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Cadernos PDE
1. Introdução
O propósito deste artigo é apresentar os resultados obtidos a partir do
estudo sobre o gênero Filmes de Animação com alunos do 8° ano do ensino
fundamental.
A escolha desta proposta se deu pelo fato de nos depararmos com
muitas situações de falta de interesse e motivação dos alunos. Diante desse
cenário, entendemos que, motivar e conscientizar os alunos sobre a
importância de se aprender uma língua estrangeira é de suma importância e
cabe ao professor o papel de motivador, porém é necessário que este, esteja
atualizado e busque novas idéias e práticas inovadoras para levar até a sala de
aula.
No estado do Paraná, uma possibilidade de formação continuada é o
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que teve início em 2007 e
que atende diferentes áreas do conhecimento.
O programa compreende quatro etapas: 1) Elaboração do projeto de
intervenção na escola; 2) Produção de material didático; 3) Implementação do
projeto na escola e desenvolvimento do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) 4)
Elaboração de um artigo científico.
Este artigo sintetiza o conteúdo de estudo de todas as etapas descritas
anteriormente, e a análise dos resultados obtidos por meio da terceira etapa, a
implementação do Projeto na escola.
Tendo em vista que a concepção de língua, norteadora das discussões
das Diretrizes Curriculares Orientadoras do Estado do Paraná da disciplina de
Língua Estrangeira Moderna é a sócio interacionista, e porque reconhecemos
nela a natureza social da linguagem e o caráter dialógico e interacional da
língua, defende-se aqui a idéia de ensinar a língua inglesa por meio de uma
abordagem centrada no conteúdo estruturante Discurso como Prática Social.
A Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná (SEED),
através das Diretrizes Curriculares para o ensino de Língua Estrangeira
Moderna, aponta que:
2. Revisão da Literatura
Por longo tempo o homem vem questionando a sua existência, a
expressão e funcionamento do pensamento, enfim sobre tudo o que lhe
provoca curiosidade e vendo a necessidade de explicações, o homem sentiu
necessidade de registrar perguntas e respostas, sendo assim nota-se, portanto,
que a linguagem é viva e se desdobra com as criações exigidas pelas
mudanças históricas, culturais e os novos conhecimentos tecnológicos e
científicos. Há linguagem dentro da própria linguagem e são adequados para o
momento histórico, grupos sociais, veículos específicos e situações
determinadas.
Muitos são os conceitos para a linguagem, alguns definem como
qualquer sistema de sinais, símbolos e recursos utilizados na comunicação e
que organizados e convencionados permitem a composição de textos que
possibilitam a leitura através da transmissão das idéias fornecidas constituindo
assim o processo comunicativo (SILVA; BERTOLIN, 2006; TERRA; NICOLA,
2002).
Bakhtin em sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem estabelecem
crítica a duas correntes do pensamento filosófico e lingüístico. “O subjetivismo
idealista” e o “Objetivismo Abstrato”. Ambas buscam demonstrar a evolução da
linguagem, e para o autor o processo de construção da linguagem verbal se dá
pela interação social (BAKHTIN apud OLIVEIRA, 2002).
A linguagem serve para pensar a realidade, para colocar seu usuário
em posição de construir e não somente de consumir conhecimento oferecido
por outros (PARANÁ, 1998).
Os estudos de Saussure forneceram elementos para a definição do
objeto de estudo específico da Linguística: a língua. Tais estudos
fundamentaram o estruturalismo, uma das principais correntes da linguística
moderna.
De acordo com Stam (2000, p. 32), “a linguagem, em Bakhtin, não é
um sistema acabado, mas um contínuo processo de vir a ser”. A língua não é
algo pronto, à disposição dos falantes, mas algo em que eles ingressam numa
corrente móvel de comunicação verbal. A consciência só é adquirida por meio
da linguagem e é através dela que os sujeitos começam a intervir no real
(STAN, 2000 apud PARANÁ (2008, p.61).
Nesta perspectiva nota-se que a todo o momento nos deparamos com
discursos e pronunciamentos de fatos e situações que presenciamos ou
vivenciamos e, assim, produzimos algum efeito sobre as outras pessoas, que
ao se manifestarem, produzem efeitos sobre nós. Ao compreendermos os
outros nos reconhecemos, concordamos ou entramos em conflito. E essas
ações são materializadas na e pela linguagem.
São os nossos discursos e os discursos do outro, que se concretizam
nos textos e se cruzam o tempo todo.
A palavra discurso inicialmente significa curso, percurso, correr por,
movimento. Isso indica que a postura frente aos conceitos fixos, imutáveis,
deve ser diferenciada.
O discurso só é materializado por meio da linguagem e a linguagem
não tem sentido de existência se não for para servir de interação e
comunicação entre as pessoas (TERRA; NICOLA; CAVALLETE, 2002).
Para Bakhtin (1997, p. 279), [...] gêneros de discurso são os
enunciados dos integrantes de uma ou doutra esfera da atividade humana e
estas esferas de utilização da língua elaboram seus tipos relativamente
estáveis de enunciado (BAKHTIN, 1997 apud PARANÁ, 2008, p.63).
Toda língua é uma construção histórica e cultural em constante
transformação. Como princípio social e dinâmico, a língua não se limita a uma
visão sistêmica e estrutural do código lingüístico. Ela é heterogênea, ideológica
e opaca.
Segundo Bakthin (1988), toda enunciação envolve a presença de pelo
menos duas vozes, a voz do eu e do outro. Para este filósofo, não há discurso
individual, no sentido de que todo discurso se constrói no processo de
interação e em função de outro. E é no espaço discursivo criado na relação
entre o eu e o outro que os sujeitos se constituem socialmente. É no
engajamento discursivo com o outro que damos forma ao que dizemos e ao
que somos (BAKHTIN, 1988 apud PARANÁ, 2008, p.53).
Os gêneros do discurso organizam as falas e se constituem
historicamente a partir de novas situações de interação verbal, por isso as
mudanças nas interações sociais geram mudança de gênero, bem como o
surgimento de novos gêneros.
Segundo Bakhtin (1992), não existissem gêneros, se fossem criados
pela primeira vez em cada conversa, a comunicação verbal seria quase
impossível (BAKHTIN, 1988 apud PARANÁ, 2008, p.63).
A reflexão crítica acerca dos discursos que circulam em Língua
Estrangeira Moderna somente é possível mediante o contato com textos
verbais e não verbais. Do mesmo modo, a produção de um texto se faz sempre
a partir do contato com outros textos, que servirão de apoio e ampliarão as
possibilidades de expressão dos alunos (PARANÁ, 2008).
As discussões poderão acontecer em língua materna, pois nem todos os
alunos dispõem de um léxico suficiente para que o diálogo se realize em
Língua Estrangeira. Eles servirão como subsídio para a produção textual em
Língua Estrangeira (PARANÁ, 2008).
De acordo com Cristovão (2007),
3. Metodologia
O presente projeto foi desenvolvido no ano de 2014 e teve como objetivo
viabilizar o ensino/aprendizagem de Língua Inglesa por meio de filmes de
animação. Para o desenvolvimento do projeto, foi utilizada a Unidade Didática
como formato para a implementação do estudo, fundamentada na leitura crítica
e na análise de gêneros, cujos pressupostos encontram-se nas Diretrizes
Curriculares para o Ensino de Língua Estrangeira (PARANÁ, 2008).
Levando em consideração a ideia de trabalhar com o Gênero Filmes de
Animação, as atividades foram elaboradas visando contemplar as três práticas
discursivas: leitura, oralidade e escrita.
O Projeto de Intervenção Pedagógica, foi implementado no 1º semestre
do ano de 2014, em uma turma de alunos do 8º ano do Ensino Fundamental do
Instituto de Educação Estadual de Londrina, no período vespertino, para um
total de 34 alunos e organizada por etapas que integram diferentes aspectos do
conhecimento da língua e do mundo.
Step 1- Warm up
Atividades de preparação, apresentação do projeto e questionário
investigativo, visando a aprendizagem de linguagem a que o gênero está
relacionado, partindo sempre do conhecimento prévio dos alunos.
Step 2- Pre- Reading
Atividades de pré-leitura e preparação. Os alunos fazem a leitura de um
texto sobre o gênero em foco, a fim de identificar os elementos que o compõe.
O vídeo explicativo sobre como é feita a animação no Brasil e nos Estados
Unidos dá base para o trabalho com animações. O trecho do filme de Shrek
propõe a apresentação de uma cena cujos passos definidos nas atividades
devem ser seguidos para concretizar a atividade proposta.
Step 3- Recognizing some kinds of genres
Propõe-se aqui o reconhecimento de diferentes tipos de gêneros da
esfera de circulação midiática, a compreensão sobre a organização e a forma
de apresentação de cada gênero, a realização de inferências sobre a
produção, a quem ele é dirigido, quando e onde foi produzido e o objetivo. O
professor deve encaminhar os alunos até o laboratório de informática para que
possam efetuar a pesquisa e realizar as atividades com êxito.
Step 4- Reading About
Nesta atividade o professor apresenta o trecho de um texto sobre
Animação, e solicita que os alunos acessem outros dois textos que trazem o
mesmo tema para que os alunos compreendam a relação entre os textos, a
forma de pensar de cada autor e o que fica evidente em cada texto.
Step 5- Reading More
Encaminhamento dos alunos ao laboratório de informática e acesso ao
link disponibilizado para consulta. O objetivo desta é levar o aluno a
compreender o vocabulário na sua relação com o texto e compreender o
processo histórico, social e cultural que envolve os filmes de animação.
Step 6- What is the difference between animations movies and virtual
animations?
Conforme rezam as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua
Estrangeira Moderna, a produção de um texto se faz sempre a partir do contato
com outros textos, que servirão de apoio e ampliarão as possibilidades de
expressão dos alunos.
Para tanto esta atividade propõe que o aluno extrapole o seu
conhecimento e conheça outras formas de se aprender a Língua Inglesa, no
caso, a animação virtual que é um objeto de aprendizagem da esfera de
circulação do meio educativo.
Step 7- Watching some animation movies
Nesta etapa são apresentados trechos de filmes que possibilitam a
compreensão do gênero escolhido para o desenvolvimento deste projeto, sua
estrutura composicional, a forma de apresentação e organização, realização
inferências como: esfera de circulação, produção, data de publicação, o
contexto de produção, etc.
Step 8- Language Focus
Apresentação de atividades relacionadas à língua, sob o ponto de vista
da análise lingüística, e que esteja presente nos diálogos do filme Shrek, com
regras de utilização e exemplos.
Step 9- Production
Faz-se uma retomada sobre os aspectos estudados até aqui e dá-se o
início das produções. A começar pela contextualização dos diálogos vistos no
filme Shrek que dão base para a produção dos diálogos a serem elaborados
pelos alunos na sala de aula.
Primeiro passo: elaboração dos roteiros, que neste caso serão os
diálogos produzidos pelos alunos a partir de diferentes situações de
comunicação.
Segundo passo: apresentação dos diálogos para a turma.
Nestas atividades é importante ressaltar que a escrita e oralidade
deverão ser dadas em Língua Inglesa.
Para os próximos passos o professor deve encaminhar os alunos ao
laboratório de informática.
Terceiro passo: Fazer a retomada dos elementos que compõem um
filme de animação.
Quarto passo: Acessar o link disponibilizado para assistir a uma
animação produzida pelo software a ser utilizado na produção das animações e
elencar as características dos elementos fundamentais apresentados.
Quinto passo: Acessar o link disponibilizado e assistir ao tutorial para criar uma
animação.
Step 10- É hora de produzir uma animação.
Todos os passos aqui apontados direcionam para a produção de uma
animação, cujo roteiro deveria ser composto dos diálogos elaborados nas
atividades 2 e 3 do Step 9.
Antes de o projeto ser implementado aos alunos, foi objeto de estudo para
muitos outros professores da rede pública, por meio do GTR (Grupo de
Trabalho em Rede). Quando o Projeto de Intervenção Pedagógica e a Unidade
Didática foram apresentados aos participantes do GTR, houve grande interesse
de participação nas atividades propostas no curso. Nas discussões dos fóruns,
diários e vivência prática foi possível perceber a grande motivação dos
professores pelo tema e isso deixa claro que, quando é apresentada uma
maneira diferente de ensinar, tudo fica bem mais agradável. Todos foram
otimistas ao afirmar que o trabalho poderia dar muito certo, mas que tudo
dependeria da forma como o professor fosse trabalhar em sala; e foi ressaltada
também a questão da importância da utilização das ferramentas tecnológicas
disponíveis na escola durante a implementação do projeto.
De acordo com os professores participantes do GTR, esse tipo de
atividade traz muitos benefícios para o ensino da língua estrangeira, como fica
evidenciado nas considerações dadas ao final do curso, dos quais, seguem
relatos de duas professoras participantes:
4. Relato da Implementação
Os alunos com os quais foi desenvolvido o projeto, frequentam o período
vespertino, em sala heterogênea, com alunos de faixa etária apropriada para a
série e alguns deles repetentes.
Diante de todas as limitações que a escola pública apresenta e em meio
a tantas dificuldades que precisam ser superadas diariamente, sem dúvida,
houve grande necessidade de rever alguns itens da proposta de trabalho e no
que se referem ao uso das ferramentas tecnológicas, os problemas foram
maiores ainda, visto que o laboratório de informática encontra-se equipado com
quantidade insuficiente de computadores para o número de alunos da série e a
conexão de rede de internet por ser limitada, não foi possível ser utilizada por
todos os alunos, pois, ao fazer o acesso, ocorria o travamento dos
computadores , impossibilitando assim a continuação das atividades.
Conforme o contexto escolar apresentado, algumas atividades foram
dadas como trabalho extraclasse, visto que a maioria, senão todos os alunos
possuem celulares e computadores com acesso a internet.
Após a realização de tais atividades os alunos fizeram o relato das
experiências para a classe, deixando claro quais foram as dificuldades e os
avanços no processo de aprendizagem da língua inglesa por meio das
atividades propostas.
Para a realização da coleta de dados para análise foram utilizados os
seguintes instrumentos:
a) aplicação de um questionário aos alunos, como forma de investigação
inicial sobre o assunto, compreendendo nove questões que se relacionam aos
gostos dos alunos pelo gênero midiático filmes.
b) desenvolvimento das etapas descritas na metodologia.
c) aplicação de um novo questionário aos alunos, para coleta de dados
sobre possíveis mudanças nas opiniões obtidas após o período de trabalho das
atividades propostas.
Na primeira fase do projeto, foram apresentadas as seguintes questões
aos alunos:
a) Você possui o hábito de assistir filmes?
b) Que tipos de filmes você prefere? Drama? Aventura? Suspense? Ação?
Terror? Ficção científica? Animação?
c) Dá preferência às produções brasileiras ou gosta mais de assistir produções
americanas? Por quê?
d) Geralmente assiste nos cinemas, nos canais abertos ou fechados da
Televisão, internet ou prefere locar tais filmes?
e) Você gosta de assistir filmes de animação?
f) Você poderia listar alguns filmes de animação?
g) Tem preferência por filmes dublados ou legendados?
h) Considera possível o aprendizado de uma língua estrangeira por meio de
filmes?
Identify the textual genre that is present in this scene of the movie:
a) Dialogue
b) Poem
Atividade 4
c) Music
d) Tale
Considering the music of the movie “Rio” you can listen some words and
phrases that are well spoken. Can you list some these words or phrases?
Atividade 5
In the movie Rio we can observe parts of the music that there are some words
or phrases written in informal language. Rewrite them in formal language.
a) „Cuz I just wanna live my life and party.‟
b) „I wanna party.‟
5. Considerações finais
Após análise geral das atividades executadas e resultados obtidos com
os alunos da série escolhida para a implementação do projeto, fica claro que o
referencial bibliográfico consultado e as demais informações adquiridas durante
o programa PDE contribuíram imensamente para o embasamento teórico desta
Intervenção Pedagógica, além de que, foi possível comprovar na prática que
atividades prazerosas favorecem muito o ensino/ aprendizagem.
É importante salientar que durante o desenvolvimento de todas as
etapas das atividades, houve um grande empenho dos alunos, que puderam
contar com a intervenção da professora, com o objetivo de explanar o conteúdo
abordado em cada questão proposta, bem como sanar as dificuldades de
aprendizagem encontradas por cada aluno.
Como a maioria dos alunos tinha pouco contato com a língua inglesa,
uma grande parte do projeto teve que ser implementada na língua materna,
porém foi possível presenciar um grande avanço no interesse dos alunos em
relação à aprendizagem da língua e, também, houve uma participação bastante
significativa dos alunos aos conteúdos propostos.
Por meio de relatos das experiências dos alunos em relação às
atividades propostas, foi possível constatar quais foram às dificuldades e os
avanços no processo de aprendizagem da língua inglesa por meio do gênero
estudado, bem como observar o entusiasmo dos mesmos em criar novos
roteiros de diálogos para produzir outras animações.
A experiência obtida ao final da implementação deste projeto propiciou
uma reflexão sobre a necessidade de um maior investimento na área
tecnológica das escolas públicas do estado, principalmente no que tange ao
procedimento de manutenção de computadores, suporte e assistência técnica
dos mesmos, e melhoramento nas conexões de rede. Apesar desses
problemas e dificuldades enfrentados durante o trabalho, concluiu-se que, a
metodologia utilizada favoreceu o ensino/aprendizagem da língua inglesa e o
projeto em si trouxe experiências bastante inovadoras para todos os
envolvidos, professores participantes do GTR, durante o curso, alunos da série
escolhida para a implementação e a professora idealizadora do projeto.
6- Referências
MORAN, J.M.. Comunicação & Educação. São Paulo, ECA- Ed. Moderna: 27 a
35, jan./abr. de 1995.