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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

CENTRO DE CIENCIAS TECNOLOGICAS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

LUCAS MACÊDO FONTENELE

PROJETO DE REQUALIFICAÇÃO DA ORLA DA LAGOA DA


MESSEJANA COM FOCO NA CAMINHABILIDADE

FORTALEZA
2020
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SUMÁRIO PRELIMINAR

1. Introdução..................................................................................................................................... 3

1.1. Contextualização .................................................................................................................. 3

1.2. Justificativa ........................................................................................................................... 3

1.3. Objetivos ............................................................................................................................... 4

1.3.1. Objetivo geral ............................................................................................................... 4

1.3.2. Objetivos especificos ..................................................................................................... 4

1.4. Procedimentos de pesquisa .................................................................................................. 5

1.5. Estrutura do trabalho .......................................................................................................... 5

2. Fundamentação Teórica .............................................................................................................. 7

2.1. Evolução histórica de Messejana ......................................................................................... 7

2.2. História da Lagoa da Messejana ......................................................................................... 9

2.3. Caminhabilidade ................................................................................................................ 11

3. Referências projetuais ................................................................................................................ 13

3.1. Parque na Orla Jadaff........................................................................................................ 13

3.2. Reubarnização da orla do Lago Paprocany...................................................................... 15

3.3. Parque Hunter’s Point South Waterfront ........................................................................ 17

4. Etapas de Planejamento ............................................................................................................. 20

4.1. Área de Intervenção ........................................................................................................... 20

4.2. Diagnóstico da área de intervenção ................................................................................... 22

4.3. Legislação do terreno ......................................................................................................... 22

5. Partido Arquitetônico e Urbanístico ......................................................................................... 23

5.1. Diretrizes Projetuais ........................................................................................................... 23

5.2. Programa de necessidades ................................................................................................. 24


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1. Introdução
1.1. Contextualização

É notavel que a área da orla da Lagoa da Messejana possui um potencial gigantesco,


podendo ser aproveitado de diversas formas, seja ele voltado tanto para o viés do lazer dos
moradores do entorno, como até mesmo um potencial econômico para a região, porém, o que
pode-se observar atualmente do local, é o descaso do poder público, que vai totalmente na
contramão de todos os beneficios que tal área pode vir a oferecer. Portanto, o que pode-se
encontrar no local atualmente são vias pedonais totalmente irregulares, degradadas e sem
nenhum acesso voltado a pessoas PCD, além de pouquissima iluminação em boa parte do trajeto
da orla, vias que não possuem nenhuma conectividade entre si, e que além de tudo afastam
pedestres por conta da insegurança gerada pelo pouco investimento em políticas que visam a
segurança pública do ambiente como um todo. Dessa forma, se mostrou necessária a realização
dessa pesquisa voltada para a requalificação da orla da Lagoa da Messejana, tendo foco
principal na caminhabilidade, conectividade e integração social do ambiente.
Por qual motivo, uma área pública tão vasta, bem localizada e com um enorme potencial,
tende a não atrair a população dos seus arredores? De fato, pode-se listar diversos motivos para
tal questionamento; como já citado anteriormente, alguns dos problemas que o percurso da área
possui, a mesma passou por uma degradação constante ao longo dos anos, além da própria falta
de investimento público direcionado ao local.
Dentre esses problemas, destacam-se a irregularidade da pavimentação utilizada na via
pedonal, com vários pontos apresentando buracos e desníveis que podem ocasionar diversos
acidentes à pedestres; a falta de iluminação durante boa parte do trajeto da orla, unido com o
pouco apoio de segurança pública na área, são também um dos principais motivos para afastar
a população dos arredores da lagoa, pois a insegurança toma conta de quem poderia vir a utilizar
a determinada área de estudo; a escassez de equipamentos urbanos que possam atrair a
população, além da falta conectividade entre os diversos pontos da orla, que poderia assegurar
continuidade de deslocamento para os pedestres, melhorando assim o fluxo de pessoas no local.

1.2. Justificativa

Os indicativos de criminalidade, as inúmeras reportagens que abordam a degradação da


área, e os diversos depoimentos de moradores da região e de pessoas que constantemente
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trasnsitam no entorno da lagoa, tocam no mesmo ponto de revolta, que é o descaso para com a
área da orla da Lagoa da Messejana, além da perda de uma área com um enorme potencial, seja
ele turístico, paisagístico e até mesmo econômico.
Com isso, se mostra necessário a realização de uma pesquisa que aborde, a princípio,
um levantamento de forma mais detalhada das problemáticas, e o que causam essas
problemáticas na área, para posteriormente, procurar os principais pontos que necessitam que
sejam realizadas melhorias, além de desenvolver diferentes formas mais específicas, para que
tais melhorias sejam aplicadas, trazendo assim, uma maior sensação de pertencimento para os
moradores com essa revitalização de forma efetiva no entorno da Lagoa da Messejana.

1.3. Objetivos

Os objetivos desse trabalho estão divididos em: objetivo geral e objetivos específicos.

1.3.1. Objetivo geral

Impulsionar de forma eficiente e funcional, uma requalificação na orla, visando uma


melhoria no desenvolvimento da região, de forma a reagrupar e atrair novamente a população,
tanto local, quanto dos arredores da Lagoa da Messejana, em Fortaleza.

1.3.2. Objetivos especificos

- Criar uma maior identidade para o local, relacionando a rica história que a mesma possui,
a cultura desenvolvida na região mais especificamente, além do esporte, áreas de recreação e
áreas de convivência, buscando sempre integrar os diferentes públicos que possam vir a
frequentar a área.
- Consolidar os espaços da orla já existentes, aproveitando o que a população já possui
algum tipo de laço e propriedade com a sua utilização, fomentando ainda mais a sua apropriação
com a qualificação e intensificação dos usos, através de diversos equipamentos urbanos
inseridos.
- Restabelecer e fortalecer o traçado e o desenho inicialmente formado como área de
caminhabilidade entre os diferentes pontos da orla, e todos os desenvolvimentos e melhorias
nas áreas que vão desde econômica e social, até mesmo ambiental.
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- Proporcionar a conexão urbana, privilegiando o pedestre e o ciclista entre os diversos


trajetos encontrados ao longo da orla.
- Implementar áreas, marcos e pontos de referência para que haja uma lógica caminhável e
conectada aos frrequentadores e visitantes do local, traçando assim um trajeto a ser percorrido
mesmo que de forma inconsciente por todo o percurso da orla, trazendo com isso, uma espécie
de pertencimento ao local.

1.4. Procedimentos de pesquisa

Levando em consideração que o propósito da pesquisa possui caráter primordial de


aprofundamento sobre determinado tema, e com isso proporcionar maior familiaridade com um
problema, a mesma pode ser classificada como uma pesquisa exploratória.
Segundo Gil (2008), as pesquisas exploratorias possuem a finalidade de ampliar e
esclarecer conceitos e idéias já existentes, tendo em vista a formulação de problemas e hipóteses
para estudos posteriores, como o objetivo de proporcionar uma visão geral de um determinado
fato.
Além disso, a produção do presente trabalho se utilizou de início como estratégia
metodológica quantitativa-qualitativa, por se tratar de uma abordagem que hora varia na análise
da relação entre o sujeito e o mundo, sendo muita das vezes descritiva, com estudo de dados de
forma indutiva, e outras vezes tendo que ser feito uma pesquisa dos fenômenos que podem ser
quantificados, traduzindo opiniões e números em informações utilizadas para sua classificação.
Por fim, foram utilizadas variadas técnicas para a realização da pesquisa, por ela se tratar
de uma pesquisa de caráter quantitativo-qualitativo, inicialmente foi se utilizado de
procedimentos teóricos, através de uma análise documental de projetos corrrelatos e de uma
revisão bibliográfca, onde foi possível destacar, relacionar e estudar os principais pontos de
pesquisa da área de estudo; em seguida, se utilizou a pesquisa de campo, através de visitas de
campo, fotografias e mapeamento, para uma melhor análise do perímetro selecionado, com foco
nos principais pontos de melhoria do ambiente, com a finalidade de intervir em um espaço
existente, dessa forma procurando propor sua requalificação, propondo melhores condições de
caminhabilidade, lazer, conectividade, integração social e entretenimento para os cidadãos, e
para o bairro.

1.5. Estrutura do trabalho


O trabalho foi estruturado em 6 capítulos:
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Capítulo 1 se trata da introdução com uma abordagem resumida e explicada acerca do tema
e o que será explorado no trabalho juntamente com a justificativa, objetivos e procedimentos
de pesquisa.
Capítulo 2 é a fundamentação teórica onde é apresentado um apanhado histórico, tanto sobre
o bairro, quanto sobre a lagoa, área principal de estudo, além da abordagem sobre alguns
conceitos e teorias para que o trabalho seja concluído.
Capítulo 3 aborda as referências projetuais estudadas para se ter uma melhor abordagem
sobre os temas e propostas que serão desenvolvidos no trabalho.
Capítulo 4 é sobre as etapas de planejamento do projeto que é a descrição detalhada da
localização, condicionantes legais, diagnóstico e situação da área de intervenção.
Capítulo 5 mostra os detalhes sobre o partido arquitetônico e urbanístico com enfoque nas
diretrizes projetuais, programa de necessidades, zoneamento, volumetria, técnicas construtivas,
plantas e detalhamentos.
Capítulo 6 são os resultados e a conclusão que observa os resultados e analisa o que foi feito
no trabalho. E por fim, após o capítulo encontra-se as refrências bibliográficas.
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2. Fundamentação Teórica

2.1. Evolução histórica de Messejana

O início do processo de urbanização de Messejana se deu por volta da década de 1870,


segundo Freitas (2014), quando a vila assumiu o posto de município e passou por diversas
intervenções a partir dessa década e nas que decorreram em sequência; dentre elas pode-se
destacar o cemitério público, a construção do prédio da Câmara de Messejana, além da
pavimentação das ruas em torno da Igreja Matriz, além da construção de boa parte do
calçamento da região, incluindo o calçamento do aterro da Lagoa, área essa que hoje serve de
leito para a Avenida Frei Cirilo.

Figura 1: Igreja Matriz de Messejana

Fonte: Arquivo O Povo

Vários fatores foram importantes para que ocorresse o desenvolvimento do referido


distrito, dentre eles estão o comércio, a produção de algodão e o seu escoamento para Fortaleza
para ser exportado.
Nas decadas de 1900, Messejana teve seus maiores altos e baixos, tendo sua condição
de vila extinta em meados de 1921, juntamente da vila de Parangaba, passando assim, por uma
situação humilhante, sem rumo e sem autonomia, não sendo assim considerada nem mesmo
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como povoado. Messejana só volta a ter algum tipo de reconhecimento por volta de 1933,
quando passa a ser classificada como distrito; mas foi só em 1936, que por meio de uma eleição
realizada na Câmara Municipal de Fortaleza, que Messejana e Parangaba passaram novamente
a serem reconhecidas como parte do território da cidade.
Após a volta de Messejana a condição de distrito, várias mudanças foram perceptíveis
em seu território, dentre elas destacam-se o transporte ligando o Distrito à capital, que voltaram
a se normalizar, a instalação do Hospital do Coração, às margens da Avenida Frei Cirilo, o
surgimento de diversas escolas espalhadas pela sua periferia, além da inauguração de luz
elétrica e diversas criações de equipamentos ao longo dos anos e administrações seguintes de
Messejana, seja ela parte das Juntas Distritais ou após a mudança para Subprefeituras, por volta
da década de 1940. Em 1970, há a mudança do título de Subprefeitura para Administração
Regional.
Figura 2: Praça da Messejana (1974)

Fonte: Fortaleza Nobre


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Foi somente em 1997, que ocorreu a extinção das administrações regionais e criadas,
em seu lugar, as Secretarias Executivas Regionais, na qual a cidade passou a ser dividida em
119 bairros, sendo Messejana um deles (FREITAS,2014).

2.2. História da Lagoa da Messejana

Figura 3: Lagoa da Messejana dos anos 20

Fonte: Acervo MIS

A Lagoa da Messejana tem sua importância retratada desde o início da formação do


bairro, pois, de acordo com alguns historiadores, a ocupação inicial indígena se deu ao redor da
lagoa, na qual, apenas futuramente veio a ocorrer a catequese que formou a Igreja, uma antiga
capela. Além disso, não pode-se deixar de lado a importância da mesma na obra lançada em
1865, por José de Alencar, seu romance chamado “Iracema”, na qual o mesmo a enaltece
diversas vezes, levando assim, com que o nome da lagoa se espalhasse por todo territorio
brasileiro, por se tratar de seu romance de maior sucesso.
Fazendo parte da bacia do Rio Cocó, a lagoa possui um espelho d’água de
aproximadamente 33,7 hectares e um volume de mais de mais de 865 mil metros cúbicos de
água, sendo assim, a segunda maior lagoa da cidade.
Ao longo da sua história, a lagoa sofreu com diversas secas, sendo quatro dessas, os
piores períodos que a mesma passou, o primeiro ocorreu por volta de 1612, por conta da grande
seca que assolou o estado naquele ano, secando de tal forma que seu solo chegou a sse rachar;
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após dois séculos outra grande seca veio a assolar sua fisionomia. Já entre os anos de 1870 e
1877, com mais uma grande seca que ocorreu no Ceará, a lagoa passou pelo aterramento de
cerca de 30% da sua área. Por fim, a última grande seca passada pela Lagoa ocorreu por volta
do final da década de 1970, essa por sua vez, tendo um quadro tão desolador quanto as últimas,
deixando sua margem com aparência do próprio sertão, por conta da terra totalmente rachada
(FREITAS, 2008).
Com o crescimento desenfreado da cidade já no século XXI, o grande
desenvolvivemento e especulação imobiliária na região da Messejana e consecutivamente nos
arredores da Lagoa, a mesma sofreu com agressões provindas desse crescimento desordenado,
tendo diversas dessas construções realizadas não só na sua orla, mas de fato sobre seu espelho
d’água, além da poluição provinda também desse grande crescimento em um curto período de
tempo.

Figura 4: Lagoa da Messejana

Fonte: Chico Monteiro

Por volta de 2003, a Lagoa da Messejana acabou passando por um processo de


urbanização que visava diversas melhorias não apenas para seu corpo d’água, mas
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principalmente para seu entorno, tendo como principais melhorias, a construção do seu calçadão
para prática de esportes e outras atividades, visando o maior fluxo de pessoas, além de também
a construção da estátua de Iracema, que se tornou um símbolo da cidade desde sua construção,
e que juntamente do espelho d’água da Lagoa da Messejana são bens tombados pelo município.

2.3. Caminhabilidade

O conceito de uma caminhada proveitosa ou caminhabilidade, é trabalhado por


urbanistas há muito tempo, que estudam esse deslocamento nas cidades desde
aproximadamente a época da Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX, na qual, os
funcionários das grandes fábricas, muitas vezes tinham de realizar grandes trajetos para se
direcionacem aos seus devidos empregos; esse estudo é realizado até os dias de hoje e é trazido
a tona principalmente em função das mudanças nos padrões de deslocamento na sociedade
atual.
Dessa forma, o conflito muitas vezes entre faixa carroçável e faixa pedonal acaba
ocorrendo nas grandes e pequenas cidades, pois a prioridade de deslocamento na maioria da
vezes é dada aos veículos motorizados do que aos pedestres, com isso, o estudo da
caminhabilidade é essencial para que as cidades se desenvolvam e cresçam mais, melhorando
não só a qualidade de vida da população, mas também no melhor proveito das vias de
deslocamento que a compõe. Segundo Speck (2012,pag. 26) “Estes três aspectos –
prosperidade, saúde e sustentabilidade – são, não por mera coincidência, os três principais
argumentos para tornar nossas cidade mais caminháveis."
O sistema de toda cidade deve se conectar de tal forma que haja uma sintonia entre todas
suas partes que se relacionam, para que ela flua de maneira harmônica, não só para aqueles que
estão se deslocando por ela, como também para quem passa boa parte fixo em uso de tal traçado
urbano. Ainda sobre a impôrtancia acerca da correlação entre os diferentes espaços urbanos:

A calçada por si só não é nada. É uma abstração. Ela só significa alguma coisa junto
com os edifícios e os outros usos limítrofes a ela ou a calçadas próximas. Pode-se
dizer o mesmo das ruas, no sentido de servirem a outros fins, além de suportar o
trânsito sobre rodas em seu leito. As ruas e suas calçadas, principais locais públicos
de uma cidade, são seus orgãos mais vitais. (JACOBS, 2011, p. 29)

Além disso, vale ressaltar que o personagem principal para que de fato seja trabalhado
todos os conceitos de caminhabilidade, é o próprio pedestre, o indivíduo que transita pelo
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traçado urbano, portanto, o que de fato deve haver, é uma maior preocupação, para esse trajeto
que será realizado ocorra de tal forma que esse indivíduo se sinta convidado e estimulado não
só para começar a transitar dessa maneira pela cidade, mas também que seja um percurso que
o estimule por toda sua continuidade.
A Teoria Geral da Caminhabilidade tem como um dos objetivos, explicar, que para ser
adequada, uma caminhada precisa atender a quatro condições principais: ser proveitosa, segura,
confortável e interessante. Cada uma delas exerce uma função fundamental, mas que não é
suficiente quando tratada de forma isolada. (SPECK, 2012).
Especificando cada condição para uma caminhada adequada levantada anteriormente, a
caminhada proveitosa remete que boa parte dos pontos da vida cotidiana se encontra por perto
e possuem uma organização de tal modo que a caminhada supra às necessidades do morador; a
caminhada segura por sua vez, representa que a rua, ou o trajeto teve um projeto que visou aos
pedestres algum tipo de chance contra acidentes com automóveis, não basta apenas os pedestres
estarem seguros, eles precisam se sentir seguros, o que torna a missão ainda mais complicada
de se atender; a caminhada confortável funciona quando ocorre uma relação harmônica entre
os edifícios e paisagem, com os imensos espaços abertos que, muitas das vezes, não conseguem
atrair pedestre, trazendo essa correlação de estar em um espaço aberto e livre, mas com a
sensação de fechamento, para se sentirem confortáveis como pedestres; por fim, a caminhada
interessante consiste, que as calçadas sejam cercadas por edifícios únicos, singulares, e
agradáveis, além de possuírem algum sinal de humanidade, seja por uma fachada ativa ou por
qualquer outro detalhe que destaque sua presença no ambiente e no decorrer do percurso do
pedestre.
A presença de elementos dispostos ao longo da via compõe em boa parte as condiçôes
anteriormente citadas, seja ele alguma textura especial de pavimento ou fachada; um conjunto
único de cheiros ou sons; uma qualidade espacial característica; um sistema particular de
iluminação; uma concentração de algum uso; um detalhe ou uma vegetação típicos. Assim, os
elementos distribuídos pelo trajeto específico devem ser contínuos e explorados mediante seu
uso e sua aplicabilidade na região.
Ainda, segundo Lynch (2011), os determinados elementos podem ser utilizados de
maneira que se dê continuidade à via. Se de alguma forma, um ou mais deles (a arborização
disposta ao longo de um bulevar, alguma cor ou textura especial aplicada na pavimentação, ou
o clássico uso contínuo das fachadas laterais) forem continuamente adotados ao longo do
percurso, a via poderá ser presumido como um elemento contínuo e unificado.
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3. Referências projetuais

3.1. Parque na Orla Jadaff

Figura 5: Parque na Orla Jadaff

Fonte: ArchDaily

Localizado nos Emirados Árabes, Dubai, mais especificamente ao longo da margem do


Rio Dubai, o projeto do foi realizado em 2018, possui uma área de aproximadamente 5200m²,
e foi realizado pela equipe de projeto formada por Wael Al Awar, Kenichi Teramoto, Takeshi
Harikai e Sarah Chehab.
A esolha do referencial se dá principalmente pela preocupação dos arquitetos no uso dos
espaços abertos e sem fechamentos, justamente para incentivar essa interação social no local,
que assim como no projeto citado, também é de extrema importância para o desenvolvimento
da pesquisa voltada para a requalificação da orla da Lagoa da Messejana, já que foi identificado
essa deficiência provinda da dificuldade de interação entre os variados e pequenos públicos que
ainda frequentam a extensa área da orla da lagoa; dificuldade essa que foi trabalhada no parque
em Dubai, mediante, principalmente, a estratégia que consiste no uso de alguns equipamentos
dispostos por toda a extenção da área do parque.
Dessa forma, vale ressaltar a importância também, da diversificação dos equipamentos
escolhidos para fazer parte do ambiente do parque, que além das obras de arte que já ocupam o
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local para envolver o público presente, se misturam entre equipamentos para públicos mais
novos, como um parque infantil de areia, ou para o encontro e convivência de públicos das mais
diversificadas idades, como mesas de jogos de tabuleiros, área de alimentação à sombra de
guarda-sóis e um anfiteatro com capacidade para 200 pessoas.

Figura 6: Vista superior Parque na Orla Jadaff

Fonte: ArchDaily

Outro aspecto a se analisar é a escolha da vegetação selecionada para o parque, sendo ela
composta por plantas regionais que requerem irrigação mínima, isso ocorre primordialmente
por conta do sensível clima desértico do Golfo
Alguns outros pontos fundamentais da explicação das características da obra, são descritos
de acordo com a Equipe de Projeto (2020):

As obras de arte e instalações estão dispostas para seguir a ondulação da água como
uma geometria circular oculta. Isso permite um fluxo orgânico de pedestres,
conectando-se perfeitamente à galeria ao redor do centro de artes e da orla ao longo
do rio. Nossa seleção de espaços verdes e amarelos se correlaciona com a seleção do
design dos painéis da fachada do centro de artes.
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3.2. Reubarnização da orla do Lago Paprocany

Abandonada e em desuso, a orla do Lago Paprocany, na cidade de Tychy, Polônia, passou


por uma revitalização em 2014, por todo seu percurso, que possui aproxidamente 400m, e foi
realizada pelo escritório de arquitetura RS+Robert Skitek.

Figura 7: Reubarnização da orla do Lago Paprocany

Fonte: ArchDaily

Visando a melhoria da caminhabilidade e da sensação de pertencimento das pessoas que


futuramente iriam frequentar a orla, os arquitetos focaram na expansão da oferta recreativa em
diversos pontos do percurso, centrando-se na exposição dos valores da paisagem local. Nas
principais implementações para o circuito da orla, estão incluídos equipamentos que visam os
dois principais objetivos da reubarnzação já citados.
A revitalização do calçamento ao longo do percurso, com materiais naturais e propícios
para o ambiente, e que trouxesse certo bem-estar para quem transitasse na área, seja a pé ou de
bicicleta, álem da instalação de bicicletários ao longo do ambiente, gerou um maior estimulo
aos visitantes realizarem esse percurso da orla, melhorando e explorando assim, o quesito da
caminhabilidade do local; já o quesito relacionado ao conforto, em permanecer no local e
pertencer ao local, foram também bastante explorados, utilizando aberturas no passeio com uma
rede esticada sobre a água e bancos concebidos especialmente para o local, sempre com algum
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tipo de sombra gerada, seja pelas inúmeras árvores que já haviam na orla, ou seja por cobertas
projetadas propriamente para essa função, também foram instalados alguns equipamentos de
recreação que estimulassem a prática de exércicios físicos.

Figura 8: Equipamento de ginástica ao ar livre

Fonte: ArchDaily

A mudança acarretada pela reurbanização da orla pôde ser percebida em pouco tempo de
inauguração da mesma, e trouxe diversos frutos positivos para a cidade, mudança essa, que foi
descrita da seguinte maneira pela Equipe de Projeto (2016):

Antes do investimento era apenas um gramado à beira da estrada, apesar dos valores
paisagísticos, estava em desuso, exceto por pescadores. Nas primeiras semanas após
a abertura, apesar do clima desfavorável, o passeio se tornou um local frequentemente
visitado. Se converteu rapidamente num espaço público e novo ponto de encontro.
Durante o dia, o espaço é um lugar para famílias e à noite é frequentado por casais ou
para contemplação.

Dessa forma, a escolha do projeto como referencial se deu por justamente o mesmo
abranger alguns aspectos, como a caminhabilidade e a sensação de pertencimento ao local, na
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qual a orla da Lagoa da Messejana também precisa ser explorada, para trazer de fato uma
revitalização voltada para os residentes, não só da região, mas também de toda cidade, como
um novo ponto de encontro e convivência.

3.3. Parque Hunter’s Point South Waterfront

Figura 9: Vista aérea Parque Hunter’s Point South Waterfront

Fonte: ArchDaily

Com o intuito de modificar, remodelar e trazer um novo sentido à área de 30 hectares da


costa pós-industrial do East-River, em Long Island City, em Nova York, o projeto do parque,
que fica em uma área rodeada de água por três lados, é um novo modelo de ecologia urbana
com um desenho inovador e sustentável, e foi desenvolvido em uma colaboração entre Thomas
Balsley Associates e WEISS/MANFREDI com ARUP como consultor principal e projetista da
infraestrutura.
A execução do projeto foi dividida em duas fases, sendo sua primeira fase focada na região
localizada mais a oeste da extensão do terreno, tendo essa, a área com maior concentração de
atividades recreativas do parque, já a segunda fase, na região leste, oferecendo espaços para
descanso, lazer e espaços íntimos de contato com a natureza e com a água. Com isso, o parque
busca, por toda essa sua extensão, uma conectividade tanto entre si e suas diferentes zonas,
como também, entre si e seu entorno.
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Figura 10: Trilha Elevada

Fonte: ArchDaily

Para complementar uma explicação mais sucinta do projeto e das intenções que rodearam
o desenvolvimento do mesmo, foi descrito pela Equipe de Projeto (2013):

Adjacente a uma futura escola e um desenvolvimento residencial emergente de 5000


unidades, o parque oferecerá uma frente pública e novos espaços abertos para a
recreação que se conectam às comunidades do entorno. O desenho integrado costura
a infraestrutura, a paisagem e a arquitetura para transformar o local em novos
corredores ecológicos que se antecipam às inexoráveis pautas de inundações e ao
aumento dos níveis de água do East River, transformando Hunter's Point South num
novo paradigma cultural e ecológico.

Dentre os variados equipamentos e áreas dispostas por todo o parque para gerar esse
envolvimento e conexão com as pessoas que por ele passarem, pode-se destacar a trilha elevada
traçada ao longo da margem, um pequeno porto de caiaques, os terraços de piquenique e
exercícios, uma série de salas de descanso intimistas, um balanço com vistas panorâmicas de
Manhattan e algumas hortas horizontais.
O conceito de conectividade explorado pelo projeto do parque, revela a importância que
possui a inclusão desse tema para solucionar diversos problemas que geralmente são
encontrados no decorrer da análise de uma área de estudo, como é o caso da orla da Lagoa da
Messejana. A conectividade entre as diferentes zonas de uma área extensa de projeto, seja ela
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um parque, uma orla, ou até mesmo um bairro, e entre seu entorno, tem papel fundamental nos
objetivos finais relacionados em atrair a população dos arredores, e não só isso, mas também
trazer a eles uma sensação e uma vontade de querer estar, permanecer e fluir pela extensão
daquele percurso de zonas e marcos criado.

Figura 11: Vista Superior

Fonte: ArchDaily
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4. Etapas de Planejamento

4.1. Área de Intervenção


Figura 12: Mapa de Fortaleza

Fonte: Google Earth


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O bairro Messejana, em Fortaleza possui características distintas de diferentes


outros bairros espalhados pela cidade, possuindo uma atividade comercial única, sendo
considerado o centro geográfico da Regional VI da cidade, além de ser também o centro
comercial e de serviços dos bairros circunvizinhos.
As atividades comerciais que existem no bairro são as mais variadas possíveis, e
juntas, elas servem não só pra girar a econômia da região, como também para tornar o
bairro em autossuficiente.

Possui um centro comercial invejável a muitas cidades do interior do Ceará. São


estabelecimentos de venda de automóveis, motocicletas, autopeças, material de
construção, lojas de roupas, sapatos, eletrodomésticos, móveis, além de
supermercados e farmácias. Correios, bancos e lotéricas, também. (O Povo, 2012).

Além da importância econômica que a região possui, a mesma traz consigo também uma
enorme carga cultural, de relevância não só estadual, como também nacional, por ser o berço
de uma das obras literárias brasileiras mais conhecidas e lidas da história, chamada Iracema, e
que foi escrita por José de Alencar, que nasceu no bairro e sempre buscou deixar as marcas de
suas raízes em suas obras.
Dentre os marcos mais importantes do bairro de Messejana, se não o maior e mais
conhecido, está a Lagoa da Messejana, e sua orla, local de estudo do projeto, que possui um
enorme potencial para ser explorado, mas que atualmente encontra em situação de total
abandono por parte da prefeitura e de orgãos públicos municipais.
Apesar das más condições, a região da orla possui um extenso percurso com pouco mais
de 1km de extensão, e com diversas praças como apoio em seu decorrer pela lagoa; além disso,
o potencial paisagístico e turístico é imensurável, tendo em seu percurso original, por mais que
danificado atualmente, e sem haver nenhum tipo de manuntenção, a presença de um píer, uma
via suspensa que corta parte da lagoa e a estátua de Iracema, que é considerada um dos cartões
postais de Fortaleza.
Fora os diversos usos e equipamentos que fomentam seu potencial turístico e rotativo de
pessoas na área, em algumas épocas do ano esse número de visitantes e moradores dos arredores
utilizando do seu espaço transitável pode sofrer um pique de movimento ainda maior, pois há
períodos que ocorrem eventos na região, principalmente os de caráter religioso na Igreja Matriz
de Messejana; além desses eventos, algumas vezes são organizados torneios esportivos nas
áreas de lazer já existentes nas praças, como quadras poliesportivas e pistas de skate.
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4.2. Diagnóstico da área de intervenção

4.3. Legislação do terreno

O bairro da Messejana está dividido entre quatro Macrozonas. A região que abrange a
área principal de pesquisa, tem como referencial o espelho d’água da Lagoa da Messejana e boa
parte da sua orla, sendo essa região classificada como uma Zona de Preservação Ambiental dos
Recursos (ZPA 1), já no entorno dessa Macrozona, e ainda abrangendo a área de pesquisa, já
muda a classificação, sendo ela uma Zona de Recuperação Ambiental (ZRA). Nas áreas mais
afastadas da Lagoa, que possuem um caráter mais residencial, existe a Zona de Ocupação
Moderada 2 (ZOM 2), e sua Subzona 1 (ZOM 2 SBZ 1), a mais predominante no bairro.
A região específica abordada na pesquisa, como já foi descrita, faz parte de uma Zona de
Preservação Ambiental dos Recursos (ZPA 1) e de uma Zona de Recuperação Ambiental
(ZPA), portanto é perceptível que deve haver uma maior precaução e cuidado para realizar um
projeto nesse tipo de zona, para que não haja nenhum tipo de degradação ao meio ambiente.

Figura 13: Mapa Macrozonas Messejana

Fonte: Google Earth


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5. Partido Arquitetônico e Urbanístico

5.1. Diretrizes Projetuais

A partir das análises e pesquisas realizadas, a proposta têm como objetivo trazer
vitalidade urbana para uma área com grande potencial, porém carente em equipamentos
urbanos, áreas de lazer, e que possui percursos descontínuos, irregulares e que não apresentam,
ou pelo menos tentem apresentar, algum tipo de segurança, conforto ou pertencimento a
população que por ali transita. Dessa forma, criou-se algumas diretrizes essenciais, as quais
nortearão para as etapas posteriores, são elas:
- Fomentar o convívio social e a integração social a partir da criação de espaços abertos.
- Criar mobiliários e equipamentos versáteis e de usos variados, visando todas as faixas
etárias e interesses diversos que fomentem a permanência das pessoas.
- Criar destinos múltiplos ao longo do percurso da orla, no quais os cidadãos criariam um
sentido de comunidade em espaços públicos abertos, permitindo cada um deles realizar
atividades distintas, garantindo assim um percurso ativo, diversificado e multifuncional.
- Conectar os diferentes destinos e equipamentos organizados ao longo do trajeto,
assegurando assim, a continuidade de deslocamento para os pedestres.
- Aperfeiçoar as vias de deslocamento da população, trazendo melhorias na
pavimentação, nas proteções e barreiras de segurança, e no controle térmico da ilha de calor,
por meio da distribuição de árvores ao longo do percurso.
- Preservar e revitalizar áreas ambientais, como a própia Lagoa da Messejana, além das
vegetações nos parques e percursos já existentes na região.
- Criar espaços públicos para práticas de atividades culturais, esporte, lazer e
entretenimento, feiras e exposições.
- Revitalizar áreas públicas já existentes ao longo do percurso, como parques e praças.
- Apoiar e estimular o uso de meio alternativos de transporte, fazendo melhorias nas
ciclofaixas e nas vias pedonais, para aumentar e melhorar o fluxo desses meios.
- Criação e organização de espaços para o comércio local ser melhor aproveitado,
incentivando ainda mais a economia local.
- Reestruturar o píer da lagoa, para seu melhor aproveitamento, seja para contemplação
da vista pelos visitantes, ou seja para realização de práticas como a pesca local.
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5.2. Programa de necessidades

Interação e lazer:
1. Píer
2. Mesas de jogos de tabuleiro
3. Playground
4. Quadra poliesportiva
5. Pista skate
6. Anfiteatro
7. Arquibancada
8. Área para alimentação
9. Academia ao ar livre

Mobilidade:
1. Bicicletar/bicicletário
2. Ciclovias e ciclofaixas
3. Paginação do piso com material drenante
4. Regularização do passeio

Biodiversidade:
1. Jardins de chuva
2. Requalificação dos espaços verdes
3. Limpeza dos recursos hídricos
4. Corredor verde

Comércio
1. Box para comerciantes
2. Espaço para organizar feiras ao ar livre
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- Parque na Orla Jadaff. Archdaily, 2020. Disponível em:


https://www.archdaily.com.br/br/942405/parque-na-orla-jaddaf-
waiwai?ad_source=myarchdaily&ad_medium=bookmark-show&ad_content=current-user.
Acesso em: 27, Novembro de 2020.

- Reurbanização da orla do lago Paprocany. Archdaily, 2016. Disponível em:


https://www.archdaily.com.br/br/794563/reurbanizacao-da-orla-do-lago-paprocany-rs-
plus?ad_source=myarchdaily&ad_medium=bookmark-show&ad_content=current-user.
Acesso em: 27, Novembro de 2020

- Parque Hunter’s Point South Waterfront / Thomas Balsley Associates + Weiss Manfredi.
Archdaily, 2013. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-152472/parque-
hunters-point-south-waterfront-slash-thomas-balsley-associates-plus-weiss-
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Acesso em: 27, Novembro de 2020.

- Fase II: Parte Sul do Parque Hunter’s Point / SWA/BALSLEY + WEISS/MANFREDI.


Archdaily, 2018. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/904665/fase-ii-parte-sul-
do-parque-hunters-point-swa-balsley-plus-weiss-
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Acesso em: 27, Novembro de 2020.

- FREITAS, Edmar. Messejana. Fortaleza: Coleção Pajeú, 2014.

- SPECK, Jeff. Cidade Caminhável. 1ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2016.

- JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 3ª edição. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2011.

- LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. 3ª edição. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

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