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PERCA O MEDO DE FALAR

EM PÚBLICO

Este livro contém dois capítulos do livro:


O PODER DA ORATÓRIA: A ARTE DE SE EXPRESSAR,
CONVENCER E LIDERAR, que contém mais de 200 páginas.
Veja o sumário geral no fim deste PDF.

MIZAEL DE SOUZA XAVIER

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS:


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autorização assinada pelo autor, Mizael de Souza Xavier. A violação
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indenizações diversas (art. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19/02/1998,
Lei dos Direitos Autorais. Publicado na Amazon com o título: O
PODER DA ORATÓRIA. Código ASIN: B0BBH4P2GF).

Distribuição gratuita
Venda proibida

5S EDITORA
PARNAMIRIM/RN – 2023
INTRODUÇÃO
Se você iniciou a leitura deste livro, pode ser que você já tenha
passado pela seguinte situação na escola: o professor pediu que a
classe se reunisse em grupos e depois deu um tema que os grupos
deveriam estudar e montar um seminário para apresentação em sala
de aula. A primeira coisa que você e outros colegas do grupo
pensaram foi: “Quem vai falar lá na frente?”. De repente, a questão
foi levantada e todos se entreolharam apreensivos, procurando pelo
colega menos tímido, aquele que geralmente é extrovertido e não
tem vergonha de nada. O pensamento inconsciente é: “Vamos nos
esconder detrás dele”. Mas enquanto você pensa nisso, o professor
interrompe e anuncia: “Todos terão que participar. Eu darei a nota
não somente pela qualidade do trabalho, mas pela participação de
todo o grupo na apresentação”. Foi aí que você gelou, seu coração
acelerou e o seu corpo começou a tremer. Ir até à frente da classe e
se expor já seria um desafio, como escalar descalço e nu o Monte
Everest, falar então, impensável. Durante toda a consecução do
trabalho, você trava uma guerra consigo mesmo: “Quem sabe daqui
até o dia da apresentação o mundo acaba, a escola pega fogo, um
buraco se abre no chão e eu desapareço”. Mas nada disso acontece e
você se vê ali, na frente de todos, com uma folha de papel nas mãos.
Seu corpo alcança dez pontos na escala Richter, você sua como se
pudesse encher o mar. As palavras saem tão espremidas que se o
mundo inteiro se calasse, ainda assim ninguém jamais poderia ouvir
a sua voz. Os seus cinco minutos de fala transcorrem como uma
eternidade.
A boa notícia é que esse tipo de situação não é exclusividade
sua, mas a grande maioria das pessoas passou ou ainda passa por
isso. Eu fui uma dessas pessoas durante longos anos. Um dos nossos
maiores medos é falar em público. Isto pode ser constatado nas
reuniões sociais onde somos convocados constantemente para dar as
nossas opiniões sobre diversos assuntos, a nos explicar com relação a
algo ou simplesmente participar de uma conversa entre familiares ou
amigos. Nem sempre paramos para imaginar que a comunicação
interpessoal, a capacidade de falar e de se expressar em público
começa dentro de casa, com a nossa família, na relação entre pais e
filhos. Damos e recebemos conselhos, dialogamos sobre diversos
temas, expressamos a nossa opinião sobre times de futebol, filmes,
novelas, partidos políticos. É neste ambiente que se desenvolve a
nossa autoconfiança, onde podemos nos expressar como realmente
somos e desenvolver nossas habilidades comunicativas. Não ter
espaço ou não conseguir se expressar em casa pode nos causar
problemas lá fora, inclusive o medo.
Muitos relutam em se expressar ou se limitam a frases curtas e
inexpressivas. Existem ainda aqueles que, num grupo reduzido e
informal, conseguem se expressar, colocar as suas ideias, debater e
até mesmo convencer as pessoas do seu ponto de vista, mas que
diante de uma plateia travam e não conseguem organizar as suas
ideias ou, às vezes, nem abrir a boca. Em muitos casos, o problema
não é a plateia em si, mas quem está nela: o chefe no trabalho, o
professor na sala de aula, uma autoridade pública ou qualquer outra
pessoa que traga insegurança. O problema é que não podemos nos
esconder, ficar calados quando alguém espera que digamos alguma
coisa, porque isso pode significar a perda de um emprego ou uma
promoção, a perda da chance de nos defendermos ou de
convencermos alguém de algo muito importante e uma nota baixa no
trabalho da escola. Aqui aprenderemos quantos problemas existem
no perigo de não nos comunicarmos e a melhor maneira de evitá-los.
Falar em público parece não ser para muitos, mas para um
grupo seleto de pessoas que desenvolvem naturalmente as
habilidades necessárias para se colocarem diante de um público para
fazer um discurso, pessoas que possuem o dom da oratória. Mas isto
não é verdade. Desde os primeiros anos do colégio, somos chamados
a participar de trabalhos que exigem que nos coloquemos diante de
nossos colegas para falar. Nas reuniões de família, sentimo-nos à
vontade para recusar um convite para fazer um discurso ou ler
alguma mensagem; mas na escola, faculdade, na empresa em que
trabalhamos, no cargo de liderança ou de gerência nem sempre
podemos fazer isso, ou nunca podemos. O grupo depende da nossa
participação e o tamanho da nota pode depender do nosso
desempenho. O diretor da empresa espera ouvir sobre projetos e
resultados. Os liderados esperam por nossa palavra chamando-os à
ação. Então, nós nos vemos obrigados a enfrentar nosso medo, a nos
colocar diante de diversos olhares para nos revelar, falar e
participar.
Existem profissões em que falar em público é uma exigência,
como os professores, os líderes religiosos, os gerentes de empresas,
os políticos, os atores, os apresentadores, por exemplo. Não há como
fugir. Isto não quer dizer que todos os professores e todos os
políticos nasçam com uma capacidade nata para falar em público.
Alguns com certeza, mas a grande maioria desenvolve-a com o
passar do tempo. Esperar chegar o momento de enfrentar uma
plateia para desenvolver essa habilidade não parece ser uma opção
muito segura; seria o mesmo que aprender a desmontar uma bomba
sem jamais ter se preparado. É certo que a repetição aprimora o
desenvolvimento das nossas habilidades, mas elas se tornam ainda
melhores quando são sistematicamente treinadas. Se sabemos que
deveremos nos apresentar em público e reconhecemos a nossa
dificuldade em nos comportar assertivamente no palco, em nos
mostrar, em falar, por que não desenvolvermos isso antes? Nós nos
preparamos intensamente para tantas coisas na vida, seja no
trabalho, no esporte, nas artes ou em qualquer outra área, por que
não nos preparamos, também, para falar em público? Foi
respondendo a essa pergunta que decidi empreender este estudo.
Durante meus estudos na faculdade de Gestão de Recursos
Humanos, pude-me ver sobressaindo durante as apresentações de
trabalhos. Sempre fui muito aplaudido e elogiado pelo meu
desempenho, de maneira que as pessoas sempre me aconselharam a
investir na área de treinamento de pessoas. O que muitos poucos
imaginam é que as coisas nem sempre foram assim. Como revelo no
meu livro Memórias do silêncio: relatos e reflexões de uma ex-vítima
do bullying1, sempre tive uma dificuldade tremenda de falar em
público, de expressar as minhas ideias e me comunicar com as
pessoas. Não era somente a vergonha, a timidez, mas o fato de
jamais ter tido a chance de me expressar, de compartilhar algo com
alguém, principalmente uma plateia com muitas pessoas. Isto só veio
mudar quando me converti a Jesus e comecei a participar de uma
igreja onde as pessoas pediam a minha opinião e esperavam
atentamente para ouvi-la, e também quando comecei a fazer teatro.
Quando tive a oportunidade de falar, abracei-a. Você também pode!
O teatro possibilitou o desenvolvimento de habilidades que eu
nem imaginava possuir: representar um personagem, falar diante do
público, interagir com as pessoas, expor o meu eu. Em cada curso e
peça que participava, essas habilidades eram desenvolvidas. A partir
da minha participação no teatro, onde também atuei como professor
e diretor, desenvolvi as habilidades que hoje me permitem falar em
público diante de uma sala de aula, de uma plateia, de uma igreja ou
das câmeras. Embora ainda possa sentir aquele firo na barriga
quando sou convocado para falar, não me sinto apavorado e no fim
tudo transcorre normalmente. Às vezes, começo tremendo e minutos
depois já estou totalmente a vontade. Isso mostra que não nasci com
uma habilidade nata, com o “dom da oratória”, mas que desenvolvi
com o tempo este talento e creio que ainda não estou nem na metade
do meu aprendizado. Como o teatro me ajudou bastante, durante
este livro você verá muitas referências a técnicas de teatro,
principalmente citações do ator e diretor de teatro russo, Constantin
Stanislavski (1863-1938), do qual sou grande admirador.
Foi na faculdade, em 2013, observando a dificuldade que a
grande maioria dos meus colegas tinham de falar em público que
decidi escrever este livro. A ideia inicial era montar uma apostila
para um workshop, mas logo percebi que dali sairia algo mais. A
ideia que lhes apresentei envolve três ações: treinar, treinar e
treinar. Somente o treinamento constante poderia lhes garantir êxito
nas apresentações e melhores notas nos trabalhos. Além disso, como
gestores de pessoas, desenvolver a habilidade da comunicação em
público era essencial ao sucesso da nossa carreira. Se falar em
público é algo que seria pedido de nós constantemente, nada mais
coerente que investirmos no preparo. Aqueles que não se preparam,
1 À venda na Amazon em formato de livro digital.
contam com a sorte. O sucesso, porém, é para quem se preparou. É
isto que acontece no esporte profissional: nenhum time entra em
campo e nenhum atleta enfrenta uma competição contando com a
sorte, mas eles se preparam, e muito!
É este o objetivo deste estudo: fornecer meios para que você
esteja preparado para enfrentar o público sem contar com a sorte.
Esperar pela sorte é dar um tiro no escuro. O orador, para ser eficaz
em seu discurso, precisa de constante preparação, de treinamento,
de estudo, de leitura. Não se pode chegar diante de uma plateia à
espera de um insight, isto é desrespeitar aqueles que se dispuseram
a nos ouvir e ao próprio professor ou contratante da palestra. Um
bom orador precisa ser profissional, precisa estar disposto a investir
tempo e esforços na sua capacitação, para que desenvolva
previamente as habilidades que precisará em suas apresentações. O
estudo da arte de falar em público não somente lhe acrescenta algo,
como também tira: o medo, a baixa autoestima, a insegurança, a
timidez. Por mais tímido e inseguro que um orador possa ser no
início da sua caminhada, os passos dados com treinamento e prática
lapidarão sua personalidade e lhe darão o talento de quE ele
necessita para se sair sempre bem. Se você está lendo este livro,
pode ter certeza de que o seu primeiro passo já foi dado.
APRENDER A ESCUTAR:
O PRIMEIRO DESAFIO
Este é um livro de oratória, ou seja: a arte de falar em público. Se
você o adquiriu, é provável que tenha problemas nesta área e quer
desenvolver suas habilidades de comunicação ou já possui essas
habilidades e anseia por aprender mais um pouco. Em suma: você
quer aprender a falar. Gostaria de comentar uma citação que li na
Internet assinada por Rubem Alves, teólogo e educador falecido em
2014. Como na Internet as pessoas escrevem o que querem e
colocam como autor que elas bem entendem, não posso precisar que
esta citação seja verdadeiramente de Rubem Alves. Ela diz assim:
“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado
curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém
quer aprender a ouvir”. Como professor de oratória e autor de um
livro sobre o tema, certamente essas palavras me chamaram muito a
atenção. Como não poderia deixar de ser, fiz um comentário.
Em grande parte o autor da frase está correto: somos prontos
para falar, mas tardios a escutar. Queremos dar a nossa opinião sem
ouvir a dos outros; queremos impor nossas ideias sem levar em conta
a ideia do outro; queremos expor a nossa versão dos fatos sem
permitir que o outro dê a sua; queremos ter sempre a palavra final.
Esse monólogo é injusto e serve apenas para causar mal-entendidos
e transtornos, guerras e divisões. Seja em casa entre o casal e entre
pais e filhos, seja na escola, na empresa, nas torcidas de futebol, no
namoro, nas amizades ou em qualquer outro lugar ou situação, o
diálogo é imprescindível. E “diálogo” presume-se a atuação de duas
ou mais partes, que falam e escutam simultaneamente, cada um na
sua vez para não haver barulho e desentendimento. A Bíblia se
expressa nestes termos: “Sabeis estas coisas, meus amados irmãos.
Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio
para se irar” (Tiago 1:19). Saber escutar pode evitar inúmeros
problemas de relacionamento.
Imagine, porém, esta situação: todos os governantes do mundo
inteiro decidiram que hoje seria o “Dia Mundial da Escuta”, onde
todos os seres humanos no planeta Terra, numa determinada hora do
dia, parariam de falar e começariam a ouvir, em homenagem à
necessidade de escutarmos uns aos outros em prol da paz mundial. O
que você acha que aconteceria? Eu lhe digo: nada, porque todos
estariam escutando. Mas escutando o quê, se não teria ninguém
falando? Eu só posso escutar alguém, dar ouvidos ao que ele diz, se
ele o disser. Caso fique calado, posso no máximo tentar traduzir as
suas expressões corporais ou adivinhar seus pensamentos, o que é
improvável. Esta citação atribuída a Rubem Alves, na realidade, não
traduz toda a verdade, mas se atém a apenas um lado da história e
despreza o outro, ao menos ma mente do leitor que não se preocupou
em pensar sobre isso.
Ambos são importantes: falar e ouvir. Não vivemos sem
nenhum dos dois. Se existe o problema da má vontade que temos em
escutar o que as pessoas dizem, existe o problema de muitas pessoas
que se privam de falar porque não sabem como fazê-lo. Quantas
vezes o professor deseja ouvir o aluno falar durante a apresentação
de um trabalho, mas este trava, não consegue pronunciar uma só
palavra. Para ouvirmos, alguém precisa falar e se este alguém tem
dificuldades em falar, precisamos ajudá-lo, assim teremos muito mais
para escutar. Então é este o objetivo deste livro: ajudar você a falar
para que possamos escutá-lo e compreendê-lo; para que você consiga
expressar de maneira clara e correta o seu eu, as suas ideias. Este é
o momento de você me escutar – ou ler. Em breve, será você quem
estará falando, discursando, e muitos o ouvirão. Não podemos
colocar o ato de falar em um nível inferior ao ato de ouvir, pois a
comunicação depende de ambos: se não houver quem fale, nada
haverá para ser ouvido; se não houver quem escute, o que se fala é
de todo perdido.

A importância da escuta na arte de falar

Antes de você sair por aí falando, é preciso sair por aí


escutando. Por que escutar é tão importante? Você deverá concordar
comigo que precisamos nos ater à parte correta da citação de Rubem
Alves: ninguém quer aprender a ouvir. Como assim, ouvir não é uma
ação natural? Sim, principalmente se você não tiver problemas
auditivos. Então, por que precisamos aprender? Porque não devemos
ouvir as pessoas como se ouve o som do vento ou as buzinas dos
carros na hora do rush. Ouvir requer muito mais que apreender sons
através do sistema auditivo. E a razão para colocarmos a importância
da escuta no início de um livro sobre oratória é simples: se você não
souber escutar as pessoas, não terá muitas coisas importantes para
compartilhar com elas. Como montar um discurso para ajudar uma
comunidade a solucionar os seus problemas – e isto vale bastante
para os políticos – se não houver diálogo com a comunidade, se não
ouvirmos as suas queixas, seus sonhos, seus planos? Se você não for
capaz de aprender a escutar – o que pode envolver até mesmo
quebra de orgulho – você também não está apto a falar. Vivemos
numa democracia: quem fala, deve também escutar; quem é
escutado, deve também falar. Você pode pular para o próximo
capítulo, mas aconselho que permaneça aqui por enquanto. Escute
(leia) o que tenho para falar.
Tenho sobre a minha mesa sete livros de sete autores
diferentes que falam sobre oratória; nenhum deles fala sobre a
importância da escuta no processo de formação do orador. Todavia,
conscientes da importância da “escutatória” para a oratória, vamos
aprender, juntos, a nos tornarmos escutadores profissionais.
Comecemos definindo dois termos que serão utilizados: ouvir e
escutar. De acordo com Silveira Bueno (2009), as definições são as
seguintes:

Escutar: ouvir com atenção; dar ouvidos.


Ouvir: escutar; perceber um som; tomar um depoimento.

Embora nos pareçam idênticas, há uma grande diferença entre


essas duas ações. Enquanto você lê este livro, automaticamente seus
ouvidos captam os sons do ambiente. Eu, geralmente, leio durante
viagens de ônibus em meio a dezenas de estímulos auditivos. Esses
sons nada querem dizer para você, a não ser que você passe a
prestar atenção neles, isto é, perceba-os e se deixe envolver por eles.
Quando faz isso, você percebe cada particularidade dos sons, define
os tipos de sons que lhe vêm aos ouvidos: o vento, os carros, pessoas
conversando, cachorros latindo, uma música tocando, pássaros
cantando. Então você pode escolher um desses sons para dar uma
atenção maior, como a música, por exemplo. De repente é uma
música romântica que traz boas lembranças de um amor antigo; ou
uma fofoca entre duas pessoas que você passa a acompanhar com
atenta curiosidade. Você parou de ouvir e passou a escutar. Qual
dessas duas ações requereu uma atitude consciente? Em qual delas
você necessitou de atenção? Qual mobilizou seus sentimentos, seu
raciocínio, suas lembranças? O que realmente é construtivo e pode
servir ao seu desenvolvimento: ouvir ou escutar?
Estamos mais acostumados a ouvir que escutar. Isso acontece
muito na relação entre pais e filhos: o pai passa um sermão no filho e
o filho apenas ouve, não escuta; o mesmo ocorre com muitos
conselhos, eles são apenas ouvidos, mas não escutados. Nas relações
entre marido e esposa, patrão e empregado, amigos, namorados,
nações e religiões também ocorre o mesmo: as pessoas param para
ouvir o que o outro diz, mas não o escutam, não levam em conta
aquilo que foi dito. Desta forma, não se posicionam, não se deixam
influenciar, não baixam a guarda, não aprendem coisa alguma e não
abrem mão de posições mesquinhas e preconceituosas. Se você quer
ser um grande orador, se você deseja influenciar as pessoas através
dos seus discursos, das suas palestras e dos seus argumentos deve
aprender, primeiramente, a escutá-las. Mais adiante, aprenderemos
que, quando o orador se dirige a determinada plateia, deve levar em
conta o conhecimento que as pessoas ali presentes já possuem, sua
história de vida, suas reais necessidades. Como faremos isso se não
as escutarmos? Ditadores sobem à tribuna para impor suas leis sem
se importar com o que o povo pensa. Você não deve ser assim.
ORATÓRIA: ARTE
E DESAFIO
A oratória é a arte de falar em público. O grande ator e diretor de
teatro russo, Constantin Stanislavski (1998, p. 61), escreveu: “A
essência da arte não está nas suas formas exteriores, mas no seu
conteúdo espiritual”. Toda arte surge de dentro e é transportada
para o mundo exterior das mais diversas formas: teatro, música,
dança, artes plásticas, cinema, entre tantas outras. Como arte, a
oratória é um acontecimento interno que se transporta para a nossa
realidade externa, onde temos a oportunidade de dar às pessoas um
pouco de nós mesmos. Essa nobre arte de falar em público requer o
mesmo cuidado e preparo que toda arte merece. Esses cuidados se
iniciam no espírito daquele que fala, onde deve haver verdade e
autenticidade. Como veremos, aquilo que é exterior – o discurso –
deve vir carregado de coerência com aquele que discursa, não
somente coerência de pensamentos, como também de atitudes.
Todos nós falamos e nos comunicamos desde os primeiros
instantes em que nos damos conta da nossa existência e da
necessidade de nos comunicarmos quando estamos com fome, com
as fraldas sujas, carentes de atenção ou incomodados com algo.
Durante toda a nossa vida, desde as nossas primeiras palavras, em
todas as ocasiões e situações, somos convocados a nos expressar, a
falar. Como seres humanos, isto é algo comum e essencial para que
possamos conviver com os outros, demonstrar nossas ideias,
expressar nossas inquietações, imprimir nossas impressões,
esclarecer nossas dúvidas, defender nossas teses, dar ordens, fazer
declarações, repassar informações, educar os filhos, liderar equipes,
pregar o Evangelho ou até vender um produto. Falar é algo comum a
todos nós, mesmo àqueles que possuem deficiência verbal, mas que
encontram formas alternativas de expressão. Existiu algum momento
na sua vida em que você não precisou comunicar algo a alguém? Até
mesmo quando dormimos estamos em comunicação com o mundo e
com o mundo dos nossos sonhos.
Já vimos que a comunicação começa no lar. Ela pode moldar a
forma de nos expressarmos em público. Falar em público, porém, não
é tão natural quanto parece. A fala cotidiana nem sempre é
preparada ou organizada, mas flui na medida em que é construída
pelo cérebro e sai da forma como é pensada de maneira instantânea.
Organizamos nossas ideias na mente e respondemos a uma pergunta
segundo aquilo que intuitivamente sabemos, de maneira instintiva.
Quando a nossa mãe nos pegava no flagrante de uma traquinagem,
não tínhamos um discurso pronto para a nossa autodefesa, mas
dizíamos o que nos vinha à mente. Com o tempo, claro, esse discurso
improvisado acabava se tornando a nossa “velha desculpa” já pronta
ou já preparamos uma resposta na ponta da língua para dar. Mas na
oratória, a fala pode não ser improvisada e requer preparação,
estudos, planejamento e organização das ideias. Quando subimos ao
palco ou nos colocamos diante de uma tribuna para dissertar sobre
um tema, espera-se que já estejamos preparados, não apenas para
falar sobre o tema, mas para saber como falar. Esta é a arte da
oratória, estar preparado para falar sobre um assunto estudado de
modo a reter a atenção e convencer as pessoas ou estar sempre
seguro de como proceder diante do público, mesmo quando pegos de
surpresa e somos obrigados a improvisar. Nossa mãe podia fingir
acreditar nas nossas desculpas, mas as pessoas não fingirão
acreditar em discursos vazios e que não produzem resultado algum
para suas vidas, muito menos nos nossos gestos inseguros e
desconexos.
CARACTERÍSTICAS DE
QUEM TEM PROBLEMAS
PARA SE COMUNICAR
A inabilidade na comunicação gera diversos transtornos à vida
humana, desde transtornos pessoais, que podem ser até fisiológicos,
como transtornos de relacionamento e profissionais. Para falar em
público, devemos resolver essa inabilidade, começando por conhecer
quais são os nossos verdadeiros problemas. Como aprendemos no
primeiro capítulo, não saber escutar é um dos grandes problemas da
comunicação humana e um grande obstáculo à arte de falar. Vamos
listar outros problemas e tentar nos achar entre eles.

Inabilidade em escutar. Conforme aprendemos, saber escutar


as pessoas é o primeiro desafio a ser vencido na arte de falar

em público. Muitos problemas de comunicação, como os que


veremos aqui, podem ter a sua raiz na nossa incapacidade de
escutar as pessoas, de entender e aceitar as suas opiniões. Se
só queremos falar e não queremos ouvir, não estamos
cumprindo o processo correto da comunicação interpessoal.
Não podemos ser sempre o emissor, mas devemos ser,
também, o receptor.
Inabilidade interpessoal. A dificuldade na comunicação nos
impede de criar e manter relacionamentos sadios, o que produz

muitos transtornos nos diversos ambientes que frequentamos,


como a autoexclusão social. Eu já passei por isso e o resultado
era uma pessoa que não se relacionava com ninguém, que
ficava a maior parte do tempo calada, com medo e sem se
envolver nas atividades da escola ou da empresa. Este
problema tem duas faces: a inabilidade interpessoal nos traz
problemas de comunicação, ou os problemas de comunicação
nos trazem a inabilidade interpessoal.
Desorganização. A desorganização faz parte da vida de quem
não se comunica. Por estar sempre por fora das coisas, tem

dificuldades em aprender e manter disciplina.


Amadorismo. O amadorismo demonstra a falta de
conhecimento das técnicas de comunicação, de oratória. Como

alguém pretende ser um grande orador se não consegue se


comunicar com as pessoas? Como subir ao palco para
transmitir uma ideia se lá em baixo não conseguimos
pronunciar uma só palavra ou olhar as pessoas nos olhos? É
preciso transformar o amadorismo em excelência.
Falta de planejamento. A comunicação defeituosa pode estar
ligada à falta de planejamento pessoal. Não somente

planejamento do discurso, mas da capacidade de se relacionar.


De uma coisa você pode ter certeza: das muitas vezes que não
sabemos o que dizer é porque, na verdade, nada temos para
falar, não estudamos, não nos preparamos. Relacionar-se com
as pessoas e adquirir conhecimento são dois pilares que
sustentam a arte da oratória. Você não pode abrir mão de
nenhum deles.
Insegurança. Como veremos no decorrer deste estudo, existem
diversas causas para a insegurança, e a falta de planejamento é

uma delas. Imagine que amanhã você deverá apresentar um


trabalho na escola, o resultado das metas deste mês para o
presidente da empresa ou proferir uma palestra sobre algum
tema da atualidade. Você se sentirá seguro se, ainda hoje, não
preparar tudo o que precisa comunicar? Se você não tiver em
mãos dados reais, informações precisas e conhecimentos
abrangentes, não se sentirá seguro em se comunicar. Certo dia
escrevi sobre um tema e pedi que o meu irmão, que possui
maior conhecimento, para avaliar o que escrevi. Sobre uma
informação que coloquei, ele indagou: Que dados estatísticos
você possui para comprovar isso? Eu de fato não possuía.
Ansiedade. A insegurança gera ansiedade, e a ansiedade gera
insegurança. O fato é que o medo de se expor em público nos

torna ansiosos, nos faz tremer, suar, não nos deixa à vontade, e
aí vem o famoso “branco”. Descobrir as causas da ansiedade é
um grande passo para vencê-la.
Conflitos pessoais. Os conflitos pessoais são os grandes
responsáveis pela maior parte da nossa dificuldade em falar em

público: medos, receios, complexos, traumas, preocupações


caseiras e profissionais, baixa autoestima, entre tantos outros.
Muitos problemas não podem ser resolvidos com a leitura
deste livro e necessitam de auxílio profissional, como um
psicólogo.
Conflitos interpessoais. Crises de relacionamento também
interferem no nosso desempenho como comunicadores:

familiar, conjugal, profissional. Se levarmos para a escola ou


para o trabalho os nossos conflitos e permitirmos que eles
comandem as nossas atitudes, falar corretamente e com
desenvoltura se tornará impossível.
Despreparo intelectual. A falta de uma boa oratória pode estar
ligada ao despreparo técnico. Já vimos que não ter o que dizer

interfere na hora de falar. A falta de estudo interfere no


processo criativo. Se formos bastante sinceros, na maioria das
vezes em que fomos apresentar um trabalho na escola e
trememos na base teve como causa o fato de não termos
estudado antes. O orador precisa estudar duas coisas: a arte da
oratória e o conteúdo do que irá apresentar. Em ambos os
casos, a leitura é a lei áurea.
Competitividade. Seja na escola, na empresa, na Igreja ou em
qualquer outro ambiente, a necessidade de autoafirmação, o

estrelismo e a ambição desenfreada pelo sucesso e poder


podem interferir na qualidade do nosso discurso. Se
comunicamos parte de nós quando interagimos com as
pessoas, não irá demorar para elas perceberem nosso orgulho,
nossa arrogância. Mesmo que nosso discurso seja belo e
importante, ele pode se perder completamente.
Inveja. Quando o orador não sabe reconhecer as suas próprias
qualidades, ele acaba invejando as qualidades dos outros.

Muitos oradores parecem não possuir personalidade própria,


mas vivem de tentar imitar as outras pessoas, de tentar ser
iguais a elas. Anderson escreve sobre palestrantes que tentam
imitar outros (2016, p. 37): “Às vezes, eles veem a
apresentação de palestrantes motivadores e tentam copiá-los…
mas só na aparência. O resultado pode ser péssimo: a imitação
incessante de todos os truques conhecidos para manipular a
plateia intelectual e emocionalmente”. É impossível imitar ou
manipular o conteúdo espiritual.
Timidez. A timidez é a soma de diversos fatores pessoais que
fazem com que tenhamos vergonha de nos expor. Pode ser

porque sempre ouvimos as pessoas nos criticarem, ou porque


não gostamos da nossa voz, do nosso corpo, da nossa roupa.
Pode ser que nos sintamos inferiores aos outros porque não
somos como eles ou não possuímos o que eles possuem. A
timidez é prima do medo e deve ser combatida. Felizmente ela
tem remédio.
Medo de julgamento. O incômodo de estar em evidência, faz
com que o orador enxergue as pessoas na plateia como

inimigas, como juízas que estão ali para observar seus erros e
condená-lo por isso. Ele passa a temer as críticas e tem medo
de parecer ridículo. Isto acontece muito no período escolar,
quando o aluno teme ser ridicularizado pelos colegas.
Desmotivação. Todas essas características ou parte delas,
quando presentes na vida do orador, fazem com que ele se

sinta desmotivado, acima de tudo se não tiver o apoio da sua


família e dos seus amigos. Não procurar ajuda é o verdadeiro
erro. Mas se você continua a ler este livro, fico feliz de ver que
está motivado.
Orgulho. O medo do julgamento tem um parentesco próximo
com o orgulho. Quando não reconhecemos nossas limitações e

falhas, e quando não estamos abertos à opinião dos outros ao


nosso respeito, preferimos não nos expor. O maior problema
que o orgulho nos causa é nos estacionar onde estamos e não
permitir que avencemos no nosso desenvolvimento pessoal.
Precisamos admiti-lo para vencê-lo.
Não precisamos temer admitir as nossas limitações, se
quisermos vencê-las, é claro. A boa comunicação faz a diferença
entre alcançar o sucesso ou nos contentarmos com o lugar onde
estamos. Quando sabemos nos comunicar, temos mais escolhas, mais
oportunidades de crescimento na nossa vida pessoal e profissional.
Se você deseja realizar os seus objetivos, precisa assumir a
necessidade da comunicação eficaz como o elo entre você e o seu
sucesso. Se você quer ser líder onde você está, a comunicação deve
ser o seu instrumento, a sua ferramenta. Quando se comunicar não
esqueça: você é a mensagem. Segundo Witt e Fetherling (2011, p.
19): “É impossível separar seu verdadeiro eu das ideias que você
transmite. Não quero dizer apenas que suas ações falam mais alto
que suas palavras, pois isso é óbvio. Quero dizer que a sua
personalidade – quem você é, o que você já fez, o que valoriza –
molda a mensagem que seus ouvintes recebem”. O que você diz deve
estar em sintonia com quem você é. Se você está disposto a vencer
os seus medos, superar os seus traumas e conquistar a habilidade de
falar em público, deve saber muito sobre si mesmo.
O MEDO DE
FALAR EM PÚBLICO

As pessoas que desejam falar em público, mas não conseguem,


sempre se reportam a dois fatores negativos: o medo e o nervosismo,
este último normalmente causado pelo próprio medo. Sobre o
nervosismo, Anderson (2016, p. 58) afirma que devemos usar o
nervosismo a nosso favor, admitindo isso até mesmo para a plateia.
Em geral, as pessoas que nos assistem não nos menosprezarão por
causa disso, mas passarão a torcer por nós e desejarão que tudo
ocorra bem e que a nossa palestra seja um sucesso. O contrário disso
também é verdade: se, mesmo nervosos, não o admitirmos, mas
passarmos a palestra inteira na presunção de que somos perfeitos, a
plateia poderá ser afetada negativamente. Se não somos capazes de
reconhecer as nossas limitações, que autoridade terá tudo aquilo que
dissermos? As pessoas desejam sentir que estão diante de seres
humanos que podem falhar e que também podem acertar. Assim, elas
se sentirão à vontade para admitirem as suas próprias falhas e
motivadas a concertá-las. Mostrar vulnerabilidade, porém, não
significa nos fazer de coitadinhos e incapazes, de lamentar nossas
fraquezas diante do público, porque isso tira a credibilidade de tudo
o que iremos dizer.
Quando distribui um relatório com perguntas aos interessados
de participarem do meu primeiro workshop sobre a arte de falar em
público, esses dois fatores foram os mais mencionados. O que a
maioria dos oradores amadores não entende e que me esforcei por
esclarecer, é que o medo e o nervosismo não são as doenças, mas os
sintomas de algo ainda maior que existe escondido em suas mentes.
Quando descoberta a verdadeira causa dos sintomas, o tratamento se
torna mais eficaz. Porém, existem sintomas dos próprios sintomas,
aquilo que ocorre como consequência deles.
De acordo com Esposito (2011, p. 55, 56), a variedade de
sintomas entre aqueles que têm fobia de falar em público, que
chegam ao auge em cerca de dez minutos de apresentação, são:

palpitações;
coração pulsante e batimento acelerado;

sensação de falta de ar ou sufocamento;


suor;

tremedeira;

dor no peito e desconforto;


náusea e dores abdominais;


sensação de tontura;


desequilíbrio, atordoamento ou desmaio;
sensação de dormência ou formigamento;

sentimentos de irrealidade ou desligamento;


medo de perder o controle ou enlouquecer;


medo de morrer, ondas de calor e calafrios.



Embora essas reações nos pareçam exageradas e seja até


mesmo engraçado imaginar que alguém que fala em público sinta
medo de morrer ou possa desmaiar, tais coisas acontecem com muita
frequência. Antes de sair correndo para a farmácia para comprar um
calmante e dessa forma acabar com a ansiedade e a falta de ar, o
orador iniciante deve se perguntar: O que me causa isso? Qual é a
razão do meu medo? O que tenho ou o que me falta que faz com que
eu me sinta tão desconfortável diante de uma plateia? Erradicando
as causas do medo de falar em público, aos poucos ele desaparecerá,
levando consigo todos os seus sintomas. A libertação do medo,
porém, não ocorre instantaneamente, mas obedece a um processo.
Todo processo tem um início, se você não der início ao processo,
dificilmente conseguirá se libertar do seu medo. Entrar no processo
é uma decisão que você precisa tomar desde já. Você está disposto?
Algo que deve estar patente na sua mente é que sentir medo
não é anormal nem é para os fracos. O medo faz parte da vida de
todos nós e todos sentimos medo de algo, em maior ou menor grau
que as outras pessoas que sentem o mesmo medo que nós. De acordo
com Carnegie (2009), 80% a 90% de todos os estudantes que se
matriculam em cursos de oratória sofrem de nervosismo diante da
assistência no início das aulas dos seus cursos. Uma certa dose de
nervosismo é benéfica, pois nos ajudar a nos prepararmos para
enfrentar os desafios. A grande maioria dos oradores profissionais
treme a cada apresentação, eles se sentem nervosos. Por mais
experimentados que sejam na arte da oratória, o público e o local da
apresentação estarão sempre variando, requerendo novos métodos e
adaptações. O medo começa a desaparecer quando passa a ser
tratado e quando você se permite acostumar-se à arte de falar em
público. No começo tudo é difícil, acima de tudo quando nos falta
incentivo, autoestima, conhecimento e treinamento. Pense bem e
responda: o que o medo de morrer afogado pode fazer por você?
Penso em duas respostas: ele pode levar você a jamais entrar na
água, ou ele pode levar você a aprender a nadar, a estar preparado
para qualquer eventualidade. Então, o que você prefere, jamais falar
ou aprender a falar e estar sempre preparado? Se você prefere a
primeira opção, sugiro nunca andar de barco e evitar qualquer
enchente.
Existem fobias que necessitam do acompanhamento de
especialistas, até que elas sejam identificadas e tratadas, muitas
vezes à base de terapias e medicamentos. Porém, muitos dos nossos
medos partem da nossa incapacidade de enfrentar o desconhecido,
porque não nos achamos capazes ou simplesmente porque não
estamos preparados. Imagine dois alunos no dia da prova de
matemática, com cálculos complicados e complexos. Os dois possuem
o mesmo grau de dificuldade nesta matéria. O primeiro estudou
bastante, mesmo com dificuldade e sente-se mais ou menos
preparado para o que está por vir. O segundo, porém, não estudou
nada, porque não se julgava capaz de aprender. Qual dos dois estará
mais tenso, mais ansioso e mais amedrontado na hora de fazer a
prova? Qual dos dois terá mais chances de êxito?
O medo precisa ser reconhecido e as suas causas, conhecidas.
Aceitar o medo permite que nos deixemos investigar, moldar,
aprimorar, até que ele seja extirpado e possamos nos apresentar em
público sem tremedeiras e palpitações. Isso requer muita força de
vontade e uma autoavaliação sincera e meticulosa. O medo que
sentimos diante das pessoas, dos olhares atentos de uma plateia que
parece nos dissecar com os olhos, pode estar ligado a causas do
passado (ESPOSITO, 2011), como insegurança diante de algo
inesperado e inusitado, a desaprovação dos outros (pais, irmãos,
professores, colegas), a não aceitação e as críticas sofridas, o
descontrole sempre demonstrado diante de situações críticas, a
vergonha por não se sentir suficientemente bom devido à baixa
autoestima, insatisfação dos outros com relação à sua atuação na
escola e na vida. Nem sempre o nosso sentimento de incapacidade e
de impotência é uma ideia nossa, mas foi desenvolvido no nosso
caráter a partir da crença das outras pessoas, dos estereótipos
colocados sobre nós. Crescemos acreditando que somos aqueles
inúteis e imprestáveis que nossos pais, vizinhos e amigos disseram
que éramos. Permitimos que essas informações equivocadas
controlem o nosso comportamento sem jamais pararmos para
pensar: “Ei, espere, eu não sou nada disso!”.
O medo, porém, pode vir de algo um pouco mais simples e que
pode ser trabalhado mais facilmente, sem a ajuda de um especialista
ou medicamentos. Como já temos visto aqui e ainda estudaremos em
outros capítulos, estar preparado, tendo planejado todo o discurso e
treinado antes de subir ao palco, nos dá altos índices de confiança.
Eu sempre fui uma pessoa comandada pelo medo de falar com as
pessoas, como simplesmente perguntar as horas a alguém na rua ou
a localização de um lugar para onde eu deveria ir. Jamais fui
estimulado a falar na minha infância, a expressar as minhas ideias. A
visão que eu sempre cultivei sobre mim mesmo foi que as pessoas
não estão nem um pouco interessadas em ouvir aquilo que eu tenho a
dizer, então não adianta falar. Somente quando abandonei essa visão
equivocada de mim mesmo e passei a acreditar nas minhas ideias e
no meu potencial, foi que me libertei e pude experimentar a
maravilhosa arte de falar em público.
VENCENDO O MEDO
Embora a ansiedade seja algo que possa atrapalhar, ela pode ser
utilizada de maneira construtiva, como fator de estímulo e
entusiasmo (NÓBREGA, 2009, p. 27). Cada pessoa deve descobrir
formas próprias de estimular-se e criar condições internas para
exercitar a criatividade e lidar com a ansiedade. Dormir bem,
alimentar-se corretamente, fazer exercícios, ler bons livros e evitar
cigarro e álcool são apenas algumas práticas que ajudam no
relaxamento, no aumento da capacidade intelectual, na memória e na
diminuição dos índices de ansiedade. Se não podemos nos livrar dos
problemas cotidianos que também causam ansiedade, podemos
mudar a nossa maneira de lidar com eles: de forma proativa e
resiliente. Por mais bem preparado que estejamos, sempre ficaremos
um pouco ansiosos antes de alguma apresentação. A questão é saber
administrar essa ansiedade e não permitir que ela leve embora todo
o nosso preparo. Se a ansiedade prevalecer, pode ser que aconteça o
que acontece quando estudamos longamente para uma prova e no
momento de realizá-la, esquecemos o que havíamos estudado. É
preciso ter calma, paciência e ficar bastante relaxado.
A ansiedade e o medo podem ser melhores tratados tão logo o
indivíduo se dê conta deles e da necessidade de superá-los. Ambos
prejudicam o desempenho do orador, tanto em seu planejamento e
treinamento, quando no momento da exposição. A voz tende a
enfraquecer e o corpo não responde aos estímulos da mente,
deixando a pessoa insegura, nervosa, o que será observado pela
plateia e afetará negativamente na sua apresentação. Andar de um
lado para outro, “dançar”, ficar paralisado, tremer, mascar chicletes,
não olhar as pessoas nos olhos, gesticular demais, não saber onde
“enfiar os braços”, são apenas alguns sintomas de oradores
inseguros e temerosos, e que roubam a cena no momento da
apresentação. Dependendo do tique nervoso que você desenvolva no
momento da sua fala, as pessoas tendem a prestar menos atenção no
conteúdo, gerando até mesmo risadas, o que aumenta ainda mais o
seu desconforto.
Acredite, tudo isso pode ser vencido se você se dispuser a
trabalhar a si mesmo, aperfeiçoar-se constantemente e ter uma boa
dose de amor próprio. Algumas soluções práticas podem ser
implementadas para tratar o medo e a ansiedade e evitar que eles
determinem suas atitudes e paralisem suas ações. Vamos estudar
algumas.
Reconheça o seu medo

Reconhecer o medo como fator positivo do nosso instinto de


sobrevivência, já que nos ajuda em nossa proteção e preservação. No
caso de falar em público, segundo Nóbrega (2009, p. 29), o medo
“trata-se de uma fobia social que se traduz na dificuldade de se
relacionar com as pessoas, de olhar nos olhos do ouvinte, de expor
ideias a superiores etc. Por trás disso tudo, há o medo do julgamento
das pessoas, transtornos fóbicos normalmente decorrentes de
autocrítica muito exagerada”. O medo deve ser tomado como um
fator positivo a impulsionar o orador a preparar-se de maneira
adequada e a desenvolver seu potencial e sua habilidade na
apresentação pessoal. Permita-se, porém, errar. O medo de errar, de
não corresponder às expectativas dos outros acaba realmente
fazendo com que isso aconteça, porque não relaxamos, não somos
misericordiosos conosco. Creio que Deus jamais erra, mas também
creio que os seres humanos erram sempre. E se temos a capacidade
de errar, também temos a capacidade de aprender com os nossos
erros e melhorarmos da próxima vez.
A sua autoconfiança não surgirá de nenhum pensamento
positivo na hora da apresentação, mas no treinamento e no
desenvolvimento da habilidade de falar em público. Recuando, você
nada conseguirá, mas enfrentando o seu medo e se preparando,
alcançará o sucesso. Ainda que durante a apresentação ocorram
alguns deslizes, você não pode retroceder, mas utilizá-los para
melhorar da próxima vez. As pessoas costumam entender tais
deslizes e não dão muita atenção a eles. Mas darão bastante atenção
a um orador medroso, inseguro e despreparado. Você seguiria um
líder que não sabe para onde vai, que não consegue tomar decisões,
que enfraquece diante dos desafios? Até onde você acha que ele iria
te levar?
Conhecer-se, saber suas limitações e dominar seu próprio
medo são atitudes que produzem crescimento e que são o oposto da
resignação e da fuga. O medo só se tornará um problema quando não
for controlado, quando aprisionar o orador e acompanhá-lo
perpetuamente. Muitas pessoas querem se tornar grandes oradoras,
mas não abrem mão de sua personalidade, não querem ser
trabalhadas. Outras sequer tentam, desistem com facilidade e abrem
mão de apresentações que poderiam significar uma boa nota no
trabalho da escola ou da faculdade ou uma promoção na empresa.
Reconheça o seu medo e faça um estudo aprofundado dele. Como eu
disse, quando eu era aluno de escola primária e secundarista,
preferia morrer a ter que falar diante das pessoas. Isso tinha uma
explicação: os meus colegas me menosprezavam, me humilhavam e
eu me sentia algo menor do que nada. Eu simplesmente não
acreditava em mim mesmo, não cria que eu tinha algo a dar e a
acrescentar. Quando me dei conta do meu valor e do valor do meu
conhecimento, pude experimentar uma mudança radical. Ainda sinto
o frio na barriga, mas enfrento a plateia com a ousadia de quem sabe
que tem algo a dizer e a acrescentar.

Tenha atitude

Esta é a palavra-chave: atitude. Seja ousado! Algumas atitudes


muito práticas nos ajudam a vencer o medo de falar em público. Em
primeiro lugar, é preciso abrir mão do narcisismo de não suportar a
crítica dos outros. Muitas pessoas não se expõem publicamente
porque temem ser alvo de piadinhas, de risadas, de comentários
posteriores, pois isso fere o seu ego. Por outro lado, isso pode não ter
a ver com a opinião dos outros, mas com a opinião do próprio
indivíduo acerca de si mesmo. Quer ser e estar perfeito, quer
impressionar e tem medo de não conseguir, de deslizar em alguma
palavra ou esquecer algum dos pontos a serem debatidos.Segundo, é
preciso tempo para que a mente e o organismo se acostumem com as
apresentações públicas. Se esta for uma decisão que dará início ao
desenvolvimento da habilidade oratória, com o tempo e a prática os
fatores internos de medo e ansiedade se estabilizam, trazendo-lhe
amadurecimento e autoconfiança. Mas do contrário, se você não se
conscientizar de que precisa ser “tratado”, jamais conseguirá
alcançar o seu objetivo, que é o de falar corretamente e sem medo
em público.
Algumas técnicas utilizadas pelos atores são bastante úteis,
como a dicção, o controle da respiração, o relaxamento muscular e
mental. Muitos oradores chegam ao momento da apresentação
tensos, e assim se apresentam. Não reservam alguns instantes para
relaxar a musculatura tensa do corpo e aquecer a voz, como os
atores fazem. Sobem frios ao palco e tentam extrair o melhor de si.
Todavia, esse melhor pode aparecer apenas lá na frente, depois de
muito nervosismo e suor. Pode ser que parte da sua mensagem tenha
ficado comprometida até você “tomar embalo”. Não espere que as
coisas aconteçam ou que o medo desapareça por si só. Embora com a
prática constante você acabe adquirindo segurança, esta não precisa
demorar um tempo indefinido.

Desenvolva habilidades

Ter medo de falar em público pode ser nada mais que a certeza
de não estar preparado da forma adequada. As habilidades
desenvolvidas com o treinamento e a prática lhe permitirão não
apenas vencer seu medo e sua ansiedade, mas saber o que fazer
quando os imprevistos surgirem. O certo é que, como orador, você
não poderá dominar o público, a não ser que controle a si mesmo
(NÓBREGA, idem, p. 31). As técnicas e as práticas servem para que
o orador domine a si mesmo e não deixe transparecer ao público a
sua ansiedade e o seu medo. Quanto mais ansioso o orador estiver no
palco, mais ansiosa a plateia irá ficar e o seu interesse na mensagem
aos poucos se vai perdendo. O orador precisa manter a postura e
agir com segurança, mesmo diante das suas falhas. Ficar pedindo
desculpas o tempo inteiro por algo que falou errado ou por uma
informação esquecida, só demonstra despreparo e leva à falta de
credibilidade diante da plateia, que acaba desconfiando que o orador
não se preparou para a palestra, ainda que ele tenha de fato se
preparado e domine o conteúdo.
Se você pretende vencer o medo, este livro é uma ótima
oportunidade para fazê-lo. Não superestime o seu medo, achando
que ele é uma fera sanguinária que não pode ser vencida por um
simples mortal: seja superior a ele. Como fazer isso? Tendo ambições
superiores. Onde você quer chegar? O que pretende conquistar? O
que é preciso fazer? De que forma o medo poderá atrapalhá-lo?
Respondendo a essas perguntas, você saberá que atitudes tomar.
Então, pense antes de comparecer diante do público e de falar;
esteja certo do que vai dizer, controle a sua respiração, controle o
nervosismo. Outra dica muito importante: elimine os vícios da sua
vida, como bebidas, drogas, cigarros, jogos de azar, etc. Eles tiram
de você o seu autocontrole e não permitem que você esteja de pé,
firme, seguro para alcançar os seus objetivos. Você não precisa de
nada disso para ser feliz e para vencer. O que você precisa é estar
consciente e seguro no momento da luta, na hora de enfrentar o
público. Eis uma boa novidade: o público não é seu inimigo, mas o
seu aliado. A não ser, claro, que você vá dar uma palestra à torcida
organizada de um time sobre como torcer pela vitória do time rival.
PLANEJAMENTO E
TREINAMENTO
Nenhum soldado sai para o campo de batalha sem estar preparado,
sem conhecer as estratégias de combate, o terreno e o inimigo que
enfrentará. Ele também não entra em campo sem suas armas, sua
farda, seu capacete. Além disso, existe a preparação interna, a
consciência do que encontrará pelo caminho, as disposições
interiores para segurar a barra e fazer o que tiver que ser feito. Sem
esses pré-requisitos, entrar em combate é assinar a sua própria
sentença de morte. Falar em público não é um combate com risco da
nossa própria vida, mas requer preparação, planejamento e
treinamento. Como “soldados da fala”, devemos conhecer as
estratégias da oratória, os diversos instrumentos – armas – a serem
utilizados para alcançar o sucesso, bem como todo o equipamento
necessário – linguagem verbal e corporal, etc.
A preparação é o que faz a diferença entre o orador
profissional e o amador. A grande maioria dos alunos universitários
não se prepara para a apresentação dos seus trabalhos. Eles
estudam precariamente o tema, preparam apressadamente os slides,
e, na hora de apresentação, leem tudo aquilo que está projetado na
tela, às vezes sem acrescentar qualquer outra informação. O
resultado obtido demonstra a necessidade de planejamento da
apresentação. O mesmo pode acontecer com um profissional de
vendas que não procura conhecer o produto que oferecerá ao seu
cliente nem a melhor forma da vendê-lo. O desenvolvimento das
habilidades oratórias requer tempo, dedicação, disciplina,
persistência. A preparação profissionaliza a fala. Ao se colocar diante
da plateia, o orador poderá repassar informações que qualquer e-
mail repassaria ou poderá falar para convencer, para influenciar,
para estimular o público a agir, a mudar de pensamentos e atitudes,
ou ao menos questionar-se. O orador não pode ser uma placa ou um
outdoor: a sua apresentação precisa ter vida.

Planejamento

Existem duas fases do planejamento: a primeira é planejar o


conteúdo que será transmitido; a segunda é planejar a forma como
ele será transmitido, sendo este é um trabalho de treino das
habilidades do orador em transmitir a sua mensagem. São duas
coisas que precisam caminhar juntas: não posso me preocupar tanto
com o tema ao ponto de esquecer a minha preparação pessoal,
interna, como também não posso me preparar sem levar em conta o
que irei falar. Essas duas fases pedem dois tipos de preparação:

A primeira diz respeito à preparação pessoal para assumir a


direção de uma palestra, um seminário, uma pregação ou

qualquer outra oportunidade de falar em público. Essa


preparação deve ser constante, independente de haver ou não
algum convite para uma apresentação. O importante é o orador
ser proativo e se preparar constantemente, o que envolve
especializar-se, rever suas falhas, treinar, e, quando chegar o
momento oportuno, ele estará pronto. O maratonista não
espera chegar o dia da maratona para treinar, mas ele dedica a
sua vida ao treino constante e ao seu aperfeiçoamento. Um
corredor profissional pode treinar por quatro anos para uma
competição de cem metros rasos que durará poucos segundos.
A segunda diz respeito ao planejamento de uma apresentação
com um tema solicitado num evento específico. Neste caso, o

orador só poderá se preparar após saber qual será o tema,


quem será a plateia, onde se dará o evento e as demais
questões debatidas neste livro. As ferramentas apresentadas
aqui para a construção do discurso devem ser estudadas para
dar maior fluência na hora de preparar o tema. Existem alguns
assuntos que dominamos e que fazem parte da nossa área de
atuação na vida; pode ser que em algum momento sejamos
convidados a falar sobre isso. Logo, o preparo intelectual
jamais pode ser abandonado.

Planejamento envolve pesquisa sobre o tema: ter o que dizer,


possuir um conhecimento seguro e bem alicerçado do assunto. O
orador não terá tempo para dizer tudo que sabe nem para esgotar as
informações, mas aquilo que ele possui deverá servir para transmitir
confiança sobre o assunto e estimular as pessoas a buscarem
conhecimento mais aprofundado. A Internet e as bibliotecas são
grandes fontes de conhecimento. Ainda que o tema seja pertinente e
empolgante, a preparação do orador e a forma como ele irá passá-lo
decidirão o resultado que ele obterá. Não basta ter uma capacidade
nata para a oratória e ficar contando com a inspiração no momento
certo; ela pode não vir. O que realmente vale é a preparação, mesmo
para aqueles oradores que estão na estrada há bastante tempo. Você
não pode abrir mão disso. Talvez você se considere um grande
orador por estar há muito tempo no mercado, mas se você não se
atualizar quanto ao seu conteúdo e os mecanismos modernos de
apresentação, ficará para trás.
O Dr. Carnegie (2009, p. 46) escreveu que o orador deve falar
de um assunto que ele tenha competência adquirida através da
experiência ou do estudo. Na maioria dos casos, as duas coisas
precisam caminhar juntas, isto é, o orador deve acrescentar às
informações as suas próprias experiências pessoais, como forma de
ilustrar o que está falando e reforçar a sua validade. Isso não
significa que, para falar do risco do uso de drogas, por exemplo, o
orador deverá tê-las experimentado em algum momento de sua vida.
Além disso, o orador precisa estar certo de que o tema sobre o qual
falará o empolga. Você não pode se ver obrigado a defender, em uma
palestra, algo que você mesmo desaprova, que vá contra suas
ideologias e sua fé. O que você terá para acrescentar? Nesses
momentos, o melhor que você tem a fazer é se recusar a participar,
sem prejuízos para a sua pessoa. Às vezes, a melhor palestra é o
silêncio. Se você sente que o convite para falar é capcioso, quer
testá-lo ou colocá-lo em maus lençóis, recuse-o.
Witt e Fetherling (2011, p. 68 a 70) nos fornecem alguns
motivos para nos recusarmos a fazer um pronunciamento: quando
não somos a pessoa certa, isto é, não combinamos com as
necessidades do encontro; quando o público realmente não poderá
fazer algo com o nosso pronunciamento; quando é o evento errado,
mal planejado e sem peso algum; quando é o local errado, sem as
condições necessárias para uma palestra; e quando é a hora errada,
quando as pessoas estão sonolentas ou consumiram bebidas
alcoólicas e não darão atenção alguma ao que dissermos. Em suma, o
planejamento deve levar em conta fatores de sucesso para a
apresentação, senão serão palavras ao vento. Com exceção do
ambiente acadêmico, onde o aluno é obrigado a apresentar-se
valendo nota, você tem o direito de escolher se vai ou não participar
de algum evento, acima de tudo quando perceber que este por trazer
prejuízos para a sua imagem.
Respeitando a si mesmo e todas as condições necessárias para
uma boa apresentação, o seu planejamento também deve conter
anotações de todas as coisas referentes ao tema a ser exposto,
selecionando as melhores ideias; preparação dos slides, filmes,
apostilas e outros materiais a serem utilizados durante a
apresentação (CDs, material audiovisual, etc). O planejamento
permite que novas ideias surjam e sejam acrescentadas à
apresentação, além de evitar imprevistos. Antes da apresentação, é
necessário colher informações sobre: onde será o local, o tamanho do
ambiente, a acústica, a quantidade de pessoas, o tipo de evento, os
recursos previamente utilizados e que podem ser aproveitados, entre
outros que estudaremos mais adiante. No capítulo 15, você
encontrará uma lista de chek-list do orador.

Treinamento

A preparação e o descaso diferenciam o profissional do


amador. O profissional se organiza, planeja e treina constantemente
aquilo que deverá falar para não ser pego de surpresa por um
“branco”. Contar com a própria capacidade sem levar em conta os
momentos falhos, pode colocar a perder toda uma apresentação.
Existem falas que são de improviso, quando, por exemplo, somos
convidados a falar num jantar ou numa reunião sem termos nos
preparado antes. Pode acontecer numa reunião de última hora na
empresa ou um discurso numa solenidade em que o orador principal
tenha faltado. Nesses casos, naturalmente ninguém esperará que
sejamos eloquentes ou demonstremos todo o nosso conhecimento e
nossas habilidades. Todavia, se estivermos em constante preparação
naquilo que diz respeito à oratória, teremos condições de dar o
melhor às pessoas.
O treino deve estar aliado à criatividade, dando-lhe suporte.
Uma coisa é ser criativo, outra é ter de criar algo sobre um assunto
do qual nada sabemos, pois não estávamos preparados. O treino deve
ser um ensaio do conteúdo, mas sem a preocupação de utilizar as
mesmas palavras, a não ser que seja uma apresentação teatral em
que haja a necessidade da decoração de um texto, ou um discurso
oficial em que geralmente o orador leva escrito aquilo que irá falar.
Ainda assim, é importante que ele aprenda como dizê-lo. O objetivo é
a familiaridade com o conteúdo. Estando o orador familiarizado com
o conteúdo, ele se sentirá à vontade para improvisar se necessário e
para responder com maior confiança às questões do público.
Treinando o conteúdo e a forma correta de transmiti-lo, você não
somente se sentirá mais seguro, como transmitirá confiança ao
público.
Quando você já planejou a sua palestra, discurso ou
pronunciamento, é recomendável simular a situação durante o
treino, não somente repetindo os temas, mas treinando a postura
física, os movimentos dos braços e dos olhos, a impostação da voz.
Treinar diante do espelho é uma técnica que pode ser utilizada. O
treino pode ser feito na presença de amigos e familiares, o que ajuda
na desinibição, além de possibilitar colher elogios, críticas e
sugestões que poderão ser utilizados para aperfeiçoar a
apresentação. Filmar o treino ou gravá-lo em áudio para uma auto-
observação também é válido. Eu já me observei em vídeo e pude
corrigir alguns erros de postura, de movimento dos braços, de
inflexão da voz e até mesmo de erros gramaticais. Quanto mais nos
observamos, mais nos aperfeiçoamos.
Também é preciso saber controlar o tempo. Todas as
apresentações possuem um tempo de duração estipulado e você
precisará respeitá-lo. Estender-se além do necessário em alguns
pontos da apresentação, pode interferir em outros pontos, que
ficarão prejudicados, pois você terá de apressar-se no final, omitindo
informações que seriam importantes. Montar um bom cronograma e
ater-se a ele impede que o tempo seja desperdiçado, colocando
apenas os tópicos que realmente serão trabalhados. Dependendo do
estilo de apresentação, pode ser que haja a necessidade de interação
direta com o público durante a apresentação – comentários,
observações, perguntas, abertura à participação da plateia, etc. – e
isto deverá ser levado em conta no planejamento do tempo.
Os treinos não devem tirar a naturalidade da apresentação. O
orador não pode agir de forma mecânica, mas manter seu aspecto
humano. Apesar do treino no uso da linguagem verbal e corporal, o
público precisa olhar para você e enxergar a sua pessoa, seu estilo,
seu jeito de ser e de se expressar. Você não pode agir como uma
secretária eletrônica, sem emoção, sem vida. Deve-se aproveitar
todas as situações para treinar a nossa apresentação pessoal: na
faculdade, no trabalho, nas reuniões informais, nos momentos com a
família, na igreja, mantendo a atenção voltada principalmente para: o
modo como pronunciamos as palavras, como nosso gestual se adéqua
àquilo que falamos, se as pessoas prestam atenção quando
discorremos sobre algum assunto, se as nossas ideias são recebidas e
debatidas, se estamos valorizando as pessoas com quem dialogamos,
aprendendo a ouvi-las e prestando atenção nas suas reações físicas e
emocionais.
EXERCÍCIOS
Para vencer o medo de falar em público não existe uma fórmula
mágica ou um exercício específico. Perder o medo significa enfrentá-
lo e para isso é preciso estar preparado. Todo este livro – teorias e
exercícios – servirão para que você trabalhe o seu medo e vença-o
aos poucos, até se tornar um bom orador. Alguns medos são
patológicos e necessitam de acompanhamento profissional, o que
você deve buscar se perceber que este é o seu caso. Leia
atentamente este livro mais de uma vez, siga todos os exercícios
propostos aqui, treine quantas vezes julgar necessário cada
apresentação e assim você romperá as suas barreiras. Quando se
sentir seguro, você pode se exercitar da seguinte maneira:

Separe alguns minutos em um local confortável e silencioso


para pensar sobre o seu medo de falar em público. Procure ir

bem fundo na questão, analisando algumas das vezes em que


você precisou falar diante de uma plateia e tremeu nas bases,
gaguejou ou simplesmente se recusou a falar. O que passou
pela sua mente naquele momento? O que você acha que pode
ter causado o medo? Medo da crítica, despreparo, informações
distorcidas sobre você dadas no passado, algum trauma ou
complexo? Caso você consiga identificar a causa real do seu
medo, liste os passos que você acha que devem ser dados para
superá-los. Comece com algo como “enfrentá-lo”. De que
maneira? Seja maior que o seu medo. Faça também uma
relação com cinco razões pelas quais vale a pena você
enfrentar o seu medo. Então verifique o quanto você tem a
lucrar se tomar uma atitude de mudança.
Abrace todas as oportunidades de falar em público: em casa,
na escola, no trabalho, na igreja. Peça sempre a palavra para

expressar a sua opinião ou seja o primeiro a levantar o braço


quando alguém fizer uma pergunta. Aceite convites para falar
em público.
Prepare uma entrevista sobre um tema de seu interesse com no
mínimo cinco perguntas e busque pessoas para entrevistar.

Comece com seu círculo íntimo (familiares, amigos,


namorado/a). Depois entreviste ao menos uma pessoa
conhecida no seu trabalho, na escola ou na igreja que você
frequenta. Por último, converse com algum desconhecido,
alguém com quem você nunca tenha tido contato. Este
exercício serve para a desinibição, colocando-o em contato com
as pessoas, levando-o a falar com diversos públicos.
Prepare uma mensagem, que pode ser um discurso, uma
mensagem motivacional, um sermão sobre algum tema

espiritual, uma palestra ou um treinamento. Busque espaço nas
reuniões familiares, no trabalho ou na igreja onde você possa
expor o que criou. Você poderá encontrar alguma resistência
dependendo das pessoas e do ambiente, mas por fim verá que
valerá a pena e que todos estarão interessados em lhe ouvir.
Utilize os métodos que aprendemos para a criação do discurso,
além da argumentação e o pensamento crítico.

OBSERVAÇÃO: as referências bibliográficas estão no livro


original.
CONTEÚDO DO LIVRO
ORIGINAL: “O PODER DA
ORATÓRIA”
INTRODUÇÃO

1. APRENDER A ESCUTAR: O PRIMEIRO DESAFIO


A importância da escuta na arte de falar
Estratégias para desenvolver a escuta eficaz
Rompa de vez com o medo de ouvir
Comunique-se consigo mesmo
Escute antes de falar
Não fale muito sobre si mesmo
Perceba o que acontece ao redor
Desenvolva a habilidade de fazer perguntas
Seja um bom ouvinte para ser um bom orador
Escute com alguma finalidade
Evite ouvir julgando as pessoas
Ouça a perspectiva da outra pessoa
Ouça através de canais não-verbais
Ouça os que não têm voz
Crie oportunidades através da escuta
Ouça seletivamente e responda de modo seletivo

2. A COMUNICAÇÃO
Elementos da comunicação eficaz
Dados
Informação
Conhecimento
Comunicação
Por que precisamos nos comunicar?
Características de quem tem problemas para se comunicar

3. ORATÓRIA: ARTE E DESAFIO


Regras para a oratória eficaz
Tenha em mente o público
Organize o discurso
Seja você mesmo
Fale com fundamentos
Tenha autodomínio
Assuma uma posição

4. OS ATRIBUTOS DE UM BOM ORADOR


Condições para a credibilidade
Aja com naturalidade
Valorize a emoção
Busque conhecimento
Mantenha uma conduta exemplar
Como adquirir a habilidade de falar em público
Tire partido da experiência alheia
Não perca de vista o seu objetivo
Predisponha a mente para o sucesso
Agarre-se a todas as oportunidades de praticar
Orador proativo e orador reativo
Orador proativo
Orador reativo

5. VENCENDO O MEDO
Vencendo o medo de falar em público
Aprimora a sua autoestima
Reconheça o seu medo
Tenha atitude
Desenvolva habilidades
Planeje o futuro

6. PLANEJAMENTO E TREINAMENTO
Planejamento
Treinamento

7. A CRIAÇÃO DO DISCURSO
Título
Introdução
A proposição
As divisões

8. ARGUMENTO E PERSUASÃO
Capacidade de argumentação
Refutação

9. PENSAMENTO CRÍTICO E CRIATIVIDADE


Ler para saber mais

10. ESTRUTURAÇÃO DA APRESENTAÇÃO


Apresentação/Abertura
Desenvolvimento do tema
Explicação
Ilustrações
Conclusão
Recursos especiais de apoio
Recursos intrínsecos
Recursos extrínsecos
Dicas sobre recursos visuais

11. APRESENTANDO-SE EM PÚBLICO


Cuide da sua aparência pessoal
Rompa o nervosismo
Identifique-se com o público
Priorize a coerência
Compartilhe de si com o auditório
Consideração com os interesses dos ouvintes
Apreciação sincera e honesta
Identificação com o auditório
Chamar o auditório à participação
A importância da modéstia
Interaja com o público
Fazer perguntas
Responder às perguntas
Casos e histórias
Bom humor
Ser simpático
Avalie o seu desempenho
Resultados
Desempenho
Habilidades e competências
Fatores críticos de sucesso

12. DESENVOLVENDO A VOZ E A FALA


Controle da respiração
A linguagem verbal
A importância da voz para o orador
A importância da boa linguagem
Principais aspectos de uma boa apresentação
1) Dicção e articulação
2) Subtexto
3) Entonação
4) Pausas
5) Acentuação
6) Tempo-ritmo
7) A palavra expressiva
Dispositivos de retórica
Características de uma boa voz no palco

13. A LINGUAGEM NÃO VERBAL


Tornar o corpo expressivo
A verdade do corpo é a verdade da alma
Plasticidade dos movimentos
A linguagem dos gestos
A diversidade de gestos
Contato visual
Mãos
Expressão fisionômica
Postura corporal e movimentação

14. LOCAL DA APRESENTAÇÃO


Fatores importantes a serem observados

15. CHEK-LIST DO ORADOR

CONSIDERAÇÕES FINAIS

CADERNO DE EXERCÍCIOS
Exercício 1 – Desenvolvendo a habilidade de ouvir/escutar
Exercício 2 – Atitudes corretas durante a escuta eficaz
Exercício 3 – Comunicando-se com eficiência
Exercício 4 – Oratória: arte e desafio
Exercício 5 – Atributos de um bom orador
Exercício 6 – Vencendo o medo
Exercício 7 – Planejamento e treinamento
Exercício 8 – A criação do discurso
Exercício 9 – Argumento e persuasão
Exercício 10 – Pensamento crítico e criatividade
Exercício 11 – Estrutura da apresentação
Exercício 12 – Apresentando-se em público
Exercício 13 – Exercícios de respiração
Exercício 14 – Treinando a fala criativa
Exercício 15 – Treinando as articulações (vogais e consoantes)
Exercício 16 – Treinando as entonações e as pausas
Exercício 17 – Treinando a acentuação.
Exercício 18 – Treinando o acento de insistência
EXERCÍCIO 19 – TREINANDO A PONTUAÇÃO
CONTATOS COM O AUTOR PELO TELEGRAM:
@ESCRITORMIZAELXAVIER

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