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Gislene Aparecida da Silva Barbosa1, Bianca Prates Santana2, Thaís Matias Lima2
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Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista - UNESP. Professora da Universidade do Oeste Paulista -
UNOESTE e Diretora Técnica do Núcleo Pedagógico da Diretoria de Ensino da Região de Presidente Prudente,
Presidente Prudente, SP. E-mail: barbosagislene@gmail.com
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Graduanda em Letras pela Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE.
RESUMO
Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa de iniciação científica realizada em 2017 junto ao curso
de Letras da FACLEPP, cujo objetivo foi investigar nos materiais didáticos de Ensino Médio “Caderno do
Professor/Caderno do Aluno” de Língua Portuguesa (Secretaria Estadual de Educação de São Paulo) como é
apresentado o ensino da oralidade, bem como que gêneros textuais orais secundários são enfatizados no
processo de produção textual. Tendo como base o procedimento genebrino da Sequência Didática, foram
analisadas: a justificativa social para a oralidade e para o gênero textual; a proposta de uma primeira
produção do texto; a ampliação de repertórios de escuta de textos; a oferta de atividades de análise
linguística, para sanar as dificuldades - permitindo a revisão; a solicitação de reelaboração do texto oral,
garantindo, a circulação social do texto. A análise documental relevou que há escassez de gêneros orais
secundários nos materiais e que as propostas de produção existentes, bem como as atividades com a
oralidade, estão a serviço da escrita e não atendem às etapas de uma Sequência Didática que seja capaz de
ensinar os estudantes a produzirem gêneros textuais orais.
Palavras-chave: Oralidade. Língua Portuguesa. Sequência Didática. Ensino. Aprendizagem.
ABSTRACT
This article presents results of a scientific initiation research held in 2017 next to the course of Letters of
FACLEPP, whose objective was to investigate in the teaching materials of High School "Notebook of the
Teacher/Notebook of the Student" of Portuguese Language (State Secretariat of Education of São Paulo) as
the teaching of orality is presented, as secondary oral textual genres are emphasized in the process of
textual production. Based on procedure of the Didactic Sequence, the following were analyzed: the social
justification for orality and for the textual genre; the proposal for a first production of the text; the
expansion of repertoires of listening texts; the provision of linguistic analysis activities to heal the
difficulties - allowing for review; the request for reworking the oral text, guaranteeing the social circulation
of the text. The documentary analysis revealed that there is a shortage of secondary oral genres in the
materials and that the existing proposals of production and the activities with orality are in the service of
writing and do not comply with the stages of a Didactic Sequence that is able to teach the students to
produce oral textual genres.
Keywords: Orality. Portuguese language. Didactic Sequence. Teaching. Learning.
Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 15, n. 1, p.94-104 jan/mar 2018. DOI: 10.5747/ch.2018.v15.n1.h353
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Grande parte dos materiais didáticos que gênero conversa informal – que é um gênero
circula nas escolas de Ensino Médio ampara-se primário.
em pesquisas linguísticas e educacionais que Os gêneros discursivos
apontam a importância do trabalho com os secundários (complexos –
diferentes gêneros textuais em sala de aula, para romances, dramas,
que os alunos possam, de fato, apropriarem-se pesquisas científicas de
toda espécie, os grandes
dos gêneros orais e escritos que circulam
gêneros publicísticos etc.)
socialmente e para que possam fazer uso dos surgem nas condições de
mesmos nas distintas interações mediadas pela um convívio cultural mais
linguagem. Em outras palavras, valoriza-se um complexo e relativamente
ensino embasado no letramento do aluno: muito desenvolvido e
proposta que acentua a ideia de que o acesso aos organizado (...). No
mais variados gêneros de texto, o estudo acerca processo de sua formação
das características comuns a estes gêneros e a eles incorporam e
relação íntima entre os textos e o uso social reelaboram diversos
facilitam a construção de conceitos escolares e, gêneros primários
(simples), que se
consequentemente, formam leitores e escritores
formaram nas condições
competentes e capazes de atuar da comunicação discursiva
significativamente nas esferas sociais (SOARES, imediata. (BAKHTIN, 2003,
2004). p. 263).
Nesse contexto a linguagem é entendida
como forma ou processo de interação, ou seja, Desde que o “Programa São Paulo faz
como uma atividade entre sujeitos (GERALDI, escola” foi criado pela Secretaria Estadual de
2011). Esta concepção rompe com a ideia do Educação de São Paulo (2007), materiais
monólogo, pois pressupõe o diálogo entre didáticos começaram a ser disponibilizados aos
sujeitos que ocupam o espaço de interlocutores. educadores das escolas estaduais. Nos anos de
Tampouco essa concepção prioriza apenas o 2008 e 2009, teve início a distribuição,
código linguístico e suas regras, pois o enfoque respectivamente, de “Cadernos do Professor” e
está nos usuários da língua que interagem não só “Cadernos do Aluno”, nos quais constam
com base em regras linguísticas internalizadas, situações de aprendizagem a serem
mas também inseridos em um contexto histórico desenvolvidas nas aulas das diferentes
e social. “O indivíduo, ao fazer uso da língua, não disciplinas. Atualmente, tais materiais estão
apenas exterioriza o seu pensamento, não organizados na edição vigente de 2014 a 2017 e
somente transmite informações; na verdade, organizam os conteúdos, temas e habilidades a
mais do que isso, realiza ações, age, atua, serem trabalhados na escola de acordo com o
orientado por determinada finalidade, sobre o Currículo do Estado de São Paulo (2012). Cerca
outro” (CURADO, 2004, p.19). de 5 mil escolas estaduais recebem esses
No processo de letramento, o estudante materiais didáticos para o trabalho. No caso da
tem de aprender a interagir usando a linguagem, disciplina de Língua Portuguesa, a ênfase do
sob a forma de língua escrita e de língua oral, no material está no desenvolvimento de leitura e de
entanto, parece haver na escola certa ênfase no produção de texto a partir de gêneros textuais.
ensino apenas da língua escrita, enquanto a Os materiais “Caderno do Professor” e
oralidade costuma ficar de lado, como se pudesse “Caderno do Aluno” vêm sendo construídos e
ser aprendida espontaneamente. Contudo, caracterizados como um documento orientador
Bakhtin (2003) destaca que os gêneros do currículo para todas as escolas da rede
discursivos secundários são elaborações mais estadual, sendo também por este motivo objeto
complexas construídas por certa esfera social, de nossa pesquisa, para avaliar a eficácia das
portanto seu domínio não costuma ocorrer em metodologias propostas para ampliação das
circunstâncias de uma comunicação verbal capacidades de utilização da oralidade dos
espontânea ou livre. Assim, podemos dizer que as estudantes da escola básica, articulando a
entrevistas e os seminários, por exemplo, não são reflexão sobre os gêneros orais complexos em
aprendidos em situações espontâneas como o distintas situações de uso na sociedade
que acontece na aprendizagem cotidiana do (atividades de produção textual).
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dos alunos que, foi encontrada nos materiais, nem nas sugestões
apropriando-se dos de atividades complementares no “Caderno do
instrumentos de Professor”.
linguagem próprios ao Analisando os dois volumes de materiais
gênero, estarão mais
de cada série do Ensino Médio, deparamo-nos
preparados para realizar a
produção final. (DOLZ;
com a oferta de 194 atividades que solicitam aos
NOVERRAZ; SCHNEUWLY, alunos e ao professor uma conversa ou debate
2004, p. 102). sobre algum tema, assim vemos que a oralidade é
presente em quase todas as situações de
O terceiro objetivo é investigar se existe a aprendizagem (capítulos que organizam um
ampliação de repertórios de escuta de textos conjunto de aulas a partir de um
orais, pois para que o gênero oral seja aprendido tema/habilidade), contudo em 62 vezes a
é necessário ampliar os conhecimentos prévios conversa solicitada nas atividades servirão para a
dos alunos, oferecendo-lhes a escuta de elaboração escrita de um texto e em apenas 13
entrevistas, seminários, palestras etc. com o atividades serão utilizados gêneros orais
objetivo de pensar sobre a construção desses secundários como recursos para tematizar um
gêneros textuais orais. Uma das maneiras de assunto fruto de pesquisa, tarefa de casa ou
proporcionar tal expansão de saberes é pela preparação para redigir texto dissertativo,
indicação de vídeos e áudios disponíveis na conforme expomos no gráfico a seguir:
internet que possam ser acessados por alunos e
professores. Porém, essa indicação de escuta não
Gráfico 1. Atividades de produção escrita e produção oral encontradas nos materiais de Língua Portuguesa
– Ensino Médio
Com o gráfico vemos que os gêneros atividade que proporciona reflexão acerca de
orais secundários não são priorizados pelo como se constituem os textos orais.
sistema de ensino, já que há diferença entre As conversas informais estão presentes
conversar sobre um assunto (estruturalmente, a nos materiais das três séries, porém existem para
conversa em sala de aula carrega aspectos de subsidiar a construção de gêneros textuais
informalidade) e elaborar intencionalmente escritos. No “Caderno do Aluno”, volume 2 da 1ª
gêneros orais secundários a partir de reflexões série, durante a Situação de Aprendizagem 6: O
sobre a função social, a forma, o conteúdo e o estilo que critica o mundo (p. 59), é possível
estilo linguístico de tais textos. Não identificamos entendermos que a informalidade da oralidade
está entrelaçada com a criação de gêneros
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