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SamerAgi
CURSO DE ORATÓRIA CRIATIVA
AULA 1

Sejam muito bem vindos à nossa primeira aula do novo curso de Oratória Criativa.
Hoje falaremos de dois discursos super impactantes: um de Thomas Jefferson, terceiro
presidente dos Estados Unidos quando toma posse, é o seu discurso de posse e o outro de
Ângela Merkel, agora ex-chanceler federal alemã que foi a mulher mais poderosa da Europa
durante 15, 16 anos e que, portanto, marcou a nossa história, a nossa realidade; o discurso
que ela faz no início da pandemia do novo coronavírus em março de 2020 e a eficácia e o
prêmio que ela recebe por isso.

A gente começa, então, com Thomas Jefferson. Esse é o primeiro bloco da nossa aula.
Iremos nos debruçar aqui, escolhi um dos discursos que está nesta obra de Marco Antonio
Villa que ele traz então o discurso de Jefferson.

Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, um discurso proferido em


4 de março de 1981. É o discurso de posse na presidência. Havia um clima de divisão no país,
não sei se você já ouviu falar sobre isso em algum lugar, um clima de divisão entre aqueles
que tinham a visão federalista - os chamados federalistas - que apoiavam John Addams que
tinha ideia de que a União tinha que ser mais forte, o governo federal tinha que ser mais
forte, o poder tinha que ser mais concentrado e tinham amigos republicanos, que cujo maior
expoente era Thomas Jefferson e ele vence as eleições, mas o país estava dividido muito
influenciado também pelo que acontecia na Europa em 1801 em que se tem uma França
revolucionária que se opõe à ideia da Inglaterra que chegou a colonizar os Estados Unidos
(aula de história você sabe disso) mas estamos no começo da Independência dos Estados
Unidos tanto é que ele é o terceiro presidente dos Estados Unidos.

É nesse contexto que Thomas Jefferson vai discursar. Vamos entender um pouco de
um discurso; por que esse discurso dele marca? Porque ele consegue unir o país em torno da
sua presidência. Quero que você perceba esse discurso que mudou ou marcou o mundo,
porque marcar os Estados Unidos é, de certa forma, marcar o mundo. Thomas Jefferson
começa de uma forma; você, todo mundo que quer convencer alguém, quer conversar com
alguém que acabou de lhe fazer um bem, precisa ser capaz de expressar a sua gratidão.
Percebe-se que o exercício da gratidão é super raro, muito raro. Pode ver, por exemplo, que
quando Cristo cura os leprosos, nove vão embora, só um volta para agradecer. É muito difícil
que as pessoas exerçam gratidão. E a primeira palavra que ele traz no discurso dele é uma
palavra de gratidão.

Ele vai dizer: "aproveito-me da presença dessa parte dos meus concidadãos aqui reunida para
expressar meus agradecimentos", pela gentileza, enfim, ele continua o exercício da gratidão. As
pessoas votaram nele, ele venceu as eleições, e às vezes alguém faz algum bem a você e você
não tem por hábito, por costume, agradecer a essa pessoa pelo que ela fez por você e, com
isso, gostaria de dizer que você deve ter a gratidão como algo intencional. Se não é algo
natural, "eu me esqueço, eu não falo, passa o tempo, eu tinha que ter agradecido aquela pessoa, tinha
que ter mandado mensagem, eu esqueci, enfim", tenha isso como algo intencional. Quero ser
grato, grato as pessoas, grato a Deus, quero exercer essa gratidão. Então no seu discurso, que
é um discurso conciliatório, um discurso de união, ele conclama a nação à Concórdia - é isso
que marca o discurso de Thomas Jefferson - ele conclama a nação à Concórdia, ele se vale,
em primeiro lugar, da gratidão. Mas em segundo lugar, ele faz um exercício de humildade. Ele
aproveita a oportunidade para declarar, sincera e conscientemente, que a tarefa de ser
presidente dos Estados Unidos está "acima das minhas aptidões e que dela me aproximo com forte
e grande ansiedade que a grandeza do cargo e a fraqueza das minhas forças inspiram". É um exercício
de humildade. Em "Orgulho e Preconceito" há uma fala do Reverendo que diz assim que "há
pessoas (e ele se referia a uma especial), mas há pessoas cuja nobreza torna o cargo que ocupam
mais nobre do que o é".

O cargo de presidente da república é um cargo muito nobre e, assim, há pessoas cuja


nobreza é capaz de tornar o cargo ainda mais nobre do que é. Elas são nobres enquanto
pessoas e você percebe uma nobreza de espírito como quando Thomas Jefferson é capaz de
se colocar numa condição de humildade. "Olha, a tarefa é muito difícil, o cargo é muito complexo,
sozinho eu não faço nada". Uma pessoa sozinha é incapaz de presidir um país, mas quero dizer
mais: uma pessoa sozinha é incapaz de presidir uma família porque, talvez, você não seja o
presidente de um país; talvez você não seja um líder de uma equipe de sete mil pessoas, mas
talvez você lidere uma equipe com cinco pessoas. Talvez você seja mãe de família. Talvez seja
um pai de família. Talvez você seja Líder dentro da sua casa, talvez seja um líder de um grupo
no trabalho, na igreja, na escola, na universidade, e quero te dizer que não existe liderança
solo.

Toda a liderança está acima da pessoa que lidera e essa compreensão é um exercício
de humildade. Agora perceba, ele começa o discurso com gratidão e com humildade. Isso já
começa a acalmar os ânimos porque, do outro lado, há pessoas que não gostam dele. Mas
quando você está discursando, está conversando com pessoas que têm alguma resistência à
sua pessoa, se você começa com gratidão, reconhecendo trabalho dessas pessoas realmente
e exerce a sua humildade, você começa a quebrar resistências à sua pessoa. Então, ele
começa percebendo a complexidade da liderança, a dizer "olha, eu vou precisar de mais gente me
ajudando" e em um exercício de profunda sabedoria, ele presta uma deferência aos poderes,
especialmente ao Legislativo.

Veja o que ele diz:

"Deveria, de fato, desesperar-me, não fosse a presença de muitos que aqui vejo lembrar-me que
nas outras altas autoridades estabelecidas pela nossa Constituição, encontrarei recursos de sabedoria,
virtude e zelo em todas as dificuldades".

Ele está dizendo "olha, sozinho não dá! Só o poder Executivo não resolve, se eu não tiver o
apoio do Legislativo - no caso ele está falando do Congresso Americano, em especial - eu não vou
conseguir fazer as coisas. Mas eu sei que eu tenho um Congresso sábio, zeloso, virtuoso". Às vezes, você
vai conversar com alguém e você é o líder, você que manda. Há outras pessoas que exercem
alguma liderança, mas é em outro departamento não é o seu departamento. Mas o seu
departamento não encontrará êxito suficiente ou, pelo menos, o êxito retumbante se não
houver o compromisso e a dedicação das pessoas que estão em outro departamento.

O departamento de vendas não vai ter o sucesso que quer ter se departamento de
marketing não trabalhar com eles em sinergia, da mesma forma o departamento de
marketing pode morrer de trabalhar, se o departamento de vendas não funciona o resultado
é pífio. Se o administrativo, se o serviço de atendimento ao consumidor não funciona, o
marketing pode trabalhar, a venda pode trabalhar que, no final das contas, o consumidor
sairá de lá insatisfeito. Então a liderança precisa ser capaz de unir todos esses blocos. Exato!
Não adianta você ser o pai ou você ser a mãe e o seu marido ou a sua esposa, enfim, tiver uma
conduta completamente divergente da sua. Se vocês não encontrarem sinergia na criação
dos filhos, sinergia na condução da casa, caso estejam casados, sinergia na condução da
família, essa família ficará desestruturada. Mas, para que isso aconteça, é preciso que você,
que agora faz o curso de oratória criativa e, portanto, tende a persuadir o outro, que você seja
capaz de prestar deferência, de mostrar deferência ao outro.

Isso muda tudo! E é um ato de sabedoria porque ele elogia o outro, ele reconhece o
poder do outro, ele reconhece a influência do outro, ele reconhece a necessidade da ajuda do
outro. E é isso que você deve fazer, mas eu prossigo.

Destaco o seguinte trecho, vou ler:

"Todos, todos terão em mente este sagrado princípio que conquanto a vontade da maioria deva
prevalecer em todos os casos, essa vontade, para ser legítima, tem que ser razoável. Que a minoria
possui iguais direitos, que leis iguais devem proteger e que violá-los seria opressão. Unamo-nos, pois,
como cidadãos, com um só coração e um só espírito. Restitua-mos às relações sociais essa harmonia e
afeição, sem as quais a liberdade e a própria vida teriam uma triste feição".
Preste atenção: ele vence pela vontade da maioria. É a maioria que o colocou ali.
Portanto, realmente, a vontade da maioria prevaleceu. Mas ele faz um discurso de união;
para fazer um discurso de união, ele se recorda da minoria e ele faz uma colocação brilhante
ele diz "olha, a maioria prevaleceu, mas eu preciso dizer que a minoria tem os mesmos direitos da
maioria. Que as leis devem ser iguais e devem proteger as pessoas e que se nós violarmos isso, estaremos
oprimindo essas pessoas." Às vezes, é isso. Às vezes você ganha no 2 a 1, você que tem uma
sociedade. São três sócios, cada um tem 33%, você se une com um e começa só a vontade dos
dois prevalecer. Vocês estão oprimindo o minoritário, o tempo inteiro, de toda forma. E
então? "-E então o quê, Samer?". E então, o que você precisa é compreender que a vida
demanda muito mais conciliação. Porque você pode prevalecer com 66%, 67%, mas com
100% é melhor. A sinergia é outra, a vontade é outra, a dedicação é outra. Assim é em casa.
Às vezes, você está em casa, é sempre 2 a 1. Você e sua esposa só dando ordem para seus
filhos. Não ouve. "Não, mas a autoridade do pai e da mãe", concordo! Mas a autoridade ela
pressupõe que você seja capaz de ouvir, Escutatória, de Rubem Alves. Quando ele coloca
"gente! Se a gente não olhar para a minoria, isso não é legítimo. Isso é uma opressão”. E ele deixa claro
um ponto: sem união (porque ele diz "unamo-nos!") sem união, a liberdade e a vida tem uma
triste feição. São tristes. Ou você não acha? Certo, o que você quer prevalece. Mas vocês estão
em um clima de briga e discórdia, de divisão. Ainda que o seu desejo, o seu querer se
concretize, a sua vida vai ter uma triste feição porque você vive brigado com alguém, brigado
com pessoas e em uma luta constante e absolutamente desnecessária.

Será que você não percebeu isso? Será que não é melhor você que agora está numa
posição em que você é capaz de convencer os outros ou em que você tem autoridade para que
a sua vontade prevaleça, em que você é majoritário porque você tem a maior parte da
sociedade, em que você é um líder e que, portanto, a sua palavra tem maior peso ali. Mas
você aproveitará a oportunidade para unir as pessoas porque quando você entra em uma
empresa e o grupo de trabalhadores ali é um grupo unido, o clima é outro. Pode entrar, pode
ser no serviço público também. Você entra e o pessoal da vara é unido, o clima é leve, as
pessoas riem, se divertem, é sexta-feira e alguém pede uma pizza, é aniversário de alguém e
todo mundo vai, é um clima leve. Mas por quê? Porque prevalece a união. Se o clima fosse
pesado, o trabalho que sairia? Sairia. Objetivamente do mesmo jeito? Não sei. Acho que não
seria do mesmo jeito, mas o trabalho sairia. As decisões seriam tomadas, as decisões seriam
cumpridas, os processos seriam organizados, mas as feições seriam tristes.

Por isso nós, na qualidade de líderes ou de oradores precisamos conclamar a


concórdia! Unamo-nos! Lembrarmo-nos de Thomas Jefferson. E ele traz uma frase que eu
amei: "mas toda diferença de opinião, entretanto, não implica diferença de princípio. Nós somos todos
republicanos e federalistas." Diferença de opinião não é diferença de princípio. Às vezes a
pessoa tem uma opinião diferente da sua, isso não significa que ela não preste ou que você
preste mais do que ela, significa que vocês têm visões de mundo diferentes em relação
àquele tema. O fato de uma pessoa pensar diferente de mim não faz dela minha inimiga e
não faz dela menos moral do que eu, percebe? Menos correta, menos ética. É só uma forma
de ver o mundo. "O universo não é uma ideia minha" diz Fernando Pessoa, "a minha ideia do
universo é que é uma ideia minha". É o que você acha. E alguém ter uma ideia diferente da sua
não significa que vocês têm princípios diferentes. A verdade é essa. Você vê pessoas de
direita e de esquerda se digladiando às vezes, não raras vezes, e atribuindo uns aos outros os
piores adjetivos, as piores qualidades. Mas no fundo, suponhamos dentro de universo, são
todos democratas. Porque todo mundo quer poder falar, todo mundo quer ter liberdade de
expressão, liberdade de pensamento, liberdade de opinião. Todo mundo quer ter o poder de
eleger alguém. E isso é democracia. Então, no fundo, somos todos democratas, ainda que as
pessoas não compreendam isso.

E, então, quando ele diz "somos todos isso" quem pensa diferente não tem um princípio
diferente do meu, necessariamente, ele está dizendo "nós somos um, pregando mais uma vez a
união. Estamos no mesmo barco", ele vai dizer no discurso. E é isso, estamos no mesmo barco.

Ele continua e vai dizer o seguinte:

"O que mais é necessário para tornarmo-nos um povo feliz e próspero? Que mais temos que
fazer para nossa família ser uma família feliz e próspera? Para o nosso trabalho, nosso ambiente
trabalho, ser um ambiente feliz e próspero?" Ele diz assim "ainda outra coisa, concidadãos,
precisamos que um governo sábio e sóbrio, que impedirá os homens de prejudicarem uns aos outros,
deixá-los-a. ao contrário, livres para regularem suas próprias tarefas de indústria e de melhoria e não
arrancará da boca do trabalhador o pão que ele ganhou". Acho essa passagem muito forte. "Não
arrancar da boca do trabalhador o pão que ele ganhou". Quantas vezes o governo faz isso com
cidadão? Mas ele vai dizer assim "o governo tem que ser sábio e tem que ser sóbrio" Um governo
sábio é um governo que reflete e com decisões pensadas toma o caminho que se mostra o
melhor caminho para nação. Ele pode errar, mas ele busca a sabedoria e a resposta ali. Mas
ele diz "o governo também tem que ser sóbrio", sóbrio é ele não vai incitar a discórdia, ele não vai,
na emoção, taxar as pessoas, um grupo de pessoas como inimigos do governo. Nós contra
eles e dividiram a nação.

A ideia que ele traz aqui é a ideia: "nós precisamos ter um governo sábio e sóbrio".
Provavelmente, você não será o Presidente da República, mas o curso de oratória é voltado
para que você aplique na sua vida. Quando você estiver em uma posição de liderança na sua
casa, no seu trabalho, na sua comunidade, seja sábio e sóbrio. Sábio. Uma pessoa capaz de
refletir, de observar, de pensar antes de emitir uma decisão. E sóbrio. Uma pessoa que não
vai decidir por arroubos, na emoção e não vai incitar um descontrole das pessoas lideradas
por ela.
Mas ele prossegue. Ele vai deixar claro, em primeiro lugar, que sem confiança é
impossível liderar. Que todos erramos, ainda que sem intenção. E que, antes de julgar
alguém, é preciso ouvir todos os lados, entender o que está acontecendo, ter uma visão geral.

Porque ele diz assim:

"Peço tão só a confiança que possa dar a firmeza e a eficiência à administração legal de vossos
negócios. Eu preciso da confiança de vocês para liderar. Sem confiança, eu não posso liderar".

Veja, ele começa com humildade, ele começa com gratidão, humildade ele conclama a
concórdia, ele busca a união das pessoas, então gratidão, humildade, união. E ele pede a
confiança das pessoas. "Errarei muitas vezes por falhas de julgamento" e ele diz que errará sem
intenção.

Todos erramos. Sei que eu estou sujeito a erros. E ele diz: "quando certo, serei muitas
vezes julgado por aqueles cujas posições não dominam todo o cenário". O que está dizendo? Muitas
vezes, as pessoas irão me acusar, tomando o caminho errado, porque elas não têm noção da
conjuntura. É claro que eu quero melhorar para o meu país, para minha família, para meu
trabalho, para minha empresa, é claro. Mas quando eu vou por aquele caminho, às vezes as
pessoas que não estão entendendo a conjuntura, não estão entendendo o nível de
endividamento, não estão entendendo o problema que o sujeito passa em casa, não estão
entendendo o problema que a pessoa tem com o filho para estar tomando aquela atitude,
"nossa, a pessoa deixou aquele cargo em comissão, voltou para o cargo original, para ficar em
home-office, mudou-se para outra cidade com marido e com filho, gente como é que acaba com uma
carreira dessa", você sabe por que a pessoa está se mudando? Não sabe. Às vezes, a razão da
mudança é porque quer restaurar a relação familiar, porque ela precisa ajudar o filho a
livrar-se de um vício. Então, quando você não tem noção da conjuntura como um todo, você
emite um juízo equivocado, não raras vezes.

Por isso você, na qualidade de líder, tem que ser capaz de dizer à pessoa "olha, eu
entendi, mas deixa eu ouvir todo mundo, deixa eu entender o que está acontecendo. Essa pessoa está
saindo, por que ela está saindo? Deixa eu tentar conversar com ela porque, às vezes, ela tem razão. Mas
às vezes eu posso dar uma ideia à ela e ela pode encontrar uma solução melhor", para isso preciso
entender a conjuntura, entender o que está acontecendo como um todo.

Por fim, ele vai dizer assim:

"Confiando no patrocínio de vossa boa vontade, avanço com obediência para o trabalho. Pronto
para afastar-me dele quando perceberdes que podereis fazer melhor escolha" ele diz "eu estou indo
trabalhar até o dia que vocês decidirem me mandar embora".
O que ele está dizendo aqui é: o poder continua na mão de vocês. O poder continuar
sendo do povo, do grupo, da família, da coletividade. Você às vezes é mãe, é pai, às vezes você
é o líder do seu trabalho, "olha, gente, eu estou aqui nessa função é uma, mas eu quero que a gente
permaneça unido. Então, a razão de eu estar exercendo isso tudo é para o melhor todo mundo, de todos
nós, eu quero ouvi-los, eu quero conversar com vocês, eu quero atender às suas necessidades, claro que a
gente tem uma limitação do possível, mas, do ponto de vista do afeto, do carinho e do respeito, nós
iremos ao máximo. Faremos o certo, mas faremos a coisa certa, da maneira certa. E a maneira certa é
respeitando a individualidade, o poder, a dignidade de cada um". É isso que aprendemos com
Thomas Jefferson.

E, com isso, iniciaremos Ângela Merkel. A ex chanceler federal alemã, a mulher mais
poderosa da Europa, conhecida como "mamãe" pelos alemães. Era uma crítica, depois foi
recebido como um elogio porque, afinal de contas, a mãe resolve o problema. Ângela Merkel
foi premiada em um painel de especialistas em retórica pela Universidade de Tubingen que é
na cidade de Tubinga, na Alemanha, uma das Universidades mais antigas da Alemanha,
como o discurso do ano de 2020. Eles já premiaram outras autoridades, premiaram o Papa
Bento XVI, por exemplo. Eles vão premiando os melhores cursos do ano e eles consideram,
para isso, a eficácia do discurso, se ele foi capaz de promover um comportamento, uma
mudança, ou evitar um desastre, enfim, é essa a ideia.

Critérios, então, para eles considerarem o discurso como o discurso do ano: a eficácia
do discurso, a qualidade estilística do discurso e o desempenho argumentativo. Para você ter
uma ideia, eles pegam discurso de Ângela Merkel, no contexto da pandemia quando estoura
a primeira onda, quando começa a primeira onda, ela vai à televisão, em março de 2020,
coincidentemente os dois discursos são de Março, ela vai em março de 2020 à televisão
alemã e vai explicar didaticamente a seriedade da pandemia. Os especialistas compararam o
discurso dela, por exemplo, com discurso de Emmanuel Macron, presidente da França, e eles
disseram "olha, não dá para comparar porque o Macron ele ia para TV, o primeiro discurso dele
sempre foi já foi nesse sentido como se ele tivesse em uma guerra e um tratamento até raivoso então".
Compararam com discurso do Boris Johnson, e o primeiro discurso do Boris Johnson foi
minimizando a pandemia e a gravidade da pandemia, e disseram "não dá para comparar um
com o outro, talvez pelo fato dela ser Professora Doutora ela tenha se portado assim didaticamente
explicado", mas isso ajudou a Alemanha na primeira onda a ser uma referência para o mundo.

Por que o discurso de Ângela Merkel marca tanto assim? Primeiro porque ela começa
com a verdade. Sempre digo isso nas aulas de oratória: você não vai convencer ninguém se o
seu discurso não está embasado na verdade. Esqueça! "Ah não, mas eu tenho uma consideração"
sem um embasamento na verdade, você não vai convencer ninguém. É preciso tratar da
realidade. Gosto da frase de Aurélia Camargo, em a "Senhora", José de Alencar, que ela diz
assim "entremos na realidade", ela disse para Fernando Seixas. Às vezes, você precisa entrar na
realidade, as pessoas ficam distorcendo. E Merkel vai à realidade.

Ela diz assim:

"Coronavirus está mudando, atualmente, a vida em nosso país de uma forma dramática. A
nossa noção de normalidade, de vida pública e de interação social, tudo isso está sendo posto a prova
como nunca antes."

Ela diz "olha, a nossa vida está sendo alterada agora e é de uma forma dramática. Eu poderia
fazer um discurso, dizer "não, calma, são pequenas restrições" não! É dramático mesmo, é dramático".
Ela reconhece a verdade. Quando Margaret Thatcher faz o discurso diante da conferência do
partido conservador, ela vai dizer "deixe-me dizer uma coisa, eu estou profundamente preocupada
com o desemprego no nosso país. É uma catástrofe" e ela vai dizer isso. E ela continua. Primeiro ela
começa com a verdade e, logo em seguida, com a verdade, ela faz um exercício de empatia.
Ela diz: "milhões de vocês não podem ir ao trabalho, os seus filhos não podem ir à escola ou às creches.
Teatros, cinemas, lojas estão fechados e talvez o mais difícil: todos sentimos falta do contato pessoal.
Todos!". E ela se coloca, ali, em uma posição de igualdade.

Mas veja: ela exerce empatia. Não é um governo falando de cima para baixo. Ela
dizendo "gente, eu entendo a gravidade da situação. A situação é dramática e ela é dramática por isso,
você não está conseguindo levar seu filho para escola e todos nós estamos sem poder ter esse contato
pessoal que tanto nos faz falta". Agora veja: verdade e empatia. Em seguida, ela exerce
transparência e respeito. Entenda: um líder tem que agir com transparência e respeito. Se as
pessoas descobrirem que o líder está mentindo, ele perde a credibilidade. Se as pessoas
forem desrespeitadas, o líder perde o apelo, ele deixa de convencê-las. Quando você insulta
alguém, alguma pessoa está falando e você insulta essa pessoa, quando você insulta essa
pessoa, você a está desrespeitando. Com isso, você perdeu completamente o apoio dessa
pessoa. Você quebrou a relação.

E ela deixa claro que ela tem esse dever de transparência e respeito porque ela diz
assim "e eu me dirijo a vocês desta forma incomum", porque ela não é de fazer discurso; é calada.
Ela é mais de fazer do que de falar. "Eu me dirijo a vocês dessa forma incomum porque quero lhes
dizer o que me guia como chanceler Federal e a todos os meus colegas no governo federal nesta situação.
Faz parte de uma democracia que tomemos decisões políticas transparentes e as expliquemos de forma
compreensível". Você é líder, você está precisando cortar cursos na sua casa. Por que? Porque
você está apertado. Sua remuneração era 10, agora virou 5. Você perdeu aquele cargo em
comissão, aquela função de confiança, agora você está ganhando 5 mil, você ganhava 10.
Agora você está ganhando 2, você ganhava 4; vai ter que cortar despesa. "A partir de hoje, nessa
casa, está cortado isso e aquilo. Essa é a decisão". Está bem, mas como é que seu filho vai entender
essa decisão? A decisão tem que ser transparente e tem que ser explicada.

Chamar seu filho e falar "filho, papai ganhava 'X' agora ele tá ganhando 'X sobre 2' e temos
esse, esse, esse custo, então, enquanto o papai não voltar a ganhar 'X', a gente vai ter que cortar algumas
despesas. E cortamos essas duas porque a gente acha que dá para gente continuar com as outras e essas
a gente dá um jeito de contornar. Pode ser assim? Concorda com o papai?". Ele vai concordar. E, com
isso, o que você vai ter? Você vai ter um aliado, uma pessoa com senso de responsabilidade,
mas por quê? Porque a sua decisão foi transparente, porque você explicou. Só que, às vezes,
você é autoritário, "porque é assim, porque eu mando aqui", efetivamente, tudo bem, você manda
aqui, mas você não tem aliados. Não há união. Para haver, é preciso haver transparência e
respeito.

Ela vai devolvendo a esperança. Ela diz "eu acredito, sinceramente, que podemos ser
bem-sucedidos nessa tarefa de combate ao vírus, se todos entenderem essa tarefa como sua própria
tarefa". O discurso de Merkel é marcado pela chamada da atenção para uma responsabilidade
comum, é um dever comum, é um dever de todos. Ela faz isso reiteradamente. "Olha, eu acho
que a gente pode ser muito bem-sucedido nesse combate ao vírus, mas, para isso, precisamos combater
juntos". "Eu acho que a gente pode sair dessa crise familiar muito facilmente, como casal, como família,
não sei se muito facilmente, mas podemos ser muito bem sucedidos. Mas para isso a gente tem que atuar
em conjunto, tem que jogar em dupla, tem que jogar em trio, tem que ser um quarteto". Olha que legal!
Ela diz "Olha, gente, eu vou explicar porque estamos tomando essas decisões e é porque todo mundo
precisa ajudar porque senão não vencemos isso". Em seguida, Merkel é brilhante e, assim, eu
gostaria que você trouxesse isso para sua vida, que é o seguinte: ela dá ao problema o
tamanho que ele tem.

Muitas vezes, superdimensionamos problemas. Você está passando por um


problema? Está. Então certo: qual a dimensão desse problema? Nós não podemos
superdimensionar problemas. E muitas vezes fazemos isso, superdimensionamos. E, às
vezes, nós minimizamos problemas, fingimos que não estão acontecendo, até que explode, a
realidade explode na nossa cara. Nem minimizar nem maximizar. Dê ao problema o tamanho
que ele tem. Ela faz isso! Ela diz: "então, deixe-me dizer [e essa é a parte mais marcante do
discurso dela], é sério! Leve a sério você também. Desde a Segunda Guerra Mundial, desde a
Reunificação do nosso país, nós não enfrentávamos um desafio que colocasse à prova de tal maneira a
nossa ação solidária coletiva". Deixe-me dizer uma coisa: o problema é grande não é médio. É
grande, é muito grande. É o maior problema nos últimos 30 anos. Deu para você entender o
tamanho do problema? Essa é Merkel. "- E aí, Samer?" E aí que você, quando for falar,
conversar com alguém, às vezes a pessoa está minimizando um problema, às vezes a pessoa
está maximizando o problema, seja um líder sóbrio e sábio como o Jefferson sugeriu, e faça o
seguinte: dê ao problema o tamanho que ele tem. Qual é o tamanho desse problema? É isso
que ela faz!

O seu problema não é daquele tamanho, não é desse tamanho, o seu problema é desse
tamanho. Seu problema é estritamente financeiro, por exemplo. Você não tem problema de
saúde, você não tem problema conjugal, você não tem um problema espiritual, você tem um
problema financeiro. Então, isso significa que se todo mês alguém depositasse na sua conta
20 mil reais, você já está trabalhando, com o que você trabalha e mais 20 mil reais, os seus
problemas teriam fim. Se é isso, seu problema é estritamente financeiro. Agora a gente
começa a pensar como é que vamos fazer para aumentar sua renda 20 mil reais. Mas eu dou
ao problema o tamanho que ele tem. Porque, às vezes, a pessoa fala "nossa, o meu é problema
é...", calma! Vamos ver o tamanho do seu problema, qual é o seu problema.

Depois ela diz: "gente, se nos unirmos, será mais fácil". A verdade é essa: você está dentro
de casa, vocês estão passando por um problema dentro de casa. O que você vai poder dizer?
"Gente, se a gente se unir, vai ser mais fácil!". Ela diz, basicamente, assim: "se nos cuidarmos, será
mais fácil".

Olha o que ela diz:

"a Alemanha tem um sistema de saúde excelente, talvez um dos melhores do mundo. Isso pode
nos dar segurança, mas os nossos hospitais também ficarão completamente sobrecarregados se em um
curto espaço de tempo muitos pacientes forem internados".

Você quer que seja mais fácil? Sim! Então teremos que jogar juntos. Se nós nos
cuidamos, vai ser mais fácil. Às vezes você está passando por um problema, às vezes você
está até desempregado; sua renda que era de 10 mil foi para zero. Você está desempregado. E
você tem 50 mil reais juntados. Antes, você gostava oito mil por mês, juntava 2 mil por mês.
Você ganhava 10, gastava 8, juntava 2. Com isso, você chega para o seu cônjuge, mulher,
enfim, independente se mulher ou homem, e você diz "olha, a gente precisa se unir. Se a gente se
cuidar, se a gente cuidar da nossa casa e ter atenção a essa situação, vai ser mais fácil! Por quê? Porque
se a gente pegar a nossa despesa de 8 e reduzir para 4, reduzir para 5, por exemplo, a gente tem 10
meses para encontrar outro trabalho, que a gente tem 50 mil juntado. Mas se a gente continuar
gastando oito, a gente vai ter seis meses para resolver esse problema. Em vez de 6, a gente vai ter 10
para segurar as pontas". Então se nós nos cuidarmos, será mais fácil porque é mais fácil
arranjar outro emprego, se recolocar no mercado, começar a empreender e o nosso
empreendimento dar certo em 10 meses do que em 6 meses. Esperança. Ela devolve
esperança!

Churchill está no meio da Guerra. Quando ele termina o discurso, ele devolve a
esperança: "nós lutaremos nas praias, nas ruas, nas praças, nós jamais nos renderemos". O que ele
faz? Ele devolve a esperança. E, assim, ela diz: "eu tenho absoluta certeza de que vamos superar
essa crise". Mas ela devolve a bola. Ela diz que a responsabilidade é comum, é de todos nós.
Porque ela diz assim: "mas qual será o sacrifício? Quantos entes queridos vamos perder? Isso está, em
grande parte, nas nossas mãos. A responsabilidade é de todos". Quando você compartilha a
responsabilidade, quando você vai falar na família e diz "olha, gente, na verdade a
responsabilidade é de todo mundo. Não é só sua, não é só minha, não é do João, é de todos nós. Se nós
nos unirmos, se nós nos cuidarmos, se nós tivermos essa consciência vai ser mais fácil, a gente vai sair
dessa crise e vai sair de uma forma menos machucado". De alguma forma, a crise machuca, mas de
uma forma menos machucada. E ela continua com a união; e por fim ela termina com a ideia
de união.

Ela diz assim: "nós podemos, agora, decisivamente reagir todos juntos. Podemos aceitar as
restrições atuais e apoiarmo-nos uns aos outros". Ela conclama com corte. Ela diz "gente, vamos
fazer o seguinte: em vez da gente brigar, em vez da gente começar a acusar um ao outro, é a hora da
gente se unir, é a hora da gente se apoiar, é hora da gente aceitar algumas restrições que a situação
impõe e a gente vai sair mais forte lá na frente". O discurso de Merkel é um discurso que se dá em
um contexto desafiador, de um desafio, é um contexto desafiador. Às vezes, você está diante
de uma situação desafiadora na sua vida, pode ser dentro da sua casa, na sua família, pode
ser dentro do seu trabalho, pode ser dentro da sua empresa, pode ser dentro de um projeto,
dentro de uma comunidade e você quer convencer as pessoas do melhor caminho, da união
que deve reinar, então, aprenda com Merkel, com o discurso que foi premiado, a começar
com a verdade, a exercer a empatia. Verdade e empatia. Verdade e capacidade de se colocar
no lugar do outro. Sinceridade, polidez.

Aja com transparência e respeito. Se você tiver o poder de decidir e a sua decisão
estiver tomada, primeiro ouça e, depois de tomada a decisão, explique os motivos, para que
você tenha aliados, que você tenha apoio. Devolva a esperança para as pessoas. Quantos de
nós perderam a esperança. Devolva a esperança! Dê aos problemas os tamanhos que eles
têm. E só. Se nós nos unirmos, se nós nos cuidarmos, se nós cuidarmos uns dos outros, será
mais fácil, bem mais fácil porque as pessoas precisam compreender que a realidade é de
todos, de todos na casa. Se um filho vai mal, todo mundo sofre. O pai sofre, a mãe sofre, o
filho que vai mal sofre, o irmão sofre, os avós sofrem. Então é uma responsabilidade de todos
nós ajudarmos o irmão. Essa é a ideia. E, como líder, pregue a união. Com Merkel vemos isso,
com Thomas Jefferson a gente vê isso e com todos os outros oradores que já estudamos nos
cursos de oratória criativa anteriores nós vemos isso. União. A humildade e a gratidão
quebram a resistência. A união mostra que estamos todos do mesmo lado, no mesmo barco e
a esperança dá forças às pessoas para que elas continuem.

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