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UMA PROPOSTA PARA INTEGRAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

NA VISÃO GERAL DO PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO


DO MUNICÍPIO – USO DA TEORIA DE GEOSSISTEMAS E SUA
APLICAÇÃO NA ANÁLISE DE PROBLEMAS COMPLEXOS.

RESUMO

O método de análise científica deve realçar a complexidade e os diferentes fatores, influências


que se mostram nas diversas redes e interações. Para a geografia física são comuns as
aproximações com os geossistemas, que analisam as estruturas, as inter-relações e a dinâmica
em um espaço limitado, que evoluindo promovem estudos integrados da dinâmica das
intervenções humanas, que promovem um zoneamento para a ocupação, que reflete o equilíbrio
dinâmico alterado pelo homem. Atualmente com a leitura da complexidade observa-se uma
variedade maior dos sistemas, com relações mais fluídas e dependentes das interações ao nível
local, originando a sua auto-organização. Assim se lança um olhar para a inserção das águas
subterrâneas nas discussões do plano diretor do município de Maringá-PR. Existe uma clara
desarmonia no uso do solo para os poços tubulares. Observam-se concentrações de poços no
centro da cidade, que merecem reflexões nas políticas públicas, para proteção da qualidade e
quantidade das águas que estão subterrâneas. O PDM, que é um jogo dialógico, vem a ser o
momento de reflexão e conhecimento da população desta realidade. Assim é necessário que
venha a existir uma legislação municipal para o enfrentamento destes problemas,
principalmente em épocas de impacto climático e de seca pronunciada.
Palavras – chave: água subterrânea; poços e zoneamento; poços e plano de desenvolvimento
municipal; poços e uso do solo.

A PROPOSAL FOR INTEGRATION OF GROUNDWATER IN THE


OVERVIEW OF THE MUNICIPALITY MASTERPLAN
DEVELOPMENT USING GEOSYSTEMS THEORY AND ITS
APLICATION IN THE ANALYSIS OF COMPLEX PROBLENS.
ABSTRACT
The method of scientific analyses must highlight the complexity and diferent factors, influences
that appear in the diferent networks and interactions. For physical geography approaches with
geosystems are common, which analyze the structures, interrelationships and dynamics in a
limited space, which, evolving, promote integrated studies of the dynamics of human
interventions, which promote a zoning for the occupation, which reflects the dynamic balance
altered by man. Actualy, with the reading of complexity, a greater variety of systems can be
observed, with more fluid relationships, dependent on interactions at the local level, giving rise
to their self-organization. Thus, a look at the inclusion of groundwater in the discussions of the
master plan of the municipality of Maringá-PR is launched. There is a clear disharmony in the
use of land for tube wells. There are concentrations of wells in the city center, which deserve
reflection in public policies, to protect the quality and quantity of groundwater. The PDM,
which is a dialogic game, becomes the moment of reflection and knowledge of the population of
this reality. Thus, it is necessary that there is a municipal legislation to face these problems,
especially in times of climatic impact and pronounced drought.
Key Words: groundwater, wells and zoning, wells and master plan, wells and land use

UNA PROPUESTA PARA LA INTEGRACIÓN DEL AGUA SUBTERRÁ-


NEA EN LA VISIÓN GENERAL DEL PLAN MAESTRO DE DESARRO-
LLO DEL MUNICIPIO - USO DE LA TEORÍA DE GEOSISTEMAS Y SU
APLICACIÓN EN EL ANÁLISIS DE PROBLEMAS COMPLEJOS.

RESUMEN
El método de análisis científico debe resaltar la complejidad y los diferentes factores, influen -
cias que aparecen en las diferentes redes e interacciones. Para la geografía física son comunes
los abordajes con geosistemas, que analizan las estructuras, interrelaciones y dinámicas en un
espacio limitado, que al evolucionar, promueven estudios integrados de la dinámica de las inter-
venciones humanas, que promueven una zonificación para la ocupación, que refleja el equilibrio
dinámico alterado por el hombre. Actualmente, con la lectura de la complejidad se puede obser-
var una mayor variedad de sistemas, con relaciones más fluidas y dependientes de interacciones
a nivel local, dando lugar a su autoorganización. Así, se lanza una mirada sobre la inclusión de
las aguas subterráneas en las discusiones del plan maestro del municipio de Maringá-PR. Hay
una clara desarmonía en el uso de la tierra para pozos. Hay concentraciones de pozos en el cen-
tro de la ciudad, que merecen reflexión en las políticas públicas, para proteger la calidad y canti -
dad de las aguas subterráneas. El PDM, que es un juego dialógico, se convierte en el momento
de reflexión y conocimiento de la población de esta realidad. Por lo tanto, es necesario que exis-
ta una legislación municipal para enfrentar estos problemas, especialmente en épocas de impac-
to climático y sequía pronunciada.

Palavras Clave: aguas subterráneas; pozos y zonificación; pozos y plan de desarrollo munici-
pal; pozos y uso de la tierra.

1 Introdução

O método de análise científica deve realçar a complexidade e os seus diferentes


fatores exógenos, as relações, influências e impactos entre os seus componentes,
entidades, domínios e escalas, nas diversas redes e interações. São estas características
que vão fazer a sua análise de um problema/proposta devido aos aumentos da variedade
interna do sistema analisado, imposto pela individualidade do sujeito-pesquisador e das
relações entre o que é padrão/singular, regra/particular, homogêneo/heterogêneo, dada
pela fluidez e dependência das interações ao nível local.

Para realizar a ciência é usado o método, que vem da palavra grega


“méthodos”, união de duas palavras, “méta”, que significa meio, através de, entre, e,
“odós”, que significa caminho. Unindo as duas construímos o significado, como uma
forma, um procedimento, um caminho (Ferrari, 1982).

Na geografia dentre os principais métodos utilizados tanto no campo da


geografia Humana como na Geografia Física, Ensino e Tecnologias, destacam-se o
neopositivismo, o fenomenológico e o materialismo histórico-dialético. Em se tratando
das pesquisas consideradas como do campo da Geografia física, comumente, o método
do neopositivismo e as aproximações com geossistemas.

Assim, o objetivo deste trabalho é traçar o caminho metodológico para entender a


introdução aos assuntos relacionados a gestão das águas subterrâneas, como um eixo de
estudos para o PDM – Plano Diretor para o desenvolvimento do município.

Segunda a norma da ABNT, a NBR 12267/1992, cita como elementos mínimos


as caraterísticas e condicionantes geológico-geotécnicas de interesse para o uso e
ocupação do solo e os principais condicionantes físicos, ambientais, socioeconômicos e
demográficos, entre vários outros sistemas e, a água é um destes recursos da natureza
intensamente utilizados que tem interfaces com a as áreas da saúde pública, do
saneamento, do meio ambiente e que vai refletir no ordenamento territorial,
(ABNT, 1992)
. Nesse sentido, adotar a perspectiva do geossistema, observado com a perspectiva
da complexidade e da autopoiésis, dá uma orientação mais clara da perspectiva
metodológica a ser perseguida. A ocorrência de ruídos neste tipo de análise é pouco
levada em consideração e vai afetar claramente o resultado do plano e a orientação dos
interesses políticos para a gestão do ordenamento territorial.

2 Um pouco da história: da ideia básica até os nossos dias – os geossistema

O sistema analisa a estrutura, as inter-relações e a dinâmica que ocorrem em


um espaço delimitado – um geossistema, uma unidade real e integrada em diversas
escalas. É uma análise da dinâmica ambiental, que integra os processos naturais e
sociais mostrando organização, através de um conjunto de procedimentos, para a
observação de um plano completo, da ordem das funções ou para o estudo da
interdependência das suas funções e/ou finalidades, (CHRISTOFOLETTI, 1987).

Deve ser considerado não apenas como unidades integradas dos seus
elementos, em integração, acrescentando a totalidade dos elementos, introduzindo a
abordagem geoecológica da paisagem, onde a natureza se apresenta como totalidade
dialética, para ser aplicada em qualquer tipo de paisagem. Aqui paisagem é a natureza
vista como um todo, é a soma dos elementos naturais e culturais.

Com o surgimento da teoria dos sistemas e da teoria da complexidade, onde


somou-se com o tempo (linear e cíclico) antrópico ou de transformações.
As visões apresentam 3 critérios básicos (TROPPMAIR; GALINA, 2006):

 As propriedades essenciais ou sistêmicas são do todo, que nenhuma das partes


possui, surgem das relações da organização. É a mudança das partes para o todo;
 Existe a capacidade do deslocamento para os diferentes níveis de complexidade;
 As propriedades das partes são propriedades intrínsecas e só podem ser
entendidas dentro do contexto, de uma cadeia de relações.

O geossistema é complexo, homogêneo, com estruturas, relações e fluxos de


energia, que vão interagir no ambiente físico, biológico, com a sociedade humana.
Integrando a visão numa multiplicidade de informações, retomando a visão holística,
num equilíbrio de qualidade de análise, substituindo a versão puramente econômica, ou
somente ecológica, na tentativa de refletir a dinâmica, as inter-relações e as estruturas.

A aplicação do modelo geossistema-território-paisagem (GTP) tenta fazer uma


abordagem do ambiente, partindo da visão naturalista de geossistema, como um
geocomplexo antropizado, através das suas estruturas (vertical e horizontal) seguido a
análise socioeconômica, de território (relações e meios de organização social) e,
finalmente a abordagem sociocultural. Aqui a paisagem é a percepção do observador
para o meio onde vive (BARBOSA; GONÇALVES, 2014).

Por outro lado, ao colocar a categoria espaço geográfico, no contexto do


município, pode-se considerar com uma “combinação geográfica”, porque vai
extrapolar o sentido do recorte vai compreender os processos de planejamento urbano,
enquanto resultado das condições específicas de grupos sociais, articulados como
interesses que se inserem socialmente em um momento histórico, cercado por
circunstâncias naturais, (ALIEVI, 2017).

2.1 O início dos conceitos dos geossistemas

A classificação das paisagens para o estudo da produção agrícola levou a


Grigoriev Svozdeski, Isatchenko e Miklallov, na década de 1960 e 1970, na URSS, a
discutir uma forma teórica e prática de conceber a regionalização ambiental, iniciando
as discussões sobre geossistemas (Neves et al., 2014).

São relações e conexões (internas e externas) entre os sistemas ambientais e


suas interfaces, incluindo os sistemas socioeconômicos, sugerindo desenvolvimento e
reconstrução, (SOTCHAVA, 1977). Esta perspectiva coloca foco nas conexões e na
dinâmica da natureza e sua representação/modelização, calculando os meios ideais para
interferir nas estruturas e funções, não apenas nos componentes naturais, mas nas
paisagens e suas subdivisões, na correlação homem e natureza.

Apresentam-se duas categorias, o território que se apropria, também, do


patrimônio geológico e geomorfológico, hidrogeológico, entre outros, para predominar
com as relações de poder e apropriação. E a outra categoria, a paisagem, com os seus
elementos abiótico, as suas interações, as geoformas e os geossítios, como pertencentes
ao patrimônio da geodiversidade e a interação da sociedade com estes elementos.

Com isso, Bertrand (1971) vai se preocupar com a compreensão da relação


“homem-ambiente”, para com o espaço geográfico e os seus atributos ambientais, pois a
paisagem não é uma simples adição, numa porção do espaço, mas o resultado da
combinação dinâmica, instável, dos componentes físicos, biológicos e humanas, numa
inter-relação dialética, que não é natural, mas, integral, total, com todas as implicações
antrópicas derivadas.

Este conceito surge com Sotchava, (1978) que iniciou as discussões sobre uma
estrutura hierarquizada e sistêmica da natureza, através da superposição e interação de
diversos mapas, justapostos (o sistema geobiofísico) que paralelamente a Bertrand
(1971), conceituava que a paisagem é o resultado da relação dos elementos bióticos, a
bióticos e antrópicos. Os textos de Sotchava indicavam uma reflexão baseada na teoria
geral dos sistemas e no materialismo histórico dialético, como transformação criativa da
realidade e do conhecimento, elevando o nível do pensamento e alargando as
possibilidades criativas. Nesse processo socioeconômico da época, como uma
articulação de contradições (lutas de classes, por exemplo). Assim:

 Como um todo coerente em que os fenômenos se condicionam reciprocamente;


 Como um estado de mudança e de movimento;
 Como o lugar onde o processo de crescimento das mudanças quantitativas gera
por acumulação e por saltos;
 Como a sede das contradições internas, (JAPIASSU; MARCONDES, 2001).
 A noção materialista de natureza esta baseada na compreensão de totalidade,
formada pela interação dos opostos dialéticos (OLIVEIRA; NETO, 2020).
Ainda, Sotchava (1977), descreve os geossistemas como uma classe peculiar de
sistemas dinâmicos abertos e organizados por uma hierarquia, que foi definida por
Bertalanffy (1973) , que escreveu sobre a construção sua hierárquica, podendo ser
comparada em qualquer escala; é uma unidade dinâmica, com uma organização
geográfica peculiar.

Os geossistemas são apresentados por ideias que levam em consideração uma


relação estrutural, por uma ordem de importância nos níveis planetários, regional e
topológico; são os geomeros e os geócoros, interdependentes. Os geômeros são regiões
onde ocorrem biogeocenoses e são o ponto de partida para a classificação; as áreas
diferenciadas são os geócoros.

A biogeocenose é um sistema composto por organismos vivos e seus ambientes


reais (físicos e biológicos), é o conjunto de comunidades vivas de uma região. É a soma
dos elementos abióticos com os bióticos. Apesar de se diferenciarem, evidenciam
interdependências, uma união flexível que mostra novos mosaicos, mostrando
dinamicidade temporal e espacial, com imprecisão e não linearidade entre sociedade e
natureza.

Estes conceitos se aproximam da concepção em várias escalas e


complexidades, ideias de ecossistemas, que se desenvolvem, aumentando sua dissipação
total, criando estruturas complexas, com níveis hierárquicos para a manutenção da
energia. Desta maneira, o conhecimento ecossistêmico nos dá a conhecer os processos
que compõem a biodiversidade, para conhecer sua dinâmica e estrutura.

Esta abordagem desenvolveu-se na França, a partir dos escritos de Georges


Bertrand (que influenciou a geografia brasileira). Para os geógrafos franceses este
conceito se aproximou do conceito de região, pois Vidal de La Blache propôs uma
concepção culturalista histórica, uma diferenciação de áreas em unidades, caracterizadas
pelos seus horizontes culturais, defendendo o estudo da terra por leis gerais, para
entender a fisionomia das diferentes regiões “como expressão de uma série particular de
causas e efeitos”, (OLIVEIRA; NETO, 2020).

Nesta virada epistemológica, a França com Jean Tricart explorava


interpretações e métodos que mostravam uma distância, cada vez maior da teoria do
ciclo geográfico, criando uma demanda mais integrativa, em um sistema aberto, com
uma organização de fatos geomórficos em diferentes ordens de grandeza, resultando
numa referência fundamental para a construção metodológica, (Tricart, 1965).

Estas ideias influenciaram a década de 80 e proporcionaram uma transição


importante. A proposta de um sistema tripolar, o GTP (geossistema, a fonte; o território,
o recurso e paisagem, a identidade), cujo interesse é aprender as relações entre os
elementos dos três polos.

A tríade é uma tentativa para o entendimento da complexidade-diversidade do


ambiente por uma base poli conceitual, um sistema flexível cujos caminhos mostram a
totalidade por três pontos de vista, uma ligada a natureza (geossistema), outro associado
a esfera antrópica (política e econômica) e a última diz respeito aos aspectos culturais.

Existem três caminhos autônomos, três categorias espaço-temporal diferentes e


complementares que permitem fornecer um caráter cultural, a paisagem, as repercussões
da organização para o território e o funcionamento social e econômico; é o espaço sendo
o geossistema um conceito temporal, unidade delimitada em uma escala, um conceito
naturalista em interação dos componentes biótico, abiótico e antrópico.

2.2 Em terras brasileiras

A partir da década de 80. Com Bertrand e a escola francesa na geografia,


desenvolveu-se um grupo de pensadores. Antônio Christofoletti, com a sua geografia
teorética propõem uma nova avaliação da geografia e os modelos dos sistemas
ambientais e, encontra em Helmut Troppmair o conceito de geossistema que vai possuir
três características fundamentais, morfologia, dinâmica e exploração biológica,
caracterizando fluxos, estruturas e relações, que integrados, concretizam o ambiente
físico onde existe exploração biológica. Aparece o conceito da geobiodiversidade, ou
melhor, o funcionamento da relação natureza-homem e a afirmação de que só o homem
precisa da natureza

Diz ainda que, é uma perspectiva naturalista, pelas características da evolução


da natureza bio-físico-química e do funcionamento do relevo, vegetação, solo, de
maneira integrada; e segunda perspectiva é o território do homem, a gestão, as políticas
de uso do meio ambiente, que é essencialmente econômico ou socioeconômico e por
último, o modo cultural, o conceito de paisagem. Aqui se inclui o elemento tempo, a
dimensão temporal, tornando-se um processo, (TROPPMAIR, 2007).
Não existem processos estacionados, são sistemas dinâmicos (de tempo linear
ou cíclico), tanto no agir, como no comportamento social,
(TROPPMAIR; GALINA, 2006)
. E citando, (CAPRA, 1996, pg 46), à visão sistêmica tem em comum:

a) É a visão da mudança das partes para o todo, as propriedades essenciais ou


sistêmicas são propriedades do TODO que nenhuma das partes possui. Surgem
da organização;
b) A capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para outro entre
diferentes níveis sistêmicos, diferentes complexidades;
c) E, as profundidades das partes não são propriedades intrínsecas, só podendo ser
entendidas dentro do TODO MAIOR, daquilo que denominamos parte é um
padrão numa teia inseparável de relações.

Esta percepção de geossistemas avança como uma análise integrada e a


aplicação prática para os estudos ambientais, propondo uma abordagem de
planejamento, embora deixe claro que o conceito ainda continua vago e coloca em pauta
o pensamento de que a geografia deveria ser permanentemente “sacudida e agitada”,
(Monteiro, 2000).

Das particularidades que se estabelecem entre sociedade e natureza e o


entendimento da formação socioespacial, levando em consideração os padrões de
ocorrência e o entendimento da combinação de fatores que estão em interação, por
exemplo. Em uma bacia hidrográfica vão permitir a compreensão dos processos
doença-saúde, enquanto inserção de um grupo social, num momento histórico e em
circunstâncias naturais e na multicausalidade, para o entendimento da epidemiologia, é
um exemplo da utilização do conceito usado por (ALIEVI, 2017).

Com a evolução das discussões do conceito no Brasil, o estudo da fragilidade


dos ambientes naturais proposta por Ross, no esteio de Monteiro e Bertrand. Na
proposta de estudos integrados em um território, para estudar a dinâmica das
intervenções humanas e o meio físico. Formula um zoneamento, que de início é
atemporal, é estático, para o processo de ocupação. Este é o palco das ações antrópicas e
seus limites relacionados aos componentes e dimensões da natureza.

Vai encontrar um zoneamento ambiental que reflete as disciplinas envolvidas,


com as suas potencialidades e as alterações com as suas trocas de energia e relações em
equilíbrio dinâmico, que alterado pelo uso que o homem faz, relembrando as unidades
ecodinâmicas instáveis de Tricart. O produto é um planejamento ambiental que
protagonizou os conceitos de unidades ecodinâmicas, com a sua instabilidade potencial,
(ROSS, 1990).

Mas o limite do conhecimento das ciências naturais subjuga aquilo que se


diferencia, que é heterogêneo e/ou aleatório, embora presentes num processo.
Atualmente com a leitura da complexidade, estas formas distintas realçam as
hegemonias, através de diferentes fatores externos e de forças universais exteriores,
comportando as relações, influências e impactos entre os componentes, entidades,
domínios e escalas e entre as diversas redes de interação que ocorrem. São caraterísticas
do aumento da variedade e complexidade interna do sistema, imposto pela
individualidade e não pela universalidade, controladora, e que mostram relações
padrão/singular, regra/particular, homogêneo/heterogêneo, tornando-se mais fluídas e
dependentes das interações a nível local.

Este jogo (ordem e desordem - entropia) se dá em várias escalas, dimensões e é


chamada de desordem criadora, propõem não somente a ordem ao sistema, mas
proporciona ruídos inevitáveis decorrentes do processamento da informação e do
aumento da complexidade e da adaptabilidade. Por outro lado, o próprio pesquisador
(como um sistema auto organizado) questiona a verdade dada da objetividade (exclusão
do sujeito e a subjetividade do conhecimento) porque tudo o que se conhece acerca da
realidade é mediado pela representação simplificada do pesquisador, e por suas
representações (teorias e modelos, entre outras) que detém o discernimento, o
conhecimento e a destreza para modelar a realidade não se descarta o fenômeno social,
como legitimo e não redutível, onde as observações estão num nível autopoiético
superior, sendo que a linguagem é o mecanismo de interação fundamental (relação entre
indivíduos) para produzir cultura e conhecimento, a individualidade humana é social
enquanto utilizadora da linguagem, para a mudança de conduta nos indivíduos, que
constitui e integra a sociedade.

A entropia no processo (desequilíbrios, ruídos, flutuações, mudanças) que


ocorrem em todas as escalas e dimensões, pelas interações internas, nas estruturas
espaço-tempo ordenadas e evolutivas, relativiza aquilo que é vivo com o que não é vivo,
em funcionalidades similares (a cidade e seu zoneamento são exemplos) que destacam
singularidades em relações internas, as autonomias na dinâmica de evolução dos
sistemas dinâmicos da natureza.
Os ruídos são perturbações aleatórias presentes no processamento das
informações, se mostra como uma adaptação e evolução do sistema no ambiente.
Estarão presentes nos fluxos e processos provocando novos estados comunicativos,
ordenando o sistema. É um mecanismo auto-ordenativo que ultrapassa os mecanismos
de retroalimentação, de regulação da causalidade circular , (GOMES; VITTE, 2018).

O sistema se alimenta, também, dos ruídos inevitáveis do processo de análise


da informação.

Por outro lado, a dinâmica organizacional gerada pela interação dos seus
componentes internos, pela dissipação de energia, ocorrem emergências na ordem, são
as estruturas dissipativas (materialidade em regime de troca de energia com o
ambiente), surgindo daí espontaneamente a organização, por não obedecer regras não
lineares entre as relações animadas e não animadas, funcionais e holísticas, com a
potência da organização do mais simples para o mais complexo.

A auto-organização esta qualificada como processo, uma reestruturação da


forma, com a interação de seus próprios componentes. O resultado é o próprio processo
e em grau menor, proveniente das condições de intercâmbio com o ambiente. É
autônomo em relação ao ambiente, as interações internas e correlação organizadas tem
referência em sí mesmo, (HAKEN, 1985).

O sistema mostra a “desordem criadora”, que vai trabalhar não só a ordem


gerada pelo ambiente, mas também os ruídos inevitáveis, detendo o conhecimento para
modelar a realidade. Os ruídos são perturbações aleatórias presentes no processamento,
sendo uma vantagem na adaptação e evolução do sistema, provocando novos estados
comunicativos; é um estado auto-ordenativo.

Na mesma direção, a interação dos componentes internos, pela dissipação de


energias, surge a ordem no sistema, de forma espontânea. Aliado as trocas de energia e
matéria com o ambiente, com baixos níveis entrópicos, realçando a criatividade e
historicidade no seu universo físico-causal. O resultado é autônomo em relação ao
ambiente; as relações e interações internas têm referência em si mesmo. O sistema é um
conjunto de partes inteligíveis dependentes e interdependentes e produz a diversidade e
a unidade, o antagonismo, a coerência e a complementaridade. O humano (simbólico) e
o natural-físico são integrados, diversos na morfologia, mas homogêneos na paisagem.
A cartografia expressa a harmonia e a desarmonia para a resolução do problema da
pesquisa, as relações e as diferenças internas, revelando a intensidade do processo de
transformação e de estabilização do sistema, (GOMES; VITTE, 2018).

Na análise dos modelos ecossistêmicos, “o humano-simbólico e o natural-


físico” tem paridade integrativa; essa instabilidade vai mostrar as relações internas, a
diferenciação interna como produto e resolução da estabilidade do sistema revelando a
intensidade e a velocidade do processo de transformação e estabilização do sistema, que
se encontra em constante mudança. Este jogo é necessário para perceber os mecanismos
e condições externas para a preparação do sistema e a sua adaptação para o processo de
diferenciação, para que se produzam estruturem, articulem e dinamizem entre sí, as
forças de origem externa, numa interação dinâmica, uma homogeneização da
diferenciação.

O geossistema aparece tanto como uma estrutura natural funcional, quanto


como um produto de trabalho social. É estudado pelo diagnóstico dos problemas e sua
priorização. O fator antrópico deixa de ser perturbação (ruído) e é considerado como
incorporador das contingências, incertezas, transformações e criatividade, como uma
manifestação dos sistemas naturais. As unidades espaciais mínimas de análise podem
ser uteis para a compreensão do jogo dos processos espaciais, sendo uma forma de
organizar as relações, uma sazonalidade. Estas esferas são construídas por processos
internos – endógenos - locais, partindo das diferenciações espaciais, elaboram-se as
unidades mínimas, para o seu diagnóstico e resolução, a partir das relações internas. De
como se formam e se conectam e sob quais influências contextuais, adaptam-se e
direcionam a evolução do geossistema local e regional; a partir das “finalidades” dos
projetos construídos e das unidades mínimas de relações entre os indivíduos e a zona
macro.

3 O problema da inserção das águas subterrâneas nas discussões do plano diretor


para o desenvolvimento do município de Maringá

Este trabalho se inicia pela análise da legislação federal (constituição federal -


CF) que dando ao município a categoria de ente federativo, concedeu o direito de
legislar em questões locais. Além dessa concessão, deu também condições de trabalhar
pela sua população nas questões de saúde (saúde pública e vigilância sanitária),
saneamento (capacidade de concessão ou de assumir a responsabilidade), o meio
ambiente (agindo em concorrência e em suplência as leis federais e estaduais) na gestão
dos recursos naturais e na efetuação humana sob a superfície e subsuperfície da área do
município e, também podendo planejar o zoneamento, que é o principal instrumento de
planejamento para o desenvolvimento municipal.

Isso está pacificado quando o gestor assume a preocupação pela administração


do seu território, incluindo aí as águas, principalmente as subterrâneas (objeto deste
trabalho).

A sociedade moderna se organiza através da promulgação de legislação. É um


processo dialógico que compreende a organização social pela discussão de
representação dos interesses presentes na sociedade, de normas, regras e planos.

Isso institui um conjunto de regras para a convivência das pessoas, no território


do município e a grande expressão desta relação, desta negociação é o Plano Diretor
para o desenvolvimento – o PDM.

Foi instituído pela lei 10.257, de 10 de julho de 2001, regulamentou os artigos


182 e 183 da CF, pressupondo uma negociação dialógica entre os interesses da
sociedade e o uso dos recursos naturais, através do zoneamento do uso do solo. Os
pressupostos são, a manutenção da saúde da população, da gestão ambiental, do
saneamento, através da consolidação do zoneamento do uso do solo, com restrições,
adaptações e intenções para o desenvolvimento econômico, social, cultural e ecológico.

Este estudo estará embasado nos conceitos de análise sistêmica, pelo método
do GTP (geossistema, território e paisagem) utilizando a combinação geográfica. Mas,
ainda assim o método não consegue demonstrar a mobilidade do sistema, a
variabilidade das discussões, expressando uma condição estática. É sabido que um PDM
não é nada estático; é um palco de discussão dos interesses da população.

Daí introduzir o conceito da complexidade que existe em qualquer sistema e foi


abordado nas páginas anteriores.

A coerência e a complementaridade são as características de um PDM. O


humano (no campo do simbólico) e da defesa dos seus interesses, por exemplo o
zoneamento das atividades econômicas dentro da cidade e o natural – físico e biológico
são integrados, como homogeneidades na paisagem (por exemplo, as formas). A
cartografia expressa a harmonia e a desarmonia para a resolução dos conflitos e do
problema da pesquisa, as relações e as diferenças internas, revelando a intensidade do
processo de transformação e de estabilização do sistema, (GOMES; VITTE, 2018).

O fator antrópico deixa de ser ruído, é incorporado como incerteza,


transformação e criatividade, o simbólico, o imaginário sócio-cultural-econômico, acaba
fazendo parte do funcionamento da natureza e delimita o geossistema natural, sendo
estudado pelo diagnóstico dos problemas e sua priorização, trazendo um “continuum”
entre o sistema natural e o sistema humano.

Os estudos são orientados para o diálogo, com as ciências humanas, numa


direção dialógica para a construção da teoria-método-empiria.

No município existe uma clara desarmonia no uso do solo para a extração das
águas subterrâneas, como pode observar através do mapa abaixo.

Figura 1: localização dos poços no município, com concentração na área urbana. Fonte
autor.

Onde se nota concentrações na área central da cidade, todas com outorga, mas
sem as devidas e legais orientações do município para o seu monitoramento. Se
observar mais de perto estas concentrações se ver que a recomendação tácita do orgão
ambiental (distância de 200 metros) entre os poços tubulares inexiste e também, não se
fiscaliza o monitoramento das orientações contidas nas outorgas.

Como se pode observar as concentrações no centro da cidade são importantes.


Atualmente conta-se com 1486 poços tubulares,
(I. A. T. -; INSTITUTO ÁGUA E TERRA, 2021)
.

Figura 2: concentração dos poços tubulares na zona central. Fonte: autor.

Isso merece uma reflexão profunda pelas políticas públicas urbanas, e nas
normas de construção do município (normas de perfuração, testes de aquíferos e de
localização e proteção destes poços) devem estar orientadas pelo PDM, além de um
zoneamento eficaz e eficiente para o monitoramento do uso deste recurso importante
para o desenvolvimento do município. Estudo terá uma abordagem geossistêmica,
levando em conta a complexidade das relações humanas e dos interesses que estarão
representados nas discussões, é uma pesquisa participativa, uma vez que o autor
participa da Comissão de Acompanhamento Técnico. Usar-se-á a técnica da pesquisa
bibliográfica, na determinação da participação do município, levando-se em conta que a
gestão do recurso hídrico é realizada de maneira integrada e, com o município alçado a
categoria de ente administrativo, deve ter uma função. É esta a primeira pergunta: Qual
o poder e o dever constitucional e da legislação derivada, em relação a gestão dos
recursos hídricos subterrâneos, que o município deve se submeter?

Daí, a segunda questão é: qual o principal documento de planejamento para


que o município possa efetivamente realizar esse poder - dever ?

E, quais os elementos dessa efetivação, no que diz respeito a ação técnica, a


ação legislativa e ação de planejamento ?

Para responder as últimas perguntas optou-se por estudos técnicos e coleta de


dados nos sítios eletrônicos do governo do estado e tratamento de dados com programas
de computador (a saber, QGis e a suíte Office da Microsoft).

Para a delimitação dos estudos a serem realizados pode-se representá-los


através do gráfico abaixo:

Figura 1: Passos metodológicos para a realização do estudo. Fonte: autor

O levantamento se inicia pela leitura de bibliografia de várias, fontes,


biblioteca, sítios eletrônicos (researchgate, scopus, google acadêmico, entre vários
outros); o levantamento dos poços está apoiado no banco de dados do I.A.T. – Instituto
Águas e Terra; a levantamento dos lineamentos será elaborado através de análise de
imagens de radar (SRTM) pelo programa Global Mapper, através de quatro
iluminações, 0°, 90°, 180° e 270°, com uma síntese , no programa QGis. Junto a estes
estudos serão realizados analises espaciais das concentrações de poços na área urbana
(figuras 1 e 2) e a delimitação de áreas problema, com relação a vazão extraída, a
proximidade de poços, e os impactos daí resultantes relacionados as competências do
município, a saber, saúde, saneamento, meio ambiente e zoneamento territorial.

4 Considerações finais – quebra do paradigma que divide nosso pensamento.

A perspectiva da complexidade aborda duas novidades, a ontológica (novos


fenômenos e novas formas de abordar os antigos) e a epistemológica (novas formas de
conhecer o fenômeno). Ultrapassar a dicotomia sujeito/objeto, envolve a delimitação
dos geossistemas na paisagem (unidades mínimas, o zoneamento), como uma maneira
interdisciplinar que preserva as especificidades de cada domínio e dimensão da
realidade. Para o estudo de áreas fortemente antropizadas vai orientar para o diálogo
com as ciências humanas, aspecto que ainda está sendo construído na relação teoria-
método- empiria.

O PDM é um jogo dialógico, com redução a modelos de áreas homogêneas,


onde vai prevalecer um interesse hegemônico. As águas subterrâneas vêm a ser um
destes interesses, não levado a sério pela sua invisibilidade. As figuras apresentadas
mostram a situação de calamidade na sua extração e apropriação do território municipal
sem uma orientação técnica, sem uma orientação para a proteção do recurso que esta
subterrâneo, além de licenciamento ambiental para a obra de utilização do recurso da
natureza e sua área de proteção. Para manutenção da sua qualidade original e orientação
para o zoneamento das áreas para a recarga do aquífero,

Com isso o trabalho se encerra demonstrando a necessidade destas discussões e


a confecção de legislação para levar a preocupação da manutenção da qualidade e da
quantidade das águas subterrâneas ao status de importância dentro do PDM, para o
enfrentamento das épocas de impacto climático e secas pronunciadas.

E, com isso responder as perguntas acima citadas e colocar o município no


patamar de gestor, através da possibilidade de monitorar a qualidade e a quantidade das
aguas subterrâneas ocorrentes no seu território.
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