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Comunicação Organizacional e Literacia Financeira

José de Lemos Quintela


Professor/Consultor
INP – Instituto Superior de Novas Profissões

Resumo:

A crise financeira mundial com epicentro nos Estados Unidos da América, denominada
como crise do “subprime”, crédito hipotecário de alto risco, veio mostrar que a “aldeia
global” proclamada por Marshall Mcluhan é há muito tempo uma realidade ao nível dos
mercados financeiros. Esta, com repercussões a nível planetário, afectou a confiança nos
mercados e nas instituições, evidenciando simultaneamente, o elevado nível de iliteracia
financeira por parte dos cidadãos. Quando se pensava que o pior tinha passado, eis que
emerge a designada crise das dívidas soberanas e o consequente risco de falências dos
países. A pressão dos mercados obrigou a que países, entre os quais Portugal, tivessem
que ser “resgatados”. Estas situações tiveram inevitavelmente repercussões na vida das
pessoas, nos seus hábitos de consumo, condicionados por políticas de austeridade,
cortes salariais e forte aumento do desemprego. Neste sentido e através de uma visão
sistémica das organizações, propomo-nos analisar um conjunto de acções realizadas por
entidades públicas e privadas na Infovalor, o maior evento nacional para a promoção da
poupança e da literacia financeira, bem como o seu impacto no espaço público, no
sentido de restaurar a confiança e de contribuírem para uma melhor literacia financeira
dos seus diferentes públicos.

Palavras-chave: Comunicação, Literacia Financeira, Infovalor, Relações Públicas

1
Introdução

Toda a situação financeira vivida nos últimos anos, com especial ênfase a partir da
denominada crise do subprime que levou, entre outros, à falência do Lehmann Brothers
nos Estados Unidos da América, provocou uma escalada global, transformando uma
crise financeira, também numa crise económica. Em consequência, os mercados
financeiros, bem como a economia mundial, sofreram uma quebra abrupta, com
repercussões inevitáveis ao nível da confiança dos mercados e seus agentes. Esta
situação, associada a toda a instabilidade sentida mais recentemente, provocada pela
crise das dívidas soberanas, teve inevitáveis consequências no sistema financeiro.

Em Portugal, para além das questões internacionais, as polémicas iniciadas em torno da


“governance” do Millennium BCP e a disputa do poder naquela instituição, iniciaram
um processo conturbado num sector que até então era praticamente imaculado e
inquestionável em termos da sua confiança e reputação. Esta foi decididamente afectada
com o conhecimento público dos problemas que levaram à privatização do BPN e
posteriormente com o escândalo que envolveu o Banco Privado Português. Foi ainda
agravada por toda a situação que levou à recapitalização da Banca, pelas notícias e
rumores públicos sobre a própria solvência das instituições bancárias e da segurança do
dinheiro dos aforradores.

Todos estes acontecimentos serviram para realçar a falta de conhecimentos financeiros


do cidadão comum e de alguma forma contribuiram para a consciência deste facto.
Estas situações foram ainda acompanhadas por mudanças, assentando uma das
principais, na transferência das grandes responsabilidades financeiras das instituições
para os indivíduos, isto num mundo em que as opções financeiras são cada vez mais
amplas, tanto de produtos como de serviços e com uma complexidade imensurável.
Neste contexto, facilmente se percebe que um conhecimento financeiro sólido, aumenta
a habilitação dos indivíduos, de forma a se protegerem, a si e aos seus familiares,
garantindo, consequentemente, o seu bem-estar presente e futuro.

Além dos “efeitos da crise” anteriormente enunciados, há ainda uma série de tendências
tangíveis que sustentam o crescimento do interesse global da literacia financeira como

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um conhecimento chave e que podem ser sintetizadas da seguinte forma (OCDE/PISA,
2012 pp. 7-8):
- Mudança de risco, com a transferência generalizada de risco de governos e
empregadores para os indivíduos, muitos governos estão a reduzir, ou já reduziram, as
pensões suportadas pelo Estado, bem como os benefícios na saúde;
- Aumento da responsabilidade individual, as mudanças no mercado e na economia
levam a que o número de decisões financeiras que os indivíduos têm de tomar
aumentem, por exemplo, uma maior esperança de vida implica que os indivíduos
precisem de acumular também, mais poupança;
- Aumento da oferta de uma vasta gama de produtos e serviços financeiros, assiste-
se a um crescente número de consumidores com acesso a uma vasta gama de produtos e
serviços financeiros, a partir de uma variedade de fornecedores e entregue através de
vários canais. Os produtos disponíveis são também mais complexos e os indivíduos são
obrigados a fazer comparações entre uma série de factores;
- Aumento da procura por produtos e serviços financeiros, o desenvolvimento
económico e tecnológico trouxeram maior conectividade global e mudanças maciças
nas comunicações e transacções financeiras, bem como nas interacções sociais e no
comportamento do consumidor. Tais mudanças tornaram mais importante a capacidade
dos indivíduos interagirem com prestadores de serviços financeiros.

O conjunto de implicações que resultaram desta situação de crise, que parece viver-se
de forma quase permanente, vieram evidenciar a falta de preparação de muitos agentes
do mercado e sobretudo a iliteracia financeira dos investidores/aforradores particulares.
Mas esta situação não afecta apenas o cidadão comum mas também os próprios
profissionais que trabalham em instituições de intermediação financeira. A sofisticação,
quantidade e rapidez com que são lançados novos produtos financeiros, a forte
concorrência dos mercados e a pressão interna junto dos trabalhadores para atingirem os
objectivos comerciais, são também factores que devem ser considerados, uma vez que o
tempo útil disponível para se actualizarem, para conhecerem em pormenor os produtos
que comercializavam e as suas especificidades, não terá sido suficiente. Esta situação é
tanto mais significativa quanto os resultados do “Inquérito à Literacia Financeira dos
Portugueses” (Banco de Portugal, 2010), em que «apenas 8% dos entrevistados apontam
a comparação entre vários produtos bancários como a principal razão para a escolha
realizada. A razão mais comum é o conselho obtido ao balcão».

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Tendo presente a visão sistémica das organizações, em que estas são influenciadas pelo
seu meio ambiente e obrigadas a ajustarem-se em função das pressões sofridas e
sabendo que as organizações são pessoas, importa perceber como as organizações estão
a reagir, nomeadamente ao nível da sua comunicação organizacional e no
relacionamento com os seus públicos.

Confiança e transparência

A confiança é um factor determinante para a avaliação de um país, de um mercado, de


um negócio, pois «a confiança, juntamente com as suposições culturais partilhadas, é o
mais forte elemento de união que une as pessoas em grupos» (Goleman, et al., 2009 p.
68). A confiança determina a própria qualidade das relações, nos mercados, nas
organizações e no seio dos investidores. A confiança é um conceito multi-dimencional
que, de acordo com o estudo Guidelines for Measuring Trust in Organizations (Paine,
2003), pode ser definido através das suas diversas dimensões, sendo um conceito: multi-
níveis, de raiz cultural, baseado na comunicação, dinâmico e multidimensional.

A crise que afectou os mercados financeiros abalou a confiança dos próprios mercados e
de muitos sectores de actividades e organizações. Assistimos actualmente a um esforço
colectivo desenvolvido pelos mais diversos actores dos mercados financeiros no sentido
de restaurarem a confiança, que se tornou «uma preocupação primordial para a
liderança empresarial em torno do globo. Ela foi identificada como um factor chave de
sucesso na liderança e gestão. Por outro lado, a falta de confiança num negócio é visto
como uma fragilidade vital». (Public Relations Coalition, 2003 p. 3). Para restaurar a
confiança nas empresas a Public Relations Coaliation definiu os primeiros passos, que
assentam em 3 conceitos fundamentais:

• «Articular um conjunto de princípios éticos que estão intimamente ligados aos


seus valores essenciais e com os seus processos de negócios e que são
suportados com o compromisso de uma gestão de profundidade e disciplina em
toda a empresa.
• Criar um processo de transparência e de divulgação apropriado para a
empresa e sector de actividade, ambos para operações actuais e futuras. Deverá
incluir um comité superior de supervisão, "cultura" de auditorias e mensagens
consistentes.
• Promovam a confiança e a ética ao nível do Conselho de Administração».

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Confiança e reputação apresentam-se assim numa relação íntima, que poderemos quase
afirmar de causa-efeito, porque é com base na confiança que a reputação se desenvolve.
Esta, segundo Davies (2006 pp. 161-162), «é dada pelos outros, e convida a uma
relação continuada», considerando ainda o mesmo autor que a reputação «tem por base
as relações entre as pessoas e as entidades e que os comportamentos são a moeda que a
sustenta».

A propósito de transparência, Goleman, Bennis e O’Toole (2009 p. 15), consideram que


quando se fala dela «e da criação de uma cultura de sinceridade, estamos na verdade a
falar a respeito da livre circulação de informação dentro de uma organização e entre
ela e os seus muitos participantes, incluindo o público. Para qualquer organização, a
circulação de informação é semelhante a um sistema nervoso central: a eficiência da
organização depende dele. A capacidade de uma organização para competir, resolver
os problemas, inovar, enfrentar desafios e alcançar objectivos – a sua inteligência, se
se quiser – depende da forma salutar como a informação circula». Por seu lado, Julia
Jahansoozi (L'Etang, et al., 2006 p. 80), considera que transparência é muito importante
para «as relações organização-público e pode ser vista como uma condição relacional ou
variável que é um pré-requisito para outros elementos relacionais, como a confiança e
comprometimento. Ela fornece uma atmosfera favorável que permite a confiança,
responsabilidade, cooperação, colaboração e o assumir do compromisso». A mesma
autora considera ainda que a transparência pode ser definida como «uma característica
relacional, mesmo no que diz respeito às condições ambientais e dos processos
organizacionais».

A transparência é também uma metáfora, da física, mais propriamente da óptica e do


objecto transparente em contraponto ao opaco, ou seja, distingue o que permite e o que
não permite ver, através do objecto. «Usando também um sentido metafórico, podemos
afirmar que uma organização transparente é aquela que tem “paredes de vidro”,
permitindo-nos ver o que se passa lá dentro, independentemente de nos posicionarmos
no seu interior ou exterior. Isto é dizer que as empresas são tão mais transparentes
quanto mais se dêem a conhecer, através de informação verdadeira e responsável,
divulgada com equidade pelos seus públicos. Daqui ressalta um aspecto fundamental
para a transparência, a comunicação. O processo que envolve a comunicação e a
forma como esta se desenvolve são factores determinantes no sentido de tornar a

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informação mais acessível a todos e em igualdade de oportunidade» (Quintela, 2006 p.
57).

A transparência é a base da construção de relações suportadas na confiança, «hoje,


contudo, a construção de relações (“relationship-building) é simplesmente insuficiente.
O real objectivo tem que ser a construção da confiança (“trust-building) e no nosso
ponto de vista, a base da construção da confiança é a transparência da comunicação com
os stakeholders» (Drobis, 2002).

Relações Públicas e a visão sistémica das organizações

Para Rojot (2005 p. 121) as organizações «consistem num conjunto de actividades


estruturadas de um certo número de indivíduos, complementares ou interdependentes,
que perseguem uma meta ou um objectivo comum». As organizações são vistas como
um sistema, sendo ele próprio composto por subsistemas que afectam outros
subsistemas e a organização no seu todo. Para Grunig e Hunt (1984 p. 8) um sistema é
«um conjunto organizado de grupos interrelacionados ou sub-sistemas», ou seja, um
conjunto de unidades que interagem, «que resistem ao longo do tempo e dentro de
limites estabelecidos, respondendo e ajustando-se para mudar face a pressões do meio-
ambiente para atingir e manter as suas metas» (Cutlip, et al., 1999 p. 229).

As organizações são sistemas expostos às pressões do seu meio ambiente e a sua


capacidade de adaptação, no sentido de alcançarem os objectivos propostos, depende da
sua relação com o meio ambiente. A forma como gerem essa relação e o equilíbrio que
conseguem ou não criar, são factores determinantes para a sua sobrevivência (Cutlip, et
al., 1999 p. 235).

As organizações são então sistemas que estão sujeitos a pressões constantes do seu meio
ambiente que as obrigam a adaptarem-se no sentido de alcançarem os objectivos
definidos, dependendo esta sua capacidade, da sua própria relação com o meio
ambiente. Este é um processo dinâmico, de mudança contínua pelo que a análise de
tendências que possam vir a ter impacto sobre as organizações se torna fundamental.
Esta situação sugere a necessidade de um sistema prospectivo para as Relações
Públicas. Este aplica-se «porque se estabelece e se mantém um relacionamento
mutuamente dependente entre as organizações e os seus públicos» (Cutlip, et al., 1999
p. 228).

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A globalização da comunicação e da economia têm provocado um conjunto de
alterações ao nível das mais diversas organizações. A actividade das organizações é
desenvolvida numa economia global «cujas componentes nucleares têm a capacidade
institucional, organizacional e tecnológica para trabalharem como uma unidade em
tempo real ou num tempo convencionado, a uma escala planetária» (Castells, 2002 p.
124). A pressão económica e financeira que se vai sentindo à escala global poderá
eventualmente colocar uma ênfase maior nas relações públicas enquanto função de
gestão que de acordo com Grunig e Hunt (1984 p. 9), são parte do subsistema de gestão,
suportam outros subsistemas da organização, ajudando-os a comunicar com os públicos
externos e internamente na organização com outros subsistemas.

Tench e Yeomans (2009 p. 3) consideram que as «relações públicas são um produto da


economia e das circunstâncias políticas do seu tempo e que evoluem de acordo com as
necessidades destes ambientes». As relações públicas, a comunicação nas organizações,
não são um fim em si mesmo, incluem-se numa dinâmica muito mais vasta. Assim,
numa visão sistémica das organizações, os intermediários financeiros, como outras
instituições, têm que viver e actuar de acordo com o ambiente em que estão inseridas,
sofrendo transformações e pressões externas que as obriga a adaptarem-se à realidade,
levando-as a reajustes da sua estrutura e acção.

Nesta linha, as Relações Públicas, enquanto «função de gestão que visa estabelecer e
manter um relação mutuamente benéfica entre a organização e os seus públicos, de cujo
sucesso ou fracasso dependem (Cutlip, et al., 1999 p. 6), podem dar um importante
contributo, nomeadamente na dinamização das interacções entre as diversas partes
interessadas, promovendo a sua aproximação e o desenvolvimento de um clima que
favoreça um diálogo mais estreito.

Literacia financeira

A literacia financeira está cada vez mais na ordem do dia, surgindo em programas das
mais diversas organizações. A importância da cultura financeira é sublinhada pela
OCDE que considera que os seus benefícios não se restringem só aos indivíduos; é
igualmente importante para a estabilidade económica e financeira porque considera que
«financeiramente alfabetizados os consumidores podem tomar decisões mais
informadas e exigir serviços de maior qualidade, o que vai incentivar a concorrência e
a inovação no mercado. Eles também são menos propensos a reagir às condições do

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mercado de maneira imprevisível, menos propensos a fazer denúncias infundadas e
mais propensos a tomar medidas adequadas para gerir os riscos transferidos para
eles», considerando ainda que no seu conjunto, «levam a um sector de serviços
financeiros mais eficiente e potencialmente menos onerosos os custos financeiros e as
exigências regulatórias e de supervisão. Eles também podem vir a ajudar na redução
da ajuda do governo (e impostos) destinada a ajudar aqueles que tomaram decisões
financeiras imprudentes - ou a não tomar decisão nenhuma» (OCDE/PISA, 2012 p.8).

A OCDE (2009) considera que a literacia financeira é «o processo através do qual os


consumidores financeiros melhoram a sua compreensão dos produtos e conceitos
financeiros, de maneira a que, por meio de informação, orientação e/ou
aconselhamento objectivo, possam: desenvolver as competências e a confiança
necessárias para se tornarem mais conscientes dos riscos e das oportunidades
financeiras; tomar decisões informadas; saber onde procurar ajuda e realizar outras
acções que melhorem o seu bem-estar financeiro». Por seu lado o Dolceta (Dolceta),
projecto de educação através da internet, financiado pela União Europeia, considera que
«como educação para a cidadania, de consumo ou dos meios de comunicação, a
educação financeira deve ser concebida para sensibilizar os alunos para o mundo em
que vivem, com o fim de lhes dar as ferramentas necessárias para se tornarem actores
treinados e conhecedores na sociedade». A educação financeira é hoje e à semelhança
de outras formas de conhecimento, essencial para o bem-estar das populações.

Os mercados financeiros são mercados de antecipação em que a imagem constitui um


factor determinante. Como afirma Pieczka (L'Etang, et al., 2006 p. 292) «as percepções
são uma realidade poderosa no mundo dos negócios, por exemplo, as percepções de
marca. Há poucos CEO’s que percebem que as percepções são resultados da acção
planeada da própria organização», salientando ainda que «se é esta a questão das
percepções em termos de negócio, então qualquer que seja a sua essência, elas
funcionam como factos concretos, podendo aí ser dito que "a percepção é realidade "».

A melhoria do nível da educação financeira apresenta-se como um factor crítico para


uma afectação dos recursos por parte dos investidores particulares mais consciente,
nomeadamente quanto à exposição ao risco. Segundo o estudo do Banco de Portugal
(2010), «cidadãos com bons níveis de literacia financeira podem tomar decisões
financeiras informadas, desde a gestão do orçamento familiar até ao planeamento de

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despesas e escolha de serviços e produtos financeiros adequados, passando pela
aplicação das poupanças e o recurso ao crédito».

A educação financeira apresenta-se assim como um campo a explorar pelas Relações


Publicas, envolvendo os seus públicos, promovendo a proximidade e o contacto directo
entre a organização e os públicos, como é exemplo o caso da Infovalor que aqui
apresentaremos.

O que é a Infovalor?

A Infovalor – Feira da Poupança e Investimento é um evento anual que surgiu em 2009


e que conta já com três edições, todas realizadas no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Esta
iniciativa, pioneira em Portugal, visa promover a poupança e a literacia financeira dos
Portugueses, dinamizando o contacto directo e juntando no mesmo espaço o cidadão
comum, aforrador/investidor particular e as instituições que actuam na área financeira e
de valores mobiliários, universidades, entre outras.

«A Infovalor – Feira da Poupança e Investimento assume-se como uma plataforma de


encontro entre o cidadão comum e as diversas entidades que gravitam em torno do
mundo financeiro, dinamizando as interacções, facilitando o contacto e a proximidade
entre eles. Pretende-se assim desenvolver as competências necessárias para uma gestão
mais confiante, informada e consciente dos riscos e das oportunidades financeiras, bem
como para uma gestão sustentada do orçamento familiar». (Infovalor, 2011a p. 1)

Em termos de modelo, a sua estrutura integra uma área de conferências, apresentações


de empresas e ateliers pedagógicos, bem como uma zona de exposição, com stands de
empresas e outras instituições, com informação vocacionada para o cidadão comum,
numa vertente com forte pendor formativo e pedagógico. Dispõe ainda de um espaço
designado “Visão dos Líderes”, espaço editorial da responsabilidade do Jornal de
Negócios. No sentido de captar novas audiências e passar as mensagens financeiras de
forma mais apelativa e dinâmica, passou também a incluir concertos musicais e teatro.

Infovalor - Perfil dos visitantes

O visitante da Infovalor é maioritariamente do género masculino, representando o


público feminino cerca de 1/3.

9
Género
Feminino
29%

Masculin
o
71%

Fonte: Infovalor (2010)

Em termos de faixa etária cerca de metade dos visitantes têm entre 18 e 36 anos, sendo
que 88% tem idades iguais ou inferiores a 55 anos, pelo que se pode caracterizar por um
público fundamentalmente em idade activa.

Faixa Etária
3% 1%
<18
9% 17% 18-25
26-30
14%
13% 31-36
37-45
24%
19% 46-55
56-65

Fonte: Infovalor (2010)

No que respeita à actividade profissional os visitantes são sobretudo, empresários,


consultores, quadros médios e superiores e estudantes.

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Actividade Profissional
4% Outros
3%
17% Advogados/Engenheiros/Economistas/M
5%
édicos
5% Estudante
5%
Bancarios
6% 15%
Administradores/Gestores
6%
Consultores
6% 13%
7% Financeiros/Analistas/Auditores/traders/
8%
contabilistas
Tecnicos Superiores

Fonte: Infovalor (2010)

Infovalor - Legitimação e credibilização pública

A legitimação e credibilização do evento passam também por envolver um conjunto de


entidades idóneas e relevantes que de alguma forma “certifiquem” o interesse e
importância do evento, para atingir os fins a que se propõe. Neste sentido, foi
constituída uma Comissão de Honra, órgão consultivo de apoio à organização, que
inclui um conjunto de personalidades e instituições de referência dos mercados
financeiros. Para além destes, é também relevante o apoio e presença de entidades
públicas, quer sobre a forma de patrocínio, quer de presença física. Aqui se enquadram
o Alto Patrocínio do Presidente da República, concedido em 2010 e 2011, a presença de
membros do Governo e de outros órgãos de poder, bem como de representantes de
forças políticas.

Nesta linha, integram a Comissão de Honra, presidida por Manuel Alves Monteiro,
figura prestigiada ligada aos mercados financeiros, entidades de referência como as
seguintes organizações: APS – Associação Portuguesa de Seguradores; AEM –
Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado; ASFAC –
Associação de Instituições de Crédito Especializado, APFIPP- Associação Portuguesas
de Empresas de Gestão de Fundos de Investimentos Pensões e Património; APC –
Associação Portuguessa de Empresas de Corretagem; APAF – Associação Portuguesa
de Analistas Financeiros; Euronext Lisbon; FIR – Fórum de Investor Relations; a
OROC – Ordem dos Revisores Oficiais de Contas e Ordem Economistas.

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Outras das formas de credibilizar e contribuir para a mediatização da Infovalor passou
por atrair para o evento entidades que de alguma forma se pudessem associar e
contribuir para esse desiderato. Na primeira edição, a CMVM – Comissão de Mercado
de Valores Mobiliários associou-se como “Apoio Pedagógico”, tendo tido
representantes seus como oradores em algumas das conferências. A edição de 2010 foi
oficialmente aberta pelo Secretário do Estado do Tesouro e Finanças, Carlos Costa Pina
no mesmo dia em que na Assembleia da Republica era votado um dos Orçamentos do
Estado mais importantes dos últimos anos. Neste mesmo dia, o Presidente do Partido
Social Democrata, Pedro Passos Coelho, líder do então principal partido da oposição e
futuro primeiro-ministro, visitou igualmente a feira e prestou a partir daí declarações à
comunicação social.

Infovalor - Entidades participantes

Ao longo das três edições participaram um total de 62 instituições, entre bancos,


seguradoras, universidades, associações, empresas, plataformas de negociação, gestoras
de fundos e organismos oficiais. O espaço de exposição deu aos visitantes a
possibilidade de contactarem directamente as instituições presentes, recolherem
informação e melhorarem o seu nível de conhecimentos.

Infovalor - Actividades

As actividades desenvolvidas têm em comum a melhoria da educação financeira e a


particularidade de serem todas elas disponibilizadas de forma gratuita para o público,
quer para aquele que fisicamente se desloca ao local do evento, quer para aqueles que
acedem às transmissões “Live2Net” ou posteriormente na Internet.

A promoção do evento e a visibilidade mediática apresentam-se como factores críticos


de sucesso, pelo que o modelo implementado, para além de considerar parcerias com os
media (TV, Rádio, Impressa, Portal Internet) em termos de divulgação publicitária,
inclui na área de exposição uma zona designada “Visão dos Lideres”, espaço editorial
gerido por um órgão de comunicação social de referência, no caso o Jornal de Negócios,
onde são realizadas entrevistas a líderes de instituições, permitindo ao público assistir,
ao vivo no local, vê-las nas transmissões live2net ou lê-las na edição impressa. Os
conteúdos gerados em torno do evento, pelo seu valor notícia, despertam o interesse
editorial dos diferentes media.

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Fonte: Infovalor (2010)

O ciclo de conferências funcionam como iniciativa âncora do evento, de forma a atrair


participantes, através da selecção de temas actuais e interessantes para o publico-alvo,
pela presença de reputados oradores, líderes empresariais e de outras instituições,e
académicos que, através de uma linguagem simples, tentam descodificar aspectos mais
herméticos para o cidadão comum. Nas três edições, foram realizadas um total de 12
conferências e três debates. A moderação das conferências são realizadas por jornalistas
especializados que acompanham de perto os temas abordados.

Os ateliers pedagógicos/workshops, caracterizam-se pelo forte pendor didáctico e


destinam-se a grupos mais reduzidos, até 50 pessoas, tendo sido realizados um total de
38, abordando temas diversos relacionados com a gestão do dinheiro, como é o caso da
“Gestão do Orçamento Familiar para Pais e Filhos”.

A Infovalor dispõe de uma página na internet (www.infovalor.pt) e de presença nas


redes sociais Facebook (www.facebook.com/infovalor) e no Twitter
(http://twitter.com/Infovalor).

De acordo com os dados da organização da Infovalor, «no conjunto das suas 3 edições
o número total de visitantes ultrapassou as 10.000 pessoas, presentes fisicamente no
Pavilhão Atlântico, a que se aliam cerca de 7000 pessoas que acompanharam as
transmissões na internet via Live2net . Para além destas, milhares de pessoas foram

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impactadas pelas campanha de promoção e pela cobertura mediática». (Infovalor,
2011b)

Infovalor - Eventos e Prémios

A apresentação pública à comunicação social e entidades parceiras tem sido uma das
formas de promoção do evento. As parcerias, como foi o caso com a AIESEC para o
Prémio “Leadership Tornement”, divulgado em várias universidades do país, tem sido
outra das apostas. A cerimónia “Ring the Bell” na Euronext Lisbon, assinalando a
segunda edição do Infovalor, foi outra das iniciativas.

Em termos de distinções, a Infovalor foi distinguida, em Janeiro de 2012, como o


“Melhor Evento de Promoção do Mercado de Capitais”, pela NYSE Euronext Lisbon
Awards e integrou a Short list “Comunicação Financeira, Fusões & Aquisições”, dos
Prémios Reputação 2011, da APECOM – Associação Portuguesa das Empresas de
Conselho em Comunicação e Relações Públicas.

Conclusão

A iliteracia financeira, as políticas agressivas de concessão de crédito ao longo de anos


e todo o contexto económico e financeiro enunciado ao longo deste trabalho, traduzem-
se em situações complicadas económica e socialmente para milhares de famílias. São
pessoas destas mesmas famílias ou com elas relacionadas, vivendo estes problemas que
percorrem transversalmente a nossa sociedade e integram as mais diversas
organizações. Estas, são antes de tudo, constituídas por pessoas, logo, esta é uma
problemática que as afecta e tenderá a afectar, independentemente da consciência ou
não deste facto.

Importa assim conhecer e reflectir sobre a consciência desta realidade e de que forma as
organizações se estão a ajustar para fazer face a estas pressões do seu meio ambiente,
nomeadamente, ao nível dos seus programas de comunicação, responsabilidade social,
recursos humanos, entre outros, para darem resposta a esta problemática.

Há algumas organizações que já incorporam nos seus programas de acção, questões


relacionadas com a literacia financeira, especialmente os intermediários financeiros,
mas não deixa de ser curioso observar que começam a emergir outras empresas, por
exemplo do sector da distribuição alimentar, a disponibilizar sites e campanhas em

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torno da poupança e da literacia financeira. Este, apresenta-se na nossa perspectiva
como um interessante campo de investigação a explorar.

Uma iniciativa que através da comunicação e do relacionamento de proximidade, como


o caso da Infovalor, que reúna num mesmo espaço aqueles que procuram captar o
investimento e o aforro em simultâneo com quem procura mais conhecimentos
financeiros e opções de investimento, afigura-se como uma iniciativa oportuna e
necessária que favorece a transparência das organizações. Para além disso, apresenta-se
como pólo dinamizador de interacções que beneficiam o relacionamento entre as
organizações e o público, gerando confiança e contribuindo para a sua reputação,
desenvolvendo igualmente uma dimensão de responsabilidade social.

As motivações das diversas organizações e actividades desenvolvidas são diversas,


embora manifestem uma preocupação comum de contribuírem para a educação
financeira.

Os níveis de literacia financeira dos Portugueses são baixos, como foi evidenciado pelos
estudos citados ao longo deste texto e que importa inverter pelas razões que aqui foram
apontadas e porque o conhecimento é o nosso melhor activo.

Este trabalho permitiu-nos analisar um evento que promove o contacto directo, estimula
as interacções entre as instituições e o cidadão comum, nomeadamente através do
estabelecimento do diálogo directo com os líderes das organizações o que é
praticamente impossível em outras ocasiões.

Em termos de análise e reflexão para linhas de investigação futuras, considera-se


importante analisar os programas específicos de cada organização e as suas motivações,
uma vez que umas dão maior enfoque à vertente de responsabilidade social, outras à sua
vocação formativa, outras a preocupações meramente reputacionais e ainda outras com
objectivos claramente comerciais. Será interessante também, observar até que ponto os
programas de comunicações enquadram estes objectivos, ao seu nível estratégico e
táctico.

Bibliografia
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Outros documentos

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