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Resumo:
A crise financeira mundial com epicentro nos Estados Unidos da América, denominada
como crise do “subprime”, crédito hipotecário de alto risco, veio mostrar que a “aldeia
global” proclamada por Marshall Mcluhan é há muito tempo uma realidade ao nível dos
mercados financeiros. Esta, com repercussões a nível planetário, afectou a confiança nos
mercados e nas instituições, evidenciando simultaneamente, o elevado nível de iliteracia
financeira por parte dos cidadãos. Quando se pensava que o pior tinha passado, eis que
emerge a designada crise das dívidas soberanas e o consequente risco de falências dos
países. A pressão dos mercados obrigou a que países, entre os quais Portugal, tivessem
que ser “resgatados”. Estas situações tiveram inevitavelmente repercussões na vida das
pessoas, nos seus hábitos de consumo, condicionados por políticas de austeridade,
cortes salariais e forte aumento do desemprego. Neste sentido e através de uma visão
sistémica das organizações, propomo-nos analisar um conjunto de acções realizadas por
entidades públicas e privadas na Infovalor, o maior evento nacional para a promoção da
poupança e da literacia financeira, bem como o seu impacto no espaço público, no
sentido de restaurar a confiança e de contribuírem para uma melhor literacia financeira
dos seus diferentes públicos.
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Introdução
Toda a situação financeira vivida nos últimos anos, com especial ênfase a partir da
denominada crise do subprime que levou, entre outros, à falência do Lehmann Brothers
nos Estados Unidos da América, provocou uma escalada global, transformando uma
crise financeira, também numa crise económica. Em consequência, os mercados
financeiros, bem como a economia mundial, sofreram uma quebra abrupta, com
repercussões inevitáveis ao nível da confiança dos mercados e seus agentes. Esta
situação, associada a toda a instabilidade sentida mais recentemente, provocada pela
crise das dívidas soberanas, teve inevitáveis consequências no sistema financeiro.
Além dos “efeitos da crise” anteriormente enunciados, há ainda uma série de tendências
tangíveis que sustentam o crescimento do interesse global da literacia financeira como
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um conhecimento chave e que podem ser sintetizadas da seguinte forma (OCDE/PISA,
2012 pp. 7-8):
- Mudança de risco, com a transferência generalizada de risco de governos e
empregadores para os indivíduos, muitos governos estão a reduzir, ou já reduziram, as
pensões suportadas pelo Estado, bem como os benefícios na saúde;
- Aumento da responsabilidade individual, as mudanças no mercado e na economia
levam a que o número de decisões financeiras que os indivíduos têm de tomar
aumentem, por exemplo, uma maior esperança de vida implica que os indivíduos
precisem de acumular também, mais poupança;
- Aumento da oferta de uma vasta gama de produtos e serviços financeiros, assiste-
se a um crescente número de consumidores com acesso a uma vasta gama de produtos e
serviços financeiros, a partir de uma variedade de fornecedores e entregue através de
vários canais. Os produtos disponíveis são também mais complexos e os indivíduos são
obrigados a fazer comparações entre uma série de factores;
- Aumento da procura por produtos e serviços financeiros, o desenvolvimento
económico e tecnológico trouxeram maior conectividade global e mudanças maciças
nas comunicações e transacções financeiras, bem como nas interacções sociais e no
comportamento do consumidor. Tais mudanças tornaram mais importante a capacidade
dos indivíduos interagirem com prestadores de serviços financeiros.
O conjunto de implicações que resultaram desta situação de crise, que parece viver-se
de forma quase permanente, vieram evidenciar a falta de preparação de muitos agentes
do mercado e sobretudo a iliteracia financeira dos investidores/aforradores particulares.
Mas esta situação não afecta apenas o cidadão comum mas também os próprios
profissionais que trabalham em instituições de intermediação financeira. A sofisticação,
quantidade e rapidez com que são lançados novos produtos financeiros, a forte
concorrência dos mercados e a pressão interna junto dos trabalhadores para atingirem os
objectivos comerciais, são também factores que devem ser considerados, uma vez que o
tempo útil disponível para se actualizarem, para conhecerem em pormenor os produtos
que comercializavam e as suas especificidades, não terá sido suficiente. Esta situação é
tanto mais significativa quanto os resultados do “Inquérito à Literacia Financeira dos
Portugueses” (Banco de Portugal, 2010), em que «apenas 8% dos entrevistados apontam
a comparação entre vários produtos bancários como a principal razão para a escolha
realizada. A razão mais comum é o conselho obtido ao balcão».
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Tendo presente a visão sistémica das organizações, em que estas são influenciadas pelo
seu meio ambiente e obrigadas a ajustarem-se em função das pressões sofridas e
sabendo que as organizações são pessoas, importa perceber como as organizações estão
a reagir, nomeadamente ao nível da sua comunicação organizacional e no
relacionamento com os seus públicos.
Confiança e transparência
A crise que afectou os mercados financeiros abalou a confiança dos próprios mercados e
de muitos sectores de actividades e organizações. Assistimos actualmente a um esforço
colectivo desenvolvido pelos mais diversos actores dos mercados financeiros no sentido
de restaurarem a confiança, que se tornou «uma preocupação primordial para a
liderança empresarial em torno do globo. Ela foi identificada como um factor chave de
sucesso na liderança e gestão. Por outro lado, a falta de confiança num negócio é visto
como uma fragilidade vital». (Public Relations Coalition, 2003 p. 3). Para restaurar a
confiança nas empresas a Public Relations Coaliation definiu os primeiros passos, que
assentam em 3 conceitos fundamentais:
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Confiança e reputação apresentam-se assim numa relação íntima, que poderemos quase
afirmar de causa-efeito, porque é com base na confiança que a reputação se desenvolve.
Esta, segundo Davies (2006 pp. 161-162), «é dada pelos outros, e convida a uma
relação continuada», considerando ainda o mesmo autor que a reputação «tem por base
as relações entre as pessoas e as entidades e que os comportamentos são a moeda que a
sustenta».
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informação mais acessível a todos e em igualdade de oportunidade» (Quintela, 2006 p.
57).
As organizações são então sistemas que estão sujeitos a pressões constantes do seu meio
ambiente que as obrigam a adaptarem-se no sentido de alcançarem os objectivos
definidos, dependendo esta sua capacidade, da sua própria relação com o meio
ambiente. Este é um processo dinâmico, de mudança contínua pelo que a análise de
tendências que possam vir a ter impacto sobre as organizações se torna fundamental.
Esta situação sugere a necessidade de um sistema prospectivo para as Relações
Públicas. Este aplica-se «porque se estabelece e se mantém um relacionamento
mutuamente dependente entre as organizações e os seus públicos» (Cutlip, et al., 1999
p. 228).
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A globalização da comunicação e da economia têm provocado um conjunto de
alterações ao nível das mais diversas organizações. A actividade das organizações é
desenvolvida numa economia global «cujas componentes nucleares têm a capacidade
institucional, organizacional e tecnológica para trabalharem como uma unidade em
tempo real ou num tempo convencionado, a uma escala planetária» (Castells, 2002 p.
124). A pressão económica e financeira que se vai sentindo à escala global poderá
eventualmente colocar uma ênfase maior nas relações públicas enquanto função de
gestão que de acordo com Grunig e Hunt (1984 p. 9), são parte do subsistema de gestão,
suportam outros subsistemas da organização, ajudando-os a comunicar com os públicos
externos e internamente na organização com outros subsistemas.
Nesta linha, as Relações Públicas, enquanto «função de gestão que visa estabelecer e
manter um relação mutuamente benéfica entre a organização e os seus públicos, de cujo
sucesso ou fracasso dependem (Cutlip, et al., 1999 p. 6), podem dar um importante
contributo, nomeadamente na dinamização das interacções entre as diversas partes
interessadas, promovendo a sua aproximação e o desenvolvimento de um clima que
favoreça um diálogo mais estreito.
Literacia financeira
A literacia financeira está cada vez mais na ordem do dia, surgindo em programas das
mais diversas organizações. A importância da cultura financeira é sublinhada pela
OCDE que considera que os seus benefícios não se restringem só aos indivíduos; é
igualmente importante para a estabilidade económica e financeira porque considera que
«financeiramente alfabetizados os consumidores podem tomar decisões mais
informadas e exigir serviços de maior qualidade, o que vai incentivar a concorrência e
a inovação no mercado. Eles também são menos propensos a reagir às condições do
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mercado de maneira imprevisível, menos propensos a fazer denúncias infundadas e
mais propensos a tomar medidas adequadas para gerir os riscos transferidos para
eles», considerando ainda que no seu conjunto, «levam a um sector de serviços
financeiros mais eficiente e potencialmente menos onerosos os custos financeiros e as
exigências regulatórias e de supervisão. Eles também podem vir a ajudar na redução
da ajuda do governo (e impostos) destinada a ajudar aqueles que tomaram decisões
financeiras imprudentes - ou a não tomar decisão nenhuma» (OCDE/PISA, 2012 p.8).
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despesas e escolha de serviços e produtos financeiros adequados, passando pela
aplicação das poupanças e o recurso ao crédito».
O que é a Infovalor?
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Género
Feminino
29%
Masculin
o
71%
Em termos de faixa etária cerca de metade dos visitantes têm entre 18 e 36 anos, sendo
que 88% tem idades iguais ou inferiores a 55 anos, pelo que se pode caracterizar por um
público fundamentalmente em idade activa.
Faixa Etária
3% 1%
<18
9% 17% 18-25
26-30
14%
13% 31-36
37-45
24%
19% 46-55
56-65
10
Actividade Profissional
4% Outros
3%
17% Advogados/Engenheiros/Economistas/M
5%
édicos
5% Estudante
5%
Bancarios
6% 15%
Administradores/Gestores
6%
Consultores
6% 13%
7% Financeiros/Analistas/Auditores/traders/
8%
contabilistas
Tecnicos Superiores
Nesta linha, integram a Comissão de Honra, presidida por Manuel Alves Monteiro,
figura prestigiada ligada aos mercados financeiros, entidades de referência como as
seguintes organizações: APS – Associação Portuguesa de Seguradores; AEM –
Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado; ASFAC –
Associação de Instituições de Crédito Especializado, APFIPP- Associação Portuguesas
de Empresas de Gestão de Fundos de Investimentos Pensões e Património; APC –
Associação Portuguessa de Empresas de Corretagem; APAF – Associação Portuguesa
de Analistas Financeiros; Euronext Lisbon; FIR – Fórum de Investor Relations; a
OROC – Ordem dos Revisores Oficiais de Contas e Ordem Economistas.
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Outras das formas de credibilizar e contribuir para a mediatização da Infovalor passou
por atrair para o evento entidades que de alguma forma se pudessem associar e
contribuir para esse desiderato. Na primeira edição, a CMVM – Comissão de Mercado
de Valores Mobiliários associou-se como “Apoio Pedagógico”, tendo tido
representantes seus como oradores em algumas das conferências. A edição de 2010 foi
oficialmente aberta pelo Secretário do Estado do Tesouro e Finanças, Carlos Costa Pina
no mesmo dia em que na Assembleia da Republica era votado um dos Orçamentos do
Estado mais importantes dos últimos anos. Neste mesmo dia, o Presidente do Partido
Social Democrata, Pedro Passos Coelho, líder do então principal partido da oposição e
futuro primeiro-ministro, visitou igualmente a feira e prestou a partir daí declarações à
comunicação social.
Infovalor - Actividades
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Fonte: Infovalor (2010)
De acordo com os dados da organização da Infovalor, «no conjunto das suas 3 edições
o número total de visitantes ultrapassou as 10.000 pessoas, presentes fisicamente no
Pavilhão Atlântico, a que se aliam cerca de 7000 pessoas que acompanharam as
transmissões na internet via Live2net . Para além destas, milhares de pessoas foram
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impactadas pelas campanha de promoção e pela cobertura mediática». (Infovalor,
2011b)
A apresentação pública à comunicação social e entidades parceiras tem sido uma das
formas de promoção do evento. As parcerias, como foi o caso com a AIESEC para o
Prémio “Leadership Tornement”, divulgado em várias universidades do país, tem sido
outra das apostas. A cerimónia “Ring the Bell” na Euronext Lisbon, assinalando a
segunda edição do Infovalor, foi outra das iniciativas.
Conclusão
Importa assim conhecer e reflectir sobre a consciência desta realidade e de que forma as
organizações se estão a ajustar para fazer face a estas pressões do seu meio ambiente,
nomeadamente, ao nível dos seus programas de comunicação, responsabilidade social,
recursos humanos, entre outros, para darem resposta a esta problemática.
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torno da poupança e da literacia financeira. Este, apresenta-se na nossa perspectiva
como um interessante campo de investigação a explorar.
Os níveis de literacia financeira dos Portugueses são baixos, como foi evidenciado pelos
estudos citados ao longo deste texto e que importa inverter pelas razões que aqui foram
apontadas e porque o conhecimento é o nosso melhor activo.
Este trabalho permitiu-nos analisar um evento que promove o contacto directo, estimula
as interacções entre as instituições e o cidadão comum, nomeadamente através do
estabelecimento do diálogo directo com os líderes das organizações o que é
praticamente impossível em outras ocasiões.
Bibliografia
CASTELLS, Manuel (2002). A Sociedade em Rede. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
CUTLIP, Scott M.; CENTER, Allen H e BROOM, Glen M. (1999). Effective Public
Relations. 8ª edição. New York : Prentice Hall International, Inc.
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DAVIES, Adrian (2006). Corporate Governance: Boas Práticas de Governo das
Sociedades. Lisboa: Monitor.
Webgrafia
BANCO DE PORTUGAL(2010). Inquérito à literacia Financeira à população
Portuguesa in http://clientebancario.bportugal.pt/pt-
PT/Noticias/Documents/Sessão%20de%20Apresentacão%20do%20Inquérito%20à%20
Literacia%20Financeira.pdf.
OCDE( 2009). OECD Project on Financial Education and its International Network on
Financial Education in http://www.oecd.org/dataoecd/8/28/44409678.pdf.
Outros documentos
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Infovalor(2010). Apresentação 2010.Lisboa:s.n.
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