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O dialogismo é um dos principais pontos desenvolvidos por Bakhtin.

Este
movimento de ir e vir que caracteriza a linguagem é uma realização sígnica que
pertence a um território comum entre dois falantes, procedendo-se de alguém e
dirigindo-se a alguém, ou seja, interação verbal essencialmente dialógica. Na
perspectiva dialógica somos sujeitos responsivos, o que também nos sugere que a
produção do sentido não pertence ao locutor.

Bakhtin atenta para o diálogo entre os interlocutores, ou seja, a interação verbal


em si, e o diálogo de cada um envolvido com o ambiente que os circula.

Na realidade, toda a palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo
fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém.
(BAKHTIN, p. 117)

Deste modo, surge a problemática de como as práticas de leitura podem ser


planejadas enquanto ação pedagógica nas aulas de língua na Educação Básica.
Bakhtin ressalta que na linguagem existe uma parte muito importante da comunicação
ideológica que não pode ser vinculada a uma esfera ideológica particular, por se tratar
da comunicação na vida cotidiana, sendo justamente neste domínio que a conversação
e suas formas discursivas se situam. (BAKHTIN, p. 37).

O papel do docente é reconhecer a função primordial do fator social na


linguagem que o corpo discente está inserido e utilizar este conhecimento para
envolvê-los de forma que o conhecimento adquirido em sala possa ser estendido aos
mais variados âmbitos da vida cotidiana.

Mas esse aspecto semiótico e esse papel contínuo da comunicação social


como fator condicionante não aparecem em nenhum lugar de maneira mais
clara e completa do que na linguagem. A palavra o fenômeno ideológico por
excelência. A realidade toda da palavra é absorvida por sua função de signo.
(BAKHTIN, p. 36)

Essas mudanças revelam a necessidade de orientar o trabalho pedagógico no


sentido de desconstruir a visão de mundo autocentrada no aluno.
O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação
dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como
inconclusão em permanente movimento na História (FREIRE, p. 70)

Para exemplificar a exatidão do ensino focado no dialogismo toma-se como


aporte experimental a dissertação de mestrado baseada em pesquisa qualitativa,
realizada pelo pesquisador/professor Diogo Basel Garcia. O estudo de caso, realizado
em uma escola em Taboão da Serra, consistiu em uma sequência didática montada
pelo professor ancorada no ensino de leitura e no trabalho com textos, aplicada em
uma turma do 7 ano na disciplina de História, tendo como base as práticas
pedagógicas e conceitos apoiados em Bakhtin, tais como dialogismo, polifonia,
exotopia e forças centrípetas/centrifugas.

Os métodos de pesquisa mais utilizados foram a observação e a analise


documental. Primeiramente, os alunos produziram um texto sobre uma imagem
extraída de um livro didático. Depois, responderam a um questionário elaborado a partir
de um texto referente a um assunto ainda não estudado. Em seguida, o professor
trabalhou conceitos da matéria relacionados ao tema escolhido. Na sequência
assistiram a um documentário. Por fim, repetiram as atividades iniciais, produzindo
outro texto a partir da mesma imagem e respondendo novamente as questões do
questionário proposto. Com tudo isso, pretendeu-se comparar as atividades finais.

Os resultados mostram que a assunção de novas perspectivas, bem como a


compreensão de outros universos culturais, provocam no sujeito-aluno um
movimento de abertura para o mundo, para a diversidade e para a
heterogeneidade, criando condições para a reflexão e a critica sobre si e sobre
sua própria cultura. (GARCIA, p. 8)

As práticas de leitura, enquanto ação pedagógica, devem ser trabalhadas em


sala de aula com a noção de que apreender e ensinar um signo consiste em aproxima-
lo a outros signos existentes. Esta cadeia de compreensão ideológica é única e
continua. As intervenções podem consistir em elaborar atividades em que os alunos
escrevem para os demais colegas, instituições ou realizarem cartazes como se
estivessem na pele de uma empresa de marketing, a fim de trabalhar os diversos
gêneros textuais, desde que estas ações contemplem a existência e importa do outro
em nosso poder comunicativo,

Referências

BAKHTIN, Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas


fundamentais do método sociológico da linguagem. 12ª ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa.


25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GARCIA, Basei. Por uma pedagogia da autonomia: Bakhtin, Paulo Freire e a


formação de leitores autorais 2012. 199 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

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