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RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados obtidos no projeto de
intervenção de Língua Portuguesa, partindo de uma experiência executada em uma escola
pública municipal, com alunos do nono ano do Ensino Fundamental, em São Domingos –
PB. Na pesquisa aplicada, foi proposta a reformulação dos discursos sexistas presentes em
algumas letras de música funk, a partir da produção do gênero textual/discursivo paródia.
E, deste modo, contribuiu tanto para a formação do aluno como sujeito crítico diante dos
vários discursos presentes nos textos como para o desenvolvimento das competências
linguísticas e discursivas necessárias a um proficiente ato de leitura e de escrita. A
desconstrução e reformulação dos discursos sexistas presentes nas músicas analisadas
pelos alunos foi realizada através de atividades de retextualização (Marcuschi (2008);
Dell’Isola (2007); Matencio (2002). A pesquisa empreendida pautou-se, principalmente, na
perspectiva dialógica de Bakhtin (2000), que aborda os enunciados como situações reais de
uso da língua. A fundamentação teórica tomou por base as contribuições sobre o sujeito-
leitor, num viés sociointeracionista do discurso (Koch e Elias (2014); nos estudos acerca
do letramento (Kleiman (2001); Rojo (2012) e nos estudos das relações de gênero (Louro
(2013; 2014). A aplicação das oficinas de leitura e debate resultou na produção de um livro
contendo atividades que integram a temática de gênero ao trabalho com o discurso e com a
música funk na aula de Língua Portuguesa.
ABSTRACT: This research had as main objective to present the results obtained in a
project of intervention of Portuguese Language, starting from an experience performed in a
municipal public school, with students of the ninth year of Elementary School, in São
Domingos - PB. In the applied research, was proposed the reformulation of the sexist
speeches present in some lyrics of funk songs from the production of a textual/discursive
genre of parody. And, in this way, contribute both to the formation of the student as a
critical subject before the several speeches present in the texts as well as for the
development of the linguistic and discursive skills necessary for a proficient act of reading
1
Este trabalho é um recorte da dissertação defendida em 2016 e intitulada: Paródia e gênero do Ensino
Fundamental II: discutindo imagens da mulher a partir da retextualização de letras de funk.
2
Mestre em Letras pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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and writing. The deconstruction and reformulation of the sexist discourses present in the
songs analyzed by the students was performed through retextualization activities
(Marcuschi (2008); Dell’Isola (2007); Matencio (2002). The research undertaken was
based mainly on Bakhtin’s dialogical perspective (2000), which addresses the statements
as real situations of language use. We also took as theoretical basis the contributions on the
subject-reader, in a socio-interactionist bias of discourse (Koch & Elias (2014); studies on
literacy (Kleiman (2001); Rojo (2012) and studies of gender relations (Louro (2013; 2014).
The application of the reading and debates workshops resulted in the production of a book
that brings activities that integrate the gender topics to the work with the speech and the
funk music in Portuguese Language classes.
1 INTRODUÇÃO
decorre do fato de que vivemos hoje em uma sociedade que exige dos sujeitos certas
Ensinar a ler e a escrever, hoje, não pode ser uma prática isolada de outros
temas que envolvem o cotidiano do aluno (BRASIL, 1998). Nesse sentido, a pesquisa
aos discentes a reflexão sobre os discursos sexistas que são construídos e naturalizados
pelo gênero musical funk e, a partir disso, propor a reformulação de tais discursos.
2014; BAKHTIN, 2000) em que a língua, neste âmbito, é vista enquanto elemento de
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originais acerca das relações de gênero, através da retextualização. Matêncio (2002) afirma
de periferia, agora, já não apresenta mais limites sociais e/ou econômicos. A repercussão
deste bem cultural acaba dando visibilidade aos discursos presentes nas músicas de funk,
feminina está posta, na maioria dos casos, ao erotismo e à objetificação, e que o homem é o
massas e de que sua linguagem pode transmitir ideologias sexistas e misóginas relativas à
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Embora seja um desafio uma proposta de ensino em que estejam imbricados dois
que a escola possa oferecer um espaço dentro da rotina escolar para a reflexão sobre tais
sujeitos.
comportamento de homens e mulheres, bem como o respeito pelo sexo oposto. Em 2011, o
Ministério da Saúde criou uma coleção de fascículos destinados à Educação Básica que,
entre outros assuntos, abordava a temática “Gênero: saúde e prevenção nas escolas”,
comportamentos esperados por cada um dos sexos. Mesmo tendo sido distribuídos há
alguns anos, muitos exemplares ainda estão nas escolas. Por essa razão, as práticas
Sob esse aspecto, os PCN rejeitam a ideia do preconceito de gênero ao dizer que:
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Deve haver, em sala de aula, a análise dos processos e das práticas sociais e
Louro (2014), ao abordar sobre currículo, gênero e sexualidade, afirma que ainda,
universalidade e estabilidade deste espaço central, que é conferido a esse sujeito social – o
como (e por que) determinadas características (físicas, psicológicas, sociais etc.) são
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Para Kleiman (2001), a escola é apontada como uma agência de letramento por
excelência e, portanto, devem ser criados espaços para que o aluno experimente formas de
Em virtude de sua abrangência, o funk pode ser concebido como uma prática de
gênero funk na escola exige, antes de tudo, uma quebra de paradigmas daquilo que é visto
como socialmente aceitável pelas instituições e pelos próprios docentes, uma vez que o
Neste sentido, o processo torna-se mais complexo, uma vez que mesmo após a
luta do movimento, o preconceito ainda existe. E isso se dá porque o discurso criado nos
anos 90 sobre o funk e os funkeiros ainda perpassa a mente da elite do país até os dias
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atuais. “É som de preto / de favelado”, de bandido. Muitas vezes, visto como uma cultura
inútil ou como não sendo cultura, principalmente na região Nordeste, em que a maioria dos
necessidades e capacidades. São jovens que, entre outras coisas, estão imersos em uma
cultura midiática. Posto isto, acrescentar a música nas práticas pedagógicas confere ao
que são os usos que fundam a língua e não o contrário, e, neste caso, não se pode tratar as
relações entre oralidade e escrita de forma dicotômica e inerte, mas que essas relações
(re)construção de sentidos.
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Na obra, o autor, tratando da oralidade e da escrita, afirma que ambas são diferentes
processo mecânico, mas que envolve operações complexas que interferem tanto no código
como no sentido.
Já, para Matêncio (2002, p. 112), o processo de retextualização seria “uma nova
versão do mesmo texto”, isto é, uma versão mais preocupada com aspectos linguísticos e
que “retextualizar é produzir um novo texto”, a autora enfatiza que esta produção ocorre a
partir de um ou mais textos-base, o que significa que o sujeito trabalha com estratégias
base.
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de tal modo que, quando os discentes se depararem com este mesmo gênero, eles já
ressignificá-lo.
Este tópico apresenta o registro das oficinas pedagógicas aplicadas no nono ano do
cidade de São Domingos – PB. A aplicação das oficinas aconteceu durante oito encontros,
com a participação de 28 alunos, com faixa etária entre 12 e 14 anos, e uma docente como
estabelecidos pela sociedade para os gêneros, reconhecendo, inclusive, como o sexo vai ser
numa perspectiva de práticas de letramento, uma vez que os textos trabalhados estão
Neste sentido, o quadro 01, a seguir, apresenta as oficinas com suas nomenclaturas,
conteúdos e duração.
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A metodologia sugerida nas oficinas (quadro 01) é de linha participativa, uma vez
que os alunos participantes das ações são sujeitos ativos e foram envolvidos(as) nas
dada a relevância das discussões e aferições dos discentes, fez-se necessário descrevermos
recortes com as falas dos alunos, em que eles inferiram opiniões relevantes para os
As produções analisadas aqui são paródias musicais e, embora não seja esse o foco
de nossa análise, coube aos alunos, como interlocutores, a recuperação dos elementos que
aliterações etc.) ou variando alguns deles para melhor atender aos seus intuitos de
reconhecer as diversas relações que o texto mantém com outros textos, bem como a relação
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Ela veio quente, e hoje eu tô fervendo Ela é independente, vai logo entendendo
Que ela veio quente, hoje eu tô fervendo Ela é independente, vai logo entendendo
Quer desafiar? Num tô entendendo Quer desafiar? Vai sair perdendo
Mexeu com o r7 vai voltar com a xota ardeno Mexeu com seus direitos, ela vai se defendendo
(vai) (vai)
Ela veio quente, hoje eu tô fervendo Ela é independente, vai logo entendendo
Ela veio quente, hoje eu tô fervendo Ela é independente, vai logo entendendo
Quer desafiar? Num tô entendendo Quer desafiar? Vai sair perdendo
Mexeu com o r7 vai voltar com a xota ardeno Mexeu com seus direitos, ela vai se defendendo
(vai) (vai)
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proposital entre os discursos apresentados, visto que os textos originais apresentam uma
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puramente corporificada, de maneira que, nas produções dos alunos, há uma valorização
do direito à igualdade nas relações de gênero e representação das lutas que permeiam o
mulheres, uma nova geração feminina que não se subjuga à sociedade: “Quer desafiar?/
Vai sair perdendo/ Mexeu com seus direitos/ ela vai se defendendo/”; “O respeito, é, é
direito delas/ A igualdade, é, é direito delas/ Ser mãe ou não, é, é direito delas/ Casar ou
ficar só também é direito delas./”. Também é possível perceber este discurso na paródia 4:
“Igualdade urgente/ Agora criou asa/ Está se empoderando/ Quer poder e vir”.
assumiram, com os discursos presentes na paródia, uma nova visão ideológica sobre as
base. Houve, portanto, o que Bakhtin (2000) apresenta como conflito de vozes, em que
nem sempre há harmonia entre o discurso citado e o discurso que cita. A segunda voz,
depois de se ter alojado na outra fala, entra em antagonismo com a voz original que a
recebeu, forçando-a a servir a fins diretamente opostos. É válido ressaltar que ocorreram
mudanças no tema, contudo alguns trechos dos textos-base não sofreram alteração, apenas
todas tenham certo grau de intertextualidade, a paródia 2 “Uma tapinha dói” (quadro 03) é
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a que apresenta, de forma mais clara, o uso deste fenômeno linguístico-literário e, neste
caso, ocorre uma intertextualidade externa (JENNY, 1979) e implícita. Os alunos citaram o
refrão do texto original criado por outro autor e o modificaram de forma parcial, com vistas
refrão são “Dói, um tapinha não dói/ Um tapinha não dói/ Um tapinha não dói/ Só um
tapinha.../”, enquanto na paródia os versos são: “Dói, uma tapinha dói/ Uma tapinha dói/
Uma tapinha dói/ Mesmo uma tapinha.../”. A intertextualidade está presente, ocorre a
citação do verso quase que de forma integral, pois há a retirada, na paródia, da palavra
“não” e o acréscimo do determinante de gênero no artigo indefinido “um” que passa a ser
“uma”.
O refrão recebeu uma nova conotação, na qual a violência contra a mulher, antes
entre os dois textos, uma vez que, ao analisarmos sob uma perspectiva linguística, os
valores semânticos dos termos adquirem pesos diferentes, de modo que a expressão “um
tapinha” faz parte de um contexto amigável: “Ele me deu um tapinha nas costas e desejou
boa sorte”, isto é, distancia-se da ideia de violência. Já a expressão “uma tapinha”, alterada
OLIVEIRA, 2013, p. 221), “é um conjunto de já-ditos que sustenta todo dizer”, isto é,
nosso enunciado estabelece relações dialógicas com tantos outros, provocando respostas.
Nos textos-base escolhidos pelos alunos e nas produções textuais deles, existe um percurso
acerca desta figura, fizeram relações dialógicas com os discursos do nosso tempo, bem
como com os pontos de vista expostos por eles e pelo que viram nos vídeos exibidos ao
No trecho da paródia 1 que segue, “A cada hora, é, morre uma delas/ A cada hora,
é, um homem bate nelas/ Vamos refletir, é, se pôr no lugar delas/ Sempre preparados pra
sobre a quantidade de mulheres que é morta ou sofre violência a cada hora no mundo,
Neste âmbito, ao falar sobre enunciado, Faria e Silva (2013) afirma que este é
outro, ainda que não saibamos quem esse outro é e, ao mesmo tempo, sempre estamos
retomando o que os outros já disseram, mesmo que esse diálogo não seja instantâneo e face
a face.
Em ambos os discursos há algo que foi dito antes, o “eu” que fala não remete
apenas a sua voz, mas a outras que foram se instituindo ao longo do percurso ideológico.
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estes, por sua vez, contemplam tema, estilo e forma composicional. Sob esse prisma,
analisamos como ocorreu a presença desses elementos nas produções dos alunos.
implícito que pode ser circulado em determinadas esferas e, neste sentido, a paródia
apresenta-se como um gênero livre que condiciona a alternância, inclusive entre o cômico
escrita, uma vez que ocorre esta flutuação temática (já esperada) como se nota, ao
permitiu uma reflexão ao mesmo tempo musical e poética do assunto cotidiano posto em
Observamos que, nas paródias produzidas, contrariamente ao que foi retratado nas
músicas originais, o enunciado foi determinado pelo contexto enunciativo, que se refere ao
atual momento no qual o uso das discussões sobre gênero estão se disseminando na
discurso crítico em relação à imagem da mulher e ao tratamento dado a ela pela sociedade
e pelo homem: “Ela é independente, vai logo entendendo/ Ela é independente, vai logo
entendendo/ Quer desafiar? Vai sair perdendo/ Mexeu com seus direitos, ela vai se
defendendo”.
delas”; 2) “E você tá errado em julgar a vida delas.”; 3) “Melhor dar espaço para elas/
No que se refere ao estilo nas produções dos alunos, vemos que, pelo fato de o
texto-base pertencer a uma esfera que valoriza a criatividade e a originalidade e por ser
paródia.
possibilitou a reflexão sobre vocábulos que não faziam parte do contexto de uso dos
alunos. Eles puderam também utilizar uma linguagem mais informal e subjetiva, que
remete a uma interação verbal mais próxima da realidade deles, devido ao espaço dado no
momento de produção dos textos, uma vez que o gênero discursivo paródia confere
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os PCN (BRASIL, 1998) instruem os caminhos pelos quais o professor deve seguir
para trabalhar com as questões de gênero, de modo a construir uma prática que reflita e
da equidade entre os gêneros e a dignidade dos sujeitos, bem como, ao orientar todas as
Louro (2014) aponta que é indispensável que reconheçamos que a escola não
mas que ela própria as produz e que, embora presente em todos os dispositivos de
Visando, pois, uma abordagem mais aberta, propomo-nos a levar essas discussões
para a sala de aula como parte do desenvolvimento das oficinas, o que contribuiu para que
a temática de gênero fosse abordada considerando o gosto musical dos jovens, de modo
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que eles puderam, através de uma atividade lúdica, refletir sobre as diferentes
realizadas nas oficinas, fato que, a nosso ver, deveu-se a dois fatores: i) à inclusão das
músicas de funk, haja vista que esse gênero musical configura-se como preponderante no
dia a dia dos educandos, bem como a utilização de outras materialidades, a exemplo das
foco na atualidade, uma vez que muito se discute na mídia sobre a violência contra a
alunos de forma mais efusiva, foi o fato da possibilidade de uso dos celulares e notebooks,
os quais foram utilizados para ouvir, fazer downloads, compartilhar músicas com os
colegas do grupo e fazer pesquisas. Não houve problemas com a dispersão dos alunos nos
momentos de interação com o celular, pois todos os grupos utilizavam o aparelho apenas
para os objetivos propostos nas oficinas e, além disso, percebemos que cada grupo tinha o
feminino como filha e como esposa. Neste sentido, os alunos poderiam ter feito suas
produções com base nesse imaginário que circula entre eles, contudo, suas paródias
mostraram que eles não apenas internalizaram as discussões promovidas nas oficinas a
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julgamentos permearam as produções dos discentes, o que denota ser possível realizar uma
discussão sobre essa temática de forma positiva, qualquer que seja a realidade em que os
que os alunos se sentissem valorizados por poderem refletir e expressar suas opiniões
O envolvimento dos alunos nas oficinas mostrou que, apesar dos desafios presentes
no ensino de leitura e de escrita, bons resultados podem ser atingidos. Para tanto,
transformação e sua relação com a linguagem e com sua cultura são eficientes. Nas
que suas leituras e a compreensão da existência das interações dialógicas nos textos
das paródias produzidas, percebemos que os objetivos a que este trabalho se propôs foram
cultural, a exemplo do funk, socialmente valorizados ou não, têm a sua estética específica e
não deve ser descartada, embora possa ser vista sob uma nova perspectiva, um outro
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gênero e produzir dialogicamente textos que enlacem o uso da linguagem com uma visão
REFERÊNCIAS
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FARIA E SILVA, Adriana Pucci Penteado. Bakhtin. In: Luciano Amaral Oliveira (org.).
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LOURO, Guacira Lopes; FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana Vilodre (org.). Corpo,
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