). Em seguida,
baixo/alto potencial. são associadas às informações temáticas
Na álgebra de mapas, utilizaram-se preexistentes (geomorfologia, geologia,
operações pontuais e zonais. Primeiramente, solos, vegetação, clima) ao mapa de unidades
executou-se a operação pontual de ponderação territoriais, identificando e caracterizando as
para cada tema especificado, que transformou unidades ambientais ou de paisagens.
os geocampos temáticos (PI de entrada) em Nesta pesquisa, consideraram-se as
geocampos numéricos (PI de saída), por meio informações referentes à geomorfologia, à
do operador Pondere. geologia, aos solos e à vegetação, juntamente
Em seguida, executou-se a operação com o uso e ocupação da terra, pois foi possível
de média zonal, que consistiu na atualização analisar, além do grau de cobertura vegetal,
do cálculo do valor médio de estabilidade/ os diferentes usos da terra e as implicações no
vulnerabilidade ou baixa/alta potencialidade, meio. Devido à impossibilidade de obtenção
ponderado pela área da classe do tema dentro de dados climáticos do município, referentes
da UTB ou do setor censitário, isto é, classes à pluviosidade anual e à duração do período
com áreas maiores tiveram maior participação chuvoso, eles não foram considerados para a
no valor atribuído à unidade ou ao setor. análise.
A terceira operação realizada consistiu A metodologia ainda nos propõe uma
na operação de maioria zonal, que permitiu classificação do grau de estabilidade ou
distribuir, na tabela de geo-objetos, o nome da vulnerabilidade (resistência ao processo natural
classe que ocorreu em maior quantidade dentro à erosão) de cada unidade, segundo as relações
das UTBs e dos setores censitários. de morfogênese e pedogênese, a partir da análise
Outras operações foram executadas, entre integrada das rochas, do solo, do relevo e da
elas destacam-se: a operação de espacialização, vegetação. Desse modo, quando predomina a
por meio do operador Espacialize, para os morfogênese, prevalecem os processos erosivos
valores de estabilidade/vulnerabilidade e alta/ modificadores da forma do relevo, e, quando
baixa potencialidade nas UTBs, gerando um predomina a pedogênese, prevalecem os
novo geocampo numérico com um único processos formadores do solo. A vulnerabilidade
valor para as UTBs; e a operação pontual de foi expressa pela atribuição de valores de
fatiamento, operador Fatie, para a definição dos estabilidade em uma escala de 1 a 3 para cada
intervalos de classes dos mapas de potenciais e unidade de paisagem (Tabela 1).
de vulnerabilidade natural à perda de solo.
2.2.3 Avaliação da Vulnerabilidade Natural Tabela 1: Valores da estabilidade/Vulnerabilidade
à Perda de Solo das unidades de paisagem de acordo com a
relação pedogênese/morfogênese
A análise da vulnerabilidade natural à Relação
Unidade Valor
perda de solo, representada no mapa temático, pedogênese/morfogênese
foi elaborada com base na metodologia proposta Estável Prevalece a pedogênese 1,0
por Crepani et al. (1996), para subsidiar o ZEE
Equilíbrio entre a pedogênese
da Amazônia. Essa metodologia foi desenvolvida Intermediária 2,0
e a morfogênese
a partir do conceito de ecodinâmica de Tricart
(1977), baseado na relação morfogênese/ Instável Prevalece a morfogênese 3,0

Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014 141


Rovani F. F. M. et al.

Para a definição e atribuição dos valores componente principal das bandas 5 e 7. Esta
de vulnerabilidade/estabilidade de cada classe etapa constou de uma segmentação da imagem
temática, fez-se necessário seguir alguns critérios pelo modo regiões. Posteriormente, visando à
propostos por Crepani et al. (1996) e também melhor delimitação das UTBs, considerando
tomar como base o trabalho de campo realizado os elementos como textura, relevo, drenagem,
anteriormente a esta etapa: tonalidade de cinza e alterações, editou-se os
- Para a geomorfologia: formas do relevo e polígonos por meio da edição vetorial do SIG.
os índices morfométricos referentes à dissecação Esse tipo de mapa possibilitou identificar os
do relevo pela drenagem e amplitude altimétrica; polígonos (UTBs) como objetos geográficos e
- Para a geologia: história e evolução do atribuir a cada um diferentes atributos.
ambiente geológico (grau de coesão das rochas); Após as UTBs terem sido delimitadas na
- Para os solos: basicamente se considerou categoria Cadastral, criou-se uma categoria
o grau de desenvolvimento dos solos (processos Objeto responsável por agrupar os atributos
de formação de solos ou de relevo); referentes a elas. As unidades foram transformadas
- Para a vegetação/uso e ocupação da terra: em objetos com nome e rótulo, para posterior
a densidade de cobertura vegetal. identificação. Em seguida, elaborou-se uma
Deste modo, as classes de cada mapa tabela com os diferentes atributos definidos
temático foram substituídas pelos valores de para as UTBs, no qual foram incluídos também
vulnerabilidade preestabelecidos no SIG. Em os atributos que permitem complementar a
seguida, por meio de operações de álgebra de descrição das UTBs com as informações sociais
mapas utilizando a linguagem de programação e econômicas, e vice-versa
do software SPRING, os atributos de cada mapa Deste modo, poderão ser realizadas
foram integrados, apresentando como resultado análises e sínteses com base nos mapas obtidos
final um mapa síntese. sobre as UTBs ou sobre os setores censitários.
2.2.4 Unidades Territoriais Básicas Este modelo georrelacional permitiu realizar
consultas sobre cada uma das unidades (nome,
As Unidades Territoriais Básicas (UTBs), área, classes), enquanto a álgebra de mapas
segundo Becker e Egler (1996), são as células possibilitou relacionar os diferentes temas
elementares de informação e análise para um (solos, geologia, geomorfologia) a cada uma
ZEE. Uma célula é uma entidade geográfica das unidades, por meio dos atributos contidos
que contém atributos ambientais que permitem na tabela, atualizando-os sempre que necessário.
diferenciá-la das demais e, além disso, possui
vínculos dinâmicos que a articulam a uma 2.2.5 Mapa de Vulnerabilidade Natural à
complexa rede integrada por outras unidades Perda de Solo
territoriais (CREPANI et al., 1996). O mapa de vulnerabilidade natural à
As UTBs podem ser divididas em perda de solo, como a metodologia propõe, foi
duas categorias: as unidades de paisagem elaborado a partir da integração dos quatro temas
natural e os polígonos de ação antrópica. As trabalhados: solos, geomorfologia, geologia
unidades de paisagem natural são definidas, nas e vegetação/uso e ocupação da terra. Para a
imagens, pela interpretação de seus elementos, definição do grau de estabilidade/vulnerabilidade
tais como a textura, o relevo, a drenagem e final, executou-se uma operação pontual de
tonalidades de cinza. Os polígonos de ação média aritmética dos quatro temas trabalhados.
antrópica correspondem às feições decorrentes O resultado desta operação foi uma nova grade
da intervenção humana na paisagem e são de valores de vulnerabilidade.
identificados pelas alterações na tonalidade de A partir desta nova grade de valores,
cinza dentro de padrões característicos. executaram-se as operações zonais. A operação
Para a elaboração do mapa cadastral das seguinte constou da operação média zonal
UTBs, realizou-se primeiramente a interpretação (MedZ), para que cada UTB recebesse o valor
da imagem Landsat, na composição RGB, com médio da estabilidade/vulnerabilidade na
a banda 4 e as primeiras componentes principais tabela de atributos. Posteriormente, utilizou-
da combinação das bandas 1, 2 e 3 e a primeira se o operador Espacialize, para a operação de

142 Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014


Zoneamento Ecológico-Econômico de Barão de Cotegipe, RS: Potencialidade para o ordenamento

espacialização dos valores dentro de cada UTB. Tabela 2: Valores do potencial social de
Por último, executou-se o operador Fatie, para o acordo com o dinamismo/restrição dos setores
fatiamento dos valores da escala de ponderação censitários
de 1,0 a 3,0 em 21 classes de estabilidade/ Condições para o
Potencial Valor
vulnerabilidade. desenvolvimento humano
Deste modo, a representação final do mapa Alto Prevalecem os fatores dinâmicos 3,0
de vulnerabilidade natural à perda do solo deu-se
Equivalência entre os valores
em uma escala de estabilidade/vulnerabilidade Médio
dinâmicos e restritivos
2,0
com 21 classes, que posteriormente foram
Baixo Prevalecem os fatores restritivos 1,0
associadas a cinco grandes classes (Estável,
Moderadamente Estável, Medianamente
Estável/Vulnerável, Moderadamente Vulnerável abastecimento de água, saneamento domiciliar,
e Vulnerável). As unidades mais estáveis coleta de lixo e número de alfabetizados;
apresentaram valores próximos a 1,0, as - Potencial Produtivo: Densidade
intermediárias, próximos a 2,0 e as unidades rodoviária, rentabilidade do chefe da família e
mais vulneráveis, próximos a 3,0 (CREPANI et rentabilidade agropecuária;
al., 1996). - Potencial Institucional: Autonomia
político-administrativa e participação político
2.2.6 Avaliação do Potencial Social
eleitoral.
A análise do potencial social e sua Após a coleta dos dados necessários
representação cartográfica tiveram como base para cada um dos indicadores, observou-se o
a metodologia indicada por Becker e Egler dinamismo/restrição, e atribuíram-se os valores
(1996) e buscaram representar o dinamismo de alto/baixo potencial, por meio da álgebra de
ecológico-econômico. A potencialidade social mapas integrada à base dos setores censitários.
foi avaliada de acordo com os dados dos setores
2.2.7 Mapa de Potencial Social
censitários do município, obtidos a partir do
censo demográfico do IBGE para o ano de 2010 Para o mapa de potencial social, utilizou-
(IBGE, 2011b) e do censo agropecuário de 2006 se a base dos setores censitários fornecida
(IBGE, 2011a). pelo IBGE no formato shapefile, totalizando
Seguindo a proposta de Becker e Egler 22 setores. No SIG, criou-se uma categoria
(1996), a potencialidade de cada unidade Cadastral e uma categoria Objeto responsáveis
territorial foi estabelecida de acordo com a por agrupar os atributos referentes a eles. Os
relação entre os fatores dinâmicos e os fatores setores foram transformados em objetos, com
restritivos, em termos econômicos, sociais e nome e rótulos. Elaborou-se também uma tabela
políticos, a partir de quatro grupos de parâmetros com os diferentes atributos definidos para os
considerados como componentes básicos para o setores.
desenvolvimento sustentável: potencial natural, As informações que foram adicionadas
humano, produtivo e institucional. De acordo à tabela de atributos dos setores censitários,
com a análise integrada destes quatro grupos, o na análise do potencial social, são passíveis de
potencial social de cada setor foi expresso em serem consultadas no banco de dados. A álgebra
valores de potencial (alto, médio e baixo). A de mapas possibilitou relacionar os quatro
Tabela 2 apresenta os valores de potencialidade potenciais a cada um dos setores censitários, por
atribuídos a cada um dos potenciais, de acordo meio dos atributos contidos na tabela.
com os critérios de dinamismo ou restrição. De acordo com a metodologia proposta por
Para expressar o dinamismo/restrição Becker e Egler (1996), este mapa foi elaborado
foram coletados dados referentes à indicadores de acordo com uma média ponderada dos
para cada potencial: quatro potenciais: natural, humano, produtivo e
- Potencial Natural: Cobertura florestal e institucional. Para esta operação, considerou-se
aptidão agrícola dos solos; basicamente o número de indicadores analisados,
- Potencial Humano: Serviços de saúde, com peso 1,0 em cada um dos potenciais.

Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014 143


Rovani F. F. M. et al.

Desta maneira, tem-se que o potencial social das informações poderá apresentar unidades
(PotSocial) é resultado da operação 1: produtivas de expansão ou consolidação e
unidades críticas de recuperação ou conservação,
PotSocial = (PotNatural*2,0+ PotHumano*5,0+ de acordo com os valores de vulnerabilidade ou
PotProdutivo*3,0+ PotInstitucional*2,0)/12 potencialidade da unidade (Figura 2).
(1)

Em que:
PotNatural: potencial natural multiplicado pelo
peso 2,0
PotHumano: potencial humano multiplicado
pelo peso 5,0
PotProdutivo: potencial produtivo multiplicado
pelo peso 3,0
PotInstitucional: potencial institucional
multiplicado pelo peso 2,0 Fig. 2 - Classificação das unidades de paisagem
de consolidação, expansão, recuperação e de
Para esta operação, criou-se uma categoria conservação.
Temática e um PI no banco de dados do SIG.
A operação pontual de média ponderada do Assim, de acordo com a figura 2, foram
potencial social foi executada por meio da consideradas unidades produtivas de consolidação
integração das grades dos potenciais, de acordo ou de fortalecimento do desenvolvimento
com os pesos considerados para cada um dos humano aquelas que apresentaram baixa
potenciais. Em seguida, executou-se o operador vulnerabilidade e alta potencialidade. As
algébrico Fatie, para o agrupamento dos dados unidades que apresentaram baixa potencialidade
em classes temáticas do potencial social, de e baixa vulnerabilidade foram definidas como
acordo com os valores da grade, na escala unidades de expansão do potencial produtivo,
de 21 classes e posteriormente, realizou-se o pois seus fatores determinantes, físicos e sociais,
fatiamento em cinco classes temáticas. Por fim, permitem o desenvolvimento desta unidade.
efetuou-se a operação média zonal (MedZ), para Com relação às unidades críticas, foram
que cada setor censitário recebesse o valor médio consideradas unidades de recuperação aquelas
do grau de potencial na tabela de atributos. que apresentaram alta potencialidade e alta
Assim, a representação final do mapa vulnerabilidade, devido ao alto potencial de
de potencial social deu-se em uma escala desenvolvimento (fatores sociais) e à elevada
de potencial alto/baixo com 21 classes que vulnerabilidade natural. Já as unidades que
posteriormente foram associadas as cinco apresentaram alta vulnerabilidade e baixa
grandes classes (Baixo, Moderadamente Baixo, potencialidade foram consideradas de
Medianamente Baixo/Alto, Moderadamente conservação, devido, sobretudo, ao elevado
Alto e Alto). Os setores com potencial baixo grau de vulnerabilidade natural.
apresentaram valores próximos a 1,0, os No banco de dados do SIG, criou-se
intermediários, próximos a 2,0, e os setores com uma categoria Temática e um PI para que
potencial alto, próximos a 3,0. as informações relativas à vulnerabilidade
e à potencialidade fossem integradas. Além
2.2.8 Mapa do Zoneamento Ecológico-
disso, executou-se uma operação Booleana
Econômico
para que fossem criadas as classes temáticas
O mapa do Zoneamento Ecológico- de recuperação, expansão, consolidação e
Econômico consistiu na integração do mapa de conservação, de acordo com os valores de
vulnerabilidade natural à perda do solo com o vulnerabilidade e potencialidade presentes nas
mapa de potencial social, por meio da álgebra grades numéricas. Nesse sentido, considerou-
de mapas. De acordo com a metodologia se alta potencialidade valores acima de 2,0 e
descrita por Becker e Egler (1996), a síntese baixa, valores abaixo de 2,0, bem como para a

144 Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014


Zoneamento Ecológico-Econômico de Barão de Cotegipe, RS: Potencialidade para o ordenamento

vulnerabilidade (alta, valores maiores que 2,0, de cobertura vegetal, especialmente das florestas
e baixa, menores que 2,0). nativas, em encostas e topos de morros convexos
A síntese desta integração resultou em e tabulares. Além disso, caracterizam as unidades
unidades relativamente homogêneas, mas não que apresentam maior estabilidade à perda do
estáticas, isto é, em unidades que poderão solo, em relação às demais, e desta forma devem
expandir ou não sua área, de acordo com as ser preservadas.
iniciativas de implementação e ações ambientais. As UTBs identificadas como mediamente
Desse modo, este instrumento servirá como estável/vulnerável, em maior proporção
subsídio para gestão territorial no município, (72,53%), estão na transição entre as unidades
pois integrou os aspectos naturais e humanos mais estáveis e as mais vulneráveis, sendo
presentes na paisagem. encontradas na maior parte territorial. Na
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES porção norte do município, prevaleceu a classe
mediamente estável por compreender unidades
3.1 Mapa de Vulnerabilidade Natural à Per- com solos do tipo cambissolo háplicos, topos
da de Solo de morros aguçados, convexos e presença
da floresta nativa e culturas. As unidades
O mapa de vulnerabilidade natural à perda classificadas como medianamente vulneráveis
do solo, resultante da integração das informações predominaram na porção leste, oeste e sul, com
referentes aos valores de estabilidade/ características muito próximas às anteriores,
vulnerabilidade dos solos, da geomorfologia, porém se diferenciando com os solos do tipo
da geologia e da vegetação e uso da terra com latossolo bruno, topos de morros tabulares e
base nas UTBs, pode ser observado na figura 3. convexos e menor ocorrência de vegetação. Estas
As classes de estabilidade e vulnerabilidade são unidades que representam um equilíbrio
foram definidas de acordo com a metodologia. entre a pedogênese e morfogênese.
As unidades que apresentaram valores entre Por seguinte, apresentam-se as unidades
1,0 a 1,3 foram definidas como estáveis, as classificadas como moderadamente vulneráveis
que apresentaram valores de 1,4 a 1,7 foram (0,71%) e que requerem maiores cuidados, pois
classificadas de moderadamente estável. Os nelas predominam os processos de morfogênese,
valores no intervalo de 1,8 a 2,2 definiram a modificadores do relevo. Em especial,
classe de medianamente estável/vulnerável, os identificaram-se unidades na parte noroeste
valores entre 2,3 a 2,6 determinaram a classe do município, com a presença de solos do tipo
de moderadamente vulnerável e, por fim, as neossolo litólico, topos de morros aguçados e
unidades com valores entre 2,7 a 3,0 foram com a presença de vegetação e culturas.
classificadas de vulneráveis.
Ao observar a figura 3, pode-se verificar 3.2 Mapa de Potencial Social
a presença de 4 classes de estabilidade/ O potencial social, síntese dos potenciais
vulnerabilidade, variando desde a classe estável natural, humano, produtivo e institucional, pode
até a classe moderadamente vulnerável, com ser visualizado na figura 4. Esta representação do
predomínio da classe medianamente estável/ potencial social visa principalmente identificar
vulnerável. Em trabalhos similares, Gomes os fatores impulsionadores do desenvolvimento
(2005) e Valles (2008) identificaram classes endógeno do município, bem como aqueles que
de vulnerabilidade à perda de solo variando de apresentam restrições e merecem ser destacados,
estável até vulnerável, considerando as diferentes pois possivelmente apresentarão novos cenários,
características das áreas em estudo. se decisões concretas forem tomadas.
As UTBs mais estáveis (classe estável Ao observar a figura 4, o mapa do potencial
e moderadamente estável) à perda de solo social, percebe-se que no município, em síntese,
representam as áreas relativamente homogêneas há certa homogeneidade da potencialidade,
com relação às características de solo, geologia, demonstrando um equilíbrio entre o dinamismo
geomorfologia, vegetação e uso da terra, e a restrição. Colaborando com esta proposta,
totalizando 26,82% da área municipal. Estão o trabalho desenvolvido por Campagnani e
situadas principalmente nas áreas com a presença Santos (1998) para o Médio Vale do Paraiba,

Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014 145


Rovani F. F. M. et al.

Fig. 3 - Mapa de Vulnerabilidade Natural à Perda do Solo do município de Barão de Cotegipe/RS.

no estado do Rio de Janeiro, aponta grande florestal e boa aptidão agrícola dos solos. Os
variação do potencial social, sobretudo devido potenciais produtivo, institucional e humano não
a sua diversidade natural e social. apresentaram significativos contrastes.
Os setores que apresentaram potencial Os setores localizados ao norte do município,
social moderadamente alto, valores entre 2,3 a 16 a 20, foram classificados com potencial social
2,6, estão situados na área urbana (01, 02, 04, moderadamente baixo, com valores entre 1,4 e
21 e 22), representando 0,93% da área total, 1,7, representando 42,64% da área municipal.
mas concentram a maior parte da população Destacaram-se mais com relação ao potencial
quando comparados com os setores do meio natural, pela presença das florestas nativas, e
rural. Destacam-se com o potencial humano e ao potencial institucional, porém o potencial
institucional principalmente por terem melhor humano mostrou-se moderadamente baixo, o
acesso ao saneamento básico, à educação e à que aponta uma deficiência, principalmente com
participação da população no meio institucional. o saneamento domiciliar, acesso a água potável
Porém, o baixo potencial natural, basicamente e coleta do lixo. O potencial produtivo também
relacionado à cobertura florestal, e o médio se apresentou baixo em relação aos demais
potencial produtivo foram fundamentais para setores, o que indica que fatores naturais, tais
este cenário. como relevo acidentado, também influenciam na
Os demais setores urbanos 06 a 10 e os rentabilidade agropecuária e nas vias de acesso.
setores rurais 11 a 15, localizados na metade Esta representação mostra que o município
sul do município, apresentaram potencial social necessita dar maior ênfase às necessidades
médio, isto é, valores entre 1,8 a 2,2. Esta apresentadas, especialmente no potencial
classe foi majoritária, representando 56,43% produtivo e no potencial humano. Com relação
da área municipal, o que pode ser considerado ao primeiro, porque representa a base econômica
um aspecto positivo, mas que possivelmente é municipal, constituída basicamente pela
capaz de avançar com estímulos municipais, agropecuária, podendo, assim, dinamizar os
diante das representações e constatações. O modos de produção e investir mais e melhor na
potencial que apresentou maior destaque foi o agricultura familiar e na diversidade de produtos
natural, sobretudo pela presença da cobertura agrícolas. Já, no que diz respeito ao potencial

146 Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014


Zoneamento Ecológico-Econômico de Barão de Cotegipe, RS: Potencialidade para o ordenamento

Fig. 4 - Mapa do Potencial Social do município de Barão de Cotegipe/RS.

humano, a prioridade se justifica devido ao fato vididas em: unidades críticas de recuperação, por
dele estar estritamente relacionado à qualidade apresentarem alto potencial de desenvolvimento
de vida da população, onde se inclui o acesso à (fatores sociais) e elevada vulnerabilidade natu-
educação, o atendimento à saúde e o saneamento ral (alta potencialidade e alta vulnerabilidade), e
básico. unidades críticas de conservação, sobretudo pelo
3.3 Mapa do Zoneamento Ecológico- elevado grau de vulnerabilidade natural (alta
Econômico vulnerabilidade e baixa potencialidade).
A integração das informações, no banco
O resultado da integração das informações de dados do SIG, foi possível por meio da
ambientais e sociais, ou seja, do mapa de programação em LEGAL, demonstrando a
vulnerabilidade natural à perda de solo e do importância do uso de geotecnologias para o
mapa de potencial social, visou apresentar o tratamento e análise dos dados geográficos
mapa de zoneamento ecológico-econômico de no SIG. Devido à representação espacial dos
acordo com a figura 5. Estes mapas apresentam dados de vulnerabilidade natural ter como base
cenários que possibilitam a sensibilização aos as UTBs, e os dados do potencial social ter
problemas ambientais e sociais, destinados não como base os setores censitários, optou-se por
somente à conscientização do estado da dinâmica representar as unidades de paisagem com base
ambiental, mas também para subsidiar as ações nas UTBs, pois favorecem melhor a ideia de
e decisões no planejamento territorial. continuidade e dinâmica espacial.
Esta representação possibilitou definir as Com base na figura 5, pode-se observar
unidades em duas grandes classes: produtivas que, no município de Barão de Cotegipe-RS,
ou críticas. As unidades produtivas foram di- praticamente predominaram duas classes
vididas em: produtivas de consolidação ou de de unidades, as críticas de conservação e as
fortalecimento do desenvolvimento humano unidades produtivas de expansão. Já as classes
(baixa vulnerabilidade e alta potencialidade) e de unidades críticas de recuperação e produtivas
produtivas de expansão do potencial produtivo de consolidação se restringiram a unidades
(baixa potencialidade e baixa vulnerabilidade). específicas.
Com relação às unidades críticas estas foram di- As unidades críticas de conservação

Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014 147


Rovani F. F. M. et al.

localizadas principalmente a noroeste, leste, resgate de suas condições de solo e ambiente,


sudeste, sul, sudoeste e em pequenas porções visando à obtenção de uma estabilidade do meio
a noroeste do município, representam 40,21% e na melhoria da qualidade do ambiente e da vida
da área total. São unidades caracterizadas das pessoas.
especialmente por apresentarem elevado grau Com relação às unidades produtivas de
de vulnerabilidade natural e baixo grau de consolidação, que se apresentaram bastante
potencialidade, ou seja, são unidades vulneráveis pontuais, representando somente 0,05% da
à perda do solo e que apresentam restrições no área municipal, pode-se afirmar que suas
potencial social. Estas unidades possibilitam o características indicam o fortalecimento do
uso racional e sustentável dos recursos naturais, desenvolvimento humano, sobretudo pela baixa
visando manter uma harmonia entre o homem e vulnerabilidade natural e alta potencialidade
o meio. As boas práticas sociais associadas às social. Isto indica que estas unidades são
políticas ambientais no processo de tomada de potenciais para o desenvolvimento produtivo,
decisões econômicas possibilitam a valorização diante do potencial social apresentado e das áreas
e proteção do meio natural. de estabilidade natural.
As unidades críticas de recuperação As unidades produtivas de expansão,
representaram 0,66% da área municipal e estão localizadas principalmente na parte norte
localizadas especialmente na área urbana. e noroeste, adentrando nas demais áreas,
Suas principais características são o alto totalizaram mais da metade da área municipal
potencial social e a alta vulnerabilidade natural, com 59,08%. São caracterizadas pela baixa
significando que requerem maior atenção potencialidade social e também pela baixa
especialmente com a questão natural. O alto vulnerabilidade natural, permitindo, assim, a
potencial favorece o desenvolvimento social e a expansão do potencial produtivo de maneira
dinâmica que, no entanto, são restringidos pela sustentável e dinâmica. A diversidade do setor
presença da vulnerabilidade natural do ambiente. produtivo é fundamental para que essa expansão
Deste modo, a recuperação destas unidades, por ocorra e resulte na manutenção da estabilidade
estarem localizadas no meio urbano, refere-se ao natural associada à baixa potencialidade.

Fig. 5 - Mapa do Zoneamento Ecológico-Econômico do município de Barão de Cotegipe/RS.

148 Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014


Zoneamento Ecológico-Econômico de Barão de Cotegipe, RS: Potencialidade para o ordenamento

4. CONCLUSÕES considerado um aspecto positivo, mas que pode


A análise integrada dos dados relativos aos avançar com estímulos municipais, diante das
solos, à geomorfologia, à geologia, à vegetação e representações e constatações. Os setores que
uso da terra resultou no mapa de vulnerabilidade apresentaram potencial social moderadamente
natural à perda do solo. A partir deste mapa alto representam 0,93% e estão concentrados
síntese, foi possível identificar e analisar a na área urbana, destacando-se com o potencial
estabilidade e a vulnerabilidade das unidades humano e institucional, principalmente por
(UTBs) baseadas no conceito de ecodinâmica, terem melhor acesso ao saneamento básico,
fundamentadas na relação morfogênese e à educação e à participação da população no
pedogêse, e da potencialidade para estudos meio institucional. Já, os setores localizados
integrados, das imagens de satélite Landsat. ao norte do município apresentaram potencial
No município de Barão de Cotegipe-RS, foram social moderadamente baixo, representando
identificadas unidades consideradas estáveis, 42,64% da área municipal. Destacaram-se com
com predomínio dos processos formadores do relação ao potencial natural, pela presença das
solo, e unidades moderadamente vulneráveis, florestas nativas, e com o potencial institucional,
prevalecendo os processos erosivos. porém o potencial humano e o produtivo
No entanto, predominaram as unidades apresentaram-se baixos e merecem ser melhor
identificadas como mediamente estável/ analisados pelos gestores públicos, buscando seu
vulnerável, ocupando 72,53% da área total desenvolvimento em toda a extensão territorial.
municipal, representando um equilíbrio entre Da integração do mapa de vulnerabilidade
a pedogênese e a morfogênese. As UTBs mais natural à perda do solo com o mapa de potencial
estáveis à perda do solo totalizam 26,82% da área social, obteve-se como resultado o mapa do
e localizam-se principalmente nas áreas com a zoneamento ecológico-econômico, do município
presença de cobertura vegetal, especialmente de Barão de Cotegipe, com quatro unidades
das florestas nativas em encostas e topos de principais. Esta representação, síntese da relação
morros convexos e tabulares e que devem existente entre os aspectos ambientais e sociais,
ser preservadas. As UTBs moderadamente apresenta as unidades de paisagem de acordo
vulneráveis (0,71%), identificadas na porção com sua potencialidade ou vulnerabilidade,
noroeste no município, requerem maior atenção, constituindo-se em unidades críticas de
pois predominam os processos de morfogênese, conservação ou recuperação e em unidades
modificadores do relevo, sobretudo pela presença produtivas de expansão ou consolidação.
de solos mais instáveis e presença das culturas Nas unidades críticas, em que prevaleceu
agrícolas. a vulnerabilidade natural, sugere-se especial
Com relação à análise dos aspectos sociais, atenção com relação ao meio natural e aos
a integração dos dados dos potenciais natural, agentes que nele influenciam, visando boas
humano, institucional e produtivo, resultou no práticas sociais associadas às políticas ambientais
mapa de potencial social que visou principalmente no processo de tomada de decisões econômicas,
identificar os fatores impulsionadores do possibilitando a valorização e proteção do meio.
desenvolvimento no município, bem como As unidades críticas de conservação
aqueles que apresentam restrições. Com base representaram 40,21% da área total,
nestas informações espacializadas nos setores e são caracterizadas pelo elevado grau de
censitários, observou-se o grau de potencial, vulnerabilidade natural e baixo grau de
alto ou baixo, de acordo com o dinamismo ou potencialidade. Estas unidades possibilitam o
restrição. O mapa síntese dos quatro potenciais uso racional e sustentável dos recursos naturais
apresentou um equilíbrio entre o dinamismo e a visando manter uma harmonia entre o homem e o
restrição, ou seja, no mapa de potencial social meio. As unidades críticas de recuperação (0,66%
não foram identificadas unidades com potencial da área total) estão localizadas especialmente na
alto, nem baixo. área urbana e apresentam alto potencial social
O potencial social médio representou e a alta vulnerabilidade natural. A recuperação
56,43% da área total municipal, o que pode ser destas unidades refere-se ao resgate de suas
condições de solo e ambiente, visando à obtenção

Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014 149


Rovani F. F. M. et al.

de uma estabilidade do meio e na melhoria da município de São Gabriel/RS: uma proposta de


qualidade do ambiente e da vida das pessoas. zoneamento ambiental. 2011, 148 f. Dissertação
É importante salientar, que as unidades (Mestrado em Geografia) – Departamento de
críticas de recuperação, localizadas especialmente Geociências, Universidade Federal de Santa
na área urbana, foram assim definidas e Maria, Santa Maria, 2011.
identificadas com base na metodologia aplicada, BECKER, B. K.; EGLER, C. A. G. Detalhamento
o que evidencia uma desconformidade em da Metodologia para Execução do Zoneamento
relação às demais unidades. Sugere-se, deste Ecológico Econômico pelos Estados da
modo, que para setores da área urbana sejam Amazônia Legal. Brasília, SAE/MMA, 1996.
utilizados outros indicadores para sua análise, 40p.
especialmente para o potencial social.
Nas unidades produtivas, caracterizadas CAMPAGNANI, S.; SANTOS, U. P. dos.
especialmente pela potencialidade, recomenda- Programa de Zoneamento Ecológico-
se o desenvolvimento de ações voltadas Econômico do estado do Rio de Janeiro.
principalmente ao desenvolvimento produtivo. Projeto II: Zoneamento Ecológico-Econômico
A diversidade do setor produtivo é fundamental do Médio Vale do Paraíba. Rio de Janeiro, 1998.
para que ocorra a consolidação ou expansão 127p.
das unidades, garantindo um equilíbrio entre o CREPANI, E. et al. Curso de Sensoriamento
meio e homem, com base no uso sustentável dos Remoto Aplicado ao Zoneamento Ecológico-
recursos naturais. Econômico. São José dos Campos, INPE, 1996.
As unidades produtivas de consolidação, 18 p.
consideradas ideais, apresentaram-se bastante
pontuais, representando somente 0,05% da CRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas
área municipal, indicando o fortalecimento do Ambientais. São Paulo, Edgard, 1999. 236 p.
desenvolvimento humano, sobretudo pela baixa GOMES, A. R. Avaliação da vulnerabilidade à
vulnerabilidade natural e alta potencialidade perda de solo em região semi-árida utilizando
social. As unidades produtivas de expansão sensoriamento remoto e geoprocessamento –
totalizaram mais da metade da área municipal área piloto de Parnamirim (PE). 2005, 160
com 59,08% e possibilitam a expansão do p. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento
potencial produtivo de maneira sustentável e Remoto) – Instituto Nacional de Pesquisas
dinâmica. Espaciais, São José dos Campos, 2005.
Por fim, destaca-se que a importância
IBGE. Censo agropecuário. Banco de
deste trabalho, pois aponta o cenário atual do
Dados Agregados. Rio de Janeiro: IBGE,
município em estudo e evidencia as unidades que
2 0 11 a . D i s p o n í v e l e m : < h t t p : / / w w w.
necessitam de maior intervenção e ordenamento
s i d r a . i b g e . g o v. b r / b d a / a c e r v o / a c e r v o 1 .
espacial, principalmente pelo poder público.
asp?e=v&t=1&p=CA&z=t&o=3>. Acesso em:
Salienta-se ainda, que estudos desta natureza
17 jan. 2012.
devem ser continuamente revisados e atualizados
visto que o espaço é dinâmico e as intervenções IBGE. Censo demográfico. Banco de Dados
antrópicas no meio alteram significativamente Agregados. Rio de Janeiro: IBGE, 2011b.
os cenários. Disponível em:<http://www.sidra.ibge.gov.br/
bda/tabela/protabl.asp?c=202&z=t&o=3&i=P>.
AGRADECIMENTOS
Acesso em: 17 jan. 2012.
Agradecemos à Coordenação de
IBGE. Geologia. Erechim/Lages SG.22-Y-
Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
D/Z-C. Rio de Janeiro: IBGE, 2003a. 1 mapa.
(CAPES) pela concessão da bolsa de mestrado.
Escala: 1/250000. Disponível em: <ftp://geoftp.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ibge.gov.br/mapas_tematicos/geologia/cartas_
ARRUDA, H. M. da R. F. Cartografia de escala_250mil/sg22yd_zc_geol.pdf>. Acesso
síntese para análise integrada da paisagem do em: 09 jul. 2012.

150 Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014


Zoneamento Ecológico-Econômico de Barão de Cotegipe, RS: Potencialidade para o ordenamento

IBGE. Geomorfologia. Erechim/Lages SG.22- MOREIRA, A. Planejamento ambiental


Y-D/Z-C. Rio de Janeiro: IBGE, 2003b. 1 mapa. do município de Barra Bonita, SC, na
Escala: 1/250000. Disponível em: <ftp://geoftp. perspectiva das tecnologias de informação
ibge.gov.br/mapas_tematicos/geomorfologia/ geográfica. 2009. 217 f. Dissertação (Mestrado
cartas_escala_250mil/sg22yd_zc_geom.pdf>. em Geografia) – Departamento de Geociências,
Acesso em: 09 jul. 2012. Universidade Federal de Santa Maria, Santa
IBGE. Solos. Erechim/Lages SG.22-Y-D/Z-C. Maria, 2009.
Rio de Janeiro: IBGE, 2003c. 1 mapa. Escala: SANTOS, M. Espaço e Método. São Paulo,
1/250000. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge. Nobel, 1997. 88 p.
gov.br/mapas_tematicos/pedologia/cartas_ SIMÕES, M. et al. Metodologia para elaboração
escala_250mil/sg22yd_zc_ped.pdf>. Acesso do Zoneamento Ecológico-Econômico em
em: 09 jul. 2012. áreas com grande influência antrópica. Rio
LIBAULT, A. Os quatro níveis da pesquisa de Janeiro, 1998. Disponível em: <http://www.
geográfica. Métodos em Questão, São Paulo, laget.igeo.ufrj.br/egler/pdf/maggie.pdf>. Acesso
n. 1, p. 1-14, 1971. em 02 fev. 2012.
LIMA, F. R.; MARTINELLI, M. As unidades SOUSA, M. C. S. As propostas metodológicas
ecodinâmicas na Cartografia Ambiental de para a cartografia ambiental: uma revisão.
Síntese. In: SIMPÓSIO DE PÓS-GRADUAÇÃO 2009. 122 f. Dissertação (Mestrado em
EM GEOGRAFIA DO ESTADO DE SÃO Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e
PAULO, 2008, Rio Claro. Anais... Rio Claro: Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
UNESP, 2008. Disponível em: <http://www. São Paulo, 2009.
rc.unesp.br/igce/simpgeo/440448fredy.pdf>. TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro,
Acesso em: 12 abr. 2011. IBGE, 1977. 91 p.
M A RT I N E L L I , M . ; P E D R O T T I , F. A VALLES, G. F. Sensoriamento remoto e
Cartografia das unidades de paisagem: questões geoprocessamento aplicados à geração de uma
metodológicas. Revista do Departamento de carta de vulnerabilidade natural à perda do
Geografia, São Paulo, v. 14, p. 36-46, 2001. solo. 2008. 161 p. Dissertação (Mestrado em
MEDEIROS, J. S. de. Bancos de dados Sensoriamento Remoto) – Instituto Nacional de
geográficos e redes neurais artificiais: Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, 2008.
tecnologias de apoio à gestão do território. VICENTE, L. E.; PEREZ FILHO, A. Abordagem
1999. 236 f. Tese (Doutorado em Geografia Sistêmica e Geografia. Geografia, Rio Claro, v.
Física) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 28, n. 3, p. 323 – 344, set./dez. 2003.
1999.

Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 66/1, p. 137-151, Jan/Fev/2014 151

Você também pode gostar