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Letramento e Alfabetização

Marcos André Trindade da Silva


(PPGLPS/IFAL)

A formação de professores é algo imprescindível nos tempos atuais, o


multiletramento cabe às múltiplas práticas docentes responsiva ativa, onde o sujeito
perceptivo interage numa prática constante de reflexão sobre o mundo, e o que está
em sua volta. Onde o próprio indivíduo vai se constituindo enquanto identidade
docente, suas práticas serão voltadas para a reflexão.
Segundo Cunha (2013), a reflexão acerca do conceito de formação de
professores constitui um desafio permanente para a educação superior, exigindo
que se recorra à pesquisa, à prática de formação e à significação do papel desse
profissional na sociedade. Enquanto a pesquisa se debruça sobre as questões
epistemológicas, políticas e culturais, a prática circunscreve-se em uma amálgama
de condições teórico-contextuais.(pág. 03)
Os textos multimodais e as práticas de alfabetização e de letramento, faz
com que o discente se situe e se observe enquanto sujeitos sociais, sensibilizando
para as práticas socioculturais, observando dessa forma a sua própria identidade
enquanto sujeito, o processo de escolarização e alfabetização do sujeito inicia-se
desde a sua infância a partir da oralidade e das imagens que são postas ao sujeito,
a partir desse contato as práticas de letramento se inicia-se numa perspectiva
dialógica.
Bakhtin (2003 [1979]) lembra que é necessário dominar os gêneros do
discurso para então utilizá-los. Nesse sentido, é perceptível ressaltar que os
diversos gêneros do discurso são criados em esferas distintas e, diante desse fato,
os sujeitos que já estejam habituados e situados em determinada esfera carecem
apropriar-se de outros gêneros emergentes naquela mesma esfera, uma vez que os
gêneros do discurso são estáveis e instáveis ao mesmo tempo. “São estáveis
porque todos os nossos enunciados correspondem, de uma forma ou de outra, à
repetição de enunciados anteriores. São ao mesmo tempo instáveis porque todo
sujeito falante, ao produzir enunciados por meio da repetição de enunciados
anteriores” (LIMA, 2010, p, 115), pois “sempre o faz de maneira mais ou menos
criativa e de acordo com as novas circunstâncias da situação comunicativa em que
se encontra” (op. cit, p. 116).
Dessa forma, esse sujeito responsivo ativo, em suas práticas sociais irá
reproduzir e produzir a partir de uma reflexão sobre a sua atuação no mundo, como
bem aponta Lima (2010) numa pesquisa direcionada ao dialogismo de Bakhtin com
o sociointeracionismo de Vigotsky, visto que os momentos de aprendizagem
implicam as possibilidades de múltiplos e necessários diálogos nas práticas em sala
de aula, gerando, com isso, a criação de compreensões responsivas ativas como
bem conceitua Bakhtin/Volochinov (2002 [1929]).
Assim, atrelando essas duas noções que se inter-relacionam nos estudos
bakhtinianos, percebe-se que a sala de aula abre espaço para o desenvolvimento
de diversas perspectivas sobre linguagem, inclusive a dialógica de Bakhtin; e que,
na contemporaneidade, as novas exigências para o ensino multiplicam
“enormemente as práticas letradas e os textos de diversos gêneros que nela devem
circular e ser abordadas (os)” (ROJO, 2008, p. 586).
O letramento ocorre de fato quando a criança compreende tudo que há em
seu redor, onde as palavras têm significado e sentidos, onde a multimodalidade da
língua é vista como dialógica, compreensível, o termo letramento deriva do inglês,
mais precisamente de literacy que, na etimologia da palavra, significa a aquisição
das capacidades de ler e escrever.
Entretanto, os estudos de Street (1984) trouxeram uma perspectiva mais
ampla o que abriu novos horizontes para a chegada desse termo no Brasil através
dos chamados Novos Estudos dos Letramentos (Cf. SOARES, 1998; KLEIMAN,
1995, 2005, 2008; ROJO, 2006, 2009, 2013). Em contexto mais específico, estes
teóricos dimensionam as práticas sociais - de letramento - para a aquisição de
habilidades de leitura e escrita dentro e fora de sala de aula, estabelecidas pelas
instituições sociais e as relações de poder (Cf. BARTON & HAMILTON, 2000 apud
STREET, 2013) onde indivíduos estejam situados em momentos em que o texto
falado ou escrito serve como ponto primordial para o desenvolvimento das práticas
letradas (Cf.BARTON & HAMILTON, 1998).
Portanto as práticas de alfabetização e de letramento, devem ser trabalhadas
juntas, pois não se isolam, mais são uma só, a sociedade como a linguagem estão
sempre em movimento, é preciso ter significado, toda a prática docente ou social
deve ter um sentido. Pois esse indivíduo é carregado de saberes que sempre busca
sentido em algo.

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